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GUIA DE VIAGEM

DUAS ILHAS
POR REDESCOBRIR

2021
P O RTO SA N TO
EDITORIAL

Já se terão escrito, no mínimo, algumas centenas de


guias de viagem sobre a Madeira. Afinal, o turismo é
das atividades mais antigas da ilha, habituada a receber

MADEIRA
visitantes desde os tempos em que servia de porto de
adaptação ao clima para quem ali passava a caminho
do hemisfério Sul.
Porquê, então, mais um guia sobre o arquipélago?

P O RTO SA N TO
Porque apesar dessa veterania na arte de saber receber,
e da hospitalidade que parece inscrita no ADN dos
madeirenses, ainda está por eliminar, de vez, um
preconceito associado ao perfil dos turistas que o visitam:
pessoas de uma certa idade que querem apenas usufruir

MADEIRA
do sol e da natureza.
Sol não falta, é um facto, e natureza muito menos. Mas a
Madeira pode ser bem mais do que isso. Pode ser emoções
fortes, a começar numa aterragem ventosa, e a acabar na

P O RTO SA N TO
prática de canyoning ou surf. Refeições inesquecíveis em
restaurantes de luxo ou em tascas onde os palitos fazem
as vezes dos talheres. Brindes de vinho engarrafado há
dois séculos ou de poncha feita ao momento. Mergulhos
em praias secretas ou banhos em cascatas à beira da

MADEIRA
estrada. Hotéis clássicos virados para o mar ou alojamentos
minimalistas solapados na paisagem. Artesanato tradicional
ou design contemporâneo. Mar ou montanha. Nuvens
ou corais. Madeira ou Porto Santo.

P O RTO SA N TO
O objetivo deste guia é, precisamente, mostrar
estes dois lados. Que não se opõem, complementam-se.
E que fazem desta pérola do Atlântico uma joia especial.
MADEIRA

T I A G O PA I S
EDITOR
P O RTO SA N TO
EDITORIAL

Já se terão escrito, no mínimo, algumas centenas de


guias de viagem sobre a Madeira. Afinal, o turismo é
das atividades mais antigas da ilha, habituada a receber

MADEIRA
visitantes desde os tempos em que servia de porto de
adaptação ao clima para quem ali passava a caminho
do hemisfério Sul.
Porquê, então, mais um guia sobre o arquipélago?

P O RTO SA N TO
Porque apesar dessa veterania na arte de saber receber,
e da hospitalidade que parece inscrita no ADN dos
madeirenses, ainda está por eliminar, de vez, um
preconceito associado ao perfil dos turistas que o visitam:
pessoas de uma certa idade que querem apenas usufruir

MADEIRA
do sol e da natureza.
Sol não falta, é um facto, e natureza muito menos. Mas a
Madeira pode ser bem mais do que isso. Pode ser emoções
fortes, a começar numa aterragem ventosa, e a acabar na

P O RTO SA N TO
prática de canyoning ou surf. Refeições inesquecíveis em
restaurantes de luxo ou em tascas onde os palitos fazem
as vezes dos talheres. Brindes de vinho engarrafado há
dois séculos ou de poncha feita ao momento. Mergulhos
em praias secretas ou banhos em cascatas à beira da

MADEIRA
estrada. Hotéis clássicos virados para o mar ou alojamentos
minimalistas solapados na paisagem. Artesanato tradicional
ou design contemporâneo. Mar ou montanha. Nuvens
ou corais. Madeira ou Porto Santo.

P O RTO SA N TO
O objetivo deste guia é, precisamente, mostrar
estes dois lados. Que não se opõem, complementam-se.
E que fazem desta pérola do Atlântico uma joia especial.
MADEIRA

T I A G O PA I S
EDITOR
ÍNDICE O B S E R VA D O R L I F E S T Y L E

EDIÇÃO E COORDENAÇÃO
T I A G O PA I S

DIREÇÃO DE ARTE
L U Í S A L E X A N D R E   /   S I LVA D E S I G N E R S

TEXTOS

MADEIRA   P.  6
MARIANA ABREU GARCIA
T I A G O PA I S

FOTOGRAFIA DE CAPA
FRANCISCO CORREIA

FOTOGRAFIA
G O N Ç A L O F. S A N T O S
M A R I A N A A LVA R E Z C O R T E S
R O D R I G O C A B R I TA
T I A G O PA I S

ILUSTRAÇÃO
R A Q U E L C O S TA

REVISÃO
C ATA R I N A S A C R A M E N T O

IMPRESSÃO
NORPRINT – A CASA DO LIVRO
R UA DAS A RT E S G RÁ F IC AS, 2 0 9
4 7 8 0 -7 3 9 S A N T O T I R S O

DISTRIBUIÇÃO
VA S P

TIRAGEM MÉDIA
10 000 EXEMPLARES

REGISTO NA ERC
127289

ESTATUTO EDITORIAL EM WWW.510.PT

FUNCHAL   P.  80 PROPRIETÁRIA/EDITORA


CINCO UM ZERO, LDA.

RUA JOÃO SARAIVA, 7


1700-248 LISBOA

NÚMERO DE IDENTIFICAÇÃO
DE PESSOA COLETIVA
515 193 003

ADMINISTRAÇÃO
J O Ã O M I G U E L TAVA R E S
RUDOLF GRUNER

ACIONISTAS
J O Ã O M I G U E L TAVA R E S
O B S E R VA D O R O N T I M E , S . A .

PUBLISHER
J O Ã O M I G U E L TAVA R E S

DIRETORA DE PUBLICAÇÕES
A N A DI AS F E R R E I RA

EDITOR E COORDENADOR CRIATIVO


T I A G O PA I S

PORTO SANTO  
PRODUTORA DE CONTEÚDOS
P.  1 20 MARIANA ABREU GARCIA

SENIOR ACCOUNT
R I TA L A G A R T O

COORDENADORA DIGITAL
FRANCISCA SOARES

OBSERVADOR ON TIME, S.A.

DIREÇÃO-GERAL
RUDOLF GRUNER

DIRETORA COMERCIAL
ISABEL MARTINS MARQUES

DEPARTAMENTO COMERCIAL
A N A B E AT R I Z C A R N E I R O , C ATA R I N A
P E R D I G Ã O FA L C Ã O , FÁT I M A
G U E R R E I R O , M A R I A J O Ã O C O S TA ,
NUNO ESTEVES, SANDRA MORGADO

CONTACTO COMERCIAL
C O M E R C I A L @ O B S E R VA D O R . P T

A OBSERVADOR LIFESTYLE É IMPRESSA


EM PAPEL PROVENIENTE DE FLORESTAS
A EQUIPA DA OBSERVADOR LIFESTYLE VIAJOU A CONVITE DA ASSOCIAÇÃO DE PROMOÇÃO DA MADEIRA. COM GESTÃO SUSTENTÁVEL.
ÍNDICE O B S E R VA D O R L I F E S T Y L E

EDIÇÃO E COORDENAÇÃO
T I A G O PA I S

DIREÇÃO DE ARTE
L U Í S A L E X A N D R E   /   S I LVA D E S I G N E R S

TEXTOS

MADEIRA   P.  6
MARIANA ABREU GARCIA
T I A G O PA I S

FOTOGRAFIA DE CAPA
FRANCISCO CORREIA

FOTOGRAFIA
G O N Ç A L O F. S A N T O S
M A R I A N A A LVA R E Z C O R T E S
R O D R I G O C A B R I TA
T I A G O PA I S

ILUSTRAÇÃO
R A Q U E L C O S TA

REVISÃO
C ATA R I N A S A C R A M E N T O

IMPRESSÃO
NORPRINT – A CASA DO LIVRO
R UA DAS A RT E S G RÁ F IC AS, 2 0 9
4 7 8 0 -7 3 9 S A N T O T I R S O

DISTRIBUIÇÃO
VA S P

TIRAGEM MÉDIA
10 000 EXEMPLARES

REGISTO NA ERC
127289

ESTATUTO EDITORIAL EM WWW.510.PT

FUNCHAL   P.  80 PROPRIETÁRIA/EDITORA


CINCO UM ZERO, LDA.

RUA JOÃO SARAIVA, 7


1700-248 LISBOA

NÚMERO DE IDENTIFICAÇÃO
DE PESSOA COLETIVA
515 193 003

ADMINISTRAÇÃO
J O Ã O M I G U E L TAVA R E S
RUDOLF GRUNER

ACIONISTAS
J O Ã O M I G U E L TAVA R E S
O B S E R VA D O R O N T I M E , S . A .

PUBLISHER
J O Ã O M I G U E L TAVA R E S

DIRETORA DE PUBLICAÇÕES
A N A DI AS F E R R E I RA

EDITOR E COORDENADOR CRIATIVO


T I A G O PA I S

PORTO SANTO  
PRODUTORA DE CONTEÚDOS
P.  1 20 MARIANA ABREU GARCIA

SENIOR ACCOUNT
R I TA L A G A R T O

COORDENADORA DIGITAL
FRANCISCA SOARES

OBSERVADOR ON TIME, S.A.

DIREÇÃO-GERAL
RUDOLF GRUNER

DIRETORA COMERCIAL
ISABEL MARTINS MARQUES

DEPARTAMENTO COMERCIAL
A N A B E AT R I Z C A R N E I R O , C ATA R I N A
P E R D I G Ã O FA L C Ã O , FÁT I M A
G U E R R E I R O , M A R I A J O Ã O C O S TA ,
NUNO ESTEVES, SANDRA MORGADO

CONTACTO COMERCIAL
C O M E R C I A L @ O B S E R VA D O R . P T

A OBSERVADOR LIFESTYLE É IMPRESSA


EM PAPEL PROVENIENTE DE FLORESTAS
A EQUIPA DA OBSERVADOR LIFESTYLE VIAJOU A CONVITE DA ASSOCIAÇÃO DE PROMOÇÃO DA MADEIRA. COM GESTÃO SUSTENTÁVEL.
MADEIRA

E X P E R I M E N TA R
COMPRAR
DORMIR
CONHECER
Reza a lenda que antes de chegarem
à Madeira, em 1419, os descobridores
da ilha terão ficado longos meses a

COMER
observá-la a partir do Porto Santo.
Julgaram que se tratava de um enorme
monstro marinho e só avançaram

V I S I TA R
quando perceberam que não se mexia
ou respirava. Ora, a Madeira, sabemos
hoje, não é um monstro. Mas mexe e
respira. Do ar puro da Laurissilva às
PA S S E A R
ondas da costa oeste. Da imponência
do Norte à aridez de São Lourenço,
percorremo-la de lés a lés até chegar
EXPLORAR

ao Funchal. O próximo capítulo.


MADEIRA

E X P E R I M E N TA R
COMPRAR
DORMIR
CONHECER
Reza a lenda que antes de chegarem
à Madeira, em 1419, os descobridores
da ilha terão ficado longos meses a

COMER
observá-la a partir do Porto Santo.
Julgaram que se tratava de um enorme
monstro marinho e só avançaram

V I S I TA R
quando perceberam que não se mexia
ou respirava. Ora, a Madeira, sabemos
hoje, não é um monstro. Mas mexe e
respira. Do ar puro da Laurissilva às
PA S S E A R
ondas da costa oeste. Da imponência
do Norte à aridez de São Lourenço,
percorremo-la de lés a lés até chegar
EXPLORAR

ao Funchal. O próximo capítulo.


15 1   VIS ITAR  CASAS TÍPICAS DE SANTANA   64
2   E XPLORAR  PICOS DA MADEIRA   10
3   COM PRAR   WICKER IT   76
4   E XPLORAR  PONTA DE SÃO LOURENÇO   74
5   COM ER   VIOLA   17
6   PAS S E AR  CABO GIRÃO   22
16
7   PAS S E AR  FAJÃ DOS PADRES   26
8   COM ER   FRIIC   24
14 9   PAS S E AR  CASCATA DOS ANJOS   36
PORTO 10   B EB ER   TABERNA DA PONCHA   40
MONIZ
SÃO 11   DORM IR  SOCALCO NATURE CALHETA   46
JORGE 1
12   COM ER   MAKTUB   51

13
13   VIS ITAR  QUINTA PEDAGÓGICA
DOS PRAZERES   4 8
14   PAS S E AR  TELEFÉRICO DAS ACHADAS
DA CRUZ   5 4
SÃO
  M ERGU LHAR  PISCINAS DO PORTO MONIZ   56
VICENTE
15

16   E XPLORAR   RIBEIRA DA JANELA   5 8


PUKIKI
SANTANA
10

12

ESTREITO
DA CALHETA MACHICO 4

9
11
8 3

5
SANTA CRUZ

7 6 FUNCHAL
CANIÇO
15 1   VIS ITAR  CASAS TÍPICAS DE SANTANA   64
2   E XPLORAR  PICOS DA MADEIRA   10
3   COM PRAR   WICKER IT   76
4   E XPLORAR  PONTA DE SÃO LOURENÇO   74
5   COM ER   VIOLA   17
6   PAS S E AR  CABO GIRÃO   22
16
7   PAS S E AR  FAJÃ DOS PADRES   26
8   COM ER   FRIIC   24
14 9   PAS S E AR  CASCATA DOS ANJOS   36
PORTO 10   B EB ER   TABERNA DA PONCHA   40
MONIZ
SÃO 11   DORM IR  SOCALCO NATURE CALHETA   46
JORGE 1
12   COM ER   MAKTUB   51

13
13   VIS ITAR  QUINTA PEDAGÓGICA
DOS PRAZERES   4 8
14   PAS S E AR  TELEFÉRICO DAS ACHADAS
DA CRUZ   5 4
SÃO
  M ERGU LHAR  PISCINAS DO PORTO MONIZ   56
VICENTE
15

16   E XPLORAR   RIBEIRA DA JANELA   5 8


PUKIKI
SANTANA
10

12

ESTREITO
DA CALHETA MACHICO 4

9
11
8 3

5
SANTA CRUZ

7 6 FUNCHAL
CANIÇO
EXPLORAR MADEIRA
O C O R A Ç Ã O da ilha, a norte do Fun- marinha mais ameaçada da Europa. O
chal, bate a grande altitude. A culpa é da trilho não é de extrema dificuldade, está

PICOS DA
cordilheira central, onde se encontram bem assinalado, mas exige equipamento
– na sua vertente oriental – os picos mais adequado, incluindo lanternas para
altos e famosos do arquipélago: o Pico atravessar os túneis em segurança.
Ruivo (1862 metros) e o do Arieiro Tanto o Pico Ruivo como o do

MADEIRA
(1818 metros). Arieiro são excelentes sítios para ver o
Estes dois picos estão ligados nascer do sol. Um bom plano é chegar
por um trilho de pouco mais de sete ao Pico Ruivo a tempo da aurora e partir
quilómetros, que inclui passagens por em seguida – ainda pela fresca, portanto
túneis, antigos abrigos de pastores, – para o Pico do Arieiro. Pelo meio os
O PICO DO ARIEIRO, E RESPETIVO MIRADOURO,
vistas inesquecíveis sobre todo o caminhantes encontram um terceiro
É ACESSÍVEL PELA ER 103. O TRILHO QUE LIGA OS PICOS
Maciço Montanhoso e onde também pico, o das Torres, a 1851 metros de
INICIA-SE JUNTO À POUSADA DO PICO DO ARIEIRO
é possível observar algumas espécies altitude. O trilho não é circular, pelo que
raras de aves que aqui nidificam, como convém assegurar transporte a partir do
a freira-da-madeira, considerada a ave Pico Ruivo de volta ao ponto inicial.

FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA


EXPLORAR
10 PICOS DA MADEIRA EXPLORAR
11 PICOS DA MADEIRA
EXPLORAR MADEIRA
O C O R A Ç Ã O da ilha, a norte do Fun- marinha mais ameaçada da Europa. O
chal, bate a grande altitude. A culpa é da trilho não é de extrema dificuldade, está

PICOS DA
cordilheira central, onde se encontram bem assinalado, mas exige equipamento
– na sua vertente oriental – os picos mais adequado, incluindo lanternas para
altos e famosos do arquipélago: o Pico atravessar os túneis em segurança.
Ruivo (1862 metros) e o do Arieiro Tanto o Pico Ruivo como o do

MADEIRA
(1818 metros). Arieiro são excelentes sítios para ver o
Estes dois picos estão ligados nascer do sol. Um bom plano é chegar
por um trilho de pouco mais de sete ao Pico Ruivo a tempo da aurora e partir
quilómetros, que inclui passagens por em seguida – ainda pela fresca, portanto
túneis, antigos abrigos de pastores, – para o Pico do Arieiro. Pelo meio os
O PICO DO ARIEIRO, E RESPETIVO MIRADOURO,
vistas inesquecíveis sobre todo o caminhantes encontram um terceiro
É ACESSÍVEL PELA ER 103. O TRILHO QUE LIGA OS PICOS
Maciço Montanhoso e onde também pico, o das Torres, a 1851 metros de
INICIA-SE JUNTO À POUSADA DO PICO DO ARIEIRO
é possível observar algumas espécies altitude. O trilho não é circular, pelo que
raras de aves que aqui nidificam, como convém assegurar transporte a partir do
a freira-da-madeira, considerada a ave Pico Ruivo de volta ao ponto inicial.

FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA


EXPLORAR
10 PICOS DA MADEIRA EXPLORAR
11 PICOS DA MADEIRA
COMER MADEIRA MERGULHAR MADEIRA

PASTEL
SABORES DO CURRAL. CAMINHO DA IGREJA, N1

CURRAL DAS FREIRAS. 291 712 257

DE CASTANHA
pastéis de castanha que criaram para
promover o produto da terra e cuja fama
Q U A I S L A P A S , qual carapuça. já chegou ao continente. “Ajudou muito
No Curral das Freiras, longe do mar, termos ido ao Goucha mostrar”, conta
as célebre lapas madeirenses são, na o responsável. Foi ele quem pegou nesta
verdade, castanhas. Não de cor mas antiga tasquinha do pai e a transformou
de fruto. É a castanha, o fruto do cas- num espaço moderno, com um terraço
tanheiro, que leva muitos fiéis clientes onde só a vista abre o apetite. E não se
ao Sabores do Curral, o restaurante do pense que tem sido um percurso fácil:
casal Orlando e Carolina. Ali podem em 2012, uma explosão devido a fuga
comê-las de diferentes formas: por de gás destruiu o restaurante e atirou
exemplo de entrada, grelhadas com mel Orlando para uma cama de hospital
– “Chamamos-lhes as Lapas do Curral”, durante quase dois meses, obrigando-o

POÇO
brinca Orlando – ou na sobremesa, nos a sessões de fisioterapia que duraram
um ano – tudo isto enquanto recons- do Curral das Freiras, rodeada de verde
truía o que ficara reduzido a escombros. a toda a volta e salvaguardada de vento, o
Um exemplo de resiliência. calor aperta nos dias de verão. Sem mar

DOS
à vista, os locais começaram a juntar-se
anualmente para criar uma zona balnear
em pleno leito da ribeira. Reorganizando

CHEFES
as pedras e limpando a vegetação, há várias
poças, umas seguidas às outras, que permi-
tem banhos e até mergulhos.
O segredo esteve bem guardado
durante anos, mas, nos últimos tempos, os
funchalenses parecem ter descoberto o
lugar e apreciado a sua tranquilidade. De
N O P R O F U N D O Vale das Freiras, toalha estendida nas pedras quentes, veem-
na zona baixa do Curral, esconde-se um -se lavadeiras (enérgicos pássaros amare-
paraíso que só se deixa descobrir a meio los) e libelinhas, ouvem-se rãs e, volta e
FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA

do dia, quando o sol o ilumina por inteiro. meia, umas cigarras ao fundo.
Ali fica o Poço dos Chefes, uma pequena Fora isso, o silêncio é absoluto.

FOTOGRAFIA DR
lagoa a que podíamos chamar natural,
não fosse ela precisar de uma mãozinha
ZONA BAIXA DO CURRAL
para se formar.
DAS FREIRAS, A CERCA DE 2 KM
A água que aqui se vê pertence à ribeira
DO CENTRO DA FREGUESIA.
dos Socorridos, que nasce na montanha
COORDENADAS GPS:
e vai desaguar bem mais à frente, na zona
32.717642, -16.969173
industrial de Câmara de Lobos. Nesta área

COMER
12 PA S T E L D E C A S TA N H A MERGULHAR
13 POÇO DOS CHEFES
COMER MADEIRA MERGULHAR MADEIRA

PASTEL
SABORES DO CURRAL. CAMINHO DA IGREJA, N1

CURRAL DAS FREIRAS. 291 712 257

DE CASTANHA
pastéis de castanha que criaram para
promover o produto da terra e cuja fama
Q U A I S L A P A S , qual carapuça. já chegou ao continente. “Ajudou muito
No Curral das Freiras, longe do mar, termos ido ao Goucha mostrar”, conta
as célebre lapas madeirenses são, na o responsável. Foi ele quem pegou nesta
verdade, castanhas. Não de cor mas antiga tasquinha do pai e a transformou
de fruto. É a castanha, o fruto do cas- num espaço moderno, com um terraço
tanheiro, que leva muitos fiéis clientes onde só a vista abre o apetite. E não se
ao Sabores do Curral, o restaurante do pense que tem sido um percurso fácil:
casal Orlando e Carolina. Ali podem em 2012, uma explosão devido a fuga
comê-las de diferentes formas: por de gás destruiu o restaurante e atirou
exemplo de entrada, grelhadas com mel Orlando para uma cama de hospital
– “Chamamos-lhes as Lapas do Curral”, durante quase dois meses, obrigando-o

POÇO
brinca Orlando – ou na sobremesa, nos a sessões de fisioterapia que duraram
um ano – tudo isto enquanto recons- do Curral das Freiras, rodeada de verde
truía o que ficara reduzido a escombros. a toda a volta e salvaguardada de vento, o
Um exemplo de resiliência. calor aperta nos dias de verão. Sem mar

DOS
à vista, os locais começaram a juntar-se
anualmente para criar uma zona balnear
em pleno leito da ribeira. Reorganizando

CHEFES
as pedras e limpando a vegetação, há várias
poças, umas seguidas às outras, que permi-
tem banhos e até mergulhos.
O segredo esteve bem guardado
durante anos, mas, nos últimos tempos, os
funchalenses parecem ter descoberto o
lugar e apreciado a sua tranquilidade. De
N O P R O F U N D O Vale das Freiras, toalha estendida nas pedras quentes, veem-
na zona baixa do Curral, esconde-se um -se lavadeiras (enérgicos pássaros amare-
paraíso que só se deixa descobrir a meio los) e libelinhas, ouvem-se rãs e, volta e
FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA

do dia, quando o sol o ilumina por inteiro. meia, umas cigarras ao fundo.
Ali fica o Poço dos Chefes, uma pequena Fora isso, o silêncio é absoluto.

FOTOGRAFIA DR
lagoa a que podíamos chamar natural,
não fosse ela precisar de uma mãozinha
ZONA BAIXA DO CURRAL
para se formar.
DAS FREIRAS, A CERCA DE 2 KM
A água que aqui se vê pertence à ribeira
DO CENTRO DA FREGUESIA.
dos Socorridos, que nasce na montanha
COORDENADAS GPS:
e vai desaguar bem mais à frente, na zona
32.717642, -16.969173
industrial de Câmara de Lobos. Nesta área

COMER
12 PA S T E L D E C A S TA N H A MERGULHAR
13 POÇO DOS CHEFES
PA S S E A R MADEIRA

MIRADOURO

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


DA EIRA
DO SERRADO
O S M I L M E T R O S de altitude
marcam a velocidade de cruzeiro para
quem atravessa a serra madeirense.
Respira-se ar puro, em plena serra
arborizada e amarelada de giestas,
já bem longe do mar, a caminho da
freguesia do Curral das Freiras, onde as
freiras do Convento de Santa Clara se
refugiaram de um ataque de corsários
no século xvi.
As curvas e contracurvas no alca-
trão em bom estado são interrompidas
por um desvio: miradouro da Eira do
Serrado. “Obrigatório”, garante-nos
o guia enquanto toma a direção da
placa. Um passeio com passagem pela
estalagem homónima, intercalado pela
subida de uma escadaria, leva-nos
à visão prometida: uma panorâmica
extraordinária sobre o coração mon-
tanhoso da ilha que ora vai, ora vem,
conforme as nuvens vão passando.
No centro de todos estes espetaculares
acidentes geológicos vislumbra-se a
pequena aldeia. Um oásis de humani-
dade na brutalidade da paisagem.
Obrigatório, de facto.

ESTRADA DA EIRA DO SERRADO

JUNTO À ESTALAGEM HOMÓNIMA.

COORDENADAS GPS:

32.710547, -16.966179

VERBO
14 TÍTULO VERBO MIRADOURO DA EIRA DO SERRADO
PA S S E A R MADEIRA

MIRADOURO

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


DA EIRA
DO SERRADO
O S M I L M E T R O S de altitude
marcam a velocidade de cruzeiro para
quem atravessa a serra madeirense.
Respira-se ar puro, em plena serra
arborizada e amarelada de giestas,
já bem longe do mar, a caminho da
freguesia do Curral das Freiras, onde as
freiras do Convento de Santa Clara se
refugiaram de um ataque de corsários
no século xvi.
As curvas e contracurvas no alca-
trão em bom estado são interrompidas
por um desvio: miradouro da Eira do
Serrado. “Obrigatório”, garante-nos
o guia enquanto toma a direção da
placa. Um passeio com passagem pela
estalagem homónima, intercalado pela
subida de uma escadaria, leva-nos
à visão prometida: uma panorâmica
extraordinária sobre o coração mon-
tanhoso da ilha que ora vai, ora vem,
conforme as nuvens vão passando.
No centro de todos estes espetaculares
acidentes geológicos vislumbra-se a
pequena aldeia. Um oásis de humani-
dade na brutalidade da paisagem.
Obrigatório, de facto.

ESTRADA DA EIRA DO SERRADO

JUNTO À ESTALAGEM HOMÓNIMA.

COORDENADAS GPS:

32.710547, -16.966179

VERBO
14 TÍTULO VERBO MIRADOURO DA EIRA DO SERRADO
COMPRAR MADEIRA COMER MADEIRA saindo em simultâneo. “Tomahawk
“Tomahawk,, t-bone…
olhe para estes nacos. Uma maravilha”,
descreve, enquanto exibe a matéria-prima
na mão.
F O I A L V O de uma remodelação recente, A carne é de vacas açorianas que
já durante a pandemia de covid-19, mas passam os seus últimos meses de vida
não perdeu a mítica viola pendurada no na Madeira. É o compromisso possível –

FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS


FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS
exterior, por cima da placa com o nome, e habitual, diga-se – entre a qualidade
que era também a alcunha do fundador e a origem. As espetadas do Viola, muito
da casa, Joaquim José Pinto. Não toca, é famosas, também variam no corte: podem
certo, mas dá o tom que afina a cozinha no ser do lombo, com osso ou do filete,
interior. A cozinha e, sobretudo, a grelha. a mais tenra das opções. O pau não é de
Afinal, a especialidade da casa é a espetada loureiro há bastante tempo – e é melhor
regional, mas Zé, o gerente, chama também que não seja, porque muitos restaurantes
a atenção para os cortes de carne que vão teimavam em reutilizá-los – mas a lenha
é de uma árvore que abunda por aquelas
bandas, acácia. E a sabedoria no controlo
da temperatura é de quem anda há muitos
anos a virar espetadas. E das boas.

FIDY
A O L O N G O das várias reportagens na
Madeira, vamos arriscando a pergunta que
interessa aos locais: “Então onde é que se

PONCHA
bebe boa poncha?” As respostas variam,
claro, mas mais do que uma vez falam-nos
de uma antiga mercearia, no Calvário, ao
pé da capela. Uma coisa pequena, com um
nome estranho. “Ai, como é que se chama
mesmo?” Chama-se Fidy, Fidy Poncha, e
é, de facto, um excelente sítio para provar
o sumo aditivado típico do arquipélago.
Nesta antiga mercearia dos anos 40, bem

VIOLA
conservada, a poncha é feita sempre ao
momento e à frente do cliente – algo que
distingue os bares de confiança nesta
matéria dos restantes – e servida com o
tradicional dentinho, um petisco rápido
para alcatifar o estômago. Neste caso,
moelas estufadas com batata e cenoura.
E que boas estavam.

CAMINHO DO ESTREITINHO, 1
ESTRADA JOÃO GONÇALVES ZARCO, 596, CÂMARA DE LOBOS. 291 945 601
ESTREITO DE CÂMARA DE LOBOS

291 636 303

BEBER
16 UAU CACAU COMER
17 VIOLA
COMPRAR MADEIRA COMER MADEIRA saindo em simultâneo. “Tomahawk
“Tomahawk,, t-bone…
olhe para estes nacos. Uma maravilha”,
descreve, enquanto exibe a matéria-prima
na mão.
F O I A L V O de uma remodelação recente, A carne é de vacas açorianas que
já durante a pandemia de covid-19, mas passam os seus últimos meses de vida
não perdeu a mítica viola pendurada no na Madeira. É o compromisso possível –

FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS


FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS
exterior, por cima da placa com o nome, e habitual, diga-se – entre a qualidade
que era também a alcunha do fundador e a origem. As espetadas do Viola, muito
da casa, Joaquim José Pinto. Não toca, é famosas, também variam no corte: podem
certo, mas dá o tom que afina a cozinha no ser do lombo, com osso ou do filete,
interior. A cozinha e, sobretudo, a grelha. a mais tenra das opções. O pau não é de
Afinal, a especialidade da casa é a espetada loureiro há bastante tempo – e é melhor
regional, mas Zé, o gerente, chama também que não seja, porque muitos restaurantes
a atenção para os cortes de carne que vão teimavam em reutilizá-los – mas a lenha
é de uma árvore que abunda por aquelas
bandas, acácia. E a sabedoria no controlo
da temperatura é de quem anda há muitos
anos a virar espetadas. E das boas.

FIDY
A O L O N G O das várias reportagens na
Madeira, vamos arriscando a pergunta que
interessa aos locais: “Então onde é que se

PONCHA
bebe boa poncha?” As respostas variam,
claro, mas mais do que uma vez falam-nos
de uma antiga mercearia, no Calvário, ao
pé da capela. Uma coisa pequena, com um
nome estranho. “Ai, como é que se chama
mesmo?” Chama-se Fidy, Fidy Poncha, e
é, de facto, um excelente sítio para provar
o sumo aditivado típico do arquipélago.
Nesta antiga mercearia dos anos 40, bem

VIOLA
conservada, a poncha é feita sempre ao
momento e à frente do cliente – algo que
distingue os bares de confiança nesta
matéria dos restantes – e servida com o
tradicional dentinho, um petisco rápido
para alcatifar o estômago. Neste caso,
moelas estufadas com batata e cenoura.
E que boas estavam.

CAMINHO DO ESTREITINHO, 1
ESTRADA JOÃO GONÇALVES ZARCO, 596, CÂMARA DE LOBOS. 291 945 601
ESTREITO DE CÂMARA DE LOBOS

291 636 303

BEBER
16 UAU CACAU COMER
17 VIOLA
PA S S E A R MADEIRA

P I T O R E S C A . Assim descreveu
Winston Churchill a vila de Câmara
de Lobos quando, em 1950, a visitou.
Durante a estadia, o político britânico
pintou a baía, a partir do local que viria
a ser o atual miradouro. É por isso que
hoje, mais abaixo, junto ao mar, está uma
escultura em bronze que eterniza este
momento – recordado orgulhosamente
por quem ali vive.
A poucos metros fica, no entanto,
uma outra obra, maior em dimensão e
em impacto – o Lobo Marinho do artista
plástico lisboeta Artur Bordalo, mais
conhecido como Bordalo II. Criado
em 2019 para assinalar o Dia Mundial
dos Oceanos, o enorme lobo marinho
foi integralmente construído a partir
de lixo retirado das águas ao redor da
Madeira. Levou quatro dias a ganhar
forma e agora ocupa uma parede em
frente ao mar.
A obra está inserida num projeto
de Bordalo II chamado Trash Animals,
que já se estende por mais de 20 países
e centena e meia de peças artísticas.
Na Madeira, entre bombeiros, escolas
de mergulho e associações, muitos
foram os que participaram na limpeza
subaquática que recolheu perto de
quatro toneladas de lixo. Boa parte
das redes, dos ferros e dos plásticos

LOBO MARINHO
recuperados foram utilizados para dar

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


forma ao carismático lobo marinho,
espécie que já esteve perto da extinção

DE BORDALO II
nesta zona.

RUA NOVA DA PRAIA

CÂMARA DE LOBOS

PA S S E A R
18 BORDALO II PA S S E A R
19 BORDALLO II
PA S S E A R MADEIRA

P I T O R E S C A . Assim descreveu
Winston Churchill a vila de Câmara
de Lobos quando, em 1950, a visitou.
Durante a estadia, o político britânico
pintou a baía, a partir do local que viria
a ser o atual miradouro. É por isso que
hoje, mais abaixo, junto ao mar, está uma
escultura em bronze que eterniza este
momento – recordado orgulhosamente
por quem ali vive.
A poucos metros fica, no entanto,
uma outra obra, maior em dimensão e
em impacto – o Lobo Marinho do artista
plástico lisboeta Artur Bordalo, mais
conhecido como Bordalo II. Criado
em 2019 para assinalar o Dia Mundial
dos Oceanos, o enorme lobo marinho
foi integralmente construído a partir
de lixo retirado das águas ao redor da
Madeira. Levou quatro dias a ganhar
forma e agora ocupa uma parede em
frente ao mar.
A obra está inserida num projeto
de Bordalo II chamado Trash Animals,
que já se estende por mais de 20 países
e centena e meia de peças artísticas.
Na Madeira, entre bombeiros, escolas
de mergulho e associações, muitos
foram os que participaram na limpeza
subaquática que recolheu perto de
quatro toneladas de lixo. Boa parte
das redes, dos ferros e dos plásticos

LOBO MARINHO
recuperados foram utilizados para dar

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


forma ao carismático lobo marinho,
espécie que já esteve perto da extinção

DE BORDALO II
nesta zona.

RUA NOVA DA PRAIA

CÂMARA DE LOBOS

PA S S E A R
18 BORDALO II PA S S E A R
19 BORDALLO II
BEBER MADEIRA COMER MADEIRA

NIKITA
VILA DA
CARNE
Oh Nikita you will never know,
anything about my home
I’ll never know how good it feels to hold you
Nikita I need you so

E M 1 9 8 5 , ainda no período da chamada


Guerra Fria, Elton John lançou uma can-
ção que falava do seu amor impossível por
uma alemã de Leste chamada Nikita. O
sucesso foi tal que, a milhares de quilóme-

tros de distância, o madeirense Marcelino

PÉ DE CABRA
U M D O S P R I N C I P A I S motivos de
de Abreu decidiu chamar Nikita ao cocktail
que criara nesse mesmo ano, uma mistura visita dos madeirenses a Câmara de
de cerveja, vinho branco, gelado de ananás Lobos é a tradicional espetada de carne,
e ananás fresco. Fê-lo no seu bar, que na uma das especialidades gastronómicas
altura se chamava Farol Verde, e hoje dá da ilha, e que se encontra restaurante
S Ó A L I S T A de ingredientes faz abrir os sim, restaurante sim. É provavelmente
pelo nome de Casa do Farol. olhos de espanto: vinho Madeira, cerveja
“Era uma maneira de aproveitar o que o prato de carne mais popular entre os
preta, açúcar, cacau e gema de ovo. Mistura- ilhéus e o motivo é a sua simplicidade:
sobrava dos gelados de ananás que se ven- -se tudo na medida certa e nasce, daí, um
diam aqui”, explica-nos Luís, que hoje é o trata-se de grandes pedaços de carne
pé de cabra. Fechem-se os olhos, abra-se a metidos num espeto e temperados
homem encarregado de transformar os ingre- boca, para provar aquele que será, provavel-
dientes acima listados numa bebida doce apenas com sal, alho e folhas de louro.
mente, o cocktail mais antigo da Madeira. Na Vila da Carne, que segue a tradição

↑→ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


e refrescante. “E o segredo é mesmo o Foi inventado neste bar – que até 1980
gelado. Pode beber noutros sítios, mas não vai à risca, a espetada em pau de louro
foi mercearia – por João de Freitas, antigo (12€) vem para a mesa diretamente da
ser igual”, garante, sem adiantar mais, com o proprietário. “Ele fazia umas bebidas nas
ar misterioso e confiante que a ocasião exige. brasa preparada a lenha e é colocada
horas vagas. Esta foi a que ganhou mais ao alto, pendurada em estruturas que
fama”, conta o filho Carlos, 75 anos, fiel permitem servir os pedaços suculentos
CASA DO FAROL. RUA NOSSA depositário da receita de família. “O Pé diretamente para o prato. A acompanhar,
SRA. CONCEIÇÃO, 11 de Cabra é uma coisa que faz muita força há batatas fritas com alho e o típico
CÂMARA DE LOBOS. 291 945 413 e isto é uma bebida que dá força”, explica. milho frito da região. Mas nem só de
Agora, porém, não tanta como no passado: espetada regional vive a Vila da Carne.
a gema de ovo já só entra em ocasiões Os enormes frigoríficos com diferen-
↓ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

especiais – “para não ficar tão pesado”. tes tipos de carne em exposição, algu-
É difícil de descrever o sabor: meio mas com meses de maturação, denun-
doce, meio ácido, meio alcoólico. ciam a variedade da oferta. Só no que
A textura é densa, de facto, mas desliza à espetada diz respeito, há de filete de
facilmente. No fundo, e como diria Pessoa vaca, de picanha nobre, de porco com
sobre outra célebre bebida: primeiro bacon e de frango. Junte-se a entremeada,
estranha-se, depois entranha-se. o entrecosto, as picanhas e os bifes da
vazia e acém, sempre preparados na
CAMINHO DA RIBEIRA DOS brasa, que se vê das mesas. Enquanto
SOCORRIDOS, 4, LOMBADA RUA DOUTOR JOÃO ABEL DE FREITAS, não chega o prato, come-se com os
SÃO MARTINHO. 291 774 040 30 A. 291 099 908 olhos e cresce água na boca.

BEBER N I K I TPAÉ  
D EP É
C ADBER C
AABRA COMER
21 VILA DA CARNE
BEBER MADEIRA COMER MADEIRA

NIKITA
VILA DA
CARNE
Oh Nikita you will never know,
anything about my home
I’ll never know how good it feels to hold you
Nikita I need you so

E M 1 9 8 5 , ainda no período da chamada


Guerra Fria, Elton John lançou uma can-
ção que falava do seu amor impossível por
uma alemã de Leste chamada Nikita. O
sucesso foi tal que, a milhares de quilóme-

tros de distância, o madeirense Marcelino

PÉ DE CABRA
U M D O S P R I N C I P A I S motivos de
de Abreu decidiu chamar Nikita ao cocktail
que criara nesse mesmo ano, uma mistura visita dos madeirenses a Câmara de
de cerveja, vinho branco, gelado de ananás Lobos é a tradicional espetada de carne,
e ananás fresco. Fê-lo no seu bar, que na uma das especialidades gastronómicas
altura se chamava Farol Verde, e hoje dá da ilha, e que se encontra restaurante
S Ó A L I S T A de ingredientes faz abrir os sim, restaurante sim. É provavelmente
pelo nome de Casa do Farol. olhos de espanto: vinho Madeira, cerveja
“Era uma maneira de aproveitar o que o prato de carne mais popular entre os
preta, açúcar, cacau e gema de ovo. Mistura- ilhéus e o motivo é a sua simplicidade:
sobrava dos gelados de ananás que se ven- -se tudo na medida certa e nasce, daí, um
diam aqui”, explica-nos Luís, que hoje é o trata-se de grandes pedaços de carne
pé de cabra. Fechem-se os olhos, abra-se a metidos num espeto e temperados
homem encarregado de transformar os ingre- boca, para provar aquele que será, provavel-
dientes acima listados numa bebida doce apenas com sal, alho e folhas de louro.
mente, o cocktail mais antigo da Madeira. Na Vila da Carne, que segue a tradição

↑→ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


e refrescante. “E o segredo é mesmo o Foi inventado neste bar – que até 1980
gelado. Pode beber noutros sítios, mas não vai à risca, a espetada em pau de louro
foi mercearia – por João de Freitas, antigo (12€) vem para a mesa diretamente da
ser igual”, garante, sem adiantar mais, com o proprietário. “Ele fazia umas bebidas nas
ar misterioso e confiante que a ocasião exige. brasa preparada a lenha e é colocada
horas vagas. Esta foi a que ganhou mais ao alto, pendurada em estruturas que
fama”, conta o filho Carlos, 75 anos, fiel permitem servir os pedaços suculentos
CASA DO FAROL. RUA NOSSA depositário da receita de família. “O Pé diretamente para o prato. A acompanhar,
SRA. CONCEIÇÃO, 11 de Cabra é uma coisa que faz muita força há batatas fritas com alho e o típico
CÂMARA DE LOBOS. 291 945 413 e isto é uma bebida que dá força”, explica. milho frito da região. Mas nem só de
Agora, porém, não tanta como no passado: espetada regional vive a Vila da Carne.
a gema de ovo já só entra em ocasiões Os enormes frigoríficos com diferen-
↓ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

especiais – “para não ficar tão pesado”. tes tipos de carne em exposição, algu-
É difícil de descrever o sabor: meio mas com meses de maturação, denun-
doce, meio ácido, meio alcoólico. ciam a variedade da oferta. Só no que
A textura é densa, de facto, mas desliza à espetada diz respeito, há de filete de
facilmente. No fundo, e como diria Pessoa vaca, de picanha nobre, de porco com
sobre outra célebre bebida: primeiro bacon e de frango. Junte-se a entremeada,
estranha-se, depois entranha-se. o entrecosto, as picanhas e os bifes da
vazia e acém, sempre preparados na
CAMINHO DA RIBEIRA DOS brasa, que se vê das mesas. Enquanto
SOCORRIDOS, 4, LOMBADA RUA DOUTOR JOÃO ABEL DE FREITAS, não chega o prato, come-se com os
SÃO MARTINHO. 291 774 040 30 A. 291 099 908 olhos e cresce água na boca.

BEBER N I K I TPAÉ  
D EP É
C ADBER C
AABRA COMER
21 VILA DA CARNE
FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA
PA S S E A R MADEIRA

CABO
O MIRADOURO SITUA-SE

NA ESTRADA DO CABO GIRÃO

E A ENTRADA É GRATUITA.

O TELEFÉRICO FICA NA

GIRÃO
ESTRADA DE SANTA CLARA,

266, E A VIAGEM DE IDA

E VOLTA CUSTA 10€

das fajãs do Rancho e do Cabo Girão


dos azuis do mar. Para leste, avistam-se
a baía de Câmara de Lobos e o Funchal.
Q U E M tem medo de alturas que não A apenas quatro quilómetros fica o
se atreva a pôr um pé no miradouro. teleférico das fajãs do Cabo Girão, que
Além de ficar no promontório mais também merece uma visita. As cabines,
alto de toda a Europa – que é também que circulam entre o Sítio do Rancho
o segundo mais alto do mundo –, e as fajãs, eram antigamente utilizadas
a última zona do miradouro tem o chão pelos agricultores da freguesia para
em vidro: uma plataforma suspensa aceder aos seus terrenos, e foram
com uma vista de cortar a respiração, abertas ao público em 2003.
quer pela beleza, quer pelo respeito
que aqueles 580 metros impõem.
Formado por uma massa de terra
que entrou pelo mar, este acidente geo-
gráfico é um dos pontos mais visitados
da ilha, chegando a receber 1800 pes-
soas por dia. Através do chão envidra-
çado, o olhar desce em queda livre
até à linha que separa os castanhos

PA S S E A R
22 CABO GIRÃO PA S S E A R
23 CABO GIRÃO
FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA
PA S S E A R MADEIRA

CABO
O MIRADOURO SITUA-SE

NA ESTRADA DO CABO GIRÃO

E A ENTRADA É GRATUITA.

O TELEFÉRICO FICA NA

GIRÃO
ESTRADA DE SANTA CLARA,

266, E A VIAGEM DE IDA

E VOLTA CUSTA 10€

das fajãs do Rancho e do Cabo Girão


dos azuis do mar. Para leste, avistam-se
a baía de Câmara de Lobos e o Funchal.
Q U E M tem medo de alturas que não A apenas quatro quilómetros fica o
se atreva a pôr um pé no miradouro. teleférico das fajãs do Cabo Girão, que
Além de ficar no promontório mais também merece uma visita. As cabines,
alto de toda a Europa – que é também que circulam entre o Sítio do Rancho
o segundo mais alto do mundo –, e as fajãs, eram antigamente utilizadas
a última zona do miradouro tem o chão pelos agricultores da freguesia para
em vidro: uma plataforma suspensa aceder aos seus terrenos, e foram
com uma vista de cortar a respiração, abertas ao público em 2003.
quer pela beleza, quer pelo respeito
que aqueles 580 metros impõem.
Formado por uma massa de terra
que entrou pelo mar, este acidente geo-
gráfico é um dos pontos mais visitados
da ilha, chegando a receber 1800 pes-
soas por dia. Através do chão envidra-
çado, o olhar desce em queda livre
até à linha que separa os castanhos

PA S S E A R
22 CABO GIRÃO PA S S E A R
23 CABO GIRÃO
COMER MADEIRA
“Gelatarias há muitas. Queríamos
fazer algo diferente”, refere Gabriela.
Começaram pelos picolés, avançaram
N Ã O P A R E C E , mas Friic é uma sigla. para os gelados de bola e, durante a pan-
Significa Fruit Island Ice Cream. E o demia, viram a procura aumentar, através
projeto explica-se quase de imediato: se de encomendas diretas. “As pessoas
há tanta fruta na ilha, porque não fazer estavam em casa e começaram a procu-
gelados dessa fruta? Foi essa a ideia rar produtos melhores”, explicam. Hoje
de Gabriela Martins, madeirense que fazem de tudo um pouco: picolés, gela-
tirou Engenharia Biológica e trabalhou dos de bola, macarons e até bolos gelados
durante vários anos em Lisboa, mas de aniversário. Isto, claro, além dos pro-
que, a dada altura, quis voltar à casa de dutos tailor made para restaurantes.
partida para mudar de vida. Desafiou “Se um chef quiser um gelado de pitanga
a amiga de infância Joana Gonçalves e wasabi, fazemos”, exemplifica Joana.
– chef pasteleira com passagens por O único stock que acumulam é de
restaurantes como Belcanto, Feitoria, fruta, comprada na devida época aos
Eleven ou 50 Seconds –, esta aceitou, produtores locais, de confiança, com
e juntas embarcaram na aventura. quem trabalham. “Compramos, tratamos

FRIIC
e conservamos em vácuo – não usamos
mixes, preparamos nós as caldas e mistu-
ramos com a fruta”, explica a pasteleira.
Aberto o apetite, resta provar: até ao final
de outubro, estará a funcionar a primeira
loja pop-up da marca, num pequeno con-
tentor pintado pela artista local Andori-
nha, no centro comercial Madeira Fórum.

