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COSTA DO OURO
Caros(as) alunos(as), nesta aula iremos estudar a região conhecida como Costa do Ouro,
atualmente, uma região pertencente ao país Gana. É importante que tenhamos a percepção do local
como importante área de comércio de ouro, escravos e marfim do Golfo da Guiné. Como o Brasil
fez um longo comércio com essa costa, a cultura local acabou influenciando fortemente áreas do
Brasil.
Bons estudos!
Objetivos de aprendizagem
• localizar o Golfo da Guiné e, de forma mais específica, a Costa do Ouro como importante espaço geográfico do
continente africano;
• compreender a Costa do Ouro como importante entreposto comercial do continente africano;
• identificar uma importante área de comércio escravista que abasteceu o brasil durante alguns de nossos ciclos
escravistas.
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Seções de estudo
Tombuctu, localizada próxima ao Rio Niger, Segundo Alberto da Costa e Silva (2001, p. 145),
comercializava o sal retirado das minas do Deserto do Saara, [...] vendiam-se muito mais tecidos, objetos
controlava o comércio da troca do sal por ouro e escravos, de cobre, contas e conchas, e nesses produtos
estando ligada à cidade de Jené através do comércio do sal, de concentravam-se os maiores ganhos, mas
cereais e do ouro. sem o cavalo entre os jalofos e sem o escravo
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entre os acãs – e, também, entre os adangbés anos mais tarde, se deu mais um aperto no
e os gãs que os substituíam no mapa, antes de torniquete. Vedou-se que se levassem para as
chegar-se ao rio Volta – não se encaminhavam ilhas de Cabo Verde, ainda que em trânsito, não
as transações com os reis e os grandes chefes. só as mercadorias cuja venda estava proibida
Ali, entre o Comoé e o Volta, os portugueses nos litorais africanos (como ferro, armas e
podiam, ao contrário do que sucedia no ferramentas), mas também aqueles produtos
Senegal e na Gâmbia, obter ouro sem a que na Costa encontravam pronto mercado,
intermediação dos diulas. Podiam trocá-lo como os cauris, as conchas pardas e outros
diretamente com os representantes dos reis. búzios, as especiarias e manufaturas da Índia,
Sendo o escravo, porém, a mercadoria mais as manilhas de latão e estanho, as alaquecas, os
prezada pelos poderosos, era o escravo o que alambéis, os brocadilhos de Flandres, as capas
abria o comércio. de Chaul, os panos vermelhos e amarelos,
os camisolões de seda ou de cores e feições
Bono Mansu, a cidade capital do povo Bono, “foi apreciadas pelos negros.
um importante centro de comércio do litoral atlântico da
Baixa Guiné. Fornecia principalmente ouro e noz-de-cola” Na Costa do Ouro os portugueses encontraram
(LOPES; RIVAIR, 2017). variedade de produtos, ouro e escravos, mas, também,
Os portugueses procuravam ouro, que era abundante conflitos, em virtude das disputas de poder e do
na região e obtido por meio da exploração dos escravos. expansionismo territorial.
Além do ouro e sal, outros produtos compunham o
comércio, como tecidos, túnicas, artesanatos de cobre, Essa ávida procura por cativos, até então
vinhos brancos, pimenta e outras especiarias, conchas desconhecida pelos povos costeiros da região
vermelhas, cauri (búzios que eram a moeda até o século entre a foz do Gâmbia e o cabo Mount, a que
XIX) e nós-de-cola (obi). se dava o nome de Rios da Guiné (ou Rios
do Sul ou Rios da Guiné de Cabo Verde) ,
Mastigada, a cola refresca a boca, reduz a não encontrou dificuldade em ser satisfeita.
fadiga, a fome e a sede. No mundo islâmico, Coincidiu com a aventura imperial dos fulas
apreciavam-se suas propriedades medicinais ou fulanins de Dulo Demba, Tenguelá e
– contra a dor de cabeça, a dispepsia e a Coli Tenguelá, os quais, entre 1450 e as
impotência. Sendo um estimulante não primeiras décadas do século XVI, ocupariam
condenado pelo maometanismo, sua demanda o Futa Jalom e o alto Gâmbia e acabariam por
não cessou de aumentar. No início, era um dominar o Tacrur e fundar um grande reino,
artigo de consumo restrito aos aristocratas que passou à história como o império do
e homens de posse, que podiam distribuí- Grão-Fulo (COSTA E SILVA, 2001, p. 146).
