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MARGARET SOUZA

Nego Gerson
Sua Vida, Sua Glória Caboclo Sete
Montanhas
2ª Edição
Obra Mediúnica
© 2011 Margaret Souza Todos os direitos reservados

Copyright© 2011
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP
Souza, Margaret
S100s Nego Gerson, Sua Vida, Sua Glória: Caboclo Sete Montanhas /
Margaret Souza. 2. ed. Fortaleza: Editora Órion, 2011.
142p
ISBN 978-85-60091-19-5
1. Biografia. 2. Obra mediúnica, 3. Umbanda. I. Título
CDU 82-94
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NEGO GERSON
Sua Vida, Sua Glória
Caboclo Sete Montanhas
Obra Mediúnica
© 2011 Margaret Souza Todos os direitos reservados

Lá nas sete montanhas


Aonde Nego Gerson nasceu
Ele é um Caboclo diferente
E vem ajudando toda gente (bis)
Eu vou pedir ajuda a Seu Sete Montanhas
Vou pedir ajuda ao Caboclo Nego Gerson
Eu vou pedir ajuda a Seu Sete Montanhas
Vou pedir ajuda e ele vai me socorrer.
SUMÁRIO
MEDIUNIDADE 9
Intuição 10
Incorporação 11
Vidência 14
Audição 19
Psicografia 20
O dom das vozes, o chacra laríngeo. 22
Desdobramento físico 26
Audição 41
A PERSONALIDADE DE CADA UM 47
Os médiuns, os filhos de fé nas correntes mediúnicas de Umbanda. 47
Filhos de Oxalá 49
Os seres encarnados 56 O INÍCIO DE SUA VIDA TERRENA 66
É com muito carinho, que dedico este livro, A Mãezinha
Margarida, Por seus 33 anos de Sacerdócio.
UMA PALAVRA DA AUTORA
Muitos de vocês ao lerem estas páginas, encontrarão muitas palavras
escritas de uma forma simples e não muito correta, mas eu fiz de propósito.
Eu quis preservar cada detalhe, cada expressão dita por ele, para dar um
toque a mais de originalidade, pois naquela época todos eram simples e não
falavam “bonito”, como os doutores de hoje.
A vida simples, as falas erradas, mas de coração limpo, limpo das mágoas
do orgulho das injúrias feitas por seu “irmão”... mas que hoje, depois de
tantos séculos, “eles” possam caminhar livres e aproveitar, “mesmo que
sejam as novas gerações”, a tão sonhada “liberdade” de ser apenas um
homem, um ser livre!!
Minha homenagem aos Negros e Negras, Pretos e Pretas ou, simplesmente,
aos muitos Pais e Mães “Pretos” que há neste maravilhoso universo
espiritual.
Saravá! Nego Gerson, meu Anjo Protetor.
Salve! 13 de maio dia da libertação dos escravos.
Margaret Souza
APRESENTAÇÃO
Quando Nego vivia na carne, era escravo e trabalhava muito. Não recebia
pelo o que fazia, comia os restos dos senhores, isso quando eles nos davam
o que comer. E por qualquer motivo, levavam Nego para o tronco,
amarravam e batiam. O chicote cortava nosso couro. E era para agüentar as
dores sem gritar, porque se gritasse as chicotadas eram dobradas. Então
Nego fechava os olhos, engolia o choro, a ira... Não se podia ter ódio dos
senhores. Além disso, os Orixás que lhes orientam hoje, já nos orientavam e
nos acalentavam naquelas épocas.
Quando eles baixavam, diziam que nós não podíamos ter ódio, nem mágoa.
“Porque o ódio no coração traz tristeza para nossos espíritos” e para eles,
que se afastariam de nós e nos deixariam à mercê dos senhores. Por isso, é
que não devemos acalentar mágoas.
Quando o chicote ardia nas costas, eu fechava os olhos e pedia ao Criador
que abrandasse a dor das chicotadas e as dores da alma.
Quando eles terminavam, Nego banhado de sangue e suor era desamarrado.
Caía de fraqueza no chão. Então, nossos irmãos corriam, pegava Nego e
levava para a senzala, onde a preta curandeira passava ervas para secar o
sangue. Pois a dor, Nego já não sentia mais. Hoje, o sofrimento, as dores de
vocês, nem se comparam com as nossas, se torna mais fácil de recompor,
pois vocês são livres, livres para decidir vossos destinos, não estão presos
no tronco e podem recorrer a nós, a qualquer hora.
Nego Gerson
MEDIUNIDADE
Boa noite minha filha! Que a paz, a luz e o amor de Jesus estejam sempre
com você.
– Meu Anjo Guia?! Que saudade!
– Ah! Minha criança, não fique assim, tudo isso vai passar, não chores
minha menina... Como é triste a humanidade, como são vazios... Por que
será que eles não fazem o que você faz, filha? Por que não deixam as
futilidades, as festas, as bebidas... Ah! Meu Senhor, quanto tempo minha
criança precisará ficar lá? Ah! Pai, por que Vós não a tira de lá? Eles não a
querem lá! Não chore filha, você não está errada. Você está fazendo o
melhor!
– Por que hoje o senhor está diferente?
– Que tipo de diferença?
– Não tenho certeza, mas eu acho que é como se eu estivesse ouvindo um
gravador, uma gravação de sua voz. É como se eu ouvisse e depois
escrevesse. Como se o senhor falasse primeiro e depois eu copiasse, e não
como eu costumo ouvir.
– Ah! Criança, e eles ainda duvidam de seu dom. Mas não ligue filha, eu sei
que não é fácil, mas não ligue que tudo isso passará, pois ninguém sabe
realmente que você tem todos esses manuscritos, eles acham que você está
mentindo. Mas deixe-os pensar assim. Deixe-os porque quanto maior a
altura, pior o tombo. Enquanto eles pensam que você está em baixo, em
breve verão seu nome estampado nas maiores revistas e jornais de todos os
países.
– Mas eu não preciso disso, eu só queria divulgar suas escritas.
– Não se preocupe que tudo está muito próximo de se encaminhar e logo o
livro de Gerson estará pronto também. E eu quero que o meu também seja
logo. E em breve poderás começar sua...
– Meu anjo Guia obrigado por seu carinho. Eu já estava com saudade. Bem
que meu paizinho falou que o senhor viria.
– Ah! Minha menina, como és bela! Como és simples. Mas comecemos,
não é filha? Hoje eu te darei os muitos caminhos que um dom leva um filho
e os muitos entraves, as muitas provas que um filho tem que passar para
seguir sua missão, sua sina na Terra.
E Nego continuou:
Temos que mostrar a todos o que um coração puro faz, quando nada guarda
de ruim e que só tem amor pra dar, e que mesmo sem querer aparecer,
mesmo sem fazer nada, chama a atenção de muitos. Há uma verdade que
diz: “quantomais sequer ser visto, menos seé, quanto mais sequer
serlembrado, mais seé esquecido, quanto menos se quer ser visto, mais
seé”.Essa é a verdadeira beleza o verdadeiro dom dado por Deus.
Agora daremos início a nossa outra biografia, que não falará, não contará as
nossas vidas, mas sim, estudaremos os graus mediúnicos dos filhos de todos
os graus e degraus, e as evoluções, desde as mais baixas às mais evoluídas.
Começaremos pelo dom da incorporação e, em todos os dons, nós daremos
você, filha, como exemplo e alguns filhos.
Ah! criança, não se preocupe, nós apenas conversaremos como sempre
fazemos e em cada exemplo citaremos você, certo? Vamos ao primeiro dom
que é o mais simples, o dom da intuição da mente.
Intuição
É um dom que não precisa de desenvolvimento para tê-lo, pois quase todos
os filhos encarnados têm essa percepção, esse dom sutilíssimo, mas quase
ninguém dá o verdadeiro e real valor a ele, que serve de comando e guia
para seguir certos caminhos.
A intuição é um dom incompleto, mas eficaz para os filhos que só tem este
como única ponte para servir, como a maioria dos Pais e Mães das inúmeras
searas que só tem a intuição, quando não estão incorporados trabalhando na
Seara.
Eles sentem uma leve intuição, se deve ou não fazer alguma coisa. A não
ser quando o Guia os irradia, porque a irradiação é como uma incorporação
em que seu mentor toma apenas um pequeno percentual de sua mente,
deixando a outra parte ativa e adormecendo essa pequena parte.
Incorporação
É um dom mais apurado e só o têm, sem desenvolvimento, alguns filhos.
Outros, só com o desenvolvimento em uma seara1. Alguns filhos já nascem
com ele e logo que entram em uma sessão, em uma tenda para
desenvolvimento, eles se expandem deixando-se a mercê dos espíritos. Esse
é um dom muito comum e útil nas searas, quando se trabalha com amor e
caridade. Nesse dom, o filho passa por três ou quatro etapas, desde o início
de seu desenvolvimento.
Quando um ser adentra uma tenda e ele se dispõe a nos servir, o mentor da
seara começa a trabalhá-lo, para adequá-lo aos nossos padrões magnéticos e
moldá-lo à nossa melhor forma. Isso é feito nas engiras2 ou no sono físico.
Ou seja, quando o filho deita-se para o seu descanso noturno.
Logo no início, o filho fica com aquele tremelique todo, às vezes roda, roda
e pára, sem nada mais acontecer. Tem uns que dão muito trabalho devido ao
grau de espessura de sua aura. Há seres que já se desprenderam das coisas
terrenas, sem vícios, esses se tornam mais leves e sutis. Agora, os que estão
ainda presos nas trevas da ignorância, esses custam muito e, às vezes, não
conseguem aflorar esse dom, o tão sonhado dom da incorporação.
Depois desse primeiro passo, ele já começa a ficar sem alguns tatos,
começa a ficar tonto, com os pés no ar, sem os sentir no chão. Isso quase
todos os médiuns sentem.
E Nego me perguntou:
– E você, filha, o que sentiu no começo de seu desenvolvimento? – Bem,
quando eu entrei na seara, que havia sempre as giras3 de desenvolvimento,
assim que eu chegava lá e que tomava meu banho de ervas, eu rezava e logo
sentia um frio diferente no corpo. Era como se eu tivesse tomado um banho
muito gelado e logo um frio repentino fazia meu corpo tremer. Depois,
quando eu deitava no chão da seara para me “concentrar”, além do frio, eu
sentia as pernas e todo o corpo, mesmo estando deitada, sentia todo o corpo
tremer como se eu estivesse em uma geladeira.
1 O mesmo que templo, casa de culto. 2 São as sessões da casa de culto de umbanda.
– E depois, minha filha?
– Depois, quando chegava a hora de levantar, eu quase não conseguia,
porque eu estava muito tonta. Era como se eu estivesse meio bêbada, meio
sem consciência. E quando começava os sons dos atabaques os tremores se
intensificavam. E se eu não firmasse meu pensamento, eu caía. Mas quando
eu elevava o pensamento a Deus eu não caía. No começo, nas primeiras
manifestações de minhas irradiações, era só assim. Quando eu firmava o
pensamento sentia meu corpo ser atirado para lá e para cá e quando eu
sentia o corpo rodar eu fechava os olhos, porque eu tinha medo de cair. E
começava a rodar. Eu não tinha noção de quanto tempo eu ficava nesse
meio transe.
– Continue filha.
– Outras vezes, em certas giras, eu sentia o corpo desfalecer como se eu
fosse desmaiar.
– E o que você fazia?
– Eu rezava, pedia a Deus proteção e logo minhas forças retornavam.
Algumas poucas vezes eu tinha vontade de vomitar, e a cabeça rodava.
Quando isso acontecia, eu chegava a botar para fora o que não tinha no
estômago. Mas quando saía da seara eu nada mais sentia. A não ser quando
ia se aproximando outra gira é que eu sentia dor de cabeça e um pouco de
nervosismo.
3 O mesmo que engiras.

– Pois é, meus filhos. Esses são os sintomas que um filho, um médium


iniciante, sente quando se inicia seu desenvolvimento e seus Guias se
aproximam de seus chacras. E quando ocorre a incorporação, quando seu
chacra já está totalmente desenvolvido, o estado se inicia mais ou menos
nestes mesmos termos. O filho sente a presença da entidade e começa o
processo de acoplamento de seu ectoplasma ao do espírito. Quando isso já
está totalmente feito, ocorre a incorporação propriamente dita. Mas isso
sem muito estardalhaço, pois se o mentor já se adaptou ao seu filho, a
incorporação é sutil e rápida. Os médiuns que rodam muito e que demoram
a incorporar não estão plenamente desenvolvidos.
Agora, conte-nos filha, como você incorpora, agora que seu chacra, ou seus
chacras, já estão todos desenvolvidos.
– Bem, quando chego na seara, fico em meu local de costume. Quando
começam os cantos, rezo e elevo meu pensamento a Deus. Então meus
ouvidos buscam as batidas dos atabaques. Eu as ouço sempre ritmadas e, a
partir daí, eu já começo a não ser mais eu, sinto minha mente sair como se
eu estivesse com muito sono. Nesse momento, eu tenho que firmar bem o
pensamento para não cair, e logo uma força me empurra para o centro da
sala e eu passo a ouvir somente os pontos4 e o som do atabaque. Eu ouço
com clareza os sons, mas eu não me coordeno e meus movimentos não são
meus.
Às vezes eu ouço, também, um ponto que vem em minha mente, no mais
profundo de meu cérebro, o ponto da entidade que está vindo. E ele é mais
forte do que o barulho que está ao meu redor. É como se minha mente se
fechasse para o mundo ao meu redor e eu ouvisse só aquele ponto em uma
vazia e silenciosa mente. Depois, nada mais ouço. É como se eu estivesse
saído dali daquela sala e fosse, sei lá para onde.
4 Existem os pontos cantados e pontos riscados. Os pontos cantados são as canções e os hinos
entoados e os pontos riscados são os símbolos de um trabalho, feitos para fortalecer uma oferenda.
Os pontos são feitos pelos médiuns incorporados. Esses símbolos podem ser cruzes, sóis, luas,
flechas, etc..

– E você se sente cansada ou nervosa? Sente alguma reação incômoda?


– Não. Eu só volto a mim quando a entidade vai embora e que eu me vejo e
me ouço novamente. Quase sempre eu perco a noção de tudo, do ambiente
onde estou. Muitas vezes, quando eu estou apenas irradiada, eu não
coordeno meus atos e meus pensamentos não são meus. É como se eu
pensasse pela mente de outra pessoa.
– Essa é a incorporação total de um médium. Onde ele não lembra nem
quem ele é. Então esse é um médium plenamente desenvolvido. Outro dom
que aflora logo cedo é o dom da vidência.
Vidência
– Em alguns filhos ele aflora logo no início, mas em outros nem sempre. Os
dons afloram gradativamente e, às vezes, muito rápido, de acordo com a
conduta dos filhos. Quando o médium se abstém de carnes e bebidas
alcoólicas, seus dons afloram mais rapidamente. Diga-nos filha, o que você
faz normalmente, como é seu dia a dia? Sua alimentação e sua vida
noturna?
– Eu como apenas carnes brancas e nunca as carnes vermelhas. Faz muitos
anos que eu aboli de minha alimentação as carnes em geral, principalmente
as carnes vermelhas. Até frango, raramente eu como. Prefiro o peixe e até
algumas verduras, apesar de eu não gostar muito delas. À noite, não janto,
tomo apenas leite semidesnatado com algum tipo de farinha pré-cozida,
como a aveia ou a farinha Láctea. Durmo sempre até as 20 horas e não
gosto mais de televisão, música ou de sair. Isso nunca mais! Mas é porque
eu não gosto. Eu prefiro o silêncio do meu quarto a qualquer passeio fora
dele. Também porque eu escrevo todas as noites. Trabalho de terça a
sábado, das 8h00 as 18h00. Aos domingos e feriados, eu digito as
mensagens no computador. Antigamente, eu até gostava de um chopinho de
vez em quando, mas depois que eu aceitei o compromisso de ser uma
médium, uma filha de fé de verdade, eu mesma fiz questão de abolir todos
os vícios, porque eles são nocivos ao espírito, aos chacras.
– Com essa conduta, o médium logo abrirá todas as suas portas que estão
adormecidas. Sua matéria fica menos densa por causa da limpeza de seus
chacras. O corpo denso, o corpo material é muito pesado. O que o deixa
leve, um pouco menos denso, é esse tipo de conduta, adotada por seu
próprio dono.
E Nego continuou:
De nada adianta um ser ir a uma gira de desenvolvimento, e ao sair dali não
cumprir certas regras, certos rituais simples do dia-a-dia, pois se o médium
não cumpri-los, não adianta estar em desenvolvimento, porque ele ficará
sempre no mesmo estágio. Depois da limpeza dos chacras, o dom da
vidência começa a ser aberto gradativamente, com o desenrolar dos
trabalhos, pois seus mentores apreciam um filho pródigo que lhes dê vários
canais para trabalhar.
Então estas “sementes” se unem em um campo amplo de conhecimentos e
ricos em leveza. Pois o corpo, meus filhos, inibe o espírito, suas energias
são densas e pesadas se ele está pesado. Agora, se ele está purificado, ele
expele energias cristalinas, leves... tanto ao espírito quanto aos campos que
estão ao seu redor. Em uma casa suja só entra o que não presta. Em um
corpo sujo e pesado não entram energias limpas, só sujas.
Há espíritos encarnados que vêem o que nada sabem. Vêem vultos
atrasados e até a nós os Guias, na maioria dos casos, eles não vêem a nós e,
sim, apenas aos nossos auxiliares, porque para nós, é mais fácil enviar um
de nossos auxiliares do que tentar limpar esse filho, esse médium para nos
receber.
Então, são sempre nossos auxiliares que entram em seu campo visual e
nunca nós, os verdadeiros mentores, que pertencem realmente a essa coroa,
porque um Guia de lei não entra em um “templo” sujo (um médium), mas,
às vezes, nós fazemos isso para ajudar na limpeza. A vidência apurada,
aquela que o médium vê só os espíritos excelsos, os seres belos, essa é uma
vidência mais sutil e não é fácil de adquirir.
Mas se o ser se dedicar, deixar as muitas futilidades que a vida lhe oferece e
viver apenas para os Guias, mas isso na maneira do possível, porque o filho
precisa trabalhar para se manter, se não fosse por causa das bandeiras para
garantir a sua moradia e a sua alimentação, seria mais um a trabalhar
somente para nós.
Abro aqui, filha, uma pausa para dizer que nós estamos esmiuçando os dons
mediúnicos, os dons dos espíritos encarnados. Por isso estamos citando os
seus dons que estão todos aflorados para nos auxiliar, pois tudo o que
escreveram até hoje sobre os dons estão relacionados ao espírito astral e
nunca ao verdadeiro ser, o verdadeiro filho, aquele que vive ainda na Terra
e que caminha gradativamente para a evolução, enfrentando as muitas
provas que o Senhor o Pai da Criação vos dá.
Por isso, eu sempre vos pergunto o que você sente, minha menina, porque
seus dons estão todos abertos. Quer o povo queira ou não! Isso ninguém
pode negar. E quem não acreditar é só fazer-lhe as muitas perguntas que
este Nego fez que, também, ficará maravilhado com tanta sensibilidade.
Agora, ninguém faz isso! Ninguém te ajuda, apenas metem o dedo, atira
pedras... em um ser que está num campo, em um degrau que ninguém está
até hoje.
Continuemos filha. Você acha que não tem vidência, não é filha? Mas quem
te diz é esse Nego que foi tachado até de mago negro, por eles não me
verem assim tão claro, como em seu coração de criança, onde sou seu
paizinho, o seu Anjo protetor, que você tanto ama e que me deixa bobo e
me faz o Pai mais feliz dessa ala, dessa hierarquia.
– Pois bem, diga a esse bobo pai, o que você vê? O que você vê ao entrar
em seu ganha-pão pela manhã, pra começar seu dia de labuta?
– Meu paizinho, ao chegar eu entro rápido para desligar o sistema de alarme
e, ao fazer isso, eu sempre vejo de relance um Guardião de roupa branca no
interior da loja. E há, também, um vulto de paletó e cartola na porta da
frente.
– Um vulto que usa paletó e cartola, minha criança? Como pode ser um
vulto? Se você vê todo o seu espírito, a sua vestimenta fluídica? Responda
filha!
– Desculpe meu paizinho. É que eu digo vulto, porque ele se mostra
rapidamente...
– Humm... Agora está mais claro, minha menina. Mas isso é porque eles
não podem ficar e se fazer ver por muito tempo. Quando um espírito se
materializa no plano material para que um filho o veja, ele se desgasta
muito, fica fraco, se sente enfraquecido, por desprender muito de seu
ectoplasma.
E Nego continuou:
Em um mundo tão denso, até mesmo um Guardião de esquerda, fica
desgastado com o teor negativo da Terra porque, mesmo sendo um ser de
esquerda, ele tem um degrau e já se afastou da Terra por muitos milênios. E
isso o faz ser muito mais leve do que um ser encarnado em uma matéria
grosseira.
Quando ele se materializa, fica muito fraco, sendo assim, um alvo fácil para
os vampiros do astral. Por isso eles só se mostram rapidamente a você. E
não porque você não o vê.
E Nego continuou:
– E lá em sua seara, o que você sempre vê na hora das engiras?
– Às vezes tem um Guia de branco no meio da seara, suspenso, como se ele
estivesse pendurado ao teto. E entre os assistentes também tem uma criança,
ou um Guia.
– E você fala com ele?
– Não, nunca tentei. Mas na entrada, quando eu passo no portão e chego a
frente à casa de exu, há um Guardião lá também, e sempre diz: boa noite,
criança! ou, bom dia menina!
– E como você sabe que ele é um Guardião?
– Pelo tom de sua voz, que é mansa e suave. Quase como uma melodia.
– E você o vê?
– Não, porque abaixo a cabeça e olho para o chão, não firmo o pensamento
nele.
– E por que não, filha?
– Porque tenho medo de vê-lo.
– E nos transportes, quando você apanha o ‘olho de fogo’ 5 e vai para sua
casa?
– Eu sempre vou rezando o terço e, devido à distância, às vezes eu cochilo,
fico relaxada e sonolenta, mas ao abrir os olhos entre um cochilo e outro, ao
olhar para algum ponto, tem sempre alguém no meio dos passageiros, como
se fosse um deles, às vezes de pé, segurando nos ferros ou na porta do meio.
Mas perto de mim, entre uma cadeira e outra, bem a minha frente, ou ao
meu lado, no corredor, tem sempre uma criança, às vezes é uma
meninazinha de branco, ou de azul. Quase sempre é ela e, muito raramente,
é um meninozinho também de azul.
– E esse espírito que está entre as outras pessoas, você sabe quem é?
– Não, mas ele está sempre vestido de preto. Com uma roupa meio
desbotada, como se fosse bem usada. E sempre é homem, e muito
raramente uma mulher. Mas eu acho que não são Guias de Umbanda por
causa da roupa que é comum e bem usada. Mas eu sempre digo: “que a paz
esteja convosco” em pensamento, mas não sei se ele ouve o meu
pensamento.
– Obrigado, minha menina. Essa é a vidência de espíritos que estão no
plano material e que estão cumprindo algum papel, de Guardião, ou então
de espírito que vaga no mundo entre os encarnados. Mas a criança, ela é um
Guardião mirim para proteger-te.
5 Ônibus E Nego continuou:
Agora, a maioria dos seres astrais, essa é a mais honesta, é a vidência mais
leve que o ser vê, a claridade dos espíritos com um foco de uma luz tão
clara que quando ela entra em contato com os olhos o ser tem que fechar os
olhos. Não é filha?
– É eu sempre vejo uma luz cintilante, tão cristalina que me faz fechar
rapidamente os olhos. E quando isso ocorre e eu volto a abrir os olhos, eu a
vejo mais forte, fazendo sair lágrimas de meus olhos. E às vezes, mesmo
quando eu fecho os olhos, eu continuo vendo essa luz, só que, de olhos
fechados, ela não me incomoda. Às vezes eu me deito na varanda, ou a céu
aberto, a olhar fixamente para o céu por alguns segundos e vejo um monte
de pequeninas luzes cintilantes a brilhar no espaço. São tantas e tão
brilhantes que se parecem com as estrelas. São milhares e milhares delas no
céu e se movimentam mais rápido do que as nuvens, e ficam movendo-se
de um lado para o outro. Eu as acho lindas. Mas por seu brilho e a luz do
sol ser intensa, meus olhos lacrimejam e eu tenho que parar de olhar.
– Em outro manuscrito, nós já falamos sobre isso. Essas luzes pequeninas e
brilhantes que povoam o espaço são as fadinhas, os silfos, que são as forças
sutis da natureza e que povoam o universo e são milhões delas a voar pelo
céu. Ninguém os vê. Apenas, você, que consegue essa proeza. Agora
falaremos dos dons da audição.
Audição
Esse dom poucos filhos têm e os que o têm são raros... Há muitos filhos que
têm o dom da psicografia. Mas não é o mesmo que você tem. O dom da
audição, o dom de ouvir a nós, os espíritos, talvez seja até normal, porque
há vários, não apenas alguns filhos que o tem. Mas essa audição perfeita,
que nos ouve com clareza e que, além de nos ouvir, sente a sensação que
um espírito passa ao médium, esse não é um dom muito comum.
É o seguinte: os ouvintes são os médiuns que ouvem o espírito, que
conseguem captar o som do universo astral, e dizer o que nós estamos
falando. Agora, médiuns ouvintes são muitos, mas médiuns com essa
sensação, com essa sensibilidade de sentir a nós, com nossos sentimentos e
a percepção do astral, são mais raros.
Psicografia
Esse é outro dom, diferente da audição, pois na psicografia o médium sente
a mão tremer e o espírito toma-lhe essa força e escreve usando sua mão. E
se por acaso o médium quiser parar ele não consegue. Essa é a verdadeira
psicografia. Agora, as três coisas juntas em um mesmo filho, em um mesmo
dom, somadas a mais alguns que é a sensibilidade do espírito, é fabuloso!
Vejamos se Nego consegue se expressar direito: audição + psicografia +
visão + sensibilidade... Ou, audição + escrita + visão + sensibilidade... É
isso, caros filhos! Será que isso se chama realmente psico?Ou é um novo
dom que ainda não tem nome?
Você que já deixa este Nego de queixo caído, que ao lhe ditar essas muitas
palavras, vejo você a reescrevê-las nesse pequeno bloco, sem erros, sem
curvas sem luz...
Alguém pode me dizer que nome nós daremos a esse maravilhoso dom que,
na verdade, não se chama psicoe sim uma verdadeira obra-prima da
natureza? Mas que ainda ninguém vê, mas na verdade vê, e tenta apenas
ignorá-lo, tentando jogar areia em um ser como esse. Um ser que só pensa
em divulgar nossas mensagens, que com... Com quantas, filha?
– Tenho 30 manuscritos. E já estou caminhando para 32 e ainda não
consegui arranjar ninguém, porque ninguém realmente acredita em mim.
– Diga para esse pai e para esses muitos filhos, o que você faz nesse
momento?
– Eu estou sentada em minha cama, na penumbra, com a luz do abajur, bem
fraca, porque além da luz ser fraquinha eu ainda coloco uma proteção ao
redor dela, para ficar mais fraca ainda. Pois, assim, eu acho melhor do que
na claridade. E eu o estou ouvindo, meu paizinho, o senhor está ditando as
coisas para eu escrever. O senhor fala e eu escrevo neste bloquinho sem
pauta.
Mas agora o senhor parou de falar e a minha mente ficou como se estivesse
vazia, em total silêncio, como se alguém tivesse tirado tudo de dentro de
minha cabeça. Mas eu o sinto ao meu lado, eu sei que ainda está comigo,
apesar de ter se afastado, de estar um pouco distante. Parece que está
sentadinho... É como se ele estivesse sentado, o que na verdade não está,
porque os espíritos não usam esses artifícios, não precisam se sentar, não é
meu paizinho?
Agora o senhor deu uma gostosa gargalhada e continua na mesma posição.
É como se estivesse com a mão no queixo, pensativo, tentando me
acompanhar, bem compenetrado, um pouco sério, mas bem calmo.
– Obrigado, filha.
– De vez em quando eu vejo uma luz... Desculpe meu pai, eu estou
emocionada.
– Ah! Filha, quem está emocionado é Nego. E é você quem me causa essa
emoção... Está chorando? Pois nós os espíritos apenas nos emocionamos,
mas não choramos, porque nós não temos as lágrimas, que são materiais,
são do corpo físico. Nós sentimos explodir um amor muito forte em nós,
que nos deixa inebriados, e essa emoção vai para você e é por isso que você
chora, filha, e derrama suas lágrimas. Nas páginas passadas, onde você
perguntou se seu Anjo Guia estava falando por um gravador, eu te digo
agora, ele não pôde nos acompanhar e, no meio da escrita, ele estava em sua
morada que fica longe daqui, da minha morada, então ele falava, transmitia
para Nego as mensagens, e eu as passava diretamente para você, como
agora. Só que não mais era ele que estava contigo. E isso é realmente
magnífico!
– Mas se ninguém acredita em mim, meu paizinho. Eu gostaria muito de
conversar com um sábio, um estudioso da mente para eu poder mostrar tudo
isso. Mas ninguém se interessa em me ajudar. Será que até o dia que eu
partir da Terra não verei essas escritas encaminhadas?
– Isso não é verdade filha, porque a de Nego sairá logo em breve.
– Está bem meu pai...
– Ah filha, você não confia mais em Nego, não é?
– Não é isso, meu paizinho! Eu apenas só queria ter certeza disso. Ah, outra
coisa...
– Diga filha.
– Eu já vi os médiuns de Alan Kardec e eles precisam de duas pessoas para
escrever, mas Chico Xavier não.
– É... Ele também era um médium audiente que nos ouvia com perfeição.
Mas eles são da linha de Kardec, filha, e não um médium Umbandista, que
ouve os Guias e escreve, ouve a nós, os caboclos e não os espíritos como
André Luiz.
– Ah... Obrigada.
– Agora, há outro dom que é o da voz.
O dom das vozes, o chacra laríngeo.
– É quando um médium fala em línguas estranhas sem estar incorporado.
Porque quando um Guia incorpora em um filho, ele pode falar, ou fazer
qualquer coisa com seu cavalo (o médium), mas quando um dom com falas
é dito por um médium que não está incorporado, esse é o chacra que abriu,
que aflorou, Este é o chacra laríngeo, o chacra das vozes, das linguagens
dos Anjos, como o povo diz. Esse chacra é magnificamente belo, pois ele
faz um ser dizer palavras bonitas em vários tons, em várias línguas e sons
diferentes. Não é filha?
– É meu pai. Quando eu começo a cantar, aqui ou nas giras, minha voz fica
diferente. Quando eu canto sinto a voz ficar forte e bela, ou com um som
infantil, como a fala errada das crianças. E quando é a moça Pombogira, ela
solta um som muito bonito e firme, como a voz de uma cantora de ópera.
Mas isso não é normal, meu pai?
– Não, filha, isso não é normal. É simplesmente magnífico!
E Nego continuou:
O chacra laríngeo é o chacra das vozes, da linguagem dos Anjos, dos sons
melodiosos e ele, quando afrouxa, faz o ser dizer palavras bonitas ao seu
irmão. E faz um Guia, quando incorporado, mudar o seu tom de voz ou
falar em línguas, dependendo da situação ou do som que sai de sua
garganta. E quem o tem aflorado é o filho que o tem desenvolvido.
É muito bonito quando o filho o aflora juntamente com o dom da
incorporação porque, juntos, fazem um par perfeito. Pois enquanto o Guia
acopla-se ao seu mental, o som é tirado de sua garganta juntando-o ao outro
chacra e a todos os outros dons mediúnicos. E é muito bom quando estão
todos trabalhando junto, porque um é bom e, dois ou três juntos, isso é
magnífico! E juntando três ou quatro temos um par perfeito. É quando nós
ficamos completos, porque um complementa o outro. E enquanto um se
acopla, o outro se expande, enquanto um recebe, o outro doa. E se um Guia
quiser, tanto ele pode falar em seu idioma nativo quanto na linguagem
habitual do médium.
Mas um Guia só fala outras línguas quando o seu médium aflora o dom das
línguas, porque é através dele que o som se manifesta e o Guia entra em
sintonia com nós, seus ancestrais. No seu caso, quando você incorporar um
cigano, ele falará qualquer uma das línguas faladas por seu povo. E isso,
por causa do chacra que está totalmente desenvolvido. E isso tanto pode ser
com o laríngeo quanto com os outros chacras.
Nós, os espíritos, quando incorporamos em um filho com a coroa
totalmente desenvolvida, e que esse filho é dotado de vários dons
mediúnicos, o Guia sente-se com mais campo para atuar. E ele tanto pode
incorporar quanto falar ou ver o que os outros filhos têm. Mas se o filho não
desenvolver todo o seu potencial mediúnico, ele não terá nem um terço da
força que esse outro, que está totalmente desenvolvido, tem.
Exemplo, quando um médium, um filho na Terra, tem todos os seus chacras
aflorados, ele pode ser apenas um médium ainda em desenvolvimento, mas
ele tem muito mais força, muito mais firmeza em suas funções na seara do
que um babalaô 6, porque esse babalaô não aflorou a todos os seus dons.
Quem tem uma coroa desenvolvida, onde todos os seus chacras afloraram
respectivamente, esse filho já veio feito do alto e sua “feitura” na Terra será
apenas superficial, pois seus dons não necessitam dessa “feitura” para
crescer, para aflorar, pois eles afloraram independente de qualquer lavagem,
de qualquer artifício da mão humana.
Mas os seres terrenos ainda não se deram conta disso e acham que fazendo
um monte de rituais conseguirão pôr em um médium esses dons que você
tem e que afloraram espontaneamente. Em outro livro eu já havia dito isso,
que um filho quando reencarna ele já traz todo o seu potencial mediúnico
consigo. E se esse filho entra em uma corrente de desenvolvimento e se
dedica de coração, abolindo de sua vida tudo o que for nocivo a sua aura,
seu corpo fica leve, e então logo ele começa a sentir seus dons aflorarem.
Mas se ele não tem esse potencial todo, se ele não os tiver em sua memória
imortal, ele pode fazer o que for, pode até ficar semanas e semanas preso
dentro de uma seara, que ele jamais terá o que ele não trouxe consigo.
Nenhum ser, nenhum espírito quando nasce na carne, nenhum deles vem
com todos os dons... Mas apenas os que têm um selo do Senhor é que já
vem com todos esses dons. E bastam alguns poucos dias para que eles
aflorem a todos de uma só vez, um a um, gradativamente, em um curto
espaço de tempo.
É por isso que tem filhos, pais e mães feitos há muitas eras que não têm a
evolução de um filho que entrou em sua seara a poucas eras. E isso gera
certo constrangimento em quem recebe esse filho, porque ele sente-se
injustiçado por não ter a sabedoria que esse filho tem com tão poucas eras
de seara. Mas ele tem que ver que seu filho já veio com esses dons, e que
ele foi marcado com o selo do senhor na Terra, que apenas está cumprindo
uma missão lá em sua seara.
6 É o mestre, o Pai ou Mãe de santo, do terreiro ou da seara.

