Abrir portas onde se erguem muros Director: David Pontes Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • Ano XXXV • n.º 12.

XXV • n.º 12.363 • Diário • Ed. Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 2€

Saúde

NELSON GARRIDO
Falta acordo de
dois municípios
para libertar
milhões do PRR
Bruxelas mantém cativos 172,8
milhões por atrasos na descentrali-
zação na saúde. Ao todo, 189 câmaras
já aceitaram acordo Sociedade, 18

Segurança
Escolas: crimes
aumentam e há
Luís Montenegro e Pedro Nuno
mais agressões
Santos disputaram ontem
multidões no Porto. Hoje, as
entre raparigas
campanhas rumam a Sul para Programa Escola Segura da PSP regis-
encerrarem na região de Lisboa tou mais agressões, ameaças e furtos
no último ano. Violência ocorre em
idades mais precoces Sociedade, 17

DANIEL ROCHA
Música
Ana Lua
Caiano, uma
34%(33) aparição
28%(27) que nos
onteceu
aconteceu
Ípsilon
on

AD PS

AD à frente do PS, mas Universidades

Mulheres são
apenas 24% dos
esquerda ultrapassa cargos de topo
no superior

direita (sem Chega)

Em 34 universidades e institutos poli-
técnicos públicos, só oito têm lide-
rança feminina. Hoje é Dia Interna-
cional das Mulheres Sociedade, 21

Sondagem PS, BE, CDU e Livre somam juntos 41%, contra 40% de AD e IL • A dois
dias das eleições, ainda há 16% de eleitores indecisos Destaque, 2 a 9 e Editorial Hoje Uma Mulher, Um Voto
de Alicia Palmer e Montse Mazorriaga

16% (17) Com capítulo inédito sobre a história

do sufrágio feminino
em Portugal
6% (6) 5% (5) 5% (3) 3% (4)
1% (2) 2% (3) Entre parênteses,
resultados da LEGISLATIVAS Por+
Chega IL BE CDU Livre PAN O/B/N sondagem anterior
(28/02/2024) em % 2024 13,90€
ISNN-0872-1548
2 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024

LEGISLATIVAS 2024

AD à frente
Estimativa de resultados Distribuição de deputados Estimativa de voto em
eleitorais com base nos resultados legislativas
Com distribuição de indecisos desta sondagem* Se as eleições fossem hoje em que
Min./máx. partido votaria?
7 Mar. 2024
28 Fev. 2024 AD 88/98 Margens de erro
PS 70/80 36% associadas a cada

do PS, mas
proporção
AD 34% Chega 33/41 34%
33% IL 6/10 32%

28% BE 4/7 30%

PS
27% CDU 4/6
28%

esquerda
Livre 2/3
16% 26%
Chega 25
PAN 0/1
17% AD PS
* Esta distribuição de deputados é feita com base nas estimativas eleitorais propostas
IL 6% nesta sondagem. Estimativas diferentes dariam uma distribuição de lugares diferente.
Com base nos resultados desta sondagem é impossível estimar a distribuição de
6%

ultrapassa
deputados pelos círculos da Europa e Fora da Europa. Esses 4 deputados não estão
incluídos nesta contagem
BE 5%
5% Probabilidade de votar nos vários partidos
Qual a probabilidade de votar nas próximas eleições legislativas num dos
CDU
5% seguintes partidos

direita (sem
3% AD PS
3% Nada provável 34% Nada provável 43%
Livre
4%
Pouco provável 22% Pouco provável 18%
Provável 19% Provável 22%
1% Muito provável 25% Muito provável 17%

Chega)
PAN
2%
Chega IL
Outros/ 2% Nada provável 66% Nada provável 53%
Brancos/
Nulos 3% Pouco provável 11% Pouco provável 23%
Provável 12% Provável 18%
Intenção directa de voto Muito provável 11% Muito provável 6%
Sem distribuição de indecisos
Chega desce um ponto e a CDU sobe dois. BE CDU
AD 27%
Diferença entre AD e PS fora da margem Nada provável 63% Nada provável 72%
PS 22% Pouco provável 22% Pouco provável 18%
de erro. Indecisos baixam para 16% Chega 13% Provável 12% Provável 7%
IL 4% Muito provável 3% Muito provável 3%
mido que podem vir a negociar acor-
São José Almeida
dos depois das eleições de domingo.
BE 3%
e David Santiago
No entanto, esta maioria assente CDU 3% Livre PAN

A
Aliança Democrática (AD)
continua à frente do PS por
seis pontos percentuais,
embora ambos tenham
subido um ponto percen-
tual cada na sondagem des-
ta semana, a última da actual campa-
nha eleitoral, feita pelo Centro de
Estudos e Sondagens de Opinião
(Cesop) da Universidade Católica para
o PÚBLICO, RTP e Antena 1.
Mas se, na semana passada, havia
um empate entre esquerda e direita
— cada um dos blocos dos partidos
que podem garantir a governação
tinha 39% —, agora a esquerda está
ligeiramente à frente. Isto porque PS,
Bloco de Esquerda, CDU (aliança PCP-
PEV) e Livre juntos somam 41%,
enquanto a AD (PSD/CDS-PP/PPM) e
a Iniciativa Liberal somados têm 40%.
Fora destas contas estão o Chega e o
PAN, uma vez que quer o líder da AD
quer o presidente da IL têm excluído,
de forma peremptória, qualquer
acordo com o Chega, e o PAN tanto
pode entender-se à esquerda como à
direita. Já à esquerda, os líderes do
PS, do PCP, do BE e do Livre têm assu-
nas intenções de voto não tem corres-
pondência directa no exercício de
distribuição de deputados feito pelo
Cesop com base em critérios territo-
riais, segundo a qual a esquerda, mes-
mo no melhor cenário, não vai além
de 96 parlamentares, abaixo do
melhor cenário de mandatos da AD
(98). Esta distribuição indica ainda
que AD e IL registam, no melhor cená-
rio, 108 deputados (mais dois do que
há uma semana), pelo que continuam
distantes do mínimo de 116 deputados
que garante uma maioria absoluta, a
qual só seria possível se, à direita,
também fosse incluído o Chega.
A AD tem 34% das intenções de
voto contra os 33% registados há uma
semana, e o PS sobe de 27% para 28%.
Mantém-se, assim, uma diferença de
seis pontos.
Fora da margem de erro
O resultado apresentado nesta son-
dagem Æca fora do empate técnico, já
que a margem de erro é agora de 2%.
O resultado mínimo estimado para a
AD é de 32% e a percentagem máxima
do PS é 30%. Quanto à eleição de
Livre 2% Nada provável 61% Nada provável 64%
24% 23%
PAN 1% Pouco provável Pouco provável
O/B/N 3% Provável 12% Provável 11%
Não 16% Muito provável 3% Muito provável 2%
sabe
Ficha técnica: este inquérito foi realizado pelo Cesop – Universidade Católica Portuguesa para a RTP, Antena 1 e PÚBLICO entre os dias
28 de Fevereiro e 5 de Março de 2024. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram
seleccionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas
foram efectuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objectivo do estudo e demonstraram vontade de participar.
Foram obtidos 2405 inquéritos válidos, sendo 45% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 33% da Região Norte, 22% do
Centro, 31% da A.M. de Lisboa, 7% do Alentejo, 4% do Algarve, 2% da Madeira e 2% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram
depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e região com base nos dados do
recenseamento eleitoral. A taxa de resposta foi de 40%. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 2405
inquiridos (foram contactadas 5948 pessoas) é de 2%, com um nível de confiança de 95%
Fonte: Cesop − Centro de Estudos e Sondagens de Opinião, Universidade Católica de Lisboa PÚBLICO
deputados, a AD Æcaria entre 88 e 98 seis lugares no hemiciclo. deputado ou garantir um só mandato.
mandatos, e o PS entre 70 e 80 parla- Com uma percentagem de inten- A distribuição de deputados não
mentares. ções de voto idêntica à da semana inclui os quatro mandatos dos círcu-
Em terceiro lugar continua o Che- passada está a IL, com 6%, e a possi- los da emigração.
ga, com 16% das intenções de voto, bilidade de eleger entre seis e dez A sondagem, que obteve 2405
menos um ponto percentual do que parlamentares. Assim como o BE, que inquéritos válidos e cujo trabalho de
na semana passada e com uma possi- continua nos 5%, podendo garantir campo decorreu entre 28 de Feverei-
bilidade de eleição de entre 33 e 41 entre quatro e sete deputados. ro e 5 de Março, indica que 85% dos
deputados. A descer um ponto percentual sur- inquiridos responderam “de certeza
Quem sobe é a CDU, que obtém gem o Livre, que baixa de 4% para 3%, vai votar”. Já a percentagem de inde-
agora 5%, mais dois pontos do que com hipótese de eleição de dois a três cisos desce, esta semana, de 20% para
na última sondagem, com a possibi- mandatos, e o PAN, que quebra de 2% 16%. Há duas semanas era de 17%.
lidade de conseguir entre quatro e para 1% e poderia não eleger nenhum VeriÆca-se assim uma Çutuação na
NotíciasFlix

Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 3

Acompanhe em
publico.pt/legislativas-2024

Intenção de voto nas legislativas Socialistas recuperam nos pensionistas

Distribuição por sexo, idade e escolaridade
Por sexo (%) Por idade (%) Por escolaridade (%) AD sobe no eleitorado
AD
Mulheres Homens

26
18-34 anos 35-64

25
65 ou + <=3.º ciclo Secundário

21
Superior
mais escolarizado e PS
27
26
29
24
34 no menos instruído
22 8 34
PS 19 17
22 36 14
18 14 rada por Luís Montenegro, o partido
Chega 8 David Santiago
16 19 de Pedro Nuno Santos alarga agora a
20 6 8 uma tendência que vem de diferença, que passa de cinco pontos

É
11 <1 trás, mas que a sondagem des- há uma semana para sete.
IL 3 ta semana do Centro de Estu- Seja como for, a AD conseguiu, des-
3 4
5 <1 8 dos e Sondagens de Opinião de a convocação de legislativas ante-
(Cesop) vem reforçar. A Alian- cipadas, diminuir o fosso que separa-
4 5 2 ça Democrática (AD) é a força va PSD e CDS do PS — na sondagem
BE 3 3
2 2 5 política mais forte no segmento do do Cesop de Novembro a distância
eleitorado com maior nível de esco- estava Æxada em 14 pontos percen-
2 5 <1 larização, enquanto o PS é o partido tuais —, o que indicia que a estratégia
Livre 2 2
proeminente entre a faixa eleitoral de Montenegro de reconciliação com
3 1 5
menos instruída. os pensionistas terá dado frutos.
2 2 3 A sondagem da Universidade Cató- No eleitorado mais jovem (entre 18
CDU 2 3 lica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1 e 34 anos), continua tudo, no essen-
3 5 3 — a última antes das legislativas de cial, igual. A AD continua a liderar
2 <1 domingo próximo — revela que 34% (25%) de forma destacada, seguida do
PAN 1
1 1 dos inquiridos com o ensino superior Chega (18%) e da IL (11%), ao passo
1 <1 1 indicam querer votar na AD, enquan- que o PS persiste com somente 8%
4 2 to 14% preferem o PS. A AD sobe assim num eleitorado claramente inclinado
O/B/N 3 face aos 29% registados na semana para a direita. Mais equilibradas estão
3 5
2 1 2 passada e o PS recua relativamente as coisas na faixa entre 35 e 64 anos.
aos 17% obtidos há uma semana. A AD segue à frente (subiu de 24%
16 14
Não 21 25 19 18 Dos entrevistados com escolariza- para 26%), o PS está em segundo
sabe
11 11 16 ção aquém do terceiro ciclo, 34% (com os mesmos 19% da semana pas-
dizem que irão votar no PS, um sada) e o Chega continua em terceiro
Não 3 2 5 aumento de sete pontos face aos 27% (cresceu de 14% para 16%).
votava 3 2
2 3 1 da semana passada. Já a AD regista A AD também garante primazia em
uma ligeira descida, deslizando de relação ao género, liderando tanto
Recusa 4 2 5 22% para 21% neste segmento eleito- nos homens como nas mulheres, con-
responder 3 2 ral. O Chega surge destacado na ter- seguindo subir em ambos os eleitora-
2 5 2 ceira posição com 14%. dos face à sondagem da Católica da
Fonte: Cesop − Centro de Estudos e Sondagens de Opinião, Universidade Católica de Lisboa PÚBLICO Quanto aos eleitores com o ensino semana passada. A coligação recolhe
secundário, a AD continua a liderar. as intenções de voto de 27% dos
percentagem de inquiridos que ainda optar pela AD). Há ainda 38% que deÆniram o sentido de voto — isto é, Porém, o Chega consegue ultrapassar homens entrevistados e de 26% das
não decidiram em quem votar, sendo pretendem votar na AD no próximo os indecisos —, 48% antecipam como o PS comparativamente aos dados da mulheres inquiridas. O PS mantém
que na última sondagem do Cesop domingo e que em 2022 votaram na “provável” (40%) ou “muito prová- sondagem do Cesop de há uma sema- 22% nas mulheres e sobe de 19% para
antes das legislativas de 2022 eram IL, 10% no PS e 7% no Chega. vel” (8%) acabarem por votar no PS. na: a AD continua com 24% deste 22% nos homens. O Chega conÆrma
13%. Já o PS assegura apenas 53% dos A seguir aos socialistas, os indecisos eleitorado, o Chega sobe de 15% para ter um eleitorado predominantemen-
Em termos de intenções directas entrevistados que nas últimas legisla- inclinam-se mais para votar AD: são 19% e o PS cai de 19% para 17%. te masculino, registando 20% dos
de voto, ou seja, sem distribuição de tivas contribuíram para a maioria 32% os que dizem ser “provável” e 11% No que diz respeito à segmentação homens e apenas 8% das mulheres.
indecisos, a AD sobe de 25% para 27%, absoluta socialista. De resto, 11% dos “muito provável” votarem na coliga- por faixa etária, PS (cresce de 32% A caracterização sociodemográÆca
o PS de 20% para 22%, o Chega desce que há dois anos assumem ter votado ção PSD-CDS-PPM. Seguem-se a IL para 36%) e AD (sobe de 27% para é feita com base nas intenções direc-
de 14% para 13%, a IL mantém 4%, o no BE, 5% no PAN, 3% na CDU e 2% (28% consideram “provável” ou “mui- 29%) ganham força entre os eleitores tas de voto porque as respostas dos
BE 3%, a CDU sobe de 2% para 3%, o no PSD dizem agora votar nos socia- to provável”) e o BE (23% dizem ser com 65 anos ou mais, mas após sema- indecisos não são analisadas por géne-
Livre desce de 3% para 2% e o PAN listas. “provável” ou “muito provável”) na nas de recuperação da coligação lide- ro, idade e grau de escolaridade.
mantém-se com 1%. No que diz res- No entanto, o Chega e a CDU são as ordem de preferência dos indecisos.
MARIA ABRANCHES
peito à taxa de rejeição, esta é maior forças políticas que maior capacidade No pólo oposto está a CDU, com ape-
em relação à CDU, coligação relativa- demonstram para manter o respecti- nas 10% dos indecisos a admitirem a
mente à qual 72% dos inquiridos res- vo eleitorado de 2022. Dos inquiridos possibilidade de votarem na coligação
pondem ser “nada provável” vota- que pretendem votar no Chega, 86% liderada por Paulo Raimundo.
rem. Seguem-se o Chega (66%), o PAN votaram no partido há dois anos, e Neste estudo do Cesop, 603 inqui-
(64%), o BE (63%), o Livre (61%), a IL dos que querem votar CDU, 77% vota- ridos disseram que votariam AD no
(53%) o PS (43%) e a AD (34%). ram na coligação PCP-PEV nas ante- dia em que foram entrevistados,
riores legislativas. porém, 32% assumem ser “provável”
Chega e CDU Ädelizam mais O Chega é o único partido que nas ou “muito provável” acabarem por
A AD mostra maior capacidade para intenções de voto para domingo tem votar na IL, 14% ser “provável” ou
Ædelizar os eleitores que nas últimas entrevistados que em 2022 votaram “muito provável” votarem no Chega
legislativas votaram PSD ou CDS do em todos os outros partidos conside- e 9% ser “provável” ou “muito prová-
que o PS para manter os votos de rados neste estudo (as forças parla- vel” votarem no PS. Já dos 519 que
quem há dois anos escolheu os socia- mentares e o CDS): 19% que votaram assumiram que escolheriam o PS no
listas. Dos inquiridos nesta sondagem CDS, 9% PAN, 8% PSD, 7% PS, 6% IL, dia em que foram contactados pelo
que dizem ter votado no PSD em 4% Livre, 2% Bloco e 1% CDU. Cesop, 17% admitem como “provável”
2022, 74% assumem agora a intenção Entre os entrevistados pelo Cesop ou “muito provável” acabarem por
de colocar a cruz na AD (73% dos que que pretendem participar nas elei- votar no Bloco, 16% no Livre, 15% no
votaram CDS também dizem agora ções de domingo, mas que ainda não PAN, 11% na AD e 10% na CDU. Eleitores com o ensino superior preferem a Aliança Democrática
4 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
LEGISLATIVAS 2024
Campanha no Porto
Chuva, balões e fogo-de-artifício.
O PS e a AD tomaram conta
de Santa Catarina
Reportagem
Camilo Soldado
As duas maiores forças
políticas tiveram
arruadas à mesma
hora na mais simbólica
das ruas do Porto
N
a curva entre a Rua de
Santa Catarina e a Rua de
Fernandes Tomás, há uma
carrinha branca em cima
do passeio, a preparar uma
pequena plataforma e o
sistema de ampliÆcação que a
rodeia. Fernando Ferreira observa
os trabalhos com as mãos apoiadas
no guarda-chuva que, à cautela,
trouxe. A manhã de ontem, no
Porto, foi chuvosa e o reformado
de 74 anos aguarda ali, onde Pedro
Nuno Santos discursaria, no Ænal
da arruada dos socialistas pela Rua
de Santa Catarina, que estava
marcada para a mesma hora que
uma acção de campanha
semelhante da Aliança
Democrática (AD).
Fernando Ferreira vive na cidade
e foi até à arruada porque gosta de
ver a multidão a transbordar da
Praça da Batalha e descer a rua.
Não é militante, mas é simpatizante
do PS, no qual diz sempre ter
votado. “Até preferia que
continuasse o Costa”, lá desabafa,
já a terminar a conversa. “Mas
sendo Pedro Nuno Santos o
candidato, voto Pedro Nuno”.
As arruadas não servem para
apresentar propostas ou trocar
argumentos, mas para dar uma
imagem de mobilização. Quem
nelas participa são os que já estão
convencidos. É também o que
acontece a Mercedes Côrte-Real,
que o PÚBLICO encontra mais à
frente, abrigada debaixo do toldo
de uma ourivesaria. Veio da Maia
para participar na arruada da AD,
conta, enquanto segura bandeiras
da coligação.
Concorda com a ideia de que
quem participa nestas coisas são os
já convencidos, mas conta com o
“efeito das massas para
entusiasmar os indecisos”. E há
muitos, a três dias das eleições. É
tudo uma questão de aparato
cénico, portanto. Para a reformada
de 80 anos, que foi até Santa
Catarina com a irmã, Maria da
Conceição, não há qualquer
problema com o corte de pensões
durante o período da troika, uma
vez que foram as políticas do PS
que obrigaram o Governo de
Passos Coelho a fazê-lo,
argumenta, enquanto ao fundo já
se ouvem os tambores.
Aliás, foi nesses anos que se fez
militante do PSD, muito por
inÇuência do Ælho, também ele
militante. Antes disso, refere,
tinha votado sempre no Partido
Popular Monárquico. A AD dá-lhe
a oportunidade de fazer dois em
um.
Mercedes veria primeiro passar a
arruada do PS, com a sua fanfarra e
os gigantones à cabeça, e só depois
a da AD. As comitivas estiveram
próximas, mas não se chegaram a
cruzar, embora no PS houvesse um
esforço para comunicar com a
caravana laranja, que vinha atrás,
com um homem a carregar um
Nos molhados
banhos de multidão
houve pouco
contacto com
a população
cartaz com as caras de Luís
Montenegro, Passos e o
ex-secretário de Estado Sérgio
Monteiro, responsável por várias
privatizações, a lembrar que “os
trabalhadores dos CTT têm
memória”.
Outros cruzamentos
Nem as arruadas estiveram
próximas, nem os candidatos
Pedro Nuno Santos e Luís
Montenegro tiveram grande
contacto com a população,
rodeados que estavam pelas
respectivas moles de militantes,
fotojornalistas e operadores de
câmara. A chuva que caiu durante
uma dezena de minutos e o
consequente mar de guarda-chuvas
que se formou não ajudou.
Mas PS e AD não foram as únicas
forças políticas a marcar presença
em Santa Catarina, por onde
também passaram alguns
elementos da Iniciativa Liberal, de
bandeira ao alto, por momentos,
entre uma caravana e outra, depois
de uma acção de campanha que
decorreu ali perto. Mais audível foi
a presença do RiR, partido que tem
em Tino de Rans a cara mais
reconhecível, com uma carrinha
revestida com painéis LED e uma
música a apelar ao voto que Æca no
ouvido.
“Dia 10 nem que neve, nem que
chova, nem que a minha vaca
morra vou votar no calceteiro”,
trauteava um rapaz de passo
apressado, com a bandeira amarela
da Juventude Socialista numa mão
e um dispositivo de tabaco
aquecido na outra, a caminho da
sua comitiva.
Os elementos da AD
encontraram-se na Praça dos
Poveiros, onde a organização
distribuiu capas impermeáveis e
chapéus-de-chuva. Só mais à frente
veria chegar Luís Montenegro,
mesmo antes de a arruada varrer
Santa Catarina, também com um
grupo de percussão à cabeça,
obrigando o cliente ocasional e o
turista de passagem a um exercício
de resistência para furar entre uma
multidão sobrevoada por balões
com o símbolo da coligação.
Os militantes do PS que
regressavam a casa no sentido
inverso, depois de um discurso de
Pedro Nuno Santos que terminou
com confetti e fogo-de-artifício,
tiveram de fazer o mesmo. Fora
uma ou outra boca de parte a
parte, houve civilidade no
cruzamento do “bloco central”.
Repartição de alianças
O terreno disputado não é só o da
Rua de Santa Catarina. As
sondagens sugerem que as
intenções de voto no PS e na
segunda encarnação da Aliança
Democrática estão muito próximas
uma da outra, com vantagem para
a AD. Nas últimas legislativas, os PS e AD desceram ontem Ribeiro, que já declarou apoio ao
socialistas ganharam neste Santa Catarina e, apesar da PS. É uma reaproximação do
concelho, embora por pouco, chuva, ambas as arruadas homem que já foi assessor de
invertendo uma inclinação laranja tiveram muitos apoiantes Francisco Assis, o cabeça de lista
que se mantinha desde 2011. socialista pelo distrito do Porto.
No Porto, a caravana da AD Mas as histórias das duas caravanas
encontra conforto nos homens que Rio não foi avistado nas ruas do têm mais pontos de cruzamento:
têm liderado a câmara, nas últimas Porto, mas Moreira aguardava Luís entre a comitiva rosa estava Manuel
duas décadas. O também ex-líder Montenegro à porta da tenda Pizarro, actual ministro da Saúde
do PSD Rui Rio entrou na transparente que a AD montou na que é também o ex-vereador da
campanha a norte, na quarta-feira, praça D. João I, para proteger o habitação de Moreira.
já depois de o presidente da agendado comício da ameaça da O momento mais tenso da tarde
Câmara do Porto, o “independente, chuva. acabou por não ser entre
mas não neutro” Rui Moreira o ter Em questões de preferências e militantes, mas à chegada à tenda
feito, num almoço-comício, na inclinações, o autarca diverge do onde decorreria o comício da AD. À
Trofa, durante o Æm-de-semana. seu chefe de gabinete, Vasco porta, uma mulher segurava lá no

DANIEL ROCHA
NELSON GARRIDO
alto uma folha A4 com a frase
“Otários, larguem os meus
ovários”, uma menção às
declarações de Paulo Núncio
(CDS), que defendeu um novo
referendo ao aborto e sugeriu “a
limitação do acesso” enquanto tal
não aconteça.
A folha não foi visível por muito
tempo. Alguns homens mais
exaltados que seguiam na comitiva
da AD arrancaram-lha das mãos,
momento ao qual se seguiu um
jogo de empurrões. Luís
Montenegro acabou por evitar a
confusão.
“Confiem em mim”
Pedro Nuno Santos apela Montenegro deixa papel
aos indecisos e eleitores de “líder da oposição”
desiludidos com o PS e tenta conter o Chega
Maria Lopes
N M
ão chegam os eleitores socia-
listas Æéis para conseguir
uma vitória no domingo,
sabe Pedro Nuno Santos, que
nestes dois últimos dias mol-
dou o seu discurso de apelo
ao voto em torno dos indecisos e de
quem votou PS em 2022, mas se desi-
ludiu entretanto. António Costa falou,
no Porto, aos indecisos e Carlos César,
em Coimbra, aos que não sabiam por
que votar no PS, e o secretário-geral
dirige-se agora directamente aos que
há dois anos votaram no partido e
que os dados mais Ænos das últimas
sondagens mostram estarem indeci-
sos (praticamente um quinto) ou ten-
cionarem votar na AD e Chega (quase
outro quinto).
“[Quero] falar para essa larga maio-
ria invisível que tem muita memória,
mas não tem voz na televisão nem nas
redes sociais e está sub-representada
nas sondagens, que votou no PS em
2022 e que nós queremos que volte a
votar no PS para que não se dê um
passo atrás”, aÆrmou o secretário-
geral, num almoço-comício em Marco
de Canaveses para cerca de 800
apoiantes (ideia que voltou a repetir
no Ænal da concorrida e molhada
arruada de Santa Catarina).
As sondagens de Janeiro de 2022
apontavam para um empate entre
PSD e PS, mas os socialistas acabaram
a noite eleitoral com a surpresa de
uma maioria absoluta, à custa do BE
e do PCP (voto útil) e do PSD (dos
sociais-democratas que não queriam
acordos com o Chega). Ou seja, um
eleitorado volátil, de circunstância.
“Aos que votaram no PS em 2022,
digo: sabemos as diÆculdades destes
dois anos, com a crise inÇacionista”
ainda na sequência da pandemia e
agravada pela guerra na Ucrânia.
“Mas nós conseguimos ultrapassá-la
sem atingir quem trabalha e quem
trabalhou uma vida inteira”, salien-
tou. “ConÆem em mim e no PS. Não
Æquem em casa a 10 de Março.”
Depois da insistência no voto dos
reformados, falando permanente-
mente do aumento de pensões, tam-
bém continua na caça ao voto útil à
esquerda, avisando: “O nosso adver-
sário é a AD. Há muitos avanços que
muitos partidos querem que só vão
acontecer se o PS vencer. É isso que
neste momento está em causa e nós
só conseguimos derrotar a AD se hou-
ver uma concentração de votos no
PS.”
Esta percepção é geral no PS: em
Aveiro, António Vitorino regressou às
lides dos comícios e avisou quem não
tenciona votar que isso é “desistir da
democracia” e que votar é aperfeiçoá-
la. “Aos que querem fazer voto de
protesto temos que dizer que a eÆcá-
cia desse voto esgota-se no momento
em que é feito na cabina. Pode ser um
grito de alma, mas não vai contribuir
para resolver nenhum problema,
como aqueles que estão a levar as
pessoas a votar na extrema-direita
radical, racista, xenófoba e anti-de-
mocrática”, apontou o antigo minis-
tro socialista.
Que vincou: “Temos que explicar
aos nossos concidadãos que estes não
são tempos para dar tiros no escuro,
para fazer apostas cegas e que o voto
deve ser no PS para garantir estabili-
dade governativa, diálogo social e um
inquebrantável compromisso com o
projecto europeu.”
Em Marco de Canaveses, o cabeça
de lista pelo Porto, Francisco Assis,
concentrou atenções em Pedro Nuno
com um discurso de rasgados elogios
sobre o seu carácter. Foi uma respos-
ta aos ataques da AD, mas também
um recado para as hostes socialistas,
que tem peso redobrado por vir de
alguém que no passado foi crítico do
novo secretário-geral.
Frontalidade, coragem, autono-
mia, determinação, decência — Assis
não poupou nos adjectivos. Enalteceu
o “discurso pela positiva” do PS con-
tra o “discurso do medo” dos adver-
sários. E pegou no lema da equipa de
hóquei em patins de Marco de Cana-
veses, impresso em letras enormes na
bancada — Lutar: sempre. Desistir:
nunca” — para pedir a mobilização
total dos autarcas até domingo.
Pedro Nuno Santos pede
“concentração de votos no PS”
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 5
AD apela ao voto das mulheres
Sofia Rodrigues
esmo no penúltimo dia de
campanha, já com mais
sondagens favoráveis, a
Aliança Democrática (AD)
prepara-se para festejar a
vitória no domingo, embo-
ra falte conhecer a força do Chega e
perceber onde votam os indecisos.
Luís Montenegro aÆna o papel de
moderado, fala agora também para
as mulheres, e sobre a igualdade de
género, um tema que o afasta de
André Ventura e aproxima da esquer-
da. No último dia de campanha, a AD
aposta forte não só em Æguras de refe-
rência da direita — os dois antigos
líderes do PSD Cavaco Silva e Manue-
la Ferreira Leite vão aparecer —, mas
também em eventos. Está previsto
um “grande comício” no Campo
Pequeno, após ter sido cancelada a
tradicional arruada no Chiado por
causa das previsões de mau tempo.
No Porto, no comício que fechou o
dia de campanha no distrito, depois
de uma arruada em Santa Catarina
que mobilizou centenas de apoiantes,
o líder da AD recordou o motivo pelo
qual traçou uma das suas linhas ver-
melhas: Só governa se ganhar as elei-
ções. “Por que é que disse isso? Mes-
mo quando nós estávamos mais lá em
baixo [nas sondagens], eu próprio
acreditava, sabia que ia conseguir
dizer às pessoas que ia lutar por um
país diferente”, disse no palco da ten-
da montada para evitar a chuva,
depois de ter voltado a receber na
campanha Rui Moreira, presidente da
Câmara do Porto.
Logo a seguir refreou os ânimos:
“Não estou a dizer que ganhámos as
eleições, ainda não as ganhámos. Mas
não há ninguém em Portugal que não
entenda que as podemos ganhar.”
Essa é a tese oÆcial: nada de antecipar
vitórias. Há muitos indecisos e a força
do Chega — na caravana acredita-se
ter perdido gás nesta última semana
— são o suÆciente para gerar uma
dose de incógnita sobre o resultado
de domingo. Mas uma coisa é dada
como certa na campanha da AD: há
um limiar que pode fazer a diferença.
Se o partido de André Ventura alcan-
çar os 15% poderá eleger deputados
em todo o país.
Se Rui Moreira bisou na campanha
da AD, aparecendo no comício de
ontem, o antigo líder Luís Filipe
Menezes também repetiu a presença.
Foi o orador convidado da visita à
Afurada, freguesia de Vila Nova de
Gaia, onde já foi presidente de câma-
Acompanhe em
publico.pt/legislativas-2024
Luís Montenegro lembrou que
eleições ainda não estão ganhas
ra, para enaltecer as qualidades de
Montenegro para cheÆar um governo
mesmo sem nunca ter exercido fun-
ções governativas.
“A Afurada votou totalmente em
Mário Soares e ele nunca tinha sido
primeiro-ministro. A Afurada e Gaia
votaram em Sá Carneiro e ele nunca
tinha sido primeiro-ministro”, frisou
Menezes, num salão da junta de fre-
guesia, onde a organização da cam-
panha improvisou um palco por cau-
sa da chuva. O próprio Montenegro
acabou por elucidar: “Se há assunto
que vai resolver-se com o tempo é a
minha experiência governativa.”
No comício do Porto, Montenegro
manteve o afastamento do papel de
“líder da oposição”, que foi “durante
ano e meio”, para abraçar o de “can-
didato a primeiro-ministro”. E fê-lo
com um toque de magnanimidade:
“Acho que um comunista, bloquista
e um socialista também querem que
essas pessoas [pessoas comuns] tam-
bém tenham uma vida diferente. Eu
não vou pelas intenções, vou pelos
resultados.”
Sem críticas directas ao PS, Monte-
negro falou na vida quotidiana dos
portugueses, que “têm de pagar as
contas” e “ir buscar os Ælhos à esco-
la”. E voltou a falar para as mulheres,
gerando entusiasmo no comício. Nos
últimos dias, tem considerado que a
“igualdade de género” é um “pilar
fundamental da igualdade de opor-
tunidades”, reconhecendo que é
“preciso fazer alguma coisa” contra
a “discriminação negativa sobre a
retribuição do trabalho e do esforço
das mulheres face aos homens” e
também pelo facto de haver “poucas
mulheres em cargos de direcção”.
6 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
LEGISLATIVAS 2024
DIÁRIO DE CAMPANHA
LUÍS FORRA/LUSA
Chega
Sondagens não assustam
Ventura: “[Vamos] ganhar”
A E
descida do Chega nas sondagens, como revelou
ontem o estudo de opinião para o PÚBLICO, RTP e
Antena 1, não assusta André Ventura, que acredita
que até “vai levar mais gente” a votar no seu partido
e diz que o movimento que lidera “vai ser o que mais vai
crescer” no domingo. “Pela primeira vez há uma hipótese
radical, mas de mudança. As pessoas têm tudo na mão no
domingo. Ainda vamos crescer mais do que dizem as
sondagens”, afirmou Ventura aos jornalistas, durante uma
arruada em Portimão. Uma marcha que, como já tinha
acontecido na véspera em Beja, foi acompanhada por dois
agentes da PSP à paisana.
O presidente do Chega voltou a dizer que o seu partido
“vai ganhar as eleições”. “Pela primeira vez estamos a lutar
para vencer. O Chega vai crescer muito nestas eleições.
Até arrisco dizer que vai ser o partido que mais vai
crescer”, acrescentou.
Na noite de quarta-feira, Ventura fez uma das
declarações mais graves de toda a sua campanha. ”Quem
ainda estiver a pensar votar no PS tem de tomar a
medicação, porque as coisas não estão a ficar muito bem”,
disse. Ele próprio admitiu que iriam dizer que estava a
“atacar os doentes mentais”. Questionado pelos jornalistas
sobre se não estava arrependido do que afirmou,
respondeu que não: “Toda a gente percebeu o que eu quis
dizer, só quem não quis perceber é que não percebeu.”
Antes, André Ventura, num almoço-comício no distrito
de Faro, centrou o seu discurso contra o voto útil, que
levou, disse, a que “nos últimos anos andassem uns a
seguir aos outros, o que levou ao empobrecimento, à
corrupção e à falta de cuidados de saúde”.
“O que está de facto em causa nestas eleições é o voto
útil e o voto na mudança. O único que fará uma mudança
no país é o Chega”, disse ontem, em Portimão. “A política
não é futebol, não mudamos de clube, mas quando o país
está na pobreza e na corrupção mudamos de partido”,
referiu. O líder do Chega voltou a insistir na ideia que o
acompanha desde o início da jornada eleitoral de que “não
vale a pena votar no PS e PSD, porque ficará tudo na
mesma”, e acrescentou que os sociais-democratas são
“um PS 2.0” e que “a única coisa que os distingue é o ‘D’”.
Ventura disse que os seus adversários políticos “estão
desesperados”, como “estão desesperados os bandidos”,
denunciando um ataque que diz ter sido feito a uma
caravana do seu partido em Leiria. “Os bandidos estão
desesperados, porque sabem que a partir do dia 10 o lugar
deles é na prisão”, acrescentou. Luciano Alvarez
JOSÉ COELHO/LUSA
Iniciativa Liberal Bloco de Esquerda
Rui Rocha e a arte de esbanjar Em modo popstar, Mariana
a oportunidade de marcar o dia Mortágua agarra os jovens
ntão foi assim: a comitiva da IL estava azulinha como é
numa praceta perto da Rua de Santa Catarina, no
Porto, a cantar as suas canções e a dar os seus
pulinhos. Não ao longe, mas ao perto, começa a ver-se
chegar um laranjal de gente com tarjas bonitas e vistosas.
A proximidade das comitivas da IL e da AD era tal que os
jornalistas de uma e outra campanha já se misturavam.
O momento para o grande encontro com Montenegro
estava criado. Os eleitores de direita estavam famintos
para jantá-lo na televisão, a assessoria de Rocha de
certeza que o tinha preparado e por certo que o criativo
Rocha tinha uma frase perfeita para lhe dizer.
O contraste que o azul e o laranja fariam, os cânticos
que se misturariam, o céu que se começaria a abrir —
marcar o penúltimo dia das eleições deixava de ser uma
possibilidade: passaria a inevitabilidade. Uma tirada com
graça, uma mãozada enérgica ou uma imagem dos dois
juntos: era impossível Rocha não ir lá.
Por alguma razão, não foi e abandonou o local antes de
a AD lá chegar. Ou seja, evitou o encontro. Questionado
sobre por que o fez, lançou o spin: “Temos caminhos
diferentes [da AD] e decidimos mesmo ter um caminho
diferente, apresentar um caminho diferente aos
portugueses.”
No penúltimo dia de campanha, Rocha teve finalmente
a oportunidade de abrir os céus e sentir o calor do sol na
cara, mas preferiu ficar na sombra que já conhece.
Moveu-o o mesmo espírito que levou o partido a ir
sozinho a eleições: fazer “diferente”, mostrar que a IL tem
o próprio “caminho” e que não anda à boleia de ninguém.
Só que isso já foi feito nos 11 dias anteriores.
Se concretizados, os números da mais recente
sondagem do PÚBLICO e RTP traduzem-se numa derrota
para a IL, que poderá perder dois deputados e nunca
poderá chegar à meta a que se comprometeu (crescer
50%, eleger mais quatro deputados). Na recta final da
campanha, Rui Rocha não larga mão da crítica ao voto útil
— porventura esquecendo-se que, ao mesmo tempo que
o critica, também lembra os eleitores da sua existência.
O penúltimo dia da campanha da IL começou em Braga
com uma reunião com empresários e uma curta arruada.
Depois, visitou o hospital da cidade e foi para o Porto.
Hoje, tal como a AD, passa a tarde em Lisboa, mas as
agendas dos líderes não coincidem. Há comboios que só
passam uma vez: e o de poder marcar um dia da
campanha parece não ter mais viagens. Henrique Pinto
de Mesquita
ESTELA SILVA/LUSA
V
inda de Esposende, Soraia, de 21 anos, “não tinha
casa, nem condições económicas”, quando entrou na
Faculdade de Letras do Porto. Mesmo assim, foi-lhe
negada uma bolsa, porque vivia muito longe da
universidade. “Passei um momento frágil
psicologicamente, porque achei que tinha de desistir”,
confessa. E, quando conseguiu uma residência, não tinha
cozinha, o que a obrigava a fazer todas as refeições a 2,95
euros na cantina. Num mês, gastava “quase 180 euros”.
Como ela, outros estudantes universitários da “clássica”
do Porto partilharam as suas experiências com a líder do
Bloco. Numa roda de dezenas de jovens, no hall da
residência Novais Barbosa, Adriana, hoje com 28 anos,
recorda que quando foi admitida na universidade, em 2017,
também não sabia se ia prosseguir os estudos, porque não
foi eleita para a bolsa. Teve de recorrer à comissão de
residentes para conseguir uma bolsa dos serviços de
Acção Social, que lhe foi atribuída porque “tinha bons
resultados” académicos. Mas a assistente social ainda lhe
perguntou porque é que estava a estudar se tinha “tantas
dificuldades económicas”. “Foi humilhante”, conta. Na
residência onde vivia, ao contrário da de Soraia, havia
cozinha, mas era partilhada por 90 pessoas. E eram
frequentes as “infestações de baratas”. “Fico grata por ter
um espaço para dormir, mas não eram de todo as
condições de que uma estudante necessita”, diz.
A estes problemas acumulam-se outros tantos, como o
facto de existirem “três chuveiros para 15 pessoas” ou
“cortes de água recorrentes”. “Obviamente que é um
privilégio estar aqui, porque há muitos estudantes que não
o têm”, mas “é complicado viver nestas condições”,
lamenta Nuno, de 22 anos. “Posso só dizer-vos uma
coisa?”, pergunta Mariana Mortágua. “Vocês não têm de
estar gratos por ter residência. Não é um privilégio ter uma
residência”, diz-lhes, apontando que este é “o reflexo do
quão errada está a política neste país”. De frente para os
jovens, pede que “não tratem” os seus “direitos como
privilégios”. A solução está em baixar os custos do ensino
superior, a começar pela propina do mestrado, mas
também os da habitação, defende. E, para isso, propõe
construir mais residências no património do Estado, “parar
de construir hotéis”; ou “pôr tectos nas rendas”.
A mensagem foi recebida com palmas, mas não foi
preciso Mortágua falar de habitação para agarrar os jovens.
Ainda à entrada da faculdade, os alunos faziam fila para a
cumprimentar. Sobretudo, as raparigas que pediam selfie
atrás de selfie. “É uma popstar”, ouve-se. A.B.B.

