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=====,lIITURAS~= Juca Efouri

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T912
v.81
DEDALUS - Acervo - FFLCH-HI
A emocao corinlhians.

Coleção Tudo é História 11111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111

• História Política do Futebol Brasileiro - Joel Rufino dos


21200041246
Santos
A EMOÇÃO CORINTHIANS
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'rOMBO: 11959'7

mIIIDI
SBD-FFLCH-USP

IWS3
40 anos de bons livros
r
Copyright ©Juca Kfouri

Capa:
Newton Mesquita

Fotos: 1 a 7 - Revista Placar, Editora Abril.


8 - Agência Estado.
1'1\
9 a 2S - RevistaPlacar, Editora Abril.

Revisão:
Elvira da Rocha
Vladimir A. Sachetta ÍNDICE
~os
\~j;) PRIMEIRA PARTE
\j ~~
II Perdão, objetividade 7
A glória que Pelé não teve 10
No Mineirão nunca mais 14
b Ob 10 60·t/ 11
No Maracanã nunca mais 17
• E no Morumbi? Bem, no Morumbi... 19
No Beira-Rio nunca mais . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 22
Um é ótimo, dois é estupendo, três é magnífico. 2S
'+tr Não chorem por mim, Osmar e Mauro . . . . . . .. 30
a fantasma corintiano .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 32
a Corinthians precisa ser explicado? ... . . . . .. 34
SEGUNDA PARTE

1lP
editora brasiliense s.a.
01223 - r. general jardim, 160
a torcedor dentro do campo. . . . . . . .. . . . . . . .
A pequena grande história. . . . . . . . . . . . . . . . ..
42
S9

são paulo - brasil


Jf
PRIMEIRA PARTE
PERDÃO, OBJETIVIDADE

Esta história, diferente de tantas outras, não


tem começo, meio e fim.
Não tem começo porque principia numa data
muito especial para toda a geração que nasceu da
~ década de 50 para cá. Não tem meio porque está em
pleno curso e não tem fim porque se pretende eterna.
É a história do nosso Corinthians.
Será uma heresia, talvez, dizer que o início dela
não foi em 1910, ano da fundação do clube mais
apaixonante do país. Mas, para nós, não.
Para o André, Daniel e Camila, os três corin- O nosso Corinthians nasceu numa linda, ines-
tianinhos mais querido do mundo; " quecível noite do dia 13 de outubro de 1977, exatos
para a minha mãe rubro-ríegra, porque afinal 22 anos, oito meses, sete dias, quatro horas e 36
ninguém é perfeito; minutos depois de o alvinegro ter conquistado o úl-
para o velho que me ensinou a maravilhosa pai- timo título paulista de sua vida, num longínquo 6 de
xão pelo futebol; fevereiro de 1955, ganhando, assim, o campeonato
e para a Ledinha, companheira que, além de de 1954, o dol V Centenário.
tudo, ajudou a fazer de 19"77um ano inesquecível.
8 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 9

Foi aos 36 minutos do segundo tempo, contra a


Ponte Preta, no Morumbi, que nasceu o novo Corin-
thians, o nosso, o vitorioso. Seu fundador chamava-
se Basílio, a quem ainda haveremos de homenagear
erguendo uma estátua no meio da avenida Paulista.
Seu gol, o gol da libertação, responsável por
uma explosão popular jamais vista, foi sofrido, sua-
do, arrancado do fundo do peito, foi heróico como
são os grandes momentos, foi assim:
Zé Maria cobrou uma falta na altura do bico
direito da grande área, centrando a bola na marca do
pênalti. Basílio cabeceou quase na pequena área
para Vaguinho que chutou de esquerda no travessão.
A bola voltou para Vladimir, que cabeceou na ca-
beça de Oscar, na frente do gol vazio. O rebote foi
apanhado pela santa perna direita de Basílio.
O delírio foi indescritível e suas imagens estão
até hoje embaçadas. Um grito tomou conta da cidade
na madrugada da sexta-feira: "Corinthians cam-
peão! Pau no eu do meu patrão!".
Ninguém foi trabalhar.

I
Gol de Basílio. Gol da libertação.
I .a '
A Emoção Corinthians 11

o jogo era o penúltimo de um campeonato em


que o Corinthians esteve sempre na liderança. Era
ganhar do Santos, bater no São Paulo e pronto!
Já se jogava o segundo tempo, e gol que é bom
não saía. O tal Pelé não fazia nada e parecia até que
voltara machucado à partida. Olavo era um paredão
e assustava o garotinho.
De repente, não mais, o negrinho investe para
cima dele, faz uma falta desnecessária, irritante mes-
A GLÓRIA QUE PELÉ NÃO TEVE mo, o experiente zagueiro perde a cabeça, e os dois
vão expulsos.
Minutos depois o ponta-direita Dorval entra pela
região em que Olavo deveria estar e dá a vitória ao
Quem' veio ao mundo em 1910 (ano oficial da Santos.
fundação, certo?) gosta de futebol e viu Pelé nascer Ali o Corinthians começava a perder o campeo-
em 1940, sabe que naqueles trinta anos nada menos nato (depois se saberia que era mais um campeo-
do que onze títulos paulistas foram morar no Parque nato), e Pelé deixava claro que já entrava no segundo
São Jorge. tempo c9m a firme determinação de causar a expul-
Quem continuou a acompanhar futebol até 1956 são de Olavo.
- ano em que ele começou no Santos - sabe que Depois, o crioulinho, cada vez mais crescido e
naqueles 16 anos mais quatro campeonatos paulistas melhor, começava a se fazer presente no angustiante
foram ganhos pelo Corinthians. drama corintiano. E como!
Quem viu Pelé jogar até encerrar a carreira no Os anos foram passando sem que ninguém desse
Brasil, em 1974, sabe que naqueles 18 anos o Corin- muito pela coisa. Mas o fato é que o Santos não
thians não ganhou nenhum título importante. perdia para o Corinthians. Quem estivesse atento,
Tudo começou num domingo de 1957. A torcida porém, perceberia que sempre que jogavam, o nú-
corintiana lotava a Vila, Belmiro para ver seu time, mero 10 santista era o primeiro a entrar em campo.
invicto: há 35 jogos, e nem ligava para um crioulinho No mínimo, uma pessoa estava atenta. Era ele, o
de apenasI? anos. Afinal, lá estavam Gilmar, Olavo, Pelé.
Cláudio, Luizinho, os grandes campeões do IV Cen- Terá sido culpa de Ari, que foi responsável pela
tenário, uma conquista ainda bem viva.
, .'
ausência nos dois primeiros jogos do Brasil na Copa
12 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 13

de 58, ao machucâ-lo num simples amistoso prepa-


ratório? Ou terá sido o espírito do grande artista que
adorava jogar com casa cheia?
Até hoje não se sabe. Só se sabe que em toda era
Pelé o Corinthians jejuou. Só se sabe que das 41
partidas que disputou contra o Corinthians Pelé ga-
nhou 23 e perdeu apenas cinco. Só se sabe que ne-
nhum outro time sofreu tantos gols dele, nada menos
que 49.
A verdade é que torcida alguma padeceu tanto
com ele como a corintiana. Nenhuma outra torcida
chegou a torcer para que ele fosse vendido ao exterior
depois que marcou os quatro gols santistas num jogo
'[ que acabou empatado. Ninguém pôde jamais olhar
para ele como na noite de 6 de março de 1968,
quando Paulo Borges e Flávio quebraram o tabu de
onze anos sem vitórias sobre o Santos, e dizer: "É,
Pelé, dessa vez você perdeu".
E foi por isso tudo que nunca uma torcida foi
capaz de amá-lo e odiá-lo tanto. Ou de desejar que
seu milésimo gol fosse feito numa partida em que o;
Corinthians ganhasse por 5 a 1.,",<~
É também por isso que só o corintiano poderá
dizer ao maior jogador de todos os tempos: "Penas,
Pelé, que pena. A única glória que você não poderá
contar a seus netos é a de ter visto, de dentro do
~ . campo.. a massa corintiana explodir seu grito' de
o
s
...J
campeã ... ".
UJ
o (O complemento da frase fica por conta do es-
z
« tado de espírito de cada corintiano, Tanto pode ser
::;;

o algoz só não teve um orgulho. "que pena", "azar seu" ou ·"bem feito.). •
A Emoção Corinthians 15

ramo O Corinthians acordava a cidade, ali pelas sete


da matina.
Os cruzeirenses desdenhavam, os atleticanos
jamais.
Mineirão tomado, um gol deles. Eram tempos
de Piazza, Tostão, Dirceu Lopes, um inferno. A
gente reagiu, empatou, foi roubado e tomou o se-
gundo, uma jogada diabólica do Dirceu, driblando
Ditão e Luís Carlos e deixando o Ado a ver navios.
Uma catástrofe.
NO MINEIRÃO NUNCA MAIS A humilhação maior, porém, ainda estava por
• acontecer. Em São Paulo, no Morumbi, o Palmeiras
batia o Botafogo e assim, com a nossa derrota, eram
campeões os inimigos mais tradicionais. Fazer o quê?
Corria o ano de 1969. A campanha corintiana Nossa heróica caravana saiu do estádio can-
na então chamada Taça de Prata - um verdadeiro tando Palmeiras campeão, só para irritar os minei-
Campeonato Brasileiro - era empolgante. ros, numa demonstração de como o bairrismo atinge
Em dezembro, a dúvida: matar o simulado no as raias da loucura total.
cursinho e ir a Belo Horizonte ver a final contra' o . A provocação rendeu. Apedrejaram o ônibus,
Cruzeiro ou não? quebraram todas as janelas, houve quem reagisse,
Prevaleceu o bom senso. todo mundo pra delegacia. Horas depois, toca o arre-
O jogo estava marcado para domingo, como medo de veículo estrada afora, no duro caminho da
devem ser as grandes decisões. A caravana partiu do volta amarga.
Parque São Jorge, exatamente à meia-noite do sá- Os restaurantes, precavidos, estavam fechados.
bado. Lá pelas tantas da madrugada, a mão negra aperta a
Eram, digamos modestamente, coisa de 60 ôni- perna, e o crioulo fala pela primeira vez, cúmplice,
bus. Bàndeiras desfraldadas na Fernão Dias, urp. arrasado: "Esse time só me dá problemas. Gastei 3S
sem-número de restaurantes literalmente saqueados cruzeiros que não tinha, briguei com minhas duas
no caminho, e aquele crioulo ao lado não abria a muié para vir e dá nisso. É broca, irmão".
boca. A algazarra não lhe dizia respeito. Azar. Incontinenti se põe de pé e solta o berro, gutu-
A chegada na capital mineira foi épica. Por ral, do fundo d'alma: "É o Coringão, caralho!". ,/,<

li! onde passava a cruzada alvinegra as janelas se abri-


16 Juca Kfouri

A solidariedade é geral, irrestrita. Todo o ôni-


bus assume o gesto e povoa a noite com o grito de
guerra. Mais. Em pleno Anhangabaú, ao raiar da
segunda-feira paulistana, no coração da cidade que
tinha seu campeão mais uma vez errado, a caravana
entrava festiva, corintiana, para o pasmo dos pas-
santes, incrédulos indo ao trabalho, como se uma
delegação de marcianos acabasse de desembarcar.
A promessa ·foi feita naquele momento, en-
quanto o Corinthians não for campeão nunca mais
para o Mineirão, NO MARACANÃ NUNCA MAIS
Deu para entrar na faculdade. Foi uma má
troca.
Três anos depois tudo se repetiria. Uma cam-
panha brilhante, com Sicupira fazendo pela direita o
que Rivelino fazia na esquerda, levou o Corinthians
ao Maracanã para disputar a semifinal contra o Bo-
tafogo. Um empate seria suficiente para chegar à
finalíssima contra o Palmeiras ou o Internacional
que, na mesma quarta-feira, jogavam em São Paulo,
com os gaúchos brigando pelo empate.
A ida ao Rio só foi decidida na hora do almoço
de um dia de trabalho normal. O chefe entendeu as
razões superiores, e o Volks vermelho voou pela Du-
tra, chegando às arquibancadas pouco antes do iní-
cio das hostilidades.
Saímos na frente, e no intervalo os planos se
resumiam a Porto Alegre no domingo, pois o Inter
também vencia no Pacaembu.
Então, a desgraça. Um desses amigos famosos