E independente de que ele queira ou não, a evolução desse filho não


depende dele ou de ninguém da Terra, e sim, do Pai maior da Criação, que
sabe a hora certa desses dons virem para a Terra.
– É ou não é, filha? Que quando você entrou na seara, que você já tinha
parte desses dons, e que lá, só os lapidamos para que ficassem melhores?
– É verdade! Eu já os ouvia, mas não tinha noção do que fosse. Sonhava
sempre com o que ia acontecer, tanto as coisas boas quanto as ruins. Eu
tinha também uma intuição aguçada, sem nunca ter tido nenhum contato
com a espiritualidade, com a Umbanda. Eu nunca imaginei que um ser
pudesse desenvolver isso, esse tipo de coisa. É muito estranho me lembrar
de mim antigamente e me comparar com o conhecimento que eu tenho
agora. E apesar de eu ter uma intuição aguçada, ter um pouco de vidência,
por sinal, bem limitada, eu ouvia essas vozes, e sempre sonhava com o que
ia acontecer adiante, no futuro... Mas eu não sabia o quanto é amplo esse
campo.
Até mesmo, nos primeiros anos de desenvolvimento, em que eu comecei a
mudar todo o meu comportamento, eu ainda não tinha noção de tudo o que
um médium é capaz de fazer, quando seu desenvolvimento chega ao cume.
É muito estranho lembrar-me de mim, antigamente. Hoje, eu me vejo ontem
como “um burro tentando seguir apenas em linhas retas, mas sem nenhum
conhecimento concreto”.
Eu sempre gostei muito de ler, de me aprofundar nas coisas ocultas, mas o
saber de um filho que não tem aberta sua sabedoria astral é limitada a seu
espírito carnal. Pois, mesmo eu tendo todo um conhecimento de um livro
sobre mediunidade, eu não sabia o que eu sei agora.
– Obrigado, filha. E Nego continuou:
E é isso que eu quero dizer. Que se o espírito não é sábio o suficiente, todo
o conhecimento da Terra é limitado. E mesmo tendo esse desenvolvimento,
mesmo lendo vários livros sobre mediunidade, esse ser não assimila essa
sabedoria se seu espírito astral não tem evolução suficiente para isso, para
receber esses ensinamentos.
E é por isso que mesmo esse filho, esse ser sendo um babalaô, se ele não
tiver um espírito evoluído astralmente, das outras, das múltiplas
encarnações, ele não usa essa matéria, esses ensinamentos... e será sempre
taxado de não gostar de ler. Mas o que ocorre é porque seu espírito pouco
evoluído, não tem essa ânsia de avançar pelo conhecimento, ele apenas lê o
livro que for, mas não assimila o conhecimento que contém nele.
E é por isso que você, criança, tem todos esses dons, e que alguns afloraram
sem você se dar conta disso, de tê-los. Porque a sabedoria de um espírito é
precedida das muitas encarnações. E ainda está longe de ser transmitida,
aberta ao plano material. E mesmo que ele não abra toda a sua reserva, todo
o seu potencial, ele será apenas um “filho na Terra”, mas um mestre no
astral superior, onde ele foi feito pelo Mestre Maior.
E sempre uma coisa depende da outra... Nessa mesma seara, onde há vários
filhos, não tem nenhum deles com o grau de médium magista, pois só
incorporam. E apenas o Pai da seara que tem um pouco de vidência, e isso
pelo seu esforço, nestas eras de Umbanda. E você, com apenas nove eras, já
superou todas as nossas expectativas, pois já tem todos os seus chacras
desenvolvidos.
Desdobramento físico
Quando um ser dorme e que seu corpo está inativo ele (o espírito) se livra
do fardo pesado que é o corpo e, quando ele entra no mundo espiritual, dá
continuidade ao seu trabalho, o trabalho que ele iniciou na Terra, no qual
ele havia firmado compromisso com o Pai da Criação, antes de vir para a
Terra. Então, esse espírito que tem uma missão, que veio com essa sina,
esse selo do Senhor, quer dizer que ele tem uma marca e que veio a Terra
exatamente para isso. Esse ser que tem essa sina, ele não pode fugir a seu
compromisso e mesmo que ele tente contornar por outro lado, por outro
caminho, ele não sairá de seu lugar enquanto ele não cumprir o que foi
designado a ele.
– E eu, meu pai, porque perdi todas as minhas coisas?
– Como o Senhor, o Pai da Criação disse filha, você não perdeu nada, e sim,
ganhará o dobro do que você tinha. Filha, não atormente o vosso coração,
tudo estava escrito. Tudo está dentro do que foi pedido. E você está fazendo
tudo certo.
E Nego continuou:
Agora, você terá que cumprir o que lhe foi pedido. Você não poderá dar um
vintém desse dinheiro a nenhum deles. Você jurou em nome de seu Senhor
e do Mestre Oxalá e diante de mim também. E Ele deu-lhe só uma noite e
um dia, para que recebas esse dinheiro para quitar todas as suas pendências.
Você, filha, tem puro o coração e não vê o covil que é aquele lugar. Minha
criança, foi preciso lhe mandar alguém de longe para mostrar-lhe tudo
claramente, porque nós, filha, nós não temos permissão de esclarecer tanta
podridão.
– Mas eu falei alguma coisa errada? Falei demais?
– Não, filha, você não falou! A moça que vendo a sua tristeza contou-lhe
tudo o que sentia, até as coisas mais recentes.
– Meu pai, foi o senhor que a mandou falar comigo?
– Foi, minha criança.
– E porque que ela disse que amanheceu chorando muito?
– Porque nós colocamos essa dor em seu coração para que ela procurasse de
onde estava vindo toda aquela dor. Ela precisava ter ido esclarecer-lhe sobre
tudo, senão você daria seu dinheiro a quem não merece nem o seu afeto.
Hoje, você foi ungida com o amor do seu Senhor, filha, e tudo vai se
iluminar e você crescerá tanto que, de longe, todos verão a sua luz, o seu
brilho.
– Eu tenho muito medo do amanhã...
– Filha, o amanhã ao Pai pertence. Você sempre fala que confia em Deus,
em mim e nos Santos Cosme e Damião, não é? Então, filha confie que este
Nego nunca mais te deixará sozinha.
E Nego continuou:
Siga em frente que a vitória está em suas mãos, está a um passo de
acontecer, e te brindará com muitas realizações e muita fartura. Apenas
confie em quem sempre ouviu as suas dores, as suas súplicas. Às vezes,
Nego te pede para dizer onde paramos, mas sempre nós sabemos, apenas
queremos confirmar.
Todos os dons mediúnicos são dádivas do Pai maior. Mas os encarnados
não vêem isso como uma bênção, mas apenas o querem ter para se
amostrarem e não como uma dádiva, pois nunca agradecem e estão sempre
a pedir mais e mais. Um filho, quando resgata suas prendas, quando ele
aflora todos os seus dons mediúnicos e que usa esse potencial para libertar
seus irmãos das trevas da ignorância, ele está tentando quitar seus débitos
com o Criador.
Mas tem filhos que, quando apenas já aflorou o dom da incorporação, pensa
que já tem o maior tesouro. Então, ele passa os pés pelas mãos e acaba
perdendo o tão preciosos “tesouro”. E isso acontece com freqüência nos
terreiros da atualidade. Pois os médiuns ficam a criticar seu irmão, a
zombar de um filho em uma sessão de desenvolvimento, quando ele próprio
está precisando de corretivos... E assim, Deus bloqueia seu único dom, sua
única prenda, e o deixa livre para ver e criticar o seu próximo.
Então, quando chegar a vez de mostrar o seu potencial, o seu dom, ele não o
tem mais, então, ele se esforça, se esforça, firma o pensamento de todas as
formas cabíveis, mas apenas roda, balança seu corpo levemente, sem
conseguir a tão sonhada incorporação.
Agora, o outro médium que é sinônimo de chacota e que não tem vaidade,
não quer se amostrar e apenas entrega sua matéria a nós para fazermos o
que tem que ser feito, esse, quanto mais se prende, quanto mais firma seu
pensamento para não incorporar, esse sim, é que trabalha com precisão e
que deixa a todos de boca aberta, e faz com que os que não mais conseguem
incorporar fiquem com ódio, com muita inveja, de não mais conseguir essa
proeza tão simples.
Pois um dom é isso, um dom é muito simples, um dom é a simplicidade, a
sabedoria, o amor incondicional, a pureza em seus pensamentos e a
sinceridade para com todos.
Mas esses pobres filhos, essas pobres almas doentes, não se lembram do
principal fator que faz um bom médium ser forte. Que faz um ser frágil se
tornar uma fortaleza... Ele não vê que isso é o dom que o Pai maior da
Criação dá e que nada nem ninguém na face Terra colocará. Ninguém!
Nenhum babalaô tem esse dom na Terra, o de botar um dom em um filho,
se ele não o tem.
É por isso que ele fica a puxar as correntes, a fazer os coitados rodarem
feito pião. Passam obrigação essa, ou obrigação aquela. Mas esse médium
continua na estaca zero, não sai das simples rodadas, dos simples
estremecimentos. É por isso, caros filhos, que eu estou dando essas
mensagens, esses simples apontamentos para que vocês comecem a atinar
para isso:
• O filho só tem o que ele trouxe consigo do alto, do seu habitat;
• Se ele trouxe um, ou vários dons, ele vai aflorá-lo rapidamente.
Mas isso, porque ele já os trouxe consigo, e apenas está acordando o que
lhe pertence. E não, fazendo, criando o que ele não tem. Você mesmo
criança, pode me dizer se Nego está dizendo a verdade ou não. Pois em
outros apontamentos, Nego já havia dito isso. Mas como voltamos a falar
nesse assunto, será que você pode nos dizer se é verdade ou não, o que
Nego acabou de dizer?
– Sim, meu paizinho, é a mais pura verdade! Quando eu entrei na Seara, eu
já tinha muitos de meus dons aflorados, mas apenas, foram lapidados e
ficaram mais acentuados, mais claros. Eu tinha o dom da vidência, da
audição, da intuição e o desdobramento do corpo. Porque ao dormir, eu já
sonhava, sempre, com o que ia acontecer. Muitas vezes eu ouvia uma voz
que dizia sutilmente: Não faça isso! Ou não vá por aí...
E a vidência, eu sempre via vultos, via espíritos. E por eu ter morado toda a
minha infância na boca da mata, cheguei a ver várias entidades da mata a
passear, do que eu tinha muito medo. Até hoje, tenho muito medo de
escuro, por causa disso, por medo de ver o que está oculto. Uma vez eu
estava brincando em cima de uma árvore e, no cair da tarde, eu vi a caipora,
e ela me fez ficar presa lá em cima, até que minha mãe deu por minha falta
e foi a minha procura. Pra quem não conhece, a caipora é um bicho grande
feito homem e anda em pé, tem cara escamosa como um réptil e os olhos
grandes. Seu corpo é verde, e em sua cabeça tem vários olhinhos coloridos
que brilham no escuro.
Há pouco tempo atrás, eu trabalhava e morava nos fundos de uma grande
casa, onde na frente era a loja e no quintal construíram uma suíte
independente do resto da casa. Eu achei muito lindo o lugar, por ter uma
grande janela de frente para o nascente que me permitia ver o sol e a lua. E
logo nas primeiras noites eu vi um Exu... o que na época eu achava que era
o demo, porque ele era todo vermelho e seu corpo não tinha roupa. Tinha os
olhos vermelhos e nas mãos ele usava um garfo de exu, um tridente de exu.
Então, ele se esticou no teto do quarto, de maneira que ele ficasse sobre
mim, na cama e do alto, no teto do quarto ele tentava me espetar com o
garfo. Eu acordei desesperada, e ainda ouvi sua gargalhada.
Nessa época, eu não freqüentava nenhum terreiro, nem nenhum local
espírita ou sequer as igrejas, por eu não gostar dos padres. Por isso, eu não
sabia do que se tratava. Mas quando eu entrei na seara eu perguntei ao Guia
o que tinha sido aquilo, e ele me disse que ali, naquela casa, há algum
tempo atrás tinha sido um terreiro e que naquele lugar, onde eu fiz meu
quarto, era a casa de Exu, e o povo fazia matança até de bode. E ao se
mudar, eles não desfizeram o assentamento que havia lá.
E realmente, esse quarto era no fundo do quintal, fora da casa, totalmente
isolado do resto da casa. E o mais interessante é que eu só dormia com a luz
acesa, por causa dos muitos vultos que eu pressentia por toda a casa. Onde
eu estivesse a luz tinha que estar acesa. Mas, mesmo assim, eu o vi limpo e
claro. E nunca mais dormi lá, pois na mesma noite passei a dormir na sala.
Foi uma experiência horrível! Agora, do dom da incorporação eu nunca
havia tido nenhum prenúncio.
– Obrigado, minha menina.
E Nego continuou:
É porque o dom da incorporação só aflora em algumas pessoas, quando ela
entra em uma seara. Em alguns filhos, eles já o trazem desenvolvido do
astral e incorpora sem precisar de desenvolvimento.
Um ser, quando nasce, ele já trás o seu destino traçado. Ele trás toda a sua
coroa, todo o seu corpo mediúnico pronto, feito desde o seu mundo astral. E
quando ele nasce na carne ele já o trás consigo. Mas apenas o aflora com o
caminhar da vida terrena. Isso, se o filho se dá de coração. E se usa esse
maravilhoso potencial em benefício de seu próximo, ele multiplicará todos
eles e aflorará a todos e até poderá ganhar mais alguns.
Porque um espírito é imensurável e indivisível. E quanto mais ele o usa
para o bem, mais ele ganha de seu Mestre “suas prendas, suas jóias”. E foi
isso que aconteceu com você, devido você ter abaixado sua cabeça, ter
engolido o orgulho e ter sido humilde. Então o Pai aflorou de uma só vez
todos eles.
– Mas ninguém acredita em mim!
– Mas é aí que está a sabedoria divina! Pois enquanto todos eles acham que
você não tem nada, nem um dom, você tem mais força do que todos juntos.
E sabe por quê? Porque você foi “feita” por Ele, foi criada pelo Pai Maior.
E essas feituras da Terra, nada são diante de sua magnitude, de sua
sabedoria.
– Mas eu só queria que todos gostassem de mim!
– Ah! Minha menina, eles jamais gostarão de ti, porque quem habita aquela
coroa não quer ser vencido! Não quer perder seu trono. E se ele deixar que
você cresça, ele sabe que você os expulsará de lá. E por isso eles não
gostam de você, pois até os êres 7 baixos que habitam lá debocharam de ti.
Mas não tenha medo, porque eles não podem te fazer mal. Eles apenas a
insultam, a ignoram, mas não podem mais prejudicá-la...
– Mas por que aquelas outras pessoas, o casal, me prejudicou tanto? Por que
eles conseguiram fazer com que eu perdesse tudo o que eu tinha? E por que
os meus Guias permitiram e não me avisaram?
– Filha, esses são desígnios do Mestre, para que se cumprisse o que foi dito!
Que um ser não precisa de feitura na Terra, porque ele já vem com tudo
feito, traçado desde o seu berço. Mas se você soubesse de tudo, ia por tudo
a perder, porque você não iria continuar lá e desmancharia tudo.
E Nego continuou:
E por isso, o Criador permitiu que sua filha padecesse para que Ele
conseguisse limpar uma eira, que a três gerações Ele vem tentando assumir
o controle. E só por isso, nós não te dissemos nada, porque se você
soubesse disso no começo, quando ainda não estavas preparada para
combatê-los com sua fé, com seu amor, com seus dons, eles a teriam
vencido antes de você cortar o elo que os liga aquele local.
Por isso, é que para tudo tem a hora derradeira, e tudo tem que estar com os
traços certeiros para que nada saia errado. Porque senão, tudo teria caído
por Terra, se você não tivesse esses anos todos em aprendizado na Terra
para resignar-se, isolar-se, separar-se deles para não estar na mesma panela,
na mesma lama.
7 Crianças ou entidades mirins, ou Cosme e Damião.
Não é filha? Não é verdade que quando você entrou ali, você tinha alguns
vícios, algumas vaidades?
– É verdade, meu pai.
– E também que você aboliu tudo de sua vida para ficar exclusivamente
com nós. Deixou até as músicas que você tanto gostava?
– Foi isso mesmo, meu pai. Eu hoje me despi de tudo, de todas as coisas do
mundo material para servi-los. Até as músicas de que eu gostava muito,
hoje eu não ouço. Não vejo televisão, não saio para lugar nenhum, a não ser
para o trabalho e para ir à seara. Minha vida resume-se apenas nisso,
trabalhar, trabalhar e trabalhar.
– Pois é isso, meus filhos! É isso que faz a diferença. É isso que a fez ser e
ter tantos dons ao mesmo tempo, onde, na atualidade, um médium tem
apenas a incorporação, e mal! Você tem sete chacras abertos juntamente
com os dons trabalhando em benefício de um todo. E isso é uma bênção do
Pai da Criação, uma aberração da natureza.
E eles ainda não acreditam em você, filha. Mas antes de criticá-la, esses
sabichões deviam fazer o que você faz, deveriam trabalhar mais e criticar
menos. Porque, quanto mais eles criticam, mais você evolui, e isso, por não
ligar para eles. E com as críticas, menos eles sobem, e sim, caem, caem ao
invés de galgar esses tão preciosos degraus do saber, da evolução. Onde um
ser deixa de participar da vida mundana para dedicar-se a nós.
E é aí que eles se estreparam, pois não deixam de fazer nada, por nós. E isso
é ruim! Porque, apenas vez por outra, ficam no isolamento para
proporcionar-nos uma melhor compreensão dos seus deveres de pais, mães
ou filhos-de-santo. Como é que um pai ou uma mãe é “feito”, se diz “feito”,
com tantas eras de sacerdócio, fica estendido em um chão como um
Kiumba 8? Fica incorporado por um espírito do mundo dos encarnados, uma
alma penada?
Isso é uma falha de pensamentos... Isso é colocar a ambição, a luxúria, a
bebedeira à frente de seu pensamento. E tudo isso, atrai essas pobres
almas... E quando sua matéria está desdobrada, ela fica vulnerável.
– Com sua licença, meu paizinho?
– Nego já sabia o que minha criança queria, queria que Nego colocasse isso
nas escritas. E isso é uma página muito importante. Filha, quando um ser,
um médium, seja ele feito ou não, que se dispõe a nos receber em sua aura,
esse médium tem que limparse, esquecer as coisas mundanas para doar-se
de corpo e alma a nós.
E Nego continua:
Mas o que vemos, é que os filhos, entram para uma gira de Umbanda, uma
girada de luz, de caridade, de benfeitorias para a vida dos muitos espíritos
enfermos, com a mente suja, com pensamentos mundanos... E assim, após
sua matéria estar desdobrada, ele puxa esses espíritos, que já estavam
circulando suas energias pesadas. E assim, quando seu espírito, ao se
desdobrar para “trabalhar”, esses espíritos entram em seus campos
vibratórios fazendo-o ter vícios... Fazendo um Orixá de luz ter malícia, ter a
libido de um ser encarnado.
Não era isso que minha filha queria saber? Não era?
Agora, tem só mais uma coisa: o coração puro, a fé, o amor incondicional, a
caridade, o desprendimento das coisas terrenas fazem com que um médium,
ainda em desenvolvimento consiga ser “feito”, consiga elevar-se mais do
que um Pai ou Mãe com milhares de eras de seu sacerdócio. E ela, essa
criança, põe no chinelo qualquer um deles, por causa dessa força interna.
8 Espíritos de baixo teor vibratório, espíritos que habitam as camadas mais baixas das esferas.

