Abrir portas onde

de se erguem muros
mu
urro
os Director: Manu
Manuel Carvalho Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • Ano XXXII • n.º 11.396 • Edição Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,80€

M
Marcelo Dança
eem entrevista Josef Nadj cansou-se
“P
“Porque tenho da solidão
de aparecer?
d e procurou-se
P
Para tentar em corpos
‘f‘furar balões’” desconhecidos
Política, 18/19
Po Ípsilon

Vieira comprou dívida de 54 milhões

ao Novo Banco por um sexto do valor
Segundo a versão do Ministério Público, o presidente do BenÄca esteve por trás da compra da dívida
da Imosteps ao Novo Banco e pagou por ela apenas nove milhões de euros Destaque, 2 a 6
NELSON GARRIDO

Polícias
Crimes por
discriminação e
incitamento ao
ódio sobem 37%
Polícias registaram 132 crimes, quase
metade em Lisboa, mostra relatório
de 2020 da Comissão contra a Discri-
minação Racial Sociedade, 21

O Inimigo Público
Covid-19 Ricardo
Restaurantes Salgado já pode
auto-agendar
de 60 concelhos a audição
passam a exigir em tribunal
teste ou certificado
ao fim-de-semana
Governo “suporta”
prolongamento
de moratórias
Destaque, 8 a 13

Afeganistão Centro único na Maia Dezoito anos depois Educação

Biden ordena Como reabilitar Era de juros Em Setembro
retirada para ouriços para baixos força entram nos
não entrar num os devolver à BCE a mudar quadros 2500
beco sem saída vida selvagem de estratégia professores
Mundo, 26 Local, 24/25 Economia, 30/31 Sociedade, 23
ISNN-0872-1548
2 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Destaque Justiça
Vieira terá
comprado uma
dívida sua de 54
milhões por um
sexto do valor
Compra directa da dívida ao Novo Banco por
empresário amigo de Vieira foi chumbada
pelo Fundo de Resolução, o que fez com que
o sucessor do BES recebesse menos três
milhões pelo negócio. Dívida acabou por ser
comprada por Vieira por menos 600 mil
euros do que o valor da oferta inicial
Mariana Oliveira
F
oi o próprio Luís Filipe Vieira
que esteve por trás da compra
realizada no ano passado de
uma dívida de 54,3 milhões
de euros que uma das suas
empresas, a Imosteps, tinha
ao Novo Banco, tendo desembolsado
por ela apenas um sexto do valor que
o Banco Espírito Santo (BES) lhe
tinha emprestado mais de seis anos
antes. E o negócio ainda veio com
dois bónus: por um lado, uma parti-
cipação de 12,5% que o Novo Banco
tinha numa outra sociedade, a Oata,
que era o principal activo da Imos-
teps, que detinha 50% do seu capital;
por outro lado, Æcou com o direito a
receber um reembolso de mais de 17
milhões de euros que o BES injectara
nessa empresa, que tem um terreno
com aval para construir 102 mil
metros quadrados na Barra da Tiju-
ca, no Rio de Janeiro.
Esta é a tese defendida pelo Minis-
tério Público (MP) nos mandados de
buscas no âmbito das buscas realiza-
das na Operação Cartão Vermelho,
que na quarta-feira levou à detenção
de quatro pessoas, incluindo o presi-
dente do BenÆca, o seu Ælho e dois
empresários amigos.
Os protagonistas
da Operação Cartão Vermelho
Os quatro suspeitos foram presen-
tes ontem ao juiz de instrução Carlos
Alexandre, que os identiÆcou. A pedi-
do das defesas o magistrado provi-
denciou aos detidos e aos respectivos
advogados salas individuais para con-
versarem e tempo para consultarem
o processo até às 22h.
Os interrogatórios dos arguidos
Æcaram marcados para as 9h de hoje,
uma diligência que poderá culminar
com o pedido para que o presidente
do BenÆca Æque em prisão preventi-
va, como se admite nos despachos
que suportam os mandados de bus-
cas.
Apesar de, formalmente, quem
comprou e Ænanciou a dívida da
Imosteps ao Novo Banco ter sido um
fundo controlado pelo empresário
José António dos Santos, fundador do
maior grupo nacional do sector agro-
alimentar e amigo do presidente do
clube da Luz, na realidade todo o
esquema terá sido montado por Viei-
ra e pelo Ælho Tiago, sustenta o MP.
Tudo começa em Ænal de 2012
quando por indicação do banqueiro
Ricardo Salgado, presidente do BES,
a Imosteps compra 50% do capital da
Oata à construtora Opway.
O contrato é assinado pelo Ælho de
Vieira, em nome da Imosteps. O pró-
prio Novo Banco tinha 12,5% da Oata
que tinha, através de outras socieda-
des, dois negócios: um relativo a ter-
renos e projectos para dois cemitérios
localizados no Rio de Janeiro, dos
quais detinha a maioria do capital, e
a tal propriedade com aval para cons-
truir uma área total de 102 mil metros
quadrados na Barra da Tijuca — imó-
veis sobre os quais, segundo o MP,
“havia grandes expectativas de obten-
ção de grandes lucros”.
A aquisição da participação de 50%
da Oata pela Imosteps justiÆcou um
empréstimo inicial de 34,8 milhões
de euros por parte do BES à empresa
controlada por Vieira e mais quatro
Ænanciamentos concedidos até Julho
de 2014 à mesma sociedade, num
valor global de 54,3 milhões. Como
garantia dos empréstimos foram
dadas livranças avalizadas por Vieira
e pela mulher.
Com a resolução do BES, em Agos-
to de 2014, a dívida da Imosteps passa
para o Novo Banco, então totalmente
detido pelo Fundo de Resolução.
“Foi apenas amortizada em 1 de
Abril de 2015 a quantia de 111.871
euros”, escreve o MP, dando conta
Fonte: PÚBLICO
DETIDOS
Luís Filipe Vieira
Presidente do Benfica e da SAD do
clube desde Novembro de 2003, o
empresário é suspeito de burla
qualificada, fraude fiscal, abuso de
confiança agravada, falsificação de
documentos, branqueamento de
capitais e fraude fiscal qualificada. Os
supostos esquemas de fraude terão
causado prejuízos à sociedade que
gere o futebol “encarnado”, ao Novo
Banco e ao Estado português.
Tiago Vieira Bruno Geraldes de Macedo
Filho mais velho de Luís Filipe Vieira, Advogado e empresário, possui
substituiu o pai nos negócios da várias sociedades imobiliárias e
família. É suspeito de participação de agenciamento de jogadores,
em várias operações que tendo estado envolvido em
delapidaram património da Benfica importantes
SAD e causaram graves prejuízos ao contratações/transferências do
Novo Banco e ao Estado. Entre os Benfica e FC Porto. É suspeito de
quais o suposto esquema para a ter acordado com Luís Filipe
aquisição da dívida da sociedade Vieira um esquema destinado a
Imosteps ao Novo Banco por um desviar dinheiro da SAD em
baixo custo. negócios de jogadores.

que, meses antes, já havia quase qua-
tro milhões de juros vencidos.
Com a venda de 75% do Novo Ban-
co à Lone Star, em Outubro de 2017,
a participação do Fundo de Resolu-
ção no sucessor do BES passa para
25%, mas o acordo estipulava que
caso se reunissem determinadas con-
dições o Fundo de Resolução podia
ser chamado a compensar a Lone Star
até um limite de perto de 3,9 mil
milhões de euros. Este mecanismo
tem sido utilizado para injectar milha-
res de milhões no Novo Banco, o que
é feito através de dinheiro público,
que sai do bolso dos contribuintes.
Tal também aconteceu com este
negócio especíÆco que só entre 2017
e 2019 levou o Novo Banco a registar
perdas de 45,6 milhões de euros, que
foram compensados à Lone Star com
dinheiro público.
Em 2019, dizem os mandados, Viei-
ra e o Ælho montaram o esquema para
adquirir a dívida, tendo sido alertados
por um administrador do Novo Banco
de que formalmente o nome do pre-
sidente do BenÆca não podia apare-
cer na operação. Daí ter contratado
os serviços de um consultor para
José António dos Santos
Dono do Grupo Valouro e conhecido
como “Rei dos Frangos”, é amigo de
longa data e sócio de Luís Filipe
Vieira, detendo mais de 16% da SAD
benfiquista. Segundo o Ministério
Público terá financiado, de forma
encapotada, vários negócios do líder
“encarnado” com um esquema de
criação de estruturas societárias e
montagem de operações financeiras
cruzadas.
Gaioso Ribeiro
Ex-vice-presidente do Benfica,
antigo administrador da SAD e sócio
da sociedade de capital de risco C2
Capital, que gere o património da
Promovalor - o grupo imobiliário de
Luís Filipe Vieira que é um dos
grandes devedores do Novo Banco –
foi também alvo de buscas do
Ministério Público. O empresário não
foi, para já, constituído arguido.
constituir um fundo de investimento
de capital de risco para comprar a
dívida da Imosteps que iria ser subs-
crito formalmente pelo empresário
José António dos Santos e pela sua
mulher.
Foi este fundo que ofereceu 9,7
milhões de euros pela dívida da Imos-
teps e pelos 12,5% que o Novo Banco
tinha na Oata, um negócio que aca-
bou por ser vetado pelo Fundo de
Resolução. “Tal proposta, apesar de
aceite e conÆrmada pelo conselho de
Negócios de 44,7
milhões de euros
teriam sido
financiados pelo
presidente do
grupo Valouro, mas
tinham Vieira como
beneficiário, diz MP
Carlos Alexandre
É o juiz de instrução deste caso. Durante
anos foi o único juiz do Tribunal Central
de Instrução Criminal, que concentra a
criminalidade mais complexa do país.
Por isso, tinha entre mãos o
acompanhamento das principais
investigações em Portugal. Tal valeu-lhe
as alcunhas de “Superjuiz” e de “Juiz dos
Poderosos”. Em Setembro de 2014
deixou de estar sozinho no Ticão, um
tribunal que partilha actualmente com
outro juiz polémico: Ivo Rosa.
Rosário Teixeira
É o procurador que coordena a equipa
de investigação e é provavelmente o
magistrado que mais sabe de
branqueamento de capitais no
Ministério Público.
administração do Novo Banco, não foi
aprovada pelo Fundo de Resolução”
uma vez que este exigiu saber quem
era o subscritor do fundo o que levou
à revelação do nome de José António
dos Santos, sócio de Vieira e o maior
accionista privado da SAD benÆquis-
ta, “o que bastou para o considerar
como possível parte relacionada com
a pessoa de Luís Filipe Vieira”.
Curioso é que o Novo Banco acabou
por vender a dívida da Imosteps, a
participação na Oata e o direito a ser
reembolsada em mais de 17 milhões
ao fundo americano Davidson Kemp-
ner integrado na carteira do polémico
Projecto Nata II, onde lhe foi atribuído
um valor de apenas 6,6 milhões de
euros. O que não saiu pela porta aca-
bou por sair pela janela, já que Vieira,
através do amigo José António dos
Santos, compra a dívida da Imosteps
em Agosto do ano passado ao fundo
americano por 9,1 milhões de euros,
menos 600 mil euros do que este
tinha oferecido inicialmente.
Testa-de-ferro
Em Dezembro do ano passado, Luís
Filipe Vieira vendou por um euro as
acções da Imosteps ao fundo contro-
lado pelo empresário José António
dos Santos, conhecido como o “rei
dos frangos”, tendo este devolvido as
cinco livranças assinadas pelo presi-
dente do BenÆca que serviam de
garantia pessoal dos empréstimos.
Vieira deixou assim de ter qualquer
relação com a Oata, que detinha os
terrenos no Brasil. “No entanto,
indiciam os autos que Luís Filipe
Vieira continuou a tomar todas
as decisões relativas aos negó-
cios daquelas duas sociedades e
sobre os activos do Brasil”, aÆr-
ma o MP.
Este não terá sido o único
negócio em que António dos
Santos surge como uma espécie
de testa-de-ferro do presidente do
BenÆca. Os negócios, que a investi-
gação calcula terem um valor global
de 44,7 milhões de euros, teriam sido
Ænanciados pelo presidente do gru-
po Valouro, mas na realidade tinham
Vieira como “verdadeiro beneÆciário
Ænal dos mesmos”, sustenta o MP.
Estaria apenas prevista a “compen-
sação dos gastos e a remuneração dos
capitais” do amigo, o que aconteceria
através de operações Ænanceiras cru-
zadas, que incluíam a utilização de
contas bancárias na Suíça e no
Dubai.
“Suspeita-se que, para adiantar
esse retorno do investimento ou para
alimentar a esperança no mesmo,
tenha sido promovido por Luís Filipe
Vieira um novo negócio, que se traduz
numa operação de alienação de 25%
do capital social da Sport Lisboa e
BenÆca SAD, para efeito do qual essa
participação seria concentrada na
pessoa de José António dos Santos,
com a promessa de este vir a Æcar
com as mais-valias geradas pela venda
de acções a um preço acima do de
mercado”, lê-se no mandado.
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 3
Novo Banco
Auditoria a Vieira ainda
sem ver a luz do dia
Marta Moitinho Oliveira
Auditoria pedida pelo
Fundo de Resolução aos
créditos de Vieira procura
avaliar suspeitas sobre
recuperação dos créditos
A
existência de uma auditoria
aos créditos de Luís Filipe
Vieira, pedida pelo Fundo
de Resolução, é conhecida
há meses — o presidente exe-
cutivo do Novo Banco, Antó-
nio Ramalho, conÆrmou-a em Setem-
bro de 2020 e admitiu atraso no pro-
cesso por causa da obrigação da troca
da auditora —, mas até hoje ainda não
são conhecidas as suas conclusões.
Na origem desta auditoria está a
suspeita, por parte do Fundo que
autoriza os reforços de capital no
Novo Banco, de que a transferência
de parte da dívida do presidente da
Promovalor para o fundo gerido por
Nuno Gaioso Ribeiro possa estar
assente em hipóteses optimistas que
ameaçam o objectivo Ænal: Vieira
pagar os Ænanciamentos ao Novo
Banco.
As conclusões desta auditoria são
aguardadas com expectativa. Já o
eram, tendo em conta que, segundo
as informações que existem na comis-
são parlamentar de inquérito ao Novo
Banco, Luís Filipe Vieira é o segundo
maior devedor do banco. Agora, o
interesse em torno desta análise
aumenta com a detenção do presi-
dente do BenÆca e as suspeitas do
Ministério Público de que Vieira pos-
sa ter lesado o Estado. Em causa estão
operações relacionadas com os cré-
ditos junto do Novo Banco.
Durante as audições no âmbito da
comissão de inquérito, João Freitas,
secretário-geral do Fundo de Resolu-
ção e director do departamento de
resolução do Banco de Portugal, que
foi ouvido a 1 de Junho, explicou que,
além do trabalho feito pela Deloitte
na auditoria especial que analisou os
créditos e actos de gestão, o Fundo
“também pediu uma análise sobre os
pressupostos Ænanceiros relaciona-
dos com o plano de negócios do Fun-
do de Investimento, porque nos pare-
cia, nessa ocasião, que os pressupos-
tos eram um pouco ambiciosos,
optimistas, e tínhamos, de facto, dúvi-
das de que fossem credíveis”.
Em causa está o Fundo de Investi-
mento Alternativo Especializado
(FIAE) gerido pela C2 Capital Partners,
a empresa liderada por Nuno Gaioso
Ribeiro, que já foi “vice” de Vieira no
BenÆca e que também foi alvo de bus-
cas na investigação do Ministério
Ramalho aprovou operação
Público. No Parlamento, Nuno Gaioso
Ribeiro conÆrmou que o FIAE gere
uma dívida num valor total de 219,7
milhões de euros, que tem associado
um conjunto de activos, onde estão
terrenos, hotéis, escritórios, espalha-
dos por vários países, através dos
quais o fundo prevê fazer negócio que
permita pagar a dívida. Gaioso consi-
derou que esta foi a “solução adequa-
da” perante as circunstâncias e que
minimiza perdas para o banco e os
contribuintes.
Mas esta solução deverá implicar
perdas, a avaliar pelas contas do Novo
Banco a que o inquérito parlamentar
teve acesso, e que apontam para per-
das de 183 milhões de euros com base
na “expectativa no business plan do
Novo Banco” feita antes da pandemia,
como revelou o deputado do PSD
Hugo Carneiro. Este valor resulta de
uma exposição de 387 milhões de
euros e uma previsão de recuperação
de 203,9 milhões. Mas isto era antes
da pandemia. Também na comissão
de inquérito, o gestor do fundo admi-
tiu que a crise sanitária piorou os
negócios do imobiliário. “Em relação
à meta que estava prevista para daqui
a um ano e meio aproximadamente,
que é uma meta que pressupõe a ven-
da de um activo relevante, eu disse
expressamente, já neste enquadra-
mento, que vejo hoje que é difícil essa
meta poder vir a ser atingida”, disse
Gaioso. O que signiÆca que o FIAE
não vai pagar os 60 milhões de euros
previstos para 2022. ReÆra-se que, em
Outubro do ano passado, esta opera-
ção terá estado na origem da demis-
são de três gestores do banco, até
então da conÆança de António Rama-
lho.
Vieira disse aos deputados nada
saber sobre a auditoria. “Nunca nin-
guém falou comigo”, declarou.
4 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Destaque Justiça
Agente próximo de Luís Filipe Vieira
Bruno de Macedo envolvido nas três transferências
que desviaram milhões do Benfica
Paulo Curado
Dinheiro terá circulado por
sociedades controladas
pelo advogado, antes de
transitar para a esfera
empresarial de Vieira
Luís Filipe Vieira é suspeito de ter
desviado perto de 2,5 milhões de
euros da Sociedade Anónima Despor-
tiva (SAD) do Benfica com a colabora-
ção do advogado e intermediário de
jogadores Bruno Geraldes de Macedo
e do seu filho, Tiago Vieira. Em causa,
estão as alienações dos direitos eco-
nómicos de três jogadores de futebol
sul-americanos que não tiveram futu-
ro na Luz, com os montantes gerados
a servirem para amortizar dívidas
bancárias e para comprar terrenos a
empresas do líder “encarnado”.
De acordo com a investigação,
Vieira e Bruno de Macedo terão mon-
tado, pelo menos desde 2014, um
esquema para beneficiar de verbas
da SAD supostamente destinadas à
compra e venda de direitos econó-
micos de dois futebolistas paraguaios
e um brasileiro. Para isso, foram uti-
lizadas sociedades offshore, com
registo nos Estados Unidos, Emira-
dos Árabes e Tunísia, controladas
directa ou indirectamente pelo advo-
Antigo jogador é um dos vice-presidentes
Rui Costa, solução de recurso ou problema adicional?
Nuno Sousa
N
ão há momentos apropriados
para que se instale uma crise,
seja em que sector for, mas o
terramoto que está a fazer
estremecer o BenÆca chegou
numa altura particularmente
delicada. Depois de uma época frus-
trante a todos os níveis, o clube vive
dias decisivos no ataque ao mercado
de transferências e na tentativa de
reequilibrar a sua condição Ænancei-
ra. Dois pelouros que têm em Rui
Costa e Domingos Soares Oliveira,
respectivamente, os rostos mais visí-
veis. E são justamente estes dois
homens que, em caso de impedimen-
to de exercício de funções por parte
de Luís Filipe Vieira, provavelmente
terão de dar um passo em frente.
No caso de Rui Costa, na qualidade
de primeiro vice-presidente da direc-
ção, será o elemento mais directa-
gado de Braga.
O dinheiro circulou por estas enti-
dades para camuflar o rasto, antes de
transitar para empresas da esfera de
Vieira, em prejuízo dos cofres benfi-
quistas e do Estado, que foi lesado em
impostos não cobrados. O Ministério
Público identificou como sociedades
instrumentais utilizadas por Bruno de
Macedo a Master International FZE;
Astro Sports Management FZE; Inter-
national Sports Fund, Ltd; ICC —
International Consulting Company
(actualmente STE International Con-
sulting Company) e a Trade IN.
Os jogadores envolvidos nestas
operações foram os paraguaios Derlis
González e Claudio Correa Caniza,
contratados ao clube Rubio Ñu, e o
brasileiro César Martins, proveniente
da Associação Atlética Ponte Preta.
Nenhum deles ficou muito tempo no
Benfica e apenas o último prosseguiu
carreira em Portugal, tendo represen-
tado, na época passada, o Farense.
Na investigação, foram identifica-
das operações financeiras desenvol-
vidas por sociedades, dentro e fora
de Portugal, controladas por Bruno
de Macedo, com a colaboração de
terceiros. Foram estas empresas que
tiveram intervenção nas transferên-
cias de jogadores, colocando parte
das verbas recebidas do Benfica em
empresas relacionadas com Vieira,
mente associado ao que dispõe o
artigo 62.º dos estatutos do clube:
“Compete ao presidente da direcção
convocar e presidir às reuniões da
direcção sendo, nas suas faltas e
impedimentos, substituído pelo vice-
presidente, designado nos termos da
alínea a) do n.º 3 do Artigo 61.º”
Se a missão, por si só, já seria espi-
nhosa, tendo em consideração o con-
texto desportivo, mais se torna se
tivermos em conta que é precisamen-
te Rui Costa que tem liderado o dos-
sier das contratações e que poderá ter
de delegá-lo, numa altura crucial do
mercado de transferências, para assu-
mir competências bem mais abran-
gentes. De resto, em matéria de nego-
ciações, Luís Filipe Vieira costuma ter
um papel bastante activo e, também
nesse particular, será necessário um
esforço extra da parte do eventual
líder interino.
O nome de Rui Costa — que nos últi-
Derlis González rumou
ao Basileia por três milhões
através da simulação de negócios.
Entre 1 Julho de 2013 e 31 Março de
2014, uma destas sociedades, a Mas-
ter International FZE, registada nos
Emirados Árabes Unidos, pagou 1,72
milhões de euros relativos à aliena-
ção dos direitos económicos de Der-
lis González e de Claudio Correa
Caniza, contratados em 2013. Ambos
os jogadores acabam por ser trans-
feridos pouco depois desta opera-
ção, a 1 de Julho de 2014.
mos anos já foi apontado pelo próprio
Vieira como seu natural sucessor na
presidência —, porém, vem à baila
num momento de especial escrutínio
e ontem o dirigente viu-se forçado a
enviar ao conselho Æscal do clube um
esclarecimento sobre as suspeitas de
negócios que envolvem o BenÆca e
uma sociedade da qual é detentor, a
10 Events.Lda. De acordo com o jor-
nal A Bola, Rui Costa terá explicado
que “nunca exerceu qualquer activi-
dade de agenciamento de jogadores”
e rejeita uma “alegada parceria entre
o Footlab [empresa de que o seu Ælho,
Filipe Costa, é CEO] e o BenÆca”.
Rui Costa refuta
suspeitas de
incompatibilidade
levantadas
ontem por um
grupo de sócios
do Benfica
RUBEN SPRICH/REUTERS
O primeiro foi contratado pelos
paraguaios do Club Sol de América,
por um valor não apurado; o segundo
rumou aos suíços do Basileia, a troco
de três milhões de euros. Este valor
possibilitou uma mais-valia de 1,28
milhões de euros à Master Internatio-
nal, com parte do valor a chegar a
sociedades controladas por Vieira.
Já a 20 de Junho de 2014, a Benfica
SAD adquiriu 15% dos direitos econó-
micos do brasileiro César Martins ao
Ponte Preta por um valor que terá
chegado aos três milhões de euros,
segundo o Ministério Público (MP). O
“Posso aÆrmar que nunca participou
em qualquer negociação que envol-
vesse o BenÆca, conforme pode ser
demonstrado pelos contratos das
atletas identiÆcadas na carta.”
A carta a que se refere foi um pedi-
do de esclarecimento dirigido ao con-
selho Æscal por um conjunto de
sócios, encabeçado por Francisco
Benitez, um dos candidatos às últimas
eleições para a presidência do clube.
Na missiva, divulgada pelo Correio da
Manhã, é sugerida uma eventual
incompatibilidade e desrespeito pelo
artigo 44.º dos estatutos: “Os mem-
bros dos órgãos sociais não podem,
directa ou indirectamente, estabele-
cer com o clube e sociedades em que
este tenha participação relevante,
relações comerciais ou de prestação
de serviços, ainda que por interposta
pessoa (...)”, estipula.
É neste clima de pressão que Rui
Costa poderá ser chamado a assumir
negócio foi intermediado pela socie-
dade ADM Esporte do agente Hugo
Garcia Martorell.
Cinco dias depois, os restantes 85%
do passe do futebolista, então detidos
pela sociedade norte-americana Con-
tinental Finishing Equipment, Inc,
seriam cedidos à empresa Trade In,
sediada na Tunísia, a troco de 600 mil
euros. Já a 4 de Julho do mesmo ano,
a Trade In — que o MP relaciona com
Bruno de Macedo — acerta com o Ben-
fica a venda de 35% dos direitos eco-
nómicos por 1,55 milhões de euros,
mantendo os restantes 50%.
Este contrato, assinado por Luís
Filipe Vieira e Domingos Soares Oli-
veira, vogal da administração da
SAD, terá rendido desde logo uma
mais-valia de 1,3 milhões de euros à
Trade In. Parte destes ganhos chega-
riam também a empresas de Vieira,
após circularem por outras socieda-
des, servindo para amortizar passivo
bancário.
Outras verbas que passaram pelas
sociedades de Bruno de Macedo terão
servido para comprar terrenos em
empresas do grupo de Vieira. Um
suposto esquema de fraudes que con-
tou ainda com a participação de Tiago
Vieira, filho do presidente “encarna-
do”, enquanto administrador de
empresas como a Inland, a Onlypro-
perties e a Cofibrás.
novas responsabilidades, mas corre
o risco de não ser o único. Isto por-
que, no caso de Luís Filipe Vieira não
poder exercer funções na SAD,
Domingos Soares Oliveira (director
executivo do BenÆca, vogal da SAD e
administrador da BenÆca SGPS) deve-
rá ganhar mais protagonismo. E a
verdade é que há já um dossier urgen-
te para gerir, a emissão de um emprés-
timo obrigacionista de 35 milhões de
euros, que decorre até dia 23.
Ora, os termos deste instrumento
de Ænanciamento correm o risco de
ser alterados e os “encarnados” já
solicitaram, inclusive, uma adenda à
CMVM. Até porque, como prevêem
no próprio prospecto: “Qualquer pro-
cesso de natureza judicial, arbitral ou
administrativa pendente ou que
venha a ser instaurado contra o emi-
tente (...) poderá implicar consequên-
cias adversas a vários níveis no des-
envolvimento das suas actividades.”
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6 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Destaque Justiça
Duas décadas separam os dois casos
Luís Filipe Vieira e Vale e Azevedo:
o que os une nas suspeitas e separa no Benfica
Miguel Dantas
Em Fevereiro de 2001, o
ex-presidente do Benfica
era chamado à Justiça por
suspeitas de desvio de
dinheiros do clube
U
sar a dimensão e o prestígio
da instituição BenÆca para
benefício pessoal e apro-
priar-se indevidamente de
dinheiros do clube: apesar de
o número e tipologia de cri-
mes — bem como os esquemas Ænan-
ceiros imputados pelo Ministério
Público para estes alegados desvios
— serem diferentes, a base das suspei-
tas que pairam sobre Luís Filipe Viei-
ra são as mesmas que João Vale e
Azevedo enfrentou no dia 17 de Feve-
reiro de 2001, data em que o ex-pre-
sidente das “águias” foi ouvido por
um juiz de instrução criminal e soube
que Æcaria detido em prisão domici-
liária.
Além deste ponto comum existe
ainda, no modus operandi que o
Ministério Público atribui a Luís Filipe
Vieira, outra semelhança com as
imputações feitas a Vale e Azevedo há
20 anos: em ambos os casos, suspei-
tava-se que os supostos desvios de
dinheiro do clube tivessem aconteci-
do nas verbas de comissão na trans-
ferência de jogadores.
“Com Vale e Azevedo existiram um
conjunto de propostas demagógicas,
explorando o pior que há na condição
humana: levar as pessoas a acredita-
rem em mentiras, levar as próprias
pessoas a quererem ser enganadas.
Houve alguém que se aproveitou dis-
so e que fez da mentira a principal
razão do seu mandato. Há um caso de
um pagamento ao Manchester United
em que ele durante meses disse que
o dinheiro já tinha seguido e a verba
continuava sem ser paga. Perdeu as
eleições — não havia voto electrónico
naquela altura — e depois foi o que se
sabe”, relembra Rui Gomes da Silva,
antigo vice-presidente do BenÆca, em
declarações ao PÚBLICO.
A principal diferença entre os dois
processos prende-se com a posição
de Vieira e Vale e Azevedo no BenÆca
quando começaram as investigações.
Ao longo dos anos, o presidente
“encarnado” fez questão de relem-
brar aos sócios e simpatizantes a
situação de ruína Ænanceira e reputa-
cional em que encontrou o clube
quando foi eleito para o primeiro
mandato, resultante da gestão dano-
sa de Vale e Azevedo.
Vale e Azevedo, presidente do clu-
be entre Outubro de 1997 e Novembro
de 2000, já tinha abandonado a Luz
quando foi chamado à Justiça. Já
tinha, inclusive, formado um estatuto
de persona non grata no clube antes
de ser detido. Exemplo disso foi a
própria reacção do BenÆca à deten-
ção: várias Æguras de proa dos encar-
nados à época criticaram o antigo
dirigente. Manuel Vilarinho, o único
membro da direcção a comentar o
caso nesse dia, não escondeu o
“momento muito triste” que a deten-
ção simbolizava para o BenÆca.
Já Luís Filipe Vieira, líder do BenÆ#
ca há 17 anos — de longe, o presidente
mais duradouro dos “encarnados”
— possui, pelo menos por enquanto,
o cargo máximo no clube, com 22
títulos conquistados na equipa prin-
cipal do BenÆca. Contudo, nos comu-
nicados publicados pelo clube, foi
notório o afastamento face às investi-
gações. Aos sócios e simpatizantes, a
direcção mostrou-se empenhada em
defender “os interesses do clube”,
mostrando-se disponível para apoiar
o trabalho das autoridades “até às
últimas consequências”.
Rui Gomes da Silva não hesita em
traçar uma grande distinção entre
Vale e Azevedo e Vieira, de quem foi
vice-presidente, em apenas dois pon-
tos: obra feita e títulos conquistados.
Reconhecendo a Vieira a transforma-
ção feita no clube, o antigo dirigente
— e candidato à presidência nas últi-
mas eleições — diz que já esperava
este desfecho para o actual presiden-
te do BenÆca, que se prolongou no
cargo.
“O erro dele [de Vieira] foi querer
ser um segundo Cosme Damião e
achar que era o maior do BenÆca. Se
ele tem saído a tempo…”, aÆrma Rui
Gomes da Silva, garantindo que ten-
tou transmitir esta mensagem inter-
namente. “[A detenção de Vieira] é
surpreendente? É, porque era um
presidente ainda em funções e toda a
gente dizia que isso [uma detenção]
não acontecia. O que achei é que,
mais tarde ou mais cedo, ia aconte-
cer”, relembra.
DR
Vale e Azevedo (em cima) em
Assembleia Geral do Benfica,
em 1998, e Luís Filipe Vieira (em
baixo), em Setembro de 2018
Vieira quis ser um
novo Cosme Damião
Rui Gomes da Silva
Ex-vice presidente do Benfica
MIGUEL A. LOPES/LUSA
João Vale e Azevedo chegou a julga-
mento acusado de um total de 15 cri-
mes: 14 de peculato e um de bran-
queamento de capitais. Após dois
meses de audições, o colectivo de
juízes, presidido por Anabela Mar-
ques, apenas deu como provado um
dos crimes de peculato, no âmbito da
transferência do guarda-redes russo
Serguei Ovchinnickov do clube da Luz
para o Alverca.
Como o PÚBLICO noticiou em Abril
de 2002, a juíza deu como provado
“a apropriação efectiva do arguido de
dinheiro do BenÆca para as contas da
Vale e Azevedo e Associados e da JFI
[a empresa de offshore com sede nas
ilhas Virgens, que se demonstrou per-
tencer ao próprio]”.
Nesta transferência, Vale e Azevedo
era acusado de se ter apropriado
indevidamente de dois cheques no
valor de 1,3 milhões de euros. Esta
verba teria sido posteriormente usada
na compra do iate Lucky me através
da empresa JFI.
O dirigente seria condenado a uma
pena de prisão efectiva de quatro
anos e meio — a que se juntaria, mais
tarde, um ano e meio de prisão por
três crimes de falsiÆcação num outro
caso do futebol, o Euroárea. Aos qua-
tro anos e meio foram deduzidos os
14 meses que o ex-dirigente “encar-
nado” passou em prisão preventiva.
Em resultado de outros processos,
Vale e Azevedo seria condenado a um
total de 11 anos e meio de prisão.
De que é Vieira suspeito?
Quanto a Luís Filipe Vieira, o Ministé-
rio Público (MP) suspeita que tenha
criado uma oferta pública de aquisi-
ção (OPA) sobre a SAD do BenÆca
para recompensar José António dos
Santos, o “rei dos frangos”, pelos
investimentos feitos nas empresas
detidas por ambos. De acordo com os
mandados das investigações e buscas
da Operação Cartão Vermelho, o líder
do grupo Valouro terá adiantado 44,7
milhões de euros ao presidente do
BenÆca para a concretização de vários
negócios.
Esta operação Ænanceira, com a
qual o “rei dos frangos” poderia
lucrar 11 milhões de euros era, na tese
do MP, uma forma de Vieira devolver
parte dos quase 45 milhões. Ou seja,
com dinheiro do BenÆca, o dirigente
pagaria ao empresário, o maior accio-
nista particular da SAD “encarnada”,
os investimentos nas empresas pes-
soais. De acordo com o MP, esta acção
seria replicada também nas comis-
sões das transferências de jogadores,
com recursos a sociedades instru-
mentais e contratos forjados.
8 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Destaque Covid-19
Governo ajusta
estratégia
e aposta
na vacinação
e na testagem
Férias em alojamentos turísticos só com teste ou certiÄcado
covid. Ir a restaurantes aos Äns-de-semana e feriados também,
em 60 concelhos. Autotestes à venda em supermercados
São José Almeida e Sónia Sapage
A
aposta do Governo é agora
incentivar as pessoas à vaci-
nação e à testagem contra a
covid-19 e também criar
condições para os sectores
da restauração e da hotela-
ria recuperarem o seu funcionamen-
to. Esta é a conclusão que se pode
tirar da conferência de imprensa dada
ontem pela ministra de Estado e da
Presidência do Conselho de Minis-
tros, no Ænal da reunião do plenário
do Governo.
Os ajustes na estratégia de combate
à pandemia levaram o Governo a
abandonar medidas que estavam em
vigor há menos de um mês e a optar
por uma nova abordagem. Já não há
restrições, durante o Æm-de-semana,
à circulação para entrar ou sair da
Área Metropolitana de Lisboa, mas
mantém-se a proibição de circulação
na via pública entre as 23 horas e as 5
horas do dia seguinte.
A novidade é o alargamento das
funções do certiÆcado digital covid-
19, como já tinha sido admitido pelo
primeiro-ministro, que liderou a sua
aprovação durante a presidência por-
tuguesa da União Europeia. Este
documento, que certiÆca a vacinação
integral, bem com a existência de tes-
tes válidos, já era usado para o acesso
a alguns eventos, como casamentos
ou grandes espectáculos.
Os novos casos subiram 54%
na última semana, mas o
Governo levantou as restrições
à circulação na AML
Agora, passa a funcionar como um distanciamento físico.
passaporte de acesso a restaurantes Esta alteração na estratégia de pre- Medidas especiais em 60 concelhos
desde as 19h de sexta-feira até às venção e combate à covid-19 foi deter- Alerta (sem medidas especiais): 34 Risco Risco muito
22h30 de domingo e também aos minada, como assumiu a própria elevado elevado
Risco elevado: 27
feriados, nos concelhos de risco ele- ministra de Estado e da Presidência • Albergaria-a-Velha • Albufeira
vado e de risco muito elevado, que do Conselho de Ministros, pelo facto Risco muito elevado: 33
• Alenquer • Alcochete
perfazem agora 60 (também há testes de, na última semana, a média acu- • Aveiro • Almada
que servem para o mesmo efeito). mulada de casos no território conti- • Azambuja • Amadora
Acaba assim a restrição, nos conce- nental ter crescido 54% face à semana • Bombarral • Arruda dos Vinhos
lhos de risco muito elevado, de os anterior. Os internamentos também • Braga • Avis
restaurantes fecharem às 15h30 aos aumentaram 22% e o número de • Cartaxo • Barreiro
Æns-de-semana e feriados (mediante doentes em cuidados intensivos cres- • Constância • Cascais
certas regras). ceu 18%. Ou seja, ao contrário do que • Ílhavo • Faro
O certiÆcado (assim como os testes) aconteceu em Janeiro e Fevereiro, a • Lagoa • Lagos
serve ainda de acesso a hotéis, esta- aceleração de contágios não se reÇec- • Matosinhos • Lisboa
belecimentos turísticos e de aloja- te em proporção idêntica na pressão • Óbidos • Loulé
• Palmela • Loures
mento local, em todo o território sobre o Serviço Nacional de Saúde. Já
• Portimão • Lourinhã
continental, todos os dias da semana, a incidência de novos casos por cem
• Paredes de Coura • Mafra
e devem ser feitos no momento do mil habitantes nos últimos 14 dias é
• Rio Maior • Mira
check-in, incluindo por turistas. de 254,8 e o rácio de transmissão (Rt)
• Salvat. de Magos • Moita
Esta exigência foi a forma que o está em 1,2. • Santarém • Montijo
Governo encontrou para fazer face à Isso não justiÆca ainda que o país • Setúbal • Mourão
escalada nos números, sem partir retome o estado de emergência, razão • Sines • Nazaré
para um aperto das regras. O Governo pela qual a situação de calamidade • Torres Vedras • Odivelas
decidiu também que os autotestes vai manter-se até 25 de Julho. Além • Trancoso • Oeiras
passarão a ser vendidos em super- disso, também não haverá alterações • Trofa • Olhão
mercados e outros estabelecimentos na matriz de risco, que foi recente- • Viana do Alentejo • Porto
de retalho alimentar, uma medida mente aumentada. “No que diz res- • V. N. Famalicão • Santo Tirso
que será regulamentada pela ministra peito à matriz de risco, tencionamos • Vila Nova de Gaia • S. Brás de Alportel
da Saúde, Marta Temido. continuar a segui-la, até termos uma • Viseu • Seixal
Com a adopção desta medida de percentagem de pessoas vacinadas • Sesimbra
criação de uma espécie de livre-trân- superior àquela que temos neste • Silves
sito regulado para a restauração, o momento, mais signiÆcativa, que • Sintra
executivo aposta que os contágios alcançaremos durante o mês de Agos- • S. Monte Agraço
passem a limitar-se a momentos lúdi- to”, disse Mariana Vieira da Silva. • Vagos
cos ou familiares, em que as pessoas De acordo com os dados anuncia- • V. Franca de Xira
se descontraem sem máscara e sem dos por Mariana Vieira da Silva, há 60 Fonte: Conselho de Ministros, 8 de Julho PÚBLICO

