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São Tomé
e Príncipe
Os comboios
já não circulam
pelas ilhas, restam
as suas memórias
Viana do Castelo
O funicular de Santa Luzia
celebra 100 anos a reluzir
Vinhos
Casa Ferreirinha 2014: mais
barato do que o Barca Velha e
não lhe é inferior
2 | FUGAS | Sábado, 3 de Junho de 2023
a Pouca gente sabe que, nos anos 20 uma melhor inserção do traçado no
do século passado, uma ilha que não terreno e mandaram-se vir da Alema-
excede os 50 quilómetros de compri- nha locomotivas e carruagens. Cada
mento por 30 de largo chegou a pos- roça formava a sua própria rede com
suir mais de 600 quilómetros de linhas entre as plantações e o cais de
linhas de caminho-de-ferro (uma embarque mais próximo, por vezes
quarta parte da actual rede ferroviá- vencendo rampas muito íngremes. E
ria portuguesa). Falamos de São construíram-se oÆcinas, algumas das
Tomé. No Príncipe, onde agora esta- quais persistem, abandonadas.
mos, ilha com um comprimento É o caso destes velhos armazéns
máximo de 18 quilómetros e largura abandonados da Roça Sundy, onde
média de 12, houve mais de 150 qui- se vêem alguns vestígios de arqueo-
lómetros de linhas férreas nas roças. logia industrial e na qual se podem
Eram usadas para o transporte do ainda ver algumas centenas de metros
cacau, mas também de trabalhadores de carris e as respectivas agulhas. O
para as plantações e para os passeios melhor está guardado junto a uma
dos administradores, fazendeiros e secção museológica: uma locomotiva
funcionários coloniais. alemã Arn Junt, de 1950, devidamen-
Um artigo sobre viagens pode ter te preservada, bem como uma caldei-
vários ângulos. Este é inicialmente ra geradora de vapor e restos de uma
dedicado aos siderodromóÆlos vagoneta.
(expressão que signiÆca amigos dos A isto se resume o passado ferro-
caminho-de-ferro), mas também fala- viário glorioso da Roça Sundy, mas
remos de praias paradisíacas, paisa- que é hoje glorioso por outros moti-
gens deslumbrantes, alojamentos e vos, pois é um dos sítios mais requin-
restaurantes. Lá iremos. tados da ilha do Príncipe. O edifício
Em 1905, São Tomé e Príncipe, que principal, em vez de uma ruína
é hoje o segundo país mais pequeno coberta de vegetação, é uma unidade
de África, era o maior produtor mun- hoteleira de primeira categoria e
dial de cacau, com uma exportação grande parte das casas de apoio
de 24.259 toneladas, valor que chega- estão recuperadas.
ria a ascender às 50.000 toneladas, Deve-se este milagre a um milioná-
embora na altura já fosse suplantado rio sul-africano – Mark Schutleworth,
por outros países. Os dados são de o criador da Ubuntu, que é o proprie-
Salomão Vieira, um investigador fer- tário da roça.
roviário que no seu livro Caminhos- Reza a lenda (nem todas as lendas
de-Ferro em S. Tomé e Príncipe (edição são medievais e esta só tem décadas)
UNEAS, 2005) conta que por essa que Schutleworth descobriu o Prín-
época haveria 139 roças em São Tomé cipe em 2002 quando foi o primeiro
e 19 no Príncipe. sul-africano a fazer uma viagem turís-
“O transporte do cacau às costas tica espacial. E foi quando estava lá
dos serviçais era moroso, implicava em cima que lhe chamou a atenção
muitos braços e pouca segurança aquela pequena ilha incógnita, ainda
garantia”, escreve Salomão Vieira, por cima em África, que ele próprio,
No
citando documentos da época. Para africano, desconhecia.
