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On a whim

Série Katie 2
Robin Jones Gunn
Capítulo 1
- Qual botão eu aperto? Katie fitava o painel de opções do aparelho de micro-
ondas da sua melhor amiga.
- O que diz 'pipoca'. A voz de Cris do quarto de seu apartamento carregava ênfase
suficiente para comunicar que Katie deveria saber a resposta óbvia.
- Oh. Achei!
Katie pressionou o botão de pipoca e sacudiu o seu cabelo ruivo para trás das
orelhas. Ela estava pronta para comer bastante naquela Noite das Garotas delas.
Abrindo a porta do freezer, ela gritou:
- Tudo bem se eu usar todo o gelo? Você não tem muito aqui.
- Use tudo, Cris gritou de volta. Você sempre pode descer ao apartamento do
Rick se você precisar de mais.
- Rick está no Arizona. Eu te contei isso, não contei? Katie parou de encher o
liquidificador com gelo enquanto Cris caminhava para dentro da cozinha. Ela
tinha vestido shorts de pijama de flanela folgados e uma das camisas de moletom
com capuz de Ted. Seu longo cabelo cor de noz-moscada estava preso em um
rabo-de-cavalo e o seu rosto estava verde.
- Uau! Isso é mais verde do que eu me lembrava. Katie disse. Você já está
sentindo formigar?
- Um pouco. Sinto minha pele esticada.
- É assim mesmo que deveria estar.
- Então eu acho que está funcionando. Cris pegou um dos morangos congelados
que estavam descongelando em uma tigela no balcão da cozinha. De que você
disse que isso foi feito?
- Os smoothies? 1
- Não, a máscara facial.
- Pó de chá verde, pólen de abelha, mel, ovos brancos e algumas outras coisas
orgânicas.
- E me diga de novo quem deu isso a você e disse que era ótimo?
- Nicole. Ela usa isso o tempo todo e você viu a pele dela.
- A pele dela é perfeita, Cris disse. Mas Nicole provavelmente se exercita
regularmente e come direito, então eu acho que ela tem vantagens adicionais
sobre nós.

1
Bebida feita com iogurte e frutas. Parece um pouco com sorvete, mas é mais saudável.
- Nós estamos trabalhando na saúde alimentar até mesmo enquanto falamos.
Katie colocou alguns morangos e blueberries2 congelados dentro do liquidificador
por cima do iogurte light e dos cubos de gelo.
- Nós tínhamos gelo suficiente? Cris abriu a porta do freezer. Eu acho que o nosso
congelador está estragado.
- Nós temos o suficiente. Ajuda que as frutas ainda estejam congeladas.
- Se você quiser mais gelo, eu estava falando sério quando disse que você poderia
descer ao apartamento do Rick e do Eli. Eli provavelmente está lá. De fato, ele
vai até ficar feliz por ser a pessoa a lhe dar o gelo, pra variar.
- Muito engraçado.
- Mas é isto. Cris tentou abrir a sua boca na forma de um O e passou levemente a
mão em um lado do seu rosto. Eu estou rachando?
- Sim. E eu não vou fazer nenhum comentário adicional. Eu também não vou
adicionar comentário algum ao tópico de quão supostamente rude eu sou com
Eli. Eu já ouvi demais o Rick falando sobre isso. O cara me deixa nervosa, ok? Isso
é tudo o que eu estou dizendo. Isso é tudo o que eu já disse a respeito dele. Eli
é...
- Ele é um de nós, Katie. Você nem deu uma chance a ele. Ele é o colega de
quarto do seu namorado e ele foi o colega de quarto do Ted quando eles estavam
na Espanha. Ele vai estar durante algum tempo em nosso círculo. Você realmente
precisa fazer as pazes com isso.
O micro-ondas deu um ”bip" lento e Katie tirou vantagem da interrupção para
sair do assunto atual da conversa.
- Eu acho que o seu micro-ondas está mais ou menos do mesmo jeito que o seu
congelador. Esse saco de pipoca mal começou a inchar.
- Mas está com cheiro de pipoca. Cris deu um passo passando pela mesa da
cozinha rumo à janela que tinha aberto para o pátio gramíneo e o passeio de
cimento. Talvez seja essa máscara verde que eu estou cheirando. Alguma coisa
está cheirando forte.
Katie apertou o botão de pipoca no micro-ondas novamente e retornou ao
liquidificador e o ligou.
- Você gosta bem batido? Ela gritou por cima do som do gelo sendo quebrado.
- Não faz diferença pra mim, bata o suficiente até que fique doce. Eu não gosto
de smoothies que parecem mais com um iogurte forte do que com fruta.
- Por que você não trabalha na mistura perfeita enquanto eu pinto o meu rosto
de verde?
Cris balançou a cabeça, mas não disse coisa alguma numa tentativa aparente de

2
Planta silvestre que dá frutinhos comestíveis.
não estragar sua máscara verde que estava secando.
Katie entrou para dentro do pequeno banheiro do apartamento de um quarto de
Ted e Cris. O banheiro era do mesmo jeito que o do apartamento de dois quartos
de Rick e Eli, alguns andares abaixo. A pia oval tinha as mesmas torneiras de
bronze com o mesmo tipo de corte e tom e cal na base.
O que fazia o banheiro de Ted e Cris quase atraente era o tapete combinando
com a cortina de chuveiro e as toalhas. Katie tinha ajudado Cris a escolher o jogo
colorido com crédito que Cris tinha na Banho e Alegria depois de ela devolver
uma variedade de presentes de casamento repetidos. Agora tudo no banheiro
dela combinava. Os tons praianos de listras amarelo pálido, azul e verde na
cortina do chuveiro eram acentuados pelo tapete e toalhas e faziam o quadro
com a foto de uma cachoeira na parede parecer ainda mais convidativo.
Katie podia quase acreditar que isso estava prestes a se tornar uma relaxante
experiência de spa caseiro que ela esperava quando Cris sugeriu que Katie viesse.
As longas horas que Katie havia aplicado em seus estudos estavam começando a
desgastá-la, assim como a disponibilidade de 24 horas por dia que era requerida
dela como uma assistente dos residentes na Universidade Rancho Corona.
Esse tempo de reconexão para Katie e Cris estava passando da hora há muito
tempo.
Colocando seu cabelo sedoso pra trás num rabo-de-cavalo, Katie fez uso de
alguns grampos que Cris deixara no balcão. O primeiro passo era lavar o rosto.
Depois, ela aplicou a meleca orgânica com dois dedos. A sensação fresca e
refrescante a levou a abrir bem os olhos e a boca e fazer uma cara engraçada no
espelho. Ela notou que a cor verde da máscara era do mesmo tom de seus olhos.
Com uma cheirada, Katie concordou com o comentário de Cris mais cedo de que
algo tinha um odor forte. Ele parecia estar ficando mais forte e não era
especialmente agradável.
- Cris, é essa pipoca que eu estou cheirando? As palavras de Katie estavam
perdidas no zumbido do liquidificador.
Andando vagarosamente para a cozinha, Katie chegou bem enquanto Cris
desligava o liquidificador. Com um olhar para o micro-ondas, Katie gritou:
- Fogo!
Movendo-se rapidamente pela cozinha, Katie bateu seu punho no botão de
desligar o micro-ondas. Ela agarrou o liquidificador e, abrindo a porta do micro-
ondas, ela molhou o saco de pipoca com o smoothie de iogurte de morango.
- Katie!
- Está tudo bem. Olha, apagou o fogo. Não se preocupe. Eu vou limpar. Cara, o
que aconteceu com essa coisa patética? Katie puxou um par de pegadores da
primeira gaveta ao lado do fogão e tirou o saco de pipoca. Ela segurou o disco
retangular chamuscado gotejando com sujeira de morango sobre a pia. Ao invés
de inchar e subir como um saco de pipoca de micro-ondas normal, o achatado e
indiferente saco de papel tinha entrado em auto-combustão e explodiu em
chamas.
- Que bagunça! Ta com um cheiro horrível. Katie, de onde essa pipoca veio?
Sem responder à pergunta de Cris, Katie derrubou o desastre há pouco evitado na
lixeira e foi atrás de um pano de prato para amenizar a sujeira rosa.
- Você ainda tem a caixa? Cris continuou. Porque eu estou pensando que nós
devemos contar à loja, então eles podem substituir o restante do estoque.
- Isso não será necessário. Katie evitou o olhar de Cris. Eu não comprei em uma
loja.
Cris entregou a Katie o rolo inteiro de papel toalha e esperou que ela finalizasse
a sua confissão.
- Eu comprei a pipoca num bazar de garagem. Eu sei, eu sei. Você não tem que
dizer nada. Eu estou fazendo uma nota para mim mesma neste exato momento:
'Ei, Katie, de agora em diante não compre comida em um bazar de garagem. '
Não vou me esquecer disso.
Cris acomodou o chumaço usado de papel toalha dentro da lata de lixo e deu a
Katie um olhar perturbador.
Com um sorriso sem-graça, Katie disse:
- Acho que isso significa que eu não deveria usar a caixa do Hamburger Helper
que eu também comprei no bazar de garagem.
Embora ela quisesse parecer furiosa, Cris começou a gargalhar. Ou, pelo menos,
tentar gargalhar. Sua boca estava puxada pra trás em uma posição apertada, não
natural.
Katie deu risada da expressão esquisitamente inclinada de Cris, agradecida que a
sua amiga estivesse mais uma vez estendendo graça a Katie.
Só então uma batida alta soou na porta.
Katie e Cris pararam de rir e olharam uma para a outra. Katie podia sentir a
máscara secando e apertando as dobras que sua risada tinha acabado criar.
- Você vai atender à porta? Katie sussurrou.
- Não com essa cara!
A batida soou novamente.
- Você atende. Cris deu uma cotovelada em Katie.
- Eu? Este é o seu apartamento, não o meu.
Uma abafada voz masculina do outro lado da porta fechada chamou pelo nome
de Cris.
- Eu acho que é o Eli, Cris sussurrou.
- Ele provavelmente sentiu o cheiro da fumaça saindo pela janela aberta. Venha.
Nós duas devemos ir.
Antes que Cris pudesse protestar, Katie a puxou até a entrada e abriu a porta
totalmente. Tentando menosprezar o desastre que, por pouco, não acontecera,
Katie ensaiou uma pose casual como se ela ”batesse ponto" toda sexta-feira à
noite no apartamento de sua amiga casada, pintando seu rosto de cores vibrantes
e colocando fogo em modestos eletrodomésticos.
Eli, ou Cara do Cavanhaque, como Katie o tinha intitulado no casamento de Cris
e Ted, estava de pé no tapete de boas vindas segurando um grande saco de lixo
preto. Ele estava usando a camiseta cáqui exigida para o seu cargo de segurança
do campus. Seu cabelo castanho-claro estava mais curto do que estivera da
última vez que Katie o vira dirigindo pelo campus em um dos carros de golfe.
Assim que as irmãs marcianas com seus penteados de Pedrita Flintstone abriram
a porta, Eli e o seu saco de lixo deram um passo involuntário para trás. A
exclamação dele parecia estar presa á sua garganta.
- Um pouco cedo para o Natal, Katie brincou apontando com a cabeça para a
sacola.
Eli levantou o queixo como um urso pardo farejando fogueiras campestres.
- Está tudo bem? Eu acho que ouvi alguém gritar quando eu deixei meu
apartamento. Então eu senti o cheiro... Cara, isso está horrível. O que queimou?
- Pipoca de micro-ondas. Para crédito de Cris, ela estava mantendo a sua
compostura mesmo que Katie soubesse que esse tipo de momento era mais
humilhante para Cris do que para Katie. Apesar de que Katie estava sentindo o
seu rosto esquentar sob a máscara e percebia que estava envergonhada. Isso não
acontecia com muita freqüência.
- Para ser precisa, Katie disse, o pacote estava etiquetado como pipoca de micro-
ondas, mas eu acredito que o conteúdo atual precisaria de um teste de DNA para
determinar o seu original conteúdo e identidade. Ou talvez a pipoca seja uma
candidata ao teste do carbono. Nós temos o artigo petrificado na lixeira se você
quiser provar.
- Eu acredito em você, ele disse, retornando à sua compostura. Eu só queria ter
certeza de que tudo estava bem. Eu sei que o Ted está com o grupo de juniores
esta noite, mas eu não sabia se você estava com ele, Cris, ou se o seu
apartamento estava vazio.
- Obrigada, Eli. Cris disse docemente. Eu agradeço sua preocupação comigo.
- Certa de que você entendeu até agora – Katie adicionou com um gesto
impetuoso com o seu vestuário, cabelo e rosto - nós estamos tendo uma noite de
embelezamento, já que o Rick e o Ted estão, ambos, fora esta noite.
Eli balançou a cabeça.
- Rick está aqui.
- Não, ele não está. Ele está no Arizona.
- Ele ainda não partiu.
- Ele está no apartamento de vocês agora?
Eli acenou que sim com a cabeça.
Katie não precisava de nenhum convite prévio para passar como uma rajada por
Eli e ir rumo ao apartamento de Rick e Eli.
Refletir em suas ações antes de responder a elas nunca fora o forte de Katie. Ela
era muito melhor seguindo seus instintos. Nesse momento, com o rosto verde e
tudo, ela queria ver Rick. Ela sabia que ele não ficaria surpreso. Muito poucas
coisas sobre ela ainda o surpreendiam, incluindo sua espontaneidade impulsiva.
No verão passado, Rick foi quem disse a Katie que suas melhores decisões eram
aquelas em que ela ia com seus instintos. Ele fez essa declaração durante uma
semana difícil quando ela estava tentando decidir se trocaria de curso bem em
seu último ano de faculdade. Ao mesmo tempo ela estava pensando sobre pegar
o cargo de assistente dos residentes no dormitório. Suas escolhas no nível
intuitivo acabaram se tornando boas escolhas.
Ela bateu um pequeno número rítmico na porta fechada do apartamento e
considerou brevemente o que ela poderia dizer quando ele respondesse. Agora
que ela e Rick tinham dado o próximo passo no seu relacionamento e
oficialmente chamavam um ao outro de namorado e namorada, eles estavam
descobrindo que a comunicação entre eles necessitava de mais trabalho do que
eles pensavam. Katie sabia que Rick teria uma boa explicação para ele não estar
à caminho do Arizona como ele disse que estaria. Ela só queria ouvir dos lábios
dele.
Alto e de cabelos escuros, Rick permanecia em frente a ela com um olhar pouco
divertido em seu rosto bonito. Ele poderia interpretar uma figura autoritária caso
ele quisesse mostrar seus dois metros de altura e assumir seus ombros de
atacante principal de um time de futebol americano. Katie o tinha visto ficar
desse jeito no Café Ninho da Pomba onde ele era o gerente e onde ela tinha
trabalhado com ele por oito meses, antes de começar o seu último ano da
faculdade.
- Doces ou travessuras?
- Você está um pouco atrasada para o Halloween. Rick esfregou a parte de trás
do seu pescoço e gesticulou para ela entrar.
- E você está um pouco atrasado para o seu vôo. Eu pensei que você estaria a
caminho do Arizona nesse exato momento.
- Eu estaria mesmo, mas Josh achou que nós deveríamos ir de carro dessa vez e
usar as milhas de bônus da próxima vez. Eu estou esperando ele vir me buscar.
Eu disse a você tudo isso na mensagem que eu deixei no seu telefone. Você
checou suas mensagens durante a última hora, ou duas?
- Não. Cris e eu estamos um pouco, uh... Ocupadas.
- Estou vendo. Você precisa de uma toalha ou algo assim?
- Não. Bem, na verdade, sim. Está na hora mesmo de tirar isso. Eu volto logo. Ao
invés de usar o banheiro de Rick, Katie foi até a pia da cozinha e lavou o seu
rosto. Ela usou papel toalha para secar e esfregou bem para remover a meleca
verde endurecida.
Retornando à sala de estar onde Rick estava assistindo TV com o som no mute,
Katie se jogou ao lado dele e segurou a mão dele. Esfregando os dedos dele na
bochecha dela, ela perguntou:
- O que você acha? Está mais macia?
- Está meio grudenta.
- É, está mesmo. Essa coisa funciona como uma poção milagrosa na pele de
Nicole.
- Quem é Nicole?
- Você a conheceu. É a outra AR do meu andar. Nicole, aquela com o cabelo
escuro bonito e a pele corada.
- Ah, sim. Eu já a vi. Eu não sei se eu a conheci oficialmente.
- Não importa. A máscara verde é algo que ela me deu pra testar. Agora eu vou
ter uma pele macia e corada.
Rick colocou o seu braço em volta de Katie e beijou-a na ponta do nariz.
- Para mim, você está ótima bem do jeito que você é.
- Desapareceu alguma das minhas sardas?
- Espero que não. Rick chegou mais perto dela enquanto a porta da frente se
abria. Ele se afastou.
Eli entrou e foi para a cozinha sem olhar para Rick e Katie abraçados em cima do
sofá. Eles podiam ouvi-lo colocando um novo saco na lixeira embaixo da pia.
Katie percebeu que ela deixara seu papel-toalha usado no balcão e gritou:
- Desculpe, Eli, eu deixei uma pequena bagunça aí. Apesar de que, se serve de
consolo, não é nada comparado à bagunça que eu deixei na cozinha da Cris.
Voltando-se para Rick, ela disse:
- Eu realmente deveria voltar e ajudar Cris a limpar. Nós tivemos um pequeno
desastre.
- Eu quero saber o que aconteceu?
- Provavelmente não. Katie sorriu para Rick. De qualquer forma, você quer vir
comigo?
- É melhor eu ficar aqui mesmo. Ele olhou para o seu relógio. Josh vai querer
pegar a estrada imediatamente, já que a viagem é de cinco horas.
- Quando você vai estar de volta?
- Quinta-feira.
- Ok. Katie tinha se acostumado com as viagens de Rick para o Arizona nos
últimos meses. Ele e o irmão dele estavam abrindo um café em Tempe. Muitas
das etapas que foram planejadas para serem rápidas estavam tomando mais
atenção e tempo do que eles tinham previsto. Rick estava empolgado com o
projeto, mas o número de viagens dele era praticamente compatível ao número
de vezes que ela tinha rejeitado oportunidades de estar com ele, por causa das
responsabilidades de AR dela na Rancho Corona. Você vai estar de volta a tempo
para a Noite de Pizzas de Casais na sexta, Katie disse.
- Que horas é isso mesmo? Rick pegou o seu novo telefone celular e colocou o
calendário à tela.
- Olhe pra você, todo organizado. É às sete da noite de sexta-feira, no Crown
Hall e nós precisamos ir com outro casal porque a parte de criação de pizzas do
evento é para grupos de quatro.
Rick entrou com a informação no seu telefone.
- Nós vamos com quem?
- Ainda não sei.
- Ei, Eli! Rick gritou. O que você vai fazer na próxima sexta à noite?
Katie lançou um olhar em Rick, ela esperava que ele entendesse que era melhor
não convidar Eli. Rick entendeu o olhar dela e deu um olhar do tipo ”okay" para
acalmá-la.
- Eu tenho que estar no trabalho às onze. Ele se sentou na cadeira reclinável
perto da estante de livros. Por quê? O que vai rolar?
Katie não respondeu.
- Você ouviu o que Katie estava falando? A noite da pizza?
- Sim.
Katie virou a sua cabeça para longe de Eli e deu a Rick um olhar irritado.
Rick coçou a sobrancelha.
- Nós ainda estamos na fase das tentativas, caso dê certo, tenho certeza de que
Katie irá te comunicar durante a semana.
Katie lançou a Rick um olhar posso-falar-com-você-um-minuto-em-particular. Ela
se levantou do sofá e disse:
- É melhor eu voltar para o apartamento da Cris. Você quer me levar até lá, Rick?
A resposta óbvia estava estampada no rosto dele, mas ele lançou o controle
remoto para Eli e acompanhou Katie.
Para Eli, Katie disse:
- Eu o mantenho informado sobre sexta... Sobre o que vai acontecer. Ou talvez,
Rick o mantenha informado.
- Ok.
A pior coisa no momento era a expressão que Katie captou no rosto de Eli. Ele
parecia contente. Não preocupado ou ansioso, embora não desinteressado. Ele
sempre parecia estar em um fuso-horário diferente ou ter expectativas
diferentes de todas as outras pessoas.
Eli parecia com o tipo de pessoa que não se machucaria por não ser incluído no
evento da pizza. Ela sabia que não queria que ele fosse com ela e Rick. Ela
também não queria dizer a ele que ele estava desconvidado.
Então, ela decidiu, seria responsabilidade de Rick. Foi ele quem abriu a
possibilidade para Eli, e ele poderia ser quem fecharia a possibilidade, assim que
ela tivesse uma pequena conversa com ele no caminho para o apartamento de
Ted e Cris.
Capítulo 2
- Sobre o quê foi tudo aquilo? Rick manteve sua voz baixa enquanto ele e Katie
caminhavam em direção ao apartamento de Cris.
- Eu não sei. Quer dizer, eu sei sobre a noite da pizza. Eu não queria que você
convidasse o Eli pra ir com a gente.
- Por que não?
- Eu não sei! A voz de Katie aumentou.
- Ei, não tem nada a ver. Eu pensei que seria uma boa idéia a gente fazer alguma
coisa juntos, assim você pode superar essa sua fobia ou o que quer que seja que
você tem por ele. Eli é um cara bacana. Eu quero que você supere o que quer
que seja que faz o ambiente ficar estranho quando nós três estamos juntos.
Katie respirou fundo.
- E Nicole? Rick perguntou.
- E Nicole?
- Que tal Nicole ir com o Eli na sexta à noite? Não é ela com a face que você
estava falando?
- A face?
- Você sabe do que estou falando. Já que ela é sua companheira de andar vocês
duas não deveriam fazer esses eventos sociais juntas?
- Sim, claro. Nicole e eu gostamos de fazer coisas juntas. Mas eu tenho quase
certeza que ela já tem um acompanhante. Além disso, Rick, esse não é seu
evento pra você planejar ou convidar as pessoas aleatoriamente.
- Nossa! O que você tem hoje à noite? Pensei que você e Cris estavam relaxando.
Você está mais estressada do que quando te vi na quarta depois de você levar
bomba naquele teste.
- Ah, essa foi boa, Rick. Obrigada por me lembrar sobre o teste. Agora
definitivamente me sinto mais relaxada.
- Ei, vem cá. Rick colocou seus braços ao redor dela e a trouxe pra mais perto
dele. Esquece tudo que eu disse. Você vai se sair bem no próximo teste. Você
sempre melhora nos seus estudos. E se você tem suas razões para não incluir o
Eli, eu não vou me envolver mais nisso. Eu sei que você precisava relaxar hoje à
noite. Desculpa por eu ter tornado mais estressante. Você acha que pode voltar
lá pra dentro com a Cris e achar uma forma de se acalmar e ficar de boa?
- Sim, posso fazer isso. Katie respirou fundo. Agora, você faria uma coisa por
mim?
- Qualquer coisa.
- Você pode dizer pro Eli que não temos nenhum plano partilhado que o inclua
assim não tenho que falar pra ele depois? Não quero que você vá pro Arizona e
me deixe com esse mal-entendido pra desfazer.
- Ok, vou dizer a ele que falei apressadamente sem saber os detalhes.
- O que quer que seja, tente não machucar os sentimentos dele, tá bom?
Rick lançou um olhar estranho pra Katie, como se ele não esperasse que ela
expressasse tal preocupação por Eli. Eles estavam em pé em frente ao
apartamento de Cris e Ted. A janela da frente estava aberta e o cheiro de pipoca
queimada ainda enchia o ar.
Em vez de comentar sobre o que Katie havia dito, Rick perguntou:
- Você está sentindo o cheiro de alguma coisa queimada?
- Era nossa pipoca de micro-ondas. Foi o desastre que você não quis que eu te
contasse. Provavelmente eu deveria levar a lata de lixo lá pra baixo pro depósito
de lixo, se não o apartamento vai ficar cheirando assim a noite inteira.
- Deixe que eu faça isso pra você, Rick se ofereceu.
Katie bateu na porta da frente antes de virar o trinco e entrar. Cris tinha lavado
a máscara verde de seu rosto e estava em pé na cozinha com uma esponja numa
mão e um spray de limpeza na outra.
- Rick vai levar o lixo pra fora pra gente, Katie disse.
- Obrigada, Rick. Essa é a última evidência da quase catástrofe.
- Com exceção do cheiro malvado que não parece querer ir embora, Katie disse.
Rick pegou a lata de lixo da porta da frente sem dizer nada.
Cris olhou pra Katie como tentando medir a temperatura do que estava
acontecendo entre os dois.
- Tá tudo certo?
- Acho que vai ficar. Nós só estamos tendo uma de nossas discussões por falha na
comunicação. Ele tem um jeito de resolver problemas; eu tenho outro. Nós
estamos tentando resolver isso.
Cris deu um sorriso esperançoso pra ela.
- Como você está sentindo seu rosto?
- Grudento.
- Sério? O meu tá macio. Aqui. Cris veio pra mais perto dela e ofereceu a
bochecha pra Katie sentir.
- Cara, está completamente diferente do meu.
- Eu tive que deixar a toalha no meu rosto por uns instantes. Você usou água
morna?
- Não. Isso é um problema? Eu só usei água fria e um papel toalha na cozinha do
Rick.
- Um papel toalha? Katie, você provavelmente ainda tá com o negócio pastoso na
sua pele. Por que você não tenta lavar isso com água morna e uma toalha de
rosto dessa vez?
Katie voltou pro banheiro de Cris e deixou a água correr alguns segundos até
esquentar. Ela molhou a toalha de rosto e a colocou no rosto, respirando no
vapor. Isso com certeza era melhor que uns respingos frios e o esfregão áspero do
papel toalha.
A toalha de rosto ainda estava cobrindo seu rosto quando ela ouviu a voz de Rick
atrás de si.
- Vou indo. Eu disse a Cris que ela deveria manter a lata de lixo do lado de fora
pro cheiro sair. Te ligo amanhã.
Katie baixou a toalha e se virou pra olhar Rick, que estava parado na porta,
pronto pra sair.
- Ok. E você vai falar com Eli antes de viajar, certo?
- Eu disse que iria.
- Eu sei.
- Você pode confiar que vou fazer isso.
- Eu sei.
Eles olharam um para o outro por mais um momento. Ela estava com o rosto
vermelho da água quente e estava pingando no tapete do banheiro. Ele parecia
um pouco desconcertado e pronto pra sair voando dali.
- Te vejo na sexta, Rick disse.
- Ok. Tchau.
Assim que ela ouviu a porta da frente fechar atrás dele, Katie virou pra se olhar
no espelho. Você pode culpar o rapaz por não iniciar um beijo de despedida?
Você tá parecendo uma lagosta fresca saída do mar. Como Rick te agüenta,
Katie? O que ele vê em você?
- Então, foi melhor? Cris perguntou, sua imagem aparecendo no reflexo do
espelho.
Katie se virou para Cris e perguntou:
- O que você acha que Rick vê em mim?
- Nesse momento, eu diria que ele apenas viu uma feição bastante rosada.
- Seriamente, o que você acha que ele vê em mim? Além da coisa de opostos se
atraem?
- Eu tenho certeza que ele vê seu coração, Katie. O seu belo, generoso, leal e
amável coração. Ele também vê você. A verdadeira você. A divertida e
superanimada pessoa que você é. Por que você tá perguntando? Você está tendo
inseguranças de novo sobre seu relacionamento?
- Sempre, Katie percebeu a si mesma. Não, desconsidera isso. Não devo usar
sempre quando tem a ver com nosso relacionamento.
- Por que não?
- É alguma coisa que veio de um antigo argumento. Alguma coisa sobre como eu
não deveria ir para extremos e usar sempre ou nunca quando estou zangada. Sim,
claro. Como se eu nunca fosse para extremos ou ficasse zangada.
Cris ofereceu a expressão de compreensão que Katie estava esperando com seu
sarcasmo.
Cris disse:
- Sempre não é tipo Para sempre? Ted e eu temos usado essa expressão para
sempre em nosso relacionamento desde quase o início.
- Ah, sim, a famosa pulseira para sempre.
Cris levantou seu braço direito quando Katie mencionou a pulseira que Ted tinha
lhe dado pouco depois que eles tinham se conhecido. Tinha a expressão ”para
sempre" gravada nela. A pulseira tinha passado por vários quase desastres ao
longo de sua história. Um deles foi durante um breve tempo no Ensino Médio
quando Cris namorou Rick. Ele pegou a pulseira delicada de Cris sem que ela
soubesse e a substituiu por uma de prata pesada com a palavra RICK gravada
nela.
- Katie, todos nós temos um monte de lombadas ao longo do caminho em nossos
relacionamentos. Você sabe disso.
Pela expressão no rosto de Cris, a lembrança de Rick e da pulseira pareceu abrir
uma parte de seu coração que estava cheio de graça. Não foi uma expressão feliz
que cobriu o recém revitalizado rosto de Cris, mas também não foi uma
expressão amarga. Por todo o potencial embaraço das partes dos mesmos
relacionamentos entre Cris, Katie e Rick, claramente Cris não guardava nenhum
arrependimento ou amargura a respeito de seu curto namoro com ele. Ela já
tinha lidado com isso há muito tempo atrás.
- Sabe o que é estranho pra mim agora? Cris disse enquanto Katie secava seu
rosto ainda vermelho com uma toalha de mão amarela e macia. Tantas coisas
que aconteceram no colegial e no começo da faculdade pareciam traumáticas e
irreversíveis como se fossem as coisas mais intensas na vida. Mas agora elas
parecem um monte de experiências artesanais inigualáveis que Deus usou para
me fazer mais dependente dEle.
- Que coisa que soa bem e madura espiritualmente pra se dizer. Katie dobrou a
toalha cuidadosamente e a colocou de volta na prateleira onde estava, mesmo
embora tivesse uma pequena mancha verde no centro.
- Você tá fazendo graça de mim?
Katie sorriu pra Cris.
- Sempre.
- Você só está tentando achar maneiras de ter problemas hoje à noite.
- Sim, estou. Como estou indo até agora? Não responde. Eu já sei. Se eu estivesse
sendo séria sobre a grande destruição em massa do universo, eu teria dado um
beijo bom e macio no Rick bem nos lábios antes dele ir.
Cris inclinou a cabeça e lançou um olhar simpático para Katie.
- Vocês dois ainda estão na zona de total abstinência. Entendo.
- Não apenas estamos na zona de abstinência; estamos plantados lá.
Permanentemente, eu acho. Eternamente. Minha previsão é que estarei com
noventa e oito anos de idade e ainda esperando pro Rick decidir se está pronto
pra me beijar. Tudo que posso dizer é que até lá, é melhor que esse grande beijo
dele seja realmente bom, ou vou definitivamente terminar com o cara.
Katie notou que Cris escondeu um sorriso olhando para baixo.
- Nem pense em começar com a abençoada alegria da espera. Katie colocou as
mãos na cintura.
- A espera tem seus benefícios definidos. O amor é paciente.
- Então me diz uma coisa. Katie se encostou à beirada da pia do banheiro. Como
você sabe?
- Como eu sei o quê?
- Como você sabe quando realmente está amando? Ou talvez eu devesse
perguntar como ou quando você sabe que está com o cara com quem você vai
ficar 'para sempre'?
Cris colocou suas mãos nos bolsos da frente do moletom de Ted. Sua expressão
suavizada.
- Leva tempo, Katie.
- Eu sei. E então o quê?
Cris riu.
- Tempo ajuda se você pelo menos tentar ter um pouquinho de paciência.
- Sim, bem, 'paciência' é uma... Katie contou os dedos. Paciência é uma palavra
de nove letras e eu faço uma prática de não usar palavras com nove letras
sempre que possível.
Cris contou nos dedos.
- Possível é uma palavra de oito letras. Possível é uma boa palavra. Com Deus,
qualquer coisa é possível.
- Possível, sim. Não poderia concordar mais com você. Minha pergunta é quando.
Quando você sabe? Quanto tempo leva?
- Não é como se tivesse uma lista e você marcasse o número de dias requeridos
em que vocês estão juntos, e então num dia determinado você sabe. É diferente
pra cada casal. Você precisa de tempo e experiências suficientes juntos para ter
certeza em seu próprio espírito.
Katie puxou o amarrador de cabelo de seu rabo de cavalo e balançou a cabeça.
- Bem, pelo menos você não veio com aquela frase 'quando você sabe, você sabe'
que eu tenho ouvido de outras mulheres.
- Essa frase é verdadeira. Mesmo que nem toda mulher 'saiba' da mesma forma,
eu penso que todo relacionamento tem uma linha invisível e misteriosa que você
atravessa. É como se você concordasse em seguir por um tempo, apenas
colocando um pé na frente do outro, seguindo em frente. Então de repente você
dá um passo e o caminho tá diferente. Tem mais luz ou alguma coisa. E é quando
você apenas sabe que está no caminho certo com esse rapaz. Não importa
quantos obstáculos estão à frente, vocês sabem que devem continuar seguindo
em frente. É como seu primeiro passo para dentro da parte eterna do seu futuro,
mas você não teria dado esse passo decisivo sem dar todos os outros passos.
- Estou esperando por aquele momento quando o pó da fada vem e cintila em
mim então em qualquer momento que eu sorrir eu fico com um daqueles raios
brilhantes no canto dos olhos. Katie fez uma pose mostrando um falso sorriso
com seus ombros levantados e seus olhos bem abertos.
- Então basicamente você quer se tornar um personagem de desenho animado.
- Com certeza. Por que não? Katie mudou sua posição contra a pia e cruzou os
braços sobre a barriga.
- Porque aquilo é um conto de fada. Cris disse de forma prática.
- Você se importa se a gente sentar em outro cômodo? Katie perguntou,
percebendo que aquela conversa poderia durar um tempo e o apartamento tinha
melhores lugares do que o banheiro para uma conversa de-coração-para-coração.
Elas foram para o quarto em vez de ir para a sala e se esparramaram na
confortável cama da mesma maneira que faziam durante o tempo em que eram
colegas de quarto na faculdade. Cris deu um travesseiro para Katie.
- Então vá direto ao ponto, Katie disse. Como é estar casada? É como você
pensava que seria?
- É diferente do que eu pensava. Em algumas coisas é mais maravilhoso, mas em
outras é muito mais difícil.
- Como assim mais difícil?
Cris desviou o olhar por um momento e traçou a estampa acolchoada na coberta
da cama.
- Nós brigamos muito mais do que eu pensei que iríamos.
- Não consigo imaginar vocês dois brigando.
- Tivemos uma discussão ridícula hoje à noite bem antes do Ted sair. Ele achou
que eu estava indo com ele pra essa noite do boliche, mas eu disse a ele que
você e eu já tínhamos feito planos. Eu contei pra ele três noites atrás sobre
nossos planos e naquele dia ele disse, 'Ótimo. Divirta-se. ' Mas ele esqueceu e
quando ele descobriu que eles teriam mais crianças vindo do que ele esperava,
ele supôs que eu ajudaria.
- Você poderia ter ido, Cris. Eu teria entendido se você dissesse que tinha que
cancelar.
- Eu sei. E eu disse a ele isso também, depois que finalmente eu falei que iria.
Mas a essa altura ele disse que tinha achado outra pessoa para ajudar. Chegamos
a um cansativo tipo de acordo antes de ele sair. Vamos manter um calendário
juntos assim ambos podem ser lembrados do que o outro tem planejado. Acho
que foi uma discussão útil quando penso a respeito. Deveríamos ter colocado
juntos esse calendário conjunto há tempos atrás. Eu só odeio a forma como
discutimos. Não somos bons nisso.
Katie riu.
- Não é engraçado. Você é boa em discussão, Katie. Você não tem medo quando
precisa falar o que pensa e botar tudo pra fora. Eu faço muitos dos meus
processos dentro de mim; então mesmo que eu apenas coloque pra fora por volta
de uma dúzia de sentenças antes do conflito ser resolvido, por dentro eu lutei
uma batalha exaustiva comigo mesma apenas tentando dizer o que penso ou o
que quero.
- Sabe o que eu acho? Acho que você é muito educada. Katie ajeitou sua posição.
Cris franziu a sobrancelha.
- Honestamente, Cris, você vai terminar ficando maluca se não começar a falar o
que pensa.
Cris se deitou de costas e ficou olhando para o teto. Cruzou os braços sobre a
barriga e disse:
- Como você faz, Katie? Como você diz o que está pensando e sentindo sem
machucar as outras pessoas?
- Não muito bem. Você sabe que sou horrível pra segurar minha língua. Talvez a
gente possa ajudar uma à outra a encontrar o meio termo. Você tem que falar e
eu tenho que me segurar. Podemos aprender uma com a outra.
Cris voltou a cabeça na direção de Katie.
- Você está certa. Não é uma má idéia pra nós tentarmos ajustar nossos
extremos.
- Vou te dizer outra coisa que não é uma má idéia.
- O que é?
- Comida. Comer é uma ótima idéia agora. Você tem comida aqui que eu possa
comer sem destruir seus eletrodomésticos? Ou melhor ainda, poderíamos sair pra
comer e então fazer alguma coisa.
- Como o quê?
- Como patinar ou pára-quedismo noturno ou...
- Poderíamos jogar boliche com 50 adolescentes. Ted vai ficar com eles no
boliche até meia-noite.
- Sim, não exatamente o que eu tinha em mente. Estou pensando em alguma
coisa como voar para Arugula e andar de camelo.
Cris cerrou seus distintos olhos azul-esverdeados.
- Eu acho que arugula é um tipo de alface. Não é um país, se isso era o que você
tava tentando.
- Bem, então, nos deixe – entende – nos deixe3 encontrar um país que tem
camelos e vamos pra lá pra um galope à meia-noite. Os camelos galopam?
- Não tenho a mínima idéia. Você se sentaria pra ver um DVD que tem camelos
nele?
- O DVD também tem alface?
Cris riu e balançou a cabeça.
- Não vamos saber até irmos pra locadora e checarmos as opções.
- Não quero assistir uma aventura, Katie disse, Quero experimentar uma. Talvez
eu devesse ter ido pro Arizona com Rick e Josh.
- Por quê?
- A viagem noite-toda-na-estrada teria sido divertida.
- Katie, você tem mais do que muita energia pra alguém que tem mantido o tipo
de rotina que você tem.
- Não me fale sobre minha rotina. Eu tenho que estar no trabalho na mesa da
frente amanhã às 8 da manhã.
- Então você não poderia ter ido pro Arizona com Rick mesmo que você quisesse.
- Eu sei. Estou apenas sonhando. Sonhar é bom pra gente.
Cris se deitou de volta.
- Estou sonhando com torta de queijo agora.
- Torta de queijo? Katie encarou Cris. Você tá grávida?
Cris levantou-se rapidamente.
- Não. Por que você tá perguntando isso?
- Porque você geralmente não sonha com torta de queijo. Biscoito de chocolate,
sim. Uma ocasional chimichanga na Casa de Pedro, sim. Eu apenas nunca tinha
3
Outro jogo de palavras da Katie: lettuce (alface) é pronunciada em inglês da mesma maneira que let us
(nos deixe).
ouvido você dizer que torta de queijo estava no topo de sua lista de sonhos.
Cris encolheu os ombros.
- Pareceu bom. Alguém no trabalho tinha um pedaço na geladeira por 2 dias e
parecia delicioso. Se eles não tivessem comido hoje eu iria ajudá-los, mas já
tinha sumido quando eu chequei essa tarde.
Um estranho som tipo um arranhão veio da porta da frente.
Katie perguntou:
- Ouviu isso?
Cris foi pra porta da frente e Katie a seguiu até a sala de estar, se jogando no
sofá. Ela esperava que fosse Ted na porta sem suas chaves.
Abrindo um pouco a porta, Cris falou com voz firme:
- Você não tem outro lugar pra ir? Ted não vai gostar se ele souber que você
voltou.
- Cris, com quem você tá falando?
- Senhor Tropeço.
Por um momento Katie estava certa que sua melhor amiga tinha ficado doida.
Primeiro desejo por torta de queijo e agora uma conversa na porta da frente com
alguém chamado Senhor Tropeço?
Capítulo 3
No momento em que Cris permanecia em frente à porta aberta de seu
apartamento, um grande gato malhado passou rapidamente entre as pernas dela
e correu para dentro. Ele correu diretamente para a cozinha e se anunciou com
um miado meio rouco.
- Sr. Tropeço! Cris gritou, indo atrás do intruso.
- Quando foi que você arrumou um gato?
- Ele não é nosso. Ele apareceu semana passada.
- Não me diga que você está dando comida a ele.
- Venha aqui, Sr. Tropeço, Cris chamou fazendo aquela vozinha que só se usa
para falar com animais e bebês. Ela carregou o criminoso balofo e coçou a
cabeça dele. O gato fechou os olhinhos alegremente e ronronou tão alto que
Katie caiu na gargalhada.
- Isso é um animal ou um abridor de latas peludo? Cris, essa coisa está possessa!
- Não ligue pra ela, Sr. Tropeço. Cris levou a mão à parte de trás de um de seus
armários e puxou um saco plástico de comida para gatos. Ela sacudiu o saco na
frente do gato contente. Sr. Tropeço soltou seu melhor miau.
- Esse barulho que ele fez... Parece com aquela voz rouca de fumantes, Katie
disse.
- Ei, por acaso eu fiz alguma piadinha com o seu peixinho dourado ano passado?
- Como você poderia ter feito alguma piada? Rudy e Chester nem viveram o
suficiente pra você vir com algum tipo de frase depreciativa sobre eles.
- Talvez você não os tenha alimentado o suficiente. Cris abriu a porta da frente e
colocou a comida para gato numa pequena tigela que ela tinha guardado atrás
das plantas.
- Talvez você esteja alimentando esse rapazinho demais. É por isso que ele se
sente livre para entrar em seu apartamento sem ser convidado.
- Você está falando igual ao Ted. Foi ele quem nomeou o gato, porque na
primeira vez que ele veio até nossa porta ele estava meio cambaleante.
- Então por que vocês não o adotam?
- Nós mal temos dinheiro para comprar comida pra nós. Se nós ficássemos com o
Sr. Tropeço no apartamento, nós teríamos que levá-lo ao veterinário. Você faz
idéia de quanto isso custaria? Eu faço. Eu trabalhei num pet shop, lembra?
Cris e Katie assistiam Sr. Tropeço devorar seu lanchinho noturno da porta da
frente do apartamento de Cris. O não-tão-educado hóspede mastigou e engoliu
em tempo recorde e foi embora sem muita cerimônia, como lavar as patas ou
miar em agradecimento.
- E lá se vai ele, Katie disse. O gato desapareceu no meio dos arbustos. Esse
rapazinho está te usando, Cris. Ele está abusando de sua generosidade.
- Eu sei.
- Então você sabe o que está acontecendo aqui?
- Sei sim.
Katie olhou pela bem iluminada calçada da área do complexo de apartamentos,
tentando ver se Sr. Tropeço iria de porta-em-porta com seu ar simpático. Ele
parecia estar andando fora da parte iluminada e se mantendo na parte onde os
arbustos que, ficavam na frente de cada apartamento do primeiro andar, eram
mais baixos.
- Você sabe, se essa mesma área fosse usada para apartamentos hoje, a maioria
das construtoras colocaria o dobro ou talvez o triplo de apartamentos no mesmo
espaço, Katie comentou. Eu não sei de nenhum outro complexo de apartamentos
que tenha uma área gramada tão grande no centro e seja tão tranqüilo.
- Eu acho que é porque quando os apartamentos foram construídos eles estavam
no subúrbio, e a terra era relativamente barata, Cris disse. Agora que a cidade
cresceu bastante, o local ficou ótimo.
- Você acha que vocês dois vão morar aqui por muito tempo?
Cris deu de ombros e fechou a porta.
- Você conhece o Ted. A cada duas semanas ele começa a falar sobre integrar
algum tipo de ministério que nos mandaria para um dos cantos selvagensdesse
mundo fazendo traduções da Bíblia ou alguma outra coisa.
- E como você se sente em relação a isso?
- Depende do dia que você me pergunta. Eu soube desde cedo no nosso
relacionamento que viver na selva ou numa casa na árvore era parte do sonho de
Ted. Eu não sei se essa idéia irá, algum dia, sair completamente da mente dele.
Cris foi até o armário e tirou um saco de tortilla chips e deu a Katie juntamente
com alguns itens da geladeira, incluindo salsa, um saco de mini cenouras, e um
pote de pasta de amendoim.
- Então você faria as malas e iria com ele para os confins da terra se ele te
pedisse?
Cris fez que sim com a cabeça. Ela transmitia paz em sua expressão. Nem
resistente nem decidida. Apenas contente.
- Nossa. Katie espalhou os itens variados na pequena mesa da cozinha e se jogou
em uma das cadeiras.
- Nossa o quê? Cris ligou a torneira da pia, enchendo dois copos com água.
- Eu achei que Ted se sentiria mais estável agora e iria querer ficar em um só
lugar já que vocês estão casados e que ele tem um bom emprego. É um trabalho
como pastor, eu sei. É um ministério, certo? Eu não gosto de pensar na
possibilidade de vocês se mudarem para longe daqui.
- É sempre uma possibilidade. Mas não se preocupe com isso. Nós não temos
planos de ir para nenhum lugar nos próximos anos.
Elas lancharam e conversaram por mais uma hora até Katie decidir que deveria
voltar para o dormitório. Pegando sua bolsa tira-colo e jaqueta, ela perguntou:
- Você quer tentar se encontrar comigo para almoçarmos na terça no Ninho da
Pomba? Eu posso estar lá à 1:30.
- Terça 1:30 dá pra mim. Eu vou pedir pelo meu horário de almoço nessa hora,
então.
Cris se levantou e deu um abraço em Katie.
- Foi ótimo. Eu precisava mesmo de algo assim. Espero que você tenha
descansado um pouco também, apesar de não termos conseguido saltar de pára-
quedas ou andar a camelo.
- Há sempre uma próxima vez, Katie disse sorrindo. Diga um oi ao Ted. E se o Sr.
Tropeço voltar essa noite, eu recomendo que você o mande embora sem comida.
Melhor ainda, eu vou trazer o Hamburger Helper que eu comprei junto com a
pipoca no bazar de garagem, e você pode alimentá-lo com isso.
- Katie, um dia você ainda vai encontrar um animal que você realmente goste, e
você vai acabar se tornando uma pessoa mais meiga.
- Sim, talvez. Por acaso algum canguru já veio até sua porta pedindo por comida?
Eu gosto de cangurus.
Cris abraçou Katie mais uma vez.
- Da próxima vez que um canguru aparecer na minha porta eu vou guardá-lo pra
você.
- É bom mesmo.
Acenando por cima de seus ombros, Katie caminhava alegremente para o
estacionamento e subiu em seu VW 1978, o qual ela carinhosamente chamava de
Buguinho. Jogou sua bolsa em cima do banco do passageiro e virou a chave na
ignição.
Nada aconteceu.
Ela tentou uma segunda vez e uma terceira. Nada. Nem mesmo um ronco estilo
Sr. Tropeço saiu de baixo do capô.
- Qual o problema, Buguinho? Você está dormindo? Vamos lá, acorde. Você tem
que me levar de volta pra escola, agora.
Vendo que as tentativas quatro, cinco, e seis não produziram nenhum barulho,
Katie tirou uma lanterna do porta-luvas e saiu do carro. Ela abriu o capô e
iluminou o motor.
- Não que eu saiba o que exatamente estou procurando... , ela murmurava
enquanto iluminava na frente e atrás, aqui e ali. Ela fazia idéia que algum tubo
tinha desencaixado de seu encaixe próprio, ou que algum fio estaria solto e
pendurado debaixo de seu respectivo plug.
Nada se revelou para Katie durante aquela checagem aleatória. O irmão dela era
quem consertava os carros. Ele sabia tudo sobre o Buguinho, ele saberia o que
fazer. Entretanto, Katie não tinha o número dele no celular dela. E mesmo se ela
tivesse, ela tinha plena certeza de que ele não estaria disposto a pôr o pé na
estrada e dirigir por mais de uma hora para resgatá-la à meia-noite. Ela não o via
há quase dois anos.
Por ele ser bem mais velho, quando chegou à época em que ela já estava
crescidinha o suficiente pra conhecê-lo melhor, ele passava a maior parte do
tempo fora de casa e envolvido em problemas. Uma boa idéia e a mais provável
era que ela encontrasse um novo mecânico.
Katie iluminou o motor mais uma vez, mas foi sua última e fútil tentativa. A luz
piscou. Depois ela diminui consideravelmente e piscou de novo.
- Eu estou um desastre ambulante esta noite com relação a aparelhos eletro-
eletrônicos! Qual é o meu problema? Por acaso o estrago do micro-ondas me
tornou radioativa ou algo assim?
Katie permaneceu frente ao capô aberto, tentando decidir o que fazer. Se ela
voltasse ao apartamento de Cris, ela teria que esperar Ted voltar, já que eles só
tinham um carro. Mas Katie sabia que ela podia contar com ele para lhe dar uma
carona, então ela começou a fechar o capô, já com sua decisão tomada.
Mas antes que ela pudesse fazer algo, ela ouviu alguém se aproximando atrás
dela. Virando-se e segurando firmemente a lanterna pesada em caso de precisar
usá-la como uma arma, Katie ouviu um rapaz perguntar:
- Está tudo bem?
Um número grande de estudantes da Rancho Corona morava nesse complexo.
Katie conhecia muitos deles. Mesmo na escuridão do estacionamento, ela
reconheceu a voz e o jeito de andar do rapaz que vinha na direção dela. Era Eli.
- Ele não quer dar partida.
- Você tentou bombear o acelerador algumas vezes e deixar no ponto morto
enquanto vira a chave na ignição?
- Não.
Eli permanecia próximo a ela e examinava o motor. Debaixo de seu braço ele
carregava um saco de dormir uma garrafa térmica.
- Você vai acampar ou algo do tipo? Katie perguntou.
- Eu vou ao deserto.
- Agora? Ta doido?
- Provavelmente.
Katie olhou para ele mais de perto sob a luz amarelada do estacionamento. O
cabelo castanho claro de Eli parecia estar sempre desgrenhado. Hoje ele estava
usando um gorro que permitia que alguns fios rebeldes escapassem em diferentes
direções. Ela normalmente o identificava pelo cavanhaque, como se aquela fosse
a característica que mais o distinguia. Os olhos dele, na verdade, eram mais
peculiares. Ela tinha notado a intensidade deles e sua expressão examinadora
quando Eli a tinha parado na cafeteria em Agosto e tentado envolvê-la numa
conversa. Mas agora, na luz escassa, o foco deles sobre ela os fazia mais
intensos.
- Então... Ela tentou encontrar um jeito amigável de terminar essa conversa.
Você vai ao deserto sozinho no meio da noite com freqüência?
- Não muito. Eu normalmente vou com o Joseph. Você conhece Joseph Oboki? Ele
estuda na Rancho.
- Sim, eu conheço o Joseph. Ele vai com você hoje?
- Eu estou indo buscá-lo agora.
- Ótimo! Eu posso pegar uma carona com você de volta pro campus?
- Claro, mas eu vou buscar o Joseph no posto de gasolina, que é onde ele
trabalha.
- O posto é perto da Rancho?
- Não é longe. Eu posso te deixar lá.
- Obrigada. Katie fechou o capô e pegou sua bolsa e jaqueta no banco do
passageiro. Ela seguiu Eli até seu velho Toyota Camry. Essa parecia ser a chance
para ela a começar a ser mais legal e ”normal" com ele.
Quando Cris e Katie estavam comendo seu lanche mais cedo, Cris mencionou que
Eli tinha se juntado a ela e Ted algumas vezes para almoçar depois do culto aos
domingos desde que o semestre tinha começado. Katie tinha estado ocupada
demais para participar desse momento ”galera no almoço", mas ela percebeu que
se ela tivesse gastado algum tempo com Eli quando ele estava com Cris e Ted ou
até mesmo quando estivesse com Rick, ela teria pensando nele como sendo
mesmo parte do grupo deles.
Ela sentou no banco do passageiro, e a primeira coisa que ela notou foi que ele
ainda tinha o arranjo de flores que ela tinha usado no cabelo, no casamento de
Ted e Cris. O círculo seco de pequenas e brancas baby's breath tinha caído da
cabeça de Katie no casamento, e quando Eli dirigiu para fora do lugar onde havia
sido o casamento, Katie viu o arranjo pendurado no espelho do carro dele.
- Hm, isso é meu, não é?
- É.
- Por que você ainda guarda isso?
- Você disse que não o queria.
- Sim, porque ele caiu no chão. Quando você tentou me devolver, eu acho que
minhas palavras foram algo como 'jogue fora pra mim'. Não 'faça disso um enfeite
nojento de retrovisor pra mim e dirija por aí com ele em seu carro pelos
próximos seis meses. '
Eli colocou o cinto de segurança e dirigiu para fora do estacionamento.
- Você o quer de volta?
- Não, não exatamente.
- Você se importa se eu ficar com ele?
- Sim, me importo sim.
- Por quê?
- Não há porque você ficar com isso. É estranho.
- Mais estranho que sair correndo por aí com uma coisa verde na cara?
- Havia uma razão para aquilo.
- É há uma razão para isso, Eli disse confiante.
- Que razão?
- Ele me lembra de orar.
Katie deixou a declaração de Eli se esvair entre eles. Ela não podia discutir com
alguém cujo argumento se baseava em 'lembrar de orar'. Mas orar pra quê? Ou
pra quem? Por que seu arranjo seco levaria alguém a orar? Ela decidiu não querer
saber. A melhor coisa a fazer nesse momento era transformar toda essa
estranheza numa piada.
- Ah, bem, se você vai vir com desculpas espirituais e dizer que ele é seu arranjo
da oração ou qualquer coisa assim, eu acho que não posso iniciar uma briga aqui.
A expressão de Eli mudou para um tipo de expressão satisfeita e vitoriosa.
Nota a si mesma: Jamais tente jogar xadrez com o Cara do Cavanhaque. O
cérebro dele gira em círculos que você não quer visitar.
Pelos cinco minutos seguintes, nenhum deles pronunciou uma palavra. Estava
bom para Katie desse jeito. Pra falar a verdade, estava mais que bom. Ela estava
acostumada a andar de carro com Rick ouvindo música no clássico Mustang dele
e, falar não fazia parte desse momento. Rick gostava de ficar com as janelas
abertas, assim ele podia ficar com os braços para fora da janela e batucar no
lado da porta junto com o tempo da música. Muitas vezes Katie cantava junto
com a música, mais pra ela mesma do que para Rick.
Katie pensou em como Rick ficaria feliz por ela estar se esforçando para se dar
bem com o colega de quarto dele. Isso era bom. Por um instante ela pensou na
possibilidade de trazer a tona o assunto da noite de pizza apenas para se
certificar de que Rick tinha explicado a Eli que o convite de mais cedo tinha sido
oferecido muito apressadamente.
Mas ela não disse nada. Ela confiava em Rick. Se ele disse que iria consertar as
coisas com Eli, ela sabia que era exatamente isso que Rick faria. Tudo que ela
precisava fazer era ser educada com o rapaz. Essa era a chance de ser um pouco
mais como Cris, exatamente como as duas tinham conversado mais cedo, cada
uma pegaria um pouco das qualidades da personalidade da outra.
Katie achou que estava indo muito bem.
O silêncio durou mais três quarteirões até que Eli virou e entrou num posto de
gasolina que ficava numa esquina. Ele desligou o carro e saiu. Ele olhou para
trás, na direção de Katie e disse:
- Você sabe que pode vir conosco se quiser.
O que surpreendeu Katie enquanto ela assistia Eli dar longos passos em direção à
loja de conveniência do posto, foi que ela quase soltou um ”ok" antes que ele
saísse do carro.
Por que eu iria querer ir ao deserto no meio da noite com esses caras?
Através da janela de vidro da loja de conveniência, Katie via Eli e Joseph
fazerem um desses toques particulares com as mãos enquanto conversavam um
pouco. Joseph olhou para o carro e levantou o braço para acenar para Katie. Ela
acenou de volta. Ele havia estado em um dos grupos de orientação que Katie
tinha apresentado pelo campus um ano e meio atrás quando ela tinha se
voluntariado para ser da equipe de recepção do campus. A única coisa de que ela
se lembrava sobre ele era como ele estava tímido na primeira reunião deles. Mais
tarde ela descobriu que ele era da África, e ela entendeu então porque tudo
parecia tão encantador pra ele na primeira semana no campus.
Katie tinha um carinho especial por estudantes intercambistas. Ela pensou em
quão rapidamente ela ficou atraída por Michael no ensino médio. Ele era da
Irlanda do Norte, e a primeira frase lírica que saiu da boca dele a encantou. Eles
namoraram tempo suficiente para que Cris expressasse sua preocupação com
onde Katie tinha colocado seus valores e prioridades. Mas o relacionamento deles
deu a ela um coração bondoso com relação àqueles que tentavam se sentir em
casa em uma nova cultura e país.
Katie inclinou a cabeça para trás e se perguntou quanto tempo fazia desde que
ela tinha pensado em Michael. Meses. Talvez um ano. Ela e Rick estavam fazendo
coisas juntas por quase um ano, e por todas as razões óbvias, Rick estava na linha
de frente de todos os pensamentos dela sobre garotos.
Com um pequeno sorriso, Katie se lembrou de quão intensamente Michael tinha a
influenciado durante o tempo de namoro deles. O romântico irlandês tinha a
convencido de mudar radicalmente seus hábitos alimentares. Ela tinha se
tornado uma vegetariana fã de todas as coisas orgânicas e consumidora de alho e
tofu.
Os ombros dela tremeram involuntariamente quando ela pensou em todas as
combinações de sushi altamente estranhas que ela tinha comido quando estava
com Michael. Ela rapidamente disse que amava as preferências alimentares dele
mesmo sabendo que, na maioria das vezes, ela estava engolindo cada delícia
rápido demais pra ter sequer uma idéia do gosto delas. Olhando para trás, ela
não tinha certeza de ter mesmo compartilhado do gosto dele por frutos-do-mar-
crus-e-vegetais, mas ela amou o jeito como ele a apreciava por ela ter mesmo
abraçado as preferências dele. E ela amou a aventura de tentar algo novo.
Eli e Joseph vieram em direção ao carro, e o pensamento que tinha vindo à Katie
mais cedo retornou. E se eu fosse com esses caras ao deserto? Não era eu quem
estava dizendo à Cris que queria tentar algo novo? Ir em busca de algum tipo de
mini-aventura? Isso certamente se aplica.
Joseph abriu a porta de trás e cumprimentou Katie com um oi caloroso. Ele era
mais velho que Katie pelo menos uns cinco anos, ela supôs. As poucas vezes que
ela o tinha visto pelo campus, ela o cumprimentara, mas não parou pra se
envolver em nenhum tipo de conversa.
- Você vai vir ao show conosco? O jeito de Joseph falar era um doce emaranhado
de palavras, com um sotaque eclético que unia levemente o francês em algumas
vezes e em outras levemente o inglês britânico.
- Show? Katie disse. Eu pensei que vocês estavam indo ao deserto.
- Nós estamos. Nós temos um lugar onde nós gostamos de ir e curtir um pouco
com as rocks 'n' stars.
- É mesmo. Exatamente com quais 'rock stars' você vai curtir? Eu não sei de
nenhuma que more por aqui.
Eli gargalhou. Katie não o tinha ouvido gargalhar antes. Aquele barulho tinha
vindo do fundo de seu ser e era um tipo de gargalhada tão feliz que Katie ficou
surpresa com o som dela.
- Katie, nós estamos indo assistir a uma chuva de meteoros, Eli disse
calmamente. Essa são as rocks e as stars das quais Joseph está falando.
- Ah. Ok. Então qual de vocês é o presidente do Star Wars Club local? Ela
balançou as mãos no ar e fez uns barulhos de bipes de estações espaciais.
Nenhum dos dois riu.
- Star Trek?
Eli ligou o carro.
- Eu vou te deixar na Rancho.
Ela mordeu seu lábio inferior enquanto Eli saía do posto de gasolina e dirigia pela
luz verde, rumo ao oeste, na direção do campus. Ele passou por três cruzamentos
até que Katie limpou sua garganta e em voz baixa disse:
- Eu vou.
- Você disse alguma coisa? Eli perguntou.
- Sim. Katie disse com determinação. Ela forçou seus ombros pra trás e se virou
para Eli. Eu vou com vocês ver a chuva de meteoros e o show das rock-star.
- Que bom, Joseph disse.
Katie voltou à sua posição enquanto Eli virava o carro. Essa era a aventura de
tarde da noite que ela queria. Verdade, nada de camelos ou arugulas pelo
caminho. Assim que eles entraram na aventura ela tentou pensar em Cris. Mas a
emoção do desconhecido estava esperando por ela além do clarão das luzes da
cidade, e isso a deixou feliz.
Fazia muito tempo que ela não fazia algo assim, no impulso.
Isso seria muito bom.
Capítulo 4
O improvável trio de amigos estava na estrada por volta de 5 minutos quando
Katie assumiu o papel de diretor social já que ambos os rapazes estavam muito
quietos. Ela começou perguntando Eli como estava o emprego de segurança do
campus. Foi a primeira coisa que lhe ocorreu sobre ele.
- É um bom emprego. As horas não entram em conflito com as aulas, e como
você sabe já que você é uma AR, não acontece muita coisa no campus pra fazer
da segurança um grande problema. E seu emprego?
- Tem sido ótimo, Katie disse. Quer dizer, eu reclamo muito sobre trabalhar dia e
noite, mas essa posição cobre moradia e alimentação e isso é ótimo. O verão
inteiro trabalhei ridiculamente longas horas em diferentes empregos, e tudo que
ganhei foi pra pagar mensalidade. Ainda não sei como vou pagar pelo próximo
semestre.
- Isso é um desafio pra todos nós, não é? Joseph disse.
- Joseph, de qual parte da África você é? Katie perguntou.
- Gana.
- É perto do Quênia?
- Lado oposto do continente, Eli respondeu. Quênia é Leste da África. Gana é
Oeste da África.
- Onde fica Zimbábue? Katie perguntou.
- Sul da África. De novo, Eli foi quem respondeu as perguntas dela.
- Ding-ding-ding! Katie disse como se ela fosse uma apresentadora de um
programa de jogos. Eli... qual é seu sobrenome?
- Lorenzo.
- Sério?
- Sim, sério.
- Certo. Voltando a usar a voz de apresentadora ela disse: Eli Lorenzo ganha para
a categoria 'lugares na África'. Aparentemente temos um gênio geográfico na
disputa essa noite.
- Ele não é um gênio, Joseph disse com um risinho. Ele sabe porque ele esteve lá.
- Você esteve na África? Que massa! Vocês dois se conheceram em Gana?
- Não, nos conhecemos aqui, Joseph respondeu.
- Acho muito incrível que você tenha ido pra África, Katie disse pra Eli.
Ele riu. Joseph se juntou a ele.
- O quê?
- Você disse que eu 'fui pra África, ' Eli disse.
- Sim, eu acho legal. Viajar para outros lugares do mundo é uma ótima
oportunidade. Dois anos atrás fui pra Europa com Cris e Ted. Numa viagem
diferente antes daquela, fui pra Inglaterra e Irlanda. Acho que viajar é um
privilégio.
- É sim, Joseph concordou.
- Cris me contou que você e Ted moraram no mesmo lugar quando vocês estavam
na Espanha.
- É verdade, Eli disse.
- De todos os lugares interessantes em que você esteve, qual é o seu favorito?
- Aqui.
- Aqui? Sul Meridional da Califórnia? Você não tá falando sério, tá?
- Claro que estou falando sério. Gosto daqui.
- Mas depois de ter estado na Europa e África, você tá dizendo honestamente que
esse populoso-poluído-engarrafado canto do mundo é seu lugar favorito?
- Sim.
- Bem, acho que jamais diria isso. E duvido que você diria se tivesse crescido
aqui.
- Não, provavelmente não diria. Mas então, não cresci aqui.
- E onde você cresceu?
Eli fez uma pausa antes de responder. Ele olhou bem pra Katie como checando
pra ter certeza que ela queria ouvir a resposta dele.
- África. Eu cresci na África.
- De verdade? Uau. Que parte? Assim que ela perguntou, ela riu. Não que eu
saberia onde, mesmo se você me contasse, desde que já temos estabelecido meu
conhecimento limitado de geografia africana.
- Cresci na Zâmbia. É Sul Meridional da África um pouco acima de Zimbábue e
Moçambique. Quando eu tinha 12 anos nos mudamos para Nairobi.
- Nairobi é capital do Quênia, né?
- Ding-ding-ding. Parece que temos uma vencedora na rodada bônus, Eli disse
com um meio-sorriso, imitando a brincadeira anterior de Katie.
- Então suponho que você tenha visto uma girafa.
- Algumas. Eli disse.
Joseph riu.
- E uma zebra ou duas? Katie perguntou.
- Sim.
- O que seus pais faziam na Zâmbia?
- Eles eram professores. Então meu pai assumiu uma organização missionária na
sede em Nairobi. Ele procura por vilas que precisam de um bom sistema de
encanamento para levar água limpa pra eles.
No reflexo das luzes dos carros que passavam, Katie viu o maxilar de Eli cerrar e
descerrar. Ela não poderia imaginar que falar sobre a África ou onde ele cresceu
seria um tópico cheio de tensão, mas então ela não conhecia Eli. E ela não sabia
como estava a atual temperatura política no Quênia. Ela sabia que as coisas
tinham sido complicadas vez ou outra. Ela queria saber se ele era uma daquelas
crianças missionárias que se sentiam mais confortáveis quando as pessoas
pensavam que elas tinham crescido num subúrbio americano com um
conhecimento sobre skates e seriados cômicos da TV.
- Sabe, se eu tivesse crescido na África como vocês dois, acho que eu seria a
maior orgulhosa no campus. Todo mundo saberia quão exótica eu era.
Eli riu e Joseph se juntou a ele.
- Estou falando sério. Vocês fazem idéia de quão legal é que vocês tenham
morado em outra parte do mundo?
- E você percebe, Eli disse, que pra nós isso é outra parte do mundo? Viver aqui é
que nos faz legal pra todo mundo que deixamos em casa.
- Interessante. Tô entendendo o que você tá dizendo. Então, esse é seu último
ano?
Eli balançou a cabeça afirmando.
- E então o quê?
- Eu ainda não sei.
O que chocou Katie a respeito da resposta de Eli foi que ele era o primeiro
estudante de quem ela já tinha ouvido aquele tipo de resposta que não soava em
pânico. Alguns meses antes ela teve que decidir uma especialidade antes que
pudesse se matricular para seu último ano na faculdade e o estresse de não saber
com certeza o que queria foi estranho. Ela não podia acreditar que Eli estava
levando seu futuro de forma tão tranqüila.
Queria ter a mesma confidência e contentamento profundos que Eli tem. Eu não
faço a mínima idéia do que vou fazer quando me formar.
Como ela já tinha feito tantas vezes, Katie flertou com a idéia de casar logo após
a formatura como Ted e Cris. Ela sabia que ela e Rick não estavam prontos pra
esse próximo passo. Não que eles não pudessem estar em alguns meses, mas
definitivamente eles ainda não estavam lá. Uma parte dela queria ver uma girafa
ou alimentar um canguru ou andar de riquexó 4 numa rua lotada de Bangkok antes
dela caminhar pelo corredor da igreja pro seu casamento. Mas primeiro ela tinha

4
Transporte comum na Ásia, um tipo de carro que é puxado por uma pessoa.
que terminar esse semestre e descobrir uma forma de ter dinheiro para o
restante de sua faculdade.
E exatamente naquele momento seu ”trabalho" de diretora social estava onde ela
precisava pra direcionar sua atenção. As coisas tinham ficado muito quietas no
carro.
- E você Joseph?
- Eu? Eu tenho mais 2 anos de estudos. Se Deus quiser, vou passar e me tornar um
pastor e professor.
- Você quer trabalhar aqui ou em Gana? Katie perguntou.
- Gana. Claro que Gana.
Eles estavam fora da rodovia principal agora e se dirigiam por uma estrada
estreita e cheia de buracos que ficava mais escura quanto mais eles seguiam. Os
faróis do carro de Eli logo se tornaram a única luz ao redor deles. Então ele
parou o carro, desligou o motor e desligou os faróis. O mundo se tornou negro e
silencioso.
- Nossa, Katie disse baixando a voz. É realmente escuro aqui.
Eli se inclinou sobre o volante e olhou pra cima através do pára-brisa.
Katie seguiu os movimentos dele e esticou o pescoço numa tentativa de ver o céu
noturno acima deles. Uma exposição gloriosa de estrelas tomou seu lugar no
palco do céu apenas além do painel de vidro embaçado do pára-brisa.
Joseph abriu a porta traseira e saiu. Eles estavam parados numa estrada de
asfalto que formava um caminho através da areia do deserto como uma faixa
larga de alcaçuz seca5.
Uma corrente de ar frio encheu o carro. Katie pegou sua jaqueta e a vestiu antes
de sair do carro. A luz do interior do carro mostrou que Joseph tinha subido no
teto do carro e tinha se posicionado confortavelmente como se o carro fosse uma
cadeira reclinável de couro.
- Não é má idéia. Katie fechou a porta e fez uma não-tão-graciosa tentativa de se
juntar a Joseph no teto. As boas condições do carro de Eli mantiveram Katie de
ficar preocupada em arranhar o teto ou danificá-lo em alguma coisa.
- Ah, sim, é bom e tostante aqui atrás, né?
- Hmm, Joseph replicou satisfeito. Seus braços estavam embaixo de sua cabeça e
seus olhos estavam fixos no céu.
Katie se deitou e absorveu a vista.
- Uau! De onde vieram todas essas estrelas? Tem tantas!
- Umm-hmm, Joseph murmurou.

5
alcaçuz= legume de raiz amarela e adocicada; raiz de regoliz (o que quer que seja isso)
Eli puxou o saco de dormir e garrafas térmicas do banco traseiro. Ele encontrou o
caminho para a frente do carro com a ajuda de uma pequenina lanterna
vermelha que estava no seu chaveiro. Estendendo as garrafas e o saco de dormir
pra Katie, ele pulou pra perto dela. O teto fez um ruído metálico, e Katie teve
certeza que o peso deles estava deixando um dano permanente no teto.
Eli desenrolou o saco de dormir e colocou sobre eles três como se eles fossem
moscas num tapete e acostumados a se embrulharem daquela forma toda noite.
- Isso é incrível, gente. Tô feliz que vocês me convidaram pra vir com vocês.
- Você quer café? Eli abriu a tampa de sua garrafa térmica.
- Com certeza. Obrigada. Katie tomou um gole do café fumacento que Eli tinha
colocado nos copos.
- Você pode agradecer Joseph. Ele me deixou colocar na loja de conveniências.
- Entretanto eu paguei pelo café, Joseph disse rapidamente como se ele estivesse
preocupado que Katie podia pensar que ele tinha permitido que Eli roubasse um
pouco. Katie estava impressionada de uma forma terna por ouvir um colega da
Rancho Corona fazer sua integridade conhecida nas pequenas coisas. Ela estava
acostumada a ouvir de alguns estudantes como eles manejavam pra furtar isso ou
aquilo sem ser descobertos ou como eles davam um jeitinho aqui e ali sem
ninguém notar. Katie conhecia poucos estudantes que estavam tentando fazer
escolhas corretas e honestas mesmo quando ninguém estava olhando. Ela
admirava Joseph.
- É bom café, Katie disse. Apesar de que sou uma expert em chá, então não
tenho certeza se sou qualificada pra avaliar café de lojas de conveniência.
- Gosta de chá? Eli perguntou.
- Sim, gosto de chá, Katie respondeu fazendo um resumo sobre sua afeição pela
bebida. Ela sintetizou a história de como ela tinha passado seu primeiro semestre
na Rancho tentando criar um chá de ervas original. Seus esforços chegaram ao
fim quando seus humildes oferecimentos causaram alergia na pele dos estudantes
cobaias que provaram suas misturas.
- Entretanto, uma das minhas misturas participou de um show de comida por
volta de 1 ano atrás e ninguém sofreu efeitos nocivos. Recebi uma menção
honorável.
- Você continua fazendo misturas de chá?
- Não, acabou que se tornou um dos meus hobbies passageiros. Por quê? Vocês
gostam de chá?
- Prefiro café. Joseph pegou o copo da mão de Katie e segurou enquanto Eli
colocava mais café da garrafa térmica.
- A gente bebe muito chá no Quênia, Eli disse. Eu tenho amigos que administram
uma plantação de chá.
- Sério? Eles são americanos?
- Não, são quenianos. A terra foi cultivada durante o período colonial por uma
família da Áustria. Eles venderam pra um médico queniano e agora seus dois
filhos mais velhos e suas famílias tomam conta da fazenda.
- Isso é tão legal. Fiz um trabalho ano passado sobre justo comércio e como é
difícil para os indígenas viverem do que produzem no mercado de chá. A maioria
das minhas pesquisas citadas foram sobre a Índia. Eu não sabia que o Quênia
tinha um grande mercado de chá.
- Eles tem. E é um mercado em crescimento porque as condições climáticas são
certas. Tenho certeza que o que você leu sobre a Índia se aplicaria ao mercado
do justo comércio na África. A especialidade na plantação do meu amigo é
chamado 'Nairobi Chai. ' Tenho alguns no apartamento. Próxima vez que você for
lá me lembra e eu faço um pouco pra você.
- Valeu, obrigada. Gostaria de provar sim.
Joseph tinha voltado pra sua posição reclinada e Eli se juntou a ele. Katie seguiu
o sinal mudo pra encerrar a conversa e curtir o show. Recostando-se, ela focou
seus olhos no centro do palco acima deles. A enorme quantidade de pontos de
luz brilhantes correndo das estrelas para a Terra tiveram um efeito respiração-
em-sinfonia em Katie. Longe ao Sul, a lua de marfim parecia flutuar como uma
casca encaracolada de um limão pálido. Parecia que uma grande rajada de vento
cósmico poderia enviar a lua minguante rolando de ponta a ponta pra fora da
toalha de mesa aveludada do céu.
Tal rajada de vento não veio. Tudo estava como deveria estar nessa quieta cena
da vida.
Tantas estrelas. Não acho que já tenha visto esse tanto de estrelas.
O motor abaixo deles arrefecia. Era o único som que Katie ouvia.
Quanto mais ela olhava mais parecia que a a vida parada se movimentava. Era
como se o universo estivesse exalando em um grande suspiro. Ela sentia como se
eles três, o carro e todo o planeta Terra estivessem se reduzindo até se tornarem
não maior que uma partícula de areia. Diante deles estava o universo expansivo,
vasto, imensurável, selvagem e vivo com cores sutis e luzes pulsantes. Uma
estrela diretamente acima parecia mais azul que as outras. Ela notou como as
outras estrelas eram de tamanhos diferentes e algumas pareciam tremular.
Uma estrela cadente apareceu no horizonte leste, deixando um rastro
resplandecente no céu em um piscar de olhos. Katie suspirou numa rápida
respiração através de seus lábios entreabertos. Se ela estivesse com outras
pessoas, sua resposta teria sido oohs e aahs, como se isso fosse uma
apresentação de fogos de artifícios. Mas com Joseph e Eli, o silêncio profundo
que os circundava foi a oferta deles de admiração.
Entre piscadas, Katie estreitou os olhos e localizou outro rápido e menos
brilhante meteoro, como se lançasse a si mesmo de cabeça na atmosfera da
Terra e se incinerasse com sua longa cauda de luz.
Durante uma das aulas de ciências de Katie, ela tinha estudado um pouco sobre
as estrelas e o espaço sideral. Uma figura de um de seus livros veio à sua mente.
Mostrava um diagrama do caminho que os cometas fazem ao redor do sol num
curso regular. Quando a Terra viajava através de um fluxo de pedaços de pedras
geladas de um cometa, nós veríamos aqueles pedaços como estrelas cadentes ou
uma chuva de meteoro.
Uma depois da outra, o desfile de estrelas cadentes colidiam com a barreira
invisível da Terra e desapareciam. Seus pensamentos sobre a cupular cena
noturna mudaram de científicos para apreciarem uma dança. Joseph tinha dito
mais cedo que eles estavam indo para um concerto. Talvez ele estivesse ouvindo
música naquele exato momento. Para ela, um balé maravilhoso estava tomando
seu lugar no céu. Deus estava orquestrando essa performance como Ele faz todos
os dias e todas as noites. Ela sentiu como se fosse parte de uma audiência
limitada e privilegiada que estava testemunhando a Terra sendo salva momento a
momento da destruição de grandes pedras malvadas e antigas que vinham em sua
direção.
Tudo estava calmo. O perigo estava mantido fora da barreira invisível da
atmosfera da Terra. A vida continuava como sempre enquanto esse girante
planeta azul continuava no seu curso correto.
A magnitude de tal compreensão assentou em Katie da mesma forma que o saco
de dormir de cheiro musgoso descansava sobre ela, mantendo-a aquecida e
confortável. Ela se sentiu segura.
Katie notou como sua respiração tinha se tornado regular e constante. Ela quase
não percebia Joseph e Eli ao seu lado a não ser pelo pequeno senso de que a
respiração deles estava lenta e até mesmo ritmada como a dela. Aquilo e a
percepção de que a jaqueta de Joseph carregava o cheiro de gasolina.
Outro meteoro, esse com a cauda mais brilhante até aquele momento, apareceu
no oriente e não se apressou antes de incinerar em uma fumaça de poeira
interplanetária. Uma série de pontos de luz brilhantes tipo ratinhos velozes6
seguiram o primeiro pra extinção.
Deus mantém o mal longe de mim todos os dias da mesma forma que ele está
mantendo a Terra de ser pulverizada pelas estrelas cadentes?
Um sendo de humilde gratidão a encheu.
Sem aviso, Eli moveu suas pernas e deslizou pra fora do teto, deixando um
espaço frio perto de Katie. Ele foi para o porta-malas, o abriu e apenas com a
pequena luz vermelha no seu molho de chave para iluminar o caminho, ele
caminhou de volta lentamente para a frente do carro.
Katie sussurrou para Joseph:

6
No original o nome é LEMMING, tudo que consegui encontrar foi que é um animal tipo um rato que habita
nas regiões frias do Norte.
- O que ele tá fazendo?
- Não sei. Com Eli eu nunca sei.
Só então, à distância o débil uivo de um coiote soou. Pelo menos Katie achava
que era um coiote. Ela e Joseph trocaram olhares assustados na escuridão, sem
certeza do que poderia acontecer a seguir.
Capítulo 5
Eli abriu a porta da frente do carro, e a luz interna iluminou a fria escuridão com
uma luz azul.
Katie se virou e olhou de onde ela estava, perto de Joseph no capô do carro de
Eli, para dentro do carro através do pára-brisa. Eli estava colocando um CD no
som do carro e aumentando o volume. Abaixando a janela do carro do lado do
motorista, ele fechou a porta. Assim que ele fez isso, a noite os submergiu de
novo.
Eli subiu para perto de Katie e puxou uma parte do saco de dormir para cima de
suas pernas. Atrás deles a música começou. A introdução começou com o lento e
constante ritmo dos tambores.
- Isso é da África? Katie perguntou.
- Sim. Shhh.
Os tambores foram seguidos por uma ”limpa" e singular voz que provavelmente
pertencia a uma criancinha. O solo foi cantado com perfeita afinação e clareza.
Mesmo Katie não entendendo as palavras, a música soava como uma adoração
pra ela.
Contemplando o céu novamente, ela deixou a música lavá-la como se fossem
ondas invisíveis. No refrão, uma multidão de vozes se juntou àquela voz sozinha
com expressivos sons que fizeram o pára-brisa vibrar na suas costas.
A letra mudou para o inglês. Katie ouviu mais cuidadosamente e rapidamente
reconheceu a primeira parte da canção como sendo de Salmos 8. Ela sabia isso
porque Ted e o amigo deles, Douglas, também tinham escrito uma canção com
esse versículo. A versão africana era bem diferente tanto na melodia quanto no
tom, mas as palavras eram as mesmas:
Quando contemplo os teus céus,
Obra dos teus dedos,
A lua e as estrelas que ali firmaste,
Que é o homem para que com ele te importes,
E o filho do homem para que te preocupes?
Tu o fizeste um pouco menor que os seres celestiais
E o coroaste de glória e honra.
A música acabou, e a próxima começou sobre eles tão bela e calmamente quanto
a primeira. Essa também foi cantada nos profundos e terrestres tons de uma
língua que Katie não reconheceu e depois foi repetida em inglês.
O que o Senhor requer de você?
Além de agir com justiça,
Amar com misericórdia,
E caminhar humildemente com Deus.
Katie se virou para Joseph enquanto ele balançava a cabeça e os ombros junto
com o tempo da música.
- Ótimo show, ela disse docemente.
- Umm-hmm.
Sobre eles as estrelas dançavam.
Na TV e no cinema, Katie tinha assistido uma porção de danças. Ela tinha visto
dançarinos tribais pulando com grandes lanças. Ela tinha visto homens
tailandeses numa ilha vestidos a caráter pisar na areia com força. Comédias
retratavam companheiros mascarados balançando suas armas em volta das
fogueiras da tribo e gritando ”uga-buga" para assustar seus inimigos e fazer com
eles fugissem.
Mas isso, Katie ainda não tinha visto. Ou se ela já tinha visto, seu espírito nunca
tinha sido capturado da maneira como estava sendo agora. Tudo em volta dela
parecia estar dançando em resposta à música e a beleza perfeita da noite, e ela
era parte dessa imensa dança de louvor. Apesar de não estar se mexendo.
Katie puxou o saco de dormir até a altura de seu queixo, quase cobrindo o sorriso
em seus lábios. O nariz dela estava gelado, mas o coração estava quente e
tranqüilo, como se lá dentro ela estivesse prostrada em oração. Ela não se
lembrava de alguma vez ter se sentido tão envolvida na imensidão e ao mesmo
tempo em um minuto tão particular diante da beleza de Deus e do seu cosmos.
Essa era uma noite como nenhuma outra.
Quando a música terminou, Eli e Joseph silenciosamente desceram do capô do
carro, e Katie os seguiu. Uma vez que Eli tinha ligado o carro e o aquecedor, ela
começou uma conversa sobre a música e a África.
Eli e Joseph contaram-na que cada um deles tinha, em algum momento de sua
infância, vivido em uma choupana de barro com telhado de palha. Antes de vir
para a Califórnia, ambos tinham morado em grandes cidades. Eli disse que morou
em um apartamento. Joseph disse que morou em um quarto de uma casa com
uma pessoa chamada Shiloh.
- E quem é Shiloh? Katie perguntou.
- Shiloh é minha linda esposa.
- Sua esposa? Eu não sabia que você era casado. Ela ainda está na África?
- Claro. Ele tirou uma foto de sua carteira e entregou à Katie. Ela teve
dificuldade em ver sob a luz fraca, mas ela pôde perceber que a foto era de uma
amável e sorridente moça.
- Qual foi a última vez que você a viu?
- Vinte e três meses atrás.
- Joseph!
- Sim?
- Que horror.
- Nós estaremos separados apenas por mais dezessete meses.
- Apenas dezessete meses? Joseph, eu estou pasma. Katie devolveu a foto a
Joseph.
- Por que você está pasma? É por que uma mulher tão linda me escolheu como
marido?
- Não, claro que não. Eu estou pasma de ver como você pode deixar sua esposa
por tanto tempo apenas para vir estudar.
- Ir a uma faculdade é um grande privilégio.
Katie concordou, mas ela nunca tinha considerado os sacrifícios que alguns
estudantes faziam para estudar na Rancho. Para ela tinha sido muito difícil sem o
suporte de sua família, mas os obstáculos dela pareciam mínimos comparados aos
de Joseph.
Enquanto processava tudo aquilo, o carro branco de Eli subia o morro até o topo
do planalto onde a Universidade Rancho Corona ficava. O campus parecia estar
dormindo naquelas primeiras horas desse novo dia.
- Obrigada por me deixar ir com vocês, Katie disse. Eu estou quase feliz por meu
pobre carrinho ter estragado. Quase.
- Você tem algum mecânico que pode fazer o conserto pra você? Joseph
perguntou.
- Eu estou pensando em ver se meu irmão pode vir e dar uma olhada.
- Se ele não puder, me fale, por favor, Joseph disse. Eu conheço um pouco de
mecânica.
- Bom saber disso. Katie pegou seu celular e a tela iluminou-se quando ela
apertou os botões para armazenar um novo contato. Qual é seu número?
- Eu não tenho celular.
Katie não sabia de ninguém que não tivesse um celular.
- Há algum telefone para o qual eu possa ligar lá no posto de gasolina?
- Há sim, mas eu não sei o número. Se você rebocar o carro até o posto, eu posso
fazer o conserto pra você.
- Ta bom.
Eli parou o carro em frente ao Crown Hall, e seu carro ficou parado ao longe
enquanto Katie se despedia.
- Eu vejo vocês por aí. Obrigada mais uma vez por me deixar ir com vocês. Se
vocês planejarem ir a outro rock star show me falem, tá?
- Combinado, Eli disse. Estou feliz por ter vindo.
Katie se dirigiu para dentro do dormitório e fez aquela longa caminha até o fim
do corredor, ainda flutuando na euforia daquela noite. Com apenas três horas
antes de ela ter que estar em serviço na mesa da frente, ela vestiu seu pijama e
colocou o seu celular para despertar. Ela se sentia bela e estranhamente
descansada desde o seu interior até o exterior.
Instintivamente digitando uma mensagem para Rick antes de dormir, ela disse a
ele que esperava que ele e Joseph fizessem uma viagem segura.
Um minuto depois que ela enviou a mensagem, seu celular tocou.
- Eu não acredito que você ainda está acordada. Você está na casa da Cris? Rick
disse, com uma voz de quem estava bem acordado.
- Não, eu saí de lá antes da meia-noite. Eu estou no meu quarto, mas você jamais
vai adivinhar onde eu fui depois que saí da casa de Cris.
- Casa de Pedro?
- Não. Eu fui ao deserto com Eli.
O outro lado da linha ficou em silêncio.
- Rick, você ainda está aí?
- Sim, estou. Você disse que foi ao deserto com Eli?
- É. Eu fui ao deserto com Eli e Joseph. Você conhece o Joseph. Ele é da África.
- Katie, você está tentando fazer uma piada ou coisa do tipo? Porque eu não
estou entendendo.
Katie se esticou em sua cama e começou a história com a parte que o Buguinho
não queria funcionar. Então ela deu a Rick uma explicação completa, incluindo a
discussão sobre chás, a inacreditável quantidade de estrelas, a irresistível
presença de Deus, a maneira como ela ouviu um coiote de longe, e o ”show"
africano. Então ela parou para respirar antes de dizer:
- Eu queria que você estivesse lá. Foi a noite mais maravilhosa de todas. Eu acho
que nem consigo explicar o quão fenomenal foi.
De novo, a ligação parecia ter caído.
- Rick?
- Eu não sei o que dizer, Katie. Eu ainda estou tentando entender porque você
saiu no meio da noite e foi ao deserto com dois caras que você nem conhece.
- O que você quer dizer com 'nem conhece'? Eli mora com você. Era você quem
queria que eu o conhecesse melhor.
- Sim, conhecê-lo, ser educada quando você estiver no apartamento e ele estiver
lá. Eu nunca quis dizer que você deveria sair com ele no meio da noite para
algum destino louco.
- Não foi assim tão louco quanto parece. O que eu não te contei é que eu estava
tentando convencer a Cris de ir a uma aventura noturna comigo. Eu sugeri pular
de pára-quedas, então com isso em mente, essa chuva de meteoros noturna foi
uma opção muito melhor.
- Então por que a Cris não foi com você?
- Ela não sabe que eu fui. Eu não voltei para contá-la que o Buguinho não estava
funcionando. Mas fato é, eu conheci o Eli e agora eu não tenho mais antipatia
dele. Então na verdade, agora mesmo, eu acho que você deveria estar dizendo,
”Bom trabalho, Katie. Continue assim!”.
- Okay, bom trabalho, Katie. Continue assim. E a propósito, eu disse ao Eli que o
convite que eu fiz para ele sobre a noite de pizza foi um erro, então eu espero
que você não mude de idéia com relação a isso.
- Não. Obrigada. Como ele reagiu?
- Bem. Por quê?
- Eu só não quero magoar os sentimentos dele.
- Katie, você está me matando. Hoje mais cedo eu tentei convidar o Eli para a
noite de pizza e você não gostou disso. Agora você está preocupada com a
possibilidade de eu o ter magoado. Você não sabe o que quer.
- Ei, eu não conhecia o Eli hoje mais cedo como eu o conheço agora. Você estava
certo; ele é um cara legal. As coisas estão indo bem, Rick. Tudo está ótimo entre
mim e você e tudo está bem agora com o Eli. Não há nada com o que se
aborrecer.
- Sabe o que mais, Katie? Essa é, provavelmente, a pior hora possível para termos
essa conversa. Nós estamos numa hospedaria agora. Josh acabou de chegar com
as chaves. Eu te ligo hoje mais tarde, pode ser?
- Pode. Me ligue depois das cinco.
- Depois das cinco. Entendi.
- Eu espero que suas negociações dêem certo.
- Obrigada, Katie.
Ela apertou o botão de seu telefone e colocou-o de lado. Será muito bom quando
ele tiver terminado esse café no Arizona. Essas viagens estavam o cansando
muito e colocando um grande peso no relacionamento deles.
Sem perceber, ela começou uma oração em voz baixa.
- Você já sabe o que eu quero, Deus Pai. Eu quero que o Rick e eu tenhamos uma
chance de ficar mais próximos agora que nós somos namorados. Nós esperamos
um ano por esse próximo passo no nosso relacionamento, e apesar de parecer
que temos que nos esforçar muito mais do que tínhamos antes de sermos
oficialmente namorados.
Um grande bocejo tomou conta dela e ela deixou o restante da oração por falar
quando caiu no sono.
Parecia que tinha passado apenas um minuto até ela ouvir uma batida
persistente em sua porta. Ela deu olhada no relógio sobre sua mesa. Eram apenas
8:25 de uma manhã de sábado. Com um gemido ela rolou na cama e gritou:
- Pode entrar.
A batida continuou, mais forte.
Sem abrir seus olhos, Katie gritou de novo:
- Sério! Vá checar a AR em-trabalho na mesa principal.
Assim que as palavras pronunciadas saíram de sua boca, os olhos de Katie
abriram instantaneamente.
- Espera. Sábado? Ah, não! Sou eu, não sou?
Rolando pra fora de sua cama, ela abriu a porta, piscando por causa da luz do
corredor. Julia, a diretora dos ARs, estava lá com uma expressão meio confusa.
Parecia que ela tinha acabado de levantar e colocar uma calça jeans e um
moletom. Seu cabelo castanho cor-de-areia estava preso com um grampo e sua
bela e sardenta pele estava rosa.
- Katie?
- Meu despertador deve... Eu pensei que eu...
- Eu vou voltar para a mesa principal, Julia disse. Venha e tome meu lugar assim
que você puder.
- Eu vou me apressar.
Katie pegou seu telefone e descobriu que desapercebidamente o desligou quando
ela acabou de falar com Rick algumas horas atrás. Ela tinha três chamadas na
caixa postal. Duas eram de Julia. Ela não parou pra ver de quem era a terceira
ligação. Correndo para vestir uma calça de jeans e um moletom, Katie calçou
seus pés num par de chinelos e desceu o corredor correndo.
- Julia, eu sinto muito, muito mesmo. Meu telefone...
- Não se preocupe com isso. Acontece. Eu não estou me sentido bem, eu vou
voltar pra cama. Se você tiver algum problema, ligue para o Greg primeiro, ta?
- Claro. Obrigada. De novo, me desculpe.
Rapidamente, aquele se tornou um chatíssimo sábado para Katie e para todos
com que ela se encontrou durante as suas cinco horas de trabalho.
Primeiramente, ela estava com fome e nenhuma das gavetas da mesa guardava
uma sacola de rosquinhas ou maçãs confiscadas da cafeteria que normalmente
ficavam lá. Segundo, todos que vieram até ela com um problema estavam
irredutíveis no quesito precisar de uma solução imediata para o problema.
Terceiro, o número de problemas, mesmo para um sábado, estava bem mais alto
que o normal. Katie estava acostumada com as situações como ”Eu perdi minha
chave" ou o ”Eu preciso agendar com a manutenção para que eles venham
consertar a porta do meu armário". Hoje duas infestações de formigas foram
detectadas e um pequeno incêndio resultante de uma cola quente em cima da
cama enquanto a artista foi ao centro da cidade para comprar mais coisas para
seu projeto de arte.
A fumaça da roupa de cama queimada originou numa ligação para a mesa de
Katie vinda do quarto ao lado do desastre, o que significava que Katie tinha que
avaliar o lugar se ligasse para o departamento de incêndio.
Ela ligou, eles vieram, tudo foi feito bem rápido e eficientemente, antes que a
estudante de arte estivesse de volta do centro da cidade e encontrasse seu
colchão e sua roupa de cama queimada ensopados e fora do Crown Hall.
Acabou que Katie teve que encontrar um novo colchão e arrumar um jeito de
levar o colchão danificado para longe dali. Tudo isso aconteceu antes de meio
dia.
Ao meio dia, sua companheira de andar, Nicole, entrou no Crown Hall com uma
surpresa feliz. Ela tinha um sanduíche com porção extra de picles para Katie.
- Você está brincando comigo? Katie disse, assim que a doce Nicole apareceu com
o grande, e salvador de famintos embrulhado num papel. Como você sabia?
- Eu tive que trabalhar no sábado por duas semanas seguidas, lembra? É o pior
dia.
- Oh, baby, você é meu novo melhor amigo. Katie deu uma mordida em seu
sanduíche.
- Eu seria boba de pensar que você estava falando comigo, Nicole disse com um
sorriso. Eu sei que essa sua expressão de carinho é para o sanduíche. O sanduíche
é mesmo seu novo melhor amigo, não é?
Katie não respondeu. Ela apontou para seus lábios fechados e sua boca cheia de
sanduíche e continuou a mastigar e fazer barulhos para demonstrar sua
felicidade enquanto mastigava.
Nicole puxou uma cadeira para perto de Katie. O cabelo escuro e escorrido de
Nicole estava preso em um rabo de cavalo e mesmo parecendo que ela não
estava com nenhuma maquiagem exceto pelo discreto delineador e o rímel em
seus olhos, ela aparentava estar nova em folha, como sempre.
Nicole pegou seu celular, para checar as mensagens. Seu semblante caiu.
- Hmm? Katie perguntou, ainda mastigando. Ela apontou para o telefone,
deixando claro que ela queria saber com o quê Nicole estava desanimada.
- Ah. Eu estou esperando que uma certa pessoa me responda se vai comigo a uma
certa noite de pizza na sexta e isso está me deixando louca. Isso é muito
humilhante. Eu gostava mais de quando estávamos no primeiro ano do ensino
médio, quando tudo que tínhamos que fazer era contar às nossas amigas de quem
nós gostávamos e deixá-las contar ao garoto para nós. Elas sempre voltavam logo
em seguida com uma resposta se ele gostava de nós ou não.
Katie engoliu e deu olhada para fora da área do saguão para se certificar de que
ninguém as podia ouvir.
- Quem você chamou?
- Ah... Phillip Sett.
Katie caiu na gargalhada.
- Que foi? Ele não é tão ruim assim. Eu acho que ele é até bonitinho.
Katie balançou sua mão na frente de seu rosto e tentou respirar.
- Por que você está rindo, Katie?
- Não, não. Não é por causa dele. Eu nem o conheço. Ela voltou a respirar
normalmente.
- Então qual é a graça? Já é humilhante o suficiente estar na última semana e
tentar arrumar um acompanhante; você não precisa zombar de mim.
Katie assumiu uma expressão melancólica.
- Nicole, me desculpe. Eu não estou zombando de você. Foi o jeito como você
disse o nome dele. Eu nem conheço o cara. Mas quando você disse o nome dele,
eu achei que você tinha dito, 'Eu to triste, '7 e eu acabei achando engraçado o
fato de você estar tão chateada e eu pensei que...

A lógica ilógica do que Katie tinha entendido foi ao encontro de Nicole e ela deu
um pequeno sorriso.
- Ah, entendi. Phillip Sett. Eu to triste. Ok. É bem engraçado.
- Não, não é. Se fosse engraçado você estaria rindo também. Eu estou meio
grossa essa manhã, Nicole. Nós já tivemos dois problemas com formigas e um
incêndio.
- Eu vi o colchão. O que aconteceu?
Em meio às mordidas do sanduíche, Katie fez um resumo para Nicole. Depois de
Katie dar mais algumas mordidas em seu sanduíche, todas as luzes no pequeno
escritório piscaram. A luz caiu completamente por dois segundo e depois voltou.
- O que está acontecendo hoje?
- Nós tivemos uma queda de energia ontem a noite também, Nicole disse. Você
estava aqui quando isso aconteceu? Nós ficamos sem energia às nove da noite por
cerca de cinco ou seis minutos.
- Não, eu estava na casa da Cris. Nós estávamos tendo nosso problema particular
de queda de energia com o micro-ondas.

7
Em inglês, o que a Katie entendeu foi que a Nicole tinha dito”I feel upset", que quer”Eu to triste", ao invés
de Phillip Sett, que é o nome do garoto. Coisas de Katie...
- Ah, é, e como foi o tratamento facial? Vocês gostaram da minha fórmula
secreta?
- Eu acho que funcionou mais na Cris do que em mim.
- Você deveria usá-lo constantemente. Toda semana. O produto é bom.
- A cor era ótima. Excelente tom de verde. Bom para assustar garotos.
Nicole sorriu.
- Eu não sei se quero ouvir o restante dessa história. Não agora, do jeito que a
minha vida anda... Eu acho que eu assustei o Phillip. E agora sim, eu to triste.
- Então ligue pra ele e diga que você só está querendo saber como ele está. Seja
calma e simpática e então você vai saber se ele vai com você ou se você vai
precisar convidar outra pessoa.
- Esse é o problema, Nicole disse. Quem mais eu poderia convidar? Eu já esgotei
todas as minhas opções. Se o Phillip não for comigo, eu acho que não vou.
- Você tem que ir. Isso é seu trabalho.
- Bem, então meu trabalho deveria vir, automaticamente, com um
acompanhante para todos os eventos sociais porque, de verdade, eu não quero
ser a única a ir sozinha. Eu não estou agindo com uma criança pirracenta.
Sinceramente. Esse é meu último ano e eu fui sozinha à maioria desses eventos.
É horrível. Especialmente ano passado quando eu fui AR pela primeira vez. Eu
dizia a mim mesma que tudo bem ir sozinha porque no ano seguinte seria meu
último ano, e certamente, a essa altura, eu teria alguém com quem eu pudesse
fazer, pelo menos, as coisas mais casuais. Mas olhe pra mim, Katie! Lágrimas
jorraram de seus olhos. Eu sou uma universitária em seu último ano e do campus
todo eu sou a mulher que menos saiu com algum rapaz!
- Isso não é verdade. Você está brincando comigo? Nicole, você é maravilhosa e
você sabe disso. Você está com um corpo ótimo, pele perfeita, um cabelo lindo,
e você é mesmo maravilhosa. Tanto por fora quanto por dentro. Você só não
encontrou o cara certo ainda.
Por mais que Katie tivesse a intenção de que sua última frase desse esperança à
Nicole, ela ainda parecia com algo que uma mãe diria seguido de um tapinha no
joelho. Principalmente por causa do jeito como Katie tinha feito um resumo das
melhores características de Nicole, como se Nicole precisasse que alguém a
contasse o quão maravilhosa ela era.
Infelizmente, a exortação de Katie para Nicole tinha produzido o mesmo tipo de
lágrimas sufocadas que teriam vindo se uma mãe estivesse falando a mesma
fatídica frase.
Nicole piscou corajosamente.
- Eu sei. Eu realmente não deveria estar fazendo disso um grande problema. Eu
estou sensível demais. Você tem algum chocolate guardado em seu quarto?
- Bombas de chocolate? Katie ofereceu, segurando a chave de seu quarto.
- Eu vou olhar com a Em. Ela normalmente tem essa coisinha preta guardada. Se
ela não tiver, eu vou atacar seu estoque de bombas de chocolate.
- Seja minha hóspede. E Nicole? Eu estava falando sério mesmo que tudo tenha
saído errado e soado horrivelmente bobo. Você é maravilhosa, e qualquer rapaz
seria louco de não sair com você. Eu realmente acredito que você vai encontrar
alguém. Eu não sei quando, mas você vai, e os 'sinos vão soar' pra vocês dois.
Poção mágica, raios brilhantes no canto dos olhos e tudo mais.
- Poção mágica, raios brilhantes no canto dos olhos, hein?
- Cris e eu estávamos falando sobre isso ontem à noite. É basicamente a
síndrome da princesa de desenho animado. Então Katie se lembrou de que a
conversa com Cris tinha sido, na verdade, sobre deixar os raios no canto dos
olhos na parte dos mitos. Agora, aqui estava ela, bajulando Nicole e a
convencendo a acreditar que seu lindo príncipe estava há apenas um desejo de
distância.
- Sabe o que mais, Nicole? Eu percebi que não são brilhos e raios. Eu não deveria
ter vindo com essa história de poção mágica. Eu sei que não é assim pra todo
mundo. Mas, fato é, eu tenho aquela sensação melosa de docinho de coco de que
é assim que vai ser com você.
- Por que, eu sou um docinho de coco?
- Não, você não é um docinho de coco.
- Katie, você pode parar de tentar me animar. Eu sei que Deus tem um plano pra
minha vida. Sei mesmo. Eu te contei durante nossa caminhada rumo ao Catalina
como eu cresci com a premissa de que eu sou uma princesinha de Deus e um dia
meu príncipe viria. Eu acho que grande parte de mim ainda acredita nisso.
- Que bom. É assim que deve ser.
- Sim, mas nesse ano, por sua causa do seu tema Tesouros Peculiares para o
nosso andar, eu estou desenvolvendo uma imagem maior da minha vida e do que
importa para Deus. Eu não sei se eu já te agradeci por isso. Eu estou vendo que
sou mesmo um tesouro peculiar de Deus e o meu valor pra ele é o que importa
mais e mais.
- Não há regra nenhuma que diz que você não pode ser um tesouro peculiar e
uma princesa ao mesmo tempo.
- Eu acho que estou no meio-a-meio. Metade de mim quer deixar isso pra lá e
dizer que toda essa coisa de acompanhantes não vai me definir ou meu último
ano de faculdade. Deus está fazendo tudo que o honra e é isso que eu quero. Mas
aí, a outra metade de mim diz, ”Alôôôô! Lembra de mim, Deus? Cadê meu Senhor
Maravilha?”
Katie deu um espontâneo abraço em Nicole.
- Eu te amo, Nicole. Você é tão sincera.
- Esse também é um dos seus melhores traços que está passando pra mim, Katie.
O telefone de Nicole tocou e as duas se ergueram na cadeira, com expectativa e
uma expressão levemente ”tonta".
- To triste? Katie perguntou, enfatizando a pronúncia errada do nome do
acompanhante em potencial de Nicole.
Nicole pegou seu telefone e o abriu. A expressão dela decaiu quando ela viu o
nome no identificador. Colocando o telefone em seu ouvido e melhorando sua
voz, ela disse:
- Oi, mãe.
Katie escondeu seu sorriso desapontado numa mordida em seu sanduíche. Nicole
deu um tapinha no ombro de Katie e acenou um tchau enquanto caminhava para
fora do escritório dizendo:
- Aham. Sério? Ah, que bom.
Enquanto mastigava ruidosamente na calmaria da mesa principal, ela lembrou
que havia uma mensagem na caixa postal que ela ainda não tinha ouvido.
Pegando seu telefone, ela acenou para duas estudantes que entraram no prédio e
deram um oi pra ela.
Ela ouviu às duas mensagens de voz de Julia perguntando onde ela estava e se
ela se lembrava que ela estava encarregada da mesa principal naquela manhã.
Então veio a terceira mensagem.
- Ah. Bem. Eu não sei que... Alô? Você está me ouvindo? É sua mãe. Katie? Você
não deve estar em casa. Você está aí? Eu não sei se eu devo falar o número do
meu telefone ou apertar algum botão. Você deveria deixar instruções que digam
às pessoas o que elas devem fazer ao invés de... Bem, tchau. Eu já desliguei? Eu
não sei como isso funciona.
Um clique e um silêncio se seguiram.
Katie engoliu o pedaço de sanduíche. Ela respirou fundo e digitou o número do
telefone da casa de seus pais. Limpando sua garganta, ela esperou enquanto o
telefone chamava. O coração dela estava acelerado, como se ela fosse atravessar
a nado um grande e gelado oceano.
Capítulo 6
Os pais de Katie estavam em seus quarenta anos quando ela nasceu. Mesmo eles
sendo super protetores no começo, uma vez que ela formou no ensino médio, ela
começou a ficar mais independente, o que a deixou sentindo-se à deriva no
relacionamento dela com eles.
Enquanto ela esperava sua mãe atender o telefone, um caminhão de entrega da
floricultura estacionou em frente ao Crown Hall.
- Oi, mãe. Sou eu, Katie. Ela odiava ter que se identificar, mas era melhor ela se
fazer conhecida no começo da ligação do que esperar que sua mãe soasse
confusa e depois dissesse, ”Quem é?”
- Eu tentei te ligar hoje de manhã, Katie.
- Eu sei. Essa é a primeira oportunidade que tive para ligar de volta.
- Você deveria deixar instruções no seu telefone se você não vai atender. Eu não
sabia se eu deveria apertar algum botão ou o quê.
- Você não precisa apertar nenhum botão. Tudo que você tem que fazer é falar,
mãe. E depois desligar. Do jeitinho que você fez.
Um homem baixinho aproximou-se da mesa principal, seu rosto escondido pelo
grande buquê de margaridas, lírios e rosas. Ele colocou as flores no balcão, o que
bloqueou a visão de Katie, impedindo que ela o visse.
- Eu preciso que você assine aqui. Ele puxou uma prancheta passando-a ao lado
do buquê - No 'x'.
- Katie, há mais alguém na linha?
- Não, mãe. Só um segundo. Ela abaixou o telefone, rabiscou sua assinatura na
linha onze e agradeceu ao entregador antes de voltar à conversa com sua mãe.
Voltei, eu tive que assinar uma entrega de flores.
- Flores?
- É, um buquê. Um buquê enorme.
- É pra você?
- Não. Eu estou de plantão na mesa principal. Não sei pra quem é. Katie virou o
vaso e encontrou o cartão colado ao lado do vidro ao invés de preso a um desses
usuais palitinhos de plástico presos em meio às flores.
Seu coração parou quando ela viu que o nome que estava no cartão era “Katie".
- Se você estiver muito ocupada agora para falar, você pode me ligar mais tarde,
a mãe dela disse.
- Não, tudo bem. E aí, alguma novidade? Ela tentou não soar indiferente, mas sua
mente percorreu todas os possíveis motivos pelos quais Rick a teria mandado
flores. Ele estava só tentando ser legal? Eles não tinham marcado ou
comemorado nenhum desses ”aniversários de namoro" do jeito que alguns casais
de namorados faziam. Rick não estava começando agora, estava?
- Eu preciso do seu endereço, a mãe dela disse.
- Meu endereço?
- Sim. Aí da escola. Uma carta chegou pra você e eu preciso encaminhá-la.
- Ok. Katie recitou o endereço de seu dormitório enquanto tirava a fita adesiva
que prendia o cartão no lado do vaso. Assim ela poderia ler o que estava escrito.
- Sua tia avó Mabel morreu. Eu já te contei isso, não contei?
- Já, mãe. Você me contou isso uns meses atrás. A menos que agora você esteja
falando de outra tia avó Mabel.
- Não, é a mesma.
- Ok, bem, é melhor eu voltar para o trabalho. As unhas de Katie estavam curtas,
o que fez da tarefa de tirar a fita adesiva do cartão, algo desafiador.
- Seu pai retirou um nódulo do braço dele, mas não era cancerígeno.
- Que bom. Ah, eu tenho que contar. Meu carro estragou ontem à noite.
- O carro que o Larry comprou pra você?
- Sim, esse mesmo. Eu estava pensando que deveria ligar pra ele, mas eu não
tenho o número do telefone dele. Katie parou com aquela briga inútil com o
cartão no vaso e procurou pra uma caneta. Ela encontrou também, sobre a mesa,
um pedaço de papel num bloco de anotações que não estava completamente
usado. Você poderia me dar o número do Larry?
- Por que você não tem o número do telefone do seu irmão?
Katie teve vontade de dizer:
- Você acabou de me pedir meu endereço. Qual é a diferença entre isso e o fato
de eu não ter o número do telefone do Larry?
Ao invés disso, ela disse:
- Eu devo ter em algum lugar, mas não no meu celular. Você pode me dar o
número, mãe?
- Só um minuto. Ah, espere. Aqui está. A mãe de Katie leu o número e depois
disse: Você sabe que ele se mudou para Bakersfield, não sabe?
- Bakersfield? Quando o Larry se mudou pra lá?
- No verão passado. Você sabia que ele estava num centro de reabilitação, não
sabia?
- Não.
- Eu pensei que soubesse. Ele ficou lá apenas uma semana ou talvez duas antes
de ele mesmo pedir pra sair. Nós não temos notícias dele desde Agosto. Eu tenho
certeza que o centro não se importará se você ligar pra saber se ele ainda está
lá.
- Que número você acabou de me dar? O celular dele?
- Não tem como eu saber se ele tem um celular. Eu te dei o número do centro de
reabilitação. É o único número que tenho.
Katie empurrou o papel na mesa.
- Mãe...
- O quê?
- Isso é muito sério, não é? Quero dizer...
- Seu irmão já é um homem crescido. Eu não posso me responsabilizar pelas más
decisões dele. Nós criamos vocês três para serem independentes.
- Eu sei, Katie disse calmamente. Como o Clint está, a propósito? Você falou com
ele recentemente?
- Não. Você quer o telefone dele também?
- Sim, se você tiver. Katie anotou o telefone de seu irmão mais velho no bloco de
notas. Ela sentiu como se algo bom tivesse mexido com ela por dentro.
- Mãe, o que você e o papai vão fazer na semana de Ação de Graças?
- O que você quer dizer com 'O que nós vamos fazer'?
- Bem, eu só estava pensando que poderia ir pra casa. Eu não tenho que ficar
aqui. Quero dizer, eu só estou há uma hora de casa. Eu não fui pra casa durante
o verão porque eu estava trabalhando muito, mas eu não tenho que trabalhar
durante a semana de Ação de Graças.
O silêncio cobriu aquela conversa, como que passando a responsabilidade da
resposta para a mãe de Katie e ela, aparentemente, não sabia o que fazer com
aquilo.
- Nós não nos importamos muito com os feriados, Katie. Nós nunca fomos assim.
- Eu sei. Eu não estou dizendo que tem que ser um grande evento caso eu vá pra
casa. Eu só estou oferecendo. Talvez o Rick possa ir comigo e ele e eu
poderíamos fazer o jantar para você e pro papai. Vocês iriam gostar, não iriam?
- Não sei.
Aquele silêncio doloroso preencheu o espaço entre elas mais uma vez.
- A família de Rick não convidou você? É isso?
- Rick e eu ainda não conversamos sobre a semana de Ação de Graças. Eu só
pensei em te falar sobre essa possibilidade. Não é nada de muito importante,
mãe.
- Nós não estamos prontos para receber visita. Ter a casa preparada em tão
pouco tempo é demais pra mim. Há muita coisa acontecendo aqui. Ontem mesmo
seu pai retirou um nódulo...
- Eu sei, mãe. Você já me contou. Nós podemos deixar pra lá a idéia do dia de
Ação de Graças. Também há muita coisa acontecendo por aqui.
- Se você tivesse me avisado com um pouco mais de antecedência, eu poderia
organizar alguma coisa, Katie. O dia de Ação de Graças é daqui a apenas uma
semana e meia.
- Eu sei.
- Você deveria ser mais organizada, especialmente quando seus planos envolvem
outras pessoas. Eu esperava que a faculdade fosse curar essa sua natureza
impulsiva, mas, obviamente, você continua pensando que tudo bem fazer as
coisas na última hora.
Katie se sentiu mergulhando em uma velha e bastante desagradável poça de lama
de vergonha.
- Agora, se você quiser conversar sobre fazermos algo no Natal, eu posso falar
com seu pai sobre isso.
- Eu vou pensar, mãe.
- Pensar em quê? Você quer vir ou não?
- Não sei. Eu preciso conversar com o Rick sobre isso.
- Nos telefone quando você decidir. Quanto mais rápido, melhor. Nós estaremos
aqui, você sabe disso.
Katie desligou e olhou para o pedaço de papel com o telefone do centro de
reabilitação de seu irmão. Sem parar pra pensar no que ela deveria dizer, Katie
discou o número do telefone. Uma recepcionista atendeu.
- Meu nome é Katie Weldon, e eu gostaria de saber se existe a possibilidade de
meu irmão estar nesse centro. O nome dele é Larry Weldon. Ele tem trinta e
cinco, não, trinta e seis anos, ele tem o cabelo ruivo e...
- Um momento, por favor.
Enquanto Katie esperava, ela olhou para as cheirosas flores e usou seu dedo
polegar para, mais uma vez, tirar a fita adesiva. Ela tentou puxar para cima uma
ponta do cartão.
- Alô? Uma voz feminina diferente surgiu no telefone. Eu soube que você está
ligando para procurar por um de nossos internos.
Katie deu a mesma informação que tinha dado à primeira mulher.
- Um momento, por favor.
De volta na espera, Katie tirou o cartão, com dificuldade, do vaso. Ela abriu o
envelope selado e tirou o pequeno cartão, esperando ver o nome ”Rick" na
assinatura debaixo de algo bem carinhoso. Ao invés disso, tudo que o cartão dizia
era:
Eu estou muito feliz por você ter dito sim.
Nosso futuro começa agora.
Nenhum nome apareceu no cartão. Apenas aquelas duas frases. Katie virou o
cartão e checou a frente do envelope. O nome na frente era mesmo ”Katie.”
- Que bizarro, ela resmungou. Para o quê eu disse sim?
- Alô, Senhorita Weldon?
Katie pegou seu celular.
- Sim, ainda estou aqui.
- Obrigada por esperar. Nós checamos nossos arquivos, e não achamos nenhum
'Larry Weldon' que esteja atualmente inscrito em nosso programa.
- Ele estava aí no verão, no entanto, certo? Ele deixou alguma informação?
- Infelizmente nós não temos autorização para dar qualquer tipo de informação
por telefone.
- Mesmo para familiares?
- Não. Sinto muito. Nós podemos pegar alguma informação sua para contato e se
seu irmão entrar no programa de novo, nós podemos passar seu telefone pra ele.
- Ok. Eu agradeço. Katie falou o número de seu telefone e seu endereço. Com
uma última tentativa ela disse: Tem certeza de que você não pode me contar
nada mesmo? Quero dizer, eu não sei se ele está desabrigado ou...
- Nós não temos como localizar um interno antigo, a menos que essa pessoa
queira nos manter atualizada.
- Entendo. Ok. Bem, se ele aparecer por aí, por favor diga a ele que eu quero
mesmo falar com ele. Katie sentiu-se mal com a possibilidade de seu irmão estar
em uma situação ruim. Verdade, ela nunca fora muito próxima de nenhum de
seus irmãos e eles não mantiveram contato depois que ela saiu de casa, mas
ainda assim, eles eram seus irmãos. Ela se sentiu mal por não ter feito nada para
manter contato com eles.
Assim que ela desligou o telefone, ela discou o número de seu irmão mais velho.
A caixa postal dele atendeu.
- Ei, Clint. Sou eu, Katie. Sua irmãzinha. Eu sei. Estranho eu ligar. Eu só queria
saber como você está. A mamãe me deu seu número. Então... Eu acho que eu só
queria dar um oi e me ligue uma hora dessas. Eu estou bem. Mamãe e papai
estão bem. Eu não sei como o Larry está. Se você souber, você poderia me ligar e
dizer como ele está e como você está? Ok. Bem... Espero falar com você depois.
Tchau.
Talitha, uma das outras ARs, entrou na pequena área atrás da mesa principal. Ela
estava com seu laptop debaixo do braço e em sua mão direita estava um copo
térmico de café.
- Não é possível que já sejam duas horas. Katie olhou para o relógio de parede.
Uau. Esse foi o plantão mais rápido de todos.
- Como foi a manhã? Talitha perguntou.
- Coisa de louco. Mas essa última hora foi normal.
- Que bom. Espero que continue assim. Eu tenho um trabalho pra terminar.
Ela armou seu laptop na mesa, e Katie apontou para o resto de seu sanduíche.
- Você está com fome? O estômago de Katie estava muito cheio de 'nós' pra ela
enviar qualquer pedaço a mais de comida para ele.
- Não. Obrigada assim mesmo.
Pegando as flores, Katie as encaixou em seu quadril e colocou seu celular em seu
bolso para que ela pudesse carregar a sacola do sanduíche de volta para seu
quarto e guardá-lo em sua pequena geladeira para um lanchinho futuro.
- São lindas, Talitha disse. São pra você?
- São.
- Do Rick?
Katie se desvencilhou de sua incerteza dizendo:
- De quem mais elas seriam?
- Eu amo o cheiro de lírios sonhadores, você não? 8
- É isso que elas são? Lírios sonhadores? Katie sentiu um rumor estranho dentro
de si enquanto jogava pra longe o pensamento que estava tentando bater de
frente com sua consciência.
- Sim, sonhadores. Você tem que tomar bastante cuidado porque o pólen amarelo
mancha, mas os dessas flores foram retirados. Eu amo essas flores. Eu vou usá-las
no meu casamento.
Katie ficou surpresa.
- Seu casamento? Você tem planos que eu ainda não sei?
- Não! Talitha disse rapidamente, abaixando o tom da voz. Você está brincando?
Eu tenho uma vida amorosa zero e quase uma vida social zero também. Eu só
estou dizendo que algum dia, se e quando eu me casar, eu gostaria de ter essas
flores no meu buquê de casamento.
- Aqui. Katie extraiu uma das vibrantes flores do centro do buquê e deu à
Talitha. Uma flor para fazer um desejo.
Então, para dar um toque em seu presente impulsivo, ela inventou instruções
para extrair um desejo da flor:

8
Em inglês é stargazer lilies. Literalmente traduzidos, são lírios sonhadores, mas não tenho certeza de que
esse seja o nome verdadeiro da flor em português.
- Veja, com uma flor dos desejos, você deve girar a flor, cheirá-la e dizer, 'Com
esse lírio, eu te desejo. ' Então o primeiro garoto que você vir depois que tiver
feito o desejo será 'ele'.
Talitha gargalhou.
- Eu acho que vou esperar para girar e cheirar até que minhas chances de
localizar o 'Sr. Ele' sejam um pouco melhores do que elas são nesse momento.
Katie seguiu a visão de Talitha para o hall onde dois rapazes podiam ser vistos.
Um deles estava abraçando sua namorada no sofá e outro, um raquítico
conhecido em seus quarenta e quatro quilos, estava digitando, em seu laptop, na
velocidade da luz.
- Entendo o que você quer dizer. Entretanto, quando você estiver pronta, siga
essas simples instruções e veja o que acontece com sua flor dos desejos.
- Se você diz.
Katie tinha certeza que Talitha estava rindo dela por trás daquele sorrisinho, mas
Katie não se importava.
- Sabe o que eu acho? Eu acho que se uma jovem não se dá o direito de
ocasionalmente fazer um desejo para uma estrela, ou uma flor, ou um bolo de
aniversário cheio de velas, então nós estaremos perdendo um das mais doces
extravagâncias da nossa juventude.
Talitha levantou suas sobrancelhas para a declaração de Katie.
- De onde você tirou isso?
Katie levantou seu queixo. Ela sabia que sua incomum e excêntrica frase tinha
vindo das experiências combinadas das últimas vinte e quatro horas – estar com
sua amiga casada, Cris; contemplar as estrelas com Eli e Joseph, conversar com
sua monótona mãe; pensar em seus irmãos; e agora segurar um lindo buquê de
flores com seu nome nele. Uma vez que era demais tentar resumir isso tudo, sua
resposta para Talitha foi:
- A vida passa rápido e muitas coisas podem nos entristecer. Mas se nós não
tivermos esperança, então, bem... pra quê serve o futuro, se não é pra gente
sonhar com ele?
Talitha deu um abraço espontâneo em Katie.
- Eu precisava disso. Obrigada, Katie. Eu precisava dessas flores também.
- Que bom. E não se esqueça do desejo-para-seu-lírio.
- Não esquecerei.
- O desejo só é bom enquanto a flor ainda está viva, então não espere ela secar
ou começar a se despedaçar.
- Entendi.
Juntando tudo em seus braços, Katie tentou carregar as flores para o seu quarto
sem ser notada pelos demais. Ela não teve muito êxito. Três mulheres de seu
andar a pararam para sentir o cheiro e admirar seu buquê. Já que o divertido
faça-um-desejo-para-uma-flor estava fresquinho em sua mente, Katie repetiu o
exercício inventado com as três moças. Para cada uma delas, ela deu um botão
de rosa juntamente com as instruções do desejo.
- Tem certeza de que você quer dissecar seu buquê assim? Uma das garotas
perguntou.
Katie rapidamente disse que o buquê era grande demais e precisava ser
decomposto.
- O Rick tem a tendência de exagerar nas coisas, ela adicionou com um rápido
pensamento sobre a última vez que ele deu um buquê a ela. Ele era tão enorme
quanto esse, e Katie não tinha exatamente apreciado seus generosos esforços.
Eles discutiram naquela noite e ela deixou o buquê no banco de trás do carro.
Esse ela guardaria. Ela poderia o decompor um pouco, mas ela o guardaria e se
certificaria de agradecê-lo sinceramente, mesmo ela não tendo entendido a
mensagem no cartão.
A observação de Cris no primeiro buquê era que Rick estava tentando encontrar
maneiras criativas de expressar sua afeição e paixão por Katie, sem fazer isso de
uma maneira física. Se isso fosse verdade, esse buquê era equivalente a, pelo
menos, uma dúzia de beijos. Uma dúzia de beijos que ela e Rick ainda não
tinham compartilhado lábio-a-lábio nessa nova fase de estarem juntos.
Na maioria das vezes, Katie tentava não pensar sobre a falta de beijos deles. A
admirável, apesar de enlouquecedora prudência de Rick a frustrava demais para
ela pensar no assunto e chegar a uma conclusão que fosse boa para ela. A única
paz que ela tinha no momento era que quando fosse a hora certa, eles estariam
se beijando como uma parte maravilhosa das expressões de carinho deles um
pelo outro. Depois de todos os meses e todas as discussões que eles tiveram
sobre beijos - ou sobre a falta deles - ela sabia que isso só viria como um toque
de mágica essencial se ela esperasse e deixasse Rick dar o primeiro passo.
Entrando no corredor do dormitório, Katie parou em frente ao Mural dos Tesouros
Peculiares. No começo do semestre, Katie e Nicole tinham coberto uma parte do
mural com fotos de todas as mulheres do andar. Perto de cada foto elas
adicionaram um versículo como um tipo de benção para a garota.
Parando para dar uma olhada em sua foto no mural, Katie repetiu seu versículo
como se fosse uma promessa ou uma benção.
- 'O Senhor guardará sua saída e sua entrada desde agora e para sempre' Salmo
121:8.
Mais uma vez, o versículo escolhido por Em para Katie, uma das alunas, era
aplicável para o momento que ela estava passando. Ela estava ”saindo" com Rick,
mas também estava ”entrando" em um novo relacionamento com sua mãe e
possivelmente com seus irmãos.
Uma vez que a mãe de Katie era uma pessoa emocionalmente distante, Katie
nunca tinha experimentado o carinho maternal que muitas de suas amigas tinham
com suas mães.
Eu me pergunto se isso é parte da razão pela qual Rick se tornou uma pessoa tão
importante pra mim. Por muito tempo eu quis ser aceita pela minha mãe, mas
isso nunca aconteceu com a profundidade que eu precisava. Eu tenho uma queda
por Rick desde o colégio. Agora que ele está verdadeiramente interessado em
mim, eu o tenho visto como o preenchedor desse buraco em mim?
Ela olhou novamente para o versículo no mural e pensou em como, de muitas
formas, Deus já tinha ”guardado" sua saída com Rick. Para ela não importava
quais eram as profundas razões psicológicas para seu relacionamento com ele.
Contanto que o relacionamento deles estivesse dando certo.
Por que analisar tudo? Ela lembrou a si mesma de que se o opulento arranjo
florido era a maneira dele de expressar sua paixão por ela, ela aceitaria isso e
seria grata.
E se o relacionamento dela com esses dois estranhos próximos da sua família
fosse o relacionamento que ela deveria dar atenção agora, ela aceitaria isso e
seria grata, também.
A porta de Nicole de frente para o Mural dos Tesouros Peculiares estava aberta.
Katie viu Nicole sentada em sua cama com seu laptop. Assim que Katie entrou,
Nicole abaixou o volume da música em seu laptop e disse:
- Uau!
Katie esperava que sua entrada e a ostentação de seu buquê não deixassem
Nicole desconfortável, uma vez que ela ainda estava esperando para ouvir se
teria, pelo menos, um acompanhante para sexta à noite. Ela ainda estava com a
chave do quarto de Katie, então Katie tinha mesmo que ir lá buscar.
- Aqui. Katie puxou uma margarida rosa. Essas são suas favoritas, certo? As rosas?
Nicole sorriu e balançou a cabeça em afirmação.
- Obrigada, mas você não deveria estar despedaçando seu buquê.
- Considere isso como meu agradecimento pelo sanduíche e apenas uma coisinha
para alegrar seu dia e seu quarto.
- Obrigada. Nicole tirou um pequeno vaso de uma caixa em seu armário. Claro
que Nicole estaria preparada para qualquer situação.
- Você foi lá pegar as bombas de chocolate? Katie perguntou.
- Não, eu acabei mudando de rumo quando minha mãe me ligou. Ela me animou
e eu me esqueci da minha busca pelo ouro negro. Aqui está sua chave. De
qualquer forma, obrigada.
- Eu tenho um favor pra te pedir. Katie colocou o vaso de flores na beirada da
escrivaninha de Nicole.
- Você quer deixar seu buquê aqui?
- Que bonitinho. Não, eu preciso de uma carona hoje à tarde. Meu carro está no
prédio da Cris onde ele resolveu parar de funcionar ontem à noite, então eu
preciso rebocá-lo até o mecânico. Eu precisarei de uma carona de volta pra
faculdade.
- Claro, eu estou disponível. Sinto muito pelo Buguinho. O que aconteceu?
- Ele não quis funcionar ontem à noite.
- Eu posso ir quando você quiser. Eu estou pronta agora mesmo. Nicole parecia
estar sempre pronta pra sair. Seu quarto também. Tudo estava no lugar – limpo,
organizado e guardado.
Katie percebeu enquanto estava em pé no quarto limpo e organizado de Nicole
que ela ainda carregava em si uma mistura de fragrâncias que as flores,
provavelmente, estavam ajudando a despistar nesse momento. Os aromas
começavam com a pipoca de micro-ondas mutante sabor alho e manteiga e
máscara de chá-verde, seguido do constante cheiro de fumaça de motor
resultante da ida ao deserto. Um banho parecia uma boa idéia.
- O que você acha de sairmos daqui a meia hora?
- Eu estarei bem aqui.
Katie saiu depressa de seu quarto. Ela ligou para um serviço de reboque e
marcou de encontrá-los no prédio de Cris em uma hora.
Já que o chuveiro era, normalmente, seu lugar favorito para orar, Katie começou
com sua lista interna assim que a água quente caiu sobre ela. Ela iniciou com os
problemas do carro, suas necessidades financeiras, sua família e, especialmente,
seu irmão, onde quer que ele estivesse. Então ela orou sobre seu relacionamento
com Rick.
- Eli! Katie repentinamente expeliu esse nome em meio à corrente de água que
caía. Ela continuou parada ali como se uma mini-revelação estivesse caindo sobre
ela.
O Eli me mandou aquelas flores! Elas não são do Rick. Elas são do Eli. Ele
escreveu aquelas duas frases porque ele ficou feliz por eu ter dito ”sim" para a
ida ao deserto com ele e ele está feliz porque as coisas estão bem entre nós
agora, e nossa amizade é o que está ”apenas começando".
Katie inclinou a cabeça para trás e enxaguou o shampoo de seu cabelo.
Então por que ele não assinou o cartão? Será que ele pensou que eu saberia que
foi ele quem mandou as flores? E por que ele mandaria um buquê tão grande?
Será que ele não pensou que isso poderia passar uma 'mensagem errada'? Quero
dizer, ele sabe que eu sou namorada do Rick.
O banho de Katie acabou virando um tanque de pensamentos, onde ela tentava
descobrir porque Eli a enviaria um cartão como aquele. Ela se lembrou que ele
tinha feito um comentário com Rick algumas semanas atrás sobre Katie ser
”inesquecível,” o que quer que ele quisesse dizer com isso.
Se o Eli acha que essa é uma boa hora ou uma maneira esperta para ele começar
a flertar comigo enquanto Rick está fora, bem, então eu tenho umas poucas e
boas pra esse atrevido Cara do Cavanhaque.
Katie deixou de lado os pensamentos sobre Eli assim que ela voltou para seu
quarto. A caminho do prédio de Rick, ela tentou ligar para Cris enquanto Nicole
dirigia. Katie percebeu que ela não tinha contado à Cris sobre seu carro ter
estragado. Ou mesmo sobre seu passeio ao deserto. Mas seria bem melhor contá-
la pessoalmente. Katie poderia esperar até o almoço delas na terça-feira. Com
Cris, era sempre melhor ter uma conversa longa face-a-face.
Já que Cris não atendeu o celular, Katie deixou uma mensagem de voz.
- Ei, sou eu. Me ligue mais tarde.
O telefone dela tocou às cinco daquela tarde, bem na hora que Katie e Nicole
estavam entrando no posto de gasolina onde Joseph trabalhava. Elas estavam
bem atrás do caminhão de reboque e Katie pôde ver que Joseph estava no posto,
o que era bom.
Mas não era Cris quem estava ligando para Katie; era o pontual Rick. Ela tinha
dito a ele para ligar depois das cinco, e eram 5:01.
- Rick, eu vou ter que te ligar mais tarde. Meu carro estragou, e Nicole e eu
estamos no posto de gasolina agora.
- Seu carro estragou? O que aconteceu?
- Não sei. Eu te conto quando eu descobrir. Só me diga bem rapidamente, como
você está?
- Estou bem. Tudo está indo bem aqui. Me ligue quando você puder.
- Ligo sim.
Ela desligou e Nicole disse:
- Você esqueceu de agradecê-lo pelas flores.
- Ah, é, Katie disse. As flores.
Capítulo 7
Nos dias seguintes, Katie foi surpreendida todas as vezes em que atendeu seu
telefone.
A primeira chamada inesperada foi do seu irmão Clint. Ele deixou uma mensagem
enquanto Katie estava na igreja domingo de manhã. Ele disse que estava
passando muito bem. Ele não falava com Larry já há alguns meses, mas Clint não
estava preocupado porque a única vez que ele falou com Larry foi quando ele
estava metido em confusão. Depois Clint disse a Katie,”me ligue quando você
quiser".
Já fazia muito tempo que Katie não se comunicava regularmente com seus
irmãos, parecia mais que ela estava ouvindo uma mensagem de uma professora
bem intencionada do colégio que estava ligando pra saber se estava tudo bem.
Ela não ligaria de volta pra Clint só pra bater papo, mas era bom ter o telefone
dele e ver que poderia ligar pra ele se ela quisesse.
A ligação seguinte que a surpreendeu veio na segunda-feira do mecânico amigo
de Joseph ao qual Katie tinha confiado o Buguinho. As palavras restauração e
peças originais foram as primeiras pistas de que ela estava caminhando para um
desastre financeiro. O mecânico disse que tornaria a ligar para ela com uma
estimativa em poucos dias. Nesse meio tempo ele ia procurar pelas peças raras.
A ligação surpresa mais agradável foi a que veio de Rick na segunda-feira de
manhã. Katie estava deixando a lanchonete quando o telefone dela tocou. Ela
decidiu fazer um passeio até a parte mais alta do campus enquanto ela falava
com ele. Rick estava de bom humor e disse que tinha várias novidades. Katie
supôs que era alguma novidade referente ao negócio no café no Arizona, algo
que estava sendo uma parte consistente das conversas semanais e, às vezes,
diárias deles desde agosto.
- Antes de você me contar suas novidades, Katie disse eu tenho algumas pra
você.
- Boas novidades, eu espero. Rick disse.
- Minhas novidades são misturadas. Como um buquê. Como um grande, bonito e
inesperado buquê. Então, obrigada.
Katie esperou que Rick dissesse alguma coisa do tipo:”Oh, você recebeu as
flores, não é? Ótimo. Você gostou?”.
Em vez disso, Rick disse:
- Pelo quê exatamente você está me agradecendo?
- Você sabe. Ela esperou.
- Não... Rick esperou.
Katie cuidadosamente lançou a próxima isca para ele.
- Obrigada por perguntar sobre minhas novidades e por sempre fazer coisas tão
legais para mim. Coisas inesperadas.
- Oh-kay. E o que eu fiz que foi tão legal?
Katie então soube que as flores não foram de Rick.
- O que você fez que foi tão legal? Bem, pra começar, você me ligou. Obrigada.
Além de ser simpático e legal comigo sempre. Como quando você levou pra fora
o fedorento pacote de pipoca queimado pra mim e pra Cris na sexta-feira
passada. Isso foi legal. Obrigada. E não sei se eu disse obrigada naquela noite,
quando você fez aquilo por mim, por nós, mas eu queria dizer obrigada.
Rick estava rindo do outro lado. Para Katie soou do jeito que Ricky Ricardo riria
para Lucy no antigo episódio em preto e branco quando Lucy estava tentando
esconder uma de suas muitas manotas. Dessa vez a desculpa dela 'caiu como uma
luva', como se diz, e a risada do ”Ricky dela" estava garantida. Katie estava
alegre por ele estar rindo e não a pressionando por detalhes. Ela sabia que se ele
estivesse irritado ao invés de bem-humorado, ela teria contado sobre as flores
para explicar-se e isso poderia virar uma confusão.
Especialmente considerando que o buquê estava atualmente com mais ou menos
um terço de sua opulência original. Katie tinha se deleitado todo o final de
semana abençoando várias mulheres do andar com uma flor e tinha vindo ao
buquê meia dúzia de vezes, como se ele fosse o seu jardim particular e todas as
flores estavam só esperando ser apanhadas e entregadas a alguma outra pessoa.
- Então? Rick perguntou. Era essa a sua novidade?
- Não, tem mais. Ela resumiu a conversa com a mãe dela e a subseqüente
conexão parcial com o seu irmão Clint.
- Isso é ótimo, Katie. Você estava dizendo algumas semanas atrás que você
realmente esperava que as coisas com a sua mãe melhorassem. Parece que esse
pode ser o primeiro passo.
- É um primeiro passo meio cambaleante.
- Tudo bem. É um passo. Tem certeza que ela não vai mudar de idéia e nos
chamar para o jantar do dia de ação de graças?
- Ela não vai querer que nós apareçamos na última hora. Ela não muda de idéia.
Ela não é como eu. Não mesmo.
Assim que Katie disse as últimas frases, um intervalo estranho se seguiu por
alguns segundos antes de ela ter certeza do que deveria fazer com aquela auto-
revelação.
- Não que eu mude de idéia o tempo todo. Quero dizer, uma vez que eu tomo
minha decisão, eu sigo em frente com o que quer que eu tenha decidido fazer.
- Eu sei, Rick disse.
- Contudo, não foi você que me disse que flexibilidade é um sinal de boa saúde
mental?
- Acho que não. Talvez.
- Bem, eu sou flexível com horários e dia de ação de graças e qualquer outra
coisa. Ela esperou um momento para Rick convidá-la para a celebração de ação
de graças da família dele como se essa fosse, naturalmente, a próxima coisa a
ser dita na conversa.
Ele hesitou por mais um instante.
- Eu não sei o que meus pais estão planejando fazer este ano. Tanta coisa tem
acontecido que eu não pensei em perguntar a eles.
- Eu imaginei que com a casa nova e o jeito como sua mãe ama decorar e fazer
tudo ficar tão bonito, ela poderia não estar pronta para receber pessoas no dia
de ação de graças. Quero dizer, pelo menos não do jeito como ela fez na Páscoa
com aquelas louças de porcelana e prata e toda aquela comida. Quantas pessoas
estavam lá? Umas doze ou quatorze? Eu não acreditei que todas elas couberam
em volta da mesa.
- Essa é minha mãe. Ela ama celebrar em grande estilo. Eu vou perguntar a ela
quais os planos para este ano. Tenho certeza que você está convidada. Você é
minha namorada, você sabe.
Katie sorriu.
- É sempre bom ser lembrada disso.
- Pronta para ouvir as minhas novidades?
- Espere. Eu tenho mais uma.
- Fim de semana agitado pra você.
- Foi. E essa novidade é triste. Você lembra que eu te contei que o Buguinho não
queria pegar? Bem, não está nada bem com o velho garoto. O mecânico não me
ligou de volta com uma estimativa final, mas o Buguinho pode estar nas últimas.
- Que chato.
- Eu sei.
- O que você vai fazer? Rick perguntou.
- Ainda não sei.
- Bem, se ajudar, eu posso te oferecer caronas para onde você precisar ir, a
partir de terça-feira por volta das seis da noite.
Katie digeriu essa declaração.
- Isso significa que você está vindo pra casa mais cedo?
- Estou. Nós temos mais um compromisso no banco amanhã de manhã e então
Josh e eu vamos ir direto pra casa de vez.
- De vez?
- Sim, de vez. Nós saímos do negócio hoje. Esta é a minha grande novidade.
- Você está brincando! O que aconteceu?
- Nós encontramos obstáculos consideráveis, então trouxemos um consultor
empresarial. Ele verificou os documentos e depois de conversarmos com ele por
três horas, nós decidimos sair do projeto. Não ia decolar.
- Rick, essa é uma grande novidade! Vê o que eu digo sobre como você é
paciente e bom? Você me deixou falar e falar sobre todas as minhas coisas
primeiro, mesmo que as suas novidades mudem radicalmente sua vida e seus
horários.
- É, mas eu tenho que te contar, nós estamos bem. Tanto Josh quanto eu
estamos aliviados. Em nossa viagem para cá, nós oramos e então nós
perguntamos um ao outro se talvez nós não estávamos forçando algo que não ia
dar certo, mesmo que nós nos esforçássemos ao máximo pra que desse certo.
- Eu sei como é isso, Katie disse.
- Eu sei que você sabe. Você está trabalhando duro também, Katie. Eu acho que
eu, algumas vezes, fico com uma idéia fixa de que se eu me esforçar bastante ou
trabalhar mais todas as coisas quebradas serão consertadas. Dessa vez não estava
funcionando. As primeiras duas horas da nossa reunião com o consultor, eu
permaneci argumentando que nós ainda poderíamos fazer funcionar. Finalmente,
eu percebi. Eu vi que a melhor decisão, a decisão correta, era sair fora, embora
eu estivesse tão envolvido no projeto.
- Uau.
- Eu sei. Uau, né? Esse, definitivamente, não sou eu.
Katie agora estava nos bancos do planalto e sentou com seu olhar direcionado
para o pôr-do-sol. O horizonte estava tão embaçado que ela não via o oceano.
Tudo o que estava visível eram nuvens cinzas. Naquela parte mais afastada do
litoral, no alto do planalto onde ela se sentou, o céu era um tom pálido de azul
com longas tiras de nuvens cinza-prateadas riscando o teto abobadado da Terra.
- Então o que vocês vão fazer? Ela perguntou a Rick.
- Nós vamos ser reembolsados na maior parte do nosso investimento inicial
porque o contratante adiou o contrato por mais cinco meses na última semana.
Já que foi ele que mudou a data, nós tivemos a oportunidade de sair. Foi um fim
de contrato tranqüilo, como nós queríamos que fosse.
- Soa como uma coisa de Deus. Katie disse.
- Eu acho que é. No tempo certo. Eu vou poder focar novamente no Ninho da
Pomba e Josh vai procurar outras oportunidades. Nós vamos recomeçar.
- Vai ser terrivelmente egoísta se eu disser que estou contente porque você não
vai para o Arizona mais?
Rick riu novamente.
- Eu não vou sentir falta do calor daqui, isso eu te digo!
Há muito tempo ele não estava tão bem humorado. De onde ela estava sentada,
o futuro dos dois estava parecendo inteiramente melhor do que nos últimos
meses enquanto ele estava saindo e viajando o tempo todo.
- Nada em você é egoísta, Katie. Você estava me agradecendo mais cedo por ser
generoso e tirar o lixo, mas sabe? Você é quem deveria receber todos os
agradecimentos. Você tem sido extremamente paciente comigo nisso tudo. Eu
deveria estar te agradecendo por me agüentar durante esses meses. Eu coloquei
tanto foco e atenção nessa transação empresarial, que eu sinto como se tivesse
desprezado você.
- Você não me desprezou, Rick. Nos últimos quatro meses eu me envolvi com a
faculdade e o cargo de AR assim como você em seus negócios. Nós estivemos,
ambos, ocupados.
- Eu acho que é tempo de um novo começo para nós – para mim e para você. Rick
disse.
- Concordo.
- O que você vai fazer amanhã à noite depois das seis?
- Ver você, eu espero.
- Eu fiz reservas no Palácio Tailandês.
- Perfeito. Katie sorriu. O Palácio Tailandês foi o restaurante onde Rick e ela
tinham decidido dar o próximo passo no relacionamento deles e se comprometer
como namorado e namorada. Desde aquele feliz jantar quase um mês atrás, nada
de muito significativo havia mudado no relacionamento deles. Nada que os
fizesse parecer mais comprometidos um com o outro. Ambos sabiam que seus
horários loucos eram os culpados, então tinha sido fácil estender porções de
graça e entendimento para os dois. Agora que Rick já não teria o projeto do café
no Arizona em primeiro plano em sua vida, Katie sabia que as coisas estavam
prestes a mudar para eles. Essas eram novidades que ela não podia esperar para
contar a Cris.
Assim que Katie desligou o telefone, ela ligou para Cris. Katie ainda estava
sentada no banco na parte de cima do campus, olhando para o horizonte. A
névoa da noite estava chegando em grande quantidade, tornando ainda mais
difícil ver qualquer coisa debaixo do expansivo vale que se curvava para o
oceano.
- Cris? Ei, o que você está fazendo? Vocês estão no meio do jantar ou qualquer
coisa assim?
- Não. Ted e Eli confiscaram a mesa da cozinha. Eles estão tentando consertar o
laptop do Ted. O que você está fazendo?
- Eu estou sentada bem perto do lugar onde você lançou seu buquê de casamento
e eu o peguei.
- Ohh. Eu não vou aí desde o nosso casamento. Você acredita? Como está a
campina esta noite?
- Nublada e fria com uma chance de comida tailandesa amanhã à noite.
- Uma chance de quê?
- Eu acabei de falar com o Rick. Ele está voltando do Arizona amanhã e nós
vamos ao Palácio Tailandês. Katie caminhou de volta ao seu dormitório enquanto
ela colocava Cris a par da conversa com Rick.
Como qualquer melhor amiga faria, Cris respondeu às novidades de Katie com
entusiasmo. Katie passou para as novidades do falecimento iminente do
Buguinho.
- Nós precisamos cancelar os nossos planos de almoço amanhã? Cris perguntou.
- Não, eu tenho certeza que posso pegar um carro emprestado. Eu vou estar na
livraria às 13:30. Katie se recusou a contar suas duas novidades favoritas, as
flores e o passeio para o deserto na sexta-feira à noite. Ela ainda sentia que
esses dois assuntos seriam mais bem apresentados pessoalmente, enquanto ela e
Cris se demorassem na conversa do horário de almoço.
Essa foi, parcialmente, a razão pela qual, no dia seguinte, Katie sugeriu que elas
ficassem no Ninho da Pomba para almoçar em vez de ir para algum lugar. Katie
queria assegurar o maior tempo possível para conversar. Em outros encontros de
almoço com Cris, elas tinham optado por ir a algum outro lugar, então os
empregados não estariam dentro dos limites de escuta da conversa particular
delas. Isso não era um problema hoje.
O que foi um problema foi o jeito como Cris reagiu quando Katie disse a ela a
próxima parte das novidades.
- Então, adivinha o que eu fiz sexta-feira passada quando eu deixei o seu
apartamento? Você nunca adivinhará.
- Você acabou indo saltar de pára-quedas. Cris estava indo rumo à mesa no canto
mais distante. Elas tinham pedido saladas simples e água e estavam carregando a
própria comida para a mesa numa tentativa de deixar claro que elas não queriam
ser interrompidas.
- Nada de saltar de pára-quedas. Melhor que isso. Eu fui ao deserto e assisti uma
chuva de meteoros com dois caras da África e nós ficamos praticamente cercados
por coiotes selvagens.
Cris abaixou o queixo e examinou a expressão de Katie, certa de que ela estava
brincando.
- É sério. Quando eu saí da sua casa, o Buguinho não pegou. Eli veio e me
ofereceu uma carona de volta para o campus, mas aí ele buscou o Joseph Oboki e
nós três acabamos indo para onde nós podíamos ver as estrelas. Foi incrível, Cris.
Eu nunca tinha visto tantas estrelas. E quando a música começou com as crianças
africanas...
- Katie, espere. Eu estou muito confusa. Que parte disso é verdade, sem contar o
Buguinho não funcionar?
Katie lançou um falso olhar ferido para Cris.
- O que você quer dizer com 'Que parte é verdade'? Tudo é verdade.
Cris abaixou o garfo e olhou perturbada.
- Quando o seu carro não pegou na sexta-feira passada, por que você não voltou
para o meu apartamento? Nós teríamos esperado pelo Ted e ele teria te dado
uma carona até o campus.
- Eu sei. Mas o Eli estava bem ali.
- Então, por que você não pegou uma carona com Eli?
- Eu peguei. Eli estava indo me levar de volta para o campus depois de ele buscar
Joseph no posto de gasolina, mas então eles me convidaram para ir com eles e eu
ainda estava animada para fazer alguma coisa, daí eu disse sim. E foi
maravilhoso. Nós assistimos as estrelas do capô do carro do Eli sob um saco de
dormir. Um desses velhos e verdes sacos de dormir de flanela.
- Vocês três? Debaixo de um saco de dormir?
- Ele estava aberto como um grande cobertor. Era o único jeito de ficarmos
aquecidos.
- Katie!
- O quê?
- Você está me dizendo que na sexta à noite, depois de você deixar o meu
apartamento, num impulso, você foi para o deserto com dois caras que você
sequer conhece e se aconchegou num saco de dormir com eles?
- Por que você faz isso soar dessa forma? Nós não nos agarramos. Você está
fazendo isso parecer algo indecente. Não foi. Foi bonito. Foi uma noite santa.
- Então o que foi toda essa coisa sobre dois garotos da África e crianças
cantando?
- Eli cresceu na África. Joseph também. Nós ouvimos um CD com crianças
cantando em algum idioma africano. Eu não estou inventando isso. Tudo o que eu
estou dizendo é a verdade e foi maravilhoso. Eu não consigo entender porque
todo mundo fica tentando estragar isso.
- Você honestamente não quer ver como parece loucura quando você diz que foi
ao deserto no meio da noite com dois caras que você nem conhece?
- Não pareceu loucura na hora. Nem metade da loucura que seriam os passeios de
camelo e saltos de pára-quedas que eu estava sugerindo na sua casa. E como
assim 'dois caras que eu nem conheço'? Rick disse isso também. Vocês estão
juntos nisso?
- Juntos em quê?
- Tentar fazer com que eu me sinta mal sobre o que foi realmente uma
maravilhosa experiência de adoração. Sem mencionar que eu estava fazendo um
esforço para conhecer Eli e ser simpática com ele. Vocês se esqueceram como
esta tem sido a meta de vocês para mim nos últimos meses?
- Ninguém está tentando te fazer sentir mal. Nós apenas nos preocupamos com o
que acontece com você. Cris apertou os seus olhos e deu a Katie um olhar
intenso. E se alguma coisa terrível tivesse acontecido?
- O que você está fazendo?
- Eu estou te fazendo uma pergunta.
Katie inclinou-se para trás e cruzou os braços.
- Não, você não está. Isso não é uma pergunta. Você está fazendo soar como uma
acusação. Você está tentando agir como a minha mãe.
- Sua mãe?
- Sim, minha mãe. Você está me tratando como se eu tivesse doze anos de idade
e não fosse inteligente o bastante para tomar minhas próprias decisões.
- Não, eu não estou.
- Sim, você está!
- Katie, por que você está tão chateada? Eu é que fui pega de surpresa. Lá
estávamos nós tendo um ótimo tempo no meu apartamento na sexta à noite e
então você fugiu com esses dois caras. O que você estava pensando?
- Eu estava pensando que seria divertido.
- Katie, há mais coisas na vida além de tentar propor novas formas de se divertir.
- Ah, essa é boa! Katie podia sentir o seu rosto ficar vermelho. Você senta aqui e
age como se você soubesse de tudo agora que está casada.
- Não, eu não ajo assim.
- Sim, você age. E você está tentando fazer com que eu me sinta mal porque eu
não sou séria e responsável o tempo todo como você é. Você pensa que eu sou
uma grande fracassada.
- Eu não disse isso! Agora o rosto de Cris estava ficando vermelho também. Eu
não disse nada sequer parecido com isso.
- Então por que você está me tratando como se minhas decisões fossem imaturas
e irresponsáveis?
Cris parou. Então ela soltou:
- Bem, por que talvez, algumas vezes, Katie, elas sejam.
Katie sentiu como se ela tivesse acabado de esbofetear o seu rosto. Ela se
afastou da mesa.
- Oh! Então você acha que eu sou imatura e irresponsável. Eu não posso acreditar
nisso. Primeiro você fala igual ao Rick e agora você está imitando a minha mãe
palavra por palavra. O que vocês fazem? Ligam um para o outro e dizem, 'Ei,
como nós podemos chatear a Katie essa semana? '. É isso?
- Claro que não. Cris levantou o queixo. Talvez nós três estejamos dizendo a
mesma coisa porque nós nos preocupamos com você.
- Não é isso. Não, vocês estão dizendo tudo isso porque vocês pensam que eu sou
irresponsável demais para tomar minhas próprias decisões. Especialmente se tais
decisões têm alguma coisa a ver com relaxar e se divertir e não trabalhar e
estudar 24 horas por dia e 7 dias por semana. Vocês acham que eu estou
tomando decisões tão ruins que um dia eu vou acabar em um centro de
reabilitação em Bakersfield.
O rosto de Cris foi de vermelho para branco.
- Do que você está falando?
Katie não respondeu. Ela sentiu sua mandíbula tremendo.
- Sabe o quê mais? Cris disse, seu rosto ainda vermelho. Eu não sei o que está
acontecendo, mas eu sei que eu não posso ter essa conversa com você. Não
agora. Não aqui.
Ela levantou da mesa e caminhou para longe.
Katie não se lembrava de uma ocasião em que Cris se caminhasse para longe dela
como agora. Katie estava chocada. Então ela se deu conta de que várias pessoas
no café estavam olhando para elas e as escutando. A conversa delas obviamente
tinha sido alta o suficiente para os observadores curiosos terem uma clara idéia
do que estava se passando.
O lugar parecia estar se tornando menor e mais fechado. Katie ousou olhar ao
redor do café. Duas mesas à frente ela viu a última pessoa que queria ver.
Capítulo 8
O olhar de Julia, a diretora dos residentes de Katie no Crown Hall, encontrou o
de Katie ali no café.
Katie desviou o olhar. Como se já não fosse suficientemente ruim Katie ter
perdido o horário no sábado e Julia tivesse que ir buscá-la, agora, nesse lugar
público, Julia tinha, indubitavelmente, testemunhado a discussão inteira.
O estranho era que uma parte de Katie queria correr até Julia e receber o mesmo
tipo de compaixão e compreensão que ela tinha experimentado com Julia antes.
Como conselheira de Katie, Julia tinha dado ótimos conselhos e encorajamento
em diversas ocasiões. Naquele momento, entretanto, Katie não achava que podia
encarar Julia. Não do jeito como ela estava se sentindo.
Sem parar para considerar qualquer outra opção, Katie se levantou, pegou sua
bolsa e correu para a porta. Enfiando a chave na ignição do carro de Nicole, ela
deu ré e saiu da vaga do estacionamento rapidamente, antes que algumas
lágrimas pudessem correr rosto abaixo.
Eu não acredito que isso acabou de acontecer! Cris e eu não brigamos desse
jeito.
Outro pensamento tomou conta de Katie enquanto ela pensava com mais clareza
no que Julia tinha acabado de presenciar. Julia não era apenas sua conselheira e
amiga, era também supervisora de Katie. Era ela quem avaliava o trabalho de
Katie como AR.
Se ela fizer uma anotação ruim no meu relatório, eu posso não ser contratada
para o segundo semestre e aí o que eu vou fazer? Meu trabalho cobre as minhas
despesas de moradia e alimentação. Eu já não tenho dinheiro suficiente para o
conserto do meu carro. Se eu tiver que pagar por moradia e alimentação no
próximo semestre...
Katie sentiu suas mãos tremendo quando ela deu a seta e saiu da área do
estacionamento. Parte dela queria sair cantando pneu e deixar uma marca de
raiva no asfalto. Se ela estivesse no Buguinho, ela teria deixado um grande risco
de pneu. Mas esse era o carro de Nicole e Katie tinha consciência de quão
cuidadosa ela precisava ser, especialmente porque ela não sabia quem poderia
vê-la nessa pequena cidade.
Dirigindo abaixo do limite de velocidade permitido, Katie, cuidadosamente,
dirigiu de volta para o campus. Pelo caminho, ela reclamava em voz alta como se
estivesse terminando a briga sozinha.
- Eu vou mostrar pra vocês como eu sou responsável. Eu sou confiável. Eu não
estou fazendo nada de errado. Estão vendo? Eu sou uma motorista competente. E
para informação de vocês, eu também posso, com bastante competência,
contemplar as estrelas à meia noite. Vocês não estavam lá. Vocês não sabem
como foi ótimo.
Assim que Katie chegou ao campus, o celular dela tocou. Ao checar, ela viu que
era Julia que estava ligando. Katie sentiu um frio na barriga. Ela sabia que era
melhor atender a ligação agora do que adiar aquela inevitável conversa.
- Oi, Katie disse calmamente. Ela estacionou o carro numa vaga perto do campo
de softball e o desligou, já preparada para ser repreendida.
- Como você está, Katie?
- Péssima.
- Faço idéia.
- É, tenho certeza que você faz mesmo. Katie não teve o sentimento de vergonha
que ela esperava ter. Julia tinha todas as razões para fazer um julgamento
depois do que tinha acabado de acontecer. Ao invés disso, ela estava calma e
compreensiva em suas palavras para Katie.
- Onde você está agora?
- Na Rancho. Perto do campo de softball.
- Você quer sua salada? Eu a embrulhei pra viagem. Eu posso levá-la comigo.
- Eu não estou com fome.
- Eu vou levar caso você fique com fome mais tarde. Por que você não se
encontra comigo no meu quarto daqui a vinte minutos?
- Ta bom.
Julia pausou.
- Espere, você disse que está no campo de softball?
- Sim.
- Eu vou te encontrar aí, então. Enquanto você espera por mim, você poderia
conseguir um bastão e uma bolsa de bolas?
Katie sabia que deveria concordar com o que quer que Julia pedisse. Então Katie
marchou rumo à sala de esportes, onde ela pegou um bastão de baseball e uma
bolsa de lona com bolas de softball. Com passos largos ela retornou para a
arquibancada e se sentou, esperando por Julia, sob aquela brisa fria da tarde.
Ele não teve que esperar muito. Julia apareceu na área do estacionamento
usando óculos escuros e roupas casuais, roupas que alguém usaria quando
estivesse em seu dia de folga. Julia tinha uma aparência jovial com seu cabelo
castanho 'beijado-de-sol' e algumas sardas espalhas pelo rosto. Sempre que Katie
a via, ela achava que Julia parecia ter acabado de sair de um barco à vela.
- Vem cá. Julia pegou a bolsa de lona. Ela foi para a área do lançador deixando
Katie com o bastão de baseball.
Katie seguiu, ficando com os pés numa posição confortável sobre a base inicial.
Ela não jogava softball há meses, mas do jeito como ela estava se sentindo, ela
poderia rebater uma bola até Cincinnati. Além do mais, ela gostou mesmo da
idéia de bater em algo com o bastão de baseball naquele momento.
Abrindo a parte superior da bolsa de lona, Julia pegou uma bola. Ela se esticou
para a direita e esquerda e então lançou a bola para Katie.
Katie balançou o bastão e errou.
Julia deu um grande sorriso. Ela tinha vindo para brincar.
- Ei, Katie gritou, batendo a ponta do bastão no chão de terra e colocando toda
sua expressão de jogadora. Tente pegar esse além da base.
Julia jogou de leve com um traiçoeiro lançamento bem devagar. Katie balançou o
bastão, dando tudo de si. A bola voou para além da terceira base e aterrissou
fora do campo com uma pequena quicada.
- Ok, estou te entendendo, Julia disse. Nada de moleza, Senhorita Katie. Deixe-
me ver do que você é capaz.
Pelos cinco minutos seguintes, Katie pôs pra fora toda sua agressividade e a
colocou na constante quantidade de bolas, fazendo contato e mandando cerca de
80 por cento delas para fora do campo com uma série de rebatidas precisas.
Assim que a bolsa se esvaziou, Julia sorriu, - Você tem escondido talentos, Katie.
- Você também. Katie andou rumo à área do lançador. Você jogou em algum
time?
- Anos atrás. Eu saí.
- Eu também.
- Está se sentindo um pouco melhor? Julia perguntou.
- Sim, um pouco.
Elas caminharam para fora do campo com Julia carregando a bolsa de lona. Como
duas criancinhas cansadas no final da caçada de ovos na Páscoa, elas cataram as
bolas e as colocaram de volta na bolsa.
- Então, eu tenho que te perguntar sobre a referência ao centro de reabilitação
em Bakersfield. O tom de voz convencional de Julia era calmo. Como se elas
estivessem fazendo uma 'revisão' de todos os problemas de Katie pela última uma
hora e estavam agora acertando alguns pontos finais.
- De onde você tirou isso?
- Meu irmão. Katie parou de pegar as bolas e ficou de pé com as mãos nos
quadris, dando a Julia um resumo da conversa dela com sua mãe e a subsequente
tentativa de ligar para o centro em Bakersfield.
- Agora você sabe de onde minha loucura vem, Katie concluiu.
- Eu vou te parar aqui, Katie. Repreenda esse pensamento. Elimine-o do seu
coração. Primeiramente, você não é seu irmão, e segundo, você não é sua mãe.
E por falar nisso, a Cris não é sua mãe.
Katie olhou pra baixo, pra bola em sua mão e a girou antes de colocá-la de volta
na bolsa.
- Você está certa. Eu preciso me desculpar com a Cris. Ela e eu tivemos algumas
briguinhas no passado, mas nada desse nível. Eu não sei por que eu fiquei tão
chateada. Bem, talvez eu saiba. Foi uma combinação de tudo, começando pelo
jeito como ela fez isso parecer, como se eu tivesse feito algo imoral só porque eu
dividi um saco de dormir. Foi como um cobertor. Nada inapropriado aconteceu.
Aquilo foi mesmo maravilhoso e adorável.
Katie tomou fôlego e continuou.
- Quero dizer, eu sei que teria sido sensato contar a alguém onde eu estava indo
e com quem. Essa parte eu entendi. Mesmo que os dois rapazes sejam alunos da
Rancho, ninguém mais soube onde eu estava indo e com quem eu estava. E eu sei
que é esperado que ARs lidem com sua vida social baseada nos mesmos
parâmetros que os demais alunos. Então, se você quiser escrever isso no meu
relatório, eu estive fora até às 4 da manhã ou qualquer que seja a hora, eu não
vou contestar isso. Não foi sensato e nem um bom exemplo da minha parte.
Nenhuma das mulheres do meu andar sabe que eu estive fora até esse horário.
Mas isso não importa. Mesmo que elas não saibam, você sabe e eu sei, então se
você quiser me dar uma advertência, eu entendo.
- Quem disse que eu vou te dar uma advertência sobre alguma coisa?
- É assim que funciona, não? Nós temos muitas regras na Rancho Corona. Eu estou
sendo paga para auxiliar no cumprimento dessas regras pelas mulheres no meu
andar. Se eu estou indo contra as regras, então é você que é paga para cobrar
essas regras de mim.
Julia não respondeu. Katie esperava que ela fosse dar um sermão sobre como os
assistentes dos residentes e os diretores dos residentes estavam lá para, em
primeiro lugar, cultivar relacionamentos e, em segundo lugar, impor regras.
Katie tinha memorizado essa frase nas reuniões de treinamento. Julia,
entretanto, parecia mais inclinada a demonstrar aquela diretriz à Katie do que a
repetir as palavras pra ela.
- Eu quero que você saiba, Katie, que você poderia ter me ligado quando seu
carro não quis funcionar. Eu teria ido te buscar não importa onde você estivesse
ou a que horas do dia fosse.
- Obrigada. Katie não tinha pensado em ligar para Julia, mas ela sabia que
poderia ligar.
Julia se curvou e pegou outra bola. Virando-se para olhar para Katie, ela disse
com uma voz doce:
- Não se preocupe. Você não vai pra Bakersfield tão cedo. Não enquanto estiver
debaixo dos meus olhos.
Katie não soube explicar porque aquela afirmação simples de Julia foi tão
profundo em seu coração. Ela expulsou pra longe algumas gotas de lágrimas que
vieram correndo. Então ela se virou de costas para Julia e catou as últimas bolas.
Esse foi um momento raro e intenso para Katie, enquanto ela absorvia a sensação
de ser amada por outra mulher. A fonte em seu coração que guardou tais
palavras da bondade feminina estava tão vazia, que aquelas ocasiões
espontâneas que a vida lhe deu, quando aquelas palavras 'pingaram' na sua fonte,
produziram um eco que ressoou até sua alma.
As duas mulheres caminharam até a sala de esportes e devolveram os
equipamentos.
- Eu estou com sua salada no meu carro, Julia disse. Ela deve estar um pouco
murcha.
- Tudo bem. Obrigada por trazer.
Julia sorriu.
- Obrigada a você por me trazer aqui. Vamos jogar juntas mais vezes.
- Boa idéia.
- Eu acredito que outra boa idéia seria se você e eu marcássemos algum horário
para nos encontrarmos de novo daqui a alguns dias. Julia disse.
- Com ou sem bastão de baseball?
- Sem. Embora eu deva ter um em mãos caso eu precise.
- Ok. Katie sorriu e deu um abraço em Julia. Obrigada. De verdade. Obrigada.
Katie levou o carro de Nicole de volta ao estacionamento do Crown Hall e correu
para seu quarto. Ela empurrou a salada para dentro de sua pequena geladeira e
pegou seu laptop. Sua próxima aula começaria em quatro minutos, e ela sabia
que era impossível atravessar o campus rápido o suficiente para chegar a tempo.
Ela chegaria atrasada. Normal para aquele dia atribulado.
Katie sentou numa cadeira no fundo da sala. A cabeça dela não estava na aula.
Ela tentou fazer anotações nos primeiros vinte minutos até admitir que era
inútil. Ela tinha que falar com Cris. Rick viria buscá-la dentro de uma hora e
meia, mas Katie sabia que ela não conseguiria aproveitar seu tempo com Rick
sabendo que seu relacionamento com sua melhor amiga estava assim tão
confuso.
Após perguntar se o rapaz ao seu lado poderia mandar-lhe um email com as
anotações dele sobre a aula, Katie saiu da sala e foi direto para seu quarto. Ela
olhou seu telefone procurando por mensagens e viu que Cris tinha ligado duas
vezes. Ensaiando seu pedido de desculpas enquanto andava a passos largos pelo
campus, Katie planejou fazer a ligação assim que entrasse em seu quarto e
pudesse fechar a porta para aquela importante conversa.
Ela correu corredor abaixo rumo ao seu quarto. Era um dia de 'dormitório aberto',
então muitos estudantes estavam socializando em seus quartos, com uma
variedade de músicas tocando. Katie acabou de colocar os pés dentro do quarto e
seu celular tocou. Era Cris.
- Ei. Katie sentou-se em sua cama e se acalmou. Eu ia te ligar agora. Eu saí da
aula mais cedo porque eu queria me desculpar.
- Eu também. Eu sinto muito mesmo, Katie.
- Eu também. Foi horrível. Eu não quero brigar de novo com você desse jeito.
- Nem eu.
As duas deram um longo suspiro ao mesmo tempo, por coincidência. Katie se
sentiu uns cinqüenta quilos mais leve.
- Foi horrível mesmo. Eu não acho que o plano de vamos-influenciar-uma-a-outra
funcionou muito bem, Cris disse.
- Do quê você está falando?
- Sabe quando você disse na sexta passada que eu era educada demais? Bem, eu
pensei muito sobre aquilo. E quando você começou a se exaltar, eu me senti tão
frustrada que eu decidi tentar ser um pouco... não, muito mais agressiva. Isso
não funcionou mesmo. Não pra mim. Eu não me dou bem com discussões de jeito
nenhum.
- Mas você estava dizendo coisas, na hora do almoço, que você honestamente
sentiu? Quero dizer, você acha que eu sou irresponsável?
- Não. Eu não estava dizendo que você é irresponsável. Não mesmo.
- Tem certeza?
- Katie, você é uma AR. Eles não dão esses empregos para pessoas irresponsáveis.
Você está se mantendo numa faculdade. Quantas mulheres você conhece que
conseguiram fazer isso? Você e Rick têm estado num relacionamento maravilhoso
e maduro por quase um ano. Katie, você é responsável. Você sabe que você é.
Considere tudo que eu disse da mesma forma que toda a minha imagem de tentar
entender porque você saiu com Eli e Joseph. Dê-me um pouco de misericórdia,
considerando que eu não sabia o que estava acontecendo.
- Entendido. Misericórdia concedida.
- E vergonha retirada de você.
- Gostei disso. Vergonha retirada de mim. Misericórdia concedida a mim.
Misericórdia concedida a nós duas.
- Sim, misericórdia concedida a nós duas.
Katie respirou funda e constantemente.
- Você quer tentar almoçar de novo mais no fim dessa semana? Eu acho que
deveríamos falar mais sobre isso sem nos exaltarmos. Eu preciso da sua opinião.
Você vê coisas que eu não consigo ver em mim mesma. Eu preciso ouvir o que
você tem a dizer sobre mim sem te atacar logo em seguida.
- Por que você não me manda um email quando você souber quais dias você
pode? Nós vamos começar de novo.
- Você não vai acreditar, mas você está 'citando' Rick de novo. Quando ele e eu
nos falamos ontem, ele disse que já que ele não vai mais viajar pro Arizona, essa
é nossa chance de dar ao nosso relacionamento um novo começo.
- Eu espero que vocês dois tenham uma ótima noite hoje.
- Eu também espero. Eu te mando um email mais tarde.
Katie pausou novamente, encarando o buquê que preenchia o centro de sua
escrivaninha. Ela se perguntou se deveria contar a Cris sobre as flores. Não,
melhor ir direto à fonte. Katie ligou para a segurança do campus e perguntou por
Eli Lorenzo.
Entretanto, ela não fazia a menor idéia do quê ela iria falar quando ele
atendesse.
Capítulo 9
Assim que Katie ouviu a voz de Eli do outro lado do telefone, sua garganta
apertou e ela deu uma leve tossida.
- Katie? Eli disse. Você está bem?
- Sim. Desculpa. De repente fez uma cócega na minha garganta. Ei... humm...
- Seu carro já está bom?
- Não, estou esperando o orçamento. Pode ser definitivo. Aparentemente, partes
do meu carro viraram categoria de colecionador.
- Nada bom
- Eu sei
Seguiu uma pausa.
Katie queria tossir de novo mas refreiou e mecheu com as mãos rapidamente
procurando uma forma de levar a conversa onde precisava ir.
- Então, Rick está voltando essa noite. Ele te disse?
- Sim, ele ligou
- Bom. Então... Ela olhou para as flores e decidiu usar as mesmas pistas que
havia usado com Rick para saber se ele havia mandado o buquê.
- Eu só liguei para agradecer pelas flores... Ela parou, esperando que ele desse
uma resposta indicativa.
Ele não deu.
Katie fez o melhor que pode.
- ... a maneira florida que você iluminou meu dia na outra noite no concerto dos
meteoros. Ela fechou os olhos e fez uma careta.
Isso foi patético!
- Você é bem vinda, Eli disse vagarosamente. Outra pausa seguiu e depois ele
acrescentou, Você tem certeza que está bem?
- Sim, estou bem. Ei, escute. Eu preciso ir. Eu queria apenas ter certeza que
você sabia que Rick está vindo mais cedo do que havia dito, já que ele chega
essa noite.
- Certo. Peguei isso. Rick está vindo para casa.
- Ok. Bem. É isso. Te vejo por aí. Katie apertou o End no telefone e caiu na
cama. Colocando as mãos nos olhos ela murmurou: Eu não acredito no que eu –
Antes que ela pudesse terminar a frase, uma batida soou na porta.
Com as mãos nos olhos, ela disse:
- Entre somente se você ousa se associar com uma idiota!
A porta abriu e Katie afastou um dedo para ver se era Nicole ou outra das
mulheres do dormitório que havia batido na porta. A face que apareceu vindo
pela porta não era a de Nicole.
- Rick! Katie caiu fora da cama da forma menos delicada possivel e correu para
dar a ele um grande abraço.
- Você está aqui! Eu senti tanto sua falta!
- Senti saudades também. Rick chegou para traz e sorriu para ela. Seus
acolhedores olhos castanhos pareciam estar dando a ela uma olhada em sua
aparencia.
- Você chegou cedo! Katie protestou, puxando-o para fora do quarto. E eu não
estou pronta ainda. Você deve voltar daqui a meio hora. Não, vinte minutos. Eu
posso ficar o mais fofa possivel em vinte minutos.
- Eu posso esperar aqui, não posso? É um dormitório aberto. Você irá descer o
corredor para o banheiro. Eu irei checar meus e-mails enquanto você está indo.
Rick entrou de novo no quarto e aparentemente notou pela primeira vez o
buquê.
- Quem mandou flores pra você?
Katie deu uma boa olhada na expressão dele para ter certeza de que ele não
estava brincando e tentando esconder que ele mesmo mandou. Ela conhecia Rick
o suficiente para ler dentro de seu olhar um ligeiro ciume e saber
definitavamente que o buquê não era dele.
Com os ombros encolhidos ela tentou fazer uma expressão fofa o maximo que
pode. Se ela tivesse mais argumentos no momento, poderia tentar distrair Rick
para não fazer mais perguntas sobre as flores.
- É um mistério. Ela disse.
- O que o cartão diz?
- Não está assinado.
Rick se moveu para a mesa. Ele pegou o cartão, olhou, e então olhou para Katie.
- Não está assinado
- Eu sei. É o que acabei de dizer. Daqui o mistério. Ela usou dois dedos um de
cada mão para fazer uma mímica do contorno do ”mistério”
Rick olhou em volta do vaso.
- Ele não parece meio errado para você?
- O que, que um admirador fantasma mande flores pra mim? Eu não chamaria isso
de errado. Um pouco extraordinário e inesperado, talvez, mas eu posso ser
popular em alguns circulos.
- Não, eu digo o buquê. Não parece que ele não foi terminado ou algo assim?
Quero dizer, não estou dizendo que sou especialista em arranjos de flores, mas
para um ramalhete enorme, ele esté diferente, como se tivesse sido colhido
- Ah, é porque eu o tenho usado como jardim pessoal esses dias. Sempre que uma
das mulheres do andar precisava de um carinho, eu lhe dava uma flor para lhe
desejar algo bom.
- Faz sentido. Rick olhou para o cartão novamente e então para frente do
envelope. Esse cartão não faz muito sentido.
Outra batida ma porta meio aberta de Katie. Dessa vez ela sabia que era Nicole
assim que ela bateu.
- Venha Nicole. Você chegou a tempo da reunião do Clube Junior de Sabichões.
Nicole entrou graciosamente e moldou um sorriso timido para Rick antes de olhar
para Katie.
- Olá.
- Vocês já se conhecem? Quero dizer, oficialmente? Katie parou e disse: Rick,
Nicole. Nicole, Rick.
- Nicole Sanders. Ela estendeu a mão para Rick com muito mais classe do que a
tentativa de apresentação de Katie. Eu sou a parceira de andar da Katie.
Rick demonstrou suas imprensionantes boas maneiras.
- Eu sou Rick Doyle. Namorado da Katie. É bom te conhecer depois de tudo,
tenho ouvido sobre você pela Katie. Parece que vocês duas têm tido um ótimo
ano.
- Eu imagino que posso dizer a mesma coisa sobre vocês dois. Os olhos de Nicole
pareciam graciosos e frescos enquanto ela sorria para Rick.
Katie estava amando que Nicole e Rick estavam se conhecendo. Importava muito
para Katie que todos os seus amigos fossem amigos uns dos outros. Nesta nova
fase da vida, agora que Cris e Ted estavam casados, e Douglas e Tricia estão bem
ocupados com o bebê, Katie queria que seus antigos amigos se misturassem com
os novos.
Ela percebeu que Rick tinha o mesmo motivo em querer que ela fosse amigável
com Eli desde que ele estava morando com Rick e já fazia parte do circulo de
amigos de Ted e Cris.
Nota para si mesma: Não ser tão teimosa e reacionária. Se Rick queria que eu
fosse legal com seu colega de quarto, devo lembrar que eu gostaria que ele fosse
legal com minha colega de dormitório. É a mesma coisa.
Nicole virou para Katie.
- Eu acho que não entendi a parte do clube de sabichões quando entrei.
Indicando o buquê fazendo um esforço para parecer indiferente, Katie disse:
- Elas não são do Rick. O cartão sem assinatura é bem enigmático. Nós estamos
tentando descobrir quem mandou.
Rick continuou com o cartão na mão. Ele olhou o envelope de novo.
- Você tem certeza de que são pra você? Não tem o ultimo nome. Talvez sejam
para uma outra Katie.
Katie congelou. Sua mão vagarosamente cobriu a boca enquanto seus olhos
ficaram arregalados. Nicole teve a mesma reação abrindo os olhos.
- Existe outra Katie neste andar? Rick perguntou, olhando para as duas.
- Ela não está neste dormitório, mas sim, existe outra Katie. Ela é uma A. R.
também.
- Ela está no Sophie Hall, Nicole acrescentou. E você não vai acreditar, mas
ontem ouvi que ela está noiva.
Katie sentiu seu estomago apertar.
Rick leu o cartão.
- Estou feliz que você tenha dito sim. Os três trocaram olhares.
- Nosso futuro começa agora. Katie repetiu, já havia memorizado o que parecia
uma mensagem estranha.
- Ai cara, cara, cara!!! Isso não é bom. Isso não é bom mesmo. Como pude ser tão
burra? Eu tenho que concertar isso. Eu tenho que leva-lo ao Sophie Hall agora.
- Primeira coisa que você precisa é de mais flores para concertar o buquê, Rick
disse. Eu sei o quanto um buquê desse tamanho custa, e eu acho que o namorado
dela, ou na verdade, o noivo dela, deve estar bem chateado que ela não tenha
dito nada de ter recebido.
- Você está certo. Nós precisamos de mais flores. Vamos fazer isso agora. Katie
agarrou sua mochila. Vamos lá! Você conhece uma loja de flores, certo? Ela
procurou a mão de Rick. Aquela que você comprou um buquê pra mim a alguns
meses atras.
- Você deveria levar as flores com você, Nicole disse. Assim você vai saber o que
acrecentar.
- Certo! Ótimo pensamento. Ela pegou o buquê e parou, olhando para Nicole.
Vem com a gente.
- Eu?
- Por favor? Você tem olho muito melhor em coisas assim do que eu.
Provavelmente eu pediria flores erradas e faria parecer um grande erro.
- Ok, certo, eu vou.
Os três se apressaram para o hall e entraram no mustang vermelho de Rick.
- Meu pai tinha um Mustang, Nicole disse do banco de trás, enquanto o carro de
Rick saia do estacionamento e ia em direção à cidade.
- De que ano era? Você sabe?
- Eu não sei. Era azul e conversivel. Ele vendeu quando eu estava na escola então
não lembro muito sobre ele, exceto o quanto era divertido ficar no banco de trás
nas tardes de verão e ir tomar um sorvete.
- Você cresceu por aqui? Rick perguntou.
- Não, eu cresci em Santa Barbara.
- Sério? É onde minha mãe cresceu, Rick disse. Sua familia morou lá por muito
tempo?
- Meu pai morou em Santa Barbara a vida toda. Ele deve conhecer sua mãe. Isso
não é estranho? Rick disse a Nicole o primeiro e o novo nome da mãe dele e
Nicole manteve a conversa com detalhes de onde ela cresceu e o quanto as
coisas mudaram depois que virou uma cidade costeira sonolenta.
Katie apreciava a forma que Nicole estava levando a conversa. Ela estava tão
frustrada no momento para pensar em coisas para dizer. Tudo que ela estava se
preocupando era em restaurar o buquê na vivacidade original e levá-lo para a
outra Katie no Sophie Hall. Enquanto Rick entrava no estacionamento. Katie
estava pensando nas desculpas para a outra Katie.
Rick segurou a porta aberta para Katie e Nicole entrarem na floricultura.
Felizmente, eles eram os unicos na loja, o que fez a confissão de Katie ao caixa
menos dolorosa do que seria com uma grande audiência. A mulher olhou para
Katie com uma mistura de simpatia e humor.
- Sem problemas, ela disse. Eu de fato acho que lembro desse buquê. Nós usamos
lírios, não foi?
- Isso mesmo, Katie disse.
- Deixe eu pegá-las pra você. A mulher pegou o buquê. Nós iremos trabalhar da
forma certa. Irá levar em torno de meia hora. Talvez um pouco menos. Você
gostaria de esperar ou voltar depois?
Katie olhou para Rick.
- É com você, ele disse.
- Nós voltaremos depois.
Os três sairam e Katie disse:
- Que tal um sorvete para todos? Não é exatamente uma tarde de verão, mas nós
podemos abaixar os vidros do carro de Rick e aproveitar o tempo, dirigindo, em
volta do quarteirão e fingindo que é um conversível.
- Ou nós podemos apenas ir lá para aquele café do outro lado, Rick sugeriu.
- Eu prefiro isso. Nicole colocou os braços em volta dela mesma tentando se
aquecer. Nicole estava de short e camiseta. Eles saíram do dormitório tão rápido
que ela não teve tempo de pegar um casaco.
- Ótimo, mas continuo pagando. Vocês dois estão sendo ótimos comigo, com isso
tudo. Me sinto péssima. Não posso acreditar que não pensei que as flores não
eram pra mim.
Rick colocou o braço nos ombros dela, enquanto eles andavam até o Café Bella
Barista.
- Por que você não perguntou pra mim se eu mandei as flores? Isso teria resolvido
o mistério, ou pelo menos faria você começar a querer resolver o problema.
- Eu perguntei a você.
- Quando?
- No telefone. No Domingo. Ou talvez foi na Segunda. Eu não lembro quando, mas
eu sei que perguntei.
- Você lembra como fez isso?
- Primeiro, você precisa saber isso da forma certa, quando eles me entregaram o
buquê no Sábado, eu presumi que eram suas. Mas quando vi o cartão ele não
fazia sentido. Você lembra quando eu disse na ligação que tinha noticia mistas
como um grande buquê? E então tentei agradece-lo por ser tão legal.
- Eu achei que você estava me agradecendo.
- Eu estava.
- Você não estava me agradecendo por tirar o lixo da casa da Cris na outra noite?
- Sim, mas era mais do que uma conversa sobre o lixo tóxico da pipoca. Eu estava
te dando um monte de agradecimentos por tudo que você faz por mim, incluindo
as flores. Katie olhou pra ele e deu um de seus sorrisos fofos.
Rick sorriu de volta.
Ela colocou os braços em volta da cintura dele.
- Você é meu heroi. Você sabe disso, não sabe?
Rick encostou os lábios do lado da cabeça dela e beijou seu cabelo. Ela desejou
que tivesse tomado um banho antes dele chegar. Ela estava se sentindo um
pouco sem graça andando perto de Nicole enquanto Rick estava demonstrando
carinho por ela. Ela não interrompeu o carinho.
Rick soltou Katie e passou por elas para segurar a porta enquanto ele continuava
ouvindo que era o heroi de Katie.
- Obrigada. Nicole entrou na loja quentinha primeiro. Ela respirou fundo. Eu amo
o cheiro de café, vocês não?
- Eu sempre achei que o cheiro é melhor do que o gosto, Katie disse.
- Não pra mim. Adoro café. Você já provou o expresso que eles têm aqui? Eles
fazem um ótimo duplo descafeinado americano, Nicole disse.
- Americano? É este que Rick geralmente pede. Não é este que você gosta Rick?
Katie perguntou.
Ele balançou a cabela olhando para o menu na parede.
- Eu nunca estive aqui antes. Ótimo menu. Fácil de ler. Boa iluminação.
Katie virou para Nicole.
- Eu deveria ter alertado você. Ele sempre ”toma nota” em qualquer café que
vamos.
- Vocês gostariam de fazer o pedido? O rapaz na caixa registradora estava
olhando para Katie.
Ela apontou para Nicole ir primeiro. Nicole pediu o recomendado duplo
descafeinado americano. Rick pediu o mesmo. Katie estava considerando pensar
em outra coisa mas pela pressão disse:
- Faça três desse.
Ela pegou sua carteira, mas Rick a interrompeu.
- Deixe-me fazer isso.
- Mas eu disse pra vocês que iria fazer isso. Eu quero fazer alguma coisa para
agradece-los por virem comigo e me ajudar a resolver meu gigante fiasco.
Rick sorriu para ela e lhe deu um piscada.
- E eu quero pagar para você ter mais uma razão para me agradecer.
Katie sorriu de volta. Ela se sentiu feliz. Não apenas porque Rick estava em casa,
isso era ótimo. E não porque ele estava pagando o café como um cavalheiro, ela
tinha que admitir, isso também era ótimo.
Ela estava feliz porque Rick parecia diferente. Ele parecia que havia voltado ao
seu charme antigo aquele que ela tinha ficado enlouquecida na escola. Ele
parecia ter deixado um pouco de lado o homem de negócios responsavel e a
seriedade, o lado flertardor de sua personalidade voltou mais forte.
Katie estava gostando de Rick mais do que nunca.
Sem dar uma segunda resposta a ele, Katie levantou seu queixo e, bem ali, na
frente de Nicole e do rapaz do caixa, ela irreverentemente disse:
- Ótimo. Eu aceito você pagar com uma condição.
- Ok, qual? os olhos castanhos de Rick estavam deixando o coração dela mais
feliz.
- Primeiro você tem que me beijar.
Capítulo 10
- Eu vou inventar uma máquina do tempo. É isso que eu vou fazer. Katie levantou
o seu edredom até o queixo. Ela estava deitada em um colchonete no chão do
quarto de Nicole. Era bem depois da meia-noite e as duas estavam repassando os
detalhes das últimas seis horas e meia.
- Sim, é isso que eu vou fazer. Eu vou descobrir um jeito de voltar no tempo e
alertar a mim mesma antes de fazer todas aquelas coisas exageradas e
impensadas que eu faço. Você viu o olhar no rosto do Rick? Claro que você viu.
Você estava bem ali. Eu nunca o tinha visto olhar daquele jeito. Era como se eu o
tivesse ferido.
- Ele contornou bem a situação, Katie. Quando ele te beijou na bochecha e
entregou o cartão de crédito dele para o rapaz no caixa, ele fez tudo parecer
inteligente e suave. Ninguém sabia que era um comentário impulsivo da sua
parte. Nicole virou-se de barriga pra cima na cama e ajustou as cobertas.
- Eu sabia que era impulsivo; Rick sabia que era impulsivo, Katie disse. Foi por
isso que ele trouxe o assunto à tona enquanto nós estávamos tomando café. E o
que você disse foi ótimo, a propósito. Eu acho que ele precisava ouvir seus
pensamentos de como „alguns casais‟ fazem de uma pequena coisa no
relacionamento algo enorme e como o relacionamento inteiro precisa estar em
equilíbrio.
- Katie, a única razão pela qual eu disse tudo aquilo foi porque eu pensei que nós
estávamos apenas tendo uma conversa sobre relacionamentos. Eu não tinha idéia
de que o que eu disse teria um significado especial para você e para o Rick
porque vocês ainda não se beijaram. Eu só presumi que, uma vez que vocês dois
são oficialmente um casal, suas expressões de afeição tinham se estendido para
beijar. Faz sentido?
- Sim. Fez muito sentido. Só que ela e Rick aparentemente não eram como os
outros casais. Aquela realidade tinha se tornado clara desde o início do
relacionamento de idas-e-vindas deles.
- Sabe, Katie adicionou, Rick também está certo. De várias maneiras, a razão do
nosso relacionamento estar equilibrado, ou pelo menos mais equilibrado do que
qualquer um dos relacionamentos anteriores dele, é porque as nossas expressões
físicas estão em um nível muito baixo.
- E isso é muito louvável, Nicole disse.
- Sim, se eu estivesse em busca de um distintivo de elogios por conseguir
controlar um relacionamento que está no começo, eu suponho que eu estaria
feliz por nós sermos tão „louváveis‟. Mas eu não quero louvores. Eu quero
romance. Eu estou pronta para romance, Nicole. Eu estou pronta para ser tratada
com carinho.
- Rick te trata com carinho. Isso ficou muito claro esta noite, não apenas pela
conversa, mas também pelo jeito como ele tratou você. Ele está tentando fazer
o que é melhor para o relacionamento de vocês.
- Eu sei, eu sei, eu sei. Rick é a personificação de todas as virtudes cristãs. E eu
estou tentando respeitar as preferências dele, sabe? Quero dizer, eu não entrei
nesse relacionamento, especialmente na parte física, com o mesmo tipo de
objetivos de super-hiper abstinência que ele tem.
Nicole olhou com surpresa para Katie.
- Eu só estou dizendo a verdade. Correndo o risco de parecer vulgar, mas eu não
vejo nada de errado com casais que se beijam, particularmente quando eles
estão no estágio namorado-namorada. Mas ele vê. Pelo menos, beijar nos lábios.
Ele está com uma idéia fixa na cabeça que é melhor para o nosso relacionamento
ficar desse jeito. Esse jeito pode ser muito puro e bom na teoria, mas, na
realidade, quando eu me sinto bem próxima dele como eu me senti esta noite,
eu quero beijar o garoto!
- Eu sei o que você quer dizer, Nicole disse calmamente.
- Eu não deveria dizer beijar o „garoto‟. O que eu quero é beijar Rick Doyle, o
homem. Eu já beijei Rick, o garoto. Duas vezes.
Nicole sentou e se inclinou sobre a beirada da cama, dando a Katie olhar
arregalado de conte-tudo.
- Foi muito tempo atrás. No ensino médio. Bem, eu estava no ensino médio, mas
ele estava na faculdade. Nós fomos ao Desfile das Rosas em Pasadena, o que, a
propósito, era uma coisa muito mais legal para se fazer naquela época do que
aparentemente é agora.