concelhos sob medidas de restrição.
Destes, 27 estão em risco elevado e 33
estão em situação de risco muito ele-
vado. Há ainda 34 concelhos em situa-
ção de alerta, que tiveram uma inci-
dência de mais de 120 novos casos
por cem mil habitantes nos últimos
14 dias, o que signiÆca que, se não
baixarem deste limite, na próxima
semana sofrerão restrições.
Nos concelhos de risco elevado as
medidas em vigor são, a partir de
hoje: teletrabalho obrigatório; espec-
táculos culturais e restauração até às
3269
são os novos casos de covid-19
contabilizados ontem pela DGS,
além das nove mortes. Há 136
pessoas internadas em UCI
22h30 (sendo que os restaurantes
podem ter grupos até seis no interior
e dez na esplanada); comércio a reta-
lho até às 21h. O teletrabalho, assim
como a proibição de circulação na via
pública, é obrigatório em ambas as
situações de risco (elevado e muito
elevado).
Ao Æm-de-semana, nos concelhos
de risco muito elevado, os espectácu-
NUNO FERREIRA SANTOS
los culturais podem funcionar até às
22h30, assim como a restauração.
Neste caso, são permitidos grupos de
quatro pessoas no interior e de seis
nas esplanadas. O retalho alimentar
pode estar aberto até às 19h e o não
alimentar até às 15h30. Nos ginásios,
não pode haver aulas de grupo e só
podem realizar-se eventos de moda-
lidades desportivas de baixo e médio
risco. Em casamentos e baptizados
apenas é permitido 25% da lotação do
espaço onde se realizam.
Apoio às empresas
Na conferência de imprensa do Con-
selho de Ministros participou também
o ministro de Estado, da Economia e
da Transição Digital, Pedro Siza Viei-
ra, que apresentou várias medidas de
apoio à economia (ver pág. 10). Uma
delas é a criação de empréstimos para
as micro e pequenas empresas, uma
medida que estava já no Orçamento
do Estado para 2021 e devia ter entra-
do em vigor em Março. Estes emprés-
timos obrigam as empresas a manter
os postos de trabalhos que tinham em
Outubro passado.
Outra medida anunciada por Pedro
Siza Vieira é a de que o Governo irá
prolongar as moratórias de crédito,
cujo Æm estava apontado para Setem-
bro. Esta medida será conhecida nos
seus contornos exactos, depois de o
Governo a negociar com a Comissão
Europeia.
Pergunta e resposta O que muda desta vez?
Novo Conselho de Ministros,
nova mudança de regras. Não
há muitas diferenças a registar
em relação ao que estava em
vigor até agora, mas há
novidades suficientes para
surgirem dúvidas e incertezas.
Nem tudo o que era válido
ontem será válido no
fim-de-semana, como é o
caso do “cerco” à Área
Metropolitana de Lisboa, que
foi levantado. Mantém-se a
situação de calamidade até 25
de Julho e há já 33 concelhos
“no vermelho” da matriz de
risco (que teve já de ser
adaptada ao aumento de
casos). Mudam as regras de
acesso a restaurantes e
hotéis. Tem dúvidas? Tire-as a
seguir:
Posso entrar ou sair de Lisboa
durante o fim-de-semana?
Sim. As proibições de entrada
e saída da Área Metropolitana
de Lisboa (AML) durante o
fim-de-semana deixam de
estar em vigor assim que o
diploma anunciado após o
Conselho de Ministros seja
publicado em Diário da
República. A ministra Mariana
Vieira da Silva explicou que a
decisão reflecte o
alastramento da variante Delta
a todo o país, razão pela qual
as restrições impostas à AML
já “não fazem sentido”.
Há recolher obrigatório?
Sim, nos concelhos em risco
elevado ou muito elevado
mantém-se a proibição de
circular na rua em certos
horários. Nestes 60 concelhos
continuará a vigorar recolher
obrigatório entre as 23h e as
5h, todos os dias.
Vivo num concelho de risco
elevado, posso ir jantar fora no
fim-de-semana?
Pode, mas há regras. Nos 27
concelhos de risco elevado ou
nos 33 de risco muito elevado
será exigido um teste negativo
ou o certificado digital para
poder fazer refeições no
interior dos restaurantes. A
medida só se aplica entre as
19h de sexta-feira e as 22h30
de domingo.
Quando é que a obrigação dos
testes negativos entra em
vigor?
Para que os serviços se
possam adaptar a esta
novidade, a obrigação de
apresentar um teste ou
certificado digital só passará a
ser aplicada a partir das 15h30
de amanhã.
E se almoçar numa esplanada?
Se optar por almoçar ou jantar
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 9
numa esplanada, não terá de
apresentar nem o certificado,
nem teste negativo, uma vez que
essas exigências se aplicam
apenas ao interior do
restaurante. No caso das
esplanadas, aplicar-se-ão apenas
as regras de lotação de espaço:
nos 33 concelhos em risco muito
elevado, a limitação é de seis
pessoas por mesa na esplanada;
já no caso dos 27 concelhos em
risco elevado podem estar até
dez pessoas a partilhar mesa na
esplanada.
Se estiver na esplanada, posso
entrar ao restaurante para ir ao
WC?
Nestes casos será dispensado o
teste negativo ou o certificado
(mas terá sempre de circular
com máscara).
Tenho férias marcadas num
hotel. Vou ter de fazer um teste
todos os dias?
Não, apenas à sua chegada.
Independentemente da duração
da estada, só lhe será pedido o
teste ou certificado digital no
momento do check-in. Atenção:
as regras para o alojamento
aplicam-se a todo o território
continental e não apenas aos
concelhos em risco elevado ou
muito elevado, e também são
válidas para turistas.
Quais os testes que posso fazer?
Os testes admitidos, quer na
restauração quer no alojamento,
devem obedecer a regras
específicas e estão sujeitos a
validação. Podem ser
apresentados quatro tipos de
testes: um teste PCR, realizado
nas 72 horas anteriores à sua
apresentação; um teste de
antigénio com relatório
laboratorial, realizado nas 48
horas anteriores à sua
apresentação; um teste rápido
de antigénio na modalidade de
autoteste, realizado nas 24 horas
anteriores à sua apresentação
na presença de um profissional
de saúde ou da área
farmacêutica que certifique a
sua realização e o seu
resultado; ou um teste rápido
de antigénio na modalidade de
autoteste, realizado no
momento, à porta do
estabelecimento que se
pretende frequentar, sob
verificação dos responsáveis
por estes espaços.
Posso fazer um teste em casa e
ir para o restaurante ou
alojamento?
Não. Se optar por fazer um
teste rápido, deverá sempre
fazê-lo numa farmácia ou à
entrada do estabelecimento
(restaurante ou hotel) para que
seja considerado válido.
Onde posso fazer um teste
gratuito?
Cada cidadão (ainda sem
vacinação completa) tem
direito a um teste por semana
(quatro testes por mês), que
pode ser adquirido em
qualquer farmácia. Há ainda
autarquias, como é o caso de
Lisboa, que disponibilizam
centros de testagem gratuita.
Também passarão a ser
vendidos testes nos
supermercados ou até mesmo
nos restaurantes e alojamentos
turísticos que o exijam.
Tenho um filho de cinco anos.
Também terá de ser testado ao
SARS-CoV2?
As crianças menores de 12 anos
não têm de apresentar um
teste negativo, mas a partir
dessa idade também
precisarão de teste negativo ou
de certificado digital. A mesma
regra será aplicada aos
alojamentos turísticos.
Quem irá fiscalizar a aplicação
destas regras?
Será o responsável pelo
estabelecimento (restaurante
ou hotel) que lhe pedirá o
certificado digital ou o teste
negativo. Nos eventos de maior
dimensão, como já vem a
acontecer, a fiscalização
poderá ser feita por forças de
segurança.
E se não cumprir?
Quem desobedecer às regras
anunciadas ontem pode
enfrentar multas até aos 10 mil
euros. As multas serão
aplicadas a quem frequenta
estabelecimentos de
restauração ou hotelaria. Para
os clientes, as multas podem ir
de 100 a 500 euros. Para os
donos dos estabelecimentos,
as coimas andarão entre os mil
e os 10 mil euros.
10 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Destaque Covid-19
Medida foi apresentada ontem após o Conselho de Ministros por Pedro Siza Vieira
Empresas
Governo vai “suportar”
prolongamento das moratórias
Rosa Soares
O
Governo viabilizou ontem
uma solução que permite
aos bancos e às empresas
de sectores mais afectados
pela pandemia continua-
rem a manter as moratórias
de crédito para além de Setembro.
A medida passa pela criação de
garantias, através do Fundo de Con-
tragarantia Mútuo, a conceder aos
referidos empréstimos, de forma a
continuarem com os pagamentos de
juros e capital suspensos, o que
signiÆca, na prática, a continuidade
da moratória.
O decreto-lei aprovado em Con-
selho de Ministros (CM) pode ainda
garantir outras soluções Ænanceiras,
nomeadamente a reestruturação de
créditos, através do alargamento de
prazos de amortização ou do reÆ#
nanciamento de dívidas.
Podem estar em causa 8,5 mil
milhões de euros em créditos, que
o Estado garantirá, assumindo a
responsabilidade do seu pagamento
no caso de incapacidade das empre-
sas para o fazer.
A medida anunciada pelo ministro
da Economia abrangerá empresas
que apresentem quebras elevadas de
facturação e se integrem em sectores
onde a actividade económica conti-
nua prejudicada pela pandemia,
como é o caso da Æleira do turismo,
do retalho especializado, transportes
e alguma indústria transformadora.
Fora deste universo Æcam outras
empresas que ainda se encontrem a
beneÆciar da moratória pública, e os
particulares com crédito à habitação,
que também verão a medida de sus-
pensão dos pagamentos terminar a
30 de Setembro.
No Ænal de Maio, os empréstimos
em moratória (a quase totalidade na
pública) totalizavam 38,5 mil milhões
de euros. Deste universo, 24,8 mil
milhões eram de empresas e, dentro
destas, os sectores economicamente
mais vulneráveis por causa da pan-
demia representavam 8,5 mil
milhões de euros.
Nos sectores mais afectados exis-
tiam 24,1 mil empresas abrangidas
pela medida criada no Ænal de Março
de 2020 para “proteger” as empresas
dos impactos da pandemia, e que
são, potencialmente, as que beneÆ#
ciarão do novo enquadramento,
agora criado pelo Governo.
Por enquanto, ainda não é muito
claro o mecanismo de acesso à garan-
tia pública, sendo que das palavras do
governante Æcou apenas a informa-
ção de que os empresários terão de
entrar em negociações com os ban-
cos, com vista à renegociação ou reÆ#
nanciamentos dos seus créditos.
Os detalhes da medida só deverão
ser conhecidos nos próximos dias.
Segundo as declarações de Siza Viei-
ra, na conferência de imprensa que
se seguiu ao CM, o Governo iniciará
agora conversas com a Comissão
Europeia para ajustar as medidas de
apoio às regras comunitárias, admi-
tindo, no entanto, que deverá ser
ANTÓNIO COTRIM/LUSA
possível apresentar a medida ainda
na próxima semana.
A solução “garantida” pelo Fundo
de Contragarantia Mútuo, entidade
pública, permitirá que os emprésti-
mos que vão continuar com paga-
mentos suspensos ou que passem a
ter outras condições, no âmbito de
reestruturações, não sejam classiÆca-
dos como de risco elevado ou mesmo
em incumprimento. Esta situação,
reclamada pelos presidentes de vários
bancos, é importante para as institui-
ções Ænanceiras, que não têm de
reconhecer as imparidades e fazer
provisões, e para as empresas, que
não serão sinalizadas como entidades
com incidentes de crédito ou em
incumprimento. Até agora, esse
enquadramento mais Çexível no tra-
tamento dos créditos foi dado pela
Autoridade Bancária Europeia (EBA,
na sigla em inglês), entidade que deci-
diu não prolongar a medida, que já
terminou em vários países europeus
mas que em Portugal ainda tem um
peso muito signiÆcativo.
Na quarta-feira, o ministro das
Finanças já tinha anunciado a vonta-
de de criar, ainda em Julho, um pro-
grama a que chamou de “transição”
para os sectores mais afectados e sem
condições de retomar o pagamento
dos seus créditos. O objectivo, para
as empresas, é “garantir que tenham
um período de carência prolongado
e que tenham mais tempo para amor-
tizar esses empréstimos”, de forma a
que “o esforço Ænanceiro que tenham
de fazer seja suavizado”.
Crise
Aprovados fundo
de capitalização e crédito
para empresas pequenas
Victor Ferreira
C
om três meses de atraso em
relação ao que estava previs-
to no Orçamento do Estado
(OE) de 2021, o Governo
aprovou ontem uma linha
de crédito de apoio à tesou-
raria para micro e pequenas empre-
sas. O artigo 185.º do OE2021, assen-
te numa proposta do PAN, prevê a
criação desta linha “até ao Ænal do
primeiro trimestre de 2021”. Acon-
tece que é aprovada a 8 de Julho,
mantendo a dotação máxima previs-
ta (de 750 milhões de euros) e a obri-
gação de manter os postos de traba-
lho que as empresas tinham em
Outubro de 2020. Com todo este
atraso, tal condição pode fazer rico-
chete e afastar muitos daqueles que
estariam na mente do PAN quando
propôs aumentar a ajuda às empre-
sas mais pequenas.
Como constatou um estudo com-
parativo de 37 países da OCDE, quan-
to mais pequenas as empresas, maio-
res as diÆculdades no acesso a ajudas
do Estado. As micro e pequenas
empresas portuguesas tiveram de
lidar com isto e, entre as razões apon-
tadas, estavam os critérios de elegibi-
lidade. Poderão ser estes, novamente,
a funcionar como um empecilho. Nas
micro e pequenas empresas, o des-
pedimento pode ser uma medida
imediata para aliviar custos. Mais
ainda quando as ajudas não chega-
vam. Agora que poderão contar com
uma linha bancária especíÆca, quan-
tas delas mantêm o volume de
emprego que tinham há dez meses?
Quantas passaram pelo segundo con-
Ænamento geral sem reduzir pessoal?
Empresas continuam a lidar
com restrições ligadas à covid
Quantas cumprem neste momento,
três meses após o prazo previsto pelo
OE, aquela condição?
No anúncio após a aprovação em
Conselho de Ministros, o ministro da
Economia, Pedro Siza Vieira, não
abordou este atraso. Sintetizou as
condições e os objectivos, dizendo
que este mecanismo “replicará a
experiência” de uma linha semelhan-
te criada em 2020, para as empresas
mais pequenas do sector do turismo,
e que foi executada pelo Turismo de
Portugal. O apoio será atribuído até
31 de Dezembro de 2021, sob a forma
de subsídio reembolsável.
Agora, trata-se de estender essa
lógica às micro e pequenas empresas
de outros sectores. Será operaciona-
lizada através do IAPMEI. Prevê um
período de carência de 18 meses.
O prazo máximo de reembolso é de
dez anos, diz o OE2021. São abrangi-
das as micro e pequenas empresas
em “situação de crise empresarial”,
que se comprometam a não reduzir,
até ao prazo de um ano após a con-
cessão do crédito, o número de pos-
tos de trabalho contabilizados a 1 de
Outubro de 2020.
O crédito a conceder “depende da
dimensão da empresa”, em função
do número de trabalhadores que
tenham a cargo. O limite estimado de
“cerca de 3000 euros de crédito por
cada posto de trabalho”. Assim sen-
do, para as microempresas, o tecto é
de 25 mil euros e para as pequenas
empresas será de 75 mil euros. “O
custo será bastante reduzido”, aÆan-
ça o governante, dizendo que as con-
dições deverão prever uma taxa de
juro equivalente ao valor da “Euribor
mais 1,5%”. Porém, esta questão “ain-
da não está fechada”.
A mesma reunião serviu para
outra decisão desejada pelo tecido
empresarial: foi aprovado o diploma
que cria o fundo de capitalização
através do qual o Estado poderá aju-
dar empresas em diÆculdades. Tra-
ta-se de uma medida prevista no
Plano de Recuperação e Resiliência
(PRR), ao abrigo do qual Portugal
pediu 1300 milhões de euros, a exe-
cutar através do novo Banco Portu-
guês do Fomento, criado em 2020,
mas que Æcou à espera do Ænancia-
mento do PRR (a “bazuca”). O banco
continua a ter uma administração
provisória. A escolha de Siza Vieira
para a presidência executiva, Beatriz
Freitas, foi ouvida em Junho, no Par-
lamento, e disse que a intervenção
“privilegiará instrumentos de quase
capital face a capital directo”.
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12 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Destaque Covid-19
Relatório do ECDC
Fechar escolas só em “último recurso”. Covid
tem pouco impacto na saúde das crianças
Alexandra Campos
Crianças e jovens até aos 18
desenvolveram sintomas
moderados e “muito
raramente” tiveram que ser
hospitalizadas, diz o ECDC
O
encerramento de escolas
para controlar a pandemia
de covid-19 deve ser usado
como “último recurso”
devido ao “impacto negati-
vo” que tem nos menores e
na sociedade em geral e tendo em
conta que as crianças e jovens até aos
18 anos apresentam taxas muito
reduzidas de hospitalização e de
doença grave, voltou a defender
ontem o Centro Europeu de Preven-
ção e Controlo das Doenças (ECDC,
na sigla em inglês) num novo relató-
rio sobre esta matéria.
“Continua a ser consenso geral que
a decisão de encerrar as escolas para
controlar a pandemia de covid-19
deve ser usada como último recurso”,
uma vez que “os impactos negativos
do ponto de vista físico, mental e edu-
cacional” nas crianças e o impacto
económico na sociedade em geral
“superam os benefícios”, justiÆca o
ECDC, que já defendeu esta tese nos
dois relatórios anteriores sobre
“Covid-19 nas crianças e o papel dos
estabelecimentos escolares na trans-
missão”. “Enquanto medida de últi-
mo recurso, o encerramento de esco-
las pode contribuir para uma redução
na transmissão do SARS-CoV-2, mas,
por si só, é insuÆciente para prevenir
a transmissão comunitária, na ausên-
cia de outras intervenções não farma-
cológicas e da expansão da cobertura
vacinal”, acrescenta.
No entanto, uma vez que esta faixa
da população não está vacinada e
tendo em conta o aparecimento da
variante Delta (que em Portugal já é
dominante), o ECDC alerta que o pró-
ximo ano lectivo requer “um alto
nível de preparação” e recomenda
aos responsáveis pelos estabeleci-
mentos de ensino que comecem a
trabalhar nesse sentido, propondo
várias medidas — salas de aula com
menos alunos, entradas desfasadas,
ventilação, uso de máscaras — combi-
nadas com estratégias de testagem e
de rastreio e isolamento, que incluam
não só crianças e funcionários das
escolas, mas também cuidadores.
Para fundamentar as suas reco-
mendações, o ECDC apresenta dados
de dez países europeus sobre a distri-
buição e taxas de ataque da infecção
por grupo etário e sexo, reportados
entre 4 de Janeiro e 20 de Junho deste
ano, que indicam que a maior parte
das crianças e jovens até aos 18 anos
desenvolveram sintomas moderados
e “muito raramente” foram hospita-
lizados, sendo muito reduzido o
número de óbitos, ao contrário do
que acontece sobretudo em idades
mais avançadas.
Mortes e casos graves
Entre 1 e 4 anos de idade, especiÆca,
registaram-se seis mortes e 24 casos
graves (que implicaram internamen-
to em unidades de cuidados intensi-
vos, UCI) no conjunto de mais cerca
de 116 mil casos de infecção. Entre os
5 e os 11 anos, foram comunicadas 12
mortes e 31 casos graves (num total
de 283 mil infectados). Já entre os 12
e os 15 anos, foram reportados 14 óbi-
tos e 40 internamentos em UCI (em
183 mil casos), enquanto entre os 16
e os 18 anos, há registo de 16 mortes
e 47 casos graves (160 mil casos). Ain-
da assim, o ECDC sublinha que as
consequências a longo prazo da
covid-19 nas crianças e jovens ainda
DANIEL ROCHA
estão a ser avaliadas e defende que
esta análise deve ser prioritária.
Lembrando que o impacto do fecho
das escolas na contenção da pande-
mia foi maior na primeira vaga, o
ECDC enfatiza que as medidas de
mitigação entretanto adoptadas, se
adequadas, contribuem para que a
disseminação do SARS-CoV-2 nas
escolas seja “limitada”.
Nota também que a eÆcácia do
encerramento na transmissão comu-
nitária da infecção parece ser maior
no caso do fecho temporário de esco-
las secundárias do que do ensino
básico. Usando um modelo, os espe-
cialistas do centro europeu estimam,
a este propósito, que o fecho de esco-
las secundárias teve um impacto mais
signiÆcativo na transmissão comuni-
tária (10% de redução do Rt, o índice
de transmissibilidade), do que o de
estabelecimentos de outros níveis de
ensino, como o superior (redução de
8%), o básico (4%) e as creches (2%).
Citando vários estudos, os peritos
do ECDC referem que é mais provável
que seja um professor a iniciar um
surto numa escola do que um aluno,
mas avisam que a maior parte da
informação que usaram é anterior ao
aparecimento da variante Delta.
Até 2 mil pessoas/dia
Abriu centro
de vacinação
drive-thru
no Porto
Miguel Marques Ribeiro
P
ara já o drive-thru instalado
no Queimódromo, junto ao
Parque da Cidade está a fun-
cionar num período experi-
mental, admite Carlos Nunes,
presidente do conselho
directivo da Administração Regional
de Saúde (ARS) do Norte, que visitou
ontem o local para assinalar a respec-
tiva abertura, na companhia do pre-
sidente da Câmara do Porto, Rui
Moreira, do presidente do conselho
de administração do Centro Hospita-
lar de São João, Fernando Araújo, e
de Luís Menezes, o CEO da Unilabs.
Nesta fase, estão a ser feitos testes de
organização das equipas, de funcio-
namento dos sistemas de informação
e dos equipamentos. Os utentes, que
não deverão ultrapassar os 100 até ao
Ænal desta semana e 200 no início da
próxima, estão para já a ser encami-
nhados pelos Agrupamentos de Cen-
tros de Saúde para tomas da 2.ª dose
da AstraZeneca.
No entanto, já a partir de ontem
é possível fazer auto-agendamento
para esta unidade de vacinação,
que se junta às outras duas existen-
tes na cidade com essa modalidade:
o Centro de Vacinação do Cerco
e o CVC Regimento de Transmissões
do Porto. Os utentes podem come-
çar a agendar para tomas a partir
de 14 de Julho. Depois dessa data
o ritmo de inoculações diárias deve-
rá então aumentar para mais de
500. As 12 linhas de vacinação, con-
tudo, estão preparadas para um
número próximo das 2 mil tomas
diárias. O utente pára junto ao pos-
to de vacinação e é inoculado sem
ter de sair do veículo, o que permite
ganhos de organização e optimiza-
ção, garantiu ao PÚBLICO Mónica
Costa, uma das enfermeiras de ser-
viço no local.
No primeiro dia, considerado
“piloto”, estiveram 15-20 pessoas
durante a manhã a ser vacinadas.
Durante a tarde, o número crescia
a olhos vistos. Para Rui Moreira,
esta unidade “vai fazer toda a dife-
rença”, pois permite praticam
ente duplicar o ritmo de vacinação
actual do concelho, que se cifra nas
2600 inoculações diárias. A abertu-
ra do drive-thru retira assim pressão
ao sistema actualmente instalado
e, sublinha o presidente da Câmara
do Porto, liberta os centros de
saúde para o tratamento de outras
patologias. Texto editado por Pedro
Sales Dias

França desaconselha viagens para Portugal
Muitos emigrantes não deixarão de “vir à terra”
Ana Dias Cordeiro
Governo francês
desaconselhou viagens
a Portugal. Emigrantes
costumam chegar a partir
de 15 de Julho
N
ão existem dados estatísti-
cos que o comprovem, mas
daquilo que foi observado
no Verão do ano passado,
ter casa ou família próxima
em Portugal tenderá a
sobrepor-se ao efeito desencoraja-
dor das restrições impostas pela
covid-19. Nalgumas regiões, porém,
o impacto da pandemia já se fez sen-
tir no ano passado, com menos emi-
grantes a virem ao país de origem.
“Temos muitas pessoas que vêm
sempre, pessoas emigradas em Fran-
ça que vêm todos os anos, no mês de
Agosto. Os emigrantes que estão em
França têm esta particularidade: têm
família ou casa cá. E não vão deixar
de vir por causa das restrições”, diz
Carla Almeida, responsável pelo Gabi-
nete de Apoio ao Emigrante (GAE) da
Póvoa de Varzim.
Se na Póvoa de Varzim a tendência
será para virem todos “como já acon-
teceu no ano passado”, pelo contrá-
rio, no Sabugal, há este ano um vazio
de gente já notado em Agosto do ano
passado. Os emigrantes portugueses
são esperados em muito menor
número, adianta Daniel Simão, coor-
denador do GAE do Sabugal. Os pais
esperam por esta altura para ver os
Ælhos e os netos. Agora, nem sempre
vêm. E quando o fazem é por menos
tempo, continua. “Antes vinham e
Æcavam para o Verão. Era o momento
alto da vida dos que cá estão.”
Nesta região de Portugal, cerca de
80% da emigração que saiu na déca-
da de 60 está em França; à volta de
5% está na Alemanha e no Luxem-
burgo. Nos anos 1990 passaram a ir
mais para a Suíça e, já na década de
2000, para o Reino Unido.
No conjunto, já não havia tendên-
cia para Æcarem tanto tempo, e ago-
ra com a incerteza imposta pela
covid-19 ainda menos. As restrições
das visitas nos lares também pesam
na decisão, acrescenta. “Alguns
pensam que, se não podem ver os
pais no lar, não vale a pena virem.”
Menos 70% de vindas
Já no ano passado, também devido
à covid-19, as vindas de emigrantes
desceram em mais de 70%, diz
Daniel Simão sem hesitar.
“No Verão, as aldeias de 10 mil pes-
soas passavam a ter 30 mil ou 40 mil,
mas isso já não se veriÆcou em 2020,
e a perspectiva para este ano não é
animadora”, acrescenta. “As capeias
arraianas eram um elemento agluti-
nador”, como outros festejos tradi-
cionais que juntam famílias e habitan-
tes de aldeias distantes. Mas esta
actividade está suspensa.
Os mais velhos estão tristes peran-
te a perspectiva de não verem Ælhos
e netos, diz também Natália Alves
do GAE de Celorico de Basto. Isso
aconteceu no ano passado. É uma
realidade para a qual os mais velhos
estão preparados, embora ainda
seja cedo para dar certezas. Tanto
mais que há decisões que podem ser
revertidas à medida que sejam alte-
radas as regras aplicadas por outros
países a quem viaja para Portugal,
como aconteceu recentemente com
o Reino Unido ou a Alemanha.
A partir de 19 de Julho, quem esti-
ver vacinado com as duas doses da
vacina não terá de fazer o isolamen-
to de dez dias no regresso ao Reino
Unido. Mesmo assim terá de fazer
um teste PCR no segundo dia de
regresso.
Quanto à Alemanha, os viajantes
provenientes de Portugal não são
obrigados a fazer quarentena se esti-
verem totalmente vacinados ou con-
traíram a doença e já recuperaram.
Os demais fazem uma quarentena de
dez dias se forneceram um teste nega-
tivo antes da partida ou de cinco dias
se depois de chegarem voltarem a
2.º
No mapa do ECDC actualizado
ontem Portugal tem a 2.ª maior
incidência de covid-19. Pior
só o Chipre
testar negativo. Nenhuma dessas
medidas se aplica a cidadãos alemães
ou pessoas com residência no país.
Ontem, o secretário de Estado para
o Turismo francês, Clément Beaune,
também apontou a situação “particu-
larmente preocupante” em Portugal
e Espanha, motivo pelo qual não
excluiu para os próximos dias um
cenário em que sejam reforçadas as
medidas impeditivas ou restritivas das
deslocações a Portugal.
O ministro dos Negócios Estrangei-
ros, Augusto Santos Silva, esclareceu
que o governante francês se referia a
viagens não essenciais e considerou
que a vinda dos emigrantes portugue-
ses nas férias não entra nessa catego-
ria por serem essenciais.
Mas os emigrantes “não equacio-
nam não virem cá, não põem a hipó-
tese sequer de não virem à terra”,
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 13
MIGUEL MANSO
é aqui, e esperam o ano todo para
poderem vir”, refere a responsável do
GAE da Póvoa de Varzim.
Há outros motivos para nunca se
desligarem: nalgumas famílias, só o
marido está fora; alguns casais têm
os Ælhos a estudar em Portugal; e há
aqueles que têm cá os pais idosos a
precisar de apoio ou que, mesmo
não tendo os pais, têm irmãos ou
outros familiares.
O segundo pior da UE
No mapa do Centro Europeu e Con-
trolo de Doenças (ECDC) que auxilia
as decisões dos Estados-membros
sobre viagens, todas as regiões de Por-
tugal continental passaram a estar em
risco elevado, assim como uma gran-
Há quem tenha insiste Carla Almeida, lembrando que de parte de Espanha, segundo os
desistido de vir a trabalham o ano todo para isso. O seu dados ontem actualizados. Portugal
Portugal, mas muitos desejo é regressar em deÆnitivo e, é neste mapa o segundo país da União
nem colocam essa enquanto não o fazem, criam as con- Europeia com a maior taxa de inci-
hipótese dições para o fazer e alimentam a dência da covid-19 a 14 dias: 240,53
chama das relações pessoais e fami- casos por 100 mil habitantes. Chipre
liares, da ligação à terra. “A casa deles ocupa o 1.º lugar, com 493,13.
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14 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021

Espaço público

A justiça e o ministro que sabia de menos

N
o curto espaço de dias, o
Editorial Ministério Público (MP)
lançou três megaope-
rações policiais. Em geral,
a opinião pública aplaude
estes raides que, como nos Ælmes,
implicam acção, drama, e a noção de
Manuel Carvalho poder e vitória dos bons sobre os
maus. Se depois destas cenas
espectaculares reproduzidas nas
televisões ou nos jornais o processo
cai no marasmo, se os indícios eram
falsos ou incipientes, se por acaso a
história acaba algures a meio sem
acusações, isso pouco interessa. As
O ministro é uma vítima megaoperações deixaram de ser
da normalidade do apenas um instrumento indispen-
sável à prossecução da justiça e
funcionamento da tornaram-se elas próprias um meio
justiça. Mas, depois do de aplicar a justiça. É por isso que, no
recuo do MP na sua meio dos casos Berardo ou de Luís
acusação, merece uma Filipe Vieira, a lamentável história de
Azeredo Lopes tem diÆculdades em
palavra de solidariedade aparecer no radar. No meio de todo
por três anos de este rebuliço, porém, é indispensável
padecimentos que não se esqueça esta história.
Tancos justiÆcou um enorme clamor
nacional. A segurança do Estado
estava em causa. Um roubo de armas
cuja solução nos bastidores seria do
conhecimento de um ministro era
algo de muito grave. Depois de a
acusação dar corpo a estas suspeitas,
a espectacularidade da acção
escalou. Esta semana, porém, o MP
reviu a sua posição sobre Azeredo
Lopes, e o que fora anunciado como
um escândalo transformou-se num
incidente menor. Não há inocentes
neste caso: ninguém foi capaz de
duvidar do discurso do MP, poucos
ousaram questionar a solidez das
provas, a certeza da suspeita
impôs-se à prudência — o PÚBLICO e
o seu director incluem-se no rol.
Não está em causa a dinâmica dos
processos judiciais, nem a apologia
de um MP com medo de existir. As
revisões das provas ou o recuo nas
acusações são normais. É sempre
mais saudável um erro do que a
letargia que alimenta a ideia de um
país onde nada se faz para esclarecer
casos que contaminam a vida pública
com o vírus da suspeita, do
favorecimento e da corrupção. O que
se pede apenas é que os custos
pessoais das acusações temerárias na
vida de pessoas, sejam ministros ou
simples cidadãos, não sejam
esquecidos. Encolher os ombros
perante o sofrimento pessoal e
familiar de pessoas vítimas de erros
de avaliação da justiça, por normais
que sejam, é um factor de injustiça. O
ministro que sabia “alguma coisa”,
mas não sabia nada que tivesse
“relevância penal”, é uma vítima
dessa normalidade. Pode, e deve,
continuar a ser julgado politicamen-
te. Mas, depois do recuo do MP na
sua acusação, merece uma palavra
de solidariedade por três anos de
padecimentos. Por ele, enquanto
cidadão, e pelos agentes da justiça,
pedindo-lhes sempre mais apuro e
ponderação nas difíceis decisões que
têm de tomar todos os dias.

CARTAS AO DIRECTOR
Vieira e Berardo
As detenções de Joe Berardo e de
Luís Filipe Vieira pecaram por
tardias. No entanto, mais vale tarde
do que nunca. O mundo de certos
negócios é um pântano inÆndável.
O conluio de gestores bancários e
empresários que têm lesado o
erário lembra ao Estado que deve
dar melhores condições de
trabalho às polícias de
investigação, aos inspectores
tributários, aos juízes de instrução
criminal e aos magistrados do
Ministério Público. Custa a
acreditar que, perante suspeitas de
fuga Æscal, falsiÆcação de
documentos e branqueamento de
capitais, conhecidos Ægurões sejam
medalhados e recebidos por altos
dignitários da nação.
Nos casos de empréstimos
bancários, os responsáveis da
banca que concederam
empréstimos sem garantias reais
suÆcientes devem sentar-se na
barra dos tribunais.
O juiz Carlos Alexandre merece o
apreço dos portugueses.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim
Luís Filipe Vieira
O dinheiro abre todas as portas.
Ontem, praticamente durante todo
o dia, nas televisões e não só, o
assunto foi o presidente do BenÆca,
Luís Filipe Vieira, que era
conhecido como “o homem que
subiu a pulso na vida”. Ao que
consta, Vieira está detido por um
chamado “golpe”, superior a 100
milhões de euros. De certeza
absoluta que é mais um caso para a
nossa justiça averiguar, até quando?
Com o país a caminho da quarta
vaga da pandemia, para este caso e
outros que andam por aí, era
chamar o vice-almirante Gouveia e
Melo para estas missões...
Tomaz Albuquerque, Lisboa
Louvor a Pacheco
Pereira
Os últimos artigos de opinião no
PÚBLICO do Pacheco Pereira (P.P.),
intitulados “notas sobre a ofensiva
da direita radical”, são de uma
lucidez e oportunidade política sem
igual. P.P. é, neste momento
histórico, o intelectual mais lúcido
na análise política em Portugal. Os
ataques de que tem sido alvo, indo
ao ponto de desenterrarem um
longínquo passado maoista — e
quem não foi qualquer “ista” após o
25 de Abril? —, só mostram a
fraqueza de argumentos que têm
contra ele. Conheci P.P. no antes e
no pós-25 de Abril e guardo dessa
antiga amizade um profundo
respeito pelo intelectual cultíssimo
e pela verticalidade moral que já
demonstrava. Não fui maoista, mas
isso pouco importava para sempre
o ouvir com agrado e aprender
muito com ele — desde literatura,
música, história, de tudo um pouco.
Vê-lo agora alvo de comentadores
que nunca souberam o que foi a
ditadura, que nunca leram um
décimo do que ele leu, que se dizem
especialistas e que mudam de
opinião conforme o vento sopra,
faz-me muita pena como democrata
e mais apreço tenho por gente como
P.P., que, infelizmente, são cada vez
menos em Portugal. Continua P.P. a
ser “situacionista” pela defesa da
democracia e da verdade histórica —
tu que foste sempre do “contra”!
José Carlos Palha, Vila Nova de Gaia
A farsa de Tancos
Gil Vicente não desdenharia
aproveitar todo este caricato
imbróglio de Tancos para escrever
mais uma das suas peças. Seria
uma peça rica em personagens
várias. Polícias, ladrões,
inspectores e ministros. E até de
um magistrado que diz sentir-se
desconfortável na sua missão de
julgar quem cometeu crimes.
Recentemente tivemos um juiz que
apagou da acusação uma série de
crimes imputados com a
justiÆcação de que prescreveram
ou que, Æscalmente, não eram
crimes. Desta vez temos um
procurador que diz não se sentir
bem na sua função de juiz. Mas Gil
Vicente seguramente não se
esqueceria daqueles que aqui não
estão em julgamento. ReÆro-me às
cheÆas militares. Como foi possível
o roubo de armamento militar de
um armazém do Campo Militar de
Santa Margarida, isso parece que
ninguém está interessado em
descobrir. Foram na altura detec-
tadas anomalias na videovigilância
e houve rondas suspensas. Como é
possível? Estão os militares acima
da lei? Está provado que o Estado
não é eÆciente a cuidar daquilo que
lhe pertence. Sejam paióis
militares, que deveriam ter
vigilância máxima, sejam pontes
sobre rios, que deviam ter cuidados
permanentes.
Pedro Carneiro, Ermesinde
A austeridade
Não é preciso consultar o
dicionário para se saber o que é a
austeridade. Os portugueses
sentem na pele as agruras de uma
austeridade que, a partir da quase
falência do país e da intervenção da
troika, não deixou de nos atormen-
tar. Como é possível apagar a
austeridade com uma borracha e
mais ainda quando continuamos a
ser o país mais pobre da Europa e o
que menos cresce, com a pandemia
muito alta, difícil de controlar e
com um Estado a subir os impostos
constantemente. Haja em vista que,
por cada 100 euros de carburante
que faz andar o mundo, 60% vai, de
impostos, para os cofres do Estado.
A. Neto Gonçalves, Sintra

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BARTOON LUÍS AFONSO
ESCRITO NA PEDRA
“O desejo de servir não tem comparação
nenhuma com o ardor de prejudicar” Emanuel
Wertheimer (1846-1916), filósofo
Aqui, os burocratas de Bruxelas não têm lugar,
independentemente do que façam, não
permitiremos que activistas LGBTQ+ estejam
entre as nossas crianças Viktor Orbán, PM húngaro
O NÚMERO NESTE DIA 9 DE JULHO
600
1870 É estendida às colónias portuguesas a
abolição da pena de morte para todos os
crimes, excepto os militares 1919 A Assembleia
Constituinte alemã ratifica o Tratado de
Versalhes. Alemanha assume o pagamento de
indemnizações de guerra 1964 A escolaridade
obrigatória passa dos 4 para 6 anos 1980 Morre,
com 67 anos, o poeta e compositor brasileiro
Vinícius de Morais 1998 Sismo de 5,8 pontos na
escala de Richter atinge a costa norte da ilha do
Mais de 600 mil pessoas foram Faial, Açores. Provoca 8 mortos, 110 feridos e
vacinadas contra a covid desde mais de 1500 desalojados 2004 O Presidente da
segunda-feira, anunciou a task República, Jorge Sampaio, convida Pedro
force que coordena o processo Santana Lopes, líder do PSD, a formar Governo
Como falar
buzinês
Ainda ontem
tem
T
Miguel Esteves Cardoso
irei a carta na Inglaterra,
onde a buzina serve
para dispersar rebanhos
depois de ter passado o
mínimo de uma hora de
joelhos, a tentar
convencer as ovelhas a sair do
caminho.
Por isso ainda estou a aprender a
linguagem portuguesa da buzinação
e já vi que não será nesta vida que
eu hei-de dominá-la.
Veja-se o que aprendi hoje.
Arrendo um lugar de
estacionamento em Cascais que só
uso quando lá vou (estranho, não
é?). Como está vazio durante o
tempo que não estou lá (o que é
ainda mais estranho, concordarão),
há carrinhas que aproveitam para
estacionar lá temporariamente.
“Estacionar temporariamente”: o
que é que eles inventarão a seguir?
Quando eu chego lá para
estacionar buzino uma vez — uma
cortinadela, cortês e curta — para
que o condutor da viatura ocupante
saiba que cheguei e que preciso do
meu lugar.
Esta primeira buzinadela signiÆca
“despachem-se que eu preciso de
estacionar”. Repare-se: não é
“saiam daí!”. É apenas um pedido
para acelerar o expediente.
E, de facto, a buzinadela imprime
um novo ritmo às visitas e às
descargas. O problema é que há
descargas particularmente morosas
que me cortam no tempo de praia.
Até há pouco tempo, eu não
voltava a buzinar, para não ser
malcriado. Mas agora descobri que
a segunda buzinadela — a
curtinatória —, curta mas
peremptória, é que produz
resultados imediatos.
Só depois da segunda buzinadela
é que se despacham mesmo — ou
interrompem a descarga para
arranjar outro lugar ali perto — e,
incrivelmente, até me pedem
desculpa. Porque só com a primeira
não me pedem desculpa nenhuma:
só se agastam.
Concluo que só a segunda é que
transmite sinceridade, que estou
mesmo com pressa e que o meu
sofrimento é genuíno e, como tal,
merece ser considerado — e até
agradecido.
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 15
A opinião publicada no jornal respeita
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(correspondente em Bruxelas), Alexandre Martins, António Saraiva Lima,
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16 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Espaço público
A defesa dos mais pobres entre os pobres
Escrever
Direito
N
Francisco Teixeira da Mota
a passada segunda-feira, o
regime indiano matou Stan
Swamy, um padre jesuíta e
activista dos direitos
humanos, com 84 anos de
idade. Preso em 8 de Outubro
do ano passado, o padre Stan Swamy viu
sucessivamente recusados os seus pedidos
de libertação sob caução, ao mesmo tempo
que via a sua situação de saúde
degradar-se. Só após continuados protestos
dos seus advogados conseguiu obter um
copo com palhinha para beber água — a
doença de Parkinson de que sofria não lhe
permitia segurar um copo de forma a
poder beber.
Em 15 de Janeiro passado, o padre Stan
Swamy escreveu uma carta comemorativa
dos seus 100 dias atrás de grades, em que
agradecia a solidariedade daqueles que se
manifestavam contra a sua prisão e referia
que, embora não pudesse ver os restantes
16 co-réus presos na mesma prisão, podiam
cantar em coro, e acrescentava: “Um
pássaro mesmo numa gaiola ainda pode
A elite desgraçada (e o sistema que a criou)
A
Pedro Filipe Soares
njos caídos, ilustres e
destacados membros da elite
nacional que agora ocupam as
cadeiras dos réus — dos
corredores do poder passaram
para os corredores do tribunal.
A nata da sociedade aÆnal estava estragada,
azedou. A queda do banco do regime (ou
seria este o regime do banco?) levou à queda
das cartas, marcadas no baralho dos
esquemas Ænanceiros, dos negócios de favor,
da cortina de fumo que os amores clubísticos
ajudaram a manter. Tudo se passava debaixo
dos nossos olhos, mas poucos queriam ver.
Agora há uma turba a criticar Berardo,
muitos dos quais lhe batiam nas costas, o
tratavam por comendador ou invejavam os
conhecimentos de arte. A corrida para
destruir fotograÆas e apagar memórias
marca a pressa para trancar as mesmas
cantar.” Na prisão contraiu covid-19, o que
levou a que os tribunais o transferissem no
passado dia 30 Maio, sob prisão, para o
hospital onde veio a morrer. Qual o crime
do padre Stan Swamy que levou a que o
Estado indiano o executasse desta forma?
Uma vida inteira dedicada à promoção e
defesa dos direitos dos povos tribais, os
adivasis, considerados como os primeiros
habitantes da Índia e que permanecem, a
par e passo com os intocáveis do sistema
das castas, nos níveis de maior pobreza e
exclusão na sociedade indiana. Como se
refere num documento do Banco Mundial,
“as mortes de crianças entre os adivasis têm
dado lugar a frequentes protestos públicos
(...). Uma criança indiana média tem uma
probabilidade 25% menor de morrer com
menos de cinco anos de idade, do que uma
criança adivasi. Nas zonas rurais, onde vive
a maioria das crianças adivasi, elas
constituem cerca de 11% de todos os
nascimentos, mas 23% de todas as mortes
nos cinco anos que precederam ao Inquérito
Nacional à Saúde das Famílias (NFHS)
2005/6”.
De acordo com o censo oÆcial realizado
em 2011, os adivasis constituíam 8,6% da
população total da nação indiana, com
cerca de 104,3 milhões de pessoas, mas
representavam 25% das populações mais
pobres. De acordo com o Inquérito
Nacional à Saúde das Famílias de
2015-2016, 45,9% dos adivasis
encontravam-se no mais baixo nível de
portas que antes lhe estavam escancaradas.
Berardo não era um estranho no sistema, ele
foi sua criação. E nem a fanfarronice lhe é
unicamente imputável, muitos outros
acharam que podiam viver acima (e em
cima) das nossas possibilidades.
E o que dizer de Luís Filipe Vieira? O
empreendedor, aÆnal, era um
reestruturador encartado que passou as
últimas décadas fugindo ao crédito
malparado através de benevolentes
reestruturações de dívidas. O segredo é
simples: se a dívida for grande o problema é
do banco! E os bancos (com o BES à cabeça)
sempre aceitaram com benevolência esta
fuga para a frente, uma mão lava a outra e no
Ænal até há uns bilhetes para ver a bola.
Quando já não dava para Æntar a conta e a
fatura chegou à mesa, foi ao Estado que
vieram pedir a solução.
Berardo foi entronizado como o curador
do Estado, o comendador que tutelava a
exposição na principal montra do país. Luís
Filipe Vieira foi mais popular, mas não
menos eÆcaz — atirou ao coração e usou as
emoções futebolísticas para desbloquear
problemas e abrir horizontes. E é ver a lista
de governantes, políticos, destacados
membros da sociedade que, a cada
candidatura, se acotovelavam para colocar o
pobreza.
Os adivasis sempre viveram ligados à
água, à terra e às Çorestas, de que têm sido,
ao longo de décadas, desapossados ao
mesmo tempo que são empurrados para os
subúrbios das grandes cidades, seja pelas
grandes companhias ou pelas pequenas
indústrias, seja pela implementação de
grandes projectos de infra-estruturas, seja
por alienações fraudulentas das suas terras
e Çorestas. O mesmo documento do Banco
Mundial refere que o 10.º Plano
Quinquenal do Governo constatava que,
entre 1951 e 1990, 21,3 milhões de pessoas
tinham sido desalojadas e que 40% delas —
ou 8,5 milhões — eram adivasis.
A notória marginalização económica,
cultural e social e mesmo a exclusão dos
adivasis levou a que Constituição indiana
preveja uma discriminação positiva em
favor dos mesmos, mas que continua a ser
muito diÆcilmente levada a cabo,
permanecendo uma situação global
Qual o crime do padre
Stan Swamy que levou a
que o Estado indiano o
executasse desta forma?
seu nome na lista de apoiantes de Vieira para
o BenÆca. AÆnal, a promiscuidade entre
política e futebol também tem pessoas de
carne e osso e atos que Æcam registados na
história.
Nem falo dos deputados que privavam
diretamente com Luís Filipe Vieira — com
outro qualquer, André Ventura já teria
esgotado a palavra “Vergonha!” — e que
mostram claramente como só apontam o
dedo quando lhes convém. Falo de todos os
outros que confundem as águas entre o
adepto e o decisor político ou público. É esse
lado sensível que Vieira procurou explorar —
e outros como ele, que a crítica é geral e não
conhece clube. Vieira também é fruto de um
sistema que lhe permitiu prosperar, mesmo
arruinando negócio atrás de negócio.
Hoje está exposta ao ridículo a lengalenga
que nos foi vendida: a meritocracia é, tão só,
o acesso fácil a decisores; o
empreendedorismo é a arte do
endividamento e da reestruturação das
dívidas; a defesa de centros de decisão
nacionais é a proteção de uma elite
parasitária que vive de rendas e privilégios; o
dogma da livre concorrência é a disputa de
favor na privatização de monopólios naturais
pelo Estado; a justa repartição de esforços
entre empresas e famílias é a permissão de
gritantemente injusta e violenta para estes
povos tribais.
Ora, foi à promoção e defesa da justiça,
da igualdade e da liberdade para estes
pobres entre os pobres que o padre Stan
Swamy se dedicou, pondo ao seu serviço os
conhecimentos de que dispunha, a sua fé e
a sua capacidade de acção e de
transformação. Manifestando a sua
oposição a diversos aspectos das políticas
do Governo, nomeadamente com a não
implementação das políticas favoráveis aos
povos tribais que estão
constitucionalmente previstas, o padre
Stan Swamy, entre outras actividades,
interpelava os tribunais e defendia um
tratamento humano aos jovens adivasis
detidos por razões políticas.
Numa completa negação da sua
pretensão a serem a maior democracia do
mundo, para as autoridades indianas, o
padre Stan Swamy, com os seus 84 anos,
era um perigoso terrorista, ligado ou
mesmo membro do ilegal Partido
Comunista da Índia, e era preciso acabar
com as suas actividades. Fizeram-no de
forma radical mas, como se refere num
documento da sua congregação, “hoje ele é
um pássaro liberto que canta do céu pedindo
a cada um de nós para manter viva essa
esperança de uma verdadeira libertação da
injustiça, da opressão e da negação de
direitos”.
Advogado. Escreve à sexta-feira
engenharias Æscais e criação de vias verdes
para os offshores; a independência dos
reguladores é a submissão aos interesses
económicos e Ænanceiros instalados.
As recentes detenções não foram das
maçãs podres que colocam em causa a
qualidade do cesto, são as peças de fruta que
deixaram cair para tentar manter o resto do
cesto intocado. Para não repetirmos os
mesmos erros, temos de levar até ao Æm o
combate a este sistema de “gangsterismo”
Ænanceiro — este é o grande desaÆo.
A Berardo ou Vieira (e aos outros!), faça-se
justiça — e, pelo caminho, recupere-se o
dinheiro que nos devem. Mas muitos dos que
agora se indignam, atestavam há meses a
inutilidade das comissões Parlamentares de
Inquérito, votaram contra o reforço da
Æscalização do sistema Ænanceiro, rejeitaram
muscular o combate aos offshores,
procuraram impedir o levantamento do
sigilo bancário para investigações judiciais
ou deixaram alçapões nas leis para diÆcultar
o combate à promiscuidade entre o público e
o privado. Se queremos mesmo impedir que
estes escândalos se repitam, temos de mudar
o sistema.
Presidente do Grupo Parlamentar do
Bloco de Esquerda. Escreve à sexta-feira

