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VO LTA AO M U N D O
PAS S E A R
NA FRONTEIRA
Q U E N ÃO E X I ST E
MURALHA DE ADRIANO
ERGUE-SE HÁ 1900 ANOS
E S CA N D I N ÁV I A E M D E Z D I AS
ENTRE INGLATERRA
E ESCÓCIA
MURALHA DE ADRIANO
VIAGEM PELAS
ILHAS DISTANTES
TESOUROS
E PARADISÍACAS
ONDE SE NADA
COM TUBARÕES
OS
DO PACÍFICO
N.º 335 OUTUBRO 2022
N . º 3 3 5 | O U T U B R O 2 0 2 2
V O L T A A O M U N D O . P T
Outubro
O N D E , C O M O, Q UA N D O E P O RQ U Ê . O Q U E T E M OS PA R A PA RT I L H A R N E STA E D I ÇÃO.
14
Travessia
A Muralha de Adriano
era a fronteira entre Roma
e a barbárie. Hoje é um trilho
entre Inglaterra e Escócia
LUÍS OLIVEIRA SANTOS
26
14 76
MURALHA DE ADRIANO
É um muro com 1900 anos
que se celebra este ano naquele
meio da Grã-Bretanha, herança
do poder do Império Romano.
Percorremo-lo a pé, de mochila
às costas, no silêncio da planície.
26
PLANETA VERDE
Chama-se a Árvore da Vida, vive
mais do que qualquer ser do
Planeta, mas está a morrer.
Falamos do baobá, esse colosso
08 africano que nos povoa os
82
46
PLANISFÉRIO sonhos. Proteger os mais jovens TEMA DE CAPA
A nossa forma de viajar pode é o segredo para a sobrevivência O Pacífico é o reino dos mares
estar à beira do fim, pelo menos de uma espécie que serve quase de várias cores, das areias
no que a calendários e destinos para tudo. brancas, dos bichos únicos
diz respeito. As alterações e da mais completa vida marinha.
climáticas estão a transformar 42 Roteiro de viagem e mergulho.
o Mediterrâneo num destino PELA LENTE DE
de inverno e a atirar as férias Pepe Brix, a bordo de um navio 76
de verão para outubro... no mar da Terra Nova. IBIZA E FORMENTERA
Conheça 18 praias que
prometem continuar a receber
46
banhistas outono adentro.
82
ESCANDINÁVIA
Três países em dez dias, com
“uma das mais belas viagens
de comboio do Mundo”.
92
EVASÕES
Subimos à mais impressionante
estrutura geológica da Madeira.
92
Os preços apresentados são de carácter meramente informativo, por pessoa em ocupação dupla e baseados na melhor tarifa dinâmica com disponibilidade e validade à data da sua elaboração, estando sujeitos a confirmação de
disponibilidade e alteração aquando da reserva bem como eventuais suplementos de partida. Excluem despesas de reserva (€ 15 por processo e não por pessoa) | Taxas sujeitas alteração | Lugares limitados | Não acumulável com outras
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EDITORIAL
A FRONTEIRA DE PEDRA
QUE “A RAINHA” NÃO VIA
H
á 1900 anos, Adriano, imperador da Grande Roma, separava o mun-
do civilizado que comandava do mundo da barbárie que julgava
existir fora dos preceitos do Império, já estendido à hoje ilha da Grã-
-Bretanha. A meio dela, na verdade. E traçou uma linha de pedras
e valas, vigias e castelos, entre campos verdejantes que são semelhantes, seja de
que lado se estiver do traçado. Nascia a famosa Muralha de Adriano, que, mais coi-
sa menos coisa, separa hoje a Inglaterra da Escócia, num reino (ainda) unido.
A história recente pode muito bem ter lançado as bases para tornar aquela de novo
uma fronteira real: o Brexit que Edimburgo rejeitou, as ânsias independentistas
que crescem. Com um óbice – o chefe de Estado é (agora) o rei de Inglaterra. Dias
depois de termos desenhado a viagem à muralha que vos trazemos nesta revista,
a rainha despediu-se de um Mundo que praticamente nunca conheceu outra rai-
nha de Inglaterra, tanto que Isabel II será, para sempre, apenas “A Rainha” do
Mundo. E “A Rainha” escolheu morrer em Balmoral, na sua amada Escócia, trans-
formando aquela nação num velório prolongado. Um sinal da brilhante diploma-
ta que era Isabel? Um acaso? A oportunidade para se encontrar uma solução sua-
ve, para que não se rasguem todos os documentos históricos de uma vez? Não sa-
bemos. Sabemos só que, ao contrário de Adriano, Isabel via do lado de lá da mu-
A FA M O S A M U R A L H A D E ralha uma terra de bem. Sua. Viaje connosco e com Luís Oliveira Santos ao longo
A D R I A N O, M A I S C O I SA
desta estranha fronteira. E sonhem.
M E N O S C O I S A , S E PA R A
H O J E A I N G L AT E R R A D A E, depois, embarquem. Para longe, muito longe, para aqueles destinos que são
E S C Ó C I A . E “A R A I N H A” mesmo do domínio onírico por parecerem tão inatingíveis. Falamos do Pacífico
ESCOLHEU MORRER EM e dos mil paraísos que encerra, ilhas de quimera com águas de cinema (algumas,
BA L M O R A L , N A SUA por sinal, ligadas à coroa britânica via Commonwealth) e, a coroar tudo, uma
A M A DA E S C Ó C I A vida marinha irrepetível. Nela, tubarões. Mergulhámos com eles e com os via-
jantes Filipa e Diogo Frias para assistir a paisagens que só descendo ao centro do
mar se consegue ver. Como a que faz capa deste número da sua “Volta ao Mun-
do”, um festival de vida e cores que soa a silêncio absoluto.
Do quente para o frio, a jornalista Inês Cardoso prova-nos como é possível me-
ter três países escandinavos em dez dias e ver huldras, essas criaturas de sonho
(também elas) que povoam os fiordes da Noruega, e hippies autonomizados num
quarteirão de Copenhaga. E do frio para o quente, as praias das Baleares mos-
tram-se, pela pena de Pedro Ivo Carvalho, para férias de verão tardias que pode-
rão passar a ser brevemente o novo normal deste nosso mundo de viagens...
IVETE CARNEIRO
EDITORA
Depósito Legal n.º 67 247 / 94. Registado na ERC sob o n.º 118 462
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Costa, Diogo Frias, Filipa Frias, Inês Cardoso,
José Luís Peixoto, Kátia Catulo, Luís Oliveira Santos, Nuno
Cardoso, Pedro Emanuel Santos, Rute Cruz, Sara Oliveira
PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO E ASSINATURAS Nuno Ramos (diretor), João Pires e José Gonçalves
1| INGLATERRA
O MEIO DO REINO DATA PROTECTION OFFICER António Santos
O centro geográfico da Grã-Bretanha
fica em Haltwhistle, a 466,7 km
Assinaturas: Atendimento a Clientes - dias úteis das 8 horas às 18 horas.
de Portland (sul) e de North Orkney Telefone: 219249999. Custo de chamada de acordo com o tarifário de telecomunicações
(norte) e a 58,7 km de Wallsend (leste) contratado para rede fixa ou rede móvel nacional. E-mail: apoiocliente@voltaaomundo.pt
e Bowness-on-Solway (oeste). Impressão e acabamento: Multiponto, S.A. - Rua da Fábrica, 260 - Baltar - 4585-013 Paredes.
Embalagem, circulação e distribuição porta a porta: Notícias Direct
Distribuição em Portugal: Vasp
2 | PACÍFICO
QUERIDOS TRAIÇOEIROS
Os golfinhos são terríveis enganado-
res que encantam mergulhadores
até os levar para profundezas letais. Editor e proprietário: GLOBAL NOTÍCIAS – MEDIA GROUP, S.A.
Sede: Rua Gonçalo Cristóvão, 195-219, 4049-011 Porto. Tel.: (+351) 222 096 100 Fax: (+351) 222 096 200
Filial: Torres de Lisboa, Rua Tomás da Fonseca, Torre E, 3.º piso, 1600-209 Lisboa. Tel.: (+351) 213 187 500
3| ESPANHA
O MANJAR MAIS SIMPLES
Fax: (+351) 213 187 501
Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Almada.
Os ovos rotos foram descritos Capital social: 28.571.441,25 euros. NIPC: 502535369
pela primeira vez no século XVIII. Conselho de Administração: Marco Galinha (Presidente), Domingos de Andrade,
Guilherme Pinheiro, António Saraiva, José Pedro Soeiro, Kevin Ho, Phillippe Yip,
Helena Ferro de Gouveia
4 | DINAMARCA
MUNDO À PARTE Secretário-geral: Afonso Camões
Capital social: Páginas Civilizadas, Lda. - 29,75%/ KNJ Global Holdings Limited - 35,25%
A Cidade Livre de Christiania
José Pedro Soeiro - 24,5% / Grandes Notícias, Lda. - 10,5%
vive à revelia das autoridades
de Copenhaga desde 1971.
MEDITERRÂNEO,
DESTINO DE INVERNO
19 de julho em Coningsby, nord-
este de Inglaterra. O relógio
marca 15.12 horas. O termó-
metro 40.3 ºC. É inédito. Nunca o mercúrio foi
visto a passar a barra das quatro dezenas desde
O clima não está a mudar. O clima já mudou. que a temperatura é monitorizada no Reino
E mudou a nossa forma de vida até nas viagens. Unido. Dias antes, ainda não se chegara aos 40
O verão tornou-se insuportável e perigoso e já a circulação de comboios em linhas da East
em parte da Europa. E obriga-nos a repensar Midlands Railways era suspensa. Motivo: rails
destinos. Países escandinavos, preparem-se sobreaquecidos e risco de descarrilamento.
para a enchente... Por volta da mesma data, o sudoeste de
França debate-se com incêndios de uma
P O R IVETE CARNEIRO violência raramente vista. Grécia, Itália, Es-
O A N O D E 2 0 2 2 A I N DA
VA I N O A D R O, M A S J Á
PODE SER OLHADO
COMO O PROTÓTIP O
DE UM FUTURO QUE
S E T E M E N ÃO S E R
MUITO LONGÍNQUO
ser a normalidade. Porque a água do mar está fresco é sugado para o interior sobreaque-
a uma temperatura que não devia. Rasou os cido, refrescando a beira-mar, sobretudo
30 graus em Creta. E tem andado por esses de Sesimbra para cima. A Irlanda e a Escó-
níveis, sem arrefecimento noturno que per- cia beneficiam do mesmo Atlântico frio e,
mita arrefecer também o ar. O Mediterrâneo claro, mais a norte, o verão continua a ser
sempre foi quente, ia aos 27 graus em Israel. fresco na Noruega, na Suécia, na Finlândia
Mas nunca como agora. E acima dos 28 graus ou na Islândia. Mas aí o óbice é outro: são
“a probabilidade de ocorrência de tempes- destinos caros que não se comparam ao
tades tropicais aumenta muito”. Mediterrâneo.
Para lá de ser insuportável para o Homem E sair da Europa? “Começa a ser arrisca-
– e há um índice de conforto humano que do.” Por causa das doenças tropicais e dos
associa a temperatura do ar à humidade re- fenómenos extremos cada vez mais fre-
lativa que mede este mal-estar e que aler- quentes. Os destinos tropicais podem mes-
ta para riscos para a saúde – é letal para a mo ter os dias contados e pérolas como Ro-
vida marinha. Pior notícia ainda são os es- ma serem condenadas a fechar no verão...
tudos que concluem que o Mediterrâneo Multiplicam-se os relatos de promotores
vai começar a chegar ao outono com con- de viagens a receber pedidos de cancela-
dições favoráveis ao desenvolvimento des- mentos, adiamentos, ajustamentos e mu-
tas tempestades. Como nas Caraíbas. E isso dança de destino. E os próprios horários do
panha e Portugal também. Em agosto arde a significa, admite o climatologista, que toda turismo podem ser forçados a mudar, ati-
fresca Estrela, enquanto no Mediterrâneo a região se vai tornar muito pouco reco- rando para manhã cedo e final de tarde
uma inesperada tempestade destrói a Cór- mendável nessa altura. Sobrará o inverno qualquer atividade ao ar livre.
sega. “Parece uma tempestade tropical”, para fazer férias nas praias de sonho medi- O ano de 2022 ainda vai no adro, mas já pode
ouve-se dizer num dos vídeos amadores que terrânicas, porque os desportos de neve, ser olhado como o protótipo de um futuro que
mostram a tragédia ao Mundo, com ventos esses, estão cada vez mais ameaçados pela se teme não ser muito longínquo: foi o ano em
a bater os 224 km/hora e vários mortos. fusão dos glaciares... que se começou a cancelar viagens ao Medi-
Não parece, é mesmo, explica à “Volta ao Quanto ao verão, João Santos aponta o terrâneo por causa do calor, o ano em que se
Mundo” o climatologista João Santos, pro- norte da Europa e a costa ocidental do trocou Sevilha por Bilbau e Grécia pela Sué-
fessor na Universidade de Trás-os-Montes e Atlântico Norte. Portugal e a sua costa po- cia, o ano em que se adiou o verão para outu-
Alto Douro, onde integra o Centro de Inves- dem, por enquanto, respirar alguma fres- bro, o ano que, qual estalada bem dada, nos
tigação e Tecnologias Agroambientais e Bio- cura, até por força das mesmas alterações fez sentir na pele suada o quão reais são as al-
lógicas. E a tendência, avisa, é isso passar a climáticas. O oceano continua frio e o ar terações climáticas. Z
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VILA NOVA DE MILFONTES, PORTUGAL
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BAGDADE, IRAQUE
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LAGO BLED, ESLOVÉNIA
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WADI RUM, JORDÂNIA
E S TA M O S C O N S I G O T O D O S O S D I A S S I GA- N OS E M :
E M V O LTA A O M U N D O . P T
A sua revista de viagens leva diariamente os leitores para desti- voltaaomundo.pt
nos diferentes daqueles que encontra na versão em papel, com
sugestões e toda a atualidade sobre a atividade turística para revistavoltaaomundo
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SVALBARD, NORUEGA dias. Estamos cá para surpreender e fazer companhia.
C A R TA D O L E I T O R
VIAJAR DE TESLA
TEXTO PEDRO MONTEIRO, VILA NOVA DE GAIA
S
e me dissessem em maio de 2019
que eu iria comprar um carro elé-
trico em menos de 60 dias eu res-
ponderia: “Estás doido! Carros
com pouca autonomia, baterias viciadas em
pouco tempo...”
Mas pouco depois fui a um cruzeiro e conhe-
ci um casal que tinha um Tesla e uma das con-
versas abordou a temática dos carros elétricos,
já que o cruzeiro era na Noruega, país líder mun-
dial na mobilidade elétrica. Fiquei teoricamen- no meu canal. Apenas eu e o meu RoadCruiser, Nas paragens para alimentar de eletrões o
te convencido, tendo depois analisado o aspe- tendo dormido algumas noites numa cama pró- meu Tesla, aproveitava para ir ao WC, comer
to prático de ter um automóvel elétrico. Em 15 pria para o veículo. Assistia a um filme ou epi- algo rápido, ver os mails de trabalho (e respon-
dias tomei a decisão e encomendei o Tesla Mo- sódio de uma série na Netflix, já que o ecrã tá- der) e limpar o para-brisas de modo a mantê-lo
del 3 SR+ (agora designado de Model 3). til do Tesla o permite, antes de dormir. limpo para os meus vídeos.