- Há quanto tempo foi isso? Nicole estava ao lado dela, com o braço a
sustentando.
- Não sei. Quatro anos atrás. Talvez vá fazer cinco em janeiro.
- E ele te beijou?
Katie afirmou com a cabeça.
- À meia-noite. Quero dizer, é obrigatório, certo? Feliz Ano-Novo! Beije a garota
que estiver mais perto de você, depois a ignore por um longo período, deixe-a
confusa e então a beije de novo quando você estiver engessado e totalmente
vulnerável e ela estiver bastante insegura.
- Foi o segundo beijo? Nicole parecia estar acompanhando bem as digressões e
progressões de memória que Katie estava fazendo enquanto contava o caso.
- Sim. Esse foi no apartamento que ele compartilhava com Ted e Douglas em San
Diego. Ele estava dando saltos mortais na piscina aquela tarde antes de Cris e eu
chegarmos, se exibindo como um grande universitário, e ele torceu o pulso e
rompeu ou deslocou alguma coisa. Os rapazes o levaram para o hospital.
- E ele teve que engessar?
- Era algo mais parecido com um grande embrulho de faixas. Mas o fato é que eu
fiquei com pena dele. Ele estava agindo mais humildemente do que o normal. Ou
talvez os analgésicos que deram a ele no hospital o fizeram parecer mais
vulnerável. De qualquer forma, aquela noite, lá fora, na escuridão em frente ao
apartamento dele, quando ele pressionou o rosto dele contra o meu, eu deixei
que ele me beijasse. Então, quando ele começou a se afastar, eu o beijei de
volta. Não foi nada romântico. Eu me senti uma idiota. Ele me ignorou durante
todo o dia seguinte e foi isso.
- Katie, você faz isso soar tão desagradável. Eu não consigo imaginar que beijar
Rick possa ter sido tão ruim.
Katie suspirou.
- Não foi horrível, mas não foi exatamente romântico. Eu só queria mesmo que
ele me beijasse esta noite.
- Você acha que se ele te beijasse no caixa do Bella Barista teria sido romântico?
Katie torceu a boca para um lado e para o outro. Ela odiava quando seus amigos
mais próximos expunham suas declarações ilógicas com tanta precisão. Se Nicole
fosse, de alguma maneira, uma pessoa combativa, Katie poderia, pelo menos,
iniciar uma boa discussão, mas ela sabia que não poderia discordar.
- Ok, então não na frente do rapaz do Barista. Mas realmente, Nicole, essas
coisas de ter paciência, de planejar, esperar e tudo isso que o Rick fala já me
cansaram.
- Eu acho que o que ele disse foi maduro e nobre.
- Sim, mas do jeito que eu estou me sentindo, eu quero jogar toda essa
prudência pro alto. Ele só precisa me beijar e terminar com isso.
Nicole riu suavemente. Eu odeio dizer isso, Katie, mas agora você é quem não
está soando muito romântica.
Katie esticou-se para apanhar o saco de M&Ms que dez minutos atrás elas tinham
colocado fora de seu alcance para parar de comer impulsivamente. Ela colocou
três balinhas em sua boca e fez um barulho cômico para Nicole.
Nicole riu levemente e jogou um travesseiro em Katie.
- Ok, então eu não sou romântica. Nem Rick. Aí está o segredo sobre o que faz de
nós um casal tão bom. Nós somos os últimos „amigos para sempre‟. Katie cruzou
os olhos e mordeu sua língua colocando a para fora.
- Pára! Nicole jogou outro travesseiro nela. Vocês dois são um ótimo casal. Rick é
um ótimo rapaz. Quero dizer, o jeito que ele se sentou ali para o café e
conversou abertamente sobre o assunto de beijos e relacionamentos e o valor de
planejar à frente... Que mulher não iria querer um rapaz que tem pensado
profundamente por cada passo?
Katie riu.
- O quê?
- „Pensado profundamente por cada passo‟. Você ouviu o que acabou de dizer?
Agora temos um trava-língua.
- Eu acho que você está com excesso de açúcar no sangue, Nicole disse.
- Eu acho que você tem razão. Katie fechou o saco e colocou-o ainda mais longe.
Eu não posso mais consumir tanto açúcar como quando eu era criança.
- Katie, eu quero lhe dizer uma coisa e eu quero que você ouça como vindo de
alguém que tem apenas as melhores intenções.
- Ok, vá em frente, irmã. Eu agüento.
- Eu acho que se você não pressionar Rick sobre demonstrar a afeição dele por
você fisicamente, isso vai acabar acontecendo com naturalidade e equilíbrio e
vai ser muito romântico.
- Eu sei.
- Mesmo se ele tiver algum tipo de plano secreto, como você o acusou no Bella
Barista...
- Eu não o acusei. Aquilo não foi uma acusação. Foi um desafio amigável. Rick
entende o meu senso de humor. Ele consegue agüentar.
- Tem certeza?
- Sim. Por quê?
- Bem, Nicole disse lentamente, esticando-se para pegar seu travesseiro. A
primeira parte foi bonitinha, quando você disse que o lado ruim de namorar um
super-herói era que você tinha que passar pelo código de conduta dele. Foi a
parte seguinte que soou muito forte.
- Tudo o que eu disse foi que ele tem dado um descanso para os lábios dele por
muito tempo.
- Na verdade, Katie, suas palavras exatas foram, „Você pode muito bem raspar a
sua cabeça e se tornar um monge já que seus lábios esqueceram como achar o
caminho para os meus‟.
Katie fez uma careta.
- Eu realmente disse isso?
Nicole confirmou.
- Você tem um gravador ou alguma coisa parecida?
- Não, eu só lembro porque, bem... Foi uma declaração bastante memorável.
- Você está certa. Foi muito duro. Eu acho que eu estava um pouco exaltada
àquela altura. Ela estalou os seus dedos. Você sabe o que eu acho? Eu acho que
aquele barrigudo do Barista nos deu café normal e não descafeinado e mais que o
dobro de café. Eu acho que ele me deu uma porção extra de cafeína e ela me fez
ficar um pouco maluca durante essa parte da conversa. Então, veja, na realidade
era o café falando e não eu.
Nicole se ajeitou embaixo das cobertas, mas não disse nada, o que fez Katie
perceber que Nicole não estava engolindo nada disso.
- Ok. Katie pegou sua calça jeans no chão perto dela e tirou telefone do bolso. É
melhor eu ligar para o Rick e me desculpar novamente.
- Eu acho que ele aceitou as suas desculpas no caminho de volta da floricultura.
E a propósito, eu acho que, quando nós fomos ao Sophie Hall, a outra Katie
aceitou muito bem suas desculpas quando você deu as flores a ela. Eu não acho
que você tenha desculpas pendentes pra pedir.
Katie fechou o telefone dela.
- Eu acho que ela aceitou muito bem também.
- Ajudou o fato de a moça da floricultura ter telefonado para ela antes de nós
chegarmos e explicado que foi um descuido deles não colocar o nome no cartão
anexo. Eu estou contente por ela ter checado o computador e visto que o noivo
da Katie colocou o nome dele na nota quando ele fez o pedido on-line. A
floricultura deveria ter posto o nome dele no cartão e o nome completo dela no
envelope.
- Eu achei legal que a moça na floricultura fez um buquê novinho em folha. Eu
acho que o segundo era ainda mais deslumbrante que o primeiro.
- Concordo.
- Você também deve concordar que a moça da floricultura foi muito simpática
conosco.
- Ela foi maravilhosa. Rick foi muito maravilhoso também. Eu acho que a moça
gostou que ele tenha comprado flores para você e pra mim. Eu sei que gérberas
cor-de-rosa não são as suas favoritas.
Katie olhou sobre o vaso na cômoda de Nicole com o chamativo buquê rosa.
- Não, mas elas são as suas favoritas.
- Eu sei, mas você foi legal ao dizer que você gostava delas também, para fazer o
Rick feliz ao nos dar o presente.
- Sim, bem, eu sou totalmente a favor de fazer o Rick feliz ao me dar presente.
Katie tombou para trás no colchão inflável, fitando o teto. Nicole tinha revestido
o seu teto completamente com tecido, fazendo o seu quarto parecer uma
confortável nuvem do reino das fadas. Como você fez isso?
- Fiz o quê?
- O tecido pelo teto.
- Nunca subestime o poder de uma mulher com um grampeador, uma cola quente
e uma paixão insaciável por decorar todas as coisas que estiverem ao alcance de
suas mãos.
Katie riu.
- É a sua arte. Eu amo isso. Sabe, você amaria a mãe do Rick. Ela tem o mesmo
jeito. Ela ama decorar. Ela também ama celebrar fazendo seus aniversários e
feriados bonitos. O que me lembra que é provável que eu fique aqui no dia de
Ação de Graças. Então, se você precisar que eu verifique alguma coisa enquanto
você não estiver aqui, eu posso cobrir qualquer responsabilidade que tenhamos
no andar.
- Você vai ficar aqui? Sério?
- Sim. Katie detestava o sentimento de sim-eu-sou-praticamente-uma-orfã-mas-
por-favor-não-me-olhe-assim que a cobria naquele momento.
- Bom, adivinha? Eu acho que vou ficar aqui também.
- Você vai? Por quê?
- Eu me sinto como a Pequena Órfã Annie.
- Me fale sobre isso.
Nicole disse:
- Bom, meus pais estão indo para Singapura na quarta para uma conferência
internacional de pastores e minha irmã vai passar com a família do namorado em
Idaho. Eu poderia ir para casa em Santa Bárbara e passar o jantar do dia de Ação
de Graças com minha tia e meu tio, mas acho que eu vou ficar aqui.
- Por que você e eu não fazemos alguma coisa juntas? Nós poderíamos fazer uma
viagem.
- Eu pensei que você fosse passar o dia de Ação de Graças com a família do Rick.
- Talvez eu passe. Os pais dele acabaram de se mudar para a nova casa deles e
eles provavelmente ainda não estão prontos para receber visitas. Como eu disse,
a mãe dele ama fazer tudo. Na Páscoa ela teve um farto jantar na tarde de
domingo. Todos nós nos sentamos em uma grande mesa com pratos de porcelana
e cristal. Muito elegante. Eu acho que se ela não puder fazer do dia de Ação de
Graças algo super chique, ela provavelmente irá esperar e fazer do Natal uma
noite de gala.
- É assim que a minha mãe sempre fez nos feriados, Nicole disse. Eu poderia ir
pra casa, mas eu ficaria totalmente sozinha. Seria muito deprimente.
- Nós definitivamente temos que fazer alguma coisa.
Nicole acenou com a cabeça e cobriu a sua boca assim que um bocejo tomou
conta dela.
- Ah, desculpa. Eu estou ficando com sono, Katie. Você se importaria se eu
apagasse a luz? Nós podemos continuar conversando, se você quiser, mas eu
tenho que te alertar que eu posso pegar no sono.
- Tudo bem. Eu estou pronta para deixar esse dia muito longo e muito irritante
terminar. Eu tenho uma aula às oito da manhã e eu sei que eu vou estar morta
quando o meu alarme soar às sete. Pelo menos eu tomei o meu banho à noite. Eu
estava realmente desejando que eu tivesse tomado um antes de ver o Rick
porque, perto de você, eu definitivamente não era a abóbora mais fresca do
„pedaço‟.
Katie podia ver Nicole sorrindo, antes de ela apagar a luz, por causa de sua
última frase.
- A propósito, Katie, obrigada por me deixar ir jantar com você e Rick. Eu me
senti como se estivesse atrapalhando o encontro de vocês.
- Não, foi divertido ter você lá. Além do mais, o que você iria fazer? Eu a
arrebatei da loja de flores e a arrastei conosco para o Sophie Hall. Quando você
terminou de ser meu apoio moral em reparar minha grande asneira, a lanchonete
estava fechada. Você quase não tinha nenhuma escolha a não ser vir conosco e
eu estou contente por você ter vindo. Fiquei feliz pelo jeito como você e o Rick
se deram tão bem. Ele queria que eu fosse mais simpática com o colega de
apartamento dele, mas eu demorei muito pra entender isso. Eu agora aprecio o
que ele estava tentando dizer por que eu posso ver como é ótimo quando todo
mundo, em seus diferentes círculos sociais, se dão bem um com o outro. Entende
o que eu quero dizer?
O tique-taque fixo do antigo relógio na escrivaninha de Nicole foi a única
resposta que Katie recebeu.
- Uau. Você não estava brincando quando disse que estava prestes a pegar no
sono. Eu pensava que eu fosse rápida, mas isso é assustadoramente mais rápido.
Lembre-me de te contar de manhã quão rapidamente você dormiu.
Katie puxou seu edredom até o queixo e aconchegou-se dentro dele.
- Eu continuo gostando da minha idéia de uma máquina do tempo, ela murmurou
para si própria já que Nicole já estava dormindo. Eu definitivamente faria esse
dia sumir. Com exceção dessa parte. Eu deixaria essa parte da nossa „noite de
pijamas‟. Eu me sinto em casa com você, minha nova amiga.
Capítulo 11
- O que você quer dizer com isso de não ir para a noite da pizza amanhã? Katie
estava em pé perto de Rick na fila para o cinema, mas ela estava no celular com
Nicole.
- Phillip só agora me enviou um email. Ele nem sequer deu uma razão. Ele apenas
disse, „Talvez outra hora‟. Eu sei que ele não fez de mal. Odeio quando os
rapazes dizem coisas que eles não tinham intenção.
- Que idiota, Katie disse.
Rick calmamente pressionou sua mão no ombro de Katie. Ela entendeu que era a
forma dele fazê-la saber que sua voz estava elevada e que ela estava falando
muito alto num lugar público.
- Ele não é um idiota, Katie. Ele é um cara legal. Eu sei que você acharia isso
também se você o conhecesse.
- Tá bom, se eu chegar a conhecê-lo, eu vou ter algumas palavras bem escolhidas
pra ele.
- Ele provavelmente tem uma boa razão pra que ele não queira ir comigo amanhã
à noite. Não estou guardando isso contra ele. Mas agora é tarde demais pra
convidar outra pessoa.
- Não é tarde demais. Tem que ter alguém, Nicole.
Rick pressionou o ombro de Katie novamente. Ela levantou o olhar pra ele e
perguntou:
- Quê? Ainda estou falando muito alto?
Rick sorriu.
- E Eli?
- O que é que tem Eli? Katie perguntou.
- Quem é Eli? Nicole perguntou.
Katie olhou pra Rick e lembrou como menos de uma semana antes eles tinham
discutido no apartamento dele quando ele estava tentando juntar Eli com a
companheira de andar de Katie. Katie ofereceu a Rick um meio sorriso.
- Quer saber Nicole? Eu só não tenho o mais compreensivo e paciente e lindo
namorado do mundo, eu também tenho o melhor matchmaking namorado do
mundo. Você se importaria se eu e Rick te juntássemos com o colega de quarto
dele, Eli? Tenho certeza que ele está disponível.
- Ele é o rapaz da segurança do campus que dirige no pequeno carro de golfe?
- Sim. É ele. Aquele com o maluco cabelo marrom claro que sempre parece que
acabou de sair do ciclo giratório da secadora. Aquele com a barbicha.
- Certo. É quem eu pensei mesmo. Nicole não pareceu entusiasmada.
- Ele não é como você acha, Katie disse rapidamente. Ele não é nada do que ele
parece. Quer dizer. Ele parece bem, na minha opinião. Ele tem aqueles olhos
melancólicos que parecem olhar dentro de sua alma enquanto você tá olhando
pro outro lado. E ele cresceu na África e foi pra Espanha com Ted, e ele parece
ter um coração terno, sabe? Como se tivesse sido machucado e agora ele sabe
como os outros se sentem quando estão feridos. Acho que você vai se dar muito
bem com Eli. Ele é um tipo de pessoa artística e ah, Nicole, ele tem uma ótima
risada. Quer dizer, uma linda risada. Ele é definitivamente um bom partido.
Muito melhor que o cara „eu to triste‟.
Nicole parou Katie antes que ela pudesse continuar com a longa descrição em
favor de Eli.
- Ok. Você me convenceu com o „disponível‟.
Katie se virou para Rick e acenou com a cabeça de forma febril e, com um sorriso
enorme, ela apontou pro celular dele e indicou com sua mão que estava livre que
Rick deveria ligar pra Eli e marcar.
- De jeito nenhum, Rick disse.
Katie piscou pra ele e fez uma careta.
- Só um minuto, Nicole. Ela pressionou o celular contra seu estômago. O que você
quis dizer com „de jeito nenhum‟?
- Eu já tinha convidado Eli. Eu também o desconvidei. Se você pensa que ele é
perfeito pra Nicole, eu acho que você deveria convidá-lo dessa vez.
- Ok. Tá bem. Katie colocou o celular de volta no ouvido. Nicole? Aqui o plano.
Vou ligar pra Eli pra ver se ele ainda está disponível amanhã à noite, e então eu
dou seu número pra ele te ligar porque nós estamos quase entrando no cinema.
- Obrigada, Katie.
- Não me agradeça ainda. Espere até depois que você passar um tempo com ele
amanhã à noite. Então você me agradece, e eu realmente vou saber que você
quis dizer isso porque ele é legal.
Ela desligou e olhou pra Rick.
- Tem certeza que você não quer ligar pra ele?
- Certeza. Rick procurou na lista de seu celular e deu pra ela enquanto a fila se
movia pra dentro do cinema.
Katie deu uma olhada na tela do celular muito-mais-elaborado do Rick.
- Tudo que você tem que fazer é apertar o botão.
Katie o pressionou e disse:
- Sei, isso foi o que Cris disse na noite que eu tentei fazer pipoca na casa dela.
- Ei, sobre aquela pipoca, Rick disse. Eu ouvi do Ted noite passada que você
comprou num bazar de garagem.
Agora era Katie quem estava pressionando sua mão no ombro de Rick. Ele
definitivamente estava falando muito alto num lugar público lotado.
Abençoadamente, Eli atendeu ao telefone no primeiro toque.
- Eli. Ei. É Katie. Oi. Como você está?
Por que isso de eu continuar monossilábica quando eu tento falar com esse cara?
Sou uma bobona.
- O que está acontecendo, Katie?
- Eu tava pensando, bem, na verdade, Rick e eu estávamos pensando, Rick está
bem aqui comigo no cinema, estamos caminhando pro cinema exatamente agora
e eu estou ligando do celular dele.
Ela achou que ouviu Eli abafando uma risada.
- De qualquer forma, nós estávamos pensando se você não vai fazer nada amanhã
à noite, sexta à noite, se você queria ir pra Noite da Pizza no Crown Hall.
- Achei que vocês já tinham me desconvidado pra esse evento.
- Bom, agora estou te des-desconvidando e isso é o mesmo que te reconvidar.
Tudo que você tem que fazer é dizer, „Com certeza, eu ficaria feliz em ligar pra
sua colega de andar, linda Nicole, e diria a ela que estaria honrado em
acompanhá-la pra cafeteria pra fazer uma pizza com ela amanhã à noite‟. O que
você me diz? Sete horas? Pode nos encontrar no lobby do Crown Hall???
Uma longa pausa se seguiu do outro lado. Katie olhou pra Rick. Ele tava
reprimindo um sorriso. Ela usou seu braço livre pra fazer círculos no ar como
para indicar pra Eli apressar em tomar sua decisão.
- Então?
- Ele desligou? Rick perguntou. Se sim, você não pode exatamente culpar o cara.
- Eli? Katie pressionou o telefone mais perto de seu ouvido. Eu posso te ouvir
respirando, Eli.
Ele riu aquela fantástica risada dele vinda do fundo do ser.
- Foi só muito, muito engraçado ver você suando daquele jeito.
- O que você quer dizer com „me ver suando‟? Eu pressionei o botão da câmera
do telefone do Rick?
- Não. Olha na direção da máquina de pipoca.
Katie se virou na direção da banca de lanches. Eli estava em pé recostado contra
uma coluna e segurando um enorme saco de pipoca. Ele tinha uma bandana ao
redor de sua cabeça, e seu cabelo dançava em todas as direções por baixo dela.
Katie se virou e deu um soco no braço de Rick, mas não muito forte.
- Você sabia desde o início que ele estava aqui.
- Sim, eu sabia. O sorriso de Rick era imenso e cheio de travessura. Esqueci de
comentar que Eli estava vindo ao cinema com a Carley?
- Carley? Katie falou o nome de forma muito alta e ela sabia. Abaixando sua voz,
ela disse: Quando Eli começou a sair com Carley?
- Hoje à noite quando ela o convidou.
Katie nunca tinha realmente encontrado uma forma de estabelecer um tipo de
relacionamento pacífico, fácil e cheio de altos e baixos com Carley, uma garota
no seu andar. No verão anterior Carley foi contratada pra trabalhar no Ninho da
Pomba com Katie, mas sempre pareceu pra Katie que Carley estava competindo
pela atenção romântica de Rick. Quando Carley e algumas outras garotas fizeram
uma brincadeira com Katie há um pouco mais de um mês, elas duas tiveram uma
conversa face a face que pareceu arrumar as coisas entre elas e colocá-las em
um lugar melhor relacionalmente. Ainda assim, Carley não estava no topo da lista
de pessoas favoritas de Katie.
Essa surpresa, no entanto, atingiu Katie mais forte do que ela teria previsto.
Definitivamente Carley não era a garota certa pra Eli. Nicole era uma escolha
muito melhor e Katie sabia disso.
Ela e Rick entregaram seus ingressos para o atendente e cruzaram o lobby onde
Eli estava em pé perto da máquina de pipoca.
- Então? Katie deu a Eli uma expressão de expectativa e olhar brilhante. É uma
resposta vindo, oh-grande-rebelde-sem-refrigerante-pra-acompanhar-toda-essa-
pipoca?
- Sim. A resposta é sim. Eu vou com você amanhã à noite, Eli disse.
- Não comigo. Com Nicole.
- Certo. Isso que eu quis dizer. Tenho a impressão que é um encontro duplo. 9
- É. Ok. Bom. Aqui. Espera só um segundo, ok? Katie pegou seu celular, apertou o
nome de Nicole e esperou ela atender. Ela sentiu um tipo engraçado de pânico,
como se Carley pudesse aparecer a qualquer momento e tornar as coisas mais
embaraçosas do que já estavam.
- Ei, Nicole, Eli está bem aqui e eu vou deixar ele conversar com você. Ela
entregou o telefone antes que Nicole dissesse qualquer coisa.
Eli agiu de forma louvável, soando interessado em Nicole enquanto ele
confirmava os planos. Ele disse a ela:
- Até lá então, e devolveu o telefone para Katie.
Ela o fechou com força.
- Ótimo! Tudo certo então. Obrigada, Eli. Pronto, Rick? Ou você queria comprar
mais pipoca?

9
Double date é quando dois casais saem juntos. Não sei se tem uma expressão específica pra isso em
português, se tiver por favor, eu quero saber também kkkkk
- Eu não. Você quer?
- Não. Eu perdi meu apetite por pipoca recentemente.
- Engraçado. Eli disse. Cris disse a mesma coisa.
- Você tá só inventando isso.
- Não estou.
- Quando você viu Cris?
- Ela e Ted estavam na fila atrás de nós pra última sessão, mas já estavam
esgotados, então eles foram comer alguma coisa e vão voltar.
- Quer dizer que eles estão vindo pra mesma sessão que a gente. Legal. Katie
olhou pra Rick. Nós deveríamos entrar e guardar lugar pra nós quatro.
- Vocês se incomodariam em guardar mais um lugar? Eli perguntou.
- Você vai ver de novo? Rick disse.
- Não. Eu estava no grupo que não conseguiu ver a sessão esgotada. Eu consegui
estudar no meio tempo, acredite ou não.
- E Carley? Katie perguntou.
- Ela foi na sessão mais cedo. Ela e a colega de quarto dela compraram os
ingressos online por isso não tiveram problemas pra entrar.
- E elas te deixaram? Katie perguntou.
Eli encolheu os ombros.
- O que posso dizer?
- Vamos. Rick pegou a mão de Katie. Nós vamos guardar alguns assentos. Eli, fale
pra Ted e Cris que nós entramos.
- Isso tá se tornando mais estranho e mais estranho a cada minuto, Katie
murmurou. Ela e Rick tinham conversado sobre ir assistir essa sequência do filme
que eles tinham gostado em um de seus encontros anteriores em Fevereiro.
Como em todo caso de sequências longamente antecipadas, a noite de estréia é
o melhor momento pra ir mesmo com a multidão, apenas pra ficar entre os
primeiros a ver. Katie odiava estar em grupo de pessoas quando eles
conversavam sobre uma seqüência que ela não tinha visto ainda. Os estudantes
da Rancho Corona mantinham-se avidamente a par dos filmes e conversavam
sobre eles nas refeições.
- Nós deveríamos ter organizado, Katie disse, enquanto ela e Rick se apressavam
pra entrar no auditório e pegar 5 assentos juntos. Se nós soubéssemos que Ted e
Cris estavam vindo, poderíamos ter ido comer com eles.
- Talvez eles queiram sair pra comer sobremesa mais tarde. O cinema estava
enchendo rapidamente e o barulho feito dificultou que Katie entendesse o que
Rick tinha dito enquanto eles subiam os degraus.
- Você disse que eles talvez queiram ir pro deserto depois? 10
- Não, não sair para o deserto. Sair pra comer sobremesa. Café? Torta de queijo?
Torta? 11
- Cris provavelmente vai querer torta de queijo. Ela teve um desejo por isso na
outra noite. Perguntei se o desejo significava que ela tava grávida, mas ela disse
que não.
- Que tal aqui? Rick deslizou para uma fileira quase na metade do fundo e Katie o
seguiu. Os assentos eram próximos ao fim da fileira, mas da forma como o
cinema estava lotando iria se tornar impossível encontrar cinco assentos juntos
no centro.
Colocando suas jaquetas nas três poltronas entre eles, Katie e Rick sentaram-se
em cada ponta e ficaram olhando a entrada esperando por seus amigos.
De todas as pessoas, Carley veio do canto, os olhou, acenou e veio para a fileira
deles.
- Pensei que ela estava na última sessão. Katie murmurou baixo o suficiente para
que Rick não a ouvisse.
- Olá vocês dois. Carley correu fileira abaixo e ficou em pé no espaço em frente
aos assentos vazios que eles estavam tentando guardar. - Apenas vim dizer oi. Vi
Eli e ele me disse que vocês estavam aqui. Vocês vão amar esse filme. O fim é
uma grande surpresa. Não é o que vocês estão esperando.
- Carley, não se atreva a nos contar o que acontece! Katie sentiu seu rosto
ficando vermelho.
- Não se preocupe. Eu não ia dizer. Estou apenas dizendo que não é o que vocês
esperam. Vocês sabem o cara no primeiro filme que tem o dente que sai? Bem...
Katie a interrompeu.
- Carley, não! Não diz nada. Nada! Nem uma palavra! Oh, olha. Lá vem Ted e
Cris. Eles vão querer sentar exatamente onde você está em pé.
- Sem problema. Já estou indo. Só queria dizer oi e também dizer obrigada, Rick,
pelas flores. Aquilo foi realmente muito gentil da sua parte.
Rick balançou a cabeça polidamente e se levantou para que Ted e Cris pudessem
passar por ele enquanto Carley acenava e se movia lentamente para fora da
fileira na outra direção.
- Vocês estão tendo uma briga? Ted perguntou a Katie.
- Não. Por quê?
- Vocês estão sentados muito longe um do outro. O surfista-cara-legal Ted deu
um meio sorriso para Katie que mostrou sua covinha e ainda mais claramente

10
Dessert = sobremesa
Desert = deserto
11
Cheesecake é torta de queijo e outras tortas são chamadas pie.
mostrou que ele estava brincando com ela.
- Não comece comigo hoje à noite, Ted. Não é uma boa idéia. Nós estávamos
sentados longe, pois assim pudemos guardar lugar para vocês dois. Katie se
levantou e passou por Cris assim Katie pôde sentar no lado direito dela, perto de
Rick. Cris sentou do outro lado de Katie e apertou o braço dela.
- Que divertido! Não consigo acreditar que deu certo, Cris disse. Você sabe
quantas vezes temos tentado nos encontrar com vocês dois, mas não pudemos
coordenar nossas agendas? Bem, isso é perfeito e nenhum de nós planejou.
- Eu sei. Isso é ótimo. A resposta de Katie não foi inteiramente entusiástica. Ela
se virou para Rick e em uma voz baixa disse: Então, flores, hein? Alguma coisa
que eu deveria saber?
Rick se inclinou para mais perto e sussurrou no ouvido de Katie. A respiração dele
fazendo cócegas no cabelo dela.
- Eu quis fazer uma coisa gentil para agradecer a todos os meus empregados por
terem feito um ótimo trabalho nos últimos meses enquanto eu estava indo e
vindo do Arizona. Voltei à floricultura já que a moça de lá foi muito prestativa
conosco na outra noite. Ela pôs alguns arranjos pequenos para todas as
empregadas.
- Apenas para as mulheres?
- Sim, apenas para as mulheres. Para os homens eu comprei canivetes.
- Isso foi muito gentil da sua parte.
- Sabe o que mais é gentil da minha parte? Rick perguntou, colocando seu braço
no ombro de Katie e a puxando para mais perto. É também gentil da minha parte
que estou aqui e nós vamos passar esse tempo juntos assim.
Katie se sentiu relaxar no abraço parcial dele. Encostando sua cabeça no ombro
de Rick, ela disse:
- Sim, isso é bom. Só para constar, se eu ainda trabalhasse no Ninho da Pomba,
eu teria preferido o canivete em vez de flores.
- Eu sei, Rick disse. Ele beijou o topo da cabeça dela.
- Especialmente se fosse um daqueles canivetes pequenos que tem pequenas
tesouras flexíveis. Eli tem um. Você sabia que eles fazem daquelas em cores? Eu
vi um vermelho que combinava com seu carro. Sabia disso? Katie se afastou um
pouco pra trás e olhou para Rick. - Você deveria comprar um vermelho pequeno
e manter no porta-luvas.
- Ei, e você sabe alguma coisa sobre seu carro?
Katie fez uma careta exagerada.
- Tô com medo de que o Bugrinho esteja se encaminhando para a fábrica de cola.
- O que isso significa?
- Não sei. Meu pai costumava dizer isso. Acho que tem a ver com cavalos velhos
que eles costumavam fazer cola deles ou alguma coisa.
- Você está dizendo que seu carro não tem conserto?
Katie confirmou.
- O mecânico me deixou uma mensagem hoje e disse que ele encontrou uma das
partes online no Havaí, mas estava muito enferrujado para usar. Eu tenho que
ligar de volta pra ele amanhã e basicamente concordar com ele sobre o
inevitável. Ele acabou. Ele foi um bom amigo enquanto o tive, mas infelizmente
nosso relacionamento maravilhoso tem que chegar a um fim.
Cris que aparentemente ouviu Katie, perguntou:
- Você tá falando sobre o Bugrinho?
Katie se virou para ela e balançou a cabeça afirmando.
- Katie, que triste.
- Eu sei. É como o fim de uma era.
Ted se esticou sobre o colo de Cris e apertou o braço de Katie. Ele podia ser um
grande brincalhão, mas quando ele queria, Ted podia ser compreensivo.
- Sinto muito por saber disso, Katie. Eu senti como se fosse o fim de uma era
quando a Kombinada deu seu último suspiro.
- Como você vai fazer para ter um carro? Cris perguntou.
- Não faço a mínima idéia. Não tem sido tão ruim quanto eu pensei que seria essa
semana por não ter um carro, mas isso porque Nicole tem me emprestado o dela.
Vou ter que ver se eu posso vender as partes do Bugrinho ou alguma coisa assim.
- Você pensa em talvez guardar algumas partes? Ted perguntou.
- O quê? Como você guardou o banco traseiro da Kombinada quando você teve
aquele acidente?
O meio sorriso de Ted voltou.
- Eu poderia fazer alguns móveis para você.
- Eu vou pensar nisso, Katie disse sem disfarçar seu sarcasmo. Ela olhou para trás
de Ted e viu Eli vindo na direção deles. Ted o viu também e acenou para que ele
sentasse na poltrona guardada próxima a ele.
Eli se sentou e ofereceu seu pacote de pipoca.
- Vocês querem?
Ted foi o único que pegou uma mão cheia.
As luzes diminuíram e os trailers começaram. Katie se voltou para Rick e ele a
aconchegou perto dele. Ted e Cris estavam abraçados também. Era um dos
cenários de encontro duplo que Katie tinha imaginado sempre desde que ela e
Rick tinham começado a sair juntos. Eles tinham manejado coordenar alguns
desses tipos de tempos juntos.
Tão feliz quanto Katie estava ela se sentiu mal por Eli. Falando de experiência
própria! Katie sabia muito bem o que era ser aquela pessoa sobrando, ao longo
dos anos que ela saía com Cris e Ted e os outros amigos. Em uma pequena –
muito pequena – maneira, Katie desejou que Carley tivesse trocado seu ingresso
assim Eli pelo menos teria alguém com ele.
Katie se aproximou mais perto de Rick e fez uma de suas notas contínuas para si
mesma: Pare de se preocupar com Eli. Isto é o que você tem sonhado por um
longo tempo. Relaxa! Aproveita o momento.
Capítulo 12
A grande surpresa daquela noite não foi o fim do filme, apesar de que foi uma
maneira brilhante de amarrar a história e deixar os espectadores famintos pelo
terceiro filme. A surpresa foi como o filme ficou tão bom.
- O segundo filme nunca é tão bom quanto o primeiro, Rick disse, enquanto o
grupo deles saía da sala.
- Esse com certeza foi, Ted disse.
Cris concordou dizendo, :
- Aquela parte no final em que o cara...
Katie pegou o braço dela e impediu Cris de terminar sua frase. Eles estavam
passando pela fila de espectadores que esperavam para assistir ao filme na seção
de tarde da noite.
- Eu só não queria que você acabasse contando algo para qualquer uma das
pessoas que estão na fila.
- Ah. Ta bom. Cris apertou os lábios.
- Eu estou feliz por termos visto o filme hoje à noite, Katie disse. Eu odiaria me
sentar amanhã na cafeteria e ficar ouvindo um monte de críticos amadores
falando sobre todas as partes boas do filme.
- O que vocês acham de nós formarmos nosso próprio grupo de críticos amadores?
Rick perguntou. Katie e eu descobrimos uma nova cafeteria. O Bella Barista.
Vocês já foram lá?
- Não, Cris disse enquanto Ted balançava sua cabeça negativamente ao lado
dela.
- E você, Eli? Katie perguntou.
- Eu sou mais do tipo que bebe café em lojas de conveniência, como você sabe.
Todo mundo se virou para olhar para Katie, esperando uma explicação de porque
ela saberia aquilo. Ela não queria Cris, Rick e Ted envolvidos numa discussão
sobre seu passeio ao deserto na semana passada com Eli e Joseph.
Mudando o foco, Katie disse:
- E aí? Vocês querem ir conosco ao café?
Ted e Cris olharam um para o outro e trocaram uma série de expressões de
dúvidas, como ombros balançando e cabeças se mexendo, o que pareceu para
Katie dois passarinhos conversando num fio de telefone.
- É melhor não, Cris disse.
Katie suspeitou que eles tivessem gastado seus fundos para entretenimento para
o mês com o filme e o jantar.
A decisão de Ted e Cris pareceu determinar a decisão de Eli. Ele disse que iria
voltar para o apartamento. Olhando para Katie de uma maneira bem direta, ele
disse:
- Te vejo amanhã à noite.
- Beleza. Noite de Pizzas de casais. Crown Hall. 7 horas. No saguão. Katie
esperava que ninguém tivesse notado como suas frases ficavam curtas quando ela
estava perto de Eli. Essa agitação toda dela a incomodava.
O grupo se despediu no estacionamento, e Rick e Katie caminharam de mãos
dadas para o carro dele.
- Eu não te contei ainda, Rick disse. Minha mãe está planejando fazer um jantar
de Ação de Graças na nova casa dela. Ela disse que iria te ligar. Ela queria que
você soubesse que está convidada, eu disse a ela que me certificaria de que você
fosse.
- É muito legal da parte dela. E da sua parte também. Eu adoraria passar o dia
Ação de Graças na sua casa. Diga a sua mãe que eu ficaria feliz em ajudar de
alguma forma, caso ela precise.
Enquanto eles caminhavam, ela balançava as mãos deles.
- Você sabe se ela convidou muitas pessoas?
- Não sei. Por quê?
- Eu estava pensando que se tivesse jeito, seria legal incluir mais uma pessoa que
não tem planos para o dia de Ação de Graças. Mas isso é só se sua mãe não se
importar em receber mais um universitário órfão.
- Você conhece minha mãe. Tenho certeza de que ela não se importaria. Rick fez
um carinho na mão de Katie. Estou feliz que você tenha pensando no Eli. Vou
falar com ele que ele também está convidado.
- Eli? Eu estava pensando em Nicole. Ela não vai pra casa no dia de Ação de
Graças. Na verdade, ela e eu estávamos pensando em fazer uma viagem no
próximo fim de semana caso nós duas não recebêssemos nenhum convite.
- Como eu disse, você conhece minha mãe. Tenho certeza de que ela não se
importaria. Eu vou convidar o Eli e você pode convidar a Nicole.
- Eles vão pensar que nós estamos forçando os dois a ficarem juntos.
- Não tem problema. Se der certo, eles vão nos agradecer.
Eles chegaram ao carro de Rick, e ele destrancou a porta do passageiro e a abriu
para Katie. Ela estava prestes a entrar no carro quando viu, no banco, uma
pequena caixa com uma fita prateada em volta.
- Que isso?
Rick não respondeu. Ele apenas deu um sorriso malicioso, como se sua surpresa
estivesse funcionando do jeito como ele tinha planejado.
- É pra mim?
- Por que você não abre e descobre?
Katie puxou a fita e abriu a caixinha. Dentro dela havia um canivete, exatamente
igual ao que ela tinha descrito para Rick no cinema. Ao invés de vermelho como o
carro de Rick, esse era amarelo, como o Buguinho.
- Rick! Como você sabia?
- Eu te conheço, Katie. Eu sabia que você ia gostar. Eu também sabia que se eu
te desse flores não significaria tanto quanto se eu te desse um desses. Eu vi o
amarelo e pensei no seu carro. Isso foi antes de eu ficar sabendo que ele não
teria conserto.
- Isso vai sempre me lembrar do meu Buguinho amarelo-sol. Katie disse
carinhosamente.
- Você já abriu um desses antes? Aqui ficam as tesouras, e quando você puxa isso
aqui, sai uma lixa de unha.
- Rick, obrigada! Katie envolveu-o com seus braços em um caloroso abraço.
Assim que se afastaram, eles ouviram uma buzina e ambos olharam para ver Eli
passando de carro por eles, fazendo um tipo de aceno mãos-retas-no-ar.
- Eu não sei por que ele guarda aquilo, ela resmungou. Ele disse que isso o
lembra de orar. Mas orar pelo quê?
- Katie? Rick colocou sua mão debaixo do queixo dela e trouxe o rosto dela de
volta, afim de que ela olhasse para ele.
Katie pôs fim aos pensamentos resmungões sobre Eli e sorriu calorosamente para
Rick.
- Desculpe-me. O que eu estava dizendo?
- Você estava dizendo que gostou do canivete.
- Sim, gostei. Eu gostei do canivete. E gosto de você. Muito.
- Que bom. Porque eu gosto muito de você. Rick sorriu. Você quer tomar sorvete?
- Sorvete? Claro. Você tem duas passagens de avião para Veneza escondidas no
bolso da sua jaqueta?
- Nós podemos tomar sorvete aqui mesmo nessa cidade.
- Onde?
- No lugar que fomos com a Nicole. O Bella Barista. Eu vi sorvete no menu e
pensei que você e eu precisávamos voltar lá e dar um basta nisso.
- Um basta em quê?
- No fiasco do nosso encontro no verão passado com aquele teste de sabor.
Embalagem quadrada versus embalagem redonda?
Katie inclinou sua cabeça para trás e resmungou.
- Por favor. Eu estou tentando esquecer toda aquela confusão. Tudo isso
aconteceu muito tempo atrás quando eu era sincera demais, impulsiva e
exigente. Como você e eu sabemos, eu mudei dramaticamente desde aquela
época.
Rick gargalhou.
- Ok. Talvez não dramaticamente. Mas eu sei como eu queria não ter levado essa
coisa toda do sorvete tão a sério, e, bem... Tudo mais naquela noite. Katie
deixou o restante por falar, na mesma noite que ela o tinha pressionado a fazer o
desafio do teste do sorvete, ela também o tinha pressionado sobre suas
determinações em não convidar beijos para o relacionamento deles. O desafio
não tinha terminado nada bem.
Parte da tentativa posterior de Rick em dar fim àquela noite foi seu estranho
teste particular, o qual Katie achou bastante irritante. Rick usou apenas uma
embalagem de sorvete e dessa forma fraudou o teste dizendo que era uma
tentativa de ser esperto.
- Esse evento todo do sorvete foi uma idéia divertida que acabou dando errado.
Muito errado, Katie disse. Nós podemos não relembrar mais disso?
- Combinado, Rick disse. É por isso que sorvete é a resposta. É um novo começo.
Nós podemos tomar sorvete sem nenhum tipo de conflito sobre a forma da
embalagem e o sabor. O que você acha?
- Ok. Novos começos. „Bora pro sorvete. Katie entrou no carro e sorriu pra si
mesma. Rick Doyle, você é mesmo o homem mais determinado do planeta. Uma
vez que você entra em algo, você nunca deixa isso de lado até você ter todas as
peças no lugar, do jeitinho que você gosta.
Katie lembrou a si mesma de que essa característica de Rick era boa e era
também uma maneira de completar Katie, já que ela não era assim tão
comprometida em cumprir seus objetivos.
- Sabe, se nós não tivéssemos finalmente concordado algumas semanas atrás em
parar de tentar achar apelidos um para o outro, eu acho que agora eu te
chamaria de „Bulldog‟.
- Bulldog? A réplica de Rick deixou claro que ele não estava nada empolgado com
aquele apelido.
Sacudindo sua mão no ar, ela disse:
- Deixa pra lá. Puxando pra fora a lixa de unha de seu novo canivete, Katie
começou a lixar a unha de seu polegar. Ela desejou não ter trazido à tona esse
assunto de apelidos. Durante meses Rick tinha tentado conseguir o apelido certo
para ela, mas nenhuma das opções a agradou. Com exceção do ”Katie-girl”. Ela
gostou desse, mas Rick não.
Cerca de três semanas atrás, enquanto eles saíam da igreja juntos e Rick de
repente anunciou que ele não gostava do apelido ”Katie-girl”, ela parou e disse:
- Fim do jogo. Pronto. Ela disse a Rick que de agora em diante ela só queria que
ele a chamasse de Katie e ela o chamaria de Rick, exceto para aqueles momentos
ocasionais em que o último nome dele cairia melhor e ”Doyle” simplesmente
escorregaria de seus lábios.
Eles acabaram dando uma basta naquela busca por apelidos naquele domingo.
Katie esperava que esse passeio ao Bella Barista desse um basta na busca deles
por uma agradável experiência com sorvetes.
Meia hora depois, Katie estava dizendo a si mesma. Até agora tudo bem! Pra
constar, tudo nessa noite tem sido bom. Muito bom. Talvez o nosso melhor
encontro até hoje.
Quando eles pediram pelo sorvete, só pra ser agradável, Rick deu um beijo na
bochecha de Katie assim que passou seu cartão de crédito para o caixa.
- Algum motivo especial? Ela perguntou.
- Eu pensei em começar uma nova tradição. Você disse, da última vez que viemos
aqui, que se eu fosse pagar eu teria que te dar um beijo. Eu gostei disso. De
agora em diante, toda vez que viermos aqui, se eu pagar, eu tenho que te beijar.
- E se eu pagar?
- Então você é quem tem que me beijar.
- Promete? Katie levantou uma sobrancelha.
Rick sorriu pra ela e a beijou de novo, dessa vez na testa. Foi meigo, como uma
benção ou um gesto fraternal de carinho. Ela deixou o calor do beijo dele na
testa dela acalmar seu interior. Talvez, pela primeira vez, Katie ficou contente
com os gestos de carinho de Rick. Ela não teve que tentar esconder uma
expressão de decepção porque ele não a envolveu em seus fortes braços, a
rodopiou como um dançarino num salão de festas, e plantou um grande beijo em
seus lábios.
Ele estava mostrando a ela que gostava dela. Que a adorava. Por que ela não
tinha visto a intenções dele dessa maneira antes?
O carinhoso Rick e a apaixonada Katie sentaram-se um de frente para o outro em
uma das pequenas mesas do canto. Eles, confortavelmente, cruzaram seus pés
um no outro e compartilharam os sabores de seus sorvetes. A iluminação baixa e
amarelada das lâmpadas que estavam penduradas e a inspiradora música italiana
ao fundo fizeram do momento deles algo tão romântico para Katie como se eles
estivessem lado a lado numa gôndola descendo um canal de Veneza.
Rick alcançou o cabelo de Katie e passou a mão sobre ele, depois tocou sua
bochecha e disse a ela o quanto ele gostava do cabelo, das sardas e dos olhos
verdes dela.
- Às vezes seus olhos ficam profundos, como jade, ele disse. Nessas horas eu sei
que você está pensando muito. É como se a luz ficasse fosca do lado de fora
primeiro e depois do lado de dentro. Há também momentos em que seus olhos
ficam da cor da grama ou das folhas na primavera. Eu sempre sei quando você
está feliz. Seus olhos parecem primavera.
- Que cor eles estão agora? Katie entrelaçou seus dedos nos dele.
- Cor da primavera. Definitivamente, primavera.
- Seus olhos estão cor de chocolate quente agora. Chocolate quente de verdade.
Não o pó de chocolate ao leite que vem num pacote. Estão como chocolate
escuro. Como o chocolate do meu sorvete. Katie, graciosamente, levantou uma
pequena colher cheia de sorvete e a colocou perto dos olhos de Rick. Ele fez uma
pose, arregalando os olhos enquanto ela fazia a comparação.
- Não, seus olhos são mais escuros. Muito mais misteriosos.
Rick lançou pra ela um olhar elegante-homem-misterioso, posando como um
autor de romances de suspense, com uma mão no queixo.
Katie gargalhou.
- Lá vem você. É esse olhar que você quer no seu próximo cartão de
apresentação. Ela levantou-se de seu assento. Ei, eu vou pegar um pouco de
água. Você quer beber algo?
- Sim, eu quero um Americano pra gente levar.
- Pra gente levar? A gente vai a algum lugar?
Rick checou seu relógio.
- Claro. Por que não? Quanto tempo você ainda tem antes de perder seu
sapatinho de cristal e ficar trancada pra fora de seu dormitório?
Katie levantou seu pé.
- Nada de sapatinhos de cristal, veja, e não se esqueça de que eu tenho a chave
mestra. Olha, rimou!
- Espertinha. Agora pegue o meu Americano e vamos.
- Ok, Sr. Chefinho. Eu pego e eu pago? Katie perguntou.
- Não vejo porque você não deva pagar. Rick deixou claro, que assim como Katie,
ele estava gostando da brincadeira e de tudo mais naquele encontro.
- Ok. Está bem. Ela pegou no braço dele, o puxou para cima, e marchou com ele
para a caixa registradora. Um Americano duplo e um chá médio Darjeeling. Para
levar. Entendeu?
A mulher no caixa disse que sim e Katie tirou o dinheiro de seu bolso. Assim que
ela entregou o dinheiro, ela ficou na ponta dos pés e deu um delicado beijo na
bochecha de Rick. Sorrindo pra ele, ela disse.
- Eu acho que essa nova tradição vai funcionar muito bem.
Eles se foram com suas bebidas quentes e seus braços em volta um do outro.
- Não está tão frio como na outra noite que viemos aqui, Katie disse.
Olhando pra cima, ela viu um punhado de estrelas. A fina camada de nuvem que
normalmente bloqueava a visão do céu deles, nessa época do ano, tinha
diminuído o suficiente para revelar um pouquinho das maravilhas brilhantes aqui
e ali.
- A noite está boa.
- Vai ficar melhor ainda quando chegarmos ao lugar para o qual estamos indo.
Rick abriu a porta do carro ao seu modo Príncipe Charmoso.
- Ah, uma pequena dica de para onde estamos indo. Você não está o Senhor
Cavalheiro hoje à noite?
Rick pareceu gostar de ser o Senhor Cavalheiro. Ele manteve esse mesmo olhar
durante todo o percurso de volta para o campus da Rancho Corona. Katie ficou
um pouco decepcionada. Ela pensou que ele quis dizer que eles iriam para algum
lugar mais aventureiro como a praia, ou as montanhas, ou até mesmo o deserto.
Talvez Eli estivesse certo com relação a essa parte do sul da Califórnia ser um
ótimo lugar pra se viver. Em uma hora nós poderíamos estar em qualquer um
desses lugares – praia, montanhas, deserto. Então por que Rick quis vir aqui?
Ele continuou dirigindo depois de passar a virada para o dormitório de Katie e
rumou para a parte mais alta do campus.
Nós estamos indo para aquele banco de madeira. O banco onde ele tentou
aquele desastroso teste de sabor do sorvete. É o banco onde eu estava sentada e
falei com ele alguns dias atrás quando ele me disse que não iria mais dar
prosseguimento ao café no Arizona.
Katie estava certa. Rick estava a levando para o banco ”deles”. O que ela não
sabia era que as palmeiras ao longo da trilha estavam envolvidas em luzes pisca-
pisca brancas.
- Olhe! As árvores estão todas iluminadas! Adorei! Ela saiu do carro com seu copo
de chá em mãos. Quando foi que eles fizeram isso?
- Eli me contou sobre isso. Ele trabalhou na fiação ontem. Parece que eles vão
armar coberturas amanhã porque essa área foi alugada para um grande número
de eventos durante os feriados. Cris e Ted iniciaram algo quando descobriram
que poderiam fazer o casamento deles aqui.
- Boa e velha Tia Marta. Foi ela quem descobriu isso aqui.
- É bonito, não é? Rick colocou seu braço em volta do ombro de Katie.
- É como um conto de fadas. Ela bebeu um pouco de seu chá enquanto
caminhavam. A cheirosa bebida estava na temperatura e no gosto exatos. Os
braços de Rick em volta dela a faziam se sentir bem.
Eles tinham descido alguns metros trilha abaixo quando Rick parou. Ele se virou,
assim ele e Katie ficaram face-a-face sob a mágica luz de centenas de pequenas
luzes brancas que acendiam seus corações no ar calmo daquela noite. Os ventos
no alto das palmeiras estavam calmos. A faculdade e a cidade estavam em
silêncio.
Tudo que Katie pôde ouvir foi o som de seu coração acelerando assim que Rick se
aproximou. Seus olhos cor de chocolate estavam fixos nela e ela sabia. Ela sabia.
Era isso. Rick iria beijá-la. Ele realmente, verdadeiramente, finalmente iria
beijá-la!
Capítulo 13
Katie fechou os seus olhos. Os lábios quentes de chá dela viraram-se para Rick
enquanto ela sentia que ele inclinava-se para mais perto. O momento foi tão
perfeito quanto poderia ser.
Ela prendeu a respiração.
Rick beijou Katie.
O beijo dele não foi qualquer beijo. O beijo dele foi o beijo perfeito pelo qual
ela esperou por tanto tempo.
Eles demoraram tempo suficiente antes de se afastarem. Seus narizes tocaram-se
e, em um gesto de afeição, eles pararam por um momento com os seus narizes
lado a lado.
À medida que Rick se afastava, Katie abriu os seus olhos. Ela abriu a sua boca e
respirou fundo, pronta para dizer alguma coisa calorosa, graciosa e maravilhosa
para marcar esse momento para sempre no seu coração e mente.
Antes de uma palavra poder escapar, Rick colocou seu dedo nos lábios dela e
emitiu um suave, ”Shhh”.
Katie fechou os seus lábios e manteve todos os seus pensamentos e sentimentos
espontâneos guardados. Nada precisava ser dito. Nenhuma declaração precisava
ser entregue para clarear o que acabara de acontecer. Ambos sabiam. Ela sabia.
Ela sabia que era a afirmação do crescimento do compromisso de Rick para com
ela.
Tudo relacionado ao ”primeiro” beijo deles foi perfeito. Rick deu a ela esse
beijo. Ele não o roubou. E exatamente no mesmo momento, Katie deu a ele o seu
beijo em retorno. Ela sabia que tudo para eles havia acabado de mudar.
Avançando para a mão de Katie, Rick conduziu-a abaixo pela trilha de luzes
cintilantes. Eles não pararam e sentaram no banco, que parecia estar coberto
com gotas de orvalho. Em vez disso, eles permaneceram caminhando, de mãos
dadas, através do silêncio do caminho de luzes cintilantes. Katie pressionou os
seus lábios, revivendo as sensações de calor e formigamento do beijo de Rick. Ela
pensou ter sentido o leve gosto de sorvete de menta com chocolate. Um pouco
do sorvete dela tinha se apegado aos seus lábios. Ou talvez fosse um pouco que
tinha se apegado aos lábios do Rick quando ele estava provando o sorvete de
Katie. Katie sorriu para si mesma, pensando no beijo envolvido em chocolate que
ela acabara de compartilhar com o seu namorado com olhos de chocolate.
Eles foram até o final do caminho de palmeiras iluminadas. Eles tinham os seus
braços ao redor um do outro agora e Katie descansou a sua cabeça nos ombros
dele. Ele estava usando uma camisa pólo de mangas-compridas e colarinho feita
de uma mistura de casimira. Ela sabia porque da última vez que ele usou ela o
tinha abraçado e perguntado porque a blusa dele era tão quente e confortável.
Então ela o fez ficar parado, com o queixo inclinado pra baixo, assim ela poderia
levantar a etiqueta e ver do que fora feito.
Nenhuma daquelas frenéticas, normais, ações de Katie parecia parte dela agora.
Ela se sentia elegante e calma e - ousaria ela a dizer isso? Como uma princesa.
Enquanto Rick levava Katie para o dormitório, eles seguraram as mãos e
roubaram olhares um do outro. Ambos estavam sorrindo, mas nenhum dos dois
falava. Até mesmo isso parecia certo e ajustado. Quando ele a encaminhava para
a porta do dormitório dela, Rick encaixou Katie nos braços dele e segurou-a perto
dele por alguns momentos.
- Vejo você amanhã, ele sussurrou no cabelo dela.
- Amanhã, ela ecoou.
Ele a deixou lentamente e voltou-se, olhando para trás e acenando antes de
entrar no carro dele. Katie permaneceu na frente do Crown Hall, assistindo o
carro dele desaparecer, ainda com olhos sonhadores e ofuscados. Quando as
luzes traseiras não eram mais visíveis, ela finalmente se voltou e usou a sua
chave-mestra para abrir a porta. Uns poucos estudantes estavam conversando no
salão de entrada. Outros ainda estavam acordados no andar dela, enquanto ela
flutuava pelo longo corredor até o esconderijo dela bem no final.
Katie destrancou a porta do seu quarto, ligou a luz e entrou. A primeira coisa que
ela viu foi um formidável buquê com uma dúzia de rosas brancas.
Dessa vez Katie sabia que as flores eram de Rick. Rick Doyle, você planejou essa
noite até a última luz reluzente e rosa branca, não foi?
No topo do envelope do cartão estava colado um papel rosa de Nicole que dizia,
”Eu coloquei as flores dentro do seu quarto para que elas não ficassem esperando
na mesa da frente a noite inteira. Sabia que você não se importaria. Muito feliz
por você! N.”
Abrindo o cartão de presente, Katie ligou a luz sobre a escrivaninha. Ela prendeu
a respiração na lânguida fragrância das delicadas rosas antes de ler o cartão,
escrito à mão por Rick.
“Bem aventurados são os puros de coração, porque eles verão a Deus.”
Rosas brancas representam pureza de coração.
Katie, eu vejo Deus trabalhando em nosso relacionamento e eu me sinto muito
abençoado.
Você é linda.
Seu namorado, Rick.
Ela leu o cartão três vezes antes de colocá-lo de volta no envelope. Não era o
que ela esperava que o cartão dissesse, ainda que o sentimento fosse doce e
parecesse que Rick tinha gastado tempo pensando antes de escrever.
Arrancando uma das rosas brancas do buquê, Katie comprimiu-a debaixo do seu
travesseiro. Ela sabia que não precisaria de ajuda para fazer com que seus sonhos
fossem sobre Rick essa noite, mas uma pequena flor debaixo do travesseiro da
pessoa nunca é demais.
Manter-se flutuante em seu mundo dos sonhos não foi difícil essa noite ou até
mesmo na manhã seguinte, quando ela se apressou para a aula. De um jeito
louco, porém feliz, a inocência disso tudo estava dando a ela uma sensação que
durou mais do que ela pensou que duraria. A parte engraçada era que ela não
queria contar para ninguém. Ela não queria se apressar para o quarto de Nicole
ou ligar para Cris. Por agora, isso era a experiência especial compartilhada por
Rick e Katie e não alguma coisa que Katie estivesse pronta para colocar em
discussão.
Uma coisa ela tinha certeza sobre o evento da Noite da Pizza: ela queria parecer
bem. E cheirar bem.
Com duas horas inteiras para se preparar, Katie revistou uma caixa no chão do
seu armário procurando pra ver se ela tinha algum gel de banho não utilizado ou
loções que poderiam realmente somar algo ao seu banho. Ela encontrou uma
espuma em spray perfumado de pêssego para se depilar, mais da máscara facial
verde de Nicole e uma caixa de clareador de cabelos. Ela tinha comprado a caixa
no começo do verão quando ela estava se sentindo deprimida por trabalhar todos
os dias e também por ir para a escola de verão. Já que ela não poderia gastar
tempo lá fora no sol ou ir à praia, ela calculou que poderia muito bem parecer
que tinha feito isso.
Seu verão estivera, no entanto, ocupado demais para um pequeno mimo e Katie
nunca tinha aplicado o clareador no seu cabelo. Ela tinha tempo hoje. Checando
a data de validade na caixa, ela leu as instruções e decidiu:
- Por que não?
Colocando pra fora todo o conteúdo, Katie foi passo-a-passo, espremendo a
solução do iluminador dentro da pequena bandeja de plástico e misturando-a
com a mistura fedorenta da outro pequeno pote. Com um pequeno rodo de
plástico engraçado, ela aplicou a coisa pastosa em seu cabelo começando em
uma parte, conforme as instruções indicavam.
Uma vez que os seus cabelos estavam profundamente imersos na solução acre,
Katie colocou a touca de plástico fornecida e checou o relógio. Ela tinha que
esperar de doze a dezessete minutos antes de enxaguar. Dando o pontapé inicial
no modo multitarefa, ela aplicou a máscara facial e prontamente abriu a janela e
virou-se para o seu pequeno ventilador. A combinação de todas as fragrâncias era
demais. Ela decidiu esperar para usar a espuma depilatória de pêssego no
momento do banho.
Com a sua energia restante, Katie trocou os lençóis da cama dela, alisou o seu
edredom e estendeu as roupas que ela queria usar. Levou exatamente doze
minutos. Ela desceu ao corredor que dá para o banheiro, evitando ser vista por
alguém. Uma vez no chuveiro, ela assistiu enquanto a cor dos seus cabelos e o
verde do seu rosto concentravam-se no chuveiro, fazendo uma sombra estranha
de marrom no azulejo.
O spray de espuma depilatória de pêssego refrescou bem o ar e Katie saiu do
chuveiro bem quando outras três mulheres do andar entraram com pressa de se
prepararem para a noite. As três estavam conversando sobre a noite da pizza.
Katie sentiu uma pontada de decepção, ou talvez fosse ciúme, já que nenhuma
das mulheres do seu andar tinha parecido tão empolgada quanto agora com o
”Evento do Hall” que ela tinha organizado no começo do ano. Aquele evento não
era para ser um encontro de casais e muita gente não conhecia uns aos outros
ainda. Mas agora já tinha passado muito tempo daquele ano para que eles
começassem a ficar empolgados com os eventos sociais. Ela sabia que deveria
estar agradecida pelo entusiasmo estar alto para o evento dessa noite.
Tão logo ela entrou em seu quarto, Katie permaneceu na frente do espelho com
a toalha ainda enrolada em volta da sua cabeça. Uma erupção de remorso por
estar correndo risco veio sobre ela. E se essa for uma das coisas mais
precipitadas que você já fez? E se não for? E se você acabar gostando disso? Só
tem uma maneira de descobrir.
Mas ainda não.
Ela virou as costas para o espelho, procurando ao redor pelo seu secador e se
apoiou na cintura enquanto secava a parte de baixo do seu cabelo primeiro.
Levantando-se e dando uma pequena balançada na cabeça, ela rapidamente
secou o restante do seu cabelo sacudindo-o desordenadamente. Ela queria que
ele parecesse despojado quando virasse.
Desligando o secador e respirando profundamente, Katie soltou um ”ta-rã”
otimista e virou.
O que ela viu no espelho a chocou.
Seu cabelo estava maravilhoso.
Ela amou. A identidade ruiva dela ainda era dominante, mas as luzes deram um
destaque beijado de sol, um toque loiro que clareou o semblante dela e
acentuou o seu rosto brilhante, graças à máscara verde.
- Eu não acredito, ela murmurou. Eu fiz alguma coisa que deu certo. Eu amei
meu cabelo!
Esse momento, não importava o quão pequena era a vitória, não era para ser
desperdiçado. Katie se vestiu rapidamente, se divertiu um pouco com a sua
maquiagem e então se levantou de novo e tirou uma foto de si própria com o seu
telefone celular.
Ela enviou a foto para Cris com uma mensagem de texto dizendo: ”Eu clareei o
meu cabelo. Amei!!!”
Katie olhou no relógio e percebeu que as suas pequenas vitórias continuavam. Ela
estava pronta e estava adiantada. Subitamente, ela era uma mulher com opções.
Ela poderia ir ao salão de entrada e ajudar caso os seus companheiros AR‟s
encarregados do evento precisassem dela. Ela poderia tirar um super cochilo. Ela
poderia checar o seu e-mail. Ela poderia passear corredor abaixo e ver quantos
elogios receberia pelo seu novo look.
Isso era ótimo. A vida era doce. Katie não se lembrava da última vez em que se
sentira assim.
Com um sorriso para si própria no espelho, ela pensou: Talvez o beijo de Rick na
noite passada realmente tenha me tornado uma princesa.
O pensamento a encantou, assim como a lembrança do beijo dele. Já era quase a
octogésima vez que ela pensava sobre isso. E todas as vezes que ela considerava
o jeito que ele tinha sido tão romântico beijando-a, Katie sorria. O sorriso se
formava apenas nos cantos dos seus lábios fechados. Um sorriso de Monalisa.
Como Monalisa, Katie tinha um segredo. Um segredo delicioso. Um segredo que
ela eventualmente revelaria a Cris. Mas no momento, o segredo dela não estava
diluído. Era somente dela. Dela e do Rick.
Eu queria saber se o Rick já contou para alguém. Os rapazes fazem isso? Para
quem ele poderia contar? Eli? Ted? E se ele tiver contado para o seu irmão ou
para os seus pais? Eles vão me olhar de maneira diferente quando me virem no
dia de Ação de Graças?
Katie decidiu que ela definitivamente deveria contar para Nicole. E para Julia.
Esse seria um bom momento da vida dela para compartilhar com Julia e
comemorar de alguma forma. Oh, e Trícia. Trícia ficaria sabendo eventualmente,
já que Rick, Ted e o marido de Trícia, Douglas, eram tão próximos. Trícia deveria
ouvir essa novidade de Katie antes de ouví-la de Douglas.
E Selena! Eu deveria mandar um e-mail para ela no Brasil e contar a ela. Quanto
tempo eu tenho agora?
Checando o relógio na escrivaninha outra vez, Katie decidiu esperar para enviar o
e-mail a Selena. Ela avançou para um dos botões de rosa branca e tirou-o do
vaso. Seria divertido usar a rosa de alguma forma esta noite, mesmo que fosse
somente uma noite da pizza e não uma noite de baile.
Katie tentou descobrir uma forma dela poder afixar a flor no seu cabelo. Não deu
certo. Ela tentou atrás da orelha, no estilo havaiano. Não ficou bom. Entre os
dentes, no estilo de uma dançarina latina de flamenco? Ela ergueu as suas mãos
de lado e bateu-as duas vezes, pisando no salto do sapato dela para dar ênfase.
Não.
A rosa foi levada de volta para o vaso e Katie foi para fora do quarto. Passeando
corredor abaixo, ela bateu na porta de Nicole e encontrou a sua companheira de
andar no meio de uma tentativa na qual Nicole chamava”Possibilidade de roupa
número quatro. Não, número cinco.”
Vendo as opções empilhadas na cama de Nicole, Katie disse:
- Agora, é por isso que eu estou subitamente contente por ter um guarda-roupas
minimalista. Eu levaria umas seis horas para vasculhar todas as combinações que
você tem aqui.
Nicole puxou uma camiseta branca sobre a sua cabeça e, enquanto fazia isso, ela
notou o cabelo de Katie.
- Katie, o seu cabelo! Eu amei! Quando você teve tempo para fazer isso?
- Eu fiz uma hora atrás.
- Você mesma fez? Eu estou impressionada. Está deslumbrante.
- Obrigada. Katie virou-se para olhar a sua imagem no espelho de Nicole. No
reflexo, ela viu Nicole alisando os lados da camiseta branca e olhando pensativa.
- Você acha que essa camiseta está muito sem graça?
- Não se você a usar com uma de suas jóias divertidas. E quanto a um de seus
colares de conta?
- Ótima idéia. Nicole correu para a parede próxima à sua escrivaninha onde todos
os seus acessórios estavam pendurados em uma ordenação fashion, parecendo
mais uma peça de arte tridimensional do que um espaço útil para guardar coisas.
- Experimente o vermelho. Ou o turquesa com prata. Katie sugeriu. Ela deu um
passo à frente e tirou um dos colares do gancho. Esse é fofo. Você se importaria
de me emprestar?
- Claro que não. Ele vai ficar ótimo com a sua blusa azul. O que você acha desse?
- Fantabuloso12. Nada que você deva se preocupar. Você sempre fica ótima. E,
além disso, Eli é do tipo de cara de estilo discreto, assim você não precisa se
sentir como se você estivesse tentando impressioná-lo.
Nicole deu a Katie um sorriso apreciativo.
- Obrigada por me arranjar com ele. Eu ainda sinto que isso é humilhante, mas
pelo menos eu tenho um acompanhante. Estar com você e com o Rick vai tornar
isso divertido.
- Vai ser definitivamente divertido. Você já está quase pronta?
- Já. Deixe-me encontrar meus sapatos e escovar meus dentes. Não vai demorar
muito. Você pode ir à frente. Eu não quero fazê-la se atrasar.
- Não vou me atrasar. Eu estou adiantada.
Nicole chegou o seu relógio.
- Está mesmo!
- Eu sei. É como a noite do universo alternativo de Katie. Meu cabelo ficou
ótimo, eu gosto do que eu estou vestindo e eu estou adiantada. Isso nunca
acontece. Com uma balançada nas pontas dos seus cabelos, Katie disse: Eu acho
que eu vou saltar a caminho do salão de entrada e talvez cantar uma pequena
canção. Terra de contos de fadas combina comigo, não acha?
- Definitivamente. Se minha mãe estivesse aqui agora, ela diria que o Senhor está

12
Neologismo da Katie. Fantástico com fabuloso.
abençoando-a e ela citaria Tiago 1:17.
- Por que Tiago 1:17?
- Diz, „Tudo de bom que recebemos e tudo o que é perfeito vem do céu, vem de
Deus, o Criador das luzes do céu‟.
- E porque sua mãe citaria esse versículo bem agora? Katie sabia que o pai de
Nicole era pastor, então não era incomum que Nicole tivesse crescido com
versículos bíblicos como uma parte de sua vida diária. Contudo, Katie não estava
certa do que esse significava.
- Minha mãe sempre cita esse versículo quando as coisas vão bem. Ela diz que nós
devemos apreciar todos os presentes que Deus nos dá, inclusive os momentos
divertidos com amigos e até mesmo „noites de cabelo bom‟.
Katie queria contar a Nicole sobre certo presente ”bom e perfeito” que ela tinha
recebido na noite passada na forma de certo beijo de certo Príncipe Encantado.
Ela se segurou, contudo. Elas não tinham muito tempo. Esse assunto seria mais
bem conversado quando tivessem mais tempo de discussão disponível.
- Eu estou indo na frente, Katie disse. Vejo você em alguns minutos.
Sentindo-se radiante enquanto entrava no salão principal, a primeira pessoa que
Katie viu foi Eli. Ele sorriu quando a viu. O cabelo dele não estava desgrenhado
como o usual. Ele parecia limpo, do jeito que ele estava no casamento de Cris e
Ted, quando Katie o encontrara pela primeira vez.
- Rick deve estar aqui em alguns minutos, Eli disse.
- Nicole também. Aqui, quero dizer. Ela está vindo. Também.
Eli acenou com a cabeça enquanto Katie respirava e tentava dizer ao seu cérebro
que ela realmente precisava lembrar-se de usar frases completas quando ela
estivesse próxima desse cara.
- Eu tenho uma pergunta para você, Eli disse.
- Ok.
Raios! Isso ainda foi uma única palavra.
- Rick me contou sobre a confusão com o buquê que foi entregue aqui.
- Sim, foi uma confusão enorme. Deu tudo certo no final, graças ao Rick.
Aí. Agora você soa normal. Continue normal.
- Quando você me ligou outro dia, você estava tentando ver se era eu que tinha
lhe enviado as flores?
- Mais ou menos. Eu estava pescando pistas.
Eli inclinou-se para frente e olhou para ela mais intensamente.
- Por que você pensaria que era eu que tinha enviado as flores para você?
- Por causa do cartão. Rick te contou o que ele dizia?
- Não.
- Ele dizia, „Obrigado por dizer sim‟. Eu pensei que talvez isso significasse sim
para ir ao deserto, o que foi maravilhoso, a propósito. Eu fiquei pensando sobre
todas aquelas estrelas, como alguns minutos atrás quando Nicole estava citando
para mim um versículo sobre como bons presentes vem do Pai das luzes do céu,
eu imediatamente vi uma imagem na minha mente de todas aquelas estrelas . Eu
disse ao Rick que nós precisamos sair e ir até lá. Quero dizer, ele e eu estamos
saindo, óbvio, mas eu quero dizer sairmos para ir ao deserto algum dia.
Eli acenava com a cabeça, compreendendo as frases rápidas de Katie.
Ok, agora você está usando palavras demais. Diminua um pouco.
O salão de entrada estava se enchendo de gente rapidamente e o volume das
conversas estava aumentando. Katie olhou para a porta esperando por Rick e
então virava na outra direção para ver se Nicole estava chegando. Quando ela
virou de volta para Eli, ele parecia estar estudando-a com o seu olhar
penetrante.
Em um esforço para agir como seu eu ”normal”, Katie formou um retângulo com
o polegar e o indicador nas duas mãos.
- Tire uma foto, amigo. Dura mais.
- Mais que o quê?
- Mais do que encarar. Você estava me encarando.
- Desculpe. Um velho hábito. De uma árvore. Quando eu era uma criança. Agora
era Eli quem estava com frases parciais.
Katie inclinou a cabeça, esperando uma explicação.
- Em Zâmbia?
Ele acenou confirmando.
- Nós morávamos em um complexo, um lote com várias casas. Havia uma grande
árvore que era perfeita para escalar. Era bem próxima do posto de saúde. Eu
costumava me esconder lá, assistindo todas as pessoas irem ao posto. Eu podia
me esconder lá por muito tempo antes de alguém me notar e me dizer para
descer de lá.
- Bem, aqui vai uma pequena sugestão amigável, se você não se importar de eu
lhe dar. A maioria das garotas não gosta de ser estudadas. Então esta noite,
enquanto você estiver com Nicole, tente se lembrar de que você não está em
cima de uma árvore. Você estará com a minha amiga e ela é maravilhosa e nós
teremos um bom momento juntos, então você pode apenas relaxar.
- Entendi, Eli disse.
Katie olhou através da multidão procurando por Nicole e então para a porta da
frente procurando por Rick.
- E se nós tivermos um sinal? Eli perguntou.
- Um sinal para quê?
- Esta noite, se você me vir agindo como uma estranha criança da África, você
pode me dar um sinal para eu perceber.
Quando Katie olhou para Eli, ela percebeu pela primeira vez que ele poderia
estar nervoso sobre esse encontro. Ela sabia que se ela estivesse nesta posição,
sobre ir a um encontro às escuras, ela estaria nervosa também. Katie nunca
apreciou ser a sobra que seria arranjada com os amigos de outras pessoas.
Especialmente de última hora. Sua empatia por Eli cresceu.
- Ok, ela disse. Aqui está o meu favorito. Está pronto? Katie coçou a sobrancelha
direita e jogou o cabelo para trás.
- Vá em frente, Eli disse. Qual é o sinal?
- Aqui está. Ela fez de novo.
- Pareceu algo tão natural.
- Bem, Einstein, esse é o ponto. Você não quer um sinal com esse. Ela bateu em
seu ombro direito duas vezes e, com três dedos, bateu em seu antebraço.
Eli riu e em um profundo suspiro, ele pareceu relaxar totalmente.
- Você joga baseball, não joga?
- Softball, normalmente. E você?
- Eu cresci jogando futebol. Beisebol está na minha lista de esportes para
experimentar enquanto eu estiver aqui. Eu ainda não tive oportunidade.
- Nós temos que ver o que podemos fazer para mudar isso. Eu estou louca, há
muito tempo, por um bom jogo no campo de baseball. Não há nada melhor do
que um grande jogo de softball num sábado à tarde. Exceto no verão. É quando
os jogos noturnos são os melhores. O ar é muito bom e o jeito que a terra se
levanta das bases nos holofotes, é como...
Antes de Katie terminar a sentença ela viu Nicole timidamente parada atrás de
Eli, esperando que Katie terminasse.
- Oh, ei. Nicole está aqui. Bom. Nicole, este é Eli. Eli conheça a Nicole.
Nicole estava ótima. Os modos dela eram perfeitos. Ela veio casual e com uma
roupa fresca e Eli compreendia cada palavra que ela falava, inclinando a cabeça
e escutando cuidadosamente. Quando pareceu que ele estava caminhando para
ser tornar um pouco mais focado, Katie deu alguns passos e parou bem atrás de
Nicole. Ela passou a mão sobre sua sobrancelha e jogou os seus cabelos para trás.
Eli captou a dica de Katie e respondeu com um sinal à altura. Ele alisou o seu
cavanhaque com o polegar e o indicador. Pelo menos Katie pensava que era um
sinal de retorno. Foi bonitinho. Se fosse o seu sinal de ”Okay”, Eli o transmitiu
sem esforço e sem tirar os olhos de Nicole. Mas a sua postura relaxou e ele
pareceu menos intenso, o que era bom.
Katie olhou em volta e viu Rick parado há mais ou menos duzentos metros de
distância e olhando na direção dela com um grande sorriso no seu rosto bonito.
Katie piscou para ele, como se isso fosse seu sinal especial de olá para ele. Sua
”piscada de Monalisa”, como ela resolveu chamá-lo.
Rick não piscou de volta.
Ela levantou a sua mão em um pequeno aceno e Rick pareceu mover o seu olhar
de Nicole para Katie. Ele levantou a mão e acenou para ela vir até onde ele
estava.
Meu príncipe chegou.
Capítulo 14
- Você parece ótima, Rick disse.
- Você também. Katie colocou a mão na de Rick.
Com um gesto discreto, ele perguntou:
- Como estão indo aqueles dois?
- Muito bem na verdade. Eu acho que Eli estava nervoso. Foi fofo.
- Ele estava nervoso, tudo bem. Aparentemente ele não tem tido muitos
encontros desde que se mudou pros Estados Unidos. E a Nicole? Estava nervosa
também?
- Até que não. Ela mudou de roupa várias vezes até decidir o que usar. Mas isso é
normal. Especialmente quando você tem várias opções para escolher como ela
tem.
Rick parecia estar estudando Nicole enquanto Katie falava.
- Ela fez uma boa escolha. Está fantástica.
Katie deu um passo atrás e deu a Rick um olhar curioso.
- O que? Ele perguntou, vendo a expressão dela.
- Se eu não soubesse bem, eu diria que você a está checando de mais.
- Eu só estou dizendo que ela fez uma boa escolha. Você disse que ela mudou
várias vezes.
- Eu sei. OK, vamos lá. Katie puxou Rick pelo salão lotado, ansiosa em deixar
para trás esse assunto antes que ela e Rick começassem uma discussão.
- Eu tenho que fazer um anúncio.
Katie fez seu caminho para o centro do salão e teve a ajuda de Rick para subir na
mesa de café.
- Ok, todos, escutem!
Como a conversa não parou, Katie colocou os dois dedos nos lábios e deu um
assobio. Isso chamou a atenção.
- Obrigada! Oi, Sejam Bem Vindos! Se vocês estão aqui pela Noite da Pizza de
Casais, estão no lugar certo. Se vocês estão para o estudo da turma 101 de
Biologia, vocês não estão no lugar certo.
A piada dela não surtiu muito efeito então Katie decidiu ir direto ao ponto.
- Ok, então assim será nossa noite. Talita e sua tropa estão do outro lado na
cafeteria preparando tudo para nós irmos como um time fazer pizzas. Todos
precisam ter um time de 4 pessoas. Se você não tem 4 no seu grupo ainda, você
tem a chance de achar outro casal mas... Espera! Escutem! Não tentem achar os
pares ainda. Deixe-me terminar as instruções primeiro.
As vozes no local cheio continuavam a aumentar então Katie teve de assobiar de
novo. Ela olhou a expressão de Rick, ele não parecia ter gostado. Ela guardou a
expressão de desaprovação dele.
- Então todos irão caminhar até a cafeteria e ficar em grupos de 4 pessoas. Cada
grupo terá a massa de pizza, molho e queijo na mesa. Então vocês poderão
selecionar no máximo 5 recheios e irão fazer suas pizzas o mais criativo que cada
um puder. Seu grupo irá comer sua própria pizza, então não coloquem nenhum
objeto estranho.
- Como um sapato! O comentário veio de Vick e estava ligado a uma piada
interna entre ela e Katie. Estava se referindo ao incidente do ano anterior
quando Katie colocou um sapato de Vick em um forno. A forma que todos riram
parecia que mais pessoas sabiam sobre o incidente com o sapato.
- Continue, Katie. Julia estava do outro lado de Katie e mencionava que ela
podia completar as instruções antes de se perder na multidão.
- As pizzas serão premiadas por categoria então se divirtam, escolham seus
grupos de 4 pessoas, e é isso. Vocês podem ir para a cafeteria agora.
A agitação de vozes imediatamente cresceu assim que Katie terminou de falar e
desceu da mesa de café.
- Por que eu aceitei fazer isso? Ela perguntou a Rick. Talita poderia dar as
instruções.
- Sim, mas a Talita conseguiria assobiar como você? Rick perguntou.
- Provavelmente não.
- Então eu acho que você tem a resposta. Vamos tentar achar Nicole e Eli antes
que eles sejam atropelados.
Rick fez um caminho pelas pessoas se movendo até onde estavam Eli e Nicole
onde Katie os deixou. Nicole parecia um pouco frustrada, mas se iluminou
quando viu Rick e Katie.
Os quatro andaram pelo campus com Rick conduzindo a conversa. Eles entraram
na cafeteria e acharam uma área aberta com os ingredientes básicos para pizza
deles. Alguns grupos já estavam colocando calabresa, azeitonas e vários outros
recheios.
Eles se posicionaram em volta da mesa e olharam um para o outro.
- Eu pensei que poderíamos fazer uma grande face feliz, Katie disse. Vocês
sabem, olhos de calabresa e...
- Ou, Rick disse, nós podemos focar em fazer a mais gostosa já que nós vamos
comê-la.
- Mas é uma competição de formas, Katie disse.
- E nós temos que comê-la, Rick repetiu. Dois olhos de calabresa para quatro
pessoas não é uma boa escolha.
- E se nós tentarmos fazer uma fofa e deliciosa? Nicole perguntou. Nós podemos
tentar fazer uma forma única. Não precisa ser redonda, precisa? Nós podemos
fazer de uma forma diferente, como uma casa.
- Uma casa? Katie repetiu.
- Nicole chegou no ponto, Rick disse. Talvez não uma casa, mas alguma outra
coisa. Gostei como você conduziu, Nicole.
Katie sentiu como se estivesse virando uma grande produção maior do que ela
esperava. Ela tinha um dono/chef de um café em seu time com uma grande
criatividade. Virando para Eli ela disse:
- O que você acha?
- Eu não sou um expert na área, então eu vou deixar vocês me dizerem o que
precisam que eu faça.
Rick puxou para cima suas mangas.
- Me deixe lavar as mãos e eu irei trabalhar na massa. Vocês vejam qual recheio
nós podemos usar. Peguem cogumelos, lingüiça e cebolinha, se eles tiverem
alguma. Nós precisamos disso, o gosto é muito bom.
Rick saiu do restaurante e Katie virou para Nicole.
- Cebolinhas?
- São como pequenas cebolas. Você quer que eu vá buscar os recheios?
- Ótima idéia, Katie disse. Para surpresa dela, Eli não seguiu Nicole e Nicole não
pareceu notar que não havia ninguém com ela.
- Então, Katie disse, Como está indo com Nicole?
Eli parecia muito mais relaxado do que mais cedo. Ele não deu nenhuma
resposta. Ao invés ele disse:
- Seu cabelo está ótimo.
Katie já havia esquecido que descoloriu o cabelo.
- Oh, obrigada.
Ela lembrou que Rick não disse nada. Ele geralmente era bem atencioso, mas
aparentemente ele não havia notado.
Quando ele voltou e colocou as mãos na massa, Katie disse:
- Você notou meu cabelo?
- Eu notei, parece bom, ele disse, a atenção dele estava na massa.
- Nós podemos decidir o formato da pizza?
Nicole chegou cheia de coisas para o recheio.
- Eu tive uma idéia. E se nós a fizermos retangular como um quadro? Vocês
sabem, muitas azeitonas em volta para fazer uma moldura. Então nós podemos
fazer um quadro com todos esses diferentes recheios.
- Você diz uma foto da Monalisa? Katie perguntou.
Nicole riu.
- Eu não sou tão ambiciosa! Eu estava pensando em algo simples como uma
paisagem.
Katie não tinha pegado a visão, mas Rick parecia estar na mesma linha que
Nicole. Ele habilidosamente colocou a massa na forma retangular e fez as bordas
enquanto Nicole colocava as fileiras de azeitonas. Eli e Katie assistiam.
- Isso é ruim, nós não podemos usar essa pasta ao invés de molho de tomate, Rick
disse. Nós podemos fazer uma paisagem mais realista com uma base de verde.
Esse espinafre irá servir bem, para o topo da árvore. Boa escolha com o
espinafre.
Katie queria rir, mas manteve a vontade pra si mesma. Nunca em um milhão de
anos ela esperaria ver Rick trabalhando em uma pizza, ainda mais como ele era,
fazendo uma árvore com lingüiça e dizendo a Katie para „trabalhar com os
cogumelos‟ para fazer com que eles pareçam flores.
- Por que eles não podem ser apenas o que são? Um monte de cogumelos?
Rick estava decidido a fazer o design para Nicole, que tinha uma faca apenas pro
caso de precisar cortar a calabresa em formas especificas.
- Eu vou procurar alguma coisa pra gente beber, Katie disse. Toda essa
criatividade está me dando sede.
- Eu vou com você, Eli disse.
Os dois passaram pelo resto dos outros grupos e pararam ombro a ombro para ver
o que estava acontecendo. A maioria deles estava apenas colocando o molho
numa não tão redonda pizza e colocando a calabresa de uma forma não tão
criativa ou escrevendo suas iniciais com azeitonas.
- Olha lá. Eli apontou para o grupo de Vick no final da mesa. Segunda carinha
feliz que eu vejo.
- Ok, então eu não sou original.
Ele parou Katie e olhou para ela com um olhar intenso.
- Sim, você é. Você definitivamente é original.
- Ok, ela disse vagarosamente. Eu sou original. Mas minha decoração de pizza
não parece.
Eles estavam próximos à máquina de refrigerante e Eli estava pegando copos com
gelo.
- Nós podemos ir lá e pegar bebidas para todos. O que você acha?
- Certo. Pode ser uma coisa boa a fazer. Ela procurou por uma bandeja de
cafeteria e cada um deles encheu as bandejas com copos cheios de gelo e
refrigerantes. Eles andaram em volta, oferecendo as pessoas uma bebida. Katie
gostava de fazer esse tipo de coisa. Isso dava a ela a chance de interagir com
todos.
Eli parecia gostar de servir bem. Ele não tinha muito a dizer para todos, mas ele
conhecia mais pessoas do que Katie e ele se lembrava de todos pelo nome.
Os dois fizeram uma segunda rodada de bebidas. Quando eles chegaram de volta
na mesa deles, Rick e Nicole estavam prontos para alguns copos de refrigerante.
- Isto irá caber no forno? Katie perguntou, porque a pizza deles era a maior da
mesa.
- Sim. Rick passou o braço pelos ombros de Katie. Espere para ver nosso prêmio
de maior pedaço.
- Melhor ainda, Nicole adicionou, Espero para ver Julia e Greg e os outros jurados
virem isso. Eu acho que nós já ganhamos a competição fora da cozinha.
Rick riu e levantou seu copo plástico para brindar com Nicole pela grande
contribuição dela. Os dois brindaram. Katie virou para Eli, para incluí-lo no
brinde. Enquanto Katie bebia um pouco de seu refrigerante, ela notou que Rick
estava com o seu antigo sorriso de flerte para Nicole. Ele continuou com o braço
em volta de Katie e estava deixando claro que eles estavam juntos, mas o seu
sorriso para Nicole estava um pouco demais na opinião de Katie.
No começo da semana Katie tinha pensado calorosamente do fato de que Rick
era muito mais seu agora do que na época da escola.
- Bem na hora para checar nossa pizza, Rick disse pegando seu celular que estava
tocando.
- Você colocou um alarme? Katie perguntou.
- Sim, não quero que nossa pizza queime. Vamos.
Os quatro deixaram a mesa e foram para o forno numero 6 do Crown Hall, os
ajudantes da cafeteria estavam com grandes pás de tirar pizza do forno.
- O tempo dessa já está bom, Rick disse, estando um pouco mais alto e esticando
o pescoço para ver o que estava acontecendo nos outros fornos. É, parece que
nós vamos precisar de 3 minutos ou mais. Apenas para assar mais as bordas.
Nenhum dos outros estudantes estava dando direções especificas de cozimento
para os outros ajudantes. Pelos olhares dos outros, eles perceberam que estavam
sendo exigentes. Uma das pizzas não teve todo o queijo derretido. Os juízes
estavam colocando seus comentários e, graciosamente, Julia disse que a pizza
precisava voltar ao forno. Depois de tudo, Katie viu que o evento tinha ido muito
bem. Todos estavam se divertindo e este era o objetivo. Todos exceto Nicole e
Eli. Não que Nicole tivesse que dar atenção somente a ele, mas afinal era um
encontro. Os quatro assistiram sua pizza retangular sair do forno parecendo
muito boa.
Quando a pizza estava pronta para os jurados olharem, todos olharam e sorriram.
Rick mumurou:
- Nós estamos prontos pra vocês.
Ele virou para Nicole e bateu em uma de suas mãos como um jogador de
basquete. Os dois agiram como se praticamente a vitoria já fosse deles.
O que está acontecendo aqui?
Katie tentou dar a si mesma alguma perspectiva. Ela lembrou a si mesma como
ela tinha ficado chata durante o verão quando Carley ganhou atenção extra de
Rick. Carley depois disse que ela estava fazendo um jogo para ver se ela poderia
fazer Rick notá-la e isto era pra aborrecer Katie. O ideal de Carley era inusitado
e nasceu quando Katie considerou que ela era insegura.
Os esforços de Nicole para conseguir a atenção de Rick não vinham do mesmo
lugar. Ela não era como a Carley.
Eu estou sendo muito sensível? A Nicole está apenas tentando se ajustar e ter
um tempo divertido e eu estou interpretando as intenções dela com Rick de
forma errada? Então, o que tem de mais se eles tiveram um momento legal de
comprimentos de vitória?
Katie lembrou a si mesma que ela e Eli também tinham um sinal secreto que eles
inventaram antes do evento. Ainda, o gesto de Rick e Nicole não tinha incluído
ela. Nicole poderia brindar com Eli e bater as mãos com ele. Tentando afastar
esses pensamentos incômodos. Katie foi para perto de Rick enquanto estava
dando a bandeja com a pizza finalizada para os juízes. Os quatro estavam livres
para voltar pra mesa deles e mergulhar em sua criação. Com Katie ao seu lado,
Rick fez seu caminho mais longo até a mesa. Foi engraçado ver todos pegando
seus pedaços de pizza simultaneamente e enfiando tudo na boca.
Oh, meu namorado competitivo! Você me mata!
O processo de cozimento tirou um pouco as cores de sua moderna paisagem. As
fatias de cogumelos haviam ondulado agradavelmente e alguns deles não
pareciam flores. O tronco da arvore, feito de lingüiça, ficou bem marrom e as
folhas de espinafre ficaram bem com os pedaços de tomate imitando as maçãs.
Era uma paisagem surreal, mas funcionou bem.
- Eu tenho que cortar isso, Nicole disse enquanto os quatro estavam sentados
com a pizza na frente deles. Todos que passavam comentavam, incluindo
acusações contra Nicole de que ela havia trazido um especialista para ganhar a
competição.
- Ele não está comigo, Nicole disse, olhando em volta como se ela estivesse
acabado de lembrar que ela tinha saído com Eli naquela noite. Rick é namorado
da Katie.
Depois de muito tempo temos que relembrar esse fato significante, eu estou
pronta para colocar minha apreensão de lado e não deixar que nada de louco
aconteça.
Nicole sorriu para Eli, que estava sentado do outro lado da mesa em frente a ela
e disse:
- Obrigada por ter trazido bebidas pra nós Eli.
- Era o mínimo que eu podia fazer para uma artista tão focada, ele disse.
Nicole levantou de seu lugar do outro lado de Rick e deu a volta na mesa onde Eli
estava sentado sozinho. Ele parecia feliz que eles tivessem esse encontro e Katie
poderia se acalmar e finalmente sentir pronta para aproveitar o encontro duplo
deles.
- Quem quer ter a honra de cortar o primeiro pedaço? Rick perguntou.
- Espere! Katie disse. Nós devemos tirar uma foto primeiro. Onde está seu
telefone com câmera?
Rick pegou o celular e tirou varias fotos. Ele tirou uma de Eli e Nicole parados
lado a lado sorrindo. Katie pensou que eles faziam um belo casal. Ela desejou
que Nicole pensasse a mesma coisa quando visse a foto. Nicole, no entanto, não
pareceu ter sentimentos por Eli de uma forma ou de outra, mesmo depois de Rick
ter enviado a foto por e-mail no sábado de manhã. Ela e Katie estavam dirigindo
pela cidade para comprar algum ”bom” café na Bella Barista quando Katie
começou a falar da Noite da Pizza de Casais com Nicole.
- Então quais foram seus pensamentos sobre Eli? Katie perguntou.
Nivole virou para ela, fez uma cara de ”mais ou menos” e manteve os olhos na
estrada.
- Ele é um cara profundo e cuidadoso, Katie disse. Você deveria ver como as
pessoas reagiram com ele quando nós estávamos distribuindo as bebidas. Ele
conhece cada um do campus e todos pareciam respeitá-lo.
- Ele é um cara legal, Nicole disse.
- Mas...
- Mas ele não é muito meu tipo.
- O que é seu tipo? Mais como o Rick, certo?
Nicole sorriu para Katie com um pouco de pânico ou outra coisa menos tranqüila
em sua expressão.
- Eu acho o tipo do Rick ótimo, Nicole disse rapidamente. Ele é doido por você.
Ele não teria um irmão?
Katie sentiu seus ombros relaxarem.
- Sim, de fato, Rick tem um irmão.
- Ele tem?
- O nome dele é Josh e, quer saber? Não é uma má idéia afinal! Eu posso ver você
com o Josh. Eu estava mesmo para te chamar para ir ao Jantar de Ação de
Graças na casa dos Doyles. Isso seria otimo! Você gostaria de vir?
- Você tem certeza que está tudo bem com os pais do Rick?
- Sim. Ele já perguntou a mãe dele. Ele está convidando Eli e eu estou
convidando você.
Nicole sorriu para Katie de novo.
- Eli também vai?
- Sim, apenas porque Rick o convidou. Eu nem sei se ele vai mesmo, mas foi
convidado, assim como você. Você ficaria desconfortável se ele fosse? Eu digo,
você não viria para o Jantar de Ação de Graças porque o Eli poderia estar lá?
- Não, não, não. Eu realmente estou tentando não fazer um grande caso com
isso, Katie. Desculpe se pareceu isso. Eu apenas sinto que Eli não é pra mim,
sabe? Ele chegou de uma forma muito intensa, antes quando você falava dele,
ele não parecia complicado. Eu gosto de caras mais complexos, sabe? Mais
misteriosos.
Katie pensou sobre a forma que Nicole falou de Eli. Ele era roceiro. Katie
apreciava isso nele. Ela gostava que Rick vestisse camisas sofisticadas, mas ela
também gostava da forma que Eli vestia as camisas que pareciam como se elas
tivessem uma longa jornada. Ela gostava da forma que Rick parecia sempre bem
e seu cabelo estava sempre bem cortado, mas ao mesmo tempo algo sobre a
forma desarrumada de Eli a faziaela sentir como se não precisasse checar sua
própria aparência antes de começar uma conversa com ele. A forma relaxada de
Eli dava a Katie a liberdade de ser igualmente relaxada.
- Homens misteriosos estão em falta, Katie disse. Rick é um contínuo enigma e
eu posso te dizer que esse não resolvido quebra cabeça de sua mente é
exaustivo. Bem, não exaustivo. Desafiador seria uma palavra melhor. Rick me
deixa caidinha. Ele me deixa sonhando.
- Eu amo isso num relacionamento, Nicole disse. Não que eu já tenha tido muitas
experiências, mas eu gosto de surpresas.
- Josh pode ser como o Rick nesse departamento. Eu não o conheço muito bem.
Eu vou dizer ao Rick que você irá no Jantar de Ação de Graças e ele terá a
chance de preparar o Josh.
- Não! Não diga nada sobre me apresentar ao irmão dele! Por favor! Eu
honestamente acho que isso foi o grande impedimento pros meus sentimentos
com o Eli. Desde o inicio era uma armação e nós dois sabíamos. Eu acho que
saber disso parece que estou desesperada por um encontro e isso acaba deixando
o nosso carisma meio de lado, sabe?
Katie concordou. Ela estava entendendo mais fácil agora como as coisas
aconteceram na noite passada. Katie já esteve em encontros como esse e ela
sabia exatamente o que Nicole estava dizendo. Elas entraram no estacionamento
do shopping e Nicole estacionou. As duas entraram no Bella Barista, que estava
cheia por ser um sábado.
Enquanto elas esperavam na caixa registradora, Katie lembrou como Rick havia
beijado ela na primeira vez que estiveram lá e então como ela havia devolvido o
beijo na outra vez quando ela pagou. Essa pequena lembrança, em frente à caixa
registradora do Bella Barista, era sempre um pensamento mágico pra ela. Rick
não havia beijado ela nos lábios, mas isso estava bom para Katie. Eles haviam
transformado isso em parte de seu relacionamento devagar por vários meses e
agora ela sentia como se cada beijo não dado tivesse um grande valor e pudesse
ser guardado como uma moeda de ouro.
Se ela tinha algum problema sobre Rick não dar a atenção devida para ela na
noite passada, todos esses pensamentos foram embora enquanto ela se lembrava
do beijo ali na cafeteria. A única pequena imagem que não deixava sua cabeça
foi o que aconteceu enquanto os vencedores da Noite da Pizza eram anunciados.
Todos pareciam saber que os vencedores seriam Rick, Katie, Nicole e Eli. Então
quando Greg chamou seus nomes, mesmo Katie estando ao lado de Rick, em
frente a todos, Rick foi até Nicole primeiro e a cumprimentou com um abraço da
vitória.
Foi um abraço rápido sim, bem merecido para Nicole que havia feito o design da
pizza.
Mas Katie ficou lá parada sozinha perto de Eli. Os dois deram um ao outro
embaraçosos tapinhas nas costas, enquanto eles sorriam um para o outro. Katie
esperou Rick voltar. Quando ele voltou, ele deu a ela um abraço da vitória
enquanto todos olhavam e aplaudiam. Foi fofo, engraçado e romântico. Katie
preferiria é claro que Rick tivesse abraçado a ela primeiro. Ela não imaginou que
ele abraçaria Nicole. Katie apenas queria que ela fosse a primeira com Rick
quando haviam varias pessoas em volta.
Isso, ela decidiu, enquanto pediu outro chá de jasmim, sempre seria um desafio
com Rick, seu quebra cabeças favorito. Ela tinha o sentimento de que nunca
teria uma forma completa de entendê-lo. Era melhor deixar as coisas andarem
de forma que estavam e não mudar ou reclamar sobre a maneira do
relacionamento deles. O ponto era, ela cresceu, se importava com seu
relacionamento que ela sempre quis ter com Rick e mesmo com todos esses
obstáculos em potencial, estava funcionando. Por que isso estava mexendo com
ela?
Capítulo 15
Katie tinha duas conversas pendentes e, na terça-feira de manhã, ela sabia que
era melhor tentar ter essas conversas antes do feriado de Ação de Graças que era
apenas daqui dois dias.
A primeira conversa era com Julia, com quem Katie tinha concordado em falar
após o jogo de softball delas e a segunda conversa era com Cris. Ela precisava
contar a Cris sobre ter beijado Rick.
Katie não tinha que contar a sua melhor amiga, mas ela queria. Ninguém sabia
ainda. Em certa ocasião, ela considerara se abrir para Nicole; entretanto, depois
da estranha noite de pizza, Katie decidiu que contraria primeiro a Cris e depois
deixar Nicole a par das novidades.
Fã da frase que dizia ”matar dois coelhos com uma cajadada só”, Katie marcou
um horário para se encontrar com Julia às quatro da tarde de terça-feira e
depois, após pegar o carro de Nicole emprestado, iria se encontrar com Cris
assim que ela saísse do trabalho às cinco.
O que Katie não contava era com o fato de que o carro de Nicole precisaria levar
alguém ao aeroporto.
Katie encontrou Julia no quarto dela às quatro e começou a ”vender seu peixe.”
- Você gostaria de ir ao Ninho da Pomba para comer algo? Eu pago. Eu até pago a
gasolina porque, na verdade, eu planejava encontrar a Cris, mas o carro que eu
iria pegar emprestado não está disponível.
- Sem problema, Julia disse. Deixa eu dizer ao Greg onde estou indo. Ele está
dispensando muitos estudantes mais cedo para o feriado de Ação de Graças, e eu
disse que o ajudaria se ele ficasse sobrecarregado.
- Muitos deles estão indo pra casa mais cedo. Eu estou sentindo que as aulas
amanhã terão pouquíssimos alunos. Eu me pergunto por que eles não cancelam
todas as aulas de quarta?
- Eu me lembro de me fazer a mesma pergunta quando era aluna, Julia disse.
Você está pronta pra irmos?
- Pra casa?
- Não, quis dizer se estava pronta para ir ao Ninho da Pomba. Eu estou pronta se
você estiver.
Várias pessoas as pararam para fazer alguma pergunta rápida ou só mesmo pra
conversar enquanto elas passavam pelo saguão do Crown Hall e iam para o
estacionamento do lado de fora. Julia tinha um básico Sedan quatro-portas azul e
a capa dos bancos era de flores havaianas azuis e brancas.
- Como está sendo pra você ficar sem carro? Julia perguntou.
- Só tem uma semana e meia, e eu já me sinto desamparada, Katie disse. Eu
estava planejando ir à igreja no domingo, mas acabou dando numa confusão. Eu
disse ao Rick que o encontraria lá, e aí a Nicole não podia ir porque ela tinha um
trabalho enorme para fazer para segunda-feira. Mas ela já tinha emprestado o
carro para outra pessoa. Na hora que eu descobri isso tudo, já era tarde demais
para Rick vir me buscar e ainda conseguirmos chegar a tempo na igreja, daí eu
apenas fiquei aqui no campus e fui tomar café da manhã. Ninguém vai tomar
café da manhã aos domingos, você sabia disso? Eu levei minha bíblia comigo e
tive meu momento particular e tranqüilo com o Senhor. E acredite, foi um
momento tranqüilo, muito tranqüilo.
- Como estão as outras coisas? Julia perguntou enquanto saía da entrada principal
da Rancho Corona e começou a virar morro abaixo.
- Bem. Está tudo bem. Eu vou à casa nova dos pais de Rick no dia de Ação de
Graças, e Nicole vai vir comigo. Vai ser divertido.
- Eu notei na noite de pizza que Nicole e Rick se dão muito bem.
Katie olhou para Julia para ver se ela deveria estar lendo algo nas entrelinhas do
comentário de Julia. Julia não pareceu estar fazendo nada mais que um simples
comentário.
- Sim. Eles se dão bem. Eu espero conseguir juntá-la com o irmão do Rick, o
Josh. Rick e eu tentamos juntá-la com o Eli, mas não deu em nada.
Julia dirigiu em silêncio cerca de um quilômetro e meio até que Katie disse:
- Você teve esses mesmos tipos de drama quando estudava aqui?
- Claro. A maioria dos meus „dramas‟ girava em torno do meu namorado.
- Seu namorado? Katie olhou para Julia de novo, esperando que uma chuva de
detalhes viesse a seguir.
- O nome dele era Trent.
- Nome legal e forte, Katie disse. Eu acho que nunca conheci um „Trent‟.
- Ele era único. O original.
- E... ? Katie buscou por mais detalhes.
- Nós estávamos apaixonados e...
- Não me conte se for algo horrível. Eu odeio ouvir sobre mulheres que tiveram
seus corações quebrados. Por que o amor tem que ser tão doloroso?
Julia respirou fundo.
- Ele certamente pode ser doloroso, não pode?
- Como você sabia que o amava? Quero dizer, sabia mesmo que era amor?
- Eu apenas sabia. Eu ainda sei. Se ele fosse entrar na minha vida hoje, eu ainda
sentiria aquele sentimento avassalador no meu coração. O amor não vai embora
só porque as pessoas vão embora.
Katie tentou descobrir se concordava com a frase de Julia.
- Você está dizendo que pode genuinamente amar alguém, mas acabar não
ficando com essa pessoa pro resto da sua vida. É isso que está dizendo? Você
pode amá-lo – de verdade, amá-lo mesmo – e ainda assim não ficar com ele.
- Sim.
- Não sei se concordo. Eu não gosto da idéia de viver com o fio do amor apenas
balançando pra lá e pra cá, sem este estar conectado dos dois lados.
Julia sorriu um pequeno, meigo sorriso.
- Eu também não gosto, mas aqui está ele.
- Então você vai me dizer que ele acabou se casando com outra pessoa?
- Não.
Katie esperou por mais detalhes, mas Julia terminou por ali. O não dela era firme
o suficiente para que Katie soubesse que ela faria bem se deixasse o assunto de
lado, pelo menos por enquanto.
Nota a si mesma: Quando o assunto sobre o Trent surgir de novo, descubra onde
ele está agora. Se não está casado, por que ele e Julia não poderia ficar juntos
de novo? Agora que seria uma grande história de amor.
- Como estão as coisas com sua família? Julia perguntou mudando de assunto.
- Do mesmo jeito, eu acho.
- Já que você disse que vai para casa de Rick no dia de Ação de Graças, eu supus
que você não vai passar esse dia com seus pais.
- Não. Eu tentei marcar algo com eles, mas não funcionou. Talvez no Natal. Não
sei.
- Tomara que você passe um tempo com eles no Natal, Julia disse, Não precisa
ser muito tempo ou algo muito especial. Apenas estar com eles de alguma forma
já seria muito bom.
Katie olhou para suas mãos. Ela sempre se sentia desconfortável quando o
assunto girava em torno de seus pais, mesmo ela sabendo que Julia estava certa.
A verdade era, ela adoraria ter um relacionamento com seus pais, mas como isso
poderia acontecer? Não era algo real.
Katie abriu seus pensamentos para Julia e contou a ela como era difícil estar com
os pais dela. Ela resumiu a última conversa com sua mãe e disse:
- Então, como eu posso mudar isso? Quero dizer, o que eu posso fazer?
- Eu não acho que você possa mudar alguma coisa. A única coisa que você pode
mudar é a mesma.
- Você acha que eu preciso mudar? Quero dizer, você acha que minha atitude
está errada? Katie sentiu uma pontinha de um sentimento defensivo crescendo
dentro dela e tentou deixá-lo de lado. Ela, com certeza, não queria começar uma
discussão do tipo me-desafie-em-algo-que-eu-me-sinta-desconfortável-e-eu-vou-
morder-sua-cabeça com a diretora dos residentes. Ela valorizava demais o
relacionamento dela com Julia para fazer isso.
- Eu acho que o que você tem que fazer é o que Deus nos mandou fazer.
- O quê? Amarmos uns aos outros?
- Sim, verdade, nós somos chamados a amarmos uns ao outros. Mas eu estava
pensando era sobre o quinto mandamento.
- Que é...
- „Honra teu pai e tua mãe. ‟ Ele pode parecer diferente em muitos
relacionamentos pais-filhos, mas o direcionamento é o mesmo. Honre-os. O que
isso significa pra você e pra eles, você terá que descobrir. Mas faça o que os faz
sentirem honrados.
Katie balançou sua cabeça concordando.
- Ok, eu sou boa nisso. Eu não tenho certeza de como eu vou honrá-los no Natal
ou o que quer que seja, mas entendo o que você está dizendo, e sim, eu quero
sim honrar meus pais.
- Eu sei que você quer. Você tem um grande coração, Katie. Você é uma pessoa
muito aberta, de boa vontade e responsável. Eu realmente admiro isso em você.
- E eu admiro que você tenha me falado o que preciso ouvir e fazer isso de uma
maneira que eu consigo engolir.
Julia virou para dentro da vaga do estacionamento do Ninho da Pomba, e na
mesma hora elas disseram:
- O que está acontecendo? O estacionamento estava quase todo cheio.
- Você pode ir lá para trás, Katie disse. Os funcionários estacionam lá ao lado da
lixeira, e sempre há vaga.
Elas acharam uma vaga e entraram no café e encontraram uma fila de alunos do
ensino fundamental esperando para fazer o pedido. Espalhados entre os alunos
estavam alguns adultos com uma aparência exausta tentando manter seus
pequenos bandos sobre controle.
- Parece uma excursão, Katie disse. Nós tivemos algumas dessas na última
primavera. Você quer ir a algum outro lugar?
Julia olhou para seu relógio.
- Você que sabe, se você quiser, Katie, eu posso te deixar aqui. Nós não
precisamos ir a lugar algum ou comer algo. Eu só queria conversar um pouco com
você antes do feriado de Ação de Graças. Eu acho que nossa conversa no carro
foi boa, nós colocamos o papo em dia. O que você acha?
- Eu me sinto mal, como se eu tivesse usado você para me dar uma carona até
aqui, e pronto.
- Não se sinta mal. Eu disse a você que estaria disponível para caronas se você
precisasse delas algum dia. A Cris vai te levar de volta pra faculdade, não vai?
- Esse é o plano.
- Então eu vou voltar pra Rancho. Eu preciso mesmo estar disponível para ajudar
Greg a registrar a saída dos alunos para o fim de semana. Eu viajo amanhã, mas
estarei de volta no sábado. Apareça qualquer hora, se você acabar ficando nos
dormitórios pelo restante do fim de semana.
- Ok, vou sim. Obrigada pela carona.
Julia acenou e se foi. Katie não tinha certeza, mas pareceu que quando o nome
do de Trent surgiu , um „peso‟ tomou conta de Julia. Katie deveria ter imaginado
isso, mas a fisionomia de Julia parecia ter se entristecido e ficado abatida depois
disso. Isso só deixou Katie mais curiosa sobre Trent, mas ao mesmo tempo, mais
alerta ao fato de que ela precisava ser cuidadosa e sensível se esse assunto
surgisse de novo.
Katie ficou ali do lado, tentando decidir o que faria. Ela sabia que poderia ir à
livraria ali ao lado e ficar seguindo Cris pela loja caso ela estivesse estocando
livros. Ou ela poderia ficar ali e assistir a festa daquela excursão.
Sem muito esforço, ela se moveu para onde ela poderia ver Rick atrás do balcão,
tentando eficientemente ajudar seu agitado grupo de funcionários que estava
anotando os pedidos na fila de alunos. Katie, de certa forma, gostava de estar
nos bastidores assistindo isso e assistindo Rick. Ele tinha uma presença bastante
imponente. Ele estava lindo.
Um sorriso brincou nos lábios de Katie enquanto ela pensou: Esse é meu
namorado, Rick Doyle, esse homem maravilhoso, você. Você me beijou, você
sabe. Você me beijou bem. E eu amo você.
No instante em que Katie concluiu aquele pensamento de ”e eu amo você,” Rick
levantou o olhar e seu olhar percorreu todo o café. Ele estabeleceu contato
visual com Katie, e ela sentiu um arrepio subir suas costas e fazer cócegas em
seu pescoço. Foi como se ele a tivesse ouvido.
Rick, eu amo você. Você me ouviu pensando isso? Eu não posso acreditar: Eu sei.
Eu sei mesmo. Eu te amo!
Um nó se agarrou à garganta de Katie, e ela sentiu como se fosse chorar; exceto
pelo fato de que ela não tinha lágrimas. Ela só tinha um sorriso. Um grande, feliz
sorriso para Rick, que agora estava acenando para que ela fosse até o balcão.
Muitos dos alunos se viraram para ver para quem o cara no balcão estava
acenando. Katie se sentiu como a escolhida Cinderela que estava se aproximando
de seu príncipe no meio da multidão enquanto todos os pequeninos, os pequenos
cavalheiros estavam abrindo caminho para ela. Nenhum dos alunos estava se
curvando para ela, no entanto, mas Katie imaginou que eles estavam já que eles
eram tão pequenos.
- Que visão agradável, Rick disse assim que Katie estava próxima o suficiente
dele para que pudesse ouvi-lo. Você vai encontrar com alguém?
- Cris, mas só às cinco.
- Alguma chance de você vir aqui pra trás, colocar um avental, e fazer algumas
pizzas?
- Isso vai depender. Katie estava atenta ao fato de que os estudantes assim como
os adultos que os acompanhavam pudessem estar ouvindo cada palavra da
conversa deles. Eles estavam dispostos a ficarem impacientes e começarem a
jogar dardos invisíveis nela se ela atrasasse Rick mais um pouco, então ela fez
sua gracinha rapidamente. Eu vou fazer quantas pizzas você quiser contanto que
eu não tenha que enfeitá-las com paisagens. Eu sou o tipo de mulher „carinha-
feliz‟, você sabe.
- Sim, eu sei, Rick disse. Sem paisagens, eu prometo. Coloque uma telinha no
cabelo e me ajude a começar essa fila. A expressão dele ficou engraçada e ele
virou a cabeça. Ei, você fez algo diferente no cabelo?
Katie deu um grande sorriso.
- Ah, esse é o observador Sherlock Holmes que todos conhecemos e amamos. Ela
enfatizou o ”amamos”, na esperança de que Rick captasse a pista do que tinha
acabado de acontecer no coração de Katie. Ela estava apaixonada. Ela sabia
disso. Ela amava Rick. Ela provavelmente carregava uma cápsula do amor por ele
em seu coração desde o ensino médio.
Mas hoje, nesse exato momento, enquanto Katie estava ali, assistindo Rick, algo
havia mudado. Era exatamente como Cris tinha dito que seria. Katie tinha dado
um passo após o outro, enquanto ela e Rick caminhavam nessa longa e sinuosa
estrada do relacionamento deles. Então, sem nenhuma pista de que o próximo
passo seria diferente dos outros, Katie deu esse passo nessa fila invisível, e lá
estava ela.
Amando!
Capítulo 16
Para Katie, fazer pequenas pizzas de pepperoni no Ninho da Pomba era uma coisa
que ela poderia fazer dormindo. Ela provavelmente dormira mais que uma vez
durante o expediente enquanto tinha produzido dúzias das pequenas delícias
para vários grupos. Estar de volta à linha de montagem vestida em seu avental e
touca foi algo familiar pra ela e a fez se sentir feliz
Claro, a explosão extra de felicidade poderia vir do deleite que ela secretamente
carregava dentro de si, sabendo que ela estava amando. Verdadeiramente
amando. Oficialmente, além da conta, amando.
Em um determinado momento nos vinte minutos de loucura de pizzas sendo
preparadas, Katie olhou para Rick, que tinha se juntado à brigada do molho de
tomate. Ela ouviu uma pequena canção melódica em sua cabeça: ”Primeiro vem
o amor, então vem o casamento e então vem o bebê num carrinho de bebê.”
Um sorriso brotou. Ela não fazia idéia de onde tinha ouvido aquela cantiga. Era
muito antiga e definitivamente muito pouco aplicável para a geração em que ela
estava vivendo, mas naquele momento, as frases soaram familiares e amigáveis.
A última vez que as linhas dessa canção tinham soado em seus pensamentos foi
naquele verão na praia13. Douglas e Trícia tinham levado o bebê Daniel, e uma
quantidade enorme de coisas de bebê para a areia. Cris e Ted levaram seu „modo
lua-de-mel‟ e ficaram a tarde toda envolvidos em abraços carinhosos. Katie levou
Rick, mas Rick levou seu celular e ficou bastante tempo com o rosto colado no
irritante pedaço de plástico em uma longa conversa com Josh sobre negócios
relacionados ao café no Arizona.
Naquele dia, Katie não estava certa sobre a parte da cantiga em que ela se
encaixava. No entanto, seus amigos se encaixavam muito bem nas partes do
”casamento” e do ”carrinho de bebê”. Mas hoje ela sabia. Ela estava no primeiro
passo. Amor. Primeiro vem o amor, depois vem...
O coração dela palpitou levemente quando ela se permitiu pensar se casamento
seria o próximo passo. Por que não? Toda vez que esses pensamentos tinham
aparecido na mente de Katie no passado, ela os tinha sacudido pra longe. Hoje
ela gostou muito da idéia. Isso certamente seria a resposta para muitas das
perguntas sobre o que ”virá em seguida?”.
Resmungando para si mesma, Katie entrou na linha de produção e serviu aqueles
estudantes todos antes das cinco.
Rick escorregou seu braço em volta da cintura dela quando ninguém estava
vendo.
- Você quer fazer algo hoje à noite? Eu posso sair daqui por volta das oito.
- Não posso.
13
Essa cantiga aparece no capítulo 13 de Tesouros Peculiares e no capítulo 1 de Como quiseres, Senhor.
- Por quê? Ele se afastou, chocado com o fato de que ela negou o pedido dele.
- Eu vou jantar com a Cris e depois tenho que fazer um trabalho para amanhã, e
eu ainda nem comecei.
- Você ainda terá aula amanhã?
- Eu só terei uma aula. É às 10:30. Depois disso, eu tenho plantão na mesa
principal de meio-dia às cinco.
- Então você está me dizendo que eu terei que esperar vinte e quatro horas
inteiras até que você se lembre de que tem um namorado que está esperando
passar um tempo com você.
- Oh, eu me lembrarei cada segundo dessas vinte e quatro horas. Mas, sim, você
terá que esperar até amanhã às cinco até que eu esteja oficialmente no feriado
de Ação de Graças.
- Eu posso esperar.
Katie sorriu.
- Eu sei que você pode esperar. Você é um profissional na arte de esperar. E um
chef profissional. E um proprietário profissional de um café. Mas você começou
como um garçom muito bom. Entendeu? 14
Rick pegou Katie pelo punho e a levou para os fundos do restaurante onde ficava
seu escritório e uma mesa que fora colocada no canto para os funcionários.
Ninguém estava lá atrás naquele momento. Ele olhou pra direita e pra esquerda
e depois, com as mãos em forma de concha, pegou o rosto de Katie e aproximou-
a dele. Antes que Katie soubesse o que estava acontecendo, Rick a estava
beijando. E foi um beijo bom. Um beijo muito bom.
- O que você está fazendo? Ela sussurrou enquanto eles se afastavam.
- Se você não sabe o que foi isso, eu, com certeza, estou fazendo algo de errado.
- Eu sei o que foi isso, bobão! E foi algo muito bom, a propósito.
Rick sorriu.
Num tom de voz mais baixo, ela disse:
- Mas o que você está fazendo me beijando?
Rick apenas sorriu mais, como se a pergunta dela não precisasse de uma
resposta.
Katie se afastou, assim as únicas partes deles que estavam se tocando eram as
mãos entrelaçadas.
- O que eu quis dizer, foi... Ela abaixou sua voz para quase um sussurro. O que

14
A expressão usada, no inglês, é waiter. Um trocadilho que a Katie/Robin faz, já que waiter significa aquele
que espera, do verbo wait e também significa garçom. Ou seja, o Rick começou como garçom, e ao mesmo
tempo, como alguém que sabe esperar. Uma vez que, de certa forma, garçons são pessoas que esperam pelos
pedidos dos clientes.
você está fazendo me beijando no trabalho? Você sempre teve regras rígidas
sobre nós não darmos para ninguém a impressão de estarmos namorando ou de
estarmos sendo carinhosos no trabalho.
- Você trabalha aqui? Ele perguntou com um sorriso metido.
- Não, não mais.
- Então qual era mesmo sua pergunta?
Katie deu a ele um de seus olhares garota-bonitinha-do-rosto-sardento que ela
sabia que ele gostava. De um jeito brincalhão ela disse:
- Sem mais perguntas, Senhor.
Ele se aproximou e a beijou do lado de sua cabeça e soltou as mãos dela.
- É melhor você ir encontrar a Cris. Eu irei à Rancho amanhã às cinco e nós
jantaremos em algum lugar.
- Ok. Katie ainda estava dando a ele seu olhar sonhador.
- É um encontro, Rick disse.
- É um encontro, Katie repetiu. Ela envolveu seus braços no tronco de Rick e lhe
deu um grande abraço. O mesmo tipo espontâneo de abraço que tinha
estabelecido uma sequência de conflitos no último verão quando ela expressara
seu carinho no trabalho. Hoje ele foi recebido pelo namorado dela e respondido
com um igualmente caloroso abraço.
Katie se soltou de seu forte namorado Rick, jogou sua touca no lixo e seu avental
sujo na cesta de roupas para lavar. Beijando as pontas de seus dedos, ela acenou
para Rick e deu um sorriso ”te vejo mais tarde” pra ele.
Ele olhou apaixonado e ela não poderia estar mais feliz.
Passando por dentro do café e indo para a livraria ao lado, Katie viu Cris na porta
de vidro da frente olhando para fora, na direção do estacionamento. Ela estava
com sua bolsa sobre os ombros.
- Procurando por mim?
- Aí está você. Eu não sabia se alguém te traria ou não.
- A Julia me trouxe mais cedo. Eu acabei indo ajudar lá no café. Ficando o mais
ereta possível na frente de sua amiga, Katie abaixou a voz e disse: Você está
percebendo algo de diferente em mim?
- Seu cabelo! Cris exclamou. Está mais claro. Adorei!
Katie tinha se esquecido das suas luzes e deixou de lado o comentário de Cris
dizendo:
- O que mais você notou? Alguma coisa? Está vendo nos meus olhos?
Cris olhou mais de perto.
- Você está usando lentes de contato ou algo do tipo?
- Não. Decepcionada, Katie relaxou os ombros. Eu acho que é invisível, já que
isso acontece de verdade no interior.
Cris continuou parecendo não entender o que as dicas de Katie insinuavam, então
Katie prosseguiu e disse:
- Estou amando.
Curiosa, Cris levantou suas sobrancelhas.
- Sério?
- Sim, sério.
- Uau, Katie.
- Eu sei. Uau, né? Foi exatamente como você disse. Eu estava caminhando, passo-
a-passo e aí...
- Espere. Essa conversa é importante demais para ser feita aqui. Vamos, eu quero
ouvir tudo. Ela olhou para seu relógio. Eu tenho que buscar o Ted às 6:45.
- Isso significa que não temos muito tempo, Katie disse.
- Eu sei, mas o bom é que você sabe falar rápido. Eu estava pensando que nós
podíamos ir à Casa de Pedro. O que você acha?
Katie deu os braços para Cris enquanto elas saíam e iam para o Volvo de Cris e
Ted.
- Tô contigo, Chimiganga Mama. Bora!
- Comece com a Noite de Pizzas de Casais, Cris disse. Eu quero ouvir tudo.
Katie fez um rápido resumo. Ela pulou as partes sobre as pontadas de ciúme que
sentiu de Rick e Nicole por eles estarem se dando tão bem naquela noite.
- Nós quatro fomos tomar café no Bella Barista depois e essa parte foi divertida
porque um monte de outras pessoas da Rancho foi pra lá. Nós todos juntamos as
mesas e conversamos. O Bella Barista está se tornando nosso novo ponto de
encontro. Eu não tinha percebido isso até o dia que fomos à floricultura para
consertar o buquê da outra Katie.
- Espere. Cris estacionou o carro em frente à Casa de Pedro e o desligou. Que
buquê e que outra Katie?
Katie fez uma careta.
- Eu estou mesmo atrasada nas novidades com você, né? Eu nunca vou conseguir
chegar na parte boa.
- Vai sim. Continue. Conte-me sobre o buquê.
Katie resumiu o assunto enquanto a recepcionista as acomodava. Mudando de
assunto apenas o tempo suficiente para fazer o pedido, Katie então mudou pra
parte que ela queria falar.
- Então Rick e eu fomos para a parte mais alta do campus, e as palmeiras estão
todas envolvidas por luzes. Está maravilhoso, Cris. Você e Ted precisam ir lá para
ver o que vocês começaram quando decidiram fazer o casamento de vocês lá. A
calçada foi melhorada também. Está mágico.
- Eu quero ir lá ver. Eu vou falar com o Ted. Talvez nós possamos dar uma
passada lá nesse fim de semana. Mas continue. Você e Rick foram fazer um
caminhada até o topo do campus debaixo dos pisca-pisca das palmeiras e...
- Ele me beijou.
Cris ficou paralisada por um momento e então ela soltou um gritinho e pegou o
punho de Katie.
- Katie! Não acredito que você demorou isso tudo pra me contar.
- Eu sei. Eu queria te contar pessoalmente. Foi perfeito demais, Cris. Perfeito de
todas as maneiras e eu sei que isso vai soar meio louco, mas eu não contei a
ninguém porque eu não queria acordar caso isso fosse só um sonho. Mas não foi
um sonho. Foi real e foi maravilhoso. Perfeito. E você é a primeira pessoa para
quem eu estou contando.
A expressão do rosto de Cris deu a impressão de que ela iria gritar de novo, mas
dessa vez foi um gritinho bem mais baixo.
- Eu estou tão feliz por vocês, Katie.
- Eu estou amando, Cris. De verdade. Eu sei que eu já disse isso antes de uma
forma leviana, mas dessa vez é diferente.
- Diferente como? Cris olhou abertamente e cheia de expectativas para Katie.
- Foi exatamente como você disse. Eu estava lá no Ninho da Pomba menos de
duas horas atrás, assistindo o Rick no caixa e lá estava um mar de crianças do
ensino fundamental. Eu só pensei, „Esse é meu namorado‟ e depois pensei, „Eu o
amo. ‟ E algo dentro de mim simplesmente... Não sei. Algo dentro de mim
confirmou meu pensamento. Não era um „eu amo o Rick‟ leviano, um sentimento
desses que vêm e vão. Dessa vez era como uma afirmação. Foi como...
Katie pausou e sorriu, mais pra ela mesma do que para Cris.
- Eu não acredito que vou dizer isso, Katie falou, mas eu sabia. Quero dizer, todo
mundo que já amou de verdade sempre diz, „Quando você souber, você vai
saber. ‟ E eu sempre achei que essa era a desculpa mais esfarrapada para uma
possível explicação. Mas é verdade. Eu sei. Eu sei que eu amo o Rick. É como
uma pedra no meu coração. Uma pedra enorme. A Pedra de Gibraltar. E ela não
vai embora.
O sorriso de Cris era caloroso e amoroso. Ela tinha lágrimas nos cantos de seus
olhos.
- Ah, Katie, eu sinto que devo dizer, „Bem vinda ao outro lado‟ ou algo assim
- Eu estou do outro lado, não estou?
- Está sim, Cris disse. Você está amando e você está num outro nível do seu
relacionamento com o Rick. Você está no nível do coração e do sentimento, e eu
estou tão feliz por você.
- Obrigada. Agora Katie sentia que lágrimas iriam rolar vagarosamente de seus
olhos também. Antes que as gotinhas fizessem sua feliz aparição, a comida e a
bebida chegaram com sua glória fumegante e bem temperada.
- Eu quero orar. Cris buscou pelas duas mãos de Katie e elas seguraram as mãos
uma da outra sobre a mesa.
Assim que Katie fechou os olhos e curvou sua cabeça, ela sentiu Cris abençoá-la
com suas palavras de carinho ao Pai celestial, agradecendo a ele por ter dado o
dom do amor e por derramar do amor dele sobre Katie. Cris agradeceu a Deus
por Rick, por Katie, pelo relacionamento deles e por como Deus os tinha trazido
até esse „lugar‟. As palavras de Cris foram simples, lindas e profundas. Ela estava
parecendo com Ted quando ele orava.
O momento foi tão sagrado que Katie não queria abrir os olhos mesmo depois de
Cris ter dito, ”Eu oro em nome do seu Filho, Jesus. Amém.”
Quando Katie olhou pra cima, tudo que ela e Cris fizeram foi sorrir uma pra
outra.
- Eu quero construir um altar aqui, Katie disse.
- O quê? A expressão de Cris mudou de feliz para confusa. Do que você está
falando?
- Quando eu estava em Catalina no verão passado, durante nosso dia de silêncio,
eu estava procurando pelo versículo dos tesouros peculiares e li esse versículo
em Êxodo que diz, „Construa altares nos lugares onde eu te lembro de quem eu
sou, e eu irei e te abençoarei ali‟. Eu sinto que Deus acabou de me abençoar aqui
através de você. Ele me lembrou de quem ele é. Deus é amor. Eu estou amando.
Eu quero marcar esse momento de alguma forma e sempre me lembrar dele.
Cris parecia estar incerta sobre como responder. Cautelosamente ela disse:
- Eu não tenho certeza de que nós deveríamos construir altares...
- Eu não estou dizendo que vou começar a empilhar feijões congelados dentro de
um pequeno santuário. Só estou dizendo que eu quero marcar esse momento
como um momento de Deus.
- Eu acho que ele já está marcado, Cris disse. No seu coração. Você nunca vai
esquecer o momento em que soube que amava Rick. Eu nunca esquecerei o
momento em que soube que eu amava o Ted. Quando esse momento está
marcado no seu coração, você pode voltar lá a qualquer hora e, confie em mim,
você verá que o Senhor já está lá e ele te abençoará lá.
- Isso é muito estranho, não é? Katie disse, nada interessada em morder seu
chimiganga do mesmo jeito que Cris tinha abocanhado o dela. O que quero dizer
é que você está caminhando normalmente e tudo está como sempre, e de
repente, Deus aparece e tudo muda.
- O Ted tem uma opinião sobre isso. Cris limpou sua boca com seu guardanapo.
As pessoas dizem, „Deus apareceu‟, e isso ou aquilo aconteceu. Ted diz que Deus
não „aparece‟. Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. Ele é onipresente,
onisciente e onipotente. O jeito como Ted define esses momentos é dizendo que
Deus já está lá. Ele era, é e sempre será. Nós é que aparecemos. Nós temos uma
idéia do que Deus deseja pra nós e nós o buscamos e prestamos atenção nas
direções que ele dá. Então, repentinamente esse momento santo acontece não
porque Deus resolveu dar um passo e entrar nas nossas vidas, mas porque nós
resolvemos caminhar passo a passo com o eterno plano de Deus para nossa vida.
- Hmm.
- Enfim, Cris disse enquanto Katie contemplava a perspectiva de Ted sobre esses
momentos divinos. Me diga o que aconteceu depois no Ninho da Pomba. Depois
que você soube que estava amando o Rick. Você disse alguma coisa pra ele ou
apenas entrou e fez as pizzas com ele, como se nada estivesse diferente?
- Eu não o contei que o amo, mas eu sinto que ele, de certa forma, percebeu.
- Como?
- Ele me levou lá pros fundos e me beijou de um jeito muito romântico.
- Ele fez isso?
- Sim. Você sabe como ele sempre foi bem incisivo sobre nós expressarmos
qualquer tipo de carinho no trabalho?
Cris balançou a cabeça concordando, sua boca estava cheia de comida.
- Bem, dessa vez ele é quem foi o carinhoso. Ele disse que eu não trabalho mais
lá então não era como se ele estivesse fazendo algo de errado 15 com uma
funcionária.
- Ele disse isso? Ele disse „fazendo algo de errado‟?
- Não, ele não disse isso, e nós, definitivamente não estávamos fazendo algo de
errado. Foi só um beijo. Um beijo lindo, memorável, e derretedor-de-corações.
Katie suspirou.
- Você sabe, eu acho que o Rick deva estar certo sobre o que ele disse no verão
passado quando nós tivemos aquela enorme e horrível discussão na cozinha dele
porque ele não me beijava quando eu queria que ele o fizesse.
- O que ele disse?
- Ele disse que os rapazes nunca se esquecem dos beijos deles com uma mulher,
e eu disse que nós nunca esquecemos também. É simplesmente diferente, sabe?
Quero dizer, um abraço você meio que lembra por um tempo, mas quando seus

15
A expressão no inglês é making out e literalmente, segundo o dicionário Michaelis – UOL diz que making
out é ter relações sexuais. Eu achei muito ‘estranho’ traduzir assim e não tenho certeza de que a Robin quis
dizer algo assim ‘tão forte’. Enfim, o algo de errado dá uma idéia mais ampla, sem restringir apenas ao ato
sexual.
lábios se tocam, isso acende uma memória na sua cabeça, não é?
Cris chegou mais perto e abaixou a voz.
- Espere até você estar casada e você se doar completamente, de corpo e alma.
Aí estará algo que você nunca vai esquecer. A memória fica bem acesa. Confie
em mim.
Katie gostou do modo como o rosto de Cris estava ficando corado, como se ela
fosse a guardiã de alguns preciosos segredos e ela estava revelando um pouco
desse tesouro para Katie.
- Eu não entendo como alguém pode doar a si mesmo num nível de intimidade
como esse sem a linda, protetora aliança do casamento, entende? Cris continuou.
O sexo é tão sagrado e capaz de unir duas pessoas. Eu sei que eu já disse isso
antes, Katie, mas eu tenho que dizer de novo. Criar esses momentos de
intimidade que marcam a alma com apenas um homem e apenas no seu leito de
casamento é algo que não se parece com nada que você já experimentou.
Quando você espera por esses momentos e sabe que ele esperou para
compartilhar esses momentos com você...
Cris chorou de novo.
- É mesmo um presente. Um presente maravilhoso.
Katie entregou um guardanapo à Cris. Ela pegou-o e enxugou seus olhos. Depois,
alcançando seu copo de chá gelado, Cris levantou seu copo para Katie.
- Ao amor e a Deus, que fez disso algo tão lindo.
Katie brindou com seu copo de refrigerante e adicionou:
- E a você e Ted por esperarem para darem a si mesmos um ao outro e por fazer
um ótimo trabalho em me anunciar a recompensa dessa virtude da espera.
Cris gargalhou.
- Eu não sabia que nós estávamos anunciando.
- Vocês estão anunciando, mas é do melhor jeito possível. Isso é uma boa coisa. É
uma coisa de Deus, na verdade.
Katie bebeu seu refrigerante.
- Às vezes, Cris, eu olho pra trás e penso, „Quem eu seria hoje se eu nunca
tivesse conhecido a Cris? ‟ Eu sei que eu não seria quem eu sou hoje. Eu não acho
que eu estaria fazendo escolhas tão boas. Principalmente se eu tivesse ficado
com o mesmo círculo de amigos que eu tinha no Colégio Kelley antes de você se
mudar pra Escondido. Cris, e se você não tivesse se mudado de Wisconsin? E se
nós não tivéssemos nos tornado tão amigas desde aquela primeira noite quando
empapelamos a casa do Rick? Deus é quem fez isso, não foi?
Dessa vez as lágrimas realmente transbordaram dos olhos azul-esverdeados de
Cris.
- Eu preciso de outro guardanapo. Ela deu uma olhada em volta para ver se
algum garçom estava indo na direção delas. Eu estou muito emotiva.
Katie se levantou e puxou dois guardanapos de uma das mesas vazias.
- Vá em frente. Chore o quanto quiser.
Cris enxugou seus olhos novamente e assuou seu nariz.
Katie encarou seu grande burrito chimiganga.
- Isso é mesmo muito estranho.
- O que é estranho? Seu chimiganga?
- Não, o chimiganga está ótimo. O que é estranho sou eu. Eu não estou com
fome. Você pode acreditar nisso? Tenho certeza de que isso tem que significar
algo. Eu estou sentada na Casa de Pedro com meu preferido chimi no mundo todo
bem na minha frente e eu não consigo comer.
Cris deu um grande sorriso.
- Claro que você não comer significa algo. Você está amando.
Katie fez um gesto para Cris para que ela passasse a unha entre seus dois dentes
da frente. Tem um pedacinho de carne ou algo parecido bem aí.
A expressão de Cris mudou. Ela ficou constrangida, mas apenas por um instante.
Ela usou o segundo guardanapo para remover o pedacinho de carne.
- Você e eu precisamos uma da outra mais do que nós pensamos. Obrigada, Katie.
O garçom chegou perto da mesa delas.
- Eu preciso de uma caixa para levar, Katie disse. E a conta. Nós precisamos ir
andando.
- Eu vou pegar uma caixa também, Cris disse. Eu nunca consigo terminar um
desses.
- Eu sinto que assim que essa sensação de felicidade atordoadoara-e-boba-
porque-eu-estou-amando passar, eu vou estar faminta. Quando esse momento
chegar, o Sr. Baby Chimi estará esperando em minha pequena geladeira, e eu
serei uma menina feliz.
O chimiganga de Katie ocupou uma prateleira inteira na geladeira dela e ficou lá,
intocado, durante toda a noite. Ela trabalhou na velocidade da luz em seu
trabalho para a aula de quarta-feira e dormiu três horas. Então ela se vestiu e
caminhou pelo campus com um leve sorriso no rosto.
Ela ainda não estava com fome depois da aula. Voltando para seu dormitório,
Katie subiu para a parte coberta do telhado e se esticou em uma das
espreguiçadeiras. Abaixo, no estacionamento, dúzias de alunos estavam
enchendo seus carros de malas para o longo fim de semana.
Acima, o céu da Califórnia estava riscado com a cauda das nuvens, o que era um
indicador de que o outono também estava fazendo suas malas. O inverno, com
seus ventos impetuosos vindos do deserto, iria, brevemente, mandar a névoa e o
calor para o mar e agraciar o sul da Califórnia com ar refrescante e céu limpo.
Um passeio de volta ao deserto durante os próximos meses providenciaria uma
oportunidade fantástica de apreciação das estrelas.
Katie pensou nas estrelas enquanto fechava seus olhos no conforto da
espreguiçadeira. Ela podia ouvir as vozes das crianças africanas cantando. Ela
podia sentir o calor do sol do fim da manhã sobre ela, como se fosse um velho e
verde saco de dormir. Uma sensação de estar presa num universo em movimento
veio sobre Katie.
Ela sabia duas coisas naquele momento sob o cobertor de raios solares. Primeiro,
ela sabia que era minúscula em comparação ao cosmos. Segundo, ela sabia que
aquele que tinha arquitetado os céus e a terra tinha feito seu coração à mão, e
nesse coração, ele tinha plantado uma semente que estava crescendo e se
tornando algo maravilhoso, eterno e puro. Algo chamado ”amor”.
Capítulo 17
Pouco depois de Katie cochilar com todos os seus pensamentos felizes, ela sentiu
alguma coisa fazendo cócegas em sua bochecha. Ela sacudiu a mão diante para
espantar aquilo que a incomodava e lentamente abriu um olho enquanto uma
sombra bloqueava o calor do sol.
- Olá. Os calorosos olhos cor de chocolate que a encontraram só podiam
pertencer a uma pessoa.
- Rick!
Ele acariciou a bochecha dela com uma gérbera rosa.
- Pra você, ele disse.
Katie abriu ambos os olhos e recebeu a flor de Rick assim como um beijo no topo
de sua cabeça aquecida pelo sol.
- Como você soube que eu estava aqui?
- Nicole. Ela estava no salão principal registrando a saída dos estudantes e disse
que você contou a ela que estaria aqui até o seu turno começar.
- Eu estou atrasada? Katie se sentou e piscou. Ou você está adiantado? Você não
deveria estar aqui antes das cinco. Espere. Eu estou sonhando com tudo isso?
- Eu estou adiantado, Rick disse. Estava meio parado no Ninho da Pomba por
causa do fim de semana de Ação de Graças então eu saí umas duas horas mais
cedo. Não precisa se preocupar com a troca de turno lá em baixo. Nicole disse
que poderia cobrir para você. Eu disse a ela que você e eu tínhamos planos.
- Isso foi legal da parte dela. Eu deveria dar a ela a minha flor. Katie girou o talo
entre seus dedos como se fosse um cata-vento.
Nota para si mesma: Você realmente precisa explicar ao Rick que você só disse
que gostava desse tipo de flor para manter uma conversa agradável quando
Nicole disse que elas eram as suas favoritas. Se você não disser alguma coisa
logo, você vai ser sufocada por essas margaridas detestavelmente coloridas pelo
resto da sua vida.
- Você não precisa dar a Nicole a sua flor, eu comprei uma para ela em forma de
agradecimento.
Katie correu os dedos pelos cabelos, tentando acordar de uma vez.
- Agradecer pelo quê? Por pegar o meu turno esta tarde? Ela bocejou e cobriu a
boca. Desculpe.
- Sim. Eu liguei pra ela mais cedo e perguntei se ela poderia lhe cobrir. Eu contei
a ela que eu tinha preparado uma pequena surpresa.
- O que é? Katie estava acordada agora. Ela estendeu a mão e Rick a ajudou a se
levantar da espreguiaçadeira. Assim que ela sentiu o calor da mão dele
segurando a dela, ela soube com certeza que não estava sonhando com tudo isso.
Rick realmente estava ali e ele tinha uma surpresa para ela.
- Você terá que esperar, ele disse.
Katie sorriu.
- Eu sou boa na espera, assim como você. Ela não pôde deixar de pensar no que
acontecera no dia anterior quando ela disse algo relacionado a Rick também ser
bom na espera. Sua graciosidade lhe rendeu um beijo.
Rick abriu a porta que os levava até as escadas.
- Então eu deveria fechar os meus olhos ou algo assim?
- Não, não feche os seus olhos. Eu tenho um pressentimento de que você vai
dormir em pé se você fechar os olhos novamente.
Katie bocejou de novo, involuntariamente.
- Desculpe. Eu estou morta de sono.
- Eu deveria ter deixado você dormir mais um pouco.
- Não. Tá brincando? Você e eu finalmente temos tempo para fazer alguma coisa
juntos. Isso é raro. Eu não quero dormir enquanto isso. Eu estou bem vestida
para onde quer que estejamos indo?
- Você está ótima. Só pegue uma jaqueta ou um suéter e encontre-me no salão
principal.
- Estarei lá em três minutos e meio. Katie apressou-se para o seu quarto. Rick
havia dito na noite anterior que eles iriam sair para jantar. Agora que ele estava
tão adiantado, ela queria saber se o encontro deles tinha se tornado um almoço
atrasado.
Não importava. O Rick, a qualquer hora do dia, era um presente.
Katie deixou o seu quarto com uma blusa de moletom em sua mão e sentiu o seu
estômago murmurando. Já tinham passado quase vinte e quatro horas desde que
ela comera. Talvez o magnífico ponto alto da descoberta de que ela está
apaixonada tinha diminuído o bastante para trazê-la de volta às coisas da vida
real, como dormir e comer.
Ela encontrou Rick no salão de entrada conversando com Nicole no escritório.
Exposto no balcão estava um significativo buquê com gérberas cor-de-rosa,
amarelas, brancas e alaranjadas.
Rick realmente gosta de dar flores. Eu ainda tenho as rosas brancas que ele me
deu na semana passada. Eu só espero que ele não tenha mais flores esperando
por mim no carro.
- Eu acho que preto ainda é a melhor opção, Nicole estava dizendo quando Katie
se aproximou. Eu sei que pode parecer clichê, mas para efeito dramático, você
nunca erra com preto. Ele vai dar à sala um senso de estabilidade mais definido.
- Sobre o que vocês estão conversando? Katie perguntou.
- Meu apartamento. Eli e eu estávamos pensando em pintar a sala de estar e
Nicole está me dando algumas idéias.
Katie voltou-se para Nicole.
- Você está dizendo para ele pintar a sala de preto? Você não pode estar falando
sério.
- Não a sala de estar. As molduras das fotografias dele. Eu estou dizendo que ele
poderia manter todas as fotografias, mas pintar os seus quadros de preto. Eu
acho que faria uma manifestação dramática.
- Quando vocês decidiram pintar a sua sala de estar? Katie perguntou.
- Semana passada quando nós movemos a estante e a televisão. Nós vimos o
quanto a nossa parede estava ruim.
- Por que vocês mudaram tudo?
- O sol colocava uma sombra na TV mesmo quando as cortinas estavam fechadas.
Eli sugeriu que movêssemos alguns centímetros, fora da sombra, o que foi uma
ótima idéia. Eu nunca pensei nisso. Uma vez que nós movemos a TV e a estante,
a parede ficou exposta e estava horrível. Nós movemos o móvel e agora está bem
fácil caminhar para os quartos. Eu só tenho que decidir de que cor vou pintar a
parede
- Eli tem alguma preferência? Nicole perguntou.
- Não, não.
- Você deveria pedir à Nicole para fazer umas amostras de cor pra você, Katie
disse. Você sabe, como aquelas tiras cores que você juntou para aquela aula de
arte do Renascimento.
Nicole explicou:
- Eu acho que você está se lembrando daquele projeto que eu fiz um mês atrás,
no qual eu tinha de criar uma paleta de cores para a pintura The Milkmaid, de
Vermmeer. Eu deveria ter ido de Rembrandt, como a maioria da classe fez. As
cores dele eram muito mais fáceis.
- Você gosta desse tipo de coisa? Rick perguntou. Pintura e decoração, quero
dizer.
- Acho que sim. Nicole disse.
- Não seja tão modesta. Você já viu o quarto dela, Rick? Nicole é uma artista
quando o assunto é com cores e decoração. Ela é bem parecida com a sua mãe
nessa parte.
- Eu pagaria você, Rick disse para Nicole. Quero dizer, se você quiser vir dar uma
olhada no apartamento e fazer sugestões de cores.
- Você não precisa me pagar. Eu vou dar uma passada na loja de pintura este
final de semana e pegar algumas amostras. Então você pode decidir de qual você
gosta. Que cor é o seu sofá?
- Marrom, Rick disse.
- Meio marrom, Katie acrescentou. É preto em alguns lugares. Realmente, Nicole,
você deveria ver o apartamento primeiro. Se você quiser, nós poderíamos ir lá na
sexta ou no sábado, já que eu e você vamos estar por aqui todo o final de
semana, de qualquer forma.
- Eu vou cozinhar para vocês, Rick disse.
- Ótima idéia, Katie disse. Se nós formos ambiciosos, nós poderíamos fazer do dia
uma festa de pintura. A sala vai estar pronta em pouco tempo.
- Eu estou gostando de onde isso está chegando, Rick disse. Eu posso tirar folga a
maior parte da sexta, mas não no sábado.
- Parece que nós temos um plano, Katie disse. O que você acha Nicole? Sexta
está bom pra você?
Nicole olhava um pouco hesitante, mas acenou com a cabeça demonstrando que
concordava. Katie se perguntou se era porque Eli, sem dúvida, estaria ali. Nicole
parecia ter a mesma antipatia de Eli que Katie tinha. Ela decidiu que quando ela
tivesse a chance, iria assegurar a Nicole que Eli era realmente um ótimo rapaz.
Uma vez que você começa a conhecer um pouco mais sobre ele, ele é intrigante
e pensativo, mas não chato.
- Parece que nós temos um encontro, Rick sorriu para Nicole. Voltando-se para
Katie, ele disse: E parece que é melhor nós sairmos para o nosso encontro antes
que a tarde deslize para longe de nós.
- Divirtam-se, Nicole disse.
- Nós vamos nos divertir. Katie segurou a mão de Rick enquanto eles viravam
para ir. Ela olhou para Nicole sobre os ombros e disse: Pelo menos eu acho que
nós vamos nos divertir. Eu nem sei onde nós estamos indo!
Rick, brincalhão, arrastou-a para fora da porta.
- É por isso que é uma surpresa. Nem tente me arrancar alguma pista.
- Tem certeza que eu estou bem de jeans? Nós não vamos a nenhum lugar
chique, vamos?
- Não é chique.
- Vai estar muito frio? Porque se esse moletom não for quente o suficiente, diga-
me agora e eu volto pra pegar uma jaqueta.
Rick soltou a mão dela e colocou o braço em volta do ombro dela, aproximando-a
dele.
- Você está tentando arrancar dicas de mim.
- Só um pouco.
- Sem mais dicas. Você está bem. Jeans, moletom, tudo. Você vai ficar bem.
- E se eu sentir frio, você vai me manter aquecida, certo?
- Sem dúvida. Rick beijou-a no lado da cabeça. A propósito, eu gostei do seu
cabelo. Quando você fez isso?
- Sexta-feira, antes da Noite da Pizza.
- Você vai ter que contar a minha mãe aonde você foi. Desde que eles se
mudaram para cá, ela diz que não tem encontrado uma boa lavanderia à seco ou
um bom salão de cabeleireiro.
Katie riu.
Rick olhou para ela, esperando que ela explicasse o que era tão engraçado.
- Desculpe, mas eu não posso ajudar a sua mãe com nada disso. Eu nunca tive
nada lavado à seco na minha vida e eu mesma tingi os meus cabelos.
Rick parecia pasmo. Não impressionado. Pasmo.
- Você é realmente a mulher mais independente que eu conheço.
- Eu teria dado uma ótima pioneira, Katie disse. E quanto a você? Você acha que
teria sido um grande pioneiro?
- Definitivamente não. Eu nunca iria para o oeste se eu estivesse bem acomodado
em uma cidade do leste. Arizona foi o lugar mais rústico que eu já quis ir e eu
mesmo assim eu fiquei sob um ar condicionado o tempo todo.
Rick abriu a porta do lado do passageiro do Mustang dele para Katie com os seus
modos usualmente gentis. No banco estava uma caixa amarrada com um laço
azul.
- Rick, você não tem que sempre me dar coisas, você sabe.
- Eu sei. Eu gosto. Espere até que eu entre para abrir isto.
Uma vez que Rick estava atrás do volante, Katie desfez o laço e abriu a pequena
caixa. Dentro estava um colar em uma corrente prata. Ao final da corrente
estava uma pedra verde lapidada ou um pedaço de vidro polido. Era lindo, mas
Katie não entendeu o seu significado.
- Gostou? Ele perguntou.
- Sim. Ela gostou mais dele ter pensado nela e dado a ela algo meigo do que
gostara do colar por si só. É lindo.
- Eu vi o colar em uma loja de presentes da última vez em que estive no Arizona.
A pedra me lembrou de seus olhos. Veja, quando você a vira para a luz, ela muda
ligeiramente, assim como os seus olhos. Você quer usar?
- Claro.
Katie entregou o colar para Rick porque ela sabia que ele via pequenos gestos
como fechar jóias ou amarrar os sapatos de Katie como atos românticos. Rick se
aproximou enquanto ela afastava os seus cabelos do pescoço e ele fechou o colar
no lugar. Então, ele a beijou no pescoço.
A resposta de Katie foi se virar para Rick, que estava há apenas alguns
centímetros de distância e iniciar um doce e terno beijo nos lábios dele.
- Obrigada, ela sussurrou.
- De nada. Eu estou contente por você ter gostado.
Katie olhou para baixo e alisou os seus dedos sobre a pedra verde.
- Eu queria saber o que é isso, ela disse. Quero dizer, que tipo de pedra é essa?
- Eu não sei. Você pode chamar de Pedra da Katie, se você gostar.
- Fofo! Eu nunca tive uma pedra nomeada por minha causa antes.
Rick ligou o carro e a música do som instantaneamente ressoou. Ele foi para
abaixar, mas Katie o parou com a sua mão na dele.
- Eu amo esta música, ela gritou. Deixe assim.
Rick concordou. Com a música alta, as janelas abertas e a luz do sol da tarde de
outono vertendo pelo pára-brisa, Rick e Katie saíram para o seu encontro. Ela
tocou a lisa pedra verde em seu colar mais uma vez e desejou saber se o colar
era a surpresa ou o destino seria também uma surpresa. Uma coisa era certa.
Quanto mais rápido eles parassem para comer, melhor. Ela estava morrendo de
fome. Katie tinha um pressentimento de que ela iria engolir mais comida do que
ela tinha comido alguma vez na frente do Rick. Era bom que ele estivesse louco
por ela e acostumado aos seus modos carnívoros.
Eles viajaram por mais de quarenta minutos e estavam se aproximando de
Escondido, onde ambos haviam crescido, quando Katie começou a se sentir
enjoada. O estômago dela não estava transtornado de fome. Ela se sentia
nervosa por estar tão perto da casa de seus pais.
- Rick. Ela avançou para abaixar o volume do som. Por favor, não me diga que
nós estamos indo ver os meus pais. Eu não estou preparada para vê-los.
Mentalmente, quero dizer.
- Nós não estamos indo ver os seus pais.
- Bom. Não que eu não deveria estar indo vê-los, porque eu deveria. Eu tentei,
você sabe, arrumar alguma coisa para o dia de Ação de Graças, mas...
- Eu sei. Nós não vamos lá. Você pode relaxar.
Katie não relaxou. Ela sentia como se precisasse confiar em Rick mais do que
confiara antes. Enquanto ele continuava dirigindo, ela continuou falando,
conversando abertamente sobre os seus pais. Ela contou a Rick o que Julia havia
dito sobre honrar a eles. Ela também contou a ele sobre a conversa com a sua
mãe, sobre deixar uma mensagem no telefone de Clint e sobre como Larry havia
estado num centro de reabilitação em Baskerfield no verão passado.
- Por que você não me contou isso antes? Rick perguntou.
- O assunto nunca surgiu. Meus irmãos são apenas uma parte da minha vida. Eu
tentei contatar Clint por causa do Buguinho.
- Eu acho que você contou que sua mãe ligou enquanto você estava de plantão
naquele sábado.
- Isso mesmo, ela me ligou.
- Havia uma razão?
Katie relembrou.
- Ela disse que queria o meu endereço.
- Ela te enviou alguma coisa?
- Eu não sei. Eu deveria verificar a minha caixa de correio no campus. Eu não
vejo há cerca de uma semana. Ela disse que tinha uma carta para me enviar.
- Que tipo de carta?
- Não tenho idéia. Provavelmente alguma coisa de empréstimos estudantis ou
uma promoção de cartão de crédito.
O tráfego estava ficando mais intenso enquanto eles reduziam a velocidade na
pista do centro.
- Eu espero que não haja um acidente, Katie disse.
- Eu deveria ter imaginado que nós pegaríamos o tráfego do feriado. Eu pensei
que nós estivéssemos saindo cedo o bastante.
- Onde nós estamos indo? Katie perguntou.
Rick deu a ela um de seus sorrisos de lado.
- Deveria ser uma surpresa.
- Eu pensei que o colar fosse a surpresa.
- Ok, então eu tenho duas surpresas. A primeira foi o colar.
- E a segunda?
- Deixe-me dizer apenas que nós estamos indo a um lugar que eu estive pensando
em levá-la por um longo tempo.
- Oh, uma pista! Continue.
- É um lugar que eu sei que você realmente queria ir.
- Isso não é uma grande dica. E tenho desejado ir a um monte de lugares. É...
Marrocos?
Rick riu.
- Não exatamente.
- Nós estamos indo em direção ao sul. É o... México?
- Não, definitivamente não!
- O que há de errado com o México? Eu acho que seria divertido ir à Tijuana ou à
Enseada por um dia. Nós deveríamos fazer isso uma hora. Um grupo de garotas
do nosso andar foi uns finais de semana atrás para a praia de Rosarita.
- Nós podemos passar o dia na praia de Carlsbad, ou melhor ainda, nós
poderíamos ir até à praia de Newport.
- Você não acha que seria divertido ir até o México?
- Não.
- Por que não?
- É primitivo. Eu pensaria em outros lugares aos quais eu vou mais.
- Como onde? Onde você gostaria de ir se você pudesse ir a qualquer lugar do
mundo?
- Eu iria à Aspen.
- Colorado?
- Minha família ficou em um resort ali uma vez que foi, na minha opinião, o
melhor possível. Cinco estrelas, ótimas vistas pela janela. Eu poderia viver lá,
sem problemas.
- Você viveria onde neva? Em um ski resort? Katie nunca esperava que Rick
dissesse isso.
- Foi o primeiro lugar que me veio à cabeça. Se nós estivermos sonhando os
nossos sonhos ideais, então sim, é lá que eu viveria.
- Eu nem fazia idéia que você gostava tanto do Colorado.
Rick acenou que sim com a cabeça.
- Você e eu deveríamos ir esquiar neste inverno. Eu só fui uma vez no ano
passado. Você já esquiou antes, não é?
- Só uma vez. Com a Cris, no ensino médio. Eu falei para ela se inscrever no
clube de esqui. Nós tivemos que vender tabletes de chocolate para levantar
dinheiro para a viagem. Eu acho que comi mais do que vendi. Gostaria de saber
como eu coube em minhas roupas de esquiar.
- O que você acha? Você está interessada em descer as ladeiras novamente?
- Eu estou interessada em tentar de novo, mas você precisa saber que, quando eu
tenho um par de tábuas amarradas aos meus pés e sou empurrada ladeira de gelo
abaixo, bem, deixe-me apenas dizer que todos os coelhos da neve estarão a salvo
de qualquer competição séria.
- Você só não teve o instrutor certo, Rick disse. Quando nós formos, eu vou
ensinar a você algumas das artimanhas do esporte. Você vai ficar ótima. Confie
em mim.
Katie parou para criar uma imagem mental dela mesma na viagem de esqui no
ensino médio. Ela realmente era um desastre com os esquis. Embora, se ela
estivesse lembrando corretamente, o assistente da loja de aluguel de esquis
tinha dado a ela esquis que eram grandes demais. Talvez fosse diferente se ela
tivesse os melhores esquis ou pelo menos uns que fossem mais curtos e mais
fáceis de manusear.
- E quanto a você? Rick perguntou.
- E quanto a mim?
- Onde você viveria se pudesse viver em qualquer lugar?
Katie parou.
- Eu acho que eu gostaria de ter um pequeno apartamento em algum lugar onde
o aluguel estivesse disponível e então eu gastaria todo o meu dinheiro viajando
pelo mundo.
Rick riu.
- Estou falando sério. Tem tanta coisa fora daqui para se ver.
- Isso é o que o meu irmão diz. Ele fixou metas muito altas para nós ao iniciar
essa rede de cafés. Se nós conseguirmos os locais certos no momento certo e
adquirirmos antes da área começar a bombar, nós vamos conseguir bastante
dinheiro. A loja do Arizona era um retrocesso, mas eu estou feliz agora que não
funcionou. Josh está correndo os olhos por outros locais. Eu não te contei muitos
detalhes, mas nós temos um plano de dez anos que poderia se tornar muito bom
para nós.
Katie não estava acostumada com Rick falando sobre as suas metas financeiras.
Ela também não tinha percebido que ele e Josh planejavam permanecer com o
negócio do café por dez anos. Rick tinha a vida dele planejada.
Eu gostaria de saber se ele me colocou nesse plano de dez anos.
- A propósito, Katie perguntou. Josh vai estar no jantar de Ação de Graças
amanhã, não vai?
- Sim.
- E quanto a Eli?
- Sim, ele irá e disse que vai levar alguém.
Katie ficou empolgada.
- Ele vai levar Joseph?
- Eu não lembro quem ele disse que era. Pode ser que seja Joseph.
- Espero que seja.
Rick olhou para Katie:
- Por que você perguntou sobre Josh?
Ela estava quase revelando a sua idéia de juntar Nicole com Josh, mas ela
lembrou que Nicole não queria que Katie dissesse coisa alguma para que não
ficasse um clima estranho quando eles se encontrassem.
- Eu só estava querendo saber. Do mesmo jeito que eu quero saber por que nós
estamos quase em San Diego. Nós estamos fazendo uma viagem para dentro do
seu passado e visitando o seu antigo apartamento?
Rick olhou para Katie novamente.
- Eu não tinha pensado nisso, mas não é uma má idéia.
- Eu estava brincando. Onde nós estamos indo realmente?
- San Diego, como você percebeu.
- E o que nós estamos indo fazer em San Diego?
- Você vai ver.
Katie deu um tapinha amigável no braço de Rick.
- Você é um grande garoto chato e mimado com segredos, você sabia disso? E só
por ser chato e mimado, eu acho que você deveria me dar outra dica.
- Você acha, não é? Ok, sem problemas. Aqui está a sua dica. Isso é um „refazer‟.
- Um o quê?
- Um refazer. Nós já viemos aqui antes.
- Essa não é uma dica muito boa.
- E quando nós viemos aqui você não teve um bom tempo. Eu sempre me senti
mal com relação a isso. E estava pensando sobre esse lugar ontem e eu decidi
que, se nós viéssemos aqui e tivéssemos um refazer da experiência, eu poderia
substituir a lembrança com uma lembrança nova e melhor.
Katie pensou sobre o que Rick estava dizendo.
- Da última vez que eu estive aqui, você estava aqui também?
Rick acenou com a cabeça e deu uma olhada para ela.
Um sorriso largo e ensolarado rompeu da face dela.
- Rick, nós estamos indo ao zoológico! Você está me levando para o zoológico de
San Diego!
- Talvez, Rick disse lentamente. De qualquer forma, a expressão satisfeita no
rosto dele tornou claro que Katie chutara corretamente.
- Ei, eu volto atrás sobre ter dito que você é um garoto chato e mimado. Você é
o meu herói! Eu não posso acreditar que você está me levando para o zoológico.
Eu amo o zoológico. Exceto na última vez que estivemos aqui. Eu odiei o
zoológico aquele dia e eu odiei você. Bem, não odiei você, mas meus
sentimentos não eram agradáveis com relação a você como eles são agora. Oh,
Rick, essa é uma surpresa tão boa! Você é maravilhoso! Eu te amo!
O ”Eu te amo” saltou antes que Katie tivesse a chance de devolvê-lo à caverna
secreta de onde ele tinha pulado.
Rick permaneceu olhando para frente, dirigindo com um sorriso fixo em seus
lábios.
Katie não se retratou de sua declaração. Ela queria saber se ele entendeu como
todos os seus outros comentários exuberantes do tipo ”você-é-legal, eu-te-
adoro” ou se ele entendeu do mesmo jeito que ainda estava ressoando dentro de
Katie como um gongo. A verdade fora dita em alta voz. Katie amava Rick.
Agora estava nas mãos de Rick. Qual seria a resposta dele? Ele colocara Katie em
seu plano de dez anos? Ou ele ainda estava dando um-passo-atrás-do-outro no
relacionamento deles sem ter passado pela linha invisível que o conduziria a
saber com certeza que estava amando?
Katie desejava muito saber a resposta aqui e agora. Ela podia até ter dito a Rick
mais cedo que ela era ”boa-para-esperar”, mas no momento, ela não gostava de
ter os sentimentos dela expostos ali no espaço entre eles e ser aquela que estava
prendendo a respiração, esperando pelo que Rick diria em seguida.
Capítulo 18
Cinco horas antes Katie havia deixado escapar a declaração de amor por Rick e
ele continuava não dizendo nada a respeito, ela tinha a expectativa de uma
resposta. Ela preferia que Rick tivesse sido o primeiro a fazer uma declaração tão
importante. Ela convenceu a si mesma, pela forma como tinha dito, que poderia
deixar isso passar até Rick ser aquele que levaria a relação por conta própria.
Sem dúvidas ele iria planejar cuidadosamente o momento em que diria essas três
pequenas palavras que poderia mudar tudo pra eles.
Eles já haviam chego ao Zoológico de São Diego as 15 horas e feito o caminho
para ver as escolhas de Katie em algumas horas. Katie dizia cada animal que
gostava e então eles iam até a próxima exposição. Então este animal se tornava
seu favorito.
Rick brincou com ela, segurou sua mão, e comprou pra eles cachorro quente para
acalmar a fome antes dos grandes planos do jantar.
Na exibição do Panda, eles não viram muitos dos animais porque eles estavam
dormindo. Os Coalas estavam dormindo também. Os ursos polares estavam ativos
e bem amigáveis esta tarde. Um deles nadou para baixo do gelo na sala de vidro
e olhou para todos, depois subiu a superfície. Katie colocou a mão no vidro e
conversou com ele. Ele ficou um pouco tempo antes de voltar a sua ronda, virou
as costas para eles e nadou.
Rick gostava de ler as informações sobre cada animal. Ele ficou especialmente
impressionado quando leu que o primeiro urso polar chegou ao Zoológico de São
Diego em 1917. Agora a exibição do urso polar era a maior exibição do mundo, e
a água era mantida bem gelada mesmo nos dias quentes de São Diego.
A exibição dos Gorilas foi bem divertida pros dois. Eles riram muito e se
divertiram vendo as crianças pequenas vendo os orangotangos nadando e jogando
água para cima. Um dos orangotangos brincava mais do que os outros. Uma
pessoa parada perto de Rick e Katie disse:
- Eu acho que ele é o que pinta e tem isso na internet.
Katie pensou que o homem estava brincando, mas outras pessoas em volta deles
confirmaram que os orangotangos do Zoológico de São Diego eram conhecidos
pela sua inteligência. Rick achou um quadro informativo que explicava sobre um
orangotango chamado Ken Allen que morava ali por 29 anos. ”Curioso Ken Allen”
ele fez seu próprio nome quando escapou 3 vezes do seu habitat e ficou andando
pelo zoológico, vendo os outros animais. Os tratadores nunca conseguiam saber
como ele escapava.
O passeio deles pelo zoológico foi bem diferente de cinco anos atrás quando eles
vieram com Cris, Ted e Douglas. Katie passou a maior parte do dia se sentindo
mau porque Rick a estava ignorando depois de te-la beijado na noite anterior em
frente ao apartamento que ele dividia com Ted e Douglas. Em um momento,
Katie lembrou que chorou por causa disso e ficou chateada com Cris por tentar
anima-la.
Essa viagem ao zoológico estava sendo para relembrar e a diversão que ela e Rick
estavam tendo juntos estava suprimindo o drama e o trauma da excursão
anterior.
- Você acha que é porque somos mais velhos? Katie perguntou a Rick, enquanto
eles estavam deixando a exibição para a saída. É por isso que tivemos esse tempo
tão legal? Nós estamos aptos em levar melhor nosso relacionamento?
- Eu acho que você faz de coisas como essas mais legais, Rick disse. Eu não
acredito que você disse àquela garotinha que quando os flamingos ficam parados
com uma perna é porque querem ir ao banheiro.
Katie riu.
- Você a viu quando ela saiu com a mãe? Ela estava pulando numa perna.
- Nós podemos imaginar onde eles foram.
- E nós? Katie perguntou.
- E nós? Rick bebeu o gole final de seu refrigerante que estava carregando desde
que eles pararam na exibição dos répteis. Você quer parar em um banheiro
também?
- Não. Eu estava tentando perguntar pra onde nós vamos agora? Ela sabia que
eles iriam jantar, mas aparentemente Rick entendeu como algo sobre seu
relacionamento.
- Eu acho que estamos prontos para mais tempos bons. O que você acha?
- Mais tempos bons, sim, definitivamente. Alguma coisa mais que você queira
adicionar ao pedido?
Rick colocou o braço nos ombros dela.
- Eu acho que estamos prontos para mais tempos bons por muitos dias que ainda
virão. Isso é suficiente, ou você está pronta para mais?
- Mais?
- O quanto de compromisso você precisa neste ponto? A voz de Rick estava toda
derretida.
- Eu não preciso necessariamente de mais compromisso. Eu apenas sei que isso...
- Você sabe o que?
Ela não queria jogar para fora que o estava amando. Não ali. Não na saída do
zoológico. Ele estava dando varias pistas de que se sentia da mesma forma, e
ainda, até que ele tenha dito as palavras, ela não iria repeti-las.
- Eu só sei que estou muito feliz da forma como estamos agora, e estou
agradecida que tenhamos pego o caminho longo na marcha lenta, ela disse.
- Eu também.
Enquanto eles dirigiam para fora do estacionamento, Katie pensou sobre as
respostas anteriores de Rick. Ele estava dando a Katie todas as razões para ela
acreditar que estava incluída em seus planos de 10 anos – e muito mais. Um dia,
ela acreditava que ele iria dizer que a amava.
E eu preciso esperar esse dia. Eu não quero pressioná-lo em algo emotivo até ele
dizer isso. Eu preciso ouvir as palavras dele quando elas saírem do coração,
todas exuberantes e espontaneas.
- Então onde estamos indo agora? Katie perguntou. Então acrescentou: Algum
lugar para comermos, eu espero. Meu cachorro quente acabou la no urso polar.
Eu estou tão faminta que eu acho que poderia comer um urso polar. Não um
daqueles que acabamos de ver, porque eles eram fofos. E muito grandes! Como
uma criatura tão grande pode nadar com tanta agilidade?
- Eu não tenho idéia, mas acho que você irá gostar de onde estamos indo comer
já que esta com fome. Eu estou com fome também.
- É algum lugar que nós já fomos antes ou que você já esteve antes?
- Não. Eu achei esse lugar pela internet. Eu tive ótimas referencias, e é
diferente.
- Diferente, hum? Katie sabia que Rick sempre se interessava em procurar
restaurantes que oferecessem coisas ”diferentes”. Era por isso que ele tinha
ficado tão animado quando abriram um restaurante perto do apartamento dele
alguns meses atrás. Ele ficou falando de um restaurante indiano que abriu em
Fallbrook. Katie torceu para que essa noite não fosse a escolhida para conhecer
esse restaurante em particular. Ela queria comer um grande pedaço de carne,
não um prato com variedade de arroz.
Rick dirigiu até proximo a área antiga de São Diego e achou um estacionamento
na rua, que ele disse foi um milagre.
Katie achou uma loja de chocolate do outro lado da rua.
- Você se importa se pararmos ali antes de comer?
- Você quer alguns aperitivos? Rick perguntou.
- Não. Bem, talvez. Não é uma má idéia. Eu queria comprar algo para dar a sua
mãe amanhã.
Quando ela se juntou à família de Rick na Páscoa, todos os outros convidados
levaram bonitos presentes e doces ou frutas especiais. A família de Rick era boa
em dar presentes e Katie não queria aparecer com as mãos vazias no grande
jantar da mãe dele.
Entrando na loja de doces, Katie perguntou a Rick:
- O que sua mãe gosta?
- Ela gosta de qualquer chocolate.
- Olhe esse! Katie pulou em um chocolate. O que você acha desse?
Rick não parecia convencido.
- Você poderia pegar algumas trufas, ele sugeriu. Você pode escolher a que
quiser, e eles embrulham pra você.
Katie pegou vários tipos de bombons e trufas, enquanto uma jovem mulher com
luvas brancas enchia uma caixa com cerca de 900 gramas de bombons. Rick tinha
sugerido que ela comprasse uma caixa de 700 gramas ou, até mesmo de 450
gramas. Katie queria causar uma boa impressão então ela deixou de lado a
sugestão de Rick e pediu pela caixa de 900 gramas, certificando-se de que a
embalagem faria jus aos mais deliciosos chocolates.
A mulher do outro lado do balcão fechou a caixa marrom com um laço dourado e
o colocou de uma forma muito bonita. Ela digitou algo em seu computador e
então disse:
- Fica em $57, 82
Katie não se moveu. Ela não piscou. Por um momento ela nem respirou. A única
palavra que ela conseguiu dizer foi.
- Dólares?
- Aqui. Rick rapidamente alcançou sua carteira. Eu posso colocar no meu cartão,
se você não tiver este valor. Você pode me pagar depois. Com um sorriso ele
adicionou: Você é boa em empréstimos. Eu sei onde te encontrar.
- Não, eu posso pagar. Katie disse. Ela pegou seu cartão de débito, sabendo que
não tinha dinheiro suficiente na sua conta para cobrir o gasto. Contudo, quinta
seria Ação de Graças e feriado no banco e ela tinha quase certeza de que poderia
colocar o dinheiro de volta desde que recebesse seu pagamento de AR, já que ele
era depositado automaticamente toda sexta. Tudo que ela tinha que fazer era
lembrar de transferir o valor necessário.
Quando eles deixaram a loja de chocolate com Katie segurando o caro presente
numa sacola de shopping, ela ainda estava em choque. Ela nunca havia pago
tanto por um presente. Verdade, ela sempre fora econômica e não muito de dar
presentes então ela não sabia o quanto iria gastar com isso. Mas gastar quase 60
dolares em doces acabou com sua mente.
- Pronta para comer? Rick perguntou
Ela confirmou e forçou um sorriso. A ultima coisa que ela queria era mostrar a
Rick que ela desejava não ter comprado todo esse chocolate. Ou talvez ela
pudesse ter comprado menos como Rick havia sugerido.
Nota para si mesma: Quando Rick disser para colocar menos de qualquer coisa,
escute o homem!
Rick fez seu caminho pela rua abaixo para um restaurante charmoso que tinha
um cheiro muito bom. A placa da entrada dizia, ”Churrascaria”.
- É brasileiro. Rick segurou a porta aberta para Katie. Ele apontou para um dos
garçons vestidos com roupas estilo gaúcho que passou por eles com um grande
espeto cheio de carne. Na outra mão ele tinha uma grande faca.
- Eles vêm a mesa com a carne no espeto. Então eles cortam quanto você quiser
enquanto ainda está quente.
- O quanto eu quiser? Katie repetiu.
- Você está com fome, não está?
- Muita!
O recepcionista os sentou em uma mesa longa, perto das saladas.
- E se você não quiser a carne? Katie perguntou. Essa é a opção dos vegetarianos?
- Não, está tudo incluído.
Katie arregalou seus olhos verdes.
- Tudo incluso? Quanto custa este lugar?
- Não importa. Apenas aproveite. O que você quer beber?
Katie pediu chá, e então juntos, eles fizeram sua ronda pela espetacular mesa
das saladas. O primeiro pedaço de carne foi oferecido e cortado na mesa deles
junto com um pedaço de bacon, seguido por outros pedaços finos de carne. O
sabor era apimentado, Katie adorou, e Rick também. Eles experimentaram cada
pedaço de carne que era trazido à mesa deles.
- Eles têm 16 tipos diferentes de carne, Rick disse. Eu acho que nós devemos
começar a contar porque eu acho que não conseguiremos chegar lá.
- Essa ultima estava maravilhosa, Katie disse. Mesmo tendo comido pouco ela já
estava cheia.
A salada ainda estava intocada, mesmo ela amando. Ela não poderia forçar a si
mesma a comer mais um pedaço.
- Selena continua no Brasil, você sabe, e ela me disse sobre lugares que você
poderia comer muita carne. Eu não consegui imaginar, mas tenho certeza que
era disso que ela estava falando. E só pra constar, você pode me trazer aqui
sempre que quiser.
Katie teve a sensação de que a conta seria maior do que a dela com o chocolate.
Ela queria ter certeza que Rick saberia o quanto ela tinha gostado do dia. Eles
saíram para dar uma volta pelo bairro antes de voltar para casa.
- Você é tão bom pra mim Rick. Obrigada pelo dia. O zoológico, o jantar
maravilhoso, e essa volta. Você realmente sabe ser generoso.
- Saiu tudo como imaginei, valeu a pena.
- O que valeu a pena?
- Gastar tempo pensando em coisas legais para fazer e lugares interessantes para
jantar. Nós estamos juntos há quase um ano, Katie. Eu sei, que estamos
oficialmente juntos há alguns meses, mas nós fizemos muitas coisas juntos por
um longo tempo. Muito desse ano passado eu estava focado no café e em abrir
outro com o Josh. Isso me fez sentir que estava falhando com minhas obrigações
de namorado.
- Obrigações de namorado? Katie riu. Ei, se você está saindo comigo como uma
tarefa ou obrigação, você está bem enganado com o que significa nosso
relacionamento.
- Ok, então obrigações foi uma palavra errada. Mas você sabe o que eu quero
dizer. Eu quero me focar em você agora. Eu quero que a gente faça coisas legais
juntos. Não ria de mim, mas eu fiz uma lista. É isto estava ma lista. Eu queria ir
ao zoológico para você poder ter uma boa memória em estar comigo.
Katie olhou para Rick com olhar de devoção e apreciação.
- Missão comprida, meu namorado fazedor de listas. Eu agora tenho a melhor e
mais feliz lembrança do zoológico.
- Ótimo. Rick parou de andar. Eles estavam em frente a uma loja de vender
bicicletas. Todas as lojas estavam fechadas, mas era um lugar turístico.
Enquanto eles estavam lá, Rick segurou Katie em seus braços. Ela sabia que ele
iria beija-la. Ela então fechou os olhos e esperou. Quando os lábios de Rick
estavam próximos aos dela, um arroto inesperado rodeou em seu estomago e
estava pronto para sair. Katie rapidamente virou o rosto e tentou impedir. Ela
fez um barulho engraçado e então riu.
- O que é tão engraçado? Rick perguntou.
- Nada. Eu! Meu barulho! Há! Katie tentou não ficar com uma expressão estranha
e trazer de volta o momento romântico que eles quase experimentaram. Me
desculpe, Rick.
Ele parecia confuso.
De forma alguma Katie iria contar a ele que ela quase deixou escapar um gás
tóxico do rosto dele. Coitado do rapaz. Ele parecia não entender a brincadeira
privada de Katie.
- Vamos lá. Ele pegou a mão dela e a levou de volta ao carro.
- Você está triste? Ela perguntou.
- Eu deveria estar?
- Não. Eu apenas... meu hálito está realmente com cheiro estranho. Ela disse. Me
desculpe eu não queria estragar o momento.
- Eu devo ter algum chiclete no carro.
- Bom. Eu irei pegar.
Eles pegaram a estrada e foram para o norte, mastigando o chiclete sabor menta
e pimenta e conversaram sobre o zoológico e outras idéias que Rick tinha em sua
lista. O humor deles estava ótimo. O trafego estava horrível, mas deu a eles a
oportunidade de discutir sobre vários pontos. Uma hora no caminho deles pra
casa, Katie de repente segurou o braço de Rick.
- Ah, não! Rick, nós temos que voltar!
- Qual o problema?
- Os chocolates! Eu esqueci os chocolates! Eu coloquei a sacola em baixo da mesa
do restaurante, e esqueci. Rick, nós temos que voltar!
Ele não estava feliz. Mas Katie também não estava.
- Eu deveria dizer pra esquecer isso e irmos embora, mas os chocolates foram um
grande investimento pra mim, Rick.
- Você deveria ter comprado uma caixa menor! Ele murmurou
- Eu sei. Você está certo. Eu vou te pagar pela gasolina de volta.
- Você não precisa me pagar pela gasolina, Katie. Eu deveria ter lembrado
também. Eu deveria ter lembrado antes de sair.
- Eu odeio quando faço coisas assim.
- Não gaste a próxima hora se culpando. Aqui. Use meu celular e ligue pro
restaurante. Eles podem levar a sacola pra você em frente ao restaurante então
a gente apenas passa e pega.
- Você tem o numero deles aqui?
- Eu coloquei ai quando liguei alguns dias. Está na minha lista de restaurantes.
- Eu não conheço ninguém que tenha uma lista de restaurantes no celular. Por
que você tem todos esses números de restaurantes?
- Para momentos como esse, Rick disse com uma voz baixa.
- Ponto para você. Katie achou o numero e ligou pro restaurante. Eles disseram
que acharam uma sacola e que iriam segurar na porta da frente.
Levou 1:15 minutos para dirigir de volta ao restaurante. Então eles voltaram pra
casa e levaram 2h pra chegar por causa do tráfego. Parte do caminho eles
estavam cordiais. Mas quando Rick deixou Katie do Crown Hall depois de uma
hora da manhã, os dois estavam meio ausentes.
- Eu virei amanhã 11h, Rick disse.
Por um momento, Katie não conseguia lembrar o por que ele estaria vindo. Então
ela lembrou que seria Ação de Graças. O almoço seria as 14h, mas Rick iria pega-
la mais cedo para eles assistirem o jogo de futebol ou jogar algum jogo.
- Estarei pronta as 11h, Katie disse mais para lembrar a ela mesma e então
acrescentou. E Nicole estará comigo.
- Bom. Rick disse.
Katie estava quase fechando a porta do carro quando Rick disse.
- Katie, a sacola.
- Ah, os chocolates. Eu quase os esqueci de novo. Ela pegou a sacola.
- Você quer que eu fique com eles e traga comigo amanha?
- Não, eu irei lembrar. Obrigada de novo, Rick. Foi um dia maravilhoso e noite
também. E o começo do outro dia. Me desculpe por esquecer os doces.
- Não se preocupe. Durma um pouco. Te vejo de manhã.
Katie acenou, e Rick foi embora. O campus estava estranho. Nenhum estudante
estava andando por lá. Mesmo já sendo tarde da noite, sempre tinha alguém
entrando ou saindo do estacionamento ou sentado no lobby. Crown Hall estava
parecendo um lugar fantasma.

Usando sua chave mestra, Katie fez seu caminho pelo prédio, bocejando muito.
Não havia musica saindo das portas por onde passava. Nenhum som de conversas
vindas dos banheiros e nenhuma jovem sentada em frente seu quarto com
problemas nas chaves e conversando em seu telefone.
Katie achou que seria fácil ir pra cama hoje. O que não foi fácil foi acordar no
outro dia quando o alarme do seu celular tocou. Ela levou pouco tempo tomando
banho. Mas mesmo sendo pouco tempo, Katie achou que seria difícil estar pronta
antes das 11h.
Ela saiu pelo corredor em seu robe e bateu na porta do quarto de Nicole,
chamando-a.
- Ei, eu não sei o que vestir. O que você está usando?
Nicole abriu a porta e fez sinal para Katie entrar enquanto ela estava no celular.
Ela estava arrumada, e seu cabelo brilhante estava muito bonito. Seu vestido
marrom acentuava da forma certa os lugares certos. Seus brincos e o colar
estavam ideais, e até seus sapatos estavam combinando. Nicole estava perfeita
para a Ação de Graças e Katie tinha certeza de que Josh iria notá-la e ter uma
ótima impressão.
Desligando o celular, Nicole imediatamente perguntou.
- Eu estou muito arrumada?
- Não. E nem pense em se trocar. Você está perfeita. Fantástica. Agora, posso
pegar algo emprestado?
Nicole riu.
- O que quiser. O que você quer vestir? Calças? Um vestido?
- Eu quero colocar um vestido. Ou uma saia. Eu acho que fico mais confortável
com saias.
- Aqui, tente essa. E se essa não ficar boa, tente essa. Nicole deu a Katie
algumas peças do armário.
Katie levou apenas 6 tentativas antes de achar uma boa combinação. Ela
escolheu uma saia preta de Nicole apenas porque ela cabia bem melhor do que as
outras e uma blusa verde e branca com um suéter que combinavam bem com
seus olhos. Parecia combinar também com o cordão que Rick deu a ela.
- Você precisa me levar pra fazer compras. Katie disse. Eu nunca compraria algo
assim, mas agora que as coloquei junto, eu gostei. Gostei da saia também.
- Quer saber? Pode ficar com a saia. Eu não a usava há mais de um ano. Sério,
pode ficar.
- Obrigada. Vou voltar ao meu quarto e pegar o presente da mãe do Rick. Então
estarei pronta.
- O que você comprou?
- O chocolate mais caro do mundo.
- Eu comprei pra ela mum16. Isso é idiota? Eu não sabia o que comprar. Nicole
pegou um vaso com uma planta.
- Estas são as mums? Elas parecem margaridas. Só um pouco marrons. Ou é um
tipo de laranja?
- É ocre.
- O que é isso?
- É o nome desse tipo de marrom. Ocre.
- Ok. Eu tenho que te dizer que você e a mãe do Rick com certeza se darão bem.
Você estará no topo da lista dela de pessoas favoritas com seu ótimo vocabulário.
- Ótimo, mas mesmo assim vou levar as crisântemos.
- Ahhhh! Diga essa palavra perto dela também. Ela sabe os nomes verdadeiros
das plantas e flores. Ela irá amar.

