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O beijo no rosto
morto.
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida.
Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.
- Clarice Lispector
Para minha tia avó Antoinette (in memoriam) e minha bisavó Mariinha (in memoriam), e
também para todos aqueles que enxergam nas artes, seja de qual forma for, uma forma de
real expressão e libertação.
PREFÁCIO
Desde muito jovem sou entusiasta das artes, e a escrita me fascina de uma maneira
indescritível. Acredito que é possível sobrevoar mundos e explorar sua mente através dessa
ferramenta; é possível traduzir o mais profundo de si mesmo e de seus próprios sentimentos
escrevendo. Venho de uma família de artistas, influenciada por eles, cá estou eu,
humildemente lançando minha obra da forma que me é possível, em busca de que você, leitor,
possa mergulhar nessa mente fértil que é a minha.
O título do livro, embora mórbido, traz o significado mais íntimo e sincero da escrita, para
mim: ao longo de nossa vivência, caímos, levantamos, nos autodestruímos e nos
reconstruímos; deixamos muitos ‘’restos’’ de nós mesmos pelo caminho, e é possível se
reconectar-se consigo mesmo de várias formas, curando-se de suas próprias dores,
recolocando seus pedacinhos em seu devido lugar. Isso é o que a escrita faz comigo: para além
de uma arte; uma terapia.
Os presentes escritos envolvem situações reais ou nãos. Com muitas metáforas, repleto de
sentimentos e também de muita imaginação. Aqui, você encontra minha mente nua e crua
abordando amor, sexo, traumas, transtornos, decepções, conquistas, medos, relacionamentos,
amizades, superações, meu processo de autodescobrimento enquanto mulher e ser humano...
E muito mais. Situações reais. Situações inexistentes. Escritos para pessoas especiais ou não. E
as coisas estão de forma bem explícita aqui, então, talvez você vá se chocar. Ou não. Se você
me conhecer bem, nada será uma real surpresa. Aliás, tudo é subjetivo aqui. Tudo fica aberto à
sua interpretação, pois essa é a minha forma de arte. Ah! E você provavelmente vai encontrar
inícios de frases com letra minúscula, algum erro ortográfico aqui e ali e umas gírias, mas é
tudo proposital, rs.
Com carinho,
Bibia. =)
uma vez, um amigo me disse que apesar de eu falar muito, eu era tímida e escondia muitas
coisas, às vezes; que exigia atenção possuir minha amizade não pelo que eu dizia, mas pelo
que eu não dizia. e eu me perguntei como aquilo era possível. refleti, parei e reparei: Eu
colocava muita coisa pra fora, mas eu guardava muita coisa, também. e eu vi ali quantas
infinitas possibilidades as pessoas tinham, muito além de ser extrovertido ou introvertido,
sobre ser simpático ou apático, sobre ser amável ou não ser. colocamos apenas algumas
camadas pra fora, e tínhamos coisas que preferíamos que não fossem reveladas; talvez por
medo, talvez por saber que não seríamos compreendidos em nenhuma instância. algumas
vezes não parávamos de falar por horas, ríamos, e tudo era um grande vazio àquela altura;
tínhamos criado personagens para esconder as raízes de nossas almas, por serem frágeis e
outrora assustadas. o mundo assusta. as pessoas assustam. e sentir a solitude dia após dia
embora esteja cercado de gente, essa é uma sensação que jamais esquecerei.