O carro elétrico abriu novas perspetivas e, Em 2021 tomei a decisão de fazer uma via- Chegado à Noruega, parece que entrei nou-
perante a rede de supercarregadores Tesla pela gem de Portugal à Noruega no ano seguinte. tro planeta. É de uma beleza extraordinária, que
Europa fora, aventurei-me logo em outubro de Planeei o percurso, reservei hotéis até à Norue- documentei o melhor que pude no meu canal.
2019 numa viagem à Normandia, registada no ga e cabanas nos fiordes, junto à água. Nas ci- O que mais me marcou foi a visita a Undredal,
canal do YouTube O Meu Tesla (www.youtu- dades de Oslo, Bergen e Kristiansand, fiquei em perto de Flam. É uma aldeia junto à água do fior-
be.com/c/omeutesla), que criei pouco depois hotéis. E optei por não dormir no Tesla: na No- de. A paz, o silêncio, o bater de asas de um pás-
de ter comprado o carro. Percebi logo os novos ruega devemos aproveitar as cabanas que exis- saro que por ali passava enquanto filmava... é
horizontes que se abriam e as experiências e tem nos parques de campismo nos fiordes. algo que nunca esquecerei. Tenho um quadro
vivências que iria ter daqui em diante. Fui à aventura sem ter a certeza daquilo em emoldurado em casa que retrata o momento.
Adoro fazer cruzeiros e agora apaixonei-me que me estava a meter. Seriam milhares de qui- Passear com o Tesla por estradas turísticas,
por “roadtrips” num Tesla. Ficámos insepará- lómetros sozinho pela Europa fora, do país mais estreitas e sinuosas, com temperaturas abaixo
veis. Somos dois: eu e o RoadCruiser. a ocidente ao país mais a norte. Ia sozinho, não dos 10 graus e neve em junho é algo memorá-
Mais roadtrips foram feitas pela Europa fora, sabia se teria a energia para lá chegar, isto no vel. Uma viagem única e a fazer pelo menos
França, Alemanha, Áustria, sempre registadas ano em que completei 50 anos. uma vez na vida! Z
T R Ê S PA Í S E S N U M D I A
N
a Suíça, sempre que precisámos Os quatro, em fila, pedalávamos sem pressa,
de marcar algum encontro, o era esse o ritmo daquele tempo. Imagináva-
Mundo recordou-nos que não mos como seria viver ali, como seria se tivés-
somos suíços. Por estarmos com semos nascido suíços.
os miúdos, por nos perdermos nos transpor- Assim entrámos no parque Lange Erlen.
tes públicos, por estarmos de férias, por en- É difícil não fazer descrições idílicas desses
tendermos mal qualquer indicação, chegá- caminhos. Há que referir a brisa, atravessa-
mos quase sempre atrasados. Às vezes, um va os ramos das árvores, como se limpasse
atraso de minutos, outras vezes de mais tem- todos aqueles tons de verde. Há que referir o
po. Quando começávamos a enumerar des- céu, recortado pelas copas das árvores de um
culpas, o nosso interlocutor perdia todo o in- lado e de outro, os ramos a tocarem-se lá em
teresse. Ou se chega a horas, ou não se che- cima. Em alguns momentos, precisámos de
ga a horas. Nesse dia, tentámos ao máximo, parar apenas para a ouvir os sons, para obser-
mal nos penteámos, atirámos o que precisá- var a paz daquele lugar, aquela Suíça perfei-
vamos para dentro de um saco, não havia ta. Mas, logo a seguir, voltávamos à nossa de-
tempo a perder. Mesmo assim, quando che- manda, as rodas das bicicletas a fazerem es-
gámos ao lugar onde se alugavam as bicicle- talar os grãos de terra.
tas, num piso subterrâneo da estação central Em Riehen, pequena povoação pacata,
de Basileia, já estavam à nossa espera. Apro- a parecer muito mais longe de Basileia, com
ximámo-nos como alunos malcomportados ambiente de terra do interior, longe da cida-
prontos a receber o seu castigo. de, seguimos por um par de ruas até à Fun-
Só o meu filho já tinha experimentado bi- dação Beyeler, uma das etapas que tínha-
cicletas elétricas e, por isso, havia alguma mos planeado para o nosso dia. Aí, para além
UMA CRÓNICA
DO ESCRITOR apreensão. Ainda assim, aprendemos todos do próprio espaço da fundação, dos magní-
JOSÉ LUÍS PEIXOTO os preceitos e lá fomos. Ao sairmos à rua, de- ficos jardins e edifícios, visitámos uma ex-
mos logo conta de que a bateria era nossa posição de Mondrian, que marcava os 150
amiga. Nada havia a temer. Como acontece anos do nascimento do artista. Depois de
nos lugares civilizados, os motoristas respei- tanta Natureza, foi tocante apercebermo-
tavam os ciclistas. Pela nossa parte, também nos de como Mondrian alcançou as formas
os respeitávamos, fazendo sinal na hora de geométricas que o celebrizaram, minimalis-
mudar de direção, cumprindo as regras de tas, avant-garde, partindo das árvores que
trânsito, circulando com precaução. Come- desenhava no início da sua carreira, onde já
çámos por avançar ao longo de algumas das existiam prenúncios das linhas e das cores
ruas principais de Basileia. Pouco depois, es- que haveriam de vir. Foi tocante partilhar-
távamos em ruas residenciais, silenciosas. mos isso com os nossos filhos adolescentes
e, depois, almoçarmos com eles numa es-
planada da fundação. As bicicletas estaciona-
das à entrada.
Ao seguirmos caminho, não demorámos
muito até atravessarmos a fronteira e, de re-
pente, entrarmos na Alemanha. Não houve
mudanças no idioma, mas houve pequenas
diferenças subtis, as casas, os rostos das pes-
soas que cruzámos nas ruas de Weil am Rhein
ou, talvez, apenas a nossa impressão. No en-
tanto, ao passarmos por um grande supermer-
cado, decidimos parar e comprar água. Aí, en-
tre prateleiras de produtos, encontrámos mui-
tas diferenças e lembrámos o que nos tinha
Em alguns momentos,
precisámos de parar
apenas para ouvir os
sons, para observar
a paz daquele lugar,
aquela Suíça perfeita
DESVIO
TEMPORÁRIO
Envolta pelas deslumbrantes paisagens do norte
rural de Inglaterra, a Muralha de Adriano é uma visita
imprescindível para todos os que gostam de viagens
com História ou longas caminhadas em contacto
com a Natureza. A completar 1900 anos de vida,
a fronteira setentrional do vasto Império Romano
continua a atrair e a apaixonar pela força da sua
beleza, da sua envolvência e grandiosidade.
A
J
determinada altura há um assomo de es- Newcastle é a cidade- Há uma certa prosa no ato de caminhar e há, em teoria,
panto. Um pequeno e ousado pisco-de- chave a partir da qual a ideia de que só assim ascendemos à categoria de verda-
se pode visitar a
peito-ruivo voa para muito próximo de Muralha. Sede de deiros viajantes. Caminhar obriga-nos a uma leitura len-
mim e observa-me, acredito eu, com ho- museus e bibliotecas ta e por isso mais completa, a uma observação demorada
nesta simpatia. Não me parece que exis- com todo o tipo de e cuidadosa dos detalhes, incluindo os imperfeitos. Ca-
informação sobre
tam por ali outros motivos para a sua presença a não ser o mundo romano, minhar não é um exercício de síntese. Caminhar longas
uma imensa curiosidade e a natural reivindicação do seu merece que se lhe distâncias, por vezes durante dias seguidos, obriga-nos a
território. Uma presença tranquila que me remete de dedique algum tempo mobilizar os sentidos com o objetivo de abarcar todo o co-
imediato – não estivesse eu no norte rural de Inglaterra nhecimento e toda a experiência possível, naquilo que
– para todo um imaginário literário como “O jardim se- poderíamos facilmente classificar como uma experiência
creto” de Francis Hodgson Burnett ou as intemporais ba- criativa. Encetar uma longa caminhada de descoberta de
ladas de Robin Hood, compiladas por Howard Pyle. En- um objeto como a Muralha de Adriano é como desenvol-
contrar um pisco – ou um robin, como é conhecido em ver um exercício intuitivo em que não há um propósito
Inglaterra – nesta relação de proximidade que os tornou claro na nossa investigação a não ser o enorme prazer de
tão famosos era um desejo tão intenso quanto aguarda- fazer essa investigação. Entramos na fase de absorver de
do. Percorrer a pé o enorme território por onde se esten- forma absoluta, sem lógica e sem objetividade, tudo o que
de a Muralha de Adriano e não me cruzar com um pe- nos rodeia com tudo o que de possível os sentidos nos per-
queno robin de dez centímetros não seria seguramente a mitirem. A seu tempo haveremos de convergir para tecer
mesma coisa e o meu plano de viagem ficaria incomple- considerações, se forem precisas.
to. Podia agora continuar a minha longa caminhada em Quando Adriano chegou ao poder imperial de Roma
busca de significados maiores, certo de que uma parte do era um homem com pouco mais de 40 anos. O Império
meu sonho estava cumprido. estava no auge da sua dimensão e do seu poder, ocupa-
LEITURAS
HÁ INÚMEROS GUIAS DO TRILHO DA MURALHA
DE ADRIANO DISPONÍVEIS NA AMAZON,
MUITOS COM CONTA DE FACEBOOK, NOS QUAIS
OS VIAJANTES PARTILHAM EXPERIÊNCIAS.
“
“Memórias de Adriano”,
Marguerite Yorcenar – Ulisseia.
M
Depois de décadas de investiga-
D
ção, a autora retrata a vida
ç
e o pensamento do imperador
Adriano naquele que é um dos
A
rrelatos mais impressionantes
do auge e queda do Império
d
Romano.
R
“A montanha viva”,
Nan Sheperd – Edições 70.
Apesar de não ser um livro sobre
o mundo romano, é o relato de
uma viagem pelas montanhas
Cairngorm, na Escócia. Dotada
de grande poder de observação
e de uma sensibilidade poética
relativamente à Natureza, Nan Ao longo de toda
a sua extensão, a linha
Shepherd escreveu uma obra- de fronteira era servida
prima de leitura obrigatória por inúmeros torreões
de onde se vigiavam
para todos os que trilham as tribos do território
o Mundo em longas caminhadas. que é hoje a Escócia
J
Sycamore Gap Os legionários envolvidos na construção da muralha micílio e pela chegada a um mundo sem pontos de refe-
é a pérola da Muralha, foram buscar a matéria-prima muito próximo do local da rência”. Seja o que for, este é também um dos bons pra-
no Parque Nacional
de Northumberland. sua construção e ainda hoje é possível visitar pedreiras zeres desta viagem.
Reflete a enorme onde restam cortes de pedra inacabados de há 1900 anos. Com mais de 80 anos, Naomi recebe-me na biblioteca
beleza da cordilheira À medida que caminhamos de Newcastle para Carlisle, da Sociedade Literária e Filosófica de Newcastle. Apresen-
dos montes Peninos,
que atravessa todo o vamos descobrindo um apuro na técnica de construção ta-se como a mais nova colaboradora da Sociedade, sem
norte de Inglaterra. romana com todos os alcances e hesitações. Os mais de esconder um breve sorriso de ironia. Levou-me à secção
Foi cenário de parte cem quilómetros da muralha definem ainda hoje, gros- da biblioteca dedicada à Muralha mas rapidamente me
do filme “Robin Hood,
the prince of thieves” so modo, a fronteira com a Escócia e os longos dias de ca- aconselhou a não consultar grandes manuais. O melhor
minho permitem-nos uma leitura gradual e imersiva na era ir à descoberta, caminhar com a disponibilidade de um
história da Britânia e de todo o mundo romano. Vindo- explorador. Em jeito de despedida explicou-me por que
landa, uma das mais importantes praças militares e hoje razão o seu inglês era, para mim, bastante compreensível.
em dia ponto de paragem obrigatória, é ainda um local Natural do sul de Inglaterra, viveu um período em que nas
ativo de prospeção arqueológica com um museu onde se escolas se tentaram eliminar as múltiplas pronúncias do
podem admirar artefactos romanos num impressionan- reino e estabelecer um inglês normativo. Foi uma expe-
te estado de boa conservação. riência rapidamente abandonada. E segredou-me: por
Como em todos os espaços onde é possível admirar aqui, nem ela compreendia bem o inglês local.
grandes obras de arte, a Muralha de Adriano é hoje per- Kate leva-me de carro da sua casa em Haltwhistle até
corrida por inúmeros viajantes com quem se estabelece, Cawfield Quarry, junto à Muralha, às primeiras horas da
quase de imediato, uma empática conversa de circuns- manhã. Explica-me que agosto é um mês que anuncia já
tância. Ao contrário dos grandes museus e das multidões um tempo incerto, com ventos e chuvas inesperadas. É
que se aglomeram à volta das Mona Lisas – e das quais na- o mês com maior afluência de visitantes, mas a prima-
turalmente fazemos parte –, os viajantes da Muralha vera costuma ser mais generosa em todos os aspetos. Até
transformam-se em ávidos e espontâneos conversadores. porque se sente o fulgor de uma Natureza desperta para
Houve quem justificasse esta ânsia como uma “prática a vida, com flores e com os animais em plena época de
compensatória da angústia gerada pelo abandono do do- reprodução. Haltwhistle reclama ser o centro geográfico
J
A este ritmo vejo muito mais em muito menos tempo e Vindolanda é hoje um
não tenho senão como fazer uma leitura global e uma sín- dos mais importantes
locais de escavação
tese do território que percorri. Gradualmente, os objetos arqueológica em toda
e os acontecimentos dispersos ao longo do território fun- a Europa. As proprieda-
dem-se numa identidade visual única, ganham uma es- des do solo permitem
encontrar artefactos
trutura e um nome próprio. A Muralha de Adriano não é, em excecional estado
afinal, um objeto disperso algures pelo norte de Inglater- de conservação, como
ra. Quando nos afastamos do ato de caminhar e da nossa as famosas tábuas de
Vindolanda, à guarda
escala individual para a escala da longa e coletiva viagem do British Museum
de comboio isolamos ou eliminamos os sentidos, perde-
mos a noção do pormenor e do detalhe para ganhar a 3
grandiosa presença do objeto e do seu lugar. Os animais dos pastos
Faço uma revisão rápida das fotografias que registei ao privados que cobrem
o norte de Inglaterra
longo da última semana e reparo que a última imagem é acrescentam harmo-
de uma placa que anuncia um Desvio Temporário no per- nia à paisagem
curso da Muralha. Volto a olhar pela janela do comboio,
avistam-se já as pontes de acesso a Newcastle, de onde
tenho marcado o voo de regresso. E apercebo-me que, de
certa forma, é esse também o sentido desta viagem. Um
desvio temporário do longo quotidiano. Z
DORMIR COMER
Os Bed and Breakfast são, pela Apesar da grande oferta turística
PREPARAÇÃO minhadas. Nem sequer pede cal- quantidade e tradição, a base da que envolve a Muralha, o seu per-
A Muralha de Adriano estende-se çado muito técnico, dado que o oferta hoteleira ao longo de toda curso não atravessa zonas urbanas.
ao longo de 135 quilómetros en- piso é quase sempre em terra. a Muralha. Mas há de tudo, de pe- As localidades obrigam a desvios
tre Walssend (Newcastle) e A época mais aconselhável para quenas pensões a hotéis de gran- que podem ultrapassar os cinco
Bowness-on-Solway (Carlisle), a caminhada é entre a primavera de luxo, muitas quintas que dis- quilómetros, pelo que é muito im-
mas as zonas urbanas destas duas e o verão. A temperatura é mais ponibilizam celeiros transforma- portante planear bem as caminha-
cidades têm poucos ou nenhuns agradável, a probabilidade de dos em dormitórios partilhados das no que diz respeito às refeições
vestígios da obra. Classificada chuva menor e os dias maiores. e parques de campismo com e abastecimento de água. Compen-
pela UNESCO como Património Mas convém ter sempre à mão im- área de tendas ou bungalows. sa negociar com os alojamentos o
da Humanidade, tem a sua maior permeável e casaco fino. Os Bed and Breakfast são qua- fornecimento de pequenas refei-
parte no Parque Nacional de se sempre casas familiares priva- ções embaladas para a viagem.