, Jl pelo pé-frio descobre aquele cantinho do maior está-


18 Juca Kfouri

dio do mundo e incorpora-se ao sonho da derradeira


cartada nos pampas. Foi o bastante.
Enquanto o Palmeiras virava o jogo para 2 a 1,
o Botafogo fazia o mesmo, não sem a ajuda do juiz
pernambucano que, entre outros crimes, anulou um
gol de Baldochi no último minuto, legitimamente
feito com a mão.
Na volta, comAOO quilômetros de desespero e
sono pela frente, uma parada no Bob's da avenida E NO MORUMBI?
Brasil para o pior queijo-quente jamais engolido e BEM, NO MORUMBI. ..
uma vontade louca de morrer na serra.
Como enfrentar a vida daí para frente? Como
enfrentar a cara dos companheiros de trabalho na
quinta-feira praticamente sem dormir? E daí veio o ano de 1974. Fazia 20 anos ...
Maracanã? Maracanã nunca mais enquanto o O Corinthians havia ganho o primeiro turno do
Corinthians não fosse campeão. Campeonato Paulistà ao vencer o São Paulo por 1 a
O, gol de Zé Roberto.
Logo no primeiro jogo do segundo turno, no
Parque São Jorge, contra o Botafogo de Ribeirão
Preto, um espigado estudante de medicina com o es-
tranho nome de Sócrates faz um lançamento longo
para o centroavante Geraldão que acaba na rede
corintiana.
Rivelino corre para o bandeirinha e reclama
impedimento. O infeliz não atende a justa reivindi-
cação e é, por assim dizer, agredido.
O time desmorona ante a perspectiva do julga-
mento resolver pela suspensão do único tricampeão
titular alvinegro e faz péssima campanha.
Afinal, Riva é absolvido e poderá jogar a final

!f
20 Juca Kfouri
A Emoção Corinthians 21

contra o Palmeiras, vencedor do returno. Houve


só era cortado pelo som abafado, surdo, impressio-
quem dissesse ser errada a decisão mas, sabe-se, não
nante de 200 mil solas de sapato se arrastando pelo
se erra a favor do povo.
chão.
O primeiro jogo decisivo acabou 1 a 1, no Pa-
Infelizmente, e já por razões profissionais, o
caembu. O segundo, disputado num feio domingo
Morumbi ficou sem promessa. Mesmo porque seria
cinzento, foi no Morumbi e foi trágico.
impossível cumpri-Ia.
Contam os nossos pais que nunca houve tragé-
dia tão grande como a derrota do Brasil para o
Uruguai em 1950, no Maracanã. Pode ser.
Quem, porém, estava no Morumbi na nublada
tarde de dezembro de 1974 viveu, no mínimo, a
mesma situação.
Só tinha corintiano no estádio. A nação disse
presente, em peso.
Desgraçadamente, o gramado, recém-plantado,
estava muito alto, fofo mesmo, e as pernas dos nossos
jogadores pareciam pesar quilos e quilos.
Era tão certa a vitória do Corinthians que até os
jogadores do Palmeiras - Luís Pereira, por exemplo
- cumprimentaram .os futuros campeões antes do
jogo começar. Depois, pensavam, seria impossível.
O primeiro tempo foi arrastado e acabou sem
gols. No segundo, o desastre. Gol do Palmeiras. Ro-
naldo, primo do Tostão, com a bola ainda resvalando
nas mãos do goleiro argentino Buttice. Era ° fim.
O título escapou outra vez, a pequena torcida
alviverde presente teve respeito e sensibilidade para <{
o:
w
sequer fazer barulho, Vaguinho chorava em campo, :>
z
Rivelino acabaria escorraçado do Parque São Jorge o'
f-
-I.

com a injusta fama de covarde, e a saída do .estâdio ~


<{
mais parecia um macabro cortejo fúnebre. O silêncio
Gol do primo de Tostão. Fazia 20 anos.
A Emoção Corinthians 23

'NO BEIRA-RIO NUNCA MAIS

Nada como um ano depois do outro e, em 1976,


lá estávamos nós novamente.
A final que o amigo pé-frio fizera questão de
abortar três anos antes ia, enfim, se realizar em
Porto Alegre, contra o Inter, que lutava pelo bicam-
peonato brasileiro.
Uma semana antes desse jogo, no entanto, o
mundo assistiu à maior demonstração de paixão
coletiva jamais ocorrida.
Nada menos que 70 mil fiéis racharam o Mara-
canã ao meio com a torcida do Fluminense e, eufó-
ricos, transpuseram as sete horas que separam o Rio
de São Paulo trazendo a classificação para a fina- ..J
W

líssima. I-
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w
A promessa de não ir ao Maracanã foi mantida ::;;
c::
a duras penas, e se arrependimento matasse ... o
o
Mas o Beira-Rio ainda não tinha sido alvo de ..:
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tI:
semelhante homenagem. Ainda. w
u,

A invasão do Maracanã.
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24 Juca Kfouri

Toca para a capital gaúcha onde, como era de se


esperar, os donos da casa ganharam o jogo por 2 a O,
apesar de levarem duas bolas na trave e de terem
feito o segundo gol, quando o Corinthians encurra-
lava, numa falta inexistente batida por Valdomiro
que só a tevê, em câmara lenta, mostra que a bola
entrou pouco mais de um palmo. O juiz não viu, nem
o bandeirinha, só que o danado do auxiliar correu
para o meio do campo. _
Foi uma loucura. Os 10 mil heróis que viajaram UM É ÔTIMO, DOIS É ESTUPENDO,
para Porto Alegre, que ficaram expostos ao sol incle- TRÊS É MAGNÍFICO
mente do verão gaúcho desde o meio-dia até o co-
meço do jogo, que sofreram com o corte de água nos
banheiros que serviam o setor onde estavam, resol-
veram bagunçar a guerra. Promessas feitas, promessas cumpridas. O ano
O Inter não podia bater escanteio na frente deles da graça de 1977 veio marcar a liberação, como já foi
porque o foguetório não o permitia. A arquibancada contado.
do Beira-Rio parecia a Roma de Nero, tantas eram as E era só o começo dos novos tempos.
fogueiras que marcavam o protesto dos fiéis. Por Mas convém fazer ainda algumas justiças à con-
muito pouco a torcida alvinegra não consegue melar quista que marcou o fim do sofrimento.
um jogo em pleno território inimigo. Como, por exemplo, a dois personagens funda-
Os vice-campeões foram recebidos com festa no mentais daquela passagem épica: Palhinha e Os-
dia seguinte, e o Beira-Rio teve a honra de ser brin- valdo Brandão.
dado com a mesma promessa que seus irmãos de Brandão havia sido o técnico em 1954 e 22 anos
Minas e do Rio já ostentavam. depois conseguiu imortalizar-se definitivamente.
Palhinha veio do Cruzeiro e fez o único gol da
primeira partida decisiva contra a Ponte, um gol com
a cara e a coragem, depois de entrar na área, chutar
para a defesa parcial do goleiro Carlos e receber o
rebote em cheio no rosto, mandando a bola para o
fundo das redes.
Jl
A Emoção Corinthians 27
26 Juca Kfouri

No jogo seguinte, quando mais de 13S mil corin-


tianos quebraram o recorde de público do Morumbi,
o Corinthians perdeu por 1 a 2 e ficou sem Palhinha,
que sofreu uma distensão, transformando o terceiro
jogo num drama sem igual.
Foi então que a dupla Brandão/Palhinha apa-
receu plenamente. O velho treinador aproximou-se
do craque veterano" e perguntou, ao vê-lo sair do
departamento médico: "Como é, dá para jogar de-
pois de amanhã?" .
A resposta veio rápida e reticente: "Acho que
não. Dói até para andar, seu Brandão".
O técnico, que vivia a angústia de um câncer no
filho único, apelou: "Dói para andar? Ah, então você
vai poder jogar. Dura é a minha dor, que sequer
pode levantar da cama" .
. Palhinha ficou tomado e, apesar de ter plena
consciência de que não suportaria jogar, passou a ser
o principal estimulante do time, arrancando de cada
companheiro o compromisso de que morreriam em
campo se fosse preciso para dar o título a Brandão.
Assim foi feito.
Em 1978 outro clube foi campeão e isso não teve
a menor importância ..
Já em 1979 ... "
Bem, nesse ano, mais precisamente em 1980,
a festa foi novamente corintiana.
O Palmeiras era a melhor equipe e por isso foi ne-
cessário que Vicente Matheus, presidente alvinegro,
A eternidade para Osvaldo Biro-Biro e Casagrande,
melasse a decisão que estava prevista para dezembro,
Brandão em 1977. campeões em 1982.
fazendo com que se realizasse só em janeiro, após as
A Emoção Corinthians 29
28 Juca Kfouri

férias dos jogadores, quando o entrosamento do con- não explicava por que então um era campeão mun-
junto inimigo já não pudesse ser o mesmo do final da dial e o outro estava na Taça de Prata.
Por conta da petulância, tome pau.
temporada.
Mas são insondáveis os mistérios do futebol. O
A artimanha deu certo, certíssimo. Ganhamos
Corinthians não só arrancou-se logo da Taça menor
dos palmeirenses nas semifinais e fomos pegar outra
como acabou a de Ouro em honroso terceiro lugar,
vez a Ponte Preta, pobre dela.
numa metamorfose nunca antes imaginada, benefi-
Não houve sofrimento, então. A primeira par-
ciado pelo regulamento que permitia tais peraltices e
tida ficou num proyidencial O a O e, na segunda, a
por uma garra comovente.
dupla formada pelo agora renomado Doutor Sôcra-
O Campeonato Paulista foi sopa. O Corinthians
tes e Palhinha liquidou a pinimba com um golaço de
ganhou o primeiro turno com três rodadas de ante-
cada um.
cedência, perdeu o segundo no olho mecânico para o
Surgiram dois lemas na cidade: "Ano sim, ano
não, Corinthians campeão" e "Já tô com o saco cheio São Paulo e foi ganhar sua primeira decisão, em 28
anos, contra um grande, velho rival,
de ser campeão".
O resto daquele ano que começara tão bem pas- Tudo saiu como devia. 1 a O, gol de Sócrates, no
sou inteiramente sem novidades dignas de registro. primeiro jogo, e 3 a 1 no último, com dois gols de
Veio 1981. Ano de sim, pois não. Biro-Biro e um de Casagrande. O estádio tricolor,
Um descuido imperdoável, no entanto, levou a palco das finais, passou a ser chamado de Morurn-
nau corintiana ao naufrágio total, incapaz até de biro e o cartão de Natal chegou à redação de Placar
classificar-se para a Taça de Ouro do ano seguinte. irônico, ferino, feliz:
Era preciso mudar, apagar os resquícios pré-histô- "Porque não queremos ser um Flamengo." As-
sinado, "Adílson".
ricos que teimavam conviver no Parque São Jorge.
O começo de 1982 encontrou o glorioso em si-
tuação humilhante. Não restava outra alternativa
que não a de disputar a Taça de Prata. "Por que o
Corinthians não é um Flamengo?", perguntava opor-
tunamente a revista Placar, para obter a atrevida
resposta do jovem e barbudo diretor de futebol Adíl-
son Monteiro Alves: "Time por time somos melho-
res".
Verdade que ele, um sociólogo nas horas vagas,
Jf
A Emoção Corinthians 31