todos ensinam que precisamos de alguém pra nos completar. não concordo com isso, nunca
concordei. talvez eu tenha fraquejado em alguns momentos pra agradar os outros, mas só
mudo por mim mesma agora. você está sozinho em todos os momentos da sua vida, pelo
menos os principais: o princípio e o fim. você precisa aprender a acolher sua companhia. gosto
de ir pro cinema, gosto de companhia mas amo ir sozinha. escolher o filme que eu quiser,
sentar na poltrona com um cappuccino e estar ali vivenciando uma experiência com a única
pessoa que me entende: eu mesma. adoro tomar café da manhã com os outros, mas não tem
nada de errado em tomar o café sozinha, sentir o gosto do pão quentinha na boca, observar o
tempo se esvaindo; pensando no que você quer (ou não) fazer durante o dia, durante a
semana, o mês, o ano. cansei de regras. eu gosto da companhia dos outros, mas preciso
admirar a minha. você precisa reconhecer o quão incrível você é, embora não aceite isso às
vezes. é bom demais estar sozinha também, e caso aparece alguém pra acompanhar a ciranda,
que venha; e se for embora, tá suave também. eu já existia antes de você
eu estava magoada pois esperava algo diferente, mesmo que não fosse “amor”, te ouvi
pronunciar palavras sobre isso e eu já sabia que era mentira, estava muito rápido, você ainda
não me conhecia o suficiente. e, na verdade, eu não esperava nada daquilo, de descobrir que
eu fui um prêmio de consolação, uma válvula de escape. eu sempre disse que jamais aceitaria
o pouco, jamais aceitaria migalhas, e foi isso que me fez partir. eu sabia (e sei) das minhas
intenções, do meu coração, da minha alma. e por mais que eu ainda deseje te sentir perto de
mim, sentir seu corpo, seu beijo, escutar sua voz e te ver jurar o mundo pra mim, mesmo que
fosse tudo uma grande mentira. eu não te amei: eu amei a ideia de te amar. amei a ideia de
sair do vazio constante que era a minha vida e a minha existência. queria que você me
conhecesse por inteiro e desejasse permanecer, mas nós dois sabíamos, no fundo, que jamais
daria certo. e o mesmo rápido acaso que nos uniu, também nos separou.
eu só não consigo entender o que te fez me querer perto; foi egoísmo seu. você não precisava
de mim em nenhum momento, e você me quis mesmo assim, e no final pra quê? eu depositei
pequenas chances de acreditar que sairia dali alguma coisa boa, e mesmo que todos tivessem
me alertado eu ainda queria acreditar que o mundo estava errado, e você, certo. era tudo uma
mentira. aliás, quanto mais você tentava colorir a história, mais ridículo ficava. não havia cores
para o preto e branco, você deveria saber. não se pode iluminar quem é das sombras por
natureza. você não me conhecia muito bem, e precisou de muito pouco para eu enxergar que
você era como o sol, e eu, a lua. e como deveria se imaginar, existem desejos mortais, era o
nosso caso. você tentou queimar minha pele enquanto eu atravessava o dia, e eu tirei a sua
paz durante a noite, por fim. não era para termos nos encontrado nunca, nem se quer pelo
fatídico eclipse que foi aquele anoitecer.
[
e, na hora mais sombria da noite,
ela sabia que só a viam como uma parte e não como um todo
por mais que alguém tente, não consegue ultrapassar a barreira que ela mesma criou
eu te idealizei
existiu um só momento
e, justamente por ter tantas camadas, eu precisava de uma ‘’proteção’’. precisava de munição
contra a minha própria mente e contra os curiosos que chegavam perto de mim apenas para
saber quais eram meus mistérios. mas eu era amorosa, dócil, e queria ver sempre o melhor do
mundo, no final. se eu parecia sem sentimentos às vezes, era simplesmente por saber que
nem todos conseguiriam lidar comigo daquela forma – é preciso de tempo para revelar o seu
eu verdadeiro. enquanto não se tem espaço para isso, é necessário um alter ego para se
manter em modo de sobrevivência. talvez agora você não entenda minhas palavras, mas um
dia há de entender.
eu sou das sombras,
me falou de “amor“
enganações
(eu me basto)
os ossos estão quebrando
me dói
bom, eu estava
intensamente,
como eu sou.
é assustador
nada muda
assustador
e libertador
na cama e no coração
você era tão raso que queria várias garotas para preencher seu vazio
confie em mim
eu me perguntei quais desses pecados mais definiam as minhas atitudes - não que eu fosse
religiosa, mas eu possuía uma profunda curiosidade pelo entendimento do meu eu com a
ajuda da religião, dos astros, do zodíaco, do universo ou seja lá o que fosse. pesquisando, eu
descobri pelo menos quatro que se encaixavam: luxúria, vaidade, preguiça e ira.
eu possuía vaidade em mim mesma; eu não era orgulhosa sempre, mas se eu visse que não era
pra mim, eu desistiria imediatamente e ninguém me faria voltar atrás. não conseguia aceitar
que eu cometesse erros. eu queria ser perfeita e faria qualquer coisa para isso.
a preguiça pelo fato de que eu estava sentindo o mundo nas minhas costas muitas vezes e eu
transformava algo gigante em algo que muitas vezes não tinha tanta importância; pois muitas
vezes ver uma dificuldade maior do que eu já conhecia eu desistia de tentar ali mesmo. no
fundo, eu só tinha medo de ser insuficiente. acho que todos temos.