A miragem da livre circulação na União Europeia
Susana Peralta
Reconheço que o certificado
é um avanço. Ajuda, só que
não resolve. E a cacofonia e a
mudança constante de regras
são uma péssima notícia
N
o início de maio, a presidente da
Comissão Europeia aÆrmou que
estávamos no bom caminho
para ter o sistema de
certiÆcados digitais pronto a
entrar em vigor em junho. A
ideia era ter um certiÆcado único,
reconhecido por todos os países da União e os
restantes do espaço de Schengen, que
permitisse a livre circulação aos seus
detentores, com regras comuns aos diferentes
países. As negociações levavam vários meses
e já em março a Comissão tinha proposto um
quadro legislativo para este certiÆcado ver o
dia. Como é sabido, o certiÆcado chegou em
julho. Mas chegou mesmo?
Restaurar a livre circulação na União
Europeia é muito importante por várias
razões. A primeira é de princípio: a livre
circulação de pessoas é uma das pedras
basilares da UE e uma das condições mais
importantes para termos um mercado único.
Entre outras coisas, potencia o crescimento
económico do bloco, porque permite que
cada pessoa procure o emprego que lhe
convém realmente e que cada empresa
procure talentos sem restrições de
nacionalidade. Mas é também um ótimo
mecanismo para absorver as crises
económicas, porque permite que as pessoas
emigrem à procura de melhores
oportunidades — basta pensar no êxodo de
portugueses e portuguesas durante a última
crise. A segunda razão é o turismo, uma
atividade económica com grande importância
em economias como a portuguesa, a italiana,
a espanhola ou a grega. Para estes países,
cada dia de atraso no certificado digital custou
vários milhões de euros. E a confusão das
viagens continua a custar.
A terceira razão é que há muitas pessoas
que têm vidas entre dois (ou mais) países.
Porque trabalham num país e vivem no outro,
porque a sua família próxima ou alargada vive
noutro país, ou ainda porque têm de fazer
viagens pontuais devido ao trabalho. Os
chamados cross-border commuters, ou
trabalhadores transfronteiriços, que vivem
permanentemente num país e trabalham
noutro, voltando a casa, de forma regular,
várias vezes por semana ou por mês, eram
cerca de dois milhões em 2019. A juntar a
estas pessoas, havia 18 milhões de cidadãos da
UE que residiam num Estado-membro
estrangeiro de forma permanente. Destes, 13
milhões têm entre 20 e 64 anos e representam
3,3% da população em idade ativa da União.
As necessidades de viajar destas pessoas são
menos frequentes do que as dos
trabalhadores transfronteiriços, mas não
menos importantes, dado que têm amigos e
família a visitar. Tal como a razão do turismo
tem mais peso para uns países do que para
outros, também estas interessam mais a
alguns Estados-membros. Os países com mais
trabalhadores transfronteiriços são a Polónia
(destino: Alemanha), a França (destinos:
Luxemburgo e Bélgica), a Hungria (destino:
Alemanha) e a Alemanha (destino:
Luxemburgo). Os países com uma maior
percentagem de nacionais a viver noutros
Estados-membros são a Roménia, a Hungria,
Bulgária e Portugal, que tem 11% da sua
população ativa a viver noutro país da UE.
Ou seja: isto do certiÆcado digital é mesmo
fundamental. É por isso que o Parlamento
Europeu queria que os países concordassem
no formato e nos requisitos do dito, que as
regras de circulação a que o certiÆcado dá
acesso fossem comuns, e que os testes fossem
grátis em todos os Estados-membros, para
evitar que o mercado único tropeçasse nas
enormes diferenças de preço dos testes entre
países. Conseguiu-se a primeira (sem ela não
havia certiÆcado nenhum). Mas as outras duas
Æcaram pelo caminho. O acordo alcançado
em maio aÆrma que os países devem abster-se
de impor medidas restritivas adicionais, como
quarentenas. Mas não impede nada e deixa ao
critério de cada Estado-membro a forma de
aplicar o certiÆcado digital, cujo formato foi
acordado entre todos.
A confusão está instalada. França
recomendou que os residentes não viajassem
para Portugal e Espanha. A Alemanha impôs
quarentena a quem chegasse de Portugal,
para mudar de ideias depois de alguns dias.
Isso não impediu que passageiros com voos
de ligação via aeroportos alemães fossem
impedidos de voar ainda esta semana, antes
da entrada em vigor do novo regime. O site
oÆcial re-open EU, que aÆrma existir para “te
ajudar a exercer o teu direito à liberdade de
circulação”, tem uma ferramenta que
permite, indicando o país de origem, o de
destino, e adicionando uma escala, obter
todas as restrições em vigor. Do que li, as
escalas na Alemanha não estão proibidas,
mesmo para quem vem de zonas de risco.
Mas vi que são exigidos testes a maiores de
seis anos, quando no site da Comissão
Europeia sobre o certiÆcado digital está
O acordo alcançado em
maio não impede nada e
deixa ao critério de
cada Estado-membro a
forma de aplicar o
certiÄcado digital, cujo
formato foi acordado
entre todos. A confusão
está instalada
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 17
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
escrito que as crianças com menos de 12 anos
não devem ser sujeitas a testes relacionados
com viagens. Não procurei outros destinos ou
escalas, mas certamente que encontraria
várias exceções a outras tantas regras que não
são bem regras, porque a Comissão
recomenda, mas não decide.
Não quero ser mal interpretada. Eu sei que
isto é mais complicado do que parece. É
provável que para haver coordenação nas
viagens internas também tenha de haver
coordenação na gestão das fronteiras
externas. A chanceler Merkel deixou bem
claro que não aprovou a forma como Portugal
abriu as portas aos turistas britânicos e à
variante Delta. Mas dizer que não aos turistas
britânicos não é fácil quando, segundo o
Small and Medium Enterprise Outlook
publicado pela OCDE esta semana, o Algarve
tem 42% dos empregos em risco de
desaparecer com a crise pandémica.
Também reconheço que o certiÆcado é um
avanço. Ajudar, ajuda; só que não resolve.
Numa página do seu site dedicada ao
certiÆcado digital, a Comissão aÆrma que
“mover-se e residir livremente dentro da
União Europeia (...) é uma das conquistas
mais estimadas” da União e que “um sistema
bem coordenado, previsível e transparente
para a adoção de restrições à liberdade de
circulação” é “importante para os milhões de
cidadãos que dependem das viagens
transfronteiriças todos os dias e para
reconstruir a economia”. Pois é. É por isso
que a cacofonia e a mudança constante de
regras são uma péssima notícia.
Professora de Economia na Nova SBE.
Escreve à sexta-feira
18 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Política Presidente fala sobre pandemia e a relação com António Costa
“Porque tenho
de aparecer?
Para tentar
‘furar balões’”
Marcelo Rebelo de Sousa Reconhece
que o que já era complicado sem
pandemia se tornou ainda mais
complicado depois da covid-19
Entrevista
Maria João Avillez
Havia muitas mais perguntas a
fazer ao Presidente da República,
mas a “autorização” foi apenas
para “duas ou três”. Foram estas
que me acudiram, naquela noite,
em que o tema não era o
Presidente da República, mas
exclusivamente o guterrismo
(conversa que será publicada no P2
de domingo). As respostas, como
sempre ocorre com o chefe de
Estado, além de reclamarem mais
do que uma leitura, são, também
como sempre, prodigiosas. Ou não
é um quase-prodígio interpretar-se
assim a ele mesmo e à sua acção
presidencial ou falar assim do
primeiro-ministro António Costa?
Há uma nova vaga na pandemia,
o país está cansado, os
portugueses vivem num vaivém
de medidas e advertências, nem
sempre compreensíveis. E o
Presidente também se mostra
cansado. Pergunto: além das
suas naturais preocupações e
aflições, não será também
porque se mexe de mais, vai a
lugares de mais, exprime-se de
mais, comenta de mais? Parece
alimentar a sua omnipresença.
Porquê?
O cansaço teve uma explicação
física, não tive férias signiÆcativas
no ano passado, não descansei.
Ninguém tira férias numa
pandemia…
Bem...
Depois, colada à pandemia, surgiu
a campanha eleitoral e, logo a
seguir, iniciei o meu segundo
mandato. Nunca parei ao longo
deste tempo todo, meses e meses a
Æo. Felizmente, Æsicamente
sinto-me agora muito bem.
Mas sabe parar? Conseguiria
parar?
Sei parar, adoro parar, mas desde
Março de 2020 não houve
verdadeiramente pausas. Segundo,
a própria situação é, em si, muito
cansativa: a pandemia durou muito
mais do que se pensava — pense
que decretei dois estados de
emergência com uma dúzia de
renovações; a crise económica foi
mais grave do que se imaginaria, a
crise social foi ainda maior do que
a económica. Está a ser e vai ser.
E ainda a procissão vai no adro?
É um processo mais lento do que
as pessoas pensariam, e,
tratando-se de uma crise social, é-o
ainda mais. O facto de a crise social
não ocorrer apenas em Portugal,
ser europeia e em grande parte
mundial torna mais pesado o
combate que nos é exigido e mais
difícil lidar com a própria crise.
O que explicará o seu cansaço?
O que explica a preocupação, que, aparecer? Em parte, por causa quem nomeia o Presidente, é o
naturalmente, não é de menor justamente da pandemia — para Presidente que nomeia o
peso. Soma-se ainda a isso o facto estar junto das pessoas, sobretudo primeiro-ministro”? Isso é
de logo à saída da votação do daquelas que se aÇigem ou se encher um balão, é algo que se
Orçamento do Estado para 2020 desnorteiam com este curso da diz num ambiente de extrema
eu já me encontrar preocupado. crise e seus efeitos — “abre, fecha, tensão, num clima de
Porquê? Porque as eleições não
À saída da votação abre, fecha”. Em segundo lugar, pré-ruptura, num anúncio de
conferiram qualquer maioria para o Orçamento para tentar “furar balões”: quando ruptura, se quiser. Como “ler”
absoluta; porque a própria me apercebo que vai haver um esta frase?
votação do Orçamento para 2020
para 2020, eu já balão que enche, conÆgurando O que eu disse foi precisamente
fora já uma votação complicada estava preocupado uma potencial crise, entendo que o para mostrar o contrário. Isto é,
na especialidade — prenunciando melhor é intervir enquanto o balão que daqui até 2023 não pode
com isso votações complicadas é pequeno, a deixá-lo encher até haver crises que afectem a
nos Orçamentos seguintes! Ou Não pode haver rebentar. execução e aplicação dos fundos
seja, mesmo sem pandemia, já era Por exemplo? europeus. O que implica um
complicado. Com pandemia,
crises que afectem Por exemplo, a negociação do mínimo de estabilidade — eu diria
tornou-se ainda mais. A outra a execução e Orçamento do Estado [para 2022]. mesmo que o ideal era o máximo
questão que me colocou era Voltei a ter intervenções antes das de estabilidade! —, e, portanto,
porque é que, ainda assim, eu me
aplicação dos negociações para tentar prevenir... que não pode haver crises. Nem
mexo e vou aparecendo — embora fundos europeus Furando o balão antes que sobre a pandemia, sobre votações
bem menos do que no primeiro rebentasse? de leis no Parlamento, sobre o
mandato: porque as Evitando que acontecesse aquilo Orçamento do Estado, nem seja
circunstâncias são completamente Somar uma crise que não interessava de todo que de que natureza for. Somar uma
diferentes... acontecesse... crise política à crise pandémica e
A pergunta era essa: tentar
política à crise Mas e quando o Presidente da económica?
perceber a razão dessa espécie pandémica e República dispara uma frase tão A frase não parece então a mais
de obrigatoriedade da sua forte — e, nesse sentido, bem escolhida para arredar de
permanente movimentação...
económica? inesperada em si — como esta: vez o espectro de uma crise
Porque tenho, por vezes, de “Não é o primeiro-ministro política...
 Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 19

NUNO FERREIRA SANTOS

Ex-candidato a Belém
Sampaio da Nóvoa exonerado de embaixador
na UNESCO por limite de idade
O Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa, exonerou ontem
António Sampaio da Nóvoa, de 66
anos, do cargo de embaixador de
Portugal na Organização para a Edu-
cação, Ciência e Cultura (UNESCO)
por limite de idade.
No decreto publicado em Diário
da República, lê-se que o chefe de
Estado exonera, sob proposta do
Governo, Sampaio da Nóvoa do car-
go de representante permanente
junto da UNESCO, cargo que ocupa-
va desde 2018, em razão do limite
de idade.
Como embaixador de Portugal na
UNESCO, em Paris, António Manuel
Seixas Sampaio da Nóvoa esteve
envolvido na proclamação do dia 5
de Maio como Dia Mundial da Lín-
gua Portuguesa. Foi também duran-
te o seu mandato que o Palácio de
Mafra e o Santuário do Bom Jesus de
Braga foram classiÆcados como
Património Cultural Mundial da
UNESCO, e que o Carnaval de
Podence foi incluído na Lista Repre-
sentativa do Património Cultural
Imaterial da Humanidade.
A nomeação de Sampaio da Nóvoa
para cheÆar a missão permanente
de Portugal junto da UNESCO foi
aprovada pelo Governo em Feverei-
ro de 2018, tendo sido então contes-
tada pela Associação Sindical dos
O antigo reitor da
Universidade de
Lisboa nasceu
em Valença em
1954 e faz 67 anos
no dia 12 de
Dezembro
Diplomatas Portugueses, que mani-
festaram “completa surpresa e
estranheza” perante esta escolha.
Na altura, o ministro dos Negócios
Estrangeiros, Augusto Santos Silva,
sublinhou que a escolha de Sampaio
da Nóvoa se deveu, entre outras
razões, ao facto de o ex-reitor da
Universidade de Lisboa ser uma
“autoridade internacionalmente
reconhecida” na educação.
O ministro explicou que a sua
nomeação para embaixador da
UNESCO dava continuidade “à tra-
dição portuguesa” de apenas em
casos muitos raros designar para o
cargo de embaixadores personali-
dades que não são diplomatas. Pela
UNESCO passaram “embaixadores
ditos políticos” como Maria de Lour-
des Pintasilgo, José Augusto Seabra,
Manuel Maria Carrilho, recordou
então Santos Silva.
António Sampaio da Nóvoa, dou-
tor em Ciências da Educação pela
Universidade de Genebra, Suíça
(1986) e doutor em História Moder-
na e Contemporânea pela Universi-
dade de Paris IV-Sorbonne (2006),
Æcou em segundo lugar nas eleições
presidenciais de 2016, que elegeram
Marcelo Rebelo de Sousa como Pre-
sidente da República. PÚBLICO/
Lusa

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Foi. À pergunta se o Costa ou alguma coisa,

primeiro-ministro podia
desautorizar o Presidente da
República respondi que era sem
sentido pela nossa moldura
constitucional, pelo nosso sistema
semipresidencial e a relação que
neles se estabelece entre órgãos de
soberania. E é esse sistema que
obriga a que se façam esforços —
sobretudo nesta situação crítica —
de modo a garantir a conjugação
institucional.
O chefe de Estado e o chefe do
Governo são dois homens muito
diferentes um do outro.
Demasiado?
Sim. Somos muito diferentes. Em
maneiras de ser, em quadrantes
políticos, em percursos de vida. E,
sobretudo, conhecemo-nos bem há
quase 40 anos. Esse longo e
próximo conhecimento faz toda a
diferença no relacionamento
quotidiano.
Quando iniciou o primeiro
mandato presidencial, era este
tipo de coabitação que se
propunha ter com António
entretanto, surpreendeu o seu
voo institucional e o fez mudar
de rota, mesmo que
imperceptivelmente?
Quando comecei o meu primeiro
mandato, avancei para um
cenário inédito, com a economia
acabada de sair da crise, uma
incógnita sobre se a fórmula de
Governo seria duradoura e se
seria respeitado o caminho do
reequilíbrio orçamental. E ainda
como se resolveria a frágil
situação bancária. Por mim,
entendia dever evitar uma crise
política nesse contexto. A
coabitação foi facilitada pela
opção governativa de seguir o
caminho da redução do déÆce e
pela inesperadamente estável
relação na base de sustentação do
poder. Houve momentos difíceis
— em 2016, com a Caixa Geral de
Depósitos; em 2017, com os fogos
Çorestais; e em 2018, com os
fenómenos inorgânicos. Mas, no
geral, correu melhor do que o
imaginado em Março de 2016.
20 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Política
PSD quer SEF como força de
segurança (sem direito à greve)
Maria Lopes
Como força de segurança,
SEF não poderá paralisar
o tráfego nas fronteiras.
Propostas seguem para
especialidade sem ir a votos
O Parlamento discute hoje o futuro
do Serviço de Estrangeiros e Frontei-
ras (SEF): enquanto o Governo o quer
extinguir e distribuir as competências
pela GNR, PJ e PSP, o PSD pretende
reforçá-lo mudando a sua natureza
de serviço para força de segurança. É
isso que está no diploma que o parti-
do leva ao plenário para discussão
conjunta com propostas do Governo,
do Bloco e do Chega.
As decisões sobre a medida polé-
mica serão atiradas para daqui a uns
seis meses, já que os quatro diplomas
irão baixar sem votação à primeira
comissão durante pelo menos 60
dias, apurou o PÚBLICO junto dos
partidos — não que o adiamento fosse
preciso, já que o Bloco apoia a solu-
ção do Governo. Isso atira a discussão
na especialidade, no mínimo, para
Outubro e Dezembro, porque entre-
tanto o Parlamento “mergulha” no
Orçamento do Estado para 2022
durante um mês e meio.
A principal consequência desta
proposta do PSD seria a perda de
alguns direitos por parte dos elemen-
tos do SEF, que deixariam de poder
Francisco Assis reage ao PCP: “Não preciso
que ninguém me ponha no meu devido lugar”
Luciano Alvarez
Presidente do CES
responde a João Oliveira,
que o criticou por censurar
apoio do PS a uma proposta
do PCP sobre trabalho
Francisco Assis, presidente do Con-
selho Económico e Social (CES), rejei-
tou ontem “a insinuação” do PCP de
que teria preconizado uma usurpa-
ção das competências da Assembleia
da República (AR), ao criticar o facto
de o PS ter viabilizado uma proposta
do PCP em matéria laboral contra a
precariedade. Na entrevista ao PÚBLI-
CO e à Renascença publicada ontem,
o líder parlamentar do PCP, João Oli-
veira, reitera que “o órgão de sobera-
fazer greve — como a marcada para
hoje, que inclui protesto frente ao
Parlamento —, a par do que acontece
na GNR e na PSP. Mas isso permitiria,
ao mesmo tempo, evitar que uma
greve do serviço levasse ao encerra-
mento de fronteiras aeroportuárias
ou marítimas — algo que actualmente
está ao alcance dos sindicatos do pes-
soal do SEF. No entanto, para que esta
proposta do PSD vingasse, o Governo
teria de recuar na intenção de distri-
buir as competências daquele orga-
nismo pela GNR, PSP, PJ, Instituto dos
Registos e Notariado, Rede Nacional
de Segurança Interna e pelo novo
Serviço de Estrangeiros e Asilo.
Além de alterar a natureza para
AR debate hoje vários diplomas sobre reestruturação do SEF
nia que aprova as leis é a AR, e não o
CES, e era bom que o seu presidente
tivesse noção do seu lugar e se puses-
se no seu próprio lugar”.
“Não preciso que ninguém me
ponha no meu devido lugar, tal como
eu não pretendo determinar o lugar
dos outros”, responde o socialista,
observando que a linguagem do diri-
gente do PCP “é imprópria de uma
democracia”. “Adequa-se melhor aos
regimes em que o lugar dos democra-
tas é nas prisões”, atira.
Ainda assim, Assis faz questão de
manifestar a sua “simpatia pessoal”
por João Oliveira, que, garante, “em
nada Æca abalada por este episódio”.
E justiÆca: “Até porque ambos sabe-
mos quem é o verdadeiro destinatário
destas suas considerações.”
Quanto à questão de fundo, o apoio
força de segurança, o PSD apenas
rearruma as atribuições do SEF — as
de natureza policial e de investigação
criminal, as de gestão documental,
asilo e refugiados, e do plano interna-
cional. E remete para o Governo a
tarefa de regulamentar, em 60 dias,
o “regime de exercício da liberdade
sindical e os direitos de negociação
colectiva e de participação do pessoal
do corpo especial do SEF”.
Sem querer entrar na argumenta-
ção que irá usar no debate no plená-
rio, o vice-presidente social-democra-
ta André Coelho Lima vinca que a
intenção é “tornar claro que o PSD
defende o oposto” do Governo. “Este
propõe extinguir uma força especia-
DANIEL ROCHA
do PS à iniciativa do PCP, sublinha: “A
insinuação de que eu teria preconiza-
do uma usurpação das competências
do Parlamento só não me ofende por-
que é de tal modo delirante que não
pode ser levada a sério.” Assis subli-
nha que apenas expressou preocupa-
ção pelo facto de a AR estar a aprovar
matérias que “contendem com o
Acordo de Concertação Social” em
vigor, e com a circunstância de isso
implicar uma “quebra de conÆança”
na capacidade do Governo para asse-
Francisco Assis,
presidente do
CES, acusa João
Oliveira (PCP) de
usar linguagem
“imprópria de
uma democracia”
lizada criada com Schengen em 1986
para gerir fronteiras e a imigração, e
o PSD quer reforçar institucionalmen-
te o SEF, equiparando-o à GNR e PSP.”
Ou seja, em vez de continuar com a
ÆlosoÆa híbrida que tem hoje — um
serviço de segurança que tem autori-
dade policial agregada —, o SEF pas-
saria a ser uma força de segurança.
Para já, o Governo conta pelo
menos com o apoio do Bloco que
também terá já alguma segurança de
que o PS lhe dá a mão para a aprova-
ção da sua proposta de criação da
Agência Portuguesa para a Migração
e o Asilo. A agência tem por missão,
segundo o diploma do BE, “executar
e acompanhar as políticas relativas
aos serviços de regularização da
entrada e permanência de cidadãos
estrangeiros em território nacional,
emitir pareceres sobre os pedidos de
asilo e de instalação de refugiados,
bem como estudar, promover, coor-
denar e executar as medidas e acções
relacionadas com políticas migrató-
rias e movimentos migratórios”.
Já o Chega propõe alterações à Lei
de Segurança Interna para que o Con-
selho Superior de Segurança Interna
(CSSI) passe a integrar não dois repre-
sentantes eleitos pelo Parlamento
mas sim um deputado designado por
cada partido, e para que o SEF e o
CSSI passem a emitir parecer sobre a
aplicação das “grandes linhas políti-
cas de segurança europeia propostas
pelos órgãos comunitários”.
gurar, na AR, a manutenção dos
“compromissos assumidos”.
O antigo deputado do PS ironiza
que “esta vibrante defesa da demo-
cracia parlamentar” por parte de
Oliveira merece o seu “aplauso” e até
lhe provoca “uma viva comoção inte-
rior”. “Não é todos os dias que nos é
dado observar tão entusiástico enal-
tecimento de um regime político [a
democracia parlamentar] que alguns
ainda insistem em designar como a
‘democracia burguesa’.”
Assis diz ainda que “em nenhum
momento” fez “a mais pequena refe-
rência ao PCP, partido esse que, Æel à
doutrina marxista-leninista que con-
tinua a perÆlhar, tem sido de uma
irrepreensível coerência histórica na
oposição aos mecanismos de concer-
tação social”.
Direcção de
Rio acusada
de violar
estatutos
Margarida Gomes
Em causa está a escolha dos
candidatos autárquicos em
Barcelos e Castelo Branco.
Direcção ignorou decisão
das estruturas locais
Há mais uma decisão do conselho de
jurisdição nacional (CJN) do PSD a
contestar a posição da direcção do
partido que impôs o nome de Mário
Constantino para candidato à Câma-
ra de Barcelos contra a escolha da
estrutura concelhia que preferia o
empresário João Sousa.
O nome de Mário Constantino foi
imposto e homologado pela comissão
política nacional do PSD, abrindo
uma guerra com a concelhia que
levou o caso ao Tribunal Constitucio-
nal, através de uma providência cau-
telar para impedir a indigitação do
candidato.
Para o CJN, a imposição do nome
do vereador, constitui “uma grave
violação” dos estatutos do partido
pelo que “deve ser dada oportunida-
de” à concelhia de “ponderar a ratiÆ#
cação do candidato que já se encontra
anunciado publicamente, sem prejuí-
zo da sua competência para propor à
distrital as listas de candidatura aos
órgãos autárquicos”. A decisão cons-
ta de uma proposta aprovada anteon-
tem pelo órgão jurisdicional.
A concelhia convocou entretanto
uma reunião da estrutura para tomar
posição sobre a decisão do CJN. Fon-
te da estrutura local admitiu ao
PÚBLICO “ponderar a ratiÆcação do
candidato”, mas deixou claro que isso
só acontecerá se o processo autárqui-
co regressar à concelhia, passando a
ser este órgão a escolher os candida-
tos à câmara, assembleia municipal e
juntas de freguesia. A concelhia avisa
também que não aceita que Domin-
gos Pereira, do movimento indepen-
dente Barcelos Com Futuro, integre
a lista para a câmara.
O CJN também se pronunciou sobre
uma queixa apresentada por um gru-
po de militantes do PSD de Castelo
Branco que discordaram da indicação
de João Belém para candidato à câma-
ra. Neste caso, a jurisdição entende
que a direcção nacional deveria fun-
damentar a sua decisão. “Deveria ter
sido ser dada à concelhia de Castelo
Branco a oportunidade de, querendo,
propor o seu candidato autárquico,
quer ratificando a candidatura que já
se encontra anunciada ou, em alter-
nativa, propondo um novo nome
para aprovação por parte da distrital
e homologação da nacional.”

Polícias registaram mais 37% de crimes
por discriminação e incitamento ao ódio
Relatório da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial de 2020 mostra mais 50%
de queixas do que no ano anterior. Houve registo de 132 crimes pelas polícias, quase metade em Lisboa
Joana Gorjão Henriques
As autoridades policiais registaram
132 crimes por discriminação e inci-
tamento ao ódio e violência em 2020,
o que representa mais 37% do que no
ano anterior, em que foram contabi-
lizados 82 casos.
Isto num ano em que o número
total de crimes desceu de 335.614
para 298.797, mostram os dados pro-
visórios da Direcção-Geral da Política
de Justiça (DGPJ) publicados no rela-
tório da Comissão para a Igualdade e
contra a Discriminação Racial (CICDR)
de 2020.
Não há informação sobre o desfe-
cho destes casos de 2020. Sobre 2019,
o número de processos, arguidos e
condenados está protegido por segre-
do estatístico. Antes disso, dados for-
necidos ao PÚBLICO em 2020 mos-
tram que, entre 2007 e 2018, houve
13 condenados pelo crime de discri-
minação racial ou religiosa ou crime
de discriminação e incitamento ao
ódio e à violência e que essas conde-
nações eram todas de 2008, ano em
que Mário Machado foi condenado
por discriminação racial, assim como
outros 35 arguidos (não foi possível
apurar quantos destes arguidos foram
condenados por ódio racial e incluí-
dos nestes dados do Ministério da
Justiça).
O crime de incitamento ao ódio
previsto no artigo 240.º do Código
Penal abrange também discriminação
com base noutros factores para além
da origem racial ou étnica, como cor,
origem nacional, ascendência, reli-
gião, sexo, orientação sexual, identi-
dade de género ou deÆciência física
ou psíquica, e o registo da informação
feito pelas autoridades policiais
baseia-se nos elementos disponíveis
na fase inicial do processo-crime, de
acordo com os tipos de crime previs-
tos no Código Penal, que não prevê
registo isolado de ódio racial.
Voltando aos dados de 2020, a
maioria dos 132 crimes foi registada
em Lisboa (57 casos), seguindo-se o
Porto (19 casos) e Setúbal (12 casos);
em Aveiro registaram-se sete crimes,
e em Coimbra, seis.
O relatório da CICDR mostra ainda
que em 2020 houve um aumento de
50,2% de queixas recebidas (655) em
relação a 2019, ano em que se conta-
bilizaram 436 queixas. O racismo
pode ser punido como crime ou com
sanções. A nova lei de combate à dis-
criminação racial e étnica foi publica-
Sanções aplicadas ainda são diminutas Sociedade
A IGAI recebeu 14 queixas
relacionadas com práticas de
discriminação racial das polícias
da em Agosto de 2017, e prevê multas
que podem ir até mais de quatro mil
euros se for cometida por um indiví-
duo. O número de queixas tem vindo
a subir: em 2017 foram 179.
Assim, das queixas enviadas à
CICDR em 2020 só 5% resultaram em
processos de contra-ordenação. A
maioria deu-se na área do comércio,
e a recusa de fornecimento ou impe-
dimento de fruição de bens ou servi-
ços foi uma das práticas discrimina-
ENRIC VIVES-RUBIO
tórias com maior incidência.
Grande parte das queixas — 68%
— ainda está em análise ou foi enca-
minhada para outras entidades por a
CICDR considerar que não tem com-
petência para investigar.
Em ano de pandemia e conÆna-
mento veriÆcou-se ainda que cerca
de 12,5% das queixas se relacionaram-
se com a covid-19: dessas, quase meta-
de refere-se a páginas e grupos nas
redes sociais com conteúdos de teor
xenófobo, racista e de incitamento ao
ódio contra determinadas comunida-
des imigrantes em Portugal e um
quarto decorre de constrangimentos
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 21
RUI GAUDÊNCIO
decorrentes das medidas de seguran-
ça e saúde pública.
Queixas versus situações
As 655 queixas referem-se, porém, a
405 situações reportadas: ou seja,
houve mais do que uma queixa para
determinada situação. Da lista, veri-
Æca-se que em 2020 a CICDR proferiu
apenas cinco sanções (quatro resul-
taram em multa e uma em admoesta-
ção), decisões que não dizem neces-
sariamente respeito a 2020. Da lista
apresentada por esta entidade sobre
a sua actividade em 2020, constata-se
que foi o deputado da extrema-direi-
ta André Ventura quem recebeu a
multa mais elevada por algo que
escreveu em 2017 contra a etnia ciga-
na — 3370,56 euros. Ventura recorreu
e aguarda-se decisão.
Voltando ao relatório, constata-se
que a CICDR encaminhou a maioria
dos processos para o Ministério Públi-
co (MP) por suspeita de ilícitos crimi-
nais (53% do total), para a Linha Inter-
net Segura (15,9%), para a Entidade
Reguladora para a Comunicação
Social (5,8%), a Autoridade para as
Condições do Trabalho (2,1%) ou a
APCVD (0,9%).
E quem fez as queixas à CICDR?
Metade foram terceiros, sendo que as
efectuadas pelas alegadas vítimas
representaram quase 32%. Queixas
reportadas por organizações e asso-
ciações foram 17,6%. Entidades públi-
cas como a Autoridade para a Segu-
rança Alimentar e Económica reme-
teram 2,6% das queixas, a PSP enviou
apenas 1,7%.
Entre as 405 situações reportadas,
a nacionalidade foi o factor de discri-
minação mais referenciado (com
quase 32%), seguido da cor da pele
com 16% e da origem racial e étnica
com 13,6%. Analisando apenas as
queixas, foram feitas 100 relativas a
três situações em que a referência à
cor da pele branca é referida como
factor de discriminação. Segue-se a
nacionalidade brasileira com 96 quei-
xas relativas a 87 situações, os estran-
geiros com 95 queixas relativas a 23
situações, a cor de pele negra e a etnia
cigana com 78 queixas relativas a 62
e 53 situações, respectivamente.
Mais de 60% das queixas dizem
respeito a práticas na Internet ou
meios de comunicação social. Das
situações reportadas, o comércio
Æcou em segundo lugar com 10%.
Das 655 queixas recebidas em
2020, destaca-se com maior número
de queixas o distrito de Lisboa (87
queixas, 13,3%), seguindo-se, com
muito menor expressão, do Porto (32
queixas, 4,9%) de Setúbal (17 queixas,
2,6%), distritos que estão entre os que
têm mais população residente.
Contra quem foram apresentadas
queixas? Sobretudo contra particula-
res, a actuar em nome individual —
representaram 67,3% — e contra o
sector privado (19,7%, ou seja, 129
queixas), seguindo-se o sector públi-
co com 52 queixas (7,9%).
No relatório lê-se que a ACT, por
exemplo, desenvolveu 46 processos
e fez oito advertências; a Associação
de Protecção e Apoio à Vítima (APAV)
acompanhou 27 situações, a APCVD
instaurou dez processos, a ASAE rece-
beu 43 queixas e encaminhou 14 para
outras entidades — entre as quais, a
CICDR; o Banco de Portugal recebeu
sete reclamações por discriminação
com base na nacionalidade por causa
da recusa de acesso a produtos e ser-
viços bancários de retalho, mas foram
todas arquivadas.
Já a Inspecção-Geral da Administra-
ção Interna (IGAI) recebeu 14 queixas
relacionadas com práticas de discri-
minação racial das polícias: uma deu
origem a processo disciplinar, oito
foram arquivadas, quatro estão pen-
dentes e duas foram enviadas para
outras entidades como a CICDR.
22 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Sociedade
Inspector revela esquemas de
Salgado para desviar dinheiro do GES
Ana Henriques
Paulo Silva testemunhou
no Campus da Justiça, em
Lisboa, para explicar como
ex-banqueiro se apropriou
de 10,6 milhões do GES
O inspector tributário Paulo Silva,
que participou nas investigações da
Operação Marquês, expôs ontem em
tribunal, no julgamento de Ricardo
Salgado, os alegados esquemas a
que recorria o ex-banqueiro para
desviar dinheiro do Grupo Espírito
Santo em proveito próprio.
Ricardo Salgado — que os juízes
do Campus da Justiça, em Lisboa,
dispensaram de estar presente em
tribunal devido à pandemia e aos
seus quase 77 anos — responde pela
apropriação de 10,6 milhões de
euros e por três crimes de abuso de
conÆança.
Paulo Silva, que está também envol-
vido na investigação ao presidente do
BenÆca, Luís Filipe Vieira, descreveu
o circuito do dinheiro entre o chama-
do “saco azul” do Grupo Espírito San-
to, a sociedade ES Enterprises e outra
sociedade offshore controlada por
Ricardo Salgado, nomeadamente a
Begolino, sediada no Panamá. “A ES
Enterprises tinha um registo conta-
bilístico peculiar” que contrariava
todas as normas internacionais,
explicou o inspector tributário. Em
vez de serem registados como pas-
sivos, os avultados empréstimos que
recebia de outras Ærmas eram con-
tabilizados como activos negativos.
Quando estas somas rumavam a
outras paragens, “o saldo Ænal Æcava
a zero”, resumiu.
Segundo o mesmo especialista,
Ricardo Salgado usou parte do dinhei-
ro destas transacções — pelo menos
quatro milhões — para comprar
acções da EDP durante a reprivatiza-
ção de 2011, tendo adquirido dois
milhões de acções da empresa que
mais tarde viria a tornar-se dos chine-
ses Three Gorges.
A sociedade ES Enterprises foi
também responsável pelo pagamen-
to a Hélder Bataglia, o luso-angolano
sócio da Escom em Angola, de 15
milhões de euros a título de honorá-
rios, destinados alegadamente a
pagar os serviços que este lhe pres-
tou na obtenção de direitos de explo-
ração de petróleo que viessem a ser
objecto de concessão, nomeadamen-
te na região do Soio, quer na explo-
ração de quaisquer direitos atribuí-
dos através de concessões na Repú-
blica do Congo, quer na identiÆcação
e negociações de negócios imobiliá-
rios e ainda na expansão do sector
Ænanceiro do GES em África.
Porém, segundo Paulo Silva, o
contrato de trabalho Ærmado entre
a ES Enterprises e Hélder Bataglia
era Æctício, existindo apenas para
servir de álibi às entradas de dinhei-
ro nas contas bancárias deste últi-
mo, que, por seu turno, era depois
remetido para a sociedade offshore
do então “Dono Disto Tudo”.
“A ES Enterprises não tinha quais-
quer negócios. Hélder Bataglia esta-
va envolvido na exploração de poços
de petróleo mas através da Escom”,
garantiu o inspector tributário, que
mencionou ainda as vultuosas trans-
ferências efectuadas desta empresa
para Zeinal Bava e Henrique Grana-
deiro. Mas o juiz de instrução Ivo
Rosa descartou, na fase anterior
deste processo, a tese do Ministério
Público de que o “Dono Disto Tudo”
havia corrompido estes dois dirigen-
tes da Portugal Telecom.
RUI GAUDÊNCIO
Ricardo Salgado alega que o
dinheiro que lhe chegou às contas
bancárias via ES Enterprises era pura
e simplesmente um empréstimo pes-
soal pelo qual até lhe eram cobrados
juros, que apenas deixou de pagar
quando o BES entrou em falência e
as suas contas foram bloqueadas. E
que este não era, de resto, o primei-
ro empréstimo do género que rece-
beu desta entidade. Também preten-
de demonstrar em tribunal que
outros dirigentes do GES ordenaram
transferências através da ES Enter-
prises: José Manuel Espírito Santo,
José Castella, Ricardo Abecassis,
Manuel Fernando Espírito Santo e
Mário Mosqueira do Amaral.
O ex-banqueiro propôs à Justiça
portuguesa devolver o dinheiro de
que alegadamente se apropriou em
troca de Æcar com o cadastro limpo,
possibilidade prevista numa disposi-
ção do Código Penal. Porém, quer
fazê-lo à custa do dinheiro e dos bens
arrestados noutros processos que
correm contra si: o do colapso do BES
e o Monte Branco.
“Prova plantada”
Confrontado pelo advogado de
Ricardo Salgado, já da parte da tar-
de, sobre um documento particular
assinado por este banqueiro e
pelo também banqueiro Hélder
Bataglia, em que o segundo reco-
nhecia dever 2,75 milhões de euros
ao primeiro, o inspector tributário
garantiu não ter dúvidas de se tratar
de uma prova forjada, destinada a
ser encontrada pelas autoridades
por forma a dar uma aparência de
legalidade aos movimentos bancá-
rios entre ambos.
Ricardo Salgado não esteve em No documento encontrado num
tribunal. Os juízes dispensaram- cofre em buscas realizadas em 2016 a
-no de estar presente em uma casa de Hélder Bataglia em Alfa-
tribunal devido à pandemia ma, o patrão da Escom confessa-se
e aos seus quase 77 anos devedor daquela quantia, por via de
um alegado empréstimo de dois
milhões que lhe teria sido feito por
Salgado em 1999, e cujos juros tinham
feito aumentar mais 750 mil euros.
Como em 2016 Bataglia já sabia
que estava a ser alvo da curiosidade
das autoridades, os investigadores
A ES Enterprises da Operação Marquês entendem que
o documento — que não foi alvo de
não tinha negócios. reconhecimento notarial — foi fabri-
Bataglia estava cado para justiÆcar transferências
bancárias que tinham aÆnal propó-
envolvido na sitos criminosos.
exploração de “É um documento sui generis,
uma quitação entre dois banquei-
poços de petróleo ros”, observou o inspector tributá-
através da Escom rio. Para explicar depois por que
razão os investigadores não lhe atri-
Paulo Silva buíram signiÆcado: “Era uma prova
Inspector tributário plantada.”
Papel comercial
Condenado
pela CMVM
a coima de
dois milhões
Cristina Ferreira
A CMVM condenou cinco ex-admi-
nistradores executivos do BES, Ricar-
do Salgado, José Manuel Espírito
Santo, Amílcar Morais Pires, Joaquim
Goes e Rui Silveira, ao pagamento de
coimas com valor total de 3,550
milhões de euros por responsabili-
dades no processo relativo à coloca-
ção do papel comercial da ESI e da
Rio Forte (empresas do Grupo Espí-
rito Santo) aos balcões do banco. O
outro executivo abrangido no pro-
cesso aberto pela CMVM, José Maria
Ricciardi foi absolvido na íntegra das
acusações que pendiam sobre ele.
O papel comercial daquelas enti-
dades foi colocado ou “vendido”
junto de clientes particulares do BES,
tendo sido apresentado como um
produto Ænanceiro sem risco, do
próprio banco, semelhante a um
depósito a prazo.
A insolvência da ESI e da Rio For-
te gerou perdas de 430 milhões de
euros a perto de dois mil investido-
res, a maioria dos quais já recupe-
rou 280 milhões, através de uma
solução apoiada e Ænanciada pelo
Estado. Mas há outros lesados na
subscrição de produtos de dívida
das empresas do grupo Espírito San-
to, e do próprio banco, que ainda
não recuperaram qualquer valor
dessas aplicações.
Para além do ex-presidente Ricar-
do Salgado, condenado ao paga-
mento de dois milhões de euros, e
dos restantes executivos do BES,
José Manuel Espírito Santo (750 mil
euros), Amílcar Morais Pires (400
mil euros), Joaquim Goes (300 mil
euros) e Rui Silveira (100 mil euros),
também foi condenado, ao paga-
mento de 900 mil euros, Manuel
Fernando Espírito Santo, na quali-
dade de administrador não execu-
tivo. No total, as condenações da
CMVM, entre cinco executivos e um
não executivo, perfazem 4,450
milhões de euros.
Em causa está não só a falsiÆcação
de contas, como a prestação de
informação errada aos investidores
sobre as contas da ESI, e ainda
o conÇito de interesses de adminis-
tradores, que em simultâneo exer-
ciam funções nas entidades emiten-
tes, ESI e Rio Forte, e no banco
colocador dos títulos, o BES. Todos
os ex-executivos estão inibidos de
exercer funções em qualquer socie-
dade Ænanceira, sejam bancos, fun-
dos de investimento, seguradoras
ou outras entidades.
 Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 23

Sociedade

Cerca de 2500 docentes vão entrar no quadro

PAULO PIMENTA

cerca de 60 mil candidaturas de pro-

Clara Viana
Listas do concurso externo
de professores foram
publicadas ontem pela
Direcção-Geral da
Administração Escola
Mais 2424 docentes contratados vão
entrar no quadro a partir de Setem-
bro. Tinham sido abertas 2455 vagas
para o efeito. As listas deÆnitivas do
chamado “concurso externo” foram
publicadas ontem no site da
Direcção-Geral da Administração
escolar (DGAE).
Os concursos externos têm servi-
do quase exclusivamente para asse-
gurar um lugar no quadro a quem
se encontra a contrato. Isto tem
acontecido desde 2015 para garantir
o cumprimento de uma directiva
europeia que impede a utilização
abusiva de contratos a prazo, atra-
vés de um mecanismo que é conhe-
cido como “norma-travão”.
Para um professor garantir um
lugar na primeira prioridade, e assim
entrar no quadro, tem de ter três
anos de contratos sucessivos em
horários anuais e completos, ou seja,
se o docente for sucessivamente con-
tratado para dar 22 horas de aulas
Para o concurso externo deste
ano, aberto em Março,
registaram-se cerca de 60 mil
candidaturas de professores
para 2455 vagas
semanais durante todo o ano lectivo.
Como mostra a média de idades (50
anos) dos que já conseguiram vincu-
lação através da “norma-travão”,
para conseguir estas condições um
docente já terá habitualmente toda
uma vida atrás como contratado,
somando nuns anos horários com-
pletos e noutros acumulando contra-
tos de apenas poucos meses.
Foram também vinculados 31
docentes através das vagas abertas
para o ensino artístico especializado
da música e da dança.
Para o concurso externo deste
ano, aberto em Março, registaram-se
fessores para 2455 vagas. Já que os
professores podem concorrer para
dar aulas a mais de uma disciplina,
o facto de existirem estas candidatu-
ras não signiÆca que haja o mesmo
número de candidatos,
Numa nota enviada à comunica-
ção social, o Ministério da Educação
dá conta de que “o número de can-
didaturas aos concursos ascendeu a
72.000”. Para além do concurso
externo, foi também ontem Ænaliza-
do o concurso interno destinado a
docentes do quadro e que costuma
ser aproveitado por estes para se
aproximarem do seu local de resi-
dência, já que frequentemente estão
colocados longe de casa. Neste con-
curso “movimentaram-se cerca de
12.500 docentes”.
Segue-se agora o chamado “con-
curso de contratação inicial” desti-
nado a professores contratados e
cujas listas costumam ser publica-
das em Agosto.
A cumprirem-se as expectativas
do Governo, a partir de 2022/2023
esta complexa máquina concursal
deverá ter sofrido profundas altera-
ções. Foi o que a secretária de Esta-
do da Educação, Inês Ramires,
adiantou numa entrevista concedi-
da recentemente ao PÚBLICO.