demais, está tudo embaçado e ainda por cima este nó


na garganta: "O que será que me dá, Corinthians ... "
Tempos depois, Morumbi. Em pé, o povão can-
ta o hino: "Salve o Corinthians, o campeão dos cam-
peões ... ". Em pé, cadê a nitidez que estava aqui
agora mesmo? A bola rola parece: "Basílio, Basí-
lio!" .
O rapazinho ainda imberbe, assustado com a
NÃO CHOREM POR MIM, palidez, pergunta: "O senhor está se sentindo bem?".
OSMAR E MAURO "Como nunca, como nunca", é a resposta.
Fim de jogo. Faixa de campeão por um preço
extorsivo, invasão do gramado, ninguém arreda pé
do Morumbi. Fora dele, o trio elétrico, vindo dire-
A tevê ali na frente parecia transmitir um sonho. tamente de Salvador.
Será que o Maracanã era mesmo no Rio? parece ter Atrás do trio elétrico, pegar a mulher amada e
mais preto e branco do que tricolor! pé-quente, barriguda ainda por cima, corre carrinho,
vai por cima da calçada, rádio ligado, olhaí o Osmar
Em campo, o Fluminense de Rivelino fazia 1 a
de novo. Muda de estação se não o vexame se repete e
O. Mas Ruço, o justiceiro, foi lá na área deles e, de
adeus trio elétrico, mulher amada e barriguda, pé-
meia-bicicleta, empatou. Chovia até mais não poder,
quente ainda por cima. Comentários de Mauro Pi-
o que ajudava o time menos técnico, mais coração.
nheiro, inesquecível: "Eu quero pedir licença aos
Vieram os pênaltis para desempatar o dilúvio.
caríssimos ouvintes para prestar uma homenagem a
Ganhamos, pós ganhamos da máquina.
um corintiano que deve estar enlouquecido em algum
Agora é correr pela Marginal que o trabalho
canto do estádio. É a primeira vez que ele vê o
espera na redação. Mas como chove também em São
Corinthians campeão. É um jovem companheiro
Paulo!
nosso, o ... " .
Rádio ligado, Osmar Santos manda o seu re-
cado: "O que será que me dá, Corinthians, que me Carro parado, cabeça debruçada no volante, até
transborda o peito, que me desacata ... ", No fundo, já trio elétrico, mulher barriguda e pé-quente, ama-
Mílton e Chico. da ainda por cima.
Melhor parar o carro no acostamento, chove

Jl
A Emoção Corinthians 33

Ah, fantasma cruel. Quer dizer então que mu-


dar de cor, descobriu a Fiel.
E assim foi ainda por muitos e muitos anos."
Quando menos se esperava, fosse onde fosse,
tava lá o desgraçado.
Apareceu em 1972, no Maracanã, com uma es-
trela solitária no peito, quando bastava o empate. E
olha que até Sicupira o Timão tinha para enfrentá-lo.
Depois, em 1974, no Morumbi, o fantasma deu de
o FANTASMA CORINTIANO novo o ar de sua desgraça, travestido de verde e bran-
co, nos pés de um tal Ronaldo, calando 100 mil vezes,
a cidade inteira. Foi uma tristeza. Chorou-se tanto
que até os inimigos sentiram dó..E não parou por aí.
Era uma vez um fantasma. Um fantasma da- . O fantasma vestiu-se também de vermelho e
nado que adorava ver o povo triste e cabisbaixo. branco, naquela tarde quente do Beira-Rio, man-
Como mandava o figurino, durante anos - para dando pro espaço mais um sonho de título nacional,
ser mais exato, durante onze longos anos -, ele se em 1976.
vestia impecavelmente de branco. Foi um duro pe- Definitivamente o fantasma parecia incorporado
ríodo para o povão e a esse tempo convencionou-se à vida do Corinthians, e só os mais fanáticos acredi-
chamar de tabu. . tavam que a tragédia um dia terminaria.
Um dia, ou melhor uma noite, uma gloriosa Mas, diz a crendice popular, não há mal que
noite de março de 1968, esse fantasma foi embora, sempre dure, não há derrotas definitivas para o povo.
expulso pelos hábeis pés de Paulo Borges e. Flávio. E veio a desforra. Foi uma noite inesquecível a-
Foi um alívio na cidade. . quela, a de 13 de outubro de 1977. Basílio, o imortal,
Ninguém mais acreditava em fantasmas. Estava chutou para a lata do lixo da História 22 anos de terror.
tudo pronto para o início de novos tempos. Naquela noite, enfim, como aconteceria na de
Que engano, quanta desilusão! Não é que mal fevereiro de 1980 e na tarde de dezembro de 1982,
tinha passado um ano e o danado do fantasma rea- o fantasma surgiu, novamente de branco mas, tam-
pareceu, em Belo Horizonte, no Mineirão, vestido de bém, de preto.
azul e branco para roubar a Taça de Prata das mãos Tinha descoberto seu destino e era maravilho-
do Timão? samente corintiano.
A Emoção Corinthians 35

o CORINTHIANS PRECISA
SER EXPLICADO?

Talvez sim, talvez não. Explicar o corintianismo


tem sido um desafio de mais de 70 anos, e poucos
tiveram a sensibilidade para chegar perto da expli-
cação.
Antes de mais nada, para entender o Corin-
thians é fundamental ser corintiano. Parodiando o
poeta, ser corintiano é fundamental.
Não é à toa que vamos recorrer aqui a alguns
escritos de eminentes alvinegros, gente que, mesmo
não torcendo para o Corinthians em função de qual-
quer fatalidade que lhe tenha acontecido na infância,
assume uma postura corintiana. Gente que, por-
o
tanto, bota para escanteio a teseelitista da alienação. a:
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J:
Nossos pobres intelectuais sempre bateram nes- Z
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sa tecla para explicar o futebol e o carnaval, as duas o
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mais autênticas manifestações culturais do brasi- .~
o
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leiro. Na falta do pão, o circo - sempre, ao ver
36 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 37

deles, manipulado pelo Poder. em sua "Pastoral ao Povo Corintiano", publicada em


Essa má compreensão chegou ao seu clímax Placar Extra, n~ 390-A, 14/10/77:
quando o Brasil ganhou o tricampeonato em plena
ditadura Médici, nos tempos do "milagre". É inegá- "Corinthians, para nós, era o símbolo mesmo
vel que o general faturou a conquista e tentou se da esperança. E ainda o é. Agora, mais do que
popularizar com a imagem do presidente que ia aos nunca" ( ... )
estádios com radinho de pilha colado no ouvido, "De fato, ao ver as bandeiras agitarem-se, co-
mas, é inegável também que a História registra com brindo totalmente as arquibancadas, tínhamos
muito mais generosidade a participação de Pelé, Tos- a impressão de que o Corinthians jogava sozi-
tão, Gérson e companhia do que a do ditador. nho por todo o Brasil. Que só existia alvinegro
Nunca será demasiado repetir que o Brasil ga- em campo."
nhou duas Copas em períodos democráticos, com "O Corinthians é mesmo o símbolo do povo
Juscelino Kubitschek e João Goulart, e nem por isso que não chega lá. Do povo que sofre todas as
ambos escaparam de morrer com seus direitos polí- decepções, desde as mais legítimas, como tam-
ticos cassados. Ou que a Itália foi bicampeã em bém as de seus sonhos. Mas é um povo que
1934/38, em plena época de Mussolini, que acabou agüenta. Que é humilde. Povo que se abate, mas·
sendo dependurado, por sua própria gente, de ca- que, ao mesmo tempo, sabe que precisa reco-
beça para baixo, após ser fuzilado. meçar. E recomeça mesmo! Está presente em
Futebol não é alienação, ao contrário. Ele mobi- todas as lutas. Recomeça" (... )
liza, ele reúne, ele é meio para que as pessoas se "É isto o espelho do povo? Ou a sua realidade
organizem e sintam sua força enquanto coletividade. mesma? Ou ainda, alienação desta realidade,
Não terá sido por acaso, só como um exemplo qual- para refugiar-se em alguma coisa que se passa
quer, que a primeira faixa pela Anistia no Brasil a no campo, mas que tem interferências incalcu-
aparecer para um grande público tenha sido desfral- ' .?" (... )
IavelS.
dada exatamente no meio da torcida corintiana, "Tenho certeza de que a vitória do Corin-
numa partida contra o Santos, no Morumbi com thians deve levar a vitórias essenciais na vida.
mais de 110 mil pessoas, dia 11 de fevereiro de 1979.
Mas vamos aos testemunhos de corintianos ilus-
tres sobre o corintianismo e a alienação que eles são 1 E vai levar a tanto. Acreditamos, sempre de
novo, nesta era que está para chegar em favor do
povo, com a participação do povo e criada pelo
suficientemente esclarecedores. mesmo povo".
Comecemos por Paulo Evaristo, cardeal Arns, "E o nosso Corinthians talvez seja o símbolo
38 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 39

para tanto. " corintiano) capaz de entender a nossa alma?


Coma palavra o jornalista e escritor genial Re-
Neste mesmo Placar, o corintiano jornalista Cel- nato Pompeu, em Veja, n? 475, de 12/10/77:
so Kinjô pergunta e responde com raro brilho:
"E onde está a alienação? Na verdade, apre-
"O time entra em campo, e basta isso para ciar o Corinthians é uma experiência estética e
realizá-lo. Nada de triunfalismos, pois o corin- emotiva comparável à leitura de um grande ro-
tiano de fé aprendeu que, para subir, é preciso mance, ou à visão de um grande filme, ou peça.
descer. Por isso, ele tanto se entrega à euforia Inclusive, não basta o 'conteúdo' - ganhar o
mais deslavada - por mesquinhos dois pontos jogo -, é necessária uma 'forma' à altura - 'es-
de campeonato - quanto mergulha na mais crever' 'dirigir' ou 'atuar' bem, dar um bom len-
cava depressão - por qualquer ordinário fra- çol, organizar uma jogada com participação de
casso. É uma paixão, enfim, que a razão nunca seis ou sete jogadores por todos os cantos do
haverá de entender, ou explicar - e o que é a campo adversário. Afinal, o leitor ou espectador
razão, se não um civilizado disfarce para ocultar 'torce' por Hamlet, diante da obra de Shakes-
verdades Íntimas?" ( ... ) peare. Assim, a alienação fica por conta do pla-
"Ali, no meio do povo, o torcedor vira gente, no simbólico com o plano real. Mas também o
cidadão de primeira classe, deixando o anoni- Dom Quixote, de Cervantes, que lidava com
mato da vida para ser alguém entre seus iguais." literatura, confundiu o simbólico com o real e
( ... ) foi caçar moinhos de vento. E que mal há em ser
"Corintiano de fé é tudo isso e muito mais .. Dom Quixote? - ou corintiano doente?".
Não há como explicar, pelos lineares traços da
lógica, os mistérios dessa mística. O que vale é Que mal há, principalmente,- se, no caso do
saber, no jogo da vida, que torcer é dar passa- corintiano como no da utopia, a vocação desse Dom
gem às emoções, é trazer o coração para fora, Quixote é vencer sempre? Ou não é?
emotivo e pulsante. Pois, apesar de tudo o que Para o sociólogo Sérgio Miceli, no Jornal do
. possam dizer, essa paixão só lhe dá alegria." Brasil de 13/12/76,
"
Um cardeal, e que cardeal, um jornalista consa- "a esta altura o Corinthians é menos um time do
grado, dois corintianos de muitos anos. O que dirá que uma militância, menos uma torcida desin-
um ponte-pretano (e nada é mais parecido com um teressada do que uma organização embrionária
40 Juca Kfouri A Emoção Corinthians