16
Uma espécie de ‘apelido’ para as flores crisântemos.
Capítulo 19
Katie estava certa. Com ou sem flores ou a linguagem das nuances das cores, a
mãe de Rick instantaneamente adorou Nicole. Assim como o pai de Rick. Josh, no
entanto, parecia envolvido demais numa conversa com o pai de Rick para fazer
qualquer coisa além de dizer oi. Quando o pai de Rick saiu da cozinha para
atender a campainha, Katie tentou encontrar uma maneira de conectar Josh e
Nicole.
- E então, Josh, você ainda está morando no Arizona, ou voltou pra cá quando os
planos do café em Tempe não deram certo?
- Eu estou no meio-a-meio. Do jeito que as coisas estão indo, eu devo estar de
volta no Natal, mas isso depende do que minha namorada acabar fazendo.
- Sua namorada? Katie trocou um rápido olhar com Nicole, que estava colocando
uma pequena cenoura de molho dentro de uma tigela. Nicole pareceu insensível
à novidade de que Josh tinha uma namorada, mas Katie sentiu que devia outra
desculpa à sua amiga. Primeiro ela tentou juntar Nicole com Eli e não deu em
nada. Agora Josh tinha uma namorada.
- Shana se candidatou a um emprego em San Diego. Se conseguir, ela se mudará
pra cá no fim de dezembro. Então eu não teria motivos para ficar no Arizona.
Claro, muito vai depender, também, de onde nós vamos começar o próximo café.
A mãe de Rick entrou na conversa enquanto ela enchia uma tigela de madeira
com tortilhas.
- Eu queria que Shana tivesse se juntado a nós nesse feriado. Por favor, diga a
ela que ela é bem vinda aqui no Natal. Você também, Katie, claro. Nós tivemos
um tempo ótimo quando você esteve conosco no último Natal. Você é sempre
bem vinda. Eu espero que saiba disso. Agora que nós nos mudamos e estamos
bem mais perto da Rancho, eu espero que você venha aqui mesmo quando Rick
não estiver com você. E Nicole, você é sempre bem vinda também.
- Obrigada, Nicole disse. Tem certeza que não há nada que eu possa fazer para
te ajudar com a comida?
- Ainda não. Eu te aviso quando nós estivermos próximos ao horário de nos
sentarmos pra comer.
- A mesa está linda, a propósito, Nicole disse. Rick mostrou a casa pra nós. A
mesa de jantar é maravilhosa. Eu adoro aquela madeira escura. Sua louça de
porcelana é um dos meus modelos preferidos. Minha tia tem igual. É Lenox, não
é?
Vindo de qualquer outra garota jovem, aqueles elogios poderiam soar com um
monte de frases falsas com a intenção de impressionar. Vindo de Nicole, elas
eram sinceras. A mãe de Rick pareceu perceber isso.
- Você viu a tigela de molho que vem com o conjunto de peças? Eu acho que é
minha peça favorita. Ela foi até a sala de jantar e Nicole a seguiu, animada para
conversar sobre a louça de porcelana.
Katie se virou para Josh.
- Espero que Shana consiga o trabalho. Eu gostaria muito de conhecê-la.
- Você vai gostar dela. Ela se parece bastante com sua amiga. Josh apontou com
a cabeça para a sala de jantar, onde Nicole estava de pé de costas para eles.
- A Nicole é ótima, não é? Katie sabia que Josh quis dizer algo positivo com o
comentário, mas sinceramente, Katie teria gostado mais se Josh tivesse dito que
Shana era bastante parecida com Katie. Isso teria aumentado o „ibope‟ de Katie
com a família de Rick, o que Katie sentia ser sempre uma boa coisa a ser feita.
Além do mais, se Josh estava comparando sua namorada com Nicole, então Katie
desejou ter apresentado Josh a Nicole antes de ele ter se envolvido com Shana.
Mas ela nem teve tempo de se sentir mal pelas possibilidades que o comentário
de Josh trazia porque o pai de Rick retornou da cozinha com Eli e Joseph.
Katie cumprimentou Joseph com um abraço de lado e disse um caloroso oi para
Eli. O irmão e o pai de Rick pareciam um pouco surpresos com a aparência
desmazelada do companheiro de quarto de Rick. Ou talvez fosse a aparência de
Joseph.
Rick, que estava lá fora na garagem procurando por algum tipo de bandeja em
meio à coleção de caixas fechadas para sua mãe, entrou naquele momento. Ele
apresentou Eli e Eli apresentou Joseph. Nicole e a mãe de Rick retornaram para a
cozinha e outra rodada de apresentações aconteceu com mais apertos de mão e
olhares curiosos.
Katie tinha que admitir, Rick devia ter preparado Eli para o código de vestimenta
da casa dos Doyle. Eli estava de calça jeans e um suéter com um buraco no
braço. Seu cabelo escapulia por debaixo da boina que ele deveria ter retirado
quando entrou na casa. Joseph não estava tão bagunçado quanto Eli, mas sua
camisa estava amassada e carregava um leve cheiro do posto de gasolina.
- Por favor, sirvam-se de alguns aperitivos. A mãe de Rick assumiu o papel de
uma anfitriã ideal e se certificou de que todos tinham algo para beber.
Espalhada pelo balcão, junto com as tortilhas e uma travessa de vegetais frescos
e picados, estava uma salada de frutas feita na hora, pão francês com patê de
espinafre, azeitonas, queijo e torradas.
- Que banquete maravilhoso. Joseph pegou algumas azeitonas e cubinhos de
queijo. Muito obrigado por me convidar para o jantar de Ação de Graças de
vocês.
- Ainda tem mais, Rick disse. Isso ainda não é o jantar. Isso é só o aquecimento.
Joseph olhou incrédulo. Katie se perguntou como deveria ser para alguém que
cresceu numa vizinhança humilde entrar numa casa grande e primorosamente
decorada como a dos Doyle. O que será que ele pensa?
Verdade, a cafeteria da Rancho Corona provia uma variedade abundante de
comida. Mas aqui, toda a comida era apresentada artisticamente e era
acompanhada por pratos de porcelana para os aperitivos e taças de cristal para
as bebidas.
Katie olhou para Eli. Ele estava encarando a mãe de Rick como se estivesse
tentando memorizar sua fisionomia. Ela era uma mulher linda. Alta e de cabelos
escuros como Rick. Quando ela era jovem, ela tinha feito alguns trabalhos como
modelo e quando Rick era jovem, ela vendera alguns produtos para pele. Rick
contou à Katie uma vez que o avô de sua mãe morou na Itália e que ele ainda
tinha alguns parentes lá.
Dando alguns passos à frente para conseguir a atenção de Eli, Katie fez o sinal
que eles tinham praticado na Noite de Pizzas antes de Nicole descer. Ela
esfregou sua sobrancelha direita e passou a mão em seu cabelo.
Eli não captou a mensagem.
Katie fez o sinal pela segunda vez. Ele continuou sem responder. Recorrendo a
uma tática mais óbvia, Katie mudou para o original sinal com os dedos ”tire uma
foto, dura mais”.
Eli olhou para ela, assim como todos.
Katie rapidamente afastou suas mãos uma da outra e fez um estranho movimento
de estalar os dedos, como se um pouco de sal ou patê dos aperitivos tivesse
ficado em suas mãos e o sinal fosse parte do método para removê-los.
Eli respondeu à mímica de Katie passando a mão em seu cavanhaque. Esse era o
sinal que ele tinha dado a ela no saguão do Crown Hall, então agora ela teve
plena certeza de que ele estava em sintonia com ela. Ao menos ele tinha parado
de encarar.
A família Doyle era forte em tradições e uma dessas tradições era um jogo de
tabuleiro que eles jogavam quando todos estavam juntos. Katie secretamente
achava o jogo muito estranho, mas ela tinha jogado em ocasiões anteriores e
sabia que daria seu melhor no jogo mais uma vez.
O jogo vinha com uma roleta e peças para mover pelo tabuleiro, mas ele deixava
a desejar na parte da competição. Era mais um jogo ”vamos conversar”. Quando
um jogador parava na casa azul, ele tinha que pegar uma das cartas-pergunta e
respondê-la. Se ele parasse na casa vermelha, ele tinha que pensar numa
pergunta e fazê-la à pessoa a sua direita.
Katie descobriu que o jogo foi inventado por um terapeuta que estava tendo
problemas em convencer sua família a se interagir. Não que Katie soubesse como
uma família normal e saudável devia interagir nos feriados, mas se sentar para
responder a perguntas parecia estranho para ela.
Entretanto, enquanto o peru cozinhava, os convidados se sentaram em volta de
uma grande mesa na espaçosa sala de estar e Rick foi o primeiro a girar a roleta.
Ele parou na casa vermelha e tinha que fazer uma pergunta a Nicole. Ele
perguntou a ela se ela estava feliz por ter vindo à casa dos Doyle.
Nicole graciosamente disse:
- Sim, eu estou muito feliz por estar aqui. Obrigada por terem me convidado.
Isso fez o jogo começar de um jeito legal e cordial.
Eli foi o primeiro a tirar uma carta-pergunta. Ele leu em voz alta.
- Descreva um dos seus aniversários preferidos.
Eli encarou a carta por um longo e desconfortável momento antes de finalmente
olhar pra cima.
- Eu tinha nove anos. Eu estava morando em um lote com várias casas em Zâmbia
e choveu no meu aniversário.
Todo mundo esperou pela parte seguinte da história. Exceto Joseph que
concordou com a cabeça e sorriu.
- Não chovia há quatorze meses, Eli explicou. Quando começou a chover, todos
correram para a parte descoberta na frente do posto médico. Foi uma grande
festa. A escola foi suspensa pelo restante do dia. Todos gargalhavam, dançavam,
e batiam com os pés nas poças d‟água. Eu e meus amigos fizemos uma grande
guerra de lama e minha mãe fez um bolo. Meu pai me deu uma lanterna que ele
mantinha sempre em seu bolso. Eu ainda tenho a lanterna. Aquele foi, sem
dúvida, meu aniversário favorito.
O restante do grupo ficou em silêncio por um tempo em silenciosa contemplação.
Era a vez de Josh. Ele girou a seta e parou na casa azul. Sua pergunta era:
- Onde você espera morar daqui a cinco anos?
- Vocês já sabem a resposta dessa. Josh olhou para seus pais e para Rick. Meu
objetivo é ser milionário quando eu estiver com trinta e cinco anos.
- Mas onde você quer morar daqui cinco anos? Nicole soltou.
- No Hawaii. Embora eu ache que, do jeito que as coisas estão indo, demore mais
uns dez anos para conseguir isso. O projeto de Tempe foi um retrocesso, mas se
nós conseguirmos ajeitar as coisas até o fim do ano, eu acho que conseguiremos
voltar à ativa. Eu tenho a papelada preliminar em movimentação e nós nos
encontraremos com a construtora na terça-feira, então...
- Espere, Katie interrompeu. Vocês encontraram outra propriedade para
desenvolver o projeto? Eu não sabia que vocês já tinham encontrado algo.
Josh concordou com a cabeça e lançou um olhar irritado para Rick, como se este
fosse o responsável a dar os detalhes para Katie.
- Nós temos dois em vista. Tenho certeza de que Rick vai te contar sobre eles.
Rick lançou um olhar de volta para Josh enquanto disse:
- Ainda está nas preliminares. Um é em Redlands, e o outro é no leste de San
Diego. Ambos são há algumas horas de estrada daqui.
- E ambos estão sendo oferecidos a preço abaixo do mercado, Josh adicionou. Se
os dois derem certo, eles vão, definitivamente, fazer a perda do negócio de
Tempe ter valido a pena. Nós conseguiremos dobrar nossos lucros.
O pai de Rick entrou no diálogo.
- Nós saberemos mais depois que nos encontrarmos com a construtora na terça-
feira. Agora é a vez de quem?
Katie teve um estranho sentimento. Todo o tempo que Rick tinha falado que
gastaria com ela provavelmente seria redirecionado depois daquele encontro de
terça. Ele poderia facilmente voltar à mesma agenda que tinha quando ele e
Josh estavam tentando fazer as coisas darem certo com o café em Tempe.
Josh disse que ele queria fechar o negócio até o fim do ano. Aquilo significava
que as coisas poderiam mudar rapidamente para Rick e Katie. Ela não estava
certa sobre como se sentia a respeito disso. Um pequeno eco dentro dela a
estava dizendo que a razão pela qual ela descobriu estar amando Rick era por
causa do sentimento de segurança que ela sentiu depois que ele expressou sua
afeição por ela com beijos e por ele estar mais disponível para que eles ficassem
mais juntos. Como ela se sentiria quando ele não estivesse assim tão disponível?
Era a vez da mãe de Rick e ela estava respondendo uma pergunta sobre o que ela
sentia quando ia ao dentista. Enquanto ela descrevia sua aversão a grandes
agulhas, Katie desligou sua mente e tentou imaginar como as coisas ficariam
entre ela e Rick pelo resto do semestre, o resto do ano, pelos próximos dez anos,
e pelo resto da vida dela.
Forçando-se a voltar ao presente, Katie percebeu que parte do fato de ela amar
Rick significava entrar na vida dele no nível apropriado para o tipo de
relacionamento deles. Se ela realmente o amava, o que ela sabia ser verdade,
então ela precisaria entrar nos objetivos dele e andar no mesmo ritmo que ele
para que ele cumprisse esses objetivos. Estar com Rick o resto da vida dela
sempre significaria planos financeiros, objetivos de carreira e muitas horas de
trabalho.
Ela não tinha medo de uma vida assim. Era apenas diferente da vida que ela
vivera e certamente diferente de como ela imaginara que sua vida seria.
A única parte que ela sabia que teria que trabalhar era a parte do dinheiro.
Comprar chocolates para a mãe de Rick tinha sido um pequeno teste do nível de
vida que a família dele tinha. Quando Katie e Nicole entraram na cozinha mais
cedo e presentearam a mãe de Rick com as flores e os doces, ela expressou igual
apreciação pelos presentes. Ela deu um abraço de agradecimento em Katie pela
grande caixa de doces e disse:
- Não há como tentar fazer dieta nos feriados, não é?
Foi um comentário amigável e dito de forma espontânea. Mas agora que Katie
tinha pensado sobre isso, ela percebeu que os caros chocolates iriam ficar
intocados pela mãe de Rick. Katie sabia que ela teria que desenvolver um novo
senso de entendimento para todas as coisas relativas ao dinheiro. Especialmente
em dar presentes aos membros da família Doyle. Ela gostava de desafios. Esse
era um que ela acreditava que conseguiria vencer.
- É a vez de Katie. Rick deu a roleta pra ela girar.
Ela voltou seus pensamentos de volta para o jogo e tirou um cinco. Sua peça
parou numa casa vermelha e ela tinha que fazer uma pergunta a Joseph. Sem
pensar em como sua pergunta poderia soar, ela voltou sua inspiração para o rumo
que seus pensamentos tinham tomado.
- Se você tivesse um milhão de dólares, o quê você faria?
- Essa é sempre uma boa pergunta, o pai de Rick disse.
Joseph não aparentou ter a mesma apreciação pela pergunta que o pai de Rick
teve. Ele gaguejou um pouco, como se ele nunca tivesse pensado nisso. Depois
de um tempo ele respondeu:
- Eu traria minha esposa e minha filha para morarem comigo.
O grupo ficou mais uma vez em silêncio.
- Sua filha? Katie perguntou. Eu só vi a foto da sua esposa. Eu não sabia que você
também tinha uma filha.
- Ela só tinha três meses quando eu deixei Ghana, e nós não tivemos a
oportunidade de tirar fotos dela.
Rick mudou de posição desconfortavelmente.
- Como você consegue agüentar ficar longe delas?
- Alguns dias são mais fáceis que outros. Quando eu ouço que elas estão bem,
isso me encoraja a continuar e terminar meu curso. Minha esposa entende o que
eu estou tentando cumprir aqui com meus estudos. Ela sabe que isso será para o
bem do nosso povo, daí ela diz que o sacrifício dela é pequeno.
A conversa continuou enquanto Joseph explicava como, quando seu avô era um
chefe da aldeia, um missionário dos Estados Unidos tinha vindo e contado a eles
sobre Cristo. O pai de Joseph acreditou e como resultado, toda a aldeia veio a
Cristo. Desde então, a aldeia cresceu surpreendentemente e usufruiu de boa
saúde e abastecimento estável de água potável. O pai de Joseph era o chefe
agora e Joseph foi escolhido para ir para a faculdade através de uma bolsa de
estudos providenciada pela primeira organização missionária que fez contato com
a aldeia. Os planos de Joseph eram de voltar à sua aldeia como pastor e como
professor na escola.
O contraste entre os objetivos de vida de Joseph e Josh eram chocantes.
- Eu sinto muito por você, sua esposa e sua filha estarem separados durante esse
tempo. A mãe de Rick disse. Quando foi a última vez que você as viu?
- Vinte e três meses e duas semanas atrás.
A mãe de Rick deixou escapulir um leve suspiro que expressou o que Katie estava
sentindo e o que ela achava que o resto deles também estava sentindo.
- O que você está fazendo, Joseph, é muito admirável. Eu sei que o Senhor
abençoará você e sua esposa pelo grande sacrifício de vocês.
- O Senhor já tem nos abençoado. Abundantemente. A expressão de Joseph era
cheia de paz. Katie desejava que, agora mesmo, ela tivesse um milhão de
dólares para que Joseph pudesse estar com a família dele durante os dezessete
meses restantes que ele estaria na faculdade.
- É a vez de quem agora? Josh perguntou.
Katie não estava mais com vontade de jogar. Rick deve ter sentido o mesmo
porque ele disse:
- Que tal nossa anual volta pelo quarteirão?
Katie ouvira sobre essa tradição dos Doyle no último Natal. A família sempre saía
para dar um passeio enquanto o peru estava na sua última hora no forno. Eles
retornavam à casa cheirosa pela fragrância do peru e já tinham cuidado de
aumentar seu apetite durante a caminhada.
- Bem na hora, Rick, a mãe dele disse. Sim, que tal a caminhada? Todos prontos
para aumentar o apetite?
O pai de Rick foi o primeiro a se levantar. Todos o seguiram e se reuniram na
porta da frente. Katie notou que a mãe de Rick tinha ficado na cozinha.
- Sua mãe não vai vir?
- Não, ela normalmente fica aqui preparando o purê de batatas e as ervilhas
enquanto nós caminhamos.
- Eu vou ficar e ajudar. Nicole deu uma cutucada no braço de Katie. Esses
sapatos não são os melhores pra caminhar. Eu prefiro ficar.
- Apenas se certifique de deixar alguns pedaços de batata no purê, Katie disse. É
assim que Rick gosta. Com alguns pedaços.
- Entendi. Com alguns pedaços.
Assim que eles deixaram a casa, Katie compassou seu andar com o de Joseph.
- Qual é o nome da sua filha?
- Nós a demos o nome de Esperança.
Katie sentiu seu coração ficando mais afeiçoado por Joseph e sua esposa, Shiloh.
Até o nome da filha deles era um reflexo das aspirações que eles compartilhavam
pela aldeia e pelo povo deles.
- Eu gostaria que houvesse um jeito de vocês ficarem juntos aqui. Os três
deveriam ficar juntos.
- Esse era nosso plano original. Nós dois preparamos os formulários e os vistos
necessários, mas nem tudo foi como nós queríamos. Tudo bem. Nós estamos,
certamente, dentro do plano de Deus. Ele tem muitos pensamentos que nós não
entendemos.
O grupo desceu a larga rua do novo complexo de casas. Toda a paisagem estava
fresca e verde e todas as árvores eram jovens. A maioria das casas estava
ocupada; apesar de a vizinhança ter aquele aspecto sonolento, como se tivesse
acabado de acordar. Era uma comunidade bebê e estava destinada a crescer
forte.
Rick foi para o lado de Katie e pegou a mão dela. Puxando-a alguns passos para
trás dos outros, ele disse:
- Você está bem?
- Estou, eu só estou pensando em Joseph. Eu queria que ele pudesse trazer sua
família pra cá.
- Eu entendo o que você quer dizer. Em horas como essas que eu gostaria de ser
um milionário, para fazer essas coisas acontecerem. Às vezes eu dou pra trás nos
planos de Josh de ganhar muito dinheiro. E então eu ouço alguém como o Joseph
com uma necessidade dessas e eu só gostaria de poder fazer um cheque.
- Eu sei, Katie disse.
- Isso me ajuda a lembrar porque eu concordei em entrar nessa franquia do café
com o Josh e despender tanto esforço nisso. Se nós conseguirmos ser bem
sucedidos nisso, nós teremos uma grande chance de ajudar aos outros
financeiramente.
Katie estava feliz por Rick ter dito o que ele disse naquele momento. Dentro da
casa os pensamentos dela tinham pendido para um lado da equação, pensando
que a busca incansável por riqueza era um objetivo fraco em comparação ao foco
solitário de Joseph em se capacitar para voltar a Gana e ensinar os outros.
Rick fez um carinho na mão de Katie.
- Quando eu perguntei um minuto atrás sobre você estar bem, eu estava me
referindo às novidades sobre os dois novos cafés. Como você está processando
isso tudo?
Quando Katie ouvira essa novidade, ela formulou as primeiras linhas do que ela
queria dizer: ”Por que você não me contou ontem? Nós ficamos juntos o dia todo
e quase a noite toda e nós conversamos por horas. Entretanto você nem tocou
nesse assunto. Por que?”
Contudo, agora que ela teve tempo para colocar as coisas sob uma perspectiva
mais clara, ela estava pensando em Shiloh e no sacrifício que ela estava fazendo
com aquela garotinha, Esperança, para que Joseph pudesse atingir seu objetivo.
Para Katie, aquilo parecia mais com a linda imagem de amor verdadeiro do que o
sentimento possessivo e acusador que ela originalmente iria lançar sobre Rick.
Com aquele renovado senso de admiração pelo que Josh e Rick estavam tentando
alcançar em longo prazo, Katie tinha uma resposta diferente para a pergunta
dele.
- Eu gostaria de ter ouvido a notícia de você, mas eu acho que posso entender o
motivo de você ter evitado esse assunto ontem. Foi um dia divertido. Bem,
divertido exceto pelo fato de eu ter esquecido os doces.
- Não se preocupe com isso, Katie. Deu tudo certo.
- Acho que sim. Eu deveria ter comprado só metade do que eu comprei, como
você sugeriu. Eu aprendi bastante, entretanto. E eu aprendi bastante com Joseph
naquele jogo, que, a propósito, eu sempre julguei ser um jogo idiota, mas agora
eu acho que entendo porque sua família gosta dele. Meu pensamento sobre essa
coisa toda do café é que você deve correr atrás. Independente das oportunidades
que Deus der a vocês e da forma que elas acontecerem ou quando elas
acontecerem, eu acho que você deve correr atrás dos seus sonhos e objetivos. É
isso que você quer. Você não precisa me comunicar sobre cada acontecimento,
no entanto, quanto mais você me contar, menos provável é que eu acabe
soltando frases vergonhosas na frente da sua família.
Rick sorriu.
- Você é a melhor, Katie. E sabe o que mais? Você é boa demais pra mim.
Katie olhou pra ele. Eles estavam longe demais de todos para que eles os
pudessem ouvir. Rick parecia estar a um pequeno passo de proferir as três
poderosas palavras que tinham, mais uma vez, subido até a superfície do coração
de Katie. Ela carinhosamente queria dizê-las em voz alta. A afirmação que estava
na ponta da sua língua era: ”A razão pela qual você acha que eu sou boa demais
pra você é porque eu te amo, Rick Doyle”.
Ela guardou suas palavras dentro de si e esperou Rick fazer a declaração que ela
não podia deixar de acreditar que estava nos lábios dele. Eles pararam de
caminhar. Rick olhou dentro dos olhos de Katie. Ela encontrou o olhar dele,
ansiosa, pronta para ouvir aquelas palavras que mudariam a vida dela.
Capítulo 20
- Então o que ele disse?
Nicole estava na beira da cama mais tarde na mesma noite do Jantar de Ação de
Graças, ouvindo o resumo de Katie sobre o que aconteceu entre ela e Rick na
caminhada deles. Katie estava sentada no colchão inflável no chão do quarto de
Nicole, tendo gasto a ultima hora falando do relacionamento dela com Rick.
- Ele disse, 'Você está esplendida hoje'.
- E? Nicole motivou.
- Foi isso. Ele me deu um beijo rápido e suave, e nós andamos rápido pra
alcançar os outros. Quando ele chegou perto do pai ele disse 'Estou sentindo falta
do Max'. E então o irmão dele se juntou aos dois e começaram a conversar sobre
o Max, o que eu achei ser um papo de homem entre os Doyles.
- Desculpa, me perdi. Quem é Max?
- Max era o cachorro deles. Era um ótimo cachorro. Eu o conheci. Eu acho que
eles o tiveram por 15 anos. Rick estava tomando conta do Max no verão passado
quando os pais dele se mudaram pra casa nova, e o velho cão nunca conheceu a
casa.
- Rick não voltou a falar do relacionamento de vocês? Nicole perguntou
- Não. Você estava lá no resto do dia. Nós não conversamos mais sozinhos.
- Foi um dia maravilhoso. Que jantar! A mulher sabe cozinhar. E decorar. Você
viu o quarto do casal e o banheiro? Claro que viu. Você já esteve lá antes de
mim. Estou falando, Katie, eu nunca vi uma casa tão bonita. Eu não posso
acreditar que eles moram nessa casa há alguns meses.
- Eles são uma família maravilhosa. Em termos de ambição e classe, eles estão
em lados polares opositores da minha família. Se Rick e eu nos casarmos, eu
realmente ficarei nervosa sobre os pais dele conhecerem os meus.
- Casar? Você disse isso?
- Sim, eu acho que disse, não disse?
- Vocês pensam em casar? Nicole perguntou. Digo, vocês já conversaram sobre
casar?
- Não. Como eu te disse nós nem chegamos à parte de dizer „eu te amo‟. Às
vezes, como hoje, eu consigo imaginar isso. Eu posso-me ver ajustada a isso,
adaptada e vivendo minha vida. E outra hora eu... Katie sentiu sua garganta
fechar. Outra hora eu penso em pessoas como Eli e Joseph e me sinto como se eu
tivesse mais a ver com esse tipo mais simples de vida. Sabe? Como Eli disse que o
aniversário preferido dele foi quando choveu e eles dançaram na chuva.
Katie imaginou varias crianças se divertindo na chuva enquanto os adultos se
alegravam e riam uns pros outros enquanto chovia.
- É uma ótima imagem não é? Ela continuou. É muito lindo, uma forma simples de
celebração. Eu posso apostar que não haja uma pessoa no complexo onde Eli
mora que tenha uma tigela de porcelana. Não, eu posso apostar que no complexo
onde ele mora não haja alguém que se quer tenha visto uma tigela de porcelana.
Bem, exceto talvez os pais de Eli antes de irem pra África.
Nicole parecia que iria protestar sobre o discurso de Katie, mas Katie
rapidamente acrescentou,
- Digo, não há nada de errado com isso. Eu amo o Dia de Ação de Graças, com as
flores bonitas no centro da mesa, e todas as figuras de peru e índios. Mas, eu não
sei, você tem que me dizer Nicole. Todas as pessoas como eu apreciam e
eventualmente se divertem com as pessoas de classe alta? Ou eu sempre irei
preferir dançar na chuva ao invés de me preocupar com garfo de saladas?
- Katie, eu acho que você pode fazer o que estiver em seu coração. O que
imaginar. Você se encaixa em famílias como a de hoje.
- Serio? Eu não pareço como uma prima estranha?
- Não, não. Os Doyles amam você. Isso está claro.
- Eles amam você também. Todos, exceto Josh, que decidiu ir e arrumar uma
namorada quando eu não estava vendo! Desculpa sobre isso. Eu estou feliz por
você não ter-me deixado falar nada antes do tempo, porque eu não falei. Além
do mais, teria sido bom se Rick tivesse me falado que o irmão dele tem uma
namorada.
- Ah, o que era aquela caixa que você fez com os dedos quando nós chegamos lá?
- Eu estava fazendo uma moldura de foto. „Tire uma foto, dura mais‟. Era um
sinal pro Eli. Ele encara as pessoas.
- Eu percebi.
- Ele não percebe o quanto ele olha intenso. Então, depois da noite da pizza, eu
tentei manter um sinal com ele, mas ele aparentemente esqueceu.
- É um sinal meio obvio, não acha?
Katie riu.
- Sim. Eu tentei um mais discreto, mas quando ele não respondeu, eu voltei pro
grande sinal.
Nicole riu.
- Pobre Eli. Não, na verdade, nada de pobre Eli. Eu estou começando a entender
porque você gosta dele. Eu vi um lado diferente dele hoje, e ele é intrigante.
- Oh! Deus! Isso quer dizer que você dará outra chance a ele? Nós estaremos com
ele o dia inteiro quando formos pintar o apartamento, então você poderia deixá-
lo saber que você está interessada.
- Opa! Pare essa loucura agora mesmo!
- O que você acabou de dizer?
- Era o que meu pai costumava dizer pra minha irmã e eu quando estávamos
fazendo algo errado. O que to querendo dizer é que eu não estou interessada.
Você me ouviu? N-Ã-O, não estou interessada no Eli. Eu estava apenas dizendo
que ele não me parece mais estranho. Eu não me imagino saindo com ele. É só
isso.
- Bem, Katie disse com tristeza, já é um começo.
- Você nunca desiste, Katie Weldon, ou talvez você esteja interessada em
começar uma guerra de travesseiros, e, pra ser sincera, eu estou cansada. Que
horas são?
- Quase duas.
- É isso. Que horas nós combinamos com Eli?
- Você disse que estaríamos lá umas 8 horas.
- Eu disse?
- Sim, você disse, 8 horas, Nicole! O que você estava pensando!
- Eu estava pensando que estaríamos na cama antes de meia noite. Será que
deveríamos ligar e dizer que estaremos lá 9 ou 10h?
- Não é uma boa idéia, Katie disse. Lembra que Rick disse que faria o café da
manha? Bem, ele definitivamente acorda cedo, e, acredite, as omeletes valem a
pena.
- Eu devo colocar o alarme para 6:30? Nicole perguntou
- Você esta doida? Coloque para 7:40. Nós apenas temos que colocar uma calça,
uma camiseta e achar algo para prender o cabelo. Nós só vamos pintar, lembra?
- Eu sei, mas eu gosto de tomar banho de manhã.
- Escolha o que você quiser. Só não me acorde até 7:40. Eu posso estar pronta em
alguns minutos, e leva só 10 minutos até lá.
Nicole armou o alarme, mas não disse a Katie que horas colocou. Eram 6:50 e
Nicole estava pronta para tomar um banho e se arrumar enquanto Katie tentava
ficar mais uns minutos na cama. Ela saiu da cama e fez o que disse que iria fazer
na noite anterior, vestiu uma calça jeans, uma camiseta velha e uma bandana
azul. Assim que ela lavou o rosto e escovou os dentes já estava pronta para sair.
Katie voltou para o quarto de Nicole e a encontrou colocando base.
- Uau, Miss América! Dia de trabalho significa que você não tem que estar
maravilhosa. Se bem que você é adorável sem nada mesmo.
- Eu só preciso colocar um pouco de maquiagem. Pronto, isso é tudo. Estou
pronta.
Andando pelo dormitório vazio, Katie disse:
- Isso está muito quieto não está? Eu me esqueço de como isso aqui fica sinistro e
quieto quando todos saem. Ah, e obrigada por me ajudar a pintar o apartamento
dos rapazes.
- Sem problemas. Nós somos um ótimo time, Katie.
- Sim, nós somos. Trabalhar em equipe é sempre melhor. Eu tenho o
pressentimento de que seremos o time do dia. Espero que você saiba que o Rick
é uma máquina!
A primeira tarefa de Rick pela manhã foi fazer as omeletes, foi uma das grandes
marcas do dia. Nicole e Katie estavam longe de serem críticas de comida. Todos
eles não estavam com muita fome, depois de ter comido tanto no dia anterior.
Rick parecia um pouco chateado depois de todos eles terem comido apenas um
terço das omeletes. Quando eles disseram que queriam guardar na geladeira pra
comer mais tarde, Rick pareceu aceitar melhor.
Nicole se ocupou do serviço da cozinha, limpando tudo como havia feito na noite
anterior na casa da mãe de Rick depois do jantar de Ação de Graças.
- O que vocês acham de mais café para todos? Rick perguntou. Eu vou fazer um
fresquinho.
- Você não tem chá? Katie perguntou.
Eli, que estava quieto com sua omelete na cozinha, falou.
- Eu tenho chá de Nairóbi e algum chá preto.
- Oh, certo, você tem chá da África. Fantástico! Eu quero ver isso. Eles cortam as
folhas e depois as lavam?
- Eu não tenho idéia.
- Eu to pronta pra ver isso. Onde você guarda essas coisas?
Enquanto Katie e Eli desenrolavam folhas amarelas, Nicole e Rick trabalhavam
lado a lado lavando os pratos enquanto o café passava. Katie decidiu provar o
chá de Nairóbi primeiro, mesmo depois de ter dito a Eli que não era muito fã de
chá feito de folhas secas como aquele era.
- Eu acho que estou pronta para provar o chá preto do Quênia, até porque estou
sempre pronta pra provar coisas novas. Olhe a textura dessas folhas do chá
preto. Cara, é maravilhoso. Elas cheiram muito bem fervendo na água. Elas tem
que abrir e subir pra ficar com o melhor gosto. É por isso que deixar ferver é o
melhor jeito de tomar chá. As folhas de chá boas assim ficam melhor ainda
dentro do bule. Além do mais, muitos chás não usam folhas frescas. Tem um
lugar, que eu pesquisei, na Índia que tem uma reportagem sobre ele. A
reportagem diz que depois que eles embalam os melhores chás, com as folhas
das plantas soltas e os colocam em grandes containeres, eles varrem o chão e
colocam tudo que sobrou nos pacotinhos de chá.
- Isso não pode ser verdade, Nicole disse. Pode? Eu bebo chá de pacotinhos o
tempo todo. Me diga que isso não é verdade.
- Como eu disse, eu estava pesquisando. Pode ser uma lenda urbana. Eu não sei.
Tudo que estou dizendo é que se você tiver folhas fantásticas, guardá-las bem, e
usar um bom filtro...
Por sobre os ombros, fazendo seu trabalho de limpeza. Rick disse:
- Katie, eu to perdido aqui ouvindo toda a sua história sobre chá.
- Minha história sobre chá?
- Você ficou animada com essa história de chá por um bom tempo. Eu estou
apenas dizendo que é legal ver você animada sobre sua paixão de novo.
Katie pensou sobre o comentário de Rick enquanto Eli preparava o chá de
Nairóbi. Chá era sua paixão? Ela não se sentia energizada falando sobre chá da
forma como antes. Para ela, o amor por chá foi algo interessante e feliz na vida
dela, e, sim, talvez ela pudesse ter considerado como uma paixão por um tempo.
Mas definitivamente esse tempo passou. Ela gostava de chá e coisas relacionadas
a ele. Mas ela sabia que poderia ficar sem falar sobre chá. Ela teve uma idéia.
Ela tinha um trabalho na semana que vem sobre a influência da tecnologia na
vida das pessoas de diferentes partes do mundo. Isso era perfeito. Ela poderia
escrever sobre as plantações de chá no Quênia e como eles transportavam o
produto para outras partes do mundo.
Katie entrevistou Eli sobre o que ele sabia sobre as plantações, enquanto Rick e
Nicole iam pra sala e começavam o projeto de pintura. Eli escreveu o link do site
sobre as plantações e disse que o chá poderia ser pedido pela internet. Ele falou
sobre seus amigos que tinham plantações e como eles trabalhavam, as restrições
do governo e os problemas com os vizinhos das terras.
- Um monte de problemas deles começou no Quênia. Eles não fazem parte dos
colonizadores Europeus que dominaram as plantações até os anos 70. Os pais
desse meu amigo eram pessoas maravilhosas. Ele era medico, educado na
Inglaterra. Graças ao dinheiro dele, eles foram capazes de comprar as plantações
e começar a fazer negócios. Eu acho que será mais fácil pras crianças deles do
que foi pra eles. Além do mais, quem sabe com essa política da África. O futuro
da África não é brilhante. O futuro é mais como um vislumbre de luz que vem e
vai.
Eli entregou um copo de chá de Nairóbi para Katie.
- Prove um pouco.
Ela assoprava um pouco para esfriar, enquanto Eli olhava atentamente. A
intensidade dele a estava incomodando cada vez menos. Bebendo um pouco, ela
pressionou os lábios e engoliu.
- Uau!
- Você gostou?
- Não sei.
- É tão diferente, não é?
- Na verdade não parece muito com chá. Definitivamente não parece chá. Sem o
leite, o chá seria mesmo bem energético, não seria?
- Eu bebo o meu com bastante açúcar, do jeito que os quenianos fazem. E quero
dizer, bastante açúcar mesmo.
- Onde está o açúcar? Katie olhou uma vasilha enquanto Eli colocava o açúcar na
caneca dela.
- Mais, Eli disse.
- Sério?
- Se você quer provar da forma que nós bebemos, sim. Mais.
Katie colocou mais açúcar. Então, Eli acenou, ela colocou ainda um pouco mais.
Pegando uma colher, ela mexia e assoprava.
- Terá sabor como de água de beija flor.
Ela provou um pouco e dessa vez arregalou os olhos.
- Nossa, está completamente diferente o sabor. Você já bebeu gelado?
- Eu nunca tentei.
- Vamos colocar na geladeira. Irá ficar ótimo para mais tarde quando nós
estivermos cansados de pintar.
Eli começou a fazer o que Katie sugeriu. Ele estava um pouco à frente quando se
virou e disse:
- Katie, eu quero te agradecer.
- Pelo que?
- Por provar.
- Eu não me importo em provar seu chá na verdade. E ainda quero provar o
preto, mas talvez mais tarde. Eu vou beber esse aqui primeiro. Eu tenho um
sentimento de que todo esse açúcar me vai dar bastante energia para a pintura
em sessenta segundos.
- Eu tenho que me acertar com Nicole, ele disse em voz baixa,
- Eu gostei da sua tentativa.
- Bem, eu espero que você não tenha ficado chateada por... você sabe... as
coisas não terem funcionado. Eu fico feliz de nós quatro podermos sair juntos. Se
tem uma coisa que aprendi esses anos foi que bons amigos são como ouro quando
você não tem família por perto.
Ele virou pro lado e olhou além de Katie por um momento.
- Então, vocês já compraram as tintas? Katie perguntou
- Não. Rick estava tentando decidir a cor.
- Venham dar uma olhada, Rick os chamou. Nós estamos dando uma olhada nas
amostras agora.
Katie e Eli se juntaram aos dois enquanto Nicole estava parada em frente à
parede segurando uns papeis pequenos com amostras de cores.
- Eu estava pensando que marrom, parece legal, Rick disse
- Essa cor deixaria a sala meio escura, não deixaria? Katie perguntou.
- Você pode escolher um marrom mais claro. Nicole segurou uma cor diferente.
Essa é legal. Chama-se Café Caramelo Ole.
- Eu gostei, Rick disse. O que vocês acharam? Eli?
- Parece legal pra mim.
- Eu gostei do nome. Katie disse fazendo uma pose como um Mexicano. Café
Caramelo Olé!
Rick riu.
- Não é espanhol. É francês, certo, Nicole?
- Você está certo Rick. É o termo francês para 'com leite'.
- Ok. Quem quer ir à loja de tintas?
Rick olhou para Nicole.
- Eu dirijo. Ele disse.
- Eu vou, Nicole ofereceu.
Katie estava pronta para se oferecer pra ir também, mas se deu conta de que
não poderia deixar Eli sozinho preparando tudo. Ela precisou respirar fundo e
dizer:
- Eu vou ficar aqui e terminar de deixar a sala pronta. Se assegure de comprar
alguns rolos com cabos longos. Irá fazer a pintura ser mais rápida.
- Nós já voltaremos. Rick ficou em frente à porta, segurando aberta para Nicole.
Ele se posicionou de uma forma que ela teve que passar por baixo do braço dele
para sair. Enquanto ela passava por baixo dele, ele ofereceu um sorriso caloroso
a ela, e ela sorriu de volta.
Katie parou por um momento depois de eles terem saído e ficou no lugar onde
eles estavam antes. A cena era familiar. Rick costumava fazer isso na escola.
Ele ficava parado do outro lado da porta que ele segurava aberta então a garota
teria que passar por baixo do braço dele. Por que ele estava fazendo isso agora?
Por que estava sorrindo para Nicole? Por que ela sorriu de volta?
Se todas essas coisas eram incomuns para Eli, ele não deu nenhuma indicação.
Ele estava pronto para trabalhar, movendo cadeiras para o centro da sala então
eles teriam mais espaço sem as cadeiras no caminho. Katie deixou pra lá o
pensamento de que talvez Rick e Nicole tenham flertado e colocou a atenção na
tarefa.
- Você tem alguma musica africana? Ela perguntou.
- Algumas.
- Nós podemos colocar musica pra trabalhar.
Katie começou seu trabalho com o rolo de fita enquanto Eli pegava algumas
musicas. A sala se encheu com sons vindos de vozes exóticas. Eli abriu todas as
janelas e cobriu os moveis no centro da sala com um antigo saco de dormir
verde. Katie sorriu, olhando a estante de livros. Ela sabia o quanto era 'seguro'
ser coberta por aquele maravilhoso saco de dormir. O sol da manha de Novembro
passava pelas janelas e ela sentiu um vento abençoador. Katie olhou para Eli,
que estava tirando os eletrônicos das tomadas. Ele não pareceu notar que ela
estava olhando pra ele. Não importava, Katie não estava querendo a atenção
dele. Ela tinha um namorado. Ao contrario do namorado dela, ela não precisava
ficar flertando apenas pela diversão de flertar. Ela se sentia feliz nesse momento
musical e iluminado e quis compartilhar com um amigo.
- Eli?
- Sim? Ele não tirou os olhos do trabalho.
- Está um dia lindo, não está?
- Sim está. Ele continuou sem olhar para ela.
Katie voltou para seu serviço com a fita. Ela sentia profundamente feliz, mas não
podia explicar o porquê. Não importava. Seu coração estava completo. Ela
decidiu que era simplesmente um dos efeitos que a faziam ter certeza que
estava amando.
Capítulo 21
Os quatro pintores que trabalharam duro estavam de pé para admirar o seu
trabalho depois que a primeira parede fora finalizada.
- Ótima escolha de cores, Katie disse.
- As molduras pretas nas suas fotos vão ficar mesmo boas, Nicole acrescentou.
Ela tinha montado uma estação de pintura na cozinha e tinha transformado todos
os quadros de Rick com pinceladas de tinta enquanto Eli, Rick e Katie começaram
a passar o rolo.
- Eu sinto como se nós estivéssemos em um daqueles reality shows de decoração,
Katie disse. O apresentador do programa de TV poderia caminhar pela porta bem
agora e nos dizer se nós vencemos o outro time.
- Que outro time? Eli perguntou.
- Você alguma vez já viu aqueles programas de decoração?
- Eu acho que não.
- Eles usualmente têm algum tipo de competição para tornar interessante
enquanto as pessoas estão pintando as casas umas das outras ou trocando a
mobília de seus vizinhos, Nicole explicou.
- Trocando a mobília de seus vizinhos pelo quê?
- É difícil de explicar, Nicole disse. Você vai ter que assistir um desses programas
de reforma de casa uma alguma hora.
- Nossa única competição aqui, Katie disse, é ver quem conseguiu ter a menor
quantidade de tinta em si, e eu acho que vamos ter que concordar que foi a
Nicole.
- Vocês não viram as minhas mãos. As pontas dos meus dedos estão pretas de
tentar fazer pequenos retoques nas molduras.
- Sabe, Rick disse, puxando o saco de dormir verde de cima da estante, e se nós
pintássemos isso de preto também?
- Nós precisaríamos de mais tinta, Nicole disse.
- Facilmente resolvido, Rick disse. Eu tenho que ir ao café e assinar algumas
coisas. Vocês ficarão bem continuando o serviço aqui enquanto eu vou lá? Eu vou
trazer mais tinta e uma pizza.
Os três dispostos voluntários concordaram com a arrumação e permaneceram
pintando enquanto Rick saía. Katie ligou para Cris e Ted para ver se eles estavam
em casa e queriam vir admirar o trabalho. Já que ambos tinham o dia de folga,
eles ainda estavam em Newport Beach na casa dos tios de Cris.
- Nós saímos para uma longa caminhada na praia esta manhã, Cris disse. Você
não pode imaginar o quanto nós dois precisávamos dessa pequena pausa! Parece
que nós não tínhamos tido tempo algum para relaxar como agora desde a nossa
lua-de-mel. Como está sendo o seu fim de semana? Está quieto nos dormitórios?
- Está repugnantemente quieto nos dormitórios. Mais eu não estou lá agora.
Nicole e eu estamos ajudando Eli e Rick a pintarem a sala de estar deles.
- Você está brincando.
- Não, ficou ótimo. Espere até você ver. Quanto tempo vocês ficarão na casa de
Bob e Marta?
- Nós vamos ficar aqui até amanhã. Ted tem que estar de volta no domingo de
manhã, mas nós não temos nada para amanhã. Tia Marta quer ir às compras
amanhã, mas Ted e eu podemos sair cedo e descer a Coast Highway se o tempo
ficar bom. Eu realmente quero ver Douglas e Trícia e amanhã pode ser a nossa
única chance por enquanto. Você acredita que o bebê Daniel já está com cinco
meses? Eu não o vejo há semanas. Eu tenho certeza de que ele mudou bastante.
- Cinco meses. Uau. O tempo está passando rápido.
- Você está pronta para outro choque, pra ver como o tempo esta passando
rapidamente?
- Qual é o choque?
- Você acredita que em poucas semanas vai fazer um ano que Ted me pediu em
casamento? Isso significa que também faz um ano que você e Rick começaram a
sair juntos. Lembra? Era sexta-feira antes do feriado de Natal e todos nós fomos
ao Ninho da Pomba porque ele tinha aberto recentemente. Mas nenhum de nós
sabia que Rick estaria ali.
- Um ano, Katie repetiu. Foi um ano muito rápido.
- Agora falando serio. Eu acho que nós quatro deveríamos planejar de fazer
alguma coisa para celebrar, não acha? Nós podemos achar alguma coisa para
fazer que não custe muito. Eu diria que nós poderíamos ir ao Ninho da Pomba,
mas eu não acho que seria muito agradável para o Rick.
- Eu vou perguntar a ele se ele tem alguma idéia. Espere só um minuto. Katie
caminhou para fora do apartamento, deixando Eli e Nicole continuar trabalhando
enquanto ela terminava a sua ligação com Cris com um pouco de privacidade.
Tomando o caminho para o apartamento de Cris e Ted, Katie esperou até achar
que sua voz não chegaria longe pelas janelas abertas do apartamento de Rick e
Eli antes de dizer: Você nunca vai adivinhar onde o Rick me levou na tarde de
quarta-feira.
- Ao zoológico.
- Como você soube?
- Ele veio na noite anterior e me perguntou se eu achava que seria uma boa
idéia, já que da última vez que nós estivemos lá todos nós sentimos muita tensão
entre vocês.
- E você disse a ele que seria uma boa idéia?
- Sim. Cris fez uma pausa. O que? Você está me dizendo que não foi uma boa
idéia?
- Foi uma idéia fantástica. Eu amei! Nós nos divertimos muito. Nós fomos a um
restaurante brasileiro em San Diego para jantar e foi maravilhoso, coma o quanto
quiser. A única parte ruim do encontro foi o tráfego e que eu deixei uma coisa no
restaurante então nós tivemos que voltar. Mas apesar disso, foi o melhor
encontro de todos. Obrigada por dizer a ele que seria uma boa idéia.
- Eu estou muito contente por vocês terem se divertido. O que aconteceu com...
você sabe.
- Há alguém perto o suficiente para te ouvir? Katie perguntou
- Sim, Cris disse entusiasticamente, como se ela estivesse concordando de todo o
coração com alguma coisa que Katie dissera.
- Ok, posso supor. Você quer saber o que aconteceu com o Eli no jantar de Ação
de Graças na casa dos Doyles?
- Não, mas se você quiser me contar, eu definitivamente quero ouvir. Eu tenho
uma pergunta diferente para você.
- Oh, você quer saber o que aconteceu com a parte do eu-te-amo?
- Exatamente.
- Ele não disse as palavras para mim ainda, mas eu não me importo de esperar.
De verdade.
- Parece sábio da sua parte.
Katie parou na frente da porta do apartamento de Ted e Cris.
- Ei, foi bom eu ter caminhado até aqui. Vocês têm uma caixa em frente à sua
casa.
- Nós temos? De quem é?
- Central de Serviços de alguma coisa. Não consigo ler a última palavra.
- Oh, é a parte do nosso micro-ondas. Ou pode ser a reposição da nossa
campainha. Deveria ter sido entregue no apartamento do síndico. Você pode
deixar a caixa no apartamento do Rick? Nós teremos o síndico para instalar o que
for na próxima semana.
- O seu micro-ondas está estragado mesmo?
- Sim.
- Espero que não tenha sido a pipoca.
- Eu acho que o micro-ondas estava em seu caminho para a aposentadoria antes
de você colocar a sua pipoca, mas o fogo provavelmente não ajudou.
- Por que você não me contou? Eu vou pagar pelo conserto, Cris. Sinto muito por
isso.
- Não se preocupe com isso. Ei, você pode me fazer mais um favor, já que você
está aí?
- Claro.
- Você se lembra da noite em que você estava aí e eu me levantei e abri a porta?
- E o Sr. Tropeço correu para dentro do seu apartamento? Sim, eu me lembro.
- Bom. E você lembra onde eu coloquei a coisa do lado de fora? Cris conversava
em uma linguagem cheia de códigos.
- Você quer dizer a tigela com comida de gato?
- Exatamente. Você poderia checar isso pra mim?
Katie inclinou-se para baixo e olhou atrás das plantas.
- A tigela está aqui. Está vazia.
- Ok.
- Cris, por que você está alimentando aquele gato? Aquela bolsa de pele
sarnenta. E você só esta fazendo com que ela fique cada vez maior, você sabe.
Cris não respondeu.
- Ok, bem, você pode me contar mais tarde se você quiser. Mas se você está
querendo manter isso em segredo do Ted, eu acho que não é uma boa idéia.
Você tem que falar com ele. Quero dizer, eu não sou uma conselheira
matrimonial como vocês, mas me parece que até mesmo pequenas situações
como essa deveriam ser discutidas entre os casais casados e eles não deveriam
esconder coisa alguma um do outro.
- Eu sei, Cris disse suavemente.
- Ok, bem, nós podemos conversar sobre isso mais tarde quando vocês chegarem
em casa. Diga oi para Bob e Marta por mim e para Douglas e Trícia, se você
acabar os vendo.
- Digo sim. Mas espere. Você disse mais cedo que você pensou que eu estava te
perguntando sobre Eli ir ao jantar de Ação de Graças dos Doyle. O que aconteceu
lá?
- Nada. Foi ótimo. Nicole veio, assim como Joseph. A comida estava fantástica.
Todo mundo teve um bom tempo realmente. O único choque, bem, exceto por
Joseph ter ficado um pouco impressionado com a deslumbrante casa dos Doyle e
a abundância ridícula de comida, foi um pequeno anúncio de Josh de que ele
está atrás de mais duas propriedades para novos cafés. Pelo menos os dois estão
há poucas horas de viagem daqui.
- Eu espero que a transação dê certo para Rick e Josh, mas eu sei que isso
poderia potencialmente significar que você e Rick voltarão ao modo namoro-
intercalado-entre-muitas-viagens-a-trabalho.
- Sim, é isso que eu estou pensando que pode acabar acontecendo. A questão é,
eu estou prestes a ficar atolada pelo próximo mês a partir de domingo, quando os
estudantes retornam aos dormitórios. Depois disso, eu tenho um final de
semestre muito cheio. Se Rick acabar tendo que viajar todo o tempo durante os
próximos seis meses, bem, eu vou estar tão ocupada quanto ele.
- Você tem uma atitude tão boa, Katie. Eu olho para trás, para os longos períodos
que eu e Ted estivemos de um lado para o outro e, para ser honesta, eu sei que
eu reclamei muito, muito mesmo.
Katie guardou as palavras de Cris no coração enquanto ela caminhava de volta
para o apartamento de Rick com a caixa debaixo do braço. Ela queria ser mais
deliberada em apreciar Rick e os seus momentos juntos. Esse tinha sido um bom
dia e eles ainda tinham a noite e parte do sábado para estar juntos antes de
Katie ter que voltar para o serviço. Ela pretendia aproveitar o máximo do tempo
que eles tinham.
Os objetivos dele tinham sido bem cumpridos aquela tarde, enquanto eles
finalizavam a pintura da sala e da estante. Eles estavam prontos para a pizza que
Rick havia trazido do Ninho da Pomba, o fato de os quatro estivarem juntos mais
uma vez em volta de uma pizza depois da Noite das Pizzas de Casais, trouxe
comentários estranhos. No entanto todos eles se relacionaram muito melhor
dessa vez do que ha uma semana atrás.
- O que você acha? Rick perguntou enquanto eles limpavam o equipamento de
pintura. Nós devemos mover os moveis de volta ou deixar secar durante a noite?
- Eu acho que nós deveríamos deixar secar, Katie disse.
- É o que eu acho também. Nós podemos também ir fazer algo. Vocês querem ver
um filme?
- Eu iria amar, Katie disse. Alguma coisa em particular que vocês queiram ver?
Os quatro discutiram as opções em potencial e decidiram pegar o carro de
Nicole, já que ele era o que tinha mais espaço. Enquanto tirava o seu carro da
área de estacionamento do prédio, Nicole bateu em algo e parou o carro.
- Vocês não têm quebra-molas aqui, tem?
- Não, o que foi aquilo? Eli perguntou. Ele e Katie estavam no banco traseiro, já
que Rick tinha as pernas mais longas e pegou o banco da frente para ter mais
espaço. Eli olhou para fora da janela. Estacione o carro Nicole. Eu vou sair para
ver o que é.
Katie pulou fora do carro também. Ela tinha um sentimento não-tão-bom de que
ela sabia o que Nicole havia acertado. Ela estava certa.
- Senhor Tropeço, Katie resmungou enquanto ela e Eli examinavam a massa de
pele preta no brilho vermelho pálido das luzes traseiras do carro de Nicole.
Nicole desligou o motor e ela e Rick vieram para ver o que Katie e Eli estavam
encarando.
- Oh, não! Eu o matei?
- Eu não acredito que esse velho gato ainda está por aqui, Rick disse. Ele está
vagando pelo complexo há semanas.
Eli abaixou-se com compaixão e pressionou a sua mão no abdômen do Senhor
Tropeço.
- Você não o matou, Nicole.
- Ainda está vivo? Nós deveríamos procurar um veterinário, ela disse.
- Não, o gato está morto, mas não foi você quem o matou. A carcaça está fria.
Ele já esta aqui há um tempo.
- Nós deveríamos nos dispor dele, Rick sugeriu. Eu vou voltar para o apartamento
e trazer um saco de lixo.
- O que você vai fazer? Katie perguntou. Eu não acho que nós podemos jogá-lo no
lixo, podemos?
- Eu tenho uma pá, Eli disse. Nós podemos enterrá-lo.
- Onde? Nicole perguntou.
- Nós poderíamos ir a algum lugar e...
- Ao deserto! Katie exclamou.
O grupo entrou em uma discussão comprida se eles deveriam ir até o deserto.
Nicole e Rick não eram a favor da idéia. Eles estavam mais interessados em ir ao
cinema. Katie gostou da idéia de pular a parte do filme para enterrar o Senhor
Tropeço sob um toldo de estrelas. Aquele show seria melhor do que qualquer
coisa que eles pudessem ver no cinema. O voto de Eli também era pelas estrelas.
Nicole fez uma sugestão que quebrou o impasse.
- E se nós falássemos com o síndico? Quero dizer,o gato não é seu. Não fui eu
realmente quem o matou. O síndico não gostaria de saber sobre animais mortos
no estacionamento?
Os quatro se dividiram. Eli voltou ao apartamento para lavar as mãos. Rick e
Katie foram falar com o síndico e Nicole moveu o carro e esperou pelos outros.
- Cris tinha uma queda por este gato, Katie disse enquanto ela e Rick chegavam
ao apartamento do síndico.
- Era ela quem o estava alimentando?
- Quem falou que Cris estava alimentando o Senhor Tropeço? Katie disse,
tentando jogar verde.
- Alguém estava alimentando a fera. Eu tive um pressentimento de que era Cris.
Os anos dela no pet shop fizeram o coração dela terno para com os animais, não
foi?
- É, acho que sim.
O síndico atendeu à batida de Rick. Rick explicou a situação e o velho homem
calvo disse para deixar o gato onde estava. Ele cuidaria dele.
Eles estavam quase saindo quando Katie disse:
- Oh, uma outra coisa. Uma caixa chegou para Ted e Cris. Está no apartamento
do Rick. Se for uma parte do micro-ondas, eu tenho que dizer a você que eu devo
ter sido quem o quebrou. Não de propósito, claro, mas eu coloquei uma pipoca
nele e a pipoca pegou fogo. O problema era provavelmente com a pipoca, mas no
caso de o fogo ter algo a ver com o micro-ondas já não estar funcionando bem,
eu vou pegar pelo dano.
O síndico do prédio inclinou a sua cabeça e deu a Katie um olhar curioso.
- Qual é o seu nome?
- Eu sou Katie Weldon. Sou a namorada de Rick.
O síndico olhou para Rick como se estivesse surpreso por pensar que Rick tinha
uma namorada.
- Bem, Katie Weldon, eu vou dar uma olhada no micro-ondas e se eu decidir que
o fogo causou o dano, então eu mando a conta pra você através do Rick.
- Ok, obrigada.
Eles voltaram para o estacionamento e Rick disse em voz baixa:
- Por que você contou tudo aquilo a ele?
- Porque era a coisa certa a fazer.
- Katie, ele vai te mandar a conta. Você não conhece o cara. Você tem idéia do
que eu tive que fazer só para conseguir a liberação para pintar a nossa sala de
estar? Você não sai por aí pedindo aos síndicos para te cobrar os reparos. Nós
podemos fazer melhorias, como a pintura por nossa conta, mas...
- Ok, entendi. Katie não queria adentrar em uma das discussões irritantes deles.
Eu pensei que estivesse fazendo uma coisa honorável.
- Honorável, sim, mas adquirindo responsabilidades que não eram necessárias.
Seria o mesmo se disséssemos a Nicole que ela matou o gato quando na verdade
o gato já estava morto e só aconteceu de estar na rua quando ela dirigiu por lá.
- Ok, eu entendi o seu ponto de vista.
Eles estavam de volta ao carro agora. Katie estava pronta para deslizar no banco
de trás, ir ao cinema e apagar a discussão. Rick tinha mais uma coisa pra falar.
- Não é como se você tivesse o dinheiro para voluntariamente pagar por coisas
como essa, Katie.
Ela desejou que pudesse ter mantido calados seus lábios indomados , mas antes
que ela pudesse parar as palavras, Katie soltou:
= Bem, eu não tinha sessenta dólares para pagar pela caixa de chocolates para a
sua mãe, mas aquela era a coisa certa a fazer. Não que ela tenha apreciado os
chocolates. Ela fez algum comentário sobre estar de dieta.
- Minha mãe sempre está de dieta. Não leve isso tão ao extremo, Katie. Relaxe.
- Ok.
- Ok.
Eli estava de volta ao carro com Nicole. Eles tinham escutado a última parte da
briga de Rick e Katie.
- Sinto muito, Katie resmungou para Rick antes de ela entrar no carro.
- Eu também, ele resmungou de volta.
- Está tudo bem? Nicole perguntou.
- O síndico disse que cuidaria do gato, Rick disse, tomando o banco da frente
novamente. Vamos. Nós provavelmente ainda podemos pegar a sessão das 19:15.
Os quatro viajaram em silêncio. Katie odiou isso. Ela odiava se sentir abafada.
Ter uma discussão tão estúpida com Rick estava definitivamente abafando não
apenas o relacionamento deles, mas também a atmosfera com os seus amigos.
Tudo tinha sido ótimo durante todo o dia. Eli e Nicole estavam se dando muito
bem. Katie gostou de experimentar o chá da África de Eli e ouvir à música dele.
Rick estava feliz com os resultados do duro trabalho deles. Ela não queria ser a
razão para o silêncio no carro.
- E amanhã? Katie perguntou numa tentativa de mudar o clima entre eles. Você
tem que trabalhar o dia inteiro, Rick?
- Sim.
- Ok. Bem, você gostaria que Nicole e eu viéssemos e ajudássemos Eli a mover os
moveis de volta e pendurar os quadros?
- Vocês que sabem.
Agora Katie estava mal. Ela estava tentando. Por que Rick não podia manter a
conversa fluindo e ficar de bom humor de novo?
Ele ficou do seu jeito mal-humorado por muito mais tempo do que Katie pensou
que ficaria. Felizmente, eles entraram para o cinema e encontraram lugares bons
o bastante e juntos apesar de tanta gente estar lá naquela noite. Os trailers
começaram logo, então não havia muita necessidade de conversar. Rick e Eli
estavam nas extremidades e Nicole e Katie estavam ao lado uma da outra no
meio.
Na metade do filme, depois de uma cena em que todo mundo no cinema riu, Rick
avançou e pegou a mão de Katie. Ela ainda estava se sentindo no limite da
irritação contra ele e queria tirar a mão para longe. Mas estar de mãos dadas
sempre foi uma coisa boa para eles e ela esperava que permanecer conectada a
Rick dessa forma a ajudaria a sentir como se estivesse conectada com ele no
nível do coração.
Como pode ser possível eu me sentir tão certa de que eu estou profundamente
apaixonada por esse homem e então nós temos uma discussão ridícula e eu me
sinto a oceanos de distância dele?
Katie pensou em como Cris costumava dizer a ela coisas como essa enquanto Cris
e Ted estavam vivendo em sua fase de namoro e noivado. Naqueles tempos,
Katie achou difícil entender por que Cris e Ted poderiam brigar por problemas
que pareciam insignificantes. Agora era ela quem experimentava o mesmo tipo
de relacionamento complicado e ela via como pequenas questões poderiam se
tornar grandes quando a pessoa faz um investimento emocional tão grande em
outro indivíduo.
O pensamento que manteve Katie flutuando foi que ela sabia que Cris e Ted
ainda tinham momentos como este. Apenas se apegar àquele pensamento deu a
Katie um senso de normalidade. Talvez ela e Rick estivessem bem onde a maioria
dos casais se encontram quando eles estão apaixonados.
Ela sentiu os seus dedos relaxando na mão de Rick. Ele parecia sentir a liberação
da tensão, porque ele deu um aperto na mão dela. Ela apertou de volta.
Deixando sair um longo e profundo suspiro, Katie pensou em como esse
relacionamento era mais complicado do que ela tinha alguma vez esperado.
Por que o amor não torna as coisas mais fáceis? Eu estou pegando muito pesado?
Eu estou mais apaixonada por Rick do que ele por mim? É hora de nós termos
outra DR? Se for, sou eu quem deve iniciá-la?
Katie não se lembrava de quando tempo havia se passado desde que ela e Rick
tiveram uma de suas conversas de “Definir o Relacionamento”. Ela sabia que não
queria ser aquela a declarar os seus sentimentos a ele primeiro. Ela também não
queria que o seu coração aprofundasse suas raízes na relação se o investimento
emocional que ela e Rick tinham fosse inclinado para apenas um dos lados. Por
que eles não podiam estar no mesmo lugar, ao mesmo tempo, emocionalmente e
relacionalmente?
Tentando fortemente deixar de lado os seus pensamentos instáveis, Katie
colocou-se no presente e deixou o filme a levar para um lugar mais tranqüilo. Por
agora, ela disse a si própria, era o suficiente estar com Rick. Os detalhes
específicos que ela estava ansiosa para saber sobre o relacionamento deles
viriam à tona eventualmente.
Nenhum deles disse coisa alguma sobre a discussão deles quando eles deixaram o
cinema e Nicole não trouxe isso à tona depois que ela e Katie retornaram ao
dormitório. O plano era dormir tão tarde quanto pudessem e dar a Eli um toque
para ele saber que elas estavam vindo. Eli estaria de serviço no campus às seis da
noite no sábado e Rick disse que poderia voltar para casa mais ou menos nesse
horário.
Katie entrou num sono profundo e restaurador que durou ininterruptamente até
quase nove horas. Quando ela finalmente desceu pelo corredor para tomar um
banho e ver se Nicole estava acordada, ela ouviu um dos chuveiros funcionando.
- É você, Nicole?
- Sim.
- Quando você acordou?
- Uns vinte minutos atrás.
- Eu também. Muito bom não precisar levantar cedo pra fazer algo, não é?
- Maravilhoso! Apesar de eu ter acordado desejando que nós tivéssemos trazido o
resto das omeletes do Rick de volta, dai nós teríamos as comido agora.
- Eles estão provavelmente esperando por nós no freezer do Rick. Estarei pronta
em uns vinte minutos.
- Eu vou tentar ser rápida. Nicole gritou sobre o fluxo de água que agora corria
na baia do chuveiro de Katie.
Cerca de quarenta minutos depois, as duas estavam em seu caminho para o
apartamento quando Nicole disse:
- Katie, eu tenho que lhe dizer uma coisa.
- Ok.
- Eu não ligo de voltar ao apartamento hoje para finalizar as coisas, mas se você
não se importa, eu não quero gastar o dia inteiro lá.
- Tudo bem.
Como Nicole não deu uma explicação adicional para sua escolha, Katie
perguntou:
- É o Eli? Ele ainda te deixa desconfortável? Porque ontem parecia que vocês
estavam se dando muito bem.
- Por mim tudo bem estar junto com o Eli. Eu não estou atraída por ele ou
ansiosa por gastar um pouco mais de tempo com ele ou qualquer outra coisa, mas
eu estou bem com relação a ele. Ele é um rapaz único e intrigante. Eu o julguei
mal a princípio.
- Então, se não é Eli, é alguma outra coisa que eu deveria saber?
Nicole hesitou.
- Quero dizer, eu sei que na noite passada houve certa tensão depois do episódio
com o Senhor Tropeço e a conversa com o síndico e tudo o mais. Eu espero que
você não tenha se sentido desconfortável pela forma como Rick e eu estávamos
agindo um com o outro.
- Não é você, Katie. É só que nós quatro estivemos juntos na quinta e então todo
o dia de ontem e agora...
- Você está certa. Eu monopolizei todo o seu final de semana. Eu nem sequer
perguntei a você se você queria voltar hoje, não foi? Esse é a sua folga e aqui
estou, tomando todo o seu tempo livre e...
- Não é isso, Katie. A pintura e decoração foram divertidas. Eu amo fazer coisas
assim, como você sabe. É só que eu tenho alguns deveres que eu tenho que
terminar hoje e eu queria fazer umas pequenas compras em algumas lojas esse
final de semana e... Eu não sei. Eu só acho que é melhor que eu não esteja com
você, Rick e Eli toda a noite como se nós fôssemos um par de casais, sabe?
Katie acenou com a cabeça.
- Eu entendo. Acredite em mim, eu entendo. Você prefere só me levar lá e o Rick
me leva de volta para os dormitórios mais tarde?
- Não, eu vou ajudar com os móveis e quadros e tudo o mais. E o resto da minha
omelete está me esperando, certo? Quero dizer, eu tenho minhas prioridades em
ordem. Comida de graça. Eu estou dentro!
As duas amigas riram juntas e foram apreciar as omeletes do-dia-anterior-mas-
ainda-deliciosas e colocar as coisas em ordem no apartamento de Rick e Eli. Os
resultados finais foram impressionantes. As cores deixaram a sala mais
aconchegante. A idéia de Nicole de pintar todas as molduras de preto fez uma
grande diferença.
Rick tinha uma grande figura emoldurada. Era uma figura personalizada e
ampliada de uma foto que o pai dele tirara na Itália de uma vila costeira vista do
azul profundo do Mar Mediterrâneo. Todas as brilhantes casas coloridas que se
prendiam aos precipícios rochosos agora pareciam ainda mais dramáticas dentro
do quadro pintado. A foto foi o que Nicole chamou de “peça focal temática” da
sala e ela pendurou de um jeito que os seus olhos iriam para ela quando alguém
entrasse no apartamento.
As outras quatro pequenas imagens eram também fotos. Uma da família do Rick
com Max, todos juntos no quintal da velha casa deles em Escondido, quando Max
era um filhote. Outra foto era de Rick em toda a sua glória de jogador principal
do Ensino Médio, usando o seu uniforme de futebol do Kelley High e fazendo uma
pose poderosa. As outras duas eram fotos que o pai de Rick havia tirado e ambas
eram do pôr-do-sol.
Todas as cores na sala misturavam-se formosamente. Nicole estava contente e
enquanto ela estava lá, os três se deram muito bem. De qualquer forma, quando
Nicole partiu, Eli e Katie olharam um para o outro sem graça, como se eles não
tivessem percebido que iriam estar sozinhos por algumas horas até Rick retornar
do trabalho. Katie não esperava ficar assim, agitada, do jeito que ela ficou.
- Esta com fome? Eu estou. Mais ou menos. Ela disse.
Por que eu estou voltando para o meu antigo modo monossilábico agora que eu
estou sozinha com Eli?
- Eu poderia fazer um pouco de chá para nós, ele sugeriu. Você ainda não provou
o chá preto queniano.
- Sim. Certo. Bom. Ok.
Katie se sentou no sofá e fez os seus lábios se fecharem antes que outra pequena
palavra deslizasse para fora de sua boca. Apanhando o controle remoto, ela se
voltou para a televisão e flutuou pelos canais até encontrar um programa que
parecia bom.
- É um daqueles programas de reforma de casas, Eli. Agora você pode ver do que
nós estávamos falando ontem. E é uma maratona, então vai ser um programa
depois do outro.
- Que bom, ele replicou da cozinha.
Levou alguns minutos para ele retornar à sala de estar e presentear Katie com
uma caneca de chá queniano fumegante.
- Eu adicionei leite e um pouco de açúcar.
Katie tomou um gole.
- Oh, agora isso está bom. Muito bom.
- Deve ser daquelas folhas longas que você estava admirando ontem. Esse é um
bom chá. Olhando para a televisão com Katie, ele disse. Explique-me o que
aquelas pessoas estão fazendo com as marretas.
Katie introduziu Eli ao passatempo americano de redecorar e remodelar casas
enquanto Eli introduziu-a ao chá preto queniano e fez comentários comoventes
do contraste entre a riqueza nos EUA e a miséria na África. Ele não fez esses
comentários de um jeito que fez Katie se sentir culpada por viver com um
telhado sobre a sua cabeça que não tivesse goteiras, mas as observações de Eli
eram uma abertura para os olhos dela.
Em certo momento Eli estava lhe falando calmamente sobre como ele e o pai
dele iam todos os dias pelas ruas sujas e estreitas pelo Quênia para entregar água
limpa a quantas pessoas eles conseguissem. Eli descreveu as horríveis condições
de vida com compaixão e tenras descrições de pessoas específicas. Ele falou
sobre quão duro era deixar aquela vida, vir para a Rancho Corona e tentar
ajustar o passo com um ritmo diferente de vida.
A forma como Eli desdobrou a sua história foi como o desembrulhar de um
presente. O presente era a vida dele, a história dele. Ele a manteve embrulhada
e guardou-a longe; mas hoje ele abriu o presente e o ofereceu a Katie.
A compaixão dele tocou-a tão profundamente que ela chorou.
E foi assim que Rick os encontrou quando ele caminhou para dentro do
apartamento, sentados um ao lado do outro no sofá, com lágrimas correndo pelas
bochechas de Katie.
Capítulo 22
- O que aconteceu? Rick perguntou, indo em direção a Katie e colocando as mãos
nos ombros dela.
- África! Katie disse. Eli estava me falando sobre a África.
Rick soltou os ombros dela.
- Oh, eu pensei que tinha algo errado.
- Alguma coisa está realmente errada. Katie disse. Alguma coisa está errada
conosco como pessoas, e alguma coisa está horrivelmente errada com nosso
mundo, milhões estão morrendo, sofrendo e ficando com fome e tristes enquanto
nós gastamos nosso dinheiro com pinturas ou chocolates!
Rick olhou com um olhar acusador para Eli.
- O que você disse pra ela?
Eli voltou para a cozinha com as xícaras vazias.
- Eu apenas disse como minha vida era antes de vir pra cá.
Rick ficou no lugar de Eli no sofá e colocou os braços ao redor de Katie. Ela
encostou no ombro dele e deixou as lagrimas terminarem de cair. Eli voltou da
cozinha e trouxe pra ela um lenço de papel.
- Obrigada. Desculpe rapazes. Eu acho que nunca havia pensado sobre o resto
mundo, sabe? Você fez isso parecer tão normal, Eli. Tão real. As pessoas
realmente vivem em condições terríveis. Isso está fora de controle. Eles não têm
nem mesmo água limpa pra beber. Quero dizer, isso é básico!
- É isso que meu pai faz agora, Eli disse. Eu te falei como a organização que ele
trabalha, cava poços e localiza água limpa em lugares remotos. Você precisa
conhecer meu pai pra entender a devoção dele. Ele ama a África. Ele concluiu o
trabalho por 3 homens. Ele faz muito mais coisa agora desde que…
Eli não terminou a frase. Katie presumiu que a ida de Eli para os Estados Unidos
fez a diferença na produtividade o pai. Ela sabia que os pais de Rick tinham feito
muito mais coisas depois que Josh e Rick saíram de casa. Eles começaram o
Ninho da Pomba e a Livraria A Arca, depois que seus filhos ficaram
independentes.
- Rick, eu tenho uma idéia.
As lagrimas dela secaram. Ela era uma mulher com uma missão.
- O que você acha se o Ninho da Pomba mandar dinheiro pra África para limpar a
água? Você pode colocar uma caixa do lado da caixa registradora para recolher
donativos. Ou você pode decidir que toda vez que alguém pedir uma pizza o
lucro vai para a África. Você pode colocar uma placa. Eu aposto que as pessoas
vão ajudar. Mesmo que seja um trocado por pessoa, pense em quanto podemos
coletar no final de um mês. Quero dizer, os problemas do mundo são enormes.
Nós temos que fazer alguma coisa. Nós temos que começar em algum lugar. Por
que não podemos fazer isso? Como um café, quero dizer. Você pode ficar
conhecido como um restaurante que se importa com o resto do mundo.
A cabeça de Rick começou a balançar a partir da terceira frase dela. Enquanto
ela falava seu discurso.
- Eu to com você. Sim, por que não? Nós podemos fazer isso.
Katie bateu as mãos e se virou para Eli.
- Você pode nos conectar com as organizações que seu pai trabalha, certo?
Talvez eles tenham cartazes ou algo assim.
- Eu posso fazer isso. Eli coçou a nuca enquanto ela sorria ligeiramente. Katie já
tinha visto essa expressão dele antes.
- Isso é bom.
- Sim, Rick acrescentou. Boa idéia, Katie. Eu vou usar isso. É algo que quero
fazer já tem algum tempo, mas não sabia exatamente o que fazer ou como
começar.
- Você sabe, Eli disse enquanto dava um olhar de apreciação para Katie. Eu
precisava disso.
- Precisava de que? Katie perguntou.
- Eu precisava falar sobre minha casa. Sobre a África. Desde que cheguei aqui, eu
nunca abri sobre como minha vida é, ou até mesmo como minha vida era antes
de chegar aqui. Eu acho que fiquei um pouco chocado com a diferença de cultura
nos primeiros meses. Então, tudo que eu pensava em fazer era esquecer, sabe?
Eu vi muita coisa que quero esquecer.
Katie e Rick assistiram enquanto uma onda de emoções tomou o rosto de Eli.
- Se você puder fazer isso Rick, se puder recolher um pouco que seja de dinheiro
e mandar pra lá, faria uma grande diferença. Você não tem idéia.
Katie concordou.
- Nós podemos fazer um fundo muito bem. Por que o Crown Hall não poderia
colher uns trocados ou organizar um lava jato ou algo assim? Vou trabalhar nisso,
Eli.
Ele respirou fundo.
- Obrigada gente. Eu aprecio isso. Eu acho que a coisa mais difícil pra mim desde
que cheguei aqui era pensar no que fazer com a minha história. Minha história.
Tudo que eu vi e experimentei. Nada disso cabia aqui. Eu não tinha acreditado
realmente em ninguém, a não ser Joseph e Ted.
- O que você quer dizer com “acreditar”? Katie perguntou.
- Talvez “confiado” seja uma forma melhor de dizer. Eu não confiei a mim
mesmo ou a minha história para mais ninguém a não ser Joseph e Ted. Eu não
quero parecer uma vitima. Eu espero que vocês não estejam vendo assim.
- Não, continue. Rick disse.
Eli deu outro suspiro.
- A forma que eu vejo, eu arrumei esse emprego no Racho pra tentar me adaptar
melhor aqui. Eu faço meu trabalho, eu estudo, eu como e durmo. Mas a vida aqui
é tão diferente. É uma bolha pra mim. Eu estou isolado. Desde que estou na
bolha, eu não tenho pensado muito sobre o que vivi antes de chegar aqui. Isso
precisa mudar. Eu preciso achar um jeito de viver nos dois mundos.
Rick balançou a cabeça afirmando que entendia. Katie continuou confirmando
para encorajar Eli a continuar falando.
- Então, obrigado, Katie, por me escutar e ter a idéia de juntarmos
contribuições. Eu acho que era isso que eu precisava para colocar meus dois
mundos juntos.
Katie deu um sorriso cheio de compaixão para Eli. Mais uma vez ela sentiu que o
havia julgado mal desde o principio. Ela não havia dado a ela a graça e o espaço
necessário pra ser ele mesmo. Pelo resto do fim de semana, Katie pensou sobre
as coisas que Eli tinha falado. Quando ela viu Cris na igreja domingo, ela contou
sobre a conversa com Eli e a idéia de arrecadar fundos que ela e Rick estavam
trabalhando.
- Tenho certeza que Ted pode acertar alguma coisa com o grupo da juventude,
Cris disse. Lava jatos são sempre bons pra arrecadar fundos. E a Arca? Se Rick
colocar uma caixa de contribuição ou algo assim no lado do café, ele poderia
colocar no lado da livraria também.
- Eu vou dizer isso a ele. Boa idéia, Cris. Isso será bom para todos.
- Eu também acho, Cris disse, enquanto as duas iam para o estacionamento da
igreja. Cris ia dar uma carona a Katie para a Rancho antes de voltar para a igreja
e pegar Ted.
- Falando de carro e estacionamentos..., Katie disse vagarosamente.
- Você conseguiu concertar o Buguinho?
- Não, ele foi desmontado, tenho certeza agora. Eu tenho um cheque na minha
caixa de correio com o valor das peças. Eu não sei de quanto é, e não tenho
olhado muito minha caixa, mas espero que dê para cobrir algumas despesas com
os estudos. Minhas economias já eram.
- O que você acha de comprar um carro novo?
- Parece que terei que continuar com as caronas por enquanto. Você, Nicole e
Rick têm sido muito bons me dando carona. Obrigada.
- Quando quiser. Bom, sempre que eu estiver com o carro. Eu simpatizo com a
sua situação, Katie, porque dividir o carro com Ted tem sido nosso maior desafio
desde que casamos. Nós estamos pensando em comprar outro.
- Me avise se você achar uma promoção pague um leve dois. Além do mais, eu
não sei se poderia comprar nem mesmo o carro mais barato nesse momento. Eu
não sei nem como vou pagar o próximo semestre.
- Bem, talvez o cheque pelas partes do Buguinho seja maior do que você imagina.
Você disse que o Buguinho está na categoria de antiguidade. Talvez suas partes
internas valham um preço alto.
- Falando de partes internas, Katie disse, colocando o cinto de segurança. E
voltando ao estacionamento e pensando nas coisas... Eu acho que devo te contar
que o Sr. Tropeço não está mais conosco. Ele foi pro “onde quer que seja que os
felinos vão quando morrem”.
- Eu sei, Cris disse. Pobre Sr. Tropeço.
- Como você soube?
- Eu escutei isso do Sr. Yeager, nosso sindico. Ele veio ontem à noite, pra olhar
nosso micro-ondas.
- Ah, eu tinha que falar isso com você também. Eu me ofereci para pagar o
concerto.
- Ele disso isso. Mas, Katie, como você irá pagar se você não tem dinheiro nem
para seus estudos?
- Isso que Rick disse. Eu vou dizer a você o que eu disse a ele. Eu não sei como
vou pagar. Eu apenas quero fazer a coisa certa.
- Eu aprecio isso, mas honestamente eu não acho que tenha sido a pipoca que
estragou o micro-ondas. Ele era velho e nunca funcionou muito bem desde que
mudamos pra lá. Eu disse ao sindico isso. Eu disse a ele que o micro-ondas estava
igual à nossa campainha, que continua não funcionando. Ele trouxe uma
campainha nova na caixa ontem e a nova não funcionou, então deve ser um
problema elétrico. Deve ter sido o mesmo problema com a campainha e o micro-
ondas.
- Ok, aprendi a lição. Eu não preciso tentar fazer as coisas certas com o universo
inteiro.
- Não com o universo inteiro, Cris disse. Se preocupe com o fundo de finanças
para limpar a água da África. Esse é um problema que você pode resolver.
Cris deixou Katie em frente ao Crown Hall, e as duas decidiram se comunicar de
novo para um almoço durante a semana. Alguns estudantes estavam indo para as
portas abertas do Crown Hall. Era bom sentir o dormitório cheio de estudantes de
novo. A vida estava voltando.
Katie notou que Jordan, um do ARs do dormitório masculino, estava checando
alguns estudantes. Katie olhou em volta e foi de encontro a ele do escritório. Ela
sentou no sofá e fechou os olhos por alguns minutos. Era um bom lugar. Rancho
Corona podia ser uma bolha, como Eli disse no dia anterior, mas era uma bolha
muito bonita e era o lugar onde Katie estava livre para ser ela mesma mais do
que já esteve no lar onde cresceu. Ela amava aquele lugar e aquelas pessoas.
- Quando você está de plantão? Jordan perguntou a Katie.
Ela abriu um olho e disse:
- As 3. A não ser que você que eu comece logo. Você quer dar uma parada?
- Você não se importa de começar mais cedo?
- Não. Nicole me cobriu durante a saída na quarta, então eu acho que devo fazer
isso por alguém hoje.
- Ótimo. Eu aceito a oferta se você estiver falando sério, Jordan disse.
- Eu estou falando sério.
- Obrigado, Katie. Te devo uma.
- Não deve não... Bem, eu realmente não deveria dizer isso, deveria? Eu tenho
certeza de que eu eventualmente precisarei de ajuda para alguma coisa. Ela
escorregou para a cadeira aquecida e olhou para numeração na tela do
computador, enquanto Jordan juntava e pegava a mochila e saía do escritório.
Nem mesmo um terço dos estudantes havia chegado ainda. Com certeza o
descanso só viria mais tarde. Katie olhou pra o relógio e imaginou por que ela
aceitou tão rápido ficar ali. Ela não tinha comido ainda e agora ela tinha o
compromisso de ficar de plantão pelas próximas 6 horas ao invés de 4.
Katie desejou que Nicole, do jeito carinhoso, poderia pensar em trazer algo para
ela comer. Depois de 3 horas de trabalho, ela havia checado apenas 40
estudantes, e Nicole não tinha aparecido. Ela estava faminta e decidiu dar um
SOS no telefone de Rick. Quando ele atendeu, ela disse:
- Comida! Preciso de comida!
- Katie?
Ela riu.
- Claro que sou eu. Quem mais liga pra você e diz „Comida! Preciso de comida!‟?
- Não parecia com a sua voz.
- É porque eu estou faminta. Eu estou fraca de fome. O que você está fazendo
agora? Tem alguma chance de você poder vir aqui e trazer algo pra eu comer? Eu
estou de plantão e tenho que ficar mais duas horas.
- Eu acho que eu só chegaria aí em duas horas.
- Onde você está?
- São Diego. Estamos olhando lugares em potencial que Josh achou. Eu não sei
por que viemos essa tarde. O trafego que eu e você pegamos na última quarta
esta horrível de novo. Eu posso ligar pra você quando eu estiver perto e vejo se
você ainda está desesperada.
- Eu estarei desesperada. Mesmo que eu consiga arrumar comida nas próximas
horas, eu estarei desesperada para ver você.
- Isso é ótimo, Katie. Eu te ligarei mais tarde.
- Espera! Como a propriedade é?
- Muito boa. É uma antiga loja de pneus que ficava as margens da cidade, mas
agora estão construindo habitações, a locação é ideal. Nenhum outro comprador
está interessado o que deixa um preço muito bom.
- Por que mais ninguém esta interessado?
- Continua com pneus dentro. Josh disse que podemos nos livrar do cheiro. Ele
está pensando em fazer um tema de Loja de Refrigerantes com os pneus porque
uma das habitações que estão desenvolvendo é para pessoas de mais ou menos
55 anos. A Loja de refrigerantes poderia ser nostálgica para eles17. Nós estamos
no estágio de trocar idéias.
- Parece que será o tema mais divertido. Você pode chamar Nicole para ajudar
na decoração.
- Minha mãe sugeriu a mesma coisa. Ela veio com meu pai, Josh e eu.
- Eu devo deixar você ir se você está no carro agora.
- Tudo bem. Josh está conversando com Shana. Ele está tentando convencê-la a
se mudar pra cá mesmo que ela não tenho um emprego. Josh está
definitivamente se mudando de volta.
Katie tinha uma leve suspeita de que se Josh se mudasse, mas Shana não,
poderia ser o fim do curto relacionamento deles e isto seria bom para Nicole ter
uma segunda chance com ele. Ela manteve o pensamento pra ela e disse a Rick
que ela tinha que ir porque alguns estudantes estavam chegando e ela tinha que
voltar ao trabalho. Durante as duas ultimas horas do trabalho de Katie foi cheio
com a volta dos estudantes. Ela esqueceu sobre a comida até Nicole chegar
ofegante ao escritório.
- Você não vai imaginar como estava o tráfego! Katie, eu tinha a intenção de
voltar mais cedo, mas eu ficava lá sentada e não saía pra lugar nenhum.
- Você trouxe comida? Katie olhou inquisitiva para as sacolas de Nicole.
- Eu tenho o resto de uma salada de Santa Fé. Você quer? Eu tenho certeza que
posso achar um garfo por aqui.
- Eu adoraria! Aqui, troque de lugar comigo. Eu sei onde os garfos estão. Katie
devorou ferozmente a salada que já estava quente por ficar tanto tempo no
carro de Nicole. Nicole tirou as coisas da mesa.
Quando elas acertaram tudo com calma, Katie disse:
- O que você fez o dia todo?
- Você está pronta para isso? A linda pele de pêssego de Nicole ficou rosada. Eu
fui à igreja essa manhã com Julia, e Phil estava lá.
- Quem?
17
Loja de Refrigerantes eram umas lanchonetes super badaladas antigamente quando os refris
foram lançados. Por isso da nostalgia.
Nicole abaixou a voz.
- Philip Sett. Lembra?
- Oh! Certo, o cara que parecia triste. Você foi almoçar com ele?
- Eu fui. Ele disse que queria se acertar por não ter podido ir à Noite da Pizza.
- Impressionante!
- Tem mais. Nós fomos almoçar em um aconchegante restaurante à beira mar.
Então ficamos presos no trafego de volta o resto do dia.
- Parece que você teve um bom dia.
- Foi bom. Não estupendo. Bom. A melhor parte foi quando ele me convidou,
sabe?
- Sim, eu sei. Eu definitivamente sei o que você quer dizer.
A próxima leva de estudantes chegou, e Katie ficou uma hora a mais depois de
seu turno para ajudar Nicole. Julia chegou e perguntou a Katie se elas poderiam
acertar um compromisso segunda-feira à tarde.
Katie escreveu para si mesma uma nota e colocou na bolsa. Quando ela procurou
a nota depois da aula no dia seguinte, não conseguia achar. Ela tinha certeza que
Julia falou para ela estar no apartamento dela às 4 horas. Como Katie tinha um
pouco de tempo extra, ela deu uma volta no campus para ir à caixa de correio.
Três cartas estavam esperando por ela e um postal lembrando que a permissão
de estacionamento venceria dia 1° de Dezembro.
- Bom, essa é uma divida que não preciso me preocupar mais.
Ela gostaria que um dos envelopes tivesse o cheque das peças do Buguinho. Se
Deus quisesse, teria dinheiro suficiente para ela passar o próximo mês. Ela sabia
que poderia pegar algumas horas extras no Ninho da Pomba durante o feriado de
Natal e poderia cobrir as despesas de Janeiro. Depois disso Katie não tinha idéia
de onde viria o dinheiro de que ela precisa. Ela não estava preocupada, apesar
disso. Deus sempre providenciava o suficiente. Nunca de mais, nunca de menos.
Sempre o suficiente. Ela sussurrou uma pequena oração de agradecimento a Deus
pela forma que Ele cuida dela. Checando o endereço do primeiro envelope, Katie
sabia que era o cheque esperado. Ela foi abrindo o envelope enquanto caminhava
de volta para o Crown Hall e tirou o cheque. Ela parou no caminho.
- Devem estar brincando comigo!
Alguns estudantes olharam pra ela. Ao invés de exteriorizar sua raiva, deixou-a
ser expressa apenas em seu interior. O que está acontecendo? Isso não é
suficiente nem para uma semana de despesas. Você viu isso, Deus? Eles me
roubaram ou o que? Eu não acredito nisso. Eu vou ligar para esses caras e dizer
que essa brincadeira não foi engraçada. Eles terão que me pagar tudo.
Instantaneamente motivada, Katie procurou seu telefone e ligou pro número no
topo do cheque. Ela pegou suas coisas e andou pelo Crown Hall e debateu com o
mecânico com um tom de voz que era alto suficiente para qualquer um perto
ouvir.
- Você me pagou por amendoins! Não é possível que isso seja tudo. Você disse
que o Buguinho era uma raridade. Clássico. E isto é tudo que ele vale?
- Eu temo que sim. Não foram muitas partes que podemos salvar. Você olhou a
lista dentro do envelope? Você pode ver exatamente as partes que podemos
vender e o preço que recebemos por elas. Nós tiramos nossa comissão, e isso está
na lista também.
Katie não respondeu.
- Você ainda está ai? O mecânico perguntou.
- Sim, eu ainda estou aqui. Desculpe-me se gritei com você. Eu apenas estou
chateada.
- Eu entendo.
- Eu sei. Obrigada. Eu aprecio que tenha mandado o cheque.
- Sem problemas.
Katie controlou seus sentimentos se sentindo péssima da forma como falou com o
pobre homem. Ela poderia agir assim se ele a tivesse roubado, mas como ela
poderia saber? A parte mais embaraçosa foi quando ela percebeu que um pouco
antes de abrir o envelope ela docemente agradeceu a Deus pelas providências.
Dois segundos depois as suas expectativas não valiam, ela estava gritando para
Deus e com outra pessoa como se a vida não fosse justa para ela. Respirando
fundo, Katie entrou no Crown Hall e foi ao apartamento de Julia. Ao invés de
pegar o elevador, ela decidiu ir pelas escadas para queimar todo esse
sentimento. Quando ela chegou ao primeiro piso Julia apareceu na porta entre
aberta com seu celular no ouvido. Ela acenou para Katie entrar e então fechou a
porta.
Katie podia ouvir apenas algumas coisas da conversa de Julia e rapidamente
percebeu que não era da sua conta com quem Julia estava falando. Ela olhou
para o envelope em sua mão.
Ali. Aquele foi seu ultimo pensamento negativo, ela decidiu. Deus sabia o que
estava fazendo mesmo que Katie não soubesse. Qual seria o propósito de
acreditar em Deus se tudo vem automaticamente e facilmente? Katie disse para
si mesma para ser agradecida. Era um bom exercício pro coração dela – um
coração que saía facilmente do controle.
- Obrigada, Katie sussurrou no apartamento de Julia. Na parede do quarto
estavam varias fotos de Julia em locais diferentes pelo mundo. Em uma das
visitas de Katie, Julia havia descrito onde cada foto foi tirada. Perto da porta
estava a foto mais bonita que ficava na altura dos olhos com um escrito em
Maori, a língua das pessoas indígenas da Nova Zelândia.
A primeira vez que Katie viu essas palavras He aha te mea nui? He tangata! He
tangata! He tangata!, ela perguntou a Julia o que elas significavam. Julia disse
que era um enigma antigo na língua deles. A primeira linha era uma pergunta: “O
que é a melhor coisa?” A segunda linha era a resposta: “São as pessoas! São as
pessoas! São as pessoas!”
Katie pensou sobre o significado de dizer o que estava acontecendo na vida dela.
Deus não deu a ela a benção que era mais importante? Pessoas, pessoas, pessoas.
- Obrigada, ela sussurrou de novo para Deus. Desta vez sua gratidão carregava
muito mais sinceridade. Katie colocou o cheque de novo no envelope e, como
Julia ainda estava no celular, ela decidiu abrir os outros dois envelopes. A
próxima era do banco, notificando que quando o cartão de débito foi requisitado
na compra de chocolate, os fundos dela estavam insuficientes, e ela já havia
usado o saldo especial. Ela ficou olhando o aviso. O pagamento dela de AR
deveria ser automaticamente depositado na sexta. Ela não tinha idéia de que a
transição que ela havia feito na quarta poderia ser finalizada no mesmo dia. Os
bancos não têm mais feriados da Ação de Graças?
Apesar da carta, Katie não gritou com Deus ou balançou a carta pro céu. Desta
vez ela cerrou os dentes e sentiu a raiva implodindo ao invés de explodir. Ela
sabia do orgulho dela em comprar os chocolates apesar de saber que eles
estavam caros demais e mesmo o Rick tendo oferecido o dinheiro até sexta.
Ela não poderia reclamar com ninguém alem dela mesma.
Recusando-se a entrar numa confusão emocional, Katie pegou a próxima carta
esperando que fossem boas noticias. Cupons de desconto para a próxima pizza
seria ótimo. O endereço, porém, a fez perder as esperanças. A carta era da mãe
dela.
Capítulo 23
Katie escolheu não abrir a carta. Não ali. Não com o humor que ela estava
naquele momento.
Enfiando todas as cartas dentro de sua bolsa a tiracolo, Katie cruzou e descruzou
suas pernas. Ela colocou o cabelo atrás da orelha e mordiscou seu polegar.
Já que Julia não aparecia, Katie não agüentou mais esperar. Ela enfiou sua mão
na bolsa e puxou a carta com o endereço de seus pais escrito a Mao do lado
esquerdo no topo do envelope. O envelope estava grosso, e quando Katie o virou,
um bilhete estava pregado nas costas do envelope. Era o bilhete que ela não
encontrou mais cedo. Com sua letra, estava escrito o horário que ela deveria
encontrar Julia - 4:30. Ela estava adiantada. Agora sim dava pra entender porque
Julia não estava disponível quando Katie apareceu.
Katie considerou ir embora e voltar mais tarde. Mas pra onde ela iria por dez
minutos? Passando os olhos na letra de sua mãe no envelope, Katie decidiu abrí-
lo.
Dentro estava outro envelope. Era endereçado a Katie e selado. Foi então que
ela se lembrou da ligação de sua mãe algumas semanas atrás pedindo o endereço
de Katie. Agora sua curiosidade estava aguçada. A carta não era, na verdade, de
sua mãe. Era de alguém chamado “Nathaniel Brubaker, Adv.” O remetente era
de Joplin, MO. Agora ela estava confusa. Ela não conhecia ninguém em “MO”,
qualquer que fosse esse estado.
Cuidadosamente, ela abriu a carta impressa em papel branco. Katie notou as
palavras depois do nome de Nathaniel Brubaker. “Advogado aos cuidados da Lei.”
Por que um advogado me mandaria uma carta? Por acaso eu violei alguma lei no
estado de „MO‟ sem saber?
Katie rapidamente passou o olho na carta e então leu a ultima linha, “Por favor,
entre em contato comigo o mais rápido que puder para conversarmos sobre isso.”
- Conversarmos sobre o que? Katie disse em voz alta.
Ela estava lendo a carta pela segunda vez, mais atenciosamente quando Julia
entrou na sala.
- Desculpe-me por te deixar esperando.
- Eu estava adiantada. Katie disse sem tirar o olho da carta.
- Tudo bem?
- Não sei. Ela deu a carta à Julia. Você pode me dizer o que isso significa?
Enquanto Julia lia, seus olhos arregalaram. Ela olhou para Katie e disse:
- Sua tia Mabel faleceu.
- Eu sei. Ela morreu no verão passado. Ou talvez tenha sido na primavera. E eu
acho que ela era minha tia avó. Então por que eles estão me contando isso agora?
Julia estava relendo a carta movendo seus lábios silenciosamente.
- Eu acho que ela te deixou algo. Sr. Brubaker vai discutir os detalhes com você
quando você ligar pra ele.
- Tomara que ela tenha me deixado o carro dela. Eu poderia usar o carro dela.
Apesar de que ela deve ter um daqueles carros de senhoras e num estado bem
pior que o Buguinho estava. E como e que eu iria buscar esse carro onde quer
que ele esteja? Que estado é MO, a propósito?
- Missouri.
- Então por que eles não usam as duas primeiras letras, MI?
- Eu acho que essa é a abreviatura de Mississipi. Não, na verdade, Mississipi é MS.
MI deve ser Michigan.
- Isso explica o porquê de eu sempre me confundir com os nomes dos estados. Eu
nunca tive uma noção clara de onde meus parentes são.
- Você quer ligar para o Sr. Brubaker? Com o fuso horário, ele provavelmente
pode não estar trabalhando, mas você pode deixar uma mensagem.
- Claro, acho que sim. Katie pegou seu telefone e discou o número que estava no
cabeçalho da carta. Uma mensagem gravada falou os horários de funcionamento
do escritório e pediu pra que ela deixasse uma mensagem. Katie disse seu nome,
o numero de seu celular e, só pra constar, seu endereço na Rancho.
- Me conte o que ele disse quando ele te ligar. Julia falou.
- Conto sim.
- Então, como foi seu Dia de Ação de Graças e como estão as coisas?
Katie e Julia ficaram os trinta minutos seguintes colocando os assuntos em dia.
Katie não tinha muito pra contar, exceto pelos detalhes felizes do passeio ao
zoológico na ultima quarta-feira, o bom tempo com a família de Rick e depois a
pintura do apartamento dele. Katie passou por cima dos detalhes e falou sobre
como queria levantar fundos para "água limpa" para a África e algumas das idéias
que ela tivera de como o dormitório todo poderia participar disso.
- Nos falaremos disso no nosso próximo encontro com a equipe, Julia disse. Você
tem o encontro no seu calendário, não tem? É sexta-feira às três horas.
- Eu estarei lá. Você quer que eu traga informações sobre a organização para a
qual o pai do Eli trabalha?
- Quero. Se você quiser, você pode mandar um email pra todos antes do encontro
e mandá-los um link, caso haja algum site que eles possam dar uma olhada antes.
- Eu farei isso.
- Agora. Julia inclinou-se pra frente e olhou intensamente para Katie. Eu preciso
te dar algumas direções com relação ao seu cargo.
- Ok.
- Durante as ultimas semanas, algumas meninas no seu andar têm vindo ate mim
e dito que não tem sentido que você tem estado disponível pra elas.
- O que?
- Apenas me ouça, Katie. Como você se lembra do treinamento, sua função não é
ser a mãe dessas meninas e você não tem obrigação de ser a melhor amiga de
todas. Então eu percebo que elas possam estar esperando mais de você do que
deveriam. Eu também sei que é um desafio encontrar o equilíbrio perfeito. Eu
não estou preocupada se você não esta fazendo seu trabalho ou se não esta
tentando estar disponível. Você também tem suas aulas, assim como uma vida
social. Então não leve isso como uma forma de repreensão da minha parte. Isso é
apenas uma informação para você processar e ver como pode remediar alguns
desses problemas.
- Quem estava reclamando?
- Eu não acho que isso importe. Não acho mesmo. Eu ouvi o que elas tinham pra
dizer e as dei minha palavra de que iria falar com você.
- Ah, é? E o que exatamente essas mulheres anônimas têm a dizer?
- Katie, você esta agindo defensivamente. Você tem que levar isso como uma
direção pra te ajudar e não uma acusação. O que elas disseram é que elas foram
ao seu quarto um monte de vezes, mas você não estava lá.
- E elas foram falar com a Nicole, certo? Nós somos um time. Ou a Nicole recebeu
a mesma reclamação?
- Elas foram falar com a Nicole, e não, ela não recebeu a mesma reclamação.
- Eu não entendo como qualquer uma delas poderia esperar que eu ficasse no
meu quarto esperando o tempo todo por elas. Como eu poderia fazer isso? Eu não
tenho como estar lá toda vez que elas quiserem falar dos problemas delas.
- Katie.
- Quero dizer, o que elas pensam que eu estou fazendo? Eu não estou tentando
ignorá-las.
- Katie! A voz de Julia estava mais firme dessa vez. Você ainda está levando isso
como uma ofensa. Olha para o que eu te disse por outra perspectiva. Examine
isso objetivamente. Nesse cargo, você não pode levar tudo pro lado pessoal.
Katie tentou com todas as forcas levar suas emoções para um lado mais neutro.
- Desculpa. Ela respirou fundo. Então, o que eu devo fazer?
- Eu acho que algumas atitudes poderiam ajudar. Você pode colocar no seu
quadro de mensagens ao lado da sua porta, horários em que você esta no seu
quarto e os horários que não está.
- Eu já tenho um quadro de mensagens ao lado da minha porta.
- Eu sei que você tem. O que eu estou sugerindo e que você acrescente um
sistema qualquer, como você preferir, que faça com que as pessoas saibam onde
você está caso não esteja no seu quarto e a que horas estará de volta. Você já
viu alguns desses relógios feitos à mão que as outras ARs tem. Ou você pode usar
cartões que digam que você esta em aula ou quando estiver na cafeteria ou
estudando. Então se certifique de deixar o horário em que estará de volta. Você
pode trabalhar com o sistema que preferir. Tudo que você tem que fazer é
encontrar um jeito de comunicar sua disponibilidade mais claramente com as
meninas do andar.
- Tá bom.
- Tudo bem com você em relação a isso?
- Sim, eu vou pensar em algo. Eu vou descobrir onde Nicole comprou aquele
quadro magnético todo chique com os imãs para "aula", "estudos" e tudo mais.
Com ela mesma, Katie pensou, não que eu possa comprar um agora...
- Eu tenho outra sugestão, Julia disse. Você pode organizar um horário regular
cada semana para fazer rondas. Eu sei que Nicole fez isso ano passado, mas não
sei se ela começou a fazer esse ano. Vocês duas poderiam ir juntas ou separadas.
Tudo que tem que fazer é dar uma parada no quarto de todas e dizer oi. Não tem
que ser uma visita longa, e esse não é um tempo para elas contarem sobre suas
histórias de vida, mas apenas uma oportunidade de estabelecer contato com
todas.
- Ok. Vou falar com Nicole sobre isso também.
- Ah, e eu sugiro que você deixe um caderno perto de seu telefone para quando
receber ligações. Inevitavelmente você vai receber um monte de pedidos para
coisas como lâmpadas queimadas ou algo referente a uma embalagem de xampu
que elas deixaram no banheiro.
- Caderno. Entendi.
- Obrigada, Katie. Julia disse com um sorriso. Eu agradeço por você estar levando
isso tudo como sugestões construtivas ao invés de apenas criticas.
- Isso é algo que eu preciso trabalhar.
- Eu tenho certeza de que você esta descobrindo que ser uma AR está te dando a
oportunidade de trabalhar exatamente nisso.
- Exatamente.
Katie retornou ao seu quarto antes de ir para a cafeteria jantar. Algo de sua
velha e rebelde natureza a fez caminhar por todos os quartos e ignorar todas as
meninas no andar durante todo o caminho para o seu quarto. Ela concordou com
Julia que ela deveria ser mais deliberada em estar mais em contato com as
meninas. Mas porque alguma mulher anônima ou duas ou talvez mais foram e
"conversaram fiado" sobre ela, Katie preferiu afastar-se delas do que se esforçar
para cumprir o que prometeu a Julia.
Uma vez em seu quarto, Katie jogou seu travesseiro na parede e soltou um
"Grrr!"
- Calma, ela disse a si mesma enquanto andava de um lado para o outro. Esse é o
seu trabalho. Você tem quarto e comida de graça por isso. Leve isso como uma
avaliação da sua performance. Relaxe. Você tem algumas áreas pra melhorar, só
isso. Entre nessa. Não lute contra isso.
Sua rápida sessão de terapia funcionou. Ela parou de andar de um lado para o
outro no seu quarto e deixou o conselho de Julia "assentar" sobre ela. Bem nessa
hora, seu celular tocou. Era Rick.
Seu cumprimento foi:
- Como é que você consegue me suportar?
- Katie?
- Sim, claro que sou eu. Por que você sempre pergunta se sou eu quando eu ligo?
Isso é o que minha mãe faz, e isso me deixa louca. Você poderia pelo menos ler o
identificador de chamadas no seu celular no caso de você não reconhecer minha
voz por alguma estranha razão.
- Eu liguei numa ma hora, não foi?
Katie não pôde identificar se ele estava impaciente ou compadecente dela. Com
Rick, às vezes, era difícil de saber a diferença.
- Eu estou bem, ela disse, nada interessada em repetir a conversa com Julia para
ninguém.
- Tem certeza?
Katie suspirou e então, impulsivamente, ela contou a Rick. Ela tentou fazer isso
de uma maneira rápida e resumiu dizendo:
- Então, eu acho que vou ter que me esforçar pra melhorar em cada parte do
meu cargo no período entre agora e o recesso de Natal.
- Isso vai ser bom. Rick disse.
- Eu sei. É isso que eu preciso mesmo fazer. Eu não deveria ter uma atitude tão
ruim assim.
- Não, eu quero dizer que vai ser bom que seu trabalho vai exigir mais de você
nas próximas semanas porque eu estou na mesma situação. Meu trabalho vai
exigir bastante de mim também.
Da beirada de sua cama, Katie fez uma careta e ficou feliz por Rick não poder
ver seu rosto.
- O que esta acontecendo? Ela tentou fazer a pergunta soar mais "calma" do que
soou no interior dela.
- Nos compramos a propriedade de San Diego hoje. Pelo menos nós começamos o
processo. Nos estamos comprometidos com eles. Vai ser um negocio enorme,
Katie! Isso é o que Josh e eu estávamos esperando. Nos ainda não podemos
acreditar que Deus abriu essa porta tão rapidamente depois que a propriedade
do Arizona não deu certo. Ate que o Josh faça as malas e mude pra cá, eu terei
que trabalhar contra o tempo.
- Uau. Katie tentou soar um pouco entusiasmada para alegria de Rick. Então,
nosso momento dourado de sair como namorados para encontros normais acabou.
- Nosso namoro não acabou.
- Quero dizer, o luxo de ir ao zoológico durante um dia como nos fizemos na
semana passada. Essa é a parte dourada que vai acabar.
- Não acabar, Katie. Apenas esperar. Nos ainda podemos nos encontrar para
jantar e talvez ir ao cinema uma vez ou outra. Você entende a oportunidade
fantástica que isso é e como eu tenho que mergulhar nisso e seguir em frente,
não entende?
- Sim. Eu entendo. Claro que eu entendo. É isso que você faz. Desculpe-me se eu
não estou muito empolgada com relação a isso. Bem no fundo eu estou muito
feliz por você, Josh e seus pais e pela triste, abandonada loja de pneus que em
breve se tornara um feliz e 'bombante' point.
- Nos ainda não estamos nesse nível.
- Mas Rick, eu estaria mentindo se eu não dissesse que fiquei meio frustrada. Eu
gostei de passar o tempo com você na semana passada, mesmo tendo sido apenas
alguns dias.
- Eu sei. Eu também gostei. Escute, eu não sei quando eu vou te ver essa semana
porque eu tenho algumas viagens pra fazer para San Diego.
- Dessa vez tomara que não tenha transito.
- Sim, tomara que não tenha transito. Mas eu estarei em casa no próximo
domingo, então vamos agendar esse dia como nosso dia juntos, ok? Se você tiver
algum plantão, tente trocar com a Nicole. Se você tiver algum trabalho, tente
fazê-lo antes de domingo. Assim nos podemos ter o domingo todo juntos.
- Ok. Uma pequena parte do lado rebelde de Katie a fez ter vontade de dizer,
“Por que sou eu tenho que fazer todos os ajustes e encaixar minha vida na sua
agenda?"
Mas ela não disse isso. Ela se lembrou do comentário de Cris alguns meses atrás
sobre a vida de casada; como ela não esperava que tivesse que ceder tanto para
encaixar sua vida com a vida de Ted. Cris disse também que Ted estava fazendo
a mesma coisa. Ele tinha que ajustar sua agenda diariamente apenas pra lidar
com as necessidades de transporte deles com apenas um carro.
Aquele pensamento fez Katie se lembrar do seu cheque decepcionante das partes
do Buguinho e das duas outras significantes cartas. Ela decidiu não dizer nada a
Rick a respeito das cartas. Quando ela o visse no próximo domingo ela teria mais
informações do advogado. Ela também sabia que não adiantaria de nada trazer à
tona o assunto dos chocolates caros outra vez.
Eles se falaram mais alguns minutos e Rick disse que tinha que ir.
Katie desligou e pensou em como Rick iria precisar do mesmo tipo de quadro de
horários que ela penduraria ao lado de sua porta. Talvez ela achasse dois-pelo-
preco-de-um no Galpão da Economia, o lugar preferido de Katie pra fazer
compras. Ele poderia colocá-lo ao lado da porta de seu escritório no Ninho da
Pomba, e se ela não pudesse encontrá-lo no celular, pelo menos Carlos ou algum
dos outros funcionários no Ninho poderia checar no calendário dele e informá-la
de quando ele estaria de volta.
Imaginar aquela cena levou Katie a acalmar seus sentimentos com relação ao que
Julia dissera. Se algumas mulheres do seu andar tinham o sentimento de perda e
talvez de abandono quando elas não encontravam Katie, ela agora compreendia
mais como elas se sentiam. Ela não gostava de entrar nesse estágio de suas
emoções, onde ela já estivera muitas vezes quando o assunto era Rick.
Ela era uma mulher forte. Ela podia lidar com isso. Tudo isso.
Deixando seu quarto e indo rumo à cafeteria, Katie se determinou a não sentir
pena de si mesma com relação à iminente ocupada agenda de Rick. Ela também
determinou que iria fazer um esforço generoso para demonstrar bondade a todas
as mulheres no seu andar toda vez que pudesse, começando agora.
Katie colocou a cabeça para dentro de cada porta e disse um caloroso oi. Todas
as pessoas que passavam por ela no caminho para a cafeteria, ela
cumprimentava pelo nome. Quando ela chegou à cafeteria, Eli estava na fila,
dois lugares a frente dela.
- Ei, Eli!
Ele virou e deu um grande sorriso e se juntou a ela na fila.
- Eu mandei um email pro meu pai. Você não iria acreditar no quanto ele ficou
animado como a idéia dos nossos levantamentos de fundos. Eu acho que ele
estava num momento bem difícil. Isso foi como remédio pra ele.
Katie entrou, através da fila, na cafeteria com Eli, e os dois comeram juntos
numa mesa ao lado da janela que tinha apenas duas cadeiras. Mesmo depois que
eles terminaram de comer, eles continuaram falando sobre as idéias dos
levantamentos de fundo. Eli contou a Katie mais histórias sobre as vezes que ele
foi com seu pai em vilarejos remotos para fazer o trabalho preparatório antes de
enviar a equipe que cavaria o poço.
Ele descreveu um problema horrível em um vilarejo que tinha um parasita na
água que se alojava debaixo da pele e deixava as crianças e adultos com
dolorosos inchaços nesses lugares onde o parasita estava.
Katie teve um calafrio diante da descrição e ficou feliz por já ter acabado de
comer.
- Você não vai acreditar nisso, Katie, mas dois meses apos o poço estar cavado e
as pessoas não terem mais que beber da nascente contaminada, os parasitas
sumiram. As pessoas foram curadas pela água limpa que estavam bebendo e
usando para cozinhar e lavar suas coisas. Isso transformou o vilarejo.
- Você tem que contar essa história, Katie disse.
- Onde?
- Aqui, na capela. Os olhos de Katie se arregalaram. Sim, é isso! Na capela. Nós
temos pessoas que vêm o tempo todo e nos contam sobre o que está
acontecendo em varias partes do mundo, mas Eli, você esta aqui. E você viu e
viveu isso tudo. Você falaria na capela um dia?
Ele deu de ombros.
- Acho que sim. O que eu diria?
- Simplesmente o que você tem me contado. Conte suas histórias. Eu conheço
pessoas no comitê da capela. Eu vou falar com eles amanhã. Eli, isso é muito
legal! Nós podemos começar um projeto para levantar fundos que toda a
universidade poderia participar!
O entusiasmo de Katie não diminuiu quando a noite chegou. Ela e Eli continuaram
conversando ate a cafeteria fechar. Então eles caminharam até o Java Jungle,
um coffee shop dentro do campus, e continuaram conversando ate depois das
nove.
- Eu tenho mesmo que ir, Eli disse. Eu tenho que trabalhar à meia noite e tenho
um trabalho pra fazer pra amanhã.
- Vamos combinar um horário pra nos encontrarmos amanhã, Katie sugeriu. Qual
é o número do seu celular? Eu acho que não tenho.
Eles fizeram planos de se encontrarem na terça-feira. Eli sugeriu a fonte no
centro do campus. A princípio Katie disse sim. Então ela parou e disse:
- Vamos nos encontrar no Java Jungle ao invés da fonte. A fonte era um lugar
especial para ela já que ela e Rick compartilharam alguns almoços-piqueniques
divertidos assim como algumas guerrinhas de água. Soou engraçado pensar em
começar algumas novas lembranças naquele lugar com Eli.
Na hora que eles iam se encontrar no Java Jungle na ter Ca, Katie estava cheia
de novidades. Ela estava esperando por Eli quando Julia entrou no pequeno
coffee shop e acenou para Katie.
Katie chamou-a e iria contar-lhe a mais nova idéia sobre o "testemunho" de Eli na
capela quando seu celular tocou.
Katie não reconheceu o numero e assumiu que fosse Eli. Ela atendeu dizendo:
- Você não vai acreditar em todas as coisas boas que estão pra acontecer!
Depois de uma pausa, uma mulher disse:
- Katie Weldon, por favor.
- Oh. Sim, é a Katie.
- Vou passar para o Sr. Brubaker.
Katie cobriu o microfone e olhou para Julia.
- É o advogado, ela sussurrou.
Julia apontou para a porta.
- Você deveria ir lá pra fora, pra algum lugar onde possa ouvir melhor. Julia
disse.
- Você pode vir comigo, Julia? Eu devo precisar de você.
As duas foram para fora e caminharam ate um banco que ficava de frente para o
prédio principal da comunidade dos estudantes e de costas para o muro de tijolos
do Dishner Hall, o departamento de música. Esse era o melhor lugar à prova de
som que elas poderiam encontrar do lado de fora.
- Senhorita Weldon? A voz do outro lado da linha era baixa e "sombria".
- Sim?
- Você respondeu à minha carta com relação a Mabel Overton.
- Sim.
- Eu estou lidando com o testamento da Sra. Overton. Ela tinha um pedido
especifico, seu desejo era que encontrássemos todos os seus parentes que
estivessem na faculdade.
- Sr. Brubaker? Eu vou colocar o senhor no vivavoz.
- Alguém vai ouvir nossa conversa?
Katie olhou a sua volta.
- Apenas minha DR. Minha diretora dos residentes. Eu quero que ela ouça o que
você vai dizer porque ela estava comigo quando eu li sua carta e ela esta comigo
agora. Eu são quero que ela ouça para que ela possa me falar se eu preciso fazer
algo que eu não entenda enquanto você fala. Faz sentido? Eu nunca falei com um
advogado antes e, pra ser honesta, eu estou nervosa.
- Não tem motivos pra ficar nervosa. Vai em frente e me coloque no vivavoz.
Katie segurou o telefone entre ela e Julia e olhou em volta para se certificar de
que nenhum outro estudante estava por perto. Elas ainda estavam isoladas no
seu "esconderijo".
- Ok, ela disse. Tá limpo. Quero dizer, você pode continuar com o que ia dizer.
Sr. Brubaker descreveu como a tia avó de Katie queria encontrar todos os
parentes dela que estivessem fazendo faculdade porque era algo que ela queria
muito ter feito, mas não pode. O advogado conduzira uma extensa procura, e
Katie foi a única familiar direta que estava fazendo faculdade ou tinha
expressado algum desejo em fazer faculdade.
Katie olhou pra Julia. Ela não fazia a menor idéia do porquê isso importava tanto
para sua falecida tia avo.
Então o Sr. Brubaker deixou as intenções de Mabel claras.
- Como a única universitária, você foi destinada a receber toda a quantia do
testamento dela.
Katie levantou suas sobrancelhas e continuou olhando para Julia. Que ótima
novidade! Talvez sua tia avó tivesse deixado uma quantia suficiente para cobrir o
resto do valor de seu curso.
- Você gostaria de saber a quantia destinada a você? Ele perguntou.
- A quantia? Claro!
O Sr. Brubaker disse a quantia, e Katie deixou seu celular cair no mesmo
instante.
Julia pegou o telefone.
- Obrigada, Sr. Brubaker. Katie esta um pouco abalada no momento.
- Compreensível. A tia avó dela adquiriu um pequena quantia em ações numa
companhia de petróleo quando estava em seus quarenta anos. Com o preço do
petróleo hoje, eu diria que dá um bom dinheiro.
- Sim, Julia concordou.
- Sr. Brubaker, o senhor tem certeza disso tudo? Katie disse, recobrando sua voz.
Coisas assim acontecem em filmes, mas não na vida real.
- Oh, elas acontecem na vida real todos os dias, Srta. Weldon. Acredite. Agora,
eu tenho seu endereço aí na Rancho Corona, então eu enviarei as papeladas
finais para você nesse endereço, a menos que você queira que eu mande pra
algum outro lugar.
- Não, aqui mesmo.
- Tenha um bom dia, então.
- Espere! Sr. Brubaker?
- Sim?
- Alguém mais sabe disso? Meus pais ou algum parente?
- Não. Você pode fazer o que quiser com a informação e o dinheiro.
- Ok. Obrigada.
- Disponha. Tenha um bom dia.
Capítulo 24
Katie desligou seu celular e encarou Julia.
- Tenha um bom dia? Ele acabou de dizer „tenha um bom dia‟?
Julia sorriu.
- Uau, Katie.
- Me diz a o valor de novo.
Julia repetiu enquanto Katie desenhava os números invisíveis no ar com seu
dedo.
- É um monte de número na frente do ponto decimal. E números agradáveis
também, você não acha? Agradáveis, grandes, gordos números. Julia, isso é
loucura! Me dá um tapa para eu acordar? Isso não pode estar acontecendo.
Julia deslizou seu braço ao redor dos ombros de Katie e lhe deu um abraço
apertado.
- Parece ser real, Katie. Sem piada. Você orou por ajuda financeira ou alguma
coisa assim?
Katie riu. Ela riu e riu até lágrimas rolarem por sua face. Uma vez que ela tinha
recuperado sua voz, ela disse:
- Julia. O que vou fazer com todo esse dinheiro?
- Você vai dar um tempo, você vai orar...
- Certo. Claro. Deus não teria feito isso se Ele não tivesse uma razão. Você acha
que Ele tem um plano para esse dinheiro? Claro que Ele tem um plano. Você
acha... você acha que Ele tem um sonho? Um sonho para alguma coisa que
poderia acontecer e Ele quer usar esse dinheiro para fazer acontecer?
- Por que você não pergunta a Ele?
- Sim, claro. Por que não posso pensar nessas coisas? Vou perguntar a Ele. Você
quer orar comigo?
- Claro.
Pelos cinco minutos seguintes Katie e Julia curvaram suas cabeças no banco do
lado do Dishner Hall e oraram juntas. Ambas agradeceram a Deus pelo inesperado
e extravagante presente. Julia pediu que Deus desse sabedoria a Katie.
Katie concluiu suas orações espontâneas com:
- Pai, e você? Você tem algum sonho e quer que eu use esse dinheiro pra realizar?
Porque você pode tê-lo. Eu sei que já é Teu, mas se você está colocando no meu
caminho para que eu venha usá-lo de alguma forma que irá fazer teu reino vir e
tua vontade ser feita tanto na terra como no céu, então eu farei. Apenas me diga
o que queres. Amém.
- Amém. Julia repetiu.
Katie abriu seus olhos e olhou para Julia se sentindo um pouco mais estabilizada.
- Isso é muito louco.
- Deus é muito louco, Julia disse. Ele raramente faz o que nós pensamos que ele
iria fazer.
Katie acenou com a cabeça. Alguns pensamentos suaves sobre Rick e onde o
relacionamento deles estava indo veio flutuando sobre ela. Ela não estava certa
por que. Ela teria pensado que o dinheiro seria tudo que ela poderia pensar a
respeito depois de receber tal notícia surpreendente.
- Julia, posso te fazer uma pergunta maluca?
- Ok
- O que quer que seja que aconteceu com Trent?
Julia pareceu assustada.
- O que você quer dizer com o que aconteceu com ele?
- Você disse que não se casou com ele, então eu só estava pensando o que tinha
acontecido. Quer dizer, se você não se importar em me contar. Meus
pensamentos estão em todo lugar e eu acho que estou tentando entender minha
vida inteira agora de uma vez só e eu pensei sobre você e amor e casamento e o
futuro.
Julia levou um longo momento antes de falar.
- Eu... Ela não continuou. Com sua expressão de tranqüilidade retornando ela
disse: Quer saber, Katie? Vou te fazer uma promessa. Eu prometo que vou te
contar sobre Trent um dia. Eu não contei pra muitas pessoas, mas eu vou contar
pra você. Não hoje, mas um dia.
- Ok. Eu espero. Sou uma boa esperadora. Bem, não muito. É um tipo de piada
que eu e Rick temos. Eu não sei por que não consigo parar de pensar em Rick.
Você acha que tô ficando doida? Eu sinto como se estivesse. Sinto como se eu
estivesse sobrecarregada.
- Por que você não volta para seu quarto e seja você mesma por um momento?
Você pode deixar tudo isso ser absorvido e ore um pouco mais e volte ao seu
normal. Estarei por aqui, se você precisar conversar um pouco mais.
- Obrigada. Katie caminhou de volta ao Crown Hall confusa, embora um
pensamento persistente ficasse em sua mente. No momento em que ela estava
na porta do dormitório, ela sentiu que um pensamento singular tinha sido selado
em seu cérebro. Aquele pensamento a guiou pra uma decisão importante. Ela
entrou no lobby e decidiu, Eu não vou contar nada a ninguém sobre a herança.
Nem Rick ou Cris ou Nicole, ninguém. Apenas Julia precisa saber no momento. Se
eu disser a muita gente, vai ficar confuso saber o que devo fazer depois.
Tentando lembrar-se de sua nova abordagem de cumprimentar todos no caminho,
Katie parou por alguns minutos pra um rápido bate-papo com três garotas
diferentes. Quando ela entrou em seu quarto, ela fechou a porta e ficou de pé
com as costas contra ela.
Isso não é real. Isso não está acontecendo. E se Julia não estivesse comigo? Eu
teria pirado total. Provavelmente eu estaria correndo pelo campus exatamente
agora gritando e contando pra todos.
Ela respirou fundo.
Assim é melhor. Só você e eu, Senhor. Só você e eu.
Por aproximadamente vinte minutos, Katie ficou deitada em sua cama, fitando o
teto. Seu celular tocou, mas ela não atendeu. Quem quer que fosse ela não podia
falar naquele momento. Ela estava pensando. Meditando. Qual era seu próximo
passo?
O pagamento de sua mensalidade estava vencendo na semana seguinte. Ela
usaria o dinheiro pra pagar, claro. Não apenas pra o próximo pagamento, mas
para o resto do ano. Ela pagaria todas suas contas escolares. Isso era que sua tia
Mabel queria, não era? Daquela forma Katie poderia se formar em Maio sem
nenhum empréstimo estudantil e sem nenhum débito.
Nunca em um milhão de anos ela teria pensado que Deus faria uma coisa dessas.
Ela tinha dito a Ele quando iniciou a faculdade que ela confiava nEle pra ajudá-la
a superar, mas mesmo em suas mais loucas idéias isso não era do jeito que ela
pensou que Ele faria.
- Obrigada, Katie sussurrou. Obrigada, obrigada, obrigada!
Ela pensou em todos seus amigos que estavam lutando pra encontrar maneiras de
pagar suas mensalidades. Por que ela não poderia ajudá-los? Anonimamente.
Julia poderia direcioná-la em como fazer uma doação silenciosamente. Por que
não? Ela poderia contribuir pras mensalidades de Joseph e Eli.
- Eli! Katie levantou-se e procurou por seu telefone. Eu saí do Java Jungle e
nunca voltei pra encontrá-lo.
Katie checou e viu que ela tinha três mensagens dele. Discando o número dele
rapidamente, ela caiu na mensagem de voz.
- Eli, eu sinto muito, muito. Aconteceu uma coisa. Eu hummmm... bem, me liga
depois. Talvez a gente possa se encontrar pra jantar ou alguma coisa.
Ela pegou seu caderno de espiral de sua mesa e lembrou que ela ainda não tinha
feito sua leitura pra aula daquela noite. A leitura teria que esperar uns vinte
minutos. Katie precisava colocar sua enxurrada de pensamentos no papel antes
que sua mente começasse a se dispersar de novo.
Ela rabiscou o nome de todos os estudantes que ela sabia que estavam
trabalhando pra pagar suas mensalidades. A lista cresceu e Katie se sentiu
desencorajada. Se ela tentasse pagar a mensalidade de todos na lista, todo o
dinheiro acabaria antes que ela alcançasse o final da lista.
Riscando aquela lista, ela começou outra. Eli estava no topo da lista. Ela não
fazia idéia como a mensalidade dele estava sendo paga. Julia poderia ajudá-la a
descobrir. Joseph vinha a seguir na lista. Enquanto ela escrevia o nome dele, ela
se lembrou do jogo que eles fizeram no Dia de Ação de Graças. A resposta de
Joseph para o que ele faria se tivesse um milhão de dólares foi trazer Shiloh e
Hope pra ficar com ele na Rancho Corona.
Um amável sorriso cresceu no rosto de Katie. Ela poderia fazer isso. Ela poderia
tornar aquilo possível. Na verdade, Deus era quem poderia e estava fazendo se
tornar possível.
Katie começou uma nova lista. O título era “Sonhos de Deus”. A primeira coisa na
lista era “Shiloh e Hope mudam pra Rancho”. Quando ela escreveu o último “o”,
ela adicionou um pequeno e feliz cachinho no topo do “o.” Então por diversão
ela adicionou olhos e um grande sorriso dentro do “o” em Shiloh, Hope e em
Rancho. Três rostos felizes.
- O que mais? Katie perguntou em voz alta. O que mais você quer fazer com esse
pedaço ridículo de troco?
Exatamente no topo de seus pensamentos estava o projeto pra levantar fundos
pra água limpa na África. Ela escreveu aquilo. Se ela fizesse uma contribuição
grande, não significaria que o levantamento do dinheiro estava acabado. Apenas
significava que mais dinheiro seria adicionado.
Katie estava muito empolgada pra esperar e perguntar o que mais Deus queria na
lista de sonhos. Ela ligou pra Julia e pediu pra que ela viesse pra seu dormitório.
- Preciso de ajuda.
- Você está bem? Julia perguntou.
- Estou mais do que bem. Estou jubilante.
- Oh, querida! Julia disse com uma risada: Estarei logo aí.
O que começou naquela tarde no quarto de Katie entre ela e Julia ficou naquele
quarto entre Katie e Julia. Foi o tipo de segredo delicioso de sempre.
Depois que Katie mostrou pra Julia como ela queria dividir o dinheiro, Julia
concordou com a cabeça e então disse:
- Você esqueceu uma coisa importante.
- O quê? Dízimo?
- Não, eu acho que você tem seu dízimo quadruplicado com o que você quer
direcionar pro projeto de água limpa. O que você esqueceu foi você mesma.
- Minha mensalidade está coberta. Está nessa coluna bem aqui.
- Katie, e a respeito de um carro?
- Ah, sim. Eu poderia usar um desses.
- Cê acha? Julia disse em tom de brincadeira. Eu não consigo acreditar como você
não colocou isso no topo da lista. Você pensou em todo mundo menos você
mesma.
- Não exatamente. Eu apenas esqueci minha deficiência de transporte. Acho que
é porque todos têm sido tão legais me levando pra cima e pra baixo, eu não
tenho sentido falta do meu carro tanto quanto eu pensei que eu iria.
- Ainda assim você precisa comprar um.
- Eu sei. Eu não preciso de um carro novo, mas alguma coisa que seja seguro
seria muito boa. Isso poderia ser divertido! Eu poderia pagar com dinheiro vivo!
A papelada chegou na quinta e Julia ajudou Katie a olhar os específicos pra ter
certeza que ela tinha respondido a todas as perguntas feitas a ela e assinado
todos os lugares que eram requeridos pra assinar.
Enquanto elas dirigiam de volta da loja de envio onde elas mandaram os papéis
de volta via FedEx noturno, Julia ajudou Katie decidir quanto ela colocaria na
poupança, quanto ela transferiria pra conta corrente e quanto ela precisava
segurar pros impostos. Outro valor precisava ser colocado numa conta poupança
de longo termo onde renderia mais e estaria disponível pra Katie depois que ela
graduasse. Katie não estava convencida sobre a poupança pós graduação, mas
Julia comentou que o valor final permitiria que Katie se mudasse pra um
apartamento.
- E se eu não precisar comprar meu próprio apartamento depois que eu me
formar? Katie disse, aludindo à possibilidade de que ela poderia fazer como Cris e
se casar logo depois da formatura.
- Então eu diria que você vai ter todo dinheiro que precisa pra um vestido de
noiva sensacional como também uma recepção que vai surpreender todos os seus
amigos e familiares.
- E eu não terei que pedir nem um centavo aos meus pais, Katie disse
pensativamente. Aquele foi o momento que ela percebeu quanto sua vida tinha
mudado. Não apenas por causa do dinheiro, mas porque ela realmente tinha se
tornado independente.
Com aquilo em mente, Katie adicionou outra conta poupança à sua lista. Essa era
para seus pais.
- Você me disse que a melhor coisa que eu poderia fazer era honrar meu pai e
minha mãe. Eu não quero contar a eles sobre esse dinheiro por todas as razões
óbvias, mas eu quero guardar um pouco pra eles caso eles tenham problemas
médicos ou pra despesas com aposentadoria que eles não possam arcar.
Julia concordou.
- Isso é bom, Katie. Muito bom. Você está sendo uma boa administradora daquilo
que Deus tem te dado.
- Bem, Ele não meu deu ainda. Eu ainda tenho a sensação de que isso é um
daqueles momentos só-acredito-vendo.
Katie cancelou seu almoço com Cris planejado para aquela semana dizendo
honestamente que ela tinha muita coisa pra fazer. Ela estava morrendo de
vontade de contar para Cris, mas ela sabia que se ela contasse a Cris, Cris ia
quere contar para Ted e se Ted soubesse então ele contaria a Eli e, claro, Rick e
então ninguém poderia parar as notícias. Todo mundo saberia e o segredo das
doações seria estragado.
Por aquela razão ela também evitou longas conversas com Nicole. Suas conversas
no telefone com Rick foram todas sobre as aventuras dele em San Diego e como
ele sempre deixara a nova construção cheirando a pneus de borracha. Quando
ele disse a ela no telefone sexta à noite que ele sentia muito, mas não poderia
manter o encontro deles no domingo, Katie nem estava tão chateada.
- Eu tenho tido tanta coisa acontecendo aqui que você nem acreditaria.
- Você não está chateada?
- Não. Estou ansiosa pra te ver, mas eu posso esperar. Sou uma boa esperadora.
Rick sorriu.
- Você é, Katie. Você é a melhor. Eu...
Um pequeno sorriso cresceu no rosto de Katie enquanto ela sentava na cafeteria
barulhenta com seu celular contra seu ouvido.
- Sim, você começou a dizer alguma coisa...
- Eu te aprecio mais do que você jamais vai saber, ele disse.
- Frango18!
- O quê?
Katie sabia que não era uma boa idéia insistir pra que Rick dissesse que a amava.
Ela rapidamente redirecionou sua declaração.
- Nós temos frango hoje à noite. Estou na cafeteria.
- Posso ouvir. Eu deveria te deixar ir.
- Ok, mas me liga mais tarde quando você puder.
- Eu ligo. Eu sempre ligo.
- Eu sei. Katie fechou seu telefone e carregou sua bandeja pra mesa perto da
janela onde ela e Eli tinham sentado na segunda-feira à noite quando ela deu a
idéia dele falar na capela. Ela tirou seu prato e bebida da bandeja já que a mesa
era pequena e pôs a bandeja contra a janela. Ela realmente tinha frango no seu
prato. A última coisa que ela queria fazer era mentir pra Rick. De certa forma
ela se sentia incerta desde que ela não tinha dito a ele sobre a herança.
Ao mesmo tempo ela sabia que era a decisão certa. Quanto mais ela pensava a

18
A expressão CHICKEN em inglês, além de significar frango, tb é usada pra chamar um pessoa de medrosa,
covarde, etc. Então na primeira vez em que Katie usou, o sentido era chamar Rick de medroso por não ter dito
que a amava.
respeito, mais certo parecia manter tudo como estava – um esplêndido
segredinho entre ela e Deus. Claramente Deus tinha enviado Julia para o suporte
necessário. Não era coincidência, Katie estava certa, ela ter aberto a primeira
carta quando ela estava sentada no sofá do apartamento de Julia. Também não
era coincidência Julia ter adentrado o Java Jungle apenas alguns minutos antes
de Katie receber a ligação do advogado.
Katie fez uma oração de gratidão por seu frango de sexta-feira à noite da
cafeteria e comeu sozinha. Ela pensou sobre todos os trabalhos que ela precisava
terminar só no fim de semana. Ela também pensou quando ela teria tempo pra
sair e procurar por um carro e quando ela teria tempo pra encontrar Cris pra
almoçar.
Quando ela pensou em Cris, ela pensou em duas coisas. Pobre velho senhor
Tropeço e um-carro-dilema de Ted e Cris. Pegando o pequeno caderno que agora
ela carregava consigo desde que Julia sugeriu que ela mantivesse um manual em
seu quarto, Katie escreveu uma nota pra si mesma: T e C – Gato e Carro. Ela
colocou a nota na página onde ela estava mantendo uma lista que ela estava
chamando sua lista “Fada Madrinha”. Se ela pudesse abençoar alguém
anonimamente com o dinheiro extra que ela receberia na poupança, seus nomes
e o presente específico iam pra lista Fada Madrinha. Não significava que ela
seguiria todas as noções viajantes daquela lista, mas com certeza era divertido
pensar como ela poderia comprar um carro extra e um animal de estimação pra
Cris e Ted.
Katie mastigou o pedaço de frango pensativamente e decidiu riscar o “gato” da
lista para Cris. Ela já sabia que aquilo não seria visto por Ted como uma benção.
O carro, porém, era uma possibilidade. Ela não sabia como aconteceria e como
ela manteria no anonimato, mas ela tinha tempo. O dinheiro não tinha chegado
ainda. Quando chegasse, ela poderia guardar e esperar até o momento certo pra
ativar sua lista Fada Madrinha.
Capítulo 25
O cheque chegou na quinta-feira, três semanas antes do Natal. Katie abriu a sua
caixa de correio e viu o envelope. Ela consumiu cada molécula de compostura
dentro dela para simplesmente pegar o envelope e escorregá-lo para a sua bolsa
a tiracolo sem deixar escapar um grito selvagem de júbilo. Ela se apressou de
volta para o Crown Hall, discando para Julia no caminho.
- Ei, Katie disse calmamente. Sou eu, Katie. Hum, você lembra como você disse
que se eu algum dia precisasse de uma carona que eu poderia pedir para você?
- Sim.
- Bem, eu quero saber se você estaria disponível para me levar ao banco esta
tarde.
- Oh, o banco. O banco! Sim! Uau! Já? Ok. Sim. Eu vou estar honrada por te levar
ao banco.
- Bom. Eu estou quase no Crown Hall bem agora.
- Eu a encontro no salão de entrada.
As duas mantiveram a fachada tranqüila enquanto se encontravam na porta da
frente.
- Você está pronta para ir, então? Julia perguntou.
- Sim. Obrigada por fazer isso por mim.
- Sem problemas, Katie. Às ordens.
Então, já que ela não poderia ajudar, mas para adicionar uma pequena graça ao
momento, Katie disse:
- Eu espero que eu brevemente seja capaz de comprar um carro de alguma
forma, mas até lá, eu realmente aprecio a carona.
Julia olhou em volta. Não parecia que alguém tivesse escutado o comentário de
Katie. Sem problemas. As duas conheciam todos os significados ocultos. Assim
que elas escapuliram no carro de Julia, Katie abriu o envelope.
- Minhas mãos estão tremendo! Puxando cuidadosamente o pedaço de papel
significante para fora do envelope, Katie o colocou em seu colo e encarou.
- É o que você esperava? Julia perguntou.
- Até o último centavo. Uau! Quantos belos, belos gordos e alegres números. Olhe
para todos eles alinhados como desejos. Tantos desejos vão se tornar realidade
como resultado desses números inesperados. Eu tenho vontade de cantar!
Enquanto Julia dirigia rumo ao banco, ambas cantavam. Um tipo de cântico bobo
e espontâneo, mas ao mesmo tempo, parecia a coisa mais natural a fazer. Era
um ato de adoração.
Uma vez que elas chegaram ao banco, entretanto, ambas passaram a ser só
negócios. Aquilo era fácil de fazer devido ao trabalho preliminar que Julia tinha
feito. Ela havia preagendado um compromisso com o gerente e tinha ligado para
ele assim que Katie a chamou. Isso permitiu que as duas sentassem com o
gerente do banco e conduzissem a transação de forma particular.
Levou quase uma hora até que tudo estivesse completo. Eles estavam perto de
finalizar com os detalhes da conta que Katie queria usar para o levantamento de
fundos quando o gerente disse:
- Eu estou entendendo que a maior parte desse fundo vai para caridade?
Katie explicou sobre os planos de levantamento de fundos e a conexão de Eli com
o projeto.
- Ele vai falar na capela amanhã, Katie disse. Você será bem vindo a se juntar
conosco, se você quiser.
O gerente se sentou novamente e dobrou as suas mãos, sua expressão era
contemplativa.
- Eu não poderei ir à capela, ele disse. Mas eu gostaria que a nossa filial
participasse do levantamento de fundos. Você poderia nos dar as informações?
- Claro. Katie e Julia trocaram olhares surpresos. Ele inclinou a sua grande
cadeira de couro para frente e, olhando para Katie, disse:
- Eu nunca vi nada igual a isso. Você é uma jovem mulher inspiradora. Ter essa
quantidade de dinheiro à sua disposição e escolher colocar tanto assim nessa
causa move profundamente.
Katie não sabia o que dizer.
- Eu decidi que vou fazer uma contribuição pessoal de três mil dólares para o
fundo. Minha contribuição irá aparecer na conta ao final deste mês.
- Obrigada! Katie se levantou e avançou para apertar a mão dele. Muito obrigada!
- Não, obrigada a você pelo seu exemplo impressionante. Eu estou em bancos há
duas décadas e nunca tinha visto esse tipo de dedicação. Especialmente em
alguém tão jovem. Posso perguntar como você chegou a esta decisão?
Katie olhou para Julia e de volta para o gerente.
- Nós só oramos sobre isso. Eu perguntei a Deus se ele tinha alguns sonhos que
queria que se cumprissem com o dinheiro e, então, eu comecei a fazer uma lista.
- Bem, de novo, obrigada pelo seu exemplo, Senhorita Weldon. Você está em
crédito com o seu Deus e com a sua universidade. Ele se levantou e abriu a porta
do escritório.
Enquanto Katie e Julia caminhavam para fora, os clientes que esperavam para se
encontrar com o gerente em seguida vieram em sentido contrário.
- Rick, Josh! Ei! Katie se apressou para frente e deu a Rick um grande abraço. Eu
não acredito que vocês estão aqui.
- Nós estamos aqui para o nosso empréstimo empresarial, Josh disse. Assim nós
esperamos.
- Parece que esses jovens homens são amigos de vocês, o gerente disse.
- Esse é o meu namorado, Rick Doyle, e o seu irmão, Josh.
- Está tudo bem? Rick perguntou a Katie. Ele disse isso calmamente, mas Katie
estava muito certa de que o gerente e Julia podiam ouvi-lo. Você não está com
saldo negativo, está? Por que se você estiver...
O gerente cobriu a sua boca como se uma tosse subitamente o atacasse.
- Não, está tudo ótimo. Julia se ofereceu para me dar uma carona. Eu tinha que
colocar algumas das minhas finanças em ordem. Ela se virou e deu ao gerente um
sorriso astuto. Nós conseguimos arranjar tudo.
- Bem, se você precisar de uma carona de novo, só me ligue. Eu não sabia que
você estava vindo aqui hoje.
- Eu também não sabia. Só aconteceu desse jeito. Katie se voltou para Julia.
Vocês já se conheceram? Rick e Josh, esta é Julia a diretora dos residentes do
meu dormitório.
Eles trocaram corteses 'olás'. O gerente então convidou Rick e Josh para dentro
do seu escritório.
- Se ajudar, Katie disse para o gerente do banco com um sorriso brincalhão, eu
estou disposta a ser garantia desses dois.
- Obrigada, Katie Girl. Josh respondeu com um tapinha igualmente brincalhão no
ombro dela. Eu tenho certeza que isso ajuda muito vindo de uma estudante
universitária que não ter sequer um carro no momento. Não estou certo de que
tipo de efeito colateral você pode nos oferecer, mas obrigado pelo seu voto de
confiança.
O comentário de Josh a incomodou, mas Katie fugiu dele e ofereceu um sorriso
tranqüilo para o gerente do banco. A porta do escritório se fechou atrás dos dois
irmãos e Katie pensou se ela queria esperar até eles terminarem e pegar uma
carona de volta para a Rancho com eles ou voltar agora com Julia. Ela optou por
voltar com Julia e as duas se dirigiram para o Archie‟s Burgers no caminho para o
campus.
- Nós vamos querer dois milkshakes de chocolate, Julia disse.
- Pequenos, médios ou grandes? A voz no caixa do drive-through perguntou.
- Grande! Katie gritou de volta. Definitivamente, grande! Nós estamos
celebrando! Quando elas se dirigiram para a janela, Katie estendeu a Julia uma
nota de vinte dólares. Eu sempre quis fazer isso. Dar a ela vinte e então dizer
'Fique com o troco'.
Julia fez como Katie pediu e pelo olhar no rosto da jovem mulher, ela tinha
acabado de ganhar o dia.
- Foi muito engraçado, Katie concordou. E não se preocupe com a minha nota de
vinte dólares sendo agitada pelo campus e levantando suspeitas. Eu tenho
pensado muito sobre isso e sei que tenho que pegar leve. Eu vou. E mais uma
coisa. Eu tenho pensado sobre isso muito também então eu espero que você
honre os esforços exaustivos do meu cérebro. Eu quero pagar a você pela sua
consultoria. Katie tirou um dos seus novos talões de cheques e começou a
preencher um cheque.
- Agora antes de você protestar, Katie calmamente adicionou, apenas saiba que
eu não quero ouvir qualquer recusa de você. Eu quero te dar esse dinheiro como
um agradecimento a você por toda a sua ajuda. O que você fará com ele é com
você. Mas você tem que aceitar.
Julia não resistiu. Ela chorou, disse obrigada e abraçou Katie.
Katie perguntou.
- Você acha que terá tempo para pegar o cheque administrativo para o serviço
dos estudantes?
- Aquele para o Joseph?
- Sim, eu não posso esperar para colocar todas as etapas em prática. Se há algum
jeito de Shiloh e Hope estarem aqui antes do Natal, será inacreditável.
Julia tinha tomado todas as providências necessárias para que a mulher e a filha
de Joseph se mudassem para lá. Tudo o que faltava era o cheque. Então Joseph
seria notificado, os vôos seriam finalizados e tudo de maravilhoso para a família
dele estaria acontecendo. Ninguém sabia quem estava fazendo a contribuição.
Julia tinha feito um excelente trabalho de manter os segredos de Katie.
A faculdade de Eli tinha sido paga, mas a de Joseph já estava coberta por uma
bolsa de estudos. Tudo o que Katie estava pagando eram as despesas da viagem e
moradia para Joseph e a sua família até ele se formar.
Katie retornou para o seu quarto enquanto Julia dava os próximos passos no
serviço dos estudantes. Algumas mulheres cumprimentaram Katie enquanto ela
caminhava corredor abaixo e ela parou para conversar com duas delas antes de
entrar no seu quarto e fechar a porta. Ela ainda não tinha um calendário de
dentro-e-fora no seu quadro de mensagens, mas ela tinha começado a escrever
“Já volto” e estimar um tempo para voltar sempre que ela deixava o quarto. A
técnica de parar-e-conversar que ela estava usando todas as vezes que ela subia
ou descia o corredor parecia estar ajudando na forma como as mulheres a
cumprimentavam quando a viam. As coisas pareciam bem em todas as áreas da
vida de Katie.
Ela estava quase em seu quarto quando Rick telefonou.
- Nós conseguimos o empréstimo. Ele parecia emocionado e surpreso.
- Isso é ótimo!
- Você não entendeu, Katie. Nós recebemos o suficiente para abrir os dois cafés.
O de Redlands e o de San Diego.
- Qual café em Redlands? Eu pensei que fosse só uma especulação.
- E era, mas com essa quantidade de dinheiro, Josh e eu podemos abrir ambos.
Nós precisamos sair para comemorar. O que você está fazendo agora? Você quer
nos encontrar no Palácio Tailandês? Oh, espere, Josh acabou de me dizer que ele
não tem tempo para sentar e jantar. Eu estou indo levá-lo de volta para o Ninho
da Pomba no carro dele e então eu vou para o Palácio Tailandês e pego alguma
comida. Nós podemos comer no meu carro. Você pode conseguir uma carona?
- Sim, tenho certeza de que eu posso conseguir uma carona com alguém. Te vejo
em meia hora.
- Quarenta minutos.
Katie passou pelas suas caronas usuais. Julia estava levando Talitha e a sua
companheira de quarto para o jantar de aniversário de Talitha. Nicole estava
respondendo às suas chamadas. Três das outras possíveis generosas amigas
motorizadas de Katie já tinham planos e nenhuma delas estava indo para o lado
do apartamento de Rick.
Ela tentou Cris como um tiro longo, mas ela estava trabalhando no turno da noite
para alguém que estava doente e Ted estava com o carro em uma reunião.
- Ok. Então eu acho que preciso de um carro.
Ela não queria ligar para o Rick novamente e fazer com que ele viesse buscá-la.
Em um impulso, Katie ligou para a companhia de táxi. Ela nem sabia se os táxis
estariam disponíveis, mas quando localizou um e fez a chamada, ela pediu para
ser encontrada na entrada da frente da Rancho Corona; assim havia poucas
pessoas que poderiam vê-la tomando um táxi.
Correndo pelo seu caminho ao longo do campus, Katie avançou para a entrada
principal esperando o táxi chegar. Ela percebeu que má idéia era esperar na
porta, porque vários estudantes a notaram enquanto se dirigiam para o campus e
pararam para perguntar se ela estava ok. Ela disse a eles que estava esperando
por alguém, o que ela estava. Ela só não conhecia esse alguém.
O próximo carro que saiu da Rancho parou. Era uma descuidada Camry branca.
- Katie!
- Ei, Eli. Você está indo para casa?
- Sim.
- Por que eu não pensei em te ligar? Eu preciso de uma carona para o seu
apartamento.
- Claro. Entre.
- Só um segundo. Katie rapidamente fez uma ligação para a companhia de táxi e
cancelou o pedido. Ela queria fazer isso longe de Eli para que ele não pudesse
ouví-la fazendo a chamada.
Quando ela já estava no carro, Eli disse:
- Você se importa se nós fizermos um desvio?
- Claro que não.
- Que bom. Meu carro precisa de petróleo e eu tenho umas coisas para deixar
com Joseph.
- Oh, claro. Ok. Como vai Joseph?
- Ele vai bem, suponho.
- E quanto a você? Katie perguntou. Está pronto para a sua apresentação na
capela amanhã?
- Acho que sim. Obrigado por organizar tudo.
- Por nada. Foi fácil.
- Eu vi todos os folhetos que você imprimiu e as caixas de doações. Eles parecem
bons.
- Nicole fez tudo aquilo. Ela é maravilhosa com aquele tipo de coisa. Você nunca
vai adivinhar o que aconteceu hoje.
- O que?
Katie pensou em tudo o que havia acontecido e forçou seus lábios a darem
apenas um pequeno sorriso.
- Eu tive que ir ao banco e acabei conversando com o gerente. Ele disse que
poderia colocar folhetos e caixas de doações lá no banco.
- Sério? Isso é maravilhoso.
- Eu sei. Deus está fazendo uma coisa muito maior do que eu esperava. Katie
olhou para o pára-brisa e notou que Eli ainda tinha o halo floral balançando em
seu espelho retrovisor. Sabe, você realmente deveria jogar essa coisa fora, Eli.
- Por que?
- Está morto.
- Não, ele disse, lançando para Katie um olhar bastante feroz. Não está morto.
Ele me lembra de orar.
- Pelo que?
Ele hesitou.
- Por você. Por várias pessoas, mas uma delas é você.
- Eu? O que você ora para mim?
- Eu oro para que Deus a abençoe.
Não fazia sentido, mas Katie riu alto e então cobriu a boca rapidamente.
- Isso é muito legal. Verdade. Obrigada. Eu acho que você pode parar agora.
- Por que?
Ela estava para dizer que Deus a abençoara tanto que ela não precisava de mais
orações enviadas ao céu em seu benefício. Corrigindo rapidamente seu
pensamento, porque ele poderia despertar suspeitas, Katie simplesmente disse:
- Na verdade não. Continue orando. Sinto muito por ter rido. Isso é realmente
simpático da sua parte, Eli. Obrigada. Sim, continue orando por mim. Eu sempre
preciso de oração.
Com um sorriso de lado, ele disse:
- Foi o que eu pensei. Foi por isso que eu decidi te adicionar na minha lista. Ele
abaixou a viseira do lado dele do carro e revelou um cartão de índice usado que
tinha uma lista de nomes nele. Katie viu que o seu nome realmente estava na
lista. Assim como o nome de Rick.
- Obrigada. Katie disse sinceramente. De verdade, Eli, obrigada.
Eles entraram no posto onde Joseph trabalhava e Eli saiu para bombear a
gasolina. Joseph aparentemente o notou do seu lugar atrás do balcão dentro da
loja de conveniência porque logo que Joseph percebeu que era Eli, ele saltou
para fora da porta da frente com um largo sorriso em seu rosto.
- Eli, ela está vindo! Elas estão vindo! Você não vai acreditar! Batendo palmas e
depois levantando as mãos para o céu, Joseph olhou e riu com o desleixo
selvagem de um homem louco.
Eli se apressou e colocou a sua mão no ombro de Joseph. Pessoas nos carros e
esperando dentro da loja de conveniência o encararam. Katie mordeu seu lábio
inferior para evitar chorar ou rir ou de qualquer outra maneira dar alguma dica
de que ela sabia por que Joseph estava dançando ao redor e altercando com Eli
de uma forma que poderia parecer sem sentido.
Enquanto Katie assistia do seu lugar no carro com a janela aberta, Joseph contou
a Eli sobre o telefonema que ele tinha recebido e como era um sonho que ela
tinha deixado de sonhar há muito tempo. Shiloh e Hope estavam vindo para viver
com ele. Então Joseph chorou. Eli o ajudou a voltar para a loja de conveniência e
o deixou novamente atrás do balcão, então ele poderia atender a fila de pessoas
esperando por ele.
Katie decidiu terminar de bombear a gasolina e então pegou o rodo e lavou as
janelas do carro de Eli. O tempo todo ela expulsava suas velhas lágrimas,
enquanto assistia Eli conversar com as pessoas dentro da loja e apontar para
Joseph, que ainda estava sorrindo de orelha a orelha.
Todos os clientes começaram a sorrir. Katie assistiu enquanto cada um deles
apertou a mão de Joseph e deixou a loja sorrindo.
- É incrível, um cliente disse enquanto passava por Katie. Você ouviu o que
aconteceu? Eu achei que o cara estava tendo um desarranjo nervoso quando ele
correu pra cá. Voltar a ter sua mulher e filha reunidas a ele depois de vários
anos. Toca você bem aqui, não é?
Katie concordou, tentando duramente não chorar.
- Dá esperança para o mundo, sabe? Coisas boas ainda acontecem, não é?
- Eu gosto de chamá-las Coisas de Deus, Katie disse.
O homem balançou a cabeça lentamente e voltou para o seu carro. Quando Eli
voltou, ele estava sorrindo como um louco.
- Você quer entrar e dizer oi para Joseph? Ele tem novidades maravilhosas.
Katie sentiu-se rasgar. Ela não sabia como iria reagir se ela olhasse para Joseph
ou ouvisse as novidades dele frente-a-frente. Ela estava com medo de “desabar”.
- Por que você não me conta as novidades dele em nosso caminho de volta para o
apartamento? Joseph parece um pouco ocupado no momento.
Eli relutantemente concordou. Ele ligou o carro.
- Ei, obrigada por lavar os meus vidros.
- De nada. Então, quais são as novidades de Joseph.
Eli se afobava enquanto contava a Katie. Ela se afobou enquanto o ouvia contar a
ela. Tudo o que ela podia dizer em resposta era “Uau!”.
- Ruth do Serviço dos Estudantes disse a Joseph que tudo tinha sido arranjado por
um doador anônimo. Você pode imaginar? É provavelmente alguém que sustenta
a organização missionária que tem trabalhado na área deles por vários anos.
Katie deu um “Hmm” descomprometido.
Eles chegaram ao apartamento só alguns minutos depois que Rick retornara com
um sortimento fragrante de sua comida tailandesa favorita em pequenas caixas
brancas. Assim que Rick viu Katie entrar com Eli, uma sombra veio sobre o rosto
dele.
- Eu deveria ter perguntado se você viria para jantar em casa, Rick disse para Eli.
Eu teria comprado mais comida.
- Não se preocupe com isso. Realmente, eu não vou ficar. Eu já estou saindo. Eu
só vim pegar alguns livros e Katie precisava de uma carona então deu tudo certo.
- Tem certeza? Ruck disse.
- Sim, eu estou bem. Eli sorriu. Eu estou realmente bem.
- Obrigada pela carona, Katie disse.
- A qualquer hora. Basta me chamar.
- Ok, obrigada.
Rick abriu as caixas que ele havia desempacotado na mesa da cozinha. Katie foi
até o armário e pegou alguns pratos. Ela encontrou uma garrafa de água mineral
no refrigerador e pegou dois copos do armário. Vertendo a água borbulhante para
dentro dos copos, ela entregou um para Rick e disse:
- Aqui está. por você e Josh terem fechado o negócio.
Eles bateram os copos e tomaram um gole.
- Ahh, Rick disse. Ano de vindima. Agradável cintilante sabor. Eu espero que você
não se importe que eu tenha trazido os mais picantes.
Katie fez uma careta, mas Rick não a viu. Ela não gostava muito de pratos mais
picantes. Na verdade, ela não era uma grande fã de comida tailandesa como Rick
era. Ela preferia Casa de Pedro qualquer dia.
Eli passou por eles em seu caminho para a porta da frente.
- Vejo vocês mais tarde.
- Vejo você amanhã na capela, Katie disse. Eu vou estar na primeira fila sorrindo.
- Obrigada. Eli deu a ela um sorriso caloroso e saiu.
- Você sabe o que eu amo? Rick disse um momento depois de Eli sair do
apartamento.
- Eu? Katie arriscou.
Katie evitou a resposta de Katie olhando para longe.
- Eu procurei isso, não foi?
- O que você ia dizer?
- Eu ia dizer que eu amo a forma como você está se dando bem com meu colega
de apartamento. Eu aprecio isso. Isso faz as coisas melhores por aqui, sabe? Ele
continuou evitando olhá-la e puxou macarrão da larga caixa branca com uma
colher de servir.
- Rick. Katie colocou a sua mão na dele e parou o movimento dele antes que ele
mergulhasse para um segundo apoio. Olhe para mim.
Rick olhou para Katie.
Sem parar para pensar no que ela estava para dizer, Katie disse:
- Eu não ia dizer isso, mas...
- Eu sei o que você vai dizer. Rick abaixou a colher e levantou a mão para alisar
os cabelos dela atrás de suas têmporas.
- E você...? Para Katie a questão tinha um duplo sentido. Ela estava perguntando
a Rick, “Você me ama?”. Mas ela sabia que também poderia ser interpretado
como “Você sabe o que eu vou dizer?”. De qualquer forma, a conversa deles
estava se encaminhando para a declaração que Katie esteve pensando todo o
tempo desde aquela tarde no Ninho da Pomba quando ela olhou para Rick sobre o
mar de estudantes em excursão.
Rick olhou Katie nos olhos. Ele deu um pequeno sorriso e correu o dedo polegar
dele pela bochecha dela. Aproximando-se, ele a beijou.
Enquanto eles se afastavam, Katie sentiu que tudo o que ela queria saber sobre
os sentimentos de Rick por ela, ele tinha acabado de expressar naquele beijo.
Mas ela ainda queria palavras. Ela queria "as" palavras.
Procurando os olhos dele, ela perguntou de novo.
- Você...? Só que dessa vez, os olhos dela sozinhos faziam a pergunta.
Rick colocou os seus braços em volta de Katie e a puxou em um abraço.
Sussurrando no ouvido dela de forma que a respiração dele enviava pequenos
tremores para cima e para baixo ao cabelo no pescoço dela, ele falou o nome
dela.
- Katie. Eu quero que você me escute e entenda o que eu vou dizer.
Ela tentou se afastar, então ela poderia ver o rosto dele enquanto ele falava,
mas Rick suavemente a segurou.
- Um dos compromissos que eu fiz comigo mesmo quando eu acertei o meu
coração com o Senhor foi que eu não diria a uma mulher que a amo até que as
próximas palavras a saírem da minha boca sejam um pedido de casamento.
Katie engoliu e sentiu os seus olhos nublando.
- Eu ainda não estou completamente lá. Você entende o que eu estou dizendo?
Ela concordou com a cabeça, sabendo que ele podia sentir o movimento.
- Quase, Rick sussurrou. Quase.
Katie balançou a cabeça novamente.
Ele a soltou e Katie se afastou rápido o bastante para que pudesse ler os olhos
dele. Ela viu em seu olhar caloroso toda garantia que ela precisava para esse
momento.
Ele abaixou o queixo e permaneceu olhando para ela, levantando seus olhos
castanhos ligeiramente como se convidando-a a responder.
- Eu sou boa para esperar, Katie disse suavemente.
Rick sorriu.
- Sim, você é.
- E você é muito bom para esperar.
- Sim, eu sou. Rick concordou.
- O que você está aludindo é longe e muito importante para ser decidido no
impulso.
- Sim, é.
- Eu posso viver com “quase para sempre”. Ela sorriu para ele.
- Quase para sempre, Rick repetiu. Então ele adicionou: Por enquanto.
- Por enquanto, Katie ecoou.
Eles inspiraram juntos no mesmo momento e deram um ao outro um beijo que
era igual a qualquer beijo de contos de fadas que sempre acompanhava a história
do "quase para sempre".
Contracapa
Desde a escola secundária, Katie Weldon desejava saber como seria se ela fosse a
namorada de Rick Doyle. Como uma veterana na faculdade, ela está prestes a
descobrir.
No redemoinho dessa fase avançada da vida de Katie está o recebimento de um
buquê inexplicável, um telefonema inesperado de sua mãe, uma noite das
garotas sem precedentes com Cris e um infeliz momento em que seu amado carro
dá um último suspiro. O novo colega de quarto de Rick, Eli, complica as coisas
convidando Katie para ver uma chuva de meteoros. Sobre uma cobertura de
estrelas Katie alcança uma nova visão do universo – out there as well as up close.
Como se ela não tivesse mais nada para fazer, num impulso, ela sozinha começa
uma campanha para levantar fundos para a purificação das águas da África.
Com Rick subindo em seus planos para o futuro, como Katie poderá seguir seu
caminho pelo resto de sua carreira universitária sem dinheiro, sem transporte e
sem idéia do que Deus irá fazer?
ON A WHIM é o segundo livro da Série Katie.
ROBIN JONES GUNN é a tão amada autora das séries Cris, Selena, Glenbrooke e
Sisterchicks, com mais de 3, 5 milhões de livros vendidos no mundo inteiro.
“Gunn escrevera sobre Katie e seus amigos durante anos, mais notavelmente na
Série Cris... O diálogo que resulta é uma vez de desmanchar o coração e
totalmente familiar para todas as pessoas alguma vez esteve no caminho de
Katie. Além disso, a fé religiosa de Katie nunca ficou sentimentalizada ou
alinhavada, mas é integralmente bela em um enredo encantador.”
Publishers Weeklly, fevereiro de 2008
Coming Attractions
Série Katie 3
Robin Jones Gunn
Importante
Este livro foi traduzido e digitalizado com o único objetivo de proporcionar literatura
cristã de qualidade para os leitores. É proibida a reprodução deste conteúdo com fins
lucrativos.

Esperamos que todos os que foram abençoados por este livro venham adquiri-lo tão
logo seja publicado oficialmente no Brasil.

Tenham uma boa leitura e que o Senhor os abençoe.


Capítulo 1
Katie checou o horário no seu celular e colocou o capuz de sua blusa sobre seu
cabelo ruivo dançante. A parte mais alta da Universidade Rancho Corona poderia ser
surpreendentemente fria nessa época do ano. Especialmente quando os ventos
chegavam.

Vamos lá, Rick. Onde você tá? Demais essa sua idéia romântica de se encontrar
aqui às nove. São 9:15, e eu estou congelando.

Digitando uma terceira mensagem de texto para seu alto, moreno, e atrasado
namorado, Katie apertou Enviar e olhou a sua volta. Outro casal tinha se aconchegado
confortavelmente no banco onde Rick tinha combinado de se encontrar com Katie. Ela
ficou em pé ao lado do banco, debaixo da fileira de palmeiras dançantes. Até mesmo
seus decorativos pisca-piscas de luzes brancas pareciam estar tremendo com o vento
frio.

Katie tossiu. Sua garganta estava doendo mais do que quando ela estava jantando
na cafeteria, onde ela encheu sua tigela com sopa, molho de maçã e dois copos de
suco de laranja.

Eu não consigo Rick, você vai ter que vir ao meu dormitório se quiser me ver hoje à
noite. Está muito frio aqui fora.

Começando a caminhar de volta para a parte mais baixa do campus, Katie mandou
outra mensagem para Rick enquanto caminhava. Não era típico de Rick deixá-la
esperando, e muito menos não responder suas mensagens. Ele era organizado e
eficiente e...

O celular dela tocou.

- Ei, não fique brava. A voz de Rick saiu alta. Dava pra perceber que ele estava no
viva-voz, o que significava que ele estava em seu novo carro. Eu deixei meu telefone
no café e tive que voltar pra buscá-lo. Eu estou na estrada agora. Sinto muito, Katie. Eu
consigo chegar aí em meia hora.

Katie ignorou o pedido de desculpa. Ela tinha ouvido um pouco demais daquelas
desculpas ultimamente. Três meses atrás Rick e seu irmão foram presenteados com a
oportunidade de abrir não um, mas dois novos cafés. Desde então, Rick tem estado
"na estrada."

- Vamos remarcar pra outro dia, Rick. Eu estou...

- Não, não podemos remarcar. É dia dos namorados!


Ah, jura? Ela teria expandido seu sarcasmo, mas sua cabeça estava latejando.
Como é que um pequeno desconforto na sua garganta podia aumentar tão rápido a
ponto de fazê-la sentir como se estivesse engolindo um punhado de lâminas?

A voz dele "amaciou":

- Eu tenho uma coisa pra você.

- Eu já recebi as flores. Elas são lindas. Obrigada, Rick. Você realmente não precisa
me dar mais nada.

Katie estava sentindo um desconforto familiar em relação ao desequilíbrio no


quesito presentear que existia no relacionamento deles desde que eles oficialmente
começaram a namorar no verão passado. Rick gostava de presentear. Katie também. O
problema era que ela raramente conseguia mostrar sua afeição através de presentes,
já Rick sim. Ela se sentia infinitamente atrás no departamento dos presentes.

- Eu quero te dar o presente essa noite. Por favor, Katie. Não fique brava comigo.
Eu estou me esforçando.

- Eu não estou brava. Sério. Eu não me sinto bem. Estava muito frio e ventando
muito lá em cima no campus, por isso eu estou voltando pro meu quarto. Além do
mais, outro casal estava no nosso banco.

- Isso não é problema. Você já está no dormitório? Eu te encontro lá. A gente pode
ir comer alguma coisa.

Katie sabia que era melhor não argumentar com Rick quando ele tinha sua cabeça
feita em relação a algo, ela passou o celular para a outra orelha e disse:

- Eu realmente não estou com fome. Eu acho que estou gripada.

- Ouça, eu consigo chegar aí em quinze minutos. Vinte no máximo. Tome alguns


comprimidos pra resfriado e beba um pouco de suco de laranja. Eu subo até o Crown
Hall e te ligo quando eu chegar ao estacionamento. Daí a gente decide o que faz.

Katie desligou, já sabendo o que ela iria querer fazer quando ele ligasse mais
tarde. Seria a mesma coisa que ela queria fazer agora: se enrolar num cobertor
quentinho e dormir.

Mais da metade das meninas do seu andar tinham sido acometidas, nesse ano,
com essa variação da gripe.1 Alguns dias atrás Katie tinha falado sobre como sua tática
de prevenção tinha funcionado esse ano. Ela passara as três últimas semanas bebendo

1
Olha a gripe suína, minhas genteeeees.
porções de chás de erva e ingerindo bastante vitamina C. Seu sistema imunológico
estava protegido contra o ataque.

Pelo menos, ela achou que estava. O jeito como ela se sentia agora estava forte
demais pra que qualquer xícara de chá pudesse consertar. E ela estava incomodada
com o fato de que Rick não podia deixá-la ficar doente em paz.

Quando ela entrou no Crown Hall, ela evitou olhar para qualquer casal sentado no
lobby e foi em direção ao quarto de Nicole. Sua amiga Nicole era a outra assistente dos
residentes que dividia com Katie a responsabilidade de zelar pelo bem-estar das
cinquenta e quatro estudantes no andar delas. Katie sabia que ela iria precisar de
alguém para cobrir suas horas caso o vírus ficasse de vez no seu corpo.

Batendo na porta semicerrada de Nicole, Katie empurrou-a e anunciou:

- Adivinha o que eu ganhei?

- Oh! Então você ganhou? Deixa eu ver! Nicole pulou em direção a Katie.

- O que você está fazendo? Katie se afastou. Eu ganhei uma gripe. E eu não acho
que você queira ficar perto de mim.

- Oh! Pega de surpresa, Nicole congelou. Ela, nervosamente, colocou seu cabelo
escuro atrás da orelha enquanto seu rosto foi ficando rosado.

- Qual o problema?

- Nada não. Nicole voltou pra sua cama, do outro lado do quarto. Eu só... Ei, sinto
muito por ouvir que você não está se sentindo bem.

- Não tanto quanto eu sinto. Por quanto tempo você ficou gripada?

- Quase duas semanas.

- Eu não posso ficar doente esse tempo todo.

- Se Deus quiser você não vai ficar.

- É, se Deus quiser. Você pode cobrir meu horário pra mim amanhã às 2:30?

- Claro. Nicole estava sentada, tentando mandar pra longe o olhar ‘leia-nas-
entrelinhas’ que estivera em seu rosto minutos antes.

- Tem certeza que você está bem?

- Eu? Sim, estou bem. Espero que você melhore.

Katie concordou com a cabeça lentamente e saiu. Seu quarto no fim do corredor
parecia estar a quilômetros de distância.
Apesar de ser noite "open-dorm"2, a fila de portas fechadas parecia indicar que a
maioria das mulheres no Crown Hall tinha saído aquela noite. Ou isso ou elas estavam
confinadas assistindo filmes românticos com suas companheiras de quarto e dizendo
umas as outras que o próximo Dia dos Namorados seria diferente pra elas. Elas teriam
algum lugar pra ir e alguém maravilhoso para ir com elas.

Ou muitas deles poderiam estar convalescendo com essa mesma gripe.

Katie parou em frente ao Mural do Beijo que estava de frente para seu quarto. O
mural tinha sido decorado no começo do ano letivo com uma linda variedade de fotos
de beijos inocentes. Juntamente com as fotos havia versículos e poemas daquela
expressão que traz esperança ao coração de toda mulher independente da sua idade -
um beijo.

Katie destrancou a porta de seu quarto e pensou em como, por tantos anos, ela
tinha esperado e sonhado em ter um relacionamento com um homem que a trouxesse
flores e a beijasse no Dia dos Namorados. Agora ela tinha exatamente o que ela
desejara. Mas não era exatamente como ela pensou que seria.

As coisas com Rick estavam tranquilas. Melhor que tranquilas. As coisas estavam
boas. Tinham estado boas por meses. No Natal Rick e Katie concordaram em deixar o
relacionamento deles seguir seu curso no último semestre de Katie na faculdade. Uma
vez que ela se formasse, ambos estariam mais seguros para descobrir as respostas
para perguntas como "E agora?". Por enquanto, eles concordaram que estavam
contentes com o status deles de "Felizes-quase-pra-sempre".

Katie mergulhou em sua cama desarrumada e soltou um resmungo de


autocomiseração. Um pensamento flutuou em seu nublado cérebro. Com o que Nicole
estava tão empolgada?

Puxando seu celular do bolso de sua blusa de frio, ela continuou deitada em sua
cama e ligou para Nicole.

- Então, o que você sabe que eu não sei?

- O que eu sei sobre o quê? A voz de Nicole estava alta.

Katie notou o nervosismo dela.

- Por que você pulou pra cima de mim quando eu entrei no seu quarto?

Silêncio.

- Nicole, por favor. Você disse, 'Deixa eu ver'. Ver o quê? O que eu deveria ter?

2
Open-dorm; noite em que se poderia receber visita de pessoas de fora no dormitório.
- Katie, eu pensei que você e Rick tinham saído pra jantar hoje à noite e...

- Não, eu não o vi hora nenhuma hoje.

- Não?

- Não.

- Mas é Dia dos Namorados.

- Ah, jura? Eu nem tinha percebido. Katie tossiu.

- Você realmente está mal.

- Não mude de assunto, Nicole. Você sabe alguma coisa. Eu sei que você sabe.

Durante os dois últimos meses, Nicole esteve com a mãe de Rick, trabalhando na
decoração dos cafés. Como resultado, Nicole normalmente sabia mais do que estava
acontecendo com Rick do que a própria Katie.

- Nicole, me conte. Por favor.

- Ai, Katie. Eu tô me sentindo péssima!

- Você está se sentindo péssima? Sou eu que estou doente aqui.

- Eu não posso dizer nada. Não posso mesmo. Desculpa.

Uma pausa se seguiu até que Katie arregalou os olhos e levantou a cabeça.

- Não me diga que é um anel. Sério, Nicole. Não me diga que Rick comprou um
anel pra mim. A tosse começou de novo.

- Katie, eu...

- Um anel de noivado? Katie lentamente ajustou sua postura. Ele me comprou um


anel de noivado? Você tem que me contar Nicole. Ele comprou?

Silêncio.

Katie mergulhou de novo na cama.

- Ele me comprou um anel, não foi? Eu não acredito. Por que ele faria isso?

- Katie, não é... você só... ah, que horrível!

- Conte-me tudo.

- Apenas espere até vocês se verem. Tudo vai fazer sentido.


- É, eu poderia fazer isso. Ou você poderia me contar tudo que você sabe agora
mesmo e acabar com esse suspense. Você sabe como eu odeio surpresas. Só me conte
Nicole. A gente faz disso nosso pequeno segredo.

Antes mesmo de Nicole responder, Katie sabia que sua amiga nunca concordaria
com tal aliança. Nicole era pura demais de coração e muito bem educada em seus
princípios de integridade. Entretanto, Katie estava incomodada com o fato de que
Nicole tinha uma aliança nisso tudo. Nicole compartilhava um segredo com Rick e com
a mãe dele, algo que Katie não podia dizer que já experimentara.

- De verdade, Katie, você vai ficar feliz por eu não ter dito nada. Apenas espere.
Tudo vai fazer sentido quando você ver o Rick.

Se Katie não estivesse se sentindo tão péssima, ela teria continuado com a
conversa até que ela pudesse obter, pelo menos, algumas dicas de Nicole. Ao invés
disso, ela desistiu e desligou. Olhando para o teto, ela tossiu novamente.

Rick Doyle, você não estava planejando me pedir em casamento no Dia dos
Namorados. Quero dizer, fala sério, Rick. Dia dos Namorados? O que aconteceu com o
"vamos esperar até eu me formar pra decidirmos o que vamos fazer?" E se eu não
gostar do anel que você escolheu? Alguma vez, você já pensou nisso? Você
provavelmente comprou um diamante enorme, e eu não quero...

O celular dela tocou. Ela achou que o toque era o mesmo que ela tinha escolhido
pra Nicole, então ela respondeu com um...

- Mudou de idéia, hein? Fale rápido porque eu estou morrendo aqui.

- Você recebeu?

Ela afastou o telefone do ouvido e viu na tela o nome do companheiro de quarto


de Rick, Eli. Katie tinha esquecido que ela mudara o toque dele também. Ela teria que
mudar de novo. Era muito parecido com o de Nicole.

- Você recebeu?

- Recebi o quê? Ela perguntou impacientemente. O anel? Você também tá nessa?


Nicole não me deu nenhum detalhe, então vá em frente. Bota tudo pra fora. Eu
prometo que vou fazer cara de surpresa.

- Eu não faço idéia do que você está falando. Eu tô ligando pra saber se você
recebeu o email do meu pai com as notícias do Quênia.

Uma das coisas que Katie admirava em Eli era a discrição dele. Ele não ter falado
nada sobre os comentários dela com relação ao anel era algo típico dele. Se ele
soubesse algum detalhe, ele certamente não diria nadinha a Katie ou a qualquer outra
pessoa se Rick o tivesse pedido pra não contar.

Nos últimos meses, Katie e Eli estiveram trabalhando num levantamento de


fundos em prol de água limpa para a África. O pai de Eli cuidava de tudo em Nairobi e
mantinha Katie informada de como o dinheiro estava sendo distribuído. Durante a
correspondência entre os três, Katie começara a apreciar a determinação de Eli. Ele era
muito parecido com Rick nesse aspecto. Tirando o fato de que, com Eli, Katie não
sentia o mesmo tipo de agressividade que estava agarrado ao temperamento de Rick.

- A última vez que chequei meu email hoje foi pela manhã. Eu tô doente, Eli. Estou
gripada.

- Você já tomou alguma coisa?

- Não. Bem, chá e porção extra de vitamina C por um mês, mas acho que não foi
suficiente.

- Sua garganta está doendo?

- Sim.

- Febre?

- Sim, Dr. Eli. Eu tenho todos os usuais sintomas. Eu preciso dormir um pouco. Eu
tenho que responder o email hoje à noite, ou posso esperar até amanhã?

- Você não tem que responder. São boas notícias. Meu pai conseguiu acertar os
últimos detalhes para os poços no Sudão. Nós não vamos precisar levantar mais
dinheiro. O processo já pode começar semana que vem.

- Que ótima notícia.

- Eu vou deixar você dormir.

- É, dormir vai me fazer bem. Minha cabeça tá parecendo uma bola de boliche.

- Se cuida, Katie.

- Tá bom. Ela fechou o telefone e fechou os olhos.

O Bom e velho Eli. Nove meses atrás, quando ela o viu pela primeira vez no
casamento de sua melhor amiga, Katie o achou estranho e o nomeou "Cara do
Cavanhaque." O seu jeito intenso de encarar as pessoas a dava nos nervos. Então, Eli
se mudou para o apartamento de Rick, e agora ela o considerava um de seus amigos
mais próximos. Ela sentiria saudades dele quando ele se mudasse de volta para o
Quênia depois da formatura deles.
Eli cresceu na África, onde seus pais eram missionários. Em alguns aspectos, Katie
achava que ele nunca conseguiu trazer todo seu coração para a Califórnia quando ele
veio para a Rancho Corona a fim de terminar seus estudos. Parte dele parecia estar
sempre em algum outro lugar. No safári, talvez.

Katie pressionou sua mão aberta em sua garganta e tentou descobrir se ela estava
inchada. Ela rolou de um lado pro outro pra ver se conseguia achar uma posição mais
confortável. Vestir seu pijama ajudaria a ficar mais confortável, mas ela não queria se
levantar.

Eu odeio ficar doente.

Seu celular tocou de novo. Dessa vez era Rick. Numa voz "meiga", ele tentou
coagi-la a encontrá-lo no estacionamento para que eles pudessem sair pra comer.

- Eu estarei aí no campus em cinco minutos, Katie. Nós vamos algum lugar que
serve sopa. Sopa de galinha. O que você acha?

- Rick, sério, eu... estou... doente. De verdade.

- Então vou até aí te ver. É 'open-dorm' hoje à noite, não é?

- Rick, você estará se expondo a alguém que é uma gripe ambulante, zumbindo
como vivas e virais abelhas da gripe.

Ele riu.

- Você não pode estar tão doente. Você ainda está engraçada.

- Eu não estou engraçada, Rick. Eu estou tossindo, e espirrando e... bem, ainda não
estou espirrando, mas eu sinto que vou espirrar.

- Katie, docinho...

- Docinho?

Rick nunca a tinha chamado de "docinho" antes. Pelo menos não que ela
lembrasse. Era uma tentativa de brincar com o comentário dela sobre abelhas virais?

Ele ignorou a pergunta dela e continuou:

- Ouça, eu não me importo se você está doente. Eu quero te ver assim mesmo. Eu
tenho algo pra te dar, e estou determinado a te dar isso hoje à noite.

- Bem, eu tenho algo que eu poderia te dar, e eu estou determinada a não te dar
isso hoje à noite. Se chama duas semanas de confinamento, Rick. Esse é o pior
momento pra você...
Ela quase disse "me pedir em casamento", mas ele a interrompeu. Sua voz saiu
alta e firme:

- Katie, eu vou aí te ver. Eu estarei aí em quatro minutos, cinco no máximo. Por


que você não faz um gargarejo ou toma algum xarope pra tosse ou algo do tipo? Eu
estou chegando, então abra a janela e deixe que todas as abelhas bacterianas saiam.
Ou o que quer que você as tenha chamado. Abelhas virais. Não importa. Eu estou
quase aí.

Ele desligou. Katie continuou olhando pro telefone.

Abra a janela? Gargarejar? Ele realmente disse essas coisas pra mim?

Ela não conseguia se mexer. Sua cabeça de cinquenta quilos parecia que tinha se
enfiado permanentemente em sua fronha da Pequena Sereia.

Rick, o que você está fazendo? Se você entrar aqui e me pedir em casamento, você
vai arruinar com tudo.
Capítulo 2
Katie conseguira lidar com uma variedade de desafios na vida, mas esse dilema a
estava incomodando. Se Rick entrasse em seu quarto, se ajoelhasse, e segurasse para
o alto uma caixa de jóia, o que ela iria dizer? Qual seria sua resposta sincera, vinda do
fundo de seu coração? Ela não sabia.

Desde os tempos de escola Katie sonhara em estar com o Rick. Quando ele a
convidou pra sair há quase um ano e meio atrás, Katie ousou acreditar que seu sonho
se tornara realidade. Tudo que ela sempre quis era ser a namorada de Rick Doyle.
Agora que esse sonho tinha se tornado real, casar com Rick era o próximo sonho.

Só que nesse momento, com sua cabeça latejando, Katie não se sentia pronta pra
esse sonho. Eles deveriam esperar até que ela se formasse. Foi o que eles
combinaram. Tudo que restava eram doze semanas de aula. Doze semanas de aula e
sua mente estaria livre pra pensar sobre o que viria em seguida e quando e como e
onde ela e Rick poderiam se casar.

Ela não estava pronta pra pensar em nada disso agora. Ano passado ela assistiu
sua companheira de quarto e melhor amiga, Cris, percorrer seu último semestre
depois de ter ficado noiva, e Katie sabia que ela não queria colocar aquele tipo de
pressão sobre si mesma. Não com sua exigente posição de assistente dos residentes.
Não com a quantidade de aulas desse último semestre. E especialmente não com essa
horrível gripe que a estava derrubando.

Uma batida soou na porta.

- Vá embora. Aqui é a casa da febre amarela. Entrou, morreu.

Rick, ou quem quer que fosse, ignorou o aviso dela, abriu a porta vagarosamente,
e fez uns barulhos meio abafados.

Katie abriu os olhos e virou sua cabeça em direção à porta.

- Eli?

Ele segurava uma sacola de papel.

- Eu comprei algumas coisas para sua gripe. Eu vou deixar aqui em cima da sua
cômoda.

- Não, traz aqui. Ela levantou sua mão fracamente, como uma princesa pedindo
ajuda.

Eli não hesitou. Ele caminhou pelo quarto e tirou o vidro de remédio da sacola.
- Você já tomou desse antes? Você só tem que abrir a boca, apontar o spray pra
sua garganta e borrifar três ou quatro vezes.

Katie pegou o vidro da mão de Eli e cuidadosamente seguiu as instruções dele.

- Hmm. Cereja. Ela borrifou mais uma vez. Obrigada, Eli.

Ele tirou uma caixa de comprimidos para gripe da sacola.

- Esses, eu acho que você tem que tomar só um. Ele passou o olho no verso da
caixa enquanto a abria. É, um a cada quatro horas. E não opere máquinas pesadas.

- Não vou esquecer isso. Katie pegou o comprimido de Eli e engoliu-o, usando mais
duas borrifadas do xarope ao invés de água.

- Aqui. Eli tirou o último item da sacola. Uma garrafa de água de forma peculiar.

- Ei, minha preferida! Como você sabia que eu gosto de água glacial da Nova
Zelândia?

- Eu só vejo você comprar dessa no posto de gasolina que o Joseph trabalha. Eu


comprei duas garrafas. Onde você quer que eu coloque a outra?

- Na minha mesa, perto das flores. Você vai ter que arredar as flores. Elas são um
pouco demais, você não acha? Eu vivo falando com o Rick que ele exagera nas flores.
Uma única papoula. É o que eu falo pra ele. Uma única papoula é tudo que eu preciso.
Talvez você consiga convencê-lo disso.

Eli não comentou. Ele virou para Katie e ela sorriu pra ele.

Seu bagunçado e naturalmente castanho e cacheado cabelo vinha crescendo


desproporcionalmente pelos últimos meses e o fazia parecer mais com o aventureiro
rapaz que Katie tinha descoberto que ele era. No começo do ano ele manteve seu
cabelo curto e suas conversas com ela curtas. Curtas e estranhas de um jeito bem
particular.

Assim que Katie conheceu Eli, ela percebeu que a única coisa curta nele era o
nome. E até isso era maior do que ele permitia que os outros o chamassem. Elias Tiago
Lorenzo cresceu num campo missionário na África e escondia uma biblioteca de
histórias incontadas sob um comportamento acima de qualquer suspeita. Histórias
sobre andar a espreita de leões, lanças feitas à mão, e danças em volta de fogueiras
tribais. Ele vestia um uniforme cinza na maior parte do tempo, como agora por
exemplo. Seu trabalho de segurança no campus era gastar horas dirigindo um velho
carro de golfe pelo planalto onde a Rancho Corona foi construída. Eli pegava os
horários que ninguém mais queria.
Se Katie tivesse algo de que se arrepender nos últimos meses, seria o fato de que
seus consistentes esforços em juntar Eli e Nicole tinham falhado. Katie não podia
entender por que. Ela achava Nicole maravilhosa. Ela achava Eli fantástico. Por que os
dois não viam um no outro o que ela via neles?

- Eu vou indo. Eli aproximou-se da cama de Katie, fechou os olhos e levantou


ambas as mãos.

- O que você está fazendo? Encenando uma cena do Rei Leão?

- Shhh. Eu estou orando por você.

- Orando por mim? Ok, claro, contanto que não seja como nos filmes onde eles
dão a extrema unção aos pacientes moribundos.

Ele não respondeu. Ao invés disso, com as palmas das mãos para os céus, como
uma criança que tenta alcançar algo, ele falou com uma voz calma e constante,
pedindo a Deus que curasse Katie, que a confortasse, que desse ao corpo dela a força
de que ela precisava.

Katie foi tão pega de surpresa pela atitude de Eli que não fechou os olhos. Pelo
contrário, ela ficou olhando o rosto dele, sentindo seu atribulado espírito se acalmar
enquanto ele orava. Parecia que ele sentia cada palavra antes de falá-la. Ele não estava
só repetindo um monte de frases. Ele estava mesmo falando com seu Pai celestial, e o
que ele estava dizendo soava exatamente como se alguém estivesse pedindo seu mui
estimado amigo por um favor especial.

A garganta de Katie apertou. Não por causa do inchaço provocado pelo vírus. Esse
aperto veio de lágrimas que foram “inchando” antes de chegarem a seus olhos. Ela não
lembrava a última vez que tinha orado com aquele mesmo tipo de proximidade de
Deus. Ela sabia o que era ter intimidade com Cristo, mas só agora ela percebeu o como
ela tinha estado longe dessa intimidade nos últimos meses. Aqui estava ela, à beira da
graduação numa faculdade cristã; ainda assim, se ela tivesse que dar uma nota para
seu relacionamento com o Senhor numa escala de zero a dez, ela daria um dois. Talvez
dois e meio.

Pegando carona no “amém” de Eli, Katie adicionou seu “obrigada” com uma voz
calma.

Eli balançou a cabeça concordando de um jeito humilde e começou a se preparar


pra sair, mas Katie ergueu sua mão. Não no estilo princesa, mas como uma amiga
erguendo a mão para apertar a mão de outro amigo. Eli parou e desajeitadamente
pegou a mão dela e deu um leve aperto de consolo. Ela nunca tinha percebido as mãos
ásperas, de carpinteiro que ele tinha.
- Ei, Katie disse, ainda segurando a mão dele, você não faz idéia de como eu
precisava disso. E eu não estou falando apenas do spray de cereja. Quando você orou,
eu…

Antes que pudesse terminar sua frase, sua porta semicerrada abriu-se
bruscamente, e a passos largos Rick entrou com outro enorme buquê de rosas
vermelhas, anunciando:

- Seu namorado está finalmente aqui.

Eli rapidamente soltou a mão de Katie.

- Eli? O que você está fazendo aqui?

- Eu trouxe alguns remédios pra gripe da Katie. Eu tenho que voltar ao trabalho.
Nos vemos mais tarde. Eli saiu rapidamente.

Rick encurvou o corpo para trás e olhou corredor abaixo, assistindo Eli ir embora.
Olhando de volta para Katie, Rick disse:

- O que estava acontecendo aqui?

- Como ele disse, ele veio me trazer uns remédios, e eu o estava agradecendo.

- Agradecendo pelos comprimidos pra gripe?

- É, e também por ele ter orado por mim. Enquanto ele estava orando, eu percebi
como eu tenho estado…

- É por isso que ele estava segurando sua mão? Ele estava orando por você?

Katie engoliu a saliva e sentiu sua garganta inflamada. Ela pegou o vidro de spray e
borrifou mais uma vez em sua boca enquanto saía fora da resposta de um jeito fácil,
apenas balançando a cabeça em afirmação.

Rick já estava com a cabeça em outra coisa, mexendo na mesa dela.

- Você tem outro vaso, não tem? Essas flores precisam de água.

- Tem um na prateleira de cima do meu closet, mas você não pode simplesmente
colocar essas rosas junto com o outro buquê?

Rick alcançou a prateleira do alto com facilidade e enfiou as rosas no vaso.


Carregando-as até a mesa, ele pegou a garrafa de água que Eli tinha deixado lá e
desenroscou a tampa.

- Não! Katie gritou em protesto, e sua voz falhou.

- Que foi?
- Não essa água. É minha água da Nova Zelândia.

Rick olhou pra ela como se ela estivesse falando outra língua.

Katie levou a mão à sua garganta. Doía pra falar.

- Rick, não use essa água. É sério.

- Tá bom. Eu volto logo.

Ele pegou as rosas e saiu do quarto a passos largos com o vaso vazio na mão.

Katie fechou os olhos, e colocou a mão na testa. Seus ouvidos latejavam. Ela
pensou em como ela gostava muito mais do “jeito namorado de ser” de Eli do que o
gesto arrojado de Rick em trazer mais um buquê, não que ninguém a tivesse pedido
pra comparar.

Ela era grata por seu namorado se importar com ela o suficiente a ponto de trazer
mais flores. Ela sabia, graças a uma conversa que ela tivera com Cris, que era assim
que Rick demonstrava seu carinho. Katie aprendeu a “receber e ser grata” ao invés de
tentar mudar Rick e seus modos de se expressar. Era assim que Rick fazia as coisas. Se
ela amava Rick, e ela amava, então ela precisava amar as coisas que ele fazia por ela e
o jeito como ele as fazia.

Katie sentiu uma única e nada bem vinda lágrima sair do canto do seu olho direito
e rolar bochecha abaixo. Ela não podia suportar o modo como ela se sentia agora. Ela
queria que Eli voltasse e orasse por ela. Só que dessa vez ela queria que ele fizesse
uma oração mais longa e mais intensa, então ela poderia fechar os olhos e de alguma
forma seu coração retornaria àquele mesmo ritmo de proximidade de Deus que ela
ouvira na voz de Eli.

Rick voltou nesse exato momento com o vaso cheio de água. Ele empurrou as
rosas pra dentro do vaso.

- Nicole disse pra você avisá-la caso precise de algo.

- Ok. Obrigada e obrigada pelas flores.

- De nada. Rick puxou a cadeira que estava debaixo da mesa e sentou de frente
pra ela.

Katie o ofereceu um “fraco” sorriso. Ela podia imaginar como o rosto dela estava
amarrotado. Rick estava bonito. Ele sempre estava bonito. Os olhos cor de chocolate
dele estavam postos nela.

- Como você está se sentindo?


- Gripada. Eu realmente não quero passar isso pra você, Rick.

- Eu sei. Mas, Katie, eu realmente quero te dar uma coisa.

Sem avisar, Rick puxou uma pequena caixa de jóia do bolso de sua jaqueta de
couro.

Katie apoiou-se em um cotovelo, arrumando sua postura, e mesmo sentindo-se


meio grogue, ela estava pronta pra protestar.

- Na verdade, Rick disse, recuando a caixa de jóia, Eu devo explicar algo primeiro.

- É, explicar, por exemplo, por que nós não estamos esperando até que eu me
forme pra fazermos isso? E por que você não poderia me deixar ficar doente e me
recuperar? Quero dizer, quem se importa se é um estúpido Dia dos Namorados? Esse é
um péssimo jeito de pedir em casamento.

Rick recostou na cadeira, com cara de assustado.

- Pedir em casamento? Você achou que eu ia te pedir em casamento?

Katie não se mexeu. Ela não piscou. Ela tinha entendido tudo errado?

Em voz baixa, ela disse:

- Sim.

Levantando-se da cadeira, Rick marchou em direção à porta. Por um instante,


Katie pensou que ele iria sair, assim, sem nenhuma explicação sobre o que estava
acontecendo. Ele virou e voltou para o lado da cama dela, com o rosto vermelho.

- Por que você faz isso, Katie? Por quê? Eu nunca entendi isso em você. Você solta
as coisas nos piores momentos possíveis. Você sabe que você faz isso, não sabe? Tudo
está indo ótimo, e então você solta algo inoportuno e tudo é… Rick chutou a perna da
cadeira – não forte o suficiente para derrubá-la, mas o suficiente para fazer a cadeira
cambalear e para fazer as emoções de Katie cambalearem.

- Desculpa. Eu só… Eu não sei. Eu pensei…

- Você pensou que eu ia te pedir em casamento. Por que você pensou isso?

Katie tossiu de novo. Ela desviou o olhar e cobriu sua boca.

- Sabe de uma coisa? Vamos deixar isso pra lá. Você não está se sentindo bem.
Está tarde. Rick esfregou a nuca e disse em voz mais baixa, Você estava certa. A gente
deveria ter remarcado isso.
Katie engoliu de novo e sentiu como se estivesse engolindo pregos. Ela não disse
nada.

- Eu vou indo. A gente pode se encontrar outra hora.

- Não, fica. Katie juntou todas as forças que ainda restavam e tentou sorrir. Você
correu pra chegar aqui. Fique e converse comigo um pouquinho. Vamos começar de
novo. Conte-me sobre o café. Como está indo tudo?

Rick arrastou os pés e falou algumas coisas sobre como o eletricista teve que
trocar toda a fiação da cozinha no café em Redlands. Assim que o assunto foi
rendendo, ele retornou à cadeira, e Katie tentou se sentir confortável. Ela sentiu frio e
trouxe seus cobertores até o queixo enquanto Rick falava.

Rick se inclinou pra frente e alisou a beira do lençol amarrotado. De um jeito


estranho parecia que ele a estava “arrumando”.

- Eu sinto muito por você estar doente, Katie. Eu acho que nunca te vi tão doente
assim. Eu achei que você iria se sentir melhor depois que voltasse para o seu quarto.
Está frio hoje à noite. Eu peço desculpas de novo por fazer você me esperar lá no alto
do campus.

- Tudo bem.

- Você quer que eu te traga alguma coisa? Eu posso te fazer um chá.

Apesar de chá cair bem pra ela naquele momento, ela disse:

- Não, está tudo bem.

- Tem certeza? Eu sinto como se devesse fazer algo.

- Tá bem. Eu vou querer um pouco de chá, então. Minha chaleira elétrica está no
chão, em cima daqueles livros. Tem uns chás na caixa ao lado. Eu não faço a menor
idéia de onde minhas xícaras estão.

Enquanto Katie assistia, Rick ia pelas pilhas de bagunça e projetos e amontoados


de roupas sujas para plugar a chaleira na tomada e preparar o chá pra ela. De alguma
forma, aquela visão era dolorosa pra ela. Essa era a vida dela. Isso era a quão sua
fragmentada e vergonhosamente desorganizada vida estava naquele momento.

E ali estava Rick. Determinado Rick, tentando achar um caminho para cumprir seus
objetivos sem ser jogado para fora dos trilhos, a despeito de todos os obstáculos.

Ela tinha que dar um ‘A’ para aquele homem pelo esforço dele. Nada tinha sido
fácil ou conveniente no relacionamento deles pelos últimos meses. Ainda assim, de
alguma forma, mais graças a Rick, eles tinham conseguido cultivar tempo um com o
outro e avançarem como casal. Katie tinha se convencido de que essa era uma boa
preparação para os dois, caso eles acabassem se casando. Era assim que eles viveriam.
Rick, sempre o homem numa missão bem determinada; Katie sempre uma mulher com
uma missão menos determinada, mas ainda assim, numa missão. Rick era uma linha
reta. Katie era uma curva. Se eles conseguissem ser eles mesmos e continuassem
encontrando maneiras de entrelaçar suas vidas e agendas, Katie tinha ótimas
esperanças para eles como casal.

Quando Rick localizou uma xícara limpa e conseguiu fazer o chá, Katie já estava
achando quase impossível manter os olhos abertos. O comprimido pra gripe estava
começando a fazer efeito.

- Prontinho. Senta, Katie, pra que você possa beber o chá.

Ela tomou um gole e queimou a língua.

- Precisa esfriar.

Rick pegou a xícara dela e colocou na beirada da mesa.

- Você está quase dormindo, né?

- Tô.

- Ok. Bem, é melhor eu ir então. Eu te ligo amanhã. Ele inclinou sobre ela e deu um
beijo rápido na têmpora dela. Feliz dia dos namorados.

- Feliz dia dos namorados pra você também. Katie assistia enquanto ele caminhava
pelo quarto e abria a porta. As pálpebras dela estavam super pesadas.

- Rick?

Ele parou.

- Obrigada por vir, e me desculpe por ter falado as coisas do jeito que eu falei.

- Não se preocupe.

Katie pôde ouvi-lo dar um suspiro.

- A gente pode conversar sobre isso depois, ele adicionou.

Katie não tinha energia pra dizer nem mais uma palavra. Ela sentia como se não
pudesse lembrar o que realmente aconteceu naquela noite e o que ela tinha
imaginado na sua cabeça de vento.
Capítulo 3
- Por quanto tempo você ficou gripada?

Cris, a melhor amiga de Katie, estava sentada de frente pra ela no Café Ninho da
Pomba. A mesa que elas estavam sentadas era uma mesa familiar pra elas. Foi aqui,
nesse mesmo café que Rick e seu irmão abriram há quase um ano e meio atrás, que o
marido de Cris, Ted, a pediu em casamento. Foi aqui também, enquanto Cris, Ted e
toda a gangue estavam sentados nessa mesma mesa, que Rick saiu da cozinha e
surpreendeu a todos, já que ninguém sabia que ele estava trabalhando de gerente ali.
Daquela noite em diante, Rick e Katie tinham estado juntos.

Quando Rick ofereceu um trabalho a Katie no Ninho da Pomba, ela aceitou e


trabalhou o máximo de horas que pôde, não apenas aperfeiçoando suas habilidades
em fazer enrolados de peru, bacon e abacate3, mas também aperfeiçoando seu
relacionamento com Rick. Cris trabalhava na livraria adjacente, A Arca. Essa era uma
daquelas raras tardes, quando Katie conseguia achar tempo suficiente pra encontrar
com Cris na pausa pro almoço.

- Eu fiquei gripada duas semanas, como todo mundo, Katie disse. Entretanto eu só
fiquei de cama quatro ou cinco dias. Eu tenho certeza que minha gripe ainda estava
contagiosa quando eu voltei às aulas, mas, sério, eu não posso perder nada nessas
próximas dez semanas. Eu estou nos “finalmentes” do meu curso, rumo à colação de
grau, e nenhuma gripe aborrecida vai me parar. Além do mais, eu estou certa de que
todo mundo no campus teve essa gripe muito antes de eu ter. Como sempre, eu, a
retardatária. Não foi disso que sua tia me chamou uma vez?

Cris deu de ombros.

- Eu não sei do que minha tia te chamou. Eu tenho praticado esquecer tudo que a
tia Marta fala assim que eu posso. Quem se importa com o que ela disse sobre você?
Eu quero ouvir o que Rick disse. O que aconteceu depois que ele foi embora do seu
quarto naquela noite?

- Nada. Eu só encontrei com ele uma vez depois do Dia dos Namorados. A gente
conversa todo dia pelo telefone e por mensagem de texto, mas ele não tocou no
assunto. Eu tenho pensado muito nisso desde aquela noite – aquela noite febril e
estranha – e eu estou pronta pra dizer sim pra ele, qualquer que seja o cenário que ele
invente pra me pedir em casamento.

Cris levantou as sobrancelhas.

3
Alguém mais ficou com nojo desse enrolado de peru, bacon e abacate? Pois é, o povo aqui nos EUA
tem uma coisa com comida com abacate que é uma nojeira. Tem gente que gosta, eu não!
- Sério?

Seus distintos olhos azul-esverdeados expressaram a pergunta que Katie sabia que
Cris queria perguntar.

- Sim. Eu o amo. Eu sei que amo. Eu acho que nós poderíamos lidar com todos os
desafios que parecem vir de encontro ao nosso relacionamento. Nós temos trabalhado
no nosso relacionamento por um ano e meio já. Eu acho que nós podemos entrar em
sintonia muito mais facilmente depois que eu me formar e depois que ele abrir o café.

Cris não concordou, nem discordou. Ela olhou para Katie e silenciosamente
beliscou sua salada Toscana. Então ele segurou o garfo no alto, no meio do caminho
entre o prato e seus lábios fechados, uma laranja no espeto esperava pela atenção
dela.

- Que foi? Você não acha que nós estamos prontos?

Cris engoliu sua comida antes de colocar o garfo no prato.

- Não sei.

- Não sabe o quê?

- Eu não sei como responder perguntas sobre você e Rick. Eu não o vejo há meses,
mesmo morando no mesmo prédio que ele. Eu não vejo vocês dois juntos desde a
festa do Natal, e aquela noite foi louca. Não serei eu quem vai dar um aval de
confirmação para o relacionamento de vocês.

- Eu não estou procurando um aval. Katie franziu a testa, irritada por sua melhor
amiga não estar demonstrando nenhuma empolgação.

Quando Cris estava há poucos passos de ficar noiva, Katie tinha certeza de que ela
tinha sido bastante compreensiva e empolgada. Pelo menos ela achava que sim. Agora
parecia que fazia tanto tempo. Foi há apenas um ano?

Cris chegou mais perto de Katie, diminuiu o tom de voz, olhando Katie nos olhos:

- Tudo que estou dizendo é que casamento é uma coisa difícil. Mais difícil do que
eu pensei que seria. Especialmente quando os dois estão trabalhando o tempo todo e
não podem se ver o suficiente para terminar uma conversa. Se houvesse um jeito de
vocês dois se estabilizarem um pouco mais financeiramente também ajudaria. É tudo
que tenho a dizer. Se você pode esperar um pouco, espere.

- Nós estamos indo bem financeiramente.

A expressão de Cris deixou claro que ela não concordava.


- Katie, você nem tem um carro.4

- Eu sei, mas eu vou comprar um. Eu estou esperando.

- Esperando o quê? Dinheiro cair do céu? Eu não quero ser pessimista, mas essa é
a mesma coisa que Ted e eu dissemos há mais de um ano, e aqui estamos nós, ainda
dividindo um carro. É muito caro, ainda mais com o seguro.5

- Eu tenho o dinheiro.

Cris olhou pra Katie como se não estivesse acreditando nela.

- Eu tenho o dinheiro, Katie repetiu. Eu queria te contar. Só que nunca houve uma
boa oportunidade, e pra ser honesta, eu não tenho certeza de que essa é a hora certa.
Mas aqui vai. Minha tia avó faleceu e me deixou algum dinheiro. Está guardado na
minha poupança no banco.

Com um giro da sua cabeça, o cabelo cor de noz moscada de Cris caiu pro lado.

- Sua tia avó faleceu? Eu não me lembro de ter ouvido falar disso. Quando ela
faleceu?

- Ano passado. Na primavera, eu acho. Eu não lembro. É tudo muito estranho,


mas... bem vinda à minha vida. Ela queria que o dinheiro fosse pra alguém da família
que estivesse fazendo faculdade, e acredite ou não, eu fui a única pessoa que o
advogado conseguiu encontrar.

- Katie, isso é incrível! Mas sinto muito pela sua tia avó.

- Eu sei. Eu nunca a conheci, é isso que faz de tudo ainda mais estranho.

- Eu não acredito que você não me contou nada disso.

- Eu queria ter contado. Eu recebi o dinheiro no outono passado e planejei investir


um pouco do dinheiro num carro, mas minha agenda estava ocupada, e desde que o
Buguinho deu seu último suspiro, eu desenvolvi o hábito de pedir caronas. Acabou
virando uma boa maneira de eu ter tempo pra conversar com as pessoas. Eu guardei o
dinheiro e continuei pegando carros emprestados ou pedindo caronas.

Cris reclinou na cadeira.

4
No Brasil, ter carro não é algo essencial quando se casa. O importante é ter um teto e dinheiro pra
comida. Tem ônibus em todo lugar. Mas nos EUA não tem transporte público em todo lugar, por isso,
eles dão tanta importância pra carro. E praticamente todo mundo que tem carteira de motorista na
família tem um carro separado.
5
Nos EUA, seguro de carro não é opcional igual no Brasil. Todo carro tem que ter seguro, se não tiver,
você não consegue nem tirar carteira, já que aqui, os exames de direção são feitos no carro da própria
pessoa e pra fazer o exame, ela precisa provar que o carro tem seguro.
- Você nunca pára de me surpreender. Eu tenho a sensação de que você e eu
estaremos nos nossos noventa anos de idade, sentadas em cadeiras de balanço, sem
um único dente na boca, e você vai aparecer com algum fato significante que eu nunca
soube sobre você.

Katie deu outra mordida em sua pizza de abacaxi e bacon canadense, pensando no
tanto que ela deveria contar pra Cris sobre a herança. Os detalhes eram ainda mais
surpreendentes do que ela tinha revelado. A diretora dos residentes de Katie, Julia, era
a única que sabia que Katie, secretamente, usara parte do dinheiro para iniciar um
levantamento de fundos em prol de água limpa na África.

Katie também tinha usado parte do dinheiro para abençoar um dos estudantes
internacionais da universidade. O nome dele é Joseph, e ele é amigo de Eli. A esposa e
filha de Joseph estavam morando numa vila em Gana, oeste da África, enquanto
Joseph completava seus estudos na Califórnia. Katie mudou tudo ao fazer com que elas
se juntassem a Joseph na Rancho Corona e morassem com ele no apartamento para os
estudantes casados.

Cris inclinou-se pra frente.

- E as mensalidades da faculdade? Quero dizer, eu concordo que transporte é


essencial, e já que foi te dado esse dinheiro, um carro seria uma ótima maneira de
gastar sua herança. Mas você considerou investir um pouco do dinheiro na quitação
das suas mensalidades pra que você não fique com uma grande dívida quando se
formar?

Katie escolheu suas palavras cuidadosamente. Ela já tinha pago todas as suas
mensalidades e iria se formar sem débito nenhum. Ela também, anonimamente, pagou
as mensalidades de Eli. Ela sabia que queria ajudar outro estudante, e Eli parecia ser
um bom candidato, já que ele estava trabalhando muito durante o ano assim como
Katie. O serviço dos estudantes cuidou de todos os detalhes, e Eli nunca mencionou ter
recebido o dinheiro, Katie também nunca comentou nada. Doar em segredo
preencheu uma parte de Katie que ela nunca soube que estivera vazia.

Para esclarecer sua situação financeira para Cris, tudo que ela disse foi:

- Eu tenho minha dívida com a faculdade sob controle. Comprar um carro é minha
prioridade número um.

- A minha também, disse Cris pensativamente.

Katie colocou seu canudinho nos lábios numa tentativa de manter sua boca
ocupada e acabar não soltando nada.
O plano original de Katie era levar Cris pra comprar um carro, e, como uma grande
surpresa, comprar dois carros. Um pra ela e um pra Cris. Ela não tinha pesquisado o
preço de nenhum carro usado ainda, mas ela estava confiante de que poderia
aumentar seu orçamento e comprar dois carros usados, ao invés de um novo.

Sentada de frente pra Cris, Katie teve uma sensação de que haveria uma pressão
muito grande no relacionamento delas se Katie a desse um carro. Cris estava
acostumada a receber presentes de seus riquíssimos tios, mas Katie assistira como o
peso desses presentes afetaram o relacionamento de Cris com sua tia. Não que um
carro usado como presente fosse, necessariamente, estragar a amizade entre Cris e
Katie, mas ela percebeu o quão estranho isso seria. As pessoas iriam descobrir que ela
tinha recebido uma bolada de dinheiro. Muito mais dinheiro do que ela revelara, mas,
ainda assim, ficaria claro que ela tinha recebido dinheiro suficiente pra comprar dois
carros. Isso por si só já era extraordinário o suficiente pras pessoas começarem a fazer
perguntas. Rick ainda não sabia de nada sobre o dinheiro. Como ele encararia isso
tudo? Ela não tinha pensado no quão complicado isso poderia ser.

- Você está bem? Cris sacudiu a mão na frente do rosto de Katie. Você ficou quieta
de repente.

- Desculpa. Meu cérebro resolveu dar um passeio. Ele voltou agora. O que a gente
estava conversando?

- Você estava falando que vai comprar um carro.

- É, eu vou. Você quer ir comigo?

- Claro. Você sabe quando o Rick vai estar disponível?

- Rick? Por quê?

- Eu achei que você fosse querer incluí-lo no processo. É um grande investimento.


Quero dizer, se vocês estão próximos de ficarem noivos, colaborar numa decisão como
um carro parece ser uma coisa normal a se fazer.

- Eu posso perguntá-lo. Mas não sei. Dezembro passado, quando ele estava
procurando por um carro novo, eu só fui com ele na primeira vez. Nos primeiros três
minutos, eu percebi que ele e o pai dele viam essa experiência como algo entre pai e
filho. Depois disso eu não me convidei mais pra ir. Ele gosta mesmo do carro que ele
comprou, o que é bom, considerando a quantidade de horas que ele passa morando
nesse carro. Mas eu tenho saudades do Mustang.

- Ele ainda tem o Mustang, não tem?

- Tem. Ele o deixou na garagem dos pais dele. Mas ele não planeja dirigi-lo mais.
Ele me disse que eu podia pegá-lo emprestado a hora que eu quisesse, mas eu nunca
senti que isso fosse certo. Eu me sinto mais confortável pegando o carro do Eli ou o da
Nicole. Entretanto, eu tenho que dizer, aquele Mustang tem muitas memórias. Eu
amava aquele carro. Era um clássico. Um grande de símbolo de quem Rick era no
ensino médio, sabe?

Cris sorriu.

- É, você sabe. Eu sei que você sabe. Colocando sua bebida sobre a mesa, Katie
disse:

- Ah, Cris, as estradas que nós já viajamos juntas, minha amiga.

- E as muitas que ainda temos por viajar... no seu carro novo!

- Eu estou planejando comprar um carro usado.

- Mesmo assim, vai ser novo pra você. Cris checou a hora no seu celular. Eu tenho
que voltar ao trabalho. Me avise quando você quiser ir sair pra olhar carros, e eu irei
com você. Ah, e a Trícia me perguntou se eu poderia cuidar do bebê Daniel pra eles. Se
você tiver tempo, você quer vir comigo?

- Eu posso ser persuadida a ir.

- Eu cuido do Daniel. Você pode usar o tempo pra estudar. Eu pensei que seria
divertido a gente dirigir até Calrsbad juntas e talvez caminhar na praia depois.

- Parece perfeito agora. Especialmente porque o tempo está esquentando. Eu


adoraria ir com você. Me avise sobre os detalhes e eu vou checar minhas horas de
trabalho. Eu devo um monte de horas a Nicole, já que ela cobriu pra mim enquanto eu
estava doente. O bom é que ela é muito generosa.

Cris levantou, deu um rápido abraço em Katie, e voltou para a livraria que ficava
ao lado do restaurante no mesmo complexo.

Retornando ao estacionamento, Katie escorregou no banco do motorista do carro


de Nicole e fechou a porta. Ela discou o número da tia Marta e esperou ela atender.
Quando o correio de voz respondeu, Katie desligou. Ela não queria deixar uma
mensagem. Para falar a verdade, ela não queria falar com tia Marta. O tio de Cris, Bob,
era com quem ela queria falar.

Katie achou o número do tio Bob em seu celular, apertou o botão “ligar”, e
“raspou” a garganta. O calmo tio de Cris atendeu no segundo toque. A primeira coisa
que Katie perguntou foi se tia Marta estava por perto.

- Não. Ela saiu pra almoçar com umas amigas no clube. Você quer o número dela?

- Não, eu queria falar com você.


- Claro. Que foi?

- Eu preciso da sua ajuda com algo que pode ser um pouquinho complicado.

- Sem problema. O que eu posso fazer?

Katie amava o tio Bob quase o mesmo tanto que ela tinha certeza que Cris o
amava. Aquele homem tinha um grande caráter e se importava com as pessoas. Ela
tinha certeza que podia confiar nele e falou sobre seu ainda incompleto plano de
comprar um carro para Cris e Ted.

- Deixa eu ver se entendi, tio Bob disse. Você quer me dar dinheiro para comprar
um carro novo para Cris e Ted, mas quer que eles achem que fui eu quem dei o
dinheiro.

- Isso. Mas é um carro usado, não um novo.

- Certo. Um carro usado.

- Você pode me ajudar a fazer isso?

- Na verdade, não. Não posso.

Essa não era a resposta que Katie esperava.

- Por que não?

Tio Bob gargalhou.

- Isso seria desonesto.

