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01 Introdução

A pandemia originada pelo vírus SARS-CoV-2 (responsável pela doença COVID-19)


contava, a 30 de maio de 2021, com 170 milhões de casos de infeção em todo o
mundo, dos quais resultaram 3,5 milhões de mortes (Fonte: Worldometers).

Em Portugal, à mesma data, contabilizavam-se quase 850 mil casos de infeção que
resultaram em 17 mil mortes (Fonte: Direção-Geral da Saúde - DGS).

A vacinação contra a COVID-19 é a intervenção de saúde pública mais efetiva para


reduzir o número de casos de doença grave e morte originados por esta pandemia.

Diversos estudos comprovam que as vacinas contra a COVID- 19 são seguras e


efetivas.1-6

27/12/2020 14/1/2021 10/2/2021 27/4/2021

Comirnaty Moderna Vaxzevria Janssen


(Pfizer / Biontech) (Moderna) (AstraZeneca) (Janssen-Cilag)
O Sistema
02 Nacional de
Farmacovigilância
(SNF)
O Sistema Nacional de Farmacovigilância (SNF) funciona sob a responsabilidade do
INFARMED e é constituído pela Direção de Gestão do Risco de Medicamentos (DGRM) do
Infarmed, que o coordena, e por Unidades Regionais de Farmacovigilância que abrangem
a totalidade do território de Portugal continental e as Regiões Autónomas. O SNF
monitoriza a segurança de todos os medicamentos autorizados, incluindo vacinas,
avaliando suspeitas de reações adversas e implementando medidas de segurança sempre
que necessário.

03 O Sistema Europeu de
Farmacovigilância
O SNF está articulado com o Sistema Europeu de Farmacovigilância, o que permite uma
avaliação mais detalhada do perfil de segurança de todos os medicamentos e, em particular,
das vacinas contra a COVID-19, permitindo análises mais robustas dos dados (p.e., algoritmos
complexos que analisam um sistema de informação com mais de 16 milhões de casos de
reações adversas a medicamentos (RAM) registadas e detetam potenciais problemas (“sinais”),
mesmo que de frequência muito rara), e assim decidir quanto à necessidade de implementar
medidas de minimização do risco de utilização de um medicamento. Tal como para todos os
outros medicamentos, também os casos de suspeita de RAM potencialmente associados à
vacinação são agregados e analisados através da base de dados europeia, EudraVigilance, da
Agência Europeia de Medicamentos (EMA, em inglês). A componente pública deste sistema
pode ser consultada em https://www.adrreports.eu/pt/index.html.

Todos os meses, e para todos os medicamentos autorizados, a EMA publica um resumo relativo
aos sinais de segurança discutidos na reunião do Comité da Avaliação do Risco em
Farmacovigilância (PRACi, em inglês). As recomendações específicas podem ser consultadas em
https://www.ema.europa.eu/en/human-regulatory/post-
authorisation/pharmacovigilance/signal-management/prac-recommendations-safety-
signals#list-of-safety-signals-discussed-since-september-2012-section.

i
O PRAC é constituído por 2 representantes de cada Autoridade Nacional do Medicamento dos
Estados membros da União Europeia, integrando dois representantes do INFARMED.
Farmacovigilância
04 de vacinas
As vacinas são medicamentos com características particulares, sendo que a sua
farmacovigilância se reveste também de aspetos especiais. No caso da sua administração
a milhares de milhões de pessoas, como nas vacinas contra a COVID-19, obriga ao
seguimento de qualquer acontecimento adverso detetado após a sua administração para
perceber se as características e frequência destes acontecimentos ocorre de acordo com
o esperado. Isto não exclui a possibilidade de se tratar apenas de uma coincidência
temporal pós-vacinal, pelo que é necessário proceder posteriormente a uma análise
qualitativa e quantitativa detalhada destas ocorrências. Por esta razão, e tal como
acontece com qualquer suspeita de reação adversa, a notificação no âmbito do SNF não
pressupõe necessariamente a existência de uma relação causal com a vacina
administrada.