MIGUEL A. LOPES/LUSA
CDU PAN
Munida de “pesos-pesados” Sonhar com um grupo
para intensificar apelo ao voto parlamentar progressista
A A
chuva ameaçava, mas ninguém desertou. Frente ao
café A Brasileira, na capital, reuniam-se os
“pesos-pesados” do PCP. Aguardavam a chegada do
secretário-geral e com eles estavam mais cerca de mil
apoiantes da CDU. Quando Paulo Raimundo chegou,
deu-se início à tradicional descida do Chiado, que
terminou com um forte apelo ao voto, até mesmo daqueles
que “não concordam com tudo”, pediu o líder dos
comunistas. Paulo Raimundo chegou vestido com uma
gabardina. Mas só avançou quando lhe passaram um cravo
para a mão. Desta vez — e porque o líder do PCP gosta de
“rebentar com o protocolo” — não houve uma faixa a
assinalar a primeira linha da arruada.
Na frente de “batalha”, com Raimundo, seguia António
Filipe, Cláudia Martins, Mariana Silva e Duarte Alves, os
quatro nomes que se seguem ao do secretário-geral pelo
círculo eleitoral de Lisboa. Mas também os antigos
secretários-gerais Jerónimo de Sousa e Carlos Carvalhas.
E ainda dois nomes que chegaram a ser apontados
como possíveis sucessores de Jerónimo: João Ferreira
(número dez por Lisboa) e João Oliveira (cabeça de lista da
CDU nas europeias de Junho). Este último apareceu pela
primeira vez junto de Raimundo nesta campanha eleitoral.
Os pesos-pesados seguiam o passo do líder comunista.
Ontem, Raimundo intensificou o apelo ao voto na
coligação. Dirigindo-se àqueles que já votaram pelo menos
uma vez na CDU e aos que ponderam fazê-lo pela primeira
vez, Raimundo pediu que “reflictam sem preconceitos e
condicionalismos”. “É preciso que reconheçam que não há
avanço”, “política de esquerda” e respostas aos problemas
“sem mais CDU”, começou por dizer.
E depois foi mais directo: “Alguns podem não concordar
com tudo. Mas também sabemos que o que nos une, os
objectivos e a luta pela construção dos valores de Abril, é
muito mais forte do que este ou aquele assunto que nos
separa.” Paulo Raimundo discursava perante uma multidão,
estando na linha da frente o seu antecessor, que escutava
atentamente as suas palavras. Dizia o dirigente da CDU que
muitos lhes desejam “boa sorte”. E a esses deixa uma
mensagem: mais do que esses desejos, a coligação
precisa de “boa sorte e ânimo no voto”.
Minutos antes de Raimundo tomar a palavra foi a vez do
seu número dois por Lisboa. António Filipe decidiu
“apostar” naqueles que em 2022 votaram no PS por “medo
da direita”, acabando por contribuir para uma maioria
absoluta: “Um erro que foi cometido uma vez, não deve ser
cometido segunda vez.” Mariana Marques Tiago
RUI MINDERICO/LUSA
ambição de voltar a ter um grupo parlamentar e a
afirmação como principal força progressista com
políticas verdes marcaram a campanha do PAN, que
criticou o conservadorismo da AD e a falta de obra
feita do PS. Ao longo da campanha, a porta-voz do
Pessoas-Animais-Natureza (PAN) destacou a “agenda
progressista e ambientalista” do partido, ligando-a a áreas
como a saúde, a imigração, o turismo ou o desporto.
Inês Sousa Real não excluiu a possibilidade de
entendimentos pós-eleitorais, mas frisou o afastamento da
Aliança Democrática (AD), considerando que Luís
Montenegro “deu a mão ao conservadorismo” quando se
juntou ao PPM e CDS. Sousa Real acusou a aliança de
direita de não ter “preocupações ao nível dos direitos dos
animais e ambiente, e menos ainda com os direitos das
mulheres”, e, noutra ocasião, desafiou Montenegro a
esclarecer a existência de uma eventual aliança
pós-eleitoral com o partido de André Ventura.
Em relação ao PS, a porta-voz do PAN considerou que a
maioria absoluta de António Costa “foi uma oportunidade
perdida para os avanços que o país poderia ter feito”.
Em Beja, Sousa Real voltou a defender que o aeroporto
da cidade alentejana “pode e deve ser complementar” à
solução que for encontrada para Lisboa, e defendeu uma
aposta nas acessibilidades.
A suspensão das explorações de lítio, e a revogação do
Simplex ambiental e urbanístico foram bandeiras de
campanha do PAN, que quer “evitar uma destruição de
valores naturais a reboque de uma pseudotransição
energética”. Na área económica, o partido, que propõe
uma “reforma fiscal muito robusta”, considerou positiva a
subida do rating de Portugal, que voltou estar entre os
níveis “A”, mas alertou para o muito que ainda há por fazer
em matéria de transição energética, de descarbonização
da economia e também das centrais fotovoltaicas.
Em Faro, Inês Sousa Real juntou educação e saúde
defendendo a necessidade de mais oferta pública no que
respeita ao alojamento estudantil, e no acesso dos
estudantes deslocados a médicos de família.
Sobre a situação internacional, o PAN considerou
essencial um “esforço de cooperação internacional no
sentido de recuperação da paz”, sinalizando também a
pegada ambiental das guerras na Ucrânia e em Gaza.
A porta-voz apelou à pluralidade no Parlamento, dizendo
que “o país não pode ficar refém de maiorias absolutas
nem de alianças muito pouco democráticas”, e assumiu a
vontade de o PAN voltar a ter um grupo parlamentar. Lusa
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 7
Acompanhe em
publico.pt/legislativas-2024
CARLOS M. ALMEIDA/LUSA
Livre
Crescer para influenciar
uma nova “geringonça”
E
ntre combates ao voto útil e à extrema-direita, o Livre
tentou convencer o eleitorado que representa uma
“esquerda moderna”, diferente dos seus eventuais
parceiros, com a ambição de crescer para se sentar à
mesa de uma nova “geringonça”. “O voto no Livre é o voto
à esquerda que não deixa tudo na mesma.” Esta foi a
máxima repetida à exaustão por Rui Tavares durante a
campanha. Dois objectivos estão na mira: contrariar o voto
útil, numa altura em que os apelos de PS e PSD se
intensificam. E distinguir-se dos parceiros à esquerda,
ajudando a “corrigir erros” do passado, sem animosidades.
O partido, que já defendia uma “geringonça” antes de ela
ter nascido, propõe reeditar esta solução, mas de uma
forma diferente, exigindo um acordo assinado — “acordo
assinado é acordo escrutinado” — e multilateral,
negociado entre todas as forças políticas à esquerda,
admitindo até integrar um executivo. Durante a campanha,
Tavares procurou fundamentar a sua tese de que o Livre é
“a esquerda mais moderna e mais inovadora”, aquela que
propõe medidas consideradas utópicas pelos adversários
políticos, às vezes pela própria esquerda, mas que depois
vêem a luz do dia, dando muitas vezes como exemplo o
subsídio de desemprego para vítimas de violência
doméstica ou a semana de quatro dias de trabalho.
Numa campanha relativamente calma, a caravana do
Livre não fugiu a um pequeno incidente de percurso. Em
29 de Fevereiro, em Beja, Rui Tavares defendeu que “a
direita democrática tem de ter com quem dialogar” em
matérias que visem a “saúde” da democracia, como o
financiamento dos partidos, o combate à corrupção ou a
criação de um círculo nacional de compensação. As
declarações não foram bem recebidas pela líder do BE,
que defendeu que uma “esquerda forte” deve estar
totalmente concentrada em derrotar a “aliança PSD-IL”.
Neste “contrato com o futuro”, o partido deu prioridade
ao combate à pobreza como fenómeno estrutural e à
criação de novos instrumentos como a “herança social”,
que visa permitir a um jovem entre os 18 e 35 anos aceder
a uma quantia que pode ter origem na taxação de “grandes
heranças” ou na rentabilização de certificados de aforro.
O Livre apostou fichas nos círculos de Lisboa, Porto e
Setúbal, pelos quais almeja eleger, numa campanha que
não teve arruadas. Depois do regresso ao Parlamento nas
últimas legislativas, o objectivo é crescer e eleger um
grupo parlamentar. “Dois é pouco”, chegou a dizer Tavares,
pondo a meta mínima nos três deputados, que querem ser
determinantes numa governação à esquerda. Lusa
8 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
LEGISLATIVAS 2024
Dez perguntas a oito líderes Fica para a próxima (legislatura)
Escolhemos dez temas que vão marcar a próxima legislatura, que se inicia após as eleições legislativas
antecipadas de 10 de Março. Sobre eles, questionámos os oito líderes dos partidos e da coligação
eleitoral que elegeram deputados nas legislativas de 2022. Por São José Almeida
Governação
Se ganhar, com que
partidos admite
fazer acordos
para assegurar
a governação?
P
ela segunda vez seguida,
realizam-se eleições
legislativas antecipadas, em
que os eleitores vão
escolher os 230 deputados à
Assembleia da República. Do
xadrez parlamentar e da
correlação de forças na próxima
legislatura, sairão as condições
de governabilidade e o próximo
Governo.
No momento em que todos os
estudos de opinião apontam
para que não haja uma maioria
absoluta que permita a
governação por um só partido
ou uma coligação pré-eleitoral,
assim como prevêem a
possibilidade de que aumente a
fragmentação parlamentar, a
questão que se coloca é a de
perceber que tipo de alianças
pós-eleitorais se poderão
estabelecer, de modo a suportar
o próximo executivo.
Isto é, se os partidos e
coligações eleitorais admitem
entrar em entendimentos e
alianças pós eleitorais e se elas
serão apenas de incidência
parlamentar ou se irão passar
por acordos de governação em
que todas as forças tenham
assento no Conselho de
Ministros.
Pedro Nuno Santos
Secretário-geral
do PS
Eu tenho dito que o PS vai estar
concentrado no seu programa
eleitoral e em mobilizar o povo
português para uma grande
vitória no próximo dia 10 de
Março. Mas há uma coisa que os
portugueses obviamente sabem:
nós não vamos governar com a
direita. Nós não vamos governar
com o Chega, nós não vamos
fazer alianças com a direita. E
esse é um compromisso claro. O
PS, no passado, conseguiu
construir uma solução,
nomeadamente em 2015, que
funcionou e que produziu
resultados. Uma experiência
governativa de boa memória
para o povo português. No
entanto, a nossa concentração é
no dia 10 de Março, é no
programa eleitoral do PS, com a
certeza de só com um grande
resultado no PS é que nós
teremos uma solução
governativa com estabilidade.
Luís Montenegro
Presidente do PSD
e líder da AD
Já fui muito claro a esse
propósito: eu serei
primeiro-ministro na base da
confiança maioritária do povo
português. Isto é, vencendo as
eleições. Por outro lado, já escolhi
os meus parceiros preferenciais.
Por isso, constituímos a Aliança
Democrática com o CDS, com o
PPM e com muitos cidadãos
independentes do melhor que há
na sociedade portuguesa,
provindos de várias áreas de
actividade. Estes são os nossos
parceiros preferenciais. Há, no
contexto político-partidário hoje
vigente no Parlamento, um outro
partido que pode, se assim for
necessário e se nós chegarmos a
um entendimento, partilhar
connosco este percurso, que é a
Iniciativa Liberal, não vejo mais
nenhum, no contexto
parlamentar, para poder percorrer
connosco esta caminhada de
reafirmação de Portugal, dando
um novo governo ao país.
André Ventura
Presidente
do Chega
Essa é a pergunta de 1 milhão de
euros. O Chega sempre disse que
está disponível, se houver uma
maioria de direita, a criar essa
convergência. Resta saber se os
outros partidos estarão dispostos
a isso. Segundo as sondagens
mais recentes, ao dia em que
estamos, só o Chega e o PSD
poderão formar uma maioria à
direita. É o que é. Se me
perguntarem: gosto deste
cenário? Não. Mas é o que existe.
Neste cenário, o que é que pode
acontecer? É simples. É dizer que
o Chega se vai disponibilizar,
desde a primeira hora, para criar
essa convergência maioritária,
para criar uma alternativa ao
Partido Socialista. Se outros não o
quiserem fazer, ficarão com a
responsabilidade de deixar o PS
governar. Da nossa parte, não
quero que ninguém vá ao engano,
nem que ninguém vote ao
engano. Se houver uma maioria
de direita, desafiei os meus
colegas, líderes de partidos, a
criarmos um governo de direita
que retire os socialistas do
Governo. Ficará à sua
responsabilidade a decisão final.
Rui Rocha
Presidente
da IL
A IL tem sido muito clara com
quem se entende e com quem
não se entende. Nós admitimos
fazer entendimentos com
partidos, primeiro, que tenham
um espírito democrático de
respeito pelos direitos
fundamentais, pelas garantias e
pelas liberdades dos cidadãos.
Segundo, que não estejam
associados à governação dos
últimos oito anos. Terceiro, que
tenham um espírito
minimamente reformista e que
queiram participar de um
processo de transformação de
Portugal. Esses são os critérios
fundamentais que a IL elege para
identificar os seus parceiros. E,
portanto, aplicando estes
critérios à realidade, tal como
dissemos nos últimos tempos, de
forma clara e veemente,
entendemo-nos com o PSD,
porque é o partido que cumpre
estes critérios na democracia
portuguesa.
Paulo Raimundo
Secretário-geral
do PCP (CDU)
Se ganhar, vamos governar,
naturalmente, como qualquer
outro partido com o seu
programa. É neste sentido que
estamos empenhados. Se
ganharmos, é com o nosso
programa que vamos governar.
Sendo que a nossa experiência,
a nossa história, a forma como
estamos na vida e na política
revelaram, desde sempre, que o
PCP e a CDU nunca faltaram,
nem nunca faltarão a tudo o que
seja positivo e a medidas
positivas, tudo o que seja
convergência para a resolução
dos problemas das pessoas, dos
trabalhadores e do nosso povo e
do país. Da mesma forma que
não faltamos, nem faltaremos
nunca, a estar na primeira linha
de combate contra tudo aquilo
que seja negativo, venha de
onde vier.
Mariana Mortágua
Coordenadora
do BE
Fomos claros desde o início:
queremos acordos que permitam
propostas para virar a página da
maioria absoluta e para resolver
os principais problemas do país,
na habitação, na escola pública,
no acesso aos serviços públicos
essenciais, na subida dos salários,
no combate às alterações
climáticas. É em nome dessas
propostas muito concretas que
queremos fazer maiorias no dia a
seguir às eleições. Estamos
determinados a fazer o que nunca
foi feito em Portugal.
Inês de Sousa Real
Porta-voz
do PAN
Para o PAN, a pergunta deve ser
feita ao contrário, ou seja, o que é
que os partidos que estão em
condições de se apresentarem à
governação do país,
nomeadamente o PS e o PSD,
estão disponíveis a fazer pelas
causas do PAN? E eu recordo que
o PAN, com apenas uma
deputada na Assembleia da
República, foi o partido da
oposição que mais medidas
conseguiu aprovar. Com um
grupo parlamentar, temos a
certeza e a consciência de que
queremos fazer muito mais. Mas,
para isso, temos que perguntar: o
que é que estes partidos estão
disponíveis para fazer em matéria
do combate à violência
doméstica? O que é que estão
disponíveis a fazer para a redução
dos impostos? Ou com o Serviço
Nacional de Saúde? Ou pela
habitação? Ou pela protecção
animal e pela abolição, por
exemplo, da tauromaquia? Tudo
isso são questões que não podem
ser deixadas para trás. A par da
preocupação com a
responsabilidade social e a justiça
intergeracional. Porque só
mediante as respostas destes
partidos é que poderemos estar
em condições de ver o que é que
faz avançar mais as nossas
causas, pois tem sido esse o
nosso trabalho, avançar pelas
causas que representamos na
Assembleia da República.

Veja os vídeos em
publico.pt/legislativas-2024
Rui Tavares
Co-porta-voz
do Livre
O Livre é muito claro em relação à
sua política de alianças, porque
acreditamos que a política
contemporânea é, em grande
medida, política de alianças. O
tempo das maiorias absolutas de
um só partido, em grande
medida, já passou. E em Portugal
passou deixando uma má
memória. O Livre é muito claro: se
houver uma maioria de esquerda,
se houver uma maioria do
progressismo e da ecologia,
seremos parte da solução; se
houver uma maioria de direita,
nós seremos parte da oposição.
Porque ambos os lugares são
lugares de extrema importância
para a democracia. Mas, neste
momento, também é preciso que
saibamos que nós estamos a lutar
pela democracia com todos os
democratas, os que são de
esquerda, os que são do centro,
os que são da direita democrática.
E os sectores que [defendam]
uma aliança progressista e
ecológica, que defendam a
democracia em Portugal, têm de
saber abraçar as pessoas com
quem têm que saber dialogar.
Incluindo todos os democratas de
todas as proveniências, que
percebam o risco para a
democracia que existe no
crescimento dos autoritarismos.
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 9
FRASE DO DIA ELEIÇÕES DE A A Z
S
ondagens: a influência dos
“A democracia é um volante que eu inquéritos de opinião.
respeito muito. E, hoje em dia, é preciso As sondagens servem para
medir a opinião dos eleitores
saber conduzir à direita, à esquerda, e podem mesmo influenciar o
voto ou diminuir a abstenção
também ao centro às vezes, mas nunca ir (caso as sondagens mostrem que
a corrida eleitoral está renhida).
mos ddaa rravina
à valeta, senão caímos avina oouu Pela sua influência, as sondagens
batemos contra o muro” têm de responder a regras. Além
disso, só são divulgadas na
Tino de Rans comunicação social as
Fundador do partido RIR sondagens realizadas por
empresas devidamente
credenciadas junto da Entidade
Reguladora para a Comunicação
Social (ERC), onde têm de ser
depositadas. É importante
ressalvar que as sondagens são
uma fotografia das intenções de
voto no momento em que são
SEMÁFORO realizadas e não necessariamente
a forma como as pessoas irão
votar. Existem vários factores que
podem explicar as diferenças
entre as intenções de voto e os
resultados eleitorais,
PAN e o risco de eclipse total nomeadamente a distribuição de
Inês de Sousa Real arriscou tudo e corre o risco de tudo perder. A indecisos, o erro amostral ou o
sondagem da Cesop mostra o PAN em queda e em risco de perder a enviesamento da amostra.
deputada única que é a sua líder, o que poderá significar que
T
também ela perderá a liderança de um partido que já teve um grupo empo de antena: como
parlamentar de quatro deputados. A jogada de alto risco que fez na funciona?
Madeira, ao dar o apoio à maioria PSD/CDS, desagradou às bases e, Os partidos e coligações têm
em plena campanha, viu três autarcas — um na Madeira e dois no direito de acesso, para
Algarve — desfiliarem-se do partido. A campanha eleitoral também propaganda eleitoral, às
não galvanizou sequer as próprias hostes, apesar da simpatia da estações de rádio e televisão
porta-voz do partido no terreno. Inês de Sousa Real é a líder públicas e privadas para divulgar
partidária que mais corre o risco de ser apeada depois das eleições. mensagens de apelo ao voto no
seu partido. Os tempos de
antena são gratuitos e os custos
são suportados pelo Estado,
através da administração eleitoral
Bloco e PCP: muita parra e pouca uva da Secretaria-Geral do Ministério
De acordo com as últimas sondagens desta campanha eleitoral, o da Administração Interna, que
PCP até sobe e o Bloco de Esquerda segura o quinto lugar, mas compensam as estações de rádio
nenhum deles parece conseguir descolar dos resultados já obtidos e de televisão pela utilização,
em 2022 em número de deputados. Os dois partidos fizeram uma mediante o pagamento de uma
boa campanha, distribuíram simpatia, trouxeram os seus ex-líderes, quantia previamente acordada. O
puseram o dedo nas feridas da maioria absoluta e até conseguiram período legal atribuído às
de Pedro Nuno Santos a garantia de procurar uma nova candidaturas nas estações de
“geringonça”. Mas, por mais que tenham remado contra o voto útil, televisão é de 15 minutos – de
parecem condenados aos pequenos grupos parlamentares que têm segunda a sexta-feira entre as
desde que deram o seu apoio ao PS de António Costa. Um “abraço 19h e as 22h30; sábados e
de urso” persistente. domingos entre as 19h e as 22h.
A duração mais frequente dos
spots de tempo de antena na
televisão será de dois minutos e
30 segundos. Os tempos de
Voto útil favorece AD e PS emissão reservados são
Seja qual for a formação política a vencer no domingo — e todas as atribuídos, de modo
sondagens apontam para que seja a AD —, o grande vitorioso que se proporcional, aos partidos
adivinha pelas sondagens é o voto útil. Numa campanha marcada políticos ou coligações de
pela ameaça de crescimento exponencial do partido de direita partidos que apresentaram um
radical, a roubar votos a todos, e na qual PS e AD começaram por mínimo de 25% do número total
disputar ombro a ombro a vitória, Pedro Nuno Santos e Luís de candidatos.
Montenegro apostaram tudo no apelo ao voto útil, tentando atrair
U
para si, não só os descontentes com os seus partidos, como todo e rna de voto: quantas
qualquer voto nos partidos mais pequenos. A estratégia parece existem?
estar a resultar. Mas claramente tem sido mais eficaz à direita, até Uma vez que são compostas
porque Montenegro cedo conseguiu traçar uma linha vermelha com por um material resistente
o Chega e garantir uma aliança futura com os liberais, que parecem (liga metálica), as urnas de voto
escapar à tendência centrípeta dos grandes. Leonete Botelho são aproveitadas de eleição para
Acompanhe em
publico.pt/legislativas-2024
eleição, havendo um processo de
manutenção por parte das
câmaras municipais sempre que
o seu estado assim o justifique. A
última vez em que foram
mudadas foi entre 2020 e 2022,
data em que foram distribuídas
6051 novas urnas de voto, o que
renovou mais de 45% das urnas
de voto existentes. Para estas
eleições serão usadas 13.182
urnas.
V
oto útil: o que significa?
Muitas vezes ouvimos os
partidos a apelar ao “voto
útil”. O que significa? O
fenómeno do voto útil depende,
em parte, dos efeitos das
sondagens. Quando as
sondagens mostram que existem
partidos com intenções de voto
muito próximas, os partidos que
lideram essas intenções de voto
fazem apelos ao “voto útil”, isto é,
apelam aos eleitores para que
concentrem num só partido
votos hipoteticamente dispersos
por vários. Por exemplo, o PS
apela aos eleitores que votam
tradicionalmente nos partidos de
esquerda para que concentrem a
sua força no PS, enquanto a AD
faz o mesmo exercício com os
eleitores de outros partidos da
direita.
X
e outras redes sociais.
Há muito que a campanha
eleitoral deixou de
acontecer só na rua. Nas
redes sociais – X (antigo Twitter),
Instagram ou Facebook – os
bastidores das campanhas
partidárias apostam na
conquista e mobilização de
eleitores. As estratégias são
definidas segundo o perfil
demográfico dos eleitores-alvo.
Enquanto o Facebook pode ser
mais eficaz para alcançar
eleitores mais velhos, o X, o
Instagram e o TikTok podem ser
mais eficazes para chegar ao
eleitorado mais jovem.
Z
elo democrático.
A campanha tem sido
marcada por apelos à
protecção da democracia e
da confiança nas instituições,
numas eleições que foram
antecipadas devido a uma
investigação judicial que incluiu
buscas no gabinete de
funcionários do primeiro-ministro
então em funções. Além disso,
em debate têm estado os
acordos pós-eleitorais e as linhas
vermelhas traçadas em relação a
partidos que querem
“implementar um novo regime”.
Liliana Borges
10 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024

Espaço público

Eleitores indecisos e com razões para isso

A
um par de dias das
Editorial eleições, o número de
portugueses indecisos
mantém-se de tal forma
elevado que poucos
arriscam prever com que Parlamento
os portugueses irão acordar na
David Pontes segunda-feira de manhã. A sondagem
que hoje publicamos é um registo
dessa indecisão, até no resultado
dado por aqueles que já terão
decidido o seu voto. Devemos vir a
ter a AD como força política mais
votada, mas ainda há margem teórica
para uma maioria percentual de
esquerda. Sendo um quebra-cabeças
para os directórios partidários, este
número de indecisos pode bem ser
Há razões suÄcientes visto como uma saudável
para a indecisão manifestação de vitalidade e
e hesitar é bem exigência democrática, porque há
democrático. muitas e justiÆcáveis razões para essa
indecisão e nem sempre a campanha
No domingo é que contribuiu para as esclarecer.
todos têm a obrigação Que dizer aos eleitores que um dia
de ir tirar as dúvidas tinham uma maioria absoluta, que
era preciso vigiar, e no dia seguinte
Æcaram sem governo, à boleia de um
parágrafo que implicava um
primeiro- ministro num grave caso
que, aÆnal, não tinha gravidade
assinalável para um juiz de instrução?
Foi aqui que tudo isto começou e ain-
da não se avançou o suÆciente para
estarmos devidamente esclarecidos.
E como lhes explicar que o líder
socialista, em vez de usar contas
certas, bons resultados económicos e
um processo judicial considerado
injusto, tenha preferido marcar
diferença em relação ao antecessor?
Sem se concentrar no centro
conquistado por Costa, escolheu o
regresso à “geringonça”,
desbaratando o apelo ao voto útil.
Muitos desse lado do espectro
partidário ainda estarão a ponderar
se entregam o voto ao partido
“amigo”, que force o PS a ser mais de
esquerda, ou se mais vale concentrar
a sua aposta em quem, de facto,
governou nos últimos oito anos.
É certo que Pedro Nuno Santos já
não tinha o papão do Chega para
agitar ao centro. Luís Montenegro
manteve-se Ærme no seu “não é não”,
mesmo que, não poucas vezes, os
seus potenciais eleitores possam ter
Æcado muito baralhados com a
entrada em campanha de temas e
argumentos que não deslustram do
receituário da direita radical.
Se as eleições se ganham ao centro,
tanto socialistas como sociais-demo-
cratas deram sinais contraditórios,
que poderão levar muitos a ponderar
até à última qual dos partidos que
reclamam esse espaço merece o voto.
Se forem eleitores que se identiÆ-
quem de esquerda ou direita, com as
alianças que estão prometidas,
também é natural que hesitem entre
apoiar o partido hegemónico do
bloco ou votar nos mais pequenos.
Há razões suÆcientes para a indeci-
são e hesitar é bem democrático. No
domingo é que todos têm a obrigação
de ir tirar as dúvidas.

CARTAS AO DIRECTOR
Negócios da China (2)
Como previ no PÚBLICO de 23 de
Dezembro, está a avolumar-se a
dívida da Santa Casa Global como
entidade pertencente à Santa Casa
da Misericórdia de Lisboa (SCML) a
vários organismos estrangeiros
provocada por uma obscura
tentativa de internacionalização à
qual a actual provedora parece, e
bem, ter posto ponto Ænal.
Muita água irá passar por baixo
das pontes até que o caso termine
nos tribunais e muito dinheiro seja
despendido pela SCML para se
libertar das consequências de tão
gravoso envolvimento cujas
circunstâncias devem ser
totalmente esclarecidas, atribuindo
a respectiva responsabilidade a
quem se aventurou e fomentou este
negócio. Mas como diz o ditado:
“Mais vale tarde do que nunca!”
Celerino Dias, Viana do Castelo
Proposta à boca
das urnas
A questão climática foi um tema
pobre na campanha. Ainda haverá
tempo para apresentar uma
proposta (em três pontos)?
1— As alterações climáticas põem
em risco a saúde e até a vida do pla-
neta. As medidas que têm de se to-
mar não são forçosamente popu-
lares — mas têm de ser tomadas.
2— Esta questão não é de direita
nem de esquerda, é de todos. Não
sendo populares, há que garantir
que nenhum partido se aproveita
disso: as medidas têm de ser
apoiadas por todos.
3— É necessário e urgente um
“pacto de regime sobre a questão
climática”. Esse compromisso
assentaria no apoio à formação de
uma equipa independente
(cientistas, representantes dos
sectores sociais, etc.) que deÆnisse
três medidas fundamentais para o
combate às alterações climáticas e
para o cumprimento das metas
estabelecidas a nível global.
José Lima, Lisboa
Quem tem medo
de Virginia Woolf?
De Virginia Woolf, os ensaios A
Room of One’s Own e Three Guineas
são de uma claridade estelar;
convém ler ou reler, o ar dos
tempos assim o exige. Foi um
Núncio a anunciá-lo. Não foram as
“três Marias” proscritas quando
das Novas Cartas? Vociferar
“aquelas meninas”, referindo-se à
actual e à ex-dirigente de um
partido político, para desprezar e
menosprezar é impróprio. E que
não haja dúvida: quem profere
rasteiro naquele momento rasteja.
Sim, o medo de Virginia Woolf saiu
do armário. É preciso voltar a
marchar; e escrever novas cartas.
Maria Afonso, Lisboa
A excelente campanha
que termina
Penso que é inegável que está a
terminar uma campanha que, ao
contrário das outras, tem sido
muito participada e discutida. Já
não interessa só quem ganha, mas
sim quem terá condições para
governar. Os debates em formato
fast food foram interessantes, ape-
sar de pouco profundos. O debate
que realmente interessou para
potenciais indecisos foi o último.
Preocupa-me que se tenha visto
uma coligação de direita, de várias
formas, a desrespeitar as mulheres
na praça pública. Desde o episódio
do “posso interromper, mas não
quero” até ao “meninas do Bloco”
ou ainda trazer-se para a agenda um
novo referendo à já referendada IVG
foram, na verdade, excelentes
contributos. Domingo, todos
sabemos ao que vamos. De um lado,
temos uma esquerda que se prepara
para uma “geringonça 2.0”, do
outro, uma direita que trouxe para a
campanha assuntos que tínhamos
como dado adquirido.
Pedro Perdigão, Lustosa
A angélica proposta
de Pedro Nuno Santos
É verdadeiramente descabida e
irrealista — para não dizer
hilariante — a sua proposta ao
aconselhar o regresso à escola dos
professores aposentados. Mas em
que mundo viverá o candidato a
primeiro-ministro? A esmagadora
maioria dos professores reforma-
dos não tem saudades absoluta-
mente nenhumas da escola onde
deram aulas. A má educação dos
alunos, o barulho perturbador e a
indisciplina nas salas de aula que se
foram acentuando — muitos não
aguentaram e reformaram-se com
penalização — exauriram e lesaram
os professores. Para além disso, a
contínua desvalorização da carrei-
ra, a burocracia insana que os des-
gasta e os baixos salários que aufe-
rem não os motiva para continua-
rem a dar aulas. E muito menos os
que já estão aposentados.
António C. Miguéis, Vila Real
PUBLICO ERROU
Por lapso de edição, o PÚBLICO
identiÆcou ontem numa legenda
o Ælme Oxalá, de António-Pedro
Vasconcelos, como tendo sido
a sua primeira longa-metragem
de Æcção — é de facto a segunda,
após Perdido por Cem…
O novo livro de Álvaro
Laborinho Lúcio chama-se A Vida
na Selva, e não A Vida Selvagem,
como escrevemos na edição
de hoje do Ípsilon.

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt
 Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 11

A opinião publicada no jornal respeita

a norma ortográfica escolhida pelos autores

ESCRITO NA PEDRA O injustiçado

publico.pt
Medo: Lisboa Porto
consciência Ainda ontem
cheio de esperança para o futuro. Na
segunda, era Presidente: um estadista ao
Edifício Diogo Cão,
Doca de Alcântara Norte
Rua Júlio Dinis,
n.º 270 Bloco A 3.º
da depravação nível de De Gaulle, empenhado numa nova 1350-352 Lisboa
Tel. 210 111 000
4050-318 Porto
Tel. 226 151 000
total do futuro tradução das Leis de Platão, partilhando a
sabedoria acumulada com os jovens eleitores publico@publico.pt

próximo do Midwest. Mas perdeu. Perdeu, achando

que tinha ganho ou, mais plausivelmente,
DIRECTOR
David Pontes
Ambrose Bierce, achando que deveria ter ganho.
Directores adjuntos
Andreia Sanches, Marta Moitinho Oliveira,

P
escritor Miguel Esteves Cardoso
ara arranjar alento para as nossas
eleições, não há como ir
espreitar as americanas.
Para alguém que tinha
O NÚMERO acabado de vencer em 12 dos 13
Sentiu na carne a dor de ser rejeitado e,
para mais, a favor de um homem mais velho.
Sónia Sapage, Tiago Luz Pedro
Directora de arte
Teve de enfrentar o escárnio, o riso Sónia Matos
miudinho, a crueldade das crianças a Directora de design de produto digital
apontar. E isso vê-se na fácies. Não há ali Inês Oliveira
Editoras executivas
alegria ou vontade de festejar. Não há ali Helena Pereira, Patrícia Jesus
esperança no futuro ou disponibilidade para Editor de fecho

32.º
estados a jogo no Super Tuesday, encontrar soluções. José J. Mateus

A Suécia tornou-se ontem
oficialmente o 32.º membro
da NATO, depois de cumpridas
as formalidades para a sua
integração na organização
militar. Negociações
demoraram 22 meses
até parecia que Trump tinha perdido. Já é a
terceira campanha de Trump que temos de
gramar: é uma sensação estranhíssima.
Geralmente, ao Æm de duas campanhas, os
presidentes tornam-se “ex”, vão para casa,
dedicam-se às bibliotecas e nunca mais
ouvimos falar deles.
Trump vai na terceira porque perdeu a
segunda — e porque o Partido Republicano
perdoou a derrota, por não ter conseguido
encontrar, em todos os Estados Unidos da
América, um outro candidato.
Na primeira campanha, Trump era um
jovem eufórico, citando Rimbaud e fazendo
action paintings em cima do snowboard,
Trump não perdoa que Vermont tenha Editor de Opinião Álvaro Vieira Editor P2 Sérgio B. Gomes Online Ana Maria
Henriques, Mariana Adam, Pedro Esteves, Pedro Guerreiro, Pedro Sales Dias
pendido para Nikki Haley. Queria um clean (editores), Amílcar Correia (redactor principal), Carolina Amado, João Pedro
sweep: uma varridela sem pedregulhos. Pincha, José Volta e Pinto, Miguel Dantas, Sofia Neves (última hora); Rui Barros
(jornalista de dados); Ruben Martins, Inês Rocha (áudio); Joana Bougard (editora
Queria os treze estados. Doze não chegaram multimédia), Carlos Alberto Lopes, Joana Gonçalves, Teresa Miranda
para aliviar a mágoa. Trump já não perdoava (multimédia); Amanda Ribeiro (editora de redes sociais), Ana Zayara, Patrícia
que Washington D.C. tivesse caído para Campos (redes sociais) Política Leonete Botelho (editora), David Santiago
(subeditor), Ana Sá Lopes, São José Almeida (redactoras principais), Ana Bacelar
Haley. Mas agora são dois: é inaceitável. Begonha, Henrique Pinto de Mesquita, Liliana Borges, Margarida Gomes, Maria
Este Trump não é o mesmo: é ainda pior. Lopes, Nuno Ribeiro, Sofia Rodrigues Mundo Ivo Neto, Paulo Narigão Reis
(editores), Bárbara Reis, Jorge Almeida Fernandes, Teresa de Sousa (redactores
Está rancoroso. Está vingativo. Está principais), Rita Siza (correspondente em Bruxelas), Alexandre Martins, António
quezilento. Só a unanimidade o pode Rodrigues, António Saraiva Lima, João Ruela Ribeiro, Maria João Guimarães,
satisfazer — e essa, pelos vistos, já lhe foi Sofia Lorena Sociedade Natália Faria (editora), Clara Viana (grande repórter),
Alexandra Campos, Ana Cristina Pereira, Ana Dias Cordeiro, Ana Henriques, Ana
cruelmente negada. Bem feito. Eu cá não Maia, Cristiana Faria Moreira, Daniela Carmo, Joana Gorjão Henriques, Mariana
acredito que os americanos elejam um Oliveira, Patrícia Carvalho, Samuel Silva, Sónia Trigueirão Local Ana Fernandes
(editora), Luciano Alvarez (grande repórter), André Borges Vieira, Camilo
Trump trombudo e amuado, cujo único Soldado, Mariana Correia Pinto, Samuel Alemão, Teresa Serafim Economia
plano na vida seja vingar-se. Pedro Ferreira Esteves, Isabel Aveiro (editores), Manuel Carvalho (redactor
principal), Cristina Ferreira, Sérgio Aníbal (grandes repórteres), Ana Brito, Luís
Villalobos, Pedro Crisóstomo, Rafaela Burd Relvas, Raquel Martins, Rosa Soares,
Victor Ferreira Ciência Teresa Firmino (editora), Filipa Almeida Mendes, Tiago
Ramalho Azul Andrea Cunha Freitas (editora), Claudia Carvalho Silva

ZOOM FILIPINAS (subeditora), Aline Flor, Andréia Azevedo Soares, Clara Barata, Nicolau Ferreira,
Tiago Bernardo Lopes (multimédia), Gabriela Gómez (infografia), Rodrigo Julião
(webdesign) Tecnologia Karla Pequenino Cultura/Ípsilon Paula Barreiros, Inês
Nadais (editoras), Pedro Rios (editor Ípsilon), Isabel Coutinho (subeditora), Nuno
FRANCIS R. MALASIG/EPA
Pacheco, Vasco Câmara (redactores principais), Isabel Salema, Sérgio C.
Andrade (grandes repórteres), Daniel Dias, Joana Amaral Cardoso, Lucinda
Canelas, Luís Miguel Queirós, Mariana Duarte, Mário Lopes Desporto Jorge
Miguel Matias, Nuno Sousa (editores), Augusto Bernardino, David Andrade,
Diogo Cardoso Oliveira, Marco Vaza, Paulo Curado Fugas Sandra Silva Costa,
Luís J. Santos (editores), Alexandra Prado Coelho (grande repórter), Luís Octávio
Costa, Mara Gonçalves Guia do Lazer Sílvia Pereira (coordenadora), Cláudia
Alpendre, Sílvia Gap de Sousa Ímpar Bárbara Wong (editora), Carla B. Ribeiro,
Inês Duarte de Freitas P3 Inês Chaíça, Renata Monteiro (subeditoras), Mariana
Durães Terroir Ana Isabel Pereira Newsletters e Projectos digitais João Pedro
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expresso no seu Estatuto Editorial publico.pt/nos/estatuto-editorial
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leitores@publico.pt

A rede de acção feminista Marcha Mundial das Mulheres (MMM) organizou uma manifestação de protesto ASSINATURAS Linha azul 808 200 095 (dias úteis das 9h às 18h)
publico.pt/assinaturas • assinaturas@publico.pt
para apelar aos direitos e à protecção das mulheres e à aprovação da lei da igualdade de género nas Filipinas
12 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024

Espaço público

A fascinante beleza da ordem

DR

Francisco Mendes da Silva

I know you like to line dance/ Everything so
democratic and cool/ But, baby, there's no
guidance/ When random rules

N
David Berman (Silver Jews), Random Rules

a importantíssima decisão de
domingo, interessar-me-ei
especialmente pelo
desempenho do candidato
mais polémico e divisivo. Será
que o colégio eleitoral o
considera digno de se intrometer entre os
grandes favoritos? Será que toma partido na
pequena guerra civil que, acerca desse
candidato, se gerou no meu círculo de
amigos?
Zona de Interesse parece ser uma questão
de amor ou ódio. Ou é uma obra-prima, que
merece encher a vitrine de estatuetas
douradas, ou uma imperdoável estetização
do mal que, segundo o mais aÆado
intelectual orgânico das forças da oposição
(Richard Brody, na New Yorker), “transforma
o Holocausto em Cenas da Vida Conjugal”.
Para os distraídos, Zona de Interesse é uma
adaptação (mais liberal do que literal) do
livro homónimo de Martin Amis sobre o
quotidiano familiar de Rudolf Höss, director
do campo de concentração de Auschwitz
durante o Holocausto. Jonathan Glazer Ælma
a pacatez, o conforto — a beleza — da vida
doméstica, ali paredes-meias (realmente
paredes-meias) com o horror da “solução
Ænal”.
Um horror a que Glazer faz apenas
abordagens oblíquas, nos sons distantes, no
fumo das chaminés, no arame farpado em
cima dos muros, nas reuniões de trabalho —
elementos que contrastam com o
protagonismo dos canteiros de Çores, da
felicidade despreocupada das crianças, da
confraternização à beira-rio. Höss e a
família levam uma existência sem
sobressaltos, a não ser o sobressalto
administrativo da realocação temporária do
paterfamilias a outras funções, noutra
latitude do Reich.
Acusar Zona de Interesse de ser
“Holokitsch” (de novo Brody) está no nível
dos que acusaram Hannah Arendt de
desvalorizar as atrocidades do nazismo
quando explicou a sua banalidade
burocrática. É exactamente o contrário: só o
conhecimento da “normalidade” com que as
coisas acontecem permite compreender a
permanente iminência do perigo. O
inimaginável só se torna imaginável quando
percebemos o potencial de atroÆa moral de
uma existência afundada em hierarquias,
nem estímulo para a avaliação dos
pressupostos e Æns que os impõem.
Percebo os críticos que dizem que o
problema do Ælme não é exactamente a
opção narrativa de “falar” dos campos de
concentração sem os encarar olhos nos
olhos. O que denunciará o suposto
desprendimento de Glazer, a deliberada ou
negligente diluição do peso da História, será
antes a associação daquela opção narrativa
ao formalismo cinematográÆco excessivo,
uma mise-en-scène de planos meticulosos,
quase lúdicos na sua esquadria perfeita, que
alegadamente desrespeita a solenidade
macabra do objecto Ælmado. Como se Glazer
tivesse desejado absolver o inimaginável,
transformando-o num mundo imaginário
delico-doce semelhante aos das comédias
tristes de Wes Anderson.
Mas e se os tais planos a régua e esquadro
Ao alertar para
o consolo enganador
da ordem, [o Älme]
alerta-nos também
para os que nos querem
impor a sua própria
— como o de Höss, de costas, rigorosamente
ao centro, a observar a família na piscina —
forem uma tradução da típica cabeça do nazi
diligente, na sua obsessão com a ordem e o
funcionamento regular e previsível de tudo,
de acordo com um plano pormenorizado
igual ao novo sistema de matança que a dado
momento do Ælme é explicado ao
protagonista?
Acusam Glazer de ter caído na armadilha
da beleza fascinante da ordem. Mas e se o
Ælme for, aÆnal, um comentário ao perigo
desse fascínio? E se a sua “tese” for a de que
as piores atrocidades políticas são praticadas
por quem pretende impor uma deÆnição
consoladora de ordem, ainda que ilusória,
injusta e impraticável?
The Grand Budapest Hotel, o meu Ælme
predilecto de Wes Anderson, é inspirado na
literatura tardia e desesperada de Stefan
Zweig, o grande cronista da derrocada da
civilização da Europa central no período das
duas guerras mundiais. Em O Mundo de
Ontem, as memórias que escreveu no Brasil e
enviou ao editor dois dias antes de se
suicidar, Zweig fala da época que antecedeu
a I Guerra como “o período áureo da
segurança” e lamenta ter de concordar com
Freud, “que via a nossa cultura, a nossa
civilização, apenas como uma Æna camada
em risco de poder ser perfurada, a qualquer
momento, pelas forças destrutivas do
mundo subterrâneo”.
Num ensaio sobre o Ælme de Anderson,
que também trata dessa “Æna camada” da
escreve que as civilizações são “confecções
compostas tanto de cor, ar e açúcar reÆnado
quanto de manteiga, natas e farinha”, que se
tornam cada vez mais instáveis à medida que
se tornam também cada vez maiores e mais
gloriosas. Como o Courtesan Au Chocolat, a
obra de arte da Mendl’s, a pastelaria Æccional
do Ælme.
Os Ælmes de Wes Anderson lembram o
prazer infantil da construção de mundos
alternativos, porque são precisamente sobre
mundos perdidos (a infância enquanto
“período áureo da segurança”). É essa
perfeição aparente que Anderson representa
nos seus planos simétricos. Um mundo
inteiro, fechado e auto-suÆciente, protegido
dentro de um frame rectangular.
E é por isso que não vejo que o exercício
de estilo de Zona de Interesse alivie o peso
histórico do Holocausto. Pelo contrário: ao
alertar para o consolo enganador da ordem,
alerta-nos também para os que nos querem
impor a sua própria ilusão de ordem.
A promessa de que se consegue parar a
mudança do mundo, fazendo-o permanecer
ou regressar sempre a enquadramentos
reconhecíveis, é mais apelativa do que a
ideia de o deixar Çuir espontaneamente para
futuros imprevisíveis. É essa a fragilidade
fundamental da democracia perante os seus
adversários, como regime que assenta na
convicção de que, em maior ou menor
medida, a desordem do mundo é inevitável e
virtuosa.

ordens, horários e processos, sem liberdade ilusão de ordem civilização, a dramaturga Anne Washburn Advogado

As mulheres não existem
Susana Peralta
No Dia da Mulher dos 50 anos
da democracia, celebremos
o muito que ela nos trouxe:
Reclamemos, igualmente,
o que ainda nos deve
V
ivi parte da infância numa
aldeia, com os meus avós
maternos. A poucas casas de
distância havia gritos femininos
recorrentes, à hora a que o
homem voltava da taberna. Em
casa dos meus avós, gente do campo e pouco
instruída, as cenas de violência eram sempre
criticadas: a linha vermelha estava lá. Os meus
avós pouco mais podiam fazer do que
condenar a selvajaria daquele homem porque
no Ænal dos anos 70 o crime de violência
doméstica não era público. Nem sei se o
denunciariam; ainda hoje não se mete (que
chegue) a colher entre marido e mulher.
Continuamos sem um inquérito
representativo que apanhe mais do que a
ponta do icebergue que aparece nas
estatísticas judiciais. De resto, nem sequer
temos um indicador oficial dos assassinatos
de mulheres por parceiros íntimos. No cálculo
do índice de igualdade de género feito pelo
Instituto Europeu da Igualdade de Género,
Portugal continua a não ter pontuação na
vertente da violência.
Cito: “Nenhuma pontuação é atribuída a
Portugal no domínio da violência, devido à
falta de dados comparáveis com a restante
UE”, e, “em 2021, 720 mulheres foram
assassinadas por um parceiro íntimo,
membro da família ou parente em 17
Estados-membros, segundo relatórios
oficiais. Portugal não fornece dados
comparáveis sobre homicídios intencionais”.
A UMAR faz um trabalho extraordinário e
essencial, mas recorre a notícias de jornal, daí
a falta de comparabilidade: das 25 mulheres
mortas em 2022, “em 15 temos informação
suficiente para classificar estes assassinatos
como femicídios (…) num contexto de relação
de intimidade, atual ou prévia, motivo pelo
qual o crime aconteceu”.
Estas mulheres não existem porque a vida
lhes foi ceifada na intimidade que lhes devia
garantir segurança. E não existem em
estatísticas oficiais que, no meio século da
democracia, continuamos a escolher não ter.
Nas contas que fez à vida, o PÚBLICO
concluiu que no último ano as mulheres
fizeram apenas 30% das suas capas.
Perpetuar os vieses que remetem as mulheres
à inexistência é o caminho natural. Fazer uma
introspeção para nos darmos conta deles é o
primeiro passo para os evitarmos; o trabalho
devia ser feito por outros órgãos de
comunicação social, porque as mulheres não
existem e não é só nas capas do PÚBLICO.
Um caso recente com o qual ando desolada
é o podcast “Eu Estive Lá”, de Maria João
Avillez, no Observador, que promete
entrevistar 16 personalidades que estiveram
no 25 de Abril. Os 12 nomes já anunciados ou
entrevistados são Marcelo, Cavaco, Passos,
Vitorino, Medina, Portas, Capucho, Barreto,
general Tomé Pinto, Ferraz da Costa, Rui
Ramos e Jaime Gama. A apoteose do falo. O
podcast tem o patrocínio do Grupo Leya e da
Sogrape. O primeiro tem no site uma
“Declaração de Diversidade” na qual declara
orgulho na diversidade da sua equipa. No site
da Sogrape, diversidade só de “origens,
vinhos e marcas”. Mas, caramba, ninguém
(patrocinadores, convidados, responsáveis do
jornal, a própria Avillez) se lembrou de olhar
para a lista de convidados antes de avançar?
Não são só os órgãos de comunicação que
precisam de ir à cata dos vieses. Ou então
concluo que as mulheres não estavam lá, no
25 de Abril — não existiam.
E agora, existem? Tivemos um Governo
paritário e temos pelo menos um terço de
mulheres nas listas, por imposição legal. Mas
os lugares de topo estão-lhes vedados. Em
Portugal houve uma primeira-ministra nos
anos 80, Maria de Lourdes Pintasilgo, que se
fazia chamar primeiro-ministro. Presidente da
República, nenhuma. Presidente da
Assembleia da República, só uma: Assunção
Esteves. Há apenas duas líderes de partidos
com assento parlamentar (Inês Sousa Real e
Mariana Mortágua) de um total de oito e
nenhuma será chefe de Governo.
Para animar as hostes na campanha, os
partidos só pensam em homens: Passos
O PÚBLICO concluiu
que no último
ano as mulheres
Äzeram apenas
30% das suas capas
Coelho, Santana Lopes, Durão Barroso, Costa,
Jerónimo, Portas, Rui Moreira. O momento
alto de condescendência misógina primária
pertence a Luís Filipe Menezes com as
“meninas do bloco” cujos atributos não
políticos captavam os olhos do jovem Pedro
Nuno. Para além deste momento de
protagonismo feminino — pelo corpo, já se
sabe! —, não houve mais do que duas ou três
mulheres como reforços na campanha,
incluindo Catarina Martins e Assunção
Cristas. O estudo “Comentário Político nos
Media” divulgado ontem analisou 214 espaços
de comentário e concluiu que apenas 28% são
ocupados por mulheres. Não existem.
Não existindo na política nem no
comentário, não existem nas políticas. O
atropelo à lei do aborto, que Fernanda Câncio
anda há mais de um ano a documentar
pacientemente, só existiu no debate porque
Paulo Núncio anunciou a intenção de regredir
ainda mais. Estão-se todos nas tintas. O PS
apressou-se em 2015 a reverter as alterações à
lei da coligação PSD/PP mas não fez o
necessário para garantir que, no terreno, a lei
funcione. Nos programas eleitorais, os
partidos Æcam-se pelas declarações de
intenções, à exceção do BE, Livre e PAN, com
propostas concretas de alteração à lei.
As mulheres não devem existir na política
para legislarem sobre “assuntos de mulheres”.
Podem e devem fazer política sobre o que lhes
apetece. Mas uma coisa é certa: há assuntos de
mulheres de que só elas podem falar, como a
dor do seu corpo. Sabemos que a violência
obstétrica continua a ser um Çagelo. E no
aborto também é de dor que falamos.
A dor entrou pela porta grande do debate
na revisão constitucional francesa, pela voz de
Mélanie Vogel, senadora francesa que há um
ano e meio submeteu a primeira proposta
(chumbada) de inscrever o direito à IVG na
Constituição, quando se dirigiu “a todas
aquelas que conheceram a humilhação da
clandestinidade, a dor da curetagem sem
anestesia, os cabides e as agulhas”. Vogel
dedicou o 4 de março às legisladoras, às
pessoas “que se mobilizaram, célebres,
conhecidas ou anónimas”, às associações
feministas, a quem se manifestou, escreveu,
tomou a palavra, interpelou os representantes
políticos, “às Ælhas, às netas, às sobrinhas dos
senadores que convenceram o pai, o tio, o
marido”. A vitória, disse Vogel, foi “coletiva” e
“sorore”, adjetivo francês que remete para a
ideia de sororidade reivindicada por Leonor
Caldeira no seu discurso da conferência do
PÚBLICO “Ser Mulher em Liberdade”.
No Dia da Mulher do meio século da
democracia, celebremos o muito que ela nos
trouxe: o voto, o divórcio, o direito a viajar
sem tutela masculina, o aborto, as quotas.
Reclamemos, igualmente, o que ainda nos
deve. Volto a Vogel: “Todas as vitórias
feministas são combates que pareciam
perdidos à partida, levados a cabo por
mulheres que olharam menos ao porquê de
poderem perder que ao como podiam ganhar.
O combate que parece perdido à partida é a
nossa vitória de amanhã.”
Professora de Economia na Nova SBE.
Escreve à sexta-feira
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 13
Mãos
e cabelos
Fábrica
de criadas
M
Afonso Cruz
uitas vezes, durante a
tarde, depois de um dia de
trabalho, a São pousava a
novela que estivesse a ler —
sempre do tal autor francês
—, olhava pela janela,
esfregava as mãos uma na outra. Tinha
vontade de acariciar os cabelos da Ælha,
saudade de uma relação que nunca existiu, de
uma intimidade perdida: há uma recompensa
recíproca nesse gesto, a criança sente que
quando a mãe passa a mão na sua cabeça é
tudo tão verdade, mas também a sensação de
esse gesto, para a mãe, ser uma ablução, em
que as mãos se puriÆcam do trabalho
quotidiano, da inclemência da sociedade,
daquilo que as mãos não deveriam ter feito,
daquilo que as mãos deveriam ter feito,
daquilo que as mãos foram obrigadas a fazer,
como se os cabelos de uma criança pudessem
devolver, às mãos adultas, a inocência. Ao
acariciar, desfaz-se o que foi feito, como quem
lava a vida da passagem do tempo — ou com a
própria passagem do tempo, análoga à água
—, limpando, pela manhã, os restos dos
sonhos que ainda Æcaram presos aos cabelos,
permitindo sonhar de novo, sonhar melhor.
Assim pensava Walter Benjamin, que dizia ser
esse gesto um dos trabalhos da maternidade.
No entanto, também porque a Ana já era
adulta e autónoma, a São não era capaz de
tornar consciente esse desejo que fazia parte
dum passado perdido, em que mãe e Ælha se
podiam ter encontrado num tempo de
indolência e quietude, em que o mundo se
interrompe e há apenas uma criança de olhos
fechados e uma mãe que lhe acaricia os
cabelos: vencendo o ruído do mundo, aquele
era o momento do silêncio, da paz, do
regresso à certeza, de parentesiar o turbilhão
e o sorvedouro da vida. A São esfregava as
mãos uma na outra, devagar, com uma
lentidão própria, porque o seu corpo sabia
muito bem o que queria ou necessitava — e
que irremediavelmente perdera —, ainda que
a alma fosse incapaz de traduzir esse desejo
em razão e palavras. Fechava os olhos.
Permanecia assim durante uns minutos. Por
vezes levantava-se, caminhava até ao telefone,
e de repente, como se acordasse dum sonho,
sem perceber o que fazia a sua mão pousada
no auscultador, regressava à rotina: ver
televisão, fazer o jantar.
Não perca o podcast com
Fábrica
de criadas os textos lidos pelo autor.
AFONSO
CRUZ
Ao fim-de-semana,
um exclusivo para
assinantes
Em publico.pt/podcasts
14 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Espaço público
Um brinquedo frágil em mãos brutas
A
Dulce Maria Cardoso
final, o monstro estava apenas
adormecido. Nem podia ser de
outra maneira. O monstro
nunca morre.
Bastou um par de anos para
que o partido de
extrema-direita Chega, fundado em 2019,
ganhasse importância política em Portugal.
Em grande medida, a decisão que os
portugueses vão tomar no próximo dia 10
revelará a forma como querem posicionar-se
perante o Chega. Isso acontecera já, de resto,
nas anteriores eleições legislativas, que o
Partido Socialista venceu com maioria
absoluta. A sua governação desleixada e
sobranceira — desprezando o argumentário
utilizado em campanha, onde foi pedido o
voto útil — fortaleceu os populistas.
Enquanto não se incendeia tudo, brinca-se
com o fogo.
Como podemos lutar contra a perigosa
vaga populista?
Não sei. Para o descobrir, julgo que será
importante perceber como aqui chegámos.
No meu último romance, Eliete, A Vida
Normal (SeixBarral, MésLivres, 2020), a
protagonista descobre que pode ser neta do
Salazar, o ditador que governou Portugal
durante décadas. Considero que os
portugueses são ainda herdeiros do Salazar e
que é urgente essa tomada de consciência
para que a herança salazarista seja rejeitada
de vez.
Como nasce o populismo? O que é que
alguém com sede de protagonismo tem de
fazer para que lhe prestem atenção? Como e
por que começamos a prestar atenção a esse
alguém?
Para começar, esse alguém fala alto,
interrompe os outros, é desrespeitador. Age
assim porque está indignado, zangado. Esse
alguém, sendo um bom ator e um bom
comunicador, dá a ilusão de que não tem
Æltros, de que é autêntico, mesmo que minta
a torto e a direito. A competição desenfreada
que a sociedade nos exige faz com que nos
recriemos no nosso relacionamento com os
outros, afastando-nos da primordial
necessidade que temos de não nos sentirmos
sós. Atrai-nos, por isso, quem se mostra —
mesmo que saibamos que não o é — genuíno.
Recompensamo-lo com a nossa atenção e,
muitas vezes, com o nosso afeto. Permitimos
que esse alguém desrespeite códigos sociais
ou mesmo leis. Há até quem o aprecie. O
desmando d’esse alguém opera como prova
da sua independência e pode ser entendido
como sinal de coragem. Para captar a
atenção dos outros e para a reter de forma
duradoura, esse alguém tem de escolher
convenientemente os motivos da sua
indignação e zanga. Diaboliza, então, dois
grupos: um minoritário ou de desprotegidos
e outro de poderosos. No grupo dos
poderosos arrebanha todos os seus
adversários políticos. A hipotética valentia
com que Ænge atacar os poderosos mascara a
vil cobardia com que persegue os
desprotegidos. Para os populistas de direita,
o grupo dos desprotegidos é quase sempre
formado por imigrantes que,
convenientemente e na sua maioria, não são
eleitores.
Esse alguém advoga que os grupos
diabolizados são a fonte de todos os males e
que devem ser odiados e perseguidos. Esse
alguém não se considera, pois, um agressor,
mas uma vítima que atua em legítima defesa,
querendo ser porta-voz de uma multidão de
vítimas que tenta arregimentar para a sua
“guerra santa”. A vitimização que promove,
baralhando vítimas verdadeiras com falsas
vítimas, é uma arma perigosíssima: além de
consubstanciar uma poderosa estratégia
empática, vulnerabiliza ainda mais as
verdadeiras vítimas.
Contudo, esta manipulação d’esse alguém
redundaria numa inócua palhaçada se não
houvesse um mal-estar geral na sociedade,
resultante, acima de tudo, de uma
imperdoável injustiça económica e social.
Em tal contexto, é fácil capitalizar o
descontentamento dos cidadãos: quem se
sente abandonado está mais disponível para
ouvir esse alguém, que insiste em dizer que
não tem qualquer responsabilidade nas
causas que levam a esse descontentamento.
O abandono é o chão em que os populismos
emergentes se erguem. Outros partidos
afastados da governação também têm ao seu
dispor esse mesmo chão e é-lhes acessível
igual possibilidade de manipulação, no
entanto, não vingaram ou deÆnham. Para
evitar tal Æm, esse alguém tem de ser um
comunicador competentemente histriónico
e demagógico, que as redes sociais incensam
e os media exploram, e não ter quaisquer
escrúpulos em perseguir injustamente os
grupos minoritários ou de desprotegidos que
escolhe diabolizar. Hoje, em Portugal, o
populismo de direita vinga mais facilmente
do que o de esquerda devido às opções que
um e outro têm quanto a essa escolha:
adere-se mais facilmente ao incitamento ao
ódio aos imigrantes do que, por exemplo,
aos senhorios (apesar do obsceno valor das
rendas) ou aos patrões (apesar dos baixos
salários). De facto, a dependência de cada
cidadão em relação aos imigrantes é menos
visível e personalizada, mais fungível, do que
em relação a senhorios ou patrões. O ódio
aos imigrantes desprotegidos é um ódio
conveniente porque queremos
desconhecemo-los mais: queremos gostar
dos nossos patrões (para que o trabalho nos
seja menos pesado), mas queremos não
gostar de quem está a ser explorado porque
sabemos que pouco ou nada fazemos contra
O voto num partido
populista passa
a servir outros que não
os abandonados:
os ressabiados,
os castigadores, (...)
os que querem ‘agitar
o marasmo’. Como se
a democracia fosse um
brinquedo resistente
PEDRO NUNES/REUTERS
essa exploração ou que até dela
beneÆciamos; queremos sossegar o
desconforto moral de fecharmos a porta do
nosso prédio deixando os sem-abrigo ao
relento.
Os governantes dos últimos anos e das
últimas décadas não podem deixar de ser
responsáveis pelas atuais condições de vida
dos cidadãos. A sua reação e a dos seus
partidos ao aparecimento d’esse alguém tem
sido desastrada ao cair na armadilha da
cismogénese: perante o discurso de
vitimização d’esse alguém, defendem as
políticas que seguiram — uma natural
manobra de sobrevivência —, mas fazem-no
tão exacerbadamente, numa total
divergência em relação à avaliação feita
pelos cidadãos, que resulta numa repulsiva
autogloriÆcação. Tal atitude arrogante
agrava o sentimento de abandono, já que lhe
acrescenta culpa: se a governação foi boa,
quem vive com diÆculdades só a si próprio
pode culpar. Pelo contrário, esse alguém
acentua a condição das vítimas e promete
lutar pelos abandonados. O conforto do
reconhecimento do abandono e da
não-culpa é uma eÆcaz ferramenta de
sedução que ofusca a vacuidade ou
perigosidade da prometida limpeza do país. A
ligação dos abandonados ao populismo é,
assim, essencialmente emotiva. E como tal
irracional e quase indestrutível. Esse alguém
dirá e fará o que quiser que os seus
seguidores secundá-lo-ão.
Uma vez posta em movimento, a máquina
do populismo realimenta-se e é difícil ser
travada. É que um voto num partido
populista bem-sucedido passa também a
servir outros que não os abandonados: os
ressabiados, os castigadores, os viciados na
adrenalina da tragédia, os que se inebriam
com dinâmicas de vitória, os que querem
“agitar o marasmo”, e muitos mais. Como se
a democracia fosse um brinquedo resistente.
A desastrada cismogénese inicial dos
não-populistas tem dado lugar à sua
coexistência com um igualmente desastrado
mimetismo: os partidos de direita (e não só)
têm vindo a imitar condenáveis posições e
práticas populistas, na desesperada luta pela
sobrevivência. É uma estratégia torpe, que,
legitimando e banalizando princípios
inaceitáveis, vai ferindo de morte as
instituições democráticas. Falharão, por
certo, o seu cego objetivo — o de não perder
tantos votos —, já que uma imitação nada
mais faz do que conferir poder àquilo que é
imitado.
A responsabilidade que as más
governações tiveram no surgimento dos
populismos agudiza-se agora que os
populistas estão instalados na cena política.
As governações têm de passar a ser — sempre
o deveriam ter sido — irrepreensíveis no seu
desempenho e na sua imagem. A César não
basta ser honesto, é preciso parecer honesto.
Ainda mais quando os bárbaros arrombaram
já a porta.
Texto originalmente publicado
na edição de ontem do El País
Escritora