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Já há calendário escolar. Aulas

começam entre 14 e 17 de Setembro
Patrícia Jesus e Samuel Silva
O Ministério da Educação (ME) lançou
ontem, no último dia de aulas para
muitos alunos, o calendário do próxi-
mo ano lectivo. As aulas vão começar
entre 14 e 17 de Setembro para os esta-
belecimentos do pré-escolar, básico
e secundário público. Para os anos em
que há exames (9.º, 11.º e 12.º) termi-
Calendário escolar 2021/2022
PERÍODO
ESCOLAR INÍCIO
1.º Entre os dias 14 e 17 de Setembro
2.º 3 de Janeiro de 2022
3.º 19 de Abril de 2022
Fonte: Diário da República
nam a dia 7 de Junho, para os restan-
tes anos a dia 15, com excepção dos
mais novos: pré-escolar e primeiro
ciclo acabam apenas a 30 de Junho.
No despacho — que aguarda publi-
cação em Diário da República — o ME
prevê manter a organização do ano
lectivo muito semelhante à que era
habitual antes da pandemia, incluin-
do o calendário das provas nacio-
FIM
17 de Dezembro de 2021
5 de Abril de 2022
9.º, 11.º e 12.º anos
7 de Junho de 2022
5.º, 6.º, 7.º, 8.º e 10.º anos
15 de Junho de 2022
Pré-escolar e 1.º ciclo
30 de Junho de 2022
PÚBLICO
nais. Mantêm-se as provas de aferi-
ção no 2.º, 5.º e 8.º anos, entre 2 de
Maio e 20 de Junho, e as provas Ænais
de ciclo no 9.º ano, de 17 de Junho a
23 de Junho (1.ª fase). Os exames
nacionais do ensino secundário tam-
bém voltam ao seu período mais
habitual, com a 1.ª fase a decorrer de
17 de Junho a 16 de Julho.
Os períodos de férias são igualmen-
te semelhantes aos que existiam antes
da pandemia. O primeiro período de
aulas termina a dia 17 de Dezembro e
as férias de Natal prolongam-se até 3
de Janeiro, quando começa o segun-
do período. Este acaba a 5 de Abril,
uma terça-feira, e duas semanas
depois, também à terça-feira, começa
o terceiro período.
Além das férias de Natal e da Pás-
coa, que mantêm as tradicionais duas
semanas, há também uma pausa lec-
tiva de três dias no Carnaval, de 28 de
Fevereiro a 2 de Março. ConÆrma-se
ainda no despacho uma das novida-
des já anunciadas, a inclusão da pos-
sibilidade de as escolas organizarem
as aulas por semestres.
AVISO
1. Nos termos e para os efeitos previstos no n.º 2 do artigo 47.º da Lei n.º
19/2012, de 8 de maio, torna-se público que a Autoridade da Concorrência
recebeu, a 2021-07-02, uma notificação de uma operação de concentração
de empresas, apresentada ao abrigo do disposto no artigo 37.º do referido
diploma.
2. A operação de concentração em causa consiste na aquisição, pela CLNX
Portugal, S.A. (“CLNX Portugal”) à PT Portugal, SGPS, S.A. de um conjunto de
ativos da atual infraestrutura passiva da MEO (“Ativos PT”). Os Ativos PT serão
objeto de um carve-out para uma NewCo, e sobre a qual a CLNX Portugal
adquirirá o controlo exclusivo.
3. As atividades das empresas envolvidas são as seguintes:
• CLNX Portugal – Filial portuguesa do Grupo Cellnex (“Cellnex”), operador
europeu independente de infraestruturas de telecomunicações que suportam
equipamentos de ligações sem fios. A Cellnex dedica-se principalmente à
atividade de instalação e gestão de infraestruturas passivas de suporte a
redes de telecomunicações sem fios. Em Portugal, a Cellnex detém e explora,
atualmente, através da OMTEL e ON Tower, mais de 5 mil macro-sites.
• Ativos PT – Conjunto de ativos a integrar uma NewCo e que correspondem
à infraestrutura passiva para alojamento de equipamento da rede móvel
(macro-sites e micro-sites), atualmente detida pela MEO.
4. Quaisquer observações sobre a operação de concentração em causa,
devem identificar o interessado e indicar o respetivo endereço postal, e-mail,
n.º de telefone e fax.
Se aplicável, as observações devem ser acompanhadas de uma versão
não confidencial, bem como da respetiva fundamentação do seu caráter
confidencial, sob pena de serem tornadas públicas.
5. As observações devem ser remetidas, por mail (adc@concorrencia.pt) à
Autoridade da Concorrência, no prazo de 10 dias úteis contados da publicação
do presente Aviso, indicando a referência Ccent. n.º 32/2021 – CLNX Portugal
/ NewCo.
24 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021

Local Conservação da Natureza

Na Maia, há um
centro único na
Península Ibérica
que resgata
e reabilita
ouriços
para os devolver Q
Maria Monteiro
uando chegou ao cuidado de
Clarisse Rodrigues, o agora
roliço Eric, que tem 526 gra-
mas, pesava apenas 80. Fora
encontrado nas imediações
do Estádio Municipal Dr. José
onde a associação desenvolve activi-
dade desde 2017 e que, em Junho,
inauguraram oÆcialmente sob a desi-
gnação de CRIDO – Centro de Recu-
peração e Interpretação do Ouriço,
após três anos de obras de recupera-
ção e requaliÆcação do espaço. Tal
como a Amigos Picudos é a única
Vieira de Carvalho, na Maia, e teria associação do país exclusivamente

à vida selvagem
O CRIDO — Centro de Recuperação e Interpretação do
Ouriço, inaugurado em Junho, oÄcializa o trabalho que
é feito, desde 2013, pela Amigos Picudos. A associação
recebe centenas de pedidos de ajuda para recolher e
tratar estes animais, muitos encontrados feridos e
debilitados, e devolvê-los ao ecossistema
cerca de uma semana. “Ainda não
tinha nem os olhos nem os ouvidos
abertos”, conta, ao PÚBLICO, a fun-
dadora da Amigos Picudos. O dia de
trabalho já chegara ao Æm, mas, ao
início da noite, a campainha de sua
casa tocou com mais um pedido de
socorro, provando que o trabalho de
preservação e protecção dos ouriços
selvagens é uma missão que urge
cumprir a tempo inteiro. “Se o animal
vem muito debilitado, não o vou dei-
xar sozinho na incubadora na primei-
ra noite”, justiÆca.
São, normalmente, os bebés,
como o caso de Eric, que recebem os
primeiros cuidados em contexto
doméstico, até porque muitas vezes
“têm de comer à mão ou ser medica-
dos de duas em duas horas”. Mas,
logo que estejam minimamente está-
veis, passam para as instalações
dedicada a estes animais, o CRIDO é
a única instituição do género na
Península Ibérica.
O carácter pioneiro do trabalho de
Clarisse e do namorado, Tiago Vieira,
apoiado por uma equipa de três
voluntários, faz com que lhes che-
guem centenas de pedidos de socorro
não só do concelho da Maia, mas tam-
bém do resto do país — ilhas incluídas
— para prestar os cuidados necessá-
rios aos ouriços, maioritariamente
pigmeus-europeus, a única espécie
que ocorre em Portugal. São habitual-
mente encontrados em situações
dramáticas, feridos por atropelamen-
to, ataques de outros animais que não
os seus predadores, como cães, ou
acidentes com maquinaria utilizada
no corte e limpeza de terrenos.
As roçadeiras, adverte Clarisse,
“são instrumentos mortíferos e [fre-

quentemente usados] na altura de
Primavera e de pré-preparação para
o Verão”. Muitos ouriços são apanha-
dos no caminho deste equipamento
e chegam ao CRIDO em estado muito
grave, necessitando muitas vezes de
cirurgias. Antes de se proceder à lim-
peza de matas e terrenos, o risco da
presença de ouriços, ou de outros
animais de pequena dimensão, deve
ser acautelado com um olhar espe-
cialmente atento, apela Tiago. “Já
tivemos situações dessas em que
morre a mãe e Æcam as crias.”
Há ouriços que, apesar de não esta-
rem feridos, chegam extremamente
debilitados e em risco de sobrevivên-
cia. Cada vez mais aparecem desidra-
tados e subnutridos porque o aqueci-
mento decorrente das alterações cli-
máticas e o declínio dos insectos por
todo o planeta atrapalham a busca
por água e alimento, respectivamen-
te. “Apesar de eles serem omnívoros,
qualquer animal que se alimente de
insectos tem esta diÆculdade”, escla-
rece Clarisse.
Geralmente, o CRIDO atende os
pedidos que chegam dos concelhos
do Grande Porto, podendo socorrer
também ouriços de outros concelhos
relativamente próximos. Quando a
distância é maior, reencaminha-os via
telefone, email ou redes sociais para
outras instituições que possam assis-
tir os animais. “Há dias em que isto
mais parece um call center”, brinca a
responsável. No caso de o alerta ser
dado directamente ao CRIDO, é o pró-
prio a intervir no local, mas, muitas
vezes, é a GNR, através da linha SOS
Ambiente e Território, que funciona
como “agente de recolha e transpor-
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 25
FOTOS: DR
te” dos animais para aquele espaço.
“A GNR dá especial importância a
este assunto, com esse serviço espe-
cializado que funciona 24 horas por
dia e permite ter conhecimento de
ouriços feridos ou em perigo por
meio de qualquer cidadão”, explica
o tenente Silva. A ocorrência pode
ser denunciada por telefone ou onli-
ne, através do preenchimento de
um formulário. No caso de ser a
GNR a encontrar ouriços “por ini-
ciativa própria”, o processo é igual.
Segundo o tenente, “há cada vez
mais um aumento das solicitações
e nota-se que a mensagem [sobre os
cuidados a ter com esta espécie] vai
passando”.
Educação é essencial
A educação e sensibilização ambien-
tal, trabalho desenvolvido em articu-
lação pelo CRIDO e pela Câmara
Municipal da Maia, ajudará a explicar
o aumento da consciencialização da
população para a protecção e preser-
vação dos ouriços. “A relação da
câmara com esta associação tem sido
de muita proximidade”, contextuali-
za Marta Peneda, vereadora com o
pelouro do Ambiente. A vice-presi-
dente da autarquia refere que tem
havido um acompanhamento contí-
nuo “não só do ponto de vista logísti-
co, cedendo as instalações, mas
incluindo as [suas] actividades no
Plano de Educação Ambiental” do
município.
Em anos normais, a associação
recebia “dezenas” de pedidos para
desenvolver acções de sensibilização
ambiental em escolas, mas com a
pandemia “Æcou tudo parado”.
Recentemente, voltaram a ter novos
pedidos via Zoom. “É muito impor-
tante, porque é nas novas gerações
que se vai notar os frutos e os miúdos
absorvem muito bem as mensagens”,
assegura Clarisse. Apesar de as esco-
las serem um ponto fulcral de inter-
venção, o CRIDO está disponível para
levar estas acções a “infantários,
empresas ou qualquer sítio onde for
solicitado”.
Adicionalmente, aquela que é a
primeira organização não-governa-
mental de ambiente (ONGA) da Maia
e que deixa os maiatos “muito orgu-
lhosos”, conta com algum apoio
Ænanceiro da câmara, que atribui
alguns subsídios às associações de
bem-estar animal da cidade para que
possam “prosseguir o seu trabalho”
e fazer face às “receitas parcas e mui-
to dependentes só da boa vontade
das pessoas”. A esta junta-se a gene-
Chegam ao rosidade de outras empresas, que
centro centenas têm sido essenciais para levar a Ami-
de pedidos de gos Picudos dos anexos de casa de
socorro de todo o Clarisse, onde esteve sediada nos pri-
país para prestar meiros anos, para um espaço com
os cuidados melhores condições e equipamentos.
necessários aos “São gestos que vão Æcar para sem-
ouriços, a maior pre”, observa Tiago.
parte pigmeus-
-europeus “Moda” em declínio
Em 2016, ao PÚBLICO, Clarisse dava
conta do aumento da procura pelos
ouriços-pigmeus-africanos, ani-
mais domésticos que estavam “na
moda”, sendo muitas vezes adqui-
ridos pelas pessoas sem “qualquer
noção da responsabilidade” impli-
cada. O fenómeno, hoje em declí-
nio, foi ampliÆcado por conteúdos
difundidos em redes sociais como
o Instagram — Rick, um pigmeu-
africano residente na Ucrânia que
se apresenta especialmente sorri-
dente para a câmara, tem mais de
116 mil seguidores. “Essas fotogra-
Æas e vídeos são muito enganado-
res”, argumenta Clarisse, pois
criam uma imagem irrealista das
características destes animais, por-
que “as pessoas pensam que são
muito foÆnhos, que se pode fazer
festas na barriga e, depois, o ani-
mal bufa e pica”. “Depois até os
entregam para adopção, porque
não correspondem às expectati-
vas”, lamenta.
A queda do interesse por estes
animais estará também relacionada
com “um regulamento europeu que
vem aí e irá tornar a posse destes
ouriços proibida”. Nesse sentido, a
associação tem vindo, nos últimos
anos, a “avisar as pessoas para não
os adquirirem”, também pelos pro-
blemas que trazem ao serem cria-
dos em estufa e que, geralmente,
lhes dão uma “longevidade reduzi-
da”. “A maior parte das pessoas que
os têm uma vez Æcam traumatizadas
e não querem mais.”
Como há cinco anos, hoje persis-
te um déÆce de informação e estudo
cientíÆco sobre os ouriços-euro-
peus, mas Clarisse reconhece que
há melhorias signiÆcativas, nomea-
damente ao nível do interesse em
desenvolver teses de parasitologia
nestes animais. Os ouriços que são
aqui tratados permitem, muitas
vezes, realizar avanços na medicina
veterinária e na ciência. Segundo
Clarisse, foi aqui diagnosticado o
primeiro caso de síndrome de
Wobbly [doença neurológica dege-
nerativa] num ouriço-pigmeu-afri-
cano em Portugal. O CRIDO conta,
ainda, com parcerias com clínicas
como a UPVet — Clínica Veterinária
do ICBAS-UP, para onde encami-
nham os casos com necessidades
mais especíÆcas a nível de exames
e cirurgias.
O CRIDO, que não existiria sem
a formação básica de cuidados
médicos para ouriços que o casal
fez em Inglaterra, está em perma-
nente ligação com instituições con-
géneres do Reino Unido, França,
Dinamarca, Itália ou Nova Zelân-
dia, umas que atendem só ouriços-
europeus e outros que atendem
várias espécies exóticas. “Lá fora,
é uma coisa perfeitamente normal,
só na Holanda há mais de dez cen-
tros para ouriços.” Por cá, embora
estejam na dianteira do combate,
estão sempre atentos ao que se faz
lá fora. “Estamos cá para tirar e
partilhar ideias, porque os animais
Æcam a ganhar.”
26 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Mundo Saída de todas as forças norte-americanas até 31 de Agosto
Biden ordena retirada do Afeganistão
para não entrar num beco sem saída
Presidente dos Estados Unidos diz que a manutenção da presença militar norte-americana naquele país
“não era uma opção” depois do acordo assinado entre a Administração Trump e os taliban, em 2020
Alexandre Martins
Seis dias depois do abandono norte-
americano da base de Bagram, no
Afeganistão, que aconteceu durante
a noite e apanhou de surpresa os sol-
dados afegãos, os Estados Unidos
vieram explicar as razões da saída e
também os seus planos para um país
que pode estar prestes a mergulhar,
mais uma vez, numa guerra civil.
Na primeira comunicação após o
abandono da base de Bagram, a 2 de
Julho, o Presidente dos EUA, Joe
Biden, disse ontem que a Casa Branca
está ciente dos riscos de um regresso
da violência ao território após a saída
total das tropas norte-americanas — o
que vai acontecer até 31 de Agosto,
anunciou Biden.
Mas, segundo o Presidente dos
EUA, a alternativa era muito pior:
manter uma presença no Afeganis-
tão, em violação do acordo assinado
em 2020 entre a Administração
Trump e os taliban, ia levar o movi-
mento fundamentalista islâmico a
pôr Æm à trégua com Washington e a
regressar aos ataques contra os sol-
dados norte-americanos.
“Não é do nosso interesse manter
uma guerra sem Æm”, disse Biden,
numa comunicação feita na Casa
Branca. “A quem diz que devíamos
Æcar mais seis meses, ou um ano,
peço que olhem para o passado. Em
2011, chegámos a acordo para uma
retirada em 2014. Ficámos muito
além dessa data, e mais soldados nor-
te-americanos foram mortos”, disse
Biden, respondendo às acusações de
que a situação no país — onde os tali-
ban estão a ganhar terreno a cada dia
que passa — aconselhava a um adia-
mento da retirada.
Numa comunicação marcada pelo
pragmatismo, Biden apoiou-se no
acordo feito entre o seu antecessor e
os taliban para dizer que a retirada é
inevitável e desejável. “Se eu tivesse
prolongado a nossa presença, os tali-
ban voltariam a atacar-nos. E corre-
ríamos o risco de termos de voltar a
enviar mais tropas. Depois do acordo
[de 2020], Æcar não era uma opção”,
disse o Presidente dos EUA.
“Não vou mandar mais uma gera-
ção para combater no Afeganistão
sem perspectiva de alcançar um
resultado diferente”, aÆrmou.
A possibilidade do reinício de um
ciclo que começou com a invasão dos
EUA e dos seus aliados, em Outubro
de 2001 — em resposta aos atentados
EVELYN HOCKSTEIN/REUTERS
terroristas de 11 de Setembro —, foi o
principal motivo indicado pela Admi-
nistração Biden para a rapidez da
retirada Ænal.
Em Abril, o Presidente norte-ame-
Não vou mandar ricano disse que o processo estaria
concluído até 11 de Setembro, para
mais uma geração coincidir com o 20.º aniversário dos
para combater no atentados; mas a saída de Bagram,
onde estavam ainda entre 2500 e
Afeganistão sem 3000 soldados, antecipou a retirada
perspectiva de para o Æm de Agosto.
Questionado sobre o avanço dos
outro resultado taliban no terreno, Biden aÆrmou
Joe Biden acreditar na capacidade das forças do
Presidente dos Estados Unidos Governo afegão para impedirem a
MOHAMMAD ISMAIL/REUTERS
O Presidente dos Estados
Unidos diz que confia nos
soldados afegãos para impedir
que os taliban tomem o poder
tomada do poder pelo movimento
fundamentalista islâmico. “Não
fomos para o Afeganistão para fazer
nation building”, disse Biden. “Cabe
aos afegãos decidir como querem
construir o seu futuro.”
Sem fé nos taliban
Numa clara separação entre o passa-
do e o futuro, Biden aÆrmou que a
missão dos EUA “foi cumprida” com
a morte de Osama bin Laden e a der-
rota da Al-Qaeda na sua forma amea-
çadora para o território norte-ameri-
cano. Agora, “os líderes afegãos têm
de se unir para darem aos cidadãos o
futuro que precisam e merecem”.
A retirada começa a ser uma reali-
dade no terreno 16 meses depois do
acordo entre a Administração Trump
e os taliban, que se seguiu a uma pro-
posta de negociações feita pelo
Governo afegão ainda em 2019.
Segundo o acordo, os EUA retiram
as suas tropas do Afeganistão e os
taliban comprometem-se a cortar os
laços com a Al-Qaeda e a impedir que
outras organizações e redes terroris-
tas se implantem no país para lança-
rem ataques contra os EUA.
De fora do acordo Æcou um cessar-
fogo imediato com as forças do
Governo do Presidente Ashraf Ghani;
no seu lugar, Æcou o apoio à continua-
ção das negociações, com vista a uma
solução pacíÆca após a retirada dos
EUA — um apoio que o Presidente
Biden reforçou várias vezes, ontem,
e que será feito através do secretário
de Estado Antony Blinken.
Ainda que as negociações estejam
a decorrer, vários observadores
dizem que o objectivo dos taliban é
arrastar o processo enquanto vão
conquistando mais terreno.
Ontem, o chefe das Forças Arma-
das britânicas, o general Nick Carter,
corroborou os receios do general
Austin S. Miller, comandante das for-
ças dos EUA no Afeganistão, que já
tinha admitido um cenário de guerra
civil no país num futuro próximo.
Mas o general britânico também
disse que é improvável que os taliban
venham a controlar todo o território,
uma convicção partilhada por Biden,
ontem, ao dizer que as forças do
Governo afegão estão mais bem pre-
paradas do que os taliban, apesar de
o movimento fundamentalista islâ-
mico estar hoje mais forte do que
noutra qualquer fase da guerra des-
de 2001.
Questionado sobre se conÆa nos
taliban — para dialogarem com os
adversários e para impedirem a
implantação no país de redes terro-
ristas —, o Presidente dos EUA disse
que a pergunta “é pateta”. “Não, eu
não conÆo nos taliban. Mas conÆo
nos militares afegãos e na sua capa-
cidade.”
Biden salientou que a segurança no
Afeganistão é do interesse dos países
da região, e que também eles têm de
se envolver numa solução. Para além
do vizinho Irão e da Rússia, por receio
da fuga de milhões de afegãos e do
alastramento do extremismo, tam-
bém a China tem muito a perder com
um aumento da violência no Afega-
nistão, por motivos comerciais.
Ao amarrar os seus adversários a
uma solução partilhada para o Afega-
nistão, Biden quer virar as atenções
dos EUA para “as ameaças onde elas
estão hoje”.
“Temos de enfrentar a pandemia
de covid-19 e prepararmo-nos para
as próximas pandemias, e também
para a ciberguerra e as alterações
climáticas. Vamos travar as batalhas
dos próximos 20 anos, e não as dos
últimos 20 anos”, disse.
 Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 27

Mundo

Europa acelera
ANNEGRET HILSE/REUTERS

a vacinação:
na praia, bares,
ou nos centros
de emprego
Maria João Guimarães
Países como Alemanha,
França ou Itália tentam ser
mais criativos na corrida
para vacinar o maior
número de pessoas
Com mais pessoas vacinadas, torna-
se um desaÆo chegar aos que faltam
ou garantir que ninguém falta à
segunda dose da vacina — e a varian-
te Delta, mais transmissível, aumen-
tou essa urgência. Na Europa, vários
países tentam aproximar locais de
vacinação das pessoas, seja esse
local uma praia ou um bar.
O país onde estão a circular as
ideias mais criativas parece ser a Ale-
manha, com propostas de vacinação
em centros de emprego, aproveitan-
do as idas dos beneÆciários a estes
locais (na cidade-estado de Hambur-
go), ou em ruas pedonais, para apro-
veitar o percurso de compras.
O político especialista em saúde do
SPD (Partido Social Democrata) Karl
Lauterbach sugeriu mesmo que sejam
estabelecidos centro de vacinação à
porta de bares e clubes nocturnos
(mesmo que não seja aconselhável
beber álcool no dia da vacina). A ideia
não foi sua, esclarece: foi já feita com
sucesso em Israel e nos EUA (em Israel
houve vacinação nos bares — ofere-
ciam uma bebida sem álcool).
Na Alemanha, a vacinação está a
avançar a bom ritmo, com 57% da
população (dados do site Our World
in Data) com pelo menos uma dose,
e 40,5% com a vacinação completa
(em Portugal são 57,6% com uma dose
e 38% com a vacinação completa,
ambos acima da média europeia, de
Véran, que invocou a diÆculdade de
alterar a distribuição de stocks, e
também chegou a declarar que o
pessoal de saúde em zonas de férias
tinham “mais que fazer do que vaci-
nar toda a população de França
durante o Verão”.
Porém, acabou por mudar de
ideias e unidades de vacinação
móveis estão a ser colocadas em
locais populares nas férias, incluin-
do algumas praias.
“Temos de andar mais depressa”,
disse entretanto este domingo
Véran. “O país está numa corrida
contra o tempo. As vacinas baixam
muito o risco da doença grave,
incluindo a variante Delta.”
O tom do Governo mudou e muito:
“Quem quiser pode ir à praia e ainda
receber a vacina. Este Verão, a vacina
vai chegar até si”, declarou Gabriel
Attal, o porta-voz do Governo, no Æm-
de-semana, cita o diário britânico The
Guardian. “Temos de fazer tudo o
que estiver ao nosso alcance para
evitar que a epidemia volte a subir em
França” — o número de casos tem
vindo a subir nos últimos dias.
A importância da segunda dose é
especial com a subida de peso da
variante Delta, para a qual apenas
uma dose da vacina concede menos
protecção do que noutras variantes.
Já a Bulgária abriu unidades de vaci-
nação em parques para facilitar a
vacinação de pessoas que não se des-
loquem a um centro para tomar a
vacina. E está agora a planear campa-
nhas em bairros de maioria cigana. Vacinação no Revolte Bar, em Berlim
Iniciativas de vacinação especial
tentam ainda chegar à população
mais vulnerável, como foi o caso
de Itália, que fez uma “noite aberta”
Recompensas como vales, cartões pré-pagos… e arenque
de vacinação na capital, com a vaci-
lém de aproximar o local certa quantia em planos de com menor taxa de imunização

52,9% e 37,1% respectivamente).
Segundo o diário Die Welt,
enquanto na Primavera cada vaga
para vacina era aproveitada, agora
há cada vez mais pessoas que não
comparecem à chamada.
Vacinas nas praias
Já França está abaixo da maior taxa
de vacinação, com 51,4% (uma dose)
e 34,1% (vacinação completa). A
ideia de permitir a segunda dose em
locais diferentes mereceu a oposi-
ção do ministro da Saúde, Olivier
na da Janssen, que precisa apenas
de uma dose, reduzindo o risco
de que não regressassem para a
segunda dose.
Com música tocada ao ar livre,
oferta de espresso e cornetti, a ideia
foi chegar a pessoas que não estives-
sem inscritas no sistema de saúde
(estima-se que sejam 700 mil). Nes-
ta noite foram vacinadas 900 pes-
soas no hospital de Roma que rece-
beu a iniciativa, das quais a esmaga-
dora maioria (80%) eram migrantes
sem documentos.
A
de vacinação das pessoas,
alguns países europeus
estão a tentar outros
incentivos para convencer
os seus cidadãos a vacinar-se
contra a covid-19 — de
vouchers a petiscos.
Os jovens gregos com idades
entre os 18 e 25 anos que se
vacinem até ao final deste ano
vão receber 150 euros num
cartão pré-pago e ainda uma
comunicação de telemóveis
mensais, anunciou o executivo,
numa tentativa de aumentar a
vacinação nesta faixa etária.
O dinheiro do cartão pode ser
gasto nas férias de Verão ou em
eventos culturais a partir de dia
15 de Junho, segundo a Reuters.
Também a Bulgária está a
considerar recorrer a vouchers
para incentivar a vacinação.
A Eslováquia, um dos países
da UE, começou uma lotaria para
quem foi vacinado e tem um
prémio de 2 milhões de euros.
Há ainda bónus entre 30 a 90
euros para quem convencer
outra pessoa a ser vacinada.
Nos Países Baixos, houve
quem tivesse sido compensado
com arenque. Mas não foi só
quem foi vacinado: quem estava
a trabalhar na vacinação também
teve direito ao petisco.
28 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Mundo
Sudão do Sul
assinala
dez anos de
independência
Crise económica impede
festividades oficiais na
jovem nação africana. “As
pessoas estão com fome”,
justificou o Presidente
O Sudão do Sul assinala hoje o déci-
mo aniversário da sua independên-
cia do Sudão, numa altura em que
atravessa uma grave crise económica
e humana, agravada por um conÇito
armado que assolou a jovem nação
durante cinco anos. A crise levou,
aliás, ao cancelamento das festivida-
des, anunciado pelo Presidente do
país, Salva Kiir.
“Não vamos comemorar o décimo
aniversário da maneira que gosta-
ríamos de fazer. As pessoas estão
com fome”, lamentou Kiir, dizendo
que destinar recursos para as come-
morações nesta altura seria “uma
ofensa” à população. Segundo a
ONU, 8,3 milhões de pessoas — cer-
ca de dois terços da população —
poderão precisar de ajuda humani-
tária em 2021.
A independência do Sudão do Sul
materializou-se em 2011, seis anos
depois de o país ter declarado a sua
autonomia em relação ao Sudão e
após um referendo em que o “sim”
recebeu mais de 98 por cento dos
votos.
As frágeis instituições do Sudão do
Sul, lideradas por Salva Kiir desde
Julho de 2005, quando sucedeu ao
líder da independência, John Garang,
após a sua morte num acidente de
helicóptero, estão sob grande pres-
são desde a independência, princi-
palmente devido às tensões internas,
que conduziram o país à guerra civil
em 2013. O gatilho foi a luta pelo
poder entre o próprio Kiir e o seu
então vice-presidente, Riek Machar,
que pegou em armas após ser demi-
tido, conduzindo a um conÇito que
durou até 2018.
A guerra civil, na qual participa-
ram dezenas de grupos armados
alinhados com os principais parti-
dos, liderados por Kiir e Machar,
mergulhou o país numa gravíssima
crise humana e deixou cerca de
400.000 mortos, bem como perto
de 2,2 milhões de deslocados.
O analista Luka Biong Deng Kuol
aÆrmou, num artigo publicado pelo
think tank Africa Centre for Strategic
Studies, que um dos principais pro-
blemas é o “déÆce de governação”,
marcado por elevados níveis de cor-
rupção, e a existência de um sistema
dominado pelas elites políticas e eco-
nómicas. Europa Press
As autoridades haitianas continuam à procura dos elementos do grupo armado que mataram Moïse
Polícia do Haiti matou
quatro suspeitos do assassínio
do Presidente Jovenel Moïse
Governo haitiano declarou
o estado de emergência por
duas semanas e fechou o
aeroporto da capital,
Port-au-Prince
As forças de segurança do Haiti tra-
varam ontem uma luta armada com
os suspeitos do assassínio do Presi-
dente, Jovenel Moïse, morto no dia
anterior na sua residência pessoal.
Teme-se que este homicídio repre-
sente um mergulho do país, já mar-
cado pela pobreza e violência, no
caos. O Governo declarou estado de
emergência por duas semanas e o
aeroporto da capital, Port-au-Prince,
foi encerrado, com as autoridades a
pedirem aos haitianos para Æcarem
em casa.
A polícia matou quatro dos “mer-
cenários” e capturou outros dois
suspeitos, avançou o director-geral
da Polícia, Leon Charles, na televi-
são, ontem. O responsável acrescen-
tou que a polícia não irá parar até a
situação estar resolvida.
“Bloqueámos [os suspeitos]
enquanto eles tentavam fugir da
cena do crime”, explicou Leon Char-
les. “Desde aí, estamos a lutar contra
eles. Vão ser mortos ou detidos”. A
polícia libertou também três agentes
que tinham sido feito reféns na vés-
pera, esclareceu este responsável.
Leon Charles conÆrma que entre
os suspeitos há estrangeiros, com
alguns a falar espanhol e outros
inglês. Horas depois do atentado, o
primeiro-ministro interino, Claude
Joseph, disse que aquela acção foi
levada a acabo por um “comando
armado” que incluía estrangeiros.
Uma fonte da polícia citada pelo
Gazzette Haiti adiantou que pelo
menos 20 pessoas foram detidas em
resultado da investigação ao assassi-
nato de Moïse. O mesmo jornal reve-
lou que o Presidente foi atingido com
12 balas em várias partes do corpo.
A primeira-dama, Martine Moïse,
Æcou gravemente ferida na sequên-
cia do ataque que vitimou o Presi-
dente do Hati, mas o primeiro-minis-
tro interino garante que já está fora
de perigo. Depois de estabilizada, a
primeira-dama foi transferida para
um hospital da Florida (EUA).
Descrevendo o homicídio como
um “acto odioso, desumano e bár-
baro”, Claude Joseph apelou de ime-
diato à calma da população e decla-
rou o estado de emergência em todo
o país, declaração que permite proi-
A polícia haitiana
promete não parar
até encontrar
todos os suspeitos
do assassínio:
“Vão ser mortos
ou detidos”
RICARDO ROJAS/REUTERS
bir manifestações e ajuntamentos e
usar os militares para funções poli-
ciais, reforçando ainda os poderes
do Governo.
“Felizmente, muitos sectores da
oposição condenaram o assassínio”,
aÆrmou entretanto Claude Joseph,
que horas antes tinha pedido isso
mesmo aos muitos opositores do
Presidente. O primeiro-ministro dis-
se também que manteve uma con-
versa telefónica com o secretário de
Estado norte-americano, Antony
Blinken, com quem discutiu a situa-
ção política no país. Em particular,
discutiram a organização das elei-
ções presidenciais e legislativas, mar-
cadas para 26 de Setembro.
“Felizmente, muitos sectores da
oposição condenaram o assassínio”,
disse Joseph, que horas antes tinha
pedido expressamente à oposição
que se juntasse à condenação da
morte de Moïse.
O Presidente dos Estados Unidos,
Joe Biden, enviou condolências aos
haitianos por este “assassínio horrí-
vel”, depois de a Casa Branca se ter
disponibilizado para “fornecer qual-
quer assistência que seja necessá-
ria”.
O Conselho de Segurança das
Nações Unidas, que ontem discutiu
o assassínio de Jovenel Moïse numa
reunião à porta fechada, fez “um
apelo enfático a todos os agentes
políticos no Haiti para que se abste-
nham de quaisquer actos de violên-
cia ou incitamento”.
Jacob Zuma
entrega-se
às autoridades
policiais
Ex-Presidente sul-africano
entregou-se minutos antes
de terminar o prazo para a
detenção ordenada pelo
Tribunal Constitucional
O ex-Presidente Jacob Zuma entre-
gou-se na quarta-feira à noite às auto-
ridades policiais na África do Sul para
cumprir uma pena de prisão de 15
meses por desrespeito à Justiça.
“Informamos que o Presidente
Zuma decidiu cumprir a ordem de
prisão. Ele está a caminho de um esta-
belecimento prisional dos Serviços
Correccionais no KwaZulu-Natal”,
referiu a Fundação Jacob Zuma nas
redes sociais, citada pela imprensa
sul-africana.
Jacob Zuma entregou-se às autori-
dades minutos antes da meia-noite
local (23h de Lisboa), o prazo-limite
para a sua detenção ordenada pelo
Tribunal Constitucional, tendo sido
escoltado pelos serviços de protecção
presidencial.
Um porta-voz do Ministério da Polí-
cia, Lirandzu Themba, conÆrmou
que Jacob Zuma se entregou às auto-
ridades policiais na noite desta quar-
ta-feira.
O antigo chefe de Estado enviou
horas antes uma carta à mais alta ins-
tância judicial do país a solicitar a
proibição da execução da ordem de
detenção enquanto aguarda o resul-
tado de todos os processos judiciais,
segundo a Fundação Jacob Zuma.
Esta é a primeira vez na história da
África do Sul que um ex-Presidente é
condenado a uma pena de prisão.
O Tribunal Constitucional da Áfri-
ca do Sul condenou em 29 de Junho
o ex-Presidente Jacob Zuma a 15
meses de prisão por desrespeito ao
tribunal, ao recusar repetidamente
cumprir a intimação que lhe exigia
o testemunho em investigações de
corrupção. De acordo com a decisão,
o antigo chefe de Estado sul-africano
deveria entregar-se à polícia no pra-
zo de cinco dias.
Zuma foi considerado culpado por
não obedecer à ordem do tribunal
para comparecer perante a comissão
que investiga alegações de grande
corrupção no Estado sul-africano
durante o seu mandato presidencial
de 2009 a 2018.
A polícia sul-africana destacou mais
de 70 veículos, incluindo uma unida-
de de intervenção especial antimo-
tim, para o local da residência oÆcial
do ex-Presidente sul-africano na área
rural de Nkandla, província do Kwa-
Zulu-Natal, no litoral do país.Lusa