Northumberland. VIAGEM das que – por um preço simpáti- Quase não há supermercados ao
É servida por um trilho pedes- Newcastle tem um aeroporto in- co – oferecem dormida e peque- longo da Muralha, sendo funda-
tre – The Hadrian’s Wall Path – que ternacional para onde voam várias no-almoço, muitas disponíveis mental ter sempre na mochila uma
faz parte da rede de grandes ro- companhias low-cost desde Faro nos principais sites de booking. reserva de snacks e líquidos. Oca-
tas da UK National Trails, pelo que (Algarve). Compensa comprar Dependendo da localização (mui- sionalmente aparecem vendedo-
todo o percurso está bem trata- uma ligação aérea do Porto ou de tas vezes ficam afastados de zo- res ambulantes, mas servem ape-
do e sinalizado. Existe também Lisboa para Faro e fazer o voo di- nas urbanas), compensa incluir o nas chá, café e pequenos bolos.
uma rota ciclável, a Cycle Rte 72. reto para Newcastle. A alternativa jantar no preço da estadia. Todas as localidades têm um
É o trilho mais acessível do Rei- é voar para Londres ou para Edim- Nos meses de junho, julho e pequeno pub onde é possível fa-
no Unido e não exige um nível de burgo e depois fazer a ligação (por agosto é fundamental reservar zer refeições e provar a enorme
preparação física elevado, bas- comboio ou autocarro) para o alojamento com bastante an- oferta de cervejas artesanais, mui-
tando estar habituado a fazer ca- Newcastle. Não compensa no tecedência. E os fins de semana tas vezes produção dos próprios
Trilho nacional
Sítios arqueológicos e museus
Caminho de ferro
Auto-estrada
Estrada A
Estrada B DE N OR
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bares. O convívio com a popula- mas, segundo dados arqueoló- certos tramos, nomeadamente no Newcastle para Heddon-on-the
ção local que ao final da tarde en- gicos, a construção foi feita de que diz respeito à presença de Wall e poupar um dia de cami-
che os pubs é não só inevitável este para oeste, pelo que este animais. Por norma não há perigo, nhada. O mesmo entre Laner-
como uma experiência que vale a sentido permite observar fases mas é fundamental não interferir cost Priory (Brampton) e Carlis-
pena. O ambiente é por norma distintas das técnicas de cons- com rebanhos e manadas. Os li- le. E reserve-se os dias poupados
muito envolvente e animado. trução. É o mais aconselhado. mites das propriedades estão na visita às duas cidades.
Há muitas opções para visitar bem definidos e há quase sempre Para quem queira fazer todo o
TRANSPORTES a obra, da caminhada integral uma cancela que é preciso abrir e percurso a pé existe um passa-
Newcastle tem ligações ferroviárias de seis/sete dias a programas de voltar a fechar após a passagem. porte que se pode carimbar em
com todo o Reino Unido. O com- dois dias na zona central. sete locais específicos para ter
boio que liga Newcastle a Carlisle Muitas empresas organizam PONTOS DE INTERESSE direito a um certificado.
(90 minutos) passa nas principais viagens com guia e transporte Para além de inúmeros torreões,
localidades que servem a Mura- (incluindo de mochilas). existem vestígios arqueológicos DICAS ÚTEIS
lha, nomeadamente Corbridge, A secção da Muralha entre de vários fortes e praças militares, Levar adaptador para tomadas
Hexham, Haltwhistle e Brampton. Chesters e Birdoswald, com ape- quase todos servidos por um mu- elétricas; compensa trocar euros
A compra prévia de bilhetes é re- nas 37 quilómetros, é de longe a seu, todos eles pagos. Os mais im- por libras em Portugal; o Brexit
comendável. mais interessante, pela presença portantes são Wallsend, Chesters, obrigou a não esquecer o passa-
Existem também inúmeras em- de extensos pedaços do muro, Housesteads, Vindolanda e Bir- porte mas não alterou o tarifário
presas de autocarro que fazem li- de locais arqueológicos, museus doswald. Vindolanda tem um do telemóvel (incluindo dados
gações ao longo de toda a Mura- e das mais belas paisagens. Há campo arqueológico ativo (aceita móveis) – é o mesmo que em Por-
lha, bem como táxis e transpor- muito alojamento perto desta voluntários) e continuam a desco- tugal; em caso de emergência
tes privados que podem ser alu- secção e boas ligações de com- brir-se artefactos de muito valor. durante a caminhada, ligue 999,
gados para uma visita à medida. boio e autocarro. E tem uma excelente cafetaria. devendo pedir-se “Mountain res-
Esta é a opção mais cara. Grande parte da Muralha e do Como as zonas urbanas de cue”; apesar de o risco ser muito
trilho está hoje em campos de Newcastle e Carlisle não têm baixo, pode ser útil fazer seguro
PERCURSO pasto, propriedade privada. É por praticamente quaisquer vestí- de viagem; atenção às alergias,
A Muralha de Adriano pode ser isso fundamental seguir com gios da Muralha, pode valer a o trilho atravessa campos e há in-
percorrida nos dois sentidos, atenção os avisos colocados em pena apanhar um autocarro de setos e urtigas.
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espíritos da floresta de Nguékhokh, na região senega-
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Thiés, vivem no interior dos baobás. A crença,
partilhada
artilha também em muitos outros lugares de África,
partilha
eve-se à sua presença desde sempre nas comunidades
deve-se
locais.
ocais. NNas melhores condições, estas árvores atingem
mais de dois mil anos. Imagine o que é ter as raízes num
ó lugar por milénios, testemunhando incontáveis gera-
humanos a crescer, a explorar, a cultivar, a cons-
guerrear, a amar e a morrer... Como poderiam os
truir, a g
povos africanos não as ver como guardiões dos seus an-
tepassados e dos segredos que levaram com eles?
Os investigadores acreditam que os baobás – imbon-
deiros ou embondeiros, consoante a região de África –
evoluíram milhões de anos antes da espécie humana. Já
cá estavam quando o deserto do Saara era um prado ver-
dejante, resistindo a uma era glaciar atrás da outra. Sen-
do uma espécie suculenta, o seu tronco armazena mais
praticamente todo o continente como a Árvore da Vida.
Os baobás parecem eternos, mas os mais velhos estão
agora a morrer. Estudos feitos nos anos mais recentes re-
velaram que nove dos 13 baobás africanos mais antigos do
Planeta já morreram desde 2005. Tudo aponta para que
as alterações climáticas sejam um dos principais respon-
sáveis – em especial na África Austral, onde todos estes
exemplares se encontravam. Poderíamos buscar conso-
lo no facto de a morte fazer parte do ciclo da vida, mas
mais preocupante ainda são os baobás jovens que tam-
bém lutam pela sobrevivência.
Na floresta de Nguékhokh, os biólogos concluíram que
há cada vez menos árvores jovens. O mesmo acontece
em grande parte do continente, desde a África Oriental,
até à África Austral, passando pelas savanas da África Oci-
dental. Um ecossistema – qualquer que seja ele – depen-
de de velhos e novos para se manter vivo e saudável. Mas
de 120 mil litros de água durante a estação das chuvas, os baobás africanos estão a envelhecer – e a morrer em
dando frutos ricos em nutrientes quando tudo à volta é alguns casos – sem que as gerações mais novas tomem o
árido e estéril. Não é por acaso que ficou conhecida em seu lugar.
As mulheres da aldeia
de Muswodi Dipeni,
na província sul-africana
de Limpopo, ganham
a vida a recolher as
sementes e o pó da
vagens do fruto do baobá.
Carregada de vitaminas,
a múcua tornou-se
numa autêntica febre
no Ocidente
M A R C O LO N GA R I /G E T T Y I M AG E S
C H R I ST I A N VA I S S E /G E T T Y I M AG E S
mercial dos seus frutos, sementes e cascas afeta, do mes-
mo modo, a capacidade de sobrevivência das espécies
mais jovens.
O Perrier também já foi declarado criticamente amea-
çado pela União Internacional para a Conservação da Na-
tureza (IUCN). Restam, atualmente, 150 exemplares,
atrofiados pela perda de terras para a extração artesanal
de ouro ou agricultura, pelo pastoreio e pelas alterações
climáticas. Cercada de tantos perigos, poucas plântulas
atingem a maturidade. O risco de extinção de animais
como lémures e tartarugas gigantes prejudica, igualmen-
te, a regeneração da espécie, uma vez que foram os gran-
des responsáveis por dispersar as suas sementes.
Em outros países do continente, o baobá africano
(Adansonia digitata L.) sofre do mesmo mal. Na provín-
cia angolana de Luanda, segundo o Instituto Nacional da
Biodiversidade, o crescimento urbano e a desmatação de
florestas colocaram o imbondeiro na lista vermelha das
espécies ameaçadas. No Tigray ocidental, no norte da
Etiópia, a colheita intensiva de folhas, ramos e cascas da
árvore, acentuado pelas alterações climáticas, consti-
I G N AC I O PA L AC I O S /
tuem sérios riscos para a continuidade da espécie.
No Burkina Faso, investigações recentes demonstra-
G E T T Y I M AG E S
ram que as práticas agrícolas têm um grande impacto ne-
gativo na regeneração dos baobás em terras cultivadas ou
em pousio. Tal como na África do Sul, onde os terrenos
aráveis apresentam baixos índices de fertilidade do solo
para as novas gerações de baobás, também muito pres- J
sionadas com os danos provocados pela pastagem do Seis das oito espécies ropa e os Estados Unidos descobriram, por entre a casca
gado e de outros animais selvagens. de baobás crescem dura e os ramos espinhosos da árvore, mais um fruto ele-
apenas em Madagás-
car: quatro delas es- vado ao estatuto de superalimento. Contendo um enor-
DA ESCALA LOCAL PARA GLOBAL tão ameaçadas pela me valor nutricional, a múcua (ou malambe em Moçam-
O baobá sempre foi um importante recurso na economia perda de habitat, al- bique) pode ser moída em pó, misturada em smoothies
terações climáticas
doméstica e fonte de alimento dos povos africanos, assu- ou danos causados ou polvilhada em papas ou iogurtes. Das suas sementes
mindo um papel importante na cultura e nas crenças lo- por animais são extraídos óleos para cosméticos, loções e cremes para
cais. Durante séculos, a sua exploração foi reduzida, em- pele, cabelos ou unhas. O baobá concentra seis vezes
bora mais de 300 usos tradicionais já tenham sido docu- mais antioxidantes do que os mirtilos, seis vezes mais vi-
mentados na África subsariana. Tudo o que cresce nesta tamina C do que as laranjas, cinco vezes mais potássio do
árvore é muito bem aproveitado. Cascas, flores, frutos, fo- que as bananas ou três vezes mais cálcio do que o leite.
lhas, raízes e sementes do baobá africano são comestíveis Com a descoberta de mais um milagre da Natureza, a
ou processados em mezinhas para curar doenças e outros comercialização do fruto disparou. As previsões, segun-
males físicos, transformados em fibras para tecelagem ou do o grupo industrial Aliança Africana de Baobá, mos-
em cordas utilizadas em utensílios ou nos telhados. tram que as exportações vão saltar de 50 toneladas, em
Durante muitos anos, os baobás foram um segredo es- 2013, para mais de cinco mil toneladas até 2025, passan-
condido nas paisagens desoladas de África. Até que a Eu- do a representar uma indústria de 400 milhões de euros.
G I L E S C L A R K E /G E T T Y I M AG E S
do baobá estará
sempre na sua
capacidade para
continuar a viver
por muitos e longos
séculos
O apetite dos mercados ocidentais pelos superalimentos viveiro, onde os habitantes das aldeias mais próximas vão
já fez soar os alarmes, com a Organização das Nações Uni- buscar jovens baobás para plantarem junto às suas casas.
das para a Alimentação e a Agricultura (FAO) a colocar o A floresta dele, entretanto, foi crescendo ao longo dos úl-
baobá africano entre as 12 plantas selvagens ameaçadas timos 47 anos, com mais de três mil baobás alinhados como
pela exploração intensiva. soldados robustos de um exército ao serviço do Planeta.
A pressão sobre os recursos naturais levou a agência da Os aldeões de Sig-Noghin reconhecem que a utilida-
ONU a apelar, em abril deste ano, à “utilização mais equi- de desta espécie é incomensuravelmente diferente das
librada das plantas selvagens”. Não se trata de privar os restantes árvores. Uma vez abatida, a madeira, ensopa-
países desenvolvidos dos poderosos benefícios do baobá da de água, não serve sequer para fazer fogueiras, cons-
ou de outros superalimentos. Todos temos direito às dá- truir móveis, casas, canoas ou utensílios. Qualquer que
divas da Natureza, mas temos também o dever de prote- seja a métrica usada, o valor do baobá estará sempre na
ger e restaurar os habitats, promover práticas agrícolas sua capacidade para continuar a viver por muitos e lon-
sustentáveis e contribuir para economias inclusivas. gos séculos.Z
J
MADAGÁSCAR
Avenida dos Baobás
Centenas de baobás de Grandi-
W E ST E N D 6 1 /G E T T Y I M AG E S
D E LTA I M AG E S /G E T T Y I M AG E S
ROMAIN TEVELS
J
TANZÂNIA
Os colossais de Tarangine
Os baobás estão entre as
principais atrações incluídas
nos programas dos safaris do J NAMÍBIA
Parque Nacional de Tarangine, O baobá Ombalantu
no norte da Tanzânia. Também Estima-se que o baobá Ombalantu, localiza-
chamadas de Árvore da Vida, do em Outapi, no norte da Namíbia, tenha
elas distinguem-se na paisagem 800 anos. O tronco tem uma porta e, no
pelo seu tamanho colossal, seu interior, é possível acomodar 35 pessoas.
dando abrigo a diferentes Ao longo de séculos, a árvore já foi uma
espécies de aves e alimentando capela, um posto de correio, um esconderijo
grandes e pequenos mamíferos e uma habitação particular. Hoje, acolhe
como o elefante ou o mangusto. duas exposições – uma sobre a importância
dos baobás para a comunidade Owambo
e outra sobre a história da luta pela indepen-
dência da Namíbia.