Apelo ao voto inteligente
E
António Sampaio da Nóvoa
stamos a dias de votar, em
eleições que não deviam ter tido
lugar, mas nunca são
desnecessárias. Na dúvida,
ordena o povo. Olho à minha
volta e partilho o desencanto e a
desilusão de muitos. Nos últimos dois anos,
inesperadamente, quebrou-se um elo de
conÆança com as instituições políticas e
judiciais. A porta Æcou aberta para ideias e
aventuras perigosas.
Estamos no fim de uma longa campanha
eleitoral. E, como bem disse Francisco Pinto
Balsemão, os políticos democraticamente
eleitos parecem não se aperceber dos grandes
desafios que enfrentam. Não há votos inúteis.
Todos contam. Mas gostaria de fazer apelo a
um voto inteligente. Com três critérios.
Primeiro critério: reforçar o campo
democrático. Não nos podemos distrair. É
preciso que os partidos democráticos ganhem
estas eleições por muito. É preciso também
que, depois das eleições, assegurem boas
condições de governabilidade, sob a liderança
do PS ou do PSD. Sem hesitações. A
democracia, os direitos, as liberdades e as
garantias têm de ser plenamente protegidos.
A moderação e o diálogo são centrais para
Porquê votar na Aliança Democrática
N
Arlindo Cunha
esta campanha eleitoral o
Partido Socialista tem erigido
a estabilidade como principal
argumento para tentar
convencer os indecisos.
Começo por este ponto para
lembrar que qualquer cidadão normal
deseja por regra a estabilidade. No entanto,
impõe-se lembrar que estabilidade não
signiÆca a perpetuação no poder de
qualquer força política, especialmente de
uma que governou o país durante mais de
75% dos últimos 29 anos, dos quais os
últimos oito, em que demonstrou o seu
completo esgotamento ao atirar pela janela
fora, a menos de metade do mandato, uma
coisa cada vez mais rara em democracia que
não desperdiçarmos possibilidades abertas
pelos fundos europeus e pelo esforço
orçamental dos últimos anos. Mas também
para mudanças estruturais indispensáveis,
sobretudo na economia, nas leis eleitorais e
na justiça. E para fortes compromissos em
torno do conhecimento, da educação, da
ciência e da cultura, temas quase ausentes
desta campanha.
Segundo critério: apoiar uma visão
progressista. A sociedade portuguesa tem
estado à altura dos grandes desaÆos da paz e
dos direitos humanos. Não podemos
retroceder. Infelizmente, a campanha da
direita democrática, que começou sensata,
deixou-se invadir por discursos que põem em
causa avanços geracionais, nomeadamente
nos direitos das mulheres e dos migrantes e
no tema vital das alterações climáticas.
Precisamos de levantar um movimento
progressista de mudança. Com liberdade.
Com pluralidade. Ao marcar presença em
iniciativas de campanha, também da CDU e
do Livre, quis chamar a atenção para partidos
que têm revelado uma grande honestidade e
vontade de cooperação. Somar, e não dividir.
Para recuperar a conÆança perdida,
precisamos de um gesto de generosidade,
com os olhos no futuro das novas gerações e
do país.
Terceiro critério: escolher um governo que
celebre connosco um contrato de futuro.
Nós somos nós e as nossas circunstâncias. Em
2022, o Presidente da República impôs um
entendimento errado da Constituição ao
personalizar eleições que são parlamentares.
O voto deve ser decidido em função dos
programas, dos candidatos e dos círculos
é uma maioria absoluta. Além disso,
impõe-se lembrar que em democracia o
verdadeiro garante da estabilidade é o
Estado de direito em si mesmo, ao assegurar
o pleno exercício de funções a qualquer
governo que tenha apoio parlamentar
consistente, independentemente da sua cor
política.
Por isso, nestas eleições a opção pela AD é
uma opção pela mudança. Uma mudança
para maior ambição, cuja estabilidade é
precisamente assegurada pelo nosso Estado
de direito. São muitos os problemas por
resolver que se acumularam nos últimos
anos, mas vou focar-me em três, que
correspondem a mudanças urgentes que o
país precisa de fazer.
Precisamos de mudar para uma política
económica fiscal amiga das empresas,
encorajando-as nos seus investimentos,
reduzindo a teia burocrática em que estão
submersas e, sobretudo, reduzir a carga
fiscal que as afunda. Só assim
conseguiremos aumentar o crescimento
económico, criando condições para
distribuir mais e melhor sem ser contra o
empobrecimento de outros grupos
eleitorais. Não é a mesma coisa votar em
Lisboa, em Évora ou em Viana do Castelo.
Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro são
também as suas circunstâncias, transportam
com eles um legado de ideias, de valores e de
propostas. A campanha deixou claro que um
A campanha deixou
claro que um acordo
com bases sólidas, com
um sentido de futuro, só
pode ser construído do
centro para a esquerda
igualmente carenciados. Não podemos ter
uma visão apenas centrada no salário
mínimo, sintoma de falta de ambição.
Precisamos desesperadamente de aumentar
o salário médio, que trará por arrasto e para
cima o mínimo. Mas isso só é possível com
políticas centradas no crescimento
económico.
Precisamos de mudar a forma como tem
sido feita a gestão estratégica da saúde.
Temos todos orgulho no Serviço Nacional de
Saúde, mas não podemos aceitar o que está
a acontecer e a agravar-se com a rotura dos
serviços em quase todas as frentes e os
atrasos nas consultas e cirurgias, com grave
prejuízo para os utentes. O Governo da
“geringonça” por razões meramente
ideológicas alterou unilateralmente a Lei de
Bases da Saúde, com o principal propósito
de afastar os operadores privados. Está mais
do que visto que sem uma relação
contratual e complementar de parceria
entre o Estado e os prestadores privados um
SNS assente exclusivamente nos serviços
públicos não é capaz de dar as respostas de
que os portugueses precisam e para as quais
pagam os seus impostos. O programa da AD
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 15
NUNO FERREIRA SANTOS
acordo com bases sólidas, com um sentido de
futuro, só pode ser construído do centro para
a esquerda. É neste espaço plural, com
respeito pelas diferentes identidades, que
podemos cultivar uma esperança solidária e
livre, dar força a uma sociedade justa e capaz
de enfrentar os grandes desaÆos da
humanidade.
No meio de tantas desilusões, conforta-nos
constatar que a sociedade portuguesa se tem
revelado mais forte e consistente do que a
política. Não há melhor elogio aos 50 anos de
Abril. Os cidadãos demonstram, hoje, uma
grande maturidade. Não reduzem o voto a
dicotomias simplistas. Sabem que as escolhas
são complexas. Indecisos, por vezes
zangados, devem esquecer as pequenas
coisas e votar, em consciência, nos partidos
que podem trazer uma nova ambição e um
novo futuro para Portugal.
Conselheiro de Estado
garante esta mudança sem abdicar do SNS.
E precisamos de mudar a forma como
olhamos e tratamos o setor agroalimentar e
agroÇorestal. A pandemia mostrou à
saciedade que sem um grau básico de
segurança alimentar nenhuma sociedade é
capaz de ter estabilidade e independência.
Portugal tem condições para garantir esta
segurança, para além de este setor ser
estratégico na criação de emprego nas zonas
rurais e no equilíbrio das contas externas. O
programa da AD garante uma visão
equilibrada da agricultura, pecuária e
Çorestas, em que as preocupações
climáticas e ambientais coexistem em
perfeita harmonia com as económicas. E
assim tem de ser, pois a sustentabilidade
tem três pilares: o ambiental, o económico e
o social, e não apenas um. Isto em contraste
com a visão de “esquerda caviar” que só vê
nestes setores o sequestro de carbono e a
redução das emissões de gases de efeito
estufa, marginalizando as outras dimensões
da sustentabilidade.
Economista, professor da U. Católica –
Porto e ex-ministro da Agricultura
16 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Política Remuneração dos políticos mantém corte desde a troika
Há um corte salarial que não foi reposto
e ninguém fala nele (nem os políticos)
O salário dos políticos sofreu um corte em 2010 que ainda não foi reposto. Por causa deste regime,
há magistrados a ganhar mais do que o primeiro-ministro. Mas ninguém se atreveu a reverter esse corte
Liliana Borges
O tema não chegou à campanha elei-
toral e não há nenhum partido que se
atreva a trazê-lo, pela impopularida-
de da discussão. Quase uma década
depois de a troika ter saído de Portu-
gal, há um corte salarial que nunca foi
reposto: o corte nos salários dos polí-
ticos. Hoje, um magistrado no topo
da carreira aufere um salário-base
mais elevado do que o do primeiro-
ministro. António Costa já lembrou
mesmo, em 2019, que ganhava mais
como ministro da Justiça (1999-2002)
do que agora como primeiro-minis-
tro. A reversão já esteve em cima da
mesa em 2019 e foi pedida novamen-
te em 2022, mas nenhum político
quer dar a cara pela decisão.
Em causa está um corte de 5% apli-
cado há 14 anos, “a título excepcio-
nal”, que continua a retirar parte do
salário-base a quem desempenha
cargos políticos, desde o Presidente
da República aos presidentes de
câmara, passando pelos deputados,
primeiro-ministro, ministros, secre-
tários de Estado e membros de gover-
nos e deputados das regiões autóno-
mas, governador e vice-governador
civil. O corte aplica-se também a
alguns gestores públicos, como mem-
bros dos conselhos directivos ou de
administração dos institutos públicos,
pois os seus ordenados são indexados
ao do Presidente da República.
A lei em causa, aprovada ainda por
José Sócrates e acordada entre PS e
PSD, inseria-se num “conjunto de
medidas adicionais de consolidação
orçamental” cujo objectivo era “refor-
çar e acelerar a redução de déÆce
excessivo e o controlo do crescimen-
to da dívida pública”. Embora os salá-
rios sejam actualizados em linha com
os aumentos da função pública, o
corte de 5% continua a ser aplicado.
Todos os vencimentos de detento-
res de cargos políticos são calculados
em função do salário bruto do Presi-
dente da República. Este é, em 2024,
de 8193,98 euros, aos quais é preciso
tirar 5% (409,70 euros). Ou seja,
depois do corte, Marcelo Rebelo de
Sousa recebe 7784,28 euros de salá-
rio-base bruto por mês. A isto somam-
se as despesas de representação.
Porém, a aplicados os respectivos
descontos para o IRS e para a Segu-
rança Social, o Presidente da Repú-
blica recebe na conta 5715,58 euros
mensais, apurou o PÚBLICO junto de
Belém. Um valor que Æca atrás, por
DANIEL ROCHA
também em topo de carreira, pode ir
até aos 5631 euros brutos por mês,
mais do que o salário de um ministro
ou o de um deputado. Um gestor
público de uma empresa de tipo A
também recebe um valor-base supe-
rior ao do primeiro-ministro, rondan-
do os 6146 euros por mês. Há quem
aponte para estas diferenças salariais
como uma das razões para alguma
perda de qualidade de classe política,
uma vez que, em alguns casos, inte-
grar o Governo ou ir para a AR pode
representar uma substancial perda
de rendimentos.
PCP defendeu reversão
Apesar de, por duas vezes, António
Costa se ter mostrado conÆante de
que “o último corte” salarial herdado
dos tempos de austeridade seria
reposto, de forma a “devolver nor-
malidade ao quadro remuneratório
também dos políticos”, a legislatura
O vencimento-base bruto do Presidente da República representa o tecto salarial dos políticos acabou por terminar sem qualquer
alteração.
Remunerações mensais de detentores de cargos políticos, centadas despesas de representação). No debate do Orçamento do Estado
eurodeputados, gestores públicos e carreiras especiais da Sem o corte, o chefe do Governo rece- para 2024, a Associação Nacional de
administração pública beria 6145,49 euros brutos mensais. Municípios Portugueses voltou ao
Um ministro recebe 65%, ou seja, cer- tema, considerando “incompreensí-
Cargo Bruto Valor do corte Vencimento ca de 5060 euros mensais brutos (em vel” e “injusto” que a proposta orça-
de 5% mensal bruto vez de 5326 euros sem o corte de 5%), mental continuasse a não reverter o
a receber e um secretário de Estado um pouco corte “nas remunerações dos eleitos
Eurodeputado 10.075,18 Não aplicável 10.075,18 menos: 60% do salário do Presidente locais”. Recordando que os cortes
Presidente da República 8193,98 409,7 7784,28 da República, o que dá 4670,57 euros foram repostos em toda a restante
(aplicado o corte), mais despesas de Administração Pública, a ANMP argu-
Magistrado* 6912,1 Não aplicável 6912,1
representação. mentou no seu parecer que era “de
Presidente da Assembleia 6555,18 327,76 6277,42
Por sua vez, um deputado em regi- elementar justiça que se acabe com
da República
me de exclusividade recebe metade esta redução do vencimento e com
Primeiro-ministro 6145,49 306,28 5838,21 do salário do Presidente da Repúbli- este anátema que recai sobre os titu-
Docente do ensino superior * 5631,5 Não aplicável 5631,5 ca: 3892,14 euros por mês (em vez de lares de cargos políticos”.
Ministro 5326 266 5060 4096,99 euros brutos). Já os autarcas Mas nada mudou. O último posicio-
Militares* 5225,3 Não aplicável 5225,3 recebem consoante o número de namento do actual Governo foi feito
Secretário de Estado 4883,4 212,83 4670,57 habitantes, sendo os presidentes das pela voz da ministra da Coesão Terri-
Diplomata* 4547,7 Não aplicável 4547,7 câmaras de Lisboa e do Porto (de lon- torial, Ana Abrunhosa, em 2022, a
ge) os mais bem pagos, recebendo propósito da discussão do Orçamen-
Presidente de grupo 4096,99 204,85 3892,14
cada um 3892,14 euros brutos por to do Estado. A governante aÆrmou
parlamentar
mês, o equivalente a um deputado que o Governo entendeu que era “de
Presidente da Comissão 4096,99 204,85 3892,14 em regime de exclusividade. Um manter” os cortes nos salários dos
Parlamentar autarca de um município com menos políticos “num tempo em que as famí-
Deputado** 4096,99 204,85 3892,14 de 10 mil eleitores ganha cerca de lias estão todas a passar restrições”.
*Em topo de carreira; **em regime de exclusividade
1.556 euros brutos.
A discussão sobre o salário dos polí-
Fonte: Assembleia da República, Pordata e Parlamento Europeu PÚBLICO
ticos é feita timidamente. Embora os
salários dos políticos estejam muito TEMAS SEM CAMPANHA
exemplo, do salário líquido de um de presidente da Assembleia da Repú- acima dos 1.505 euros mensais brutos
eurodeputado, que recebe 7853,89 blica receberia 6555,18 euros brutos nos quais se Æxavam as remunerações
euros líquidos. por mês (sem os descontos obrigató- médias dos portugueses em 2023, o LEGISLATIVAS
O presidente da Assembleia da
República recebe 80% do salário do
rios). Segue-se o primeiro-ministro,
cujo salário corresponde a 75% do
salário de um magistrado no topo da
carreira é superior ao salário quer do 2024
chefe de Estado, o que corresponde vencimento do chefe de Estado. Con- primeiro-ministro, quer do presiden-
a 6277,42 euros brutos por mês (aos tas feitas, o primeiro-ministro recebe te do Parlamento, podendo chegar Acompanhe em
quais acrescem também despesas de por mês 5838,21 euros (aos quais são aos 7000 euros brutos mensais. publico.pt/legislativas-2024
representação). Sem o corte, a Ægura aplicados descontos e também acres- Um professor do ensino superior,

Crimes nas escolas aumentaram 9%.
Agressões crescem entre as raparigas
PSP indica que houve mais agressões, ameaças e furtos nas escolas. Rapazes dominam nas agressões,
mas há acréscimo de raparigas neste crime. Jovens estão mais violentos, mas posse de armas diminuiu
Sónia Trigueirão
A violência em contexto escolar vol-
tou a aumentar e ocorre em idades
cada vez mais precoces. Durante o
ano lectivo de 2022/2023, os polícias
do programa Escola Segura regista-
ram, na sua área de responsabilidade,
3824 ocorrências, 2708 das quais de
natureza criminal e 1116 não-crimi-
nais. Os dados da PSP revelam que,
no último ano lectivo, houve mais 299
ocorrências nas escolas em relação
ao ano escolar 2021/2022, sobretudo
as criminais, que passaram de 2444
para 2708.
A PSP salienta ainda um aumento
do número de crimes nas ocorrências
registadas — 3110 crimes, acima dos
2852 contabilizados no ano lectivo
2021/2022. Estes números represen-
tam um acréscimo de 9%. As ofensas
corporais e as injúrias e ameaças con-
tinuam no topo dos principais ilícitos
cometidos nos estabelecimentos de
ensino, e os dados revelam um
aumento de 5,5% e 9,6%, respectiva-
mente, em comparação com o ano
lectivo anterior. Ou seja, em
2022/2023 a PSP registou 1237 ofensas
corporais, quando no ano lectivo
anterior esse número tinha Æcado em
1172. No que diz respeito a injúrias e
ameaças, no ano lectivo que passou
a PSP registou 825 ocorrências, quan-
do em 2021/22 foram 753.
Mas nem tudo são más noticias.
Quanto à posse e uso de arma, os
números diminuíram. Foram veriÆ#
cadas 34 ocorrências de posse e uso
de arma, envolvendo 35 armas (uma
arma de fogo, 27 armas brancas e sete
armas de outras tipologias), traduzin-
do-se num decréscimo de 55,8% em
comparação com o ano lectivo tran-
sacto. Em 2021/2022 foram registados
77 crimes desta tipologia, que envol-
veram 80 armas – oito armas de fogo,
63 armas brancas e nove armas de
outros tipos —, correspondentes a
uma diminuição de 87,5%, 57,1% e
22,2%, respectivamente.
A PSP sublinha ainda que, das ocor-
rências criminais registadas, 77,1%
tiveram lugar dentro do recinto esco-
lar e 22,9% no seu exterior. Quanto às
ocorrências não-criminais, 73,6%
ocorreram dentro do recinto escolar
e 26,4% no exterior.
Numa análise geral, a PSP indica
que estes valores são superiores aos
registados no ano lectivo anterior,
mas inferiores aos dos anos pré-pan-
demia. “Se analisarmos os dados
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 17
Programa Escola Segura no ano lectivo 2022/23 Sociedade
DANIEL ROCHA
PSP – Programa Escola Segura
Em número de ocorrências
Natureza criminal Natureza não-criminal
TOTAL
5049
1643 4093
3824
1423 3324 3525
3067 1116
3406 1231 1081
1285
2670 2444 2708
2093
1782
2017/2018 2018/2019 2019/2020 2020/2021 2021/2022 2022/2023
Números de crimes nas ocorrências criminais
3406
3079 3110 Crimes por uso e porte de arma em escolas diminuíram
2852
10 anos”, sublinha a PSP. banal. A partir das 18 ou das 19 horas,
Ao PÚBLICO, o intendente Hugo nos canais por cabo, é comum ver
2389 Guinote, chefe da Divisão de Preven- séries policiais em que é raro um epi-
ção Pública e Proximidade da PSP, sódio em que não há uma morte. Há
2064 indica que, como principal causa do uma banalização da violência”, sus-
2000 aumento de ocorrências no último ano tentou.
2017/2018 2018/2019 2019/2020 2020/2021 2021/2022 2022/2023 lectivo, a PSP identiÆcou o facto de, no De acordo com o mesmo responsá-
início do ano lectivo de 2021/2022, vel, os rapazes continuam a dominar
Nota: Na mesma ocorrência criminal pode ocorrer mais do que um tipo de crime
ainda ter ocorrido um período em que como autores de ofensas corporais,
não houve aulas presenciais por causa mas também se veriÆcou um aumen-
Tipos de crimes registados da pandemia, o que restringiu o con- to da participação de raparigas neste
tacto entre alunos. tipo de crime.
2022/2023 2021/2022
Quanto ao aumento de ofensas cor- Já no que diz respeito à redução dos
porais e ameaças no último ano lecti- crimes por uso e porte de arma, o
Ofensas corporais
1237
vo, Hugo Guinote revela que era algo intendente considerou que a diminui-
1172
que não estava a acontecer e que até ção deste tipo de crime resultou do
Injúrias, ameaças
825 havia uma tendência descendente trabalho de sensibilização feito no
753 nas primeiras. “O número de ocor- ano que passou e que se focou no
Furto
368 rências por injúrias estava a aumentar tema. Nas sessões com os alunos,
287 porque os miúdos denunciavam o além de caracterizarem a delinquên-
Vandalismo, dano
137 conÇito antes da agressão, o que fazia cia juvenil, os agentes costumam
101 com que as ofensas corporais dimi- explicar que a ideia que têm da inim-
87 nuíssem. E agora isto não aconteceu”, putabilidade não corresponde à rea-
Ofensas sexuais aÆrmou, sublinhando que ainda estão lidade e que ter uma arma branca é
88
a analisar o fenómeno. crime. “Os jovens começaram a Æcar
Roubo
82
Porém, o mesmo responsável reve- elucidados de que estes comporta-
80
lou que “as agressões estão a começar mentos eram crime e que havia con-
Posse e uso de arma
34 num período mais precoce”: “Há 15 sequências penais, a que se junta um
77 anos começavam com maior regula- registo criminal que podia ser inibi-
Tráfico de estupefacientes
28 ridade na faixa dos 15, 16 anos e agora dor para um dia mais tarde alcança-
25 surgem nos jovens de 12, 13 anos.” rem determinadas proÆssões”, aÆr-
312 Para o intendente, “mesmo não sen- mou, sublinhando que as acções
Outros tipos
269 do ainda muitas, isto indicia que há visaram jovens com idades entre os
uma normalização no comportamen- 14 e os 15 anos.
TOTAL 3110 2852 to para agressão física”. O intendente explicou ainda que
Sobre os factores que contribuem estes fenómenos de posse de arma
Fonte: PSP PÚBLICO para este tipo de comportamentos, são importados e começaram a surgir
Hugo Guinote diz que, além das durante a pandemia, quando os
existentes desde o ano lectivo de 1496 não-criminais). Isto signiÆca características pessoais e do ambien- jovens estiveram mais tempo nas
2013/2014, veriÆcamos que a média que, apesar de o número de ocorrên- te social, podem existir outros estí- redes sociais. Em 2022/2023, foram
do número de ocorrências, em con- cias ter aumentado no último ano mulos. “Esses estímulos podem vir do realizadas 9942 acções de sensibiliza-
texto escolar, na última década é de lectivo, continua a ser signiÆcativa- convívio com os outros, da televisão ção, que contaram com a participa-
4570 (3074 ocorrências criminais e mente inferior à média dos últimos e até dos videojogos, onde a morte é ção de 385.163 alunos.
18 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Sociedade
Saúde: faltam dois municípios para
desbloquear 172,8 milhões do PRR
Alexandra Campos
Ministério da Saúde diz que
acredita que será possível
chegar a acordo com
191 autarquias ainda no
decurso do corrente mês
Se nos próximos dias mais dois
municípios aceitarem a transferên-
cia de competências na área da saú-
de, será atingido, em princípio, o
universo mínimo de acordos com
autarquias para que seja possível
desbloquear 172,8 milhões de euros
que Æcaram retidos devido ao
incumprimento desta meta do Pla-
no de Recuperação e Resiliência
(PRR), a crer na informação adian-
tada pelo Ministério da Saúde.
Iniciada em 2019, a descentraliza-
ção na área da saúde tem avançado
lentamente devido à não-aceitação
inicial da transferência de compe-
tências do Estado central por gran-
de parte dos municípios, que con-
testaram o valor do envelope Ænan-
ceiro que acompanha o processo
por considerarem que era insuÆ#
ciente para assumir os encargos. A
transferência de competências
implica que os municípios passem
a ser responsáveis pela gestão e
manutenção dos edifícios dos cen-
tros de saúde e pela gestão dos res-
pectivos assistentes operacionais.
Por não estar concluída no prazo
previsto, esta foi uma das reformas
que implicaram a suspensão do
pagamento de parte do terceiro
desembolso do PRR. Para se atingir
a meta deÆnida no plano é necessá-
rio que 95% do universo dos muni-
cípios em que a descentralização na
saúde se aplica — e são 201, uma vez
que todos os que integravam unida-
des locais de saúde já existentes
Æcaram de fora — formalizem os
acordos de transferência de compe-
tências. São, portanto, 191 autar-
quias, uma meta que o Ministério
da Saúde estima poder ser atingida
durante este mês. E isto porque,
além de ter acedido a alargar o pra-
zo para a Ænalização do complexo
processo, a Comissão Europeia acei-
tou uma margem de incumprimen-
to até 5%, sem penalização.
Até quarta-feira, tinham aceitado
o acordo 189 municípios e, destes,
186 assinaram já os autos de transfe-
rência necessários para a sua forma-
lização, adianta o Ministério da Saú-
de. Faltam, assim, 12 municípios
para se chegar ao universo total,
especiÆca. São estes Lisboa, Sintra,
Seixal, Setúbal, Sesimbra, Sobral de
Monte Agraço, Vila Real, Ovar, Óbi-
A descentralização na saúde é um dos pilares da reforma em curso nos cuidados de saúde primários
dos, Caldas da Rainha, Arraiolos e
Silves. Não é uma questão partidária.
Dois dos municípios são do PS (Vila
Real e Sintra), três são do PSD (Lis-
boa, Ovar e Óbidos), enquanto Cal-
das da Rainha é independente e os
restantes são da CDU.
Os responsáveis do Ministério da
Saúde estimam, em resposta escrita,
que seja possível chegar a acordo com
“pelo menos 191” autarquias durante
este mês. Falta, assim, que mais duas
aceitem para que a verba retida pela
Comissão Europeia possa ser desblo-
queada. É uma verba avultada — o
incumprimento no prazo previsto
implicou a suspensão de uma “trans-
ferência no montante de 172,8 milhões
de euros”, segundo o Ministério da
Saúde. “Portugal tem seis meses para
atingir a meta, sendo que a decisão
da Comissão Europeia foi tomada em
13 de Dezembro”, recorda.
Em Dezembro passado, a Comissão
Europeia aprovou o pagamento a
Portugal do terceiro e do quatro des-
embolsos do PRR, mas decidiu reter
O presidente
da Comissão de
Acompanhamento
do PRR
acredita que
esta é uma reforma
que vai ter
resultados
positivos para
a população
parte porque o país não cumpriu nos
prazos previstos três objectivos (uma
meta e dois marcos) que têm que ver
com reformas políticas.
Além do incumprimento da meta
da descentralização da saúde, perma-
neciam nessa altura em falta dois
marcos do PRR — criação dos centros
de responsabilidade integrada nos
hospitais e a reforma dos estatutos
das ordens proÆssionais, porque o
Presidente da República vetara vários
diplomas. Mas o diploma que cria os
centros de responsabilidade integra-
da nos hospitais entrou em vigor em
1 de Janeiro deste ano e os estatutos
que consagram a reforma das ordens
proÆssionais acabaram igualmente
por ser aprovados em Janeiro.
“Uma questão de tempo”
O presidente da Comissão Nacional
de Acompanhamento do PRR, Pedro
Dominguinhos, também está conven-
cido de que será possível chegar a
acordo com o universo mínimo de
câmaras em breve. “Faltam dois
municípios, é uma questão de tem-
po”, diz. Recordando que “Portugal
tem seis meses para submeter a evi-
dência do cumprimento da meta”,
Pedro Dominguinhos nota, porém,
que “nada obriga a que se espere este
tempo todo”.
O presidente da Comissão de
Acompanhamento do PRR acredita
que esta é uma reforma que vai ter
resultados positivos para a popula-
ção, uma vez que a questão da “sub-
sidiariedade e proximidade tem
impacto”, nomeadamente “na reso-
lução das questões mais imediatas”.
Sublinhando que “não foi só por
DANIEL ROCHA
uma questão de dinheiro” que várias
câmaras se mostraram renitentes, o
líder da estrutura que representa os
autarcas social-democratas e preside
à Câmara Municipal de Mafra, Hélder
Sousa Silva, adianta que a não-aceita-
ção da transferência de competências
está a ter “um impacto negativo” em
algumas unidades locais de saúde (que
integram os hospitais e agrupamentos
de centros de saúde de uma área geo-
gráÆca) na sequência da generalização
deste modelo de organização no início
deste ano. “Há unidades locais de saú-
de que incluem uns municípios que
aceitaram [a descentralização] e
outros que não aceitaram e isto cria
graves problemas de gestão”, explica.
Lisboa é um destes casos, diz.
“Algumas autarquias não concor-
daram com as poucas competências
que são transferidas. Nós queríamos
mais do que tarefas menores. Espero
que este seja um ponto a aprofundar
pelo próximo governo”, frisa.
O Governo está empenhado em
concluir o processo com rapidez. No
início de Janeiro, António Costa mos-
trava-se determinado a “irritar todos”
até conseguir que os municípios em
falta aceitassem a transferência de
competências na área da saúde. “Hei-
de irritar todos até ao Ænal. Não ces-
sarei funções sem termos cumprido
a meta prevista no PRR para que a
verba retida se cumpra no âmbito da
reforma da descentralização na área
da saúde”, aÆrmou, citado pelo jornal
online Eco. “Não é só para receber-
mos uma fatiazinha do PRR. É porque
é fundamental para melhorar os cui-
dados de saúde prestados às popula-
ções”, enfatizou.
Infecções
sexualmente
transmissíveis
disparam
Em Portugal, casos
de gonorreia passaram
de 1252 em 2021 para 2253
em 2022. Clamídia subiu
de 914 para 1501 casos
As infecções sexualmente transmis-
síveis como gonorreia, clamídia e
síÆlis dispararam em Portugal, e na
Europa, afectando sobretudo jovens
dos 20 aos 24 anos, revelam os últi-
mos relatórios epidemiológicos
anuais do Centro Europeu de Preven-
ção e Controlo das Doenças (ECDC).
Em Portugal, a notiÆcação de
casos de gonorreia aumentou de
1252 em 2021 para 2253 em 2022. Em
28 países da União Europeia/Espaço
Económico Europeu (UE/EEE) regis-
taram-se 70.881 casos conÆrmados
de gonorreia em 2022, com uma taxa
bruta de notiÆcação de 17,9 casos
por 100.000 habitantes, um aumen-
to de 48% na taxa comparando com
2021 e de 59% com 2018. “O ano de
2022 marca o maior número de
casos de gonorreia na UE/EEE na
última década e desde o início da
vigilância europeia de IST [infecções
sexualmente transmissíveis] em
2009”, alerta a ECDC. Nos relatórios
divulgados ontem, a maioria dos
países (25/28) regista aumentos em
2022 na notiÆcação de gonorreia.
Também a notiÆcação de casos de
clamídia subiu em Portugal, de 914
casos em 2021 para 1501 casos em
2022, e em 27 países da UE/EEE
foram notiÆcados 216.508 casos con-
Ærmados de infecção por clamídia
em 2022, com uma taxa bruta de
notiÆcação de 88 casos por 100.000
habitantes — mais 16% do que a taxa
de 2021. Também a síÆlis aumentou
em Portugal, de 1144 casos notiÆca-
dos em 2021 para 1534 em 2022, ten-
do em 29 países da UE/EEE sido
registados 35.391 casos conÆrmados
de síÆlis, dando uma taxa bruta de
notiÆcação de 8,5 casos por 100.000
habitantes. O relatório da ECDC mos-
tra a taxa mais elevada de casos de
síÆlis em Malta (24,4 casos por
100.000 habitantes), seguida pelo
Luxemburgo (23,4), Irlanda (16,6),
Espanha (16,6), Liechtenstein (15,3)
e Portugal (14,8).
O “aumento signiÆcativo” do
número de casos de IST notiÆcados
em 2022, face ao ano anterior, com
os casos de gonorreia a aumentar
48%, os de síÆlis 34% e os de clamídia
16%, sublinham a necessidade
“urgente de medidas imediatas”
para prevenir novas transmissões e
mitigar o impacto das IST na saúde
pública, diz a ECDC. Lusa

Podem as compras
públicas ser mais
ecológicas, inovadoras
e circulares?
Entre 13 e 14 de Março, Lisboa vai receber
a Conferência Procura+, que juntará especialistas
que mostrarão como as compras públicas podem
estar ao serviço da transformação da sociedade.
Q
uando se fala de mudanças efec-
tivas rumo a um futuro mais
sustentável é impossível excluir
a contribuição do sector público. Os con-
tratos públicos nos últimos anos têm re-
ť Eť ŧť  ʠŧť-
va no PIB nacional e europeu.
Ciente desta realidade e da importância
que a inovação e a partilha de conheci-
mento desempenham para que as com-
pras públicas sejam verdadeiros agentes
de transformação da sociedade, a cidade
de Lisboa acolherá nos próximos dias 13
e 14 de Março a conferência Procura+.
Este evento, existente há 25 anos (antes
com a designação de EcoProcura), vai
juntar no Centro de Congressos de Lisboa
especialistas de toda a Europa para par-
tilharem os melhores exemplos de como
é possível que as compras públicas sejam
ecológicas, inovadoras, circulares e so-
cialmente responsáveis.
O evento abre com um discurso de Carlos
Moedas, Presidente da Câmara Munici-
pal de Lisboa, e Katrin Stjernfeldt Jam-
meh, Presidente da Câmara Municipal
de Malmö, Suécia (e também da Rede
Procura+), e prossegue com sessões onde
vários intervenientes mostrarão como os
compradores públicos podem recorrer ao
E ʠťŧ  ťťŧ ŦE ťť
uma sociedade mais sustentável, circular
e resiliente.
Entre os convidados, sobressai a pre-
sença de nomes como Janez Potocnik
(Comissário Europeu para o Ambiente
de 2009 a 2014 e, actualmente, co-pre-
sidente do Painel Internacional de Re-
cursos do PNUA), bem como Abby Sem-
ple ( Public Procurement Analysis ) ou
de Erika Bozzay ( Senior Policy Advi-
ser, Infrastructure and Public Procure-
ment Division, OCDE).
Um programa rico e inspirador
Logo no dia 13, esta conferência mostra
porque é tão útil para os municípios e as
autoridades públicas. As cinco sessões gi-
ram em torno dos Contratos Públicos So-
cialmente Responsáveis (CPSR), focados
em soluções inovadoras e sustentáveis
que podem advir da implementação dos
mesmos pelas cidades e organizações;
como podem estes impulsionar a transi-
CONTEÚDO
COMERCIAL
ção circular; e como os compradores pú-
blicos podem contribuir para a mudança
rumo a sistemas alimentares mais jus-
 >?ťť? Eťʠ  ŧ ŧ ī-
cos complexos se adivinham com a evo-
lução do panorama tecnológico.
O primeiro dia termina com a revelação
dos vencedores do Prémio Procura+ 2024
nas categorias Contrato Público Susten-
tável do Ano, Contrato Público Inovador
do Ano e Iniciativa em Contratos Públicos
do Ano, e com um jantar de celebração.
A falha como motor da mudança
A 14 de Março, o programa retoma com
uma sessão liderada por Paul Lou-
is Iske, " ť E#ʠŧ E-
te for Brilliant Failures. “A sessão per-
mitirá que os compradores públicos
confessem os seus erros e mostrará que,
por vezes, só é possível efectuar mudan-
ças significativas que conduzam a um
grande impacto se forem retiradas as li-
ções certas dos erros”, informa a organi-
zação da conferência.
Neste dia, espera-se que a sessão de en-
cerramento seja conduzida pelo Presi-
Partilha de dente da Câmara Municipal de Lisboa.
experiências Carlos Moedas dedicar-se-á a explorar a
forma como os contratos públicos podem
Nos dois dias haverá ťʡEŧť ťʠ ŧ  -
um Market Lounge com râneos (como a inflação, a turbulência
mais de 50 redondas geopolítica, a perturbação do aprovisio-
em que os participantes namento e as alterações nos quadros
encontrarão oportunidade políticos nacionais e europeus) para ad-
para discutir a
quirirem uma importância ainda mais
colaboração e o trabalho
estratégica.
em rede. As mesas
Sobre a iniciativa, o Presidente da Câma-
redondas serão centradas
numa grande variedade
ra Municipal de Lisboa reforça a impor-
de tópicos, tais como os tância deste tipo de conferências para
contratos públicos éticos, Lisboa. “Como vencedora do prémio Ca-
a economia de valor pital Europeia da Inovação, a cidade ofe-
social, os contratos rece um ambiente único para discutir,
de TIC, o diálogo com experimentar e reinventar abordagens
os fornecedores, à sustentabilidade e às práticas de con-
a descarbonização tratação pública. Lisboa investe tempo
— e muitos outros.
ť Eť ʠŧť‡Ĥ    ť ŧ  ť?
Onde?Ì envolvendo o mercado e apoiando a mu-
Centro de Congressos dança para tirar o máximo proveito das
de Lisboa compras para atingir os objectivos da ci-
dade”, garante, acrescentando uma nota
Quando?Ì  Ŧ ťʠ  Ŧť>
13 e 14 de Março
“O mundo está a enfrentar grandes de-
de 2014
ťʠ ťŦť?ŧ īŧ  ŧť
Inscrições que exigem uma transformação substan-
Aqui: cial em todos os aspectos da sociedade.
Precisamos de mudanças graduais para
conseguir um grande impacto e a contra-
tação pública tem um papel fundamen-
tal na condução desta transformação!”,
declara Carlos Moedas.
20 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Sociedade
Do lobby aos manuais, PS e IL desiludem
na luta anticorrupção, PAN surpreende
Ana Henriques
Especialistas criticam
escassez de medidas
preventivas, como a
introdução desta matéria
nos currículos escolares
Socialistas e liberais desiludiram, PAN
surpreendeu pela positiva e as medi-
das destinadas à mudança de menta-
lidades Æcaram, na maior parte dos
casos, no tinteiro. Assim se pode resu-
mir a análise dos programas eleitorais
na vertente anticorrupção feita por
três especialistas ao PÚBLICO.
Se o investimento do Chega nesta
matéria não é novidade, nomeada-
mente no que respeita a medidas
repressivas como o aumento das mol-
duras penais – ou não fosse o seu lema
“Limpar Portugal” –, já o detalhe com
que os defensores dos animais apre-
sentam as suas propostas contrasta
com a aparente falta de empenho dos
socialistas, que dedicam ao tema
página e meia. “Trata-se de um pro-
grama muito simples, com pouco
destaque para as questões do comba-
te à corrupção”, observa o presiden-
te do conselho regional de Lisboa da
Ordem dos Advogados, João Massa-
no, sobre as intenções do PS, que no
seu entender representam “uma lógi-
ca de continuidade de medidas que
já estavam planeadas, ou que já deve-
riam estar implementadas”.
Numa escala de 0 a 5, este dirigen-
te só dá nota positiva a metade dos
partidos com assento parlamentar:
Livre, AD, Chega e PAN. O facto de a
Iniciativa Liberal não ter um capítulo
dedicado à questão leva-o a atribuir-
lhe a pior nota de todas: um ponto.
Mas a falha que mais lamentam,
não só João Massano como Joana Frei-
tas, dirigente da Transparência Inter-
nacional, relaciona-se com a escassez
de medidas preventivas destinadas a
promover a mudança de mentalida-
des. “O combate à corrupção começa
na prevenção e na cultura. Por isso, é
com desilusão que vemos que apenas
dois partidos, o PAN e a AD, mencio-
nam expressamente a inclusão nos
programas de ensino escolar da cons-
ciencialização para o fenómeno da
corrupção”, diz Joana Freitas. Já o
Livre quer formação obrigatória para
servidores públicos em questões de
ética e transparência.
“De que nos servem grandes medi-
das de folclore quando não atacamos
a raiz do problema?”, interroga João
Massano, para quem é preciso respon-
sabilizar não só quem exerce altos
cargos, como também os elos mais
pequenos desta cadeia. “A corrupção
NUNO FERREIRA SANTOS
O regime de exclusividade tem de ser combatida a partir da base,
para os deputados é uma porque quem critica os políticos faz
das propostas do PAN exactamente o mesmo que eles assim
que lhe surgir uma oportunidade.” A
falta de ideias no que respeita às prá-
ticas menos transparentes nas autar-
quias também preocupa o advogado.
De que nos servem A necessidade de medidas destina-
grandes medidas das a mudar mentalidades é igual-
mente destacada pelo coordenador
de folclore do Gabinete de Estudos Económicos,
quando não Empresariais e de Políticas Públicas
da Faculdade de Economia do Porto,
atacamos a raiz Nuno Torres, que concorda com os
do problema? outros dois analistas: “Em matéria de
DANIEL ROCHA
corrupção, o PS acaba por não apre-
sentar grandes novidades.”
Transferências de jogadores
De entre as propostas mais inovado-
ras, este especialista destaca a exclu-
são do acesso a apoios públicos e a
contratação pública das empresas
sediadas em paraísos Æscais, medida
defendida pelo BE e pelo PAN. A rea-
lização de uma auditoria a todas as
transferências de jogadores e treina-
dores de futebol ocorridas desde
2015, bem como a divulgação da ori-
gem, do destino e dos beneÆciários
dos Çuxos Ænanceiros envolvidos e da
titularidade efectiva dos capitais
sociais das sociedades desportivas, é
outra ideia dos defensores dos ani-
mais destacada por Nuno Torres, que
elogia ainda a proposta da AD relativa
ao conÆsco pelo Estado de bens resul-
tantes de actividades proibidas.
Trata-se de uma acção cível “que se
distingue pela sua natureza não
penal, focando-se exclusivamente na
desapropriação de activos ilícitos e
sua subsequente reversão em favor
do Estado, para Æns de reparação
social e reinvestimento em áreas pre-
judicadas pela criminalidade”, lê-se.
No programa do PSD-CDS-PPM, o
investigador destaca ainda o uso da
inteligência artiÆcial no portal da
Base, por forma a permitir a aplicação
de sanções por incumprimento das
regras da contratação pública.
Joana Freitas nota que praticamen-
te todos os partidos prometem regu-
lar o lobby, à excepção do BE e da
CDU. Os comunistas consideram que
legalizar esta actividade equivale à
legalização do tráÆco de inÇuência.
Reduzir os conÇitos de interesse,
através de um alargamento de impe-
dimentos e incompatibilidades no
exercício de cargos, criando ou Æsca-
lizando as obrigações de reporte e
pondo Æm ou regulando as “portas
giratórias” entre sectores público e
privado e regulador e regulado, é
também uma preocupação de vários
concorrentes a estas eleições.
Deputados e exclusividade
O PAN fala em aumentar de três para
oito anos o período de nojo para a
passagem do exercício de cargos
públicos para o sector privado rela-
cionado com as funções exercidas,
por forma a acautelar situações de
especial sensibilidade, como as par-
cerias público-privadas e os contratos
de concessão. O BE fala em seis anos
e o Chega vai mais longe ao querer
proibir de trabalhar para quaisquer
instituições tuteladas pelo Governo,
também durante oito anos, os titula-
res de cargos políticos e altos cargos
públicos, mesmo que se trate de fun-
ções não remuneradas.
Os defensores dos animais são os
únicos a defender um regime de
exclusividade para os deputados:
“Existe aqui um senão: como conse-
guir, ainda assim, atrair gente qualiÆ#
cada para o Parlamento?”, questiona
Nuno Torres. “Curiosamente, apenas
a AD menciona um regime de incom-
patibilidade para o exercício de cargo
público por exercício de prévias fun-
ções como magistrado judicial e do
Ministério Público, sem no entanto
sugerir o Æm das portas giratórias
neste sector, sendo os demais parti-
dos omissos nesta questão tão essen-
cial à separação de poderes e inde-
pendência da justiça”, salienta a
representante da Transparência
Internacional.
Esta organização não vê com bons
olhos medidas de maior criminaliza-
ção ou repressão, ou que imponham
uma desconÆança inerente ao exer-
cício do cargo político. Também cri-
tica o hábito de legislar “no rescaldo
de escândalos mediáticos, como se
de um penso rápido se tratasse, com
pouca ou nenhuma consequência”.
É o caso do escrutínio prévio dos futu-
ros membros de governo, de que tan-
to se falou há pouco mais de um ano
e que a esmagadora maioria dos pro-
gramas eleitorais agora omite.