Agora, a outra questão é muito mais complicada e devemos nos aprofundar


um pouco mais nesse assunto para servir de aprendizado aos muitos seres
dessa atualidade. Quando se tem uma missão, um dom, um carma, tem que
se abster, tem que se isolar das coisas materiais. Mas isolar-se não apenas
porque é pedido por seus Guias, mas tem que ser do fundo da alma! Tem
que ser com amor!
Pois isso o que acabamos de relatar, são acontecimentos que vocês verão
em eras futuras. Nós sabemos que isso é difícil, mas que não é impossível,
pois com o próprio crescimento interior, com a oração e doando-se
voluntariamente se consegue maravilhas.
Mas se o ser diz uma coisa e faz outra em sua mente, em seu coração, aí
acontece o que vimos. Pais e Mães com quase meio século de sacerdócio,
esticado, caído no chão gruindo, sendo cavalo de uma alma penada ou de
um espírito de baixo teor vibratório. E isso, é para os ditos “feitos” que
feitura não existe, o que existe é um dom dado ao ser no berço da
espiritualidade.
E que isso sirva de lição para esses que não te dão nada. Não atinam que
esse filho pode ser uma jóia rara, que são dons muito caros e que eles
excluem, riem e o desprezam, ignoram, maltratam o quanto pode, apenas
por simples ignorância.
Mas isso se faz para que se cumpram os desígnios desse Mestre, de quem
tudo já vem escrito, prescrito por Ele, e ninguém, na face da Terra desfaz
essa feitura, feita em seu seio Angelical. E que mesmo esse ser sendo
escorraçado, ele ainda chora por sua amizade, por seu amor, por seu
reconhecimento... Mas não por seus dons raríssimos, e sim para apenas ser
reconhecida como filha.
É filha, está aí abrindo mais estas páginas, mais esse mistério dos dons
mediúnicos para esses muitos sabichões. Vejam bem, uma seara, mesmo
que bem firmada, mesmo que seus Guias sejam alimentados com carne
crua, sem sacrifício animal... Vamos separar para que fique bem claro:
Primeiro, na seara se faz sacrifícios, tem tudo para se atrair espíritos de
baixo teor vibratório. Mas por seu dono, o médium ter a mente mais clara,
clara em desejos, e que ao entrar para nos receber, e receber apenas nossos
auxiliares mais baixos em vibração. Vejam bem! Mais baixos em vibração!
Mas que não tem o coração pervertido e que ao entrar, se dá de coração,
esquecendose de sua libido sexual ou material. Então, ele apenas recebe
espíritos de teor baixo vibratoriamente, mas não recebe, não incorpora
almas penadas, nem fica em todas as giradas estendido ao chão.
E isso apenas, porque ao entrar para trabalhar, para nos receber, este ser se
dá de coração, se entrega sempre, doa-se em seu papel de Mãe ou Pai...
Segundo, mas nesse outro exemplo, em outra seara, o filho não tem vícios
de bebidas, de luxúria... Aparentemente, mas tem isso em seu íntimo, em
seu ego. Ele se dedica, limpa sua casa de fora, mas mantém esses vícios em
seu coração. Ele não sai, não bebe, não tem ambição, luxúria nessa casca
grossa, mas tem isso em seu íntimo, no mais profundo de seu ser. E quando
ele entra para nos receber, não consegue apagar todos esses quesitos de sua
alma, de seu espírito.
E mesmo tentando passar uma pureza, aos seus filhos, esse Pai, ou Mãe,
não consegue se libertar dos vícios terrenos que está contido no mais
profundo de sua alma, mesmo estando de frente da gonga9 para nos receber.
E quando sua matéria está desdobrada, o seu espírito carregado de luxúria
descarrega tudo em seus Guias, e eles jogam suas libidos em plena seara.
Então, quando os ditos Guias sobem, as almas penadas entram em seu
campo vibratório por ela conter energias pesadas de pensamentos
carregados de armas terrenas e de espíritos armados de muito baixo teor
vibratório. E é aí onde a fortaleza desse Pai ou dessa Mãe, desse filho que
não sabe separar seus vícios, por não vivê-los... cai e passa uma coisa que
na verdade não lhe pertence.
9 É o altar da seara.
Seria melhor que ele extravasasse esse seu lado humano para poder
equilibrar suas carências psicológicas dos organismos vivos, seus instintos
carnais, para só assim, purificar seu espírito carregado de energias pesadas.
Terceiro, é o caso de um filho, um ser sem formação sacerdotal, dotado de
uma pureza tocante. Sem vícios, sem vaidades, com uma alma cristalina,
limpa dos vícios, das vaidades dos desejos terrenos. Mas limpa do fundo de
sua alma. E por isso seu espírito é cristalino de puras ações, gostos e
desejos. Livres das coisas do mundo, mas por pura e espontânea vontade. E
mesmo estando em um lugar pesadíssimo, consegue sair limpa, sem
nenhuma energia pesada por não captá-las em seu tão puro coração, em sua
tão pura alma.
Um ser cristalino, puro não capta energias de ninguém, ele apenas suga de
seu Senhor. Ele as recebe do alto e as passam às outras pessoas e nunca
capta de ninguém. É por isso que quando um ser se aproxima de você, ele
pára porque ele sente a força de sua energia pura e tenta captá-la. Só que ele
não recebe essas energias, ele leva as energias densas e dá aos mentores que
sempre a acompanha, porque um ser como você, filha, está sempre
escoltada por seres de puríssimas energias, dos Guardiões de direita e de
esquerda para protegê-la dos espíritos do submundo e por isso eles não se
aproximam de você. E também, porque esses seres só se aproximam de
seres com as mesmas energias deles.
Exemplo: se o filho só tem coisas boas em seu coração, só atraem seres
bons de energias boas. Mas se o filho tem a luxúria dentro de si, ele só atrai
esses espíritos, por ter essas grossas energias. E é por isso que dizem:
“Diga-mecom quemandas que
tedirei quemtués”. E essa é a mais pura verdade, porque um malandro só
anda com gente que gosta das mesmas coisas que ele. Uma criança só anda
com uma criança e vice-versa.
E isso só para explicar o dom da audição e o da incorporação. O dom da
incorporação é um dos mais magníficos dons, e onde um ser tenta
extravasar o que está em seu mais profundo pensamento. Todos vocês estão
na Terra para serem provados, mas a prova maior, mais dura, é a prova das
doenças. Todos os seres, quando estão debilitados, necessitam da ajuda de
seus irmãos, de seus mentores. Pois todos precisam de ajuda para continuar
vossos carmas, porque o que o ser tem que passar, ele passa! Apenas o Pai o
ajuda a continuar caminhando. E mesmo que suas metas não dêem certo,
têm que continuar adiante com as bênçãos do Criador.
Quando um espírito incorpora, ele está tentando ter seus muitos dons, ele
está tentando lapidar a matéria do filho. Há médiuns que lembram de
poucas coisas quando estão incorporados. E já há outros que não se
lembram de nada. A seara é muito sólida em suas comunicações.
“Ninguémpodepassar ocarroadiantedos bois”,mas pode ver o quanto ela é
fantástica. Ao lembrar-se de como se fica submisso diante das provas.
Eu Nego Gerson trabalho,
É com São Cipriano e Jacó
Eu trabalho com a lua e o vento
Eu levanto é com a lua e o sol.
Eu trabalho pra levantar meus filhos
Eu levanto é com a lua e o sol...
Trabalha, trabalha, trabalha Nego
é com são Cipriano e Jacó
ou trabalha é com a lua e vento
e levanta é com a lua e o sol.
Quando um ser está incorporado e o Guia toma todo o seu mental, o ser
passa toda a noite dançando e cantando sem que seja necessário descanso,
pois ele está gastando a energia de um espírito e não a sua. E um espírito
para ficar nesse estado, tem que estar incorporado, montado em seu cavalo
e não, como dizem, que o espírito apenas fica acoplado à mente do outro
ser.
Um médium bem desenvolvido, ele já tem maturidade, então o espírito
acopla-se ao perispírito do médium, ele sente-se como se estivesse dentro
do outro ser. É por isso que se diz que, “uma pessoa está dormindo”,
quando está incorporada. E é verdade o uso do termo “despertar” a um
médium quando ele está incorporado e que seu Guia vai deixá-lo. Porque é
como se ele estivesse realmente dormindo. É como afastar o espírito do
médium e entrar no cordão cristalino que o filho tem.
No caso, são três os cordões que ligam o corpo ao espírito, e ele entra nesse
cordão vibratório do chacra coronal que é o da cabeça, afasta seu espírito e
entra nessa corrente. E assim, ele fica sendo o dono desse corpo até que a
desincorporação aconteça e o seu verdadeiro dono retorne. Agora, ele
realmente tem a posse de um corpo que não é seu. E é por isso que o
médium fica a mercê desse espírito. E ele usa esse veículo e o faz fazer e
falar coisas diferentes do cotidiano do médium.
Quando uma incorporação é parcial, o médium se lembra de tudo o que
ocorreu e até tem como controlar seus movimentos, tem como mudar o que
o Guia quer fazer, mas quando ela é completa, e não apenas parcial, o
médium perde totalmente o controle de si, de seus atos e, se ele teimar em
controlar seu corpo, ele cai! Cai porque seu espírito está longe e ele está à
mercê de seu mentor espiritual. E ele, nesse estado, não é mais o dono de
seu próprio corpo, ele é apenas o “ajudante” e está ajudando a auxiliar, a
trabalhar.
Já disseram até que um médium leva uma pancada na cabeça e apaga...
Claro que ele não apaga e nem leva essa tal pancada na cabeça. Mas ele
dorme, ele apenas adormeceu e deixa livre seu veículo para emprestá-lo ao
outro espírito. E assim, esse outro espírito tem gostos, vontades diferentes
das do outro. E não faz mais nada do que o antigo espírito, seu verdadeiro
espírito fazia.
Mas é difícil achar médiuns que se doem totalmente. Que fique totalmente
com sua mente tomada por seu mentor. Porque para que isso ocorra, um
filho tem que estar com o corpo e a mente limpos e se doe de verdade ao
seu trabalho para que, ao botar o pé em sua seara e dar de cabeça para
trabalhar, ele deixe do lado de fora tudo o que pertence ao seu dono. E
assim, ele entra para o seu “trabalho” com a mente e o corpo livres das suas
antigas vontades.
E para isso, é preciso anos de dedicação e de entrega, sem que seja preciso
que esse filho seja “feito” para que isso aconteça. E sim, apenas que ele se
doe de coração e que, ao entrar para o seu “trabalho”, para a sua entrega, ele
feche sua mente às coisas terrenas e à sua vida tanto pródiga quanto
pregressa. E assim, ao mentalizar a nós, os Guias, nós tomamos toda a sua
consciência e trabalhamos com o veículo carnal, movimentando-o da
melhor forma. Deixando-o com o nosso jeito. O corpo a voz o jeito, tudo
muda quando a incorporação é completa.
Agora, se é parcial, o ser não muda sua voz e também não muda seus
trejeitos. Ele apenas trabalha, mas está vendo, ouvindo tudo o que está se
passando ao seu redor, porque a entrega não foi total, e sim, parcial. Mas
quando o ser se dá de corpo e alma a seu Guia, ele não vê nada ao seu redor
e apenas ouve vagamente o que está ao seu lado, mas não reconhece quem
está dizendo isso ou aquilo.
Existe uma infinidade de incorporação, mas a mais comum é a que apenas o
Guia entra parcialmente em sua coroa. Agora, quando o ser muda sua voz e
que usa o ectoplasma de seu mentor, e não o do médium é raríssimo, porque
assim, ele não sente o que está ao seu redor. Você mesma já nos deu prova
disso, quando está apenas irradiada, encostada. Quando o seu mentor a
irradia, o que você sente? Diga, filha?
– Ao entrar na corrente e ouvir o som dos atabaques, a princípio o som alto
me incomoda a ponto de eu ter que fechar os ouvidos com os dedos. Depois
de alguns minutos eu saio de mim e o som não me incomoda mais. E eu não
mais me coordeno. Mas eu ouço e vejo só a minha frente. E não fico a olhar
para todos os lados e apenas para um ponto X e, na maioria das vezes, eu
fico de olhos fechados e o Guia faz o meu corpo girar em uma velocidade
impressionante, fazendo-me rodar muito forte, sendo impossível a um ser
em estado normal fazer. E mesmo que eu quisesse, eu não conseguiria rodar
tão rápido sem ficar tonta ou, simplesmente ofegante.
Pois eu posso rodar 360º em alta velocidade sem cair, sem perder o
equilíbrio, sem minha respiração ficar ofegante, mantendo-me, ao parar,
calma e tranqüila como se eu estivesse sentada em descanso. E uma coisa
interessante é que eu, ao parar de rodar, fico abrindo a boca como se eu
estivesse bocejando, com muito sono. E isso começa desde o início das
giras. Por isso, mesmo estando dançando e rodando durante muitas horas eu
não sinto cansaço. É como se eu estivesse chegado a poucos minutos e não,
a 3 ou 4 horas atrás.
– E você se lembra de tudo o que ocorreu no centro, na gira?
– Não, eu não me lembro de quase nada. Lembro-me apenas de pequenas
coisas, esquecendo-me da maioria delas. Às vezes quando eu fico apenas
irradiada, e que estou no meu lugar, na corrente, e que o Guia dá um recado,
uma obrigação passada aos filhos da casa, eu esqueço. Já fiquei até sem
fazer uma obrigação por não me lembrar que o Guia havia dado a
mensagem na gira para todos os filhos.
– Obrigado, filha. E essa é a incorporação inconsciente onde o filho perde
totalmente a noção das horas e das coisas ao seu redor. Apenas ficando uma
vaga lembrança dos pontos cantados. É como se o espírito estivesse
realmente adormecido.
Audição
O dom da audição é o mais completo dos dons e, nele juntamente com a
vidência, o filho ouve, vê e passa para o papel o que nós, os espíritos
estamos dizendo. O mais impressionante disso é que a psicografia apenas
usa a mão, ela não usa o ouvido... Agora, você usa os ouvidos, a vidência e
a sensibilidade. Porque é como se você estivesse incorporada, pois escreve
com rapidez e sem errar. Ouve-nos primeiro e passa para o papel.
E esse se torna o mais perfeito dos dons, pois até a letra se modifica, fica
diferente da letra do médium. E o médium fica em um estágio de letargia
que faz o seu espírito apenas relaxar... E só a mão, os olhos, os ouvidos
trabalham.
E se o Guia, se eu parar de falar, o que você sente filha? Se o meu
pensamento não lhe transmitir mais minhas frases para o seu cérebro, o que
você sente? Você consegue escrever sozinha alguma coisa?
– Não, meu pai. Quando o senhor para de me transmitir as palavras, eu sinto
a minha mente vazia. Como se ela parasse, aquietasse, ficando oca. Como
se o senhor fosse eu e eu fosse o senhor. Porque ao ouvi-lo, eu escrevo
imediatamente, juntamente com sua voz, e não, ouvir e depois escrever.
Mas, como se eu mesma estivesse pensando e colocando no bloco, como se
nós dois fossemos um só espírito com uma só mente, uma só vontade.
Como se eu sozinha escrevesse, pois as palavras saem em turbilhões do
mais profundo de meu ser, sem que haja pausa.
E mesmo agora, que eu estou escrevendo sem ouvi-lo, é como se o senhor,
o próprio Guia estivesse escrevendo através de mim. E que o meu
pensamento fosse o seu e o seu o meu pensamento. Como uma só pessoa,
um só espírito. E não duas mentes, e sim, uma, apenas uma mente.
– Minha criança, isso que você está me dizendo é magnífico! Então, não é
como se eu ditasse as palavras e você as ouvisse primeiro e só depois as
escrevesse?
– Não. Eu as escrevo no mesmo momento em que eu as ouço. Como se eu
ainda fosse... Como se eu não fizesse parte dessa jornada, pois quando eu
termino, não sei o que escrevi. E se o senhor silenciar a sua mente eu não
mais me lembro o que eu mesma acabei de escrever. Será que seu espírito
está no meu corpo e o meu no seu? Mas o senhor não tem mais corpo, meu
pai?
– Há! Há! Há! Não, minha criança, Nego não tem mais esse veículo. Mas
isso são dons que o mestre vos deu e que nós apenas nos sentimos honrados
de poder compartilhar tantos momentos tão verdadeiros com um ser como
você. E isso é de espírito para espírito. É como se sua mente se acoplasse ao
desse Nego e nós fossemos apenas um espírito. Porque o meu acoplou-se ao
seu ectoplasma e unificou-se, tornando-se um só espírito, um só
pensamento. É por isso que não há espaço entre uma palavra e o
pensamento. E que você as escreve como se fosse dita, sentida por você e
não dita por mim. E tanto é assim, que até a sua letra se modifica, fica
diferente da sua.
– É por isso que eu digo que não sou eu quem escreve, não sou eu que diz
essas coisas tão sábias e lindas.
– E você sente o que eu estou sentindo agora?
– Sinto sim. O senhor está muito feliz e calmo, parece até um velho e bobo
pai. Está como se estivesse sentado, com a mente calma. Com sua mão no
queixo, como se estivesse pensando, concentrado, passando, transmitindo o
seu pensamento para mim. Sem nem mesmo se mexer. Está sentadinho bem
concentrado no que estamos fazendo.
Agora o senhor mudou de estado e está como se estivesse de pé. Só que é
uma coisa um pouco vaga, como se não existisse ninguém comigo e eu
apenas estivesse imaginando que o senhor está fazendo tudo isso. É como
uma imagem criada no fundo de minha mente.
– Mas é isso mesmo que acontece, filha. Nós enviamos essa imagem para o
seu subconsciente, para a sua alma. E na verdade, eu não estou sentado ao
seu lado, e sim, é apenas um filme feito, projetado e enviado para você. E
quando Nego te pergunta e que, você responde, como é que você me sente?
– Eu sinto que o senhor é que responde tudo. É que eu não me sinto eu. É
como se eu tivesse outro pensamento, como se outro espírito entrasse em
minha sintonia e falasse em meu lugar.
– Obrigado, filha. Esse é o dom mais completo que há na face da Terra. Mas
temos que encerrar por hoje, porque a força da natureza destrói a barreira
que há de proteção. Amanhã nós continuaremos.
Ele referiu-se à chuva forte que começou a cair. Ele disse que quando nós
começamos a escrever, ele coloca uma espécie de rede, uma tela de
proteção sobre meu quarto, para que nenhum espírito indesejado fure a
segurança e nos atrapalhe. E a chuva desfaz essa rede.
Uma vez, nas Terras do Caboclo Arranca Toco, em uma gira de esquerda,
pesada, de desmanche, na qual teve vários sacrifícios de bicho de pena e
entrega, e que terminou lá pelas duas da madrugada, eu fui dormir logo
após seu encerramento, onde eu sempre gostei de ficar, na varanda, do lado
de fora da casa. Dormi o primeiro sono e em seguida acordei assustada com
uma preta velha a passear entre os que dormiam e, no susto, ainda meio
dormindo vi essa rede sobre toda a extensão daquela varanda.
A lua estava muito clara e fez uma espécie de sombra naquela rede. Ela é
parecida com uma rede de pesca, não muito clara, como se fosse encardida.
Essa é a tela que meu Pai se referiu.
É maravilhoso poder ver o que um amor verdadeiro não faz na vida de um
ou de vários seres. Porque se não fosse essa fé, esse amor puro por todos,
por esse filho dedicar-lhe o mais puro afeto, seu amor conseguiu
desmanchar o mais baixo teor vibratório de uma Seara, que há muito tempo
estava atirada nas trevas da ignorância.
Por que, os seres acham que para ter força em sua coroa, um filho tem que
ser “feito” no santo? Tem-se que fazer milhares de obrigações... que pra
nada servem, porque quando o Criador manda alguém pronto para concluir,
para cumprir uma missão para Ele... Sim, pois a feitura, meus filhos, essa
feitura não é dada a vocês na face da Terra, e sim, já vem com o filho desde
o seu mais antigo reencarne.
E para cada filho, para cada ser, o Criador deu uma centelha, uma missão
para que, com cada uma de suas vitórias, ele conseguir ser um mestre das
artes ocultas, com vários predicados.
Esse mestre escolhe os filhos certos para colocar no lugar certo, na hora que
Ele acha que já está bom o sofrimento de todos... E nesse padecimento
incluiu até o seu filho dileto. Porque senão, se o filho dileto também não
padecesse, ele não ouviria o seu Mestre, não cumpriria o que Ele lhe
pediu... Isso por não estar necessitando de ajuda, de amparo. E é por isso
que todos padecem juntos, para que, quando Ele pedir, esteja rico de ajuda e
carente de benefícios. Então, esse filho abraça a sua missão para erguer-se e
tentar erguer o rebanho que o Pai colocou em seu caminho, para que ele, o
filho, com seu amor, seu coração puro consiga elevar-se e elevar a quem a
muito nas trevas se atirou.
É bonito, é magnífico um ser ainda criança, em formação na face da Terra,
desvendar o mais macabro dos feitiços, que foi feito por um mago negro.
Foi tão bem feito, que nenhum Pai ou Mãe “feitos” com quase meio século
de vida em uma seara descobriu... E um filho que foi escorraçado, que foi
expulso de sua mesa, de seu seio de amigos, de filhos, por pura ignorância.
Mas que, com apenas poucas eras de seara, livrou-os dessa maldição que a
quatro gerações vinha fazendo vítimas lá. E que o Pai já estava por deixar
findar o derradeiro minuto, a derradeira luz porque lá, meus filhos, lá
imperava a luxúria, a vida fácil, as bebidas que são muitas...
E com isso, todos se afastaram do amor maior e caíram todos, na lama, na
mais profunda escuridão, que é a escuridão das almas nas trevas da
ignorância. Porque, quem cai nelas, meus filhos, só vêem onde estão
quando alguém, um filho cristalino que consegue, através de sua aura,
limpa-los um pouco.
E já está surtindo efeito tanto empenho, tanta dedicação. Agora, é só esperar
algumas luas para que tudo floresça abundantemente e acabe de extirpar os
únicos pés de ervas daninhas que estão teimando em permanecer lá.
Mas que, com os poderes de Deus, logo, logo serão extirpados pela raiz.
Pois o Criador já está preparando uma nova vida para todos, porque não
adianta se dar e tentar limpar tudo conosco se o Pai da Criação não mudar
de dentro deles, o coração, dando-lhes um coração novo, cheio de ervas
novas e bons ramos.
Pois ao cair o saldo dos espíritos que está na lama, todos eles serão
rigorosamente provados.
A personalidade de cada um
Nego Gerson
Nego falará sobre a personalidade de cada filho, para que seja colocado,
também, no livro da mediunidade, pois este será o mais completo livro a
abordar vários temas e que falará sobre os médiuns, os filhos de Umbanda e
suas funções na tenda.
Agora eu direi como é ser um médium, esse veículo tão usado por nós, os
Guias de Umbanda, mas também tão mal interpretado, por não saberem
como atua e age um verdadeiro filho de fé. E por isso, eu abrirei esse
capítulo.
Os médiuns, os filhos de fé nas correntes mediúnicas de
Umbanda.
Todo médium é um templo vivo de seu Guia, de seu Orixá. Ele é uma
centelha desse chefe que atua em sua aura e que, através dele, fluirá a partir
dos muitos filhos enfermos.
Se todos soubessem como é importante esse filho, o filho de uma Seara... se
todos se dessem mais, se dedicassem mais aos seus trabalhos e suas funções
de médiuns, de veículo de nós, os espíritos Guias dessa imensa religião,
dessa imensa hierarquia de fé.
Mas enquanto uns se dedicam, empenham-se de verdade, doando-se com
esmero, outros nada fazem e nem se dão ao trabalho de ao menos zelar por
seus “templos vivos”, que são seus corpos... E jogam anos de experiências
na lama, na escuridão das almas sofredoras.
Mas agora, depois desse livro, depois que o Pai maior nos deu essa chance,
essa dádiva, que é você filha 10, que nos capta, nos ajuda a esclarecer a
tantos itens importantes à evolução de tantos filhos ou, até mesmo, aos
muitos pais e mães no santo que têm seus graus na Terra, já acham que são
o “Pai e a Mãe da verdade” e que nada mais precisam saber.
10 Referindo-se à médium psicografa.
Ora, meus filhos, a sabedoria é infinita porque nós, os espíritos, estamos
sempre em ascensão e, por isso, temos sempre muito a esclarecer-lhes sobre
nós e sobre esses dons que o Pai vos deu e que nem todos têm. E se não têm
é porque ainda não mereceram ter, não fizeram por onde receber de volta
suas prendas.
Mas que o Pai possa abrir-lhes as mentes e que, num futuro próximo, possa
ter mais filhos portadores de dons para nos servir. Hoje eu estou aqui, de
volta, a lhe dar esses ensinamentos e sou-lhe muito grato por me receber
com o mesmo empenho de quando lhe foi dado o primeiro manuscrito. E é
por isso que você ainda tem muitos manuscritos pela frente, para escrever.
O meu já está nas mãos de todos e logo, logo todos os outros também.
Porque, a porta que Nego disse que estará aberta, está quase encaminhada,
está faltando muito pouco. E por isso tens que continuar o que estas fazendo
para que, quando tudo começar, quando estiveres a dar palavras a todos...
Não é aparecer, é porque o tempo ficará muito mais curto.
Mas que nós lhe possamos dar sabedoria para não nos atrapalhar. Mesmo
porque você não poderá ficar exposta a nada e sim reclusa em seu tão
pequeno mundo, onde estás segura e tranqüila, longe do barulho e da carga
que os seres terrenos irradiam. Quando o filho é como você, tem sempre
muitos Guias a lhe proteger. E, também, esse Nego que jamais te deixará!
Em cada seara há, no mínimo, 10 médiuns ativos que já incorporam e que
nos recebe com o dom da incorporação. E há, também, os que apenas ficam
nas correntes para nos ajudar a dar, a fazer uma ponte, uma barreira
vibratória para que se conclua o que nós começamos com os filhos, como
uma cura, um levante, uma ajuda...
Nós, os Guias, temos muita força sim, mas muitas vezes precisamos desse
corpo para que possamos nos expressar aos filhos, porque nem sempre
encontramos filhos com o dom da audição. É por isso é que incorporamos,
para tornar fácil curar ou ajudá-los.
Já pensaram se mais filhos nos ouvissem com perfeição como você? A pé,
nas ruas ou em qualquer lugar nos ouvissem e pudessem ajudar aos
espíritos rapidamente, sem precisar de rezas, rituais ou velas para firmar a
gira? E sim, apenas olhássemos dentro dos outros e víssemos suas
enfermidades e através dos médiuns receitaríamos o remédio ou os banhos
para seus males.
Ah! Que magnífico seria este mundo! Sem tantas violências, sem tantas
ambições que nos impede de trabalharmos, por ter que esperar a noite, ou a
hora das giras por causa do barulho, da algazarra que as muitas festas e
bares fazem...
Nego, filha, muitas vezes se emocionou ao ouvir seu coração, quando dizes
várias vezes que “é muito feliz por ter esse dom, eporpoder nosservir”.Isso
é muito gratificante para um Pai, para um Guia, ouvir de sua filha, que se
sente feliz por poder nos ouvir e poder nos auxiliar e também aos muitos
irmãos na carne. Que nós possamos sentir sempre seu coração, e que tenhas
sempre um pouco mais de fartura para não precisar contar as moedas para
fazer algo.
Filhos de Oxalá
Os filhos de Oxalá são todos os médiuns, pois os caminhos, a senda
evolutiva começa em Oxalá e vai descendo até a última fila que é o da mãe
Iemanjá. E começa assim...
Oxalá – Oxalá
Oxalá – Oxum
Oxalá – Oxossi
Oxalá – Xangô
Oxalá – Ogum
Oxalá – Obaluaê
Oxalá – Iemanjá
Esse que é o último do eixo vibratório e depois dessa encarnação os filhos
não mais necessitam voltar a Terra. Mas só os que aceitam seus dons e que
trabalham na vida em prol de seus irmãos na carne. E assim, quitarão todos
os seus débitos e ficarão com saldos para que possam estagiar em mundos
mais sutis. Se todos soubessem aproveitar essa vida na Terra para o bem
maior, que é a caridade, o amor ao seu próximo, assim, não sofreriam tanto.
As maiores doenças, os meios mais difíceis são os que os espíritos
encarnados fazem com seus dons: contam detalhes de seus dons em favor
de seu próximo, de seu irmão, e por isso padecem com doenças que os
médicos chamam de doenças da mente, ou chamam de tumores malignos e
que dão o nome de câncer, ou de doenças degenerativas dos tecidos. Mas na
verdade as degenerações são do espírito, da alma esquecidas por essas
pessoas. Esses seres são, na verdade, seres que se afastaram de seus dons
ancestrais e que nada fizeram para se aproximarem de nosso Senhor. E eles
são muito avaros, são pessoas que tem até um pouco de fé, mas que estão
distante de suas verdadeiras missões.
E por isso o Pai os prova com rigor, para que eles atinem para o que
firmaram com seu Senhor e cumpram esse compromisso. Mas na maioria
das vezes, chega o dia derradeiro e eles partem sem nada fazerem. Por isso,
quando vemos um ser padecer muitas vezes não podemos ajudá-los porque,
na maioria dos casos, nada mais podemos fazer por eles. A não ser eles
próprios que devem fazer por si, deve levantar-se com suas próprias
pernas... pois, se isso fizerem, com o passar dos dias, as provas não mais
existirão.
As mentes humanas são uma verdadeira caixa de surpresas, são como um
enorme gravador, que repete tudo o que foi gravado no astral. E assim,
fazem com que fiquem acumuladas muitas energias de várias experiências.
No cérebro é guardado toda uma vida, ou melhor, todas as vidas de um ser,
pois é no cérebro que está sua alma e no seu coração está a chave.
A alma é quem recorda as muitas vivências desse ser, e o coração puro a faz
relembrar das várias coisas que ficaram guardadas por séculos. Suas várias
e penosas vidas vividas no plano material e nos planos anteriores até que é
chegado o derradeiro dia de suas vivências. E que o Pai o leva para sua
verdadeira e última morada.
E quando esse ser não abre todo o seu potencial, ele abre para seu Senhor e
só abre para doá-la. Sim, essa energia pura que o coração, ao abri-la, a faz
dissipar. E assim, ele cheio de energia passa a irradiá-la, e o faz recuperar
suas inúmeras doenças, que para os médicos são doenças degenerativas da
mente e dão o nome de distúrbio esse ou distúrbio aquele... Mas, na
verdade, é isso o que ocorre, pois quando o ser já está nesse estágio, onde
toma inúmeros remédios para relaxar, para a loucura ou o tal distúrbio, o
Pai não dá mais chance dele melhorar, pois seu tempo já esgotou. E agora,
só depois que eles partirem é que, talvez em um futuro muito longe,
poderão voltar à Terra para tentar quitar suas pendências com o Pai Maior
da Criação.
E assim, quando chegam aqui, que vêem a burrada que fizeram, choram,
esperneia, mas nada mais poderá ser feito, porque o Pai lhes mostra as
muitas oportunidades que Ele colocou em frente para que fosse ajudado.
Ele lhes mostra os muitos irmãos, com os muitos caminhos que, se ele
tivesse aceitado, estaria na sua senda evolutiva. E lá, trabalharia para quitar
seus débitos. Pois Ele o colocou na frente de várias opções para que
pudesse lá ser feito, ou do outro lado seguir o caminho das almas
cristalinas.
Mas a todos esses caminhos, a todas as investidas de seu irmão, para que
ele entrasse nesse caminho, ele dispensou... Virou a cara para outro lado e
fechou seu coração para esse caminho que seria a porta de sua cura, de sua
salvação.
E por isso, quando chegar sua hora, até seus irmãos nada mais tem
permissão de fazer para tentar ajudá-los... E temos que aceitar Suas ordens
com rigor para que não sejam punidos, também, como eles foram. Isso,
quem interferir em seu livre arbítrio.
Agora, quando esse ser agarra a chance que o Senhor pôs em seu caminho e
tenta seguir por essa estrada estreita a seus olhos, mas amplamente larga aos
olhos do Pai, ele parte novamente de encontro a seu dom ancestral. E
mesmo que não haja tempo de quitar suas dívidas todas, ele já está no
caminho, e o Pai lhe dará uma nova chance de retornar ao mundo terreno
para quitá-la o mais rápido possível. É essa a degeneração da mente, e por
isso é que há tantas pessoas doentes, loucas nos muitos manicômios da vida
terrena e na vida astral, porque quando eles chegam aqui e têm as visões e a
ilusão, não mais as aceitam levando-os a mais uma crise de loucura.
Mas eu não digo todos, só alguns desses loucos ainda tiveram uma chance
de se elevar e de saírem dessas trevas esquizofrênicas espiritual. Mas se não
quiserem, nada podemos fazer. E só com sua ajuda na sua caminhada é que
tudo fluirá.
Agora falaremos das dores da alma, as dores que todos têm, mas que
ninguém liga, que ninguém se dá conta de como é. Mesmo uma alma
doente tem seu corpo físico mais doente ainda! E não adianta ir para médico
esse, ou médico aquele, que não adiantará, porque se não for tratado o
espírito, a alma, não adiantará nada. Pois o espírito é quem tem a doença e