Por diversas razões metodológicas conhecidas, estes sistemas de apoio à


farmacovigilância, ditos de notificação espontânea, não permitem a comparação dos
perfis de segurança das vacinas entre si. Ainda assim, são a principal fonte de dados para
a identificação de novos efeitos adversos potencialmente associados às vacinas contra a
COVID-19 e daí a importância de notificar reações suspeitas, particularmente reações
graves ou não descritas. Esta notificação deve ser feita diretamente na base de dados
nacional de notificação de reações adversas a medicamentos, o Portal RAM
(https://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram).
Dados nacionais de
05 farmacovigilância
Vacinas contra a
COVID-19
Tabela 1. Número de administrações de vacinas contra a COVID-19 e de casos de RAM a 30.05.2021
N.º total de administrações de vacinas contra a COVID-19 * 5 790 080
N.º total de casos de RAM** 6 695
‰ de casos de RAM (por 1000 vacinados) 1,2
* Fonte: DGS
** Fonte: Portal RAM

Até à data de 30 de maio de 2021, foram administradas em Portugal continental e Regiões


Autónomas 5 790 080 de vacinas contra a COVID-19 (Comirnaty, Vaxzevria, Moderna e
Janssen). Até à mesma data, houve um total de 6 695 casos de RAM a vacinas, o que se
traduz numa permilagem de ocorrência de 1.2‰.

Tabela 2. Número de casos de RAM entre o período de 06.05 a 30.05.2021 (valores cumulativos)
Dados 06.05.2021 13.05.2021 20.05.2021 30.05.2021
Nº total de administrações * 3 658 504 4 172 916 4 661 514 5 790 080
Nº total de casos de RAM** 5 359 5 665 6 141 6 695
N.º casos de RAM/1 000 1,5 1,4 1,3 1,2
administrações (‰)
Nº total de casos graves de RAM ** 2 362 2 453 2 591 2 738
N.º de casos graves de RAM/1 000 0,65 0,59 0,56 0,47
administrações (‰)
* Fonte: DGS
**Fonte: Portal RAM

Ao longo do tempo, o número de casos de suspeitas de reações adversas a uma vacina contra
a COVID-19 tem aumentado, mas se considerarmos o número de administrações de vacinas
para o mesmo período, esse número tem diminuído, quer no caso de considerarmos o
número total de casos, quer no caso de casos graves.
O número total de administrações para cada uma das vacinas aprovadas, o número
total de casos de RAM, bem como o número de casos de RAM por cada 1 000 doses
administradas, ao dia de 30 de maio de 2021, pode ser observado nas tabelas 3, 4 e 5.

Tabela 3. Número de administrações de cada uma das vacinas contra a COVID-19 e de


casos de RAM
Vacina Comirnaty Moderna Vaxzevria Janssen
Número de administrações* 3 943 521 683 1 215 009 109 409
979
Número de casos de RAM** 4 782 387 1 509 17
Número de casos de RAM/1000 doses de 1,21 0,74 1,24 0,16
vacina administradas(‰)**
* Fonte: DGS
**Fonte: Portal RAM

Tabela 4. Distribuição de notificações de RAM graves ou não graves

Gravidade* Total Percentagem


Não 3 957 59,1%
Sim 2 738 40,9%
*Fonte: Portal RAM

Tabela 5. Segmentação dos casos de RAM classificados como graves

Casos classificados como graves* Total Percentagem


2 738 40,9%
Clinicamente importantes 1 669 24,9%
Incapacidades 774 11,6%
Hospitalizações 187 2,8%
Risco de vida 64 1,0%
Mortes 44 0,7%
*Fonte: Portal RAM
A percentagem de casos não graves é de 59,1% e a de caso graves é de 40,9%.
A classificação da gravidade é efetuada por caso de RAM. Se um caso contiver
mais do que uma RAM (a situação mais frequente), basta que uma dessas
reações adversas seja considerada grave para que todo o caso seja classificado
como grave. A classificação de gravidade segue o critério da Organização
Mundial de Saúde, mas tem por base a perceção do notificador, quer este seja
um profissional de saúde ou um utente. Dos casos de RAM notificados ao SNF
como graves, cerca de 90% dizem respeito a situações de incapacidade,
maioritariamente temporária (p.e., é referido pelo notificador absentismo
laboral) e outras situações consideradas clinicamente significativas pelo
notificador. Os restantes casos classificados como graves dizem respeito a
situações de internamento (ou o seu prolongamento), risco de vida ou morte.
Os casos de morte ocorreram em pessoas com uma mediana de idades de 81
anos e não pressupõem necessariamente a existência de uma relação causal
com a vacina administrada, uma vez que podem também decorrer dos padrões
normais de morbilidade e mortalidade da população portuguesa.