Salários iguais, aborto, trabalho doméstico e
reforma: as mulheres nos programas eleitorais
Patrícia Carvalho
Propostas incluem sanções
para desigualdade salarial,
alargamento da IVG
e Serviço Nacional dos
Cuidados
No ano em que se comemoram os 50
anos do 25 de Abril de 1974, seria de
esperar que já não fosse necessário
incluir medidas especiÆcamente des-
tinadas às mulheres nos programas
eleitorais, mas basta olhar para cada
um deles para perceber que não é
assim. A desigualdade salarial ou o
acesso a funções mais bem remune-
radas, as condicionantes que perdu-
ram por causa da atribuição de papéis
tradicionais de género (como o de
cuidadora), questões relacionadas
com a interrupção voluntária da gra-
videz (IVG) e ainda com a violência
doméstica fundamentam a apresen-
tação de propostas que são directa-
mente destinadas às mulheres. Hoje
assinala-se o Dia Internacional das
Mulheres.
No programa do PS, as medidas
destinadas à igualdade das mulheres
estão quase todas concentradas no
capítulo “Uma democracia para todos
em condições de igualdade plena”.
Há um grande enfoque nas questões
relacionadas com o mercado de tra-
Só um quarto de quem dirige o ensino superior são mulheres
Cristiana Faria Moreira
Não é uma realidade desconhecida
e expressa um desequilíbrio que tem
tardado a ser corrigido: apesar de
estarem em maior número no ensino
superior como alunas e de estarem
quase em paridade entre os docen-
tes, as mulheres ainda enfrentam
múltiplas diÆculdades em chegar aos
cargos dirigentes dentro de politéc-
nicos e universidades. Há apenas
oito mulheres (24%) à frente de 34
instituições públicas do sector. Nos
lugares de direcção nas escolas e
faculdades, são apenas cerca de
40%. E há diferenças assinaláveis
entre politécnicos e universidades:
nas segundas, a presença feminina
nestes cargos ronda os 37,5%. Que
salto falta dar?
Maria José Fernandes, presidente
Instituto Politécnico do Cávado e do
Ave (IPCA) , é uma dessas dirigentes
de uma instituição de ensino supe-
Hoje assinala-se o Dia Internacional das Mulheres
balho, as relações laborais e a quali-
dade do emprego, mas as propostas
abarcam áreas tão abrangentes como
um melhor acesso à IVG, a paridade
nos órgãos de soberania ou medidas
ou o combate à violência doméstica.
No primeiro ponto, o PS quer
garantir que haja mais mulheres em
cargos de cheÆa e que a garantia de
salários iguais para trabalho idêntico
seja efectivamente cumprida, pro-
pondo penalizações para as empresas
que insistam na desigualdade salarial.
Mas, como seria de esperar, o PS não
está sozinho neste tema, ou não fosse
a desigualdade no mercado do traba-
rior. Preside, inclusive, ao Conselho
Coordenador dos Institutos Superio-
res Politécnicos (CCISP) , tendo sido
a primeira mulher à frente deste
organismo.
Para preparar um discurso para
este 8 de Março, Dia Internacional
das Mulheres, quis fazer a radiograÆa
do sector. Não teve grandes surpre-
sas, mas pensava encontrar mais
mulheres professoras no ensino
superior. “Olhando para os outros
níveis de ensino, como o primário,
básico ou secundário, a tendência é
outra, mas no superior ainda não
ultrapassamos o número de
homens”, faz notar.
Embora, na última década, a situa-
ção tenha melhorado no ensino
superior, menos de metade dos pro-
fessores são mulheres. Olhando para
todo o sector, incluindo universida-
des, politécnicos e privadas, no ano
lectivo 2012/2013 a representação
feminina era de 43,8% de mulheres.
ENRIC VIVES-RUBIO
lho uma das questões mais bem estu-
dadas no que diz respeito à igualdade
de género, com todos os dados a
apontarem para o facto de as mulhe-
res ainda receberem salários mais
baixos, terem menos acesso a posi-
ções mais bem remuneradas, gasta-
rem mais horas em trabalho não
remunerado (nomeadamente no
apoio à casa e família) e terem a pro-
gressão na carreira diÆcultada pelos
papéis tradicionais de género que lhe
são, ainda, atribuídos, nomeadamen-
te enquanto cuidadoras.
Por isso, medidas que vão no mes-
mo sentido — de garantia de igualdade
Uma década depois, essa percenta-
gem subiu menos de três pontos
percentuais, para os 46,2%. Dados
da Direcção-Geral de Estatísticas da
Educação e Ciência (DGEEC) mos-
tram que, no ano lectivo passado,
havia 14.611 professores e 12.540 pro-
fessoras — num total de 27.151 docen-
tes — a leccionar no ensino superior
público e privado.
A disparidade de género é, contu-
do, mais visível nos cargos de topo.
Linhas gerais, o retrato é este: há
quatro mulheres na presidência de
institutos politécnicos (Cávado e Ave,
Setúbal, Beja e Escola Superior de
Enfermagem de Lisboa ) para 16
Maria José
Fernandes,
presidente do
CCISP, é uma das
oito dirigentes de
instituições do
superior público
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 21
salarial e de acesso pleno ao mercado
de trabalho — podem ser encontradas
também nos programas da AD (PSD,
CDS-PP e PPM), do PCP, do Bloco de
Esquerda (BE), do PAN ou do Livre.
Depois, dentro de cada força política,
há algumas variações em medidas
ainda relacionadas com a igualdade
no mercado de trabalho.
O BE quer, por exemplo, um refor-
ço da Lei da Paridade, enquanto o
PAN propõe incentivos Æscais para
empresas que tenham “mais de 40%”
de representantes de cada sexo em
órgãos de administração, Æscalização
ou gerência. O Livre e o PS defendem
o reforço das funções da Comissão
para a Igualdade no Trabalho e no
Emprego (CITE) e a AD quer “reforçar
a monitorização sobre a obrigatorie-
dade de equiparação de salários”. O
PCP tem todo um capítulo dedicado
à concretização da “igualdade no tra-
balho, na família e na vida”, e o Chega
propõe-se “contabilizar o período de
cuidados domésticos para efeitos de
reforma”, uma área que também é
abordada pelo BE, que propõe mes-
mo a criação de um Serviço Nacional
de Cuidados. A questão do reforço
das licenças parentais, como forma
de garantir mais tempo partilhado no
cuidado à família, é praticamente
transversal, só estando ausente do
programa do BE.
A outra área em que o destaque é
homens. Nas universidades, há qua-
tro mulheres reitoras (Iscte, Açores,
Évora e Universidade Aberta) para
dez homens.
A desigualdade por aí segue: há 19
mulheres vice-presidentes para 27
homens nesse cargo e 27 vice-reito-
ras para 39 homens. E 22 pró-presi-
dentes mulheres para 34 homens,
assim como 25 pró-reitoras para 34
homens na mesma posição.
As diferenças são também marca-
das nas lideranças de escolas e facul-
dades: só um terço — ou menos — são
mulheres. Nas presidências das esco-
las dos politécnicos, há 26 mulheres
para 52 homens. À frente de faculda-
des, 30 para 75.
Olhando para o panorama geral,
reconhece que há instituições de
ensino superior “mais clássicas, mais
antigas, em que há mais homens,
que nunca tiveram uma reitora ou
uma presidente”, onde a mudança
demora mais a manifestar-se, e
Sociedade
dado às mulheres prende-se com as
várias medidas, propostas por prati-
camente todas as forças políticas,
relacionadas com a violência domés-
tica (quase 78% das vítimas que che-
garam à APAV em 2022 eram do sexo
feminino). Há várias propostas para
alargar o apoio às vítimas – seja pela
expansão da Rede Nacional de Apoio
à Vítima (proposto por PS, AD e BE)
ou pela garantia de mais soluções
habitacionais para quem sofre de vio-
lência (BE, PAN, Livre e Chega).
A saúde reprodutiva das mulheres
e a IVG são outras áreas que merecem
a atenção das várias forças políticas,
embora com perspectivas diferentes.
A garantia de que a lei da IVG é efec-
tivamente cumprida, ou até melho-
rada, está presente nos programas de
PS, AD, IL, PCP, BE, PAN e Livre, com
duas forças políticas a proporem mes-
mo o alargamento do prazo para a
realização de um aborto a pedido da
mulher das actuais 10 para as 12 (BE)
ou 14 (Livre) semanas.
A questão da violência obstétrica,
e a garantia de que terá um Æm em
Portugal, é um tema que também
percorre os programas da IL e Livre,
enquanto o Chega propõe “assegurar
as melhores práticas médicas duran-
te a gravidez e o parto”, mas centran-
do-se na possibilidade de o pai poder
estar presente durante o nascimento
da criança.
outras, mais recentes, como a que
dirige, onde a presença de mulheres
é mais visível.
Em todos os ciclos de ensino —
licenciaturas (53%), mestrados (57%)
e doutoramentos (53%) — há mais
mulheres inscritas, tanto nas univer-
sidades, como nos institutos politéc-
nicos, com excepção da frequência
de cursos técnicos superiores proÆs-
sionais, em que há mais homens – só
35% são mulheres.
Para a presidente do IPCA, que
ocupa o cargo desde 2017, o peso da
carga com a maternidade, as tarefas
domésticas também têm inÇuência
no crescimento do percurso proÆs-
sional das docentes. “Costumo dizer
que quando saímos das instituições
vamos para o segundo turno, que é
a maternidade, que é a casa, que é a
organização familiar, a conciliação
com as crianças. Tendencialmente,
ainda pesa bastante mais para o lado
da mulher”, reÇecte.
22 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Sociedade Mulheres de uma revolução (ainda) em curso
Manuela Tavares
invadiu um palacete
para fazer uma
creche e nunca mais
baixou os braços
Bateu-se por habitação condigna, salário igual,
creches, avançou para a emancipação das mulheres
e daí para a luta pela igualdade de género
Ana Cristina Pereira Texto
Adriano Miranda Fotografia
M
anuela Tavares (n. 1950)
ganhou consciência da desi-
gualdade entre mulheres e
homens a seguir ao 25 de
Abril de 1974, com as vizi-
nhas que com ela ocuparam
um palacete para fazer uma creche no
Pragal, em Almada.
No chamado “Processo Revolucio-
nário em Curso” (PREC) multiplica-
ram-se manifestações, greves, ocupa-
ções. Muitas mulheres incorporaram
esse movimento social. “Libertando
os seus gestos e as suas vozes, toma-
ram a palavra em reuniões e assem-
bleias.”
Manuela morava no Pragal, um bair-
ro com ruas de terra batida repletas
de crianças de pé descalço a brincar
ao deus-dará. Era vizinha de operá-
rias, costureiras, lavadeiras, aguadei-
ras, em suma, de mulheres em roda-
viva, assoberbadas por tarefas dentro
e fora de casa. Ali formou-se, no dia 8
de Setembro de 1974, uma comissão
de moradores. Inspirados pelas ocu-
pações de casas vazias na Grande Lis-
boa, decidiram ocupar a propriedade
de uma alta patente militar residente
em Cascais, um palacete que só usava
para alojar amigos no Verão.
Era noite de S. João, 23 de Junho de
1975. O guarda ainda deu uns tiros
para o ar, mas ninguém se amedron-
tou. O coronel precipitou-se para ali e
encontrou o palacete cheio, sobretudo
de mulheres. O capitão Luz, do desta-
camento do Forte de Almada, tratou
de convencê-lo de que aquele era um
projecto de interesse público e que ele
seria um benemérito – não cederia a
propriedade, cobraria um valor sim-
bólico.
“Houve muitas mulheres que se
mobilizaram”, recorda. “Passámos
alguns Æns-de-semana a pintar janelas
e portas, a montar móveis oferecidos
e a dividir espaços para a creche e o
jardim-de-infância.” Eram muitos os
assuntos nas reuniões da comissão de
moradores e elas formaram uma
comissão de mulheres para tratar
daquele. Com o apoio do Ministério
da Educação, que ali colocou educa-
doras, em Outubro de 1975 lá abriram
a Creche Popular do Pragal, que ainda
agora existe.
Parte da comissão de moradores,
afecta ao Partido Comunista Portu-
guês, criticava a existência de uma
comissão de mulheres. Argumentava
que o 25 de Abril se Æzera pela demo-
cracia e pela igualdade.
Manuela pergunta-se quanta naque-
la atitude seria provocada por ela estar
à frente da comissão de mulheres e ter
outras ligações políticas. Num coro a
que pertencia, começara a ler o jornal
A Verdade, do Comité Marxista-Leni-
nista Português. E aderira à União
Democrática Popular (UDP), que em
1999 haveria de se juntar ao Partido
Socialista Revolucionário e à Política
XXI para dar origem ao Bloco de
Esquerda. Mas a verdade é que a sua
acção no Pragal “nada tinha que ver
com isso”.
Olhando para trás, parece-lhe evi-
dente que ainda não desenvolvera
capacidade argumentativa. A vida,
todavia, estava a mostrar-lhe “a
importância das organizações de
mulheres”. Algumas voltaram à
comissão de moradores. Ainda tenta-
ram ir, amiúde com Ælhos ao colo, a
reuniões que se estendiam até tarde,
numa rígida ordem de trabalhos. As
poucas que tomavam a palavra, não
raras vezes, chegavam a casa e
ouviam reprimendas dos maridos:
“Mais valia Æcares calada.”
Manuela nunca antes se pusera a
pensar sobre desigualdade de género,
embora os sinais estivessem lá. “A
minha mãe trabalhava numa farmá-
cia. Quando se casou, o meu pai disse:
‘Tu Æcas em casa.’” Era a mentalidade
da época. “Ela nunca foi feliz. Ansiava
por mais.”
O pai trabalhava no Banco de Por-
tugal, numa fase inicial como funcio-
nário de limpeza e numa segunda
como motorista. A instituição atribuía
bolsa de estudo aos Ælhos de funcio-
nários com melhores notas. Isso aju-
dou Manuela a fazer o Curso Comer-
cial na Escola Emídio Navarro, em
Almada, e a avançar para o Instituto
Superior de Economia e Finanças,
hoje Instituto Superior de Economia
e Gestão, em Lisboa.
No superior, Manuela conheceu
António, com quem se casou. E teve
o primeiro contacto com textos proi-
bidos. Quando o Movimento das For-
ças Armadas tomou o poder, ainda
sem saber para onde a situação ia
pender, foi esconder os livros censu-
rados. Já terminara o curso. Ensinava
Economia e Sociologia na Escola
Secundária Fernão Mendes Pinto.
Tinha uma criança pequena, Paula, a
sua única Ælha. De repente, ali estava
ela, no Pragal, a confrontar-se com a
dura vida das vizinhas.
Contradições da liberdade
Viu muitas mulheres participar “na
organização de associações de mora-
doras, na invasão de casas para
morar, na abertura de creches, na
reivindicação de caminhos e fontaná-
rios, nas campanhas de alfabetização,
nas ocupações de terras, nas comis-
sões de base de saúde, na gestão de
fábricas abandonadas por patrões,
nas comissões de trabalhadores, nos
sindicatos”.
E viu as contradições da liberdade
acabadinha de conquistar. “As mulhe-
res não tinham a liberdade que deve-
riam ter em casa. A democracia em
casa ainda não existia.” Dando aulas
de alfabetização, deparava-se com
esse choque todos os dias. As mulhe-
res chegavam-lhe cansadas e uma ou
outra lá soltava um suspiro: “Vim para
aqui, mas antes tive que deixar a mesa
posta. Assim, quando eu chegar a
casa, não tenho que os ouvir...”
Também viu resistências à promes-
sa de igualdade trazida pela revolução
fora de casa. Conta que, na Fábrica

de Cerveja da Via Longa, por exem-
plo, “os operários reivindicaram mais
aumentos para manterem sobre as
mulheres superioridade salarial”.
“Em dois supermercados Pão de Açú-
car os homens reagiram contra a
igualdade de salários, reclamando o
restabelecimento da diferença.”
Depois daqueles primeiros anos de
euforia, durante muito tempo, as
mulheres voltaram a tornar-se quase
invisíveis no espaço público. Manue-
la responsabiliza “a fraca participação
nos órgãos de decisão política, logo a
partir das primeiras eleições livres,
em 1975, quando a percentagem de
deputadas foi apenas de 8%, sendo
que em 1976 desceu para 5%, reÇexo,
decerto, da presença minoritária de
mulheres nos órgãos dos partidos”.
Também acusa “o débil acesso das
mulheres às direcções dos sindica-
tos”, mesmo naqueles em que cons-
tituíam uma maioria de membros,
tirando o Sindicato Livre dos Traba-
lhadores da Indústria de Bordados
(na Madeira) e o Sindicato do Serviço
Doméstico. O mesmo se poderá dizer
das associações de moradores e das
cooperativas. Aquela experiência,
porém, não lhe parece vã. “Houve
uma aprendizagem de autonomia.”
Em várias partes, assumiram fábricas.
“Estavam até de noite, com paus, à
porta das fábricas a impedir que fos-
sem buscar máquinas e matérias-pri-
mas”, exempliÆca. “Alguns até leva-
ram os maridos. E eles acabaram por
se libertar daquele complexo de que
as mulheres não podiam sair de casa
à noite. Ela saía para defender o seu
posto de trabalho.”
Aprofundar lutas
No dia 12 de Setembro de 1976,
Manuela levou as vizinhas ao encon-
tro de mulheres que marcou a forma-
ção da UMAR. “Eu tinha um Renault
4L. Elas andavam comigo, às vezes
até no porta-bagagens...”
Não tinham um discurso feminista.
Quase ninguém tinha. O país esque-
cera as feministas da Primeira Repú-
blica. O movimento feminista fora
esmagado pelo Estado Novo. Femi-
nista, naquela altura, só o Movimento
de Libertação das Mulheres.
Manuela e as companheiras come-
çaram por lutar pelo direito à habita-
ção condigna, ao trabalho remunera-
do, ao salário igual, às creches, à
educação, à saúde. Eram “uma frente
de mulheres” da iniciativa da UDP. Só
no Ænal da década, no seio da Cam-
panha Nacional pelo Aborto e a Con-
tracepção, haveriam de contactar
grupos feministas e de sorver as suas
teorias emancipatórias. E, já no virar
do século, com a Marcha Mundial das
Mulheres, de assumir a necessidade
de lutar por igualdade de género até
dentro de casa, para aliviar as mulhe-
res da sobrecarga.
As mudanças de nome são revela-
doras do que tem sido a luta pelos
direitos das mulheres: nascida União
de Mulheres Antifascistas e Revolu-
cionárias (1976), a associação passou
Antes de saber o que
eram os feminismos
de segunda vaga,
foram as mulheres
do Pragal que me
mostraram
o que as impedia
de exercer
a sua cidadania
A Creche Popular do Pragal,
em Almada, criada há 49 anos,
continua a existir
a Movimento para a Emancipação
Social das Mulheres Portuguesas
(1989) e, por Æm, a União de Mulheres
Alternativa e Resposta (1999).
Manuela reconhece que sopraram
ventos de feição. O princípio da igual-
dade entre homens e mulheres foi
encarado como parte do processo
democrático. Na década de 70, fazia
parte do caminho para o socialismo
indicado pela Constituição. E, a partir
da década de 80, do processo de inte-
gração na União Europeia.
Adverte que isso não bastou. Cha-
ma a atenção para como grupos e
associações têm sido capazes de tra-
var batalhas fundamentais. E destaca
duas: a luta pela despenalização da
interrupção voluntária da gravidez e
a luta contra a violência doméstica e
de género.
No dia 11 de Fevereiro de 2007, cho-
Em 2024 assinalam-se os 50 anos
da Revolução dos Cravos. Uma
série especial recorda o caminho
que levou ao fim da ditadura
Veja mais em publico.pt
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 23
rou quando foi anunciada a vitória do
“sim” à despenalização da interrup-
ção voluntária da gravidez até às dez
semanas, a pedido da mulher, em
estabelecimento de saúde autoriza-
do. “Chorei de alegria. Chorei de ale-
gria quando tive a minha Ælha. Aqui-
lo era semelhante. Tinha, Ænalmente,
resultado. Foram muitos anos. Envol-
veu tanta gente... Houve tantos epi-
sódios...”
Aborto e violência
“Contracepção para não abortar,
aborto para não morrer”, reivindica-
vam nos anos 70. Em 1982, Manuela
e as companheiras da UMAR entre-
garam um abaixo-assinado na Assem-
bleia da República a exigir “a legali-
zação do aborto e a sua integração
nos esquemas de assistência médica
estatal”. Nesse ano, ela e outras
mulheres da Campanha Nacional
pelo Aborto e a Contracepção prota-
gonizaram a primeira manifestação
feita nas galerias do Parlamento,
envergando uma T-shirt com a frase
“Nós abortámos”.
Prosseguindo a luta, Manuela e as
companheiras Æzeram bandeira de
Lizete Moreira, que morreu na con-
sequência de um aborto clandestino
no dia 8 de Março de 1997. No 8 de
Março de 1998, lançaram o manifesto
Juntas pela Dignidade. Sentiram-se
“esmagadas” pela derrota no referen-
do. Levaram o seu tempo a recuperar
“daquele balde de água fria”, mas
não baixaram os braços.
Também estiveram, em 2004,
envolvidas na vinda do Borndiep, o
chamado barco do aborto, impedido
de entrar nas águas portuguesas por
Paulo Portas, então ministro da Defe-
sa. E Æncaram pé à porta dos vários
julgamentos (na Maia, em Aveiro,
Lisboa, Coimbra e Setúbal), o que, no
seu entender, foi fundamental para
virar a opinião pública para o “sim”.
“No meu corpo mando eu”, lia-se
nalguns cartazes que empunha-
vam.
Não dá o assunto por arrumado,
Manuela. “Há sempre um risco de
recuo. Neste momento, há mulheres
com diÆculdade por haver hospitais
em que todos os médicos são objec-
tores de consciência.”
A violência doméstica demorou
mais a entrar na agenda. “Nós, ape-
sar do 25 de Abril, ainda não reco-
nhecíamos a intimidade, ou seja, o
[âmbito] pessoal, como político. E
a mentalidade existente em Portu-
gal era terrível em relação a essas
questões: entre marido e mulher,
ninguém meta a colher.” Essa luta
só ganhou fôlego nos anos 90 e
Manuela está convencida de que
está ainda para durar.
Tem alertado para a falta de pre-
venção nas escolas, as falhas no
sistema de apoio às vítimas de vio-
lência doméstica, o sentimento de
impunidade/desprotecção gerado
por um sistema judicial que tende a
optar pela suspensão provisória dos
processos ou pelas penas suspensas.
“Estamos ainda a uma grande dis-
tância de conseguir — eu nem digo
eliminar, mas avançar nesta luta.”
Nestes anos, Manuela também
tratou de recuperar a memória his-
tórica do movimento feminista em
Portugal e de desmistiÆcar o próprio
conceito. Investigadora no Centro
Interdisciplinar de Estudos de Géne-
ro, no seu projecto de doutoramen-
to pôs-se a mapeá-lo desde a década
de 50 até aos nossos dias.
Embora não veja reconhecer o
movimento na sua pluralidade,
Manuela tem assistido a uma deslo-
cação de um “feminismo tácito”
para um “feminismo assumido”. “Já
não é uma palavra maldita.” Parece-
lhe fundamental transmitir este
património histórico às novas gera-
ções.
Assumir esse dever de memória
não a impede de abrir novas frentes:
em 2013, após a morte da Ælha, Pau-
la Tavares, bióloga, co-fundou em
sua homenagem a Associação Fra-
gas Aveloso, em São Pedro do Sul.
“Procuramos que as questões
ambientais sejam mais faladas, mas
também há o problema do abando-
no das aldeias. Normalmente Æcam
as mulheres. O trabalho da associa-
ção também tem sido com as mulhe-
res.” Sempre as mulheres.
Referências bibliográficas
TAVARES, Manuela, Movimentos
de Mulheres em Portugal –
Décadas de 70 e 80, Livros
Horizonte, 2000.
TAVARES, Manuela, Aborto
e Contracepção em Portugal,
Livros Horizonte, 2003.
TAVARES, Manuela,
A Participação das Mulheres
no 25 de Abril de 1974 no Pragal,
UMAR, 2011.
TAVARES, Manuela, Feminismos:
Percursos e Desafios
(1947-2007), Texto, 2011.
24 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Sociedade
Drogas estão mais acessíveis, variadas
e perigosas para a saúde pública
Amílcar Correia
Aparecimento de opiáceos
altamente potentes, como
os benzimidazóis, é uma
“ameaça complexa para a
saúde pública” na Europa
A disponibilidade das principais
drogas na União Europeia (UE) con-
tinua a ser elevada, há cada vez mais
diversiÆcação de substâncias psi-
coativas e algumas delas represen-
tam ameaças para a saúde pública.
Vamos por partes. Catherine De
Bolle, directora executiva da Euro-
pol, e Alexis Goosdeel, director do
Observatório Europeu das Drogas e
da Toxicodependência (OEDT), jun-
taram-se ontem numa conferência
de imprensa para apresentarem e
comentarem uma análise comum
ao mercado actual de consumo e
tráÆco de droga, com um subtítulo
“informação essenciais para a polí-
tica e a prática”.
As informações essenciais, algu-
mas já mencionadas em anteriores
relatórios, consistem nisto: as prin-
cipais drogas são acessíveis em todo
o lado e, apesar do aumento das
apreensões, existe uma vaga mais
vasta de substâncias, algumas delas
com um nível de potência e de pure-
za mais elevado, e o “recente apare-
cimento de opiáceos altamente
potentes, em especial os benzimi-
dazóis (nitazenos), representa uma
ameaça particularmente complexa
para a saúde pública, devido ao seu
risco acrescido de envenenamento
mortal”. Neste ponto em particular,
a análise da Europol e do OEDT aler-
ta para a eventual alteração de
novos padrões de consumo na Euro-
pa, para reforçar precisamente os
riscos referidos anteriormente, que
a disponibilidade de drogas baratas
e “altamente potentes ou puras,
como é o caso da cocaína, pode
criar entre os utilizadores”.
Alexis Goosdeel, que dirige o
OEDT, salientou que esta conjuntu-
ra de preço, disponibilidade e purga
não tem precedentes. Do que se tra-
ta, neste momento, não é de “lutar
contra o consumidor”. Na sua opi-
nião, trata-se é de adaptar as ofertas
de prevenção, tratamento e redução
de riscos aos novos padrões de con-
sumo e ao surgimento de novas sub-
stâncias. Goosdeel defende uma
perspectiva holística da questão,
que implique mais informação e
comunicação sobre os mercados
ilícitos e as drogas em circulação
entre os países-membros da UE e as
agências europeias. Catherine De
Tráfico de drogas na UE teve um valor de venda de, pelo menos, 31 mil milhões de euros, em 2021
Bolle, directora da Europol, tem
A Europa produz uma visão semelhante: “Qualquer
drogas como a traÆcante de rua tem por trás de si
uma rede internacional de tráÆco.”
anfetamina, a E, propõe, o que temos de fazer é
metanfetamina, “lutar contra essa cadeia toda”. De
Bolle não tem dúvidas de que o trá-
a MDMA e as Æco destrói a estabilidade social e
catinonas, para económica dos países e que é neces-
sária uma resposta.
mercados O que a directora da Europol pro-
internos e para põe como resposta é uma monitori-
zação constante do tráÆco, com
a exportação uma nova distribuição de recursos
para uma maior eÆcácia, uma apos-
ta na redução do fornecimento de
FOTOS: NELSON GARRIDO
certos químicos, que são empregues
na produção destas novas substân-
cias psicoactivas e uma cooperação
internacional de baixo para cima a
nível local e internacional, o que
não existe de forma operacional e
eÆcaz.
Mercado mais eÄciente
É óbvio que estas alterações na dis-
ponibilidade e no consumo das sub-
stâncias decorrem de um mercado
ilícito particularmente activo. Com
base em dados de 2021, calcula-se
que o tráÆco na UE tenha “um valor
mínimo de venda a retalho de, pelo
menos, 31 mil milhões de euros. O
tráÆco diversiÆca-se, comercializan-
do várias substâncias, e ramiÆca-se,
porque se cruza com outras áreas
da criminalidade, entre as quais o
tráÆco de armas ou o branqueamen-
to de capitais.
Não é de espantar, pois, como
admitem aqueles dois responsáveis,
que o tráÆco se tenha tornado mais
eÆciente e que a pressão sobre as
plataformas logísticas do continen-
te seja uma das consequências mais
naturais, em particular sobre os
principais portos marítimos. Desen-
gane-se quem pense que a Europa
é apenas um mercado de destino de
consumidores. Não é verdade: a
Europa assume uma posição central
na produção e no tráÆco de droga.
Europol e OEDT convergem na aná-
lise segundo a qual a Europa produz
drogas, como a anfetamina, a
metanfetamina, a MDMA e as cati-
nonas, para mercados internos e
para a exportação. As produções
das drogas sintéticas têm estado
associadas à “inovação nos métodos
e equipamentos, bem como pela
disponibilidade dos principais pro-
dutos químicos necessários”.
Essa inovação na produção de
drogas ilícitas gera, evidentemente,
rendimentos mais altos, maior
potência ou pureza e uma gama
mais alargada de produtos de con-
sumo, e estes novos componentes
são mais difíceis de detectar e inter-
ditar.
“Simultaneamente”, refere este
relatório, “as redes criminosas apro-
veitam os avanços digitais e as opor-
tunidades tecnológicas para ocultar
comunicações ilícitas, melhorar os
modelos de distribuição de drogas
e reduzir os riscos. Um exemplo dis-
so é o recente aumento da utilização
das redes sociais e das aplicações de
mensagens instantâneas para a ven-
da de drogas a retalho, tornando
mais acessível uma vasta gama de
substâncias.”
Ylva Johansson, a comissária
europeia para a Migração e os
Assuntos Internos, considera que o
mercado de drogas ilícitas, contro-
lado por redes criminosas, é uma
“séria ameaça à segurança da União
Europeia, pondo em risco a saúde
pública, segurança e minando a
sociedade e o Estado de direito. A
comissária, que participou com
uma mensagem de vídeo, reforçou
o facto de estas duas agências euro-
peias terem estreitado a sua colabo-
ração, porque “é preciso uma rede
para combater outra rede”, e reco-
mendou aos Estados-membros que
“façam política com base nos fac-
tos” e os factos são os que constam
desta análise realizada pelo OEDT e
Europol.
A evolução do mercado ilícito e a
sua diversiÆcação estão a preocupar
as organizações europeias, porque
são reÇexo de um tráÆco que tem
resistido às crises e mudanças polí-
ticas e económicas dos últimos
anos, nomeadamente à pandemia
da covid-19, à invasão da Ucrânia e
ao regresso ao poder dos taliban no
Afeganistão. O que aconteceu foi
que os traÆcantes se adaptaram com
rapidez e eÆciência a estas altera-
ções, com impacto mundial nas
rotas de distribuição. Na prática, os
traÆcantes alteraram e diversiÆca-
ram as rotas e criaram mercados e
novos produtos.

Estão também previstos novos parques de estacionamento junto da vila Local
Sintra vai estudar corredor no IC19
só para carros completamente ocupados
Plano de Mobilidade Urbana Sustentável de Sintra vai estar em consulta pública a partir
da próxima semana. São propostas novas vias ou a reorganização do trânsito no centro histórico
Teresa Serafim
E se houvesse um corredor no IC19
só para carros completamente ocu-
pados? Esta é uma das propostas
sugeridas para serem estudadas a
propósito do Plano de Mobilidade
Urbana Sustentável (PMUS) de Sin-
tra , que vai estar em consulta públi-
ca a partir da próxima semana, de
acordo com a Câmara Municipal de
Sintra. Neste novo plano, propõe-se
a criação de parques de estaciona-
mento de apoio ao centro histórico
da vila de Sintra ou uma nova via
semicircular à volta de Agualva-Ca-
cém, que fará a ligação entre a A5,
o IC19 e a A16.
O PMUS Sintra tem dez eixos de
intervenção e contempla um plano
de acção, bem como as suas fontes
de Ænanciamento. O documento foi
aprovado para que seguisse para
consulta pública, em reunião priva-
da da Câmara Municipal de Sintra,
na semana passada. A consulta
pública terá o prazo de 90 dias. Nes-
se período, haverá sessões de escla-
recimento nas 11 freguesias do con-
celho.
“O plano tem a virtualidade de
compilar em si a estratégia e a visão
de mobilidade do concelho de Sintra
para a próxima década”, aÆrma ao
PÚBLICO Bruno Parreira (PS), vice-
presidente da Câmara de Sintra, com
o pelouro da mobilidade e transpor-
tes, notando que o trabalho começou
em 2018. “O plano é um documento
de orientação estratégica e não pro-
põe só medidas concretas.” O autar-
ca indica que este plano se propõe
orientar e adaptar a proposta de des-
envolvimento do território que resul-
tou da revisão do Plano Director
Municipal.
Algumas das medidas concretas
que o plano propõe estão relaciona-
das com a organização da circulação
rodoviária, em que está prevista
uma nova variante à EN9 entre o nó
de Lourel (A16) e o nó de Fervença,
onde há problemas de trânsito.
Também se prevê a introdução da
Circular Poente ao Cacém, um semi-
círculo à volta de Agualva-Cacém
que fará a ligação entre a A5, o IC19
e a A16.
Espera-se que esta seja uma for-
ma de melhorar as ligações ao pólo
de desenvolvimento tecnológico e
cientíÆco na zona da Faculdade de
Medicina da Universidade Católica
Portuguesa, na freguesia de Rio de
Vice-presidente da Câmara de
Sintra diz que o corredor no IC19
só avançará se os resultados
estudo forem positivos
Está prevista uma
nova variante à
EN9 entre os nós de
Lourel e Fervença
e uma Circular
Poente ao Cacém
Mouro. “Há terreno livre e prevê-se
que haja ali um desenvolvimento de
laboratórios tecnológicos ou cientí-
Æcos que permita desenvolver o
concelho. Para isso, é necessário
que seja garantida a mobilidade,
que hoje é feita por uma estrada
nacional de deÆcientes condições”,
nota Bruno Parreira. Também é pro-
posto um estudo sobre a viabilidade
de reformulação do nó IC19-IC30
(A16) e da introdução de uma varian-
te a Ranholas.
Ligação entre comboios
Outra proposta no plano é uma liga-
ção à linha da CP de Cascais, na zona
que abrange o concelho de Oeiras.
Essa ligação será feita por via dedi-
cada, mas ainda não se sabe qual o
meio de transporte que será usado,
podendo ser feita através de autocar-
ros ou de um eléctrico. Bruno Parrei-
ra assinala que isso vai possibilitar
“pela primeira vez uma ligação de
transporte público entre a linha de
Cascais e a linha de Sintra na ferro-
via”.
Também há medidas concretas
para reorganizar o trânsito no cen-
tro histórico da vila de Sintra. Uma
delas é a criação de parques de esta-
cionamento periféricos. Um dos
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 25
DIOGO VENTURA
parques será de grande dimensão e
Æcará no Ramalhão. “O projecto
para a sua futura construção já está
em andamento e será para algumas
centenas de carros”, informa o vice-
presidente. Já em Colares Æcará um
parque de média dimensão, com
um projecto em desenvolvimento,
para 100 a 150 viaturas. Por Æm, está
em estudo um parque só para auto-
carros no Bairro da Cavaleira.
Espera-se assim que os visitantes
do centro histórico deixem as viatu-
ras no parque de estacionamento e
depois vão em shuttles até ao centro
histórico. A partir daí, poderão via-
jar em transportes públicos para
outros monumentos fora do cen-
tro.
Carros cheios
Ao longo do plano, são propostos
estudos sobre diferentes questões.
Uma dessas propostas é o desenvol-
vimento de uma avaliação sobre a
viabilidade de introdução de um
corredor reservado a veículos com
ocupação elevada, em certos perío-
dos do dia, no IC19. Caso seja con-
cretizada, nesse corredor só pode-
rão circular automóveis cuja ocupa-
ção esteja completa. Qual o
objectivo? Diminuir a circulação de
automóveis com um só passageiro
numa das principais vias rodoviá-
rias da Área Metropolitana de Lis-
boa. Uma outra razão é o contributo
desta medida para a redução de
emissões poluentes. “Esta é uma
solução já testada em certos sítios
da Europa. Não temos a certeza de
que aqui resulte e o plano propõe-
nos aferir”, nota Bruno Parreira,
dizendo que ainda não há data para
o início do estudo e que o avanço do
corredor só se concretizará caso os
resultados sejam positivos.
Minibus a pedido?
É ainda proposto que se desenvolva
um estudo sobre um serviço de
transporte público Çexível. Para
esse serviço, serão estudados per-
cursos adaptáveis e a possibilidade
de a pessoa notiÆcar o operador de
que está numa certa paragem e pre-
cisa de ir para outra. Poderá haver
percursos predeÆnidos que serão
alterados conforme as necessidades
do cidadão num determinado
momento. O serviço será feito com
miniautocarros. O sistema permiti-
rá indicar aos motoristas quais as
rotas preferenciais e com maior
número de pessoas, evitando que
esse transporte passe em paragens
sem passageiros. O seu principal
objectivo será garantir a oferta de
transporte público em zonas mais
rurais e isoladas, bem como em
áreas em que a densidade popula-
cional não justiÆque esse serviço.
Também se pretende dar resposta
às necessidades de uma população
mais envelhecida.
Num plano extenso, há ainda pro-
postas de estudo de percursos ciclá-
veis no eixo urbano e de um sistema
de bicicletas partilhadas ou soluções
de limitação da velocidade, como
zonas de 30km/h e de coexistência
ou medidas de acalmia de tráfego
isoladas. O PMUS também pressu-
põe um aumento dos transportes
colectivos, que já começou a ser
posto em prática no terreno.
“Os objectivos para este plano são
baseados na qualidade de vida. Não
acreditamos num aumento de qua-
lidade de vida dos nossos cidadãos
que passe por horas perdidas no
trânsito ou nos transportes públi-
cos”, aÆrma Bruno Parreira, adian-
tando que o plano também tem
como base a sustentabilidade
ambiental e o desenvolvimento eco-
nómico do concelho.
26 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Mundo Conƍito no Leste da RD Congo, primeira parte
Será a terceira guerra
do Congo tão mortífera
como foi a segunda?
Chegada de tropas sul-africanas para ajudar o Exército congolês
a combater o M23 fez o Ruanda adoptar “medidas legítimas para
se defender”. Aumentam os civis feridos por armas pesadas
António Rodrigues
No dia 1 de Março, Bunia parou. Os
comércios fecharam, só as farmácias
se mantiveram abertas. Sob fortes
medidas de segurança realizou-se o
funeral de 15 pessoas assassinadas
por uma facção das milícias Codeco
(que conjuga vários grupos armados
da etnia lendu da província de Ituri).
Os 15 corpos foram sepultados de
forma digna numa vala comum em
Katoto, 30 quilómetros a norte de
Bunia, depois de terem sido recupe-
rados pelas famílias do local onde
tinham sido enterrados vivos pelas
milícias. Mesmo numa cidade, numa
região, num país habituado à violên-
cia, a crueldade desta morte abalou
os habitantes de Bunia.
“Após seis meses de relativa esta-
bilidade, o recente ressurgimento de
violentos ataques resultou em per-
das signiÆcativas de vidas”, disse
Halidou Alira, coordenador-geral na
República Democrática do Congo
dos Médicos Sem Fronteiras (MSF),
no site da organização. “Isso demons-
tra que Ituri se mantém sob o domí-
nio da violência, caracterizada por
uma intensidade imprevisível e com
os civis arcando com o peso desses
ataques.” Os MSF gerem um centro
cirúrgico no Hospital de Salama, em
Bunia, onde, no segundo semestre
de 2023, um terço dos pacientes
foram vítimas directas do conÇito.
Na fronteira com o Uganda, a pro-
víncia de Ituri, a segunda no país em
população deslocada (1,63 milhões)
e repatriada (1,2 milhões), há muito
que vive em instabilidade por causa
dos confrontos entre o Exército con-
golês e alguns dos 120 grupos arma-
dos que tornaram o Leste da Repú-
blica Democrática do Congo num
teatro permanente de conÇito há
décadas.
A região é um palco rico em recur-
sos minerais, entre eles o ouro e
minérios imprescindíveis para tele-
móveis, computadores e carros eléc-
tricos. Daí que seja um palco privile-
giado (e volúvel) da geopolítica. O
recrudescimento do conÇito desde
2022 está directamente relacionado
com a mudança de alianças do Gover-
no em Kinshasa, tal como aconteceu
com a “grande guerra” de 1998-2003,
também conhecida como a Segunda
Guerra do Congo e que foi o conÇito
que mais gente matou desde a II Guer-
ra Mundial: 5,4 milhões de pessoas.
Em 1997, Joseph Kabila chegou ao
poder com ajuda militar de Ruanda e
Uganda, mas ao assumir a presidên-
cia procurou livrar-se desses “ami-
gos”, desatando a reacção de Kigali
que acordou o Movimento 23 de
Junho (M23), fazendo escalar a guer-
ra a partir de 1998.
Hoje os combates do M23 com o
Exército congolês, reforçado por milí-
cias locais e soldados do Burundi,
estão às portas de Goma, a capital do
Kivu-Norte, desestabilizam Bunia e
ameaçam voltar a trazer outra “gran-
de guerra” a um território onde o
conÇito já fez 6,2 milhões de desloca-
dos internos e 1,3 milhões de refugia-
dos, de acordo com os últimos núme-
ros do Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Amanhã, o secretário-geral da
ONU, António Guterres, participa no
Burundi numa reunião de alto nível
do Mecanismo Regional de Supervi-
são do Quadro de Paz, Segurança e
Cooperação. O país anÆtrião envol-
veu-se no conÇito por temor ao Ruan-
da, que acusa de apoiar o grupo rebel-
de Resistência para um Estado de
Direito no Burundi (RED-Tabara) que
ataca alvos burundianos a partir de
bases na RD Congo.
Numa altura em que a ONU come-
çou a retirar do país a sua missão
(Monusco) que aí estava desde 1999,
entregando ao Exército congolês a
base de Kamaniola, a uma centena de
quilómetros da fronteira com o
Burundi, os combates entre o M23 e
o Exército intensiÆcam-se em Saké,
na zona da estrada que liga a cidade
de Goma ao resto do país, Guterres
terá muito para falar e pouco para
oferecer aos intervenientes.
Para a representante especial do
secretário-geral da ONU para a RDC,
Bintou Keita “é crucial realçar o risco
de uma expansão do conÇito à escala
regional se falharem os esforços diplo-
máticos em busca de acalmar as ten-
sões e encontrar soluções políticas
sustentáveis para o conÇito”.
A retirada da Monusco foi a pedido
do Governo do Presidente Félix Tshi-
sekedi, que alegou ineÆciência da
missão da ONU para conter o conÇito,
mas a pouca eÆcácia dos capacetes
azuis não é de hoje e a decisão de
Kinshasa de combater em força o M23
tem mais a ver com novas alianças do
chefe de Estado, que agora está mais
voltado para sul.
No princípio da presidência de
Tshisekedi, a colaboração entre os
exércitos do Ruanda e da RDC eram
intensas, chegando a realizar opera-
ções conjuntas em 2019 e 2020 contra
a Frente Democrática de Libertação
do Ruanda (FDLR), grupo rebelde
hutu envolvido no genocídio ruandês
em 1994, que se instalou em território
congolês depois de derrotado pelas
forças de Paul Kagame, actual Presi-
dente do Ruanda.
Em 2021, a atitude de Tshisekedi
mudou. Cortou com Kabila, que o
ajudou a chegar ao poder, mudou
cheÆas nas Forças Armadas, afastou
os membros do Governo mais próxi-
mos de Kigali e alterou as suas alian-
ças regionais. Aproximando-se do
Uganda e do Burundi (rivais do Ruan- o Exército congolês em meados de
da, que temem o poderio militar do Janeiro. “A SADC vem com uma mis-
vizinho), a quem permitiu operações são ofensiva”, disse o coordenador
militares no seu país contra grupos das operações militares do Exército
armados, as Forças Democráticas congolês na província do Kivu-Norte
Aliadas, ugandesas, e o RED-Tabara O que estamos a à agência de notícias chinesa Xinhua.
(Resistência para um Estado de Direi- “Vamos iniciar operações em larga
to no Burundi). ver agora no Leste escala contra os inimigos da repúbli-
O executivo congolês também recu- da RD Congo é, em ca”, acrescentou o tenente-general
sou renovar o mandato da missão da Fall Sikabwe. A 12 de Fevereiro, a Áfri-
Comunidade da África Oriental, que muitos aspectos, ca do Sul comprometeu-se a enviar
estava no país desde Novembro de sem precedentes 2900 soldados para a RDC.
2022 com militares do Burundi, Qué-
nia, Sudão do Sul e Uganda. Para Tshi- e extremamente Posição do Ruanda
sekedi, a Força Regional não estava a preocupante O Ruanda, que reactivou o M23
cumprir os objectivos e até se mostra- depois de se sentir ameaçado com as
va benevolente com o M23. Roberto Mardini alterações na RD Congo (mesmo que
Foi substituída por uma missão Director-geral da Cruz Vermelha sempre tenha negado as ligações com
(SAMIDRC) da Comunidade de Des- Internacional o grupo armado tutsi que a ONU
envolvimento da África Austral denunciou várias vezes), mudou ago-
(SADC) que está no terreno desde 15 ra de estratégia. A 18 de Fevereiro, o
de Dezembro, mandatada “para Ministério de Negócios Estrangeiros
apoiar o Exército congolês na luta e emitiu um comunicado, intitulado
erradicação do M23 e outros grupos Ruanda clarifica postura securitária,
armados que continuam a perturbar em que sublinha que “o Ruanda reser-
a paz e a segurança”, com soldados va o direito de tomar quaisquer medi-
da África do Sul, Tanzânia e Malawi. das legítimas para se defender”,
Chama-se Operação Thiba. garantindo que está disposto “a dar
O contingente da SAMIDRC iniciou passos extraordinários para conse-
operações conjuntas de combate com guir a segurança e a estabilidade” na

