Você está na página 1de 14

'Lugares Secretos'

De locais mais esconsos, pouco percebidos ou divulgados, e que aprecio e visito viciosamente, brota a
minha colecção de ‘lugares secretos’. Isso mesmo. Não tomo de empréstimo o nome que a TSF usou
em 2017 numa série de pequenos programas, pois já assim eu os classificava.

https://sway.office.com/NOWw7VoX2QVDucNh#content=y2irFYM3u3IzpO

1 - Música ambiente para acompanhar a leitura


Sugestões para uma escapada, aqui tão perto, afinal...
O Senhor do Rio Velho

Atrevo-me a trazer hoje um desses lugares secretos, escondido nas faldas da encosta norte da serra
de Sintra – o Senhor do Rio Velho – ermida, vale, o caminho e o regato.

Talvez nem todos tenham ouvido falar de um Caminho do Rio do Milho, do Caminho da Boca da
Mata, das aldeias de Gigarós e da Eugaria, e do outro convento perdido na serra, o de Sant’ Anna do
Carmo, apercebemo-nos mais do ‘convento em cortiça’, os Capuchos.

Alguns miraram já lá de cima, do Penedo – a aldeia do Espírito Santo da Serra de Sintra – o horizonte
profundo azul e verde, oceano e campo fértil, orlando o antigo rio das Maçãs. Todos estes nomes
fazem parte da constelação em torno deste Senhor do Rio Velho que repousa numa paz imensa
mirando o vale de Colares.

Partindo do centro da vila de Colares estamos apenas a meia hora de caminhada saudável, não
muito exigente, mato adentro, trepando a serra. Prefiro subir pelo Caminho da Fonte Velha, uma das
vias de penetração nesse verde luxuriante. De repente é o silêncio quase perfeito. Algum pipilar dos
pássaros diz-nos que não estamos adormecidos, embevecidos apenas neste inebriante esplendor. A
seca nunca aqui se faz sentir nestes recônditos da encosta norte. O musgo, essa bússola natural,
confirma isso mesmo, existe perene e recobre mais a parte voltada a norte de rochedos e troncos,
onde o sol não toca mas é a que mais recebe o vento húmido.

A subida terminou, sabemos que adiante está já ali a capelinha, ainda encoberta pelo matagal e fetos
gigantes, quase uma selva toda esta envolvência. Mas não queremos perder a descoberta e
exploração de um vale denso de vegetação que se nos oferece à esquerda do caminho. Mais ainda,
temos o apelo do cantar de um ribeiro que se percebe cada vez mais nítido. Não são os trópicos,
nem África nem a Amazónia, mas há aqui espécies vegetais de um verde vivo, luzidio, que não
encontrei em qualquer outro ponto em Portugal. Facilmente e mesmo sem trilho aberto
conseguimos alcançar o fundo e a linha de água, o regato que corre e cascateia. Há quem não resista
em descer e tocar as águas da cascatinha do ribeiro. Sim, estamos a chegar, este é já o ‘Rio Velho’.
Um ribeiro belo e sonoro penetrando este verde. Mais acima na serra ele é o ribeiro dos Capuchos,
nasce perto do convento. Aqui, toma o nome da ermida que buscamos. No vale que se expande no
sopé da serra será já a ribeira da Abreja, quando se verte na de Colares, o antigo Rio das Maçãs.

Detemo-nos vários minutos para sentir, interiorizar o espírito do lugar e do momento. As cores, os
sons da água e da brisa suave na folhagem, a textura das pedras recobertas a musgo, e a profusão de
cheiros da vegetação que enchem o olfacto e quase saboreamos. Uma paz imensa envolve tudo.
Parece não haver força que nos descole deste espaço idílico. Por fim, voltamos a trepar e galgamos
as poucas centenas de metros que nos separam da capelinha. Estamos na antiga ermida do Senhor
do Rio Velho! Tudo em redor vem beber o nome a este ‘rio’ – Villa do Rio Velho, Quinta do Rio Velho,
a ermida, o caminho.

Desta ermida pouco se sabe, nem a data, apenas que é dedicada a 'Nosso Senhor' do Rio Velho mas,
inicialmente, dedicada a Santo Adalberto Drepanense, santo da ordem carmelita, a qual habitava no
Convento de Sant' Anna do Carmo aqui próximo.