tomar remédio para o corpo físico de nada valerá, pois o remédio não
alcançará o perispírito. Apenas os remédios plasmados por nós os Guias,
que são plasma magnéticos, que limpam a aura, o espírito do ser, é que
podem fazer essa limpeza da alma e fazer o ser encarnado ficar curado de
suas mazelas.
E é por isso que o mundo está doente, porque os muitos médicos, os muitos
remédios que há na face da Terra, são materiais, são provenientes do mundo
dos encarnados. Pois é raro os que clinicam com os dons dos espíritos, que
exercem, praticam a cura espiritual, Um ser que tem essa doença de doido
que é no cérebro, são pessoas de carma pesados que vieram nessa
encarnação para sofrerem e através do sofrimento crescerem, evoluírem,
pois seus espíritos têm carmas pesadíssimos e só através do sofrimento é
que conseguirão limpar suas almas desses fardos pesados. E é por isso que
nós, os Guias, não deixamos que vocês, filhos de fé, se metam no carma
deles. E é por isso que nós sempre falamos que só em uma próxima
encarnação é que conseguirão se erguer.
É muito triste para vocês, eu sei, mas o que foi escrito tem que se cumprir,
pois as escrituras são fundamentadas nas memórias dos filhos. E quando um
filho vem para a Terra, ele escolhe o grau de sofrimento que ele agüentará
passar. Pois “quanto maior o sofrimento, mais rápido ele quitará seus
débitos perante o Criador”.
É magnífico saber que ao partir da vida terrena, um espírito chega límpido,
transparente em seu habitat, em sua morada eterna. É por isso que nós
escolhemos padecer na Terra para resplandecer em espírito astral. Porque a
morada terrena é rápida e passageira, mas a morada eterna é longa e penosa,
de acordo com o que o ser aproveitou esse seu aí na Terra. Se fez por onde
crescer, ele sobe a mundos sutis e etéreos, se não, desce a vai para as
sombras com eles, os maus espíritos.
É meus filhos, os seres humanos acham que a vida é só a vida da Terra e
esquecem-se de que é após a partida dela que a vida realmente começa a
acontecer. Só tendo uma caminhada bela da Terra, que sua jornada aqui
estará deixando de galgar preciosos degraus...
Por isso, filhos, esqueçam as tristezas, as raivas, as decepções e lutem para
adquirir um pouco de sabedoria, ainda em vida de espírito encarnado.
Porque ao sair, quando entrares no mundo dos espíritos, terão algum saldo e
não chegarão aqui sem nenhuma experiência na casa espiritual, e sim, com
uma vasta experiência deste planeta da discórdia, onde tudo o que há, em
tudo o que faz, há inveja, luxúria e ambição... Não há um ser, sequer que
viva neste planeta sem ser infeliz por causa da ambição. A não ser, você,
não é filha? Que já se depurou tanto e que todos os dias reza por se sentir
muito mal com esse luxo. Mas que todos possam crescer e aprender a ser
um espírito astral ainda na Terra, como espírito encarnado.
É gratificante para um pai, ou para esses muitos mentores e Guias que há
nas inúmeras hierarquias Umbandistas, ver seu filho, ou melhor, sua filha
sendo objeto de estudos, de admiração por parte dos muitos irmãos espíritos
que estão acoplados, ou não a essa enorme jornada Umbandista.
É magnífico poder ver a euforia desses irmãos ao olhar para você, aí em seu
plano, nessa incansável luta em prol de seus irmãos, e vê-la se dar, se
desdobrar, se empenhar em trabalhar por esses muitos irmãos e irmãs
terrenos. E sentir a abundância de amor que você construiu ao longo dessa
longa caminhada – laços de amor, de ternura para com todos, a ponto de ser
conhecida até pelos espíritos do baixo astral e ser querida por eles...
Não, não são os que tirastes de lá, porque lá eles não gostam de ti, por saber
que todos sairão de lá... e até o mais macabro dos Kiumbas saiu de lá e
perdeu seu tão alto posto de “Guia”... Onde quem se diz feito, que se acha o
máximo em sabedoria, se sente impressionado com tanta beleza e singeleza.
Minha linda criança, não ligue para o que eles dizem, não ligue! Pois dos
seres que neles viviam só restou o negativismo. Foi um ato de rara beleza e
de muita sabedoria de ser, e por ser apenas uma criança em evolução e
desenvolvimento na Terra, onde se dá de coração, onde passa as provas
rezando muito, ou melhor, fazendo valer mais que Pais e Mães feitos
porque, se são feitos, foram feitos nas trevas da ignorância. Eles não sabem
nada, mesmo da tal feitura que tanto prezam, e isso por não quererem ver a
formosura de filha que há ao seu lado, onde até os de fora vêem e acham-na
a mais bela criatura. Onde cada palavra dita com amor se transforma em um
grande mantra de sabedoria milenar, que eleva tudo e todos a ponto de
mudar a quem nada sabia.
Então, minha criança, siga sua caminhada cristalina na Terra e cumpra,
conclua sua missão com maravilhoso êxito e terás uma magnífica vitória
diante desses seres tão ignorantes. Pois, concluindo essa encarnação até o
fim é que você conseguirá ficar ao lado dos Anjos também. Dos Anjos do
Senhor, que é onde é seu lugar verdadeiro, onde nascerá seu verdadeiro
posto e voltará a ser um deles a defender no astral superior.
Somos muitos e trabalhamos com as muitas crianças que há nessa imensa
hierarquia. E de onde nunca deveria ter saído para ajudar a nenhum ser
terreno que caiu por incompetência...
Mas como os Anjos da humanidade não podem ver um ser em apuros que já
se prontificam em querer ajudá-los, é por isso que viestes para este plano da
perdição, para tentar ajudar a esses irmãos que há na Terra, que não têm um
selo do Senhor. E viestes sem ter feitura alguma, porque a “feitura vem do
alto”, e só tem quem tem, quem veio com uma missão astral.
Não chores minha criança, apenas trabalhe em prol desses muitos Pais e
Mães feitos, ao mostrar que não existe nada de feitura, mas que, a evolução
de um filho na Terra dando o grau máximo da hierarquia celeste não ocorre
em tão pouco tempo, mas nas inúmeras, nas múltiplas encarnações só
fazendo o bem, dando amor: o amor das almas cristalinas a tantos seres.
Mas isso sem nada ter, sem se vestir, sem se enfeitar, passando por muitas
provações. Foi nessa tão luminosa caminhada evolutiva, que nessas
múltiplas encarnações, nas múltiplas vezes que desces a Terra para ajudar a
seus irmãos, essa vitória tida com festa e sai sempre vitoriosa, mas isso
apenas com o amor de uma criança, de um Anjo da humanidade que tem o
selo do amor incondicional em seu peito, em seu coração.
Hoje terminaremos mais essa página de aprendizado. E que logo mais
adiante, com outras de valores muito mais sábios. Mas que fique lá o grão
germinando e crescendo no valor das escritas. “O que o Mestre dos Mestres
faz, nenhum ser terreno desfaz ou sequer consegue igualar-se ao seu”. Você
é o ser que Ele criou em seu habitat para cumprir essa bela missão. O Pai
vai continuar a te proteger, e nós, filha, queremos te seguir com nosso amor
para que não se mistures nunca mais a esses seres e para que venha
assentar-se junto a nós muito em breve.
Não ligue para eles e siga em frente, porque isso que fizeram contigo é só
inveja por ver você brilhar tanto a ponto de ofuscar a todos, sem que isso a
faça mudar ou se sentir superior a quem quer que seja. E isso é a máxima
dos Anjos, dos seres cristalinos. Obrigado por nos ajudar a semear esse
amor, a espalhar essa semente de amor, por onde passamos.
Seremos eternamente gratos a você e que agora, filha, tudo o que fizeres
será bem sucedida. E que vossas escritas sejam de evolução para todos. E a
nossa coleção sairá em breve.
Obrigado por ser nossa eterna menina. Cosme o primeiro e Damião o
segundo.
Que Nego possa ajudá-la a concluir todas as suas páginas. Fique na paz, na
luz e no amor de Nego e de Oxalá.
Os seres encarnados
Hoje estamos aqui novamente para continuar nossa jornada de escritas,
depois desse período de descanso. Mas agora temos que correr para dar
conta do recado, porque senão não terminaremos. Nós continuaremos a
falar dos dons e da mediunidade dos seres encarnados, para que seja
colocado no livro da mediunidade.
Nessa nova etapa falaremos, também, dos espíritos encarnados e suas
manias e defeitos. E, nessa procura toda, englobaremos tudo o que os
espíritos precisam para caminhar com dignidade na face da Terra. Mas,
apesar de só alguns fazerem isso, deixam tudo de lado, tem partes que você
precisará dizer, que você é quem dará os exemplos aos seres encarnados.
Tem tantos irmãos que seria impossível divulgar todos, sem que
findássemos o capítulo.
Eu sei que você não quer ser vista nem quer que todos vejam seus muitos
dons mediúnicos, e isso é o que mais me impressiona, porque são
completos. Pois com o médium clariaudiente ele ouve, sente, vê, e até se
transforma no próprio espírito. É como se ele fosse o próprio, de carne e
osso e não somente uma comunicação auditiva. E é por isso que você sabe
quem está falando com você, e não se confunde, não mistura os seres.
Como um médium que é só vidente, onde ele vê apenas, e não sente nada
do que o espírito sente. Nessa ação ele é facilmente enganado. Pois o que
lhe damos ele passa, pega e vê outra presença. Já nos médiuns
clariaudientes, eles não conseguirão se passar por seu espírito, pois, assim
como a audição, a visão desses médiuns são dentro do que não imaginam
nem é só um com os outros.
Quando um médium clariaudiente entra em uma gira de desenvolvimento,
ele automaticamente abre seu canal de comunicação com os mundos sutis e
então começa esse processo de lapidamento que o deixa tão leve e sutil
como qualquer outro espírito astral cristalino. Mas isso só acontece quando
o médium é colocado em uma engira para aflorar seus dons mediúnicos.
Nós vemos que se o médium se resguarda, se mantém íntegro e faz todas as
suas obrigações de um filho de fé verdadeiro. Então, ao começar seu
desenvolvimento ele rapidamente começa a aflorar seus chacras que já
estão limpos e prontos para o desenvolvimento. Porque as carnes em geral,
mesmo as brancas e os peixes, são nocivas para os chacras, por isso, eu te
pedi que não comesse nenhum tipo de carne, a não ser as verduras, que
também são ricas em fibras e em vitaminas, como as carnes, mas sem ser
nocivas a saúde dos chacras.
É magnífico ver daqui, de meu posto, seu desempenho, sua dedicação para
conosco. Daqui vemos os sacrifícios que fazes para cumprir cada ritual,
cada tarefa passada por nós. E que ao cumprir uma, se sente feliz por poder
fazê-la, executá-la com capricho e sabedoria. Pois a cada um desses banhos,
que nós vemos seu sacrifício, a cada uma dessas candeias acesas às
escondidas, vemos seu amor por nós e sabemos o quanto é importante o
cumprimento desses rituais. E sabemos o quanto é importante ao filho. E
por isso, o Pai se compraz e o ajuda a concluir seus rituais.
E quando todos os chacras estiverem concluídos o processo, e portanto
sacrifício, será dado a abertura total, a exposição de todos eles para a alegria
sua e glória de todos os seus pais e mães de coroa.
O espírito nasce na carne seco, com todos os seus dons esquecidos,
adormecidos, e alguns já depurados de tantos séculos guardados por não ter
usado, não ter sido lapidado. Mas nas últimas encarnações, e quando se
consegue abri-los, é uma dádiva do Pai Maior, e para nós, que em meio a
tantos sofrimentos, a tantas provas, você, minha criança, está prestes a ser a
mais nova Maga Cristalina do milênio, pois há muitos milhões de anos que
nenhum ser conseguiu chegar a um degrau tão alto, ainda em espírito
encarnado.
É gratificante para um pai, um mentor, um protetor ver seu pupilo, seu
protegido chegar tão alto e não se sentir orgulhoso, apenas saber que está
cumprindo sua missão, mas que precisa seguir a risca todas as etapas, todas
as ordens de seus mentores para que não entorte o lado. Se ter resguardo em
um passeio simples e apenas dizer: “semeuPai deixar...semeuPai permitir
eu faço...”Parabéns filha! Parabéns minha criança, por estar onde estás.
Quando se concluir todas essas etapas de encarnação nas artes ocultas, filha,
sem mudar, sem se ter acesso aos mentores mais baixos, aos mentores de
vibração da Terra, que são os mentores de incorporação, que tem um teor
vibratório um pouco mais baixo do que os mentores que se comunicam via
mental, de espírito para espírito, e que só concluem as etapas do
desenvolvimento com rigidez, logo se vê os resultados. Porque todos esses
pequenos detalhes que são seguidos a risca pelo filho, é muito importante
para que se chegue à derradeira prova, porque “éno primeiro degrau,
noalicerceque sefaz umacasasegura”.E se o alicerce é seguro, firme, bem
feito, o resto da casa será firme. Então, a partir do momento que se conclui
essas primeiras etapas, todo o restante será magnificamente firme. E assim,
depois passaremos seguros para o 2º passo, e sucessivamente até que
chegues ao último degrau da iniciação.
No primeiro degrau
Tivemos os banhos das ervas e as oferendas aos mentores de sua coroa.
Todos feitos em seus pontos de força, em suas cachoeiras... e lá foi que
vimos a sua destreza para fazê-las com êxito. E não pense que não fizeste
certo, porque todas foram feitas com muito rigor.
Faça um gráfico para que eu coloque os Guias que foram ofertados em seus
pontos de forças.
Oxalá
Oiá
Iansã
A calunga Iemanjá
Nanã
Obaluaê o trono da corte dos Anjos As crianças
As falanges dos Ibejis do mar (da calunga grande)
As falanges dos Ibejis do rio O povo do cemitério (da calunga pequena)
O povo de rua, os Exus e Pombogiras
No alto e nos extremos fizemos orações a todos, dandolhe força e proteção
em sua coroa. Com o Pai Maior no alto, que é Oxalá – Oiá – Iansã, e os
anjos da corte de Cosme e Damião. Todos no alto. E no meio o povo da
calunga pequena, do cemitério, onde foi feito no cruzeiro grande das
cachoeiras e no cruzeiro pequeno que são as calungas do cemitério.
E depois ao povo do mar, nas calungas grandes que é o mar, onde fica o
comando, a corte dos senhores de Ogum e a senhora das águas salgadas. E
tens Nanã, a senhora da Terra que também polariza com Obaluaê – Omulu.
Então ficou assim:
o Oxalá – Oiá – Iansã – Ibeji
o Obaluaê – Omulu– Iemanjá – Nanã
Agora, que já foram concluídas todas as provas, pode remos iniciar as
outras etapas, que já foram vencidas a primeira, a segunda, e a terceira.
Agora entraremos no Quarto degrau da evolução que são as provas onde
foi testada sua perseverança na
miséria, onde mostrou a sua compaixão por seus irmãos encarnados. E
como você passou nelas, então pulou para o Sexto degrau daevolução,para
o início das artes ocultas.
E agora, será concluída com a última etapa que é a abertura, o
aprimoramento dos dons. Porque todos os seus sete chacras foram abertos
com êxito, então, apenas regularemos para que possas usá-los sem te
prejudicar com tantos dons em um mundo tão pesado, de teor vibratório tão
denso.
E hoje, após tomar seu último banho, eu lhe apliquei um passe para que
você se desdobrasse até nós. E por isso você não pode ver. Pois quando os
filhos estão nesse patamar, e que estão ainda de obrigação, não é bom que
saiam à rua, para não se contaminar com a vibração densa que há em todas
as partes.
E como você está muito leve, sente-se mal com esse peso. Então, a melhor
forma de concluir esse período de obrigações é manter-se em casa, onde
não há a entrada de pessoas estranhas. Assim, nós te deixaremos com muito
sono, a ponto de passar o dia dormindo, coisa que é raro em você, pois
sempre se levanta muito cedo e nunca se deita. E apenas relaxa por alguns
segundos.
Depois falaremos desses chacras que nenhum ser encarnado tem aberto.
Pois todos eles estão adormecidos. Mas com as bênçãos do Pai maior, você,
Sua filha dileta, conseguiu abri-lo. E isso é fantástico, em um mundo tão
denso e materialista, onde nenhum ser consegue se manter puro... a não ser,
quando ainda está em tenra idade. Mas você é um ser adulto na carne, mas
criança em espírito. Porque não tem um ser adulto com o coração puro.
Os sete chacras que se expandem e se multiplicam em vários, nos vinte e
um chacras onde se potencializam a todos, com tamanha freqüência de
ondas, que se o filho não estiver preparado não agüentará a tantas ondas
cristalinas, leves e puras em seu chacra.
Chacracoronal
Todas essas ondas vêm do alto e entram no ser pelo chacra coronal, o
chacra da coroa. E só quem o tem expandido são os filhos de Oxalá –
Iemanjá, que são cristalinos puros. E, também, são os que já estão nesse
degrau de evolução, porque há muitos espíritos na face da Terra que vieram
com a missão de se tornar um ser cristalino, puro para ajudar a expandir os
mundos sutis, que só se evoluem com a energia dos seres cristalinos
encarnados.
Mas como um ser cristalino puro é tão difícil, é quase impossível de se
encontrar, é por isso que esses mundos ficaram tanto tempo fechados em
suas conchas. E há milênios que eles não eram abertos. E agora, depois que
você chegou a esse patamar, só com seus chacras e na hora do sono você se
expande até eles e sua energia que flui Terra astral, faz essa reprodução,
sem precisar de contato com seu corpo carnal.
Tudo é apenas mente – espírito. Pelo chacra coronal o ser cristalino abre-o e
alimenta a todos esses espíritos que há nesse mundo paralelo da evolução.
Mas não pense que eles são seres feios, de jeito nenhum! Todos são seres
belos e sorridentes, porque são Anjos que pararam na caminhada evolutiva
por eles precisarem de seres cristalinos para se expandir. E como não há
esses seres, eles ficaram presos, parados há milênios à espera de alguém
que os ajudasse a crescer.
Chacradavisão –o olho deShivaouo terceiro olho
Esse chacra, o chacra da visão, o terceiro olho, ou olho de Shiva fornece a
visão dos mundos sutis e densos. Mas ele só se abre quando se quer ir onde
há seres que necessitam de amparo, de ajuda, pois quando ele fornece essa
visão, que ele se abre, o ser está em transe, como nas engiras onde se fica
desdobrado sem estar incorporado, e é com essa irradiação que os filhos
cristalinos que estão nesse patamar, quando entram suas correntes
mediúnicas nas searas, e que entram nesse transe, emitem essa vibração
para todos esses espíritos. E, também, para os que estão ainda na Terra e
que precisam de uma energia cristalina.
Agora, isso só ocorre quando o filho está em um degrau muito além da
Terra e se mantém íntegro, pois é só com essa energia leve que se consegue
abri-lo. Por isso, quando você está irradiada você vê os mentores que estão
lá na seara de prontidão dando proteção as engiras. Mas é uma visão rápida,
por descarregarem muitas energias cristalinas em um desses seres que se
materializam. Por isso, se sentem felizes por serem vistos trabalhando.
Coisa que ninguém vê.
Chacralaríngeo
Esse chacra, também, se abre facilmente quando se está em um alto teor
vibratório. E a qualquer momento, se mudar seu tom de voz e serem
passadas com uma sensibilidade tão grande, de também ser melodiosa, tudo
tão belo, quanto o canto dos pássaros.
Onde se faz falar em línguas estranhas como dizem nos dias de hoje,
tomado pelo Espírito Santo, quando na verdade, é o dom das línguas faladas
só pelos anjos, que aflora no chacra laríngeo, onde na incorporação bem
feita, faz o médium mudar totalmente seu tom de voz. Também, cantar
pontos e músicas muito belas.
Outro chacra pouco usado é o chacra da nuca, onde se concentra quase todo
peso que por ventura entrar no chacra coronal, porque os seres cristalinos
puros só captam energias pelo chacra coronal e os expulsam pelo frontal.
Mas às vezes, eles ficam retidos na nuca, onde causa desconforto, fazendo o
filho se sentir pesado, sem ânimo para a caminhada. E ele só melhora
quando se coloca água cheirosa em sua aura.
Isso é muito importante saber, todos deveriam estudar a todos os inúmeros
dons mediúnicos, para usar nos centros, com a sabedoria da alma e da
natureza.
Chacraumbilical
É o chacra recebedor das energias densas. Enquanto o chacra coronal é o
recebedor das energias cristalinas, o umbilical o é das energias densas. O
chacra coronal as recebe e o umbilical as expulsa. As energias cristalinas as
recebem os filhos de Oxalá, os filhos cristalinos, e as recebe diretamente de
seus pais ancestrais. Mas os outros seres repassam as energias densas e as
condensam em seus organismos, expulsando-as pelo chacra do baixo
ventre, que é o sexto chacra, o seis. Este chacra fica abaixo do umbigo.
Todos os seres normais recebem energias densas por este chacra. Eu digo
densas, porque cristalinas só as energias que vem do alto. Mas como os
seres estão acostumados com esse tipo de energia, as próprias energias de
cada um, que são pesadíssimas, em se tratando de um ser cristalino que é
transparente, leve mesmo. É por isso que dizemos que os seres normais só
recebem energias densas, porque as energias cristalinas são muito leves.
Então, quando um filho se doa de coração em uma engira, ele está se
doando, ou melhor, doando suas energias cristalinas. Tanto para os espíritos
quanto para os encarnados. E quando o ser é cristalino, ele se doa por
inteiro. Enquanto isso, ele nada sabe, porque enquanto ele está na corrente
de sua engira se doando aos seus irmãos, doando suas energias claras e
cristalinas, ele as está recebendo de seu Pai Maior, e as está doando para
seus irmãos.
E como os outros são diferentes, eles não as recebem de seu Pai cristalino e
já as recebe neutras e, por isso, sentem-se cansados, desvigorados com
tantas energias pesadas, porque eles não têm quem as reponha como os
seres cristalinos. Em uma gira normal, não sendo a gira de Exu, um ser
cristalino que está ativo em sua função de médium, doa e recebe muitas
energias cristalinas e tira as mais densas. Chegamos ao baixo ventre.
Chacrabásico
É o chacra do básico ou do baixo ventre. Este é o chacra da fecundação, e
ele só capta energias grosseiras, que são as energias do sexo. Ele as envia
aos seres que estão padecendo nesse plano, pois todos os seres quando vêm
para a Terra, vêm com um chacra diferente e é nesse que nós padeceremos.
Porque vão cair se não tomar cuidado. Pois as provas são duras em relação
a ele e qualquer descuido é usado para fazê-lo descer do degrau que está.
Porque um filho sem degrau é um ser que é arrastado para o degrau inferior
ao que ele está. Depois, por conseguir mudar novamente, as provas serão
mais duras e difíceis de vencer. Em cada degrau há mais deficiências em
suas provas, e os filhos deixam, abandonam para não cair e ver onde eles
são mais provados.
Se todos prestassem mais atenção a isso, encontrariam rapidamente suas
zonas mais testadas, e conseguiriam assim, vencer essas provas com
eficiência. Você e os seres que estão no sétimo degrau não sentem
necessidade de copular. Todos padeceram muito no amor, no chacra do
sexo, e no coração, porque, eles são interligados. É por isso que há tantos
crimes bárbaros contra seus movimentos. É por causa da falha que há nesse
órgão, nesse chacra onde as energias pesadas são liberadas e as condensa
em vidros, para a cura dos espíritos astrais que não possuem mais esse
veículo, que é o corpo. E que, principalmente, faz essa energia fluir com
abundância. Essa energia da qual nós já falamos, é uma energia muito
perigosa para quem não souber dominá-la, pois ela tira o ser do controle e o
deixa irado e só se consegue liberá-la desse jeito ou de outro.
Essa energia é a energia kundalini, que também é chamada de serpente
negra, e é exatamente o que ela é! A serpente kundalini é traiçoeira para
quem não tem domínio sobre seu corpo, sua mente, seu espiritual... E o pior
disso é que quando ela aflora, não aplaca com nada, apenas é dominada de
espírito para espírito, como quando o ser se doa, deixando-a liberar e
salvando seus irmãos doentes só com suas energias, ou como você faz, que
deixa tudo sob nosso controle.
Mas se não for assim, esse fogo se apossa do ser fazendo-o fazer asneiras,
deixando-o louco, irado, cego. E isso é comprovado pela ciência. Pois elas,
quando estão assim, possuídas desse fogo, desse calor, dizem que é a tal
menopausa, ou a idade da loba... só que na verdade, se fossem ao centro e
desenvolvessem outro chacra superior a esse, ela o aplacaria e condensaria
essa energia em prol dos muitos espíritos sofredores necessitados de uma
cura. E quando o ser é um espírito astral, ele só se cura com as energias dos
seres encarnados. Este é o último chacra e pertence a Iemanjá e a Omulu,
onde um concentra e o outro expande.
Um ser encarnado, um espírito como o seu que se desenvolveu e que nos
ajuda em todos os sentidos, seu espírito é uma dádiva dada pelo Criador a
nós, para aplacar as dores de vários, de muitos irmãos espíritos astrais que
padecem nas zonas umbralinas à espera de um ser assim, para liberar essa
energia e fazer esse emplasto para curá-los dessa ardência que os
acompanha a milênios.
É por isso que Nego está muito feliz, porque você sozinha, com seu amor a
nós, com seu tão pouco tempo, consegue curar a tantos, consegue aliviar a
milhões de espíritos. E cada vez que você se doa, muitos se beneficiam
dessa energia tão cristalina, tanto os seres astrais quanto os seres
encarnados.
E, hoje concluímos a parte dos chacras.
O INÍCIO de sua existência terrena
Meu nome continuará Gerson, Nego Gerson, para que todos saibam e me
reconheçam. Estou feliz por dizer, poder mostrar para todos, como aqueles
tempos eram difíceis. Agora, todos vêem nas televisões, apenas um pouco
do sofrimento que passávamos, mas ninguém tem realmente consciência do
que era a nossa vida.
Nós não tínhamos nada, não éramos gente, nem nossa vida nos pertencia.
Nego era tratado pior que um animal. Éramos “peças”, objetos de uso, de
pouco valor. Escolhiam-nos pelo porte, pelos dentes e pelo brilho da pele.
Se doentes estivéssemos, éramos jogados na senzala, para morrer, ou
jogados no meio do sertão, para apodrecer; sem água e sem comida. Era
natural se ver velhos ou crianças jogadas, sem comida.
Quem não trabalhava, não produzia, não tinha direito à comida. Se doentes,
os irmãos eram que, às escondidas, nos alimentavam. Deixavam de comer
uma de suas refeições para dividir com nós. Mãe, nem pai, podiam ter.
Todos eram apenas “irmãos”, nunca parentes de sangue.
A vida na lida era cansativa, ninguém podia sequer descansar. O serviço
começava ao raiar do sol e findava no cair da noite. E, exaustos, éramos
levados para a senzala, uns atrás dos outros (como vocês vêem nos filmes
de hoje). Acorrentados pelo tornozelo, éramos brutalmente chicoteados. Às
vezes, os mais velhos não agüentavam os maus tratos e a fraqueza, devido à
idade avançada, o trabalho forçado, e caíam. Então, nós arrastávamos eles
para não serem mortos nas nossas vistas.
Não tínhamos roupas, apenas trapos. Nós os homens, usávamos só calças de
algodão, de saco; não tínhamos sapatos, nem camisa. Éramos nus da cintura
para cima. As mulheres usavam chita, todas iguais umas das outras. Todas
também iam para a lida, no campo. Umas eram escolhidas para serem amas
de leite, então ficavam na cozinha da Casa Grande. Nego não podia entrar
na Casa Grande, não podia sair do barracão da senzala.
Nego é bem do começo do mundo, da era de Jesus. Quando Nego veio ao
mundo, foi no começo do ano II, depois de Cristo, em Angola, quase na
divisa do continente. “NEGO É NEGO, E DE TÃO NEGO FICA AZUL”.
De olhos brilhantes, pele e dentes limpos e de cara redonda. Vivíamos numa
tribo em Angola, éramos livres, como nossos ancestrais.
Nego nasceu livre, na tribo. Todos tinham direito a uma cabana, roupas de
pele de bicho e, na cabeça, os guerreiros costumavam colocar uma cabeça
de qualquer bicho como símbolo de bravura. Na aldeia não tínhamos
fartura, mas vivíamos bem. Nego nasceu de uma negra parideira, da tribo e
ainda era criança quando houve um rebuliço na aldeia, ao avistarmos uma
caravana se aproximando de nós.
Era gente branca, os tais portugueses de hoje. Desembarcaram, saquearam
nossa tribo, amarraram os homens, mataram os velhos e crianças de colo,
queimaram todas as casas, levaram os objetos que achavam que fossem de
valor. Deixando só as cinzas. Ninguém conseguiu escapar. Eles tinham
armas e nós só nossas flechas e as machadinhas. Era uma coisa de louco!
Quem visse, jurava que era o fim do mundo. Tanta desordem, tanto ódio!
Por quê? Por quem? Por nós? O que tínhamos? O que fizemos?
Eram tantos sofrimentos que as dores faziam festa em nosso corpo;
ninguém sabia ao certo o que doía mais: se eram as chibatadas ou as feridas
da alma, que sangravam com a dor de ver os nossos sucumbirem, sem
podermos fazer nada por eles. Destruíram tudo e a todos. Levaram-nos para
o navio e nos colocaram no porão, e todos juntos, amontoados, empilhados
uns sobre os outros, feito feno.
Ninguém dava sequer uma palavra. Os mais afoitos, levantavam os olhos
até o Criador e tornavam a baixar. Sentimos o vapor dos motores deslizando
nas águas; sentimos, na quietude do ar, tentar imaginar o que nos
aguardava. Ninguém sabia ao certo o que aconteceria com a gente. Tudo era
uma incógnita.
Ficamos vários dias, ou seriam várias noites? Não tínhamos noção das
horas. Não víamos o sol, nem a lua, então como saberíamos? Não havia
relógios. Comida? Ah! Isso nunca mais se sentiu o gosto.
Eles pegavam pão de milho e farinha, ou rapadura. (Não a que se tem hoje),
e jogavam para nós. Alguns tentaram se revoltar, mas outros pediam calma.
Vocês não têm idéia do que era aquilo. Banho? Também não existia; nossas
necessidades eram feitas em sacos e jogadas ao mar. As folhas ou os objetos
usados para nos trazer comida nós usávamos para isso. Quem nos deu essa
idéia foi um preto mais velho, que tomou a iniciativa.
Todos já estavam sem ânimo, então o preto falou:
– Irmãos, estamos juntos nessa nova e triste jornada. Não sabemos o que
nos aguarda, não podemos definhar, senão não teremos forças para lutar e
nos defender. A partir de hoje, comeremos até as folhas. Jogaremos ao mar
somente os restos que não nos servirão. Apanharemos água do mar e nos
lavaremos. Pediremos ao branco um objeto para colocar água e limparemos
tudo por aqui.
Assim fizemos, acatamos aquelas ordens que nos fariam, nos deixariam
mais fortes em nossa nova missão. Começamos nos limpando e, um após
outro, íamos passando de mão em mão. Poucos vinham até nós. Era como
se não houvesse vidas ali em baixo. Não entendiam o que falávamos, nem
faziam questão de entender.
AS DOENÇAS
Assim a vida ia passando, sem que déssemos conta. Até começarem as
doenças. As doenças “foram” as provas, as experiências mais dolorosas.
Nem as chicotadas doíam tanto.
Todos nós amontoados naquele buraco escuro, e sem o calor do sol; nem
calor, nem frio; só umidade; era úmido e mal cheiroso, fétido. Por causa das
necessidades que fazíamos ali e a pouca higiene.
Começamos a notar que, alguns dos nossos não se levantavam mais. Não
tínhamos noites, nem manhãs. Sabíamos que era outro dia por causa da
comida que traziam. Não havia café da manhã nem café da tarde. Tínhamos
apenas uma única refeição, que achávamos que fosse o almoço. Quando
traziam, já sabíamos que o dia havia mudado para outro. Começamos a
anotar, com migalhas de pão, os dias. Fazíamos bolinhas para a noite e uma
bolinha menor para o dia.
Quando o primeiro dos nossos morreu, pedimos umas ervas ou um médico,
que foi prontamente negado. Outro dos nossos se foi, e cada um que víamos
partir era dor maior do que as que o chicote nos causava. Não pela partida.
Em nossa época, partir era natural, não temíamos a morte, como se teme
nos dias de hoje. Tínhamos consciência que era preciso “viajar” para junto
do Pai, para assim nossa alma ficar junto dos Orixás. Nossos espíritos eram
imortais; sabíamos que não morríamos de verdade; já acreditávamos na
imortalidade da alma.
A dor era de ver, de saber que estávamos doentes e não tínhamos nada para