ESTRADA DE SANTA CLARA,

192, CÂMARA DE LOBOS

938 044 904. WWW.FRIIC.PT

FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

O OUTRO GUIA DE VIAGENS


O B S E R VA D O R L I F E S T Y L E
U M N O V O F O R M ATO PA R A C O L E C IO N A R
À V E N DA E M W W W.5 1 0. P T
COMER FRIIC
COMER MADEIRA
“Gelatarias há muitas. Queríamos
fazer algo diferente”, refere Gabriela.
Começaram pelos picolés, avançaram
N Ã O P A R E C E , mas Friic é uma sigla. para os gelados de bola e, durante a pan-
Significa Fruit Island Ice Cream. E o demia, viram a procura aumentar, através
projeto explica-se quase de imediato: se de encomendas diretas. “As pessoas
há tanta fruta na ilha, porque não fazer estavam em casa e começaram a procu-
gelados dessa fruta? Foi essa a ideia rar produtos melhores”, explicam. Hoje
de Gabriela Martins, madeirense que fazem de tudo um pouco: picolés, gela-
tirou Engenharia Biológica e trabalhou dos de bola, macarons e até bolos gelados
durante vários anos em Lisboa, mas de aniversário. Isto, claro, além dos pro-
que, a dada altura, quis voltar à casa de dutos tailor made para restaurantes.
partida para mudar de vida. Desafiou “Se um chef quiser um gelado de pitanga
a amiga de infância Joana Gonçalves e wasabi, fazemos”, exemplifica Joana.
– chef pasteleira com passagens por O único stock que acumulam é de
restaurantes como Belcanto, Feitoria, fruta, comprada na devida época aos
Eleven ou 50 Seconds –, esta aceitou, produtores locais, de confiança, com
e juntas embarcaram na aventura. quem trabalham. “Compramos, tratamos

FRIIC
e conservamos em vácuo – não usamos
mixes, preparamos nós as caldas e mistu-
ramos com a fruta”, explica a pasteleira.
Aberto o apetite, resta provar: até ao final
de outubro, estará a funcionar a primeira
loja pop-up da marca, num pequeno con-
tentor pintado pela artista local Andori-
nha, no centro comercial Madeira Fórum.

ESTRADA DE SANTA CLARA,

192, CÂMARA DE LOBOS

938 044 904. WWW.FRIIC.PT

FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

O OUTRO GUIA DE VIAGENS


O B S E R VA D O R L I F E S T Y L E
U M N O V O F O R M ATO PA R A C O L E C IO N A R
À V E N DA E M W W W.5 1 0. P T
COMER FRIIC
PA S S E A R MADEIRA C H A M A - L H E a “ilha dentro da ilha”,
designação que não é, de todo, descabida:
até 1998, só quem tinha barco é que podia
aqui chegar. Depois, instalou-se um ele-
vador panorâmico, pouco recomendável
aos mais dados a vertigens, e, desde 2016,
um moderno teleférico que vence o des-
nível de 300 metros da falésia numa via-
gem emocionante de dois minutos e meio,
onde se consegue vislumbrar toda a costa
sul da Madeira, até à Ponta do Sol.
Chegados à Fajã dos Padres – que deve
o nome ao facto de ter sido propriedade
de padres jesuítas durante mais de 150
anos –, as opções variam entre passar o dia
de barriga para o ar nas espreguiçadeiras
dispostas no cais, arriscar mergulhos a
partir do pontão, petiscar no restaurante
local ou visitar as hortas biológicas e a
vinha, que foi a primeira da Madeira a
receber a casta Malvasia. A opção mais
lógica será combinar tudo isto no mesmo
dia, sendo que no caso do restaurante é
aconselhável optar pelos petiscos mais
típicos: rojões de espada, o atum sal-
presado ou os ovos jesuítas. É também
possível dormir na Fajã dos Padres, numa

FAJÃ
das sete casas reabilitadas para o efeito,
ou num bungalow que, outrora, serviu de
palheiro. O sossego é garantido.

DOS
FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS

PADRES
RUA PADRE ANTÓNIO DINIS HENRIQUES, 1, QUINTA GRANDE. 291 944 538

FAJADOSPADRES.COM. A VIAGEM DE IDA E VOLTA DE TELEFÉRICO CUSTA 10€

PA S S E A R
26 FA J Ã D O S PA D R E S PA S S E A R
27 FA J Ã D O S PA D R E S
PA S S E A R MADEIRA C H A M A - L H E a “ilha dentro da ilha”,
designação que não é, de todo, descabida:
até 1998, só quem tinha barco é que podia
aqui chegar. Depois, instalou-se um ele-
vador panorâmico, pouco recomendável
aos mais dados a vertigens, e, desde 2016,
um moderno teleférico que vence o des-
nível de 300 metros da falésia numa via-
gem emocionante de dois minutos e meio,
onde se consegue vislumbrar toda a costa
sul da Madeira, até à Ponta do Sol.
Chegados à Fajã dos Padres – que deve
o nome ao facto de ter sido propriedade
de padres jesuítas durante mais de 150
anos –, as opções variam entre passar o dia
de barriga para o ar nas espreguiçadeiras
dispostas no cais, arriscar mergulhos a
partir do pontão, petiscar no restaurante
local ou visitar as hortas biológicas e a
vinha, que foi a primeira da Madeira a
receber a casta Malvasia. A opção mais
lógica será combinar tudo isto no mesmo
dia, sendo que no caso do restaurante é
aconselhável optar pelos petiscos mais
típicos: rojões de espada, o atum sal-
presado ou os ovos jesuítas. É também
possível dormir na Fajã dos Padres, numa

FAJÃ
das sete casas reabilitadas para o efeito,
ou num bungalow que, outrora, serviu de
palheiro. O sossego é garantido.

DOS
FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS

PADRES
RUA PADRE ANTÓNIO DINIS HENRIQUES, 1, QUINTA GRANDE. 291 944 538

FAJADOSPADRES.COM. A VIAGEM DE IDA E VOLTA DE TELEFÉRICO CUSTA 10€

PA S S E A R
26 FA J Ã D O S PA D R E S PA S S E A R
27 FA J Ã D O S PA D R E S
BEBER MADEIRA COMPRAR MADEIRA
O B U R R O à porta é o sinal da
vida anterior da Venda do André.

VENDA
“Antigamente, quem tinha mercearias
tinha um burro para acartar a
mercadoria. Era como ter o carro
estacionado à porta”, explica-nos Dona N A N O V A fábrica da Uau Cacau,
Ilda, uma instituição madeirense no inaugurada no final de 2020, o buliço

DO
que respeita à confeção da poncha. é uma constante. Tony Fernandes e a
É que se este é um dos locais mais sua equipa têm poucas mãos a medir
reputados em toda a ilha para beber para a demanda de bombons, tabletes e
a dita, deve muita dessa reputação trufas que vai aparecendo diariamente.

ANDRÉ
à habilidade desta mulher, que não Mais em alturas festivas como a Páscoa,
só domina a proporção ideal dos é certo, mas também no verão.
ingredientes para que a poncha não É a prova de que estarão a fazer
chegue ao copo nem demasiado ácida, alguma coisa bem feita. Tony começou a
nem demasiado doce, como consegue, produzir chocolate por conta própria há
a olho, saber qual a quantidade exata dez anos, na cozinha de um restaurante
para fazer, de uma vez, poncha para tradicional chamado A Estrela. Os
ESTRADA JOÃO GONÇALVES ZARCO
um, dois, três, cinco ou dez clientes. chocolates tinham sucesso, mas o resto
QUINTA GRANDE. 924 433 308
Calcula mentalmente a dose necessária nem por isso. As dívidas começaram a
para não se desperdiçar uma gota. Um acumular-se e, para conseguir pagá-las,
talento que podia ser aproveitado, por foi obrigado a transferir a produção
exemplo, na campanha de vacinação

UAU
para casa.
contra a covid-19. Fica a sugestão. Foi nessa altura que começou a
trabalhar com produtores madeirenses

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


de fruta e bebidas para trazer valor
acrescentado às suas criações, até que

CACAU
decidiu apostar forte na marca e na
abertura da primeira loja de rua, que
ainda tem hoje, na rua da Queimada
de Baixo, perto da Sé do Funchal.
O bombom de maracujá, premiado
com medalha de ouro no Concurso
Nacional de Chocolate, em 2014, deu o
mote para o sucesso que se seguiu, com
a criação de novos produtos, novas lojas
– pop-up e não só – e novas parcerias.
A última delas com a empresa vinícola
Blandy’s, lançada em março de 2021
e composta por uma embalagem
especial que inclui uma caixa de
trufas de sabores diferentes, pensadas
especialmente para harmonizar com
quatro castas de vinho Madeira.

PARQUE EMPRESARIAL DA

RIBEIRA BRAVA, PAVILHÃO 17

LOJAS NO FUNCHAL: MERCADO DOS

LAVRADORES E RUA DA QUEIMADA

DE BAIXO, 19. 291 644 620

BEBER
28 VENDA DO ANDRÉ VERBO
29 UAU CACAU
BEBER MADEIRA COMPRAR MADEIRA
O B U R R O à porta é o sinal da
vida anterior da Venda do André.

VENDA
“Antigamente, quem tinha mercearias
tinha um burro para acartar a
mercadoria. Era como ter o carro
estacionado à porta”, explica-nos Dona N A N O V A fábrica da Uau Cacau,
Ilda, uma instituição madeirense no inaugurada no final de 2020, o buliço

DO
que respeita à confeção da poncha. é uma constante. Tony Fernandes e a
É que se este é um dos locais mais sua equipa têm poucas mãos a medir
reputados em toda a ilha para beber para a demanda de bombons, tabletes e
a dita, deve muita dessa reputação trufas que vai aparecendo diariamente.

ANDRÉ
à habilidade desta mulher, que não Mais em alturas festivas como a Páscoa,
só domina a proporção ideal dos é certo, mas também no verão.
ingredientes para que a poncha não É a prova de que estarão a fazer
chegue ao copo nem demasiado ácida, alguma coisa bem feita. Tony começou a
nem demasiado doce, como consegue, produzir chocolate por conta própria há
a olho, saber qual a quantidade exata dez anos, na cozinha de um restaurante
para fazer, de uma vez, poncha para tradicional chamado A Estrela. Os
ESTRADA JOÃO GONÇALVES ZARCO
um, dois, três, cinco ou dez clientes. chocolates tinham sucesso, mas o resto
QUINTA GRANDE. 924 433 308
Calcula mentalmente a dose necessária nem por isso. As dívidas começaram a
para não se desperdiçar uma gota. Um acumular-se e, para conseguir pagá-las,
talento que podia ser aproveitado, por foi obrigado a transferir a produção
exemplo, na campanha de vacinação

UAU
para casa.
contra a covid-19. Fica a sugestão. Foi nessa altura que começou a
trabalhar com produtores madeirenses

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


de fruta e bebidas para trazer valor
acrescentado às suas criações, até que

CACAU
decidiu apostar forte na marca e na
abertura da primeira loja de rua, que
ainda tem hoje, na rua da Queimada
de Baixo, perto da Sé do Funchal.
O bombom de maracujá, premiado
com medalha de ouro no Concurso
Nacional de Chocolate, em 2014, deu o
mote para o sucesso que se seguiu, com
a criação de novos produtos, novas lojas
– pop-up e não só – e novas parcerias.
A última delas com a empresa vinícola
Blandy’s, lançada em março de 2021
e composta por uma embalagem
especial que inclui uma caixa de
trufas de sabores diferentes, pensadas
especialmente para harmonizar com
quatro castas de vinho Madeira.

PARQUE EMPRESARIAL DA

RIBEIRA BRAVA, PAVILHÃO 17

LOJAS NO FUNCHAL: MERCADO DOS

LAVRADORES E RUA DA QUEIMADA

DE BAIXO, 19. 291 644 620

BEBER
28 VENDA DO ANDRÉ VERBO
29 UAU CACAU
EXPLORAR MADEIRA Madeira, ao ponto de se poderem contar que dá acesso ao trilho e não há como não
as pedras no fundo, mesmo estando a dar por ela. A música popular indica o cami-

CALHAU
mais de quatro metros de profundidade. nho até ao espaço, que é pequenino mas
O corredor que entra pelo mar adentro tem uma decoração ímpar: as paredes em
tanto serve para estender a toalha ao sol pedra são forradas a búzios. Do lado direito,
como para mergulhar. É aqui que se jun- junto ao balcão, é o lugar dos emblemas,
tam os mais pequenos em saltos hábeis de das fotografias e dos bonecos alusivos ao

DA LAPA
coragem e tantas vezes de fé. Quem não Benfica, paixão do dono. O senhor Calais e
quer arriscar o mergulho imediato na água a dona Ilda, a sua mulher, têm este espaço
fria, desce ao lado, pelas escadas em ferro. há 19 anos. Herdaram-no de um tio pesca-
É do mar que se tem a vista mais bonita dor que usava a furna para guardar o barco.
sobre o Calhau da Lapa. De fora para dentro Deram-lhe uma nova decoração e decidiram
veem-se o trilho íngreme por onde se chega fazer dele um restaurante.
a pé, a zona do único restaurante que aqui No barco Ilda e Calais, o pescador e cozi-
existe – onde se juntam os banhistas para nheiro traz os clientes da Ribeira Brava até
petiscar ou apenas beber uma Coral gelada ao restaurante por 25€, que já incluem ida,
–, os barcos coloridos dos pescadores que volta e almoço. Ilda espera-os desde manhã,
fazem a ligação entre o Calhau da Lapa e a preparando semilhas (leia-se: batatas) e
Ribeira Brava, as toalhas estendidas sobre a salada para servir às cerca de 30 pessoas
pedra quente e as dezenas de grutas que se que aqui se sentam para almoçar, em época
amontoam por patamares. alta. As mesas são dispostas em três filas
Estas casinhas são antigos abrigos corridas, no exterior, com vista para o cais.
de pescadores, escavados na rocha, com O peixe servido é da responsabilidade
telheiros em palha no topo que as pro- de Calais, que anda de passo acelerado em
tegem do sol. As pequenas furnas, como calções de banho e sandálias entre a gruta, as
são chamadas, estiveram durante décadas mesas e o assador – a sua especialidade. “O
ao abandono até serem recuperadas pelo truque é abrir o peixe muito antes e deixá-lo
Governo e entregues à Associação Despor- ali a salgar e a ganhar o gosto das ervas com
tiva do Campanário, em 2005, que desde que o tempero. Fica uma maravilha depois
então as arrenda a preços simbólicos (a assado.” E é por isso que o menu inclui não
partir de 21,35€ por noite). Escusado será um mas dois peixes por pessoa, habitual-
dizer que, durante os meses mais quentes, mente douradas. “Se fosse uma era pouco.
só com muita sorte se consegue reservá-las. Assim comem, gostam, se for preciso ainda
A gruta com maior protagonismo do levam para casa e dão a provar a mais alguém.
Calhau da Lapa surge ao início da rampa E querem todos cá vir.” Disso não há dúvidas.

É D E D I F Í C I L acesso e metade do seu aventuras) recomenda-se a viagem de barco


encanto talvez seja precisamente esse. Ao (ida e volta a partir de 10€), que parte do
descer os 200 metros de altitude pela vereda cais da Ribeira Brava antes das 10 horas LOCALIZADA NA ZONA DO CAMPANÁRIO,
que ora é de cimento ora é de terra batida, as e regressa não depois das 17. Vários são

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


AS DUAS ÚNICAS FORMAS DE CHEGAR
pernas tremem como varas verdes aos que os pescadores que fazem este transporte SÃO A PÉ OU DE BARCO. A CAMINHADA
têm medo de alturas. A inclinação obriga a durante os meses de verão: do Márcio FAZ-SE POR UMA VEREDA INCLINADA
um bom trabalho de joelhos, que vão a amor- (969 093 999), que aumenta o volume DE 1,5 KM. COORDENADAS GPS:
tecer o impacto da descida durante os 40 nas colunas com música house durante 32.661756, -17.037551
minutos de caminho. A subida já se faz com os 10 minutos de passeio, ao senhor Calais
maior confiança: é ir conciliando o intenso (967 159 688), que faz um pack que inclui
esforço de pernas com a respiração e, a cada transporte e almoço. Mas já lá vamos.
pausa, apreciar a vista que fica para trás. Depois do esforço, vem a recompensa.
Aos que têm menos preparação O cenário é pintado a azul e tons terra.
física (ou mais sede de descanso que de A água do mar é das mais límpidas da

EXPLORAR
30 C A L H AU D A L A PA EXPLORAR
31 C A L H AU D A L A PA
EXPLORAR MADEIRA Madeira, ao ponto de se poderem contar que dá acesso ao trilho e não há como não
as pedras no fundo, mesmo estando a dar por ela. A música popular indica o cami-

CALHAU
mais de quatro metros de profundidade. nho até ao espaço, que é pequenino mas
O corredor que entra pelo mar adentro tem uma decoração ímpar: as paredes em
tanto serve para estender a toalha ao sol pedra são forradas a búzios. Do lado direito,
como para mergulhar. É aqui que se jun- junto ao balcão, é o lugar dos emblemas,
tam os mais pequenos em saltos hábeis de das fotografias e dos bonecos alusivos ao

DA LAPA
coragem e tantas vezes de fé. Quem não Benfica, paixão do dono. O senhor Calais e
quer arriscar o mergulho imediato na água a dona Ilda, a sua mulher, têm este espaço
fria, desce ao lado, pelas escadas em ferro. há 19 anos. Herdaram-no de um tio pesca-
É do mar que se tem a vista mais bonita dor que usava a furna para guardar o barco.
sobre o Calhau da Lapa. De fora para dentro Deram-lhe uma nova decoração e decidiram
veem-se o trilho íngreme por onde se chega fazer dele um restaurante.
a pé, a zona do único restaurante que aqui No barco Ilda e Calais, o pescador e cozi-
existe – onde se juntam os banhistas para nheiro traz os clientes da Ribeira Brava até
petiscar ou apenas beber uma Coral gelada ao restaurante por 25€, que já incluem ida,
–, os barcos coloridos dos pescadores que volta e almoço. Ilda espera-os desde manhã,
fazem a ligação entre o Calhau da Lapa e a preparando semilhas (leia-se: batatas) e
Ribeira Brava, as toalhas estendidas sobre a salada para servir às cerca de 30 pessoas
pedra quente e as dezenas de grutas que se que aqui se sentam para almoçar, em época
amontoam por patamares. alta. As mesas são dispostas em três filas
Estas casinhas são antigos abrigos corridas, no exterior, com vista para o cais.
de pescadores, escavados na rocha, com O peixe servido é da responsabilidade
telheiros em palha no topo que as pro- de Calais, que anda de passo acelerado em
tegem do sol. As pequenas furnas, como calções de banho e sandálias entre a gruta, as
são chamadas, estiveram durante décadas mesas e o assador – a sua especialidade. “O
ao abandono até serem recuperadas pelo truque é abrir o peixe muito antes e deixá-lo
Governo e entregues à Associação Despor- ali a salgar e a ganhar o gosto das ervas com
tiva do Campanário, em 2005, que desde que o tempero. Fica uma maravilha depois
então as arrenda a preços simbólicos (a assado.” E é por isso que o menu inclui não
partir de 21,35€ por noite). Escusado será um mas dois peixes por pessoa, habitual-
dizer que, durante os meses mais quentes, mente douradas. “Se fosse uma era pouco.
só com muita sorte se consegue reservá-las. Assim comem, gostam, se for preciso ainda
A gruta com maior protagonismo do levam para casa e dão a provar a mais alguém.
Calhau da Lapa surge ao início da rampa E querem todos cá vir.” Disso não há dúvidas.

É D E D I F Í C I L acesso e metade do seu aventuras) recomenda-se a viagem de barco


encanto talvez seja precisamente esse. Ao (ida e volta a partir de 10€), que parte do
descer os 200 metros de altitude pela vereda cais da Ribeira Brava antes das 10 horas LOCALIZADA NA ZONA DO CAMPANÁRIO,
que ora é de cimento ora é de terra batida, as e regressa não depois das 17. Vários são

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


AS DUAS ÚNICAS FORMAS DE CHEGAR
pernas tremem como varas verdes aos que os pescadores que fazem este transporte SÃO A PÉ OU DE BARCO. A CAMINHADA
têm medo de alturas. A inclinação obriga a durante os meses de verão: do Márcio FAZ-SE POR UMA VEREDA INCLINADA
um bom trabalho de joelhos, que vão a amor- (969 093 999), que aumenta o volume DE 1,5 KM. COORDENADAS GPS:
tecer o impacto da descida durante os 40 nas colunas com música house durante 32.661756, -17.037551
minutos de caminho. A subida já se faz com os 10 minutos de passeio, ao senhor Calais
maior confiança: é ir conciliando o intenso (967 159 688), que faz um pack que inclui
esforço de pernas com a respiração e, a cada transporte e almoço. Mas já lá vamos.
pausa, apreciar a vista que fica para trás. Depois do esforço, vem a recompensa.
Aos que têm menos preparação O cenário é pintado a azul e tons terra.
física (ou mais sede de descanso que de A água do mar é das mais límpidas da

EXPLORAR
30 C A L H AU D A L A PA EXPLORAR
31 C A L H AU D A L A PA
DORMIR MADEIRA PA S S E A R MADEIRA
S I T U A D A no topo de um penhasco,
afirma-se como um hotel de escape.

ESTALAGEM PRAIA
A antiga quinta que aqui funcionava estava
O ambiente é mais calmo do que
ligada à produção de açúcar, chegando
seria de esperar. A um passo da margi-
mesmo a albergar a sede da Companhia

DA PONTA
nal, a praia tem como pano de fundo

DA PONTA
do Açúcar durante o século xx. Depois de
uma linha de casas coloridas que,
passar por vários proprietários, chegou às
embora construa a paisagem, não lhe
mãos de André Diogo, que ali materializou
acrescenta grande poluição sonora.

DO SOL
os seus sonhos.
O silêncio é quebrado apenas pelos

DO SOL
Nascido em Braga, madeirense de cora-
calhaus a rolarem para cima e para
ção, André trabalhou durante décadas “no
baixo com as ondas, dificultando a
turismo de massas” noutras zonas da ilha,
entrada na água, pelo menos para quem
até que decidiu mudar de rumo. “Quis
não está habituado. A aposta em calçado
fazer um hotel em que gostaria de ficar
apropriado é certeira.
hospedado”, recorda. “Os hotéis eram
Longe das rotas turísticas, este é o
todos muito tradicionais, era preciso criar
S I T U A D A na vila que lhe dá o nome, lugar certo para um dia de praia tran-
opções menos convencionais, mais jovens
a praia da Ponta do Sol é conhecida quilo. E se faltar a companhia de um
e mais cool.”
pela temperatura amena – dentro bom livro, é passar pela biblioteca de
O projeto de arquitetura, assinado
e fora de água – que aqui se regista verão e levar um emprestado.
por Tiago Oliveira, manteve os diferentes
ao longo do ano. A zona balnear fica
edifícios existentes, distribuídos por
numa enseada, abrigada do vento pelas AVENIDA 1.º DE MAIO
socalcos, unindo-os através de torres.
arribas, onde o barulho do mar ecoa. PONTA DO SOL
A passagem entre eles ora é feita por
trilhos que cortam os jardins, ora pelos
elevadores envidraçados.
Nestes passeios, são frequentes os
encontros com a Poncha e a Stella, as
pequenas cadelas que vivem no hotel e que
brincam todo o dia – seja uma com a outra,
seja com os outros patudos que as visitam,
já que o espaço é dog friendly.
Todos os 55 quartos têm varanda sobre
o mar, em plena falésia. A decoração é a
mesma há já duas décadas, mas mantém-se
atual, de tão minimal: imperam a madeira, o

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


branco e o preto, sempre com o azul do mar
emoldurado pelas enormes janelas em vidro.
No promontório situado mais a sul, fica
a piscina infinita. Deste ponto do hotel,
que avança em direção ao mar, a vista é de
180 graus: à direita, avista-se a pacata vila
de Ponta do Sol e as bananeiras que
sobem os montes em socalcos; à esquerda,
FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

o olhar estende-se até ao Cabo Girão.


No andar de cima e com a mesma vista,
fica a pequena piscina aquecida que fun-
ciona fora de horas e está a um passo do
bar. “É um honesty bar que também pode
CAMINHO DO PASSO, 6. 291 970 200 ser dishonesty bar, é conforme as pessoas
ESTADIA A PARTIR DE 88€/NOITE queiram”, explica André entre risos.

DORMIR
32 E S TA L AG E M DA P O N TA D O S O L PA S S E A R
33 P R A I A DA P O N TA D O S O L
DORMIR MADEIRA PA S S E A R MADEIRA
S I T U A D A no topo de um penhasco,
afirma-se como um hotel de escape.

ESTALAGEM PRAIA
A antiga quinta que aqui funcionava estava
O ambiente é mais calmo do que
ligada à produção de açúcar, chegando
seria de esperar. A um passo da margi-
mesmo a albergar a sede da Companhia

DA PONTA
nal, a praia tem como pano de fundo

DA PONTA
do Açúcar durante o século xx. Depois de
uma linha de casas coloridas que,
passar por vários proprietários, chegou às
embora construa a paisagem, não lhe
mãos de André Diogo, que ali materializou
acrescenta grande poluição sonora.

DO SOL
os seus sonhos.
O silêncio é quebrado apenas pelos

DO SOL
Nascido em Braga, madeirense de cora-
calhaus a rolarem para cima e para
ção, André trabalhou durante décadas “no
baixo com as ondas, dificultando a
turismo de massas” noutras zonas da ilha,
entrada na água, pelo menos para quem
até que decidiu mudar de rumo. “Quis
não está habituado. A aposta em calçado
fazer um hotel em que gostaria de ficar
apropriado é certeira.
hospedado”, recorda. “Os hotéis eram
Longe das rotas turísticas, este é o
todos muito tradicionais, era preciso criar
S I T U A D A na vila que lhe dá o nome, lugar certo para um dia de praia tran-
opções menos convencionais, mais jovens
a praia da Ponta do Sol é conhecida quilo. E se faltar a companhia de um
e mais cool.”
pela temperatura amena – dentro bom livro, é passar pela biblioteca de
O projeto de arquitetura, assinado
e fora de água – que aqui se regista verão e levar um emprestado.
por Tiago Oliveira, manteve os diferentes
ao longo do ano. A zona balnear fica
edifícios existentes, distribuídos por
numa enseada, abrigada do vento pelas AVENIDA 1.º DE MAIO
socalcos, unindo-os através de torres.
arribas, onde o barulho do mar ecoa. PONTA DO SOL
A passagem entre eles ora é feita por
trilhos que cortam os jardins, ora pelos
elevadores envidraçados.
Nestes passeios, são frequentes os
encontros com a Poncha e a Stella, as
pequenas cadelas que vivem no hotel e que
brincam todo o dia – seja uma com a outra,
seja com os outros patudos que as visitam,
já que o espaço é dog friendly.
Todos os 55 quartos têm varanda sobre
o mar, em plena falésia. A decoração é a
mesma há já duas décadas, mas mantém-se
atual, de tão minimal: imperam a madeira, o

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


branco e o preto, sempre com o azul do mar
emoldurado pelas enormes janelas em vidro.
No promontório situado mais a sul, fica
a piscina infinita. Deste ponto do hotel,
que avança em direção ao mar, a vista é de
180 graus: à direita, avista-se a pacata vila
de Ponta do Sol e as bananeiras que
sobem os montes em socalcos; à esquerda,
FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

o olhar estende-se até ao Cabo Girão.


No andar de cima e com a mesma vista,
fica a pequena piscina aquecida que fun-
ciona fora de horas e está a um passo do
bar. “É um honesty bar que também pode
CAMINHO DO PASSO, 6. 291 970 200 ser dishonesty bar, é conforme as pessoas
ESTADIA A PARTIR DE 88€/NOITE queiram”, explica André entre risos.

DORMIR
32 E S TA L AG E M DA P O N TA D O S O L PA S S E A R
33 P R A I A DA P O N TA D O S O L
DORMIR MADEIRA

1905 ZINO’S
PALACE
A F A M Í L I A Zino, de origem italo-bri-
tânica, é conhecida em toda a Madeira.
Pertence-lhes, por exemplo, a única pro-
priedade privada das ilhas Selvagens – foi
Alexandre Zino quem, no final dos anos
60, comprou o direito de caça na ilha
com o único intuito de a proibir. Mas a
sua história no arquipélago é ainda mais
antiga, como o prova a origem deste pala-
cete romântico, um raríssimo exemplar
desta arquitetura, construído no início
do século xx na Ponta do Sol para ser a
casa de verão da família.
Depois de uma vida atribulada, em
que alternou períodos de abandono com
outros em que foi Escola Prática de Agri-
cultura, Escola Primária e espaço para
eventos, o palacete, entretanto rebapti-
zado de Lugar de Baixo, reabriu em feve-
reiro de 2020 como boutique hotel.
A data pode não ter sido a mais feliz –
um mês antes do início da pandemia –
mas sobram-lhe argumentos para
recuperar o tempo perdido.
O 1905 Zino’s Palace, assim se
chama, tem apenas nove quartos espa-
lhados por três pisos, com um interior
bem cuidado que faz jus à elegância
histórica do edifício. E o exterior não
lhe fica atrás: o enorme terraço tem uma
vista magnífica para o mar e para o pôr PALACETE DO LUGAR DE BAIXO VE3 10,
FOTOGRAFIAS DR

do sol, que aqui brilha mais horas por PONTA DO SOL. 291 600 123

ano do que em qualquer outro lugar 1905ZINOSPALACE.COM

na Madeira. ESTADIA A PARTIR DE 130€/NOITE

DORMIR
34 1 9 0 5 Z I N O ’ S PA L A C E DORMIR
35 1 9 0 5 Z I N O ’ S PA L A C E
DORMIR MADEIRA

1905 ZINO’S
PALACE
A F A M Í L I A Zino, de origem italo-bri-
tânica, é conhecida em toda a Madeira.
Pertence-lhes, por exemplo, a única pro-
priedade privada das ilhas Selvagens – foi
Alexandre Zino quem, no final dos anos
60, comprou o direito de caça na ilha
com o único intuito de a proibir. Mas a
sua história no arquipélago é ainda mais
antiga, como o prova a origem deste pala-
cete romântico, um raríssimo exemplar
desta arquitetura, construído no início
do século xx na Ponta do Sol para ser a
casa de verão da família.
Depois de uma vida atribulada, em
que alternou períodos de abandono com
outros em que foi Escola Prática de Agri-
cultura, Escola Primária e espaço para
eventos, o palacete, entretanto rebapti-
zado de Lugar de Baixo, reabriu em feve-
reiro de 2020 como boutique hotel.
A data pode não ter sido a mais feliz –
um mês antes do início da pandemia –
mas sobram-lhe argumentos para
recuperar o tempo perdido.
O 1905 Zino’s Palace, assim se
chama, tem apenas nove quartos espa-
lhados por três pisos, com um interior
bem cuidado que faz jus à elegância
histórica do edifício. E o exterior não
lhe fica atrás: o enorme terraço tem uma
vista magnífica para o mar e para o pôr PALACETE DO LUGAR DE BAIXO VE3 10,
FOTOGRAFIAS DR

do sol, que aqui brilha mais horas por PONTA DO SOL. 291 600 123

ano do que em qualquer outro lugar 1905ZINOSPALACE.COM

na Madeira. ESTADIA A PARTIR DE 130€/NOITE

DORMIR
34 1 9 0 5 Z I N O ’ S PA L A C E DORMIR
35 1 9 0 5 Z I N O ’ S PA L A C E
PA S S E A R MADEIRA COMER MADEIRA

CASCATA CASA
DE PEDRA
DOS ANJOS
Q U E M não saiba ao que vai, surpreende-se
com a força da água que cai da montanha
em plena estrada regional 101. No início
desta parte do caminho há avisos que ali
proíbem – ou desaconselham – a circula-
ção, mas o certo é que é dos lugares mais
visitados da Madeira – ou não fosse ele,
também, um dos mais instagramáveis.
A cascata dos Anjos fica na antiga N Ã O E S T R A N H E se, ao entrar, for
estrada que liga a Ponta do Sol a Madalena recebido por um papagaio no ombro da
do Mar, perto da pequena localidade que dona. Parece uma cena retirada de um
lhe dá nome. A queda de água tem mais parque de diversões, mas é só a maneira
de 10 metros de altura e, além de ser bem de Luísa fazer a vontade ao seu animal
fria, cai com bastante intensidade. Ainda de estimação. “Ela quando diz ‘lalá’ é
assim, é habitual os mais encalorados porque quer saltar para o meu ombro”,
refrescarem-se na cascata, seja em pose explica. Alto lá, ela? “Sim, é uma fémea,

↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SAANTOS


ou em jeito de desafio. Mas cuidado: chama-se Kiara.” Muito bem, feitas as
embora seja bonita, também é perigosa, apresentações, sobem-se os degraus
e não é incomum caírem algumas pedras para chegar ao terraço e encontrar as
junto com a água. mesas postas perante uma frondosa
Para mergulhos mais tranquilos, nada vista marítima – estamos, afinal, na
como dar um salto à praia dos Anjos, a marginal da Madalena do Mar.
poucos minutos de carro. Embora também Luís, o marido de Luísa, faz as hon-
haja pedras, são em basalto e mantêm-se ras da casa. Entrega-nos uma ementa
debaixo dos pés. Mesmo assim, é boa ideia que é forte nos picados e nas doses de
levar calçado próprio para caminhar sobre petiscos. “Lapas? São as melhores da
↑ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA

aquilo a que chamam “calhau rolado”. Madeira. Ovas de espada? Maravilhosas,


É olhar para a rebentação do mar para não há igual. Sandes de polvo? Grande
perceber porquê. escolha.” A confiança gera confiança,
este homem sabe o que faz. Felizmente,
ER 101, ANJOS. a comida não desilude. Nem a vista. Lá
AVENIDA 1.º DE FEVEREIRO, MADALENA DO MAR
COORDENADAS GPS: em baixo, Kiara continua a taramelar
291 604 536 / 967 194 724
32.686734, -17.113983 “lálá, lálá”. Sabe muito, a bicha.

PA S S E A R
36 C A S C ATA D O S A N J O S COMER
37 CASA DE PEDRA
PA S S E A R MADEIRA COMER MADEIRA

CASCATA CASA
DE PEDRA
DOS ANJOS
Q U E M não saiba ao que vai, surpreende-se
com a força da água que cai da montanha
em plena estrada regional 101. No início
desta parte do caminho há avisos que ali
proíbem – ou desaconselham – a circula-
ção, mas o certo é que é dos lugares mais
visitados da Madeira – ou não fosse ele,
também, um dos mais instagramáveis.
A cascata dos Anjos fica na antiga N Ã O E S T R A N H E se, ao entrar, for
estrada que liga a Ponta do Sol a Madalena recebido por um papagaio no ombro da
do Mar, perto da pequena localidade que dona. Parece uma cena retirada de um
lhe dá nome. A queda de água tem mais parque de diversões, mas é só a maneira
de 10 metros de altura e, além de ser bem de Luísa fazer a vontade ao seu animal
fria, cai com bastante intensidade. Ainda de estimação. “Ela quando diz ‘lalá’ é
assim, é habitual os mais encalorados porque quer saltar para o meu ombro”,
refrescarem-se na cascata, seja em pose explica. Alto lá, ela? “Sim, é uma fémea,

↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SAANTOS


ou em jeito de desafio. Mas cuidado: chama-se Kiara.” Muito bem, feitas as
embora seja bonita, também é perigosa, apresentações, sobem-se os degraus
e não é incomum caírem algumas pedras para chegar ao terraço e encontrar as
junto com a água. mesas postas perante uma frondosa
Para mergulhos mais tranquilos, nada vista marítima – estamos, afinal, na
como dar um salto à praia dos Anjos, a marginal da Madalena do Mar.
poucos minutos de carro. Embora também Luís, o marido de Luísa, faz as hon-
haja pedras, são em basalto e mantêm-se ras da casa. Entrega-nos uma ementa
debaixo dos pés. Mesmo assim, é boa ideia que é forte nos picados e nas doses de
levar calçado próprio para caminhar sobre petiscos. “Lapas? São as melhores da
↑ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA

aquilo a que chamam “calhau rolado”. Madeira. Ovas de espada? Maravilhosas,


É olhar para a rebentação do mar para não há igual. Sandes de polvo? Grande
perceber porquê. escolha.” A confiança gera confiança,
este homem sabe o que faz. Felizmente,
ER 101, ANJOS. a comida não desilude. Nem a vista. Lá
AVENIDA 1.º DE FEVEREIRO, MADALENA DO MAR
COORDENADAS GPS: em baixo, Kiara continua a taramelar
291 604 536 / 967 194 724
32.686734, -17.113983 “lálá, lálá”. Sabe muito, a bicha.

PA S S E A R
36 C A S C ATA D O S A N J O S COMER
37 CASA DE PEDRA
EXPLORAR MADEIRA

CAMINHOS
REAIS
HÁ SEIS ANTIGOS CAMINHOS REAIS PARA EXPLORAR

NA MADEIRA. CONSULTE A LISTA COMPLETA

E AS SUAS CARACTERÍSTICAS EM CAMINHOREAL.PT


Durante o século xx, com o apare-
cimento do automóvel, os caminhos
reais foram perdendo terreno para as
novas ligações viárias, até deixarem de
ser utilizados pelos locais. Ainda assim,
T R I L H O S há muitos na Madeira, mas continuam a fazer parte da memória
como estes há apenas seis. Os caminhos coletiva da Madeira e são hoje visitados
reais (ou estradas reais) madeirenses têm e percorridos, tanto por madeirenses,
mais de 400 anos de história e, se até como por turistas.
há bem pouco tempo eram puramente Entre as seis rotas recomendadas
utilitários, hoje em dia representam uma pela Associação do Caminho Real da
forma dinâmica de conhecer algumas Madeira destaca-se a que dá uma volta
das paisagens mais bonitas da ilha. completa à ilha. O caminho real número
Ganharam relevância no século xviii, 23 tem 181 quilómetros de extensão –
quando eram a única alternativa às liga- enquanto os restantes cinco percursos
ções marítimas e serviam quem preci- têm entre 12 e 39 quilómetros –, que se
sava de se deslocar entre localidades. percorrem sempre junto à costa. Se a
Mandados construir por governadores caminhada tiver de ser encurtada, que
e capitães-generais, tornaram-se de tal comece então na estrada regional 101,
forma relevantes que a sua manutenção entre os Anjos e a Ponta do Sol, onde
era garantida através de um imposto há muito mais do que luz ao fundo
chamado “roda de caminho”. Dos mais dos túneis.
ricos aos mais pobres, todos os madei-
renses tinham de contribuir para os
arranjos que anualmente eram feitos nas
estradas, depois dos estragos do inverno
– quer fosse com dinheiro, quer fosse

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


com trabalho físico.

EXPLORAR
38 CAMINHOS REAIS EXPLORAR
39 CAMINHOS REAIS
EXPLORAR MADEIRA

CAMINHOS
REAIS
HÁ SEIS ANTIGOS CAMINHOS REAIS PARA EXPLORAR

NA MADEIRA. CONSULTE A LISTA COMPLETA

E AS SUAS CARACTERÍSTICAS EM CAMINHOREAL.PT


Durante o século xx, com o apare-
cimento do automóvel, os caminhos
reais foram perdendo terreno para as
novas ligações viárias, até deixarem de
ser utilizados pelos locais. Ainda assim,
T R I L H O S há muitos na Madeira, mas continuam a fazer parte da memória
como estes há apenas seis. Os caminhos coletiva da Madeira e são hoje visitados
reais (ou estradas reais) madeirenses têm e percorridos, tanto por madeirenses,
mais de 400 anos de história e, se até como por turistas.
há bem pouco tempo eram puramente Entre as seis rotas recomendadas
utilitários, hoje em dia representam uma pela Associação do Caminho Real da
forma dinâmica de conhecer algumas Madeira destaca-se a que dá uma volta
das paisagens mais bonitas da ilha. completa à ilha. O caminho real número
Ganharam relevância no século xviii, 23 tem 181 quilómetros de extensão –
quando eram a única alternativa às liga- enquanto os restantes cinco percursos
ções marítimas e serviam quem preci- têm entre 12 e 39 quilómetros –, que se
sava de se deslocar entre localidades. percorrem sempre junto à costa. Se a
Mandados construir por governadores caminhada tiver de ser encurtada, que
e capitães-generais, tornaram-se de tal comece então na estrada regional 101,
forma relevantes que a sua manutenção entre os Anjos e a Ponta do Sol, onde
era garantida através de um imposto há muito mais do que luz ao fundo
chamado “roda de caminho”. Dos mais dos túneis.
ricos aos mais pobres, todos os madei-
renses tinham de contribuir para os
arranjos que anualmente eram feitos nas
estradas, depois dos estragos do inverno
– quer fosse com dinheiro, quer fosse

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


com trabalho físico.

EXPLORAR
38 CAMINHOS REAIS EXPLORAR
39 CAMINHOS REAIS
BEBER MADEIRA PA S S E A R MADEIRA

TABERNA VEREDA
DA PONCHA
VE4, SERRA D’ÁGUA, RIBEIRA BRAVA. 291 952 312
DO FANAL
C H A M A M - L H E , há muito, Pérola do
Atlântico, mas a verdade é que a Madeira
esconde outras joias que nada têm
a ver com o mar. Esta é uma delas.
O percurso que atravessa a mancha
de floresta laurissilva da serra do Fanal
oferece vistas completamente diferentes
daquelas que se encontram nos postais
ilustrados do arquipélago. Mas, nem por
isso, menos belas, muito pelo contrário.
O F U N D A D O R da casa, José Gomes do Não são só as áreas de floresta
Vale, iria estranhar o cenário atual. Quando densa, Património Mundial Natural
fundou esta antiga mercearia, há quase da unesco, que surpreendem pelo
70 anos, as paredes não estavam forradas estado praticamente intacto – algumas
a cachecóis, cartões e notas deixados pelos das árvores mais antigas da Madeira,
visitantes de todo o mundo que ali che- as tis, encontram-se aqui –, mas também

↓ FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA


gam para provar a bebida ex-líbris da casa. o silêncio e a tranquilidade que a zona
Nem, tão-pouco, havia visitantes de fora da oferece, mesmo no pico da época alta.
Madeira – quem ia ao “Zé do Vale”, como Não é por acaso, aliás, que à zona da
era conhecida a casa, eram locais que se serra do Fanal se chama “Reserva de
iam abastecer de bens essenciais e, com Repouso e Silêncio”.
sorte, ficar para beber qualquer coisa. O trilho onde é possível desfrutar
Só que quando o negócio passou para de tudo isto e muito mais – também com
a geração seguinte, o beber qualquer coisa miradouros que permitem lavar os olhos
tornou-se a principal atividade do esta- na paisagem desafogada – percorre-se
em cerca de quatro horas. Convém,
↑ FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

belecimento. A fama da poncha da casa


começou a correr de boca em boca e, aos no entanto, ter cuidado com o nevoeiro
poucos, as paredes foram começando a que por vezes se torna denso de um
encher-se, tal como as mesas: de clientes, momento para o outro e pode levar
copos e dos tradicionais amendoins. Hoje, a algumas dúvidas no caminho a seguir.
apesar da fama, continua a ser um negó-
cio familiar: é Ana Vicente, neta de José O PERCURSO COMEÇA NO PLANALTO
Gomes do Vale, quem está atrás do balcão DO PAÚL DA SERRA (ER 209) E
a preparar as bebidas. E o talento e a dedi- TERMINA JUNTO AO POSTO FLORESTAL
cação está-lhe nos genes – é, sem dúvida, DO FANAL. TEM 10,8 KM
uma das melhores ponchas da Madeira. E DEMORA CERCA DE 4 HORAS.

BEBER
40 TA B E R N A DA P O N C H A PA S S E A R
41 V E R E D A D O FA N A L
BEBER MADEIRA PA S S E A R MADEIRA

TABERNA VEREDA
DA PONCHA
VE4, SERRA D’ÁGUA, RIBEIRA BRAVA. 291 952 312
DO FANAL
C H A M A M - L H E , há muito, Pérola do
Atlântico, mas a verdade é que a Madeira
esconde outras joias que nada têm
a ver com o mar. Esta é uma delas.
O percurso que atravessa a mancha
de floresta laurissilva da serra do Fanal
oferece vistas completamente diferentes
daquelas que se encontram nos postais
ilustrados do arquipélago. Mas, nem por
isso, menos belas, muito pelo contrário.
O F U N D A D O R da casa, José Gomes do Não são só as áreas de floresta
Vale, iria estranhar o cenário atual. Quando densa, Património Mundial Natural
fundou esta antiga mercearia, há quase da unesco, que surpreendem pelo
70 anos, as paredes não estavam forradas estado praticamente intacto – algumas
a cachecóis, cartões e notas deixados pelos das árvores mais antigas da Madeira,
visitantes de todo o mundo que ali che- as tis, encontram-se aqui –, mas também

↓ FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA


gam para provar a bebida ex-líbris da casa. o silêncio e a tranquilidade que a zona
Nem, tão-pouco, havia visitantes de fora da oferece, mesmo no pico da época alta.
Madeira – quem ia ao “Zé do Vale”, como Não é por acaso, aliás, que à zona da
era conhecida a casa, eram locais que se serra do Fanal se chama “Reserva de
iam abastecer de bens essenciais e, com Repouso e Silêncio”.
sorte, ficar para beber qualquer coisa. O trilho onde é possível desfrutar
Só que quando o negócio passou para de tudo isto e muito mais – também com
a geração seguinte, o beber qualquer coisa miradouros que permitem lavar os olhos
tornou-se a principal atividade do esta- na paisagem desafogada – percorre-se
em cerca de quatro horas. Convém,
↑ FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

belecimento. A fama da poncha da casa


começou a correr de boca em boca e, aos no entanto, ter cuidado com o nevoeiro
poucos, as paredes foram começando a que por vezes se torna denso de um
encher-se, tal como as mesas: de clientes, momento para o outro e pode levar
copos e dos tradicionais amendoins. Hoje, a algumas dúvidas no caminho a seguir.
apesar da fama, continua a ser um negó-
cio familiar: é Ana Vicente, neta de José O PERCURSO COMEÇA NO PLANALTO
Gomes do Vale, quem está atrás do balcão DO PAÚL DA SERRA (ER 209) E
a preparar as bebidas. E o talento e a dedi- TERMINA JUNTO AO POSTO FLORESTAL
cação está-lhe nos genes – é, sem dúvida, DO FANAL. TEM 10,8 KM
uma das melhores ponchas da Madeira. E DEMORA CERCA DE 4 HORAS.

BEBER
40 TA B E R N A DA P O N C H A PA S S E A R
41 V E R E D A D O FA N A L
COMER MADEIRA P E D R A ou objeto pesado que serve pelos pratos de peixe e marisco, sempre
de âncora – assim se define a palavra frescos e bem temperados. Hoje, já com

A POITA
“poita” no dicionário. João Tadeu três décadas de serviço, conta com a
Fernandes, proprietário do restaurante ajuda da mulher, Angelina, e de quatro
A Poita, na Madalena do Mar, diz que dos cinco filhos do casal. “Fica tudo em
é “uma amarra ao mar”, e que também família, como eu gosto.”
é isso que este lugar representa para si. No interior do restaurante, a sala
Nascido na Madeira, chegou a viver luminosa tem uma decoração simples,
em Moçambique e na África do Sul, com motivos marítimos. Lá fora, do
sempre com o regresso à ilha em mente. outro lado da estrada, fica a esplanada.
É pescador desde que se lembra e foi Os desenhos pintados na parede, rua
do seu ofício que surgiu a ideia de abrir acima, ilustram o fundo do mar com
ESTRADA DOS LOMBOS, 1
um restaurante. Em 1989 inaugurou polvos, chocos, lulas e uma série de
MADALENA DO MAR. 962 929 687
A Poita, ainda sem licenças nem peixes coloridos. Para rematar, soma-se
registos, regularizando pouco depois a mesa mais especial da casa, construída
a situação. Ele próprio trazia do mar o no interior de uma pequena canoa. Seja
peixe, que depois arranjava e cozinhava, nesta ou numa das outras o que mais se
embora os amigos e clientes frequentes vê comer é peixe e marisco, do bodião
da casa sorriam ao ouvir contar esta às castanhetas, dos caramujos às lapas.
história, garantindo que o pescador Destaca-se a fragateira (30€), prato
não a consegue contar duas vezes recomendado pelo próprio senhor
da mesma maneira – daí a alcunha João, que é uma espécie de caldeiradada
de João Mentiroso. e vem – verdade, verdadinha – bem
Mas mentira isto não é: com mão recheada com camarões, lapas e pes-
para a cozinha, começou a fazer sucesso cado variado.