A mesma paz e preenchimento dos sentidos prende-nos ainda. Um local de meditação, recatado,
aqui neste colo da serra.

Um momento que queremos prolongar…


A recôndita Praia do Cavalo

Conhecem a Adraga? Uma das praias mais 'puras', mais limpas, do concelho de Sintra. Alcançamos a
Adraga por uma estrada apertada a partir de Almoçageme, uma das aldeias entre o Cabo da Roca e
Colares. Aqui se junta o povo do mar, os pescadores, e os produtores de vinho e de outros produtos
da terra. Cá em baixo a Adraga é local de pesca, e de desafios com todas estas falésias escarpadas,
preenchida com grutas, esburacada como um queijo gruyére. O mar leva e o mar traz. Peixe, e areia.
Se num ano temos a costa assoreada, no outro a areia desapareceu e abundam os seixos.

A Praia do Cavalo tem essa característica de ser quase inatingível ou antes, alcançada apenas a partir
de quase escalada desde o topo das escarpas ou, por mar, em botes ou, se todas as condições forem
favoráveis, dá para passar por terra com muito cuidado e num lapso de tempo reduzido: quando for
um ano de assoreamento, em dias de marés vivas e mar calmo, pela maré baixa, e sempre com
atenção ao virar da maré.

Poucas vezes lá fui desde que ouvi falar e teimei, mas vale a pena: o mar como fronteira de um lado,
rugindo e mantendo-nos alerta, a falésia do outro, e a planura da areia quase intocada, de permeio.
Há ainda uma série de pequenas grutas onde abundam mexilhões e lapas.

Além desta envolvência natural, temos um pano de fundo de séculos e milénios: há as lendas
tremendas e os mitos que correm desde os tempos dos romanos. Como a da Pedra de Alvidrar e do
Fojo dos Morcegos, com o deus Vulcano lançando a sua ira sobre um amor que lhe fugiu. Aqui houve
também um tribunal sumário romano, decidia quem morria ou vivia - quem era inocente, se se
salvava ao ser atirado pela Pedra de Alvidrar.
Beleza e Mistério no Vale de Colares

BELEZA E MISTÉRIOS DO VALE DE COLARES

A vila e a Ribeira, o local e a Quinta do Vinagre, e as festas do jet-set que aqui ocorreram e ficaram
famosas. As lendas e mitos que preenchem este local. O castelo que existiu, a princesa nórdica em
fuga, os gigantes aqui derrotados. O rio das Maçãs e os vinhedos em chão de areia. Os vikings, e
ainda a história de um imperador húngaro que por aqui terá andado.

Início sugerido: no Banzão, Colares, defronte à Adega Regional de Colares. Para chegar ao local não
tanto secreto assim, mas já recoberto pela noite dos tempos. O nosso percurso pedestre passa pelos
pontos mais belos e emblemáticos da zona. Começamos por visitar a mítica zona da Ribeira de
Colares - o antigo Rio das Maçãs - para passar depois na Quinta do Vinagre. Esta soberba Quinta do
Vinagre foi local das grandes festas dos anos 60 e 70 em solo português. Eventos que deixaram
história e contavam com o supra-sumo do 'jet-set' internacional, como a princesa Irene da Holanda,
Henry Ford, Aga Khan, Zsa Zsa Gabor, Audrey Hepburn, Valentino e muitos outros, que dançaram em
Colares até de madrugada ao som da orquestra de Mills Hayden.

Não podemos deixar de falar na História, noutras ‘estórias’, mitos e lendas aqui de Colares, do
castelo que aqui existiu, das lutas épicas contadas, ocorridas neste solo contra medonhos gigantes
que aterrorizavam as gentes da zona, como um tal Morbanfo. Agrilhoado este depois em correntes, o
energúmeno foi preso e arrastado por essas correntes (‘colires’ / colares).

Ou Colares, provirá o nome, dos colares de ouro da princesa nórdica fugida e que aqui construiu um
castelo, empenhando as jóias junto do mouro Zelão?
Por aqui passou Sirgud, o viking, em incursão pelo Rio das Maçãs, hoje Ribeira de Colares. Aqui
pelejou Clarimundo, o imperador húngaro de quem descendem os reis portugueses – segundo outra
crónica, disputada, evidentemente.