Tabela 6. Distribuição de notificações de suspeitas de RAM por grupo etário*

Grupo etário (em anos) Casos de RAM graves Casos de RAM não graves
Dos 0 aos 9 0 2
Dos 10 aos 19 6 3
Dos 20 aos 29 306 545
Dos 30 aos 39 561 943
Dos 40 aos 49 602 876
Dos 50 aos 59 442 643
Dos 60 aos 69 246 272
Dos 70 aos 79 187 111
Dos 80 aos 89 157 93
≥90 54 38
Desconhecido 177 431
*Fonte: Portal RAM.

As notificações de casos de RAM na faixa etária dos 0 aos 9 anos dizem respeito a
transmissões verticais, onde existiu inoculação da gestante (tabela 6).
Tabela 7. Distribuição de casos de RAM por género*

Casos de RAM graves Casos de RAM não graves


Masculino 499 853
Feminino 1 965 2 747
Desconhecido 274 357
* Fonte: Portal RAM

Tabela 8. Lista das 10 RAM mais frequentemente notificadas*

Termos MedDRA PT ou PT Agrupado N.º de casos


Reação no local de injeção 3 250
Mialgia ou Artralgia 3 007
Cefaleia 1 964
Pirexia 1 800
Astenia ou Fraqueza ou Fadiga 1 123
Náuseas 773
Tremores 687
Linfadenopatia 569
Eritema ou Eczema ou Erupção 481
Parestesia 452
*Fonte: Portal RAM

A maioria das RAM mais notificadas enquadram-se no perfil reatogénico comum de


qualquer vacina, que inclui, entre outras, reações no local da injeção ou reações
sistémicas como pirexia (febre), cefaleias ou mialgias, tendo sido detetadas e descritas
logo na fase de ensaios clínicos. Grande parte destas reações resolve em poucas horas ou
dias, sem necessidade de intervenção médica, e não deixando sequelas. As situações não
resolvidas nesse período ou de natureza clínica mais grave poderão requerer avaliação
clínica.
Notas para a
06 interpretação dos
dados
* O Infarmed publica estes dados regularmente para permitir ao público em geral o
acesso às informações sobre a segurança das vacinas contra a COVID-19. A transparência
é um princípio fundamental para o Infarmed e para a Agência Europeia do Medicamento.

*As informações constantes do presente relatório referem-se a reações adversas


suspeitas que ocorreram no período subsequente à administração de uma vacina contra
a COVID-19, mas não implicam a existência de uma relação de causa-efeito entre ambos.

*Apenas a avaliação científica de todos os dados disponíveis permite tirar conclusões


sólidas relativamente aos benefícios e riscos de um medicamento (incluindo uma vacina).

*O número de casos de reações adversas comunicados tem de ser sempre colocado em


perspetiva com o número de doses de vacina administrada.

*Os casos de reações adversas graves (incluindo os casos fatais) são avaliados com
prioridade, tendo um período máximo de 15 dias desde que são comunicados até ao seu
envio para o EudraVigilance. Para os casos de reações adversas não graves, esse período
é de 90 dias. Essa diferença pode criar uma distorção (artificial) entre a proporção de
casos graves notificados versus os não graves. Além disso, podem não ser comunicadas
ao SNF todas as reações adversas ocorridas ou estas encontrarem-se em processamento.

*Um caso é composto por várias potenciais reações adversas, o que implica que a soma
destas seja superior à de casos. Para que um caso seja considerado grave, basta que pelo
menos uma destas reações suspeitas tenha originado uma situação classificada pelo
notificador (profissional de saúde ou utente) como grave.

*Apesar de o termo “reação adversa” pressupor pelo menos uma relação causal possível
com o medicamento suspeito, ao contrário do termo “acontecimento adverso”, todas as
notificações espontâneas provenientes de profissionais de saúde ou da população em
geral são consideradas “reações adversas suspeitas”.
Fonte: Guideline on good pharmacovigilance practices (GVP) – Module VI (Rev 2).
Pontos de atenção
Síndrome de trombose com trombocitopenia (TTS)

Trata-se de uma reação adversa muito rara associada à utilização das vacinas Vaxzevria
e Janssen (vacinas de vetor viral não-replicativo) e que se caracteriza pela ocorrência de
fenómenos trombóticos associados a trombocitopenia (baixa contagem plaquetária)
nas primeiras três semanas após a administração da vacina. Em Portugal, não foi
comunicado ao SNF nenhum caso definitivo de TTS associado a estas vacinas, que
continua a monitorizar todos os casos suspeitos.

