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brir portas onde se erguem muros Director: David Pontes Domingo,

go, 14 de
d Abril de 2024 • Ano XXXV • n.º 12
12.400 • Diário • Ed.
Ed Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,90€

Famílias Revolução
Porque é que Algarve, crónica
os jovens não de um 25 de Abril
querem ter filhos? ao retardador
P2 P2

Irão ataca
NUNO FERREIRA SANTOS

Israel com
mísseis e
drones em
escalada
perigosa
Médio Oriente Ataque lançado horas após
desvio de navio com bandeira portuguesa •
Região em alerta máximo • Biden antecipa
regresso à Casa Branca Mundo, 16/17

Novo recorde de vagas

no superior com Lisboa a
subir e interior em perda
Próximo concurso nacional de aces-
so terá 54.454 vagas, um novo máxi-
mo histórico, mas desequilíbrio
entre litoral e interior aumenta. Cres-
cimento dá-se sobretudo nos novos
cursos de Competências Digitais, boa
parte deles financiados pelo PRR
Destaque, 2 a 4 e Editorial

Entrevista Criminalidade Governo

Manuel Alegre, o último No ano passado Em dois meses,
republicano: “Nunca pus desapareceram Estado encaixou
a hipótese de deixar 4501 veículos mais 100
o Partido Socialista” em Portugal milhões em IRS
Porto é o distrito onde ocorrem mais Partidos unidos nas críticas a “embus-
P2 furtos. Roubos por carjacking tive- te”. Receita extra este ano é metade
ram ligeiro aumento Sociedade, 14 do alívio do Governo Política, 10/11

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ISNN-0872-1548
2 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024

Destaque Acesso ao Ensino Superior 2024

Ensino
Concurso Nacional Vagas iniciais

de Acesso ao Ensino 53.500 53.640

54.454
Superior 2024 53.410
52.298 52.242 54.036
51.352 51.461

superior
50.688 50.852
50.219 51.408
50.820 50.838 50.860
50.555
48.468 48.710
46.399
48.229
46.057

ganha vagas
46.528
45.357

42.000
2001 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 2024

em Lisboa Onze cursos que mais aumentam o número de vagas Nota último
Vagas Vagas colocado
Curso Instituição 2024 2023 1.ª fase 2023 Variação
Arquitectura Univ. Lisboa - Fac. de Arquitectura 209 159 160 50
Gestão (ensino em inglês) Univ. Lisboa - Inst. Sup. de Economia e Gestão 60 29 172,5 31
Serviço Social IP Viseu - ESTG de Lamego 55 30 143,6 25

e perde
Engenharia Informática Iscte - Instituto Universitário de Lisboa 81 60 162 21
Psicologia Iscte - Instituto Universitário de Lisboa 95 75 175 20
Engenharia Informática IP Leiria - E. Sup. de Tecnologia e Gestão 125 110 142,5 15
Eng. Inform. e de Computadores IP Lisboa - Inst. Sup. de Engenharia de Lisboa 132 120 142,5 12
Tecnologias Digitais e Saúde Iscte – Inst. Universitário de Lisboa (Sintra) 35 23 137,6 12

no interior
Tecnologias Digitais Educativas Iscte – Inst. Universitário de Lisboa (Sintra) 35 23 140,4 12
Mat. Aplicada e Tecn. Digitais Iscte – Inst. Universitário de Lisboa (Sintra) 34 23 145,4 11
Política, Economia e Sociedade Iscte – Inst. Universitário de Lisboa (Sintra) 34 23 152,4 11

Dez cursos com mais vagas disponíveis Nota último

Vagas Vagas colocado
Curso Instituição 2024 2023 1.ª fase 2023
Direito U. Lisboa - Faculdade de Direito 445 445 159,8
Direito U. de Coimbra - Faculdade de Direito 339 338 170
Enfermagem Escola Superior de Enfermagem de Coimbra 311 311 149,6
Cursos do PRR e competências digitais Gestão U. Nova de Lisboa - Faculdade de Economia 295 295 178,5
permitiram às instituições do litoral Medicina
Eng. Informática e Computação
U. Lisboa - Faculdade de Medicina
U. Porto - Faculdade de Engenharia
295 295 179,5
171,3
284 284
crescer, ainda que a regra-base seja não Enfermagem Escola Superior de Enfermagem de Lisboa 278 278 150,6
Medicina U. Coimbra - Faculdade de Medicina 268 260 179,5
mexer na oferta. Há 54.454 vagas Enfermagem Escola Superior de Enfermagem do Porto 257 257 158,5
disponíveis, um novo máximo histórico Medicina U. Porto - Faculdade de Medicina 245 245 183,5

São mais 418 do que os inicialmen- Os cursos de Medicina Nota último

Samuel Silva Vagas Vagas colocado
te estabelecidos no ano passado, Curso Instituição 2024 2023 1.ª fase 2023 Variação

H
á mais lugares no ensino alargando o máximo histórico que
Medicina U. Coimbra - Faculdade de Medicina 268 260 179,5 8
superior nas duas maiores foi então atingido. A estes juntam-se
Medicina Universidade da Beira Interior 150 145 177,8 5
cidades do país, sobretudo mais 712 em concursos locais — cur-
Medicina U. Lisboa - Faculdade de Medicina 295 295 179,5 0 =
em Lisboa, e menos em ins- sos artísticos que exigem pré-requi-
Medicina U. Porto - Faculdade de Medicina 245 245 183,5 0 =
tituições sediadas no inte- sitos à entrada —, totalizando as
Medicina U. Nova de Lisboa - Fac. de Ciências Médicas 231 231 180,2 0 =
rior, no concurso nacional 55.166 vagas do contingente geral
de acesso do próximo Verão — cuja anunciadas hoje pelo Ministério da Medicina U. Porto - Inst. de Ciências Biom. Abel Salazar 155 155 186,8 0 =
lista de vagas foi hoje divulgada. Educação, Ciência e Inovação. Medicina Universidade do Minho 122 122 182,8 0 =
Esta tendência é resultado das A divulgação da lista de vagas Ciclo Básico de Medicina U. Açores - Fac. de Ciências e Tecnologia 50 50 177 0 =
regras criadas nos últimos anos, em acontece, desde o ano passado, mais Ciclo Básico de Medicina U. Madeira - Fac. de Ciências da Vida 38 38 177,5 0 =
particular das excepções que per- cedo do que era habitual, de modo a
mitiram a abertura de cursos Ænan- dar mais tempo aos estudantes que As cinco instituições que mais vagas ganham e perdem em 2024
ciados pelo Plano de Recuperação concluem o secundário de estuda-
Instituição Vagas 2024 Vagas 2023 Variação
de Resiliência (PRR) e que apostem rem as suas melhores opções na hora
em competências digitais. Também de escolherem um curso superior. Iscte - Instituto Universitário de Lisboa 1516 1378 138
por este motivo, a oferta global do Tal como aconteceu há um ano, este Instituto Politécnico de Lisboa 2677 2586 91
ensino superior volta a atingir um número ainda pode crescer, até 30 Universidade do Porto 4714 4669 45
máximo histórico: há 54.454 vagas de Junho, já que há novos cursos que Instituto Politécnico de Coimbra 2215 2182 33
para quem quiser concorrer. ainda se encontram em período de Instituto Politécnico de Leiria 1963 1935 28
O número de vagas nas universida- aprovação, pela Agência de Avalia- ...
des e politécnicos públicos vem cres- ção e Acreditação do Ensino Supe- Instituto Politécnico do Cávado e do Ave 763 775 -12
cendo desde 2015 — primeiro, de rior, para abrir lugares para o próxi- Instituto Politécnico de Santarém 974 994 -20
forma tímida, mas mais acentuada- mo ano lectivo. Universidade da Beira Interior 1579 1616 -37
mente a partir de 2019, batendo A distribuição de vagas Æca mais Instituto Politécnico da Guarda 857 905 -48
sucessivamente recordes. No concur- desequilibrada em favor das duas Instituto Politécnico de Bragança 1965 2105 -140
so nacional de acesso de 2024 são, maiores cidades do país. As três ins-
Fonte: Direcção-Geral do Ensino Superior/PÚBLICO
para já, oferecidos 54.454 lugares. tituições que perdem mais lugares
NotíciasFlix

Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 3

no arranque do concurso nacional duas principais cidades volta a ser

de acesso são todas do interior: Poli-
técnico de Bragança (menos 130),
Politécnico da Guarda (menos 48) e
Universidade da Beira Interior
(menos 37).
Em sentido contrário, o que mais
ganha é o Iscte — Instituto Universi-
tário de Lisboa, que aumenta a ofer-
ta em 138 vagas. Seguem-se o Poli-
técnico de Lisboa (mais 91 vagas) e
a Universidade do Porto (mais 45).
O caso do Iscte é paradigmático. O
instituto universitário inaugurou
uma nova escola em Sintra, dedicada
a áreas digitais, onde criou dez novos
cursos (que totalizam 331 vagas),
entre os quais Tecnologias Digitais
Educativas, Tecnologias Digitais e
Inteligência ArtiÆcial ou Tecnologias
notório.
Quase dois terços (64,4%) das
vagas que desaparecem face ao ano
passado situavam-se em politécnicos
e universidades do interior do país.
Em sentido contrário, 53% dos cur-
sos que vêem a sua oferta reforçada
este ano localizam-se no Porto e,
sobretudo, em Lisboa.
Este desequilíbrio na oferta do
ensino superior entre o litoral e o
interior não é uma novidade. Em
2019, cerca de 54% dos inscritos fre-
quentavam universidades ou politéc-
nicos das duas principais cidades do
país. Para responder a esse desequi-
líbrio, o antigo ministro socialista
Manuel Heitor propôs-se a cortar mil
vagas nas instituições de ensino
Novo ministro chamado a rever opções
“Se não olharmos para o interior,
nem os de lá querem ficar”
Entrevista
Samuel Silva
Maria José Fernandes
Líder do Conselho
Coordenador dos
Politécnicos defende
revisão das regras de acesso
O ensino superior tem estancado
alguma saída de pessoas do
interior do país. Feche-se o
Instituto Politécnico de
Portalegre, ou o Instituto
Politécnico da Guarda ou o de
Castelo Branco, e veremos o que
acontece àquelas regiões.
E não vê essas preocupações
reÇectidas nas redes do
concurso nacional de acesso
momento em que vemos grandes
empresas internacionais do
sector a despedir pessoas...
Se nada for feito, as instituições
que agora abrem a pensar nas
competências digitais não tarda
estarão nas outras áreas todas.
Tem que se olhar para o que é
que nós, como país, queremos da
rede do ensino superior, até
porque nos próximos anos a