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

COMER
42 A P OI TA COMER
43 A P OI TA
COMER MADEIRA P E D R A ou objeto pesado que serve pelos pratos de peixe e marisco, sempre
de âncora – assim se define a palavra frescos e bem temperados. Hoje, já com

A POITA
“poita” no dicionário. João Tadeu três décadas de serviço, conta com a
Fernandes, proprietário do restaurante ajuda da mulher, Angelina, e de quatro
A Poita, na Madalena do Mar, diz que dos cinco filhos do casal. “Fica tudo em
é “uma amarra ao mar”, e que também família, como eu gosto.”
é isso que este lugar representa para si. No interior do restaurante, a sala
Nascido na Madeira, chegou a viver luminosa tem uma decoração simples,
em Moçambique e na África do Sul, com motivos marítimos. Lá fora, do
sempre com o regresso à ilha em mente. outro lado da estrada, fica a esplanada.
É pescador desde que se lembra e foi Os desenhos pintados na parede, rua
do seu ofício que surgiu a ideia de abrir acima, ilustram o fundo do mar com
ESTRADA DOS LOMBOS, 1
um restaurante. Em 1989 inaugurou polvos, chocos, lulas e uma série de
MADALENA DO MAR. 962 929 687
A Poita, ainda sem licenças nem peixes coloridos. Para rematar, soma-se
registos, regularizando pouco depois a mesa mais especial da casa, construída
a situação. Ele próprio trazia do mar o no interior de uma pequena canoa. Seja
peixe, que depois arranjava e cozinhava, nesta ou numa das outras o que mais se
embora os amigos e clientes frequentes vê comer é peixe e marisco, do bodião
da casa sorriam ao ouvir contar esta às castanhetas, dos caramujos às lapas.
história, garantindo que o pescador Destaca-se a fragateira (30€), prato
não a consegue contar duas vezes recomendado pelo próprio senhor
da mesma maneira – daí a alcunha João, que é uma espécie de caldeiradada
de João Mentiroso. e vem – verdade, verdadinha – bem
Mas mentira isto não é: com mão recheada com camarões, lapas e pes-
para a cozinha, começou a fazer sucesso cado variado.

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

COMER
42 A P OI TA COMER
43 A P OI TA
PA S S E A R MADEIRA

LEVADA 25 é o número de fontes, ou quedas

DAS
de água, que caem na lagoa que marca o
final do percurso. Algumas delas de uma
S E R Á , porventura, a mais conhecida altura considerável. Há quem arrisque

25 FONTES
e percorrida das levadas madeirenses. molhar-se, mas a temperatura não cos-
Segue paralela a uma outra quase tão tuma ser convidativa. É, também, possível
famosa, a Levada do Risco – vão ambas (e aconselhável) fazer um pequeno desvio
do Posto Florestal do Rabaçal, em pleno para ver a imponente cascata do Risco.
bosque da Laurissilva, até à central A rota está muito bem assinalada e
hidroelétrica da Calheta. protegida com varandis, mas convém
A caminhada é feita pelo meio ter uma condição física razoável
POSTO FLORESTAL DO RABAÇAL, da floresta, seguindo os canais de e equipamento apropriado para o
CALHETA. A CÂMARA MUNICIPAL irrigação – as levadas – em zonas conseguir percorrer na totalidade.
DA CALHETA PROVIDENCIA UM AUTOCARRO mais e menos estreitas, mais escuras O regresso é feito pelo mesmo caminho
ATÉ AO INÍCIO DO PERCURSO, QUE e menos escuras, mas quase todas – são 4,5 quilómetros para cada lado.

FOTOGRAFIA DR
TEM 9 KM E DEMORA 3H30. com uma beleza capaz de deixar
PREÇO DO BILHETE DO AUTOCARRO: até o mais insensível dos viajantes
5€ (IDA E VOLTA) ligeiramente boquiaberto.

PA S S E A R
44 L E VA DA DAS 2 5 FO N T E S PA S S E A R
45 L E VA DA DAS 2 5 FO N T E S
PA S S E A R MADEIRA

LEVADA 25 é o número de fontes, ou quedas

DAS
de água, que caem na lagoa que marca o
final do percurso. Algumas delas de uma
S E R Á , porventura, a mais conhecida altura considerável. Há quem arrisque

25 FONTES
e percorrida das levadas madeirenses. molhar-se, mas a temperatura não cos-
Segue paralela a uma outra quase tão tuma ser convidativa. É, também, possível
famosa, a Levada do Risco – vão ambas (e aconselhável) fazer um pequeno desvio
do Posto Florestal do Rabaçal, em pleno para ver a imponente cascata do Risco.
bosque da Laurissilva, até à central A rota está muito bem assinalada e
hidroelétrica da Calheta. protegida com varandis, mas convém
A caminhada é feita pelo meio ter uma condição física razoável
POSTO FLORESTAL DO RABAÇAL, da floresta, seguindo os canais de e equipamento apropriado para o
CALHETA. A CÂMARA MUNICIPAL irrigação – as levadas – em zonas conseguir percorrer na totalidade.
DA CALHETA PROVIDENCIA UM AUTOCARRO mais e menos estreitas, mais escuras O regresso é feito pelo mesmo caminho
ATÉ AO INÍCIO DO PERCURSO, QUE e menos escuras, mas quase todas – são 4,5 quilómetros para cada lado.

FOTOGRAFIA DR
TEM 9 KM E DEMORA 3H30. com uma beleza capaz de deixar
PREÇO DO BILHETE DO AUTOCARRO: até o mais insensível dos viajantes
5€ (IDA E VOLTA) ligeiramente boquiaberto.

PA S S E A R
44 L E VA DA DAS 2 5 FO N T E S PA S S E A R
45 L E VA DA DAS 2 5 FO N T E S
DORMIR MADEIRA paralelo, nas vilas Boal e Verdelho, bem
como a oito casas isoladas.
Inauguradas em outubro de 2020,
as casas têm sala, kitchenette e pátio,
sempre com vista para os socalcos
e o oceano. As construções ocupam
apenas 20% da propriedade e o terreno
em volta delas voltou a ser cultivado,
estando rodeadas de canas de açúcar,
bananeiras, ervas aromáticas e vinhas.
As frutas e hortícolas aqui produzidos
servem para abastecer a cozinha do
restaurante A Razão, que fica no socalco
inferior, com vista para a piscina
antes do mar.
A ementa muda de dia para dia,
conforme aquilo que a horta vai dando.
O menu de degustação tem entre três
a cinco pratos e, apesar de ser sempre
uma surpresa, é invariavelmente fresco,
saudável e regional. O próximo passo
F O I A M O R à primeira vista. Assim que é produzir o próprio vinho Madeira,
viu o antigo solar do século xvii, inse- o que, com o lagar e a adega quase
rido num terreno agrícola há décadas prontos, está para breve. Será mais um
abandonado, Octávio Freitas soube que argumento para confirmar as palavras
aquela era a sua casa. O chef de cozinha de Octávio: “Este é o hotel mais madei-
sonhava há muito com um lugar tran- rense da Madeira, em todos os sentidos.
quilo, no meio da natureza, para onde se Isto que aqui se encontra não se vê em
pudesse retirar quando o stress do dia a Ibiza nem nas Canárias. Isto encontra-
dia aperta. Mas aquela terra tinha “uma -se no Socalco, na Calheta.”
tal energia” que rapidamente trocou as
voltas a Octávio – que em vez de fazer
dela um sítio para descansar, criou ali
um novo projeto profissional. “Este
lugar é como um amor pelo qual se
espera muito e que, quando se encontra,
se quer manter para a vida. Estou com-
pletamente apaixonado por ele.”
Foi durante o ano de 2020, em plena
pandemia, que a ideia ganhou forma.

SOCALCO
O objetivo era criar um projeto que
combinasse gastronomia, alojamento e
agricultura. Com um único hectare que

NATURE CALHETA FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


se multiplica por socalcos, o terreno
tinha espaço para construir, desde que
fosse respeitada a sua particular geo-
grafia. “Isto já existia antes de eu nascer,
portanto não fazia sentido vir alterar.
Eu vim alinhar-me com a natureza”,
CAMINHO LOMBO DO SALÃO, 13, CALHETA. 291 146 910 explica. Os muros de pedra centenários
SOCALCONATURE.COM. ESTADIA A PARTIR DE 115€/NOITE deram origem a dez casas dispostas em

DORMIR
46 S O C A LC O N AT U R E C A L H E TA DORMIR
47 S O C A LC O N AT U R E C A L H E TA
DORMIR MADEIRA paralelo, nas vilas Boal e Verdelho, bem
como a oito casas isoladas.
Inauguradas em outubro de 2020,
as casas têm sala, kitchenette e pátio,
sempre com vista para os socalcos
e o oceano. As construções ocupam
apenas 20% da propriedade e o terreno
em volta delas voltou a ser cultivado,
estando rodeadas de canas de açúcar,
bananeiras, ervas aromáticas e vinhas.
As frutas e hortícolas aqui produzidos
servem para abastecer a cozinha do
restaurante A Razão, que fica no socalco
inferior, com vista para a piscina
antes do mar.
A ementa muda de dia para dia,
conforme aquilo que a horta vai dando.
O menu de degustação tem entre três
a cinco pratos e, apesar de ser sempre
uma surpresa, é invariavelmente fresco,
saudável e regional. O próximo passo
F O I A M O R à primeira vista. Assim que é produzir o próprio vinho Madeira,
viu o antigo solar do século xvii, inse- o que, com o lagar e a adega quase
rido num terreno agrícola há décadas prontos, está para breve. Será mais um
abandonado, Octávio Freitas soube que argumento para confirmar as palavras
aquela era a sua casa. O chef de cozinha de Octávio: “Este é o hotel mais madei-
sonhava há muito com um lugar tran- rense da Madeira, em todos os sentidos.
quilo, no meio da natureza, para onde se Isto que aqui se encontra não se vê em
pudesse retirar quando o stress do dia a Ibiza nem nas Canárias. Isto encontra-
dia aperta. Mas aquela terra tinha “uma -se no Socalco, na Calheta.”
tal energia” que rapidamente trocou as
voltas a Octávio – que em vez de fazer
dela um sítio para descansar, criou ali
um novo projeto profissional. “Este
lugar é como um amor pelo qual se
espera muito e que, quando se encontra,
se quer manter para a vida. Estou com-
pletamente apaixonado por ele.”
Foi durante o ano de 2020, em plena
pandemia, que a ideia ganhou forma.

SOCALCO
O objetivo era criar um projeto que
combinasse gastronomia, alojamento e
agricultura. Com um único hectare que

NATURE CALHETA FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


se multiplica por socalcos, o terreno
tinha espaço para construir, desde que
fosse respeitada a sua particular geo-
grafia. “Isto já existia antes de eu nascer,
portanto não fazia sentido vir alterar.
Eu vim alinhar-me com a natureza”,
CAMINHO LOMBO DO SALÃO, 13, CALHETA. 291 146 910 explica. Os muros de pedra centenários
SOCALCONATURE.COM. ESTADIA A PARTIR DE 115€/NOITE deram origem a dez casas dispostas em

DORMIR
46 S O C A LC O N AT U R E C A L H E TA DORMIR
47 S O C A LC O N AT U R E C A L H E TA
V I S I TA R MADEIRA BEBER MADEIRA

O P A D R E Rui Sousa é uma figura.


Nasceu na freguesia do Santo da Serra,
mas estudou em Lisboa com o mais
XS CAFÉ
famoso dos clérigos madeirenses,
Tolentino Mendonça. De volta à ilha,
devido às suas ideias progressistas,
foi colocado numa pequena freguesia
madeirense distante de qualquer centro
urbano, a dos Prazeres.
“Foi o saneamento”, diz meio a
brincar, meio a sério, no seu tom É U M A coffee shop que está nos Prazeres,
enigmático, porém bem-disposto, numa zona rural da Madeira, mas que
que nem sempre é fácil descodificar. podia estar no centro de qualquer capital
“Imagine eu aqui há 30 anos, vindo de

QUINTA
europeia. Um espaço pequeno, de arqui-
Lisboa para a Ponta do Pargo. Tinha tetura contemporânea – inserido no piso
de arranjar formas de me entreter.” térreo de um edifício antigo – onde se
E arranjou-as. Para estimular a serve café de especialidade torrado na

PEDAGÓGICA
economia local, cedo estabeleceu Madeira pela Odd Coffee Roastery, bolos
relações com os produtores da região e e tartes caseiras apetecíveis, com fruta de
começou a transformar a matéria-prima produtores locais.

DOS
em sidra, vinagres de sidra, compotas A estranheza de encontrar um projeto
ou infusões, entre outros. Fundou, em assim neste local algo inóspito explica-se

PRAZERES
2000, uma Quinta Pedagógica que RUA DA IGREJA, 2, PRAZERES. 291 823 201 desta forma: o XS Café pertence a Carolina
se tornou uma grande atração para STUDIODOIS.EU / @XSCAFE Sumares e Rik Den Heijer, os dois arquite-
uma zona, até então, pouco visitada, tos responsáveis pelo ateliê Studiodois. “O
combatendo assim a desertificação – o ateliê ‘divide’ o espaço com o café, estamos
espaço inclui um mini jardim zoológico, na porta mesmo ao lado”, explica Carolina.
um jardim botânico, árvores de fruto A ideia de unir os dois negócios nasce de

↓ FOTOGRAFIAS DR
e um pequeno núcleo museológico. uma exigência do proprietário: “Ele só
Ao todo, do portefólio da Quinta aceitou arrendar o espaço com a condição
fazem parte cerca de 70 produtos de manter o café – sempre existiu aqui
premiados em diversos concursos. um espaço comercial. Como a área que
As sidras, pela tradição que existe precisávamos para o ateliê não era muito
na Madeira, são uma espécie de porta- grande, resolvemos arriscar.”
↑ FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS

-estandarte do projeto. Não só pela E não o fizeram à toa: Carolina e Rik


bebida em si, mas pelo significado sempre gostaram muito de café e há muito
que tem na recuperação de macieiras que queriam trazer o chamado café de
tradicionais quase extintas. “Se consigo especialidade para a Madeira. Abriram
salvar uma árvore que já não existe, portas em 2018, altura em que era um
isso é uma grande alegria”, confessa mercado ainda mais de nicho. “Há três
o pároco. anos, ainda se falava muito pouco de café
de especialidade. Só havia um espaço cá
CAMINHO DA CORRIDA GRANDE, 156, PRAZERES que tinha este tipo de café. É muito interes-
291 822 204 / 969 971 418 sante como este mercado está a crescer.”

V I S I TA R
48 Q U I N TA P E DAG Ó G IC A D O S P R A Z E R E S BEBER
49 XS CAFÉ
V I S I TA R MADEIRA BEBER MADEIRA

O P A D R E Rui Sousa é uma figura.


Nasceu na freguesia do Santo da Serra,
mas estudou em Lisboa com o mais
XS CAFÉ
famoso dos clérigos madeirenses,
Tolentino Mendonça. De volta à ilha,
devido às suas ideias progressistas,
foi colocado numa pequena freguesia
madeirense distante de qualquer centro
urbano, a dos Prazeres.
“Foi o saneamento”, diz meio a
brincar, meio a sério, no seu tom É U M A coffee shop que está nos Prazeres,
enigmático, porém bem-disposto, numa zona rural da Madeira, mas que
que nem sempre é fácil descodificar. podia estar no centro de qualquer capital
“Imagine eu aqui há 30 anos, vindo de

QUINTA
europeia. Um espaço pequeno, de arqui-
Lisboa para a Ponta do Pargo. Tinha tetura contemporânea – inserido no piso
de arranjar formas de me entreter.” térreo de um edifício antigo – onde se
E arranjou-as. Para estimular a serve café de especialidade torrado na

PEDAGÓGICA
economia local, cedo estabeleceu Madeira pela Odd Coffee Roastery, bolos
relações com os produtores da região e e tartes caseiras apetecíveis, com fruta de
começou a transformar a matéria-prima produtores locais.

DOS
em sidra, vinagres de sidra, compotas A estranheza de encontrar um projeto
ou infusões, entre outros. Fundou, em assim neste local algo inóspito explica-se

PRAZERES
2000, uma Quinta Pedagógica que RUA DA IGREJA, 2, PRAZERES. 291 823 201 desta forma: o XS Café pertence a Carolina
se tornou uma grande atração para STUDIODOIS.EU / @XSCAFE Sumares e Rik Den Heijer, os dois arquite-
uma zona, até então, pouco visitada, tos responsáveis pelo ateliê Studiodois. “O
combatendo assim a desertificação – o ateliê ‘divide’ o espaço com o café, estamos
espaço inclui um mini jardim zoológico, na porta mesmo ao lado”, explica Carolina.
um jardim botânico, árvores de fruto A ideia de unir os dois negócios nasce de

↓ FOTOGRAFIAS DR
e um pequeno núcleo museológico. uma exigência do proprietário: “Ele só
Ao todo, do portefólio da Quinta aceitou arrendar o espaço com a condição
fazem parte cerca de 70 produtos de manter o café – sempre existiu aqui
premiados em diversos concursos. um espaço comercial. Como a área que
As sidras, pela tradição que existe precisávamos para o ateliê não era muito
na Madeira, são uma espécie de porta- grande, resolvemos arriscar.”
↑ FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS

-estandarte do projeto. Não só pela E não o fizeram à toa: Carolina e Rik


bebida em si, mas pelo significado sempre gostaram muito de café e há muito
que tem na recuperação de macieiras que queriam trazer o chamado café de
tradicionais quase extintas. “Se consigo especialidade para a Madeira. Abriram
salvar uma árvore que já não existe, portas em 2018, altura em que era um
isso é uma grande alegria”, confessa mercado ainda mais de nicho. “Há três
o pároco. anos, ainda se falava muito pouco de café
de especialidade. Só havia um espaço cá
CAMINHO DA CORRIDA GRANDE, 156, PRAZERES que tinha este tipo de café. É muito interes-
291 822 204 / 969 971 418 sante como este mercado está a crescer.”

V I S I TA R
48 Q U I N TA P E DAG Ó G IC A D O S P R A Z E R E S BEBER
49 XS CAFÉ
EXPLORAR MADEIRA D O S P R A Z E R E S ao Paúl do Mar para cima e para baixo, com cargas
é uma viagem curta, porém notável: pesadíssimas às costas. Mas a verdade

PAÚL
a estrada serpenteia escarpa abaixo, é que andaram.
oferecendo vistas magníficas sobre a Na direção oeste, a povoação seguinte
imensidão do mar e a pequena freguesia dá pelo nome de Fajã da Ovelha, e nela
piscatória defronte deste. ainda se encontram as ruínas da antiga
Essa viagem pode ser feita de carro fábrica de manteiga Águia, outrora muito

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


DO MAR
ou a pé, pelo antigo caminho real, uma importante para a economia local, além
estreita calçada desenhada por entre de outro belíssimo miradouro sobre
os socalcos outrora cultivados, onde é o Paúl do Mar. Cumprida a descida,
possível ver, de perto, algumas quedas vale a pena passear pela marginal,
de água e plantas endémicas. Custa explorar as ruelas junto às antigas casas
entender como é que por ali andaram, de pescadores e, claro, arriscar uns
em tempos, dezenas de agricultores, mergulhos a partir do cais.

O TRILHO QUE LIGA OS PRAZERES

AO PAÚL DO MAR PELO ANTIGO CAMINHO

REAL ENCERRA, POR VEZES, PARA

MANUTENÇÃO OU DEVIDO AO MAU TEMPO


ONDE COMER

M A K TU B
IA expressão árabe “maktub” celebrizou-
se com a telenovela da Globo O Clone.
Significa “estava escrito”. É uma forma
de Fábio Afonso, o responsável pelo
espaço, dizer a quem aqui chega
para deixar o que sucede na mão do
destino. O que interessa é chegar. “O
que também interessa é este lifestyle”,
acrescenta Fábio, de sorriso nos
lábios, apontando para os grupos de
clientes bem-dispostos de mojito na
mão – o cocktail especialidade da casa
– enquanto esperam o pôr do sol. “O
melhor pôr do sol da Madeira”, avisa o
anfitrião, que de junho a setembro gere
ainda uma pequena dependência do
Maktub na praia.
O ocaso cumpre o prometido, num
espectáculo que serve de aperitivo ao
prato principal: lagosta madeirense
capturada no dia anterior. Uma raridade,
avisa-nos. “Apanhamos apenas 30 a
35 por ano. Quando temos, enviamos
logo foto aos clientes habituais e eles
reservam.” A sala está cheia, de facto,
os mojitos continuam a sair do bar e a
chegar às mesas. Mojito com lagosta,
uma combinação inesperada a acontecer
à frente dos nossos olhos. O que fazer?
Estava escrito.
AVENIDA DOS PESCADORES

PAULENSES, 160, PAÚL DO MAR.

915 860 898

EXPLORAR
50 PAÚ L D O M A R EXPLORAR
51 PAÚ L D O M A R
EXPLORAR MADEIRA D O S P R A Z E R E S ao Paúl do Mar para cima e para baixo, com cargas
é uma viagem curta, porém notável: pesadíssimas às costas. Mas a verdade

PAÚL
a estrada serpenteia escarpa abaixo, é que andaram.
oferecendo vistas magníficas sobre a Na direção oeste, a povoação seguinte
imensidão do mar e a pequena freguesia dá pelo nome de Fajã da Ovelha, e nela
piscatória defronte deste. ainda se encontram as ruínas da antiga
Essa viagem pode ser feita de carro fábrica de manteiga Águia, outrora muito

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


DO MAR
ou a pé, pelo antigo caminho real, uma importante para a economia local, além
estreita calçada desenhada por entre de outro belíssimo miradouro sobre
os socalcos outrora cultivados, onde é o Paúl do Mar. Cumprida a descida,
possível ver, de perto, algumas quedas vale a pena passear pela marginal,
de água e plantas endémicas. Custa explorar as ruelas junto às antigas casas
entender como é que por ali andaram, de pescadores e, claro, arriscar uns
em tempos, dezenas de agricultores, mergulhos a partir do cais.

O TRILHO QUE LIGA OS PRAZERES

AO PAÚL DO MAR PELO ANTIGO CAMINHO

REAL ENCERRA, POR VEZES, PARA

MANUTENÇÃO OU DEVIDO AO MAU TEMPO


ONDE COMER

M A K TU B
IA expressão árabe “maktub” celebrizou-
se com a telenovela da Globo O Clone.
Significa “estava escrito”. É uma forma
de Fábio Afonso, o responsável pelo
espaço, dizer a quem aqui chega
para deixar o que sucede na mão do
destino. O que interessa é chegar. “O
que também interessa é este lifestyle”,
acrescenta Fábio, de sorriso nos
lábios, apontando para os grupos de
clientes bem-dispostos de mojito na
mão – o cocktail especialidade da casa
– enquanto esperam o pôr do sol. “O
melhor pôr do sol da Madeira”, avisa o
anfitrião, que de junho a setembro gere
ainda uma pequena dependência do
Maktub na praia.
O ocaso cumpre o prometido, num
espectáculo que serve de aperitivo ao
prato principal: lagosta madeirense
capturada no dia anterior. Uma raridade,
avisa-nos. “Apanhamos apenas 30 a
35 por ano. Quando temos, enviamos
logo foto aos clientes habituais e eles
reservam.” A sala está cheia, de facto,
os mojitos continuam a sair do bar e a
chegar às mesas. Mojito com lagosta,
uma combinação inesperada a acontecer
à frente dos nossos olhos. O que fazer?
Estava escrito.
AVENIDA DOS PESCADORES

PAULENSES, 160, PAÚL DO MAR.

915 860 898

EXPLORAR
50 PAÚ L D O M A R EXPLORAR
51 PAÚ L D O M A R
DORMIR MADEIRA Os nomes das casas variam consoante
as características que estas tinham antes de
serem recuperadas: há a Casa da Cascata,

CASAS
que fica a dois passos de uma pequena
queda de água, a Casa da Vaca, que servia
de estábulo, ou a Casa da Horta, onde anti-
gamente se plantavam hortícolas. Todas

DA LEVADA
são decoradas conjugando linhas contem-
porâneas com pormenores de avó – ou não
fosse mesmo a avó do arquiteto a costurar
as cortinas e os saquinhos do pão que ele
desenha, onde diariamente é entregue o
pão fresco à porta, para o pequeno-almoço.
No exterior, não faltam pequenos recantos
RUA DA LOMBADINHA - CORUJEIRA, 20
para descobrir, como os espaços verdes
PONTA DO PARGO, CALHETA. 291 148 277
O P E Q U E N O refúgio de uma família de junto à entrada ou até um inesperado roof-
CASASDALEVADA.COM
quatro deu origem a uma mudança de vida top, num terraço em relva construído em
ESTADIA A PARTIR DE 85€/NOITE
e a um negócio familiar. São os pais, Maria pleno telhado.
Helena e Joaquim Abreu, que estão à frente Por estarem no limite da Floresta Natu-
das Casas da Levada, mas foi o filho mais ral da Laurissilva, as Casas da Levada são
velho do casal, André, quem deu início a procuradas por quem gosta de natureza. “As
este projeto conjunto – que começou com pessoas vêm para conhecer a floresta, para
um desenho em papel. O recém-formado percorrer os caminhos reais, para explorar

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


arquiteto viu nas construções em ruínas Porto Moniz”, adianta Maria Helena. Mas
espalhadas pelo terreno comprado pelos quem vem acaba por demorar-se aqui, já
pais a oportunidade perfeita para recons- que por todo o terreno o contacto com a
truir em vez de fazer de novo. Foi o que fez, natureza é privilegiado. Pela manhã, podem
através de um projeto de arquitetura que, alimentar-se os patos, as ovelhas, os coelhos
respeitando a traça típica dos espaços, os e as galinhas. Chegando às árvores de fruto,
recuperou com “tradição e charme”. provam-se os saborosos peros da Ponta do
Inauguradas em 2016, as Casas da Pargo e, por todo o terreno, colhem-se ervas
Levada são seis espaços individuais e fami- aromáticas para fazer chá.
liares, situados num terreno na Ponta do Os jardins e as levadas, também dese-
Pargo, no extremo oeste da ilha. À exceção nhadas por André, percorrem a propriedade
da Casa Amarela, todas são em pedra e, e vão-se fazendo ouvir, entre os sons dos
aos vários T1 e T2, junta-se um enorme T4 pássaros. A principal levada é a da Fonte
preparado para receber nove hóspedes. da Amoreira, que nasce no vale e atravessa
o terreno. Os diferentes cursos de água
desaguam nos lagos, que ficam um pouco
abaixo das casas, já perto da piscina infinita.
Rodeada por uma extensa área preparada
para tardes ao sol, é aqui que os hóspedes
passam a maior parte do tempo. Ao final do
dia, a vista para o mar ganha outro encanto
já que é ali que o sol se põe – vista rara na
ilha, uma vez que a linha costeira virada
a oeste é curta. “O pôr do sol aqui é tão
bonito que os hóspedes chegam a aplaudir,
como se fosse o final de um espetáculo”, diz
Maria Helena. “E até eu, que estou mais que
habituada a vê-lo, às vezes me surpreendo.”

DORMIR
52 CASAS DA L E VA DA DORMIR
53 CASAS DA L E VA DA
DORMIR MADEIRA Os nomes das casas variam consoante
as características que estas tinham antes de
serem recuperadas: há a Casa da Cascata,

CASAS
que fica a dois passos de uma pequena
queda de água, a Casa da Vaca, que servia
de estábulo, ou a Casa da Horta, onde anti-
gamente se plantavam hortícolas. Todas

DA LEVADA
são decoradas conjugando linhas contem-
porâneas com pormenores de avó – ou não
fosse mesmo a avó do arquiteto a costurar
as cortinas e os saquinhos do pão que ele
desenha, onde diariamente é entregue o
pão fresco à porta, para o pequeno-almoço.
No exterior, não faltam pequenos recantos
RUA DA LOMBADINHA - CORUJEIRA, 20
para descobrir, como os espaços verdes
PONTA DO PARGO, CALHETA. 291 148 277
O P E Q U E N O refúgio de uma família de junto à entrada ou até um inesperado roof-
CASASDALEVADA.COM
quatro deu origem a uma mudança de vida top, num terraço em relva construído em
ESTADIA A PARTIR DE 85€/NOITE
e a um negócio familiar. São os pais, Maria pleno telhado.
Helena e Joaquim Abreu, que estão à frente Por estarem no limite da Floresta Natu-
das Casas da Levada, mas foi o filho mais ral da Laurissilva, as Casas da Levada são
velho do casal, André, quem deu início a procuradas por quem gosta de natureza. “As
este projeto conjunto – que começou com pessoas vêm para conhecer a floresta, para
um desenho em papel. O recém-formado percorrer os caminhos reais, para explorar

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


arquiteto viu nas construções em ruínas Porto Moniz”, adianta Maria Helena. Mas
espalhadas pelo terreno comprado pelos quem vem acaba por demorar-se aqui, já
pais a oportunidade perfeita para recons- que por todo o terreno o contacto com a
truir em vez de fazer de novo. Foi o que fez, natureza é privilegiado. Pela manhã, podem
através de um projeto de arquitetura que, alimentar-se os patos, as ovelhas, os coelhos
respeitando a traça típica dos espaços, os e as galinhas. Chegando às árvores de fruto,
recuperou com “tradição e charme”. provam-se os saborosos peros da Ponta do
Inauguradas em 2016, as Casas da Pargo e, por todo o terreno, colhem-se ervas
Levada são seis espaços individuais e fami- aromáticas para fazer chá.
liares, situados num terreno na Ponta do Os jardins e as levadas, também dese-
Pargo, no extremo oeste da ilha. À exceção nhadas por André, percorrem a propriedade
da Casa Amarela, todas são em pedra e, e vão-se fazendo ouvir, entre os sons dos
aos vários T1 e T2, junta-se um enorme T4 pássaros. A principal levada é a da Fonte
preparado para receber nove hóspedes. da Amoreira, que nasce no vale e atravessa
o terreno. Os diferentes cursos de água
desaguam nos lagos, que ficam um pouco
abaixo das casas, já perto da piscina infinita.
Rodeada por uma extensa área preparada
para tardes ao sol, é aqui que os hóspedes
passam a maior parte do tempo. Ao final do
dia, a vista para o mar ganha outro encanto
já que é ali que o sol se põe – vista rara na
ilha, uma vez que a linha costeira virada
a oeste é curta. “O pôr do sol aqui é tão
bonito que os hóspedes chegam a aplaudir,
como se fosse o final de um espetáculo”, diz
Maria Helena. “E até eu, que estou mais que
habituada a vê-lo, às vezes me surpreendo.”

DORMIR
52 CASAS DA L E VA DA DORMIR
53 CASAS DA L E VA DA
PA S S E A R MADEIRA BEBER MADEIRA

TELEFÉRICO ESTRELA
DAS ACHADAS DA MANHÃ
DA CRUZ LAMACEIROS, PORTO MONIZ

L O N G E , bem longe dos destinos mais


conhecidos da ilha, Maria e Manuel
Romano Mourinho gerem um dois em
um à antiga: de um lado minimercado,
A N U N C I A - S E a quem chega como do outro café. A separá-los, apenas uma
sendo o teleférico mais inclinado da estreita parede, que atrás do balcão não
Europa. A percentagem dessa inclinação existe – permitindo a quem está de serviço
faz lembrar a de uma vitória eleitoral em ter um pé de um lado e do outro, conforme
regimes de partido único: 98%. o exija a clientela.
Vence 450 metros de desnível, entre É assim desde 1984, ano em que abri-
o topo da falésia e o nível do mar, numa ram portas, explica Maria. Nessa altura,
viagem de apenas 600 metros. São um pouco por toda a costa norte, havia

↓ FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS


cinco minutos de emoções fortes, sobre- mercearias e tabernas paredes-meias, dos
tudo em dias de algum vento – mas não mesmos proprietários. “Normalmente
o suficiente para fazer o teleférico parar as mulheres ficavam na mercearia e os
de funcionar. No regresso, cabe aos pas- homens na taberna. Mas quando abri-
sageiros conduzir o dito. Não é difícil: mos, já se misturava tudo”, garante a
basta pressionar um botão. proprietária.
E tudo isto para quê? Para ter o E porque é que isto interessa? Porque
prazer e o privilégio de visitar a Fajã da isto é outra Madeira, a que não costuma vir
↑ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

Quebrada, o destino e a partida destas nos guias – nesta Madeira, é possível piscar
cabines presas por um fio. Um local idí- o olho à merceeira-taberneira e pedir um
lico onde só há mar, gatos, vista para as copinho de vinho da casa, literalmente das
falésias, uns quantos terrenos cultivados traseiras da casa. Porque é aí que Maria
e pequenas casas de apoio à agricultura e Manuel têm a vinha de verdelho que, a
– garantem-nos os locais que algumas cada ano, alimenta a sede dos seus clientes
podem ser arrendadas no verão para mais fiéis. Um vinho dócil sem ser doce,
CAMINHO DO TELEFÉRICO, ACHADAS DA CRUZ uma experiência de estadia memorável. e que, não sendo Madeira, não podia ser
291 852 951. PREÇO DO BILHETE: 3€ (IDA E VOLTA) E de viagens também. mais madeirense.

PA S S E A R
54 TELEFÉRICO DAS ACHADAS DA CRUZ BEBER
55 ESTRELA DA MANHÃ
PA S S E A R MADEIRA BEBER MADEIRA

TELEFÉRICO ESTRELA
DAS ACHADAS DA MANHÃ
DA CRUZ LAMACEIROS, PORTO MONIZ

L O N G E , bem longe dos destinos mais


conhecidos da ilha, Maria e Manuel
Romano Mourinho gerem um dois em
um à antiga: de um lado minimercado,
A N U N C I A - S E a quem chega como do outro café. A separá-los, apenas uma
sendo o teleférico mais inclinado da estreita parede, que atrás do balcão não
Europa. A percentagem dessa inclinação existe – permitindo a quem está de serviço
faz lembrar a de uma vitória eleitoral em ter um pé de um lado e do outro, conforme
regimes de partido único: 98%. o exija a clientela.
Vence 450 metros de desnível, entre É assim desde 1984, ano em que abri-
o topo da falésia e o nível do mar, numa ram portas, explica Maria. Nessa altura,
viagem de apenas 600 metros. São um pouco por toda a costa norte, havia

↓ FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS


cinco minutos de emoções fortes, sobre- mercearias e tabernas paredes-meias, dos
tudo em dias de algum vento – mas não mesmos proprietários. “Normalmente
o suficiente para fazer o teleférico parar as mulheres ficavam na mercearia e os
de funcionar. No regresso, cabe aos pas- homens na taberna. Mas quando abri-
sageiros conduzir o dito. Não é difícil: mos, já se misturava tudo”, garante a
basta pressionar um botão. proprietária.
E tudo isto para quê? Para ter o E porque é que isto interessa? Porque
prazer e o privilégio de visitar a Fajã da isto é outra Madeira, a que não costuma vir
↑ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

Quebrada, o destino e a partida destas nos guias – nesta Madeira, é possível piscar
cabines presas por um fio. Um local idí- o olho à merceeira-taberneira e pedir um
lico onde só há mar, gatos, vista para as copinho de vinho da casa, literalmente das
falésias, uns quantos terrenos cultivados traseiras da casa. Porque é aí que Maria
e pequenas casas de apoio à agricultura e Manuel têm a vinha de verdelho que, a
– garantem-nos os locais que algumas cada ano, alimenta a sede dos seus clientes
podem ser arrendadas no verão para mais fiéis. Um vinho dócil sem ser doce,
CAMINHO DO TELEFÉRICO, ACHADAS DA CRUZ uma experiência de estadia memorável. e que, não sendo Madeira, não podia ser
291 852 951. PREÇO DO BILHETE: 3€ (IDA E VOLTA) E de viagens também. mais madeirense.

PA S S E A R
54 TELEFÉRICO DAS ACHADAS DA CRUZ BEBER
55 ESTRELA DA MANHÃ
MERGULHAR MADEIRA

PISCINAS
DO PORTO
A T É M E A D O S do século xx , a vila
de Porto Moniz era isolada e de difícil
acesso. Conhecida outrora pelo porto de

MONIZ
pesca e pela caça à baleia, a localidade é
hoje célebre pelas suas piscinas naturais
formadas através da solidificação de
lava vulcânica – são um dos pontos mais
fotografados da ilha e, sem dúvida, um
dos mais fotogénicos. As duas áreas
balneares na vila estão separadas por
apenas 600 metros de distância, que
facilmente se percorrem a pé, junto
à costa.
As primeiras piscinas são as mais
antigas, que ficam à entrada da vila
e são de acesso livre. Apelidadas de
piscinas naturais do Cachalote, são
esculpidas entre rochas de origem
vulcânica e dividem-se em diferentes
áreas. As rochas são paralelas entre
si e formam corredores de água, com

↓ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


larguras e profundidades variadas. Ao
fundo, o muro alto que separa a piscina
do mar garante uma vista privilegiada
para o Atlântico.
Um pouco mais à frente, ficam
as piscinas mais badaladas de Porto
Moniz e, para muitos, as mais bonitas.
A origem vulcânica salta à vista mas,
neste caso, contrasta com as estruturas

↑ FOTOGRAFIA MARIANA ALVAREZ CORTES


em pedra construídas, pintadas a
branco. Há uma série de recantos
para descobrir dentro de água, onde a
profundidade tanto convida a dar umas
braçadas como a brincar em família,
por exemplo, na piscina para crianças.
Fora de água, há mais de 3000 m²
para estender a toalha ou montar a
espreguiçadeira, que se aluga ao dia.

PISCINAS DO CACHALOTE: RUA DO FORTE DE SÃO JOÃO BAPTISTA, 7A

PISCINAS DE PORTO MONIZ: SÍTIO DO LUGAR. 291 850 190

PREÇO DE ENTRADA: 1,50€

MERGULHAR
56 PISCINAS DO PORTO MONIZ MERGULHAR
57 PISCINAS DO PORTO MONIZ
MERGULHAR MADEIRA

PISCINAS
DO PORTO
A T É M E A D O S do século xx , a vila
de Porto Moniz era isolada e de difícil
acesso. Conhecida outrora pelo porto de

MONIZ
pesca e pela caça à baleia, a localidade é
hoje célebre pelas suas piscinas naturais
formadas através da solidificação de
lava vulcânica – são um dos pontos mais
fotografados da ilha e, sem dúvida, um
dos mais fotogénicos. As duas áreas
balneares na vila estão separadas por
apenas 600 metros de distância, que
facilmente se percorrem a pé, junto
à costa.
As primeiras piscinas são as mais
antigas, que ficam à entrada da vila
e são de acesso livre. Apelidadas de
piscinas naturais do Cachalote, são
esculpidas entre rochas de origem
vulcânica e dividem-se em diferentes
áreas. As rochas são paralelas entre
si e formam corredores de água, com

↓ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


larguras e profundidades variadas. Ao
fundo, o muro alto que separa a piscina
do mar garante uma vista privilegiada
para o Atlântico.
Um pouco mais à frente, ficam
as piscinas mais badaladas de Porto
Moniz e, para muitos, as mais bonitas.
A origem vulcânica salta à vista mas,
neste caso, contrasta com as estruturas

↑ FOTOGRAFIA MARIANA ALVAREZ CORTES


em pedra construídas, pintadas a
branco. Há uma série de recantos
para descobrir dentro de água, onde a
profundidade tanto convida a dar umas
braçadas como a brincar em família,
por exemplo, na piscina para crianças.
Fora de água, há mais de 3000 m²
para estender a toalha ou montar a
espreguiçadeira, que se aluga ao dia.

PISCINAS DO CACHALOTE: RUA DO FORTE DE SÃO JOÃO BAPTISTA, 7A

PISCINAS DE PORTO MONIZ: SÍTIO DO LUGAR. 291 850 190

PREÇO DE ENTRADA: 1,50€

MERGULHAR
56 PISCINAS DO PORTO MONIZ MERGULHAR
57 PISCINAS DO PORTO MONIZ
EXPLORAR MADEIRA A RIBEIRA DA JANELA, A PRAIA COMER MADEIRA
E OS MIRADOUROS SÃO ACESSÍVEIS

A PARTIR DA ESTRADA VE2, QUE

LOUNGE
LIGA PORTO MONIZ A SÃO VICENTE
Mas o tesouro está para lá da sombra das
grandes lonas e das espreguiçadeiras – que

BAR CLUBE
se alugam –, no Lounge Bar, comummente
apelidado de bar do clube.
O que mais se vê pelas mesas ao longo

NAVAL DO
da tarde são os cocktails, das caipirinhas
aos mojitos. “Não se bebe igual na Madeira
inteira”, garante um dos responsáveis pelo
projeto, Ernesto Fernandes, num portu-

SEIXAL
nhol cantado. Viveu mais de 30 anos na
Venezuela, mas foi na Madeira que nasceu
e passou a sua infância, sempre na praia.
Filho de pescador, desde pequeno que
passava horas a apanhar lapas nas rochas,
CAIS DO SEIXAL, PORTO MONIZ. 918 240 118
para as comer ainda cruas. “É assim que
elas sabem melhor.” Talvez por isso esteja
M E S M O em frente à praia do Seixal hoje, tantos anos depois, a servir aquelas
fica uma passagem que está longe de ser que muitos garantem ser as melhores lapas
secreta, já que dá acesso ao Clube Naval da ilha inteira.

RIBEIRA
do Seixal. Ali há um complexo balnear que Sempre provenientes da costa norte,
convida a mergulhos, com uma piscina as lapas que aqui se servem nunca têm
natural ampla, circular, protegida por areia porque são de mergulho e não de

DA JANELA
grandes pedras onde tanto os lagartos calhau. “O segredo na confeção é não dei-
como os banhistas se estendem ao sol. xar queimar a casca. E não pôr temperos:
é só a lapa mesmo.” Chegam à mesa ainda
a borbulhar e, com o valor fixado nos 8€,
incluem já uma dose generosa de bolo
do caco com manteiga e alho. A vista
é oferta da casa.

É N O M E de freguesia, de ribeira e de da ilha. Percorrendo as estradas desta


rochas – mas não por esta ordem. Come- região, é comum verem-se culturas agríco-
çou por se chamar Ribeira da Janela ao las delimitadas pelos tradicionais muros
conjunto de ilhéus que fica perto da costa em pedra, maioritariamente de batata,
e que, visto de terra, faz lembrar a forma feijão, milho e vinha.
de uma janela. Chamam Ilhéuzinho, Ilhéu O passeio pela praia com os ilhéus de
Alto e Ilhéu da Rama às formações rocho- frente é indispensável, mas as melhores
sas que se avistam tanto da freguesia da panorâmicas encontram-se nos miradou-
Ribeira da Janela como de Porto Moniz ros da Eira da Achada e da Fajã do Barro.
ou da zona do Seixal. Para explorar o verde em redor, sugere-se
↑↓ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

O curso de água que aqui desagua é antes a caminhada de 2,7 quilómetros da


o mais extenso a formar-se no interior Vereda da Ribeira da Janela. Com duração
da ilha e, por terminar junto aos ilhéus, aproximada de uma hora e meia, o trilho
ganhou o mesmo nome. Os terrenos em começa no Curral Falso, no Fanal,
redor, irrigados por levadas, são particular- e segue sempre em descida até ao mar.
mente férteis e, por isso, responsáveis pelo À chegada, esta enorme janela em pedra
cultivo de boa parte dos géneros agrícolas emoldura o oceano.

EXPLORAR
58 RIBEIRA DA JANELA COMER
59 LO U N G E BA R C LU B E N AVA L D O S E I X A L
EXPLORAR MADEIRA A RIBEIRA DA JANELA, A PRAIA COMER MADEIRA
E OS MIRADOUROS SÃO ACESSÍVEIS

A PARTIR DA ESTRADA VE2, QUE

LOUNGE
LIGA PORTO MONIZ A SÃO VICENTE
Mas o tesouro está para lá da sombra das
grandes lonas e das espreguiçadeiras – que

BAR CLUBE
se alugam –, no Lounge Bar, comummente
apelidado de bar do clube.
O que mais se vê pelas mesas ao longo

NAVAL DO
da tarde são os cocktails, das caipirinhas
aos mojitos. “Não se bebe igual na Madeira
inteira”, garante um dos responsáveis pelo
projeto, Ernesto Fernandes, num portu-

SEIXAL
nhol cantado. Viveu mais de 30 anos na
Venezuela, mas foi na Madeira que nasceu
e passou a sua infância, sempre na praia.
Filho de pescador, desde pequeno que
passava horas a apanhar lapas nas rochas,
CAIS DO SEIXAL, PORTO MONIZ. 918 240 118
para as comer ainda cruas. “É assim que
elas sabem melhor.” Talvez por isso esteja
M E S M O em frente à praia do Seixal hoje, tantos anos depois, a servir aquelas
fica uma passagem que está longe de ser que muitos garantem ser as melhores lapas
secreta, já que dá acesso ao Clube Naval da ilha inteira.

RIBEIRA
do Seixal. Ali há um complexo balnear que Sempre provenientes da costa norte,
convida a mergulhos, com uma piscina as lapas que aqui se servem nunca têm
natural ampla, circular, protegida por areia porque são de mergulho e não de

DA JANELA
grandes pedras onde tanto os lagartos calhau. “O segredo na confeção é não dei-
como os banhistas se estendem ao sol. xar queimar a casca. E não pôr temperos:
é só a lapa mesmo.” Chegam à mesa ainda
a borbulhar e, com o valor fixado nos 8€,
incluem já uma dose generosa de bolo
do caco com manteiga e alho. A vista
é oferta da casa.

É N O M E de freguesia, de ribeira e de da ilha. Percorrendo as estradas desta


rochas – mas não por esta ordem. Come- região, é comum verem-se culturas agríco-
çou por se chamar Ribeira da Janela ao las delimitadas pelos tradicionais muros
conjunto de ilhéus que fica perto da costa em pedra, maioritariamente de batata,
e que, visto de terra, faz lembrar a forma feijão, milho e vinha.
de uma janela. Chamam Ilhéuzinho, Ilhéu O passeio pela praia com os ilhéus de
Alto e Ilhéu da Rama às formações rocho- frente é indispensável, mas as melhores
sas que se avistam tanto da freguesia da panorâmicas encontram-se nos miradou-
Ribeira da Janela como de Porto Moniz ros da Eira da Achada e da Fajã do Barro.
ou da zona do Seixal. Para explorar o verde em redor, sugere-se
↑↓ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

O curso de água que aqui desagua é antes a caminhada de 2,7 quilómetros da


o mais extenso a formar-se no interior Vereda da Ribeira da Janela. Com duração
da ilha e, por terminar junto aos ilhéus, aproximada de uma hora e meia, o trilho
ganhou o mesmo nome. Os terrenos em começa no Curral Falso, no Fanal,
redor, irrigados por levadas, são particular- e segue sempre em descida até ao mar.
mente férteis e, por isso, responsáveis pelo À chegada, esta enorme janela em pedra
cultivo de boa parte dos géneros agrícolas emoldura o oceano.