mais numa orograÆa difícil, extrema- Como qualquer multimilionário,
mente acidentada. Tornava-se neces- Mark tinha o sonho de comprar uma
sário usar o modo de transporte mais ilha. Não comprou o Príncipe, mas
Príncipe,
importante na época – o comboio – e “adoptou-o”. Entre os vários projec-
bem os roceiros bem tentaram que tos, comprou a Roça Sundy que tem
fosse o Estado a pagar, enquanto o vindo a recuperar, diga-se que com
Estado empurrava para a iniciativa muito bom gosto e assinalável êxito.
privada (para usar uma expressão É seguramente o sítio mais luxuoso
actual) a responsabilidade desse da ilha, não só pelo eco-resort que
investimento. construiu lá em baixo, na praia
Assim teve de ser. Construíram-se Sundy, para onde se desce por uma
quilómetros de linhas com bitola de sinuosa picada. As casas, o restau-
apenas 60 centímetros para permitir rante, o bar, as piscinas, os espaços
DANIEL ROCHA
Santo
Ilha do António
Príncipe
iné
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SÃO TOMÉ
E PRÍNCIPE
São Tomé
Ilha de
São Tomé
OCEANO
ATLÂNTICO
10 km
DR
nas de famílias amontoadas. E sobra abaixo, rebocando vagonetas e car- horizonte brincando com as tonali- qualquer destruição. A cidade é mui- conta que no jornal lisboeta O Colo-
também o antigo hospital por onde ruagens com os valiosos grãos que dades da água até desaparecer no to espaçosa, quase não tem trânsito nial, em 26/06/1911, se noticiava uma
se sobe através de uma extensa esca- seriam matéria-prima para o choco- Atlântico. e também não tem muitas pessoas (a petição da Câmara ao governo para
daria para chegar a uma entrada de late, mas também materiais de cons- Convém lembrar que o pôr do Sol sua população não ultrapassa os 1200 que fossem mandados retirar os car-
um edifício que parece saído de um trução e, claro os próprios trabalha- ocorre em Maio por volta das 17h30 e habitantes), as quais vivem sobretudo ris das ruas da cidade. Mas a mesma
Ælme de Indiana Jones: uma carcaça dores. que a iluminação pública é escassa. nos arredores porque o centro é ocu- notícia informava igualmente que a
de cimento completamente tomada Regressemos ao século XXI e à ilha Aliás, entre a meia-noite e as 7h a pado com os serviços habituais: a Companhia apresentara também
pela selva, com as árvores a invadi- do turismo, cujo potencial está longe energia eléctrica na ilha do Príncipe câmara municipal, um posto de cor- uma solicitação para que a petição da
rem todos os espaços. O imponente de se esgotar e onde há ainda muito é desligada (embora alguns hotéis e reios, as Ænanças, algumas lojas (vale Câmara não fosse satisfeita. Pelos vis-
hospital terá incorporado alguma da para ver. É o caso desta praia do Bom roças usem geradores próprios). É a pena entrar porque também parece tos venceu a Companhia, pois em
melhor tecnologia da época, a julgar Bom, da qual o mínimo que se pode preciso, pois, algum cuidado na ges- que pararam no tempo, com os seus fotos de 1919 e 1920 ainda se vê o com-
por uns equipamentos abandonados dizer é esta palavra original – é para- tão das águas das casas de banho, na extensos balcões de madeira e as pra- boio a circular nas ruas de Santo
numa das salas. Há ainda restos de disíaca! Voltemos ao cliché: um mar hora de ir para a cama e no próprio teleiras, armários e gavetas por António. O poder do cacau venceu o
azulejos e adivinham-se as enferma- azul, cristalino, com ondas suaves carregamento dos telemóveis. detrás), um inesperado prédio de dois poder político.