região, “lidando com as causas pro-
fundas do conÇito”.
“Os líderes políticos e militares
congoleses, incluindo o Presidente
Félix Tshisekedi, também declara-
ram repetidamente a intenção de
invadir o Ruanda e mudar o seu
Governo pela força”, diz o comuni-
cado. “O Ruanda acredita na sua
palavra e ajustou a sua postura em
conformidade. Isto inclui medidas
para assegurar a defesa aérea com-
pleta do território ruandês e para
degradar as capacidades aéreas ofen-
sivas, na sequência da introdução de
drones de ataque CH-4 chineses
avançados pela RDC em 2023 e de
repetidas violações do espaço aéreo
ruandês por caças congoleses.”
Os sul-africanos, que lutam agora
contra os ruandeses no Congo, vêm
de lutar ao seu lado contra os insur-
gentes jihadistas na província moçam-
bicana de Cabo Delgado, integrados
na missão da SADC que esteve dois
anos no país. E sabem da sua capaci-
dade de combate e da qualidade do
seu equipamento.
O Governo dos Estados Unidos acu-
sou o Ruanda de enviar mísseis terra-
ar para o Congo, enquanto a ONU fala
em uso de drones armados para ata-
car as suas bases e os tanzanianos
levaram lança-rockets BM-21 de fabri-
co soviético. Entre os muitos milhares
de novos deslocados que os combates
das últimas semanas Æzeram, aumen-
taram os relatos de explosões de arti-
lharia pesada.
Anteontem, o director-geral da
Cruz Vermelha Internacional, Robert
Mardini, ao Æm de uma visita de cinco
dias ao país, alertava para um aumen-
to acentuado dos civis feridos por
armas pesadas nos combates no Kivu-
Norte que estavam a sobrecarregar
as unidades de saúde, que, por si só,
já têm diÆculdade em prestar cuida-
dos de saúde à população.
“O que estamos a ver agora no Les-
te da RDC é, em muitos aspectos, sem
precedentes e extremamente preocu-
pante. Com o último recrudescimen-
to das hostilidades desde o início de
Fevereiro, centenas de civis grave-
mente feridos, muitos dos quais
mulheres e crianças, têm acorrido às
unidades de cuidados de saúde no
Kivu-Norte — 40% vítimas de bombar-
deamentos ou de outras armas pesa-
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 27
ARLETTE BASHIZI/REUTERS
das utilizadas em zonas urbanas den-
samente povoadas. Esta nova dinâmi-
ca está a agravar o profundo
sofrimento de um grande número de
civis já desgastados por décadas de
conÇito”, aÆrmou Mardinia ao site da
Cruz Vermelha.
“Ao contrário de anteriores crises
com o M23, inÇuentes actores estran-
geiros têm enviado sinais contraditó-
rios”, escreviam no Ænal de Fevereiro
Jason Stearns, da Escola de Estudos
Internacionais da Universidade
Simon Fraser (Canadá), e Joshua Z.
Walker, director de programas do
Congo Research Group da Universi-
dade de Nova Iorque. “No Conselho
de Segurança da ONU, a 20 de Feve-
reiro, os EUA e a França pediram ao
Ruanda que retire os seus soldados
da RDC. Os EUA foram mesmo aque-
les que entre os doadores do Ruanda
foram mais longe, sancionando um
general ruandês, suspendendo toda
a ajuda militar e tentando mediar um
cessar-fogo no Ænal de 2023.”
No entanto, Washington, que Ænan-
ciou em 22 milhões de dólares a mis-
são militar ruandesa em Moçambi-
que, mantém-se como o principal
doador de Kigali, cujo Orçamento do
Estado depende em cerca de um ter-
ço das ajudas internacionais.
A “ignomínia” da UE
Enquanto isso, a União Europeia assi-
nou a 19 de Fevereiro um acordo para
aumentar as importações de minérios
do Ruanda. Uma decisão que enfure-
ceu Tshisekedi: “É como se a UE nos
Æzesse a guerra por procuração.”
Apelidando o acordo que permite à
UE ter acesso privilegiado a minerais
estratégicos para a transição verde,
como o coltan (columbite-tantalite),
o tântalo, o tungsténio (volfrâmio), de
“ignomínia”, o Presidente congolês
disse, em conferência de imprensa,
Soldado sul-africano em Goma: que Bruxelas apenas irá contribuir
a África do Sul assumiu o para a pilhagem dos recursos mine-
compromisso de enviar 2900 rais congoleses.
homens para combater o M23 “Toda a gente sabe que o Ruanda
não tem um grama desses minerais
ditos cruciais no seu subsolo. O Ruan-
da nem sequer os transforma, expor-
ta-os e ganha dividendos com eles, à
custa do sangue dos nossos compa-
triotas”, acrescentou Tshisekedi, que
acusou os 27 de cúmplices num rou-
bo: “Quando se compra o produto da
receptação, é-se culpado de roubo,
é-se equiparado a um ladrão.”
É como se a UE nos Há anos que Kinshasa vê os seus
recursos minerais serem pilhados e
Äzesse a guerra contrabandeados para o Ruanda e o
por procuração. Uganda. Muitas das minas congolesas
são controladas por grupos armados
(...) Toda a gente que Ænanciam a sua actividade com
sabe que o Ruanda o produto da venda a intermediários.
O contrabando do ouro passa pelos
não tem um grama dois países, o do coltan passa sobre-
desses minerais tudo pelo Ruanda (que depois o ven-
de como seu a empresas de transfor-
ditos cruciais no mação alemãs, cazaques e norte-ame-
seu subsolo ricanas que, a seguir, as negoceiam
com multinacionais de produtos elec-
Félix Tshisekedi trónicos dos EUA, China e Alemanha),
Presidente da RD Congo sem que a RD Congo cobre um centa-
vo de impostos, sem que a sua popu-
lação usufrua dessa riqueza.
Segundo a Jeune Afrique, em Julho
do ano passado, o gabinete presiden-
cial congolês assinou uma parceria
entre a empresa mineira paraestatal
Sakima e o Governo dos Emirados
Árabes Unidos no valor de 1,9 mil
milhões de dólares (1,75 mil milhões
de euros). A Sakima tem concessões
mineiras de estanho, tântalo, tungs-
ténio e ouro e o acordo prevê a aber-
tura de pelo menos quatro minas
industriais. Antes já o executivo de
Tshisekedi assinara um outro contra-
to de 25 anos com o emiradense Pri-
mera Group (Primera Gold e Primera
Metal) para a exportação de estanho,
tungsténio e tântalo extraídos em
minas artesanais no Kivu-Sul.
Kinshasa diz que a iniciativa visa
lutar contra o tráÆco de minerais
pelos grupos armados e a Primera
Gold começou a exportar ouro em
Janeiro do ano passado e em Maio já
tinha exportado uma tonelada.
Porém, um relatório da ONU de Junho
duvidava de que o ouro viesse apenas
de minas certiÆcadas, pois os meca-
nismos de rastreio adoptados pela
empresa são deÆcientes.
Em 2019, em Entebbe, a antiga
capital ugandesa nas margens do lago
Vitória, Joan Tilouine, enviado espe-
cial do Monde, encontrou-se com o
então director-geral da African Gold
ReÆnery, a mais importante reÆnaria
de ouro da região dos Grandes Lagos,
o ruandês Alphonse Katarebe. O pro-
jecto da reÆnaria surgiu em 2015 e foi
logo apadrinhado pelo Presidente
ugandês, Yoweri Museveni, tendo em
conta a importância que o ouro con-
golês contrabandeado tem para as
contas públicas do Uganda: em 2021
representou 56% das exportações.
Segundo Katarebe, nem “o melhor
especialista pode determinar a ori-
gem de um lingote de ouro suíço ou
congolês. Ninguém fala de ‘café de
zona de conÇito’, de ‘madeira de zona
de conÇito’, apenas de ‘ouro de zona
de conÇito’, uma expressão inventada
por Hollywood”.
Entebbe é a cidade do ouro, o cen-
tro regional do comércio aurífero. Um
mercado meio ilegal onde se cruzam
traÆcantes congoleses, tanzanianos,
sudaneses do Sul com ricos proprie-
tários de minas que têm mansões na
cidade, a que se juntam negociantes
indianos e compradores dos países
do Golfo. Aqui ninguém se preocupa
se o ouro é proveniente de uma zona
de conÇito ou não. Só é preciso ter
cuidado com uma coisa, dizia um
velho conhecedor dos meandros ao
enviado do Monde: que o ouro não
seja roubado, porque isso dá cadeia.
Roubado a uma pessoa física, diga-se;
roubado a um país, pode ser.
Amanhã falamos do ouro
congolês contrabandeado que
acaba numa refinaria no Brasil,
de mercenários e de um tema
que julgávamos do passado: as
crianças-soldados
28 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Mundo
Von der Leyen entra em modo
de campanha encostada à direita
Rita Siza, em Bruxelas
Alemã foi candidata
única a cabeça de lista
do Partido Popular
Europeu, mas ficou longe
da unanimidade
A presidente da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, resumiu a três
palavras a mensagem, e a plataforma,
em que assenta a sua candidatura a
um segundo mandato à frente do exe-
cutivo comunitário nas próximas
eleições de 9 de Junho, enquanto
cabeça de lista Partido Popular Euro-
peu: prosperidade, segurança e
democracia. “Não podemos ter uma
sem as outras”, sublinhou.
“Prosperidade, segurança e demo-
cracia é o que as pessoas querem em
tempos difíceis e de mudança como
os que vivemos agora”, apontou Von
der Leyen, que no encerramento do
Congresso do PPE, ontem, começou
a ensaiar os argumentos com que se
pretende apresentar aos eleitores da
UE e que estão totalmente alinhados
com o manifesto político aprovado
pelos delegados do partido que viaja-
ram até Bucareste.
Segundo Ursula von der Leyen, “o
sinal que sai de Bucareste é que o PPE
representa uma Europa forte e segu-
ra, pacíÆca e próspera, democrática
e unida”. “Somos pró-UE, pró-Ucrâ-
nia e pró-Estado de direito, no espíri-
Pequim acusa EUA de pretenderem “suprimir
a China” e defende relação com Moscovo
António Saraiva Lima
Chefe da diplomacia
chinesa alerta para
“consequências
inimagináveis” de um
conflito com os EUA
Ao contrário do primeiro-ministro Li
Qiang, que, pela primeira vez em
mais de 30 anos, não comparecerá na
tradicional conferência de imprensa
por ocasião da reunião anual do Con-
gresso Nacional do Povo Chinês, ini-
ciada esta semana em Pequim, o
ministro dos Negócios Estrangeiros,
Wang Yi, falou ontem aos jornalistas,
tendo dedicado parte das suas inter-
venções às relações entre o gigante
asiático e os Estados Unidos. O chefe
to de De Gasperi e Adenauer, Vaclav
Havel e Lech Walesa”, evocou.
“Temos um manifesto fantástico e
agora temos 90 dias para conquistar
votos. Vamos ganhar estas eleições!”,
declarou Von der Leyen, que vestiu
deÆnitivamente a camisola e entrou
em modo de campanha para tornar
a bancada democrata-cristã “mais
forte” no Parlamento Europeu — e
assim travar os “populistas, naciona-
listas, demagogos, da extrema-direita
ou da extrema-esquerda”.
Num discurso ao congresso que
coincidiu com o arranque da votação
que a viria a conÆrmar como a cabeça
de lista do PPE — a alemã foi a candi-
data única, mas Æcou longe da unani-
Von der Leyen é a favorita a novo mandato na Comissão Europeia
da diplomacia chinesa acusou os EUA
de terem uma “obsessão” de “supri-
mir” a China, dizendo que os “cri-
mes” que Washington diz falsamente
que Pequim cometeu “atingiram
níveis sem precedentes”.
“Os EUA têm vindo a desenvolver
várias tácticas para suprimir a China
(…). A lista de sanções unilaterais está
a ser constantemente ampliada”,
denunciou Wang, citado pelo South
China Morning Post.
“Se [os EUA] Æcam nervosos sem-
pre que ouvem a palavra ‘China’,
onde está a sua credibilidade enquan-
to grande potência? Se querem ape-
nas prosperar, mas negam aos outros
países o seu desenvolvimento legíti-
mo, onde está a justiça internacional?
Se monopolizam recorrentemente o
topo da cadeia de valor, mantendo a
midade, recebendo 400 votos a favor,
89 contra e 10 nulos —, Ursula von der
Leyen passou brevemente em revista
os cinco anos do seu mandato na
Comissão, e deteve-se nos três slogans
de campanha que enquadram os seus
principais objectivos para a próxima
legislatura: fortalecer a competitivi-
dade da UE em tempos de transição,
consolidar a protecção das fronteiras
e a aplicação do novo Pacto das Migra-
ções e Asilo, e “fazer mais pela defesa
comum [da UE]”.
A sua intervenção foi mais forte nas
aspirações do que nas promessas,
mas no capítulo da segurança e defe-
sa, a alemã reaÆrmou o compromisso
de nomear um comissário europeu
ROBERT GHEMENT/EPA
China no patamar inferior, onde estão
a justiça e a concorrência?”, questio-
nou o ministro. Wang apelou, por
isso, aos EUA para “compreenderem”
e olharem “objectivamente e racio-
nalmente” para a “tendência históri-
ca de desenvolvimento” da China.
E deixou um aviso, muito seme-
lhante àquele que o Presidente Xi
Jinping tinha feito, em Novembro,
quando se encontrou com o seu
homólogo norte-americano, Joe
Biden, na Califórnia: “Se houver um
Wang Yi diz que
a relação estreita
com a Rússia
se deve a uma
“escolha
estratégica” de
ambos os países
da Defesa, deixando subentendido
que a pasta será entregue a um repre-
sentante da família de centro-direita.
“Este é um tópico que vai requerer
toda a nossa atenção. O PPE é o par-
tido que quer uma Europa que se
possa defender a si própria, e será o
partido que vai concretizar uma
União da Defesa”, estimou. O próxi-
mo executivo terá mais comissários
nomeados pelo PPE, que nos últimos
cinco anos também viu crescer o
número de líderes representados no
Conselho Europeu — que, diz o trata-
do, deve ter em conta o resultado das
eleições europeias quando nomear o
presidente da Comissão.
Enquanto cabeça de lista do parti-
do que, de acordo com todas as pro-
jecções, continuará a deter a maior
bancada do Parlamento Europeu, a
nomeação de Ursula von der Leyen
para um segundo mandato não está
minimamente em dúvida. Além do
PPE, a alemã conta com o apoio dos
líderes socialistas e liberais, bem
como da representante da família
nacionalista e eurocéptica no Conse-
lho Europeu, a primeira-ministra
italiana, Giorgia Meloni. Talvez por
isso, Von der Leyen arriscou alinhar
com o discurso da direita radical
quando se referiu aos temas das fron-
teiras e migrações, ou à agenda climá-
tica, na sua intervenção em Bucares-
te: o congresso terminou sem desfa-
zer as dúvidas sobre um eventual
convite do PPE aos irmãos de Itália.
conÇito ou um confronto entre duas
importantes potências como os EUA
e a China, as consequências serão
inimagináveis.”
ExempliÆcando o tipo de posicio-
namento internacional que a Pequim
defende, baseado no objectivo da
“ordem multipolar”, Wang Yi elogiou
o estreitamento da cooperação entre
a China e a Rússia, que, enfatizou, se
deve a uma “escolha estratégica” de
ambos os países.
“O gás natural russo está a abaste-
cer inúmeras famílias chinesas e os
automóveis chineses estão a circular
nas estradas russas. Tudo isto
demonstra a forte resiliência e amplas
perspectivas da cooperação mutua-
mente benéÆca entre a China e a Rús-
sia”, congratulou-se Wang, citado
pela CNN.
EUA querem
doca para
entrada de
ajuda em Gaza
Maria João Guimarães
Possibilidade de uma
trégua na Faixa de Gaza
antes do início
do Ramadão parece
cada vez mais distante
Os EUA vão deslocar uma doca tem-
porária para a entrada de ajuda em
Gaza, disseram, ontem, fontes norte-
americanas citadas em vários media
norte-americanos. Do lado israelita,
fontes explicaram, sob anonimato,
que isso será feito com toda a coor-
denação do seu lado.
Numa sessão de esclarecimento
com jornalistas, responsáveis norte-
americanos indicam ainda que não
haverá presença de soldados dos EUA
no terreno na Faixa de Gaza, que a
doca será construída a partir do mar,
e que a carga virá de Chipre, segundo
o site norte-americano Axios. O diá-
rio israelita Haaretz escreveu que a
distribuição será feita pela ONU e
outras agências humanitárias. Antes,
a presidente da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, tinha posto a
hipótese de envio de ajuda para Gaza
por via marítima a partir de Chipre.
A situação de fome em Gaza é gra-
ve e já morreram pelo menos 20 pes-
soas, muitas delas crianças, devido à
falta de alimentos ou água, disse
ontem o gabinete das Nações Unidas
para a Coordenação de Assuntos
Humanitários (OCHA) numa publica-
ção na rede social X.
Israel continua a dizer, e repetiu
ainda ontem, que “não há limites à
entrada de ajuda”, mas sim má dis-
tribuição, recusando aÆrmações de
agências humanitárias e até de alia-
dos como os EUA que têm pedido a
entrada de mais ajuda. O OCHA disse
que durante o mês de Fevereiro as
autoridades israelitas apenas autori-
zaram seis das 24 missões planeadas
para o Norte da Faixa de Gaza.
Enquanto isso, diminui a esperan-
ça para um acordo de cessar-fogo na
Faixa de Gaza ainda antes do início
do Ramadão, com a saída do Cairo da
delegação do Hamas.
A delegação tem regresso previsto
para segunda-feira, mas há relatos de
mais exigências da parte do movi-
mento palestiniano. Em cima da
mesa estaria um acordo para um ces-
sar-fogo de seis semanas e a liberta-
ção de 400 pessoas presas em Israel
e 40 israelitas reféns na Faixa de
Gaza. Fontes americanas disseram
que o Hamas não concordou em
libertar reféns mais velhos e doentes,
segundo o Haaretz.

Por António Rodrigues
Jornalista. Escreve à sexta-feira
Trinta e dois
fora quatro
Muitos organismos O último Monitor de
Pluralismo dos Meios de
internacionais de Comunicação Social
devia deixar-nos a todos
defesa dos direitos apreensivos, sobretudo
aos dirigentes políticos e
humanos, económicos que enchem a boca
incluindo o com palavras bonitas sobre o papel
essencial que o jornalismo
Conselho da desempenha na saúde das
democracias. A julgar pelos
Europa, a UNESCO resultados, de 32 países europeus
e a OSCE, estão (os 27 da UE mais Albânia,
Macedónia, Montenegro, Sérvia e
preocupados com Turquia), apenas quatro oferecem
boas condições aos jornalistas:
o facto de a erosão Alemanha, Dinamarca, Irlanda e
Suécia.
da protecção da “As más condições de trabalho
liberdade de dos jornalistas, as ameaças físicas e
online à sua segurança e o aumento
expressão e da das acções judiciais estratégicas
contra a participação pública
liberdade dos (SLAPP) continuam a ser problemas
media ser um fundamentais que exigem soluções
sistemáticas”, dizia o estudo do
factor essencial do Centre for Media Pluralism and
Media Freedom. Sendo as SLAPP
‘retrocesso’ acções judiciais que visam censurar,
intimidar e silenciar os críticos, de
democrático a que modo a sobrecarregá-los com
a Europa tem custas judiciais até que se calem.
Num continente europeu que se
assistido nos vangloria da sua liberdade de
expressão e de imprensa ter
últimos anos somente quatro países que dão
Renate Schroeder boas condições aos jornalistas
demonstra que muitos governos
Directora da não aliam as palavras aos actos.
Como escreve esta semana Renate
Federação Schroeder, directora da Federação
Europeia de Jornalistas (que
Europeia de representa 73 sindicatos em 45
Jornalistas países), “todos os que defendem a
democracia” devem apoiar “os
jornalistas e o jornalismo holístico
como um bem público”, porque
foram poucos os momentos da
história em que “a informação
rigorosa tenha sido mais
importante” do que agora.
A representante dos jornalistas
defende uma aliança alargada de
“leitores, ouvintes, organizações e
sindicatos de jornais e
académicos” que convença os
decisores políticos a agir e ligar a
acção às palavras bonitas, de modo
a garantir a sobrevivência dos
media e a sua manutenção como
um verdadeiro contrapoder e não
o actual modelo erodido.
Um deserto
à porta
Esta semana, de
“superterça-feira” de
eleições primárias nos
Estados Unidos, este
ano com menor
interesse por os candidatos à
presidência dos dois principais
partidos já estarem mais do que
escolhidos, com Joe Biden e Donald
Trump a reeditarem o duelo de
2020, jornalistas do Marketplace
Morning Report andaram pelos
“desertos noticiosos” nos estados
norte-americanos que iam a votos.
Estes desertos de proximidade são
cidades e regiões onde deixou de
haver imprensa local e, como tal, os
eleitos deixaram de ver as suas
decisões escrutinadas, o que impede
os eleitores de tomarem decisões
informadas sobre os seus eleitos.
Como conta Keith Stickley,
proprietário das Shenandoah
Publications, no vale de
Shenandoah, no estado da Virgínia,
que teve de fechar por razões
económicas o jornal The Free Press
que fundara: “Um dos supervisores
do condado disse, depois de
fecharmos o jornal, que o nosso
encerramento tinha sido a melhor
coisa que podia acontecer ao
condado.”
O declínio da imprensa local nos
EUA foi tão grande em 2023 que é
provável que no Ænal deste ano o
país tenha perdido um terço dos
jornais existentes em 2005,
passando de 8891 para cerca de
6000, de acordo com um estudo do
ano passado da Medill School of
Journalism, Media, Integrated
Marketing Communications da
Northwestern University, citado
pela Axios.
Para os autores, estamos perante
“uma crise de grande alcance” para
a democracia americana, que “se
debate simultaneamente com a
polarização política, a falta de
participação cívica e a proliferação
de desinformação e informação ç
online”.
“Há milhões de e teorias da
adas na
conspiração geradas
Internet e não há editores”,
ogo, sem
aÆrma Stickley, logo,
ão”,
“responsabilização”,
precisamente aquilouilo
que se exige
aos jornais e
jornalistas.
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 29
4 esquinas
“Digam adeus
à Telam, que
vai embora”
Para a extrema-direita,
o jornalismo ou é
propaganda ou
inimigo. A ideia de
uma imprensa livre
com capacidade crítica e liberdade
de expressão choca com a sua
percepção da sociedade. O que se
passou com o encerramento da
Telam, a maior agência de notícias
da América Latina (e segunda mais
importante em língua espanhola a
seguir à Efe), pelo Governo de
Javier Milei, é mais um exemplo
disso. Para o Presidente argentino,
como a agência de notícias não
está com ele, está contra ele, logo
faz “propaganda kirchnerista”, em
referência ao nome da antiga
Presidente e vice-presidente
Cristina Fernández de Kirchner.
Quando o porta-voz presidencial,
Manuel Adorni, publica no Twitter
a mensagem “Digam adeus à
Telam, que vai embora”, não só
reduz a discussão sobre os media e
a liberdade de informação ao nível
da chacota, como empresta à
decisão do Governo um tom de
“crueldade” e falta de empatia pelo
destino dos 755 trabalhadores da
agência.
Sem respeito pelos 79 anos da
agência, pelo seu papel relevante e
à margem de qualquer critério
económico — de acordo com
informação da agência, o peso das
remunerações no total das
despesas passou de 68,27% em
Dezembro de 2019 para 22,29% em
Agosto de 2023. Só na Argentina, a
Telam servia cerca de meio milhar
de notícias diárias aos 803 órgãos
do país que assinavam o seu
serviço.
“Podemos discutir a eÆciência da
Telam. Discutir como é composta,
como se administra e todos vamos
ter esta ou aquela posição”, dizia o
escritor e professor Martín Kohan à
rádio Futurock, citado pelo diário
g
Página/12. “Mas o que se passou é o
regozijo com
co o ultraje, com o
sofrimen
sofrimento dos outros. Há
alguém que se regozija,
porque se diverte com os
danos q que está a causar.”
Para Ko
Kohan, isto demonstra
qu
que “a crueldade está
n
na moda na Argentina,
p
parece bem, cai bem”.
Mundo
O mundo que se conta
a partir do que se diz
A democracia
chega ao fim
do ano?
Quando as
mensagens se
repetem seis vezes
mais depressa do que
os factos e “uma
pessoa é 73 vezes mais susceptível
de retweetar uma mentira do que
um facto real”, como refere a
prémio Nobel da Paz de 2021,
Maria Ressa, percebemos que se
para um jornalista com todas as
condições de trabalho
asseguradas e total liberdade já
seria uma batalha difícil lutar
contra a disseminação da
falsidade, nas condições precárias
em que a maioria dos media vivem
hoje, é uma luta quase inglória.
Em entrevista ao jornal belga
L’Echo, a jornalista Ælipina fala em
2024 como o “ano crucial” para o
jornalismo e a democracia, tendo
em conta as inúmeras eleições
agendadas para este ano que
culminam na nova batalha entre
Joe Biden e Donald Trump para a
presidência dos Estados Unidos em
Novembro.
“Este é um momento crucial
porque os resultados vão alterar o
equilíbrio de poder num mundo
caótico”, aÆrma a directora do
jornal online Rappler. E garante
não estar a ser muito sombria:
“Receio que seja essa a realidade.
Segundo a V-Dem, uma ONG sueca,
72% da população mundial vive
sob um regime autoritário.
Portanto, voltámos ao ponto em
que estávamos em 1986.”
Com as redes sociais
transformadas nos maiores
distribuidores de informação do
mundo e as mentiras, o ódio e o
medo a espalharem-se a velocidade
vertiginosa, como pode o
jornalismo com os pés assentes no
chão fazer voar a sua informação
assente em factos à mesma
velocidade? Como pode a
democracia sobreviver, se a nossa
vontade como cidadãos está a ser
condicionada por essa
disseminação de falsidade?
Maria Ressa ainda acredita na
resistência, desde que possamos
manter o nosso livre arbítrio. “A
Polónia e Taiwan são pontos
luminosos e mostram que é
possível. Continuo a acreditar que
os seres humanos são
fundamentalmente bons.”
30 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Economia Política monetária da zona euro
Corte dos juros em Junho pelo BCE
parece cada vez mais certo
Banco Central Europeu mostra mais optimismo em relação ao recuo da inÅação para a meta de 2%
na zona euro. Christine Lagarde diz que dados a divulgar em Junho serão decisivos
Sérgio Aníbal
Sem nunca se comprometer e lem-
brando sempre que tudo depende
dos dados económicos que entre-
tanto forem sendo conhecidos,
Christine Lagarde abriu ontem com-
pletamente a porta a que o tão espe-
rado processo de descida das taxas
de juro na zona euro tenha início
ainda antes do início do Verão, pro-
vavelmente na reunião agendada
para 6 de Junho.
Tal como esperado pela generali-
dade dos analistas, o Banco Central
Europeu (BCE) manteve, ontem, na
reunião do conselho de governado-
res, realizada em Frankfurt, as taxas
de juro nos níveis máximos em que
se encontram desde Setembro.
Ao mesmo tempo, contudo, seja
por via da alteração das previsões
apresentadas para a economia, seja
através dos sinais dados pela presi-
dente da instituição em conferência
de imprensa, foi reforçada a expec-
tativa, já prevalecente nos merca-
dos, de que o primeiro passo no
sentido de aliviar a restritividade da
política monetária na Europa será
dado daqui a três meses. O que pode
vir a fazer da data em que se irão
comemorar os 80 anos do dia D do
desembarque das forças aliadas na
Normandia também o momento em
que os responsáveis do BCE, em
Frankfurt, irão dar início ao tão
desejado processo de descida das
taxas de juro na zona euro.
É verdade que Christine Lagarde
não abandonou, ontem, a mensa-
gem, repetida ao longo dos últimos
meses, de que as decisões no banco
central são tomadas com base nos
dados que existam na altura, evitan-
do deste modo comprometer-se
com qualquer opção que venha a
ser tomada no futuro.
No entanto, ao mesmo tempo que
reconheceu os avanços conseguidos
na luta contra a inÇação, fez questão
de assinalar que o momento em que
se irá ter de decidir se se começa a
descer taxas está a chegar. E que
esse momento não está marcado
nem para Abril, que é a data da pró-
xima reunião, nem para depois do
início do Verão, mas sim para a reu-
nião agendada para o arranque de
Junho, no dia 6.
“Está deÆnitivamente em curso
um declínio [da inÇação] e estamos
a fazer bons progressos em direcção
à nossa meta de inÇação [de 2% no
DANIEL ROCHA
Lagarde diz que há “sinais de médio prazo]. Estamos, por isso,
que o crescimento dos salários mais conÆantes, mas ainda não esta-
se está a começar a moderar” mos suÆcientemente conÆantes. E
precisamos claramente de mais pro-
vas, mais dados, e sabemos que
Em vez dos 2,7% esses dados chegarão durante os
próximos meses. Vamos saber um
antes previstos, pouco mais em Abril, mas iremos
BCE aponta agora saber muito mais em Junho”, aÆr-
mou a presidente do banco central
para uma taxa de da zona euro, numa declaração que
inÅação este ano coloca em máximos as expectativas
em relação ao que irá acontecer na
de apenas 2,3% reunião de Junho.
CHRISTOPHER NEUNDORF/EPA
Christine Lagarde garantiu que não
houve qualquer discussão relativa-
mente à possibilidade de se avançar
para um corte de taxas já esta quin-
ta-feira, mas assumiu que dentro do
conselho de governadores “está a
dar-se início à discussão da forma
como ocorrerá o recuo da política
restritiva [do BCE]”.
Entre Julho de 2022 e Setembro
de 2023, com a inÇação a atingir
máximos na Europa, o BCE realizou
dez subidas consecutivas de taxas
de juro que puseram a taxa-chave
para os custos de Ænanciamento na
zona euro em 4%, quando antes
estava em terreno negativo (-0,5%).
Desde Setembro até agora, as taxas
de juro estabilizaram a este nível.
Ao aplicar taxas de juro elevadas,
que se reÇectem, por exemplo, no
nível das taxas de juro Euribor que
servem de indexante na maior par-
te dos empréstimos concedidos em
Portugal, o BCE procura arrefecer o
nível da procura na economia e,
assim, travar a inÇação.
Ao mesmo tempo, contudo, con-
tribui para que a economia cresça a
um ritmo mais lento, aumentando
mesmo o risco de uma recessão.
Durante os últimos 12 meses, a
inÇação na zona euro entrou de fac-
to numa trajectória descendente, ao
mesmo tempo que a economia qua-
se estagnou. E as novas previsões
divulgadas pelo BCE para a econo-
mia da zona euro mostram que o
objectivo deÆnido pelo banco cen-
tral de trazer a taxa de inÇação para
os 2% passou a estar mais perto de
ser alcançado.
De facto, em vez dos 2,7% antes
previstos, o BCE passou a apontar
para uma taxa de inÇação este ano
na zona euro de apenas 2,3%. E, em
vez de estimar que a meta de 2% seja
atingida em 2026, a entidade lidera-
da por Christine Lagarde passou a
antecipar esse cenário para 2025,
diminuindo depois para 1,9% em
2026.
Já em relação à inÇação subjacen-
te, que não inclui os preços da ener-
gia e dos alimentos e que é particu-
larmente relevante para as decisões
do BCE, a revisão em baixa das pre-
visões é mais moderada, mas mes-
mo assim acontece, passando de
2,7% para 2,6% este ano. E a meta
dos 2% passa a ser vista como estan-
do ao alcance já no horizonte da
projecção, que vai até 2026.
No que diz respeito à evolução do
produto interno bruto (PIB), o BCE
também aponta para um cenário de
abrandamento mais forte, prevendo
agora que a economia da zona euro
cresça apenas 0,6% este ano, quan-
do antes estava à espera de 0,8%.
InÇação a recuar mais rapidamen-
te e economia mais lenta são desen-
volvimentos que podem ajudar a
convencer a maioria dos membros
do conselho do BCE de que será
aconselhável começar a diminuir o
nível de restritividade da política
monetária em que as taxas de juro
altas ajudam a diminuir a inÇação,
mas podem também empurrar a
economia para uma recessão.
Para que tal aconteça, aquilo de
que alguns responsáveis do banco
central ainda precisam de ter a cer-
teza é de que os aumentos salariais,
que o BCE no comunicado de ontem
assinala que têm sido “fortes” na
zona euro, não irão contribuir para
manter a inÇação a um nível inde-
sejavelmente alto.
Mas, mesmo aqui, Christine
Lagarde deu mostras de estar agora
menos preocupada do que no pas-
sado, ao aÆrmar na conferência de
imprensa que “existem sinais de
que o crescimento dos salários se
está a começar a moderar”.