Digitais e Gestão.
Partes destas formações são resul-
tado de uma candidatura a Ænancia-
mento do PRR. Apesar de a regra-
base para todos os cursos superiores
ser de manutenção da oferta — só é
possível abrir um curso novo se essas
vagas forem retiradas de outra for-
mação já existente —, os que rece-
bem fundos comunitários foram
excluídos destas contas.
O mesmo aconteceu aos cursos
das áreas digitais, em que houve um
estímulo por parte do Governo, nos
últimos anos, para que as institui-
ções de ensino superior reforçassem
a sua oferta nessas áreas. Há 158 cur-
sos nessas condições. Totalizam 9355
vagas, o que corresponde a um
aumento de 252 lugares face a
2023.
Desequilíbrio antigo
Em sentido contrário, a redução de
oferta nas instituições do interior
também é fruto de mudanças nas
regras nos últimos anos. Até ao ano
passado, as instituições de ensino
tinham de disponibilizar no concur-
so nacional de acesso todas as vagas
que pretendiam preencher, mesmo
que soubessem de antemão que iam
acabar vazias. Só assim podiam cana-
lizá-las para os concursos especiais,
onde habitualmente acabavam todas
preenchidas — sobretudo, nos últi-
mos anos, por estudantes internacio-
nais.
Agora, a gestão das vagas é mais
Çexível. Daí que o Politécnico de Bra-
gança ou o da Guarda possam retirar
quase 200 lugares do concurso
nacional e, mesmo assim, continuar
a receber um número de alunos
semelhante ao dos últimos anos.
Há 1086 cursos com vagas abertas
para o próximo ano lectivo e a gran-
de maioria destes (817) não tem
qualquer variação no número de
lugares disponíveis para receber
novos alunos. Olhando para os cur-
sos que perdem vagas (são 95, tota-
lizando 430 lugares a menos) face
ao ano passado, e para os que mais
aumentam a sua oferta (mais 675
vagas num total de 193 formações),
este desequilíbrio entre as institui-
ções de ensino do interior e as das
superior de Lisboa e do Porto. A
medida durou dois anos e acabou
por ser abandonada.
Foi ainda com Manuel Heitor que
o Ministério da Ciência, Tecnologia
e Ensino Superior criou os estímulos
aos cursos das áreas digitais. E foi
também com o antigo ministro socia-
lista que foi criado um estímulo às
instituições de ensino para que
aumentassem o número de vagas
nos cursos procurados pelos melho-
res alunos — os chamados “cursos de
excelência”, aos quais se candida-
tam, em primeira opção, estudantes
com média igual ou superior a 17. Tal
como aconteceu no ano passado,
esses cursos continuam a ter um
crescimento tímido na sua oferta.
Este ano, 35 cursos cumprem esses
critérios. Totalizam 4036 vagas, mais
46 do que em 2023.
Mais professores e médicos
O anterior Governo também deu
indicações às instituições de ensino
superior para aumentarem a oferta
nos cursos de Educação Básica, que
abrem as portas para dar aulas no 1.º
e 2.º ciclos. Para este ano, são Æxadas
993 vagas nestes cursos, o que cor-
responde a um aumento de 38 luga-
res face a 2023.
O novo concurso nacional de aces-
so ao ensino superior também terá
mais lugares disponíveis para estu-
dantes que queiram ingressar em
Medicina. São Æxadas 1554 vagas nas
escolas médicas, mais 13 do que há
um ano. Esse aumento é fruto de um
reforço da oferta na Universidade de
Coimbra (abre mais oito lugares) e
na Universidade da Beira Interior,
sediada na Covilhã, que terá mais
cinco vagas.
Os estudantes que queiram entrar
no ensino superior no próximo ano
lectivo têm de realizar os exames
nacionais do ensino secundário,
agendados para o período de 14 a 28
de Junho. A 15 de Julho são aÆxadas
as pautas da 1.ª fase das provas. No
dia 22 de Julho, arrancam as candi-
daturas à 1.ª fase do concurso nacio-
nal de acesso ao ensino superior, que
se prolongam até 5 de Agosto. Os
resultados desse processo são conhe-
cidos no dia 25 do mesmo mês.
E
m momento de mudança ao ensino superior deste ano? tendência é para que haja cada
de governo, a lista de Este aumento de oferta nas vez menos candidatos, porque há
vagas do concurso instituições do litoral é fruto da menos jovens com 18 anos.
nacional de acesso ao aposta nas competências digitais. Este concurso nacional de
superior conhecidas hoje Abrem muitos cursos novos acesso começa num quadro de
chegou sem sobressaltos nessas áreas, aumenta o número mudança de governo, mas
para o sector. O que não quer de vagas noutros também dessa decorreu sem sobressaltos. Foi
dizer que as instituições de área. Mas há uma pergunta que pragmatismo ou é sinal de
ensino não queiram que o novo se impõe: temos mercado para maturidade do próprio
executivo mexa em algumas das isto tudo em Portugal? Num sistema de ensino superior?
opções dos últimos anos. O próprio ministro disse, no
Sobretudo as excepções às regras debate do Programa do Governo,
que permitiram a muitas que o ensino superior está
universidades e politécnicos do “estabilizado”. Ele ainda não nos
litoral crescer, enquanto as conhece bem — ainda que tenha
congéneres do interior estão a uma percepção grande porque
reduzir a oferta. A presidente do está dentro do ensino superior —,
Conselho Coordenador dos mas há muitos desaÆos no sector.
Institutos Superiores
Politécnicos, Maria José É muito difícil Este governo não quis mexer no
concurso de acesso, nem tinha
Fernandes, espera que o novo
ministro, Fernando Alexandre —
às instituições tempo para isso. Mas é preciso
uma estratégia, em diálogo com
também ele professor do ensino
superior —, reveja essas opções
do interior crescer as instituições. Todas estas
excepções que têm vindo a ser
políticas. quando têm, feitas nos últimos anos têm que
Os números do concurso
nacional de acesso ao ensino por vezes tão perto, ser equacionadas. Se o país quer
ter pessoas a viver no interior,
superior 2024 apontam para
um maior desequilíbrio na
instituições do litoral tem de olhar para isto. Até
porque sabemos o grande factor
oferta entre as instituições
de ensino situadas nas grandes
a competir pelos de desenvolvimento que são os
alunos que vão para essas
cidades e aquelas que
estão no interior. Isto acontece
mesmos alunos cidades.
NELSON GARRIDO
cinco anos depois de o
ministro Manuel Heitor
ter reconhecido que isso era
um problema e ter proposto
medidas para o limitar.
O que é que mudou de então
para cá?
Manuel Heitor fez bem quando
defendeu uma redução de vagas
nas instituições de Lisboa e do
Porto. Mas foi ele próprio a pô-lo
em causa quando começou a
criar excepções, por exemplo,
para os cursos de competências
digitais, que foram autorizados a
aumentar o número de vagas. O
que nós sabemos é que é muito
difícil às instituições de ensino
superior do interior crescer
quando têm, por vezes tão perto,
instituições do litoral a competir
pelos mesmos alunos.
As políticas públicas têm
mesmo que olhar para o interior,
senão nem os de lá querem Æcar.
4 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Destaque Acesso ao Ensino Superior 2024
Perguntas & Respostas Das datas-chave ao peso dos exames, tudo o que precisa de saber para preparar a candidatura
A
divulgação feita hoje das
vagas no ensino superior
ainda pode apanhar
alguns estudantes
desprevenidos. Mas a
antecipação do calendário do
concurso nacional de acesso
ao superior em cerca de três
meses já vem do anterior
Governo. Foi, aliás, uma das
alterações nas regras de
ingresso nas universidades e
politécnicos aprovadas pelo
executivo.
Estas alterações produziram
já alguns dos seus efeitos no
acesso ao ensino superior para
o ano lectivo de 2023/24
(concurso do ano passado),
mas a totalidade das alterações
previstas só se sentirá no ano
lectivo de 2025/26. Como será
este ano, para quem se vai
candidatar? Algumas
informações úteis.
Quais são as próximas datas a
que devo estar atento?
Como se disse, o calendário foi
antecipado nos últimos anos