O semblante de Katie entristeceu. Por um momento ela desejou ter tentado falar
com tia Marta sobre o plano. Katie tinha certeza que tia Marta não teria nenhum
problema em esconder, mudar, ou enfeitar a verdade. Pra ser sincera, Marta era
dotada com tais atributos.

- Eu não estou te pedindo para mentir. Eu só não quero que eles saibam que o
dinheiro veio de mim.

- E por que não? Eles apreciariam saber a verdade. Conte a Cris e Ted que sua tia
te deixou um dinheiro, e você quer usá-lo pra comprar um carro pra eles. É limpo e
honesto. Sem mistérios a serem encobertos.

- Eu ia fazer isso, mas daí eu pensei que seria complicado demais quando outras
pessoas descobrissem que eu tenho todo esse dinheiro. Até agora só duas pessoas
sabem que eu recebi uma herança. Cris é uma dessas pessoas, mas ela não sabe muito.
- Katie, ouça, não é da conta de ninguém quanto dinheiro você tem ou o que você
decide fazer com ele. Lembre disso.

Katie pensou ter ouvido a voz de tio Bob intensificar na última frase. Quando o
assunto era dinheiro e escolha em como gastá-lo, Bob era uma espécie de autoridade.
Se ele estava dizendo que ela deveria ser sincera e não encobrir nada, ela sabia que
deveria ouvi-lo.

- O que você acha de fazermos isso: Você pensa em como quer lidar com a
informação com Cris e Ted. Eu vou dar uma olhada em alguns carros. Eu te mantenho
informada, e você me mantém informado?

- Ok. Mas tem mais uma coisa.

- Manda.

- Você pode dar uma olhada em dois carros usados?

- Dois?

- É, eu preciso de um. Meu carro morreu outono passado. Eu tenho procrastinado


a inevitável compra de um por muito tempo.

- Como você tem se locomovido?

- Eu tenho amigos generosos. Uma deles, Nicole, conseguiu me incluir no seguro


do carro dela. Nós temos compartilhado o carro dela pelos últimos meses. Tem
funcionado muito bem, mas já é hora de eu comprar um carro pra mim.

- Eu posso te ajudar com isso. Sem problema.

- Obrigada. Eu vou continuar te mantendo informado, como você disse.

Antes de eles desligarem, tio Bob amorosamente concluiu a conversa deles:

- Você me dá orgulho, Katie, você sabia disso? Você me deixa orgulhoso.

Katie engasgou. Ela nunca esperou que ele dissesse algo assim. Aquelas eram
palavras que uma moça deveria ouvir de seu pai, mas Katie não conseguia se lembrar
de alguma vez ter ouvido isso de seu pai. Ouvir essas palavras vindas de tio Bob tinha
quase o mesmo significado pra ela.

Quase.
Capítulo 4
Assim que Katie desligou, ela dirigiu rumo ao posto de gasolina para encher o
tanque do carro de Nicole. Dirigindo de volta pela montanha que subia até o campus
da Rancho Corona, Katie tentou organizar mentalmente sua pilha de coisas pra fazer
pelo restante daquele dia. Ela estava de plantão na mesa principal aquela tarde por
três horas e esperava que o turno fosse tranquilo, porque ela planejava trabalhar em
um grande projeto que deveria ser entregue na próxima semana e que ela nem tinha
começado. Ela também tinha uma reunião obrigatória com a equipe de ARs às sete.
Katie não fazia idéia de quando ela encontraria tempo para escrever seu já atrasado
trabalho para sua aula de estudos interculturais. Ela também estava atrasada para a
entrega de três resumos das tarefas de leitura que deveriam ter sido entregues
enquanto ela estava doente.

- Eu nunca vou conseguir terminar isso tudo.

Para se distrair, ela colocou o telefone no viva-voz e ligou para Rick.

- Ei. Adivinha quem está com saudades de você e mal pode esperar pra te ver esse
fim de semana?

- Ei, você. Adivinha.

- Não. Eu não vou adivinhar nada. Primeiro você vai ter que adivinhar quem sente
saudades de você e mal pode esperar pra te ver.

- Katie.

Ela não soube dizer se ele estava falando o nome como a resposta à adivinhação
ou com uma ponta de frustração na voz. Não importava. Ela continuou jogando seu
jogo.

- Resposta certa. Agora é a sua vez. O que você quer que eu adivinhe?

- Nós conseguimos a liberação do café em Redlands. A inauguração será dia 27 de


abril. Ele soou animado, mas Katie estava bem certa de que ele já tinha contado isso
pra ela antes.

- Legal.

- Mais que legal. Isso vai mudar tudo. Nós conseguimos essa localização na hora
certa. O que você acha de eu buscá-la sábado de manhã bem cedo e nós viermos
passar o dia aqui?
Katie hesitou. Essa não era exatamente a idéia dela do que o tão esperado
encontro deles seria.

- Eu devo ter que levar alguns trabalhos da faculdade comigo.

- Sem problema. A fiação já está toda pronta. Traga seu laptop. A máquina de café
expresso deve ser instalada sexta-feira à tarde, daí eu te preparo alguma coisa gostosa
enquanto você estuda. Está ficando mesmo muito bom, Katie. A Nicole fez um ótimo
trabalho na seleção de cores. Ela te contou que conseguiu usar o projeto do design do
interior daqui, em um dos trabalhos finais do curso dela? Ela recebeu um ‘A’.

- Eu soube que ela estava tentando conseguir créditos por todo o trabalho que ela
fez com sua mãe. Que ótimo. Você vai estar aqui na cidade hoje à noite? Você quer dar
uma passada aqui? Eu estou de plantão das quatro às sete. A gente poderia sair pra
jantar depois. Ah, espere; eu acho que tenho uma reunião depois.

- Eu não ia poder ir mesmo, Katie. Muita coisa está acontecendo aqui agora. Eu
estou com saudades de você. As coisas têm estado loucas demais por tempo demais.

- Eu sei. Nós já estamos quase na linha de chegada.

- Eu sei, Rick disse. 27 de abril está quase aí.

- 16 de maio está quase aí também.

- O que tem dia 16 de maio?

Ela não soube dizer se Rick estava fingindo só pra provocá-la.

- Deixe-me ver, 16 de maio... 16 de maio... O que será? Alguma coisa está


acontecendo dia 16 de maio. Ah, é! Katie Weldon vai se formar no dia 16 de maio.

- Você achou que eu me esqueci?

- Eu acho que o jeito como sua vida está indo ultimamente, você precisa ser
relembrado das coisas. Constantemente. Isso é inegociável, a propósito. Você tem que
estar lá, Rick. É o-bri-ga-tó-rio. Entendeu? Obrigatório.

- Katie, relaxe. Eu entendi. Não se preocupe. Eu pretendo estar lá.

Ela sabia que teria se sentido mais tranquila se a escolha das palavras dele tivesse
sido “Eu estarei lá”, mas ela precisava deixar pra lá. Mais de uma vez ela falara com
Rick que ele, Ted, e Cris seriam seus únicos familiares naquele dia, os únicos a ficarem
de pé por ela. Ele sabia o quão importante isso era pra ela.

Rick tinha garantido pra ela que iria levar os pais dele e possivelmente o irmão
dele, Josh, o qual estava tão envolvido quanto Rick na inauguração dos novos cafés.
Katie tinha boas razões para ficar desconfiada da exigente agenda de Rick. Só pra
garantir, ela pensou em convidar Bob e Marta. Por que não? Tio Bob tinha acabado de
falar que estava orgulhoso dela. Ele poderia vir assisti-la receber seu diploma e ficar
orgulhoso dela no dia 16 de maio também, não podia?

Duas semanas se passaram até que Katie conseguiu achar tempo para ligar para
tio Bob para checar projeto do carro e também para dar os detalhes sobre sua
formatura. Katie sabia que o calendário social de Marta requereria aviso prévio em
qualquer evento que exigisse significante esforço. E com tia Marta, quase tudo
envolvia mais esforços da parte dela do que era realmente necessário.

Durante aquelas duas semanas, Katie sentiu-se como um hamster numa roleta
dentro de sua gaiola, correndo, correndo, mas não chegando a lugar algum. Ela foi à
todas as suas aulas, à duas reuniões dos ARs, e ainda conseguiu cumprir seus horários
de trabalho. Isso era mais do que ela tinha conseguido fazer no último mês. Em média,
ela estava dormindo menos que cinco horas toda noite, mas ela ainda sentia que não
conseguiu cumprir todo o trabalho que tinha que fazer.

Depois da última aula de Katie na sexta-feira à tarde, ela rumou para o Crown Hall
para seu plantão de duas horas. Assim que ela estivesse livre, ela planejava correr pro
chuveiro e vestir qualquer coisa limpa que ela pudesse encontrar em sua pilha de
roupas no seu quarto. Ela e Rick tinham finalmente conseguido marcar um encontro de
verdade, e, se tudo fosse bem, ela estaria pronta exatamente às 6:30, quando ele iria
buscá-la.

Julia, a diretora dos residentes de Katie, estava esperando por ela quando Katie
entrou no escritório que ficava no andar do lobby do Crown Hall. Ela puxou Katie para
um canto e perguntou:

- Você tem algum tempo livre amanhã de manhã?

- Amanhã?

- Por volta das oito. Pode ser? Você ainda não entregou seus formulários de
fevereiro. Eu sei que você estava doente. Nós podemos trabalhar nisso juntas. Vai
levar apenas uma hora.

Katie não sabia como ela poderia encaixar uma hora em sua agenda. Ela sabia que
tinha que fazer isso. Talvez tentar sair para jantar com Rick hoje à noite fosse uma má
idéia. Ela tinha muito trabalho pra fazer esse fim de semana.

O que eu estou pensando? Eu não vejo o Rick há séculos. É claro que eu tenho que
vê-lo hoje à noite.

- Mais pro fim da semana dá pra você?


- Claro. Me mande um email com seus melhores horários livres e nós vamos dar
um jeito.

Sentando-se em sua cadeira, Katie pegou seu laptop e imediatamente começou a


trabalhar em umas pesquisas que ela precisava pro seu projeto final para a aula de
moderna cultura asiática. Quando ela trocou sua especialização para humanas no
começo do seu último ano, ela não tinha muita idéia do que acabaria fazendo com
esse diploma. Mas fazia muito mais sentido pra ela do que botânica. Com humanas,
ela gostava da variedade de aulas que conectavam com seu interesse em pessoas,
comunicação, e culturas.

No entanto, Katie sabia, se fosse pra ser completamente honesta, que ela estava
mais interessada em se formar do que em quê ela estava se formando. Ela não
admitiria isso pra ninguém, mas seu objetivo tinha sido apenas terminar a faculdade.
Em quê ela estava se formando era apenas a cereja do bolo. Se ela conseguisse manter
o ritmo nessa última volta até a linha de chegada, então, qualquer coisa podia
acontecer.

A imaginação de Katie deu lugar a imagem de estar vestida em um elegante e


branco vestido de noiva, segurando uma simples, solitária papoula da Califórnia como
seu buquê. Ela viu a si mesma caminhando pelo corredor da igreja, seu rosto
brilhando, seus passos lentos e certos. Em seu sonho acordada ela via seu casamento
acontecer num lugar aberto, no alto do campus, exatamente como o casamento de
Cris e Ted em maio do ano passado. O clima estava perfeito. Os convidados estavam
todos sorridentes.

Ela olhou pra baixo e se alegrou em ver que estava descalça debaixo daquele
exuberante vestido. Isso explicava seu perfeito equilíbrio e passos calmos. Ela estava
feliz. Em seu mais natural habitat.

Katie imaginou a música tocando. Violões. Não, não violões. Violinos. Sim, violinos.
Muitos violinos e um violoncelo. E borboletas. Centenas de delicadas, vibrantes,
douradas borboletas a rodeavam enquanto ela dava seus pequenos passos adiante.

Ela imaginou levantando seus olhos em direção ao altar, debaixo de um arco


enlaçado por flores, um pastor estava sorrindo, segurando uma Bíblia com as duas
mãos na frente de seu corpo. Agora era o momento. Ela iria virar e olhar para o rosto
de seu amado. Pela expressão dele enquanto olhava pra ela, ela sabia que ele estava
impressionado com a beleza de noiva dela. Lentamente lançando seu olhar sonhador
para a direita, Katie respirou fundo e...

- Ei, você!
Aquela voz grave a trouxe de volta ao presente. O cara da manutenção, um
homem de meia idade e acima do peso, usando um boné rasgado de baseball dos
Dodgers estava em pé ao lado da janela.

- É, nós recebemos um chamado por causa de uma janela quebrada.

- Quê?

- Uma janela quebrada, ele repetiu.

- Ok. Hmm, alguém te falou o número do quarto?

- Sei não. Eles falaram pra checar no lobby.

Katie folheou os papéis na mesa e encontrou um formulário com a letra de Nicole.

- Aqui está. É no primeiro andar. Eu vou com você.

Katie colocou uma placa que dizia, “Volto logo,” e caminhou até o quarto 118 sem
falar nada. Katie bateu três vezes na porta. Quando ninguém respondeu, ela bateu de
novo e gritou dizendo que ela era uma assistente dos residentes e que iria abrir a porta
e entrar. Usando a chave mestra, Katie abriu a porta e ficou impressionada com a visão
que teve.

O quarto estava uma zona de desastre. Roupas, livros, sapatos, cobertores e caixas
de pizza vazias estavam todos amontoados, como se estivessem planejando seu
próximo movimento. A janela da esquerda estava quebrada. Estilhaços de vidro
quebrado estavam espalhados pela cama, mesa, e pelas roupas amarrotadas. No meio
do quarto, no chão, estava uma grande pedra. Katie sabia que era melhor deixar a
evidência exatamente onde estava.

O homem da manutenção disse:

- Parece que alguém revirou e saqueou esse lugar. Eu vou checar as medidas e
voltar com o vidro.

Enquanto ele tirava sua fita métrica, Katie ficou de pé de um lado do quarto, seus
pensamentos estavam nas moças que moravam nesse quarto. Elas nem deviam saber
o que tinha acontecido. Talvez o quarto delas tivesse sido arrombado. Ou talvez uma
delas tivesse quebrado o vidro. De qualquer forma, Katie estava feliz por isso não ter
acontecido no andar dela. Ela tinha muito a fazer e não gostaria nada de ter que fazer
um relatório sobre uma confusão dessas.

O outro pensamento que permaneceu na mente de Katie enquanto ela olhava em


volta do quarto foi o de como ela se sentiria se a pedra tivesse sido jogada na janela do
seu quarto e ela tivesse que deixar alguém entrar nele. Por pior que esse quarto
estivesse, Katie sabia que o dela ainda estava pior. E ninguém tinha saqueado nada. Ela
- e apenas ela - era a responsável pela bagunça. Ela nunca estava lá, então todas as
pilhas de desorganização tinham apenas crescido em seu estado de petrificação. Se
alguém visse como ela estava vivendo, ela ficaria horrorizada. Enquanto Katie voltava
ao lobby com o cara da manutenção, ela decidiu que iria fazer o que fosse preciso pra
lavar suas roupas, e limpar seu quarto esse fim de semana.

De volta ao escritório principal, Katie retornou à sua pesquisa e se manteve


ocupada por quase uma hora e meia, antes de Nicole aparecer e parar pra conversar.
Nicole tinha todos os detalhes sobre a janela quebrada e contou-os à Katie.

- Os caras que nos contaram disseram que era pra ser uma batidinha de leve na
janela pra ver se tinha alguém lá. Eles disseram que fizeram ‘uma má escolha no
tamanho da pedrinha’.

- Vou te falar que não era nenhuma pedrinha. E vou te falar mais uma coisa que
você vai ficar feliz em ouvir, Senhorita e Princesa Super Organizada.

- Não me chame disso, Nicole disse com uma pequena expressão de tristeza em
sua super lisa pele.

- Tá bom. Desculpa. O negócio é o seguinte. Eu vi o quão bagunçado o quarto 118


estava, e isso tocou bem no fundo do meu coração – você sabe o que quero dizer?
Bem aqui. Eu senti.

- Sentiu o quê?

- A necessidade de limpar meu quarto.

- Sério?

- Sim, sério. Eu acho que você é a única no campus que sabe o quão assustador
meu quarto se tornou. Eu devo precisar de uma escavadeira e uma super lata de lixo,
mas eu estou determinada a tirar o lixo tóxico do meu quarto esse fim de semana.

- Que bom. Nicole olhou para seu relógio. Você quer ir começando?

- Por quê? O que você está sugerindo?

- Eu poderia pegar sua última hora de trabalho. Eu tenho muito trabalho a fazer.
Posso fazer aqui. Você disse que não tem tido muito movimento por aqui. Assim você
poderia começar o projeto limpeza.

- Isso, começar logo antes que eu mude de idéia ou me distraia, certo?

Nicole sorriu seu doce sorriso.


- A oferta ainda tá de pé. O que você quiser...

- Eu aceito. Você é muito legal comigo.

- Eu sei.

Nicole ficou de pé ao lado da mesa enquanto Katie se inclinou para desplugar o


cabo do seu laptop. Escondida debaixo da mesa, Katie não viu a pessoa que caminhou
em direção à janela.

Nicole cumprimentou quem quer que fosse com uma extra empolgação.

- Ei. Oi. Como você está? Bom te ver.

- Bom te ver também. Como vai? Você está ótima, a propósito.

Katie reconheceu a profundidade daquela voz. Seu coração fez uma pequena
dança saltitante. Ele está adiantado!

Katie levantou sua cabeça rapidamente.

- Katie? Rick olhou surpreso. O que você está fazendo aí embaixo?

- Desplugando meu laptop. O que você está fazendo aí?

- Tentando te fazer uma surpresa. Eu sabia que você estava de plantão, e pensei
que eu poderia vir mais cedo. Eu tenho algumas ligações pra fazer, mas achei que eu
poderia ficar aqui com você até que você estivesse livre.

- Sério? Katie sentiu uma inebriante felicidade. Na verdade, ela queria mesmo
limpar seu quarto antes que seu amontoado de roupas se tornasse inflamável. Ela
também pretendia tomar um banho e receber Rick arrumada e limpinha. Não toda
desmazelada como agora.

- Eu estava falando pra Katie agora mesmo que eu cobriria a hora dela aqui. Nicole
disse.

- Que ótimo. Obrigada, Nicki. Rick deu um grande sorriso pra Nicole.

Katie repetiu o apelido que Rick escolhera.

- Nicki?

Rick tinha a fama de arrumar apelido pras pessoas. Tristemente, suas tentativas de
dar um apelido pra Katie tinham falhado. Essa era a primeira vez que ela o tinha
ouvido usar o meloso “Nicki” para se referir a Nicole.

- Combina, você não acha? Rick voltou seu sorriso em direção a Katie.
Nicole entrou na conversa com uma explicação mais detalhada:

- O pai de Rick me chamou assim umas semanas atrás. Eu falei pro Rick que eu
gostei porque meu pai me chamava de Nicki quando eu era criança. Quase ninguém
me chama assim mais.

- Nicki. Katie tentou ver como o novo nome soava.

Nicole gargalhou.

- Sua expressão diz tudo, Katie. Eu sei como você se sente a respeito. Não se
preocupe. Você não tem que me chamar de Nicki.

- Que bom. Nicole combina mais com você, eu acho. Ela juntou suas coisas.

- Rick, você se importa de esperar por mim uns dez minutos?

- Depois de todo tempo que você esperou por mim? Claro que não. Você precisa
se trocar? Ele pareceu perceber sua roupa amassada, incluindo sua não-tão-limpa-
camisa e seu favorito par de sandálias de tiras de couro desfiadas.

- Sim, eu preciso me trocar. Definitivamente. Trocar mais coisas do que apenas


minha aparência para o encontro dessa noite. Mas no momento, essa é a única coisa
que vou fazer agora. Você se importa de me esperar? Mesmo?

Ela já estava do lado de fora do escritório, em pé de frente pra ele. Rick estava
bonito. Ele sempre estava bonito. E cheiroso também.

O sorriso dele “amaciou” enquanto ele olhava para Katie.

- Eu estarei bem aqui esperando por você. Não importa quanto tempo demore. Eu
não vou a lugar algum sem você.

Ah Rick, você continua sendo o rei da fala mansa.

As palavras carinhosas dele para Katie a impulsionaram pelo corredor, até seu
quarto, para o chuveiro e para fora dele em tempo recorde. Ela desejou ter algo
bonito, novo e limpo esperando por ela em seu closet que ela pudesse vestir. Ela
queria estar bonita para Rick. Ela queria que ele se derretesse um pouquinho cada vez
que ele a visse, do jeito que ela se derretia um pouquinho cada vez que ela o via.

Suas escolhas eram limitadas, entretanto, Jeans ou jeans. Uma blusa branca que
precisava ser passada ou um suéter preto com um decote em V. O suéter venceu,
mesmo essa sendo uma tarde de calor. Ela subiu as mangas, levantou o suéter e
borrifou em sua barriga uma loção corporal de kiwi-coco-lima no caso de ela transpirar
até a morte. Pelo menos, o cheiro seria de frutas enquanto ela se derretia de tanto
suar.
Alisando seu suéter de volta em seu corpo, Katie notou uma linha solta de um
lado. Ela deu um puxão na linha e um buraco de mais ou menos um centímetro
apareceu.

- Fala sério! Só pode ser brincadeira.

Ela tirou o suéter pra ver o tamanho do estrago, e o buraco continuou a desfiar.
Frustrada, ela pegou seu telefone e ligou para Nicole.

- Estou desesperada. Por favor, me diga que eu posso pegar emprestada qualquer
coisa no seu closet.

- Claro que pode. Fique a vontade pra pegar sapatos e acessórios também. O que
você quiser.

- Você é um amor. Salvou minha vida. Obrigada, Nicole. Diga a Rick que eu estou
quase pronta.

- Falo sim. Não precisa ter pressa. Ele está me contando dos detalhes do café.

Katie se apressou assim mesmo. Ela usou a chave mestra para entrar no quarto de
Nicole e passou o olho nas blusas lindas e limpas que estavam penduradas no closet
organizado de Nicole. Depois de experimentar duas blusas diferentes, ela escolheu a
primeira.

Antes de ela correr de volta pro seu quarto, Katie viu um par de sapatos pretos
estilosos. Nicole dissera que ela podia pegar sapatos emprestados também. Katie
experimentou e achou que eles caíram super bem com sua calça jeans. Vendo-se por
vários ângulos no espelho de corpo inteiro de Nicole, Katie achou que essa era a
melhor combinação de roupas que ela tinha vestido no semestre inteiro. Ela
definitivamente precisava sair pra comprar roupas com Nicole como sua consultora.

Com os sapatos na mão, Katie correu de volta para seu quarto e terminou de se
aprontar. Seu cabelo não precisou de muito trabalho. Ela o balançou duas vezes e
deixou seus sedosos fios ruivos se assentarem em sua maneira feliz e usual.
Maquiagem seria um quê a mais. Ela abriu seu tubo de rímel e pensou, Quando foi a
última vez que eu abri isso?

Seus olhos bateram num colar de pedra verde que tinha estado enrolado num
canto, em cima de sua cômoda por tanto tempo quanto o rímel tinha permanecido
fechado. Rick a presenteara com o colar meses atrás. Ela não tinha muita certeza do
porquê. Ele disse que viu o colar quando ele estava no Arizona e a cor dele o lembrou
dos olhos dela. Verde, mas mudava de acordo com a luz. Ou algo do tipo. Katie nunca
foi de usar muitos acessórios. Essa noite, no entanto, ela ficou feliz por ter notado o
colar. Rick iria gostar de vê-la usando o colar.
Katie calçou os sapatos de salto pretos e deu uma última olhada no espelho antes
de descer correndo pelo corredor. Foi quando ela percebeu que andar rápido nos
sapatos de Nicole era um desafio. Uma moça não corria num salto desse. Ela teria que
ir devagar. Não importava. Rick disse que ele não iria a lugar nenhum. Ele disse que
estaria esperando por ela.
Capítulo 5
Fazendo sua grande entrada no saguão do Crown hall, Katie não estava surpresa
ao ver que Rick estava falando ao celular e tinha se esticado em um dos sofás. Ele
passava muito tempo no telefone. A cabeça dele estava virada para outro lado, então
ele não notou sua chegada.

Katie sentou-se casualmente no braço do sofá e esperou que ele a notasse. Rick
virou-se para olhar para ela, e quando ele fez isso, aconteceu. Katie recebeu o olhar
que ela tanto esperava de Rick, o olhar de ruguinhas-no-canto-dos-olhos que faziam
com que seus lábios formassem um sorriso que deixava claro que ele tinha visto,
realmente tinha visto ela. Katie queria marcar este momento, ela o tinha esperado
desde que estava no colegial. Ela tinha certeza que depois de todo esse tempo Rick
Doyle finalmente tinha percebido que estava apaixonado por ela. Finalmente, isso
estava realmente acontecendo. Ela via nos olhos dele, ela via na expressão dele. Nunca
mais ela iria questionar se o coração dele estava na sua direção. Porque estava, ela
sabia disso.

Rick imediatamente terminou a ligação, fechou o telefone, e deu uma longa


olhada em Katie. Tudo que ele disse foi:

- Oi.

Katie amou que “oi” foi a única palavra que saiu de sua boca. Ela respondeu com
um “Oi” igualmente pequeno.

Rick pegou a mão dela.

- Você está maravilhosa.

- Obrigada, essa blusa é da Nicole, ela contou que eu liguei pra cá agora a pouco
em desespero?

- Não. Ei, senta aqui Ele arredou para que ela pudesse sentar ao seu lado no sofá.
Katie se acomodou embaixo de seu braço que a esperava. Ele a envolveu com os dois
braços e a puxou para perto de si.

- Eu senti sua falta.

- Não tanto quanto eu senti a sua.

Rick beijou a ponta do seu nariz. Ela se aconchegou perto dele, não muito
confortável com a idéia de ele a beijar muito ali no saguão do dormitório. Não que ela
não quisesse que ele a beijasse. E muito. Mas ela tinha a impressão que as pessoas a
estavam observando, e as expressões de afeição que ela e Rick tinham eram coisas
particulares.

- Então, aonde você quer ir comer? Katie deu um pulinho para mudar o sentido da
conversa por agora.

Rick a beijou de novo, dessa vez no lado da sua cabeça. Ele abaixou a sua cabeça e
com sua mão livre levantou o queixo de Katie em sua direção, a fim de beijá-la nos
lábios. Ela ansiosamente recebeu o beijo, mas ainda tinha aquela impressão de que os
outros alunos estavam olhando para ela.

Rick a beijou mais uma vez nos lábios, dessa vez com mais firmeza. Ele se afastou
levemente e falou bem baixinho:

- Já te disse o quanto senti sua falta?

- Sim, você disse. Katie estava surpresa que se sentia agitada com a persistente
atenção de Rick.

Eles já não tinham falado o quanto sentiam falta um do outro? Porque ele estava
tão concentrado em ser aconchegante e beijoqueiro agora? A sua aparência toda
arrumada o tinha afetado tanto assim? O braço de Rick continuava ao redor do ombro
de Katie. Ele a puxou para si.

- Eu senti falta de te segurar assim. Eu senti falta de estar com você. Você está
cheirando muito bem. Ele a beijou de novo.

Agora Katie estava definitivamente desconfortável. Ela não estava acostumada


com o Rick agindo desse jeito com ela, ou avançando assim com suas expressões ou
afeições. Katie sabia que Rick era um “lover-boy”, assim como ela sabia que ele tinha
fala mansa.

A relação deles, na maior parte, nos últimos meses, tinha sido mais no sentido
divertido e carinhoso. Eles até tinham se segurado para não se beijarem até depois
que eles estivessem namorando oficialmente por quase um ano. Eles nunca tiveram
uma “sessão de beijos longos”.6

Mas Katie suspeitava que era isso que iriam fazer se estivessem sozinhos. Ela
recebeu outro beijo dele antes de puxar sua cabeça para trás e dar
um sorriso ao invés de um beijo.

- Ei...

- Ei. Ele repetiu como um eco.

6
Do original: “Make-out session”, eu acho que essa tradução passa bem a idéia dessa expressão
- Nos devíamos decidir o que vamos fazer hoje a noite. Você sabe aonde quer ir
pra comer?

- Qualquer lugar, você escolhe.

As próximas horas foram uma continuação da relação gangorra de Katie e Rick,


onde a gangorra sempre descia pro lado de Katie. Isso também não era normal.
Katie se sentia com o poder repentinamente dado a ela. Como se ela fosse a pessoa
com o controle remoto na mão e ninguém reclamava de suas escolhas. Isso nunca
aconteceu.

Ela escolheu aonde eles iriam jantar- Um restaurante italiano não-tão-chique - e


aonde eles iriam depois para comer a sobremesa- Uma loja de sorvetes – E que música
eles ouviram no carro do Rick na ida de volta pra Rancho Corona. Durante toda a noite
Katie preencheu a conversa com detalhes sobre o que estava acontecendo nos
dormitórios e sobre suas aulas. Geralmente era Rick que tinha várias novidades sobre
seus cafés. Hoje ele falava: “O que mais está acontecendo?” e “Você não tem idéia do
quanto fica bonita quando fala rápido assim”.

Para Katie, toda essa atenção focada nela era maravilhosa, como se fosse vindo de
um mundo alternativo. Essa simplesmente não era a maneira que as coisas geralmente
funcionavam com ela e o Rick. É assim que parece pro Rick estar realmente
apaixonado por mim? 7

Katie sentiu um estranho nervosismo com esse pensamento. Convencer Rick a


decidir que ele era louco por ela foi uma meta que ela estabeleceu durante quase
metade da sua vida. Mas o que você faz quando uma meta, que demorou tanto para
ser alcançada, acontece? Pela sugestão de Katie, Rick dirigiu até a parte de cima do
campus. Ele estacionou o carro e disse a Katie para esperar. Ela ficou no banco do
passageiro enquanto Rick corria ao redor do carro para abrir a porta, oferecendo sua
mão para ajudá-la a sair. Os sapato de salto preto que tinha pegado emprestado de
Nicole faziam seus pés tremerem no cascalho.

- Eu tenho uma nova simpatia pela Cinderela agora, da pra ver como ela perdeu o
sapato. Katie segurou o braço de Rick enquanto tentava firmar seus passos. Na
verdade, Cinderela não está sozinha nessa história de perder o sapato, o meu saiu
quando eu tropecei nesse estacionamento no último mês de maio, no casamento do
Ted e da Cris, você se lembra?

- Não, quando foi que você perdeu o sapato? Rick a embrulhou com seus braços,
firmando seus passos.

7
Não sei se me fiz entender direito, o original é: Is this what it feels like for Rick to be truly in Love with
me?
- Quando eu estava correndo atrás da limousine, logo após que eu descobri a
brincadeira que você e o Douglas fizeram com Ted e Cris.

- Ah é.

Katie sabia que Rick não se lembrava disso. Agora que estava pensando, foi o Eli
que ficou de olho nela aquele dia. Foi ele que pegou o arranjo de flores de madrinha
que ela estava usando no cabelo. Aquele que disse que ela tinha perdido a aureola. E
ai ele começou a andar com as flores amassadas penduradas no retrovisor da sua
velha Toyota. Ele disse que isso lembrava a ele de orar. Rick e Katie foram em direção a
um dos bancos embaixo das palmeiras. Assim que eles sentaram, Rick a beijou. Katie
se jogou pra trás e olhou para ele antes que ele pudesse a puxar de novo para mais um
beijo.

- O que está acontecendo? Você está tipo, super gentil e ultra delicado hoje.

Rick sorriu, o mesmo sorriso apaixonado que ele tinha dado a ela mais cedo,
quando ela chegou no saguão do Crown Hall.

- Eu tenho algo que estou esperando pra te dar. Rick tirou do seu bolso uma
pequena caixa de jóia.

Katie prendeu a respiração. É agora? Agora? Não! Eu não estou pronta. Eu achei
que estava, mas não estou. Por favor Rick! Ainda não! Rick não ficou de joelhos. Ele
continuou sentado no banco ao lado de Katie e deu para ela a caixinha de jóia. Quando
ela estava com a caixa nas mãos ela percebeu que a caixa era muito grande para um
anel e muito fina também.

- O que é isso?

- Abra e você vai ver.

Katie abriu a caixa. A única luz perto deles vinha de umas luzinhas brancas
piscantes que estavam ao redor das palmeiras. Ela tinha certeza que o tesouro dentro
da caixa era uma jóia, mas ela não conseguia saber o que era. Levemente fazendo a
forma do que poderia ser um pequeno medalhão, ela disse:

- Você ganhou uma medalha de ouro nas olimpíadas e nem se importou em me


contar?

- Não, e não estrague esse momento tentando ser engraçada.

- Estragar o que? Eu não consigo adivinhar o que é isso.

- É um broche.
Rick fez a declaração com tanta finalidade que Katie sabia que a identidade do
objeto deveria ter sido obvia para ela. Mas ainda não era. Sua dúvida aumentava...

Um broche? O que exatamente é um broche?

Rick retirou o pedaço de jóia da caixa e ergueu-a para que Katie pudesse ver como
as pedras inseridas nele piscavam na luz fraca. O broche parecia uma explosão
redonda de raios dourados com muitas pedrinhas que pareciam piscar para ela.

- Isso pertencia a minha avó. A voz de Rick ficou macia novamente. Ela deu para
minha mãe. Um pouco antes do dia dos namorados minha mãe me perguntou se eu
gostaria de tê-lo para transformá-lo em algo para você.

- Então era isso que você ia me dar no dia dos namorados?

- Sim, eu planejava te fazer uma surpresa, mas ai eu percebi que não conseguiria
desenhar nada e mandar fazer a tempo do dia dos namorados. Então eu pensei que
podia ter dar nesse dia, e você poderia pensar no que gostaria de fazer com ele. Eu
estou te dando agora, quando você decidir o que quer fazer você me dá e eu mando
fazer a tempo do dia da formatura. Não será uma surpresa, mas será algo que você
goste, e isso é mais importante.

- Rick, você não tem que me dar isso, era da sua avó, é muito valioso.

- É exatamente por isso que eu quero te dar. Ele colocou o broche de volta no
algodão dentro da caixa e colocou-a nas mãos de Katie.

- Isso é importante para mim, para nós. Eu estava querendo te dar uma jóia desde
que nós nos tornamos um casal. Mas é só que com o dinheiro estando tão curto por
causa do café que vamos abrir, eu não consegui separar dinheiro suficiente para
comprar nada de valor. Quando minha mãe me deu esse broche, isso significou muito
para mim. Por isso que eu estava tão ansioso para te ver no dia dos namorados. Esse
broche significava que eu tinha algo a oferecer sabe? Eu poderia usar isso para fazer
uma jóia para você, e você poderia usar algo melhor do que esse simples colar que eu
te dei.

- Eu gosto do meu colar. Katie tocou a pedra verde no final da corrente.

- Eu queria ter dar algo melhor. Rick se inclinou e passou os dedos pela ponta dos
cabelos dela. Algo que represente a importância do nosso relacionamento. Nós
fizemos tudo certo Katie. Isso esta funcionando. Nosso relacionamento eu quero dizer.
Nós ficamos bem juntos. Eu queria ter algo que você pudesse usar o tempo todo que
simbolizasse o nosso sucesso.

Um sorriso surgiu dos lábios fechados de Katie. Ela sabia o que Rick queria dizer,
mas a sua escolha de palavras parecia engraçada para ela. O coração dele estava
definitivamente no lugar certo. Ela só nunca esperava que Rick Doyle a apresentasse
com um broche antigo e falasse que queria que isso simbolizasse o sucesso do seu
relacionamento.

- O que? Rick se inclinou para ela, tentando ler o significado de sua expressão de
contentamento.

- Isso é muito doce Rick, é mesmo, eu não sei o que dizer.

- Diga que esta feliz que eu sou o seu namorado e que você vai decidir até semana
que vem o que você quer fazer com o broche para eu mandar fazer a tempo da
formatura.

- Tudo bem, eu estou feliz que você e meu namorado e eu vou decidir assim que
puder.

- Ótimo, e se você precisar de ajuda, a Nicki talvez tenha algumas idéias.

Katie se inclinou para trás, ela ainda não estava acostumada a ouvir a Nicole sendo
chamada de “Nicki”.

- Ela já viu isso, não viu? Você mostrou para ela o broche?

- Não, ela só sabia por que minha mãe contou para ela. Eu queria que você visse
primeiro.

Katie se inclinou e deu um beijo na bochecha dele.

- Obrigada Rick, é muito amável da sua parte. Eu vou pensar em uma sugestão
assim que puder. E me desculpe pelo o dia dos namorados, e sobre a minha confusão
sobre o que estava acontecendo.

- Não precisa se desculpar. Ele a beijou antes que ela pudesse protestar de novo.
Se inclinando para trás e colocando suas mãos nas dele, Rick disse:

- Você se lembra do que você disse no ultimo natal?

- Você quer dizer sobre o eggnog da sua mãe? Eu disse que já me desculpei com
ela sobre isso. Eu não percebi que ela estava na sala ao lado da cozinha quando eu
cuspi tudo na pia. Eu não pensei...

- Não Katie, não e sobre o eggnog. Sobre nós. Você se lembra o que disse sobre o
nosso relacionamento?

- Não tenho certeza, o que eu disse?

- Alguns dias depois do natal nos estávamos no meu carro, não lembro aonde
estávamos indo, mas a gente estava conversando sobre como a gente passaria por
esse ultimo semestre. Os meses do outono tinham sido intensos para nos dois, comigo
trabalhando nos dois cafés e você com sua posição de A.R. e mudando de curso no seu
ultimo ano. Você se lembra?

- Mais ou menos.

- Eu estava dizendo como eu não achava que muita coisa ia mudar para nós nos
próximos meses, porque eu ainda estaria ocupado com os cafés e você ocupada com a
faculdade. Ai você disse:

- Então, nós vamos ter que aprender a viver ‘felizes-quase-para-sempre’.

- Ah é, eu me lembro de ter dito isso sim

- Bom, então isso será a nossa pulseira de ‘felizes-quase-para-sempre’, ou pode


ser um colar, ou o que você quiser que seja.

Ele a beijou de novo, e dessa vez foi como se até o seu beijo tivesse sido com a
intenção de simbolizar o relacionamento deles. Foi intencional e demorado.

Katie se puxou para trás. Rick tentou beijá-la de novo, mas ela disse:

- A gente provavelmente deveria voltar lá pra baixo.

-Nós vamos, daqui a um minuto. Rick envolveu seus dois braços ao redor de Katie
e falou em seu ouvido:

- Nos estamos quase lá. Você sabe disso, não sabe? Só mais algumas semanas.

Katie definitivamente teria se derretido se as palavras que Rick disse no seu


ouvido naquele momento tivessem sido “Eu te amo”. Essas são as palavras que ela
esperava ouvir.

Mas por agora o seu sussurrado “quase lá” parecia a um passo de um pedido de
casamento. Ela se aconchegou no calor do seu abraço e encostou sua cabeça no peito
dele.

Rick a segurou por um bom tempo. Ela conseguia ouvir seu coração batendo e
sentia o calor de sua respiração continua na sua cabeça. Os olhos dela estavam
abertos, sem piscar, como se ela estivesse tentando se concentrar para ver o seu
futuro. Katie olhou para a escuridão da noite ao redor deles e pensou consigo mesma
se “era isso”.

Eu vou me casar com esse homem? Eu realmente estou em casa? Porque eu sinto
como se tivesse algo faltando? O que poderia estar faltando? É isso que eu sempre
quis. Rick acabou de falar. Nós estamos quase lá. Todos os nossos desejos tão
procurados se tornarão realidade. Eu amo ele. Eu sei que amo.
- Rick?

- Hmm?

- Você esta ouvindo alguma música?

- Música? Rick parou um segundo antes de responder. Não.

Katie fechou seus olhos lentamente tentando ouvir o som do violino na sua
imaginação.

- Por quê? Você está?

- Não.

Ele se levantou do banco, empregou todo o jeito profundo de cavalheirismo que


era parte do que fazia Rick Doyle ser Rick Doyle, e gentilmente a puxou para ajudá-la a
ficar em pé.

- Então porque perguntou?

Katie permaneceu com a sua mão entrelaçada na dele.

- Nenhum motivo, estava só pensando

Rick riu:

- Acho que você já assistiu muitas comedias românticas.

- Provavelmente.

Ele deu um aperto na sua mão.

- Esse é o nosso romance Katie. Nós estamos escrevendo o roteiro. Você e eu, não
um roteirista qualquer de Hollywood.

- Então eu acho que deveria ficar ligada para saber as próximas atrações.

- Sim, você saberá, seja paciente.

- Eu estou sendo.

- Eu sei, eu também estou.


Capítulo 6
Quando Katie mostrou o broche à Nicole na manhã seguinte na lavanderia, ela
tinha quase certeza de que queria transformar as pedras em uma pulseira.

- O que você acha?

Katie escorou na máquina de lavar onde uma enorme trouxa de roupas dela
estava finalmente sendo lavada. As duas tinham se levantado cedo para um café da
manhã com a equipe de ARs às sete da manhã daquele sábado. Katie estava tão cheia
de energia depois daquela reunião que pediu a Nicole para ajudá-la a limpar seu
quarto. Em quarenta minutos as duas tinham feito um admirável progresso.

Nicole tirou um dos lençóis limpos de Katie da secadora.

- É lindo.

- É, lençóis limpos são os melhores, não são? Katie levou o lençol que Nicole tinha
jogado pra ela ao nariz e sentiu o cheiro de lavanda e gardênia vindo do tecido.

- Eu quis dizer que o broche é lindo.

- Ah. Sim. É, ele é lindo. Tenho certeza que é muito valioso. Só que é algo que eu
nunca usaria. Rick deixou claro que quer que eu o use, independente do que eu decida
em quê eu quero transformá-lo. Eu não sou muito de usar jóias, você sabe. Eu acho
que pulseira é a decisão mais segura. Ou colar. Não sei. Eu estou indecisa entre um ou
outro.

- Estou certa de que o quer que você decida vai ficar ótimo.

Nicole segurou uma das pontas do lençol, e Katie pegou a outra ponta. As duas
dobraram bem o lençol, o que, para Katie, parecia inútil, já que ela iria colocá-lo de
novo na cama.

- Nicole, é pra você ter uma opinião sobre isso. Rick disse que era pra eu te
perguntar o que você faria.

- Ele disse?

- Disse. Então, se ele tivesse dado o broche pra você, o que você faria com ele?

Nicole apertou os lábios e focou o olhar na porta aberta da secadora e não em


Katie.

- Eu deixaria o broche como ele é. E encontraria um jeito único de usá-lo.

- Como? No cabelo?
- Talvez. Nicole olhou para seu telefone e mandou uma mensagem para alguém
que tinha acabado de ligar pra ela.

- Posso te perguntar uma coisa? Katie se impulsionou pra sentar em cima da


secadora.

- Você acha que eu e Rick combinamos?

Os olhos de Nicole flamejaram em Katie enquanto o restante de seu corpo não se


moveu. Ela parecia estar estudando a expressão de Katie.

- Por que você tá perguntando isso?

- Não sei. Às vezes eu me pergunto se Rick e eu fomos mesmo feitos um pro outro.
E outras vezes é como se todos os meus sonhos estivessem se tornando realidade bem
na minha frente.

- É assim que você se sente em relação a ele agora? Que seu sonho está se
tornando realidade?

- Sim, claro. Eu acho. Quero dizer, sim. Com certeza. Katie pulou da secadora e
andou de um lado para o outro. É que eu nunca estive assim, tão perto de alguém.
Bem, com exceção do Michael no colégio, mas não era a mesma coisa. O Rick é tão
carinhoso, e tudo está indo bem. Muito bem. Eu acho que estou enlouquecendo.
Como é que o nome daquele negócio; quando você não quer arruinar algo, mas acaba
arruinando tudo?

Nicole ainda não se movia. Apenas seus olhos escuros continuavam fixos em Katie
enquanto essa andava pra lá e pra cá.

- Você quer dizer auto-sabotagem?

- Isso. Katie estalou os dedos. É isso que tá acontecendo comigo. Eu estou


considerando auto-sabotar nosso relacionamento, não estou? Por que eu faria isso? Eu
só posso ser louca.

Nicole franziu a testa, e voltou o olhar para a tela de seu telefone.

- Eu tenho que ir, ela disse calmamente. Te vejo mais tarde.

- É, te vejo mais tarde. Obrigada de novo pela ajuda com meu quarto e as roupas e
tudo. Você é a melhor, Nicole.

Nicole já estava do lado de fora quando Katie disse a última frase. Ela checou a
segunda secadora, que tinha acabado de parar de rodar enquanto ela andava de um
lado pro outro na lavanderia. A calça jeans dela ainda estava úmida, por isso ela
colocou a máquina pra funcionar por mais vinte minutos e retornou com seus lençóis
com cheiro de flores-primaveris ao seu quarto limpo.

O telefone celular dela vibrou, e Katie estava feliz por ver que a ligação era de tio
Bob.

- Ei, eu estava me perguntando quando eu ouviria notícias suas.

- Eu acho que você vai entender melhor o motivo da espera quando vir o que eu
tenho pra você com relação ao carro. Quando você acha que pode vir aqui pra esses
lados?

- Não sei. Talvez hoje mais pro fim da tarde. A Cris me chamou pra ajudá-la a
cuidar do bebê do Douglas e da Trícia. É provável que nós possamos ir aí depois. Eu
tenho que confirmar com a Cris. Dá mais de uma hora da casa do Douglas em Carlsbad
até a sua casa, não é?

- No mínimo uma hora.

- Então eu acho que nós podemos chegar aí lá pelas sete da noite. Seria muito
tarde?

Katie ouviu uma voz ao fundo, e Bob acrescentou:

- A Marta disse que vocês deveriam passar a noite aqui com a gente. O tempo está
ótimo. Ela disse... Espera. Aqui, ela mesma vai falar.

Um minuto depois Katie ouviu a voz estridente da tia de Cris no telefone.

- Vocês precisam de um momento de amigas. Era isso que eu estava tentando


explicar ao Robert. Vem pra cá e passe a noite. Nós três teremos todo o dia de amanhã
para passarmos juntas.

- É mesmo muito generoso da sua parte, mas eu não sei se...

- Eu vou levar vocês duas pra fazer compras e almoçar, Marta rapidamente
prometeu. Por minha conta. Faz muito tempo que eu não mimo vocês. Nós estamos
devendo umas as outras um tempo juntas.

Desde quando a tia Marta me considera uma de suas “meninas” e me leva pra
fazer compras? Essa é a técnica dela com a Cris. Eu nunca estive na lista de pessoas
favoritas da Marta. O que está acontecendo?

- Eu preciso ligar pra Cris pra ver se ela pode ficar fora tanto tempo assim. Eu
tenho muita coisa pra estudar, e eu preciso fazer um trabalho esse fim de semana.
- Você pode fazê-lo aqui, não pode? Nós redecoramos o andar de cima
recentemente. A Cris te contou? O quarto de hóspedes está duas vezes maior. Tem um
mesa e uma cadeira colocadas bem debaixo da janela onde você pode estudar, e Cris e
eu podemos ir às compras e trazer algo pra você. O que você me diz?

Katie não sabia o que fazer com o comentário de Marta. Tudo que Katie sabia era
que se ela pretendia ter algum trabalho feito nesse fim de semana, ela deveria
permanecer trancada em seu quarto.

- Ah, aqui. O Robert quer te falar algo agora.

- Ligue pra gente quando você puder, Katie.

- Ok. Obrigada. Ligo sim.

Ela pôde ouvir a voz de Marta ao fundo antes de Bob desligar.

- Você não está desligando, né?

Katie sorriu enquanto ligava para Cris. A possibilidade de ir até a casa de Bob e
Marta em Newport Beach era bem tentadora. Assistir os dois terem um
relacionamento tão bem sucedido apesar de terem personalidades tão diferentes era
divertido. Ainda assim, Katie sabia que se ela fosse, ela iria fazer zero de dever.
Entretanto, quando ela seria convidada à casa de Marta de novo? Já fazia um ano
desde que Katie tinha ido lá. Bob sempre se certificava de que eles tinham abundância
de coisas deliciosas para comer. Katie só estava escalada para trabalhar na segunda.
Mesmo assim, ela não deveria ir.

Por outro lado, ela tinha pedido Bob para ajudá-la a encontrar um carro, e era essa
a razão pela qual ela estava indo em primeiro lugar. Fazia sentido passar a noite já que
seria, pelo menos, duas horas e meia dirigindo de volta à faculdade. Três horas, se o
tráfego do fim de semana estivesse pesado. Entretanto, se ela fosse honesta consigo
mesma, ela não precisava comprar um carro até o fim do ano letivo. O melhor uso de
seu tempo agora seria diminuir o ritmo, focar nas aulas, terminar seus trabalhos logo,
trabalhar as horas extras que ela tinha acumulado quando ela estava doente, e botar
seus encontros com Julia em dia. Cris não precisava que Katie fosse com ela pra cuidar
do bebê Daniel. Qualquer que fosse a oferta que Bob tivesse conseguido no novo carro
dela, outra oferta apareceria. Ela deveria se trancar em seu quarto e trabalhar o
máximo que pudesse com seu tempo livre disponível.

Seria a sábia, sensata, e responsável coisa a se fazer com o restante do fim de


semana. E era isso que ela deveria dizer à Cris.

Duas horas mais tarde, com seus sacos de dormir embrulhados no porta-malas do
Volvo de Cris, Katie e Cris dirigiram morro abaixo da Universidade Rancho Corona.
Eu não deveria estar fazendo isso. Mas nós já estamos a caminho, e não vou
mudar de idéia. Uma vez que eu decidi fazer uma coisa, eu sigo em frente. Mesmo que
isso exija muita luta interior antes de eu decidir.

- Então, me explique porque nós estamos indo para casa dos meus tios depois de
cuidar do Daniel? Não ficou muito clara pra mim essa parte na nossa conversa pelo
telefone.

- Sua tia nos convidou. E como eu disse, eu pedi seu tio para ficar de olho em um
carro pra mim, e aparentemente ele encontrou um.

Katie pegou um livro em sua mochila aos seus pés.

- Eu vou ficar anti-social agora. Eu preciso mesmo usar um pouco desse tempo de
viagem para terminar minha leitura. Se eu conseguir terminar tudo que eu preciso
nesse fim de semana, eu tenho certeza que vou ganhar o Prêmio de Mulher
Multifuncional do Ano. Você não vai querer que eu perca, não é mesmo?

- Não, de jeito nenhum. Eu já sei que você pode fazer tudo. Você é ótima nisso.
Você conquista seus objetivos, qualquer que sejam eles. Ninguém te impede de fazer
isso.

Cris hesitou e então acrescentou:

- Por favor, não se ofenda, mas pela última vez, eu só quero ser aquela doce voz
na sua cabeça que te dá uma permissão.

- Permissão pra quê?

- Pra mudar de idéia se você quiser.

Katie não soube por que as palavras calmamente ditas por Cris penetraram tão
fundo em seu interior. Talvez porque Cris era a uma das poucas pessoas para qual
Katie sentia que não precisa provar quem ela era. Cris conhecia Katie mais do que
qualquer outra pessoa. Muito mais que Rick sabe sobre ela. E Cris sempre aceitou
Katie por quem ela era, o quê ela era, e onde ela estava durante um período particular
de sua vida. Cris era o creme e o açúcar da xícara de chá de Katie. Ela era tudo que
uma melhor amiga deveria ser. 8

E ela estava dando à Katie, a liberdade de mudar de idéia. De admitir que ela não
estava fazendo uma boa escolha. De dar meia volta e voltar para o dormitório.

8
Aaaah, alguém mais achou lindo o jeito que a Katie falou da Cris? Meus olhos encheram d’água. Mais
do que em qualquer momento dela com o Rick.
- Não, é isso que eu quero fazer, Katie disse. Você dirige. Eu leio. Você cuida do
bebê. Eu faço meu trabalho. Você dirige até a casa dos seus tios. Eu durmo no
confortável quarto de hóspedes e como a deliciosa comida deles. Vai dar tudo certo.

Um sorriso surgiu no rosto de Cris.

- Por que você está com esse sorrisinho aí?

- Não estou com sorrisinho nenhum. Estou lembrando. Lembrando do que eu


passei há um ano quando eu estava no seu lugar, tentando terminar meu último
semestre e planejar um casamento em cima disso tudo.

- Bem, eu não estou planejando um casamento. Eu não consigo nem planejar uma
pulseira.

- Planejar o quê?”

O livro de Katie permaneceu fechado enquanto ela colocava Cris em dia dos
detalhes sobre Rick e o encontro beijoqueiro e carinhoso deles na noite anterior. Katie
descreveu o broche, o símbolo do relacionamento ‘quase-felizes-para-sempre’ deles e
então pulou pr’aquela mesma conversa de certezas-incertezas que ela teve com Nicole
de manhã na lavanderia.

- É como se eu estivesse sabotando a mim mesma, não é? Por que eu faria uma
coisa dessas?

- É como se suas emoções estivessem naquelas roletas humanas dos parques de


diversão.9

- Achei que você ia falar que minhas emoções estavam numa montanha-russa.

- Não. Montanhas-russas vão pra cima e pra baixo. Você está no seu último
semestre de faculdade e envolvida num sério relacionamento. Eu diria que suas
emoções estão mais numa grande roleta. Você sabe, aqueles grandes brinquedos onde
você gira num grande círculo e vai pra cima e pra baixo tudo de uma vez.

- Eu sei o que é uma roleta humana.

- Então dê a si mesma bastante misericórdia, como você me deu ano passado.


Você esqueceu como era impossível conviver comigo?

- Eu não me lembro de você ser impossível de conviver.

9
Não encontrei um nome só pra traduzir esse brinquedo. O nome em inglês é Tilt-a-Whirl. Ta aí uma
foto. http://www.fotosearch.com/CSP031/k0310854/
- Bem, eu me lembro. Com uma mão no volante, Cris estendeu a outra mão e deu
um tapinha confortador no ombro de Katie. Tente não se pressionar demais. O Rick
não está te pressionando. Apenas deixe as coisas girarem por si só e chegarem a uma
conclusão natural.

- Agora você está falando igual ao Eli.

- Estou?

- Está, eu estava conversando com ele há umas semanas atrás sobre onde eu vou
morar depois que eu me formar, e ele disse que eu deveria ir pra África.

Cris gargalhou.

- Eu acho que ele estava falando meio sério. Ele disse que eu deveria experimentar
um novo círculo de vida antes que eu me case, e ele acha que eu experimentaria isso
se fosse pra África.

- Ele não disse ‘círculo de vida’ mesmo, né?

- Eu acho que foi isso que ele disse. Ou tirei isso do Rei Leão? Minhas referências
africanas devem estar se misturando. Deve ser o efeito da roleta humana que você
estava falando. Eli disse que minha mente é cheia de linhas curvilíneas que ficam
girando, e quando uma linha se cruza com outra, eu nunca sei quando uma linha parou
e onde a outra começou.10

- Eli disse isso, hein?

Katie acenou com a cabeça.

- Ele é um rapaz observador.

- É, é sim.

Katie abriu seu livro e fez um esforço pra encontrar onde tinha parado de ler mais
cedo naquela semana. Parecia que uma de suas linhas curvilíneas tinha cruzado com
outra, e agora seus pensamentos estavam em terras distantes, onde girafas galopavam
e leões repousavam.

- Você acha que eu deveria ir ao Quênia?

Cris olhou pra ela e de volta pra estrada.


10
Esse ‘círculo da vida’ de que a Katie está falando é o nome de uma música do filme ‘O Rei Leão’.
Aquela música que toca quando o Simba é apresentado ao reino animal pelo babuíno. Ta aí o clipe da
música em inglês: http://www.youtube.com/watch?v=vX07j9SDFcc
- Quando? Por quê?

-Eu acho que essa idéia de ir pra África me fascina um pouco.

Cris gargalhou.

- Eu acho que acabei de descobrir uma coisa. Katie se ergueu, ajeitando sua
posição e balançou vagarosamente a cabeça. Eu não quero perder uma aventura, não
é? É isso, não é mesmo? Eu estou questionando os meus sentimentos pelo Rick porque
eu tenho medo de que eu perca algo se ele e eu seguirmos em frente e ficarmos
noivos em breve. Só pode ser esse o motivo pelo qual eu fico hesitante. Eu sei como
será a vida com ele. Rick é uma linha reta contra todas as minhas linhas curvilíneas. Ele
estabelece um objetivo e corre atrás dele.

- Você também.

- Eu sei, mas eu amo ter a liberdade de escolher um novo objetivo a cada quinze
minutos. Rick escolhe um objetivo e fica com ele por meses. Anos.

- Isso é uma grande qualidade de liderança.

Katie acenou positivamente com a cabeça.

- Sim, mas nós ainda somos jovens. Há muito lá fora pra se ver. Você não se
lembra de como foi ótimo alguns verões atrás quando você, Ted e eu viajamos pela
Europa?

Uma expressão sonhadora tomou conta do rosto de Cris.

- Eu penso muito naquela viagem. As coisas eram tão simples naquela época. Eu
sei que eu reclamei enquanto nós estávamos viajando, mas agora eu penso em como
isso foi uma das melhores coisas que Ted e eu fizemos juntos antes de nos casarmos.
Eu amei estar com ele, e com você, e compartilhar tantas experiências maravilhosas
juntos.

Katie se inclinou pra frente.

- É exatamente isso que estou dizendo. Eu quero ter uma experiência dessas com
o Rick antes de nos casarmos. Ou, bem, se nós nos casarmos. Antes de noivarmos, pelo
menos. Eu quero experimentar coisas novas com ele. Ele e eu estamos enfiados na
mesma rotina o nosso relacionamento inteiro.

Katie cruzou os braços e reclinou no banco do carro, contente e convencida.

- Está resolvido. Rick e eu vamos pra África.

- E como exatamente você acha que Rick vai aceitar essa idéia?
Katie não respondeu imediatamente.

- Eu posso convencê-lo. Ele verá assim que eu explicar porque nós precisamos ter
esse tipo de experiência. Nós iremos depois que eu me formar, depois que o café abrir.
Só por uma semana ou duas. Nós iremos com o Eli quando ele for. Vai ser tipo quando
nós fomos à Europa e o Antônio viajou com a gente na Itália e nos levou até a casa dos
pais dele. Se nós formos com o Eli, ele pode nos mostrar tudo. Essa será a coisa mais
importante e definidora que Rick e eu já fizemos juntos. Eu estou pensando aqui
quando será que nós precisamos tomar nossas vacinas contra tifóide. Em breve,
acredito eu. Eu acho que o Eli disse que nós precisamos tomar vacinas contra febre
amarela também.

- Eita, Katie! Antes que você se imunize contra todas essas doenças tropicais, você
não acha que deveria falar com o Rick sobre isso?

- Como eu disse, eu vou convencê-lo. Qual o melhor momento pra ir do que nesse
verão?

Os argumentos de Cris pareciam ter acabado. Katie tirou vantagem do silêncio


dela pra seguir uma maravilhosamente longa e curvilínea linha em sua mente que
continha muitas informações sobre a África, Quênia, e projeto de água limpa que o pai
de Eli estava envolvido. Depois de trabalhar tão perto de Eli no levantamento de
fundos, Katie sabia muito mais sobre a África do que ela tinha percebido. Ela contou
pra Cris como o dinheiro estava tornando possível que pesados maquinários fossem
levados até vilarejos remotos onde as pessoas estavam morrendo por falta de água
limpa. Novos poços estavam sendo cavados. Vilas inteiras estavam se tornando
saudáveis depois de anos perdendo pessoas por causa de disenteria e outras doenças.

- Eli disse que o versículo sobre oferecer um copo de água fria no nome de Jesus
está acontecendo, literalmente, por causa desses poços, e crianças que estavam à
beira da morte agora estão ficando saudáveis. Escolas estão começando, e há colheita
em áreas que antes eram áridas. É um mundo totalmente novo lá, Cris. Muito precisa
ser feito para ajudar. Você pode imaginar como seria ótimo se Rick e eu pudéssemos ir
depois que eu me formasse e passássemos um mês lá só pra ajudar?

- Então agora passou de uma semana pra um mês?

- Ou o verão inteiro. Eu acho que seria incrível. A melhor coisa que nós já fizemos.
A gente sempre pode arrumar um lugar pra morar, e ele sempre pode abrir outro café.
Mas isso! Uma chance de ir à África – isso seria demais.

Cris não respondeu.

A imaginação de Katie rodopiou em meio às possibilidades. Ela se sentiu mais feliz


do que já se sentira em muito tempo.
- Nós podemos fazer isso. Não vai ser tão difícil arranjar tudo. Eu deveria mandar
uma mensagem para Eli para descobrir o dia que ele vai embora. Nós três poderíamos
pegar o mesmo vôo.

- Katie, você tem certeza que quer fazer isso sem primeiro dar a chance ao Rick de
expressar a opinião dele?

- Eu não vou contar a Eli que nós estamos indo; só vou colher informações. Seus
dedos tinham terminado de escrever a mensagem e estavam prontos para apertar o
Enviar.

Com um olhar para Cris, ela disse:

- Por que você tá me olhando com essa cara de brava? Você acha que eu estou
indo rápido demais?

- Eu acho que você embarcou numa linha bem curvilínea, e ela está te levando
numa direção muito louca.

- É, mas por que não? Katie colocou seu telefone no colo. Eu quero fazer isso, Cris.
Tem algo de errado comigo em preferir ir a um vilarejo africano depois que eu me
formar ao invés de sair pra comprar um anel de noivado e um vestido de noiva?

- Não, não há nada de errado com você, Katie. Nada mesmo.

- Mas você acha que eu deveria ir mais devagar. Dar um passo de cada vez.

- Um passo de cada vez é sempre uma boa coisa a se fazer.

- Tá bom. Katie deletou a mensagem para Eli. Eu vou falar com Rick primeiro. E
agora eu suponho que você vai me dizer que eu deveria orar sobre isso tudo.

- Isso também é sempre uma boa coisa a se fazer.

Katie voltou a se focar em seu livro enquanto Cris dirigia. Ela sabia que deveria
orar, mas ela não estava pronta pra falar com Deus sobre isso. Ainda não.
Capítulo 7
Katie acabou não estudando durante o restante da viagem até Carlsbad e até a
charmosa casa na praia onde Douglas e Trícia moravam. A distância dera à Katie tempo
para “esticar” suas linhas curvilíneas de pensamento e colocá-las em organizadas e
retas fileiras. Pelo menos, naquele momento, eles pareciam ser organizados e “retos”
pensamentos. Quando seus pensamentos estavam esticados daquela forma, eles
pareciam estar dormentes. Adormecidos. Incapazes de girarem pela sua imaginação.

Katie sentiu como se toda a animação tinha sumido. Era coisa demais pra se
pensar naquele momento.

Douglas as recebeu na porta e envolveu Cris em seus braços e depois Katie, dando
as boas vindas a elas com um caloroso e firme abraço. Katie tinha se esquecido do
quão maravilhoso era receber um abraço de Douglas. Ela sentiu um sorriso surgindo
dentro de seu espírito quando ela entrou na casa de Douglas e Trícia. Essa casa
continha vívidas memórias da noite em que Cris e Ted ficaram noivos. Isso foi quando
e Katie e Rick se reencontraram, conversando a noite toda e trabalhando lado a lado
na manhã seguinte ao fazerem omeletes para todos. As alegres sensações dos
momentos iniciais de se apaixonar estavam flutuando pelo ar enquanto ela olhava a
sua volta e se lembrava de sentar no sofá com Rick, trocando sorrisos e sentindo as
primeiras flores brotarem depois de um longo inverno de esperanças escondidas.

Nota a si mesma: Você deve estar louca por pensar em ir à África. O que você tem
aqui com o Rick é tudo que você sempre quis. Lembra?

Trícia entrou na sala de estar e seu rosto em formato de coração estava corado.

- É muito bom ver vocês duas! Obrigada por fazerem isso por nós.

O bebê Daniel estava nos braços dela, timidamente encolhendo o queixo e se


agarrando à Trícia.

- Ele está enorme! Katie falou. Qual a idade dele?

- Quase nove meses. Dá pra acreditar? Qual foi a última vez que você o viu?

- Não lembro, mas ele era bem miudinho, Katie falou. Ele dormia a maior parte do
tempo.

- Aqueles dias se foram, Douglas disse. Agora ele está ativo o tempo todo, não é
mesmo, Dani boy?

O loirinho Daniel virou-se e olhou para Katie e timidamente se enrolou de volta


em sua mamãe.
- Eu estava tentando o colocar pra dormir, Trícia disse. Mas eu acho que ele sabe
que tem algo acontecendo.

Cris esticou as mãos e sorriu. Com uma voz mansinha ela disse:

- Você me deixa te carregar? Vem cá.

Levou alguns minutos, mas Daniel decidiu quebrar o gelo e deixar Cris pegá-lo dos
braços de Trícia.

- Você tem jeito com crianças, Katie disse brincando.

- Tem mesmo, Douglas concordou. Da última vez que ela e Ted estiveram aqui,
Daniel quis que ela o segurasse o tempo todo. Ei, é melhor que nós saiamos enquanto
podemos. Todas as informações estão no balcão da cozinha. Nós planejamos estar de
volta por volta das quatro.

- Está ótimo, Cris disse. Divirtam-se. Nós ficaremos bem aqui.

Cris caminhou até a cozinha com Daniel nos braços e foi até pia enquanto Douglas
e Trícia saíam pela porta da frente. Katie assistia enquanto Cris apontava para alguns
pequenos objetos no peitoril da janela acima da pia e falava com Daniel em voz baixa.

- Você é mesmo natural com crianças, Katie disse.

- Eu aprendi bastante no ano em que trabalhei no orfanato na Suíça. Crianças só


querem se sentir seguras. Não é, Daniel? Você lembra de mim, não lembra? Ah, você é
tão lindo. Você faz idéia do quão lindo você é? Você, definitivamente, tem os olhos da
sua mamãe.

- Enquanto vocês dois ficam aí nessa seção guti-guti, eu vou pegar minha mochila
do carro e fazer meu trabalho. Katie abriu a porta da frente bruscamente,
acidentalmente deixando a “tela” da porta bater. Ela se encolheu. Um segundo depois
ela ouviu Daniel gritar.

Ops. Isso não é bom.

As três horas seguintes se tornaram o tempo mais difícil de estudo que Katie se
lembrava de ter tido. Mais tarde ela admitiu que deveria ter desistido e só ajudado Cris
a manter Daniel entretido. Ele não dormiu, como Trícia disse no bilhete que poderia
acontecer. Ele estava feliz e interessado em brincar uma hora, depois ele queria
engatinhar até a parede onde o laptop de Katie estava plugado. Quando Cris o
impedia, ele gritava.

- Eu não fazia idéia de que crianças poderiam ser tão cansativas, Katie declarou
quando Douglas e Trícia retornaram. Como vocês agüentam? Quero dizer, ele é
adorável, mas você tem que vigiá-lo a cada minuto. Ele manteve Cris ocupada o tempo
todo.

- Eu não liguei nem um pouco, Cris disse. Ele foi perfeito. Não foi, Dani boy?

Trícia deu um abraço em Cris.

- Você vai ser uma ótima mãe. Vocês duas serão.

Katie não conseguia se ver como mãe. Pelo menos não em breve. Ela se
perguntava se Ted e Cris estavam pensando em começar uma família. Fazia um tempo
desde que ela conversara com Cris sobre detalhes mais pessoais de seu casamento
com Ted. Ele estava trabalhando como pastor dos jovens na igreja deles e parecia estar
ocupado o tempo todo. Katie não se lembrava da última vez que o viu.

Ela teria que colocar a conversa em dia com Cris assim que botassem o pé na
estrada no caminho para a casa de Bob e Marta em Newport Beach.

Ao invés de irem embora logo, elas ficaram um pouco conversando com Douglas e
Trícia, que tinham usado o tempo fora para procurar por uma casa nova. A pequena
casa deles estava pequena demais agora que Daniel estava crescendo e Douglas estava
trabalhando meio período em casa em consultoria de projetos para negócio de
investimentos financeiros que um parente dele o tinha arranjado.

- Algum progresso na questão da casa? Cris perguntou.

- Não, Trícia disse. Nós temos uma idéia melhor do que nós não queremos e o que
não podemos comprar. Não acho que vamos mudar tão cedo. Nós teremos que ser
mais criativos com o espaço que temos aqui.

- Rick foi esperto de ter comprado os dois cafés naquela época. Douglas falou. Ele
me colocou em dia dos acontecimentos há algumas semanas, e eu tenho que dizer, ele
foi mesmo muito inteligente nesse negócio. Ele e o irmão estão esperando ganhar um
bocado de dinheiro.

- É isso que ele me diz, Katie disse.

- Sabe, eu estava pensando um dia desses sobre quando Rick, Ted, e eu dividimos
um apartamento nos nossos dias na UC San Diego. Quanto tempo tem isso? Cinco
anos? Não, tem que ser pelo menos seis. Enfim, é muito massa ver como as coisas
estão agora, não é?

Katie sorriu. Ela não apenas tinha se esquecido do jeito todo-envolvente, caloroso,
e firme que Douglas abraçava, mas ela também tinha se esquecido que massa era a
palavra favorita dele.
- É, e falando em massa, quem iria um dia adivinhar que seria eu que ficaria com o
Rick?

- Eu que não! Douglas soltou. “Você é a última pessoa em quem eu teria...

Trícia lançou um olhar pra ele que o fez retroceder.

- Quero dizer, quem imaginaria que vocês dois seriam os últimos de nós a se
casarem? Você é a maçã do topo, Katie. O Rick é um homem abençoado… Quero dizer,
isso é, se vocês dois estão chegando perto de... anunciar algo em particular...

- Douglas, você pode parar a hora que você quiser, Katie disse.

- Que bom. Eu não devia ter me metido nesse assunto, né? Falei mais que a língua.

Katie sorriu. Ela gostava de Douglas. Ela sempre gostou. Quando o assunto era
falar mais que a língua, no passado, Katie era quem, freqüentemente, ia fundo nessas
conversas, e Douglas era quem a oferecia um pára-quedas. Era bom, na verdade, estar
do outro lado agora, era ela quem estava amortecendo a queda dessa vez.

- Mudando de assunto, Trícia disse, pegando um caminhãozinho de brinquedo e


entregando a Daniel, o que a equipe da igreja decidiu com relação a posição de Ted?
Eles vão manter o trabalho dele em tempo integral?

- Do que vocês estão falando? Katie perguntou.

- Eu não te contei ainda, mas Ted descobriu semana passada que a igreja está
cortando pessoal, e ele é a última pessoa que eles admitiram. Eles devem cortar
algumas horas dele e pedirem pra ele trabalhar meio horário. Mas eles ainda não
pediram.

- Meio horário? Como é que o Ted poderia fazer tudo que ele faz em meio
horário? Se eles tivessem que fazer alguma coisa, seria contratar um assistente para
ajudá-lo.

Cris deu de ombros.

- Eles estão passando por um tempo difícil na igreja no momento. Até agora, Ted
ainda está empregado. Nós veremos o que acontece, entretanto.

Katie não fazia idéia de que algo fora do normal estava acontecendo na igreja.
Mas também, ela só ia à igreja aos domingos de manhã, e mesmo assim, não era todo
domingo. Essa era uma rotina desde o semestre passado que Katie planejava mudar
assim que terminasse a faculdade.

Por falar nisso, ela se lembrou de uma conversa que teve com Ted uns meses
atrás. Ela tinha falado com ele que assim que o verão chegasse, ela poderia se
voluntariar para as programações com o grupo de jovens, assim como ajudar nos
domingos e com os eventos.

Eu acho que não vou ser de muita ajuda para Ted se eu for pra África nesse verão.
Se ele tiver que trabalhar meio horário, ele vai precisar de mais ajuda que nunca.

Douglas, Cris e Trícia continuaram conversando, mas a atenção de Katie voou para
outro lugar. Ela se perguntava se as mesmas borboletas no estômago que ela sentiu
quando pensou pela primeira vez em viajar pra África continuariam lá se ela ajudasse
Ted com o grupo de jovens. Era a expectativa de estar livre da faculdade e dos estudos
que estava impulsionando Katie a se apressar para fazer novos planos?

Há uma coisa que eu sei com certeza. Meu julgamento a respeito de qualquer
assunto não é confiável. Katie confessou seus sentimentos de incerteza à Cris
enquanto elas dirigiam na Interestadual 5 para Newport Beach.

- É o stress, não é? Eu acho que preciso tomar uma vitamina pra diminuir o stress.
Você pode parar na primeira farmácia que encontrar? Talvez eu precise de mais cálcio
também. Minhas unhas não têm crescido quase nada o semestre inteiro. Leite tem
muito cálcio, não tem? Pega a próxima saída, pode ser?

- O que você quer? Vitaminas ou leite?

- Eu estava pensando mais em um milkshake. Eu pago. Quando foi a última vez


que você teve um concentrado, calórico, feliz milkshake de baunilha?

- Chocolate, Cris a corrigiu. Se eu vou beber esse tanto de calorias, será,


definitivamente, chocolate. E você está certa. Tem muito tempo. Vamos encontrar um
lugar que sirva milkshake antes de chegarmos à casa dos meus tios e a Tia Marta me
coloque numa dieta de soja pelo restante da nossa estadia.

- Tia Marta não faria isso!

Cris gargalhou.

- Você não conhece minha tia. O primeiro verão que eu fiquei com eles, eu desci
para tomar café numa manhã, e o tio Bob estava fazendo waffles...

- Ooh, waffles. Agora eu fiquei com fome. Katie cruzou os braços sobre seu tronco.

Mesmo depois de Trícia ter tido que elas podiam se sentir á vontade para comer o
que quisessem, tanto Cris quando Katie acharam meio engraçado assaltar a quase
vazia geladeira deles.

- Então, meu tio me serviu um waffle quentinho, cheio de manteiga derretida em


cada quadradinho e a quantidade certa de cobertura.
- Para! Você está me torturando!

- Foi exatamente assim que eu me senti quando minha tia entrou na cozinha e
gritou estridentemente. Imagina você, eu só tinha quinze anos e pesava, pelo menos,
cinco quilos a menos do que peso hoje. Eu estava pronta para dar minha primeira e
deliciosa mordida, mas Marta...

- Ooh, eu adoro quando você a chama assim! Isso ta ficando bom!

- Minha tia Marta vem marchando na cozinha, arranca o garfo das minhas
desejosas mãozinhas, e bate algo horrível e nojento, mas decididamente nutritivo no
liquidificador. Ela me diz o que uma mocinha deveria beber no café da manhã se
quisesse ter cabelos sedosos e pele limpa, ou qualquer coisa assim.

- Você bebeu?

Um sorriso malicioso surgiu no rosto de Cris.

- Não. Eu derramei na pia – na frente do meu tio, sem mais. Eu me senti a


adolescente mais rebelde na face da Terra! Daí eu comi o máximo de waffles que
consegui enfiar na minha boca.

Katie caiu na gargalhada.

- Eu acho que nunca ouvi essa história. Isso é um clássico.

- É, é sim. Eu estou feliz por nós estarmos indo lá hoje á noite. Eu preciso me sentir
jovem de novo.

- E talvez um pouquinho rebelde?

Cris ironizou uma expressão de choque.

- Rebelde? Ah, sim, com certeza! O que deveríamos fazer? Deixar nossas toalhas
molhadas no chão do banheiro? Colocar nossos pés sobre a mesa? Não, já sei. Nós
vamos fazer waffles hoje á noite. Com cobertura e creme de chantilly.

- Você está demais, hein? Nada de fazer waffle pra mim. Não depois do desastre
da pipoca de microondas na cozinha da sua casa no outono passado.

- Eu quase me esqueci disso. Cris acionou a seta do carro, preparando para virar o
carro em direção a um restaurante fast-food. Eu aposto que eles tem milkshakes aqui.
O que você acha?

- Eu acho que nós vamos nos presentear com grandes milkshakes. E batata frita.
Nós podemos mergulhar nossas fritas no milkshake.
Cris dirigiu o carro até o drive-through e esperou a voz da atendente surgir no
auto-falante.

- Nós vamos querer dois milkshakes de chocolate e uma batata frita grande.

- Não, um milkshake de baunilha, Katie mudou de idéia. Um de baunilha e um de


chocolate. E duas batatas fritas.

- Mais alguma coisa?

- Não.

- Ah, olha, cachorros-quentes de chili e queijo! Katie estava passando o olho no


menu. E anéis de cebola. Eu estou ficando com muita fome.

- O total da sua compra estará na janela. A atendente disse.

Elas dirigiram mais pra frente e rapidamente receberam duas cheias sacolas de
comida. A atendente as informou o total, e era muito mais do que o esperado.

- Eu acho que está errado, Cris disse. Nós devemos ter recebido a comida de outro
cliente. Nós pedimos um milkshake grande de baunilha, um de chocolate, e duas
batatas fritas grandes.

A atendente checou o pedido.

- Certo, e você também pediu dois cachorros-quentes e anéis de cebola.

- Não, nós não pedimos isso, Katie disse. Eu só estava dizendo ‘Olha, eles tem
cachorros-quentes de chili e anéis de cebola.’ Viu o que aconteceu? Eu só estava
comentando o que vocês tem no menu, caso eu queira algum dia.

A atendente olhou tão confusa que Katie disse, Deixa pra lá. Aqui, eu pago. Nós
vamos levar tudo. Ela entregou mais dinheiro do que o valor total da compra para a
atendente. Pode ficar com o troco. E tenha um bom dia.

- Obrigada! A moça aparentou muito agradecida.

Cris dirigiu para fora do lugar e disse:

- O que nós vamos fazer com toda essa comida?

Katie pegou a sacola e puxou uma batata frita.

- Acho que vamos ter que comer. Você quer que coloque o canudinho no seu
milkshake pra você?

- Sim, obrigada. Cris escorregou sua mão dentro da sacola e puxou algumas
batatas fritas. Estão quentes. Nada como uma boa e quente batata frita.
As duas amigas comeram durante todo o caminho até Newport Beach. Mesmo
elas estando super famintas quando saíram de Carlsbad, as duas se sentiram
desconfortavelmente cheias quando Cris estacionou seu Volvo na estreita área de
estacionamento perto da casa da praia de Bob e Marta.

- Eu estou com vontade de dar um super arroto agora. Katie levou a mão á boca.

- Não se atreva! Você tem que ter modos aqui, Katie. Você sabe disso, né?

- Sim, claro que eu sei. E se nós entrarmos primeiro, dissermos oi, e depois
voltarmos para buscar nossas bolsas? Daí eu posso arrotar em particular.

- Boa idéia.

Elas caminharam pelo familiar caminho que levava até a porta da casa de Bob e
Marta. Cris bateu na porta educadamente. Um barulho abafado de um arroto escapou
dos lábios fechados de Katie.

- Katie! Cris sussurrou.

- Ei, eu estava com a boca fechada. Você deveria estar feliz por isso.

- Bem, mantenha sua boca fechada para que nenhuma surpresa resolva escapar
de novo.

Bem nessa hora a porta abriu com um empurrão. Tanto Katie como Cris abriram
suas bocas e praticamente em uníssono puxaram o ar com força, surpresas, causando-
lhes soluços.

Em pé, frente a elas, estavam duas surpresas.


Capítulo 8
- Ted!

- Rick!

- O quê é que – hic – vocês estão fazendo aqui? Katie falou em meio a soluços.

Rick e Ted pareciam bem satisfeitos com a surpresa.

- Surpreendendo vocês duas, Ted disse.

- E conseguiram, Cris disse com outro soluço. Agora vocês têm que nos assustar
pra que esses soluços – hic – parem.

- Sério mesmo. Katie pressionou sua bochecha no peito de Rick e recebeu um


grande abraço dele enquanto Cris e Ted deram um beijo enlaçado por um soluço.

- Por que vocês estão soluçando? O que vocês duas estavam fazendo? Rick
perguntou.

- Só estávamos comendo.

Ted diminuiu o tom de voz:

- Sua tia não vai gostar disso. Ela fez reservas para o jantar, e aparentemente
vocês estão atrasadas.

- Atrasadas? Cris e Katie se olharam e soluçaram de novo, seguindo de uma


gargalhada conjunta.

- Nós não sabíamos que deveríamos estar aqui num horário determinado, Cris
disse.

- Cris, querida, é você? A voz estridente de tia Marta chamou da sala de estar.

Rick levou um dedo aos seus lábios e ofereceu um sorriso caloroso à Katie.

- Ela tem planos. Acho melhor nós só concordarmos.

- Existe alguma possibilidade de vocês dois serem parte do plano dela? Katie
perguntou.

- Ela ligou e perguntou se nós poderíamos vir e fazer uma surpresa pra vocês.

- Por quê? Cris perguntou. O que ela está aprontando?

- Não faço idéia. Entre, e nós descobriremos.


- Eu preciso tirar minha bolsa de dentro – hic – do carro. Cris disse.

- Eu pego pra você, Rick ofereceu.

- Eu vou com você, Katie disse. Ela e Rick caminharam de mãos dadas uns poucos
metros da porta da frente até que Katie sentiu uma necessidade incontrolável de
arrotar. Ela colocou a mão sobre sua boca e tentou silenciar o “intrometido”.

Rick se virou e olhou pra ela enquanto o barulho do arroto abafado saía de trás de
seus lábios fechados.

- Você tá bem?

Katie balançou a cabeça afirmativamente, mas não ousou abrir a boca. Ela se
sentia muito melhor. Seus soluços também tinham acabado.

A primeira coisa que Rick comentou quando eles abriram a porta do carro foi o
inconfundível cheiro de fast food.

- O que vocês duas estavam comendo?

Cachorros quentes e milkshakes. E anéis de cebola e batatas fritas. Mas os


cachorros quentes e os anéis de cebola não foram idéia nossa.

- Quê?

- Nada. Deixa pra lá. As bolsas estão no porta-malas. Então, como você conseguiu
uma folga pra vir aqui? Eu estou impressionada.

- Você está feliz por eu ter vindo?

- Sim, claro. Muito feliz. Eu pensei que passaria meu tempo aqui trabalhando em
projetos da faculdade, mas isso é muito melhor. Vai ser muito mais divertido estar com
você.

- E comprar um carro. Rick acrescentou.

- Oh, o tio Bob te contou?

- A Marta contou. Rick fechou o porta-malas, pegou as bolsas dela e ficou de pé na


frente de Katie com uma expressão não-muito-feliz no rosto.

- Por que você não me contou, Katie?

- Contei o quê?

- Que você estava pronta pra comprar um carro.


- Eu sabia que você estava ocupado. Eu liguei pro tio Bob há um tempo e perguntei
se ele podia me ajudar.

- Eu não estou tão ocupado que eu não possa estar aqui pra você em momentos
como esse. Eu quero te ajudar em decisões importantes. Você sabe disso, não sabe?

- A Cris disse que eu deveria ter te contado. É que eu fiquei tão ocupada, e pra ser
sincera, eu não achei que você se importaria.

- Não é que eu me importe, é seu carro e seu dinheiro. Mas eu não entendo.

- Não entende o quê?

- Primeiro, onde você conseguiu o dinheiro pra comprar um carro, e segundo, por
que você não me contou?

- Contar sobre o dinheiro ou sobre comprar um carro?

- Os dois.

- Bem, eu… eu, hmm…

Rick estava impaciente, de pé segurando as bolsas.

- Nós podemos ir lá dentro, daí eu te conto a história toda? É meio longa.

A expressão de Rick deixou claro que ele não gostou da idéia. Katie sabia que seria
impossível ter uma conversa particular com Rick assim que eles estivessem lá dentro
com tia Marta comandando o show.

- Ok, eu vou te contar. Na verdade, não é assim tão complicado. Eu provavelmente


compliquei mais do que realmente é. Katie transferiu seu peso para o outro pé.

- Eu tinha uma tia avó que faleceu, e ela me deixou um dinheiro. Eu decidi usar
parte dele para comprar um carro novo. Bem, na verdade, um carro usado, mas será
novo pra mim.

Rick inclinou a cabeça para um lado e olhou bem pra Katie. Mesmo quando ele
ficava nervoso, ele era lindo. Seu cabelo escuro estava maior que o usual e caía sobre
sua testa de um jeito que parecia que ele estava pronto para uma aventura, apesar de
Katie saber que a idéia dele de aventura seriam reuniões com um banqueiro, um
corretor de imóveis e um fornecedor, tudo na mesma tarde.

A pergunta seguinte de Rick veio lenta:

- Quando?

- Quando eu vou comprar o carro? Amanhã, se tudo der certo.


- Não, Katie. Quando sua tia avó faleceu?

- Não sei. Quase um ano atrás, eu acho. Eu nunca a conheci. Eu não sabia do
dinheiro até que minha mãe me encaminhou a carta do advogado. Isso foi no outono
passado.

- Você nunca me contou isso.

- Bem, muita coisa estava acontecendo naquela época. Sabe a Julia, minha
diretora dos residentes? Ela me ajudou a resolver tudo. Falando nisso, Rick, você
lembra aquele dia no outono passado quando você e Josh estavam no banco
resolvendo uma questão do empréstimo, e eu estava lá com a Julia?

- Lembro.

- Aquele foi o dia que eu recebi o dinheiro e depositei no banco.

- E você não me contou até hoje? Por quê?

- Tinha muita... tinha... eu não sei. É que pareceu mais fácil não dar tanta
importância pra isso.

Rick colocou as bolsas no chão e as mãos nos quadris. Katie não gostou dessa
postura de Rick. Ela nunca gostou. Essa era a postura ‘vou-agir-como-se-fosse-seu-
patrão-agora’. Ela nunca reagira bem a momentos como esse quando ela trabalhava
pra ele no Ninho da Pomba.

- Katie, exatamente qual a quantia que sua tia te deixou?

- Ela era minha tia avó, na verdade.

- Por favor, não começa. Não tente fugir do assunto. Só me diga. Eu acredito ter o
direito de saber quando minha namorada herda uma quantia substancial de dinheiro.
Eu te contaria se eu tivesse herdado dinheiro. Quanto foi?

- Eu não quero te contar. Katie se sentiu desafiada e irritada pela abordagem de


Rick.

- Você não quer me contar? Por quê?

- Foi muito. Podemos deixar assim?

- O que é muito? Você está falando de dez mil dólares? Vinte? Trinta?

Katie manteve seus lábios fechados enquanto Rick continuava a aumentar os


números. Quando ele chegou a cem mil dólares e a expressão dela ainda não tinha
mudado, Rick jogou os braços para o alto e virou-se para longe dela.
Andando em círculos ele gritou:

- Katie, você só pode estar brincando comigo! Você herdou mais de cem mil
dólares?

- Eu não estou dizendo isso.

- Seus lábios podem não estar dizendo, mas seu rosto está me dizendo tudo. Rick
pausou, analisando-a mais de perto.

- Foi mais de cem mil, não foi? Foi mais de duzentos mil?

Quando a expressão de Katie ainda não mudara, Rick colocou ambas as mãos no
alto de sua cabeça e berrou:

- Eu não posso acreditar nisso!

O coração de Katie estava batendo de raiva de Rick por pressioná-la quando ela
tinha deixado claro que não queria falar sobre isso agora.

- Você está me dizendo que estava sentada em mais dinheiro do que Josh e eu
precisávamos para nossos fundos iniciais para os cafés, mas você nunca me contou.
Você nunca nos ofereceu um empréstimo para que nós não tivéssemos que vender
nossas almas para o banco por causa dos juros altos. Por que você acha que eu estou
tentando fazer desses cafés um sucesso financeiro? Você não está vendo a
importância do que nós precisamos para o nosso futuro juntos, Katie? Eu não acredito
nisso. Eu não acredito que você escondeu isso de mim!

Uma dúzia de respostas afiadas estava pronta pra sair, na ponta de seu ânimo
quente, mas surpreendentemente Katie as manteve dentro de si. Por uma vez na vida,
ela deu pra trás. Ela sabia que poderia arruinar tudo se soltasse a resposta errada para
Rick.

Ao invés de palavras quentes fluindo de sua boca, lágrimas frias fluíram com toda
força de seus olhos.

Rick olhou pra ela sob a luz fraca da rua e mudou sua expressão. Ele foi de Rick
Furioso para Rick Neutro. Katie sabia que ele quase nunca a vira chorar. Ela não era
muito de chorar, especialmente perto dele. Agora as lágrimas estavam fluindo tão
rapidamente que a visão dela tinha ficado embaçada. Um som surgiu em sua garganta,
e ela abriu os lábios apenas o suficiente para deixar o “trêmulo” e desesperado som
escapar.

- Eu não entendo, Rick disse calmamente. O que aconteceu com nosso


relacionamento, Katie? Nós estávamos fazendo tudo certo. Quando é que você deixou
de confiar em mim? O que mais você não me contou? O que eu devo fazer com isso
tudo? A voz dele aumentou. Especialmente porque nem agora você quer me contar.
Por que você não me conta a quantia? O que é que eu fiz a você durante esse um ano
e meio que poderia ter feito você esconder algo tão significante assim de mim? Por
que você não confia em mim?

- Eu confio em você sim! Katie gritou. Tudo que eu estou pedindo é que você
confie em mim e não fique insistindo pra eu te contar!

- Se você confiasse em mim, isso não seria um problema. Nós não estaríamos
tendo essa discussão. Especialmente agora, quando todos estão lá dentro esperando
por nós, e nós deveríamos estar tendo um ótimo tempo juntos.

- Eu não posso acreditar nisso, Katie. Tudo que você tinha que fazer era me contar.

- Então tá! Ela sabia que tinha trocado uma marcha interna dentro de si e estava
indo rumo a uma resposta “crua”. Apesar de ela ter dito a si mesma que jamais
revelaria a alguém a quantia que recebera, ela “cuspiu” a resposta na cara de Rick e
pegou sua bolsa e marchou em direção a casa.

Rick correu apressadamente atrás dela e a pegou pelo braço. A expressão no rosto
dele era uma mistura de deleite e surpresa, sombreada pela fúria ainda presente.

- É por isso que eu nunca te contei, Katie disse em voz baixa.

- Esse olhar bem aí. Eu nunca quis que você me olhasse assim.

- Assim como?

- Como uma grande e suculenta costela de porco, quando você já está sem comer
há uma semana.

Rick se afastou. Ele afrouxou sua mão do braço de Katie.

- Não fale assim de mim, Katie. Eu não sou assim.

- Eu não quero que ninguém saiba, Rick. Estou falando sério. Ninguém! Não é da
conta deles. Se eu um dia descobrir que você contou a alguém...

- Katie, querida, relaxe. Ele tentou abraçá-la, mas ela se afastou e ficou imóvel.
Todas as lágrimas dela tinham acabado. Seu maxilar estava firme. Ela queria gritar e
marchar dali para ficar sozinha tempo suficiente para se acalmar. Essa era a pior
sensação do mundo.

- Eu não vou contar a ninguém. Você tem minha palavra. Mas, Katie, você tem que
saber que eu não sou qualquer um. Sou eu. Seu namorado. Em breve seu noivo.
Katie sentiu seu rosto franzir involuntariamente quando ele disse “noivo”. Era a
primeira vez que ele usara o termo com todas as letras.

- Eu não sou apenas qualquer um, ele repetiu.

Katie afirmou com a cabeça lentamente. Algo dentro dela “amaciou” um


pouquinho. Silenciosamente ela admitiu que deveria ter contado a Rick. Mesmo se ela
não quisesse revelar a quantia, ela poderia ter controlado a informação ao invés de
ignorar o assunto, colocando-se em risco a uma revelação desse tipo que acabara de
ocorrer. Ela poderia ter lidado com a coisa muito melhor. Rick era seu namorado e, de
acordo com ele, em breve seu noivo. Ela deveria ter contado a ele.

- Desculpe-me, ela sussurrou.

Os braços fortes de Rick estavam em volta dela nesse momento.

- Desculpe-me também. Eu não queria ter ficado nervoso desse jeito.

- Tudo bem. Eu não deveria ter escondido isso de você. Você é meu namorado.

Rick se afastou e repetiu:

- Sim, eu sou. Eu sou seu namorado.

Um caloroso, carinhoso olhar por ela surgiu nos olhos dele e andou até seus
lábios, onde um sorriso se desenrolou enquanto ele acrescentou:

- Mas não por muito tempo. E ele a beijou.

Katie não gostou do beijo. Ela não estava pronta para beijar e ficar de
agarramento. Ela preferia ter esperado até que suas emoções tivessem se acalmado e
seu coração tivesse voltado a bater num ritmo menos ansioso.

Rick a beijou pela segunda vez, mas ela quase não respondeu ao beijo.

- Aqui, deixe-me levar a bagagem pra você. Eu vou voltar até o carro e pegar a
outra.

- Eu vou lá pra dentro, Katie disse.

- Eu te encontro lá. E Katie? Vamos deixar isso de lado por agora, ok? Nós
podemos conversar mais tarde. Eu não quero que nada arruíne nosso momento
juntos.

Ela concordou com a cabeça, mas em seu interior, ela sentia que tudo já estava
arruinado.
Assim que ela colocou o pé dentro da casa, Cris foi ao encontro dela com um olhar
preocupado.

- Tudo bem?

Katie tinha certeza de que Cris tinha visto pelo vidro da porta da frente o que
estava acontecendo do lado de fora.

Afirmando com a cabeça, ela disse:

- Eu preciso usar o banheiro.

Ela ficou no banheiro do andar de baixo mais tempo que o necessário. Ela sabia
que os outros estavam esperando por ela. Tia Marta ficaria nervosa pela frustração de
seus planos para o jantar. Rick estaria estranho. Ele sempre ficava estranho quando
assumia o jeito Rick Neutro. Ela preferia quando Rick estava ou furioso ou galanteador
ou cheio de graça. O temperamento controlado e morno que ele tinha desenvolvido
não estava presente na vida dele quando ela tinha uma paixonite aguda por ele nos
tempos de colégio. Ela gostava de saber a que pé ela estava com ele. Mesmo na longa
época quando Katie era a mascote da escola e Rick nunca dava bola pra ela, pelo
menos ela sabia o que ele pensava dela.

A única sensação que Katie não se importou em experimentar na discussão com


Rick foi a sensação de derreter o coração pela esperança que veio quando Rick disse
“noivo”. Ele a estava levando a sério, levando a sério o futuro deles. Claro que ele
gostaria de saber sobre o dinheiro e de ser chamado para participar das decisões dela
sobre o que fazer com a herança.

- Eu tenho pensado no individual, ela sussurrou para seu reflexo no espelho do


banheiro. Se Rick e eu vamos nos casar eu preciso pensar em ‘nós’.

Uma batida soou na porta. Era leve demais pra ser a tia Marta batendo. Só podia
ser a Cris.

- Katie, tem certeza de que você está bem?

Katie abriu a porta e ofereceu um sorriso totalmente recuperado à sua melhor


amiga.

- Meu estômago...

- Oh, meu também, Cris sussurrou.

- Está tudo bem com Rick?

- Sim, nós estamos bem.


- Minha tia mudou a reserva. É em vinte minutos. Ela está determinada que nós
todos vamos jantar em um restaurante italiano em particular. Eu disse a ela que eu e
você já comemos. Tio Bob sugeriu que nós pedíssemos algumas pizzas e comêssemos
aqui. Mas você conhece minha tia; ela nem deu idéia.

- Está bem. Eu estou pronta pra ir. Você precisa entrar aqui?

- Preciso. Diga a todos que eu estarei pronto em um minuto.

- Katie respirou fundo e andou calmamente pela casa bem decorada, indo rumo à
sala de estar, onde ela sabia que todos estariam reunidos.

- Desculpe-me por atrasar a festa.

Ela encarou tia Marta e fez uma meia reverência como se ela fosse uma realeza.
Isso não fazia parte, em nada, da natureza de Katie, mas ela tinha estado perto da tia
de Cris tempo suficiente para saber que se ela não assumisse seus modos reais, as
coisas poderiam ir mal rapidamente. Depois do que tinha acabado de acontecer com
Rick, ela estava determinada a não sabotar a noite.

Marta, a pequena mulher de cabelos escuros em seus cinqüenta anos, deu um


olhar de perdão a Katie. Marta estava vestida num figurino muito melhor do que o
resto deles, mas isso era como as coisas eram normalmente. Seu cabelo, maquiagem,
e unhas estavam perfeitos.

Tio Bob levantou-se do sofá de couro e deu um abraço de lado em Katie.

- Ótimo ter você de volta aqui, Katie. Rick foi em frente e colocou sua bolsa no
quarto de hóspedes em caso de precisar tirar algo dela.

Katie evitara olhar nos olhos de Rick quando ela entrou na sala. Ela olhou pra ele
agora, e ele a ofereceu um sorriso constante e afirmador. Ele parecia inabalado pelo
momento chato que eles tinham passado dez minutos atrás.

Katie, no entanto, ainda se sentia profundamente abalada. Mais abalada do que


ela queria admitir para qualquer um, principalmente pra ela mesma.
Capítulo 9
Uma vez que todos eles seis estavam sentados no restaurante sob a luz âmbar,
Marta voltou ao seu típico eu estiloso. O dono do restaurante veio até a mesa e
cumprimentou Bob e Marta pelo nome. Marta apresentou os jovens ao redor da mesa
e tratou a reunião como se fosse aniversário dela e todos os seus filhos adultos tinham
vindo para casa vê-la.

Ambas, Katie e Cris pediram pequenas saladas. Rick e Ted compensaram pelas
moças e foram com tudo. Katie mal conseguia olhar para o prato cheio de lasanha de
Ted ou assistir Tio Bob usar a ponta de seu garfo para furar sua berinjela com
parmesão.

Durante a maior parte do jantar Marta encheu Rick de perguntas sobre os cafés.
Ele falou até de mais detalhes do que Katie sabia. Então veio a pergunta decisiva. Veio
de Marta junto com um sorriso malicioso enquanto Bob pagava a conta.

- Então, vocês ainda não nos deram qualquer informação sobre a novidade que
todos nós estamos esperando ouvir.

Marta olhou para Katie e então de volta para Rick.

- Vocês dois já escolheram a data? Casamentos no outono são sempre tão lindos.
Fim do outono. Depois que todo aquele desprezível calor dos ventos de Santa Ana
diminui. Antes de novembro talvez. O que daria a vocês sete meses de planejamento.
Quase oito. Cris e Ted me deram apenas seis meses para ajudar a planejar o
casamento deles.

Já que Bob e Marta não tiveram filhos, eles estavam vitalmente envolvidos na vida
de Cris. Agora parecia que Marta esperava ter a mesma espécie de influência sobre o
futuro de Katie e Rick.

Katie falou alto:

- Nós ainda não estamos lá, Marta.

Marta piscou para o comentário de Katie e voltou sua cabeça para Rick como se
ele pudesse dar uma resposta diferente da de Katie.

- Nós continuamos no estágio do ‘felizes-quase-pra-sempre’. Rick voltou-se para


Katie e lhe deu uma piscadela.

-Estágio do ‘felizes-quase-pra-sempre’? Marta repetiu. O que isso significa?

- Significa que eles estão indo com calma e descobrindo as coisas por conta
própria. O tom de Bob enfatizou as palavras por conta própria.
Audaz, Marta voltou-se para Katie.

- Você sabe, não sabe, Katie querida, que quando o tempo chegar, Robert e eu
queremos que você conte conosco para qualquer coisa? Qualquer coisa mesmo. Nós
esperamos que você dois pensem em nós como seus próprios tios. Nós iríamos amar
estar envolvidos nos seus planos.

- Obrigado Marta, Bob. Rick deu a cada um deles um aceno com a cabeça.

- Isso significa muito para nós.

Como ninguém mais na mesa respondeu ao comentário de Rick, ele adicionou:

- Não é, Katie?

Embora Katie não se sentisse particularmente animada e confortável com o modo


como isto estava indo, ela apreciava o suporte.

- Sim, o apoio de vocês significa muito.

Então ela relembrou Bob e Marta de que ela esperava que eles fossem à
formatura dela. Possivelmente, a isca do tópico da graduação dela poderia distrair
Marta do ainda não anunciado noivado de Rick e Katie e da não marcada data do
casamento.

Bob deu um sorriso para Katie e respondeu:

- Nós estaremos lá por você, Katie. Eu já tenho a sua formatura no meu calendário.

- Certifique-se de adicionar 27 de Abril ao seu calendário. Rick disse. Essa é a data


da inauguração do café de Redlands.

Marta pareceu menos entusiasmada com a inauguração do café de Rick. Ela


levantou-se da cadeira, indicando que era hora de ir embora.

- Eu pensei que vocês jovens talvez se divertissem com uma pequena caminhada.
Isso é agradável para todos?

Ninguém protestou. Todos eles pareciam saber que não tinha importância se a
idéia era agradável para eles. Marta estava no comando.

Rick pegou a mão de Katie enquanto o grupo passeava pela área a céu aberto do
shopping onde o restaurante italiano estava localizado. O sul da Califórnia estava
mostrando sem nenhuma vergonha seu clima suave, do mesmo jeito que uma criança
de três anos mostra seu novo vestido com um rodopio. O ar estava quente e
calmo. Katie pegou um jasmim estrela que crescia livremente nas áreas abertas ao
longo da praça.
- Que noite bonita.

Rick lentamente puxou Katie para junto dele. Ele a beijou.

- Qual o motivo desse beijo?

Rick deu a ela um exagerado olhar brincalhão.

- Numa noite como essa, eu preciso de um motivo?

- Eu suponho que não. Ela deu um leve aperto na mão dele, e eles continuaram
andando.

Mesmo com o beijo doce, o ar perfumado e bonito da noite, Katie não se sentia
muito bem. Suas emoções estavam na superfície, como um machucado que ela sabia
que não deveria cutucar.

No fundo da sua mente, seu plano original de trabalhar duro no seu dever escolar
num cantinho calmo do quarto de hóspedes de Bob e Marta foi por água abaixo. Em
vez disso, eles estavam em um tour naquela noite e ela tinha certeza que amanhã seria
a mesma coisa.

- Sabe, talvez isso foi uma má ideia, Katie murmurou.

- O que foi uma má ideia?

- Ter vindo pra cá esse fim de semana. Eu tenho muita coisa pra fazer. Você
também tem. Eu estou muito atrasada com tudo. Eu não sei no que eu estava
pensando quando concordei em vir aqui para passar a noite.

- Ei. Rick parou de andar e levantou o queixo dela com a mão.

- O que aconteceu com a Katie que sempre está dizendo coisas como, ‘vai nessa’ e
‘viva o momento’? O que aconteceu com a Katie que faz tudo no impulso?

- Eu vou te dizer o que aconteceu com ela. Ela começou o último semestre da
faculdade.

- E ela já está quase no fim de seu último semestre da faculdade.

- Quase. Mas eu tenho muita coisa pra fazer.

- Relaxe, Katie. Quando foi a última vez que você e eu tivemos uma chance para
apenas estar juntos e ter um tempo de lazer?

- Eu não sei. Há muito tempo. Natal, talvez?

- E ainda assim estávamos na correria. Ouça, não foi fácil eu ter conseguido tirar
todo esse tempo de folga para que nós pudéssemos estar juntos.
- Eu sei. Obrigada, Rick.

Katie deu um aperto na mão dele, e eles apertaram o passo para recuperar o
atraso em relação aos outros. Ela ainda não podia mudar a realidade de que, mesmo
sabendo que sair do campus para o fim de semana foi uma má escolha, ela tinha
escolhido fazê-lo.

Uma coisa ela sabia com certeza. Ela era a única que poderia ser responsabilizada
por suas escolhas. Por um breve momento, ela se perguntava que outras más escolhas
ela poderia ter feito nos últimos tempos.

- Você sabe, é provavelmente uma coisa boa eu ainda não ter decidido o que fazer
com o broche da sua avó.

- Por que você diz isso?

- Eu não acho que eu tenha feito boas decisões ultimamente. Eu acho que isso
tudo é stress. Você se sente desse modo também? Parece que não dá uma trégua.

- Eu sei. É como minha vida é agora também. Não para. Mas isso tudo é por boas
razões. As coisas vão mudar logo.

- Eu vou acreditar nisso quando eu vir.

Rick puxou-a para mais perto em um abraço de lado.

- O que quer que você faça, Katie, não venha com distúrbios hormonais pra cima
de mim, ok?

Ela se afastou e deu-lhe um olhar confuso. Ela não sabia dizer pela expressão dele
se o comentário era sério ou se ele estava tentando implicar com ela. Ela escolheu
acreditar que ele estava implicando com ela e brincou:

- E você me promete não dar uma de machão sabe-tudo. Especialmente quando


tratarmos de escolher carros amanhã.

Eles estavam no estacionamento. Ted e Cris decidiram ir de carro com Bob e


Marta, deixando Rick e Katie sozinhos no carro de Rick. Rick saiu da parte coberta do
estacionamento e como quem não quer nada, disse

- Então, fora comprar um novo carro amanhã, o que você está pensando em fazer
com o dinheiro?

- Um carro usado.

Rick olhou para ela.

- Por que não um novo?


- Eu quero um usado. Não muito velho. Baixa quilometragem e tudo isso. Esse é o
melhor caminho economicamente falando.

- Ok.

Como Katie não respondeu a primeira questão, ele perguntou mais uma vez:

- Nenhuma outra coisa você está pensando em comprar?

- Não.

- Ah, vamos Katie, não faça isso.

- Fazer o quê?

- Esse jogo de respostas monossilábicas. Esse não é o modo como você e eu nos
comunicamos. Fale comigo. Eu quero saber o que você está pensando sobre a herança.

Ela soltou um suspiro longo, baixo.

- Eu não estou pronta para discutir tudo isso, Rick.

- Por que não? A irritação em sua voz aumentou.

Eu apenas não quero. Preciso pensar um pouco mais nessas coisas.

- Eu sei que você precisa pensar mais. Isso é exatamente o que eu estou dizendo.
Você tem muitas decisões pra tomar. O tom de Rick amoleceu. Tudo que eu estou
dizendo é que eu quero ser alguém que ajude você a pensar sobre tudo, só isso. Eu
estou errado em querer isso para o nosso relacionamento?

- Eu não sei, provavelmente não.

Ele esperou que o semáforo mudasse de cor para fazer sua próxima pergunta:

- Você vê alguma razão em particular do porquê é tão difícil pra você falar disso
comigo? Quero dizer, você me vê de alguma maneira não estando do seu lado ou te
atrapalhando de alguma forma?

- Não.

- Então que foi? O que está te incomodando? Por que nós não podemos falar
sobre isso?

Katie deu a primeira resposta que veio a sua mente.

- Eu acho que você não vai gostar das minhas escolhas.

Rick deixou escapar uma gargalhada com ronco que não era típica dele.
- Por que eu não iria gostar das suas escolhas?

- Porque não. Katie sabia se Rick descobrisse que ela já tinha gastado mais da
metade do dinheiro em coisas como pagamento de faculdade e água limpa para a
campanha da África que ela e Eli tinham começado, ele iria enlouquecer. Além disso,
uma grande quantidade tinha sido gasta no começo do ano quando ela pagou seus
impostos.

De todo seu coração, ela desejou não o ter contado a quantia da herança.

- Eu vejo as coisas assim, Rick, se você e eu vamos mesmo relaxar e curtir a


companhia um do outro hoje à noite e amanhã, então eu te digo que você tem que
deixar esse assunto da herança de lado. Só isso, deixe de lado. Eu prometo conversar
sobre tudo quando as coisas estiverem mais claras na minha mente. Por agora, não é
uma boa idéia conversar sobre isso.

Pelo jeito que o rosto dele mudou com seu maxilar apontado pra frente em sinal
de frustração, Katie sabia que Rick não gostou da declaração dela. Em seu rosto havia
uma pequena expressão de recuo, e então ele disse com uma voz branda:

- Se é assim que você quer que seja.

Katie recostou no banco e encarou o pára-brisa. Ela disse aos seus ombros que
relaxassem. Nenhum dos dois falou durante a pequena viagem até a casa de Bob e
Marta. Quando eles saíram do carro, Cris e Ted estavam rindo de algo e com
expressões de quem tinha compartilhado um passeio agradável.

- Nós temos cheesecake.11

Bob disse para eles assim que Rick e Katie entraram na casa com o restante do
grupo:

- Vocês estão prontos para a sobremesa?

- Claro, disse Rick. Você precisa de alguma ajuda na cozinha?

- Não necessariamente. Embora você fique bem confortável na cozinha, se eu me


lembro bem.

- Ele é um ótimo cozinheiro, Katie disse. Por falar nisso, você deveria deixar Rick
fazer omeletes pra todos amanhã pela manhã. Isto é, se você não se importa em
deixar seu fogão nas mãos de um gênio.

11
Cheesecake é uma espécie de pudim à base de queijo.
Rick deu a Katie um olhar confuso, como se ele não pudesse distinguir se ela o
estava elogiando ou zombando dele. Ela percebeu que estava exagerando. O elogio foi
uma super compensação pela a linha tênue de tensão que ainda pairava entre eles
como uma corda bamba. Durante toda a noite nenhum deles ousou atravessar aquela
corda bamba da comunicação sem se escorregar e cair na rede de segurança debaixo
da corda. Aquela rede de segurança era a longevidade do relacionamento deles. Eles
tinham balançado entre discussões e conversas tensas muitas vezes. Katie acreditava
que eles podiam passar por isso de novo.

Infelizmente, isso não aconteceu. Pelas duas horas seguintes, tudo que Rick ou
Katie disseram foi interpretado erroneamente não apenas um pelo outro, mas
também por Marta. No momento em que Katie subiu para o andar de cima para o
recentemente redecorado quarto de hóspedes, Katie estava com vontade de chorar.
Isso não era, de forma alguma, típico dela.

A acomodação na hora de dormir ficou um pouco estranha. Marta insistiu que Cris
e Katie ficassem com o quarto de hóspedes do andar de cima enquanto Ted foi
acomodado no sofá da sala da família e Rick foi relegado com o colchão de ar no chão
da sala de estar. Foi como se eles estivessem de volta aos anos de colégio.

- Você e Ted deveriam estar dormindo juntos nessa cama, Katie disse uma vez que
ela e Cris estavam sob os limpos lençóis da cama de hóspedes.

- Eu ficaria mais confortável no colchão de ar do que Rick. Ted deveria estar aqui,
Rick deveria estar no sofá na sala, e eu no colchão de ar.

Ao invés de responder à objeção de Katie, Cris disse:

- Ei, ouça, pelo que quer que você e Rick estejam passando agora, eu sei que é
frustrante e confuso, mas eu acredito que vai dar tudo certo, Katie. Você não tem que
me contar o que é, mas eu sei que as coisas estão instáveis pra vocês. Eu orei por
vocês a tarde toda.

Katie não respondeu. Ela encarou o teto no quarto escuro e ouviu ao fraco, mas
estável quebrar das ondas do oceano enquanto a antiga melodia do mar flutuava pela
janela meio aberta do quarto. Apesar de Katie saber que poderia contar qualquer coisa
a Cris e que sua melhor amiga ficaria acordada com ela a noite toda se necessário para
conversar sobre os sentimentos de Katie, ela não quis conversar. Novamente, isso não
era, de forma alguma, típico dela. Ela não sabia o que estava acontecendo com ela.

- Obrigada, Cris, ela sussurrou depois de uma pausa que não trouxe paz alguma.

- Durma bem.

- Você também, minha amiga e tesouro peculiar.


As palavras de Cris deslizaram pela superfície do conturbado coração de Katie
como uma pedrinha bem lançada. Cada lugar que o sentimento tocou produziu um
pequeno, expansível círculo, empurrando-a para um estado de nervosismo. Agora,
nada dentro dela parecia estável.

Em alguns minutos, Katie sabia, pela respiração calma de Cris que ela tinha
adormecido. Durante os anos delas como colegas de quarto na faculdade, Katie podia
identificar o som do sono de Cris. Ela também sabia o quão profundo Cris podia ir ao
seu estado de dormência uma vez que ela mergulhava na terra dos sonhos.

Mesmo exausta, Katie se manteve acordada, seus olhos fixos nas fracas sombras
do outro lado do quarto, causadas pela fraca luz do banheiro adjacente. Ao invés do
som das ondas a acalentarem ao sono, parece que o efeito foi oposto. Com cada
enrolar e desenrolar das ondas, Katie orava:

O que é isso, Deus? Você está tentando me dizer algo? O quê? Toda essa
instabilidade são só emoções normais, hormônios, ou o quê? Eu estou perdendo
alguma coisa? Eu estou ficando paranóica, não estou? Eu odeio me sentir instável
assim. Qual é meu problema?

Cris se mexeu em seu sono e virou para Katie. A mão de Cris caiu no braço de
Katie. Ela se achegou mais perto, recostando a cabeça no ombro de Katie.

- Ei, eu não sou o Ted, Katie murmurou.

Cris não se moveu. Ela continuou sua respiração tranqüila com sua bochecha
gentilmente descansando no ombro de Katie e sua mão no antebraço dela.

Você e Ted dormem juntos.

O pensamento teve um efeito estranho sobre Katie. Claro que ela sabia que Cris e
Ted dormiam juntos. Aquela intimidade entre eles como marido e mulher era uma
parte óbvia do que tinha mudado depois que eles se casaram.

Entretanto, esse tipo de conexão próxima e aconchegante entre eles toda noite
era algo que Katie nunca tinha pensado muito a respeito. Como é que seria ir pra cama
toda noite e ter o homem que você ama bem ali do seu lado, respirando pacificamente
e te recebendo em seus braços? Katie podia enxergar Cris e Ted dormindo desse jeito
toda noite. Próximos, aconchegados, e invisivelmente ligados pra sempre no coração.

Assim que esse pensamento veio até ela, Katie sentiu sua garganta apertar. Como
se uma luz clara e constante tivesse, de repente, acendido dentro de sua cabeça, ela
pôde ver, de verdade, qual o problema com suas emoções e, mais profundamente,
com seu espírito. Isso não era hormonal. Isso era real no nível mais profundo. A velha,
impulsiva Katie estava de volta. Ela sabia o que estava errado. Ela sabia o que ela
precisava fazer. E ela sabia que precisava fazer agora.
Capítulo 10
- Rick? Katie ajoelhou-se do lado do colchão de ar que seu namorado estava
dormindo. Ela colocou a mão em seu ombro e delicadamente o sacudiu. Rick, acorda.

Ele se mexeu e murmurando algumas palavras emboladas disse:

- Qual o problema?

- Eu preciso falar com você.

Rick se virou e inspirou profundamente.

- Katie?

- Sim, sou eu. Eu preciso falar com você.

- Agora?

- Sim. Eu preciso falar com você agora.

- Que horas são?

- Eu não sei. Nós podemos ir até a cozinha?

- Até a cozinha? Por quê? Ele se apoiou em seu cotovelo e piscou para ela no
cômodo mal iluminado. O que é, Katie? Qual é o problema?

- Nós.

- O quê?

- Por favor, levante. Vamos conversar na cozinha. Por favor.

Por todos os grunhidos e suspiros pesados que Rick deu, Katie estava consciente
de que ele não estava feliz com sua chamada de emergência a meia-noite.

- Isso não pode esperar até de manhã? Ele a seguiu até a cozinha.

- Não, eu não acho que isso possa esperar. Eu sinto muito ser tão dramática e
acordar você e tudo mais, mas eu não podia esperar. Eu percebi uma coisa, e eu sabia
que tinha de falar com você imediatamente.

Eles entraram na cozinha e Katie acendeu a luz. A claridade deixou os dois


momentaneamente cegos. Ela puxou o banquinho embaixo do balcão e se sentou. Rick
se sentou em um banco ao lado dela. O cabelo dele estava grudado de um jeito
engraçado do lado que ele tinha dormido, e seu rosto estava amarrotado com uma
expressão desagradável.
- O que foi, Katie? É o dinheiro?

Ela ficou surpresa que a herança foi a primeira coisa que passou pela mente dele.
Mas então, novamente, ela não ficou surpresa.

- Não, não é o dinheiro. Somos nós. Nosso relacionamento.

- O que tem nosso relacionamento?

- Nós não estamos unidos no coração, Rick. Sua voz saiu embargada e cheia de dor
esclarecendo o que ela sentiu quando a revelação lhe veio alguns momentos atrás.

- Que raios você está falando?

- Você e eu - nós - isso não é mais uma boa idéia. Nós não somos feitos um para o
outro. Precisamos ver as coisas como elas são e chamá-las de um dia. Ou um ano. Ou,
na verdade, ou metade da minha vida. É o que foi, e agora acabou.

Ela sentiu um aperto na garganta. Isso era mais difícil de dizer do que ela
esperava. Mas também, isso não foi algo que ela planejou ou jamais esperou dizer.

Uma expressão de raiva veio sobre a face de Rick.

- Katie, o que você está fazendo?

- Eu estou... Eu estou terminando.

- Não, você não está, ele falou rapidamente.

- Sim, eu estou! Eu estou terminando com você, Rick Doyle.

- Não, não está. Ele balançou a cabeça e rugiu, Nós não estamos terminando,
Katie. Isso não vai acontecer.

- Sim, isso vai acontecer. Está acontecendo agora. Eu estou terminando porque eu
acabei de perceber. Você e eu já fomos o mais longe que nossos corações podem nos
levar. É isso. Nós não estamos unidos no coração e eu acho que jamais estaremos.

Rick se levantou e, com as mãos nos quadris, se pôs de pé na frente de Katie.

- Isso é loucura. Você é louca. Você sabe o que está fazendo? Você está acabando
com o fim de semana. Arruinando completamente tudo. É o estresse, não é?

- Não, não é estresse.

- Eu acho que é. Por que mais você faria isso? Eu acho que você está deixando o
estresse da faculdade te afetar. É só a faculdade. Você nunca mais vai usar essas coisas
sobre as quais está fazendo trabalhos. Tudo que você tem que fazer é sobreviver a
essas últimas semanas sem fazer nada idiota, e você vai se formar e então...
- É, e então o quê?

- Você vem trabalhar pra mim.

Katie se afastou atordoada.

- Quê? Trabalhar pra você?

Ela achou que ele diria “Depois da sua formatura, vamos noivar.” Ou “Vamos
planejar nossa vida juntos.” A resposta dele confirmou tudo que as borboletas nos
estômago de Katie disseram a ela lá em cima na escuridão do quarto de hóspedes.

- Eu não vou trabalhar pra você, Rick. Eu não vou voltar para o Café.

- Por que não?

- Porque não é o que eu quero fazer.

Ele se elevou pra cima dela, franzindo a testa.

- Desde quando você decidiu isso?

- Desde sempre. Nós nunca falamos que eu trabalharia pra você. Você inventou
isso. Eu nunca te disse que eu queria fazer isso.

- Mas você fez no último verão.

- Aquilo já foi. Isso é agora.

- Ok, tudo bem. Não venha trabalhar no café. Mas se você não trabalhar pra mim,
o que você quer fazer?

Katie disse firmemente:

- Eu quero ir para a África.

Rick olhou pra ela como se ele não fizesse idéia de quem era esta mulher que
estava na frente dele.

- Na verdade, eu queria que nós dois fôssemos à África.

- Do que você está falando? Eu jamais vou para a África. Jamais. Nunca. Sob
nenhuma circunstância. Você ouviu o Eli falar sobre a África. Porque você quer ir lá?

Katie estendeu as mãos pra cima e disse:

- É exatamente disso que eu estou falando. É óbvio. Nós não estamos unidos no
coração, Rick. Você não vê?

Ele cruzou os braços, mantendo as mãos fechadas e disse:


- Eu...você...você sabe o quê mais? Eu acho que nós dois deveríamos voltar a
dormir e começar de novo pela manhã. Isso é um pesadelo. Você está saindo de um
pesadelo, Katie. É isso que é. Algum tipo de pesadelo de estresse induzido ou excesso
de hormônios. Isso é loucura. Você está louca.

- Não, eu não estou.

Rick elevou sua voz e sua estatura:

- Nós não estamos terminando, Katie.

Katie manteve o olhar fixo no dele e disse com firmeza:

- Sim, nós estamos.

- Não, nós não estamos.

Ela se levantou e com os ombros para trás e queixo para cima deu a ele uma
expressão determinada:

- Eu estou terminando com você, aqui e agora. Isso não tem nada a ver com os
meus hormônios. Isso está em meu coração e eu não vou mudar de idéia. Amanhã de
manhã nós ainda estaremos terminados. E eu sei que apesar de estar furioso comigo
você verá que isso é o certo. É verdade. Isso é o mais longe que iremos Rick.

Rick não se mexeu. Ele a olhava com uma grande raiva. O Rick neutro não
retornou como de costume quando eles discutiam. Ao invés disso, Katie estava
olhando para o verdadeiro Rick. Ele estava furioso, e deveria estar. Ela gostava mais
dele assim, fiel as suas emoções. Ela sabia que era mil por cento verdadeira com o seu
coração e suas emoções. Isso é certo.

Rick passou por Katie e saiu da cozinha, deixando-a sozinha no balcão com todas
as luzes acesas. Ela sentou no banco da cozinha e ficou ali por um bom tempo,
deixando a realidade do que tinha acontecida imergisse nela. Seu coração estava
acelerado e suas mãos estavam tremendo. Ela Seus pés descalços estavam formigando
por causa do chão frio.

Katie olhou para o relógio do micro-ondas. Os números digitais verdes marcavam


1:11. Um doloroso nó se deu na garganta de Katie. Um desfile de memórias veio a ela
dos momentos que passou com Rick em cozinhas. Foi na cozinha de Douglas e Trícia
que começaram a flertar e onde teve início esse longo relacionamento. A cozinha do
Ninho da Pomba tinha sido lugar de vários momentos para eles – a maioria bons
momentos. E na cozinha do apartamento do Rick foi onde Katie o desafiou a expressar
seus sentimentos por ela e demonstrá-los, beijando-a.
Ela e Rick compartilharam muitas coisas da vida juntos. Teria ela feito a coisa certa
terminando com ele? Ela achava que sim, mas ao mesmo tempo ela percebeu que o
modo como havia dado a notícia sobre sua decisão não foi justa com ele. Ele não
estava preparado pra isso. Ela poderia ter esperado. Eles poderiam ter feito isso de um
jeito diferente. Mas se ela tivesse esperado, ela tinha a sensação de que teria se
convencido a não fazê-lo.

A sensibilidade de Katie por como Rick estava se sentindo pairou sobre ela com a
intensidade de uma forte batida do coração. Ela o amava. Ela sabia que amava. Ela
nunca quis magoá-lo.

- Sinto muito, Rick. Ela sussurrou tão baixinho que as palavras não chegaram aos
seus ouvidos, no entanto elas eram sinceras. O que eu fiz?

Com uma ansiedade crescente dentro dela para tentar consertar as coisas, Katie
começou a andar de um lado para outro. E se eu for até a sala de estar e me
desculpar? Eu diria a ele que ainda acho que nós deveríamos terminar, mas percebi
que não manejei bem a situação e sinto muito por tê-lo magoado. E a propósito, Rick,
ainda amo você, apesar de saber que não devemos ficar juntos mais.

Não, eu não posso fazer isso.

Katie mordeu a cutícula de seu polegar tentando, em vão, pensar em uma saída
para tudo isso. Mas a única maneira de fazer tudo melhor seria ir ao outro cômodo e
voltar atrás em tudo. Ela sabia que se ela se desculpasse de verdade, Rick a perdoaria e
a aceitaria de volta. Ele a envolveria com os seus braços e a sensação de paz pela
proximidade dele, seu toque, sua voz profunda iriam fazê-la se sentir feliz. Mas por
quanto tempo? Uma lágrima rolou pelo seu rosto.

Realmente este é o fim. Está tudo acabado entre nós. Está mesmo.

Um conjunto de lágrimas saiu das profundezas do coração de Katie e jorraram


pelo seu rosto. Com elas veio a dor, a certeza de que isso era o certo. Tudo o que ela
disse ao Rick era verdade. Isso era o mais longe quanto eles poderiam ir. Ela pode ter
priorizado a verdade e não ter tido compaixão. Mas ela sabia que não podia fazer nada
pra mudar a situação – além de um elaborado pedido de desculpas e um apaixonado
apelo de reconciliação. E ela sabia que não podia fazer isso.

Seu relacionamento com Rick Doyle estava acabado.

Apagando as luzes da cozinha, Katie voltou para o quarto de hóspedes do modo


mais quieto possível e voltou para a cama. A guerra interna continuou. Ela tentou mais
uma vez imaginar um cenário em que ela desceria as escadas e acordaria Rick de novo.
Eles poderiam conversar sobre isso? Ele veria que ela estava certa? Ele concordaria em
serem bons amigos e a ajudaria a comprar os carros amanhã? Não, essa não era a hora
para aquela conversa.

Um arrepio correu até as pernas dela enquanto ela esfregava os pés frios um no
outro, tentando aquecê-los. Dormir parecia ser a única resposta certa para qualquer
coisa nesse momento.

Katie pôde sentir alívio. A respiração ritmada de Cris fez com que Katie
relembrasse tudo – Rick, o relacionamento deles, seu futuro, todas suas tensas
emoções. Sentiu seu espírito cansado mergulhar no descanso que há muito escapara
dela. Sob cobertura de um abençoado sono, Katie deixou-se ir.

Quando ela acordou, ela sabia pela quantidade de luz do sol que entrava na sala
que parte da manhã já se fora. O lado de Cris na cama estava vazio e a casa estava
quieta. Katie ficou em silêncio sem se mexer. Sua mente revisava sistematicamente o
drama que ela tinha iniciado no meio da noite.

Eu terminei com Rick.

Um aperto contraiu sua garganta e uma sensação desconfortável caiu sobre seu
estômago. Mas ela sentia seu coração estranhamente calmo.

Pai, eu fiz a coisa certa? Fiz, não fiz? Eu não deveria mudar de idéia, deveria?

A estranha sensação de paz permaneceu.

- Isso é estranho. Isso é estranho demais. Eu não deveria sentir essa calma,
deveria? A menos que seja você, Deus. É você? É isso que eu deveria estar sentindo
agora?

Katie sentou-se e olhou ao redor da sala vazia. Por alguma razão ela sentia Deus
perto dela. Ela se perguntou se Rick sentia como ela. Ele teria chegado às mesmas
conclusões durante a noite? Será que ele já contou para os outros? Como seria o resto
do dia? Rick ainda a ajudaria a comprar um carro ou ele estaria no caminho de volta
para o Café?

Katie sabia que estragara todo o fim de semana, justamente como Rick tinha dito.
Ela também sabia que não poderia passar o dia de hoje todo fingindo que tudo estava
bem com o namoro deles. Não, não depois dessa revelação que ela teve no meio da
noite. Nada do que ela tinha feito tinha sido fácil ou atencioso com o Rick, mas de
alguma maneira ela sabia que estava certa.

Pressionando os pés no chão, Katie foi com passos rápidos tomar banho, se vestiu
e desceu as escadas.
A casa estava quieta. Não tinha ninguém na sala. O colchão de ar em que Rick
dormiu estava guardado. O jornal de domingo e duas canecas de café restaram sobre a
mesa de café. Katie foi até a cozinha e encontrou Marta na pia lavando um cacho de
uvas vermelhas.

- Olá.

Marta olhou ao redor. Em um movimento rápido ela desligou a água, colocou as


uvas no balcão e secou as mãos com uma toalha.

- Bem, finalmente! Você certamente teve um sono extravagante.

Katie ignorou a farpa vinda do comentário de Marta e perguntou:

- Onde está todo mundo?

Marta olhou para Katie como se a resposta fosse obvia.

- Rick foi embora ao meio da noite. Eu encontrei um bilhete dele na mesa de café
se desculpando pelo inconveniente. Nós supomos que seja uma emergência com o
Café. Que decepção ele ter ido embora e arruinado esse tempo para vocês dois. Ele
realmente precisava estar aqui para ajudá-la a escolher o seu novo carro.

Katie sentiu um aperto dos dentes e uma tristeza que apertava o estômago.

- Claro que Bob, Ted e Cris foram à igreja. Seu tom de voz revelou o quanto ela
desaprovava essa escolha. A Cris disse que tentou te acordar, mas você nem se mexeu.

Katie concordou.

Eu creio que o quarto de visitas é o cômodo mais silencioso na casa. Agora que o
redecoramos é silencioso como um Oasis, não é? Eu te mostrei o que fizemos no
quarto de casal? Acho que você não estava aqui ontem à noite quando levei Ted e Cris
lá em cima para mostrá-los. Venha comigo. Vou te mostrar agora.

De um jeito louco Katie estava feliz por estar com a tia Marta. Ela não pensou na
possibilidade do Rick ir embora no meio da noite mas ela não o culpava. Ela sabia que
teria feito a mesma coisa se estivesse no lugar dele. Katie também ficou aliviada
porque ninguém sabia o verdadeiro motivo de o Rick ter ido embora. Era melhor desse
jeito.

Típico do Rick Doyle. Modos acima de tudo sempre. A mãe dele o educou muito
bem. Sinto que deveria ligar pra ele. O que eu deveria dizer? Não, não ligue ainda. É
melhor esperar. Eu não deveria ligar pra ele. Nós precisamos de tempo e espaço para
digerir tudo.
Katie seguiu Marta até o andar de cima para ver a suíte máster redecorada. Marta
conversou durante todo o percurso, mas Katie se desligou de modo a deixar espaço
para todos os pensamentos e sentimentos da madrugada.

Se ninguém sabe que o Rick e eu terminamos no meio da noite, eu imagino se


conseguiria manter isso em segredo o resto do dia. Tenho um carro para comprar, um
trabalho pra fazer e uma longa estrada de volta a faculdade. Seria fantástico se eu
pudesse fazer tudo isso sem me perder em minhas emoções. Fiz a coisa certa em
terminar com o Rick. Sei que fiz. Não fiz? Isso está sendo mais difícil do que eu
imaginava. Eu não pensei nisso direito, pensei? Deveria ligar pra ele. Não. Bem, talvez
depois. No caminho de casa.

Katie entrou na suíte que estava decorada com um elaborado estilo Mediterrâneo
com as cortinas balançando como ondas na brisa do fim da manhã.

- Está lindo, Marta.

Marta continuou a apresentação, falando de detalhes enquanto Katie fazia


apropriados ‘oohs’ e ‘aahs’. Intimamente, Katie estava em outro lugar. Um lugar de
linhas curvilíneas. E naquele lugar, ela estava tentando organizar um plano de como os
próximos dias precisavam ser “alinhados”.

Ela sabia que Rick e ela acabariam tendo uma longa conversa antes de a semana
findar. Ele era um mestre na arte de demitir pessoas que trabalharam no Ninho da
Pomba. Ele era bom com encerramentos e gostava de checar tarefas não finalizadas de
sua lista contínua. Apesar de Katie não ser uma tarefa, ela era uma grande parte da
vida dele e tinha sido por um bom tempo. Eles precisariam de tempo para uma
extensa conversa. Katie queria mais alguns dias para alinhar suas linhas curvilíneas
antes daquela conversa.

Marta convidou Katie para se juntar a ela em sua nova e expandida varanda que
se expandia da suíte máster até as portas francesas. Duas elaboradas espreguiçadeiras
com almofadas azuis extra grossas esperando por elas.

- Esse é um dos meus lugares favoritos da casa.

Marta se esticou em uma das espreguiçadeiras. Um guarda sol de lona colocado


em um suporte fixo entre as espreguiçadeiras providenciava sombra. Ali, acima do
parapeito estava uma expansiva vista de Newport Beach. A areia cor de caramelo se
expandia em todas as direções, salpicada apenas por postos de salva-vidas
estrategicamente colocados e banhistas de fim de semana. Além da areia, o oceano
cinza azulado se espalhava como um cobertor enrugado por todo o horizonte. Acima, o
sol do fim da manhã lançava seus raios dourados sobre a praia sem cobrar nada.

- É lindo isso aqui, Katie disse.


É sim, não é? Eu vivo dizendo ao Robert que nós deveríamos nos mudar, mas
então um dia como esse aparece, e eu me encontro bem contente aqui na minha
varanda. Ela esticou o braço como que mostrando a praia e oceano diante deles. Katie
achou que Marta parecia que iria começar a cantar melodia de uma ópera.

- Eu acho que vou fazer uma caminhada, Katie disse antes que Marta tivesse a
chance de continuar. Quando você acha que Bob e os outros estarão de volta?

Marta olhou no relógio.

- Em uma hora. Talvez menos. Eu fiz reservas para nós almoçarmos juntos.

- Claro que você fez.

Katie percebeu o pensamento que tinha saído de sua cabeça. Com um sorriso sem
graça, ela rapidamente adicionou:

- Você é sempre cuidadosa conosco nesse sentido. Eu estarei de volta em menos


de uma hora.

Com um tom levemente magoado, Marta disse:

- Leve seu telefone. Eu digo ao Robert pra te ligar quando eles voltarem.

Katie saiu antes que sua boca a colocasse em mais problemas.

Qual o problema comigo? Eu não quero ser insensível com as outras pessoas. Só
porque eu penso algo, não quer dizer que eu tenho abrir a boca. Eu tenho que
trabalhar nisso.

Pegando seu celular juntamente com seus óculos escuros, ela saiu rumo à praia.
Com suas sandálias em uma mão e o celular na outra, ela afundou seus pés descalços
na areia fria.

Alguns bons momentos aconteceram nessa praia. Katie sabia que Cris tinha muito
mais lembranças em volta de fogueiras e pela orla do mar do que ela, mas suas
lembranças eram ótimas também. Douglas tentara convencê-la uma vez de que um
tubarão estava atrás dela na água. Antônio se divertira provocando-a no dia que eles
estiveram aqui. Ela e Cris caminharam e conversaram na beira da água no entardecer
sob o por do sol e compartilharam os sonhos delas para o futuro uma com a outra. O
que Katie mais se lembrava era que Rick tinha sido aquele pedacinho de sonho no
fundo de sua mente. Ele sempre foi o cara do ‘e se’. E agora o ‘e se’ tinha se tornado o
‘e foi’.

Katie fixou os olhos na expansão azul esverdeada e piscou de volta as embaçadas


nuvens de lágrimas que sobressaíram sem serem convidadas. Ela desejou que Cris
estivesse com ela agora. Sua eterna amiga a ajudaria a entender tudo que ela estava
sentindo.

Ajeitando-se na areia, Katie respirou fundo e se virou para seu verdadeiro Eterno
Amigo. Aquele que prometeu nunca deixá-la ou abandoná-la.

Ao menos você e eu estamos ligados no coração, não estamos, Deus? Sim,


estamos. Você e eu, Senhor. Então vá em frente e me diga: Eu sou um trem
descarrilado ou estou nos trilhos certos? Eu fiz disso tudo uma grande bagunça? O Rick
vai ficar bem? É assim que a vida é? Enrolada e bagunçada? Nada pra mim parece ser
fácil ou claro. É normal para alguém que está sinceramente tentando te seguir de todo
o coração terminar em tanta bagunça o tempo todo?

Bem nessa hora, seu celular vibrou. Ela assumiu ser o Bob a estar ligando para ela
para dizer que eles já estavam de volta. Katie se entristeceu porque sua conversa de
coração pra coração com Deus havia sido interrompida.

Sem olhar para o identificador de chamada, ela respondeu com:

- Já estou a caminho de volta pra casa agora mesmo.

A voz de Eli respondeu:

- Katie, você está bem?

- Oh, Eli. Oi. Eu pensei que fosse outra pessoa. Sim, estou bem. Eu não sei se o Rick
está, entretanto. O quê ele te contou? Eu tenho certeza que ele ainda está bem
chateado. Eu queria ter sido mais…

- Katie, Eli a interrompeu, Eu não estou entendendo.

- Você falou com o Rick, certo?

- Não, não falo com ele desde quinta-feira à tarde.

- Oh. Ela passou o celular para o outro ouvido. Espere, então por que você
perguntou se eu estava bem?

- Eu deixei alguns recados no seu telefone e te mandei mensagens. Você recebeu?

- Não. Eu não olhei. Eram sobre o quê?

- Eu, hm, eu achei que tinha algo de errado. Que algo tinha acontecido.

- Quando?

- Noite passada. Eu senti um desejo muito forte de orar por você.


- Sentiu?

- Sim. Eu orei por um tempo e então...

- Eli, quando você esteve orando por mim? Que horas na noite?

- Foi em algum momento entre meia noite e uma hora. Meu coração estava bem
pesado por você.

Katie estava um pouco assustada e um pouco maravilhada ao mesmo tempo.

- Katie, você ainda está aí?

- Sim. Eu só não consigo acreditar que Deus te acordou para orar por mim no meio
da noite.

- Então você está bem?

Katie respirou fundo o ar fresco do oceano antes de falar as palavras em voz alta
para alguém pela primeira vez.

- Eu... Eu terminei com o Rick.


Capítulo 11
Cinco dias depois que Katie contou a Eli sobre seu término com Rick, ela estava de
pé, próxima a Eli no estacionamento do Crown Hall. Eles estavam ali praticamente lado
a lado, examinando seu novo-usado carro. O carrinho de golfe da segurança do
campus que Eli usava estava há alguns metros de distância. Ele desligou o motor e
pulou pra fora do carrinho quando viu Katie saindo do carro dela.

- Então, você vai nomear esse ‘Buguinho 2’? Eli perguntou.

- Não, só existiu um Buguinho. Katie passou o seu polegar em cima de um


arranhão branco de seu Subaru Outback. [1] O carro verde bem escuro tinha um
formato retangular de um pequeno carro esportivo [2]. Esse tá mais pra Jeepinho.

- Nós tínhamos um Jeep quando eu era pequeno.

- E como você o chamava?

Eli deu um sorriso torto.

- Do mesmo nome que chamávamos todos os veículos no vilarejo. ‘Carro’. Desse


jeito tudo que nós tínhamos que fazer quando queríamos ir a algum lugar era chamar,
‘Aqui, Carro. Vem, Carro’. O primeiro que estivesse milagrosamente funcionando no
momento viria correndo.

- Que bonitinho, Katie disse. Ela sorriu para Eli e caminhou mais uma vez em volta
de seu carro. Eu poderia chamá-lo de ‘Mini viajante’.

- Viajante Verde? Eli sugeriu.

Katie pensou mais um pouco, e o nome veio.

- Trevo! Ele é verde como um trevo. Trevo, o mini-viajante. Eu gostei. O que você
acha?

- Eu acho que você é a única pessoa que eu conheço que coloca nomes nos carros.

Katie voltou sua atenção para Eli. Seu cabelo castanho e anelado crescendo dava a
ele um ar de ‘livre-como-o-vento’ e ‘selvagem-como-o-mar’. Esse visual caiu bem nele.

Katie estava quase falando pra ele o quão bonito seu cabelo estava, mas, de
repente, ela ficou sem jeito. Essa era a primeira vez que ela conversara com Eli desde a
conversa deles no telefone na praia, e ela sabia que tinha se aberto demais para ele na
ligação.
Ela sabia que naquela hora ela melhor que ela tivesse confidenciado seus
profundos sentimentos pessoais à Cris. Mas naquele momento, quando ela precisou
de um amigo, Eli era quem estava lá pra ela enquanto ela sentava sozinha na praia. Ele
ouviu tudo que ela tinha pra botar pra fora, e então ele disse que iria orar por ela e por
Rick.

- O Rick já te disse alguma coisa? Katie perguntou.

- Não. Nós estivemos juntos no apartamento algumas vezes, mas ele não tocou no
assunto, e nem eu. Eu acho que seria bom que você contasse a ele que me contou
sobre o término de vocês. Eu não quero que ele sinta que foi pego de surpresa.

- É, você tá certo. Eu vou contar da próxima vez que nós conversarmos. Ele me
mandou flores ontem. Tem sido bem mais difícil do que eu pensei que seria.

- Você ainda tem certeza de que tomou a decisão certa?

- Sim. Katie concordou com a cabeça e olhou para as chaves na sua mão. Eu sei
que foi a decisão certa. A hora e o jeito como eu falei não foram legais, mas, sim, eu
ainda acho Rick e eu fomos o mais longe que nossos corações nos levariam. Eu sei
disso.

- Você precisa conversar com ele.

- Eu sei.

Eli ficou em pé ao lado dela, sem dizer nada. De novo ela notou a cicatriz em
forma de “L” do lado do pescoço dele. Ela sempre se perguntara se Eli tinha feito uma
cirurgia na garganta ou se a cicatriz era de alguma coisa casual como cair sobre um
caminhãozinho de brinquedo quando criança.

- Você sabe o que realmente tem sido estranho? Katie perguntou. Depois que eu
conversei com você quando eu estava na praia, eu decidi não dizer nada a ninguém até
que Rick e eu tenhamos uma chance de conversar sobre isso um pouco mais, e eu não
falei sobre isso com ninguém.

- Você não contou ao Ted e à Cris?

- Não. Não houve oportunidade. A Marta nos empurrou para uma grande refeição
no iate clube, uma mistura de café da manhã com almoço, e aí o Ted voltou pra casa
da praia pra surfar. Marta e Cris foram fazer compras. Acabou que só o tio Bob e eu
fomos olhar os carros, o que funcionou bem porque eu acabei comprando só um.

Eli sorriu.

- Você só comprou um? Quantos carros você estava planejando comprar?


Katie percebeu que ela quase tinha falado demais. Seu plano de surpreender Cris e
Ted ao comprar um carro para eles tinha se desmantelado enquanto ela estava com o
tio Bob. O calmo e sereno tio de Cris convenceu Katie de concentrar em sua própria
necessidade por um carro e esperar depois que ela se formasse para seguir sua idéia
de abençoar Cris e Ted com um carro.

Respondendo Eli honestamente, mas deixando que seu sarcasmo transparecesse


um pouco, Katie disse:

- Ah, eu pensei em começar com dois carros assim que eu recebesse meu
pagamento. Quero dizer, que melhor maneira de afogar as mágoas depois de um
término do que comprar uns carros?

Ao invés de rir da piada, Eli estendeu o braço e passou o dedo na linha do maxilar
dela. O breve e amoroso toque fez o coração de Katie balançar inesperadamente.

- Vai ficar tudo bem, Katie. Você vai ficar bem. O Rick vai ficar bem.

- Eu sei, ela disse suavemente.

Ela podia sentir seu rosto ficar rosado.

- Você precisa abrir seu coração para outras possibilidades.

Seu olhar estava fixo nela de um jeito que aludia afeição.

Quando Katie viu Eli pela primeira vez, ela tinha rapidamente percebido que uma
de suas características peculiares era o jeito como ele encarava as pessoas
curiosamente sem perceber o quanto isso era irritante e rude. Esse olhar não era como
seu velho jeito de encarar. Esse era um olhar de compaixão vindo do coração de um
amigo preocupado.

Katie tentou esconder seus sentimentos falando rapidamente:

- Se por outras possibilidades você esteja se referindo a procurar por um novo


namorado ao meu redor, você pode parar bem aí. Eu te falo agora mesmo que isso não
vai acontecer. Eu não quero saber de relacionamentos por um tempo. Um bom tempo.
Você não me conhece, mas eu sou famosa por causas das minhas declarações sobre
deixar essa de garotos pra lá. Mas dessa vez eu estou falando sério.

- Eu te conheço, Katie, Eli replicou em voz baixa, mas firme.

- Não, você não me conhece. Não nessa área. Eu sempre saio de paixonites
complicadas e digo que vou focar no Senhor e consertar com meu coração com Ele.
Mas dessa vez eu realmente sinto como se meu coração estivesse certo com Deus.
Então, se por acaso você estava tentando dizer que eu deveria estar aberta a outras
possibilidades porque você está pensando em me convidar para um encontro só por
caridade para me deixar feliz, não se incomode, porque eu não iria com você.

- Na verdade, eu quis dizer se abrir para outras possibilidades com relação ao que
vai fazer depois que você se formar.

- Ah.

- Mas obrigada pela dica sutil em relação aos seus sentimentos sobre nunca sair
comigo. Eli deu a ela outro de seus sorrisos tortos e subiu de volta no carrinho da
segurança.

- Não leve o que eu acabei dizer tão pro lado pessoal.

- Eu quase nunca levo. Ele ligou o carro e se foi, e ela o assistiu virar a esquina.

Eli Lorenzo, você é uma peça única dos esforços criativos de Deus no mundo dos
homens, isso eu te falo.

Katie se dirigiu até o Crown Hall, tentando entender o que Eli tinha acabado de
tentar comunicar por entre as linhas. Era possível que ele estivesse interessado nela?
Por que ele estaria?

Qual foi a frase que o Rick usou no verão passado? O Rick disse que o Eli me
achava memorável. Foi isso? Não, não era memorável. Inesquecível. É, foi isso. Eli disse
a Rick que eu era inesquecível. Por quê?

Ela relembrou as muitas conversas que ela e Eli tinham compartilhado desde o
último outono, quando ela foi ao deserto com ele uma noite para assistir uma chuva
de meteoros. Eles trabalharam lado a lado por semanas no projeto de levantamento
de fundos em prol da água limpa. Katie aprendera muito sobre Eli e sua infância na
África. Ele não tinha sido nada mais que um amigo pra ela. Pelo menos, era assim que
ela o via, uma vez que ela passara por cima da estranheza de estar perto dele. Um
amigo que não fazia questão de manter em segredo que ele orava por ela. A oração,
ela estava certa, era um hábito que ele deve ter desenvolvido durante sua infância
missionária.

Pegando o elevador rumo ao terceiro andar, Katie seguiu até o apartamento de


Julia. Ela facilmente deixou os pensamentos em Eli de lado. Ela tinha muito para
colocar em dia com Julia e um monte de papéis atrasados para entregar. Essa era a
primeira chance que ela tivera de encontrar com Julia depois de continuamente
arrumar pretextos para não marcar um encontro.

A porta do apartamento de Julia estava alguns centímetros aberta, Katie tomou


isso como um sinal para entrar até que ela ouviu vozes de lá de dentro. Recuando, ela
pretendia ouvir apenas tempo suficiente para determinar se a conversa era pessoal.
Ela reconheceu a voz de Nicole e se sentiu confiante de que o que quer que ela
estivesse contando a Julia, Nicole acabaria contando a Katie.

Katie estava quase entrando quando ela percebeu que Nicole estava chorando.
Katie hesitou, percebendo que ela poderia estar interrompendo alguma coisa.

- Não tem nada a ver com ela, Nicole disse. Sou eu. Ela não sabe como eu me sinto
e quão horríveis tem sido esses últimos meses toda vez que eu estou perto dele. Eu
realmente tenho tentado morrer pra mim mesma, como você me disse, mas isso está
me matando. Eu sei que está errado, mas eu não consigo me livrar desses sentimentos
pelo Rick.

Katie congelou. Rick! Sentimentos pelo Rick!

- Eu jamais faria algo para machucar a Katie. Ela é uma das minhas amigas mais
próximas.

Os pés de Katie pareciam estar colados no chão.

- Você tentou ficar menos perto do Rick? Julia perguntou.

- Sim. Mas aí ele aparece aqui pra ver a Katie e…

- O Rick te deu alguma indicação de que ele possa estar interessado em você? Ele
paquera você ou dá em cima de você de alguma forma?

Katie mal podia respirar.

- Não, o Rick não me paquera. Ele é legal comigo, mas eu não acredito que seja
muito diferente da maneira como ele é legal com outras pessoas.

- Você acha que todo o interesse é da sua parte, então?

- Sim, tenho certeza disso. O interesse é todo da minha parte. Eu gostaria de poder
me livrar disso. O Rick ama a Katie. Isso é óbvio. Eu não sei como eu não consigo enfiar
isso na minha cabeça e seguir em frente.

- Porque seu coração está envolvido nisso. Você abriu seu coração para a
possibilidade de amar, e, portanto seu coração não está obedecendo às ordens da sua
cabeça nesse quesito.

Katie sabia que ela precisava sair dali, mas ela não conseguia se mover.

-Então eu preciso fechar meu coração? É isso? Eu me sinto uma idiota por deixar
esses sentimentos continuarem por tanto tempo. Eu realmente tentei não sentir o que
eu sinto, mas não adianta.
- Você não tem que entender o que está acontecendo, Nicole, mas você precisa
confrontar isso, e por isso que eu estou feliz por você estar me contando tudo isso.

- Me diga o que fazer.

Katie podia ouvir Nicole chorando. Parte dela queria entrar correndo na sala,
agarrar Nicole e dizer, “Ele está livre, Nicole! Ele é todo seu! Você pode correr atrás do
Rick agora. Eu não estou mais em cena.” Mas outra parte dela queria entrar lá e se pôr
na frente de Nicole, sacudindo seu punho e gritando, “Como você se atreve a deixar
seu coração derreter pra cima do meu namorado sabendo que o nosso
relacionamento era sério!”

Katie sentiu seu estômago enjoado. A última coisa que ela queria fazer agora era
ter um encontro de avaliação com Julia. Ela sabia que não podia ser encontrada ali
parada no corredor ouvindo a conversa delas.

Com rápidos e rasteiros passos, Katie deu meia volta e voltou para o elevador. Ela
apertou o botão do térreo e saiu no lobby, onde um número de estudantes estava
reunido nos sofás.

Talitha, uma das outras ARs, chamou Katie pela janela aberta do escritório da
frente. Katie se virou e diminuiu o passo apenas tempo suficiente para apontar em
direção à porta e dizer:

- Tenho que correr.

- Isso chegou pra você, Talitha chamou de novo, apontando para um buquê de
flores mistas amarelas e azuis.

Katie inclinou a cabeça para trás e deixou escapar um suspiro. Rick, já chega de
flores! Eu não sou mais sua namorada!

Ela acenou para Talitha como que dizendo, “Fica pra você.”

Apressando-se para o estacionamento e para a confortável e acalentadora solidão


de seu carro, Katie entrou, fechou a porta, e pegou seu telefone.

Depois de pensar nas suas opções, ela finalmente enviou uma mensagem para
Julia, se desculpando por estar atrasada e perguntando se elas poderiam se encontrar
outra hora.

Batucando seu dedo no volante, Katie tentou pensar em como ela reagiria da
próxima vez que visse Nicole. Como a Nicole pôde carregar esses sentimentos pelo
Rick e ainda ser legal na minha frente?
Enquanto Katie dissecava os últimos meses, ela viu o comportamento de Nicole
perto dela e de Rick sob uma luz diferente. Ao invés de procurar evidências para
convencer sua amiga de ser duas caras, Katie percebeu que Nicole tinha sido ela
mesma o tempo todo. Ela realmente tinha reprimido seus sentimentos por Rick.

Isso fez Katie se perguntar: Será que Rick reprimiu sentimentos por Nicole?
Os dois combinavam muito mais que Rick e Katie. Nicole merecia Rick, e ele
certamente era digno da Nicole.

Por que eu não vi isso antes? A Nicole realmente manteve seus sentimentos sob
controle. Mas também, essa é a Nicole.

Katie estava tendo dificuldade em manter sua fúria original pela confissão de
Nicole. Nicole não tinha feito nada de inapropriado. Pelo menos, nada que Katie sabia.
Nicole não tentara chamar a atenção de Rick pra ela.

O celular de Katie vibrou. A mensagem que Julia retornou dizia, “VENHA AGORA”.

Enchendo suas bochechas enquanto ela expirava profundamente, Katie


murmurou:

- Isso não vai ser nada bom.

Antes que ela pudesse responder a mensagem, outra mensagem chegou. Era de
Rick.

“PODEMOS CONVERSAR?”

Katie respondeu Rick primeiro. “CLARO. QUANDO?”

“AGORA. EU ESTOU AQUI EM CIMA NO CAMPUS.”

Ela parou, orou, e então engoliu suas emoções antes de responder Rick e depois
Julia.

Para Rick, a resposta foi, “CLARO. TE ENCONTRO NO BANQUINHO.”

Para Julia ela escreveu, “DESCULPA. ESTOU INDO PARA UM ENCONTRO


IMPORTANTE. AMANHÃ?”

Então ela desligou seu telefone, colocou a chave na ignição, e dirigiu para a o
estacionamento na parte mais alta do campus. O que quer que acontecesse em
seguida, Katie tinha a sensação de que se lembraria pelo resto de sua vida.
Capítulo 12
O estacionamento de cascalho na parte alta do campus tinha apenas oito carros
quando Katie estacionou e foi em direção à calçada. Ela estava feliz por não haver
muitas pessoas ao redor. Isso significava que Rick e ela poderiam ter essa conversa de
forma privada. Ela tinha vacilado muito no final de semana anterior; dessa vez a
comunicação deles deveria ser clara. Em suas estimativas, ambos tinham que chegar à
mesma conclusão.

Rick estava esperando, sentado no banco. Ele não olhou para Katie enquanto
ela se aproximava.

Esse era o banco “deles”, um lugar onde os dois haviam sentado e se abraçado
em várias ocasiões. Ela pensou em como eles tinham sentado lá e assistido o por do sol
atrás da Ilha Catalina. Eles se beijaram enquanto o céu resplandecia uma vívida sombra
alaranjada. Rick disse que estava orgulhoso deles. Orgulhoso do relacionamento deles.

Nessa tarde o céu estava denso com fumaça e neblina. Em um dia como esse,
levava uma boa dose de imaginação para acreditar que o vasto Oceano Pacífico
poderia ser visto dessa parte no topo da grande mesa. O espírito de Katie sentia a
mesma densidade e neblina. Ela não podia imaginar que qualquer relacionamento com
Rick poderia ser mantido depois dessa conversa.

Sentando-se no banco, Katie fitou a vista densa e esfumaçada, esperando que


Rick falasse primeiro.

- Diga-me alguma coisa, Rick disse.

Katie examinou o perfil forte dele.

- Eu repassei mentalmente cada pedacinho do nosso relacionamento e eu não


entendo porque você disse aquelas coisas no sábado à noite. Ele se voltou para ela.
Seus olhos estavam vermelhos.

Rick esteve chorando?

Ela pensou que já tivesse chorado tudo, mas à medida que ela olhava nos olhos
dele, uma nova leva de lágrimas se ajuntou.

- Nós fizemos tudo certo, Katie.

- Eu sei.

Matava-a vê-lo assim. Alguma coisa dentro dela gritava. Apenas abrace-o! Vá
até ele. Deixe ele colocar o braço à sua volta. Você pode fazer tudo voltar a ser como
antes. Você não tem que sentir essa dor.
Rick mudou de posição e fez outra pergunta:

- Eu tenho que perguntar, por mais que eu não queira saber. Você tem que me
contar, Katie. Há outra pessoa?

- Não! Rick, não!

- Foi o dinheiro, então?

Katie piscou.

- O dinheiro? O que você quer dizer?

- Você estava chateada comigo no sábado por pressioná-la sobre a herança?

- Não, a herança não tem nada a ver com isso. Nunca teve. Isso é outra coisa.

- Então me ajude a entender, Katie. Eu não entendo o que está acontecendo.


Especialmente enquanto você está sentada aqui, olhando pra mim desse jeito.

- Que jeito? As palavras dela saíram sufocadas.

- Como se você se sentisse tão arrasada com isso tudo como eu estou.

A segunda leva de lágrimas de Katie saiu como uma tempestade. Ela sabia que
tinha que dizer a ele a verdade.

- É porque eu te amo, Rick. Eu te amo.

A expressão dele se dissolveu e ele avançou para a mão dela. Katie não a
afastou. Rick levou a mão fria dela aos lábios dele. Ele beijou as juntas dos dedos dela
e então abaixou a mão dela, mas continuou segurando-a firme.

- Eu sei que nós podemos fazer dar certo, Katie. Nós seguimos todas as regras.
Eu fiz um grande investimento no nosso relacionamento. Não é hora de pular fora.
Você tem que entender isso. Você obviamente se sente do mesmo jeito.

- Rick, só porque eu te amo não quer dizer que...

A mandíbula dele apertou. Lágrimas rolaram dos cantos dos olhos cor de
chocolate dele. A voz dele era quase um sussurro.

- Nós podemos fazer dar certo.

Afastando-se lentamente, Katie tentou com todas as suas forças continuar


falando o que ela sabia que era verdade.

- Rick, ouça. Você tem que me ouvir. Fazer alguma coisa funcionar ou fazer um
grande investimento, como você diz, não é a mesma coisa que estar unido no coração.
- Mas você acabou de dizer que me ama. Você sabe que me ama, Katie.

Katie lamentou suas palavras. Elas eram verdadeiras, mas nesse momento
aquela verdade em particular não a estava libertando. Ela deixou a mão de Rick e
exalou como se a conexão entre eles tivesse sido liberada.

Sentindo um pouco de força, ela disse:

- O nosso relacionamento como um casal foi tão longe quanto poderia, Rick. Se
você for honesto consigo mesmo, eu sei que você vai concordar.

Ele respirou profundamente. “Eu concordo com você, Katie.

Katie sentiu um banho de alívio vindo a ela. Finalmente! Aceitação.

Rick sentou ereto. Ele parecia mais sintonizado com o que Katie estava dizendo
e não tão arrasado mais.

- Eu sei – Rick limpou a garganta – não é exatamente assim que eu pensei que
essa parte do nosso relacionamento seria.

- Eu sei. Nem eu.

- Mas você está certa. Nós não podíamos ir do jeito que estávamos.

Katie concordou e esperou que Rick fosse voltar ao seu jeito galanteador agora.
Ele precisava marcar o final do relacionamento com as suas usuais força e confiança.
Ela não queria perder tudo o que eles tinham compartilhado. Não a amizade. Não as
memórias. Não todos os bons momentos. Ela queria que eles seguissem em frente dali
em diante.

- Eu não posso dizer que eu gostei do jeito que as coisas aconteceram no


sábado, Rick disse.

- Eu sei. Eu sinto muito por ter sido tão insensível e jogado as coisas na sua cara
no meio da noite.

- Tudo bem. Você estava sendo honesta. Você é assim, Katie. É como você faz
as coisas. Eu aceito isso em você. Eu pensei que eu estivesse levando as coisas no
ritmo certo para nós, mas talvez eu devesse ter-nos trazido a esse ponto mais cedo.

- Isso não importa agora. Katie se sentiu aliviada que pudessem conversar sobre
o relacionamento deles objetivamente.

- Você está certa. Não importa agora. O que importa é o que vai acontecer
depois.

- Concordo.
Rick deu a ela um olhar cheio de todo vigor selvagem que ele exibia no campo
de futebol quando eles estavam no ensino médio. O queixo dele estava rígido e firme.
Estreitando o olhar, ele deslizou do banco e se abaixou em um joelho.

- Katie, eu te amo.

Ela congelou.

O quê? Agora? Agora que você me diz isso? Rick, o que você está fazendo?

Rick avançou para o bolso da jaqueta e tirou a caixa de um anel. Ele abriu a
caixa e com palavras firmes, disse:

- Esse também era da minha avó. Eu precisava ajustar o tamanho para você,
mas eu estava esperando até...

Katie pôs-se de pé num salto e gritou:

- Rick, não. Não!

Ele olhou perdido e confuso, preso ali de joelho com um diamante solitário em
sua mão.

- Katie, eu ainda não fiz o pedido.

- Então não faça. Por favor!

Com seu coração batendo forte, Katie agarrou Rick pela mão e o colocou de pé.

- Escute, você tem que ouvir o que eu estou dizendo. Nós terminamos! Você e
eu ainda estamos terminados.

Rick franziu a testa.

- Eu pensei que você estivesse tentando me motivar.

- Tentando te motivar?

Eu pensei que você estivesse triste porque Marta perguntou se nós já tínhamos
marcado uma data.

- Não!

- Então você não estava usando o rompimento como uma ameaça para
conseguir um pedido de casamento?

- Eu não posso acreditar que você acabou de me perguntar isso. Não! Eu não
estava ameaçando você. Eu nunca faria isso. O que eu disse sábado à noite não foi um
falso ultimato. Eu nunca tentei forçar você a dizer que me ama. Eu nunca o
pressionaria a ponto de você pensar que a única opção fosse um pedido de
casamento. Você não sabe que eu não sou assim?

Ele se afastou. A mandíbula dele se apertou.

- Eu não sei como você é mais, Katie. Eu realmente não sei. O jeito que você
vinha agindo não faz sentido para mim. Sua mente é um enigma. Como eu deveria
saber o que está acontecendo com você?

- É isso que eu estou tentando te falar! Você e eu não mais somos bons juntos.
Não para algo mais duradouro. Nós estamos em extremos diferentes. Nossas
habilidades de comunicação estão terríveis. Nossos objetivos de vida são opostos.
Nossos corações podem estar no lugar certo, mas nós definitivamente não estamos
indo para a mesma direção. Você não percebe?

Quanto mais firme ela tentava ser, mais rígida a mandíbula do Rick ficava. Katie
sabia que ele devia estar se sentindo tanto humilhado como frustrado. Nada que ela
fizesse poderia suavizar as coisas.

Por um breve momento, Katie considerou lançar sua carta na manga e contar a
Rick como Nicole se sentia com relação a ele. Mas isso não ajudaria agora. E seria trair
a confidência de Nicole à Julia. Uma confidência que Katie não deveria ter ouvido.

Por uma vez em toda sua vida, Katie manteve sua boca fechada. Seu coração
estava pulando e sua adrenalina estava pulsando, mas seus lábios não estavam se
movendo.

Rick levou os seus ombros pra trás. As linhas ao longo da sua testa estavam
apertadas. Sua boca fazia uma linha pequena e fina. Katie conhecia aquele olhar. Rick
estava furioso.

- Sabe o que é? Estou cheio disso. Tudo isso. Você e eu estamos terminados,
Katie. É óbvio que nós não estamos seguindo na mesma direção.

O queixo de Katie caiu. Ela queria rebater com, “Alô! O que você acha que eu
estava tentando te dizer?”

Em vez disso, ela deixou as palavras de término virem dos lábios de Rick para
que ele ficasse com elas. Ela notou que ele tinha guardado a caixa com o anel de volta
no bolso da sua jaqueta como se o tesouro nunca tivesse sido revelado.

- Realmente me chateia muito que nós tenhamos terminado desse jeito, Katie.
Você não tem idéia de como...

Ele parecia picar suas palavras finais em metades e tragá-las, ardentes e


inteiras, em vez de cuspi-las em Katie.
- Nós terminamos.

Com movimentos bruscos, Rick passou por ela e fez a sua saída.

- Rick, espere!

Ele continuou caminhando, rápido e determinado.

- Rick!

Ele não diminuiu por um momento.

Katie se recusou a correr atrás dele. Ela sentia uma fúria crescendo dentro dela
por ser ele a sair marchando e marcar o relacionamento deles com essa memória final.
Em vez de chamar por ele pela terceira vez, Katie o deixou ir. Esse era o Rick. O
verdadeiro Rick. Ela havia dito que queria que ele fosse verdadeiro consigo mesmo e
não o Rick sufocado que perdera todo o seu fogo. Se ele queria fazer uma grande
saída, deixe.

Afundando no banco e encarando a tigela de sopa de fumaça no vale abaixo,


Katie tentou decidir o que fazer. Isso é terrível. Por mais certo que isso seja, é terrível.
Esfregando a testa, ela franziu-a. A raiva dela pela saída do Rick tinha chamejado e se
queimado rapidamente. Tudo o que ela queria agora era estar perto de uma amiga.
Uma verdadeira, eterna amiga.

Cris.

Katie levou algum tempo para chegar à livraria A Arca onde Cris trabalhava. O
tráfego do início da noite estava pesado e um dos semáforos não estava funcionando.

Só para ter certeza de que Cris estava no trabalho, Katie telefonou para A Arca.
Para sua surpresa, a mãe de Rick atendeu ao telefone. Os Doyle eram donos do café e
da livraria, mas a mãe do Rick já não administrava mais a livraria.

- Katie, ótimo você ter ligado bem agora.

- Eu liguei para A Arca, não liguei?”

- Sim, eu já estava saindo, mas ninguém mais estava disponível para atender ao
telefone. Ouça, eu estou planejando uma recepção de formatura na nossa casa e eu
quero encomendar os convites essa semana. Você sabe quantas pessoas você quer
convidar?

- Convidar? Não entendi.

- Eu pensei que o Rick tivesse comentado com você.

- Na verdade, Rick e eu...


- Não importa. Deixe-me lhe dizer o que eu estava pensando. Já que você,
Nicole e Eli estão se formando este ano, eu pensei que poderíamos oferecer uma festa
na nossa casa para todas as famílias e amigos.

- Hmm, eu não acho que essa seja uma idéia tão boa. Quero dizer, obrigada por
pensar em fazer isso, mas...

- Katie, você sabe que é impossível me convencer a não fazer uma festa. Eu já
organizei os detalhes com Nicole e a mãe dela. Agora, você tem uma idéia de quantos
convites você vai querer? Eu posso ajudar a endereçar e enviá-los para você, se você
quiser. Isso tiraria um pouco da pressão de você, o que eu suponho que seria bem útil
agora.

- Você não tem idéia, Katie murmurou.

- Bom. Ok, bem, me mande um e-mail e me informe quantas pessoas você quer
convidar. Eu realmente estou procurando ter todos em nossa casa. Tirando do Dia de
Ação de Graças e o Natal, nós quase não temos nos divertido desde que nos mudamos
para cá. Vai ser maravilhoso.

Após uma pausa embaraçosa, Katie encontrou palavras suficientes para dizer:

- Cris está aí?

- Não, ela e Ted saíram há mais ou menos meia hora.

- Ok. Obrigada. Katie desligou e pressionou o nome de Cris no telefone.

Ted respondeu.

- Cris está aí? Parecia ser a única frase que Katie conseguia falar sem explodir
seu cérebro já super desgastado.

- Ela está bem aqui, mas o médico acabou de chegar. Você quer que ela te ligue
de volta?

Katie encontrou o resto de suas palavras rapidamente.

- Médico? Está tudo bem? O que aconteceu? Onde vocês estão? Vocês estão no
hospital?

- Não, nós estamos na Clínica River Rock. Eu vou dizer a ela que te ligue de
volta, Katie. Ted desligou antes que Katie pudesse golpeá-lo com ainda mais perguntas.

No semáforo seguinte, Katie virou à esquerda e dirigiu para a Clínica River Rock.
Seu coração estava pulando de novo. Ela estava certa que esse era o restinho de
adrenalina que o seu pobre corpo poderia produzir em um dia.
Por que Cris estaria no médico? Ela não está grávida, está? É por isso que Ted
foi com ela? Para descobrir se ela está grávida? Por que o Ted não podia apenas me
dizer, se fosse esse o caso? Por que ele é sempre tão desligado?

- Homens! Katie gritou pela janela aberta do seu carro enquanto ela dirigia pela
auto-estrada. Vocês me deixam loucos! Todos vocês!
Capítulo 13
Às 6:45 daquela noite, chegando ao fim de um dos dias mais cheios de emoção da
vida de Katie, ela encontrou consolo temporário em um grande Chimichanga na Casa
de Pedro.

Ted e Cris se sentaram na frente dela no quiosque enquanto os três desfrutavam


de uma grande cesta de tortillas mornas. Katie resumiu a última semana de sua vida
para eles.

Cris inclinou a cabeça.

- Então o Rick foi embora com o anel no bolso e nada ficou resolvido?

- Não. Quero dizer, sim, ele foi embora, mas nada ficou sem ser resolvido. Tudo o
que foi dito precisava ser dito. Nós terminamos.

- E quanto à Nicole? Cris perguntou.

- Eu não sei o que vai acontecer agora. Mas, vocês dois, vocês têm que me
prometer que não vão dizer nada pro Rick sobre a Nicole. Quero dizer, se houver
alguma possibilidade deles ficarem juntos, eu acho que isso vai encontrar um jeito de
vir à tona.

Katie recostou na cadeira e apertou seu copo de água gelada na testa.

- Eu estou mesmo cheia de todo esse drama. Entende o que eu estou dizendo?
Quando eu olho atrás para os últimos dez anos da minha vida, eu fico envergonhada
com quão impulsivamente eu agi.

- Você quer dizer, como dirigir até a clínica River Rock e pular em cima de nós
quando nós saímos rumo à sala de espera? Ted perguntou com um sorriso.

- Estou contente por seus dias impulsivos terem acabado.

- Aquilo foi diferente. Alguém, que eu não vou dizer o nome, desligou o telefone
antes de compartilhar o simples detalhe que a sua esposa estava tendo uma verruga
retirada das costas. Minha imaginação foi um pouco longe.

- Não era nada sério, Katie, Cris disse.

O garçom colocou um grande prato de tacos de peixe na frente de Ted e um prato


de enchiladas12 de queijo na frente de Cris. O monstruoso chimichanga veio até Katie.
Ela deu uma grande mordida e deixou o queijo quente e a carne moída ajudarem-na a

12
Enchilada é uma panqueca de milho mexicana, muito condimentada, recheada de carne de vaca,
feijões ou frango e que leva por cima molho de piripíri e queijo ralado.
liberar suas emoções. Ela percebeu que tudo o que havia comido aquele dia fora meio
bagel13 com geléia de morango pela manhã. O resto do dia foi agitado para ela.
Comida era uma coisa maravilhosa.

- A parte que eu perdi, Ted disse, foi porque você decidiu romper com o Rick. O
que aconteceu sábado à noite?

- Eu não sei. Eu estava lá deitada e, de repente, eu sabia que nós estávamos


acabados. Eu não poderia ir mais longe em meu relacionamento com o Rick. A ficha
caiu quando eu percebi como você e a Cris dormem juntos.

Ted se sentou um pouco mais reto e olhou para Cris com um olhar meio tímido e
meio divertido.

- O que você andou contando a ela?

- Nada pessoal. O rosto de Cris ficou vermelho.

- Não se preocupe, Ted. Todos os seus segredos estão a salvo com ela. Eu não me
referia a esse tipo de dormir junto. O que eu estava pensando sobre sábado à noite foi
como os seus corações estão conectados. Vocês vão para casa se encontrar todas as
noites, mas vocês, na verdade, só estão em casa quando estão nos braços um do
outro. Você entende o que eu quero dizer? Vocês combinam. Cada parte do
relacionamento de vocês se encaixa.

Cris deu a Ted um caloroso sorriso de ‘você-é-o-meu-amado’.

Ted beijou sua esposa e sorriu ternamente.

- Vocês dois são uma gracinha. Eu já disse isso alguma vez?

Cris deu a ela um sorriso contente, e Katie sentiu uma tristeza aguda sobre a
realidade de que ela e Rick estavam realmente, verdadeiramente terminados.

- Eu não posso deixar que isso me ponha pra baixo, Katie disse mais para si própria
do que para Cris e Ted. Acabou. Rick e eu estamos terminados. E eu estou realmente
exausta, sabe? Agora eu preciso focar minha energia na faculdade. Eu estou correndo
contra o tempo. Estou muito atrasada nas minhas matérias. Tudo o que eu preciso
fazer nas próximas cinco semanas é terminar a faculdade.

Assim que Katie mordeu outro pedaço, Ted disse:

- E depois?

13
Bagel é um produto de pão tradicionalmente feito de massa de farinha de trigo fermentada, na forma
de um anel, feito sob-medida à mão e que primeiro é fervido em água e depois cozido.
Ela deu de ombros e continuou mastigando, usando a comida como uma boa
desculpa para não responder.

- Nós podemos ter uma vaga na livraria, Cris disse. Eu não sei se você iria querer
trabalhar lá, mas um dos rapazes disse que não vai continuar depois que terminar a
faculdade.

Katie não tinha interesse em trabalhar na Arca, apesar de que seria divertido estar
com Cris todos os dias. Pensar na Arca lembrou a ela do que a mãe de Rick disse
quando Katie ligou mais cedo, procurando por Cris.

- Isso me leva a outro dilema. A mãe do Rick está planejando uma grande festa
para nós três.

- Vocês três? Ted perguntou.

- Nicole, Eli e eu. Nós três que vamos nos formar. Tenho certeza que ela vai
cancelar assim que o Rick contar que nós terminamos.

- E se ela não cancelar? E se ela ainda quiser dar uma festa? Cris perguntou.

- Seria um pouco estranho, você não acha?

- Não necessariamente. Não com a mãe do Rick. Katie, tente olhar para a figura
como um todo. Se ela ainda quiser dar uma festa para todos vocês, pense em sua
amizade com Nicole, Eli e até mesmo com Rick. Não tome sua decisão baseando-se
apenas no que aconteceu esta semana.

Cris apertou o lado do garfo em uma das enchiladas e tirou um pequeno pedaço.
Antes de colocá-lo na boca, ela disse:

- Você é uma mulher de opções. Você pode fazer o que você quiser.

Katie mordeu seu chimichanga. Parecia surreal que aqueles três estivessem
sentados ali, discutindo sua vida nos termos de ‘figura como um todo’ e como ela era
uma mulher de opções. Ela não sabia se esperava que Ted e Cris ficassem mais
surpresos pelo o rompimento, mas alguma coisa parecia estar fora do lugar. Nenhum
deles parecia tão preocupado quanto ela pensou que eles ficariam. Afastando seu
prato, Katie olhou para Cris e então para Ted.

- Vocês sabiam que eu e o Rick iríamos terminar?

- Não, Cris disse.

- Nenhum de vocês parece muito surpreso. Katie pegou a sua água e tomou um
longo gole enquanto seus amigos trocavam olhares. Eles não disseram nada.
- Qual é o problema? Vocês estavam mantendo encontros de oração secretos com
Eli para que eu e Rick rompêssemos?

- Claro que não, Ted disse.

- Então o que vocês estão pensando sobre isso tudo? Me dêem algum retorno
aqui. Está difícil pra mim decifrar vocês.

Ted olhou para Katie com simpatia em seus olhos azul-prateados.

- Eu acho que você está ouvindo o Senhor e seguindo o que acredita que ele está
te falando. É o caminho da vida, Katie. Permanecer ouvindo e permanecer seguindo
para onde quer que ele guie você.

- É isso o que você pensa também? Katie perguntou para Cris.

- Sim. E, Katie, eu estou triste por você e Rick terem terminado. Pode não parecer,
mas eu sinto muito por você. Ela avançou por sobre a mesa e apertou o braço de Katie.
Eu acho que você está lidando muito bem com tudo isso.

- Obrigada.

- Eu quero que você acabe com um cara que veja quem você realmente é, a
verdadeira Katie. Alguém que te dê bastante espaço para esse seu espírito livre e ao
mesmo tempo te encoraje a estar centralizada em Cristo.

- E você não via isso acontecendo quando eu estava com Rick?

- Algumas vezes, Ted disse. Com um sorriso ele adicionou, Vocês certamente
tiveram seus momentos.

As emoções de Katie se tornaram saudosas.

- É, nós tivemos.

Ela deu um olhar cansado para seu prato que estava pela metade.

- Eu não posso acreditar nisso, mas eu estou cheia. Eu estava planejando comer
essa coisa inteira.

- Você e Eli são as duas únicas pessoas que eu conheço que consideram uma
vitória pessoal conseguir comer um desse inteiro, Ted disse.

- Eu já vi você comer um inteiro, Cris disse para Ted.

- Mas eu não levo isso como um desafio. Eu só gosto de comer.

Por alguma razão, o comentário do Ted relacionando-a com Eli pegou Katie. Ela
não sabia por que, mas ela sentia como se uma linha extremamente esticada dentro
dela, estivesse prestes a arrebentar. Se ele ficasse lá mais um minuto, o que ela faria
em seguida não seria bonito.

- Sabe o que é? Eu tenho que ir. Katie lançou sua parte do dinheiro na mesa. Não
levem isso para o lado pessoal, mas eu estou morta. Falo com vocês mais tarde.

- Você está bem? Cris perguntou.

- Não. Eu não estou. Mas eu vou ficar. Espero.

Katie deslizou para fora do quiosque e captou o olhar de Ted.

A expressão dele era calma e estranhamente tranqüilizadora. Com seu gesto típico
de levantar o queixo, ele disse:

- Até mais, Katie.

- Até mais.

Abastecida apenas o suficiente pelas suas sete mordidas no chimichanga gigante


da Casa de Pedro e pela necessidade de liberar a intensidade das suas emoções, Katie
dirigiu direto pela planície até a Rancho Corona. Ela estacionou o carro, caminhou para
dentro do Crown Hall, foi diretamente ao quarto de Nicole e bateu.

Nenhuma resposta. Ela bateu de novo.

- Nicole, é a Katie.

A porta abriu, e Nicole ofereceu a Katie um sorriso apertado e casualmente disse:

- E aí?

- Preciso conversar com você.

- Oh. Bem, eu estava na verdade tentando terminar um...

- Eu sei; eu também. Mas eu preciso conversar com você agora.

Nicole ficou de lado, deixando Katie entrar, fechando a porta, e então foi para
cima da cama e apanhou seu telefone celular.

- Eu vou ter que te ligar de volta... Claro... Ok, eu vou. Você também. Tchau.

Nicole sentou na cama enquanto Katie se acomodava na cadeira ao lado onde ela
normalmente sentava para conversas longas e vagarosas. Esta noite ela estava
determinada a manter a conversa curta.

- É o seguinte, Katie começou. Eu não queria, mas eu estava do lado de fora da


porta de Julia hoje mais cedo e ouvi o que você estava falando com ela.
O rosto de Nicole ficou pálido. Seus lábios se abriram, mas nenhuma palavra veio.

- Não diga nada, por favor. Apenas ouça. Eu sei que este não é um jeito muito bom
de comunicar, mas parece ser o único jeito que sou capaz de expressar meus
verdadeiros sentimentos esta semana. Nicole, você é uma grande amiga. Você sempre
foi uma grande amiga. Eu nunca senti como se você estivesse tentando roubar o Rick
de mim, então eu não sinto que você tenha que explicar nada disso. Eu sei como é
amá-lo. Eu soube como é durante um longo tempo. E eu suponho que eu vou
continuar me sentindo desse jeito por um tempo ainda maior.

Nicole estava chorando em silêncio.

Katie continuou, sem saber se essa era uma rota sábia ou não. Tudo o que ela
sabia era que ela iria explodir se tivesse que viver no mesmo andar com Nicole e não
poder levantar esse assunto.

- Então aqui está a outra parte que você já deve ou não saber. Eu terminei com
Rick.

A mão de Nicole voou para a sua boca.

- Katie!

- Não foi por sua causa. Eu terminei com ele sábado à noite. Não estava
totalmente acertado, eu suponho, então Rick terminou comigo esta tarde. Nós
terminamos. De verdade. Sim, eu estou um pouco confusa, mas eu estou bem. Eu acho
que Rick está bem também. Ou, pelo menos, ele vai ficar. Ele não sabe como você se
sente com relação a ele. Bem, talvez ele saiba, apenas do jeito que os garotos sabem
esse tipo de coisas a respeito das garotas, mas ele está agindo como se não soubesse,
sabe?

Nicole avançou para um lenço. Ela parecia uma bagunça emocional.

- É isso. Eu não sei o que vai acontecer agora, mas você tem a minha benção. Eu
não vou dizer nada ao Rick. Você nunca mais precisa falar comigo sobre essa conversa
se você não quiser. Eu estou exausta. Se alguém precisar de mim para os negócios
oficiais do andar, eu vou estar no meu quarto tentando descobrir uma forma de fazer
o impossível e finalizar tudo antes da formatura.

Katie se levantou e foi para a porta. Ela parou antes de sair.

- Sabe qual a maior surpresa nisso tudo? A verdade pode ser muito crua às vezes.
E aqui está a verdade que eu aprendi. É possível amar alguém, e eu quero dizer amar
realmente, e acabar não passando o resto da sua vida com ele. Não é estranho? É
como uma antítese de todos os contos de fadas que nós ouvimos. Mas é a verdade.
Um claro pensamento veio a ela.

- Sabe, eu suponho que eu agora saiba um pouquinho como Deus se sente. Uau, é
um sentimento horrível.

Com mais um último pensamento, Katie ofereceu a Nicole uma expressão


simpática.

- Desculpe entregar tudo isso sem muita delicadeza. Mas você vai ficar bem. Você
vai. Não importa o que aconteça.

Nicole permaneceu sentada imóvel na sua cama, piscando através de uma


inundação de lágrimas. Ela acenou e Katie saiu.

Três mulheres pararam Katie enquanto ela fazia o caminho até o seu quarto no
fim do corredor. Duas delas queriam detalhes sobre a Festa de Primavera, o evento
social de todos os dormitórios que estava marcado para a penúltima semana de abril.
Uma delas só queria conversar.

Katie escutou ausente por mais ou menos quatro minutos e então disse.

- Nós podemos terminar essa conversa um pouco mais tarde? Eu realmente tenho
que ir ao banheiro.

Era verdade. Mas assim que Katie se isolou na cabine do banheiro, ela não queria
sair. Ela não queria encarar ninguém no andar. Ela não queria redigir nenhum artigo,
nem queria ir à aula segunda feira e pedir por outra semana em um de seus projetos
que já estava atrasado. Não tinha jeito de ela terminar nada. Ela estava exausta.
Mente, corpo e alma. Exausta.
Capítulo 14
O alarme do celular de Katie despertou as 8:00 da manhã do sábado, forçando ela
a se levantar da cama depois de menos de cinco horas de sono. Ela tropeçou na
bagunça de seu quarto procurando algo para vestir e bateu o dedo do pé na cadeira da
mesa. Pulando pra cima e pra baixo num pé só ela não queria nada mais do que atirar-
se de volta na cama e dormir por mais uma semana. Mas Julia tinha procurado por ela
na noite passada, e insistiu para agendar a conversa delas, há muito esperada, para
esta manhã. Exausta e com os olhos e a mente embaçados, Katie não estava olhando
para frente, para todas as palavras que ela teria que travar com Julia e para a sua vida
virada.

Puxando um par de jeans amarrotado, um moletom, e sandálias de dedo, Katie


pôs os cabelos em um clipe. A cabeça dela doía.

- É melhor não ficar doente, isso é tudo que eu posso dizer. Por favor, Deus,
apenas mais algumas semanas. Então... bem, eu não sei o que vai ser então, mas com
certeza será mais conveniente ficar doente.

Katie parou no banheiro no seu caminho para o hall e sentiu admiração por Cris.
Como ela tinha administrado o ultimo ano da graduação e se casado uma semana
depois estava além da compreensão de Katie. Ela tinha certeza de que ela não tinha
sido suficientemente útil ou compreensiva para a amiga no momento. Agora ela sabia
muito bem o que era como estar na reta final. Julia estava esperando por ela no lobby
com um ‘sorriso-maior-que-o-normal’.

- Você parece que precisa de um pouco de café.

- Sim, uns 12 copos do mais forte que você puder encontrar.

- Você quer dirigir, ou pode ser eu?

- Melhor você. Não trouxe minha carteira.

- Isso é conveniente. Coisa boa eu ter dito que estava pagando. Julia abriu a porta
para Katie e seguiu-a para fora no dia novo e brilhante.

- A chuva da noite passada realmente deixou tudo limpo e novo.

Katie bocejou.

- Choveu?

- Você devia estava numa caverna, não era?


Pior do que isso. Mais como um coma. Tem certeza de que quer conversar comigo
essa manhã? Eu já sei minha pontuação de AR final desse ano.

- Não você não sabe. E sim que quero conversar com você. Estamos fora há muito
tempo.

Julia abriu a porta do carro para Katie. Ela rastejou e enrolou-se na lateral, como
se ela fosse voltar a dormir.

Julia riu.

- Eu vou acordá-la quando chegarmos lá, e você pode me responder a minha longa
lista de questões. Daqui até o coffe shop, tudo que você tem a fazer é ouvir. Eu tenho
algo para lhe dizer.

Os olhos de Katie ficaram fechados por menos de 10 segundos. O que Julia disse
fez Katie abrir os olhos instantaneamente.

- Eu vou me casar.

Sentada, Katie falou impetuosamente:

- Com quem? Trent?

Julia puxou-se para trás, atordoada.

- Como você sabe sobre Trent?

- Você me falou sobre ele a alguns meses atrás.

- Eu disse? O que foi que eu disse a você?

- Você disse que estava apaixonada por ele quando vocês eram estudantes aqui no
Rancho. Mas você obviamente não terminou com ele. O que você disse ficou comigo
porque você disse que continuava tendo sentimentos por ele, pois o amor não vai
embora apenas porque pessoas vão embora. Alguma coisa como isso. Eu me lembrei
do que você disse. Eu também perguntei se ele tinha casado com outra, e você disse
que não.

Lágrimas se formaram no canto dos olhos de Júlia e escorriam pelo seu rosto
enquanto ela dirigia na descida do morro.

- Oh, não. Eu disse alguma coisa errada, não disse?

- Tudo bem. Realmente. Eu esqueci que tinha falado sobre o Trent pra você.

- Então você não vai se casar com o Trent.

- Não, eu vou me casar com John Ambrose.


- Porque esse nome me parece familiar?

Katie estalou os dedos e ficou sentada todo caminho no seu assento.

- Dr. Ambrose? Você está brincando comigo? Eu estava na classe dele de história
do Velho Testamento há alguns anos atrás logo após sua esposa faleceu. Ele é o cara
mais legal. E aquela voz! Eu adorava quando ele lia as Escrituras para nós em sala de
aula como uma bênção. Mas espere. Quando isso tudo aconteceu? Quando você
encontrou tempo para se apaixonar por um professor do Rancho Corona? Julia sorriu.

- Ano passado. Ele fez a oração de encerramento da conferência de missões na


capela, e eu apenas abri os meus olhos depois que ele disse ‘amem’ e eu não sei, meu
coração estava voltado para ele.

- Isso é tão lindo. Então o que aconteceu?

- John demorou um pouco mais para me descobrir, mas quando ele fez isso, foi
tudo muito rápido. Vamos nos casar logo que as aulas terminarem. Vamos ter tempo
para espremer uma lua – de - mel antes que ele tenha que voltar para os cursos de
verão.

- Wow! Julia, eu estou tão feliz por você.

- Obrigado. Estou estática. Nós dois estamos. Escolhemos manter nosso


relacionamento oculto por um bom tempo, e agora que estamos namorando
oficialmente, eu estou praticamente tonta.

- Do jeito que você deveria estar! Isto mostrará aquele velho Trent, huh?

A expressão de Julia mudou de um sorriso rosado de amor para uma triste


sombra.

- Eu fiz de novo, não fiz? Desculpe-me. Eu simplesmente não sei quando manter o
bico fechado.

Julia parecia estar pensando por um momento antes de entrar com o carro no
estacionamento de uma loja de ferramentas.

- Porque você parou aqui? Eles vedem café em lojas de ferramentas agora?

- Não. Julia desligou o carro e virou-se no banco para encarar Katie. Eu quero
conversar com você sobre o Trent.

- Você não precisa fazer isso.


- Não, eu acho que preciso sim. Nada do que eu te digo é informação que circula
no campus, certo? John sabe, é claro, e quando Craig me contratou como diretora
residente, ele sabia. Agora eu quero que você saiba.

Katie não estava preparada para entrar na intimidade de Júlia daquela maneira.
Ela desejava que ela não tivesse sumido com os comentários sobre Trent e teria
apenas que deixar Julia manter os segredos dela.

- Trent e eu namoramos por alguns meses depois que terminamos o colégio. Nós
fomos praticar esqui aquático no Lago Tahoe com alguns amigos naquele verão, e
Trent se machucou seriamente em um acidente com outro barco, quando ele estava
esquiando. Ele teve que ser levado para o hospital e ficou em coma.

Nesta altura da conversa, Julia falava normalmente. Quando foi pra próxima parte
da história, sua voz ficou baixa, e suas palavras eram estendidas, como se causasse dor
pronúncia-las.

- Trent perdeu sua perna direita e ficou em coma por 2 semanas..

- Que coisa horrível!!

Julia continuou sem receber a simpatia de Katie.

- Quando saiu do coma, ele não era o mesmo. Ele não lembrava quem eu era. Eu
me mudei para poder ficar perto dele e ajudar na fisioterapia e na longa recuperação.
Ele fez por aproximadamente 3 meses, e então ele simplesmente desistiu, eu acho. O
médico disse que o dano no seu cérebro foi maior do que se pensava a princípio. Dois
anos após o acidente, Trent continuava sem me reconhecer.

- Oh, Julia.

- Ele morreu a três anos atrás de um aneurisma.

Elas duas ficaram em silêncio por alguns momentos antes que Katie falasse de
novo.

- Por isso você me disse que o amor não vai embora apenas por que pessoas vão
embora.

Julia acenou com cabeça e pegou um tecido de uma caixa no banco traseiro de seu
carro.

- Você pode realmente amar alguém mas não ficar com ele para sempre.

Katie tinha dito a mesma coisa quando ela estava no quarto de Nicole no dia
anterior.
Julia acenou de novo.

- O amor é misterioso. Ele pode ser irremediável e também doloroso.

- Eu concordo com mais do que você pode imaginar. Cris falou sobre como o amor
verdadeiro é um comprometimento incondicional com uma pessoa imperfeita é mais
do que isso, porém, não é? Amor tem que ser aceitar o que é verdadeiro e ir além.

Julia inclinou a cabeça.

- Eu estou certa em achar que você tem feito algum credito extra ultimamente
estudando o amor?

- Sim, mas que não quero falar sobre mim ainda. Continue com a sua história de
amor.

- Eu não sei o que mais dizer. Eu tenho que acreditar que você tem que ser
corajoso para sobreviver ao verdadeiro amor. Tanto John quanto eu passamos por
alguns vales profundos, escuros. John disse que toda a dor e trevas que nos
experimentamos fez o nosso amor um pelo outro muito mais poderoso e altamente
valorizado. Eu concordo com ele. Nós não vamos ser do tipo de casal que discute sobre
as pequenas coisas. Nos sabemos que isto é um presente, ter um ao outro e nos sentir
como nos sentimos.

- Isso é tão incrível, Julia. Tão lindo. Eu não sei se eu tenho as palavras certas pra
te dizer como eu estou feliz por você. Por vocês dois. Isso parece uma grande ‘coisa-
de-Deus’.

Julia deu a Katie um grande sorriso.

- Você já disse que tudo bem. Obrigada, Katie.

- Ouvir a sua história me dá esperança.

- Esperança é a coisa com penas em poleiros na alma, que canta a música sem
palavras e nunca pára em todas.

- Eu amei isso! Você não fez isso agora, fez?

- Não, isso é de um poema de Emily Dickinson

- Você está falando da Emily do nosso andar? Uma que toca violão? Eu sabia que
ela escrevia musicas. Ela escreve poemas também?

- Não, eu estou falando de Emily Dickinson, a poeta. Por volta de 1800? Centenas
de pequenos poemas publicados depois que ela morreu?
- Acho que eu deveria saber, certo? Quer dizer, estou quase formada na
faculdade. Eu acho que deveria ser bem versada em artes, literatura, ciências,
humanidades, e...

- E os eternos mistérios do amor, Julia acrescentou com um sorriso.

- Também.

- Então vamos começar. Diga-me tudo que você sabe sobre os eternos mistérios
do amor.

- Dói.

- Ah, então eu acho que você e eu temos algumas coisas a dizer sobre isso.

- Sim, eu acho que nós temos.

Julia e Katie começaram sua conversa multifacetada no carro enquanto


estacionavam em frente à loja de ferragens. Cerca de quarenta minutos depois,
quando Julia já tinha uma visão bastante completa do último mês de vida de Katie, ela
ligou o motor.

- Você vai me levar para a fazenda porca agora? Katie perguntou.

- Não, eu preciso de café antes de ouvir qualquer outra coisa.

Katie voltou a falar de Julia e os planos para o casamento dela enquanto ela dirigia
mais algumas milhas pela rodovia. Ela pensou em como era ótimo que Julia e John iam
fazer a cerimônia no prado do campus superior onde Cris e Ted tinham se casado em
Maio passado.

O que Katie não achou que foi ótimo foi o lugar que Julia escolheu para elas
tomarem café. Bella Barista. Esse era um lugar que Katie e Rick tinham visitado muitas
vezes. Na primeira visita, Katie iniciou uma divertida tradição de beijar Rick no rosto
quando estavam no caixa. Logo que Julia e Katie caminharam para dentro do Bella
Barista e um turbilhão de fragrância de café fresquinho veio sobre elas, Katie começou
a chorar. Mas ela manteve-se firme e apoiou ela mesma enquanto estavam no caixa.

Não pense no Rick. Não pense no Rick. Não pense no Rick.

- Você sabe o que você quer? Julia perguntou.

- Eli.

Julia olhou para ela, divertida e surpresa. Katie olhou de volta, atordoada, e disse:

- O que foi que você acabou de me perguntar?


- Uma pergunta melhor seria, o que você acabou de me responder?

- Chá. Eu estava tentando pedir um chá. Katie voltou-se para a jovem mulher atrás
do balcão e disse:

- Eu quero um chá quente. Grande. E com um desses rolos de canela.

Julia pagou, e elas duas foram para uma mesa de canto.

- Bem, isso foi bastante revelador.

- O que? O top da menina? Eu sei. Hello! Deixe um pouco para a imaginação.

- Katie, eu me referia a você dizendo que queria o Eli.

- Eu não disse isso.

Julia tomou um gole longo e lento de seu latte.14

- Eu estava tentando dizer que eu queria chá. ‘Chá’ 15 soa como ‘Eli’, eu acho,
quando você não dormiu o bastante. É o som de e longo. ‘Chaaa’. ‘Eeeeli’.16 Entende?

Julia continuava corada, e com um olhar composto quando ela mordiscou um


canto do rolo de canela de Katie.

- Você sabe, minha mãe costumava dizer que ela cresceu para se aproveitar a
TPM.

Katie fez uma carreta.

- O que isso tem a ver com nada?

- Ela disse que, nesses dias do mês as suas emoções estavam mais vulneráveis e
mais rústicas. Foi quando ela descobriu que as palavras que saiam da sua boca
estavam mais próximas de seus pensamentos e sentimentos reais. Ela não tinha os
filtros usuais quando seus hormônios estavam no auge.

- Você está dizendo que meus hormônios estão no auge? Você fala como Rick. Eu
já lhe disse que essa relação se foi. Se você sabe o que é bom pra você, você não vai
me trazer para fora através dos meus hormônios. Ou nas minhas habilidades verbais,
quando eu estou pedindo um chá ou estou privada do sono.