CHARME FERROVIÁRIO
EM CENÁRIO TROPICAL
F OTO S : D I R E I TO S R E S E RVA D O S
I
nspirado pela era dourada das via- As suites de luxo
gens de comboio, e em particular são vagões históricos
e a receção é como
pelo passado histórico de Khao Yai, uma bilheteira
que foi um movimentado centro ferroviário
de ligação ao nordeste da Tailândia duran-
te o reinado do rei Rama V, o novo Inter-
F OTO S : D I R E I TO S R E S E RVA D O S
O
SIX SENSES FORT BARWARA | ÍNDIA novo Six Senses Fort Barwara insta- corpo e para a mente. Está equipado com sau-
lou-se numa fortaleza do século XIV, na, banho turco, tepidário e salas de tratamen-
SA N T UÁ R I O originalmente propriedade da famí- to onde se aplicam os princípios preventivos
D E B E M - E STA R lia real do Rajastão, erguida contra o painel de da medicina oriental com influências ociden-
N
a costa nordeste da ilha de Santori- Nobu, assim como à vista privilegiada para a
ni, plantado no topo de um penhas- caldeira vulcânica e a costa escarpada da ilha.
co sobranceiro ao mar, acaba de Os hóspedes que queiram explorar a região
abrir o novo Nobu. É o primeiro empreendi- podem ainda fazer degustações de vinhos,
mento da Nobu Hospitality na Grécia e ofere- passeios de catamarã, caminhadas e muitas
ce o luxo discreto da marca, fundada pelo re- outras atividades. Os mais aventureiros en-
nomado chef Nobu Matsuhisa, por Robert De contram ali perto o famoso trilho Oia-Thira,
Niro e pelo produtor de cinema Meir Teper, que segue pelo litoral até Fira, a capital cos-
bem como um novo destino gastronómico mopolita de Santorini.
de frente para o mar. Somando-se ao portefólio europeu da Nobu
A propriedade, próxima da cidade de Imero- Hospitality, o lançamento do Nobu Hotel and Nobu Hotel Santorini
vigli, mas a distância suficiente para proporcio- Restaurant Santorini marca o 26.º hotel da mar- Imerovigli, Santorini, Grécia
nar reclusão, é composta por 25 quartos e sui- ca em todo o Mundo e o 10.º no continente eu- Suite a partir de 970€ por noite (com
tes, dos quais cinco villas com vista para o mar ropeu, com propriedades em Roma, San Se- pequeno-almoço)
Egeu e jardim privado com piscina. bastián e Hamburgo em desenvolvimento. Web: santorini.nobuhotels.com
F OTO S : D. R .
UM CUBO
E N T R E V I N H AS
E
m parceria com a start-up Eco3 (eco-
cubo), a Quinta do Pôpa lançou uma
D. R .
experiência pop-up que junta aloja-
mento, visita à propriedade e prova dos vi-
nhos. Desde que abriu portas ao enoturismo, GARDEN HOUSE | INGLATERRA
há uma década, o produtor instalado à face
da EN222, na encosta de Adorigo, Tabuaço, A CASA D E CA M P O
em pleno Alto Douro Vinhateiro, sempre teve D E S UA M A J E STA D E
a vontade de juntar a dormida às experiências
que disponibiliza na quinta.
A oportunidade surgiu agora, ainda que em
regime temporário, com um quarto em forma A antiga casa do jardineiro-chefe da rainha Isabel II,
de cubo instalado na parcela de Vinhas Ve- em Sandringham Estate, está agora disponível para alugar.
lhas, a mais icónica da quinta e que este ano
celebra nove décadas. É um confortável refú-
A
gio na Natureza, que alia a flexibilidade de uma Garden House está instalada no Sandringham Estate, o mui-
tenda ao conforto de um quarto, feito de ma- to adorado refúgio rural da falecida rainha Isabel II, na cos-
deira e cortiça e totalmente desmontável. ta de Norfolk, Inglaterra. A propriedade de oito mil hectares,
É uma criação da Eco3, que se dedica ao tu- agora residência particular do rei Carlos III, pertence à família real bri-
rismo sustentável através de abrigos ecológi- tânica desde 1862 e tem sido tradicionalmente usada pelos seus mem-
cos em locais que permitem a imersão na Na- bros durante a época natalícia. O palácio serviu de cenário ao discur-
tureza. Aqui, a vista é para o rio Douro e os so- so de Natal da monarca durante o seu longo reinado.
calcos das encostas. Nas proximidades foi ins- Dentro dos portões, a antiga casa do jardineiro-chefe da rainha –
talado um WC ecológico, com reservatório de o edifício mais próximo do palácio – está agora disponível para alu-
água para a higiene pessoal. gar através da plataforma Airbnb. Quem quiser passar uns dias nes-
se retiro histórico irá encontrar uma charmosa casa de tijolo, com ca-
Quinta do Pôpa, EN222, Adorigo, Tabuaço pacidade até oito pessoas. O alojamento está mobilado com peças
Quarto duplo a partir de 150€ (inclui visita, que já pertenceram a alguma residência real. Oferece sala de jantar
prova de vinhos, uma garrafa de vinho com lareira, cozinha equipada e sala de estar. Ao redor espraiam-se
e pequeno-almoço). De terça a sexta-feira 24 hectares de jardins, um mais formal e outro onde crianças e ani-
Web: ecocubo.pt/douro-tabuaco mais de estimação podem correr e brincar.
A poucos passos fica o restaurante e o Centro de Visitas de San-
dringham – aberto de abril a outubro. Os visitantes podem ainda des-
frutar de trilhos sinalizados ao longo da floresta, dos relvados ou de
lagos e jardins românticos. A curta distância de carro ficam as belas
praias do norte de Norfolk, cercadas por campos de lavanda e papoi-
las e aldeias típicas inglesas.
O regresso a África
É na imperfeição das relações amoro-
sas que encontramos muitas vezes a
nossa própria perenidade existencial.
senhor viajante
italiano que, de um dia para o outro, vê
a sua rotina lançada pela janela. Tudo
porque um desconhecido o confronta
com um mundo paralelo da mulher que
ele julgara não ser possível. Marco cor-
re risco de vida, aprisionado pela notí-
Paul Theroux aventura-se pela margem cia de que a sua parceira está a ter um
ocidental do continente, de mochila às caso extraconjugal e que o filho que
costas, para nos sobressaltar com as ele vai ter, afinal, não é seu. A partir da-
agruras (e encantos) de uma geografia qui, tudo se redesenha nesta história: o
cultural e política que nos é tão cara presente e o futuro dão lugar a um pas-
sado que Marco julgara enterrado,
onde as memórias se constroem em
torno de amores juvenis, de recorda-
P
ções sombrias ligadas à morte, de ami-
aul Theroux regressa a África, zades viscerais. As personagens estão
depois da aventura pela Cidade permanentemente em cena, fazendo
do Cabo, na África do Sul, para desta uma narrativa amorosa apaixo
apaixo-
nos descrever como só ele con- nante e vibrante. Quase cansativa.
segue as agruras de um continente exau-
rido de esperança, em tantos momentos,
mas que consegue, ainda assim, ser ter-
ritório de uma comunhão apaixonada
com a Natureza. Esta é a viagem derra-
deira do conhecido autor por aquele
continente, num trajeto que o levou a
mapear a margem ocidental, até ao nor-
te. Nesse trajeto, decide parar em Ango-
la, onde testemunha tudo o que há de
mau e tudo o que ainda de bom pode re-
sistir. “Sou um homem de 70 anos a via-
O último comboio
jar como um mochileiro no meio de An-
para a zona verde
PAU L T H E R O UX gola e os únicos estrangeiros que vejo
TERRA INCÓGNITA uns seis ou oito são homens de negócios
432 páginas que se esforçam por fazer lucro com os
Preço: 18,80€ recursos do país” . Lido a partir de Por-
tugal, este retrato tridimensional do re-
gime e da cultura angolanos soa-nos fa-
miliar, mas nem por isso nos deixa me-
nos sobressaltados.
ESTA IMAGEM
DISTÂNCIA FOCAL
20 mm
ISO
800
TEMPO DE EXPOSIÇÃO
1/60 s
ABERTURA
f/3.2
PEPE BRIX
O HOMEM E O MAR
O açoriano seguiu as pisadas do pai e do avô na fotografia e tem uma ligação especial
ao mar, que inspira grande parte do seu trabalho. A bordo de um bacalhoeiro registou
a dura faina do mar da Terra Nova, num de muitos périplos pelo Mundo.
P
epe nasceu no meio da fotografia. O avô uma ótima ferramenta para crescer, para amadurecer
era um artista de circo que deixou a vida a vários níveis, e nesse sentido acho que a fotografia
de saltimbanco para se instalar em Santa também acompanhou esse processo de crescimento
Maria, nos Açores, no início dos anos pessoal. Tu mudas, a tua fotografia muda”, acredita.
1940, e foi aí que começou a fazer fotografia “à la mi- Já correu o Mundo, mas regressa sempre à ilha
nuta”. Pouco depois abriu uma loja, a Foto Pepe. “O onde nasceu e confessa ter uma ligação especial ao
meu pai acabou por ficar com o negócio do meu avô e mar, que inspira grande parte do seu trabalho. Esse CÂMARA
Nikon D800
eu depois comecei a trabalhar com ele. Tinha os meus interesse levou-o, em 2014, a embarcar no baca-
12 ou 13 anos e ia para a Foto Pepe revelar rolos quando lhoeiro Santa Joana Princesa, numa campanha de
havia muito trabalho. Depois ia fotografar casamentos três meses e meio nos mares da Terra Nova. Dessa
com ele, tinha por aí 14 anos. E fui ganhando o gosto. aventura resultou a reportagem “Código Postal:
O meu avô tinha feito um trabalho muito grande, aqui A2053N”, da qual faz parte esta fotografia, publi-
em Santa Maria, de fotografia do mundo rural e esse re- cada em 2015 na “National Geographic Portugal”
gisto acabou por me inspirar bastante”, recorda. que lhe valeu o prémio Gazeta de Fotojornalismo.
Aos 18 anos rumou ao Porto para estudar no Ins- Atualmente dedica-se ao projeto “Tuna Tales”, de
tituto Português de Fotografia. “A partir daí, fui dei- que resultará uma série de documentários e um ban- OBJETIVA
xando o trabalho da Foto Pepe para me dedicar co de imagens sobre a pesca de pequena escala do Sigma 20 mm
mais ao fotojornalismo e à fotografia documental.” atum em várias partes do Mundo. “O grande sumo
Chegou a considerar o curso de Psicologia e ainda do trabalho prende-se com apelar às pessoas que te-
hoje tem o sonho de estudar Antropologia, para nham mais atenção com aquilo que consomem, que
usar como ferramentas para aprofundar os assun- procurem consumir atum que é pescado de forma
tos que aborda no trabalho fotográfico. sustentável”, frisa. “Eu trabalho muito a relação do
Diz ter amadurecido como fotógrafo quando come- homem com o mar. O mar tem essa capacidade de
çou a viajar. Em 2006 fez um primeiro inter-rail pela moldar as comunidades que o cercam, sobretudo os
Europa e desde então desdobra-se em grandes via- pescadores. E, sendo açoriano, acho que isso ainda
gens. Destaca a Índia e o Nepal, onde esteve quatro faz mais sentido, porque realmente noto que nos pepebrix.com
meses. Aliás, volta com regularidade aos Himalaias Açores o mar é uma entidade que transforma bastan- Instagram:
indianos como líder de viagem da Nomad. “Viajar é te a forma como nós olhamos para tudo.” Z A.C. @pepebrix_doc_photography
Aproveite o Verão como nunca antes com a MSC Seja qual for o destino do seu cruzeiro, não fal-
Cruzeiros! Conheça novas culturas e novos tará o conforto dos nossos camarotes, os sabores
sabores pelo Mediterrâneo. Descubra o Norte da da nossa Cozinha Internacional e a qualidade do
Europa e toda a sua beleza e mistério. Desfrute nosso entretenimento de topo mundial, bem como
das intocáveis praias das Caraíbas e aproveite o de todas as outras atracções a bordo, das piscinas
melhor que a Ocean Cay MSC Marine Reserve, e parques aquáticos aos ginásios tecnológicos e
a nossa ilha privada nas Bahamas, tem para lhe luxuosos spas!
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TEMA DE CAPA PACÍFICO
TEXTOS E FOTOGRAFIAS
FILIPA FRIAS E DIOGO FRIAS
A
HARMONIA
DO INC
46 OUTUBRO 2022 VO LTA AO M U N D O. P T
Pôr do sol em Peava,
na Lagoa de Marovo,
Ilhas Salomão
ONCEBÍVEL
VO LTA AO M U N D O. P T OUTUBRO 2022 47
PACÍFICO
O problema? Fica exatamente do outro lado do Globo. É lon- didade a que descemos. Aqui, quem manda são eles. Nós
ge, de acesso difícil e, por isso, mais caro do que qualquer somos apenas espectadores das suas rotinas e interações.
outro destino. Chegar lá é uma prova de paciência: com as Os corais prístinos povoam o terreno, pintando o am-
escalas, com as muitas horas de voo, com os transfers difí- biente de cores fortes. Têm várias formas, tamanhos, co-
ceis, com os alojamentos menos luxuosos e mais caros por res, texturas e diversas tarefas no ecossistema. Parece um
falta de concorrência. Mas vale a pena. Somos recompen- jardim, o mais bonito que poderíamos imaginar. À se-
sados com a genuinidade do lugar, o rebentar das ondas melhança de uma horta, com brócolos, couves e flores e
transparentes na areia, o silêncio de uma praia deserta plantas, crescem e propagam-se pelo oceano, contri-
interrompido pelo cair de um eventual coco ou pelo buindo para o desenvolvimento e crescimento de várias
chilrear de um pássaro. E o mar, o calor do mar, que nos espécies e pelo fornecimento de nutrientes essenciais ao
convida a mergulhar livremente, para explorar o mun- ecossistema. São fundamentais para a fauna e a flora –
do marinho sem o neoprene que nos esmaga a pele e blo- 65% dos peixes e um quarto das espécies marinhas vive
queia os movimentos. dos recifes. O pantone não é homogéneo e as cores, ape-
Os peixes de poucos centímetros aventuram-se a sair do sar de infinitas, conjugam-se na perfeição, em sintonia
coral para explorar a imensidão do oceano Pacífico, para lá com os peixes, numa espécie de ballet sincronizado pela
do recife – o grande azul profundo. Está lançado o feitiço maré onde a música é pautada por dentadas no coral duro
pelo mistério do mundo subaquático e a curiosidade é ati- e pelo cântico dos golfinhos e das baleias.