para dar mais tempo aos
estudantes para estudarem as
melhores opções de cursos
que se adaptam às suas
opções de futuro e também às
notas que têm no ensino
secundário. Há mais de 50 mil
lugares disponíveis nas
universidades e politécnicos
públicos. Depois de
conhecidas as vagas, o que
aconteceu hoje, em Junho
arranca a 1.ª fase de exames
nacionais do ensino
secundário, realizados por
estudantes do 11.º e 12.º anos.
São estes exames que servem
também de prova de ingresso
para efeitos de concurso de
acesso ao ensino superior.
Os alunos realizam provas
entre 14 e 28 de Junho. Estas
provas são importantes para o
acesso ao superior. A 15 de
Julho são afixadas as pautas da
1.ª fase dos exames do
secundário. Quem precisar de
repetir as provas, por exemplo
para melhorar as notas finais,
pode fazê-lo de 18 a 23 de
Julho. A 22 de Julho arrancam
as candidaturas à 1.ª fase do
concurso nacional de acesso
ao ensino superior, que se
prolongam até 5 de Agosto.
Quantos exames nacionais
vou ter de fazer?
Para cada um dos seus cursos,
cada instituição de ensino
superior fixa, em 2024, entre
uma e, no máximo, três provas
de ingresso.
No próximo ano já será
diferente. Para a candidatura
ao ensino superior no ano lectivo
2025/2026 cada instituição de
ensino superior fixará, no mínimo,
duas provas de ingresso e, no
máximo, três.
Exemplo apontado no guia de
acesso deste ano: “Um estudante
que pretenda concorrer em 2024
ao curso de Estudos Clássicos da
Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa deve
realizar uma das seguintes provas
de ingresso: 06 Filosofia, 12
História da Cultura e Artes, 14
Latim, 18 Português. Para quem
pretenda concorrer ao mesmo
curso em 2025 deve realizar duas
das seguintes provas de ingresso:
06 Filosofia, 12 História da Cultura
e Artes, 14 Latim, 18 Português.”
O exame de Português tem de
ser feito por todos os alunos?
Para quem vai candidatar-se este
ano ao superior, ainda não. Mas o
novo modelo de conclusão do
ensino secundário prevê que
todos os alunos façam exame a
Português (ou a Português Língua
Não Materna, no caso de alunos
originários de outros países) e a
duas outras disciplinas à sua
escolha. Esta regra vigorará a
partir do concurso nacional de
acesso de 2025. Quase três
quartos dos cursos de ensino
superior tinham até agora apenas
uma prova específica, o que
significa que a generalidade das
universidades e politécnicos terão
de rever os seus critérios de
admissão para os adequar às
novas regras.
Quanto valem as provas?
Para os estudantes que estão no
12.º ano, este ano ainda vigorará o
modelo que foi introduzido em
2020, devido à pandemia de
covid-19, e mantido nos anos
seguintes — ou seja, os alunos
terão apenas de realizar as provas
específicas exigidas pelos cursos
superiores aos quais se querem
candidatar.
Já os alunos que estão
actualmente no 11.º ano vão
inaugurar o novo modelo de
exames, aprovado no ano
passado. Passam a ser
obrigatórias, no mínimo, três
provas para a conclusão do
ensino secundário: a Português
(que é um exame de 12.º ano) para
todos os alunos e a outras duas
disciplinas, alinhadas com os
cursos superiores em que
pretendem entrar. As três provas
de conclusão passam a valer 25%
da nota final daquela disciplina.
Até agora, o exame nacional valia
30% dessa classificação.
Há alguma especificidade para
os cursos de Medicina?
Para acesso ao curso de Medicina
são sempre fixadas três provas de
ingresso, que integram,
obrigatoriamente, as áreas de
Biologia, Física, Matemática e
Química. Exemplo mencionado
no guia oficial de acesso deste
ano: um estudante que pretenda
concorrer ao curso de Medicina
da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Nova de
Lisboa deve realizar as seguintes
provas de ingresso: Biologia e
Geologia, Física e Química e
Matemática A.
Como se calcula este ano a nota
de candidatura? Quanto valem
os exames?
Para os alunos que estão no 12.º
ano, as provas ainda “pesam”
apenas uma vez na classificação
final com que vão concorrer ao
ensino superior. Como os exames
perderam, desde a pandemia, o
seu papel na conclusão de cada
disciplina, valem apenas como
prova de ingresso — com um
impacto de pelo menos 35% na
média. A restante nota é fruto dos
resultados finais do ensino
secundário.
A partir do próximo ano (e já
com efeitos para quem, no
próximo mês de Junho, fará
exames do 11.º ano), as três
provas de conclusão passam a
valer 25% da nota final de cada
disciplina. A classificação final do
ensino secundário, que até aqui
pesava pelo menos 50%, passará
a ter um impacto mínimo de 40%
na nota de ingresso.
Também haverá mudanças na
fórmula de cálculo da nota final
do ensino secundário, com uma
“ponderação relativa das
disciplinas” para a classificação.
Isso significa que uma disciplina
trienal é considerada três vezes
no cálculo da média, ao passo
que uma anual só “pesa” uma vez.
Como funciona o contingente
para alunos mais
desfavorecidos?
Este contingente prioritário
destina, no mínimo, duas vagas
por curso, ou 2% das vagas,
quando o curso tem lugar para
mais de 100 alunos, a alunos
beneficiários do 1.º escalão do
abono de família.
Os alunos carenciados
concorrem juntamente com os
demais?
Sim. Este novo contingente
funciona exactamente nos
mesmos termos que os demais
contingentes especiais já
existentes no concurso nacional
de acesso há várias décadas,
como, por exemplo, o destinado a
estudantes provenientes das
regiões autónomas da Madeira e
dos Açores. Estes alunos têm
colocação prioritária desde que
cumpram as condições de acesso
e as notas mínimas exigidas para
cada curso. Os estudantes
concorrem, por isso, ao concurso
de ingresso como todos os
outros, tendo depois de marcar
NELSON GARRIDO
um campo na candidatura
online elegendo o respectivo
contingente especial. Os alunos
que pretendem entrar pelo
contingente especial terão de
anexar um PDF com um
comprovativo.
Como é feita a seriação destes
alunos?
Tal como acontece no restante
concurso nacional de acesso.
Se um curso tem duas vagas
destinadas para alunos
carenciados e há dez
estudantes concorrentes, vão
entrar os dois que têm a média
mais elevada de entre todos os
candidatos.
A quantos cursos se pode
concorrer?
No concurso nacional pode-se
concorrer até seis cursos, de
diferentes instituições de
ensino. Devem ser indicados
por ordem de preferência. A
colocação em cada instituição/
curso é feita segundo as listas
ordenadas dos candidatos até
estarem esgotadas as vagas
disponíveis.
Que outros concursos existem
para ingresso no superior?
As vagas das instituições de
ensino superior público são
colocadas a concurso através
de um concurso nacional
organizado pela Direcção-Geral
do Ensino Superior. Mas há
cursos do ensino superior
público para os quais, dadas as
características específicas
destes, são abertos concursos
locais, organizados pelas
próprias instituições — por
exemplo, o curso superior de
Teatro (Escola Superior de
Teatro e Cinema do Instituto
Politécnico de Lisboa) ou cursos
superiores militares (Academia
Militar, Escola Naval, Academia
da Força Aérea).
Já as vagas das instituições de
ensino superior privado e da
Universidade Católica
Portuguesa são colocadas a
concurso através de concursos
institucionais, isto é, de
concursos organizados por
cada instituição e limitados aos
cursos que ministram.
Para além dos concursos do
regime geral de acesso —
concurso nacional, concursos
locais e concursos institucionais
—, existem concursos e regimes
especiais para candidatos com
condições habilitacionais e
pessoais específicas. A
informação vai sendo
disponibilizada no site da
Direcção-Geral do Ensino
Superior. Samuel Silva e
Andreia Sanches
 ENTRADA
LIVRE A PALAVRA
AAOS MÚSICOS
NNOS 50 ANOS
DDO 25 DE ABRIL
1 DE ABRIL
17
CASA DA MÚSICA,
C
PORTO
P