de anseios populares" ( ... ) "Assim, como pode imigrantes, de estigmatizados. Esqueçamo-nos,


suceder com um Partido, pode-se dizer que o porém, destes dados brutos de sua composição
Corinthians é um time de classe" (. .. ) "Daí as sócio-econômica. Esqueçamo-nos até mesmo de
aspirações dos corintianos em converter seu time que o Corinthians salvou um campeonato me-
no 'futuro campeão do mundo', no 'maior', no díocre, dando-lhe um final portentoso. Mas lem-
'melhor', em suma, no time hegemônico." bremo-nos, e lembrem-se sobretudo os eruditos
teóricos do futebol como alienação, que a tor-
E, para finalizar com citações tãoreveladoras, cida do Corinthians recriou -:- não importa por
no mesmo JB, o também sociólogo Bolivar Lamou- quão pouco tempo - uma cidade no lugar desta
nier, arremata: triste, desta sisuda São Paulo. E ao fazê-lo, re-
novou uma convocação que alguém já havia feito
"Como explicar tanto esforço, tanto sacrifí- uma vez este ano: não queiram impor-nos a' si-
cio, tanta paixão? A teoria corrente é a do 'ópio sudez, porque a alegria é direito de todos."
\l.~ ., do povo', isto é, do futebol como um fanatismo
'\
através do qual os oprimidos dizem (ou sentem E é exatamente por causa deste direito à alegria,
que dizem) o que não lhes é dado dizer no coti- do direito à pretensão de hegemonia, do direito ao
''-li
diano. Não direi que seja uma hipótese inteira- quixotismo, à igualdade e à paixão, do direito ao vir
mente falsa. No futebol, nas novelas, nos pro- a ser, que o corintiano é como é, que o corintianismo
o
..J \•. gramas de auditório, no consumo debilóide e envolve e comove, que aquele uniforme alvinegro
~j
(por que não dizê-Io?) também nos papos pseu- desperta tantos sentimentos em quem não tem ver-
do-eruditos e nas diversas curtições, há em tudo gonha de participar com todas as suas forças, mesmo
'- isso uma energia feita de frustração, de tédio e que sentado numa arquibancada. Porque teoria ne-
C de desesperança. Não vem ao caso no momento nhumajamais há de nos convencer de que quem joga
a .discutir quanto dessa energia tem a ver com a são apenas os jogadores, tantos gols já fizemos, tan-
j~ situação brasileira, quanto com o mundo em tas cabeçadas demos, defesas já conseguimos.
geral, quanto com as carências essenciais da
condição humana. Mas é preciso ter sensibili-
dade para o mundo de referências e de recados
contidos na manifestçaão corintiana. Já se ob-
servou que o Corinthians não é um clube: é uma
comunidade de deserdados, de ilegítimos, de
I Jt
A Emoção Corinthians 43

o maior. Desta seleção ficaram de fora craques como


Neco, Amílcar, DeI Debbio, gente que encarnou o
Corin thians.
O fato é que para ser um verdadeiro ídolo corin-
tiano há uma condição imprescindível. A de ter nas-
cido alvinegro, coisa que, por exemplo, nem Gilmar, .
nem Domingos, Sócrates, Rivelino, Goiano, Cláu-
dio, Baltazar, De Maria, nem mesmo Zé Maria, ti-
SEGUNDA PARTE veram a seu favor, ou porque vieram de outros clubes
ou porque eram torcedores de outras cores. É claro
O TORCEDOR DENTRO DO CAMPO que isso não impede que sejam idolatrados e basta
verificar os nomes acima para constatar. É óbvio
ainda, que como toda regra tem lá suas exceções, não
foram poucos.os "não-corintianos" que viraram ído-
Quem é, ou quem foi, o maior ídolo da história
los e, mais importante, viraram corintianos, como
corintiana? Difícil responder, impossível contentar a
veremos adiante. De qualquer modo, quem nasceu
todas as gerações. corintiano e foi revelado dentro do clube leva vanta- ,
Se a pergunta fosse sobre quais foram os melho-
res de todos os tempos, seria mais fácil. Recente- gem, casos de Neco, Luzinho e Wladimir.
mente mesmo, a revista Placar ouviu 30 opiniões Será curioso observar, também, que o padrão de
entre torcedores, jornalistas, ex-jogadores e dirigen- ídolos corintianos não passa normalmente por tipos
tes, com idades variando de 32 a 78 anos, e chegou ao como Bellini ou Mauro Ramos de Oliveira - capi-
seguinte esquadrão: Gilmar, Zé Maria, Domingos da tães do Brasil nas Copas inesquecíveis de 1958 e 62.
Guia, Goiano e Wladimir; Luizinho, Sócrates e Rive- A preferência costuma ser pelos feios, pelos bai-
lino; Cláudio, Baltazar e De Maria. Um timaço em xos, pelos mais parecidos com o torcedor das gerais.
que se misturam a técnica de um Gilmar, Domingos, Classe média raramente é amado e,quando isso
Luizinho - deslocado para a posição de volante ocorre, haja discussão, como bem o demonstram os
embora fosse um autêntico meia-direita -, Sócrates, casos de Rivelino e até mesmo do Doutor Sócrates.
Nunca se vê um Wladimir ser acusado por al-
Rivelino, Cláudio e De Maria,e a garra de Zé Maria,
guma derrota ou por algo de ruim que esteja aconte-
Goiano, Wladimir e Baltazar.
cendo no Parque. A Democracia Corintiana tem seu
. No Corinthians,porém, nem sempre o melhor é
apoio e empenho na mesma medida em que tem o de
44 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 45

Sôcrates, mas é para o último que sobram as ridí- tentando ajustar o cinto. Tanto bastou para ser re-
culas acusações de subversão e etc. preendido pelo árbitro que julgou que o craque esti-
Será interessante conhecer, primeiramente, es- vesse dramatizando uma falta comum. Indignado,
tes três ídolos nascidos, criados e revelados no Corin- Neco gesticulou com o cinto na mão e deu a impressão
thians, pois eles representam a massa dentro do aos torcedores de que ele pretendia agredir o juiz.
campo e são por ela reverenciados. A época de Neco, o futebol era ainda um esporte
Manoel Nunes, o Neco, começou sua carreira de elite. Atletas e torcedores viviam um mundo à
em 1911, no infantil ....do Corinthians, e s6 a encerrou parte, e o Corinthians teve papel fundamental para
em 1930, passando uma temporada, em 1915, no quebrar o elitismo.
Mackenzie, atendendo apelo do próprio Corinthians, Seus fundadores, seus torcedores e seus craques
que, por não participar do campeonato daquele ano, eram em esmagadora maioria gente humilde. Prova
não quis deixá-Io inativo. Oito vezes campeão pau- disso é que Neco mesmo viveu uma situação exem-
lista, transformou-se, ao lado de Friedenreich, no plar nesse aspecto.
grande herôi do Campeonato Sul-Americano de 1919, Logo após conquistar o Sul-Americano de 1919,
quando a Seleção ganhou seu primeiro título inter- Neco acabou sendo recebido em São Paulo, ao lado
nacional. de seus companheiros paulistas, com grande festa.
Não aceitou nenhuma das propostas milionárias Foi carregado em triunfo pelas ruas numa recepção
que lhe eram feitas por clubes argentinos e uru- que culminou no Palácio Campos Elísios, onde o
guaios, assim como as do Fluminense do Rio. Jogava governador Altino Arantes prestou as homenagens
por amor ao Corinthians, sem receber um tostão e oficiais. Festa finda, teve que ir a pé para casa, sem
está imortalizado por uma estátua que a torcida fez um centavo no bolso para tomar o ônibus.
erguer no Parque São Jorge. Dia seguinte, acordou cedo e excitado, imagi-
Diz a lenda que ele ameaçava os árbitros com o nando a acolhida que teria ao chegar no emprego
cinto de seu calção e que uma vez buscou a bofe- com tantas glórias para contar. A expectativa virou
tadas, no Rio, um irmão que preferiu sair do Corin- frustração quando soube que estava demitido por
thians. abandono de trabalho.
Na verdade, a história do cinto tem uma expli- Onze anos depois de Neco ter encerrado a car-
cação que virou fantasia. É que num jogo contra o reira, em 1941, a situação já era bem diferente, e um
Palestra, em 1920, ele entrou em campo com uma novo ídolo nascia no Parque.
faixa de couro para prender o calção. Ao sofrer uma O futebol estava popularizado e, desde 1933,
jogada mais dura do adversário, caiu e ficou no chão, profissionalizado no Brasil. No Corinthians, um me-

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·46 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 47

nino que a partir dos sete anos de idade fugia de casa a torcida chega a ser paternalista com ele, tratando-o
para ir ao Parque São Jorge ensaiava seus primeiros como se fosse um filho desprotegido.
chutes no time infantil. Tinha 11 anos, era franzino, Pequeno, mas incrivelmente forte e vigoroso,
-hurnilde e se chamava Luiz Trochillo, o Luizinho. Wladimir já passou dois anos sem saber o que é uma
Em 1949 estreou como titular na equipe princi- contusão, completando assim o recorde de fazer mais
pal, muito embora fosse o responsável, três anos de 150 partidas seguidas pelo Corinthians.
antes, pela chegada mais cedo da torcida alvinegra Campeão paulista em 1977, 79 e 82, a torcida
que ia vibrar com ele e com o tricampeonato que corintiana nunca se conformou em não vê-Io como
ajudou a levantar no; aspirantes. lateral-esquerdo titular da Seleção e, por isso, um dia
Baixinho, era chamado de "Pequeno Polegar". abriu uma faixa no Pacaembu em sua homenagem:
Jogou 589 partidas oficiais pelo Corinthians, recorde "O Timão é mais importante que a Seleção, Wladi-
na história do clube. Foi três vezes campeão paulista, mir" .
até que, por problemas da política corintiana, passou . Neco, Luizinho e Wladimir. Gente simples, nas-
uns tempos no Juventus. Voltou ao seu time de co- cida corintiana, gente afortunada, querida, amada
ração em 1964 para encerrar as atividades em 1967. pelo povão, gente vitoriosa. A devoção ao alvinegro é
Driblador infernal, adorava sentar na bola para o traço comum aos três, característica que compra o
desmoralizar seus marcadores. Outras vezes corria torcedor para todo o sempre.
com ela presa aos pés acompanhado pelo adversário, Mas existem outros grandes ídolos. E como!
deixava-a para trás, seguia mais alguns passos com o Vamos a eles.
inimigo em seu encalço, para depois voltar e buscar a Comecemos por Amílcar Barbuy, o mais famoso
bola que havia ficado metros antes, abandonada. centro médio do futebol amador brasileiro.
Certa vez, em 1956, ao fazer o único gol da Em 1912, com 19 anos, ele chegou ao Corin-
vitória brasileira contra a Argentina, em Montevi- thians e jogou durante cinco anos como centroavante .
déu, causou a seguinte manchete do jornal El Clarin: do time, além de ser o capitão da equipe a partir de
"EI tiquitito numero ocho nos destrozo". 1914, ano do primeiro título paulista corintiano.
Parou Luizinho, surgiu Wladimir Rodrigues dos Pouco corria, preferindo comandar seus compa-
Santos, ou melhor, Wladimir do Corinthians. Desde nheiros ali pela altura do meio círculo, posição que
1969 no dente-de-leite, começou a se tornar titular do assumiu em 1917. Era de estilo clássico, mas bastava
time principal em 1973 e nunca mais deixou de sê-lo. a violência imperar para que se transformasse num
Ar de eterno menino, sorriso largo onde a bran- bravo lutador.
cura dos dentes perfeitos contrasta com a pele negra, No mesmo Sul-Americano de 1919 que celebri-
48 Juca Kfouri
A Emoção Corinthians 49