çada pela descoberta dos comportamentos entre espécies É preciso entender que os peixes são territoriais. “Mi casa
e das cores e tamanho dos peixes, proporcional à profun- no es su casa” e não se é bem-vindo a passear perto dela.
Frequentemente vemos uns expulsar outros, muitas ve-
zes com o triplo do tamanho, até estarem seguros de que
estão longe do seu território. Mas, no segundo seguinte,
estão a dar o corpo para proteger outra espécie das pes-
soas que teimam em tirar uma foto à amiga tartaruga que
tenta dormitar numa cama de coral, embalada pela cor-
rente. Os peixes são assim, impulsivos, persistentes, ter-
ritoriais e protetores.
Quando o sol se põe, o pânico instala-se. É hora da re-
feição para os predadores noturnos. No entanto, é mais
provável sobreviver do que ser comido. Ao longo dos sé-
culos, desenvolveram mecanismos de defesa. O peixe-
papagaio larga muco pela boca numa bolha que cobre a
totalidade do corpo e esconde-se nos buracos do coral
duro. Os polvos são peritos em esconder-se nos buracos
mais pequenos. Os camarões e caranguejos usam o co-
ral mole como cobertor. As tartarugas escondem-se, es-
Venda de legumes táticas, em buracos nos corais.
no mercado de Mas ao desviarmos o olhar e encararmos o azul, agora
Honiara, na Ilha ainda mais escuro, percebemos os grandes predadores a
de Guadalcanal,
arquipélago das pairar, à espera que a noite caia definitivamente para ini-
Salomão ciar a caça. O pequeno e pontual feixe de luz das lanter-
50
3
Leões-marinhos
e tartarugas-mari-
nhas sonolentos
na Ilha Floreana.
Em baixo, o inespera-
do azul-turquesa
e a paisagem tropical
das Galápagos
3
Os icónicos ilhéus
de Palau, património
da UNESCO.
Em baixo, o Jellyfish
Lake, entre Koror
e Pelellu
PALAU
3
Os tubarões nadaram longe, de forma pacifica, não ata- Para além de ser um
caram, nem estavam preocupados ou curiosos com a pre- dos melhores desti-
nos do Globo para
sença de humanos. Não estavam nervosos, nem com mergulhar com tuba-
comportamentos agressivos, alguns nadavam com as rões, uma volta
crias, tranquilamente. Há uma pequena comunidade que à ilha é altamente
recomendada
defende com unhas e dentes que estes animais não são
perigosos quando tratados com respeito e que encaram
um mergulho com eles como um privilégio que poucos
têm a honra de ter. É impossível não concordar. Noutras
culturas, diferentes da nossa, o tubarão é encarado com
naturalidade, até com o desdém com que olhamos para
qualquer peixe. É apenas um animal, um pouco como
num safari, quando depois de horas a ver gazelas já não
queremos saber da sua presença. Em determinadas re-
giões do Pacífico, o tubarão é apenas um peixe que se
deve tratar com respeito. Não podemos discordar.
A entrega de mantimentos
nas ilhas mais recônditas
54
J
Rangiroa é um dos anéis turquesa no arquipélago das Vestígios da II Guerra finho está parado com a cria, como se estivesse à nossa es-
Tuamotus, “pintado” no oceano. Conta apenas com meia Mundial contrastam pera. Os animais vêm ter connosco, tocam-nos, expulsam-
com a paisagem
dúzia de alojamentos e outra meia de sítios para comer, paradisíaca das ilhas -nos da sua casa, posam para a fotografia, defendem a fa-
uma estrada, um aeródromo e algumas casas espalhadas mília e os amigos. Um peixe-palhaço fêmea (o Nemo da
pela língua estreita que dá forma à ilha. Do lado de fora Disney) nada freneticamente a um palmo da minha cara,
do atol o mar é agreste, mas do lado de dentro reina a cal- tentando expulsar-me da sua anémona, protegendo a
maria. Nos dois canais que ligam os dois lados da ilha cria e o companheiro da minha presença. Uma tartaru-
mergulha-se com golfinhos que interagem connosco, ga persegue-me pedindo-me que lhe dê um pedaço de
tartarugas que vêm comer coral à nossa mão, tubarões coral na boca, como se fosse um cão. Um golfinho pára
que vagueiam calmamente no azul profundo, mantas que nas costas de um mergulhador e fica imóvel atrás dele,
dançam como fadas, barracudas curiosas que se aproxi- onde não pode ser visto, como se estivesse a fazer pou-
mam. E o coral é um jardim. Aqui um mergulho nunca é co dele. Um cardume gigante de barracudas rodeia-nos,
igual ao anterior. Rangiroa não é um destino de massas, com o seu olho de cada lado, cercando-nos cada vez
nem daqueles com “tudo incluído”. É um local para se mais perto, aproximam-se para tentar entender quem
viver devagar, fazer amizades com os locais, jantar de pé somos. Duas mantas rodopiam sobre si mesmas a uma
descalço, comprar o pequeno-almoço na mercearia do curta distância, parecem querer exibir-se e quase ouvi-
tamanho das nossas salas. É verde, é turquesa, é azul, é mos a banda sonora de Tchaikovsky na nossa cabeça.
bege, mas também é o colorido das pessoas. Mergulhar é como entrar no país das maravilhas, mas o
Mergulhar aqui é descobrir um mundo diferente. Um gol- nosso nome não é Alice.
SALOMÃO
3
Um trilho rasga
a luxuriante selva
que caracteriza
as Ilhas Salomão
n
Crianças brincam
na pequena vila
de Peava depois
da escola.
Em baixo, o fundo
do mar esconde
um tesouro ainda
intocado pelo
Homem
O arquipélago
oferece incontáveis
locais de mergulho
extremamente ricos
nos em linha, junto a um coral artificial e entra o caixo-
te com as cabeças de atum, que pára ligeiramente acima
de nós. E surgem os maiores tubarões que já vimos – cer-
ca de quatro metros. Vêm esfomeados, atraídos pelo chei-
ro a sangue na água. Vão diretos ao caixote, esperam cal-
mamente que um mergulhador tire uma cabeça e lhes
dê. Quase fazem fila indiana e comportam-se lindamen-
te. Vemos os seus maxilares a expandir quando abrem a
boca para apanhar o peixe cortado. Saem satisfeitos e vol-
J tam para a fila, querem mais. Vão passando por cima das
Praias perfeitas nossas cabeças e facilmente poderíamos tocar-lhes e sen-
nas Mamanucas, tir a sua pele áspera. Logo a seguir vêm os tubarões-lixa,
a oeste de Viti Levu;
À direita, as cores contentes por também poderem comer. Partilham de
vibrantes do mercado bom grado a comida e não se atropelam. Quando passam
de Suva e uma vista junto a nós, conseguimos entender perfeitamente a gran-
de Pacific Harbour
diosidade destes animais.
Z Na subida ainda fazemos uma paragem aos 15 metros,
Final do dia na Ilha
onde os restos de comida vão para os tubarões de recife,
Namotu, porto
essencial para de-pontas-pretas, de-pontas-brancas e cinzentos, mais
os amantes de surf impacientes e irrequietos. Atropelam-se e, pelo tama-
nho, menos de metade, podiam ser facilmente os netos
dos touro – a majestosidade de um tubarão-touro é in-
comparável... Estes são esguios, magros e comportam-
se como adolescentes. Como são mais pequenos, nadam
mais rápido, metem-se em qualquer espaço e estão an-
siosos por comida. Não querem saber de nós e passam
tão perto que até batem com as barbatanas laterais nas
nossas cabeças. Não se desviam, mas não estão a atacar.
Estão só a comer...
REVILLAGIGEDO
(ILHA SOCORRO)
Z
Revillagigedo
é o destino certo
para o contacto com
espécies pelágicas
como golfinhos,
mantas e tubarões
oceânicos
GUIA DE
NÓS E OS
TUBARÕES
VIAGEM
LIVEABOARD
Para conseguir tirar maior par-
tido de uma viagem exclusiva
para mergulho, os liveaboards
são barcos que navegam em
zonas muito conceituadas para
DIOGO: FILIPA: a atividade, oferecendo dormi-
“Estar na presença de um tubarão “Eu sempre tive medo do mar. da, alimentação e pacotes de
é um momento de esplendor, de Não conseguia respirar com mergulho. São geralmente
magnificência. Somos envolvidos água acima do umbigo. Nas Mal- dispendiosos, mas valem bas-
por paz, tranquilidade, silêncio, divas decidi ceder e arrisquei tante a pena. Exigem o certifi-
em harmonia com a Natureza. o snorkel, mas sempre com água cado do curso com o grau
Não há banda sonora de filmes pelo joelho. Só via areia. E fiquei mais elevado e levam aos me-
hollywoodescos, não há tensão, o hipnotizada com um ou outro lhores sítios para mergulhar.
tubarão não nada de boca aberta peixe colorido e curioso que me Os preços variam conforme o
na nossa direção, não emite sons foi encaminhando, devagar, destino, rondando de 800 eu-
violentos, nada em “mute”. Não ao longo de 15 dias, até território ros, como nas Bahamas (desti-
nada rápido, aliás, quanto maior onde não tinha pé. Meses depois no maravilhoso para mergulhar
o animal mais lento ele é. Há, sim, iniciei o curso de mergulho com tubarões) até cerca de
pena quando o tubarão se afasta, “Open Water” e consegui deixar seis mil euros em certos desti-
por este momento não ser eterno, o medo para trás. Quando che- nos no Pacífico. Não é obriga-
por não se chegar mais perto e guei às Palau, reconhecida área tório ser-se mergulhador para
assimilar todos os pormenores. de proteção de tubarões onde andar nestes barcos, mas
O medo deixa de fazer sentido, não é possível evitá-los, abracei depois não poderá mergulhar
como se nunca tivesse existido o desafio com a certeza de que nos destinos. Muitos oferecem
justificação para o sentirmos. esse seria o dia da minha morte atividades, excursões, etc.
Deixamos de perceber o que sen- e mergulhei num mar repleto
tíamos antes de nadar com um dos animais mais receados do CURSOS DE MERGULHO
tubarão. O medo dissipa-se para Mundo. Assustei-me, recuperei O preço dos cursos de mergulho
nunca mais voltar e não deixa o fôlego, resisti e ultrapassei varia conforme os destinos.
qualquer vestígio de ter existido. o medo (ao mesmo tempo que Entre os mais baratos estão
Não nos conseguimos lembrar do espetava as unhas na mão do o Egito (onde nós tirámos
porquê de termos sentido medo Diogo). E prometi espalhar a pa- os nossos), a Tailândia, as
um dia. A experiência é tão avassa- lavra e explicar que o receio des- n Honduras, as Filipinas ou a
ladoramente positiva e refrescante tes animais é alimentado por fil- Um tubarão-touro Indonésia. Aí consegue-se
passa por cima
que acabamos por ceder e afirmar mes e, vá, pelo aspeto um pouco dos atentos um curso por 300 euros, em
que “nadar com tubarões não agressivo de alguns da espécie.” mergulhadores média. São caros em qualquer
é perigoso”. Ninguém acredita… ilha do Pacífico, nos Estados
Passamos a ser os malucos, Unidos ou na Austrália. Existem
os inconscientes, os aventureiros vários graus de certificação.
e os valentes que nadam com O primeiro é o Open Water
tubarões. Na realidade somos (OW), que permite mergulhar
apenas os felizardos que conse- até aos 18 metros de profundidade.
guiram ultrapassar o medo Para descer até aos 30 metros
e descobrir uma nova forma será necessário o Advanced
de sentir paz e serenidade em (AOW). A partir deste nível,
momentos únicos, especiais só cursos técnicos, para ser
e inesquecíveis.” instrutor ou fazer salvamento.
62
Há também cursos específicos,
como mergulhar com Nitrox
(permite ficar mais tempo
a grande profundidade),
ou em zonas de naufrágios.
Há ainda cursos de fotografia
ou vídeo subaquático.
Um curso de mergulho pode
demorar seis a dez dias,
conforme o grau de preguiça
ou empenho, mas não é difícil!
EQUIPAMENTO DE MERGULHO
COMPRAR
• Barbatanas à medida, para evitar ocupa espaço na mala. É fácil por pessoa para dois mergulhos custam aproximadamente
que saiam à primeira pedalada. e (mais) barato alugar no destino. com aluguer de equipamento, 770 euros, equipamento
• Uma boa máscara, que se Por norma, quase todas as escolas almoço e transfer do hotel. Marcar incluído. Bicicleta
deve queimar bem com lume têm salsichas de segurança à chegada permite desconto. frequentemente disponível
e esfregar com pasta de dentes para aluguer. Se não tiverem, Hotel – 60 a 130 euros, com a custo zero nos alojamentos.
para quebrar a película protetora o instrutor/guia é obrigado a ter. pequeno-almoço.
de fábrica, ou não se vê nada • BCD (buoyancy Refeições – Média de seis SALOMÃO
quando se entra na água. compensation device). dólares por pessoa, por refeição. • COMO IR
• Lanterna para mergulho depois • Pesos e garrafa de ar Voo Porto – Istambul – Singapura –
do pôr do sol, com dois mil a O aluguer de equipamento PALAU (MICRONÉSIA) Brisbane (1300 euros)
quatro mil lumens e capacidade está muitas vezes incluído no • COMO IR Brisbane – Honiara (600 euros)
nunca inferior a 30 metros de pacote de mergulho. Quando Voo Porto – Istambul – Taipé – • DOCUMENTOS
profundidade, feixe de luz de não está, pode variar entre 20 Koror (cerca de 1800 euros) Certificado AOW
120º (para não queimar as fotos e 60 euros por dia, por pessoa. • DOCUMENTOS • CUSTOS LOCAIS
e ver mais do que apenas Certificado do curso Alojamento – cerca de 160 eu-
uma linha de luz), duas baterias, TOP DE DESTINOS de mergulho. ros/noite, com pequeno-almoço.
luz de cor natural (e não azul GALÁPAGOS • CUSTOS LOCAIS Mergulho – de 80 a 100 euros
ou demasiado amarela). • COMO IR Pack Mergulho – 1500 dólares para dois mergulhos com equi-
• Máquina fotográfica e Voo Madrid – Galápagos para cinco dias, com dois pamento.
uma boa caixa estanque, (cerca de 1500 euros ida e volta) mergulhos diários, alojamento,
que permita mudar os modos, Liveaboard last minute: marcar transfer do aeroporto, peque- FIJI
sobretudo aumentar os tons online custa seis mil euros, no no-almoço, snorkel no lago das • COMO IR
vermelhos, debaixo de água, local o preço desce em média alforrecas e quatro mergulhos Voo Porto – Paris – Los Angeles –
onde a partir dos dez metros 70%. Reservar uma noite em extra, equipamento de mergu- Nadi (cerca de 1500 euros)
tudo fica azul. Puerto Ayora e passar o dia lho, transferes diários do hotel, • DOCUMENTOS
• Luvas e pés para destinos de porta em porta nas agências almoços nos dias de mergulho. Certificado AOW
de água fria e um gorro para de viagens (há imensas). Vale • CUSTOS LOCAIS
ver peixes em vez de cabelo. a pena o esforço! POLINÉSIA FRANCESA Mergulho “shark feeding” em Paci-
• Apontador de metal para • DOCUMENTOS • COMO IR fic Harbour, Suva, a partir de 200
não tocar com as mãos Certificado do curso de mergulho Voo Porto – Lisboa – São dólares (com equipamento).
em nada, em caso de • CUSTOS LOCAIS Francisco (cerca de 700 euros)
desequilíbrio ou correntes Taxa de entrada no parque São Francisco – Papeete REVILAGIGEDO
inesperadas. NÃO TOCAR nacional – 100 dólares (cerca de 600 euros) • COMO IR
em nada (seja com a mão americanos por pessoa, Papeete – Rangiroa Voo Porto – Madrid – México –
ou o apontador, seja peixe, à chegada. (cerca de 400 euros) Los Cabos (cerca de 950 euros)
coral ou areia) é regra Taxa de migração – 20 dólares • DOCUMENTOS • DOCUMENTOS
essencial para mergulhar! por pessoa, antes de embarcar Certificado OW/AOW Certificado OW
no voo de ida. • CUSTOS LOCAIS • CUSTOS LOCAIS
ALUGAR Mergulho na Gordon’s Rock (com Hotel – entre 60 e 440 euros Liveaboard – cerca de 3500
O fato de mergulho pesa e só tubarões-martelo) – 250 dólares Mergulho – dez mergulhos euros por pessoa.