Ouro bate recorde com expectativa
de que a Reserva Federal desça juros
Rafaela Burd Relvas
Incerteza geopolítica
e expectativa de corte
de juros pela Fed levam
investidores a apostar
no activo de refúgio
O ouro continua a valorizar-se nos
mercados internacionais e bateu novo
recorde na sessão de ontem, numa
altura em que a instabilidade geopo-
lítica e as expectativas de uma decisão
de corte nas taxas de juro por parte
da Reserva Federal dos EUA (Fed)
estão a levar a uma maior aposta nes-
te activo de maior estabilidade.
No Ænal da tarde de ontem, o ouro
esteve a valorizar 0,4% e a negociar
nos 2158 dólares por onça (31,10 gra-
mas). Mas, durante a manhã, che-
gou a tocar nos 2164,09 dólares por
onça, um novo recorde. O metal
precioso acumula, assim, a sexta
sessão consecutiva a negociar em
alta, ao mesmo tempo que vai reno-
vando máximos históricos.
Na origem deste movimento está a
antecipação de um corte nas taxas de
juro de referência da maior economia
mundial, que já desde o Verão do ano
passado se mantêm inalteradas, num
intervalo entre 5,25% e 5,5%. Isto
depois de, na quarta-feira, o presi-
dente da Fed, Jerome Powell, ter rea-
Ærmado que o banco central norte-
americano espera cortar as taxas de
Grupo Jerónimo Martins pagou 700 mil euros
de contribuição extraordinária sobre os lucros
Isabel Aveiro
Grupo mantém
contestação, mas já
efectuou pagamento de
2022, que era devido até
Setembro passado
A Jerónimo Martins SGPS ( JM), dona
da rede Pingo Doce em Portugal,
pagou em 2023 perto de 700 mil
euros de contribuição extraordinária
sobre os lucros (contribuição de soli-
dariedade temporária), relativa ao
exercício Æscal de 2022, avançou
ontem a administração da empresa.
Questionada sobre se o valor esti-
mado há um ano pelo próprio grupo
de distribuição, relativamente ao
ano Æscal de 2022, se tinha conÆr-
juro ainda este ano, embora ressal-
vando que o progresso desejado na
inÇação não está assegurado.
“Estamos à espera de ter maior
conÆança de que a inÇação está a
caminhar de forma sustentada para
os 2%. Quando tivermos essa conÆan-
ça — e não estamos longe disso — será
apropriado começar a recuar na res-
tritividade da política monetária [que
tem mantido as taxas de juro em
níveis elevados], para que não leve-
mos a economia para uma recessão”,
disse Jerome Powell, ouvido por um
comité do Senado norte-americano.
As declarações do presidente da
Reserva Federal surgem depois de, no
comunicado divulgado em Janeiro,
Ouro tocou ontem nos 2164 dólares por onça, novo máximo histórico
mado — uma vez que o tributo
extraordinário, que vigora para os
exercícios de 2022 e 2023, tem de
ser pago até Setembro do ano Æscal
seguinte —, Ana Luísa Virgínia, admi-
nistradora Ænanceira, conÆrmou o
pagamento ao Estado, em conferên-
cia de imprensa ontem realizada.
Reconhecendo, mas não contabi-
lizando, que o valor Ænal “foi um
pouco menos” dos 700 mil euros,
mas “à volta disso”, a administrado-
ra reiterou, contudo, que o grupo
continua a defender que “não tinha
havido lucros excedentários”. E que
irá contestar a aplicação da contri-
buição extraordinária.
O Ministério das Finanças recusou-
-se até agora a esclarecer quanto rece-
beu o Estado de tributo sobre o
aumento dos lucros que o Governo
após a última reunião de política
monetária, a Fed ter alertado para a
incerteza das perspectivas económi-
cas, salientando ao mesmo tempo
que o comité de política monetária
“continua muito atento aos riscos de
inÇação”. Em Janeiro, a inÇação nos
Estados Unidos da América registou
uma variação de 3,1% face a igual
período do ano passado, valor que
representa um abrandamento face à
taxa de 3,4% que tinha sido veriÆcada
em Dezembro, mas que ainda está
longe do objectivo de 2%.
O discurso de Jerome Powell no
Congresso norte-americano foi, ain-
da assim, suÆciente para manter as
expectativas de um corte nas taxas
RICARDO LOPES
— e, em parte, a Comissão Europeia
— acredita terem existido em deter-
minados sectores desde que a guerra
na Ucrânia começou em Ænal de Feve-
reiro de 2022, com a energia e a dis-
tribuição alimentar (hiper e super-
mercados) em destaque.
Foram estes dois sectores — por
causa do peso da Rússia e da Ucrâ-
nia no fornecimento mundial de
gás, matérias-primas agrícolas e
produtos agro-químicos — que mais
pesaram no aumento da inÇação
Grupo de
distribuição
liderado por
Pedro Soares
dos Santos
lucrou 590
milhões em 2022
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 31
de juro já em Junho, um cenário
que, a conÆrmar-se, deverá levar a
um enfraquecimento do dólar e
consequente desvalorização de acti-
vos indexados à moeda norte-ame-
ricana. Na sessão de ontem, o dólar
recuou contra a generalidade das
suas contrapartes, com o euro a
valorizar em torno de 0,35% contra
a moeda norte-americana.
A isto acresce um cenário de insta-
bilidade a nível geopolítico, com as
atenções a virarem-se não só para as
eleições que vão decorrer este ano
em vários países, EUA incluídos, mas,
sobretudo, para as tensões no Médio
Oriente. Nas últimas sessões, os
receios dos investidores têm vindo a
agravar-se com os ataques de rebel-
des houthis do Iémen no mar Verme-
lho, uma resposta aos ataques de
Israel à Faixa de Gaza que tem feito
disparar os preços do petróleo e de
outras matérias-primas transportadas
naquela rota. Ainda esta semana, o
vice-ministro dos Negócios Estrangei-
ros do Governo liderado pelos houthis
anunciou que “o Iémen continuará a
afundar navios britânicos”.
O ouro apresenta-se, assim, como
um activo de refúgio e as expectativas
são de que a tendência de ganhos
venha a prolongar-se nas próximas
sessões. “Temos um grupo restrito de
activos a que os investidores podem
de facto chamar refúgio — e o ouro é
o número um entre eles”, comenta
um analista do HSBC à Reuters.
europeia durante o ano de 2022 e
parte de 2023. É preciso recordar
que, em Portugal, em Outubro de
2022, a inÇação chegou a ultrapas-
sar 10%, com a inÇação alimentar a
atingir crescimentos de dois dígitos
por meses consecutivos.
No caso da distribuição alimentar,
a taxa extraordinária é de 33%. O
cálculo da contribuição tem como
referência o período de 2018 a 2021
para aferir, no ano Æscal de 2022, o
que foi o aumento veriÆcado. O
mesmo está previsto para o exercí-
cio Æscal de 2023.
O grupo JM consolidou resultados
líquidos, ou lucros, de 590 milhões
de euros em 2022 e de 756 milhões
em 2023 (mais 28,2%). As receitas
cresceram num ano 20,6%, para 30,6
mil milhões de euros em 2023.
Economia
Défice lança
França para
clima de crise
orçamental
Sérgio Aníbal
O défice público em 2023
ficou bem acima do previsto
pelo Governo, que
anunciou cortes na despesa
para lidar com a situação
Depois de a Alemanha assumir a diÆ#
culdade em usar a política orçamen-
tal para ajudar a economia a recupe-
rar, agora é a vez de a França decla-
rar que está numa situação de crise
nas Ænanças públicas.
Os problemas da segunda maior
economia da zona euro com o Orça-
mento foram tornados mais claros
do que nunca na quarta-feira pelo
ministro das Finanças francês. Numa
entrevista concedida ao jornal Le
Monde, Bruno Le Maire revelou que
o déÆce orçamental do ano passado
será substancialmente mais elevado
do que a meta deÆnida pelo Gover-
no, exigindo, por isso, que o país,
para cumprir os objectivos de ree-
quilíbrio orçamental traçado para os
próximos anos, tenha de pôr em prá-
tica uma política mais restritiva.
“Devido às receitas orçamentais
mais baixas em 2023, vamos Æcar
signiÆcativamente acima da meta de
déÆce de 4,9%”, aÆrmou o ministro,
sem avançar com uma nova estima-
tiva. As diÆculdades sentidas na fren-
te orçamental no ano passado estão
relacionadas com o desempenho
mais modesto do que o esperado da
economia, cujo impacto na cobrança
de impostos não foi compensado por
outras medidas de consolidação.
Agora, contudo, o Governo fran-
cês parece estar decidido a que, mes-
mo perante uma conjuntura econó-
mica adversa, se cumpram as metas
orçamentais, tendo até, para que
isso aconteça, anunciado já cortes de
despesa signiÆcativos. Bruno Le Mai-
re diz que a economia irá crescer, em
vez dos 1,4% inicialmente projecta-
dos, apenas 1% este ano. Mas, apesar
deste andamento mais lento da eco-
nomia e do ponto de partida mais
desfavorável no saldo orçamental,
garante que a meta de déÆce para
2024 se manterá nos 4,4%.
Foi por isso que, logo em Feverei-
ro, com apenas um mês e meio do
Orçamento executado, anunciou a
introdução de um programa de cor-
tes na despesa pública de 10 mil
milhões de euros. “Durante muito
tempo, a despesa pública tem sido a
solução para todos os nossos proble-
mas. Agora arrisca-se a tornar-se um
problema para todos nós”, aÆrmou
ao anunciar as novas medidas.
32 • Público ClassiÄcados • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
MUNICÍPIO DE GRÂNDOLA
CÂMARA MUNICIPAL
AVISO N.º 49
António de Jesus Figueira Mendes, Presidente da Câmara
Municipal de Grândola, Faz Saber:
Em cumprimento do disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 78.º
do D.L. n.º 555/99, de 16 de dezembro, na sua atuat redação,
foi emitido o Aditamento n.º 2 ao Alvará de Loteamento n.º 9/85
em nome de Leonardo Inocêncio Esperto, com o contribuinte
n.º 165840080, através do qual foi licenciado o loteamento que
incidiu sobre o prédio sito em Mem Gonçalves, da união das
freguesias de Grândola e Santa Margarida da Serra, descrito
na Conservatória do Registo Predial de Grândola sob o n.º
00276/031285 da respetiva freguesia.
A alteração ao loteamento, foi requerida pelos Herdeiros de
Leonardo Inocêncio Esperto, e aprovada por meu despacho
de 2024/01/22, proferido no uso da competência delegada em
Reunião de Câmara de 18/10/2021 e na Reunião de 28/10/2021
e incide sobre o lote n.º 15, descritos na Conservatória do
Registo Predial de Grândola sob o n.º 291/19851203, e inscrito
na matriz sob o artigo 4817, e consta do seguinte:
A alteração consiste na redução da área do lote n.º 15 registado
com a área de 27.272,50m2 para os 26.215,53m2, após
levantamento topográfico, e na área total do loteamento, que
passará de 32.500,00m2 para os 31.443,03m2.
A área total dos lotes passa a ser de 31.443,03m2.
Mantendo-se todo o resto.
Grândola, Paços do Concelho aos 28 dias do mês de fevereiro
do ano de dois mil e vinte e quatro
O Presidente da Câmara Municipal
António de Jesus Figueira Mendes
NOTARIADO PORTUGUÊS
CARTÓRIO NOTARIAL
DE VITOR MANUEL RODRIGUES PEREIRA
NIPC 515605174
AVENIDA JAIME CORTESÃO, N.º 20-A, MIRAFLORES, ALGÉS, OEIRAS
CERTIFICO NARRATIVAMENTE PARA EFEITOS DE PUBLICAÇÃO, QUE: - Por
escritura de Justificação Notarial, outorgada neste Cartório, em seis de Março de dois
mil e vinte e quatro, lavrada a folhas cento e trinta e duas e seguintes do livro de notas
para escrituras diversas, Dezassete -A, Paula Cristina de Almeida da Silva Paulino,
CF n.º 190048840, solteira, maior, natural da freguesia de São Sebastião da Pedreira,
concelho de Lisboa, residente na Rua Fernão Mendes Pinto, número 5, 8.º andar direito,
Urbanização do Infantado, em Loures, justificou ser dona e legítima possuidora, com
exclusão de outrem, do prédio urbano sito no Bairro da Encarnação, Rua Quatro, número
dezanove, composto por moradia oitenta e quatro, classe A, Tipo II, com dois pavimentos
e quintal, lugar e freguesia de Santa Maria dos Olivais, concelho de Lisboa, descrito
na Conservatória do Registo Predial de Lisboa, sob o número quatro mil quatrocentos e
sessenta e cinco, da dita freguesia, inscrito na respectiva matriz urbana da freguesia de
Olivais, sob o artigo 543, com o valor patrimonial de € 131.016,20, que é o valor atribuido
para efeitos da justificação.
A aquisição do prédio urbano supra identificado, encontra-se registada: pela apresentação
mil trezentos e vinte e oito de vinte e seis de Outubro de dois mil e dez, a favor de Maria
Manuela Nunes Pavoeiro Lomba, com o NIF 113890257, casada sob o regime da
comunhão geral de bens, com Carlos Pavoeiro Lomba, ambos já falecidos respectivamente
em vinte e seis de Maio de dois mil e dezoito e três de Janeiro de dois mil e dezanove,
e residentes que foram na referida morada do prédio, por sucessão hereditária de José
Coelho Pavoeiro e Judith Nunes Bernardes Pavoeiro, casados que foram entre si sob o
regime da comunhão geral de bens, residentes que foram na mesma morada, ambos
também já falecidos respectivamente em dezassete de Setembro de mil novecentos e
oitenta e oito e vinte e quatro de Julho de dois mil e dez.
Que o aludido bem se encontra inscrito na referida matriz predial urbana em nome do
cabeça de casal da herança da referida Maria Manuela Nunes Pavoeiro Lomba, com o NIF
da herança 745353746.
Que os referidos Judith Nunes Bernardes Pavoeiro, 104337273; e Maria Manuela Nunes
Pavoeiro Lomba, com o NIF 113890257, e marido Carlos Pavoeiro Lomba, lhe doaram por
contrato verbal, no ano de dois mil e dois, a ela, primeira outorgante, o identificado prédio.
Que, como resulta do que atrás ficou referido, embora, ela justificante, não tenha
devidamente titulada a transmissão do identificado bem, a partir da última e indicada
inscrição registral, é ela possuidora do mesmo imóvel, posse que desde há mais de
vinte anos, como se referiu, sempre exerceu, sem oposição de quem quer que seja e
com o conhecimento de todas as pessoas, sendo, por isso, uma posse de boa fé, por
ignorar lesar direitos alheios, pacífica, porque sem violência, contínua e publica, à vista
e com conhecimento de toda a gente e sem oposição de ninguém, pelo que o referido
imóvel, lhe pertence, por praticar todos os actos inerentes à qualidade de proprietária,
designadamente usufruindo dos seus rendimentos, gozando todas as utilidades por ele
proporcionadas, pagando os respectivos impostos, procedendo aos seus melhoramentos
e reparações, e ocorrendo a todos os outros seus encargos, nele fazendo obras de
conservação e limpezas e recebendo a sua família e amigos, sendo reconhecida como
sua dona, por toda a gente, e assim tratada, fazendo-o de boa fé, e tudo isto por lapso
de tempo superior a vinte anos, o que conduziu à aquisição do direito de propriedade do
imóvel, por usucapião, o que invoca, justificando o direito de propriedade, para efeitos de
inscrição no registo predial, não tendo, assim, documentos que lhe permitam fazer a prova
da aquisição pelos meios extrajudiciais normais.
Está conforme.
Lisboa e Cartório Notarial de Vitor Manuel Rodrigues Pereira, em 06 de Março de 2024
O Notário, Vitor Manuel Rodrigues Pereira
Conta registada sob o n.º PD 337/2024
TRIBUNAL JUDICIAL
DA COMARCA DE FARO
Juízo Local Cível de Portimão - Juiz 1
Processo: 667/24.4T8PTM
REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL
Aviso ANÚNCIO Consulado-Geral do Brasil em Faro
Acompanhamento de Maior EDITAL DE CASAMENTO CONHEÇA
Procedimento concursal para provimento do cargo de Diretor(a) Requerente: Ministério Público Tereza Cristina da Silva Santos, Vice-
de Serviços do Departamento de Consultoria Clínica da ADSE, I.P., Acompanhada: Arielly Carolina Cônsul do Brasil em Faro, usando das
atribuições que lhe confere o art.º 18
AS NOSSAS
Pagliari
cargo de direção intermédia de 1º grau FAZ-SE SABER que foi
da Lei de Introdução ao Código Civil, COLECÇÕES DE
faz saber que pretendem casar Antonio
1 – Nos termos do disposto nos artigos 20.º e 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de distribuído neste tribunal, o
MÚSICA
Glauber Paulino Ribeiro Filho, natural
processo de Acompanhamento de Fortaleza, Ceará, Brasil, nascido a
janeiro, na sua redação atual, faz-se público que por meu despacho de 24 de 17/07/1999, residente e domiciliado na
de Maior em que é requerida
outubro de 2023, se encontra aberto, pelo prazo de 10 (dez) dias a contar do Arielly Carolina Pagliari, nascida
Praceta Cláudia de Campos, n.º 2, 2.º
Frente, Sines, Portugal, Código Postal:
1º dia de publicitação na Bolsa de Emprego Público (BEP) o procedimento em 28-07-2005, filha de Gemir
7520-179, nesta jurisdição consular, filho
concursal para provimento do cargo de Diretor(a) de Serviços do Departamento Pagliari e de Sara Alves Pires de Antonio Glauber Paulino Ribeiro e
Pagliari, com domicílio: Av. de Ana Lima Ribeiro e Vanessa Dantas
de Consultoria Clínica da ADSE, I.P., cargo de direção intermédia de 1º grau, o
Comunidades Lusíadas, Bl. C2,
Mendes, natural de Fortaleza, Ceará,
qual se encontra publicado, por Aviso em DR n.º 4920/2024/2, II Série, nº 48, de Brasil, nascida a 03/03/2000, residente
Ap. 511, 8500-804 Portimão, e domiciliada na Praceta Cláudia de
7 de março de 2024; com vista à determinação de Campos, n.º 2, 2.º Frente, Sines, Portugal,
medidas adequadas. Código Postal: 7520-179, nesta jurisdição
2 – As indicações dos respetivos requisitos formais de provimento, do perfil consular, filha de Ciro Garcia Mendes e de
exigido, dos métodos de seleção e da composição do júri, constam da
N/ Referência: 131459114 Geovania Dantas de Souza Mendes.
Portimão, 01-03-2024 Apresentaram os documentos exigidos
publicitação na Bolsa de Emprego Público (BEP). pelo Art.º 1.525 do Código Civil.
A Juíza de Direito Se alguém souber de algum impedimento,
Lisboa, 7 de março de 2024 Dra. Lénia Rodrigues oponha-o na forma da Lei. Lavrado o
O Oficial de Justiça presente para ser afixado em lugar visível
A Presidente do Conselho Diretivo, Luís M.D. Rosa da Chancelaria deste Consulado-Geral. loja.publico.pt
Ilton Garcia Silveira
Maria Manuela Pinto Soares Pastor Fernandes Arraios Faria Público, 08/03/2024 Oficial de Registro Civil “ad-hoc” INFO: 210 111 010
CONVOCATÓRIA DA ASSEMBLEIA
GERAL ORDINÁRIA
Nos termos do nº 2 do artigo 26º e dos artigos 27º e 28º dos Estatutos
da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Loures, Sintra e Litoral, C.R.L.,
pessoa colectiva nº 501 055 843, com sede na Rua dos Combatentes da
EDITAL N.º 21/2024 Grande Guerra, 8 A, em Loures, matriculada na Conservatória do Registo
Comercial de Loures sob o mesmo número, com o capital social realizado
Assunto: EXPROPRIAÇÃO DE 2 (DOIS) PRÉDIOS URBANOS PARA de € 10.579.665 (variável), convoco todos os Associados no pleno gozo
A CONSTRUÇÃO DA VIA 2 DE ESTRUTURAÇÃO DA UNIDADE DE dos seus direitos, a reunirem-se, em Assembleia Geral Ordinária, no dia 27
EXECUÇÃO DO CASAL DOS REIS de Março de 2024, pelas 16 horas, na sede da Instituição, para discutir e
votar as matérias da seguinte Ordem de trabalhos:
Paula Marreiros, Diretora do Departamento de Administração Geral, 1. Discussão e votação do Relatório de Gestão e das Contas da Caixa
no uso das competências subdelegadas pelo Sr. Vereador Nuno Dias, Agrícola relativo ao exercício de 2023 e do relatório anual e parecer do
por Despacho n.º 432/2022, de 28 de setembro de 2022, torna público Conselho Fiscal.
que, por Deliberação número 672/2023 da Câmara Municipal, de 4 de 2. Deliberação sobre a Proposta de Aplicação de Resultados do exercício
de 2023.
outubro de 2023, foi aprovada, a resolução de requerer ao Governo
3. Apreciação geral sobre a Administração e Fiscalização da Caixa
a declaração de utilidade pública, com caracter de urgência, para
Agrícola.
efeitos de expropriação e posse administrativa das parcelas de terreno
4. Apresentação e apreciação do relatório com os resultados da avaliação
necessárias à “Execução da Via 2 – Via de Estruturação da Unidade anual das políticas de remuneração praticadas na Caixa Agrícola.
de Execução do Casal dos Reis, em Loures”, e que por Deliberação 5. Discussão e aprovação da Política de Remuneração dos Órgãos de
número 81/2024 da Câmara Municipal, de 7 de fevereiro de 2024, foi Administração e Fiscalização da Caixa Agrícola para 2024.
também aprovada, a alteração e retificação da referida resolução, nos 6. Discussão e aprovação da Fixação da Remuneração dos Membros
termos do previsto nos artigos 10.º a 15.º do Código das Expropriações, da Mesa da Assembleia Geral, do Órgão de Administração, do Órgão
aprovado pela Lei n.º 168/99, de 18 de setembro, na sua atual redação. de Fiscalização e da Comissão de Avaliação da Caixa Agrícola para o
triénio 2023/2025.
Assim, e para os efeitos do disposto do n.º 5 do artigo 10.º e n.º 4 do 7. Fixação do valor do reembolso dos títulos de capital referentes ao ano
artigo 11.º, ambos do Código das Expropriações, na sua atual redação, de 2023.
ficam pelo presente edital, notificados da resolução supra aludida, os 8. Outros assuntos com interesse para a Caixa Agrícola.
proprietários e demais interessados das seguintes parcelas: Se, à hora marcada, não se encontrar presente mais de metade dos
- Parcela n.º 1: com a área de 652,00m2, sita em Casal dos Reis – Associados, a Assembleia Geral reunirá, em segunda convocatória, uma
Montemor, na Freguesia de Loures, inscrita na matriz predial urbana hora depois, com qualquer número.
sob o artigo 10394 e com a descrição em Conservatória do Registo A. Voto por Correspondência
Os Associados podem exercer o seu direito de voto por correspondência,
Predial n.º 9247 da referida Freguesia, cujos proprietários conhecidos nos termos do artigo 31.º, n.ºs 3 a 6 dos Estatutos da Caixa Agrícola desde
são: Maria Aurora da Conceição Viana, residente no Largo da Saudade,
que sejam cumpridos, cumulativamente, os seguintes requisitos:
n.º 3, Montemor, 2670-502 Loures e Jorge Luís Conceição Viana iii. solicitem atempadamente, por escrito, ao Presidente da Mesa da
Castelo Catarino, casado com Liliana Duarte Viera Catarino, residentes Assembleia Geral, os boletins correspondentes a cada ponto da ordem
na Rua Major Rosa Bastos, n.º 46, Montemor, 2670-502 Loures. de trabalhos e a carta que os deverá capear;
iii. o sentido do voto seja expressamente indicado em relação a todos os
- Parcela n.º 2: com a área de 235,00m2, sita em Casal dos Reis – pontos da ordem de trabalhos;
Montemor, na Freguesia de Loures, inscrita na matriz predial urbana sob
iii. os boletins dêem entrada na sede da Caixa Agrícola até às dezasseis
o artigo 2455 e com a descrição em Conservatória do Registo Predial horas do segundo dia útil anterior ao da Assembleia Geral, sendo a data
n.º 19540, ficha n.º 8101 da referida Freguesia, cujos proprietários e hora da entrada registada em livro, registo que será encerrado pelo
conhecidos são: Maria Aurora da Conceição Viana, residente no Largo Presidente da Mesa da Assembleia Geral logo que terminado o prazo da
sua válida receção.
da Saudade, n.º 3, Montemor, 2670-502 Loures e Jorge Luís Conceição
Viana Castelo Catarino, casado com Liliana Duarte Viera Catarino, Cada boletim deverá ser dobrado em quatro e inserido em sobrescrito,
em cujo rosto será inscrito “Votação do(a) Associado(a) … [nome ou
residentes na Rua Major Rosa Bastos, n.º 46, Montemor, 2670-502
designação do Associado] para o Ponto … [inscrever o número] da Ordem
Loures/ e cujo arrendatário conhecido é: Eduardo da Silva Pimenta, de Trabalhos da Assembleia Geral da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de
residente na Rua Major Rosa Bastos, Casal dos Reis, número 4, R/C Pr Loures, Sintra e Litoral, C.R.L., convocada para as 16 horas do dia 27 de
Montemorr 2670-502 Loures. Março de 2024 ”, sendo os referidos boletins capeados pela carta a que
Os interessados podem consultar o respetivo processo na Divisão alude o requisito i. supra com a assinatura do Associado reconhecida nos
termos legais.
de Património Documental e Apoio Técnico, no edifício do Arquivo
B. Voto por Representação
Municipal de Loures, sito na Rua Cesário Verde, 2670-576 Loures, nos Nos termos do artigo 31.º, n.ºs 7 e seguintes dos Estatutos da Caixa
dias úteis das 9h00 às 12h30m e das 14h00 às 17h00. Agrícola qualquer Associado poderá votar por procuração, conquanto
Para constar, e inteiro conhecimento de todos os interessados, se constitua como mandatário familiar seu, desde que maior de idade, ou
publica o presente edital, que será afixado nos lugares de estilo deste outro Associado, sendo que este só poderá representar um mandante.
A procuração deve ser outorgada em documento escrito, dele constando
Município, no lugar da situação do bem, na sede da Junta de Freguesia
a identificação do mandante e a identificação do mandatário, pelo menos
de Loures, no sítio da internet, em www.cm-loures.pt (Município » através dos seus nomes completos, números de identificação civil e
Câmara Municipal » Editais), bem como nos jornais, em conformidade respetivas moradas, data, hora e local da realização da Assembleia e
com o disposto do n.º 4 do artigo 11.º do Código das Expropriações. ponto ou pontos da ordem de trabalhos para a qual confere o mandato e,
querendo, o respetivo sentido de voto.
Loures, 15 de fevereiro de 2024 A procuração deverá ainda ser datada e dirigida ao Presidente da Mesa da
Assembleia Geral, com a assinatura do mandante reconhecida nos termos
A Diretora do Departamento de Administração Geral legais.
(Despacho de Subdelegação de competências número 432/2022 Loures, 08 de Março de 2024
de 28 de setembro de 2022)
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral
Paula Marreiros José Manuel Alvares da Costa e Oliveira
 Público ClassiÄcados • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 33

EXTRACTO DE JUSTIFICAÇÃO Tribunal Judicial da Comarca de Santarém

CERTIFICO que neste Cartório e no Livro de Escrituras 45-F, de folhas noventa e dois a folhas noventa e oito verso, foi lavrada
uma escritura de JUSTIFICAÇÃO NOTARIAL outorgada no dia 06 de Março de 2024, em que foi justificante, o Instituto de Acção Juízo Central Criminal de Santarém - Juiz 4
Social das Forças Armadas, I.P., entidade de direito público, pessoa colectiva número 500 746 427, com sede na Rua Pedro Palácio da Justiça, Campo Sá da Bandeira | 2000-024 Santarém
Nunes, n.º 8, Lisboa, representado pelo seu presidente e pelo seu vogal do conselho directivo, FERNANDO CELSO VICENTE DE Telef: 243305150 Fax: 243090259 Mail: santarem.centralcriminal@tribunais.org.pt
CAMPOS SERAFINO e ANA PAULA NUNES BARATA COSTA.
Que vieram invocar que o instituto que representam, é dono com exclusão de outrem, todos sitos na freguesia do Laranjeiro,
concelho de Almada e omissos na competente conservatória do registo predial: Processo Comum (Tribunal Coletivo) nº 108/20.6JALRA
UM - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta
de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote A-2, inscrito sob
o artigo urbano 1.274 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1217 e 2687 da extinta ANÚNCIO
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.830 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
DOIS - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta
de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote A-1, inscrito sob
O Mm.º Juiz de Direito Dr. Sérgio Alexandre Martins Pereira Paiva de Sousa, do Tribunal
o artigo urbano 1.272 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1216 e 2686 da extinta Judicial da Comarca de Santarém - Juízo Central Criminal de Santarém - Juiz 4:
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.829 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
TRÊS - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta
de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote A-3, inscrito sob
FAZ SABER que por acórdão proferido pelo Juízo Central Criminal de Santarém - Juiz 4
o artigo urbano 1.276 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1218 e 2688 da extinta
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.831 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
datado de 13 de março de 2023 e transitado em julgado a 13 de dezembro de 2023, foi
QUATRO - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e
coberta de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote B-1,
arguida SONDAZEITE – PRODUÇÃO E COMÉRCIO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS, LDA,
inscrito sob o artigo urbano 1.278 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1219 e 2689 condenada pela prática negligente de um crime de violação de regras de segurança,
da extinta freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.832 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
CINCO - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e cober- agravado pelo resultado morte, previsto e punido pelos artigos 11.º, n.ºs 2, alínea a),
ta de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote B-2, inscrito sob
o artigo urbano 1.280 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1220 e 2690 da extinta n.º4, n.º 7 e 152.º-B, n.ºs 1, 2 e 4, alínea b), ambos do Código Penal:
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.833 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
SEIS - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta a) Na pena de 620 dias de multa, à taxa diária de 150,00€.
de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote B-3, inscrito sob
o artigo urbano 1.282 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1221 e 2691 da extinta
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.834 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
b) Na pena acessória de interdição do exercício da atividade de pecuária e gestão dos
SETE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta
de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote B-4, inscrito sob
afluentes resultantes da atividade pecuária, durante o período de 2 anos.
o artigo urbano 1.284 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1222 e 2692 da extinta
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.835 da extinta freguesia de Cova da Piedade); c) No pagamento das custas judiciais devidas, fixada a taxa de justiça em 4 UC.
OITO - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta
de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote C-1, inscrito sob
o artigo urbano 1.286 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1223 e 2693 da extinta Santarém, 28-02-2024
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.836 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
NOVE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta
de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote C-2, inscrito sob
(Documento elaborado por Escrivão Adjunto Carlos Alberto Oliveira)
o artigo urbano 1.288 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1224 e 2694 da extinta
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.837 da extinta freguesia de Cova da Piedade); O Juiz de Direito,
DEZ - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta
de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote C-3, inscrito sob Dr. Sérgio Alexandre Martins Pereira Paiva de Sousa
o artigo urbano 1.290 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1225 e 2695 da extinta
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.838 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
Público, 08/03/2024
ONZE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta
de cento e vinte e nove vírgula noventa e cinco metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote C-4,
inscrito sob o artigo urbano 1.292 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1226 e 2696
da extinta freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.839 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
José Alfredo C. S. Mexia de Almeida
DOZE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta
de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote D-1, inscrito sob Missas de 1º aniversário do seu falecimento às 18 horas
o artigo urbano 1.294 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1227 e 2697 da extinta do dia 8 de Março na Igreja Matriz de Mora e às 19 horas
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.840 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
TREZE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e cober- O Iscte – Instituto Universitário na Igreja da Encarnação ao Chiado em Lisboa.
ta de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote D-2, inscrito sob
o artigo urbano 1.296 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1228 e 2698 da extinta
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.841 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
de Lisboa pretende recrutar
CATORZE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e
coberta de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote D-3, Técnico(a) Superior em CARTÓRIO NOTARIAL – LISBOA
inscrito sob o artigo urbano 1.298 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1229 e 2699 NOTÁRIA – ADELAIDE JOSEFA DE CAMPOS VIDEIRA
da extinta freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.842 da extinta freguesia de Cova da Piedade); regime de Contrato Individual
QUINZE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e co-
berta de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote D-4, inscrito
de Trabalho. EXTRATO PARA PUBLICAÇÃO
sob o artigo urbano 1.300 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1230 e 2700 da
extinta freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.843 da extinta freguesia de Cova da Piedade); Certifico para efeitos de publicação, que por escritura datada de vinte
DEZASSEIS - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e oito de fevereiro de dois mil e vinte e quatro, exarada a folhas SEIS e
e coberta de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote D-5, Para mais informações consultar no
seguintes, do respetivo livro de notas número CENTO E QUARENTA E
inscrito sob o artigo urbano 1.302 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1231 e 2701 dia útil seguinte:
da extinta freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.844 da extinta freguesia de Cova da Piedade); DOIS – A, do Cartório Notarial em Lisboa, da Notária Adelaide Josefa de
DEZASSETE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total Campos Videira, compareceu o outorgante:
e coberta de cento e vinte e oito vírgula oitenta metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote D-6,
https://www.iscte-iul.pt/conteudos/ NISSIM ANDRÉ HODARA LEVY, NIF 110.780.710, divorciado, natural
inscrito sob o artigo urbano 1.304 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1232 e 2702 iscte/quem-somos/trabalhar-no- da freguesia de São Mamede, concelho de Lisboa, residente na
da extinta freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.845 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
DEZOITO - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e iscte/1393/concursos Travessa da Senhora Quitéria, 36, 4º esquerdo, em Lisboa.
coberta de cento e quarenta e três metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote E-2, inscrito sob o Pelo outorgante foi dito:
artigo urbano 1.306 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1233 e 2703 da extinta Que com exclusão de outrem, é dono e legítimo possuidor do
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.846 da extinta freguesia de Cova da Piedade);
seguinte bem:
DEZANOVE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e
coberta de cento e quarenta e três metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote E-3, inscrito sob o
Meta Capital Prestamistas, Lda. PRÉDIO RÚSTICO, denominado “RUA NOVA”, composto de cultura
artigo urbano 1.308 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1234 e 2704 da extinta LEILÕES arvense, com a área total e descoberta de oitenta e três metros
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.847 da extinta freguesia de Cova da Piedade); 1º Leilão quadrados, sito em Óbidos (Santa Maria), inscrito na respetiva matriz
VINTE - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total e coberta META CAPITAL PRESTAMISTAS, LDA., irá efetuar na Rua
de cento e quarenta e três metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote F-1, inscrito sob o artigo Arco Marquês do Alegrete, nº 6 - A, 1100-034 Lisboa, no dia
predial rústica sob o artigo 15, Secção 1AA da união de freguesias de
urbano 1.310 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1235 e 2705 da extinta freguesia 28 de Março de 2024, pelas 10H30, Leilão de penhores sobre Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa, concelho de Óbidos, que
de Laranjeiro e no artigo urbano 6.848 da extinta freguesia de Cova da Piedade); ouro, pratas, joias e objetos diversos, ao abrigo do art.º 27.º do teve origem matricial no artigo 15, Secção AA, da extinta freguesia de
VINTE E UM – PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total decreto-lei n.º 160/2015, de 11 de agosto.
Os penhores dizem respeito às Agências da Meta Capital Óbitos (Santa Maria), com o valor patrimonial tributário atualizado de
e coberta de cento e quarenta e três metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote F-2, inscrito sob Prestamistas, Lda., cujos contratos à data tiverem os juros
o artigo urbano 1.312 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1236 e 2706 da extinta 7,87€, ao qual atribui igual valor para efeitos desta escritura, descrito
vencidos e não pagos há mais de três meses.
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.849 da extinta freguesia de Cova da Piedade); É facultado ao público o exame dos objetos a leiloar no dito na Conservatória do Registo Predial de Óbidos sob o número dois mil
VINTE E DOIS - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total local durante as duas horas que antecedem o leilão. quatrocentos e trinta e sete – ÓBIDOS (SANTA MARIA), com registo
e coberta de cento e quarenta e três metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote F-3, inscrito sob Os objetos são arrematados no local e no estado em que se
encontram. de aquisição, em comum e sem determinação de parte ou direito, a
o artigo urbano 1.314 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1237 e 2707 da extinta
Após cada licitação, caso o arrematante não liquide a totalidade favor do ora justificante e de Arlette Djemile Hodara Levy, conforme
freguesia de Laranjeiro e no artigo urbano 6.850 da extinta freguesia de Cova da Piedade); do lote, ser-lhe-á exigido de imediato um sinal (por transferência
VINTE E TRÊS - PRÉDIO URBANO, composto de edifício de rés-do-chão, primeiro, segundo e terceiro andares, com a área total bancária) nunca inferior a 40%, no ato da adjudicação. apresentação três de dezassete de março de dois mil.
e coberta de cento e quarenta e três metros quadrados, sito no Alfeite - Bairro Social das Forças Armadas, Lote E-1, inscrito sob Os lotes arrematados que não forem totalmente pagos no ato Que o referido prédio veio à posse do ora justificante por partilha feita
o artigo urbano 1.434 da união das freguesias de Laranjeiro e Feijó (que teve origem nos artigos urbanos 1312 e 2832 da extinta do leilão deverão ser levantados até 24 horas a partir da data do
leilão sob pena de ser anulada a venda com a perda do sinal. por volta do ano de dois mil e um, tendo a transmissão sido meramente
freguesia de Laranjeiro);
Que estes imóveis, foram construídos pelo Instituto de Ação Social das Forças Armadas, I.P. (IASFA), em parcelas de terrenos Não serão aceites reclamações após a adjudicação dos lotes. verbal, inexistindo título formal que a comprove.
2º Leilão
omissas na matriz, que vieram á posse do instituto por doações verbais efectuada por transferência de património do Estado Em caso de inexistência de propostas aquisitivas em primeiro Que está na posse e fruição do mencionado prédio, em nome próprio,
Português – Ministério da Marinha, por volta de meados do ano de mil novecentos e setenta, em dia e mês que não conseguem leilão para as coisas em causa, será realizado segundo leilão há mais de vinte anos, procedendo à sua limpeza e conservação, e
precisar, doação essa que nunca foi formalizada, pelo que o instituto não é detentor de qualquer título formal que legitime o seu no dia 28 de Março de 2024, pelas 10H35, nos termos do n.º
domínio, razão pela qual, se encontra impossibilitado de comprovar a aquisição pelos meios normais. 7 do artigo 28º Decreto-Lei n.º 160/2015, de 11 de agosto e dele colhendo todos os frutos, e exercendo todos os atos materiais
Que, não obstante isso, o referido instituto possui os ditos imóveis, sem qualquer interrupção, à vista de toda a gente e sem nas condições previstas supra previstas para o 1º Leilão. O correspondentes ao exercício do direito de propriedade, há mais de
qualquer oposição, sendo os mesmos utilizados para arrendamento social, destinado aos militares das Forças Armadas, asse- exame dos objetos a leiloar é facultado ao público no dito local, vinte anos, sempre com o conhecimento da generalidade das pessoas,
durante as duas horas que antecedem o leilão.
gurando aos beneficiários com maior vulnerabilidade económica a oportunidade de acederem a uma habitação que lhes permita 3º Leilão sem oposição ou intromissão de quem quer que seja, e sem interrupção,
viver com dignidade inerente à condição militar, procedendo ás reparações necessárias ao longo do tempo, nomeadamente, Em caso de inexistência de propostas aquisitivas em segundo
pintando paredes, compondo o telhado, mudando portas e janelas, posse que sempre exerceu, como verdadeiro proprietário leilão para as coisas em causa, será realizado terceiro leilão
portanto sob uma forma pública, pacífica e contínua, pelo que adquiriu
que sempre se julgou era e é dos ditos prédios, pelo que, os adquiriu por usucapião, fundada nessa posse, de boa fé, de modo no dia 28 de Março de 2024, pelas 10H40, nos termos do n.º o respetivo direito de propriedade.
pacífico, contínua e publicamente, à vista e com o conhecimento de toda a gente, sem oposição de ninguém e tudo isto por um 8 do artigo 28º Decreto-Lei n.º 160/2015, de 11 de agosto e Esta posse de boa-fé, contínua, pacífica e pública conduziu à aquisição
lapso de tempo superior a vinte anos. nas condições previstas supra previstas para o 1º Leilão, não
estando porém a venda condicionada ao valor da avaliação. O do direito de propriedade do mencionado prédio por usucapião.
Que, dadas as enunciadas características de tal posse, o instituto adquiriu os identificados prédios, por usucapião. exame dos objetos a leiloar é facultado ao público no dito local,
Está conforme o original para efeitos de publicação. ESTÁ CONFORME
durante as duas horas que antecedem o leilão.
Cartório Notarial de Sabrosa a cargo do Lic. Ricardo Jorge Ramos Falcão, sito na Rua de Trás, 1.º Loja K. Lisboa, 8 de Março de 2024
Cartório Notarial, vinte e oito de fevereiro de dois mil e vinte e quatro.
Sabrosa, 06 de Março de 2024 A Gerência A Notária, Adelaide Videira
O Notário, Ricardo Jorge Ramos Falcão www.casacreditopopular.pt Ligue Grátis 800 208 186 Público, 08/03/2024
34 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Ciência e Ambiente Dia Internacional da Mulher
Paula Coutinho, pioneira
da neurogenética
Documentário sobre Paula Coutinho é exibido hoje na RTP2,
às 20h35. Era intensa, cativante, inspiradora, temperamental
e intransigente, como são tantas vezes as pessoas excepcionais
Jorge Sequeiros
A neurologista Paula Coutinho (1941-
2022) foi uma mulher que quebrou
barreiras, considerada vanguardista
na neurologia, num mundo, à época,
predominantemente masculino. A
sua principal referência e mentor foi
Corino Andrade, neurologista que
descobriu a paramiloidose em famí-
lias das Caxinas, e de quem foi herdei-
ra cientíÆca. Foi “pescada” nas aulas
práticas de Neurologia e levada para
o serviço de Corino Andrade, no Hos-
pital de Santo António (HSA), no Por-
to, em 1965, quando ainda frequenta-
va a Faculdade de Medicina da Uni-
versidade do Porto. Foi a primeira
neurologista a desenvolver o “pensa-
mento genético” na doença neuroló-
gica, o que faz dela, de facto, a pionei-
ra da neurogenética em Portugal.
Com Corino Andrade, viajou pelas
ilhas dos Açores, em Janeiro de 1976,
estudando aquela que viria a ser cha-
mada doença Machado-Joseph
(DMJ). Demonstrou que esta era uma
doença única, com sintomas e idade
de início muito variáveis, apesar de
ter sido descrita como três doenças
diferentes em descendentes de aço-
rianos nos Estados Unidos. Mais
tarde, viria a mostrar que a “doença
açoriana” estava, aÆnal, presente
também no continente. Para logo,
nos anos 80, começar a ser encon-
trada um pouco por todo o mundo.
Sabe-se agora que a DMJ é a ataxia
(doença que afecta o equilíbrio, a fala
e a coordenação) mais frequente,
entre as quase 50 ataxias hoje conhe-
cidas com hereditariedade dominan-
te (geralmente afectando várias gera-
ções). Enfrentando Æguras eminentes
e monstros sagrados da neurologia
internacional, defendia convictamen-
te que era possível identiÆcar esta
doença em muitas famílias, usando
apenas critérios clínicos, que ela pró-
pria deÆniu.
Isto deu motivo, ao longo de mui-
tos anos, a despiques épicos e polé-
micas inÇamadas, quase sempre
amigáveis. Intuiu até que três famílias
mais antigas, descritas com outros
diagnósticos, teriam na realidade a
DMJ, o que veio a conÆrmar-se assim
que o gene foi descoberto e um teste
genético se tornou possível.
A sua tese de doutoramento, no
Instituto de Ciências Biomédicas Abel
Salazar (ICBAS), no Porto, consistiu
na deÆnição clínica e anatomopato-
lógica da DMJ. Com ela viria a ganhar
o Grande Prémio Bial de Medicina de
1992. Todo o seu trabalho cientíÆco,
inovador e de grande qualidade, con-
tribuiu para a importante reputação
internacional que alcançou.
Um rastreio ímpar
Em particular, conduziu um rastreio
sistemático de ataxias hereditárias e
paraparesias espásticas na população
nacional, ao longo de mais de 12 anos.
Foi um esforço imenso, para o qual
se rodeou de especialistas de diversas
áreas, da saúde púbica e epidemiolo-
gia à genética laboratorial. Este estu-
do é ainda apontado como ímpar e
abundantemente citado na literatura
cientíÆca. Os seus dados foram um
recurso valiosíssimo para a descober-
ta de novos genes, e levaram ao
aumento do conhecimento clínico e
epidemiológico naquelas doenças. O
impacto deste rastreio ainda hoje se
faz sentir na investigação cientíÆca e
na prática clínica.
Entre 1971 e 74, trabalhou na Suíça.
Foi assistente de Neuropatologia na
universidade e neurologista no Hos-
pital Cantonal de Genebra, Suíça,
para onde foi cheia de medo, ver
mundo, e onde aprendeu a não parar
no diagnóstico e tentar encontrar
soluções possíveis para cada doente,
mesmo que sem solução terapêutica.
Aí foi próxima do chamado “grupo
de Genebra de exilados”, entre os
quais Medeiros Ferreira e Maria Emí-
lia Brederode Santos, de quem se
tornaria amiga para toda a vida. Em
1974, regressou ao HSA, onde conti-
nuaria o seu trabalho clínico e cientí-
Æco, no Serviço de Neurologia e no
Centro de Estudos da Paramiloidose
(hoje Unidade Corino Andrade). Foi
professora de Neurologia no ICBAS/
HSA, de 1981 a 1998.
A falta de perspectivas de progres-
são na carreira levou-a, em 1998, a
aceitar o desaÆo de criar o Serviço de
Neurologia do novo Hospital de São
Sebastião (HSS), em Santa Maria da
Feira, onde viria também a dirigir o
Departamento de Medicina.
Foi co-fundadora, em 1992, e inves-
tigadora da Unidade de Investigação
Genética e Epidemiológica em Doen-
ças Neurológicas (Unigene), do Insti-
tuto de Biologia de Molecular e Celu-
lar (IBMC), hoje integrado no Institu-
to de Investigação e Inovação em
Saúde (i3S) da Universidade do Porto.
Aí foi também neurologista-principal
do Centro de Genética Preditiva e
Preventiva do IBMC.
Foram-lhe prestadas homenagens
no HSS (2003), na Câmara Municipal
de Vale Cambra (2014), concelho de
onde era natural, e no i3S (2016). Um
ano após o seu falecimento, recebeu
a homenagem da Sociedade Portu-
guesa de Doenças do Movimento e a
homenagem, em sessões simultâ-
neas, das três principais instituições
nacionais em que trabalhou (HSA,
HSS e i3S).
Adorava ensinar Neurologia, tendo
formado múltiplas gerações de clíni-
cos e investigadores que hoje conti-
nuam o trabalho por ela iniciado ou
o estenderam a outros campos de
actividade e do conhecimento.
Dedicada aos doentes
Dotada de inteligência Æna, inquisi-
tiva e perseverante, tinha um faro
clínico raro e uma perspicácia dia-
gnóstica invulgar. Era extremamen- I3S
te dedicada à maioria dos seus doen-
tes. Um dos seus grandes prazeres
eram os estudos de campo, nos cen-
tros de saúde e em visitas aos doen-
tes nas suas casas, nas ilhas e no
continente. Promoveu o levanta-
mento de famílias com paramiloi-
dose e o seu aconselhamento gené-
tico. Fomentou a formação na medi-
cina geral e familiar e a criação da
“valência de paramiloidose” em
centros de saúde, nas regiões mais
afectadas. Apoiou as associações e
as pessoas com paramiloidose e
DMJ, conseguindo o acesso a medi-
cação gratuita que hoje mantêm.
Era uma mulher intensa e cativan- No topo, equipa do Serviço de que normalmente não ajudava a ame-
te, sempre inspiradora, temperamen- Neurologia do Hospital de nizar o seu feitio.
tal, impiedosamente crítica e intran- Santo António (no Porto), em Na realidade, nada na vida a deixa-
sigente, como são tantas vezes as que Paula Coutinho era a va indiferente. Separava bem o tra-
pessoas excepcionais. Acreditava nos única mulher; em baixo (da balho dos outros lados da vida, de
outros e sucedia deixar-se abater esquerda para a direita): Paula que nunca descurou os pequenos
(nunca por muito tempo) por pessoas Coutinho com Jorge prazeres. Ao Æm de um dia intenso,
ou situações menos agradáveis. Sequeiros, que trabalharam terminada uma reunião cientíÆca ou
Detestava a ligeireza, mas, acima juntos muitos anos, durante o trabalho de campo, rodeava-se de
de tudo, a presunção e a pompa. uma homenagem em 2016 à colaboradores e amigos a beber um
Tinha também pavor a aviões, que neurologista; Corino Andrade gin tónico, a sua bebida favorita, que
nunca a abandonou, apesar das inú- e Paula Coutinho em Janeiro só mais tarde se tornou moda. Antes
meras e longas viagens que fez. Em de 1976 nos Açores; de uma boa refeição, de preferência
particular, aos pequenos bimotores e a visitar famílias de doentes simples e despretensiosa. Sempre em
da SATA e ao temível Aviocar da For- de Machado-Joseph na ilha animadas conversas, a que não falta-
ça Aérea que a levou entre ilhas, com das Flores va uma boa dose de ironia e alguma
Corino Andrade à sua frente a citar má-língua, tornando-as mais vivas e
Platão. Deixou muitas vezes de fumar, apetecíveis. Elegia as cozinhas regio-
quase sempre por pouco tempo, o nais, mas também outras gastrono-

ARQUIVO PESSOAL DE JS
mias como a tailandesa, em particu-
lar, à condição de favoritas. E sentia
saudades da raclette suíça. Gostava
também de cozinhar e experimentar
fazer novos pratos.
Cresceu numa casa cheia de livros
policiais e desenvolveu-se ao correr
de raciocínios dedutivos ou induti-
vos, conforme os detectives, a razão
por que escolheu a Neurologia. Apre-
ciava westerns e bom cinema de autor,
que nem sempre coincidiam. Era
muito afeiçoada a cães e à jardina-
gem. As ilhas dos Açores, todas dife-
rentes, todas belíssimas, eram outra
das suas grandes paixões, em espe-
cial as Flores. Seguia a fórmula 1,
como fã de Ayrton Senna. Gostava e
sabia muito de futebol, mas era sobre-
ARQUIVO PESSOAL DE JS
ARQUIVO PESSOAL DE JS
tudo adepta emotiva do Futebol Clu-
be do Porto, comentando as últimas
aquisições e tácticas de jogo (ou a
falta delas). A sua forma de pensar,
qualquer que fosse o assunto, não
deixava ninguém indiferente.
Um documentário sobre a sua vida
e obra (Era Bonito Vê-la Pensar, 2023)
inclui excertos de vídeos de que fora
protagonista, bem como testemu-
nhos de colegas, antigos estudantes
e amigos de Portugal aos EUA, Cana-
dá, Brasil, Reino Unido, França e
Japão. É exibido hoje, Dia Internacio-
nal da Mulher, na RTP2 (20h35).
Médico geneticista, professor
emérito da Universidade do
Porto
Trotinetas eléctricas partilhadas têm
uma vantagem ambiental duvidosa
Ensaio
David Marçal
Depois de décadas de
iniciativas para impedir o
estacionamento dos carros
nos passeios, estes são agora
reocupados por trotinetas
O primeiro serviço de trotinetas
eléctricas partilhadas surgiu em
2017 na Califórnia, pela empresa
Bird. O seu fundador, Travis
VanderZanden, disse, na altura,
que esta era uma forma de
transporte inovadora e amiga do
ambiente. AÆrmação absurda,
tendo em conta que a primeira
geração dessas trotinetas tinha
uma vida útil que não passava dos
dois a três meses, sendo
praticamente descartáveis. Apesar
das melhorias em modelos mais
recentes, de acordo com um
estudo realizado por
investigadores do Instituto
Superior Técnico, publicado no
ano passado na revista Journal of
Urban Mobility, na cidade de
Lisboa, e por causa das condições
difíceis de pavimento e do declive,
as trotinetas partilhadas duram
apenas mês e meio. Elas levantam
também questões sérias de
segurança, como contaremos
neste texto, que faz parte da série
quinzenal (à sexta-feira) “Como
perder amigos rapidamente”,
sobre casos em que a ciência e os
dados contrariam muitos
inÇuencers e opinion makers.
As trotinetas partilhadas não
emitem gases de efeito de estufa
durante a sua utilização (à
excepção, claro, do dióxido de
carbono exalado pelos mamíferos
em cima delas). Mas quando se
fazem análises de ciclo de vida, ou
seja, uma avaliação “do berço até à
cova”, encontram-se impactos
ambientais negativos. Nalguns
destes trabalhos, os investigadores
desmontaram trotinetas eléctricas
para fazerem inventários dos seus
materiais, que incluem, para além
da estrutura em alumínio, peças
em aço e tubagens, pneus e uma
bateria de iões de lítio —
componentes cuja extracção e
transporte têm custos ambientais,
incluindo emissões de dióxido de
carbono. Na fase de utilização, as
trotinetas precisam de ter as
baterias carregadas regularmente,
sendo na maioria dos casos
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 35
Ciência e Ambiente
transportadas em veículos a
gasóleo para o local de recarga.
Em Lisboa, de acordo com o
estudo do Técnico, elas são
carregadas a cada três dias e meio.
Apesar de o seu tempo de vida
útil ter vindo a aumentar, com
algumas estimativas mais
optimistas a apontarem para uma
duração potencial de um a dois
anos, as trotinetas eléctricas estão
particularmente sujeitas a actos de
vandalismo que as limitam, sendo
a sua duração ainda muito curta
para compensar os custos
ambientais da sua produção.
Como se comparam as
trotinetas partilhadas com outros
meios de transporte? Uma
investigação feita na Universidade
Estadual da Califórnia do Norte
em 2019 concluiu que as emissões
de gases de efeito de estufa das
trotinetas partilhadas, por
quilómetro, são mais elevadas do
que as de viagens de autocarro,
bicicleta ou ciclomotor (as
populares “aceleras”). Outra de
2020, com dados de Paris, chegou
a conclusões semelhantes: elas só
são melhores do que carros e
táxis. Assim, o impacto das
trotinetas eléctricas depende
signiÆcativamente do tipo de
viagens que estas substituem: só
há verdadeira vantagem quando
substituem os carros.
Que tipo de utilização têm as
trotinetas eléctricas? Os
resultados são variáveis, mas
estudos em várias cidades
norte-americanas, como
Washington, Indianapolis e
Atlanta, mostraram que o seu
uso é maior aos fins-de-semana e
Como perder amigos
rapidamente
Sobre aqueles casos em que
ciência e os dados contrariam
muitos dos influencers e opinion
makers
Acompanhe em publico.pt
feriados, especialmente durante
a tarde (o que difere do uso das
bicicletas eléctricas partilhadas,
que têm um padrão de dois picos
em dias úteis, um ao início da
manhã e outro ao Æm da tarde).
Quando se analisam os pontos de
interesse associados aos
destinos, conclui-se que há uma
forte utilização turística e de
lazer, ou seja, servem para
passeios que de outro modo
seriam a pé ou que nem sequer
seriam feitos.
A empresa de trotinetas Dott
afirma (curiosamente com
orgulho) que uma em cada cinco
viagens de trotineta substitui uma
viagem em veículo motorizado,
incluindo ciclomotores (que,
como já vimos, emitem menos
dióxido de carbono por
quilómetro).
A vantagem ambiental das
trotinetas partilhadas é, no
mínimo, duvidosa, e vem com um
preço bastante elevado: a
segurança. Para além dos
utilizadores, que raramente usam
capacete, os peões também
correm riscos. Segundo uma
investigação publicada em 2019 na
revista The American Journal of
Emergency Medicine, entre os
peões mais vulneráveis a
ferimentos causados por
trotinetas encontram-se pessoas
com deÆciência visual e auditiva,
crianças e idosos. Um outro
estudo de 2021 concluiu que são
os mais velhos que correm o maior
risco de tropeçar numa trotineta
abandonada. É trágico que, no
caso português, depois de décadas
de iniciativas para impedir o
estacionamento dos carros nos
passeios, assistamos agora a um
retrocesso, sendo estes
reocupados por trotinetas, que
também são veículos motorizados.
E que, a despeito do Código da
Estrada, circulam alegremente
pelo passeio.
É possível melhorar o
desempenho ambiental das
trotinetas partilhadas, por
exemplo, recorrendo a bicicletas
eléctricas para trocar as baterias
ou tomando medidas
antivandalismo. No entanto, a
investigação que tem vindo a ser
publicada deve fazer-nos
questionar a opção por este tipo
de transporte. Nem todas as ideias
novas são boas. As trotinetas
eléctricas são, acima de tudo, um
grande negócio.
Bioquímico e divulgador
de ciência
36 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Cultura Roteiro pela 43.ª ARCOmadrid
O que levam
os galeristas
portugueses
à ARCOmadrid
A partir de hoje, a maior feira de arte
contemporânea do espaço ibérico
prepara-se para receber o grande público
Isabel Salema, em Madrid
As 16 galerias portuguesas presentes
na 43.ª ARCOmadrid, a grande feira
de arte contemporânea do espaço
ibérico que hoje abre ao público e se
prolonga até domingo, apresentam
stands de qualidade, como tem vindo
a ser regra nos últimos anos. Muita
pintura, bastante escultura e instala-
ção, menos fotograÆa, pouco ou qua-
se nenhum vídeo. De resto, e feita
uma primeira ronda pela feira, pare-
ce ser essa a paisagem dominante
nesta edição.
No pavilhão 7 do recinto, onde
Æca o espaço dedicado às Caraíbas,
a geograÆa convidada desta ARCO-
madrid, o destaque da galeria Carlos
Carvalho vai para o políptico de oito
fotograÆas de Mónica de Miranda, a
artista visual que Portugal leva este
ano à Bienal de Arte de Veneza, e
que traz o corpo negro para uma
feira sem galerias vindas do conti-
nente africano. Na Filomena Soares,
sobressaem duas esculturas de Rui
Chafes e uma pintura muito recente
de Pedro Barateiro.
Já no pavilhão 9, na secção Ope-
ning, dedicada às novas galerias e
situada na zona oposta à da entrada,
encontramos três vídeos de Ana
Rebordão, na galeria No-No, estrean-
te na feira. Muito perto, a galeria
Francisco Fino tem um projecto espe-
cial de Gabriel Abrantes dedicado à
pintura e à sua relação com a inteli-
gência artiÆcial, num espaço onde
também merecem atenção as Çores-
-hélices de Diogo Evangelista, um
misto de orgânico e mecânico, e a
pintura da artista brasileira Pammela
Castro, onde é abordada a ausência
da representação da mulher negra na
história de arte.
Com o mapa na mão, e continuan-
do a fazer o percurso de cima para
baixo, seguimos para a Madragoa,
que apresenta um projecto especial
do artista mexicano Rodrigo Hernán-
dez, uma série de esculturas colori-
das que são uma reÇexão sobre a
abstracção geométrica. Aqui, além
do trabalho de Belén Uriel, pode ver-
-se também a instalação de Adrián
Balseca, composta por fragmentos
de um baixo-relevo feito de borra-
cha. Na Monitor, que traz três artistas
mulheres, atenção ao trabalho de
Maja Escher, apresentado pela pri-
meira vez na feira. Na Kubikgallery
sobressai o trabalho de Flávia Vieira,
que cruza o têxtil com o ouro e a his-
tória do colonialismo espanhol.
No corredor que põe lado a lado
três stands portugueses no pavilhão
9, o destaque vai para o trabalho de
Inês Brites na galeria 3+1, nomeada-
mente para a instalação composta
por esculturas que solidiÆcam a for-
ma de uma toalha abandonada no
chão. Tão surpreendente como
outros dos seus objectos quase invi-
síveis, aqui acompanhados de uma
instalação sonora. A galeria apresen-
ta também novas pinturas de Adria-
na Proganó. A Lehmann+Silva optou
por enfatizar as pinturas de grande
formato de João Gabriel, que atingem
três metros. Na Bruno Múrias, as pin-
turas de Teresa Murta e a instalação
de Vera Mota sobressaem. Há novas
pinturas de Jorge Queiroz.
No stand de Pedro Cera, que ocupa
uma das esquinas centrais do pavi-
lhão, destacam-se uma pintura de
grande formato de Adam Pendleton,
um aperitivo para visitar o novo
espaço do galerista em Madrid, e o
trabalho de Isabel Cordovil, uma
nova artista da galeria, com duas
obras em ferro.
Já no lado norte do pavilhão, as
novas paisagens de Carlos Bunga
sobre madeira são uma das coisas a
não perder na galeria Vera Cortês
(também é possível vê-las na Elba
Benítez). Um novo livro ontem lança-
do empresta uma nova dimensão à
grande instalação da artista Suzanne
Themlitz que ocupa o espaço princi-
pal da galeria.
Na Balcony, há novos trabalhos de
Rudi Brito, pinturas executadas
durante a sua estadia em Tóquio.
Miguel Nabinho mostra as pinturas
sobre ecrãs de projecção de Ana Jotta
e as mais recentes fotograÆas impres-
sas por Jorge Molder, além do traba-
lho de Pedro Cabrita Reis, que, com
o encerramento da galeria de Juana
de Aizpuru, um nome histórico da
feira, passou a ser representado em
Espanha pela Albarrán Bourdais, de
Madrid, onde inaugurou uma expo-
sição. Na Foco, que apresenta o tra-
balho de quatro mulheres, sobressai
uma obra têxtil de Maria Appleton.
CORTESIA: KUBIKGALLERY
Por último, a Cristina Guerra exibe
a última série fotográÆca de João
Maria Gusmão, bem como as agua-
relas sobre madeira de Matt Mulli-
can, que pedem uma aproximação
mais íntima do que as obras de maior
escala de Ângela Ferreira ou de
Lawrence Weiner.
Nesta edição, a Fundação PLMJ, da
sociedade de advogados com o mes-
mo nome, foi distinguida com um
dos prémios “A” de Coleccionismo
ARCO, na categoria Colecção Corpo-
rativa Internacional 2024. Segundo
a fundação, é a sétima colecção por-
tuguesa a receber um prémio que
tem 27 anos.
Uma embaixada em Madrid
À boleia da feira que faz de Madrid o
epicentro da arte contemporânea da
Península Ibérica, dois grandes acon-
tecimentos culturais portugueses de
2024, as comemorações dos 50 anos
do 25 de Abril e a muito esperada rea-
bertura do Centro de Arte Moderna
(CAM) da Fundação Calouste Gul-
benkian — o primeiro já no próximo
mês e o segundo agendado para
Setembro —, foram anunciar-se na
capital espanhola.
O palco usado para a acção pro-
mocional conjunta foi a residência
do embaixador de Portugal em
Espanha, que abriu as suas portas
para os ministros da Cultura dos
dois países, Pedro Adão e Silva e
Ernest Urtasun, reiterarem algo que
Æcou prometido pelos respectivos
chefes de governo na última cimeira
bilateral realizada no ano passado
em Lanzarote. Portugal e Espanha
vão comemorar em conjunto os 50
anos das suas transições democrá-
ticas, num programa que ainda não
foi anunciado nas suas linhas con-
cretas, mas que deverá decorrer a
partir de Setembro e durar um ano,
disse ao PÚBLICO o embaixador