zou Neco, fez um gol antológico,ao surpreender o


goleiro argentino Izola, que voltava de costas depois Nesse período, seguramente, concentra-se a
de bater um tiro de meta para o meio do campo. maior quantidade de ídolos corintianos. Além de
Estava 1 a 1, e quando o arqueiro deu pela coisa a Tuffy e Neco, surgem também Grané, DeI Debbio,
bolajá estava balançando suas redes. Filó, Rato e De Maria, todos companheiros de time.
Em 1925, a grande dor. Amílcar transferiu-se Pedro Grané era chamado de "420", alusão ao
para o Palestra Itália. mais potente canhão da época, de fabricação alemã.
Contemporâneo de Amílcar, Altino Marcondes, Certa feita, contra o Barracas - sempre os ar-
o Tatu, tinha a feiêão do rosto e o jeito de andar do gentinos -, nossa Seleção perdia para o estupendo
bicho. Veio do Taubaté em 1921 e escolheu o Corin- time, que vinha de vitoriosa excursão à Europa, por 3
thians pelo coração. Saiu-se como a grande revelação a 2. Eis que surge uma falta no meio do campo em
do Campeonato de 1922, o do Centenário da Inde- São Januário. Nem a torcida de chapéu, colete, gra-
pendência. Fez, em 1924, o gol contra o Paulistano vata e paletó, nem os adversários deram maior im-
que valeu o primeiro tricampeonato corintiano, um portância ao lance. A perplexidade tomou conta de
tento inesperado. Do meio da rua, quando todos todos quando viram a bola dentro do gol, e o placar
aguardavam o lançamento para o ponta-esquerda demorou a mostrar o 3 a 3.
Rodrigues, ele enfiou um torpedo no gol adversário. Em seguida, nova falta, um pouco mais pró-
Consagrado em São Paulo, nas seleções do Bra- xima. Lá vai Grané, nova bomba e 4 a 3. Os argen-
sil e paulista, Tatu encerrou a carreira no Vasco. Em tinos, incrédulos, passam a reclamar do árbitro até
seguida nasceria um novo herói. que, caindo em si e tomando consciência de que não
Tuffy Neugen, o fantástico goleiro Tuffy, che- havia por quê protestar, cercam o zagueiro e o cum-
gou ao Corinthians em 1928, com 29 anos, tendo primentam estarrecidos.
passado antes pelo Palmeiras - não confundir com o Outra vez, fraturou o pulso do ótimo Jaguaré,
atual, que na época era Palestra Itália -, pelo Amé- goleiro da Seleção Carioca, que ousou desafiá-Io an-
rica do Recife, Sírio e Santos. Já defendera a Seleção I tes da cobrança de um pênalti.
Brasileira, mas no alvinegro chegou ao ápice de sua O gigante Grané, que era grande e forte como
vida.
I um touro, veio do Ipiranga e parou de jogar no Co-
Nos três anos que passou no Parque, o Satanás rinthians.
- porque vestia-se inteiramente de negro para jogar Tão célebre como ele foi Armando DeI Debbio,
- obteve simplesmente o tricampeonato paulista e, seu companheiro de zaga. Fazia da regularidade sua
em 46 partidas, só perdeu três. maior arma, e seu estilo guerreiro comovia a gente
corintiana. No Brasil, só vestiu a camisa alvinegra, e
50 Juca Kfouri
A Emoção Corinthians 51

esteve no Lazio, da Itália, de onde voltou para des-


João Freire Filho, O Jango, era o que se pode
pedir-se da bola no Corinthians.
chamar de um craque britânico. Discreto, incapaz de
Amphilóquio Marques, o Filô, é mais um a
um lance de efeito ou de um erro clamoroso. Rigo-
fazer parte da galeria dos ídolos. Ponta-direita de
roso, chegava na bola com absoluta precisão. Reve-
rara habilidade, jogou no Paulistano antes de mu-
lação do futebol paranaense.
dar-se para o Corinthians e sob o nome materno -
Augusto Brandão, além de bom tocador de vio-
Guarisi - ajudou a Itália a ganhar a Copa do Mun- lão, teve uma trajetória variada.
do de 1934. Regressou de lá ainda a tempo de con- Assim que chegou de Taubaté, em 1926, defen-
quistar o Campeonato Paulista de 1937 pelo alvine- deu o Caveira de Ouro F. C., de onde saiu dois anos
gro, abandonando o futebol em seguida e deixando depois para jogar no Rebouças, no Barra Funda, no
muitas saudades dos dribles sensacionais que dava à República, até que, em 1930, aos 20 anos, transfe-
procura da linha de fundo. riu-se para Juventus, onde ficou durante duas tempo-
Ao seu lado, brilhou José Castelli, o Rato, ape- radas, indo depois para a Portuguesa e, finalmente,
lido que sua ligeireza lhe conferiu. Autor do primeiro para o Corinthians.
gol noturno no Estado de São Paulo, no estádio da Por cinco vezes foi campeão brasileiro de sele-
Floresta, em março de 1930, Rato nasceu no Corin- ções, recorde que só ele possui, e disputou a Copa do
thians e, também, curtiu uma boa temporada na Mundo de 1938, na França, quando o Brasil ficou
Itália.
com o terceiro lugar.
Como Alexandre De Maria, um ponta-esquerda
Ao seu lado, no Corinthians, jogou Osvaldo Ro-
originalíssimo em seu 1,90 metro. Por incrível que
dolfo da Silva, o Dino, também chamado de Pavão,
pareça, era extremamente veloz, chutava com os dois
alusão ao fato de jogar com a cabeça erguida, peito
pés e costumava fazer gols lá da ponta, desferindo
estufado, passos largos, elegante igual à ave. Negro
arremates indefensáveis quando dele se esperava um
como Brandão, mais alto e esguio do que Jango, o
cruzamento. Por ser muito alto e veloz, normalmente I 1 trio jogou inteiro em 18 das 20 partidas que signifi-
rolava no chão depois de chutar, porque o equilíbrio
caram a conquista do título de 1941, sofrendo apenas
era impossível.
uma derrota e 17 gols. Veio da Portuguesa Santista.
Nem bem se encerrava um ciclo, começou outro São da época dessa linha média admirável, ain-
representado pela linha média Jango, Brandão e da, o zagueiro Jaú e os artilheiros Servílio de Jesus e
Dino, os dois primeiros tricampeões paulistas em Teleco.
1937,38 e 39, e, com o último, também campeões em Euclides Barbosa, o Jaú, era do estilo guerreiro,
1941. valente. Ficou famoso por suportar quase um jogo
I I
52 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 53

inteiro com a cabeça sangrando, protegida apenas o fim da 2!l Guerra, em 1945, marca-o princípio
por uma gaze, na final do Sul-Americano de 1937, de uma nova fase, cada vez mais profissional. E o
em Buenos Aires, quando perdemos para os donos ano da derrota do nazi-fascismo e do fim da ditadura
da casa por 2 a O, mas, por suportar a guerra com de Getúlio Vargas registra, também, a chegada de
valentia e garra, saímos reconhecidos pela própria um ponta-direita de baixa estrutura, atitudes mansas
imprensa local. Jaú, então, virou símbolo de raça e, e que por 13 anos, até 1957, haveria de ser o dono
assim, foi bicampeão pelo alvinegro em 1937 e 38. absoluto da camisa 7 corintiana.
Defesa bem representada atrás e Servílio, o Bai- . Seu nome, Cláudio Cristóvão do Pinho, o Cláu-
larino, na frente, fazendo gols, sendo bicampeão em dio, o Gerente. Era ele quem comandava o time
1938 e 39, campeão em 1941, artilheiro dos campeo- dentro do campo e sua passagem pelo Parque deixou
natos de 1945, 46 e 47, com 17, 20 e 21 gols. números impressionantes. Jogou 553 partidas como
Baiano, veio do Galícia. Fazia gols ou preparava titular, só perdendo para Luizinho. Foi, porém,
para seus companheiros com a mesma maestria. Jo- quem mais venceu (361 vezes contra 359 de Luizi-
gava na base do um pra lá, dois pra cá, um breque, nho). É o maior goleador da história corintiana, com
uma fustigada, uma recueta, verdadeiro bailarino 295 gols, embora fosse ponta e, na média, perca
num corpo negro, bastante alto, mágico. para Teleco.
Se não bastasse Servílio, o Corinthians tinha Batedor de faltas sem igual, Cláudio era incapaz
também Uriel Fernandes, o Teleco, que poderia per- de dar um chutão ou uma jogada inconseqüente. De
feitamente ter o apelido de Gol. Artilheiro em nada . seus pés saíram a maior parte dos gols de cabeça de
menos do que cinco dos oito Campeonatos Pau listas Baltazar, as viradas que celebrizavam uma fase
de que participou, marcou 243 gols em 234 jogos na corintiana e os títulos de 1951, 52 e 54. Como Wla-
sua vida corintiana. Veio do Paraná, em 1935, e dimir hoje em dia, nunca teve sorte na Seleção, mis-
jogou até 1943, sagrando-se campeão em 1937, 38, tério comparável ao fato de que, depois dele, nem
39,41 e vice em 36,42 e 43. Um vencedor. mesmo Mané Garrincha vestiu a 7 com tanta cate-o
Com Teleco encerra-se um ciclo, o tempo do fu- goria e eficiência.
tebol romântico, a era que começou elitista e que o Com Cláudio, que era do Santos, e sob sua ba-
Corinthians foi fundamental para transformar em tuta, jogou outra leva de ídolos, craques como Gil-
popular, que produziu 15 reis - sete dos quais já mar e Luizinho, ou valentes como ldário e Baltazar.
falecidos (Neco, Amílcar, Tatu, Tuffy, Filó, De Gilmar dos Santos Neves era um goleiro tão
Maria e Jango), embora sejam imortais na emoção excepcional que superou o grande-Tuffy. Na meta
corintiana. corintiana ou da Seleção - onde foi bicampeão mun- .
A Emoção Corinthians 55
54 Juca Kfouri

dial em 1958 e 62 -, operou milagres sem conta.