Mundo
4 esquinas O mundo que se conta
a partir do que se diz
Eterna
mudança
De uma forma Depois das grandes
revoluções sociais do
muito hipócrita, século XX, o capitalismo
foi-se transformando
o liberalismo nestes 20 anos do
segundo milénio para continuar a
dissimula a ruptura exploração. A eterna mudança,
por trás da ideia que inventou como fundamental
para a experiência humana, serve
da elasticidade, o propósito do seu
enriquecimento. Ao transformar a
Åexibilidade, precariedade numa virtude, o
adaptabilidade, liberalismo pode entregar-se ao
jogo da oferta e da procura, ao
as quais aparecem endeusamento do mercado, sem
as amarras sociais tão a custo
como as novas conseguidas nas lutas laborais do
século XX. Como diz a Ælósofa
virtudes das Claire Marin, na sua enorme
gerações mais hipocrisia, “o liberalismo dissimula
a ruptura atrás da ideia da
jovens elasticidade, Çexibilidade,
adaptabilidade” e a seguir
Claire Marin propagandeia-a como “novas
Filósofa francesa virtudes das gerações mais
jovens”. A solidez das relações
empresa-trabalhador, essa ideia de
que a empresa tem também
responsabilidade social e não só a
obrigatoriedade de gerar lucros
para os seus proprietários ou
dividendos para os seus accionistas
caiu em desuso. Prevalece a frase
atroz que o sonho/pesadelo
americano inventou para tratar as
pessoas como peças de
engrenagem, “Não é nada pessoal,
são só negócios” — um dos maiores
actos de desumanização da
história do mundo. E volto a Claire
Marin: “A ideologia liberal vai mais
longe: não só esconde a ruptura no
que tem de mais brutal, como
ainda impõe rupturas violentas
te
que terminam por dissimular
como uma espécie de virtude do
trabal
trabalhador contemporâneo.”
Chega aos 30 anos e não ter um
Chegar
orden
ordenado que permita sair de casa
pa ou, saindo, ver-se
dos pais
obriga a partilhar apartamentos
obrigado
o
com outros em situação
semel
semelhante é o paradigma com
que no
nos defrontamos. E nesta
pande
pandemia, sem a possibilidade da
viagem ou do festival de Verão
como panaceias de efémera
felicid
felicidade do jovem adulto da
geraçã à rasca, abriram as rachas
geração
edi
no edifício ilusório construído pelo
capita
capitalismo. Se ao menos
soube
soubermos olhar.
Karma
Chameleon
A letra do velho êxito
dos anos 1980 dos
Culture Club parece
ter sido feita a pensar
nestes tempos, se
retirarmos os versos do contexto
concebido e os adoptarmos ao
mundo que nos toca viver neste
milénio que ainda ontem parece
ter começado, tal a velocidade. “If I
listen to your lies, would you say/ I’m
a man without conviction/ I’m a man
who doesn’t know/ How to sell a
contradiction/ You came and go”,
refere esse Karma Chameleon,
canção pop sobre o desencanto de
amar que sintetiza à perfeição a
nossa história de homens e
mulheres obrigados à mentira de
viver com a contradição do
trabalho que vai e que vem. “Falam
de nós como camaleões quando,
na verdade, cada vez que
mudamos de espaço ou de relação
perdemos algo de nós”, refere
Claire Marin, em entrevista ao
Página/12, a propósito da tradução
em espanhol do seu livro Rupturas.
Se há rupturas felizes, empurrões
que nos ajudam a crescer, viver
sempre de rupturas ou de
empurrões impede-nos de crescer
a partir da experiência acumulada:
como se podem consolidar as
experiências, se todas as atenções
estão viradas para o tapete que
permanentemente nos podem tirar
de debaixo dos pés? “Privam-nos
de tempo necessário para que uma
ruptura seja o menos
violenta e o menos
dolorosa
possível.” Ser
camaleão
transforma-
se em
karma,
mas, tal
como a
adaptação
do animal
ao meio que
o rodeia é
uma questão de
sobrevivência, a
nossa camaleónica
transformação é só uma
forma de irmos sobrevivendo,
alvéolo no pulmão fumador do
capitalismo.
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 29
O capital
das palavras
A grande conquista do
capitalismo é
lexicográÆca.
Travestido em
liberalismo, inventou
uma série de nomes novos para
explorações velhas, criando todo
um admirável novo léxico para
fazer hoje o mesmo que o
capitalismo vem fazendo sempre,
mas com palavras diferentes. Ao
mesmo tempo, esvaziavam o
papel dos sindicatos,
demonizando as suas acções e
endeusavam as empresas
geradoras de emprego como mães
da economia, obrigando-nos ao
respeito que se deve a uma mãe.
De um lado, a empresa que põe o
mundo a girar, do outro o piquete
de greve, o delegado sindical, o
trabalhador com exigências,
obstáculos que travam o
inexorável girar do planeta e
impedem o mercado de funcionar:
a luta do bem contra o mal; glória
empresarial versus ignomínia
sindical. Os sindicatos deixam de
ter trabalhadores para defender,
porque o rebranding liberal nos
transformou a todos em
colaboradores. Já não alguém que
entra no cálculo Ænal do preço do
produto como custo Æxo, mas
cada vez mais variável — o preço
estabelece-se e depois encontra-se
quem trabalhe pelo valor
conveniente. O capitalismo
trata-nos como o dono de uma
casa de banho de Vancouver
que levou para lá uma
cama, chamou-lhe
“microestúdio”
(termo moderno)
e quer 600
dólares
canadianos de
renda (mais de
400 euros)
para nos deixar
viver ao lado da
sua sanita
reluzente. Como
dizia em perfeito
português a Anaïs Nin
de Maria de Medeiros em
Henry & June: “Se a merda fosse
ouro, os pobres nasciam sem cu.”
Agora o rico capitalismo vende-te
a fossa como um rio de futuro e a
casa de banho como o Cálice
Sagrado do novo léxico urbano.
Por António Rodrigues
Jornalista. Escreve à sexta-feira
Corpos
Na passada
quarta-feira, o
Christian Science
Monitor, esse jornal
de Boston que parece
uma contradição no cabeçalho,
trazia um artigo da Associated
Press com um tom festivo sobre
como os adolescentes americanos
estão a ajudar as empresas que
começam a recuperar da crise.
“Graças a Deus pelos
adolescentes”, diz o texto quase
panÇetário sobre a grande
contribuição que é servir às mesas
de uma economia em
recuperação. Mais de 30% dos
norte-americanos entre os 16 e os
19 anos trabalha, sobretudo em
restaurantes e cafés,
entretenimento e turismo. “Para
os adolescentes, nunca houve
outro tempo como este para
procurar emprego”, explica
Mathieu Stevenson, o CEO da
Snagajob, site de trabalho
temporário. Há duas décadas, este
artigo faria levantar muitas
sobrancelhas, quando a ideia era
combater o trabalho precoce,
deixar as crianças e os
adolescentes na escola e entregar
a reconstrução da economia aos
trabalhadores adultos. Hoje, é
considerada uma peça positiva,
dessas que tentam contrariar o
facto de “os jornalistas só saberem
dizer mal”, enfatizando esse lado
da experiência, melhor:
“experiencial” — eufemismo para
trabalho mal pago, mas com
grandes potencialidades de
enriquecimento pessoal. Nada
resume melhor estes tempos de
egoísmo insensível disfarçado de
frenético desejo de comida
orgânica e café sustentável para
salvar o planeta do que a
declaração do CEO de uma cadeia
de restaurantes de comida
indiana, de seu nome Akash
Kapoor, sobre os muitos
adolescentes que emprega:
“Estamos muitos gratos por os ter
aqui. Não conseguiríamos estar
abertos, se não fossem eles.
Precisamos de corpos.” Como diz
a oração, para terminarmos em
jeito adequado à fundadora do
jornal e da Igreja da Ciência Cristã,
Mary Baker Eddy: “Corpo de
Cristo, salvai-me!”
30 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Economia Banco Central Europeu revê estratégia
Era de juros baixos
força BCE a mudar o
objectivo 18 anos depois
Após vários anos a combater a inÅação demasiado baixa, o BCE
tenta reforçar a mensagem de que o seu objectivo é simétrico
e que subida temporária acima de 2% é um fenómeno normal
Sérgio Aníbal
Depois de ter começado, em 1999,
com o objectivo de manter a inÇação
“abaixo de 2%” e de, em 2003, ter
mudado a meta para “abaixo mas
próximo de 2%”, o Banco Central
Europeu (BCE) anunciou a segunda
alteração de estratégia da sua histó-
ria, realizando mais um pequeno
acerto para cima. O objectivo passa
agora a ser simplesmente de “2%”,
uma mudança que, à primeira vista,
pode não parecer mais do que um
detalhe, mas que é a resposta do ban-
co central a uma era de taxas de juro
baixas que tem forçado a instituição
a estar mais preocupada com a deÇa-
ção e menos com o perigo de uma
inÇação demasiado alta.
Ao Æm de 18 meses de análise e
debate, os membros do conselho de
governadores do BCE revelaram
ontem os resultados da reavaliação
da sua estratégia. E um dos pontos
centrais desse processo estava na
deÆnição de estabilidade de preços
que é assumida pelo próprio banco
central.
Indo ao encontro do que eram as
expectativas dos mercados, o BCE
mudou o seu objectivo de médio pra-
zo para a inÇação de um valor “abai-
xo mas próximo de 2%” para apenas
2%. É uma mudança que vai ao
encontro de uma alteração estrutural
que se tem vindo a registar na condu-
ção da política monetária e que res-
ponde também a algumas dúvidas
relativamente à acção que o BCE
pode vir a seguir no curto prazo.
A ideia-chave que se pretende pas-
sar com este novo objectivo de 2%
para a inÇação é a de simetria. Na
nota ontem publicada, o BCE aÆrma
que “o objectivo é simétrico, o que
signiÆca que desvios negativos e posi-
tivos na inÇação são igualmente inde-
sejáveis”. Isto é, o banco central dei-
xa claro que uma taxa de inÇação de
1% é tão preocupante como uma taxa
de inÇação de 3%.
O objectivo que vigorou nos últi-
mos 18 anos — de uma inÇação “abai-
xo mas próxima de 2%” — tinha o
problema de passar a ideia de que o
BCE considerava mais grave uma
variação de preços acima de 2% do
que uma variação abaixo desse valor.
Podia mesmo ser considerado que os
2% eram, não uma meta, mas um
limite máximo.
Durante vários anos, os responsá-
veis do BCE viveram bem com esta
mensagem que estavam a passar aos
mercados, mas, aos poucos, a reali-
dade económica a que se tem assisti-
do na zona euro e noutros pontos do
globo desde a crise Ænanceira inter-
nacional de 2008 veio alterar com-
pletamente a situação.
Mesmo com as taxas de juro a zero
e realizando compras de dívida públi-
ca em larga escala, o BCE tem sentido
grandes diÆculdades em evitar que a
taxa de inÇação permaneça, de for-
ma persistente, em valores muito
mais baixos do que o objectivo. O
risco com que se passou a preocupar
2%
Meta do BCE para a inflação na
zona euro é agora de 2%, num
objectivo simétrico: uma taxa de
inflação de 1% é tão preocupante
como uma inflação de 3%
é mais o da deÇação do que o de uma
escalada da inÇação.
“Desvios temporários”
A preocupação do BCE em adaptar a
sua estratégia à era de taxas de juro
em que vivemos é também evidente
no aviso que deixa relativamente aos
potenciais efeitos que as políticas
ultra-expansionistas de combate à
deÇação podem ter.
“Quando a economia está a operar
perto do limite mínimo de taxas de
juro, isso exige uma acção persisten-
te e forte da política monetária para
evitar que os desvios negativos da
meta de inÇação se tornem perma-
nentes. Isto pode também implicar
que haja um período em que a inÇa-
ção Æca transitoriamente e modera-
damente acima do objectivo”, diz o
BCE na nota agora publicada.
Esta mensagem está incluída numa
revisão de estratégia, e serve também
de guia para aquilo que o BCE vai
fazer no curto prazo. Numa altura em
que se observa uma subida da taxa
de inÇação na zona euro, tendo ultra-
passado mesmo a meta dos 2%, o
banco central assume como normal
que, no rescaldo da aplicação de
medidas expansionistas, os preços
acelerem para lá do objectivo, de for-
ma temporária, dando um sinal claro
de que não irá agora reagir de forma
abrupta com subidas de taxas de juro
ou com cortes não previstos no seu
programa de compra de dívida.
“Sabemos que a taxa de inÇação
não vai estar sempre consistente-
mente no objectivo de 2%, pode
haver alguns desvios temporários e
moderados em qualquer uma das
direcções. E isso não faz mal. Aquilo
com que nos preocupamos muito é
com algum desvio face ao objectivo
que seja sustentável, duradouro e
signiÆcativo”, esclareceu Christine
Lagarde, a presidente do BCE, na
conferência de imprensa de apresen-
tação das conclusões da revisão estra-
tégica.
Solução de compromisso
Entre os investidores e economistas,
há quem considere que o BCE deveria
ter ido ainda mais longe, seja através
da deÆnição de um objectivo supe-
rior a 2%, seja comprometendo-se a
atingir em média a meta de 2%, o que
signiÆcaria que, depois de um perío-
do de inÇação mais baixa, o banco
central apontaria para um período
semelhante de inÇação mais alta.
O equilíbrio de forças dentro do
BCE — em que países como a Alema-
nha defendem uma política monetá-
ria mais receosa da subida da inÇa-
ção, enquanto outros países defen-
dem uma política mais apostada em
evitar o risco de deÇação — conduziu
a esta solução de compromisso.
Para Portugal, um país que, pelo
seu nível de endividamento elevado,
pode ter muito a perder com um
regresso de uma política monetária “Sabemos que a taxa de inflação ção na zona euro, que tem vindo a ser
menos expansionista, esta garantia não vai estar sempre cada vez mais acusado de não reÇec-
do BCE, de que não irá dar excessiva consistentemente no objectivo tir a realidade económica actual.
importância a uma subida temporá- de 2%”, avisou ontem a líder do Ainda assim, os responsáveis do BCE
ria da inÇação, constitui um motivo BCE, Christine Lagarde defendem que os preços das casas
de alívio, dando mais tempo ao país habitadas pelos seus donos, que
para consolidar a sua retoma econó- actualmente não contam para o cál-
mica. culo da inÇação, passem a ser conta-
Na revisão de estratégia, o banco bilizados.
central também não avançou para a Essa mudança estatística, reconhe-
mudança mais radical de abandonar ce o BCE, pode demorar vários anos,
o actual indicador de cálculo da inÇa- mas a informação que venha entre-

KAI PFAFFENBACH/REUTERS
tanto a Æcar disponível irá passar a
ser considerada, fazendo com que a
evolução do mercado imobiliário
passe a estar mais presente no pro-
cesso de decisão da política monetá-
ria europeia.
O conselho de governadores do
BCE anunciou também que preten-
de tornar estas revisões da estraté-
gia uma prática regular, esperando-
se que a próxima possa acontecer já
em 2025.
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 31
Economia
Responder às CCP alerta que há centenas
alterações climáticas de empresas excluídas
Medidas incluem criar
novos indicadores
do apoio ao salário mínimo
estatísticos pelo BCE
ra uma das áreas em que
E
balhadores do comércio que rece- sas um apoio no primeiro trimestre
Raquel Martins
Christine Lagarde queria bem 665 euros por mês mas que, por de 2021, mas o subsídio só viu a luz
deixar a sua marca e o Em causa estão empresas força das suas funções, recebem do dia a meio do segundo trimes-
Banco Central Europeu abono por quebras de caixa. tre.
acabou por avançar, apesar do
do sector da limpeza que “No primeiro caso, a discrimina- A compensação ao aumento do
cepticismo de alguns dos têm um contrato colectivo ção desincentiva os sectores a paga- salário mínimo para 665 euros prevê
membros do conselho de com um salário 0,5% acima rem acima do salário mínimo nacio- o pagamento de um subsídio de 84,5
governadores, para a dos 665 euros nal. No segundo caso, estão a pena- euros por trabalhador que em
introdução de medidas lizar-se trabalhadores com uma Dezembro do ano passado tinha uma
destinadas a fazer das A Confederação do Comércio e Ser- função especíÆca que os obriga a remuneração-base declarada equi-
alterações climáticas um viços de Portugal (CCP) alerta que há assumir falhas de tesouraria”, refere valente ao salário mínimo de 2020
factor a considerar nos “centenas de empresas” excluídas a confederação num comunicado. (635 euros) ou de 42,25 euros no
processos de decisão do do apoio ao aumento do salário míni- “Decidimos adoptar uma posição caso dos trabalhadores que rece-
banco central. mo nacional (SMN) para 665 euros e de força porque o prazo para as biam entre os 635 e os 665 euros.
O BCE assinala que as exigem ao Governo uma solução. empresas se candidatarem termina Para terem acesso ao apoio, as
alterações climáticas têm A chamada de atenção surge na nesta sexta-feira e, apesar de já ter- empresas têm de se registar numa
impacto em indicadores como véspera do dia em que termina o mos levantado o problema na CPCS plataforma nas páginas electrónicas
a inflação, o emprego ou o prazo para as empresas se candida- por quatro ou cinco vezes, o Gover- da Agência para a Competitividade
Produto Interno Bruto (PIB), tarem à compensação e depois de o no não encontra uma solução”, e Inovação (IAPMEI) ou do Turismo
afectam a estabilidade presidente da CCP, João Vieira acrescentou o dirigente da confede- de Portugal até 9 de Julho, sob pena
financeira e influenciam o Lopes, ter assinalado por diversas ração que considera a exclusão dos de o direito ao subsídio caducar.
valor dos activos detidos pelo vezes o problema nas reuniões da trabalhadores “injusta” e “absur- De acordo com as regras previstas
banco central. E, por isso, Comissão Permanente de Concerta- da”. no Decreto-Lei 37/2021, o pagamen-
embora salientando que são ção Social (CPCS), sem qualquer A CCP lamenta ainda que o Gover- to será feito no prazo máximo de 30
os governos e os parlamentos sucesso. no continue “a atrasar a publicação dias contados a partir de hoje, o que
que têm as principais Em causa, adiantou ao PÚBLICO em portaria do regime de actualiza- signiÆca que poderá chegar só em
responsabilidades nesta Vieira Lopes, estão empresas que ção extraordinária do preço dos Agosto, cinco meses depois do ini-
matéria, define uma série de empregam mais de 100 mil pessoas contratos de aquisição de serviços cialmente prometido. O Governo
medidas a adoptar nos e que por diversas razões têm salá- com uma forte componente de mão- tem reservados 60 milhões de euros
próximos anos para que os rios que ultrapassam ligeiramente o de-obra indexada à Remuneração para esta medida.
efeitos das alterações valor do salário mínimo. Mínima Mensal Garantida, apesar de O PÚBLICO perguntou ao Ministé-
climáticas possam É o que acontece, por exemplo, no estar previsto no Orçamento do Esta- rio da Economia, liderado por Pedro
efectivamente ser levadas em sector das limpezas, cujo contrato do para 2021 (artigo 74.º)”. Siza Vieira, se havia disponibilidade
conta nas decisões: colectivo prevê um salário mínimo para resolver o problema identiÆca-
— Acelerar o 0,5% superior ao salário mínimo Como funciona o apoio? do pela CCP, quantas empresas se
desenvolvimento de novos nacional e cujas empresas não se Quando decidiu aumentar o salário candidataram ao apoio e quantos
modelos e conduzir análises podem candidatar ao apoio. mínimo de 635 para 665 euros, o trabalhadores serão abrangidos,
teóricas e empíricas para Outra situação tem a ver com tra- Governo prometeu pagar às empre- aguardando uma resposta.
monitorizar as implicações RUI GAUDENCIO
das alterações climáticas na
economia, no sistema
financeiro e na transmissão da
política monetária;
— Criar e desenvolver novos
indicadores estatísticos
experimentais que meçam,
por exemplo, a pegada de
carbono das instituições
financeiras e a sua exposição
aos riscos relacionados com
as alterações climáticas;
— Exigir que as empresas
emissoras de títulos
adquiridos pelo BCE, ou
aceites como garantias,
divulguem as suas práticas
ambientais e os níveis de
sustentabilidade das suas
actividades; e
— Melhorar a sua própria
capacidade para avaliar os
riscos criados pelas alterações
climáticas, exigindo também
às agências de rating que
incorporem as questões
ambientais na sua avaliação
de activos. Sérgio Aníbal
O prazo para as empresas se candidatarem a este apoio termina hoje
32 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Economia
Sindicatos prometem lutar contra
o despedimento colectivo na TAP
Luís Villalobos e Raquel Martins
Sindicatos estão contra
o processo que visa 124
funcionários e falam de
ilegalidades, do fim da “paz
social” e de “rasgar” acordo
O anúncio do despedimento colectivo
na TAP, que visa 124 trabalhadores da
empresa estatal, conhecido ontem,
provocou logo reacções dos sindica-
tos, com o Sindicato dos Pilotos da
Aviação Civil (SPAC) a considerar que
o despedimento colectivo “é ilegal e
injusto e põe em causa a paz social”.
“Iremos reagir com todos os meios à
nossa disposição e em todas as instân-
cias, designadamente nos tribunais”,
aÆrmou em comunicado o sindicato
liderado por Alfredo Mendonça.
“Com esta decisão, a TAP está a
incumprir o acordo de emergência”
assinado, diz o SPAC, defendendo que
o processo “enferma de erros e ilega-
lidades gritantes”, como “desactuali-
zação da informação que serve de
fundamento ao despedimento”, “ile-
galidade do critério de selecção dos
pilotos” e, “em função dos critérios
anunciados”, a “ausência de explica-
ção para a inclusão” dos 35 pilotos
abrangidos no processo.
Quanto ao Sindicato dos Técnicos
de Manutenção de Aeronaves (Site-
ma), o seu presidente, Paulo Manso,
aÆrmou que a acção da TAP “põe em
causa” o acordo de emergência assi-
nado no início do ano. Isto porque o
acordo prevê um corte salarial mais
profundo do que o previsto a nível
geral com o intuito de proteger todos
os associados do sindicato.
No entanto, isso não se está a veri-
Æcar, uma vez que, segundo o dirigen-
te sindical, há oito técnicos de manu-
tenção ligados ao Sitema que estão
abrangidos pelo despedimento colec-
tivo. “Não vamos continuar a cumprir
o acordo se este não servir para o que
foi desenhado”, sublinhou Paulo
Manso, dando conta da existência de
trabalhadores visados pelo processo
de despedimento que são o único
sustento da família e de pessoas com
doenças graves. Para já, vai ser reali-
zado um plenário na próxima sema-
na, e, se o acordo cair por terra, isso
levará, conforme conÆrmou o presi-
dente do Sitema, a um maior número
de técnicos de manutenção alvo de
despedimento (uma vez que termina
o corte extra nos salários que permi-
tia manter postos de trabalho).
“Esse é um problema que alguém
terá de gerir”, sublinhou, aÆrmando
que neste momento já há falta de
técnicos de manutenção na compa-
nhia e que o cenário tende a agravar-
se à medida que a retoma do sector
for ganhando terreno. O acordo assi-
nado com a TAP previa que 124 pos-
tos de trabalho de associados do
Sitema fossem salvos pela redução
de horário e de vencimento dos res-
tantes sindicalizados.
Por parte do Sitava (sindicato dos
trabalhadores de terra), é aÆrmado
que, neste momento, estão a ser
equacionadas todas as medidas pos-
síveis para contrariar o despedimen-
to a aplicar na empresa pública. “Con-
sideramos lamentável que a TAP
insista neste processo, ao qual nos
oporemos, ao invés de se reorganizar
para fazer face à retoma que está aí,
e que a TAP está a perder, ao contrá-
rio da concorrência, que está a
aumentar a quota de mercado no
Aeroporto Humberto Delgado”, aÆr-
mou ao PÚBLICO o secretário-geral
do Sitava, José Sousa.
Este responsável diz que não faz
sentido pensar em greve como acção
de luta, num momento em que a
empresa tem uma acentuada falta de
trabalho (tendo aderido ao layoff).
Entre as medidas a equacionar, refe-
re, estão concentrações e acções de
pressão mediática. Por outro lado,
vão também começar na segunda-
-feira as reuniões entre a empresa e
os representantes dos trabalhadores,
com o patrocínio da DGERT, “onde
também se luta”, referiu José Sousa.
Aqui, será aferida a legalidade do pro-
cesso, com o Sitava a prometer estar
atento às questões que possam pôr
em causa os critérios para seleccionar
os trabalhadores a despedir.
“Situação inédita”
Já o Sindicato Nacional do Pessoal de
Voo da Aviação Civil (SNPVAC), numa
mensagem aos associados, fala num
processo feito com “falta de transpa-
rência e informação”. “Só agora ire-
mos Ænalmente poder conhecer os
fundamentos em que sustenta a
necessidade desta cessação de con-
tratos e da escolha dos tripulantes
abrangidos”, diz o sindicato presidido
por Henrique Louro Martins.
Sublinhando que esta é uma “situa-
ção inédita na história” da companhia
aérea, o SNPVAC diz que vai lutar pela
“defesa intransigente do cumprimen-
to da lei” e que dará “apoio incondi-
cional a todos os que pretenderem
nderem
recorrer aos meios judiciais para
impugnar a decisão da empre- pre-
sa”. Henrique Louro Martins ins
es-
questiona a legalidade do des-
pedimento colectivo, aÆrman- an-
do, ao PÚBLICO, que a medida da
“não tem qualquer justiÆca- ca-
ção”, nomeadamente “a forma ma
Companhia aérea é detida a 72,5% pelo Estado
Corte de pessoal começou em 2020
processo de redução de
O
pessoal começou logo
após a pandemia, com a
não-renovação de
contratos a termo e que acabou
por atingir cerca de 1600
pessoas ao nível do grupo. A TAP
calculou ainda em 2000 o
número de trabalhadores do
quadro como estando em
excesso, mas o número foi
reduzido com acordos de
emergência assinados com os
sindic
sindicatos que, com cortes
ext
extras, pouparam cerca de
75
750 postos de trabalho.
S
Seguiu-se um período
d
de medidas de adesão
v
voluntárias, que permitiu
p
poupar perto de 800
postos de trabalho,
DANIEL ROCHA
entre rescisões por mútuo
acordo, reformas antecipadas e
transferências para a Portugália.
A partir daqui, começaram a ser
identificados os trabalhadores
que seriam visados no processo
de despedimento colectivo,
sendo chamados para reuniões
presenciais, nas quais lhes eram
apresentadas as mesmas
condições das medidas de
adesão voluntária, tendo vários
trabalhadores acabado por sair
nos termos propostos. A
redução ocorre depois de um
período de contratações. Em
2018, a TAP fechou o ano com
8145 funcionários, subiu para
9006 em 2019 e no final de
2020 eram já 8016, passando
a 7526 em Março último.
como as pessoas foram escolhidas”.
O anúncio de que ia avançar com
um processo de despedimento colec-
tivo foi feito pela companhia de
manhã. “No seguimento da execução
do plano de reestruturação, na pre-
sente data, a TAP deu início a um pro-
cesso de despedimento colectivo
envolvendo estes 124 colaboradores,
o qual seguirá o seu procedimento de
acordo com um calendário indicativo
que se pretende concretizar no últi-
mo trimestre deste ano”, adiantou a
empresa num comunicado.
A empresa informou ainda que no
universo de trabalhadores afectados
pelo despedimento estão 35 pilotos,
28 tripulantes de cabine, 38 trabalha-
dores da área da manutenção e enge-
nharia em Portugal e 23 trabalhadores
da sede. Durante o processo de des-
pedimento colectivo, e numa fase
inicial, a TAP vai oferecer condições
similares às oferecidas aos trabalha-
dores que, na fase de adesão voluntá-
ria, escolheram rever a sua decisão
de não-adesão às medidas (que
incluem rescisões por mútuo acordo,
e reformas antecipadas), mantendo
também a possibilidade de haver
transferências para a Portugália. Ao
manter estas condições, a companhia
espera que seja possível uma redução
ainda maior do número de funcioná-
rios no âmbito do processo de despe-
dimento colectivo.
“Gostaria que a minha primeira
mensagem escrita para todos vós fos-
se sobre um assunto mais positivo.
Lamentavelmente, assim não acon-
tece”, aÆrmou a nova presidente exe-
cutiva da TAP, Christine Ourmières-
-Widener (na foto em baixo), numa
missiva enviada aos trabalhadores do
grupo. “Teremos de avançar com Ær-
meza na concretização do plano de
reestruturação”, sublinhou, acres-
centando que “a sobrevivência e
recuperação sustentável da TAP
dependem da implementação eÆcaz
deste plano”. O plano foi entregue a
10 de Dezembro e aguarda ainda “luz
verde” de Bruxelas.
O despedimento colectivo, defen-
de, “não é apenas um passo funda-
mental para a execução do plano de
reestruturação, mas é também neces-
sário para permanecermos coerentes
e procedermos de forma equitativa
em relação àqueles que se dispuse-
ram a sair voluntariamente”. “Conti-
nuamos empenhados no objectivo de
conduzir e concluir este plano de
reestruturação num clima construti-
vo e de entendimento”, sublinhou.
A empresa recordou que o número
em causa é muito inferior aos 2000
potencialmente abrangidos pela
medida no início do processo.
 Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 33

Economia

Turismo rural resistiu melhor à pandemia

Raquel Martins e Luís Villalobos
Em 2020, proveito médio
por dormida subiu 8,6% no
turismo rural e de
habitação, em contraciclo
com o resto do sector
O turismo no espaço rural e de habi-
tação foi o segmento que no ano pas-
sado melhor resistiu à pandemia,
tendo registado um aumento do pro-
veito médio por dormida de 8,6%,
atingindo os 52,3 euros. Esta evolução
contraria a queda de 9,4% registada
em 2020 na globalidade do alojamen-
to turístico (para 41,7 euros por dor-
mida), depois do crescimento de 3,2%
em 2019, e que foi particularmente
severa nos segmentos da hotelaria e
do alojamento local (que neste caso
inclui apenas dez ou mais camas).
As estatísticas do turismo de 2020,
ontem divulgadas pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE), mos-
tram que, com excepção dos meses
de Abril e Maio (em que o proveito
médio por dormida recuou 12,8% e
9,8%, respectivamente), em todos os
restantes meses veriÆcaram-se
aumentos do proveito médio por dor-
mida no turismo rural e de habitação,
com destaque para os meses de Agos-
to (13,1%), Julho (7,9%) e Setembro
(7,3%).
Esta “singularidade”, sublinha o
INE, “indicia que este segmento da
oferta dos serviços de alojamento
turístico terá sido mais resistente ao
impacto da pandemia”.
O turismo no espaço rural e de
habitação (que representa 5% nas
dormidas e 6,3% nos proveitos por
aposento) foi o que registou menores
decréscimos no número de hóspedes
(-37,1%) e de dormidas (-34,1%), a
grande distância das reduções veriÆ#
cadas na hotelaria (-61,6% e -63,9%,
respectivamente) e no alojamento
local (-66,3% e -65%).
Olhando para os segmentos mais
penalizados pela pandemia da covid-
19, na hotelaria (que tem um peso de
Pandemia levou a maior procura pelo turismo rural e de habitação
81,1% nas dormidas e 83,9% nos pro-
veitos de aposento) o proveito médio
por dormida foi de 43,1 euros, o que
se traduziu numa diminuição de
10,5% face ao ano pré-pandemia. O
segmento do alojamento local, com
quotas de 13,9% nas dormidas e 9,8%
RICARDO LOPES
nos proveitos de aposento, foi o que
registou maior diminuição do provei-
to médio por dormida (-11,3%), tendo
atingido 29,6 euros.
O instituto de estatísticas nota que
a redução do volume de negócios da
actividade do turismo não decorreu
apenas de um efeito quantidade, uma
vez que “também se assistiu em geral
à redução de preços”. A maior fonte
da queda das receitas foi a diminuição
acentuada do número de turistas a
partir de Março de 2020, com desta-
que para os estrangeiros. Os proveitos
totais Æcaram-se pelos 1,4 mil milhões
de euros (a esmagadora maioria na
hotelaria), menos 66,3% face a 2019.
“Sem precedente histórico”
O INE recorda que em 2020 houve
uma contracção “sem precedente
histórico” de 73,7% face a 2019, para
6,5 milhões de turistas estrangeiros
(e depois de um crescimento de 7,9%
no ano anterior, em que foram bati-
dos novos recordes). Espanha, diz o
INE, “manteve-se como o principal
mercado emissor de turistas interna-
cionais (quota de 28,5%), tendo regis-
tado um decréscimo de 70,5% em
2020”. Já em dormidas, o Reino Uni-
do manteve-se como o principal mer-
cado emissor, com 16,6% do total dos
não residentes, menos 77%.

PUBLICIDADE

Insolvências aumentam
16,1% no semestre
As constituições de novas
empresas também
registaram uma subida,
mas a um ritmo inferior
As acções de insolvência aumenta-
ram 16,1% no primeiro semestre
deste ano, face ao período homólo-
go de 2020, e as constituições acu-
mularam um crescimento de 14,2%,
revelou ontem a Iberinform.
As acções de insolvência totaliza-
ram 2806 no primeiro semestre,
mais 389 do que nos primeiros seis
meses do ano passado.
Analisando apenas o mês de
Junho, foi registado um decréscimo
de 10,7% em relação ao mesmo mês
do ano passado, para um total de 432
insolvências, “o que poderá traduzir
uma tendência de decréscimo deste
indicador”, destaca a Iberinform.
Por tipologia de acção, o semestre
fechou com um aumento de 24% nas
Declarações de Insolvência Requeri-
das (DIR) por terceiros, enquanto as
Declarações de Insolvência Apresen-
tadas (DIA) pelas próprias empresas
diminuíram 4,1%. Os encerramentos
com plano de insolvência aumenta-
ram 43,7% face a 2020, evoluindo de
23 para um total de 33.
No período em análise, foi decla-
rada a insolvência de um total de
1683 empresas, o que corresponde
ao encerramento de mais 295 pro-
cessos que no período homólogo de
2020 (subida de 21,2%).
Porto e Lisboa são os distritos
com os valores mais elevados, com
697 e 652 insolvências, respectiva-
mente, registando aumentos de
33,9% e de 15,4%.
Seis distritos apresentam uma
diminuição nas insolvências: Horta
(-66,7%), Angra do Heroísmo (-58,8%),
Bragança (-45%), Faro (-30,1%), San-
tarém (-22,6%) e Beja (-18,8%).
Já as progressões mais signiÆcati-
vas veriÆcaram-se nos distritos de
Vila Real (141,7%), Guarda (64,3%),
Castelo Branco (38,9%), Lisboa
(33,9%), Portalegre (33,3%) e Coim-
bra (32,3%).
Na Madeira, houve uma subida de
26,3% face a 2020 e em Porta Delgada
o incremento situou-se nos 10%.
Os aumentos mais signiÆcativos
registaram-se nas actividades de
electricidade, gás, água (150%), tele-
comunicações (133,3%), hotelaria e
restauração (76,6%) e indústria
extractiva (75%).
Na construção e obras públicas,
as insolvências cresceram 27,1%,
enquanto o comércio de veículos
teve um aumento de 14,6% face ao
ano passado. Lusa
34 • Público ClassiÄcados • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021

AVISO
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, E.P.E.
informa que foi publicado no site institucional: https://www.
chvng.min-saude.pt/index.php/informacao-institucional/
recursos-humanos/concursos-e-recrutamento – o anúncio
de recrutamento com a Ref.ª RH/06/2021 que irá proceder
à abertura de procedimento concursal para constituição da
reserva de recrutamento para 1 técnico superior de diagnóstico
e terapêutica de radiologia, em regime de contrato individual
de trabalho. As candidaturas deverão ser efetuadas nos 10
(dez) dias úteis seguintes à data de publicação do presente
aviso, através do envio de correio eletrónico para o endereço
juri.bolsa.rh062021@chvng.min-saude.pt.
Meta Capital Prestamistas, Lda.
LEILÕES
1.º Leilão
META CAPITAL PRESTAMISTAS, LDA., irá efetuar na Rua Arco
Marquês do Alegrete, n.º 6 - A, 1100-034 Lisboa, no dia 29 de Julho
de 2021, pelas 10H30, Leilão de penhores sobre ouro, pratas, joias e
objetos diversos, ao abrigo do art.º 27.º do decreto-lei n.º 160/2015,
de 11 de agosto.
Os penhores dizem respeito às Agências da Meta Capital Prestamistas,
Lda., cujos contratos à data tiverem os juros vencidos e não pagos há
mais de três meses.
É facultado ao público o exame dos objetos a leiloar no dito local
durante as duas horas que antecedem o leilão.
Os objetos são arrematados no local e no estado em que se encontram.
CONHEÇA Após cada licitação, caso o arrematante não liquide a totalidade do
lote, ser-lhe-á exigido de imediato um sinal (por transferência bancária)
nunca inferior a 40%, no ato da adjudicação.
AS NOSSAS Os lotes arrematados que não forem totalmente pagos no ato do leilão
deverão ser levantados até 24 horas a partir da data do leilão sob pena
de ser anulada a venda com a perda do sinal.
COLECÇÕES DE MÚSICA
Não serão aceites reclamações após a adjudicação dos lotes.
2.º Leilão
Em caso de inexistência de propostas aquisitivas em primeiro leilão
para as coisas em causa, será realizado segundo leilão no dia 29 de
Julho de 2021, pelas 10H35, nos termos do n.º 7 do artigo 28º decreto-
lei n.º 160/2015, de 11 de agosto e nas condições previstas supra
previstas para o 1.º Leilão. O exame dos objetos a leiloar é facultado
ao público no dito local, durante as duas horas que antecedem o leilão.
3.º Leilão
Em caso de inexistência de propostas aquisitivas em segundo leilão
para as coisas em causa, será realizado terceiro leilão no dia 29 de
Julho de 2021, pelas 10H40, nos termos do n.º 8 do artigo 28.º decreto-
lei n.º 160/2015, de 11 de agosto e nas condições previstas supra
previstas para o 1.º Leilão, não estando porém a venda condicionada
ao valor da avaliação. O exame dos objetos a leiloar é facultado ao
público no dito local, durante as duas horas que antecedem o leilão.
Lisboa, 09 de Julho de 2021
A Gerência
www.casacreditopopular.pt Ligue Grátis 800 208 186
PROC. N.º 3721/20.8T8LSB,
JUÍZO DE COMÉRCIO DO LISBOA, JUIZ 7
TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE LISBOA
INSOLVÊNCIA DE
Paulo Jorge de Azevedo Nunes
ANÚNCIO
VENDA MEDIANTE PROPOSTAS
EM CARTA FECHADA
Nos autos acima identificados procede-se à venda,
mediante propostas em carta fechada, do bem imóvel
discriminado infra, o qual será entregue a quem oferecer
o melhor preço, devendo os interessados, até às 15h00
do dia 26 de Julho de 2021, entregar as propostas de
compra em carta fechada, indicando no envelope o nº
do processo em epígrafe, dirigidas ao Administrador da
Insolvência João Morais de Almeida, para a Av. Dr. João
Canavarro, n.º 305 – 3º S/32 – 4480-668 Vila do Conde.
O bem imóvel em causa consiste em:
- Fração Autónoma designada pela letra “B” do Prédio
Urbano descrito na Conservatória do Registo Predial de
Lisboa sob o nº 852-B/Anjos e inscrita na matriz urbana
com o art.º 1836-B da freguesia de Penha de França, sita
na Rua Heliodoro Salgado, Rés-do-Chão Esquerdo, n.º 2,
Lisboa, com um valor base de € 42.210,00.
A mostra do bem será efetuada no dia 16 de Julho
de 2021 das 10h00 às 12h00, devendo ser efetuada
marcação prévia, (até às 17h00 do dia 14 de Julho de
2021, através do Telefax n.º 252 641 229 ou endereço
de correio eletrónico jmoraisalmeida@jmaorg.pt, com
indicação de nome, morada, NIF e n.º de telefone
móvel de contacto do interessado). Os proponentes
devem juntar às suas propostas, nunca inferiores a
85% do valor base, cheques visados ou bancários
de 5% do valor oferecido, como caução, à ordem da
Massa Insolvente de Paulo Jorge de Azevedo Nunes
(e que serão devolvidos, caso as propostas não sejam
aceites). A abertura de todas as propostas recebidas
será efetuada no dia 26 de Julho de 2021 às 15h00, no
loja.publico.pt domicílio profissional do administrador da insolvência.
INFO: 210 111 010
João Morais de Almeida
Público, 09/07/2021
Público ClassiÄcados • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 35
AGRICULTURA E MAR
Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral
Aviso
Procedimento concursal comum para preenchimento de
1 (um) posto de trabalho da carreira geral de assistente
Aviso
técnica do mapa de pessoal da Direção-Geral do Livro, dos
Arquivos e das Bibliotecas, para exercer funções na Divisão
Em cumprimento do preceituado no n.º 2 do
de Sistemas de Informação, Estatística e Qualidade.
Modalidade de vínculo: Procedimento concursal restrito a artigo 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro, na
trabalhadores detentores de um vínculo de emprego público por
tempo indeterminado. sua redação atual, faz-se público que, por meu
Habilitações literárias exigidas: 12.º ano. despacho de 07-05-2021, se encontra aberto
Local de trabalho: Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das
Bibliotecas – Alameda da Universidade, 1649-010 Lisboa. o procedimento concursal para provimento
Publicação em Diário da República: Procedimento concursal do cargo de Diretor de Serviços de Estatística,
publicado através do Aviso (extrato) n.º 12661/2021, publicado
no Diário da República, 2.ª Série, n.º 131, 08 de julho de 2021. cargo de direção intermédia de 1.º grau deste
Prazo de candidatura: 10 (dez) dias úteis contados a partir Gabinete.
da data da publicação integral do Aviso na Bolsa de Emprego
Público (BEP).
Local onde se encontra a publicação integral do O referido procedimento concursal será
procedimento: Bolsa de Emprego Público em www.bep.gov.pt.
publicitado na Bolsa de Emprego Público,
08 de julho de 2021
O Diretor-Geral, Silvestre de Almeida Lacerda
conforme disposto no n.º 1 do artigo 21.º da
Lei n.º 2/2004, durante 10 dias úteis, contados
a partir do 2.º dia útil posterior ao da presente
publicação, contendo a indicação dos requisitos
Município de Cuba formais de provimento exigido, da composição
Câmara Municipal do júri e dos métodos de seleção, podendo ser
7940-172 Cuba
consultados em www.bep.gov.pt.
Para os devidos efeitos se torna público que, se encontram abertos, na Câmara Municipal
de Cuba, os seguintes procedimentos concursais, publicados no Diário da República n.º
129, II Série, de 06 de julho de 2021:
- Aviso n.º 12511/2021 – Procedimento concursal comum para provimento de dois pos-
tos de trabalho, na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas por tempo
indeterminado, na carreira e categoria de Assistente Operacional - Educação.
O Diretor-Geral
Caracterização dos postos de trabalho (atribuição, competência ou atividade): O
constante no anexo à Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, ao qual corresponde Eduardo Diniz
o grau 1 de complexidade funcional, e de acordo com as atividades descritas no Re-
gulamento de Organização dos Serviços Municipais de Cuba, publicado no Diário da
República n.º 122, 2ª Série, de 28 de junho de 2016, nomeadamente, Apoio logístico
e lúdico ao Ensino PréEscolar/1.º ciclo, às atividades a desenvolver com as crianças
integradas no Serviço de apoio à família (AAAF/CAF) e a outras atividades dinamizadas,
limpeza e arrumação da sala e espaços comuns, com base em diretivas bem definidas
AGRICULTURA E MAR
Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral
e instruções gerais.
Nível habilitacional: O constante na al. a), do n.º 1, art. 86.º da Lei n.º 35/2014, de 20 de
junho, a que corresponde a escolaridade mínima obrigatória.
- Aviso n.º 12512/2021 – Procedimento concursal comum para provimento de um posto
Aviso
de trabalho, na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas por tempo inde-
terminado, na carreira e categoria de Assistente Operacional – Ação Cultural e Turismo.
Caracterização dos postos de trabalho (atribuição, competência ou atividade): O
constante no anexo à Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, ao qual corresponde
o grau 1 de complexidade funcional, e de acordo com as atividades descritas no Re-
gulamento de Organização dos Serviços Municipais de Cuba, publicado no Diário da Em cumprimento do preceituado no n.º 2 do
República n.º 122, 2ª Série, de 28 de junho de 2016.
Nível habilitacional: O constante na al. a), do n.º 1, art. 86.º da Lei n.º 35/2014, de 20 de artigo 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro, na
junho, a que corresponde a escolaridade mínima obrigatória.
- Aviso n.º 12513/2021 – Procedimento concursal comum para provimento de um pos-
to de trabalho, na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas por tempo
sua redação atual, faz-se público que, por meu
indeterminado, na carreira e categoria de Assistente Operacional – Higiene e Limpeza.
Caracterização dos postos de trabalho (atribuição, competência ou atividade): O despacho de 07-05-2021, se encontra aberto
constante no anexo à Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, ao qual corresponde
o grau 1 de complexidade funcional, e de acordo com as atividades descritas no Re- o procedimento concursal para provimento
gulamento de Organização dos Serviços Municipais de Cuba, publicado no Diário da
República n.º 122, 2ª Série, de 28 de junho de 2016, designadamente, higiene e limpeza
dos edificios municipais.
do cargo de Chefe de Divisão de Gestão
Nível habilitacional: O constante na al. a), do n.º 1, art. 86.º da Lei n.º 35/2014, de 20 de
junho, a que corresponde a escolaridade mínima obrigatória. Patrimonial, cargo de direção intermédia de 2.º
- Aviso n.º 12514/2021 – Procedimento concursal comum para provimento de um pos-
to de trabalho, na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas por tempo grau deste Gabinete.
indeterminado, na carreira e categoria de Assistente Técnico – Animação Sociocultural.
Caracterização dos postos de trabalho (atribuição, competência ou atividade): O
constante no anexo à Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, ao qual corresponde
o grau 2 de complexidade funcional, e de acordo com as atividades descritas no Regula-
O referido procedimento concursal será
mento de Organização dos Serviços Municipais de Cuba, publicado no Diário da Repúbli-
ca n.º 122, 2ª Série, de 28 de junho de 2016, nomeadamente, apresentação de projetos publicitado na Bolsa de Emprego Público,
de promoção do livro e da leitura; dinamização de atividades ligadas à promoção do livro
e da leitura, direcionadas para os públicos de diferentes faixas etárias; horas do conto; conforme disposto no n.º 1 do artigo 21.º da
ateliers / workshops; leituras encenadas; dramatizações e realização de exposições.
Nível habilitacional: 12.º ano Técnico Profissional nas áreas de Educação ou Animação
Sócio Cultural.
Lei n.º 2/2004, durante 10 dias úteis, contados
- Aviso n.º 12515/2021 – Procedimento concursal comum para provimento de um posto
de trabalho, na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas por tempo inde- a partir do 2.º dia útil posterior ao da presente
terminado, na carreira e categoria de Assistente Operacional - Mecânico.
Caracterização dos postos de trabalho (atribuição, competência ou atividade): O publicação, contendo a indicação dos requisitos
constante no anexo à Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, ao qual corresponde
o grau 1 de complexidade funcional, e de acordo com as atividades descritas no Re- formais de provimento exigido, da composição
gulamento de Organização dos Serviços Municipais de Cuba, publicado no Diário da
República n.º 122, 2ª Série, de 28 de junho de 2016, designadamente, funções inerentes
à atividade mecânica.
do júri e dos métodos de seleção, podendo ser
Nível habilitacional: O constante na al. a), do n.º 1, art. 86.º da Lei n.º 35/2014, de 20 de
junho, a que corresponde a escolaridade mínima obrigatória. consultados em www.bep.gov.pt.
O prazo de candidatura é de dez dias úteis, devendo os interessados consultar os avisos
de abertura do procedimentos concursais publicados no Diário da República n.º 129,
II Série, de 06 de julho de 2021, na Bolsa de Emprego Público (www.bep.gov.pt) e na
O Diretor-Geral
página eletrónica da CMC (www.cm-cuba.pt).
Paços do Município de Cuba, 06 de julho de 2021
Eduardo Diniz
O Presidente da Câmara, Dr. João Manuel Casaca Português
36 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Ciência Exploração espacial
“Estamos no limiar de uma
época em que se tornará fácil
chegar ao espaço”
Anousheh Ansari Turista espacial, empresária, incentivadora da inovação
cientíÄca e tecnológica à frente da Fundação Prémio X: a iraniano-americana
Anousheh Ansari é tudo isto e tem uma ambição: quer tornar o espaço um sonho
mais acessível para toda a humanidade. Esteve em Lisboa numa conferência
Entrevista
Clara Barata Texto
Rui Gaudencio Fotografia
Anousheh Ansari sonhava com o
espaço desde pequena, quando
era uma menina no Irão, a pensar
em estrelas e em extraterrestres.
Emigrou para os Estados Unidos
aos 16 anos, para estudar
engenharia electrónica, fundou
empresas tecnológicas e a sua
família patrocinou com dez
milhões de dólares o primeiro
Prémio X, destinado a estimular a
invenção por empresas privadas
de naves capazes de entrar em
órbita. Ela própria cumpriu o seu
sonho em 2006, ao viajar para a
Estação Espacial Internacional
como turista.
Hoje Ansari é a administradora
da Fundação do Prémio X, que
lança vários tipos de competições
tecnológicas, oferecendo prémios
em dinheiro, para incentivar a
inovação. Os prémios hoje estão
mais virados para desaÆos aqui na
Terra mas Anousheh Ansari, que
esteve em Lisboa na Glex Summit
2021 — um evento que junta
exploradores nacionais e
internacionais na capital
portuguesa e em Ponta Delgada,
organizado pela Expanding World
e pelo Explorers Club de Nova
Iorque — continua a sonhar com o
espaço. Mas quer que seja mais
barato e mais fácil chegar lá, para
que possam começar a surgir
ideias e negócios novos — como
aconteceu quando a Internet se
democratizou.
Na corrida de milionários entre
Richard Branson e Jeè Bezos este
mês para ver qual consegue
pôr-se em órbita primeiro, nota-se
que torce por Branson, porque o
milionário britânico comprou a
tecnologia que ganhou o primeiro
Prémio X, Ænanciado pela sua
família, para desenvolver o
sistema da Virgin Galactic.
Como é que começou o seu
fascínio com o espaço quando
era criança, no Irão?
Foi a minha curiosidade e o desejo
de aprender sobre o que havia à
minha volta. Nas noites de Verão
Æcava calor dentro de casa, por
isso íamos dormir para a varanda.
Isto deu-me muito tempo para
observar o céu nocturno e
espicaçar a minha curiosidade
sobre o que haveria lá, o que faria
as estrelas brilhar. Na minha
imaginação interrogava-me se
existiriam outros mundos, se
existiriam extraterrestres,
desejava que sim e que viessem cá
e me levassem... Foi assim que
comecei a interessar-me por
astronomia e outras ciências, a
querer ir para o espaço.
E era comum nessa altura, no
Irão, que as meninas
escolhessem a via das ciências
e da tecnologia?
Para ser sincera, acho que nunca
me importei muito com o que os
outros esperavam que eu Æzesse.
Fazia mais ou menos aquilo que
achava certo. Não era comum,
nem na minha família, eu era a
única interessada em ciência; o
meu pai, por exemplo, era do
sector das vendas e marketing, eu
fui a primeira a seguir o caminho
da matemática e das ciências. A
minha inspiração veio do mundo
exterior e não das pessoas que me
eram mais próximas, ou da
sociedade em que me inseria.
E a sua viagem à Estação
Espacial Internacional, como
turista, em 2006, satisfez o
sonho que tinha de ir ao
espaço?
Mais do que satisfazer, todas os
aspectos da viagem espacial foram
melhores do que aquilo que eu
imaginava! Teve um profundo
impacto naquilo que sou, na
minha vida. Alterou a minha
relação com a vida e o mundo à
minha volta, e levou-me pelo
caminho que segui desde então.
Foi uma experiência profunda,
algo que me sinto feliz por ter tido
a oportunidade de fazer.
Mas mudou-a de que
maneira, importa-se mais
com o planeta...?
Uma forma de descrever isto é
como se tivesse óculos que
estavam todos sujos e
embaciados, que me Æzessem ver
tudo meio desfocado, e alguém
Uma das grandes me tivesse tirado os óculos para
causas de poluição os limpar e pô-los outra vez no
meu nariz: tudo Æcou focado.
no planeta são os Consigo ver o que é importante de
enormes centros forma mais clara. O mundo à
minha volta, a natureza, o nosso
de computação planeta e a vida que nele existe.
em nuvem, que Não é ter-me tornado
ambientalista, é apreciar o
precisam de muita ambiente de muitas formas
refrigeração e diferentes, não só para o
preservar, mas também
consomem imensa compreender a forma como os
energia. Mas ecossistemas e a humanidade
estão ligados no nosso planeta.
o espaço é frio. Acho que é por isto que na
Tenho defendido Fundação do Prémio X
trabalhamos para ajudar a
que devíamos construir uma imagem do futuro
mudar os nossos em que poderemos viver em
harmonia com o nosso planeta e o
sistemas de nosso ecossistema e alcançar algo
computação de melhor para todos.
Ainda acha que a exploração espaço é frio, e que há muita
em nuvem para a do espaço é o maior desafio da energia do Sol, que é grátis. Há
órbita da Terra humanidade, ou há desafios muito tempo que lançamos
maiores aqui na Terra? satélites para o espaço, por isso
Acho que ao explorar o espaço, e sabemos como pôr em órbita
fazermos parte do nosso capacidade de computação. Tenho
Tenho ecossistema mais amplo, que é a andado a dizer que devemos
Lua e o espaço em torno do nosso mudar todos, ou pelo menos parte
acompanhado planeta, acabamos por tornar considerável, dos nossos sistemas
em especial a melhor a vida aqui na Terra. Não de computação em nuvem para a
vejo isto como coisas separadas. órbita da Terra. Este sector está a
evolução do Se pudermos aceder a recursos crescer tão rapidamente, porque
sistema de Richard naturais no espaço, a nossa vida não fazê-lo crescer no espaço?
aqui na Terra vai melhorar. Temos de construir uma base
Branson, porque Por exemplo, uma das grandes permanente na Lua e usá-la para
para fazer o causas de poluição no planeta nos lançarmos para outras
actualmente são os enormes viagens. Temos de aprender a
projecto Virgin centros de computação em nuvem construir ecossistemas fechados
Galactic ele [cloud computing, uma tecnologia para viver no espaço, economias
que concentra recursos de circulares, que integram a
comprou a computação — redes, servidores, produção de alimentos, o
tecnologia que armazenamento, aplicações e tratamento de lixos e tudo isso —
serviços — que podem ser acedidos essas coisas vão permitir-nos ter
ganhou o prémio a qualquer momento pelos também uma vida melhor no
X-Ansari, que a utilizadores da Internet] que nosso planeta.
consomem imensa energia, e É a administradora da
minha família precisam de muita refrigeração, o Fundação do Prémio X, pode
patrocinou que cria poluição. Aprendi que o dar-nos alguns exemplos de