14
Latte é uma bebida de café expresso, ou chocolate concentrado, com uma quantidade generosa de
espuma de leite no topo.
15
Em português não faz sentido, mas em inglês a palavra usada para chá é ‘Tea’ Por isso a Katie diz isso.
É um trocadilho, que só tem sentido no inglês.
16
A palavra ‘Tea’ soa como ‘Tii’, então para nós seria como o som de ‘i’ longo, e não de ‘e’ como a Katie
fala... ‘Tiiiii’, ‘Eliii’ ... viram?
Julia não parecia ver o humor nos comentários de Katie. Com uma expressão
simples ela disse:

- Katie, você quer ouvir a minha opinião?

- Sim, é claro.

- Eu acho que você fez um trabalho fantástico de navegação em tudo isso. Tudo
isso. Incluindo o modo como você foi diretamente para Nicole, mas não disse nada
para Rick. Eu concordo com a Cris. Você deve olhar para a grande figura de todo este
ano e aceitar o convite para a festa de formatura na casa dos Doyle.

- Se a mãe do Rick ainda me quiser lá.

- Eu acho que ela ainda quer. Essa é a sua comunidade. Esse é o seu povo. A mãe
do Rick é uma das mulheres da sua vida. Você precisa estar conectada aos seus círculos
de relacionamento nesse importante momento da sua vida.

Katie soprou o seu chá numa tentativa de esfriá-lo um pouco.

- Você acha que eu deveria ter esperado? Quer dizer antes de acabar com o Rick.
Você acha que eu deveria apenas ter enrolado durante formatura e a festa e qualquer
outra coisa, e então, e depois que toda a atenção estivesse fora de nós, eu terminaria
com ele?

- Não.

Katie esperou por mais palavras.

- É isso? Não? Você acha que eu fiz a coisa certa?

- Eu acho. O que você fez foi confuso, sim. Mas foi honesto, e se tem uma coisa
que eu sei sobre você, Katie, é que você não tem nada de falsa. E não posso ver como
você poderia ter mantido seu relacionamento com o Rick depois que o seu coração
mudou em relação a ele. Você fez a coisa certa. Além disso, e se você tivesse
continuado junto dele fingindo todo o caminho para a festa de formatura, e todo
mundo estivesse lá e, em seguida Rick pedisse você em casamento na frente de todos?

Katie ficou séria instantaneamente.

- Teria sido trágico.

- Eu não estou dizendo que ele ia fazer isso.

- Mas este, definitivamente, é o modo como ele faz as coisas. A inauguração do


Café em Redlands estava marcada para o dia 27 de Abril, mas eu recebi um e-mail
genérico da empresa do Rick dizendo que a inauguração tinha sida adiada para o dia
25 de Maio, ou alguma coisa assim. Senti o tempo todo que ele estava esperando até
depois da inauguração do Café para concentrar a sua atenção no nosso
relacionamento. Ele não ia me pedir em casamento até que o café estivesse fora de
sua lista. Então ele iria criar um novo cronograma para nós. É como o cérebro dele
trabalha. Um objetivo por vez. Eu, eu estou em todo o lugar o tempo todo.

- Fale-me sobre as suas aulas e como as cosias estão parecendo pra você agora
nesses momentos turbulentos.

- Desastroso. Próxima questão.

Julia pegou um caderno e o abriu em uma página em branco.

- Eu sei como você se sente sobre listas e horários, mas eu vou pedir-lhe para pôr
de lado esses sentimentos negativos para a próxima meia-hora. Você precisa de um
plano de ataque, e eu sou apenas a pessoa a te dar um.

Pelos próximos 25 minutos, Julia ajudou Katie a percorrer um cronograma passo-


a-passo para concluir seu trabalho nas poucas semanas restantes Para surpresa de
Katie, o processo foi muito menos doloroso do que ela pensou que seria. Do mesmo
ponto de vista a historia de amor de Julia e John deu esperança a Katie para a sua
futura vida amorosa, e o plano na frente dela lhe deu esperança de que ela conclua
tudo o que foi exigido antes do dia de sua formatura. Julia puxou a papelada
necessária para Katie completar a sua posição como AR, juntas elas organizaram a lista
de responsabilidades de Katie e Nicole para a Festa da Primavera.

- Eu não posso acreditar que esse ano tá quase no fim.

- Não comece a falar nada agora. disse Julia. Espere até estarmos na ultima
semana. Quando eu ouvir os estudantes ficando nostálgicos antes de estarmos no
ultimo mês de aulas, isso é como ouvirmos musicas de Natal no dia depois do
Halloween. Nós não estamos lá ainda.

Katie olhou para a lista na frente dela.

- Obrigada por me ajudar a pensar em tudo isso. É muito.

- Sim, isso é. Mas você fez isso, Katie.

- Quer saber? Eu acredito em você.

Elas saíram do Bella Barista, e Katie percebeu que ela realmente acreditava nela.
Ela acreditava que não só poderia realizar toda a lista de trabalho e responsabilidades
de classe, mas ela também poderia encontrar o caminho de volta para o outro lado de
seus relacionamentos com Rick e Nicole.
- O que você vai dizer para Nicole? Katie perguntou para Julia enquanto elas
voltaram a colina de volta para o Rancho Corona.

- Dizer sobre o que? As responsabilidades dela para a Festa da Primavera?

- Não, sobre o Rick.

- Nada. Por quê?

- Você não sente que deveria dizer a ela que ela pode ligar pra ele ou talvez
convidá-lo para a Festa da Primavera

Julia olhou surpresa.

- Porque eu deveria dizer algo assim para ela?

- Eu não sei. Você é a DR dela.

Katie, isso seria como eu dizer para você ligar para o Eli e convidá-lo para a Festa
da Primavera. Porque eu deveria fazer alguma coisa assim? Você é capaz de tomar as
suas próprias decisões a respeito da sua vida amorosa, como você deixou claro no seu
relacionamento com o Rick. Quer dizer, quem sou eu, além de sua DR, para tentar
ajudar você a ver tudo o que você tem em comum com o Eli Lorenzo? Porque eu
deveria encher você de evidencias obvias do interesse do rapaz por você? O que seria
a ponto de lembrá-la da maneira perfeita que vocês dois funcionam na arrecadação de
fundos para a água para África? Por que eu faria isso?

- Sim, por que você faria isso?

- Exatamente. E porque eu deveria relembrar você do que aconteceu quando você


ficou gripada e Eli trouxe remédios para você no Dia dos Namorados? Para não falar da
água glacial da Nova Zelândia.

- Eu falei pra você sobre a água glacial da Nova Zelândia?

- Sim, você disse. Você me falou quando eu estava visitando você quando você
estava doente. Se eu me lembro direito, tudo que você queria era falar sobre o Eli e
como ele orou por você.

- E como ele me disse para não operar máquinas pesadas. Katie sentiu suas
defesas baixarem.

- Apenas preste atenção ao que Deus está fazendo, Katie. Isso é tudo que estou
dizendo. Apenas preste atenção e responda apropriadamente.
Capítulo 15
Depois do café com Júlia, Katie com uma organização incomum afixou em seu
quarto sua longa lista de afazeres e sistematicamente deu baixa nela. Ao invés de
colocar um ‘ok’ na frente no item para marcá-lo como concluído, Katie se atrapalhou
um pouco. Às vezes ela riscava o item. Às vezes ela desenhava uma carinha feliz ou um
girassol na frente do item. Ela tinha outros planos para alguns deles, como o seu
grande projeto de fim de curso. Quando ela finalmente o terminasse, ela planejou
escrever “ALELUIA!” na frente do item.

Focada em sua lista, Katie evitava longas conversas com qualquer pessoa a não ser
com as mulheres do seu andar. Ela só interagiu com outros estudantes que vieram a
sua mesa quando ela estava de plantão e alguns amigos aqui e ali que a paravam
enquanto ela caminhava no campus em direção as aulas. Pesando seu rendimento,
Katie tinha de admitir que em uma semana, sob a pressão eliminar da sua lista, ela
conseguiu o dobro do que ela esperava. Ela sentiu uma pontada de dor súbita quando
entrou atrasada no salão do Crown Hall na sexta-feira à tarde e percebeu que o fim de
semana estava ali. Durante um ano e meio seu primeiro pensamento para cada fim de
semana era como ela podia ajustar seu tempo para encontrar o Rick ou pelo menos
reservar um tempo para uma longa conversa com ele pelo telefone.

Os pensamentos sobre Rick a derrubaram da onda de sucesso que a rondava em


função da sua lista de realizações. Ironicamente a lista que a fazia sentia tão feliz era o
mesmo tipo de diferença que a manteve em desacordo com Rick. Ela agora sentia que
o compreendia um pouco melhor. Eliminar itens da lista poderia ser um estímulo
natural.

Katie parou em frente à mesa para checar sua escala nas atividades de AR para o
fim de semana. Jordan, um dos AR’s dos andares masculinos, estava de plantão. Ele
entregou para Katie a lista antes dela pedir.

- Como você sabia? Ela disse.

- Você é previsível. Ei, você e a Nicole descobriram a decoração de amanhã noite


para a Festa da Primavera?

- Julia delegou a coisa toda para Nicole. Eu estou encarregada dos jogos.

- O que você vai propor?

- Twister.17 Eu peguei 20 deles no Galpão da Economia algum tempo atrás. Nós os


dividiremos em equipes. Craig vai passar filmando enquanto todo mundo está

17
Twister é aquele jogo que tem um tabuleiro grande com bolinhas coloridas e as pessoas ficam se
contorcendo pra colocar as mãos e os pés nas cores certas. Não sei direito como funciona.
torcendo e, em seguida, alguns rapazes vão editar o vídeo enquanto nós comemos. O
grande final será assistir a gravação.

- Katie, você sabe que é uma festa formal, né? Como você vai convencer as
mulheres a jogar Twister em trajes formais?

- Não é formal.

- É sim.

- Não, não é. Quem te falou que é formal? Não é um baile, é uma festa. Sua
informação está errada.

- Acho que é você que está enganada. Você não estava na reunião da equipe,
quando discutimos os detalhes. Eu não sei onde você pegou sua informação, mas te
digo que está errada: é formal.

Katie soltou um ‘Aff!’ e dirigiu-se ao seu andar. Nicole saberia.

As duas tiveram três encontros neutros desde que Katie fez o grande anúncio de
que ouviu parte da conversa de Nicole e Julia. Um dos encontros foi no banheiro e os
outros dois quando se cruzaram no campus. Em cada uma das circunstâncias ambos
estavam em movimento quando uma viu a outra. Isso significa que elas podiam andar
e trocar um amigável ’olá’ sem que ninguém ao redor soubesse do trauma que tinham
atravessado.

Como Katie se aproximou da porta de Nicole, ela estava certa de que ambas
tiveram tempo para amadurecer e pensar a respeito do assunto. Provavelmente seria
bom agora se elas sentassem para conversar outra vez. Com uma leve batidinha na
porta entreaberta de Nicole, Katie disse:

- Sou eu. Tudo bem se eu entrar?

Antes que Nicole pudesse responder, a porta se abriu, e lá estava Rick.

O coração de Katie acelerou. Ela parou em seus olhos castanhos e sentiu como se
por um momento o tempo tivesse parado. Então ela piscou e ela estava no outro lado
do conto de fadas. Ela realmente não estava mais apaixonada por ele. Ela ainda o
amava como amigo para sempre do fundo da sua alma, mas ela sabia – de alguma
forma sabia – que ela realmente não estava mais apaixonada por ele.

- Uau, ela disse baixinho.

Eu não estou mais apaixonada por você, Rick Doyle.

O rosto dele estava vermelho e os dentes cerrados.


- Eu estava de saída.

- Você não tem que ir. Katie olhou através de Rick e percebeu que Nicole não
estava na sala.

- Onde está Nicole?

- Como eu iria saber? O rapaz da recepção disse que era horário de visitas nos
dormitórios, então eu entrei e deixei a caixa em sua mesa. Sua caixa está perto da sua
porta. Rick soou como um robô.

- Minha caixa?

- Convites para sua festa de formatura.

- É mesmo. A festa de formatura. Rick, você tem certeza que sua mãe ainda quer
fazer isso? Quero dizer, ela sabe que você e eu...

- Ela sabe.

- E ela ainda quer que eu vá?

- A festa está marcada. Ela mandou pra você uma caixa de convites. Parece que ela
ainda quer que você vá. Rick foi saindo.

- Rick, espere.

Ele parou, mas não olhou para Katie.

- Você está bem?

- Que tipo de pergunta é essa?

- Uma pergunta sincera. O tom de Katie combinava com a irritação dele. E aqui
está outra pergunta sincera. Como você se sente sobre minha ida a festa de formatura
em sua casa? Porque se você não está confortável com minha ida, eu não vou.

- Não é minha casa. É a casa dos meus pais.

- Mas você estará lá, certo?

- Eu estarei lá.

Katie queria se aproximar e tocar seu ombro de um jeito simpático e amigável. Ela
percebeu que estava mais a frente no processo de fim de namoro do que Rick estava.
Ele não estava se movendo em direção a porta e continuava sem olhar pra ela.

- Ei, Rick, escuta. Katie abaixou seu tom de voz.


- Você não tem que dizer nada, Katie. Sério. Eu acho que tanto você quanto eu já
dissemos praticamente tudo o que poderíamos dizer.

- Exceto que quero dizer que sinto muito, Rick. Sinto muito por... Katie começou a
despedaçar. Eu só sinto muito, Rick.

Os ombros dele pareciam mais relaxados e sua expressão em direção a Katie se


tornou mais simpática.

- Você não tem que dizer nada, Katie.

- Eu sinto que deveria dizer alguma coisa. Eu só não sei o que dizer.

Rick passou os dedos por seu cabelo escuro.

- Olha, Katie, eu tenho pensado muito esta semana sobre nós. Sobre você. Acho
que pensei mais sobre você essa semana do que em todo nosso relacionamento.

O coração de Katie bateu mais rápido. Ele vai dizer que tem esperança de nós
voltarmos?

- Quanto mais eu pensava sobre você, mais eu vi porque você chegou à conclusão
que você chegou. Acho que é isso porque eu estava pensando sobre você. Somente
sobre você. Não sobre nós. Não sobre mim. Não sobre como você caberia em minha
vida. Eu pensava sobre você, seus sonhos e metas e sua personalidade. Foi aí que eu
soube que tinha que concordar. Você e eu não seríamos bons juntos a longo prazo.

- Mas como namorada e namorado fomos muito bons juntos.

- Eu também pensava assim.

Eles ficaram sem jeito por um momento, olhando um para o outro e em seguida
desviando o olhar. No passado esse era o momento quando eles deviam se abraçar ou
beijar ou ambos. Agora eles só mexiam os pés. Katie fez o primeiro movimento e sorriu
pra ele.

- Eu amei ser sua namorada, Rick Doyle.

Rick sorriu de volta. Era um ótimo sorriso. Como os que Katie lembrava ao longo
dos anos quando Rick era verdadeiramente ele. Se ele estava sendo, desagradável ou
afetuoso, sincero ou legal. Esse era o seu melhor sorriso.

- Eu estou contente por ter me encontrado com você, Katie.

- Eu também. Ei, você deveria vir a Festa de Primavera amanhã à noite.

- É uma festa de casais?


- Na verdade, não. Você sabe como são essas festas da faculdade. As pessoas vêm
juntas, mas não como casais de verdade. Você deveria vir. Só venha. Sete horas, aqui
no salão.

- É uma festa casual, certo?

- Essa é uma coisa que não tenho certeza. Ouvi rumores que era semi-formal. Foi
isso que vim perguntar a Nicole. Posso te avisar assim que eu descobrir como será.

Rick assentiu lentamente.

- Isso seria bom.

Katie assentiu e repentinamente sentiu uma vontadezinha de chorar, mas ela não
chorou.

Rick se virou para ir quando Katie se lembrou de mais uma coisa.

- Oh, eu vi o e-mail sobre o atraso na abertura do Café. Está tudo bem?

- Nós tivemos um atraso na entrega do forno de pizza e arrumar a parte em uma


das paredes. Faz sentido atrasar a abertura mais um mês. Apesar disso, tudo mais está
indo bem. Estou tratando da mudança de apartamento para primeiro de junho.

- Você está mudando?

- Eu estava esperando até... bem, você sabe... até eu ver como nossos planos se
encaixariam. Mas decidi essa semana seguir em frente e fazer a mudança. Eu
realmente gosto do que faço, Katie.

- Eu sei que você gosta. É o que você foi criado para fazer.

- Assim como você foi criada para correr atrás de aventuras até que elas peguem
você.

Katie abriu um enorme sorriso. Alguém jamais a descreveu com tanta precisão.

- Sim, isso é o que eu fui criada para fazer.

- Você não foi feita pra linha de montagem de sanduíches do Subway. Você pode
fazer isso, mas não satisfaz seu coração.

Agora Katie sabia que iria chorar. Era a primeira vez que Rick mostrava que
realmente entendia como ela era.

- Obrigada, Rick.

Ele deu a ela uma outra peculiaridade, um sorriso maduro.


- Tenho que dar o crédito para o Eli por denominar isso.

- Denominar o que? Katie piscou deixando as lágrimas escorrerem.

- Denominar o sentimento que vem de estar perto de você. É extraordinário. Você,


Katie Weldon, é inesquecível.

Rick se virou e caminhava pelo corredor. Katie o observava ir. Se sempre há um


caminho bom ou caminho certo para terminar com um de seus amigos eternos, é este.
Finalmente.

Limpando suas lágrimas com as costas das mãos e respirando profundamente,


Katie começou a ir. Ela estava focada a fechar a porta da Nicole e quando estava
prestes a fazê-lo ouviu alguém sussurrando seu nome.

Katie congelou. Ela ouviu mais perto. Eu ouvi alguma coisa? Não, tem que ser
minha imaginação, certo?

- Katie! O sussurro veio novamente, mais alto dessa vez.

Voltando para o quarto de Nicole, Katie andava na ponta dos pés em cima do
tapete.

Ela passou para a cama e olhou ao redor para o lado da janela. Lá no chão estava
uma coisa grande debaixo de um cobertor com apenas o nariz e um par de olhos a
espreitar o lado de fora.
Capítulo 16
- Nicole, o quê você está fazendo? Você estava aí o tempo todo enquanto Rick e
eu conversávamos?

- Ele já foi? Nicole empurrou a coberta e deixou que seu rosto aparecesse.

- Já.

- Você pode fechar a porta?

Katie foi até a porta e a empurrou firmemente. Se ela não estivesse tão
incomodada com o fato de que Nicole tinha ouvido cada detalhe da conversa sincera
dela com Rick, ela teria achado engraçado Nicole ter fingido de morta atrás da cama.
Quando Nicole levantou, Katie poderia ver por que ela se escondeu. Ela só estava de
roupas íntimas.

- Eu esqueci que era sexta-feira de dormitório aberto. Minha porta estava alguns
centímetros aberta, como normalmente. Eu ouvi uma forte batida e então a voz de
Rick, e eu não sabia o que fazer. Eu me enfiei atrás da cama e torci para que ele não
me visse. Ah, Katie, me perdoe por ter ouvido a conversa de vocês. Não foi por querer.

Nicole vestiu seu short que estava na beira da cama junto com uma blusa de
algodão de capuz. Ela puxou o capuz para cima da cabeça como um monge
arrependido.

- Eu sinto muito.

A frustração de Katie derreteu. Ela sabia o que era ouvir uma conversa
acidentalmente.

- Não se preocupe, Nicole.

De pé, as duas se encontravam há alguns centímetros de distância, olhando uma


para a outra e depois desviando o olhar. Depois de um minuto e meio de
estranhamento, Nicole disse:

- Você tem tempo para conversar?

- Claro.

Mesmo Katie sabendo o quê ela disse, ela não se sentia preparada para uma
conversa de coração para coração com Nicole. Ao invés de se afundar na cadeira de
Nicole, Katie permaneceu de pé.
- Na verdade, Nicole disse, olhando para longe. Eu preciso me encontrar com
alguém em alguns minutos. Eu devo estar atrasada. Quantas horas são? Sabe o quê
mais? Você e eu podemos conversar outra hora. Eu deveria ir.

Nicole não estava agindo com seu jeito gracioso e calmo. Ela estava agindo mais
como Katie – na correria, nunca certa de que horas são ou de onde ela deveria estar.

- Ok, claro. Nós podemos conversar mais tarde. Eu estarei no meu quarto a noite
toda estudando. Eu tenho plantão na mesa da frente amanhã de manhã.

- Ah, e é casual.

- O que é casual?

- A Festa da Primavera. Eu não sei quem lhe falou que era formal.

- Foi o Jordan, o grande cabeça dura está sentado lá na mesa da frente, agora
mesmo, avisando todo mundo que a festa é formal.

- Eu vou falar com ele agora e pedir que ele envie um email geral. Nicole se dirigiu
até a porta.

Katie a seguiu.

- Se você precisar de ajuda com a decoração, eu terei tempo amanhã à tarde.

- Está bem. Julia delegou essa função pra mim.

- Eu sei. Mas eu posso ajudar. Katie se aproximou e tocou o ombro de Nicole antes
de sair.

- Ouça, você e eu não temos que fazer isso. Nós não temos que fingir nada. Eu não
posso dizer que sou fã do que acabou de acontecer e como você ouviu tudo, mas você
também ainda está frustrada comigo por ter ouvido o quê você contou à Julia. As
cartas estão na mesa agora. Por que nós não encontramos um jeito de seguir em
frente a partir de agora?

Nicole parecia querer chorar. A propósito, ela parecia ter derramado uma grande
quantidade de lágrimas ultimamente. Os olhos dela estavam inchados, e ela não usava
maquiagem alguma, o que não era típico dela.

- Eu preciso de um pouco mais de tempo, Katie.

- Tempo pra quê? Para decidir se você vai me perdoar por ter ouvido sua
conversa?

- Não, eu não guardo essa mágoa contra você.


- Então, tempo pra quê?

Nicole se virou para Katie com uma expressão séria.

- Tempo para descobrir como agir perto de você e do Rick.

- Eu posso ajudar você com isso. Não ‘aja’. Apenas seja você. Seja a maravilhosa e
doce Nicole que tem sido minha amiga por todo o ano. Nada mudou entre mim e você,
Nicole. Você não me traiu, nem nada disso. E com o Rick, apenas seja você mesma. Ele
vai despertar um dia desses e perceber a graça que você é.

As lágrimas de Nicole estavam derramando silenciosamente. Ela parecia duvidosa


das palavras de Katie.

- Ei, você e eu sabemos que os homens são mais devagar para perceber essas
coisas que as mulheres. Ele vai chegar lá. Dê tempo a ele.

- Katie, como você pode ser tão aberta em relação a isso tudo? Se eu fosse você,
eu estaria devastada. Eu me odiaria. Eu não estaria falando comigo agora.

Katie deu de ombros.

- É apenas a maneira como eu enxergo as coisas.

- Você e Rick tinham um relacionamento muito próximo. Quero dizer, mesmo aqui
no fim, ele está abraçando você e lhe dizendo o quão maravilhosa você é.

- Confie em mim, Rick e eu tivemos alguns momentos tensos antes que


chegássemos aqui. E muitas lágrimas. Você não viu as outras conversas, o que é bom.
Está tudo bem, Nicole. Como eu disse semana passada, você tem a minha benção. Eu
disse que não iria contar nada a ele, e não vou. Mas não reprima seus sentimentos
verdadeiros. Apenas seja você. Veja o que Deus faz e siga a partir disso.

Nicole envolveu seus braços em volta de Katie e chorou mansamente no ombro


dela. Katie, que sentia que já tinha chegado ao fim com todas as lágrimas que ela
queria ver ou sentir ou chorar pela próxima década, deu um tapinha confortador nas
costas de Nicole.

- Está tudo bem. Vá em frente, chore. Todo esse drama antes da formatura. Quão
inteligente nós somos? Você já ouviu sobre Emily Dickens, a propósito?

Nicole recuou e lançou um estranho olhar para Katie.

- Você está falando da Em do outro lado do corredor?

- Não, a poetisa.

- Ah, Emily Dickinson. Sim, já ouvi falar dela.


- Eu pensei que fosse Dickens.

- Você, provavelmente estava pensando em Charles Dickens.

- Que seja. Emily ‘qualquer-que-seja-o-sobrenome-dela’ escreveu um poema


sobre esperança. Eu não consigo recitá-lo como Julia, mas você deveria pedi-la que o
recitasse pra você. É lindo. E encorajador. E eu acho que isso nem importa já que eu
nem sei recitar o poema. Mas você sabia que Julia vai se casar?

Os olhos de Nicole se arregalaram.

- Ok, obviamente você não sabia. Por que eu abri minha boca?

Nicole disse:

- Não, eu sabia, mas eu pensei que não fosse pra dizer nada. Ela me pediu para
cuidar das flores do casamento.

- Oh, que legal. Eles vão se casar no alto da colina do campus.

- Eu sei. Vai ser lindo. Nicole tirou o capuz de sua cabeça e limpou suas últimas
lágrimas.

- Katie, você tem certeza de que está bem com o fato de que seu relacionamento
com Rick acabou?

- Sim. Katie tentou fazer com que a sinceridade que ela sentia, transparecesse em
seus olhos.

- Você é maravilhosa, Katie.

- Você também, Nicole. E como eu lhe disse, é só uma questão de tempo até que
Rick perceba isso. Ele vai estar na Festa da Primavera amanhã à noite; então, vista seu
‘suéter-pega-rapaz’.

- Meu ‘suéter-pega-rapaz’?

- É, você sabe, aquele preto lindo. Você o veste com sua calça jeans e qualquer um
dos pares de sua maravilhosa coleção de sapatos e, eu tenho certeza de que você vai
capturar um rapaz antes de a noite acabar. Não, deixe-me corrigir. Você vai capturar
um homem. Um homem de Deus.

Nicole deu um rápido e final abraço em Katie e um grande sorriso. Katie desceu
até seu quarto e encontrou a caixa de convites ao lado da porta, onde Rick a deixou.
Ela destrancou a porta, entrou, e dei uma boa olhada na bagunça. A bagunça era o
porquê de ela ter trancado a porta. Ao contrário de Nicole, o quarto de Katie nunca
estava pronto para companhias repentinas.
Decidindo tentar a tática que Julia sugeriu durante o encontro delas no café Bella
Barista no último sábado, Katie armou o alarme no seu telefone para daqui vinte
minutos. Ela trabalharia contra o relógio. Ela conseguiria limpar seu quarto em vinte
minutos?

Para sua surpresa, a limpeza cronometrada funcionou. A Cris jamais acreditaria no


que eu fiz. O ano passado teria sido tão diferente pra nós se eu tivesse conseguido
implementar esse pequeno truque.

Desligando o alarme de seu celular, Katie mandou uma mensagem de texto para
Cris contando da pequena vitória. Pouco depois a resposta de Cris veio:

“QUE BOM! BIÓPSIA BENIGNA, A PROPÓSITO.”

Katie pensou por um minuto. Então ela se lembrou da ida de Cris ao médico e da
verruga que ela havia removido.

“VIVA!”

Katie escreveu de volta.

“VOCÊ TÁ BEM?”

“MELHOR QUE BEM.”

Então, ao invés de escrever o resto da mensagem, ela ligou pra dar a Cris um
breve resumo do que tinha acontecido desde a Casa de Pedro. Katie terminou dizendo
que iria enviar um convite a Cris e Ted para a festa de formatura na casa dos pais de
Rick.

- Espero que você mande um para seus pais também, Cris disse.

- Mandarei.

- E para seus irmãos.

- Eu continuo sabendo apenas onde um dos meus irmãos está.

- Então mande um pra ele.

- Tá. Eu estou em paz com bastantes coisas ultimamente, incluindo o fato de que
eu tenho que seguir com aquilo que eu tenho e não me preocupar com o que eu não
tenho. Quero dizer, eu ainda oro pelo Larry, mas eu não posso fazer nada a respeito do
sumiço dele e sem deixar contato algum com ninguém da família. Eu sei que Deus está
cuidando dele, onde quer que ele esteja.

- Isso deve ser difícil, Katie.


- E é. Mas eu não posso consertar nada, né?

- Falando em consertar coisas, você nunca vai adivinhar o que nós compramos
ontem.

- O quê?

- Um micro-ondas novo. Finalmente. Por que você não vem aqui amanhã à noite e
traz algumas das suas pipocas de bazar de garagem? Vamos ver se conseguimos botar
fogo nesse também.

- Muito engraçado. Tarde demais, de qualquer jeito. Eu joguei fora toda a comida
que comprei em bazares de garagem. Eu estou falando, eu sou uma mulher mudada,
sentada em um dormitório limpo com uma trouxa de roupas fazendo um pequeno
cha-cha na máquina de lavar.

- Então você está livre para jantar hoje?

- Você não disse nada sobre jantar. O que vocês vão comer?

- Não sei ainda. O Ted deve estar em casa em meia hora. Por que você não vem?
Nós podemos terminar a conversa que começamos na Casa de Pedro.

- Eu posso ir aí ao invés de jantar na cafeteria. A propósito, eu posso passar na


Casa de Pedro no caminho e comprar uns chimichangas.

- E dois tacos de peixe, Cris acrescentou. O Ted gosta de tacos de peixe.

- O Ted é um taco de peixe, Katie brincou.

- Por causa desse comentário, agora você tem que trazer quatro tacos de peixe e
peça que eles acrescentem coentro.

- Tá bom! Continue assim, Sra. Mulher Casada Mandona. Eu estarei aí em meia


hora com comida mais que suficiente pra nós três comermos, então é bom que você
esteja com a mesa posta.

- Vou fazer isso nesse minuto. Até daqui a pouco.

Katie entrou em ação. Com a melhor das intenções, ela agarrou seu laptop e a
caixa de convites para que pudesse endereçá-los na casa de Cris, se surgisse a
oportunidade.

Precisamente trinta e quatro minutos mais tarde, Katie chegou à porta do


apartamento de Cris e Ted com itens demais nas mãos para bater. Ao invés disso, ela
chutou a porta e gritou:

- Surpresa!
Ted abriu a porta e resgatou as sacolas de comida que estavam balançando no
braço dela.

- Oh, isso mesmo, pegue os tacos. Não salve o laptop ou os convites chiques. Em
todo caso, salve as baleias!

Do canto, veio outro par de mãos ajudantes buscando pela caixa de convites,
assim como a alça da bolsa que carregava o laptop. As mãos pertenciam a Eli. Katie
sorriu-lhe generosamente. Então ela se virou para Cris e lançou-lhe um olhar ‘você-
está-brincando-comigo’?

Cris parecia orgulhosa de si mesma. Ela aproximou-se de Katie e sussurrou:

- Você disse, ao telefone, que estava trazendo mais comida que três pessoas
poderiam comer.

Katie deu um olhar exageradamente zangado pra Cris, mas a verdade é que ela
tinha quase esperado isso. E por que não? Era ela quem estava tentando juntar Rick e
Nicole. Por que seus amigos não tentaram juntá-la a Eli? Eles queriam mostrar
bondade a ela, e ela sabia que estaria ecoando essa bondade se ela entrasse no plano.
Contanto que Eli permanecesse do seu jeito legal, ninguém se machucaria. Por
enquanto, ela estava feliz por estar com seus amigos que a amavam, estavam
preocupados com ela, e que faziam o mesmo por Eli. Essa era sua galera. Julia disse
isso semana passada. Esse era o círculo de Katie. A comunidade dela.

Ela deveria relaxar e partir o pão com eles em boa comunhão. Ou nesse caso,
partir os burritos.
Capítulo 17
- E isso? Katie disse, segurando um garfo enquanto se sentava de frente para Eli na
delicada mesa de cozinha de Cris e Ted. Na frente deles havia uma bagunça de sobras
de embalagens de comida.

- Tenedor. Ted falou a resposta antes que Eli tivesse chance.

- Oh, cara, eu sabia essa, Eli disse.

- Bobeou, dançou. Ted ganhou de novo. Katie se inclinou na cadeira e se sentiu


contentemente cheia do chimichanga grande que ela tinha dividido com Cris.

- O Ted definitivamente lembra mais palavras em espanhol do que você, Eli. O quê
vocês dois fizeram todo o tempo em que viveram na Espanha, além de não aprender
espanhol?

- Surfamos, Ted disse.

- Nós fizemos mais do que isso quando eu estive lá com vocês, garotos. Cris limpou
um pouco da bagunça na mesa.

- Você sabe como essas viagens missionárias são, Katie. Você estava na Irlanda
quando nós três estávamos na Espanha, mas nós estávamos fazendo o mesmo tipo de
trabalho missionário com as crianças da vizinhança nos encontros ao ar livre. Eli fez
muito com os garotos mais velhos. Ele também guiou a maioria dos devocionais
matutinos com o grupo.

Katie olhou para Eli. Ela não estava surpresa com as competências missionárias ou
que ele guiasse os devocionais. Ela o tinha ouvido falar na capela, e ele tinha uma
presença imponente. As palavras dele eram firmes e intensas, do mesmo modo que
seu hábito de encarar quando Katie o conheceu. Nenhuma dessas partes da
informação a surpreendeu. Mas outra parte era surpreendente.

- Você surfa?

- Eu tento.

- Ele surfa, Ted respondeu por ele. E ele arrasa no futebol.

Katie deveria ter adivinhado que Eli era bom no futebol de suas conversas
anteriores, quando ele havia contado sobre jogar futebol onde cresceu na África.

- E você? Eli perguntou a Katie. Você surfa?

- Ah, essa resposta seria não. Embora eu não devesse dizer isso. Uma vez eu
consegui, de fato, ficar de pé em uma prancha.
- Você fez mais do que isso. Eu vi você pegar umas ondas aquele dia em Newport
Beach quando o Douglas pediu a Trícia em casamento, Cris disse.

- Suponho que eu tenha pegado umas ondas. Mas não é o suficiente para que eu
sonhe em pegar as grandes ondas de Waimea, como o Ted fez. Oh, e o Douglas
também me ensinou bodysurf e eu posso me manter em uma prancha Boogie.

- O que é mais do que nós podemos dizer da Cris, Ted provocou, inclinando-se e
colocando seu braço ao redor do pescoço da sua esposa. Ele a chegou para mais perto
e a beijou no lado da cabeça, enquanto ela assumia uma expressão exageradamente
emburrada.

- Não que eu não tenha tentado. Várias vezes. Minhas habilidades de coordenação
em esportes sempre estiveram um pouco em falta. Você não, Katie. Você era uma
estrela do softball. E lembra a viagem de barco para o Lago Shasta que fizemos com
meus tios? Você foi a estrela do esqui aquático também.

- Esquiar na água é divertido. Na neve também, mas... Algum dia nós vamos
esquecer nossa viagem de esqui no ensino médio?

- Nunca. Cris fez parecer que a lembrança era dolorida.

Katie gargalhou.

- Nós duas estávamos muito engraçadas naquela viagem. Super desajeitadas.

- Isso porque a loja que alugava os esquis nos deu os esquis errados. Os que nós
tínhamos eram longos demais para iniciantes.

Katie voltou-se para Eli.

- Pelo menos é esta a história que nós resolvemos levar adiante. Quero dizer, eu
ouvi de iniciantes dando de cara na neve, mas a Cris aqui deu de cara com o instrutor
de esqui.

- Eu acho que nunca ouvi essa história. Ted segurava a sua querida esposa pelo
pulso e olhava como se não fosse deixá-la sair. O instrutor de esqui, hein?

- Ele era bonitinho também, Katie acrescentou.

- Eu tenho certeza que você ouviu essa história, Ted. Você só escolheu esquecer o
fiasco, assim como eu tenho tentado esquecer. Quem trouxe isso à tona, a propósito?

Katie levantou a mão.

- Yo. Mas você entrou na conversa, Sra. Gatinha Inocente. Então, porque Katie
estava bem no meio de um fogo cruzado, ela acrescentou, Repare que eu disse
“gatinha” e não “gata”, como em Sr. Tropeço, o gato esquisito do universo alternativo
de todas as coisas nojentas.

Cris deu a Katie um olhar de cala-o-bico.

- Alguém quer mais alguma coisa pra beber? Eu acho que nós temos um pouco de
suco de laranja.

- Eu vou querer mais água, Eli disse. Obrigado.

- Ei, o que foi que aconteceu com o gato nojento? Ted perguntou.

- Nicole o atropelou, Katie brincou.

- O gato já estava morto, Eli acrescentou. A Nicole só passou por cima dele no
estacionamento. Foi no outono passado.

- Ah, sim, eu me lembro de ter ouvido isso. Ted falou por cima do seu ombro para
Cris na cozinha. E eu me lembro de ouvir sobre o instrutor de esqui boa pinta. E as
barras de chocolate. Vocês não venderam barras de chocolate pra arrecadar dinheiro?

- Tentamos vender barras de chocolate, Katie o corrigiu. Meu suprimento


misteriosamente deixou a minha caixa e, mais tarde, apareceu no meu estômago. Foi
uma coisa estranha. A propósito, você tem algum chá, Cris?

Cris abriu o armário e tirou uma caixa com uma variedade de pacotinhos de chá.

- Eu tenho Earl Grey, English Breakfast e alguma coisa de laranja. Não dá pra ler o
rótulo.

Eli se levantou.

- Eu tenho um pouco de chá Queniano no meu apartamento. Querem que eu


traga mais alguma coisa?

- Sim. Traga o Rick. Diga a ele para descer com você se ele estiver sentado lá sem
fazer nada, Katie disse.

Cris, Ted e Eli lançaram olhares surpresos uns aos outros, como dardos voando
pela sala. Então eles olharam para Katie, como se não fosse para ela ter notado o
turbilhão de olhares.

- Ouçam. Katie jogou os ombros para trás e falou com um coração limpo. Rick e eu
conversamos sobre tudo isso. Várias vezes. Nós estamos bem. Nós queremos que a
amizade entre nós continue, o que é, obviamente, uma boa escolha, já que nós dois
estamos no mesmo círculo. Eu o convidei para a Festa da Primavera no Crown Hall
amanhã à noite e eu acho que ele vai. Ninguém tem que ficar pisando em ovos.
Ninguém tem que ficar se perguntando quem pode estar no mesmo ambiente com
quem. Nós estamos bem.

- Rick não está em casa, Eli disse. Pelo menos ele não estava mais cedo. Mas se ele
estiver lá agora, eu vou falar para ele descer.

- Ótimo. Quando mais cedo todos nós encontramos um jeito de ficarmos normal,
o que quer que seja isso, melhor. Tudo o que nós temos que fazer é sermos nós
mesmos. Sermos ‘nós’. Foi isso que eu falei pra Nicole também.

Outra rodada de dardos de olhares voou pela sala.

- Ok, eu volto logo. Enquanto Eli, que estava usando shorts, saiu pela porta, Katie
notou como as panturrilhas dele eram definidas. Ele tinha o tipo físico de um jogador
de futebol. Nem um grama de gordura nele. Bom, exceto, talvez a gordura do
chimichanga que ele traçou quase sozinho, com um pouco de ajuda de Ted. Katie
ficara impressionada.

- Tem certeza que você está bem com Rick? A pergunta não era incomum, mas
Katie achou incomum que fosse Ted a perguntar.

Ela sorriu e acenou com a cabeça.

- Eu realmente estou indo bem com tudo isso. Eu acho que o Rick também. Pelo
menos ele parecia estar algumas horas atrás. É louco, não é? Metade da minha vida
sonhando em estar com ele, um ano e meio flutuando nesse sonho, mas agora eu sinto
como se eu estivesse acordada. Desperta. Deus tem a minha atenção. Eu estou
totalmente voltada para ele. Eu estou em paz. Estou mesmo.

Ted sorriu para Katie. Ele tinha os olhos de um azul tão claro. Cris usava descrevê-
los como “azuis prateados gritantes”. Onde quer que Katie olhasse na expressão plena
de Ted, aqueles honestos olhos azuis pareciam olhar para dentro da parte mais
verdadeira dela. Ela não podia imaginar Ted algum dia falando algo que não fosse a
verdade a ela.

Ele avançou sobre a mesa e colocou a mão na dela.

- Faze-me saber o caminho que devo seguir, porque a ti levanto a minha alma.
Ensina-me a fazer a tua vontade, pois és o meu Deus.

- Que versículo lindo. De onde é?

- Salmo 143:8 e 10. Gostou?

Katie acenou com a cabeça.

- Então é seu. De graça. Leve.


Katie sorriu. Essa parte da personalidade de Ted costumava irritar Cris nos
primeiros anos em que estavam juntos. Katie, também, nem sempre foi louca pela
sintonia altamente espiritual dele, mas com o passar dos anos, ela veio a amar essa
dimensão dele. Ele havia levado um bocado da palavra de Deus para dentro do seu
coração, e ela residia ali para ele pegar quando precisasse. Ele parecia ter um ouvido
aberto para uma perspectiva eterna e espiritual da vida, e via a vida daquele ângulo
primeiro, antes de olhar do jeito que todas as outras pessoas olhavam.

Uma parte profundamente resolvida de Katie sentiu uma felicidade não dita sobre
o seu coração se alinhando com o que ela sabia que Ted estava lhe dizendo. Ela
realmente tinha crescido espiritualmente nos últimos anos. O seu relacionamento com
Rick tinha alguma coisa a ver com isso, mas a maior parte da mudança tinha vindo
porque Katie havia redirecionado seus pensamentos. Ou talvez fosse mais preciso dizer
que Deus estava redirecionando os pensamentos dela.

Tudo o que ela sabia era que ela se sentia mais em casa dentro de sua própria pele
do que sempre esteve até agora. Ela também sentia que o Senhor estava mais em casa
no coração dela do que sempre esteve até agora.

Cris colocou uma caneca vazia na frente de Katie e outra no lugar de Eli.

- Você vai convidar o Eli para a Festa da Primavera também?

- Não, por quê?

- Você convidou o Rick.

- É diferente.

- Eli deve gostar de ir a uma festa de fim de ano. Como ele não mora no
dormitório, ele não participa de nenhum desses programas divertidos.

- Você está tentando dar uma de mãe dele, Cris? Vocês são patéticos. Vocês
sabem disso, não sabem? Eu não vou voltar minha atenção para o Eli. Eu vou me
formar. É o meu único objetivo. Além do mais, o Eli irá partir para a África assim que a
faculdade terminar. Devo lembrá-la, Cris, como você detestava seu relacionamento à
distância com Ted no ano que você passou na Suíça?

- Eli adiou o retorno para a África, Ted disse.

- Por quê? Um grupo está indo da Rancho para ajudar o pai dele, nesse verão, com
o projeto de limpeza da água. Eu pensei que ele fosse querer estar na África enquanto
eles estiverem lá.

- Ele disse que tinha alguma coisa acontecendo aqui com um membro da família.
- Eu não sabia que ele tinha familiares aqui.

Cris deu de ombros e retornou para sua cadeira perto de Ted.

- Talvez ele queira dizer alguém em sua família de consideração.

Katie sabia o que Cris queria dizer com isso. Katie também tinha uma família “de
consideração” de amigos que preenchiam o lugar dos parentes de sangue que não
estavam interessados em se manter conectados nos feriados e datas especiais.

- Independente, Katie disse, retornando ao ponto. Não importa quanto tempo ele
planeje ficar aqui neste verão. Eu não estou à procura de um novo namorado. Ok?
Então nós podemos terminar essa discussão agora? Eu estou precisando muito mais de
amigos e vou aproveitar todos os bons momentos que eu puder. Mas nós podemos
eliminar essas tentativas desastrosas que vocês dois estão fazendo para me juntar com
o Eli? Isso não vai funcionar.

Ted tinha um sorriso divertido em seu rosto enquanto ele chegava mais perto e
entrelaçava seus dedos com os de Cris.

- Você pode correr, mas você não pode se esconder, Katie. O amor vai te alcançar,
e quando ele fizer isso, você vai se render completamente. Confie em mim nisso. Eu
dou ao Rick bastante crédito pela maneira como ele direcionou o relacionamento de
vocês e planejou cada passo. Mas o amor nem sempre pode ser rigidamente
planejado.

Katie tinha se sentido com o coração leve durante toda a noite, mas agora ela
estava irritada. O Ted pensava que ela não tinha amado o Rick? Ele não entendeu onde
seu coração esteve nos últimos dezoito meses? Ela não estava correndo de nada. Ela
estava correndo atrás do seu objetivo. O objetivo de se formar.

Quando Katie não respondeu ao comentário de Ted, Cris deu um leve aperto na
mão de Ted.

- Acho que seu comentário foi um pouco forte demais, Ted.

Ele olhou surpreso e se virou para Katie. Foi? Eu feri seus sentimentos?

- Não. Ela encorajou a si mesma e tentou reparar a pequena rachadura na sua


armadura sentimental. Eu acho que eu aprendi, ou pelo menos, estou aprendendo,
uma ou duas coisas sobre o amor.

Então, para tentar trazer o tom harmonioso da noite de volta, ela disse:

- Eu continuo tentando mostrar pra vocês que eu não sou tão desastrada como
vocês acham que eu sou.
- Nós não achamos você desastrada, Cris disse.

Ted entrou no meio.

- Não era nisso que eu queria chegar com o que eu disse.

Felizmente Eli voltou na hora, e a conversa mudou para o chá e a caixa de convites
da festa de formatura que ele trouxe com ele.

- O Rick não estava em casa. Ele deixou isso pra mim ontem e me contou sobre a
festa e os planos da mãe dele. O único problema é que eu só consigo pensar em
poucas pessoas pra convidar. Você quer pegar o resto, Katie?

- Eu também tenho muitos. E o Joseph e a Shiloh? Você os convidou?

- Sim.

- Que bom. Eu estava mesmo esperando que eles fossem.

Eli se situou na cozinha de Cris e Ted e, sentindo-se em casa, ele preparou o chá.

- Todo mundo quer?

- Eu não, Ted disse.

- Eu quero um pouco, Cris disse. Você pode usar a chaleira branca aí no balcão.
Diga-me de novo que tipo de chá é esse.

- É do Quênia. Veio de uma plantação de chá administrada por uns conhecidos


nossos. É perto de Nairobi. Um lugar montanhoso lindo. Bem alto. Bem verde.

- Mudei de idéia. Ted se levantou e pegou uma xícara do escorredor de copos. Eu


vou experimentar um pouco do seu chá queniano.

Katie estava assistindo Eli. Ela não sabia se era a luz por sobre a cabeça dele, mas
pela maneira como ele estava virado em direção a eles, a cicatriz em forma de L de
cabeça pra baixo no pescoço dele parecia estar mais evidente.

- Eli, essa cicatriz no seu pescoço é do quê?

Eli parou de derramar a água fervendo na chaleira de Cris. Por um instante, ele
pareceu ter congelado no lugar. Katie olhou para Ted e Cris buscando alguma pista.
Assim que ela viu a expressão de Ted, ela percebeu que tinha falado demais.

- Sabe o quê mais? Eu estou suspeitando que eu não deveria ter aberto a boca. Eu
retiro o que disse. Aqui vai uma pergunta diferente. Você viu algum filme bom esses
dias?
Como Eli não respondeu imediatamente, Katie se virou para Cris em busca de
suporte.

- E vocês dois? Algo que possam me recomendar?

Nem Ted e nem Cris compraram a idéia de Katie de mudar de assunto. Os dois,
sentados à mesa, olhavam para Eli. Katie não soube dizer se a atenção deles era uma
indicação de que eles já sabiam da história e estavam esperando para ver se Eli
contaria a Katie, ou se eles não sabiam. Será que Ted e Cris estavam tão curiosos
quanto ela, mas nenhum deles perguntou sobre isso antes?

Eli pegou a tampa da chaleira de Cris e a colocou no lugar. Carregando a chaleira


até a mesa e pondo-a no centro desta, ele pôs, também, uma peneira.

- É melhor se você deixar descansar pra pegar sabor por uns quatro minutos, ele
disse. Isso permite que as folhas do chá se abram totalmente e liberem o sabor. Mas,
você já sabe disso tudo, Katie.

Katie, que amava chá, afirmou com a cabeça.

- Quatro minutos, ela repetiu.

- Você tem leite, Cris?

- Claro.

Ela pulou da cadeira, mas Eli disse:

- Eu posso pegar. Ele retornou ao quieto grupo na mesa da cozinha e colocou, sem
cerimônia, a caixa de leite ao lado da chaleira.

- Eu estou quase certa de que minha tia e meu tio virão para a formatura. Cris
disse, incluindo Eli e Katie no comentário dela.

- Se você lhes enviar um convite para a festa, eu acredito que eles iriam amar vir.

Katie afirmou com a cabeça novamente. Ela tinha o endereço de Bob e Marta e ela
já tinha planejado mandar-lhes um convite. Parecia inútil adicionar algum comentário
sobre a festa ou os convites. Esse assunto não iria dar em nada. A pergunta pendente
de Katie tinha envolvido todos eles. Ela desejou poder pensar em algo, qualquer coisa
para levá-los à serenidade de uma conversa diferente.

- Eu também gostaria de saber, Ted disse. A afirmação dele pairou no ar,


esperando que Eli a pegasse.
Eli permaneceu quieto. Deixando a afirmação lá, descansando, como estava.
Depois de um longo momento, Eli respirou fundo, mas ainda não falou nada. Seu olhar
estava fixo na chaleira no centro da mesa.

Katie se compadeceu dele. Ela sabia muito bem o que era ser o alvo quando Ted
cismava com um assunto. Nem dez minutos atrás, Katie sentiu estar na mesma
situação, enquanto ele tentava convencê-la de que o amor estava à procura dela e que
iria capturá-la. A longevidade da amizade deles deu a Katie o sentimento de que ela
poderia dar o fora do comentário de Ted.

Sem falar, Eli pegou a chaleira e a peneira e serviu cada um deles, despejando o
chá quente no copo deles. Katie assistia com reverência a maneira como Eli lidava com
essa cerimônia que representava a simplicidade da amizade pra ela. Ela podia ver que
as folhas do chá tinham aberto durante os quatro minutos que ficaram de molho. A
água virou chá. Sua inconfundível e rica, mas delicada fragrância subiu e os envolveu.

- Eu tinha onze anos, Eli disse em voz baixa.

Katie sabia que o que estava prestes a abrir nessa mesa era uma parte profunda e
intensa da vida e do coração de Eli. Parte dela queria sair dali. Ela queria sair agora e
não ouvir o que Eli estava prestes a dizer. Isso porque seu instinto dizia que essa
comunhão nessa reunião de amigos não seria nem delicada e nem de boa fragrância.
Mas seria verdadeira. E a verdade tem um jeito de permanecer no coração por um
longo tempo.
Capítulo 18

- Nós vivemos em Zaire, Eli contava sua história em tom contínuo enquanto
terminava de se servir de chá. Nossa casa era dentro do posto de saúde.

Katie sentiu um flash dentro da sua cabeça e se lembrou de uma coisa que Eli
tinha dito no jantar de ação de graças, quando eles estavam jantando na casa dos
Doyle. Ele disse que o seu aniversário favorito foi quando ele tinha 9 anos e choveu
naquele dia, depois de um longo período de seca. A escola liberou os alunos que
viviam na área do posto de saúde e todas as crianças corriam na chuva e dançavam na
lama. A Imagem dessa historia tinha se fixado em Katie, ela a tinha guardado como
uma de suas fotos virtuais favoritas da África.

Eli continuou com sua história:

- Nossa família estava relativamente segura no posto missionário. Nós vivíamos


bem ao lado das instalações médicas. As pessoas das vilas vinham ao posto todo dia.
Individuais de tribos em guerra colocavam suas diferenças de lado e vinham todos ao
mesmo local para tratamento.

Ele olhou para Katie e depois para o Ted.

- Era para eu estar na escola, mas eu estava me sentindo mal, então a professora
me mandou pra casa já que ela sabia que a minha mãe estaria em casa nesse dia. Ela
mandou um bilhete comigo, eu li ele, mesmo sabendo que eu não deveria. O bilhete
dizia que se eu estivesse fingindo estar doente, minha mãe deveria me mandar de
volta imediatamente.

Cris sorriu gentilmente.

- Eu entrei na casa, que era pequena, mas umas das casas mais fortemente
estruturadas no complexo. Eu chamei pela minha mãe, mas ela não respondeu. Eu
pensei que ela devia estar nos fundos estendendo a roupa no varal ou no jardim de
vegetais. Ela ama cultivar cenouras e tomates

Eli fez uma pausa. Ele direcionava seu olhar para xícara de chá na sua frente que
ainda não bebera.

- Minha mãe não estava no jardim. Ela estava no quarto. E um homem... um


homem de outra vila... queria violentá-la.

A quietude que pairou sobre eles parecia trazer os seus corações mais perto um
do outro. Katie sentiu que os seus pulsos estavam todos batendo em um audível
uníssono.
- Eu corri até ele. Eu não sabia o que estava fazendo, mas eu pulei nas costas dele
e... ele tinha uma faca. Eli parou ali.

Katie se sentia mal em muitos níveis diferentes. Pelo jeito como Eli ponderava
cada palavra antes de dizê-la, estava claro que ele não havia contado essa história para
muitas pessoas no passado. Ela desejava não ter feito a pergunta que o levou a contá-
los essa historia. Katie também se sentiu mal pelo que pensou sobre Eli a primeira vez
que o conheceu em maio do ano passado, quando ela o viu no casamento de Ted e
Cris. Quando ela notou a cicatriz em forma de L invertido, Katie havia feito um dos seus
famosos comentários para si mesma e falou que o L era de “Perdedor” 18. Oh, mas
como ela estava errada.

- Sua mãe estava… bem? Cris perguntou.

- Mais ou menos, ele havia cortado a garganta dela também. Aí ele correu pra fora
porque uma mulher da nossa vila havia entrado na sua casa bem na hora. Se ela não
tivesse entrado... Um cirurgião que estava visitando a vila estava lá naquele dia, e ele
pode ajudar eu e minha mãe na mesma hora, algo incrível de acontecer naquela
clínica. Minha mãe precisava de mais pontos. Para mim, o problema foi o corte, era
fundo e muito perto da minha jugular Menos de um centímetro, o cirurgião disse.

Katie mal conseguia respirar. Ela não podia se imaginar passando por uma
situação dessas.

- Nós dois contraímos infecções depois disso. O posto não tinha os antibióticos
certos, mas eles eventualmente conseguiam o que a gente precisava.... então nós
ficamos por lá.

- Nossa Eli. A voz do Ted estava apertada de emoção. Você e a sua mãe….

- Eu sei. Eli disse rapidamente. Deus tinha a sua mão nas nossas vidas. Nós
sabemos disso.

Obviamente Eli havia convivido com Ted tempo suficiente para saber a sua visão
sobre o lado espiritual de qualquer situação. Não havia nenhum traço de irritação no
comentário de Eli. Katie não tinha nada pra falar. Ela esperou que Eli olhasse em sua
direção para que ela pudesse oferecer um olhar que expressava a sua sincera simpatia.
Ele olhou ao redor da mesa brevemente.

- Eu não gosto muito de falar sobre isso.

Cris, Ted e Katie todos concordaram com um aceno de cabeça.

18
Em inglês perdedor é Loser.
- Na verdade, além de vocês três, meu tio é o único com que eu já conversei sobre
isso. Ele é irmão da minha mãe, então é claro que ele ficou sabendo de tudo quando
aconteceu.

O rumo das palavras de Eli estava melhorando, agora que a história já tinha
passado pela parte difícil e estava chegando a uma parte mais feliz.

- Meu tio foi quem me convenceu a vir para Rancho Corona. Quando nós nos
mudamos de Zaire para Nairóbi, eu acho que meus pais perceberam que estando em
uma cidade grande eu conseguiria não ser mais tão afastado e hesitante com as
pessoas. Eu não tenho certeza do porque eles achavam isso, mas meu tio me disse
várias vezes que eu precisava experimentar uma vida fora da África, foi por isso que eu
entrei para o projeto de divulgação de missões na Espanha, foi a primeira possibilidade
que me apareceu, então eu fui. Foi bom, e ter vindo aqui para estudar tem sido muito
bom. Mas eu não sei se o meu tio realmente entende que você pode sair da sua casa e
morar em outro lugar, mas quando você ama algum lugar, ele nunca sai de você.

Ted concordou.

- Eu me sinto assim com relação ao Havaí.

- Então você acha que sempre vai morar na África? Cris perguntou.

- Eu não sei. Eli entrelaçou seus dedos ao redor da caneca cheia até a borda do chá
que ele ainda não havia bebido e que agora estava frio.

- Já que eu já contei tudo isso pra vocês mesmo, então eu acho que devo falar
mais uma coisa também. Algo que eu quero falar a muito tempo. Ted, eu queria te
agradecer por me incluir na sua vida. Desde quando eu cheguei aqui você tem sido um
amigo sólido para mim. Eu agradeço por você ter me conectado com o Rick e arranjado
para eu virar morar nesse prédio. Tem sido bom.

- Aonde você morava antes de vir morar com o Rick? Katie perguntou. Você não
morava nos dormitórios, morava?

- Não, eu morava com o meu tio. Isso funcionou bem no verão passado, mas eu já
estava pronto para me mudar para outro lugar. E Katie, eu gostaria de te agradecer por
me convidar para aquela noite de pizza no outono passado. Eu não sei se você se
lembra que me deu algumas dicas de etiqueta naquele dia, mas eu realmente sou
muito agradecido por elas, o que você me disse ajudou muito.
Katie definitivamente se lembrava como ela tinha rapidamente ajudado o Eli em
questão de “meios socialmente aceitáveis de se entrar em um grupo” como não
encarar alguém.19

Ela se sentiu mal agora por ter sido crítica do comportamento áspero que ele
tinha. O cara estava lidando com muitas coisas. “Choque cultural assim como tentar se
enturmar no campus e ainda trabalhando como segurança do campus”.

- Se nós estamos começando uma ‘hora das revelações da verdade’ então eu


tenho algumas para te dizer Eli.

Katie tomou um gole do seu chá para tomar coragem.

- Eu tenho que me desculpar por ter sido tão grosseira com você, eu sei que fui
mais de uma vez.

Eli estava voltando a ter sua expressão bem-humorada de sempre. Ele


calmamente disse:

- Você esta falando da primeira semana de aula, quando eu te dei uma multa?

Katie franziu as sobrancelhas.

- Ah é, eu tinha me esquecido disso. Não, eu não acho que quero me desculpar


por ter gritado com você no estacionamento. Eu acho que você devia ter tido um
pouco mais de graça comigo.

- Eu acho que você deveria ter me prestado um pouco mais de respeito.

- Por quê? Porque você estava usando um uniforme e parecendo um segurança


machão? Eu vou te dizer uma coisa, se os poderosos lá da Rancho quiserem que os
seus seguranças sejam tratados com um pouco mais de respeito, então eles precisam
fazer alguma coisa sobre aqueles carrinhos de golfe velhos. Não, fala sério! Aqueles
carrinhos parecem carros rejeitos pelos palhaços do circo. Desse jeito você poderia até
por uma buzina bem barulhenta e pendurar uns balões na parte de trás.

- Uns babuínos? Cris disse, segurando uma risada.

- Não, eu disse balões. Não babuínos.

- Eu ouvi babuínos.20

- Eu também. Disse Ted.

- Ah, mas você sempre fica no lado dela. O que você me ouviu disse Eli?

19
No sentido, encarar seria como olhar fixadamente pra alguém. Só pra não deixar dúvidas...
20
Em inglês, babuínos é ‘baboons’, e balões é ‘ballons’, daí a confusão de palavras.
- Eu poderia dizer um ou outro. Que tal se eu disser que ouvi balões só pra
empatar?

- Obrigada. Eu não sei o que está acontecendo ultimamente. Julia também não me
entendeu outro dia quando eu estava tentando dizer a palavra chá.

- E o que você disse ao invés de chá? Eli perguntou.

Katie lembrou-se de repente do incidente que aconteceu no Bella Barista e


abaixou os olhos.

- Foi só alguma coisa doida. Eu não sei o que está acontecendo como meu cérebro.
Excesso de estudo, eu acho.

- Não é pra estender esse assunto nem nada, Eli disse, voltando para seu assunto
anterior. Mas eu gostaria de terminar de agradecer a vocês três por me ajudar a achar
um lugar aqui na Califórnia e na Rancho.

- Sem problema, cara Ted estendeu sua mão por cima da mesa e lhe deu um forte
aperto de mão, do tipo que os homens dão, quando apertão o pulso um do outro.

- Cris, e eu estamos aqui para você a qualquer hora. Você sabe disso, não sabe?

- Sei sim, obrigado.

Parecia um bom momento para Katie repetir os sentimentos de Ted e falar para o
Eli que ele podia contar com ela também. A qualquer hora. Katie não sabia ao certo o
que dizer. A sua visão do Eli tinha inclinado em uma nova direção, mas ela não queria
indicar que tinha um ponto fraco e vulnerável em seu coração por ele.

Ao invés de adicionar palavras para renovar sua fidelidade a sua amizade com Eli,
Katie tomou outro gole do seu chá e disse:

- Esse chá é bom mesmo. Obrigada por trazer ele pra cá e dividido com a gente.

- A qualquer hora.

Katie compadeceu-se levemente e adicionou:

- E, Eli, eu realmente quero dizer isso mais do que vai soar, mas eu agradeço a
você por ter contado sobre a sua vida para nós. Eu não consigo imaginar como pode
ter sido tudo isso para você. Ou para sua mãe. Isso pode ser uma pergunta muito
pessoal, então você não tem que responder, mas você teve algum aconselhamento?
Quero dizer, você já resolveu tudo isso internamente?
- Isso é parte do motivo pela qual meu tio queria que eu viesse para cá. Ele
conseguiu um conselheiro e pagou ele para mim. Eu comecei no verão passado e fui
nele durante 6 meses. Então sim, eu acho que já resolvi tudo isso. 21

Katie estava impressionada com o quanto que Eli estava sendo aberto.
O silencio pairou sobre a mesa por um momento antes de Eli falar:

- A parte que mais me ajudou durante o aconselhamento foi admitir que eu era
uma vítima, uma vítima da graça.

Nenhum deles respondeu de imediato.

Ted recostou-se na cadeira e concordou com a cabeça.

- Uma vítima da graça. Isso é intenso. Mas é verdade, não é? Todos nós somos
vítimas da graça. Normalmente nós não pedimos para que coisas boas aconteçam
conosco. Nós não sabemos o que está vindo. Nós certamente não merecemos toda a
bondade e amor que Deus nós dá, mas Ele continua derramando essas coisas em nós.
Isso é forte, Eli. Ao invés de ser uma vítima do mal, você vê a mão de Deus em tudo e
se chama de vítima da graça. Eu vou me lembrar dessa.

- Eu amo essa frase, Cris disse, realmente altera todo o sentido de você se ver
como uma vítima desamparada e impotente de todas as coisas ruins que acontecem
na vida.

Eli concordou:

- Uma vez eu reformulei isso dessa maneira, eu comecei a sentir de novo, sabe
como? Eu tinha me fechado em tantos sentidos, e eu acho que o aconselhamento me
ajudou a por meu coração de volta no caminho com Deus. Eu não sei como explicar. Eu
só sei que me sinto como uma pessoa totalmente diferente agora.

Katie se sentiu mal de novo por ter sido tão julgadora sobre Eli o Eli no verão e
outono passado. Aqui estava ele, passando por tanta coisa, e Katie o estava tratando
como se ele fosse a sua idéia de um rapaz americano comum, que tinha vindo de uma
vida confortável, de um lar de classe média e que estudava em escola particular e
ganhava o que queria de natal. Ela desejava que pudesse fazer esse ano todo de novo.
Não que ela quisesse ter de novo sua relação com Rick, ou mudar alguma coisa nela,
não queria também refazer seu ano de aulas e de trabalho como R.A. Todas essas
coisas do ano foram boas. Até mesmo o término com Rick parecia a coisa certa a fazer.
O que não estava certo foi o jeito que ela julgava Eli e o manteve a distancia por tanto
tempo.

21
No livro está escrito conselheiro, mas eu acredito que seja um psicólogo mesmo.
Katie decidiu ali, na mesa de cozinha de Cris e Ted, que ela seria mais gentil com as
pessoas, especialmente as pessoas que ela não sabia por que estavam agindo do jeito
que estavam. Ela definitivamente iria tratar o Eli com muito mais carinho e respeito de
agora em diante.

Seu compromisso pessoal de mostrar a Eli mais carinho e respeito foi posto á
prova na noite seguinte quando ele apareceu no Spring Fling sem ser convidado. Ele
chegou na Lobby de Crown Hall com o Rick.

Katie acenou para os dois, mas percebeu que estava feliz de não poder ir até lá
para cumprimentá-los, pois ela estava “trabalhando” com a Nicole e era a responsável
por fazer a festa acontecer. Ela se sentiu um pouco desconfortável e insegura sobre o
que disser para qualquer um dos dois.

A sua ideia de passar as caixas de Twister para os times estava funcionando bem,
até que todos os grupos abriram suas caixas e perceberam que o motivo deles estarem
tão baratos no Bargain Barn (loja que a Katie comprou os jogos) era devido aos
giradores.22 Alguns deles não giravam, e alguns estavam sem a setinha.

- Atenção todo mundo. Katie gritou a multidão inquieta. Quando eles não
responderam, Katie deu um assobio estridente. Isso capturou a atenção deles.
Quantos de vocês não conseguem fazer seus giradores funcionar?

Todos os grupos responderam que os seus giradores não funcionavam. Katie


estava quase dizendo para todos desistirem do jogo, ir direto para a comida e chamar
aquilo de uma festa. Mas antes que ela pudesse fazer isso, Nicole apareceu do seu
lado, assim como ela esteve durante todo o ano letivo.

- Anuncie as combinações. Nicole disse a Katie. Como um grande jogo de bingo.


Você fala a combinação e todos os grupos fazem os mesmo movimentos ao mesmo
tempo.

- Ótima idéia! Ok, todo mundo, nós temos um plano B, graças a nossa destemida e
fabulosa Nicole. Vamos fazer o seguinte... Katie deu uma olhada nas regras do jogo,
confiscou um dos giradores defeituosos, para lhe lembrar das cores e disse para todo
mundo. Que os jogos comecem.

Nos primeiros minutos todo mundo conseguiu fazer as combinações faladas pro
Katie com facilidade. Assim que uma pessoa caia, a próxima na fila entrava no seu
lugar, exatamente na mesma posição que a outra estava. De onde ela estava, em cima
de uma das mesas de café, Katie viu todo mundo estava se misturando bem.

Aí ela resolveu apimentar um pouco o jogo e disse:


22
Não sei como chamar isso, é aquela tabela em forma de bola quem tem uma seta e várias cores, aí
você gira e vê que cor tem que por a mão ou pé.
- Orelha direita no verde.

- Orelha? Todos perguntaram.

- Sim, orelha, vai!

O nível de barulho aumentou um pouco, com os times tentando decidir quem


tinha realmente caído e quem estava só tentando colocar sua orelha no chão

- Tudo bem, esqueça as orelhas, cotovelo esquerdo no azul. Quer fazer? Você vai
ser a pessoa que fala as combinações. Todos te ouvem Eli.

- Isso foi na capela.

- E daí? Aqui. Ela empurrou o girador nas mãos dele e gritou para os jogadores: Se
preparem para uma grande surpresa, meus amigos twistados23, Eli Lorenzo é o seu
novo líder. Vai nessa Eli.

A sua voz saiu agradável, alta e autoritária, não parecia gritada, mandona e chiada
como a de Katie estava ficando. Eli regulou o passo do jogo para que ele andasse mais
rápido, coisa que os jogadores gostaram, pois assim eles não ficariam com câimbra nos
músculos enquanto esperavam a próxima combinação. Eli iniciou a animação da festa,
pelo ponto de vista de Katie.

Ela foi até o sistema de som e ligou de novo a música. Quando todos estavam
esperando no lobby ás 7 da noite, Nicole deixou a musica tocando para que todos
sentissem que isso era uma festa de verdade e não só uma desculpa para aqueles que
queriam escapar dos estudos. Nicole também havia colocado uma faixa que dizia
“Spring Fling” e tinha decorado a área com margaridas gerberas de cores vibrantes, a
flor favorita de Nicole.

Katie ajustou o volume da música de modo que não competisse com o Eli, mas alta
o bastante para trazer de volta a sensação de festa. Nicole chegou para Katie e disse:

- Ótima idéia de ligar a musica outra vez, eu acho que está funcionando.

- Sim, graças ao Eli. A propósito, eu notei que você veio com o ‘suéter-agarra-
rapaz’. Boa escolha. Suas maravilhas já funcionaram?

- Nem um pouquinho. Eu fui até ele para dizer oi quando ele chegou, ele me disse
oi e perguntou se eu achava que a cor no banheiro masculino do café era muito
escura.

23
No inglês, twisted, que significada retorcido, mas como ela quis fazer uma brincadeira com o nome do
jogo, ficou twistados em português.
- Foi só sobre isso que ele conversou com você? Tinta do banheiro masculino? Ele
é pode ser muito sem noção às vezes.

Nicole parecia um pouco perdida, mas a pitada de desilusão logo desapareceu.

- Não tem problema Katie, eu conversei mais com a Julia sobre isso, e eu estou
bem. Desde quando ela orou comigo, eu me senti resolvida. Pelo menos mais resolvida
do que eu tenho estado nos últimos meses.

Katie sabia que Nicole estava mudando para frases mais genéricas porque Carley,
uma das garotas do nosso andar, estava agora perto das duas. Carley tinha um
histórico de ser divisionista e terminantemente ornery.24 Nicole foi inteligente em não
revelar nenhum detalhe específico, especialmente sobre Rick, quando era possível que
a Carley pudesse ouvir.

Katie e Nicole voltaram a atenção ao grupo. As coisas estavam indo muito melhor
com o Eli do que tinham ido quando Katie estava na direção. Katie não foi a única que
notou a melhora. Rick foi até onde Katie e Nicole estavam e disse:

- Você pode me falar agora se quiser.

- Falar o que? Katie perguntou.

- Falar que está feliz que eu tenha trago o Eli. Falar que eu salvei a festa porque fiz
ele vir. Qualquer coisa parecida com isso é aceitável.

Arregalando os olhos e fazendo uma cara de bonequinha brincalhona, Katie


entrou no seu estado divertido e flertante com Rick, do mesmo jeito que ela
costumava ser durante os tempos de escola. Com uma voz super melosa e animada ela
disse:

- Oh, muito obrigada Rick Doyle. Você é tão maravilhoso. Eu não sei o que faria
sem você. Você é meu herói.

A última frase inesperadamente ficou presa na garganta de Katie.

Ela e Rick trocaram olhares. Uma última pontada de dor e perda parecia que
circulava por entre o coração dos dois. Ela também viu isso na expressão de Rick.

Katie e Cris tinham a muito tempo desafiado uma a outra a “esperar por um herói”
quando se tratava de suas vidas amorosas. Cris tinha esperado por Ted, e ele
definitivamente era o herói dela.

24
Gente, eu não achei nenhuma tradução para isso.
Katie havia esperado por Rick por muito tempo. E enquanto ele realmente tinha se
transformado em um herói, ele não era o seu herói. Katie não conseguia engolir. Ela
piscou rapidamente e se virou para o lado.

- Nicole, você pode tomar conta de tudo por aqui não pode? Eu...... Eu já volto.
Capítulo 19
Uma semana e meia depois, quando Katie encontrou Julia para outra de suas
reuniões de avaliação, ela esperava receber uma bronca por ter abandonado a Festa
da Primavera e não ter voltado para terminar a sua parte da programação. Nicole tinha
coberto lindamente, e ninguém no evento soube que Katie devia fechar a noite,
entregando aos alunos escolhidos, prêmios engraçados de fim de ano.

Quando Katie pisou na sala de Júlia, ela baixou o queixo em uma postura humilde.

- Vá em frente. Manda ver. Eu aguento.

- O que você esta fazendo? Julia perguntou.

- Estou me arrependendo por ter abandonado a Festa da Primavera.

- Não se preocupe com isso, Katie. Nicole me disse o que aconteceu e eu entendi.
Você teve um momento do coração com Rick, e você precisava resolver isso naquela
hora.

- Um momento do coração? Sim, eu acho que é exatamente o que era. Onde você
ouviu isso?

- Da Nicole. Eu também ouvi dos outros como Nicole cobriu lindamente sua
ausência. Eles disseram que tiveram um bom momento. Então não se preocupe sobre
ter se ausentado. O evento foi um grande sucesso. Eu que devia estar arrependida por
não estar lá com você.

- Você nos falou antes que tinha um grande jantar da faculdade. Claro que você
precisava estar lá com John. Nicole e eu entendemos, então não precisa se desculpar.

A expressão de Julia se iluminou.

- Falando em John, casamento e damas de honra. John e eu estamos cada um com


apenas um padrinho e madrinha em nosso casamento, e eu gostaria que você fosse
minha dama de honra.

- Eu?

- Sim, você.

- Por que eu? Quero dizer, eu fico honrada em ser sua dama de honra, mas você
tem certeza?

- Sim, com certeza. Eu tenho pensado muito sobre isso. John e eu conversamos
muitas vezes sobre isso, e eu gostaria que você fosse a pessoa que esteja lá comigo.
Parte da razão é porque a maioria dos meus amigos mais próximos estiveram comigo
durante todos os anos, durante tudo que eu passei com Trent. Eles eram ótimos
amigos e me apoiaram. Mas estão relacionados à minha primeira história de amor.
Nenhum deles faz parte dessa minha jornada em que me apaixonei por John. Nós
mantivemos tudo muito discreto e particular.

Katie podia ver porque Julia tinha mantido as coisas assim. Notícias de uma DR e
um professor juntos poderiam dar legalidade para muitos rumores, não importa
quanta integridade estivesse presente no relacionamento deles.

- Outra razão é porque eu quero que você faça parte dessa nova etapa da minha
vida do mesmo modo que você me tornou parte da sua ao me confidenciar sobre a
herança. Eu acho que todo o processo colocou você e eu na vida uma da outra de uma
forma intensa. Eu me sinto muito conectada a você, Katie.

- Eu sei, eu me sinto do mesmo jeito. Durante todo ano, Julia, mais do que com só
com as coisas da herança, você tem estado comigo nos momentos certos.

- E agora eu quero ter você comigo.

- Você tem. Como eu disse. Vou ficar honrada em ser sua mulher de honra.

- Bom. Eu gosto disso: mulher de honra em vez de dama de honra.

- Eu sei, huh? Esse é um titulo melhor. Vamos começar uma revolução e mudar
esses termos fora de moda. Quem quer ser uma dama? Isso sempre me fez pensar na
música de Natal com o 'oito damas a ordenhar’. Sério, quem precisa de uma imagem
dessa em mente num casamento?

- Eu nunca tinha pensado nisso antes, mas obrigada por colocar essa imagem na
minha mente. Eu tenho certeza que isso vai vir a minha mente agora sempre que eu
ouvir o termo dama de honra.

- Não se nós tivermos sucesso na nossa missão de fazer todas as noivas chamarem
sua primeira madrinha de ‘mulher de honra’. Ou mesmo ‘melhor mulher’. Porque não?
O noivo chama seu padrinho mais importante de seu 'melhor homem'. Porque a noiva
não pode ter uma melhor mulher? 25

- Eu gosto do termo mulher de honra. Esse é, agora oficialmente, seu papel no


nosso casamento. Isto é um sim definitivo, então?

25
Em casamentos estado-unidenses, as noivas chamam suas madrinhas de 'bridesmaids' (damas-da-
noiva) e a dama-da-noiva principal, na maioria das vezes, a melhor amiga da noiva, é chamada de 'maid
of honor'. O noivo também possui padrinhos, chamados de 'groomsman' (homens-do-noivo) e o
homem-do-noivo principal, na maioria das vezes, o melhor amigo do noivo, é chamado de 'best man'
(melhor homem). As funções da maid of honor e do best man são, entre outras, ajudar os noivos a
organizar o casamento. O best man, por exemplo, é o responsável por guardar as alianças para o noivo e
entregá-las a ele no momento da troca de alianças.
- Sim, definitivamente, sim. Eu sou a sua mulher de honra. Katie se curvou
levemente. Diga os detalhes.

- Ok, primeiramente, é melhor eu perguntar o que você decidiu fazer depois da


sua formatura?

- Eu não sei exatamente. Encontrar um emprego em algum lugar e fazer alguma


coisa. Eu pensei que eu poderia me mudar para o apartamento de Rick e Eli.

Julia olhou surpresa.

- Com eles dois?

- Não. Rick está planejando se mudar para Redlands. Eu não sei quando Eli vai
embora, mas quando ele voltar pra Nairobi, eu suponho que o apartamento vai ficar
disponível.

- Mas Eli não vai voltar pro Quênia até depois do nosso casamento.

Katie não tinha certeza de porque Julia sabia daquele pequeno detalhe, mas isso
não parecia algo importante para se descobrir.

- Quando é o casamento? Katie perguntou.

- Na semana depois da colação de grau. Eu ainda não tinha lhe dito isso?

- Talvez, mas eu posso ter esquecido. Sobrecarga de dever de casa. Uau, rápido,
hein?

- Eu sei. Quando John e eu decidimos que queríamos nos casar na parte elevada
do campus, nós tivemos que ficar com uma das poucas datas disponíveis restantes.
Desde que Cris e Ted realizaram casamento deles na colina no ano passado, esse se
tornou um lugar popular para muitos dos estudantes da Rancho, os antigos e os atuais.
Eles realmente começaram algo.

- Não deixe a tia Marta ouvir você falando isso. Ela vai querer uma parte dos lucros
de todos os eventos realizados lá. Foi ela quem organizou toda a decoração, os
fornecedores, e as flores.

- Nosso casamento não será tão elaborado. E não vai ser tão grande, também.
Estamos tentando mantê-lo para cerca de cinqüenta pessoas. Setenta e cinco no
máximo.

- Pequeno mesmo.

- Nós percebemos que ambos conhecemos muitas pessoas. Se nós abríssemos,


seria praticamente um evento para a escola inteira. Nós decidimos que queremos
apenas a família e os amigos próximos. Já que John e Patrícia não tiveram filhos, nós
não precisamos nos preocupar com a união de todos os nossos parentes.

- A recepção também será lá na campina também?

- Sim. Vai ser simples. Bolo e ponche. Uma amiga minha está fornecendo o bolo
como um presente. A Nicole lhe contou que ela está fazendo as flores?

- Contou. Tenho certeza que ela vai fazer um trabalho maravilhoso para vocês. Ela
é muito talentosa. E quanto ao seu vestido?

- Eu vou usar o vestido de casamento da minha irmã. Ela vai mandar pra mim.

- Ela virá para o casamento?

- Não, ela está no terceiro trimestre de uma gravidez difícil, e o médico disse que
ela não pode andar de avião. Nós conversamos sobre adiar o casamento até o bebê
chegar e ambos estarem em condições de viajar. Mas isso seria bem no meio de
Setembro e o John estaria dando aulas.

- Está tudo bem pra você sua irmã não estar aqui?

Júlia acenou com a cabeça.

- Foi ela que insistiu para eu ir em frente e me casar.

- Bom, diga o que você precisa que eu faça e quando você precisa que esteja
pronto e eu farei tudo.

- Eu estou trabalhando em uma lista. Se você tiver tempo agora, nós podemos dar
uma olhada em alguns detalhes.

- Claro. Mas espere. Você não tinha que me dar minha avaliação de fim de ano?

- Oh, certo. Katie, você fez um bom trabalho este ano. Continue assim nessas
semanas finais.

- Ok.

- Algum problema em particular?

- Só o normal.

- Ok. Bom. Fim da avaliação.

As duas riram. Julia foi até uma pequena escrivaninha que se encaixava
agradavelmente em um canto do apartamento e tirou um grande fichário.

- Uau! Eu pensei que você tinha dito que seria um casamento simples.
- É simples. Está tudo bem aqui. Este é o meu cérebro. Se perdê-lo, estou perdida.

Enquanto Julia colocava o livro na mesa de café, um cartão de visita rodopiou e


pousou no sapato de Katie.

Então, enquanto trabalhava em seu projeto final extremamente atrasado na noite


seguinte, uma idéia brilhante lhe ocorreu. Julia e seu amado não precisavam de cem
pombas. Apenas uma.Correndo para o quarto de Nicole, ela encontrou sua amiga já na
cama.

- Ei, acorde. São só onze e meia. O que você está fazendo?

- Dormindo. Você realmente deveria tentar fazer isso às vezes. Nicole acendeu a
luz próxima à sua cama, olhando para Katie com os olhos meio fechados.

- É a melhor idéia de todos os tempos. Eu não podia esperar até de manhã para te
contar.

- Katie, eu pensei que alguma coisa estivesse errada!

- Não, alguma coisa está certa. Ou pelo menos vai ficar certa. Belamente certa.

Katie iniciou um relatório de como o Dr. Ambrose queria pombas no casamento e


Julia tinha dito para jogar fora o cartão, mas Katie tinha ligado para obter informações.

- Aqui está o meu golpe de mestre. Quando você desenhar as flores, você pode
fazer com que no meu buquê tenha uma gaiola escondida, grande o suficiente para
uma pomba.

- Katie...

- Não, ouça, é perfeito. Eu não estou falando de um buquê de pombas. É só uma


pomba. Isso vai ser uma surpresa para eles. Eu vou soltá-la do buquê logo depois que
eles disserem 'Sim'. Ou depois que eles se beijarem. Ou talvez, logo depois que eles
saírem pelo corredor. Vai ser perfeito! Você não vê? O Dr. Ambrose vai amar. A única
pomba simboliza, quando Julia entrar pelo corredor, que ela e o Dr. Ambrose eram
duas pessoas separadas, com dois corações. O mistério do casamento é que os dois se
tornam um. Uma pomba. Um coração. Unidos como um. Você não amou?

- Realmente... Nicole estava sentada agora e tinha parado de piscar sob a luz
brilhante. Eu amei. Que grande idéia, Katie.

- Eu acho que não seria difícil incorporar uma pequena gaiola no centro do buquê.
Contanto que a pomba seja tipo uma dessas pombas de mágico que não se importam
de ficar confinada em lugares pequenos.

- Podemos pedir uma pomba que não seja claustrofóbica. Como vai ser?
- Você vai ter que ter um buquê grande. Tudo bem, porque o buquê da Julia vai ser
grande também. Ela deixou pra eu decidir sobre o seu, então ela provavelmente não
vai questionar o que eu desenhar pra você. Que divertido!

- Eu sei. Dr. Ambrose vai amar.

Katie e Nicole sentaram-se juntas na cama dela pela próxima hora, repassando os
planos do casamento de Julia.

- Uma ajuda sua pra comprar meu vestido de mulher de honra seria muito útil
também. Quaisquer idéias que você tiver serão muito apreciadas.

- Que estilo ou cor a Julia quer que você use?

- Ela disse que isso é comigo já que eu não tenho que combinar com ninguém. Eu
estava pensando em ir com um pretinho básico. O que você acha.

- Eu acho que é uma boa. Nós vamos encontrar alguma coisa esplêndida pra você.
Quando você tem tempo para ir às compras?

As duas descobriram quando teriam tempo livre em suas agendas e então


passaram aos planos da festa de formatura.

- Eu enviei meus convites na última segunda-feira, Katie disse.

- Eu também. Eu tenho alguns sobrando, se você precisar de mais.

- Não, eu também tenho muitos sobrando.

- Você enviou um para os seus pais, não enviou?

- Sim. Eu duvido que eles venham. Eu não encomendei convites para a colação,
então o convite para a festa vai servir duplamente pra mim. Pelo menos meus pais vão
saber que eu me formei. Isto é, se eu terminar tudo nas próximas semanas.

- Espero que os seus pais venham, Katie. Você disse que as coisas estavam um
pouco melhores com eles no Natal.

- Sim, Rick e eu fomos lá no fim do dia de Natal. Eu lhe contei, né? Nós levamos
alguns presentes. Minha mãe fez sopa, o que é o mais sofisticado que meus pais tem
feito de comida ultimamente. Nosso tempo com eles foi ok. Não divertido, mas ok.
Nós ficamos lá por umas duas horas. Meu pai agradeceu por termos ido vê-los, então
eu acho que valeu a pena.

- Talvez ele pense que valha a pena vir para a sua formatura.

- Talvez.
Nicole bocejou e educadamente cobriu a boca com a mão.

- Eu deveria deixar você dormir, Katie disse, se levantando. Obrigada por ouvir.
Estou feliz que você tenha gostado da idéia.

- Você compra a pomba e eu vou desenhar o buquê com a gaiola escondida.

Katie correu corredor abaixo até o seu quarto, parando para conversar com outras
duas corujas noturnas que ainda estavam de pé, passeando pelo corredor em seus
pijamas. Katie reconheceu suas expressões estressadas e aéreas. Ela encorajou a
ambas dizendo que elas iriam conseguir passar por aquele semestre.

- Tomem porções extra de vitamina C sempre que vocês puderem.

- Obrigada, mamãe, uma das moças disse com um sorriso.

- Seu sistema imunológico vai me agradecer por isso.

Quando ela retornou para o seu quarto, ela seguiu seu próprio conselho e
procurou pelo seu suprimento de vitamina C. Tomando três das pastilhas mastigáveis,
ela ligou sua hot pot26 na tomada. Ela não estava particularmente interessada em chá,
mas uma caixa de macarrão tailandês instantâneo parecia uma boa. Em seis minutos
ela estava de volta ao seu laptop. A tigela fumegante de macarrão soprava sua
fragrância como uma benção sobre sua sessão de estudos à meia-noite.

Isso vai funcionar, não vai? Eu vou terminar isso esta noite finalmente. Eu vou
conseguir passar pelas provas finais e vou me formar. Ela sorvia vagarosamente o
caldo do macarrão, sentindo-se aquecida dentro da sua barriga, assim como em seu
espírito.

Colados na parede ao lado da sua escrivaninha havia cinco cartões nos quais ela
havia escrito alguns dos seus versículos favoritos. Seu olhar parou em um que ela tinha
escrito mais de um ano e meio atrás, quando ela e Cris eram colegas de quarto. Ela o
tinha fixado em seus pensamentos antes de começar a sair com Rick.

Salmo 138:8 – “O Senhor cumprirá o seu propósito para comigo.”

Eu acredito que você fez isso, Senhor. Você ainda está cumprindo seus propósitos
para mim.

O versículo no cartão ao lado desse era um de Êxodos 20:24: “Construa altares nos
lugares onde eu te lembro de quem eu sou e eu virei e te abençoarei lá.”

Ela lembrava que tinha chegado a esse versículo em agosto passado durante o
retiro de AR's na Ilha Catalina. Em resposta, como seu não convencional ato de

26
Hot pot seria como um esquentador de marmita (uma marmi-quente, como conhecemos aqui).
adoração, Kate tinha construído um altar e dedicado o ano seguinte ao
Senhor. Passando ao terceiro cartão, ela tirou-o da parede e sorriu. Esse, dos Salmos,
era o verso que algumas mulheres do andar tinham selecionado especialmente para
Katie para aquele ano. Ele também estava escrito perto da foto dela na montagem que
tinha sido feita no mural delas desde o início do ano letivo.

Katie tinha voltado àquele mural várias vezes e tinha lido todos os versículos nas
fotos com tanta frequência que tinha se tornado imune ao versículo "dela".

“O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.”

Você fez isso também. Você guardou e abençoou todos os meses em que eu estive
com o Rick.

Katie sabia que era extraordinário sentir-se tão em paz sobre como tudo tinha
acabado com Rick.

Você abençoou a minha saída, e agora eu acredito que você vai abençoar a minha
entrada. Entrada em que? Entrada para uma aterrissagem nesse longo vôo chamado
Universidade Express. Tudo o que eu peço Senhor, é um pouso seguro. Depois... o quê?
O que você quer que eu faça?

Katie tirou um cartão vazio da pilha em sua escrivaninha e escreveu uma nota para
si mesma. Durante todo o ano letivo ela tinha feito notas mentais para si própria.
Parecia adequado que ela, finalmente, escrevesse uma dessas notas com papel e tinta
de verdade.

Surpreendentemente, a nota acabou não sendo escrita como se fosse ela quem
estava falando. Ela não planejou, mas ela escreveu como se Deus estivesse escrevendo
pra ela.

Querida Katie, eu tenho tudo resolvido. Continue confiando em mim e fique atenta
às próximas atrações. Não se esqueça: Você também é uma vítima da minha graça.

Amor, Deus.
Capítulo 20
No dia antes da formatura de Katie, o celular dela tocou às 3:05 da manhã. A
princípio ela pensou que o tinha colocado para despertar e tentou desligar aquela
função do telefone. Quando ele continuou tocando, seus olhos se ajustaram à luz da
tela do celular, e ela viu que era Eli quem estava ligando.

- Eli, o que foi? Você está bem?

- Estou. Você quer fazer algo meio maluco para comemorar o fato de nós
estarmos prestes a nos formar?

- Maluco? Eli, maluco é você me ligando às três da manhã em um dia que eu


poderia dormir até meio dia se eu quisesse!

- Você pode dormir o quanto quiser semana que vem. Venha comigo. Eu vou ver o
nascer do sol.

- Aonde você vai?

- Às montanhas.

- Vai levar duas horas pra chegar lá. Katie estava, agora, sentada e envolvendo sua
mente naquela espontânea ideia.

- Por isso que nós precisamos ir agora se quisermos pegar o primeiro raio de sol.
Você tá dentro?

Katie hesitou por um momento.

- Sim. Por que não? Eu vou com você.

Apesar de ela estar respondendo calmamente, Katie sentiu suas emoções se


agitarem de ansiedade. Depois de toda a pressão das últimas semanas, isso era como
um cartão concedendo liberdade-da-prisão.

Era ela quem normalmente sugeria aventuras bizarras para seus amigos, de
repente soou legal ter mais alguém que a convidasse para uma saída maluca no meio
da noite.

- Onde você quer que eu lhe encontre?

- Eu irei até o Crown Hall e lhe encontrarei aí na entrada.

Com um sopro de energia, Katie estava de pé e se vestindo com roupas quentes.


No momento em que ela pisou fora do lobby para a fria escuridão, Eli estava saindo do
carrinho de segurança do campus.
- Não me diga que você vai dirigir aquele carrinho de palhaço pra algum lugar.

Katie tirou uma touca de sua bolsa e colocou na cabeça.

- Não, eu acabei de sair do trabalho. Eu estava esperando que você dirigisse. Eu


ainda não peguei uma carona no seu carro novo. Ou eu deveria dizer no ‘Trevo’.

- Sim, meu Trevinho verde. Claro, eu dirijo. Eu acredito que o Trevo esteja
animado para uma aventura também.

Katie procurou por suas chaves e alcançou o passo de Eli. Eles caminharam até o
carro num ritmo constante e entraram. Katie ligou o carro e deu ré.

- Você sabe aonde nós estamos indo? Big Bear? Lago Arrowhead? Ela perguntou.

Uma das coisas que os alunos de outros estados amavam na Universidade Rancho
Corona era sua localização. Uma pessoa poderia dirigir uma hora no sentido oeste e
estar na praia, uma hora no sentido sudeste e estar no deserto, ou duas horas pro
nordeste e estar nas montanhas.

- Eu imprimi um mapa, Eli disse. Você já esteve no Crestline ou no Rim of the


World? 27

- Talvez. Não tenho certeza.

- Um dos caras com quem eu trabalho, morava lá. Ele me disse pra eu ir a um lugar
chamado Strawberry Peak Fire Lookout. O mapa diz que demora uma hora e cinquenta
e cinco minutos daqui até lá.

- Eu nunca ouvi falar de nenhum Strawberry Peak Lookout. Mas eu já andei de


trenó no Big Bear. Ou talvez foi no Lago Arrowhead . Enfim, o que você acha de irmos
pra estrada e você me diz pra onde ir?

- Está bem. Obrigada por vir comigo, Katie.

Ela olhou para ele e ofereceu um sorriso de contentamento.

- Obrigada por me convidar para ir. Eu amo uma aventura.

- Eu sei. Eu também. Eu estava fazendo minhas rondas usuais no meu carro de


palhaço, como você diz, e percebi que eu já estou aqui há quase um ano, mas nunca
fui às montanhas.

- Que triste que você não foi durante o inverno, quando havia neve. Você já viu
neve?

27
Ponta do mundo.
- Claro que já.

- Bem, é que você é da África e tal...

Eli olhou surpreso.

- Nós temos umas montanhas na África também, você sabe.

- Sério? Montanhas onde neva?

- Você já ouviu falar no Kilimanjaro?

- Talvez.

- É do outro lado da fronteira da Tanzânia, mas não é longe de onde meus pais
moram. O topo tem mais de 6.000 metros.

- Seis mil metros? Uau, iria mesmo pegar um pouco de neve com essa altura toda.

- O Kilimanjaro é a montanha mais alta na África. Eu e meu pai a escalamos dois


anos atrás. Não até o topo. É preciso estar vestido apropriadamente para caminhar até
o ponto mais alto. Nós fomos longe o bastante para congelar nossos traseiros e tirar
fotos maravilhosas.

- Ah, é, agora pensando nisso, eu vi mesmo umas fotos da apresentação que você
fez na capela.

- Aquele era o Kilimanjaro.

- Eu quero ir à África um dia.

- Quer?

Katie lançou-lhe um olhar.

- Eu nunca lhe contei isso?

- Não. Estou surpreso.

- Por quê?

- Quando a equipe missionária se reuniu uns meses atrás, você foi ao primeiro
encontro, mas saiu depois de vinte minutos.

- Eu recebi uma mensagem dizendo que eu precisava voltar para o dormitório por
causa de um problema que surgiu. Eu não lembro agora o que era. Eu não fui ao
encontro seguinte ou me inscrevi para a viagem por causa do Rick.

- Por quê? O Rick não queria que você fosse?


- Ele não disse que não, mas eu sabia que ele não entenderia porque eu queria ir.
Naquela época, as coisas estavam tão bem entre mim e Rick que eu não quis colocar
nosso relacionamento em risco.

Katie parou por um momento antes de acrescentar:

- Que patético, não é? Eu deixei de ir à África, e veja como tudo acabou?

- Eu não vejo sua decisão como patética.

- Obrigada, Eli, mas de alguma forma, foi sim.

- Como é que pode ser patético estar comprometido com alguém com o qual você
se importa profundamente? Eu acho que o nível de lealdade que tanto você como Rick
mostraram um para com o outro e o relacionamento de vocês era comovente.

- Comovente, huh? É isso que nós éramos? O Rick provavelmente iria gostar dessa
descrição.

- Eu não consigo pensar em nenhum outro casal que eu conheço que tentou tanto
por tanto tempo fazer um ao outro feliz. O que vocês dois passaram foi comovente.

Katie não estava certa sobre como receber o comentário de Eli. Ela aprendeu em
uma de suas aulas desse semestre que, quando uma pessoa finge não se incomodar
com algo que o outro faz, o relacionamento não é saudável. Eventualmente a
personalidade mais forte vence na hora de tomar as decisões, e a outra pessoa,
falsamente condescendente, acaba sufocada e frustrada.

O professor daquela aula tinha aplicado aquele modelo de relacionamento às


políticas e o desvio de fundos das nações em desenvolvimento. Entretanto, enquanto
estudava para sua prova final, Katie colocou Rick e ela mesma no modelo. Mesmo não
achando que o conceito se aplicava totalmente a eles, ela via similaridades. Ela queria
acreditar que tinha permanecido verdadeira à sua personalidade durante o
relacionamento deles e não fingido nada, mas ela não tinha certeza de que Rick tinha
feito o mesmo.

- Eu ainda não vejo o motivo de você dizer que o que Rick e eu tivemos foi
comovente.

- Porque vocês dois se esforçaram muito.

- Parece que você não acha que um bom relacionamento requer muito esforço ou
muito trabalho duro.
- Claro que requer. Mas eu também acho que um bom relacionamento flui
naturalmente, sem ser forçado. Como as ondas. O amor vem no seu próprio tempo. É
inconveniente e orgânico, e é isso que o faz real.

Katie se contorceu em seu assento e ajustou seu retrovisor. As palavras de Eli


fizeram seu coração saltar levemente, e isso a deixou desconfortável. Se fosse para ela
ser honesta consigo mesma e com Eli, ela diria que concordava com ele. Essas eram as
coisas que ela tinha tentado expressar para Rick por meses, mas ele estava
determinado demais a pesar, medir e planejar cada passo do relacionamento deles.

Ela não pôde se permitir concordar com aquela declaração de Eli. Ao invés disso,
ela o desafiou:

- Então me diga, qual é a sua ideia de um relacionamento bem sucedido?

Katie odiava essas duas palavrinhas: bem sucedido, já que esse era o termo
definidor para Rick, mas elas pareciam ser as melhores palavras a serem usadas se
fosse para a conversa permanecer em um nível menos pessoal.

Eli se ajeitou no banco do passageiro.

- Eu não sou muito de medir as coisas pelo sucesso.

- E qual a razão disso?

Ela sabia que estava apresentando o outro lado de seus sentimentos, mas ela
também não iria baixar a guarda. Não aqui. Não agora.

- Eu acredito que muitos de nós não sabemos como, acuradamente, medir


sucesso. Eli disse. É por isso que os caminhos de Deus não são os mesmos que os
nossos, e seus pensamentos não são os nossos. Muito do reino de Deus é medido em
uma balança diferente da que o mundo usa para medir valores. Eu devo lhe alertar, eu
acabei de entregar um trabalho final na semana passada para minha aula de doutrina
na Lei de Cristo, então me pare se você não quiser ouvir uma palestra.

- Nós temos mais que uma hora. Vá em frente, coloque seu conhecimento pra
fora. Prove que você já é quase um estudante graduado.

Eli pareceu gostar do desafio.

- O título do meu trabalho foi, ‘Ame a Deus e Faça O Que Você Quiser’.

Katie tinha ouvido essa frase um ano atrás em sua aula de doutrina. Ela até
lembrava vagamente o que tinha escrito em seu trabalho. Algo sobre como Cristo
cumpriu o mandamento do Velho Testamento de “amar ao Senhor seu Deus com todo
seu coração, toda sua alma e todo seu entendimento” e que Ele acrescentou, “ame
seu próximo como a si mesmo.” Isso significava que as pessoas precisam se amar para
que pudessem tratar os outros com o mesmo amor e bondade que têm por si mesmas.

Ela tirou 78 em 100 em seu trabalho e supôs que o trabalho de Eli tinha seguido a
mesma linha. Entretanto, assim que sua fala pegou ritmo, ela viu o quão apaixonado
ele estava pelas suas ideias. De alguma forma, Eli a lembrava de Ted, com seu lado
espiritual da vida sendo o valor básico de Eli em qualquer assunto. Isso aparecia
especialmente em seu jeito sutil, porém imponente quando ele estava na frente das
pessoas.

A boa aparência de Rick dava a ele uma presença imponente não importava onde
ele estava. Quando ele dava instruções no café, todos acatavam como se fossem dadas
por um comandante. Suas palavras eram frequentemente claras e diretas. E elas eram
obedecidas.

Com Eli, o ar imponente era diferente. Ele parecia uma pessoa mediana por fora.
Mais do que mediana, na verdade. Especialmente agora que seu cabelo estava grande
e anelado. Ele tinha um belo rosto, nada escultural como o de Rick, mas mais acessível
e não intimidador. Enquanto Eli parecia ser mediano e acessível por fora, assim que ele
se colocava na frente de um grupo e falava, sua presença se tornava
surpreendentemente poderosa. Suas palavras fluíam com clareza e constância, como
uma mina de água pura que encontrava seu caminho por debaixo da terra até a
superfície e regava tudo à sua volta.

- O amor começa no coração, Eli disse. Não apenas na cabeça. O amor envolve as
emoções.

Katie se voltou para o que ele estava dizendo.

- Então, se eu amo a Deus e, eu quero dizer, amo de verdade a Deus com renúncia,
então eu devo passar a amar a mim mesmo, a minha vida. Eu preciso amar minha
história de coração. É nisso que eu acredito que a vida é para todos nós. Uma história
sendo escrita por Deus. Ele é o Autor e Consumador da nossa fé. Quando eu começo a
amar minha história, com todas as suas confusas idas e vindas, então eu posso amar
outras pessoas que estão vivendo suas próprias histórias com todas as suas confusas
idas e vindas também.

Katie disse subitamente.

- Eu tenho aprendido, nesse ano, a fazer as pazes com minha história também. Ou,
eu acho que deveria dizer, a história que Deus está escrevendo na minha vida. Eu
tenho minha porção de idas e vindas bagunçadas.

- Todos nós temos. Se não tivéssemos, por que precisaríamos de um Salvador? Por
que precisaríamos da graça de Deus? E na minha história, por que eu precisaria do
poder do perdão se eu pudesse, simplesmente, cuidar da minha raiva por mim
mesmo?

- Você acha que realmente perdoou o homem que atacou você e sua mãe?

- Sim. Não tudo de uma vez. Tem sido um processo. Mas, sim, eu o perdoei. Eu
não guardo nada contra ele mais.

- Ele foi preso ou algo do tipo?

- Não. Ele não foi preso, nem levado a juízo, nem mesmo capturado. Não naquela
parte do Zaire. Para algumas coisas, a justiça nunca será feita. Pelo menos, não no
nível humano. É por isso que eu disse que não guardo nada contra ele mais. Se há de
ter alguma justiça, ela será feita por Deus, não por mim.

- Isso é bem intenso.

- Eu sei. É o que eu estava dizendo sobre nossas histórias. Eu não sei a história
daquele homem. Por que ele faria aquilo? Que força demoníaca o levou a agir daquela
maneira? Quero dizer, se eu vou sair por aí dizendo que eu amo a Deus, então eu
tenho que confiar nele e acreditar que tudo na minha vida passou primeiro pelos
dedos d’Ele. Nada acontece fora de seu controle. Apenas Ele fará justiça sobre todas as
coisas um dia. Tudo que eu tenho que fazer é amar minha própria história para que eu
possa amar a história daquele homem também.

Katie sentiu um turbilhão de emoções das palavras de Eli. Ela concordava com ele
na teoria e até conhecia pessoalmente um pouco da liberdade do perdão. No começo
do semestre, Julia a ajudou durante o processo de perdoar seus pais por serem tão
desligados emocionalmente da vida dela. Ela também perdoou Rick pelas formas como
ele a machucou durante os anos de ensino médio deles. Ela sabia como era não mais
carregar o peso da falta de perdão. Mas perdoar alguém que fez o que aquele homem
fez com Eli? Impossível Katie conseguir relacionar a profundidade daquele tipo de
perdão.

- Você meio que me impressiona, Katie disse de um jeito estranho.

- Por que você disse isso?

- Para começar, eu acho que nunca vi você falar tanto assim. E essas coisas são
mesmo profundas, Eli.

- Essas são as coisas das quais a vida é feita. O mundo é um lugar sombrio.

Katie sentiu uma melancolia cobri-la. Ela ouvira muitas mulheres em seu andar
contarem partes de suas histórias. Ela sabia que o mundo era cheio de coisas sombrias.
Coisas terríveis aconteceram a pessoas muito boas.
Ela tentou se lembrar de como ela tinha se sentido algumas semanas atrás quando
Eli disse que ele era uma vítima da graça. Ela queria retornar agora para aquele mesmo
sentimento de esperança.

A voz de Eli diminuiu.

- Você sabe, eu acho que a melhor coisa que aprendi esse ano foi quando eu
ajudei a colocar os pisca-piscas em volta das palmeiras na parte mais alta do campus.

- E o que foi que você aprendeu com as palmeiras, Oh Sábio?

- Eu não aprendi nada com as palmeiras. O que eu aprendi foi que a luz transforma
a escuridão. A primeira vez que nós apertamos o botão ON, eu não pude acreditar em
quanta diferença um pequeno toque de luz fez no meio de toda aquela escuridão. Nós
todos somos um monte de lâmpadas, sabe? Nós só ficamos lá pendurados, e quando a
energia de Deus vem é maravilhoso. A escuridão é transformada. Especialmente
quando nós permanecemos conectados um ao outro.

Katie olhou para ele de novo. Meia dúzia de pensamentos se enroscaram dentro
dela, tentando se alinhar com tudo que ela sabia sobre vida, amor e Deus.

- É simples assim? Nós somos ficamos conectados, e Deus é quem aperta o botão
ON com todos os seus poder?

Ela estava se sentindo estranhamente nervosa e seu estômago estava apertado.


Voltando sua visão para a estrada adiante, Katie ainda não podia acreditar o quão
aberto Eli estava. Ele parecia uma pessoa diferente do Eli que ela tinha visto pela
primeira vez no casamento de Cris e Ted.

- Espere um minuto, Eli pegou uma pequena lanterna e olhou para seu mapa
dobrado. Pegue a próxima saída. Não essa, a próxima. Waterman.

- Ok.

Katie ligou a seta e mudou de pista, pronta para virar e sair da estrada rumo às
montanhas. Por um momento ela teve um flashback de uma conversa que teve com
Rick meses atrás enquanto eles estavam na estrada. Naquela época, ela estava irritada
com o fato de estar na pista lenta do relacionamento deles por tanto tempo. Ela queria
que Rick ligasse a seta do namoro e mudasse para a pista rápida.

Naquele momento, Rick não queria fazer aquela mudança. O relacionamento


deles permaneceu naquela mesma pista reta e lenta por tempo demais aos olhos de
Katie.
Simbolicamente, ela gostava do que estava acontecendo agora. Era muito melhor
sair das pistas retas da estrada e pegar as marginais tortuosas que levavam a destinos
ainda não explorados.

- Não dá pra acreditar o quão longe nós chegamos em tão pouco tempo. Katie
estava se referindo à distância que eles tinham andado de carro. Eli, aparentemente,
entendeu o comentário dela como se ela se referisse ao quão longe os dois tinham
chegado depois da conversa aberta deles nessa uma hora.

- Eu sei, Eli disse. Eu queria que você e eu tivéssemos conversado um com o outro
desse jeito no último verão. Teria sido um ano letivo completamente diferente. Eu
ainda não tinha chegado lá.

Ele pausou e acrescentou:

- Mas agora eu cheguei.


Capítulo 21
Katie se recusou a ler qualquer coisa no comentário de Eli sobre “estar lá agora”.
Ela olhou para ele com o canto do olho. Estaria ele indicando que estava pronto para
buscar um relacionamento com ela além do que havia agora?

Não, não pode ser isso que ele quis dizer. Como ele poderia algum dia insinuar
uma coisa dessas? Ele vai voltar para o Quênia, e eu estou em jejum de
relacionamentos amorosos. De jeito nenhum eu vou me lançar de cabeça em outra
paixão sem saída. Eu tenho feito isso com muita frequência.

Assim que Katie pensou isso, ela sentiu seu coração batendo mais forte. Ela sabia
que Eli nunca seria uma paixão. Não, não uma paixão. Ela percebeu que se ela abrisse
o coração para ele, a vida, como ela conhece, seria passado. Esse cara a amaria de
volta com mais gentileza, intensidade e liberdade do que ela algum dia experimentou.
Exceto talvez pelo relacionamento que ela tem com a Cris. E agora com a Julia. Katie
sabia como era estar conectada no coração com amigos verdadeiros.

Mas ela se recusava sequer a considerar um relacionamento nesse nível com Eli.
Parando o carro num semáforo da Waterman Avenue, ela sentiu sua expressão facial
fechar. Ela não gostava da conclusão a que havia acabado de chegar enquanto esticava
a linha curvilínea que tinha sido o seu relacionamento com Eli no último ano.

Basicamente, você acabou de dizer a si própria que se você vai ter um


relacionamento com Eli, vai ter que ser tudo ou nada. Ele se preocupa com você. Você
sabe, você só não admite. Se você se permitir por um minuto se preocupar, nem que
seja só um pouquinho com ele, ele vai entrar no seu coração, e você sabe disso.

Katie chegou mais perto e ligou o rádio do seu carro. Ela pressionou um botão que
mudava para a própria seleção de músicas dela e foi para algo próximo de jazz.

- Já ouviu esse grupo antes? Katie tinha que falar alto por sobre a música. Sua voz
soava urgente. Ela precisava redirecionar a conversa. Rapidamente!

- Não é música dançante africana como que você tinha quando nós fomos ao
deserto, ela acrescentou. Mas é bom pra nos animar. A propósito, você quer parar pra
tomar café? Com certeza nós podemos encontrar um posto de gasolina com uma loja
de conveniência aberta em algum lugar por aqui.

Parecia que Eli estava estudando-a, tentando entender a mudança abrupta em seu
comportamento.

Katie deu uma olhada para ele e olhou novamente para a estrada.
- Sem querer ser rude ou qualquer coisa do tipo, Eli, mas você está encarando de
novo.

Ele ficou quieto por um momento. Então ele contra-atacou com:

- Sem querer ser rude ou qualquer coisa do tipo, Katie, mas você está nervosa e na
defensiva de novo.

Katie sentiu-se enrubescer. Ela olhou para frente e cerrou os dentes. Ninguém
jogava seus defeitos na sua cara. Ninguém!

Ela não sabia o que dizer.

Imóvel diante do seu desconforto ou seu silêncio, Eli trocou de música. Ele mudou
para uma música diferente que tinha uma batida mais definida. Iluminando com sua
pequena lanterna de mão, ele checou o mapa novamente.

- Essa estrada vai nos levar para o alto da montanha, Eli disse. Permaneça na
Waterman.

- Ok. A voz dela veio sólida, mesmo que seu coração estivesse trêmulo. Ela dirigiu
mais alguns quilômetros e se acalmou. Eli estava calmo. Por que ela não deveria estar
calma? Não havia razão para ficar chateada ou começar uma guerrinha ali no carro.
Mas Katie se sentia estranha, deixando o assunto flutuar ali no meio deles sem forçar
uma resolução ou conclusão. Ela também se sentia segura. Esta era a parte estranha.
Katie sabia que ela não tinha que ajustar seu temperamento ou personalidade quando
ela estava com Eli.

Ela parou no posto de gasolina antes de se dirigir para a subida da montanha na


San Bernardino Mountains. Eli pediu um grande copo de café enquanto Katie escolheu
uma garrafa de água glacial da Nova Zelândia e ficou na fila atrás de Eli.

- Eu pago. Ele apanhou a garrafa de água dela.

- Não, está tudo bem. Eu tenho dinheiro.

Um cara entrou com três caixas que pareciam conter donuts e foi para os fundos
da loja. Assim que ele passou, Katie sentiu o aroma e soube que sua suspeita estava
certa.

- São para vender? ela perguntou.

- Serão assim que eu os colocar na prateleira.

- Eu vou levar um.

- Eu também, Eli disse.


Alguns minutos depois os dois estavam de volta ao carro de Katie, afundando seus
dentes nos donuts ‘frescos-da-padaria-de-manhã-cedo’.

- Nossa. Katie murmurou depois do seu primeiro pedaço. Eles ainda estão
quentes.

- Bom, Eli disse. Nós certamente nunca tivemos essas guloseimas pra comer
quando estávamos crescendo.

- Quer mais um?

Antes que Eli pudesse responder, ela estava do lado de fora com seu donut entre
os lábios e sua carteira na mão. Ela comprou três donuts. Dois deles eram pra ela e
para Eli. O terceiro ela deu para o caixa e disse, “Feliz Natal”.

Ele olhou surpreso e mordeu o donut antes que ela saísse pela porta.

- Você não precisava me comprar outro, Katie.

- Sim, eu precisava. Você só comeu o Glazed Donut 101. Se você vai aprender os
modos glutões dos americanos e os prazeres da carne, você realmente precisa
frequentar esse curso avançado. Donut 201. Coberto com chocolate, creme de leite à
moda antiga. Esta é a razão pela qual alienígenas continuam tentando pousar no
planeta Terra. Eles querem esta receita.

Eli deu uma mordida.

- Ah, sim, isso é perigoso.

Katie juntou-se a ele na aula do Donut 201, deixando o chocolate ainda quente
derreter em sua língua.

- Você tem que viver perigosamente de vez em quando. É o que eu digo.

- Especialmente no nosso último dia oficial como estudantes universitários.


Amanhã você e eu seremos graduados.

- Sim, seremos. A nós! Katie levantou seu donut meio comido, convidando Eli a
brindar com ela.

- Sim, Eli ecoou. A nós.

Eles bateram os donuts e deram uma mordida ao mesmo tempo.

Os olhos deles fixos um no outro em alegria compartilhada. Eli não piscou. Seus
olhos estavam falando com ela, mas Katie se recusava a ouvir. Ela olhou para longe e
sentiu um forte estrondo por dentro.
Meu estômago está me dizendo que é muito cedo para tanto açúcar? Nunca. Não
o meu estômago. Por que eu sinto como se uma manada de búfalos estivessem
debandando dentro de mim?

Ela baixou o donut e tomou um longo gole de água. Pressionando as costas da


mão em sua testa, ela checou pra ter certeza de que não estava com febre.

- Você está bem?

- Sim, tudo bem. Só mandando isso pra dentro muito rápido, eu suponho. Pedaços
menores, certo? É gostoso, não é?

- É sim, Eli concordou.

Katie colocou sua atenção novamente em dirigir montanha acima. Enquanto ela
sorvia a água, a debandada dos búfalos se acalmou. A música começou assim que ela
ligou o carro, e providenciou assuntos seguros para as conversas deles. Contanto que
ela não precisasse manter contato visual com Eli, ela estava bem.

Cuidar do contato visual não era um problema porque Katie precisava de ambos
os olhos na estrada e ambas as mãos no volante, à medida que a estrada da montanha
serpenteava mais e mais alta. Ambos disseram que seus ouvidos estavam estalando.
Eli direcionou Katie sobre qual desvio tomar uma vez que eles estavam em Crestline. O
vale abaixo era um vasto campo de luzes cintilantes no que restava da noite escura. A
única luz à frente vinha dos faróis do Trevo e uma ocasional luz na rua.

- Tem certeza que está certo?

- Eu acho que sim. O mapa diz para ficarmos nesta estrada por mais uns cinco
quilômetros e então procurar um sinal para o Strawberry Peak Lookout à esquerda.

- Por que ‘morango’28? Essa elevação é muito alta para dar morangos.

- Eu não tenho idéia de onde esse nome veio.

Katie manteve seu foco na estrada. Eles encontraram o sinal como predito,
viraram em uma estrada íngreme, e se dirigiram para o que parecia uma imensa torre
de micro-ondas. Desligando o motor e subindo, eles foram pegos desprevenidos pela
frieza do ar.

- Eu tenho um cobertor no meu porta-malas. Katie foi até o pequeno cobertor de


lã que ela tinha posto ali logo depois de comprar o carro.

- Você vai ficar aquecido o suficiente?

28
Strawberry é morango em português.
Eli levantou o zíper na frente do seu suéter e colocou o capuz em sua cabeça.

- Sim, eu estou bem. E você?

- Eu estou bem também. Com o cobertor enrolado em seus ombros, Katie colocou
as chaves do carro em seu bolso e entrou no carro procurando sua câmera. Ela tinha se
lembrado que ele estava em sua bolsa e ficou contente. Desse ponto ela poderia tirar
ótimas fotos do vale abaixo e todos os pontinhos de luz.

No silêncio da pré-alvorada, enquanto eles caminhavam ao redor da área aberta


próxima à torre Katia, bateu fotos das luzes reluzentes no vale escuro. Ela tirou de
algumas das miríades de estrelas que se apresentavam em glória reluzente. Ela tirou
um retrato do perfil de Eli enquanto ele olhava para os céus com as mãos no bolso do
seu suéter e o capuz caindo.

Então aconteceu. O som de um pássaro piando em uma árvore acima. Uma


chamada singular para a adoração. Katie olhou para Eli para ver se ele havia escutado.
Ele estava olhando para ela, e as características do seu rosto subitamente pareceram
mais definidas. Katie olhou para o leste, para onde Eli tinha voltado o olhar. O amplo
panorama do espaço se tornara uma sombra pálida de lavanda. Outro pássaro se
juntou ao som matinal e então vários outros.

Vocês fazem isso todos os dias, passarinhos? Vocês cantam para o céu pela
manhã?

O som dos pássaros e o alvorecer pareciam suavemente conectados, enquanto Eli


e Katie permaneciam a alguns metros de distância um do outro, ambos hipnotizados
na mudança do céu bem vindo pela sinfonia. Nenhum dos dois falou. Teria arruinado o
momento tentar comentar o que eles estavam testemunhando.

Como você diz, “Oh, que bonitinho!” pra uma coisa tão grandiosa como esta?
Katie não podia se lembrar de algum dia ter testemunhado o nascimento de um novo
dia como esse antes.

Você faz isso todos os dias, não faz, Pai? Quem percebe? Você apresenta o nascer
do sol para uma casa praticamente vazia. Eu estou muito contente por nós estarmos
aqui para ver isso. Eu aplaudo o seu trabalho, Deus. Bravo!

Uma meia dúzia de tons de azul apareceram como rios de fitas de cetim em um
céu sem fim diante deles. Fracos reflexos de rosa e pálidos narcisos amarelos tocavam
a lona celestial. Uma frota rebelde de nuvens da cor de prata enferrujada navegava
para o sul. Seu número escasso parecia se dissipar enquanto o contorno das
montanhas alcançava a vista.
Em tudo ao redor deles a paisagem começou a mostrar seus níveis complexos de
montanhas e vales. Os cumes revelavam sua riqueza de altos pinheiros. Acima deles,
na árvore mais alta, um grande coral de pássaros cantava a plenos pulmões... O
coração de Katie martelava de expectativa e temor.

Silenciosamente, sem ser notado pela maior parte da vasta criação de Deus, o
novo dia chegou. O sol flutuava no céu sobre a linha do horizonte e em um fluxo de
preciosa glória enviou feixes de luz para cobri-los. Ela tinha se esquecido de tirar fotos
porque ela estava muito presa no momento. Com uma mão firme, Katie tentou
capturar a beleza. Virando para o oeste, onde a montanha ainda escondia o sol do
novo dia do vale dormente, tudo era preto e cinza, exceto por determinadas luzes
elétricas. Os esforços humanos para iluminar o mundo nunca poderiam se comparar
ao mundo de brilho espetacular e singular de Deus. Todas as estrelas cansadas se
recolheram para o dia enquanto o sol se levantava.

Katie sussurrou seus pensamentos de adoração para Deus. Ela se sentiu


confortável com seu pai celeste naquele momento, ainda que Eli estivesse parado
apenas alguns metros de distância. Ele parecia preso em seus próprios pensamentos.
Eles ficaram desse jeito por algum tempo, esperando até o sol tomar o centro do palco
no céu da manhã e estar a caminha de sua subida eterna aos céus.

Katie bateu mais fotos da vista extraordinária do vale abaixo. Ela não sentiu
necessidade de dizer nada. Ela amava esse conforto, esse lugar secreto e a beleza que
eles tinham acabado de testemunhar.

Eli chegou mais perto e sussurrou alguma coisa, mas ela não entendeu.

Ele estava completando um pensamento? Uma oração? Ou ele estava falando


comigo?

Katie perguntou:

- Então, o que você acha? Está pronto para ir?

- Claro.

Eles desceram a montanha em silêncio. Nenhum deles parecia ter muita coisa em
suas mentes. Katie não sabia como processar tudo que ela tinha acabado de
testemunhar, então ela redirecionou seus pensamentos. No topo da lista estava o
pensamento sobre como ela iria tirar o resto das suas coisas do quarto no dormitório.
Ela tinha outra semana que poderia ficar no quarto, já que ela concordara em
permanecer no serviço depois da formatura para terminar seu trabalho de AR e
dispensar todos os alunos que estavam saindo do dormitório.
O único problema era que ela ainda não sabia para onde ia mover seus pertences.
Ela tinha várias ofertas. Ela poderia se mudar para um apartamento há cinco
quilômetros com outras duas AR’s que tinham conseguido trabalhos no campus para o
verão. Cris disse que ela poderia ficar com eles em seu pequeno apartamento se ela
não se importasse com um colchão de ar na sala de estar e desde que fosse apenas por
algumas poucas semanas.

Nicole também não tinha decidido o que ela ia fazer. Ela disse que poderia voltar
para Santa Barbara e ficar com os pais até encontrar um emprego em algum lugar, mas
aquela possibilidade a deprimia.

Katie tinha considerado o mesmo tipo de opção indesejável de se mudar para a


casa dos seus pais em Escondido. Pelo menos ela assumiu que poderia fazer isso. Ela
não perguntou.

Financeiramente ela tinha dinheiro suficiente pra alugar sua própria casa, e essa
era sua opção preferida. Ela sabia que deveria ter tudo isso decidido um mês atrás,
mas ela esteve ocupada passando nas matérias. Em algumas delas com facilidade.
Katie tinha muito para celebrar amanhã quando ela caminhasse no palanque e
recebesse o seu diploma. Ela celebraria primeiro e decidiria onde morar depois.

- É aqui que vira pra pegar a via expressa. A voz de Eli interrompeu seus
pensamentos.

- Oh, obrigada.

- Seus pais virão para a cerimônia de formatura amanhã? Eli perguntou.

Katie se perguntou de onde ele tinha vindo com essa pergunta.

- Eu não sei. Provavelmente não. Ela imaginou se ele estava triste que seus pais
não pudessem vir e acrescentou, Eu tenho certeza que sua mãe e seu pai estariam aqui
se pudessem.

- Estariam mesmo. Meus pais se conheceram aqui, na Rancho Corona.

- Sério?

- Meu pai era colega de quarto do meu tio. Irmão da minha mãe. Ele os
apresentou e eles se casaram seis meses depois.

- Uau! Foi rápido.

- Eles disseram que apenas sabiam, então porque adiar o inevitável?

- Eles já tinham se formado na faculdade?


- Não, eles ainda estavam estudando. Eles trabalharam no campus, frequentaram
a escola de verão, viveram de arroz e feijão. É uma daquelas histórias que se expande
e se embeleza a cada vez que é contada. Eu acho que uma das versões inclui eles
caminhando na neve descalços pra chegar à aula.

Katie riu. Ela estava grata que a conversa entre eles estivesse em um assunto mais
leve do que estivera na subida da montanha.

- E quanto aos seus pais? Eli perguntou. Como eles se conheceram?

A risada dela se dissipou. Katie não queria responder a essa pergunta em


particular. Ela sabia a resposta, mas não era algo que se encaixasse nas respostas de
alunos típicos da Rancho Corona para essa pergunta. Ela também sabia que o que quer
que dissesse a Eli, ela se sentiria segura em confiar a isso ele. Isso era parte da história
dela. Sua confusa história de vida. Ela decidiu que poderia muito bem ter essa história.

- Meus pais se conheceram em um bar.

Sem uma insinuação de julgamento, Eli perguntou:

- Foi amor à primeira vista?

A pergunta dele a pegou desprevenida.

- Não, eu acho que não. Eu não sei. Meus pais são mais velhos. Eles estão na casa
dos sessenta agora. Eu acho que meu pai tem sessenta e oito. Pode ser sessenta e
nove. Em todo caso, eu fui um bebê surpresa, obviamente. Eu não posso dizer
exatamente que tive uma infância normal, o que quer que normal signifique.

- Faz você se sentir desconfortável conversar sobre isso?

Katie deu uma olhada para ele.

- Sim, um pouco.

- Isso é bom, Eli disse.

- Bom?

- Sim, bom. É bom conversar sobre coisas que te fazem sentir desconfortável.
Colocá-las pra fora te dá muita liberdade. Permite que você se movimente dentro de
sua vida e fique confortável.

- Ok, você pode parar agora. Você está começando a soar como um daqueles
grupos de terapia na TV.

- E se eu estiver? É verdade, Katie. Você não acreditaria no quanto me ajudou


conversar com você, Ted e Cris sobre o que aconteceu no Zaire. Até mesmo dizer em
voz alta que eu fui a um aconselhamento foi um grande passo para mim. Eu guardei
muita coisa por muito tempo. Aliás, você está com fome?

Katie seguiu a linha de visão dele e viu que ele estava olhando para uma placa de
um restaurante fast-food pela qual eles estavam passando.

- Sim. Na verdade, não. Quero dizer, eu estava pensando que poderia comer no
café quando nós chegarmos ao campus. Velhos tempos e tudo o mais.

Katie não tinha certeza do por que ela tinha dito a parte sobre “velhos tempos”.
Ela não sentia compulsão de comer na cantina nunca mais. Era mais uma resposta
preventiva. Se ela e Eli parassem em algum lugar para comer em um restaurante ou
mesmo em um drive-thru, ela não tinha certeza que seria capaz de manter um
bloqueio em suas emoções vulneráveis que estiveram bem confusas esta manhã.

- Nós deveríamos voltar para o campus.

Ela esperava que suas palavras saíssem firmes e convincentes. Contanto que ela
pudesse manter o momento de adoração ao nascer do sol separado de qualquer outro
nascer de sentimentos do fundo do coração, ela estaria bem.

- Ok. Bem, se você mudar de idéia sobre parar para o café da manhã, você vai me
dizer, não vai? Eli perguntou.

- Tudo bem.

Eles rodaram cerca de dois quilômetros antes de Eli dizer:

- E se você mudar de idéia sobre a outra coisa, você vai me dizer também, não vai?

- Que outra coisa? Ela podia senti-lo olhando para ela.

- Você sabe, ele disse. A outra coisa.

Eles estavam parados em um sinal vermelho. Katie olhou para ele, esperando que
sua expressão parecesse tão desentendida quanto ela estava tentando parecer.

O olhar de Eli estava nela. Ele colocou a mão no peito dela e disse uma única
palavra:

- Nós.

Katie sentiu a manada de búfalos em seu estômago.


Capítulo 22
Katie ignorou o comentário de Eli, assim como o seu gesto sincero.
Ela entrou na via expressa e ligou a música novamente. A parte mais difícil em ignorar
o rumo que o Eli queria que a conversa fosse era de que ela não sentia mais a
liberdade de conversar com ele. Suas conversas tinham sido tão boas antes.

Considere essa perda de conversa uma casualidade de sua nova campanha de vida
Katie. A campanha para manter todas as linhas sinuosas da sua vida agradáveis, em
linha reta e desembaraçadas. É melhor desse jeito. Você vai ver.

Eli tomou o seu silêncio assim como ele tinha tomado todas as curvas que ela
tinha direcionado a ele. Ele não estava irritado. Ele não a intimidou a continuar a
conversa e nem a pressionou para respondê-lo.

Eli parecia estar descansado, à vontade, por assim dizer. A sua falta de agressão
deu a Katie o espaço para se mexer sem ter que tocar no tópico sem-assunto
determinado. Ela achou que isso foi muito gracioso da parte do Eli, de deixar tópicos
adormecidos quietos.

Eles dirigiram durante muito tempo, com somente a música enchendo o espaço
entre eles com palavras.

Depois que Katie estacionou em uma vaga no estacionamento de Crown Hall, ela
desligou o motor e pegou a sua bolsa.

- Obrigada por me convidar para ir com você Eli. Foi maravilhoso. Realmente
maravilhoso.

- Foi mesmo. Você esta indo agora ao refeitório comer o café da manha?

- Não, acho que vou só voltar para cama.

Uma pausa tensa se seguiu. Nenhum dos dois se mexeu. A expressão de Eli deixou
bem claro que ele não estava mais completamente à vontade.

Ele achou que eu ia me abrir com ele quando a gente voltasse pro Campus?

Katie sentiu a tensão, mas não sabia o que fazer. Ela não via nenhuma utilidade
em abrir o seu coração para qualquer possibilidade com o Eli. Ela não iria procurar
dentro de si mesma por nenhum sentimento pelo Eli que pudesse estar dormente e
esperando por alguma fantasia de primavera que lhes daria a liberdade de florescer.

Não. Os sentimentos não correspondidos que Eli sentia por Katie teriam que
permanecer congelados e cobertos na fase onde ainda eram sementes. Ele logo iria
voltar para o Quênia, e Katie tinha certeza que ela iria parar no final da lista de coisas
que Eli teria que pensar. Se Eli fosse o homem que Katie achava que ele era, ele podia
suportar isso. Aparentemente ele era, pois ele disse tchau e foi embora sem pressionar
mais a Katie.

Ótimo. Isso foi ótimo. Tudo isso. Resolvido.

Katie voltou ao seu quarto, se arrastou de volta para cama e dormiu menos de
uma hora antes de duas mulheres do seu andar virem ao seu quarto agitadas. As duas
haviam perdido as chaves dos seus quartos. Katie se levantou, resolveu o problema e
depois comeu um pouco de cereal no seu quarto enquanto olhava para fora da janela.

Entre na marcha certa Weldon, você tem coisas a fazer hoje.

Katie passou o resto do dia andando em círculos. Ela tinha formulários estudantis
para preencher e precisava ir ao banco que ficava descendo a colina. Do lado do seu
banco havia uma drogaria com um cartaz na janela anunciando que eles estavam
dando vacinas para gripe de graça. Katie parou. O cartaz parecia que havia sido posto
lá em dezembro. Ela pensou por um momento quais outras imunizações eles teriam
disponíveis na farmácia que ficava dentro da drogaria. Ela sabia pelo breve momento
em que esteve na reunião com o time de evangelização que se ela quisesse ir para
África, ela teria que tomar algumas vacinas. E pílulas para Malária. Se ela pudesse
tomar essas vacinas agora ela poderia ir para África quando quisesse. E ela teria as
pílulas contra Malaria também. Parecia lógico. Esteja preparado para futuras
aventuras. Risque algumas coisas da sua lista.

Katie terminou o que tinha para fazer no banco e entrou na drogaria. Antes que
ela tivesse tempo de mudar de idéia ela foi até a farmácia e fez um monte de
perguntas.

Vinte e cinco minutos depois ela saiu da drogaria com um band-aid no seu braço
esquerdo e uma receita para pílulas contra Malária na mão.

Ela voltou correndo para a faculdade para o ensaio da formatura ás quatro. Eli
acenou para ela durante o ensaio e ela acenou de volta.

Que bom. Sem ressentimentos.

Ela notou que quando levantou o braço este estava dolorido.

Mais tarde Katie foi até a cidade com três mulheres do seu andar que haviam
planejado um jantar especial para as quatro, elas falaram que queriam fazer alguma
coisa especial com Katie para comemorar a sua formatura. Elas riam de algumas
experiências que tiveram juntas. Vicki brincou com Katie lembrando da vez que Katie
tinha colocado os sapatos de Vicki no forno para fazer uma brincadeira e eles
derreteram.
O que deixou Katie surpresa foi que as três mulheres disseram que ela as havia
encorajado, motivado e inspirado nesse ultimo ano. Katie nunca haveria dado a si
mesma uma avaliação tão alta como A.R. Ela disse às mulheres que se sentia como se
estivesse correndo o ano todo e nunca conseguia terminar o que ela começava.

- Falando em terminar as coisas, Vicki disse. Nós ficamos sabendo que você
terminou seu namoro com o Rick.

Katie fez que sim com a cabeça. Ela não queria adicionar nenhum detalhe, pois
não queria começar uma conversa sobre isso.

- Deve ter sido muito difícil, Emily disse.

- E foi. Mas a decisão foi certa. Foi verdadeira. Veio do meu coração. Então! Katie
deu um suspiro. Próximo assunto. Me contem o que vão fazer nas férias.

O jantar terminou sem Katie ter que dar mais detalhes sobre sua vida amorosa
ajustada. De algum jeito Katie acreditava que entendia melhor o porque de Julia ter
guardado os detalhes do seu noivado em segredo por tanto tempo. Não existe nada
como uma comunidade de alunos que moram bem perto um do outro para que se
espalhem pedaços de historias de amor por todo lado.

Quando Katie voltou ao campus ela foi até onde Julia morava para a festa de
formatura para todos os AR’s e DR’s do Crown Hall. Katie chegou atrasada, mas isso
não parecia importante. Todos pareciam cansados, amadurecidos e não preparados
para celebrar essa conquista da formatura ainda.

Depois de uma hora e meia, as conversas baixas e a proximidade de todos naquele


pequeno espaço começou a irritar Katie. Ela foi embora quando a festa ainda não tinha
acabado, dizendo que tinha que lavar roupa, o que era verdade.

Surpreendentemente ela se controlou antes de anunciar a todos na festa que


gostaria de ter calcinhas limpas para usar no dia da formatura. Ao invés disso, ela saiu
com a boca fechada.

Nota a mim mesma: Parabéns por finalmente ter demonstrado um pouco de


cautela.

Andando a passos largos no corredor até o seu quarto Katie pensou:

Então onde estava você, Miss cautela e Miss moderação no comecinho desse ano?
Vocês decidiram aparecer um pouco tarde na minha vida universitária, não acham? Por
acaso vocês são um presente de formatura para mim? Sintam-se a vontade para ficar,
tudo bem?
Depois de colocar suas roupas na maquina de lavar Katie voltou ao seu quarto e
passou as fotos daquela manhã para o seu computador. Ela tinha prometido a sua
amiga Selena um e-mail longo antes do dia da formatura, e aqui estava Katie, quase
perdendo o prazo para fazer algo que ela havia planejado, como sempre.

Selena e Katie se conheceram na Inglaterra vários anos atrás, quando as duas


eram voluntárias em um grupo de evangelização. Era com essa mesma organização
que Ted e Eli trabalharam quando estavam na Espanha.

Depois de um ano na Rancho, Selena foi para o Brasil no verão passado e não
voltou. De acordo com o seu último e-mail, Selena disse a Katie que ela não pretendia
voltar para os Estados Unidos tão cedo.

Originalmente ela pretendia fazer algumas aulas e fazer alguns trabalhos de


evangelização, quando a Selena se instalou com a família que a estava recebendo e
com a igreja de lá, ela começou a trabalhar ajudando uma professora de inglês que
ensinava adolescentes de uma escola particular.

Selena amava o que estava fazendo, e de acordo com os seus e-mails animados,
ela tinha aprendido a se comunicar em português, a língua dos estudantes brasileiros.
Ela não era fluente, mas conseguia se virar. Selecionando três das melhores fotos do
por do sol, Katie anexou elas ao e-mail curto, mas com algumas novidades que estava
mandando para Selena.

Katie tinha muito a contar para ela, começando com o termino do seu namoro
com o Rick, o dia que tomou conta do adorável bebe Daniel e também sobre seu carro
novo. Ela deixou de fora qualquer menção ao Eli. Ela sabia que quando fosse escrever
um e-mail para Selena de novo o Eli seria somente uma linda memória.

Com o apertar de o botão enviar, Katie olhou no seu relógio: 1:15.

Por mais que ela quisesse entrar em uma de suas paginas de relacionamento e
checar a vida de vários de seus amigos, que estavam tanto perto e longe, ela desligou
o laptop e depois desligou a luz. Seus pensamentos estavam em todo lugar, e ela sabia
que precisava dormir mais do que precisava do que qualquer tipo de socialização,
fosse real ou virtual.

Na manhã seguinte ela sentiu como se tivesse recuperado a consciência.


Cris ligou logo após Katie ter voltado ao seu quarto depois de ter tomado um banho.

- Bom dia para a minha formanda preferida! Eu queria ser a primeira pessoa a te
desejar os parabéns!

- Obrigada Cris. Vocês vão vir para a cerimônia não vão? Vai ser no ginásio.
- Sim. Nós estaremos lá. Bob e Marta também vão. Eu liguei para Trícia ontem a
noite, e ela disse que ela e o Douglas vão tentar ir. Eles não tem certeza se Daniel
consegue ficar quieto durante toda a cerimônia, então talvez eles só irão pra festa na
casa dos Doyle depois. Vai ser muito divertido, estarmos todos juntos de novo.

- Eu sei. Mal posso esperar. Eu tenho que secar meu cabelo agora. A gente se vê
daqui a pouco.

Algumas semanas atrás. Katie e Nicole tinham arranjado um tempo para fazer
algumas compras durante umas duas horas. Katie achou o vestido preto perfeito para
usar no casamento de Julia e decidiu que iria usá-lo também como seu vestido de
formatura.

Nicole a convenceu a comprar também um sapato preto quando disse: “Você não
vai poder pegar os meus sapatos pretos emprestados porque nesse dia eu vou usá-
los.”

Com seu cabelo seco, seu vestido e sapatos novos e usando maquiagem o
suficiente para se sentir bonita, Katie tentava decidir se deveria adicionar alguma
bijuteria. Foi aí que ela se lembrou do broche caro que Rick havia lhe dado. Ela
precisava devolvê-lo.

Colocando a caixa dentro da sua bolsa, Katie pensou que ela poderia achar um
momento apropriado na casa dos pais do Rick hoje á tarde para devolver o broche. Ela
não queria chamar nenhuma atenção, então ela sabia que teria que ser sensível
quanto ao momento que ela faria isso.

Katie tirou sua beca e seu chapéu de formatura do armário. Deixando o seu quarto
animada, ela seguiu a trote para o quarto de Nicole, e bateu na porta.

- Tragam as formandas, Ela gritou.

Nicole abriu a porta, ela tinha um olhar confuso.

Katie conhecia aquele olhar indeciso. Ela imediatamente disse a mesma coisa que
já havia dito a Nicole em outras ocasiões.

- Você está maravilhosa. Nem pense em trocar de roupa. Vem, vamos indo.

- Você tem certeza? Eu estava usando essa saia mais cedo, com essa blusa, e...

- Não. O vestido que você esta usando e perfeito, vamos lá. Katie pegou a beca e o
chapéu de formatura de Nicole.

- Mas eu estava pensando...


- Ahá! Esse é o seu problema, bem aí. Não pense. Vai com a sua intuição. Olha pra
si mesma no espelho. Dá uma viradinha, viu? Você não esta maravilhosa? Vamos lá,
diga.

- Eu até gosto desse vestido, e do jeito que ele me cai aqui. Mas...

- Viu? Você gosta! Essa é a sua resposta final. Fique com ela. Vamos lá, Além do
mais, você vai estar usando um roupão genérico por cima do seu vestido durante a
primeira parte do dia.

- Eu sei, mas na festa nos não estaremos usando as nossas becas.

- Nós podíamos, se quiséssemos. Nós podíamos começar uma nova tradição.

- Tá bom! Eu vou usar esse.

- Essa é a Nicole que eu estava esperando. Vamos lá, pega a sua bolsa, está bem
ali. Você precisa de mais alguma coisa?

- Ah, eu quase me esqueci Nicole foi pegar uma sacola de presente. A sacola de
listras tinha um papel de bolinhas nas cores amarelo e rosa saindo de dentro dela.

- Para mim? Ah, você não deveria ter me comprado nada.

- Não. Me desculpe. É para a mãe do Rick. Um presentinho de agradecimento.

Katie não tinha nem pensado em comprar um presente para a mãe do Rick. E ela
sabia que deveria, porque no passado a sua etiqueta social previa que ela deveria levar
um presente de agradecimento para os pais de Rick sempre que ia para a casa deles
em alguma situação especial. Nicole celebrou o ultimo dia de ação de graças com eles
e levou para a mãe de Rick um pote de flores perfeitas enquanto Katie levou uma caixa
muito grande e bem cara de chocolates feitos a mão que a mãe de Rick nem abriu,
pois ela estava tentando manter o peso.

- E a propósito, Nicole disse, Eu assinei o cartão com nossos dois nomes.

- Você assinou? Obrigada Nicole, você me salvou mais uma vez. Você é
maravilhosa.

As duas começaram a andar pelo corredor.

- Então, o que nós compramos para ela?

- Sais de banho.

Katie riu.

- Não, é sério. O que você comprou para ela?


- É um tipo especial de sais de banho e cremes. A marca que ela gosta é difícil de
achar. Eu acho que é porque os sais de banho vêm do mar morto.

Katie, que nunca usou sais de banho na vida, sabe que ela nunca teria a idéia para
comprar tal presente. Quem poderia saber que sal vindo do mar morto, de todos os
lugares que ele poderia vir, viraria um presente tão atencioso?

Katie pensou em como Nicole se encaixava tão bem com a família do Rick. Que
pena que o Rick ainda não havia chegado nessa conclusão. Ela pensou sobre sua
decisão anterior de não empurrá-lo para cima da Nicole. Ela já tinha terminado o
namoro com ele a mais de sete semanas. Rick e Nicole já estiveram juntos em varias
situações, mas o denso Doyle não havia ainda demonstrado nenhum interesse nela.

Katie decidiu que quando fosse falar a sós com o Rick, para devolvê-lo o broche,
que ela acharia um jeito sutil de descobrir o que estava acontecendo. Não que sutileza
fosse um de seus pontos fortes.

De repente um pensamento veio a sua cabeça. Talvez Rick não tenha ido atrás da
Nicole porque estava interessado em outra pessoa. Alguém que ele havia contratado
para o novo café, talvez. Se esse fosse o caso, Katie gostaria de saber.

Ao chegarem ao enxame de formandos que se aglomeraram na porta lateral do


ginásio, Katie e Nicole pararam de andar. Todos os formandos que estavam ali já
estavam usando sua beca e chapéu.

- Katie, eu achei que a gente deveria trazer nossas becas, e não usá-las.

- Eu também achei. Nós podemos coloca-lás aqui mesmo e jogar os cabides e as


sacolas nos arbustos ou algo assim.

- Nós não podemos deixar nossas bolsas nos arbustos. Eu não sei o que estava
pensando trazendo minha bolsa e esse presente. Precisamos voltar ao dormitório.
Rápido!

- Se a gente for vamos estar atrasadas, Katie disse.

- Não se a gente for rápido. Vamos!

As duas amigas saíram em direção a Crown Hall em um passo admiravelmente


rápido. Considerando que elas estavam usando sapatos não muito confortáveis. Elas
tinham acabado de passar da cafeteria quando viram outro formando, vestido com sua
beca e chapéu, vindo na sua direção, dirigindo um carrinho de golf branco de
segurança.

- Eli! Katie acenou com os braços para cima. Pare! Nós precisamos de uma carona!
Ele parou, com um ar bem heróico em sua beca flutuante e com a sua borla29 azul
escura indo de um lado para o outro. Seu cabelo castanho enrolado estava saltitando
por debaixo do chapéu inclinado. Seu sorriso estava muito fofo.

- Eu sempre soube que algum dia desses você iria apreciar a minha forma de
transporte pelo campus.

- Pode esquecer Lorenzo. Essa não é a hora de se glorificar, no máximo de


agradecer por ter convencido duas meninas bonitas a andar com você no seu
conversível. Agora pisa fundo nesse carrinho e nos leve para Crown Hall o mais rápido
que conseguir!

Imediatamente se tornou evidente para os três que aquele carrinho não estava
acostumado a carregar tantos passageiros, especialmente quando estava subindo um
morro. Eles estavam andando ao som de um aranhado ensurdecedor.

- Serio mesmo Eli, essa e a velocidade mais rápida que o seu carro de palhaço
consegue ir?

- Sério mesmo Katie, essa é a melhor queixa que você pode pensar?

- Ah não, eu tenho muitas queixas. Qual você quer ouvir primeiro? Como os meus
sapatos novos já me deram uma bolha no calcanhar? Ou você quer ouvir a queixa
sobre o meu braço esquerdo? Está doendo tanto que eu mal consigo levantar.

- Porque o seu braço está doendo? Nicole perguntou.

- Eu tomei algumas vacinas ontem.

- Pra que?

- Febre amarela, Tifóide. Ah, e Tétano porque a última vez que tomei vacina de
Tétano foi à dez anos atrás.

- Porque qual motivo no mundo você tomaria tantas imunizações? Nicole


perguntou. E porque você as tomaria um dia antes da formatura?

Katie encolheu os ombros.

- Parecia uma boa idéia na hora.

Eli virou para Katie com um sorriso largo. Ele parecia a criança mais feliz do
planeta. Ela sabia que ele sabia o que a combinação de imunizações queria dizer. Ela
desejou que tivesse ficado de boca calada. Mas agora era tarde demais. Eli sabia.

29
Aquela cordinha que cai do chapéu de formando.
Vamos lá Miss prudência! Onde está você quando eu preciso? Tente me
acompanhar, tá bom?

Naquela hora eles já estavam na frente de Crown Hall, Nicole e Katie pularam do
carrinho e correram para o quarto de Nicole.

- Katie, eu não acredito que você tomou todas essas vacinas de uma vez só! Não é
a toa que o seu braço está doendo. Porque qual razão no mundo todo você faria isso?

- Eu queria estar preparada. O cara da drogaria disse que elas iam durar cinco
anos. Menos a de Tétano, essa dura dez anos.

- Você tomou as vacinas numa drogaria? E não no médico?

- O cartaz dizia que eles eram especialistas em imunizações para viagem. O cara
que aplicou a vacina disse que elas seriam muito mais baratas lá do que se eu tomasse
em uma clinica ou um consultório. Ele disse que aplicava vacinas o tempo todo.
Especialmente em pessoas mais velhas que fazem cruzeiros em lugares rudimentares
ao redor do mundo.

- Porque alguém faria um cruzeiro para um lugar rudimentar? Nicole descartou a


própria pergunta e disse, Katie, eu não acredito que você colocou tantas doenças no
seu corpo ao mesmo tempo. Será que o seu sistema imune agüenta?

Elas tinham colocados suas becas e os chapéus e estavam dividindo o espelho de


corpo inteiro de Nicole, tentando equilibrar seus chapeis na cabeça.

- Parece que vou descobrir.

- Então você vai fazer um cruzeiro?

- Não, eu só achei que devia atualizar todas as minhas imunizações pro caso de eu
querer ir a alguma viagem missionária de ultima hora, para algum lugar como Malásia
ou Índia.

Nicole olhou para ela e disse:

- Ou África.

- Claro, África é uma possibilidade. Eles têm mosquito lá, sabia?

- E febre amarela. Nicole fitou Katie, até que ela não podia fazer mais nada além
de olhar pra ela. A pele perfeita de Nicole deixava fácil a leitura de sua expressão. E a
que ela estava fazendo agora era a de: ‘Já-que-a-sua-mãe-nunca-te-disse-isso-então-
sou-eu-que-vou-ter-que-dizer-agora’, preste atenção.
- Não o torture Katie. Os sentimentos de Eli por você são tão óbvios, você tem que
saber que ele já está muito triste por sua causa. Por Favor. Sua voz se elevou
suavemente. Eu conheço algumas coisas sobre sentimento de amor não
correspondido. Então por favor, não de nenhuma esperança a ele a não ser que você
queira.

Katie sentiu o peso do tapa de luva de Nicole. Se elas tivessem mais tempo, Katie
teria deixado uma lágrima cair de dentro da fortaleza que ela construíra ao redor do
coração.

Mas elas não tinham tempo. E Nicole também sabia disso.

- Promete. Nicole disse em tom firme. Me promete que não vai bagunçar com os
sentimentos do Eli.

Katie acenou com a cabeça.

- Eu prometo.

- Ótimo, agora abaixa a cabeça. Nicole pegou o chapéu de Katie. Você precisa por
mais para baixo ai na frente. Assim. Não, aqui, deixa que eu faço. Me dá alguns desses
grampos de cabelo. Assim! Você está pronta? Vamos lá!

Elas correram pelo corredor, passaram pela entrada, cada uma com sua beca
esvoaçante e uma mão no alto da cabeça. Katie não pode deixar de notar o quão
adequado era que ela estava correndo pra chegar a tempo a sua formatura. Isso
resumia seu último ano inteiro.

Eli estava esperando no carrinho.

- Nós vamos conseguir mais velocidade quando descermos o morro. Então


segurem os seus chapeis.

Katie não colocou uma mão no seu chapéu do mesmo jeito que Nicole fez. O
carrinho começou a correr, mas nada muito impressionante. Os grampos fizeram o seu
trabalho, se não tivessem, Katie teria que ter saído correndo atrás do chapéu,
enquanto o carrinho descia o morro em direção ao ginásio.

Eli estacionou em uma das vagas para seguranças do campus, na parte de trás do
ginásio. Os três correram para os seus lugares na fila enquanto todos os outros
estudantes já estavam em ordem alfabética.

- Chegou bem na hora. Um dos organizadores disse a Katie quando ela entrou no
final com as outras W, seguidas de um Y e dois Z. Os estudantes já estavam entrando
no ginásio. Nicole estava no lugar certo, no meio das S, mas Katie não podia ver se Eli
tinha conseguido entrar junto com os L.
Ela sentiu uma onda de ansiedade. Ou talvez fosse a adrenalina dos últimos 15
minutos. O que quer que fosse, Katie se sentiu como se estivesse sufocando embaixo
daquele longo Robe.

O ar quente dentro do ginásio e todos os seus sentimentos guardados a fizeram se


sentir fraca. Ela nunca havia sido uma pessoa de desmaiar fácil, mas naquele momento
ela gostaria de ter um leque ou uma garrafa de água.

As cadeiras para os formandos se alinhavam o meio do ginásio, enquanto os


convidados não paravam de tirar suas fotos nas extremidades e nas arquibancadas. O
lugar estava cheio. Katie olhou em volta e sabia que seria impossível de encontrar
qualquer um de seus amigos. Ela só estava feliz de estar no seu lugar, sentando na sua
cadeira marcada quando o Reitor da Rancho Corona começou a cerimônia com um
“Bem vindos” e uma oração.

Depois disso todos se sentaram. A melhor parte foi que como o sobrenome de
Katie começava com W, ela poderia sentar-se por muito tempo até a hora de levantar
de novo.

O coro cantava maravilhosamente. Um homem baixinho usando uma beca longa


deu um discurso e terminou falando para os formandos que eles poderiam terminar
tudo que eles fizerem de coração, pela graça de Deus.

Um aluno que formou ano passado começou a tocar piano, enquanto uma
formanda desse ano cantava um solo. Os aplausos foram revigorantes.

Katie continuava olhando ao ser redor. Ela não conseguia ver onde Eli estava
sentado, mas ela tinha decidido consigo mesma durante a descida até o ginásio que
ela manteria sua distancia para com ele, tanto física quanto emocionalmente. Tudo
que Nicole tinha dito estava certo. Não era justo da parte de Katie de dizer ou fazer
qualquer coisa que pudesse aumentar as esperanças de Eli.

Sua exploração mudou para a arquibancada. Ela queria achar a Cris e o Ted, ou
talvez o Tio Bob. Mas até agora ela não os havia achado no meio da grande massa de
gente.

O presidente da universidade tomou seu lugar no pódio para dar suas palavras
finais antes que os estudantes se levantassem fila por fila e fossem ao palco receber
seu diploma.

Katie desistiu de procurar seus amigos e voltou sua atenção para o palco.

A primeira fileira de formandos se levantou e deixou suas cadeiras vazias.


Katie os viu andando em direção ao palco e teve uma sensação de satisfação
crescendo dentro dela. Em alguns momentos ela estaria lá em cima também,
recebendo seu diploma. Ela tinha conseguido!

Agora que alguns estudantes tinham saído, Katie podia ver o grupo de pais atentos
que estavam no nível inferior da arquibancada, nas primeiras fileiras. Ela sabia que
essas pessoas tinham que ter chegado pelo menos duas horas antes da cerimônia para
pegar esses lugares, pois eles eram reservados para convidados. Essas pessoas eram
ou os pais mais pacientes do mundo, ou os que sentiam mais orgulho dos filhos. Talvez
essas famílias fossem uma combinação dos dois.

De repente Katie parou de sorrir. Ela piscou e se inclinou para frente o máximo
que conseguia para poder ver melhor. Ela não tinha dúvida. Sentados nos primeiros
lugares da primeira fileira estavam as duas ultimas pessoas que ela esperava ver. Seu
pai e sua mãe.
Capítulo 23
Katie estava confusa. Ela tinha confiado em seus sentimentos... bem, grande parte
da sua vida. Algum tempo atrás ela tinha dito a si mesma, Se você não se importa, você
não se machuca. O que talvez tenha sido a maior lição que sua mãe lhe ensinou sem
nunca ter dito uma palavra.

Mesmo assim, ali estava Vivian Weldon, quebrando todas as suas próprias regras,
sentada na fileira da frente com o pai de Katie, demonstrando à sua única filha todo o
orgulho e cuidado jamais expressados.

Katie deixou algumas lágrimas correrem. Ela não se importou com quem a via.
Deixou que pensassem que ela estava feliz por estar se formando. Ela assistiu seus
colegas andando pelo palco. Ela aplaudiu e continuou enxugando suas lágrimas na
manga da sua beca. Quando chegou nos “Ls”, Katie assistiu Eli dar passos fortes e
confiantes para receber seu diploma. Ela sorriu, chorou, aplaudiu e riu um pouco
quando ela ouviu o amigo ganês de Eli, Joseph, de algum lugar nas arquibancadas dar
um grito selvagem.

Todo o tempo, Katie pensava em como seus pais estavam esperando que ela
caminhasse pelo palco. Isso, a presença deles, devia ser o melhor presente que seus
pais já tinham lhe dado.

Katie bateu palmas quando o nome “Nicole Sanders” foi chamado. Ela não foi a
única, Nicole pareceu receber mais aplausos que qualquer outro estudante até aquele
momento. Na confusão, Katie pensou ter ouvido um dos agudos assobios de Rick. Isso
a fez sorrir sutilmente porque ela sabia que podia assobiar melhor do que Rick e tinha,
várias vezes, tentado ensiná-lo a melhorar suas habilidades.

A fileira à frente de Katie ficou de pé. O rapaz que tinha se sentado exatamente na
frente dela olhou pra ela antes de ir. Ela o conhecia dos jogos educacionais de softball
que ela tinha se envolvido no seu primeiro ano na Rancho. Ele abriu um sorriso quando
olhou pra ela.

- Essa foi boa, Weldon.

Katie não tinha idéia do que ele estava falando. E ela nem teve tempo de soltar
alguma piada sobre seus dias de softball. Quando sua fila estava de pé. Katie se
compôs. Ela checou se o chapéu dela estava no lugar onde Nicole havia arrumado pra
ela. Sua beca estava fechada até em cima. Suas lágrimas tinham parado. Ela podia
sentir a umidade da manga que tinha funcionado como lenço, mas ela não se
importava. Tudo que ela tinha que fazer era caminhar pelo corredor, subir os degraus
sem tropeçar, acenar com a mão direita, receber o diploma com a mão esquerda, e
descer os degraus do outro lado do palco.
Esse era o momento dela. Cada passo significava sucesso. Ela negou a si mesma o
prazer de olhar para seus pais quando ela chegou ao fim da fila. Suas emoções
estavam no máximo, e ela não queria fazer qualquer coisa que a fizesse explodir em
lágrimas.

Olhando para frente, Katie subiu as escadas com seus sapatos novos. Ela se sentiu
como num cortejo de princesa, flutuando pelo palco para o pódio. Ela esperou um,
dois, três segundos. Então, na hora certa, seu nome foi chamado.

Katie estendeu sua mão direita, acenou para o presidente da Universidade Rancho
Corona, recebeu seu diploma com a esquerda, e de repente estava consciente dos
aplausos por duas razões. A primeira era porque seu cérebro ligado no som de palmas,
com alguns assobios e um grito ganês. A segunda razão era por causa das expressões
atordoadas e quase de desaprovação nas faces do presidente e do professor que
entregou seu diploma.

No começo da cerimônia, um pedido foi feito de que todos os aplausos


esperassem até o fim, mas, depois dos primeiros dois ou três estudantes, alguém
acabou descumprindo a regra e, depois disso, todo mundo aplaudia o seu formando
favorito. Isso era uma tradição.

Katie não sabia dizer, já que seu coração estava batendo nas suas orelhas, mas
talvez ela tenha recebido mais aplausos que os outros estudantes, e, portanto, seus
amigos e familiares tinham sido super zelosos na violação do pedido de não aplaudir.

Ela não sabia por que via claras expressões de desaprovação, mas naquele
momento, isso não importava. Ela tinha seu diploma na mão! Elevando-o bem alto e
dando um aceno, ela se virou para o auditório e soltou um modesto, mas significativo,
“Woo hoo!”

Várias pessoas riram e algumas apontaram. Isso foi embaraçoso porque um casal
tinha saído do palco com a sua própria versão controlada de uma dança alegre, então
Katie sabia que não tinha exagerado com sua expressão de celebração. Deixe que
professores olhem para ela com desdém. Deixe o auditório rir e apontar. Ela não se
importava. Ela agora estava graduada!

Voltando pelo corredor, Katie sentiu como se os olhos de todos os graduandos


estivessem nela. Ela sorriu e acenou com seu diploma para Nicole quando ela fez
contato visual com Katie.

Nicole olhou aturdida. Ela apontou para sua bochecha e então ansiosamente
apontou para Katie. Katie tocou sua bochecha. Não tinha nada preso na sua face. O
que Nicole estava tentando dizer?
No momento que Katie estava de volta ao seu assento, os alunos restantes tinham
ido para a fila e o reitor tinha voltado para o pódio. Ele disse para todos os graduandos
se levantarem. Num momento solene, todos os graduandos colocaram em prática o
que tinham ensaiado no dia anterior. Eles colocaram a borla de seus chapéus do outro
lado, recitaram em uníssono o Salmo 23 que tinha sido selecionado por eles no
começo do ano durante a capela sênior. Katie se levantou e, de cabeça erguida, recitou
audaciosamente junto com sua classe:

- “O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-
me mansamente às águas tranqüilas. Refrigera minha alma.”

O som de muitas vozes recitando com eles o restante do capítulo foi poderoso no
eco do ginásio. Essa era a tradição preferida de Katie das cerimônias de graduação da
Rancho Corona. Agora ela, uma formanda, estava participando da bênção do
encerramento das aulas.

Quando os graduandos chegaram as linhas finais de “Certamente que a bondade e


a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida.” Katie rapidamente puxou os
grampos do chapéu. Logo que as palavras finais “E habitarei na casa do Senhor por
longos dias” foram proferidas, os graduandos foram apresentados ao auditório. Então
todos os chapéus foram atirados para o ar.

Eclodiu uma feliz agitação de cadeiras quando os convidados foram alertados para
sair para encontrar os graduandos no gramado e não no ginásio. Katie assistiu seu
chapéu ser arremessado e descer. Ela o pegou e olhou ao redor.

- Muito bem, Katie, um dos seus amigos disse.

Outro bateu nas costas dela.

- Eu sabia que se alguém poderia fazer uma brincadeira, essa pessoa seria você.

O rapaz perto dela disse:

- Sutil, mas ponto marcado. Vai jogar como lançadora ou armadora?

Katie não tinha idéia do que qualquer um deles estava falando.

Nesse momento então ela sentiu alguém agarrar seu braço. Era Nicole.

- Ei, parabéns! Katie foi dar um abraço nela, mas Nicole quase derrubou uma
cadeira puxando Katie pra longe de seu assento.

- Katie, seu rosto! Vem comigo. Agora. Não olhe pra ninguém. Apenas continue
andando.

- O que foi?
- Eu vou te mostrar em um minuto.

Nicole se apertou pela multidão e se dirigiu para os banheiros da sala de ginástica


ao lado do ginásio, ao invés de ir aos banheiros da frente que, provavelmente,
estariam cheios. Nicole praticamente empurrou Katie pra dentro do banheiro e
apontou para o espelho.

Katie olhou e ficou de boquiaberta. Sobre as duas bochechas haviam marcas


pretas que se assemelhavam a “pintura de guerra” preta que os jogadores de futebol
americano usam. Não era nada sutil. Era preto e grande.

- O que aconteceu? Katie pegou um papel toalha.

Nicole abriu a torneira de água morna e molhou o papel toalha.

- Olhe! Nicole apontou o redemoinho preto na pia. A manga da beca de Nicole


tinha se juntado ao fluxo de água da torneira quando ela molhou o papel toalha. Assim
que ela espremeu a manga para torcê-la, o corante da beca criou um redemoinho
preto na pia.

- Eu estava chorando, Katie disse, segurando sua manga. Eu usei minha manga
como lenço.

- Você deve ter chorado muito.

- Eu chorei. Nicole, meus pais estão aqui.

- Os meus também. Vamos lá, tente se apressar. Nicole então pareceu entender o
que Katie tinha dito. Espere. Seus pais estão aqui? Katie! Uau.

- Eu sei. Me ajude a limpar isso. Eu não posso acreditar. Agora eu sei por que eu
estava recebendo aqueles olhares. Eu não posso imaginar o que o presidente e o reitor
pensaram de mim. Ai, meu Deus!

Nicole ajudou-a a se limpar. Mesmo com sabonete líquido e água quente, nem
toda a mancha saiu. Mas finalmente saiu o suficiente para parecer uma sombra e não
uma tarja em negrito.

- Quando nós voltarmos para o meu quarto para pegar nossas bolsas e o presente,
eu tenho um pó mineral que cobrirá tudo. Mas por agora, nós realmente precisamos
sair para o gramado e tirar algumas fotos antes que todo mundo vá embora.

Elas foram apressadas pelo caminho de volta e a primeira pessoa que Katie viu foi
Eli. Ele estava em pé junto com Joseph , Shiloh e sua pequena filha, Hope. Katie acenou
para Joseph e Shiloh e eles acenaram de volta. Logo que Eli viu Katie, ele atravessou o
gramado até ela e envolveu os seus braços ao redor dela, e deu-lhe um abraço
apertado. Eli nunca tinha lhe dado um abraço como aquele, e tudo que ela conseguiu
pensou, Uau, esse cara sabe abraçar!

Ele também estava cheiroso.

Em seu ouvido ele disse:

- Parabéns, Katie girl.

- Obrigada. Ela disse afastando-se para trás, sentindo que seu rosto estava
vermelho por vários motivos.

- Parabéns pra você também.

- Obrigado.

Olhando por cima da cabeça dele, ela disse:

- Meus pais estão aqui em algum lugar.

- Eles estão? Katie isso é incrível! Onde eles estão?

- Eu não sei. Eu tenho que encontrá-los.

- Eu vou com você.

- Não, eu estou bem. Você tem pessoas aqui pra você. Katie virou e viu que Joseph
e Shiloh moveram-se no meio da multidão. Foi quando ele percebeu que Eli não tinha
mais ninguém ali pra ele.

- Na realidade, Eli, porque você não vem comigo? Talvez meus pais tenham
achado o Rick, ou o Ted e a Cris.

Nicole tinha desaparecido na multidão. Eram apenas Eli e Katie andando no mar
de pessoas. Eles se separaram enquanto tentavam deixar para trás um grande grupo
que se organizava para fotos de família com as meninas gêmeas que tinham se
formado. Katie instintivamente estendeu a mão por trás dela e apontou para Eli ficar
um pouco mais perto.

Eli pegou a sua mãe e segurou-a. Ele sentiu a mão dele mais áspera e forte do que
teria imaginado. Naquele momento, a manada de búfalos apareceu e debandou pelo
intestino dela. Katie teria soltado a mão de Eli, mas ela estava paralisada. Ou talvez
isso estivesse mais pra hipnotizada. Ela não podia soltar. Na verdade, ela podia, mas
não queria.

Eli foi quem soltou a mão, logo que passaram do engarrafamento humano para
um bom lugar onde podiam avistar a área aberta.
- Olha o Ted. Eli apontou para a esquerda.

Katie viu Tio Bob e Tia Marta de pé junto com Ted e Cris. Rick estava com eles
também, assim como Nicole e seus pais. Mas os pais dela não estavam em lugar
nenhum. Seu coração continuava acelerado.

- Espero que eles não tenham ido embora. Katie disse para si mesma que o
coração acelerado era devido ao nervosismo que ela sentia por ver seus pais. Ou talvez
fosse devido ao efeito das vacinas.

- Eles planejaram ir à festa? Talvez eles tenham ido pra casa dos Doyles.

- Eu duvido.

Katie mordeu seu lábio inferior e tentou pensar como seus pais. Essa multidão
seria demais para eles. Mesmo que tenha sido dado o anúncio para que todos se
reunissem no campo, Katie suspeitou que seus pais teriam ficado longe das multidões.

- Talvez eles continuem no ginásio.

Antes que Katie pudesse decidir se suas conclusões eram uma boa possibilidade,
Eli pegou-a pela mão novamente. Dessa vez ele estava conduzindo o caminho de volta
pra o ginásio com passos rápidos. Katie deixou-o guiá-la e mentalmente disse a si
mesma, Isso não significa nada. Nós apenas estamos tentando nos mover pela
multidão nessa caçada aos meus pais.

Eli levou Katie até a entrada frontal do ginásio e soltou a mão dela. Ela sentiu a
pressa de seu calor e apoio deixarem-na no momento em que ela viu sua mãe.

Vestida com o mesmo vestido floral que Katie a tinha visto vestida dez anos atrás,
Vivian Weldon estava junto da parece com as duas mãos em sua bolsa como se alguém
pudesse arrancá-la dela, aqui no campus dessa ótima universidade cristã.

Katie tentou formar a simples palavra Mãe, mas nada saiu. Emoções profundas
surgiram nela, fazendo com que os lábios se enrolassem em um vulnerável sorriso de
menina. Com dez passos deliberados para frente, ela ficou, vestida com sua beca de
graduação, com seu chapéu na mão e um pequeno sorriso congelado nos seus lábios,
na frente da sua mãe.

Sua mãe olhou para cima, assustada, quase como se não esperasse ver a filha
naquele momento.

- Você veio. Você veio para minha colação de grau.

Sua mãe não sabia o que fazer com cumprimento.

- Bem, você nos mandou o convite.


- Eu sei. Mas você não tinha que vir, e você veio. Obrigado.

- Nós não vamos para a festa. Sua mãe afirmou. Seu pai não está se sentindo
muito bem. Eu acho que é a vesícula. Ele está no banheiro. O banheiro das mulheres
estava com uma fila terrível. É sempre assim. Eu vi que você tirou a tinta do seu rosto.
O que você estava fazendo, tentando fazer uma piada?

O espírito de Katie esmoreceu e seu sorriso também.

- Não, eu estava chorando. Eu usei a manga do meu vestido, e a tinta saiu no meu
rosto. Eu não sabia que tinha tinta no meu rosto. De verdade.

- Bem, por que a cor ia sair? Eles reciclam as becas e as tingem novamente?

- Eu não sei. A beca não importa. O importante é que eu não estava tentando ser
divertida ou qualquer coisa. Foi um acidente.

- Você certamente tem uma coisa com acidentes, não é?

Katie tentou deixar de lado o velho golpe familiar. Ela respirou profundamente e
olhou por cima do ombro. Eli continuava de pé junto a porta do ginásio. Mas ele não
estava sozinho. Ele estava falando com Julia e o noivo dela, Dr. Ambrose.

- Mãe, venha comigo. Quero que você conheça alguns dos meus amigos.

- Eu disse a seu pai que iria esperar por ele aqui. Eu não vou me mexer.

- Okay, eu vou trazê-los aqui. Katie foi até Julia. Eu gostaria muito que vocês
fossem ali conhecer minha mãe.

Os três seguiram Katie para a parede em frente ao banheiro masculino onde sua
mãe estava, ainda segurando sua bolsa com as duas mãos.

- Esse é meu amigo Eli, minha DR, Julia, e... Katie tentou decidir o que ela deveria
dizer “Dr. Ambrose” ou “Noivo de Julia” quando ela foi apresentar o terceiro membro
do trio.

Eli jogou a decisão pra longe de Katie pegando as apresentações e dizendo:

- Esse é meu tio, John Ambrose.

- Seu tio? Katie olhou surpresa para Eli.

Eli confirmou com a cabeça.

Dr. Ambrose estava vestindo sua beca super elegante com chapéu de professor e
fitas de doutor. Ele apertou a mão da mãe de Katie.

- Você deve estar orgulhosa.


A mãe de Katie parecia afobada. Seu cabelo crespo tinha ficado cinza com os anos,
e ela o mantinha curto, mas bem cheinho. Sua face era longa, e seus óculos eram
redondos, o mesmo que ela tinha desde que Katie se lembrava.

Em resposta a pergunta do Dr. Ambrose, Vivian Weldon levantou o nariz no ar.

- Eu pensei que orgulho fosse um pecado pra vocês cristãos.

Então Katie soube que aos três tinha sido dado um vislumbre de sua vida. Antes
que Dr. Ambrose ou qualquer outro deles pudesse responder, o pai de Katie saiu do
banheiro usando uma bengala.

- Oi, pai, Katie o cumprimentou cautelosamente. É o joelho novamente?

- É o meu pé. Sua mãe não lhe disse? Tem alguma coisa errada com meu
calcanhar. Andar todo o caminho do estacionamento até aqui não me fez bem.

- Eu posso levar você de volta ao estacionamento. Eli disse. Eu trabalho com a


segurança do campus. Eu posso levar você no carrinho de golf.

- Eu estou pronto para ir agora, o pai de Katie disse. Onde está o carrinho?

- Eu vou trazê-lo aqui para frente.

- Obrigada, Eli, Katie disse quando ele se virou para ir.

Ele olhou para ela por cima do ombro e deu-lhe um sorriso. Katie gostaria que ela
tivesse uma foto só dele então, saindo pela porta, ainda com sua beca, cabelo meio
atrapalhado e a grande luz em seus olhos. Essa é uma foto que ela gostaria de tirar e
enviar para os pais dele com uma nota dizendo: “Vocês têm um filho maravilhoso. Eu
gostaria que vocês pudessem estar aqui para ver a colação de grau dele. Vocês
ficariam orgulhosos dele.”

Seja como for, Katie sabia que os pais de Eli ficariam orgulhosos. Eles não
atacariam de volta com declarações sobre orgulho ser pecado. Voltando-se para seus
pais, Katie lembrou-se de como Eli disse que perdoar as ofensas deles era um
processo. Katie sabia que ela tinha perdoado seus pais no verão passado. Julia estava
lá com ela. Mas este parecia mais um passo do processo. Sem reservas, Katie
expressou seu desapontamento e frustração sobre o comentário de sua mãe ao Dr.
Ambrose. Ela respirou e esperou que o ar fresco lhe desse uma sensação igualmente
fresca em seu espírito.

Katie olhou para sua descontente mãe e para seu pai, que estava obviamente bem
desconfortável e decidiu que este era um momento de um outro tipo de graduação
para ela. Chegando perto de sua mãe, Katie cuidadosamente envolveu-a em seus
braços e deu-lhe um beijinho na bochecha.
Dando um passo mais pra perto de seu pai, Katie abraçou seu pai mais forte. Ele
respondeu batendo nas costas dela, como se ela fosse um cachorro bem grande e
tivesse acabado de capturar um pato. Katie colocou aquela imagem para fora da sua
mente e disse nos ouvidos dele.

- Eu realmente gostei muito de você ter vindo, pai. Isso significa muito pra mim.

Seus pais pareceram ficar tocados pelas expressões de afeto dela, mas nenhum
deles parecia saber como reagir. Isso não era incomum. Katie, porém, sentiu que o
jeito que ela estava agindo agora era o mais próximo que ela estava de seu verdadeiro
eu desde que ela era muito jovem.

- Eu estou com minha câmera. Julia disse. Vocês três gostariam de tirar uma foto
juntos?

- Não perto do banheiro, a mãe de Katie falou.

- Que tal por aqui? Katie caminhou sete passos para uma grande parede branca.
Era um fundo meio sem graça, mas pelo menos sua mãe não podia se queixar. Com
algum esforço, seus pais vieram para onde Katie estava em pé. Ela se colocou entre
eles e colocou seu chapéu de volta.

- Tenha certeza que colocou a borla do lado certo. A mãe dela disse.

- Bem observado, mãe. Obrigada. Katie fez a mudança e Julia deu um grande
sorriso.

Julia tirou várias fotos e disse que gostaria de dar cópias a Katie, então ela poderia
enviar para seus pais. Julia e Dr. Ambrose saíram, deixando Katie e seus pais sozinhos
na entrada do ginásio. Katie sabia que Cris e os outros deveriam estar se perguntando
o que tinha acontecido com ela. Ela desejou estar com seu celular, assim poderia pelo
menos mandar uma mensagem de texto.

Isso não importava. Eli estava na porta com o carrinho de golf, e Katie podia vê-lo
vindo em sua direção, pronto para levar seus pais para o estacionamento. Com uma
oportunidade final na frente dela antes que a cortina se fechasse sobre esse momento.
Katie se lembrou como Eli tinha dito que o amor real vem do coração. É espontâneo,
orgânico. E não planejado. Ele também disse que era inconveniente.

Katie voltou-se para seus pais, e com uma profunda e repentina sinceridade
surgindo na sua voz, ela disse:

- Eu te amo mãe. Eu te amo, pai. Obrigada por terem vindo.

A mãe de Katie desviou o olhar. Mas antes disso, Katie estava certa que ela viu
alguma coisa que ela nunca tinha visto antes na face da sua mãe. Um sorriso pequeno,
como uma lua crescente, foi acentuada por uma lágrima de prata, que vinha para a
lua.

Se Katie nunca acreditou na beleza ou no poder do amor que nascia da graça, ela
acreditava agora.
Capítulo 24
- Você sabe que nós quase desistimos de você e fomos para a festa.

Tia Marta deixou claro que estava bem nervosa na hora que Katie se juntou ao
grupo no campo. Muitas famílias já haviam se dispersado, incluindo a de Nicole e a de
Rick. Douglas e Trícia ainda estavam lá, empurrando o pequeno Daniel um para o
outro.

- Ela chegou , disse Bob. Vá em frente e a presenteie com a lei. A câmera está
pronta. Vamos tirar algumas fotos em grupo.

Ted e Cris presentearam Katie com uma bela lei de orquídeas. Ela cheirou, mas
não tinha fragrância. Nos últimos anos, leis tinham se tornado um símbolo de honra
para muitos graduandos da Rancho. O site da escola tinha uma foto de um formando
do Havaí que estava sendo parabenizado pela sua família que tinha vindo das ilhas.
Muitas leis estavam empilhadas até o seu queixo. Depois que aquela foto foi colocada,
graduandos queriam partilhar do gosto do que era ser parabenizado com um círculo
fragrante e colorido de flores.

- É um milagre que esta não tenha murchado ou secado completamente. Marta


tinha uma lei de cravos e rosas enrolada em seu braço. Ela a colocou sobre a cabeça de
Katie e fez um som de beijo próximo ao ouvido de Katie.

Katie não podia reclamar por nenhum deles não querer se aproximar. Ela ainda
estava quente por ter corrido para o campo depois de ajudar seus pais a subirem no
carrinho de Eli. Seu rosto parecia grudento de suor. Sem mencionar o trabalho que ela
teve ao tentar esfregar a tinta de suas bochechas.

Cris tocou a bochecha de Katie.

- Então, o que foi isso? Eu não entendi.

- Ainda dá pra ver?

- Só um pouco. Não como quando você estava no palco.

- Sorria! Tio Bob gritou.

- Qual era o objetivo disso?

- Nenhum. Katie deu um grande sorriso para a câmera. Eu não fiz de propósito. A
tinta saiu dessa beca ridícula.

- Por que só estava aí, no seu rosto?


- Eu estava chorando. Meus pais vieram, Cris. Eu estava lá agora. Conversando
com eles no ginásio. Acredita que eles vieram?

Cris jogou seus braços em volta de Katie e a abraçou apertado.

- Katie, isso é maravilhoso! Eu estou tão feliz por você!

Afastando-se, Cris checou pra ter certeza de que a beca não tinha soltado tinta em
suas roupas. Não tinha.

- Sim, foi bom que eles vieram. É muito, muito bom que vocês tenham vindo.
Muito obrigada. Sinto muito por deixá-los esperando.

- Compreensível, disse tio Bob. Estou feliz por saber que seus pais vieram.
Parabéns, Katie.

- Obrigada.

Ela abriu o seu melhor sorriso, enquanto Bob erguia a câmera e batia a foto.

Em seguida, a sessão de fotos começou de verdade. Katie com Cris, Katie com o
grupo inteiro, Katie apenas com Daniel, que se contorcia e esticava o braço para que
seu pai o pegasse.

O momento era muito parecido com o que ela havia sonhado, diferente apenas
porque seus pais tinham vindo e ido . Ela estava com o seu povo. Exceto por Nicole que
não estava lá. Ou Rick.

Ou Eli.

Katie podia sentir o suor escorrendo por suas costas e testa.

- Vocês se importam se nós pararmos com as fotos e encontrarmos água em


algum lugar? Eu estou assando. Eu quero tirar essa beca.

Bob cedeu, e o grupo se dirigiu outra vez para o ginásio. Douglas deu a Katie um
último abraço e disse que ele a veria mais nos Doyles.

- Eu tenho que pegar uma coisa no meu quarto antes de ir para a festa, Katie disse.
No quarto de Nicole, na verdade.

- Nós a encontramos lá. Marta decidiu. Nós temos um mapa. Venha, Robert. Nós
estacionamos por aqui.

Cris e Ted mantiveram o passo com Katie enquanto ela entrava pela porta do
ginásio e tomava um grande gole de água do bebedouro mais próximo. Ela abriu o
fecho da beca e tirou seu chapéu. Eu estou assando. Vocês querem ir em frente
também?
Cris e Ted se entreolharam. Ted deu de ombros.

- Nós vamos te esperar, Cris disse. Você pode ir de carona conosco, se quiser. Eu
tenho algo que quero te dar, e gostaria de fazer isso antes de nós chegarmos à casa do
Rick.

O trio de longa data se dirigiu ao estacionamento e deslizou para dentro do carro


de Cris e Ted, para que eles levassem Katie ao Crown Hall. No caminho Katie contou a
eles como Eli veio em seu carro branco de golfe e salvou o dia para ela e Nicole
algumas horas mais cedo.

- Eli nos contou sobre a viagem que vocês fizeram às montanhas ontem, Ted disse.

- Você viu alguma das fotos? Katie perguntou. Eu postei algumas delas. Não dá pra
descrever de tão bonito que é. Estou muito contente por termos ido.

- Eu não vi nenhuma das suas fotos, mas eu estou pensando em levar alguns dos
estudantes do grupo de jovens pra lá nesse verão, Ted disse.

- Se você for, eu adoraria ir com vocês, Katie disse. Na verdade, eu adoraria ajudá-
lo com o grupo de jovens esse verão, com o que você precisar.

- Então você vai ficar por aqui no verão?

- Eu acho que sim.

- O que você decidiu? Cris perguntou.

- Você quer dizer, onde eu vou morar e trabalhar e tudo o mais? Isso eu não
resolvi ainda. Eu ainda tenho mais uma semana no dormitório.

- Nossa oferta ainda está de pé, Ted disso. Você pode vir se juntar a nós quando
quiser. Desde que você não se importe em dormir em um colchão de ar.

- Eu acho que vou alugar um lugar pra mim antes de me aproveitar de vocês. Mas
obrigada pela oferta.

- Katie estava transpirando como louca no carro quente. Ela não podia esperar
para entrar no dormitório, onde certamente estaria mais fresco. Ela pegou a chave
mestra na recepção, foi até o quarto de Nicole e destrancou a porta. Sua bolsa estava
na cama de Nicole com uma nota dizendo que Nicole tinha ido para a festa nos Doyles
com seus pais, mas o pó mineral que ela havia mencionado estava na sua escrivaninha
com o pincel para aplicar.

Katie decidiu deixar sua maquiagem intocada e apenas ir à festa. Então, dando
uma rápida olhada para o espelho em seu caminho para fora, Katie parou. Ela estava
horrível. Seu rosto estava pálido e úmido de suor, exceto pelas suas bochechas, que
pareciam machucadas. Seu cabelo estava marcado por causa do chapéu que tinha
ficado preso seguramente no lugar com os grampos de Nicole. E seu vestido estava
quente e pinicando.

Katie ligou para o celular de Cris.

- Se vocês quiserem ir em frente, vou levar alguns minutos aqui. Eu posso ir com o
meu carro.

- Nós não nos importamos de esperar. É a sua festa de formatura. Você pode ficar
elegantemente atrasada se quiser.

- Eu vou tentar ser rápida. Katie correu para o seu quarto. Ela pegou o que
precisava e tomou um banho super rápido. Uma lavagem do rosto melhorou o
trabalho que a toalha de papel tinha começado no banheiro do ginásio. Ela
rapidamente enxaguou seu cabelo, resolvendo que ele poderia secar ao ar livre com a
janela aberta no caminho para a festa.

Aplicando uma camada extra de desodorante, Katie estava quase pondo seu novo
vestido outra vez até ela sentir o cheiro que sua transpiração tinha deixado na roupa.

- Ótimo. O que eu vou vestir?

Optando pela primeira saia e blusa que encontrou, Katie se vestiu.


Podia não ser tão estiloso ou bonito quanto o vestido, mas as roupas estavam frescas e
limpas, assim como ela.

Antes de correr pra fora, Katie pegou seu novo tubo de rímel com a intenção de
passar um pouco no carro. Notando o cartão de vacina perto do rímel, na penteadeira,
ela percebeu que a transpiração e a febre poderiam ser os efeitos colaterais das
vacinas.

Praticamente mergulhando no banco de trás do Volvo de Ted e Cris, Katie disse:

- Para a festa, James. E eu espero que vocês não se importem se nós formos com
as janelas abertas.

- Você tomou banho? Cris perguntou.

- Sim. Acredite, você deveria estar contente. Você sentiu meu cheiro antes?

- Não.

- Bem, isso é bom.

- Aqui, abra isso. Cris estendeu para Katie um pacote embrulhado. Esse é o meu
presente de formatura para você.
- É de nós dois, Ted disse.

Cris deu a ele um olhar divertido.

- Ei! Ted retornou o olhar. Eu assisti você trabalhar nele. E eu disse que você
estava fazendo um ótimo trabalho.

Katie abriu o presente.

- Um scrapbook? Cris, eu amei! Eu não acredito que você fez isso pra mim.
Ninguém nunca fez nada assim pra mim. Eu sempre quis um scrapbook. Obrigada,
obrigada, obrigada!

- Por nada.

- É, Ted ecoou. Por nada. Que bom que você gostou.

Cris deu um soco no braço dele, brincando.

Abrindo a primeira página, Katie soltou uma gargalhada. A foto era realmente
velha. A amiga delas do Ensino Médio, Jane, tinha batido uma foto das duas de pijama
em uma festa do pijama. Foi quando Cris e Katie se conheceram. Foi também a noite
em que o grupo saíra no meio da noite e empapelou a casa de Rick Doyle em
Escondido. Esse foi o começo da amizade de Cris e Katie.

- Eu não acredito que você tem essa foto!

- Tem mais. Várias muito boas. Levou um tempo para juntá-las. Espere até você
ver a nossa no Lago Shasta, na viagem de esqui aquático.

- Esta é do nosso anuário, não é? Katie segurou o livro e apontou para uma foto
dela jogando vôlei pelo time do Colégio Kelley. Eu me lembro disso porque você estava
na equipe do anuário, e eu ficava tanto tempo com o Michael naquele semestre que
eu cheguei atrasada para a foto do time. Ou eu nem cheguei a tempo?

- Não tenho certeza. Foi um período duro para a nossa amizade, mas nós
sobrevivemos.

- Sim, eu fui pouco teimosa naquela época.

- Naquela época? Ted perguntou.

Katie ignorou a piadinha dele e virou a página.

- Oh, essa é boa. Você tirou na nossa viagem de esqui ou em um dia de neve?

- Essa é da viagem de esqui. Continue. Há uma foto ótima de nós duas no Natal
que você trabalhou como ajudante de Papai Noel no shopping.
- Você tem uma daquele Natal? Katie passou algumas páginas até encontrar a foto
dela usando orelhas pontudas de elfo. Isso é hilário! Como você não está vestida assim
também?

- Eu trabalhava na loja de animais, lembra?

- Ah, é. Ei, isso me lembra de uma coisa. Você acha que aquela loja de animais
ainda está lá? Eu preciso de uma pomba. Eu ia alugar uma, mas acabou que o cara só
vende. Eu estou achando muito caro. Eu pensei que talvez seu antigo chefe pudesse
me dar um desconto.

- Pra quê você precisa de uma pomba? Cris perguntou.

Katie contou a ela dos planos que ela e Nicole haviam formulado para o
compartimento secreto no buquê da mulher de honra.

- Grande idéia, Ted disse. Amei o simbolismo. Nós deveríamos ter feito isso,
Kilikina.

Nem o uso de Ted do apelido romântico Havaiano de Cris pareceu suavizar a


sugestão dele, Cris lançou-lhe outro olhar de ‘diga-que-você-está-brincando’ e não fez
nenhum comentário.

A essa altura, eles já haviam chegado a casa dos Doyles. Carros se enfileiravam na
rua, então Ted foi até a entrada da garagem e deixou que as duas descessem, dizendo
que ele iria descer o quarteirão para encontrar uma vaga.

Enquanto Cris e Katie caminhavam para a porta da frente, Katie reclamou que
tinha esquecido sua câmera.

- Eu trouxe a minha. Vou bater algumas fotos pra você. Por acaso você tirou uma
foto com seus pais?

- Sim, Julia tirou algumas.

- Isso é bom.

- Eu sei, mas eu queria tirar uma foto do Eli. Eu acho que ele deveria ter uma foto
para enviar aos pais dele.

- Talvez Julia tenha tirado uma dele também.

Katie não estava certa se ela tinha visto Julia bater alguma de Eli, mas Katie tinha
sido envolvida por seus pais naquele momento.

- Eu vou me certificar de tirar algumas fotos de Eli aqui na festa, Cris disse.
- Não vai ser a mesma coisa. Emoldurada na imaginação de Katie estava uma
imagem de um Eli sorridente em seu chapéu e beca. Primeiro no carrinho durante seu
passeio feroz e então quando ele estava deixando o ginásio em seu ato de gentileza
com os pais dela.

- A mesma coisa que o quê?

- Que quando ele estava com seu chapéu e beca. Seu cabelo estava saindo em
todas as direções e ele estava com aquele sorriso...

- Cris parou e colocou a mão no braço de Katie. Seus olhos estavam arregalados.

- Katie!

- Quê?

- Olá!

- Olá pra você também. O que eu perdi?

- Aparentemente muito. Ou talvez tenha sido eu quem perdeu.

- Do que você está falando? Katie checou as solas de seus sapatos. Eu pisei em
alguma coisa? O preto ainda está aparecendo no meu rosto?

- Não. Cris encarou-a, um pequeno sorriso brincando em seus lábios. Tudo o que
eu tenho que dizer a você, Katie girl, é fique atenta às próximas atrações.

Katie deu a ela um olhar estranho em resposta. Ela se lembrava de usar aquela
frase com Rick meses atrás, embora ela não se lembrasse porque. Ouvindo Cris falar
isso agora, Katie disse:

- Essa frase soa como o início de um velho DVD ou qualquer coisa do tipo.

- Oh, é o começo de alguma coisa, com certeza.

Cris se virou e subiu os degraus, deixando Katie parada na entrada da casa dos
Doyles com ambas as mãos nos quadris. Katie não estava entendendo Cris. Mas isso
não a surpreendeu. Sua cabeça e seu coração estavam um pouco sobrecarregados no
momento. Deixando de lado o comportamento estranho de sua amiga, Katie se juntou
a Cris na porta da frente.

Cris tocou a campainha, e Katie pensou em como todos eles tinham ido longe
desde a noite em que ela e Cris empapelaram a antiga casa de Rick e então lutaram
pra correr ou se esconder nos arbustos.

Agora mesmo, se esconder nos arbustos parecia algo que Katie gostaria de fazer.
Ela só não estava certa do porquê.
Capítulo 25
A mãe de Rick tinha, mais uma vez, se superado em dar uma festa de primeira. O
que foi bom porque, devido a quantidade considerável de pessoas reunidas na
espaçosa casa, Katie e Cris entraram sem deixar óbvio que elas estavam entre os
últimos a chegar.

O que também significou que Marta havia engajado em uma longa conversa com a
mãe de Rick; falavam de tudo, desde os aperitivos a tratamentos em spas. Katie podia
ouví-las conversando enquanto enchia um prato com tira-gostos da mesa de jantar,
que, a propósito, estava transbordando de coisas gostosas.

Tudo parecia estar indo bem até Marta avistar Katie. Mudando de assunto, Marta
disse:

- Claro, quando chegar a hora de Rick e Katie fazerem o anúncio especial deles, eu
adoraria que a festa fosse lá em casa.

A mãe de Rick ficou surpresa. Ela se virou para Katie.

Katie rapidamente foi para perto de Marta e disse:

- Nós não vamos fazer anúncio algum. Rick e eu não estamos mais juntos.

- O quê! A exclamação de Marta calou todas as conversas ao redor, assim como


meia dúzia de convidados olhou para ver o que estava acontecendo.

- Você e Rick terminaram? Quando? Por que ninguém me contou?

Katie percebeu que algumas pessoas ouviriam sua resposta. Ela tentou escolher
suas palavras cuidadosamente e manter a voz baixa.

- Nós terminamos alguns meses atrás.

Marta parecia enfurecida.

- E você só me diz agora? Você faz ideia do que eu passei para reservar o Newport
Beach Iate Clube para vocês? Eu disse a eles que deixassem três fins-de-semana
separados pra vocês. Dois em novembro e um em outubro.

- O Iate Clube? Pra mim? Por que cargas d’água você reservou o Iate Clube pra
mim?

Marta apontou seu dedo para Katie:

- Quando você estava na minha casa, você, claramente, disse que você e Rick
estavam esperando até a formatura para que fizessem o anúncio de vocês. Você disse
que seis meses era uma duração boa para um noivado. Isso significa que o casamento
seria no outono. Eu estava lá quando você disse isso.

- Eu nunca disse isso!

Agora a voz de Katie é que estava aumentando.

- Foi você quem disse isso. Tudo isso. Todos esses planos e datas foi você que
inventou aí nessa sua cabecinha. Rick e eu nunca dissemos nada além de que nós
iríamos esperar até que o café abrisse e eu me formasse para tomarmos alguma
decisão sobre o que fazer em seguida.

- Não foi isso que você disse.

- Marta, ninguém lhe pediu para fazer reserva em nenhum iate clube por qualquer
que fosse o motivo!

Rick apareceu ao lado de Katie e escorregou o braço dele no dela. Com sua voz
serena e firme, Rick disse:

- Nós dois gostaríamos de nos desculpar por não termos nos comunicado com
você, Marta. Nós não fazíamos ideia que você estava fazendo planos para nós. Nós
sentimos muito pelo inconveniente que lhe causamos. Não é mesmo, Katie?

Ela o sentiu apertando o braço enquanto ele comprimia o músculo.

- Sim, sentimos muito.

Outros convidados tinham migrado para a sala de jantar para descobrir o motivo
de toda aquela confusão. Rick manteve o braço dado ao de Katie enquanto ela se
virava para ver a grande multidão.

- Eu acredito que o erro foi meu. Eu peço desculpas. Parece que há um anúncio
que eu deveria ter feito antes. Já que Katie está aqui e já que ela e eu estamos de
acordo nisso, nós temos um anúncio a fazer.

Katie olhou para Rick com um olhar cético e tirou o braço dela do dele. Ou ele
estava encontrando uma maneira de, graciosamente, tirar o foco de Marta, ou os dois
tinham um plano juntos de armarem uma armadilha para levar Katie a voltar com Rick.

Ela sabia que a segunda opção era altamente improvável, então ela permaneceu
de pé e deixou Rick falar pelos dois. Ele olhou para ela, e ela lhe deu um olhar de “vá
em frente, eu confio em você.”

- Katie e eu somos amigos há muito tempo. De fato, nós dois somos amigos de
muitos de vocês aqui nessa sala há muito tempo. Nós apreciamos a amizade de vocês
mais do que podemos expressar. Esse é um momento para celebrarmos um marco na
vida de Katie, Nicki e Eli.

Katie viu Nicole e Eli em cantos opostos, ambos olhando para Rick, esperando para
ver o que aconteceria em seguida.

- Nicki? Eli? Vocês dois poderiam se juntar a mim e à Katie aqui?

Nicole e Eli caminharam até a mesa.

Rick tinha a multidão sob controle. Pelo menos cinquenta pessoas enchiam a sala
de jantar e transbordavam pela sala de estar. Todos olhando atentos para Rick,
inclusive Marta.

- Como muitos de vocês sabem, é tradição de nossa família oferecer um brinde


nas comemorações, e essa é, definitivamente, uma comemoração para os meus três
amigos. Se você tem um copo perto de você, você poderia levantá-lo para fazermos
um brinde?

Quase todos tinham um copo para levantar.

- Esse vai para Eli Lorenzo, meu excelente companheiro de apartamento, e esse
para Nicki Sanders, a excelente assistente de design da minha mãe, e esse vai para
Katie Weldon, minha ‘uma-vez-namorada’ e agora minha excelente amiga para
sempre.

O olhar dele passou pela multidão reunida.

- Brinde comigo. Parabéns aos formandos!

Os convidados ovacionaram e tomaram um gole de limonada, chá gelado ou o que


quer que estivesse no copo deles, e o quase espetáculo entre Katie e Marta se
dissolveu. As conversas começaram de novo. Alguns dos convidados voltaram para o
outro cômodo. Eli estava recebendo bastante atenção de pessoas mais velhas, que
eram obviamente amigos dos Doyles.

Rick, entretanto, não tinha acabado. Ele se virou para Katie e disse:

- Você poderia ir lá em cima e esperar por mim no cômodo em cima da garagem?


Eu preciso falar com você.

Ele então se inclinou para perto de Marta que estava com um copo com algo
espumante nas mãos. Ela estava olhando para Rick, como se não estivesse muito certa
do que acabara de acontecer. Katie assistia-o virar o queixo e com seu jeito suave
assumir a responsabilidade por não notificar Marta sobre o status do relacionamento
dele com Katie. Katie o ouviu oferecer para pagar qualquer depósito que Marta fizera
pelas reservas no iate clube. Lá vai você, Rick, mais uma vez, ser o perfeito gentleman.

Katie saiu da sala de jantar com seu prato de petiscos na mão. Ela sentiu como se
estivesse fazendo algo errado, tirando a comida da área designada à alimentação e
esperando Rick no andar de cima.

Ela voltou ao lugar onde tinha deixado sua bolsa e a levou consigo. Talvez não
fosse esse o momento pelo o qual ela esperara, em que ela iria devolver o broche a
Rick, mas com ele, ela tinha que aproveitar o tempo que tivesse.