CORTESIA ARCOMADRID
O galerista Francisco Fino João Mira Gomes. O diplomata pou-
(acima, à dir. na foto), entre co mais adiantou — a programação
pintura de Marta Soares (parede terá de ser aprovada pelo novo exe-
exterior) e outra de Pammela cutivo saído das eleições de domin-
Castro (no interior); Maja Escher go —, mas prometeu “eventos trans-
na Monitor; Rodrigo Hernández fronteiriços”, capazes de fazer sair
na Madragoa; Flávia Vieira na as comemorações do estrito perí-
Kubikgallery (em baixo, à esq.) metro das duas capitais.
Numa residência a abarrotar de
convidados da ARCOmadrid, o direc-
Portugal e tor do CAM, Benjamin Weil, apelou
a novo encontro em Lisboa a 20 de
Espanha vão Setembro (“Venham celebrar con-
comemorar nosco”, convidou), antes de dar por
inaugurada a exposição que a Gul-
em conjunto benkian trouxe a Madrid como ape-
os 50 anos das ritivo da reabertura. Com curadoria
de Leonor Antunes, a exposição Um
suas transições Olhar de Leonor Antunes sobre a
democráticas. Colecção do CAM, que Æcará em
Madrid até 22 de Março, reúne duas
Programa deverá dezenas de obras de 14 artistas da
decorrer a partir Colecção CAM — todas mulheres, de
Vieira da Silva a Isabel Carvalho —,
de Setembro apresentando ao público espanhol e
aos visitantes estrangeiros um novo
formato de exposição em que a ins-
“A internaciona- tituição lisboeta investirá. “Consiste
lização dos artistas em dar carta-branca a artistas de
renome internacional”, explicou
portugueses deve Benjamin Weil, convocando-os a
ser sempre um criar um “projecto especíÆco” para
Lisboa em diálogo com o acervo do
aspecto central da CAM.
política cultural”, A escultora Leonor Antunes, cuja
obra muitas vezes entra em diálogo
disse Pedro Adão como o legado moderno de outros
e Silva artistas e arquitectos, como pudemos
BRUNO LOPES
SEBASTIANO PELLION DI PERSANO
ver na Bienal de Veneza de 2019,
quando representou Portugal, está
ainda a desenvolver o projecto, mas
disse ao PÚBLICO que deverá apre-
sentar cerca de 30 peças suas, quase
todas trabalhos novos, em diálogo
com uma centena de obras da Colec-
ção do CAM. O título da exposição
que em Setembro inaugurará o cen-
tro, da desigualdade constante dos dias
de Leonor, cita uma obra de Ana
Hatherly, nome histórico do século
XX português, e uma das artistas cujo
trabalho se pode ver na residência do
embaixador em Madrid.
A exposição, que poderá ser visita-
da, mediante marcação, noutras qua-
tro datas, é como “uma cápsula” do
que vai ser a inauguração do CAM,
explicou Ana Botella, directora adjun-
ta do CAM. “Mostra como vamos tra-
balhar a colecção de uma forma mais
polifónica, ter mais vozes a trabalhá-
la”, além da equipa da casa.
“A internacionalização dos artistas
portugueses deve ser sempre um
aspecto central da política cultural”,
disse Pedro Adão e Silva no seu dis-
curso, saudando “a participação mui-
to signiÆcativa de galerista e artistas
portugueses na ARCOmadrid”, alguns
deles presentes na residência do
embaixador, depois do primeiro dia
no recinto da feira dedicado aos visi-
tantes proÆssionais.
O PÚBLICO viajou
a convite da ARCOmadrid
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 37
Cerca de 200 artistas
querem que RTP pressione
para Israel não ir à Eurovisão
Daniel Dias
Sérgio Godinho ou Bordalo
II entre os signatários
de nova carta aberta
contra a participação
de Israel no concurso
Continua a crescer a onda de indig-
nação que pede da União Europeia
de Radiodifusão (UER), que organiza
a Eurovisão, o afastamento de Israel
da edição deste ano. Ontem, chegou
aos órgãos de comunicação uma car-
ta aberta em que mais de 200 Æguras
do sector cultural português, incluin-
do os músicos Chullage, Sérgio Godi-
nho e Tó Trips (dos grupos Dead
Combo e Club Makumba), o artista
plástico Bordalo II ou as realizadoras
Catarina Vasconcelos (A Metamorfo-
se dos Pássaros) e Cláudia Varejão
(Amor Fati, Lobo e Cão), apelam à
RTP para que “exija à UER (...) que
proíba a participação de Israel até
que o país que no documento é acu-
sado de “genocídio” para com a
população palestiniana “respeite o
direito internacional”.
Caso a UER recuse banir Israel, os
signatários são claros quanto àquilo
que acham que deve ser feito: a RTP,
dizem, deve boicotar a Eurovisão.
Esta carta aberta, lê-se num comu-
nicado, é uma iniciativa promovida
pelo Comité de Solidariedade com a
Palestina, que há cerca de um mês
também já enviara uma a Nuno Galo-
pim, responsável pela curadoria
musical do Festival da Canção e
comentador da Eurovisão nas trans-
missões da RTP, e a Hugo Figueiredo,
integrante do conselho de adminis-
tração da emissora pública.
Assinado por artistas e associações
do sector, o documento surge depois
de artistas Ænlandeses, islandeses e
Salvador Sobral venceu
a Eurovisão em 2017
Cultura
suecos, por exemplo, também já
terem unido forças em protestos da
mesma natureza, e reúne subscrito-
res como Odete (artista multidiscipli-
nar), a encenadora, dramaturga e
actriz Joana Craveiro, as coreógrafas
Carlota Lagido, Cláudia Dias e Diana
Niepce, as escritoras Gisela Casimiro
e Graça Castanheira, a ilustradora e
designer gráÆca Wasted Rita, o reali-
zador Sérgio Tréfaut, Júlia e Maria
Reis, as irmãs da banda Pega Monstro,
e outros nomes da música como o
grupo Fado Bicha, Luca Argel, Luís
Severo, Noiserv, Rita Redshoes ou
Scúru Fitchádu.
O humorista e activista Diogo Faro
ou a modelo e actriz SoÆa Aparício
também constam da lista de signatá-
rios, da qual fazem parte ainda o fotó-
grafo Kitato, nome artístico do jorna-
lista do PÚBLICO Luís Octávio Costa.
Ainda do PÚBLICO constam da lista
Alexandra Balona e Pedro Boléo, res-
pectivamente crítica de dança e de
música clássica.
Os autores da carta criticam a
“hipocrisia” da UER, que em 2022
excluiu a Rússia da edição desse ano
da Eurovisão, devido à sua invasão da
Ucrânia, “mas que insiste na partici-
pação de Israel, apesar da sua ocupa-
ção da Palestina e da opressão do
povo palestiniano que dura há mais
de meio século”.
A UER tem justiÆcado a sua não-
exclusão de Israel ao insistir na tese
de que a Eurovisão é um evento apo-
lítico. A sua suposta neutralidade foi,
aliás, o motivo que a fez pedir à Kan,
a televisão pública israelita, para alte-
rar as letras de uma das canções que
poderá representar os israelitas: Octo-
ber rain, interpretada por Eden
Golan. O Presidente de Israel, Isaac
Herzog, fê-la voltar atrás e temperar
o tom político da letra.
O PÚBLICO contactou a RTP depois
de o Comité de Solidariedade com a
Palestina ter feito um primeiro apelo
para a emissora pública militar pelo
afastamento de Israel do concurso. O
canal referiu apenas que, enquanto
membro da UER, “tem acompanhado
com muita atenção a evolução da aná-
lise da situação em Israel e na Faixa
de Gaza por parte da organização do
Festival da Canção”. “Até agora,
nenhum país decidiu não participar
nesta edição”, acrescentou a RTP.
Mas ainda não se sabe o que fará
a Islândia, por exemplo. Com a
música Scared of heights (e batendo
o favorito Bashar Murad, palestinia-
no), Hera Björk venceu a Ænal do
Söngvakeppnin. Mas a RÚV, a emis-
sora pública islandesa, dissera que,
devido à não-exclusão de Israel, ain-
da não se decidira quanto à sua par-
ticipação na Eurovisão.
38 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Cultura
Outro tempo, outro olhar, a mesma luta:
Que força é essa, amiga?, canta Capicua
Entrevista
Mário Lopes
Capicua Ouvida no
concerto com Sérgio
Godinho no Maria Matos,
a versão “feminina
e feminista” é hoje lançada
Primeira canção do primeiro
álbum de Sérgio Godinho, Os
Sobreviventes, 1972. “Vi-te a
trabalhar o dia inteiro/ Construir
as cidades pr’òs outros/ Carregar
pedras, desperdiçar/ Muita força
p’ra pouco dinheiro”, arrancava,
antes do refrão: “Que força é essa,
que força é essa/ Que trazes nos
braços?/ Que só te serve para
obedecer/ Que só te manda
obedecer/ Que força é essa, amigo?”
Que força é essa foi ouvida a 17 de
Janeiro, animada pelo mesmo
sentimento poético de denúncia,
mas assumindo uma perspectiva
diferente, num dos concertos do
ciclo Conta-me Uma Canção, no
Maria Matos, em Lisboa, aquele
que juntou Sérgio Godinho e
Capicua.
A autora de Sereia Louca ou
Madrepérola, forjada no hip hop,
de lírica aÆada no comentário,
retrato e intervenção social,
trocou o “amigo” por “amiga” e
reenquadrou Que força é essa.
“Vi-te a trabalhar o dia inteiro/ A
limpar a cidade dos homens/ Por
amor ou por pouco dinheiro/
Ficam velhas as tuas mãos jovens.”
Agora, deixará de estar
restringida à memória do público
que lotou o Maria Matos. Que força
é essa, na versão de Capicua,
gravada com o Luís Montenegro
(Rapaz Ego, Salto), é hoje editada.
Sem coincidências, Dia
Internacional da Mulher.
Que significa para si esta
canção que ouviu pela
primeira vez na infância? Que
relação foi construindo com
ela ao longo do tempo?
À medida que fui amadurecendo
tornei-me ainda mais fã, porque
percebo mais profundamente o
signiÆcado dela, a crítica à
exploração do trabalho,
e porque me fui apercebendo
de quão delicado é o equilíbrio
entre a mensagem política
e o lado poético. Nunca cai no
registo panÇetário e consegue
semear o inconformismo no
coração dos trabalhadores.
Para o Conta-me Uma Canção
tinha de fazer uma versão de uma
canção do Sérgio.
Fiquei com vontade de fazer
[Que força é essa], desde que
houvesse um exercício de escrita,
porque eu não sou intérprete, não
sou propriamente uma cantora,
faço rap. Tive o atrevimento de
tornar a canção minha, a partir da
perspectiva feminina e feminista,
tentando também semear no
coração das mulheres a semente
do inconformismo. Fizemos esta
versão para tocar no Maria Matos
e tínhamos uma certa economia
de meios, porque íamos
acompanhados de um só músico.
Mas a própria canção já nos
impõe uma certa austeridade. No
bom sentido, não vamos pensar
nos tempos da troika.
Os tempos da troika foram anos
em que as canções dos anos
1970 de Sérgio Godinho, tal
como as de José Afonso ou José
Mário Branco, voltaram a
ressoar de forma particular.
Como se nos interpelassem
não como alerta do passado,
mas como realidade do
presente. Esta versão
como que acentua isso.
As canções, como organismos
vivos, podem ganhar nova
relevância na sua relação com o
mundo. Às vezes até gostava que
se tornassem anacrónicas. A
Medusa ou o Medo do medo, que
fala da violência contra as
mulheres, gostava muito de deixar
de cantar. A Jugular, que escrevi
nos anos da troika, com a crise da
inÇação e da habitação volta a
fazer sentido nos concertos.
Faz-nos sentir que as coisas são
cíclicas e que, por isso, temos de
estar atentos para não
cometermos os mesmos erros. É
isso que acontece com muitas
canções dessa geração. A
Liberdade [de Sérgio Godinho,
1975] continua a ser um check list
para perceber o que falta cumprir
de Abril, e vamos acrescentando
outros itens, como a questão da
Justiça, os direitos das minorias,
as questões ambientais.
A canção é lançada no Dia da
Mulher, a dois dias de eleições
legislativas e num momento de
particular turbulência política,
social, cultural, em diversos
pontos do globo. Que papel
pode assumir a música neste
contexto?
Antes do 25 de Abril havia um
inimigo muito claro e as coisas
estavam bem deÆnidas. Hoje é
tudo mais complexo, a toxicidade
do debate público é alta e as redes
sociais acrescentam mais
intensidade a um mundo já muito
turbulento. Quando o discurso
político, às vezes mesmo o
informativo, vai falhando, as
canções, por irem pelo atalho da
emoção, encontram menos
resistência. A cultura cumpre esse
papel de nos aproximar, criam a
empatia de nos pormos no lugar
PEDRO GERALDES
sobretudo num tempo em que as
pessoas estão tão entrincheiradas.
O tempo em que a canção
original foi editada, 1972, foi
um período de lutas
feministas, de emancipação. A
luta é ainda fundamentalmente
a mesma?
A luta é a mesma, mas estamos
num lugar diferente. Ao contrário
das “Três Marias”, nenhuma
feminista hoje será julgada,
perseguida ou presa. Desde o 25
de Abril conquistámos imensos
direitos naquilo que é a lei, na
presença no mercado de trabalho,
na escolarização das mulheres,
naquilo que tem que ver com
liberdades sexuais, coisas que
tornaram a condição da mulher
em Portugal diametralmente
oposta àquilo que era até ao 25 de
Abril.
Mas há ainda muito a fazer para
que essa igualdade inscrita na lei
seja real e plena. Apesar de as
mulheres terem hoje uma grande
presença no mercado de trabalho,
estão sobrecarregadas por aquilo
que é a sua função no mercado do
cuidado, com a factura paga pelo
suposto amor incondicional, o
instinto materno. Temos uma
maioria de licenciadas, mas um
Esta canção fala déÆce salarial enorme, uma
baixíssima percentagem de
do 25 de Abril que mulheres no topo das carreiras
não aconteceu nas grandes empresas. Há
imensas mulheres que perdem o
nas nossas casas: emprego por estarem grávidas,
continuamos mesmo que seja ilegal, e a factura
de ter um Ælho é altíssima por
a ter números comparação com os seus pares.
altíssimos Esta canção fala do 25 de Abril
que não aconteceu nas nossas
de violência casas, porque continuamos a ter
doméstica; números altíssimos de violência
doméstica, mulheres que
mulheres que trabalham muito mais horas do
trabalham muito que os seus companheiros,
porque acumulam com as tarefas
mais horas do que domésticas e o cuidado com os
os companheiros mais velhos e com as crianças.
Aquilo que ainda nos tolhe a
porque acumulam capacidade de estar em
com as tarefas circunstâncias de igualdade no
mercado de trabalho, na nossa
domésticas vida pública, artística e política,
tem que ver com essa mochila
pesada que ainda temos de
do outro, de sentir a emoção carregar. Fazemos essa luta em
alheia como se fosse nossa. liberdade e democracia, mas não
Permite que as mensagens é assim tão óbvio que as coisas
penetrem de uma forma mais que conquistámos estejam
íntima, de um lugar de mais garantidas. Basta ver os discursos
disponibilidade e com um da extrema-direita para perceber
potencial transformador. Não que, à primeira oportunidade, o
chega para mudar o mundo, mas que conquistámos nestes 50 anos
pode ser um contributo, Æcará em risco.

Por terem paralisia cerebral, eles não
votam em segredo... mas podiam
Quando um amigo quis votar sem o pai e não pôde, Rui Coimbras decidiu mudar
o sistema de voto para pessoas com paralisia. Mas ainda não é aplicado. Porquê?
Carolina Bastos Pereira
“Imagine que tem um acidente a
esquiar, parte o braço e no dia a seguir
se realizam eleições: como iria
votar?”, pergunta Rui Coimbras,
informático e presidente da Federa-
ção das Associações Portuguesas de
Paralisia Cerebral (FAPPC). A respos-
ta é só uma, sem escapatória possível:
teria de se dirigir a um médico para
que fosse autorizado a levar uma pes-
soa para realizar o “voto acompanha-
do”, colocando — ou não — a cruz pela
sua vez. Caso não optasse por esta
alternativa, não teria outro remédio
que não pertencer ao grupo da abs-
tenção.
Foi ao ver um amigo “politicamen-
te activo” com paralisia cerebral, José
Rui Marques, que não consegue
mexer as mãos, a recusar-se a votar
por se sentir “humilhado pelo pai”
— com interesses políticos que entra-
vam em conflito com os seus —, que
Rui Coimbras decidiu agir.
Com a Softinsa — subsidiária da IBM
—, onde trabalha como arquitecto de
soluções IT, criou um sistema digital
de voto que tem por base um simples
botão. Com esse sistema, o eleitor,
ainda que não consiga mexer os mem-
bros, pode seleccionar, através de um
ecrã que alterna entre as opções dos
partidos, aquele em que quer depo-
sitar o seu voto. De acordo com Rui
Coimbras, o sistema também se apli-
ca, por exemplo, a invisuais (cegos)
ou mesmo idosos com condiciona-
mentos físicos, já que há também
uma voz nesta tecnologia e vai lendo
as opções: quando é dito o nome do
partido que se quer seleccionar, bas-
ta clicar num botão, que pode estar
junto ao rosto da pessoa ou num
manípulo. De seguida, a máquina
imprime um “recibo” com um código
QR encriptado, que só pode ser lido
pelos responsáveis que estão nas
mesas de voto. Para o informático,
esta é a única forma de “tornar o voto
completamente secreto”.
A abrangência da fórmula tecnoló-
gica é grande e vem resolver o proble-
ma de uma outra deficiência: “75%
dos cegos não sabem ler braille”, por
isso, o sistema de escrita em código
com relevos utilizada pelos invisuais
“é muito reduzida, teve cerca de 80
Programas eleitorais no WhatsApp
O Instituto +Liberdade e a startup Pollock Labs
lançaram um canal de WhatsApp que usa IA para
esclarecer dúvidas sobre os programas eleitorais.
O sistema responde a perguntas como “Quais as
propostas do partido X para apoiar o jornalismo?”.
tecnologia
O número é o 932792059
José Rui Marques, que inspirou a tecnologia, pode votar sozinho, em segredo, se o método for aplicado
votos nas últimas eleições”, acarreta
Com a Softinsa, “altos custos e complica-se devido à
subsidiária da IBM, diferença das listas em diferentes dis-
tritos”, explica Rui Coimbras.
o presidente da Ainda que não tenha sido, por ago-
FAPPC criou um ra, aplicado em nenhum país em con-
texto de eleições políticas, e apesar
sistema digital de dos esforços do informático na sua
voto que tem por reivindicação “sem sucesso” desde
2019, o sistema recebeu em Fevereiro
base um botão. de 2023 um prémio da ONU pela “ino-
O eleitor, ainda que vação e abrangência”. O The Zero
Project premeia soluções inclusivas e
não consiga mexer inovadoras, dirigidas, em particular,
os membros, pode a grupos desfavorecidos. Em Maio de
2023 também o município de Vouze-
seleccionar, através la, onde nasceu Rui Coimbras, home-
de um ecrã, nageou a iniciativa.
Mas não são só os impedimentos
o partido em que no acto de desenhar a cruz que impe-
quer depositar dem as pessoas com paralisia cerebral
— ou qualquer outra deficiência física
o voto — de se dirigirem às urnas: depois da
pandemia de covid-19, em 2020, o
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 39
DR
número de secções de voto em Por-
tugal subiu de cerca de 10 mil para 13
mil, o que trouxe complicações. “Na
freguesia onde moro, o lugar onde se
vota não tem condições de acessibili-
dade”, conta o presidente da
FAPPC.
Segundo o Instituto Nacional de
Estatística (INE), há cerca de um
milhão de pessoas (mais de 10% da
população) com pelo menos uma
incapacidade, o que, na grande parte
das vezes, os impede de escrever os
dois traços no papel. É por isso que
considera “uma questão de direitos
humanos” a possibilidade de votar
sem acompanhamento, e a falta de
alternativas como uma “violação ao
artigo 10.º da Constituição Portugue-
sa”, onde se lê que “o povo exerce o
poder político através do sufrágio
universal, igual, directo, secreto e
periódico”. Texto editado por Pedro
Esteves
Guia
publico.pt/tecnologia
Dados biométricos
Espanha suspende
Worldcoin durante
três meses
As autoridades espanholas
anunciaram quarta-feira a
suspensão, por três meses, da
actividade da Worldcoin, com o
objectivo de “evitar danos
potencialmente irreparáveis”.
Em Portugal, há uma
investigação em curso. Em
Espanha cerca de 400 mil
pessoas já partilharam imagens
da íris; em Portugal o número
ronda os 300 mil, desde 2022.
A Worldcoin é uma startup
co-fundada pelo “pai” do
ChatGPT que anda pelo mundo
a recolher imagens oculares
oferecendo dinheiro —
70 euros em Portugal, valor do
início desta semana. O sistema
da Worldcoin cria um código,
com base nessas imagens, que
pode ser usado para aceder a
vários serviços online. O
projecto, parcialmente
concebido por Sam Altman,
permite provar que são pessoas
reais a aceder aos serviços e não
sistemas de inteligência
artificial (bots).
Apesar da forma como é
apresentada no terreno, a
Worldcoin não é uma
criptomoeda. Na base trata-se
de uma plataforma de
identificação digital criada para
cada pessoa comprovar que é
um ser humano, através do
código da íris (a parte colorida
do olho). Tal como a impressão
digital, o padrão e cor da íris de
cada pessoa é único.
A Worldcoin obtém o código
da íris através da Orb, uma
esfera metálica, do tamanho
de uma bola de futebol,
que usa sensores e inteligência
artificial para criar um código
numérico que representa
a íris de cada pessoa.
A ideia é que este código
funcione como um “passaporte
digital”, o WorldID.
Há cinco anos, quando
nasceu, a equipa da Worldcoin
dizia que a principal missão era
criar uma forma fácil de
distribuir um rendimento básico
universal a que todos tivessem
direito. Contudo, dúvidas sobre
a recolha e tratamento de dados
(da imagem única da íris)
levantaram problemas em
vários países. Especialista
ouvido pelo PÚBLICO
recomenda prudência.
40 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Guia
Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100. T. 214221030
Dias Perfeitos M12. 14h15; Quatro
Filhas M12. 15h15; A Zona de Interesse M12.
13h10; Pobres Criaturas 17h15; Anatomia
de Uma Queda M12. 16h40; Folhas
Caídas M12. 13h10 ; Vidas Passadas M12.
15h; Os Excluídos M12. 17h10; A Sala de
Professores M12. 19h55; A Irmandade da
Sauna M12. 19h40; Dune - Duna: Parte
Dois M12. 21h10; Eu Capitão M12.
17h20; Priscilla M14. 21h50; Culpado -
Inocente - Monstro M12. 14h40,
21h50; Yannick 13h30,
19h45; Clandestina 19h40
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 214221030
Inseparáveis M6. 13h20 (VP); Patos! M6.
15h25 (VP); Todos Menos Tu 13h45; Pobres
Criaturas M16. 21h35; Anatomia de Uma
Queda M12. 18h30; Vidas Passadas M12.
19h50; Os Excluídos M12. 15h50; Bob
Marley: One Love 15h40, 17h45, 19h50,
21h55; Madame Web M12. 13h40; Demon
Slayer: Kimetsu No Yaiba - To the Hashira
Training M14. 13h35; Dune - Duna: Parte
Dois M12. 15h20, 17h25, 18h10, 19h30, 21h,
21h30; O Meu Amigo Ninja 2 13h15, 15h15
(VP); Amigo Imaginário M14. 13h35, 15h40,
17h45, 21h55; Priscilla M14. 15h15, 17h30,
19h45, 22h; Culpado - Inocente -
Monstro M12. 16h, 18h50, 21h20
Cinema Fernando Lopes
Cp. Grande. T. 217515500
A Zona de Interesse M12. 19h; Yannick 21h
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
A Zona de Interesse M12. 15h; Eu
Capitão M12. 19h30; Culpado - Inocente -
Monstro M12. 17h15, 21h30
Cinemas Nos Alvaláxia
R. Francisco Stromp. T. 16996
Todos Menos Tu M12. 13h35, 15h55,
20h50; A Zona de Interesse M12.
19h05; Pobres Criaturas M16. 14h10, 17h30,
20h40; Anatomia de Uma Queda M12. 14h,
17h10, 20h20; Meu Nome é Gal M12. 18h55,
21h50; Vidas Passadas M12. 13h50, 16h20,
19h, 21h30; Os Excluídos M12. 13h15, 16h05,
21h45; Bob Marley: One Love 13h40, 16h10,
18h40, 21h10; Madame Web 18h30; Demon
Slayer: Kimetsu No Yaiba - To the Hashira
Training M14. 14h05, 16h30; Dune - Duna:
Parte Dois M12. Sala Atmos - 13h30, 17h40,
21h20; O Meu Amigo Ninja 2 14h, 16h40
(VP); A Última Evasão M12. 13h20, 16h,
21h15; Amigo Imaginário M14. 13h25,
15h50, 18h20, 21h; Priscilla M14. 13h35,
16h15, 18h50, 22h; Clandestina 18h25;
No Way Up - Sem Saída M16. 19h, 21h40
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Engº Duarte Pacheco. T. 16996
Patos! M6. 13h30, 15h50 (VP); A Zona de
Interesse 20h50; Pobres Criaturas M16.
13h50, 17h40, 21h; Anatomia de Uma
Queda M12. 16h40; Meu Nome é Gal M12.
18h30; Vidas Passadas M12. 13h10, 15h40,
18h20, 21h20; Os Excluídos M12. 18h; Bob
Marley: One Love 14h, 20h30; Dune - Duna:
Parte Dois 13h30, 17h10, 20h40; A Última
Evasão M12. 13h10, 15h30; Priscilla M14.
13h40, 16h10, 18h50, 21h30; Culpado -
Inocente - Monstro M12. 21h10
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusiada. T. 16996
Todos Menos Tu M12. 13h20, 15h50, 18h30,
21h10, 23h55; Beekeeper 19h20, 21h50,
00h30; Pobres Criaturas M16. 17h40,
20h50, 23h50; Iron Claw 16h10; Bob
Marley: One Love 13h10, 15h40, 18h40,
21h30, 00h20; Madame Web M12. 12h40,
15h30, 18h10, 21h, 23h40; Demon Slayer:
Kimetsu No Yaiba - To the Hashira
Training M14. 14h, 16h20; Dune - Duna:
Parte Dois M12. 13h30, 17h, 20h30,
24h; Amigo Imaginário M14. 13h40, 19h,
21h40, 00h10; Priscilla M14. 12h55, 15h35,
Estreias
Priscilla
De Sofia Coppola. ITA/EUA.
2023. 113m. Drama, Bio. M14.
Com realização de SoÆa
Coppola, um drama biográÆco
sobre a tempestuosa relação de
Elvis e Priscilla Presley, desde o
momento em que se conheceram
até à morte dele.
Yannick
De Quentin Dupieux. FRA.
2023. 67m. Com,Drama. M12.
Tudo tem início durante a
apresentação da peça “O
Cornudo”. Quando três actores
se esforçam por prender a
atenção de uma plateia quase
vazia, são interrompidos por
Yannick, que lhes diz que a peça
é de tal modo má que não fez
valer o esforço de ali estar.
Culpado - Inocente - Monstro
De Hirokazu Kore-eda. JAP.
2023. 127m. Drama. M12.
Estreado no Festival de Cinema
de Cannes, onde foi vencedor
nas categorias de melhor
argumento e Queer, este drama
tem assinatura do japonês
Hirokazu Kore-eda e conta a
mesma história sob a perspectiva
de três pessoas.
A Última Evasão
De Oliver Parker. GB/SUE.
2023. 96m. Drama. M12.
Verão de 2014. Bernard Jordan é
um dos sobreviventes da
Operação Overlord, a batalha
que mudou o curso da Segunda
Grande Guerra. Agora com 89
anos, decide fugir do lar de
idosos onde reside há anos e
viajar sozinho até França, para a
cerimónia de 70.ª aniversário do
desembarque do Dia D.
Diálogos Depois do Fim
De Tiago Guedes. POR. 2023.
No centro deste Ælme de Tiago
Guedes está o livro “Diálogos
18h20, 21h20, 00h05; No Way Up - Sem
Saída M16. 12h50, 15h20; Dune - Duna:
Parte Dois Imax - 13h, 16h30, 20h, 23h30
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Todos Menos Tu M12. 18h50, 21h50; Pobres
Criaturas M16. 20h; Bob Marley 13h20,
15h50, 18h30, 21h10, 23h45; Madame
Web M12. 14h, 17h; Dune - Duna: Parte
Dois M12. Sala Atmos - 13h50, 17h30, 21h30,
23h05; O Meu Amigo Ninja 2 13h40, 16h10
(VP); Amigo Imaginário M14. 13h10, 16h,
18h40, 21h20, 23h55; Priscilla M14. 13h30,
16h20, 19h, 21h40, 00h20
Medeia Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213142223
Nome: Carmen M12. 14h30; Valha-me
Yannick
com Leucó”, de Cesare Pavese
(1908-1950), adaptado ao grande
ecrã pelo realizador e por João
Pedro Vaz.
Amigo Imaginário
De Jeff Wadlow.
EUA. 2024. 104m. Terror. M14.
Quando Jessica se muda para a
casa onde passou a infância,
sente-se pronta para iniciar um
novo ciclo. Durante as
arrumações, a sua enteada
encontra um urso de peluche de
aspecto adorável que em tempos
lhe pertenceu. Tudo parece
perfeito até a menina revelar um
comportamento estranho.
Clandestina
De Maria Mire. POR.
2023. 82m. Documentário.
Este documentário parte da obra
“Memórias de Uma FalsiÆcadora
- A Luta na Clandestinidade pela
Liberdade em Portugal” de
Margarida Tengarrinha
(1928-2023) que, durante o
regime salazarista, se tornou
falsiÆcadora de documentos.
Meu Nome é Gal
De Dandara Ferreira, Lô Politi.
BRA. 2023. 120m. Drama,
Musical, Biografia. M12.
Como é que a tímida baiana
Gracinha se transformou em Gal
Costa (1945-2022), uma das
maiores e mais destemidas
cantoras do Brasil? É a essa
pergunta que este Ælme
biográÆco responde.
No Way Up - Sem Saída
De Claudio Fäh. EUA. 2024.
90m. Drama, Aventura. M16.
Um grupo de passageiros
embarca para uma longa viagem
entre os EUA e a África do Sul. A
viagem transforma-se num
pesadelo quando o piloto perde
o controlo e o avião se despenha
no Oceano PacíÆco.
Deus 13h; Anatomia de Uma Queda
M12. 16h15; Diálogos Depois do
Fim 21h30; Priscilla M14. 19h
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Oppenheimer M14. 15h40, 21h30; Dias
Perfeitos M12. 16h25, 19h20; Todos
Menos Tu M12. 21h55; Quatro Filhas M12.
13h50; Ferrari M12. 13h20, 18h55; A Zona
de Interesse M12. 13h25, 18h50; Pobres
Criaturas M16. 13h25, 16h, 18h45,
21h20; Anatomia de Uma Queda M12.
15h45, 21h10; Meu Nome é Gal M12. 16h15,
21h35; Vidas Passadas M12. 13h45, 16h20,
19h, 21h40; Os Excluídos M12. 15h50,
18h40, 21h30; Bob Marley: One Love 13h55,
22h; A Sala de Professores M12. 16h30,
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
19h30; A Irmandade da Sauna M12. 13h35,
19h25; Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h25,
14h30, 16h50, 18h15, 21h15, 21h50; Eu
Capitão M12. 13h40, 18h55; O Livro das
Soluções 14h20; O Vento Assobiando nas
Gruas M12. 13h30; A Última Evasão 16h40,
19h05, 21h25; Amigo Imaginário M14.
14h15, 16h45, 19h15, 21h45; Priscilla M14.
14h, 16h35, 19h10, 21h40; Culpado -
Inocente - Monstro M12. 16h05, 21h35
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
R. Sérgio Malpique 2. T. 16996
Inseparáveis M6. 12h45, 15h10
(VP); Patos! M6. 13h50, 16h40 (VP); Todos
Menos Tu M12. 12h35, 15h, 20h20, 22h40;
A Semente do Mal M16. 22h; A Zona de
Interesse M12. 17h40; Beekeeper
- O Protector M12. 20h, 22h30; Pobres
Criaturas M16. 17h20, 20h40; Anatomia de
Uma Queda M12. 18h45; Meu Nome é
Gal M12. 13h15, 16h05; Argylle - Espião
Secreto M12. 22h20; Vidas Passadas M12.
19h20; Os Excluídos M12. 19h; Iron
Claw 21h25; Bob Marley: One Love 13h15,
15h50, 18h30, 21h30; Madame Web M12.
Sala Atmos - 12h40, 15h20, 18h10, 20h50;
A Sala de Professores M12. 12h50; Demon
Slayer: Kimetsu No Yaiba - To the Hashira
Training M14. 14h10, 16h50; Dune - Duna:
Parte Dois M12. 15h30, 21h50; O Meu
Amigo Ninja 2 13h50, 16h (VP); A Última
Evasão M12. 19h10; Amigo Imaginário M14.
16h10, 18h50, 21h40; Priscilla M14. 13h20,
16h, 18h40, 21h20; Culpado - Inocente -
Monstro M12. 16h50; Clandestina 12h30,
14h40; No Way Up - Sem Saída M16.
22h10; Dune - Duna: Parte Dois M12. Sala
4DX - 13h10, 16h30, 20h30; Dune - Duna:
Parte Dois M12. Sala Atmos - 12h40, 14h,
17h30, 18h20, 21h10
Amadora
Cinema City Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
O Rapaz e a Garça M12. 15h55; Patos! M6.
15h40, 17h45 (VP); A Zona de Interesse M12.
19h50; Pobres Criaturas 21h35; Anatomia
de Uma Queda M12. 18h30; Argylle - Espião
Secreto M12. 21h55; Vidas Passadas
M12. 15h45, 19h50; Os Excluídos M12.
21h40; Bob Marley: One Love 15h40, 17h45,
19h50, 21h55; Madame Web M12. 15h25,
19h30; Demon Slayer: Kimetsu No Yaiba -
To the Hashira Training M14. 17h30; Dune -
Duna: Parte Dois M12. 15h45, 17h20, 18h10,
19h30, 21h, 21h30; O Meu Amigo Ninja
2 15h15 (VP); Amigo Imaginário M14. 15h20,
17h25, 21h50; No Way Up - Sem Saída M16.
17h50, 22h
UCI Cinemas - Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Patos! M6. 14h10, 16h30 (VP); Todos Menos
Tu M12. 13h30, 19h25, 21h50; Argylle M12.
18h55, 21h55; Bob Marley: One Love 14h05,
16h35, 19h, 21h35; Madame Web M12.
21h25; Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h25,
14h15, 16h, 16h55, 18h15, 21h15, 21h40;
O Meu Amigo Ninja 2 13h50, 16h05
(VP); Amigo Imaginário M14. 14h15, 16h45,
19h15, 21h45; Priscilla M14. 13h40, 16h15,
18h50, 21h20; No Way Up - Sem Saída
M16. 19h05, 21h30
Barreiro
Castello Lopes - Fórum Barreiro
Campo das Cordoarias. T. 212069440
Bob Marley: One Love 14h50, 17h05,
19h20, 21h35; Madame Web M12. 19h05,
21h30; Demon Slayer: Kimetsu No Yaiba
- To the Hashira Training M14. 16h50;
Dune - Duna: Parte Dois M12. 14h15, 17h30,
20h45; Amigo Imaginário M14. 13h10,
15h20, 17h30, 19h40, 21h50; No Way
Up - Sem Saída M16. 14h50
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
Alcabideche. T. 16996
Todos Menos Tu M12. 14h15, 19h45,
22h10; Pobres Criaturas M16. 16h45;
Os Excluídos M12. 22h; Bob Marley: One
Love 13h30, 16h30, 19h, 21h30; Madame
Web M12. 18h30, 21h15; Demon Slayer:
Kimetsu No Yaiba M14. 13h, 15h15; Dune -
Duna: Parte Dois M12. 12h30, 16h, 19h30,
23h; O Meu Amigo Ninja 2 14h30, 17h
(VP); Amigo Imaginário M14. 12h40, 15h,
17h45, 20h15; Priscilla M14. 13h15, 15h45,
18h15, 20h45; No Way Up - Sem Saída M16.
19h15; Dune - Duna: Parte Dois M12. Sala
Imax - 14h, 17h30, 21h
Carcavelos
Atlântida-Cine
CC. Carcavelos. T. 214565653
A Sala de Professores M12. 15h, 21h;
A Última Evasão M12. 15h, 21h