rias, os quartos, os refeitórios, mas que se espraiam sob a sombra dos andares que é o núcleo, no Príncipe, Diz uma das funcionárias da Roça
o que predomina é a invasão da natu- coqueiros. Ao fundo o famoso ilhéu Santo António, do Sporting Clube de Portugal, e a Sundy que Marck Schutleworth tem
reza que ali se impõe com vegetação, do Bom Bom, ligado a terra por uma escola secundária que é, claramente, a ideia de recuperar uma parte do
a pacata capital
raízes, húmus. Uma visita estranha. ponte pedonal, a qual apetece mes- o edifício com mais movimento da caminho-de-ferro da propriedade,
Uma experiência de viagem. mo, mesmo, atravessar, mas um A cidade de Santo António, capital da localidade. eventualmente para levar as pessoas
Já a roça do Terreiro Velho tem guarda diz que é proibido. “Está ilha do Príncipe, Æca numa enseada Há duas igrejas, mas uma está em à praia (sempre era mais seguro, cal-
mais história, a começar pelo per- rota”, explica. Atrás da língua de na qual desagua um rio, e visitá-la é obras (o culto faz-se numa escola mis- mo, divertido e agradável do que ir
curso lindíssimo com uma vista areia, sob os coqueiros e manguei- como uma viagem no tempo. Parece sionária) e a outra foi adaptada para aos saltos no Jeep). Dinheiro não lhe
espectacular sobre a zona sul da ras, há um resort fechado para obras, uma vila que parou nos anos de 1960. acolher a Assembleia Regional do falta, mas as cabeças dos milionários
ilha. Também aqui as velhas sanza- cuja reabertura tem sofrido vários Não só pelas casas, cuja arquitectura Príncipe (a ilha tem um governo autó- são imperscrutáveis e imprevisíveis.
las continuam a servir de habitação adiamentos. não oferece dúvidas que é portugue- nomo). Fica, para já, o sonho.
para a população, mas, lá no alto, Bom Bom está voltado para Poente sa, como pelas várias referências ao O restaurante de referência é o Já em São Tomé, João Carlos Silva,
ergue-se a velha casa do dono da e eis mais uma sugestão cliché: é ópti- passado colonial, cujos singelos Armazém. Fica num antigo armazém da Roça de S. João dos Angolares, que
roça, Claudio Corallo, o famoso pro- ma para ver a bola de fogo descer no monumentos não foram aqui alvo de de cacau e tem uma boa esplanada. se tornou conhecido pelo programa
dutor de chocolate que, quando Mas pode-se almoçar ou jantar tam- da RTP Na Roça com os Tachos tem
visita o Príncipe, ainda aqui pernoi- DR bém no Mira Rio, Romar e Beira Mar também a “utopia” (a expressão é
ta. Do caminho-de-ferro nada resta Juditinha. Invariavelmente, a emen- sua) de recuperar algum caminho-de-
a não ser o esqueleto enferrujado de ta assenta no peixe grelhado com ferro da ilha para Æns turísticos. Nes-
uma velha vagoneta e uns restos de arroz e banana frita. Com um pouco se caso, as roças Agostinho Neto
carris que mal se vislumbram sob o de sorte, consegue-se um bitoque, (antes chamada Rio do Ouro) e Água
capim. A linha férrea atravessava a polvo guisado, carne de porco, atum. Izé são as que ainda conservam algum
roça de ponta a ponta, passando Há uma certa tendência para grelhar património ferroviário relevante. Em
mesmo em frente à casa senhorial. demasiado o peixe, o que o deixa Água Izé ainda está guardado num
Mas se sobreviveram alguns troços, seco para os padrões mais exigentes armazém aquele que será o único
estão sob a vegetação que cercou o dos portugueses apreciadores de comboio de São Tomé e Príncipe. É
Terreiro Velho apesar de – garante pescado grelhado. composto por uma locomotiva a die-
quem ali vive –, antigamente toda E terminemos como começámos: sel e três carruagens de madeira, tudo
aquela extensão a perder de vista ter aqui, em Santo António, nestas ruas, de origem alemã.
estado devidamente capinada, isto já houve um caminho-de-ferro que Se o segundo país mais pequeno de
é, limpa, utilizável, com uma inten- atravessava a cidade, do qual, aliás, África continuar a sua aposta no turis-
sa actividade na plantação, recolha há fotos antigas. Esta via férrea era mo, quem sabe, um dia os visitantes
e transporte de cacau, ao ritmo do propriedade da Companhia da Ilha sejam contemplados com uma
silvar das pequenas locomotivas que do Príncipe, que a utilizava para seu memória viva ligada ao apogeu das
arfavam encosta acima, encosta serviço particular. Salomão Vieira roças e do cacau.