e a ira. ah, a ira! eu era uma pessoa doce e carismática; eu era como se fosse de vidro. e
muitas pessoas que me pegavam pelas mãos me deixavam cair e eu me quebrava em
pedacinhos: mas aí vinha a parte que eu revidava. eu fazia cortes profundos. eu não me
esquecia. eu podia te perdoar, mas eu não conseguia esquecer. algumas coisas a gente fica
remoendo até o dia de ir pro túmulo. e esse era, por fim, um dos meus males.
e eu continuava sendo uma boa pessoa; ou não. eu era humana. eu sou humana. e sou falha.
eu queria tudo. eu queria o mundo. eu queria a euforia e as mais profundas experiências.
queria ir pra baladas movimentadas nos fins de semana e voltar de madrugada escutando the
weeknd no máximo. queria estar chapada e estar nas nuvens. queria trident de morango,
queria açaí, queria amor verdadeiro. queria um abraço antes de dormir e que alguém
percebesse que estou tentando o meu melhor. queria alguém que eu pudesse
verdadeiramente ser transparente, um homem ou uma mulher que fosse meu parceiro no
crime, na vida, em tudo. eu já não precisava daquilo pra ser inteira, eu, sozinha, me
complementava: mas queria uma companhia de vez em quando. queria dormir de conchinha,
queria fazer amor até altas horas da madruga.
queria pôr do sol na praia. queria o friozinho de uma serra enquanto tomo um chocolate
quente meio amargo; a endorfina da academia todas as manhãs; eu gosto de treinar cedo. me
dá disposição. quero brincar com os animais, com as crianças e interagir com os idosos. quero
salvar o mundo. quero aprender russo. francês. alemão. quero ir pro cinema sozinha, ver
filmes de terror; eu amo isso demais. eu gosto de ir pro cinema completamente sozinha.
minha mãe pergunta “como é possível?“ eu respondo que não me importo. e é verdade. o
cinema sozinho é uma experiência que todo mundo tem que viver.
eu quero ir embora do país, quero viajar e nunca mais voltar, ou voltar só de vez em quando.
eu definitivamente sou muito ambiciosa. o que a vida pode reservar para aqueles que não tem
ambições? cada dia que passava eu tinha mais e mais. eu não queria me contentar com o
pouco. não queria me contentar com o que eu não mereço. eu entrego muito para o mundo,
para as pessoas, para o universo. e tudo que me for possível conquistar, eu irei.
pare de esperar muito de mim. eu faço o que eu quero, quando eu quero. eu gosto de ser
livre. me acorrentaram por muito tempo; estou com sede de liberdade constante. eu não
quero, eu não posso ser parada. tudo isso me incomoda. o sentimento de posse. eu quero ser
amada, e ao mesmo tempo, eu quero estar solta. eu sei que sou confusa. continuarei sendo
assim, eu prometo. já não posso fazer nada para mudar o que estava definido antes mesmo de
eu sonhar em te conhecer. estou escrevendo e olhando pro passado: derrubei os maiores
muros para a minha construção pessoal e intelectual. isso não foi do dia pra noite. sou
impulsiva, eu sei. mas preciso tomar cuidado com quem me rodeia. não quero cair nas graças
de estar aprisionada nunca mais. só de pensar isso, me dá ânsia. cansaço. eu simplesmente
não posso me dar ao luxo de me atrair por coisas de momentos e te convidar para entrar na
minha casa. pois mesmo as pessoas que mais conhecemos são capazes de nos surpreender.
me chamava tanto de ‘’princesa’’
e não eram
eu dei sinceridade
e não obtive
e sentia muito
se é possível ou não
é difícil escapar
a pressão baixa
é só o que eu te peço
te darei o mundo
ou algo passageiro
daí, ela não deixava a garota sair da caixa de vidro. era transparente e ela conseguia ver o
mundo e os outros, mas não podia fazer parte daquilo. ela estava ali como um manequim, e
ela se alimentava, mas era pouco; ela falava muito, mas não até que sua mãe a ouvisse. ela
andava pouco e ao levantar, a caixa de vidro se arrastava com ela, fazendo com que toda a
casa ouvisse e sua mãe levantasse para reprimi-la e ameaça-la se continuasse insistindo em se
levantar. seus dias eram solitários e se passaram anos e anos daquela forma.