Começou sua carreira no Jabaquara, em Santos, e
entrou no Parque como contrapeso de uma transação
entre os dois clubes. Teve um começo difícil, culpado
por uma goleada. Mas desempenhou papel funda-
mental nas conquistas de 1951,52 e 54 no Campeo-
nato Paulista e no Rio-São Paulo também de 1954.
Passou dez brilhantes anos no Corinthians e
o
disse adeus ao futebol outra vez em Santos, no San- I
U
(/)
tos. b
><
Entre 1950 e 59 a torcida corintiana idolatrou o
o
um lateral voluntarioso, dedicado ao extremo, que -'
«
z
disputou 470 partidas pelo Corinthians, chamado o
o:
Idário Sanchez, o Espanhol. Sua maior qualidade, Neco virou estátua. Wladimir transpira co-
a que fez com que o povão o adotasse como um igual, rintianismo.
era a de ter o sangue quente e corintiano nas veias.
Não havia sacrifício que ele não fizesse pela camisa
alvinegra e, se fosse necessário jogar o ponta-es-
querda adversário no alambrado com uma certeira
ombrada, não titubeava. Tudo pelo Corinthians, era
o seu lema, e assim fez até parar.
Enquanto Idário punha sua alma nas chuteiras,
o Brasil inteiro cantava a marchinha carnavalesca
que dizia: "Gol de Baltazar I Gol de Baltazar I Pula o
cabecinhal um a zero no placar" .
Uma homenagem a Osvaldo Silva, o Baltazar, o
Cabecinha de Ouro, que também veio do Jabaquara,
chegando em 1946 e permanecendo até 1956.
Marcou 267 gols nas 402 partidas que disputou.
Sua cabeçada tinha a potência de um chute e nor- Luizinho, o Pequeno Polegar.
II[ malmente subia mais com a cabeça do que o goleiro
--~~~-",

56 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 57

inimigo com os braços erguidos. exemplo, a final do campeonato de 1979, também


O meio da década de 60 assistiu ao surgimento vencido pelo alvinegro, com a camisa branca enchar-
de um fenômeno que em tudo se assemelhava à his- cada do sangue que escorria de sua testa 'aberta no
tória de Luizinho. A torcida chegava mais cedo ao supercílio. A surpresa da torcida sequer se manifes-
estádio para 'ver um menino do time aspirante que tou em torno do gesto heróico, porque dele não se
fintava como poucos, lançava como gente grande e esperava outra coisa. Curioso mesmo foi constatar
tinha uma verdadeira patada no pé esquerdo. que o seu sangue não era preto e branco.
Palmeirense de nascimento, mas criado no Co- Em 1982, quando Zé Maria entrou no campo
rinthians, Roberto Rivelino, o Garoto do Parque, nos últimos cinco minutos da partida decisiva, contra
estreou como titular em 1965 e, até 1974, lutou como o São Paulo, já ganha pelo Corinthians, a massa
pôde para dar um campeonato ao Timão. Conseguiu explodiu saudando seu nome em coro, urna apoteose
até ser tricampeão mundial na Copa de 70, consa- maior que a havida com o apito final. E, a 25 de
grando-se como um dos maiores gênios do nosso fu- setembro de 1983, quando o Super-Zé deu a volta
tebol. Mas não teve forças para alcançar seu maior olímpica de despedida no Morumbi, chorando como
sonho, e o amor que lhe dedicaram durante tanos um menino, a nota generosa e comovente ficou por
anos acabou transformado em ódio irracional depois conta da tradicionalmente inimiga torcida palmei-
que, em 1974, mais uma vez o título fugiu pelos rense que, em pé, reverenciou um dos maiores exem-
dedos. Vendido ao Fluminense, encerrou a carreira plos de dedicação que um atleta jamais deu a um
no futebol árabe. clube.
Hoje, sem dúvida, é lembrado com saudade pe- E tem o Doutor Sócrates Brasileiro Sampaio de
los corintianos, num tardio, porém justo, reconheci- Souza Vieira de Oliveira, o Magrão.
mento ao seu incomparável futebol. Santista de nascimento, como Rivelino era pal-
Final mais feliz o destino reservou a José Maria meirense. Alto, com o mesmo 1,90 metro de De
Rodrigues Alves, o Zé Maria, o Super-Zé. Lateral- Maria. Feio como Tatu. Cerebral como Cláudio. Go-
direito da Portuguesa e da Seleção, corintiano desde leador como Servílio. Estilista como Amílcar. Des-
a infância, chegou ao Corinthians em 1970 e sofreu moralizante como Luizinho, Veio do Botafogo de Ri-
como Rivelino a angústia dos anos sem títulos. beirão Preto, como Filó veio do Paulistano. Líder
Até que, em 1977, fez o cruzamento que origi- como Neco. Sensível como Wladimir. Frio como
nou o gol da libertação, contra a Ponte Preta. Os Jango. Convertido ao corintianismo como Teleco.
anos seguintes foram risonhos, e neles Zé Maria deu Polêmico como só ele mesmo.

J demonstrações raras de amor e garra. Disputou, por A galeria de 24 ídolos se encerra com ele, e não é
58 Juca Kfouri

por acaso. Ainda está em atividade, neste ano de


1983, como Wladimir, e é impossível imaginar, ao
contrário do companheiro, como será seu final de
carreira. Wladimir, tudo indica, terá uma despedida
ao estilo da de Zé Maria. E o Doutor?
Sócrates tem a imprevisibilidade que caracteriza
o autêntico gênio e, -até por isso, é muito incom-
preendido. Afinal, quem haveria de supor que aquele
estudante de medicina cadavérico e boêmio haveria
de se transformar num dos melhores jogadores do A PEQUENA GRANDE HISTÓRIA
futebol mundial?
Desafiando a lei da gravidade, chuteiras número
41, lá vai o Doutor Fantástico, pregando democra-
cia, fazendo gols, jogando bola. Ah, e como esquecer a história mais remota
Como Neco representou o começo de um ciclo desta maravilhosa religião chamada Corinthians?
terminado por Teleco, e Cláudio iniciou outro encer- É uma história singular, repleta de paixão, com
rado por Zé Maria, provavelmente daqui a alguns o cheiro bom do povo que a escreveu. Uma verda-
anos se perceberá que Sócrates significa uma nova deira epopéia nascida da determinação de um pe-
fase, uma etapa em que o jogador de futebol será queno grupo de rapazes - precisamente 13 -, onde
definitivamente aceito como um profissional igual predominavam os italianos, seis, havia cinco portu-
aos outros, com mais liberdade, e cada vez mais gueses e dois brasileiros.
capaz de fazer da sua arte uma emoção sem igual, Na santa noite de 5 de setembro de 1910 é que o
uma coisa indefinível como à emoção Corinthians. Corinthians foi fundado. Prevalecesse a sugestão de
Os bons corintianos esperam que essa história um dos fundadores, e o clube teria o nome de Carlos
acabe em preto e branco. E em verde e amarelo. Gomes ou Santos Dumont. Mas exatamente às 20
horas e 7 minutos nasceu o Sport Club Corinthians
Paulista, em homenagem à equipe inglesa do Corin-
thians Team, que cumpria vitoriosa excursão no Rio
e em São Paulo.
Formado por gente humilde, composto em sua
maioria por operários do bairro do Bom Retiro, para
Jr '
60 Iuca Kfouri A Emoção Corinthians 61

comprar a primeira bola tornou-se preciso passar seu estádio.


uma lista pela vizinhança. A cidade começava a ficar encantada com aque-
O time surgiu preto e branco e perdeu por ape- la gente de fé e o número de associados - eram
nas 1 a O sua primeira partida, enfrentando o pode- apenas 16 na fundação - não parava de crescer.
roso União da Lapa. Ainda mais porque em 1914 e em 1916 mesmo,
Logo depois começaria a verdadeira guerra que o time levantou o Campeonato sem nenhuma der-
só a solidariedade de .quem conhece as durezas da rota, deixando perplexos seus adversários.
vida pode vencer. Mais atônitos ficaram ainda quando o Corin-
Foram dois anos de luta para que o clube con- thians sagrou-se o primeiro tricampeão do futebol
quistasse o legítimo direito de filiar-se à Liga Paulista paulista, ao ganhar os campeonatos de 1922/23 e 24,
de Futebol. o de 1922 com o sabor especial que lhe conferiu o
Enfim, rompendo a barreira dos preconceitos Centenário da Independência do Brasil e o de 1924
que faziam do futebol um esporte de elite, o Corin- por ter sido decidido em pleno Jardim América, con-
thians conquistou a oportunidade de disputar com tra a juventude dourada do Paulistano, derrotada
outros dois clubes uma vaga que se abrira na Liga. O por2aO.
time dos operários não ultrapassaria os rivais com- O Corinthians, então, já era grande. Podia até
postos por filhos de papai, apostava-se. pensar na "casa própria". Coisa que fez, contando
Foi até fácil. O Minas Gerais F. C. acabou com o apoio dos 200 associados da época e de sua
derrotado por 1 a O e o São Paulo S. C. por 4 a O, torcida, mesmo que atrasando diversas vezes o paga-
resultados que garantiram o Corinthians no Campeo- mento do gigantesco terreno adquirido à base de
nato Paulista de 1913. pura ousadia.
O objetivo seguinte era conseguir um campo, Assim surgia o Parque São Jorge, a simpática
desafio ainda maior para quem tinha muita abne- "Fazendinha", inaugurado em 1928 com a partida
gação e nenhum dinheiro, além de não contar com as entre Corinthians e América carioca, os dois cam-
simpatias das autoridades que desdenhavam da mo- peões do Centenário, que empataram por 2 a 2.
déstia do clube. Os tempos duros, de falta de dinheiro, iam fi-
Mas em 1916, na rua Itaporoga, ali onde hoje se cando para trás. Episódios como a perda de sede por
encontra o C. R. Tietê, na Ponte Pequena, o Corin- falta de pagamento do aluguel, em 1912, quando o
thians arrendou um terreno por cinco anos, pagando patrimônio do clube - três cadeiras, uma mesa, um
uma taxa elevadíssima por mês e, na base do mutirão arquivo, um jogo de camisas e algumas outras pe-
e trabalhando apenas à noite, ergueu rapidamente quenas quinquilharias - chegou a ser penhorado
62 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 63

para honrar a dívida e, em seguida, habilmente sur- última temporada de Neco, o menino que liderou a
rupiado na calada da noite por um pequeno grupo de salvação do patrimônio em 1912 e que a partir de
operários liderado pelo garoto Neco, o mesmo que 1913 consagrou-se~mo ídolo no ataque corintiano.
seria ídolo anos depois, pertenciam ao passado. A década de 20 oi, como se viu, particular-
O Corinthians materializava um sonho impossí- mente importante a}vida corintiana e, seria tam-
vel. bém, na história do país. '\
!I Àquela altura ninguém mais se atreveria, por ( Além de ter assistido ao surgimento do charuto .
exemplo, a enganar os corintianos, como em 1915, 'I como marca registrada das melhores tradições alvi-
quando, sob a promessa de ser aceito na Associação negras - o torcedor Martins sempre acendia u
Paulista de Esportes Atléticos, mais "nobre" e im- quando o time assinalava um gol -, a década abri-
portante do que a Liga Paulista de Futebol à qual era gou ainda a revolucionária Semana de Arte Ma-
filiado, o Corinthians ficou fora de ambas e não dis- u derna, em 1922, quando Menotti DeI Picchia, um de
putou campeonato algum. seus maiores ativistas, reconheceu que "o Corin
A vontade e entrar na APEA e poder enfrentar hians é um fenômeno sociológico a ser estudado em
clubes como o Paulistano permitiu a falseta, vingada rofundidade" :
no mesmo ano pelo alvinegro, que enfrentou e venceu Os anos 30,'tlO
, entanto, começam mal para o
os dois campeões: o Palmeiras, da APEA, por 3 aO, clube. Quatro <tos melhores craques do time --
e o Germânia, da Liga, por 4 a 1. Ratto, DeI Debbio, De Maria e Filó - são atraídos
No próprio ano da inauguração do Parque, para pelo rico futebol profissional italiano - e o Corin-
provar que sequer o esforço para construí-Io enfra- thians atravessa até 1937 sem nenhum título.
queceu o time, o Corinthians ganhou o título paulista Quando, em J9.33, o profissionalismo é admi-
- desde 1917 o torneio foi unificado, acabando a tido no Brasil, o Corinthians continua se ressentindo
Liga e permanecendo a APEA -, com uma única das ausências mas, em 1937/38 e 39, conquista seu
derrota e iniciou a trajetória para mais um tricam- terceiro tricampeonato, fato inédito no futebol pau-
peonato. lista, sagrando-se ainda, em 1938, e pela quarta vez,
O Corinthians, primeiro clube paulista a ter um campeão invicto, outra façanha exclusivamente co-
rintiana.
I jogador negro - embora o preconceito proibisse a
participação dele, o Davi, no campeonato -, alcan- Aí, o zagueiro DeI Debbio e o ponta-direita Filó
jr: çou o bicampeonato invicto em 1929 e chegou ao tri estavam de volta, eles que fizeram tanta falta nos
no ano seguinte ao esmagar o Santos, na Vila Bel- anos anteriores. Filó, aliás, e De Maria, um ponta-
miro, por 5 a 1. O ano de 1930 marcou também a esquerda de 1,90 metro que chutava com os dois pés.
-,.-,.,.---