Sábado, 3 de Junho de 2023 | FUGAS | 7
Viana do Castelo
NELSON GARRIDO
O Elevador de
Santa Luzia
celebra 100 anos dourado e a luzir
O funicular mais extenso do país passou por altos e baixos,
mas prepara-se para uma nova vida. A autarquia aproveitou
o centenário para um facelift às duas carruagens e às duas
estações. Luís Octávio Costa
Sábado, 3 de Junho de 2023 | FUGAS | 9
ARQUIVO MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO. ARQUIVO FOTOGRÁFICO DE IGLÉSIAS LLANO, N.º 89. (1922)
a Dourada a reluzir, lentamente Na página ao lado, a carruagem
erguida pelo ar como o andor de renovada do funicular; nesta
uma procissão, cujo passo bem página, duas imagens históricas
medido anuncia um momento sole- do Elevador de Santa Luzia e
ne. A branco, as inscrições “Desde uma das carruagens, suspensa
1923; Elevador de Santa Luzia; Viana de uma grua, no dia em que
do Castelo” estão pintadas na pri- regressaram a Viana do Castelo
meira das duas carruagens a ser ele- depois dos trabalhos de restauro
vada no ar para delicadamente ser
pousada no carril depois do restauro
meticuloso quer das cabinas quer
das duas estações, cada uma na sua i
ponta do percurso agora engalana-
das para as comemorações dos cem Inauguração: 2 de Junho de 1923
anos de existência — em linha recta, Cidade: Viana do Castelo
cheia de altos e baixos. Entidade proprietária: Câmara
Há quase um século, o material Municipal de Viana do Castelo
para a construção do Elevador de Distância: 650 metros
Santa Luzia chegou à estação de Via- Desnível: 160 metros
na do Castelo transportado por com- Inclinação média: 25%
boio. “Queimaram-se muitos foguetes Velocidade nominal: 2 m/s
quando foram colocadas as armas da Tipo de via: única, com
cidade no frontispício do edifício da cruzamento
estação do elevador”, lê-se numa edi- Fonte de energia: eléctrica
ção de O Comércio do Porto de então. Número de passageiros por
Foi inaugurado a 2 de Junho de 1923. cabina: 20 (com a possibilidade
Pelas 19h50 de sexta-feira, dia 26 de transporte de duas bicicletas,
de Maio de 2023, as modernas car- mediante a lotação)
ruagens douradas foram transporta- Tempo de viagem: entre 6’30’’ e
das em dois camiões, A28 fora desde 7 minutos
o Porto, e recolocadas no seu sítio Preço: bilhete de ida e volta: 3€;
com a ajuda de um terceiro e de um bilhete de uma viagem 2€
potente guindaste sem pompa nem ARQUIVO MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO. COLECÇÃO DE POSTAIS, N.º 845 (1936) LUIS OCTÁVIO COSTA
circunstância, na presença de um
jornalista — da Fugas —, de um ele-
mento da Câmara Municipal, pro-
prietária do equipamento desde
2005, alguns funcionários da Liftech,
concessionário, e um casal de turis-
tas que se apercebeu do simbolismo
do acto.