e então, chegou um ponto em que a garotinha cresceu e não cabia mais na caixa de vidro. ela
estava cansada: tinha vivido durante toda a sua vida ali, sendo comprimida. foram cerca de 15
anos, pra ser exata. ela acordou e, durante a aurora, ela bateu a cabeça contra o teto de vidro;
chegou um ponto em que ela tinha alcançado a altura máxima. e ela tentou empurrar o teto,
e, com muita dificuldade, finalmente conseguiu. ela saiu da caixa, então, e observou o mundo
da forma que sempre quis. e confiou em pessoas erradas. e fazia o que lhe dava na telha;
tendo boas ou más consequências. e por estar tanto tempo no vidro, não conseguiu nem
enxergar quando foram cortá-la com pedaços de vidro e deixar sua pele em carne viva: ela só
queria ser totalmente livre. e os sentimentos ainda estavam à flor da pele. mas, estava tudo
bem: ela descobriu que o vidro pode cortar, mas, de qualquer forma, o vidro produz os
espelhos; e os espelhos podem ser confusos, mas se você olhar fixamente com seus olhos para
dentro deles, poderá enxergar a profundeza do seu espírito. e ela encontrou um pequeno
espelho, no chão, enquanto caminhava pela rua e viu-se claramente. e viu que estava ferida,
mas que era forte. e então, bum! ela caminhou mais um pouco e achou agulhas e linhas e
costurou suas feridas. elas pararam de sangrar. ela havia se reconhecido. já não era tão
inocente; conseguia entender melhor as intenções das pessoas e diferenciar as estações. e ela
não precisava mais de vivências rasas – ela estava vivendo profundamente em conjunto com
seus sentimentos tudo aquilo que sempre desejou.
à cada momento que passa e quanto mais eu tento esquecer, mais eu consigo me lembrar
profundamente de tudo. e se eu pareço redundante, não é nada demais: eu apenas achei
maneiras novas de escrever coisas velhas. os pensamentos estão em uma roda, todos de mãos
dadas, descobrindo qual deles irá me destruir primeiro. não revido, não duvido; eles têm
poder o suficiente para fazer comigo o que bem entenderem, como já fizeram antes. basta um
leve sopro para que eu me derrube. quanto mais forte eu pensava que estava, na verdade ia
para um abismo profundo. e eu nem se quer enxergava o final daquilo; acho que essa era a
pior parte. eu precisava lutar sozinha contra todo um exército de demônios imaginários, e
provavelmente pareceria que eu estou enlouquecendo para aqueles que estão de fora, e
quem garante que eu realmente não esteja? para pessoas como eu, tudo é possível, inclusive o
nada. e eu vou seguindo com minha armadura, me sentindo imbatível, mas sabendo que em
qualquer momento tudo se acabará.
não queria sentir essa sensação por um bom tempo
mas, dane-se
está tão rápido e eu sei que não deveria ser assimmas eu já não posso controlar
você viu que eu estava sedenta. eu precisava urgentemente molhar a minha garganta; e você
possuía uma adega recheada de vinhos, por sua vez; me ofereceu para beber do seu cálice, o
mais saboroso, chique e cheiroso vinho existente na sala. sob o clarão da lua ao anoitecer,
revelei à ti meus segredos mais sombrios, meus desejos, minha vida; pensei que estava segura
em me abrir com você. mas, depois de algum tempo, eu já não era capaz de sentir meu corpo
e era como se o cálice estivesse envenenado; aliás, tudo em você era letal. seus beijos, seu
toque em minha pele, até o seu feroz olhar machucava. e eu queria acreditar em um ideal em
que vivesse uma realidade paralela ao meu trágico mundo real, e queria ser ouvida, e queria
ser desejada; eu sabia que não haveria como você me amar. era tudo uma ilusão, e eu queria
acreditar naquilo por um tempo, enquanto o veneno estava correndo por minhas veias, eu me
sentia anestesiada; e eu achei que você era bom pra mim. e eu vivia bêbada pelos cantos,
pelos corredores, pelos casarões e pelas vielas. eu estava presa em um devaneio profundo: o
seu. você me deu o que eu achava que queria: do prazer à dor foi apenas um segundo. e
sempre foi maravilhoso para você me ver sangrar. não era, necessariamente, um problema
seu.
na realidade, eu me perguntava se era possível deixar tudo pra trás e quebrar as correntes.