competições que estão a
decorrer neste momento?
Há uns meses anunciámos a maior
competição privada de sempre, o
Prémio X Carbono, no valor de
100 milhões de dólares, apoiada
pela Fundação Elon Musk. O
objectivo é remover dióxido de
carbono (CO2) da atmosfera ou
dos oceanos e sequestrá-lo de
forma permanente, ao nível das
gigatoneladas. O Painel
Intergovernamental para as
Alterações Climáticas prevê que
até 2050 precisaríamos de
remover todos os anos dez
gigatoneladas de CO2 da
atmosfera para manter o aumento
da temperatura média do planeta
abaixo de 1,5 graus Celsius. Com a
tecnologia actual, não
conseguiremos fazer isso.
Precisamos de aumentar a
capacidade tecnológica.
Temos outra competição que se
foca em catalogar e identiÆcar
toda a biodiversidade e espécies
das Çorestas tropicais. Queremos
criar uma forma de os povos
indígenas preservarem estes
fantásticos recursos naturais.
Há ainda a competição para
Alimentar os Próximos Mil
Milhões, que tem a ver com a
criação de carne a partir de
culturas celulares, e não através
da criar animais, vacas, galinhas
ou peixes de aquacultura.
Pretende-se ter uma alternativa
com proteína a sério, refeições
nutritivas sem ter de destruir o
nosso planeta com o impacto da
agricultura em grande escala ou
da sobrepesca. Estes são só alguns
exemplos das tecnologias que
estamos a tentar fazer avançar.
De regresso à Estação Espacial
Internacional, que já está em
órbita há mais de 20 anos. Há
vários projectos de a usar para
turismo espacial, até para
cenários de programas de
ficção e reality TV. O que acha
que devíamos fazer com ela?
Adoraria que este tipo de
instalações fosse disponibilizado
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 37
para fazer investigação e
inovação, que fossem acessíveis a
mais pessoas. Se andarmos para
trás uns 20 anos ou mais, quando
a Internet começou a estar
acessível, só existia nas
Só quando todos universidades, departamentos
puderam aceder governamentais, grandes
empresas. Só quando todos
à Internet, e se puderam aceder à Internet, e se
tornou fácil usá-la, tornou fácil usá-la, porque
apareceu o [browser] Netscape e
é que surgiram outras tecnologias que tornaram
inovações. muito fácil usá-la, é que
começaram a surgir as mais
Vejo o espaço da variadas inovações, negócios. Há
mesma forma 25 anos ninguém poderia prever
que iria existir a Uber, e outras
plataformas online. Vejo o espaço
Tudo pode da mesma forma.
Se conseguirmos baixar a
crescer ainda barreira dos custos do acesso ao
mais rapidamente espaço e torná-lo acessível a mais
pessoas, pode haver imensas
se tivermos inovações. Hoje estamos no limiar
múltiplas de ver isto acontecer.
Desde que começou a haver
estações espaciais cubesats [satélites miniaturizados,
que usam componentes que
podem ser comprados em lojas
de electrónica], e a tecnologia de
sensores se tornou mais barata,
há tantos dados disponíveis,
tantas empresas que estão a
aproveitar as imagens e dados por
satélite para fazer negócios. Mas
tudo pode crescer ainda mais
rapidamente se tivermos
múltiplas estações espaciais,
onde se possam fazer
experiências, cultivar ou fabricar
produtos em microgravidade.
Pode haver uma corrida
espectacular de
empreendedorismo no espaço.
E o que pensa desta corrida de
milionários para verem qual
será o primeiro a entrar em
órbita, entre Richard Branson
(11 de Julho) e Jeff Bezos (20 de
Julho)?
Como seres humanos, todos
gostamos de competir, de quebrar
recordes. Tenho acompanhado
em especial a evolução do sistema
de Richard Branson, porque para
fazer o projecto Virgin Galactic ele
comprou a tecnologia que ganhou
o prémio X-Ansari, que a minha
família patrocinou [dez milhões
de dólares para a primeira equipa
que, com Ænanciamento privado,
conseguisse construir e fazer voar
um veículo de três passageiros até
à altitude de 100 quilómetros, e
repetir o feito no prazo de duas
semanas — foi atribuído em 2004
à Mojave Aerospace Ventures]. De
forma diligente, durante cerca de
15 anos, Richard Branson tem
investido nesta tecnologia, não é
que tenha pensado de um dia
para o outro entrar numa corrida.
Dedicou-se mesmo a
desenvolvê-la e a torná-la segura,
por isso demorou tanto. E para
provar que é segura, vai participar
no primeiro voo.
Ver tudo isto a acontecer ao
mesmo tempo é excitante, porque
Richard vai voar, e Jeè Bezos
também está a trabalhar há
muitos anos no projecto Blue
Origin. Vamos ter a primeira
tripulação comercial [com
turistas] a orbitar o planeta, e em
breve teremos a primeira dessas
tripulações comerciais a voar para
a Estação Espacial Internacional
[está prevista para Janeiro, num
voo da empresa Axiom Space feito
numa cápsula Dragon da Space X,
desenvolvida por Elon Musk].
É espantoso, quando olho para
trás, para quando começámos o
Prémio X, ninguém acreditava
que estas coisas pudessem
acontecer. E agora estamos a ver
que num só ano está a haver tanta
actividade. É a prova de que isto é
permanente e vai durar. Vai
mudar a forma como vamos para
o espaço, quantas pessoas vão
poder ir para o espaço, como se
podem criar coisas no espaço, vai
ser excitante ver isto.
38 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Cultura Tecnologia no restauro dos Painéis de S. Vicente
O pintor Nuno
Gonçalves
diverte-se
no céu à custa
dos cientistas
Um projecto de restauro pode ajudar
a aÄnar novos desenvolvimentos
tecnológicos que não sejam invasivos.
É o caso da máquina XpeCAM X02
Isabel Salema Texto
Rui Gaudêncio Fotografia
Estão dez pessoas na sala a olhar
para a máquina que chegou a Lisboa
naquela manhã e que é capaz de
mapear os pigmentos numa pintura.
Ouvem-se expressões de sobressalto
na sala do Museu Nacional de Arte
Antiga (MNAA), porque a imagem
produzida parece indicar que há
vermelho de cádmio no chapéu de
S. Vicente, o santo que dá o nome
aos seis painéis que estão a ser res-
taurados.
“Já enÆámos o chapéu”, ironiza o
director do MNAA, Joaquim Caeta-
no. A ser verdade, isso signiÆca que
o que estamos a ver não será a pin-
tura original. “Quando é que come-
çou a ser usado o vermelho de cád-
mio?”, atira alguém. E o director
traduz: os dados parecem indicar
que o chapéu pode ter sido inteira-
mente refeito num dos restauros
mais recentes a que a pintura já foi
submetida ao longo de 500 anos.
A máquina que veio de Braga, em
fase de chegar ao mercado, é o resul-
tado de um projecto de 1,2 milhões
de euros Ænanciado pelo programa
Horizonte 2020, o principal instru-
mento de apoio à investigação na
União Europeia. Utiliza a luz como
ferramenta, uma técnica de análise
não invasiva. As oito lâmpadas que
estão voltadas para o painel do arce-
bispo, distribuídas por dois candeei-
ros diferentes, são capazes de captar
30 comprimentos de onda diferentes,
que vão do ultravioleta ao infraver-
melho, passando pelo visível.
Com um nome bem sugestivo, Xpe-
CAM X02, que parece saído de um
livro de Æcção cientíÆca, a máquina
cria Æcheiros virtuais ao processar os
dados recolhidos. “É como se fôsse-
mos capazes de tirar uma fotograÆa
3D da luz, dos comprimentos de onda
que estão a ser observados”, explica
um dos fundadores da empresa Xpec-
tralTEK, António Cardoso, sobre esta
máquina multiespectral. Os Æcheiros
virtuais tomam a forma de um cubo
espectral, que mais não é do que o
acumular de várias imagens dos com-
primentos de onda. De seguida, os
dados são armazenados e geridos por
uma plataforma online, onde uma
solução de inteligência artiÆcial é
capaz de responder em tempo real às
questões colocadas pelo utilizador
sobre a superfície pintada.
“Além de identiÆcar as proprieda-
des de uma substância em relação à
luz, a plataforma é capaz de dizer se
os pigmentos sofreram algum tipo de
danos ou alterações provocadas pelo
tempo e depois mapear na superfície
em análise toda a distribuição desses
materiais”, continua António Cardo-
so, também CEO da empresa de Bra-
ga. O maior desaÆo do projecto apre-
sentado ao programa Horizonte 2020
foi transformar “o potencial tecnoló-
gico enorme da imagem espectral
numa solução que realmente respon-
da às necessidades do utilizador
Ænal”. Com a empresa XpectralTEK
a liderar o desenvolvimento tecnoló-
gico, são parceiros do projecto uni-
versidades em Portugal, Holanda,
Itália, Grécia e Reino Unido, numa
tecnologia que neste momento tam-
bém foi desenvolvida para ser aplica-
da à agricultura, com uma aplicação
usada na gestão das vinhas e que é
capaz de ler as plantas.
Tirar teimas
O sururu levantado pela presença
do vermelho de cádmio deve-se a
este pigmento sintético só ter come-
çado a ser comercializado no início
do século XX.
Mas António Candeias, responsável
do Laboratório Hercules da Universi-
dade de Évora, instituição parceira
do restauro do MNAA e do projecto
XpeCAM X02, levanta logo a hipótese
de haver um segundo elemento que
esteja a alterar a leitura do espectro.
Será provavelmente uma laca capaz
de dar transparência à velatura Ænal
dos Painéis, tal como já tinham reve-
lado algumas microamostras retira-
das directamente da superfície da
pintura em 2011, numa investigação
dedicada à técnica de Nuno Gonçal-
ves realizada por José Mendes.
Para tirar as teimas, o investigador
da Universidade de Évora sugere que
se peça emprestado ao Laboratório
José de Figueiredo, situado mesmo
ao lado do MNAA, um aparelho por-
tátil capaz de identiÆcar num ponto
único os elementos químicos.
“Estamos aqui em pulgas”, aÆrma
Catarina Miguel, outra cientista res-
tauradora do Laboratório Hercules,
quando chega a segunda máquina
pouco depois. A pistola de Çuores-
cência de raio X mais parece uma
arma da Guerra das Estrelas, comen-
ta a química. Apontada à pintura,
revela maioritariamente mercúrio,
algum ferro, vestígios de outros ele-
mentos, mas nada de cádmio. “O
mercúrio e o ferro fazem todo o sen-
tido. O mercúrio surge por causa do
pigmento vermelhão e o ferro por
causa dos ocres.” São dados que
vêm corroborar outras análises fei-
A máquina que tas no Verão passado com uma
veio de Braga, em câmara hiperespectral, capaz de
indicar que nos panejamentos ver-
fase de chegar ao melhos a oÆcina de Nuno Gonçalves
mercado, é o usava vermelhão e posteriormente
aplicava uma laca de garança
resultado de um (corante vermelho extraído das raí-
projecto de 1,2 zes desta planta também conhecida
como ruiva- dos-tintureiros),
milhões de euros emprestando alguma transparência
Änanciado pelo à pintura. “Esta análise da pistola
tinha mercúrio e corrobora o nosso
programa resultado e o do José Mendes.”
Horizonte 2020 A cientista da conservação-restau-

A máquina XpeCAM X02 é
capaz de captar 30
comprimentos de onda
diferentes
ro confessa que muitas vezes imagina
o artista a rir-se no céu, espantado
com as ideias desvairadas que as suas
pinturas provocam 500 anos depois:
“Por vezes, alguns dos materiais que
encontramos não parecem ter uma
lógica aos nossos olhos e pensamen-
tos do século XXI.” Já foi registado,
por exemplo, o uso de cera do ouvido
juntamente com clara de ovo para
produzir algumas tintas vermelhas de
iluminuras portuguesas do século
XII, algo de que os tratados de pintu-
ra também falam. “Imagino sempre
o autor da obra a rir-se no céu ao pen-
sar que usou uma determinada for-
mulação de tinta ou uma determina-
da sequência de aplicação de cores
porque lhe apetece, sem qualquer
justiÆcação racional ou metodologia.
E nós, cientistas da conservação,
desesperamos para explicar os resul-
tados, que muitas vezes são somente
o que são. Não têm de signiÆcar
inÇuências artísticas ou culturais, que
tantas vezes procuramos.”
A análise de uma obra de arte está
longe de ser um processo rápido. “De
facto, na maior parte das vezes, para
chegarmos à resposta da questão que
nos moveu a empregar um conjunto
de técnicas analíticas de ponta que
resultaram de investimentos de cen-
tenas de milhares de euros, são neces-
sárias muitas horas de trabalho e
discussão cientíÆca que nem sempre
levam a uma conclusão certa”, con-
tinua Catarina Miguel.
O puzzle que se monta é feito recor-
rendo a várias técnicas de análise e
um projecto como o restauro dos Pai-
néis de S. Vicente pode ajudar a aÆnar
novos desenvolvimentos tecnológi-
cos. “O que Æzemos, entretanto, gra-
ças ao Hercules, foi pegar no compri-
mento de onda e no cubo que foi
adquirido no museu e identiÆcar que
o material era uma laca com garan-
ça”, explica António Cardoso. “Neste
momento, a própria plataforma já
consegue identiÆcar esses materiais
se voltar a acontecer isto novamente.
A inteligência da plataforma é essa.
Ela aprende com os erros.”
Técnicas de imaging
António Candeias e o Hercules cola-
boram com a empresa para testar o
equipamento e tornar o sistema mais
robusto. “O que queríamos era testar
a aplicabilidade do equipamento.
Estamos a trabalhar com eles para
reÆnar a base de dados com mais
pigmentos e com mais padrões. Esta-
mos a pensar muito seriamente em
adquirir aquela câmara.” Tal como
com o XRF, a máquina que este labo-
ratório da Universidade de Évora
conta ter na sua posse o mais tardar
no início de Outubro.
Para Catarina Miguel, na sua expe-
riência de quase 20 anos, o que mais
evoluiu foi, sobretudo, a abordagem
à obra de arte. “Por exemplo, há 20
anos era bastante comum retirarem-
se amostras de pinturas para serem
analisadas em laboratório com téc-
nicas muitas vezes pouco especíÆcas.
A evolução da tecnologia permite-
nos preservar ao máximo a integri-
dade das peças. Neste momento,
aliado a esta forte corrente de pensa-
mento de recorrer o mínimo possível
à micro-amostragem e o máximo
possível a técnicas não invasivas, sur-
gem as técnicas de imaging, que nos
permitem ter resultados em 2D ou
3D com grande resolução, que se
traduzem numa melhor visualização
dos resultados da obra como um
todo. Dentro destas, incluem-se as
análises com câmaras multiespec-
trais, com câmaras hiperespectrais
ou análises feitas com MA-XRF.”
O projecto Painéis de S. Vicente
— A Casa do Restauro tem o
apoio mecenático da Fundação
Millennium BCP e o
acompanhamento científico do
Museu Nacional de Arte Antiga.
Ao longo do processo de
restauro, o PÚBLICO irá produzir
uma série de trabalhos guiados
por critérios editoriais, sem
qualquer relação directa com o
apoio recebido.
Tecnologia XRF (fluorescência de raios X)
Laboratório Hercules vai comprar
máquina que fará o retrato químico
dos Painéis de S. Vicente
Lucinda Canelas Texto
Teresa Abecasis Vídeo
A equipa que está a preparar o restau-
ro nos Painéis de S. Vicente vai poder
contar com uma nova máquina para
aprofundar o seu diagnóstico desta
pintura do século XV atribuída a
Nuno Gonçalves e hoje à guarda do
Museu Nacional de Arte Antiga
(MNAA). Trata-se de um aparelho de
XRF (Çuorescência de raios X) que
permite analisar de forma não invasi-
va e, por isso, não destrutiva, os mate-
riais de que esta obra é feita, determi-
nando a sua composição elementar.
O mais tardar a partir do início do
Outono, esta máquina que foi já tes-
tada neste singular retrato colectivo
vai poder dar continuidade ao levan-
tamento que, no Ænal, produzirá uma
“imagem química” da pintura, diz
António Candeias, director do Labo-
ratório Hercules, unidade de investi-
gação da Universidade de Évora que
é neste projecto de restauro um dos
principais parceiros de Arte Antiga.
O XRF, explica Candeias, permite
fazer o mapeamento sistemático da
obra, recolhendo informação sobre
os elementos químicos nela presentes
e sobre a forma como se distribuem.
Até aqui, a tecnologia disponível
permitia fazer esse levantamento
ponto a ponto ou em pequenas par-
celas que não ultrapassavam os
10cmx10cm (esta última através do
Elio, outro aparelho de XRF). A partir
de agora, esta análise por varrimento
(método que cobre a superfície total
da pintura, não apenas alguns pontos
previamente seleccionados) poderá
ser feita em áreas muito maiores, de
100cmx100cm, o que, naturalmente,
torna mais célere todo o processo.
O concurso para a compra do novo
equipamento da empresa alemã
Bruker está prestes a ser lançado e
decorre de um projecto submetido
pelo Hercules no âmbito da Platafor-
ma Portuguesa da Infra-Estrutura de
Investigação Europeia em Ciências do
Património, um organismo composto
por esta unidade de investigação e
pelos laboratórios Nacional de Enge-
nharia Civil e José de Figueiredo.
A aquisição do novo XRF, que deve-
rá custar entre 150 mil e 200 mil
euros, vai contar com o Ænanciamen-
to do Alentejo 2020 e António Can-
deias espera tê-lo em pleno funciona-
mento “já em Setembro, o mais tardar
no início de Outubro”.
Até lá, o director do Hercules vai
tentar que o fabricante volte a Lis-
boa para fazer novas demonstrações
nos Painéis de Nuno Gonçalves para
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 39
que o projecto de investigação do
MNAA não sofra atrasos.
O PÚBLICO assistiu às primeiras
demonstrações do que pode fazer
este equipamento que, aos olhos de
um leigo, parece comportar-se como
uma espécie de scanner altamente
soÆsticado. Colocado numa estrutura
metálica, o aparelho vai-se deslocan-
do através de uma calha, cobrindo
áreas predeÆnidas pelos técnicos e
devolvendo, no computador a que
está ligado, a imagem da parcela
coberta, mas bem diferente da origi-
nal, já que as cores que regista são as
que correspondem aos elementos
químicos que identiÆcou.
Milímetro a milímetro
Especialista em Química de Superfí-
cies e Ciências do Património, Antó-
nio Candeias garante que a nova
máquina trará informação preciosa
à equipa multidisciplinar que se
encarregará de melhorar o estado de
conservação dos Painéis e de os dei-
xar mais próximos do original que
terá sido executado pelo pintor da
corte de Afonso V.
“Com este XRF teremos informa-
ção química, milímetro a milímetro,
de qualquer parte da pintura, não
apenas de alguns pontos, como
aconteceu no passado, quando o
[conservador restaurador] José
Mendes avançou a hipótese de as
roupas do santo terem sido azuis”,
explica. “Hoje podemos já dizer,
com maior segurança, que essa
hipótese se conÆrma.”
Outra conclusão a que já chegaram
é que há outras caras pintadas por
Aos pigmentos
correspondem
elementos
químicos que
o XRF identiÄca
Distribuição dos elementos químicos no Painel do Arcebispo
baixo daquelas que hoje vemos. “Com
base na variação de intensidade dos
vários elementos químicos, o XRF
dá-nos a tal imagem química também
das camadas subjacentes”, as que não
vemos a olho nu. É em parte por isso,
continua Candeias, que a Çuorescên-
cia de raios X é muitas vezes a técnica
usada quando os historiadores de
arte andam à procura, numa mesma
tela, de um Van Gogh por baixo de
outro Van Gogh ou de um Picasso por
baixo de outro Picasso.
“Com a imagem química que este
equipamento nos dá conheceremos
melhor a pintura, saberemos que pig-
mentos foram usados em cada cama-
da e podemos ir completando a cro-
nologia dos restauros que teve” ao
longo de mais de 500 anos.
Aos pigmentos e corantes corres-
pondem elementos químicos que o
XRF identiÆca, o que equivale a dizer
que, dispondo dessa informação, os
conservadores restauradores saberão
quais foram usados podendo, assim,
dizer que este ou aquele restauro não
pode ter sido feito antes da data X,
sendo a data X a altura a partir da qual
os artistas passaram a recorrer a
determinado pigmento ou corante.
Confuso? Talvez, mas à medida que
o projecto for avançando, tudo deve-
rá tornar-se mais claro.
“Não é que se vá saber tudo, mas
vai certamente ser maior o conhe-
cimento material que temos da
obra, mesmo que esse conhecimen-
to nos leve a perguntas novas, a
mais dúvidas”, conclui o director do
Hercules, que em seguida gostaria
de ver o que tem o novo XRF a dizer
sobre o tríptico das Tentações de
Santo Antão, de Jheronymus Bosch,
outra obra-prima da pintura euro-
peia que também faz parte da colec-
ção do Museu de Arte Antiga.
Veja o vídeo que acompanha o
XRF em funcionamento em
publico.pt/paineis-sao-vicente
CORTESIA: MICHELE GIRONA/BRUKER ANALYTICS
40 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021

Cultura

Todd Haynes “vê” a música onírica

dos Velvet Underground
600 horas no total. O Ælme foi tam- considerava necessário um elemen- Velvet Underground é em tudo um do Jack Smith de Flaming Creatures.
Vasco Câmara, em Cannes
bém a forma de se tratar e preservar to visual que interessasse os espec- Ælme de Todd Haynes e é em tudo um Foi a libertação do espólio de Lou
Um filme hipnótico, janelas para o futuro esse material. tadores. objecto que encontra o seu território Reed, dos seus escritos, que desenca-
Música onírica, “inspirada” pelos E depois chegou White Light, Whi- fora do formato habitual do docu- deou o Ælme. A bênção de Laurie
abertas ao espírito do electrochoques que a ordem do te Heat (1968), álbum que reproduzia mentário musical. Como nas suas Anderson foi necessária. A partir do
tempo da banda de Lou subúrbio impusera a Reed, mais as o ambiente de agressividade da ban- Æcções, também aqui Haynes vampi- momento em que lhe foi proposto,
Reed e John Cale, chegou a suas palavras, sob inÇuência do men- da. Cale seria despedido por Lou. E riza um conceito, algo mais do que Todd Haynes não tinha maneira de
Cannes, fora de competição tor Delmore Schwartz, os riffs repeti- veio Loaded (1970). Reed sairia a fazer “à maneira de…”. Com o ecrã recusar. “A questão que me pus foi: o
tivos de guitarra, e os drones de John seguir. Odiavam os hippies (ainda permanentemente dividido, o Çuxo que é visual nesta música? Qual a cor-
No Ænal dos anos 50, os franceses tive- Cale… “elegância e brutalidade”, hoje: a baterista Maureen Tucker não exuberante de uma colagem anima- relação entre o que sentimos quando
ram a Nouvelle Vague e os nova-ior- resume o músico. se esqueceu). A Califórnia dos anos da, Velvet Underground é uma comu- ouvimos os Velvet Underground e o
quinos tiveram os cinemas da Rua 42. Depois veio a “blonde iceberg”, 60, onde aterraram ao som de Mon- nicação hipnótica com o espírito do que vai aparecer num ecrã? Queria
“Não éramos a contracultura, éramos Nico, porque Andy Warhol, que pro- day, monday, dos Mammas and tempo do Warhol de Chelsea Girls, do que as pessoas ‘vissem’ a música dos
a cultura.” Jonas Mekas (1922-2019), duziu o primeiro disco, em 1967, Papas, respondeu-lhes à altura. Kenneth Anger de Scorpio Rising, ou Velvet Underground.”
poeta, artista, fundador da revista DR
Film Culture e do gigantesco repositó-
rio que é o Anthology Film Archives,
dixit. Era o cinema ao nível das outras
artes. E eram as outras artes: a poesia,
a instalação, a performance, a música.
Uma interacção Çuida, líquida: Del-
more Schwartz, e a sua poesia do quo-
tidiano, Ginsberg, Bukowski, Hubert
Selby Jr., Jack Smith, Andy Warhol, La
Monte Young…
Num subúrbio americano, Lou
Reed assegurava aos pais e à irmã que
queria ser rico e iria ser rock star. Nos
bares gay, o público já era caloroso
para com a sua guitarra.
Nascido no País de Gales, estu-
dante de música em Londres, John
Cale deixara o seu vale, emigrara
para Nova Iorque e era apresentado
na televisão como uma curiosidade
para o “american way of life” por ter
tocado num concerto de 18 horas a
peça Vexations, de Erik Satie, per-
formance produzida por John Cage
— a outra curiosidade exibida na
televisão era o solitário espectador O filme partiu de mais de 600 horas de material de arquivo e de memorabilia cedida por fãs da banda
que Æcou até ao Æm.
Cage e Reed são apresentados, ao
som de Venus in furs, como se se
observassem e se controlassem antes Quinzena dos Realizadores
de se agredirem, narrativa tempes-
tuosa que ajudou a estabelecer a
medida da entropia de um grupo cha-
A empatia social do raro Emmanuel Carrère
mado Velvet Underground.
São apresentados, John e Lou, no
início do documentário que Todd No princípio, um prémio, a Carroça não se vê como “documentarista”, ceber o que queria dizer a palavra mundo que não conhece, Æcando
Haynes lhes dedicou, na primeira vez de Ouro, a Frederick Wiseman, 91 não gosta da classiÆcação “cinéma “crise”, para “dar visibilidade aos “between two worlds” (é o título em
que o realizador se exercita fora da anos. A secção paralela do Festival verité”, considera-se um cineasta, os invisíveis”. inglês), e que é também um docu-
Æcção, e que trouxe ao Festival de de Cannes, a Quinzena dos Realiza- seus Ælmes estão cheios de Æcções. É uma escolha bizarra para o mento sobre a mistura de mundos
Cannes fora de concurso. Acompa- dores, que tem o genérico mais emo- Começou assim a primeira noite regresso ao cinema (se é que se pode de uma vedeta e de um grupo de
nharam-no na aventura, que come- cionante (e emocionado) de todo o da Quinzena. Depois, a abertura com dizer assim) de Carrère. Bizarra mas mulheres que nunca tinham traba-
çou a ser Ælmada em 2018, antes de festival, escolheu outro dos seus. o primeiro dos seus 24 Ælmes: Ouis- a criar expectativa. O seu Ælme ante- lhado em cinema, fundasse também
rodar Dark Waters — Verdade Envene- JustiÆcou a sua escolha como neces- treham, de Emmanuel Carrère, escri- rior, o longínquo La Moustache um território misto, vibrantemente
nada, e retomada em 2020, quando sária, numa altura em que a “reali- tor, realizador raro. Esta é a sua (2005), mergulhava com o seu obses- impuro, uma qualquer desordem.
a pandemia se instalou, cúmplices dade” é desprezada pelo cinema segunda longa-metragem em 16 sivo microrrealismo numa dimensão Mas não. Objecto de uma esplêndi-
habituais como a produtora Christine mainstream, ocupado que está pelos anos, adaptando, por iniciativa da inapelavelmente fantástica. Houve da empatia, Ouistreham é quase
Vachon, que o segue desde Poison super-heróis, e afastada pelo poder actriz Juliette Binoche, o livro, pre- um momento, em Ouistreham, em cândido na sua previsibilidade, sem
(1991), e o director de fotograÆa Ed político, que tem medo dela. miadíssimo, Le Quais de Ouistreham, que chegámos a entusiasmar-nos obstáculos ou surpresas, a seguir os
Lachman. Duas das duas horas e meia Wiseman agradeceu: assumiu que que a jornalista Florence Aubenas com a possibilidade de o realismo passos de um certo cinema contem-
que dura Velvet Underground são é um cineasta que trabalha de forma escreveu em 2001 depois de seis social, o Ælme de investigação ou de porâneo. Por exemplo, um dos gran-
material localizado em arquivos e isolada, que não tem grande contac- meses em que se fez passar por denúncia, poder encaminhar-se tam- des títulos dos últimos anos, A Lei do
disponibilizados por fãs, aqueles que to com o meio do cinema, e por isso empregada de limpeza, sem forma- bém para zona indeÆnível. Isto é, Mercado, de Stéphane Brizé, com Vin-
teriam as melhores fotos, que colec- sabe-lhe bem este reconhecimento ção, sem experiência proÆssional, que a história de uma jornalista cent Lindon. Que era o actor de La
cionavam a melhor memorabilia... dos seus pares. Mas posicionou-se: numa zona da Normandia, para per- (Binoche) que se intromete num Moustache. V.C., em Cannes