O PÚBLICO e a Casa da 10h30 | SESSÃO DE ABERTURA 16h00 | COFFEE BREAK

Música olham para os David Pontes (director do PÚBLICO)
caminhos que a música • António Jorge Pacheco (director artístico
trilhou desde 1974. da Casa da Música)
Será que a música cumpriu
todo o seu potencial?
Como nos 10H45 | KEYNOTE SPEAKER
Quim Albergaria
internacionalizámos
e que música temos
em 2024? 11h15 | ORGULHOSAMENTE MISTURADOS
A nova realidade da música portuguesa
Entrada livre,
Dino D’Santiago • Pedro Coquenão
mediante reserva em
• Marco Castro • Ana Lua Caiano
casadamusica.com
15h00 | SAIR, MAS COMO?
A projecção da música portuguesa
além-fronteiras. Como o fazer?
Qual a experiência de quem o faz?
Fernando Ribeiro • Júlio Resende
• João Barradas • Márcio Laranjeira
16h30 | APRENDER EM LIBERDADE
Como o ensino da música em Portugal
evoluiu nas últimas décadas.
Gabriela Canavilhas • André Neves (Maze)
• Pedro Neves • Nuno Alves
17h30 | MÚSICOS 360.º
O que é um músico em 2024?
Um artista ou também um marketeer
de si próprio, num mundo de TikTok,
Instagram e Spotify? O desafio de viver
da música num país com défice
de oportunidades.
João Soeiro • Ianina Khmelik
• PZ • Vanessa Pires
18h30 | SESSÃO DE ENCERRAMENTO
Raquel Castro

ORGANIZAÇAO: APOIO:
6 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024

Espaço público

O país precisa de mais “sobreviventes” no superior

N
um país marcado por
Editorial graves problemas de
equidade na educação, a
estreia, no ano passado, de
um contingente prioritário
no concurso nacional de acesso ao
ensino superior de 2500 vagas para
Andreia Sanches jovens mais desfavorecidos foi uma
lufada de ar fresco.
A competição para aceder a cursos
superiores socialmente mais
valorizados, que dão acesso a carreiras
bem remuneradas, é brutal. Uma
décima a menos na nota de
candidatura, que no modelo que temos
é fortemente influenciada pelos
É essencial não exames do ensino secundário,
determina quem entra ou não. E
desperdiçar obviamente que quem pode ter
o contingente de jovens explicações privadas parte em grande
mais vulneráveis vantagem nessa “corrida”.
que Äca à porta A probabilidade de alunos do escalão
A de acção social escolar (os mais
de cursos que são um pobres) conseguirem ingressar num
motor potentíssimo “curso de excelência” (os de notas mais
de mobilidade social altas) é de cerca de metade da dos
restantes alunos, como se explica num
relatório publicado em Março pelo
anterior ministério do Ensino Superior.
Já os “sobreviventes” (assim
designados) deste sistema, quando
furam a barreira, não só não chumbam
mais como não abandonam mais do
que os outros. Aliás, para alguns dos
indicadores, os estudantes de meios
socioeconómicos mais desfavorecidos
têm “uma performance académica”
superior à dos de estratos mais
elevados. As diferenças sociais que
vemos na escolaridade obrigatória
esbatem-se nos bancos da
universidade.
O relatório deixa muitas pistas, mas
não responde a algumas inquietações:
sabemos que havia no ano passado
cerca de 2500 vagas para este
contingente prioritário, que 1013
candidatos entraram e que 340 não
Æcaram colocados; não se sabe por que
razão as outras vagas do contingente
não tiveram interessados. Falta de
informação? Excesso de burocracia?
Medo de não ter dinheiro para
suportar as despesas? Falta de
interesse? Nenhuma análise foi feita.
Sabe-se que, ainda assim, em 36
cursos com notas de ingresso acima de
17 nenhum estudante de escalão A teria
sido colocado se não existisse esta
medida; e que o número de novos
alunos com estas características em
“cursos de excelência” subiu 29%.
O programa do novo Governo não
menciona este público especíÆco, nem
esta medida, diz que se vai “alargar a
base de captação de candidatos [ao
superior] com ênfase na população
adulta”. Faz sentido. Portugal tem
menos adultos na universidade do que
a OCDE. Mas é essencial não
desperdiçar o contingente de jovens
mais vulneráveis que acaba o
secundário e não prossegue estudos,
ou que Æca à porta de cursos que são
um motor potentíssimo de mobilidade
social. É bom lembrá-lo no dia em que
são conhecidas as vagas para o próximo
concurso do superior. Mais de 55 mil.

CARTAS AO DIRECTOR
Eugénio Lisboa
Na hora da sua morte é justo
realçar a lealdade para com os seus
amigos. Admirador de José Régio,
foi de uma constante atenção à sua
obra, publicando artigos, organi-
zando antologias, coordenando a
publicação das suas obras, partici-
pando em congressos e chamando
continuamente a atenção para a
variedade, complexidade e riqueza
da obra de Régio.
Além de ensaísta e crítico, foi
memorialista — Acta Est Fabula é um
belo “Ælme” da sua vida, com a
realidade cultural, social e política
do país em fundo. Foi também
poeta (A matéria intensa, O ilimitável
oceano, Poemas em tempo da peste,
etc.). É uma poesia ácida e até
cáustica sobre os que provocam os
desmandos do mundo. Vd. Poemas
em tempo de guerra suja, sobre a
invasão da Ucrânia. Sempre foi Æel
aos grandes autores. Leitor voraz
desde jovem, criou seguros quadros
de referência e um cânone sólido e
bem estruturado, para além de
vastíssima cultura literária. Aberto à
novidade não corria, porém, atrás
de modas, e não se coibia de atacar
os que desvalorizam ou desconjun-
tam de tal modo os enredos que
tiram prazer à leitura e afastam
leitores. Não tínhamos outro com
tal poder de luta e de intervenção.
João Boavida, Tentúgal
Estamos cansados
Os portugueses estão cansados
porquê? Por muitas e variadas
razões que os diversos governos
lhes impingem, dia a dia, mês a
mês, ano a ano. Todos, todos,
todos, os governantes, quando são
visados pela justiça, dizem —
acredito na justiça, “à justiça o que
é da justiça, à política o que é da
política”. Na volta, todos, todos,
todos aÆrmam que a justiça não
funciona, ou funciona mal (e é
verdade). O senhor António Costa,
que tem um curriculum político
longo, esquece: foi candidato à
Câmara de Loures e perdeu. Ainda
assim, como militante do PS, veio
mais tarde a ser ministro da Justiça
(ninguém deu por ele). A justiça
estava perfeita. Foi primeiro-
-ministro com maiorias absolutas
durante vários anos, nunca
percebeu que a justiça estava mal.
Agora que é visado, quer que a
justiça funcione a seu belo prazer,
porque tem pressa. É de mais.
Estamos cansados mesmo.
Guilherme Duarte, Vale Cabeiro
Serralves e o
“mamarracho”
Primeiro a Avenida da Boavista na
zona dos palacetes, agora a
Avenida Marechal Gomes da Costa.
Será que sou eu a única pessoa a
ver o “mamarracho” de betão que
está a ser construído mesmo antes
do portão nobre da Fundação de
Serralves? Seja quem for o
arquitecto, isto é um crime!
Será que ninguém vai fazer nada
para evitar a destruição da que era a
avenida mais bonita do Porto? Será
que a nossa câmara municipal não
tem meios para defender a cidade
dos ataques dos bárbaros
especializados em extorquir fundos
europeus para fazer obras
intermináveis e irresponsáveis que
ninguém pediu, ninguém quer e
que estão a pôr os portuenses todos
doidos de desespero? Quem nos
protege e defende?
Rosário Vasconcelos, Porto
Europa: notas pessoais
Ao artigo “Portugal quer mais
Europa?” (PÚBLICO de 10/4), dei-o
por muito bem-vindo. Realmente é
deveras “estranho” que os
portugueses sejam os europeus
que mais estejam com o nosso
continente e, em simultâneo,
sejam os que menos lhe “ligam”,
como se constata no elevado
número da abstenção aquando das
anteriores eleições para o
Parlamento Europeu. É mesmo
“nosso”, desdenhamos do que é
bom e entreguemos aos “outros”
os deveres que são de todos! Bom,
voltemos à Europa, como volto
sempre ao volume História da
Europa, de 1990, da autoria de
Jean-Baptiste Durosellem e
prefácio de Mário Soares (Círculo
de Leitores/Dom Quixote). Embo-
ra, neste momento, seja mais a
União Europeia, e os seus antece-
dentes mais próximos, que me
interessam para o que quero dizer.
Sou pediatra, agora aposentado, e
Æz a minha formação e carreira
hospitalar no serviço de Pediatria
do Hospital S. João, “incipiente”
quando para lá entrei em 1974,
tornando-se depois um grande
serviço/departamento, fruto — além
doutras coisas — dos estágios
pós-graduados de alguns de nós no
estrangeiro. Onde? Pois em países
europeus, mesmo quando ainda
Portugal só o era geograÆcamente.
Alemanha, Espanha, Inglaterra,
Holanda, França and so on. No
primeiro, ainda vivi com o marco
como moeda e o passaporte.
Termino, agora não no plano
clínico/cientíÆco, mas numa coisa
mais trivial: em Riga, na Letónia, há
poucos anos, já na UE, no
aeroporto, paguei um café com a
moeda que tinha no porta-moedas,
o euro, e apresentei o cartão de
cidadão no embarque... Diz isto
alguma coisa? Espero bem que sim,
portanto vamos lá votar para o
Parlamento Europeu a 9 de Junho,
para não sermos ingratos e, se
quiserem, até por lógica histórica
com tudo o que lhe vem agarrado...
Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt
 Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 7