sabia que seria difícil permanecerem no meu caminho com regras impostas - se nem eu
aguentava aquilo, por quê os outros aguentariam? eu queria estar chapada e fora de mim em
todos os momentos para esquecer aquele problemas; esquecer aquelas regras e as ideias que
tinham projetado sobre mim durante toda uma vida. o que estava acontecendo, na realidade?
se todos os meus sonhos pareciam uma revolução para aqueles que estavam acostumados à
seguir um padrão pré-determinado? eu estava errada? ainda vão me olhar com os mesmos
olhos de admiração se perceberem que eu segui meu próprio caminho ou me acharam egoísta
e vazia? não era uma preocupação real minha o que os outros pensavam - eu só estava
seguindo meu caminho e ficava pensando se aquilo seria bem avaliado segundo as normas
impostas anteriormente. mas, nem mesmo as normas mais bem cravadas são sujeitas à
completa e complexa perfeição. na verdade, a perfeição é só uma palavra bonita e intangível.
me diga: onde se pode garantir a perfeição de algo? ou de alguém, ou de alguma coisa? isso é
impossível. trata-se de uma ideologia falsa e contestável.
aquela garota mudou minha mente
me dê o melhor ou o pior de si
não, espere
de novo e de novo
eu menti
parece loucura
posso cair, mas quando eu levantar vou rasgar; aniquilar; machucar e vou me desculpar
você me deu
mas, esqueça
do que eu quero
e eu também
tão rapidamente
eu estava melhorando
pode parecer bobagem pra você, mas não foi pra mim
as lembranças de você
o que fomos nós, então?
fiquei presa no meu corpo? na minha alma? na crença de uma existência recheada de dores?
simples e singelo
sou como uma nova pessoa
pergunto se serei forte o suficiente para passar por isso outra vez
eu precisava me preparar
preciso ir embora
me peguei pensando
eu me pergunto, no final
ninguém está livre: você decepciona e será decepcionado por muitas, inúmeras pessoas e
situações em sua vida. acontece que é difícil segurar o tranco: você não tem um manual para
isso. todos lidamos de formas diferentes à desilusões, decepções. acontece que: você cairá
muitas vezes, mas terá que se reconstruir. por melhor que alguém seja, não fará o que você
precisa fazer por si. trata-se do poder que você dá à situações e pessoas. o ponto real da
história é: até quando você irá se culpar por coisas que você não tem controle e passar a dar
importância à si mesmo e ao seu crescimento? arruinar-se em prol dos outros vale a pena?
pois, meu caro: nada vale a tua ruína.
como diria baco: somos livres como os girassóis de van gogh
tudo bem
oh, céus
estou viciada
desculpa se te sufoquei
nunca quis que chegasse à esse ponto
vamos recomeçar
se fazia o lilás
a maquiagem borrada
te busco desesperadamente
só para variar
você verá
desculpa te preocupar
e as bochechas rosadas
um blusão amassado
sentimentos em êxtase
você ainda gostaria de mim se descobrisse que não sou sua garotinha?
que posso até ser uma princesa, mas não do tipo que precisa de proteção
me diga, mamãe
me diga, papai
logo me acheguei
a menina das tatuagens, piercing no septo e cabelos castanhos iluminados ganhou meu
coração
na amizade ou no amor
preciso descobrir
lingerie da cor do fim de tarde
só de te ver partir
ou se alguém te quer
se a gente se deseja
algo mudou
papai, me perdoe
estou cada vez mais distante por não saber lidar com presenças
vovó, me perdoe
a real questão é
toques mortais
mas, no final
quem me compreenderá?
