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Joelma Santos
OXÍMORO
Copyright © 2019,
Porto de Lenha Editora & Joelma Santos
Se eu morresse amanhã
levaria comigo o canto dos pássaros
O doce sorriso de uma criança
A delicadeza da rosa
A maciez dos lábios teus.
Se eu morresse amanhã
carregaria o lirismo da poesia
O ufanismo do noite e dia
Os sorrisos de quem outrora era feliz.
Se eu morresse amanhã
seria com alegria no peito
Com o acalento do olhar faceiro
que me desperta a paixão e o desejo
de quem goza e transpira sem fim.
Se eu morresse amanhã
teria comigo o tesão do teu cheiro
A memória do toque suave
Os sussurros ao pé do ouvido
enamorados ao anoitecer.
Se eu morresse amanhã
deixaria contigo o órgão pulsante
do meu peito que fora levado
por ti para longe e já não sabe
bater sem te sentir.
Se eu morresse amanhã
andaria abraçada comigo a saudade
do teu corpo, gosto, coito.
A esperança de te reencontrar de novo
nessa vida ou em outras que estarão por vir.
Se eu morresse amanhã...
Joelma Santos
UM
EU disse que não citaria os nomes dos outros que cercavam a mim e
Hugo, e não vou. Mas neste andar da prosa, leitora e leitor, sinto a
necessidade de falar sobre dois amigos muito queridos; nossos padrinhos,
como Hugo dissera algumas vezes, e eu também.
Mirante, vou chamá-lo assim, dizia que não são se apaixonava
facilmente; que isso do amor vinha para ele com o tempo.
Amargosa, vou chamá-la assim também, acreditava no amor que
surgia só com um olhar, mas também ressaltava que para dar certo, o casal
precisaria ter ideais e gostos em comum.
Pois bem, Mirante e Amargosa ficaram muito próximos. E se não
fosse a prudência de ambos, palavra que a mim e Hugo malmente se aplicava,
teria, talvez, desenrolado entre eles uma bonita história de amor.
Semanas após a viagem, quando questionei a Mirante os motivos que
o fizeram manter-se prudente com relação a Amargosa, entre eles estava essa
questão de que com ele o amor só vinha com o tempo.
Eu poderia ter-lhe dito que ele só pensava assim porque ainda não
havia conhecido a paixão. Porque o amor pode sim ser construído com o
tempo, mas a paixão quando é pra ser, leitora e leitor, não há prudência que
dê jeito. A razão é deixada de lado e só o que importa é o um e o seu outro. E
não são os dias, meses ou anos que definem o sentimento, apenas o sentir, o
querer estar. A lógica não explica. Você só sente, e vive o sentimento danado
que é a paixão. Se quiser, claro. Eu poderia ter dito isso a Mirante, porém
preferi apenas aceitar sua opinião.
Um dia, Deus é quem sabe, ele se dará conta disso sem precisar usar
das palavras, que modéstia à parte ele sabe utilizar muito bem, bastará que ele
se entregue ao sentir. Assim como eu e Hugo nos entregamos sem
preocuparmo-nos muito com o amanhã.
SEIS
VIVER não é um negócio fácil. Eu não sei como é a sua vida, leitora
e leitor, mas a minha é normalmente um problema atrás do outro. Seja a falta
de dinheiro, a vontade de desistir de tudo, as perguntas que rondam a minha
cabeça, quase sempre sem respostas; a vontade de chorar, e por aí vai.
Eu posso afirmar com toda a certeza da minha alma que os dias em
que estive com Hugo foram os melhores desta minha vida. Eu não me
preocupava muito com os outros ou com os meus problemas; só estar com ele
importava.
Perdi a conta de quantas vezes questionei a Deus do porquê ele estava
me dando tamanha felicidade se em pouco tempo ela seria levada de mim.
Bom seria se a felicidade fosse um estado permanente...
Não que eu paute minha felicidade em alguém além de mim. Não é
isso. É que eu sou muito negativa, sabe? E eu acho que eu preciso de alguém
que me ajude a ser mais leve. Alguém que me faça esquecer de pensar, de ser
tão racional. E Hugo fazia isso como ninguém.
A leitora e o leitor pode achar o que vou dizer a seguir muito
dramático, mas não me importo: eu não consigo enxergar a felicidade nessa
minha vida se Hugo não estiver ao meu lado para construí-la comigo.
Eu já disse que certas coisas sobre mim e Hugo eu não posso lhes
contar. Uma coisa ou outra talvez, mas não tudo. O que posso deixar claro é
que dois motivos fortes nos separam: família e distância.
A minha família precisa de mim e a de Hugo precisa dele, e para nós
ficarmos juntos, um precisaria abrir mão de estar próximo dos seus; o que no
momento é inviável.
Muitos quilômetros nos separam. Cada um numa ponta da Bahia. E
nem eu nem ele têm condições de arcar com os custos da viagem para a
cidade um do outro.
Tem uma coisa, meu bem que nós não reparamos. Tanto a minha
cidade quanto a sua têm seus nomes referenciados a rios que cortam a região.
E tanto os rios da sua cidade quanto os rios da minha são utilizados
indevidamente por mãos gananciosas que não olham além dos seus próprios
bolsos. A diferença é que você luta contra eles, eu não.
Que bom seria se eu pudesse apreciar a felicidade de assistir a um pôr
do sol ao seu lado. Vendo o alaranjado se perder no céu do sertão, sentir seu
suor grudado na minha pele, beijar você até o dia se fazer noite e te amar
além da madrugada... Isso sim seria felicidade para mim. Mas me parece uma
felicidade tão distante...
Acredito que as palavras escritas até aqui lhe pareçam confusas, sem
nexo.
Pois bem, eu não prometi uma prosa bonita. Nem disse que a minha
história de amor com Hugo teve um final feliz. Se é que existe um final.
Acho que nem eu sei mais o que estou escrevendo.
Vou me deitar um pouco. Tentar esquecer a tristeza do peito e sonhar
com os dias em que a felicidade fazia morada nessa minha vida.
OITO