A opinião publicada no jornal respeita

a norma ortográfica escolhida pelos autores

ESCRITO NA PEDRA O maldito corrector

publico.pt
O que é ensinado Lisboa (sede: editor e redacção) Porto
em escolas Ainda ontem
está sempre a pregar-me rasteiras.”
De repente, ninguém dá erros ortográÆcos.
Edifício Diogo Cão,
Doca de Alcântara Norte
Rua Júlio Dinis,
n.º 270 Bloco A 3.º
e universidades A própria ideia de “dar erros” foi transferida 1350-352 Lisboa
Tel. 210 111 000
4050-318 Porto
Tel. 226 151 000
não representa dos seres humanos, outrora falíveis, para os
correctores, notoriamente distraídos,
DIRECTOR
educação, mas incultos e ignorantes.
Se alguém apanha um passo gramatical em
David Pontes
Directores adjuntos
são meios para falso, ou um lapso de lógica ou de estilística, o Andreia Sanches, Marta Moitinho Oliveira,

N
culpado já é conhecido de toda a polícia: “Ah, Sónia Sapage, Tiago Luz Pedro
a obter Ralph Miguel Esteves Cardoso
isso foi o corrector!” Directora de arte
Sónia Matos
W. Emerson ão só não uso correctores,
como levo a mal o tempo que
Seria de bom-tom que os portugueses
agradecessem aos correctores a proeza de
Directora de design de produto digital
Inês Oliveira
(1803-1882), leva a desligá-los.
Mas começo a repensar a
lhes apanharem os erros todos. Mas não: a
perfeição altera o ser perfeito e, de um
Editoras executivas
Helena Pereira, Patrícia Jesus
escritor, EUA minha posição. Vejo que os momento para o outro, não tolera qualquer Editor de fecho
José J. Mateus
meus amigos dispõem de um imperfeição – nem mesmo do corrector.
bode expiatório que lhes dá muito jeito A solução seria ajudar os correctores a Editor de Opinião Álvaro Vieira Editor P2 Sérgio B. Gomes Online Ana Maria
Henriques, Mariana Adam, Pedro Esteves, Pedro Guerreiro, Pedro Sales Dias
quando alguém descobre que não sabem vingarem-se de tanta ingratidão. Assim como (editores), Amílcar Correia (redactor principal), Carolina Amado, João Pedro

O NÚMERO

6
pessoas foram mortas em
Sydney num atentado por
esfaqueamento. A polícia
matou o alegado atacante.
escrever.
O desabafo “maldito corrector!”, que cada
vez aparece mais onde quer que os seres
humanos sejam obrigados a escrever, tem o
seguinte signiÆcado:
“Eu escrevo lindamente, claro, mas
tenho uma condicionante que me deÆnha o
estilo: tenho pressa. O meu tempo é
valioso demais para estar a olhar para o
que faço e, por isso, sou obrigado a usar um
corrector feito pelos robôs dos americanos,
que não fazem ideia da riqueza e da
diÆculdade da língua de Camões, pelo que
os browsers estão sempre a vangloriar-se da Pincha, José Volta e Pinto, Miguel Dantas, Sofia Neves (última hora); Rui Barros
(jornalista de dados); Ruben Martins, Inês Rocha (áudio); Joana Bougard (editora
quantidade de sites que impediram de nos multimédia), Carlos Alberto Lopes, Joana Gonçalves, Teresa Miranda
trackar, também os correctores haviam de (multimédia); Amanda Ribeiro (editora de redes sociais), Ana Zayara, Patrícia
anunciar o número de erros que apanharam. Campos (redes sociais) Política Leonete Botelho (editora), David Santiago
(subeditor), Ana Sá Lopes, São José Almeida (redactoras principais), Ana Bacelar
Mesmo numa SMS de duas linhas, havia de Begonha, Henrique Pinto de Mesquita, Liliana Borges, Margarida Gomes, Maria
se assinalar, no vermelho-esferográÆca das Lopes, Nuno Ribeiro, Sofia Rodrigues Mundo Ivo Neto, Paulo Narigão Reis
(editores), Bárbara Reis, Jorge Almeida Fernandes, Teresa de Sousa (redactores
antigas professoras da 4.ª Classe, o número principais), Rita Siza (correspondente em Bruxelas), Alexandre Martins, António
de calinadas que foram evitadas. Quem Rodrigues, António Saraiva Lima, João Ruela Ribeiro, Maria João Guimarães,
quisesse saber, ao certo, quais eram poderia Sofia Lorena Sociedade Natália Faria (editora), Clara Viana (grande repórter),
Alexandra Campos, Ana Cristina Pereira, Ana Dias Cordeiro, Ana Henriques, Ana
clicar no número e deliciar-se com as bojardas Maia, Cristiana Faria Moreira, Daniela Carmo, Joana Gorjão Henriques, Mariana
do ilustre correspondente. Oliveira, Patrícia Carvalho, Samuel Silva, Sónia Trigueirão Local Ana Fernandes
(editora), Luciano Alvarez (grande repórter), André Borges Vieira, Camilo
Quem é capaz de imaginar a paisagem de Soldado, Mariana Correia Pinto, Samuel Alemão, Teresa Serafim Economia
dislates da qual nos protegem os correctores? Pedro Ferreira Esteves, Isabel Aveiro (editores), Manuel Carvalho (redactor
principal), Cristina Ferreira, Sérgio Aníbal (grandes repórteres), Ana Brito, Luís
Villalobos, Pedro Crisóstomo, Rafaela Burd Relvas, Raquel Martins, Rosa Soares,
Victor Ferreira Ciência Teresa Firmino (editora), Filipa Almeida Mendes, Tiago
Ramalho Azul Andrea Cunha Freitas (editora), Claudia Carvalho Silva