Lazer
MÚSICA
Nancy Vieira
LISBOA São Luiz Teatro
Municipal. Dia 8/3, às 20h.
M/6. 20€ a 25€
Cinco anos depois de Manhã
Florida, Nancy Vieira
apresenta-se com Gente. Com
edição marcada para dia 15 de
Março, o novo álbum traz
movimentos musicais que vão
muito para lá da herança
cabo-verdiana da cantora. De
acordo com a nota de imprensa,
aqui “encontra-se também aquele
mundo que só existe nas ruas de
Lisboa e onde se escutam as
nuances do Brasil, ecos de tantas
outras Áfricas e de muitas
Europas e Américas”. Morna,
samba, fado, funaná, jazz e pop
dão o tom ao manifesto do
registo, “feito agora a pensar no
amanhã”. A estreia ao vivo é hoje,
Dia Internacional da Mulher, e
conta com os convidados Acácia
Maior, Amélia Muge, Fogo Fogo,
Mário Lúcio, Martín Sued, Paulo
Flores e Remna.
DANÇA
Fuck Me
LISBOA Centro Cultural de
Belém. Dias 7/3 e 8/3, às 21h.
M/16. 18€ a 30€
Marina Otero leva a palco “um
espectáculo interminável sobre a
sua vida”, descreve a sinopse. É o
terceiro tomo de uma trilogia de
cariz autobiográÆco dedicada à
“causa narcisista” — antecedido
por Andrea e Recordar 30 Años
para Vivir 65 Minutos — e traduz-se
num híbrido de dança,
dramaturgia, Æcção,
documentário e performance
catártica que a coreógrafa e
encenadora argentina criou
enquanto estava a recuperar de
uma lesão grave na coluna. O
título remete para um grito
simultaneamente desesperado
por prazer e desejoso de
autodestruição.
VISITAS
O Oriente no Feminino
LISBOA Museu do Oriente.
Dia 8/3, às 18h. M/16. 4,50€
Também à boleia do Dia
Internacional da Mulher, a
Fundação Oriente convida para
uma visita orientada pelo museu,
com duração de uma hora e foco
na temática feminina, “das deusas
hindus aos matsuris japoneses”.
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 41
Guia
Jogos Jogue também online.
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Cruzadas 12.363 Paulo Freixinho
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HORIZONTAIS: 1 - Quase 70%, ganhavam em 2023 salários até 1000 euros. Empresa
Pública. 2 - Pessoa notável na sua especialidade. Prelada de convento. 3 - “Meu Nome é
(…)”, filme realizado por Dandara Ferreira e Lô Politi. Osso do braço, desde o ombro ao
cotovelo. 4 - Observar. Pega. 5 - «A» + «o». Reduziu para 98 os medicamentos cuja
exportação fica proibida. 6 - Decorei. Inteligência Artificial. 7 - Procedimento de revoar.
Interjeição que designa cansaço. 8 - Nome feminino. Região de contacto de dois
neurónios ou células nervosas. 9 - Compact Disc. Prefixo (repetição). Vurmo.
10 - Manuel (...), antigo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (entre 2015
e 2022). Pronome pessoal feminino (pl.). 11 - Inventariar. Época.
VERTICAIS: 1 - “(...) contada é meia aliviada”. Fenda. 2 - Traja. Injuriar. 3 - Numeração
romana (55). Imposto sobre o Valor Acrescentado. Comparecer. 4 - Símbolo de
hectare. Ponto principal (fig.). Prefixo (ouvido). 5 - Semelhantes a marfim. Sufixo
nominal que traduz a ideia de semelhança ou origem. 6 - Memória de computador.
Nome da 21.ª letra do alfabeto grego. Interjeição que designa repulsa ou
raiva. 7 - Inchação. Forma um só. 8 - Ente. Sorteio por meio de bilhetes numerados.
9 - Constam. Foi multada pela Comissão Europeia, após queixa do Spotify. 10 – Espanha
(Internet). Estou informado. Ressumar. 11 - Grande acumulação de gordura na face
e no pescoço. Estrado em que se coloca o féretro.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1 - APV. Simular. 2 - Diácono. Ego. 3 - Io. Lu. Temos. 4 - Nikki. Asa. 5 - Soam. Imo.
6 - Kraft. Broa. 7 - Ata. 8 - Umas. Poupar. 9 - Ladear. Roca. 10 - Programas. 11 - Aéreo. Arado.
VERTICAIS: 1 - Adias. Culpa. 2 - Pio. Ok. Maré. 3 - Vá. Narrador. 4 - Clima. Sege. 5 - Souk. Fá. Aro.
6 - In. Kit. Pra. 7 - Motim. Ao. Ma. 8 - Obturar. 9 - Lema. Raposa. 10 - Agosto. AC. 11 - Rosa. Atraso.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Sul É possível fazer melhor. E os ouros Problema 12.492 (Fácil)
divididos 3-2, em conjunto com
Vul: Todos
trunfos 2-2 ou 3-1? Isso melhora
NORTE significativamente as nossas
Ƅ5 possibilidades, mas como combinar
Ɔ AQ essas duas hipóteses?
Ƈ AK86532
ƅ 1073 Prenda a saída com o Ás de espadas,
tire Ás e Rei de ouros e balde uma
OESTE ESTE espada. Jogue mais um ouro e corte
Ƅ QJ1073 Ƅ K942 com o Rei de copas! Agora jogue
Ɔ9 Ɔ J107 copa para a Dama e um ouro firme Solução 12.490
Ƈ J9 Ƈ Q74
ƅ Q8642 ƅ K95 para baldar outra espada. A defesa
não terá como derrotar, estejam os
SUL
Ƅ A86 trunfos 2-2 ou 3-1, pois terá sempre a
Ɔ K865432 possibilidade de voltar ao morto no
Ƈ 10 Ás de copas para ir buscar outro
ƅ AJ ouro firme para baldar o Valete de
paus. A defesa fará apenas um
Oeste Norte Este Sul trunfo e a cortar ouros.
1Ɔ
passo 2Ƈ passo 2Ɔ Considere o seguinte leilão:
passo 3Ɔ passo 3Ƅ1 Oeste Norte Este Sul
1Ƈ
passo 4ƅ1 passo 4ST
passo 5Ƅ2 passo 6Ɔ passo 1Ƅ passo 2ƅ
Todos passam passo 2Ɔ passo ? Problema 12.493 (Muito Difícil)
Leilão: Equipas ou partida livre O que marca em Sul com a seguinte
(IMPs). 1 — Controlos; 2 — Duas mão?
chaves e a Dama de trunfo Ƅ2 ƆAQ5 ƇQJ963 ƅAQJ7
Carteio: Saída: QƄ. Mais um Resposta: Marque 3ST. Esta voz
cheleme complicado. Qual a melhor
hipótese de o cumprir?
mostra uma mão irregular de 15 a 17
pontos e defesa a copas.
Solução 12.491
Solução: Se os trunfos estiverem Durante os meses de Março, Abril e
divididos 2-2, temos uma linha de Maio, no Centro de Bridge de
Lisboa, às quintas-feiras, estarei, a
jogo que funciona: Ás de espadas,
espada cortada com a Dama, Ás de partir das 20h45, a levar a cabo uma
trunfo, pau para o Ás, Rei de trunfo e série de aulas de refreshment para
por fim o Ás e o Rei de ouros para todos aqueles que já conhecem o
baldar a última espada de Sul. jogo mas que, por uma qualquer
A defesa faria uma vaza a paus. razão, estiveram afastados e
Mas, trunfos divididos 2-2 tem uma gostariam de retomar este jogo
probabilidade inferior a 50%. apaixonante. Estarei à sua espera!
42 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Guia
CINEMA
Gorilas na Bruma
AMC, 16h12
O Ælme de Michael Apted, que
narra a jornada real da
primatologista Dian Fossey
(Sigourney Weaver), faz parte de
uma maratona de celebração do
Dia Internacional da Mulher.
Começa com Savannah Sunrise (às
8h19) e segue com Maggie Tem Um
Plano (9h40), Colossal (11h10),
Onde Estás, Bernadette? (14h31),
Personal Shopper (18h18), A Melhor
Despedida de Solteira (20h02) e
Jogo da Alta-Roda (22h10).
Manchester by the Sea
Cinemundo, 20h15
Casey Affleck dá vida a um homem
que tenta lidar com a morte do
irmão e cuidar do sobrinho, neste
drama a que a Academia de
Hollywood deu duas estatuetas:
melhor actor principal (Affleck) e
argumento original (Kenneth
Lonergan, que também realiza).
Chama-me pelo Teu Nome
AXN Movies, 21h10
Dirigido por Luca Guadagnino,
segundo um (oscarizado)
argumento de James Ivory, a partir
da obra de André Aciman, fala de
amor e descoberta da sexualidade
pelos olhos de um adolescente
tímido (Timothée Chalamet) que
não consegue ignorar a paixão por
um jovem exuberante e um pouco
mais velho (Armie Hammer).
Moonlight
Hollywood, 21h30
Uma história de identidade e
descoberta, assinada por Barry
Jenkins. O argumento, que adapta
uma peça de Tarell Alvin
McCraney, foi premiado com o
Óscar — um dos três arrecadados
por Moonlight, juntamente com o
de melhor filme e actor
secundário (Mahershala Ali).
As Sufragistas
Star Life, 22h20
No início do século XX, um grupo
de mulheres da classe operária
londrina junta-se à activista
Emmeline Pankhurst, desaÆa o
Estado e parte para formas de luta
cada vez mais radicais. Dirigido
por Sarah Gavron e escrito por Abi
Morgan, o Ælme conta com Carey
Mulligan, Helena Bonham Carter,
Meryl Streep, Anne-Marie Duè,
Ben Whishaw e Brendan Gleeson.
Vem e Vê
RTP2, 23h
Foi a derradeira realização de
Elem Klimov. Passado na
Bielorrússia de 1943, é um clássico
do cinema russo contemporâneo e
um dos mais brutais, alucinantes e
desencantados Ælmes de guerra
jamais feitos.
Televisão
RTP1
6.00 Bom Dia Portugal 10.00 Praça
da Alegria 12.59 Jornal da Tarde
14.22 Escrava Mãe 15.07 A Nossa
Tarde 17.30 Portugal em Directo
19.00 Campanha Eleitoral -
Legislativas 2024 19.28 O Preço Certo
19.59 Telejornal
ornal
21.01 A Prova
va
os Factos
21.39 Joker
22.40 Um Índio em Pé de Guerra - Vida
e Obra de António-Pedro Vasconcelos
23.49 Em Casa d’Amália
0.58 Um Jantar Muito Original
1.49 Escrava Mãe
2.33 Lincoln Rhyme - Caça ao
Coleccionador de Ossos
3.15 Hora de Agir
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.10 Alô
Portugal 9.45 Casa Feliz 12.59
Primeiro Jornal 14.45 Linha Aberta
16.20 Júlia 18.20 Morde & Assopra
19.00 Tempo de Antena - Legislativas
2024 19.15 Era Uma Vez na Quinta
19.57 Jornal da Noite
21.50 Isto É Gozar com Quem Trabalha
- Especial Outra Vez Eleições
22.40 Senhora do Mar
23.25 Papel Principal - A Vingança
23.40 Flor
sem Tempo o
0.00 Papel Principal 0.40 Travessia
1.45 Passadeira Vermelha 3.30 Carro
do Ano 3.35 Terra Brava
Os mais vistos da TV
Quarta-feira, 6
% Aud. Share
Isto é Gozar Com Quem... SIC 11,4
Isto é Gozar Com Quem... SIC 10,4
Jornal Da Noite SIC 10,0
Big Brother Desafio Final TVI 9,1
Cacau TVI 8,3
FONTE: CAEM
RTP2
6.00 A Fé dos Homens 6.32 Repórter
África 7.00 Espaço Zig Zag 10.36
As Nossas Plantas 11.03 A Vida É Um
Autocarro Vazio 11.53 Homens Fora,
Trabalho na Loja 12.23 Outra Escola
12.55 Esec TV 13.23 Conversas
Abertas na Universidade
13.53 Folha de Sala 14.00 Sociedade
Civil 15.04 A Fé dos Homens
15.40 Começar de Novo
16.10 A Costa Britânica de Kate
Humble 16.57 Espaço Zig Zag 20.15
Campanha Eleitoral - Eleições
Legislativas 2024 20.31 Folha de Sala
20.36 Afazeres do Mês
20.39 Era Bonito Vê-la Pensar
21.30 Jornal 2
22.01 Maryland 22.50 Folha de Sala
23.00 Vem e Vê 1.21 Sociedade
Civil 2.25 Folha de Sala 2.30 Uma Luz
ao Fundo 3.18 Divas da Madeira
4.02 Ministério do Tempo 4.56
Músicas d’África 5.52 Folha de Sala
5.58 A Fé dos Homens
TVI
6.15 Diário da Manhã 7.00 Esta Manhã
9.55 Dois às 10 12.58 TVI Jornal
14.50 A Herdeira 15.45 Goucha
17.45 Big Brother
19.00 Decisão 24 - Tempo de Antena
19.15 Big Brother
19.57 Jornal Nacional
21.30 Big Brother
22.00 Cacau
23.00 Festa É Festa
0.00 Big Brother
2.15 Doida por Ti
2.50 Deixa Que Te Leve
RTP1 9,7%
% DOCUMENTÁRIOS
22,4
RTP2 0,9
22,9 SIC 15,6
TVI
18,7
18,4 15,9
Cabo
20,2
40,1
TVCINE TOP
18.05 Febre da Montanha 20.00 65
21.30 Sem Remorsos 23.20 Jeepers
Creepers: Renasce 0.45 Febre da
Montanha
STAR MOVIES
17.05 Gladiador 19.27 Mulheres do
Século XX 21.15 Mulher Que Segue à
Frente 22.47 As Armas de Jane 0.15
Malena 1.43 A Religiosa
HOLLYWOOD
17.50 Assalto ao Aeroporto 19.50 Golpe
no Paraíso 21.30 Moonlight 23.25 Duro
de Roer 1.05 Ready or Not - O Ritual
AXN
17.42 The Rookie 19.22 Mentes
Criminosas 21.06 Hudson & Rex 22.00
Bad Boys para Sempre 0.08 Die Hard:
A Vingança
STAR CHANNEL
17.19 Investigação Criminal: Los Angeles
18.57 FBI: International 20.38 Hawai
Força Especial 22.15 Parker 0.34 Corrida
Mortal
DISNEY CHANNEL
17.15 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug 18.05 A Maldição de Molly
McGee 18.55 Vamos Lá, Hailey! 19.40
Os Green na Cidade Grande 20.25
Miraculous - As Aventuras de Ladybug
DISCOVERY
17.21 Mestres do Restauro 18.16
Mistérios das Profundezas com Jeremy
Wade 19.11 Aventura à Flor da Pele: O
Último a Ficar de Pé 21.00 Maine Cabin
Masters 22.47 Construções ao Limite
0.27 Maine Cabin Masters
HISTÓRIA
17.16 O Inexplicável 19.19 O Preço da
História na Estrada 22.15 O Preço da
História 0.21 O Preço da História na
Estrada
ODISSEIA
17.12 Hospital de Elefantes 18.01 A Minha
Família e as Galápagos 18.52 Retalhos
da Vida na Quinta 19.40 Bangladesh
20.07 Sobreviver ao Asteróide 20.56
O Universo 22.31 HIstórias Selvagens na
Quinta 23.25 Inteligência na Quinta
0.22 Retalhos da Vida na Quinta
A Vida É Um Autocarro Vazio
RTP2, 11h03
Recordação da vida e obra da
escritora Maria Judite de Carvalho
(1921-1991). Autora de 13 livros, a
“Çor discreta da literatura” —
como lhe chamava Agustina
Bessa-Luís — venceu duas vezes o
Grande Prémio de Conto Camilo
Castelo Branco e ainda foi
condecorada Grande-OÆcial da
Ordem do Infante D. Henrique,
entre outras distinções. Realizado
por Ricardo Sacramento e Sara
Marques, este documentário tem
narração de Isabel Fraga e conta,
entre os entrevistados, com
nomes como Urbano Tavares
Rodrigues, com quem foi casada,
Alice Vieira, Eduardo Lourenço,
Inês Fraga, Pedro Mexia ou José
Jorge Letria.
Florence Nightingale: Pioneira
da Enfermagem
História, 14h50
A propósito do Dia Internacional
da Mulher vem este documentário
sobre Florence Nightingale
(1820-1910), a fundadora da
enfermagem moderna, tornada
ícone do feminismo em terras
britânicas. Dentro do mesmo
espírito, o História estreia ainda,
às 16h20, Amazonas: Mulheres
Guerreiras, misto de dados
recentes, reconstituições e
comentários de especialistas que
tenta “desvendar quem eram
essas mulheres, na esperança de
chegar à verdade para lá da
lenda”.
Era Bonito Vê-la Pensar
RTP2, 20h39
Outra pioneira, mas da
neurogenética em Portugal, é
retratada neste documentário-
-tributo: a médica, professora e
investigadora Paula Coutinho
(1941-2022). A realização é de
Tiago Silva e Rui Ferreira, segundo
o guião de Jorge Sequeiros, J. Leal
Loureiro e José Barros.
Murf the Surf
TVCine Edition, 22h10
Estreia. A história de Jack Roland
Murphy (1937-2020), o surÆsta
ladrão envolvido no mediático
roubo da colecção de jóias do
Museu de História Natural, em
1964, já tinha dado um Ælme
realizado por Marvin J. Chomsky,
em 1975, e inspirado diversas
produções de Æcção. Agora, chega
uma docussérie para contar essa
história, a de outros crimes que o
levaram à prisão e a do seu
processo de redenção por via da fé
cristã. A série, que conta com
Brian Grazer e Ron Howard na
produção executiva, desenvolve-se
em quatro capítulos, debitados
semanalmente.
 Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 43

Guia

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Lisboa 10 Mar. 9h00 das urnas, o noticiário mais relevante
14 º
9º Évora 17 Mar. 4h11 sobre estas eleições legislativas.
Setúbal 12º 25 Mar. 7h00 E acompanhe os resultados eleitorais
14º 8º Nascente Poente Nascente Poente
10º
06h58 18h37 02 Abr. 3h15 09h06 16h24 até todos os votos estarem contados.

Sines Beja EUROPA Acompanhe também a nossa emissão,

15º 13º Helsínquia em directo, com comentário, reportagem,
11º 8º Oslo
Estocolmo
14º Talín gravação do podcast Soundbite e repórteres
4,8m Riga em todas as sedes de campanha.
Copenhaga

Vílnius
Dublin
Londres
Amesterdão
Berlim Saiba mais em publico.pt
Sagres Varsóvia
15º
12º Bruxelas
16º Faro Praga
13º Paris
Viena Budapeste
14º Genebra
3,0m
Açores Milão

Corvo Roma
Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 17º
16º Atenas
15º 3,8m
São Jorge 16º
17º 12º
3,8m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
17º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
17º
16º 14º Amesterdão 3 11 Roma 9 16
3,2m Atenas 7 17 Viena 4 10
Ponta Delgada
Berlim 1 9 Bissau 20 33
Sta Maria Bruxelas 6 13 Buenos Aires 22 29
Madeira Bucareste 0 10 Cairo 13 24
Porto Santo Budapeste 3 10 Caracas 20 33
Copenhaga 0 6 Cid. do Cabo 16 24
Madeira
20º 20º 19º 19º Dublin 5 9 Cid. do México 12 31
15º 16º
1,5m 3,5m Estocolmo -3 4 Díli 25 32
Frankfurt 2 12 Hong Kong 14 20
Funchal Genebra 1 12 Jerusalém 7 16
Istambul 6 10 Los Angeles 9 20
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev -1 7 Luanda 25 31
Londres 7 11 Nova Deli 14 26
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 6 9 Nova Iorque 4 12
07h28 0,7 07h04 0,8 07h01 0,7 Milão 7 12 Pequim -2 11
13h40 3,2 13h16 3,2 13h18 3,2 Moscovo -8 1 Praia 20 27
Oslo -2 6 Rio de Janeiro 25 30
19h42 0,7 19h17 0,8 19h14 0,7 Paris 6 14 Riga -2 3
01h54* 3,6 01h31* 3,6 01h38* 3,5 Praga 3 9 Singapura 25 31
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
44 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024
Desporto Primeira mão dos oitavos-de-Ɗnal
A crise foi atrás do Benfica
para a Liga Europa
“Encarnados” empatam com o Glasgow Rangers na Luz, depois de terem estado
duas vezes a perder. Segunda mão será na próxima quinta-feira
Crónica de jogo
Marco Vaza
O dia do julgamento. Assim foi classi-
Æcado o BenÆca-Rangers de ontem, a
contar para a primeira mão dos oita-
vos-de-Ænal da Liga Europa. Julga-
mento de quem? De Roger Schmidt e
do próprio BenÆca, que perdeu dois
jogos seguidos frente a rivais directos.
Não bastaria uma vitória frente ao
líder do campeonato escocês. Os
“encarnados” precisavam de uma
vitória robusta para repararem a sua
relação com os adeptos. Noventa e
cinco minutos depois, nem uma coisa
nem outra, apenas um empate (2-2)
que deixa tudo em aberto para a
segunda mão, em Glasgow, na próxi-
ma quinta-feira.
Os jogos recentes do BenÆca têm-se
transformado num exercício de adi-
vinhação para quem está de fora.
Qual será o plano táctico e estratégico
de Roger Schmidt? Depois de duas
derrotas e uma tremenda sensação
de inferioridade “encarnada” frente
aos dois maiores rivais nacionais, era
expectável que o técnico alemão
mudasse alguma coisa.
Foi o que aconteceu, com a reintro-
dução de um ponta-de-lança (Arthur
Cabral), mais a utilização de um “seis”
puro (Florentino) e de um lateral-di-
reito de raiz (Bah), e um na esquerda
adaptado (Aursnes, como não podia
deixar de ser). Mudanças que impli-
caram as saídas de Kokçu e João Mário
e o reposicionamento de Rafa como
segundo avançado, ladeado por Di
María e Neres.
Este Rangers, que é uma equipa de
topo numa Liga que não é de topo, é
uma equipa de processos simples.
Não é de pontapé para a frente, mas
é de progressão rápida. Não é super
técnica, mas é agressiva quando tem
de o ser, com boa capacidade física e
largura, com o português Fábio Silva
a cuidar do lado esquerdo e James
Tavernier, o lateral goleador, a avan-
çar pela direita. Em teoria, um BenÆ#
Benfica
Di María 45’+2’ (g.p.),
Goldson 68’ (p.b.)
Rangers
Lawrence 7’,
Sterling 45’+5’
Jogo no Estádio da Luz, em Lisboa.
Assistência Não disponível.
Benfica Trubin; Alexander Bah a72’
(Tiago Gouveia, 84’), António Silva,
Otamendi, Aursnes; Di María a35’,
Florentino, João Neves, David Neres
(Álvaro Fernández, 84’); Rafa Silva,
Arthur Cabral (Marcos Leonardo, 65’).
Treinador R. Schmidt.
Rangers Butland a45’+2’; Tavernier,
Goldson, Souttar, Ridvan Yilmaz a67’;
Diomande (Raskin, 84’), Lundstram;
Sterling a27’ (Roofe, 78’), Lawrence (R.
Jack, 78’), Fábio Silva (McCausland,
90’); Dessers (McKinnon, 78’).
Treinador P. Clement.
Árbitro Tobias Stieler (Alemanha)
VAR Marco Fritz (Alemanha)
PEDRO NUNES/REUTERS
Di María marcou o primeiro
golo do Benfica contra
o Rangers de penálti
2 Positivo/Negativo
Di María
Pode passar grande parte
2 do jogo a passo, sem
defender e a reclamar. Mas
decide. Marcou o canto
que deu origem ao penálti,
concretizou-o e fez a
“assistência” para o
autogolo do empate. Não
foi o melhor em campo,
mas foi o mais decisivo.
Fábio Silva
Foi importante no primeiro
golo do Rangers, fez a
assistência para o segundo
e ainda teve uma bola de
golo.
Bah
Foi o elo mais fraco numa
equipa que não teve muitos
elos fortes.
ca na plena posse dos seus poderes,
arrumado e conÆante, seria suÆcien-
te para o líder do campeonato esco-
cês. Mas o BenÆca não é uma equipa
conÆante e arrumada.
Os primeiros minutos pareciam
indiciar um virar de página. BenÆca
organizado na pressão e consequen-
te no ataque, e, logo aos 4’, Neres teve
espaço para avançar e rematar, mas
Butland deteve o remate do brasilei-
ro. Só que, à primeira aproximação
do Rangers, o BenÆca cedeu. A partir
da esquerda, uma boa combinação
entre Fábio Silva e Diomandé resultou
num cruzamento do marÆnense e
num cabeceamento certeiro de
Lawrence. Golo do Rangers na pri-
meira oportunidade — eÆcácia total
para os escoceses, um desastre para
o campeão português.
Não era a primeira vez que o Ben-
Æca estava em desvantagem esta épo-
ca. Mas qual seria a versão das
“águias” que estava esta noite na Luz?
Logo após o golo sofrido, os “encar-
nados” tiveram duas boas oportuni-
dades na mesma jogada, de novo com
Neres a alvejar a baliza e Butland a
defender. Na recarga, Cabral permitiu
nova intervenção do internacional
inglês do Rangers. Butland voltaria a
brilhar aos 43’, de novo a ganhar um
duelo com Neres após um erro na
reposição de bola dele próprio.
Num dos muitos cantos que o Ben-
Æca teve na primeira parte — quase
todos por Di María e para o primeiro
poste — os “encarnados” tiveram um
golpe de sorte. Em cima dos 45’,
Souttar, o único escocês titular do
Rangers, fez um corte com a cabeça
na direcção do seu braço direito e,
após alguns minutos de deliberação
com o VAR e visionamento das ima-
gens, o alemão Tobias Stieler marcou
penálti. Di María, com a competência
habitual, fez o golo do empate.
Só que a primeira parte ainda teria
mais uns minutos e história para con-
tar. Com cinco minutos corridos no
tempo de compensação, Fábio Silva
teve espaço para fazer o cruzamento
rasteiro e Sterling, quase dentro da
baliza, só teve de empurrar. E o Ben-
Æca ia para o intervalo a perder.
Na segunda parte, os “encarnados”
tentaram ser dominadores, mas
demoraram a criar perigo. Até foi o
Rangers a estar perto do 1-3 aos 61’,
com uma boa jogada individual sobre
António Silva e Bah que terminou
numa defesa de Trubin.
Depois de quase uma hora sem
aparecer, Rafa começou a acelerar o
jogo e Di María seguiu-lhe o exemplo.
Schmidt trocou de pontas-de-lança,
metendo Marcos Leonardo para o
lugar de Arthur Cabral, e o BenÆca
manteve a pressão, muito por acção
de João Neves, que é, verdadeiramen-
te, o grande uniÆcador da equipa
quando tudo parece partido. E essa
pressão deu frutos aos 67’. Di María
fez o cruzamento e Goldson cabeceou
para a própria baliza. Ainda teria o
BenÆca alguma coisa para dar num
jogo onde voltou a dar pouco? Nada.
 Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 45

Desporto

Outros jogos
Liverpool Liga feminina de futebol reduzida I Liga
Jornada 25

mostra a sua
força, Marselha a 10 equipas em 2025-26 Portimonense-FC Porto
E. Amadora-Casa Pia
Vizela-Farense
Boavista-Moreirense
Rio Ave-Sp. Braga
18h45, SPTV1
20h45, SPTV2
sab, 15h30, SPTV1
sab, 18h, SPTV2
sab, 15h30, SPTV1

e Roma também Vitória-Famalicão

Arouca-Sporting
sab, 20h30, SPTV1
dom, 18h, SPTV1
potenciar o contexto em que Benfica-Estoril dom, 20h30, BTV
Objectivo da federação jogam”. Gil Vicente-D. Chaves seg, 20h15, SPTV1
passa por “melhorar a A FPF pretende também “evitar J V E D M-S P
sobrecarga no calendário face ao 1. Sporting 23 19 2 2 66-24 59
Jorge Miguel Matias competitividade das várias
aumento de clubes portugueses nas 2. Benfica 24 18 4 2 56-20 58
Foram muitos os golos nos jogos da provas”. Será também competições da UEFA, nomeadamen- 3. FC Porto 24 16 4 4 43-17 52
primeira mão dos oitavos-de-Ænal da criado um quarto escalão te na Liga dos Campeões, já em 2024- 4. Sp. Braga 24 15 4 5 53-33 49
Liga Europa, com os clubes teorica- 25”, e uma “maior distribuição e cri- 5. Vitória 24 13 5 6 38-26 44
mente favoritos à partida a conÆrma- A redução para 10 do número de teriosa aplicação de fundos de apoio 6. Moreirense 24 11 6 7 27-26 39
rem esse estatuto. Em Praga, frente equipas na Liga feminina de futebol aos clubes, estando já estabelecido 7. Arouca 24 10 4 10 43-33 34
ao Sparta, o Liverpool venceu por e a criação de uma quarta divisão um montante de 7,8 milhões de euros 8. Famalicão 23 6 9 8 24-29 27
5-1. foram, ontem, aprovadas pela direc- (ME) para as épocas de 2024-25 e 9. Gil Vicente 24 7 6 11 34-37 27
Mac Allister, de penálti, deu início ao ção da Federação Portuguesa de Fute- 2025-26”. 10. Casa Pia 24 7 6 11 22-35 27
festim pouco depois do começo do bol (FPF). 11. Farense 24 7 5 12 32-35 26
jogo, com o ex-BenÆca Darwin Núñez As alterações não têm inÇuência na Selecção com calendário 12. Boavista 24 6 7 11 31-45 25
a bisar (25’ e 45’+3’). Dois grandes presente temporada, mas serão intro- A selecção nacional feminina vai 13. Rio Ave 24 4 11 9 25-34 23
golos do uruguaio que já leva 16 rema- duzidas na época de 2024-25, quan- arrancar a participação na Liga das 14. Portimonense 24 6 5 13 24-49 23
tes certeiros esta época. Conor do, pela primeira vez, todos os jogos Nações no grupo B3, que servirá de 15. Estoril 24 6 4 14 40-46 22
Bradley, jovem defesa de 20 anos, fez da Liga feminina serão realizados em Os campeonatos nacionais apuramento para o Euro-2025, que 16. Est. Amadora 24 5 7 12 23-38 22
um autogolo ainda antes do intervalo, relva natural, de acordo com os regu- femininos de futebol vão mudar terá lugar na Suíça, frente à Bósnia- 17. Desp. Chaves 24 4 6 14 24-54 18
mas o Liverpool continuou domina- lamentos aprovados há duas épo- Herzegovina, em casa, a 5 de Abril. 18. Vizela 24 3 9 12 23-47 18
dor e chegou aos 5-1 por intermédio cas. — que em 2024-25 ainda não terá limi- Quatro dias depois, Portugal irá viajar
do ex-FC Porto Luis Díaz e de Szo- Como a Liga principal só terá 10 te de equipas — contará com apenas até Malta — para além destes dois Próxima jornada Estoril-Portimonense,
Famalicão-Est. Amadora, Farense-Rio Ave,
boszlai. clubes em 2025-26, haverá mais des- 12. Com a redução da III Divisão para adversários no grupo das portuguesas Sp. Braga-Gil Vicente, FC Porto-Vizela,
No Azerbaijão, o “carrasco” do Sp. cidas em 2024-25, estando por con- 12 formações, é criada uma IV Divi- está também a Irlanda do Norte. Moreirense-Arouca, Desp. Chaves-Vitória,
Braga deu luta ao Bayer Leverkusen Ærmar quantas equipas caem direc- são, sem limite de equipas. Os vencedores de cada grupo da Casa Pia-Benfica, Sporting-Boavista
e esteve mesmo a vencer por 2-0.Ben- tamente e se haverá, eventualmente, De acordo com a direcção da FPF, Divisão B sobem à Divisão A da Liga
zia e Juninho marcaram para os play-oè entre equipas dos primeiro e estas medidas têm como objectivo das Nações. Já para chegar à Ænal Ænal
homens da casa, mas no segundo segundo escalões. “melhorar a competitividade das do Euro 2025, Portugal terá de ultra- II Liga
tempo, Xabi Alonso fez entrar alguns Certo é que, em 2025-26, a I Liga várias provas, promovendo o equilí- passar dois play-oè, que se irão seguir
Jornada 25
dos seus melhores jogadores (que feminina de futebol terá 10 equipas, brio, aumentar a base de recrutamen- às seis jornadas da fase de grupos da U. Leiria-Oliveirense 20h45, SPTV3
tinha poupado) e os líderes da Liga a II Divisão manterá 16 e a III Divisão to de futebolistas portuguesas e Liga das Nações. Mafra-Penafiel sab, 11h, SPTV1
alemã foram capazes de chegar ao Nacional-Ac. Viseu sab, 14h, SPTV+
Benfica B-Santa Clara sab, 15h30, BTV
empate: golos de Wirtz e de Schick.
FC Porto B-L. Vilaverdense sab, 15h30, PC
Em Roma, o Brighton foi goleado por P. Ferreira-Torreense sab, 15h30, SPTV2

Presidente da federação italiana

4-0. Dybala marcou o primeiro golo Tondela-Maríimo dom, 11h, SPTV1
dos italianos, depois foi Lukaku, a Belenenses-Leixões seg, 18h,SPTV+
seguir Mancini e por Æm o ex-benÆ# AVS-Feirense seg, 20h15, SPTV3
quista Cristante.

acusado de lavagem de dinheiro

J V E D M-S P
Em França, o Marselha banalizou um 1. Santa Clara 24 15 8 1 36-14 53
Villarreal com Gonçalo Guedes a titu- 2. AVS 24 17 1 6 38-23 52
lar. Aubameyang foi o homem do jogo 3. Nacional 24 14 5 5 45-27 47
ao bisar — os outros golos foram de 4. Marítimo 24 12 6 6 37-24 42
Veretout e de Mosquera (autogolo). 5. Torreense 24 11 6 7 33-24 39
Por Æm destaque para o Milan e para É mais um escândalo a abalar o fute- estão a investigar 16 pessoas, entre neceu documentos para refutar as 6. Tondela 24 8 12 4 36-31 36
Rafael Leão. O internacional portu- bol italiano, que nos últimos anos os quais estão nomes como Guido acusações contra ele. 7. Ac. Viseu 24 8 11 5 28-24 35
guês inventou o primeiro golo dos tem sido fértil no que a escândalos Crosetto, ministro da Defesa da Itá- São vários os casos de escândalos 8. Mafra 24 9 7 8 29-27 34
“rossoneri” marcado por Giroud, diz respeito. Desta vez, é o presiden- lia, Matteo Renzi, ex-primeiro-mi- que têm abalado o futebol italiano 9. Benfica B 24 9 6 9 33-32 33
quando o Slavia já jogava só com dez te da Federação Italiana de Futebol nistro, e também a ex-namorada de nos últimos anos. Talvez o mais 10. P. Ferreira 24 9 6 9 27-24 33
após expulsão de Malick Diouf. Dou- (FIGC) que está debaixo de suspeita. Silvio Berlusconi, Marta Fascina. famoso de todos tenha sido o Cal- 11. FC Porto B 24 8 6 10 36-33 30
dera ainda empatou, mas Reijnders e Gabriele Gavina está a ser investi- Segundo a imprensa italiana, Gra- ciopoli, em 2006, que levou a que a 12. U. Leiria 24 7 7 10 33-31 28
Loftus-Cheek recolocaram o Milan gado pelo Ministério Público de vina compareceu na Procuradoria Juventus tivesse perdido o título de 13. Penafiel 24 7 4 13 20-30 25
em vantagem. Até ao Ænal, mais um Roma por suspeitas de, entre 2015 de Roma para prestar declarações campeão da Serie A desse ano, ten- 14. Leixões 24 5 9 10 19-29 24
golo do Slavia e nova assistência de e 2018 ter desviado dinheiro refe- sobre este caso. E quando lá chegou, do mesmo sido despromovida na 15. Feirense 24 7 3 14 22-34 24
Rafael Leão para o golo de Pulisic. rente à venda de direitos televisivos foi informado pelas autoridades de época seguinte. Mas a justiça italia- 16. Oliveirense 24 5 8 11 24-38 23
quando presidia à Lega Pro (III Divi- que uma investigação contra ele na atingiu igualmente outros clubes 17. L. Vilaverdense 24 5 2 17 19-45 16
são) para comprar uma casa, em tinha sido formalmente iniciada importantes como Lazio, Fiorentina 18. Belenenses 24 3 7 14 16-41 16
Resultados Milão. algumas horas antes. e Milan.
Próxima jornada Torreense-Tondela,
Mas este não é o único caso sus- Os advogados do actual presiden- Mais recentemente, em 2012, Oliveirense-AVS, Penafiel-Benfica B,
OITAVOS-DE-FINAL peito a envolver Gravina, que é tam- te da FIGC disseram que Gravina já foram equipas da Serie B a serem Marítimo-U. Leiria, Ac. Viseu-P. Ferreira,
Sporting-Atalanta 1-1 bém um dos vice-presidentes da prestou esclarecimentos e que for- envolvidas em casos de manipula- Feirense-FC Porto B, Santa Clara-Nacional,
Roma-Brighton 4-0 UEFA. Outro processo em que cons- ções de resultados, com a prisão de Leixões-Mafra, L. Vilaverdense-Belenenses
Sparta Praga-Liverpool 1-5 ta o nome do actual presidente da 16 pessoas, incluindo jogadores. E,
Gabriele Gavina é
Qarabag-Bayer Leverkusen MELHORES MARCADORES
2-2 FIGC tem a ver com a obtenção de suspeito de ter três anos depois, registou-se outro I Liga
Friburgo-West Ham 1-0 informações privadas sobre políti- desviado caso semelhante, mas com equipas 18 golos Simon Banza (Sp. Braga) e Viktor
Milan-Slavia Praga 4-2 cos e celebridades através de softwa- dinheiro do de menor dimensão. Nesse escân- Gyökeres (Sporting)
Marselha-Villarreal 4-0
terceiro escalão
re informático. da Liga italiana
dalo, chamado de Calcioscommes- II Liga
Benfica-Rangers 2-2 Com auxílio do procurador de se, mais de 50 pessoas foram presas. 19 golos Nenê (AVS)
para si próprio
Perugia, as autoridades italianas PÚBLICO 12 golos Wendel Silva (FC Porto B)
46 • Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024

Desporto

MotoGP a contar com o “novo” Miguel Oliveira,

o “velho” Marc Márquez e o mesmo Bagnaia
DR

Augusto Bernardino

O Qatar recebe o arranque

do Mundial de MotoGP com
Bagnaia em busca do “tri”,
a Honda sem Márquez e
os EUA a seguirem Oliveira
Depois de um verdadeiro annus hor-
ribilis para Miguel Oliveira, marcado
por acidentes e lesões, 2024 traz
perspectivas de uma vida nova,
numa equipa igualmente nova e com
a ambição de projectar o MotoGP
nos Estados Unidos. E, mais impor-
tante, com uma Aprilia oÆcial, actua-
lizada e com “esteróides” que tradu-
zem um salto evolutivo de dois anos,
passando de uma mota de 2022 para
a mesmíssima RS-GP24 da equipa de
fábrica.
Para trás Æca a experiência com a
CryptoData RNF, para esquecer e
substituir pela norte-americana
Trackhouse Racing MotoGP — pro-
priedade do antigo piloto Justin
Marks e do rapper e actor cubano
Pitbull (Armando Christian Pérez).
Uma lufada de ar fresco, com o toque
de modernidade necessário para
apelar ao público dos EUA e a dedi-
cação indispensável para emprestar
ao MotoGP toda a experiência acu-
mulada na NASCAR Cup Series. Uma
aposta que conta com o italiano Davi-
de Brivio como director desportivo
(recém-chegado à equipa, depois de
uma passagem pela Fórmula 1, nos
quadros da Alpine). Oliveira tem constatado francas segundos. Foi um teste em crescen- Giacomo Agostini e Valentino Rossi, deixando apenas uma ressalva em
Resumindo, a Trackhouse junta ao melhorias face à mota que do, ainda com a equipa oficial con- os norte-americanos Kenny Roberts forma de aviso: “Em corrida, pode
investimento e estrutura dos norte- pilotou na época passada centrada nos seus pilotos (Aleix e Wayne Rainey, o australiano ser que seja diferente.”
americanos uma mota italiana e dois Espargaró e Maverick Viñales), e Michael Doohan e o espanhol Marc
pilotos ibéricos: Miguel Oliveira e o naturalmente sem muita ajuda. Mas Márquez. Ainda assim, Bagnaia espe- O “rookie” Acosta
espanhol Raúl Fernández, tocando e agora com a ajuda para afinar e dar ra uma concorrência forte e muitos Em condições normais, o título de
seduzindo um mercado global em os últimos retoques na mota, que pilotos rápidos, numa época (a quar- “rookie” do ano já tem dono. O cam-
que Miguel Oliveira (em Ænal de con- tem um grande potencial e nos deixa ta na Ducati) intensa. peão mundial de Moto2, o espanhol
trato) espera poder brilhar. ansiosos para começar e saber o que Nesse aspecto, muitos aguardam Pedro Acosta, de 19 anos, é a única
Pelo teor das declarações de podemos fazer este ano”. com grande expectativa o “velho” cara nova do pelotão, integrando a
Miguel Oliveira, infere-se facilmen- Marc Márquez, agora aos comandos Red Bull GasGas Tech3, onde substi-
te que o “falcão” de Almada está Bagnaia em busca do “tri” de uma Ducati, depois de 12 anos na tui o compatriota Pol Espargaró. Os
entusiasmado com as condições de Sem grande controvérsia, o bicam- Honda. Velho no sentido de poder tempos nos testes deixam margem
que disporá, mas também focado e peão Francesco Bagnaia, que reno- mostrar as capacidades que lhe ren- para algum optimismo, a conÆrmar
“psicologicamente blindado” para Calendário 2024 vou por dois anos (até 2026) com a deram seis títulos mundiais na marca numa temporada longa, com 21
um ano que proporcionará muita Ducati dois dias antes do arranque nipónica, agora com uma mota com- sprints e 21 corridas que, depois do
agitação no que diz respeito a con- GRANDES PRÉMIOS da temporada, é o principal candida- petitiva. Marc Márquez, que forma Qatar, passam por Portimão, segun-
tratos. “O arranque é sempre espe- 10/03 Qatar 18/08 Áustria to à conquista do título na categoria- equipa com o irmão Álex, na Gresini da corrida de 2024 (24 de Março),
cial. Estamos motivados e optimis- 24/03 Portugal 01/09 Aragão rainha do motociclismo. Os testes Racing, mostra-se prudente e lembra antes de rumar aos Estados Unidos,
tas. Depois dos testes, visamos uma 14/04 Américas 08/09 São Marino realizados no Qatar, primeira prova que, ao contrário de pilotos como seguindo-se 11 provas na Europa,
evolução no arranque de tempora- 28/04 Espanha 22/09 Índia de 2024, conÆrmaram-no, com o ita- Bagnaia, Martín ou Bastianini, ainda com a novidade do Cazaquistão.
da”, disse o português em declara- 12/05 França 29/09 Indonésia liano a mostrar-se insuperável. precisa de um período de adaptação No mapa do Mundial estão ainda
ções à SportTV. 26/05 Catalunha 06/10 Japão No horizonte de “Pecco” Bagnaia ao estilo de pilotagem da Ducati para a Índia, Indonésia, Japão, Austrália,
“As sensações são muito diferentes 02/06 Itália 20/10 Austrália está a inscrição do nome num restri- poder “puxar ao máximo”. Tailândia e Malásia, antes do regres-
da mota de 2022. A RS-GP24 permite 16/06 Cazaquistão 27/10 Tailândia to clube de pilotos com pelo menos “Realisticamente, ainda estou lon- so, para o fecho do ciclo de 2024, a
fazer muito mais coisas e andar bas- 30/06 Países Baixos 03/11 Malásia três títulos mundiais consecutivos. A ge de outros pilotos da Ducati. Passo Valência. Riscado, devido à instabili-
tante mais rápido. Do primeiro para 07/07 Alemanha 17/11 Comunidade saber: os britânicos Geoè Duke, John a passo, tentarei aproximar-me”, dade política, foi o Grande Prémio da
o segundo dia, melhorei 2,1 ou 2,2 04/08 Grã-Bretanha Valenciana Surtees e Mike Hailwood; os italianos disse o espanhol no Ænal dos testes, Argentina.

Programas eleitorais e legislação desportiva
Opinião
José Manuel Meirim
Depois de termos feito o balanço
da legislatura Ænda e de algumas
prioridades de organizações
desportivas quanto ao “futuro
legislativo” do desporto nacional, é
tempo de fechar o ciclo com a
menção às propostas dos
programas eleitorais. Façamo-lo,
por ordem alfabética. Frise-se que
temos consciência de que este
destaque legislativo é uma leitura
redutora da política desportiva
pública. Mas é, neste espaço, o
nosso universo de análise.
Aliança Democrática: actualizar a
Lei de Bases da Actividade Física e
do Desporto (LBAFD) e rever
legislação estruturante.
Bloco de Esquerda: criação de
uma figura jurídica protocolar
intitulada “Mais Desporto, Melhor
Escola”, a celebrar entre
instituições de ensino e clubes, por
forma a reconhecer a importância
do desporto em meio escolar bem
como o trabalho realizado pelos
professores de Educação Física e
pelos clubes onde muitos
estudantes treinam, e alteração no
regime legal que consagra a
existência e o funcionamento das
sociedades desportivas, criando
uma nova regra: “50+1”, garantindo
que os clubes e os seus associados
detêm, obrigatoriamente, 51% das
acções da sociedade desportiva.
Chega: rever a LBAFD por forma a
proceder à reforma do modelo de
Ænanciamento, consagrar a
promoção do desporto feminino
como grande objectivo desportivo
nacional, defender a integridade e a
verdade das competições,
proibindo que modalidades
categorizadas entre sexos biológicos
aceitem atletas transgénero, e
introduzir medidas de combate à
corrupção desportiva; actualizar o
Estatuto do Mecenato Desportivo, o
Estatuto do Dirigente Voluntário
Desportivo e o Estatuto do
Estudante-Atleta; reduzir o IVA na
venda de bilhetes para o desporto
federado; reformar a lei do combate
à violência, ao racismo, à xenofobia
e à intolerância por forma a
melhorar a relação entre adeptos e
forças de segurança.
Iniciativa Liberal: “Defendemos
que o crescimento dos esports em
Portugal deve ser acompanhado
por um esforço do legislador em
permitir a expansão e
proÆssionalização da actividade,
identiÆcando e eliminando
obstáculos desproporcionais à sua
prossecução, e equiparando,
sempre que relevante, os esports
aos desportos tradicionais”;
alteração do actual regime jurídico
de acesso e exercício da actividade
de treinador de desporto.
Livre: garantia do princípio da
continuidade territorial em todas as
áreas, incluindo o desporto,
assumindo o Estado a sua
responsabilidade na regulação e
Público • Sexta-feira, 8 de Março de 2024 • 47
criação de condições para a
redução de assimetrias relacionadas
com a insularidade; aumento da
dedução dos gastos com a prática
de actividades físicas e desporto em
sede de IRS.
PAN: interditar a caça e pesca
lúdica e desportivas, reformar o
estatuto do dirigente desportivo em
regime de voluntariado, por forma
a fomentar a renovação geracional
no dirigismo desportivo voluntário,
estimular a formação destes agentes
e assegurar a igualdade de género,
alargar o regime Æscal de apoio à
aquisição de viaturas adaptadas por
pessoas com deÆciência a todas as
federações desportivas com
utilidade pública e garantir o
cumprimento do quadro legal
aplicável e a salvaguarda do erário
público nas transferências de
jogadores e treinadores de futebol,
por via de uma auditoria
extraordinária às transferências
ocorridas desde 2015 e da criação
de uma cleaning house que assegure
que, relativamente a cada
Desporto
transferência, se sabe a origem, o
destino e os beneÆciários dos Çuxos
Ænanceiros envolvidos, e bem assim
uma avaliação da titularidade
efectiva dos capitais sociais das
sociedades desportivas.
Partido Comunista Português:
revogação do regime jurídico das
federações para restabelecer a sua
autonomia.
Partido Socialista: rever a LBAFD,
cuja audição pública já foi realizada,
e criar um estatuto do dirigente
desportivo benévolo capaz de
mobilizar mais cidadãos para as
funções dirigentes, principalmente
nos clubes de base local.
Sondagens: haverá uma nova lei
de bases do desporto (o que não é
forçosamente bom); haverá um
novo quadro de apoio aos dirigentes
desportivos em voluntariado; o
poder político que o criou (TAD)
não está preocupado com o modelo
de justiça desportiva; tudo o resto
vive nos indecisos.
Professor de Direito do Desporto
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Sexta-feira, 8 de Março de 2024
BARTOON LUÍS AFONSO
As mulheres decidirão estas eleições
Sementes
de alfarroba
C
Carmo Afonso
elebramos hoje o Dia
Internacional da
Mulher e as conquistas
que a luta feminista
pela igualdade já
alcançou. É também
dia para reÇetir sobre o que não
está bem. E sabemos que há muito
para fazer. As mulheres continuam
a assumir a maior parte das tarefas
domésticas e uma
responsabilidade acrescida na
educação dos Ælhos. No trabalho,
continuam a ganhar menos,
muitas vezes com mais
qualiÆcações, e têm maior
diÆculdade em aceder aos lugares
de topo nas hierarquias. E os
números da violência doméstica
são dilacerantes; as mulheres
continuam a ser agredidas e
assassinadas pelos seus
companheiros.
Decorridos quase 50 anos sobre
o 25 de Abril, faz sentido recordar
como era a vida das mulheres
antes da revolução: precisavam de
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autorização dos maridos para
trabalhar fora de casa e para
viajar. Os maridos tinham direito a
abrir a correspondência das suas
companheiras. Uma mulher podia
ser repudiada pelo marido no
caso de não casar virgem e esse
repúdio estava consagrado no
Código Civil. No mesmo diploma,
constava a obrigação da mulher
de assegurar o governo
doméstico.
Foi um longo caminho que
Æzemos até aqui. Nada foi fácil.
Encontrámos a resistência da
sociedade patriarcal e das forças
políticas conservadoras. As
mulheres que se destacaram na
luta foram chamadas “radicais” e
foram muito criticadas pela
sociedade e, muitas vezes, pelas
suas próprias famílias. E poderiam
algumas de nós ter a tentação de
pensar que o trabalho está feito.
Mas nada mais enganador. O
trabalho vai a meio e a parte que
parece estar feita não está de todo
segura.
Mas hoje assinalo que estamos
num dia particularmente especial.
Porquê? Porque no domingo serão
as mulheres a decidir se será a
esquerda ou a direita a ganhar as
eleições e quem será o próximo
primeiro-ministro. Neste dia, de
todas as mulheres e de todos os
que apoiam a sua luta, são
Subscrever é poder.
Num ano de decisões, torne-se assinante do PÚBLICO
e tenha o poder da informação do seu lado
sobretudo as mulheres que têm
nas suas mãos o poder de decidir o
futuro do país.
Neste cavernoso período
eleitoral constatámos que
políticos que se apresentam como
claramente machistas ou
antifeministas assumiram
posições de destaque em algumas
candidaturas. Alguns deles são
verdadeiros cromos de coleção
daqueles tão raros que se poderia
pensar que já não existem ou que
não teriam lugar como candidatos
a eleições. Estes homens são
verdadeiros obstáculos à luta
feminista e nem disfarçam. Mas é
possível votar neles e serão
facilmente eleitos.
Paulo Núncio declarou querer
diÆcultar o acesso ao aborto e
querer referendar outra vez a lei,
não obstante estar aprovada e em
vigor há muitos anos. Gonçalo da
Câmara Pereira considera que as
mulheres bonitas não costumam
ser inteligentes. Recomenda-se,
então, às mulheres que escolham.
Podem ser bonitas ou podem ser
inteligentes. Não metam é na
cabeça que podem ser as duas
coisas. Há também o feminismo
do Chega, uma piada sempre feita.
O Chega que já teve um candidato
condenado por violência
doméstica. E, mesmo na IL, que se
diz progressista, não podemos
esquecer que destrataram uma
das suas militantes e dirigentes
mais competentes, trabalhadoras
e destacadas: a deputada Carla
Castro.
As mulheres votam à esquerda,
mas também votam à direita e até
na extrema-direita. São livres, e
ainda bem, de colocarem a cruz
onde quiserem. Mas sabem bem
quais as forças políticas que
defendem os seus direitos e quais
as que fazem de conta que as
publico.pt/assinaturas
mulheres não existem e quais as
que escolhem candidatos
negligenciando totalmente que as
mulheres se possam sentir
desconsideradas. Lá está, esperam
das mulheres que não levantem
muitas ondas e que não sejam
politizadas.
Dizia que há mulheres a votar
em todo o espectro político e claro
que algumas são conservadoras e
antiprogressistas. Sabemos de
mulheres na vida pública e política
que se apresentam como
antifeministas. Que dizer disto? O
mesmo que dizemos quando
vemos uma pessoa racializada
defender entraves à imigração e
ideários de extrema-direita. Não
faz sentido. Mas temos o poder de
escolher o que não é bom para nós
e que não representa os nossos
direitos e interesses. Foi também
essa liberdade que Abril nos
trouxe.
As sondagens dizem-nos que
ainda há muitos indecisos e
principalmente indecisas. É no
voto dessas mulheres que está o
deÆnitivo desempate. Talvez
nunca tenhamos passado por uma
experiência política em que tão
evidentemente estivéssemos nas
mãos da decisão das mulheres
portuguesas. Não devemos temer.
Advogada
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