tentar sanar o mal que se alastrava, dia após dia. Os irmãos doentes ficavam
inertes, de olhos vidrados no alto; o corpo trêmulo, com suor e calafrio; e
rapidamente as vidas se extinguiam.
Nada podíamos fazer, apenas passávamos um pouco de água na testa uns
dos outros, para tentar aliviar os sofrimentos. Lágrimas rolaram de nossos
sofridos olhos e nosso coração amargurado sofria ao ver o que iria
realmente acontecer. Íamos definhando, um após outro, até findar a todos.
O preto mais velho, orientado por Deus, mandou-nos fazer isso:
– Começaremos todos a pedir ajuda. Vamos lamentar todos juntos, talvez
assim esses animais se lembrem que aqui, em baixo, existem vidas, e que
precisamos de ajuda, senão morreremos todos.
Começamos um canto, ou uma novena de vozes e lamentos ao Criador. Era
um alarido lamuriante que ecoava até os confins da Terra.
Era mais ou menos assim, um falava e outros respondiam. Ou..., ou.., ou..,
ai..., ai..., ai...,
Nego, Nego, Nego, ai..., ai..., ai...,
Nege, nege, nua, nua, nua,
Trégua, trégua, fera, fera, fera,
Ou..., ou..., ou..., ai..., ai..., ai..., ui..., ui..., ui...,
Ficamos assim, cantando bem alto. Até que chamamos a atenção deles.
Juntaram alguns soldados, de armas em punho, e vieram até nós. Não nos
entendiam. Por mais que falássemos, era inútil; então, cantávamos mais alto
que as vozes deles.
Eles gritavam para que calássemos, mas como continuávamos, sem parar,
trouxeram vários baldes de água e jogaram sobre nós. Paramos de imediato
de cantar, e de olhos fixos neles, esperamos o próximo açoite. Então nosso
preto líder falou; falou, e nada adiantou. Os soldados ficaram calados,
parados à nossa frente, sem entender sequer uma palavra do que dizíamos.
Então ele fez como criança, ficou de pé e se jogou, de uma vez, no chão.
Olhou nos olhos de um deles, e apontou para o canto, para o meio, para a
direita, e para a esquerda.
E, quem ainda agüentava, foi ficando de pé, um após outro. Foi então, que
vimos o mais cruel massacre de todos os tempos. Como éramos muitos,
nossa visão não dava para contemplar toda a área ao nosso redor. Mas
quando já estávamos todos de pé, vimos, e eles também, milhares de nós,
mortos.
Como a fedentina era grande naquele local, não percebemos que haviam
muitos já apodrecidos. Quando eles viram aquilo, saíram todos rápidos
gritando.
– Epidemia! Epidemia! Epidemia!
Logo depois, vieram mais alguns deles, desataram as correntes de nossos
pés, e empurraram-nos para fora. Foi aí que o mais comovente delírio
ocorreu. Juntaram um monte com os mortos à nossa frente e jogaram no
mar. No local, deixaram alguns corpos e tocaram fogo.
Eles nos levaram para cima e, pela primeira vez, vimos o sol, depois de
várias eras, enfurnados naquele calabouço. Ah! Como era bom sentir
novamente o calor do sol! Como o Criador estava nos provando. E de
joelhos, todos ao mesmo tempo, naquele instante, clamamos por justiça; nos
tornamos um poço de lamentos e de choros.
– Pai deste este calvário para nós; leva nossos irmãos para junto de ti. Lava
nossa alma com a brancura do céu, e cura nossas feridas com o calor deste
sol; queima nossas chagas com o raio que soltas da tempestade, fortalece os
nossos espíritos com a força do trovão, amém.
O que ouvimos em atenção a nós, à nossa dor, foi o cortar do chicote em
nossas costas. Levantamos, e nos empurraram para baixo novamente e,
como bichos, voltamos para a armadilha.
Perdemos metade de nossos irmãos; entre mulheres, homens velhos e ainda
crianças crescidas, mas de pouca idade. Quando retornamos para nossa cela,
tinham feito uma limpeza nela. Estava tudo muito limpo, não havia vestígio
do fato ocorrido de poucas horas atrás.
Deixaram-nos algumas ervas, eram poucas, mas já nos ajudava a amenizar
aquele mal que dizimava da face da Terra, sem piedade, tantos de nós ao
mesmo tempo.
Agradecemos ao Pai, pela generosidade que Ele havia colocado no coração
daqueles monstros. As ervas eram boas, mas quem nos curava era o Pai,
através dos Orixás.
Aqueles homens nos deixaram novamente a sós, se foram e nunca mais,
pelo tempo que durou aquela viagem, não voltaram mais, ao fundo daquele
barco. Ficaram com medo, talvez, de pegar a tal “peste” de que falavam.
Mal sabiam que aquela doença, era doença de branco, e que em nossa aldeia
não havia ninguém doente. Todos eram saudáveis e fortes. A doença foi
aplacada, mas ainda perdemos mais alguns irmãos. Depois daquele
sofrimento, daquela podridão de corpo, tudo passou.
Um belo dia, nós sentimos a embarcação parar. Tivemos um sobressalto e,
de um rápido raciocínio, nos abraçamos. Afinal, já havíamos nos
acostumado com aquela monotonia, e a incerteza do futuro nos deixava
petrificados. Rezamos ao Pai e pedimos um destino mais digno, menos
cruel para nós.
Ouvimos passos pelo lado de fora e logo a porta abriu, e um clarão entrou
porta adentro, nos cegando momentaneamente, e vários soldados entraram
também. Mandaram que levantássemos, com gestos e empurrões. Então,
fomos saindo, um após outro, pois ainda estávamos amarrados.
Devido à doença eles amarraram apenas um pé, de cada um de nós, e não os
dois como antes. Éramos amarrados com os pés tão juntos, um do outro,
que mal podíamos dar um passo. Já com esse novo modo de colocar as
correntes, podíamos nos levantar mais rápidos e caminhar um pouco,
mesmo que fosse lentamente.
Saímos, um após outro, em fila, para fora daquele lugar horrível. Não
usaram mais o chicote. Notamos que alguns dos deles também haviam
partido. Eram poucos homens a nos escoltar.
NAS TERRAS DOS BRANCOS
Quando conseguimos chegar em cima, tomamos um susto.
– Que tsú? Aio manú?!..., Sinai?
Então veio um deles e nos empurrou em direção a uma pequena escada, que
nos levava para baixo. Mas do lado de fora. Nosso espanto era com os
outros que estavam lá: eram muitas pessoas, todas juntas. Era como se já
nos esperassem. Enquanto descíamos, todos nos olhavam com
desconfiança, alguns tinham até uma expressão de medo, e quando
chegávamos perto deles, automaticamente esquivavam-se um pouco, como
quem quisesse ficar o mais longe possível de nós.
Íamos passando pelo meio daquela multidão. Eles haviam feito uma
corrente humana, nas extremidades, e nós, no meio. Todos nos observavam
com certa admiração, pois a maioria daquelas pessoas era branca. Umas
alvas como as nuvens e outras com um tom mais escuro, mas não como a
nossa. Com aquele tom de pele, só nós.
Chegamos ao centro daquele lugar onde havia mais pessoas reunidas. Lá
era como os mercados de hoje, só que na beira do cais, bem perto do mar,
em frente ao porto dos navios.
Em meio à euforia das outras pessoas, também ficamos espantados com o
tamanho daquelas embarcações; não eram tão grandes como as que se tem
hoje, mas eram enormes em se comparando com as que tínhamos em nossa
tribo. Elas eram feitas de toras de árvores. Eram pequenas jangadas.
As que estavam ali, naquele porto, eram compridas, altas do casco até a
popa, com imensas velas, uns mastros enormes, feitos de tecidos brancos e
de cordas.
No meio daquelas pessoas, fomos deixados; nos fizeram sentar ali e uns
deles jogou água em nós, depois, outros deles nos jogaram algumas
frutinhas para que comêssemos.
Era a primeira refeição que fazíamos naquele fim de dia. Até aquele
momento, não tinham nos dado nem o pão a que estávamos acostumados.
Jogaram muitas frutas, o bastante para saciar parte de nossa fome.
Só quando paramos de comer foi que vimos como definhamos. Estávamos
magros e feios, nossa pele, já não tinha o mesmo brilho. Fazia tempo que
não víamos o brilho do sol. Ficamos ali aguardando a próxima ordem.
O dia passou, era cedo da tarde, o sol estava alto quando chegamos, talvez
fosse depois do almoço, por volta das 2 horas, pela posição em que o sol se
encontrava. Pra mais da metade do céu, do lado contrário do nascente.
Vimos quando aqueles soldados conversavam com outros homens fardados.
Como eles usavam roupas estranhas aos nossos costumes. Pareciam que
eram todos iguais. Se olhássemos de longe, não saberíamos distinguir,
quem era quem. Vieram até nós e tentaram inutilmente se fazer entender por
nós. Pela primeira vez alguém tentou falar decentemente, tentou nos
entender como gente.
– Alguém aqui fala nossa língua? Estão me compreendendo?
Como não houve reação de nenhum de nós, o homem fez sinal para que
levantássemos e, puxando o primeiro da fila, foi nos levando para onde ele
queria que o acompanhássemos.
O homem montou em um camelo, um bicho três vezes maior que os cavalos
de hoje, e saiu nos puxando, devagar. Não nos arrastava. Apenas nos levava
rua afora, sabe Deus para onde.
Andamos por vários dias e por algumas noites, e logo chegamos a outro
lugar. Lá havia uma fazenda enorme, com muitas plantações como café e
cana de açúcar. Nos deixaram em um grande salão, sem nenhum objeto em
seu interior, apenas coberto de palhas; pelo menos, era grande e espaçoso.
Havia vários iguais a ele, todos em semicírculo.
Nos deixaram ali e indicaram que podíamos entrar, apontando para as casas.
Soltaram nossas correntes e fizeram sinal que se tentássemos fugir seríamos
surrados até a morte. Encenaram isso para que entendêssemos. Atiraram
para o alto e estalaram o chicote no ar, o que nos fez encolher a todos em
um dos cantos, junto da parede da casa.
Era noite, não enxergávamos nada, só ao longe alguns guardas armados até
os dentes. Olhamos um aos outros e percebemos que havíamos perdido
vários dos nossos. Nos sentamos ali mesmo, onde o homem nos havia
deixado. E lágrimas correram de nossos olhos. Sobraram poucas mulheres,
mas as que ficaram eram guerreiras como nós. Uma delas ficou de pé e,
olhando para nós, disse:
– Irmãos, agora pelo menos estamos em baixo do céu do Criador e não no
meio do mar e daqueles chacais. Não desanimem que o calvário apenas está
começando. Vamos entrar e descansar enquanto podemos.
Nós fomos nos levantando pouco a pouco e, um após outro, entramos na
cabana. Estava escuro, não se via quase nada; olhamos ao redor e havia
alguns gravetos, apanhamos alguns, no chão fizemos uma rodinha e
invocamos o deus do trovão para que ele nos ajudasse a conseguir fogo.
Esfregamos uma pedra na outra, até que ficaram quentes, e assim que
começaram a soltar várias faíscas, apareceu um fogo brando e, com a
continuação, logo cresceram as labaredas.
A secura do solo nos ajudava. Assim as chamas cresceram, a casa foi
iluminada e conseguimos observar todo o seu interior. Havia em um canto
algumas panelas de barro com um pouco de água e em outra havia farinha.
Então uma das pretas falou com satisfação.
– Deus é justo e bondoso, nos deixaram um pouco de água e farinha.
Façamos um caldo para comermos. Alguém pegue umas folhas para
botarmos junto com essa farinha.
Um de nós saiu e logo trouxe uns ramos de folhas rasteiras; eram como os
melõezinhos que dão no sertão de vocês. Ela juntou tudo e pôs no fogo.
Logo se sentiu um cheiro bom de comida.
Ah! Há quanto tempo não provávamos sequer um caldo como aqueles.
Estávamos todos em completo silêncio, a esperar que ficasse pronto. Antes
de terminar, ela agradeceu ao Pai e pediu que ele não deixasse faltar o
pouco que havia na tina e que desse para todos comerem.
Depois, ela ainda em transe começou a tirar, com umas panelinhas menores,
enchia e ia passando de mão em mão, uns poucos goles daquele quase suco
grosso, por nossas mãos. Quando terminava, ela vinha até nós, pegava e
enchia de novo, ela mesma.
Parecia que havia uma fonte daquele preparado. Todos nós tomamos
metade do conteúdo da pequena cuia e nos sentimos confortados. Parecia
que era um remédio poderoso e não simplesmente um caldo. Ele limpava
nossa alma e nos dava vida e esperança.
Éramos mais de “mil homens” e mesmo assim não faltou para ninguém. Só
ela enchia a cuia, só ela passava para nossas mãos. Todos em total silêncio.
Logo os que estavam fora foram vindo e também tomaram aquele caldo.
Quando todos haviam tomado, ela apagou o fogo, juntou as cinzas e as
jogou para o ar. E só então ela tirou um pouco, e também se alimentou.
Então falou:
– De hoje em diante, seremos um só. Seremos irmão e unido ficaremos até
que o Criador queira nos libertar levando nós para junto dele. Não lutem,
não revidem ofensas, procurem fazer o que os moços manda, para que não
nos maltratem. Aqui poderemos erguer nosso altar e sempre seremos
confortados e orientados por nossos Equiches 11.
Depois daquelas palavras, nos sentimos confortados, leves e com um laivo
de esperança em nossa alma. Nos acomodamos ali. Alguns dentro de casa e
outros do lado de fora.
Queríamos contemplar a formosura do Criador. Um céu esplendoroso, cheio
de lindas e brilhantes estrelas. Não havia luar, mas o que isso importava? O
importante era estarmos praticamente livres, depois de dias confinados
naquele calabouço.
11 Equiches = Orixás.
Eu era criança ainda. E Nego ficou do lado de fora, junto ao Pai preto mais
velho, de quem eu sempre recebia palavras de consolo.
Eu era ainda quase moleque, sem Pai nem mãe, solto no mundo, longe de
nossa aldeia, me sentia protegido por aqueles braços fortes. Deitei-me ao
seu lado, e lágrimas rolaram de minha alma tão jovem, ainda, mais tão
amadurecida, já com tantos sofrimentos,
Como estávamos magros, quase esqueléticos! Ainda éramos muitos, apesar
da grande perda. Em nossa época, não se costumava chorar pelos que
partiam. Isso era benção, do Criador; levando-nos para junto Dele. E isso
não se mudava, nem questionava.
Adormeci com aqueles pensamentos. Aos poucos o silêncio se fez, e todos
conseguiram descansar da longa e tenebrosa viagem. Quando o galo
começou a cantar, acordei de um sobressalto. Era moleque, cheio de
energias e vontades. Levantei-me, olhei ao meu redor e todos ainda
dormiam. Sai, pé ante pé, a olhar em nossa volta.
Os guardas ainda continuavam a ronda, mais ao longe. Com a ainda
penumbra da noite, quase dia, podia os ver andando, de lá para cá.
Eram dois com grandes armas, com roupas também muito esquisitas. Hoje
sei que já era um tipo de fardamento militar. Eram em tom de musgo, quase
na cor de roupa encardida. Ao ver-me apenas se posicionaram e, me
reconhecendo com um quase menino, relaxaram e voltaram à posição da
ronda normal.
Curioso, me aproximei da cerca. Era feita de varas finas, entrançadas,
amarradas de cipó. Muito bem feita por sinal. Saí rente à cerca a olhar tudo
do lado de lá. De longe eu podia ver o tapete branco, estendido no chão. Era
o nosso povo que começava a se remexer, acordando.
Sentei-me em baixo de uma árvore, e fiquei contemplando as novas casas.
Eram casas de grande porte, todas iguais, mas em volta umas das outras,
como um pequeno e ordenado círculo, um retrato de arquitetura. Eu nunca
havia visto casas de verdade. Em nossa aldeia tínhamos casebres, quase
como as ocas dos índios; feitas de palha e de barro.
Ali todas as casas eram de um tipo de barro trabalhado, diferente das nossas
antigas moradias. Era bonito o visual. De onde eu estava, podia contemplar
a tudo e a todos sem ser visto. Eu subi ao topo da árvore e lá fiquei até o dia
clarear por completo. E foi só quando o sol apareceu no horizonte que eu
sai dali.
Ao avistar movimento na casa, desci e fui ter com os outros. O preto, já
preocupado com meu sumiço, interrogava os outros sobre mim. Quando ele
avistou-me se sentiu aliviado, e disse:
– Filho o que houve? Onde andavas? Já pensávamos que tinham te levado.
– Desculpem, eu só fui dar um passeio.
Outros se achegaram, mas logo tudo voltou ao normal. Fomos dispersos
com a presença de um daqueles brancos. Agora podíamos observá-los de
perto.
Estávamos todos acuados com medo e ele em pé, à nossa frente, disse
palavras ainda incompreensíveis para nós. Com gestos, mostrou que
tínhamos que trabalhar nas plantações e que deveríamos ir para a lavoura.
Esforçou-se para ser entendido. Não parecia ser o chefe, mas nos dava
ordens como se fosse o tal.
Falou, falou, e falou. Saiu e logo voltou com mais dois homens, trazendo
alguma coisa nas mãos. Era um tipo de sacos, cheios de alguma coisa.
Jogou-os a nossa frente, tirou alguma coisa de dentro e nos mostrou; pegou
uma faca, cortou e comeu um pedaço. Era um tipo de fruta dada naquela
região. Uma fruta de casca dura, com uma gostosa carne em seu interior,
macia e saborosa. “A fruta-pão de hoje”. Com gestos mandou que
pegássemos e saíram.
Estávamos famintos e todos, um a um, nos fartamos com aqueles frutos. Em
seguida voltaram com mais sacos e jogaram ao nosso lado. Acho que
perceberam que estávamos esqueléticos, por isso nos deram mais comida.
Levaram um dos nossos com eles, nos deixando apreensivos, mas logo ele
voltou trazendo um objeto como uma adaga nas mãos. Sentou-se e falou:
– Irmãos, a vida aqui será de muito trabalho. Não entendi direito o que
falavam, mas compreendi que iremos para a lida no campo.
Falou que logo seríamos levados para o trabalho. Aconselhou-nos a fazer o
possível para aprender o que falavam, para evitar que usassem o chicote.
Ele também nos disse que eles eram menos grosseiros do que os homens do
barco. E antes que ele terminasse de falar, vieram alguns deles, mandou que
fizéssemos uma fila e os acompanhássemos. E assim começou nossa nova
jornada.
Algumas mulheres foram levadas para dentro de suas casas e outras nos
seguiram para o campo. Ficamos impressionados com o tamanho das terras.
Nossa aldeia era pequena, em vista daquela imensidão de terras. Ele
mostrou-nos o serviço e nós seguimos suas ordens.
Lavramos a terra e jogamos sementes para o plantio. Talvez fossem
daquelas frutas, não sabíamos. A princípio, nos primeiros dias, ficamos
calados, mas depois, com o conhecimento, com a rotina, começamos a nos
soltar e saíamos todas as manhãs entoando nosso canto, o canto dos
Equiches, para que Deus nos ouvisse e nos protegesse.
Era mais ou menos assim:
– Equiches, Equiches, Dalai, Dalai, nos proteja, nos ajude a levar essa
missão com coragem e com vossa benção.
A vida se tornou meio monótona e um pouco triste. A lembrança de nossa
aldeia nos atormentava. Que podíamos fazer? Não sabíamos onde
estávamos e muito menos, como chegarmos até lá. Já falávamos um pouco
daquela língua estranha, mais ainda era muito pouco.
Fizemos nosso altar e nos comunicávamos com nossos Equiches sempre
que precisávamos. As mulheres eram quem mais podiam falar com Eles.
Nós nos consultávamos às escondidas e, nas noites, tínhamos nossos
encontros com eles.
Nossos cantos não mais incomodavam aqueles senhores de pele clara.
Quando cantávamos, eles achavam que estávamos felizes. Por isso, não nos
interrompiam. Fazíamos nossas “reuniões” a céu aberto e os altares nas
tendas. Tínhamos orientação dos Equiches para fazermos suas esculturas de
barro. Então começamos a criar formas. Colocávamos nomes dados por
Eles, como, trovão, estrelas, sol, etc.
Naquela época, só não baixavam crianças, eram todos adultos. Sempre
baixavam guerreiros, feiticeiros e preto velho, que vinha nos curar. Certa
noite, quando fazíamos nossa reunião, um rapazola dos deles, veio até nós
querendo participar, e achegandose falou:
– Licença, com sua permison, posso participar das danças e dos vossos
cantos?
Achei-os muito bonitos.
Ao ouvi-lo, paramos e nos voltamos para ele. O preto estava em terra e ao
ouvir que os atabaques pararam, saiu da cabana devagar e veio nos ajudar:
– Fio de branco, num deve participar da cangira de Nego. Pru mode os
sinhozinho num sabe. É mió pra vós micê se arretira. Vós micê num deve
ficar aqui. Nego pede pru mode vós micê se afasta de nós.
O rapazola saiu mais branco do que era. Só de espanto. Era como se ele
tivesse visto um fantasma. Quando ele se foi, os cantos e as danças
recomeçaram e preto falou novamente.
– Vós micês se prepara pra o que vem adiante; pru mode não sofre sem
sabê. O moço foi se queixá com sinhô e eles vem vindo. Encerre tudo por
hoje, Nego já vai.
Quando ele se foi, encerramos imediatamente tudo, e ficamos a espera do
sinhozinho. Logo em seguida chegaram os sinhores, acompanhado do
rapaz.
– Vocês poderiam nos explicar o que se passa aqui? Que espécie de bruxaria
fazem em nossas terras?
Como ninguém os respondeu, apanhou um dos nossos e o arrastou. Foi
assim que entendemos a mensagem do preto. Eles levaram o irmão e o
colocaram em um pau fincado no centro do terreiro. O amarraram e o
surraram com tanta brutalidade que seu grito ecoou até as profundezas da
Terra. Não podíamos fazer nada, apenas ficamos observando o que faziam.
Quando eles acharam que já estava bom, o desamarraram, e jogou ele aos
nossos pés. Totalmente desfalecido. Eles só o soltaram, porque pensaram
que ele havia morrido. Nos ameaçaram novamente dizendo:
– Não queremos ver mais esse tipo de coisa aqui, compreenderam? Se
ouvirmos novamente esses tambores, já sabem o que faremos.
Saíram com o rapazola sorrindo, sentindo-se feliz por ter se vingado de nós.
Quando eles deram as costas, levamos o moço para dentro da tenda e o
preto baixou, e o medicou com as ervas. Ele estava desacordado e sangrava
muito.
Depois que preto passou suas ervas em todo o seu corpo, ele suspirou e se
foi. Então o preto falou que seus sofrimentos haviam acabado e que seu
espírito havia ido para Aruanda, para junto deles. Mandou-nos colocá-lo
nas palhas da costa e tocasse fogo, para purificar seu espírito.
E foi o que fizemos, em baixo de um canto fúnebre e muito triste.
Choramos não a perda do irmão, mas a impotente e submissa vida que
levávamos. Com nossos destinos ligados aqueles seres estranhos e cruéis,
que por um simples capricho tiravam de nós nossas vidas.
Ah! Senhor do Universo, porque nos colocaste nas mãos destes insanos?
Porque nos trouxeste para a prisão e para o sofrimento? Quantas provas
ainda nos apareceriam? Lágrimas caíram no solo seco, daquela região de
homens brancos.
O sangramento da alma era o mais triste dos cortes. As feridas do corpo
cicatrizam logo, mas as da alma permanecem por eras a fio. Por isso é que
dizem hoje que: “os olhos são os reflexos da alma”. Se olharem para o
fundo dos olhos de uma pessoa, os mais sensíveis observadores poderão ver
se uma pessoa é quem diz ser. Os olhos expressam o que sentimos no
coração. É o espelho da alma, nos mostram o que se tem no íntimo, nas
profundezas do nosso ser.
No dia seguinte saímos para a lida, calados, ninguém conseguiu entoar
nosso canto. Os guardas que nos acompanhavam, ficaram escabreados. Nós
percebemos isso, ao olhar em seus olhos. Estavam cismados com nosso
silêncio.
Na verdade, eles tinham um pouco de receio de nós, tinham medo que
reagíssemos. Mas não tínhamos ordens de reagir, as ordens eram apenas
para baixarmos nossas cabeças. Os dias ali se resumiam apenas nisso,
éramos confinados naquele lugar, tratados com desdém.
Não tínhamos nada, apenas nos traziam um pouco de água e a comida, que
uma de nossas mulheres fazia. Só por isso é que nos alimentávamos um
pouco melhor. Apenas tínhamos permissão de nos alimentarmos uma vez.
Apenas uma refeição ao dia. Que ela nos fazia com fartura, para nos
sentirmos fartos e agüentar até o outro dia.
Dormíamos no chão, sem sequer um molambo para nos cobrirmos e sem o
conforto de uma casa, de uma nação. Ficamos proibidos de bater tambor,
mas não de cantarmos para nossos Orixás. Os brancos nem desconfiavam
que continuávamos com nossas crenças, apenas deixamos de bater o
atabaque. O deixamos de lado para não chamarmos a atenção deles. Preto
baixou e disse:
– Fios e fias, se preparem para um confronto, com os brancos. Será de
branco para branco. Apenas se defendam, não são soldados, são só escravo
e escravo não luta. Se esconde, se defende. Deixe que eles se matem.
Dispois preto vem para dizer o que vós micês tem que fazê. Será breve, e
logo terão a chance de sair daqui. Mas espera eu mandar. Nego só qué o
mió para fios.
Ficamos a nos indagar o que aconteceria, do que o preto falara. Seria como
em nossa tribo?! Que brigávamos para ter mais mulheres? Para sermos mais
valentes? Talvez fosse isso, uma disputa de poderes.
Terminados os cantos, preto se foi, apagamos a fogueira, e nos deitamos.
Nesta noite, a preta nossa irmã, mandou que todos se embolassem dentro
das cabanas e os que ficassem do lado de fora que se amoitassem em algum
lugar. Não entendemos sua preocupação, pois tudo estava calmo.
Sinhozinho já havia ido dormir. Só os guardas de plantão, permaneciam em
alerta.
Fizemos o que ela nos havia mandado. Eu, moleque ainda, adorava ficar do
lado de fora, a olhar o céu e as estrelas. Nego vivia sonhando, “viajava”
(como vocês dizem) sem sair do local. Sonhava e voava feito pássaro.
Como é boa a juventude, como é bom ser criança.
Nego não tinha nome. Na aldeia era chamado como guerreiro “Niger”. Que
quer dizer caçador, na linguagem nagô. Nego era guerreiro, caçador, desde
tenra idade já saia à procura de caça. Em nossa tribo quem conseguisse
caçar, trazer mais cabeças de bichos era o mais temido guerreiro. Nego só
havia conseguido duas cabeças de lince. Um bicho quase igual ao veado. As
jaguatiricas e os leopardos eram os mais disputados.
Mas Nego ainda era menino e não havia conseguido caçar nenhum. Agora,
Nego se deitava, olhava as estrelas, e sentia saudade da aldeia, da ama que
me criou. E uma pontada no peito me fez chorar de saudade.
Adormeci em meio aqueles pensamentos e escondido entre as plantações.
Como a velha preta havia nos ordenado. Acordei assustado, e só escutei
muitos gritos na casa grande, e os soldados lançando tiros para os invasores.
Eram centenas de homens, enrolados dos pés a cabeça. Com uma espécie de
touca e uma túnica. Não usavam fardamento como os outros.
Nego correu e avisou aos outros. Saímos todos das casas e nos
embrenhamos no meio dos cafezais, das plantações. Tivemos o cuidado de
fechar a porta. Os homens estavam destruindo toda a casa grande. Mataram
os guardas, saquearam os celeiros; levaram tudo o que eles acharam de
valor.
Nós ficamos escondidos, como o preto nos ordenou. Ninguém saiu do
esconderijo, pois se saíssemos, seríamos mortos também. Havia na casa
grande, vários outros escravos, que trabalhavam dentro da casa. Foram
todos mortos.
Chegaram a ir até as plantações, derrubaram as de perto da senzala, tocaram
fogo na cabana e no celeiro. Tudo virou um inferno de puro fogo. Não
sobrou nada, nem ninguém dos deles para contar a história.
Quando eles se foram, levou tudo o que puderam levar; tudo o que era
precioso para eles. Incendiaram também a casa grande, que de longe
avistávamos as labaredas a devorar tudo. Uns deles falava aos outros, como
se indagando, onde estaria quem cuidava dos cafezais. Como não
entendíamos o que falavam, apenas deduzimos que fosse isso.
Pareciam possessos, irados, a atear fogo em tudo. Nego tremia mais do que
vara verde, escondido entre o paiol e o cafezal, no meio das toras de lenha.
Vi quando passavam a galope por nós. Todos riam e se vangloriavam,
arrastando os animais de carga.
Quando tudo silenciou, saímos devagar e lentamente. Mas só olhamos ao
longe as chamas e permanecemos ali, sem saber o que fazer. A fazenda que
outrora era bonita e farta, agora era um enorme campo de guerra, coberto
pelas chamas e a fumaça. Ficamos em pé a observar tudo, ainda de longe,
entre os arbustos.
As chamas consumiram tudo rápido e, em poucos minutos, só restou um
vasto campo de cinzas. Nada mais restara. Andamos por toda a fazenda,
mas nada restou; apenas fumaça e cinzas.
– Ah! Pai porque tanta desordem? Pra que tanta arrogância, tanta dor. Pra
que Pai?
Se nada restava quando o Senhor botava sua mão.
Da grande e imponente casa grande, só as cinzas restaram. Rodamos vasta
área, e nada mais havia. Ah! Como a Providencia Divina era correta, como
o Pai fazia justiça, como eram sábias suas leis, seus desígnios, sua
cobrança.
E pela primeira vez naquelas Terras, sentimos medo do tempo. Nos
ajoelhamos, demos nossas mãos e oramos ao Criador, em sinal de completa
submissão de forças.
Fizemos uma enorme corrente humana ao redor da enorme e agora,
fantasma casa grande. Agora só os espíritos daqueles que outrora foram o
poder; só as cinzas restaram de seus imponentes e empinados narizes.
Nos levantamos e caminhamos, por longo tempo a olhar apenas cinzas.
Aqui ou acolá, se via corpos tostados no meio da fumaça. Eram tão tostados
que mal pareciam restos humanos; e que agora jazem entre as cinzas do
“poder”.
– É gente, cinzas foi o que restou, de supostos senhores e “donos dos
outros”, donos de vidas, que na verdade, não pertencem nem mesmo a nós.
Quem me diga dos outros. Que nem sequer são reais donos desse monte de
nada que é o corpo.
Continuamos por horas, olhando o fogo terminar de concluir o que levaram
anos construindo. E que em apenas algumas horas, se esvaeceu
rapidamente. O dia já estava alto, quando resolvemos chamar preto para nos
orientar.
Nos embrenhamos novamente nas plantações, e bem lá no meio, abrimos
uma enorme clareira. Já que agora, éramos senhores de nossa própria vida
novamente. Pelo menos por enquanto. Nos reunimos ali, cantamos e,
apenas com palmas, preto velho chegou.
UMA PAUSA...
Por isso Nego admira muito você, que sempre em meio as suas tristezas ou
alegrias e, até nas dificuldades diárias, nos pede sempre orientação.
É raro fazer alguma besteira, porque sempre nos pede uma sugestão, uma
opinião, se deve ou não, fazer ou assumir qualquer compromisso. Gostamos
de lidar, de auxiliá-la. É ainda uma criança para nós. És adulta na carne,
mais criança em espírito. Mas já é tão sábia em suas decisões.
Agradeço sempre ao Criador, me permitir estar, sempre em contato com
você. E agora, com minha vida sendo passada para o papel... é grande a
minha, a nossa alegria aqui na encantaria. Há vários irmãos querendo
também deixar suas vidas explicadas e mostradas, através destas páginas,
ao mundo de vocês.
Talvez assim, algum dia, com tantos ensinamentos, possa aprender...
adquirir mais coisas no coração. Mais fé e sabedoria para não serem tão
vazios. Como muitos que Nego conhece. Nestas poucas linhas que Nego te
passa, nestes dias e noites de entrega, de seu suor derramado, não serão em
vão. Um dia terá a recompensa, por nos proporcionar tamanha felicidade.
Pra nós, nestas bandas de cá, é mais difícil encontrar filhos com esse dom.
Ter tem, mas todos ainda adormecidos. Aqui destes lados o povo tem muito
pouca fé. Raros os que chegam aonde você chegou. E muitos ainda nem
conseguem engatinhar e já querem, pensam saber tudo.
Abençoada seja você, filha de Dois, Dois 12, abençoada seja vossa fé em
Deus e em nós. Que possas sempre ter a nossa proteção e nossa benção.
Nego pede ago 13.
12 Dois, Dois é o nome das entidades mirins. O mesmo que Cosme e Damião. 13 Agô é o mesmo
(Esta mensagem foi para a médium, recebida as
que pedir licença para se retirar.
23:45, do dia 13|02|2004).
– Salve, fios da Terra. Como vós micês estão se sentindo?
Preto falou e se cumpriu tudo. Branco contra branco, disputou até suas
vidas. Agora preto fala aos meus, tudo está acabado aqui. Fiquem pra ser
escravo novamente ou partam para uma nova Terra e construam uma nova
aldeia.
Aqui não pode ficá. Aqui Terra é de branco, não existe negros donos de
nada. Portanto, juntem algumas dessas ervas de comer, façam filetes do
tamanho que possam carregar. Tragam um pouco de água, que preto ensina
como pega água em cima do nada. Há! Há! Há! Há!
Pai Xangô fez justiça
Pai Xangô fez quelença14.
Quem deve paga, quem merece recebe.
Aio, Aio, Aio.
Salve o rei de Oio
Salve o rei de Oio.
E preto se foi.
Agradecemos e fomos fazer o que nos foi pedido. A preta que nos liderava,
veio e disse:
– Irmãos, façamos logo o que o preto mandou. Não temos muito tempo,
logo virão mais aproveitadores para se fazer donos das Terras alheias.
Vamos rápidos, apanhar e juntar o que pudermos, dessas ervas de comer e
água.
14 Matança.