GAST R O N O M I A
TEXTOS NUNO CARDOSO ENOTECA 17.56
V I L A N O VA D E G A I A
O restaurante e terraço da Real
Companhia Velha, no Cais de
Gaia, serve ovos rotos com Pata
Negra e um toque de trufa, à beira
do rio Douro.
Rua Serpa Pinto, 44,
Vila Nova de Gaia
www.facebook.com/enoteca17.56
CHEIOS
DE SABOR
Batata frita, presunto e um ovo
estrelado com gema generosa
são o trio protagonista dos
ovos rotos, clássico na rota
das tapas e ex-líbris da cultura JANGADA
madrilena. ERICEIRA
Junto à Praia do Sul, provam-se
ovos rotos em versão extra gulosa:
com molho de francesinha e las-
cas de ventricina (linguiça do cen-
J tro de Itália).
São um dos principais cabeças mais simples, já é habitual adicio- A origem dos ovos Rua das Silvas, 2, Ericeira
de cartaz da cozinha madrilena, nar-se sabores extra à mistura, rotos é incerta, mas
www.facebook.com/
já há referências ao
mas servem-se à mesa em qual- como pequenos pedaços de petisco no início do jangadaericeira
quer taberna ou petisqueira que chouriço e até de marisco. século XVIII Preço: 9,50€
se preze nas várias regiões do As origens são dúbias em tor-
território espanhol, ou não fos- no dos ovos rotos, mas há quem
F OTO S : D I R E I TO S R E S E RVA D O S
sem os ovos rotos o epítome da ligue a sua criação às ilhas Caná-
cultura de tapas que domina a rias, por exemplo. Certo é que
gastronomia do país vizinho. uma das primeiras referências es-
Como em muitas coisas na vida, critas remonta ao início do sécu-
também aqui a lógica “keep it lo XVIII. Numa das suas obras, o
simple” é a chave do sucesso e escritor americano Richard Ford
da popularidade deste petisco terá mencionado os ovos rotos,
de conforto. depois de uma viagem que fez MÜLA
O protagonismo é partilhado por Espanha, mencionando este L I S B OA
em três doses iguais, num prato petisco como uma refeição co- Curiosamente, apesar da sua É um dos novos restaurantes do
onde se juntam batatas fritas, pre- mum entre as famílias menos simplicidade, há truques que aju- bairro de Alvalade e presta home-
sunto e ovo estrelado. O mesmo abastadas. dam a criar uns ovos rotos exem- nagem a nuestros hermanos com
estes ovos rotos trufados com
que é depois aberto – daí o nome Dizia Ford que o facto de este plares. A Casa Lucio, um dos res-
presunto em duas texturas.
de batismo – para que a gema es- ser um prato que podia ser acom- taurantes de Madrid conhecidos
Praça de Alvalade,
corra sem timidez e envolva todos panhado com um pouco de car- por servir este petisco, utiliza “o Centro Comercial, Loja 7, Lisboa
os ingredientes vizinhos, criando ne ou peixe deixava margem a es- melhor azeite” para fritar os ovos, Instagram:
o necessário elemento cremoso tas famílias para reaproveitarem em vez de óleo ou manteiga. Fica @mula_bymercantinagroup
que liga tudo. E se esta é a versão os restos que teriam mais à mão. a dica. Z Preço: 10,50€
Com que cozinha internacio- traz-se sempre coisas novas. Que paisagem natural Venceu este verão a categoria
nal mais se identifica? Por exemplo, no País Basco, não esquece? Novo Talento nos Prémios
Talvez com a do sudoeste asiá- eles têm o pimento-chouricei- As paisagens verdejantes AHRESP (Associação da Hotela-
tico, Tailândia, Vietname, Cam- ro, seco e fumado, que é de- que há às centenas no País ria, Restauração e Similares de
boja, por aí. Pela frescura dos pois desidratado quando se Basco e a chamada Ilha do Portugal). A que soube a vitória?
pratos, leves mas com muito confeciona. Como nós com James Bond na Tailândia Soube muito bem. Para mim,
sabor e equilíbrio. Isso é muito o bacalhau. Quando voltei [Khao Phing Kan], um local o importante é ter pessoas satis-
importante na cozinha moder- de lá, fiz isso no Oh! Vargas inigualável, tão bonito que feitas no restaurante, mas é
na. Também sinto afinidade com os nossos pimentos. parece literalmente tirado sempre um bom reconhecimen-
com a japonesa e a francesa. de um filme, apesar de estar to, fruto do trabalho, esforço e
Qual foi a coisa mais insólita massificado. dedicação da minha equipa. Z
Quais foram as suas viagens que comeu em viagem?
mais marcantes? Num mercado de rua em
À Tailândia, há seis anos, em Banguecoque, uma espetada
Banguecoque e Krabi. Conheci com um género de escorpião
um mundo completamente di- ou lacrau. Sabia muito a terra,
ferente em termos gastronómi- não fiquei fã [risos].
cos, ao ver a forma como tra-
balham o produto exótico. E um restaurante que
Provei coisas que nem sequer lhe ficou na memória?
sabia que existiam. Vivi e tra- O Yakiniku Aroi [na Tailândia,
balhei em Bilbau, por isso tam- focado nas carnes], extraordiná-
bém diria San Sebastián, pela rio. E o Azurmendi [três estrelas
história, cultura gastronómica, Michelin basco] pela filosofia,
pela movida que tem, é tudo história e a sua cozinha brutal.
fabuloso.
J
e ingredientes, ver o que os A ilha Khao Phing Kan,
outros fazem, as técnicas. Na na Tailândia, é das
paisagens que ficaram
nossa área, é das coisas mais gravadas na memória
importantes. Quando se volta, de Rui Lima Santos
R E S TA U R A N T E S
E M A LTA
O reforço da cozinha italiana no Dubai, o casal de
chefs que tem o segundo melhor restaurante do
Mundo e as novidades peruanas e inglesas são alguns
dos destaques da gastronomia mundial.
F OTO S D I R E I TO S R E S E RVA D O S
GRACE & SAVOUR MAISON LOUISE CENTRAL CHIC NONNA
BIRMINGHAM BRUXELAS LIMA DUBAI
Está situado numa zona rural Formou-se em Finanças em Paris, Quando apareceram pela pri- É natural do sul de Itália, da
em Solihull, a dois passos de Bir- mas esta chef francesa rapida- meira vez na prestigiada lista do cidade de Potenza, mas foi em
mingham, e aposta numa visão mente encontrou a sua vocação The World’s 50 Best Restaurants, Florença que acolheu o aplauso
orgânica da cozinha ao utilizar quando ajudou uma amiga em 2013, Virgilio Martínez e Pía dos inspetores Michelin, ao
os legumes e frutas das suas pró- a erguer um restaurante. Depois León tinham casado há apenas receber uma estrela para o seu
prias hortas e pomares. O Grace de estudar cozinha em Dunquer- quatro dias. Um presente com então restaurante, o Il Pallagio.
& Savour tem ainda poucos meses que, onde nasceu, Isabelle Arpin sabor a lua de mel, que anteci- Uma década depois, é no Dubai
de vida, mas já tem dado nas vistas, mudou-se para a Bélgica e é aqui pava um futuro risonho: o res- que o chef Vito Mollica dá car-
estando na lista do “The Guardian” que tem somado vitórias. Há taurante Central foi subindo na tas, à frente do novo restaurante
dos “12 restaurantes para experi- meia década, conquistou uma tabela, até que alcançou, este Chic Nonna, que ocupa dois
mentar neste momento” em Ingla- estrela Michelin no restaurante ano, o segundo lugar, apenas andares num edifício com vista
terra. A liderar está o chef David Alexandre, em Bruxelas, e abriu atrás do dinamarquês Geranium. panorâmica para o Burj Khalifa.
Taylor, que abraça este novo projeto outra casa em 2019 na mesma À mesa, a dupla de chefs faz As ostras têm grande protago-
depois de passar pelo Maaemo, cidade, com o seu nome. Agora, brilhar o produto local, confecio- nismo, mas a carta oscila entre
o três estrelas Michelin em Oslo. encabeça uma das novidades nando barriga de porco e pesco- os momentos de conforto, como
No menu de degustação com 15 da capital belga, a Maison Louise, ço de cabra, ambos criados nas o risoto de lagosta, e as propos-
momentos há pratos como peito onde aposta no produto sazonal zonas montanhosas peruanas, tas mais leves, como o carpac-
de carne bovina fumado em pinhas; e numa inspiração gastronómica ou as vieiras, lulas e amêijoas cio de wagyu e as vieiras saltea-
tamboril com um cremoso molho franco-belga. A salada de toma- que povoam a costa do país. das. A seleção de queijos italia-
amanteigado; alho francês grelha- tes com burrata belga e menta; A sustentabilidade e a lógica de nos é uma das opções para ter-
do sob carvão e camarão-vermelho a sapateira com molho de caril desperdício zero, pilares neste minar a refeição. Depois, alguns
servido ao natural (é capturado em e crocante de funcho; o filete de espaço situado na capital, Lima, comensais seguem para a sala
cestas de vime). Além dos vinhos vitela com polenta e beringela faz-se em comunhão com a Na- criada especialmente para fumar
de pequenos produtores, há sumo fumada; e a sobremesa que junta tureza, como se vê no quintal charutos, mas não faltam alter-
de cenoura apanhada do quintal ou morangos belgas com merengue do restaurante, onde coabitam nativas: é habitual haver anima-
kombucha caseira de camomila. e chocolate branco são alguns mais de cem espécies de plan- ção de DJ e atuações de jazz
dos pratos da casa. tas, flores e árvores. na esplanada do restaurante.
Shadowbrook Lane, Hampton-
in-Arden, Solihull, Inglaterra Av. de la Toison d’Or, 40, Av. Pedro de Osma, 301, Gate Avenue, South Market,
+441675446080 Bruxelas, Bélgica Lima, Peru Zone D, 1, Dubai
www.hamptonma- +3225496144 +5112428515 +97146052000
nor.com/grace-savour www.le-louise-brussels.com www.centralrestaurante.com.pe www.chicnonna.com
O MUNDO
N U M A D E N TA D A
Vietname, Tailândia, Japão, França so, o chef que lidera a cozinha. “Adoro viajar”, maionese de wasabi, cebola roxa e creme
e Espanha são inspirações que explica o setubalense, a viver no Algarve há de abacate, a piscar o olho ao Japão e Viet-
convivem no B&B – The World In a Bite. uma década. Marrocos e Turquia são destinos name, são outras propostas da carta, além
À frente da cozinha algarvia está que o marcaram, sem esquecer Barcelona, dos hambúrgueres de novilho criado nas
um setubalense que trocou onde se especializou em cozinha molecular. planícies alentejanas.
a antropologia pelos temperos. Chegou a estudar antropologia e trabalhou A viagem pelo Mundo ganha técnica fran-
numa galeria de arte em Lisboa, mas o des- cófona com o crème brûlée de gengibre e o
pertar gastronómico fê-lo descer ao sul. “Des- parfait de amêndoa amarga com caramelo sal-
de sempre que me lembro de gostar de cozi- gado de miso e amêndoas tostadas, aqui numa
O espaço soma mais de 400 anos: são as an- nhar e fazer jantaradas em casa”, conta o chef. aposta no produto algarvio. Além da lógica lo-
tigas cavalariças de uma casa senhorial, onde Na carta, há espaço para propostas como cal, a visão saudável é outro pilar da casa, onde
ainda se mantêm arcadas originais, que refle- mini-chamuças de frango e falafel, conti- se substitui algum do sal por soja e pastas fer-
tem o legado islâmico. Aberto há três anos no nuando-se a apostar no oriente com a mentadas e onde não se usam óleos (frita-se
centro de Faro, o restaurante B&B – The World Bangkok, inspirada na clássica sopa de coco com azeite) nem açúcares refinados.
In a Bite é amplo o suficiente para reunir cem tailandesa tom kha gai, mas aqui com ele-
comensais, entre interior e esplanada, mas mentos locais como as amêijoas da Ria For- B&B – The World In a Bite
também para albergar as várias cozinhas do mosa e o lingueirão. O polvo à sevilhana, co- Almancil: Avenida 5 de Outubro, 360
Mundo que influenciam a carta deste algarvio, zinhado a sete horas em azeite e ervas do Faro: Largo Pé da Cruz, 30
que tem outra casa homónima em Almancil. barrocal; caris vermelhos à base de frango, Preço médio: 20 a 30€
Uma inspiração natural, diria Daniel Cardo- camarão ou tofu; e o cone de atum com www.restaurantebb.pt
Entre
encantos
e cores do
Vietname
O designer Miguel Vieira
é apaixonado pelo continente
asiático, onde voltou após dois
anos de pausa devido à pandemia.
Passou uma semana em Da Nang,
uma cidade costeira com muito
para ver e explorar.
TEXTO SARA OLIVEIRA
A
gosto é, por tradição, o mês de férias de Mi-
guel Vieira que, mesmo sem desligar por
completo, faz um “reset” em destinos lon-
gínquos e pouco comuns para os portugue-
ses. O designer de moda não esconde o fascínio pela Ásia
e pela sua tradição de massagens e tratamentos de bem-
-estar, pelo que voltou à Tailândia, a partir de onde se
pode chegar a vários sítios “em uma hora”. Desta vez,
rumou ao Vietname, onde “há mil e uma coisas para ver”.