EXPLORAR
58 RIBEIRA DA JANELA COMER
59 LO U N G E BA R C LU B E N AVA L D O S E I X A L
MERGULHAR MADEIRA PA S S E A R MADEIRA
A E S T R A D A que desce da aldeia do descobrindo duas praias de uma só vez:
Seixal até ao mar é tão íngreme que a Fajã da Areia, onde tanto se apanham
poucos são os que se atrevem a dobrar ondas como se dá um mergulho, e a
as suas esquinas de carro. A descida faz- praia do Calhau, onde praticamente
-se pé ante pé e para subir é uma carga O N O M E da terra deve-se, segundo reza só se veem surfistas.
de trabalhos – mas vale bem a pena o a lenda, à aparição do próprio São Vicente Próximas como são, teriam provavel-
esforço. As piscinas naturais do Seixal, sobre um rochedo. Ali, onde a ribeira desa- mente as mesmíssimas condições não
também conhecidas como Poça das gua no mar, foi construída, em 1694, uma fosse a Fajã da Areia ter um quebra-mar,
Lesmas, são vizinhas das piscinas natu- pequena capela em sua homenagem. Assim uma estrutura ali colocada para proteger
rais de Porto Moniz e representam uma passou a chamar-se São Vicente à locali- a costa que ameniza um pouco as ondas e
belíssima e mais recatada alternativa. dade, à ribeira, à capela e também à praia as correntes. Já a praia do Calhau, com um
Por entre caminhos esculpidos em de onde tudo se vê. “areal” de calhau rolado e sem vigilância,
pedra sobre as rochas vulcânicas, há Pela promenade que liga o Varadouro é conhecida pelas ondas perfeitas e cons-
dois espaços distintos para mergulhos. à Baía dos Juncos percorrem-se a tantes ao longo de todo o ano, a rondar
De um lado, fica uma piscina em círculo pé 620 metros, sempre junto ao mar, os dois metros de altura.
com águas pouco profundas e cristali-
nas, emoldurada por rochas que deixam
espreitar para o mar; do outro, uma
enseada que mais parece uma piscina

PRAIA DE
infinita, aberta para o Atlântico.
Ligadas por corredores em pedra e
longas escadarias, as duas piscinas são

SÃO VICENTE
de água bastante fria e aparentemente
calma. Recomenda-se apenas algum
cuidado em dias de maré-cheia quando,
volta e meia, as ondas mais fortes se
fazem passar por cima dos muros.
Quanto às famosas lesmas, nem vê-las.
ER 101, SÃO VICENTE

POÇA
CAMINHO DAS POÇAS, 5

SEIXAL, PORTO MONIZ

DAS
LESMAS ↓ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA
↑ FOTOGRAFIA DR

MERGULHAR
60 POÇA DAS LESMAS PA S S E A R
61 PRAIA DE SÃO VICENTE
MERGULHAR MADEIRA PA S S E A R MADEIRA
A E S T R A D A que desce da aldeia do descobrindo duas praias de uma só vez:
Seixal até ao mar é tão íngreme que a Fajã da Areia, onde tanto se apanham
poucos são os que se atrevem a dobrar ondas como se dá um mergulho, e a
as suas esquinas de carro. A descida faz- praia do Calhau, onde praticamente
-se pé ante pé e para subir é uma carga O N O M E da terra deve-se, segundo reza só se veem surfistas.
de trabalhos – mas vale bem a pena o a lenda, à aparição do próprio São Vicente Próximas como são, teriam provavel-
esforço. As piscinas naturais do Seixal, sobre um rochedo. Ali, onde a ribeira desa- mente as mesmíssimas condições não
também conhecidas como Poça das gua no mar, foi construída, em 1694, uma fosse a Fajã da Areia ter um quebra-mar,
Lesmas, são vizinhas das piscinas natu- pequena capela em sua homenagem. Assim uma estrutura ali colocada para proteger
rais de Porto Moniz e representam uma passou a chamar-se São Vicente à locali- a costa que ameniza um pouco as ondas e
belíssima e mais recatada alternativa. dade, à ribeira, à capela e também à praia as correntes. Já a praia do Calhau, com um
Por entre caminhos esculpidos em de onde tudo se vê. “areal” de calhau rolado e sem vigilância,
pedra sobre as rochas vulcânicas, há Pela promenade que liga o Varadouro é conhecida pelas ondas perfeitas e cons-
dois espaços distintos para mergulhos. à Baía dos Juncos percorrem-se a tantes ao longo de todo o ano, a rondar
De um lado, fica uma piscina em círculo pé 620 metros, sempre junto ao mar, os dois metros de altura.
com águas pouco profundas e cristali-
nas, emoldurada por rochas que deixam
espreitar para o mar; do outro, uma
enseada que mais parece uma piscina

PRAIA DE
infinita, aberta para o Atlântico.
Ligadas por corredores em pedra e
longas escadarias, as duas piscinas são

SÃO VICENTE
de água bastante fria e aparentemente
calma. Recomenda-se apenas algum
cuidado em dias de maré-cheia quando,
volta e meia, as ondas mais fortes se
fazem passar por cima dos muros.
Quanto às famosas lesmas, nem vê-las.
ER 101, SÃO VICENTE

POÇA
CAMINHO DAS POÇAS, 5

SEIXAL, PORTO MONIZ

DAS
LESMAS ↓ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA
↑ FOTOGRAFIA DR

MERGULHAR
60 POÇA DAS LESMAS PA S S E A R
61 PRAIA DE SÃO VICENTE
EXPLORAR MADEIRA

RUÍNAS
T E M P O S houve em que por toda a
Madeira havia quase meia centena de enge-
nhos de cana-do-açúcar, construídos para

DO CALHAU
processar a planta tropical, introduzida na
ilha logo no século xv. Numa primeira fase,
retirava-se dela o chamado ouro branco, o
açúcar, depois – quando o açúcar de outras
paragens começou a invadir o mercado

DE SÃO JORGE
mundial a preços mais baixos –, os enge-
nhos começaram a focar-se na produção
de aguardente. Os que sobram ainda hoje
o fazem, à exceção de um, no Funchal,
dedicado ao mel de cana.
Hoje, a maioria desses antigos enge-
PRAIA DO CALHAU DE SÃO JORGE, SÍTIO nhos consta apenas de livros ou de raras
DO BARRANCO, SÃO JORGE, SANTANA fotografias de época. Mas na costa norte
ainda se encontram alguns vestígios da
sua existência. Um deles está na praia
do Calhau de São Jorge. As ruínas deste
antigo engenho tornam esta praia muito
especial. O arco de entrada, bem conser-
vado, parece agora ser assinalar as boas-
-vindas à praia.
O antigo cais foi um dos mais impor-
tantes da Madeira: recebia os barcos que,

FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA


vindos do Funchal, traziam mantimentos
para alimentar as populações locais e
levava no regresso carregamentos de açú-
car e outras matérias-primas. Os navios há
muito que não aportam ali, mas continua
a ser um magnífico sítio para observar
o recorte da costa norte.

EXPLORAR
62 RUÍNAS DO CALHAU DE SÃO JORGE EXPLORAR
63 RUÍNAS DO CALHAU DE SÃO JORGE
EXPLORAR MADEIRA

RUÍNAS
T E M P O S houve em que por toda a
Madeira havia quase meia centena de enge-
nhos de cana-do-açúcar, construídos para

DO CALHAU
processar a planta tropical, introduzida na
ilha logo no século xv. Numa primeira fase,
retirava-se dela o chamado ouro branco, o
açúcar, depois – quando o açúcar de outras
paragens começou a invadir o mercado

DE SÃO JORGE
mundial a preços mais baixos –, os enge-
nhos começaram a focar-se na produção
de aguardente. Os que sobram ainda hoje
o fazem, à exceção de um, no Funchal,
dedicado ao mel de cana.
Hoje, a maioria desses antigos enge-
PRAIA DO CALHAU DE SÃO JORGE, SÍTIO nhos consta apenas de livros ou de raras
DO BARRANCO, SÃO JORGE, SANTANA fotografias de época. Mas na costa norte
ainda se encontram alguns vestígios da
sua existência. Um deles está na praia
do Calhau de São Jorge. As ruínas deste
antigo engenho tornam esta praia muito
especial. O arco de entrada, bem conser-
vado, parece agora ser assinalar as boas-
-vindas à praia.
O antigo cais foi um dos mais impor-
tantes da Madeira: recebia os barcos que,

FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA


vindos do Funchal, traziam mantimentos
para alimentar as populações locais e
levava no regresso carregamentos de açú-
car e outras matérias-primas. Os navios há
muito que não aportam ali, mas continua
a ser um magnífico sítio para observar
o recorte da costa norte.

EXPLORAR
62 RUÍNAS DO CALHAU DE SÃO JORGE EXPLORAR
63 RUÍNAS DO CALHAU DE SÃO JORGE
V I S I TA R MADEIRA PA S S E A R MADEIRA
Outra dessas imagens de marca é a vista
que se obtém a partir do seu miradouro

CASAS TÍPICAS
mais visitado: o do Guindaste. Dali, vê-se
A A B U N D Â N C I A de faias fez com que o que resta da costa norte da Madeira
esta freguesia da costa norte recebesse até ao seu extremo oriental, a Ponta de
o mesmo nome que uma das ilhas do São Lourenço. E não só: em dias de boa

DE SANTANA
grupo central dos Açores: Faial. Era neste visibilidade, consegue até vislumbrar-se
Faial madeirense, dividido pela ribeira a ilha do Porto Santo, a mais de 40
homónima, que ficava a maior ponte da quilómetros de distância.
ilha: tinha 130 metros de extensão e sete
arcos, quatro deles derrubados durante
uma fortíssima tempestade em 1984. Os
N Ã O H Á ação de divulgação da Dividem-se, geralmente, em piso térreo três arcos resistentes foram conservados
Madeira que não inclua uma das para habitação e sótão para armazena- como monumento e são uma das imagens
casas típicas de Santana, com o seu mento de materiais agrícolas – em alguns de marca da região.
formato triangular e cores vibrantes. casos, o acesso a este armazém é feito pelo
São conhecidas em todo o mundo, exterior. A cobertura de colmo precisa
ilustram inúmeros postais e cartazes de ser renovada de cinco em cinco anos.
promocionais do arquipélago. Chama-se a esse processo “abafar” a casa.
São, diz-se, um resquício das primei- Ainda se encontram, na costa norte da
ras construções da ilha em que se usavam ilha, alguns raros exemplares que servem
os materiais mais abundantes e, por de habitação própria. A maioria destas
isso, acessíveis aos habitantes: madeiras, casas, porém, são agora monumentos visi-
colmo (palha de trigo e/ou centeio), varas táveis e albergam lojas de produtos típicos
de folhado ou de urze e vimes. e artesanato local. A visita é gratuita.

NÚCLEO DE CASAS

TÍPICAS DE SANTANA.

RUA DO SACRISTÃO

SÍTIO DO SERRADO

SANTANA

↓ FOTOGRAFIA TIAGO PAIS

MIRADOURO
↑ FOTOGRAFIA DR

DO GUINDASTE
SÍTIO DO GUINDASTE, FAIAL, SANTANA

V I S I TA R
64 C A S A S T Í P IC A S D E S A N TA N A PA S S E A R
65 MIRADOURO DO GUINDASTE
V I S I TA R MADEIRA PA S S E A R MADEIRA
Outra dessas imagens de marca é a vista
que se obtém a partir do seu miradouro

CASAS TÍPICAS
mais visitado: o do Guindaste. Dali, vê-se
A A B U N D Â N C I A de faias fez com que o que resta da costa norte da Madeira
esta freguesia da costa norte recebesse até ao seu extremo oriental, a Ponta de
o mesmo nome que uma das ilhas do São Lourenço. E não só: em dias de boa

DE SANTANA
grupo central dos Açores: Faial. Era neste visibilidade, consegue até vislumbrar-se
Faial madeirense, dividido pela ribeira a ilha do Porto Santo, a mais de 40
homónima, que ficava a maior ponte da quilómetros de distância.
ilha: tinha 130 metros de extensão e sete
arcos, quatro deles derrubados durante
uma fortíssima tempestade em 1984. Os
N Ã O H Á ação de divulgação da Dividem-se, geralmente, em piso térreo três arcos resistentes foram conservados
Madeira que não inclua uma das para habitação e sótão para armazena- como monumento e são uma das imagens
casas típicas de Santana, com o seu mento de materiais agrícolas – em alguns de marca da região.
formato triangular e cores vibrantes. casos, o acesso a este armazém é feito pelo
São conhecidas em todo o mundo, exterior. A cobertura de colmo precisa
ilustram inúmeros postais e cartazes de ser renovada de cinco em cinco anos.
promocionais do arquipélago. Chama-se a esse processo “abafar” a casa.
São, diz-se, um resquício das primei- Ainda se encontram, na costa norte da
ras construções da ilha em que se usavam ilha, alguns raros exemplares que servem
os materiais mais abundantes e, por de habitação própria. A maioria destas
isso, acessíveis aos habitantes: madeiras, casas, porém, são agora monumentos visi-
colmo (palha de trigo e/ou centeio), varas táveis e albergam lojas de produtos típicos
de folhado ou de urze e vimes. e artesanato local. A visita é gratuita.

NÚCLEO DE CASAS

TÍPICAS DE SANTANA.

RUA DO SACRISTÃO

SÍTIO DO SERRADO

SANTANA

↓ FOTOGRAFIA TIAGO PAIS

MIRADOURO
↑ FOTOGRAFIA DR

DO GUINDASTE
SÍTIO DO GUINDASTE, FAIAL, SANTANA

V I S I TA R
64 C A S A S T Í P IC A S D E S A N TA N A PA S S E A R
65 MIRADOURO DO GUINDASTE
V I S I TA R MADEIRA COMER MADEIRA
A S U A enorme chaminé vermelha, com 26 se come (e bebe) muitíssimo bem, a
metros de altura, assemelha-se quase a um expectativa de uma refeição gloriosa

A PIPA
farol, tal é a proximidade desta fábrica de aumenta de imediato.
processamento de cana-de-açúcar e desti- Nesta antiga adega onde as pipas ser-
laria com o mar. vem agora, sobretudo, de decoração, o
Fundada em 1927, resultou da união dos cliente pode optar por pedir uma das doses
diversos engenhos que havia no Porto da de lapas, mexilhões, lulas, peixe-espada,
Cruz, daí o nome “Engenhos”, no plural. E atum, polvo ou gambas e irá, com certeza,
ainda conserva alguma maquinaria desse sair bem servido. Mas para ter a experiên-
tempo: “Somos o único engenho da Europa RUA DOUTOR JOÃO ABEL DE FREITAS cia premium – chamemos-lhe antes a expe-
que ainda trabalha com máquinas a vapor”, PORTO DA CRUZ. 968 527 400 riência Toy – convém ligar com antecedên-
adianta Luís Faria, da família proprietária. cia e encomendar um dos pratos de tacho:
A chaminé fumega sobretudo entre arroz de lapas, de marisco ou a tradicional
março e maio, o período de processamento “ S A B E quem é que já cá veio três vezes? fragateira.
da cana-de-açúcar, que aqui chega em O Toy!” José Furtado, dono d’A Pipa, atira Foi o que fizemos, bem aconselhados
camiões vinda de diversos pontos da ilha. esta referência à chegada, ainda o bolo por um cliente antigo da casa. E em boa
É descarregada, escolhida e espremida. O do caco não arrefeceu. Ora, sendo certo hora. Calhou-nos um magnífico arroz de
seu caldo só se transforma em aguardente e sabido que o maior feito extramusical lapas, num equilíbrio exemplar de soltura
de cana depois de uma estadia prolongada de António Ferrão, o cantautor romântico e malandrice, bem generoso nos moluscos.
nos depósitos onde fermenta, primeiro, mais conhecido por Toy, é precisamente Uma tachada das antigas, para comer até
para depois ser destilada. o de só frequentar restaurantes onde se cansar. Toda a noite, toda a noite.
O que sobra da cana-de-açúcar – o seu
bagaço ou desperdício – poderá servir no
futuro para alimentar uma caldeira de bio-
massa que, segundo Luís Faria, conseguirá,
em teoria, armazenar energia suficiente

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


para tornar a fábrica autossustentável.
Enquanto não se chega a essa aguar-
dente verde, é possível provar e comprar
a aguardente de cana branca e o rum
(aguardente de cana envelhecida) na loja
contígua, onde estão representadas as
diversas marcas do grupo J. Faria e Filhos,
os responsáveis pelo engenho.

ENGENHOS
DO NORTE
RUA DO CAIS, 6, PORTO DA CRUZ

291 563 346. ENGENHOSDONORTE.COM

V I S I TA R
66 ENGENHOS DO NORTE COMER
67 A P I PA
V I S I TA R MADEIRA COMER MADEIRA
A S U A enorme chaminé vermelha, com 26 se come (e bebe) muitíssimo bem, a
metros de altura, assemelha-se quase a um expectativa de uma refeição gloriosa

A PIPA
farol, tal é a proximidade desta fábrica de aumenta de imediato.
processamento de cana-de-açúcar e desti- Nesta antiga adega onde as pipas ser-
laria com o mar. vem agora, sobretudo, de decoração, o
Fundada em 1927, resultou da união dos cliente pode optar por pedir uma das doses
diversos engenhos que havia no Porto da de lapas, mexilhões, lulas, peixe-espada,
Cruz, daí o nome “Engenhos”, no plural. E atum, polvo ou gambas e irá, com certeza,
ainda conserva alguma maquinaria desse sair bem servido. Mas para ter a experiên-
tempo: “Somos o único engenho da Europa RUA DOUTOR JOÃO ABEL DE FREITAS cia premium – chamemos-lhe antes a expe-
que ainda trabalha com máquinas a vapor”, PORTO DA CRUZ. 968 527 400 riência Toy – convém ligar com antecedên-
adianta Luís Faria, da família proprietária. cia e encomendar um dos pratos de tacho:
A chaminé fumega sobretudo entre arroz de lapas, de marisco ou a tradicional
março e maio, o período de processamento “ S A B E quem é que já cá veio três vezes? fragateira.
da cana-de-açúcar, que aqui chega em O Toy!” José Furtado, dono d’A Pipa, atira Foi o que fizemos, bem aconselhados
camiões vinda de diversos pontos da ilha. esta referência à chegada, ainda o bolo por um cliente antigo da casa. E em boa
É descarregada, escolhida e espremida. O do caco não arrefeceu. Ora, sendo certo hora. Calhou-nos um magnífico arroz de
seu caldo só se transforma em aguardente e sabido que o maior feito extramusical lapas, num equilíbrio exemplar de soltura
de cana depois de uma estadia prolongada de António Ferrão, o cantautor romântico e malandrice, bem generoso nos moluscos.
nos depósitos onde fermenta, primeiro, mais conhecido por Toy, é precisamente Uma tachada das antigas, para comer até
para depois ser destilada. o de só frequentar restaurantes onde se cansar. Toda a noite, toda a noite.
O que sobra da cana-de-açúcar – o seu
bagaço ou desperdício – poderá servir no
futuro para alimentar uma caldeira de bio-
massa que, segundo Luís Faria, conseguirá,
em teoria, armazenar energia suficiente

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


para tornar a fábrica autossustentável.
Enquanto não se chega a essa aguar-
dente verde, é possível provar e comprar
a aguardente de cana branca e o rum
(aguardente de cana envelhecida) na loja
contígua, onde estão representadas as
diversas marcas do grupo J. Faria e Filhos,
os responsáveis pelo engenho.

ENGENHOS
DO NORTE
RUA DO CAIS, 6, PORTO DA CRUZ

291 563 346. ENGENHOSDONORTE.COM

V I S I TA R
66 ENGENHOS DO NORTE COMER
67 A P I PA
DORMIR MADEIRA e se conhecem aqui. “Adoramos a ilha, mas
sentimos necessidade de conhecer pessoas
novas. Por isso queríamos criar um hostel
que não fosse apenas um hostel, mas uma
casa”, explica Joaquina.
O resultado é uma comunidade em
que toda a gente ganha: os hóspedes,
porque se sentem em casa entre locais; os
locais, porque redescobrem a ilha em que
vivem. “Vamos juntos à praia, vamos beber
ponchas, fazemos aqui jantares com pizzas
cozinhadas no nosso antigo forno a lenha.”
O ambiente conquista e é costume os
hóspedes deixarem-se ficar, quer seja a
trabalhar no hostel, quer seja a acrescentar
algo de novo ao projeto. Exemplo disso é o
mural pintado no quintal por uma nómada
digital italiana que, depois de desenhar
as linhas das plantas endémicas e das
lagartixas, organizou uma sessão de art
therapy para os convidados as pintarem em
conjunto. “A ideia é pôr toda a gente a falar
com toda a gente”.
Além do convívio no Jaca e dos passeios
pelo Porto da Cruz, recomendam-se, nesta
zona, os dias de praia. Quem está à von-
tade no surf, tem a praia da Maiata a cinco
O E D I F Í C I O é do século xix e ganhou minutos; aos iniciantes sugere-se a praia da
nova vida em 2018. Bem no centro de Alagoa, com ondas mais calmas. “Vai-se des-
Porto da Cruz, o Jaca Hostel é um projeto calço daqui até ao mar”, garante Joaquina.
de Joaquina Freitas e Tomé Mendes. Ela
trabalhava em marketing e ele era mestre
cervejeiro quando, depois de muitas
viagens pelo mundo, deram início a uma
nova aventura na ilha.
A renovação do espaço ficou a cargo

FOTOGRAFIAS LUÍS GAMA


do próprio casal. Inclui três quartos com
casas de banho privadas, bem como um
dormitório e uma camarata. Nos espaços
comuns – a sala, a cozinha e o terraço –
as peças contemporâneas misturam-se
com as cadeiras da avó de Tomé, o móvel

JACA HOSTEL
açucareiro da avó de Joaquina ou os dois
estiradores de arquiteto que servem de
mesa de refeições. E aos quadros trazidos
de Cuba, do Japão e do Peru, em viagens a
dois, juntam-se os mais recentes, assinados
por artistas madeirenses amigos do casal.
CASAS PRÓXIMAS, RUA DOUTOR JOÃO ABEL DE FREITAS, 1, PORTO DA CRUZ. 966 466 621. A sala e o quintal, onde houve em tem-
@JACAHOSTEL. ESTADIA A PARTIR DE 17€/NOITE (DORMITÓRIO) OU 40€/NOITE (QUARTO pos um lagar, são pontos de encontro para
DUPLO COM CASA DE BANHO PRIVATIVA). EXISTE, TAMBÉM, UM JACA HOSTEL NO FUNCHAL. hóspedes e amigos da casa, que se cruzam

DORMIR
68 JACA HOSTEL DORMIR
69 JACA HOSTEL
DORMIR MADEIRA e se conhecem aqui. “Adoramos a ilha, mas
sentimos necessidade de conhecer pessoas
novas. Por isso queríamos criar um hostel
que não fosse apenas um hostel, mas uma
casa”, explica Joaquina.
O resultado é uma comunidade em
que toda a gente ganha: os hóspedes,
porque se sentem em casa entre locais; os
locais, porque redescobrem a ilha em que
vivem. “Vamos juntos à praia, vamos beber
ponchas, fazemos aqui jantares com pizzas
cozinhadas no nosso antigo forno a lenha.”
O ambiente conquista e é costume os
hóspedes deixarem-se ficar, quer seja a
trabalhar no hostel, quer seja a acrescentar
algo de novo ao projeto. Exemplo disso é o
mural pintado no quintal por uma nómada
digital italiana que, depois de desenhar
as linhas das plantas endémicas e das
lagartixas, organizou uma sessão de art
therapy para os convidados as pintarem em
conjunto. “A ideia é pôr toda a gente a falar
com toda a gente”.
Além do convívio no Jaca e dos passeios
pelo Porto da Cruz, recomendam-se, nesta
zona, os dias de praia. Quem está à von-
tade no surf, tem a praia da Maiata a cinco
O E D I F Í C I O é do século xix e ganhou minutos; aos iniciantes sugere-se a praia da
nova vida em 2018. Bem no centro de Alagoa, com ondas mais calmas. “Vai-se des-
Porto da Cruz, o Jaca Hostel é um projeto calço daqui até ao mar”, garante Joaquina.
de Joaquina Freitas e Tomé Mendes. Ela
trabalhava em marketing e ele era mestre
cervejeiro quando, depois de muitas
viagens pelo mundo, deram início a uma
nova aventura na ilha.
A renovação do espaço ficou a cargo

FOTOGRAFIAS LUÍS GAMA


do próprio casal. Inclui três quartos com
casas de banho privadas, bem como um
dormitório e uma camarata. Nos espaços
comuns – a sala, a cozinha e o terraço –
as peças contemporâneas misturam-se
com as cadeiras da avó de Tomé, o móvel

JACA HOSTEL
açucareiro da avó de Joaquina ou os dois
estiradores de arquiteto que servem de
mesa de refeições. E aos quadros trazidos
de Cuba, do Japão e do Peru, em viagens a
dois, juntam-se os mais recentes, assinados
por artistas madeirenses amigos do casal.
CASAS PRÓXIMAS, RUA DOUTOR JOÃO ABEL DE FREITAS, 1, PORTO DA CRUZ. 966 466 621. A sala e o quintal, onde houve em tem-
@JACAHOSTEL. ESTADIA A PARTIR DE 17€/NOITE (DORMITÓRIO) OU 40€/NOITE (QUARTO pos um lagar, são pontos de encontro para
DUPLO COM CASA DE BANHO PRIVATIVA). EXISTE, TAMBÉM, UM JACA HOSTEL NO FUNCHAL. hóspedes e amigos da casa, que se cruzam

DORMIR
68 JACA HOSTEL DORMIR
69 JACA HOSTEL
COMER MADEIRA DORMIR MADEIRA

A O C O N T R Á R I O da maioria das
unidades Porto Bay, este Serra Golf é
um pequeno boutique hotel com apenas

↓ FOTOGRAFIAS DR
21 quartos que tira partido do charme de
um edifício em tons de azul, construído
em 1920, completamente renovado em
1999, e que é considerado Património
Regional. Percebe-se imediatamente

↑ FOTOGRAFIA GONÇALO F . SANTOS


porquê ao olhar para ele.
O interior é bem cuidado: respeita
a traça tradicional sem esquecer o con-
forto que se espera de um quatro estre-
las – tem, por exemplo, piscina coberta
aquecida, sauna, sala de massagens e
um pequeno jardim botânico privado
com mais de 90 variedades de flores e
plantas por onde os hóspedes podem
e devem vaguear. E o apelido Golf não
vem ao engano: fica a escassos metros

PORTO BAY
do campo de golfe do Santo da Serra,
cuja paisagem o torna um dos mais
espetaculares da Europa.

SERRA GOLF
Nas redondezas encontram-se
diversas levadas imperdíveis para

A FRAGATEIRA
percorrer a pé. Já as bicicletas – que
se podem alugar através do hotel –
permitem descobrir a vila do Santo da
Serra, repondo calorias nas padarias e
queijarias tradicionais ou com copos de
sidra, bebida que é o foco, todos os anos,
RUA DOUTOR JOÃO ABEL DE FREITAS, 13, PORTO DA CRUZ. 291 562 103 de uma enorme festa no último fim de
semana de setembro.

O S H O M E N S não se medem aos segunda é a fragateira que dá nome à casa,


palmos, e José – que é Pequeno para uns uma espécie de caldeirada apuradíssima
e Pequenino para outros – muito menos. que recheia com o peixe que lhe chegar:
Tem metro e meio de altura, mas arcaboiço atum, bicuda, badeja, o que o mar trouxer.
mais do que suficiente para tomar conta da José é também um fervoroso adepto
cozinha deste restaurante, poiso frequente do Futebol Clube do Porto e guarda
de locais e visitantes, que ali param, um dossiê com alguns recortes alusivos
sobretudo, por duas razões. a essa paixão. Num deles, mostra-nos
A primeira são os petiscos que o Pinto da Costa na pose Sharon Stone
anfitrião serve para acompanhar o famoso de Instinto Fatal. Aponta e ri-se, antes de
vinho americano da casa: pratos de gaiado olhar para o relógio, fechar o dossiê e
seco, escabeche ou bucho de atum, sempre avisar: “Gosto muito disto, mas o meu SÍTIO DOS CASAIS PRÓXIMOS, SANTO DA SERRA
bem temperados e a pedir copo cheio. A trabalho está primeiro.” 291 550 500. ESTADIA A PARTIR DE 77€/NOITE

COMER
70 A F R AG AT E I R A DORMIR
71 P O R TO B AY S E R R A G O L F
COMER MADEIRA DORMIR MADEIRA

A O C O N T R Á R I O da maioria das
unidades Porto Bay, este Serra Golf é
um pequeno boutique hotel com apenas

↓ FOTOGRAFIAS DR
21 quartos que tira partido do charme de
um edifício em tons de azul, construído
em 1920, completamente renovado em
1999, e que é considerado Património
Regional. Percebe-se imediatamente

↑ FOTOGRAFIA GONÇALO F . SANTOS


porquê ao olhar para ele.
O interior é bem cuidado: respeita
a traça tradicional sem esquecer o con-
forto que se espera de um quatro estre-
las – tem, por exemplo, piscina coberta
aquecida, sauna, sala de massagens e
um pequeno jardim botânico privado
com mais de 90 variedades de flores e
plantas por onde os hóspedes podem
e devem vaguear. E o apelido Golf não
vem ao engano: fica a escassos metros

PORTO BAY
do campo de golfe do Santo da Serra,
cuja paisagem o torna um dos mais
espetaculares da Europa.

SERRA GOLF
Nas redondezas encontram-se
diversas levadas imperdíveis para

A FRAGATEIRA
percorrer a pé. Já as bicicletas – que
se podem alugar através do hotel –
permitem descobrir a vila do Santo da
Serra, repondo calorias nas padarias e
queijarias tradicionais ou com copos de
sidra, bebida que é o foco, todos os anos,
RUA DOUTOR JOÃO ABEL DE FREITAS, 13, PORTO DA CRUZ. 291 562 103 de uma enorme festa no último fim de
semana de setembro.

O S H O M E N S não se medem aos segunda é a fragateira que dá nome à casa,


palmos, e José – que é Pequeno para uns uma espécie de caldeirada apuradíssima
e Pequenino para outros – muito menos. que recheia com o peixe que lhe chegar:
Tem metro e meio de altura, mas arcaboiço atum, bicuda, badeja, o que o mar trouxer.
mais do que suficiente para tomar conta da José é também um fervoroso adepto
cozinha deste restaurante, poiso frequente do Futebol Clube do Porto e guarda
de locais e visitantes, que ali param, um dossiê com alguns recortes alusivos
sobretudo, por duas razões. a essa paixão. Num deles, mostra-nos
A primeira são os petiscos que o Pinto da Costa na pose Sharon Stone
anfitrião serve para acompanhar o famoso de Instinto Fatal. Aponta e ri-se, antes de
vinho americano da casa: pratos de gaiado olhar para o relógio, fechar o dossiê e
seco, escabeche ou bucho de atum, sempre avisar: “Gosto muito disto, mas o meu SÍTIO DOS CASAIS PRÓXIMOS, SANTO DA SERRA
bem temperados e a pedir copo cheio. A trabalho está primeiro.” 291 550 500. ESTADIA A PARTIR DE 77€/NOITE

COMER
70 A F R AG AT E I R A DORMIR
71 P O R TO B AY S E R R A G O L F
COMER MADEIRA

MURALHA’S
BAR

P R I M E I R O , um aviso: o Muralha’s não

MARÉ
é restaurante para se comer de faca e
garfo. Aqui é tudo à mão ou com palitos
– faz parte do conceito, há que respeitar.
Os talheres pagam-se à parte, medida

ALTA
que pode parecer abusiva, mas que até
tem a sua graça. Até porque não é difícil
respeitar a vontade do gerente, Mário
Correia: afinal esta casa, quiçá a mais
famosa da costa leste, é especialista em
picados de polvo, lulas, bodião ou espada.
Ora, picados, como o nome indica,
picam-se. Já o resto, come-se à mão:
das lapas generosas – as desta zona são, N A E S P L A N A D A do Maré Alta não se – tem a sua própria lota em frente ao res- saborosa, enriquecida pelo tradicional
geralmente, as melhores da Madeira – aos come apenas. Também se pode meditar, taurante e contactos privilegiados com molho vilão – vinho branco, tinto,
caramujos, caracóis do mar, passando, ao som da rebentação do mar, exata- muitos pescadores. A montra está sem- alho, segurelha, vinagre e pimenta da

FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS


claro, pelas castanhetas fritas e pelos mente o tipo de resultado que se obtém pre, por isso, muitíssimo bem recheada. terra – e acompanhada de batata-doce,
chicharros, carapaus de largo porte. pesquisando por “relaxing sounds” no A escolha é difícil, mas tem de primeiro, e de milhos frios, que chegam
O que também ajuda a suprir a falta dos YouTube. Mas não é para isso que se lá ser feita: gaiado seco para começar e depois. Estes cubos, que têm uma
talheres é o excelente pão de batata-doce vai. Em princípio, o objetivo será comer ventresca de atum para terminar. Assim consistência curiosa, próxima do pudim,
feito ali mesmo, no Caniçal. Só por si peixe. Porque para comer peixe, em seja. O gaiado come-se seco e salgado, são, explicam-nos “uma forma de
vale a visita. toda a ilha, dificilmente se encontra um com cebola. Deve desfiar-se em fiapos aproveitamento do xerém”. Desperdício
sítio melhor. João Paulo Rodrigues, o e acompanhar com uma bebida fresca. zero, pontos extra para este Maré Alta.
RUA DA PEDRA D’EIRA, 20, CANIÇAL dono do Maré Alta, trabalha com o que A Coral, cerveja da terra, não cai nada
291 961 468 vem do mar há mais de duas décadas mal. Segue-se a ventresca. Tenríssima, LARGO DA PRAÇA, MACHICO. 291 607 126

COMER
72 M U R A L H A ’ S B A R    M A R É A L T A COMER
73 M A R É A LT A
COMER MADEIRA

MURALHA’S
BAR

P R I M E I R O , um aviso: o Muralha’s não

MARÉ
é restaurante para se comer de faca e
garfo. Aqui é tudo à mão ou com palitos
– faz parte do conceito, há que respeitar.
Os talheres pagam-se à parte, medida

ALTA
que pode parecer abusiva, mas que até
tem a sua graça. Até porque não é difícil
respeitar a vontade do gerente, Mário
Correia: afinal esta casa, quiçá a mais
famosa da costa leste, é especialista em
picados de polvo, lulas, bodião ou espada.
Ora, picados, como o nome indica,
picam-se. Já o resto, come-se à mão:
das lapas generosas – as desta zona são, N A E S P L A N A D A do Maré Alta não se – tem a sua própria lota em frente ao res- saborosa, enriquecida pelo tradicional
geralmente, as melhores da Madeira – aos come apenas. Também se pode meditar, taurante e contactos privilegiados com molho vilão – vinho branco, tinto,
caramujos, caracóis do mar, passando, ao som da rebentação do mar, exata- muitos pescadores. A montra está sem- alho, segurelha, vinagre e pimenta da

FOTOGRAFIAS TIAGO PAIS


claro, pelas castanhetas fritas e pelos mente o tipo de resultado que se obtém pre, por isso, muitíssimo bem recheada. terra – e acompanhada de batata-doce,
chicharros, carapaus de largo porte. pesquisando por “relaxing sounds” no A escolha é difícil, mas tem de primeiro, e de milhos frios, que chegam
O que também ajuda a suprir a falta dos YouTube. Mas não é para isso que se lá ser feita: gaiado seco para começar e depois. Estes cubos, que têm uma
talheres é o excelente pão de batata-doce vai. Em princípio, o objetivo será comer ventresca de atum para terminar. Assim consistência curiosa, próxima do pudim,
feito ali mesmo, no Caniçal. Só por si peixe. Porque para comer peixe, em seja. O gaiado come-se seco e salgado, são, explicam-nos “uma forma de
vale a visita. toda a ilha, dificilmente se encontra um com cebola. Deve desfiar-se em fiapos aproveitamento do xerém”. Desperdício
sítio melhor. João Paulo Rodrigues, o e acompanhar com uma bebida fresca. zero, pontos extra para este Maré Alta.
RUA DA PEDRA D’EIRA, 20, CANIÇAL dono do Maré Alta, trabalha com o que A Coral, cerveja da terra, não cai nada
291 961 468 vem do mar há mais de duas décadas mal. Segue-se a ventresca. Tenríssima, LARGO DA PRAÇA, MACHICO. 291 607 126

COMER
72 M U R A L H A ’ S B A R    M A R É A L T A COMER
73 M A R É A LT A
EXPLORAR MADEIRA A P E N Í N S U L A que conduz à ponta A melhor forma de explorar esta
mais oriental da Madeira – batizada com o zona é seguindo o trilho que parte do

PONTA
nome da caravela de João Gonçalves Zarco promontório – tirando, primeiro, algum
– tem uma paisagem marcadamente dife- tempo para apreciar a magnífica vista. O
rente do que é habitual encontrar na ilha. caminho tem cerca de quatro quilómetros
Bem mais árida, de tons avermelhados, e aproveita toda a extensão desta estreita
exposta aos ventos de Norte e com uma península, ora aproximando-se ora

DE SÃO
vegetação sobretudo rasteira, faz lembrar afastando-se das margens. O desnível
mais as ilhas Desertas ou até o Porto Santo é meigo – inclui apenas uma subida
do que, propriamente, a Madeira. acentuada, tão exigente como essencial,
É uma zona de Reserva Natural onde se rumo ao miradouro da Ponta do Furado.
encontram várias dezenas de plantas endé- É importante não esquecer do fato de

LOURENÇO
micas e inúmeras aves que ali nidificam, banho: é possível (e recomendável) cele-
sendo, por isso, um local privilegiado para brar o final do trilho com um mergulho
a sua observação. É, também, um lugar no chamado cais do Sardinha, o nome de
densamente povoado pelas lagartixas, úni- família dos antigos proprietários da casa
cos répteis terrestres da ilha, e moluscos que hoje é um pequeno bar e dá apoio aos
terrestres endémicos, vulgo caracóis. vigilantes do Parque Natural da Madeira.

ER 109, ESTRADA DE SÃO LOURENÇO, CANIÇAL


FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

EXPLORAR
74 P O N TA D E S ÃO LO U R E N Ç O EXPLORAR
75 P O N TA D E S ÃO LO U R E N Ç O
EXPLORAR MADEIRA A P E N Í N S U L A que conduz à ponta A melhor forma de explorar esta
mais oriental da Madeira – batizada com o zona é seguindo o trilho que parte do

PONTA
nome da caravela de João Gonçalves Zarco promontório – tirando, primeiro, algum
– tem uma paisagem marcadamente dife- tempo para apreciar a magnífica vista. O
rente do que é habitual encontrar na ilha. caminho tem cerca de quatro quilómetros
Bem mais árida, de tons avermelhados, e aproveita toda a extensão desta estreita
exposta aos ventos de Norte e com uma península, ora aproximando-se ora

DE SÃO
vegetação sobretudo rasteira, faz lembrar afastando-se das margens. O desnível
mais as ilhas Desertas ou até o Porto Santo é meigo – inclui apenas uma subida
do que, propriamente, a Madeira. acentuada, tão exigente como essencial,
É uma zona de Reserva Natural onde se rumo ao miradouro da Ponta do Furado.
encontram várias dezenas de plantas endé- É importante não esquecer do fato de

LOURENÇO
micas e inúmeras aves que ali nidificam, banho: é possível (e recomendável) cele-
sendo, por isso, um local privilegiado para brar o final do trilho com um mergulho
a sua observação. É, também, um lugar no chamado cais do Sardinha, o nome de
densamente povoado pelas lagartixas, úni- família dos antigos proprietários da casa
cos répteis terrestres da ilha, e moluscos que hoje é um pequeno bar e dá apoio aos
terrestres endémicos, vulgo caracóis. vigilantes do Parque Natural da Madeira.

ER 109, ESTRADA DE SÃO LOURENÇO, CANIÇAL


FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

EXPLORAR
74 P O N TA D E S ÃO LO U R E N Ç O EXPLORAR
75 P O N TA D E S ÃO LO U R E N Ç O
COMPRAR MADEIRA PA S S E A R MADEIRA
O I N Í C I O desta história é comum a
tantas outras: Catarina Jesus, 42 anos,

PONTA
psicóloga de formação, decidiu, certo dia,

WICKER
repensar a sua vida. A diferença está no
que se segue. Viu um anúncio promovido
pelo Instituto do Vinho, Bordado e Artesa-

DO GARAJAU
nato da Madeira e inscreveu-se numa for-

IT
mação de três meses para aprender a fazer
vimes, a arte madeirense de transformar
os ramos do vimeiro em objetos.
“Aprendi tudo com o mestre Alcino Góis,
que tem 79 anos e trabalha desde os oito”,
conta. Entusiasmada com a sua evolução, PONTA DO GARAJAU. 915 768 234

começou por fazer “coisas pequenas, mais PREÇO DO BILHETE: 3€ (IDA E VOLTA)

para amigos”, até lhe aparecer a primeira COORDENADAS GPS: 32.639819, -16.851782

encomenda grande: o packaging da garrafa


que celebrou os 600 anos da Blandy’s.
“Fiz 1800 placas de vimes, tudo à mão.”
A pandemia fez suspender os pedidos
que recebera de hotéis. Mas Catarina rein-
ventou-se: “Passei a apostar mais em aces-
sórios: brincos e malas.” Entretanto, surgiu
a oportunidade de integrar o Viveiro de
Lojas da Câmara Municipal do Funchal
e a procura por esse tipo de produtos
aumentou.
O curioso nisto tudo é que Catarina
pode bem estar a revitalizar uma tradição
quase morta. Existem, diz-nos, apenas
oito artesãos de vimes registados. E todos
homens. “Tradicionalmente, as mulheres
só faziam a base, o chamado sol.”
Destemida, vai com frequência à pro-
cura dos seus colegas à Camacha, onde se
concentram, quando precisa de ajuda na
A WICKER IT VENDE produção. “Mas eles são muito setoriais:
ATRAVÉS DAS REDES uns só fazem cadeiras, outros cestos…
SOCIAIS (@WICKER_IT), e aqui há tempos mandaram-me embora,
MAS ESTARÁ ATÉ OUTUBRO a dizer que era trabalho de homens.”
NO VIVEIRO DE LOJAS Não é. E tanto não é que a artesã pensa
O R I O de Janeiro tem o Corcovado, nidificar. É, também, um bom local para
↑ FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

DA CÂMARA MUNICIPAL levar a sua aventura mais longe, para con-


Almada tem o Cristo-Rei e a Madeira tem dar um passeio, fazer uma refeição ao ar
DO FUNCHAL, NO LARGO tornar o aumento do preço do vime local
o Garajau. E se a idade é um posto, atente- livre ou apanhar o teleférico até à praia
DO CORPO SANTO – recusa-se a trabalhar com vime importado.
-se a este facto: o Cristo-Rei do Garajau foi homónima.

↓ FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA


“Gostava de plantar, acho que passa por aí
erguido antes de qualquer um dos outros E é aí, na praia do Garajau, que existe
a sustentabilidade da marca. Até porque há
dois, a 30 de outubro de 1927. um centro de mergulho que é ponto de
estudos no Brasil que apontam que o vime
Esta imponente reprodução de partida obrigatório para todos aqueles que
pode servir para limpar os solos de metais
Jesus Cristo, com 30 metros de altura queiram explorar as águas da Reserva do
pesados e preparar para a agricultura
e os braços bem abertos, não é o único Garajau, instituída em 1986 para comba-
biológica.”
atrativo desta falésia onde as andorinhas- ter a desertificação dos fundos marinhos
do-mar (garajaus) tinham por hábito daquela zona.

COMPRAR
76 WICKER IT PA S S E A R
77 P O N TA D O G A R A JAU
COMPRAR MADEIRA PA S S E A R MADEIRA
O I N Í C I O desta história é comum a
tantas outras: Catarina Jesus, 42 anos,

PONTA
psicóloga de formação, decidiu, certo dia,

WICKER
repensar a sua vida. A diferença está no
que se segue. Viu um anúncio promovido
pelo Instituto do Vinho, Bordado e Artesa-

DO GARAJAU
nato da Madeira e inscreveu-se numa for-

IT
mação de três meses para aprender a fazer
vimes, a arte madeirense de transformar
os ramos do vimeiro em objetos.
“Aprendi tudo com o mestre Alcino Góis,
que tem 79 anos e trabalha desde os oito”,
conta. Entusiasmada com a sua evolução, PONTA DO GARAJAU. 915 768 234

começou por fazer “coisas pequenas, mais PREÇO DO BILHETE: 3€ (IDA E VOLTA)

para amigos”, até lhe aparecer a primeira COORDENADAS GPS: 32.639819, -16.851782

encomenda grande: o packaging da garrafa


que celebrou os 600 anos da Blandy’s.
“Fiz 1800 placas de vimes, tudo à mão.”
A pandemia fez suspender os pedidos
que recebera de hotéis. Mas Catarina rein-
ventou-se: “Passei a apostar mais em aces-
sórios: brincos e malas.” Entretanto, surgiu
a oportunidade de integrar o Viveiro de
Lojas da Câmara Municipal do Funchal
e a procura por esse tipo de produtos
aumentou.
O curioso nisto tudo é que Catarina
pode bem estar a revitalizar uma tradição
quase morta. Existem, diz-nos, apenas
oito artesãos de vimes registados. E todos
homens. “Tradicionalmente, as mulheres
só faziam a base, o chamado sol.”
Destemida, vai com frequência à pro-
cura dos seus colegas à Camacha, onde se
concentram, quando precisa de ajuda na
A WICKER IT VENDE produção. “Mas eles são muito setoriais:
ATRAVÉS DAS REDES uns só fazem cadeiras, outros cestos…
SOCIAIS (@WICKER_IT), e aqui há tempos mandaram-me embora,
MAS ESTARÁ ATÉ OUTUBRO a dizer que era trabalho de homens.”
NO VIVEIRO DE LOJAS Não é. E tanto não é que a artesã pensa
O R I O de Janeiro tem o Corcovado, nidificar. É, também, um bom local para
↑ FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

DA CÂMARA MUNICIPAL levar a sua aventura mais longe, para con-


Almada tem o Cristo-Rei e a Madeira tem dar um passeio, fazer uma refeição ao ar
DO FUNCHAL, NO LARGO tornar o aumento do preço do vime local
o Garajau. E se a idade é um posto, atente- livre ou apanhar o teleférico até à praia
DO CORPO SANTO – recusa-se a trabalhar com vime importado.
-se a este facto: o Cristo-Rei do Garajau foi homónima.

↓ FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA


“Gostava de plantar, acho que passa por aí
erguido antes de qualquer um dos outros E é aí, na praia do Garajau, que existe
a sustentabilidade da marca. Até porque há
dois, a 30 de outubro de 1927. um centro de mergulho que é ponto de
estudos no Brasil que apontam que o vime
Esta imponente reprodução de partida obrigatório para todos aqueles que
pode servir para limpar os solos de metais
Jesus Cristo, com 30 metros de altura queiram explorar as águas da Reserva do
pesados e preparar para a agricultura
e os braços bem abertos, não é o único Garajau, instituída em 1986 para comba-
biológica.”
atrativo desta falésia onde as andorinhas- ter a desertificação dos fundos marinhos
do-mar (garajaus) tinham por hábito daquela zona.

COMPRAR
76 WICKER IT PA S S E A R
77 P O N TA D O G A R A JAU
CONHECER MADEIRA F U I o primeiro surfista da arranjávamos umas pranchas de madeira
Madeira. Como é que isto e umas barbatanas e fazíamos as
aconteceu? Na altura, não havia chamadas carreirinhas. Quando vimos as

ORLANDO
surf, não havia escolas, não havia nada pranchas deles… eram coisas que nós não
disso. Tudo começou através das revistas conhecíamos, não tínhamos acesso a este
da modalidade, que vinham cá à Madeira tipo de material. Eles deixaram-nos uma

PEREIRA
fazer grandes reportagens com surfistas prancha e começámos a partilhá-la – íamos
41 ANOS americanos e australianos. Comecei surfando. Uns tempos depois chegaram
com uma visita da Surf Portugal. Estamos mais estrangeiros, que deixaram outra

PROFESSOR
a falar de 1993/94: o João Valente, que prancha e foi a partir daí.
era o diretor da revista, o Zé Seabra e Alguns desses miúdos continuaram,
um americano que era o Darin Pappas outros desistiram, foi como em qualquer

DE SURF
[o artista também conhecido por Ithaka], desporto. Eu continuei. Entretanto, começou
vieram à Madeira fazer uma reportagem a haver mais pessoas na Madeira a fazer surf
sobre o Jardim do Mar e esta costa oeste. e foram criados campeonatos regionais. E
Eles perceberam a nossa vontade – eu destaquei-me porque fui ganhando esses
@ORLANDOMENDESPEREIRA éramos miúdos do Jardim do Mar, eu campeonatos e convidaram-me para repre-
tinha uns 13, 14 anos –, vivíamos junto sentar a Madeira em campeonatos nacionais.
ao mar, viram a nossa paixão pelo mar Hoje tenho uma escola de surf e faço
e pelas ondas, que já era coisa antiga: de guia também a pessoal que chega cá
e precisa de alguma informação ou de
algum acompanhamento: como é que se
encontram as melhores ondas, os melhores
ventos, a melhor direção. Na Madeira não
existe aquela praia de areia bonita em que
qualquer um se pode atirar ao mar. Não:
é preciso ter alguma atenção, porque o mar
aqui não é para brincadeiras.
A Madeira sempre foi conhecida como
o Havai da Europa, só que não é para todos
os surfistas. As praias limitam o tipo de
surfista: exigem mais experiência, mais
conhecimento. São para alguém que já tem
alguma bagagem, já viajou muito, conhece
bem o mar e procura um tipo de onda para
evoluir. Ondas grandes ou ondas perfeitas,
como os tubos que temos aqui.
A ilha tem muita variedade de ondas,
FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

tanto de esquerdas como de direitas. Na


costa oeste – Jardim do Mar, Paúl do
Mar e Ponta Pequena – são direitas e na
costa norte são esquerdas. De um sítio ao
outro são 35 minutos, sensivelmente. Ou
seja, é perto e tens ondas completamente
diferentes de um lado e de outro. Mas a
minha favorita continua a ser aquela onde
aprendi a surfar, a do Jardim do Mar. É a
minha onda de eleição, surfo-a
sempre no inverno: é a onda de
casa, a que me deixa mais feliz.