Saímos cada um para um lado, cada um de nós, apanhamos coisas


diferentes e, um após outro, foi retornando e juntandose novamente. Mas já
estando pronto para partir.
E assim, pouco a pouco, em alguns minutos, já estávamos todos prontos e
logo que nos reunimos preto voltou sem que chamássemos e foi logo
dizendo:
– Vejo que foram rápidos, fios! Vós micês terão a proteção de preto.
Caminhem para longe destas Terras, em direção contrária à casa grande.
Vós micês andarão muito por entre o mato, não saiam pra campo aberto, se
acaso saírem em campo limpo procurem o mato. Sigam sempre em frente,
mas em local fechado. Nunca voltem ou façam curvas, procurem seguir
sempre no rumo da venta, em direção ao nascente, sempre.
Nunca peguem direção oposta ao do nascente. Agindo assim, vós micês
estarão sempre longe dos zoios do branco. Branco anda sempre por Terra
limpa e fio de preto anda sempre na moita. Procurem descansar pouco e
andar mais. Nunca druma tudo junto. Fique sempre com os zóios bem
aberto, pru mode ver o que se passa por volta. Adespôs preto vorta e diz o
que vós micês deve fazê. E quando estiverem em Terra de preto, eu falo de
novo.
Que Oxalá os proteja nesta jornada e, com a benção de preto, logo
encontrarão nova terra e farão novamente a aldeia de fios.
Quando ele terminou, agradecemos com uma oração rápida e seguimos em
direção oposta às plantações, por trás da casa grande. O Criador tem
desígnios e caminhos que os filhos nunca sabem entender.
Quando preto nos mandou tomar o caminho do nascente, e sair por trás da
casa grande, e não da senzala, não entendi, e achei que fosse melhor
seguirmos pelos cafezais, por meio das plantações. Não entendi a
mensagem, mas quando saímos rumo ao nascente, por traz da casa grande,
vi a sabedoria do preto. Quando o branco saqueador se fora, eles tomaram o
caminho oposto ao que estávamos indo. Eles pegaram exatamente o
caminho das plantações. Eram caminhos limpos e desocupados em algumas
partes.
E nós pegamos exatamente o do lado de mata fechada; um campo que ainda
não tinha sido feito terra de plantio, assim, ficava longe dos olhos do branco
e não seríamos vistos, caso algum deles estivesse de volta para apanhar
mais alguma coisa nos arredores.
A verdade é que seguimos piamente os conselhos de preto e em passos
firmes seguimos rumo ao nascente e nos embrenhamos em um matagal. Só
um de nós ia à frente, cortando por baixo, aqueles espinheiros. Muito
comuns daqueles lados.
Não sabíamos os nomes destas terras, nem de que lado nós estávamos,
apenas ouvimos o branco dizer que era o norte da Bolívia. Mas ninguém
sabia ao certo, se era nome da terra ou de algum rei. Entendíamos pouco
aquela gente, de costumes e gostos estranhos.
Nós nos revezávamos para termos sempre um homem descansado à nossa
frente, para fazer as trilhas por dentro do mato sem deixar pistas. Nós, os
nativos de aldeias, sempre sabíamos andar sem deixar rastros. Assim,
quando um abria caminho o outro, que vinha mais atrás, ia fechando sem
deixar caminho aberto, para evitar que nos descobrissem.
Assim andávamos rápido, o mais rápido que podíamos. E só parávamos por
poucas horas. Cada um se revezava na comida, e sempre comíamos raízes
cruas. Nunca fazíamos fogo, não comíamos muito, apenas o suficiente para
não morrermos. Agindo assim não faltaria comida, e daria para vários dias.
Era assim que fazíamos também com a água. Bebíamos só um gole; nunca
bebíamos o suficiente, apenas satisfazíamos por parte nossas necessidades.
E assim fizemos por vários sóis e várias luas, sem interrupção. Parávamos
apenas para descansar e dormir alguns quartos de hora.
Nós nos amontoávamos como bichos, uns por cima dos outros, sem fazer
roda. Era uma fila de homens e mulheres. Era como os soldados de vocês
faziam na guerra. Se deitavam no chão, e um ia se deitando quase em cima
do outro. Assim, não sentíamos frio; lado a lado, fazíamos um coberto de
gente. Não podíamos ver as estrelas nem o sol. Andávamos sempre por
baixo das moitas, andávamos como tatu em sua loca.
Não cantávamos nossos cantos, o silêncio era a alma da boa caçada; o
caçador astuto e matreiro espreitava sua caça com cuidadoso silêncio.
Éramos como chacais, nenhum ruído do lado de fora se ouvia, e se alguém
por acaso estivesse passando por perto de nós, não nos descobririam: “por
isso éramos como chacais à espreita da caça”.
Depois de várias luas andando em caminhada forçada, sentimos a mudança
do clima e da vegetação. Acho que andamos umas 300 ou 400 luas e sóis
sem que parássemos e, quando sentimos que escasseavam aqueles
espinheiros, resolvemos parar e nos orientar. Estávamos quase a céu aberto,
já podíamos ver o sol e a lua de noite. O mato escasseou e tivemos medo.
Éramos muitos homens e algumas mulheres. Já tínhamos algumas crianças
e muitos velhos.
Tínhamos também mulheres prenhas. Mas por serem prenhas, não tinham
nenhuma regalia, como as prenhas de hoje. Apenas as refeições delas eram
reforçadas, pois comiam dobrado. Tinham outra vida em seu ser, assim, a
comida delas era sempre melhor e a água também era poupada para elas.
Nossa gente havia se multiplicado um pouco, naquelas terras estranhas.
Havia crianças falando enrolado como os brancos. Só não sabiam nos dizer
ao certo o que falavam. Os pequenos não tinham acesso aos costumes dos
brancos, eles eram confinados à senzala, sem direito a sair. Saiam apenas
para a lida
Para que nós não nos atrasássemos, eram carregados em nossas costas,
como os cangurus. Eles eram colocados, colados nas nossas costas, para
não sofrerem qualquer perigo dos bichos rasteiros.
Chegamos a um descampado e nos assustamos com o local. Era totalmente
desabitado, não havia nenhum ser vivente por lá. O mais interessante é que
havia muitas pedras em um pequeno morro, ou uma antiga pedreira. Havia
pedras enormes e algumas minúsculas.
Sentamo-nos no topo de um pequeno monte na encosta de um pedregulho,
que mais parecia um imenso sol de tão grande. Arriamos nossas coisas, mas
permanecemos todos bem perto um dos outros, para ocupar o menor espaço
possível. Alguns subiram em um local mais alto, para observar se não havia
ninguém por perto. Acho que já não estávamos mais nas terras dos brancos.
Chamamos por preto, para nos orientar, mas quem veio foi o índio caboclo.
– Salve, filhos de preto. Estão adentrando terras negras, já não correm tanto
perigo por aqui, mas ainda não estão seguros. Continuem seguindo o
nascente, não façam curvas, sigam o sol onde ele nasce, e se distanciem
sempre do poente. Mais à frente encontrarão água cristalina. Se fartem, mas
não se demorem.
Peguem água para a viagem. Guardem no esconderijo e procurem comida.
Agora estarão caminhando encobertos pelas rochas e não mais pelo verde.
Agora pouco encontrarão de verde, mas ao chegarem à água acharão fartura
de frutas e lá poderão se banhar, descansar e se fartar de comida.
Já estão definhando por comerem pouco. Apanhem frutas para a viagem e
mais água. Já está próximo a vossa nova morada. Caboclo pede agô. Que a
Paz de Oxalá fica. E quando filho de preto sentir mudar novamente o ar,
pare de novo. Então daremos novos rumos para vós.
Paramos um pouco para descansar.
Vimos nossa tribo definhando, mas confiávamos nos nossos Equiches e
sabíamos que encontraríamos logo, um lugar seguro para formarmos
novamente nossa aldeia.
O clima havia mudado: de frio e muito úmido, passou a ser seco e quente,
um mormaço insuportável. Já havíamos nos acostumados com o clima da
terra dos brancos, mas não reclamávamos, nós apenas paramos um pouco,
depois seguimos adiante com a mesma disposição de antes.
Estávamos rodeados de rochas, rochas enormes como se fossem esculturas,
erguidas do nada pelo Criador. À noite nos davam um pouco de medo,
aqueles imensos e assustadores mausoléus. Caminhamos mais umas três
luas e sóis até encontrarmos o lugar que o caboclo dissera.
Encontramos a cascata de águas cristalinas. Paramos e rezamos todos juntos
em agradecimento ao Pai e pedimos novamente sua proteção. Não
encontramos ninguém à nossa frente, nem branco, nem preto. Apenas
bichos entre as pedras.
Como era bela a natureza. Como era bondoso o Criador. Dera-nos da
nascente, à água cristalina, nascida da terra e também os frutos e os peixes,
nascidos também da terra e das águas.
Fizemos nosso acampamento em uma encosta, parecido a um desfiladeiro,
como a uma gruta, em meio a pedregulhos enormes. Nos escondemos ali.
De longe ninguém nos via, só se nos vissem do alto, como os pássaros.
Pegamos os pequenos e corremos para a água. Que frescor, que delícia de
água! Era gratificante estar ali. Parecia que todos éramos crianças a brincar
na imensa cascata que caía a céu aberto. Na certa o homem ainda não havia
visto aquelas águas, senão, com certeza as tomaria para si também. Até nós,
gostaríamos de tê-la para sempre.
Depois de algum tempo a preta falou:
– Vamos, irmãos, procurem comida. Nos lembremos das ordens do caboclo.
Não nos demoremos mais. Já nos refrescamos o bastante.
Saímos da água, em obediência àquela que sempre nos orientava e sempre
havia nos salvado da tirania dos brancos.
Andamos um pouco, e mais adiante achamos algumas árvores e um bananal
muito grande. Tinha bananas para se fazer o que quisesse. Havia também
algumas frutinhas pequeninas muito boas e doces. Fizemos um feixe das
bananas ainda verdes, e outro com as maduras.
Apanhamos também algumas ervas.
Voltamos para a gruta, dormimos um pouco e, quando acordamos, já era
noite alta e, sob o manto das estrelas e do luar, saímos novamente a
caminhar. Fizemos nossa fila, separamos as cargas para que não ficasse
pesado para ninguém. As bananas nos alimentariam por vários dias.
Começamos novamente a fazer como antes. Comíamos apenas o essencial e
bebíamos somente uns goles de água. Deixávamos a maior parte para as
crianças e as grávidas. Tivemos o cuidado de apagar nossas pistas e
seguimos rumo ao nascente novamente. Nossa caminhada se tornou mais
difícil por causa dos obstáculos. As rochas eram impossíveis de se romper.
O mato nós cortávamos, mas as pedras nós não podíamos parti-las ao meio
para passar, isso nos atrasava. Tínhamos que contorná-las e depois começar
tudo de novo.
Parávamos pouco e andávamos sempre rápidos. Uns iam sem bagagem,
para quando se cansassem fossem substituídos com os pesos, e os cansados,
deixávamos livres para caminharem mais leves.
Não há mata que eu não entre
Não há pau que eu não suba
Não há barreira que eu não derrube
Araruna, o Negro Gerson é de fé.
Xô, xô, xô araruna, é da Guiné.
Xô, xô, xô araruna, o Negro vence é porque Deus quer. A NOVA ALDEIA
Quando adentramos em novas terras, sentimos a mudança do clima. Então
fizemos como o Caboclo falou. Acampamos em meio aos arvoredos. Era
uma extensa área verde. Nos escondemos como pudemos, nos amontoamos
e ficamos à espera de novas ordens.
Depois que a preta nos preparou um guisado, com uma caça, e todos já
satisfeitos e menos cansados, entoamos baixinho um canto aos nossos
Equiches. E em meio ao céu e às nuvens, agora pesadas, parecia que íamos
ter um pequeno temporal.
Percebemos que ali, naquelas novas terras, chovia constantemente, então
apanhamos algumas palhas, fizemos uma ampla cabana, de uma árvore à
outra, entre rochas e matos, apenas para abrigar as crianças, que já eram
muitas.
Com cantos, nosso querido preto baixou.
– Fio de preto está salvo, e aqui podem ficar.
Reconstruam vossas aldeias. Terras agora são de vós micês. Aqui não tem
dono. O que cresceu aqui foi a Divina Providência que semeou. De hoje em
diante, aqui será vossa aldeia. Paz fica com fios de preto.
Todos juntos, de joelhos, elevamos os olhos aos céus e agradecemos.
– Pai, hoje nos devolveste nossa liberdade, somos livres novamente, para
reconstruirmos nossa aldeia. Não sabemos o nome dessa terra, mas logo
daremos um nome a ela. Somos gratos Senhor, a vós e aos nossos Equiches,
pela proteção.
Terminada a oração, juntos apanhamos os atabaques e fizemos um
agradecimento aos Orixás, à nossa moda. Todos cantamos e dançamos até o
sol raiar e depois caímos, exaustos no chão, e dormimos.
Acordamos com a chuva em nossos lombos, uma chuva torrencial que
lavou aquele solo e as nossas feridas. Lavou nossa alma das dores que os
brancos havia ferido, e, agora, estávamos prontos para reconstruirmos o que
eles tinham nos tirado.
A chuva finalmente passou e nós nos embrenhamos mata adentro para
cortar pau para fazermos uma cerca e construir uma cabana. Nego já não
era mais menino, já amadurecera e aprendera muita coisa, nessa longa
jornada, que durou muitas eras. Hoje Nego sabe que nossa tribo, atravessou
um continente, de um extremo a outro.
Os brancos nos tiraram da nossa querida terra, de barco a vapor. Nos
levaram pelo oceano. Não sabíamos que direção tomou, porque estávamos
confinados naquele barco. Mas agora, ao sairmos de lá, já sabíamos que
estávamos em outro extremo, de um outro continente, por causa de tantas
eras que andamos.
Pai preto, como eu o chamava, estava cansado e não o deixamos mais
trabalhar no pesado, só o deixávamos como guarda. Nego era um moço
formoso e musculoso, devido aos esforços recebidos desde menino. Mas
agora, Nego era adulto, e sonhava com outras coisas. O fato é que fizemos
acampamento naquelas terras. Reconstruímos nossa aldeia, pouco a pouco,
e todos que já haviam constituído família, ganharam uma casa só sua.
No centro da aldeia, fizemos nosso altar, ao nosso Equiche. Foi construído
em uma enorme rocha, que ficava bem no centro da nossa nova aldeia, e a
consagramos ao nosso Deus do trovão. Consagramos a ele por ter tantas
pedras. Ao lado erigimos também uma para nosso bondoso preto.
Plantamos flores e enfeitamos com esmero e carinho. Então esperamos a
lua cheia para festejarmos.
Quando a grande noite chegou já havíamos cercado tudo. Éramos muitos
homens e mulheres trabalhando todos os dias. Do raiar do dia ao pôr-do-sol.
Só dormíamos ao anoitecer. Nossa aldeia tinha ganhado tantos novos que já
dava uma pequena creche.
Ficou muito formosa nossa nova aldeia. Construímos uma cerca em toda a
sua volta, cercamos uma grande área de terra, entre pedras e árvores. Não
desperdiçávamos nada. Tudo era aproveitado. Das toras fizemos a cerca, e
das galhas finas, as paredes de nossas ocas; e as folhas eram secas e
maceradas para nossa cama. Dormíamos no chão, em cima daquelas folhas.
Quando caçávamos, das peles fazíamos nossas roupas. As capas de algumas
daquelas folhas, eram transformadas em confortáveis colchões. De longe se
via nossa aldeia. Lá todos trabalhavam e as mulheres idosas ficavam
encarregadas das comidas e das crianças, as maiores socavam as sementes
para engrossar a sopa.
E o tão esperado dia chegou. Como estava bonita a nossa aldeia. E de
joelhos novamente, antes da festa, agradecemos mais uma vez ao Criador.
– Hoje, Pai, estamos todos novamente em casa, são terras novas, talvez
distantes da nossa antiga morada, mas está mais formosa e farta, do que a
aldeia antiga.
Obrigado, Senhor nosso Pai.
Obrigado, Senhor Caboclo.
Obrigado, Senhor nosso preto.
Depois de mãos dadas, demos, URRA! URRA! URRA! E começou a festa.
A aldeia estava toda enfeitada e todos novamente felizes, e alegres. As
crianças corriam livres e os velhos, sentados nos tocos, a sorrir. Guerreiros,
velhos e crianças, todos em total harmonia, em meio às danças e
comilanças. Chegam os Equiches, para abençoar e dar proteção a nossa
nova terra.
Preto fala:
– Alegria de fio é alegria de preto. Alegria de criança também traz alegria
pra preto. Salve, fios da nova terra, salve, fios dos Equiches. Nossas terras
tem girada, onde canta a juriti. Quem fala mal de preto, precisa se corrigir...
Pisa caboclo e torna a pisar, aldeia de Nego precisa de proteção.
– Caboclo, que mata é essa? Caboclo, que terra é a sua? Caboclo, seu povo
tá aqui. Caboclo, esse Nego precisa de caboclo pra prosseguir. Enae, enaia,
sina, sina, sina. Coreó, coreó, coreá, coreó... Na choça de preto, tem preto,
tem preto, tem caboclo, tem nega.
A festa rolou até o outro dia. No pau do meio dia. Depois todos caíram de
cansaço e dormiram debaixo do sol e do manto das estrelas.
Fizemos uma horta, tínhamos muita fartura em nossa nova terra. Tudo era
muito diferente da antiga aldeia. Em nossa antiga morada não chovia e era
extremamente quente. Ali, chovia com freqüência e, às vezes, até frio fazia.
A chuva nos trazia fartura nas plantações. Sem chuva, as roças não iam
adiante.
Muitas vezes saíamos pra caçar. Era muito extensa aquela mata. Era tão
grande que saíamos pra caçar e passávamos dias embrenhados no mato.
Certa vez saí, eu e mais uns quatro guerreiros, subimos montanha a cima,
até chegarmos ao topo. Lá, subimos em uma árvore para ver ao redor; do
alto, podíamos ver tudo, por mais distante que fosse. Avistamos do outro
lado daquelas terras, e vimos uma outra terra. Lá havia uma enorme
cachoeira e muitas outras plantações.
Desci e contei aos outros. Terminada a caçada, voltamos para a aldeia,
trazendo fartura de carne para casa. Nego já tinha três cabeças de jaguatirica
para enfeitar minha cabana. Resolvemos perguntar pra preto, se podíamos
atravessar e ir ver as terras do outro lado.
Antes de fazer qualquer coisa, ou tomar qualquer decisão, pedíamos sempre
permissão e proteção para os Equiches. Nada fazíamos sem pedir. Nego
agora tinha família, tinha filhos e também tinha uma oca só pra mim.
A vida agora era muito diferente de quando eu era menino. Mas continuei a
sonhar. E, sempre que podia, eu me embrenhava na mata, sozinho, subia no
topo da árvore e ficava de lá, a observar o céu. Eu achava lindo ver as
águias voando alto no céu; seu vôo era sereno, e firme. Mas bonito mesmo
era quando elas viam uma presa, davam um rasante vôo e pronto, pegava de
uma só vez e carregava para o ninho, para alimentar seus filhotes.
Eu ficava hora esquecidas a ver seu desempenho como caçadora. Como era
bela, como seu vôo era certeiro; nunca perdia uma presa. E sempre que eu
descia, aproveitava e caçava também.
O nosso Criador tem desígnios que só ele sabe. Seus caminhos parecem
tortos, e longos, mas todos com um destino a ser seguido e um ponto certo a
concluir. Nunca sabemos o que fazer, nem como agir, em determinadas
ocasiões. Muitos de nós hoje, em Aruanda, éramos irmãos na carne. Hoje
vivemos a tentar, não só curar vossas dores e mazelas na carne, mas
também os espíritos, tão esquecidos por tantos.
A maioria de vocês, nunca reza, nunca pede ao Criador, nunca agradece
uma benção. E na mais leve dificuldade, já perde a fé no Criador e esquece
totalmente de Nego.
Havia terras do outro lado, mas precisávamos esperar preto para saber se
podíamos atravessar para o outro lado. Nunca mais ouvimos falar em
brancos. Na aldeia, ninguém gostava de lembrar da triste viagem. Havíamos
atravessado para outro continente, e agora, nossa aldeia estava distante
daquelas terras.
Tudo corria bem, estavam todos formosos e tranqüilos com a nova vida.
Tivemos uma tristeza, Pai preto partiu para junto do Criador. Era de idade
avançada e não agüentava mais fazer nada. Passava seus dias deitado, sofria
dores em suas pernas, que viviam inchadas.
Preto veio para tentar curar, aliviar suas dores. Mas nos disse que era
chegada sua hora. Havia terminado sua missão na terra, e devia ir para junto
dos deuses. Não chorei, porque para nós a morte não existia, era só uma
passagem, de um plano para outro.
Tudo na face da Terra tem um começo, um meio e um fim. Mas na
encantaria, na vida espiritual, não temos fim, temos apenas começo e meio
e toda a eternidade pela frente. Nunca chegamos a lugar nenhum, estamos
sempre buscando perfeição e aprendizado. Estamos sempre indo mais além.
Já na face da Terra, tudo é diferente; tudo começa e termina. Até o dia tem
começo e fim. Em nosso plano, não temos noite, estamos sempre na
claridade. Não temos sol e nem chuva, apenas dia claro. Não marcamos as
horas, nem corremos contra o tempo, como vocês que vivem sempre em
função dos marcadores de tempo.
Pai preto foi cremado e as cinzas jogadas nas águas cristalinas. A rotina da
aldeia era sempre a mesma, tudo estava manso. Nosso povo aumentou de
quantidade. Já tínhamos muitas crianças e jovens. Sempre havia
casamentos. Uniões que geravam novas vidas.
Éramos um povo feliz, não lembrávamos mais das dores que sofremos no
passado. Graças ao Pai as feridas cicatrizavam. Mesmo as feridas da alma,
um dia elas saram e passam a não doer mais. E as nossas estavam bem
cicatrizadas.
Certa noite nós estávamos fazendo festejo para os Equiches, estávamos
oferendando caboclo, quando um raio cortou o céu e veio cair no centro da
aldeia. Caiu em cima da rocha de Pai Xangô. Partiu-a ao meio e, na fenda
que o raio fez, correu água cristalina, uma bica de puro cristal. Ficamos
maravilhados com essa novidade e saudamos Pai Xangô, que havia
transformado sua antiga morada em uma linda cascata. Ficou muito melhor
a velha pedra com o fio d água a cair entre ela.
O Rei de Óio estava sendo cultuado e oferendado por nós há várias eras.
Nego já estava cansado e quase não saía mais pra caçar. Passava os dias a
ver as crianças brincando em volta da gruta. Mas elas, desde cedo,
aprendiam a respeitar os assentamentos e não mexiam em nada. E quando
um dos menorzinhos tentava mexer, diziam que o Rei de Óio era severo.
A calmaria reinou em nossa vida. Tudo se resumia, para mim, apenas em
observar as crianças.
– Ah Pai! Como vós escreveis certo em linhas tortas. Porque ninguém te
compreende? Por que fazem tudo errado? Por que pensam que só as
futilidades da vida na carne são eternas? Por que Pai? Se Tua sabedoria e
suas leis e que são eternas, assim como Tua paz, por que tanta maldade se
quando Tua mão tocar, tudo irá cair por terra?
Lembranças voltaram à minha memória, tudo passava como um longo e
penoso filme. Eu sentado em um toco, no centro da aldeia, bem de frente à
gruta. Nego partia da vida terrena. Deixei para trás tantas lutas e
sofrimentos. Tudo ficou contido naquele inútil corpo caído no meio da
aldeia.
Era encantador ouvir as crianças dizendo:
– Olhem, papai foi pra Aruanda. Vovó venha ver, ele agora dorme. Vamos
levar ele pra mata, pra ele ficar perto, bem perto dos Equiches.
DE VOLTA À VIDA ESPIRITUAL
Assim Nego deixou a carne. Fiz a minha “viagem final”, que tanto os
encarnados temem. O que não era pra ser temido. Tudo está escrito desde o
começo das eras. O Criador sempre nos diz que tudo é “passageiro”, na vida
terrena. E que não devemos nos “apegar às coisas terrenas”, que devíamos
dar “valor” aos objetos como eles mereciam: “nenhum valor”, apenas
objetos.
Eu parti feliz, feliz de ver nossa tribo reconstruída e livre novamente. Agora
já éramos muitos, “crescemos e multiplicamos”. Assim se resumiu a vida de
Nego no plano material. Fomos felizes à nossa moda, com o pouco que o
Criador nos ofereceu. Agora começará uma nova e longa etapa.
Nego era sábio, nunca estudei, mas o Criador nos deu inteligência e, na
aldeia, estudávamos com os pássaros, o sol, as estrelas, as plantas... e,
agora, outro aprendizado começará e o que aprendemos no plano material,
de bom ou ruim, nos acompanha em espírito até a morada eterna.
O que fica gravado em nossa memória imortal, não se esvaece, se
multiplica para a nossa evolução nos vários planos de nossa última e
verdadeira morada. Se todos soubessem, tentassem nos entender,
procurassem aprender mais sobre a vida espiritual, não haveria tanto
sofrimento na carne.
Nego chegou à nova morada, ainda ouvindo o canto das crianças. Eu já
sabia o que havia acontecido. Nego não era leigo. Passei de um plano para
outro sem problemas. Acordei em um grande e lindo campo verde. A
princípio eu estava só, pelo menos ao que me pareceu, mas logo fui dando
conta que não. Olhei ao meu redor e vi Pai preto, que vinha me
cumprimentar, com seu passinho habitual, bem devagar. Chegou a mim e
disse:
– Salve, filho, seja bem vindo a nossa nova morada eterna. Está se sentindo
cansado? Venha que te levo pra dentro, para se recompor.
Pegou-me pela mão. Nem se parecia com aquele velho inútil e doente do
plano material. Ele era lento, mas ainda útil. Seu corpo espiritual era velho
como na carne, mas saudável. Saiu puxando-me devagar, quase a flutuar
pelo grande campo verde.
– Pai preto, o senhor se curou?
– Sim, meu pequeno menino. Aqui, diante do Pai, na morada eterna, os que
trabalham na carne, em benefício do próximo, chegam até aqui, sem as
mazelas do corpo. Chegamos como você, leve e saudável, meu filho.
“Nosso espírito é saudável, se saudáveis forem nossas almas”. “A bondade,
o amor ao próximo e o trabalho nos levam sempre ao aperfeiçoamento e ao
crescimento”.
A verdade é que ao caminharmos chegamos a um lindo campo de flores,
que com seu perfume me reenergizou, me fazendo sentir melhor; e com o
continuar da caminhada, as forças iam se fixando no perispírito do então
espírito.
Depois daquele passeio minhas forças se renovaram. Era como se eu fosse
ainda um espírito encarnado. E juntos, Pai preto e eu, andamos por algumas
horas; parecia que ali, naquele imenso lugar, tudo eram flores. Pai preto leu
meus pensamentos e me respondeu:
– Meu filho, aqui realmente tudo são flores, tudo se resume em um lindo
campo florido. Mas apenas aqui fora, lá dentro, temos muitas outras coisas.
Logo conhecerás tudo. Você precisa se deitar para adaptar-se às novas
mudanças na vida de seu espírito.
Andamos mais um pouco e entramos em um edifício quase como um desses
menores do plano material. Só que mais amplo e tranqüilo; e quase não se
via ninguém nos corredores. Entramos em um pequeno quarto e Pai preto