A peça é uma projecção do mundo do teatro, mas também de uma comunidade “esfarelada”
Carla Galvão e Sara de Castro
procuram a salvação no teatro
Gonçalo Frota
Até dia 14, o Festival de
Almada leva um texto
tardio de Tennessee
Williams ao Teatro-Estúdio
António Assunção
São duas personagens, tal como diz
o título da peça de Tennessee
Williams. Mas são duas personagens
dentro das quais vivem outras duas.
Talvez nem sempre distintas. Felice
e Clare são o par de Æguras inventadas
pelo autor norte-americano, irmão e
irmã que Carla Galvão e Sara de Cas-
tro transformam em duas mulheres.
Porque queriam trabalhar juntas,
porque o texto as atraía, porque
entenderam não haver perdas subs-
tanciais nessa operação de mudança
de sexo e porque outras leituras se
levantam perante estas duas mulhe-
res abandonadas pela companhia de
teatro em que trabalhavam, largadas
sem qualquer estrutura ou apoio,
entregues à única coisa que sabem
fazer: dar corpo e voz a outras.
Ainda mal nos acomodámos na
cadeira quando uma delas avisa que
“brincar com o medo é como brincar
com o fogo”. É uma frase que poderia
Æcar soterrada debaixo de tantas
outras, mas que parece colocar em
marcha a peça angustiada que as
duas actrizes estreiam no Festival de
Almada, com apresentações no Tea-
tro-Estúdio António Assunção até dia
14. Texto tardio de Tennessee
Williams, Duas Personagens (1973)
obedece a uma escrita já distante de
A Noite da Iguana, Doce Pássaro da
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 41
Juventude ou Um Eléctrico Chamado
Desejo. “Foi muito mal recebido pela
crítica e pelo público, porque as pes-
soas queriam os grandes clássicos”,
lembra Sara de Castro. “O Tennessee
Williams estava a fugir disso, a ir para
uma espécie de vanguarda daquele
tempo. Estamos sempre a falar entre
nós que esta peça tem muitas coisas
de [À Espera de] Godot.”
Também em Duas Personagens,
como no Godot de Samuel Beckett,
há um desejo de partir que nunca é
cumprido, um braço-de-ferro cons-
tante entre Æcar e sair. Mas Tennes-
see Williams, de forma explícita,
coloca na boca de uma das persona-
gens a ideia de que “o teatro é uma
prisão”. E, de facto, abandonadas
pela companhia e deixadas a sós,
estas duas irmãs-actrizes vêem-se
prisioneiras de uma vida em que,
mesmo quando tentam escapar e
refugir-se na Æcção, parecem encon-
trar apenas prolongamentos de si
mesmas. Acreditando que o meio
teatral encontrará no texto pistas
suÆcientes para se identiÆcar com a
situação de precariedade e depen-
dência de uma vida de enorme inves-
timento emocional, Sara de Castro
não deixa de notar que se desprende
da peça um sentido mais universal.
“Esta história de duas mulheres pre-
sas dentro do próprio teatro parece-
-nos uma metáfora muito interessan-
te para a própria sociedade quando
perde o sentido de comunidade —
seja ela artística, social ou política.
Ao esfarelarem-se esses valores, Æca-
mos todos desagarrados.”
Menos pessimistas do que Tennes-
see Williams, garantem, Carla Galvão
Cultura
ERIC DA COSTA
e Sara de Castro contrariam o ambien-
te angustiante da peça com uma fen-
da rasgada sobre as suas cabeças que,
ao longo do espectáculo, vai descen-
do e alcançando o chão. À medida
que as duas personagens se vão enre-
dando num aprisionamento cada vez
mais sufocante, dir-se-ia que as ence-
nadoras procuram sempre garantir
uma possibilidade de fuga. “Elas
estão nesta caverna, mas ao mesmo
tempo há sempre a ideia de voltarem
ao teatro. Como se elas fossem um
gerador de luz, como se esta necessi-
dade de fazer a peça colocasse o tea-
tro num sítio de salvamento”, descre-
ve Carla Galvão. “Sinto que o teatro,
a farsa ou a Æcção salvam.”
Sara de Castro acrescenta que no
contínuo compromisso destas duas
personagens em avançar com o
espectáculo, apesar do buraco em
que se enÆam parecer cada vez mais
fundo, existe também “uma dimen-
são de sobrevivência”. “E há também
a ideia de que, se não nos espelhar-
mos uns aos outros, não nos salva-
mos.” Se o ar na peça é rarefeito,
defendem, “o teatro surge na pers-
pectiva da ignição”. É através do
teatro que as duas se aproximam da
luz, mesmo quando as linhas distin-
tivas entre estas duas personagens e
as duas personagens da peça que
interpretam dentro da peça se vão
tornando mais turvas e difíceis de
discernir. E tal como acontece com
as suas personagens, Carla e Sara
acreditam que vivem “entre a fatali-
dade e a necessidade”, nesta prática
que escolheram abraçar. E da qual,
talvez, não saibam — e não queiram
sequer — também libertar-se.
Foi publicado no Diário da República n.º 131, 2.ª Série, de 8 de
julho de 2021 o Aviso n.º 12801/2021 relativo ao Procedimento
concursal para recrutamento do cargo de direção intermédia de
1.º Grau, Diretor de Serviços do Departamento Técnico do Instituto
Politécnico de Viseu
1 - Nos termos do artigo 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro, na sua redação atual, e na sequência de
despacho autorizador do Presidente do Instituto Politécnico de Viseu, faz-se público que o Instituto Poli-
técnico de Viseu pretende abrir, pelo prazo de 10 dias úteis, a contar da data da publicação do presente
anúncio na Bolsa de Emprego Público, precedido da publicação dos avisos a que se referem os nºs 1 e 2
da mesma norma, procedimento concursal para provimento do cargo de direção intermédia de 1.º grau,
de Diretor de Serviços do Departamento Técnico do Instituto Politécnico de Viseu.
2 - Tipo de procedimento: o presente aviso reveste a forma de procedimento para recrutamento de
cargo de direção intermédia de 1.º grau.
3 - Local de Trabalho: instalações do Instituto Politécnico de Viseu, sitas na Av. José Maria Vale de
Andrade Campus Politécnico 3504-510 Viseu.
4 - Área de atuação: A referida no artigo 82º, nº 4 dos Estatutos do Instituto Politécnico de Viseu, publi-
cados pelo Despacho Normativo n.º 12-A/2009, Diário da República, 2ª Série, de 27 de março, e alterados
por Despacho Normativo n.º 7/2019, 2.º Série, de 14 de março, em conjugação com as competências
genéricas previstas no artigo 8.º da Lei n.º 2/2004, na sua redação atual.
5 - Remuneração e condições de trabalho: a remuneração é estabelecida nos termos do art.º 31º da
Lei nº 2/2004 de 15 de janeiro, na sua redação atual; as condições de trabalho e regalias sociais são as
genericamente vigentes para os dirigentes e contratados em funções públicas.
6 - Duração: pelo período de três anos, renovável por iguais períodos de tempo, nos termos do n.º 9 do
artigo 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro na sua redação atual.
7 - Requisitos legais de provimento: podem candidatar -se a este procedimento de seleção os traba-
lhadores com relação jurídica de emprego público, detentores de competência técnica e aptidão para o
exercício de funções de direção, coordenação e controlo, que reúnam, até ao final do prazo para apre-
sentação das candidaturas, os requisitos previstos no artigo 20.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro na
sua redação atual, na parte que lhes diz respeito.
8 - Perfil exigido:
a) Deter licenciatura em Engenharia Civil.
b) Possuir competência técnica e aptidão para o exercício do cargo a prover, designadamente, conhe-
cimentos e experiência comprovada na área de planeamento e gestão, integrando, designadamente,
nos seguintes domínios: contratação pública, serviços técnicos e obras, todas no âmbito das Institui-
ções de Ensino Superior.
c) Competências adequadas ao exercício da função designadamente: Orientação para resultados; Lide-
rança e gestão de pessoas; Conhecimentos e experiência; Otimização de recursos; Capacidade de
comunicação; Orientação para a inovação e mudança; Análise de informação e sentido crítico; Rela-
cionamento interpessoal; Tolerância à pressão e contrariedades; Trabalho de equipa e cooperação.
9 - Métodos de seleção:
a) Avaliação curricular, que visa avaliar a adequação das competências expressas pelo candidato, no
curriculum vitae, ações de formação apresentadas e outros documentos que façam prova da experiên-
cia profissional de cada candidato, relativamente às exigências do cargo e ao perfil definido.
b) Entrevista pública que visa obter, através de uma relação interpessoal, informações sobre comporta-
mentos profissionais diretamente relacionados com as competências consideradas essenciais para o
exercício do cargo.
9.1 - A seleção é feita por escolha, nos termos do artigo 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro, na sua
redação atual.
9.2 - Nos termos do n.º 7 do mesmo artigo do diploma citado, o Júri pode considerar que nenhum dos
candidatos reúne as condições para ser designado.
9.3 - Os candidatos que, através de documentação de candidatura apresentada, demonstrem satisfazer
os requisitos formais de provimento serão oportunamente convocados para a realização da entrevista
e discussão curricular, por e-mail, com recibo de entrega, com pelo menos 8 (oito) dias úteis de ante-
cedência relativamente à data de entrevista, considerando-se como desistência no prosseguimento do
procedimento a não comparência dos candidatos na data, local e hora indicados.
10 - Forma, prazo e local de apresentação de candidaturas: As candidaturas deverão ser apresenta-
das até ao termo do prazo fixado no ponto 1 e formalizadas em requerimento datado e assinado acompa-
nhadas dos documentos referidos nos pontos 11 e 12, entregues pessoalmente em horário de expedien-
te (das 9:00 às 17:30) ou remetidos por correio em carta registada, com aviso de receção, para Instituto
Politécnico de Viseu, Av. José Maria Vale de Andrade Campus Politécnico 3504-510 Viseu, expedida até
ao termo do prazo referido no ponto 1, ou ainda, por correio eletrónico, para o endereço ipv@sc.ipv.pt.
11 - Requerimento:
Do requerimento deverão constar os seguintes elementos:
11.1 - Identificação (nome, filiação, estado civil, naturalidade, nacionalidade, data de nascimento, número
e data do número de identificação pessoal e data de validade, número de contribuinte, residência, código
postal, número de telefone e contato/endereço eletrónico e consentimento para que as comunicações e
notificações no âmbito do procedimento concursal possam ter lugar por correio eletrónico), as habilita-
ções literárias, a situação profissional (serviço a que pertence, natureza do vínculo e carreira e categoria
detida, organismo a cujo mapa de pessoal pertence, com indicação da unidade orgânica de afetação e,
ainda, organismo onde exerce funções, também com indicação da respetiva unidade orgânica, caso os
organismos de origem e de exercício de funções não coincidam, e natureza do vínculo à Administração
Pública) e a identificação do procedimento a que a candidatura diz respeito.
12 - O requerimento deve ser acompanhado, sob pena de a candidatura não ser considerada, dos
seguintes documentos:
a) Currículo profissional detalhado e atualizado, do qual devem constar, designadamente, as funções
que exerce e as que exerceu anteriormente, com indicação dos correspondentes períodos e das ati-
vidades relevantes, e, bem assim, a formação profissional detida (ações de formação, estágios, espe-
cializações, seminários, conferências, etc.);
b) Fotocópias dos certificados comprovativos de cada ação de formação profissional frequentada, com
indicação da entidade que a promoveu, período em que a mesma decorreu e respetiva duração;
c) Fotocópias de outros documentos instrutórios do curriculum vitae, considerados adequados pelos
candidatos;
d) Declaração passada e autenticada pelo serviço de origem, da qual conste a relação jurídica de empre-
go público, a categoria detida e o tempo de serviço na carreira e em funções públicas;
e) Fotocópia do documento comprovativo das habilitações literárias.
12.1 - O Júri pode solicitar aos candidatos e/ou aos respetivos organismos de origem outros elementos
considerados necessários à instrução do processo de concurso, nomeadamente declaração de conteú-
do funcional emitida pelo organismo onde exerce funções.
13 - Publicitação da decisão final:
Os candidatos serão notificados do resultado do procedimento concursal por e-mail com recibo de entrega.
O procedimento concursal é urgente e de interesse público, não havendo lugar a audiência de interessa-
dos, conforme estabelece o n.º 13 do artigo 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro, na sua atual redação.
14 - Composição e identificação do Júri (artigo 21º, nº 3, da Lei nº 2/2004 de 15 de janeiro, na sua
redação atual):
Presidente – Paulo Alexandre da Silveira Costeira Marques da Silva, Professor Coordenador e Vice-Pre-
sidente do IPV
1.º vogal – Dra. Nélia Maria Pinheiro Martins, Administradora do Instituto Politécnico do da Guarda
2.º vogal – José Júlio Martins Filipe, Administrador do Instituto Politécnico de Tomar
Viseu, 07 de junho de 2021
O Presidente do Instituto Politécnico de Viseu, João Luís Monney de Sá Paiva
42 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Guia
tecnologia
publico.pt/tecnologia
Ao todo, portugueses
passam 72h da semana
a navegar na Internet
Portugueses passam mais tempo
ligados à Internet do que a dormir
Os portugueses passam cerca de dez horas por dia ligados à Internet, seja através do
telemóvel, computador ou até televisor. Parte do tempo é passada nas redes sociais
Karla Pequenino
Os portugueses já passam mais tempo
online do que a dormir. É esta a prin-
cipal conclusão do Digital Consumer
2021, um relatório anual sobre os con-
sumos digitais dos portugueses ela-
borado em parceria pelas agências de
estudo de mercado Nielsen e Dynata.
Um dos focos foram os hábitos dos
portugueses nas redes sociais.
Ao todo, 72 horas da semana dos
portugueses (cerca de dez horas por
dia) são gastas a navegar na Internet
através do telemóvel, computador e
até colunas e televisores inteligentes.
As redes sociais ocupam cerca de 13
horas da semana. Parte deste tempo
é usada a seguir as publicações dos
chamados “influenciadores digitais”
(inÇuencers, em inglês): pessoas segui-
das por milhares que são escolhidas
por marcas para promoverem os seus
produtos.
Em 2021, a plataforma mais utiliza-
da em Portugal é o Facebook, com
uma média de quatro horas de utili-
zação por semana. O número sobe
para quatro horas e meia em mulhe-
res entre os 30 e os 39 anos e para
cerca de cinco horas em homens com
mais de 50 anos. A segunda rede
social mais popular é o Instagram,
com uma média de utilização de três
horas por semana. Em terceiro lugar
Æca o TikTok (preferida pelos
mais jovens), com uma média
de utilização de cerca de duas
horas por semana.
Muitas pessoas usam mais
Jeff Bezos segue para aventura espacial
O fundador da Amazon, Jeff Bezos,
deixou a liderança da Amazon esta
semana, depois de 27 anos à frente da
empresa. Agora, o foco é a empresa
aeroespacial Blue Origin e uma viagem
até ao limite do espaço marcada para 20
de Julho.
do que uma rede social, motivo pelo
qual, ao todo, cada português passa
cerca de 13 horas nestas plataformas.
Uma das razões para as usar é seguir
publicações de “inÇuencers”: 30% dos
inquiridos admitem que procuram,
activamente, recomendações destes
utilizadores e 57% admitem que as
opiniões e partilhas nas redes sociais
têm algum impacto na forma como
vêem diferentes marcas e produtos.
Segundo dados da analista Markets
and Markets, a indústria dos “inÇuen-
cers” cresceu com a pandemia e
deve atingir os 24,1 mil milhões
de dólares (20,43 mil
milhões de euros) até
2025, com uma taxa
média de crescimento
anual (CAGR) de 32%. Um
DR
dos motivos é que as marcas passa-
ram a depender mais de utilizadores
nas redes sociais como porta-vozes.
Em geral, as respostas dos portu-
gueses nos inquéritos da Nielsen e
Dynata também mostram que “nave-
gar na Internet” tem uma dimensão
cada vez mais ampla e, muitas vezes,
usam-se dois ou mais aparelhos em
simultâneo. Por exemplo, enquanto
se navega nas redes sociais ou se
fazem videochamadas com o
smartphone, o ecrã do telemóvel é
usado para trabalhar, fazer compras
e ler notícias.
Fora do trabalho, compras e redes
sociais, as pessoas passam 15 horas
por semana em plataformas de strea-
ming de séries de televisão, como a
NetÇix ou a HBO.
China
Reconhecimento
facial veda a crianças
jogo nocturno na China
A empresa tecnológica chinesa
Tencent, que também
desenvolve videojogos e detém
parte da Epic Games (criadora do
Fortnite), começou a usar
reconhecimento facial para
impedir que menores usem
contas de adultos para passarem
a noite a jogar na China, onde os
jogadores menores de 18 anos só
podem aceder a plataformas de
videojogos entre as 8h e as 22h.
O sistema da Tencent já é
utilizado para impedir crianças
de comprar conteúdo premium
acidentalmente.
Liberdade de expressão
Trump processa
Facebook, Twitter e
YouTube por “censura”
O ex-Presidente dos EUA Donald
Trump anunciou esta semana
que está a processar as
plataformas Facebook, Twitter,
YouTube — e os respectivos
líderes — por censura. Trump
alega que as empresas estão a
violar o direito à Primeira Emenda
da Constituição dos EUA, que
assegura a liberdade de
expressão. As contas de Trump
foram banidas das três
plataformas em Janeiro, depois
de os seus apoiantes invadirem o
Capitólio. As empresas
justificaram o bloqueio como
uma forma de conter a violência.
Videojogos
E o Pokemon Go? Em
cinco anos, gerou 5 mil
milhões de dólares
A febre do Pokemon Go já não é o
que era, mas o jogo continua a
gerar dinheiro. Desde 2016, as
pessoas gastaram cinco mil
milhões de dólares (4,2 mil
milhões de euros) para procurar
criaturas fictícias com a câmara
do telemóvel. São cerca de mil
milhões de dólares por ano. Os
dados foram compilados pelo
portal de análise Sensor Tower a
propósito do quinto aniversário
do jogo de realidade aumentada.
Os EUA são o país onde há mais
fãs dispostos a pagar por
conteúdo premium.

Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040
Bem Bom M14. 15h40, 17h50, 20h10; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 15h15, 17h55
(V.P./2D); Viúva Negra M12. 15h20, 17h35,
19h50; O Espião Inglês M12. 15h25;
Colectiv - Um Caso de Corrupção M14.
20h20; Velocidade Furiosa 9 17h10;
Stardust - O Nascer de Uma Estrela M14.
19h55
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 217981420
Bem Bom M14. 15h45, 17h55, 20h15; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 11h15, 13h20,
15h15, 18h (V.P./2D); Mais Uma Rodada
20h20; Viúva Negra M12. 15h30, 16h20,
17h30, 19h55, 20h10; Raya e o Último
Dragão M6. 15h20 (V.P./2D); Spirit
Invencível M6. 13h10 (V.P./2D); O Espião
Inglês M12. 18h20; Velocidade Furiosa
9 13h, 15h25, 16h10, 17h35, 19h10, 20h;
Stardust - O Nascer de Uma Estrela M14.
13h15; The Ice Road: Missão de Risco M12.
20h30
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
O Movimento das Coisas M12. 13h50; First
Cow - A Primeira Vaca da América M12.
18h; Annette M14. 15h30, 20h10
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade. T. 16996
Um Lugar Silencioso 2 M14. 20h25; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 12h50, 15h20,
17h55 (V.P./2D); Cruella M12. 12h40, 16h,
19h20 (V.O./2D); Viúva Negra M12. 12h30,
13h20, 14h20, 15h40, 16h30, 17h40, 19h,
19h45 (2D) 13h (3D); The Conjuring 3 - A
Obra do Diabo M16. 20h15; Os Flofos:
Viagem no Tempo M6. 13h05, 15h30, 17h40
(V.P./2D); Demon Slayer - Kimetsu No Yaiba
- O Filme: Comboio Infinito M14. 19h40;
Velocidade Furiosa 9 11h10, 12h50, 14h30,
16h20, 17h50, 19h35; O Guarda-Costas e a
Mulher do Assassino M16. 16h35, 19h30;
Stardust - O Nascer de Uma Estrela M14.
14h05, 16h55; The Ice Road: Missão de
Risco M12. 13h15, 16h15, 19h15; Vigarices a
Dobrar M14. 13h55; A Cada Passo Teu M16.
17h05, 19h55
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Bem Bom M14. 14h, 17h, 20h10; Cruella M12.
13h50, 16h40, 19h40 (V.O./2D); Viúva Negra
M12. 13h10, 13h40, 16h, 16h50, 19h, 19h50;
Os Flofos: Viagem no Tempo M6. 13h30,
15h40 (V.P./2D); Velocidade Furiosa 9
13h10, 16h20, 19h30; The Ice Road: Missão
de Risco M12. 17h50, 20h20; Annette M14.
13h20, 16h20, 19h20
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
Um Lugar Silencioso 2 M14. 20h40; Bem
Bom M14. 12h50, 15h20, 18h, 20h30; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 13h10, 15h30,
18h10 (V.P./2D); Cruella M12. 13h40, 17h (V.
O./2D); Viúva Negra M12. 13h, 15h, 16h,
18h30, 19h10; Velocidade Furiosa 9 13h20,
14h30, 16h20, 18h50, 19h40; O Guarda-
Costas e a Mulher do Assassino M16. 14h,
17h10, 20h10; The Ice Road: Missão de
Risco M12. 20h20; Viúva Negra M12. 13h30,
16h40, 20h (IMAX 3D)
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Bem Bom M14. 15h10, 17h40, 20h20; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 10h45, 13h20,
15h45, 18h05 (V.P./2D); Cruella M12. 16h (V.
O./2D); Viúva Negra M12. 14h, 15h30, 17h,
18h30, 19h10, 20h ; Velocidade Furiosa
9 13h10, 16h25, 19h40 ; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 20h30
Nimas
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T. 213574362
Ladrões de Bicicletas M6. 11h; A Rapariga
da Mala M12. 15h; Adam M12. 13h; First Cow
Estreias
A Cada Passo Teu
De Vaughn Stein. Com Casey
Affleck, Michelle Monaghan,
Sam Claflin. EUA. 2021. 105m.
Drama, Thriller. M16.
Quando nada parece funcionar
durante as sessões de terapia de
uma paciente sua, um psiquiatra
tenta uma estratégia pouco
convencional: expor as suas
próprias fragilidades.
Bem Bom
De Patrícia Sequeira. Com João
Vicente, Dinarte de Freitas,
Lia Carvalho, José Mata, Ana
Marta Ferreira, José Raposo,
Ana Padrão, Bárbara Branco,
Carolina Carvalho. POR. 2020.
111m. Drama, Musical,
Biografia. M14.
Realizado por Patrícia Sequeira,
o Ælme narra partes da vida das
Doce, o quarteto feminino que
encantou (e chocou) Portugal
durante a primeira metade da
década de 1980.
Annette
De Léos Carax. Com Marion
Cotillard, Adam Driver, Simon
Helberg, Rila Fukushima. EUA/
ALE/BEL/JAP/SUI/FRA/MEX.
2021. 139m. Drama, Musical. M14.
Henry e Ann estão apaixonados e
felizes. A sua vida muda
completamente com o nascimento
de Annette, a sua primeira Ælha.
Viúva Negra
De Cate Shortland. Com
Scarlett Johansson, Florence
Pugh, David Harbour, William
Hurt, David Harbour. EUA. 2021.
133m. Acção, Aventura. M12.
Natasha Romanoè, também
conhecida como Viúva Negra,
vê-se implicada numa
conspiração que envolve o seu
passado como espiã russa.
Annette
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 43
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
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- A Primeira Vaca da América M12.
20h; Annette M14. 17h30
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Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Bem Bom M14. 11h20, 14h10, 17h10, 19h40,
20h10; Os Croods: Uma Nova Era M6. 11h,
14h05, 16h30 (V.P./2D); Nomadland -
Sobreviver na América 13h35, 16h35; O
Pai M12. 17h55, 20h20; Cruella M12. 10h50,
16h25, 19h35; Viúva Negra M12. 10h40,
13h50, 16h50, 19h20, 19h50; Spirit
Invencível M6. 11h30 (V.P./2D); Miss
Marx M12. 16h45, 19h25; Ao Ritmo de
Washington Heights M12. 14h45; O Espião
Inglês M12. 14h25, 17h05, 19h55; Colectiv -
Um Caso de Corrupção M14. 13h45;
Supernova 14h20, 16h55, 19h45;
Velocidade Furiosa 9 11h10, 13h30, 16h40,
20h; O Último Banho M16. 16h50; Quatro
Dias a Teu Lado M14. 15h, 17h45, 20h15; O
Guarda-Costas e a Mulher do Assassino
M16. 14h35, 19h55; Stardust - O Nascer de
Uma Estrela M14. 14h, 17h15; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 13h40, 16h20,
20h05; Annette M14. 10h30, 13h55, 19h15
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
Estr. Caminho Municipal, 1011. T. 16996
Peter Rabbit: Coelho à Solta M6. 12h15,
14h50 (V.P./2D); Bem Bom M14. 12h20, 15h,
17h40, 20h20; Os Croods: Uma Nova
Era M6. 12h45, 15h10, 17h50 (V.P./2D);
Cruella M12. 12h40, 15h45, 19h50 (V.O./2D)
Viúva Negra M12. 12h30, 14h, 13h30, 15h40,
16h20, 16h40, 18h40, 19h10, 19h50 (2D) 17h
(3D); Raya e o Último Dragão M6. 14h40,
17h30 (V.P./2D); The Conjuring 3 - A Obra do
Diabo M16. 20h10; Os Flofos: Viagem no
Tempo M6. 13h40, 16h50 (V.P./2D);
Caminho Sem Retorno M16. 20h15;
Velocidade Furiosa 9 12h50, 14h30, 16h10,
18h, 19h40; O Guarda-Costas e a Mulher do
Assassino M16. 15h50, 20h; Stardust - O
Nascer de Uma Estrela M14. 13h20; The Ice
Road: Missão de Risco M12. 19h45;
Annette M14. 13h, 19h30; A Cada Passo
Teu M16. 17h20, 19h55; Viúva Negra M12.
13h10, 16h, 20h (3D 4DX)
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C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
Bem Bom M14. 15h30, 17h50, 20h20; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 15h20, 18h10 (V.
P./2D); Cruella M12. 15h25, 17h50, 20h10 (V.
O./2D); Viúva Negra M12. 15h15, 16h10,
17h25, 19h, 20h05, 20h10; Raya e o Último
Dragão M6. 15h15, 17h35 (V.P./2D); The
Conjuring 3 - A Obra do Diabo M16. 18h,
20h25; Ao Ritmo de Washington Heights
M12. 19h50; Demon Slayer - Kimetsu No
Yaiba - O Filme: Comboio Infinito M14.
15h35; Velocidade Furiosa 9 15h25, 16h,
17h40, 19h20, 20h; The Ice Road: Missão de
Risco M12. 15h20, 17h30, 20h15
UCI Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Bem Bom M14. 10h50, 13h30, 16h40, 19h20,
19h50; Os Croods: Uma Nova Era M6. 11h15,
14h, 16h25 (V.P./2D); Cruella M12. 13h15,
16h15; Viúva Negra M12. 11h, 14h10, 17h10,
19h40, 20h10; The Conjuring 3 - A Obra do
Diabo M16. 17h; Os Flofos: Viagem no
Tempo M6. 11h30, 14h20, 16h55 (V.P./2D);
Velocidade Furiosa 9 10h40, 13h40, 16h50,
19h30, 20h; O Guarda-Costas e a Mulher do
Assassino M16. 14h15; The Ice Road: Missão
de Risco M12. 13h50, 16h30, 1935
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
Alcabideche. T. 16996
Bem Bom M14. 12h30, 15h10, 17h45,
20h20; Os Croods: Uma Nova Era M6.
Guia
12h40, 15h, 17h15 (V.P./2D); Cruella M12. 14h,
16h50 (V.O./2D); Viúva Negra M12. 13h,
13h50, 16h, 17h, 19h, 20h; Velocidade
Furiosa 9 13h10, 16h15, 19h20, 19h40; O
Guarda-Costas e a Mulher do Assassino
M16. 19h50; The Ice Road: Missão de
Risco M12. 14h30, 17h30, 20h10; Viúva
Negra M12. 13h30, 16h30, 19h30 (IMAX 3D)
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I. T. 215887311
Bem Bom M14. 15h, 16h, 18h10, 20h20; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 14h45, 16h40,
18h35 (V.P./2D); Viúva Negra M12. 15h,
17h30, 20h; O Homem Que Vendeu a Sua
Pele M12. 20h30; Quatro Dias a Teu Lado
M14. 14h35, 16h35, 18h35, 20h35; Stardust -
O Nascer de Uma Estrela M14. 17h10, 19h20
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Beloura Shopping, R. Matos Cruzadas, EN 9,
Quinta da Beloura II, Linhó. T. 219247643
Bem Bom M14. 17h50, 20h15; Os Croods:
Uma Nova Era M6. 15h40, 17h45 (V.P./2D);
Viúva Negra M12. 17h40, 19h30, 20h;
Velocidade Furiosa 9 17h35, 19h55;
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Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352
Bem Bom M14. 12h35, 15h, 17h30, 20h; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 13h30, 15h45,
18h, 20h15 (V.P./2D); Viúva Negra M12.
13h15, 13h45, 16h10, 16h40, 19h05, 19h35;
Velocidade Furiosa 9 13h15, 16h20, 19h25;
O Guarda-Costas e a Mulher do Assassino
M16. 14h20, 17h, 19h40; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 14h55, 17h25, 19h55
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R. Dr. Virgílio Vieira da Cunha.
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Bem Bom M14. 17h35, 21h50; Os Croods:
Uma Nova Era M6. 17h15 (V.P./2D); Viúva
Negra M12. 17h55, 18h40, 19h10, 21h20,
21h40; Os Flofos: Viagem no Tempo M6.
15h30 (V.P./2D); Velocidade Furiosa 9
18h20, 19h, 21h25, 21h45; O Guarda-Costas
e a Mulher do Assassino M16. 21h55; The
Ice Road: Missão de Risco M12. 19h45
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CC Leiria Shopping, IC2. T. 244826516
Bem Bom M14. 16h40, 19h10, 21h45; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 16h10 (V.
P./2D); Viúva Negra M12. 16h, 18h20, 18h50,
21h10, 21h40; Velocidade Furiosa 9 15h20,
16h50, 18h30, 20h30, 21h30; O Último
Banho M16. 19h; The Ice Road: Missão de
Risco M12. 16h30, 21h20
Loures
Cineplace - Loures Shopping
Quinta do Infantado, Loja A003.
Bem Bom M14. 13h10, 15h30, 18h, 20h30;
Os Croods: Uma Nova Era M6. 13h, 14h10,
16h20, 18h30 (V.P./2D); Cruella M12. 17h30
(V.O./2D); Viúva Negra M12. 13h50, 16h30,
17h, 19h30, 20h10; Os Flofos: Viagem no
Tempo M6. 13h05, 15h20 (V.P./2D);
Velocidade Furiosa 9 13h40, 16h50, 20h; O
Último Banho M16. 20h20; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 20h40
Setúbal
Cinema City Alegro Setúbal
Centro Comercial Alegro Setúbal.
T. 265239853
Um Lugar Silencioso 2 M14. 20h20; Bem
Bom M14. 15h30, 18h, 20h25; Os Croods:
Uma Nova Era M6. 15h20, 17h55 (V.P./2D);
Cruella M12. 15h35 (V.O./2D); Viúva
Negra M12. 15h25, 16h10, 17h15, 19h45,
20h10; Velocidade Furiosa 9 15h15, 16h,
17h40, 19h, 19h55, 20h; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 18h10
44 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Guia
Lazer
TEATRO
Cenas da Vida Conjugal
ALMADA Fórum Romeu Correia.
De 8/7 a 11/7. Todos os dias, às
19h (sábado também às 14h).
M/16. Duração: 2h. 12€
Escritas por Ingmar Bergman e
levadas à cena por Rita Calçada
Bastos, as Cenas da Vida Conjugal
retratam um casal assaltado por
dúvidas e fantasmas, enquanto vai
projectando a realidade desejada.
Interpretado por Katrin Kaasa e
Ivo Canelas, este tratado sobre as
aparências apresenta-se como
uma reÇexão “sobre este tempo
em que o que parece ser a
realidade a maior parte das vezes
não é”.
FESTIVAL
Millenium Festival ao Largo
LISBOA Largo de São Carlos e
Teatro Nacional de São Carlos.
De 9/7 a 28/7. Grátis
É com as Batidas do Destino da
Orquestra Sinfónica Portuguesa
que abre a 13.ª edição do festival
que tem como missão oferecer
espectáculos fora do ambiente
formal das salas. O encontro,
marcado para hoje e amanhã às
21h, conta com a meio-soprano
Cátia Moreso, que, sob a batuta de
Joana Carneiro, interpreta um
programa dedicado a Manuel de
Falla e Ludwig van Beethoven.
MÚSICA
Noites de Verão
LISBOA Jardim da Galeria
Quadrum, Museu Nacional de
Arte Contemporânea (MNAC) e
Museu de Lisboa — Palácio
Pimenta. De 9/7 a 27/8. Sextas,
às 19h. Grátis
Com curadoria da Filho Único, o
alinhamento abre no Jardim da
Galeria Quadrum, com os
concertos de Milteto (dia 9),
Grupo de Música Contemporânea
de Lisboa & Noiva (16), Danifox, G
Fema, Nídia, Rabu Mazda e
Tristany (23) e Toda Matéria (30).
Em Agosto, o palco muda-se para
o MNAC, para ouvir,
respectivamente, Vum Vum,
Polido, Perila e Marte i Núpiter. O
Palácio Pimenta recebe a
novidade desta edição: uma
matinée no sábado 31 de Julho,
com Jovem Guarda Ambiental,
que integra as actuações de
Bezbog, Carincur, Poly Garbo,
Maria Calapez, Oseias,
Unitedstatesof e Van Ayres.
Jogos Jogue também online.
Palavras-cruzadas, Lotaria Popular 6 3 2 6 3
bridge e sudoku em
1.º Prémio 50.000€
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
Cruzadas 11.396 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
Horizontais: 1. Caso das (…), chega à justiça e arrasta advogados da EDP e Engie.
2. Prefixo que exprime a ideia de privação. Segundo. Planta laminácea aromática
e medicinal. 3. Proceder. Cerimonioso. 4. Díodo emissor de luz. Estaleiro. Polónio
(s. q.). 5. Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas (acrónimo).
Cabelos brancos. 6. Sociedade Anónima. Comovidos (fig.). 7. Moeda da Etiópia.
8. Cara grande e feia. Neologismo (abrev.). 9. Arrufo. Base aérea no Afeganistão
que foi o centro de comando da guerra com os taliban durante quase 20 anos. 10.
Modo de dizer. Bando de aves que passam, voando rapidamente. 11. Peça
transversal do arado em que o lavrador assenta as mãos. Pátria. Verticais: 1.
Divindade dos Assírios e Fenícios. Ferro considerado inútil. 2. (…) Gulbenkian,
declarou-se culpada de furto e aguarda sentença em Londres. Querença. 3.
Passado. Nevoeiro. 4. “De Maio a Abril, não há muito que (...)”. Dança e canto
popular ao som da viola e de outros instrumentos. 5. Suspiro. Duas vezes a mesma
coisa ou quantidade. Prefixo (repetição). 6. Pôr fofos em. Apócope de belo. 7.
Relativo a época. Planície vasta, cercada de montanhas. 8. Esposa do filho.
Afeição. 9. Preposição designativa de falta. Compact Disc. Verbal. 10. Admite
defender Taiwan de uma invasão chinesa. Faixa de rio, navegável e paralela à
margem. 11. Coisa de grandes proporções (fig.). Abismo (fig.).
Solução do problema anterior
Horizontais: 1. Eslovénia. 2. Teimoso. SPA. 3. Frol. Bi. AM. 4. VAR. Pua. 5. Tl. Jovenel. 6. Ruma. Zonas. 7.
AC. Gatar. Re. 8. Sínodo. Trem. 9. Aludir. EIGE. 10. Iterar. Soa. 11. Laos. Lixo.
Verticais: 1. ET. Atrasa. 2. SEF. Lucília. 3. Lira. Nuto. 4. Omo. Jagodes. 5. Volvo. Adir. 6. És. Av. Toral. 7.
Nobreza. RI. 8. Norte. 9. As. Pen. Riso. 10. PaulaRego. 11. Fama. Semear.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge bridgepublico@gmail.com Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Oeste Este e virtualmente Oeste deve Problema 10.566 (Fácil)
Vul: Todos ter a Dama de paus. Tudo o que o
carteador tinha a fazer agora era
NORTE correr os ouros. A três cartas do
Ƅ 72 fim, faltando ainda um ouro por
Ɔ8
Ƈ AQJ8642 encaixar, o morto tinha o 7 de
ƅ 1095 espadas, um ouro e o 10 de paus.
Em Sul Ás e Dama de espadas e o
OESTE ESTE
Ƅ KJ10965 Ƅ 843 10 de copas. Quando o último
Ɔ 65 Ɔ J732 ouro é jogado, Este balda algo Solução 10.564
Ƈ7 Ƈ 93 que não o Valete de copas (ou o
ƅ KQ63 ƅ 8742 jogo termina nesse momento,
SUL
Ƅ AQ
pois o 10 de copas fica firme) e
Sul balda o 10 de copas. Oeste
Ɔ AKQ1094
Ƈ K105 por sua vez, tem de baldar
ƅ AJ também outra carta que não seja
a Dama de paus (ou o 10 de paus
Oeste Norte Este Sul fica firme) e assim, a duas cartas
2Ƅ 3Ƈ passo 7ST do fim o carteador só tem de
Todos passam jogar uma espada para o Ás, com
a certeza de que a Dama de
Leilão: Torneio de pares. espadas ficará firme por caírem
todas as espadas entretanto. Problema 10.567 (Muito difícil)
Carteio: Saída: K ƅ. Qual o seu Este era demasiado fácil!
plano de jogo?
Considere o seguinte leilão:
Solução: A ideia de executar um
squeeze parece ser algo de Oeste Norte Este Sul
transcendente para a maioria dos 1ƅ passo 1Ƅ
jogadores iniciados. Acham que passo 2Ɔ passo ?
os squeezes são só para os
craques. Mas, efectivamente O que marca com a seguinte Solução 10.565
alguns squeezes podem ser tão mão?
simples que apenas exigem um Ƅ KQJ1076 Ɔ J98 Ƈ K102 ƅ 3
pouco de atenção.
O jogo de hoje é um exemplo Resposta: Marque duas espadas.
disso. Sul fez a vaza inicial com o É forcing por uma volta e assim
Ás de paus e encaixou as suas três pode na volta seguinte decidir
figuras de copas, tendo Oeste melhor se valerá a pena tentar
baldado uma espada na terceira jogar mais do que quatro
volta. O Valete de copas ficou em espadas.
 Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 45

Guia

CINEMA
Candie (Leonardo DiCaprio).

Televisão Os mais vistos da TV

The Departed - Entre Inimigos
Fox Movies, 21h15
Martin Scorsese regressa com um
versão norte-americana do
primeiro Ælme da trilogia de culto
de Hong Kong Infernal Aèairs. Um
agente da polícia inÆltra-se num
grupo criminoso, ao mesmo
tempo que um membro de um
gang consegue o mesmo feito,
mas na polícia, e informa o grupo
de cada movimento dos agentes
para capturar os criminosos.
Leonardo DiCaprio, Matt Damon
e Jack Nicholson dão corpo às
principais personagens.
Rogue - Selvagem
TVCine Top, 21h30
Samantha O’Hara (Megan Fox)
lidera um grupo de mercenários
que se encontra em África para
resgatar a Ælha de um político,
raptada por terroristas semanas
antes. Depois de libertarem a
rapariga e outros prisioneiros,
encontram refúgio numa quinta
RTP1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Ferias Cá
Dentro 12.59 Jornal da Tarde 14.23 Os
Nossos Dias 15.04 Férias Cá Dentro
17.30 Portugal em Directo 19.06 O
Preço Certo 19.54 Direito de Antena
19.59 Telejornal
21.01 Sexta às 9
21.46 Joker Kids
22.52 Euro 2020 - Os Dias do Euro
Quarta-feira, 7
RTP1 17,0%
% Escrito e realizado por Quentin
Tarantino, um western-spaghetti
Euro 2020
% Aud. Share
RTP1 17,4 34,7
RTP2 1,1 sobre a escravatura.
Festa é Festa TVI 10,0 18,3 SIC 17,9
Viúva Negra
TVI
Amor, Amor SIC 10,0 18,3
A Serra SIC 9,6 21,5 15,8 Disney+, streaming
Cabo Natasha Romanoè, conhecida
Bem Me Quer TVI 9,4 19,7
FONTE: CAEM
33,2 como Viúva Negra, vê-se
implicada numa conspiração que
envolve o seu passado como espia
TVCINE TOP
RTP2 russa, muito antes de se tornar
18.35 Scooby (V.O.) 20.05 Os Últimos membro dos Vingadores. A trama
6.32 Repórter África 7.00 Espaço Zig Três Dias 21.30 Rogue - Selvagem 23.15 decorre entre os Ælmes Capitão
Zag 11.58 Chegou a Felicidade 12.52 Sweetheart 0.35 O Silencioso América: Guerra Civil (2016) e
Esec-Tv 13.19 As Novas Viagens Vingadores: Guerra do InÆnito
Philosophicas 13.49 Folha de Sala (2018). É realizado por Cate
13.55 A Fé dos Homens 14.30 FOX MOVIES Shortland, com argumento de
Ciclismo: Volta à França 2021 16.53 17.46 Táxi de Nova Iorque 19.17 La La Eric Pearson. Scarlett Johansson
Folha de Sala 16.59 Espaço Zig Zag Land: Melodia de Amor 21.15 The encarna a personagem-título;
20.34 As Grandes Mentiras da História Departed - Entre Inimigos 0.15 Era Uma Florence Pugh, David Harbour,
Vez na América Ray Winstone e Rachel Weisz
assumem os papéis secundários.
21.25 Folha de Sala Um Ælme da Marvel Studios/
HOLLYWOOD Disney que se estreou dia 8 nos
17.00 Braveheart - O Desafio do cinemas, mas Æca agora
21.30 Jornal 2 Guerreiro 19.55 Antigang 21.30 Jovens disponível no Disney+ através de
Pistoleiros 23.20 Django Libertado 2.05 acesso premium, com um custo
Shooot ‘Em Up - Atirar a Matar adicional.
22.01 De Gaulle - Prestígio e Intimidade

que depressa percebem ser um
abrigo para caçadores de leões.
Com os animais esfomeados e
soltos pela propriedade,
transformam-se em presas fáceis.
Um thriller de acção cujo elenco
inclui ainda Philip Winchester,
Greg Kriek, Brandon Auret,
Kenneth Fok e Sisanda Henna.
Labirinto de Mentiras
RTP2, 22h55
DESPORTO
AXN
23.02 Depois,
pois, 22.55 Labirinto
o 18.23 DOC 19.30 The Good Doctor
Vai-se a Ver
er e Nada de Mentiras 22.00 O Jogo Final 23.57 Passageiros Ciclismo: Volta à França 2021
(2016) 1.55 Quarteto Fantástico (2005) RTP2, 14h30
Encontramo-nos na 13.ª etapa da
Volta à França. A prova de
FOX ciclismo de hoje prevê o percurso
17.22 Investigação Criminal: Los de Nîmes a Carcassonne,
Angeles 18.53 Chicago PD 20.26 Hawai constituído por 219,29 km, por
0.28 Soldado Milhões 2.00 Unidos 0.58 Super Diva - Ópera para Força Especial 22.15 Procurado 0.16 entre vales e montanhas.
ao Clube 2.27 As Novas Viagens Todos 1.50 Euronews Blade III: Trinity

Estamos em 1958 e a Alemanha
concentra-se na recuperação
económica pós-Segunda
Grande Guerra. O advogado
Johann Radmann recebe de um
jornalista alguns documentos e
decide iniciar um processo contra
alguns membros das SS que
serviram em Auschwitz. Porém,
os horrores com que se depara,
somados à forma hostil com que
todos encaram a sua luta pela
justiça, fazem com que Johann se
sinta perdido no meio da
investigação. Estreia na
longa-metragem do italiano
Giulio Ricciarelli, é um Ælme
baseado em factos reais, que
retrata uma época delicada na
Alemanha, durante os primeiros
julgamentos pelo Estado das
atrocidades cometidas na
Segunda Grande Guerra.
Django Libertado
Hollywood, 23h20
O Dr. King Schultz (Christoph
Waltz), dentista e caçador de
recompensas, liberta o escravo
Django ( Jamie Foxx). Os dois
acabam aliados e Schultz decide
ajudar o ex-escravo a encontrar
Broomhilda (Kerry Washington),
a esposa de quem perdeu o rastro
algum tempo antes. O que os leva
à plantação do cruel Calvin
Philosophicas
SIC
6.30 Edição da Manhã 8.20 Alô
Portugal 10.10 Casa Feliz 13.00
Primeiro Jornal 14.30 Linha Aberta
com Hernâni Carvalho 16.00 Júlia
18.20 Viver a Vida 19.0 Orgulho e
Paixão 19.30 Quem Quer Namorar
com o Agricultor - Diário
19.57 Jornal da Noite
21.40 Amor Amor
22.45 A Serra
23.30 Quem Quer Namorar com
a Agricultora?
23.45 Tempo de Amar
0.25 Quem Quer Namorar com
o Agricultor? - Edição da Noite
0.40 Golpe de Sorte 1.50 Linha
Aberta com Hernâni Carvalho
TVI
6.05 Curious George 6.30 Diário da
Manhã 7.00 Esta Manhã 10.14 Dois às
10 13.00 Jornal da Uma 14.45 A Única
Mulher 16.00 Goucha 18.00 O Amor
Acontece 19.00 Cristina ComVida
19.57 Jornal das 8
21.50 Festa É Festa
22.25 Bem Me
e Quer
23.15 Amar Demais
0.00 Mulheres 0.15 Diário do Euro
1.30 A Lei de Chicago 2.45 Doce
Tentação 3.15 Fascínios
DISNEY CHANNEL
17.15 Lab Rats 18.25 Anfibilândia 19.15
Os Green na Cidade Grande 20.00 Casa
da Coruja 20.25 Acampamento
Kiwiwaka 23.35 Bia
DISCOVERY
17.05 Alasca: A Última Fronteira 19.00
Aventura à Flor da Pele 21.00
Desmontar a História 22.55
Desaparecimentos Misteriosos 0.40
Desmontar a História
HISTÓRIA
17.59 A Prova Existe Algures 18.40 O
Inexplicável 20.44 O Efeito
Nostradamus 22.15 O Livro Egípcio dos
Mortos 23.43 O Universo: Enigmas
Ancestrais 1.11 Forjado no Fogo
ODISSEIA
17.34 Animais: Encontros Épicos 18.20
Resgate na Praia 19.06 Caçador de
Armas 19.51 Fábrica de Combate 20.13
Líderes Nazis: A Origemdo Mal 21.02 Os
Feitos Mais Estranhos das Guerras
Mundiais 22.31 Líderes Nazis: A
Origemdo Mal 23.21 A Queda da Cortina
de Ferro 0.18 Os Feitos Mais Estranhos
das Guerras Mundiais
DOCUMENTÁRIO
A Sul da Fronteira
TVCine Edition, 22h10
O realizador Oliver Stone (JFK,
Wall Street: O Dinheiro Nunca
Dorme) realiza este documentário
em que viaja pela América do Sul
e Cuba, investigando a viragem à
esquerda política destes países no
início do século XXI. Ao longo do
Ælme, conversa com Hugo Chávez
(Venezuela), Cristina Kirchner
(Argentina), Lula da Silva (Brasil)
ou Raul Castro (Cuba).
INFANTIL
Looney Tunes:
De Novo em Acção
Cinemundo, 21h
Jenna Elfman, Brendan Fraser e
Steve Martin lado a lado com
Bugs Bunny, Daèy Duck e o Diabo
da Tasmânia? São os Looney
Tunes de novo em acção.
A vice-presidente da Warner
( Jenna Elfman) resolve despedir
Daèy e contrata DJ Drake
(Brendan Fraser) para capturar e
escoltar o pato para fora dos
estúdios. Mas os dois acabam por
se juntar numa aventura para
salvar o mundo.
 46 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021

Guia
B&B
Colecção de 10 volumes. PVP unitário 6,90€. Preço total da colecção 69€. Periodicidade semanal à sexta-feira, entre 30 de Abril e 25 de Junho. Stock limitado

Determinada a fazer
os homens sofrer Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA
Viana do Castelo Sábado, 10 Domingo, 11 Segunda-feira, 12
Bragança
16 º
23º
31º
18º 35º 16º 30º 17º 25º
Braga 12º
28 º Índice UV Extremo Índice UV Extremo Índice UV Extremo
14 º Vila Real
15º Porto Vento Fraco Vento Fraco Vento Moderado
1,5m
30º Humidade 41% Humidade 52% Humidade 56%
23 º 13º
14º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 29 º
12º 31º Mauna Loa, Havai Portugal
24º 14º
13 º Partes por milhão
(ppm) na atmosfera Porto Muito
Coimbra Valores por semana Bom
29º Coimbra Bom
13º Semana de 27 Jun. 418,08
Castelo Branco
Semana de 20 Jun. 418,33 Lisboa Médio
36 º Há um ano 415,76
Leiria 15º Há dez anos 393,59 Évora Fraco
24º
15º
Nível de segurança 350
Faro Mau
Nível pré-industrial 280
Santarém
Portalegre
36 º
15º 37º
18º SOL LUA
Lisboa 10 Jul. 01h17
31 º 17 Jul. 10h11
18º Évora
Setúbal 35º 24 Jul. 02h37
32º 17º Nascente Poente Nascente Poente
17º
06h20 21h04 31 Jul. 13h16 05h31 21h02

Sines Beja EUROPA

26º 37º Estocolmo
Helsínquia
18º 18 º Oslo
16º Talín

1,2m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 28º
21º Bruxelas
23º Faro Praga
19º Paris
Viena Budapeste
18º Genebra
0,8m
Açores Milão