CONHECER
78 ORLANDO PEREIRA CONHECER ORLANDO PEREIRA
CONHECER MADEIRA F U I o primeiro surfista da arranjávamos umas pranchas de madeira
Madeira. Como é que isto e umas barbatanas e fazíamos as
aconteceu? Na altura, não havia chamadas carreirinhas. Quando vimos as

ORLANDO
surf, não havia escolas, não havia nada pranchas deles… eram coisas que nós não
disso. Tudo começou através das revistas conhecíamos, não tínhamos acesso a este
da modalidade, que vinham cá à Madeira tipo de material. Eles deixaram-nos uma

PEREIRA
fazer grandes reportagens com surfistas prancha e começámos a partilhá-la – íamos
41 ANOS americanos e australianos. Comecei surfando. Uns tempos depois chegaram
com uma visita da Surf Portugal. Estamos mais estrangeiros, que deixaram outra

PROFESSOR
a falar de 1993/94: o João Valente, que prancha e foi a partir daí.
era o diretor da revista, o Zé Seabra e Alguns desses miúdos continuaram,
um americano que era o Darin Pappas outros desistiram, foi como em qualquer

DE SURF
[o artista também conhecido por Ithaka], desporto. Eu continuei. Entretanto, começou
vieram à Madeira fazer uma reportagem a haver mais pessoas na Madeira a fazer surf
sobre o Jardim do Mar e esta costa oeste. e foram criados campeonatos regionais. E
Eles perceberam a nossa vontade – eu destaquei-me porque fui ganhando esses
@ORLANDOMENDESPEREIRA éramos miúdos do Jardim do Mar, eu campeonatos e convidaram-me para repre-
tinha uns 13, 14 anos –, vivíamos junto sentar a Madeira em campeonatos nacionais.
ao mar, viram a nossa paixão pelo mar Hoje tenho uma escola de surf e faço
e pelas ondas, que já era coisa antiga: de guia também a pessoal que chega cá
e precisa de alguma informação ou de
algum acompanhamento: como é que se
encontram as melhores ondas, os melhores
ventos, a melhor direção. Na Madeira não
existe aquela praia de areia bonita em que
qualquer um se pode atirar ao mar. Não:
é preciso ter alguma atenção, porque o mar
aqui não é para brincadeiras.
A Madeira sempre foi conhecida como
o Havai da Europa, só que não é para todos
os surfistas. As praias limitam o tipo de
surfista: exigem mais experiência, mais
conhecimento. São para alguém que já tem
alguma bagagem, já viajou muito, conhece
bem o mar e procura um tipo de onda para
evoluir. Ondas grandes ou ondas perfeitas,
como os tubos que temos aqui.
A ilha tem muita variedade de ondas,
FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

tanto de esquerdas como de direitas. Na


costa oeste – Jardim do Mar, Paúl do
Mar e Ponta Pequena – são direitas e na
costa norte são esquerdas. De um sítio ao
outro são 35 minutos, sensivelmente. Ou
seja, é perto e tens ondas completamente
diferentes de um lado e de outro. Mas a
minha favorita continua a ser aquela onde
aprendi a surfar, a do Jardim do Mar. É a
minha onda de eleição, surfo-a
sempre no inverno: é a onda de
casa, a que me deixa mais feliz.

CONHECER
78 ORLANDO PEREIRA CONHECER ORLANDO PEREIRA
FUNCHAL

E X P E R I M E N TA R
COMPRAR
DORMIR
CONHECER
Rodeada de colinas e encaixada numa
enorme baía virada a sul, a cidade do

COMER
Funchal é o epicentro da ilha e concentra
perto de metade da população de todo o
arquipélago. Além dos belíssimos jardins,

V I S I TA R
das ruas animadas da Zona Velha, da
variedade do Mercado dos Lavradores
ou dos históricos complexos balneares,
nela encontram-se, também, projetos
PA S S E A R
novos e criativos de diversas áreas –
da música à moda – que a têm tornado,
cada vez mais, uma cidade vibrante que
EXPLORAR

urge (re)descobrir.
FUNCHAL

E X P E R I M E N TA R
COMPRAR
DORMIR
CONHECER
Rodeada de colinas e encaixada numa
enorme baía virada a sul, a cidade do

COMER
Funchal é o epicentro da ilha e concentra
perto de metade da população de todo o
arquipélago. Além dos belíssimos jardins,

V I S I TA R
das ruas animadas da Zona Velha, da
variedade do Mercado dos Lavradores
ou dos históricos complexos balneares,
nela encontram-se, também, projetos
PA S S E A R
novos e criativos de diversas áreas –
da música à moda – que a têm tornado,
cada vez mais, uma cidade vibrante que
EXPLORAR

urge (re)descobrir.
1

13

1   DESCER   CARREIROS DO MONTE   84


2   VIS ITAR  JARDIM TROPICAL
3
MONTE PALACE   92
3   DORM IR  CAJU LE PETIT HOTEL   1 17 4
12
4   COM PRAR   FÁBRICA SANTO ANTÓNIO   96
5   COM PRAR   BORDAL   99
6   VIS ITAR  MERCADO DOS LAVRADORES   98
7   CON H ECER   BARREIRINHA BAR CAFÉ   1 18
8   COM ER   KAMPO   104
9   M ERGU LHAR  DOCA DO CAVACAS   106
5
10   PAS S E AR  PRAIA FORMOSA   1 14
11   COM ER   IL GALLO D’ORO   1 1 1 6

12   B EB ER   VINTNERS   1 1 2 11

13   COM ER   OS CASTRINHOS   86

7
10

9
8
1

13

1   DESCER   CARREIROS DO MONTE   84


2   VIS ITAR  JARDIM TROPICAL
3
MONTE PALACE   92
3   DORM IR  CAJU LE PETIT HOTEL   1 17 4
12
4   COM PRAR   FÁBRICA SANTO ANTÓNIO   96
5   COM PRAR   BORDAL   99
6   VIS ITAR  MERCADO DOS LAVRADORES   98
7   CON H ECER   BARREIRINHA BAR CAFÉ   1 18
8   COM ER   KAMPO   104
9   M ERGU LHAR  DOCA DO CAVACAS   106
5
10   PAS S E AR  PRAIA FORMOSA   1 14
11   COM ER   IL GALLO D’ORO   1 1 1 6

12   B EB ER   VINTNERS   1 1 2 11

13   COM ER   OS CASTRINHOS   86

7
10

9
8
DESCER FUNCHAL

P E L A S R U A S íngremes da localidade do
Monte, é comum verem-se a descer a alta
velocidade carros de cesto. Quem ali vive
está habituado ao som da madeira a rolar
no alcatrão ladeira abaixo, no percurso de
dois quilómetros que muitos turistas não
dispensam cumprir. Mas a história dos
Carros do Monte é muito anterior à do
turismo na Madeira.
Surgiram como meio de transporte
ainda no século xix, permitindo
transportar pessoas e mercadorias do
Monte ao Funchal da forma mais rápida
possível. É difícil definir a origem da
invenção, mas julga-se que os primeiros

CARREIROS
a arriscarem a descida tenham sido os
proprietários das grandes quintas desta
zona. Correu tão bem que, mesmo havendo
hoje opções mais simples, os Carros do
Monte continuam a ser procurados – desde

DO MONTE
o final do século xx, maioritariamente por
quem visita a ilha.
Os cestos são feitos em vime e
assentam numa estrutura de madeira que
rola pelo chão. Os materiais utilizados
são locais e a produção cabe a artesãos da
ilha, que utilizam técnicas com mais de
200 anos de história. Para quem gosta de
CAMINHO DO MONTE, 4, FUNCHAL
emoções fortes, ainda bem que assim é,
291 783 919. BILHETE A PARTIR DE 15€ POR PESSOA
porque apesar da solidez dos carros, o seu
aspeto rudimentar é suficiente para dar um
friozinho na barriga.
Para garantir que a descida corre bem,
conta-se com a mestria dos Carreiros
do Monte, os “condutores” destes cestos.
Vestem-se de branco e usam os típicos
chapéus madeirenses, feitos em palha e
envoltos numa tira de tecido preto. Mas o
mais importante na indumentária é mesmo
a sola de borracha das botas, que serve de
travão ao longo de toda a descida. Para
uma experiência mais divertida, é pedir-
-lhes que lhes deem o menor uso possível.

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


DESCER
84 CARREIROS DO MONTE DESCER
85 CARREIROS DO MONTE
DESCER FUNCHAL

P E L A S R U A S íngremes da localidade do
Monte, é comum verem-se a descer a alta
velocidade carros de cesto. Quem ali vive
está habituado ao som da madeira a rolar
no alcatrão ladeira abaixo, no percurso de
dois quilómetros que muitos turistas não
dispensam cumprir. Mas a história dos
Carros do Monte é muito anterior à do
turismo na Madeira.
Surgiram como meio de transporte
ainda no século xix, permitindo
transportar pessoas e mercadorias do
Monte ao Funchal da forma mais rápida
possível. É difícil definir a origem da
invenção, mas julga-se que os primeiros

CARREIROS
a arriscarem a descida tenham sido os
proprietários das grandes quintas desta
zona. Correu tão bem que, mesmo havendo
hoje opções mais simples, os Carros do
Monte continuam a ser procurados – desde

DO MONTE
o final do século xx, maioritariamente por
quem visita a ilha.
Os cestos são feitos em vime e
assentam numa estrutura de madeira que
rola pelo chão. Os materiais utilizados
são locais e a produção cabe a artesãos da
ilha, que utilizam técnicas com mais de
200 anos de história. Para quem gosta de
CAMINHO DO MONTE, 4, FUNCHAL
emoções fortes, ainda bem que assim é,
291 783 919. BILHETE A PARTIR DE 15€ POR PESSOA
porque apesar da solidez dos carros, o seu
aspeto rudimentar é suficiente para dar um
friozinho na barriga.
Para garantir que a descida corre bem,
conta-se com a mestria dos Carreiros
do Monte, os “condutores” destes cestos.
Vestem-se de branco e usam os típicos
chapéus madeirenses, feitos em palha e
envoltos numa tira de tecido preto. Mas o
mais importante na indumentária é mesmo
a sola de borracha das botas, que serve de
travão ao longo de toda a descida. Para
uma experiência mais divertida, é pedir-
-lhes que lhes deem o menor uso possível.

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


DESCER
84 CARREIROS DO MONTE DESCER
85 CARREIROS DO MONTE
COMER FUNCHAL SUBIR FUNCHAL
E N T R E 1887 e 1943, a longa subida do
Funchal até ao Monte era feita através de

OS CASTRINHOS
um antigo comboio que, com uma única
via, fazia subir os passageiros ao longo de
quase quatro quilómetros. Hoje, a ligação
faz-se em suspenso, a mais de 500 metros
de altura do chão, num teleférico que
sobrevoa boa parte do Funchal.
O percurso tem início no Campo Almi-
rante Reis, na zona velha da cidade, num
A C A S A - M Ã E d’Os Castrinhos é um edifício envidraçado por onde se sobe até à

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


clássico de beira de estrada, que fica entrada de uma das 39 cabines, sempre em
entre o Funchal e Câmara de Lobos, andamento. A partir deste ponto, a viagem
num sítio a que uns madeirenses cha- faz-se numa subida lenta e íngreme, com
mam Areeiro e outros, mais gozões, a melhor vista a ficar para trás: a cidade
Mijadeiro. Os Castrinhos atuais são construída entre montes, delimitada ao
Anselmo Castro e o irmão José Manuel fundo pelo mar.
– ambos gerem o negócio fundado pelo Terminado o percurso, muitas são as
pai, o Castrinho original, em 1952. “Era opções para continuar a passear. Para che-
conhecido como o Castrinho porque era gar ao Jardim Botânico do Funchal, reco-
Manuel de Castro, tal como o meu avô”, menda-se fazer a travessia sobre o denso
esclarece Anselmo. vale de eucaliptos também de teleférico,
Existem mais dois espaços com a numa viagem curta, de pouco mais de cinco
mesma designação, um a poucos metros minutos (o bilhete simples custa 8,25€).
de distância e outro junto à praia For- Com uma extensão superior a oito hectares
mosa que, segundo José Manuel, “serve e uma vista privilegiada sobre a cidade, o
petiscos mais de praia: picadinhos, lapas, Jardim Botânico está dividido em diferen-
essas coisas”. Mas centremo-nos n’ Os tes áreas – da coleção de espécies raras de
Castrinhos primordial, que durante a plantas ao Museu de História Natural.
pandemia viu nascerem duas esplanadas No Monte, visitam-se o Parque Muni-
de grandes dimensões – só a maior senta cipal, a Igreja de Nossa Senhora do Monte
mais de cem pessoas. e o exótico Jardim Tropical Monte Palace
Os madeirenses chegam aqui em (p. 92). À hora de descer, todos os santos
busca, essencialmente, de duas coisas. ajudam – sobretudo a bordo dos Carreiros
São elas os dentinhos, minidoses de do Monte (p. 84).
comida servidas em pequenos pratos,
para picar, e bebidas, para empurrar:

TELEFÉRICO
da tradicional poncha ao mítico Pé de
Cabra, ex-líbris da casa (e cuja lista de
ingredientes pode consultar na p. 20).

DO MONTE
Os dentinhos vão variando: podem
ser de galhas – barrigas do peixe-espada
fritas –, de atum de cebolada, de língua
FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

e de peixe-espada frito. Já aos sábados


fazem-nos de cozido à portuguesa. E
também os servem em sandes, a melhor AVENIDA DO MAR E DAS COMUNIDADES MADEIRENSES. 291 780 280
forma de conseguir aproveitar o molho. PREÇO DO BILHETE: SUBIDA 11€ / SUBIDA E DESCIDA 16€

CAMINHO DO PINHEIRO DAS VOLTAS,

14, FUNCHAL. 291 773 414

COMER
86 OS CASTRINHOS SUBIR
87 TELEFÉRICO DO MONTE
COMER FUNCHAL SUBIR FUNCHAL
E N T R E 1887 e 1943, a longa subida do
Funchal até ao Monte era feita através de

OS CASTRINHOS
um antigo comboio que, com uma única
via, fazia subir os passageiros ao longo de
quase quatro quilómetros. Hoje, a ligação
faz-se em suspenso, a mais de 500 metros
de altura do chão, num teleférico que
sobrevoa boa parte do Funchal.
O percurso tem início no Campo Almi-
rante Reis, na zona velha da cidade, num
A C A S A - M Ã E d’Os Castrinhos é um edifício envidraçado por onde se sobe até à

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


clássico de beira de estrada, que fica entrada de uma das 39 cabines, sempre em
entre o Funchal e Câmara de Lobos, andamento. A partir deste ponto, a viagem
num sítio a que uns madeirenses cha- faz-se numa subida lenta e íngreme, com
mam Areeiro e outros, mais gozões, a melhor vista a ficar para trás: a cidade
Mijadeiro. Os Castrinhos atuais são construída entre montes, delimitada ao
Anselmo Castro e o irmão José Manuel fundo pelo mar.
– ambos gerem o negócio fundado pelo Terminado o percurso, muitas são as
pai, o Castrinho original, em 1952. “Era opções para continuar a passear. Para che-
conhecido como o Castrinho porque era gar ao Jardim Botânico do Funchal, reco-
Manuel de Castro, tal como o meu avô”, menda-se fazer a travessia sobre o denso
esclarece Anselmo. vale de eucaliptos também de teleférico,
Existem mais dois espaços com a numa viagem curta, de pouco mais de cinco
mesma designação, um a poucos metros minutos (o bilhete simples custa 8,25€).
de distância e outro junto à praia For- Com uma extensão superior a oito hectares
mosa que, segundo José Manuel, “serve e uma vista privilegiada sobre a cidade, o
petiscos mais de praia: picadinhos, lapas, Jardim Botânico está dividido em diferen-
essas coisas”. Mas centremo-nos n’ Os tes áreas – da coleção de espécies raras de
Castrinhos primordial, que durante a plantas ao Museu de História Natural.
pandemia viu nascerem duas esplanadas No Monte, visitam-se o Parque Muni-
de grandes dimensões – só a maior senta cipal, a Igreja de Nossa Senhora do Monte
mais de cem pessoas. e o exótico Jardim Tropical Monte Palace
Os madeirenses chegam aqui em (p. 92). À hora de descer, todos os santos
busca, essencialmente, de duas coisas. ajudam – sobretudo a bordo dos Carreiros
São elas os dentinhos, minidoses de do Monte (p. 84).
comida servidas em pequenos pratos,
para picar, e bebidas, para empurrar:

TELEFÉRICO
da tradicional poncha ao mítico Pé de
Cabra, ex-líbris da casa (e cuja lista de
ingredientes pode consultar na p. 20).

DO MONTE
Os dentinhos vão variando: podem
ser de galhas – barrigas do peixe-espada
fritas –, de atum de cebolada, de língua
FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

e de peixe-espada frito. Já aos sábados


fazem-nos de cozido à portuguesa. E
também os servem em sandes, a melhor AVENIDA DO MAR E DAS COMUNIDADES MADEIRENSES. 291 780 280
forma de conseguir aproveitar o molho. PREÇO DO BILHETE: SUBIDA 11€ / SUBIDA E DESCIDA 16€

CAMINHO DO PINHEIRO DAS VOLTAS,

14, FUNCHAL. 291 773 414

COMER
86 OS CASTRINHOS SUBIR
87 TELEFÉRICO DO MONTE
THE CLIFF BAY
VERBO FUNCHAL P O R T O B AY H O T E L S & R E S O R T S    M A R V
OEU RPBI S
OC I N A ? FUNCHAL
É R E S P O N S ÁV E L P E L A G E S TÃ O D E

AS 5 ESTRELAS
É no piso inferior do hotel que se acede
1 5 U N I DA D E S H OT E L E I RAS D O A LG A RV E
diretamente ao oceano Atlântico, através
AO RIO DE JANEIRO. MAS É NA
de um pontão em pedra de onde, em

DE UM 5 ESTRELAS
MADEIRA, ONDE TUDO COMEÇOU, QUE
dias de sol, se vê até o fundo do mar.
ENCONTRAMOS O SEU PRIMEIRO CINCO A temperatura média da água nesta zona
E S T R E L A S. R E C E N T E M E N T E R E N OVA D O, ronda os 22 °C, mas, para mergulhos ainda
O T H E C L I F F B AY A P R E S E N TA - S E C O M O mais amenos, pode optar-se pela piscina
de água salgada ou ainda pela piscina
T H E C L I F F B AY × O B S E RVA D O R O E X- L Í B R I S D O G R U P O E M O T I V O S

P A R A I S S O N Ã O L H E F A LT A M . interior, junto ao spa, que ronda os 27 °C.

   A E X P E R I Ê N C I A

DA GASTRONOMIA

Liderado pelo chef francês Benoît Sinthon,


o Il Gallo d’Oro é o único restaurante da
Madeira distinguido com duas estrelas
Michelin. Com uma cozinha de inspiração
mediterrânica, o chef privilegia os produtos
frescos e locais. A sua mestria pode
agora ser observada de perto na recém-
-inaugurada Mesa do Chef, um conceito
que permite admirar da primeira fila
a preparação de todos os pratos que
chegam à mesa.

   O L U X O D E D O R M I R B E M

Com vista para o jardim, para o mar ou


para a baía do Funchal, os quartos são
confortáveis, amplos e têm agora novas
caixilharias, que permitem vistas ainda
mais desafogadas, e varandas renovadas,
cuidadosamente iluminadas. Às camas
grandes e aos colchões extra altos, soma-
-se nas suítes e nos top floor o requintado
“menu de almofadas”, que permite escolher
um encosto para a cabeça ao gosto
do cliente.

   L O C A L I Z A Ç Ã O , L O C A L I Z A Ç Ã O ,    F É R I A S D E C O R P O E A L M A

LO CA L I Z AÇÃO
O aroma a óleos essenciais sente-
Delimitado pela icónica Estrada Monumental -se em todo o espaço do spa. Com
de um lado e o oceano Atlântico do outro, um ambiente harmonioso, é aqui
o The Cliff Bay reúne o melhor dos dois que se fazem os tratamentos faciais
mundos. O hotel, situado numa das zonas e corporais personalizados, da
mais prestigiadas do Funchal, onde se aromaterapia à massagem corporal
concentram os grandes hotéis e restaurantes holística. A Spa Suite oferece ainda
da cidade, está também estrategicamente uma experiência spa de luxo com
posicionado no cimo de um promontório massagens, jacuzzi e zona de chill out,
natural. Da pequena falésia virada a sul, com vista para a baía do Funchal e
todos os recantos têm vista para o mar. para o mar.
VERBO
88 TÍTULO VERBO
89 TÍTULO
THE CLIFF BAY
VERBO FUNCHAL P O R T O B AY H O T E L S & R E S O R T S    M A R V
OEU RPBI S
OC I N A ? FUNCHAL
É R E S P O N S ÁV E L P E L A G E S TÃ O D E

AS 5 ESTRELAS
É no piso inferior do hotel que se acede
1 5 U N I DA D E S H OT E L E I RAS D O A LG A RV E
diretamente ao oceano Atlântico, através
AO RIO DE JANEIRO. MAS É NA
de um pontão em pedra de onde, em

DE UM 5 ESTRELAS
MADEIRA, ONDE TUDO COMEÇOU, QUE
dias de sol, se vê até o fundo do mar.
ENCONTRAMOS O SEU PRIMEIRO CINCO A temperatura média da água nesta zona
E S T R E L A S. R E C E N T E M E N T E R E N OVA D O, ronda os 22 °C, mas, para mergulhos ainda
O T H E C L I F F B AY A P R E S E N TA - S E C O M O mais amenos, pode optar-se pela piscina
de água salgada ou ainda pela piscina
T H E C L I F F B AY × O B S E RVA D O R O E X- L Í B R I S D O G R U P O E M O T I V O S

P A R A I S S O N Ã O L H E F A LT A M . interior, junto ao spa, que ronda os 27 °C.

   A E X P E R I Ê N C I A

DA GASTRONOMIA

Liderado pelo chef francês Benoît Sinthon,


o Il Gallo d’Oro é o único restaurante da
Madeira distinguido com duas estrelas
Michelin. Com uma cozinha de inspiração
mediterrânica, o chef privilegia os produtos
frescos e locais. A sua mestria pode
agora ser observada de perto na recém-
-inaugurada Mesa do Chef, um conceito
que permite admirar da primeira fila
a preparação de todos os pratos que
chegam à mesa.

   O L U X O D E D O R M I R B E M

Com vista para o jardim, para o mar ou


para a baía do Funchal, os quartos são
confortáveis, amplos e têm agora novas
caixilharias, que permitem vistas ainda
mais desafogadas, e varandas renovadas,
cuidadosamente iluminadas. Às camas
grandes e aos colchões extra altos, soma-
-se nas suítes e nos top floor o requintado
“menu de almofadas”, que permite escolher
um encosto para a cabeça ao gosto
do cliente.

   L O C A L I Z A Ç Ã O , L O C A L I Z A Ç Ã O ,    F É R I A S D E C O R P O E A L M A

LO CA L I Z AÇÃO
O aroma a óleos essenciais sente-
Delimitado pela icónica Estrada Monumental -se em todo o espaço do spa. Com
de um lado e o oceano Atlântico do outro, um ambiente harmonioso, é aqui
o The Cliff Bay reúne o melhor dos dois que se fazem os tratamentos faciais
mundos. O hotel, situado numa das zonas e corporais personalizados, da
mais prestigiadas do Funchal, onde se aromaterapia à massagem corporal
concentram os grandes hotéis e restaurantes holística. A Spa Suite oferece ainda
da cidade, está também estrategicamente uma experiência spa de luxo com
posicionado no cimo de um promontório massagens, jacuzzi e zona de chill out,
natural. Da pequena falésia virada a sul, com vista para a baía do Funchal e
todos os recantos têm vista para o mar. para o mar.
VERBO
88 TÍTULO VERBO
89 TÍTULO
BEBER FUNCHAL

ODD COFFEE

FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS


Greenhouse, não sabia fazer uma sandes
nem um bife”, confessa. O curioso formato
de estufa foi uma ideia que teve para solu-

ROASTERY
cionar um problema. “O Joe Berardo [os
jardins pertencem à Fundação Berardo]
não gostava dos projetos de arquitetura e eu
lembrei-me: ‘e se fizéssemos uma estufa?’”
Já com dois espaços na manga e uma
carteira crescente de clientes, Gonçalo foi
desenvolvendo a sua própria marca de café,
a odd. Comprou um torrador maior, a gás,
com capacidade para torrar 60 quilos por
hora, e começou a preparar a abertura do
terceiro espaço num raio de apenas 200
metros: o Land. Só que, entretanto, chegou
a pandemia: “Quando fechou tudo, fiquei
entalado, completamente descapitali-
zado. Tinha o Land por acabar, tinha café
vendido a hotéis por receber, foi muito
complicado.”
Conseguiu, a custo, acabar a obra
e o Land abriu em novembro de 2020,
A P E S A R de ter uma empresa de avaliação junto ao Teleférico do Monte onde antes
imobiliária e um trabalho estável, Gonçalo “passavam duas a três mil pessoas todos
Gouveia é um empreendedor inquieto. os dias”. O forno Josper e a cozinha
Durante uns tempos dedicou-se, em part- muitíssimo bem equipada permitem-lhe
-time, à agricultura, com uma plantação pensar alto. “Já fazemos pão sourdough
de cogumelos shiitake. Já em 2014 tomou e toda a pastelaria interna. Queremos
conta de um pequeno quiosque junto ao fazer pastrami, trabalhar com fumados
Teleférico das Babosas. Chamou-lhe Local e fermentados”, adianta.
Shop. Até aqui tudo bem, o que aconteceu A ideia de Gonçalo é, no futuro, com-
depois é que surpreende. “Decidi passar pletar este círculo com o seu próprio café.
a torrar o meu próprio café. Aprendi os Não o que torra, mas o que planta. O café
princípios básicos e comecei a torrar numa do Monte. “Não quero competir com o
máquina de fazer pipocas”, conta entre café que vem de África; quero criar um
sorrisos. E não é que deu certo? conceito, algo mais pequeno, associar o
Gonçalo foi evoluindo na torra, na Monte à produção de café.” Assim, junto à
gestão do espaço e, em 2017, surgiu nova sua pequena fábrica de torra, plantou três
oportunidade, na mesma zona. Agarrou-a ou quatro pés de café. “É um teste, deixei-
e abriu a Greenhouse, uma cafetaria maior, -os ao abandono. Se resistirem, vão resistir
já com cozinha, no interior do Jardim Tro- a tudo. O café precisa de humidade e calor
pical Monte Palace. Mesmo sem perceber – e aqui temos isso, mas em épocas diferen-
grande coisa do assunto. “Antes de abrir a tes.” Será que resistem?

LOCAL SHOP: QUIOSQUE DO TELEFÉRICO, LARGO DAS BABOSAS. 291 756 291 @LOCAL_SHOP_COFFEE

GREENHOUSE: JARDIM TROPICAL MONTE PALACE. 919 562 842. @GREENHOUSE_FOOD_COFFEE

LAND: TELEFÉRICO DO MONTE, LARGO DAS BABOSAS, 8. 291 643 124. @LAND_FOOD_COFFEE

BEBER
90 ODD COFFEE ROASTERY BEBER
91 ODD COFFEE ROASTERY
BEBER FUNCHAL

ODD COFFEE

FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS


Greenhouse, não sabia fazer uma sandes
nem um bife”, confessa. O curioso formato
de estufa foi uma ideia que teve para solu-

ROASTERY
cionar um problema. “O Joe Berardo [os
jardins pertencem à Fundação Berardo]
não gostava dos projetos de arquitetura e eu
lembrei-me: ‘e se fizéssemos uma estufa?’”
Já com dois espaços na manga e uma
carteira crescente de clientes, Gonçalo foi
desenvolvendo a sua própria marca de café,
a odd. Comprou um torrador maior, a gás,
com capacidade para torrar 60 quilos por
hora, e começou a preparar a abertura do
terceiro espaço num raio de apenas 200
metros: o Land. Só que, entretanto, chegou
a pandemia: “Quando fechou tudo, fiquei
entalado, completamente descapitali-
zado. Tinha o Land por acabar, tinha café
vendido a hotéis por receber, foi muito
complicado.”
Conseguiu, a custo, acabar a obra
e o Land abriu em novembro de 2020,
A P E S A R de ter uma empresa de avaliação junto ao Teleférico do Monte onde antes
imobiliária e um trabalho estável, Gonçalo “passavam duas a três mil pessoas todos
Gouveia é um empreendedor inquieto. os dias”. O forno Josper e a cozinha
Durante uns tempos dedicou-se, em part- muitíssimo bem equipada permitem-lhe
-time, à agricultura, com uma plantação pensar alto. “Já fazemos pão sourdough
de cogumelos shiitake. Já em 2014 tomou e toda a pastelaria interna. Queremos
conta de um pequeno quiosque junto ao fazer pastrami, trabalhar com fumados
Teleférico das Babosas. Chamou-lhe Local e fermentados”, adianta.
Shop. Até aqui tudo bem, o que aconteceu A ideia de Gonçalo é, no futuro, com-
depois é que surpreende. “Decidi passar pletar este círculo com o seu próprio café.
a torrar o meu próprio café. Aprendi os Não o que torra, mas o que planta. O café
princípios básicos e comecei a torrar numa do Monte. “Não quero competir com o
máquina de fazer pipocas”, conta entre café que vem de África; quero criar um
sorrisos. E não é que deu certo? conceito, algo mais pequeno, associar o
Gonçalo foi evoluindo na torra, na Monte à produção de café.” Assim, junto à
gestão do espaço e, em 2017, surgiu nova sua pequena fábrica de torra, plantou três
oportunidade, na mesma zona. Agarrou-a ou quatro pés de café. “É um teste, deixei-
e abriu a Greenhouse, uma cafetaria maior, -os ao abandono. Se resistirem, vão resistir
já com cozinha, no interior do Jardim Tro- a tudo. O café precisa de humidade e calor
pical Monte Palace. Mesmo sem perceber – e aqui temos isso, mas em épocas diferen-
grande coisa do assunto. “Antes de abrir a tes.” Será que resistem?

LOCAL SHOP: QUIOSQUE DO TELEFÉRICO, LARGO DAS BABOSAS. 291 756 291 @LOCAL_SHOP_COFFEE

GREENHOUSE: JARDIM TROPICAL MONTE PALACE. 919 562 842. @GREENHOUSE_FOOD_COFFEE

LAND: TELEFÉRICO DO MONTE, LARGO DAS BABOSAS, 8. 291 643 124. @LAND_FOOD_COFFEE

BEBER
90 ODD COFFEE ROASTERY BEBER
91 ODD COFFEE ROASTERY
V I S I TA R FUNCHAL COMPRAR FUNCHAL
foram adquiridos pelo polémico empresá- O E S P A Ç O da Sous fica no edifício Oudi-
rio e mecenas madeirense Joe Berardo. not, no coração do Funchal, e assume desde

JARDIM
SOUS
Foi ele quem decidiu abrir as suas portas o primeiro momento a sua ligação à ilha.
ao público em 1991. A marca, lançada em 2013, tem esse cunho
Berardo levou quatro anos a preparar regional desde o momento da sua fundação,
o Jardim Tropical Monte Palace. Entre os a começar pelo próprio nome da marca.

TROPICAL
muitos investimentos feitos em espécies “So us” (“tão nós”) simboliza a importância
arbóreas, destacam-se os mais de 700 exem- de manter presente quem somos e de onde
plares de cicas plantados ainda em 1988. viemos. Neste caso, a Madeira.

MONTE
O verde do Jardim Tropical é ainda Nascida numa família bem madeirense,
composto por urzes da Escócia, azáleas da com figuras femininas fortes e muito liga-
Bélgica, proteas da África do Sul, acácias das à costura, Mariana Sousa queria ser

PALACE
da Austrália e os engraçados martinetes, designer de moda desde que tem memó-
conhecidos como “escovas de garrafa”, pelo ria. Aos 23 anos, já formada em Design
formato da sua inflorescência, que se asse- de Moda e Têxtil, lançou uma marca que
melha ao de um escovilhão para lavar louça. honra e celebra as suas raízes a cada nova
E se as oliveiras parecem destoar no criação. A Sous.
meio desta coleção vistosa de plantas, é “Memórias”, a mais recente coleção, é
importante saber que os exemplares que inspirada na infância de Mariana, passada
A H I S T Ó R I A do Jardim Tropical Monte aqui se encontram foram transplantados entre o ateliê de costura da mãe e o quintal
Palace começa ainda no século xviii da zona do Alqueva, devido à construção da avó, bem como no seu percurso desde
quando Charles Murray, um abastado côn- da barragem. aí. O destaque vai para os estampados de
sul inglês, fez deste o seu destino de férias Ao longo dos sete hectares de exten- bordados da Madeira, bem como para os
e lhe chamou Quinta do Prazer. Nos anos são, a água vai-se fazendo ouvir, quer nas pormenores em algumas peças, que contam
seguintes, a propriedade andou de mão cascatas e riachos de pequenas dimensões, com bordados feitos à mão pela própria
em mão, chegando a funcionar como hotel, espalhados pelo jardim, quer nos lagos. avó de Mariana, que parecem nunca estar
durante o princípio do século xx. Nos dois jardins orientais, encontram-se totalmente terminados. “Eles são, como nós
Depois de quatro décadas de portas esculturas budistas e um painel de 166 somos, um eterno work in progress”, explica.
fechadas, o edifício e o respetivo jardim azulejos que ilustra “A Aventura dos Por- Na loja da marca encontram-se peças
tugueses no Japão”. No corredor verde que Sous, mas não só. Em dezembro de 2020,
desce pelo jardim, revisita-se igualmente o espaço duplicou e ganhou um novo
a história de Portugal, desde o reinado conceito, mais abrangente. Com uma sala
de D. Afonso Henriques até à entrada de ampla e uma decoração minimal, a loja
Portugal na cee, numa coleção de 40 azu- expõe agora peças de outras marcas com
lejos de terracota encomendada ao artista que Mariana se identifica, do design de
argentino Alberto Cédron. moda ao de interiores. “Convido artistas,
Recomenda-se ainda a visita ao museu, artesãos e marcas que me inspiram. A ideia
que fica na parte superior do jardim e recebe ↓ FOTOGRAFIA DR é ir dando a conhecer outras coisas, peças
duas exposições. “A Paixão Africana” é com- fora do comum, feitas com qualidade e
posta por mais de um milhar de esculturas em pequenas quantidades.” E se por agora
de artistas do Zimbabué, criadas na década às peças Sous se juntam acessórios de
de 1960. No piso inferior, ficam os “Segredos moda, cestas em fibras naturais e cha-
da Mãe Natureza”, uma exposição que dá péus pintados à mão, amanhã a seleção
a conhecer minerais extraídos de grutas e de peças pode já ser outra. Este work in
↑ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA

cavernas da África do Sul, do Brasil, da Zâm- progress tem as portas abertas e as visitas
bia ou da Argentina, incluindo diamantes. recomendam-se.

CAMINHO DO MONTE, 174. 291 784 756 EDIFÍCIO OUDINOT, LOJA 19,

PREÇO DO BILHETE: 12,50€ 1.º ANDAR. 968 375 224

(BILHETE INTEIRO) @THIS.IS.SOUS

V I S I TA R J A R DI M T R O P IC A L M O N T E PA L A C E COMPRAR
93 SOUS
V I S I TA R FUNCHAL COMPRAR FUNCHAL
foram adquiridos pelo polémico empresá- O E S P A Ç O da Sous fica no edifício Oudi-
rio e mecenas madeirense Joe Berardo. not, no coração do Funchal, e assume desde

JARDIM
SOUS
Foi ele quem decidiu abrir as suas portas o primeiro momento a sua ligação à ilha.
ao público em 1991. A marca, lançada em 2013, tem esse cunho
Berardo levou quatro anos a preparar regional desde o momento da sua fundação,
o Jardim Tropical Monte Palace. Entre os a começar pelo próprio nome da marca.

TROPICAL
muitos investimentos feitos em espécies “So us” (“tão nós”) simboliza a importância
arbóreas, destacam-se os mais de 700 exem- de manter presente quem somos e de onde
plares de cicas plantados ainda em 1988. viemos. Neste caso, a Madeira.

MONTE
O verde do Jardim Tropical é ainda Nascida numa família bem madeirense,
composto por urzes da Escócia, azáleas da com figuras femininas fortes e muito liga-
Bélgica, proteas da África do Sul, acácias das à costura, Mariana Sousa queria ser

PALACE
da Austrália e os engraçados martinetes, designer de moda desde que tem memó-
conhecidos como “escovas de garrafa”, pelo ria. Aos 23 anos, já formada em Design
formato da sua inflorescência, que se asse- de Moda e Têxtil, lançou uma marca que
melha ao de um escovilhão para lavar louça. honra e celebra as suas raízes a cada nova
E se as oliveiras parecem destoar no criação. A Sous.
meio desta coleção vistosa de plantas, é “Memórias”, a mais recente coleção, é
importante saber que os exemplares que inspirada na infância de Mariana, passada
A H I S T Ó R I A do Jardim Tropical Monte aqui se encontram foram transplantados entre o ateliê de costura da mãe e o quintal
Palace começa ainda no século xviii da zona do Alqueva, devido à construção da avó, bem como no seu percurso desde
quando Charles Murray, um abastado côn- da barragem. aí. O destaque vai para os estampados de
sul inglês, fez deste o seu destino de férias Ao longo dos sete hectares de exten- bordados da Madeira, bem como para os
e lhe chamou Quinta do Prazer. Nos anos são, a água vai-se fazendo ouvir, quer nas pormenores em algumas peças, que contam
seguintes, a propriedade andou de mão cascatas e riachos de pequenas dimensões, com bordados feitos à mão pela própria
em mão, chegando a funcionar como hotel, espalhados pelo jardim, quer nos lagos. avó de Mariana, que parecem nunca estar
durante o princípio do século xx. Nos dois jardins orientais, encontram-se totalmente terminados. “Eles são, como nós
Depois de quatro décadas de portas esculturas budistas e um painel de 166 somos, um eterno work in progress”, explica.
fechadas, o edifício e o respetivo jardim azulejos que ilustra “A Aventura dos Por- Na loja da marca encontram-se peças
tugueses no Japão”. No corredor verde que Sous, mas não só. Em dezembro de 2020,
desce pelo jardim, revisita-se igualmente o espaço duplicou e ganhou um novo
a história de Portugal, desde o reinado conceito, mais abrangente. Com uma sala
de D. Afonso Henriques até à entrada de ampla e uma decoração minimal, a loja
Portugal na cee, numa coleção de 40 azu- expõe agora peças de outras marcas com
lejos de terracota encomendada ao artista que Mariana se identifica, do design de
argentino Alberto Cédron. moda ao de interiores. “Convido artistas,
Recomenda-se ainda a visita ao museu, artesãos e marcas que me inspiram. A ideia
que fica na parte superior do jardim e recebe ↓ FOTOGRAFIA DR é ir dando a conhecer outras coisas, peças
duas exposições. “A Paixão Africana” é com- fora do comum, feitas com qualidade e
posta por mais de um milhar de esculturas em pequenas quantidades.” E se por agora
de artistas do Zimbabué, criadas na década às peças Sous se juntam acessórios de
de 1960. No piso inferior, ficam os “Segredos moda, cestas em fibras naturais e cha-
da Mãe Natureza”, uma exposição que dá péus pintados à mão, amanhã a seleção
a conhecer minerais extraídos de grutas e de peças pode já ser outra. Este work in
↑ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA

cavernas da África do Sul, do Brasil, da Zâm- progress tem as portas abertas e as visitas
bia ou da Argentina, incluindo diamantes. recomendam-se.

CAMINHO DO MONTE, 174. 291 784 756 EDIFÍCIO OUDINOT, LOJA 19,

PREÇO DO BILHETE: 12,50€ 1.º ANDAR. 968 375 224

(BILHETE INTEIRO) @THIS.IS.SOUS

V I S I TA R J A R DI M T R O P IC A L M O N T E PA L A C E COMPRAR
93 SOUS
BEBER FUNCHAL
O S G O S T O S mudam e Eduardo Lucas A primeira aventura foi a Plantage-
é prova disso. O rapaz que nem sequer neta. Em parceria com a Oitava Colina e

VILHOA
gostava de cerveja, que tirou Desporto a Justino’s Madeira Wine, a Vilhoa pro-
e Educação Física e que trabalhava no duziu esta e uma série de outras cervejas
Clube Desportivo Nacional da Madeira, artesanais envelhecidas em barricas de
começou a despertar para o mundo da vinho Madeira. Todas têm nomes de
cerveja artesanal, depois de muito viajar personagens de Shakespeare, mas esta
com amigos. “Descobrimos este produto primeira homenageia Jorge Plantageneta,
que adorávamos, mas depois queríamos duque de Clarence. Ficou para a História
beber cá na Madeira e simplesmente não pelo seu incomum assassínio, em 1478,
havia, era uma lacuna no mercado. Deci- mais tarde representado numa peça de
dimos juntar o útil ao agradável.” Assim Shakespeare. Condenado à morte mas
nasceu, em dezembro de 2016, a Vilhoa. podendo escolher o método utilizado,
A aposta de Eduardo e dos seus três o Duque fez um pedido no mínimo origi-
sócios foi simples, mas ousada. Recor- nal: quis ser afogado num barril de malva-
rendo apenas a capitais próprios, a marca sia, uma das castas do vinho Madeira.
começou por atuar unicamente como E Eduardo garante que esta edição de
distribuidora de cervejas artesanais na cerveja artesanal “foi uma das melhores
Madeira. “Fomos ter com as marcas com que o movimento artesanal português
que nos identificávamos e que achávamos já viu”, embora seja irrepetível, não se
que fazia sentido estarem presentes na podendo voltar a provar.
ilha.” Provadas e aprovadas pelos quatro A esta seguiram-se outras, que se pro-

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


amigos em viagens ao Continente, todas vam em espaços selecionados na Madeira,
as cervejas eram artesanais e portuguesas: como o Musa Lounge Bar, o FugaCidade,
da minhota Letra às lisboetas Dois Cor- o land ou o Museu Café. Além dos mais
vos, Musa e Oitava Colina. “O objetivo era shakespereanos, os nomes das cervejas
desenvolver a cultura da cerveja artesanal Vilhoa surpreendem. Há a Cortadinho
na Madeira, que era inexistente.” E, além (uma coffee stout), a Bate o Pale (com
disso, fazê-lo com um cunho próprio e goiaba) ou a Ipa à Pescador (que celebra os
bem madeirense. sabores da tradicional poncha à pescador).
A começar pelo nome: Vilhoa é um A cerveja que mais sucesso faz, no entanto,
termo madeirense antigo, referente às é a Rebendita, bestseller da marca, produ-
senhoras simples da ilha, tipicamente zida em colaboração com a Letra. A defi-
do interior, que vestiam saias rodadas nição da palavra vem no próprio rótulo
e coloridas. “Somos madeirenses orgu- da garrafa: “regionalismo madeirense, ato
lhosos e orgulhamo-nos de termos sido vincado de contrariar propositadamente;
os primeiros a apostar na cerveja artesa- divergir em teimosia”. A vontade de fazer
nal.” Foi por isso que não demorou até a diferente fez com que o regionalismo
Vilhoa querer juntar à distribuição a pro- estivesse presente não só no nome mas
dução de cerveja. As cervejas artesanais também na própria composição da bebida,
da Vilhoa são colaborativas, produzidas que contém polpa de maracujá da ilha. “É
em parceria com as marcas que a Vilhoa a nossa única cerveja fixa. É fácil de beber,
distribui, e surgem em edições limitadas, parece um sumo de fruta.”
originais e “criadas para saciar uma sede Para o futuro, adivinha-se a produção
muito madeirense”. Seja pelo nome ou de mais cervejas – colaborativas, mas
pelos ingredientes, todas têm uma liga- também a solo – e, quem sabe, um espaço
ção à ilha. próprio onde as apreciar.

RUA CARLOS AZEVEDO DE MENEZES, 40. 917 056 901

VILHOA.COM / @VILHOA

94 VILHOA BEBER
95 VILHOA
BEBER FUNCHAL
O S G O S T O S mudam e Eduardo Lucas A primeira aventura foi a Plantage-
é prova disso. O rapaz que nem sequer neta. Em parceria com a Oitava Colina e

VILHOA
gostava de cerveja, que tirou Desporto a Justino’s Madeira Wine, a Vilhoa pro-
e Educação Física e que trabalhava no duziu esta e uma série de outras cervejas
Clube Desportivo Nacional da Madeira, artesanais envelhecidas em barricas de
começou a despertar para o mundo da vinho Madeira. Todas têm nomes de
cerveja artesanal, depois de muito viajar personagens de Shakespeare, mas esta
com amigos. “Descobrimos este produto primeira homenageia Jorge Plantageneta,
que adorávamos, mas depois queríamos duque de Clarence. Ficou para a História
beber cá na Madeira e simplesmente não pelo seu incomum assassínio, em 1478,
havia, era uma lacuna no mercado. Deci- mais tarde representado numa peça de
dimos juntar o útil ao agradável.” Assim Shakespeare. Condenado à morte mas
nasceu, em dezembro de 2016, a Vilhoa. podendo escolher o método utilizado,
A aposta de Eduardo e dos seus três o Duque fez um pedido no mínimo origi-
sócios foi simples, mas ousada. Recor- nal: quis ser afogado num barril de malva-
rendo apenas a capitais próprios, a marca sia, uma das castas do vinho Madeira.
começou por atuar unicamente como E Eduardo garante que esta edição de
distribuidora de cervejas artesanais na cerveja artesanal “foi uma das melhores
Madeira. “Fomos ter com as marcas com que o movimento artesanal português
que nos identificávamos e que achávamos já viu”, embora seja irrepetível, não se
que fazia sentido estarem presentes na podendo voltar a provar.
ilha.” Provadas e aprovadas pelos quatro A esta seguiram-se outras, que se pro-

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


amigos em viagens ao Continente, todas vam em espaços selecionados na Madeira,
as cervejas eram artesanais e portuguesas: como o Musa Lounge Bar, o FugaCidade,
da minhota Letra às lisboetas Dois Cor- o land ou o Museu Café. Além dos mais
vos, Musa e Oitava Colina. “O objetivo era shakespereanos, os nomes das cervejas
desenvolver a cultura da cerveja artesanal Vilhoa surpreendem. Há a Cortadinho
na Madeira, que era inexistente.” E, além (uma coffee stout), a Bate o Pale (com
disso, fazê-lo com um cunho próprio e goiaba) ou a Ipa à Pescador (que celebra os
bem madeirense. sabores da tradicional poncha à pescador).
A começar pelo nome: Vilhoa é um A cerveja que mais sucesso faz, no entanto,
termo madeirense antigo, referente às é a Rebendita, bestseller da marca, produ-
senhoras simples da ilha, tipicamente zida em colaboração com a Letra. A defi-
do interior, que vestiam saias rodadas nição da palavra vem no próprio rótulo
e coloridas. “Somos madeirenses orgu- da garrafa: “regionalismo madeirense, ato
lhosos e orgulhamo-nos de termos sido vincado de contrariar propositadamente;
os primeiros a apostar na cerveja artesa- divergir em teimosia”. A vontade de fazer
nal.” Foi por isso que não demorou até a diferente fez com que o regionalismo
Vilhoa querer juntar à distribuição a pro- estivesse presente não só no nome mas
dução de cerveja. As cervejas artesanais também na própria composição da bebida,
da Vilhoa são colaborativas, produzidas que contém polpa de maracujá da ilha. “É
em parceria com as marcas que a Vilhoa a nossa única cerveja fixa. É fácil de beber,
distribui, e surgem em edições limitadas, parece um sumo de fruta.”
originais e “criadas para saciar uma sede Para o futuro, adivinha-se a produção
muito madeirense”. Seja pelo nome ou de mais cervejas – colaborativas, mas
pelos ingredientes, todas têm uma liga- também a solo – e, quem sabe, um espaço
ção à ilha. próprio onde as apreciar.