“Lembro-me de vir a Santa Luzia
com os meus avós e de ainda andar
nas carruagens antigas”, recorda
Soares da Costa, técnico superior da
Câmara Municipal, smartphone em
riste para mais tarde recordar. “É um
monumento da cidade, uma das por-
tas de entrada na cidade e um dos
nossos ex-líbris. Aproveitámos as
comemorações do centenário para
fazer um face-lift às instalações e às
carruagens, conferindo-lhes mais
comodidade.” Por aqui, tal qual a
Ponte Eièel e as Festas de Nossa
Senhora D’ Agonia, também o Eleva- importância mas de inegável simpa- da e de Coimbra, com a recuperação
dor de Santa Luzia “faz parte do quo- tia, o Ascensor da Ribeira, no Porto”, e actualização do dos Guindais, no
tidiano”. “Todos os vianenses têm responde Jaime Fragoso de Almeida, Porto, e do de Viana, “que esteva qua-
histórias para contar [relacionadas autor do livro Elevadores: Ascensores se a desaparecer”.
com o elevador].” Isto para além da e Funiculares em Portugal (edição do Nos anos vinte do século passado,
história do próprio elevador, disper- Clube do Coleccionador dos Cor- um capitalista do Porto, Bernardo
sa pelas manchetes dos jornais locais reios), que dedica algumas linhas aos Pinto Abrunhosa, que, tendo Æxado
e pelos tomos dos Cadernos Vianen- cinco exemplares que surgiram residência em Viana por volta de
ses, espalhada por algumas fotogra- depois do desaparecimento de Raul 1917, “achou que era tempo de aju-
Æas e postais antigos e pelas memó- Mesnier de Ponsard, engenheiro de dar as pessoas a tirar partido das
rias. origem francesa conhecido por ter belezas magníÆcas do monte de San-
Quantos elevadores terão sido construído muitos elevadores e funi- ta Luzia”. Por isso, investiu no des-
construídos em Portugal depois do culares em Portugal. envolvimento turístico, restaurando
de Santa Justa, em Lisboa? “Durante “É certo que a fantástica evolução e modernizando o Grande Hotel e
quase um século, mais concretamen- dos meios de transporte e das vias de construindo depois um elevador
te em 98 anos, apenas foi construído acesso Æzeram diminuir a importân- que transportasse até ao cimo os
um elevador verdadeiramente cia dos elevadores. Mas de forma peregrinos e turistas que sempre
importante, o de Santa Luzia, em alguma os eliminaram!” A prová-lo, apareciam em grande número. Era,
Viana do Castelo, e outro de menor diz o autor, está o ressurgimento com na sua perspectiva, um “negócio
importância, e um outro de menor a construção dos elevadores de Alma- vantajoso para toda a gente”. c
10 | FUGAS | Sábado, 3 de Junho de 2023
Viana do Castelo
DIOGO BAPTISTA
“Cumprindo uma regra habitual, das cabinas, construídas nas OÆcinas as pessoas”, brinca), dava “uma cor-
muitos falaram, pondo em dúvida o de Campanhã, e mudou de nome ridinha” desde a casa dos pais, ali,
elevador. Calaram-se na data da inau- para Funicular de Santa Luzia. No na Areosa, e por aqui brincava,
guração, sábado, 2 de Junho de 1923, restante tempo de vida, o elevador ribanceira acima, encosta abaixo, no
ao verem as carruagens alegremente passou pelas mãos da Câmara Muni- fosso do funicular, desprotegido
ornamentadas com Çores e bandei- cipal e da Companhia dos Caminhos durante décadas, permeável a aci-
ras, subindo e descendo sem qual- de Ferro Portugueses até 1988, ano dentes e a tropelias dos catraios.
quer problema. Devem ter aberto a em que Æca com a concessão a “Usávamos isto para nos divertir-
boca, mas de espanto, assistindo aos Somartis, Ærma recentemente desa- mos. Diziam que metia medo porque
magníÆcos festejos que culminaram parecida da paisagem vianense. era aberto. Nós íamos por aqui a cor-
com um grande baile” ao som de “Obediente”, continuou o seu tra- rer na altura das mimosas com o
dois quintetos de jazz, festa que pros- balho até ao Æm dessa concessão, a cheiro dos eucaliptos. Éramos rapa-
seguiu no domingo com música nos 19 de Abril de 2001, altura em que o zes pequenos. A carruagem ia num
jardins, iluminações e arraial. elevador foi considerado inactivo e passo de tartaruga. Entrávamos por
Foi um “começo de vida promis- “entrou em depressão, chegando a um lado do elevador e saíamos pelo
sor” para um elevador que teve, no atingir um estado de total degrada- outro. Sempre na brincadeira.”