falou:
– Meu filho, aqui terás que ficar para descansar um pouco. Todos têm que
repousar, para que um mentor instrutor possa lhe orientar. Eu só vim te
receber, filho. Não moro aqui, mas logo voltarei para ver como você está.
Até breve, filho. Que a paz repouse em seu coração, aqui também.
Ele se foi e eu me deitei naquela cama muito alva. Era como se a cama
estivesse flutuando de tão macia. Logo que deitei, em instantes relaxei por
completo. Vi de longe uma luz no tom lilás, bem clara, e dormi. Não sei
quanto tempo permaneci lá; a verdade é que quando eu abri os olhos, dei
um pulo da cama. Já não me lembrava mais onde eu estava. Tudo era muito
confuso em minha mente.
No fundo do quarto, do lado oposto ao da cama, havia uma janela e um
homem sentado. Olhou-me com seriedade e delicadeza, e disse:
– Oi! Como vai irmão? Precisa de alguma coisa? Posso te ajudar?...
Eu nada respondi, limitando-me a olhá-lo.
– Sente-se, que lhe trarei um suco revigorante.
Obedeci. E logo ele me trouxe uma pequena taça de um líquido meio
esverdeado. Como se fosse o suco de algum vegetal. Tomei sem vacilar. E
logo senti um gosto adocicado, muito bom.
– Sente-se melhor irmão?
– Por que me chama de irmão? Não sou branco, não tenho nenhum irmão
branco. Mas estou melhor, obrigado. Onde estou? Onde está meu Pai preto?
– Você fala do Sr. João? Ele veio só te receber. Ele mora mais adiante, em
outro plano superior a este. Mas ele me disse que voltará logo, para vê-lo.
Precisa de mais alguma coisa?
– Não obrigado.
– Aqui na casa de nosso Pai, somos todos irmãos. Ninguém é melhor do
que ninguém, nem cor de pele, nem dinheiro, ou posição social. Nada disso
importa todos somos exatamente iguais.
– Mas não entendo...,
– Depois você entenderá, deite-se mais um pouco que quando voltar a
acordar se sentirá mais leve e, talvez assim, conseguirá se lembrar de tudo o
que aconteceu e saber quem você era e como retornou para o lar eterno.
– É, vou fazer isso mesmo, estou com muito sono. Engraçado, aquele
líquido que você me deu, era algo para eu dormir?
– Não, irmão, só um preparado energético para fortalecer o seu espírito. Por
isso o sono. Deite-se que vou sair; volto mais tarde.
Obedeci, deitei-me novamente naquela cama, e apaguei. Se aquele tal suco
não era uma droga para dormir, funcionava como tal porque dormi por
meses. E quando finalmente despertei o irmão estava lá, no mesmo lugar.
Só olhei sem me levantar. Imediatamente minha mente voltou a funcionar e
tudo voltou à minha memória.
A cantoria das crianças, eu sentado no toco, em minha aldeia. E tudo o que
aconteceu ali, eu revi. Depois que deixei aquele que foi meu “veículo” no
plano material. Eu caído ao lado do toco. E as vozes das crianças, me
levando para a mata. Tudo voltou como num filme. Relembrei o enorme
jardim e meu Pai preto, me levando para aquele quarto.
Vi aquele irmão, que na realidade era um de meus irmãos ancestrais, em
outra recente encarnação, que não era aquela tão recente. Levantei-me e
pedi desculpas ao irmão pela minha ignorância.
– Perdoe-me, irmão, eu não o tinha reconhecido. Minha mente estava ainda
adormecida.
– Vejo que está melhor. O irmão descansou o suficiente? Ou precisa de mais
um pouco de suco?
– Não irmão, já estou bem, apenas sinto sede. Tem água, aqui?
– Sim, temos. Vou te servir. E do nada ele plasmou uma jarra com água
cristalina e me deu. Ele havia lido meus pensamentos novamente.
– Irmão, aqui não precisamos comprar nada, apenas imaginamos, pensamos
no que queremos e logo está em nossas mãos.
– É irmão, vejo que ainda estou esquecido.
– É normal, depois, com o tempo, tudo voltará à sua mente, naturalmente.
Quer dar um passeio? Vamos que eu te acompanho.
– E meu Pai preto, quando vou vê-lo de novo?
– Logo ele estará entre nós. Pense nele que ele virá. Ele pensa que você
dorme.
Elevei meu pensamento ao Criador, e pedi que Ele me permitisse ver mais
uma vez meu tão querido pai. Logo estávamos do lado de fora. Mas, antes
de sairmos do imenso corredor, vi vários outros quartos iguais aos meus.
Todos com apenas uma cama, com os mesmos lençóis brancos. Alguns
estavam vazios, e em outros havia alguém deitado. O silêncio era total.
Do lado de fora, os pássaros faziam a festa. Uma brisa muito boa me deu as
boas vindas. Ao longe vi meu Pai Preto, que vinha em nossa direção. Tentei
correr e não consegui. O irmão vendo minha aflição, disse.
– Você ainda não consegue volitar, por isso suas pernas não lhe obedecem.
Mas não se preocupe, não tenha pressa, pois temos toda a eternidade pela
frente.
Ele deu-me um forte abraço e se retirou, pois Pai preto já nos alcançara,
saudando-me.
– Filho amado, vejo que já está em forma, se recuperou muito rápido do
cansaço da longa viagem. Mas, por que o espanto? Parece até que viu um
fantasma. HÁ! HÁ! HÁ!...
– Não, Pai Preto, é que o senhor não está falando com a boca, o senhor me
entende?
– Sim filho, nós os espíritos, nos comunicamos via mental. Não usamos a
boca, porque ela é o veículo do lado material. E aqui, conversamos com o
pensamento. É igual quando conversamos com os filhos encarnados,
possuidores de dons. Por telepatia, como estamos conversando aqui. É por
isso que não se esconde nada de um espírito, para espírito. Lemos os
pensamentos uns dos outros, os que estiverem no mesmo grau vibratório
nosso.
– Agora entendi, porque o senhor sempre sabe o que eu estou pensando.
– Filho, não se aflija, logo aprenderá tudo de novo. É só uma questão de
tempo. E isso é o que não te faltará aqui em tua eterna morada. Vamos nos
sentar ali, para conversarmos mais um pouco.
Passamos muitas horas juntos, ali sentados, e ele a me esclarecer as coisas.
Depois disse que precisava ir e me deixou no meu novo aposento. Tudo
ainda era muito estranho pra mim. Na aldeia eu dormia a maior parte das
noites no mato, do lado de fora. E, aqui, eu tinha um lugar fechado e muito
vazio.
– Ah! Que saudade das minhas crianças! E caí num pranto tão profundo,
que soluçava feito criança.
– Irmão, porque chora? Não se sente bem? Vou chamar o irmão superior
para ministrar-lhe um passe e lhe dar algumas explicações.
Eu chorava tanto que não conseguia nem responder à pergunta que ele me
havia feito. Mais logo veio um senhor de longa bata branca, como um
médico. Mandou-me deitar, pousou a mão na minha testa e cantou um
mantra sonoramente relaxante. Devagar fui me acalmando e adormeci
novamente.
Via ao longe minha aldeia e simplesmente me desliguei por completo. E só
voltei a acordar, muitas horas depois. O tal médico já havia ido embora e o
irmão lá estava no mesmo banquinho junto à janela. Finalmente já não
chorava, estava bem calmo. Não me mexi, permaneci deitado a lembrar os
últimos acontecimentos. E, num lapso de memória, tudo voltou.
Relembrei quem eu fui, naquelas recentes encarnações, e fui relaxando até
dormir novamente. Era uma vida um tanto estranha para mim, um guerreiro
acostumado a tantas emoções. Agora estar a dormir. Dormi por longos dias,
e quando acordei novamente, chamei o irmão:
– Irmão, pode me ajudar a recuperar o tempo perdido, por tantos dias de
sono? Agora já sei quem sou e quero ajudar, quero ser útil, fazer qualquer
coisa. Chega de tanto dormir. Não quero passar toda a eternidade dormindo.
Ouvindo aquilo, o homem levantou-se e lentamente veio até mim, que
apenas havia me sentado naquela cama estranha. Ele ajudou-me a levantar e
perguntou se eu queria alguma coisa. Como a resposta foi negativa, saímos
corredor afora para encontrar a quem pudesse me ajudar. Caminhamos por
entre aqueles tantos quartos sem cruzar com ninguém, naquele imenso
corredor. Entramos a seguir, em uma ampla sala. Lá estavam várias pessoas
reunidas, e um deles falou:
– Salve, filhos, estávamos vos aguardando.
Logo o irmão se despediu, me deixando só com aquele povo estranho que
tão logo apresentou-se a mim.
– Seja bem vindo irmão, a esta nova morada, e que seja útil a você e de
grande ajuda para nós. Sente-se, que teremos uma palestra muito
interessante. Logo se aperfeiçoará e entenderá tudo.
Sentei-me naquele auditório, e comecei a observar. Tudo era delicadamente
decorado, simplesmente, com nada. Havia apenas alguns enormes bancos
de uma madeira desconhecida. E uma enorme mesa à frente, com apenas
uma jarra de flores no tom rosado, quase um vermelho claro.
Tornei a dar uma olhada ao meu redor e percebi que haviam chegado várias
pessoas. Todas eram homens, não havia mulheres naquele setor. Pelo menos
até aquele momento eu só havia visto homens.
Neste momento alguém entrou. Era um metódico e bem disposto rapaz. Já
quase senhor. Entrou e sentou-se à mesa, acompanhado por outro mais
velho. Um deles usava roupa branca e o outro um tom azul celeste. Sem
nada falar, sentaram-se e só depois nos cumprimentaram.
– Que a paz do Criador esteja entre todos aqui.
Daremos início ao nosso curso de aperfeiçoamento e esclarecimento. Os
mais antigos podem começar a nos perguntar o que desejam fazer. E os
mais novos, tentem entender o que estamos fazendo aqui e se enquadrem
em alguma coisa que os agrade e possa vir a nos auxiliar, também.
Um dos presentes que estava bem no centro da sala falou. Só então percebi
que a grande sala estava totalmente lotada.
– Eu cheguei aqui há mais tempo, então decidi sair em missão para poder
auxiliar meu mentor na recuperação dos recém-chegados. Por isso, gostaria
de mais informações sobre como agir e onde começar. Quero começar a
trabalhar logo.
Assim, um após outro, foram falando. E eu ali, parado. Parecia que eu
estava anestesiado. Não falei uma só palavra. Decidi pedir permissão para
sair. O que me foi prontamente negado. Permaneci, mas fiquei alheio a tudo
o que ali se passava. Nisso, algo me chamou a atenção. Estávamos sendo
observados por mais dois deles que estavam sentados mais acima daqueles
que estavam à mesa.
Eu ainda não havia prestado atenção a quase nada do que haviam falado ali,
e resolvi ficar mais atento. Descobri que aquele lugar era uma ala de
preparação espiritual e não um curso comum, como eu havia imaginado.
Dali, sairíamos para nossa nova morada e com nossos deveres para cumprir.
Todos iam falando e se retirando em seguida, e quando restavam poucos de
nós e chegou a minha vez de falar, o reitor disse:
– Filho, não temas o que não conheces. Se prestares um pouco mais de
atenção, descobrira quem sou, mas ficando assim, alheio e disperso, será
difícil abrir o canal de tua memória imortal e saber o que realmente queres
fazer e encaminhar-te ao teu novo lar. Aqui é uma ala de triagem, e não
poderás permanecer aqui por mais tempo. Já passaste o suficiente.
Prestando mais atenção àquela voz, reconheci Pai preto. Reclinei-me com
reverência e um pedido silencioso de perdão à minha rebeldia de recém-
chegado. Ele então começou a captar minha mente e disse:
– Vamos meu filho, sua morada já o espera.
Deu-me sua mão e saímos. Percebi que só restávamos nós, ali, e nada mais
falei. E em instantes já estávamos em outro setor, já diferente daquele.
Enquanto lá, eram alas vazias que havia várias pessoas andando de um lado
para outro, mas todas em total silêncio.
Passamos por várias alas e entramos em um lugar que dava para o lado de
fora de uma imensa e ampla quadra, com uma verdejante quase floresta,
com árvore e flores das mais diversas. E um quarto, mais adiante, quase
como se fosse de vidro. Era como uma quase transparente vivenda.
Entramos e me foi mostrado o campo onde eu estava. Pai preto deixou-me
ali e disse:
– Aqui encontrarás tudo o que precisas para dar início a tua jornada deste
lado da vida. Faça o melhor, para atrair sempre, em pouco espaço de tempo,
mais níveis possíveis. Não preciso te dar explicações, pois ao abrir estas
telas multidimensionais encontrarás tudo o que precisar saber.
Saudou-me e saiu. O lugar onde eu estava agora era distante da outra ala.
Mas eu já não andava, volitava como leves e lindas borboletas, que, em
curto espaço de tempo, iam de um lugar a outro.
Como era diferente aquele lugar. Como todos eram amáveis e gentis.
Queriam sempre ajudar a servir. Eu não havia visto disputa de posses,
demonstrações de quererem ser, aprender ou ganhar uns mais que os outros.
Ah! Pai, agora eu compreendia a razão que tanto vós pedíeis para “amarmos
uns aos outros como vós nos amastes”. Pediunos tanto que, “déssemos de
graça, o que de graça nos deste”. Mas ninguém entendeu o vosso recado, a
vossa mensagem, tão simples, tão bonita e tão fácil de seguir, seu caminho
reto e sem curvas.
Ah! Pai, por que todos só querem seguir o caminho tortuoso da ambição e
da discórdia? Prá quê se tudo fica, nada levamos? Tantas futilidades, tanto
luxo... Se com apenas um simples gesto de amor, um simples sorriso, um
simples obrigado, todos viveriam em perfeita união e comunhão. Mas não,
preferem correr... correr contra o tempo, juntar, roubar, amontoar, o que na
verdade não lhes pertence.
Ah! Pai dá-lhes sabedoria para que cresçam e entendam tua tão rica e
proveitosa mensagem que “é dando que se recebe, perdoando, é que se é
perdoado”, e que só “morrendo”, se viverá para a vida eterna. Eterna como
a fé, o amor, a caridade, a comunhão e a simplicidade.
Lágrimas rolaram de minha alma imortal. E de novo lembrei-me de minha
aldeia, a antiga, onde vivíamos com simplicidade. Não tínhamos quase
nada, pois o lugar era muito pobre de vegetação. Não tínhamos água,
devido à escassez das chuvas; faltava quase tudo. Mas mesmo com tão
pouco éramos felizes.
Mas o “irmão”, que era pra ser irmão de verdade, tornouse algoz, levou o
pouco que tínhamos com sua ambição desenfreada. Levou-nos a dignidade
e a liberdade.
Mas tu, Pai, usaste Tuas mãos e nos defendeste, nos protegeste. E debaixo
de Teu céu e de Tua benção continuamos firmes até a Tua mão dizimar a
impunidade deles, que trucidaram-se e se perderam em total escuridão. A
escuridão da alma.
Essa mesma alma que nos deste, cristalina e pura, sem marcas, para Te
servir, servindo ao próximo. Aqui Pai, estou eu, a esperar Tuas ordens, para
que eu possa continuar a servir-te com todo e grande amor.
Na carne, Tu adormeceste meu amor por Ti, mas nos deste, naquela imensa
tribo, o coração simples e a devoção por Teus Anjos, que são nossos Orixás.
E foi através desta fé neles, que caminhamos retos, com Teus ensinamentos,
com a ajuda para nos mantermos humildes diante da ambição e humilhação.
E também resignação diante das provas.
Assim, consegui chegar até aqui, e agora espero por Ti, para começar a
trabalhar, com um rico e amplo aprendizado, tão diferente do imundo, mas
proveitoso mundo material. Levantei-me, pois eu havia me ajoelhado;
recolhi minhas lágrimas e fui ver o que eu poderia fazer dali em diante.
Pousei a mão na tela, e logo fui procurando com minha visão, o que mais
me prendera no mundo material. Minha aldeia. Se a encontrei, foi porque eu
tinha um sentimento, uma vontade muito grande de revê-la. Olhei tudo e
não mais reconheci. Todos haviam mudado. Eu havia passado longos e
míseros séculos adormecidos. O tempo para nós espíritos, não passa, mas
na carne voam.
E as minhas crianças, já haviam crescido e desaparecido. Mas tudo
continuava lá, até a gruta, que tanto eu adorava, lá estava do mesmo jeito.
Só que com mais flores, devido aos anos ali postada. Desliguei aquela, e fui
a outras, e depois outras. E assim, de lugar a lugar, voltei a minha atual
morada.
Fiquei várias eras ali a aprender, a me instruir. E em cada tela, em cada
lugar que eu visitava, sem sair de minha morada, eu tentava me relacionar,
me acostumar a tudo, para só depois poder receber as novas missões.
O bom de ser espírito, encantado, é que não precisamos de descanso, pode-
se ficar dias, eras a fio, ali, estudando, se reciclando, sem precisar de
alimento ou sono.
Agora, já a par de tudo, caminhei para fora e fui dar uma volta. Elevei o
pensamento a Pai preto, mas ele não havia aparecido. Então continuei a
andar um pouco mais entre aquelas flores e plantações. Deitei-me na relva,
e fiquei ali despreocupado, quando vi um brilho diferente, ao longe, fixei a
mente e descobri uma imensa cachoeira.
Espantei-me com seu tamanho e rara beleza. Levantei-me e fui até ela. Que
formosura de águas. Fazia séculos que eu não via uma assim. Também, eu
não havia feito outra coisa, senão dormir. E depois só estudei. Essa era a
primeira vez, que eu parei para observar a natureza.
Caminhei um pouco mais, até ficar quase em contato com suas águas. Mas
foram as rochas que mais me chamaram a atenção. As pedreiras de meu Pai
Xangô que me faziam tanto bem, no plano material, ao me sentar em frente
a que tínhamos em nossa aldeia, para oferendar ao Senhor das Pedreiras, ou
das montanhas.
Ajoelhei-me e rezei, rezei com tanta força, que me pareceu ouvir os raios e
trovões caírem perto de mim, sem que estivesse chovendo. E num estrondo,
vi surgir em minha frente, o mais colossal e impressionante trono. O trono
do “Rei de Óio”. O meu querido e temido Pai Xangô. Baixei a cabeça em
sinal de total obediência.
– Filho meu, há tempos te espero, para mostrar-te sua nova missão. Não
mais reencarnarás, mas de hoje em diante, tomarás conta de alguns filhos
meus, que estão na carne. De longe, de tua morada, acompanharás e
protegerás a eles, no que for preciso.
Recorra aos seus auxiliares para ajudá-los, se preciso for. Mande-os ás
tendas no plano material, para auxiliá-los no que for preciso. E sempre que
tiveres dúvidas, é só me chamar, como fez agora, que virei te auxiliar. Vá,
olhe para as telas, e fixe sua visão no planeta Terra, que serás atraído a
quem precisa de sua ajuda. E com um estrondo se foi.
Não preciso nem dizer que chorei muito, de tanta emoção e agradecimento.
Para com aquele, que eu só havia visto como uma simples gruta, e alguns
raios. E foi assim, que eu, este espírito, este Nego, chegou até vocês, até a
nossa querida tenda, que até hoje, auxilio e oriento, juntamente com os
outros que ainda não poderei falar sobre eles.
Caminhei de volta a então sala, e fixei minha mente em algum ponto na
face da Terra. Surpreendi-me, com tamanha besteira que fiz. Havia tantas
pessoas infelizes, que quase não resisti, sucumbindo junto com elas. E num
impulso, desliguei imediatamente minha visão. Comecei a me questionar,
como ajudaria a Pai Xangô, quando Pai preto entrou na sala. Ele veio em
meu auxilio.
– Filho amado, chamou-me? Em que posso ajudá-lo?
Eu estava tão sem ação, que ele perguntou-me novamente.
– Sente-se bem, filho? Porque o espanto?
Então, devagar, fui voltando ao normal, e falei num fio de voz.
– Abri minha tela e... Então, contei a ele tudo o que havia visto. É Pai preto,
estou pasmo! Como poderei ajudar meus irmãos encarnados? Como
chegarei até eles, sem me acabar? Desintegrarei com tantas energias
pesadas sem conseguir conter as lágrimas.
Ele vendo minha dor falou.
– Filho, não precisas se expor tanto, não poderás chegar até eles assim.
Recomponha-se primeiro, enquanto eu vejo onde você foi com sua visão.
Depois, encontraremos um meio seguro, para que possas ajudá-los.
Enquanto Pai preto vasculhava minha tela refletora, desdobrei minha mente,
em clemência a Pai Xangô. E logo me senti melhor. Agora mais controlado,
olhei para Pai preto, que me disse.
– Filho, depois de analisar a todos, conclui que não poderás fazer isso
sozinho. Recorra a seus auxiliares que residem mais próximo da crosta
terrestre, para fazerem isso por você. Mas antes, estude o que deverá ser
feito. Depois dê as coordenadas para que eles possam agir. Assim você os
ajuda e não se expõe tanto.
Assim fiz. Recorri a eles, lhes passei as coordenadas e começamos o
trabalho. A Terra é um lugar muito pesado, cheios de sofrimentos, e
angústias, causados pela insatisfação de quem é infeliz com as mazelas da
alma aflita de cada um.
Na seara, todos têm uma função, mas poucos são os que realmente as
desempenham com afinidade, dedicação e sabedoria. É raro encontrarmos
pessoas de coração puro, como o seu (referiase a mim, a médium). De um
milhão de pessoas, apenas uma, tem esse predicado. É difícil lidar com
espíritos ainda tão imperfeitos, cheios de vícios e muitas faltas.
Um espírito encarnado, evoluído, e que cada dia fica mais leve, mais
sensível, quando em contato com várias pessoas, de vários níveis sociais
diferentes. Ao passo que ao longo do dia, em contato com essas pessoas,
sente o peso que elas irradiam. Não que sejam más, mas por ser a Terra, um
lugar de muitas imperfeições. Por isso, aquele que se purifica, se desliga das
coisas terrenas, passa a sentir, e vê Além dos sentidos grosseiros. Por isso
percebe e se sensibiliza com esse peso que é normal a todos os seres
encarnados em uma matéria grosseira.
Assim os espíritos ainda encarnados, que conseguem se purificar, se
destilar, ainda na carne, se sentem enfraquecidos diante das imperfeições de
seus irmãos na carne. Suas grosseiras imperfeições afetam a quem se
destilou um pouco mais.
Nós, os espíritos que não mais possuímos esse corpo da Terra, quando ao
universo retornamos, e já libertos desse fardo, não suportamos as energias
geradas por eles.
Nosso espírito é leve e transparente no espaço, enquanto na carne, são
grosseiros e opacos. Mesmo um espírito como o seu, é opaco, enquanto
encarnado (referiu-se a mim, a médium) senão não suportaria a irradiação
pesada, emanada pelos outros. Então ele só se cristalina, quando liberto do
pesado fardo.
Achei muito interessante, uma vez, antes de escreveres teu primeiro
manuscrito, estavas escrevendo sobre os sonhos. Falavas dos espíritos
encarnados, e comparava-os com as borboletas. Achei muito interessante e
verdadeira, as explicações que você dizia sobre eles. Dizias que:
– “O corpo é um pesado fardo que carregamos em nossa passagem na Terra.
E que quando partimos nos deitamos como as lagartas em transformação, e
nos transformamos em lindas borboletas.”
Achei interessantíssima a comparação e a estou escrevendo aqui. É pura
verdade o que dizes. “O espírito fica preso ao corpo, e arrasta-se pelo chão,
como as lagartas, carregam seu fardo de pecados, que é o corpo, e depois
que este morre, deixa-o e segue leve e cristalino a voar pelo universo”.
PARAGRAFO DOS SONHOS
– Sonhar é viajar sem sair da cama. Apenas o “espírito”, viaja todas as
noites. Deixa sua “casa”, (corpo), seu casulo, e sai a vagar pelas noites
escuras, ou enluaradas.
Todos nós saímos, para nossas viagens noturnas. Assim que o pesado corpo
se estica em uma confortável cama, logo se vê “ele, o espírito”, leve e solto,
alegre e matreiro, satisfeito em aproveitar, os poucos momentos de
liberdade, que seu “dono”, (o corpo), lhe proporciona. Uns mais, outros
menos. Mas todos nós, seres humanos, na calada da noite, no canto forte da
coruja o espírito sai.
“Sonhamos”, todas as noites, ou “viajamos”, todas as noites. Só que nem
sempre nos lembramos. Alan Kardec já dizia: “morremos todas as noites e
renascemos todas as manhãs”. E nem nos damos conta disso. A morte é
quase como um sono, um sonho, uma viagem.
Saímos a passear, mas não voltamos para casa. Abandonamos nosso
“casulo”, como as borboletas, abandonamos nossa “casca velha”, (corpo), e
renascemos em espírito para uma nova vida. Bela e quase sem tormentos.
Digo quase, pois na nova vida, tudo é transparente, parcialmente belo, sem
essa casca grosseira que é nosso corpo, a encobrir nossos defeitos.
“A velha casca”, a vida anterior, com os muitos tormentos e sofrimentos
marcaram nossa existência. Por isso eu digo: a nossa vida, é parecidíssima
com as vidas das borboletas.
Nascemos feios, cheios de defeitos. Na carne, nos arrastamos feito às
lagartas, no chão da vida. Nosso corpo, cheio de pesados “fardos”,
(pecados), quase não conseguimos levantá-los, (nós os espíritos), e arrastá-
los, como a pesada lagarta, que carrega, quase sem poder, seu pesado e
gordo corpo.
Nós também, nos arrastamos na caminhada da vida material, cheios de
vícios e maldades terrenas, tentando “alcançar um elevado nível social”,
que nos dê “estabilidade”, na área “financeira”.
Mas nem nos damos conta, de como isso nos torna pesados. Quando
morremos, nos libertamos em parte, de quase todos os fardos, e se
merecermos, aí sim, renasceremos lindos, claros e “límpidos, como as belas
e coloridas borboletas”.
Quanto mais nos livrarmos de nossos vícios na carne, seremos tão leves
quanto elas, a ponto de podermos flutuar no espaço e ir onde o Criador nos
mandar.
Sou Caboclo
Sou Negro Gerson
Sou um Caboclo diferente
Não temo as bruxarias
E só trabalho na magia Eu rezo um Padre nosso
De traz para frente
Pra ver se arretiro os olhos grandes dessa gente
Ai, ai, ai, ai
Os olhos grandes dessa gente...
Eu estou muito feliz, eu sou o mais bobo dos pais por ter minha vida
exposta em um livro. E mais feliz ainda por ser escrito por minha filha!
Uma filha desse negro.
ERVAS QUE CURAM
Pois bem, nesta outra parte, Nego dará algumas ervas para curar alguns
males simples desses que tiram o sossego dos filhos. São ervas fáceis de
encontrar e faces de fazer os banhos ou os chás.
Malva
A malva é eficaz em vários males, e se colocar algumas folhas em infusão e
beber de 2 a 3 vezes ao dia. Serve para depurar o sangue, limpa-lo das
impurezas. Mas para isso, basta tomar sempre nas horas certas. Ela é muito
eficaz como cicatrizante das enfermidades do ovário. Pode-se também fazer
o banho de assento.
Manjericão
Serve para a limpeza, desobstrução dos chacras. Algumas folhas de
manjericão com 7 gotas de perfume, lavanda ou alfazema, limpam a aura
abrindo o canal de comunicação astral. Ele também dá um bom xarope para