quando de ti eu soltar
a maquiagem borrada
algum laço
sigo me enganando
que resolvam
de temer o envolvimento
ser indecifrável
nunca desisti de ti
eu estou assombrada
te fiz companhia
do começo ao fim
sempre pensando em ti
eu sou sincera
ou de me autodestruir
me destruído
quem diria
se um dia duvidei
tudo é em vão
às vezes é em vão
tudo é vazio
ferindo o corpo
quando, na verdade
estou nas alturas com a erva, mas o efeito logo vai passar
é divertido e doentio
loucuras adolescentes
merecemos a felicidade
eu sempre me pergunto se
se demonstrasse menos
se me entregasse menos
deixaria de ser eu
ser de verdade
(e ninguém deveria)
mas, no final
ou sendo observada com o brilho nos olhos que destino para os outros
me ajude
senhor, me sustenta
ou amada
faço o possível para que não me deixem por ser sempre verdadeira demais
se desprende disso
do amor a aventura
viveremos intensamente
sou do tipo que irá disputar com você quem tem mais mulheres
é prazer
é sentimento
é poder
sempre envolveu
é errado negar
entretanto
embora me machucasse
eu sempre voltava
você sabe
eu só quero te ajudar
mas só estou agindo assim por sempre ter me preocupado com você
você me perguntou
ou de ao menos tentar
só eu precisava saber
mil cartas que escrevi para você
eu só queria sinceridade
o que somos
me dê dor; me dê amor
eu só preciso saber
mas, verdadeiras
queria fugir
o fogo e o gelo
somos diferentes
incontroláveis
e nunca será
e sem arrependimentos
nunca saberá
vou continuar me comparando
eu sou complexa
disfarça;
jamais existirá
era tão mais fácil quando eu tinha aquela velha barreira. quando eu não tinha quebrado ela
para tentar “voltar a viver” - quando tudo ainda era automático. isso me evitou tantas
decepções, tantos problemas. eu pensei que quebrar isso tornaria minha existência mais leve -
do contrário. a tornou mais pesada e exaustiva. eu precisava de um pouco de leveza, precisava
saber que estava tudo bem. eu já não tenho certeza de nada. estou seguindo cheia de
espinhos me cortando - não é como se alguém se importasse. me empurrei para fora da
redoma após passar tantos anos vivendo ali, e vi que talvez ainda não estivesse pronta.
começou com uma euforia sem fim; momentos bons e inesquecíveis, mas viriam as
consequências. e elas viram pior do que nunca, prontas para me destruir. então, eu vi que
tudo me lembrava o seu toque. a sua forma de falar, de lidar. e vi o quão eu continuava
cansada, embora gritasse aos 4 ventos que estivesse melhor. eu não estava. eu não superei. eu
continuei caminhando. e eu me machuquei de novo, de novo e de novo. e vi que eu nunca
realmente saí da redoma - talvez eu a tenha expandido e tenha arrastado coisas para dentro
dela, mas eu nunca havia, de fato, saído. talvez, os antidepressivos tivessem me dado essa
ilusão. ou o cigarro. ou a minha mente, mesmo. mas eu continuava presa a redoma - assim
como sempre estive.
quanto mais eu digo que não
mais eu sinto
e infelizmente eu sinto
e sinto muito.
caindo outra vez
saindo de mim
se só está jogando
funcionava melhor
é doentio, corrosivo
fim de terça
se tanto fiz
ao invés de me ferir
me vi perder o sorriso
eu que fugi
eu precisava me proteger
me expulsou com ações não tomadas
com inseguranças
eu tentei quebrá-las
eu te quis tanto
acabou tudo
não deveria
mas aconteceu
sofri ao te deixar
promessas em vão
decidi ir te ver
no toque e no olhar
foi bom enquanto durou
intensificando as dores
as lembranças machucam
te ajudei a se levantar
como eu precisava
tarde ensolarada
transando, conversando
quem diria
já não sou tua refém
e eu cansei de te esperar
resisto em te chamar
não importava
me recuso a acreditar
mas, foda-se
e finalmente entendi
mesmo assim,
ou meus traumas
desde o princípio
me ferir de novo
a euforia do começo
mas, no final
viver assustada
não finja que não sabe que estou escrevendo para você
me diga, então
sim, é verdade
puros e ingênuos
jogado ao vento
e criou situações
e inventou desculpas
não relutei
ou querem
me mudar
me moldar
me sugar
ela me perguntou
mas dói
está certo
me diga, então
me dê um pequeno sabor
realidades distintas
reparta comigo
francesa baixinha
te levaram embora
me rasgou, é verdade
sobrevivi a todos
eu nunca consegui ver meu lado bom quando estava com você
me acorde do pesadelo
volto a me cortar
você diz que mudou, mas eu sei que quer uma oportunidade
overdose no camarim
talvez seja pelo fato de que quem me deu tenha sido alguém que eu amava muito
as garotas me escutam
e sim de adrenalina
me diga, então
você me feriu e
eu estava sangrando
você não ligou de volta para o que suas ações fariam comigo
você, do contrário
estava vagando
aliás
acontece que eu
pois por tanto tempo vivi algo que não era meu
se parecemos vazias
me ame
ser intenso
me impede de ficar
e erradas
pois, no final
me libertar.