64 Juca Kfouri
A Emoção Corinthians i) L~ ~
65

e possuía incrível velocidade, foram os primeiros \


E começaram os tempos de sofrimento. Longos
campeões mundiais brasileiros, pois, beneficiados 22 anos em que aconteceu de tudo.
pelo fato de serem oriundi, ou seja, descendentes de
italianos, d~taram a Copa de 1934 pela Itália.
-----Em i966, por exemplo, o Palmeiras chegou ao
seu 15? campeonato paulista e em 1972, 74 e 76
Em (í9~1 'f. Corinthians volta a ser campeão passou à frente do Corinthians, embora hoje, com as
paulista ~epois, conhece seu primeiro longo perío- vitórias corintianas em 1977, 79 e 82 esteja tudo igual
do sem ter o que cOp1emorar a nível regional, só com 18 títulos para cada clube.
vindo a reconquistar o título em 1951. E brilhante- Mas, na verdade, em matéria de hegemonia, o
mente. Corinthians só manteve mesmo a do confronto direto
Pela primeira vez um ataque marcou mais de com seus maiores rivais - Palmeiras, São Paulo e
100 gols - exatos 103 -, em 28 jogos, dos quais Santos -, jamais e em tempo algum sendo superado
venceu 24, empatou e perdeu dois. Luizinho, o Pe- por eles, mesmo com os tempos do tabu santista.
queno Polegar, já estava em ação com a camisa 8. Quer dizer, em nenhum momento desses anos todos
Então vei0't954, o ano do IV Centenário de São, o Corinthians se viu superado em número de vitórias
Paulo e a disputa de um campeonato todo especial. no embate direto com seus adversário mais tradicio-
Os demais clubes paulistas queriam impedir que o nais.
Campeão do Centenário de 1922 fosse para o plural e Fenômeno, no entanto, foi constatar que a tor-
formaram uma verdadeira frente anticorintiana. A cida corintiana não parou de crescer, originando o
partir daí existiam duas torcidas no Estado, os corin- comentário que soa como sábio do falecido jornalista
tianos e os anticorintianos. Em vão.
Ao fim de 26 partidas, o Corinthians era o Cam-
peão dos Centenários, com 18 vitórias, seis empates e
apenas duas derrotas. ~
que tem um time". '-
--~
José Roberto de Aquino, assessor de imprensa do
clube até o começo de 1983: "Todo time tem uma
torcida. No Corinthians é ao contrário. E a torcida
-------- - --
---
Tantas glórias, somadas a outras tão importan- ,.:.- Só mesmoesse sentimento mágico, arrebatador,
tes e recentes como foram as obtidas nos Torneios pode explicar que, mais de 70 anos depois de sua
Rio-São Paulo de 1950 - o primeiro -, 1953 e 54, fundação, permaneça o mesmo espírito que faz com
parece que enfastiaram o Corinthians. Era o clube que cada corintiano sinta-se dono do seu time, como
mais vezes campeão paulista, com 15 títulos, três ve- se ainda fossem poucos, como se fossem o Antônio
zes campeão do Rio-São Paulo em cinco disputas. Pereira, o Joaquim Ambrósio, o Anselmo Corrêa, o
A nação corintiana precisava passar por uma grande Carlos Silva ou o Rafael Perrone, os primeiros a
provação. terem a idéia Corinthians. Ou como se fossem o Ale-
66 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 67

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o
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'z..: ,,~"'._ ,.__ ~ u,
~ Tricampeão em 1922/23/24: Gelindo, Rafael, Roeda, Co-
o Corinthians Team em São Paulo, em 1910. lombo, Dei Debbio e Ciasca; Perez, Neco, Pinheiro, Tatu
e Rodrigues.

Os campeões invictos de 1914 e 1916: Sebastião, Fúlvio, Campeão de 1928: Leone, Filó, Grané, Guimarães, Dei
Casemiro, César, Bianco; Pollice, Neco e Aparicio; AmU- Debbio, Munhoz; Napoli, Gambinha, Rato, De Maria
e Tuffy.
car, Plinio e Américo.

s:
68 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 69

Tricampeão em 1930: Tuffy, Nerino, Grané, Guimarães; Campeão de 1941: Jango, Dino, Chico Preto, Brandão,

,
Dei Debbio e Munhoz; Filó, Neco, Perez, Rato e De Ciro, Agostinho e o técnico Dei Debbio; Tite, Servilio,
Maria. Teleco, Joane e Milani.

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Campeão de 1937, primeiro título do profissionalismo:


José I, Jaú, Brandão, Teleco, Munhoz, Carlito, Carlos; o ataque dos 100 gols, em 1951: Cláudio, Luizinho, Bal-
Jango, Daniel, Carlinhos e Filó. tazar, Carbone e Mário.

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70 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 71

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Campeão dos Centenários, em 1954,' Gilmar, Rafael, Campeão Paulista de 1979: Jairo, Mauro, Luís Cláudio,
Goiano, Homero, Idário, Alan, Nonô, Roberto, Simão, Amaral, Caçapava e Romeu; Plter, Biro-Biro, Palhinha,
Luizinho, Cláudio e Osvaldo Brandão. Sócrates e Wladimir.

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Campeão de 1977, 22 anos depois: Zé Maria, Tobias, Campeão Paulista de 1982: Solito, Sócrates, Ataliba, Ca-
Moisés, Ruço, Ademir e Wladimir; Vaguinho, Basílio,
Geraldo, Luciano e Romeu. I',I sagrande, Zenon e Biro-Biro; Mauro, Daniel Gonzales,
Alfinete, Pau/inho e Wladimir.
72 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 73

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Rivelino, neuroticamenteconvertido ao corintianismo. Sócrates, a alegria pela consciência.


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A Emoção Corinthians 75
74 Juca Kfouri

menor de arenistas ou indiferentes, sendo que na


xandre Magnani, O Felipe Aversa Valente, o Miguel
'categoria de "não-torcedores", ou seja, os que não se
Sottile, o João Morino, o Salvador Lopomo, o João
interessavam por futebol, havia o maior número de
da Silva, o César Nunes e o Miguel Batalia, o pri-
indiferentes, outra demonstração de que não se justi-
meiro presidente, todos fundadores do clube.
É que o Corinthians continua sendo do João, do I... fica estabelecer a relação entre futebol e alienação.
José, do Celso, do Adílson, do Maurício, do Valde- A verdade é que nada na História é casual. O
mar, do Orlando, do Sérgio, do Vladimir, do Válter, Corinthians surgiu como surgiu porque os deserda-
de todos quantos sentem essa mística maravilhosa, dos da época precisavam ocupar um espaço que exis-
essa coisa de ser Corinthians, que é muito maior que tia e que a elite procurava negar. Como reação, mas
a de ser apenas vencedor, que um adesivo exprimia não apenas, porque além disso apontava numa dire-
ção justa e necessária, o corintianismo se afirmou e
bem nos anos de jejum, em sua simplicidade: "Cam-
obteve voz, disputando a vez de igual para igual.
peão ou não, és a minha paixão".
O Corinthians é hoje, novamente, um time ven-
Por tudo isso a nação corintiana continuou a ser
cedor. Há quem queira fazê-lo campeão do mundo,
a maior torcida localizada numa só região do país,
um projeto possível em função de seu tamanho, viá-
superando até mesmo a do Flamengo que, se é maior
vel na medida em que é o clube mais amado do
no país - tem 11,8 milhões de torcedores contra 6,5
Estado mais rico do país do futebol e obrigatório
milhões corintianos -, não tem no Rio os 2,8 mi-
mesmo para quem tem a responsabilidade de dirigi-
lhões de torcedores que o Corinthians tem em São
10.
Paulo, segundo números recentes do Instituto Gal-
Ocorre, porém, que nem que chegue a tanto,
lup.
isso será tudo. Diversos times já obtiveram essa gló-
I,,' E o corintianismo não é uma obsessão cega.
ria, e nem por isso o mundo mudou.
Predestinado desde que nasceu pobre no Bom Re-
A vocação nascida no Bom Retiro tem a ver com

\'1
""'~.
,I ..;.)"11
tiro, a vitória do corintiano não se resume aos cam-
peonatos. Não terá sido por acaso que outra pesquisa a transformação e se manifesta também - até prin-
cipalmente, às vezes - pelo futebol corintiano, tor-
I Gallup - essa de dezembro de 1976, publicada na
revista Isto É de12/10/1977 - mostrou que 59% dos nando a vitória no campo quase secundária.
corintianos votavam no MDB, na oposição, enquanto Quase, porque, como pôde ser percebido, a his-
apenas 27% eram da Arena, da situação, e 14% tória de um time é contada através de suas con-
quistas e nem a corintiana escapa a essa regra, em-
eram indiferentes. Na comparação com os demais
bora ela seja dramaticamente pontilhada de insu-
clubes paulistas, tais dados significavam que o Co-
cessos que, por serem revelados, dão ao Corinthians
rinthians tinha o maior número de emedebistas, e o
76 Juca Kfouri A Emoção Corinthians 77

a sua dimensão inigualável. coisa nova, grande, misteriosa. Foi penetrando nela
Assim é que os 22 anos significaram um intenso aos poucos, entendeu o corintianismo antes de assu-
exercício aparentemente masoquista. Mais ainda mi-lo e mesmo ao Iazê-lo tem, como todos os outros
quando se constata que muitos corintianos não ex- mortais, dificuldade em explicá-lo.
traem mais do time a satisfação daquele período. Como Rivelino, está entre os onze melhores
Mas não era masoquismo; porque a busca corin- jogadores da vida corintiana. Ao contrário dele, no
tiana não terminou como se supõe e, antes pelo con- entanto, teve a sorte de chegar ao clube depois que o
trário, tudo indica que ainda será longa e árdua. A pesadelo havia acabado e, logo em seu primeiro ano,
'- busca, apenas, mudou de qualidade. foi campeão. Provavelmente porque venceu não dá
1 \, Os casos de Rivelino e Sócrates, por exemplo, à vitória a mesma importância que Rivelino, embora,
talvez sejam esclarecedores pelo que têm de comum e ironicamente - e eis aí mais uma medida do Corin-
de antagônicos. thians -, Rivelino seja campeão mundial de 1970 e
Ambos não eram corintianos. Riva era palmei- Sôcrates um sobrevivente da tragédia de Sarriá, na
rense, o Doutor santista. Ambos foram convertidos Copa de 1982.
ao coríntíanísmex O primeiro por neurose, pelo de- Vitórias, enfim, não são comparáveis. Nem so-
sespero da procura do título, o segundo por convic- frimentos.
ção e pelo encontro com a felicidade. Importa saber o que se quer, e nisso os 13 rapa-
Rivelino, quem não sabe, foi dos maiores joga- zes do Bom Retiro foram perfeitos. Transformaram
dores da história alvinegra. Chamado de Garoto do um sonho em realidade, dela novos sonhos nasceram
Parque era mimado e marcado pela torcida. Porque incessantemente, foram sendo atingidos, multipli-
levava o time nas costas, era o responsável por tudo o cados, recriados, e o mais sublime deles não é só a
que acontecesse, para o bem ou para o mal. Acabou melhor das idéias.
por assumir a obsessão inteiramente, passou a ser O sonho Corinthians, definitivamente, não aca-
dominado por ela e foi sua grande vítima, escor- bou.
raçado do Parque São Jorge após a decisão do título
de 1974, perdido para o Palmeiras. Ainda hoje faz
Caro leitor:
I declarações de amor ao Corinthians e só tem uma Se você tiver alguma sugestão de novos títulos para
'I frustração na vida: a de não ter sido campeão no time as nossas coleções, por favor nos envie. Novas idéias,
que aprendeu a amar. novos títulos ou mesmo uma "segunda visão" de um
Muito mais racional, Sôcrates chegou ao Corin- já publicado serão sempre bem recebidos.
thians e logo percebeu que estava diante de uma
c; r.:.