la aos demais, nas solenidades e nos grandes
momentos. Com o andar dos tempos, foi-se Outro conflito foi a queda do Império Mali e avanço do
popularizando: tornou-se praxe, nas casas da Império Songai, os prisioneiros resgatados nessas disputas
gente comum, oferecê-la aos visitantes, como eram conduzidos aos portos e comercializado com os
sinal de hospitalidade, e dá-la de presente nos portugueses. A oferta de produtos portugueses aumentou
casamentos, nos funerais e em outras festas e os conflitos para aprisionar escravos.
cerimônias (COSTA e SILVA, 2001).
Coincidiu também com os conflitos entre
um Mali em decadência e um Songai em
ascensão. A maioria dos prisioneiros malienses
e songais era levada para os portos saarianos,
do mesmo modo que os produzidos pelas
campanhas anuais de Bornu, no sul do lago
Chade. Os que se faziam nos combates entre
os fulas e os mandingas passaram, entretanto,
a ser conduzidos pelos diulas para o litoral
e vendidos aos portugueses. Estes podiam
Figura 13: Búzio e nós-de-cola. Disponível em: https://super.abril.com.br/blog/
contar também com os cativos derivados das
superlistas/7-moedas-bizarras-da-antiguidade/https://alunosonline.uol.com.br/ desavenças entre os vários povos que dividiam
quimica/a-cola-presente-nos-refrigerantes.html. Acesso em: 07 dez. 2019.
a área (COSTA E SILVA, 2001, p.146-147).
Os búzios ou cauris são usados como moeda de Com a chegada dos europeus nesses impérios, ocorre
troca desde cerca do ano 1.000 a. C., na China, mas foi no o fim da dependência com outros grupos africanos
continente africano que a moeda mais se desenvolveu. Eles (mandingas e Uângaras). Os portugueses investem em
serviram de moeda de troca para variadas mercadorias em feitorias de militarização e fortes. Esses investimentos
diferentes lugares do continente. Alberto da Costa e Silva aconteceram, principalmente, para garantir a soberania nos
(2001, p. 165-166) narra que comércios africanos, devido à presença de concorrentes
Não sabemos com que rigor o alvará foi (espanhóis, franceses, ingleses). Costa e Siva (2001, p. 155)
aplicado. O que, sim, sabemos é que, dois narra que
História da África 20
Os fortes portugueses e as várias feitorias que, reduzindo a sua oferta para aumentar-lhe
ao longo do litoral e entrando por alguns rios, o valor. Há até quem julgue que o soberano
a eles se ligaram, deram enorme impulso não de Bono tinha, muito antes da chegada dos
só ao comércio transoceânico, mas também ao portugueses, feito da cata e do comércio
de cabotagem. Neste, ao terminar a construção auríferos monopólio real, conduzido por
do castelo de São Jorge da Mina, a presença seus agentes e escravos. Com boa prática em
portuguesa já se estendia da Mauritânia até além disciplinar os fluxos do ouro, o normal seria
do delta do Níger, e pronto atingiria a margem
que os acãs procurassem manter os preços
meridional do rio Zaire, competindo com os
altos, ajustando às suas conveniências a
numerosos povos nativos nele envolvidos. Se
não os deslocaram dos mercados costeiros, quantidade de metal que punham à disposição
destes tomaram uma boa fatia, graças à rapidez dos clientes da savana e da costa. (COSTA e
com que as caravelas diminuíam as grandes SILVA, 2001, p. 155-156).
distâncias. Para cobrir as menores e navegar
bem próximo às praias, usavam pequenos A título de conhecimento, o ciclo de economia no Brasil
veleiros e barcos a remo. conhecido como “ciclo do ouro” teve uma forte influência
da tecnologia dos povos acãs. Segundo Sá Junior (2016, p.
82), “a história da mineração é o resultado das tecnologias
e conhecimentos extraídos das matrizes culturais africanas,
americanas e européias”. O autor ainda salienta que
Vale a pena
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