RUA CARLOS AZEVEDO DE MENEZES, 40. 917 056 901

VILHOA.COM / @VILHOA

94 VILHOA BEBER
95 VILHOA
COMPRAR FUNCHAL

FÁBRICA
SANTO ANTÓNIO

A P R I M E I R A fábrica de bolachas Às bolachas e biscoitos iniciais,


e biscoitos na ilha, com evidente foram-se juntando o bolo de mel, as
influência inglesa, nasceu em 1893. mil e uma broas (de mel, de manteiga,
Acabou, inclusive, por dar nome à de maracujá...), as compotas de fruta,
própria rua em que está inserida, já a famosa marmelada e os rebuçados
que o cheirinho que saía do forno fazia tradicionais. Os produtos que mais
adivinhar novas fornadas e fazia crescer vendem são os mesmos há anos: a broa
água na boca de quem passava por perto. de gengibre com mel de cana, o bolo de

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


A loja já centenária permanece no mel e o rebuçado de funcho. Mas, volta
mesmo edifício de sempre e, embora e meia, há novidades que conquistam
tenha sofrido algumas intervenções até a clientela mais tradicional.
ao longo do tempo, mantém a sua “Arriscamos com sabores diferentes
essência. Os balcões em pedra, os como a tangerina, o maracujá, o
enormes armários envidraçados a toda gengibre e a manga”, refere Bruno.
a volta e os antigos objetos, das caixas Para garantir que ninguém vai ao
registadoras às balanças, transportam engano, todos se podem provar em
quem aqui entra para outra era. No loja antes de se levarem para casa.
andar de cima, funciona ainda a fábrica
que, com perto de 20 funcionários,
labora a 40 mãos, já que a produção
permanece artesanal. “É por isso que os TRAVESSA DO FORNO, 27-29.
sabores não se alteram”, garante Bruno 291 220 255
Vieira, atual administrador da marca. FABRICASTOANTONIO.COM

COMPRAR
96 FÁ B R IC A S A N TO A N TÓ N IO COMPRAR
97 FÁ B R IC A S A N TO A N TÓ N IO
COMPRAR FUNCHAL

FÁBRICA
SANTO ANTÓNIO

A P R I M E I R A fábrica de bolachas Às bolachas e biscoitos iniciais,


e biscoitos na ilha, com evidente foram-se juntando o bolo de mel, as
influência inglesa, nasceu em 1893. mil e uma broas (de mel, de manteiga,
Acabou, inclusive, por dar nome à de maracujá...), as compotas de fruta,
própria rua em que está inserida, já a famosa marmelada e os rebuçados
que o cheirinho que saía do forno fazia tradicionais. Os produtos que mais
adivinhar novas fornadas e fazia crescer vendem são os mesmos há anos: a broa
água na boca de quem passava por perto. de gengibre com mel de cana, o bolo de

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


A loja já centenária permanece no mel e o rebuçado de funcho. Mas, volta
mesmo edifício de sempre e, embora e meia, há novidades que conquistam
tenha sofrido algumas intervenções até a clientela mais tradicional.
ao longo do tempo, mantém a sua “Arriscamos com sabores diferentes
essência. Os balcões em pedra, os como a tangerina, o maracujá, o
enormes armários envidraçados a toda gengibre e a manga”, refere Bruno.
a volta e os antigos objetos, das caixas Para garantir que ninguém vai ao
registadoras às balanças, transportam engano, todos se podem provar em
quem aqui entra para outra era. No loja antes de se levarem para casa.
andar de cima, funciona ainda a fábrica
que, com perto de 20 funcionários,
labora a 40 mãos, já que a produção
permanece artesanal. “É por isso que os TRAVESSA DO FORNO, 27-29.
sabores não se alteram”, garante Bruno 291 220 255
Vieira, atual administrador da marca. FABRICASTOANTONIO.COM

COMPRAR
96 FÁ B R IC A S A N TO A N TÓ N IO COMPRAR
97 FÁ B R IC A S A N TO A N TÓ N IO
V I S I TA R FUNCHAL COMPRAR FUNCHAL

MERCADO BORDAL
qualquer peça, o padrão do bordado – têm
um portefólio com cerca de 60 mil dese-

DOS LAVRADORES
nhos, de vários tamanhos. Apesar da varie-
dade, “há pessoas que pedem desenhos
novos”, revela a responsável. E a Bordal faz.
“Temos uma desenhadora, mas também
vamos buscar designers fora.”
Escolhido o desenho, faz-se uma chapa
com os furos, passam uma tinta lavável
e o tecido fica marcado. Segue assim para
O M E L H O R dia para visitar o Mercado
as bordadeiras, com uma amostra já feita
dos Lavradores, no centro do Funchal,
e os pontos contabilizados, já que o traba-
é à sexta-feira. E porquê? Porque é na
lho é pago conforme o número de pontos
véspera do fim de semana que o átrio
a bordar. Susana Vacas contabiliza, ao todo,
central do mercado recebe produtores
“400 bordadeiras que trabalham à peça”.
de frutas, vegetais e flores vindos
Concentram-se, sobretudo, no Estreito,
de toda a ilha. Entre eles, diferentes
Câmara de Lobos e na Ribeira Brava.
espécies que dificilmente se encontram
Depois de bordadas, as peças – que
noutras paragens, tais como as inúmeras
podem ser de linho, organdi ou algodão –
variedades de banana e maracujá: da
são devolvidas à procedência, lavadas,
banana-ananás ao maracuja-tomate.
tratadas, recortadas e, finalmente, engoma-
“É como comer uma salada de frutas
das. É possível acompanhar este processo,
numa só”, descreve um dos comerciantes.
ou parte dele, nos pisos que concentram
Muitos dos vendedores de fruta têm
a fábrica e uma espécie de museu vivo
por hábito convidar os visitantes a provar
do que foi e do que é a Bordal.
alguns exemplares previamente abertos.
E o que é a Bordal? É uma marca que
Mas cuidado: a fruta comprada pode não
está em constante reinvenção, ora com
ser tão doce como a que se provou. Diz
projetos para terceiros, como a Chanel ou
quem sabe que alguns vendedores juntam
a Dior, ora com novos conceitos dentro de
açúcar às frutas que encetam, de forma
casa, como a Bordal Design, que apresenta
a torná-las mais apetitosas.
coleções de mesa, bebé e senhora. O impor-
Na praça do peixe, destaque, em pri-
tante, refere Susana – que nos tempos
meiro lugar, para duas espécies: peixe-
vagos é praticante de trail – é “não parar,
-espada e atum, expostos em diversas
continuar sempre”. Que nunca parem.
bancadas, com dimensões muito razoáveis.
A de José António Pestana é uma delas. A M A R C A mais famosa de bordados da
Reconhecível pela farta cabeleira, não tem Madeira tem como ano oficial de funda-
RUA DR. FERNÃO DE ORNELAS, 77.
relação com a célebre família de hoteleiros. ção 1962 mas, segundo a sócia-gerente

↑→ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


291 222 965. WWW.BORDAL.PT
“Eu, se tivesse aquele dinheiro todo, não Susana Vacas, já existia “há mais uns 30 ou
trabalhava. E eu gosto do meu trabalhinho”, 40 anos com outro nome”. Será, por isso,
diz, enquanto pega numa belíssima peça quase centenária. É uma de duas resisten-
de ventresca, a barriga do atum. tes deste ofício tradicional – a outra é a
Imperdível é também uma visita à Patrício & Gouveia.
banca das malaguetas, no piso superior do “Até meados do século passado, exis-
mercado, onde é tanta, mas tanta, a varie- tiam umas 50 fábricas em toda a ilha. À
LARGO DOS LAVRADORES. 291 214 080 dade – com diferentes graus de intensi- medida que foram fechando, fomos com-
O MERCADO DE PRODUTORES REGIONAIS dade – que é possível encher uma mala prando os desenhos delas”, conta Susana.
ACONTECE ÀS SEXTAS-FEIRAS de viagem só com as ditas. E porque não? Os desenhos de que fala são a base de

V I S I TA R
98 M E RCA D O D O S L AV RA D O R E S COMPRAR
99 BORDAL
V I S I TA R FUNCHAL COMPRAR FUNCHAL

MERCADO BORDAL
qualquer peça, o padrão do bordado – têm
um portefólio com cerca de 60 mil dese-

DOS LAVRADORES
nhos, de vários tamanhos. Apesar da varie-
dade, “há pessoas que pedem desenhos
novos”, revela a responsável. E a Bordal faz.
“Temos uma desenhadora, mas também
vamos buscar designers fora.”
Escolhido o desenho, faz-se uma chapa
com os furos, passam uma tinta lavável
e o tecido fica marcado. Segue assim para
O M E L H O R dia para visitar o Mercado
as bordadeiras, com uma amostra já feita
dos Lavradores, no centro do Funchal,
e os pontos contabilizados, já que o traba-
é à sexta-feira. E porquê? Porque é na
lho é pago conforme o número de pontos
véspera do fim de semana que o átrio
a bordar. Susana Vacas contabiliza, ao todo,
central do mercado recebe produtores
“400 bordadeiras que trabalham à peça”.
de frutas, vegetais e flores vindos
Concentram-se, sobretudo, no Estreito,
de toda a ilha. Entre eles, diferentes
Câmara de Lobos e na Ribeira Brava.
espécies que dificilmente se encontram
Depois de bordadas, as peças – que
noutras paragens, tais como as inúmeras
podem ser de linho, organdi ou algodão –
variedades de banana e maracujá: da
são devolvidas à procedência, lavadas,
banana-ananás ao maracuja-tomate.
tratadas, recortadas e, finalmente, engoma-
“É como comer uma salada de frutas
das. É possível acompanhar este processo,
numa só”, descreve um dos comerciantes.
ou parte dele, nos pisos que concentram
Muitos dos vendedores de fruta têm
a fábrica e uma espécie de museu vivo
por hábito convidar os visitantes a provar
do que foi e do que é a Bordal.
alguns exemplares previamente abertos.
E o que é a Bordal? É uma marca que
Mas cuidado: a fruta comprada pode não
está em constante reinvenção, ora com
ser tão doce como a que se provou. Diz
projetos para terceiros, como a Chanel ou
quem sabe que alguns vendedores juntam
a Dior, ora com novos conceitos dentro de
açúcar às frutas que encetam, de forma
casa, como a Bordal Design, que apresenta
a torná-las mais apetitosas.
coleções de mesa, bebé e senhora. O impor-
Na praça do peixe, destaque, em pri-
tante, refere Susana – que nos tempos
meiro lugar, para duas espécies: peixe-
vagos é praticante de trail – é “não parar,
-espada e atum, expostos em diversas
continuar sempre”. Que nunca parem.
bancadas, com dimensões muito razoáveis.
A de José António Pestana é uma delas. A M A R C A mais famosa de bordados da
Reconhecível pela farta cabeleira, não tem Madeira tem como ano oficial de funda-
RUA DR. FERNÃO DE ORNELAS, 77.
relação com a célebre família de hoteleiros. ção 1962 mas, segundo a sócia-gerente

↑→ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


291 222 965. WWW.BORDAL.PT
“Eu, se tivesse aquele dinheiro todo, não Susana Vacas, já existia “há mais uns 30 ou
trabalhava. E eu gosto do meu trabalhinho”, 40 anos com outro nome”. Será, por isso,
diz, enquanto pega numa belíssima peça quase centenária. É uma de duas resisten-
de ventresca, a barriga do atum. tes deste ofício tradicional – a outra é a
Imperdível é também uma visita à Patrício & Gouveia.
banca das malaguetas, no piso superior do “Até meados do século passado, exis-
mercado, onde é tanta, mas tanta, a varie- tiam umas 50 fábricas em toda a ilha. À
LARGO DOS LAVRADORES. 291 214 080 dade – com diferentes graus de intensi- medida que foram fechando, fomos com-
O MERCADO DE PRODUTORES REGIONAIS dade – que é possível encher uma mala prando os desenhos delas”, conta Susana.
ACONTECE ÀS SEXTAS-FEIRAS de viagem só com as ditas. E porque não? Os desenhos de que fala são a base de

V I S I TA R
98 M E RCA D O D O S L AV RA D O R E S COMPRAR
99 BORDAL
COMER FUNCHAL VERBO FUNCHAL

PATRÍCIA
que gostamos de objetos antigos, então
vêm cá deixar coisas.”
Não é, por isso, apenas um ateliê ou uma
loja. “A ideia sempre foi a que se prestasse a

PINTO
muita coisa. Podermos criar, sim, mas tam-
bém abrir o espaço a pessoas que quisessem
mostrar o que fazem: artistas plásticos,

ATELIÊ
músicos, fotógrafos…” Por ali já acontece-
ram jantares clandestinos, pequenos-almo-
ços com menu de degustação, workshops de
pão, tudo e mais alguma coisa. “Queremos
que isto seja um espaço multifunções, criar

CHALET
experiências aqui dentro.”
A moda faz parte do leque, claro. Patrí-
cia estudou no iade, em Lisboa, e come-
çou a sua carreira na capital antes de voltar

VICENTE
à sua ilha natal, em 2000. No seu trabalho
está presente, desde sempre, a sua con-
dição insular. “Há um conceito que está
muito presente em mim, quer eu queira
quer não, que é a ilha. Quase todos nós
conhecemos alguém ligado às artes arte-
ESTRADA MONUMENTAL, 238. 291 765 818 sanais: bordado, tapeçaria, tricô... estamos
CHALETVICENTE.COM muito ligados a essas manualidades.”
A Madeira, diz-lhe, traz-lhe inspiração e
curiosidade constante. Sim, já usou borda-
dos e outras técnicas tradicionais, mas mais
do que isso. “Viver numa ilha traz-nos a
Q U I N T A C E N T E N Á R I A onde nobres javali e o cabrito que lá se serviam vontade de querermos estar perto do mundo,
famílias madeirenses procuravam a calma fizeram rapidamente sucesso entre os

→ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


de não ficarmos confinados. Ao querer esse
do campo, o Chalet Vicente está hoje madeirenses, que subiam até à Camacha mundo, vamos procurar coisas que se calhar
integrado em pleno Funchal – e chama para se deliciarem à mesa. Depois de não procuraríamos num sítio maior.”
a atenção por isso mesmo. Com uma décadas no cimo da montanha, o casal Algumas das suas peças têm nomes. É o
esplanada cheia de flores e uma série de decidiu descer até ao Funchal para abrir caso do vestido Menina Arlete. Que não era
espaços diferentes, da adega ao terraço, um novo espaço. menina nenhuma, mas sim uma vizinha da
o restaurante mantém o charme de um A quinta reconvertida em restaurante sua avó que se lembra de ver bordar. “Fazia
antigo chalé de veraneio. tem outro encanto, mas a cozinha mantém coisas lindas, estava sempre com umas
À frente do projeto estão Guadalupe os mesmos traços: “é regional, simples E N T R A R no ateliê de Patrícia Pinto, que roupas com riscas e flores. Ela sentava-se
e José Manuel Brito Figueira, ambos e de conforto”. Do forno a lenha saem é também a sua loja, começa por ser uma a bordar e a minha avó dizia: ‘vai lá falar
↓ FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

há uma vida na restauração. Formado as criações de José Manuel, que vão do viagem no tempo, graças aos objetos que com a menina’. No início, pensava que era
na Suíça e com muitos anos de casa no bacalhau na telha ao coelho estufado ali tem expostos. Um letreiro da Rolex. Um uma miúda da minha idade, mas afinal era a
Reid’s, José Manuel abriu com a mulher ou ao camarão malandrinho na panela. móvel da Faber-Castell. Uma cabine em senhora que tinha quase 80 anos – como não
um restaurante familiar na Camacha, o Destaca-se o cabrito na panela (12,90€), madeira dos ctt. Afinal, o que vem a ser se tinha casado, continuava a ser menina.”
Abrigo do Pastor. “O espaço era mesmo a que tanto chamam caldeirada como isto? “Partilho este espaço com a minha
um antigo casebre de pastores, e por isso ensopado, e que invariavelmente se desfaz irmã [Cristina Pinto], que é designer de
tínhamos uma ligação forte às carnes”, à primeira garfada, como se todos os dias interiores. Ela descobre sempre umas coi- RUA NOVA DE SÃO PEDRO, 56, FUNCHAL
recorda Guadalupe. O porco preto, o fossem domingo de Páscoa. sas fora da caixa. E há pessoas que sabem 291 228 373. @PATMOONDRESS

COMER CHALET VICENTE COMPRAR


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COMER FUNCHAL VERBO FUNCHAL

PATRÍCIA
que gostamos de objetos antigos, então
vêm cá deixar coisas.”
Não é, por isso, apenas um ateliê ou uma
loja. “A ideia sempre foi a que se prestasse a

PINTO
muita coisa. Podermos criar, sim, mas tam-
bém abrir o espaço a pessoas que quisessem
mostrar o que fazem: artistas plásticos,

ATELIÊ
músicos, fotógrafos…” Por ali já acontece-
ram jantares clandestinos, pequenos-almo-
ços com menu de degustação, workshops de
pão, tudo e mais alguma coisa. “Queremos
que isto seja um espaço multifunções, criar

CHALET
experiências aqui dentro.”
A moda faz parte do leque, claro. Patrí-
cia estudou no iade, em Lisboa, e come-
çou a sua carreira na capital antes de voltar

VICENTE
à sua ilha natal, em 2000. No seu trabalho
está presente, desde sempre, a sua con-
dição insular. “Há um conceito que está
muito presente em mim, quer eu queira
quer não, que é a ilha. Quase todos nós
conhecemos alguém ligado às artes arte-
ESTRADA MONUMENTAL, 238. 291 765 818 sanais: bordado, tapeçaria, tricô... estamos
CHALETVICENTE.COM muito ligados a essas manualidades.”
A Madeira, diz-lhe, traz-lhe inspiração e
curiosidade constante. Sim, já usou borda-
dos e outras técnicas tradicionais, mas mais
do que isso. “Viver numa ilha traz-nos a
Q U I N T A C E N T E N Á R I A onde nobres javali e o cabrito que lá se serviam vontade de querermos estar perto do mundo,
famílias madeirenses procuravam a calma fizeram rapidamente sucesso entre os

→ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


de não ficarmos confinados. Ao querer esse
do campo, o Chalet Vicente está hoje madeirenses, que subiam até à Camacha mundo, vamos procurar coisas que se calhar
integrado em pleno Funchal – e chama para se deliciarem à mesa. Depois de não procuraríamos num sítio maior.”
a atenção por isso mesmo. Com uma décadas no cimo da montanha, o casal Algumas das suas peças têm nomes. É o
esplanada cheia de flores e uma série de decidiu descer até ao Funchal para abrir caso do vestido Menina Arlete. Que não era
espaços diferentes, da adega ao terraço, um novo espaço. menina nenhuma, mas sim uma vizinha da
o restaurante mantém o charme de um A quinta reconvertida em restaurante sua avó que se lembra de ver bordar. “Fazia
antigo chalé de veraneio. tem outro encanto, mas a cozinha mantém coisas lindas, estava sempre com umas
À frente do projeto estão Guadalupe os mesmos traços: “é regional, simples E N T R A R no ateliê de Patrícia Pinto, que roupas com riscas e flores. Ela sentava-se
e José Manuel Brito Figueira, ambos e de conforto”. Do forno a lenha saem é também a sua loja, começa por ser uma a bordar e a minha avó dizia: ‘vai lá falar
↓ FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS

há uma vida na restauração. Formado as criações de José Manuel, que vão do viagem no tempo, graças aos objetos que com a menina’. No início, pensava que era
na Suíça e com muitos anos de casa no bacalhau na telha ao coelho estufado ali tem expostos. Um letreiro da Rolex. Um uma miúda da minha idade, mas afinal era a
Reid’s, José Manuel abriu com a mulher ou ao camarão malandrinho na panela. móvel da Faber-Castell. Uma cabine em senhora que tinha quase 80 anos – como não
um restaurante familiar na Camacha, o Destaca-se o cabrito na panela (12,90€), madeira dos ctt. Afinal, o que vem a ser se tinha casado, continuava a ser menina.”
Abrigo do Pastor. “O espaço era mesmo a que tanto chamam caldeirada como isto? “Partilho este espaço com a minha
um antigo casebre de pastores, e por isso ensopado, e que invariavelmente se desfaz irmã [Cristina Pinto], que é designer de
tínhamos uma ligação forte às carnes”, à primeira garfada, como se todos os dias interiores. Ela descobre sempre umas coi- RUA NOVA DE SÃO PEDRO, 56, FUNCHAL
recorda Guadalupe. O porco preto, o fossem domingo de Páscoa. sas fora da caixa. E há pessoas que sabem 291 228 373. @PATMOONDRESS

COMER CHALET VICENTE COMPRAR


101
V I S I TA R FUNCHAL COMPRAR FUNCHAL

A~MAR
PHARMÁCIA
DO BENTO
A E N O R M E montra emoldurada em
madeira escura deixa espreitar para a loja,
ampla e luminosa. Transpôr a porta da
a~mar, no centro do Funchal, é sair da ilha
para o mundo. Aqui encontram-se peças de
diferentes origens – da joalharia aos têxteis,
RUA DOS TANOEIROS, 4. 291 223 613 da cerâmica à cosmética – sempre escolhidas
a dedo. Além das marcas internacionais, há
muitas madeirenses e ainda mais do conti-
nente. Exemplos? As joias da Morphia divi-
dem as atenções com as roupas para praticar
O N O M E oficial é Mercearia do Bento Paulo cresceu neste espaço que viu per- ioga da Puka ou as loiças da Casa Cubista, da
e a razão para tal entende-se assim que tencer ao tio avô e depois ao pai, antes de Costa Nova e ainda do madeirense Miguel
se entra no espaço. Disposta em L, a sala chegar às suas mãos. “Mesmo antes de Sarda. O que têm em comum? A curadoria
conta com dois balcões corridos, um onde entrar para a escola, já eu ajudava aqui. de Margarida Brazão Sousa, fundadora do
funciona a taberna e outro a mercearia. Do Quer dizer, ajudava mais ou menos, que projeto, que privilegia peças produzidas com
lado da mercearia, as muitas prateleiras e eu partia muitos copos”, brinca. Foi já consciência ambiental e social.
armários estão completamente lotados de na sua época que a Mercearia do Bento O espaço nasceu em abril de 2021 como
↑↓ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA
produtos. Encontra-se tudo e mais alguma ganhou a alcunha por que hoje é conhe- um escape à pandemia. Nascida na Madeira
coisa: pacotes de massa e arroz, champôs e cida entre madeirenses: Pharmácia. e devota à ilha, Margarida confessa que
amaciadores, pastilhas elásticas, vasos para A brincadeira deve-se à poncha que aqui precisa de sair dela regularmente. “Sempre
plantas, ovos Kinder e espanadores. Mas o se começou a servir quando “mal se via RUA DOS FERREIROS, 138. @AMAR.MADEIRA viajei bastante, desde pequena, e isso teve
que mais destaque tem são as dezenas de poncha no Funchal”. Depois de um dia muito impacto em mim.” Foi justamente
caixinhas com especiarias, todas importa- de trabalho, muitos são os funchalenses depois de um ano a viajar pela América do
das dos seus países de origem, da Índia à que aqui se juntam ao final da tarde, já Sul e pela Ásia que Margarida regressou
Tanzânia. “Temos uma clientela muito fiel que “não há nada que esta poncha não à Madeira com vontade de criar a loja que
às nossas especiarias e ainda mais às nos- cure”. E segundo Paulo, não é apenas o gostava de poder visitar na sua ilha. A a~mar
sas misturas de especiarias”, explica Paulo efeito da poncha: é o facto de diferentes – de Margarida, de mar e de amor pela vida –
Bento, o atual merceeiro. grupos se misturarem de copo na mão. permite-lhe viajar sem sair do mesmo lugar.
O negócio existe aqui há mais de 150 Chama-lhe o “efeito Pharmácia “É uma forma muito pessoal de partilhar com
anos e está na família há sete gerações. do Bento”. as pessoas o que vou conhecendo.”

V I S I TA R
102 PHARMÁCIA DO BENTO COMPRAR
103 A~MAR
V I S I TA R FUNCHAL COMPRAR FUNCHAL

A~MAR
PHARMÁCIA
DO BENTO
A E N O R M E montra emoldurada em
madeira escura deixa espreitar para a loja,
ampla e luminosa. Transpôr a porta da
a~mar, no centro do Funchal, é sair da ilha
para o mundo. Aqui encontram-se peças de
diferentes origens – da joalharia aos têxteis,
RUA DOS TANOEIROS, 4. 291 223 613 da cerâmica à cosmética – sempre escolhidas
a dedo. Além das marcas internacionais, há
muitas madeirenses e ainda mais do conti-
nente. Exemplos? As joias da Morphia divi-
dem as atenções com as roupas para praticar
O N O M E oficial é Mercearia do Bento Paulo cresceu neste espaço que viu per- ioga da Puka ou as loiças da Casa Cubista, da
e a razão para tal entende-se assim que tencer ao tio avô e depois ao pai, antes de Costa Nova e ainda do madeirense Miguel
se entra no espaço. Disposta em L, a sala chegar às suas mãos. “Mesmo antes de Sarda. O que têm em comum? A curadoria
conta com dois balcões corridos, um onde entrar para a escola, já eu ajudava aqui. de Margarida Brazão Sousa, fundadora do
funciona a taberna e outro a mercearia. Do Quer dizer, ajudava mais ou menos, que projeto, que privilegia peças produzidas com
lado da mercearia, as muitas prateleiras e eu partia muitos copos”, brinca. Foi já consciência ambiental e social.
armários estão completamente lotados de na sua época que a Mercearia do Bento O espaço nasceu em abril de 2021 como
↑↓ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA
produtos. Encontra-se tudo e mais alguma ganhou a alcunha por que hoje é conhe- um escape à pandemia. Nascida na Madeira
coisa: pacotes de massa e arroz, champôs e cida entre madeirenses: Pharmácia. e devota à ilha, Margarida confessa que
amaciadores, pastilhas elásticas, vasos para A brincadeira deve-se à poncha que aqui precisa de sair dela regularmente. “Sempre
plantas, ovos Kinder e espanadores. Mas o se começou a servir quando “mal se via RUA DOS FERREIROS, 138. @AMAR.MADEIRA viajei bastante, desde pequena, e isso teve
que mais destaque tem são as dezenas de poncha no Funchal”. Depois de um dia muito impacto em mim.” Foi justamente
caixinhas com especiarias, todas importa- de trabalho, muitos são os funchalenses depois de um ano a viajar pela América do
das dos seus países de origem, da Índia à que aqui se juntam ao final da tarde, já Sul e pela Ásia que Margarida regressou
Tanzânia. “Temos uma clientela muito fiel que “não há nada que esta poncha não à Madeira com vontade de criar a loja que
às nossas especiarias e ainda mais às nos- cure”. E segundo Paulo, não é apenas o gostava de poder visitar na sua ilha. A a~mar
sas misturas de especiarias”, explica Paulo efeito da poncha: é o facto de diferentes – de Margarida, de mar e de amor pela vida –
Bento, o atual merceeiro. grupos se misturarem de copo na mão. permite-lhe viajar sem sair do mesmo lugar.
O negócio existe aqui há mais de 150 Chama-lhe o “efeito Pharmácia “É uma forma muito pessoal de partilhar com
anos e está na família há sete gerações. do Bento”. as pessoas o que vou conhecendo.”

V I S I TA R
102 PHARMÁCIA DO BENTO COMPRAR
103 A~MAR
COMER FUNCHAL

KAMPO

↑ FOTOGRAFIA GLOBAL IMAGENS


A J Ú L I O P E R E I R A só lhe falta o sota-
que para se poder confundi-lo com um
madeirense. Nasceu na Carvoeira, uma

& AKUA
pequena aldeia entre Mafra e a Ericeira,
mas chegou à ilha pela primeira vez em
2000. Conhece-a, por isso, de uma ponta
à outra. Todos os produtos, todas as tradi-
ções. No entanto, aquilo que faz nos dois
restaurantes que tem no centro do Funchal

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


– a que se acrescenta ainda uma padaria
artesanal chamada Kôdea – está longe de
ser a cozinha típica da Madeira.
“Aquilo que fazemos é, basicamente, tanto melhor. Se forem da Irlanda, como
transportar a realidade de Lisboa, do no caso da carne maturada que exibe nas
Porto e de outras cidades europeias para câmaras frigoríficas, não há problema
o Funchal. Trazer produto de qualidade e nenhum. O chef não tem obsessões com
trabalhá-lo numa cozinha aberta para os autenticidade, nem lhe passa pela cabeça
nossos clientes, que era algo que não acon- tentar que os seus espaços sejam algo que
KAMPO: RUA DO SABÃO, 6, FUNCHAL tecia muito aqui e que as pessoas gostam: não são. “O que eu quero é que as pessoas

← FOTOGRAFIA TIAGO PAIS


924 438 080. @KAMPO.RESTAURANTE entusiasmam-se a ver-nos cozinhar.” se sintam bem aqui, seja a comer bitoque
AKUA: RUA DOS MURÇAS, 6, FUNCHAL E é verdade: tanto Kampo como ou foie gras”, refere.
938 034 758. @AKUARESTAURANTE Akua são restaurantes que pouco têm de Como os respetivos nomes indicam,
tradicional, nem têm ambições de sê-lo. os restaurantes têm inclinações diferentes,
O que interessa a Júlio é “trabalhar com o Kampo mais para o campo, o Akua mais
bons produtos”. Se forem da Madeira, para a água. Resumindo: mais carne e
legumes num, mais peixe e marisco noutro.
Mas as regras são feitas para serem quebra-
das, portanto é normal que a refeição no
Kampo inclua peixe – como no caso dos já
célebres cornetos de atum ou da sardinha
marinada – e a refeição no Akua possa
acabar com uma bochecha estufada lenta-
mente, de comer à colher.
Mas isto são as exceções, claro, até
porque no Kampo o que faz mais sucesso
é a carne maturada e o rabo de boi e no
Akua destaca-se a fideuá, uma massa de
peixe e marisco de origem valenciana, e
os camarões thai, temperados com caril,
manga e açafrão. Os restaurantes acabam
por ser, no fundo, um retrato completo
do perfil de Júlio: cresceu nos talhos do
pai – por isso corta bifes com a mesma
facilidade com que estrela um ovo – e, ao
mesmo tempo, viveu sempre perto do mar,
habituado por isso a bom peixe e marisco.
O melhor de dois mundos.

COMER
104 KAMPO & AKUA COMER
105 KAMPO & AKUA
COMER FUNCHAL

KAMPO

↑ FOTOGRAFIA GLOBAL IMAGENS


A J Ú L I O P E R E I R A só lhe falta o sota-
que para se poder confundi-lo com um
madeirense. Nasceu na Carvoeira, uma

& AKUA
pequena aldeia entre Mafra e a Ericeira,
mas chegou à ilha pela primeira vez em
2000. Conhece-a, por isso, de uma ponta
à outra. Todos os produtos, todas as tradi-
ções. No entanto, aquilo que faz nos dois
restaurantes que tem no centro do Funchal

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


– a que se acrescenta ainda uma padaria
artesanal chamada Kôdea – está longe de
ser a cozinha típica da Madeira.
“Aquilo que fazemos é, basicamente, tanto melhor. Se forem da Irlanda, como
transportar a realidade de Lisboa, do no caso da carne maturada que exibe nas
Porto e de outras cidades europeias para câmaras frigoríficas, não há problema
o Funchal. Trazer produto de qualidade e nenhum. O chef não tem obsessões com
trabalhá-lo numa cozinha aberta para os autenticidade, nem lhe passa pela cabeça
nossos clientes, que era algo que não acon- tentar que os seus espaços sejam algo que
KAMPO: RUA DO SABÃO, 6, FUNCHAL tecia muito aqui e que as pessoas gostam: não são. “O que eu quero é que as pessoas

← FOTOGRAFIA TIAGO PAIS


924 438 080. @KAMPO.RESTAURANTE entusiasmam-se a ver-nos cozinhar.” se sintam bem aqui, seja a comer bitoque
AKUA: RUA DOS MURÇAS, 6, FUNCHAL E é verdade: tanto Kampo como ou foie gras”, refere.
938 034 758. @AKUARESTAURANTE Akua são restaurantes que pouco têm de Como os respetivos nomes indicam,
tradicional, nem têm ambições de sê-lo. os restaurantes têm inclinações diferentes,
O que interessa a Júlio é “trabalhar com o Kampo mais para o campo, o Akua mais
bons produtos”. Se forem da Madeira, para a água. Resumindo: mais carne e
legumes num, mais peixe e marisco noutro.
Mas as regras são feitas para serem quebra-
das, portanto é normal que a refeição no
Kampo inclua peixe – como no caso dos já
célebres cornetos de atum ou da sardinha
marinada – e a refeição no Akua possa
acabar com uma bochecha estufada lenta-
mente, de comer à colher.
Mas isto são as exceções, claro, até
porque no Kampo o que faz mais sucesso
é a carne maturada e o rabo de boi e no
Akua destaca-se a fideuá, uma massa de
peixe e marisco de origem valenciana, e
os camarões thai, temperados com caril,
manga e açafrão. Os restaurantes acabam
por ser, no fundo, um retrato completo
do perfil de Júlio: cresceu nos talhos do
pai – por isso corta bifes com a mesma
facilidade com que estrela um ovo – e, ao
mesmo tempo, viveu sempre perto do mar,
habituado por isso a bom peixe e marisco.
O melhor de dois mundos.

COMER
104 KAMPO & AKUA COMER
105 KAMPO & AKUA
↑↓ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA
MERGULHAR FUNCHAL COMER FUNCHAL

para estender a toalha e apanhar banhos


de sol. Vistas de cima, à chegada, as
piscinas parecem saídas de um postal.
As águas interiores são calmas e
quando as horas de baixa-mar coincidem
com as do sol alto, têm temperaturas
convidativas. Mais fresquinho é o mar,
acessível através das escadas metálicas,
viradas a oeste.
De pequena dimensão, a Doca do
Cavacas enche com facilidade, e é por
isso que o túnel que fica a dois passos
da cancela de entrada reserva um plano
B, que pode sempre tornar-se A: cavada
na rocha, a passagem dá acesso à praia
Formosa, onde espaço não falta.
Um hipotético plano C pode ser
aguardar no restaurante Doca do
Cavacas, debruçado sobre as poças
naturais de origem vulcânica que lhe dão
nome. Às salas interiores envidraçadas, RUA DA PONTA DA CRUZ, 66

que servem de refúgio em dias de vento, 291 105 760

junta-se a vistosa esplanada azul, em BILHETE NORMAL: 2€

formato de meia-lua, que fica no andar


de cima, com vista para as piscinas.
Nas mãos da mesma família há
45 anos e há seis nas de João Dias, o
Doca do Cavacas é conhecido entre os
madeirenses pelo peixe, pelo marisco
e pelos petiscos acompanhados por
cerveja Coral bem fresca. E aos locais
juntam-se os turistas. “Vêm muito
também”, conta João. As lapas são o
prato que mais se vê sair da cozinha,

DOCA
mas há outros que se repetem: as
S E R Á , talvez, o lugar mais bonito gambas à diabo, a feijoada de marisco e
para mergulhar em toda a cidade do o filete de peixe-espada com banana.
Funchal. A Doca do Cavacas, também Indo com meia hora de sobra, nada

DO
conhecida como Poça do Gomes, fica como um apurado arroz de marisco
na zona de São Martinho e é um dos (35€) com tudo a que se tem direito:
complexos balneares que mais sucesso gambas, amêijoas, pata de caranguejo,
faz entre os ilhéus. miolo de amêijoa e ainda de mexilhão.

CAVACAS
Complementada com estruturas E é preciso mais uma boa horinha para
cimentadas, pintadas de azul e dar cabo do tacho que, embora seja
sobretudo de branco, esta piscina recomendado para duas pessoas, chega
natural de origem vulcânica é ideal bem para quatro.

MERGULHAR
106 D O CA D O CAVACAS COMER
107 D O CA D O CAVACAS
↑↓ FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA
MERGULHAR FUNCHAL COMER FUNCHAL

para estender a toalha e apanhar banhos


de sol. Vistas de cima, à chegada, as
piscinas parecem saídas de um postal.
As águas interiores são calmas e
quando as horas de baixa-mar coincidem
com as do sol alto, têm temperaturas
convidativas. Mais fresquinho é o mar,
acessível através das escadas metálicas,
viradas a oeste.
De pequena dimensão, a Doca do
Cavacas enche com facilidade, e é por
isso que o túnel que fica a dois passos
da cancela de entrada reserva um plano
B, que pode sempre tornar-se A: cavada
na rocha, a passagem dá acesso à praia
Formosa, onde espaço não falta.
Um hipotético plano C pode ser
aguardar no restaurante Doca do
Cavacas, debruçado sobre as poças
naturais de origem vulcânica que lhe dão
nome. Às salas interiores envidraçadas, RUA DA PONTA DA CRUZ, 66

que servem de refúgio em dias de vento, 291 105 760

junta-se a vistosa esplanada azul, em BILHETE NORMAL: 2€

formato de meia-lua, que fica no andar


de cima, com vista para as piscinas.
Nas mãos da mesma família há
45 anos e há seis nas de João Dias, o
Doca do Cavacas é conhecido entre os
madeirenses pelo peixe, pelo marisco
e pelos petiscos acompanhados por
cerveja Coral bem fresca. E aos locais
juntam-se os turistas. “Vêm muito
também”, conta João. As lapas são o
prato que mais se vê sair da cozinha,

DOCA
mas há outros que se repetem: as
S E R Á , talvez, o lugar mais bonito gambas à diabo, a feijoada de marisco e
para mergulhar em toda a cidade do o filete de peixe-espada com banana.
Funchal. A Doca do Cavacas, também Indo com meia hora de sobra, nada

DO
conhecida como Poça do Gomes, fica como um apurado arroz de marisco
na zona de São Martinho e é um dos (35€) com tudo a que se tem direito:
complexos balneares que mais sucesso gambas, amêijoas, pata de caranguejo,
faz entre os ilhéus. miolo de amêijoa e ainda de mexilhão.

CAVACAS
Complementada com estruturas E é preciso mais uma boa horinha para
cimentadas, pintadas de azul e dar cabo do tacho que, embora seja
sobretudo de branco, esta piscina recomendado para duas pessoas, chega
natural de origem vulcânica é ideal bem para quatro.

MERGULHAR
106 D O CA D O CAVACAS COMER
107 D O CA D O CAVACAS
1 BANCO EM MADEIRA
COMPRAR FUNCHAL 4 7
LUÍS DE JESUS, 22,88€
6

2 PA N O D E TA B U L E I R O

LOJA DO
FAV O D E M E L
MARIA OLÍVIA DE ANDRADE
N. DA SILVA, 38,13€

ARTESANATO
3 CARAPUÇA MADEIRENSE
EUGÉNIA CAROLINA
PEREIRA COELHO, 15,25€

DA MADEIRA
8 4 BASE DE COPO
EM CROCHET
5 ANA PAULA GOMES, 7,63€

5 PIÃO PEQUENO
LUÍS DE JESUS, 4,58€

RUA DO VISCONDE DE ANADIA, 44


6 S U P O RT E D E VA S O
291 211 600
EM MACRAMÉ
3 SÍLVIA MARIA ALMADA
DE ABREU, 20,59€

9
1 7 A L M O FA R I Z
LUÍS DE JESUS, 9,15€

8 TÁ B U A E M C E R Â M IC A
VERA ANDRADE, 38,13€

9 TA Ç A E M C E R Â M IC A
VERA ANDRADE, 38,15€
Q U E M passa pelo portão, ainda da rua,
consegue espreitar para o pátio interior e 10 BRINQUINHO
MADEIRENSE
perceber que se trata de um edifício com 10
JOÃO MAURÍCIO VIEIRA
história. Situado em plena baixa do Funchal,
GOMES, 10,68€
data do século xix e foi mandado construir
por Henry Veitch, cônsul-geral britânico 11 F O L H A D E PA L M E I R A
que ficou para a história da ilha como um ANA MARIA LOURENÇO
importante negociante de vinhos. A pro- RODRIGUES, 38,13€
priedade, que estava há décadas sem propó-
sito, foi parcialmente recuperada e abriu ao 12 BASE DE COPO COM

público em 2017 com uma loja que reúne o BORDADO MADEIRENSE


ANA PAULA GOMES, 7,63€
que de melhor se faz à mão na Madeira.
O projeto é do Instituto do Vinho, do 11

Bordado e do Artesanato da Madeira, que


2
trabalha diretamente com cerca de 120 12
artesãos certificados. Peças tradicionais
FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

como os embutidos, os chapéus de palha


ou as botas de vilão dividem espaço com
outras mais contemporâneas, da cerâmica
ao vime, dos têxteis às madeiras. São
mais de duas centenas de peças expostas,
criadas à mão por artesãos madeirenses
e porto-santenses.

COMPRAR
108 LO JA D O A RT E S A N ATO DA M A D E I R A COMPRAR
109 LO JA D O A RT E S A N ATO DA M A D E I R A
1 BANCO EM MADEIRA
COMPRAR FUNCHAL 4 7
LUÍS DE JESUS, 22,88€
6

2 PA N O D E TA B U L E I R O

LOJA DO
FAV O D E M E L
MARIA OLÍVIA DE ANDRADE
N. DA SILVA, 38,13€

ARTESANATO
3 CARAPUÇA MADEIRENSE
EUGÉNIA CAROLINA
PEREIRA COELHO, 15,25€

DA MADEIRA
8 4 BASE DE COPO
EM CROCHET
5 ANA PAULA GOMES, 7,63€

5 PIÃO PEQUENO
LUÍS DE JESUS, 4,58€

RUA DO VISCONDE DE ANADIA, 44


6 S U P O RT E D E VA S O
291 211 600
EM MACRAMÉ
3 SÍLVIA MARIA ALMADA
DE ABREU, 20,59€

9
1 7 A L M O FA R I Z
LUÍS DE JESUS, 9,15€

8 TÁ B U A E M C E R Â M IC A
VERA ANDRADE, 38,13€

9 TA Ç A E M C E R Â M IC A
VERA ANDRADE, 38,15€
Q U E M passa pelo portão, ainda da rua,
consegue espreitar para o pátio interior e 10 BRINQUINHO
MADEIRENSE
perceber que se trata de um edifício com 10
JOÃO MAURÍCIO VIEIRA
história. Situado em plena baixa do Funchal,
GOMES, 10,68€
data do século xix e foi mandado construir
por Henry Veitch, cônsul-geral britânico 11 F O L H A D E PA L M E I R A
que ficou para a história da ilha como um ANA MARIA LOURENÇO
importante negociante de vinhos. A pro- RODRIGUES, 38,13€
priedade, que estava há décadas sem propó-
sito, foi parcialmente recuperada e abriu ao 12 BASE DE COPO COM

público em 2017 com uma loja que reúne o BORDADO MADEIRENSE


ANA PAULA GOMES, 7,63€
que de melhor se faz à mão na Madeira.
O projeto é do Instituto do Vinho, do 11

Bordado e do Artesanato da Madeira, que


2
trabalha diretamente com cerca de 120 12
artesãos certificados. Peças tradicionais
FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA

como os embutidos, os chapéus de palha


ou as botas de vilão dividem espaço com
outras mais contemporâneas, da cerâmica
ao vime, dos têxteis às madeiras. São
mais de duas centenas de peças expostas,
criadas à mão por artesãos madeirenses
e porto-santenses.

COMPRAR
108 LO JA D O A RT E S A N ATO DA M A D E I R A COMPRAR
109 LO JA D O A RT E S A N ATO DA M A D E I R A
V I S I TA R FUNCHAL COMER FUNCHAL
passo a passo todo o ciclo da vindima tra-
dicional madeirense, da apanha da uva à

IL GALLO
exportação nos cais.
C O M M A I S de dois séculos de história, As salas seguintes são adegas e
funcionou como hospital, prisão e cada uma delas conta com diferentes

D’ORO
mosteiro, até se tornar uma das mais características, da temperatura à humidade,
relevantes casas de vinho na Madeira. definidas de acordo com os perfis
É aqui que hoje se armazenam mais de de envelhecimento dos vários vinhos.
650 barris e cubas, que ilustram a história Há o doce, o meio doce, o seco e o meio
do vinho Madeira e da família inglesa seco, com as respetivas variações que
Blandy, presente na ilha e na vinicultura se multiplicam anualmente. Por entre as
há já mais de dois séculos. amplas divisões escurecidas, há vinhos HOTEL THE CLIFF BAY. ESTRADA MONUMENTAL, 147, FUNCHAL

↓ FOTOGRAFIAS DR
A entrada no imponente edifício pode a envelhecer há mais de cem anos e uma 291 707 700. ILGALLODORO.PORTOBAY.COM

fazer-se pela avenida Arriaga ou pela rua de série de garrafas especiais, como a que @ILGALLODORORESTAURANT

São Francisco, de onde se avista um pátio celebra os 600 anos da descoberta da


interior em pedra que convida a um demo- Madeira, lançada em 2019 e avaliada em
rado copo de vinho. E a visita à Blandy’s mais de cinco mil euros.
Wine Lodge pode começar justamente por Além do museu, que conta a história
E M 2 0 1 7 , o Il Gallo D’Oro tornou-se o

← FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


aqui: ou na esplanada em verga do pátio da empresa e da família que lhe deu
primeiro restaurante da Madeira – e um de
interior, à sombra de sete enormes bananei- origem, visita-se ainda o lagar de madeira
apenas sete em todo o país – a conseguir
ras, ou na sala de provas interior, onde as mais antigo da ilha, datado do século xvii,
duas estrelas Michelin. Há quem diga que
madeiras escuras contrastam com as pince- e conhecem-se as ferramentas e as técnicas
a distinção terá apenas pecado por tardia:
ladas de Max Römer. Neste salão, os murais dos velhos tanoeiros, que durante décadas
há muito que o chef Benoît Sinthon, o res-
pintados à mão pelo artista alemão, em faziam ali mesmo as pipas, recorrendo
ponsável pela cozinha, era considerado um
1942, cobrem uma parede inteira, ilustrando a processos totalmente manuais.
dos melhores profissionais a trabalhar em
Portugal e merecedor da segunda estrela.
Benoît nasceu em Gardanne, perto de
Marselha, mas conheceu a ilha em mea-

BLANDY’S
dos dos anos 90. Foi uma dupla história
de amor: apaixonou-se pela rececionista
(madeirense) do hotel onde trabalhava –

WINE LODGE
com quem viria a casar-se – e, quando
esta teve de voltar a casa, foi com ela. Uma
vez na Madeira, apaixonou-se novamente,
desta vez pela ilha.
Lidera a cozinha do Il Gallo d’Oro
desde 2004 e tem, cada vez mais, vindo
a dar protagonismo aos produtos madei-
renses nas suas propostas gastronómicas.
Sempre, claro, com a sofisticação que se
espera de um restaurante de um hotel de
cinco estrelas virado para o mar.
Na recente reabertura pós-pandemia,
em maio último, destaca-se a sala mais
luminosa, devido aos enormes janelões
que percorrem agora a frente do restau-
rante e novíssima Mesa do Chefe, em que
AVENIDA ARRIAGA, 28. 291 221 772 até quatro pessoas podem ver de perto o
WWW.BLANDYSWINELODGE.COM chef Benoît Sinthon em ação, bem perto
PREÇO DA VISITA: A PARTIR DE 7,20€ deles. Um privilégio.