Os casos notificados a nível internacional descrevem situações de trombose venosa


cerebral, trombose venosa esplâncnica ou trombose arterial, concomitantemente com
trombocitopenia, alguns com hemorragia, e abrangendo principalmente mulheres com
menos de 60 anos.

Embora o mecanismo fisiopatológico subjacente à TTS ainda não esteja completamente


esclarecido e sejam necessários mais estudos para esse fim, pensa-se que poderá ser
algo similar à resposta imunológica ocasionalmente observada em alguns doentes
tratados com heparina, designada por trombocitopenia induzida por heparina (HIT, em
inglês).

É importante que nos casos de suspeita de eventos trombóticos como os acima referidos
possa ser investigada a presença concomitante de trombocitopenia e vice-versa,
existindo já diversos documentos de orientação clínica sobre os procedimentos de
diagnóstico e tratamento destas situações raras, entre os quais a recomendação e guia
de diagnóstico da International Society on Thrombosis and Haemostasis (ISTH)7.

Precauções de administração das vacinas contra a COVID-19

A administração das vacinas contra a COVID-19 é feita por via intramuscular (IM), não
estando recomendada a sua administração de forma diferente daquela que é
preconizada no Resumo das Características do Medicamento (RCM) ou no Folheto
Informativo (FI).
BIBLIOGRAFIA CITADA

1. INFOMED (Base de dados de medicamentos de uso humano). Informação


constante no Resumo das Características do Medicamento e Folheto Informativo
de cada uma das vacinas autorizadas. https://extranet.infarmed.pt/INFOMED-fo/
2. Mark W. Tenforde et al. Effectiveness of Pfizer-BioNTech and Moderna Vaccines
Against COVID-19 Among Hospitalized Adults Aged ≥65 Years –United States,
January–March 2021. MMWR Early Release Vol 70 April 28, 2021.
3. Mark G. Thompson et al. Interim Estimates of Vaccine Effectiveness of BNT162b2
and mRNA-1273 COVID-19 Vaccines in Preventing SARS-CoV-2 Infection Among
Health Care Personnel, First Responders, and Other Essential and Frontline
Workers-Eight U.S. Locations, December 2020–March 2021. MMWR 2021; 70 (13):
495-500. April, 2021.
4. Hall V et al. Effectiveness of BNT162b2 mRNA Vaccine Against Infection and COVID-
19 Vaccine Coverage in Healthcare Workers in England, Multicentre Prospective
Cohort Study (the SIREN Study). The Lancet
preprints. https://ssrn.com/abstract=3790399
5. Noa Dagan et al. BNT162b2 mRNA Covid-19 Vaccine in a Nationwide Mass
Vaccination Setting. N Engl J Med 2021; 384:1412-1423. DOI:
10.1056/NEJMoa2101765.
6. Public Health England. PHE monitoring of the effectiveness of COVID-19
vaccination. Data on the real-world efficacy of the COVID-19
vaccines. https://www.gov.uk/government/publications/phe-monitoring-of-the-
effectiveness-of-covid-19-
vaccination?utm_medium=email&utm_campaign=govuk-
notifications&utm_source=0c4993d5-d33f-4c93-b357-
92f1d35624f3&utm_content=immediately
7. ISTH Interim Guidance for the Diagnosis and Treatment on VaccineInduced Immune
Thrombotic Thrombocytopenia (Updated 20 April, 2021).
https://cdn.ymaws.com/www.isth.org/resource/resmgr/ISTH_VITT_Guidance_2.p
df and https://cdn.ymaws.com/www.isth.org/resource/resmgr/news/
ISTH_VITT_Flow_Chart_Final.pdf

INFORMAÇÃO ADICIONAL

• Página-Web COVID-19 do INFARMED, I.P. Disponível em


https://www.infarmed.pt/web/infarmed/covid-19
• Página-Web de INFORMAÇÃO COVID-19 do SNS. Disponível em
https://covid19.min-saude.pt/
• Informação da EMA sobre COVID-19. Disponível em
https://www.ema.europa.eu/en/human-regulatory/overview/public-health-
threats/coronavirus-disease-covid-19/covid-19-latest-updates
• Informação do European Center for Disease Prevention and Control (ECDC) sobre
COVID-19. Disponível em https://www.ecdc.europa.eu/en/covid-19.
Data de elaboração: 04/06/2021

Data da extração dos dados: 30/05/2021 (23:59)

Periodicidade de publicação: quinzenal

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