Ficou em Da Nang e regressou com a ideia de “voltar e ex-
plorar mais regiões”.
“De Banguecoque lá são mais ou menos 1.40 hora de
avião e é uma cidade onde se pode fazer muita coisa. Pas- J
sei lá uma semana inteira e só estive meia hora na praia Miguel Vieira admite Na hora das refeições, escolheu muitas vezes sushi e
– e eu adoro praia. Lá, as pessoas vão para o mar às cin- ter regressado inspi- sopas de massas, alternativas à gastronomia vietnamita,
rado com as tonalida-
co da manhã, porque amanhece cedo e a água é mais fres- des do Vietname servida em “armazéns muito grandes onde, para além da
ca. Também se deitam cedo: às 10 da noite já estava a dor- área da cozinha e mesas, há imensos aquários, uns com
mir”, recorda, garantindo nunca ter estado parado. ostras ou lagostas, outros com milhares e milhares de pei-
Poucas pessoas falam inglês e foi através de uma aplica- xes e mariscos, que o cliente escolhe e é cozinhado na
ção que Miguel Vieira se tentou fazer entender, o que “é hora com os temperos” locais, algo especiais “para quem
muito complicado”. Mas acabou por correr bem e não fa- está habituado à nossa comida”. Já “a hotelaria é ótima
lhou nenhum dos principais pontos de interesse. Explo- em relação à Europa e muito mais barata. O que cá cus-
rou cavernas de calcário e grutas budistas nas Montanhas ta cinco mil euros, lá custa mil e com um serviço muito
de Mármore, deixou-se encantar pela montanha de Ba Na melhor”, conta, notando que “as viagens também não
Hills e pela sua Ponte Dourada, com enormes mãos de pe- são muito caras”.
dra abertas, e visitou a iluminada Hoi An onde, à noite, se Miguel Vieira prefere organizar ele próprio as viagens,
VIETNAME
colocam luminárias a boiar no rio, emprestando um colo- dispensando agências. “Faço pesquisas exaustivas e ten-
rido mágico à cidade antiga. Ali posou em frente à emble- to fugir do circuito comercial”. Em Da Nang, a procura
mática ponte do século XVI, um clássico da arquitetura ja- foi dar a “um hotel sustentável muito bonito, cheio de
ponesa e testemunho da História, e experimentou um pas- árvores”.
seio de barco de cestas pela vila de Cam Thanh. O Vietname tem uma Assumindo ser “muito inspirador” observar o que o
Miguel Vieira recorda o trânsito caótico característico costa que se estende rodeia, o designer de moda deixa no ar a hipótese de usar
do Vietname e a odisseia que é atravessar uma rua quan- por 3444 km, a meio as cores e texturas vietnamitas nas próximas coleções.
da qual se encontra
do ninguém respeita passadeiras. E avisa que a Grab, a cidade portuária Em breve, subirá à cena com as propostas para o verão
TVDE local, raramente pára onde o cliente pretende. de Da Nang 2023 no Portugal Fashion, no Porto. Z
EMBARQUE
NA NATUREZA
EM ESTADO PURO
COM MARCAS
NACIONAIS
São tantos os destinos com
paisagem à espera de ser
contemplada... Deixe-se levar pelo
som das cascatas, pelos chilrear dos
pássaros ou por vales e montanhas
a perder de vista. Mas sempre com
cunho português: roupa, calçado
e acessórios com materiais nobres
em que o conforto e o bom gosto
imperam. Inspire-se com as nossas
sugestões de marcas nacionais
e faça uma boa viagem!
POR RUTE CRUZ
LOOK MANJERICA
Bolsa
Monte
Campo
60€
Boné
Lion of
Porches
39,99€
Carteira
em madeira
de freixo
para dinheiro,
cartões
(até sete)
e moedas
WO Design
35€
Sapatilhas
Sanjo
by Burel
79,50€
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49€
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Victoria
Handmade
199€
Veado
em cobre
Malabar
9500€
O M E GAT R O N / W I K I M E D I A
4
4
c) Dominica
b) Guadalupe
a) Granada
“Ilha das Especiarias”?
ilha-nação também conhecida como
Da Europa para as Caraíbas. Qual é a
V L A D P O DVO R N Y/ F L I C K R
3
c) Estocolmo
b) Copenhaga
a) Oslo
sobre 14 ilhas?
Que capital europeia é construída
2
3
c) 8222
b) 822
a) 82
ANK KUMAR/FLICKR
tem a Austrália?
N E I L H OWA R D/ F L I C K R
É de curiosidades. Quantas ilhas
Mas não é de paraísos que falamos.
conhecimentos quanto a ilhas.
Este mês vamos testar os nossos
2 1
1
QUIZ DO VIAJANTE
A TERRA DO CÉU
O MUNDO
INSISTE EM
RENASCER
Não será a imagem de um
destino apetecível por esta
altura, mas é a imagem da
esperança: um jardim de
Velyka Dymerka, pequena
aldeia nos arredores de
Kiev, capital da Ucrânia, foi
palco de algo atroz. Restou
S E R G E Y D O L Z H E N KO/ E PA
BEACH
TRIP 18 PRAIAS DE ÁGUA
MORNA EM IBIZA
E FORMENTERA
1
PUERTO DE SAN MIGUEL
Bons acessos, tranquila, vistas de cima deslumbrantes
CALA COMTE
2 Areal curto, sempre povoado, mar maravilhoso
D
e todos os lugares-comuns que nos possam
querer impingir sobre Ibiza e Formentera,
este é o mais facilmente desmontável: o de
que só migram para aquelas ilhas mediter-
rânicas os que vivem para derramar os corpos escaldados
nas pistas de dança e os que entregam os tímpanos à in-
clemência das batidas sincopadas nas festas de espuma.
Desmontemos, pois, essa estafada imagem. Durante oito
dias, conseguimos serpentear, imaculados, pelas cele-
brações etílicas, batendo 18 praias de água morna sem
mergulharmos na noite (pelo menos de cabeça, dado que
os despojos dos excessos abundam).
Este roteiro fez-se em família, de dia, à boleia de uma
bússola natural chamada Sol. Oito dias, duas ilhas, 18
areais. Ficaram muitos por ver, mas não íamos propria-
mente com uma folha de Excel preparada, pelo que o con-
3
selho que podemos deixar a quem, entre maio e outubro,
queira banhar-se nestas pérolas das Baleares cabe numa CALA D´HORT
folhinha A5: levem referências geográficas, mas deixem- Das mais belas enseadas de Ibiza,
-se embalar pela crueza do improviso. O pior que vos dali vê-se a ilha de És Vedrà
pode acontecer, em particular na época alta, é voltarem
5
BENIRRÀS
É a praia do pôr do sol. É quase uma religião.
Vale a pena, mas tem de ir cedo
PLAYA DE S’ARENAL
8 Urbana, areal sujo, pouco convidativa
10
PLAYA DE PUNTA GALERA
De difícil acesso, para quem gosta de aterrar
nas rochas. Lindíssima
9 11
14
PLAYA SES ILLETS
Uma das joias de Formentera. Água morna, areal extenso,
ótima para snorkeling e para ficar a jiboiar no oceano
16
CALA SANT JOAN DE PORTINATX
De perfil urbano, tem um enquadramento natural sublime.
Bons restaurantes perto e comércio variado nas imediações
Z
A temperatura da água
consegue manter-se
convidativa entre maio
e outubro, mas é de junho
a setembro que vira “caldo”
17 18
CALA SALADA CALA SALADETA
O acesso é díficil, mas vale bem a pena. É das mais bonitas e procuradas
Chegue cedo, senão tem de voltar para trás de Ibiza. Descubra porquê
N I KO L A S I R A /G E T T Y I M AG E S
R AY L I P S C O M B E /G E T T Y I M AG E S
J
Stortorget e o Palácio
Real são visita a não
perder em Estocolmo;
Ao lado, uma huldra
norueguesa
NÃO É MITO
na Escandinávia – monumentalidade e história, Nature-
za e uma animação noturna ajustada à dimensão anor-
mal dos dias de verão.
As “huldra”, sedutoras criaturas do folclore escandina-
vo que enfeitiçam os homens com a sua música, atrain- SUÉCIA
do-os para a floresta, existem mesmo. De olhos postos A entrada faz-se por Estocolmo, construída sobre 14 ilhas
na cascata de Kjosfossen, demoramos a perceber de onde ligadas por 54 pontes. É fácil percorrer a maioria delas a
vêm os acordes que se sobrepõem ao som da queda de pé, mas, para as mais dispersas, os barcos regulares são
água, 225 metros de força bruta. Quando finalmente avis- a solução rápida e simultaneamente eficaz para propor-
tamos uma bailarina a dançar quase no topo, a música cionar perspetivas únicas da cidade. Não há fotografia
invade-nos como a beleza em estado puro da Noruega e capaz de captar a beleza a 360 graus dos monumentos e
fica-nos colada à pele durante horas. dos edifícios de cores quentes, acentuados pelo sol do fi-
Numa viagem desenhada com o objetivo declarado de nal de dia (ou noite?) quando não há nebulosidade.
passear pelos fiordes, é difícil não assumir à partida o fas- A Cidade Velha é de visita imprescindível na capital
cínio pela grandiosidade das paisagens. Mas voltemos sueca. Além de monumentos como o Palácio Real ou a
INÊS CARDOSO
J
Catedral de São Nicolau, condensa ruas estreitas cheias A Câmara Municipal
de comércio e restauração e um dos mais famosos pos- de Estocolmo é o
lugar onde se anuncia
tais da cidade: Stortorget, a praça com as coloridas casas o Prémio Nobel da Paz
medievais que pertenciam à antiga nobreza onde teve lu- a cada 10 de dezembro
gar o famoso “Banho de Sangue de Estocolmo”, no sé- 3
culo XVI. É também nesta praça que se situa a atual sede Em cima, o Museu
da Academia Sueca, o Museu Nobel. Vasa e, ao lado,
o mercado
Estudando bem horários e concentrando visitas em 24 Ostermalmshallen
INÊS CARDOSO
INÊS CARDOSO
cartão está pago, com a vantagem de incluir viagens sem
restrições nos barcos e autocarro turístico. E até a locali-
zação ajuda a gerir o tempo, já que numa única ilha con-
centram-se museus como o Vasa, Nórdico, Bebidas Es-
pirituosas e Viking. O dia da semana pode também fazer
diferença para otimizar as visitas – o Nobel, por exem-
plo, fica aberto até às 21 horas às sextas e sábados. rentes cores e cremes, envolvidas em pasta de açúcar ver-
O Vasa merece a prioridade que lhe é dada anualmen- de. Ainda à mesa, não há restaurante da cidade onde não
te por milhões de visitantes. Nele encontra-se o navio de se encontrem as típicas almôndegas e as bagas silvestres
guerra com esse nome que naufragou na viagem de es- que são outra marca da gastronomia.
treia, uma escassa milha náutica depois de deixar o por- O museu da Fotografia, cujo interesse varia em função
to. Defeitos estruturais de construção e a impaciência do das exposições temporárias, situa-se no bairro que, de
rei Gustavo Adolfo explicam a inusitada rapidez com que parente pobre, passou a área de maior implantação de
afundou a embarcação opulenta e embelezada com es- bares e vida noturna por excelência. As bebidas pesam no
culturas e dezenas de canhões, projetada para impres- orçamento, mas partir para a Escandinávia pressupõe
sionar os inimigos. O documentário (também disponível contar à partida com gastos diários acima da média em
em português) sobre a sua descoberta e recuperação, 333 Portugal. Já a diferença da moeda não é um problema e é
anos depois, mostra como esse prolongado adormeci- possível passar as férias sem chegar a tocar em coroas.
mento debaixo de água permite que hoje o contemple- Os cartões são não apenas universais como, em muitos
mos em extraordinário estado de conservação. estabelecimentos, modo único de pagamento, com le-
Se o museu Viking vale apenas pela expressividade e treiros frequentes a indicar “no cash”.
curiosidades contadas pelos guias, o Nórdico proporcio-
na uma incursão pelas tradições suecas e explica, por NORUEGA
exemplo, a atração pelo chá a meio da tarde, acompa- Há vários voos diários entre as principais cidades escan-
nhado de doses maciças de bolachas e bolos. Como o dinavas e é fácil traçar um roteiro que siga pela capital
Princesa, uma explosão de açúcar em camadas de dife- norueguesa ou, em alternativa, por Bergen, mais próxi-
ma dos principais fiordes. Com os seus antigos armazéns no mercado. A variedade inclui bife de baleia. Que está
de mercadores em madeira e pintados de cores vivas, presente por toda a cidade, tal como o alce e a rena, seja
classificados como Património Mundial desde 1979, Ber- na forma de enchido ou em roulottes de hambúrgueres.
gen é uma cidade acolhedora, cheia de recantos floridos Subir ao funicular de Floyen é um dos programas a não
que não constam dos guias. perder. No topo, além da vista privilegiada sobre Bergen
A claridade noturna que já nos tinha surpreendido em e as infindáveis ilhas e braços em que fiordes e mar do
Estocolmo acentua-se e, mesmo sabendo à partida que é Norte se entrelaçam, há trilhos florestais, um lago com
assim, não escapamos ao encanto de ver as horas passar caiaques de uso gratuito, cabanas com panquecas e o tra-
sem que haja escuridão absoluta. O pôr do sol é teorica- dicional doce de frutos vermelhos ou o cachorro norue-
mente pelas 23, nos dias longos de julho, mas a luz (variá- guês preparado em panqueca de batata.
vel em função da nebulosidade) nunca nos deixa por com- Da caminhada ao trekking, a Noruega proporciona as
pleto. Claro que uma das vantagens de ser turista é não vi- condições ideais para os mais aventureiros, mas quem
ver a escuridão inversa do inverno, ou ter a sorte de ater- preferir a visita clássica aos fiordes dispõe de uma varia-
rar em Bergen em dias luminosos. “Não víamos o sol há da oferta de transportes e circuitos que permitem proje-
nove dias”, confessou uma portuguesa de Caldas da Rai- tar um percurso à medida. Partindo de Bergen, o mais
nha que encontrámos a trabalhar numa loja de souvenirs. simples é utilizar o comboio até Voss, seguindo depois
A dureza dos longos invernos é apontada como um dos para Gudvangen, onde os cruzeiros percorrem os fiordes
fatores para as sérias taxas de alcoolismo no país, que ori- de Naeroy e Aurland, dois braços do gigante Sogn. Um
ginaram uma das mais rigorosas legislações de controlo dos momentos assinalados na viagem é precisamente o
de álcool da Europa. No mercado do peixe, há cervejas de n da confluência dos três.
baixo teor alcoólico criadas especificamente para respon- Os armazéns de Na lista do Património da Humanidade desde 2005,
mercadores valeram
der aos rígidos critérios de venda. Se gostar de peixe e ma- o Património Mundial o Naeroy é relativamente estreito, o que proporciona pai-
risco, não pode deixar de comer uma (ou mais) refeições a Bergen sagens deslumbrantes das encostas íngremes cortadas
INÊS CARDOSO
3
As casas de madeira
e as ruas floridas são
imagem de marca
da cidade norueguesa
INÊS CARDOSO
INÊS CARDOSO
cidas. É esse estado quase intocado que contribui para o
deslumbramento. Tudo nos entra pelos olhos à medida
que vamos navegando.