O cômodo acima da garagem era uma junção de uma sala de ginástica com uma
esteira e uma espécie de ‘recanto’ com uma televisão velha e uma poltrona. Katie não
precisou esperar muito até ouvir Rick subindo as escadas. Quando ele apareceu, ele
quase preencheu todo o vão da porta.

- Você salvou o dia, Doyle. Alguém já lhe contou que as suas habilidades estão
sendo desperdiçadas no ramo alimentício? Você deveria ser um negociador
internacional. Ou no mínimo, um advogado de divórcios.

Pela expressão do rosto dele, ela não soube dizer se ele iria xingá-la ou receber os
elogios dela e usá-los como se fossem uma medalha de honra.

Katie decidiu fazer suas próprias tentativas em mudar de assunto.

- Ei, antes que você diga o que quer que você vá dizer, eu quero lhe devolver isso.
É o broche da sua avó. Desculpe-me por não ter-lhe devolvido antes.

Rick pegou a caixa dela.

- Está bem. Obrigado.

Ele parecia preocupado com algo, Katie imaginou que fosse o que acabara de
acontecer com a tia Marta.

Ele cruzou os braços.

- Katie, eu pensei que você e eu deveríamos conversar. Eu estou tentando fazer o


que é certo para nós dois. É o que eu sempre busquei em nosso relacionamento, e eu
ainda busco por isso.

- Eu sei, e eu fico muito grata, Rick. O que você fez lá embaixo, ajeitando o que
poderia ter sido um grande desastre com a Marta foi ótimo. Obrigada. Eu tenho
certeza de que Eli e Nicole ficaram muito felizes por terem recebido honras também.

- Espero que sim. Ele parecia nervoso. Ouça, eu tenho algo que preciso lhe contar.
Eu não estou certo sobre como dizer isso, mas eu vou dizer assim mesmo. Eu estou
tendo dificuldades em ficar perto dela agora que as coisas não são mais como eram
entre mim e você.

Katie percebeu que fora ela quem pressionara Bob e Marta a virem a sua
formatura. Se ela não tivesse feito isso, a discussão na sala de jantar não teria
acontecido.

- Você queria que ela não tivesse vindo?

- Não, Rick disse. Eu a quero aqui. Ela é uma parte da sua vida. É isso que deixa as
coisas complicadas. Quando você e eu estávamos juntos, não era difícil... Não sei se
essa é a palavra certa, mas não era difícil ignorá-la. Agora, toda vez que estou perto
dela, eu acabo tendo que fazer um grande esforço para evitá-la porque ela...

- Ela lhe deixa meio louco, né?

- Exatamente. Ele pareceu aliviado. Katie, eu espero que você não se importe de
eu falar isso com você.

- Não. Você tá brincando? Você pode falar disso comigo quando quiser. Você
mesmo disse na hora do brinde - nós somos amigos pra sempre.

Ele ofereceu um sorriso a ela.

- Obrigada. Eu não sei por que eu me sinto assim, mas quando eu estou perto
dela, eu simplesmente... Rick estendeu as mãos como se estivesse sem palavras.

Katie se compadeceu dele, transferindo todos os sentimentos dela com relação à


tia Marta para ele.

- Você quer enfiar um ovo dentro da boca dela e mostrá-la o caminho da porta.
Acredite, eu também sinto a mesma coisa.

O maxilar de Rick caiu.

- Por quê? O que você quer fazer quando a vir?

- Para ser honesto, eu quero convidá-la para sair.

Katie quase pulou da poltrona.

- Você quer sair com a tia da Cris? Que pervertido, Rick!

Rick deu um passo para trás.

- Marta! Você pensou que eu estava falando da Marta?

- Sim, claro. Você disse que ela lhe deixa maluco; você tenta ignorá-la quando
estão no mesmo lugar. Quem mais poderia ser?
- Não a Marta, Rick disse devagar.

- Não, não a Marta. Katie concordou rapidamente. Ela tapou a boca com a mão
para que não deixasse escapar um gritinho.

- Eu estava falando da Nicki, Rick disse.

- Ah, claro. Eu sabia. Só estava tentando fazer uma piadinha idiota sobre a Marta.
Risque essa piadinha da minha lista de material para comédia stand-up. Foi
obviamente reprovada. Desculpa. Péssima escolha. Péssima, péssima escolha de
material para comédia. Não vai se repetir.

Rick se sentou na velha cadeira reclinável, no canto, de frente para Katie. Ele
parecia irritado agora, como se ele realmente tivesse acreditado que Katie estava
fazendo uma piada.

- Então é, Katie esperou que eles pudessem continuar conversando sobre isso.
Nicole. Ou Nicki como você a chama. Ela é ótima. Mas você já sabe disso. Eu acho que
você deveria convidá-la para sair. Quero dizer, parece que é como você disse, você fez
um bom trabalho em ignorá-la quando estavam no mesmo lugar. Então talvez agora
você deveria conversar com ela e ver o que acontece.

- Eu quero fazer o que é certo, Katie.

- Isso é certo, Rick. Sério, eu tenho certeza de que isso é certo.

- Eu pensei que fosse sábio esperar.

- Esperar o que? Esperar até que ela volte para Santa Barbara e você tenha que
ficar cinco horas no trânsito para vê-la?

- É isso que ela vai fazer? Ela decidiu? Minha mãe disse que ela não tinha decidido
ainda.

- Ela está pensando em voltar para Santa Barbara. Ela tem essa semana para
pensar e depois... Quem sabe?

Rick esfregou a nuca. Ele sempre fazia isso quando estava estressado. Ela queria
poder dizer toda a verdade sobre o que Nicole sentia por ele, assim, ele não ficaria tão
nervoso para convidá-la para sair, ou pelo menos, para conversar com ela sobre algo
além da cor da pintura do banheiro masculino.

- Você sabe, eu pensei que seis meses de espera depois do fim de um


relacionamento fosse um bom tempo. Especialmente porque você e eu ficamos juntos
por tanto tempo. Mas agora eu estou pensando-
- Esse é o seu problema. Bem aí, Rick Doyle. Quero dizer, se você não se importa
em eu ser bem franca, você pensa demais. É hora de você agir com seus instintos. Seu
coração, Rick. Aja com seu coração. Eu sei que seu coração é constante. Ouça-o. O
amor é um mistério. Não pode ser planejado. Ele tem um tempo próprio. É
inconveniente e orgânico, mas é o que faz dele real. Relacionamentos bons de verdade
são aqueles que vêm naturalmente e não são forçados. Como ondas.

Katie percebeu que as palavras que ela usara tinham vindo de Eli.

Rick pareceu surpreso.

Katie se inclinou para frente. Enquanto ela tivesse a atenção de Rick, ela também
poderia contar a ele o que estava pensando.

- Ouça, Rick, eu sei que seu objetivo no nosso relacionamento era fazer tudo certo.
E você fez. Você concluiu esse objetivo. Você foi um namorado maravilhoso, e você fez
tudo de acordo com sua cabeça. Seu plano. Sua lógica. Deu certo.

- Obrigado, Katie. Obrigado por dizer isso.

- Agora eu estou lhe dizendo para seguir adiante sem um plano. Vá, ache Nicole,
olhe nos olhos dela, e diga o que seu instinto lhe disser. O que você já sabe no seu
coração? Comece por aí e depois faça tudo certo partindo do seu coração. Não faça
isso da sua cabeça.

Katie se sentiu sufocada enquanto acrescentou:

- Vocês dois já estão mais ligados no coração do que imaginam. Você só está
sendo lógico demais pra ver. Não desperdice essa chance, Doyle.

Rick estava perplexo. Ele foi até onde Katie estava sentada. Oferecendo sua mão,
como um verdadeiro gentleman, ele levantou Katie. Ela ouviu o som de pessoas
subindo as escadas. Se ela e Rick tinham algumas últimas palavras para dizer um ao
outro, essa era a chance deles.

Olhando para ela e alisando gentilmente o lado do cabelo dela, Rick parecia buscar
por algo nos olhos dela. O toque dele parecia, agora, o toque de um estranho para ela.
Carinhoso, mas não especificamente romântico. Katie não sentiu vontade de beijá-lo, e
nem ela esperava que ele iniciasse um beijo. A amizade verdadeira permaneceu. Os
sentimentos românticos se foram.

O que quer que fosse que Rick estivesse buscando nos olhos dela, ele
aparentemente não encontrou. Ele balançou a cabeça lentamente em afirmação, e
com um gesto legal, amigável, como se fosse um técnico de futebol, ele colocou as
mãos nos braços de Katie.
- Não, Rick, não! Katie gritou enquanto Rick apertou os braços dela.

Ted, Cris e Eli entraram na sala enquando Katie se contorcia de volta na poltrona
em resposta a dor na pele sensível em volta de suas vacinas.

Eli correu até ela. Ele olhou para Rick e depois para Katie.

- Você está bem? A mão de Eli estava no ombro dela, pronto para confortá-la.

Katie levantou seu dolorido braço esquerdo alguns centímetros.

- Sim. É meu braço. Tá muito dolorido. Eu tomei umas vacinas ontem, Rick. Você
não sabia.

Rick levantou a sobrancelha e olhou para Eli e disse:

- Mais alguma coisa que eu não sei?

- Não, Katie respondeu. Só isso. Só meu braço dolorido.

Rick ainda estava olhando para Eli. Ele abaixou o queixo. Como se ninguém
estivesse na sala, Rick disse ao seu companheiro de apartamento:

- Você sabia no verão passado, não sabia?

Eli encarou Rick por um momento antes de responder afirmando lentamente com
a cabeça. Os dois continuaram a se encarar. Katie não estava certa do que estava
acontecendo.

Então a expressão de Rick relaxou e se tornou em um sorriso.

- Bem, parece que nós estamos de acordo, né, Katie? Nós dois estamos prontos
para seguir adiante.

- Eu acho que nós deveríamos seguir rumo ao andar de baixo, Cris sugeriu. Ela
tinha, em sua voz, um pouco do tom organizacional de tia Marta, só que com um jeito
muito mais gracioso.

- Nós queremos tirar umas fotos de todos, Cris disse. Quem sabe quando todos
nós vamos estar juntos num lugar assim de novo?

Os cinco trocaram rápidos olhares em resposta à realidade que havia na última


frase do comentário de Cris. Esse era o fim de uma época peculiar para todos eles.

- Nós precisamos de fotos juntos, Katie se levantou da poltrona. Muitas fotos.


Capítulo 26
Katie passou os três últimos dias sentindo-se pior do que havia se sentido desde o
Dia dos Namorados. Ela transpirava demais para uma mulher. Quase não comia. Estava
sem apetite e seu estômago dava nós.

Por sorte, suas horas de plantão eram mínimas. Isso lhe deu tempo para separar,
organizar e empacotar suas coisas. Entretanto, na quarta-feira pela manhã, Katie ainda
não havia tomado nenhuma decisão com relação a conseguir uma nova casa e um
novo trabalho. Ela estava perdida. Navegando no seu vasto mar de possibilidades em
sua pequena e flutuante jangada da indecisão.

Parecia que a única maneira de sair do lugar era conversando com Julia. Tentar
arrumar um horário com ela era difícil porque Julia estava atarefada com os detalhes
finais de seu casamento. Katie se sentiu mal por causa disso também, porque ela era a
‘mulher-de-honra’, mas não sentia que estava ajudando em muita coisa.

Katie e muitas outras ARs tinham organizado um chá de panela bem sucedido para
Julia, mas esse fora o máximo de envolvimento de Katie no casamento. Agora faltavam
apenas três dias para o casamento, e Katie tinha uma tarefa que ela impusera a si
mesma. Ela precisava de uma pomba.

Sua primeira ligação foi para a loja de animais em Escondido onde Cris trabalhara
na época do ensino médio. O dono da loja se lembrou bem de Katie. Talvez até um
pouco bem demais. O motivo ela não sabia.

- Ouça Jon, eu estou tentando achar uma pomba. Uma boa e silenciosa pomba
que voará para fora de um buquê de noiva quando eu abrir a porta da gaiola. Você
pode me ajudar?

Nenhuma resposta.

- Alô? Jon, você ainda está aí?

- Sabe, se fosse qualquer outra pessoa ligando, eu teria desligado. Mas já que é
você, Katie, eu acredito que isso não seja um trote.

- Claro que não é um trote! É sério; eu preciso de uma pomba.

- Ok, sem problema. Quando você pode vir buscá-la?

- Sério? Você tem uma?

- Eu não tenho aqui na loja, mas posso conseguir uma e ela estará aqui por volta
da próxima semana.
- Não, eu preciso pra já. O casamento é sábado.

- Sábado. Bem de última hora.

- É, eu sei. História da minha vida. E aí? Você pode me arranjar a pomba?

- Eu vou tentar e ligo pra você de volta. A propósito, quem é o noivo sortudo?

- O nome dele é Dr. Ambrose. Quer dizer, John. John Ambrose.

- Um doutor, hein? Que bom pra você, Katie.

- Não, eu não estou me casando. Eu sou a dama de honra. Bem, na verdade, eu


sou a mulher de honra. Nós decidimos que ‘mulher’ soa melhor que ‘dama’.

- É tudo a mesma coisa, não?

Katie estava irritada com a piadinha de Jon. Ela não era mais a garotinha vestida
numa fantasia de elfo no Natal. Ela era uma graduada e queria ser tratada com mais
respeito.

- Só me consiga a pomba. Pode ser, Jon? Até sexta, no máximo.

- Verei o que posso fazer.

Katie desligou, resmungando para si mesma. Ela pegou suas coisas de banho e
desceu corredor abaixo. Quando ela entrou no banheiro, Nicole estava lá, escovando
os dentes.

- Ei, graduada, Katie brincou. Não vejo você há dias.

Sem graça, Nicole cuspiu na pia e enxaguou sua boca antes de se virar para Katie
com uma expressão hesitante.

- Eu estava evitando você.

- Por quê?

Nicole ergueu uma sobrancelha. Sua pele ficou levemente rosada.

- Rick me convidou para sair.

Katie soltou sua toalha e seu shampoo e se lançou em direção a Nicole com um
grande abraço de urso.

- Fantástico!

Nicole se afastou.

- Você tem certeza de que está bem com isso?


- Absolutamente. Deus abençoe você, abençoe o Rick, e abençoe todos os seus
futuros filhos, netos e bisnetos.

Nicole analisou a expressão de Katie mais cuidadosamente.

- Você não está tendo uma reação a todas aquelas vacinas, está?

- Não, eu estou feliz por você, é só isso. Já que noite passada eu parei de suar, a
propósito. Eu acho que meu sistema imunológico encontrou o tétano, a febre amarela
e a tifóide e os venceu.

- Você já decidiu para onde vai?

- Ainda não. E você?

Nicole hesitou.

- Por que você está me olhando desse jeito? Onde você vai morar?

A mãe do Rick me convidou para ficar no quarto de hóspedes deles durante o


verão até que uma oportunidade de um emprego permanente surja. Ela disse que eu
poderia ajudar com o negócio da família, se eu quisesse, e eu disse que queria. Eu não
tinha mais nada em mente. Meus pais conversaram sobre isso com eles na festa de
formatura, e eles acham que é uma boa opção.

- Uau.

Mesmo Katie estando feliz por Nicole, ela estava sentindo pontadas de
arrependimento. Ou talvez fossem pontadas de ciúme. Se Katie e Rick ainda
estivessem juntos, Katie poderia se enxergar montando acampamento no luxuoso
quarto de hóspedes dos Doyles. Ela teria coisas maravilhosas para comer todos os dias
e muito conforto. Ela teria uma correnteza de bondade e afirmação da graciosa mãe
de Rick, e Katie pertenceria a algum lugar.

Mas ela não queria ficar absorvida nos empreendimentos em expansão dos Doyle.
Disso ela estava certa. Não havia nada de errado com o empenho maravilhoso e bem
sucedido deles. Os Doyle eram uma família generosa e boa. Mas o mundo deles não
era o mundo que Katie queria para algo a longo prazo.

- Que ótimo, Nicole. Katie esperava que sua expressão combinasse com suas
palavras e não refletissem o estrondo pós-choque no seu coração enquanto ela falava.

- Obrigada pelo incentivo, Katie.

- Então aonde o Rick vai levar você para o primeiro grande encontro de vocês, e
quando será?
- Será amanhã à noite. Nós vamos à inauguração de uma exposição de arte em San
Diego e depois a um restaurante no topo de um prédio na baía.

Katie deu um assovio baixo.

- Que chique!

- Ele me disse para eu ir bem arrumada. Nicole sorriu. Eu devo precisar de ajuda
para decidir o que vestir.

Katie teve que desenhar uma linha imaginária ali; seus sentimentos estavam
sensíveis demais para se aventurar profundamente no relacionamento de Nicole e
Rick.

- Eu não estou certa se vou poder lhe ajudar com isso, Nicole. Eu estou com o
horário bem apertado hoje. E na sexta também. E depois tem o casamento no sábado,
e a propósito, eu estraguei meu vestido novo durante a formatura. Eu vou ter que
arranjar outra coisa para o casamento.

- Não dá para mandar lavar a seco?

- Talvez. Mas eu prefiro conseguir outra coisa para o casamento.

- Você quer que eu vá fazer compras com você?

- Não, está tudo bem. Eu tenho que ir até Escondido no fim dessa semana e pensei
em dar uma olhada no shopping de lá.

- Se você não conseguir, você sabe que pode pegar o que quiser emprestado
comigo.

- Obrigada. Katie sabia que não queria mais pedir roupas emprestadas à Nicole.

Algo forte e levemente triste acontecera com ela durante essa conversa. Mesmo
ela concordando que Nicole e Rick deveriam sair, ela não sentia como antes com
relação a compartilhar roupas e segredos. Quando chegar o dia em que Rick beijará
Nicole, Katie não vai querer ouvir a respeito.

- É melhor eu ir andando. Katie foi para o chuveiro. Divirta-se no seu encontro.

- Obrigada, Katie. Você é a melhor das melhores. Nicole estava radiante.

Até isso era um pouco difícil de suportar. Enquanto a princípio ela concordava com
tudo isso, a perda de Rick em sua vida lhe entristecia o coração. Pelo menos ele a leva
aos lugares de classe alta que eu nunca quis ir, como exposições de arte e restaurantes
sofisticados.
Katie entrou no chuveiro e ligou a água morna. Quando Rick me levou a San Diego,
nós fomos ao zoológico e a uma churrascaria brasileira. Naquele momento Katie
decidiu que não iria começar uma lista de comparações. Se ela plantasse um campo
inteiro daquelas sementes em seu coração, nada de bom nasceria delas.

Pai, limpe meu coração de todo ciúme e dor sem motivo. Eu não sou a rejeitada
nesse cenário. Eu sou uma vítima de sua graça. Você tem outros planos para mim.
Planos de paz e não de mal. Você tem algo sob medida desenhado para mim. Então o
que é? Onde você quer que eu more? O que você quer eu faça?

Katie foi cautelosa em não perguntar se Deus tinha algum rapaz em mente para
ela agora que Rick estava fora da jogada. Ela sabia que um relacionamento com
qualquer rapaz agora não era onde seu foco precisava estar. Ela tinha necessidades
mais importantes para serem supridas, como uma casa e um emprego.

Voltando para seu quarto, depois do banho, Katie viu que ela tinha perdido uma
ligação. Jon havia deixado uma mensagem dizendo que ele conseguira a pomba para
ela. O preço era muito maior do que ela esperava, mas quando ela pensou nisso,
percebeu que não se importava em pagar o que ele pediu.

Katie procurou, pelo quarto, algo para comer. Seu peculiar suprimento de lanches
tinha se acabado, e seu pequeno frigobar continha apenas um pedaço de cream
cheese de morango e uma garrafa fechada de molho de soja. Não exatamente uma
combinação bacana quando ela não tinha nem bagels e nem macarrão.

Sua opção mais fácil foi ser a primeira na fila para o almoço na cafeteria. Então, ela
checaria se poderia fazer algo para Julia. Depois disso, ela iria colocar seus
pensamentos em ação para encontrar um lugar para morar.

Quando Katie chegou na cafeteria, ela não era a primeira na fila. Mas ela era,
definitivamente, a única formada. Foi engraçado estar lá. Sim, era tudo tão familiar
que ela podia ir pela fila e encontrar tudo que quisesse, e ainda fazer uma casquinha
de frozen yogurt na máquina de olhos vendados.

Ela sabia que aquele sentimento desconfortável ali tinha mais a ver com algo
mental. Em sua cabeça, ela já estava cheia. Hora de arrumar uma vida. Hora de fazer
seus próprios sanduíches de peru com pão branco com seu próprio pote de maionese
de sua própria geladeira em seu próprio apartamento. Katie tinha acabado de encher
seu totalmente-familiar copo de plástico da cafeteria com leite da nunca vazia
vaquinha de metal quando viu Eli em seu uniforme de segurança na fila da salada.

- Então você foi promovido, hein? Segurança oficial dos tomate-cereja?

Ela tinha a intenção de continuar caminhando, mas a expressão séria dele a fez
parar.
- Não, foram as torradinhas, ele disse sério. Nós recebemos uma denúncia de
armazenamento ilegal de torradinhas por um subvertido grupo de calouros infelizes.

Eli disse de um jeito tão convincente que Katie teve que pensar pra entender que
ele estava fazendo hora com ela.

- Não faça hora comigo, Lorenzo. Eu sou uma graduada.

- Não faça hora comigo, Weldon. Eu sou um graduado, e eu sei o brado da tribo
dos guerreiros Masai.

- E o que acontece quando você dá esse brado da tribo dos... guerreiros sei lá das
quantas?

- Isso é algo pra eu saber e pra você ficar curiosa.

Ela lhe lançou um olhar com os olhos meio fechados e balançou a cabeça.

- Você é um pacote de mistérios. Por exemplo, ‘Ah, surpresa! O Dr. Ambrósio é


meu tio’.

- Por que isso importa?

- Bem, ele está se casando com a Julia. Minha DR. Minha amiga. Eu acho que isso
significa que você estará no casamento no sábado.

Ele concordou com a cabeça.

- Você tem algo contra meu tio?

- Não, eu o acho maravilhoso. Apesar de ele ter me dado um B- no meu primeiro


ano aqui, e eu acredito que se ele tivesse pensado mais ele poderia ter me dado um
sólido e legal B. Mas eu não estou reclamando. Eu consegui me formar de qualquer
forma e escolhi não guardar contra ele aquele escorregão temporário nas suas
habilidades de dar nota. Todos temos nossas fraquezas.

- Meu tio é um homem extremamente generoso, Eli disse. Talvez não em notas,
mas de outras maneiras. Ele não sabe que eu sei disso, mas ele encontrou uma
maneira de pagar minha faculdade. Toda. Ele fez isso anonimamente, mas eu sei que
só pode ter sido dele.

Katie engoliu forte e tentou não deixar seu rosto mostrar nenhuma pontinha de
desacordo. De jeito nenhum que ela gritaria, ”Fui eu, Eli. Eu paguei sua faculdade.”
Assim era muito melhor. Deixe Eli pensar que tinha sido o Dr. Ambrose.

- É ele o tio com quem você morou no último verão? Katie perguntou calmamente.

- É.
- Então isso faz dele o tio que veio para essa faculdade anos atrás e apresentou
seus pais um para o outro.

- Isso mesmo. Você lembrou.

Katie sorriu.

- Bem, eu tenho que ir; estou com pressa. Como sempre, eu tenho muito a fazer e
pouco tempo para fazer tudo.

Eli deu um passo em direção a ela e a olhou nos olhos.

- Antes que você fuja, eu quero lhe pedir um grande favor.

- Claro. Katie sentiu o olhar dele vindo sobre ela como uma onda da qual ela não
podia escapar. Quando Douglas ensinou Katie a surfar, ele mostrou a ela como prender
a respiração, mergulhar por debaixo da onda e flutuar pelas águas menos turbulentas
antes de surgir do outro lado. Subconscientemente, ela prendeu a respiração e
mergulhou.

Eli disse em voz baixa:

- Na África nós temos um ditado que diz, ‘Se você quiser ir rápido, vá sozinho. Se
você quiser ir longe, vá acompanhado’.

Katie surgiu do outro lado em seu mergulho no coração, piscando.

Isso não foi tão impressionante. Na verdade, foi um ditado lindo.

Então a onda de verdade a pegou em cheio.

- Antes de eu voltar para casa, eu quero que você considere ‘nós’, Katie. Pondere
como seria se nós fôssemos juntos. Não sozinhos e rápidos, mas juntos e longe.

Katie não tinha palavras. Nenhuma piadinha, réplica, ou jargão inteligente.

Quando ficou claro que ela não iria responder, Eli se virou e saiu.

Ela o assistiu ir; ela estava brigando com seus pensamentos, mas se recusou a
chamá-lo.

Então ele se virou. Um oceano de pessoas entre os dois. Ele olhou para Katie,
colocou sua palma aberta sobre o peito e bateu três vezes.
Capítulo 27
Katie de repente perdeu o apetite. Ela foi até a esteira da máquina de lavar louças
no refeitório e deixou lá a bandeja de comida intocada.

Indo direto até o seu carro, ela decolou, indo para Escondido. Dirigir ajudou.
Dirigiu descendo a colina, para longe do Rancho. Longe de tudo. Longe do Eli.

Eu não posso fazer o que você pediu, Eli. Eu não posso considerar "nós". Isso
acontece no coração. Eu não posso ir lá. Não, não agora. Você vai para sua casa na
África, e você vai ver. É melhor se não abrirmos qualquer um desses lugares de reflexão
do coração.

Katie ligou-se na música e tentou encontrar algo para cantar junto. Ela queria algo
em sua cabeça além da imagem hipnotizante de Eli batendo a palma da mão sobre o
peito. Música de letra irritante seria ótimo.

Nada parecia grudar.

Ela entrou na via expressa e fez uma lista de tarefas pendentes em voz alta.

- Encontrar um vestido para o casamento, pegar a pomba na petshop, ligar para


Julia e ver se ela precisa de ajuda com os detalhes do casamento, ficar de plantão às
sete da noite, talvez comer alguma coisa.

Katie passou a alinhar uma segunda lista para quinta-feira. E outra para sexta-
feira. Ela sabia que podia encontrar muita coisa para ocupar-se no sábado com o
casamento. Então, domingo, ela teria que ir para algum lugar. Isso a manteria
ocupada. Segunda-feira iria procurar um emprego.

Isso provavelmente levaria alguns dias. Até lá, uma semana inteira teria passado.
Embora ela não soubesse quando Eli planejava voltar para o Quênia, ela pensou que
em uma semana estaria protegida.

Só mais uma semana. Então ele vai estar muito longe, e eu vou conseguir me
concentrar no que Deus quer que eu faça em seguida. Ignorando a sensação dos
búfalos debandando em seu estômago, Katie continuou dirigindo. Quando ela chegou
ao antigo shopping em Escondido, ela pensou em como aquele lugar costumava ser
um ponto de encontro familiar. Como a maioria das coisas na vida, ele mudara. Muitas
das pequenas lojas tinham fechado ou mudaram para outra seção do shopping.

Surpreendentemente, a velha loja de animais agora estava localizada no lado


movimentado do shopping e havia se expandido para o dobro do tamanho que tinha
quando Cris trabalhava lá. Quando Katie entrou, percebeu que ainda havia o cheiro de
ração de coelho e hamster.
Jon estava atrás do caixa e não reconheceu Katie à primeira vista. Quando o fez,
agiu como se estivessem saindo de uma festa, conversando.

- Então você não é casada, né?

- Não.

- Mora com alguém?

- Jon.

- Ei, você não seria a primeira a declamar todos os seus princípios cristãos aos
dezesseis anos e mudá-los antes dos vinte e um.

Essa afirmação agitou ainda mais o estômago dela e por razões que ela não queria
pensar. Ela sabia que estava entre os seus poucos amigos que ficaram firmes na
caminhada com Cristo, mantendo seus compromissos morais e se guardando para um
herói.

- Então eu acho que sou de uma espécie rara e quase extinta de amigos de Deus
que ainda vive e respira o que acreditava naquela época. Só que agora é mais real do
que nunca porque está em mim. O Espírito de Deus está em mim, me mudando. Não
apenas ao meu redor, me influenciando.

Sua resposta direta parecia assustá-lo. Ele não tinha resposta.

- Então, você tem a pomba?

Jon apontou para o relógio na parede atrás dele.

- Não são duas horas ainda.

Katie viu que era apenas 13:20h.

- Tá, tudo bem. Volto depois.

Ela foi até a praça de alimentação e caminhou por cada um dos restaurantes de
fast food para ver o que seu fraco estômago podia segurar. Ela optou por um saudável
smoothie de frutas, com um reforço de vitamina C. Em seguida, ela foi até a principal
loja de departamentos e a três pequenas lojas de vestuário antes de encontrar um
vestido preto elegante que se encaixava e não a incomodava. Tudo isso em menos de
duas horas.

Katie se sentiu muito vitoriosa quando voltou à loja de animais com seu novo
vestido em um cabide dentro de um saco de roupas.

- Já passou das duas horas, disse Jon com um azedo no final de suas palavras.
- Eu segurei o pássaro para você por mais de uma hora.

- É você, senhor Brilho-do-Sol? É assim que trata todos os seus clientes que lhe
pagam? Eu disse que estaria de volta, eu não disse quando. Eu tinha algumas compras
para fazer. Katie levantou o saco de roupa, caso ele não tivesse percebido o óbvio.

- Então o que você está esperando, senhor? Entregue a pomba, e ninguém se


machuca.

Jon saiu de trás do balcão e ergueu uma pequena gaiola com uma adorável pomba
branca que cumprimentou Katie com uma seqüência rápida de arrulhos.

- Ela é tão doce, Katie disse. Vou precisar de um pouco de comida para ela. Apenas
por dois dias. E você tem certeza que ela ficará bem solta, não é? Quero dizer, quando
eu soltá-la. Ela não é tão domesticada que não vá saber como encontrar comida e
cuidar de si mesma.

- Ela vai ficar bem.

Katie pagou a Jon o valor acordado pelo pássaro e os alimentos. Ela estava quase
saindo, quando ele disse:

- Eu acho que você vai ficar bem também.

Katie deu-lhe um olhar divertido.

- O que é que isso quer dizer?

- Se você sair de sua gaiola e bater as asas na natureza, eu acho que você vai ficar
bem, Katie. Você pode ser uma espécie de cristãos em extinção, mas sobrevive o mais
apto, você sabe. Você vai continuar a mesma na natureza.

- Jon, isso foi totalmente poético. Obrigada. Eu aqui pensando que você tinha se
transformando em um velho rabugento. Facilite, senhor Brilho-do-Sol. Eu vou dizer a
Cris que você mandou um oi.

- Diga-lhe para vir me visitar algum dia.

- Eu direi. Katie saiu com a gaiola em uma mão e seu vestido novo e melhorado de
dama de honra na outra.

Ela se sentiu melhor na volta para a escola do que ela se sentira na ida para
Escondido. O comentário de Jon sobre ela permanecer a mesma continuava flutuando
em seus pensamentos. Foi bem legal ele ter dito isso. Ela se perguntou se ele achava
que a gaiola era a faculdade cristã em que ela vivera nos últimos anos. Ou ele estava
fazendo alusão a algo mais? Como ela poderia saltar do estilo de vida ocidental
confortável a que estava tão acostumada e se manter em um país em
desenvolvimento.

Não importava o que ele quis dizer. Ela estava se sentindo muito bem no
momento, e comida começou ia soar interessante de novo. Em vez de ir diretamente
para a escola, ela foi até um restaurante fast food e pediu um sanduíche de frango
grelhado. Pegando o longo caminho de volta para a escola, Katie foi mordiscando
enquanto dirigia. A pomba voltara a arrulhar na sua posição no chão do lado do
passageiro.

- Você está com fome, amiguinha? Vou alimentá-la assim que chegarmos na
escola. Mas primeiro eu preciso para fazer uma parada. Aqui. Katie tirou um pedacinho
do pão do seu sanduíche e apertou-a através das grades. A pomba bicou no pão e
pareceu só um pouco interessada.

- Eu vou dar-lhe sua própria comida em breve. Eu prometo.

Entrando no complexo de apartamentos de Ted e Cris, Katie foi para o escritório.


O gerente menos-amigável deve ter se lembrado de quando ela contou do gato morto,
Senhor Tropeço, no outono passado.

- Eu queria saber se você tinha algum apartamento vago.

- Só no primeiro dia do mês.

- Eu estou interessada nele.

Ele passou o resumo das exigências do primeiro e último mês aluguel e o que
estava ou não incluído nas taxas. Deu-lhe um pedido para preencher e sublinhou a
necessidade de seu relatório de crédito ser claro.

- Entendi, disse Katie. Obrigada. Devolvo estes papéis amanhã.

- Não só os papéis, mas também um cheque. Eu não aceito cheques nominais.


Primeiro e último aluguéis, mais o depósito de segurança. E tem extra para bichos de
estimação.

Quanto mais?

- Depende do bicho. O que você tem?

- Nenhum. Eu só estava curiosa.

Katie dirigiu de volta ao campus, contando os dias para primeiro de Junho. Ela não
perguntara ao gerente, mas presumiu que se mudaria para o apartamento de Rick e
Eli. Depois que ela saísse do dormitório no domingo, ela precisava encontrar um lugar
para ficar até o apartamento estar disponível. A sala de Ted e Cris era uma opção. Ir
para um hotel era outra opção.

E se eu tirasse férias por alguns dias? Isso seria divertido. Quem poderia ir comigo?
Para onde eu iria?

Ela sorriu para si mesma. Eu estou completamente imunizada. Eu poderia ir até


num cruzeiro de idosos, que atravessa o Canal do Panamá. Ou eu poderia descansar
em um resort nas Bahamas. Isso seria um bom presente de graduação para mim.

Olhando para a gaiola da pomba embaixo, ela ouviu as palavras de Jon sobre como
ela estaria bem se ela fosse lançada na vida selvagem.

Ou eu poderia ir para a África.

Seu coração bateu um pouco mais rápido. A atração por esse canto do mundo não
ia tão longe.

Eu poderia ir para a África, com exceção de o Eli estar indo pra lá, e apesar de ser
um continente grande, não quero parecer que estou seguindo-o até os confins da
terra.

Em seguida, em uma tentativa de espiritualizar sua pequena epifania sobre ir para


a África, Katie disse em voz alta:

- Mas eu quero segui-lo até os confins da terra, Senhor. Onde você quer que eu
vá? Diga a palavra, e eu estarei lá.

- Coo, a pomba soou.

- A Terra de ‘Coo’, você diz. Onde fica isso, exatamente, minha pombinha? Katie
parou em um semáforo. Ela percebeu que o homem no orelhão ao lado estava
olhando para ela. Ela apertou o botão que abriu sua janela.

Voltando sua atenção para o semáforo, ela disse:

- Não se importe comigo, Sr. Curioso. Isso é o que os graduados fazem. Nós
dirigimos por aí e falamos com os pássaros que você não pode ver, então você pensa
que nós estamos falando sozinhos.

Dirigindo-se à planície que dava na universidade, Katie pensou em voz alta.

- Eu teria que vender meu carro se eu fosse à Terra do ‘Coo’, não teria? Você sabe,
eu poderia vendê-lo para Cris. Por um dólar. Já ouvi falar de pessoas fazendo isso.
Dessa forma, ela e Ted teriam um segundo carro, e você, pequeno Trevo, teria uma
nova família.
- Coo. Coo.

Eu sei. Você está certo. Estou tonta para sequer pensar sobre isso. Eu vou mudar
para o antigo apartamento de Rick e Eli, e eu vou encontrar um emprego em algum
lugar fazendo algo importante e que mude a minha vida. Você vai ver. Você pode voar
e me visitar sempre que quiser. Vou colocar a semente do pássaro para você do
mesmo jeito que a Cris fazia para colocar a comida de gato para o Senhor Tropeço.

Katie segurou a gaiola atrás do saco de roupa quando ela retornou ao Crown Hall.
Ela conhecia as regras. Nenhum animal. Mas desta vez era diferente. Esta pombinha
desempenharia um papel importante no casamento de Julia dali a três dias.
Certamente, neste caso, uma exceção deveria ser feita.

Ela não podia fazer isso.

Katie virou-se e caminhou de volta para seu carro. Ela dirigiu de volta colina abaixo
onde Cris trabalhava e deixou o pássaro no carro. Entrando na livraria, Katie encontrou
Cris estocando as prateleiras na seção "Bíblia".

- Eu preciso pedir um favor. Você pode guardar um segredo e um pássaro?

Não demorou muito para convencer Cris a ficar com o pássaro para Katie nos
próximos três dias. A única parte da explicação de Katie que deixou Cris chateada foi
quando Katie disse a Cris que fora à loja de animais em Escondido e não a levara junto.

- Jon quer que você apareça uma hora para dar um oi. E quando você for, eu acho
que você deveria levar para ele uma dessas Bíblias. Uma versão fácil de entender. Ele
precisa de um pouco de esperança, luz e verdade em sua vida.

Com a pomba e a comida de pássaros entregues a Cris, Katie voltou ao campus e


encontrou Julia em seu quarto. Julia preparara uma pequena lista de tarefas do
casamento e estava grata por Katie ter se oferecido para cuidar delas para ela. Katie
realizou metade da lista, durante o seu plantão na recepção naquela noite. Ela chamou
o supervisor do campus para verificar o número de cadeiras que seria necessário
arrumar. Ela ligou para a empresa de decoração e deixou uma mensagem pedindo que
ligassem de volta e verificassem se tinham o comprimento certo do tapete branco para
o corredor central, e que seria entregue junto com o arco do jardim antes das dez
horas da manhã de sábado. A última ligação que Katie fez para Julia foi para a loja de
aluguel de smoking. Eles ainda estavam abertos, e Katie perguntou se o noivo e o
padrinho tinham retirado seus smokings. A resposta foi sim.

Katie atacou cada um dos itens restantes da lista na quinta-feira, entre seus
pertences embalados no quarto. A maior dica de organização que ela pegara de Nicole
naquele semestre foi: “Só manter o que considera ser bonito ou útil.”
O lema ajudou a decidir sobre um monte de itens variados que tinham cumprido o
seu propósito.

Ela saiu de uma vida simples a uma vida frugal em duas viagens para carregar o
lixo e três caixas de brindes no trailer do Exército da Salvação, que fica estacionado no
campus a cada ano durante a última semana de aula.

As posses de Katie caberiam no banco traseiro de seu carro. Sentia-se como uma
cigana. Ela até tinha separado o suporte de um abajur de mesa que se queimara no
início de seu segundo ano, mas ela guardara, dizendo que ele seria consertado. A
lâmpada estava queimada e precisava ser jogada fora. Sua próxima tarefa era tirar o
que sobrou da decoração no mural dos Tesouros Peculiares de seu dormitório naquele
ano.

Carregando o abajur e seu último saco de lixo pelo saguão, ela saiu pela porta da
frente e quase trombou com Rick.

- Hey!

- Ei, você.

- Ei, é quinta-feira, Katie disse.

- Sim, quinta-feira.

Ele estava ótimo. Um pouco nervoso, mas o verdadeiro e suave Rick.

- Então, Nicole me disse que vocês vão a uma exposição de arte e, depois jantar
em algum lugar elevado.

- Em algum lugar elevado, Rick repetiu.

- Você sabe, em algum lugar superior. Um restaurante chique.

Ele balançou a cabeça.

- Você tem certeza que está bem com isso, Katie?

Ela riu de sua própria linguagem.

- Sim, de verdade, eu estou. Eu não esperava vê-lo aqui. Não assim.

- Ela estava com sua camiseta mais velha, que ela planejava jogar fora no final do
dia. Dando de ombros, Katie sorriu para Rick.

- Tenha um ótimo encontro. Espero que vocês se divirtam.

- Também espero.
Katie voltou-se para a lixeira, quando Rick disse:

- Ah, Katie, você recebeu o e-mail sobre a inauguração do café? Está marcado para
sábado.

- Este sábado?

- Sim. O forno de pizza já foi instalado e já foi feita a inspeção elétrica. Tudo certo.

- Tenho um casamento neste sábado. Da Julia. Eu acho que não vou conseguir
fazer as duas coisas.

- Certo, o casamento. Bem, eu espero que seja bom também.

- Obrigada. Parabéns pelo café, e por alcançar seu objetivo, e tudo mais.

Katie levantou o pé da lâmpada quebrada que ela segurava.

- Pra você, Rick. Bom trabalho.

Ele riu.

- Eu acho que nunca fui brindado com uma lâmpada antes.

- Bem, é uma lâmpada torrada, então vamos lá.

Katie fez questão de não retornar imediatamente ao seu andar depois de despejar
o lixo. Ela não queria passar no quarto de Nicole e vê-la perfeitamente linda, vestida de
felicidade. As duas trabalhariam juntas com as flores do casamento no dia seguinte.
Katie imaginava que receberia um relatório sobre eles, por isso não precisava ter
nenhum vislumbre de Nicole indo se encontrar com Rick.

Alguns estudantes foram registrar sua saída durante o turno de Katie na quinta-
feira. Nos anos anteriores, o êxodo não começara até sexta-feira, e ocorrera em
períodos não planejados durante todo o fim de semana. Katie ficou ocupada durante
todo o seu turno e permaneceu em serviço por mais de duas horas para ajudar
Jordânia quando ela veio para o trabalho. Quando seguia para o quarto vazio, às 11:10,
ela percebeu que era a última vez, ela nunca mais teria que ficar na recepção em sua
vida. Ela estava realizada. Seu horário oficial como assistente de residentes acabara.

Katie não esperava sentir um vazio enquanto caminhava pelo corredor com as
paredes limpas e quartos parcialmente desocupados. Ela parou naquele lugar
silencioso.

- Obrigada. Obrigada por tudo isso. Este ano todo. Todas essas mulheres. Tudo o
que aconteceu. Obrigada.
Ela achou difícil dormir naquela noite. Seu apetite não retornara desde... Katie
tentou pensar quando ela perdeu o interesse de comer em sua capacidade habitual.
Ela percebeu que começou na manhã em que viajou para ver o sol nascer nas
montanhas. Quando ela comprou as rosquinhas quentes, e ela e Eli os pegaram juntos,
e ela disse: “Para nós”, ele olhou para ela e disse: “Para nós”. Foi quando ela sentiu a
debandada de búfalos.

A citação africana de Eli veio golpeá-la, sobre ir rápido e sozinho, ou ir longe e


juntos. Colocando o travesseiro sobre sua cabeça, Katie virou-se na cama e soltou um
gemido abafado.

- Não!

Um toque soou em sua porta.

- Katie?

Era Nicole. A maçaneta girou, e ela abriu a porta alguns centímetros.

- Katie, você está bem?

- Sim, eu estou bem.

Ela encheu-se de coragem.

- Como foi o seu grande dia?

- Incrível! Você se importa se eu entrar? Se eu não falar com alguém, eu vou


explodir.

Katie estava sentindo a mesma sensação, mas no lado oposto da gangorra do


amor.

- Sim, claro. Entre. Só não acenda a luz. E não se preocupe em bater em nada no
escuro. Meu quarto está vazio.

Ela se sentou na cama e abriu espaço para Nicole na ponta.

A luz do corredor brilhava quando Nicole entrou. Ela deixou a porta aberta poucos
centímetros para, deixando entrar luz suficiente para ela chegar ao pé da cama de
Katie. Nicole sentou com seu elegante vestido vermelho. Katie se lembrou de como
Rick costumava dizer a Cris que gostava dela de vermelho, uma cor de Katie não
poderia usar com muito sucesso por causa dos cabelos ruivos. Nicole estava ótima de
vermelho.

- Tivemos um momento maravilhoso, Katie. A exposição de arte foi de classe


mundial. Eles tinham peças originais de museus da Rússia, Viena e Paris. Eu vi um
Monet original. Original! Foi de tirar o fôlego. Rick sabia muito sobre as pinturas dos
artistas italianos. Eu não sabia que ele tinha parentes na Itália. Ele esteve lá. E o
restaurante tinha a vista mais incrível do porto e das luzes. Nós falamos sem parar.
Katie, eu estou tão feliz. Tão feliz.

Os olhos de Katie tinham se ajustado à luz. Ela podia ver o brilho suave no rosto de
Nicole.

Katie sabia que poderia alfinetar a experiência de Nicole com Rick com pedaços de
ressentimento e ciúme, e Nicole seria uma vítima da autopiedade de Katie. Ou ela
poderia estender a Nicole o mesmo amor e oferecer inclusão a Deus fazendo Nicole
vítima de graça.

Katie, pegando a mão de Nicole deu um aperto.

O relacionamento dos dois ia dar certo. Katie perguntou quanto tempo demoraria
até que Rick e Nicole percebessem que acabariam casados.

Talvez eles já soubessem.


Capítulo 28
Na manhã do casamento de Julia, Katie foi bem cedo ao apartamento de Ted e
Cris, choveu algum tempo durante a noite. As nuvens esconderam o sol. Sugerindo a
possibilidade de outro chuvisco.

Ela foi direto à sua lista de coisas a fazer do dia, começando com entregar um
cheque ao gerente do apartamento e pegar a pomba com Ted e Cris. Na tarde
anterior, Katie havia ido ao condomínio com os papéis do aluguel e o cheque de
pagamento. No entanto, o gerente não estava lá. Ela deixou um bilhete na porta dele
dizendo que ela voltaria nesta manhã.

Como eram apenas 7:35 quando Katie chegou, ela decidiu ir primeiro ao
apartamento de Cris e Ted. Eles estavam esperando por ela, e dessa maneira ela não
correria o risco de acordar o gerente em uma manhã de sábado, deixando-o ainda
mais rabugento que o normal.

Cris atendeu à porta com a gaiola na mão. Katie gargalhou:

- Você não estaria ansiosa para se livrar da queridinha, estaria?

- Não, o pássaro se comportou como um hóspede perfeito. É que Eu estou com


pressa para sair logo. Ted tem que me deixar de carro no trabalho cedo porque ele
tem um encontro com alguns caras da faculdade. Ei, você já deu entrada dos seus
papéis do contrato de aluguel? Nós estamos tão felizes por você vir morar aqui.

- Eu estou a caminho do escritório agora. Obrigada por vigiar minha pombinha.


Katie pegou a gaiola.

Ted apareceu atrás de Cris.

- Você já decidiu onde você vai ficar durante a próxima semana?

- Não exatamente. Eu tenho estado meio atarefada com as coisas do casamento.

- Fique conosco. Disse Cris.

Katie olhou para Ted.

- Sim, fique aqui, Katie. Nós estávamos falando sério quando convidamos você.

- Tem certeza?

Ted e Cris disseram, “sim”, em uníssono.


- Ok, se vocês têm certeza. Será apenas por alguns dias. E vocês podem me chutar
pra fora a qualquer momento se eu roncar alto demais, fizer uma bagunça muito
grande ou explodir o seu micro-ondas de novo.

- Esses parecem termos razoáveis. Disse Ted com um meio-sorriso.

Cris fez uma cara de ‘Não-dê-atenção-a-ele’.

- Nós ficaremos ansiosos para ouvir como será o casamento hoje.

- Eu vou te contar tudo sobre o casamento amanhã quando eu mudar com minhas
duas sacolas e duas caixas – a extensão de todas as minhas posses.

- E nós estaremos com colchão de ar pronto para você.

Katie agradeceu-lhes novamente e seguiu para o escritório com a gaiola na mão.


Ela virou o canto da rua que circunda o condomínio e avistou o gerente vindo em sua
direção.

- Bom dia! Eu estava indo ao seu escritório.

- Isso é um pássaro?

- Sim. Você sabe o que dizem. Mais vale um desses na mão do que dois desses
voando.

O gerente do condomínio não pareceu achar nada engraçado.

- Este pássaro é seu?

- Sim, mas ele não vai se mudar comigo. Cris estava vigiando ele pra mim por uns
dias.

- Quantos dias?

- Três, por quê?

- Ela terá que pagar um extra este mês.

- Você está falando sério? Aqui. Katie puxou do bolso do seu jeans todo o dinheiro
que ela tinha dentro dele. Isto paga? Três dias de taxa de segurança para pássaro.

Ele pareceu satisfeito e foi logo empurrando o dinheiro no seu próprio bolso.

- Eu tenho todos os papéis do contrato de aluguel e meu cheque comigo. Katie


colocou a gaiola no chão. Ele pegou o envelope da mão dela e olhou ainda mais
descontente do que o normal.
- Você viu o bilhete que eu deixei ontem, certo? Eu disse no bilhete que iria trazer
tudo hoje de manhã.

- Eu vi o bilhete. Mas o apartamento não está disponível.

- O que? O que você quer dizer com isso?

- Outra pessoa depositou o dinheiro ontem de manhã. Eu estou apenas esperando


pela liberação da papelada.

- Mas você sabia que eu queria o apartamento. Eu...

- É assim que as coisas funcionam, Katie. Você é a primeira na lista de espera. Eu


te ligo na próxima semana. Ele começou a andar, passou por Katie e continuou
andando.

Ela permaneceu ali em choque por alguns momentos antes do arrulho da pomba
chamar sua atenção para prosseguir andando. Ela foi dando passos mais largos de
volta ao seu carro, a seguir Katie retornou ao seu passo normal e tentou pensar no que
fazer em seguida. A única escolha acertada era colocar esta reviravolta inesperada dos
eventos de lado e se preocupar com isso amanhã. Hoje, ela tinha alguns outros
assuntos mais urgentes para se concentrar.

Quando voltou ao pátio principal do campus, Katie não podia acreditar em como a
frente do Hall da Coroa havia se transformado em um circo de caixas, caminhões e
estudantes engravatados tentando forçar os vagões de seus carros estufados de
bagagens a fechar. Havia sido dessa maneira nos últimos dois dias. O
congestionamento esta manhã era o dobro do que havia sido nos dias anteriores. Mais
uma vez, Katie estava agradecida que ela tinha cumprido todas as suas horas na
Recepção antes de o movimento frenético eclodir.

Ela tomou banho em um dormitório assustadoramente quieto, e se deparou com


um fluxo de visitantes correndo pelos corredores e ela correu para seu quarto
apertando bem o seu roupão. Fechando a porta, Katie colocou uma música e
aumentou bem o volume para abafar o barulho ocasionado pelo deslocamento no
corredor. O novo vestido de Katie serviu direitinho. O seu cabelo secou
completamente, apesar de ela saber que precisava aparar as pontas logo.

Um pouco de maquiagem, uma borrifada de um perfume com fragrância fresca e


frutal que ela tinha escondido em sua bolsa de maquiagem. Ela havia jogado ali a loção
que acabara de usar e os outros frascos de perfume na quinta-feira. Ela estava pronta.
Mais do que isso, ela estava adiantada.

Katie lamentou o fato de não poder dar um pulo até a porta da Nicole, como ela
tinha feito tantas vezes aquele ano, dar um grande Ta-dáááá, e ouvir Nicole exclamar o
quanto ela estava impressionada porque Katie estava adiantada e que ela estava muito
linda.

Nicole queria ir ao novo Café do Rick no Redlands assim que ela pudesse, então,
ela partiu bem cedo aquela manhã para trabalhar com as pessoas da área do campus e
colocar todas as flores enquanto eles montavam as cadeiras e montavam o corredor.

O combinado foi para que Nicole deixasse os buquês e arranjos de flores na capela
superior do campus, e Katie os pegaria lá.

Já que esse casamento seria pequeno e simples, Julia retirou várias tradições
extras, como o ensaio e o jantar de ensaio. Isso fez Katie se sentir cada vez mais
confiante de que seu pequeno presente, a pombinha, seria um toque especial na
cerimônia.

Katie subiu a escadas e bateu na porta de Julia.

- Se você é a Katie, entre. Se você não é a Katie, então eu não estou.

- Sou eu. Ela entrou e perguntou, Então, como está indo? Você precisa de mim
para arrumar algum alfinete ou botão em seu vestido ou nas suas jóias ou em outra
coisa?

- Não, mas dê a volta. Nós estamos no meu quarto.

Katie parou no quarto de Julia e foi apresentada ao pai e à mãe dela. Então Katie
deixou escapar um longo, profundo e avaliativo: “Ooh!”.

- Julia, você está absolutamente formidável. Esse vestido ficou perfeito em você.

O vestido tinha um estilo clássico e se ajustava às melhores curvas de Julia. Katie


amou a maneira como a saia fluía em uma contínua elegância.

- Obrigada. Julia estava radiante.

- Eu estou tão feliz por você. Katie se inclinou e deu a Julia um tipo de abraço com
um toque leve que não ia amarrotar o seu vestido ou seu véu.

- Obrigada, Katie. Nicole acertou tudo com você a respeito das flores? Eu sei que
ela já foi para Redlands esta manhã.

- Sim, eu estou indo agora para a parte superior do Campus. Eu farei com que você
seja informada se houver algum problema lá. Mas você sabe que estará tudo em
ordem. A Nicole preparou tudo. Ficará tudo impecável.

- Quando você chegar até lá, se o pastor aparecer, você poderia dizer a ele que
nós mudamos a música para a minha entrada no corredor da Igreja? Agora é “Water
Music” do Handel. Isso não afeta em nada as coisas que ele deve fazer, mas eu não
quero que ele seja pego de surpresa.

- Entendi tudo. Você precisa de mais alguma coisa?

Julia sorriu de leve.

Não. Nós encontraremos com você lá em mais ou menos meia hora.

Katie foi para o seu carro e apanhou o pássaro. Em vez de dirigir pela bagunça de
carros e caminhões estacionados em todos os lugares que eles não deveriam estar, ela
foi andando até a parte superior do Campus, balançando suavemente a gaiola.

Pequenos tremores de incerteza pelo apartamento agora indisponível voltaram,


mas ela tentou ignorar esses pensamentos. Afinal, este era o dia do casamento de
Julia.

Deus vai cuidar de tudo. Ele sempre cuida.

Estava quieto quando ela chegou à parte superior do Campus. O ar do final


daquela manhã esquentou suavemente, e uma brisa agradável farfalhou as folhas das
palmeiras. Katie sorriu para elas, todas alinhadas, balançando as suas jubas
embaraçadas como um bando de surfistas retornando do mar na expectativa da
próxima maré promissora.

Katie se lembrou de como, na recepção do casamento de Cris e Ted, Julia havia


abordado ela sobre ser uma RA. Aquela provisão para o seu ano sênior tinha sido uma
(inesperada) surpresa de Deus.

Deus vai cuidar de tudo. Ele sempre cuida.

A capela estava aberta, e as flores estavam exatamente onde Nicole havia


prometido colocar. O buque de dama de honra de Katie foi firmado com a porta da
gaiola secreta aberta. Ela colocou a atual casa do pombo bem do lado desta, abriu a
porta e inclinou a gaiola. A gravidade foi sua amiga e a ajudou a persuadir o pequeno
pombo a escorregar pra dentro de seu novo local de trabalho.

- Aconchegante e cheiroso. O que você acha disso?

O pombo protestou com um bater selvagem de asas e um arrulhar descontente.

- Ei, esta tudo bem. Você vai ficar legal. Relaxe. É só por alguns momentos. Então
você ficará livre. Livre como um pássaro. Vendo por esse ponto, isso não é tão ruim, é?

Katie colou o pássaro no buquê mais para o lado e deixou o pombo se acomodar.
Então ela foi até o lado de fora para checar a organização. O bolo estava colocado
abaixo da abóbada amarela. Uma mulher com um bebê em um carrinho do seu lado
estava inclinada sobre o bolo com um tubo de glacê, adicionando os toques finais.

Todas as sugestões de que poderia cair outra chuva rápida haviam passado. O sol
estava fazendo o que ele faz de melhor. O ar estava limpo e fresco. Este era um dia
perfeito para um casamento.

Katie localizou o pastor parado perto do arco que Nicole havia atado com flores e
plantas. Katie andou até ele, se apresentou, e deu a ele a mensagem de Julia sobre a
música.

- E mais uma coisa, Katie acrescentou, enquanto o violinista começava a afinar seu
instrumento. Eu vou soltar uma pomba de uma gaiola escondida em meu buque no
final, antes de eles saírem pelo corredor da Igreja. Julia não sabe disso.

- O John sabe?

- Não, o Dr. Ambrose não sabe também.

O pastor pareceu um pouco cético.

Como nós podemos saber que o pombo irá sair na hora certa?

Katie deu de ombros.

Você é um homem de oração, por acaso?

- De fato, eu sou, ele disse com uma aparência rabugenta.

- E eu também sou, disse uma voz por traz de Katie.

Ela sentiu a volta dos búfalos mesmo antes de ela se virar e olhar para uma versão
de Eli que ela nunca tinha visto antes. Vestido em um terno preto, permanecendo em
pé, e distante dela apenas um passo. Eli era o homem mais lindo e ousado que Katie já
tinha visto.

O seu cabelo ondulado estava penteado para traz. O seu cavanhaque estava
perfeitamente barbeado, e em seus lábios havia aquele sorriso irresistível que fez Katie
de longe esquecer onde ela estava e o que ela tinha acabado de dizer.

- Eu sou um homem de oração, Eli repetiu. Havia alguma coisa que você precisava
que eu orasse? Alguma grande decisão da vida? Planos futuros? Relacionamentos que
você tem em vista?

A coragem dele surpreendeu-a e ocasionou a resposta direta de Katie.

- Não! Não ore mais. Não por mim. Não ore por nada.
Ela sentiu seu rosto corar com o movimento desconcertante e rapidamente foi
pisando forte pelo campo coberto de grama de volta à capela. Cenas do ultimo ano
passaram como flashes em sua cabeça a cada passo que dava.

Naquele mesmo prado, um ano atrás, Katie havia perseguido a porta da limusine
de Ted e Cris. Ela perdeu um sapato e a sua tiara de flores durante a corrida maluca. Eli
se aproximou dela com o seu “halo” perdido, e ela, desinteressadamente, disse a ele
para jogá-lo fora pra ela.

Em vez disso, Eli pendurou a tiara no espelho retrovisor do seu carro. Meses mais
tarde, quando Katie perguntou a ele por que ele guardou a tiara ressequida, ele disse a
ela que isso o lembraria de orar. Por ela. Ele havia orado por ela durante um ano.

Então? E daí? Isso não muda nada.

Katie relutou contra o ímpeto de olhar para ele de relance sobre o ombro.

Por que ninguém me disse que ele ia ser o padrinho? Por que ele tem que parecer
tão... tão... bom? O que há de errado comigo? Vamos lá, Katie, respire. Isso não muda
nada. Só mais uns dias, e ele vai embora. E você vai...

Ela fez um movimento brusco para abrir a porta da capela e viu Julia parada lá,
esperando pelo seu buque e posando para uma foto perto da janela de vitrais.

Katie piscou rapidamente os olhos para se livrar da revelação cortante de que ela
não sabia onde estaria em alguns dias. Não pense sobre isso agora. Este é o dia da
Julia. Este é o momento dela. Você é a dama de honra. É hora de fazer as coisas que
uma dama de honra faz e depositar toda a sua atenção na noiva.

Os pais de Julia estavam parados em pé ao lado da filha. Inspirando coragem, Katie


foi até eles e sussurrou:

- Vocês já viram as suas flores lá na caixa? E os seus arranjos? Deixe-me pegá-los


para vocês.

A partir desse momento, a movimentação aumentou: fotos, sorrisos e convidados


chegando e ocupando os seus assentos.

O violinista executou o seu solo e Katie foi dando seus passos firmes pelo corredor
da Igreja, segurando à frente de seu corpo o seu buquê de pássaro, tentando o
máximo possível não balançá-lo para que a pomba não saísse voando.

Ela olhou de relance para o Dr. Ambrose. Ele parecia feliz e confiante, parado lá
debaixo do arco, esperando pela sua noiva. Katie deu a ele um leve sorriso e manteve
o seu foco de olhar direto pra frente. Ela não se atreveu a deixar seus olhos se
aventurarem para a direção onde Eli estava em pé perto do noivo.
Kate fez a volta na frente graciosamente e ouviu o distinto “coo” do seu
passageiro clandestino.

Está tudo bem. É um casamento ao ar livre. Ninguém vai pensar que é anormal
ouvir um pássaro por aqui.

A mãe de Julia levantou de sua cadeira, e os outros convidados levantaram com


ela. O violinista mudou para o que Kate sabia agora que deveria ser “Water Music” de
Handel, e descendo o corredor branco Julia apareceu como que deslizando.
Todas as noivas são lindas, disso Katie tinha certeza. E Julia não era exceção. Ela veio
direto, serena e radiante. Ao passo que Julia tomou seu lugar ao lado do seu futuro
esposo, ela abandonou o braço do seu pai e entregou o seu buquê para Katie.

Katie havia se esquecido daquela obrigação de dama de honra. Ela estava se


saindo bem com seu buquê contanto que usasse ambas as mãos para segurá-lo com
firmeza. Agora ela estava com o buquê de Julia em uma das mãos e o seu na outra.

Você pode fazer isto. Relaxe. E não importa o que você faça, não olhe para Eli!

A cerimônia foi tradicional e adorável em sua simplicidade. Durante todo o


evento, Katie podia sentir o olhar persistente de Eli fixo nela. Ela olhou na direção dele
apenas uma vez, quando ele entregou as alianças ao seu tio. Katie pensou que Eli
estaria olhando para o Dr. Ambrose quando ele fez a entrega, mas não, Eli encontrou o
olhar dela, e o seu pobre estômago ficou uma bagunça. Ela olhou pra baixo e percebeu
um cocô branco recentemente depositado na frente do seu vestido preto pela pomba
nervosa.

Ótimo! Eu sei que você está um pouco apertado aí, pombinha, mas será que você
poderá aguentar só mais um pouquinho?

Katie concentrou mais uma vez o seu foco em Julia. Votos trocados e o Dr.
Ambrose foi convidado a “beijar a noiva”. Ele deu a Julia um beijo curto, seguido de um
segundo e de um terceiro beijos.

Os convidados começaram a murmurar baixinho da maneira que todos os


convidados fazem em casamentos, sempre que o beijo entre a noiva e o noivo é
especialmente carinhoso.

Julia e Dr. Ambrose se viraram para encarar seus convidados, os dois com sorrisos
e com os rostos corados. Katie entregou a Julia o seu buque.

- Ok, é isso aí, pombinha.

Katie estendeu a mão para o trinco na parte traseira do seu buquê.


O pastor disse:
- Pra mim é um privilégio apresentar a vocês pela primeira vez... Ele olhou de
relance para Katie, esperando que ela lançasse o pombo.

Katie deu uma leve mexida na gaiola. Vamos lá querido, estenda as suas asas.
Você pode fazer isso!

- ...estas duas pessoas que todos nós temos conhecido e amado...

O pastor estava claramente armando a tenda em favor de Katie. Ela inclinou a


gaiola. A gravidade havia sido sua útil ajudante até agora. Por que não estava
funcionado desta vez?

Katie sacudiu o buquê, e o pombo tombou para a grama e ficou lá, sem se mover.

Oh, não! Ele está morto!

Antes de Katie entrar em pânico, o pastor levantou sua voz dizendo:

- ... os recém-casados, Doutor e Senhora Jonathan Ambrose.

Nesse momento, o pombo de coração forte levantou sua cabecinha, esticou suas
asas, e voou. Todos ficaram ofegantes. Foi como se o bater de asas do pombo no
casamento tivesse sido coregrafado. Ela voou em um meio-círculo sobre a cabeça de
Katie, em seguida sobre o pastor, e então sobre Eli, e depois de maneira graciosa,
batendo de leve as suas asas brancas, a pomba parecia repousar no meio do ar acima
de Julia e Dr. Ambrose no exato momento que eles caminhavam pela passagem entre
os bancos.

A boca de Katie se abriu de espanto, enquanto a gentil pombinha seguiu os noivos


até o fim do corredor, e em seguida, em uma magnífica mostra de bravura e força
elevou-se aos céus.

Todos viram esse momento. Seus rostos expressaram assombro e encanto.


Especialmente o Dr. Ambrose. Quando Katie notou a expressão dele, ela soube que o
seu presente da pombinha foi muito mais do que apenas a ideia de uma surpresa
engraçada. Foi uma “COISA DE DEUS”. Foi uma ideia de Deus para um presente de
casamento especial o tempo todo. Ele simplesmente incomodou e usou Katie para
ajudá-lo a mostrar.

O rosto de Katie se parecia com o nascer do sol rosado devido a sua celeste
alegria. Ela permaneceu em seu lugar, sorrindo larga e descontroladamente e se
esqueceu do próximo passo, o passo final da cerimônia. Ela deveria encontrar Eli a
meio caminho do altar, pegar o braço dele, e sair descendo o corredor com ele.
O pastor limpou a sua garganta. Katie olhou pra ele de canto de olho. Ele inclinou
a cabeça e levantou os seus olhos castanhos sobre o topo do aro de seus óculos em um
sinal de que Katie tinha que corresponder e fazer alguma coisa.

- Oh!

Katie olhou para Eli. Ela deu os seus três passos até o meio do corredor. Ele fez o
mesmo. Só que, a cada passo que Eli dava, a mão dele se aproximava do seu coração, e
os seus olhos estavam fixos em Katie. Da mesma maneira que ela o tinha visto fazer
antes, Eli bateu em seu peito com a palma da sua mão. Uma... Duas... Três vezes.

Em um lugar profundo e ressoante lá dentro de seu ser, Katie ouviu as palavras


não ditas que os ligavam a essas três batidas. Elas vieram a ela devagar, como uma
onda.

Eu... te... amo...


Capítulo 29
- Você deveria tentar comer alguma coisa. Cris olhou para Katie com uma
expressão de preocupação. Eu tenho bolinhos ingleses. Você quer que eu asse um pra
você?

- Não, eu não acho que o meu estomago agüenta esses bolinhos. Katie deixou-se
cair pesadamente de volta ao colchão de ar onde ela estava acampada, no canto da
sala de estar de Cris e Ted. Cara, quando foi que você me ouviu dizer que eu não
consigo comer? Tipo, nunca, certo?

- E você disse que você não tem nenhum outro sintoma? Nenhum suor excessivo,
ou dor, ou coisa desse tipo?

- Não, eu apenas não consigo comer. Katie olhou para o relógio de parede. Você
não precisa ficar acordada até essa hora, só pra assistir eu me esvair em nada.

- Não se desfaça do meu jeitinho de cuidar de você, ou devo dizer, de velar seu
colchão de ar, mas eu estava acordada esperando pelo Ted. Ele normalmente já está
em casa a esta hora nas noites de domingo. Ele provavelmente está conversando com
alguém. Esse parece ser uma parte do trabalho dele ultimamente, ficar ouvindo os
jovens e aconselhando-os. Pelo menos a bancada de Lideres reconheceu as horas
adicionais que ele gasta aconselhando, e eles concordaram em mantê-lo no quadro de
funcionários durante o verão.

- E então?

- Nós não sabemos ainda.

Katie descruzou as pernas de dentro de seu cobertor em forma de casulo.

- Eu acho que Deus está mantendo todos nós em suspense sobre o que vai
acontecer agora.

Cris sorriu docemente.

- Ele nos manteve em suspense, mas nunca nos abandonou.

Katie pegou o seu travesseiro com sua fronha de pequena sereia e o abraçou
contra seu peito.

- Bem, pode haver uma primeira vez para todas as coisas. Especialmente se o seu
gerente cativante não me ligar esta semana dizendo que outro inquilino se mudou
para que eu possa ficar com o apartamento.
- Katie, você sabe que Deus está fazendo uma de suas ‘Coisas de Deus’. Ele sempre
faz. Quantas vezes nos anos passados você foi a única que me disse isso?

- Eu acho que é mais fácil acreditar em coisas boas e esperança para os seus
amigos do que para você mesma.

- Então é uma coisa boa eu ser sua melhor amiga, Katie, porque eu acredito. Eu
acredito que Deus coloca as suas mãos na tua vida. Ele tem feito isso desde o
momento que você foi concebida. Deus tem planos pra você. Planos surpreendentes. A
tua vida foi ideia d’Ele. Este não é um triste fim das coisas, mas sim um começo de
novas aventuras.

Nesse exato momento a porta da frente se abriu. Ted deu um grande sorriso à sua
esposa. Daí seu olhar recaiu sobre Katie e ele a olhou de maneira penetrante.

- O que há de errado? Ele perguntou.

Katie enxugou uma lágrima.

- Nada. A sua esposa estava apenas tentando me alegrar.

- Se eu soubesse que vocês duas estavam aqui alegrando uma a outra, eu as teria
chamado para nos ajudar. Ted rumou para a cozinha e abriu a geladeira.

- Ajudar quem? Cris perguntou.

Ted puxou um suco de maçã e bebeu o restante que havia direto da garrafa.

- Eli. Na mudança de um cara chamado Eli. Eu estava ajudando eles a desmontar e


carregar as coisas pra dentro do caminhão do cara. Não havia muita coisa, mas
demorou um pouquinho. O Eli está se mudando pela manhã. Você sabia disso, certo,
Katie?

Katie se sentiu como se Ted a tivesse acertado com um soco no estômago.

- Não, eu não sabia quando ele iria embora.

- Está certo. Ted deu um passo de volta à sala de estar e olhou seriamente para
Katie com seus olhos azuis, Você provavelmente não sabia quando que ele ia embora
porque não estava falando com ele. Ele disse que você o evitou durante o casamento
ontem. Você ficará bem sabendo que ele vai embora e você não vai se despedir?

Katie balançou a cabeça devagar.

- Não, eu acho que eu não me sinto bem com isso. Eu achei que estaria, mas eu
realmente não estou. Eu tenho que subir até o apartamento dele e dizer adeus. Ou
seja, ele está indo pra longe. Eu posso nunca mais vê-lo de novo. Os olhos de Katie se
encheram de lágrimas.

Cris disse:

- Você deve ir, Katie. Vá lá falar com ele.

- Ele não está lá, disse Ted.

- Onde ele está?

- Ele tem ido pra casa do tio dele passar a noite, desde que ele vendeu a cama e
não tem lugar pra dormir. Julia e o Dr. Ambrose estão em lua de mel, então a casa
deles está vazia.

Katie sentiu as mãos dela fechar e abrir dentro do bolso frontal de seu blusão de
moletom.

- Você sabe onde o Dr. Ambrose mora?

- Não.

- Bem, talvez eu vá apenas ligar para o Eli. Katie marchou até o quarto e procurou
em sua bolsa pelo seu telefone. Você viu meu celular, Cris? Eu o coloquei pra carregar
em algum lugar?

Ted se sentou no sofá.

- Então, o que você vai dizer pro Eli quando ligar pra ele?

- Eu não sei. Eu vou desejar a ele uma viagem tranquila. Onde está meu celular?
Talvez eu tenha deixado ele no meu carro.

- E depois de desejá-lo uma viagem tranquila, o que você irá dizer a ele?

Cris agora tomou assento perto de Ted. Os dois focaram seus olhares em Katie.

- Eu não sei. Acho que eu vou dizer a ele que eu espero que ele tenha uma vida
boa na África.

- Isso é tudo?

- Provavelmente. Katie encarou os seus amigos com as duas mãos nos quadris. O
que é isto? Algum tipo de intervenção?

Ted e Cris se entreolharam e trocaram expressões que Katie não conseguiu


categorizar.
- Agora existe uma opção que nós nunca tínhamos levado em consideração, Ted
disse.

- Ouçam. Katie tentou se acalmar sentando em uma cadeira em frente da banca


examinadora. Vocês acham que Eli é maravilhoso. Eu entendo isso. Sem argumentos
pra isso. Mas, quanto a eu e ele, nós dois, ou seja lá qual for a maneira que vocês
digam... não.

- Não? Os olhos azuis de Cris a encarando estavam como que queimando e


perfurando Katie.

- Por que não? A voz de Ted soou exigente e autoritária, coisa que não era o do
seu feitio.

- Ele é... Eu sou... Nós somos... Não!

- Por que? Ted perguntou de novo, desta vez com menos euforia.

- Ele está indo viver na África. Katie exclamou. Provavelmente pelo resto da vida
dele. Lá é onde mora o coração dele, África.

- Você disse que sempre quis ir à África, Cris a lembrou.

- Eu disse. Eu quero! Mas, eu estava pensando mais em ir fazer uma visita. Ir fazer
alguma coisa boa e depois voltar.

- Voltar pra que? Ted perguntou.

Katie sentiu os sentidos diminuir. Ela não podia responder a ele.

- O que você tem aqui que não pode deixar pra traz?

Ela não respondeu.

Ted perguntou mais uma vez.

- Realmente, o que você tem que poderia te prender permanentemente a este


lugar?

- Nada! Katie soltou a resposta verdadeira e clara. Você sabe disso. Todos os meus
pertences estão prontos na traseira do meu carro. Eu não tenho nada que me faça
ficar aqui.

- Agora nós estamos chegando a algum lugar. Ted prosseguiu. Então, o que você
tem a perder se você se desprender de tudo que tem aqui – e se desprender significa
ter uma chave para o que está acontecendo aqui – e se você comprar um bilhete só de
ida para o Quênia? O que você teria a perder, Katie?
Ela desejou, nesse momento, ter algum tipo de resposta atrevida, mas tudo que
ela tinha era a verdade flutuando abertamente no topo do seu espírito. Ela pegou essa
verdade e entregou ao Ted em resposta.

- Nada.

Ted coçou o lado do seu maxilar.

- Eu vejo apenas uma imagem em tudo isto. A imagem de Cristo e sua noiva, a
Igreja.

Cris deu a Ted um olhar de questionamento, como se ela não pudesse acreditar
que aquilo tinha saído da boca dele.

- É mais ou menos assim, Katie. Ted voltou a sentar no sofá. Você tem toda razão
de acreditar que Eli quer estar com você e dividir a vida com você. Mas você resiste,
apesar de você não ter nada a perder. É uma coisa do coração, realmente. Você sabe
disso. A questão foi feita, e permanece, você quer ele?

Katie ficou imóvel. Seu estômago estava uma bagunça. Retendo as lágrimas que
ela se recusava a deixar sair. Ela levantou o queixo.

- Então o que você acha que pode acontecer se eu disser sim?

Ted entrelaçou as mãos atrás do seu pescoço.

- Diga-me você.

Cris sorriu levemente.

- De uma coisa eu tenho plena certeza, seu apetite voltaria.

- E você está dizendo que eu e Eli devemos ir viver com as girafas e leões e viver
felizes para sempre. Katie pode ouvir o tremor em sua voz.

Ted e Cris se entreolharam com sorrisinhos.

- Isso pode acontecer, Ted disse.

Katie sentiu como se uma centena de pipocas estivesse estourando em sua


cabeça.

- Eu não posso acreditar que vocês estão dizendo para mim que está tudo bem se
eu apenas arrumar as minhas malas...

- Suas malas já estão arrumadas, Cris interrompeu.

- ...e comprar um bilhete de passagem só de ida para o Quênia amanhã.


- Por que não? Ted perguntou. As maravilhas do mundo moderno. Você pode
comprar uma passagem de avião dentro do conforto do nosso apartamento. E se você
não tiver o bastante para cobrir o preço da passagem, Cris e eu ajudaremos você a
pagar, não é Cris?

- Eu acho que ela tem o bastante. Cris manteve os seus olhos azuis de raio laser
fixos em Katie. Ela tem o bastante de tudo que ela precisa pra fazer essa decisão,
incluindo todas as suas vacinas e pílulas contra malária. Analisando os fatos, eu acho
que você já fez esta decisão há muito tempo atrás, Katie. Você só estava esperando
que alguém como nós te desse um pequeno empurrãozinho.

O momento continuou. Katie não olhou mais para Ted e Cris.

A voz calma de Ted ecoou no silêncio.

- Katie, do que você está com medo?

Uma pequena capa de lágrimas embaçou a sua visão.

- Eu tenho investido tanto no Rick. Tantos anos. Tantas emoções. Tanto de mim
mesma. Parece que eu tenho que esperar um pouco mais. Não ficar vulnerável de
novo tão rápido. Seria mais seguro esperar, não acham? É melhor eu esperar e não
ficar emocionalmente ligada a ninguém. Especialmente não me ligar a uma pessoa do
outro lado do mundo. É demais, é muito cedo, muito longe.

- Dói muito quando você cai de cima de uma nuvem, disse Ted. Mesmo se você
pular dela. Todos nós entendemos isso. Então isso significa que você vai se deitar no
chão e se fingir de morta?

Katie se lembrou da pomba tombando de sua gaiola floral ontem e permanecendo


na grama sem se mover.

- Não. A voz de Katie era quase um sussurro. Então, novamente, com mais certeza,
como se a sua alma estivesse começando a flutuar, ela disse enfaticamente, Não!

- Então faça isso, Katie! Os olhos de Cris brilharam. Entre naquele avião amanhã e
veja o que Deus tem para você e para o Eli juntos na África. Você pode sempre voltar
pra casa. Nós estaremos aqui para você. Mas se você não agarrar esta chance agora,
você pode perder a próxima surpreendente ‘coisa de Deus’ que Ele tem esperando por
você.

Katie e Cris trocaram entre si um olhar de entendimento do fundo dos seus


corações.

- Okay.
Ao passo que Katie falava a palavra de ouro, Ted se levantou.

- Okay, ele repetiu enfaticamente. Ele abriu o laptop e se sentou à mesa da


cozinha. O vôo de Eli sai de San Diego as 06:30 amanhã de manhã.

- Como você sabe disso? Você vai dar uma carona pra ele?

- Não. Eli deu o carro dele para o Joseph. Eu os ouvi falando sobre o horário que o
Joseph precisava buscá-lo. Eu ouvi também o Eli dizer que ele tem uma escala em
Londres. Tudo que nós temos de fazer é achar um vôo às 06:30 para Nairóbi saindo de
San Diego que faz conexão em Londres e ver se Deus guardou um assento pra você.

- Comece a arrumar suas coisas, disse Cris. Nós guardaremos o que você não
precisa aqui em nosso armário de armazenamento. Se você quiser alguma pasta de
dentes extra ou xampu, você pode pegar o quanto eu tiver.

Katie começou a arrumar as malas mais uma vez, desta vez simplificando sua vida
em o que ela poderia acomodar em uma grande mochila de tecido e uma bagagem de
mão. Ted achou o vôo que correspondia aos critérios e reservou um assento na janela
para Katie.

- Ou você prefere o corredor?

- Eu não ligo. Eu não acredito que nós estamos fazendo isto. Vocês dois são
cúmplices, viram? Se tudo isso não der certo, vocês terão que admitir o seu
envolvimento. Pode ficar muito bagunçado.

- O amor tende a ser bagunçado, Ted falou.

- E inconveniente, Katie acrescentou, lembrando o que Eli disse no passeio ao


monte Strawberry. Vocês realmente acham que isto é amor? Vocês acham que eu
estou apaixonada pelo Eli, e eu só não quero admitir para mim mesma?

- O que quer que seja isto, você vai ter muito tempo para imaginar em sua viagem
pra lá. O seu vôo dura vinte sete horas, Ted respondeu.

- Com um escala de quatro horas em Londres, Cris acrescentou. Você quer tomar
um banho?

- Em Londres?

- Não, agora. São 1:45 da manhã. Se você quiser estar no aeroporto duas horas
antes da partida para vôos internacionais e se levar uma hora pra nós irmos dirigindo
até o aeroporto, isso significa que nós devemos sair em uma hora.
Katie tomou um banho corrido. Ela vestiu as suas roupas de viagem mais
confortáveis e prendeu uma barra de sabão debaixo do lavabo. Puxando todos os
documentos importantes do seu fichário, Katie chamou:

- Cris, você tem um dólar?

- Eu acho que sim. Você não vai precisar de mais dinheiro que isso? Cris abriu a sua
carteira e puxou de lá uma nota de vinte dólares e mais algumas de um.

- Tudo que eu preciso é de um dólar. Agora, você pode assinar isto aqui e devolver
pra mim?

- O que é isto?

- A transferência da Clover.

- Clover?

- Meu carro. Eu acabei de vendê-la a você por um dólar. Assine aqui, e ela será
sua.

- Katie!

- Não faça uma cena, Senhora Spencer. O que eu irei fazer com um carro? Você
precisa de um. E eu não. Você acaba de comprá-lo.

Cris e Ted agradeceram a Katie mais do que o necessário.

- Se isso tudo explodir em cima de mim, eu posso comprá-la de volta por um dólar.
Oh, e diga ao seu senhorio que eu retiro as minhas aplicações de aluguel. Rasgue o
cheque pra mim também, você pode fazer isso?

Depois de finalizarem mais alguns afazeres, os três rodaram pela rua vazia às três
da manhã. A meia-lua embaçada escorregou por trás de um punhado de nuvens, e
Katie mordeu o seu lábio inferior.

- Digam-me de novo por que está é uma boa ideia?

Cris disse:

- Assim que o Eli te ver você vai saber.

Ted e Cris entraram no aeroporto com Katie e a acompanharam o mais rápido que
podiam pelo check in. Eli não estava em nenhum lugar que pudesse ser visto por eles.

- Eu não vou embarcar no avião se ele não estiver lá dentro. Disse Katie.

- Ele pode estar chegando atrasado. Ted sugeriu.


- Ou pode já ter passado pela segurança e pelo portão de embarque, Cris disse.

- Você pode passar pela segurança logo, Katie. Você tem o seu telefone; o meu
está ligado. Nós vamos esperar aqui. E se ele não estiver lá até a hora de o avião
embarcar, então não entre nele. Ligue pra nós e nós vamos imaginar alguma saída.

- Okay. Bem, até.

O bolo na garganta de Katie estava muito grande para ela engolir quando ela
percebeu que estava dizendo adeus aos seus amigos de longa data. Os olhos de Cris se
encheram e lágrimas, mas o seu sorriso confiante ainda estava no mesmo lugar
quando ela abraçou Katie. Ted colocou a sua mão larga na testa suada de Katie e a
abençoou:

- Katie, que o Senhor te abençoe e te guarde. Que o senhor faça Sua face
resplandecer sobre você e que Ele te dê a Sua paz. E que você sempre ame
primeiramente a Jesus, acima de tudo o mais.

Quase que sussurrando:

- Obrigada.

Katie entrou na linha de segurança. E quanto mais ela passava pela área de
segurança ela se apressava mais para chegar ao portão de embarque procurando por
Eli. Ela não tinha ideia do que dizer a ele quando ela o encontrasse. Se ela o
encontrasse.

Isto é loucura.

Chegando ao portão e prendendo a respiração, Katie verificou cada passageiro


sentado na área de espera. Nada de Eli. Ela foi andando pela área adjacente da área de
espera. Nada de Eli.

E se o Ted pegou o dia errado? Ou o aeroporto errado? E se o vôo for na verdade


às 6:30 da noite? Esta deve ser a coisa mais “por capricho” que eu já fiz durante toda a
minha carreira como tesouro peculiar. Então o que acontece com a minha bagagem se
eu não embarcar no avião? Ela vai pra Nairóbi sem mim?

A manada de búfalos estava começando a demolir tudo o que ela havia deixado
em seu canal digestivo.

Nesse exato momento o seu telefone celular tocou. Ela estendeu a mão para
atender.

- Ele está aqui, era Cris sussurrando. Nós acabamos de vê-lo descer do carro na
área de restrição. Nós estamos nos escondendo atrás de um pilar, por isso ele não
pode nos ver. Ele está verificando a bagagem dele agora mesmo com um boné. Ele
está vestindo uma jaqueta marrom e um boné de beisebol.

Katie não sabia se ela deveria ficar lá e esperar ou refazer os seus passos de volta à
área de segurança para encontrá-lo lá.

- O que eu devo fazer: Ficar aqui ou voltar pra área de segurança?

A voz de Ted apareceu na linha.

- Encontre-o na metade do caminho, no estilo de Isaque e Rebeca. Todo


relacionamento que dá certo é aquele entre duas pessoas que estão querendo se
encontrar na metade do caminho. Vai lá!

Katie agarrou sua bagagem rapidamente, apertou o passo e correu de volta à área
de segurança. Ela se sentiu como a mulher de Cânticos de Salomão que correu pelas
ruas tentando encontrar o seu amado. O seu estômago estava doendo. Ela não
conseguia respirar. Diminuindo o seu passo, ela maneirou a sua respiração, e então ela
o viu. Ele estava pegando a sua bagagem de mão do escâner de segurança e
balançando o seu pé direito dentro de seu sapato. Eli!

Ela parou exatamente onde ela estava e esperou, o seu coração batendo como um
tambor africano.

Eli firmou a sua mochila em um braço e levantou a sua bagagem de mão com o
outro. Ele segurou o seu bilhete de passagem na mão direita e parou em frente à lista
eletrônica de embarque, checando sua passagem e depois checando a lista de
embarque novamente.

Ele estava apenas a dez passos de distância. Katie esperou até que ele a avistasse.

Dando as costas para a lista de embarque, Eli andou mais três passos antes de
olhar pra cima. E foi nesse momento que ele viu Katie exatamente lá na sua frente. Ele
piscou como se ela fosse um sonho. Em seguida ele deixou cair a sua bagagem,
exclamando:

- Você está aqui!

- Eu estou aqui.

- Por quê?

- Eu...

- Você está indo para Nairóbi, não é? O rosto de Eli se iluminou.

- É isso que diz no meu bilhete de passagem.


- Quando? Quando você?....

Na noite passada. Esta manhã. Algumas horas atrás. Eu não sei. Ted e Cris me
induziram.

A expressão atordoada de Eli se relaxou e se transformou em um sorriso.

- Você disse aos meus pais que você estava vindo?

- Não. Eu deveria ter mandado um e-mail ao seu pai, mas tudo aconteceu muito
rápido.

Eli estendeu a mão e passou suavemente as costas dos seus dedos pela bochecha
de Katie.

- Está tudo bem. Não importa. Eu acho que eles já sabem.

- Como?

- Minha mãe disse que você deveria estar vindo.

- Sua mãe? Como ela soube?

Eli curvou o seu queixo e olhou para Katie com um de seus ricos e hipnóticos
olhares, dizendo:

- Minha mãe é uma mulher de oração.

Katie sentiu os seus olhos se encherem de lágrimas. Tudo em seu interior dizia a
ela que isto era certo. Isto era verdade. Um lugar havia sido preparado pra ela mesmo
antes de ela perceber. Mesmo enquanto ela estava sendo obstinada e cheia de medo.
Toda a hesitação se foi. Katie soube que ela estava exatamente onde ela deveria estar
e fazendo exatamente o que ela deveria fazer.

O seu estômago roncou, e ela soube que seu apetite tinha voltado. Porque ela
estava profunda e humildemente maravilhada por Deus e sua maneira de vida que
mais parecia um furacão. O amor chegou até ela em seu próprio tempo, e isso foi
inconveniente e orgânico. Ela teve todas as razões para acreditar que isto era muito
real.

Relaxando a sua respiração, Katie deu um passo atrás. Ela levantou o braço e abriu
a sua mão. Com o olhar fixo em Eli, ela bateu a palma de sua mão aberta contra o
coração três vezes.

A expressão de Eli era de que ele claramente havia recebido a mensagem. Ele
estendeu a mão pra ela, tomou o seu rosto com as suas fortes mãos e olhou-a nos
olhos.
- Você tem certeza?

- Sim, eu tenho certeza.

- Então, eu vou beijar você. ♥

E ele a beijou.

Eli beijou Katie com toda a ternura surpreendente de um homem do qual as


orações acabaram de ser respondidas. Katie recebeu o seu beijo, sentindo como se um
magnífico amanhecer estivesse nascendo em seu interior tão vívido e transformador
como o nascer do sol que eles haviam experimentado juntos. A escuridão se foi. Ela
pode ver abertamente as possibilidades diante deles.

Esse homem era um guerreiro. Um guerreiro de oração.

Ele pressionou a sua testa contra a dela e depois tomou distância o bastante para
olhá-la nos olhos. O que Katie leu no olhar dele foi profundo e misterioso, como uma
chuva de meteoros à meia-noite, brilhando com pequenas ondas de luz.

Eli tomou a mão dela pra junto da sua e rumou a caminho do portão de
embarque.

Katie estava lá, nesse exato momento que o Autor e Finalizador de sua história de
vida estava prestes a começar um novo capítulo no livro de seus dias. Este capítulo
poderia ser preenchido com tudo que ela havia sonhado até agora – aventura,
mistério, esperança, e amor. Sim, mais especificamente amor.

Ela deu um aperto de leve na mão de Eli.

- Eu acho que isto significa que nós vamos juntos.

Eli sorriu.

- Sim, nós vamos. Nós estamos indo juntos. E você sabe o que isso significa, não
sabe?

Katie se lembrou do ditado africano que ele falou para ela na cafeteria.

- Isso significa que nós vamos longe.

Ao passo que falava essas palavras, Katie tomava ciência do doce sentimento de
paz que estava chegando como uma onda entre eles dois. E foi nesse momento que
ela soube. O Espírito de Deus estava agindo. Ele estava ligando os corações deles dois
um ao outro.

FINALMENTE.
CAPÍTULO 1

Katie Weldon acordou com um sobressalto.


Ela começou uma respiração irregular e tentou se concentrar. A lista de créditos
de um filme em seu vôo estava correndo na pequena tela de TV embutida no
assento à sua frente. Seu fone de ouvido estava em seu colo, e um cobertor
fino da companhia aérea cobria suas pernas. O Coração de Katie bateu forte
quando ela lentamente virou a cabeça para ver o rosto familiar do passageiro
ao seu lado. Eli respondeu ao seu olhar com um olhar firme e com a mesma
intensidade que a tinha enervado mais de uma vez durante o ano passado.
Eu não sonhei com isso. Isso realmente aconteceu. Estou em um avião agora
no meu caminho para a África com Eli Lorenzo.
"Eu sou louca?" As palavras deviam ser apenas um pensamento,mas elas
caíram para fora dos lábios secos de Katie antes que ela pudesse pegá-las.
Eli tirou o fone de ouvido e se inclinou mais perto. "Você disse alguma coisa?"
Seu cabelo castanho-manchado-de-sol estava despenteado e apenas isso foi o
suficiente para fazê-lo parecer ainda mais “tipo-ar- livre” do que ele
normalmente era. Sua expressão calorosa estava mantida em seus olhos
escuros. Ele raspou o cavanhaque em algum momento quando Katie não
estava percebendo um monte de detalhes sobre ele, e agora uma fina e áspera
barba- por- fazer sombreava seu queixo.
"Não", Katie respondeu: "Eu não disse nada. Quero dizer, sim, eu disse, mas foi
sem querer. "Sentindo-se claustrofóbica ela soltou o cinto de segurança. "Eu
preciso ir ao banheiro."
Eli entrou no corredor e ofereceu sua mão a Katie para que ela deslizasse para
fora da fileira. Ela não aceitou a oferta de assistência, mas desviou o olhar e
apressou-se a passar pelas fileiras de passageiros que dormiam. Assim que ela
chegou ao fundo do avião, o clique da fechadura do banheiro serviu como um
ponto de partida para suas emoções. Seus medos reprimidos saíram junto com
as lágrimas que corriam pelo seu rosto.
"O que eu fiz?" Katie puxou um monte de toalhas de papel da caixa embutida
na parede.
O que eu estava pensando? Isso é loucura!
Ela assoou o nariz e deu um longo olhar para seu reflexo no espelho nebuloso.
"Vamos lá, Katie girl. Controle-se. Você está em uma aventura.Isso é o que
você estava pensando. Você queria correr riscos e você queria estar com Eli.
Isto é o que você queria, lembra? "
Ela enxugou as lágrimas e lembrou do beijo,o beijo de Eli, o primeiro beijo
deles,que tinham compartilhado há quase dez horas no aeroporto de San
Diego.Ele foi como nenhum outro beijo que ela já tinha experimentado.Katie
pode ver nitidamente a expressão no rosto de Eli, quando ele percebeu que ela
estava no aeroporto porque tinha decidido viajar para o Quênia com ele.Ele
tomou o rosto dela em suas mãos fortes, olhou para ela intensamente, e
perguntou: "você tem certeza?"
A resposta de Katie foi: "Sim, eu tenho certeza."
Para a qual Eli respondeu: "Então eu vou beijar você." E ele o fez. Oh,como ele
o fez!
Katie tocou os lábios, olhou para o espelho do banheiro e perguntou o que
aquilo significava. Entrar em um avião e voar para a África com Eli parecia fazer
sentido no meio da noite, quando seus amigos,Todd e Christy, a ajudaram a
reservar seu vôo e a encorajaram a dar esse salto para o desconhecido
selvagem. Agora, parecia loucura.Tudo isso.
O provérbio Africano de Eli me tocou .
Katie murmurou as palavras que tinham se aprofundado em seus pensamentos
quando Eli disse a ela pela primeira vez na cafeteria da Univesidade Rancho
Corona "Se você quiser ir rápido, vá sozinho.Se você quiser ir longe, vá junto. "
E aqui estava ela,indo muito longe de tudo o que lhe era familiar, e ela e Eli
estavam indo juntos.
Katie começou a chorar novamente. Isto era muito incomum nela.
Pare com isso. Controle-se.
Molhando uma toalha de papel, Katie segurou seu cabelo cor de cobre para
cima e pressionou a toalha em volta de seu pescoço. O cheiro de celulose da
toalha úmida lembrou-a dos banheiros do dormitório na Universidade Rancho
Corona ,o lugar que ela havia chamado de casa nos últimos anos. Enxugando
as lágrimas com a toalha, ela deu a si mesma uma palavra de ânimo.
Você é uma graduada .Você é uma mulher competente.Você estava esperando
por uma aventura como esta há muito tempo. Deus abriu as portas disso para
você. Você sabe que foi ele. Não se transforme em um mingau-de- dúvidas
agora. Vá com ele.
Um sussurro de paz caiu sobre ela.Ela sentiu, de alguma forma o lugar ficar
mais espaçoso.
"Okay. ela iluminou seu tom quando olhou para seus claros olhos verdes no
espelho e repetiu: "Isso é o que vem por aí para minha vida. Estou indo para a
África. Com Eli. Isso é uma coisa boa. "Ela sentiu as palavras como uma oração
de aceitação. Mas funcionou, a onda de pânico diminuiu.
Katie ofereceu a Eli um sorriso quando ele se levantou para deixá-la voltar ao
seu assento na janela.
"Você está se sentindo bem?", Perguntou ele uma vez que ela havia se
sentado.
Katie acenou que sim . Ela se inclinou mais perto. "Será que aterrorizaria você
se eu dissesse que estive muito perto de um ataque de pânico?"
"Não." Ele pegou a mão dela e teceu seus dedos ásperos entre os dela. "Este é
um grande negócio, Katie. Você provavelmente vai ter um colapso ou dois
depois que chegar em Nairobi.Está tudo bem. Isso não muda nada.Tudo isto
significa que você está se ajustando a uma reviravolta enorme em sua vida. "
Katie encostou a cabeça em seu ombro. Nas primeiras seis horas do vôo, os
dois haviam conversado sem parar sobre suas expectativas sobre o que iria
acontecer uma vez que eles chegassem em Brockhurst, o centro de conferência
fora de Nairobi, onde os pais de Eli viviam.
A firmeza de Eli,sua abordagem lógica e este salto de fé de Katie nos últimos
minutos,fizeram tudo parecer como se um plano estivesse em vigor para os
dois, e tudo o que tinham que fazer era mostrar-se e fazer a próxima coisa. O
Pai de Eli trabalhava para uma organização missionária que ajudava a cavar
poços na África, para fornecer água potável nas aldeias onde as doenças
estavam se espalhando. A saúde e o bem-estar das pessoas eram radicalmente
alteradas pela acessibilidade à água potável.
Katie estava familiarizada com o trabalho. Ela ajudou a montar uma
arrecadação de fundos na primavera para ajudar na escavação de mais
poços.Eli lhe assegurou que seus pais iriam recebê-la de braços abertos e que
ela teria muito trabalho para fazer onde quer que ela estivesse,seja em
Brockhurst, ou até mesmo nas aldeias com os projetos de escavação-de-poços.
"Você está tendo dúvidas sobre nós?" Os Lábios de Eli estavam enterrados em
seu cabelo, enquanto ela descansava a cabeça em seu ombro.
Eu não sei. "Katie puxou a cabeça e olhou para ele." Quer dizer, não. Eu tive
um lampejo de incerteza alguns minutos atrás, mas eu sei que eu tenho que
lembrar o que você disse no início do vôo. Temos todo o tempo e espaço que
precisamos para descobrir para onde nossa amizade está se dirigindo. O Quenia
é apenas o pano de fundo para nós nos conduzirmos a cada dia e ver o que
acontece. "
"É isso mesmo. Tem que ser assim na África. Flexibilidade é a única maneira de
sobreviver na cultura para a qual estamos indo. "
Katie concordou. Ela entendia as palavras, mas o significado ainda tinha de ser
descoberto. Ela não tinha dúvida de que tudo ia ser radicalmente diferente.
E foi.
A partir do momento em que desceu do avião em Nairobi, Katie sabia que
estava em outro mundo.O ar úmido foi sentido muito mais frio do que ela
esperava, mesmo que Eli tenha dito a ela que eles estavam chegando durante o
final das chuvas. Ele explicou que, sendo ao sul do equador, o Quenia tinha os
seus dias mais quentes de dezembro a início de março, e depois as chuvas
vinham até início de junho. O resto do ano era seco, com temperaturas altas e
com uma nova rodada de chuvas curtas sempre esperadas em novembro.
Katie seguiu Eli pela alfândega e pela esteira de bagagens.Ela pensado como
não só tinham desembarcado no outro lado do mundo, mas em como as
estações também eram na ordem inversa. É claro que sua vida estaria de
cabeça para baixo.Mas ela poderia lidar com isso. Esta era uma aventura. Ela
ansiava por aventura.

Então, por que o ataque de pânico no avião?


Katie ouviu alguém ao lado deles dizer "Hakuna Matata" em voz alta. Ela sabia
que tinha ouvido isso em algum lugar antes.
O que significa isso? "Ela perguntou a Eli.
" Significa Relaxe. Não se preocupe.”
"É isso mesmo. Foi em O Rei Leão. "Hakuna Matata". Eu preciso me lembrar
disso. "
Eli sorriu para ela.
"O quê?"
"Você só está aqui há quinze minutos e você já está falando Swahili..Eu sabia
que você ia se encaixar muito bem por aqui.
Katie apreciou as palavras de apoio de Eli, mas ela ainda não compartilhava do
seu otimismo.
Uma vez que tinha puxado a sua bagagem da congestionada esteira de
bagagens, a primeira coisa que Katie procurou na sua mochila grande foi o seu
favorito moletom com capuz da Universidade Rancho Corona. Ela puxou-o e
percebeu que quando ela levantou os braços, ela não sentiu o cheiro tão doce e
simpático que ela tinha quando começou esta jornada há quase trinta horas
atrás.
Ela pisou fora da área de bagagens,e foi agredida por uma miríade de sons e
fragrâncias desagradáveis dos viajantes e da sessão de congestionamento dos
veículos.Estava escuro.Ela não fazia nenhuma idéia da hora local.Em nenhum
outro aeroporto que ela já havia estado ela tinha sentido o que ela estava
sentido ali.
Eli parou e olhou em volta. Katie viu como um leve sorriso cresceu em seu
rosto. Ela sabia que tudo isso era familiar para ele, pois ele tinha passado a
infância em várias partes da África. Eli estava em casa, e ele estava confortável
manobrando seu caminho através da multidão de pessoas.Parecia estranho
para ela assistir Eli neste ambiente depois de vê-lo tentando se encaixar no
cenário do sul da Califórnia no ano passado.
Um homem de camisa branca com a pele de ébano brilhante de suor fez
contato visual com Katie e lhe falou com um sotaque britânico. "Posso pegar
sua bolsa, menina?
Assumindo que ele era um porteiro do aeroporto ou alguém que levaria a bolsa
para a parada do ônibus , Katie disse: "Claro. Obrigado. "
Assim, quando ela estava prestes a entregar sua bolsa pesada, Eli agarrou a
alça, e em um firme, mas amigável tom, ele disse, "eu fico com isso. Asante
sana ".
Ele passou os braços de forma criativa através das duas alças e levou a mochila
em suas costas. Aqui. Precisamos ir nessa direção. "

Katie andava ao lado dele. "Eu pensei que o cara era um porteiro."
"Isso é provavelmente o que ele esperava que você pensasse.”
"Por quê mais ele ia pedir para levar minha bolsa?"
Eli olhou para ela e ergueu as sobrancelhas. Ele continuou andando. "A questão
é, pra onde ele teria levado sua bolsa ?"
Katie caiu em si. "Isso foi uma farsa? Ele viu que eu não era, obviamente, daqui
destas bandas, e então tentou pegar minha bolsa e correr?
"É possível. Eu sempre gosto de ser cauteloso. " Eli ajustou a mochila volumosa
nas costas. "Eu vou te dizer uma coisa. Ele poderia ter chegado a tirar a bolsa
de suas mãos, mas eu duvido que ele pudesse ir muito longe. O que você
trouxe aqui dentro, Katie? Essa coisa é pesada. "
"Quase tudo que eu tenho. Aí está toda a extensão das minhas posses.Bem aí.
Obrigada por levá-la para mim. " Katie percebeu que se ela fosse totalmente
honesta com Eli, ela lhe diria que, apesar de ele estar carregando a extensão
de suas posses materiais, ela tinha outra posse significativa. Ela tinha um
monte de dinheiro no banco, graças a uma herança que ela recebeu há alguns
meses, de uma tia-avó que ela nunca conheceu.
Durante todas as conversas de coração para coração que ela e Eli tiveram no
avião, nunca Katie se sentiu bem o suficiente para falar desse detalhe. Ela se
perguntou se Eli poderia de alguma forma,fazer alguma idéia sobre a herança.
Um destes dias, ela sabia que precisava contar a ele.
Eli pegou ritmo no passo à medida que passavam através de grupos de
viajantes que se reuniam na calçada. "Quase lá", ele chamou por cima do
ombro.
Katie sabia que os pais de Eli não iam buscá-los.Eli lhe havia dito que eles
estavam indo pegar um ônibus que os levaria até onde seus pais viviam, há
cerca de uma hora e meia do aeroporto. Ele parou no final de uma fila de
pessoas e desprendendo-se da mochila, deixou-a cair ao chão com um baque.
"Cuidado. Eu poderia ter algo quebrável lá dentro. "
"Como o quê?"
"Como ... Eu não sei. Algo quebrável. "Katie sabia que a irritação em sua voz
era perceptível.
"Tudo bem. Eu vou ser mais cuidadoso. "
Ela tentou se acalmar, olhando ao redor. Ela viu um casal de idosos com a pele
clara de pé um pouco mais à frente deles na fila. Foi quando ela foi atingida
com a percepção de quão "brancos", ela e Eli eram. Ela nunca se sentiu assim
na Califórnia, embora ela estivesse sempre ao redor de uma mistura de etnias.
Na Califórnia se sentia como parte da diversidade étnica, com seu cabelo
vermelho e pele pálida. Aqui se sentia como uma estrangeira. Uma espécie de
pão branco e maionese, com os cabelos visivelmente vermelhos.
"Você sabe aquilo que você disse anteriormente sobre eu estar me encaixando
muito bem por aqui?Bem, eu preciso que você reconsidere esse pensamento.
As pessoas estão olhando para mim. "
"Você vai se acostumar com isso." Ele se mudou para a frente, carregando a
mochila quando as pessoas à frente deles embarcaram em um ônibus pequeno,
do tamanho de uma van grande para os padrões norte-americanos.
Katie ficou para trás, assumindo que, depois que uma dúzia ou mais de pessoas
haviam entrado com a sua bagagem, a van estaria cheia.As pessoas por trás
dela apertaram-na pra frente.
"Vamos." Eli levantou a bolsa de Katie pela porta lateral que se abriu. Ele então
pegou suas duas grandes malas com rodas, e alguém dentro da van estendeu a
mão para ajudar a transportá-las para dentro.
"Vamos caber?" Katie perguntou.
"Claro." Eli lhe deu sinal para entrar na van.
Quando ela o fez, ela notou que todos os assentos estavam tomados."Onde eu
fico ?"
"Aí está bem."Eli subiu e ficou esmagado contra ela e todas as suas malas.
O cara atrás dele começou a subir em seguida, mas só para avaliar a situação e
se retirou. Ele fechou a porta de correr, e a van saiu com um movimento
abrupto.
Katie estava em pé de frente para a parte de trás da van com a cabeça curvada
para baixo desde que ela era demasiada alta para ficar de pé. Eli já tinha
tomado assento no topo de uma de suas malas. Ele deu um tapinha no topo de
seu joelho, indicando que, se ela ia ter um assento neste ônibus, lá estava ele.
Ela estava sufocando em seu capuz e queria tirá-lo, mas essa tarefa que era
simples se tornava muito desafiadora nas condições de
superlotação.Alcançando e preparando a mão dela contra a janela fechada,
Katie cautelosamente sentou no colo de Eli, plenamente consciente de que um
mar de rostos escuros estava fixado sobre eles. Uma mistura desagradável de
odor da transpiração intensa, poeira grossa, e as emissões de diesel encheram
as narinas de Katie quando ela colocou seu outro braço em volta dos ombros
de Eli e tentou equilibrar-se para não pesar muito no colo de Eli.Ela teria
sentado em outro lugar, em sua mochila ou na mala de Eli, se tivesse sido uma
opção. Mas aquelas haviam sido jogadas para debaixo do assento do banco da
frente, e no momento uma mulher grande equilíbrava-se entre três sacolas no
colo e estava usando a mochila de Katie como um descanso para os pés.
"Nós deveríamos ter esperado", murmurou Katie.
"Esperado o quê?"
"O próximo ônibus ", ela sussurrou. Sendo que o Inglês era a língua que havia
sido ensinada nas escolas quenianas ao longo de décadas, Katie teve uma boa
idéia de que todos na van conseguiam entender o que ela estava dizendo.
Eli não parecia estar preocupado em manter sua conversa privada.Com uma
voz regular, ele disse "," A próxima van provavelmente teria saído tão lotada
quanto esta. "

"Pelo menos nós poderíamos ter sido os primeiros a obter um assento."


"Vamos conseguir um lugar eventualmente. Nem todo mundo está indo tão
longe como nós estamos. "
As palavras de Eli sobre "ir longe" lembraram Katie do provérbio Africano, e ela
engoliu um grunhido sobre a ironia de tudo isso.
"O quê?"
"Nada".
"Eu ouvi você . Você estava se esforçando para não reagir ao que eu disse. Por
quê? O que era tão engraçado? "
Katie respondeu, mas manteve a voz baixa. "Você disse que nem todo mundo
está indo tão longe como nós estamos."
"Eles não estão. Eles vão descer nas paradas ao longo do caminho,e nós vamos
ter um assento antes de chegarmos na montanha. "
"Não importa."
"Não, o que você estava pensando? Diga-me. "
Katie fez uma pausa. Ela fez um inventário do momento. Lá estava ela, sentada
no colo de Eli, sussurrando-lhe os seus pensamentos mais profundos e andando
em um ônibus lotado com uma dúzia de estranhos observando cada movimento
dela. Se um armário na escola aparecesse de repente e ela fosse incapaz de
lembrar da combinação, então ela saberia com certeza que isso tudo era um
sonho. Um sonho bizarro, surrealista.
Katie olhou para seu tênis desgastado.Estava na África com Eli, e somente duas
outras pessoas em todo o mundo sabiam que ela estava ali: Todd e Christy. A
realidade era que Eli era tudo o que tinha. Se essa relação acabasse não indo
muito longe, então pra onde ela iria? O que ela faria? Todos os ovos estavam
no mesmo cesto, e em um cenário como este, Katie percebeu a facilidade com
que uma pessoa poderia ficar chateada.
"O que é ,Katie? O que você estava pensando? "
Katie fez uma pausa. Eli não era como qualquer outro cara que ela já tinha
conhecido. Ele não se esquivava de uma conversa difícil, não importava quão
intenso isso pudesse ser.
"Eu estava pensando no provérbio que você me disse." Ela desejava não estar
dizendo isso a ele. Suas palavras sussurradas saíram com uma oscilação
indesejável. Ela tentou fazer sua voz soar firme. "A parte sobre ir longe, se você
vai junto."
Eli inclinou a cabeça mais perto.
"Você disse que essas pessoas não estão indo tão longe como nós estamos e
..."
"E você quer saber o quão longe nosso relacionamento está indo."Desta vez,
sua voz era baixa e suave. "É só isso?"

Katie hesitou. Ela não tinha certeza se ela gostava do fato de que ele tinha a
capacidade de ler ela e estava sempre disposto a qualquer hora, e em qualquer
lugar, a enfrentar seus mais profundos pensamentos e medos. Virando-se para
seu mecanismo de defesa de costume, ela tentou ser bem humorada.
"Talvez seja isso que eu estava pensando. Ou talvez eu queria saber o quão
longe essa van está indo para fazer com que essa seja a nossa rota. "
"Você está gostando de receber uma massagem Africana gratuita ?"
"Uma o quê?"
"Isso é o que minha mãe fala quando estamos em estradas como esta. É uma
massagem Africana. Sem custo extra. "
"Isso não é o que eu diria. É mais como uma terapia de choque, na minha
opinião. "
Então, a van bateu em um buraco profundo na estrada. Katie saltou do colo de
Eli, perdeu o equilíbrio e caiu sobre as pernas da mulher que estava usando a
mochila de Katie como um apoio para os pés. As bolsas de supermercado da
mulher subiram no ar, fazendo Katie tomar um banho de legumes variados.
Ela sentiu o aperto firme da mão de Eli dando a ela seu braço quando a van
passou em outro buraco. Uma forte explosão soou e ela se abaixou.
"O que foi isso? Alguém está atirando em nós? "
Antes que Eli pudesse responder a van parou abruptamente. De repente, Katie
sentiu algo afiado na pele de seu ombro.

Fui atingida!

CAPÍTULO 2

Katie, você está bem? "Eli estendeu a mão para ajudar a puxá-la para cima."

“É o meu ombro. Eu fui atingida. "

" Foi só um inhame e um par de cebolas. "Eli ergueu os culpados e entregou-os


de volta para a mulher.

" Não. Não era isso. Foi algo afiado. Eu pensei que era uma bala. " Katie notou
que o motorista abriu a porta e saiu. Dois dos jovens na van estavam abrindo a
porta de correr no lado, subindo mais a mala de Eli quando eles saíram.Todo
mundo estava calmo e se movendo em um ritmo de paz, como se nada fora do
comum tivesse acontecido.

"O que está acontecendo?"

"É um pneu furado. Precisamos sair. Vamos lá. "

" Mas o meu ombro. . . "Ainda atordoada, Katie seguiu o exemplo de Eli e foi
para fora da van. Ele estava de posse de suas bagagens de mão, mas deixou
suas três grandes peças de bagagens na van. Katie sabia que ela não estava
imaginando a lesão. A dor aguda ainda estava lá.

"Eli, estou falando sério. Eu acho que alguma coisa me atingiu. Eu não estou
inventando isso. "

" Venha para este lado. Fique perto de mim. “

A van estava precariamente estacionada ao lado de uma estrada movimentada.


Andaram com cuidado pela escuridão e pelos carros que passavam e pareciam
ter pouca consideração pela situação do veículo danificado. Eli introduziu Katie
em torno da frente da van e mais para o lado da estrada, onde o motorista
estava com uma lanterna iluminando o pneu furado. Dois outros caras estavam
ao lado dele, avaliando o dano.

"É aqui do lado direito abaixo do meu ombro," Katie disse a Eli. "Foi aí que algo
entrou em mim." Ela esticou o braço sobre o estômago e chegou em seu
moletom e camiseta. Ela sentiu um líquido quente escorrendo pelas costas."Eli,
eu estou sangrando!"

"Está?" Eli tirou o chaveiro e acendeu a pequena lanterna anexada. "Deixe-me


ver. Onde é que está sangrando?

"Katie estava ciente de que vários dos homens que tinham desembarcado da
van estavam olhando para ela.Ela levantou a parte de trás do moleton e da
camiseta, cuidando para manter a frente puxada para baixo. Ela nunca se
sentiria confortável expondo suas costas assim em uma situação normal, mas
nada sobre esse momento era normal.

"Você pode ver o que é? Me sinto como um estilhaço . "

" Como você pode saber o que um estilhaço sente? Oh, espere. Eu vejo por que
você ia dizer isso. É a coisa de metal de seu. . . na alça do seu. . . Entrou na
sua pele. "

Se Katie não estivesse tão desconfortável no momento, ela teria provocado Eli
por ser incapaz de dizer a palavra sutiã em voz alta. Ela soube imediatamente
qual era o problema. Ela estava usando o sutiã mais velho que tinha, e
embalara todos os bons . O pedaço de metal pequeno que ajustava as tiras
deve ter agarrado em sua roupa, e a borda afiada se cravara em suas costas.

"Você pode retirar? Realmente dói. "

" Tem certeza? "" Sim, pode tirar. "

Eli deu um puxão, e Katie podia sentir o fluxo de sangue pelas costas." Onde
está minha bolsa? Eu tenho alguns tecidos dentro dela. "

Eli estendeu-lhe a bolsa de mão, e Katie procurou dentro dela no escuro. Ela
encontrou um pequeno pacote com dois tecidos e tentou de alguma forma,
colocá-los sob a parte larga do sutiã para segurar os tecidos no local.Não era
algo que ela pudesse fazer sozinha. "Aqui. Você pode tentar colocar isso no
local onde o sangue está saindo? "
Katie ficou parada enquanto Eli tentava o tipo de trabalho que qualquer um dos
namorados de Katie não teria nenhuma dificuldade de realizar.Para Eli
porém,parecia ser um desafio fazer um caminho em torno de desconhecidos
ganchos e tiras de elástico.

"Como está? Está melhor? ", Perguntou ele.

" Um pouco.Obrigada. " Ela baixou a camisa e percebeu que nenhum dos
homens estava olhando para ela por mais tempo. Todos eles já haviam ido para
a tarefa que tinham em mãos, que era trocar o pneu. Os tecidos não a fizeram
se sentir melhor, mas pelo menos ajudariam a parar o sangramento. A alça
agora estava completamente solta e com todos os movimentos que tinha feito,
o lado direito de seu sutiã tinha caído na frente. Realmente não importava,
porque ela estava usando uma camiseta folgada. Mas se sentia estranha
usando aquilo que agora era praticamente um sutiã de uma alça só.Katie
tentou mexer na alça danificada, mas foi inútil. Sem o pino de ajuste, ela não
poderia remediar a situação.

"Espere aqui," Eli disse. Ele foi em direção aos homens que haviam se reunido
pelo pneu furado.

"Você acabou de me dizer para esperar aqui?" Katie falou depois dele. "Certo.E
pra onde eu iria? "

Ela levantou as duas mãos e esperou ele se virar, mas ele continuou. Katie
ficou sozinha no escuro com suas bagagens de mãos a seus pés. Várias das
pessoas que estavam na van andavam pela rua, carregando seus pertences.

"Olá! Ei. Olá?Onde você está indo? O que vocês sabem que devemos saber? "

Ninguém respondeu . Eli foi ao lado do motorista, segurando o flash de luz para
proporcionar uma melhor visão do pneu que estava sendo inserido na van. Um
dos homens tinha recolhido algumas pedras grandes e estava tentando colocá-
las na posição correta sob o pneu traseiro. Katie observava. Eli e outro homem
tiraram o pneu do aro, e como uma equipe de atendimento eficiente na
estrada, eles colocaram o estepe no lugar.

Carros e ônibus manobravam passando por eles e tomavam velocidade uma


vez que se afastavam.O ar estava saturado de escape. Katie não podia imaginar
se era seguro para as pessoas que saíram da Van e caminhavam ao lado da
estrada.
Ela percebeu novamente o quanto Eli se destacava no grupo de homens ao
lado da van. Katie tinha se sentido assim no aeroporto. Sua pele branca fazia
com que se destacasse no escuro.Ele parecia alto. Mais alto do que ele já
pareceu para ela em Rancho Corona. Ela sabia que ele era, pelo menos, quatro
ou cinco centímetros mais alto do que ela , mas quando conheceu Eli, ela
estava namorando Rick Doyle, que era bem mais alto e tinha uma grande e
forte personalidade para combinar com sua aparência.

Rick nunca ajudaria ninguém a trocar um pneu. Especialmente em uma


situação como essa. Mas, então,Rick nunca se colocaria em uma situação como
essa. Ele nunca viria para a África.

Dois pensamentos inesperados apareceram para Katie. O primeiro era que,


naquele momento ,Eli era mais homem do que Rick jamais seria. E segundo é
que, Eli era o tipo de homem com quem ela queria passar o resto de sua vida.

Uau! De onde veio tudo isso? Devagar Katie girl. Você deveria estar dando um
passo de cada vez - um dia de cada vez,se lembra? Depois de todos os altos e
baixos emocionais que você passou com Rick no ano passado,
você não deveria colocar todas as suas expectativas e projeções sobre o seu
relacionamento com Eli.

Katie tentou se concentrar em outra coisa. Ela pensou em como ela estava com
fome, como estava cansada, e como desconfortável a ferida nas costas era.
Esses pontos elementares da mangueira de descontentamento levaram seus
pensamentos de volta para a presente situação.

Em pouco tempo o reduzido grupo estava de volta ao ônibus e na estrada


novamente. Eli e Katie tinham um assento neste momento. Suas bagagens
estavam agora seguramente arrumadas na parte de trás da van, e eles
continuaram pelas estradas esburacadas, sendo empurrados para cima e para
baixo e de um lado pro outro em seus assentos . Eli fechou os olhos e
adormeceu.Katie manteve a atenção concentrada na estrada enquanto o
motorista desviava e fazia seu caminho até uma ladeira íngreme. Ela ficou
surpresa ao ver tanto tráfego nesta hora.Eles pararam três vezes, e todos os
passageiros com exceção de dois outros desceram.

Em um dos solavancos na estrada, Eli acordou com um susto e virou-se para


Katie na luz fraca.

"Oi", ela disse.Eli piscou algumas vezes antes de parecer reconhecer


ela.Relembrando de como se sentiu quando acordou no avião, ela disse: "E
você achava que isso era tudo um sonho, não é?"

"Não." Eli pegou a mão dela e juntou seus dedos com os dela. "Viver na
Califórnia sempre me fazia sentir como se estivesse em um sonho. Um longo e
surreal sonho . Mas estar aqui, Katie, e estar aqui com você, isto sim ,é
real.Muito real. Este é um sonho que se tornou realidade para mim.

"Katie sentiu o coração se aquecer ao ouvir essas palavras. Ela nunca tinha tido
um sonho que viesse a se tornar realidade antes. Mas ela ainda se sentia
inquieta e ansiosa. Ela não conseguia pensar em como responder.

Em resposta à sua falta de entusiasmo igual, Eli apertou sua mão e parecia
contente em sentar com ela em silêncio enquanto olhava pela janela lateral . Eli
se inclinou para frente como se estivesse tentando ver a estrada à frente
através do brilho dos faróis.

"Nós não perdemos nossa parada, perdemos?" Ele falou para o motorista:
"Falta muito pra chegarmos a Lemuru ainda?"

"Cinco quilômetros", omotorista falou de volta. "Está indo para Brockhurst, não
é?"

"Sim.Asante. "

" O que significa isso? "Katie perguntou.

" Asante? É swahili para "obrigado".

"Como ele sabia que nós queremos ir para Brockhurst? Você falou pra ele
antes? "

" Não, eu disse a ele Lemuru. É lógico que estaríamos indo para Brockhurst já
que é um centro administrado pelos ocidentais para ocidentais. "

" O que significa isso? "

" Ele originalmente foi construído por um grupo da Inglaterra para servir como
um centro para os missionários dos EUA, Canadá e Grã-Bretanha. É usado para
uma variedade de serviços agora, como a sede do grupo de água limpa que
meu pai dirige. Eu pensei que eu tivesse falado sobre isso no avião.

""Você provavelmente falou."


Eli recostou-se. Ele parecia estar a estudar a expressão dela . "Você está
bem?Como está se sentindo? "

" Está tudo bem. "Katie estava ciente do estado de seu hálito depois de tantas
horas de viagem e de que sua respiração era mortal. Virando a cabeça um
pouco para não matar Eli com sua respiração, ela disse, "Obrigado, por não ter
tirado sarro de mim quando eu disse que tinha sido baleada."

"Isso é algo que eu nunca faria".

Katie lembrou de como Eli lhe dissera vários meses atrás,que a cicatriz em
forma de L atrás de sua orelha esquerda tinha sido infligida a ele quando ele
tinha onze anos e tinha lutado com um intruso armado com uma faca.

A van virou em uma estrada estreita, e Katie podia ver que eles estavam
dirigindo sobre uma ponte. Estava escuro demais para dizer se tinha um rio
debaixo da ponte ou que tipo de folhagem crescia ao longo da estrada. Eles
fizeram outra curva pra esquerda e pararam na frente de um portão
imponente.Um guarda uniformizado surgiu a partir da cabine ao lado do portão
e acenou para o motorista antes de premir o botão que fazia o portão se abrir.

"É aqui?" Katie não tinha certeza do que esperar, mas este centro parecia ser
muito maior do que o que ela tinha imaginado .

Eli se mexeu na cadeira como um menino cheio de expectativas."Sim, é isso.


Nós estamos aqui.

"O motorista da van parou em frente de um pequeno prédio que tinha um


espaço em frente. Um sistema de segurança movimentando-se com suas luzes
virou na parte da frente do edifício de pedra e iluminou um pedaço das lindas
flores azuis que revestiam a frente da varanda estreita.

"Eu vou pegar as malas", Eli disse. "Você pode pegar as bagagens de mão?"

"Claro." Katie apanhou as duas pequenas bagagens.

Assim que Eli estava fora da van com as malas, ele foi até a janela aberta do
motorista, e os dois entraram no que parecia ser um debate sereno. Eli
levantou alguns xelins quenianos, mas o motorista se recusou a levá-los. Ele
falou em Inglês, mas seu sotaque era pesado, Katie não conseguia entender o
que ele estava dizendo. Mas ela podia ver seu rosto no reflexo dos faróis. Ele
estava determinado.Acenando o punhado de dinheiro para o motorista, mais
uma vez, Eli falou com mais força agora. Katie ouviu-o dizer que ele não iria
pagar um "imposto de pele." Estava o motorista tentando cobrar deles uma
taxa mais elevada, porque eles eram brancos?

Katie lembrou a si mesma que Eli não era novo nisso. Tais experiências eram
normais para ele. Ela só não tinha certeza se isto iria se tornar normal para ela.

Olhando as janelas apagadas do edifício, ela se perguntava como seriam os


pais de Eli. Estariam acordados lá dentro agora esperando por eles? Ou tinham
ido para a cama há muito tempo, sabendo que Eli iria acordá-los quando
chegasse? O que eles diriam quando a vissem?

No aeroporto de San Diego, quando Katie surpreendeu Eli com sua chegada, Eli
a surpreendeu com algo que ele disse. Ele disse que sua mãe sentia que Katie
voltaria para casa com ele. Era uma espécie de coisa legal e ao mesmo tempo
estranha que a mãe de Eli tivesse falado isso antes de saber que ela estava
indo para o Quênia. Eli tinha dito que a sua mãe era uma mulher de oração, e
ela tinha orado por eles.

Ainda assim, sentia-se nervosa sobre o encontro que estava prestes a


acontecer.E se os pais de Eli não gostarem de mim? E se eu não me encaixar
aqui? Então o que eu vou fazer?

Eli liquidou a conta e agora o motorista voltou em direção ao portão.

"Quanto você acabou pagando?" Katie perguntou.

"A quantidade da viagem. E um pouco mais. Não é o extra que ele queria, mas
ele aceitou. Está tudo bem. É como as coisas são feitas aqui.Você está pronta?
"

Katie pegou a bagagem de mão e sentiu uma pontada no ombro, lembrando-


lhe da ferida. Ela mudou de lado e perguntou: "Ésta é a casa dos seus pais '?"

"Não, este é o escritório. Temos que ir até o caminho para onde meus pais
estão ficando. Você está bem com essas bagagens ? "

" Sim, eu estou bem. Eu posso levar alguma outra coisa. O que você quer que
eu leve? "

" Tem certeza? "" Sim, eu tenho certeza. "


Eles dividiram a bagagem entre eles, como eles tinham feito no aeroporto
,escalaram um caminho estreito que estava mal iluminado e pelo que Katie
adivinhou eram movidos a energia solar, com lanternas encravadas no chão a
intervalos precisos. O ar era fresco e cheirava a erva verde. Ainda estava
escuro demais para distinguir muito dos seus arredores, mas Katie poderia dizer
que eles estavam passeando pelos últimos chalés individuais ao longo da trilha,
cada um deles longe um do outro apenas o suficiente para fornecer alguma
privacidade e abafar os ruídos.O que era bom, porque o barulho das rodas das
bagagens quando rolavam sobre a estrada era grande.

Katie sentiu falta de ar no momentp em que Eli se virou para um caminho


lateral e parou em frente de uma casa. "É aqui", disse ele.

A vista bonita cumprimentou-os. Na janela da frente tinha uma única vela,


alta,que estava iluminando e brilhando.

"Isso é tão bonito", disse Katie sorrindo.

Ela virou-se para Eli e viu que seus olhos estavam brilhando com lágrimas.Seu
queixo firme, seus ombros voltados pra trás. A expressão em seu rosto era uma
que Katie achava que ainda não tinha visto nele. Ele parecia muito,muito feliz.

Katie sentiu um nó em sua garganta. Ela nunca tinha tido uma recepção como
essa, mesmo quando ela ia até a casa de seus pais em Escondido. Ninguém
nunca tinha acendido uma vela e colocado na janela para ela. Ela podia apenas
imaginar o que Eli estava experimentando agora depois da longa e cansativa
viagem , para finalmente estar na porta do lugar que ele queria estar.

Como ela poderia descrever o que ela estava observando agora? Então ela
soube.

Eli estava em casa.

Antes de qualquer um deles avançar para colocar um pé na varanda estreita, a


maçaneta da porta foi girada, e a porta da frente começou a se abrir.

Katie respirou fundo. Era agora. Este era o momento que ela tinha antecipado e
temido. Ela estava prestes a conhecer os pais de Eli.
CAPÍTULO 3

A porta da casa de pedra se abriu e luzes se acenderam tanto dentro como fora
da casa. O Pai de Eli surgiu, e no momento em que viu seu filho, ele gritou ",
Eliseu!" Seus braços estavam em volta dele em um instante. Eles se abraçaram
com tapinhas nas costas viris, apertos de mãos firmes, e então outro forte
abraço .

A mãe de Eli apareceu na porta e correu para ele, sem palavras, apenas um
jorrar de lágrimas. Ela beijou- o no rosto, segurou-o, e sorriu quando o pai de
Eli circulou ambos com uma grande abraço.

Na luz que inundava a porta da entrada, Katie podia ver as expressões de puro
prazer no rostos dos pais de Eli. Ela nunca tinha visto ninguém
cumprimentando uma criança crescida com alegria espontânea tal. O que fez a
boas vindas ainda mais cativante foi que ambos estavam em seus pijamas e
parecia que eles rapidamente se jogaram em seus robes e correram para a
porta da frente quando ouviram as rodas das bagagens batendo na estrada.

Katie tinha chegado para trás , não querendo interromper este momento. Ela
ainda não tinha certeza de como os pais de Eli iriam reagir quando a vissem.
Não precisou esperar muito para descobrir. A mãe de Eli olhou para cima, e no
instante em que viu Katie, ela abriu um sorriso enorme.

"Katie". Ela falou o nome como se fosse um comunicado. Uma descoberta. Ela
colocou a mão no coração e deu um suspiro curto. "Você veio." Sua exclamação
foi pouco mais que um sussurro.

No momento em que Katie ouviu seu nome ser falado com tal expressão de
aceitação e amor, sentiu dissipar seus temores. Ela sabia que era bem-vinda
neste lugar.

O pai de Eli recuou e expressou surpresa muito mais do que sua esposa quando
teve a visão de sua hóspede inesperada. "Katie?"

"Sim, esta é Katie," Eli disse casualmente. "Ela seguiu-me para casa.Posso ficar
com ela?"

A Piada inesperada de Eli colocou Katie em uma rodada de risos nervosos


quando ela recebeu os abraços da mãe de Eli e do pai seguido por um pouco
de suas próprias lágrimas.

"Entre, por favor." A Mãe de Eli alcançou as bagagens de mão, deslizou seu
braço através de Katie ,e foi conduzindo-a pela porta do pequeno bangalô. O
cabelo curto cinza-prata da Sra.Lorenzo estava como se ela tivesse dormido
com a parte de trás da cabeça esmagada contra uma almofada do sofá. Tudo
sobre sua forma, corte de cabelo, e andar sugeria eficiência e praticidade, como
se ela fosse uma mulher que não precisasse de muita coisa para se
aprontar.Katie poderia se relacionar com esse tipo de estilo de vida de baixa
manutenção.

Na enxurrada de todos os abraços, a ferida na parte inferior do ombro de Katie


tinha sido batida e doeu novamente. Ela sabia que se ela tirasse o curativo
improvisado na casa quente, ela teria um problema com o seu sutiã quebrado e
a mancha de sangue na sua camiseta. Sem mencionar os odores de seu corpo
nervoso por toda aquela viagem. O cheiro seria óbvio se ela levantasse os
braços, sem a barreira do do tecido que ela colocara. Não era uma boa maneira
de deixar uma primeira impressão.

Eli e seu pai trouxeram o resto da bagagem quando sua mãe limpava uma pilha
de papéis e livros do sofá gasto que era mais um assento improvisado do que
um sofá normal. "Sente-se, Katie. Eu trarei um pouco de chá. Você gosta de
chá? "

“Eu amo chá.”

" Bom, isso é muito bom. "Ela desapareceu ao virar a esquina em que Katie
podia ver que era uma cozinha estreita. Katie podia ouvir ela fazendo a rápida
preparação.

"Você precisa de alguma ajuda, Sra. Lorenzo?" Katie chamou.

"Não, apenas sente-se. Isso só vai levar um minuto. E por favor, me chame de
Cheryl.

"Katie olhou ao redor da sala desgrenhada. O espaço era pequeno e confuso


com uma abundância de caixas empilhadas e arquivos.

"Nós estamos mudando nossos escritórios", o pai de Eli disse.Katie olhou para
cima e percebeu que ele havia pego o scanner no caos ordenado. "Nós
tomaremos posse do nosso novo espaço na próxima semana . Você chegou
bem a tempo de nos ajudar a fazer a mudança. "Ele sorriu calorosamente.

" Eu ficarei feliz em ajudar." O que mais surpreendeu Katie sobre o pai de Eli foi
como o cabelo dele era branco. Katie tinha visto fotos dele no website do
projeto da água limpa, que foram tiradas quando ele era mais jovem e ainda
tinha cabelos castanhos como os de Eli.Ele tinha um bigode e um cavanhaque.
Mesmo em seu robe com os bolsos laterais grandes e o cinto pendendo quase
todo para baixo de um lado,ele parecia muito distinto.

Eli deixou a bagagem no canto da porta ,perto de uma estante alta e abrindo
espaço no sofá, ele se sentou próximo a Katie, colocando seus braços em toda
a volta da almofada. Ele parecia estar deixando claro para seus pais que os dois
estavam "juntos", e ao mesmo tempo dando espaço para Katie respirar em sua
camiseta quente.

O Pai de Eli pegou uma cadeira de espaldar reta, ao lado da mesa coberta com
lâmpadas, livros e pastas e posicionou-a em frente ao sofá. Isso deixou o
melhor lugar da sala, uma poltrona de couro bastante nova , vazia para a mãe
de Eli quando ela voltou carregando uma bandeja com xícaras, colheres de chá
empilhadas, e um prato de biscoitos . Ela colocou a bandeja em cima do tronco
cortado que servia como uma mesa de café.

"Vá em frente e coma o biscoito. Eu volto com o chá ".

Eli pegou o prato de biscoitos e educadamente ofereceu-os para Katie primeiro.


Ela deu uma mordidela. A mãe dele voltou, e Katie assistiu como se uma
surreal cena se desdobra-se na frente dela. Se Alice sentiu confusão na festa do
Chapeleiro Maluco , Katie sentiu-se igualmente desprevenida sentada em uma
casa de pedra na África segurando uma aba de xícara de porcelana rosa em
cima de seu respectivo pires . A mãe de Eli estava na frente dela em um
nebuloso roupão rosa pálido com o colarinho da blusa de seu pijama saindo no
pescoço enquanto ela servia o chá para Katie de um bule de porcelana floral.

Katie agradeceu e tomou um gole. Não era chá, ou pelo menos não era o que
Katie chamava de chá. Este tinha um gosto bem mais doce . Mas era quente e
reconfortante.

A mãe de Eli despejou as outras três xícaras de chá e sentou-se na cadeira.


"Então, diga-nos." Ela parecia relaxada e ao mesmo tempo cheia de
expectativas quando ela focou sua atenção em Eli e Katie.

Katie olhou para Eli. Era evidente que seus pais queriam ouvir a história de
como havia acontecido que ela agora estivesse sentada em sua casa ao lado do
filho deles. Uma vez que eles pareciam estar tão despreocupados com o seu
aparecimento, Katie sentiu que ela podia relaxar como eles. Mesmo que ela não
quisesse comparar este momento com a primeira vez que ela e Rick foram falar
com seus pais, era impossível para ela ignorar a comparação. As diferenças
existentes nos dois encontros eram de mundos distantes. Literalmente.

Eli calmamente tomou um gole de chá. Ele virou o queixo para Katie em um
aceno de cabeça, como se, entregando a história para ela.

"Bem, como vocês sabem, eu acabei de me formar na Universidade Rancho


Corona com Eli, e eu não tinha certeza do que fazer a seguir.Continuei orando
e pensando, e eu não sei se eu consigo explicar como tudo se encaixou, mas eu
decidi vir pra cá. Para ajudá-los. Para trabalhar com vocês, sempre que
precisarem de ajuda. "

" Quando? " A Mãe de Eli perguntou.

" Posso começar amanhã de manhã. "

" Não, eu quis dizer quando foi que você decidiu vir? "

" Na noite passada. Ou, bem, qualquer dia que fosse. Duas noites atrás eu
acho. Era a noite antes do vôo de Eli. Eu estava na casa de alguns amigos. "

" Ted e Cris, "Eli preencheu, e sua mãe e seu pai concordaram. Katie lembrou
que Ted e Eli tinham trabalhado juntos em um projeto de longo alcance, alguns
anos antes na Espanha.

"Sim, Ted e Cris. Ela tem sido minha melhor amiga desde o colegial. Eles me
ajudaram a refletir sobre a decisão de vir ", Katie explicou. "Isso foi apenas
algumas horas antes do vôo de Eli decolar, e eu sabia que esta era uma
oportunidade que eu precisava responder, então eu vim." Ela sabia que suas
palavras não estavam saindo com a confiança e clareza que ela queria .

"Ela apareceu no aeroporto, e foi uma surpresa completa", Eli disse. "Eu estava
verificando a placa para o meu portão de embarque, e quando eu olhei, lá
estava ela. Eu sabia que a única razão que Katie teria para estar lá seria se ela
estivesse vindo para a África comigo. "

" O que você fez? "A Mãe de Eli se inclinou pra frente.
Eli olhou para Katie e depois de volta para seus pais. Ele disse claramente: "Eu
perguntei se ela tinha certeza, e que então eu ia beijá-la.

" Katie enrubesceu. Ela nunca poderia falar isso abertamente com seus pais.

"E?" Sua mãe solicitou.

"Ela disse que tinha certeza. Então eu a beijei.

"A Mãe de Eli se inclinou para trás e sorriu um sorriso de lábio fechado , como
se ela tivesse acabado de assistir o final de seu filme favorito e estivesse tão
satisfeita quanto poderia com a sua conclusão.

Katie só conseguia pensar em algumas pessoas com quem sentia esse tipo de
aceitação . Os Pais de Eli não eram como ela esperava que fossem.Ela
antecipou que eles fossem bons, inovadores, encorajadores,uma vez que eles
haviam passado toda a vida de casados na África. Mas ela não esperava se
sentir tão instantaneamente conectada nessa família.

"É verdade que eu vim por causa de Eli. Mas , mais do que isso, eu vim para
servir. Eu quero ajudar de qualquer maneira que eu puder.Então me coloquem
para trabalhar.

"A Mãe de Eli tentou equilibrar o seu copo d'água no colo como um filhote,
colocando-o nas dobras do seu robe. "Haverá muito para você fazer e muito
tempo para fazê-lo. Nós apreciamos o seu espírito voluntário, Katie. E vamos
sim te colocar para trabalhar. Mas não imediatamente. Primeiro você precisa
deixar seu espírito e seu corpo serem postos no ritmo Africano de vida. É
diferente da Califórnia. Você precisa de tempo para encontrar o seu ritmo.E
então vamos colocar você para trabalhar. "

" Estamos felizes por você estar aqui, Katie, " o pai de Eli acrescentou."Muito
felizes".

"Obrigado. Eu também estou feliz de estar aqui. "Ela olhou de relance para Eli.
Ele piscou para ela. Katie não conseguia se lembrar se ela já tinha visto ele
piscar antes. Se ela tivesse visto, tinha a sensação de que se lembraria. Aquilo
foi adorável. Ela tentou piscar de volta, mas tinha a sensação de que o gesto foi
mais como um tique nervoso, porque ela piscou duas vezes, e nas duas vezes
sentiu os lábios involuntariamente irem para cima.

"Eu acho que é tarde demais para colocar Katie em uma sala no Edifício A ".A
Sra Lorenzo disse. "O que você acha sobre a doação de seu quarto Eli?"

"Por favor, não há nenhum problema. Eu posso dormir no sofá ", Katie disse.
Então ela percebeu que o sofá era onde ela e Eli estavam sentados naquele
momento, e não era longo o suficiente para esticar para fora. Não importava.
Ela estava tão cansada que sentia como se pudesse dormir sentada.

"Não, você fica com a cama, Katie. Vou dormir sobre uma esteira. "Eli colocou
sua xícara vazia na parte superior do baú.

Dentro de alguns rápidos vinte minutos, tudo foi arranjado, e todos eles foram
para a cama com votos de um bom sono para todos e promessas de
recuperarem o sono atrasado.

Para Katie foi dada uma toalha de banho,uma de rosto e um convite para tomar
um banho, se ela quisesse. Ela decidiu esperar até de manhã e deitou na cama
ainda com o que ela tinha usado nos últimos dois dias passados, embora ela
tenha removido o sutiã quebrado.

A cama de casal tinha um lençol sobre o colchão e nenhuma outra camada por
cima, apenas um cobertor único . A temperatura no quarto era fria por causa
das paredes que pareciam como se fossem uma espécie de bloco de pedra ou
cimento. A sala estava repleta de telas de computador, arquivos,e caixas
empilhadas. Tudo o que ela tinha era uma trilha estreita para alcançar a cama,
mas isso era tudo que precisava. Todo o resto podia esperar até de manhã.
Katie fechou os olhos e sorriu para si quando repetiu uma frase de um filme
que se tornou um favorito dela há muito tempo ,"África dos meus Sonhos."

E Katie tinha certeza , ela seria.

Os pássaros a acordaram muito antes de estar pronta para acordar. O grito


vindo de fora da janela fechada era como nenhum outro pássaro cantando
como ela nunca tinha ouvido antes. Tudo começou com o que parecia ser T-
oo,T-oo,T-oo . O grito foi repetido exatamente três vezes e seguido por uma
pausa.Então, quando parecia que a paz e a calma tinham voltado, o grito
agudo soou de novo, o mesmo de antes, exatamente três vezes.

Katie tentou rolar, mas quando o fez, uma dor lancinante veio através da ferida
nas costas. Ela percebeu que deveria ter tomado um banho na noite passada
ou, pelo menos, lavado a ferida.

Agarrando algumas roupas limpas de sua mochila que foram equilibradas no


topo de uma pilha de caixas, ela pegou a toalha de banho e de rosto e foi para
o banheiro. O chuveiro com alças trabalhadas era diferente do que qualquer
coisa que ela havia experimentado antes, e ela levou um tempo para descobrir
como funcionava o sistema. Mas ,uma vez que ela o fez, ficou surpresa e feliz
ao sentir a água quente que saia do chuveiro. Que luxo lavar os cabelos e
deixar as bolinhas minúsculas de água morna caírem nas suas costas e
limparem a pequena ferida. Ela tentou olhar a ferida no espelho,mas só teve
uma visão parcial. Não parecia muito, agora que tinha sido lavada. Vestiu-se e
tentou ajustar a tira de modo que ela não batesse direto no lugar onde o fecho
de metal a havia perfurado .

Saindo do banheiro com o cabelo enrolado em uma toalha de banho, Katie


quase correu para a mãe de Eli, que estava ao lado da porta e parecia estar
esperando pacientemente pela sua vez no banheiro.

"Espero que eu não tenha ficado lá muito tempo."

"Não, não. Está tudo bem. "Sua voz era baixa, e Katie achou que os homens
ainda estivessem dormindo, o que parecia impossível na forma como a luz do
sol estava inundando através das janelas e as aves estavam em pleno coro lá
fora.

" Você está pronta para um café ou chai? Eu não comecei nenhum, mas você é
bem-vinda a bisbilhotar na cozinha e servir-se de qualquer coisa que você
goste. "

" Obrigada ". Katie começou a se afastar e então perguntou:" O que gosta de
fazer pra você de manhã?Eu poderia fazer alguma coisa para todos ? "

"Isso seria ótimo, Katie. Jim é um bebedor de café pela manhã , Eli costumava
ser, eu não sei se ele ainda é. Eu prefiro chai ".

" Ok ". Katie guardou suas roupas e remou em pés descalços para dentro da
cozinha . Este era o cômodo menos desordenado do bangalô e tinha a menor
quantidade de aparelhos e kits de cozinha de qualquer apartamento que ela
tinha estado em muito tempo .

Se eu tivesse me mudado para o mesmo complexo de apartamentos de Cris e


Ted, como eu tinha planejado,minha cozinha seria parecida com essa.Bem
básica.

Ela encheu a chaleira no fogão duas bocas e percebeu que ela precisava de um
fósforo para iniciar o fogo. A cozinha se encheu com o cheiro do gás propano ,
que lembrava a ela que já tinha sentido esse cheiro em alguns dos
acampamentos em que tinha estado no passado com Cris, Ted, e o grupo de
jovens com quem eles tinham trabalhado. Katie fez uma nota mental para
enviar um e-mail para Cris e dizer que ela havia chegado em segurança , que
tudo estava bem.Ela fez outra nota de que ela realmente devia ligar para seus
pais ou, pelo menos, enviar para eles uma carta dizendo onde estava. Não que
ela pensasse que teria importância. Mas alguém devia saber o que ela tinha
feito, onde estava.Alguém além de Ted e Cris.

Katie decidiu que também iria enviar um e-mail para Nicole, que tinha sido uma
assistente residente com ela nos dormitórios durante o ano passado. Ela se
sentia um pouco estranha mantendo Nicole perto do topo de sua lista de
amigos.Ela e Nicole tinham se dado muito bem e tinham feito crescer sua
amizade ao longo do ano passado, mas, em seguida, Nicole e Rick começaram
a sair dentro do que parecia minutos após Katie ter terminado seu
relacionamento com Rick.

Na época, o relacionamento de Rick e Nicole fazia sentido e parecia se


encaixar.Katie encorajou-os a ficarem juntos. Esta manhã, porém, sozinha na
cozinha deste pequeno bangalô, Rick, Nicole e todo o universo que girava em
torno da Rancho Corona pareciam estar muito longe.

A chaleira assobiou, e Katie percebeu que ainda não tinha encontrado o café ou
o chai. Ela abriu os armários e encontrou uma mistura eclética de pratos,copos
e tigelas. A variedade a fez sorrir. Era assim que ela teria equipado sua cozinha
se ela tivesse permanecido na Califórnia.Ela havia equipado seu dormitório com
coisas variadas,coisas de pechinchas que ela comprava em vendas de garagens
e em sua loja favorita.

"Bom dia". Eli entrou na cozinha ainda vestindo as roupas usadas no avião.
"Você parece bem, Katie."

"Você não," ela brincou.

"Apenas esperando minha vez no chuveiro. O chuveiro certamente fez algo de


bom por você.Como estão suas costas? "

" Está tudo bem. "Ela cruzou o braço por cima do ombro e alcançou para dar na
área afetada um tapinha.Quando ela fez, ela se encolheu suavemente.

"Ainda está dolorido?"


"Um pouco". "Quando você tomou sua vacina contra febre amarela e febre
tifóide , você também tomou uma vacina antitetânica?"

Katie pensou por um momento. "Eu acho que sim. Sim, eu tenho certeza.Elas
não duram dez anos ou algo assim? "

" Eu acho que sim. Pode haver um médico aqui em Brockhurst caso você
precise de alguém para olhar isso para você. "

" Eu tenho certeza que eu vou ficar bem. Vou perguntar a sua mãe se ela tem
alguma pomada que eu possa passar.

"Eli chegou em um dos armários e tirou uma lata de metal. Quando ele abriu, o
aroma do café moído encheu o pequeno espaço.Ele tirou do fundo do armário
um velho coador de café de metal . Katie não tinha certeza se ela sabia como
funcionava, por isso Eli mostrou-lhe como preenchê-lo com água potável e
colocar o pó dentro da caixinha redonda que estava salpicada de buracos. A
vasilha, com um cilindro delgado correndo pelo meio dele, atuava como filtro.

"Quando a água ferve, ela vai-se através deste tubo no meio e sai no topo,
derramando sobre a superfície desta vasilha." Eli tirou a tampa."Você tem que
vigiá-la de modo que a água não transborde, e você não pode deixá-la infiltrar
muito tempo ou o café fica muito forte."

"Ok,posso fazer" Katie se perguntou o que viria a seguir. Que tipo maravilhoso
de café da manhã eles podiam criar juntos? Ela estava tão faminta.Ovos
mexidos e bacon soavam divinamente. Ou panquecas e salsichas.

"Devo começar a fazer o café da manhã?", Perguntou ela. "Ou será que sua
mãe gosta de ter a cozinha só para ela quando cozinha?"

"Eu tenho certeza que ela não se importaria de você começar algo. Ela
planejava ter apenas ugali. "

" Isto é como em: "Eca, caramba, Miss Molly"?

"Não, isso é como em ugali, o pão de cada dia do Quênia. Ele vem do milho e
se parece com cimento branco, mas ele enche. E é barato. "

"Cimento branco no café da manhã? Ok, agora você está apenas inventando
coisas. "
" Eu estou? "Eli sorriu e se afastou.

" O quê?Você está tentando me dizer que está falando sério? "

" É a minha vez no chuveiro , ele falou de volta para ela. "Apenas relaxe. Você
vai gostar. E eu aposto que você vai gostar da chapatti também."

Katie ficou sozinha na cozinha e murmurou,"Ugali? Chapatti? Sério? Aquelas


não podiam possivelmente ser palavras reais. "

Ela voltou para a busca de uma caixa de sacos de chá ou chai e pensou em
como ela tinha dito uma vez a Cris que ela só comia alimentos de seus quatro
grupos alimentares preferenciais:. açúcar, gordura, conservantes e
aromatizantes artificiais. Isso foi no colégio, logo depois que ela terminou com
Michael, o mestre dos alimentos saudáveis e estudante de intercâmbio da
Irlanda do Norte que tinha vindo à sua escola em Escondido.

Katie sorriu para si mesma lembrando dessa época da sua vida. Oh, o quanto
ela havia mudado desde então.

Ela pensou na admoestação da Sra.Lorenzo para deixar seu espírito e corpo


instalarem-se nos ritmos da África. Esse processo podia demorar um pouco.
Mas ela estava animada para mergulhar no desafio de todas as mudanças que
estavam à sua frente.

A coisa que Katie estava descobrindo sobre Eli era que ela não podia dizer
quando ele estava falando sério e quando ele estava brincando com ela. Ela
gostava disso nele. Ela gostava de vê-lo vir pra"casa" e se estabelecer em seu
ritmo natural. Isto ajudou Katie a entender quão desafiador deve ter sido para
ele fazer os ajustes para a cultura do estilo de vida acelerado do Sul da
Califórnia.

Katie pensou em todas as vezes durante o ano passado, quando Eli parecia
estar encarando.Talvez tenha sido a sua maneira de simplesmente se afastar e
observar. Katie tentou ajudá-lo no outono passado, dando-lhe um sinal, quando
ele estava fazendo a coisa,encarando, mas agora ela estava começando a
entender como concentração e observação eram uma resposta normal em uma
situação desconhecida .

Para Eli isso era familiar. Confortável.


Para Katie até os pássaros falavam uma língua diferente. E aparentemente o
chai não vinha em uma caixa marcada "chai", porque ela não tinha tido sucesso
em encontrá-lo em qualquer um dos armários.

Encostada à pia, ela esperou por alguém que viesse até a cozinha para ensinar-
lhe as noções básicas de como preparar um café da manhã queniano.Ela
realmente esperava que Eli estivesse brincando sobre o ugali.

CAPÍTULO 4

Antes de Katie colocar a cabeça sobre um travesseiro no final de seu primeiro


dia no Quênia, ela tinha compilado uma lista extensa de "Notas para Si
Mesma." Durante a faculdade, ela começou uma variedade de lembranças
curtas, sempre que ela queria ter certeza de não entrar na mesma situação
embaraçosa novamente ou se atrapalhar e dizer a coisa errada uma segunda
vez.

Aqui no Quênia, o processo de tomada de nota parecia essencial se ela estava


a caminho de encontrar o seu ritmo, como Cheryl tinha sugerido na noite
anterior. Mesmo se chamando a mãe de Eli "Cheryl" era um ritmo totalmente
diferente para Katie e, portanto, ela precisava seguir em sua lista de
notas.Alguns tópicos dos lembretes incluíam:

• Não fazer piada de qualquer alimento oferecido a você.(Ou pelo menos


esperar até você estar sozinha para fazer piadas silenciosas sobre os nomes
locais favoritos, bem como o fato de que ugali se parece com cimento branco.)

• Basta ouvir em vez de tentar processar tudo em voz alta. Por exemplo, a
tentativa de imitar os pios de pássaros matinais quando você está sendo
apresentado ao diretor do Centro de Conferência de Brockhurst é desnecessária
e sai como um som tão estranho que você pode guardar para si mesma a partir
de agora.

• Reduza a velocidade. Aparentemente, é normal a andar mais devagar aqui e


descansar um pouco mais depois de uma refeição.Você precisa se acalmar e
desacelerar.

Katie rolou de costas na cama e decidiu parar com as notas por enquanto e
tentar reduzir a marcha. Este primeiro dia a tinha mantido em um estado de
constante surpresa. Ela sabia que o fuso-horário era uma das razões para isso.
Mas uma grande parte era que nada era como ela esperava. E isso era dizer
muito, porque as expectativas dela tinham sido poucas.

O café da manhã incluiu a leitura da bíblia pelo pai de Eli e uma oração em
família. Katie amou isso.

Ela também adorava o chá, ou "chai", que Cheryl tinha preparado para eles.
Era tão delicioso quanto o chai que ela havia servido na noite anterior e a
preparação foi uma experiência de abrir os olhos.

Primeiro Cheryl ferveu dois copos de água em uma panela e acrescentou cerca
de quatro colheres de chá de folhas de chá soltas. Ela, então, despejou dois
copos de leite frios e o que parecia ser cerca de um oitavo de uma xícara de
açúcar bruto.Entregando a Katie a colher, Cheryl disse a ela que continuasse a
mexer a mistura. No momento certo, Cheryl puxou a panela do fogo antes que
ela fervesse uma segunda vez.Em seguida, derramou a bebida fumegante
através de uma grande peneira de grandes dimensões que pegou as folhas de
chá gastas,e a mistura levemente perfumada foi vertida em bolsas.

"Muitas pessoas gostam do chai queniano com cardamomo e gengibre


misturado", disse Cheryl. "Eu gosto dele claro, de modo que geralmente é
assim que eu o faço."

Katie tomou um gole e sabia que isso iria se tornar sua nova bebida preferida .
Era grosso , doce e certamente, ajudava o ugali não tão saboroso a descer.

Cheryl havia explicado que ela só usava um determinado tipo de folhas de chá,
quando ela fazia o chai. Ela abriu a caixinha de chá de novo e mostrou o
conteúdo profundamente negro para Katie. "Você pode ver como eles são bem
picadinhos ?"

"Parece quase como café moído," Katie disse.

"Outra dica é sempre a sacudir a vasilha primeiro ou mexer o chá com uma
colher seca - apenas no caso de alguns insetos estarem escondidos no chai. Se
o chá se mover por conta própria antes de colocá-lo na água fervente, é só
pegar uma boa peneira e remover os intrusos antes de usar. "

Katie acrescentou essa dica para sua lista de notas para si mesma, mas teve
uma sensação muito boa de que aquela ela não iria esquecer .

O mesmo espírito de bom senso e de " você vai acabar se ajustando e fazendo
uso de todos os seus recursos”, estiveram em vigor o resto do dia, como
quando Eli e seus pais ajudaram Katie a se acomodar em suas novas
instalações . Ela foi colocada na sala 3 do Edifício A, localizado atrás da sede.
No novo alojamento, o edifício era onde os solteiros visitantes de longo prazo
ficavam em Brockhurst.

O quarto dela estava no meio de um trecho de seis quartos individuais ligados


por paredes comuns de um edifício longo, com um telhado de telha vermelha. A
construção de pedra a fazia sentir que seu quarto era privado, seguro e bem
legal. Ela não tinha aquecedor, mas a cama veio com dois cobertores. Sob a
única janela pela porta da frente estava uma mesa estreita, com uma lâmpada.
Ao lado de sua cama tinha uma pequenina mesa com outra lâmpada, e em
frente ao pé de sua cama havia um guarda-roupa-estilo-cômoda feito de
madeira escura, com gravuras entalhadas ao longo dos lados.Katie correu os
dedos sobre a videira esculpida e admirava o artesanato . Ela ficou
impressionada. Esta peça de mobiliário pré-cortada não era como a estante das
meninas em seu dormitório que elas tinham tentado colocar juntas no ano
passado usando uma chave de fenda pequena e cola.

A melhor parte era que o quarto tinha um banheiro com chuveiro. Ela estava
acostumada a viver em um dormitório, onde os banheiros, pias e chuveiros
ficavam todos no corredor. Parecia um luxo ter seu próprio banheiro a poucos
passos de distância de sua cama.

"E eu que pensei que ia ser difícil quando vim para a África", disse Katie quando
Eli mostrou o quarto para ela.

"Ainda é uma selva lá fora", Eli disse. "Você vai querer ter certeza de manter a
janela do banheiro fechada à noite."

"Certo. Sua mãe me falou sobre os insetos e como tirá-los do chá. "

"Insetos? Estou falando sobre manter os macacos fora de seu quarto. "Katie
sorriu. "Claro. Os macacos. "Ela pensou que ele estava brincando sobre os
macacos, mas não podia ter certeza já que o edifício A estava construído atrás
de algumas folhagens densas, como se estivesse situado à beira de uma selva
esquecida.

Depois de deixar a bagagem no quarto dela, Katie e Eli foram de mãos dadas,
em um tour por Brockhurst. O centro de conferências era lindamente
paisagístico e muito mais expansivo do que Katie tinha percebido. A alta
altitude, o clima chuvoso, a grama verde, e casas de pedra espalhadas por todo
o vasto centro de conferências a fizeram sentir-se mais como se estivesse em
uma aldeia Inglesa do que em um local Africano. Parecia impossível que um
macaco jamais encontrasse o caminho para tal lugar.

Eli parou em um grande e impressionante banco entalhado à mão, que foi


estrategicamente colocado sob uma árvore frondosa no meio de uma área
gramada.

"Este é o meu banco favorito," Eli disse.

Katie pensou que era bonito que ele tivesse um banco favorito.

"Se você não conseguir me encontrar, tente me procurar aqui." Ele se esticou
para demonstrar como era o comprimento perfeito para um cochilo à tarde e
como os braços tinham sido construídos na altura certa se você estivesse
sentado no final e segurando um livro. Ele alisou a mão sobre a madeira bem
desgastada que formava o encosto curvo perfeitamente.

"Um homem chamado Martin fez este banco. Ele era um homem grande da
Bélgica com as mãos enormes e um profundo amor por este lugar. Ele me
ensinou muito sobre a construção e carpintaria.Sempre que ele anunciava que
ia começar um novo projeto em algum lugar por aqui , eu tentava entrar na
lista da equipe de voluntários."

"Eu gostaria de encontrá-lo", disse Katie.

"Eu gostaria que você o encontrasse também." Eli fez uma pausa e
acrescentou: "Vai ser no céu, no entanto. Não aqui. Ele nos deixou há dois
anos. Ele tinha 88 anos e estava trabalhando em um guarda-roupa para a
Construção A. Poderia ter sido aquele em seu quarto. "

Katie lembrou de ter percebido os detalhes esculpidos no lado do guarda-roupa.


Mesmo de relance, quando ela colocou suas coisas nele, ela sabia que era uma
peça especial de mobiliário.

Eli concluiu seus pensamentos sobre Martin dizendo: "Um dos caras que
trabalharam com ele aquele dia me disseram que um minuto Martin estava
esfregando óleo na cômoda , e no minuto seguinte o seu corpo era uma
espécie de coisa amassada no chão. Ele disse que era como se o espírito
enorme de Martin tivesse subido e deixado seu corpo em um instante, e tudo o
que restou foi uma pilha de pele e ossos. E aquelas mãos enormes dele. "
Katie nunca tinha ouvido ninguém falar sobre a morte de uma pessoa assim. A
atmosfera elementar deste lugar parecia evocar discussões não filtradas e
respostas.

O jantar naquela noite confirmou sua impressão quando se juntou ao resto do


pessoal e dos visitantes para desfrutar de tigelas simples de sopa de legumes e
pães macios no salão de jantar principal. A comunicação direta foi a melhor
parte. A informação não foi redigida de forma a garantir que ninguém se
sentisse ofendido. O espírito das conversas estava aberto, como se todos eles
fossem da mesma família e pudessem falar livremente, mesmo que esta fosse a
primeira vez que se encontravam.

Depois do jantar Eli abriu o caminho para o seu segundo lugar favorito em
Brockhurst, localizado acima do salão de jantar. A sala de estar bem concebida
era chamada Cova do Leão. Num extremo tinha uma área privada com sofás
em frente a uma lareira impressionante. No outro extremo tinha um café
simpático chamado Café Bar. Eli explicou que este era um dos lugares onde os
dois provavelmente trabalhariam.

"Parece bom para mim. Quando nós começamos? ""Relaxe, Katie. Dê a si


mesma uma chance para se ajustar."

"Eu me sinto pronta . Você pode me colocar para trabalhar.Honestamente, eu


não estou cansada. "

Eli reprimiu um sorriso. "Espere".

Katie logo descobriu o que ele queria dizer. Às sete horas da noite, ela sentia
como se todas as suas baterias se esgotassem. Aqui estava ela ,indo para a
cama no inédito-horário de sete e meia.Pensando novamente sobre os
macacos,ela ainda não estava convencida sobre a história de Eli sobre o
primata ocasional que encontrou o seu caminho através do crescimento da
selva e não hesitou em passar através das grades que cobriam a janela do
banheiro para vasculhar um quarto em busca de lanches. No entanto, ela
garantiu que todas as suas janelas estivessem bem fechadas antes de cair na
cama na primeira noite em seu novo quarto.

Isso pode ter dissuadido os macacos saqueadores, mas as janelas fechadas não
impediram que os distintivos, pios de pássaros da madrugada encontrassem
seu caminho para as orelhas de Katie em sua segunda manhã no Quênia. Eles
pareciam determinados a despertá-la para que ela pudesse se levantar, puxar
as cortinas, e descobrir qual era o outro som desta manhã. Era chuva. Uma
folha salpicada de chuva batendo contra o telhado de metal correu em regatos
abaixo de uma passagem angular. A luz da manhã era fraca.O quarto de Katie
estava frio. Ela desejava que pudesse fazer um copo de sua nova bebida
favorita. Especialmente em uma manhã tão fria.

Katie levantou-se e vestiu-se com várias camadas quentes. Ela encontrou um


boné de beisebol que tinha embalado e alegrou-se que pelo menos a cabeça
seria protegida já que ela não tinha um guarda-chuva.

Fazendo seu caminho para cima, para a casa dos Lorenzo no aguaceiro, ela
bateu suavemente na porta. Ninguém respondeu. Ela se sentia estranha
virando a maçaneta da porta e entrando. Cheryl a tinha convidado para vir à
sua casa quando ela acordasse, mas ela não deixou claro se eles iriam deixar a
porta destrancada.Katie não sabia se poderia usar a cozinha.

Ao invés de bater mais alto e arriscar a possibilidade de acordar todo mundo,


Katie correu através da chuva e subiu os degraus para o Café Bar acima da sala
de jantar.

Uma visão maravilhosa cumprimentou-a. À direita da entrada, em uma área de


reuniões bem situada, um fogo estava aceso na lareira grande. As chamas
vermelhas finas banhavam os troncos secos empilhados,enchendo a área com
calor e uma sensação de conforto. Diante da lareira de pedra tinha um sofá
esfarrapado, e alguém usando um gorro de malha estava sentado no sofá com
a cabeça inclinada.

Katie reconheceu o gorro e o cabelo castanho que caia para fora das bordas.
Escorregando para fora de seu casaco encharcado, Katie tirou o boné de
beisebol e sacudiu os cabelos. O piso de madeira rangia quando ela fez seu
caminho até o sofá e disse: "Ei, Tarzan".

Eli não se virou para olhar para ela.

Katie pisou para a frente do sofá e sentiu o calor delicioso do fogo.Ela sorriu
quando viu por que Eli não tinha respondido. Sua cabeça estava mergulhada
porque ele havia adormecido em frente à lareira com a sua Bíblia aberta no
colo. Da mesma forma que ele tinha dormido tão profundamente dentro da van
na estrada acidentada , ele continuou a dormir, mesmo depois que Katie se
sentou ao lado dele e colocou as pernas para cima ao lado das suas no pufe.
Ela tirou os sapatos e mexeu os dedos dos pés nas meias, saboreando o calor
proveniente do fogo.
Katie se inclinou para ver onde Eli estava lendo em sua Bíblia. Estava aberta no
livro de 1 Tessalonicenses. Ela olhou mais de perto e viu que ele havia
sublinhado partes do capítulo 3.

"Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que vocês têm uns para com
os outros ... Que ele fortaleça os seus corações para que vocês sejam
irrepreensíveis e santos na presença do nosso Deus e Pai".

Katie também notou que Eli tinha escrito algo na margem que parecia ter
começado com um K, mas seu braço estava cobrindo essa parte por isso ela
não podia ver o que ele tinha escrito. Ela considerou fazer-lhe cócegas no nariz
para que ele pudesse levantar a mão golpeando e afastando o inseto imaginário
enquanto ela tinha um vislumbre do que ele havia escrito.

Será que ele escreveu o meu nome na margem ao lado desses versículos? Será
que ele estava orando esses versos para nós?

Katie se inclinou para trás e sorriu. Parecia uma das coisas mais românticas que
um cara poderia fazer, escrever seu nome na margem de sua bíblia próxima a
uma passagem sobre o amor crescente e transbordante e sobre Deus
fortalecendo seus corações.

Katie não poderia dizer que ela se lembrava de alguma vez de ter lido todo o
caminho através de 1 ou 2 Tessalonicenses, mas ela teve uma sensação de que
eles iriam se tornar seus novos livros favoritos na Bíblia.

É isso que você deseja para nós, Senhor? Você vai fazer o nosso crescimento
no amor e transbordar de um para com o outro?

Ela leu a parte sublinhada novamente. Fortaleça os nossos corações, meu pai.
Faça-nos irrepreensíveis e santos diante de ti.

Katie sentiu o perfume suave da madeira queimando e se sentia por dentro tão
quente como estava se sentindo por fora com o fogo delicioso que estava
aquecendo seu pés. Ela olhou para Eli, secretamente desejando poder descobrir
como se aconchegar a ele, sem ser demasiadamente invasiva ou interromper o
seu sono.

Seu plano foi interrompido quando a porta da loja foi aberta.Soava como se
uma debandada estivesse acontecendo, com os pés todos pisoteando e falando
em voz alta sobre este ser o lugar para o café da manhã.
Katie olhou para Eli. Ele tinha acordado e parecia atordoado, como se ele não
se lembrasse onde estava ou por que Katie estava lá ao lado dele.

"Oi", Katie saudou.

"Ei". Ele olhou para ela mais de perto.

"Lembra-se de mim?"

Ele sorriu e coçou a pálpebra direita. "Então, o que está acontecendo?"

Katie riu baixinho.

"O quê?"

"Toda vez que você acorda, você olha como se você estivesse com amnésia."

Eli manteve uma cara séria. "O que é amnésia? Eu costumava saber o que era,
mas agora acho que eu esqueci. "

"Oh, bem, então, deixe-me ajudá-lo com sua memória. Meu nome é Princesa
Hakuna Matata, e isso só acontece porque eu sou a mulher mais cativante que
você já conheceu. "

"Eu me lembro disso." "Sim. Mas espere, ainda há mais. Você prometeu vir em
meu socorro, se os macacos da selva invadissem minha casa. "

"Certo. Está tudo voltando para mim agora. Os macacos. "Ele apertou os olhos
e inclinou a cabeça. "Princesa Hakuna Matata, hein?"

"Sim. É o suaíli que eu poderia pensar no momento. "

Eli tirou o gorro de sua cabeça e tentou alisar o cabelo para trás,o que era inútil
agora que seu cabelo tinha crescido para fora e a onda natural puxava seus
cabelos em todos os sentidos. "Sua personalidade parece ter finalmente
voltado. Acho que você não está mais se sentindo nervosa . "

"Tenho estado nervosa?"

Eli baixou o queixo como se estivesse esperando Katie responder à sua própria
pergunta.
"Não há uma explicação para o meu nervosismo. Ao longo dos últimos dias não
tenho tido cafeína suficiente. Você pode mudar isso tudo agora. Você está
pagando, lembra? "

"Sim, claro. Eu me lembro de tudo agora. Você me seguiu para a África por
causa da minha grande riqueza. O tempo todo eu estava esperando que fosse
por causa do meu charme, mas agora eu vejo a realidade. "

"Desculpe, mas você ia acabar descobrindo de qualquer jeito ", brincou Katie.

Eli fechou sua Bíblia e se levantou. "Vamos lá, princesa Hakuna Matata. Vamos
começar com a cafeína. "Ele olhou para além de Katie para ver o grupo que
criava o tumulto. "Ah, bom. Eles estão aqui.

Vamos lá. "Ele estendeu a mão, e Katie colocou a mão na dele para que ele
pudesse ajudá-la a se levantar do sofá mole. Ela não sabia porque ele estava
tão animado, de repente. "Você já falou com algum deles? ", ele questionou.

"Quem? O rebanho que acabou de entrar? "

"Sim, é o grupo da Rancho Corona. Eles chegaram pouco depois da meia-noite.


Meu pai e eu os ajudamos a se acomodarem. Eles tiveram um grande momento
na aldeia."

"Este é o grupo da escola que você ajudou a formar? Eles vão ficar aqui? "

Eli olhou para ela. "Agora, quem é a pessoa com amnésia? Eu sei que eu lhe
disse no avião que eles estavam chegando. "

O nervosismo voltou e ela não sabia por quê. Eles tinham dado as mãos ontem,
quando eles caminhavam em torno do centro de conferências, mas ninguém ali
a conhecia. Ela não tinha certeza de quem estava no grupo da escola e se eles
a reconheceriam . É evidente que Eli não tinha nenhum receio em deixar que
todos soubessem que eles estavam juntos.

Quando ela e Eli se aproximaram do grupo, Katie reconheceu três estudantes


da Rancho, e os três eram pessoas que ela gostava e confiava. Ela tinha ido a
uma parte do primeiro encontro da escola para esta viagem missionária, porque
ela esperava que Rick iria se juntar a ela no treinamento e os dois iriam juntos
na viagem . Mas Rick disse que não tinha interesse em ir para a África, e esse
foi o fim da consideração da viagem de Katie .
Ela percebeu que poderia gastar muito tempo comparando as diferenças entre
Rick e Eli, ou poderia deixar isso pra lá. Comparando-lhes ela não iria conseguir
nada. Rick era passado, Eli era presente. A faculdade era passado; A África era
presente. Ela estava em um bom caminho. Não era necessário comparar
qualquer coisa ou sentir-se hesitante em estar com Eli.

No entanto, ela se sentia hesitante. Só um pouco. O efeito de ver o grupo dos


mesmos alunos com quem tinha estado no campus tão pouco tempo atrás a fez
perceber o quanto tinha mudado em menos de uma semana.

"Jambo", Eli cumprimentou o grupo.

Todas as oito pessoas do grupo voltaram-se e cumprimentaram Eli com


entusiasmo.

"Ei, Katie!" Um dos caras chegou e deu-lhe um abraço de lado. "Eu não sabia
que você ia estar aqui. "

"Eu também não sabia", disse ela alegremente.

"O que você está fazendo aqui?", Perguntou ele.

"Eu ... nós ..." Ela olhou para Eli. "Nós estávamos indo tomar um café."

"Não, quero dizer, o que você está fazendo aqui" - ele abriu os braços - "no
Quênia?"

"Eu estarei ajudando. Aqui em Brockhurst.

"Sério? Por quanto tempo? "

O grupo todo parecia estar olhando para ela, esperando por uma resposta. Ela
poderia dizer que alguns deles estavam fixados na visão das mãos dela e de Eli
entrelaçadas. Katie tentou puxar lentamente a mão dela, mas Eli a manteve um
pouco mais apertada.

"Eu vou ficar por um tempo indefinido". Katie sentiu algo dentro dela ir
vacilante, quando ela disse "tempo indefinido." Foi uma verdadeira resposta do
seu coração, mas era assim - por tempo indefinido.

"Isso é ótimo, Katie!" Uma das meninas deu um sorriso e um aceno de apoio.
Katie lembrou de Kaycee da aula de História Mundial que tiveram juntas há dois
anos. O cabelo o escuro dela estava mais longo agora, mas seus olhos
castanhos quentes expressavam a mesma bondade que tinham quando Katie
tinha dado um último anúncio agitado sobre toda a leitura que eles tinham que
fazer para a sua aula de história. A Expressão encorajadora de Kaycee
significava muito para Katie agora.

"Sabe que a que horas o Café Bar abre?" Justine, uma das outras garotas
perguntou. Katie lembrou-se dela, porque quando Katie teve que assinar para
um evento, ela teve três tentativas antes de reunir as letras do sobrenome de
Justine na ordem certa: V-o-n-d-e-r-h-e-i-d-e.A última vez que Katie tinha
conversado com Justine, foi na transferência para outra faculdade, em
Kentucky. Esta manhã ela parecia uma garota do campo , com o cabelo escuro
puxado para trás em um rabo de cavalo, o seu grande sorriso mostrando seus
dentes retos, e um brilho feliz nos olhos claros. Ela estava demasiadamente
acordada para estar necessitando seriamente de café da mesma maneira que
Katie estava naquele no momento.

Estes eram os seus colegas na Rancho Corona. Katie não sabia por que ela
ainda se sentia tão reservada na frente deles.

Eli levantou o braço para olhar para o relógio enquanto ainda segurava a mão
de Katie. "Eu diria que o Café Bar deve abrir em cerca de um minuto e meio."

Katie e os outros olharam para o sinal fechado e o contador autônomo. Por que
Eli acha que alguém iria vir deslizando para dentro e ficar de plantão em um
minuto e meio?

A resposta ficou clara quando Eli deu na mão de Katie um puxão e rapidamente
abriu o caminho atrás do balcão. Aparentemente, ele era o funcionário
voluntário com o turno da manhã no Café Bar.Ainda segurando a mão de Katie,
ele levou-a para mais longe atrás do balcão, onde os outros não podiam ouvi-
los, e perguntou:

"Você está bem?"

"Claro."

Ele deu-lhe um olhar penetrante.

Ela baixou a voz e se afastou do grupo. "Eu me senti um pouco envergonhada,


por alguma razão."
"De mim?"

"Não, eu não tenho vergonha de você. Nem um pouco. "

"Então o quê?"

"Eu não sei. Eu acho que estou envergonhada de que -, você e eu - é tão cedo.
Nós começamos a "ir juntos" tão rapidamente. "

"De acordo com a sua contagem de tempo, pode parecer rápido, mas para mim
já tem um ano. "

Katie sabia que Eli tinha definido seus sentimentos por ela, quando ela ainda
estava namorando com Rick. Eli tinha esperado pacientemente e orado.

Ela tentou explicar o que estava sentido de modo que ele não ficasse
pessoalmente constrangido ."Eu não sei o que alguns deles podem pensar
sobre nós estarmos juntos."

Eli moveu-se para trás. "Que importa o que eles pensam?"

Katie alisou os cabelos para trás. "Você está certo. Que importa? Por que estou
preocupada com isso? "

"Exatamente. Se você vai se chamar princesa Hakuna Matata, é preciso lembrar


que isso significa “Não se preocupe. "

Katie sorriu.

"Se você vai encontrar coisas inúteis para se preocupar, você vai ter que mudar
seu nome."

"Não é o caso, Lorenzo."

Eli lhe deu um sorriso. "Bem,por outro lado, talvez devêssemos deixar a
possibilidade da sua mudança de nome em aberto. Para algum dia. "

Demorou um minuto para Katie juntar as peças e perceber que ele estava
dizendo que eles deveriam deixar em aberto a possibilidade de um dia o seu
último nome ser alterado para Lorenzo. Ela sentiu seu rosto corar. Eli tinha ido
trabalhar na moagem de grãos de café, como se o seu último comentário não
tivesse nenhum peso.
Katie não teve tempo para processar o que acabara de ouvir, porque Eli tinha
assumido o comando do Café Bar, e ela estava tentando acompanhá-lo
caminhando para lavar-se, iniciar a máquina de expresso, e servir os alunos
que estavam colocando seus pedidos a partir do menu manuscrito no quadro
negro que pairava sobre o balcão.

Mais uma vez Katie sentiu seus mundos colidirem. Um ano atrás, neste
momento ela estava trabalhando no café gerenciado por Rick. Ele mostrou-lhe
tudo sobre o serviço de alimentos. O que também era estranhamente familiar
para Katie era que, quando Eli tinha chegado a uma noite de pizza no ano
passado, ele tinha acabado por servir bebidas a todos e sentindo-se em casa
ele tinha conseguido fazer Katie servir junto com ele. Aqui estavam eles,
servindo bebidas novamente para, provavelmente, pelo menos uma pessoa que
tinha estado naquela noite da pizza.

Assim quando todo mundo tinha sido servido, Eli disse: "É a sua vez.O que você
gostaria? Estou pagando, lembra? "

"Eu não esqueci. Eu gostaria de um café mocha, desse que você fez para
Justine. "

"É isso aí." Eli primeiro puxou alguns xelins quenianos do bolso e seguiu o
protocolo no caminho para pegar o dinheiro e fazer a mudança que ele tinha
explicado a Katie anteriormente. Ela observou ele fazer o seu café e, em
seguida, perguntou o que ele ia tomar para que eles pudessem ir sentar-se com
o resto do grupo.

Em voz baixa, Eli disse: "Aquele era todo o dinheiro que eu tinha comigo .
Assim,pense sobre você beber o quanto quiser e deixar alguns goles do seu
mocha pra mim no final."

A primeira coisa que Katie pensou era como ela estava impressionada com a
integridade de Eli. Ele poderia ter feito qualquer coisa que ele quisesse beber, e
não um, mas Katie teria sabido que ele não tinha pago por ele. A próxima coisa
foi que ela achava que a sua parte favorita de um café mocha eram os últimos
goles.

"De jeito nenhum." Ela fez uma expressão severa. "Você não estará recebendo
a escória do meu café mocha. Você e eu sabemos que os últimos goles são os
melhores. Todas as coisas boas se instalam na parte inferior dele. "
"Você é uma mulher determinada, não é?" Eli voltou com a expressão
provocante.

"Você já se esqueceu como você tentou me dar uma multa de estacionamento


na escola no ano passado e como eu lutei para sair dela? "

"Não, eu não esqueci."

Alcançando o cabelo dela, Eli pegou alguns fios e os esfregou entre o polegar e
o indicador. O gesto terno combinava com a expressão de ternura em seu
rosto. "Eu não esqueci de nada, Katie girl .De nenhuma única coisa. "

Katie se moveu para trás, não tendo certeza do que fazer com a expressão de
afeto dele. Ela deu-lhe um olhar brincalhão."Boa tentativa, Lorenzo. Mas eu
ainda não te dei meus últimos goles.

"Eu tive um sentimento de que você diria isso." Eli recostou-se, cruzou os
braços, e acrescentou: "E isso é uma chatice, porque parece que você vai ter
que encontrar alguém para ser sua patrulha protetora contra os macacos
selvagens . "

"O quê?" Katie colocou as mãos nos quadris. "Você não pode me chantagear
assim!"

"É o jeito da selva, querida. Compartilhe seu café ou se proteja sozinha dos
macacos selvagens.Só cabe a você decidir. "

"Ótimo." Katie lançou-lhe um olhar enviesado. Ele parecia elevar-se sobre ela,
sorrindo e olhando como ele estivesse prestes a bater no peito e soltar um
louco grito de Tarzan.

Interiormente, Katie sentia como se Eli tivesse pego seu coração em seus
braços musculosos, e os dois estivessem balançando no ar em uma árvore na
selva.

CAPÍTULO 5

E você tem certeza que tomou a vacina antitetânica antes de vir pra cá, certo?

"O médico olhou para Katie sobre o aro dos óculos.


"Sim, eu verifiquei. Ela está listada nos documentos que eu trouxe comigo. Eles
estão em minha bolsa. "

A mãe de Eli levantou a bolsa de Katie, de onde ela a havia deixado ao lado da
mesa em um dos quartos no Edifício C, onde o Dr. Powell e sua esposa
estavam hospedados. Cheryl trouxe a bolsa de Katie para que ela pudesse tirar
os documentos que comprovavam sua imunização.

Faziam quatro dias desde que ela e Eli tinham chegado, e a ferida nas costas
continuava a incomodá-la. Naquela manhã, ela disse a Cheryl sobre como a
lesão a tinha acordado de noite, pois estava quente e pulsava. Cheryl deu uma
olhada e disse que um médico era necessário para dar uma olhada. Felizmente,
o Dr. Powell e sua esposa estavam hospedados em Brockhurst por duas
semanas antes de voltarem para a aldeia onde viviam e trabalhavam no Sudão.

"Sim, está tudo em ordem", o Dr. Powell disse. "Você tem todas as vacinas
corretas. Essa é a boa notícia. Mas você definitivamente tem uma infecção na
ferida. Vou limpá-la para você, e então vamos ver se você pode começar a
tomar um antibiótico. Você tem alguma alergia a algum medicamento? "

"Não, não que eu saiba."

"Quando foi a última vez que você tomou um antibiótico?"

Katie não conseguia se lembrar. Além de pegar um resfriado ou uma gripe a


cada poucos anos, ela era uma pessoa saudável.

"Algum outro sintoma?"

"Estou muito cansada."

"Você dormiu bastante desde que você chegou?"

"Não muito. Apenas cerca de quatro horas em um momento antes de eu


acordar. Demora um tempo para voltar a dormir, e então eu só consigo entrar
em um outro par de horas antes de eu acordar de novo. "

"Isso não é incomum. Você vai se ajustar com o passar do tempo . A fórmula é
que normalmente leva um dia para cada hora de diferença de tempo antes de
seu relógio interno estar definido para a hora local. Qual é a diferença de fuso
horário da Califórnia? Não são onze horas? "
"Eu pensei que fossem dez", disse Cheryl. "Ou será que é só com o horário de
verão?"

O médico voltou-se para Katie e disse: "Qualquer que seja a diferença, o ponto
é ,que você está aqui já fazem alguns dias . Dê a si mais uma semana, e estará
menos cansada. Nesse meio tempo, evite cafeína e tirar sonecas curtas na
parte da tarde, se puder. Vou ver o que posso fazer sobre alguns antibióticos
para você. Se eu for bem-sucedido, você pode ter que pegar a prescrição em
Nairobi.
"
Katie percebeu a expressão no rosto de Cheryl, que parecia indicar que ela não
estava entusiasmada em ter que ir para Nairobi.

"Isso é um problema?" Katie perguntou. Ela gostou da idéia de ver o campo


durante o dia e voltar para Nairobi.

"Pode ser", Cheryl respondeu. " Vamos ver. No mês passado tivemos uma
visitante do Canadá. Ela se esqueceu de trazer sua medicação de pressão
arterial, e tivemos que fazer três viagens para a cidade e esperar em longas
filas em vários lugares antes de finalmente encontrarmos o que ela precisava.
Os antibióticos não devem ser tão difícil. " Ela virou-se para o Dr. Powell. "Você
não acha?"

"Temo que não , nunca se sabe. Eu vou verificar isso imediatamente. Tem
alguma coisa de que você precise ou Jim, enquanto eu estarei procurando os
antibióticos? "

"Não. Nós dois estamos bem saudáveis. "

"É sempre bom ouvir isso. Vi Eli trabalhando na Cova do Leão noite passada.
Ele parecia estar em sua melhor forma,como nunca o tinha visto em anos. Seu
tempo na faculdade deve ter sido muito bom para ele. "

"Sim,foi muito bom." Cheryl ofereceu a Katie um pequeno sorriso. "Katie


estudava lá com ele, e ambos graduaram-se algumas semanas atrás. Ela está
planejando ficar aqui, espero que, algum tempo. "

O Dr. Powell deu ao rosto de Katie um exame mais de perto, como se fosse a
verificação de sintomas de uma queda fatal. Ele deve ter achado o que estava
procurando, porque o diagnóstico foi: "Bem, essa é a melhor notícia do dia.
Para você e para Eli. ".
Katie concordou, mas não tentou oferecer qualquer tipo de explicação. Ela
pensou em como a conversa tinha sido ao redor da mesa na manhã de ontem,
quando ela e Eli "compartilharam" seu café e sentaram-se com os outros
estudantes da Rancho. Eli tinha evitado cuidadosamente cada pergunta que
fosse uma tentativa de encurralá-lo em esclarecer o quão sério ele e Katie
estavam em seu relacionamento. A melhor expressão que ele usou naquela
manhã foi: "Estamos satisfeitos em descobrir isso na medida em que
avançamos".

Katie gostou, porque isso a fez se sentir contente. Eli estava encontrando os
tipos e maneiras mais inteligentes de fazer seus sentimentos conhecidos por
ela, e seu coração estava respondendo a cada pequeno gesto das mensagens
que ele enviava. Mas ele estava deixando claro que a relação deles tinha muito
ainda para se explorar.

O Dr. Powell bateu na ferida de Katie com um chumaço de algodão embebido


em algo frio e que cheirava horrívelmente. Ela estremeceu com o ferrão.

"Minha esposa e eu temos um profundo afeto por Eli," o Dr. Powell disse. "Ele
te disse que passou por aqui há seis anos atrás, quando teve seu pior ataque
de malária?"

"Não. Eu não sabia que Eli teve malária.Será que ele não tinha tomado os
remédios de prevenção? "

"Você pode ter a malária mesmo que você tenha tomado todas as precauções."

"Eu não sabia disso."

O Dr. Powell terminou a limpeza,fez o curativo na ferida e puxou para baixo a


parte de trás da camisa de Katie. Ele deu outro olhar nos seus documentos de
imunização e olhou para o relógio. "Eu preciso conhecer algumas pessoas lá no
Edifício A. Eu vou te avisar quando eu achar os antibióticos. É um prazer
conhecê-la, Katie. Eu tenho certeza que vamos nos ver muitas vezes ainda no
futuro.”

"Não se eu puder evitar", disse Katie.

O Dr. Powell e Cheryl olharam espantados com a resposta dela.

"Eu quis dizer, você sabe, já que você é um médico, eu quero ficar saudável,
para que eu não tenha de vê-lo muitas vezes. Como uma paciente. "

"Oh, eu compreendo. Bem, eu quis dizer que eu iria vê-la por aqui. É uma
pequena comunidade de pessoas que vêm e vão e usam este lugar como um
paraíso. Tenho certeza que você vai conhecer um monte de gente maravilhosa
."

"Estou ansiosa para isso." Desta vez, Katie não tentou soar inteligente. Ela
seguiu Cheryl porta a fora e na chuva.

Tinha chovido durante os últimos três dias, e as calçadas estavam


escorregadias. Cheryl segurava um guarda-chuva amplo sobre as duas, e elas
caminharam juntas de volta para a casa dos Lorenzo '.

"Eu não sabia que Eli teve malária", disse Katie. " O Dr. Powell fez soar como se
fosse muito ruim. "

"E Foi. Ele superou, obviamente, mas foi uma luta muito difícil. Infelizmente,
uma vez que você começa a malária, você sempre a tem em seu sistema. Os
suores e os calafrios podem mostrar-se anos depois dos primeiros de infecção.
As imunizações ajudam tremendamente, mas elas não são uma garantia de que
você nunca vai ter a doença. "

Katie sentiu a seriedade desta informação. Ela sentiu como se tivesse feito tudo
o que ela precisava para se proteger de eventuais doenças tropicais, e ainda
assim ela já tinha conseguido pegar uma infecção, por falta da limpeza de sua
pequena ferida. Ela sabia que não devia tê-la deixado intocada toda a noite
como tinha feito, com apenas um par de tecidos pressionado contra ela. Se ela
tivesse ignorado a mesma lesão de volta à escola, ela poderia facilmente ter
obtido uma infecção lá também. A malária, porém, era algo com o qual ela
esperava nunca ter que lidar.

"Estou contente por Eli estar bem", disse Katie. "Eu não sabia que era uma
doença tão prevalecente."

"Nem todo mundo entende isso." Elas caminharam um pouco mais antes de
Cheryl acrescentar: "Eu nunca tinha contraído malária. Jim teve. E assim
tivemos o nosso filho Andrew, é claro. "

Katie parou de andar. Cheryl parou e se virou para olhar para Katie. Ela recuou
para onde Katie estava, e segurou o guarda-chuva sobre as duas.
"Eli tem um irmão?"

Cheryl olhou surpresa. "Ele não te disse?"

"Não."

"Isso é compreensível. Andrew faleceu antes de Eli nascer. Ele tinha apenas
quatro meses de idade quando morreu de malária. "

Katie sentiu um aperto em seu estômago. Ela não podia imaginar o que seria
perder um bebê. "Cheryl, eu não sabia. Sinto muito por isso. "

Cheryl balançou a cabeça e desviou o olhar. "Eu posso ver por que Eli não disse
alguma coisa sobre ele, é porque Andrew nunca fez parte realmente da vida de
Eli".

Katie podia ver a dor no rosto de Cheryl, mesmo que ela estivesse falando com
uma emoção calma .

Com simpatia, igualmente silenciosa, Katie disse: "Mas Ele fez parte da sua
vida."

Cheryl olhou para Katie, e as duas mulheres trocaram olhares com a chuva
suavemente ao redor delas e fazendo um som suave pingando no guarda-
chuva .

Katie envolveu os braços em volta de Cheryl e lhe deu um longo abraço. "Eu
sinto muito por você ter perdido o seu filho primogênito. Sinto muito. "

Quando Katie deu um passo para trás, ela pôde ver as lágrimas nos olhos de
Cheryl.

"Obrigado por dizer isso, Katie. Foi há tanto tempo. Andrew era tão pequeno.
Ele era prematuro, e tinha problemas respiratórios desde o início. "Cheryl
enxugou suas lágrimas. "Passamos muito tempo no hospital em Joanesburgo,
durante os breves quatro meses de sua vida. Não havia realmente nada que
pudesse ser feito. "

Katie piscou e afastou as lágrimas que tinham se formado em seus olhos e


ficou olhando para Cheryl, sem saber mais o que dizer. Ela não queria que
saísse de sua boca algo que pudesse soar estúpido. Cautelosamente
escolhendo as palavras, Katie disse: "Vocês têm enfrentado uma série de
situações difíceis vivendo aqui na África, não é?"

"Sim, nós temos." Cheryl chamou o que parecia ser um profundo suspiro de
coragem. "Eu não tenho certeza de que o que nós passamos é mais difícil do
que o que todo mundo experimenta na vida, independentemente de onde a
pessoa vive."

Cheryl começou a andar novamente, e Katie se mudou para a direita junto com
ela debaixo do grande guarda-chuva. Tudo que Katie podia pensar era na
terrível experiência que Eli tinha contado a ela que havia acontecido com ele e
sua mãe quando ele tinha onze anos e viviam na Zâmbia.

Talvez a mãe de Eli se sentiria confortável falando sobre isso um outro dia. Não
hoje. Uma memória dolorosa em um dia chuvoso já era suficiente.

"Há sempre obstáculos na vida", disse Cheryl. "Mas nós amamos estar aqui.
Nós não gostaríamos de morar em outro lugar ou fazer qualquer outra coisa.
Esta é a nossa casa,o nosso lar. "

"Eu posso ver isso", disse Katie. "Para Eli este é o lar dele também. Eu vi isso
no rosto dele na noite em que chegamos. "

"E se ele começar a se sentir em casa com você também, Katie?"

Katie não respondeu imediatamente.

"Dê-lhe tempo", Cheryl disse, confiante.

As duas mulheres chegaram na casa de campo, e Cheryl sacudiu o guarda-


chuva molhado. Katie abriu a porta. Eli olhou para cima de onde ele estava
lendo um livro sobre o pequeno sofá que estava novamente coberto de papéis
e arquivos.

Katie tinha encontrado Eli a ler mais de uma vez ao longo dos últimos dias, e
cada vez era mais surpreendente. O Colégio acabou. Ele não tinha que ler livros
sobre teologia ou sobre estrelas das constelações do hemisfério sul. Mas ele
disse que queria. Eli disse a ela na noite passada sobre o quanto ele gostava de
ler. Katie não sabia de qualquer cara que gostasse assim de ler. Esta era uma
das descobertas curiosas que Katie estava fazendo sobre Eli. Sua personalidade
ia se tornando cada vez mais e mais atraente para ela.

Na noite passada, haviam discutido como Eli provavelmente tinha aprendido a


gostar de ler muito, porque os Lorenzo não tinham televisão em casa. Ele não
tinha crescido colado a ela da mesma forma como tinha sido para Katie em
seus anos mais jovens.

Meus pais chamavam a TV de “a babá de um olho só”. Sempre eu agia com


entusiasmo exagerado ou tinha muita energia ", Katie disse a Eli", eles diziam
que eu deveria visitar “a babá de um olho só.”

"Eles concluíram que Eli e seus pais estavam habituados a um livro da mesma
maneira que Katie estava acostumada ao controle remoto da TV.

Eli fechou seu livro quando Katie e Cheryl entraram na casa. "O que o médico
disse?"

"Ele vai tentar encontrar um antibiótico para mim."

"Então está infectada?"

"Sim, infelizmente."

"Você está se sentindo bem?"

"Sim. Eu ainda estou tão cansada, apesar de tudo. Eu estava pensando que eu
poderia dormir um pouco antes do almoço."

"Você quer que eu lhe traga um lanche da sala de jantar? Dessa forma, você
não tem que sair do seu quarto se você estiver em um bom sono. "

"Não, está tudo bem. Eu posso definir o meu alarme e ir para o refeitório no
almoço. "Katie virou-se para Cheryl. "Você tem um filho muito carinhoso. Você
sabe disso, não é? "

Cheryl sorriu. "É mesmo?"

"Sim, é. Por uma questão de fato, no inverno passado na escola - era fevereiro,
na verdade. Dia dos Namorados. "Katie sorriu para Eli, sentindo-se confiante de
que ele iria se lembrar do momento tão claramente como ela . "Eu tive um
resfriado. Um daqueles com inflamação-na-garganta ,do frio que vem
chegando, em que você só sabe que ele vai te derrubar durante vários dias, e
tudo que você pode fazer é ceder a ele. Seu filho veio ao meu dormitório e
trouxe-me um monte de remédios para o resfriado. "
Eli manteve seu olhar bloqueado em Katie. Ele parecia satisfeito que ela se
lembrava, mas ainda mais contente que ela estava dando a sua mãe um
relatório estelar sobre seu caráter.

"Ele trouxe-me um spray para minha garganta que tinha gosto de cerejas e
uma caixa de comprimidos para gripe, e então ele me disse que na caixa dizia
para não operar máquinas pesadas." Katie riu com a memória. "Quero dizer,
realmente, não era como se eu estivesse em qualquer condição, naquele
momento, para pôr em marcha uma retroescavadeira e lavrar alguns sulcos no
campus superior."

Cheryl riu.

"Ei, eu estava apenas tendo certeza que você sabia de todas as advertências."
O Sorriso de Eli era muito irresistível.

Katie lembrou de algo mais sobre aquela noite do dia dos namorados. Ela se
lembrava de como Eli orou e disse a ela que ela iria melhorar rapidamente. Ele
tomou-lhe a mão apenas momentos antes de Rick explodir no dormitório de
Katie com um buquê de flores que deveriam ajudar a fazer ela se sentir melhor.
A expressão de preocupação de Eli a tinha ajudado a se sentir melhor e mais
cuidada do que a chegada em grande estilo de Rick com as dúzias de rosas.

A lembrança da expressão de Eli e seu constante carinho por ela ajudou Katie a
se sentir ainda mais confiante de que ela tinha feito a coisa certa vindo para o
Quênia e tornando-se tão vulnerável.

"Você pode ter certeza que ninguém aqui vai pedir para você operar uma
retroescavadeira", disse Cheryl. "Alguém pode colocá-la para trabalhar nos
campos de chá colhendo botões de chá ou usando uma enxada operando
manualmente, mas isso é tudo."

"Campos de chá? Vocês têm campos de chá? "

"Sim. Você não os viu quando vieram do aeroporto? "

"Estava escuro," Eli lembrou sua mãe.