entanto, “uma vida extremamente ção”. Valeu-lhe a câmara municipal, Na memória de muitos, e da car-
agitada, tantas vezes andou de mão que entrou em negociações bem-su- ruagem-museu estacionada nos ter-
em mão”, escreve Jaime Fragoso de cedidas com a CP, tendo sido trans- renos junto à estação superior, inte-
Almeida. Entre subidas e descidas, ferido o título de propriedade a 28 rior de madeira, estará a Ægura do
obedeceu primeiro às ordens da de Janeiro de 2005. guarda-freios, que acompanhava
Empreza do Elevador de Santa Luzia, todas as viagens, também a da pessoa
para num período de 1944 — em ple- O mais extenso anónima que Æcava a espreitar no
na II Grande Guerra, com falhas de casinhoto por onde passavam os
funicular do país
energia — ser explorado pelos Servi- cabos. E principalmente do ambiente
ços Municipalizados da cidade. Em José Fernandes, 62 anos, funcionário da própria estação, então pejada de
1945 foi alvo de grandes recupera- do Elevador desde 2007 (”Conduzi- artigos regionais, de tapetes, de bebi-
ções, nomeadamente a renovação mos, vendemos bilhetes e aturamos das e de postaizinhos, artigos comer-
ARQUIVO MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO. COLECÇÃO DE POSTAIS, N.º 1430 (SEM DATA)
cializados pela Somartis . “Cá dentro,
sobrava um corredorzinho até ao ele-
vador”, lembra José Fernandes.
As estações são agora mais mini-
malistas, outros tempos. E as com-
posições modernas e competentes,
quase inexpressivas, sem janelas de
abrir, degraus para trepar ou guarda-
freios para distrair. “Deviam ter man-
tido o antigo como os eléctricos do
Porto e o elevador de Braga”, atira
alguém que passa.
O “mais extenso” elevador do país
“tem tido uma vida complicada”,
explicou à Fugas António Vasconce-
los, membro da Associação Portu-
guesa para o Património Industrial
(APPI), que já este ano fez no Centro
Sábado, 3 de Junho de 2023 | FUGAS | 11
O funicular deixou de
funcionar algumas
vezes ao longo da
sua história - a
imagem da página ao
lado, com
passageiros no
interior, é de arquivo
- mas é uma marca
incontornável na
cidade
Região Centro
As batalhas
travadas pelas
tropas de
Massena e
Wellington
deram uma
rota turística
a 24 de Julho de 1810. “É neste dia
De Almeida a Torres Vedras, que acontece o primeiro confronto
“Wellington sabia que não ia
ganhar aqui em Almeida aos france-
a participar 3000 pessoas”, evidencia
António Soares. Anualmente, na for-
Região Centro
Motores
Dacia
a Apelar ao público mais jovem e e bastante competente na saída dos
apreciador de actividades ao ar livre. semáforos e nas mudanças de faixa
A estratégia da Dacia para a colecção de rodagem, ainda que os mais de
Extreme inclui nova roupagem para dois mil euros de diferença em rela-
os modelos Sandero Stepway, Duster, ção ao modelo com 45cv sejam de
Jogger e para o eléctrico Spring, cita- ponderar; ou seja, não Æcámos certos
dino cuja potência sobe dos 45 para se se justiÆca a diferença de desem-
Extreme
os 65cv. penho. Por 22 mil euros, o Spring
Mas não são apenas os modelos Extreme passa então a ser o segundo
que já conhecemos que se apresen- eléctrico mais barato à venda em Por-
tam de cara lavada, numa operação tugal — o primeiro é a versão de 45cv,
de cosmética que reforça o posicio- por cerca de 20 mil euros. O equilí-
namento da marca líder de mercado brio entre o preço e a qualidade geral
nos ligeiros de passageiros em Portu- dos carros é, sem dúvida, o grande
gal junto do público mais jovem. atributo da Dacia.