ZOOM BANGUECOQUE, TAILÂNDIA (subeditora), Aline Flor, Andréia Azevedo Soares, Clara Barata, Nicolau Ferreira,
Tiago Bernardo Lopes (multimédia), Gabriela Gómez (infografia), Rodrigo Julião
(webdesign) Tecnologia Karla Pequenino Cultura/Ípsilon Paula Barreiros, Inês
Nadais (editoras), Pedro Rios (editor Ípsilon), Isabel Coutinho (subeditora), Nuno
NARONG SANGNAK/EPA
Pacheco, Vasco Câmara (redactores principais), Isabel Salema, Sérgio C.
Andrade (grandes repórteres), Daniel Dias, Joana Amaral Cardoso, Lucinda
Canelas, Luís Miguel Queirós, Mariana Duarte, Mário Lopes Desporto Jorge
Miguel Matias, Nuno Sousa (editores), Augusto Bernardino, David Andrade,
Diogo Cardoso Oliveira, Marco Vaza, Paulo Curado Fugas Sandra Silva Costa,
Luís J. Santos (editores), Alexandra Prado Coelho (grande repórter), Luís Octávio
Costa, Mara Gonçalves Guia do Lazer Sílvia Pereira (coordenadora), Cláudia
Alpendre, Sílvia Gap de Sousa Ímpar Bárbara Wong (editora), Carla B. Ribeiro,
Inês Duarte de Freitas P3 Inês Chaíça, Renata Monteiro (subeditoras), Mariana
Durães Terroir Ana Isabel Pereira Newsletters e Projectos digitais João Pedro
Pereira Projectos editoriais João Mestre Fotografia Miguel Manso, Manuel
Roberto (editores), Adriano Miranda, Daniel Rocha, Nelson Garrido, Nuno
Ferreira Santos, Paulo Pimenta, Rui Gaudêncio, Alexandra Domingos
(digitalização), Isabel Amorim Ferreira (documentalista) Paginação José Souto
(editor de fecho), Marco Ferreira (subeditor), Ana Carvalho, Cláudio Silva, Joana
Lima, José Soares, Nuno Costa, Sandra Silva; Paulo Lopes, Valter Oliveira
(produção) Copy-desks Aurélio Moreira, Florbela Barreto, Joana Quaresma
Gonçalves, João Miranda, Manuela Barreto, Rita Pimenta Design Digital Alex
Santos, Ana Xavier, Nuno Moura Infografia Célia Rodrigues (coordenadora),
Cátia Mendonça, Francisco Lopes, Gabriela Pedro, José Alves Comunicação
Editorial Inês Bernardo (coordenadora), João Mota, Ruben Matos Secretariado
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Publicado por PÚBLICO, Comunicação Social, SA.
Presidente Ângelo Paupério
Vogais Cláudia Azevedo, Ana Cristina Soares e João Günther Amaral
Área Financeira e Circulação Nuno Garcia RH Maria José Palmeirim Direcção
Comercial João Pereira Direcção de Assinaturas e Apoio ao Cliente Leonor
Soczka Análise de Dados Bruno Valinhas Marketing de Produto Alexandrina
Carvalho Área de Novos Negócios Mário Jorge Maia
NIF 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410
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“Batalha de água” em Banguecoque, simbolizando a limpeza e lavagem dos pecados e azares do ano anterior, integrada ASSINATURAS Linha azul 808 200 095 (dias úteis das 9h às 18h)
publico.pt/assinaturas • assinaturas@publico.pt
nas festas de Ano Novo, Songkran, declaradas Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2023
8 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Espaço público
A Igreja em reforma permanente
Frei Bento Domingues O.P.
O Papa Francisco convoca
a Igreja a realizar a sua
transformação missionária,
isto é, a ser uma Igreja
“em saída”
1.
É costume dividir, de forma muito
simples (talvez de forma
simplória), a história da Igreja em
três momentos fundamentais: a
Igreja dos primeiros séculos, a
Igreja da Idade Média e a Igreja da
Idade Moderna. O grande inconveniente
desta apresentação é continuar a fazer da
Igreja o seu centro, algo que o Papa
Francisco, com razão, tem rejeitado.
A Igreja, em todas as suas épocas, não pode
ser o centro de si mesma. Ela deve remeter
continuamente para a prática de Jesus Cristo,
testemunhada no Novo Testamento. É Ele o
verdadeiro centro insubstituível da Igreja e da
humanidade. E porquê? Porque foi Ele que
fez da sua vida uma entrega a Deus e a todos os
povos, de todos os tempos e lugares. Na sua
actividade, num tempo e num lugar históricos
e precisos, pela sua união a Deus, attingit
omnia tempora et loca [1].
Na sua célebre Exortação Apostólica
programática, Evangelii Gaudium, o Papa
Francisco, convoca a Igreja a realizar a sua
transformação missionária, isto é, a ser uma
Igreja “em saída”. Não se trata apenas de
uma belíssima declaração, mas de tornar
toda a Igreja agente de comunhão,
participação e missão.
Encontrou, na redescoberta da dimensão
sinodal, um caminho para vencer a tentação
de a Igreja se julgar o centro de si mesma.
A Igreja “em saída” é a comunidade de
discípulos missionários que “primeireiam”,
que se envolvem, que acompanham, que
frutiÆcam e festejam. Primeireiam — desculpai
o neologismo —, tomam a iniciativa! A
comunidade missionária [a verdadeira Igreja]
experimenta que o Senhor tomou a iniciativa,
precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10) e, por isso,
ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem
medo, ir ao encontro, procurar os afastados e
chegar às encruzilhadas dos caminhos para
convidar os excluídos. Vive um desejo
inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de
ter experimentado a misericórdia inÆnita do
Pai e a sua força difusiva.
Ousemos um pouco mais no tomar a
iniciativa! Como consequência, a Igreja, em
conversão, sabe “envolver-se”. Jesus lavou os
pés aos seus discípulos. O Senhor envolve-Se
e envolve os seus, pondo-Se de joelhos diante
dos outros para os lavar; mas, logo a seguir,
diz aos discípulos: “Sereis felizes se puserdes
isto em prática.” (Jo 13, 17.) Com obras e
gestos, a comunidade missionária entra na