"É isso mesmo. Era tarde da noite, quando você chegou. E com toda a chuva,
não foi muito atraente a ideia de explorar a área. Sim, temos o campo de chá
mais bonito do outro lado da colina. Acres e acres. Eu vou te levar lá quando
você estiver sentindo-se bem para uma curta caminhada. É o meu lugar
favorito para andar. Assim, pacífico e bonito. A luz sobre os campos no início da
manhã é espetacular. "

"Eu gostaria de estar me sentindo melhor. Eu adoraria ir lá agora. "

"Não seria muito agradável uma vez que as trilhas estão lamacentas. Mas as
chuvas estão diminuindo. Nós teremos uma abundância de tempo bom em
breve. Você e eu poderemos ir um outro dia. Enquanto isso, eu preciso pegar
as roupas na lavanderia. Eli, você está escalado para trabalhar no Café Bar
hoje? "

"Eu estarei lá a partir de uma hora até ás nove. Papai disse que um grupo está
pra chegar esta tarde para um dos projetos . Eu só não me lembro qual.

"Katie foi para a porta. "Eu vou voltar para meu quarto. Eu estarei na sala de
jantar para o almoço. E se eu decidir dormir durante o almoço, não se
preocupe. Eu estarei lá para o jantar. "

"Espere". Eli pegou o casaco que estava pendurado no encosto de uma cadeira
da cozinha. "Vou levá-la até seu quarto."

Katie não protestou. Ela deixou Eli segurar o guarda-chuva amarelo quando ela
ligou seu braço no dele e se inclinou, enquanto eles caminhavam juntos na
chuva.

"Eu queria não estar me sentindo tão cansada e não ter esta infecção estúpida
acontecendo. Eu gostaria de começar a fazer algo útil, como ajudá-lo
novamente no Café Bar ".

"Você provavelmente deve esperar até que tenha pelo menos alguns
antibióticos em você para acabar com esta infecção".

"Infecção rejeitada. Estou aqui para servir. Se não é uma boa idéia para mim
estar em volta da comida, eu posso, pelo menos, carregar caixas. Quando é
que o seu pai vai se mudar para o novo escritório?

"Eu não tenho certeza.Em Poucos dias. Talvez em uma semana. "

"De qualquer maneira, eu tenho certeza que vou estar bem até lá. Coloque-me
na lista para a equipe da mudança. Eu quero ajudar. "

"Eu sei que você quer. Mas, Katie, aqui as coisas não são assim. Não é tudo
sobre fazer. Trata-se de estar. Você precisa apenas deixar-se "ser" aqui antes
de você começar a fazer coisas. "

Ela não sabia se era porque ela estava cansada ou o frio da chuva, mas as
palavras de Eli ricochetearam em torno de sua cabeça, sem parar em qualquer
lugar. O que ele disse não fez muito sentido para ela.

"E você?" Katie perguntou. "Como é que você não está “fazendo” e apenas "
sendo " ? Você está fazendo um monte de coisas. Seu pai não hesitou em
colocá-lo direto ao trabalho. "

Eli não respondeu.

"Não é uma pergunta justa?" Katie perguntou.

"Não. É apenas outra coisa. "

"O quê?"

Eli parou.

"O que é ?"

Ele ainda hesitou.

Katie parou de andar e deu ao braço de Eli um rebocador. "Escuta, foi você que
me convenceu a ser honesta e aberta sobre o que eu venho pensando e
sentindo desde que entramos no avião juntos. Esta não é uma relação
unilateral, Eli. Estou sendo transparente com você. Agora é sua vez. Diga-me o
que está acontecendo. "

"É meu pai," Eli disse.

Ele começou a descer o caminho novamente e Katie caiu em passo com ele.
"Seu pai?"

Ele e eu não vemos as coisas da mesma forma."

"Sou eu? Será que o seu pai acha que eu não deveria ter vindo? "

"Não, não é você. Nem um pouco. Sou eu. É sobre qual é o meu papel aqui. Eu
quero sair para as aldeias, e eu realmente desejei ir com a equipe da Rancho a
um vilarejo na semana passada. Eu gosto de estar com as equipes. "

Katie esperou para ouvir porque isso era um problema.

"Meu pai presumiu que quando eu voltei eu assumi o seu papel no escritório
para que ele pudesse fazer um trabalho mais administrativo para a missão."

"Você não pode fazer as duas coisas?"

"Sim. E é assim que as coisas são aqui, como eu sei que você notou. Todo
mundo faz várias coisas. Mas eu não quero ficar preso no escritório. Eu não
quero ficar preso aqui em Brockhurst. Eu quero estar em movimento. Eu disse
a ele que queria escrever minha própria descrição de cargo e ver o que ele
pensava disso. "

"E o que você vai colocar na descrição do seu trabalho?"

"Treinador de equipe, líder da equipe no local, facilitador nas aldeias e vilas e


capacitado para determinar os melhores candidatos para o próximo projeto ."

"Parece que você já tem isso escrito."

"Tenho, na minha cabeça. Mas eu não acrescentei nada sobre o trabalho de


escritório. Meu pai disse que a razão de estar ampliando o escritório foi porque
ele disse que eu estaria aqui em tempo integral. "Eli soltou um bufo. "Eu só não
gosto dele assumir as coisas, sabe? Ele nunca perguntou o que eu queria fazer.
"

Katie não conseguia explicar, mas ela se sentia mais perto de Eli depois de
ouvir que ele estava tendo conflitos com seu pai. No início , sua família parecia
tão perfeita. Ideal em todos os sentidos. Mas agora que ela sabia que Cheryl e
Jim tinham perdido um bebê e que Eli estava se sentindo pressionado a
corresponder às expectativas de seu pai, se sentia como se ela se encaixasse
mais, com todas as suas imperfeições.

“O bom é que você e seu pai, pelo menos, são capazes de falar as coisas."
Katie tinha muitas vezes desejado que ela pudesse ter esse luxo com seus
pais.

"Verdade. Mas aqui está a coisa. Tem sido um longo tempo desde a última vez
que eu estive morando sob o teto dos meus pais, e em nossas conversas até
agora o meu pai continua a falar-me como se eu ainda fosse um adolescente.
Antes de eu estar na Rancho, eu ensinei em uma escola de missão no sul do
Quênia. Antes que eu estivesse na Espanha. Eu não tenho morado com meus
pais por quase quatro anos. Eu não tenho certeza se vai funcionar ficar na sala
que eles criaram para mim. Quero dizer, eu os amo. Ambos. Eu amo estar com
eles. Mas eu acho que se meu pai vai me ver como um homem adulto, tenho
de estar no meu próprio espaço. "

"Você está pensando em se mudar para o hotel-dos-macacos comigo?"

Eli deu um passo para trás e olhou para Katie com um olhar curioso.

"Eu não quero dizer comigo,comigo. Pare de me olhar assim. Você sabe o que
eu quero dizer. Você pode se mudar para uma das outras salas daquele edifício.
"

"Eu provavelmente vou para o edifício no topo da área perto das instalações de
lavanderia. Eles chamam ele de Nove Superior *, e eles não colocam os clientes
lá porque os quartos são mais velhos. Eu não estaria tomando um bom quarto
que possa ser necessário para conferências e convidados. "

"Isso soa razoável."

"Para nós, sim. Eu não abordei o tema com meu pai ainda. Ele estava muito
inflexível sobre a coisa com o escritório e minha posição aqui. "

Eles estavam na porta de seu quarto, de pé sob o barulho do toque da chuva


que dançava no telhado de telhas vermelhas. Em volta deles as folhas do
tamanho de orelhas de elefantes da folhagem espessa cedia com o peso da
chuva e pingava com um ritmo irregular. Ela sentiu como se o ar frio ao redor
deles estivesse sendo pressionando contra ela, alterando sua respiração e
causando-lhe tremores.

"Obrigado por me escutar, Katie.

"Claro. A qualquer momento. E obrigado pelo exaspero. Vejo você em uma


pouca variedade. "

"Obrigado pelo exaspero? Pouca variedade? "Eli questionou.

"Daqui a pouco", Katie corrigiu a si mesma. "Você sabe o que eu quis dizer. Eu
devo estar mais cansada do que eu pensava. Eu ia dizer obrigado pelo passeio,
mas foi exaspero, não passeio. E então eu disse ... Oh, não importa. Eu só
preciso ir para a cama. "Ela puxou a chave da porta de dentro de sua bolsa no
ombro e abriu a porta do seu quarto frio.

"Tem certeza que está tudo bem? Existe algo que eu possa fazer por você? "

"Não, eu só preciso dormir um pouco. Isto é tudo. Eu estou bem. Realmente. "

"Ok". Ele lhe deu um abraço caloroso. "Durma um pouco, e nos vemos daqui a
uma pouca variedade. Eu vou mesmo levá-la a outro “exaspero”se você quiser.
"

Katie conseguiu dar um meio sorriso antes de ela entrar e fechar a porta. A
primeira coisa que fez foi a mudança para roupas mais quentes. Ela pegou a
toalha e secou o cabelo da umidade que tinha se agarrado aos fios, encontrou
um par de meias vermelho, que vestiu sobre o par que ela já estava usando.
Rastejando sob as cobertas, Katie pegou ambos cobertores e continuou a
tremer. Ela simplesmente não conseguia se aquecer.

Eu deveria ter pedido a Eli para me trazer outro cobertor. Embora eu não sei se
eles têm apenas um número limitado, e eu já tenho dois cobertores, enquanto
algumas pessoas que ficam aqui só poderiam ter um.

Tão cansada como estava, Katie não foi capaz de obter qualquer tipo de cochilo
. Seus pensamentos mantiveram-se em todo o lugar. Malária, Andrew,
antibióticos, spray de garganta de cereja, Rick, rosas, água glacial da Nova
Zelândia ...

Katie lembrou-se da garrafa de água glacial da Nova Zelândia que Eli tinha
trazido para ela no Dia dos Namorados, quando ela estava doente. Ele disse
que se lembrava que era sua favorita. Ela adoraria um gole de água agora. Sua
cabeça estava quente. Tão quente. Katie chutou para trás os cobertores e
tentou esfriar seu corpo, pobre e confuso.

Isto é horrível. Eu sinto que tenho gripe. Por favor, Senhor, não, não.Gripe não.
Não me deixe ficar doente. Por favor, deixe que haja antibióticos para esta
infecção. Por favor, me cure.

Katie ouviu uma batida na porta e estava certa de que Eli havia ignorado a sua
insistência de uma hora atrás, quando ela lhe disse que não precisava de nada.
Ele devia ter vindo de volta para fazer –lhe um check-in .

Katie gritou: "Está aberta."


A porta se abriu, mas não foi Eli que entrou. Foi uma mulher que Katie não
conhecia.

"Oi, Katie. Você se importa se eu entrar? Eu sou a esposa do Dr. Powell. Ele me
pediu para trazer-lhe isto. "A mulher aproximou-se da curta cabeceira de cama
de Katie e lhe entregou um pequeno envelope branco.

"São os antibióticos?"

"Não, é uma anfetamina para ajudar com o desconforto. Ele não conseguiu
encontrar todos os antibióticos ainda. "

Katie teve uma sensação de pânico surgindo nela juntamente com sua febre.
"Precisarei ir a Nairobi para tentar conseguir
algum?" A idéia de andar em uma estrada esburacada da maneira como ela se
sentia agora fazia tudo doer ainda mais.

"Eu não tenho certeza. Ele vai deixar você saber quando encontrar. Apenas
descanse. Essa é a melhor coisa. Você precisa de mais alguma coisa? "

"Não. Quero dizer, sim. "

"O que posso fazer por você?

Katie fez uma pausa. Ela queria dizer: "Eu preciso de você para pedir a Eli que
venha cuidar de mim do jeito que ele fez no Dia dos Namorados ano passado."
Mas, em vez disso ela disse: "Nada. Não. Não importa. Obrigada por se
preocupar. Eu só preciso dormir. "

Ela saiu, e Katie rolou para o lado.

Eu me sinto uma covarde. O Dr. Powell e sua esposa devem ver uma infinita
variedade de doenças terríveis.E Aqui estou eu, agindo delirante e frágil, como
se eu estivesse prestes a morrer.

Ela disse a si mesma que tudo o que tinha era uma ferida, pequena infectada. E
uma febre. E uma dor de cabeça.Pensando nisso,sua garganta estava muito
dolorida também.

O que há de errado comigo? Estou ficando seriamente doente?


Katie apertou a mão na testa e tentou medir a febre. Ela estava suando, mas
seus pés ainda estavam frios.

Isso não é bom. E se ... Um pensamento paralisante veio sobre ela. E se eu


estiver com malária?

PS1-Nove Superior na versão original é Upper Nine.(O nome do lugar pra onde
Eli está cogitando em se mudar .Que fica perto da área da lavanderia e eu
imagino que não deva ser nada bonito,aff)

PS2-A confusão de palavras da Katie foi bem americana (e Katieana


também,rsrs)
aqui abaixo vou colocar o trecho em inglês pra quem tiver curiosa sobre isso.)

“Thanks for listening, Katie.

“Of course. Anytime. And thanks for the rile. I’ll see you in a little wide.”

“The rile? A little wide?” Eli questioned.

“A-little-while,” Katie over corrected herself. “You know what I meant. I must
be more tired than I thought. I was going to
say thanks for the ride, but it was a walk, not a ride. And then I said … Oh,
never mind. I just need to go to bed.” She pulled the key to her door out of her
shoulder bag and opened the door to her chilly room.

“You sure you’re okay? Is there anything I can do for you?”

“No, I just need some sleep. That’s all. I’m fine. Really.”

“Okay.” He gave her a warm hug. “Get some sleep, and I’ll see you in a little
wide. I’ll even take you for another rile if you want.”(aqui a gracinha de Eli
imitando ela trocando as palavras,é bobo esse Eli,rsrs)
CAPÍTULO 6

Katie verificou os braços de perto e tentou se lembrar se algum mosquito a


havia mordido ao longo dos últimos dias.Não se lembrava de nenhum. Mas isso
não significa que eles não a tinham mordido quando não estava olhando. Ela
poderia estar infectada com malária,uma doença muito real, e estar correndo
risco de vida neste momento sem saber.

Isso é ridículo. Eu não deveria estar pensando nessas coisas. Só porque o irmão
de Eli morreu de malária quando criança, não significa que eu vou morrer
também - se eu estiver com malária, o que eu provavelmente não estou. Mas, e
se eu estiver?
Seu coração batia forte, e ela queria chorar, mas até mesmo as lágrimas
pareciam estar com muito medo de fazer uma aparição.
O que há de errado comigo? Por que eu continuo sendo atingida por essas
ondas de pânico? Eu sinto como se eu estivesse a me perder em minha mente.
Eu estou com muito medo.
No momento em que Katie pensou na palavra medo, era como se ela tivesse
chamado o culpado de suas crises de pânico. Era o medo. Medo intenso e
caótico como ela nunca tinha sentido antes.
Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e
de moderação.
O versículo que explodiu em seus pensamentos naquele momento era um que
Eli tinha citado duas vezes no vôo , no meio de suas conversas de coração para
coração. A verdade a acalmou agora como a tinha acalmado antes no vôo. Ela
lembrou-se que o medo que estava sentindo não era de Deus. Seu Espírito lhe
deu poder, amor e uma mente sã. Sem medo. Ela queria que essas qualidades
estivessem presentes em sua vida agora. Ela precisava delas para derrubar a
dúvida, o medo e a instabilidade.
Katie fechou os olhos e orou. Quando ela o fez, sentiu a sensação de pânico
deixá-la completamente e sentiu a tão desejada calma tomar conta dela. Seus
pensamentos foram limpos. Ela esticou as pernas e respirou mais firmemente.A
consciência constante da presença de Deus e de sua poderosa proteção sobre
ela encheu seus pensamentos. Ele estava aqui, com ela, neste pequeno quarto
no Quênia. Neste momento, ele parecia ainda mais perto dela do que quando
estava na Califórnia. Talvez estivesse se sentindo daquela maneira, porque
estava percebendo o quanto ela precisava dele.
Qualquer que fosse a razão, sua oração para que o medo fosse abolido teve um
efeito imediato e poderoso: o pânico foi embora.

Outra nota para si mesma: Se você vai passar a maior parte de seus jovens
anos pedindo a Deus para lhe trazer mais aventura em sua vida, não se
transforme em uma covarde tímida quando ele responder às suas orações em
grande forma. Confie nele.

Alcançando as duas pílulas no envelope, ela tomou-as sem água e disse a si


mesma que todas as incógnitas poderiam permanecer incógnitas enquanto ela
dormia. Ela não podia fazer nada no momento para caçar os antibióticos. Ela
não podia fazer nada se ela estivesse com malária. Deus sabia. Ele se
importava. Ele poderia trabalhar nos detalhes, enquanto ela dormia. Katie
fechou os olhos e sentiu como se estivesse sendo envolvida dentro de um
cobertor invisível de paz.

Quando acordou, Katie notou que a chuva tinha parado. Ela consultou o relógio
e viu que eram 05:40 da tarde. Um brilho de luz do sol encontrou o seu
caminho através do espaço aberto entre as duas bordas quase fechadas das
cortinas da janela que fazia uma linha âmbar no cobertor cinza de Katie.

O ferimento em seu ombro ainda doía, mas o resto de seus sintomas confusos
pareciam ter se acalmado. Ela sentia fome, o que considerou um bom sinal de
que ela estava pronta para o jantar. Levantando-se e lavando o rosto, Katie
esperava se sentir com seu habitual jeito energético muito em breve.

Ela puxou o cabelo para trás num rabo de cavalo, escovou os dentes e vestiu
uma blusa menos amassada. Pegando sua jaqueta mais quente, ela abriu a
porta e teve a visão da paisagem verdejante que parecia se derreter sob a luz .
Parecia um mundo diferente daquele que ela tinha estado nos últimos dias. Os
pingos de chuva restantes nas folhagens verdes profundas brilhavam como
esmeraldas líquidas.

Algo pequeno e oscilante voou ao redor de Katie em giros sonolentos. No início,


ela pensou que era uma mariposa. Mas não se comportou como uma mariposa.
Uma dupla para a criatura lânguida se juntou a ele, e logo Katie parecia ter sido
apanhada no meio de uma dança desses insetos minúsculos, com suas finas
asas, de fadas.
Ela parou e observou-os vibrar em torno dela. Estendendo a mão, Katie quase
pegou um. O brilho do crepúsculo da noite deu-lhes uma luminescência como
ela nunca tinha visto em qualquer inseto nos Estados Unidos.

A porta da última sala no Edifício A se abriu e um homem baixo vestindo um


terno e carregando um guarda-chuva saiu. Ele era careca, tinha a pele escura,
e usava um pequeno óculos de aro. Ele notou Katie e disse algo em francês,
enquanto caminhava em sua direção.

"Olá", respondeu Katie. "Me desculpe, eu só falo Inglês."

"Ah, sim", disse ele, mudando para o Inglês. "Americana?

“Sim.”

"Você está indo para o jantar?"

"Sim. Eu tive que parar e assistir a essas mariposas ou o que quer que sejam.
São lindos."

O homem riu. "Não são mariposas.São cupins. Cupins voadores. "

"Cupins? Você tem certeza? "

"Sim. Absolutamente. Onde moro chamamos de amendoins voadores . "

"Por que isso? Eles estão com a forma de um amendoim? "

"Não. Porque nós os comemos como um petisco. Como um amendoim. "

Se Eli fosse o único a dizer isso a Katie, ela ia achar que poderia ser uma
provocação grande dele só pra brincar com ela. Mas este homem parecia estar
falando sério.

"Você come isso?" Katie viu como mais um dos "amendoins voadores"
flutuavam em torno deles com facilidade graciosa. Parecia impossível que os
cupins poderiam ser elegantes, muito menos ser um lanche Africano ideal.

"Sim. Como este. "O homem esperou até o momento certo, rapidamente pegou
um dos cupins, e segurou-o em seu punho.

Katie colocou a mão sobre sua boca. Seu estômago fez um flip-flop quando ela
pensou que estava prestes a assistir a este homem comer o cupim.

"Primeiro, você tira as asas."

"Retirar as asas?"

"Sim. As asas não se comem. "

"Para ser honesto, eu não acho que eu poderia comer o cupim, na verdade.
Com asas ou sem asas. Sinto muito. "

"Talvez você goste deles assado. Nós os comemos dessa forma. Eles saem após
as chuvas para acasalar, e eles fazem essas multidões como esta. "

Katie tinha a sensação de que ele quis dizer "enxames" em vez de "multidões",
mas ela sabia a que ele estava se referindo. Surpreendeu-a que esse homem
conhecia tão bem o Inglês. Ela nunca seria capaz de ter uma conversa
complexa com alguém que só falava francês, alemão ou swahíli.

"Após as chuvas, cavamos um pequeno buraco no chão e batemos com paus. E


eles vêm. "Ele abriu a mão e deixou a pequena maravilha ir embora livre.

Katie ficou fascinada. "Vocês batem no chão, e eles vêm?"

"Sim."

"Por que eles fazem isso?"

"Eu não sei." Ele sorriu, revelando várias lacunas onde os dentes uma vez
tinham estado. “ Assim, podemos comê-los, eu suponho."

Katie sorriu para ele.

"Ficamos com eles juntos e ..." Ele fez um movimento batendo por escavação
em uma mão com o punho para demonstrar como é o triturar e moer de uma
farinha com um almofariz e pilão.

"Vocês os trituram?" Katie perguntou.

"Sim, sim. Nós trituramos eles em alguma coisa ... "Ele esfregou o polegar e os
dedos juntos.
"Como uma farinha? "

"Sim, sim. Como isso. "

"E então o que vocês fazem com ele?"

"Você pode cozinhá-los e comê-los."

Katie queria dizer: "Você pode cozinhar e comer, mas você nunca vai me pegar
fazendo isso." Mas ela sabia que não poderia dizer isso. Ela precisava respeitar
a cultura do homem.

"Vamos para o jantar?", Sugeriu

De alguma forma, Katie não estava mais tão faminta como ela se sentira há
poucos minutos atrás.

"Eu sou Bin." O homem deu os primeiros passos para longe da agitação dos
cupins e foi em direção ao refeitório.

"Bin?" Como uma lata de lixo? Que nome estranho.

“Sim,Bin.”

"Oi, Bin. Eu sou Katie. De onde você é? "

"Da República Democrática do Congo."

Katie planejava passar mais tempo estudando um mapa da África para que ela
pudesse imaginar mentalmente onde cada país estava.Ela sabia que o francês
era a língua comum em muitos países do Oeste Africano da mesma maneira
que o Inglês era a forma principal de comunicação em muitos países do Leste
Africano. Ela pegou esse detalhe na outra noite ao redor da mesa de jantar
,quando o pai de Eli explicou sobre quais partes da África o poder mundial teve
a maior influência durante a época da colonização.

Aventurando-se em uma justa suposição baseada no fato dele falar francês,ela


perguntou: "Está localizado na África Ocidental, certo?"

"África Central."

"O que te traz aqui?" Katie perguntou.


"Eu estou recebendo treinamento na conferência para pastores."

"Oh, você é um pastor. Isso é maravilhoso. "

"Sim, é maravilhoso. Estive na prisão apenas duas vezes por pregar o


evangelho. Agora eu posso estar aqui para participar deste treinamento. Deus
tem sido muito bom para mim. Muito bom. "

Katie tentou pensar no que ele acabara de dizer - na prisão apenas duas vezes
- e ele ainda disse que Deus tinha sido bom para ele.

Eles caminharam juntos em silêncio durante um bocado. Não foi bom estar
andando na chuva. Tudo ao seu redor a grama verde e folhagens revivendo
pareciam mostrar como eles estavam completamente limpos após as chuvas.
Katie adorou a fragrância fresca no ar. Ela se sentia honrada em estar com
alguém que levava o fato de ser pastor tão a sério que foi até para a prisão por
sua fé.

Como ele era diferente de qualquer pastor que ela já conhecera. E não apenas
por causa de seu paladar de gourmet para cupins voadores.

"O que te traz aqui?", Perguntou ele.

"Deus, ele é muito bom."

Ele lhe deu um olhar de soslaio, como se ele não tivesse entendido o
comentário dela.

"O que quero dizer é que eu estou aqui porque Deus abriu uma oportunidade
para eu vir e ajudar. Eu só estou aqui há alguns dias. Eu vim com um amigo
meu, Eli Lorenzo. Você o conhece? Ele cresceu na Zâmbia. "

"Eu não o conheço."

"Eu vou ter a certeza de apresentá-lo."

Eles entraram na sala de jantar, e a primeira coisa que Katie notou foi a
abundância de homens africanos vestindo ternos. Outros estavam vestidos com
seus trajes nativos com cocares e camisas coloridas ou vestes longas que
tinham riscos correndo para cima e para baixo e de ambos os lados.
Seu companheiro disse-lhe adeus e atravessou a sala com a mão estendida,
pronto para receber outro homem, cujo rosto se iluminou num sorriso ansioso
quando viu Bin.

A comunhão em torno das mesas estava mais carregada de energia do que


tinha estado em qualquer outra noite. Todos os homem pareciam ter muito a
dizer e estavam ansiosos para cumprimentar todos os outros conferencistas.
Katie percebeu os pais Eli sentados em frente a um dos pastores. Os três
estavam envolvidos em uma conversa tão profunda que nenhum deles estavam
comendo.

Katie pensou que o melhor era não impor-se em seu círculo privado, então ela
sentou-se com uma mulher da Escócia, que ajudava na lavanderia. Ela era um
pouco mais velha que Katie e tinha ombros largos e uma tez justa, suave. Seu
sotaque era divertido de se ouvir. Ela disse a Katie, que ela estava em
Brockhurst há dezoito meses e amava o que ela fazia, lavando roupas.

Uma vez que as vinte e quatro casas e os muitos quartos não contavam com
equipamentos de lavagem individuais, toda a roupa era lavada em um local
central. Eli tinha familiarizado Katie sobre como isso funcionava e que ela
precisava pagar várias taxas de xelins quenianos para o que ela lavasse. Até
agora, ela tinha conseguido lavar algumas de suas coisas na pia e as
pendurado para secar sobre a banheira.

"E o que é que você ama fazer, Katie?" A mulher da Escócia perguntou a ela.

Katie não tinha uma resposta.”Qualquer coisa. Estou aqui para ajudar. "

"Sim, todo jovem que eu conheci do Ocidente tem vindo a ajudar. Eles querem
fazer algo importante e útil para que eles possam ir para casa sabendo que eles
ajudaram a mudar a África. "Ela pegou a colher e sacudiu-a diante de Katie. "A
surpresa que você vai descobrir é que você não vai mudar África, minha
querida. Não, a África vai mudar você. "

As palavras mexeram com algo profundo no coração de Katie. Ela manteve o


olhar fixo sem piscar sobre a mulher.

Com palavras uniformemente aceleradas a mulher disse: "A chave é você


descobrir o que você gosta de fazer, o que foi criada para fazer, e então fazer
isso para as pessoas ao seu redor com amor. Essa é a vida abundante, querida
menina, não importa onde você vive no mundo ."
Katie lentamente engoliu sua última porção de algo que a lembrava de pudim
de arroz e pensou sobre a declaração de sua companheira de jantar. Desejou
que Eli não estivesse trabalhando no Café Bar para que ele pudesse ter se
juntado a ela para jantar. Seria interessante ouvir a sua impressão do que a
mulher tinha dito.

"Foi agradável sentar-se com você, Katie."

"Sim, foi agradável sentar-se com você." Katie gostaria de conseguir se lembrar
o nome daquela mulher. Ela sabia que se encontraria com ela novamente. Ela
também sabia que seria um nome importante pra lembrar, uma vez que ela era
um dos residentes permanentes.

Katie permaneceu alguns minutos sozinha, pensando e deixando o sábio


conselho que ela tinha acabado de receber tomar lugar em sua alma. Diminuir
o ritmo era um passo significativo para ela. Ela estava aprendendo a
desacelerar um pouco e sentar à mesa depois que acabava de comer. Ela
poderia ter praticado essa habilidade um pouco mais, mas ela estava ansiosa
para chegar até o Café Bar para ver Eli.

Levantando-se de seu assento, Katie levou se prato do jantar para uma janela
aberta, onde o pessoal uniformizado da cozinha os recebia, raspavam e
empilhavam no que parecia ser uma maneira ordenada e britânica. Katie disse
Olá para a jovem que pegou o prato e, em seguida, agradeceu a mulher por
fazer um trabalho tão grande.

"Você é bem-vinda." A jovem parecia americana. Ela tinha cabelos cor de


canela , pele clara, e muitas sardas.

"De onde você é?" Katie perguntou.

“Kansas.”

"Eu acho que não estamos mais no Kansas". Katie tentou fazê-lo soar como
uma referência ao O Mágico de Oz .

A jovem sorriu gentilmente, como se tivesse ouvido essa piada muitas vezes. "E
você?", Perguntou ela.

"Eu sou da Califórnia", disse Katie. "Eu estudava na Universidade Rancho


Corona.
"Já ouvi falar dessa escola. Eu tenho uma amiga que estudou lá. "

"Sério? Quem? Talvez eu conheça. "

“Selena Jensen.”

"Você está brincando comigo? Eu conheço Selena. Como você a conheceu? "

"Eu a conheci no Brasil há alguns anos atrás. Eu estava em um projeto


missionário de curto prazo, e ela trabalhou para a organização na mesma
missão. Eu sabia que ela tinha estudado na Rancho Corona, porque ela estava
sempre usando seu moletom da universidade. "

Katie concordou. "Eu estava usando o meu desde que cheguei aqui. Você
mantém contato com Selena? Eu não a vejo já faz um longo tempo. "

"Não, eu não tenho mais."

" Eu preciso verificar sobre ela. Vou dizer a ela que eu conheci você. "Katie fez
uma pausa. "Espere. Qual é o seu nome? Eu tenho estado ruim em lembrar
nomes ultimamente. "

“Kara Hawthorne.”

"Kara de Kansas. Guardei isso. "

“Diga oi a Selena por mim.”

"Eu direi. Te vejo mais tarde. "

Katie esperava que Eli estivesse com o laptop dele na cova dos leões. Ela
poderia enviar um e-mail tanto para Cris quanto para Selena. As três se
conheceram anos atrás, quando Katie e Cris tinham ido para a Inglaterra servir
em uma viagem missionária de curto prazo.

O envolvimento de Katie em Brockhurst não parecia que ia ser uma simples


viagem missionária. Esta não era um "ir brincar com as crianças em um país
estrangeiro e contar-lhes uma história bíblica" ,tipo uma espécie de semana de
experiência. Esta era a próxima temporada em sua vida. Não que ela tivesse
certeza do que aquilo significava. Mas, por enquanto, era isso. Esta era sua
vida. Agora que o medo havia passado, ela sentia como se tivesse mais espaço
para respirar e prestar atenção ao que estava acontecendo ao seu redor. Se ela
se sentisse melhor.

Katie passeou em cima no Café Bar, e a primeira coisa que ouviu foi o barulho
de vozes masculinas graves provenientes dos pastores reunidos em quase
todas as mesas em conversas importantes. Parecia que ela tinha realmente
pisado na cova dos leões, e, embora estes leões fossem bastante mansos, cada
um tinha algo a rugir sobre alguma coisa.

Katie viu Eli antes que ele a visse. Ele estava em plena atividade, como um
verdadeiro barista. Seu cabelo estava lançado em todas as direções, e seu
avental branco parecia um escudo que tinha tomado algumas batidas no campo
de batalha dos cafés. Mas, como sempre, ele parecia seguro e contente.

O cliente que ele passou a ajudar no momento era o homem do Congo. Katie
esgueirou-se para o balcão. "E adicione um pouco de amendoim voadores para
ele, se ele quiser."

Tanto Eli quanto o pastor olharam para ela com surpresa. "Você não pode
colocá-los no café", disse o pastor.

"Eu sei. Eu só estava fazendo uma piada. Não importa. "Katie estava se
tornando ciente de quantas vezes seu humor não estava trabalhando aqui.
Talvez fosse porque as coisas que ela achava engraçadas, eram comuns para
todos os outros.

"Katie, este é Ben," Eli disse. "Acabamos de nos conhecer esta noite."

"Ben!" Oh, seu nome é Ben! Não Bin. Katie manteve o erro de nome para si
mesma e engoliu seu sorriso. "Sim, nós nos encontramos antes. Ben me
ensinou sobre os amendoins voadores. ".

"Você tentou comer um?" Eli parecia sério.

“Não.”

"Eles são uma grande fonte de proteína."

"Tenho certeza que eles são."

"Como você está se sentindo?" Eli falou por cima do ombro quando ele colocou
uma xícara de café para Ben.
“Melhor.”

"Você está doente?", O pastor perguntou.

"Tenho uma pequena infecção."

"Posso orar por você?" Ben não esperou por uma resposta. Ele abaixou a
cabeça e pediu a Deus que colocasse a sua grande e poderosa mão de cura
sobre Katie, para remover do seu corpo a doença , e livrá-la de todo mal.

Foi uma oração inesperada que pareceu natural na sala cheia de pastores.

"Obrigada," Katie disse quando ele terminou a oração.

O Pastor Ben olhou para ela. Seus olhos se estreitaram por trás de seus óculos
de aros de arame, e ele inclinou a cabeça ligeiramente para o lado. Ele olhou
como se estivesse ouvindo alguma coisa. Com uma expressão de compaixão,
ele disse o nome dela."Katie".

“Sim?”

"Você tem que se lembrar da paz. O passado vai encontrá-la aqui, mas é para
uma finalidade diferente do que você pensa. "

"Ok". Suas palavras fragmentadas pareciam estranhas. Ela olhou para Eli. Ele
não estava prestando atenção a eles no momento, porque estava na caixa
registradora fazendo o troco de Ben. Ela não tinha ideia se isso era algum tipo
de bênção tribal ou o quê.

"Obrigada." Foi a única resposta que ela poderia pensar.

Ben colocou a mão sobre o coração e segurou-a ali por um momento até que
ele abaixou a cabeça e, em seguida, olhou para ela novamente.

Ela não sabia se ela devia responder com o mesmo gesto ou apenas ficar
parada lá. Ela optou por ficar e tentar olhar respeitosamente.

"Lembre-se da paz", repetiu ele.

Katie concordou. "Okay." Mais uma vez, ela não tinha ideia do que ele estava
falando.
Ben pegou o troco , a xícara de café e foi embora.

Katie olhou para Eli, que agora estava em pé na frente dela com um sorriso
constante.

"Eu tenho algo para você." Ele chegou debaixo do balcão e tirou um envelope
lacrado branco que tinha alguma escrita na frente e parecia como se tivesse
irregulares, pedras pequenas dentro.

"Correspondência de casa já?" Katie brincou.

"Melhor do que isso. Antibióticos do Dr. Harry no Rift Valley Academy.O Dr.
Powell trouxe-me cerca de uma hora atrás. "

Katie nunca tinha ficado com lágrimas nos olhos por receber qualquer remédio
antes. Ela nunca havia recebido misteriosas mensagens criptografadas de
homens que comiam cupins voadores. Ela nunca tinha sido incentivada por
mulheres escocesas de ombros largos a descobrir pelo que ela era apaixonada.

E ela nunca tinha sonhado com uma África como esta.

CAPÍTULO 7

No terceiro dia após as chuvas diminuírem e depois de Katie ter começado com
os antibióticos, ela sentiu como se finalmente tivesse chegado. Seu corpo pode
ter chegado quando o avião aterrissou em Nairobi, mas seu coração falou com
ela uma semana depois, muito especificamente às 6:45 de uma manhã de
terça-feira.

Isso foi no momento que Katie abriu a porta, e Eli estava lá vestindo um de
seus gorros desgastados e com uma mochila nas costas.

"Você está pronta?", Perguntou ele.

"Sim." Em todos os sentidos ela acreditava que finalmente estava pronta.


O destino de sua jornada de manhã cedo eram os campos de chá. Cheryl tinha
prometido ir com Katie, mas Eli foi quem colocou o plano em ação e apareceu
na hora certa em sua porta. Katie seguiu-o, sentindo se bonita e confortável em
seu favorito par de jeans, uma recém-lavada camiseta, e um suéter de malha
verde pálido que ela encontrou no armário de compartilhamento de roupas ,
próximo à lavanderia.

O armário de compartilhamento de roupas era uma pequena sala onde ficavam


as roupas que os conferencistas deixavam para trás ou doavam e acabavam
lavadas e prontas para serem doadas. Residentes de Brockhurst também
doavam roupas, o que fez valer a pena, Katie ter verificado a cada tantas vezes
para ver se quaisquer novos itens tinham sido adicionados. O suéter que ela
encontrou lá ontem foi uma benção, e ela tinha certeza de que ele iria ter muito
uso.

Esta manhã a viagem para os campos de chá era a viagem inaugural do suéter
verde de Katie .Ela estava com sua câmera de celular pronta e usava um par de
botas que ela tinha comprado em casa na sua loja de descontos favorita,
Bargain Barn. Na primeira visita de Katie ao armário de compartilhamento , ela
percebeu que era muito parecido, com sua loja favorita, o que a fez feliz de
uma maneira que ela tinha certeza de que só sua melhor amiga, Cris, poderia
entender.

"Você olha como se estivesse se sentindo muito melhor." Eli olhou para ela e,
em seguida, pegou a mão dela.

Katie enfiou a mão na dele e deu-lhe um apertão. "Me sinto muito bem. Como
você está?"

"Ótimo."

Os dois passeavam de mãos dadas até o menor caminho que levava ao portão
de entrada e da guarita. Eli cumprimentou o guarda uniformizado em swahíli
com um termo que se tornou familiar para Katie. "Jambo".

O guarda tirou o chapéu e respondeu a mesma coisa. Eles viraram uma estrada
de terra e andaram sob um dossel de árvores quando um coro de pássaros
saudaram o novo dia com entusiasmo. Uma mulher com um bebê pendurado
nos ombros por um grande pedaço de tecido colorido veio em sua direção,
sorrindo e estabelecendo contato visual com eles.

"Jambo", Katie cumprimentou-a, sentindo-se como uma local.


Na medida em que iam andando, mais pessoas da aldeia vizinha apareciam na
estrada de terra indo em ambas as direções. Alguns deles carregavam feixes de
algo embrulhado equilibrados em suas cabeças. Outros tinham um ou dois
filhos a tiracolo que eram empurrados para a frente da maneira como qualquer
mãe em qualquer cultura tenta manter seus jovens livres de parar para analisar
cada seixo e rastreamento de insetos ao longo do caminho em uma manhã,
linda e ensolarada.

Katie logo percebeu que como era o horário da manhã ,as pessoas que
passavam estavam em seu caminho para a escola e trabalho, como a maioria
das pessoas ao redor do mundo estaria às sete da manhã. A diferença notável
era que ninguém estava correndo - todos eles caminhavam em um ritmo
constante.

Ninguém estava em um desgaste atlético, correndo na pista ou andando em


uma bicicleta cara para um exercício antes de tomar banho e saltar em um
carro caro para correr para o trabalho. Aqui, o trajeto era todo o exercício que
alguém precisava.

Katie podia ver ao longo do lado da pista um vale fértil, onde duas dezenas de
barracos e uma variedade ímpar dos telhados de metal deles estavam ladeados
por fileiras de jardins cuidadosamente plantados. Uma fumaça subia de uma
fogueira ao ar livre. Um galo cantou, e Katie notou duas cabras magras na
aldeia que estavam amarradas a um poste.

"Isso é tão legal", disse ela em voz baixa.

"Você gosta disso?"

"Sim. Isto é como eu imaginei a África. Apenas mais quente e seca com girafas
e zebras correndo por aí. "

"Estou feliz que você disse isso, porque isso lembrou-me que estou programado
para levar um grupo para a reserva de girafas em Nairobi na sexta-feira. Você
quer ir? "

"Absolutamente sim".

"Eu pensei que você gostaria. Além disso, parece que a agência de turismo vai
desocupar os novos escritórios por esta tarde. Papai comprou um pouco de
tinta, e eu deixei-o saber que nós vamos ajudá-lo a pintar amanhã. "
"Ótimo."

"Eu disse a ele que nós temos experiência."

"Experiência?"

"Sim. Lembra-se de quando pintamos o apartamento onde Rick e eu vivíamos?


"

"Oh, sim. Como eu poderia esquecer? Nossa estréia em decoração. Ou melhor,


a estréia de decoração de Nicole. Eu me pergunto como ela está fazendo com
seu grande projeto de decoração do novo restaurante de Rick. "

"Você quer ligar pra ela?" Eli perguntou.

"Eu não tenho serviço internacional no meu celular ainda. Seu pai disse-me
como posso configurá-lo, mas eu ainda não fiz isso. "

"Você pode usar o meu telefone sempre que quiser. O que é meu é seu. "

Eles tinham deixado de ir de mãos dadas mais cedo na trilha. Katie queria
chegar mais perto, pegar-lhe a mão de novo, e dar-lhe um aperto para
agradecer-lhe por sua generosidade. Ela segurou a mão dele novamente,
porém, não tendo certeza se Eli a tivesse soltado , porque era impróprio
culturalmente para eles estarem de mãos dadas em público ou se era apenas
por ser mais fácil de caminhar na trilha irregular, sem mãos dadas.

Ela estava bem apenas caminhando lado a lado. "Você já falou com seu pai
sobre suas expectativas sobre o que você estará fazendo?"

"Nós conversamos brevemente há alguns dias, mas minha mãe entrou na


conversa, e meu pai disse que soava como se ela estivesse tomando meu
partido. Ela disse que estava apenas tentando nos ajudar a explorar opções. "

"Não parece que você foi muito longe na tomada de decisões."

"Não, nós não fomos. Eu disse ao meu pai depois que eu pensei bem, que nós
deveríamos conversar, só nós dois. "

"Será que ele concorda com isso?"


"Sim e não. Ele disse que tinha pensado sobre o que minha mãe tinha trazido
na discussão anterior, e ele queria que ela sentisse que podia dar sua
participação uma vez que eu sou seu filho também. "

"Eli, seus pais disseram alguma coisa sobre mim?"

"Sim".

Katie deu seu braço como um rebocador. "Então o que eles disseram?"

"Eles acham que você é maravilhosa, surpreendente e adorável, e esperam que


você fique para sempre."

Realmente, realmente? É que o que eles disseram? "

"Oh, espere. Isso foi o que eu disse a eles sobre você. Deixe-me ver, o que foi
mesmo que disseram sobre você? "

Katie deu no braço dele uma pancada brincalhona.

"Eu me lembro agora. Eles disseram algo sobre você. Eles disseram que acham
que você é maravilhosa, surpreendente e adorável, e esperam que você fique
para sempre. "

"Eli, eu estou falando sério. Será que eles não têm qualquer expectativa de
expressar o que eu deveria estar fazendo? "

"Não."

"Você tem certeza? Sua mãe é sempre tão boa para mim. Eu odiaria pensar
que eu estou fazendo algo errado e ela é muito gentil para me dizer. Ou que
seu pai está secretamente desejando que eu me inscreva para ser guarda de
segurança ou algo assim, mas ele não está dizendo isso. "

“Guarda de segurança?"

"Eles são os únicos por aqui que vestem uniformes, e eu acho que os uniformes
deles são realmente elegantes."

"Elegante?" Eli riu. "Katie, ninguém quer que você seja um guarda de
segurança, tudo bem?"
"Ótimo. Mas se qualquer um desses caras doasse seu uniforme para o armário
de compartilhamento , eu estaria interessada. "
]
"Nós não nos vestimos para o Dia das Bruxas aqui."

"Quem disse que eu estava planejando usá-lo no Halloween?"

"Katie?"

"Sim?"

Ela podia sentir Eli olhando o perfil dela.

"Nada." Uma sugestão de riso estava em seu tom de voz.

Eles caminharam um pouco mais abaixo na trilha de terra vermelha, e Katie


disse: "Eli?"

"Sim?"

Ela esperou um pouco antes de responder. "Tudo".

Eli riu de novo, e Katie não conseguia lembrar a última vez que ela se sentia
tão feliz.

A trilha curvada para cima os levou em torno de uma curva. Quando eles
chegaram ao final da curva, Katie parou para normalizar a respiração.
Espalhadas diante deles através das colinas curvas e arredondadas estavam
hectares e hectares de plantações de chá.

"Uau", ela murmurou.

"Incrível, não é?" Eli estava ao lado dela, admirando a vista.

"Incrível, não é a palavra. Magnífico é mais parecido com isto. Eli, olhou para a
luz sobre as folhas verdes. Eu via imagens de campos de chá, mas, uau! As
fotos não captavam esta maravilha. Olhe para todas essas plantações de chá. "

"Gosto da maneira como as fileiras entre as plantas parecem costuras. Se essas


lacunas estreitas não estivessem lá naquelas longas tiras, tudo seria apenas um
mar de verde. "
Katie percebeu do que Eli estava falando. As plantas de chá pareciam ter três
ou quatro metros de altura e estavam localizadas próximas umas das outras
formando uma cobertura. Mas, em vez de se parecerem com uma única parede
verde, as fileiras estreitas haviam sido cortadas entre as plantas para permitir
aos catadores espaço suficiente para subir e descer as encostas e escolher os
botões pequenos que cresciam na parte superior das plantas do chá.

"Está tudo bem se a gente for lá e andar pelos campos?" Katie perguntou.

"Claro, um dos catadores pode colocar-nos para trabalhar."

"Sério?"

Eli riu. "Não é tão emocionante quanto você poderia pensar. É um trabalho
tedioso. Eles só escolhem uma polegada superior ou duas dos brotos e folhas. "

"Se bem me lembro, os que são chamados de" ondas ", disse Katie. "E o nome
adequado para a planta é Camellia sinensis. Lembro-me disto ".

"Impressionante".

"Então é isso." Katie tentou capturar a beleza dos campos á frente dela e a
forma como a luz do sol estava tocando as folhas Camellia sinensis, enfeitando-
as com o que parecia rendas finamente tecidas. Ela olhou e olhou, mas ainda
sentia que não conseguia absorver tudo .

"Eli, eu tenho que lhe dizer algo."

Ele colocou seu braço ao redor dela, e ela descansou a cabeça em seu ombro.
"Eu nunca tive isso antes."

"Teve o quê?"

"Você. Isto. Eu sei que eu continuo dizendo o quão diferente é tudo aqui, mas
eu estou começando a entender por que você era o único que parecia tão
diferente quando eu te conheci no ano passado. Você de alguma forma
conseguiu manter-se dentro deste ritmo mais lento, mesmo na louca Califórnia,
e eu pensei que você fosse ... Eu não sei ... diferente. "

"Lento?"

"Sim. Mas não como mentalmente lento ou emocionalmente desafiado. Você só


vivia em um ritmo diferente no seu interior. Eu acho que estou começando a
entender por que, parecia-me que você nunca estava com pressa. "

"Essa é uma boa observação. Parece-lhe que eu não estou com pressa sobre
nós, sobre nosso relacionamento? "

"Sim, eu acho. Mas eu não estou com pressa também. "

"Ótimo. Porque temos muito tempo. "

"Sim, nós temos", Katie concordou.

"Montes e montes de tempo", Eli repetiu.

As sobrancelhas de Katie estavam franzidas. Cautelosamente, ela levantou a


cabeça de seu ombro e olhou para ele. "Eli?"

"Sim?"

"O que é exatamente a sua ideia de 'muito tempo'?"

Quando Eli não respondeu de imediato, Katie perguntou novamente. "Quero


dizer, você define os lotes do tempo no sentido de um mês? Um ano? Uma
década? "

"Até o quê? Até nós nos casarmos? "

Sua conclusão abrupta a pegou desprevenida. "Ah, você não acha que nós
devíamos ter um primeiro encontro? Você sabe, conhecer um ao outro, avaliar
como estamos indo, e dar o próximo passo quando ele vier? "

"Eu realmente não vejo a gente em um encontro." Eli parecia sério.

"Você não vê?"

"Não.’ um encontro’ é uma coisa da Califórnia. Como você e eu teríamos ‘um


encontro' no Quênia? "

"Não é isso que estamos fazendo agora? Não é isto ‘um encontro’? "Katie
perguntou.

"Não, não na minha maneira de pensar."


"Então o que é?"

"É sermos nós. Você sabe quando eu lhe disse antes que no Quênia é sobre
ser, não sobre fazer? Bem,isto é sermos nós. Juntos. "

"Você está mexendo com a minha visão de mundo, Lorenzo."

"Bom". Ele pegou a mão dela na sua, e eles andaram mais para dentro dos
campos.

Eles chegaram na trilha de entrada para a primeira fileira de plantas de chá e,


em seguida, caminharam juntos até a fileira de cintura alta. Katie correu a
palma da mão sobre a parte superior das folhas verdes de primavera. Quanto
mais andava, mais ela era cercada por todos os lados com o verde, lindo e
vibrante.
Ela estava ciente de que sua sessão de brincadeiras não tinha feito nada para
esclarecer onde eles estavam em seu relacionamento, e ainda assim ela sentiu-
se resolvida, calma e em paz. Isto não era a Califórnia. Este era o Quénia. Eles
não estavam namorando. Eles estavam indo juntos. Ok, ela poderia viver com
isso.

Lembre-se da paz.

As palavras misteriosas do Pastor Ben voltaram para ela. Foi isso o que ele quis
dizer? Foi que ela deveria prestar atenção aos momentos em que ela sentia a
paz de Deus? Porque certamente ela estava sentindo agora.

"Fique aí mesmo." Eli pegou o telefone dele. "Eu vou tirar uma foto sua."

Katie fez uma pose, e Eli tirou uma foto.

Com um sorriso ele disse: "Você é uma mulher que se destaca em seu campo."

Katie não entendeu a piada no início, mas quando o fez, ela pirou. "Muito
bom!" Ela enfiou a mão no bolso de seu casaco pegando seu telefone. "Não se
mexa. O sol está apenas para a direita. Diga, Camellia sinensis '! "

Katie tirou uma foto extremamente bonita dele rodeado pelas plantas de chá e
com o sol da manhã dando-lhe um olhar lavado. Ela conferiu a foto na tela de
seu telefone. Eli tinha uma expressão muito viril no olhar dele, com seu cabelo
rebelde e no rosto, a desalinhada barba por fazer.
Um homem magro com um saco de lona amarrado na diagonal por cima do
ombro veio se arrastando até a estrada em direção a Eli e Katie. Ele,
aparentemente, reconheceu Eli, porque ele deu uma calorosa saudação que
começou com "Jambo", mas incluiu outras palavras que Katie não reconheceu.

Os dois homens trocaram sorrisos largos. Eli apresentou Katie para Itimu, e ele
cordialmente apertou a mão dela. Ela se assustou com a forma vigorosa do
aperto e como suas mãos eram ásperas.

"Como está sua mãe?" Eli perguntou.

Itimu respondeu e perguntou o mesmo a Eli. Ele perguntou sobre o pai de Eli, e
Eli perguntou sobre seus filhos. Isso continuou por alguns minutos, pois ambos
tomaram o tempo para escutar com atenção as respostas um do outro.

Katie entrou na conversa e tinha um monte de perguntas para Itimu. Ela queria
saber se o saco que ele usava era para a colheita do chá, e em caso afirmativo,
se ele poderia mostrar-lhe como fazia?
Ele entregou-lhe o saco, ela colocou-o por cima do ombro, e então ele começou
a demonstrar como escolher o pequeno broto superior e guardá-lo na bolsa.
Quando Katie se moveu para baixo da fileira, colhendo o chá, ela manteve seu
fluxo de perguntas.

Quando ela perguntou quanto tempo ele levava para encher a bolsa, ele
respondeu que não tinha certeza. Ele trabalhava até que ele a tivesse enchido,
e então ele ia para casa.

Uma vez que as folhas de chá eram estendidas para murchar ao sol, Katie
queria saber quanto tempo levava antes de serem tratados em seu próprio
modo especial para determinar se elas iam se transformar em chá verde, chá
branco, oolong, ou chá preto.

Ele não sabia essa parte do processo de trabalho.

Ela perguntou se a plantação de chá aumentava e pegava as folhas que


produziam apenas um tipo de chá.

Ele não podia dizer. Ele nunca tinha feito essa pergunta.

Finalmente, Katie perguntou: "Há quanto tempo você vem fazendo isso?"
"Desde que eu tinha onze anos." Com isso, Itimu desfraldou uma descrição
fascinante do processo de crescimento das plantas do chá. Todo o tempo, ele
continuava a pegar os gomos das folhas de chá e colocar os pequenos pedaços
na mochila. Eli tirou fotos e se juntou a eles. Para Katie, estar em um campo
verdadeiro de chá pegando folhas de chá era um sonho que virava realidade.

De Itimu ela aprendeu que as plantas podem crescer em árvores tão altas
quanto cinqüenta metros de altura, se não forem aparadas e cultivadas. Os
melhores chás crescem em elevações de cinco mil pés ou mais elevados, razão
pela qual esta parte do Quênia estava bem adaptada para a cultura. Ele
explicou cuidadosamente que levava de quatro a doze anos antes de uma
planta de chá ter sementes. Depois que a sementes tomam conta, pode ser
mais três anos antes que a planta tenha folhas que estejam prontas para a
colheita. Itimu sabia tudo sobre os insetos, as chuvas, e o solo. Ele tinha um
profundo respeito pela terra e pelo que fazia.

Vários outros trabalhavam pesadamente perto deles com suas mochilas no


local. Itimu pediu sua bolsa a Katie, fez a sua saída, e passou a trabalhar com
seus companheiros.

Katie pensou que ela e Eli iam voltar para Brockhurst, mas Eli disse: "Eu tenho
um mirante favorito. É por este caminho. "

"Claro que sim. Você tem um banco favorito, um local favorito em frente à
lareira, e agora um mirante favorito. "

Ela o seguiu quando ele caminhou através de uma seção menos viajada do
campo de chá, onde a terra cor de canela ainda estava úmida. Seus sapatos
deixaram as primeiras marcas indicativas de que os seres humanos estavam a
tomar este caminho superior desde a última rodada de chuvas. O esforço extra
valeu a pena. Eles chegaram em uma colina gramada que dava para toda a
área.Na frente deles estavam os vastos campos de chá . Katie podia ver Itimu e
seus colegas de trabalho, no canto inferior direito dos campos. Na porção
central dos campos, pelo menos, duas dezenas de pessoas estavam no
trabalho. Não havia trabalhadores ocupando o lado esquerdo imediato do
trecho.

"Vire-se", Eli disse.

Atrás deles, através das árvores e folhagens espessas, Katie podia ver uma
parte de um dos edifícios em Brockhurst. "Uau! É como estar no topo do
mundo ".
"Espere até eu levá-la ao Monte Quênia. Ou poderíamos ir ao Kilimanjaro, se
você quiser.

Katie lembrou-se de Eli dizendo meses atrás que ele e seu pai tinham
caminhado parcialmente até o Kilimanjaro, uma das montanhas mais altas do
mundo.

"Será que vamos ver elefantes, leões ou zebras ?" Katie perguntou.

"Eu posso praticamente garantir que você vai ver algumas zebras, assim como
hipopótamos se for com um dos grupos para o Lago Naivasha para um dia de
viagem. Quanto aos elefantes e leões, podemos ver alguns no Monte Quênia,
mas estamos mais propensos a ver aqueles se pudermos ir numa viagem para
o Masai Mara. "

"E o que é isso?"

"É uma área de vida selvagem no sul . Nós teríamos que nos inscrever para um
safari e passar a noite em tendas. Os guias turísticos nos levariam em torno de
jipes que são especialmente concebidos para entrar nos lugares certos para ver
a vida selvagem."

"Eu quero ver tudo", disse Katie.

Eli sorriu. "Eu imaginei que você iria querer . Um animal selvagem de cada vez,
no entanto.Por Agora, que tal se nós tivéssemos algumas almôndegas de
avestruz para o café da manhã? ".

"Muito bom, Lorenzo.Continue com as piadas inteligentes. Elas estão


trabalhando para você esta manhã. "

Eli tirou a mochila, puxou um cobertor fino que tinha enrolado, e estendeu-o
sobre a grama. Katie ficou para trás com um olhar questionador, observando-o
descarregar o conteúdo do seu pacote. Ele tirou uma garrafa térmica e
entregou a Katie. Em seguida vieram duas canecas de café, que Katie pegou
por suas alças com sua outra mão. Eli retirou um recipiente de plástico, algo
embrulhado em papel manteiga, e duas bananas. Ele colocou aqueles itens
sobre o cobertor, tomou a canecas e a garrafas térmica de Katie, e fez sinal
para ela se sentar.

"Eli, você fez um piquenique para nós."


"Sim, eu fiz."

"Isso é tão doce. Bem, não doce. Eu não posso dizer que já pensei em alguma
coisa que você fez como sendo doce, por assim dizer. Hábil, talvez. Não, essa
não é a palavra. Oh, eu sei. Atencioso. Não, isso é melhor. Você fez um
piquenique para nós, e isso foi muito atencioso. "

Eli esticou o braço e apertou o dedo indicador nos lábios de Katie. "Hush", disse
ele em voz baixa.

Um sorriso de lábios fechados avançou até a sua boca em uma curva adorável.
"Sente-se e coma seu café da manhã, princesa Hakuna Matata".

Katie sentou-se. Ela olhou para as embalagens fechadas, depois para Eli. "Por
favor, me diga que você estava brincando sobre o avestruz."

"Eu não brinco com almôndegas de avestruz . Um dos caras do escritório da


frente desceu o morro para Nairobe na noite passada .Lá tem um restaurante
que é especializado em comidas exóticas . Tenho certeza que nós iremos lá
eventualmente. O cara sabe que almôndegas de avestruz são os meus
favoritos, então ele trouxe alguns para mim. Aqui vamos nós. "

Eli abriu o recipiente de plástico, e Katie olhou para dentro. As quatro


almôndegas pareciam almôndegas normais . Ela decidiu lembrar-se disto,
quando deu uma mordida. Eram apenas almôndegas .

Tentando manter sua expressão inalterada, Katie perguntou: "E o que você tem
nesse outro embrulho, outro mistério?"

"Queijo".

Katie relaxou. Então ela perguntou: "Eu quero saber que tipo de animal foi
ordenhado para obter esse queijo que está sob esse invólucro ? Quero dizer,
você não tentou trazer algum tipo de queijo de rinoceronte para mim, você
faria isso?"

Eli riu.

"Espere. Você está rindo de mim, ou você está rindo para mim? Porque você
sabe, há uma diferença. "
Eli riu de novo.

"Você está rindo de mim.Eu sei que você está. Porque olha – Eu não estou
rindo. Portanto, você não pode estar rindo para mim. "

Eli refreou sua alegria e abriu a garrafa térmica . Ele derramou café em ambas
as canecas e, em seguida, levantou uma das canecas como se dissesse, "Beba-
se." A fragrância do vapor da infusão escura estava deliciosa e acordaram as
papilas gustativas de Katie . Ela não era uma grande bebedora de café, mas o
primeiro gole deixou claro que Eli tinha preparado uma espécie muito especial
de mistura naquela manhã.

Katie tomou outro gole e olhou para Eli. Ele estava confortavelmente situado,
com um joelho para cima e o braço segurando a caneca de café equilibrada na
parte superior do joelho. Seu foco estava nos campos abaixo. Seu queixo dava
a impressão de que ele estava segurando um outro ataque de riso.

"Eli?"

"Um-hum?"

"Eu sinto que você não vai me deixar sair daqui até que eu tente comer uma
dessas coisas de avestruz."

"Sim".

"Eu também sinto que você não vai me dizer que tipo de queijo está nesse
envoltório."

"Não".

"Provavelmente é melhor dessa forma."

"Sim". A boca de Eli estava curvada para cima mais uma vez, mas ele
continuava olhando para a frente quando ele tomou outro gole vagaroso de
café .

"Eli?"

"Uh-huh?"

"Você sabe quando você disse que acha que eu sou incrível e maravilhosa e
que espera que eu fique aqui para sempre?"

"Sim?"

"Bem, eu acho que você é muito maravilhoso e surpreendente também, e eu


não me importaria de ficar aqui para sempre."

Eli virou a cabeça para reconhecer seu olhar.Seus olhos intensos estudaram a
expressão de Katie. "Você não está fazendo uma piada, não é?"

"Não, eu não estou." A Expressão de Katie estava inflexível.

Eli abaixou sua caneca de café, estendeu a mão, e alisado para trás alguns fios
de cabelo que tinham escovado no rosto de Katie. Se ele estava pensando em
beijá-la novamente, Katie sabia que este seria o momento perfeito.

Eli se inclinou um pouco mais perto e sussurrou: "Katie?"

"Sim?"

"Você pode dizer todas as coisas boas sobre mim que você quiser, mas você
sabe o quê?"

"O quê?"

"Você ainda tem que tentar o queijo e o avestruz".

CAPÍTULO 8

E aí? Eli assistia enquanto Katie engolia sua mordida da almôndega de avestruz.
Ela pigarreou e tomou um gole de café. “É bem gostoso”.

“Te falei”.

“Tenho certeza que não é o avestruz que é gostoso. São os temperos ou as


coisas que usam para fazer a almôndega. Não é avestruz de verdade, direto da
ave.”
“Mas você gostou, não é?”

“Sim, eu gostei.”

Eli olhou feliz consigo mesmo. “Agora experimenta o queijo.”

Katie olhou para as fatias finas do queijo branco na embalagem aberta de


queijo encerado. Parecia queijo Suíço sem os buracos. “Só me fala se isso vem
de um animal africano.”

“Vem de um animal que temos muito na África, tá bom?”

“É um animal que normalmente fazemos queijo com seu leite?”

“Katie, experimenta logo. Não vou te contar tudo. Pega um pedaço e coloca na
boca.”
Ela obedeceu. Tinha um gosto normal. Como um queijo leve. Meio sem gosto e
sem graça até. Ela engoliu. “Tá bom. Eu comi. De que animal isso veio?”

“De uma vaca.”

“É sério?”

“Sim, é sério. Peguei com Claudinei na cozinha.”

Katie pegou um pouco de grama e jogou nele, espalhando as lâminas verdes


que pareciam confetes no cobertor deles. “Não é justo.” Ela protestou. “Você
me fez acreditar que era queijo de rinoceronte ou algo assim.”

“Não, foi você que deixou sua imaginação ir para um safari”. Eli jogou algumas
lâminas de grama em Katie. “Queijo de rinoceronte? De onde você tira essas
ideias?”

“De onde eu tiro essas ideias? Ei, senhor almôndega de avestruz, um avestruz
não é muito diferente de um rinoceronte. Principalmente depois das aulas de
amendoíns voadores da semana passada.”

“Você devia ter experimentado um quando Ben te ofereceu”. Eli pegou o outro
pedaço de queijo, enrolou e jogou na boca.

Katie sacudiu a cabeça pra ele e tomou seu café. “Ah, Lorenzo”, ela murmurou.
Seu olhar estava fixo na visão verde de tirar o fôlego. A luz do sol nas plantas
agora pintavam a paisagem com um espectro de tons de verde. Algumas áreas
da colina tinham sombras das nuvens brancas fofas viajando acima de suas
cabeças, tornando o verde tão profundo e denso como o de uma floresta verde.
Em outras áreas, a luz direta do sol parecia atingir as pequenas folhas como um
raio laser, inflamando elas para que ficassem com uma intensidade prata.

“É tão lindo,” Katie disse. “Tão. Tão lindo.”

“Você se sente mais perto de Deus quando está na natureza, não é?” Eli
perguntou.

“Com certeza. Você também. Eu sei por causa da noite no último outono
quando fomos com Joseph assistir a chuva de meteoro no deserto.”

”E a manhã da graduação quando fomos ver o nascer do sol nas montanhas em


Strawberry Lookout ,” Eli adicionou. “Foi uma manhã terrível.”

“Por que está dizendo isso? Achei que foi um nascer do sol incrível.”

“O nascer do sol não foi o problema. Fui eu. Eu estava muito bravo comigo
mesmo por causa do gelo que tinha te dado.”

Katie se lembrou que esse foi o momento que Eli menos falou durante todo o
ano letivo. Apesar de ter sido ideia dele levantar no meio da noite e dirigir até
as montanhas San Bernardino, só os dois. Depois Katie lembrou, para falar a
verdade, que o tempo todo que eles estavam observando e durante a maior
parte do caminho de volta para a escola, ele mal disse alguma coisa.

“Qual é o problema? Eu achei que você estivesse mergulhado em seus


misteriosos pensamentos.”

Eli se inclinou para trás e se apoiou em seus cotovelos. “Não, eu estava me


censurando por não saber como falar com você. Eu congelei assim que tive a
chance.”

“A chance para o que?” Katie perguntou.

“Eu queria te chamar para vir para o Quênia.”

“É mesmo?”
“É. Na verdade, mais do que isso. Eu queria te convencer que era onde você
pertencia. Eu conseguia te ver aqui, Katie. Desde a primeira vez que eu te vi,
eu conseguia te imaginar aqui, assim.”

Katie respirou fundo. Um aroma doce estava no ar e uma agitação ainda mais
doce estava acontecendo dentro dela.

“Nem todo mundo combina com a África, sabe? Mas você sim. Eu sabia no meu
interior, mas não conseguia encontrar um jeito de te dizer. Então eu passei
todo o tempo que estava com você ensaiando centenas de meios de começar
uma conversa e não encontrava um jeito de usar nenhuma delas. Quando
voltamos ao Rancho, eu desisti. Eu perdi minha chance de te convencer de vir
para Brockhurst.”

“E mesmo assim, olha”. Katie abriu seus braços. “Aqui estou eu.”

“Eli a encarou longamente. “Sim, você está aqui. Nós estamos aqui. Juntos.”

Parecia para Katie que eles deveriam colocar uma bandeira naquele monte e
marcar aquilo como o momento em que seu passado se encaixou com seu
futuro. Suas vidas estavam se sobrepondo de uma maneira que estava
fundindo seus corações.

“Teria sido cedo demais,” Katie disse. “Se você tivesse dito algo sobre vir pra cá
naquela manhã nas montanhas, eu não teria sido capaz de levar para meu
coração. Eu não estava pronta para me abrir para isso, para nós. Teria que
acontecer do jeito que foi para que eu soubesse que Deus estava me dizendo
para vir.”

Eli acenou. “Eu sei.”

Katie estendeu o braço e esfregou seus dedos no queixo dele. Ela sorriu para
ele e ele sorriu de volta.

Eles tiraram um tempo para contar um para o outro mais momentos secretos
de suas histórias individuais durante o último ano. Eli recontou momentos em
que ele esteve perto de Katie e não conseguia falar. Ela confessou para ele
como se sentiu na noite do evento de todos os dormitórios quando ela estava
no comando e estava perdendo o controle dos convidados. Eli salvou o dia
quando pegou o microfone quando Katie pediu e ligou o grupo ao jogo que eles
deveriam participar.
“Você é um líder nato,” Katie disse.

“Você também,” Eli disse.

“É, mas eu e você temos áreas diferentes de liderança.”

“Concordo.” Eli sentou-se e comeu a última almôndega de avestruz.“Você se


incomoda de conversarmos enquanto andamos? Estou na manutenção hoje, e
eu sei que George vai estar no galpão de equipamentos me esperando.”

Eles guardaram tudo e desceram o monte. Quando chegaram na Estrada de


terra, eles deram as mãos e balançaram para frente e para trás enquanto
conversavam, brincavam e assistiam sua amizade crescer.

Katie encontrou um tempo mais tarde naquela manhã para ligar para Cris. Não
foi uma ligação longa, mas Katie teve tempo o bastante para dar a Cris uma
atualização rápida e para resumir como as coisas estavam.

“Parece incrível, Katie,” Cris disse. “Exceto pela parte da infecção. Isso foi
loucura. Eu espero que você jogue aquele sutiã fora.”

“Eu joguei.Ele estava muito ruim,”

“Parece que as coisas com Eli são um sonho.”

“Tudo é um sonho aqui.” Katie estava feliz que ninguém estava por perto na
cova dos Leões onde ela estava usando o serviço de internet no laptop de Eli.

“Você se sente bem sobre como as coisas estão com ele?” Cris perguntou.

“Sim. Eu amo estar em Brockhurst. Quando estávamos no campo de chá esta


manhã, parecia que sempre estivemos lá ou que já tinhamos ido lá centenas de
vezes. Era como se fosse nosso lugar, apesar de ter sido minha primeira vez lá.
Foi tão lindo, Cris. Você não imagina como esse lugar é de tirar o fôlego.

“Você continua falando sobre todas as coisas que você ama no Quênia. Eu
quero saber como você se sente sobre o Eli.”

Katie foi pega de surpresa. Ela achou que estivesse falando sobre sua afeição
profunda e crescente por Eli. Talvez seu amor pela África e por Eli estivessem
misturados neste momento.
“Eli é maravilhoso. Eu amo estar com ele. Estou muito feliz de estar aqui. Eu
amo tudo nesse lugar. De verdade. Eu honestamente consigo me ver morando
na África pelo resto da minha vida. Se bem que, eu admito, eu estou nessa
adorável bolha Britânica em que a vida é muito fácil.

“Mas você está indo para outros lugares, não é? Eu pensei que você tivesse dito
que iria ver as girafas.”

“Nós vamos, depois de amanhã. Amanhã eu vou ajudar a pintar o novo


escritório do pai de Eli e no dia seguinte vamos a uma reserva de girafas. Estou
muito ansiosa por isso.

“Não esqueça de tirar muitas fotos e mandar pra mim,”

“Eu vou. Eu sei que você tem que desligar. Dá um oi para o Ted por mim, tá
bom?

“Tá bom. Estou com saudade, Katie, muita.”

“Também estou com saudade de vocês. Amo vocês.”

“Nós te amamos, Katie.”

No dia seguinte quando Katie e Eli estavam no meio da pintura do novo


escritório, Katie contou para Eli o pedido de Cris para eles tirarem muitas fotos
das girafas.

“Podemos fazer isso,” Eli disse. “Eu encontrei o grupo que vai que é do Texas.
Vinte e três pessoas estão no grupo e eles vão ficar três noites aqui começando
hoje a noite. Se eu lembro corretamente, a igreja deles tem uma igreja imã que
eles construíram a algumas horas daqui”

“E como você acabou se transformando no guia de turismo não-oficial desse


grupo?”

“Eu me ofereci. Eu sempre me ofereço. Eu gosto de ter a oportunidade de


mostrar tudo para outras pessoas.”

Um dos administradores entrou pela porta do escritório e deu uma olhada no


progresso deles. “Está ficando bom,” ele disse.

“Obrigado,” Eli respondeu. “Vai sobrar muita tinta, então me fale se você quer
que façamos alguma coisa enquanto estamos aqui.”

“Se esse é o caso, vocês podem pintar o corredor do escritório. Mary tem
pedido isso há meses. Anos. Vocês vão fazer dela uma mulher muito feliz.”

Eli acenou, e era isso. Katie sabia que o trabalho deles como os pintores oficiais
de Brockhurst só tinha começado. Como ela poderia reclamar de trabalhar
assim? Trabalhando junto de Eli, apreciando a brisa morna e a luz do sol agora
que a chuva tinha ido embora… sim, essa era uma boa maneira de passar um
dia de trabalho.

Eli começou com os detalhes, pintando perto do piso, na parede final do


escritório enquanto Katie terminava a parede perto da porta. Alguns minutos
depois, ele se afastou de sua parede e ficou ao lado de Katie.

“Estou quase acabando,” ela falou. “Está pronto para eu começar a colocar o
papel de parede?”

“Se você acha que tem que cobrir, tudo bem. Eu acho que podíamos deixar
desse jeito.”

Katie virou-se e viu o trabalho de Eli. Com um pincel fino, ele pintou na parede
um coração grande ao redor de um segundo coração menor, um coração
dentro de um coração. No coração de dentro estavam as letras “”E+K”. Dentro
da parte de cima do coração maior estavam as letras “JC”. Katie virou a cabeça
tentando decifrar o código.

Eli deve ter visto sua confusão, porque ele foi até a parede e apontou para sua
equação com seu pincel como se fosse um professor e o pincel sua régua.
“Você vai notar que E mais K é igual a Eli mais Katie.”

Katie sentiu seu rosto corando. Era tão doce. Tão inesperado. Eli tinha uma
visão tão inocente da vida e do relacionamento deles.

“Agora, você vai observar,” Eli continuou, “que esse coração maior envolve Eli e
Katie com um amor ainda maior. E é claro, o J é de Jesus e o C é de Cristo.
Isso porque o Senhor ama Eli e Katie e cerca eles com esse amor. Alguma
pergunta, turma?”

Katie sentiu os olhos marejados. Ela foi até a parede e esticou a mão para o
pincel. “Posso?”
“Sim, você pode.” Ele entregou o pincel para ela.

Katie se inclinou e molhou a ponta do pincel na tinta. Ao lado do coração


dentro do outro coração ela escreveu: “I Tess 3:12.” As letras estavam
tremidas e os números não estavam retos. Katie notou que era Eli agora que
estava tentando decifrar o código.

“Eu queria escrever Tessalonicenses, mas não tinha certeza como se escrevia.”

Os olhos dele se iluminaram. “Esse é o versículo!”

“Eu sei. Eu vi sublinhado na sua Bíblia e então sublinhei na minha.” Katie


balançou o corpo para frente e para trás como uma garotinha que acabou de
ganhar o prêmio de boa cidadã.

Eli sorriu. “Legal. Temos um versículo. Algumas pessoas tem uma música; nós
temos um versículo. Eu gostei.”

“Você decorou?” Katie ainda balançava como uma estudante orgulhosa. Antes
dele poder responder, Katie mostrou sua habilidade para decorar. “Que o
Senhor faça crescer e transbordar o amor que vocês tem uns para com os
outros…” Tem mais, mas eu acho que preciso estudar um pouco mais.

Eli terminou para ela. “e para com todos, a exemplo do nosso amor por vocês”.
Ele esticou a mão para o pincel. “Posso?”

“É claro.” Katie entregou para ele.

Ele adicionou um “13” depois do número “12” e recitou, “Que ele fortaleça o
coração de vocês para serem irrepreensíveis em santidade diante de nosso
Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos.”

“Aparecido”, Katie brincou.

Eli se ajoelhou e continuou a pintar o rodapé. Sem olhar para Katie, ele disse,
“Tem sido nosso versículo por muito tempo. Só que você ainda não sabia.”

“O que quer dizer?”

“Eu oro sobre esses versículos por você há um ano. Eu oro para que seu amor
por Deus e pelos outros cresça e transborde e oro para que Deus fortaleça seu
coração.”
Katie se ajoelhou ao lado de Eli. “Eu vi esse versículo na manhã que você
estava dormindo perto da lareira. Eu o vi sublinhado na sua Bíbllia.”

“Você viu a data?”

“Não. O que você escreveu na margem?”

“Seu nome e o dia que te vi pela primeira vez no casamento de Ted e Cris.”

Katie mal conseguia aguentar o sentimento eternamente doce ligado as


palavras dele.

“Eu estava uma loucura naquele dia, correndo atrás da limousine…”

“Seu enfeite de cabeça voou…”

Katie riu. Ela quase tinha esquecido do enfeite de flores que ela usou na cabeça
quando foi madrinha e como ele caiu enquanto ela corria. Eli tentou devolver
para ela e essa foi a primeira vez que eles conversaram. Ela mandou ele jogar
fora. Ao invés disso, ele guardou e meses depois ela viu pendurado no
retrovisor do carro dele. Quando ela perguntou por que, Eli disse que isso o
lembrava de orar por ela.

E agora ela descobriu pelo que ele tinha orado.

“Deus respondeu suas orações,” Katie disse.

“Eu sei.” Eli sorriu.

“No ultimo ano, Deus definitivamente fortaleceu meu coração. E meu amor
cresceu muito por pessoas que eram difíceis de amar, como meus pais. Esse
versículo é incrível, Eli. Eu vou continuar orando nele por nós.”

Os olhos deles se encontraram e katie sentiu como se os dois estivessem


olhando fundo no coração um do outro e tentando encontrar um espaço aberto,
pronto e esperando.

Ela espontaneamente, naturalmente, se inclinou e beijou gentilmente sua


bochecha.

Eli rapidamente largou o pincel, pegou o rosto dela com as duas mãos e a
beijou como se o mundo fosse acabar nos próximos três segundos.

Eles se distanciaram e Katie ficou de pé como se uma corrente elétrica tivesse


passado por ela.

Eli olhava para ela sem piscar.

Nenhum dos dois percebeu quando o pai de Eli entrou no escritório. Katie não
ouviu os passos dele, mas ela estava muito preocupada para prestar atenção
em quem passava pela porta.

Ela sabia que Eli não tinha visto o pai também, porque ele deu um pequeno
pulo quando o pai falou. “Como estão as coisas por aqui?” As palavras dele
eram lentas e pesadas como se ele estivesse perguntando sobre muito mais
coisas além do projeto de pintura.

“Bem”. Ele se afastou de Katie e da parede como se de alguma forma ele fosse
impedir que seu pai percebesse o enorme coração que já estava seco na
parede com as iniciais deles no centro.

Eli esfregou sua nuca e não fez contato visual com seu pai. Katie sentia que
eles não tinham nada para sentir vergonha. Ela achou que talvez ela e Eli
deveriam ter considerado um versículo diferente ao invés de um que falasse
sobre o amor deles crescer e transbordar.

Pelo menos em algumas áreas, parecia que a oração deles tinha sido
suficientemente respondida.

Capítulo 9

Eli e Katie não tiveram a oportunidade de processar o seu beijo surpresa,


porque Jim pediu a ajuda de Katie para verificar e credenciar o grupo do Texas,
recém-chegado. Maria, que trabalhava no escritório, geralmente tratava deste
assunto, mas ela havia ficado doente, e Cheryl estava tentando entender as
chaves do quarto que haviam sido deixadas no check-in.

Horas depois, todos estavam em seus determinados quartos com a bagagem


correta e a chave correspondente. Katie sabia que uma maneira mais fácil de
lidar com o check-in tinha de existir, mas ela e Cheryl estavam aprendendo
durante o processo.
Katie passou muito tempo correndo para cima e para baixo com um molho de
chaves, tentando descobrir como o sistema de numeração das chaves dos
quartos tinha ficado tão fora de ordem. Ela finalmente descobriu que todos
tinham a chave do quarto ao lado, o que significava que os vizinhos
necessitavam das chaves de reserva. Aparentemente, Cheryl tinha lido as
intruções de forma incorreta.

Uma vez que o grupo foi resolvido, Katie voltou para o escritório. A porta
estava trancada, mas ela olhou pela janela e viu que as paredes foram
pintadas. A memória do momento e do beijo permaneceria com Katie para
sempre. Ela tinha certeza disso.

Eli não foi ao jantar, e ele não estava trabalhando no bar. Ela sabia que iria vê-
lo na manhã seguinte, quando eles embarcassem no ônibus da excursão com o
grupo do Texas, mas aquele não era exatamente o melhor lugar para os dois
conversarem sobre o que estava acontecendo entre eles.

Ela pensou muito sobre a dinâmica da sua relação como ela estava tentando
dormir naquela noite. O que eles tinham experimentado era poderoso e
apaixonado. Como poderia um beijo conter tanto fogo?

Na manhã seguinte, cansada, mas com muito entusiasmo, Katie ficou ao lado
da porta do ônibus fretado para acolher todos a bordo. A maioria deles
lembrou-se dela a partir do check-in fiasco e fizeram muitos comentários sobre
como tinha sido.

"Não é que o seu trabalho habitual?" Uma das mulheres mais velhas perguntou
com um olhar de simpatia artificial.

"Bom palpite", disse Katie. "Essa foi minha primeira tentativa, e eu não acho
que eles vão me colocar no check-in de serviço novamente."

"Espero que não", disse a mulher com uma voz alegre, que feria o coração de
Katie.

Logo antes da mulher entrar no ônibus, ela perguntou: "E qual é a sua posição
na Brockhurst?"

"Eu sou extra." Katie não tinha premeditado a sua resposta. Ela só caiu fora.
"Você sabe, como em um jogo quando os reservas têm a grande chance, como
os cantores da aldeia. Só que eu não sei cantar. "
A mulher parecia ainda mais confusa. "Você realmente deve trabalhar dentro de
sua paixão e seu conjunto de habilidades, mocinha."

"Eu concordo". Katie entendia que nas últimas vinte e quatro horas, a paixão
não era exatamente um problema para ela. Pelo menos não no que diz respeito
a Eli.

A mulher não tinha terminado. "Deus fez você para um propósito, você sabe. E
não é honroso quando você está desperdiçando tempo fazendo coisas fora de
seu dom. "

"Obrigado por essa percepção." Katie estava se forçando para continuar sendo
gentil com essa mulher. Katie sabia que ela precisava encontrar o melhor ajuste
para si mesma em Brockhurst, mas ela não ficava bem quando um estranho
parecia pensar que era seu dever de apontar as fraquezas de Katie e dar-lhe
conselhos.

Algumas pessoas não têm idéia do quanto eles prejudicam os outros.

Katie olhou para cima e notou Eli correndo em frente ao estacionamento em


direção ao ônibus. Ela colocou os comentários da mulher de lado e sentia-se
um pouco envergonhada enquanto pensava sobre seu momento de ontem.
“Sua resposta fez lembrar de como tinha sido hesitante segurando a mão de Eli
quando eles estavam com o grupo do Rancho. Ela parecia estar desconexa com
a forma como Eli estava vendo seu relacionamento.”

Mas então ela percebeu que Eli parecia desconsertado também. Ele olhou para
ela e, em seguida, desviou o olhar. "Obrigado por me ajudar. Eu me esqueci
completamente quando estava no escritório cuidando de uma lista. Maria ainda
está doente. "
Katie estendeu a mão e tocou-lhe o braço. Ele conheceu o seu olhar. "Você está
bem?", Perguntou ela.

Eli baixou a voz e virou o rosto das pessoas a bordo do ônibus. "Sim, eu estou
bem. Precisamos conversar mais tarde. "Ele se aproximou e lhe deu um toque
macio, colocando sua testa contra a lateral de sua cabeça. Foi estranho, mas a
mensagem foi recebida. Foi ainda "E + K" dentro de seu coração.

Uma vez que todos estavam a bordo, Katie subiu no ônibus também. Este era
muito maior e mais confortável que o ônibus que tinha levado Katie e Eli para
Brockhurst em sua primeira noite. Eli estava na frente atrás do motorista, usou
um microfone para saudar a todos, e deu algumas instruções.

Katie assistia-o de uma fileira de trás, onde ela sentou ao lado de uma mulher e
Katie sabia desde o check-in que era solteira e viajava com um grupo de casais,
em sua maioria casados. Katie sabia exatamente o que era se sentir a sobra, a
pessoa ímpar em um grupo de casais, já que muitos dos seus melhores amigos
se casaram. Ela se apresentou, à mulher, e esta respondeu que seu nome era
Susan.

Ao ouvirem Eli, Katie lembrou que no semestre passado, Eli tinha falado na
capela sobre a missão de seu pai e como a organização se compromete a
escavação de poços em aldeias distantes para fornecer água potável àquelas
pessoas que estavam morrendo por falta de água limpa. Sua apresentação foi
tão poderosa e convincente que uma equipe de missão tinha se formado
espontaneamente.

Concluindo suas observações de boas-vindas ao grupo, Eli tomou seu lugar na


fila bem na frente de Katie. Ele se virou, olhou para ela, e deu um tapinha na
cadeira vazia ao lado dele, indicando que ela poderia se sentar ao lado dele.

Parte da Katie queria fazer exatamente isso, mas ela não queria ter sua
discussão relacionamento num lugar onde todos pudessem vê-los e alguns
poderiam ouvi-los facilmente. “Outra parte dela teve uma boa idéia de como se
sentiria Susan se Katie mudasse para sentar ao lado de Eli. "Acho que vou ficar
aqui", disse Katie. “Você terá que sentar e levantar durante todo o caminho,
então você pode muito bem pegar os dois lugares. Além disso, como podemos
Susan e eu incomodar você, se eu estou aqui? "

"Você veio para me incomodar?" Suas palavras foram provocando, mas seus
olhos pareciam tristes.

Katie provocou de volta, na tentativa de aliviar a momento. "Sim, e para ver as


girafas. Meus objetivos para o dia são dois. Incomodar primeiro, e depois
abraçar o pescoço de uma girafa. São objetivos simples, concordo. Não que eu
os realize todos os dias, mas hoje está parecendo um bom dia para realizá-los
".
Eli não era tão espirituoso quanto ela. Ele se virou, tirou alguns papéis de sua
pasta muito bem organizado contendo os formulários para as pessoas no
ônibus, e começou a ler como se estivesse procurando algo.

Susan tinha os olhos fechados, e Katie percebeu que ela precisava de um


amigo no ônibus e tentou quebrar o gelo. Ela tirou seu telefone, que ela havia
finalmente atualizado com um plano de serviço internacional, e viu que um
novo e-mail de Chris estava esperando em sua caixa de entrada.

Katie, que bom falar com você! Eu estava pensado muito sobre a maneira como
as coisas estão caminhando para você e Eli. Deve ser muito emocionante
ponderar todos os “se” e todos os “quê” que virão. Eu realmente espero que
você aproveite o misterioso passeio ao interior do desconhecido. Esse mistério
parece ser uma parte importante da viagem a caminho de se apaixonar. Não
sei porquê, mas é. Deixe o seu relacionamento com Eli abrir-se lentamente
como uma flor.Estou ansiosa para ver as fotos das girafas!
Amo você, minha eterna amiga,
Chris

Katie sorriu quando ela fechou o e-mail. Agora, veja, Chris pode me dizer o que
ela quer, e eu vou considerar. Ela ganhou o direito de estar no círculo mais
íntimo da minha vida. Mas aquela senhora que foi embarcar no ônibus, ela está
no círculo mais exterior. Ela não deve pensar que ela tem o direito de me
criticar.
Katie imaginou os círculos de um alvo e fez uma nota para si mesmo: Somente
escutar as pessoas que estão no centro do meu alvo.

Esses ocupantes do centro do alvo eram Deus, Chris, Ted, e Eli. No próximo
círculo, ela poderia imaginar um monte de outros amigos íntimos, incluindo
Nicole, Julia, Douglas, Trycia, e, sim, até mesmo Rick. Mesmo ele não estando
em seu círculo íntimo, ele ainda era seu amigo especial e irmão no Senhor.
Katie também devia colocar seus pais nesse círculo. Mesmo que tivesse um
relacionamento formal e bem reservado com eles, eles eram seus pais.

Ela pensou em como comunicar para os pais, os fatos que aconteceram durante
sua primeira semana no Brockhurst. Foi curto e informativo, porém muito
positivo. Katie quase diria que apoiavam a sua decisão. Seu pai comentou que
ele sempre pensou que ela iria acabar em algum "lugar esquecido por Deus"
como a África. Um pouco rude pra se expressar, mas ela iria entender como um
elogio.

Katie se inclinou para trás, fixando-se mais confortavelmente em seu assento


no ônibus. Ela gostava desse modelo de alvo que havia se formado em seus
pensamentos, porque ela imaginava as mulheres debruçadas na beirada de seu
alvo tentando lhe dar conselhos, mas as suas opiniões tinham o mesmo peso
das opiniões dos que estavam mais perto do centro. Essas pessoas do círculo
exterior não tinha ganhado o direito de dizer a ela o que fazer. Não que Deus
não poderia usá-las para dirigir ou motivar Katie, mas essas pessoas não
tinham poder para incutir nela uma sensação de culpa ou falha baseada em
suas opiniões sobre quem ela era ou o que ela deveria fazer.

Sentindo-se muito bem sobre o que acontecia naquele momento, Katie olhou
para a colega ao lado e fez um comentário a Susan sobre o belo dia que estava
fazendo.Susan acenou com a cabeça sem responder. Ela pareceu ser muito
concentrada na parte da frente do ônibus.

"Você fica enjoada no ônibus?" Katie perguntou. Susan balançou a cabeça


novamente. A mulher em frente a elas ouviu comentário de Katie e disse:
"Bem, por que não disse logo, Susie? Eu tenho remédio de enjôo bem aqui. "
A mulher abriu sua bolsa grande e tirou o que parecia ser uma mini-farmácia .
"Aqui está. Você quer um pouco de água? "
Susan ficou olhando para frente e balançou a cabeça. A mulher em frente a
elas também tinha um mini-bar de garrafas de água e latas de suco. "Água ou
suco de maçã?" perguntou a senhora.
"Água". Respondeu Susan.

O celular de Katie apitava, indicando que ela tinha uma nova mensagem. Já
que Susan estava em boas mãos, Katie pegou seu telefone e viu uma nova
mensagem de texto do Eli.

TENHO SAUDADES DE VOCÊ.

Katie sorriu e curvou seus ombros para dentro, tentando manter a sua
mensagem de volta para Eli em segredo.

EU TAMBÉM.

Ela esperou por sua resposta, olhando para o seu perfil como sua cabeça foi
dobrada e ele se concentrou em seu telefone. MEU PAI
ACHA QUE DEVEMOS IR COM MAIS CALMA.

Katie respirou e, inconscientemente, limpou a garganta.


Eli olhou para ela por um momento e depois olhou de volta para seu telefone.

Katie começou uma longa pergunta mas depois apagou tudo isso e digitou:
HAKUNA MATATA*. Ela não tinha certeza de tinha escrito certo, mas Eli iria
entender a mensagem de que eles não devem se preocupar com isso. Então,
pensando bem, ela rapidamente digitou novamente a pergunta. O QUE
IMPORTA O QUE OS OUTROS PENSAM?
IMPORTA QUANDO É O MEU PAI. Respondeu Eli.

Katie percebeu Eli tinha o privilégio de abrigar sua mãe e seu pai no círculo
íntimo de sua vida. É claro que as suas opiniões importavam. Mas para ela, Eli
não deveria dar muita importância.
DEVAGAR É BOM. Ela enviou o texto e, em seguida, rapidamente digitou um
nova resposta. ACHO QUE PODEMOS PARAR DE ORAR SOBRE O NOSSO AMOR
AUMENTAR E TRANSBORDAR E TRABALHAR A PARTE “CORAÇÃO
FORTALECIDO DE NOSSO VERSÍCULO.”

Ela viu quando Eli leu sua mensagem. Ele se virou e deu-lhe o melhor sorriso.
Katie sorriu para ele em troca e sentia a paz voltar em passos de bailarina,
fazendo uma pirueta no seu coração. Não era isso o que Chris tinha falado em
seu e-mail, apreciando o mistério do passeio no interior do desconhecido? Katie
poderia retardar, esperar, descansar e confiar em Deus para o que viria depois.
Ela sabia que essa era a receita para experimentar a profunda sensação de paz
que ela sentia várias vezes em seu crescente relacionamento com Eli.

O que Katie também percebeu foi que, quando ela sentiu aquela poderosa
sensação de paz, ela não estava mais com medo. O espírito de medo de que a
atormentou quando ela chegou pela primeira vez pode não lutar com o espírito
de paz de Deus lhe deu.

Quando o ônibus entrou na estrada à caminho da periferia de Nairobi, Katie


olhou pela janela e viu as vistas deslumbrantes ficarem para trás. Pouco tempo
depois, o ônibus parou em um ponto, Eli se levantou, pegou o microfone, e
explicou que eles estavam fazendo uma pausa de quinze minutos para ver o
Vale do Rift.

"Muitos consideram este vale como o Grand Canyon da África", disse ele.
"Porém, o Grande Vale do Rift é muito mais do que isso. Ele é uma maravilha
geológica. Bem aqui, onde nós iremos desembarcar em poucos minutos, é o
local onde duas placas tectônicas estão mudando de posição. Elas estão
puxando e se afastando umas das outras. Pense na imensa força acontecendo
sob a superfície da terra. Ela sempre me faz pensar do poder de Deus, como se
Ele estivesse com um enorme pedaço da África em uma mão e outro pedaço na
outra, e Ele está esticando-os em direções opostas. "

O motorista manobrou o ônibus em uma área de estacionamento estreito,


enquanto Eli explicava como as placas tectônicas se deslocavam. O movimento
tinha criado o lago de água doce o segundo maior e mais profundo do mundo,
da mesma forma que fez subir o Monte Kilimanjaro até uma altura de mais de
dezenove mil pés, tornando-o o quarto maior monte do mundo.

"O Grande Vale do Rift abrange seis mil quilômetros. Todo o leste da África de
norte a sul é afetada por ele."

Parecia que ele tinha mais alguns fatos para compartilhar, mas o motorista do
ônibus tinha desligado o motor, e as pessoas estavam de pé, fazendo o seu
caminho para a frente do ônibus, ansiosos para desembarcar.

"Quinze minutos", Eli lembrou a eles e pôs de lado o microfone.

Quando Eli e Katie desceram do ônibus, eles foram cercados por moradores
que montaram uma dezena de barracas de souvenirs, nesta área, onde os
ônibus turísticos aparentemente paravam para seus passageiros curtirem a
vista para o Grande Vale do Rift.

"Senhora, veja? Você gostaria de levar para casa um cobertor feito de pêlo de
cabra? "

"Senhor, por favor, olhe esta máscara tribal e esta lança que vieram de um
guerreiro massai. Vou dar-lhe um desconto muito bom para ambos. "

Eli disse algo em suaíli, e todos os fornecedores que tinham se reunido em


torno de Eli e Katie os deixaram rapidamente como animais que mudam de
direção.

"O que você disse?" pergutou Katie.

"Você vai ver." Eli caminhou confiante para o meio da área onde os outros
turistas estavam vidrados na peças de artesanato e praticando suas habilidades
pechincha com os artesãos locais.

"Tenho certeza que se vocês olhassem para este lado do lago...", Eli disse para
o grupo.

Ninguém parecia prestar atenção em seus conselhos, pois eles estavam


ocupados fazendo compras. Eli levou Katie para a plataforma de madeira que
parecia frágil e ficou bem próximo, no melhor lugar que podiam. Katie olhou
para baixo, até o mais profundo que ela podia ver.

"Uau! Isto é incrível! Absolutamente incrível! " exclamou Katie.


Ela olhou por cima do ombro e viu que apenas duas pessoas do seu grupo se
aventuraram e foram para perto da borda para tirar fotos. O restante da
tripulação estava tentando convencer os vendedores locais a baixarem os
preços dos artesanatos africanos em madeira com figuras de elefantes e
girafas.

Por um bom tempo, Eli e Katie ficaram um ao lado do outro, olhando para toda
a extensão do vale que estava aberto abaixo deles.

"Você está bem?" Eli perguntou, ainda olhando para frente.

"Eu estou bem. E você? " disse Katie.

"Também estou bem." Respondeu Eli.

"Você sabe," Katie disse calmamente: "Seus pais estavam tão felizes quando
chegamos, eles praticamente comemoraram quando você disse a eles que você
me beijou no aeroporto."

"Eu sei", ele disse.

"E agora, seu pai viu nosso beijo e não ficou tão feliz. Você contou que esse era
apenas o nosso segundo beijo? "

"Não é a quantidade, Katie. Eu acho que é de qualidade que estamos falando. "

Ela sabia exatamente o que ele queria dizer. A paixão presente em seu segundo
beijo o tornou bastante diferente do primeiro.

"Meu pai viu o nosso versículo na parede, e disse que deveríamos continuar e
adicionar os próximos sete versos de nosso relacionamento."

"Os próximos sete versos?"

"Você vai entender o que ele quis dizer quando você lê-los." Katie detestava o
suspense. Ela também odiava saber que o clima estava tenso entre Eli e seu pai
e que ela era parte desta tensão.

"Eu disse ao meu pai que queria se mudar para Upper Nine, e ele não achava
que é uma boa idéia."

"Foi uma maneira de dizer que não pode confiar em você ou algo assim?"
"Talvez. Eu não sei. "

Katie sentia que Eli estava triste. "Você tem certeza que está bem?"

"É que meu pai me disse uma coisa que eu não posso deixar passar."

"O que ele disse? Você pode me dizer? "

"Ele disse: 'Você pode fazer um bebê com um beijo como aquele."
Katie estava surpresa, e tentou fazer uma piada sobre isso. Da última vez que
eu li os relatórios científicos, tive certeza de que é preciso mais do que um beijo
para iniciar a gestação. "

"Você sabe onde ele queria chegar... Era mais do que um beijo. Ele foi ... "

"Eu sei, Eli. Eu estava lá, lembra? "

Ele finalmente se virou e olhou para ela. "Assim, a coisa mais sensata para nós
fazermos é adiar o próximo beijo. Tudo bem, certo? Nós podemos evitar. "

"Claro. Com certeza. " respondeu Katie.

Eli pareceu aliviado. Ele colocou seu ombro no ombro de Katie e disse em voz
baixa: "É bom saber que há um fogo dentro de nós dois, você não acha?"

"Alguma vez você duvidou disso?" Katie perguntou.

"Não, mas ainda assim é bom saber."

Eles permaneceram juntos em silêncio por mais alguns minutos, sem se tocar
mas muito ligados. Eli encostou o ombro de Katie com o seu ombro mais uma
vez, e ela pegou a deixa de que deveriam voltar. Assim que se viram e
caminharam em direção ao ônibus, todos os fornecedores que se aproximaram
mais cedo, saíram de suas tendas como as abelhas em volta de Eli e Katie.

"Eu esqueci", Eli disse. "Isto foi o que pedi para eles fazerem quando descemos
do ônibus. Pedi-lhes para me trazer alguns de seus colares de contas para
olharmos melhor depois de voltarmos do vale. Eu quero comprar alguns colares
para você, Katie. Mas eu quero que você escolha. ”

Seis vendedores estavam em volta deles e seguravam uma enorme variedade


de colares de contas. Alguns eram feitos de minúsculos grânulos coloridos em
padrões que pareciam não ter nenhuma ordem específica mas ainda assim
estavam lindos e artísticos. Outros colares eram feitos de pedaços grandes de
contas, outros eram feitos de pérolas de vários tamanhos e formas. Katie foi
atraída para um colar e estendeu a mão para tocá-lo.

Esse fornecedor imediatamente levantou o colar e colocou-o sobre o pescoço


de Katie. "Minha irmã fez. É muito bonito. Vou dar-lhe um bom preço, minha
senhora."

"Você gosta desse?" Eli perguntou.

Três outros vendedores levantaram estilos semelhantes de colares de contas e


respeitosamente sugeriram que seu preço seria o melhor. Todos falavam ao
mesmo tempo, e todos eles estavam perto, mas surpreendentemente Katie não
se sentia pressionada ou coisa parecida. Cada um deles, de acordo com sua
cultura, estava tentando ajudá-la a fazer uma boa escolha.

Ela pegou um segundo colar com contas pretas, amarelas, vermelhas e verdes
que estavam em um padrão distinto.
Novamente, o item escolhido foi colocado sobre a cabeça, eo vendedor disse:
"Apenas sete xelins."

"Este é um belo colar ", disse Eli em Inglês, pegando o final do colar e
esfregando as contas entre o polegar e o indicador. "Mas não para sete xelins.
Eu lhe darei apenas quatro. E madame "- disse Eli virando se para a mulher que
tinha feito o colar -" Eu lhe darei mais quatro. São Oito xelins para ambos. "

Os dois vendedores balançaram suas cabeças negativamente. "Seis para cada.


Não menos. As contas são pintadas à mão. Você não vai encontrar melhor nem
em qualquer um dos mercados em Nairobi."

"Não duvido do que você diz," Eli respondeu. "Eles foram feitos com muito
cuidado. O belo trabalho é evidente. Mas eles são contas e não pedras
preciosas. Vou dar a cada um de vocês quatro xelins, e nenhum xelim a mais. "

Ambos os fornecedores levantaram as suas mãos como que em choque com a


sua oferta. "Não, este não é um colar de quatro xelins, como você pode ver.
Observe os detalhes sobre as contas pintadas. Seis xelins e não menos".

Katie ficou fascinada pela maneira como Eli calmamente negociou a compra.
Ela tinha ouvido várias pessoas falando sobre as negociações entre vendedores
e como eles esperam nunca receber o preço pedido. Mesmo assim, olhando
para a condição de saúde dos vendedores, suas roupas e os seus dentes, o seu
coração amoleceu. Ela queria dar a todos os seis vendedores dez xelins para
cada um e ir embora sem levar nada para que eles tivessem mais peças para
exibir para os turistas do próximo ônibus.

O que Eli fez a seguir surpreendeu. Ele balançou a cabeça ao preço de seis
xelins e tirou os colares do pescoço de Katie, como se eles estivessem
preparados para ir embora.

Os vendedores fizeram um protesto. Eli com os colares em cima da cabeça de


Katie. Ela permaneceu imóvel, sentindo-se como um relógio antigo em forma
de um gato cujo olhos se movem para os lados no mesmo sentido da cauda,
enquanto o resto permanece imóvel.

"Quatro", Eli disse firmemente, com colares no ar.

"Cinco", os vendedores disseram ao mesmo tempo.

"Feito". Eli recolocou os colares no pescoço de Katie, deu um aceno de cabeça


e pegou o dinheiro no bolso da frente de seu jeans.

Outro vendedor veio correndo com uma estátua grande de mulher africana com
detalhes gráficos. Ele imaginou que se Eli estava distribuindo dinheiro para a
mulher ao lado dele, então ele certamente quer levar para casa uma estátua de
mulher. Eli levantou a mão e sem fazer contato visual, negou a estátua e o
vendedor foi embora.

Katie se sentia como se devesse dizer "Obrigado" e "Tenha um bom dia", ou


então a sua experiência de compra não seria concluída. No entanto, os
vendedores estavam agora com a multidão de algumas mulheres que estavam
em seu grupo e elas apontavam para Katie assim as americanas veriam tudo o
que havia na moda africana.

"Quanto?"Uma das mulheres do Texas perguntou.

"Doze shillings". Respondeu o vendedor.

"Isso não é ruim. Eu gosto deste. Aqui. Você tem troco para 20? "
Como Katie observava a troca, ela queria dizer parar a mulher e que Eli tinha
comprado dois colares por dez xelins, e não um por 12. Foi tudo tão rápido e
fácil que Katie pensou ser melhor deixar as coisas como estavam. E que os
vendedores já devem ter aprendido a lidar com uma diferente quantidade de
pessoa.

Eli estava no centro do grupo agora. Outro ônibus subiu e vendedores saíram
para a frente de um novo ônibus que ainda estava com a porta fechada.

"Atenção, por favor.", Eli disse. Os turistas do Texas olharam para ele como se
olha para um líder.“ "Temos apenas cinco minutos a mais”. Eu os desafio a
colocarem suas cabeças para fora da plataforma e olharmos para o Vale Rift.
Eu não quero que vocês percam esta maravilha da criação de Deus. "

A maioria do grupo fez o que ele disse, e Katie percebeu que Eli estava muito
satisfeito.

"Isso foi muito impressionante, Lorenzo." Disse Katie dando duas voltas com
colares ao longos do pescoço deixando-os num cumprimento menor.

"Você gostou de sua lembrança?"Perguntou Eli.

"Eu elogiei a maneira como você motivou o grupo. Foi impressionante. E eu


adorei os colares também. Obrigado. Ou, espere ... Asante sana ". Agradeceu
Katie em dialeto africano.

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* HAKUNA MATATA - Sem problemas, no idioma africano suaíle.

CAPÍTULO 10

O ônibus andando dentro de Nairobi deu a Katie e ao resto do grupo muito


para ver. A cidade à luz do dia era um lugar movimentado, com pessoas em
qualquer lugar. Ao lado de cada estrada por onde eles passavam, as pessoas
andavam com sacos e pacotes, e crianças em uniformes escolares passeavam
em grupos. Homens em bicicletas atrelados na traseira de caminhões, pegando
uma carona morro acima. Homens velhos encurvados se arrastavam
lentamente a caminho de algum lugar. Assim, tantas pessoas estavam em
movimento que Katie achou difícil imaginar de onde eles estavam todos indo ou
vindo. Pequenas vans brancas estavam por toda parte, pegando e deixando
passageiros a maneira dos táxis amarelos entupidos das ruas de Nova York, em
cada filme que ela já tinha visto da Big Apple.
O ônibus girou passando um grande mercado ao ar livre em um campo. A terra
seca parecia surgir em uma nuvem constante de centenas de pessoas
compactadas em um espaço confinado. Katie podia ver vegetais ao lado de
mesas de cozinha e cadeiras. Ela pensou que o mercado formava o equivalente
Africano de uma das grandes lojas dos EUA, onde tudo estava sob o mesmo
teto. Apenas aqui, não havia teto.

Esta movimentada parte da cidade cheia de pessoas , era o oposto do que os


seus arredores eram, como nas colinas de Brockhurst. Tanta poeira. Muitas
pessoas. Tanto tráfego. Ela fechou os olhos por um momento e tentou lembrar
a imagem dos pacíficos campos de chá verde ao amanhecer. Abrindo os olhos,
Katie viu o mix de papelões magros e veículos do ano corrente . Nairobi era
uma cidade de diversidade.

Uma das formas de diversidade que estava faltando eram pessoas com pele
clara.Katie estava perfeitamente consciente de que mais uma vez ela se
sobressaía, não só porque ela era uma mulher branca, mas também porque ela
tinha o cabelo característico. Ela se perguntou se isso era parte do que fez Eli
olhar para ela quando eles se conheceram. Ela teria que perguntar a ele em
algum momento o quanto de uma anomalia ela era para ele. Mesmo que sua
pele fosse tão pálida quanto a dela, o cabelo vermelho tinha que ser uma
esquisitice. Katie percebeu que quanto mais ela via Eli em seu ambiente
familiar, mais ela entendia por que ele era do jeito que era.

O ônibus serpenteava através de uma área sombreada residencial, e Eli virou e


apontou fazendo Katie olhar para fora da janela. Ela viu uma grande área de
estacionamento e um vislumbre de uma casa térrea com um alpendre, e depois
passaram dele.

Ela olhou para Eli com suas sobrancelhas erguidas, como se dissesse: "Sim, e
daí? É uma bela casa antiga no estilo Africano-colonial. "

"Isso é Karen," ele disse calmamente.

Os olhos de Katie se arregalaram. Ela sabia do que ele estava falando. ".
Karen"

Alguns dias atrás, na hora do almoço tinham sentado em frente a um casal


canadense que tinha visitado Karen.Katie percebeu que a casa era: a casa da
baronesa Karen Blixen, a autora dinamarquêsa de: Fora da África, a mulher que
atendia pelo pseudônimo de Isak Dinesen. Toda a área foi se transformando
em um subúrbio e tinha assumido o nome de Karen. O casal do Canadá relatou
a Eli e Katie que partes da varanda e da casa haviam sido usados para um filme
tão bem preservado que estavam.

"Nós voltaremos outra vez se você quiser fazer um passeio", disse Eli, ainda
mantendo a voz baixa. "Não é sobre a programação de hoje, então eu não vou
anunciar."

Katie deixou seus pensamentos vaguearem para o futuro e para a alegria de


saber que ela teria muitos dias no Quênia.

Em pouco tempo o ônibus entrou em uma área de estacionamento. "É isso",


disse Eli, levantando-se e tomando o microfone quando o motorista do ônibus
aguardava outro ônibus prosseguir em seu caminho para fora da sombra que
ele queria.

"Tudo bem, estamos aqui. Estamos no centro de girafas, e nós estaremos aqui
durante uma hora inteira. Vocês encontrarão mais informações uma vez que
vocês entrarem, mas para resumir, durante os anos 70, uma série de áreas do
Quênia estavam sendo desenvolvidas em subdivisões, e a vida selvagem nas
áreas declinava rapidamente. O casal que começou este centro tinha aprendido
que no oeste do Quênia só um pouco mais de cem girafas Rothschild foram
deixados. Eles trouxeram duas dessas girafas aqui, para sua casa, e
desenvolveram esta área em uma reserva de vida selvagem para girafas
ameaçadas de extinção. O guia do parque terá os números atuais, mas acredito
que mais de quinhentas girafas Rothschild estão no Quênia, como resultado do
santuário criado para elas. Então, vá abraçar o pescoço de uma girafa e não se
esqueça de voltar aqui em uma hora. "

Katie deu um sorriso para Eli, quando ele desligou o microfone e olhou para
ela.

"O quê?"

"Você tirou essa frase de mim. Esse era o meu objetivo para o dia, abraçar o
pescoço de uma girafa. "

"E me incomodar. Você esqueceu essa parte? "

"Eu estou juntando todos os meus incômodos para a volta pra casa."

A maioria do grupo tinha corrido para fora do ônibus, e Katie queria correr com
eles, ansiosa para ver as girafas. Mas ela esperou por Eli, que estava envolvido
em uma conversa com o motorista do ônibus. Nenhum deles parecia estar com
pressa. Katie sentou-se no ônibus vazio e tentou ver o que podia para fora da
janela, mas não era muito.

"Pronta?" Eli finalmente pediu.

"Mais do que pronta." Katie saiu com ele. Ele os levou para a lanchonete.

"Você quer algo para beber?"

"E as girafas?" Katie falou.

"Elas têm suas próprias bebidas."

Katie o golpeou no braço. "Por que estamos aqui na lanchonete, Fonzie? As


girafas estão lá. "Ela apontou para a área de observação elevada em todos os
fundamentos. Ela não podia ver nenhuma girafa e assim deduziu que tinha que
subir até o mirante com toda a gente.

"Confie em mim, vai estar muito lotado com todo o grupo lá ao mesmo tempo.
Nós também podemos relaxar e esperar mais um pouco. E do que você acabou
de me chamar? "

"Fonzie. Arthur Fonzarelli. Você sabe, Happy Days? Soda Fountain? Richie
Cunningham? "

"Eu deveria saber quem são essas pessoas?"

Katie se esqueceu que na casa que ela havia crescido tinha a babá de um olho
só, enquanto Eli tinha passado a sua infância na leitura sobre a fauna africana e
os fatos do Monte Kilamanjaro e do Vale do Rift.

"Não importa. Ouça, eu quero ir para a plataforma com o resto do grupo. Se


você quiser, você pode esperar por mim aqui. "

"Você realmente está empolgada com isso, não é?"

"Sim!"

"São apenas girafas".

"Só girafas! Eli! "


"Ok, ok. Eu entendo. Minhas coisas de todos os dias não são o seu material de
todos os dias. Vamos. "Ele pegou a mão de Katie. "Vamos nos acotovelar ,é a
nossa única maneira de entrar.Eu tenho que avisá-la, no entanto,elas são fofas,
mas babam. "

O termo de Eli de "cotoveladas " era uma descrição perfeita do que eles tinham
que fazer. A área de observação elevada foi concebida para armazenar menos
pessoas do que já estavam reunidas quando Katie e Eli chegaram. Não era
apenas um grupo do Texas. Outro menor recolhimento de visitantes estava
alinhado para uma foto de grupo.

Tudo o que Katie e Eli podiam fazer era ficar para trás e tentar ouvir o guia do
parque quando ele respondia a perguntas e explicava que, enquanto eles
podiam ver as girafas na área aberta na frente deles, as girafas não
necessariamente viriam para perto da torre de observação. A torre foi
construída na altura certa para que, se as girafas fizessem abordagem, elas
estivessem olho no olho com os visitantes.

Katie estendeu o pescoço, tentando ver em torno das pessoas na frente dela.
Pelas exclamações que eles estavam fazendo, parecia que os outros poderiam
pelo menos ver algumas girafas. Mas tudo que Katie viu, ao longe além do
campo aberto, com as acácias, foram edifícios altos do centro de Nairobi.

" La está outra!" Um dos homens de seu grupo exclamou.Então Katie teve um
vislumbre de uma girafa , estendendo suas longas pernas e dobrando os
joelhos . Com passos graciosos e rítmicos, a criatura grande atravessou a área
aberta da sombra de uma árvore de grande porte para a sombra de outra.
Todas as câmeras no convés foram em um frenesi de fotos.

O guia uniformizado levantou sua voz para que todos pudessem ouvi-lo. "Você
sabia que a girafa é semelhante ao camelo e ao urso pardo na forma como ela
anda? Todos eles levantam as duas pernas do mesmo lado do seu corpo, ao
mesmo tempo. Isso dá-lhes a sua marcha distintiva. "
Ele passou a falar sobre os tipos diferentes de girafas, quais foram ameaçadas,
e as maneiras que as pessoas poderiam contribuir para o Fundo Africano para a
Vida Selvagem.

Enquanto tudo isso era interessante para Katie, ela estava morrendo de
vontade de chegar perto o suficiente da grade para definir sua câmera de
telefone no zoom e tirar uma foto de uma girafa, especialmente porque ela
prometeu que o faria para Cris.
Um por um, os turistas tiraram suas fotos, fizeram suas perguntas, e fizeram o
seu caminho descendo as escadas para a lanchonete. Eli estava certo. Eles
poderiam ter conseguido algo para beber, esperar um pouco, e depois seguir
para o deck de observação após a multidão diminuir.

"Obrigado por se acotovelar aqui comigo," Katie disse a Eli.

"Será que você consegue tirar alguma foto delas ainda?"

"Não. Eu vou deslizar até lá agora. "

Um grupo de uma dúzia de pessoas, que pareciam estar viajando juntos e


falando o que Katie achava que era holandês, saíu ao mesmo tempo. Outra
meia dúzia de pessoas do grupo do Texas saíram, e as únicas pessoas que
ficaram na plataforma de observação foram Katie, Eli, o guia do parque, e um
casal de idosos que estava tirando algumas fotos.

"Gostaria de uma foto de vocês dois?" O guia do parque perguntou.

"Claro. Obrigado. Quero dizer, asante. "Katie entregou-lhe a câmera e ficou ao


lado de Eli. Ele colocou seu braço ao redor dela, e ela sentiu seu rosto corar.
Ela tinha certeza que era do calor. Nairobi era um pouco mais quente que
Brockhurst, e mesmo que a área era ao ar livre, com tantas pessoas
amontoadas sobre o deck de observação, tornou-se desconfortávelmente
perto.O casal de idosos saiu, e Eli e Katie ficaram com o guia do parque.

"Gostaria de alimentar as girafas?", O guia perguntou.

"Você está brincando?" Katie olhou para Eli e de volta para o guia. "Sim! Isso é
possível? Você pode chamá-las e trazê-las para cá? "

"Eu tenho alguns truques. Estas girafas têm estado aqui há muito tempo. Elas
interagem com pessoas, mas podem ser tímidas com grandes multidões. Eu
acho que elas virão apenas para você. "Ele estendeu a mão em um saco de
aniagem cheio com algum tipo de pelotas e levantava a mão no ar, agitando
pra frente e para trás.

Uma das duas girafas pela acácia grande virou o seu longo pescoço em sua
direção e, com seu pescoço estendido, se dirigiu para eles.

"Ele está vindo para cá!" Katie tirava fotos tão rápido quanto podia.
"Ela", o guia corrigiu. "Esta é Daisy. Ela vai comer na sua mão. Aqui, mantenha
a sua palma da mão assim. "Ele encheu a palma de Katie com as pelotas, e ela
estendeu-a para a girafa que se aproximava.

"Ela não vai morder meus dedos, vai?"

"Não. Apenas mantenha sua palma plana e aberta. Não faça um punho. Elas
odeiam quando as pessoas fazem isso. Ela vai usar o lado da cabeça dela
contra a sua. "

"Sério?" Katie podia sentir seu coração bater mais rápido. Várias das pelotas
caíam em cascata do lado de fora da mão tremendo com o entusiasmo . Na
terra abaixo, um javali resfolegando veio trotando para fora da sombra e
dobrou a sua frente as pernas na articulação do joelho, como se estivesse
curvando-se em oração. O guia do parque apontou a posição do javali e disse
que era a única forma que seu focinho poderia chegar ao chão para conseguir o
alimento.

"Tão interessante como um javali pode ser, tenho certeza," Katie disse: "Eu
estou mantendo meu olho em Daisy. Lá vem ela. Olá, menina. Você não é
bonita? Whoa! Isso é um pouco de perto e pessoal, você não acha? "

Daisy não ficou para trás e tomou as pelotas da mão de Katie estendendo-se
para o sol. Em vez disso, a girafa enfiou a cabeça no espaço sombrio da área
de observação a fim de que ela estivesse a poucos centímetros de distância
Katie.

"O que eu faço?"

"Abrace seu pescoço," Eli disse.

"Dê-lhe a comida", disse o guia do parque.

Sem perceber, Katie tinha feito um punho em um esforço para manter as


pelotas sem cair para os javalis ávidos que se reuniram em uma quadrilha de
cinco bandidos .
Eli colocou a mão no saco de juta e presenteou Daisy com uma completa e
plana palma de lanche antes que ela percebece como Katie estava
segurando.Eli acariciou o lado da cabeça grande na forma como um cavalo
premiado seria carinhosamente preparado. "Está uma beleza, assim como Katie
disse. Você quer ter alguma das pelotas que ela tem para você agora? "
Katie abriu a mão e sentiu uma sensação peculiar quando a língua
extremamente longa e surpreendentemente seca de Daisy lambeu as bolinhas
em um golpe grande. Tudo o que restou foi uma seqüência de saliva que era
mais do que um pé de comprimento conectando a mão de Katie com a boca de
Daisy.
Mesmo que seu instinto fosse soltar um grande "Eca", Katie estava muito
impressionada com a criatura elegante e seus grandes olhos castanhos que
faziam um alarido.

"Aqui, você quer mais?" Katie enfiou a mão no saco de pelotas mais uma vez e
repetiu a oferta de lanches. "Você sabe, não você, Daisy, que a sua língua
parece um pouco roxa hoje."

"Isso é normal", disse o guia do parque. "Eu acho que ela gosta de você."

"Bem, eu gosto dela também. Eli, você poderia tirar uma foto de nós? Você não
se importa, não é, Daisy? "

Eli pegou a câmera do telefone de Katie e continuou tirando fotos quando o


guia do parque reabasteceu a bandeja de doces de sua palma.

Várias pessoas do seu grupo na lanchonete, aparentemente, tinha percebido


que havia uma girafa a mais. Então eles voltaram para a cabine de observação
e tiraram fotos de Katie, como se ela fosse algum tipo de talento,uma espécie
de "encantadora de girafas" que tinha convencido a criatura manchada a vir
com ela e comer na palma de sua mão.

Katie percebeu que o guia do parque não corrigiu seus pressupostos


murmúrios, mas ele os fez oferecer pelotas para a Daisy também. Por alguma
razão, mesmo que os dois homens estivessem parados com pelotas nas palmas
das mãos, Daisy dava atenção apenas para Katie, como se esta fosse sua festa
de chá privada e meninos não eram permitidos.

Mais pessoas vieram para o pequeno espaço, e todos eles batiam fotos de
Katie, que agora circulava seu braço em volta do pescoço da girafa, enquanto
Daisy demonstrava o quanto a sua língua grande podia se estender.

"Eli, eu estou alimentando uma girafa na palma da minha mão. Você sabia
disso? "

"Sim, Katie, você está. E para que conste, eu estou bem aqui. "
"Eu sei, mas sério, o quão legal é isso? Estou alimentando uma girafa na palma
da minha mão." "Como você disse."

"Não é um sonho. Isto é tão, tão legal. Ou, como meu amigo Doug diria, isso é
incrível! "

Só então, Daisy virou a cabeça se afastando de Katie e da multidão.

"Não! Não vá embora. Foi algo que eu disse? "

Com seu pescoço longo no caminho, Daisy passou através do grupo de javalis
bufando e voltou para seu companheiro debaixo da árvore acácia.
Aparentemente, muitas pessoas estavam no convés, porque mais uma vez se
encheu de visitantes em pé ombro a ombro.

Com um suspiro, Katie jogou um beijo para Daisy e agradeceu ao guia do


parque.

"Volte a qualquer momento", disse ele.

Assim que ela estava de volta no ônibus, ela pegou o telefone dela e viu as
fotos que Eli havia tirado. Ele tirou muitas fotos, inclusive uma que mostrava
uma sequência longa, de saliva de girafa que pairava da boca de Daisy para a
mão de Katie.

"Isso é o que eu vou mandar para Cris primeiro." Ela ergueu seu telefone para
que Eli pudesse ver a foto.

"Eu disse que elas babam."

"Mas ela era tão fofa."

"Eu disse que elas eram fofas também." Eli estava folheando as fotos.Ele parou
e estudou uma das fotos com um grande sorriso brilhando em seu rosto como
um nascer do sol.

"O quê? Você achou outra boa? "

Ele virou a tela do celular na direção dela. Era uma foto de sua alimentação de
Daisy com toda a sua atenção focada sobre o animal e um olhar de espanto de
olhos arregalados no rosto de Eli que estava do outro lado , afagando-lhe o
pescoço longo e olhando em volta da cabeça grande para começar uma visão
completa de Katie. O olhar no rosto de Eli era grande. Ele parecia tão feliz. Tão
contente. Ele estava compartilhando seu mundo com alguém que estava
assombrado. Ele quase parecia que estava tão chocado com Katie como ela
estava com Daisy.

"Você não sabia que o guia tinha tirado algumas fotos de nós, não é?" Eli
perguntou.

"Você vai enviar uma para mim, não vai? E envie para Ted e Cris também. "

Katie enviou um email para Cris que dizia:


Eu nunca vou esquecer este momento para o resto da minha vida.

Então, ela anexou as duas fotos e enviou o e-mail para o outro lado do mundo.

Antes de o ônibus chegar de volta a Brockhurst, Cris respondeu com um e-mail


que tinha a palavra "Apaixonado" na linha de assunto. Seu e-mail foi lido:
Katie, isso é incrível! Uau, olha a expressão no rosto de Eli. Ele está cativado
por você. Hipnotizado. Eu amo essa foto de vocês dois. E para a saliva um -
eca!

Katie pensou no comentário de Cris ao longo dos próximos dias, enquanto ela
trabalhava com Eli no Café Bar, se juntava a seus pais para as devoções
matinais, e ajudava a pintar o escritório de Maria no prédio da administração.
Cada dia era grande. Eli não estava escondendo que ele estava apaixonado por
ela, e ela não tinha motivos para fingir que seus sentimentos eram outra coisa
senão mútuos.

Tendo colocado seu fator de beijar em segundo plano, eles voltaram seu foco
para outras chances de conhecer um ao outro, discutir uma variedade de
tópicos, e apreciar a beleza ao seu redor com os dias aquecidos.

O que eles não faziam era discutir "eles" ou o que viria a seguir.Eles
simplesmente faziam o que estava próximo, como os projetos mantidos vindos
em sua direção e divertiam-se juntos. Katie não perguntou sobre como estavam
as coisas entre Eli e seu pai. Ela sabia que ele iria falar sobre isso quando
sentisse vontade. Ela também sabia que ele ainda queria se mudar para o
upper Nine, porque ela o ouviu falando sobre a possibilidade de utilizar o resto
da tinta para refazer a sua nova sala, se nenhum dos outros escritórios
precisasse de uma nova camada. Katie o ouviu falar sobre o upper Nine como
uma indicação de que o pai de Eli estava, pelo menos, confiando-lhe mais e
esperando vê-lo como um adulto que estava pronto para tomar suas próprias
decisões.

Mas Katie estava especialmente grata quando Jim veio até ela e a convidou
para acompanhá-lo, Cheryl, e Eli em uma viagem durante a noite para uma das
aldeias onde um recém-cavado poço estava programado para ser concluído em
uma semana. Para ela, isso significava que Jim a via como sendo confiável, útil
e parte da equipe. Isso era importante para ela.

Cheryl pediu a Katie para ajudá-la a iniciar o projeto imenso de organizar o


espaço do escritório novo, agora que a tinta tinha secado e as caixas e
equipamentos, finalmente, tinham sido movidos para dentro.

"Bem, eu fiz uma descoberta significativa", Katie disse a Cheryl depois de cerca
de quatro horas de trabalho.

"O que , Katie?"

"Descobri que esse tipo de trabalho não é minha especialidade."

"Sério?" Cheryl parou de quebrar as caixas de papelão vazias. "Estou surpresa


que você diga isso. Você fez tão bem feito. "nunca tivemos aqueles arquivos de
colaboradores organizados do jeito que você os fez todos juntos agora."

"Eu não estou dizendo que não vou ajudar com coisas assim. Simplesmente
não é minha paixão. Eu gostaria de saber quais são os meus dons e vocação .
Talvez seja na aldeia, e eu vou vê-los quando estivermos lá amanhã. "

Cheryl puxou a cadeira do escritório,a segunda da mesa e colocou frente a que


Katie estava sentada e disse: "E o que te faz feliz?" Ela sorriu. "Além de Daisy a
girafa."

Katie tinha sido provocada por Eli e seus pais ao longo dos últimos dias sobre o
número de vezes que ela falou sobre a alimentação de Daisy na palma de sua
mão.

"Não, eu estou perguntando o que realmente faz com que você se sinta feliz.
Quais projetos você tem feito nos últimos seis meses que você sentiu que a
mão de Deus estava sobre? Eu posso pensar em um. "

"Você pode?" Katie pensou sobre as histórias que ela tinha dito a Cheryl a
respeito de sua posição como uma RA e como ela havia organizado um evento
para todo Hall e a festa da primavera . Nenhum deles estava em sua lista de
coisas que gostaria de fazer de novo. Ela havia dito a Cheryl que se não fosse a
desenvoltura de Eli, ambos os eventos poderiam ter sido um desastre.

Mas quando ela mencionou essas tarefas, Cheryl respondeu: "Eu não estava
pensando em um desses.

Katie não conseguia se lembrar de organizar quaisquer outros projetos.

Cheryl levantou uma sobrancelha. "Bem, isto é ainda mais uma indicação de
que você estava usando seus dons e trabalhando dentro de sua vocação.

E sobre a arrecadação de fundos que você fez no Rancho Corona para os poços
do Leste Africano ? "

"Isso não parece trabalho. Quero dizer, era uma tremenda quantidade de
trabalho ", Katie rapidamente acrescentou. "Especialmente no último semestre
com as aulas e os deveres de AR. Mas não me sobrecarregou ".

"Exatamente. É assim que é quando você está dentro de seus dons. "

Katie deixou o pensamento afundar-se dentro dela "Acho que vejo o que você
quer dizer. Eu era realmente apaixonada por dizer às pessoas o que vocês
fazem aqui, e era fácil levar as pessoas a fazerem doações. Quero dizer,
mesmo que esse cara fosse um vice-presidente ou algo parecido no banco ,ele
fez uma contribuição quando viu que eu estava dando do meu ... "Katie se
conteve. Poucas pessoas sabiam sobre a herança enorme que tinha recebido de
uma tia-avó que ela nunca havia conhecido e como Katie havia designado uma
série de generosas contribuições a partir desses fundos.

Cheryl se levantou e fechou a janela e a porta do escritório.Em voz baixa, ela


disse,

"Katie, eu tenho que lhe dizer algo."

Katie perguntou se isso ia ser a conversa desconfortável que tinha


antecipado.Quando a mãe de Eli iria perguntar sobre suas "intenções" em
relação a seu filho. Ou pelo menos tentar descobrir o ponto de vista de Katie
em seu relacionamento. Obviamente, Cheryl não queria que ninguém ouvisse.

O que Cheryl disse em seguida pegou Katie desprevenida. "Eu sei sobre o
dinheiro que você deu para pagar mensalidades de Eli".
Katie ficou chocada. "Como você soube?"

"Eli disse-nos que o meu irmão pagou sua mensalidade, mas eu sabia que
Jonathan não tem recursos como esse. Especialmente porque ele é um
professor universitário, e foi bem antes que ele estava se casando. Perguntei a
Jonathan sobre isso, e ele disse que não pagou a mensalidade de Eli, mas ele
sabia sobre isso, porque Julia estava de alguma forma envolvida. "

Katie se inclinou para trás e perguntou o que Julia, sua diretora ex-residente da
Rancho Corona, disse a Cheryl.

"Tenho medo de ter sido implacável com Julia. Eu não deixaria de ir atrás de
Jonathan, que disse que Julia sabia o doador. Era uma quantidade tão grande,
eu senti como se precisássemos encontrar uma maneira de agradecer a quem
quer que fosse ou de alguma forma pagá-lo de volta. "

Katie sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Como poderia Julia
trair sua confiança assim? Katie tinha pedido a ela para manter tudo o que
sabia sobre a herança confidenciais.

Cheryl continuou, "Pobre Julia, não me conhecia, e ali estava ela, recém-casada
com meu irmão, e eu continuei perseguindo-a. Ela finalmente me disse que o
pagamento veio de uma jovem, uma estudante de seu dormitório, que tinha
herdado algum dinheiro. Ela explicou como ela ajudou a jovem fazer várias
contribuições. Eu não sabia que era você, Katie. "

Então, Julia não lhe disse que era eu? Ela não disse meu nome? "

"Não."

"Então, como você sabia que era eu?"

"Seu nome foi listado em um relatório de doadores que fizeram contribuições


consideráveis através do levantamento de fundos organizado."

"Não era apenas o banco de lá transferir um montante final de dinheiro para o


banco daqui?"

"Sim, mas também enviou um relatório sobre as grandes quantias doadas.Eu


fui a única que viu. Seu nome estava no relatório com a quantia que você deu.
Eu coloquei dois e dois juntos, e ... Katie ... eu mal sei o que dizer. Obrigada e
desculpe colocá-la em um lugar onde você deve sentir-se vulnerável e exposta.
Por favor, saiba que Julia não traiu a sua confiança. "

"Será que Eli sabe?"

Não. Nem Jim. Pensei em contar a Jim recentemente, mas é sua informação
até que você faça com ela o que você quer. Peço desculpas, Katie.
Sinceramente. "

"Você não precisa se desculpar. Estou feliz que você me disse, e eu estou
especialmente feliz que você explicou tudo para mim. É uma coisa estranha ter
dinheiro no banco, sabe? "

"Não, na verdade, eu não sei." Cheryl ofereceu a Katie um sorriso terno.

"É um tipo de carga em alguns aspectos. Quer dizer, eu não penso muito sobre
isso.Isso é apenas dinheiro. É um recurso. Eu quero ser sábia com a forma
como ele é disperso, é por isso que eu tinha Julia percorrendo o processo
comigo, com os advogados e tudo mais.Ele é uma herança, no caso de você se
perguntar de onde ele veio. "

"Estou feliz que você não se sente como se sua confiança tivesse sido traída,
Katie. Eu queria te dizer o que eu sabia só quando houvesse essa abertura de
confiança entre nós. "

"Eu aprecio isso", disse Katie. "E eu queria dizer algo a você já há algum tempo
."
A expressão de Cheryl deixava claro que ela estava aberta e receptiva.Isso
ajudou Katie a sentir-se pronta a confiar nela.

"Eu queria agradecer por ter me recebido e por me fazer sentir bem-vinda.Eu
sei que eu praticamente me convidei, e você foi muito gentil. Então, obrigado. "

"Sua chegada não foi uma surpresa completa." Cheryl sorriu. "Eu tive uma
sensação de que você estaria vindo. Estamos felizes por você estar aqui, Katie.
"

"Estou muito feliz de estar aqui. E isso traz-me à outra coisa que eu queria
dizer. "

"Se a razão pela qual ninguém está me dando alguma coisa permanente para
fazer por aqui é porque você está me esperando voltar para a Califórnia, então
eu acho que você deve saber que eu não vejo isso acontecendo. E isso não é
só por causa de Eli. Quero dizer, é claro que ele é uma grande parte da razão
pela qual eu vim, e as coisas são grandes entre nós, do meu ponto de vista,
mas ele não é a única razão pela qual estou aqui. Aqui é onde eu devo estar
agora. Eu sei disso. "

"É bom ouvir isso de você, Katie."

"Bem, há mais, devo dizer, e você provavelmente já sabe disso, mas Eli e eu
estamos bem com a tomada de nosso tempo para descobrir o que vem por aí
para nós. Quero dizer, nós, como casal. Ele precisa decidir o que ele vai fazer
aqui e eu também .Não estamos empurrando o nosso relacionamento à frente
muito rapidamente, em caso de você estar preocupada com isso. Nós
realmente estamos indo devagar. "

Cheryl deu um aceno afirmativo, como se ela já tivesse ouvido o mesmo tipo de
relatório de seu filho.

Katie estava contente de ver que o que ela dizia parecia estar ressoando bem a
Cheryl. Desde que ela estava indo bem no desenrolar da conversa, ela
continuou indo e vazou alguma verdade mais contundente. "Eu sei que as
coisas estão tensas entre Eli e seu marido agora. Eu estou esperando os dois
serem capazes de trabalhar com o seu desacordo rapidamente. A coisa é, eu
não imagino como alguém como Eli pudesse sentar em uma mesa de escritório
e passar seus dias a chamar as empresas de perfuração ou a escrever cartas
aos doadores. Vejo-o ser mais feliz fazendo todos os trabalhos que ele colocou
em sua própria lista ".

"Ele tem uma lista?"

A partir do olhar no rosto de Cheryl, Katie poderia dizer que ela tinha falado
demais.

"Ele ia falar com vocês sobre isso."

"Eu compreendo", Cheryl falou.

O escritório de repente parecia estar ficando menor e menor. Katie mordeu o


lábio inferior e tentou pensar no que dizer em seguida.

Cheryl assumiu a liderança e disse: "Por que não colocamos este assunto de
lado por enquanto. Podemos falar sobre isso mais tarde. "
"Boa ideia". Katie se desculpou, dizendo que ela precisava ir ver alguma coisa.
Foi uma desculpa esfarrapada, mas levou-a para fora da porta e para o ar
fresco. O que ela precisava para verificar o seu equilíbrio emocional.

Fazendo o caminho para o banco favorito de Eli, ela manteve-se se


repreendendo por não ter mantido sua boca fechada.As coisas com sua boca
haviam ido tão bem. Katie sentiu um nível de confiança se abrindo quando
Cheryl revelou o que sabia sobre a sua herança . Essa abertura, obviamente,
não foi transferida para Katie estar envolvida no conflito de Eli com seus pais a
respeito de sua futura posição com o ministério. Isso era algo para Eli liquidar
com eles sem o envolvimento dela.

Katie se lembrou de uma frase que ela ouviu Claudinei dizer na cozinha
algumas noites atrás. "Jogue-o no rio. Deixe os crocodilos mastigarem ao invés
de você. "

No início, ela pensou que Claudinei estava falando sobre um pouco de comida
que tinha ido mal, assumindo que ele estava dizendo a um dos caras na equipe
de cozinha como descartá-la. Quando ela entregou a bandeja do jantar foi que
ela descobriu que o tema eram os problemas, e não comida. O jovem estava
aparentemente dizendo a Claudinei sobre suas preocupações, onde o chef disse
a ele para jogá-los no rio para os crocodilos.

Katie só gostaria que ela pudesse reunir o que ela disse a Cheryl e ir jogar os
excessos de declarações no rio. Ela estaria muito melhor vendo os crocodilos
devorarem suas palavras do que tendo-as a corroendo dentro dela.

Por um momento, Katie considerou voltando-se para a cova dos Leões. Ela
tinha certeza de que Eli ainda estava trabalhando no Café Bar naquela tarde. Se
ela pudesse raptá-lo e levá-lo ao banco com ela, ela diria a ele sobre sua
situação financeira e pediria desculpas por lançar muita informação em sua
conversa de coração a coração com sua mãe.

Na bifurcação do caminho, algo dentro de Katie a convenceu de que este não


era o momento certo para atacar Eli com toda essa informação. Ela tomou a
trilha à direita e foi para o banco, a fim de ter uma chance para pensar e orar
sozinha. Katie sabia que ela poderia pedir desculpas na hora do jantar para a
mãe de Eli. Ela era boa em pedir desculpas por essas coisas.

Até então ela só tinha um pensamento estratégico.


Nota para si :Feche seus lábios. Ou alguém aqui pode querer jogá-la aos
crocodilos.

Capítulo 11

Katie tinha descoberto cedo que Brockhurst era um refúgio para muitas almas
esfarrapadas. Ela começou a acreditar que, de certo modo, ela era uma delas.
Outros acharam seu caminho para o centro de conferências após servirem em
circunstâncias longas e difíceis. O ar fresco, gramado verde, camas
confortáveis, e a extensa hospitalidade do circulo permanente de residentes em
Brockhurst fizeram dele um lugar de restauração e paz. Katie sentiu isso. Todos
que chegavam sentiram isso. Ela estava convencida que Deus tinha beijado
esse pedaço de terra queniana.

Na noite anterior aos Lorenzos e Katie irem para a aldeia para celebrar a
conclusão do novo poço, Katie viu em primeira mão, mais uma vez, que lugar
abençoado Brockhurst era. Uma mulher de olhos fundos entrou na sala de
jantar com quatro crianças e tentou navegar com seu pequeno rebanho através
da fila do buffet. Vários dos residentes permanentes de Brockhurst prestaram
assistência, carregando as bandejas para as crianças e direcionando-as para
uma mesa vazia. Katie assistia as crianças mordiscarem um pouquinho disto e
daquilo enquanto a mãe encarava sua refeição intocada.

Cheryl entrou na sala de jantar e foi direto para a mesa com os recém-
chegados. Ela sentou-se ao lado da jovem mãe, abraçou-a, beijou-a na
têmpora, e então sentou-se com ela, sem dizer nada. Toda vez que alguma das
crianças olhava para Cheryl, ela tinha um sorriso tranquilizador para ele ou ela
e algumas palavras gentis. A mulher aceitou a xícara de um quente e
reconfortante chá que alguém trouxe à mesa e ofereceu a ela. Katie assistiu
enquanto a mulher sorvia lentamente a bebida, com seus olhos fixos e sem
piscar.

Eli juntou-se a Katie na mesa em que ela estava sentada acompanhada de um


casal que tinha acabado de chegar de Indiana, e esperava uma remessa de
suplementos médicos em Brockhurst antes que eles fossem para a aldeia que
estavam designados no Sudão. Nos últimos dias tanto Eli quanto Katie
estiveram extremamente ocupados no centro de conferências, com uma
variedade de tarefas que lhes foram atribuídas. Eles não tiveram a chance de
conversar a sós por quase uma semana.

Quando Eli sentou-se ao lado de Katie, ele começou a conversar com o casal de
Indiana sobre o clima, o pudim de banana e outros tópicos triviais antes que os
visitantes decidissem que iriam sair para uma caminhada antes do sol de pôr.
Como eles estavam de costas para a mãe e as crianças, eles não estavam
assistindo o que Katie estava vendo.

Assim que eles deixaram a mesa, Katie perguntou a Eli: “O que aconteceu com
a mulher que está com sua mãe? Ela e as crianças estão bem?

“Não é bom”, disse Eli em voz baixa. “Eles estavam na Somália e tiveram que
evacuar o centro médico do acampamento de refugiados. Callie e as crianças
saíram, mas eles não sabem onde Evan está.

“Evan é o marido dela?”

Eli assentiu. “Callie costumava morar aqui. Na verdade, ela chegou aqui logo
após se formar na Rancho Corona. Ela foi assistente de escritório do meu pai
por alguns anos e conheceu Evan quando ele veio a Brockhurst a caminho de
uma viagem missionária de assistência médica na Somália. Eles se casaram
aqui e moram na Somália há quase nove anos. Nós temos que orar, Katie.
Ninguém sabe onde Evan está, ou se ele ainda está vivo.”

As palavras de Eli atingiram Katie. Estando em Brockhurst, ela ouvia muito


todos os dias sobre o que estava acontecendo por todo leste da África. Alguns
dos relatos sobre a seca e doenças eram terríveis e arrasadoras. Mas essa era a
primeira vez que Katie tinha visto o olhar de verdadeiro horror e terror.

“Vamos orar por Evan agora.” disse Eli.

Eles curvaram suas cabeças próximas e Eli orou. Katie silenciosamente


concordava enquanto ele orava alto. Quando ele terminou, ela achou que não
poderia adicionar nada além, então ela murmurou “Amém” e alcançou seu copo
de água. Tudo o que ela conseguia pensar era A África não é um lugar seguro.
Eu não estou segura. Eu não deveria estar indo à aldeia amanhã.

Assim que aquela flecha de medo perfurou seus pensamentos, outras a


seguiram. Katie sentiu sua fé sangrando por toda a conversa que ela começou
com Eli. “Você já sentiu medo de que alguma coisa como essa pudesse
acontecer aqui?”

“As vezes. Não com frequência.”

“O que impede o governo queniano de ter uma mudança de quem está no


poder e expulsar todos os ministros cristãos?”

“Deus”

“Eu sei que Deus nos protege, mas não o tempo todo, certo? Eu quero dizer,
esse não é o país em que a embaixada Americana foi bombardeada? Há quanto
tempo foi isso?”

“Foi em Agosto de 1998. Nós tivemos muitas pessoas que vieram pra cá de
Nairobi em busca de refúgio aquele mês.”

“Você não ficou com medo?”

“Nós estávamos preparados para evacuar.”

“Evacuar pra onde? Para onde vocês iriam?”

“O aeroporto estava aberto”

“E se estivesse fechado? E se..”

Eli alcançou a mão de Katie e a cobriu com as suas. Ela sentiu seu espírito
acalmar-se ligeiramente.

“Você se lembra da noite que nós fomos ao deserto com o Joseph?” perguntou
Eli.
“Sim.”

“Você se lembra de ter visto todos aqueles meteoros e como eles estavam em
curso bem em direção a Terra?”

“Sim.”

O lindo rosto de Eli tinha a aparência de um velho sábio, como se ele


pessoalmente detivesse um dos maiores segredos de todos os tempos e ele
fosse repassar aquela sabedoria a Katie. Ela nunca tinha visto aquele olhar nele
antes. Lembrava a expressão da mãe dele na noite em que eles chegaram e
novamente aquela tarde enquanto eles faziam a mudança para o novo
escritório e ela abraçou Katie após uma conversa de coração para coração. Era
um olhar de serenidade.

“Katie, qualquer um daqueles meteoros poderia ter vindo para atmosfera


terrestre e atingido nosso planeta. Mas eles não vieram. Deus os segurou de
volta.” Ele se inclinou mais perto. “Não importa onde vivemos, imensas forças
estão vindo contra nós o tempo todo. As únicas que chegam até nós são
aquelas que Deus permite.”

Katie deu a Eli um olhar severo. Não era que ela não concordava com ele. Ela
concordava. Ela teria tido aqueles mesmos tipos de pensamentos após a noite
que eles assistiram a chuva de meteoros. O que ela não gostou era que aquela
era uma verdade muito difícil de aceitar em um momento como esse. Seu olho
estava em Callie e seus pequenos filhos e como Deus estava permitindo que
um meteoro esmagasse a vida deles.

“Katie, olhe pra mim.”

Ela virou seu foco de volta para Eli. “Não tenha medo.”

Assim que ele disse a palavra medo, ela reconheceu a arma familiar que tinha
trazido tanta ansiedade antes. “Eu estou com medo.”

“Eu sei. Você não tem que estar. O que quer que aconteça na sua vida, vai
primeiro para a mão de Deus antes que ele permita que chegue até você. Ted
me ensinou isso quando estávamos juntos na Espanha, e isso mudou minha
perspectiva em muitas coisas. Eu sei que eu já te disse isso antes mas, Katie,
nós precisamos nos lembrar que não somos vítimas de todas as coisas horríveis
que acontecem neste planeta caído. Nós somos vítimas da graça. Graça
expansiva de Deus. Tudo vem dele e é permitido por Ele. Até mesmo as coisas
terríveis e destrutivas na vida.”

Katie olhou novamente para Callie. Cheryl tinha envolvido os ombros de Callie
com seu braço esguio como um reconfortante manto, e estava falando palavras
suaves enquanto fazia contato visual com cada uma das quatro crianças. Katie
pensou em como Cheryl tinha sido atacada quando os Lorenzos viviam num
abrigo médico no Zaire. Eli havia contado a Katie sobre como ele chegou em
casa da escola e encontrou um homem atacando sua mãe, pretendendo
estuprá-la, e como a faca dele foi de encontro a garganta dela.

Eli havia chegado no momento exato, o agressor atacou-o, ferindo Eli antes de
fugir. Eli e sua mãe tiveram sorte em receber a assistência médica que eles
precisavam para suturar os cortes.
Se alguém sabia o que era sentir terror, era Cheryl. Se alguém aqui sabia o que
era sentir-se uma vítima da graça e tinha ganhado o direito de confortar e dar
esperança para essa jovem mãe, essa era Chreyl.

“Você está bem?” Perguntou Eli a Katie.

Ela virou-se para ele e acenou. “Obrigada pelo o que você acabou de dizer. Eu
precisava ouvir aquilo. A vida parece mais intensa aqui às vezes.” Ela deixou
escapar um suspiro profundo.

“Falando em intenso, eu ouvi que você teve uma conversa intensa com a minha
mãe alguns dias atrás.”

“Sim, eu ia te contar sobre isso. Me desculpe.”

“Desculpe pelo que?”

“Eu falei demais. Eu contei a ela sobre a lista que você estava fazendo para a
descrição do seu trabalho.”

“Você falou? Você conversou com ela sobre isso?”

“Sim, Ela não te falou?”

“Não. Ela me disse que vocês duas conversaram sobre você e seu papel aqui.”

“Nós conversamos. Eu não diria que essa parte da nossa conversa foi intensa,
difícil.”

Os olhos de Eli se encolheram. Ele abaixou sua voz e perguntou, “Por que você
estava falando sobre a minha posição? Isso é algo que eu preciso resolver com
meu pai. Nós ainda não tivemos a chance de sentar e falar sobre isso.”

“É por isso que eu estou tentando me desculpar. Eu imediatamente percebi que


não deveria ter dito nada. Me desculpe por tê-lo feito.”

Os olhos deles estavam presos em um olhar inquiridor. Parecia que Eli iria levar
alguns momentos para deixar ir embora sua frustração. Ele respirou e disse,
“Tudo bem. Não se preocupe com isso. Eu preciso deixar as coisas resolvidas
com meu pai e você não sabia que nós ainda não havíamos conversado.”

“Obrigada pela graça, Eli”

Ele lhe deu um meio sorriso e parecia ter percebido o fato dela escolher a
palavra graça após as colocações que ele havia feito sobre como Deus está em
última instância no controle. “Provavelmente é uma boa coisa que você tenha
trazido isso à tona com a minha mãe. Eu preciso falar com os dois. Espero ter
tempo de fazer isso hoje a noite.”

“Então isso significa que eu não arruinei completamente sua vida?” Perguntou
Katie com uma expressão esperançosa.

“Ainda não.” respondeu ele como uma cara séria.

Eli empurrou o ombro dela com o dele e ela empurrou-o de volta.


“Eu sinto como se não tivesse te visto há semanas”, disse Katie.

“Eu sei. Tem sido selvagem por aqui.”

Os dois ficaram quietos por um momento, “Você está pronto para nossa longa
viagem até a aldeia amanhã?” perguntou Eli.

“Não, mas eu vou estar no momento que sairmos amanhã.”

“Eu mal posso esperar! Faz um bom tempo desde que eu estive numa aldeia.
Eu estou ansioso para que você tenha uma ideia de como é. Eu acho que irá
ficar claro para o meu pai, uma vez que estejamos lá, que é onde eu pertenço.”

Katie parou. “Espere. Você está dizendo que se vê morando em uma aldeia?
Tempo integral?”

“Eu não me importaria com isso. Você sim?”

“Eu? Eu não sei.” Não tinha ocorrido a Katie que a aspiração final de Eli poderia
ser viver permanentemente em uma aldeia. Quando ela se permitiu uma
espiada fantasiosa num possível futuro para eles, ela os imaginou na sua
própria casinha de campo em Brockhurst. Visitas à aldeia seriam viagens
paralelas a cada poucos meses. Como ela pode perder essa parte significativa
do sonho de Eli para o futuro? Seu futuro e, possivelmente, futuro deles.

“Você esta dizendo que não considerou viver em uma aldeia? Sério?”

Ela não tinha certeza do que dizer. Ela rebateu com uma pergunta que era dela
mesma.

“Que tal você me perguntar novamente após eu realmente ter ido à uma
aldeia? Eu gostaria de dar uma olhada ao redor e conferir algumas cabanas de
lama antes de dar minha resposta final.”

Eli ainda parecia surpreso com a resposta, mas ele concordou lentamente com
a cabeça e disse, “Você acha que é essa coisa de medo de novo que está te
fazendo se sentir incerta?”
“Não,” ela disse com firmeza. “Tem sido uma enxurrada de informações, Eli. Eu
quero dizer, tudo isso é novo pra mim. Eu nunca estive em uma aldeia africana
antes.”

“Okay.” Ele ergueu sua mão antes que ela aumentasse. “Eu entendo.”

“Bom.” Katie inclinou-se para trás e cruzou os braços. “Estou feliz que você
entenda, porque talvez seja eu quem precisa entender melhor. O que
exatamente você se vê fazendo? Nas aldeias, eu quero dizer. Você estaria
numa equipe permanente que vai ao redor e escava poços?”

“Não. Existe muito mais nos projetos do que a equipe de perfuração. As


missões recebem toneladas de pedidos de poços. Alguém precisa ir em cada
aldeia, avaliar a necessidade, e descrever os passos necessários, porque eles
são diferentes para cada local. Então alguém precisa fazer um extensivo
treinamento de higiene para que os problemas originais que poluíram a água
não ocorram novamente.”

Eli empurrou o prato de lado. "A outra coisa que eu gostaria de fazer é
trabalhar com as equipes que vêm ao Quênia para ajudar. Em alguns dos
locais, leva semanas para transportar as rochas, areia e outros componentes
antes que o poço possa ser construído. Não adianta trazer pessoas aqui, a
menos que elas tenham uma ideia do que vai ser exigido delas. E elas precisam
de alguém para mantê-las em suas tarefas, uma vez que cheguem na aldeia. É
muito mais complicado do que apenas cavar um buraco no chão e instalar um
sistema de duas toneladas de bombeamento. "

Katie sabia disso. Ela só não havia entendido até agora que Eli via sua posição
requerendo longas estadas e idas de aldeia em aldeia.

“E quanto a você?” perguntou Eli. “Você consegue se ver envolvida neste tipo
de trabalho? Ajudando nas aldeias?”

“Eu não sei. Eu quero dizer…”

Ela não queria dizer nada como, “Aonde você for eu te seguirei,” porque
obviamente ela já tinha demonstrado isso o seguindo até a África. Mas ela
estava pronta e disposta a segui-lo até as aldeias, por longas estadias para
transportar cimento até trilhas de terra?

Katie também sabia que não queria soar como o pai dele, pressionando Eli a ter
uma mesa no novo escritório e ficar na bolha de Brockhurst. Se Eli foi criado
para viver nas aldeias, então era isso que ele deveria buscar.
“Eu não sei o que dizer. Eu estou tentando descobrir aonde eu me encaixo e
entender o que é isso que você quer que eu faça. Não está tudo claro pra mim
ainda.”

Eli inclinou-se para trás. “Então nós precisamos conversar sobre isso.”

“Sim, nós precisamos. Na verdade, existem muitas coisas sobre as quais nós
precisamos conversar.” Ela olhou sobre seu ombro para certificar-se que
nenhuma das outras pessoas na sala de jantar estava os ouvindo. “Quando nós
podemos fazer isso?”

Eli olhou seu relógio. “Talvez amanhã. No caminho para a aldeia.”

“Mas seus pais vão estar no carro. Nós precisamos conversar a sós.”

“Então vamos tentar conversar assim que chegarmos na aldeia.” Ele levantou-
se e alcançou seu prato. “Você quer alguma coisa mais para comer?”

“Não.” Katie não podia acreditar que ele estava indo para longe dela. Ela sabia
que ele tinha o hábito de pegar pequenas porções para começar sua refeição,
certificando-se de que haveria suficiente para todo mundo, o que a propósito
sempre havia. Então ele ia e pegava mais se ainda estivesse com fome. Ele
geralmente apenas pegava mais de uma coisa, o que quer que ele tivesse
gostado mais naquela refeição.

Katie observava a parte traseira da sua cabeça enquanto ele voltava para o
buffet. Ela tentou envolver-se no pensamento de viver em uma aldeia africana.
E se houvesse agitação? Ela terminaria como Callie um dia? Encolhida em uma
mesa de jantar em Brockhurst, seus filhos olhando como crianças abandonadas
enquanto esperam por notícias do bem-estar de Eli em uma selvagem e remota
aldeia em algum lugar?

Uma pequena rima dançava nos pensamentos de Katie. “Primeiro vem o amor,
depois o casamento, depois uma cabana de lama em uma aldeia africana.”**

Não, definitivamente não sentindo isso. Ela e Eli tinham que ter uma discussão
séria. De alguma forma, ele parecia pensar que a conversa iria acontecer ou no
caminho ou após eles chegarem na aldeia.

Na manhã seguinte, Katie estava pronta para pegar a estrada e ficou esperando
perto da administração com sua bolsa de viagem arrumada com camadas de
roupas para temperaturas quentes e frias, bem como suas botas de caminhada
e seu travesseiro. Ela tinha uma coleção de fronhas que comprou no Celeiro da
Barganha enquanto ela estava na faculdade, e tinha trazido várias com ela.
Cada fronha tinha um desenho animado diferente que evocava lembranças da
sua juventude. Hoje, a Pequena Sereia estava prestes a acompanhá-la nesta
aventura.

O pai de Eli parou em um dos carros pequenos, bem usados e completamente


machucados que eram divididos pelos residentes em Brockhurst. Assim que ele
saiu do carro e viu a enorme bolsa de viagem de Katie, Eli e Cheryl chegaram
como um pouco mais que mochilas.

“Deixe-me adivinhar,”disse Katie “eu trouxe coisas demais”

“Tudo bem” disse Cheryl. “Tudo vai caber.”

Katie notou que os três estavam vestindo várias camadas de roupas e tinham
sueters amarrados na cintura. Ela então soube que deveria pelo menos ter
deixado seu travesseiro para trás se queria parecer pronta para uma vida em
aldeia.

Sentando-se no banco traseiro, atrás do motorista, Katie virou para que suas
pernas ficassem em angulo. Não havia espaço suficiente para que elas ficassem
retas. Cheryl sentou-se no banco traseiro ao lado dela, e Katie tentou esconder
sua surpresa e desapontamento por Eli não sentar ao seu lado.

Ela tinha chegado a conclusão na ultima noite, após a conversa que tiveram na
sala de jantar que se ela dizia para Cheryl e Cris e quem mais perguntasse, que
ela e Eli estavam levando as coisas tranquilas e devagar, que então ela
precisava permitir que as conversas entre eles viessem no seu próprio tempo
também.

Afinal, como ela poderia ser uma verdadeira “Princesa Hakuna Matata”se
continuasse se preocupando com tudo?

_____________________________________________
** Em inglês a frase rima: “First comes love, then comes marriage, then comes
a mud hut in an African village” Essa frase é uma rima adaptada da música
Sitting in a tree:

Dave and Joy


sitting in a tree:
K-I-S-S-I-N-G
First comes love,
then comes marriage,
then comes baby
in a baby carriage![2]

http://en.wikipedia.org/wiki/Playground_song

CAPÍTULO 12

A primeira hora e meia de viagem, não importou de quem Katie estava sentada
ao lado. Toda a interação dela esteve com a bela paisagem no planalto
queniano. Ela manteve sua janela aberta e a câmera de seu telefone ocupada.

A cidade que atravessaram estava cheia de gente a pé. O carro reduziu a


velocidade na estrada estreita, quando ficou preso atrás de um homem local
em seu caminho para o mercado. Ele e sua colheita do que parecia ser batata-
doce estavam em um carrinho feito de tábuas de madeira planas que estava
atrelado a um burro magro. O homem estava no carro com as pernas afastadas
e as mãos segurando um pedaço de corda desfiada. Parecia a Katie como se
estivessem assistindo a um extra em um filme sobre a Idade Média. Nada aqui
havia mudado em centenas de anos.

No entanto, as lojas que margeavam a rua principal da cidade mostravam


evidências da influência do cristianismo na África ao longo do último meio
século, bem como a tecnologia do século XXI. A maioria das lojas tinham seus
nomes pintados em algum lugar na frente, e a maioria dos nomes sugeria
algum tipo de referência bíblica. Katie viu o anjo da guarda instituto de beleza,
os varejistas aleluia, a Lavanderia Espírito Santo, e a Glória Shekinah loja de
Celulares.

A Glória Shekinah loja de Celulares tinha um logotipo brilhante do prestador de


serviço de telefonia celular pintado em todo o lado do edifício, e eles tinham
uma fila de pessoas esperando para entrar.

"Eles estão em liquidação?" Katie perguntou.

"Provavelmente não." O Pai de Eli olhou para o lado da estrada e continuou


dirigindo.

"Então por que tantas pessoas na loja de telefone celular?"

"Quase todo mundo na África tem um telefone celular", disse Cheryl.


Isso surpreendeu Katie.

Jim acrescentou: "O número de pessoas aqui que têm computadores ou até
mesmo laptops é muito baixa.Porém,mais africanos usam telefones móveis por
unidade do que qualquer país do mundo. "

"O que isso significa, exatamente?"

"Em outras palavras," Cheryl explicou, "uma aldeia do Leste Africano pode ter
cento e vinte pessoas que vivem em cabanas e ter um gerador para produzir
eletricidade limitada. Eles não têm televisores ou computadores. Mas eles têm
um telefone celular. "

Katie perguntou–se se as coisas seriam mais avançadas nas aldeias do que ela
tinha presumido. Ela nunca imaginou telefones celulares em qualquer de suas
imagens mentais da vida em regiões remotas do Quênia.

"Isso não significa que o serviço de telefonia celular é sempre confiável", Eli
acrescentou.

"As coisas aqui fazem mais sentido do que se pensa à primeira vista", disse Jim.
"As pessoas se apressam para se adaptar. O Quênia passou à frente da maioria
dos países africanos com o seu programa escolar, por exemplo. O governo
paga por oito anos de escola para as crianças e inclui almoço. Em muitas áreas
rurais os pais enviam seus filhos para a escola para que possam ser
alimentados naquele dia. No passado, eles os mantinham em casa para que
eles pudessem trabalhar nos campos. Isso começou em 2003 e tem sido
bastante bem sucedido. "

"Tenho notado muitas crianças andando na estrada. Eu pensei que era


incomum que eles estivessem todos em uniformes escolares, "Katie disse.

"Os pais pagam pelos uniformes. Tem funcionado bem. "

À medida que viajavam no automóvel através de uma área mais rural com
colinas e campos, a estrada tornou-se irregular. Katie se preparou, mas Cheryl
não. Ela balançava e balançava junto com os solavancos quando o cenário
continuou a espalhar-se diante deles com vistas fantásticas. Cheryl apontou
pomares de mamoeiros e bananeiras. Katie percebeu que o pequeno rebanho
de vacas que passava parecia muito magro.
O que mais surpreendeu foi que ela o tempo todo , viu pessoas andando na
beira da estrada. Muitas pessoas. Todos eles indo e vindo em suas próprias
pernas. Ela viu algumas pessoas em bicicletas, mas não muitos. Um jovem
queniano passou por eles em uma motocicleta.

Eles pararam com uma brusca freada quando um cabrito se desviou do bando
de cinco que um homem mais velho estava pastoreando com uma vara. A
cabra rebelde parou no meio da estrada, e Jim quase a atingiu.

"Essa foi por pouco", disse Cheryl, logo que tudo estava claro, e ele seguiu em
frente. Ela disse isso com o mesmo tom que alguém usaria para contar o
tempo.

Calma e serena, Cheryl chegou em uma cesta tecida ao lado de seus pés e tirou
um livro para ler. Eli sentara em uma de suas posições de durmo-em-qualquer-
lugar com a cabeça contra o lado da porta. Não havia surpresa nisso.

Katie sabia que não haveria espaço para conversas pessoais para qualquer um
deles nesta longa viagem. Ela não gostou da inquietude que veio de não saber
quem disse o quê a quem sobre quais tópicos. Katie percebeu que cada família
tem sua dinâmica de comunicação próprias. Se fosse por ela, ela iria abrir todos
os temas importantes e os colocar em pauta, para os quatro discutirem.

Ela tinha um sentimento, no entanto, que tudo poderia ir melhor se ela usasse
isso como uma oportunidade para aprender um pouco de paciência e deixasse
Eli assumir a liderança quando ele quisesse falar e quando ele quisesse abordar
os temas não resolvidos.

Enquanto o carro acelerava na estrada, Katie congratulou-se pela melhoria na


área de falar demais".

O silêncio era calmante depois da semana excessivamente ocupada. Katie se


viu cochilando em trechos curtos de tempo. Cada vez que ela acordava, a
magnífica paisagem acalmava seus sentidos mais uma vez.

Quando o sol estava acima deles Jim virou em um pequeno posto de gasolina,
nas ruínas de uma cidade claramente Britânica-influenciada chamada Nyeri.
Depois de encher o tanque, ele dirigiu cerca de meia milha e estacionou perto
de um grande hotel que tinha um restaurante, Cheryl disse que era um de seus
favoritos.

Katie logo descobriu por que era um lugar favorito para parar. O restaurante
estava em um terraço sob a égide cobertas de mesas. Katie teria pensado que
eles estavam comendo em um restaurante da Califórnia, exceto pelos pavões
que andavam ao redor da grande área gramada que se estendia além do
terraço. A visão para além da relva era de colinas onduladas e formações
rochosas irregulares. De certa forma, fez lembrar do tipo de fundo visto em
uma pintura italiana do Renascimento.

Eles comeram peixe, batatas e um vegetal verde que parecia abobrinha, mas
provou ser diferente. Pode ter sido as especiarias utilizadas na preparação. Ou
poderia ter sido algum outro vegetal e não abobrinha em tudo. Ela tinha
aprendido que era melhor comer com gratidão o que era oferecido a ela, e
dizer uma oração a mais,bem pequena que, mesmo se ela não gostasse, seu
estômago gostaria.
Felizmente, este vegetal mistério fez seu estômago muito feliz.

Depois de comer, os quatro passeavam pelos jardins, falando sobre o Quênia e


como era lindo, surpreendente e emocionante.

"Eu nunca me canso da beleza daqui", disse Cheryl quando ela apontou as
plantas de gengibre vermelho.

"Há um dizer suaíli para tudo isso", disse Jim. "É Uzuri wa Afrika, que
literalmente significa" a beleza da África. "Quando você não consegue encontrar
uma maneira de descrever o que você está vendo, você apenas diz ‘a beleza da
África."

Andaram mais um pouco, e Katie perguntou calmamente a Eli, "Como você diz,
'eu estou apaixonado' em suaíli?"

Ele lhe deu um olhar engraçado e não tentou uma tradução.

Inclinando-se mais perto dele, Katie brincando disse: "Você vê, você pensou
que eu estava perseguindo você, quando eu entrei no avião, mas agora a
verdade está lá fora. Minha grande paixão é realmente a África. Eu estou
apaixonada. Desculpe falar isso pra você assim, Lorenzo."

Com uma cara séria Eli disse, "Eu deveria ter imaginado isso. Como posso
competir com um continente inteiro? "

Katie sorriu. "Você não tem que competir. Eu acho que você sabe disso. "

Ele sorriu de volta e pegou a mão dela. "Estou feliz que você ame-o, Katie.
Muito feliz.

"O caminho que eles estavam andando os trouxe de volta para o átrio de
entrada para o Country Club Aberdare.

Katie estava relutante em sair. Tudo era tão civilizado e correto.

Quando eles voltaram para o carro, Eli foi escolhido para dirigir. Katie acabou
no banco de trás com Jim. Quando ele colocou o cinto de segurança, ele disse:
"Cheryl, você deve dizer a Katie a história da copa das árvores e da Rainha
Elizabeth ."

Eli ligou o carro e, lentamente, saiu do local de estacionamento. Katie pensou


na maneira que ele tinha dirigido em torno do campus no ano passado em um
carrinho de golfe que Katie se referia como um "Carro de palhaço ." Esse era
um tipo de veículo diferente daquele , e era um tipo diferente de terreno. Ela
certamente não gostaria que lhe entregassem as chaves e a convidassem para
dirigir o resto do caminho para a aldeia.

Eli foi muito bem, porém, e em poucos minutos, Jim estava dormindo no banco
de trás, demonstrando de onde vinha a predisposição genética de Eli pra dormir
na estrada .

"Mãe, e sobre a história que ia contar pra Katie?"

"Oh, sim. Rainha Elizabeth. Quando ela chegou ao Quénia para uma visita em
1952, ela e o príncipe Philip ficaram em Treetops. É um hotel não muito longe
daqui. Os quartos são na altura da copa das árvores. Ela tomou um gole de chá
na varanda aberta enquanto os elefantes e outros animais selvagens vinham
para o buraco de água abaixo dali. Seu pai, o rei George IV, estava doente,
mas parecia ter se recuperado, por isso a viagem para a África não
representava um conflito. "

"Era ele que gaguejava? Eu lembro de ter visto um filme sobre ele ", disse
Katie.

"Sim, esse é o mesmo rei," Eli respondeu por sua mãe.

"O que aconteceu é que ele deu uma guinada para o pior e faleceu enquanto a
princesa Elizabeth estava no Treetops. Dado que a comunicação entre a
Inglaterra e a África era tão lenta, ela não sabia que seu pai tinha morrido até
depois de terem saído de Treetops .E eles pararam para almoçar no Country
Club Aberdare, onde acabamos de comer. "

"Sério? A rainha da Inglaterra comeu nesse mesmo restaurante ? "

"Sim. Só que ela ainda não sabia que ela era a rainha da Inglaterra. A palavra
não tinha chegado a ela. A grande declaração sobre Treetops é que Elizabeth
subiu as escadas para seu quarto naquela noite como uma princesa, e quando
ela desceu as escadas na manhã seguinte, ela era a rainha da Inglaterra ".

"Adoro histórias como essa", disse Katie. "Quero dizer, é triste que seu pai
morreu quando ela estava na África, mas , que rito de passagem aquele
momento foi. Ela estava fazendo o que estava na agenda para esse dia, e no
momento em que ela colocou a cabeça sobre o travesseiro de noite, tudo havia
mudado. "

Enquanto Eli dirigia, Katie pensava sobre a história de Isaque e Rebeca em


Gênesis. Um dos seus professores da Bíblia havia ensinado essa história em
particular com um monte de detalhes adicionados. Katie pensou em como
Rebeca tinha ido para o poço em uma manhã , como sempre, e até o final do
dia, tudo havia mudado.

Rebeca se ofereceu para tirar água do poço para os camelos do servo de


Abraão que havia sido enviado em uma missão para encontrar uma esposa
para Isaque. Ela foi escolhida no poço da comunidade e voltou com o servo
sabendo que ela se tornaria esposa de Isaac.

Katie se lembrou de como seu professor de Antigo Testamento havia


parafraseado o comentário de Rebeca na primeira vez que seus olhos pousaram
em Isaac e os dois se encontraram na metade do campo. A Bíblia registra que
Rebeca disse: "Quem é esse homem?" O Professor de Katie, brincando, disse:
"E Rebeca exclamou:" Hubba-oba, quem é o galã com o cortador de grama? '"

Além daquele tipo de humor do professor, a parte que Katie mais lembrava e
havia sublinhado na sua Bíblia era a passagem que dizia que Rebeca se tornou
a esposa de Isaac e ele " a amava". Seu professor na Rancho havia salientado
que, embora a Bíblia contasse um monte de histórias sobre como casais se
conheceram e se casaram, a palavra amor raramente era mencionada.

Isso é o que Katie queria. Ela queria ser amada. Eli era um homem que a
amaria para o resto da sua vida? Ou será que seu trabalho viria primeiro? Para
Katie, era uma questão importante a considerar.
Katie estava grata quando eles pararam novamente em um posto de gasolina
em uma área remota. Eles saíram do carro e esticaram as pernas, enquanto Jim
enchia o tanque de gasolina , Eli encheu um grande contêiner de gasolina
vermelho.

"Quanto mais longe, você acha?" Katie perguntou.

"Umas duas horas. Você está cansada da estrada? "Eli perguntou.

"Eu estou bem. E você? É muita condução pra você? "

"Ainda não. Eu não me importo de dirigir. Eu gosto disso mais do que meu pai .
E você? Você quer dirigir por algum tempo? "

"Ah, isso seria um rotundo não. Obrigado pela sua generosa oferta, mas vou
passar. Você está indo muito bem. "Ela deu um tapinha nas costas dele.

Eli virou as costas para ela. "Cose bem aí."

Ela arranhou seu ombro superior, e continuou a curva das costas, no


arredondamento dos ombros para a frente e Eli fazia sons felizes como se as
unhas de Katie fossem anjos ministradores.

"Um pouco mais para o meio. Aí. Agora para baixo. "

Katie foi em frente com as mãos e deu nas costas quentes de Eli uma boa
coçada. Ela riu de como ele parecia desabar ao seu toque.

"Eu não sabia que minhas unhas de cano curto podiam ter um efeito calmante
sobre você."

"Você tem o toque de ouro, Katie. Isso é ótimo. "

Ela arranhou um pouco mais e percebeu que as pessoas locais, bem como
Cheryl e Jim estavam assistindo-os. Katie deu um tapinha no ombro de Eli e
disse em voz baixa: "Eu acho que nós temos uma audiência. Nós
provavelmente estamos parecendo um casal de macacos.

Eli fez o barulho dos macacos e arranhou suas axilas.


Katie sorriu. Eli nunca deixava de surpreendê-la.

"Katie, por que você não toma o assento do passageiro nesse trecho a seguir?"
Cheryl sugeriu, agrupando-os de volta para o carro.

Katie entrou alegremente e puxou o assento para cima na sua medida , Jim
teve muito espaço para as pernas. Ele tinha comprado algumas garrafas de
água no posto de gasolina, e quando eles partiram tinham música, garrafas de
água limpa, e uma ampla visão para fora do pára-brisa dianteiro que foi
flagrado com sujeira e insetos mortos.

"Katie", disse Cheryl cautelosamente, "como você se sente em estar em uma


aldeia por um período prolongado de tempo?"

"Eu não sei. Eu vou te dizer amanhã depois que eu estiver em uma aldeia por
um período prolongado de tempo. "

"O que sobre viver em uma aldeia? Por semanas em um momento ou mais? "

Katie poderia ver onde isso estava indo, e sua guarda subiu. Eli tinha falado
com seus pais na noite passada sobre a conversa na sala de jantar? Mais
importante, ele tinha falado com eles sobre as expectativas de seu pai de seu
papel dentro do ministério? Eli estava determinado em viver em uma aldeia?

"Eu não sei", disse Katie, tentando soar tão alegre e jovial sobre o assunto
quanto possível. Ela realmente queria ter esta discussão com Eli antes de
conversar sobre isso com sua mãe. "Eu tenho que ser honesta, eu gosto de ter
meu próprio banheiro."

Eli lançou um olhar para ela e depois voltou seu foco para a estrada. Ela sabia
que poderia estar lendo muito em seu olhar, mas parecia que ele estava
esperando que ela retirasse o seu comentário e seu voto fosse para as
fogueiras das aldeias, em vez de para uma pia e um vaso sanitário.

Os tópicos que haviam sido insinuados, mas não totalmente abertos nesta
viagem estavam começando a pesar sobre Katie. Ela gostava das coisas simples
e abertas. A melhor maneira para isso acontecer era Eli e ela discutirem essas
coisas em particular, não com os pais dele. Isso significava que ela tinha que
esperar. E esperar nunca foi um exercício confortável.

Ela ficou contente quando o pai de Eli mudou o tópico um pouco mais tarde.
"Katie, seu celular está pegando sinal aqui?" Jim pediu. "O meu não está. Estou
tentando verificar o tempo para me certificar de que não estamos caminhando
para chuva com aquelas nuvens escuras à frente. "
Ela pegou o telefone e ligou de volta uma vez que o tinha desligado para
economizar a bateria. "Parece que ele está trabalhando." Ela entregou o
aparelho para que ele pudesse fazer uma pesquisa meteorológica.

Quando Jim estava olhando para a previsão do tempo, no telefone de Katie


soou uma campainha distinta. Poucos segundos depois, soou novamente.

"Você tem uma chamada chegando?" Jim perguntou.

"Não, isso é um alarme personalizado. Eu o defini no ano passado para


qualquer momento que eu recebesse um texto da minha colega RA, Nicole.
Quando estávamos em serviço no ano passado, muitas vezes tínhamos que dar
suporte uma para a outra imediatamente.

"Este alarme soa somente quando uma determinada pessoa está tentando
contactá-la?", Perguntou ele.

"Sim".

"Isso seria útil. Qual é o aplicativo para isso? "

Eli olhou para Katie quando ela estava se dirigindo a seu pai sobre o que ele
queria encontrar em seu telefone. "Isso é o que você precisa, pai. Outro
aplicativo de telefone. "

"Nós todos temos os nossos hobbies, filho."

Katie sorriu quando ela tomou de volta seu telefone e desligou o zumbido da
mensagem de Nicole. Tinha sido um longo tempo desde que o alarme havia
soado, e Katie sentiu melancolia ao ouví -lo. Ela sentiu saudade de Nicole e do
tempo que elas passaram juntas no dormitório em seu último ano de faculdade.
Mais de uma vez Katie havia imaginando como Nicole e Rick estavam se dando
no seu relacionamento recém-germinado de namoro e de trabalho. Rick estava
abrindo um novo café, e Nicole estava trabalhando com ele no grande projeto
há poucos meses. Tendo trabalhado com Rick quando ele conseguiu o Café do
Ninho da Pomba , Katie sabia que a interação diária tão próxima podia construir
ou quebrar a atração entre si.

Abrindo seu arquivo de mensagem de texto, Katie leu a nota de Nicole.

Qualquer chance de você poder me ligar? O mais rápido possível? Ligue-me


antes de verificar seu email.
Katie não achou que essa era uma boa hora ou lugar para chamar Nicole. Além
das altas taxas de serviço que ela teria de pagar para a chamada internacional,
não seria privado do carro. Katie sabia que seria melhor esperar até que eles
estivessem de volta em Brockhurst, e ela pudesse usar o serviço de telefone via
internet em seu laptop para que elas pudessem ter uma conversa, longa e
agradável.

Ela estava prestes a colocar seu telefone de volta na bolsa, mas sua curiosidade
era muito forte. O que tinha no e-mail que Nicole enviou que ela não queria
que Katie abrisse antes de ligar pra ela?

Conhecendo Nicole , esse era provavelmente um e-mail com uma foto em


anexo do mesmo modo que foi quando ela acabou seu esquema de decoração
para o café de Rick. Katie não ficou especialmente atraída pelo vinil coberto de
cabines de pintura ou cores nas paredes da forma como Nicole ficou. Katie
pensou que o e-mail podia esperar.

Ela guardou o telefone , e eles se dirigiram para o anoitecer quando o cenário


virou um pó marrom e assumiu a neblina dourada do pôr do sol.

"Você viu se está previsto chuva na aldeia?" Katie perguntou.

"Não. As nuvens parecem estar apenas de passagem ", disse Jim.

"Como é que Nicole está ?" Eli perguntou.

"Eu não sei. Seu texto disse para eu ligar pra ela, mas eu vou fazer isso quando
voltarmos para Brockhurst. "

"Você acha que ela está bem?"

Katie não tinha considerado a possibilidade de que algo pudesse estar errado.O
e-mail de Nicole podia ter alguma má notícia que ela queria dizer a Katie em
primeiro lugar. Alcançando seu celular novamente, Katie deixou sua imaginação
correr por uma trilha sombria. Batendo o pé enquanto esperava por uma dúzia
ou mais e-mails carregarem, Katie viu a linha de assunto chegar no e-mail de
Nicole:

Salve essa data.

Ela relaxou os ombros. "Parece um convite para uma festa de aniversário ou,
provavelmente, para a inauguração de um dos restaurantes que Rick e seu
irmão estão abrindo."

Katie não conseguia se lembrar quando era o aniversário de Nicole ou quando o


café de Rick iria ser aberto.

Clicando no e-mail de Nicole, ela queria ver qual era o evento, para salvar a
data no caso de já estar de volta na Califórnia.

Katie leu a mensagem e não piscou. Ela mal respirava.

Salve essa data:


03 de outubro
Rick e Nicole vão se casar!

CAPÍTULO 13

Eli ". Katie olhou para seu telefone. Sem outras palavras formadas em seus
lábios.

"Sim?"

Katie estava ciente de que ele estava olhando para ela e, em seguida, olhando
para a estrada.

"Há algo de errado?", Perguntou ele.

Katie ainda não sabia o que dizer.

"É Nicole,está tudo bem? O que ela disse? "

Sem olhar para Eli, Katie disse: "Ela vai se casar."

"Ela vai? Com Rick? "

"Sim, claro. Com Rick. Rick e Nicole estão noivos. Estou em choque. O
casamento é em outubro. "Os pensamentos atordoados de Katie viraram-se
para seu modo padrão de sarcasmo.
"Nós devemos salvar essa data."

"Você sabia que eles estavam tão sérios no relacionamento?"

Katie desligou o telefone dela para economizar a bateria. Ou talvez ela só


precisasse sentir que tinha o poder de apertar algum tipo de botão "Faça-o
parar.” Ela sabia que os pais de Eli conseguiam ouvir tudo o que ela e Eli
estavam falando de sua posição no banco de trás do carro pequeno. Katie não
se importou. Todos eles já haviam falado abertamente sobre Rick antes e como
Katie tinha saído com ele por mais de um ano. Eli sempre tinha coisas boas a
dizer sobre Rick como um antigo colega de quarto. Katie sempre tinha coisas
boas a dizer sobre Nicole, sua ex-colega RA.

Ela não sabia o que dizer agora.

"Nicole é uma pessoa sincera. Rick tem muita visão. "Eli manteve os olhos na
estrada esburacada. "Eles vão fazer uma boa equipe. Um bom par. "

Se ela não estivesse tão atordoada no momento, Katie provavelmente


concordaria. O que Eli disse era verdade. Rick e Nicole fariam uma boa equipe.
Por uma questão de fato, quando ela descobriu há alguns meses que Nicole
tinha se apaixonado por Rick, ela ajudou a combiná-los. Ela soube então de um
monte de maneiras que eles seriam melhores juntos do que ela e Rick tinham
sido. E Nicole e Rick conseguiram desenvolver uma relação muito forte e
tinham sido muito bons um para o outro de um monte de maneiras.

O que bateu tão forte em Katie foi que Rick tinha conseguido entrar em contato
com seus verdadeiros sentimentos e assumido a liderança em agir sobre eles.
Ele tinha decidido depois de apenas alguns meses de namoro com Nicole que
estava pronto para comprometer-se com uma mulher, e Nicole era aquela
mulher. Katie estava atônita. Ela não sabia onde colocar esse pensamento. Em
tantos meses ela havia trabalhado cenários em que ela seria aquela mulher. A
mulher de Rick. Mas, não. Seria a sua amiga.

"Estou feliz por eles", disse ela, não soando emocionalmente plena nem para si
mesma.

"Você realmente está?"

Katie olhou para Eli. Ele olhou para ela, e ela balançou a cabeça. "Sim. Estou
chocada, mas estou feliz por eles".
Eli deu-lhe um outro olhar, desta vez com um sorriso encorajador ligado a ele.
Ele estendeu a mão e deu-lhe um aperto de mão. "Eu acho que quando você
sabe que é a pessoa certa para você, você sabe."

Ela sentiu o coração se agitar. Ele tinha acabado de fazer essa declaração na
frente de seus pais. "Você acha que isso é verdade, Eli? Sério? "

"Sim. Realmente. Eu acho. Você não? "

Katie queria acreditar. Ela queria concordar. Mas, neste momento, ela não
conseguia encontrar uma maneira de adicionar seu próprio comentário
afirmando. O que foi que Cris tinha dito sobre cavalgar no interior do mistério
do crescimento de um relacionamento? É como se sentia agora.

Eli soltou a mão dela e colocou as duas mãos no volante para navegar no
trecho acidentado pela frente. Katie percebeu que ele acendeu os faróis,
porque a luz do dia havia desaparecido rapidamente, e a noite escura Africana
foi chegando, cobrindo-os como um cobertor escuro . As únicas luzes eram os
faróis do carro e as estrelas que Katie podia ver pelo pára-brisa. A lua não
estava na frente deles, nem parecia estar fornecendo qualquer luz.Era a noite
mais escura que Katie já tinha visto.

Eli atingiu um solavanco e abrandou. Um minuto depois, ele sentiu outro


grande solavanco, e quando o fez, o motor fez um barulho estranho.

"Isso não soa bem", disse o pai.

O carro deslizou; o motor tinha desligado automaticamente.

"Espere", Eli chamou. "O volante está bloqueado."

"Coloque-o em ponto morto", disse o pai.

"Eu já fiz."

"Experimente os freios."

"Tenho meu pé sobre eles."

Katie se preparou. Ela não conseguia ver nada além da estrada esburacada pela
frente. Sem penhascos ou precipícios.
"Ali há uma área plana, um espaço aberto", disse ela, forçando os olhos. "

Eli fez o carro deslizar dentro da área, trabalhando duro para forçar o volante
para virar os pneus para a direita. Ele apertou o freio, e o carro parou com o
lado esquerdo do carro ainda na estrada e o lado direito fora.

"Vamos ver o que vai sob o capô", disse Jim. Ele estava fora pela porta dos
fundos antes mesmo de Eli ter tirado o cinto de segurança .

Katie percebeu que nenhum dos Lorenzo parecia excessivamente preocupado


com o rumo dos acontecimentos. Todos os três estavam agindo como se isso
acontecesse o tempo todo, e mais uma vez que pareciam contentes em ir com
o fluxo. Katie podia ouvir Jim dirigir Eli onde brilhar sua lanterna. Os dois
permaneceram escondidos por trás do capô levantado do carro. Então era
como se um deles estivessem embaixo do motor, batendo em alguma coisa.

"Nada óbvio aqui embaixo", Eli disse.

Katie e Cheryl sairam e olharam para o motor com os homens. Não que
qualquer uma delas pudesse dizer o que eles estavam procurando.

"Eu acho que nós devemos orar por um mecânico e ver o que Deus nos traz",
disse Cheryl.

Tal como tinha sido o costume muitas vezes em Brockhurst, eles pararam ali,
juntaram as mãos, e oraram.Então eles montaram um plano para se revezarem
com a lanterna para "fazer uma visita aos leopardos", que era um código para
sair e encontrar um local privado para ir ao banheiro. Os homens foram os
primeiros, deixando Katie e Cheryl na luz dos faróis do carro.

Estava tão escuro que Katie ficou olhando para o imenso céu na noite . As
estrelas, como furos no tapete de veludo do céu, permitiam que os pequenos
pontos de glória passassem. Ela pensou na Rainha Elizabeth descendo as
escadas em Treetops e Rebeca indo ao encontro de Isaac no campo. Duas
mulheres muito diferentes que tiveram momentos de mudança de vida nos dias
comuns. A partir desse evento único, elas sabiam que suas vidas estavam
mudadas. Entraram no que estava próximo e o viveram. Katie queria isso. Com
ou sem Eli ou qualquer outro cara na vida dela, ela queria saber o que Deus a
havia criado para fazer. Mas ela tinha que admitir, ela preferia ir longe com Eli
do que sem ele.

Os homens voltaram e entregaram as lanternas. Katie dirigiu-se para a moita


com Cheryl seguindo-a de perto.

"Bata palmas, Katie".

Ela começou então a enxotar os bichos com o barulho, enquanto Cheryl


apontava a lanterna. Os cinco minutos seguintes não foram tão ruins quanto
Katie pensou que seriam. Cheryl veio preparada com o que elas precisavam e
fez a experiência parecer natural. Elas voltaram para encontrar Eli e Jim
estirados no capô fechado do carro, olhando para as estrelas. Katie sorriu.

Eli estendeu a mão, convidando-a para cima ,para se esticar ao lado dele. Ela
não se importava quão sujo o capô do carro estava ou quantos insetos
esmagados no pára-brisa estavam indo agora juntar-se a sua blusa. Ela estava
na África, observando o céu noturno e estendida ao lado de Eli. Este era um
momento de memória que se sobreporia a noite dos meteoros no deserto da
Califórnia.E ainda tinha uma beleza imaculada própria. Este era um continente
diferente. Estas eram diferentes estrelas, e em muitos aspectos, ela era uma
pessoa diferente do que tinha sido no ano passado.

Eli, porém, era o mesmo,constante.

Jim falou baixinho, apontando as constelações. Cheryl puxou uma bolsa com
sua própria versão da mistura de frutos secos do banco de trás .Os quatro
mastigavam sua refeição da noite, de amendoim, sementes de abóbora, e
pedaços secos de mamão e banana, enquanto passavam uma garrafa de água
ao redor.

Ao longe, ouviram um som arrepiante de algum tipo de animal. A chamada era


fraca, mas claramente uma criatura selvagem.

"O que foi isso?" Katie perguntou.

"Eu não tenho certeza", disse Jim. "Mas eu vou te dizer uma coisa. Nós vamos
dormir no carro esta noite. "

"Eu vou tomar o assento do motorista", Eli disse.

Nenhum deles protestou, porque todos sabiam que Eli conseguia dormir em
qualquer lugar. Jim tomou o assento do passageiro, e Katie e Cheryl
compartilharam o banco de trás. Katie colocou-se em seu fiel Moletom da
Rancho Corona e foi grata ao luxo tolo de ter levado seu travesseiro. Ela
colocou-o entre ela e Cheryl, e as duas mulheres adormeceram compartilhando
seu travesseiro com a fronha da Pequena Sereia.

Através da noite dormiam em pedaços. Eles cochilaram, e depois alguém ouvia


um som externo e farfalhar suficiente para acordar todo mundo. A noite os
sons aumentaram. Em um ponto, eles estavam certos de que ouviram um carro
se aproximando. Eli saiu com sua lanterna, preparada para acená-los. Mas não
havia luzes do carro já desaparecido na estrada.

Ao amanhecer eles foram para fora do carro, ansiosos para esticar as pernas. O
mundo ao seu redor parecia muito mais amigável, mas ao mesmo tempo era
tão vazio da atividade humana como tinha sido na noite passada quando eles
estavam passando por esta estrada.

Katie estava lentamente mastigando seu punhado de mistura de frutas secas da


provisão da manhã, quando ela pensou ter visto alguém andando pela rua em
direção a eles. "Aquilo é uma pessoa, ou eu estou vendo coisas?"

Eli protegeu os olhos do sol que acabava de nascer no leste. A luz brilhou atrás
do homem enquanto ele caminhava e lançou um brilho sobre ele .No início
parecia que ele estava lá, mas então a luz o engoliu, e ele parecia ser uma
miragem.

"Pai, acho que alguém está vindo para cá."

Jim e Cheryl se juntaram a Katie e Eli na parte da frente do carro.

Você está com a sua? "Jim perguntou a Eli em voz baixa.

"Sim".

Katie não sabia do que eles estavam falando, mas ela podia adivinhar que do
mesmo modo que ambos tinham lanternas ligadas aos seus anéis de chave,
eles também tinham algum tipo de arma que eles estavam dispostos a usar, se
necessário.

O homem de pele escura vindo na direção deles estava vestindo uma camisa
branca e tinha algo debaixo do braço. Não parecia ser uma arma. Quando ele
estava dentro de quinze metros de distância, Katie viu que ele estava
segurando uma galinha debaixo do braço. Ela estava tentando descobrir de
onde ele tinha vindo e para onde estava indo.

"Jambo", Jim falou.


"Jambo." O homem se aproximava. "Você tem alguns problemas com o carro?"

"Sim. Não temos certeza do que está errado. Você pode me dizer de onde você
vem? Existe um lugar na estrada que poderia ter um mecânico? "

"Deixe-me dar uma olhada." Ele entregou o frango a Jim quando Eli abriu o
capô do carro. O homem se inclinou e colocou os dedos longos no motor como
um pianista colocaria ambas as mãos sobre as teclas de um grande piano. Ele
parecia puxar alguma coisa aqui e anexar alguma coisa lá.

"Experimente-o agora." Ele se levantou e esperou.

Eli entrou no carro, girou a chave e o motor começou. Katie deixou escapar um
elogio.

"Será que um dos fios ou tubos se soltaram com o chacoalhar?" Cheryl


perguntou.

"Sim".

"Asante sana". Jim segurou o frango de volta para ele. "Estamos tão gratos." O
homem levantou a mão, recusando-se calmamente a ter de volta o frango.

"A galinha é sua. Aqui. Não podemos aceitar isso. "

O homem ergueu as duas mãos. "Mpaji ni Mungu."

"Mpaji ni Mungu," Eli e seus pais responderam em uníssono.

A galinha quicou como se estivesse tentando sair do aperto de Jim. "Aqui,


Cheryl, você sempre foi melhor com essas coisas do que eu." Jim colocou na
mão de Cheryl o frango, e com facilidade, ela enfiou-a debaixo do braço como
se fosse uma bolsa inchada de penas.

Eli se acomodou no assento do motorista e olhou para o motor, pois roncou.


"Pai, você viu o que foi que precisava ser restabelecido?"

"Não, eu estava segurando a galinha."

Os homens entreolharam-se, em seguida, Jim perguntou ao visitante oportuno,


"O que foi que soltou?"
Todos os quatro olharam em volta. Seu mecânico da manhã tinha ido embora.

"Aonde ele foi?" Katie olhou para o tempo,e para a estrada reta rural em ambos
os sentidos.

Os quatro trocaram olhares, seus rostos expressando o mesmo olhar de


espanto.

De uma forma prosaica, Jim disse: "Não devemos manter o motor funcionando.
Não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar a gasolina. Vamos indo ".

Eles voltaram para os mesmos lugares onde haviam dormido .Eli dirigia.

"O que foi que ele disse para vocês e que vocês repetiram?" Katie perguntou.

"É uma espécie de bênção", Eli disse. "Como a forma como as pessoas dizem
nos EUA," Deus te abençoe. "Aqui eles dizem, 'ni Mpaji Mungu." Deus é o
mantenedor. "

O frango permaneceu sob o braço de Cheryl no banco de trás entre ela e Katie.
Por duas vezes Katie se virou e olhou para trás, esperando para ver o homem
saindo do matagal que se espalhava em intervalos ao longo da estrada e
continuar sua caminhada de costas para eles. Mas ele estava longe de ser visto.

Agora que eles estavam de volta em bairros mais próximos de novo e tinham a
ave para adicionar aos odores, Katie lembrou ter percebido algo mais sobre seu
assistente inesperado na estrada. Ele cheirava bem. Isto era incomum para
alguém que estava em uma área remota e estava andando a alguma distância
levando a galinha fedorenta. Ele deveria estar cheirado mais como o resto deles
. Em vez disso, ele cheirava a ar fresco.

"Eu só tenho uma coisa a dizer ", disse Katie depois que eles tinham dez
minutos de estrada. "Alguém acha que o cara era um anjo?"

"Sim".

"Sim".

"Eu acho que sim."


"Ok, só pra verificar." Katie olhou pela janela e deixou a profundidade do que
tinha acontecido afundar-se dentro dela.

CAPÍTULO 14

Uma das particularidades do Quênia que Katie adorava era a luz. À medida que
viajavam as duas últimas horas para a aldeia, a luz da manhã despertou o dia
com longos contornos sombrios que pareciam dedos suaves despertando a
terra do sono da noite.

Katie sentiu a luz quente sobre os ombros quando os dedos de ouro se


estendiam pela janela traseira do carro . Na frente deles estavam quilômetros
de terra vermelha seca, o pálido céu azul, e uma árvore baobá ocasional
posando como um grande ancestral esperando pacientemente sob um amplo
guarda-chuva sem folhas . Os verdes familiares da região montanhosa tinham
ido embora. Não havia campos de chá que prosperassem neste espaço árido.

Ela pegou a garrafa de água e tomou os últimos goles . Eles tinham apenas
uma ou duas garrafas de água com eles , e ela não quis pedir mais, embora ela
ainda estivesse com sede. Isso a fez perceber o quão valioso é a água limpa em
um lugar remoto como este.

Olhando pela janela, Katie via a África passar. Tudo nela queria perguntar:
"Quanto mais longe?", Mas ela resistiu.

Ela não teve que esperar muito mais tempo. Cerca de duas horas após seu
carro ter sido misteriosamente e milagrosamente reparado, Eli virou numa
estrada secundária e deixou uma nuvem de poeira atrás deles. Katie podia ver
várias cabanas após a linha de arbustos. Três meninos descalços vieram
correndo em direção ao carro, sorrindo, acenando, e chamando-os.
Assim,quando Eli desligou o motor e a poeira baixou, pelo menos duas dúzias
de crianças se juntaram em volta do carro e estavam todos falando ao mesmo
tempo, olhando para as janelas laterais.

"Você pega a galinha?" Jim pediu.

"Sim. Vou entregá-la para você quando chegarmos lá fora. "Cheryl enfiou a
galinha cacarejando debaixo do braço e abriu a porta. A conversa do comitê de
recepção aumentou, e parecia uma centena de braços com as mãos abertas
chegando em Cheryl, ao mesmo tempo.

Eli se virou e olhou para Katie. "Você está bem?"

"Sim, eu estou. Eu não sei como abrir a minha porta, porém, sem bater em
uma dessas crianças. "" Devagar. Dessa forma. "Eli experimentou a mesma
saudação que sua mãe teve. Dezenas de mãos tocaram-no, e uma corrente de
vibração crescente o rodeava. Jim já estava fora do carro enquanto Katie ainda
hesitava.

Quando ela abriu a porta com cautela, o grupo de crianças recuou apenas o
suficiente para dar lugar a ela. No momento em que ela saiu, as crianças ao
seu redor pareceram dar um passo para trás quando os olhos deles se
arregalaram. Eles olharam para Katie em silêncio por um momento.

Então, eles correram em sua direção, querendo tocar seu cabelo vermelho.
Chamaram as outras crianças, e de repente todas as crianças do comitê de
recepção estavam circulando Katie, olhando para ela, e querendo tocar seus
cabelos.