Novos
Além de novas cores e de materiais
interiores concebidos para serem Piscar o olho aos mais jovens
práticos de usar e manter (tapetes de
borracha, tecidos resistentes a Fomos experimentar a nova linha
acabamentos
nódoas), há um conjunto alargado de Extreme a Viena, na semana passa-
acessórios virados para o campismo da, uma cidade onde é raro ver um
que tem como principal novidade Dacia. Não será por acaso: a Áustria
uma cama para instalar dentro do condução, eliminando luxos e alguns tem um número de habitantes ligei-
modelo Jogger. Trata-se de uma caixa detalhes de conforto — nota-se, por ramente inferior ao de Portugal
para os amantes
feita de compósito de madeira que se exemplo, a ausência de coisas como (menos um milhão, aproximada-
monta como um lego e que, aberta pegas para as mãos ou de regulação mente), mas o dobro do Produto
dentro do carro, serve de cama para na altura do volante. Interno Bruto, ou seja, é um país
dois. Este Sleep Pack custa cerca de com bolsos mais fundos.
do ar livre
1550 euros e pode ser comprado à Poucos quilómetros Em Portugal, a Dacia já é líder de
parte para todos os Jogger já no mer- mercado nos ligeiros de passageiros
a andar devagar
cado (neste caso, por 1850 euros). e vê as encomendas de carros tam-
A cama é relativamente fácil de Todos os motores estão disponíveis bém a crescer no segmento empresa-
montar e parte da caixa pode ser usa- com as novas versões, excepto no rial, como nos explicou o director-ge-
Gastronomia
Gastronomia
FOTOS: DR
O restaurante
a Trata-se do “museu do restauran-
te que mudou tudo”, como diz a pró-
pria página do elBulli 1846, sem dis-
farçar o tom grandiloquente com
que se tem anunciado a reabertura
elBulli 1846 abre no dia 15 de Junho, durante meses (a de 2023 que começa no dia
15 de Junho).
comandam hoje alguns dos melhores
restaurantes do mundo, de Massimo
três meses, para mostrar aos visitantes o legado Por isso talvez “museu” não seja
uma palavra exagerada para explicar
Bottura a Andoni Luis Aduriz), até
114 desenhos que Adrià pintou a par-
moderna nas últimas décadas. Não há comida, tende com a sua nova empreitada:
tudo ali foi pensado para servir aos
Somam-se a eles os utensílios ino-
vadores que foram criados ou adap-
As instalações artísticas,
conceptuais e
audiovisuais, contam a
história do restaurante
entre memorabilia e
objectos históricos, desde
cadernos usados por
cozinheiros que passaram
por ali até 114 desenhos
que Adrià pintou
Vinhos
Vinhos
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo
com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas — Vinhos em Prova, Rua Júlio Dinis, n.º 270, bloco A, 3.º 4050-318 Porto
55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100
90
96
Palato do Côa Touriga
Casa Ferreirinha
Reserva Especial 2019
O novo Casa Ferreirinha 2014 Nacional 2020
5 Bagos, Soc. Agrícola, Foz Côa
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custa quase três vezes menos Região: Douro
Castas: Touriga Nacional
Castas: Touriga Franca,
Touriga Nacional,
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Preço: 14,90€
Tinta Roriz, Tinto Cão
Graduação: 14% vol.
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Vamos seleccionar as melhores.
FUGAS N.º 1189 FICHA TÉCNICA Foto da capa: Daniel Rocha Direcção Manuel Carvalho Edição Sandra Silva Costa Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Joana Lima e José Soares
Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, José Alves e Francisco Lopes Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Rua de Júlio Dinis, n.º270, Bloco A, 3.º, 2, 4050-318 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. www.publico.pt/fugas