+6.90€ Corvo Roma

Istambul

EM BANCA
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 22º
24º Atenas
21º 1m
São Jorge 26º
22º 20º
1m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
24º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
22º 20º Amesterdão 13 22 Roma 20 32
1m Atenas 25 33 Viena 17 22
Ponta Delgada
Berlim 16 18 Bissau 26 32
Sta Maria Bruxelas 14 21 Buenos Aires 13 20
OBRAS DAS AUTORAS PORTUGUESAS Madeira Bucareste 17 30 Cairo 25 37
Porto Santo Budapeste 17 35 Caracas 20 26
CENSURADAS PELA PIDE. Copenhaga 16 22 Cid. do Cabo 10 15
Madeira
22º 23º 23º 22º Dublin 12 19 Cid. do México 14 22
19º 19º
APOIOS: 1,2m 2,2m Estocolmo 17 24 Díli 22 32
Frankfurt 14 23 Hong Kong 25 32
Funchal Genebra 12 24 Jerusalém 19 30
Istambul 21 28 Los Angeles 21 32
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 18 30 Luanda 20 26
Londres 14 22 Nova Deli 29 37
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 20 34 Nova Iorque 22 29
09h23 1,0 08h57 1,1 08h49 1,0 Milão 13 28 Pequim 23 33
APOIOS INSTITUCIONAIS: 15h39 3,2 15h14 3,2 15h20 3,1 Moscovo 22 32 Praia 22 30
Oslo 15 24 Rio de Janeiro 16 24
21h55 0,9 21h29 1,1 21h20 0,9 Paris 17 24 Riga 22 32
04h01* 3,0 03h36* 3,0 03h38* 3,0 Praga 13 21 Singapura 26 31
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
 Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 47

Sorteio dos campeonatos proƊssionais de futebol Desporto

PEDRO NUNES/REUTERS

Calendário
Jornada 1 Tondela-FC Porto
8 de Agosto Boavista-Belen. SAD
Sporting-Vizela Portimonense-Estoril
FC Porto-Belen. SAD Vizela-Benfica
P. Ferreira-Famalicão
Vitória-Portimonense Jornada 10
Moreirense-Benfica 31 de Outubro
Gil Vicente-Boavista Sporting-Vitória
Tondela-Santa Clara FC Porto-Boavista
Marítimo-Sp. Braga Sp. Braga-Portimonense
Arouca-Estoril Moreirense- P. Ferreira
Famalicão-Vizela
Jornada 2 Belen. SAD-Santa Clara
14 de Agosto Marítimo-Gil Vicente
Benfica-Arouca Estoril-Benfica
Sp. Braga-Sporting Arouca-Tondela
Santa Clara-Moreirense
Famalicão-FC Porto Jornada 11
Belen. SAD-Marítimo 7 de Novembro
Boavista-Paços Ferreira Benfica-Sp. Braga
Portimonense-G. Vicente P. Ferreira-Sporting
Estoril-Vitória Santa Clara-FC Porto
Vizela-Tondela Vitória-Moreirense
Gil Vicente-Arouca
Jornada 3 Tondela-Marítimo
27 de Agosto Boavista-Famalicão
Sporting-Belen. SAD Portimonense-Bel. SAD
P. Ferreira-Estoril Vizela-Estoril
Vitória-Vizela
Moreirense-Sp. Braga Jornada 12
Gil Vicente-Benfica 28 de Novembro
Tondela-Portimonense Sporting-Tondela
Boavista-Santa Clara FC Porto-Vitória
Marítimo-FC Porto Sp. Braga-Vizela
Arouca-Famalicão Moreirense-Gil Vicente
Famalicão-
Jornada 4 Portimonense
29 de Agosto Belen. SAD-Benfica
FC Porto-Arouca Marítimo- P. Ferreira
Benfica-Tondela Estoril-Santa Clara
Primeiro clássico de2021-22 Sp. Braga-Vitória Arouca-Boavista
Santa Clara-Gil Vicente
será o Sporting-FC Porto Famalicão-Sporting Jornada 13
Belen.SAD-Moreirense 5 de Dezembro
Portimonense-Paços Benfica-Sporting
Ferreira Sp Braga-Estoril

Sporting recebe FC Porto

Estoril-Marítimo P.Ferreira-Vitória SC
Vizela-Boavista Santa Clara-Arouca
Gil Vicente-Famalicão
Jornada 5 Tondela-Moreirense
12 de Setembro Boavista-Marítimo
Sporting-FC Porto Portimonense-FC Porto
P. Ferreira-Sp. Braga Vizela-Belenenses SAD
Santa Clara-Benfica

no primeiro grande duelo

Vitória-Belenenses SAD Jornada 14
Moreirense-Famalicão 12 de Dezembro
Gil Vicente-Vizela Sporting-Boavista
Tondela-Estoril FC Porto-Sp. Braga
Boavista-Portimonense P. Ferreira-Gil Vicente
Marítimo-Arouca Vitória-Tondela
Moreirense-
Jornada 6 Portimonense
19 de Setembro Famalicão-Benfica
FC Porto-Moreirense Belenenses SAD-Estoril

Os últimos dois campeões nacionais defrontam-se na primeira oportunidade, à 5.ª Benfica-Boavista

jornada. BenÄca recebe “leões” à 13.ª ronda e joga no Dragão três jornadas depois
Augusto Bernardino
O sorteio dos calendários profissio-
nais de futebol, que decorreu ao
início da noite de ontem no Centro
de Congressos da Alfândega do Por-
to, reservou um Sporting-Vizela para
o arranque da I Liga. Os confrontos
mais mediáticos ficaram, mais uma
vez, condicionados pelas regras do
sorteio, acentuadas pelo facto excep-
cional de estar a decorrer o Campeo-
nato da Europa e de surgir no hori-
zonte o Mundial 2022.
A abrir, o FC Porto actua em casa
frente ao Belenenses SAD e o Benfica
desloca-se a Moreira de Cónegos.
Mas logo na primeira oportunidade,
em Setembro, na 5.ª ronda, o Spor-
ting recebe o FC Porto no primeiro
clássico da época. O Benfica-Sporting
surge a 5 de Dezembro, à 13.ª jorna-
da, cumprindo-se o último duelo de
candidatos à 16.ª ronda, com o FC
Porto-Benfica.
Sp. Braga-Tondela
Marítimo-Santa Clara
Arouca-Vizela
Famalicão-Marítimo
Belen. SAD-Gil Vicente
Portimonense-S. Clara
Jornada 15
19 de Dezembro
Estoril-Sporting Benfica-Marítimo
Tal como na época passada, para Do mesmo modo, Benfica, Paços eventual resistência à vacinação.
Vizela-Paços Ferreira Sp. Braga-Belen. SAD
além da “quarentena” de jogos entre de Ferreira e Santa Clara (envolvidos O presidente da Liga Portuguesa Arouca-Vitória Santa Clara-Vitória
os “crónicos” candidatos nas primei- na fase de qualificação) não poderão de Futebol Profissional, Pedro Proen- Gil Vicente-Sporting
Jornada 7 Tondela-P.Ferreira
ras quatro jornadas, ficou estabele- defrontar-se nas primeiras quatro ça, recordou os constrangimentos da 26 de Setembro Boavista-Moreirense
cida a alternância de encontros na rondas do campeonato. Modelo em última época, “amputada do acesso Sporting-Marítimo Portimonense-Arouca
P. Ferreira-Belen.SAD Estoril-FC Famalicão
qualidade de anfitrião entre clubes tudo idêntico ao que procura evitar de público”, e deixou o exemplo do Santa Clara-Sp. Braga Vizela-FC Porto
vizinhos, com as duplas Benfica e duelos em jornadas consecutivas futebol, que iniciará de imediato a Vitória-Benfica
Sporting; Boavista e FC Porto; Sp. com dois dos cinco emblemas que vacinação dos escalões profissionais, Moreirense-Arouca Jornada 16
Gil Vicente-FC Porto 29 de Dezembro
Braga e V. Guimarães; Moreirense e nas três épocas anteriores tenham com prioridade para os clubes “euro- Tondela-Famalicão Sporting-Portimonense
Vizela; e Famalicão e Gil Vicente a obtido a melhor média (FC Porto, peus”, num plano alargado às 34 Boavista-Estoril FC Porto-Benfica
Portimonense-Vizela P. Ferreira-Santa Clara
não poderem actuar em “casa” na Benfica, Sporting, Sp. Braga e V. Gui- sociedades desportivas. Vitória-Boavista
mesma ronda. marães). As deslocações à Madeira e Apesar do apelo emotivo de Paulo Jornada 8 Moreirense-Estoril
As restrições impostas pelas par- Açores estão devidamente assinala- Futre aos governantes e responsáveis 3 de Outubro Famalicão-Belen. SAD
FC Porto-Paços Ferreira Tondela-Gil Vicente
ticipações europeias dos clubes qua- das, pretendendo-se que uma equipa pela estratégia para combater a pan- Benfica-Portimonense Marítimo-Vizela
lificados e pré-qualificados para as não faça duas viagens consecutivas demia, pelo menos no que diz res- Sp. Braga-Boavista Arouca-Sp. Braga
Famalicão-Vitória
provas da UEFA, com o objectivo de às ilhas. peito ao regresso do público aos Belen.SAD-Tondela Jornada 17
“protegerem” as equipas que repre- A cerimónia foi antecedida de uma estádios, apenas uma resposta vaga, Marítimo-Moreirense 8 de Janeiro de 2022
sentam o país nas competições inter- campanha dirigida aos jovens, com sem calendário ou plano claro à vis- Estoril-Gil Vicente Benfica-P. Ferreira
Vizela-Santa Clara Sp. Braga-Famalicão
nacionais, impedem o cruzamento um apelo feito pela máquina do fute- ta, com evolução dependente de Arouca-Sporting Santa Clara-Sporting
em partidas consecutivas dos parti- bol profissional, em colaboração futuras vagas de covid-19. Belen. SAD-Arouca
Jornada 9 Gil Vicente-Vitória
cipantes na Liga dos Campeões, Liga com a Direcção-Geral da Saúde Houve lugar ainda à distinção dos 24 de Outubro Boavista-Tondela
Europa e Liga Conferência, pelo que (DGS), e que será abraçado pelos melhores da época passada, com Sporting-Moreirense Portimonense-Marítimo
nas 6.ª, 7.ª, 9.ª, 10.ª, 23.ª, 26.ª, 29.ª clubes das duas principais Ligas no uma homenagem a Neno, que passa P. Ferreira-Arouca Estoril-FC Porto
Santa Clara-Famalicão Vizela-Moreirense
e 32.ª jornadas da I Liga, não haverá sentido de mobilizar os mais jovens a emprestar o nome ao prémio para Vitória-Marítimo
confrontos entre “europeus”. para a necessidade de quebrar uma melhor guarda-redes. Gil Vicente-Sp. Braga
48 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Desporto Euro 2020
Menos “ais”, mais futebol: nunca
se apitou tão pouco em Europeus
Diogo Cardoso Oliveira
Os árbitros foram
instruídos a apitarem
menos no Euro e o futebol
beneficiou. É para replicar
o modelo em Portugal?
Em 2004, uma famosa canção de
apoio à selecção portuguesa pedia
“menos ais, menos ais, menos ais,
quero muito mais”. No Euro 2020, os
adeptos de futebol tiveram, Ænalmen-
te, direito a muito menos “ais” por
parte dos jogadores e menos sopros
no apito por parte dos árbitros — e,
por extensão, tiveram direito a mais
tempo útil de jogo e, claro, a mais e
melhor futebol.
A prova que se aproxima do Ænal
bateu o recorde de Campeonato da
Europa com menos faltas assinaladas
desde que há registos (1980). Na fase
de grupos, momento que permite
comparar as diferentes edições,
foram assinaladas 22,4 faltas por jogo
e mostrados 2,7 cartões amarelos.
Cruzando com dados da Opta, o
PÚBLICO fez um levantamento no
Who Scored do número de faltas e
cartões amarelos por jogo nos Euro-
peus, focando a análise nas últimas
cinco edições, já que o futebol era,
nas décadas de 80 e 90, substancial-
mente diferente e com índices de
agressividade mais elevados.
A conclusão é clara: desde 2004,
os Europeus têm vindo a decrescer
no número de faltas. Eram mais de 37
infracções por jogo em 2004, 36 em
2008, baixaram das 30 em 2012, che-
garam às 25 em 2016 e, em 2020, às
já referidas 22 faltas. De 2004 para
2020 são 15 faltas a menos.
Embora não haja dados que permi-
tam recuar muitos anos, a compara-
ção entre 2016 e 2020 em tempo útil
de jogo é, também ela, evidente: em
média, segundo a UEFA, houve cerca
de dois minutos de tempo útil de jogo
a mais em 2020 (58m21s) do que em
2016 (56m30s) — e os dados das faltas
permitem presumir, mesmo sem valo-
res concretos, que o tempo útil tem
crescido a cada Europeu jogado.
“Houve indicação da UEFA”
De onde vem esta evolução contí-
nua? E de onde vem, sobretudo, o
valor tão baixo de faltas neste Euro
2020? O critério mais largo dos árbi-
tros é a explicação mais evidente,
pela observação dos jogos, mas Pedro
Henriques, ex-árbitro, crê que essa é
apenas parte da questão.
“Estes são árbitros Elite, a primeira
PATROCÍNIO
LAURENCE GRIFFITHS/POOL/EPA
rem dar aquilo a que coloquialmente
se designa por “concertos de apito”.
“Para os árbitros, o Euro também
é uma grande montra. O Artur Soares
Dias e todos os outros árbitros que-
rem ir ao Mundial e, se forem árbitros
que apitam tudo, vão ser criticados.
Portanto, não podem mostrar-se
arrogantes e prepotentes. Nesta
‘montra’ já deixam jogar mais, per-
mitem mais contacto, não puxam o
cartão por ‘dá cá aquela palha’ e têm
uma postura diferente da que têm nas
competições internas”.
“Em Portugal? Não acredito”
Com ajuda da Opta, o PÚBLICO com-
parou os dados do Euro 2020 com os
da Liga portuguesa. O cenário não
poderia ser mais distinto. Enquanto
no Euro os árbitros apitam cerca de
20 faltas por jogo, na I Liga apitam…
mais de 30.
Olhando para o que os árbitros Æze-
ram no Europeu e para o que se faz
em Portugal, a pergunta é evidente:
pode este modelo ser replicado no
futebol nacional? Pedro Henriques
crê que existirá tentativa disso, mas
que esta acabará, provavelmente,
sem sucesso. “Não tenho dúvidas de
que estas directivas da UEFA passa-
ram para as federações nacionais. O
Conselho de Arbitragem vai tentar
que os árbitros privilegiem o contac-
to e deixem jogar. O problema é que
o perfil dos nossos árbitros prejudica
este plano e não acredito que permi-
ta fazer isto na I Liga”, aponta. E expli-
ca: “Temos árbitros muito jovens — e
cada vez mais jovens —, com pouca
experiência de vida, proÆssional, de
gestão de grupos, de liderança, de
relações interpessoais, etc.. Até a pan-
demia veio diÆcultar isto. Os nossos
árbitros têm dificuldade em conquis-
tar o respeito e a disciplina, portanto
têm de a impor. Como? Apitando
tudo, para se defenderem, e mostran-
do mais cartões”.
Além da resistência dos próprios
Árbitros foram aconselhados pela UEFA a privilegiarem o contacto e a deixarem jogar árbitros, pelo perÆl inexperiente, o
ex-juiz da I Liga acredita que os clubes
Infracções e acções disciplinares categoria. Ou seja: já são, por deÆni- montra muito curta. Os jogadores não estarão, também eles, interessa-
ção, árbitros que apitam pouco. Além têm de dar nas vistas, porque podem dos na mudança: “Muitos presidentes
Faltas por jogo Cartões amarelos disto, houve, de facto, uma indicação jogar só três partidas. Eles sabem que estão com problemas e castigos. Se
por jogo
clara da UEFA aos árbitros para privi- não podem ser advertidos ou expul- eles têm estas posturas nos jogos, os
Euro 2020 22,4 2,7 legiarem contacto, deixarem jogar e sos, porque serão substituídos. Por jogadores e treinadores têm costas
Euro 2016 25,2 3,5 não se preocuparem com pequenas isso, o comportamento acaba por ser quentes para as replicarem. Sabem
faltas. Mesmo o VAR foi instruído para diferente: menos discussão e menos que, por muito negativos que sejam
Euro 2012 29 3,9
não intervir em coisas que não sejam confusões”, detalha. os comportamentos, os presidentes
Euro 2008 36,4 3,9 claras e óbvias”, aponta ao PÚBLICO, Para Pedro Henriques, a questão vão sempre defendê-los e apontar as
Euro 2004 37,7 5,1 reconhecendo que os critérios técni- da “montra” não inÇui apenas nos críticas aos árbitros. Esta falta de cul-
Liga portuguesa 20/21 31,4 4,6 co e disciplinar foram especialmente jogadores. Também os árbitros sabem tura desportiva, do Calimero que
Liga inglesa 20/21 21,8 2,9 largos, até por indicação superior. que, perante toda a Europa, têm de chora mais alto, leva os jogadores a
Há, porém, outros factores. Aqui, mostrar o melhor que sabem. E o adoptarem as más atitudes e será uma
Fonte: Who Scored e Opta PÚBLICO
entram os atletas. “O Europeu é uma melhor que sabem passa por evita- pescadinha de rabo na boca”.

PATROCÍNIO
Escolha da UEFA
Holandês
Björn Kuipers
dirige a final
do Euro 2020
O holandês Björn Kuipers foi desi-
gnado para arbitrar a Ænal do Euro
2020 entre Itália e Inglaterra, no
domingo, no Estádio de Wembley.
Uma escolha segura da UEFA.
Internacional desde 2006, Björn
Kuipers, de 48 anos, torna-se no pri-
meiro árbitro dos Países Baixos a
dirigir uma Ænal de um Campeonato
da Europa e será acompanhado na
missão pelos assistentes Sander van
Roekel e Erwin Zeinstra, enquanto o
espanhol Carlos del Cerro Grande
será o quarto árbitro. O germânico
Bastian Dankert foi o videoárbitro
escolhido pelo comité de Arbitragem
da UEFA.
Kuipers vai dirigir a sétima Ænal de
uma grande competição organizada
pela UEFA, depois da Liga Europa de
2018, que opôs o Marselha ao Atléti-
co de Madrid, e da Liga dos Cam-
peões, disputada em Lisboa, em
2014, pelos rivais de Madrid.
Em 2013, esteve presente na der-
rota do BenÆca frente ao Chelsea, na
Ænal da segunda competição mais
importante de clubes da UEFA, e em
2011 arbitrou a Supertaça Europeia
entre o FC Porto e Barcelona.
No currículo, o árbitro dos Países
Baixos conta ainda com participa-
ções nos Campeonatos da Europa de
2012 e também 2016, no qual Portu-
gal se sagrou campeão europeu pela
primeira vez, assim como nas fases
Ænais dos Mundiais de 2014, no Bra-
sil, e 2018, na Rússia.
Na actual edição do Euro 2020,
apitou duas partidas da fase de gru-
pos, Dinamarca-Bélgica e Eslová-
quia-Espanha, e um encontro dos
quartos-de-Ænal, que opôs a Repú-
blica Checa à Dinamarca.
No domingo, a Itália, vencedora
do Euro 1968, e a Inglaterra, campeã
mundial em 1966, lutam pelo título
no Estádio de Wembley, em Londres,
num encontro agendado para as
20h00. Lusa
A queda de Raheem Sterling na área dinamarquesa tem sido muito discutida
Lance decisivo ante a Dinamarca
Penálti que levou Inglaterra à final
motiva críticas de falta de fair-play
Enquanto os adeptos ingleses exul-
tavam com a qualiÆcação para a
primeira Ænal de um grande torneio
desde 1966, pela Europa fora cho-
veram críticas ao penálti que permi-
tiu aos britânicos derrotarem a
Dinamarca, na meia-Ænal do Euro
2020.
Entre Æguras do mundo do futebol
e alguma imprensa europeia, foram
várias as vozes que se levantaram na
sequência da queda de Sterling, que
levou o árbitro a apitar para a marca
dos 11 metros, numa decisão que não
foi contrariada pelo VAR (que, segun-
do o protocolo, só pode intervir em
caso de erros claros e óbvios). O lan-
ce foi, de resto, aproveitado para
criticar o discurso “moralista” de
muitos responsáveis do futebol
inglês acerca do fair-play.
“Estão sempre a dizer que é mau
quando um jogador estrangeiro ten-
ta enganar o árbitro com um mergu-
lho. No puro futebol inglês, isso não
acontece. Tirando, claro, numa
meia-Ænal de um Europeu”, ironizou
o jornal espanhol Marca.
Foi já no prolongamento, e com o
jogo empatado, que Sterling caiu na
área na sequência de um toque sub-
til de Maehle, lateral dinamarquês.
Danny Makkelie, o árbitro do encon-
tro, assinalou a infracção, mas não
chegou a rever o lance no monitor.
No seguimento da jogada, Harry
Kane fez o 2-1, na recarga a um pri-
meiro remate defendido por Kasper
Schmeichel.
“Este foi um penálti demasiado
macio para mim... demasiado barato
para uma meia-Ænal de um Euro-
peu”, apontou o antigo árbitro sueco
Jonas Eriksson, que esteve presente
no Euro 2012 e no Euro 2016. “Fico
mais surpreendido e aborrecido por
o VAR não ter alertado o árbitro. Isto
decide quem segue em frente no tor-
neio”, acrescentou.
No Ænal do encontro, Sterling refe-
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 49
Euro 2020 Desporto
LAURENCE GRIFFITHS/REUTERS
riu-se ao lance como um penálti cla-
ro, mas o antigo treinador do Arsenal
e actual chefe para o desenvolvime-
no do futebol da FIFA, Arsène Wen-
ger, também expressou dúvidas.
“Num momento destes, é importan-
te que o árbitro esteja totalmente
convencido de que é penálti. Não foi
suÆcientemente clara para poder
dizer: ‘Sim, é penálti’”, disse à cadeia
de televisão beIN Sports.
Curiosamente, no momento em
que Sterling entrou na área havia no
relvado uma segunda bola de jogo,
o que, de acordo com as regras,
poderia ter levado à interrupção da
partida. De todo o modo, foi mesmo
a grande penalidade a gerar a maior
das controvérsias. “Eles venceram
com um penálti que foi um mergulho
descarado”, contestou o antigo inter-
nacional alemão Dietmar Hamann.
“A Inglaterra sempre se orgulho de
ser a pátria do fair-play e não das
simulações.” Reuters
O futebol de hoje
e o de ontem
Crónica
Jorge Almeida Fernandes
Belo jogo, o Itália-Espanha. E
exemplo de fair-play. “A Espanha
jogou melhor, foi mais equipa, mas a
fortuna não a ajudou, fomos nós
que seduzimos a fortuna”, escreve
no Corriere dela Sera o jornalista
Mario Sconcerti. Foi um jogo
intenso e que, por isso, convida a
pensar o contraste entre o futebol
de hoje e o de “antigamente”.
Durante estes dias ouvi referências à
“lentidão” do antigo futebol em
contraste com a “rapidez” do de
hoje. Mas também li outras
opiniões: “A mecanização do belo
jogo — A ‘atletização’ e o rigor táctico
tornam o futebol pior”, escreve no
FT o colunista Janah Ganesh.
Que era o futebol “lento”? Era um
jogo com menos “pressing”, em que
o detentor da bola tinha uma
liberdade hoje inimaginável. Há três
ou quatro décadas, até haver
substituições, era impossível pedir
aos jogadores que corressem os
mesmos quilómetros que hoje. A
“economia do esforço” era uma
convenção tácita. O médio que tinha
a bola podia pensar, “levantar a
cabeça”, optar por determinado
ataque e impor um dado ritmo.
Tinha espaço e tempo. Hoje, num
futebol de pressing, tem de tomar
decisões em décimos de segundo.
Daí a mecanização. O futebol de
hoje é belo na sua intensidade. Mas
não é mais espectacular do que o de
outrora. Será até menos imaginativo
e cerebral. Os jogadores de hoje têm
uma elevadíssima técnica, mas mais
dificuldade em mostrá-la. E há outra
diferença. Marco van Basten ao El
País: “Quando eu jogava, falávamos
de futebolistas. Eles faziam a dife-
rença. Hoje falamos basicamente de
treinadores. Pouco a pouco esque-
cemos o verdadeiro papel do joga-
dor. O Liverpool é Klopp, o Madrid é
Zidane, o City é Guardiola.”
50 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
Desporto
“Aqui existe a palavra tempo”, diz
Mourinho na apresentação em Roma
Inês Ribeiro
Treinador português
regressa a Itália depois de
ter estado no Inter, entre
2008 e 2010. Não promete
títulos, mas sim trabalho
José Mourinho foi ontem apresenta-
do oÆcialmente como o novo treina-
dor da Roma. Em conferência de
imprensa, o técnico português
começou por agradecer o apoio que
tem recebido por parte dos adeptos
e, sem fazer promessas, sublinhou
a importância da gestão do tempo
inerente à cultura do clube.
“Quero agradecer aos adeptos. A
minha chegada a Roma foi excepcio-
nal. Ainda não Æz nada para merecer
isto. Senti-me imediatamente em
dívida, porque a recepção foi muito
emocionante. Agradeço aos adeptos
por isso e também ao clube pela con-
Æança”, disse o sucessor de Paulo
Fonseca.
O treinador de 58 anos, que assinou
contrato por três temporadas, anteci-
pou a questão sobre o principal moti-
vo para estar na Roma. “Por que razão
O Euro LGBTQI+
Opinião
José Manuel Meirim
1. Quando a UEFA decidiu o
modelo do Euro 2020-2021,
comemorativo de 60 anos de
competição, abrindo as portas a
vários países europeus,
salpicando jogos por várias
cidades, estava longe de pensar o
quanto essa decisão se revelaria
de tão significante relevância
política e social. A realidade
demonstrou-o. Com efeito, o
modelo que levou o Euro a vários
cantos da Europa mostrou “várias
Europas”, dentro e fora da União
Europeia. E o tema que o marcou,
para além do lado desportivo —
que é um segmento da vida
política, não haja dúvidas a esse
respeito —, foi a dignidade
conferida às pessoas. A dignidade
da pessoa humana, aqui
José Mourinho agradeceu a recepção “emocionante” dos adeptos
estou aqui? Porque estamos perto da
estátua de Marco Aurélio: ‘Nada vem
do nada, como nada volta ao nada.’
Isso tem um signiÆcado que penso ser
muito semelhante ao que senti ao
falar com o clube, nas pessoas de Dan
e Ryan [Friedkin]. (…) A palavra tem-
po é uma palavra que por vezes não
existe no futebol, aqui existe e é abso-
lutamente fundamental”, explicou.
Questionado sobre os títulos,
amplamente manifestada a
respeito do tratamento concedido
à comunidade LGBTQI+.
2. A UEFA “construiu”, bem
cedo, neste Euro, um especial
conceito de neutralidade quanto à
forma de afirmação da igualdade
de tratamento daquela
comunidade de pessoas. A sua
posição (proibição) a propósito da
iluminação da Arena de Munique
com as cores do arco-íris, no dia
do jogo Alemanha-Hungria, foi um
dos pontos negros dessa
bipolaridade(?). A interrogação
visa referir as posições suaves —
“aceitáveis”, “politicamente
correctas”, sem incómodos de
maior para alguns Estados, que foi
adoptando, incluindo nas redes
sociais e na sua página oficial.
Todavia, quando o embate era
mais importante, a “neutralidade”
da UEFA pendeu sempre para o
lado desses Estados.
3. Um segundo episódio (desses
mais marcantes), em que é preciso
tomar posições de força, teve que
EPA
Mourinho foi cauteloso ao referir
que “podia prometer isso, seria fácil,
mas não é essa a realidade”, e prefe-
riu antes garantir trabalho, para
perceber a razão pela qual não se
ganha ou por que motivo a Roma
terminou a última época em sétimo
lugar, a uns distantes 29 pontos do
campeão, o Inter de Milão.
“Não podemos fugir desta realida-
de, mas queremos perceber porquê.
ver com o “pedido” da UEFA,
dirigido aos seus principais
patrocinadores, para não colarem
faixas publicitárias com as cores
do arco-íris nos estádios de São
Petersburgo e de Baku, onde se
disputaram jogos dos
quartos-de-final do Euro 2020,
algo revelado — e lamentado — pela
Volkswagen. As notícias dão conta
de que essa posição da UEFA se
prendeu com “preocupações
acerca do enquadramento
jurídico”.
4. Com esta posição, a UEFA
colocou em jogo os patrocinadores
das suas competições, os quais
têm, naturalmente, as suas
próprias agendas. Basta recordar a
posição dos sponsors da NFL, em
2014, tendo por base casos de
violência doméstica
protagonizados por atletas de
futebol americano — e passividade
da NFL —, criando uma má imagem
que esse desporto precipitava nos
patrocinadores oficiais.
A propósito da NFL,
Estamos a falar de tempo, é uma
palavra-chave neste projecto, mas se
pudermos acelerar este processo,
melhor”, acrescentou Moutinho,
que já orientou ontem o primeiro
treino dos romanos.
A primeira contratação de José
Mourinho no comando técnico da
Roma é um português. Trata-se do
observador José Fontes, que nas últi-
mas cinco épocas esteve ao serviço
do Leicester como membro do depar-
tamento de Análise e Observação, e
agora integra o staè romano.
Depois de ter deixado o comando
técnico do Tottenham, em Abril de
2020, clube no qual esteve um ano e
meio, Mourinho regressa a um país
que já bem conhece. A Roma é, assim,
o segundo clube italiano que o treina-
dor representa, depois de ter estado
no comando do Inter de Milão ao lon-
go de duas temporadas (de 2008 a
2010), tendo mesmo vencido uma
Liga dos Campeões, em 2009-10,
pelos “nerazzurri”.
A Roma é o nono clube da carreira
de Mourinho, depois de ter estado no
BenÆca, União de Leiria, FC Porto,
Chelsea, Inter Milão, Real Madrid,
Manchester United e Tottenham.
recomenda-se, vivamente, o seu
recente vídeo (28 de Junho),
distribuído no Twitter e facilmente
acessível na Internet: “Football is
gay”, “lesbian”, “beautiful”,
“queer”, “transgender”, “power”
and “life”. “Football is for
everyone.” Não se deixe de
sublinhar, para melhor valorar,
que a NFL é porventura a
organização desportiva que,
tradicional e historicamente, mais
“cultivou” o machismo, a
violência, o homem branco e
heterossexual.
5. Quarta-feira passada. Bruxelas
utilizará todos os instrumentos
caso a Hungria não corrija a lei
sobre LGBTI+. Perante os aplausos
dos eurodeputados, Von der Leyen
reiterou assim que a legislação
húngara é uma “vergonha” e
defendeu que é “contrária aos
valores da União Europeia”.
6. Duas Europas e duas ou
só uma UEFA?
Professor de Direito do Desporto
Breves
Tóquio 2020
Jogos Olímpicos
no Japão vão
decorrer sem público
Os Jogos Olímpicos
Tóquio 2020 vão decorrer
“sem público” em todos os
locais de prova, devido ao
aumento de casos de covid-19
na capital do Japão, anunciou
ontem a ministra dos Jogos
Tamayo Marukawa. A decisão
foi anunciada horas depois de
o Governo ter decretado um
novo estado de emergência,
pela voz do primeiro-ministro
Yoshihide Suga, até 22 de
Agosto. Em Junho, a
organização do evento tinha
decidido autorizar a presença
do público residente no Japão,
mas com uma redução de 50%
da capacidade de cada recinto
olímpico e com um limite
máximo de dez mil pessoas.
Agora, a medida é bem mais
radical. “A segurança do povo
japonês é a nossa principal
prioridade”, enfatizou
Yoshihide Suga.
Andebol
Portugal vence
Espanha antes
da estreia olímpica
As estatísticas não eram
animadoras: nos 35
confrontos anteriores com
Espanha, Portugal vencera
apenas um. Mas a verdade é
que, ontem, em Caminha, a
selecção portuguesa derrotou
mesmo a congénere
espanhola, pela segunda vez
na história (32-31). Mais forte
nas acções ofensivas, Espanha
chegou ao intervalo a ganhar,
por 15-16, mas Portugal
contornou as adversidades
(exclusões) e deu a volta ao
marcador na recta final do
encontro, com Pedro Portela
(5/5), António Areia (4/4) e
Alexis Borges (4/4) a fecharem
a partida com 100% de
eficácia na finalização.

Dia de fuga no Tour e o recorde
de “Cav” vai ter de esperar
Diogo Cardoso Oliveira
A etapa de ontem foi
“uma mão-cheia de nada”.
Não houve recorde de
Cavendish nem efeitos
do vento no pelotão
Nils Politt (Bora) venceu ontem a eta-
pa 12 da Volta a França. O ciclista ale-
mão, de 27 anos, foi o mais forte do
lote de 13 fugitivos e fez um autêntico
contra-relógio de cerca de dez quiló-
metros, vencendo a etapa isolado.
Com adversários fortes no sprint,
Politt foi sagaz e percebeu que só ven-
ceria a etapa atacando de longe. Fê-lo,
ninguém conseguiu acompanhá-lo,
ganhou pela primeira vez no Tour e
o pódio Æcou completo com Imanol
Erviti (Movistar) e Harry Sweeny (Lot-
to), que chegaram 31s depois.
Entre os favoritos ao triunfo Ænal
não houve percalços e todos termina-
ram a etapa de forma tranquila. Tadej
Pogacar (Emirates) continua líder,
com os mesmos 5m18s de vantagem
para Rigoberto Urán (EF) e 5m32s
para Jonas Vingegaard ( Jumbo).
Cavendish terá de esperar
A etapa de ontem tinha, essencial-
mente, dois motivos de interesse:
perceber se um Ænal ao sprint permi-
tiria a Mark Cavendish igualar o recor-
de de vitórias de Eddy Merckx e per-
ceber se — e a que ponto — é que o
vento lateral poderia provocar cortes
no pelotão e eventual atraso de alguns
dos favoritos ao triunfo no Tour.
No papel, seria uma etapa interes-
sante. Na prática, saiu uma mão-cheia
de nada. O vento não foi suÆciente
para provocar problemas ao pelotão
e a decisão da etapa esteve longe de
ser ao sprint — desde cedo Æcou claro
Nils Politt atacou a dez quilómetros do final e levou a melhor
Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021 • 51
que a vantagem da numerosa fuga
seria confortável. Apesar de já não ser
dos sprinters mais temidos do pelo-
tão, a presença de André Greipel na
fuga obrigou os aventureiros a livra-
rem-se do alemão, sob pena de o
verem vencer tranquilamente em
velocidade, caso o levassem até à
meta. Foi neste sentido que o grupo
se partiu a cerca de 30 quilómetros
da meta, com a ofensiva de Stefan
Kung (FDJ), Imanol Erviti (Movistar),
Nils Politt (Bora) e Harry Sweeny (Lot-
to). Politt, que pouco venceu na car-
reira, não quis arriscar levar três
adversários para a recta da meta e
atacou a dez quilómetros do Æm. Fez
um autêntico contra-relógio e ergueu
os braços isolado.
Desta etapa, destaque ainda para a
desistência de Peter Sagan, devido a
dores limitadoras num joelho. No
Tour, foi a primeira desistência do
eslovaco por lesão.
Para hoje está marcada mais uma
etapa plana. Tal como a tirada 12, será
dia para Ænal ao sprint ou para fazer
vingar uma fuga. O primeiro cenário
será mais uma ocasião para Caven-
dish chegar ao recorde de Merckx.
Classificação
12.ª Etapa
1.º Nils Politt (Bora) 3h22m12s
2.º Imanol Erviti (Movistar) a 31s
3.º Harry Sweeny (Lotto) m.t.
(...)
47.º Rui Costa (Emirates) a 15m33s
52.º Rúben Guerreiro (EF) m.t.
Geral
1.º Tadej Pogacar (Emirates) 47h22m43s
2.º Rigoberto Uran (EF) a 5m18s
3.º Jonas Vingegaard (Jumbo) a 5m32s
(...)
22.º Rúben Guerreiro (EF) a 47m37s
81.º Rui Costa (Emirates) a 1h43m13s
STEPHANE MAHE/REUTERS
Desporto
Histórias do Tour
Aprendiz no escritório
e Mbappé da bicicleta
ovens, talentosos,
J
ofensivos e rápidos — um a
pé, outro de bicicleta. O
futebolista Kylian Mbappé
e o ciclista Marc Hirschi têm
muito em comum. “Tem o
potencial de um Kylian
Mbappé, com a sede de
conhecimento que distingue
os que prometem dos que
conseguem”. A definição
elogiosa veio da boca de
Fabian Cancellara. E se sai da
boca do “Spartacus”, é para
ser tida em conta.
Marc Hirschi, suíço, é, aos 22
anos, um dos grandes valores
do ciclismo actual. Especialista
em corridas de uma semana e
clássicas, forte na média
montanha e com boa
capacidade de sprintar em
grupos reduzidos, o corredor
da Emirates é uma cópia de
ciclistas como Philippe Gilbert
ou mesmo do próprio
Cancellara, com o qual sempre
foi comparado, sobretudo
depois de ser campeão
mundial sub-23 à frente de
nomes como Tadej Pogacar,
João Almeida, Alexandr Vlasov
ou Jonas Vingegaard.
Ainda assim, Hirschi está
neste Tour com um papel
diferente do que já teve. É um
fiel escudeiro de Tadej Pogacar
na Emirates, mas, tal como o
português Rui Costa, poderá
vir a beneficiar da vantagem
confortável do esloveno para
ter liberdade de lutar por
triunfos em etapas. Foi o que
fez em 2020, com a medalha
de bronze nos Mundiais, com a
conquista da Flèche Wallone e
com a maior vitória da carreira,
na etapa 12 da Volta a França.
Mas não é apenas na
bicicleta que Hirschi mostra
predicados. Durante quatro
anos, conciliou o ciclismo com
o trabalho num escritório. “Se
tiver um acidente que me
acabe com a carreira, poderei
começar logo a trabalhar”,
chegou a explicar. Só em 2018,
quando a Sunweb lhe deu o
contrato profissional, o labor
no escritório foi colocado de
lado. Foi uma bela ideia. D.C.O.
52 • Público • Sexta-feira, 9 de Julho de 2021
O seu jornal
Verdade
não acaba aqui.
Continue para
publico.pt
Trabalhar menos para produzir mais
Consoante
muda
P
Rui Tavares
or cada hora que
trabalhamos em
Portugal produzimos,
em média, cerca de 30
euros. Nos Países Baixos,
por cada hora que se
trabalha — e trabalha-se bastante
menos horas do que em Portugal,
sendo até o país europeu onde mais
se trabalha em part-time —
produz-se quase o dobro, um pouco
abaixo de 60 euros. No
Luxemburgo, por cada hora de
trabalho produz-se mais de 80
euros. Mesmo descontando o efeito
do setor Ænanceiro na economia
daquele país, no Luxemburgo
produz-se certamente bem mais do
dobro por cada hora de trabalho do
que se produz em Portugal, ou — o
que é dizer o mesmo — basta
trabalhar menos de metade para se
produzir o mesmo que cá.
De quem quer que isto seja culpa,
uma coisa é certa: não é dos
trabalhadores portugueses. É que
no Luxemburgo provavelmente
PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Todos os conteúdos do jornal estão
protegidos por Direitos de Autor ao abrigo da legislação portuguesa, da
União Europeia e dos Tratados Internacionais, não podendo ser utilizados
fora das condições de uso livre permitidas por lei sem o consentimento
expresso e escrito da PÚBLICO, Comunicação Social, S.A.
cerca de um quarto da força de
trabalho é constituído por
trabalhadores portugueses. O
problema da baixa produtividade
em Portugal é provavelmente
devido a questões de organização
de trabalho, de falta de
incorporação de conhecimento e
tecnologia, e de erros na alocação
de capital público e privado no
nosso país. Esses são erros que urge
resolver, porque depois de algumas
décadas em que a nossa
produtividade aumentou entre o 25
de Abril e a entrada na CEE, e entre
a entrada na CEE e o novo milénio,
os ganhos de produtividade
diminuíram. Os anos da troika, em
particular, foram uma tragédia —
fomos então ultrapassados pela
Turquia, que durante décadas antes
tinha estado um quarto abaixo da
produtividade portuguesa.
Os ganhos de produtividade —
literalmente, trabalhar menos
tempo para produzir mais —
parecem um assunto abstrato mas
são decisivos para o nosso futuro.
Ganhos de produtividade signiÆca
salários mais altos, o que signiÆca
uma segurança social mais robusta
e maior arrecadação de impostos, o
que por sua vez signiÆca a hipótese
de serviços públicos de maior
qualidade. Tudo isto por sua vez
atrai e retém uma força de trabalho
cada vez mais qualiÆcada, o que
Prova dos Factos
Há quem fale, fale – e às vezes minta. Numa era de ruído e desinformação,
escrutinamos o que dizem os protagonistas do espaço público
publico.pt/prova-dos-factos
pode resultar em novos ganhos de
produtividade. Há aqui um círculo
virtuoso a conquistar que pode
transformar o nosso país para muito
melhor na próxima década.
Mas do ponto de vista pessoal, os
ganhos de produtividade têm ainda
mais signiÆcados. SigniÆcam
liberdade para fazer outras coisas,
um maior equilíbrio entre vida
proÆssional e familiar, mais tempo
para o lazer e a cultura, mais opções
de qualiÆcação e educação ao longo
da vida — o que por sua vez reverte
de novo a favor de mais capacidade
para produzir mais trabalhando
menos, ou menos tempo.
Imagine uma
semana de quatro
dias de trabalho e o
que ela signiÄcaria.
A sua produtivida-
de agradeceria; a
economia do país,
também. Portugal,
vamos pensar um
pouco à islandesa?
Mentira
Ninguém sabe exatamente a
receita secreta para obter ganhos de
produtividade, mas há ingredientes
que são mais ou menos evidentes.
Uma revolução tecnológica pode
ajudar, mas essas, quando
acontecem, não costumam ser
restritas a um só país. Entre as
coisas que o nosso país pode fazer
para tentar voltar a ter ganhos de
produtividade semelhantes aos que
já teve no nosso passado estão uma
reforma nas políticas do ensino
superior — mudar o modelo de
Ænanciamento, rejuvenescer o
corpo docente e internacionalizar
ainda mais —, uma reforma da
administração pública ou nas
relações entre Estado e cidadão, e
uma reforma nas políticas de
relação com o território, em
particular a regionalização.
E depois há uma hipótese
intrigante e até certo ponto
contraintuitiva, ou talvez não: e se
estudássemos a diminuição dos
horários e dos dias de trabalho?
Para algumas pessoas, isto é
anátema: seria necessário primeiro
produzir mais para depois trabalhar
menos tempo — quando o nosso
problema está precisamente na
primeira parte dessa fórmula. Ora
acontece que estudos sucessivos em
diversos tipos de ambientes e
escalas (em empresas, em
administrações locais ou regionais,
PROVA DOS
FACTOS
e em países inteiros) parecem
apontar neste sentido: para ganhar
tempo livre sem perda de salário as
pessoas estão dispostas a fazer as
mudanças necessárias para
produzir o mesmo ou até mais.
A experiência mais recente vem
da Islândia, que de 2015 a 2019 teve
1% da sua força de trabalho
envolvida num estudo de larga
escala (à proporção, é claro, de um
país pequeno) para passar de 40
para 35 horas de trabalho.
Nesta experiência, iniciada pela
Câmara Municipal de Reiquejavique
e pelo governo central islandês, uma
grande parte dos trabalhadores
escolheu passar a uma semana de
quatro dias. Os resultados foram
divulgados agora e são reveladores:
na esmagadora maioria dos locais
de trabalho, a produtividade
manteve-se ou até aumentou.
Imagine uma semana de quatro
dias de trabalho e o que ela
signiÆcaria: dois dias de Æm de
semana para estar com a família, e
mais um dia livre para tratar
daqueles assuntos pendentes,
desligar, aprender, arrumar a
papelada, visitar a avó que vive
sozinha. A sua produtividade
agradeceria; a economia do país,
também. Portugal, vamos pensar
um pouco à islandesa?
Historiador
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