E aqui se bateu Alcides (Héracles/Hércules) contra um outro sub-humano, o ‘Caco’ Pithodemos! Isto
numa era mais remota, nos tempos de Ulisses. O local 'secreto' é contudo a quinta de Colares que
ainda hoje subsiste.

Pôr do Sol na Peninha

Um pouco antes do Por-do-sol encontramo-nos no alto da Peninha para darmos início a um percurso
nocturno serra adentro, em comunhão com a Natureza, escutando os sons do bosque e da floresta,
tendo a luz dos astros e dos pirilampos...

Peninha, Pedras Irmãs, 'Floresta Encantada' e Adre Nunes são alguns dos pontos deste passeio.
A Floresta de Pedra e a Pedra Furada

Floresta de Pedra... quase uma 'Selva de Pedra' em alguns locais. Há algo de fantasmagórico mesmo
à luz do dia nestes ‘Campos de Lapiás', como que florestas mágicas, tornadas em pedra, algumas
com formas quase humanas.

Labiríntico o local, em vegetação e pedra. Rochas, pedras esculpidas pela acção das águas, da chuva,
ao longo de séculos.

Os lapiás são isso mesmo, relevos que se formam à superfície do calcário e são constituídos por
fendas, canais, buracos, fragmentos, campos de rochas, etc. - os constituintes do calcário acabam
por ficar dissolvidos na água, pela erosão química desta rocha.

Há também a erosão mecânica, correspondente ao desgaste causado pela própria água («água mole
em pedra dura tanto dá até que fura» - como diz o provérbio), pelo vento e por outros agentes
físicos, e também uma fratura e desagregação progressiva da rocha, em resultado das dilatações e
contrações provocadas pelas variações de temperatura

Lá perto, dá para visitar outro ponto de interesse, escondido do outro lado da estrada: uma longa
cascata em inúmeros degraus, junto à ‘Pedra Furada’.
A Ursa o Gigante a Noiva e a Pirâmide

Sobre Rochedos e Falésias. Desde a Adraga partimos à descoberta desta costa selvagem, observada
do alto, local dos temíveis Fojo dos Morcegos e da Pedra de Alvidrar – têm uma lenda tenebrosa
associada. Espreitamos a escondida Praia do Cavalo e, bem perto, admiramos um formidável
conjunto rochoso - a Ursa, o Gigante, a Noiva e a Pirâmide, enquadrados ao fundo pelo promontório
da Roca.

Alternativa: vamos à descoberta das Pegadas dos Dinossáurios, lá perto. Uma oportunidade para
caminharmos um pouco mais pelo litoral sintrense, da Praia Pequena à Praia Grande trepando daí
até ao Alto do Rodízio onde observaremos diferentes pegadas de dinossáurios sobre as enormes
lajes, hoje quase na vertical.

Ainda no topo alcançaremos um miradouro natural com uma visão soberba ao longo da costa e
Atlântico adentro, junto ao marco geodésico.

2 - O Gigante e a Ursa, dois dos penedos mais famosos junto ao Cabo da Roca
A Aldeia da Mata Pequena

A Mata Pequena é uma antiga aldeia saloia que resiste ainda, recuperada, serve agora como polo de
turismo rural. Em contraste com a aldeia 'fantasma' de Broas, ali próximo, e que desde 1969 se
encontra deserta.

As ribeiras do Cabrela e Cheleiros

Um passeio alegre e pleno de cor, sons da Natureza e cheiros do campo, pois caminhamos junto a
cursos de água, ribeiras ou cascatas, como o trilho Margens do Cabrela, ou o da Ribeira de Cheleiros,
num autêntico mergulho nesta atmosfera bucólica e romântica, puxando também à aventura, tão
perto de Lisboa e tão diferente. A confluência destes dois cursos de água dá origem ao rio Lizandro.
https://sway.office.com/NOWw7VoX2QVDucNh#content=Klcku6g0nOT1Kc

Um moinho típico da região saloia, no Sobral de Monte Agraço

• Paulo Oliveira / 2023

• www.paulofboliveira.pt

Você também pode gostar