SEÇ"C rf: "'.j}~


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Que pode haver de maior ou menor que um toque?
:-.l.JLUm .L.L~-(.;
I W. Whitmim
1-
1}2--/9, 1_ ~ VOCÊ CONHECE O PRIMEIRO TOQUE?

Sobre o Autor

o autor nasceu corintiano em 4 de março de 1950. Com um ano


de vida já era campeão paulista e, com dois bi. Em 1953 não ligou nem emai$:
Chacal
um pouco para a falta do tri e guarda vivamente as imagens da conquista I.e!rinski
do IV Centenário, por mais que não acreditem,
De 1954 em diante sofreu como todo bom corintiano e não se PRIMEIRO TOQUE é uma publicação com crorucas,
arrepende, pois o ano da graça de 1977 a tudo redimiu.
resenhas, comentários, charges, dicas,
Nesse meio tempo ele estudou, comungou pedindo a D_eus que a
mil atrações sobre as coleções de bolso da Editora
graça fosse a quebra do tabu contra o Santos - obtida apenas em 1968,
quando, descrente, não comungava mais - e jamais admitiu derrota
Brasiliense. Sai de três em três meses.
para o São Paulo, precoce sintoma do correto entendimento da luta de
Por que não recebê-Ia em casa? Além do mais,
classes. não custa nada. Só o trabalho
Em 1970 ingressou na Editora Abril para trabalhar no Depar- de preencher os dados aí de baixo,
tamento de Documentação, o Dedoc, como pesquisador da área de recortar, selar e pôr no correio.
esportes para o projeto Alfa, a futura revista Placar que nasceria no
mesmo ano. Então, acabara de entrar na Faculdade de Ciências Sociais
da USP. NOME: .
Em 1974, como gerente do Dedoc, comemorou o diploma univer- END.: .
sitário assumindo a chefia de reportagem de Placar, posição que deixou
BAIRRO: FONE: .
apenas em 1978 para uma curta e traumática aventura como diretor de
esportes da Rede Tupi de Televisão. Dois meses depois voltou ao Placar CEP: CiDADE: EST.: ',"
como editor de projetos especiais e, em 1979, teve o magnífico prazer de
PROFISSÃO: IDADE: .
fazer a edição especial do Corinthians campeão como diretor da revista,
função que exerce até hoje. editora brasiliense s.a.
01223 - r. general jardim, 160 - são paulo
~ I
COLEÇÃO TUDO É HISTÓRIA
1 • Aa Independências na Amé- Gorander 30 - O governo Jãnio
rica latina Leon Pomer 2 . A Armando Bolto Jr. 56· Elalções •
Quadros M. Victórla Mesquita fraudes eleitorais na República
crise do elcravlamo e a grande Benevldes 31 • Revolução e
Imigração P, Belguelman 3 • A Velha Rodolpho Telarolll 51 • Os
guerra cIvil espanhola Angela M. jesuítas José Carlos Sebe 58 • A
luta contra a metrópole CAsia e Almetde 32 . A legIslação tre-
Afrlca) M. Yedda Unhares 4 • O repübltce de Welmar 8 8 ascen-
balhista no Brasil Kazuml Muna.
popullsmo na América Latina M. são do nazismo Angela M. AI.
kata 33 • Os erlmes da paixão metda 59 • A reforma agrária na
Lrgla Prado 5 • A revolução chl. Marlza Corrêa 34 • As cruzadas
nesa D. Aerêo Reis Filho 6 • O Nicarágua CláudiO T. Bornsteln
Hllárlo Franco Jr. 35 - A forma.
cangaço Carlos A. Dórla 7 • Mer- 60 • Teatro Oficina Fernando Pei-
ção do 3.- mundo Ladislau Dow- xoto 61 - Rússla (1917-1921)
aantlUsmo 'e transição Francisco bor 36 - O Egito antigo Clro F.
Falcon 8 • As revoluções burgue- anos vermelhos Daniel A. R. Fi.
Cardoso 31 • Revolução cubana lho 62 - Revolução mexicana
sas M, Florenzano 9 - Paris 1968:
Abelardo Blanco/Carlos A. Dõrte (1910-1911) Anna M. M. Corrêa
8S barricadas do deselo OIRátla
38 • O Imigrante e a pequena pro- 63 . América central Héctor Pé.
C. F. Matos 10 - Nordeste lnsur-
priedade M. Thereza Schorer Pe- rez Brignoli 64 • A guerra fria
gente (1850·1890) Hamilton M.
trone 39 - O mundo antigo: eco- Déa Fenelon 65 • O feudalismo
Montetrc 11 - A revolução Indus. nomia e sociedade M. Beatrlz B.
trlal Francisco Igléslas 12 • Os Hllárlo Franco Jr. 66 • URSS: o
Florenzano 40· Guerra civil ame- socialismo real (1921-1964) Da.
qui/ambos e a rebelião negra
ricana Peter L Eisenberg 41 • nlel A. R. Filho 67 • Os liberais e
Clóvis Moura 13 - O ccrcneltsmc
Culftlra a participação nos anos a crise da República Velha Paulo
M. de Lourdes Janottl 14 - O
60 Heloisa B. de Hollanda 42 • G. F. Vlzentinl 68 - A redemocra.
governo J. Kubltscheck Rlcardo
Revolução de 1930: a dominação
Marenhãc 15 • O movimento de tização espanhola Reglnaldo C.
oculta Italo Tronca 43 - Contra a Moraes 69 • A etiqueta no antigo
1932 Maria H. Cape/ato 16 • A
chibata: marinheiros brasileiros
América pré-colomblana C. Fia. regime Ranato Janlne Ribeiro
em 1910 M. A. Silva 44 • Afro.
marlon Cardoso 17 • A abolição 70 • Contestado: a guerra do
América: a escravidão do novo
da ascravidio Suely R. A. de novo mundo Antonio P. Tota
mundo Clro F. Cardoso 45 • A
Quelroz 18 - A proclamaçio da 71 - A famma brasileira Enl de
Igreja no Brasil-Colônia Eduardo Mesquita Samara 12 • A eeono.
repubUta J. ~nlo Casalecchl 19 •
Hoornaert 46 - Militarismo na mia cafeeira José Roberto do
A revolta de Princesa Inês C. AmêirlC8 latina Clóvis Rossl 41 .
Rodrlgues 20 • Hlst6rla poUllca Amara! lapa 73 • Argélia: a
Bandelrantlsmo: verso e reverso
do futebol brasileiro J. Ruflno guerra e a independência Musta-
Carros Henrtoue Davidoff 4B _
• dos Santos 21 • A Nicarágua sano fá Vazbek 74 • Reforma agrária
O governo Goulart e o golpe no Brasil-Colônia leopoldo Jo-
dlnlsta Marlsa Marega 22· O lIu. de 64 Calo N. de rolado 49 _ A
mlnlsmo e Os reis filósofos l. R. blm 75 - Os caipiras de São
Inquislção Anlta Novlnsky 50 - A Paulo Certos R. Brandão 76 • A
Salinas Fortes 23 • Movimento
poesia árabe moderna e o Brasil
estudantil no Bralll Antonio Men- chanchada no cinema brasileiro
SlImanl Zaghldour 51 • O nasci-
des Jr. 24 • A comuna de Paris Afrânio M. Catanl/José Ináclo
manto das fábricas Edgar S. de
M. Sousa 77 - A Gulné-Blssau
H. González 25· A rebelião
praieira Izabel Marson 26 - A prl-
Decca 52 . Londres e Paris '.0 ladislau Dowbor 78 • A cidade
eéeulc XIX Maria Stella Martins
mavera de Praga Sonla GoJdfeder de São Paulo Calo Prado Jr. 79
Bresclanl 53 • Oriente Médio e o
27 - A construçio do socialismo - A Revolução Federallsta Sano
mundo dos árabes Maria Yedda
na China D. Aaráo Reis Filho dra Jatahy Pesavento 80 •
Unharas 54 - A autogestão
28 - Opulência e mls6rla nas
lugosJava 8ertlno Nobrega da
Música popular brasileira Valter
Minas Geral. Laura Verguelro Krausche 81 - A emoção Corln-
Ouelroz 55 - O golpe da 1954: thlsns Juca Kfourl.
29 - A burguosla brasileira, Jacob
a burgueala contra o popuUsmo

A SAIR
A balalada M. de tourdea Janottl çamblcsna Dantel A. Reis Filho
A crise de 1929 Adalberto Mar. 'rejeda O estado ,
Arte e poder no Brasil Imperial Fernando Novaes O Est
ecn A colonização na. amérlcas
Fernando Ncvaes A. clvlllzaçlo
d4 açúcar Vera Ferllnl A crise do
Haroldo Camargo A semana de
arte modorna de 1922 Douglas
Maria S. Bresciane
Arnaldo 'Contrer
O tasclsmo
O macarthismo
.,:
Tufano As internacionais apará- Wladir Dupont O modernismo O
petróleo Bernardo Kuclnskl A
rias M. Tragtenberg As ligas r-
cristandade latina medieval Fren- camponesas e o movimento cem,
Alexandre Eulárlo O movimento --'
ctscc José Silva Gomes A de-
mocracia etentense F. M, Plres/
ponês no nordeste Aspéeta Ce-
operário e a gênese do peronts-
mo José l. B. êetred/Letfcte ~..:
<=a:
margo Capital Monopollsta no V. S. ReIs O populisrno russo
Paulo P. Castro A guerra dos O
Brasil Maria de Lourdes Manzinl lulz Eduardo Prado de Oliveira Or-
farrapos Antonto Mendes Jr A
Covre ·Fome e tensões na scele- Os movimentos de cultura popu. Ul-
história do Carlbe Elizabeth Aze- UlO
dade colonial Maria O. Leite lar no Brasil C. R. Brandão
vedo/tutza V. Sauala/Hlldegard
Guerra do Vletnã Paulo Cbe- Padre Cícero, o mllagreiro
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Herbold A história do espe-
con HIst6rla contamporânea Ibé- Carios A. Dórla Peru 1968: ~w f
táculo

vta Magnanl
e encenação Fernando
Peixoto A hlst6rla do P.C.B. SII.
A Independênclt'.
rica Francisco Falcon Hlst6rla da
educaçlo brasileira Mlrian Jorge
golpe ou revolução? Adriana Am-
back/Angera M. da Costa/Caro- ._t)
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Warde História da escola ElJana lina Harari Poder e televleãc
dos rUA Suzan Anne Semler A
Marta S. T. lapas História de Alves- Cury Previdência
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Industrialização brasileIra Pren- Antonio .«
ctscc Iglásfas Amarlcan way of
Hollywood Shella Mesan
deira MamonS - A ferrovia fan-
Ma- social
Revolução
no Brasil
cJentlfica
Amélla Cobn
José Aluy.
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life chega ao Braall Gerson Mou- ~eJ
tasma Francisco F.oot Hardman slo Reis de Andrade RevolUçio
ra A redemocratlzaçio brasileira: Muslca e sociedade no Brasil
1942-1948 Oartce Henrlque Oavl- dos cravos Maurc de Mello Leo-
doff A revoluçio de 1935 P.
Maria Ellzabeth
soclsllsta Alberto
Lucas O Chile
Agglo/Leila
nel Jr. Salazar e o estado novo
português Maria Lulza Paschkes.
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Sergio Pinheiro A revoluçio mo- ElJzabete Felipe/Marla Crlstlna

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