"Eu esqueci de avisar que isto poderia acontecer," Eli disse. "Eu duvido que
algum deles já viu uma ruiva antes. Você está bem? "

Katie sentiu-se resvalar para o momento com todo o seu coração. Ela inclinou-
se para que eles pudessem tocar seus cabelos e olhar em seus olhos verdes.
Eles apontavam para ela e tagarelavam como um bando de esquilos. Eli chegou
ao lado dela e falou com as crianças em suaíli. Eles responderam com
entusiasmo, e ele traduziu para Katie.

"Eles querem saber porquê você tem todas as manchas em sua pele."

"Minhas sardas?"

Eli disse alguma coisa para as crianças e apontou para as sardas no braço nu
de Katie. Alguns deles deram-lhe olhares duvidosos. Outros assumiram
expressões sombrias de temor, enquanto alguns deles cobriram a boca e riram
.
"O que você disse a eles?"

"Disse-lhes que quando você nasceu, Deus estava tão encantado que mandou
uma centena de anjos para te beijar, enquanto você estava nos braços de sua
mãe. Todo lugar onde os anjos te beijaram, eles deixaram um ponto minúsculo.
Dessa forma, se você esquecer o quanto você é amada por Deus, tudo que
você precisa fazer é olhar para a sua pele, e você vai se lembrar. "

Katie estava tão tocada pela fábula de Eli, que sentiu a garganta apertar. Várias
das meninas na frente dela estavam olhando para os seus braços e pernas e
apontando onde eles achavam encontrar um beijo de anjo em sua pele.

"Precisamos levar a nossa saudação ao chefe", Eli disse. "Você está pronta?"

"Claro." Assim que Katie começou a andar com Eli e seus pais em direção ao
centro da vila, um monte de meninas vieram para perto como se fossem auto-
nomeadas escoltas especiais. Outras crianças circularam ela e Eli, e uma
menina estendeu a mão ao redor do pulso direito de Katie e segurou firme.

Eles entraram no centro da vila e foram recebidos por muitos adultos que
estavam sentados à sombra ou estavam saindo de suas cabanas de barro que
eram cobertas com telhados feitos de galhos secos e capim. De um dos
casebres maiores, um homem idoso surgiu vestindo uma camisa de abotoar
feita de tecido amarelo e preto brilhante . Usava óculos e um par de shorts
cáqui, mas sobre a sua cabeça tinha um cocar feito de penas e miçangas.

Jim cumprimentou-o em suaíli e deu um aceno de cabeça respeitoso quando


eles apertaram as mãos. Cheryl abaixou a cabeça bem e estendeu o frango
como um presente e o chefe o pegou com palavras silenciosas trocadas entre
os três. Parecia que o frango foi o presente perfeito para trazer e foi muito
apreciado.

Jim introduziu seu filho. Eli falou em suaíli e mergulhou o queixo para
homenagear o chefe. Os dois apertaram as mãos calorosamente. Depois foi a
vez de Katie. Todas as crianças se soltaram e recuaram quando Katie tornou-se
o foco de atenção do chefe. Ele parecia estudar seu rosto e cabelo com
fascínio.

"Jambo".Era uma das únicas palavras suaíli que Katie sabia. Ela esperava que
fosse a coisa certa a dizer em um momento como este. Quando ninguém se
mexeu ou disse nada, ela acrescentou, "Hakuna Matata?"

Eli lhe deu um sinal de que ela devia se afastar rapidamente e não tentar as
frases mais inteligentes.
O chefe mudou sua atenção de volta para Jim e entregou o frango para uma
das várias mulheres que estavam nas proximidades. Os dois homens se
afastaram dos outros enquanto eles conversavam e se dirigiram para a sombra
de uma árvore de grande porte por trás da cabana do chefe.

O que fazemos agora? "Katie perguntou.

"Saímos por um tempo. Depois que meu pai receber a atualização, ele
provavelmente vai para onde os trabalhadores estão terminando o poço, e se
ele estiver pronto, teremos uma cerimônia curta. "

"E depois?"

"Depois vamos beber a água quando ela chegar. Não se preocupe. Hakuna
Matata" ".

Katie pensou que isto fosse muito esperto quando disse isso para o chefe.
Quando Eli disse isso, ela sentiu como se estivesse repreendendo-a.Tudo isso
era novo para ela. Ele devia perceber isso e tentar ser um pouco mais paciente
e compreensivo.

Eli estava ouvindo a discussão entre o chefe e seu pai. Virou-se para Katie e em
voz baixa deu-lhe a atualização. "Parece que chegamos no momento certo. Ele
está dizendo que os homens que trabalham no poço tiveram alguns problemas
há dois dias, então eles estão terminando esta manhã. Papai achava que o
projeto já tinha sido concluído. Isto é o ideal. Nós vamos ser capazes de ver o
primeiro experimento em cerca de uma hora. "

"Perfeito!" Katie disse.

A expressão de Eli se iluminou. "A outra boa notícia é que uma pequena equipe
de filmagem da BBC está aqui. A equipe que cavou o poço é do Reino Unido.
Esta vai ser uma grande promoção para o que estamos fazendo aqui. "

"Uau, isso não poderia ser melhor", Katie concordou. Várias crianças estavam
lhe puxando os braços e tentando lhe dizer alguma coisa.

Eles a estão convidando para jogar com eles ", Eli disse.

"Está tudo bem se eu for com eles?"

"Claro."
"Você vem junto para ajudar a traduzir?"

"Você não vai precisar de mim. Você vai descobrir. "

Por um momento, Katie leu um significado extra em sua declaração, como se


Eli estivesse dizendo que ela poderia continuar sua vida daqui em diante sem
ele e ela ficaria bem. Ela não sabia por que complicava as coisas, dando a si
mesma loucas interpretações do relacionamento que atormentavam-na. Mas lá
estava , sentado na boca do estômago vazio. "Você não precisa de mim."

As garotas puxaram Katie para o lado de uma das cabanas onde tinham feito
uma linha de paus e pedras. Eles jogaram algo que se assemelhava a
amarelinha, e Katie fez o seu melhor para adaptar-se ao jogo.As meninas todas
vibravam de uma só vez quando ela fazia algo errado. Elas sorriram aprovando
quando ela acertou. Durante vinte minutos, ela pulou, virou, subiu em um pé, e
sentiu seu estômago reclamando. Mais do que querer alguma coisa para comer,
Katie realmente queria algo para beber. Ela não se lembrava de já ter tido esta
sede . O sol estava nascendo no céu, aquecendo a Terra e fazendo Katie ainda
mais sedenta. Como essas pessoas vivem nesta aldeia remota em todos estes
anos sem ter acesso a água potável?

Katie sabia, desde a apresentação que Eli tinha feito na capela e no


levantamento de fundos que ela tinha organizado, que a falta de água potável
é um problema solucionável. Em lugares como esta aldeia onde os córregos
próximos tornaram-se poluídos ou secos, um poço poderia ser escavado, e do
fundo a água limpa viria para cima. A necessidade de continuar era para
financiamento de equipamentos e mais equipes que perfurassem para trazer
água nestes locais remotos.

Katie olhou para uma das meninas pequenas que estavam à sua frente
esperando sua vez para o jogo. Ela era magra e estava vestida com uma
grande camiseta que anunciava um personagem de um programa de TV
americano. Como que a suja camiseta encontrou o seu caminho para esta vila
seria uma informação interessante. Seu cabelo estava cortado muito curto, e
seu lábio inferior estava rachado. Além das poucas diferenças óbvias que
vinham das condições de vida rural, Katie pensou em como, em muitos
aspectos, a menina se parecia com qualquer menina nos Estados Unidos. Uma
diferença importante era que,quando ela estava com sede, ela não podia beber
água e depois voltar para seu jogo. Quando ela estava com sede, ela
permanecia com sede.
Alguém que trabalhava para a missão necessitava fazer um trabalho melhor de
comunicar a necessidade de água limpa para a África, levar as pessoas a
imaginar o que seria como estar com sede, realmente desesperadamente
sedento, e não ter água limpa para beber. Katie perguntou-se se a equipe de
filmagem da BBC iria deixá-los usar a sua filmagem de um documentário para
montar uma apresentação para os EUA.

Eli veio procurando por ela e parecia tão animado quanto ele tinha estado
anteriormente. "Como vai tudo por aqui?"

"Ótimo. Você parece feliz. "

"Eu estou. Estou tão surpreso com o que eles conseguiram aqui. Vai
transformar esta vila. Faz-me desejar que tivéssemos dez milhões de dólares
para que pudéssemos fazer isso para cada aldeia na lista. "

Uma das garotas puxou os braços de Katie e Eli e dizia algo em suaíli.

O que ela disse? "Katie perguntou.

"Ela disse, 'Mimi nd nd wewe pete kidole".

Muito engraçado. O que significa isso? "

"É doce. Isso significa, "eu e você somos como um anel e um dedo."

Katie não tinha certeza se entendeu. "Ela está dizendo que você e eu
parecemos que estamos noivos?"

"Não."

"Casados?"

"Não, Katie, é como se vocês duas fossem tão próximas que são como um anel
e um dedo. Ela está dizendo que ela gosta de você. Ela quer estar com você. "

"Oh, isso é tão doce." Katie deu à menina um abraço, e ela abraçou de volta
ainda mais forte. As outras meninas estavam sentadas na sombra da cabana,
com as energias gastas.

"Eli", disse Katie, sua menina anelzinho ainda a seu lado. "Você sabe quando
você disse que você queria ter dez milhões de dólares para usar em todas as
aldeias na lista?"

"Sim".

"Bem, há algo que eu tenho sentido de lhe dizer. Eu não tenho certeza que este
é o melhor momento, mas eu quero que você saiba que eu não tenho dez
milhões de dólares, mas eu tenho um monte de dinheiro. Quero dizer, muito. "

Eli riu.

Ela manteve o rosto sério. "É verdade, Eli. Eu tinha uma tia-avó que faleceu no
ano passado, e ela deixou sua propriedade para todos os parentes que foram
para a faculdade, mas acabou que eu fui a única que o fez. Então, eu herdei
todo o dinheiro."

Ele inclinou a cabeça e deu-lhe um olhar incrédulo.

"Eu acabei com uma grande herança , e eu estava pensando que seria ótimo
fazer mais para que a necessidade de água limpa seja conhecida pelas pessoas.
Talvez você e eu pudéssemos falar com seu pai sobre um fundo de marketing
ou algo parecido. "

"Katie ..." Ele deu-lhe um olhar de piedade, como se o sol tivesse fritado seu
cérebro.

"Não me olhe assim. Eu estou te dizendo a verdade. Esta é uma daquelas


coisas a qual eu estava me referindo naquela outra noite na sala de jantar,
quando tínhamos alguns assuntos sérios que precisávamos discutir. Este é um
daqueles temas. Eu provavelmente deveria ter esperado, mas não o fiz. Eu
tenho muito dinheiro. "

Ele ainda não tinha resposta.

"Eu não penso muito sobre isso, mas ..."

"Eu não acredito em você." Eli deu um passo para trás.

Katie ficou surpresa. "É verdade. Eu não penso nisso. "

"Não, quero dizer que eu não acredito que você tem um estoque de dinheiro no
banco. Eu vi como você viveu por um ano, Katie. Eu sei sobre você. Eu teria
sabido sobre isto. "
Ela desejava com todo o coração que ela tivesse feito isso de forma diferente.
Em uma respiração profunda e soprando o ar para fora através de seus lábios
secos, Katie disse: "Ok, eu não queria dizer-lhe isso, mas a sua fatura escolar
foi liquidada na sua totalidade, certo?"

"Sim, eu lhe disse isso. Meu tio Jonathan pagou. "

Ela perguntou a Eli onde seu tio arrumaria essa quantidade dinheiro, e então
ela citou a quantia exata.

A mandíbula de Eli se afrouxou . "Foi você? Você pagou isso? "

Katie esfregou a testa e olhou para baixo. "Eu não deveria ter falado isso."

Cheryl veio ao virar da esquina de uma das cabanas e os chamou, acenando


para que eles viessem para o poço. Eli entrou roboticamente, e Katie e sua
reunião de meninas seguiram-na.

"Sinto muito, Eli. É chocante. Eu esqueço disso. Eu nunca quis que ninguém
soubesse. Exceto Julia. Ela me ajudou com os advogados, o banco, e tudo
mais. Mas quase ninguém mais sabe. Exceto sua mãe. Sua mãe sabe. "

Eli parou de andar e virou-se para dar uma olhar ferido em Katie. "Você disse à
minha mãe?"

Não, eu não lhe disse. Ela me achou a partir dos extratos bancários para a
arrecadação de fundos. "Katie apertou os lábios juntos e desejou mais uma vez
que ela não tivesse vazado mais informações.

"É por isso que fomos tão bem com a arrecadação de fundos? Você disparou as
doações? "

"Não,eu não fiz isso . Eu apenas doei. Uma grande quantia. Alegremente. Eli,
você está agindo como se eu tivesse feito algo errado. "

"Eu não posso acreditar que minha mãe sabia, mas eu não. O meu pai sabe? "

"Não, eu não acho que ele sabe. Sua mãe disse que ela não ia dizer-lhe ou
dizer a você, uma vez que era o meu lugar dizer às pessoas. Eu pensei que foi
muito sensível da parte dela, manter a confiança em mim assim. "
Eli virou-se para Katie. "Existe mais alguma coisa que eu deveria saber?"

"Não." Ela tentou aliviar o clima. "Essa é a única surpresa que eu tenho para
você hoje. Verifique de novo amanhã. "

A expressão de Eli deixou claro que ele não estava brincando sobre este pedaço
de informação desorientadora. Eles se encontraram com a mãe dele, e ele
manteve os olhos em frente, andando mais rápido do que os dois em direção à
área onde a multidão se reunia.

Eli, "Katie chamou.

Ele continuou andando e não voltou atrás.

"Está tudo bem?" Cheryl perguntou.

Cheryl deu um tapinha reconfortante no ombro de Katie quando se juntaram à


multidão de aldeões. "Dê-lhe algum tempo. Demora um tempo até tudo ser
assimilado. "Katie sabia que mais uma vez ela teria que esperar o momento
certo para ter uma maior discussão com Eli para limpar o ar e resolver a tensão
que estava construída entre eles. Ela detestava esperar.

Todos estavam reunidos em torno de uma plataforma de cimento que tinha


uma borda elevada circulando seu exterior. No centro tinha uma bomba alta e
resistente. Katie tinha visto uma série de imagens de poços como este que
haviam sido colocados em uso em outras partes da África. Mas este era o
primeiro que via pessoalmente.

Os aldeões chegaram para mais perto, esperando, falando em tons calmos,


ansiosos para algo especial que estava para acontecer. Ela percebeu que os
dois homens da equipe de filmagem da BBC em pé em frente a eles não tinham
colocado a sua câmera no lugar ainda, então ela achou que ia ser um pouco
antes da cerimônia começar.

Um dos caras da equipe de filmagem veio caminhando para o lado onde Cheryl
e Jim estavam e ficaram a cerca de dez metros de Katie e Eli. Ele apertou a
mão de Jim e Cheryl, e, em seguida, Jim apontou para Eli, que levantou a mão
em uma onda casual.

A cerimônia de improviso começou com uma declaração em Inglês dos


escavadores assim que o projeto foi concluído e eles estavam prontos para
experimentar. Katie tirou outra foto com a câmera do seu telefone quando o
chefe adiantou-se e pronunciou uma bênção sobre o poço. Muitas das mulheres
da aldeia estavam com baldes nas mãos, esperando com os olhos arregalados
de expectativa quando o chefe escolheu uma das crianças para vir e ficar com
ele. Juntos, o chefe idoso e o menino colocaram suas mãos sobre o punho da
bomba e levantaram-na e, em seguida, pressionaram para baixo.

Outro menino se adiantou e colocou um pequeno copo de alumínio sob a


abertura. Com um zoom rápido, a câmera de Katie capturou o olhar no seu
rosto, mostrando a intensidade de sua sede profunda e sua antecipação. Um
copo de água fria em nome de Jesus. Espero que o fim prometido para a sua
sede em breve seja cumprido. Os aldeões começaram a cantar, "Maji, maji",
que Katie rapidamente aprendeu que significava "água".

A resposta veio em uma pulverização que enviou o menino com o copo para
mais perto do bico. Ele levantou o copo para pegar as primeiras gotas que
saíram como um espirro. Então, de repente uma fonte de água vivificante
jorrou do bico e encharcou o menino, enchendo o copo até transbordar.

Ele riu e ergueu as mãos quando abriu a boca. A água despejada sobre a
cabeça e rosto molhou seu corpo. O copo foi jogado de lado, quando todas as
outras crianças correram e dançaram na abundância da glória da água limpa.

Algumas das mulheres levantaram seus rostos e suas vozes para os céus.
Outras inseriram seus baldes, tendo o seu preenchimento imediato. A água
continuou a fluir. Felicidades, risos, e sons de espanto ecoaram ao redor do
círculo de espectadores alegres.

Katie levantou o telefone dela, tentando captar o momento. Ela mal podia ver
por causa das lágrimas que fluíam de seus olhos. Dezenas de mãos foram
chegando para tocar o milagre. Ela podia ouvir Eli rindo o seu melhor riso, riso
profundo da alma .

Um a um os moradores enchiam seus baldes e seus copos e bebiam até se


fartar. A menina magra que tinha persuadido Katie a jogar com eles antes veio
até Katie segurando o copo de alumínio que se encheu de água. Ela deu um
largo sorriso e esperou Katie pegar o copo e beber. Katie bebeu a água limpa e
fresca e entregou a taça para Eli. Ele bebeu tudo o que restava e entregou a
taça de volta para a menina, que felizmente voltou a enchê-la novamente.

Katie sorriu para Eli. Ele não sorriu de volta.

Aproximando-se, a expressão de Eli permanecia séria. "Você e eu temos um


monte de coisas que precisamos falar."

"Eu sei".

"Esta notícia repentina da sua herança é perturbadora."

"Perturbadora?"

"Sim, perturbadora."

Katie não sabia o que fazer com isso. Eli parecia genuinamente incomodado.
Ela não tinha certeza que ela já tinha visto ele tão chateado. Era um contraste
louco com a alegria de todos à sua volta naquele momento.

"Eu acho que é quase tão perturbador quanto eu descobrir que você está
pensando em passar o resto de sua vida em uma cabana de barro ", respondeu
ela.

"Eu nunca disse isso."

"Oh, realmente?"

"Não. De onde você tirou isso? "

"Eu cheguei a essa conclusão depois de ler nas entrelinhas de todos os seus
comentários e comentários de seus pais."

"Bem, você não está certa no que você está dizendo, Katie."

"Oh, eu não estou? Bem, o que não é uma surpresa. Tudo o que posso fazer é
deduzir o que eu estou ouvindo aqui e ali, porque você não me disse o que
você está realmente pensando. "

"Precisamos falar sobre tudo isso."

"Quando?" Katie levantou o queixo desafiadoramente. "Quando é que vamos


falar sobre isso?"

"Agora", disse ele firmemente.

"Ótimo. Comece a falar ".


Katie odiava a sensação de que ela e Eli estavam prestes a ter sua primeira
briga , e ela odiava que fosse, na seqüência de uma celebração tão grande.

Eles ficaram a dois metros de distância um do outro, Katie com as mãos nos
quadris, e Eli, com os braços cruzados no peito.

Só então o cara da equipe de filmagem pisou por trás de Eli. Katie olhou para
ele, esperando que ele pegaria a dica e sairia.

Em vez de sair, seus olhos se arregalaram. Com um suspiro, ele falou o nome
dela.

"Katie?"

Seus braços ficaram moles em seus lados.

O mundo ao seu redor parecia transformar-se em aquarelas e dissolver-se.

"Michael?"

Em um grande passo, o ex- namorado da época de escola de Katie passou por


Eli, puxou Katie para perto, e beijou-a ardentemente nos lábios.

CAPÍTULO 15

Katie não conseguia se mover. Ela não podia falar ou até mesmo piscar. O
cabelo de Michael estava tão raspado que ele estava quase careca. Sua pele
estava bronzeada, e seus ombros estavam mais amplos do que eram na escola.
Mas seu nariz estreito, as sobrancelhas grossas , e os olhos escuros e
penetrantes não poderiam ser duplicados.Nem poderia aquele beijo. Era
Michael, tudo bem.

E ele ia complicar as coisas para ela,isso era algo terrível . Ela só sabia disso.

"Katie, querida, o que você está fazendo aqui do outro lado do mundo?"

Antes de Katie poder formar uma resposta, Eli entrou no meio deles, colocando
seu ombro entre Michael e Katie. Ele se virou e deu a Katie um olhar que ela
nunca tinha visto em seu rosto desalinhado.A fúria queimava em seus olhos.
"Eli, este é Michael", disse ela rapidamente. "Michael, você conhece o Eli? O pai
dele é Jim Lorenzo. "

Nenhum deles falou. Ambos estavam com os ombros para trás, um avaliando o
outro
.
A Expressão de Michael mudou de repente, e um olhar contrito apoderou-se
dele.

"Vocês dois são casados ? É isso? "

"Não." Eli e Katie responderam em uníssono.

As sobrancelhas de Michael subiram. "noivos?"

Mais uma vez o "Não" mútuo foi dado em perfeita harmonia.

"Ah, bom. Eu pensei por um momento, que eu precisasse oferecer um pedido


de desculpas. "

"Você precisa pedir desculpas, Michael," Katie disse com firmeza.

"Eu agora? Da forma como eu vejo, eu ainda estou à espera de um pedido de


desculpas seu, pelo jeito como você terminou comigo. "

"Eu ... eu ..."

"Vê?" Ele apontou para Katie com o brilho nos olhos que era tão familiar. Foi o
seu charme que a levou a se apaixonar por ele no colégio. Ele parecia ter
aperfeiçoado suas habilidades na meia década desde que ela o viu pela última
vez.

"Você sabe que me deve um pedido de desculpas. Katie, vá em frente. Primeiro


as damas ", disse ele descaradamente.

Sem olhar para Eli, Katie disse: "Você está certo, Michael. Eu não soube lidar
com as coisas muito bem tempos atrás na escola. Sinto muito pela maneira
como eu terminei com você. Eu realmente sinto.Peço desculpas. "

"Desculpas aceitas."
Ele ficou em silêncio por um momento.

"Sua vez". Katie apertou os olhos e estudou a expressão presunçosa de


Michael. "Vá em frente, diga. Diga que você sabe que não deveria ter me
beijado desse jeito. "

"Você está certa." O sorriso de Michael se expandiu. "O que eu deveria ter feito
era beijá-la assim." Com isso, ele tentou alcançar Katie novamente.

Antes que ela pudesse se afastar, Eli bloqueou o caminho de Michael. Os dois
homens se enfrentaram por alguns segundos, como dois impalas se
enfrentando com seus chifres.

"Inacreditável!" Katie levantou as mãos em frustração e se afastou, deixando


escapar um gemido furioso. Suas pequenas assistentes em espera deslizaram
para o lado dela, molhadas , sorridentes e ansiosas para serem as únicas a
segurar suas mãos e para levá-la para outro jogo com elas.

Jim, juntamente com o outro cinegrafista , tinha feito o caminho até Eli e
Michael para ver sobre o que era a briga. Katie olhou para eles por cima do
ombro e depois seguiu em frente, sentindo como se o fogo em sua barriga
estivesse prestes a explodir.

"Katie". Cheryl veio até ela. "Está tudo bem?"

"Não, não está tudo bem. Nada está bem. Eu não posso acreditar no que está
acontecendo. Por que ele está aqui? Eu mal posso respirar. "

"Vamos." Cheryl pegou Katie pela mão e levou ela e suas seguidoras para uma
das cabanas de barro. Cheryl gritou alguma coisa, e veio uma resposta de
dentro.

"Podemos entrar aqui", disse ela.

Katie se abaixou e entrou em um local fresco e escuro, onde um tapete cobria


parte do chão de terra. Uma mulher idosa estava sentada no canto do tapete,
segurando um copo de água. Seu sorriso quase sem dentes foi a primeira coisa
que Katie focalizou quando seus olhos se ajustaram às sombras. A mulher fez
sinal chamando-as para entrar, sentar, descansar.

Em um canto arredondado da cabana, Katie notou uma panela moderna,


equilibrada sobre um fogão de campismo e uma tigela de cerâmica com duas
bananas.
Cheryl e a mulher falaram quando Katie ajustou-se de pernas cruzadas sobre o
tapete. Apenas duas das meninas haviam seguido Katie para dentro da cabana.
É evidente que os indicadores de uma mulher em angústia era o mesmo em
todas as culturas.Com empatia,as meninas ficaram mais perto de Katie quando
ela respirou fundo e tentou se acalmar.

"Você é bem-vinda aqui", Cheryl traduziu. "Você pode falar, descansar, ou


comer o que quiser."

"Obrigada." Katie virou-se para a mulher. "Asante sana".

"Existe algo que eu possa fazer por você, Katie?" Cheryl perguntou.

"Não. Não existe algo a ser feito. É uma loucura que ele esteja aqui, no
entanto. Quero dizer, quais são as probabilidades de que Michael estivesse aqui
agora? "

"Como você conheceu Michael?"

"Ele foi meu namorado no colegial. Ele é impetuoso e arrogante. Eu terminei


com ele porque ele não era cristão, e ele estava me puxando para longe de
meus amigos mais próximos e do Senhor. Não foi um bom relacionamento. "

"Você namorou com ele embora ele não fosse cristão?"

Katie rangeu os dentes. Ela desejava não ter revelado esse detalhe para Cheryl.
Ela levara tempo suficiente para convencer os pais de Eli que ela estava no
Quênia para servir e que ela era uma boa escolha de uma namorada e até
mesmo uma possível futura esposa para seu filho. Dar a Cheryl outra razão
para duvidar da estabilidade dela ou de sua maturidade como cristã não era o
que ela queria fazer.

Embora, neste momento, Katie não soubesse o que queria.

A Voz calma de Cheryl, encheu o momento. "Está tudo bem, Katie. Meu
primeiro namorado não era um cristão também. Se eu não tivesse conhecido
Jim , eu não sei que tipo de vida eu teria . Deus sabe o que está fazendo. Ele é
o mantenedor. "

Cheryl repetiu a última linha em suaíli, e a mulher mais velha, junto com as
duas pequenas assistentes de Katie , ecoaram a bênção. "Mpaji ni Mungu."
"Mpaji ni Mungu," Katie respondeu baixinho.

"Está bem pra você ficar aqui?"

"Sim. Obrigada. "

Cheryl deu-lhe um aperto no braço. "Tudo tem um propósito. Você sabe disso.
"

"Qual possível propósito ?"

"Eu não tenho idéia."

Cheryl deixou-a com um sorriso, e Katie sentiu seus ombros relaxarem. Parte
dela queria sacudir as meninas do jeito que ela iria afastar as formigas que
decidiram usar o seu braço como uma ponte. Mas essas meninas não podiam
ser enxotadas. Elas não sabiam que estavam acontecendo coisas catastróficas
dentro dela no momento. Ou talvez, instintivamente, elas soubessem. Talvez
elas sabiam que algo emocional e intenso estava acontecendo com Katie, e elas
estavam fazendo o que as mulheres de todas as idades em todas as culturas do
mundo fazem - elas estavam oferecendo seu apoio e conforto.

Sua anfitriã fez sinal para Katie se deitar sobre o tapete e descansar. A mulher
não teve problemas para espantar as meninas pra longe. Tentando o seu
melhor para se sentir confortável, Katie deitou no tapete e usou a palma aberta
da mão como travesseiro improvisado. Ela adormeceu quase imediatamente e
acordou ao som de risadas silenciosas.

Por um momento Katie esperou seus olhos se ajustarem à luz fraca da cabana
e se lembrou de onde ela estava. Duas novas meninas estavam sentadas de
pernas cruzadas, com as mãos sobre a boca, observando Katie a apenas um pé
de distância.
A mulher mais velha tinha ido embora.

"Eu estava roncando?" Katie perguntou.

As meninas riram novamente e estenderam a mão para tocar seu cabelo. Katie
colocou-se em posição vertical e sorriu para as meninas. Ela estendeu o braço e
tocou seus cabelos. Elas riram novamente e falaram com ela, apontando para
sua cabeça.
"Sim, eu sei. Parece que minha cabeça está pegando fogo, não é? "

As meninas não indicaram se entenderam o que ela disse. Elas brincando


estenderam a mão e tocaram-lhe o cabelo e depois puxaram seus dedos para
trás só para prevenir de ficarem em apuros por sua ousadia. Uma das meninas
saiu, e a outra subiu no colo de Katie. Ela tocou o rosto de Katie com o dedo e
depois tocou-lhe o braço nu. Ela tocou-o novamente e novamente.

"Você está contando as minhas sardas? Deixe-me saber a sua contagem final.
Eu sempre me perguntei quantas são. "

A menina, Katie percebeu, era a mesma criança magra que tinha unido-se a
Katie quando chegaram. Ela parecia mais refrescada agora, sem dúvida, depois
de ter brincado sob a torneira da água e ter participado na chegada da água
que agora ela poderia beber.Apenas isso, e rapidamente sua aparência geral
parecia animada. A água limpa estava vindo para transformar esta vila.

Vamos lá para fora ", sugeriu Katie. "Eu quero tirar uma foto de você."

A menina seguiu o exemplo de Katie. Entraram no brilho da tarde, e Katie viu


Eli sentado à sombra de uma das cabanas, ouvindo dois homens idosos. Seu
rosto estava posicionado na direção da cabana onde Katie havia cochilado, e
quando ela surgiu,ele parecia observá-la em cada movimento. Ela sentiu que
ele estava verificando-a. Certificando-se de que ela estava bem.

Quatro meninas menores saltitaram ao redor de Katie e marcaram seu território


pra cima e para baixo com os braços. Elas a levaram para um local com sombra
longe de onde Eli estava e a convenceram a sentar-se. Ela obedeceu e cruzou
as pernas, fazendo-se confortável, esperando que elas fossem mostrar-lhe
como jogar algum tipo de jogo.

Em vez disso, várias meninas começaram a trabalhar, tagarelando e articulando


seus dedos estreitos em seu cabelo, puxando-o para cima.

"Espere, o que vocês estão fazendo? Você não está verificando se há piolhos,
está? Não houve uma infestação de pulgas na cabana onde eu tirei um cochilo,
houve? Por que eu estou perguntando para você? Você não pode entender uma
palavra do que estou dizendo. "

Então ela percebeu que estavam trançando seus cabelos. Todas elas, de uma
só vez, como se a estivessem preparando para a grande festa daquela noite.
Katie sentou-se e deixou-as fazer o seu melhor para conseguir unir o seu
cabelo liso e sedoso . Sentia-se como uma Cinderela adaptada culturalmente,
cercada por ratos ansiosos tagarelas pequenos que ajudavam a sua "Cinderela."

Uma das meninas saiu correndo e voltou com algum tipo de fina corda coberta
de erva. Aparentemente, elas descobriram que o cabelo de Katie era tão
elegante que logo se auto-destrançava facilmente . Katie só podia adivinhar o
quão ridícula ela ia parecer com quatrocentas tranças minúsculas em toda a
cabeça, e cada trança presa com um pouco de arbustos.

"Vocês estão me fazendo um favor, você sabe", disse Katie, a si mesma, uma
vez que nenhuma delas a entendia . "Em vez de ter dois caras lutando pela
minha atenção hoje à noite, eu tenho certeza que seus esforços de
embelezamento vão enviar os dois para correr tão longe de mim quanto eles
podem chegar. E você sabe o quê? Neste ponto, eu acho que poderia ser uma
coisa boa. "

Uma das meninas deu um tapinha no rosto de Katie como se para indicar que
Katie tinha que fazer silêncio e não se movimentar muito ou ela iria atrapalhar
suas técnicas do salão safári.

Katie sentou-se pacientemente enquanto as meninas cuidavam de sua tarefa.


Ela estava descansando de uma forma inesperada. Ela nunca tinha feito muito
com o cabelo dela, e definitivamente não tivera nada feito por sua mãe com
seu cabelo quando criança. Pareceu-lhe que desde que ela chegou no Quênia,
uma variedade de expressões de cuidado haviam sido feitas a ela por várias
mulheres. Ela se perguntou se a experiência de ter esse tipo de amor
mostrados a ela em formas tangíveis, físicas, haviam contribuído para a forma
como o seu espírito se tinha estabelecido em si, e sentia-se mais calma do que
nunca .

Katie percebeu que não foram apenas a beleza da África e do Quênia que se
tinham estabelecido no seu espírito de forma tão tenra. Foi também o cuidado
das mulheres. Ela sempre desejara mais carinho, mulheres mais velhas em sua
vida. Ela queria uma mãe atenta e uma tia coruja como Cris tinha. Ela desejava
ter mulheres para serem suas mestras como Julia tinha feito no ano passado
como diretora residente. Ter Cheryl na sua vida como uma rocha firme de uma
mulher era uma coisa linda. Katie se sentiu abençoada.

Isso foi até que ela olhou para cima e viu Michael vindo em sua direção.

"Isso sim que é um olhar completamente diferente sobre você , disse ele,
verificando suas muitas tranças .
"Continue movendo-se, senhor. Nada há para ver aqui. Estes não são os
Andróides que você está procurando. "

Michael riu. "Oh, Katie girl, você ainda tem isso, não ? Eu nunca conheci uma
mulher antes ou desde então com o mesmo espírito . "Ele se inclinou para a
sua linha de visão. "Está melhor? Ouvi dizer que você não estava se sentindo
bem. "

"Eu estou bem."

"Nesse caso, você parece um personagem de desenho animado."

"Obrigada."

"Basta mantê -lo real. Não era isso que você costumava me dizer? "

"Bem, então devo dizer que você se parece com alguém que está prestes a ir
embora e deixar minhas meninas e eu com o nosso tempo especial de garotas."

"Ok, eu entendo. Eu posso dar uma sugestão. "

"Sério? Você quase me enganou."

"Ouça, Katie, você não tem que ser tão áspera comigo. Eu estou atualizado.
Você está com o missionário-kid. Eu entendo. Eu fui muito expressivo com a
minha saudação, e peço desculpa. De onde eu venho, era uma saudação
perfeitamente aceitável entre dois velhos amigos, como você e eu. Eu pensei
que você estaria pronta para isso. Eu errei. "

Katie queria dizer algo conciso, mas, obviamente, Michael estava tentando
oferecer sua versão de um pedido de desculpas. Ela recuou e não respondeu.

Ele tomou o seu silêncio como um convite para se sentar em frente a ela. "Eu
não estou surpreso de você estar aqui."

"Você não está?"

"Não. Você falou sobre a vinda para a África quando você estava na escola. "

"Eu falei?" Katie não se lembrava disso. Ela se lembrava sobre o que Michael
falava na escola. "Você costumava falar sobre como ia se tornar um diretor de
cinema."

"Isso eu fiz. Você se lembrou ".

Katie achou que ele parecia um pouco contente demais por ela ter se lembrado
desse detalhe. "Portanto, parece que nós dois realizamos os nossos desejos."

"Eu estou trabalhando o meu caminho para onde eu realmente quero estar.
Fazer um documentário na África não é minha idéia de ser um diretor de
cinema, mas é um trabalho, e é um começo. "

"E é com a BBC. Isso é impressionante. "

"Na verdade, não é. Estou aqui com a BDC, a Companhia de Documentário


britânico. É uma organização sem fins lucrativos. Meu primo tinha uma ligação
e me colocou dentro. Como eu disse, é um começo. E que tal você? O que você
está fazendo aqui, realmente? "

"Eu te disse, eu estou com o Lorenzo. Eu estou ajudando. "

"Ajudando com o quê?"

"Com tudo o que precisa ser feito no centro de conferências onde vivemos."

Michael pareceu surpreso. "Isso não é você, Katie. Você não é uma assistente
para ninguém. Você é uma líder. Por que você não está fazendo algo para a
missão em que usaria suas grandes habilidades? "

Katie soltou um grunhido estranho,um som de desacordo. Uma das cabelereiras


de Katie verificou-lhe o rosto para se certificar que ela não estava reagindo a
seu cabelo sendo puxado em todas as direções .Quando parecia que Katie
estava bem, a cabelereira voltou a trabalhar.

"O que foi isso? Você está zombando de meu comentário sobre as suas
habilidades? "

"Eu não encontrei o meu lugar ainda, ok? É provavelmente aqui na aldeia. É
isso que eu estou tentando descobrir. "

Michael sacudiu a cabeça.

"O quê? Você não acha que eu poderia viver numa aldeia? "
"Não duvido por um momento que você poderia lidar com a vida em uma
aldeia. Você pode lidar com qualquer coisa com que você se depare na vida.
Mas eu ouvi sobre a arrecadação de fundos que você fez em sua faculdade e
como você conseguiu uma boa soma. "

Katie não foi capaz de aceitar o seu elogio, então ela descartou- o , dizendo:
"Sim, bem, eu ouvi que alguém disparou as doações, então não foi um sucesso
assim tão grande ."

"Não pelo que eu acabei de ouvir nas entrevistas. Não com o arrecadador de
fundos motivando um grupo de estudantes universitários para vir aqui! Fomos
para a aldeia onde eles trabalhavam, apenas dois dias atrás, como uma
questão de fato. De tudo que ouvi e vi, a equipe de trabalho da faculdade foi
um grande sucesso. Por que você não toma um pouco de crédito por ser a sua
fonte de motivação? "

Katie deu de ombros e olhou para baixo.

"Eu sei que não é o meu lugar estar fazendo sugestões sobre como você deve
viver sua vida, Katie. Mas parece óbvio para mim que você foi feita para isso. "

"Feita para quê?"

"Para motivar as pessoas e dar a elas motivos para fazer coisas que
normalmente não fariam. Se você quiser fazer algo de bom para essa
organização, por que você não nomeia a si mesma a especialista em marketing
oficial ou qualquer título parecido que você quiser? Você pode duplicar o que
você fez na sua escola em outras universidades ao redor do mundo. Eu tenho
um contato na Queens University em Belfast. Eu poderia conectar você com
ele, e ele poderia te ajudar com esse tipo de coisa. Uma vez que vissem o
documentário, eles viriam aqui com equipes. Quem vai ser o responsável de
organizar tudo isso e conseguir os angariadores de fundos ? "

Katie sentiu como se milhares de vaga-lumes iluminassem no mesmo momento


a sua imaginação. As idéias foram vibrando em torno, como os cupins
voadores, rápidas, longe de serem facilmente capturadas. Ela se sentiu
animada ao ouvir as sugestões de Michael. Sim, era isso. Isso era o que ela
queria fazer.

"Você gosta dessa idéia, não é? Seu rosto nunca mentiu para mim, Katie. Eu
vejo em seus olhos. Isto é o que você deveria fazer. É óbvio. Como você não
notou isso? "

"Eu não sei."

Michael riu. "Eu nunca pensei que eu iria ouvir essas palavras de seus lábios
adoráveis."

Katie mordeu seu lábio inferior, pensando em todas as grandes formas que ela
poderia trabalhar nisto mediante a conexão não só com universidades, mas
também com grupos de igrejas. Ela tinha o modelo de como ela e Eli tinham
trabalhado juntos para colocar sobre a arrecadação de fundos, bem como o
treinamento na Rancho. Eles poderiam trabalhar juntos para fazer o mesmo
tipo de programa muitas vezes mais. Era isso! Isso era o que ela poderia fazer.

"É brilhante, Michael."

Ele riu de novo. "Eu sou aquele que diz 'brilhante', lembra? Você é a única que
chama algo como uma "coisa de Deus."

Katie riu para Michael pela primeira vez naquele dia. Ah, aí está. Eu sabia que
você ainda tinha um sorriso em algum lugar aí para mim. Veja, eu não esqueci
tudo que você me ensinou. Lembro-me de todas as coisas de Deus, Katie. Eu
realmente lembro. "

Os pensamentos de Katie tinham corrido à frente para o que ela precisava para
este projeto. "Assim, podemos ter uma cópia do documentário que você está
filmando, né?"

"Claro, não é um problema."

"Estaria tudo bem se colocarmos um trecho no site?"

"Sim, nós podemos te ajudar com isso."

"E você vai me dar o nome do seu contato na Queens University em Belfast."

"Novamente, não é um problema. Ele é meu sogro. "

"Nós também precisamos ..." Katie parou. "Espere. Você disse que ele é seu
sogro? "

"Sim".
Katie levantou as sobrancelhas e olhou para ele.

Michael inclinou a cabeça e deu a Katie um sorriso travesso. "Eu não mencionei
que eu sou casado?"

"Não. Você não mencionou isso. "

"Ahh, bem eu sou. Felizmente, por uma questão de fato. Você iria gostar dela.
Ela é uma boa esposa. Ela me levou a igreja. "

Katie ainda não podia acreditar. "E como a sua mulher se sentiria se ela
soubesse que você está correndo ao redor da África beijando outras mulheres?"

Eu só beijo a sério as que eu namorei. Devo acrescentar essa lista para você?
Três. E você é a única das três que eu vi até agora nessa viagem, por isso a
minha reputação não está tão manchada como você parece pensar. "

"Ainda não é normal, cumprimentar alguém com um beijo como aquele."

"E eu digo, para mim, é."

Eles olharam um para o outro, como se tivessem chegado a um impasse.


Naquele momento, Eli fez uma aparição, caminhando em direção a eles .

Katie olhou para Eli e sorriu. Ela não podia esperar para contar-lhe sobre sua
descoberta em saber o que ela poderia fazer para a organização.

Todos se reuniram. "Os olhos de Eli estavam sobre Katie e seu cabelo maluco.
As meninas tinham terminado a sua criação, e todas, menos uma foram para a
sombra de outra cabana onde estavam se ocupando com outro patrono
disposto que tinha o cabelo muito mais curto e mais grosso.

"Eu disse a Katie que ela parece um personagem de desenho animado", disse
Michael. "E então eu perguntei se ela quer se casar comigo, e ela disse sim. É
uma lástima. Você perdeu a sua chance. "

"Michael, não diga coisas assim. E, Eli, não dê ouvidos a ele. Ele tem um senso
distorcido de humor. Mas aqui está uma notícia interessante. Ele é casado. "

Eli parecia estar tentando com muita dificuldade engolir as palavras que ele
queria dizer. A resposta que de sua boca foi: "Parabéns."
"Pelo quê?" Michael perguntou. "Pelo meu senso distorcido de humor?"

"Parabéns pelo seu casamento."

"Obrigado. E para registro, Katie e eu fizemos nossas reparações. Portanto,


caso você esteja pensando em defender a sua honra, já estamos resolvidos. "

Katie lembrou como Michael tinha um jeito de escorregar para fora de seu tom
sarcástico e se tornar sério. Este foi definitivamente esse tipo de transição. Ela
esperava que Eli pegasse o ajuste. Katie se sentiu mais confortável perto de
Michael, agora que ela sabia de seu casamento, e ela esperava que Eli se
sentisse assim também.

Michael disse: "Você sabe como eles dizem que quando você sabe, você sabe?
Bem, é verdade. Eu sabia. Ela sabia. Imediatamente. No primeiro mês depois
de nos conhecermos. Mas a negociação. Isso levou um ano e meio. "

Michael fez uma pausa, e Katie assistiu a expressão de Eli. Eli parecia estar
tentando discernir se podia confiar em Michael ou se ele estava sendo
sarcástico novamente.
Levantando-se , Michael virou para ir embora. "Espero que a negociação não
leve tanto tempo para vocês dois. A vida é muito curta. "

Katie encontrou o olhar de Eli e segurou-o por um momento. Ela se perguntou


se todos os solavancos do relacionamento que tinham experimentado nos
últimos dias estavam prestes a ser suavizados. Era este o ponto da mudança?
Estavam prontos para reconhecer que eles formavam um grande par? Tudo que
eles tinham que fazer era descobrir quem tinha que buscar sua vocação e ideal
que iria fazer o sacrifício para apoiar a outra visão.

Se isso fosse verdade, ela estava pronta para iniciar as negociações com uma
nova visão de como ela e Eli poderiam trabalhar juntos e montar uma mesa no
escritório. Ela já sabia onde iria colocá-la .Seria contra a parede em que
estavam os seus corações ocultos. Eles poderiam começar a trabalhar
imediatamente na angariação de fundos. Esta possibilidade não estava no radar
de Eli , quando ele fez suas declarações sobre querer estar envolvido nas
aldeias por longos períodos de tempo. Certamente ele iria mudar de idéia sobre
isso agora.

"Eu não concordo com ele", disse Eli depois que Michael estava fora do alcance
de sua voz.
"Sobre o quê? Katie perguntou-se se as insinuações de Michael sobre Eli e Katie
estarem se dirigindo para o casamento foram demais para Eli enfrentar no
momento.
.
Eu não acho que você parece um personagem de desenho animado. "

Obrigada. "

Eli estendeu a mão para ajudar Katie a ficar de pé. "Vocês dois realmente
resolveram as coisas? Ele pediu desculpas? "

"Sim e sim." Ela se levantou e limpou sua parte traseira, mas ela sabia que era
inútil. A poeira da terra seca havia conseguido se agarrar a cada centímetro
dela. Mesmo assim não a incomodava do jeito que ela pensou que poderia. É
diferente estar empoeirado e sujo quando todo mundo ao seu redor está. Um
chuveiro seria bom, mas ela não ansiava pelo luxo e decidiu que ela era uma
mulher amante do ar livre muito boa.

"Na verdade, tivemos uma conversa muito boa. E Eli, eu preciso pedir
desculpas a você. Eu não deveria ter ficado tão irritada e chateada com você
antes. Eu sei que você e eu temos muito o que falar ainda, e eu também sei
que nós vamos conseguir ter essa conversa em algum momento . "

"Sim, nós o faremos. Me desculpe,joguei a minha raiva em você também. "

Eli puxou-a para mais perto e sussurrou em seu ouvido, "Mimi nd nd wewe pete
kidole."

"Não é justo, está em suaíli. Diga isso em Inglês. "

"Não." Ele começou a andar para a área da reunião tribal, e Katie teve que
apressar-se para acompanhá-lo.

"Não? O que você quer dizer com não? "

"Você já sabe o que significa."

Ela sabia que não era a benção "Deus é o sustentador" , nem continha a
palavra "água". Então se lembrou. A menina que se apegou a ela toda a manhã
havia dito essa frase para ela. Katie repetiu o significado em Inglês. "Eu e você
somos como um anel e um dedo."
Eli sorriu para ela e, enquanto caminhavam, bateu o ombro contra o dela em
seu modo íntimo.

Katie bateu o ombro para trás. "Nós ainda temos um monte de coisas para
falar."

"Sim, eu sei. Falaremos depois da reunião desta noite. "

Enquanto caminhavam em direção ao centro da aldeia, o grupo de pequenas


fadas tribais de Katie se reuniu em torno dela e se esforçavam para serem as
únicas a segurar a mão dela. Pela primeira vez desde que Katie tinha chegado
no Quênia, ela sentiu clareza e direção sobre o que ela deveria fazer. Foi uma
sensação libertadora. Ela não podia esperar para começar.

Mais cedo, na cabana, Cheryl tinha dito a ela que tudo tinha um propósito.
Katie já não sentia a necessidade de contestar o comentário. Tudo estava se
encaixando. Até mesmo as peças malucas estavam começando a fazer sentido.
Não havia nada além de bons tempos à frente.

CAPÍTULO 16

Os bons tempos começaram logo que entraram no centro da aldeia, onde todos
estavam reunidos. Mesmo que Katie soubesse que ela devia estar estranha com
a cabeça cheia de tranças amarradas com folhagens, e mesmo sabendo que ela
não devia estar muito cheirosa depois de estar com as mesmas roupas agora
indo para dois dias, ela seguiu em seu caminho para a refeição da noite um
passo atrás de Eli, com sua comitiva de perto como se ela fosse a rainha de
Sabá.

Ela não tinha nenhuma maneira de saber como estava - além do comentário de
Michael sobre a sua semelhança com um personagem de desenho animado -
uma vez que não havia espelhos em nenhum lugar. Katie sabia que ela não iria
encontrar quaisquer piscinas claras de água ou, onde ela poderia ter um
vislumbre de seu reflexo. A única maneira que ela tinha para avaliar sua
aparência estava nas expressões de quem olhava para ela. Essa seria uma
maneira interessante e diferente, de uma mulher crescer .

Katie perguntou-se por um momento se parte da razão que muitos dos jovens
que tinham baixa auto-estima acabavam dessa maneira porque eles tinham
passado a vida olhando para si mesmos em um espelho em vez de serem os
outros o espelho olhando para eles.

Cheryl veio até ela e sorriu. "Olhe para você! As meninas fizeram um ótimo
trabalho em seu cabelo. "Ela repetiu algo em suaíli, olhando as meninas no olho
e claramente elogiando-as por seus esforços.

O Cabelo curto branco de Cheryl estava emaranhado na frente com o suor de


seus esforços com as mulheres da aldeia na preparação de alimentos. Sua
camisa estava para fora da calça e manchada em vários lugares. Ela parecia
feliz apesar de tudo.

Katie firmou sua expressão para que ela refletisse de volta para Cheryl fazendo-
a ver que ela era linda por dentro e por fora e parecia perfeita do jeito que era.

"Estou tão feliz de você estar aqui conosco experimentando tudo isso, Katie."

"Eu também estou." Katie não tinha certeza do que ela esperava desta grande
festa. Parecia que o número de habitantes dobrou desde o início do dia. Ou
muitos deles estavam em outro lugar durante a dedicação do poço ou a área
onde eles se reuniram era um espaço menor e que fez o grupo parecer maior.

Uma das mulheres em um caftan colorido ficou no centro do encontro e cantou.


Sua música foi composta por ricas notas baixas que se repetiram e foram
mantidas em um ritmo elementar, repetitivo. A música era mais um canto lírico
do que uma melodia, e ela agiu como uma chamada para o grupo, quando
todos formaram um grande círculo e dobraram seus joelhos levemente para
que pudessem dançar com a música.

Algumas pessoas bateram palmas no ritmo , formando a seção de percussão.


Meia dúzia de mulheres entraram no círculo e dançavam uma espécie de dança
balançando com os cotovelos dobrados e seus antebraços estendido para os
lados. Suas mãos estavam abertas, e os seus sorrisos eram largos, como se
eles estivessem prestes a se cumprimentar calorosamente. É evidente que esta
era uma música de festa e uma dança de louvor.

Algumas crianças pequenas juntaram-se, imitando os movimentos como se eles


não pudessem manter os pés fora da dança. Duas mulheres jovens entraram
no círculo e dançaram ao lado das mulheres mais velhas, imitando seus
movimentos. Em seguida, dois adolescentes entraram em cena e adicionaram
movimentos de chutes com as pernas.
Katie tirou seu telefone celular para capturar as festividades. Mais aldeões
tinham entrado na música cantando , e os que não dançavam permaneciam na
formação circular e aplaudiam em ritmo com a batida. A música ficava
repetindo as mesmas linhas, e Katie gostaria de poder entender o que as
palavras significavam.

Uma das mulheres estendeu a mão para Cheryl, convidando-a para a dança.
Cheryl deu um passo adiante, e com movimentos surpreendentemente
semelhantes, ela dançava com as mulheres. Katie nunca teria imaginado Cheryl
dançando tão facilmente e em um ritmo tão perfeito. Jim foi o convidado
seguinte, e então todos os homens da equipe de escavação do poço.

Katie observava Michael entrar na dança, enquanto o outro cinegrafista filmava


o evento. Michael batia palmas e se movia com um estranho tipo de oscilação
do joelho travado. Ela não tinha ido para qualquer dança com ele na escola e
não fazia idéia que ele fosse tão rígido. Katie se sentiu envergonhada por ele de
alguma forma, mas ela sabia que se ela tivesse sido convocada para participar,
os movimentos dela também teriam sido risíveis. Ela olhou em para Eli, que
havia tecido o seu caminho através da multidão. Ele estava em pé perto de um
dos jovens, dizendo algo para ele.

Alguns momentos depois, o som de um tambor começou, e o cantor foi


acompanhado por dois cantores que mudaram o tom. As meninas ainda
agrupadas em torno de Katie levaram a mudança como um convite para juntar-
se a dança. Todas as seis puxaram os braços de Katie e chamando-a para a
pista de dança. A rodearam, todas batendo palmas, e balançando, balançando
e sorrindo. Com as meninas, parecia que não havia jeito errado de fazer isso,
então Katie se soltou e entrou em contato com seu interior de princesa
africana.

Ela estava certa de que ela parecia hilariante com o cabelo trançado batendo
em todas as direções e seus movimentos de garota branca que provavelmente
imitavam o ritmo de uma calopsita treinada sobre a sua vara, celebrando em
alegria por um pouco de ração. Quem se importa!

As meninas riram e Katie riu com elas, o queixo para cima, jogou seu coração
aos céus. Então, para adicionar um pouco de cultura da Califórnia, Katie tentou
um movimento de dança que ela se lembrou de praticar na escola quando ela e
suas amigas dançavam nas suas festas do pijama. Ele não parecia impressionar
as meninas aqui mais do que tinha impressionado as meninas de Kelley High.
Katie riu-se do fora e continuou com o ritmo Africano, se perguntando se em
algum lugar da multidão Eli e Michael estavam a vê-la e se sentiram um pouco
de pena ou até mesmo envergonhados por ela.

Os tambores mudaram o ritmo mais uma vez, e o canto caiu de forma que era
só a bateria, dois deles agora, que estavam ditando a próxima dança. Alguns
dos dançarinos caíram no ritmo mais animado com movimentos mais rápidos.
Mas Katie, juntamente com Jim e Cheryl, saíram do centro das atenções. Em
breve todas as mulheres deram um passo para trás, e só os homens da aldeia
continuaram a dançar. Com as costas, ombros e os braços para os lados, com
as pernas musculosas faziam todos os movimentos rítmicos.

Eli deu um passo adiante e se juntou às dezenas de homens que dançavam.


Katie sorriu. Isso deve ser bom.

Lembrou-se várias vezes na escola durante o ano passado, quando Eli tinha se
mostrado tão desajeitado ao tentar imitar saudações comuns e movimentos de
piadas inteligentes que eram familiares aos da cultura do sul da Califórnia. Ele
realmente não conseguiu fazer o cumprimento de amigos do tipo toque aqui* e
tinha sido lento para pegar os movimentos.

Aqui, na frente dos olhos de Katie, suas habilidades de coordenação entraram


em ação. O queixo de Katie caiu ao vê-lo deslizar para a programação de
dançarinos e seguir os seus movimentos como se ele tivesse feito isso a vida
inteira. Ele era bom. Muito bom. Seus movimentos eram naturais e sinceros.
Era como se Eli ouvisse a canção sentindo a batida, e fosse capaz de interpretar
os movimentos com a facilidade duplicada dos homens ao seu redor.

Katie não foi a única que ficou surpresa. Um dos homens da equipe de
escavação do poço ficou perto de Katie e disse: "É como um desses shows de
competição de dança não é? Onde ele aprendeu a fazer isso? "

"Ele cresceu na África. Está em seu coração. "Ela não conseguia tirar os olhos
dele. Este era um lado de Eli que ela nunca tinha visto, nunca imaginou. Mais
uma vez ela sentiu pontadas de pesar por tê-lo julgado tão apressadamente
quando ela o conheceu.

Os tambores deram uma parada abrupta, e assim fizeram os bailarinos. O


alimento foi trazido para fora em cestas e tigelas. A água potável foi derramada
de recipientes de tamanho de galões de plástico. Eli passeou e ficou ao lado de
Katie, com o rosto radiante.

"Uau, Lorenzo! Você tem os movimentos, menino. "


Ele sorriu para ela, olhando contente, feliz. "Você não estava muito ruim,
mesmo para uma garota da Califórnia."

"Você só está dizendo isso para me fazer sentir melhor. Eu era um boba total lá
fora. "
"Sim, mas você era um boba muito bonita."

Katie olhou para o meio sorriso de Eli que parecia estar se escondendo, e ela
apontou o dedo para ele. "Ok, Lorenzo, eu estou vendo seu sorriso aí. Você não
pode escondê-lo. A verdade está prestes a sair. Você acha que eu pareço um
personagem de desenho animado, não é? "

Deu-lhe um olhar exagerado de inocência e, em seguida, com um sorriso, ele


disse,

"Bem, ok. Talvez um pouco. Mas uma personagem muito bonita. "

Katie sorriu para ele, então, estendeu a mão e tocou-lhe o braço. "Eli, eu
preciso pedir desculpas a você novamente."

Pedir desculpas? Por quê? "Sua expressão ficou séria.

"Sim. Eu preciso pedir desculpas por duas coisas, na verdade. Primeiro, peço
desculpas pela forma como tratei você quando nos conhecemos. Eu olhei para
você de forma errada, ignorei você, e te dei um tempo difícil em todas as
oportunidades que eu tive. "

"Você não precisa se desculpar por isso, Katie."

"Eu acho que eu tenho. Eu não lhe dei uma chance de ser você mesmo e ser
aceito por suas diferenças culturais e suas esquisitices. "

"Minhas esquisitices, hein?"

"Você sabe o que quero dizer. Eu não honrei a diversidade. Existe, como é,
uma maneira politicamente correta de dizê-lo? "

"Está tudo bem, Katie. É compreensível. Eu não me encaixava bem na


Califórnia. Isso foi no passado, você me aceita com minhas esquisitices agora,
não é? "
"Sim. Eu estou apenas muito mais ciente das minhas pequenas esquisitices. Eu
sinto que você está me dando mais graça do que eu lhe dei. Então, obrigada
por isso. E eu sei que dissemos que íamos falar sobre isso mais tarde, mas a
outra coisa que eu quero pedir desculpas é por ter esperado tanto tempo para
falar sobre o dinheiro. Eu pude ver como isso fez você se sentir como se eu não
confiasse em você ou coisa parecida. "

Eli deu de ombros ligeiramente, como se ele já houvesse jogado aquele


encontro tenso no rio e ele tivesse ido flutuando para longe, para os crocodilos
famintos.

"Teria sido bom saber, assim eu não ia ser pego de surpresa. Mas está tudo
bem. Não se preocupe com isso, Katie. Você não precisa pedir desculpas por
ser você mesma comigo. Não há nenhuma esperança para o resto do mundo se
você deixar de ser você. Eu dependo de você permanecer fiel a si mesma em
cada situação. "

"Eu posso fazer isso, mas você precisa saber que eu não posso garantir sua
segurança quando o meu verdadeiro eu está solto. Quero dizer, estamos
falando sobre perseguir macacos selvagens. "

Eli sorriu. "Eu vou correr o risco." Ele pegou a mão dela e deu-lhe um apertão.
"Nós estamos indo longe, Princesa Hakuna Matata. Você vai ver. "

Katie se sentia como se as brasas sempre brilhantes do fogo-Eli que tinham


sido cuidadosamente guardadas no canto de seu coração estavam em chamas
e se espalhavam. Faíscas rosa, dançando como vaga-lumes em uma batida
exótica. Este momento com Eli, ambos cobertos de poeira e suor e cercados
por meninas tentando segurar as mãos de ambos, era um milhão de vezes
melhor do que tinha sido a noite do baile ou qualquer jantar caro com Rick ou
qualquer aniversário que ela já tinha celebrado. Esta era a noite mais dourada
de sua vida, e Katie não queria que ela tivesse fim.Jamais.

Mas no momento em que todas as estrelas tinham saído de seu esconderijo e


mostrado seus rostos brilhantes para a cena abaixo, o momento tinha
diminuído. As crianças pequenas se enrolaram nos braços das suas mães e
adormeceram. Os velhos recostaram-se contentes, esvaziados de todas as
histórias que tinham dado como sobremesa verbal para qualquer um que se
aproximava o suficiente para ouvir
.
Eli foi com Katie de volta ao carro para recuperar sua mochila. A equipe de
escavação tinha oferecido a sua tenda para Katie e Cheryl e se ofereceram para
o acampamento com Eli e os outros caras em uma lona grande e azul que
haviam estendido sob as estrelas.

Eles pararam em uma área que estava iluminada por uma lanterna , onde os
suprimentos de perfuração adicionais estavam empilhados. Eli parecia ter algo a
dizer antes de escoltar Katie para a tenda onde o resto dos falantes de inglês
na área poderiam ouvir a conversa.

"Nós ainda temos muitas coisas para falar", disse ele.

Para Katie parecia que o que precisava ser dito em relação ao momento tinha
sido coberto em sua conversa, a princípio de ouro. Eles não precisavam falar
longamente agora. Na parte da manhã eles poderiam ir para uma caminhada
longa e discutir todas as coisas que haviam sido deixadas inexploradas nas
últimas semanas, incluindo a questão de Eli fazer trabalho de campo por longos
períodos de tempo. Katie estava bastante confiante de que, uma vez que ele
ouvisse sua idéia inspirada de como eles poderiam trabalhar juntos em
angariações de fundos, ele iria mudar de foco. Ela sabia que seus pais
gostariam da ideia. Na maneira de pensar de Katie, eles poderiam falar sobre
isso abertamente no carro a caminho de casa amanhã.

"Você gosta daqui, não é?" Eli perguntou.

"Eu adoro isso. Este foi um dia incrível. "

"Foi."

"Eu posso ver todos os tipos de possibilidades para o futuro."

"Ótimo. Eu me sinto da mesma forma, Katie. Você vai ter que aprender um
pouco mais suaíli, apesar de tudo. "

"Eu estava pensando a mesma coisa. Você pode começar a ensinar-me a


qualquer hora.

"Ok, eu posso fazer isso. De bom grado. "

"Eu tenho ótimas idéias de como podemos sensibilizar e preparar mais equipes
para vir para as aldeias," Katie disse com entusiasmo.

Eli parecia satisfeito. "Você sabe, eu estive orando para que tudo ficasse claro
para você depois que você passasse algum tempo na vila."
"Bem, então Deus realmente respondeu à sua oração, porque de todas as
pessoas, foi Michael quem me ajudou a ver qual é a posição ideal para mim. E
é tão óbvio. Eu não sei como nós não percebemos. "

"Michael a ajudou a descobrir?"

"Sim. É loucura, eu sei. Sua mãe disse hoje que tudo tem um propósito, e eu vi
o que ela quis dizer quando falei com Michael. Ele me ajudou a ver que eu
estou adequada para começar mais angariações de fundos em colégios e
igrejas. Eu posso usar o que você e eu fizemos juntos para o levantamento de
fundos no Rancho como modelo e depois ajustar para cada grupo, trabalhar
com eles. O documentário vai ajudar as pessoas a ver o que está acontecendo
aqui, e você e eu podemos organizar as equipes de trabalho que vão querer vir
e ajudar. É absolutamente perfeito. É como você disse:. Você e eu estamos
indo longe, Eli "

"Espere. Katie, o que você está dizendo? "

"Eu estou dizendo que você e eu podemos trabalhar juntos no escritório e


expandir o trabalho nas aldeias, mas, mais importante, multiplicar os esforços
de angariação de fundos."

"Estávamos tendo a mesma conversa aqui? De onde veio isso? "

"Veio da conversa que tive com Michael".

"Eu pensei que você estava dizendo que você gosta de estar aqui, que você se
sente confortável na aldeia."

"Eu disse".

"Então eu estou confuso. Eu pensei que você tivesse chegado à conclusão,


hoje, que você quer trabalhar comigo. "

"Eu quero".

Nenhum dos dois falou por um momento. Então Katie esclareceu sua resposta.
"Eu quero trabalhar com você no escritório em Brockhurst e fazer todas as
coisas que acabei de listar: Expandir a angariação de fundos, trazer mais
equipes. É a posição perfeita para nós dois. "
Ela viu a expressão no rosto de Eli assumir uma sombra, e quando o fez, ela
percebeu que eles não estavam pensando a mesma coisa.

"Você pensou que eu estava dizendo que eu quero viajar com você para as
aldeias, não é?" Katie supôs.

"Sim. E você pensou que eu iria pular em uma posição no escritório, se fosse
algo interessante como o que você e eu fizemos juntos na Rancho ".

"Sim, eu pensei. Eu me precipitei ." Katie podia ver como, em sua imaginação
exuberante, ela havia deslizado para o passado em sua visão para o trabalho
nas aldeias e havia encaixado Eli dentro do que ela queria fazer.

Nenhum deles falou para um outro momento doloroso ainda.

"Nós dois precisamos pensar antes de conversarmos sobre isso mais adiante."

"Eu me sinto pronta para falar sobre isso agora", disse Katie.

"Eu não.

"Ok". Katie percebeu que ela tinha dado um cochilo à tarde na cabana. Ela
podia estar um pouco mais descansada e pensando mais claramente do que Eli
estava. Esperar até amanhã era provavelmente uma boa ideia.

Ele esfregou a nuca. "Eu pensei que você e eu estivéssemos na mesma página,
mas agora não tenho certeza de que estamos ainda no mesmo capítulo."

O coração de Katie deu um mergulho. Por que ela se sentia tão certa que esta
era a resposta? Ela ainda esperava que Eli iria perceber quão certo seu plano
era para eles. Certamente ele faria quando ele visse toda a imagem da mesma
forma que ela o tinha visto tão claramente quando ela falou com Michael.

"Vamos lá. Devemos chegar à tenda. "Ele pegou sua mochila e saiu como um
homem com um fardo pesado.

A tenda estava perto do caminhão e dos equipamentos de perfuração, que


estavam localizados não muito longe do poço, e no momento, a área estava
bem iluminada.
Katie pensou em Rebecca e como ela em um dia comum na aldeia bem no livro
de Gênesis teve um resultado muito diferente do que o dia de Katie no poço da
aldeia. Rebecca saiu da aldeia na manhã seguinte sabendo que ela ia se casar
com Isaac. Katie deixaria a aldeia amanhã sabendo ainda menos sobre o seu
futuro com Eli do que quando chegaram.

Cheryl já estava dentro da barraca, quando Katie disse boa-noite a Eli com um
abraço e se recolheu .

Ela estava grata quando foi para a tenda, e desejou que eles todos fossem
dormir sob as estrelas. As noites escuras em lugares remotos, enquanto
olhavam para um dossel de estrelas era algo que Katie amava compartilhar com
Eli. Ela queria estar perto dele, para ver o perfil dele quando ele estudasse os
céus. Ela esperava que ele fosse capaz de dormir esta noite e não estar
exasperado sobre a conversa deles.

Katie decidiu que ela não ia se preocupar. Ela não ia ter medo. Deus iria
trabalhar nisso. Ele faria tudo ficar claro para ambos.

Katie lutou no início tentando encontrar a maneira mais confortável para virar a
cabeça com todas as tranças. Foi uma experiência mal sucedida.

"Cheryl", ela sussurrou: "você ainda está acordada?"

"Sim".

"Você pode me ajudar a tirar essas tranças? Eu não consigo dormir com elas no
meu cabelo. É como dormir sobre um travesseiro de cobras. "

"Aqui, sente-se. Você pega o seu lado direito, e eu o esquerdo. "

O destrançar do penteado de Katie levou menos tempo do que o tempo gasto


para trançar. Ela abriu o zíper da tela da barraca e jogou todos os pedaços de
arbustos fora. Por um momento ela permaneceu, olhando para o céu cheio de
estrelas. Ela murmurou uma prece para Eli e depois fechou a porta e voltou
para o seu lado da tenda onde o travesseiro com a fronha da Pequena Sereira
acolheu a cabeça de cabelos desembaraçados.

A luz do novo dia que fluia através da porta parcialmente aberta da tenda foi o
que acordou Katie. Cheryl foi para fora da tenda, e quando Katie olhou para
fora, ela viu que os homens tinham ido embora e os sacos de lona e dormir
foram enrolados e prontos para serem embalados. Tirando seu moletom
quente, Katie rapidamente entrou em uma camiseta limpa. Ela ficou com a
mesma saia que ela usava nos últimos dias, porque parecia inútil colocar um
par de jeans bastante limpos quando as pernas estavam tão sujas.Deslizando
em seus sapatos, Katie arrastou-se para fora da tenda e desejava ter um
espelho. Com as duas mãos, ela podia sentir a maneira que seu cabelo estava
plissado e afofado após a experiência de bilhões de tranças.

Eu aposto que eu pareço um animal de estimação .

Indo direto para o poço, Katie viu uma dúzia de moradores se reunindo em
volta, enchendo baldes com a dádiva preciosa. Katie cumprimentou-os e
esperou sua vez. Ela tinha certeza que ela estava ficando cada vez mais
inclinada a olhar para baixo mais do que o habitual por causa de seu penteado
da manhã, mas até que ela enfiasse a cabeça sob a torneira, ela não poderia
fazer muita coisa.

Quando um dos meninos preparou a bomba para ela, Katie segurou as duas
mãos e chamou a explosão refrescante de água, que ela rapidamente espalhou
em seu rosto e pescoço, pingando água em toda a sua camisa.

Com o segundo derramamento , Katie virou a cabeça e recostou-se para que a


água despejada sobre a cabeça, molhasse o cabelo e esperançosamente
alisasse a penugem. Ela bebeu tanto quanto podia, quando a água escorria da
torneira. Várias crianças pequenas estavam saltitando à sua volta, estendendo
as mãos para o escoamento e divertidamente sacudindo seus dedos molhados
umas para as outra.

Balançando a cabeça como um cachorro, Katie riu com as crianças quando ela
jogou as gotas na direção deles. Sentindo-se revigorada, Katie alisou os cabelos
para trás e se dirigiu para o centro da aldeia. Ela encontrou-se com uma mulher
que estava carregando dois baldes de plástico azul pálido de água, enquanto
uma criança pequena tentava manter-se com sua mãe. "Aqui, me deixe levar
isso para você." Ela acrescentou alguns gestos simples para indicar à mulher
que ela estava tentando ajudá-la.

A mulher entregou os dois baldes e pegou seu filho. Katie pensou nas muitas
mulheres que tinha visto ao lado da estrada durante a viagem até aqui e a
forma como eles tinham pacotes ou cestas equilibradas em suas cabeças. Ela
podia ver agora porque era uma coisa tão boa ter as mãos livres.

Outra mulher estava à frente deles carregando um garrafão plástico de cinco


litros cheio de água. Ela levava seu bebê em um estilingue de tecido que foi
fixado de tal forma que o bebê estava de costas, bem apoiado na tipóia e
dormindo com a cabeça pressionada contra o meio das costas, descansando
entre as omoplatas.
Katie se lembrou de algo que um de seus professores na Rancho Corona muitas
vezes disse para a classe no final de suas palestras. "Agora, vá dormir entre os
seus ombros." Katie nunca havia entendido o que aquilo significava realmente.
Ela sempre parafraseava em sua cabeça como "Vá em paz" ou "Vá com calma e
não se estresse."

Vendo como pacífica e tranquilamente o bebê dormia, era como se ele


estivesse "descansando" entre os ombros de sua mãe, os pensamentos de Katie
tiveram uma imagem do que significa confiar em Deus e descansar.

Entrando na área central da vila, Katie foi recebida por suas pequenas damas-
de-espera, que argumentavam sobre qual delas iria ajudar a carregar os baldes
com Katie. Ambos eram muito pesados para as meninas pequenas tentarem
carregar sozinhas, então Katie continuou carregando os baldes , e as meninas
andaram ao seu lado para a cabana da mulher que ela estava ajudando.

"Asante sana", disse a mulher quando Katie abaixou os dois baldes na sua
porta da frente. Katie tinha sulcos em ambas as palmas de carregar o fardo
pesado . Ela esperava se lembrar deste esforço na próxima vez que ela
simplesmente virasse uma torneira em uma cozinha ou banheiro e a água
fluísse livremente.

As meninas puxaram as mãos de Katie e a levaram para onde Eli e seus pais
foram dar seu adeus ao chefe. Mesmo ela não entendendo as palavras que eles
trocaram, ela pôde ver que muito respeito e amor havia entre eles.

Eli virou-se para Katie e fez sinal para ela encontrá-lo no lugar onde eles
haviam conversado na noite anterior. Ela esperou lá com seu pequeno séquito
e viu quando Eli veio em sua direção com a cabeça baixa e dando passos
longos. Ele disse alguma coisa para todas as meninas, e elas se espalharam.

"O que há de errado?" Katie perguntou.

"Eu só queria que fosse nós dois."

"Okay. Mas ainda assim, o que está errado? Eu posso dizer que algo está
errado. "

Ele olhou para cima e encontrou o olhar dela. "Eu preciso tomar algumas
decisões.
Algumas decisões muito grandes. Na verdade, eu já fiz a primeira decisão. "
Katie sentiu um baque no estômago ."Eu decidi continuar com a tripulação."

" O que você está dizendo? "

"Eu não vou voltar para Brockhurst hoje com você e meus pais. Eu já lhes
disse, e eles disseram que entendem. Agora eu estou esperando que você
entenda também. "
"Ok, o que é que eu vou entender?"

"Eu preciso saber se ir de vila em vila é o que eu deveria focar. Eu não acho
que eu vou saber se eu não der uma chance. É por isso que eu estou indo para
a aldeia mais próxima com a equipe e estarei lá alguns dias. "

"Você vai com a equipe de escavação do poço?"

"Não, com a equipe de vídeo. Eles estão filmando em duas aldeias mais antes
de retornar ao Reino Unido. "

Katie sentiu o baque no estômago novamente. "Você vai passar os próximos


dias com o Michael?"

"Meu pai tem a informação sobre onde estaremos e quando. Volto a Brockhurst
em uma semana.Duas no máximo. "

Katie se sentia como se todo o ar estivesse sendo espremido para fora de seus
pulmões. Com a voz embargada, ela disse, "Por que você está fazendo isso?"

"Eu preciso saber, Katie. Eu preciso ver como é ir de vila em vila, e essa é a
oportunidade perfeita. A equipe de filmagem só está aqui para mais alguns
dias. Quando eles forem embora, eu vou ficar por um tempo na última aldeia
com a equipe que está trabalhando na escavação de um poço lá. Eu vou pegar
uma carona de volta para Brockhurst. Temos tudo deu certo. "

"Eli ..."

Eu preciso fazer isso, Katie. Eu realmente espero que você entenda. "

Ela golpeou uma mosca que parecia ter a intenção de utilizar sua testa como
uma pista de pouso. Nenhuma palavra chegou até ela.

Eli olhou por cima do ombro e, em seguida, olhou para ela. "Katie, eu tenho
que ir." Ele tocou o lado de seu rosto, gentilmente acariciando seu rosto com os
dedos ásperos. "Mpaji ni Mungu."

"Mpaji ni Mungu", ela repetiu em voz rouca. Naquele momento, porém, ela
estava achando difícil de acreditar que Deus iria ser o seu sustentáculo.

Eli se inclinou e roçou os lábios dela com o seu, um beijo leve . Era mais como
se os seus lábios estivessem dando um aperto de mãos.

Katie abriu os olhos, e ele já estava indo embora. Ela observou-o ir,
pressionando os lábios como se estivesse tentando se agarrar ao seu beijo
breve e tentando o guardar em sua memória.

Eli estava a cerca de vinte metros de distância quando ele parou, virou-se e
olhou para Katie. Ele colocou sua mão em seu coração e bateu três vezes,
assim como havia feito na última primavera, uma vez na cafeteria e uma vez no
casamento de seu tio Jonathan. A mensagem para Katie era clara. Eli a tinha
em seu coração.
Katie colocou a palma da sua mão direita sobre o coração e respondeu batendo
três vezes.

Eu te amo, Eli. Você não percebeu isso ainda? Eu te amo.

CAPÍTULO 17

Katie não lembrou muito da primeira parte da viagem de volta para Brockhurst.
Suas emoções a levaram para um lugar profundo, e ela conseguiu tirar um bom
cochilo ao longo das estradas esburacadas. Ela fechou os olhos para a
paisagem Africana deslumbrante, Jim e Cheryl, e especialmente para o espaço
vazio ao seu lado no banco traseiro do carro. Eli teria se sentado ao seu lado se
ele tivesse voltado para casa com eles.

Por um tempo, ela deixou-se ficar com raiva. Ser ignorada, abandonada,
deixada de fora - essas foram as feridas fundamentais para Katie em sua
infância. A decisão de Eli de a deixar do jeito que ele fez foi mais doloroso para
ela do que ela tinha certeza que ele imaginava. Isso era algo que ela precisava
superar. Ela precisava confiar em Deus de formas mais verdadeiras. Ele era o
único que nunca a deixaria, nunca a abandonaria. Ela sabia disso.

Em sua mente, Katie tentou voltar a ver a imagem de Eli batendo no peito
sobre o seu coração antes que ele a deixasse. Ele estava se comunicando que
ele queria que ela fosse com ele. Ela precisava se agarrar a esse pensamento.

Em um pequeno trecho, quando a estrada estava tranqüila, Katie quase se


convenceu de que tudo ia ficar bem. Ela era forte, corajosa e capaz de resistir a
separação.

Tanto Eli quanto ela poderiam lidar com isso. Isto só ia trabalhar no conjunto
para a boa solidificação do relacionamento. Por uma questão de fato, foi
exatamente isso o que ambos disseram que precisavam orar sobre - que seus
corações se fortalecessem. Era a segunda parte do versículo em 1
Tessalonicenses 3, e era assim que parte de sua oração estava sendo realizada.

Mas e se a conclusão de Eli no final deste tempo fosse que ele estivesse
determinado a estar nas aldeias, e minha conclusão fosse que eu estivesse
determinada a ajudar em Brockhurst? Como poderemos ir longe e construir um
relacionamento de longo prazo, e possivelmente até mesmo um casamento, um
dia, se estivermos vivendo e trabalhando em locais diferentes? Locais onde o
telefone celular de Eli não vai nem mesmo trabalhar.

Não, isso não estava garantido que iria terminar bem.

Quando Katie ia continuar com o cochilo, ela pode ouvir Cheryl e Jim falando
em voz baixa. Ela imaginava que era difícil para os dois, no carro pequeno,
dizer tudo o que queriam sobre Eli decolando e indo para as aldeias. Será que
eles sabiam que Katie estava do lado deles, se houvessem lados nisto? Katie
também queria que Eli trabalhasse no escritório em Brockhurst .

Se Eli acabar indo para as aldeias, eu precisarei anular o que eu gostaria de


fazer e segui-lo onde quer que ele acredite que Deus está levando-o? É assim
que isto funciona? Se o nosso relacionamento está indo para o casamento,
então o casamento é uma série de compromissos, certo?

Katie pensou em como era estranho que enquanto participava de um colégio


cristão ela tinha ouvido tantas conversas na capela sobre não baixar os seus
padrões e não comprometer seus objetivos. Por que esse era o lema durante a
época de solteiro, mas não aplicável no casamento? Não faz sentido que uma
vez que você encontra a pessoa com quem você quer se casar, então você tem
de desistir de seus próprios objetivos e fazer algo que está fora de seus pontos
fortes.

Ou essa é a forma de determinar se você realmente se destina a estar com


alguém? Seus objetivos de vida precisam combinar perfeitamente antes que
você saiba se vocês são certos um para o outro? Isso é tão frustrante!

Jim e Cheryl estavam discutindo a decisão de Eli com palavras mais altas, e
algo que Katie ouviu a fez perceber que os pais de Eli estavam se perguntando
se Katie tinha sido a única a convencer Eli a tomar esta decisão de última hora.
Todas as suas cruas emoções queimaram. Ela se agitou no banco traseiro para
dar-lhes o aviso que ela estava "acordando".

Parecia que a melhor maneira de tornar as coisas claras para Jim e Cheryl era
mergulhar no tema de como ela queria organizar o esforço de angariação de
fundos e criar uma mesa no escritório. Quando ela jogou para fora algumas de
suas ideias a Jim, seu entusiasmo cresceu. Cheryl parecia ter reservas a
princípio. Mas então, quando Katie passou a explicar algumas das maneiras que
ela e Eli haviam organizado o evento na Rancho, ambos pareciam captar a
visão e vibravam com muito mais ideias. Cheryl tirou um caderno para tomar
notas, e Katie se sentiu entusiasmada com a construção de um plano.

"Você disse essas idéias a Eli?" Cheryl perguntou.

"Sim, eu disse a ele ontem à noite. Eu pensei que ele iria pegar a visão
também. Eu nunca esperei que ele fosse partir e ir para outras aldeias. "Katie
sentiu-se vingada depois de fazer essa afirmação. Ao mesmo tempo, ela sentiu
uma dor, sabendo que seria pelo menos uma semana, e talvez duas, antes que
ela visse Eli. Nenhuma quantidade de estar certa aos olhos de seus pais
poderiam compensar isso.

"Estamos tendo um momento difícil tentando compreender a decisão dele",


disse Jim
.
"E ao mesmo tempo, estamos tentando ser solidários", Cheryl acrescentou.
"Queremos que ele faça o que ele se sente chamado a fazer e ir onde o Senhor
o leva. Nós apenas tinhamos outras idéias para ele, isso é tudo. "

Katie sentiu uma inesperada espécie de camaradagem doce com Cheryl.


Surpreendeu-lhe como sentir empatia por alguém diminuiu a sensação de sentir
pena de si mesma.

"Eu acho que todos nós teremos que esperar e ver o que acontece", disse
Katie. Mais do que tudo, ela queria ser uma voz clara que torcia por Eli, o
apoiava e acreditava junto com ele que Deus o estava dirigindo. Sendo que o
apoio inabalável era muito mais difícil do que ela pensava que seria.

Eles chegaram de volta em Nairobi depois de escurecer, se sentindo como


viajantes cansados, ansiosos para comer alguma coisa antes de seguirem até a
colina para Brockhurst. Jim estacionou o carro, e os três se dirigiram para um
restaurante de aparência moderna chamada Nairobi Java House. Assim que
Katie entrou, ela pensou que estava de volta na faculdade, visitando um dos
cafés que ela e seus amigos costumavam frequentar.

Os três deslizaram em uma cabine, e Katie olhou em volta, encantada com a


decoração moderna, com um teto alto e longo com lâmpadas mais baixas
penduradas . As paredes amarelas manteiga foram acentuadas por peças
dramáticas de arte, e a madeira parecia brilhar na iluminação âmbar.

"Que lugar divertido", disse Katie.

"É o nosso favorito. Você quer tentar algo local? Ou gostaria de algo como um
sanduíche de peru no pão branco? "

"Eles têm isso aqui?" Katie abriu o menu e correu a extensa lista de ofertas.
"Será que eles têm almondegas de avestruz ?"

"Não, isso é de outro lugar favorito nosso. Nós vamos levar você lá algum dia. "

"Você sabe o quê? Que tal se vocês me surpreenderem? "Ela fechou o menu.
"Eu vou encontrar o banheiro e lavar-me muito mais do que eles provavelmente
querem que eu faça. Espero que eles tenham muitas toalhas de papel. "

Eu vou acompanhá-la. "Cheryl saiu e entregou a Jim seu menu. "Você pode
encomendar o meu habitual?"

"O que eu devo comprar para Katie?"

"Peça para ela o habitual de Eli . Eu acho que ela vai gostar. "

As duas mulheres fizeram o seu caminho para o banheiro, onde Katie olhou no
espelho grande pela primeira vez em três dias. Ela riu em voz alta. Seu cabelo
parecia o de uma boneca de pano. Embora ela tivesse enfiado a cabeça
embaixo da torneira, naquela manhã, alguns setores mantiveram a dobra das
tranças. Ela tinha um traço de lama em seu pescoço, e seus olhos estavam
vermelhos.

Apontando para o seu reflexo, Katie disse: "Agora eu sei o verdadeiro motivo
de Eli ter saído correndo."

Cheryl sorriu do comentário modesto de Katie , mas não o completou ou o


diminuiu. As duas pareciam muito abatidas.

Katie apontou para a pia moderna. "Será que ela te assusta às vezes indo às
aldeias e, em seguida, voltando para a civilização? Quero dizer, isto parece um
luxo. Água corrente, lavabos, bebidas de café expresso."

"Nós passamos os nossos anos anteriores na aldeia, por isso não sinto isso
como incomum para mim. Eu não vou para as aldeias muitas vezes agora, mas
eu amo estar lá. Então, não, eu não acho que seja assim para mim. "Cheryl
lavou o rosto e penteou o cabelo limpo com os dedos.

"O que é que você mais gosta em estar em uma aldeia?"

Cheryl olhou para suas mãos e, em seguida, lavou-as uma segunda vez,
tentando remover a sujeira sob suas unhas. "Há algo elementar sobre a vida
nas aldeias que sempre me seduziu. Os princípios são os mesmos em todo o
mundo, não importa onde você vive, não são? As mães amam seus filhos, as
crianças riem e brincam, os jovens perseguem mulheres jovens. "Cheryl sorriu,
pegando os olhos de Katie, uma vez que ambos se olharam no espelho.

"Você não deveria adicionar que as mulheres jovens que estão prontas a serem
perseguidas são deixadas para trás quando os homens jovens fogem para
outras aldeias por semanas em um tempo para pegar os seus sonhos?" Katie
esperava que seu sarcasmo não estivesse sendo muito forte.

"Na verdade, não. Isso não aconteceria em uma aldeia. Os homens jovens
iriam perseguir as mulheres jovens, e, em seguida, aqueles jovens se casariam
com as mulheres jovens ".

"E então o que aconteceria?"

"O que mais?" Cheryl disse com um toque inteligente na sua voz. "Eles dão
netos para as mães felizes."

Katie não estava pronta para descer a trilha. Tudo o que ela queria fazer era
descobrir o que viria a seguir para Eli e ela.
"Ouça". Cheryl pôs a mão no ombro de Katie. "Tudo vai se resolver, Katie. Deus
o fará. Tudo tem um propósito."

Eu sei. "Katie ouviu o tom irreverente em sua voz e tentou adicionar um


arabesco espiritual para benefício de Cheryl. "Deus tem um plano para nós,
juntos ou separados. E é um bom plano. "

Katie odiava que ela tivesse acabado de jorrar a resposta "certa" do jeito que
ela tinha ouvido muitos outros fazendo quando ela estava em Rancho Corona.
Era como se, sempre que alguma coisa dava errado, o padrão era definido com
um som-robô "Deus está no controle", e isso poderia explicar a dor ou a
complicação de vida.

Katie acreditava nessa verdade com todo seu coração. Mas ela preferia
tranquilamente acreditar, confiar e esperar para ver como Deus ia fazer uma
das suas coisas-de-Deus, ao invés de girar o botão para uma resposta
automática. Ela nunca quis soar velha ou banal. Ela queria soar como uma
amiga de Deus.

Era difícil dizer se Cheryl teve a resposta de Katie como sincera. Ela deu a Katie
um sorriso maternal, e as duas saíram do banheiro e voltaram para sua cabine.
Quando se sentaram, Jim apontou para a bebida esperando Katie. "É um
macchiato Malindi. Isso é o habitual de Eli. Vamos ver o que você pensa sobre
isso. "

Katie deu um aceno agradecido a Jim quando ela pegou a alça da caneca de
café de vidro e percebeu o desenho rabiscado no chocolate em cima da
espuma. Antes que ela tomasse um gole da bebida fumegante, Katie pensou no
quanto Rick gostaria deste lugar. Ele ia querer estudar o cardápio e provar os
pratos de amostra. Nicole iria tirar fotos das cadeiras, janelas e luminárias.
Juntos, eles encontrariam uma maneira de incorporar alguns dos elementos
deste lugar em um de seus novos cafés. E eles ficariam felizes.

Katie fez uma pausa, percebendo que ela só pensava em Rick e Nicole como
um casal sem pontadas de dor ou arrependimento. Ela estava realmente feliz
por eles. Ela queria-os bem. Essa percepção pequena deu a Katie um sentido
inesperado de esperança sobre Eli que ela não conseguia explicar.

"Vá em frente. Tente isso. "Jim acenou para o macchiato Malindi.

Katie tomou o primeiro gole e fechou os olhos, deixando-o deslizar para sua
garganta lentamente. "Oh, isso é bom. Muito picante. Eu posso ver porque Eli
gosta. Ele acorda sua boca. "

A próxima oferta inspirada em Eli chegou na mesa só então: Masala fritas. Os


três dividiram o prato como um aperitivo. A espessura do corte das batatas
fritas que tinham um molho picante regados por cima fez Katie querer lamber
os dedos e pedir um segundo lote.

Seus sanduíches chegaram, e o de Katie era um com bacon , queijo torrado e


tomate, agradável e crocante. "Este é o favorito de Eli? Sério? "

Cheryl balançou a cabeça quando ela deu uma mordida em seu hambúrguer.
Katie estava invejando a refeição de Cheryl, porque parecia um hambúrguer
grande e fazia meses que Katie tinha comido um. O hambúrguer veio mesmo
em um pão com gergelim com alface, tomate, picles e, era igual ao que ela
comia o tempo todo na Califórnia. Da próxima vez que ela viesse aqui, Katie iria
requisitar um desse para si mesma. Ela iria pegar as batatas Masala
novamente, mas ela iria pedir um hambúrguer em vez de um sanduíche de
queijo torrado.

Katie salvou o último gole do macchiato Malindi para beber no final de modo
que ela teria o adorável e picante gosto na boca o resto do caminho de casa.
Ela balançava o gole final e se lembrava de como ela e Eli tinham lutado de um
modo divertido pelos resíduos do mocha, sua bebida compartilhada em seu
segundo dia em Brockhurst. Se ele estivesse aqui agora, ela provavelmente iria
deixá-lo tomar o último gole de seu macchiato. Isso era o quanto ela sentia
falta dele.

Katie olhou ao redor do café acolhedor, mais uma vez antes de saírem. Se ela e
Eli nunca tiveram um encontro, que segundo ele não foi o que fizeram, ela
gostaria que ele a trouxesse aqui. Eles podiam cada um pedir um macchiato
Malindi e saborear os seus próprios resíduos.

O cansaço da viagem parecia conversar com todos eles depois que os seus
estômagos estavam cheios. Eles caminharam lentamente para o carro, e no
escuro da noite, eles se dirigiram até a estrada montanhosa, menos
congestionada.

Enquanto dirigiam perto de Brockhurst, Cheryl verificou seu celular e soltou um


baixo,

"Oh, querida."
"O que foi?" Jim perguntou.

"Eles descobriram onde está Evan".

Katie se inclinou para frente. " O Marido de Callie?"

"Sim. Ele foi espancado e deixado para morrer. "

Katie prendeu a respiração.

"Callie enviou a mensagem. Ela disse que ele está recebendo atenção médica, e
ela se foi para estar com ele. Ela deixou as crianças com Ester, em Brockhurst e
quer saber se nós vamos pegá-los quando voltarmos. "

"É claro", disse Jim. "Vamos colocá-los no quarto de Eli".

Katie se ofereceu para ajudar com as crianças ou fazer qualquer outra coisa
que pudesse.

Apesar de estar morta de cansaço, Katie se sentiu muito feliz ao abrir a porta
do seu quarto pequeno e ver todos os confortos que tinham sido fornecidos a
ela lá. A primeira coisa que fez foi tomar um banho. Não uma chuveirada, mas
um banho. Foi apenas a segunda vez que ela havia usado a banheira, porque
parecia um luxo consumir toda aquela água , quando uns cinco minutos ou
menos de chuveiro iria fazer o trabalho. Hoje à noite ela precisava ficar de
molho e usar o bocal do chuveiro para lavar o cabelo ondulado.

Quando Katie caiu na cama e sentiu os lençóis frescos e perfumados, ela se


considerou a mulher mais rica do mundo. Estendendo-se no quarto escuro e
pacifico, ela ouvia os sapos coaxarem afastados sob a janela do banheiro que
estava meio- aberta para deixar entrar a brisa da noite calma. Estava aberta
apenas uma polegada. Não o suficiente para dar lugar a quaisquer macacos
reais ou imaginários.

Qual seria a sensação de se casar? Ir para a cama em uma noite como esta e
se deitar ao lado do homem com quem vou passar o resto da minha vida?

Seus pensamentos felizes foram radicalmente alterados quando ela pensou em


quão diferentes as noites seriam indo para a cama em uma cabana de barro em
uma aldeia. Katie sempre se considerava uma mulher sem complicações, de
baixa manutenção. Ela não precisava de muito para sobreviver. Ela não se
importava de estar suja e desgastada. Em um momento como este, porém, ela
certamente gostava de sua banheira e cama.

Katie pensou em alguns meses atrás, quando ela e Cris tinha ido para Newport
Beach e tiveram que dividir uma cama grande na casa da tia de Cris Marta e do
tio Bob. Na época, Katie tinha percebido o que deve ser para Cris e Ted dormir
um ao lado do outro todas as noites. No meio desses pensamentos sobre como
Cris Ted eram importantes um para o outro, Katie tinha percebido que ela e
Rick não estavam unidos no coração da maneira que Cris e Ted estavam
.
E essa foi a noite que Katie decidiu romper com Rick.

Ela deixou seus pensamentos flutuarem de volta ao dia em que ela terminou
com Michael. Ela não tinha praticado o que ela ia dizer, mas ela decidiu que ela
iria dizer a ele no estacionamento da escola no final do dia para que ela
pudesse subir em seu velho carro, o buguinho, e ir embora antes que ela
mudasse de ideia. Eles não chegaram até o estacionamento. Michael estava
esperando por ela em seu armário, e ela deixou escapar seu anúncio com
precisão cruel. "Eu estou rompendo com você, e não há nada que você possa
dizer ou fazer para mudar minha mente."

Michael estava certo. Eu lhe devia um pedido de desculpas.

Ela não tinha dito adeus a Michael quando eles deixaram a aldeia, também. No
dia, Katie estava muito dormente do anúncio de Eli para dar a Michael um
último adeus. Ela desejava agora ter feito isso. Apesar da impetuosidade de
Michael, ele merecia coisa melhor.

Katie pensou em Eli estando com Michael e o outro cinegrafista em uma noite
numa nova aldeia. Sem dúvida, eles estariam novamente estendidos sobre uma
lona sob as estrelas. O que os rapazes falavam em uma "festa do pijama" como
essa? Será que falariam sobre ela? Katie não gostou dessa possibilidade. Ela se
perguntou como Eli iria lidar com as maneiras diretas de Michael.

Fechando os olhos e puxando os cobertores por cima dos ombros, Katie deu-se
uma ordem hakuna matata final e voltou-se para o lado, ansiosa por um sono
profundo e um doce sonho.

Ela acordou quando ainda estava escuro. Seus olhos se arregalaram nos
arredores de sombra. Seu coração batia forte. Ela havia tido o sonho de sua
infância. Memórias de coisas que realmente tinham acontecido pareciam ter
inspirado uma espécie de sonho em que ela estava vendo a si mesma como
uma menina.

Revirando na cama, ela ouvia os sons ainda da noite: uma gargalhada distante
de um sapo, o constante tique-taque do despertador que tinha apanhado no
armário-de- Compartilhamento. No conforto e segurança da escuridão, ela
deixou seus pensamentos voltarem a sua infância, prestando atenção nos
pontos de gatilho que tinham ficado com ela do sonho.

Ela lembrou de um momento em que ela não tinha mais que quatro ou cinco
anos e tinha impulsivamente irrompido pela porta da frente da casa e
encontrou seus pais em uma discussão acalorada. Em vez de voltar ao seu
quarto como de costume, Katie tinha marchado para a briga com as mãos nos
quadris e falou algo que tinha ouvido no dia anterior em uma seriado.

"Vocês dois precisam alugar um quarto!"

Ela não tinha idéia do que significava, mas na televisão os atores riram.

Na vida real, os pais pararam de lutar e olharam para ela, e por um momento
pareciam ter esquecido do que eles estavam com raiva. Seu pai sorriu para ela.
"De onde você tirou isso?"

Deleitando-se em ter sua atenção, Katie imitou outra cena que tinha visto em
uma velha reprise. Com uma oscilação pequena engraçada de sua cabeça, ela
disse: "Eu tenho um milhão deles."

Foi quando sua mãe riu, e foi o som mais doce que Katie conseguia se lembrar
de ouvir dos lábios de sua mãe.

Fechando seu momento sob os holofotes, Katie lembrou de acenar, igual ela
tinha visto pessoas engraçadas fazerem um número de vezes em shows e
dizendo: "Obrigado, obrigado. Eu vou estar aqui toda a semana. "

Ela tinha seus pais rindo e olhando para ela com uma curiosa mistura de apreço
e admiração. Ela se lembrava de como suas expressões a fizeram sentir. Ela
também recordava da diretiva que parecia ter sido escrita em pedra em seu
coração naquele dia. Para obter o amor dos meus pais - ou ao menos para
gostarem de mim, eu preciso fazê-los rir.

Katie sentou-se na cama e respirou fundo. Ela estava tão cansada. Seu
subconsciente estava tentando montar o quebra-cabeça-Eli para ela em seu
sono? E se ela tivesse cortado e colado essas crenças infantis em sua vida
como adulta?

Para Eli gostar de mim, não, me amar, eu preciso sempre ...

Parou-se antes de preencher o vazio. Ela não queria escrever as verdades mais
falsas para si. Esse sistema de crença tinha ido então. Ele havia sido
desmantelado. Isso era o agora. Quando ela embarcou no avião em San Diego
e foi para o Quênia, ela o fez como um ato de fé. De certa forma, poderia ser
considerado um ato de obediência.

Katie sabia que ela não queria o tipo de vida em que ela desfiava um chavão
sobre Deus estar no controle, enquanto em seu coração, ela estava tentando
manipular as circunstâncias para garantir que o resultado fosse o que ela
queria. O que era verdadeiro, genuíno e duradouro tinha que prevalecer, ela
acreditava nisso, realmente acreditava nisso, com todo seu coração, alma, força
e mente. Se ela acreditava que Deus sabia o que era melhor e estava
trabalhando em tudo com um propósito, então ela poderia viver cada dia com
confiança e esperança.

Porque a minha esperança está em Deus ", murmurou Katie na escuridão. "E
ele nunca me abandonou e nem deixou de me amar."

Com essa declaração verbal, Katie deitou-se, puxou os cobertores, e pensou


sobre o conselho de Cris para apreciar os "que e se" em relação ao
desdobramento de Katie com Eli e para experimentar o mistério de cavalgar no
interior do desconhecido.

Então Katie chorou um pouco, porque o seu espírito exausto não sabia mais o
que fazer.

CAPÍTULO 18

Na manhã seguinte, Katie se ofereceu para cuidar das três crianças mais novas
de Callie e Evan . Ela levou-os para fora para a grande área aberta do centro de
conferências e se divertiu inventando jogos para eles jogarem na grama. Eles
sabiam alguns jogos das crianças da aldeia onde viviam, e Katie tentou ensinar-
lhes o jogo que ela tinha aprendido no início da semana na aldeia que havia
visitado. Depois que todos eles haviam brincado até a sede, Katie reuniu-os
perto e perguntou quem queria ir para a cova dos leões com ela para conseguir
algo para beber .

Três mãos dispararam. Elas eram crianças tão bonitas. Tão bem-comportadas.
Ela poderia facilmente imaginar Eli em um grupo como este pequeno rebanho
enquanto ele estava crescendo em uma aldeia da mesma forma que eles
estavam. Para eles, subir em árvores e brincar com pequenas pedras e galhos
era normal.

Em seu caminho para a Cova dos Leões, a menor filhote da ninhada de Katie
disse: "Sabe o que nós ganhamos ontem à noite, Katie?"

"Não, o quê?"

"Adivinha".

"Ok, me dê uma pista."

"Foi uma coisa gostosa . Uma coisa muito gostosa. "

Sua irmã disse: "Você está dando dicas demais."

"Tente adivinhar", a pequena boneca perguntou novamente.

"Foi um brinquedo novo?"

"Não."

"Um DVD?"

Todas as três crianças se entreolharam como se eles não tivessem certeza do


que era aquilo.

"Você quer dizer um filme?"

"Sim, um filme", disse Katie. "Você recebeu um novo filme?"

"Não."

"Eu desisto."

"Foram maçãs! Cada um de nós tivemos a nossa própria maçã para comer
antes de irmos para a cama. As maçãs são minhas favoritas. Eu tinha uma
maçã inteira para mim. "

A simplicidade e doçura da alegria daquela pequena menina bateu em Katie de


forma profunda. Ela pensou em todas as vezes enquanto crescia quando sua
merenda escolar vinha com uma maçã na bandeja e ela levianamente jogava
fora. Era apenas uma maçã. Uma maçã estúpida. Não um biscoito ou um
sorvete. Uma maçã. No entanto, para uma criança que tinha crescido com
muito pouco, uma maçã inteira era melhor do que um brinquedo novo ou DVD.

Quando Katie entrou na Cova dos Leões com sua comitiva, ninguém estava
trabalhando atrás do balcão. "Vocês peçam o que quiserem", disse Katie. "Vou
fazer para vocês." Ela foi atrás do balcão e lavou-se quando Adam leu o menu
para suas irmãs e eles decidiram o que queriam.

"Dois sucos de laranja e um leite, saindo", disse Katie depois que eles fizeram
seus pedidos. Ela colocou-os em uma das mesas e puxou o laptop da bolsa no
ombro.

"Você está trabalhando?" Adam perguntou.

"Mais ou menos. Eu estou checando meus e-mails. "

"Podemos enviar um e-mail para o nosso pai?" Adam perguntou.

"Eu tenho uma idéia melhor", disse Katie. "Por que vocês não fazem desenhos
para ele?"

Lembrou-se de ver uma caixa de lápis de cor e papel na gaveta de uma mesa
perto da lareira. Katie deslizou fora para pegar os itens, e quando ela retornou,
passou-os para as crianças e lhes disse que tinha certeza de que seus desenhos
fariam seu pai feliz.

Com os três ocupados desenhando, Katie se deteve em seus e-mails. O


primeiro que abriu era de Nicole. Em sua maneira doce, Nicole deu a Katie uma
visão geral de como ela e Rick chegaram a sua decisão de se casar em outubro.
A Rick e Nicole foi oferecida a oportunidade para renovar um restaurante em
Nova York . Como Nicole descreveu, uma vez que Rick e seu irmão já tinha
vendido os seus outros cafés , o momento era perfeito para Rick e Nicole
assumirem este novo empreendimento.

Nicole também deixou claro que ela queria dizer a Katie tudo isso, mas não
tinha sido capaz de se conectar com ela antes de sua boa notícia ser anunciada.
O fim do e-mail de Nicole dizia:

Quando você tiver uma chance, eu estou ansiosa para ouvir todos os detalhes
sobre você e Eli. Tanto Rick quanto eu amamos as fotos que você postou de
vocês alimentando a girafa. Rick disse que parecia que você estava brilhando
nas fotos. Pensei que Eli parecia muito brilhante também, do jeito que ele
estava olhando para você.

Se há alguma chance de que você e Eli estejam voltando de alguma forma, em


outubro, nós gostaríamos que vocês viessem ao nosso casamento. Eu queria
explicar que eu não pedi que você seja uma das minhas damas de honra por
causa da distância. Eu quero que você saiba, Katie, que, se você ainda
estivesse aqui, teria sido a primeira a quem eu teria perguntado.

Eu sinto falta de você, Katie. Escreva-me quando puder. Rick diz oi. Diga oi
para Eli por nós.

Abraços,
Nicole

Katie se inclinou para trás e verificou seus pequenos artistas. Eles ainda
estavam ocupados colorindo. Ela deixou o e-mail de Nicole assentar-se dentro
dela. Parte dela sentia-se um pouco estranha e desconfortável. Isso foi
principalmente porque as palavras de Nicole atraíram imagens dela e Rick
aninhando-se juntos, tão apaixonados, tão ansiosos para sonhar juntos sobre o
seu futuro e seguir em frente com esses sonhos. Katie se sentia como se ela e
Eli estivessem em pausa. Ela disse a si mesma que estava tudo bem. Eles
estavam em pausa por um momento. Eles não estariam em pausa para sempre.

Eu acho que é fácil para alguns casais descobrir o que está próximo e fazer o
compromisso com o outro sem esforço, como Rick e Nicole. Eli e eu não somos
esse tipo de casal.

Katie não conseguia identificar exatamente que tipo de casal eles eram, mas
então ela decidiu que não precisava fazer quaisquer declarações a Nicole,
mesmo que ela houvesse pedido mais detalhes. Katie gostou de manter as
impressões de Rick e Nicole como estavam - que Eli e ela estavam felizes e que
vir para cá foi a decisão certa para ela.

Katie trabalhou em sua resposta para Nicole, mantendo-a curta e desejando a


Nicole e Rick todo o melhor que Deus sonhou para eles. Sua linha final foi
simplesmente,
eu vou dizer a Eli que você disse oi, e eu vou mantê-la atualizada.

Ela deixou os detalhes da sua vida amorosa por aí. Katie sabia que ela e Nicole
nunca poderiam ser as mesmas amigas de conversas da meia-noite que tinham
sido na faculdade. Essa época de sua amizade tinha acabado. Seria sempre
Nicole e Rick daqui em diante, assim como a relação dinâmica com Cris mudou
quando ela e Ted se casaram. Katie e Cris conseguiram se ajustar. Ela esperava
que ela e Nicole fossem capazes de se adaptar também.

Katie passou o resto de seus e-mails rapidamente e viu-se sorrindo quando ela
veio para um de Cris. Ela leu a atualização sobre como o pai de Ted havia
encontrado uma mulher sobre quem ele estava falando sério e quão grande
isso era, uma vez que seus pais se separaram logo após Ted nascer. Agora o
pai de Ted estava recebendo uma segunda chance no amor.

O e-mail de Cris chegou a dizer:

Eles se conheceram nas Ilhas Canárias, e Ted acha que se eles se casarem, é
onde o casamento será. Eu verifiquei um mapa, e as Ilhas Canárias são ao
largo da costa da África Ocidental. Então isso significa que se eu acabar indo
para as Ilhas Canárias algum dia próximo, ou então para o casamento deles,
então vou ter que voar para o Quênia para ver você e Eli.

Katie olhou para fora da janela da Cova dos Leões. A possibilidade de Ted e
Cris virem para o Quênia era um pensamento delicioso, e ela o saboreou um
momento até que seu próximo pensamento voltou a azedar o seu espírito. Até
o pai de Ted está prestes a se casar. Eu não acho que eu posso ler mais e-
mails sobre as pessoas que estão tendo fáceis e alegres tempos em seus
relacionamentos. Tudo está me fazendo sentir falta de Eli ainda mais. Isso é
tortura.

Ela fechou o laptop e disse para as crianças: "Vamos ver os seus trabalhos
artísticos fabulosos."

As crianças levantaram seus desenhos para que ela os admirasse. Ela tentou
fazer toda a espécie de sons e acenos afirmativos quando cada um deles
entrava em detalhes explicando o que tinha feito e por quê.

Adam tinha escolhido um carro estilo caixa com cinco faces redondas. Nenhum
dos rostos tinham sorrisos. No topo do carro estava uma figura de uma pessoa
sentada, e atrás do carro ele havia desenhado figuras de pessoas que levantam
suas armas.
"Eles estão gritando para nós partirmos", explicou.

No canto direito inferior, ele desenhou uma pequena cama e uma outra figura
de seu pai deitado na cama.

"Este é o seu pai?" Katie perguntou.

"Sim. Ele está ficando melhor agora. Mas ele tem que ficar na cama e
descansar primeiro. "

"E quem é este em cima do carro?" Katie perguntou.

Todas as três crianças olharam para ela como se surpresos que ela não
soubesse a resposta. "O nosso anjo da guarda, é claro."

"Claro."

Katie pensou sobre anjos da guarda de novo no final da semana , quando ela
estava caminhando para o escritório depois do almoço. Ela tinha ouvido dizer
que Evan estava sendo liberado do hospital naquele dia e seria levado para
Brockhurst para se recuperrar e estar com Callie e seus quatro filhos. Uma das
mulheres que estava na mesa com Katie na hora do almoço havia dito que
Deus havia protegido Evan, e ele estar vivo teria um efeito poderoso sobre as
pessoas da aldeia onde tinham vindo a servir.

Parecia para Katie que no Quênia as linhas eram estreitas e os véus eram finos.
Perigos espreitavam nas esquinas deste belo país, mas o véu entre o eterno e o
temporal parecia ser feito de algo muito mais vaporoso do que Katie tinha
experimentado na Califórnia. Talvez seus sentidos estivessem mais elevados
para as coisas do que antes. Ela não tinha certeza. Tudo que ela sabia era que
Deus parecia mais próximo da África. Seu trabalho estava sendo realizado de
forma que parecia mais visível e imediato do que estava acostumada a ver.

Assistir Deus trabalhar estava tendo um efeito profundo sobre Katie. Estava
aumentando a sua fé.

Ela entrou no escritório, quatro dias após terem retornado da vila e viu que Jim
estava movendo uma mesa dobrável para a parede dos corações ocultos. "Olha
o que eu encontrei", disse ele. "Não é muito de uma mesa para você, mas é um
começo."
"Legal!" Katie tirou seu laptop e o colocou no centro. "Agora tudo que eu
preciso é uma placa com o nome, e eu vou parecer oficial."

Ouvimos sobre Eli ", disse Jim.

O Coração de Katie deu um pequeno salto. "Você ouviu? Como ele está?
Alguma idéia de quando ele estará de volta? "

"Ele está indo bem. Parece que ele vai pegar uma carona de volta para
Brockhurst em uma semana a partir de amanhã. "

Katie esperou para mais detalhes. "Foi isso? Ele enviou um e-mail pra você? "

"Não. Ele ligou cerca de vinte minutos atrás. Ele está com a equipe de
escavação de poços agora e eles estavam dirigindo por uma área que tinha o
serviço de telefone, então ele aproveitou a oportunidade para ligar. Ele disse
que a equipe de filmagem foi embora ontem. "

Com as frases básicas de Jim, Katie tentou preencher os espaços em branco. Eli
estava em seu caminho para outra aldeia. Ele não estava mais com Michael. Ele
estaria de volta em oito dias.

"Uma semana a partir de amanhã, hein?"

Jim assentiu. "Você sabe, eu tenho que admitir uma coisa, Katie. Eu não era a
favor de Eli assumir esse papel de estar no local nas aldeias, mas posso ter
falado cedo demais. Ele conseguiu muito em apenas alguns dias. Precisávamos
de autorização para negociar em um terreno antes que a equipe pudesse
avançar na aldeia onde Eli foi ontem. Aparentemente ele fez isso. Sozinho. Eu
não achei que ele tinha o suficiente de um comando de suaíli para fazer isso.
Acho que Cheryl está certa. Talvez eu tenha subestimado o meu filho. "

Um ataque de sentimentos mistos veio a Katie. Por um lado, o que Jim estava
agora expressando era o tipo de respeito e compreensão que ela esperava para
o desenvolvimento na relação pai / filho. Ela queria que Jim visse as mesmas
habilidades de liderança que ela tinha visto em Eli, e agora ele o fez. Era ótimo
que Jim e Cheryl estivessem vendo Eli como o homem capaz que Katie sabia
que ele era.

O que torceu suas emoções foi que soou como se Eli estivesse encontrando seu
lugar na estrada fazendo trabalho de campo. A chance de ele estar contente
por estabelecer-se em Brockhurst e trabalhar com ela no escritório estava se
estreitando.

Para complicar ainda mais, o entusiasmo de Katie para trabalhar na angariação


de fundos não tinha diminuído. Sua mais recente idéia era montar um pacote
de angariação de fundos para grupos potenciais. Cheryl, Jim, e ela tinham lido
sobre a lista de materiais necessários para incluir no pacote, e Katie estava
trabalhando ao lado para criar os documentos mestres. Ela também teve um
bom começo correndo na compilação de uma lista de potenciais escolas e
igrejas.

Seu ritmo produtivo desacelerou em uma manhã nublada cinco dias antes do
que Eli deveria voltar para Brockhurst. Um grande grupo de escritores e
editoras cristãs estavam realizando uma conferência, e este era o último dia.
Katie tinha gostado das conversas que ela teve com muitos deles durante as
refeições.

Esta manhã, porém, pulou o desjejum, porque ela queria chegar ao escritório
antes de mais ninguém. Ela tinha uma série de e-mails pessoais que ela queria
enviar antes do dia começar a rolar.

O primeiro e-mail foi para Cris. As duas amigas vinha mantendo uma
correspondência de vai-e-vem de e-mail desde que Katie escreveu a Cris após o
tempo na aldeia e derramou os detalhes sobre Michael, Eli, a posição de
angariação de fundos, e como parecia que Jim e Cheryl a abraçaram como uma
de sua equipe, e parte da grande família Brockhurst .

Katie até disse a Cris sobre a parede dos corações e o beijo apaixonado. Katie
acrescentou os detalhes sobre o comentário de Jim que "você poderia fazer um
bebê com um beijo como aquele." E depois, claro, Katie disse a Cris sobre a
decisão de Eli de se aventurar em uma viagem nômade para outras aldeias.
Esse foi o último tema sobre o qual as duas tinham trocado e-mails, foi por isso
que Katie não queria ninguém olhando por cima do ombro no pequeno
escritório e lendo seus e-mails.

Essa manhã, o e-mail de Cris começou com:

A Vida com você nunca é aborrecida, Katie. Será que Eli percebe isso? Eu estou
supondo que ele percebe agora.

Já que você pediu a minha opinião, eu vou dar para você.

Você se lembra quando eu terminei com Ted para que ele tivesse a
oportunidade de fazer o que ele sempre quis? Abrir mão dele assim foi a coisa
mais difícil que já fiz.
Mas pense sobre o que aconteceu depois disso. Na época, Ted e eu pensamos
que ele estava indo para Papua Nova Guiné, mas ele acabou na Espanha, que é
onde se encontrou com Eli, que é em parte porque Eli decidiu vir para a
Rancho, que é por que ele estava no nosso casamento , que é onde você o
encontrou, e que levou você a estar onde você está hoje. Muito agradável a
pequena trilha dos misteriosos caminhos de Deus, não é?

Katie sentiu a garganta apertar. Era verdade. Ela não tinha visto a trilha
claramente antes. Era como Cheryl tinha dito: tudo tem um propósito. Um
passo de obediência levou à oportunidade para a luz brilhar na etapa seguinte e
assim por diante.

O e-mail de Cris continuou.

Eu sei que Deus pode realizar seus propósitos de qualquer jeito que ele quiser.
Mas quando eu olho para trás ao longo dos anos e vejo essa cadeia de eventos,
não tenho dúvida que tudo isso é uma bela e contínua coisa de Deus, que
começou com algo difícil quando meu coração entregou Ted ao Senhor .
Quando você seguir a trilha da fidelidade de Deus em sua vida, Katie, eu sei
que ele lhe dará a coragem que você precisa para o que vai acontecer a seguir.

Katie concordou, mesmo que ninguém estivesse lá para vê-la afirmar. Ou


talvez, havia. O Espírito de Deus estava próximo. Cobrindo-a, guiando-a,
protegendo-a como o anjo da guarda no topo do carro no desenho de Adam.
Olhou ao redor da sala vazia, meio que esperando para ver uma pena de anjo
translúcido flutuando no ar.

Ela estava indo para escrever uma resposta, mas ainda havia mais no e-mail de
Cris.

Katie, você se lembra de quando estávamos na Inglaterra fazendo o projeto de


missão a curto prazo, e nós chamávamos umas as outras de "Mulher
Missionária" ? Pensávamos que estávamos sendo tão ousadas e sacrificiais,
dando uma semana e meia de nossas vidas para ficar em um castelo (tudo
bem, ele estava congelando e foi um sofrimento, mas era um castelo!). O que
fizemos então tinha valor no reino. Eu não duvido disso. Nós pensamos que
estávamos fazendo tanta coisa boa, mas realmente, quando eu olho para onde
você e eu estamos agora, estamos muito mais no fluxo do bom trabalho do
Reino de Deus.
Acredito que, com o que eu estou fazendo agora, em parceria com Ted no
trabalho com os adolescentes na igreja, eu me tornei 2,0 Mulher Missionária.
Nós estamos prontas para a próxima temporada, o próximo nível, você e eu.
Este é um bom trabalho.

Katie se inclinou para trás na cadeira do escritório e pensou no cenário de Cris,


da útil, apoiadora esposa de um pastor de jovens. Sim, ela concordou, as coisas
eram perfeitas para Cris e Ted.

Mas nós não somos eles. Eli e eu estamos conectados de forma diferente. A
vida não é assim aqui. Em tudo. Eli e eu não somos como Ted e Cris. Nós não
somos esse casal. Nós não somos como Rick e Nicole. Nós somos nós. A coisa
é, do jeito que estamos indo, vai haver um "nós" no final desta trilha curta?

Katie começou a trabalhar, escrevendo tão rápido quanto podia para responder
Cris, enquanto tudo estava fresco em sua mente. Ela estava quase no fim de
seu e-mail quando Cheryl abriu a porta do escritório e entrou com um alegre
"Jambo".

Katie minimizou a tela do e-mail inacabado e se virou para cumprimentar Cheryl


com um igualmente alegre "Jambo, Rafiki."

"Ah, bom! Você se lembrou da palavra 'amigo'. Você está pronta para a sua
próxima palavra suaíli do dia? "

"Diga". Katie havia gostado muito das aulas que Cheryl e Jim estavam dando a
ela durante a semana passada. Katie queria surpreender Eli, quando ele
retornasse e cumprimentá-lo com pelo menos uma frase completa em suaíli.

"Ok, aqui está. Wapi choo? "

"Wapi choo", Katie repetiu. "Então o que eu acabei de dizer?"

"Você perguntou:" Onde é o banheiro? '"

Katie riu. "Tenho certeza que será muito útil em algum momento, mas você se
lembra que eu estou tentando aprender alguma coisa que eu possa dizer a Eli,
quando ele voltar. Eu estou pensando que 'Wapi choo' não é exatamente o que
vai fazer seu coração disparar de alegria sobre a minha realização. "

Cheryl deslizou para a cadeira em sua mesa. "Okay. Você está certa. Aqui está
uma boa linha para cumprimentar alguém que é especial para você: Napenda
kukuona mpenzi Wangu ni Furaha ya moyo mangu "

"Não, não vai acontecer. Isso me pareceu muito bonito vindo de você, mas
você notou que aprendiz lenta eu sou. Você pode me dar algo entre "Onde está
o banheiro? 'E' Napa wapa manga snapa '?"

Cheryl riu. "Você sabe, Katie, que você deve ter cuidado quando você tenta
compensar suas próprias palavras suaíli. Um dia desses você vai conseguir dizer
algo terrível. "

"Ok, então me dê uma outra linha. Algo mais curto. Mas espere. O que significa
essa saudação para alguém especial? Talvez nós possamos encurtar isso. "

"É muito doce. Significa: "Eu adoraria ver você, meu caro. Você é a alegria do
meu coração. "

"Ohh". Katie derreteu um pouco. "Isso é doce. Mas eu não acho que eu poderia
dizer isso a Eli. Ele pensaria que eu estou brincando. Eu preciso de algo não tão
doce, você sabe? Algo que é mais fiel a quem eu sou e o que ele sabe que está
vindo realmente de mim. "

"Vou ter que pensar um pouco," disse Cheryl. "A propósito, Maria te encontrou
no café da manhã?"

"Não, eu não fui para o café da manhã. O que ela queria? "

"O grupo que está aqui esta semana para a conferência dos escritores está indo
para o Lago Naivasha amanhã, já que é o seu último dia . Ela se perguntou se
você poderia ir junto como seu guia uma vez que Eli não está aqui. "

"Guia? Como eu poderia ser o seu guia? Eu nunca fui ao lago. Eu não sei nada
sobre isso. "Ela não queria ser desviada de tudo o que ela estava tentando
fazer no escritório e não tinha certeza do por quê Maria pensaria que Katie era
um substituto natural para Eli em uma excursão.

"Guia é a palavra errada", disse Cheryl. "Basicamente, ela só precisa de um


representante de Brockhurst para fazer uma contagem de cabeça e telefonar
para o escritório se ocorrer algum problema. Você seria a pessoa ponto, isso é
tudo. Eu não quis dizer para isto soar como se você tivesse que ser um guia de
turismo. O lago Naivasha é lindo. A última vez que estivemos lá, vimos os
hipopótamos surgirem na água ao pôr do sol. Foi um grande espetáculo. "
Katie gostou da forma como esse desvio estava começando a soar. "Tudo o que
eu teria que fazer é andar junto e verificar os nomes da lista na medida que as
pessoas fossem entrando e saindo do ônibus? Eu não teria que dar a todos os
fatos da história e fatos científicos de cada local, da forma como Eli faz? "

"Não. Você não tem que tentar fazê-lo da forma de Eli. Você também terá que
pagar a conta do restaurante onde eles programaram um almoço para o grupo.
Tudo já foi providenciado através do escritório principal de Brockhurst. Como
você sabe, nós tínhamos uma empresa de turismo - neste escritório, como uma
questão de fato. Agora que eles saíram, Maria está tentando manipular alguns
desses tours promocionais que foram reservados antes que a empresa de
turismo se mudasse para Nairobi. "

"Eu posso fazer isso", disse Katie. "Eu posso andar junto, contar narizes, e
entregar um cheque. Eu vou falar com Maria sobre isso. "Katie rapidamente
clicou na tela dela e terminou o seu e-mail para Cris no meio da frase com um
par de traços e uma linha final que leu, tenho que ir ver uma senhora sobre
alguns hipopótamos.

Ela clicou em enviar, fechou seu e-mail, e correu para fora da porta. Katie
quase se sentiu culpada por se sentir tão feliz com a oportunidade de ver os
hipopótamos. Se ela estava sentindo falta de Eli terrivelmente, como ela estava,
então ela deveria estar tão deprimida que nada, nem mesmo hipopótamos
selvagens, iriam fazer flutuar seu barco* ?

Nota para si mesma: Pergunte a Cris se ela acha que é possível estar
apaixonada por um lugar e uma pessoa ao mesmo tempo, e se assim for, isso
não é trapaça, não é?

*flutuar o seu barco:em inglês float her boat


Uma expressão que diz que o faz flutuar seu barco é o que deixa você muito
feliz.

CAPÍTULO 19

O ônibus da turnê carregado com o grupo de escritores e editores parecia


familiar para Katie, porque era o mesmo ônibus e motorista que haviam levado
o grupo do Texas para a reserva das girafas quase um mês antes. Katie não se
lembrou do nome do motorista, mas ele lembrou-se dela, e quando ela subiu a
bordo, ele cumprimentou-a, dizendo: "Jambo, Ekundu."

Katie não tinha idéia do que o "Ekundu" significava, mas ela esperava que fosse
lisonjeiro ou pelo menos agradável. Ela respondeu com "Jambo, Rafiki."

O motorista pareceu gostar dela chamando-o de "amigo".

Lembrando como Eli havia tomado o microfone e saudado a todos da última


vez, Katie seguiu o exemplo. "Jambo! Como está todo mundo? Meu nome é
Katie. Eu sou o seu guia não oficial hoje. Então, se vocês tiverem alguma
dúvida, posso praticamente garantir que não vou ser capaz de respondê-las. "

Ela recebeu um mar de olhares em branco. Katie estava ciente de que este era
um grupo internacional, mas ela jantou com eles durante toda a semana e
sabia que o Inglês era a língua comum. Então, ela tentou a rampa até o
entusiasmo. "Vocês estão prontos para ver os hipopótamos no Lago Naranja?"

"Naivasha," uma das mulheres africanas no banco da frente de Katie disse,


calmamente corrigindo ela. "Nós estamos indo para o Lago Naivasha."

"Certo. Sim. Lago Naivasha. Não Naranja. Naranja significa laranja em


espanhol, e eu sei disso porque eu sou da Califórnia, e meu amigo tinha uma
prancha de surf que nomeou Naranja porque era laranja. "Katie pôde notar
pelas expressões mudando diante de seus olhos que ela estava cambaleante e
indo pra fora da pista.

"Ok, mas isto é o suficiente sobre meus amigos e eu. Esta viagem, hoje, é toda
sobre vocês e seus amigos. Então, por favor sentem-se e apreciem o passeio
acidentado. Embora eu esteja feliz em dizer que o nosso Rafiki aqui atrás do
volante é conhecido por oferecer aos seus passageiros um passeio muito mais
suave do que você encontraria em qualquer outro ônibus".

O grupo parecia ter se reconectado com ela com esse comentário, e ela
imaginou que chegar a Brockhurst tinha sido o mesmo tipo de experiência para
eles como tinha sido para Katie e Eli.

"Então, se vocês estavam esperando que o nosso passeio de hoje ia ser a


mesma coisa que vocês experimentaram nestes viciosos, veículos de vibração,
eu odeio desapontar vocês, mas não há massagens africanas gratuitas neste
ônibus."

Dois dos homens das Filipinas deixaram escapar um grito de animação de volta
. Katie havia conhecido um deles na hora do almoço mais cedo essa semana e
apreciado o seu espírito alegre e sorriso cativante.

"Obrigado por essa afirmação aí, Ramon. Mantenha os elogios vindo. Eu preciso
de todo o incentivo que eu puder . No caso de vocês não terem adivinhado,
este é meu primeiro dia no trabalho. "

Ramon e o cara ao lado dele soltaram um grito alegre de "Mabuhay!"

"Whoa!" Katie disse um pouco alto demais para o microfone. "E o que isso
significa? Porque se isso significa "Por favor, sente-se e pare de falar, Katie",
então você apenas tem que ser direto comigo sobre isso, porque eu não falo
Filipino ".

"Isso significa" vida longa ", Ramon respondeu.

O cara ao lado dele animou novamente. "Mabuhay!"

Desta vez todos no ônibus ecoaram o ânimo.

Katie enfiou o braço no ar. "Tudo bem! Nós temos um ônibus de festa
passando aqui. Woo-hoo! Mabuhay! "Ela segurou o microfone como um
vocalista em um show de rock convidando o público a cantar as suas letras
favoritas de volta para a música.
A turma concordou e aplaudiu ", Mabuhay!" No microfone.

Na parte de trás da alegria do grupo, um cavalheiro polido com aparência


admirável sentado duas fileiras atrás, encheu o ar com sua versão cultural de
alegria e acrescentou: "Viva! Viva! "

Katie se lembrou que ele era um editor da França, porque quando ela sentou-se
com ele no café da manhã na primeira manhã quando o grupo chegou, ela
ficou fascinada como a conversa fluente que ele estava tendo com alguns dos
editores do Oeste Africano que falavam francês. Ela não entendia uma única
palavra, mas era bonito se sentar com eles e sentir como se seus ouvidos
estivessem degustando uma miscelânea de novíssimos sons.

Seus ouvidos estavam cheios novamente com o mesmo tipo de buffet


intercultural de palavras quando todos no ônibus soltaram um grito em sua
língua nativa. A cacofonia linda trouxe sorrisos a todos , quando Katie, mais
uma vez estendeu o microfone para pegar os seus aplausos.
Tudo bem! Nada mau. Meu trabalho aqui está feito.

Katie tomou seu lugar com a atmosfera animada invadindo o ônibus. Ela se
sentiu muito bem com o jeito que ela havia ajudado a reforçar o nível de
energia.

Agora, o que aconteceria se ONU tomasse essa atitude para toda reunião de
cúpula? Se as pessoas de todo o mundo tivessem tempo para rir juntas, eu não
posso deixar de pensar que a paz mundial iria sair.

Ela tomou o mesmo assento sozinha na frente , atrás do motorista,como Eli


tinha feito e tirou as notas em sua pasta, da mesma forma que ela se lembrou
que Eli tinha feito. O calendário indicava que eles deveriam chegar ao Lago
Naivasha às 11:30. Eles teriam primeiro o seu almoço e depois iriam a pé
através da área de preservação da vida selvagem para o lago. Katie foi
designada para voltar com todos do rebanho para o ônibus de turnê por volta
de 2:30. Uma vez que todos estivessem a bordo, seguiriam para Brockhurst e
estariam de volta em tempo suficiente para a refeição da noite. Parecia fácil.

Quando o ônibus roncava na estrada que levava para Nairobi, Katie percebeu
que ela reconheceu alguns dos desvios ao longo do caminho. Essa constatação
deu-lhe uma espécie surpreendente de felicidade. Ela lembrou da sensação que
teve quando ela se mudou para os dormitórios na Rancho, encontrando o
caminho até a cidade para o Café Ninho da Pomba, e, em seguida, conseguindo
dirigir de volta para o campus sem se perder ou fazer uma curva errada. Isso
significava que ela estava em casa - e que ela sabia como encontrar seu
caminho de volta para casa.

"Katie?" A mulher Africana na primeira fila do outro lado de Katie que a tinha
corrigido sobre a pronúncia de Naivasha se inclinou. "Você é a Katie do Eli, não
é?"

" Katie do Eli?"

A mulher estendeu a mão, como se tivesse esquecido seus modos e deveria ter
se apresentado em primeiro lugar. "Eu sou Ngokabi. Conheço os Lorenzo por
um longo tempo. Eu ouvi falar sobre você ano passado. "Ela tocou a mão nos
cabelos negros e apontou para Katie. "Eu sabia que tinha que ser você por
causa do cabelo vermelho. Ekundu. "

"É isso que o motorista me chamou, Ekundu?"


Ngokabi assentiu. Ela era uma mulher linda jovem, com maçãs do rosto
salientes e um queixo estreito. Ela lembrou Katie de alguns dos atletas da
Rancho que pareciam como se seus braços e pernas tivessem sido construídos
para correr.

"Ekundu significa" vermelho "," Ngokabi disse. "Ele quis dizer isso como um
apelido. Você se importa com isso? "

"Não, eu gosto. Ekundu. "Katie apontou para Ngokabi e disse:" O que significa
o seu nome? "

"É tradicional da minha família. Significa 'Filha do Masai. "É uma honra para
mim ter este nome, porque é o mesmo nome da irmã primogênita de meu pai
."

Katie não tinha certeza porque isso seria uma grande honra.

Veja, com as tribos no Quênia, temos uma progressão de nomes. Eu sou a


terceira filha, então a terceira filha tem o nome da irmã primogênita do pai.Se
eu tivesse sido um menino, eu teria o nome do irmão primogênito do meu pai.
"

"Então, seu nome foi decidido antes mesmo de você ter nascido."

A mulher ao lado de Ngokabi disse: "Não é assim que é com todos nós que
fomos chamados por Deus? Ele sabia o nosso nome e todos os cabelos da
nossa cabeça antes de tomarmos nossa primeira respiração. "

Katie pensou sobre esse ponto quando Ngokabi passou a explicar que quarenta
e duas tribos viviam no Quênia, e a mulher ao lado dela era da tribo Kikuyu.
Seus traços faciais, testa larga e um rosto redondo, eram diferentes do
Ngokabi.

"Meu nome era de uma mulher muito amada", disse Ngokabi. "Ela ensinou
estudos de mulheres da Bíblia durante doze anos, e agora a editora que eu
trabalho em Nairobi está produzindo o seu material. É emocionante ver seu
trabalho duro viver, mesmo depois que ela se foi. "

A conversa continuou o resto do passeio até o Lago Naivasha. Mesmo que Katie
não tivesse a intenção de voltar à questão de abertura de "Você é a Katie do
Eli?" O tema de alguma forma fez um círculo, e lá estava ele novamente na
frente delas, uma vez mais para Katie confirmar ou negar.
Ela tentou escolher suas palavras cuidadosamente. "Eu suponho que você
poderia dizer isso. Sim, eu sou a Katie do Eli. Nós estamos indo juntos. Mas ele
está em uma aldeia agora e tem estado por quase uma semana e meia. Temos
muito a descobrir. Parece que temos carreiras muito diferentes. "Katie percebeu
que sua cabeça estava balançando, como se ela estivesse tentando se
convencer do que ela acabara de dizer. De tudo. Será que eles tinham carreiras
diferentes? Sério? Isso soou tão ocidental quando se ouviu dizer. E ela era
realmente " A Katie do Eli"? É assim que ele se referia a ela, ou tinha Ngokabi
pegado algo que ela tinha ouvido de Eli e dado a sua própria interpretação?
Katie perguntou se estava tudo bem dizer que eles estavam "indo juntos." Era
esse o código deles para seu relacionamento, ou era como Eli tinha se referido
para ela?

Todas as incertezas pesavam sobre ela de um jeito desagradável. Katie estava


feliz que Ngokabi não investigou os tópicos ou ofereceu ideias. Ela nem parecia
particularmente interessada em saber como Katie estava resolvendo seu
relacionamento com Eli. Parecia que Ngokabi tinha apenas declarado um
determinado fato, a forma como o seu nome tinha sido escolhido para ela antes
de ela nascer.

Quando o motorista do ônibus parou na área cheia de árvores, marcada com


uma grande placa sinalizando o Lago Naivasha, Katie se sentiu pronta para
esticar as pernas, pegar um pouco do almoço, e ver esses hipopótamos.

"Tudo bem, rafikis, estamos aqui. Os hipopótamos do lago Naivasha nos


esperam. Deixe-me dar um resumo do plano para a nossa bela tarde, apenas
no caso de não terem pegado esses detalhes antes. Ao desembarcar, não se
esqueça de dizer ao nosso motorista que grande trabalho ele fez.

Todos aplaudiram. Ngokabi disse algo ao motorista quando ele foi desligar o
motor, e ele deu uma olhada no grande espelho retrovisor.

"Ok". Katie fez sinal para que todos pudessem parar de bater palmas e
permanecer em seus assentos mais um momento. "Então aqui está o plano.
Nós vamos almoçar primeiro. Você pode serpentear o seu caminho para o
restaurante, e você encontrará uma sala separada que foi preparada para o
nosso grupo. Minhas notas dizem que é um churrasco, e você pode ir pela linha
do buffet quantas vezes você quiser. "

"Mabuhay!"
"Eu imaginei que você gostaria disso, Ramon."

Ondas de risadas e conversas aumentaram.

"Agora, esperem, deixem que eu me certifique de que todo mundo sabe que
temos de estar de volta ao ônibus no mais tardar,por volta de duas e meia .
Vamos comer, caminhar até o rio, tentem não ser comidos pelos hipopótamos,
e então encontrem o caminho de volta aqui por volta de 2: 30. Entenderam? "

A variedade de respostas ressoava quando o grupo se levantou e fez o seu


caminho passando por Katie e para fora da porta. Ela sentia-se como uma
comissária de bordo, balançando a cabeça, sorrindo, e dando alguns
brincalhões "Bye-bye" para alguns no grupo.

Ela fez uma pequena saudação para o motorista do ônibus enquanto o grupo
sinuoso parava para fotos em frente a placa de sinalização do lago Naivasha e
faziam o seu caminho em direção ao restaurante que estava bem marcado em
Inglês.

Este restaurante era diferente daquele que ela tinha parado com os pais de Eli
em Aberdare. Aquele tinha sido tradicionalmente britânico em sua arquitetura e
mobiliário. Este era Africano em grande estilo, e Katie amou a madeira
entalhada e tecido estampado de animais silvestres nas cadeiras.

Ela demorou um pouco para lembrar que ela tinha completado o trabalho,
quando ela deu a todos as informações e os escoltou para fora do ônibus. Ela
não precisava guiá-los ao redor ou coisa parecida. De certa forma, este parecia
um acampamento de verão, e ela era o conselheiro do acampamento.

Esse pensamento fez Katie sorrir. Era quase como se um de seus pequenos
sonhos esquecidos tivessem se tornado realidade. No colégio ela queria muito
ser um conselheiro do acampamento, mas seus pais tinham sido firmes em
dizer que ela não tinha permissão para manter o compromisso que tinha feito
com seu pastor de jovens. Cris acabou indo em seu lugar, e Katie estava
confusa até hoje com a razão pela qual seus pais, que sempre tinham mostrado
tão pouca atenção , preocupação ou envolvimento em muitas áreas de sua
vida, tinha sido contra ela ir para o acampamento .Foi uma daquelas coisas
inexplicáveis sobre sua família que ela sabia que nunca iria entender.

Outra coisa misteriosa que ela não entendia ,era o modo como seus pais
haviam respondido quando ela ligou alguns dias depois que ela chegou no
Quênia e explicou como ela planejava permanecer indefinidamente.
Sua mãe disse: "Eu posso ver isso."

Isso era tudo. Assim, "Eu posso vê-lo." Katie não sabia se ela devia tomar isso
como um soco, como se sua mãe estava dizendo que a sua, impulsiva criança
um pouco estranha, havia fugido para a África nos saltos de graduação da
faculdade - nenhuma surpresa aí. Era tão oposto de algo que alguém na família
de Katie teria feito que deve ter parecido que isso era algo que Katie faria.

Seu pai disse que ele queria que ela lhe enviasse uma presa de elefante. Então
ele riu como se tivesse feito uma grande piada.

Katie sabia que ela nunca deveria esperar receber a aprovação de seus pais e
bênção sobre algo que ela fazia. Mas para sua surpresa, depois que ela dera
para sua mãe o endereço para correspondência durante o telefonema, Katie
recebeu um cartão de formatura dela, pelo correio, juntamente com uma nota
de vinte de dólares. A nota escrita à mão era curta. "Eu queria dar esta carta
para você na sua formatura, mas seu pai se esqueceu de lembrar-me, e eu a
deixei no carro. Eu não sei se os africanos podem descontar o dinheiro
americano, mas talvez você possa usá-lo de alguma forma. Seu pai e eu
estamos orgulhosos de você. Por favor, esteja segura".

O cartão tinha chegado no início da estadia de Katie, quando ela e Eli estavam
passando muito tempo juntos e tudo parecia alegre e novo. O cartão e a
mensagem escrita à mão de sua mãe não tinham significado muito para ela,
então.

Quando ela estava no restaurante exótico no Lago Naivasha em uma mesa com
os escritores provenientes da República Checa e da Bulgária que estavam
ocupados falando sobre a publicação, Katie comeu mamão e abacaxi e salada
de início, pensando em como, em essência, ela recebeu a bênção que ela
ansiava. Ela nunca disse a Eli sobre o cartão, ela desejava que ela pudesse lhe
dizer agora. Seus pais, da melhor maneira que sabiam, tinham dito a ela: "Nós
estamos orgulhosos de você. Esteja segura. "Isso era grande. Como é que ela
não tinha percebido o significado disso?

Katie sentiu-se aquecida por dentro de uma forma inesperada. Estar longe de
Brockhurst e dos Lorenzo neste dia estava dando a ela uma chance de fazer
uma revisão e ver outras facetas da sua vida.

Juntando os outros de sua mesa, Katie foi para fora da área principal de comer,
para onde as churrasqueiras estavam e três chefs em imaculadas jaquetas
brancas e chapéus de cozinheiro altos estavam prontos para esculpir a carne
que estava assando no espeto. Katie pegou um prato e seguiu Sasa, uma
editora de Praga, uma vez que pegou ugali, arroz e legumes mistos de
bandejas grandes. Quando chegaram à carne, Sasa perguntou o que era.O chef
respondeu, mas nem Sasa nem Katie tinham certeza do que ele disse. Ambos
foram em frente e fizeram sinal para o chef esculpir um pouco de carne para
elas e abastecer seus pratos.

"Está um cheiro maravilhoso", disse Katie. "Asante".

Voltando à mesa, ela aproveitou cada mordida da carne firme, bem temperada.

Gostou? "Svetlana, a editora da Bulgária, perguntou.

"Delicioso".

"Eu concordo. É o melhor cabrito que já tive ", disse Svetlana.

Katie sentiu sua última mordida parar até a metade. Ela engoliu em seco e
tomou um longo gole de sua lata de refrigerante. "Cabra. Hmmm. Então, isso é
o que era. "

Sasa deu-lhe um "Bem, que tal?" Tipo de olhar, e as duas se mantiveram em


silêncio durante a mastigação e terminaram a refeição.

Katie sabia que ela tinha percorrido um longo caminho amassando o nariz
desde as almôndegas de avestruz e recusando a oportunidade de experimentar
um amendoim voador. Esta tinha sido uma deliciosa refeição, e ela tinha
gostado de cada mordida. Bem, talvez não desta última ...

Alguns do grupo já tinha feito o seu caminho pela trilha até o lago. Katie
permaneceu à mesa, dando delicadas, mordidas deliciosas em um pedaço de
bolo de coco que cobriu perfeitamente o almoço gourmet. No momento que ela
tinha acabado, ela era a última na mesa. E foi aí que ela sentiu falta de Eli mais
do que ela mal podia suportar.

Decidiu-se mais uma vez assumir o papel de princesa Hakuna Matata, Katie
ergueu o guardanapo de pano na boca e limpou as bordas dos lábios muito
solitárias. Em seguida, dobrou o guardanapo como uma princesa adequada
faria, Katie graciosamente se apoiou na cadeira fora da mesa e saiu pela porta
para a atração principal.
Ela estava passeando sozinha na pista que levava a um bom caminho até o
lago quando Ngokabi veio por trás dela. "Nós somos as últimas a sair do
restaurante?"

"Eu acho que sim." Katie estava feliz pela companhia. "Tudo aqui é lindo, não
é?"

À sua esquerda, no bosque de árvores de acácia delgados que cercavam os


dois lados do caminho, Katie ouviu um barulho. Ela olhou por cima do ombro e
viu uma zebra. Depois outra e outra.

"Ngokabi, olha! Zebras! "

"Sim?"

Parecia para Katie que a resposta de Ngokabi era aproximadamente o mesmo


que se tivesse andando pela calçada do apartamento de Cris e Ted e Katie
dissesse: "Olha, um gato de rua."

Katie ficou onde estava, impressionada com as zebras, ela contou quatorze
delas. Ela tirou seu telefone, colocou-as sobre zoom, e tirou várias fotos antes
de passar para a trilha com a paciente Ngokabi, que esperava por ela.

Katie sorriu. "Minha primeira zebra. O que posso dizer? "

A expressão de Ngokabi permaneceu respeitosamente atenta. Ela perguntou a


Katie se ela já tinha ido ao Masai Mara em um safari.

"Não. Eli disse-me um pouco sobre isso. Eu adoraria ver um leão ou leopardo.
Ou um elefante. Isso seria incrível. Fomos para a reserva das girafas, e eu
alimentei Daisy da minha mão. "Katie ainda estava se sentindo orgulhosa disso
.
"E você? Eu fui para ver Daisy. Ela pode ser inconstante. ""Ela gostou de mim."

Sem mudar sua expressão muito, Ngokabi disse amavelmente: "Eu posso ver
porquê.

Você tem a presença do Senhor em sua vida. Eu entendo por que Eli falou de
você do jeito que ele falou. "

Katie não tinha certeza se queria pressionar este tema da conversa. Ela já
estava sentindo falta de Eli terrivelmente. Ele teria compreendido seu espanto
sobre as zebras. Incapaz de matar sua curiosidade, ela perguntou: "O que
exatamente ele disse sobre mim?"

"Todas as coisas boas, é claro. Ele estava esperando com paciência, muita
paciência, para que você pudesse mudar sua cabeça, do seu modo. "

Pela primeira vez, bateu em Katie quanto tempo Eli tinha esperado para ela
prestar atenção nele. Por alguma razão, que Katie não conseguia explicar, Eli
tinha definido seus afetos no dia em que se conheceram. Ele orou por ela e
certamente pensava nela por um ano antes de Katie mudar a cabeça do seu
modo e dar-lhe a mesma atenção e consideração que ele já havia centrado
nela.

Aqui Katie sentiu que ela estava morrendo porque haviam se passado quase
duas semanas desde que ela tinha visto Eli e que haviam se falado pela última
vez. Ela pensou que era a única que estava dominando a arte de esperar
pacientemente, mas Eli tinha esperado um ano.

"Ele é incrível", disse Katie.

"Ele sente o mesmo sobre você. Tenho certeza que você sabe disso. "

Katie concordou, mesmo que às vezes ela se permitisse se perguntar se sua


atração por ele era um exercício unilateral. Não era. Ela sabia disso. No fundo
de seu coração ela sabia disso. Se eles não tivessem esse obstáculo enorme de
seus objetivos opostos. Por que era assim para eles? Seus amigos, que eram
casais não tinham aquele mesmo desafio.

Ngokabi e Katie chegaram ao final do caminho onde o resto do grupo estava


reunido, em pé em pequenos grupos, apontando para a água e protegendo
seus olhos do sol com as mãos.

Katie ficou surpresa ao ver a imensidão do lago e que suave sombra em pó azul
ele era. Muito acima do lago as nuvens flutuavam como desejos esquecidos
soprados a partir de minúsculas velas cor de rosa em um bolo do aniversário de
criança. O terreno em torno deles era plano, coberto com gramíneas verdes do
pântano. Ao longe, um planalto vasto e abrangente subia na extremidade do
lago. Foi quando Katie percebeu que estavam em um vale profundo. O Vale do
Rift. Este era o lugar onde a terra foi sendo lentamente puxada, revelando solo
fértil e lagos cavernosos. Eli tinha ficado ao seu lado quando olhou para baixo
para este imenso vale verde, e agora ela estava no vale olhando para cima.
"Há um lá!" Um homem do grupo que era da Índia trouxe um par de binóculos.
Ele foi o primeiro a detectar as bolhas e spray jorrando do hipopótamo
emergindo.

No início, a enorme criatura subiu apenas alto o suficiente para revelar o topo
de sua cabeça, suas pequenas,vibrantes orelhas redondas, e sua aparência de
olhos severos. Era evidente que a parte escondida sob a água era terrivelmente
grande. Mesmo que eles estivessem muito longe de onde os hipopótamos
foram descritos chegando na terra, eles ainda pareciam que estavam muito
perto. Katie podia ouvir sons de ronco da besta grande e profundos gemidos.
Então, em uma série de movimentos que eram magníficos e ainda pareciam um
pouco bobo, ao mesmo tempo, a criatura enorme emergiu da água barrenta e
correu para a costa de uma forma que o fazia parecer como se estivesse
pulando em suas -pernas - grossas-como-um-carvalho- que pareciam
demasiado curto para o seu transporte imenso.

O grupo parecia desenhar em suas respirações coletivas quando o hipopótamo


enorme virou em sua direção e deu-lhes um olhar terrível.Katie notou pela
primeira vez que um guarda florestal uniformizado estava com seu grupo. Ele
estava equipado com uma pistola e uma bengala.

Felizmente, ele não precisava empregar outro meio de intimidação, porque o


hipopótamo trotava em um pequeno círculo duas vezes e depois arrastava seu
caminho de volta para o lago.

"Ele está se certificando que sabemos quem está no comando" O guarda


florestal disse . "Nós sabemos. Nós não desafiamos o seu controle sobre seu
domínio. "

Eles esperaram e assistiram mais dez minutos ou assim e tentaram contar o


número de hipopótamos na água pelas cabeças levantadas e orelhas
balançando que mais pareciam pequenos montes de cinza flutuantes.

Katie verificou seu telefone para o tempo e viu que eles tinham cerca de 40
minutos antes de eles terem que estar no ônibus. Ela decidiu voltar antes do
resto do grupo para que ela pudesse pagar a conta e estar no lugar para fazer
sua contagem de narizes quando o grupo embarcasse.
Katie também notou que ela tinha uma nova mensagem de texto em seu
telefone. Era de Eli. Ela clicou e leu, EU SINTO SUA FALTA.

Seu coração derreteu um pouco, e então ela se lembrou que era a mensagem
que ele havia escrito para ela quando eles estavam no ônibus na última
excursão. Ela lembrou que ele tinha estado no banco em frente a ela, e os dois
mantiveram uma conversa de mensagens de texto . O que ela tinha acabado de
ler tinha que ser a velha mensagem. Mas não era. Ela rolou para cima e para
trás e viu que este novo SINTO SUA FALTA tinha sido enviado há doze minutos
atrás. Isso significava que Eli estava na faixa do serviço celular em qualquer
aldeia, ele estava dentro .

Katie adorou a idéia das possibilidades que pareciam abertas para eles. Eles
poderiam se comunicar novamente!

EU SINTO SUA FALTA TAMBÉM, ela mandou uma mensagem de volta. ESTOU
NO LAGO NAIVASHA . SÓ VI UM HIPOPÓTAMO. PENSANDO EM VOCÊ.

Enquanto caminhava de volta para o prédio, ela observava as zebras e


verificava procurando por uma mensagem de resposta de Eli, ao mesmo tempo.
Seus olhos subiam,seus olhos desciam. As zebras se foram. Eli deve ter saído
do alcance também, porque ele não respondeu. Katie se manteve verificando
seu telefone depois de ,pagar a conta, visitar o banheiro, e recolher seu grupo
colorido. Eles tiveram que esperar no ônibus por um membro bastante animado
de seu grupo chamado Nicolau, que era da Escócia. Ele tinha estado " de outra
forma ocupado ", como seu associado, Graham explicou.

Esse atraso colocou-os pra trás apenas cinco minutos, e eles estavam a
caminho. Katie não sentiu a necessidade de fornecer uma rotina , e felizmente
nenhuma das pessoas encantadoras no ônibus solicitou uma.

Sentada sozinha perto da janela, Katie tirou o telefone, esperando por um outro
texto de Eli. Eles estavam na estrada há mais de uma hora, quando seu
telefone apitou, indicando que ela havia recebido um novo texto. Era de Eli, e
seus lábios se levantaram num sorriso.

EU DEVERIA ESTAR OFENDIDO? , escreveu ele.

"O quê?" Katie murmurou. Ela rapidamente digitou, PORQUÊ?

A resposta veio de volta,VOCÊ DISSE QUE VIU UM HIPOPÓTAMO E PENSOU EM


MIM.

Katie riu em voz alta e, em seguida, levantou os ombros para garantir a


privacidade quando ela respondeu. DOIS INCIDENTES NÃO RELACIONADOS.
COMO VOCÊ ESTÁ ?
Katie esperou por sua resposta, e quando ela fez, algo dentro dela desejava
que ele pudesse indicar que ele estava terrívelmente triste, e pronto para voltar
a Brockhurst para que ele pudesse vê-la. Que ele não podia suportar a ideia de
passar um momento sem ela. Ou algo como isso.

No entanto, nada preparou Katie para o entusiasmo em sua voz virtual quando
ela leu sua resposta. ESTOU ÓTIMO. EXCELENTE! VOU FICAR MAIS ALGUNS
DIAS. ESTÁ INDO MELHOR DO QUE EU ESPERAVA.

Katie não fez o texto de volta. Ela não sabia o que dizer. Ela estava contente
que as coisas estivessem indo tão bem? Sim, claro, em uma espécie de esforço-
de- equipe-geral do caminho. Mas seu coração doía com o pensamento de que
"mais alguns dias" estavam sendo adicionados ao lado na balança da
separação. Esse lado já se sentia muito pesado para ser equilibrado com a
esperança, coragem e paciência, ela continuaria tentando adicionar no outro
lado.

Após vários minutos olhando pela janela e pensando sobre suas escolhas, Katie
decidiu tomar o caminho que Eli tinha selecionado ao longo de um ano inteiro,
enquanto esperava para ser notado por Katie.

Com uma graça que ela podia sentir crescer dentro de seu coração, Katie
mandou uma mensagem de volta com as palavras que ela sabia que mais
significam para Eli: EU ESTAREI ORANDO POR VOCÊ.

CAPÍTULO 20

Nos próximos quatro dias, Katie viveu o tipo de caminhada de fé e de passos de


obediência sobre o qual ela e Cris muitas vezes conversaram quando elas
trocaram e-mails. Katie tinha que acreditar que um passo levaria ao outro e que
um propósito estava escondido em tudo isso. Ela ajudou no Café Bar, cuidou
das crianças de Callie e Evan em uma tarde, e colocou em prática o trabalho
que precisava fazer no pacote de arrecadação de fundos.

Michael enviou-lhe o nome e informações de contato de seu sogro, como havia


prometido. Ele incluiu um bilhete que dizia:
Uma vez que eu sei que você está se perguntando, eu não mexi com a mente
de Eli nos muitos dias em que estivemos juntos. Eu apenas disse a ele que eu
achei que foi rude você ir embora sem me dizer adeus. Ele disse que estava
chateado de ir em frente sem você. Isto é compreensível. Eu disse a ele que a
saudade sempre faz a volta ao lar mais doce. Pelo menos é o que minha
querida esposa me diz. Vamos manter contato. Eli tem a minha informação de
contato também. Ele é um homem bom. Mas então, eu acho que você já sabe
disso.

Tudo de bom,

Michael

Katie apreciou Michael enviar a informação, e ela apreciava o seu comentário


sobre o regresso a casa ser mais doce. Ela esperava que fosse o caso quando
Eli voltasse da aldeia. A parte agradável sobre Eli ter o serviço de telefonia
celular no local onde ele estava agora , era que significava que os dois haviam
mantido um fluxo bastante estável de conversa nos últimos quatro dias.

Eles tinham ido num bom ritmo . Serem capazes de enviar fotos de seus
momentos diários também ajudou. Naquela noite no jantar, Katie viu que eles
tinham pudim de banana para a sobremesa. Fazia um tempo desde que Eli
tinha festejado em sobremesas duplas de pudim de banana, de modo que Katie
tirou uma foto com seu telefone e mandou para ele com a mensagem de texto,
SE VOCÊ NÃO VAI VOLTAR PRA MIM, VOCÊ VAI CONSIDERAR VOLTAR PARA
OS PUDINS DE BANANA?

A resposta de Eli veio para Katie quando ela já estava na cama. Ele escreveu:
VOCÊ É CRUEL. TIVEMOS GALHOS PARA JANTAR. PELO MENOS ESSE ERA O
GOSTO QUE TINHA.

Katie mandou uma mensagem de volta:PARA O SEU JANTAR DE BOAS VINDAS


,EU VOU VER SE POSSO RASTREAR UM AVESTRUZ E FAZER UM BOLO DE
CARNE INTEIRO SÓ PRA VOCÊ. O QUE VOCÊ ACHA?

QUESTIONÁVEL, era a sua pronta resposta. PARECE MELHOR DEIXAR AS


RECEITAS DE AVESTRUZ NAS MÃOS DE QUEM SABE COZINHAR.

VOCÊ ESTÁ DIZENDO QUE ACHA QUE EU NÃO SEI COZINHAR? ela digitou de
volta.

A resposta de Eli foi curta: PIPOCA DE MICROONDAS,SMOOTHIES,ROSTO


VERDE. ISSO É TUDO QUE ESTOU DIZENDO.

Katie riu alto em sua cama. Ela havia se esquecido sobre a noite que ela e Cris
decidiram ter uma noite só de meninas no apartamento de Ted e Cris uma vez
que Ted estava em um evento da igreja. Elas mancharam seus rostos com
algum tipo de máscara facial de abacate, bateram smoothies de morango no
liquidificador, e tentaram fazer pipoca de microondas, que resultou no
microondas decrépito pegando fogo . Katie apagou o fogo com os smoothies,
então a crise foi evitada.
A segunda crise foi quando Eli bateu na porta alguns momentos mais tarde,
porque ele tinha sentido cheiro de fumaça. Katie cumprimentou-o
despreocupadamente com uma cara verde e teve a audácia de dar-lhe um
tempo difícil de levar um saco de lixo para a lixeira do complexo de
apartamentos.

"Ok, tudo bem." Katie murmurou para si mesma. Ela estava espantada de
quantas memórias que ela e Eli tinham feito no ano passado na escola, sem
sequer tentar. Ela tentou pensar no texto de volta.

Eli a levou para o próximo tópico. O PAPAI MOSTROU-LHE AS FOTOS DA


VIAGEM AO MASAI MARA? Mais cedo naquele dia, Katie e Eli tinham feito
brincadeiras por algo que aconteceu no casamento do tio de Eli. Katie tinha
certeza de que a falha tinha ocorrido no casamento de Ted e Cris. Ambos os
casamentos tinham sido realizadas no prado, no mesmo campus superior no
Rancho Corona, mas eles tinham um ano de diferença.

O fim dessa cadeia de mensagens de texto desnecessários desceu ao


comentário que Eli fez para fechar: O PONTO É,CASAMENTOS OCIDENTAIS
SÃO ESTRESSANTES.MELHOR ESTAR NO MASAI MARA COM ALGUNS AMIGOS
PRÓXIMOS,UM MINISTRO PARA UMA TROCA DE ANÉIS E VOTOS.FEITO.

Ela mandou uma mensagem de volta, O QUE É QUE VOCÊ AMA TANTO SOBRE
O MASAI MARA?

Ele respondeu,PEÇA AO MEU PAI PARA LHE MOSTRAR AS FOTOS.

Katie viu as fotos mais tarde no computador de Jim. Elas eram de tirar o fôlego
e encantadoras. Alguns anos atrás, Jim e Eli tinham ido lá em um safari. Eles
ficaram em uma tenda de lona branca criada em uma plataforma de madeira.
Dentro da grande tenda haviam camas de casal,cobertas com mosquiteiros de
tule de aparência romântica e algumas almofadas decoradoras de luxo . Eles
tinham uma barraca como banheiro que tinha uma garra no pé da banheira e
um antiquado pedestal de pia com toalhas dobradas sobre os seus anéis de
bronze.

Jim havia lhe mostrado como o jantar foi servido à noite, no pôr do sol com
guardanapos de pano nas mesas cobertas de toalha de mesa. Cadeiras de
diretores foram colocadas em torno de uma fogueira ardente, e na parte da
manhã, chá e café foram servidos em um bule de prata que um empregado
trouxe para a porta de sua tenda.

Durante o dia os guias os conduziram em torno, dentro de um Jeep fortificado.


Uma foto era de um leão que veio até a janela fechada de Eli e colocou as
patas poderosas sobre a vidraça. Katie concordou quando viu as fotos que
pareciam o mais surpreendente e extraordinário tipo de safári de aventura
imaginável. Ela não tinha idéia de que tais excursões existiam. Quando ela viu
as fotos dos coloridos balões de ar quente que se erguiam sobre o terreno e os
turistas transportados para uma visão panorâmica da vida selvagem, Katie
sabia que ela queria ir lá um dia.

Quando ela perguntou a Jim se ele e Eli tinham se aventurado em um balão de


ar quente, ele disse: "Não. Eli disse que queria guardar para outra viagem,
outra vez, com ... bem, não comigo. "

Katie estava sentada na cama com seu telefone em sua mão quando ela
respondeu à pergunta de Eli e escreveu: SIM ,EU VI AS FOTOS DO SEU PAI.
INCRÍVEIS!

Eli respondeu: VOCÊ VIU AS TENDAS?

SIM. SÃO MAIS AGRADÁVEIS DO QUE ONDE VOCÊ VAI FICAR ESTA NOITE ?

AS ESTRELAS SÃO MEU COBERTOR.


PROVAVELMENTE EU CONSUMI A BATERIA DO CARRO DE DAN
RECARREGANDO MEU TELEFONE HOJE.

SERÁ QUE UM ANJO VEIO PARA CONSERTAR ?

NÃO. ELES USARAM CABOS DE LIGAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE


ESCAVAÇÃO.

O POÇO ESTÁ QUASE PRONTO?

AMANHÃ!

SÃO EXCELENTES NOTÍCIAS!

EU SEI. VOCÊ QUER UM ANEL DE NOIVADO ?


Katie parou.

Ela digitou o quê??? mas não enviou o texto ainda. Ela rolou para trás para
reler o fluxo de conversa e ter certeza que ela não tinha perdido nada de
significativo. Não, ela não tinha. Eli tinha apenas escorregado no pensamento
aleatório. Embora, com a pergunta sobre o casamento no MASAI MARA que ele
tinha jogado naquela tarde, Katie teve que admitir que seus pensamentos
estavam formando uma imagem do que seria se casar na natureza e o seu
carro de fuga ser um balão de ar quente.

Se Eli estava perguntando o que ela achava que ele estava perguntando, então
ele tinha chegado na fase de pergunta-resposta mais cedo do que Katie pensou
que faria. Mas então se lembrou de quando ele tinha em sua cabeça começado
o relacionamento deles -há um ano.

Antes que Katie pudesse enviar a resposta dela, Eli mandou outro texto. SEU
SILÊNCIO É ENSURDECEDOR.ACHO QUE NÓS PODEMOS DEIXAR ISSO SEM
RESPOSTA.

Katie apagou o quê??? que ela tinha digitado alguns minutos atrás e mandou
uma mensagem de volta com uma resposta simples: NÃO.

Ela esperou pela resposta de Eli. E esperou. Depois de vinte minutos ela
desistiu e desligou a luz dela. Foi tão frustrante não ter o serviço de telefone
fixo,ou ela teria conseguido responder muito bem, mas agora estava retraindo
seus pensamentos e desejando que ele não tivesse feito a pergunta sobre o
anel de tal maneira inesperada e aleatória.

Katie não conseguia dormir.

Ele estava propondo? Preparando-se para propor? Só jogando conversa fora? O


quê? Eli, você está me deixando louca!

Katie não conseguia descobrir por que Eli jogaria essa linha para a conversa. O
plano não era eles se sentarem e falarem sobre as coisas devagar e depois que
ele voltasse da aldeia? Não eram assim que as coisas eram feitas no Quênia -
agradáveis e lentas?

Ela pegou o telefone e verificou novamente. Ainda nenhuma mensagem dele.


Soltando um grrr exasperado! Katie puxou o suficiente em branco , então ela
soltou outro. Um rosnar não era bom o suficiente, então ela soltou outro.
De alguma forma ela conseguiu adormecer e passou a noite fazendo uma série
de voltas e reviravoltas na cama. Com a luz da manhã, ela estava ainda mais
preocupada. Ela desejava não ter digitado rapidamente de volta NÃO como a
sua resposta sobre querer um anel de noivado. Foi uma resposta verdadeira.
Ela não queria um anel. Não queria diamantes, pérolas, esmeraldas ou rubis .
Isso não era ela. A aliança de casamento, sim. Uma pedra de qualquer tipo,
não.

O que a incomodava era que Eli tinha feito a pergunta em um texto. No meio
de uma conversa de texto. Ele apenas a deixou cair dentro. Essa pergunta
aleatória não deveria ter recebido uma resposta imediata. Ela deveria tê-lo feito
esperar. Eles realmente precisavam falar sobre o que o futuro parecia para
eles. Em todas as suas mensagens de texto, eles não tinham discutido
nenhuma vez como eles iam descobrir como harmonizar os seus interesses, ou
se um deles iria precisar cancelar os seus objetivos. Eles precisavam de algum
tipo de conclusão razoável.

Então, depois que eles tivessem resolvido isso, eles poderiam falar sobre o seu
futuro juntos. Como um casal. Anéis e balões de ar quente seria um jogo
aberto então. Pelo menos é assim que Katie tinha as coisas retratadas. Durante
as duas semanas desde que Eli tinha ido, seus pensamentos tinham sido
rigorosamente focados em um passo após o outro. Agora, aparentemente, Eli
estava indo para o final do caminho, e Katie não tinha nem sequer calçado os
sapatos ainda.

Ela estava em um estado tão mal feito de emoções que ela pegou o telefone e
começou o dia com um texto para Eli que disse, JOGO LIMPO,OK?

Sua resposta veio quando ela estava no café da manhã: HUH?

Katie leu a mensagem e soltou um bufo. Você está brincando, ou você é


realmente distraído e desligado?

Seu texto de volta, disse, QUANDO VOCÊ VAI ESTAR EM CASA?

Sua resposta simples foi, EM BREVE.

Katie parecia querer jogar seu telefone na parede. Ela guardou-o para que ela
não fosse tentada a escrever sobre como isto era uma tortura e que ela não
queria ter mais nenhum fragmento de conversa com ele. Ela queria ele aqui,
agora, em sua vida e em sua cabeça, do jeito que ela tinha a intenção de entrar
em sua cabeça e mexer com suas emoções.

"Como você está , Katie?"

A pergunta veio de Callie, que tomou assento em frente a Katie. Nas duas
últimas semanas, sempre que Katie via Callie, Katie perguntava como ela
estava.

Aparentemente, o rosto de Katie comunicou que ela estava sob uma nuvem de
tempestade hoje.

Katie deu uma resposta de uma palavra, como se ela estivesse em uma
mensagem de texto na sua resposta para Callie. "Homens!"

Callie sorriu. Nenhum de seus filhos estava com ela esta manhã, o que era
incomum. Katie pensou em como Callie tinha olhado quase um mês atrás,
quando ela sentou-se nesta sala de jantar e não podia nem comer nem beber,
enquanto as mulheres de Brockhurst ministraram a ela e seus filhos.

"Eu acho que a frustração desta manhã não é com os homens em geral, mas
com um homem em particular."

"Sim. Um homem particularmente especial. "

"Como ele está ? Cheryl disse que ele deveria voltar aqui qualquer dia. "

"Eu ouvi os mesmos rumores."

"E como você está , enquanto espera que esses rumores se tornem realidade?"

"Eu estou ... Eu não sei. Eu ia dizer que estou bem, mas para ser honesta, já
que é a maneira que todos tendem a ser aqui em Brockhurst, estou muito
perturbada com este homem particularmente especial. "

Callie riu.

"Como está o seu homem, a propósito?" Katie sentiu a necessidade de mudar o


tema e mudar o foco de si mesma.

"Evan está muito melhor. Obrigada por perguntar. Ele está levantando e
andando nos últimos dois dias e já é capaz de comer um pouco mais. Estou tão
aliviada. Eu não posso dizer-lhe que susto isso foi. "
"Eu não posso imaginar o quão terrível deve ter sido."

"Bem", Callie se aproximou. Seus olhos verdes pareciam claros e mornos. "Uma
vez que, como você disse, nós tendemos a ser honestos em nossa família,
Brockhurst, eu vou te dizer a verdade sobre o terror. Eu aprendi algumas coisas
que eu nunca gostaria de ter que aprender novamente desta maneira, mas
essas verdades são como um tesouro para mim agora. "

Katie encontrou o olhar de Callie com seus olhos verdes e mudou o prato de
lado. "Eu poderia usar alguns pensamentos tesouros esta manhã."

"Descobri que quando Deus quer nos levar para um lugar de intimidade mais
profunda em nossa relação com ele, ele desfaz tudo o que já sabiamos sobre
suas maneiras de nos mostrar um lado diferente de si mesmo. Quando isso
acontece, você acaba confusa e com medo, porque você achava que conhecia a
Deus e sabia como ele trabalhava em sua vida. "Callie sorriu suavemente. "Mas
então você diz para o medo ir embora.

Katie concordou. Ela entendeu esse passo importante para limpar o caminho
nesta caminhada de fé.

E você se inclina para mais perto do Senhor. Você ouve muito de perto, e
quando você não ouve uma única palavra dele, nem um som, você espera. Mas
aqui está o que eu aprendi em tudo isso enquanto estávamos à espera de ouvir
alguma notícia sobre Evan. Você não espera em silêncio. Durante esse espaço
de tempo quando não sabíamos onde Evan estava, eu não conseguia dormir,
comer ou pensar. Mas eu conseguia me lembrar. E como me lembrei de todas
as coisas que Deus tinha feito por nós no passado, era como se eu não
estivesse sozinha na sala de espera do meu coração por mais tempo. Eu
pendurei cada uma dessas lembranças como imagens na parede, e então eu
olhava para cada uma delas dentro da minha mente e dizia: 'Obrigado, Deus.
Obrigado. "Eu comecei a louvar a Deus em vez de questioná-lo."

Katie disse: "Gostaria de pensar que ainda tinha de ser difícil de fazer."

"Sim, claro que era. Mas o que aconteceu foi que, quando eu comecei a louvar
a Deus e agradecer-lhe, eu passei através da escuridão. O meu coração acabou
do outro lado do medo ".

Bebendo o último gole de seu suco, Katie deixou as palavras de Callie


afundarem-se dentro dela.
Callie alcançado sobre a mesa , esfregou levemente a parte superior do braço
de Katie. "Katie, você tem medo de quê?"

"Nada”. A resposta saiu tão rapidamente que a surpreendeu. Mas o que


surpreendeu Katie mais, foi que essa conversa lembrou-a daquela noite
anterior, que ela embarcou no avião para voar para a África. Ted tinha
perguntado o que ela tinha a perder indo, e ela tinha jorrado a mesma
resposta: "Nada." Agora ela estava com medo que ela tivesse tudo a perder se
ela e Eli não chegassem a um acordo sobre o que estava próximo para eles
separadamente e em conjunto.

Katie apoiou o cotovelo na mesa e descansou a cabeça contra a palma da mão


aberta. "Eu não sei, Callie. Talvez eu esteja com medo. "

"Você está numa sala de espera agora mesmo com o seu relacionamento com
Eli. Isso é bom. Vá em frente e cubra as paredes com as memórias de imagens
de todas as coisas que Deus fez, e depois percorra a galeria todos os dias a
dizer-lhe obrigado, obrigado. É realmente poderoso Katie. Não importam quais
são os obstáculos na frente de vocês dois. Você continua louvando a Deus, e de
repente você vai descobrir que seu coração está do outro lado do medo e da
incerteza. "

Katie balançou a cabeça, querendo acreditar na admoestação de Callie. "E


então o que acontece depois que chegar ao outro lado do nosso grande
obstáculo?"

Callie sorriu. "Simples. Você segue o seu coração. E você continua louvando a
Deus por tudo quando se trata de você. E eu quero dizer tudo. Você agradece o
bom e o horrível. "

Katie respirou e pensou em como isso era diferente do jeito que ela queria
pensar sobre sua vida. Ela queria que a vida fosse fácil e feliz e todos caíssem
no lugar de uma forma que fazia sentido para ela.

Parecia que, o que ela estava aprendendo desde que ela chegou no Quênia era
que da mesma maneira que a África era bonita e ainda selvagem , seu
entendimento e crescente relacionamento com o Deus Todo-Poderoso era lindo
e ainda tão agreste e selvagem. Aqui parecia que Deus tinha virado seu
pescoço, e ela estava vendo um outro lado dele, como Callie tinha dito.

"Diga-me," Katie disse. "Como você sabia que Evan era o único para você?"
Callie inclinou a cabeça. "Eu sabia que Evan era o único para mim porque eu
não conseguia me imaginar seguindo na vida com mais ninguém. Ele disse que
não poderia imaginar-se seguindo na vida sem mim. Era fácil dizer sim e dar o
próximo passo. "

"E sobre a sua posição aqui em Brockhurst? Vocês têm os mesmos objetivos?
Você teve que deixar ir seus sonhos para segui-lo quando ele perseguiu o dele?
"

"Eu não acho que foi uma questão de ter objetivos mútuos ou desapego dos
sonhos. Nós fundimos nossas vidas e planos e nos ajustamos ao longo do
caminho. Acho que você percebeu que a vida aqui é diferente da dos Estados
Unidos. As pessoas não tendem a valorizar as suas carreiras ou tentam manter
seus objetivos pessoais. Tudo muda o tempo todo aqui. O que importa é que
quando Deus te dá alguém como Eli, você diz: "Obrigado, Senhor, e os dois
começam a seguir na vida juntos. Vocês resolvem as coisas na medida em que
avançam. Flexibilidade é o melhor presente que podemos dar um ao outro. É
assim que todos nós sobrevivemos e prosperamos."

Para Katie parecia que Callie tinha preenchido essa manhã de conversa na
mesa do café da manhã com um banho de uma banheira cheia de bons
conselhos, preenchidos com adocicados pontos de vista . Katie queria apenas
sentar-se nela e mergulhar.

No entanto, ela teve que saltar para fora da banheira de camaradagem e ir ao


andar de cima, porque ela estava escalada para trabalhar no Bar Café nessa
manhã e nas duas próximas manhãs.

Cada uma dessas manhãs, quando ela fez mochas para um animado grupo de
mulheres que estavam em Brockhurst para uma conferência das mulheres
africanas de liderança, Katie pensou no comentário de Callie de que a
flexibilidade era um dom. Quanto mais ela relaxou sobre seus planos
entusiasmados para a o projeto de angariação de fundos, mais de alguma
forma ela conseguiu ter feito, apesar de suas manhãs serem dedicadas agora a
fazer o café.

Ela também teve que ser flexível em suas comunicações de mensagens de


texto com Eli, porque ele estava tendo problemas de telefonia. Ele enviou um
texto a Katie do telefone de Dan. Dan era um dos caras na equipe de
escavação, e Eli disse em sua maneira enigmática que seu telefone havia
morrido. Eles haviam atingido alguns problemas com o poço, mas agora ele
estava a apenas um dia longe de ser concluído. Então ele mandou uma
mensagem, EM BREVE.

Essa era a sua última mensagem. Katie esperava que isso significasse que ele
estaria de volta em Brockhurst em um dia ou dois, mas ninguém parecia saber.

Desde sua conversa no café da manhã com Callie, Katie tinha pendurado as
fotos da memória do que Deus havia feito em sua vida em sua sala de espera
mental. Ela caía na cama à noite com sussurros de gratidão nos lábios e
acordava de manhã com uma doce canção de louvor ecoando em seus ouvidos.
De alguma forma, de repente, assim como Callie tinha descrito, Katie estava do
outro lado dos obstáculos que pareciam intransponíveis em relação a Eli.

Ela estava seguindo seu coração, e seu coração estava levando-a direto para os
braços de Eli. O único problema era que ela não tinha idéia de onde os braços
de Eli - ou o resto dele, estava no momento.

Capítulo 21

No ultimo dia da conferência de mulheres, Katie puxou seu cabelo em um rabo


de cavalo e encontrou um tubo de rímel que ela passou em seus cílios. Ela
colocou as contas que Eli havia comprado para ela no mirante do Vale do Rift e
manteve seu telefone bem carregado e ao seu lado o dia todo, esperando que
Eli estivesse de volta hoje.

A mensagem dele pelo telefone de Dan na noite anterior tinha sido: A Caminho.
Jim disse que eles deveriam chegar antes do pôr do sol, mas que não haviam
garantias.

Ela passou sua rotina, servindo no Café Bar, olhando para a porta a cada
poucos minutos, esperando ver aquele lindo rosto que a havia visitado quase
todas as noites em seus sonhos por duas semanas e um dia.

Uma das mulheres que tinha pedido um latte de chocolate branco agradeceu a
Katie dizendo; “Que a paz de Cristo esteja com você, irmã.”

Isso a lembrou do pastor do Congo que tinha ficado no mesmo lugar semanas
atrás e orou para Katie quando ela estava esperando os antibióticos. Ela se
lembrou de como ele disse algo sobre o passado se aproximar dela e que ela
deveria se lembrar da paz.

Seu passado tinha alcançado ela. Mas o seu presente tinha ultrapassado tudo o
que estava atrás dela, incluindo Michael, e agora ela estava totalmente pronta
para o futuro. Ela se sentia em paz.

“Asante sana,” disse Katie à mulher. “Que a paz de Cristo esteja com você
também.”
Cada vez que a porta se abria, ela olhava esperando ver a cabeça de cabelos
castanhos bagunçados pelo vento, que ela sentia tanta saudade.

Ela tinha a sensação de que todos que paravam, ficavam olhando para ela com
rugas de conhecimento ao redor dos olhos. Era como se eles soubessem seu
pequeno segredo. Ela estava apaixonada. Katie tinha certeza que isso tinha de
ser óbvio para todo mundo. Certamente era óbvio para ela.

Durante toda a tarde ela sentou-se escritório, se concentrando apenas pela


metade na tela do computador. Sua cabeça virava-se para olhar pela janela
aberta toda vez que ela ouvia alguma coisa que se assemelhasse a passos. Pelo
meio da tarde, seu pescoço estava dolorido de tanto virar a cabeça, então ela
manteve seu rosto voltado para a parede dos corações e seus olhos em seu
laptop.

Às 16:17 o telefone dela deu um zumbido amigável. Ela agarrou-o e


ansiosamente leu o texto de Eli. A mensagem era de seu telefone. Ele devia ter
ido para Nairobi arranjar uma bateria nova. O texto lido era: ÓTIMAS
NOTÍCIAS. DAN QUER TRABALHAR CONOSCO EM TEMPO INTEGRAL.

O coração de Katie gelou. Nenhuma comunicação em vários dias, e esta era a


sua grande novidade? Não era sobre quando ele estaria de volta ou qualquer
outra comunicação sobre os assuntos pessoais que tinham trocado mensagens
no início da semana. Tudo o que ele pensou para dizer à Katie era que Dan
queria trabalhar com Eles. Ótimo.

Ela respondeu: E QUANDO EU TEREI A ALEGRIA DE VÊ-LO NOVAMENTE?

LOGO.

Katie estava começando a detestar aquela resposta de Eli.

Ele escreveu novamente. ENTÃO NADA DE ANÉL, NÉ?


Agora Katie estava ainda mais surpresa. Ela era a única no escritório naquela
hora e estava feliz que a mãe e o pai de Eli não estavam lá para ver as caras
exageradas que ela estava fazendo para seu telefone em resposta as
mensagens de Eli.

NÃO, ela escreveu. Em seguida bateu seu telefone e murmurou, “Eu me recuso
a ter essa conversa com você por mensagem de texto, Eli Lorenzo.”

“Que tal se conversarmos sobre isso cara a cara então?”

Katie virou-se lentamente e piscou antes de ousar acreditar em seus olhos. Lá


estava ele, no batente da porta, preenchendo o espaço, enquanto ele se
apoiava casualmente com um sorriso astuto em seu rosto e seu telefone na
mão.

"Eli!" Katie deu um pulo e quase tropeçou em seu caminho para lhe dar um
abraço.

"Eu preciso de um banho", avisou ele.

"Eu não me importo." Katie deu-lhe um abraço, mas de repente ela se


importava sim. Ela se afastou e disse:
Eu encontro você no outro lado do chuveiro. O que acha disso? "

“Bom.” Eli sorriu e tomou a mão dela na dele. “Você está linda, Katie.”

E você está ... "Ela tentou escolher as palavras certas. Seu adorável e
despreocupado cabelo havia sido cortado. Parecia desigual, como se tivesse
feito ele próprio com uma pedra afiada, enquanto ele estava na aldeia. A outra
grande diferença era que o cavanhaque estava de volta. Ela notou isso mais do
que o cabelo quando ela terminou seu comentário. “Você parece o cara de
cavanhaque que eu senti uma saudade louca.”

“Então eu voltei a ser o cara do cavanhaque, hein?”

Katie estendeu os braços e deu ao rosto desalinhado dele uma massagem com
a parte traseira da mão.

“Você quer terminar aquela conversa agora? Sobre o anel?” perguntou Eli.

Katie deu a ele um olhar hesitante. “Você não vai me pedir em casamento
agora, vai?”

Eli riu. “Não, eu não vou.”

“Bom, você foi tão aleatório na sua mensagem. Num minuto nós estávamos
conversando sobre cabos de ligação e baterias de telefone, e então você jogou
uma pergunta significativa. Como eu deveria saber o que você vai dizer em
seguida?”

Eli levou Katie até uma das cadeiras e abaixou-a no assento como se ela fosse
uma delicada princesa. Ele puxou a outra cadeira para que assim ficasse de
frente para ela, recostou-se em suas roupas muito sujas e parecia relaxado.
Aparentemente, o banho havia sido rebaixado na agenda de Eli.

“Dan vai trabalhar conosco tempo integral.”

“Foi o que você disse. Na sua mensagem. Legal.” Katie sabia que seu sarcasmo
era óbvio, mas ela não se importava. Ela continuou. “Sobre que outras
novidades fascinantes você gostaria de conversar?”

“Eu gostaria de conversar sobre nós. Eu gostaria de conversar sobre esse


obstáculo que parecia ser esmagador quando você e eu fomos em direções
opostas há duas semanas. E eu gostaria de conversar sobre o que vem depois.”

“Perfeito. Eu tive alguns pensamentos inovadores sobre esse assunto depois de


ter várias conversas excepcionais durante a sua ausência.”

“Eu também”disse Eli. “Você primeiro.”

Ok, aqui está o que eu acho. Nós trabalhamos nisso à medida que formos
avançando. Estou animada para desenvolver o projeto de angariação de
fundos, mas isso não significa que esta é a minha carreira para os próximos
cinquenta anos. Flexibilidade é o melhor presente que podemos dar um ao
outro. Se nós estamos indo longe, sabemos que temos que ir juntos. A parte
juntos de nós está no nível do coração. Então, mesmo se não estivermos no
mesmo lugar todos os dias, nós ainda estaremos juntos. "

Seu sorriso confiante era tão forte, tão seguro. "Essa é a mesma conclusão que
eu cheguei. Em seguida, Dan decidiu subir a bordo. "

"O que há com esse cara, Dan, e sua decisão de trabalhar aqui?"
"Ele quer fazer a mesma coisa que eu quero fazer. Descobrimos que nós
funcionamos bem como uma equipe na aldeia, e isso significa que podemos
juntar nossas forças. "

"Então você não teria que ficar fora por meses de uma vez."

"Exatamente. Não é uma decisão de ou uma coisa ou outra para você e para
mim. É uma situação de as duas coisas e outras. Podemos tanto fazer o que
nos sentimos chamados a fazer, e podemos ir longe juntos. " Ele parou e pôs o
seu olhar sobre ela.

Katie piscou, percebendo que eles realmente estavam no outro lado do que ela
imaginava ser um obstáculo tão grande. Seus pequenos passos de fé os
levaram para um lugar aberto e repleto de possibilidades.

Quando Eli não disse nada, Katie disse: "Ok".

Eli disse, "Ok". Ele se levantou e foi em direção a porta.

Como um adendo ousado, Katie jogou fora mais uma linha. "Então você não vai
ficar por aqui e propor agora que temos tudo acertado?"

Eli continuou se dirigindo para a porta. Ele parou bem antes de sair. "Eu não
estou com pressa, você está?”

Katie sentiu um mergulho no seu espírito ao ouvir sua resposta. Não era como
se ela esperasse que ele ficasse de joelhos ou algo assim. Esperar era realista.
Isso se encaixava com a maneira de Eli de estar no tempo Africano. Fazia
sentido. Ela encolheu os ombros. "Não, eu posso esperar."

"Bom". Ele saiu e, em seguida, virou-se, voltou e parou na porta. "Eu esqueci
de te dizer. Você sabe a chuva de meteoros que vimos no deserto no ano
passado? "

"Sim".

"Devemos conseguir ver outra hoje a noite. Pensei em ir até a colina acima dos
campos de chá para assistir ao show. Você quer ir comigo? "

"Claro. Será que você tem almôndegas de crocodilo para desfrutarmos desta
vez, enquanto vemos o céu? "
"Não. No entanto,vou ver se eu consigo algum pudim de banana. O que acha
disso? "
"Adorável".

"Ótimo. Eu te encontro na sala de jantar mais tarde. Eu pensei que seria


melhor tomar aquele banho. "

"Excelente ideia."

Katie tentou voltar ao trabalho depois que ele saiu, mas ela não conseguiu. Ela
continuou pensando sobre a conversa. Seu relacionamento parecia ter caído em
um lugar onde era como se as peças houvessem sido cortadas para caber
juntas. Poderia ser assim tão fácil? Tão calmo?

No jantar, Katie estava consciente, mais uma vez que todos estavam olhando
para ela. Ninguém disse nada, mas todos eles pareciam estar escondendo
sorrisos e piscadelas, como se fosse um segredo. Desejou que Eli estivesse lá
para jantar com ela uma vez que era isso o que todos pareciam querer ver. Eli
não apareceu para jantar. Ela não viu Jim ou Cheryl. Nada daquilo a preocupou.
Era só que ela sentia que todos os olhos estavam sobre ela.

Depois de limpar sua louça e ajudar a limpar as mesas, Katie olhou para cima e
viu Eli entrar na sala de jantar. Ele estava recentemente limpo e penteado e
parecendo muito melhor do que quando ele foi ao escritório.
Ele caminhou até ela com a sua marcha fácil e deslizou o braço em volta da
cintura dela, dando-lhe um abraço.

"Você certamente está limpo e agradável."

"Levei um tempo. Você está pronta para ir ver algumas luzes? "

"Que tal jantar? Está com fome? "

"Não, eu estou bem." Ele pegou a mão dela, e no caminho para fora da sala de
jantar, Eli pegou uma lanterna de suspensão para iluminar seu caminho.

O céu da noite ainda tinha tons de damasco e bronze conforme eles


caminhavam juntos de mãos dadas. Eli falou quase o caminho inteiro sobre seu
tempo na aldeia e como ele via as coisas para os próximos meses. Ele
perguntou à Katie sobre sua viagem ao Lago Naivasha, e ela deu um relatório
completo sobre suas habilidades de guia de turismo. Ela passou por sua lista de
palavras em suaíli e admitiu que ela não tinha conseguido aprender uma frase
completa ainda.

"Eu tenho uma que você pode aprender", Eli disse. "Japo Kidogo chatosha kwa
wapendanao."

"Muito longo. Eu ainda estou no nível choo wapi. "

"Esta é uma boa, porém," disse Eli "Essa significa" um pouco é o suficiente para
quem está apaixonado. "

"Oh, essa é uma boa frase."

Katie estava prestes a dizer: "Então, o que você acha? Isso é verdade para
nós? Estamos apaixonados? " Mas ela sabia que não precisava perguntar. Era
evidente em seu coração, no toque dele seu toque, e nas palavras deles.

Acima deles, a lua cheia fez uma aparição sobre os campos de chá, tocando as
elegantes folhas enroladas e deixando-as coradas com o brilho da luz
amanteigada. Enquanto Katie e Eli subiam a colina, Katie olhou para os campos
de chá, absorvendo sua beleza à luz da lua.

"Katie?"

"Sim?"

"Olhe. Aqui deste lado. "

Ela se virou e olhou para o lado do vale de Brockhurst e deu um suspiro.


Espalhado por todo o gramado estavam centenas de luzes âmbar piscando
como vaga-lumes. "É tão lindo! O que é isso? Todo mundo está em uma festa e
nós não fomos convidados ? "
"Não exatamente", disse Eli.

"Parecem letras, não parecem?" Ela tentou montar as formas, certa de que elas
montavam uma palavra em suaíli. "K-W-Y-M-M. O que é isso? O que significa? "

"Não é suaíli. Mas isso ignifica alguma coisa. "

Katie olhou para Eli. "Você sabe o que é isso?"

"Sim".
"Então me diga."

"Tente descobrir".

Katie tentou se lembrar de alguém que ela conhecia estava fazendo aniversário
ou se este era um costume local que ela tinha ouvido falar, mas ainda não tinha
visto. Nada estava vindo para ela. As dezenas de luzes individuais continuavam
a piscar em sua formação KWYMM. Não fazia sentido para ela.

"Eu desisto."

"Você não pode desistir", Eli disse. "Isso não é uma opção."

"Então, pelo menos me dê uma pista. Lembra como eu era legal com você no
ano passado quando estava a tentar descobrir as coisas na Califórnia? Eu te dei
pistas úteis sobre costumes culturais. Então me dê uma dica ou algo assim. "

“Tudo bem. Aqui. Essa é a pista mais óbvia que eu posso te dar.” Sob a luz do
luar e da lanterna brilhando, a expressão de Eli pareceu tímida e ainda
resolvida. Pegando a mão dela, ele apoiou-se em um joelho e olhou para ela
com um sorriso satisfeito.

A realidade do que estava acontecendo, correu para Katie como uma brisa
Africana selvagem. As letras no vale abaixo, soletravam uma mensagem de
ouro, e a mensagem era para ela. Cada letra foi direto ao seu coração como um
dardo.

K = Katie (Katie)
W = Will (quer)
Y = You (se)
M = Marry (casar)
M = Me (comigo)**

A terra girando pareceu momentaneamente pausar para Katie, e ela tinha


certeza de que as estrelas estavam inclinando-se mais perto para ver o que iria
acontecer a seguir.

"Então?" Eli perguntou pacientemente de sua posição de joelhos.

Katie pegou fôlego. "Eu pensei que você disse esta tarde que não estava com
pressa."
O que eu deveria dizer? Você ficou me perguntando se eu ia propor. Eu tive
que te jogar para fora das pistas. Então? Estou pedindo agora. Você vai me
fazer perguntar de novo? "

Katie se recompôs e deixou o que estava acontecendo se aprofundar nela. Eli


não estava brincando. Ele realmente estava se propondo a ela. Todos em
Brockhurst faziam parte do segredo. Da mesma forma que uma única vela
brilhou na janela da casa de seus pais na noite da chegada de Eli e Katie, agora
centenas de velas seguradas pela equipe e hóspedes piscavam para eles no
vale abaixo,convidando-os para o resto da suas vidas.

"Okay. Desculpe. Tudo bem. Eu estou pronta agora. Vá em frente. "Katie


ajustou sua posição e olhou em seus olhos. "Pergunte-me novamente."

"Katie?"

"Sim?"

"Você quer se casar comigo?"

Em uma respiração profunda, que estava transbordando com uma paz segura e
certa, Katie respondeu: "Sim." Então, como se a paz borbulhasse em alegria,
Katie gritou no topo de seus pulmões. "Sim, sim, sim!"

Eli levantou-se e passou os braços em volta dela, puxando-a para perto e


sussurrando em seu ouvido: "Eu amo você, Katie."

Ela fechou os olhos e deixou as lindas e vivificantes palavras de Eli derreterem


em sua alma. “Eu sei. Eu sei que ama. E eu amo você, Eli. Eu te amo muito.”

Ele se afastou e olhou para ela. No brilho da lanterna, ela podia ver lágrimas
brilhando em seus olhos.

"E você tem certeza?", Perguntou ele.

“Sim, muita certeza. Mais certa do que eu já estive sobre qualquer coisa. Eu
vou me casar com você, Elias James Lorenzo, e vou viver com você, e visitar
aldeias com você, e ter bebês com você, e eu vou cozinhar ugali pra você e vou
cortar seu cabelo e –“
“Cortar meu cabelo?”

Sim, eu ia te dizer que quem quer que tenha cortado seu cabelo pra você na
aldeia, realmente não fez isso direito. Eu acho que você deveria me deixar
cortar da próxima vez. Eu vou fazer um trabalho bem melhor.”

“Okay, eu posso concordar com isso. Algum outro ponto para negociação antes
de fecharmos o acordo?”

“Eu estava pensando sobre nossos filhos outro dia. Eu gostaria de pelo menos
dois. Talvez quatro. Mas não mais que quatro. Nós nunca falamos sobre isso.
Eu não quero ter apenas um filho, se nós pudermos. Eu quero dizer, eu sei que
isso é em ultima estância para Deus.”

“Concordo. Mais alguma coisa para negociar?”

“Não. Eu estou bem. Oh, espere. Eu não quero morar com seus pais. Quer
dizer, eu os adoro e tudo, mas...”

“Já trabalhei nisso. Na verdade, estou mudando para o Nove Superior (Upper
Nine) essa semana.”

Katie levantou suas sobrancelhas. “Sério? No que mais você trabalhou?”

“Nisto.” Eli alcançou sua mochila e puxou uma arma de fogo. Ele apontou pela
cobertura de observadores celestiais e atirou uma única rajada flamejante no
céu noturno.

À distância, como um rumor fraco, Katie pensou ter ouvido uma torcida. "Isso
vem de todos em Brockhurst? Sua equipe de velas? "

“Sim. Eles estão torcendo por nós. Eu disse a eles que enviaria uma flama se
você dissesse sim.”

“Se eu dissesse sim? Você tinha alguma dúvida?”

“Não.”

“Mas e se eu dissesse não? Ai o que você faria?”

“Eu tinha outro sinal pronto para eles soltarem os macacos selvagens.”

Katie riu, seu queixo estava para cima, e suas mãos escondidas no punho
robusto de Eli. Quando ela olhou para ele, Eli estava encarando ela. Seu olhar
intenso não a deixava mais nervosa.
“Você vai me beijar agora, não vai?” perguntou Katie.

“Sim eu vou.”

Ela aproximou-se, murmurando baixinho, “Finalmente.”

Seus lábios se encontraram, e por um excepcional e duradouro momento, eles


expressaram um ao outro sua fervorosa afeição e reverente esperança para o
que ainda estava por vir.

Afastando-se lentamente, Eli pronunciou uma benção sobre ele, enquanto as


estrelas africanas inclinavam-se para baixo, a lua antiga suspirou e a chuva de
meteoros enviou seus fogos de artifício. Era a palavra que Katie havia esperado
muito para escutar, e quando Eli falou, ela sabia que seus corações estavam
unidos.

“Pra Sempre.”

-----------------------------------------------------------------
** KWYMM – Katie, Will you marry me? (Katie, voce quer se casar comigo? ou
Katie, você irá se casar comigo?) – Tive que fazer uma escolha de tradução que
não deformasse muito as palavras da Robin. A tradução não é literal, mas o
sentido inglês-português é o mesmo.

Desculpem a demora pra tradução, mas as coisas estavam bem corridas no


trabalho e faculdade essa semana. Mas está ai..

Beijos!
AGRADECIMENTOS.

Aproveitando quero desde já agradecer a Aline Fróis que concordou em que este livro fosse
compartilhado aqui.Peço perdão porque sou uma tradutora amadora e como já tinha dito não falo
inglês,entendo pouco e o tio google é o verdadeiro tradutor.

O capítulo 8 foi traduzido por Danielle Ribeiro, tradutora profissional (essa sim sabe tudo de
inglês),obrigada Danielle por aquele capítulo maravilhoso que na minha opinião foi o melhor até
agora.

O capítulo 9 foi traduzido por Fernanda Santana ,obrigada Fernanda você é uma benção.E postado
por Aline fróis outra jóia raríssima.Obrigada Aline.

O capítulo 10 foi traduzido por Mariana Freitas Caboclo,obrigada Mariana,minha parceira de


estado.Amooo Vila Velha!Obrigada sua capixaba linda!

O capítulo 11 foi traduzido por Juliana Cristina Alves, que contou com a revisão de Roberta
Nogueira .Obrigada Juliana e Roberta.Vocês são demais!Quero esclarecer que eu mandei o capítulo
21 para a Ju tem pouco tempo,eu poderia ter enviado com mais antecedência,por isso a culpa da
demora é minha tá.Obrigada Ju,porque sei que você tá dando o máximo que pode e fazendo o seu
melhor,que Deus possa te abençoar grandemente.

O capítulo 12 foi traduzido por Hanna Rezende,muito obrigada Hanna.

Com a ajuda dessas lindas pedras preciosas,eu consegui adiantar os capítulos e fazer aquela semana
maravilhosa onde adiantamos bastante nossa leitura.Se as meninas não tivessem ajudado,acho que
o segundo semestre ia ser todinho dedicado a esse livro.Mas agora que bom,estaremos livres para
mais um livro inédito!

Foi lindo ler este livro com vocês amadas!

Fernanda Lima.

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