diversos males, como: tosse cheia ou seca, gripe mal curada e até
pneumonia.
Ninguém dá muito valor a essa erva cheirosa, que também é usada na
culinária como tempero. Mas é um santo remédio se usado continuamente,
ele tem o poder de secar as infecções que há no corpo. Por dentro e por
fora, além de purificar o espírito deixando-o livre e transparente.
Macere algumas folhas de manjericão, socando-as até fazer sumo, ponha
em uma vasilha com um pouco de mel, deixe ferver até virar um mel mais
grosso do que o melado. Depois é só colocar em um vidro e tomar 3 a 4
vezes ao dia. De acordo com as necessidades.
Mas deve-se tomá-lo nas horas certas para que sirva, como um verdadeiro
remédio. E não tem infecção que persista com ele. Até os pulmões ganham
mais resistência com esse lambedor.
Mastruz e corama
Esses dois juntos fazem uma bela parceria, que tanto pode se usar para fazer
um lambedor. Ou então socar e tomar o sumo. Torna-se muito eficaz contra
fraquezas de todos os sentidos e também como cicatrizante das infecções.
Olho gordo
• Arruda
• Pimenta malagueta • Erva de são João
• Guiné
• Comigo ninguém pode
Agora para tirar olho gordo dos estabelecimentos comerciais, apanha-se
uma muda de cada uma dessas ervas e coloca-se tudo em um jarro, plante-
os e conserve fora, do lado da porta de entrada do estabelecimento.
Pode-se também colocar para secar suas folhas e fazer desfumador.
Para chamar clientes
• Malva cheirosa
• Alecrim e manjericão
Para chamar, coloca-se água fervente em cima dessas folhas, abafe e espere
esfriar. Coe e pingue 21 gotas de alfazema; 21 de verbena; 21 de absinto.
Misture tudo, deixe passar a noite em casa ou se possível no sereno, pois
melhor seriam seus resultados se colocado no sereno. E na manhã seguinte
lava-se toda a porta de entrada, começando-se de dentro para fora e depois
de fora para dentro.
Depois, ao terminar acenda uma candeia (vela) para Nego juntamente com
um desfumador de chama.
Para atrair fartura
• Canela
• Cravo da índia em casca • Água de arroz
Faça uma infusão deixando de molho por três dias a canela, o cravo, e o
arroz. Depois se côa e é só salpicar no estabelecimento ou em casa.
Para amansar pessoas violentas
Escreve-se o nome sete vezes, juntamente com o da pessoa interessada.
Reza-se um Pai nosso, uma Ave Maria, ao seu Anjo Guardião e peça-o para
acalmá-lo. E se o intuito for conseguido, prometa-lhe uma candeia de sete
dias.
Dizem que tudo para ser bem feito, tem que ser feito com o clarão da lua.
Sendo ela, nova, cheia ou minguante. Mas eu digo que de nada vale fazer as
coisas em uma lua errada! É preciso saber ao certo para que se queira o
efeito, e esperar a lua certa para agir.
A lua cheia
É muito eficaz para o amor.
Nova ou crescente
Para fartura e prosperidade
Minguante
Para apartar, separar e extirpar o que não se quer mais.
Cheia
A lua é a maga do zodíaco, a maga cristalina do universo astral, e seu brilho
cintilante faz ficar inebriado qualquer homem apaixonado, e deixa
fascinado com seu brilho qualquer mulher. Quando a lua esta grande,
mostrando todo o seu esplendor, se mostrando por inteiro, ela atinge o mais
duro coração e esfria o mais quente ser com seu brilho prateado e frio...
Se o ser é bom, ele fica apenas inebriado. Mas se ele é ruim, ela o gela,
paralisando seu instinto ruim apenas com seu gélido ar prateado.
Esse é um astro perigoso! É muito belo, porém forte. Tudo o que se quer
conseguir, se quer alcançar seu objetivo se faz na lua cheia, pois ficará
muito mais forte. E se for para o amor, intensifica o seu valor, porque essa é
a lua dos enamorados.
Nova – crescente
Agora, quando ela está apenas mostrando uma de suas faces, como a lua
nova, que se torna poderosa nas poções para florescer qualquer “jardim”.
Ela faz crescer os cabelos renova a pele, aumenta a horta e renova o que se
quer renovar. Mas a lua oculta é a maga mais sinistra. É na face oculta dessa
maga que se fazem os bruxedos para extirpar as “ervas daninhas do jardim”
da vida dos filhos.
A lua está com sua face oculta, mas está irradiando sua força do mesmo
jeito. Ela apenas está mostrando o que se pode tirar da face da Terra e secar
até o seu derradeiro ramo. E para extirpar, separar... tudo o que não se quer
mais. Então usam a lua negra, como é chamada.
Ela é chamada assim por se ocultar das vistas de todos. Mas ela continua a
agir em surdina, fazendo com que seus efeitos sejam tão poderosos quanto o
das outras fazes.
Todos nós temos nosso lado oculto, o lado que ninguém sabe. E é esse lado
o mais poderoso, porque o que está à mostra é inofensivo, mas o que está
oculto é o mais magnífico, o mais maravilhoso, em se tratando de sua força.
Não se deve mostrar para todos os vossos dons, as vossas forças mais
ocultas, como a da alma, guardado em vossos corações. Vocês devem
sempre guardá-lo como uma “carta na manga”, em que o jogador a guarda
para vencer o jogo. E ela deve permanecer oculta até que se precise usá-la
em sua defesa, em sua batalha.
E é assim com tudo, se mostrarmos todas as nossas boas jogadas, acabamos
por entregar o ouro na mão do bandido. Mas se o ser está sempre
guardando, reservando “uma carta”, no seu lado oculto, escondendo uma
parte de sua face, de seu verdadeiro intuito, com certeza vencerá a “batalha
final”. Porque caso se precise, terá sempre uma “carta na manga” para ser
usada na hora de mais precisão.
E é assim que deve ser em tudo o que se for fazer. Devese apenas ser
límpido, cristalino com o Senhor, o Pai da criação, porque a ele nós
devemos o nosso sucesso, a nossa vida, a nossa vitória. E não tem nada
oculto para esse Mestre. Até mesmo para nós, os espíritos, nós temos nossa
visão limitada diante de um ser totalmente cristalino.
Por exemplo, que se mantém oculto, e que se mostra apenas o lado mais
comum, mais humilde, ocultando o mais luminoso lado para a cartada final.
Pois o mais claro pensamento está totalmente oculto em sua alma, em sua
face, que não é a face negra e sim, a mais luminosa das faces.
Agora, caso ela estivesse a mostra, e se o Pai da criação não tivesse
escondido o seu brilho mais forte, se Ele não tivesse ocultado sua face
luminosa dos “predadores”, esse ser jamais conseguiria cumprir a missão
que Ele lhe deu, porque os “predadores” já teriam “comido”. Os magos
negros teriam visto o seu mais “valioso tesouro”, que é a sua face luminosa,
a face oculta.
Porque enquanto um ser se passa por incompetente, ele na verdade está
trabalhando camuflado em benefício do bem maior de uma nação... Em prol
de muitas vidas que serão resgatadas. Agora, se Ele não o tivesse
camuflado, eles o teriam eliminado do caminho do bem, teriam conseguido
descobrir o seu brilho... porque o inimigo usa meios escusos para conseguir
o que ele quer.
Mas, diante da sabedoria infinita do Mestre dos Mestres, ninguém consegue
vencê-lo, pois Suas leis são sábias e ocultas aos olhos de muitos. Ele faz o
mais magnífico e largo caminho parecer aos olhos do mundo, o mais
estreito e sujo.
Ele faz o mais valoroso tesouro, parecer aos inimigos, o mais feio e inferior
carvão... Deixando todos pensarem que nada vale; que seu valor não passa
de uma lasca de madeira queimada, sem valor algum.
Essa é a “carta que está na manga”, e que não pode ser descoberta. Essa é a
mais valiosa “carta”, porque está camuflada em um simples carvão...
Quando na verdade é um diamante valioso que está sob ele, embaixo dessa
casca grossa. Ocultando o seu verdadeiro valor.
E é isso, meus filhos, o que essa lua oculta nos diz. É isso que vos mostra as
sábias leis do Criador, porque todos vós sabeis que: “o segredo é a alma de
um bom negócio”.
Enquanto todos pensam e vêem apenas o lado “escuro da situação”, o lado
luminoso está oculto, no mais “oculto e fascinante coração”.
Mas é assim que deve ser... Tem coisas que é melhor permanecerem ocultas,
até que se cumpram as Escrituras Sagradas. Porque se se descobre o seu
verdadeiro significado, o seu verdadeiro intuito, o mais profundo valor
antes da hora, tudo cai por terra... “jogando fora” anos, séculos e mais
séculos de espera por uma vitória que ninguém havia conseguido realizar.
Mas que, com a sabedoria e a misericórdia Divina, na “face oculta de um
ser” sem recursos, sem sabedoria, sem nada de extraordinário, Ele, esse
Mestre conseguiu quebrar o mais oculto dos feitiços, e que foi feito por um
mago negro... Nas mentes da ignorância; onde ninguém na face da Terra,
nenhum babalaô, Pai ou Mãe, que se diz “feitos”, conseguiu desfazer.
“Nenhum ser na face da Terra consegue ver o que há nas sombras, se já está
atirado nela”. Se o ser está no meio das “trevas da ignorância”, ele não vê o
que está adiante, o que está ao seu redor, por ele “estar a mostra”, no meio
da confusão, misturando-se a todos.
Mas quando o ser se oculta, mostrando apenas uma de suas faces,
mantendo-se integro e apenas aparecendo o seu lado menor, o lado sem
importância, escondendo o seu verdadeiro brilho, ninguém conseguirá
descobri-lo, e pegá-lo em “armadilha”.
É para isso que serve os dons dado pelo Criador; para isso e que serve o
resguardo, a abstinência, a entrega sem limites de um ser... Que apenas
trabalha em benefício do bem, do amor e da caridade. Onde a sabedoria de
uma criança, ultrapassa a de um ser adulto. E que desmancha com seu
sorriso, com seu coração puro, a simplicidade de seus gestos qualquer
feitiço.
Mas isso sem se mostrar, mostrando apenas o seu lado mais singelo, o mais
descrente da maioria dos adultos, que é “as brincadeiras”, apenas uma
“brincadeira de criança”. Ocultando assim, o verdadeiro sentido de tantos
“sorrisos e brincadeiras”.
E assim, esse Mestre age, e vence qualquer obstáculo, Ele tira qualquer
entrave que há em Seu caminho para conseguir chegar onde Ele quer, e
fazer um belo “trabalho” com apenas uma criança, sua simplicidade e um
contagiante sorriso.
Os grandes magos ficavam ocultos, resguardavam-se em suas cavernas e se
tornavam os mais sábios seres, apenas com seu lado oculto. Eles passavam
eras a fio, até meses, ocultos nas câmaras secretas trabalhando suas mentes
para descobrir as magias e prejudicar seus desafetos. Agora eu pergunto: e
eles eram sábios? Eram!! Mas deixaram de ser ao prejudicarem seus
irmãos. Porém eles só atingiam aos que eram afoitos e se “entregavam se
juntavam” ao se misturarem a eles. Um exemplo disso é a mulher, ela
consegue vencer até o DEMO com sua malícia. Isso porque ela reprime,
esconde o seu lado mais sábio e mostra, diz só o que o homem quer ouvir...
Isso quando ela não quer ser descoberta.
O que ela faz? Ora!! “Ela se faz de doce, de santa para comer o... das
almas”. É ou não é? Que quando ela quer, ela consegue dobrar o mais duro
dos machões, com seu charme. E isso, porque ela usa sempre o seu lado
mais frágil, o mais doce e inocente, como a criança.
Ela usa apenas metade do que ela diz saber ou ser e nunca se mostra por
inteiro. Esconde sempre a maior parte de suas “manhas” e mostra apenas o
sorriso. Como a criança que sorri inocentemente, mas que sempre consegue
penetrar nas mentes, nos corações de quem elas querem.
E quando ela percebe que algo vai atrapalhar a sua “cartada”, ela faz “um
corte inesperado” cortando qualquer obstáculo que esteja atrapalhando o
seu verdadeiro intuito. E é isso que vocês sempre devem fazer. Devem se
mostrar pouco para que não sejam “pegues por seus inimigos” os mais
ocultos.
Porque, “cego é aquele que sabe que existe e finge não saber”. Por isso é
que “o mundo está de cabeça para baixo”, porque enquanto uns trabalham,
fazem o máximo que pode se dando por inteiro, alguns, a maioria não faz o
mínimo de esforço... E se joga de coração e alma na lama, se deixando cair
nas trevas, dando a vitória ao inimigo. Porque, só não enxerga nada ao seu
redor “quem se mistura, quem está no meio da sujeira”. Pois quem “com
porcos come, porcos serão”.
Por isso é que o Mestre é o Pai da Criação! Porque “sábias são as Suas leis,
os Seus caminhos”... Onde nenhum ser encarnado ou astral conseguiu
penetrar na face oculta que Ele esconde, que Ele cria para esconder a quem
está sob Suas bênçãos, Suas ordens, Seus desígnios.
Passei a trabalhar, ininterruptamente, junto aos encarnados, dando apoio nas
searas. Mais para os lados de casa. Essas terras onde o terreiro, os catimbós,
são mais voltados para as origens negras. Os catimbós dos negros
kimbandeiros e dos africanos têm mais a ver com nossos costumes e nossas
culturas.
Viemos para cá, para levar adiante os catimbós de nossa antiga civilização.
E somente deste lado da costa é que temos esse ritual, com grande
influência Banto, Angola, Nagô. Todas as searas, do lado de cá, trabalham
com negros. E é comum chamarmos, Negos Gerson, Negos Chico, Zés etc.
Agora Nego fica assim, a ditar às coisas e a lembrar das outras tendas que
tem Nego como Senhor Caboclo 7 Montanhas. Que puxa mais para o índio,
do que para o negro propriamente dito. É diferente, pois a maior parte dos
índios das outras searas, não são realmente índios. São espíritos acoplados
às hierarquias deles, com afinidades para trabalharem como, caboclo isso,
caboclo aquilo. E irradiam tal e qual a um deles.
Não são como nós, que nas tendas dos terreiros do Norte e Nordeste, são
espíritos das tribos de negros. Essa é a razão pelo qual somos mais
conhecidos por cá. E somos mesmo, quase todos, irmãos em espírito, de
verdade, e não apenas por afinidades.
Este Nego fica feliz por findar este pequeno trabalho. E espero que todos
também possam lê-lo, e através desta leitura, possam conseguir aprender
alguma boa mensagem. E que possam com ela, crescer e aperfeiçoarem-se
para a preparação final, que o Criador nos concede.
Assim, Nego deseja que estes ensinamentos não fiquem restritos só no
papel, ou só na leitura dos filhos que desejarem me conhecer um pouco
mais. Que através destas linhas simples e objetivas possam tirar proveitosos
ensinamentos de evolução. Para que todos, ou apenas alguns, possam
conseguir alcançar a luz das almas cristalinas ainda em espíritos
encarnados.
É gratificante podermos ensinar, pelo menos tentar mostrar para todos, em
um simples livro, a verdadeira “arma” que defende, ajuda a crescer, e
derruba qualquer obstáculo que entrave a caminhada de um espírito, sendo
ele encarnado ou espírito astral. O egoísmo, as fraquezas da carne, a
ambição, são “veículos” de discórdia de espíritos imperfeitos.
Agora, a fé, o amor incondicional, a caridade. Ah!..., Que beleza de trio!
Essas são as “armas”, a senda verdadeira da evolução, da entrada em
mundos sutis e benevolentes. Cresçam irmãos, cresçam e sintam a
formosura de ser um espírito perfeito.
Que a Paz a luz o amor de Oxalá fique com os filhos deste Nego.
Nego Gerson
Caboclo 7 Montanhas
Ago.
Pontos cantados.
Ele vem na gira
E todas as pedras
Vem rolando
E as barreiras
Vem quebrando
Gerson é meu defensor
Oi salve Oxossi!
Oxalá nas cachoeiras
Saravá! Quebra barreira
Gerson é meu defensor!
Oi salve!
Oxossi
Oxalá nas cachoeiras
Saravá!
Quebra barreira
Gerson é meu defensor!
Eu estava na mata virgem
Circulando meu rochedo
Quando ouvi aquela voz
Corre depressa feiticeiro
Quando ouvi aquela voz
Corre depressa feiticeiro
Dezilinha, dezilinha
Gerson vai dezilinhar
Ou dezilinha aqui na Terra
Ou dezilinha lá no mar
Bate, bate na macumba
Bate, bate macumbeiro
Agora que eu quero ver Se o Negro Gerson tem poder...
Vai, vai, vai
Eu quero ver se não vai
Vai, vai, vai
Eu quero ver se não vai
Quem é filho de Negro Gerson
Meu pai
Pode tombar, mais não cai...
Embala eu meu Papai
Embala eu
Embala eu meu Papai
Embala eu
Sarava seu Negro Gerson
Que ele é chefe de Gongá
Sarava mamãe Oxum
Rainha dos Orixás
Negro, Negro
É do capacete de ouro
Olha Negro é Negro Na mina de ouro...
Pai, Pai, Pai meu
Pai, Pai, Pai meu
Todo mundo tem um pai
Só não é igual ao meu...
Não há mata que ele não
Entre
Não há pau que ele não
Suba
Não há barreira que não
Derrube
Ara o Negro Gerson é de fé
Xô, xô, xô araruna
É da Guiné
Xô, xô, xô araruna
O Negro vence é por que
Deus quer...
Só dá boa noite
Quando é da noite Só dá bom dia
Quando é do dia
Eu só queria que Deus
Me desse
Uma estrela para ser meu Guia...
Só da boa noite
Quando é da noite
Só dá bom dia
Quando é do dia
Saravá!
Sr. Negro Gerson
Vem desmanchando todas as bruxarias...
Papai
Mamãe me chama
A meia noite na encruzilhada
Saravá!
Sr. Negro Gerson
A meia noite na encruzilhada
Ele é feiticeiro
Porque assim lhe convém Quem é filho de Gerson
Não deve temer a ninguém!
NEGRO, NEGRO QUE FALA NAGÔ
NEGRO DA COSTA RICA
NEGRO É BABALAÔ
É NA MACUMBA Ê, Ê...
É NA MACUMBA Ê, Á...
O NEGRO BEBE O NEGRO FUMA
NA PANCADA DO TAMBOR
NEGRO JÁ BEBEU MARAFO
SARAVÁ BABALAÕ.
Babalaô, babalaô Nego Gerson na gira
É babalaô
ACIMA DE DEUS É FOGO
ABAIXO DE DEUS É ÁGUA
ABAIXO DA ÁGUA A ESCURIDÃO...
E O NEGRO GERSON NESSE SALÃO. BIS
SEU NEGRO GERSON TRABALHA (BIS)
É COM São CIPRIANO E JACÓ Ele TRABALHA COM A LUA E O
VENTO
Ele LEVANTA É COM A LUA E O SOL.
ESSE NEGRO
DEZILINHA
ESSE NEGRO
DEZAMARRA
ESSE NEGRO
LEVA OS CONTRÁRIOS
É LÁ PARA AS SETE ENCRUZILHADAS...
MAIS ALGUNS ENSINAMENTOS
Hoje você me fez algumas perguntas no fim da tarde, o que me deixou
também pensativo, como você também ficou, filha. Você me perguntou se
todos os espíritos que nada fazem na Terra iam para a zona das sombras. E
eu lhe respondi e respondo: os espíritos encarnados vêm para a Terra
cumprir uma missão... pois a maioria de vocês quando reencarnam é
exatamente para isso, para cumprirem uma missão e quitarem mais
rapidamente seus débitos.
Quando esses espíritos descem para este plano de perdição, de luxúria,
ambição, vocês esquecem-se do que prometeram ao Criador e acaba
trilhando caminhos escusos, longe das verdadeiras intenções que realmente
o fizeram vir para Terra. Por isso que você me fez essa pergunta, e eu a
estou aproveitando aqui em nossos ensinamentos.
Muitos apenas vivem suas vidas na Terra como “hóspedes indesejáveis”,
indesejáveis sim!! Porque quem não trabalha em favor, em benefício de seu
próximo, não são realmente trabalhadores do Senhor! Não habitam a casa
do Pai e sim, apenas são hospedes dela.
Tem filhos, irmãos, pais que só vivem em sua própria função, não se
preocupam com seu irmão, se está alimentando-se, se tem algo para botar
em seu estomago vazio ou se eles precisam de uma simples roupa para
aquecê-los do frio ou da chuva.
Esses são as maiorias na Terra. Tem uns que se deitam e levantam-se sem
ao menos fazerem o sinal da cruz... E isso é muito triste... Mas nós apenas
nos entristecemos como você. Nós não podemos interferir em seu livre
arbítrio! Esse seres passam a vida terrena toda a se enfeitarem a burlar Suas
regras, a passear de balada em balada. E um dia, quando acordarem dessa
longa caminhada terrena, e que abrirem seus olhos para a vida espiritual,
mas por já estarem de volta ao seu habitat verdadeiro, e nada mais poderão
fazer, senão, se a bondade divina e a misericórdia do Pai lhes derem nova
oportunidade de voltarem à Terra novamente.
Às vezes esses seres cometem tantas aberrações que passam muito tempo
retidos nas trevas da ignorância, e mesmo assim, o Pai da Criação ainda
demora muito para lhes dar nova chance. Mas eu, você, nós não podemos
fazer nada, se eles não querem aprender; estudar, ajudar a si mesmo. Pois já
se acham sábios o suficiente.
Ah, pobres almas perdidas, que se recusam a ler, a estudar sobre esse
imenso mundo espiritual, onde há tanta coisa ainda oculta, e que se
dependesse deles, para essas coisas serem abertas, ficariam para sempre
ocultas, ou então, levaria muitos milênios para serem abertas a este plano.
Onde há alguns filhos que se empenham em aprender, em aprender para nos
ajudar a ensinar... A passar esses muitos ensinamentos preciosos a evolução
de tantos filhos.
Mas todos querem apenas criticar, dizer que isso é errado e que você, minha
filha, está escrevendo sob o comando de um Kiumba. Ora!! Tenha a santa
paciência!! Onde é que já se viu um espírito das trevas dizer tantas palavras
doces; tantos ensinamentos belos e preciosos a evolução?
Aonde, filhos, aonde em qualquer plano um espírito trevoso tem tanta
paciência? Tantos ensinamentos, com tanta sabedoria? Será que por
ventura, perderam o senso do que seja bom ou ruim? Do que seja um
espírito de luz ou das trevas?
Mas já que tocaram nesse assunto, eu vou tornar a explicar para esses
muitos sabichões, como age e como são cada um desses espíritos.
Um ser do baixo astral, para começar, um ser com energias tão pesadas
quanto um kiumba, ele jamais se aproxima de um filho cristalino! Primeiro,
porque um filho cristalino só tem amor, benevolência, caridade, consolo,
em seu coração. E depois, um ser trevoso, ele não tem paciência para ficar
horas a fio a escrever calmamente como você fica.
– Agora diga-me criança, como você fica quando esta escrevendo?
Responda-me filha!
– Eu fico em um estado profundo de paz. Eu não sinto nem um tremor,
nenhuma força estranha em mim, a não ser a sua voz, calma que dita para
mim as palavras, e que eu copio rapidamente para o papel, sem parar, ou
sequer ficar ofegante a minha respiração, que é tão serena como se eu
estivesse dormindo profundamente, de tão lenta. E às vezes, quando por
acaso, algum barulho corta o silêncio da noite, eu me assusto como quem
acorda repentinamente.
– Obrigado.
Alguns de vocês, irmãos, filhos, amigos, já viram uma sessão de mesa
branca? Por ventura já acompanharam a incorporação de um desses
espíritos em um médium? Quem já viu, sabe que eles são debochados,
impacientes, nervosos e sem nenhum pingo de escrúpulos! São agitados,
autoritários, briguentos... Agora, um espírito de luz é exatamente o oposto!
É calmo, compreensivo, passivo e muito amável.
É ou não, verdade isto que eu estou falando? Por isso, muito cuidado antes
de irem acusando, antes de jogarem uma pedra no telhado de alguém...
Apenas tenham muito cuidado!
Tudo na face da Terra tem uma razão de ser, um significado, um por quê! E
o que nunca devemos fazer é questionar os desígnios desse Pai que tudo
sabe e tudo vê. Uma aparente dor, uma aparente tragédia se torna em uma
ou várias bênçãos.
Se vocês pensassem, analisassem a tragédia de um outro ângulo, e não o da
dor, com o coração, a emoção, veriam sempre além da grosseira matéria.
Mas infelizmente, ninguém na face da Terra tenta interpretar os desígnios
de nosso Criador. Todos apenas vêem com os olhos da emoção e esquecem-
se da razão no qual o Criador queria... queria que tudo acontecesse dessa
forma.
“Nada nesta vida acontece ao acaso”; “Nada foge ao Seu comando”, e
nunca um filho, que pensa que está agindo por sua simples razão, ele não
está! Ele está sob as ordens expressa e Suprema do Senhor do mundo.
Porque quando Ele diz que um filho não está só, ele não está! E quando Ele
diz que nada acontece sem Sua permissão, é porque nada foge ao Seu
controle. E quando Ele põe Sua mão, é para pesar sobre os ombros, sob as
costelas de quem atentar contra Sua vontade, contra Seus desígnios.
A cada era vivida na Terra, a cada vinda de um espírito, a cada
reencarnação de um ser, ele cresce, avança em sua caminhada evolutiva. E
de acordo com sua dedicação, o ser galga um, dois, ou vários degraus de
uma só vez.
E é para isso que serve a vinda de um espírito à Terra. Mas o que ocorre é
que alguns começam até bem, mas com o caminhar da vida terrena, ele
entorta seu caminho, saindo do caminho reto, entrando no caminho da
perdição. No espaçoso caminho da degradação. E o que ele havia
conquistado, ele perde, e sua evolução fica parada.
E quando ele findar os créditos que havia adquirido, ele fica como se
tivesse acabado de chegar à Terra, só que com uma diferença, com mais
débitos do que o anterior. E se ele não se redimir, ele desencarnará com uma
“mala cheia”, mas de pesados débitos.
Tem filhos que vêm com uma missão tão bela, tão maravilhosa, que se ele
soubesse, se ele parasse, deixasse um pouco os vícios, ele veria o quanto ele
seria útil a humanidade, o quanto ele ajudaria ao seu Senhor. Mas isso se ele
atinasse que tem que parar de beber, fumar, de entregar-se de corpo e alma
ao inútil, a podridão, fechando o canal que o liga a luz, abrindo um outro
bem grosso e resistente com as trevas, “as trevas da ignorância”, da
vaidade, da luxúria...
Ah! Pai ajude! Pai da criação, ajude sua menina a ajudar a esses filhos a
verem que eles estão se distanciando de Vós, que eles estão jogando fora o
bem maior que um ser tem de melhor, de mais valioso, que é o Vosso amor,
as Vossas bênçãos...
Os dons do espírito, a caridade, a benevolência, a misericórdia, a
simplicidade... Ah! Pai porque os seres são tão vazios, porque não lembram
o que fizeram, o compromisso que firmaram com Vós? Será que eles
pensam que a vida na Terra é eterna? Será que não vêem o mal que estão
fazendo a eles mesmos? Que estão jogando fora um precioso tempo?
Mas tudo tem sua hora, tem o momento exato para acontecer, e não adianta
correr de sua sina, de seu carma, que na verdade são apenas Seus desígnios
que estão sendo cumprido a risca.
Mas o povo pensa que, são só carmas, que é o acaso? Mas eu lhe digo
novamente! “Não existe o acaso”!! “Não existem coincidências”, e sim,
uma linha muito bem riscada por “Ele”, o meu, o vosso Pai maior da
criação.
É... Meus filhos é muito triste quando um filho não quer ver o mal que está
fazendo a si próprio, e não entender o porquê de tudo estar se
desmoronando. É muito fácil julgar, criticar... Mas difícil mesmo é agir e
não questionar o que está em evidência. Que a paz, a luz, e o amor de Jesus
fique com todos.
Nego Gerson

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