V I S I TA R
110 BL ANDY’S WINE LODGE COMER
111 IL GALLO D ’ORO
V I S I TA R FUNCHAL COMER FUNCHAL
passo a passo todo o ciclo da vindima tra-
dicional madeirense, da apanha da uva à

IL GALLO
exportação nos cais.
C O M M A I S de dois séculos de história, As salas seguintes são adegas e
funcionou como hospital, prisão e cada uma delas conta com diferentes

D’ORO
mosteiro, até se tornar uma das mais características, da temperatura à humidade,
relevantes casas de vinho na Madeira. definidas de acordo com os perfis
É aqui que hoje se armazenam mais de de envelhecimento dos vários vinhos.
650 barris e cubas, que ilustram a história Há o doce, o meio doce, o seco e o meio
do vinho Madeira e da família inglesa seco, com as respetivas variações que
Blandy, presente na ilha e na vinicultura se multiplicam anualmente. Por entre as
há já mais de dois séculos. amplas divisões escurecidas, há vinhos HOTEL THE CLIFF BAY. ESTRADA MONUMENTAL, 147, FUNCHAL

↓ FOTOGRAFIAS DR
A entrada no imponente edifício pode a envelhecer há mais de cem anos e uma 291 707 700. ILGALLODORO.PORTOBAY.COM

fazer-se pela avenida Arriaga ou pela rua de série de garrafas especiais, como a que @ILGALLODORORESTAURANT

São Francisco, de onde se avista um pátio celebra os 600 anos da descoberta da


interior em pedra que convida a um demo- Madeira, lançada em 2019 e avaliada em
rado copo de vinho. E a visita à Blandy’s mais de cinco mil euros.
Wine Lodge pode começar justamente por Além do museu, que conta a história
E M 2 0 1 7 , o Il Gallo D’Oro tornou-se o

← FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


aqui: ou na esplanada em verga do pátio da empresa e da família que lhe deu
primeiro restaurante da Madeira – e um de
interior, à sombra de sete enormes bananei- origem, visita-se ainda o lagar de madeira
apenas sete em todo o país – a conseguir
ras, ou na sala de provas interior, onde as mais antigo da ilha, datado do século xvii,
duas estrelas Michelin. Há quem diga que
madeiras escuras contrastam com as pince- e conhecem-se as ferramentas e as técnicas
a distinção terá apenas pecado por tardia:
ladas de Max Römer. Neste salão, os murais dos velhos tanoeiros, que durante décadas
há muito que o chef Benoît Sinthon, o res-
pintados à mão pelo artista alemão, em faziam ali mesmo as pipas, recorrendo
ponsável pela cozinha, era considerado um
1942, cobrem uma parede inteira, ilustrando a processos totalmente manuais.
dos melhores profissionais a trabalhar em
Portugal e merecedor da segunda estrela.
Benoît nasceu em Gardanne, perto de
Marselha, mas conheceu a ilha em mea-

BLANDY’S
dos dos anos 90. Foi uma dupla história
de amor: apaixonou-se pela rececionista
(madeirense) do hotel onde trabalhava –

WINE LODGE
com quem viria a casar-se – e, quando
esta teve de voltar a casa, foi com ela. Uma
vez na Madeira, apaixonou-se novamente,
desta vez pela ilha.
Lidera a cozinha do Il Gallo d’Oro
desde 2004 e tem, cada vez mais, vindo
a dar protagonismo aos produtos madei-
renses nas suas propostas gastronómicas.
Sempre, claro, com a sofisticação que se
espera de um restaurante de um hotel de
cinco estrelas virado para o mar.
Na recente reabertura pós-pandemia,
em maio último, destaca-se a sala mais
luminosa, devido aos enormes janelões
que percorrem agora a frente do restau-
rante e novíssima Mesa do Chefe, em que
AVENIDA ARRIAGA, 28. 291 221 772 até quatro pessoas podem ver de perto o
WWW.BLANDYSWINELODGE.COM chef Benoît Sinthon em ação, bem perto
PREÇO DA VISITA: A PARTIR DE 7,20€ deles. Um privilégio.

V I S I TA R
110 BL ANDY’S WINE LODGE COMER
111 IL GALLO D ’ORO
BEBER FUNCHAL

A Ú N I C A marca nova de vinho sensação que se tem não é de álcool,


Madeira a surgir nos últimos 80 anos mas de outros aromas, do mel ao
apresenta-se inteiramente no feminino. caramelo.” Não é ao acaso, já que os
Cristina Nóbrega, Gabriela Pestana, processos de fermentação são mais
Jacinta Pedra, Lisandra Gonçalves, suaves do que é habitual, e a escolha
Micaela Martins e Suzanne Pedro são da uva é sempre feita à mão.
as seis mulheres que estão à frente da Mas não é só na adega que este
Madeira Vintners. passa a ser um assunto de mulheres.
O projeto teve início em 2012, por Cristina Nóbrega, responsável
iniciativa da Cooperativa Agrícola do pelo acompanhamento direto dos
Funchal, e na escolha da equipa não viticultores, garante que vê mais
houve intenção de recrutar apenas mulheres do que homens nas vinhas.
mulheres. “Aconteceu”, explica “Para trabalho pesado, sim, chamam-se
Jacinta, responsável pelo apoio os homens, para carregar caixas
jurídico. “Passou a ser intencional e coisas assim. Mas o trabalho em
quando demos por isso. É um marco si, que é mais minucioso, é feito
diferenciador na nossa empresa.” maioritariamente por mulheres.

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


Que se nota, garante, até nos próprios Elas são mais delicadas a tirar a folha,
vinhos. a fazer certos tratamentos.”
A primeira vindima aconteceu no Os vinhos fizeram sucesso na ilha,
ano de fundação e os vinhos chegaram mas ainda mais além, mar. Ainda os
ao mercado quatro anos depois. primeiros vinhos não tinham sido
A Madeira Vintners trabalha oficialmente lançados e estavam já
diretamente com mais de quarenta a vencer o Prémio Diamante (com
agricultores locais, oferecendo-lhes o vinho meio seco) e uma Menção
diretrizes e apoio desde o tratamento Honrosa (com o meio doce) no
à apanha das uvas que dão origem aos concurso internacional “Vino y Mujer
vinhos comercializados pela marca. 2016”. Seguiram-se uma série de
Com um portefólio de vinhos que outras distinções e, entre elas, uma
vão do seco ao doce, de três anos e reportagem da Euronews, a estação
de cinco de estágio, apresentam-nos televisiva europeia sediada em França,
como “muito equilibrados, com boa que enviou uma equipa de jornalistas
acidez e final de boca prolongado, à região para conhecer o projeto.
apesar da sua juventude”. E a E embora a meta das mulheres que
equipa que os produz garante que lideram a Madeira Vintners seja bem
a subtileza feminina se faz sentir. “ mais exigente para os próximos anos,
O grau alcoólico é mais baixo do que a internacionalização da marca não
é comum, vai dos 17 aos 22 graus”, corre mal. “Exportamos para o Brasil,

VINTNERS
explica Lisandra Gonçalves, uma das a Dinamarca, os eua e a Holanda. E
duas enólogas da casa. “A primeira para o continente, que também conta!”

CAMINHO DE SÃO MARTINHO, 56. 291 702 440

@MADEIRAVINTNERS2012

BEBER
112 VINTNERS BEBER
113 VINTNERS
BEBER FUNCHAL

A Ú N I C A marca nova de vinho sensação que se tem não é de álcool,


Madeira a surgir nos últimos 80 anos mas de outros aromas, do mel ao
apresenta-se inteiramente no feminino. caramelo.” Não é ao acaso, já que os
Cristina Nóbrega, Gabriela Pestana, processos de fermentação são mais
Jacinta Pedra, Lisandra Gonçalves, suaves do que é habitual, e a escolha
Micaela Martins e Suzanne Pedro são da uva é sempre feita à mão.
as seis mulheres que estão à frente da Mas não é só na adega que este
Madeira Vintners. passa a ser um assunto de mulheres.
O projeto teve início em 2012, por Cristina Nóbrega, responsável
iniciativa da Cooperativa Agrícola do pelo acompanhamento direto dos
Funchal, e na escolha da equipa não viticultores, garante que vê mais
houve intenção de recrutar apenas mulheres do que homens nas vinhas.
mulheres. “Aconteceu”, explica “Para trabalho pesado, sim, chamam-se
Jacinta, responsável pelo apoio os homens, para carregar caixas
jurídico. “Passou a ser intencional e coisas assim. Mas o trabalho em
quando demos por isso. É um marco si, que é mais minucioso, é feito
diferenciador na nossa empresa.” maioritariamente por mulheres.

FOTOGRAFIAS RODRIGO CABRITA


Que se nota, garante, até nos próprios Elas são mais delicadas a tirar a folha,
vinhos. a fazer certos tratamentos.”
A primeira vindima aconteceu no Os vinhos fizeram sucesso na ilha,
ano de fundação e os vinhos chegaram mas ainda mais além, mar. Ainda os
ao mercado quatro anos depois. primeiros vinhos não tinham sido
A Madeira Vintners trabalha oficialmente lançados e estavam já
diretamente com mais de quarenta a vencer o Prémio Diamante (com
agricultores locais, oferecendo-lhes o vinho meio seco) e uma Menção
diretrizes e apoio desde o tratamento Honrosa (com o meio doce) no
à apanha das uvas que dão origem aos concurso internacional “Vino y Mujer
vinhos comercializados pela marca. 2016”. Seguiram-se uma série de
Com um portefólio de vinhos que outras distinções e, entre elas, uma
vão do seco ao doce, de três anos e reportagem da Euronews, a estação
de cinco de estágio, apresentam-nos televisiva europeia sediada em França,
como “muito equilibrados, com boa que enviou uma equipa de jornalistas
acidez e final de boca prolongado, à região para conhecer o projeto.
apesar da sua juventude”. E a E embora a meta das mulheres que
equipa que os produz garante que lideram a Madeira Vintners seja bem
a subtileza feminina se faz sentir. “ mais exigente para os próximos anos,
O grau alcoólico é mais baixo do que a internacionalização da marca não
é comum, vai dos 17 aos 22 graus”, corre mal. “Exportamos para o Brasil,

VINTNERS
explica Lisandra Gonçalves, uma das a Dinamarca, os eua e a Holanda. E
duas enólogas da casa. “A primeira para o continente, que também conta!”

CAMINHO DE SÃO MARTINHO, 56. 291 702 440

@MADEIRAVINTNERS2012

BEBER
112 VINTNERS BEBER
113 VINTNERS
PA S S E A R FUNCHAL COMER FUNCHAL
F I C A A O E S T E do concelho do Funchal
e, com uma extensão de dois quilómetros,

TERREIRO
faz a ligação até Câmara de Lobos. A praia
Formosa é a maior praia pública da ilha e
uma das mais populares entre os funcha-
lenses, já que fica a meros 10 minutos do

CONCEPT
centro da cidade.

PRAIA
Quando o sol brilha, o areal – composto
por calhau rolado e areia preta de origem
vulcânica – enche-se de banhistas. Em

FORMOSA
dias mais cinzentos, ganha popularidade
a promenade, isto é, o caminho pedonal à
beira-mar. Em pouco mais de 20 minutos,
atravessam-se as quatro praias que com- RUA IMPERATRIZ DONA AMÉLIA, 107. 291 213 010
põem a enorme praia Formosa, da Nova à TERREIROCONCEPT.COM / @TERREIROCONCEPT
RUA DA PRAIA FORMOSA dos Namorados.

↓ FOTOGRAFIA DR
E N T R A N D O no jardim pelos portões, Os petiscos dominam boa parte da
denota-se um ambiente tranquilo mas de ementa, que se propõe a “regressar às
certo requinte. Os empregados estão impe- origens” numa cozinha criativa e des-
cavelmente fardados, puxam as cadeiras a complicada que convida a partilhar. Para
↑ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA
quem se senta, e é comum encontrarem-se ali começar, picam-se croquetes de cozido
personagens emblemáticas da Madeira. Mas panelo, rissóis de berbigão e pataniscas de
também há espaço para comuns mortais, já bacalhau e polvo. Da categoria “quem não
que o preço médio por refeição é de 35€. arrisca, não petisca” da carta, destacam-
O Terreiro Concept, inaugurado em -se o bodião em polme de cerveja (9€), o
2019, fica na zona hoteleira do Funchal – berbigão de cebolada (10€) e o escabeche
e não é coincidência, já que pertence ao quente de atum (11€). Dos pratos prin-
grupo Savoy. Instalado numa típica casa cipais, recomenda-se a barriga de leitão
insular, funciona como restaurante e gas- crocante (15€) – e chamar-lhe crocante é
trobar. O espaço interior divide-se em dois pouco. A carne, que se desfia à primeira
andares, com a assinatura da designer de garfada, vem bem acompanhada por um
interiores madeirense Nini Andrade Silva, esparregado de espinafres e requeijão do
e o exterior beneficia de um extenso jardim, Santo da Terra, cebolinhas aciduladas e
a terminar com vista para o mar. ainda chips de batata.

PA S S E A R
114 PRAIA FORMOSA COMER
115 TERREIRO CONCEPT
PA S S E A R FUNCHAL COMER FUNCHAL
F I C A A O E S T E do concelho do Funchal
e, com uma extensão de dois quilómetros,

TERREIRO
faz a ligação até Câmara de Lobos. A praia
Formosa é a maior praia pública da ilha e
uma das mais populares entre os funcha-
lenses, já que fica a meros 10 minutos do

CONCEPT
centro da cidade.

PRAIA
Quando o sol brilha, o areal – composto
por calhau rolado e areia preta de origem
vulcânica – enche-se de banhistas. Em

FORMOSA
dias mais cinzentos, ganha popularidade
a promenade, isto é, o caminho pedonal à
beira-mar. Em pouco mais de 20 minutos,
atravessam-se as quatro praias que com- RUA IMPERATRIZ DONA AMÉLIA, 107. 291 213 010
põem a enorme praia Formosa, da Nova à TERREIROCONCEPT.COM / @TERREIROCONCEPT
RUA DA PRAIA FORMOSA dos Namorados.

↓ FOTOGRAFIA DR
E N T R A N D O no jardim pelos portões, Os petiscos dominam boa parte da
denota-se um ambiente tranquilo mas de ementa, que se propõe a “regressar às
certo requinte. Os empregados estão impe- origens” numa cozinha criativa e des-
cavelmente fardados, puxam as cadeiras a complicada que convida a partilhar. Para
↑ FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA
quem se senta, e é comum encontrarem-se ali começar, picam-se croquetes de cozido
personagens emblemáticas da Madeira. Mas panelo, rissóis de berbigão e pataniscas de
também há espaço para comuns mortais, já bacalhau e polvo. Da categoria “quem não
que o preço médio por refeição é de 35€. arrisca, não petisca” da carta, destacam-
O Terreiro Concept, inaugurado em -se o bodião em polme de cerveja (9€), o
2019, fica na zona hoteleira do Funchal – berbigão de cebolada (10€) e o escabeche
e não é coincidência, já que pertence ao quente de atum (11€). Dos pratos prin-
grupo Savoy. Instalado numa típica casa cipais, recomenda-se a barriga de leitão
insular, funciona como restaurante e gas- crocante (15€) – e chamar-lhe crocante é
trobar. O espaço interior divide-se em dois pouco. A carne, que se desfia à primeira
andares, com a assinatura da designer de garfada, vem bem acompanhada por um
interiores madeirense Nini Andrade Silva, esparregado de espinafres e requeijão do
e o exterior beneficia de um extenso jardim, Santo da Terra, cebolinhas aciduladas e
a terminar com vista para o mar. ainda chips de batata.

PA S S E A R
114 PRAIA FORMOSA COMER
115 TERREIRO CONCEPT
BEBER FUNCHAL
FUGACIDADE DORMIR FUNCHAL
O E D I F Í C I O centenário já foi habi-
tacional, comercial e até fabril, mas foi
como mercearia – de seu nome Caju –

BEERHOUSE que ficou mais conhecido entre os fun-


chalenses. Inaugurado em dezembro de
2019, o Caju Le Petit Hotel é um quatro
estrelas de pequena dimensão, situado
A H I S T Ó R I A podia ser mais romântica

FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS


em pleno centro da cidade, numa rua
contada de outra forma, mas a verdade é pedonal, a dois passos do Parque Santa
que foi a emblemática esplanada, com vista Catarina e do Jardim Municipal.
para o porto e para a marina do Funchal, Com apenas 24 quartos, a decora-
que motivou João Gramilho a pegar neste ção do espaço ficou a cargo de Nini
projeto. A casa existe no mesmo lugar há Andrade Silva, a mais famosa designer
25 anos e está nas mãos do empresário há de interiores madeirense. Os elementos
oito. Mas foi só quando fez um curso de antigos, como a pedra preservada e
sommelier de cerveja, em 2016, que João exposta nas paredes, foram conjugados
ganhou gosto por ela e decidiu reintrodu- com outros contemporâneos, do metal
zir na Beerhouse a produção da bebida. De ao vidro, passando pelo ferro e o betão.
um dia para o outro tornou-se cervejeiro. O ambiente cru, algo industrial, torna-
Hoje, há 19 variedades de cerveja para RUA CONDE DE CANAVIAL, 22
-se mais quente com apontamentos em
provar, sendo 14 delas produzidas por 966 565 369. @FUGACIDADE2014
madeira.

CAJU
João e Camilo, o mestre cervejeiro, no piso No rés do chão, a receção do hotel
inferior da Beer House. divide as atenções com o restaurante
N E M S E M P R E foi o parque de diver-
Entre receitas que incluem mel de cana, que aqui funciona em paralelo. É no
sões de cerveja artesanal que é hoje em

LE PETIT
banana, uva, pitanga, tangerina e maracujá, Prima Caju, com plantas por todo o
há opções para todos os palatos. A que dia. Duarte Chaves abriu o FugaCidade
em 2014, com os frigoríficos e torneiras lado – até a cair do teto – que se servem
faz mais sucesso é a Monte – encorpada, os pequenos-almoços aos hóspedes,
com notas de trigo e um toque amargo de dependentes de cervejas comerciais belgas.

HOTEL
Até que um dia alguém lhe falou de Diogo pedidos à carta, na qual se destacam as
lúpulo. É também aquela de que João mais panquecas e as frescas bowls. Ao almoço,
se orgulha, já que foi ele quem fez nascer a Abreu, um dos fundadores da Vilhoa, que
andava pelo Funchal montado num tuk tuk as mesas ficam lotadas e ganham mais
primeira plantação de lúpulo na ilha, unica- cor, com pratos simples e saudáveis,
mente para poder criar esta cerveja. Outras a dar a provar as cervejas que distribuía.
“Fiquei apaixonado pelo que provei. das saladas aos wraps.
virão. A ideia, explica, “é inovar sem limites
e criar receitas cada vez mais diferentes”. Então, convenci-o a ter as cervejas da
Vilhoa aqui.” Primeiro foram umas gar-
rafas, depois umas torneiras e agora têm

FOTOGRAFIAS DR
RUA DA CARREIRA, 108.
uma parceria. “Temos as cervejas deles e
291 009 400. HOTELCAJU.COM
aquelas que eles distribuem na Madeira,
ESTADIA A PARTIR DE 84€/NOITE
de outras marcas portuguesas de cerveja
FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA

artesanal.”
E como quem tem sede, mais tarde ou
mais cedo, pode vir a ter fome, o FugaCi-
dade tem um menu com alguns petiscos,
onde se destaca a sandes de língua. Vai bem,
por exemplo, com a cerveja da casa, criada
em parceria com a Musa, a Conde Blond
Cannaviale. Uma referência ao nome da
rua onde fica o bar e que era para ter sido
fechada ao trânsito durante a festa de lança-
PONTÃO DE SÃO LÁZARO, AVENIDA DO MAR mento, não fosse o evento ter sido planeado
291 229 011. WWW.BEERHOUSE.PT para a pior altura possível: março de 2020.

BEBER
116 BEERHOUSE DORMIR
117 CAJU LE PETIT HOTEL
BEBER FUNCHAL
FUGACIDADE DORMIR FUNCHAL
O E D I F Í C I O centenário já foi habi-
tacional, comercial e até fabril, mas foi
como mercearia – de seu nome Caju –

BEERHOUSE que ficou mais conhecido entre os fun-


chalenses. Inaugurado em dezembro de
2019, o Caju Le Petit Hotel é um quatro
estrelas de pequena dimensão, situado
A H I S T Ó R I A podia ser mais romântica

FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS


em pleno centro da cidade, numa rua
contada de outra forma, mas a verdade é pedonal, a dois passos do Parque Santa
que foi a emblemática esplanada, com vista Catarina e do Jardim Municipal.
para o porto e para a marina do Funchal, Com apenas 24 quartos, a decora-
que motivou João Gramilho a pegar neste ção do espaço ficou a cargo de Nini
projeto. A casa existe no mesmo lugar há Andrade Silva, a mais famosa designer
25 anos e está nas mãos do empresário há de interiores madeirense. Os elementos
oito. Mas foi só quando fez um curso de antigos, como a pedra preservada e
sommelier de cerveja, em 2016, que João exposta nas paredes, foram conjugados
ganhou gosto por ela e decidiu reintrodu- com outros contemporâneos, do metal
zir na Beerhouse a produção da bebida. De ao vidro, passando pelo ferro e o betão.
um dia para o outro tornou-se cervejeiro. O ambiente cru, algo industrial, torna-
Hoje, há 19 variedades de cerveja para RUA CONDE DE CANAVIAL, 22
-se mais quente com apontamentos em
provar, sendo 14 delas produzidas por 966 565 369. @FUGACIDADE2014
madeira.

CAJU
João e Camilo, o mestre cervejeiro, no piso No rés do chão, a receção do hotel
inferior da Beer House. divide as atenções com o restaurante
N E M S E M P R E foi o parque de diver-
Entre receitas que incluem mel de cana, que aqui funciona em paralelo. É no
sões de cerveja artesanal que é hoje em

LE PETIT
banana, uva, pitanga, tangerina e maracujá, Prima Caju, com plantas por todo o
há opções para todos os palatos. A que dia. Duarte Chaves abriu o FugaCidade
em 2014, com os frigoríficos e torneiras lado – até a cair do teto – que se servem
faz mais sucesso é a Monte – encorpada, os pequenos-almoços aos hóspedes,
com notas de trigo e um toque amargo de dependentes de cervejas comerciais belgas.

HOTEL
Até que um dia alguém lhe falou de Diogo pedidos à carta, na qual se destacam as
lúpulo. É também aquela de que João mais panquecas e as frescas bowls. Ao almoço,
se orgulha, já que foi ele quem fez nascer a Abreu, um dos fundadores da Vilhoa, que
andava pelo Funchal montado num tuk tuk as mesas ficam lotadas e ganham mais
primeira plantação de lúpulo na ilha, unica- cor, com pratos simples e saudáveis,
mente para poder criar esta cerveja. Outras a dar a provar as cervejas que distribuía.
“Fiquei apaixonado pelo que provei. das saladas aos wraps.
virão. A ideia, explica, “é inovar sem limites
e criar receitas cada vez mais diferentes”. Então, convenci-o a ter as cervejas da
Vilhoa aqui.” Primeiro foram umas gar-
rafas, depois umas torneiras e agora têm

FOTOGRAFIAS DR
RUA DA CARREIRA, 108.
uma parceria. “Temos as cervejas deles e
291 009 400. HOTELCAJU.COM
aquelas que eles distribuem na Madeira,
ESTADIA A PARTIR DE 84€/NOITE
de outras marcas portuguesas de cerveja
FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA

artesanal.”
E como quem tem sede, mais tarde ou
mais cedo, pode vir a ter fome, o FugaCi-
dade tem um menu com alguns petiscos,
onde se destaca a sandes de língua. Vai bem,
por exemplo, com a cerveja da casa, criada
em parceria com a Musa, a Conde Blond
Cannaviale. Uma referência ao nome da
rua onde fica o bar e que era para ter sido
fechada ao trânsito durante a festa de lança-
PONTÃO DE SÃO LÁZARO, AVENIDA DO MAR mento, não fosse o evento ter sido planeado
291 229 011. WWW.BEERHOUSE.PT para a pior altura possível: março de 2020.

BEBER
116 BEERHOUSE DORMIR
117 CAJU LE PETIT HOTEL
CONHECER FUNCHAL

FÁBIO REMESSO
BARREIRINHA BAR CAFÉ

38 ANOS LARGO DO SOCORRO, 1

E CLÁUDIA FERNANDES
291 627 418

@BARREIRINHABARCAFE
35 ANOS

BARREIRINHA BAR CAFÉ


S O M O S a Cláudia e o Fábio, mas fortalecem. Somos um espaço musical e cul-
também somos Ventania e Amor. tural onde as pessoas da ilha se reúnem – seja
É assim que se chama a nossa para as jazz jam sessions à sexta, para os con-
dupla, quando passamos música juntos, o certos ao sábado, para uma poncha durante a
que normalmente acontece na Barreirinha. semana ou, claro, para o festival Aleste.
A história do espaço começa em 2009, O festival surgiu em 2014 e está ligado
quando abriu portas como Barreirinha a este espaço de uma forma muito íntima.
Bar Café. Aquilo era um part-time para nós: No primeiro ano recebeu 250 pessoas, mais
um era delegado de ação médica e o outro tarde chegou às 1200, mas gostamos que
vendia tintas – as voltas que a vida dá! ele se mantenha assim, quase tão pequeno
Abrimos como bar de poncha, o que na como um arraial de praia. É um festival
altura era incomum ver-se no Funchal. Não que se vive entre amigos – os que já conhe-
tínhamos propriamente um plano, a inten- cemos e os que fazemos durante aqueles
ção era apenas reunir aqui a malta com dias – e por isso gostamos de lhe chamar
quem nos dávamos. Mas as coisas foram um convívio com atuações musicais. Já
evoluindo e começámos a perceber que, recebemos nomes de fora como Bonga,
se nós sentíamos falta de algumas coisas Who Made Who ou The Correspondents,
na ilha – de oferta musical, por exemplo –, mas também portugueses, como La Flama
mais gente haveria de pensar o mesmo. Era Blanca, Memória de Peixe, Capitão Fausto,
preciso alguém dar esse passo. Podíamos The Legendary Tigerman ou Lena d’Água.
ser nós, já que vivíamos cá, a criar as coisas No dia a dia, a programação do Barrei-
novas e interessantes que procurávamos. rinha Bar Café é mais simples, mas sempre
A Barreirinha foi crescendo. O que come- alternativa. Tentamos mostrar aqui um
çou por ser um bar de amigos para amigos, pouco de tudo, do bailinho da Madeira às
tornou-se uma comunidade aberta em que se bandas de garagem que vão surgindo na
criam constantemente novas amizades. Isso ilha. Gostamos de rock n’ roll e de música
acontece porque o espaço é magnético. Com alternativa, mas nós vamos a todas, sem-
o mar mesmo aqui, o complexo balnear em pre de forma desorganizada. Vivemos de

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


frente, a esplanada enorme, aquele muro que música, amigos e copos. Sabes o que se
se enche de gente… Tecnicamente somos diz sobre o drug dealer não dever consu-
um bar de cocktails e um burger joint, mas na mir o que vende? Nós somos o contrário:
verdade somos mais do que isso. Vemos aqui provamos e alimentamo-nos de
reencontros de infância, malta a começar a tudo o que oferecemos. Podemos
namorar, amizades que começam e que se chamar-lhe controlo de qualidade.

CONHECER
118 FÁ B IO R E M E S S O E C L ÁU DI A F E R N A N D E S CONHECER
119 FÁ B IO R E M E S S O E C L ÁU DI A F E R N A N D E S
CONHECER FUNCHAL

FÁBIO REMESSO
BARREIRINHA BAR CAFÉ

38 ANOS LARGO DO SOCORRO, 1

E CLÁUDIA FERNANDES
291 627 418

@BARREIRINHABARCAFE
35 ANOS

BARREIRINHA BAR CAFÉ


S O M O S a Cláudia e o Fábio, mas fortalecem. Somos um espaço musical e cul-
também somos Ventania e Amor. tural onde as pessoas da ilha se reúnem – seja
É assim que se chama a nossa para as jazz jam sessions à sexta, para os con-
dupla, quando passamos música juntos, o certos ao sábado, para uma poncha durante a
que normalmente acontece na Barreirinha. semana ou, claro, para o festival Aleste.
A história do espaço começa em 2009, O festival surgiu em 2014 e está ligado
quando abriu portas como Barreirinha a este espaço de uma forma muito íntima.
Bar Café. Aquilo era um part-time para nós: No primeiro ano recebeu 250 pessoas, mais
um era delegado de ação médica e o outro tarde chegou às 1200, mas gostamos que
vendia tintas – as voltas que a vida dá! ele se mantenha assim, quase tão pequeno
Abrimos como bar de poncha, o que na como um arraial de praia. É um festival
altura era incomum ver-se no Funchal. Não que se vive entre amigos – os que já conhe-
tínhamos propriamente um plano, a inten- cemos e os que fazemos durante aqueles
ção era apenas reunir aqui a malta com dias – e por isso gostamos de lhe chamar
quem nos dávamos. Mas as coisas foram um convívio com atuações musicais. Já
evoluindo e começámos a perceber que, recebemos nomes de fora como Bonga,
se nós sentíamos falta de algumas coisas Who Made Who ou The Correspondents,
na ilha – de oferta musical, por exemplo –, mas também portugueses, como La Flama
mais gente haveria de pensar o mesmo. Era Blanca, Memória de Peixe, Capitão Fausto,
preciso alguém dar esse passo. Podíamos The Legendary Tigerman ou Lena d’Água.
ser nós, já que vivíamos cá, a criar as coisas No dia a dia, a programação do Barrei-
novas e interessantes que procurávamos. rinha Bar Café é mais simples, mas sempre
A Barreirinha foi crescendo. O que come- alternativa. Tentamos mostrar aqui um
çou por ser um bar de amigos para amigos, pouco de tudo, do bailinho da Madeira às
tornou-se uma comunidade aberta em que se bandas de garagem que vão surgindo na
criam constantemente novas amizades. Isso ilha. Gostamos de rock n’ roll e de música
acontece porque o espaço é magnético. Com alternativa, mas nós vamos a todas, sem-
o mar mesmo aqui, o complexo balnear em pre de forma desorganizada. Vivemos de

FOTOGRAFIA RODRIGO CABRITA


frente, a esplanada enorme, aquele muro que música, amigos e copos. Sabes o que se
se enche de gente… Tecnicamente somos diz sobre o drug dealer não dever consu-
um bar de cocktails e um burger joint, mas na mir o que vende? Nós somos o contrário:
verdade somos mais do que isso. Vemos aqui provamos e alimentamo-nos de
reencontros de infância, malta a começar a tudo o que oferecemos. Podemos
namorar, amizades que começam e que se chamar-lhe controlo de qualidade.

CONHECER
118 FÁ B IO R E M E S S O E C L ÁU DI A F E R N A N D E S CONHECER
119 FÁ B IO R E M E S S O E C L ÁU DI A F E R N A N D E S
PORTO

E X P E R I M E N TA R
SANTO

COMPRAR
DORMIR
CONHECER
Se os madeirenses há muito que
usufruem da riqueza da oferta e da
simpatia dos profetas locais, a maioria

COMER
dos continentais ainda teimam em
olhar para o Porto Santo apenas
como uma praia. Fazem mal. Porque

V I S I TA R
na mais pequena das ilhas habitadas
do arquipélago – descoberta antes da
Madeira –, a somar à imensidão do areal
com propriedades terapêuticas, há
PA S S E A R
excelentes opções gastronómicas, trilhos
desafiantes com vistas recompensadoras
e recantos paradisíacos de onde apetece
EXPLORAR

nunca mais voltar.


PORTO

E X P E R I M E N TA R
SANTO

COMPRAR
DORMIR
CONHECER
Se os madeirenses há muito que
usufruem da riqueza da oferta e da
simpatia dos profetas locais, a maioria

COMER
dos continentais ainda teimam em
olhar para o Porto Santo apenas
como uma praia. Fazem mal. Porque

V I S I TA R
na mais pequena das ilhas habitadas
do arquipélago – descoberta antes da
Madeira –, a somar à imensidão do areal
com propriedades terapêuticas, há
PA S S E A R
excelentes opções gastronómicas, trilhos
desafiantes com vistas recompensadoras
e recantos paradisíacos de onde apetece
EXPLORAR

nunca mais voltar.


12 1

CAMACHA 11

1   PAS S E AR  VEREDA DO PICO BRANCO 4


3

E TERRA CHÃ   13 8
2   COM ER   TEODORICO   1 29
3   E XPLORAR  PORTO DOS FRADES   133
10
DRAGOAL
4   PAS S E AR  MOINHOS DE VENTO   1 25
5
5   COM ER   LAMBECAS   132
6   NAVEGAR  LOBO MARINHO   1 24
7   DORM IR  HOTEL PORTO SANTO & SPA   134
8   COM ER   TIA MARIA BEACH CLUB   1 26
9   PAS S E AR  PICO DE ANA FERREIRA   146 VILA 6
BALEIRA
10   B EB ER   VINHO DO PORTO SANTO   1 28

11   COM ER   BOLO DO CACO


DE TERESA MELIM   14 4
12   B EB ER   PORTO DAS SALEMAS   1 1 2

7
9

PONTA DA
CALHETA

ILHÉU DA CAL
12 1

CAMACHA 11

1   PAS S E AR  VEREDA DO PICO BRANCO 4


3

E TERRA CHÃ   13 8
2   COM ER   TEODORICO   1 29
3   E XPLORAR  PORTO DOS FRADES   133
10
DRAGOAL
4   PAS S E AR  MOINHOS DE VENTO   1 25
5
5   COM ER   LAMBECAS   132
6   NAVEGAR  LOBO MARINHO   1 24
7   DORM IR  HOTEL PORTO SANTO & SPA   134
8   COM ER   TIA MARIA BEACH CLUB   1 26
9   PAS S E AR  PICO DE ANA FERREIRA   146 VILA 6
BALEIRA
10   B EB ER   VINHO DO PORTO SANTO   1 28

11   COM ER   BOLO DO CACO


DE TERESA MELIM   14 4
12   B EB ER   PORTO DAS SALEMAS   1 1 2

7
9

PONTA DA
CALHETA

ILHÉU DA CAL
N AV E G A R PORTO SANTO PA S S E A R PORTO SANTO
Q U E M hoje constata ao vivo e a cores a
paisagem árida e muito pouco cultivada do

LOBO MOINHOS
Porto Santo terá dificuldades em acreditar
que, noutros tempos, a ilha foi considerada
uma espécie de celeiro da Madeira – onde

MARINHO DE VENTO
as culturas da cana-do-açúcar e da vinha
tinham prioridade sobre o trigo.
Ora, para colmatar a falta de água e
a ineficácia das atafonas – os moinhos
movidos pela força animal –, a partir do
século xix começaram a nascer nas zonas
ER 233, A NORTE DA MARINA DO PORTO SANTO mais ventosas da ilha curiosos moinhos
N Ã O É a forma mais rápida de chegar
de vento, muitos deles construídos em
ao Porto Santo – a viagem demora cerca
madeira e colocados sobre uma plataforma
de 2h45 –, mas é a que permite desfrutar
rotativa que lhes permitia, rodando, tirar
melhor do percurso. Por duas razões.
maior partido da direção das rajadas e
A primeira são as vistas majestosas que
moer o cereal com mais eficácia. Chega-
oferece do Funchal e da costa leste da
ram a existir quase meia centena destes
Madeira, sobretudo nas viagens que,
moinhos.
no verão, saem do Porto Santo às 19h e
Foram, no entanto, sol de pouca dura.
chegam ao destino praticamente à hora
Assim que se facilitou a importação, aban-
do pôr do sol, convidando os passagei-
donou-se a produção de farinha e, con-
ros a assomar às varandas ou ao solário,
sequentemente, os moinhos. Estes conti-
no piso superior, para ver a espetacular
nuam, ainda assim, a marcar a paisagem da
chegada ao destino.
ilha e a oferecer excelentes oportunidades
A segunda é menos tangível, mas
de fotografia.
igualmente válida: além da viagem, pela
qual se paga o respetivo bilhete, oferece
uma outra – no tempo. É que o Lobo
Marinho parece, ainda que inadvertida-
mente, transportar todos os seus passa-
geiros para o final da década de 1990:
da sala de cinema onde se exibem filmes
dignos de Primeira Matiné, ao salão de
jogos e videojogos onde matraquilhos, air
hockey e algumas máquinas arcade reme-
tem para saudosas tardes de infância na
Feira Popular. Mas não é tudo: a receção
engalanada, os salões lounge cheios de
poltronas e até mesmo o extenso menu
do restaurante Algas e Corais, com uma
cozinha surpreendentemente elabo-
rada e anacrónica nalgumas propostas,
↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

também fazem parte desse repertório


nostálgico. E atenção que nada disto é
defeito. Pelo contrário: é feitio e torna
esta viagem, com tudo para ser banal
DURANTE O VERÃO, HÁ LIGAÇÕES DIÁRIAS ENTRE e aborrecida – mesmo em dias de mar
O FUNCHAL E O PORTO SANTO E VICE-VERSA. agitado – numa experiência que será
A VIAGEM DE IDA E VOLTA EM TURÍSTICA CUSTA sempre, pelo menos para quem a faz
59,44€ PARA ADULTOS NÃO RESIDENTES. pela primeira vez, curiosa e original.

N AV E G A R
124 LOBO MARINHO PA S S E A R
125 MOINHOS DE VENTO
N AV E G A R PORTO SANTO PA S S E A R PORTO SANTO
Q U E M hoje constata ao vivo e a cores a
paisagem árida e muito pouco cultivada do

LOBO MOINHOS
Porto Santo terá dificuldades em acreditar
que, noutros tempos, a ilha foi considerada
uma espécie de celeiro da Madeira – onde

MARINHO DE VENTO
as culturas da cana-do-açúcar e da vinha
tinham prioridade sobre o trigo.
Ora, para colmatar a falta de água e
a ineficácia das atafonas – os moinhos
movidos pela força animal –, a partir do
século xix começaram a nascer nas zonas
ER 233, A NORTE DA MARINA DO PORTO SANTO mais ventosas da ilha curiosos moinhos
N Ã O É a forma mais rápida de chegar
de vento, muitos deles construídos em
ao Porto Santo – a viagem demora cerca
madeira e colocados sobre uma plataforma
de 2h45 –, mas é a que permite desfrutar
rotativa que lhes permitia, rodando, tirar
melhor do percurso. Por duas razões.
maior partido da direção das rajadas e
A primeira são as vistas majestosas que
moer o cereal com mais eficácia. Chega-
oferece do Funchal e da costa leste da
ram a existir quase meia centena destes
Madeira, sobretudo nas viagens que,
moinhos.
no verão, saem do Porto Santo às 19h e
Foram, no entanto, sol de pouca dura.
chegam ao destino praticamente à hora
Assim que se facilitou a importação, aban-
do pôr do sol, convidando os passagei-
donou-se a produção de farinha e, con-
ros a assomar às varandas ou ao solário,
sequentemente, os moinhos. Estes conti-
no piso superior, para ver a espetacular
nuam, ainda assim, a marcar a paisagem da
chegada ao destino.
ilha e a oferecer excelentes oportunidades
A segunda é menos tangível, mas
de fotografia.
igualmente válida: além da viagem, pela
qual se paga o respetivo bilhete, oferece
uma outra – no tempo. É que o Lobo
Marinho parece, ainda que inadvertida-
mente, transportar todos os seus passa-
geiros para o final da década de 1990:
da sala de cinema onde se exibem filmes
dignos de Primeira Matiné, ao salão de
jogos e videojogos onde matraquilhos, air
hockey e algumas máquinas arcade reme-
tem para saudosas tardes de infância na
Feira Popular. Mas não é tudo: a receção
engalanada, os salões lounge cheios de
poltronas e até mesmo o extenso menu
do restaurante Algas e Corais, com uma
cozinha surpreendentemente elabo-
rada e anacrónica nalgumas propostas,
↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

também fazem parte desse repertório


nostálgico. E atenção que nada disto é
defeito. Pelo contrário: é feitio e torna
esta viagem, com tudo para ser banal
DURANTE O VERÃO, HÁ LIGAÇÕES DIÁRIAS ENTRE e aborrecida – mesmo em dias de mar
O FUNCHAL E O PORTO SANTO E VICE-VERSA. agitado – numa experiência que será
A VIAGEM DE IDA E VOLTA EM TURÍSTICA CUSTA sempre, pelo menos para quem a faz
59,44€ PARA ADULTOS NÃO RESIDENTES. pela primeira vez, curiosa e original.

N AV E G A R
124 LOBO MARINHO PA S S E A R
125 MOINHOS DE VENTO
COMER PORTO SANTO

TIA MARIA
C ATA R I N A B E T T E N C O U R T
e Bernardo Pereira são um casal
habituado a promover o que de melhor

BEACH CLUB
existe no arquipélago. Com o projeto
Spirit of Madeira andaram durante anos
a fazê-lo por essa Europa e mundo fora
em diversas feiras e eventos na área do
turismo. Desenvolveram, também, o
projeto A Nossa Poncha, a partir de uma
receita da bebida tradicional – “uma
evolução da poncha à pescador” –
registada por Bernardo e cujo primeiro
cliente foi nem mais, nem menos, que
o Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa.
Em 2019, criaram e desenvolveram
pelo primeiro ano no Porto Santo o
conceito Tia Maria Beach Club – desde
aí que todos os verões se mudam com
a família para a antiga casa de Maria
e Jordão, pescador porto-santense, em
plena praia, junto ao resort do Grupo
Pestana.
O conceito inclui uma concept store
no interior do espaço, mas Catarina
gosta de simplificar a explicação: “Não
é uma loja, não é um bar, não é um res-
taurante; é uma casa onde se come na
latada e que está aberta a todos.”
Recuperando a tradição da tal Tia
Maria, que servia dentinhos e cervejas
ao seu marido e restantes pescadores
enquanto estes arranjavam as redes, o
beach club é, em primeiro lugar, sítio de

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


bebidas e petiscos, com uma carta sim-
ples: carne ou peixe grelhados, caldei-
rada, sandes e saladas. Mas quem quiser
pode só aparecer para um copo – quiçá
a poncha especial de Bernardo –, relaxar
e aproveitar da melhor forma os longos
dias de praia que o verão aqui oferece.

ESTRADA DOS CARREIREIROS

CAMPO DE BAIXO. 965 863 882

@TIAMARIABEACHCLUB

COMER
127 TIA MARIA BEACH CLUB
COMER PORTO SANTO

TIA MARIA
C ATA R I N A B E T T E N C O U R T
e Bernardo Pereira são um casal
habituado a promover o que de melhor

BEACH CLUB
existe no arquipélago. Com o projeto
Spirit of Madeira andaram durante anos
a fazê-lo por essa Europa e mundo fora
em diversas feiras e eventos na área do
turismo. Desenvolveram, também, o
projeto A Nossa Poncha, a partir de uma
receita da bebida tradicional – “uma
evolução da poncha à pescador” –
registada por Bernardo e cujo primeiro
cliente foi nem mais, nem menos, que
o Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa.
Em 2019, criaram e desenvolveram
pelo primeiro ano no Porto Santo o
conceito Tia Maria Beach Club – desde
aí que todos os verões se mudam com
a família para a antiga casa de Maria
e Jordão, pescador porto-santense, em
plena praia, junto ao resort do Grupo
Pestana.
O conceito inclui uma concept store
no interior do espaço, mas Catarina
gosta de simplificar a explicação: “Não
é uma loja, não é um bar, não é um res-
taurante; é uma casa onde se come na
latada e que está aberta a todos.”
Recuperando a tradição da tal Tia
Maria, que servia dentinhos e cervejas
ao seu marido e restantes pescadores
enquanto estes arranjavam as redes, o
beach club é, em primeiro lugar, sítio de

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


bebidas e petiscos, com uma carta sim-
ples: carne ou peixe grelhados, caldei-
rada, sandes e saladas. Mas quem quiser
pode só aparecer para um copo – quiçá
a poncha especial de Bernardo –, relaxar
e aproveitar da melhor forma os longos
dias de praia que o verão aqui oferece.