Chegados a Flam, estação ferroviária no extremo do
INÊS CARDOSO
fiorde de Aurland, apanhamos o comboio turístico rumo
a Myrdal. São apenas 20 quilómetros em que subimos 864
metros, sempre a saltar de janela em janela para captar,
à esquerda e à direita, o máximo possível das cascatas e
rios com quedas de água abruptas. Quase a chegar a Myr-
dal, é anunciada uma paragem de cinco minutos para
que os passageiros possam apreciar a cascata de Kjosfos-
sen. Situada a 299 quilómetros de Bergen e 720 de Oslo,
é um dos pontos mais visitados do país. Saímos do com-
boio e estamos ainda a sentir os salpicos de água e a for- J
ça da corrente, quando a música começa. As “huldra” Cascatas nas encostas
íngremes do fiorde
INÊS CARDOSO
são na verdade alunas da escola nacional de ballet. de Naeroy
Em Myrdal são asseguradas as ligações quer para Os-
n
lo, quer para Bergen. Sempre em viagem ao lado de en- O comboio
costas encimadas de neve, lagos, casas com bandeiras Flam-Myrdal
INÊS CARDOSO
J 3
O jardim Tivoli é, na O canal Nyahvn data
verdade, um parque do século XVII e é uma
de diversões. Inaugu- das principais atrações
rado em 1843, é o de Copenhaga
terceiro mais antigo
do Mundo
NORUEGA
Bergen
Estocolmo
J E F F OV E R S /G E T T Y I M AG E S
OIC
LT
BÁ
R
MA
TE
MAR DO NOR
DINAMARCA
Copenhaga SUÉCIA
FINLÂNDIA
GA
UE
NOR
INÊS CARDOSO
DINAMARCA
GUIA DE VIAGEM
tografias, os turistas são bem-vindos à área controver-
sa desde a criação, numa área militar, em 1971. Os pri- IR Estocolmo, Suécia
meiros ocupantes procuravam escapar aos ideais ca- Há voos diretos para Estocolmo www.nordicchoicehotels.com/
pitalistas e queriam um espaço verde e aberto, que re- a partir de Lisboa com a TAP e hotels/sw den/stockholm/
jeitava as convenções sociais e o tumulto da cidade. existem inúmeras opções de li- comfort-hotel-xpress-
O espírito da comunidade foi entretanto cruzado por gações com escalas mais em stockholm-central/
valores anarquistas e movimentos hippie e o facto de o conta. Regressar de Copenhaga A partir de 73 euros
consumo de drogas leves ser tolerado (ao passear pe- com escala em Londres ou Bar-
las ruas da Christiania deparamo-nos com a venda) celona é a opção mais econó- Hotel Østerport
é um dos fatores de atrito com a Polícia. mica, mas há voos diretos para Oslo Plads 5, Østerbro, 2100
Conflitos legais à parte, a “cidade livre” promove cons- o Porto com a Ryanair e para Copenhaga, Dinamarca
tantes eventos culturais, tem uma rede própria de res- Lisboa com a TAP. Entre as cida- hotelosterport.com/en
tauração e animação e a solução de problemas é feita de- des escandinavas há ligações A partir de 115 euros
mocraticamente, através da procura de consensos. As re- regulares com a SAS.
gras estão afixadas à vista de todos e a interpretação do TRANSPORTE NOS FIORDES
que tem sido esta experiência social e política já mereceu DORMIR O cruzeiro entre Gudvangen
milhares de artigos e análises a nível mundial. Citybox Bergen e Flam custa 39 euros. O com-
Da Ópera ao Museu Nacional, desfrutar da oferta cul- Nygårdsgaten 31, 5015 boio turístico Flam/Myrdal fica
tural permite entender a riqueza da mitologia regional. Bergen, Noruega por 27 euros. Pacote incluindo
Ragnarok, troll ou Asgard serão termos desconhecidos citybox.no o comboio Bergen/Voss,
para a maioria (amantes de Marvel e Thor terão umas lu- A partir de 112 euros o autocarro Voss/Gudvangen,
zes) que escassos dez dias não chegam para aprender. o barco Gudvangen/Flam,
É provável que sobre a vontade de um regresso para, se- Comfort Hotel Xpress o comboio turístico até Myrdal
guindo o chamamento da “huldra”, se deixar embrenhar Stockholm Central e o comboio de regresso
mais fundo nos mistérios escandinavos. Z Kungsbron 1, 111 22 a Bergen: cerca de 135 euros.
A Penha d’Águia
ao pôr do sol, vista
da praia da Maiata,
lugar cada vez mais
procurado para
a prática de surf
O FEITIÇO
DA LUA
Diz-se que é a estrutura geológica mais impressionante da Madeira
e nós acreditamos: chama-se Penha d’Águia, é um monte saído a eito
do chão e do mar e o seu topo oferece vistas única sobre a costa
norte da ilha. Um trilho bonito de se fazer, como muitos outros por ali.
T E X T O IVETE CARNEIRO
D I R E I TO S R E S E RVA D O S
E
la, a Lua, era a grande ausente à chegada, pelo misto de incompreensão e de certeza: só podemos estar
menos à vista desarmada. Mas havia um cer- malucos para nos metermos a trepar uma obrigação. “De
to brilho no firmamento que desenhava a si- pequena era subir, pé rapado, para lá amanhecer e tra-
lhueta da Penha d’Águia,, negra em fundo ne- zer um molhinho de lenha. De noite que era para depois
gro, qual gigante assanhado a erguer o lombo do chão. ir para a escola.” Pé rapado? Sim, descalça. “O sapatinho
Ou do mar. É uma forma inexplicável, um rochedo que era só para ir à missa. E ia uma irmã à primeira missa e ia
parece impossível, uma protuberância descolada das ser- outra à segunda. Os sapatos de Teresa iam todos os do-
ranias, a mais impressionante estrutura geológica da Ma- mingos duas vezes à missa.
deira que esconde, até, a Lua. E é um susto valente: olha- Data desse tempo o trilho que abordamos, com a sapa-
-se de baixo e pensa-se “cruzes” enquanto se faz o sinal tilha de trail último grito a dar-nos conforto para a em-
dela, da cruz. preitada que nos enche o peito. Do mar do Porto da Cruz
O projeto tem alguns anos, a valentia nunca lhe per- toma-se o Caminho Velho do Massapez que já é, ele só,
mitiu a concretização, tudo aquilo é tão belo visto de bai- uma parede de respeito – é a primeira declaração de óbi-
xo, dos zero metros de altitude, da esplanada do Enge- to mental na prova Trail Porto da Cruz Natura que por ali
nho do Norte, hoje a “Casa do Rum” que dá início à pro- se cumpre todos os meses de julho, a primeira porque su-
menade do pequeníssimo Porto da Cruz e abraça, a orien- cedem-se, as declarações de óbito naquele parte-pernas
te, a baía pequena daquela freguesia do Machico. que nos leva a lugares mais belos ainda porque nos atira
O projeto é, pois então, subir aos céus. Nem são, ad- para fora dos percursos pedestres –, até desembocar por
mitamos, céus altos por aí além – 590 metros. É só a im- cima da entrada do Túnel da Cruz que veio alterar para
pressão que aquela parede a pique dá. Dizem-nos que sempre as memórias das gentes daqui. Dali, a placa que
morreu gente há tempos, um moço que se lançou em aponta a vereda do nosso contentamento faz fronteira
base jumping e foi traído pelo paraquedas. E depois di- com o Katrepa's Bar, que é dono de uma das melhores
zem-nos o resto, dizem-nos a vida das gentes que cres- n ponchas da Madeira e onde sabemos que nos poderemos
ceram e da lenha que se multiplicava inexorável no pe- O trilho está bem reconfortar à chegada.
nedo para morrer debaixo de panelas ao lume. marcado e arranca Atrás da placa, nem de propósito, arranca o Caminho
no fim da medonha
“Subir à Penha de Águia, eu? Só quando houver estra- subida que parte da Cruz. A vereda, essa, faz-lhe literalmente um man-
da e vou de carro.” Teresa Carvalho olha-nos com um do Porto da Cruz guito e embrenha-se mato adentro, por um chão tantas
MACHICO A PÉ
A Vereda da Penha de Águia 166 m/549 m, alguma vertigem. Dificuldade média, 9,2 km, Larano – Boca do Risco – Caniçal
é apenas um dos percursos do Seguindo para o Porto da Cruz via alt. 634 m/862 m, 8,5 km, alt. 160 m/549 m.
enorme concelho do Machico. pouca vertigem.
Intitulado Madeira trail Capital Vereda do Larano:: Lombinho – ½ km vertical
(mmtc.pt), tem 11 percursos dificuldade média, 9,3 km, alt. Levada do Furado 6,6 km, alt 32 m/612 m.
de treino, muitos deles 166 m/384 m, alguma vertigem. Porto da Cruz/Santo António da
encaixados nos bem marcados Serra. Dificuldade média, 10,7 km, Percursos de treino Machico
trilhos pedestres (algumas Levada do Caniçal alt. 635 m/865 m, alguma vertigem. 22 km. Alt. 0 m/650 m.
pequenas rotas – PR). O site Caniçal. Dificuldade fácil, 17 km. Alt. 0 m/600 m.
visitmachico.com tem mapas 7,6 km, alt. 233 m/244 m, Levada da Referta 4 km. Alt. 0 m/288 m.
muito úteis e dicas para os pouca vertigem. Porto da Cruz. Dificuldade média,
diferentes percursos. 4,5 km, alt. 225 m/311 m, alguma Percursos de treino Porto da Cruz
Vereda do Pico Castanho vertigem. 9 km. Alt. 8 m/297 m.
PERCURSOS PEDESTRES Machico. Dificuldade difícil, 19 km. Alt. 0 m/890 m.
Vereda da Ponta de São Lourenço 9 km, alt. 232 m/631 m, Levada do Castelejo 35 km. Alt. 0 m/1400 m.
Caniçal. Dificuldade média, pouca vertigem. Porto da Cruz. Dificuldade
8,4 km, alt. mín./máx. 63 m/ média, 11,8 km, alt. 266 m/ Ribeiro Frio – Chão das Feiteiras
162 m, pouca vertigem. Levada dos Maroços 387 m, pouca vertigem. – Ribeiro Frio
Machico. Dificuldade média, 7,5 km, alt. 932 m/1184 m.
Vereda da Ribeira do Natal 11,8 km, alt. 238 m/264 m, Vereda da Penha d’Águia
Caniçal. Dificuldade média, pouca vertigem. Porto da Cruz. Dificuldade Sky Trail Camp
2,6 km, alt. 44 m/317 m, difícil, 3,4 km, alt. 261 m/ Três dias, 54 km, alt. 5 m/1400 m.
pouca vertigem. Vereda das Funduras 604 m, alguma vertigem.
Porto da Cruz/Machico. Summer Trail Camp
Vereda da Boca do Risco Dificuldade média, 7,7 km, alt. PERCURSOS DE TREINO Três dias, 49 km, alt. 0 m/650 m.
Machico. Dificuldade média, 2,3 km, 197 m/633 m, pouca vertigem. Chão das Feiteiras – Pico do
alt. 156 m/349 m, pouca vertigem. Suna – Levada do Furado –
Seguindo para o Caniçal: Levada da Serra do Faial Chão das Feiteiras
dificuldade difícil, 8,4 km, alt. Santo António da Serra. 13,5 km, alt. 786 m/1399 m.
Diz o mapa que a vereda é de duplo sentido. Porque o A Penha d’Águia é um feitiço quando a olhamos da por-
mapa é do Machico. Mas a Penha d’Águia não. É do Ma- ta do Bar Mini Central, a mercearia-bar de Sónia, filha de
chico e de Santana. Se os marcos geodésicos assinalam o Teresa, no largo da Igreja do Porto da Cruz. É um mons-
ponto mais alto de um dado monte, ali estamos, nos qua- tro que julgávamos indomável. Tornou-se um amigo, um
se 600 metros de altitude, no lado sul da Penha, com vis- tema de conversa. Teresa insiste: levou com ela dema-
ta para o majestoso Pico do Areeiro. E decidimos seguir siadas vezes no lombo para olhá-la de sorriso aberto, na-
em frente. Há demasiada Madeira para ver para nos cin- quela altura em o que hoje é trail/trekking se chamava
girmos a uma ida e volta pelo mesmo trilho. “necessidade” e a Lua era a companhia das subidas. Se
Imergidos da floresta, apresenta-se-nos o Atlântico, que algum dia ouvirem a expressão “moon spell” nas ruas do
se faz espelho quando é visto dali das alturas. Ao fundo, n Porto da Cruz, é mesmo disso que se trata. Do feitiço da
perfeito, o Porto Santo, lá em baixo, o Faial. E logo a per- A Igreja do Porto da Lua que vimos no dia seguinte, enorme em pleno dia.
Cruz e, no horizonte,
ceção de que a ilha é um grupo de crocodilos em conferên- uma clareira sobre Aquele rochedo só pode ter sido erguido num ato de ma-
cia e que só há zero altitude nas baías. E que o que desce o Porto Santo gia negra... Z
sobe e o que sobe desce, pelo que sem querer vamos ter de
pôr mais desnível nas pernas para regressar à base. Paciên-
cia. Tudo é belo, o Caminho Real da Madeira em trechos
intactos, pedrinhas abauladas por séculos de uso, degraus
como as pedras, abaulados, descida cumprida subida
adiante até à espinha de um dos crocodilos, até à velha es-
trada regional que definhou com o túnel, até ao café de
Laurentino Câmara e às favas e aos torresmos que nos pa-
recem um prazer inigualável, trincados com Coral e suor
junto aos matrecos enfeitados com uma jarra, paredes pa-
radas no dia do nascimento do raio do túnel.
Estamos quase prontos a descer o que falta, com duas
veredas em vez de uma, dez quilómetros nas sapatilhas,
um total de 800 metros de desnível positivo, meia dúzia
de pessoas cruzadas e a constatação de uma verdade ver-
dadeira apanhada na leitura que nos acompanha até à
Madeira, “O alfarrabista de Ponta Delgada”, de Francis-
co Duarte Mangas, “o abandono dá figos muito verdes”,
ou, na versão menos poética de Agostinho, dono do nos-
so quarto na Maiata, “vão-se as casas, ficam os figos”. A
visão de uma placa a indicar uma ribeira que esconde um
geossítio com as rochas mais antigas expostas na Madei-
ra e cujo nome resume todo este feitiço fecha o trilho,
“Tem-te Não Caias”.
T H O M A S B A R W I C K /G E T T Y I M AG E S