ESTRADA DOS CARREIREIROS

CAMPO DE BAIXO. 965 863 882

@TIAMARIABEACHCLUB

COMER
127 TIA MARIA BEACH CLUB
BEBER PORTO SANTO COMER PORTO SANTO

TEODORICO
“ U M B O M ano de vinho no Porto Santo
O N O M E faz parte da história gastronó-
precisa de chuva até março/abril e a
mica da ilha: foi, durante muitos anos,
partir daí quer calor.” A lição é dada
um dos mais conhecidos restaurantes
por José Diogo, 69 anos, professor
do Porto Santo – a casa de um pequeno

VINHO
reformado de Educação Tecnológica a
senhor, Teodorico de seu nome, conhecido
quem a reforma não tem trazido grande
por servir uma espetada deliciosa.
descanso – dedica 10 horas por dia à

DO PORTO
Esteve, porém, fechado durante
sua vinha. E não só: no mesmo terreno,
bastante tempo, até ter sido recuperado
vai produzindo também alguma fruta
este ano pelo mesmo senhor Jorge que
e hortícolas. “A terra aqui tem muito
dava nome a outro clássico da ilha,

SANTO
calcário, que faz bem à uva, ao melão
O Jorge, no centro da Vila Baleira.
e às melancias, que são um espetáculo,
“Fechei [O Jorge] porque a senhoria
muito doces”, garante. É, no entanto, o
precisava do espaço; então viemos para
vinho a sua grande paixão: a família já
aqui”, conta. Viemos, no plural, porque
o produz há cem anos, a mesma idade
com Jorge veio a sua cozinheira de sempre,
O WINE BAR 3VS FUNCIONA APENAS NO VERÃO. de algumas das parreiras que ainda se
a brasileira mais porto-santense que se
RUA GREGÓRIO PESTANA, 8. 917 856 799 conservam na sua vinha de chão.
pode encontrar, Walderes.
Ao contrário de outros produtores,
Wal, como prefere ser chamada, está
José Diogo não vende as suas uvas. Pre-
há 21 anos na ilha e além de dar continui-
cisa de matéria-prima para lhe alimentar
dade à boa tradição da casa com os seus
as experiências: “Se eu sou maluco na
dotes culinários – a espetada é muitíssimo
vinha, ainda sou mais na adega”, avisa,
recomendável – tem outros talentos que o
antes de nos dar a provar uma série de
restaurante lhe permite exibir: são de sua
vinhos com uvas, graduações e tempos
autoria os quadros que decoram a sala.
de estágio diferentes.
À mulher, Fátima – também ela com
uma vida dedicada ao ensino –, cabe
transformar os desperdícios da uva
numa série de produtos derivados, dos
sabonetes à farinha. “Quando se limpa
os cachos, dá um balde de desperdício”,
explica. As grainhas são especialmente
nutritivas: secam-nas e moem-nas,
criando uma farinha que usa para fazer
↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

pão e bolos e que também, garante,


“pode juntar-se à sopa ou ao iogurte,
com os cereais”. Dela nascem ainda
sabonetes e produtos de beleza que,
de junho a outubro, vendem no bar de
vinhos que gerem na ilha, o 3Vs. E quais
são eles? “Vinho, vinha... e volte!”, ensi-
nam os professores. ER 111, SERRA DE FORA. 965 012 650

BEBER
128 VINHO DO PORTO SANTO COMER
129 TEODORICO
BEBER PORTO SANTO COMER PORTO SANTO

TEODORICO
“ U M B O M ano de vinho no Porto Santo
O N O M E faz parte da história gastronó-
precisa de chuva até março/abril e a
mica da ilha: foi, durante muitos anos,
partir daí quer calor.” A lição é dada
um dos mais conhecidos restaurantes
por José Diogo, 69 anos, professor
do Porto Santo – a casa de um pequeno

VINHO
reformado de Educação Tecnológica a
senhor, Teodorico de seu nome, conhecido
quem a reforma não tem trazido grande
por servir uma espetada deliciosa.
descanso – dedica 10 horas por dia à

DO PORTO
Esteve, porém, fechado durante
sua vinha. E não só: no mesmo terreno,
bastante tempo, até ter sido recuperado
vai produzindo também alguma fruta
este ano pelo mesmo senhor Jorge que
e hortícolas. “A terra aqui tem muito
dava nome a outro clássico da ilha,

SANTO
calcário, que faz bem à uva, ao melão
O Jorge, no centro da Vila Baleira.
e às melancias, que são um espetáculo,
“Fechei [O Jorge] porque a senhoria
muito doces”, garante. É, no entanto, o
precisava do espaço; então viemos para
vinho a sua grande paixão: a família já
aqui”, conta. Viemos, no plural, porque
o produz há cem anos, a mesma idade
com Jorge veio a sua cozinheira de sempre,
O WINE BAR 3VS FUNCIONA APENAS NO VERÃO. de algumas das parreiras que ainda se
a brasileira mais porto-santense que se
RUA GREGÓRIO PESTANA, 8. 917 856 799 conservam na sua vinha de chão.
pode encontrar, Walderes.
Ao contrário de outros produtores,
Wal, como prefere ser chamada, está
José Diogo não vende as suas uvas. Pre-
há 21 anos na ilha e além de dar continui-
cisa de matéria-prima para lhe alimentar
dade à boa tradição da casa com os seus
as experiências: “Se eu sou maluco na
dotes culinários – a espetada é muitíssimo
vinha, ainda sou mais na adega”, avisa,
recomendável – tem outros talentos que o
antes de nos dar a provar uma série de
restaurante lhe permite exibir: são de sua
vinhos com uvas, graduações e tempos
autoria os quadros que decoram a sala.
de estágio diferentes.
À mulher, Fátima – também ela com
uma vida dedicada ao ensino –, cabe
transformar os desperdícios da uva
numa série de produtos derivados, dos
sabonetes à farinha. “Quando se limpa
os cachos, dá um balde de desperdício”,
explica. As grainhas são especialmente
nutritivas: secam-nas e moem-nas,
criando uma farinha que usa para fazer
↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

pão e bolos e que também, garante,


“pode juntar-se à sopa ou ao iogurte,
com os cereais”. Dela nascem ainda
sabonetes e produtos de beleza que,
de junho a outubro, vendem no bar de
vinhos que gerem na ilha, o 3Vs. E quais
são eles? “Vinho, vinha... e volte!”, ensi-
nam os professores. ER 111, SERRA DE FORA. 965 012 650

BEBER
128 VINHO DO PORTO SANTO COMER
129 TEODORICO
EXPLORAR PORTO SANTO MERGULHAR PORTO SANTO
E S T A P E Q U E N A enseada na costa norte
do Porto Santo pode oferecer, em dias de

PICO PORTO
céu limpo e maré baixa, banhos relaxantes
nas piscinas naturais de origem vulcânica,
cheias de água cristalina e naturalmente
temperada, bem como fotografias que, com

CASTELO DAS
certeza, farão sucesso nas redes sociais.
Problema: o proprietário do terreno por
onde passa a estrada de terra batida que dá
acesso ao Porto das Salemas, tem, ultima-

SALEMAS
mente, impedido a passagem dos visitantes
por estar em diferendo com as autoridades
locais. Há relatos de quem tenha conse-
guido passar, após uma pequena conversa,
mas para isso é preciso ter a sorte de o
apanhar no local.
Também é possível, por outro lado,
que quando este guia chegar às bancas, a
questiúncula que tem impedido as visitas já
esteja resolvida e que o caminho esteja livre
ACEDE-SE AO PORTO DAS SALEMAS PELA ESTRADA para usufruir de um dos melhores locais
QUE CONTORNA O EXTREMO NORTE DO AEROPORTO, para mergulhos não só no Porto Santo, nem
JUNTO À POVOAÇÃO DA CAMACHA. na Madeira, mas possivelmente em todo o
COORDENADAS GPS: 33.092975, -16.351653 território nacional. Que assim seja.

→ FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS


O M I R A D O U R O do Pico Castelo será, era atacada por piratas franceses e argeli-
porventura, um dos primeiros pontos a nos, funcionando, assim, como o castelo
visitar mal se chega ao Porto Santo. Não que Porto Santo nunca teve.
porque seja mais bonito do que os outros No topo, junto a essa fortificação, há
mas porque oferece uma panorâmica de um pequeno parque que permite fazer
toda a ilha, com as suas diferentes povoa- piqueniques e uma estátua de António
ções e ilhéus que a circundam. É como Schiappa de Azevedo, o homem respon-
olhar para um mapa, mas em tamanho sável pela reflorestação da ilha no início
real e a três dimensões. do século xx e que começou esse trabalho
O nome deve-se à antiga fortificação precisamente por aqui.
↓ FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA

onde a população se refugiava sempre que Existe um trilho que permite descobrir
a zona em redor do Pico Castelo, bem
como a respetiva fauna e flora e que con-
O TRILHO DO PICO CASTELO INÍCIA-SE NO SÍTIO torna, pelo lado norte ou pelo lado sul,
DO MOLEDO, JUNTO À ESTRADA REGIONAL 111 outro dos sete picos da ilha, o do Facho.

EXPLORAR
130 PICO CASTELO MERGULHAR
131 PORTO DAS SALEMAS
EXPLORAR PORTO SANTO MERGULHAR PORTO SANTO
E S T A P E Q U E N A enseada na costa norte
do Porto Santo pode oferecer, em dias de

PICO PORTO
céu limpo e maré baixa, banhos relaxantes
nas piscinas naturais de origem vulcânica,
cheias de água cristalina e naturalmente
temperada, bem como fotografias que, com

CASTELO DAS
certeza, farão sucesso nas redes sociais.
Problema: o proprietário do terreno por
onde passa a estrada de terra batida que dá
acesso ao Porto das Salemas, tem, ultima-

SALEMAS
mente, impedido a passagem dos visitantes
por estar em diferendo com as autoridades
locais. Há relatos de quem tenha conse-
guido passar, após uma pequena conversa,
mas para isso é preciso ter a sorte de o
apanhar no local.
Também é possível, por outro lado,
que quando este guia chegar às bancas, a
questiúncula que tem impedido as visitas já
esteja resolvida e que o caminho esteja livre
ACEDE-SE AO PORTO DAS SALEMAS PELA ESTRADA para usufruir de um dos melhores locais
QUE CONTORNA O EXTREMO NORTE DO AEROPORTO, para mergulhos não só no Porto Santo, nem
JUNTO À POVOAÇÃO DA CAMACHA. na Madeira, mas possivelmente em todo o
COORDENADAS GPS: 33.092975, -16.351653 território nacional. Que assim seja.

→ FOTOGRAFIA GONÇALO F. SANTOS


O M I R A D O U R O do Pico Castelo será, era atacada por piratas franceses e argeli-
porventura, um dos primeiros pontos a nos, funcionando, assim, como o castelo
visitar mal se chega ao Porto Santo. Não que Porto Santo nunca teve.
porque seja mais bonito do que os outros No topo, junto a essa fortificação, há
mas porque oferece uma panorâmica de um pequeno parque que permite fazer
toda a ilha, com as suas diferentes povoa- piqueniques e uma estátua de António
ções e ilhéus que a circundam. É como Schiappa de Azevedo, o homem respon-
olhar para um mapa, mas em tamanho sável pela reflorestação da ilha no início
real e a três dimensões. do século xx e que começou esse trabalho
O nome deve-se à antiga fortificação precisamente por aqui.
↓ FOTOGRAFIA FRANCISCO CORREIA

onde a população se refugiava sempre que Existe um trilho que permite descobrir
a zona em redor do Pico Castelo, bem
como a respetiva fauna e flora e que con-
O TRILHO DO PICO CASTELO INÍCIA-SE NO SÍTIO torna, pelo lado norte ou pelo lado sul,
DO MOLEDO, JUNTO À ESTRADA REGIONAL 111 outro dos sete picos da ilha, o do Facho.

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130 PICO CASTELO MERGULHAR
131 PORTO DAS SALEMAS
COMER PORTO SANTO EXPLORAR PORTO SANTO

LAMBECAS PORTO
RUA DOUTOR NUNO SILVESTRE TEIXEIRA, VILA BALEIRA

PREÇO: 1,40€ A 1,70€


J O S É R E I S Dionísio Leão abriu o seu
pequeno quiosque virado para o Largo
DOS
FRADES
do Pelourinho em junho de 1961.
Durante cerca de 30 anos teve dois
trabalhos: no aeroporto do Porto Santo
reabastecia aviões, no centro da Vila
Baleira servia gelados de máquina, que,
certo dia, alguém batizou de Lambecas.
O nome pegou.
José continua a servi-los, ainda auxi-
liado por uma das máquinas da funda-
A L E N D A é digna de ser lida com a
ção da casa, quase tão antiga como ele.
entoação que celebrizou José Hermano
Quase. José contabiliza “oitenta e onze
Saraiva. Foi aqui, que, em 1418, João
anos” de vida. E explica: “Se disser que
Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e
tenho 91, quer dizer que já estou nos
Bartolomeu Perestrelo aportaram pela
noventas, não gosto disso.”
primeira vez na ilha de Porto Santo.
Em 2019, bateu o recorde de gelados
Numa das viagens seguintes terão
vendidos num dia: 980. No verão é nor-
encontrado neste mesmo local dois fra-
mal as filas estenderem-se por dezenas
des franciscanos, vítimas de naufrágio
de metros: e nem vale a pena escolher os
a caminho das Canárias. Levaram-nos
sabores, porque quando chega a vez de
de volta à Madeira, mas o pequeno
pedir, podem já ser outros. José vai tro-
porto natural ficou para sempre conhe-
cando os sabores disponíveis – dois de
cido como “dos frades”.
cada vez –, à medida que estes acabam.
Hoje, Porto dos Frades é nome de
Às vezes chega a ter 25 diferentes no
praia de calhau e de piscinas naturais,
mesmo dia. Uns entram por cima dos
que muitos procuram para um mergu-
outros nas máquinas, o gosto às vezes
lho mais tranquilo durante a época alta.
confunde-se, mas nas Lambecas, mais
E é também nesta zona, caminhando
do que a qualidade do produto, inte-
sempre junto à rocha na direção norte,
ressa é cumprir a tradição. E a tradição

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


que se encontra uma das atrações mais
exige, também, que não se use colher.
recentes da ilha: a chamada Greta D.
“Isto é a Lambecas, não é a Colherecas”,
Beja, uma fenda num desfiladeiro que
avisa José.
permite aceder ao seu imponente inte-
rior. Impressionante, sem dúvida, mas
um passeio que não é recomendável a
crianças nem a pessoas com mobilidade
reduzida.

SERRA DE FORA.

COORDENADAS GPS: 33.069826,

-16.298569

COMER
132 LAMBECAS EXPLORAR
133 PORTO DOS FRADES
COMER PORTO SANTO EXPLORAR PORTO SANTO

LAMBECAS PORTO
RUA DOUTOR NUNO SILVESTRE TEIXEIRA, VILA BALEIRA

PREÇO: 1,40€ A 1,70€


J O S É R E I S Dionísio Leão abriu o seu
pequeno quiosque virado para o Largo
DOS
FRADES
do Pelourinho em junho de 1961.
Durante cerca de 30 anos teve dois
trabalhos: no aeroporto do Porto Santo
reabastecia aviões, no centro da Vila
Baleira servia gelados de máquina, que,
certo dia, alguém batizou de Lambecas.
O nome pegou.
José continua a servi-los, ainda auxi-
liado por uma das máquinas da funda-
A L E N D A é digna de ser lida com a
ção da casa, quase tão antiga como ele.
entoação que celebrizou José Hermano
Quase. José contabiliza “oitenta e onze
Saraiva. Foi aqui, que, em 1418, João
anos” de vida. E explica: “Se disser que
Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e
tenho 91, quer dizer que já estou nos
Bartolomeu Perestrelo aportaram pela
noventas, não gosto disso.”
primeira vez na ilha de Porto Santo.
Em 2019, bateu o recorde de gelados
Numa das viagens seguintes terão
vendidos num dia: 980. No verão é nor-
encontrado neste mesmo local dois fra-
mal as filas estenderem-se por dezenas
des franciscanos, vítimas de naufrágio
de metros: e nem vale a pena escolher os
a caminho das Canárias. Levaram-nos
sabores, porque quando chega a vez de
de volta à Madeira, mas o pequeno
pedir, podem já ser outros. José vai tro-
porto natural ficou para sempre conhe-
cando os sabores disponíveis – dois de
cido como “dos frades”.
cada vez –, à medida que estes acabam.
Hoje, Porto dos Frades é nome de
Às vezes chega a ter 25 diferentes no
praia de calhau e de piscinas naturais,
mesmo dia. Uns entram por cima dos
que muitos procuram para um mergu-
outros nas máquinas, o gosto às vezes
lho mais tranquilo durante a época alta.
confunde-se, mas nas Lambecas, mais
E é também nesta zona, caminhando
do que a qualidade do produto, inte-
sempre junto à rocha na direção norte,
ressa é cumprir a tradição. E a tradição

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


que se encontra uma das atrações mais
exige, também, que não se use colher.
recentes da ilha: a chamada Greta D.
“Isto é a Lambecas, não é a Colherecas”,
Beja, uma fenda num desfiladeiro que
avisa José.
permite aceder ao seu imponente inte-
rior. Impressionante, sem dúvida, mas
um passeio que não é recomendável a
crianças nem a pessoas com mobilidade
reduzida.

SERRA DE FORA.

COORDENADAS GPS: 33.069826,

-16.298569

COMER
132 LAMBECAS EXPLORAR
133 PORTO DOS FRADES
DORMIR PORTO SANTO
O projeto original contemplava 40
quartos e destacava-se pela utilização de

HOTEL PORTO
materiais ligeiros – vime, madeira e cor-
tiça –, em total ligação com a natureza, o
que fazia desta uma obra singular, desta-
cada, inclusive, em diversas revistas da

SANTO & SPA


especialidade.
Adquirido pela Sociedade Turística
da Penina no início dos anos 70, quando
a ilha começa a ter algum movimento
turístico significativo, o Hotel Porto
Santo entra em obras de remodelação
e ampliação. Só que na véspera da
re-inauguração, a 31 de outubro de 1974,
um enorme incêndio obriga à sua quase
posterior reconstrução, já em betão,
comprometendo assim o conceito do
projeto de Anahory e Braamcamp Cid.
Apesar de tudo, o estilo modernista
por estes impresso é ainda visível hoje,
em alguns pontos, na sua configuração
atual que, após várias remodelações, inclui
94 quartos e cinco villas. Continua, por isso,
a ser um local emblemático da ilha, mais
ainda por causa do (belíssimo) spa, onde
se fazem tratamentos inovadores de
geomedicina, como a Terapia de Areias
Quentes, que tira partido das propriedades
O A E R O P O R T O do Porto Santo foi
únicas e curativas das areias da praia do
inaugurado a 28 de agosto de 1960, quatro
Porto Santo. Afinal, não lhe chamam ilha
anos antes do seu congénere da Madeira.
dourada por acaso.
Foi a primeira ligação aérea entre o
continente e o arquipélago – a grande
maioria dos passageiros tinham como
destino final o Funchal, fazendo a ligação
entre ilhas num cacilheiro com bancos de

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


avião, operado pela tap.
Com a abertura do aeroporto, surgiu
a necessidade de um hotel que albergasse
tripulações, passageiros em trânsito e
alguns oficiais da nato que por ali tinha
instalado, também, uma base de operações.
Nasce, assim, o Hotel Porto Santo, o
primeiro a abrir na ilha, em 1963, assinado
por Eduardo Anahory, um dos mais dis-
ruptivos arquitetos modernistas da época
mas que, por não ter curso completo, assi-
nava os projetos sempre com um dos seus
ESTRADA REGIONAL 120, CAMPO DE BAIXO. pares. Neste caso, Pedro Braamcamp Cid,
291 980 140. WWW.HOTELPORTOSANTO.COM autor, por exemplo, do edifício da Funda-
ESTADIA A PARTIR DE 75€/NOITE ção Calouste Gulbenkian.

DORMIR
134 H OT E L P O R TO S A N TO & S PA DORMIR
135 H OT E L P O R TO S A N TO & S PA
DORMIR PORTO SANTO
O projeto original contemplava 40
quartos e destacava-se pela utilização de

HOTEL PORTO
materiais ligeiros – vime, madeira e cor-
tiça –, em total ligação com a natureza, o
que fazia desta uma obra singular, desta-
cada, inclusive, em diversas revistas da

SANTO & SPA


especialidade.
Adquirido pela Sociedade Turística
da Penina no início dos anos 70, quando
a ilha começa a ter algum movimento
turístico significativo, o Hotel Porto
Santo entra em obras de remodelação
e ampliação. Só que na véspera da
re-inauguração, a 31 de outubro de 1974,
um enorme incêndio obriga à sua quase
posterior reconstrução, já em betão,
comprometendo assim o conceito do
projeto de Anahory e Braamcamp Cid.
Apesar de tudo, o estilo modernista
por estes impresso é ainda visível hoje,
em alguns pontos, na sua configuração
atual que, após várias remodelações, inclui
94 quartos e cinco villas. Continua, por isso,
a ser um local emblemático da ilha, mais
ainda por causa do (belíssimo) spa, onde
se fazem tratamentos inovadores de
geomedicina, como a Terapia de Areias
Quentes, que tira partido das propriedades
O A E R O P O R T O do Porto Santo foi
únicas e curativas das areias da praia do
inaugurado a 28 de agosto de 1960, quatro
Porto Santo. Afinal, não lhe chamam ilha
anos antes do seu congénere da Madeira.
dourada por acaso.
Foi a primeira ligação aérea entre o
continente e o arquipélago – a grande
maioria dos passageiros tinham como
destino final o Funchal, fazendo a ligação
entre ilhas num cacilheiro com bancos de

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


avião, operado pela tap.
Com a abertura do aeroporto, surgiu
a necessidade de um hotel que albergasse
tripulações, passageiros em trânsito e
alguns oficiais da nato que por ali tinha
instalado, também, uma base de operações.
Nasce, assim, o Hotel Porto Santo, o
primeiro a abrir na ilha, em 1963, assinado
por Eduardo Anahory, um dos mais dis-
ruptivos arquitetos modernistas da época
mas que, por não ter curso completo, assi-
nava os projetos sempre com um dos seus
ESTRADA REGIONAL 120, CAMPO DE BAIXO. pares. Neste caso, Pedro Braamcamp Cid,
291 980 140. WWW.HOTELPORTOSANTO.COM autor, por exemplo, do edifício da Funda-
ESTADIA A PARTIR DE 75€/NOITE ção Calouste Gulbenkian.

DORMIR
134 H OT E L P O R TO S A N TO & S PA DORMIR
135 H OT E L P O R TO S A N TO & S PA
MERGULHAR PORTO SANTO COMER PORTO SANTO

GIRASSOL
A C O S T A sul do Porto Santo é sobeja-
mente conhecida pelos seus nove quilóme-
tros de praia. Ora, nove quilómetros dão
para muitas praias, por isso é natural que
esta tenha várias designações ao longo da
sua extensão.

PRAIA
Uma delas é, precisamente, Cabeço.
A chamada praia do Cabeço fica na zona
dos hotéis, entre o Campo de Baixo e o
Cabeço da Ponta, onde as propriedades

DO
terapêuticas das suas areias finas, dou-
radas e macias são mais evidentes. A sua
fama no contributo para a recuperação de
mazelas ortopédicas e de circulação vem

CABEÇO
de tempos idos.
A praia do Cabeço é, também, um bom
ponto de partida para passeios à beira-mar,
que podem ser mais longos, na direção
da Marina, ou mais curtos, no sentido da
Calheta. Os mergulhos na água límpida e
ESTRADA REGIONAL 120, ENTRE O CAMPO amena – no verão chega a atingir os
DE BAIXO E O CABEÇO DA PONTA 25/26 °C – são, também, obrigatórios.

SÍTIO DO CAMPO DE BAIXO

291 984 629

A R E C E I T A é simples, mas torna-o, também as recheiam com a típica carne em

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


desde 1983, um dos locais incontornáveis vinha d’alhos.
da ilha para um petisco rápido antes ou Mas nem só a comida e a bebida serve
depois da praia: cerveja servida em cane- de motivo para visitar o Girassol: por trás
cas geladas e uma montra de salgados do balcão encontra-se também um simpá-
caseiros que junta qualidade e variedade. tico salão de jogos, com várias mesas de
Sobretudo as magníficas chamuças, com bilhar. Para se poder utilizá-la, o proprie-
diversos recheios, que podem ser mais afri- tário, Guido Drumond, só faz um pedido,
canas ou mais indianas – variam o tempero bem expresso na porta: não entrar sem
e as especiarias. Em ocasiões especiais camisola.

MERGULHAR
136 PRAIA DO CABEÇO COMER
137 GIRASSOL
MERGULHAR PORTO SANTO COMER PORTO SANTO

GIRASSOL
A C O S T A sul do Porto Santo é sobeja-
mente conhecida pelos seus nove quilóme-
tros de praia. Ora, nove quilómetros dão
para muitas praias, por isso é natural que
esta tenha várias designações ao longo da
sua extensão.

PRAIA
Uma delas é, precisamente, Cabeço.
A chamada praia do Cabeço fica na zona
dos hotéis, entre o Campo de Baixo e o
Cabeço da Ponta, onde as propriedades

DO
terapêuticas das suas areias finas, dou-
radas e macias são mais evidentes. A sua
fama no contributo para a recuperação de
mazelas ortopédicas e de circulação vem

CABEÇO
de tempos idos.
A praia do Cabeço é, também, um bom
ponto de partida para passeios à beira-mar,
que podem ser mais longos, na direção
da Marina, ou mais curtos, no sentido da
Calheta. Os mergulhos na água límpida e
ESTRADA REGIONAL 120, ENTRE O CAMPO amena – no verão chega a atingir os
DE BAIXO E O CABEÇO DA PONTA 25/26 °C – são, também, obrigatórios.

SÍTIO DO CAMPO DE BAIXO

291 984 629

A R E C E I T A é simples, mas torna-o, também as recheiam com a típica carne em

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


desde 1983, um dos locais incontornáveis vinha d’alhos.
da ilha para um petisco rápido antes ou Mas nem só a comida e a bebida serve
depois da praia: cerveja servida em cane- de motivo para visitar o Girassol: por trás
cas geladas e uma montra de salgados do balcão encontra-se também um simpá-
caseiros que junta qualidade e variedade. tico salão de jogos, com várias mesas de
Sobretudo as magníficas chamuças, com bilhar. Para se poder utilizá-la, o proprie-
diversos recheios, que podem ser mais afri- tário, Guido Drumond, só faz um pedido,
canas ou mais indianas – variam o tempero bem expresso na porta: não entrar sem
e as especiarias. Em ocasiões especiais camisola.

MERGULHAR
136 PRAIA DO CABEÇO COMER
137 GIRASSOL
PA S S E A R PORTO SANTO

VEREDA DO
O T U R I S M O É , desde há várias déca-
das, a maior fonte de rendimento da
economia do Porto Santo. Não obstante,

PICO BRANCO
a ilha ainda é vendida como um destino
algo limitado: praia, golfe e pouco mais.
Problema: o tempo não é assim tão está-

E TERRA CHÃ
vel – chove pouco, é certo, mas o vento
O TRILHO COMEÇA JUNTO gosta de soprar forte e as nuvens de
À ESTRADA REGIONAL 111, tapar o sol durante mais horas do que
NO NORDESTE DA ILHA seria desejável. Mesmo no verão. Logo,
é necessário variar a oferta.
As caminhadas são uma alternativa
em franca expansão. Cada vez mais e
mais turistas estão a chegar ao Porto
Santo equipados com calçado adequado
para descobrir os seus trilhos e o con-
tacto próximo com a natureza que estes
oferecem.
A Vereda do Pico Branco e Terra Chã
é um excelente ponto de partida nesta
matéria. Originalmente traçada para
os burros que transportavam a cevada
plantada pelos agricultores porto-
-santenses na Terra Chã, não é excessi-
vamente longa – 2,7 km para cada lado
– nem exigente do ponto de vista físico,
e oferece vistas deslumbrantes. Sobre os
picos áridos da ilha, primeiro – apesar
de o acesso ao Pico Branco estar,
de momento, encerrado – e sobre o
imenso mar, depois. Pelo meio, podem
descobrir-se inúmeros exemplares de
árvores plantadas durante a campanha
de reflorestação do Porto Santo – cipres-
tes, por exemplo –, aves marinhas que
aqui nidificam, como a cagarra ou o
garajau, e espécies de flora endémica,
sobretudo arbustos e ervas, que aqui
existem em maior número do que em
qualquer outro local da ilha por se
encontrarem em escarpas pouco ou

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


nada acessíveis.
Na Terra Chã existe ainda uma casa
em pedra recentemente recuperada que
pertence ao Instituto de Conservação
da Natureza e Florestas e que serve de
apoio aos caminhantes – pode ser reser-
vada para pernoita a preços simpáticos.

PA S S E A R
138 VEREDA DO PICO BRANCO E TERRA CHÃ PA S S E A R
139 VEREDA DO PICO BRANCO E TERRA CHÃ
PA S S E A R PORTO SANTO

VEREDA DO
O T U R I S M O É , desde há várias déca-
das, a maior fonte de rendimento da
economia do Porto Santo. Não obstante,

PICO BRANCO
a ilha ainda é vendida como um destino
algo limitado: praia, golfe e pouco mais.
Problema: o tempo não é assim tão está-

E TERRA CHÃ
vel – chove pouco, é certo, mas o vento
O TRILHO COMEÇA JUNTO gosta de soprar forte e as nuvens de
À ESTRADA REGIONAL 111, tapar o sol durante mais horas do que
NO NORDESTE DA ILHA seria desejável. Mesmo no verão. Logo,
é necessário variar a oferta.
As caminhadas são uma alternativa
em franca expansão. Cada vez mais e
mais turistas estão a chegar ao Porto
Santo equipados com calçado adequado
para descobrir os seus trilhos e o con-
tacto próximo com a natureza que estes
oferecem.
A Vereda do Pico Branco e Terra Chã
é um excelente ponto de partida nesta
matéria. Originalmente traçada para
os burros que transportavam a cevada
plantada pelos agricultores porto-
-santenses na Terra Chã, não é excessi-
vamente longa – 2,7 km para cada lado
– nem exigente do ponto de vista físico,
e oferece vistas deslumbrantes. Sobre os
picos áridos da ilha, primeiro – apesar
de o acesso ao Pico Branco estar,
de momento, encerrado – e sobre o
imenso mar, depois. Pelo meio, podem
descobrir-se inúmeros exemplares de
árvores plantadas durante a campanha
de reflorestação do Porto Santo – cipres-
tes, por exemplo –, aves marinhas que
aqui nidificam, como a cagarra ou o
garajau, e espécies de flora endémica,
sobretudo arbustos e ervas, que aqui
existem em maior número do que em
qualquer outro local da ilha por se
encontrarem em escarpas pouco ou

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


nada acessíveis.
Na Terra Chã existe ainda uma casa
em pedra recentemente recuperada que
pertence ao Instituto de Conservação
da Natureza e Florestas e que serve de
apoio aos caminhantes – pode ser reser-
vada para pernoita a preços simpáticos.

PA S S E A R
138 VEREDA DO PICO BRANCO E TERRA CHÃ PA S S E A R
139 VEREDA DO PICO BRANCO E TERRA CHÃ
COMER PORTO SANTO MERGULHAR PORTO SANTO

↓ FOTOGRAFIA GLOBAL IMAGENS


de calcário – ou até à de outra forma
inacessível, porém paradisíaca, praia do
Zimbralinho.
N A P O N T A sudoeste da ilha, onde Qualquer que seja a escolha, será
termina o longo areal porto-santense, possível, igualmente, desfrutar da vista
não termina a diversão. A Calheta, desafogada desta zona, que chega até à ilha
assim se chama esta zona, não só é uma da Madeira. Vendo-a a partir daqui, é fácil

↑ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


ótima área para mergulhos, graças às perceber a relutância dos descobridores
piscinas naturais que se formam nas do Porto Santo em avançar para a dita.
rochas, como oferece outras hipóteses Reza a lenda que pensaram que podia ser
de entretenimento. A saber: a esplanada um dragão gigante e que só ao fim de um
d’O Calhetas, sítio de bons petiscos ano sem ver esse dragão mexer-se é que
e bebidas, os passeios de caiaque (da decidiram navegar naquela direção.
Porto Santo Destination da Tours) até
ao vizinho ilhéu da Cal – onde, durante COORDENADAS GPS:
décadas, existiram minas de extração 33.025889, -16.377351

PANORAMA
A V E L H A expressão que garante existi-
rem imagens que valem por mil palavras
pode bem aplicar-se no caso do Panorama,
o restaurante com a melhor vista de toda
a ilha do Porto Santo. Isto porque é difícil,
senão impossível, desencantar adjetivos
que façam jus à dita. Com esforço, talvez se
ESTRADA CARLOS PESTANA VASCONCELOS,
desencante um, ainda dentro da temática
PORTELA. 966 789 680
linguística: é uma vista superlativa.
Jantar no Panorama é como jantar no
Miradouro da Portela, ali bem perto. Dos
seus largos janelões, os olhos alcançam a
ilha quase toda, da Vila Baleira aos nove
quilómetros de praia que vão da Marina
até à Ponta da Calheta, com o ilhéu da Cal
ao fundo, bem visível.
E a comida? Quase nos esquecemos

PONTA
dela, é verdade. Mas erradamente: a cozi-
nha, a cargo do chef Pedro Correia, é bem
competente. O atum em cama de batata-
-doce é um bom cartão de visita, mas os

DA CALHETA
apetites carnívoros também podem sair
saciados da mesa, graças à boa seleção de
carnes maturadas e de uma novidade de
peso: os bifes da famosa raça de origem
japonesa wagyu.

COMER
140 PA N O R A M A MERGULHAR
141 P O N TA DA C A L H E TA
COMER PORTO SANTO MERGULHAR PORTO SANTO

↓ FOTOGRAFIA GLOBAL IMAGENS


de calcário – ou até à de outra forma
inacessível, porém paradisíaca, praia do
Zimbralinho.
N A P O N T A sudoeste da ilha, onde Qualquer que seja a escolha, será
termina o longo areal porto-santense, possível, igualmente, desfrutar da vista
não termina a diversão. A Calheta, desafogada desta zona, que chega até à ilha
assim se chama esta zona, não só é uma da Madeira. Vendo-a a partir daqui, é fácil

↑ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


ótima área para mergulhos, graças às perceber a relutância dos descobridores
piscinas naturais que se formam nas do Porto Santo em avançar para a dita.
rochas, como oferece outras hipóteses Reza a lenda que pensaram que podia ser
de entretenimento. A saber: a esplanada um dragão gigante e que só ao fim de um
d’O Calhetas, sítio de bons petiscos ano sem ver esse dragão mexer-se é que
e bebidas, os passeios de caiaque (da decidiram navegar naquela direção.
Porto Santo Destination da Tours) até
ao vizinho ilhéu da Cal – onde, durante COORDENADAS GPS:
décadas, existiram minas de extração 33.025889, -16.377351

PANORAMA
A V E L H A expressão que garante existi-
rem imagens que valem por mil palavras
pode bem aplicar-se no caso do Panorama,
o restaurante com a melhor vista de toda
a ilha do Porto Santo. Isto porque é difícil,
senão impossível, desencantar adjetivos
que façam jus à dita. Com esforço, talvez se
ESTRADA CARLOS PESTANA VASCONCELOS,
desencante um, ainda dentro da temática
PORTELA. 966 789 680
linguística: é uma vista superlativa.
Jantar no Panorama é como jantar no
Miradouro da Portela, ali bem perto. Dos
seus largos janelões, os olhos alcançam a
ilha quase toda, da Vila Baleira aos nove
quilómetros de praia que vão da Marina
até à Ponta da Calheta, com o ilhéu da Cal
ao fundo, bem visível.
E a comida? Quase nos esquecemos

PONTA
dela, é verdade. Mas erradamente: a cozi-
nha, a cargo do chef Pedro Correia, é bem
competente. O atum em cama de batata-
-doce é um bom cartão de visita, mas os

DA CALHETA
apetites carnívoros também podem sair
saciados da mesa, graças à boa seleção de
carnes maturadas e de uma novidade de
peso: os bifes da famosa raça de origem
japonesa wagyu.

COMER
140 PA N O R A M A MERGULHAR
141 P O N TA DA C A L H E TA
COMER PORTO SANTO PA S S E A R PORTO SANTO

F A Ç A S O L ou faça chuva, frio ou calor,

FONTE
quando batem as 6 da manhã, é hora de o
senhor Rodrigues pegar ao serviço neste
pequeno snack-bar de portas abertas para

DA AREIA
o mar, que aproveita as instalações de uma
antiga casa da lancha, o nome dado aos
armazéns onde os pescadores guardavam
as embarcações.
Rodrigues está na ilha há 40 anos,
vindo da irmã maior – é natural de COORDENADAS GPS: 33.08697, -16.35545
Machico e, como denunciam as fotografias,
adepto de um histórico clube da terra. “O
meu pai foi ponta de lança do Belenenses
de Machico”, conta. “Ainda fazia uns goli-
tos, tinha jeito.”
O Golfinho, que existe desde 1983 –
com a gerência atual há 22 anos –,
é conhecido sobretudo pelas generosas
sandes que o anfitrião prepara diariamente.
De gaiado seco, polvo, escabeche de atum
ou bife de atum. E as lapas também têm
boa fama. Umas e outras acompanham
bem com uma Brisa ou uma Coral bem
frescas e com um mergulho: o mar fica
a umas dezenas de metros de distância.

O GOLFINHO
RUA JOÃO GONÇALVES ZARCO

(JUNTO À PRAIA), VILA BALEIRA

969 032 530

Q U A N D O se olha para a praia do Porto até há bem pouco tempo, tanto que ainda
Santo, é legítimo perguntar: “De onde é se vê alguma maquinaria abandonada.
que terá vindo tanta areia?” Se o palpite de O resultado é uma paisagem estranha.
↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

quem estuda a ilha estiver certo, foi desta Um deserto que tão depressa remete para
zona, na costa norte: um enorme depósito Norte de África como para o Sudoeste dos
de areias que, por ação do vento, terão Estados Unidos. Não deslustraria enquanto
vindo aqui parar, primeiro, e depois terão palco de um filme de cobóis. Ou, melhor
sido espalhadas pela atual praia. ainda, e aproveitando a proximidade do
Depois do povoamento, foi daqui mar, de um filme de cobóis contra piratas,
retirada muita areia para as primeiras um género que, infelizmente, Hollywood
construções da ilha. E o hábito subsistiu nunca soube explorar. Fica a ideia.

COMER
142 O GOLFINHO PA S S E A R
143 FONTE DA AREIA
COMER PORTO SANTO PA S S E A R PORTO SANTO

F A Ç A S O L ou faça chuva, frio ou calor,

FONTE
quando batem as 6 da manhã, é hora de o
senhor Rodrigues pegar ao serviço neste
pequeno snack-bar de portas abertas para

DA AREIA
o mar, que aproveita as instalações de uma
antiga casa da lancha, o nome dado aos
armazéns onde os pescadores guardavam
as embarcações.
Rodrigues está na ilha há 40 anos,
vindo da irmã maior – é natural de COORDENADAS GPS: 33.08697, -16.35545
Machico e, como denunciam as fotografias,
adepto de um histórico clube da terra. “O
meu pai foi ponta de lança do Belenenses
de Machico”, conta. “Ainda fazia uns goli-
tos, tinha jeito.”
O Golfinho, que existe desde 1983 –
com a gerência atual há 22 anos –,
é conhecido sobretudo pelas generosas
sandes que o anfitrião prepara diariamente.
De gaiado seco, polvo, escabeche de atum
ou bife de atum. E as lapas também têm
boa fama. Umas e outras acompanham
bem com uma Brisa ou uma Coral bem
frescas e com um mergulho: o mar fica
a umas dezenas de metros de distância.

O GOLFINHO
RUA JOÃO GONÇALVES ZARCO

(JUNTO À PRAIA), VILA BALEIRA

969 032 530

Q U A N D O se olha para a praia do Porto até há bem pouco tempo, tanto que ainda
Santo, é legítimo perguntar: “De onde é se vê alguma maquinaria abandonada.
que terá vindo tanta areia?” Se o palpite de O resultado é uma paisagem estranha.
↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS

quem estuda a ilha estiver certo, foi desta Um deserto que tão depressa remete para
zona, na costa norte: um enorme depósito Norte de África como para o Sudoeste dos
de areias que, por ação do vento, terão Estados Unidos. Não deslustraria enquanto
vindo aqui parar, primeiro, e depois terão palco de um filme de cobóis. Ou, melhor
sido espalhadas pela atual praia. ainda, e aproveitando a proximidade do
Depois do povoamento, foi daqui mar, de um filme de cobóis contra piratas,
retirada muita areia para as primeiras um género que, infelizmente, Hollywood
construções da ilha. E o hábito subsistiu nunca soube explorar. Fica a ideia.

COMER
142 O GOLFINHO PA S S E A R
143 FONTE DA AREIA
COMER PORTO SANTO CONHECER PORTO SANTO

BOLO JOSÉ
A S P E S S O A S entram neste
museu e perguntam: ‘mas o
Porto Santo tinha isto tudo?’

DO CACO CARDINA
Tinha isto tudo e muito mais. Cada can-
tinho que houvesse era plantado. Havia
60 ANOS
anos faltos: não chovendo, não havia

DE TERESA
colheita. Eu já não sou desse tempo,

MUSEU DO
mas o meu sogro lembra-se de situações
em que não havia nada para comer. Ele

MELIM
tinha um moinho e acabava por dar

CARDINA
farinha a quem pedia.
Criei este museu para manter viva
a memória da ilha. Cada secção repre-
senta uma atividade que existia aqui.
Só o edifício custou-me 300 mil euros.
a água é um nome: Teresa Melim. Esta A forma é octogonal como os moinhos de
padeira de metro e meio e sorriso fácil vento, a vestimenta ondulada das paredes
tem fama de fazer os melhores da ilha. são as dunas e as janelas são como as dos
E fá-los na cozinha de sua casa, com uma fontanários. Está tudo pensado.
pequena estrutura preparada para o efeito: Muitos dos objetos que aqui se veem
“Já cheguei a fazer 150 por noite”, conta. Já fi-los, outros foram doados. Isto começou
chegou, também, a desmaiar momentanea- quando estive envolvido na decoração de
mente, por estar a cozer bolos há 18 horas um restaurante que tive. Andava a reco-
seguidas, sem parar para comer. “Mesmo lher peças, pensei em pô-las na parede,
assim, não os deixei queimar”, conta, mas depois deu-me um clique: porque
divertida. não continuar?
Teresa era costureira a tempo inteiro Tenho uma oficina, sempre que che-
quando, certo dia, um primo do marido a gava do trabalho fazia qualquer coisa.
convenceu a fazer bolos do caco para ven- Funciona tudo, mesmo as miniaturas de
der no supermercado. E assim foi. Os seus moinho à escala 1/5. Aquilo foi um traba-
bolos do caco começaram a fazer tanto lho de paciência e minúcia, hoje já não
sucesso que nunca mais parou. era capaz, já não tenho visão para isso.
Hoje fornece até restaurantes como Agora só abro quando me telefonam.

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


o vizinho Torres, especializado em grelha- E é bom que sejam pontuais. Tenho isto
dos. Mas não fornece muitos mais: “Mesmo fechado porque trabalho, sou funcioná-
assim, já tenho muito trabalho”, reclama. rio público. Não tenho vida para estar
O B O L O do caco nasceu no Porto Santo É bem verdade: tem tanto trabalho, aliás, aqui sempre e isto não se sustenta
e é no Porto Santo que se continuam a que quando lhe ligaram para ir tomar a por si. Tentei negociar com as agências,
comer os melhores exemplares da receita. vacina contra a covid-19, estava na cozinha, elas não valorizam. Mas isto para mim
“A culpa é da água da rede, ajuda a que em plena confeção. A resposta? “A vacina é como as pirâmides do Egito.
fique mais fofo”, dizem-nos. Talvez seja: a vai ter de esperar, agora estou a fazer bolos.” Eu se fosse ao Egito, também
água que sai das torneiras porto-santenses gostava de ver as pirâmides.”
é dessalinizada e, por isso, tem proprieda-
des bem diferentes daquela que se O BOLO DO CACO FEITO POR TERESA
consome e utiliza na cozinha em toda MELIM PROVA-SE, ENTRE OUTROS, O MUSEU DO CARDINA ESTÁ
a ilha da Madeira. NO RESTAURANTE TORRES: ESTRADA ENCERRADO, MAS JOSÉ ABRE
Mas quando se fala de bolo do caco DOMINGOS D’ORNELAS, CAMACHA. A PORTA AOS INTERESSADOS.
no Porto Santo, mais importante do que 291 984 373 O SEU CONTACTO É O 963 252 021.

COMER
144 BOLO DO CACO CONHECER
145 MUSEU DO CARDINA
COMER PORTO SANTO CONHECER PORTO SANTO

BOLO JOSÉ
A S P E S S O A S entram neste
museu e perguntam: ‘mas o
Porto Santo tinha isto tudo?’

DO CACO CARDINA
Tinha isto tudo e muito mais. Cada can-
tinho que houvesse era plantado. Havia
60 ANOS
anos faltos: não chovendo, não havia

DE TERESA
colheita. Eu já não sou desse tempo,

MUSEU DO
mas o meu sogro lembra-se de situações
em que não havia nada para comer. Ele

MELIM
tinha um moinho e acabava por dar

CARDINA
farinha a quem pedia.
Criei este museu para manter viva
a memória da ilha. Cada secção repre-
senta uma atividade que existia aqui.
Só o edifício custou-me 300 mil euros.
a água é um nome: Teresa Melim. Esta A forma é octogonal como os moinhos de
padeira de metro e meio e sorriso fácil vento, a vestimenta ondulada das paredes
tem fama de fazer os melhores da ilha. são as dunas e as janelas são como as dos
E fá-los na cozinha de sua casa, com uma fontanários. Está tudo pensado.
pequena estrutura preparada para o efeito: Muitos dos objetos que aqui se veem
“Já cheguei a fazer 150 por noite”, conta. Já fi-los, outros foram doados. Isto começou
chegou, também, a desmaiar momentanea- quando estive envolvido na decoração de
mente, por estar a cozer bolos há 18 horas um restaurante que tive. Andava a reco-
seguidas, sem parar para comer. “Mesmo lher peças, pensei em pô-las na parede,
assim, não os deixei queimar”, conta, mas depois deu-me um clique: porque
divertida. não continuar?
Teresa era costureira a tempo inteiro Tenho uma oficina, sempre que che-
quando, certo dia, um primo do marido a gava do trabalho fazia qualquer coisa.
convenceu a fazer bolos do caco para ven- Funciona tudo, mesmo as miniaturas de
der no supermercado. E assim foi. Os seus moinho à escala 1/5. Aquilo foi um traba-
bolos do caco começaram a fazer tanto lho de paciência e minúcia, hoje já não
sucesso que nunca mais parou. era capaz, já não tenho visão para isso.
Hoje fornece até restaurantes como Agora só abro quando me telefonam.

↑↓ FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


o vizinho Torres, especializado em grelha- E é bom que sejam pontuais. Tenho isto
dos. Mas não fornece muitos mais: “Mesmo fechado porque trabalho, sou funcioná-
assim, já tenho muito trabalho”, reclama. rio público. Não tenho vida para estar
O B O L O do caco nasceu no Porto Santo É bem verdade: tem tanto trabalho, aliás, aqui sempre e isto não se sustenta
e é no Porto Santo que se continuam a que quando lhe ligaram para ir tomar a por si. Tentei negociar com as agências,
comer os melhores exemplares da receita. vacina contra a covid-19, estava na cozinha, elas não valorizam. Mas isto para mim
“A culpa é da água da rede, ajuda a que em plena confeção. A resposta? “A vacina é como as pirâmides do Egito.
fique mais fofo”, dizem-nos. Talvez seja: a vai ter de esperar, agora estou a fazer bolos.” Eu se fosse ao Egito, também
água que sai das torneiras porto-santenses gostava de ver as pirâmides.”
é dessalinizada e, por isso, tem proprieda-
des bem diferentes daquela que se O BOLO DO CACO FEITO POR TERESA
consome e utiliza na cozinha em toda MELIM PROVA-SE, ENTRE OUTROS, O MUSEU DO CARDINA ESTÁ
a ilha da Madeira. NO RESTAURANTE TORRES: ESTRADA ENCERRADO, MAS JOSÉ ABRE
Mas quando se fala de bolo do caco DOMINGOS D’ORNELAS, CAMACHA. A PORTA AOS INTERESSADOS.
no Porto Santo, mais importante do que 291 984 373 O SEU CONTACTO É O 963 252 021.

COMER
144 BOLO DO CACO CONHECER
145 MUSEU DO CARDINA
PA S S E A R PORTO SANTO
A Q U E S T Ã O que se impõe: quem foi Ana
Ferreira e porque teve ela direito a batizar
um dos picos mais famosos do Porto Santo,

PICO
conhecido pelas suas colunas prismáticas
de origem vulcânica?

DE ANA
Alega a sabedoria popular que Ana
Ferreira foi uma filha bastarda do rei Dom
João II, enviada para o Porto Santo devido
a comportamentos que a corte considerava

FERREIRA
problemáticos. Seria neste pico que se
abrigava dos ataques à ilha, não se mistu-
rando com a população local, que optava
pelo Pico Castelo.
Lendas mais fantasiosas garantem que
Ana Ferreira tinha poderes ocultos, que
exercia nas grutas desta curiosa formação
geológica.
Fixemo-nos nesta parte, não pelos
poderes ocultos, mas pelas grutas: é
subindo até uma delas – de preferência

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


acompanhado por um guia local, que
conheça o caminho – que se encontra uma
vista esplendorosa para ver nascer o sol
no Porto Santo. Vale, sem dúvida, o duplo
esforço físico: o de acordar antes da alvo-
rada e o de subir boa parte desta elevação
com quase 300 metros de altitude.

COORDENADAS GPS: 33.04594, -16.36977

PA S S E A R
146 PICO DE ANA FERREIRA
PA S S E A R PORTO SANTO
A Q U E S T Ã O que se impõe: quem foi Ana
Ferreira e porque teve ela direito a batizar
um dos picos mais famosos do Porto Santo,

PICO
conhecido pelas suas colunas prismáticas
de origem vulcânica?

DE ANA
Alega a sabedoria popular que Ana
Ferreira foi uma filha bastarda do rei Dom
João II, enviada para o Porto Santo devido
a comportamentos que a corte considerava

FERREIRA
problemáticos. Seria neste pico que se
abrigava dos ataques à ilha, não se mistu-
rando com a população local, que optava
pelo Pico Castelo.
Lendas mais fantasiosas garantem que
Ana Ferreira tinha poderes ocultos, que
exercia nas grutas desta curiosa formação
geológica.
Fixemo-nos nesta parte, não pelos
poderes ocultos, mas pelas grutas: é
subindo até uma delas – de preferência

FOTOGRAFIAS GONÇALO F. SANTOS


acompanhado por um guia local, que
conheça o caminho – que se encontra uma
vista esplendorosa para ver nascer o sol
no Porto Santo. Vale, sem dúvida, o duplo
esforço físico: o de acordar antes da alvo-
rada e o de subir boa parte desta elevação
com quase 300 metros de altitude.

COORDENADAS GPS: 33.04594, -16.36977

PA S S E A R
146 PICO DE ANA FERREIRA

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