vida diária dos outros, encurta as distâncias,
abaixa-se – se for necessário – até à
humilhação e assume a vida humana,
tocando a carne sofredora de Cristo no povo.
Os evangelizadores contraem assim o “cheiro
das ovelhas”, e estas escutam a sua voz.
Em seguida, a comunidade evangelizadora
dispõe-se a “acompanhar”. Deve
acompanhar a humanidade em todos os seus
processos, por mais duros e demorados que
Ousemos um pouco mais
no tomar a iniciativa!
Como consequência,
a Igreja, em conversão,
sabe “envolver-se”.
Jesus lavou os pés
aos seus discípulos
ETTORE FERRARI/EPA
sejam. Conhece as longas esperas e o seu
fundamento apostólico. A evangelização
exige muita paciência e evita deter-se a
considerar as limitações.
Fiel ao dom do Senhor, sabe também
“frutiÆcar”. A comunidade evangelizadora
mantém-se atenta aos frutos, porque o
Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não
perde a paz por causa do joio. O semeador,
quando vê surgir o joio no meio do trigo, não
tem reacções lastimosas ou alarmistas.
Encontra o modo para fazer com que a
Palavra se incarne numa situação concreta e
dê frutos de vida nova, apesar de serem
aparentemente imperfeitos ou defeituosos.
O verdadeiro discípulo sabe oferecer a vida
inteira e gastá-la até ao martírio como
testemunho de Jesus Cristo, mas o seu sonho
não é estar cheio de inimigos, mas antes que a
Palavra seja acolhida e manifeste a sua força
libertadora e renovadora.
Por Æm, a comunidade evangelizadora
jubilosa sabe sempre “festejar”: celebra e
festeja cada pequena vitória, cada passo em
frente na evangelização. No meio desta
exigência diária de fazer avançar o bem, a
evangelização jubilosa torna-se beleza na
liturgia. A Igreja evangeliza e evangeliza-se
com a beleza da liturgia, que é também
celebração da actividade evangelizadora e
fonte de um renovado impulso para se dar [2].
2. Nada disto é possível, se não Æzermos da
pastoral um processo de conversão contínuo.
É o próprio Papa que nos lembra algo que
nunca deve ser esquecido. Ele sabe que, hoje,
os documentos não suscitam o mesmo
interesse que noutras épocas, acabando
rapidamente esquecidos.
Apesar disso, sublinha que aquilo que
pretende deixar expresso nesta Exortação
possui um signiÆcado programático e tem
consequências importantes.
“Espero que todas as comunidades se
esforcem por activar os meios necessários
para avançar no caminho duma conversão
pastoral e missionária, que não pode deixar
as coisas como estão. Neste momento, não
nos serve uma ‘simples administração’.
Constituamo-nos em ‘estado permanente de
missão’, em todas as regiões da terra.” [3]
Já o Papa Paulo VI tinha convidado a alargar
o apelo à renovação de modo que ressaltasse,
com força, que ela não se dirige apenas aos
indivíduos, mas à Igreja inteira.
Lembremos, diz Bergoglio, este texto
memorável, que não perdeu a sua força
interpeladora: “A Igreja deve aprofundar a
consciência de si mesma, meditar sobre o seu
próprio mistério (...). Desta consciência
esclarecida e operante deriva
espontaneamente um desejo de comparar a
imagem ideal da Igreja, tal como Cristo a viu,
quis e amou, ou seja, como sua Esposa santa e
imaculada (Ef 5, 27), com o rosto real que a
Igreja apresenta hoje. (…) Em consequência
disso, surge uma necessidade generosa e
quase impaciente de renovação, isto é, de
emenda dos defeitos, que aquela consciência
denuncia e rejeita, como se fosse um exame
interior ao espelho do modelo que Cristo nos
deixou de Si mesmo.”
3. Tornou-se um lugar-comum dizer que a
Igreja não é o centro do Cristianismo. Ao
repetir esta evidência teológica e pastoral,
temos de ter cuidado para não dar a ideia de
que a Igreja, não sendo o centro, seria
insigniÆcante para a fé cristã. Se isso fosse
verdade, também seria inútil a reforma das
próprias expressões da Igreja. E, no entanto,
é ela o verdadeiro e primordial sacramento —
sinal e instrumento — de Jesus Cristo na
complexidade deste mundo. De facto,
quando se fala de reforma da Igreja, não se
pode esquecer a observação do grande
teólogo Yve Congar, O.P., ao sustentar que
existem verdadeiras e falsas reformas.
“Hoje, torna-se cada vez mais evidente que
é necessária uma verdadeira hermenêutica
evangélica para compreender melhor a vida,
o mundo, os seres humanos; não de uma
síntese, mas de uma atmosfera espiritual de
investigação e certeza fundamentada nas
verdades da razão e da fé”, como diz
Bergoglio, na Veritatis Gaudium, n.º 3 (2017).
[1] III q. 56, a. 1-2
[2] Cf. Evangelii Gaudium, n.º 24
[3] Cf. Ibidem, n.º 25
Escreve ao domingo

E se Putin ganhar a guerra?
Sem fronteiras
Teresa de Sousa
A Economist, sóbria como
sempre, avisa que “uma
vitória da Rússia
enfraqueceria o Ocidente,
especialmente a Europa”
1.
A situação extremamente difícil em
que se encontra a Ucrânia, perante a
destruição sistemática das suas
infra-estruturas pela chuva diária de
mísseis russos, voltou a trazer para o
debate público uma pergunta que,
infelizmente, passou a fazer todo o sentido. E
se a Ucrânia perder a guerra?
A Economist, sóbria como sempre, avisa
que “uma vitória da Rússia enfraqueceria o
Ocidente, especialmente a Europa”. Essa
pequena península no extremo ocidental da
gigantesca massa euro-asiática que é livre,
desenvolvida e próspera. A revista britânica
nota que a pergunta mudou de tom. Começou
por ser, ao longo dos últimos dois anos,
sobretudo retórica. Servia para incentivar os
países ocidentais, sobretudo europeus, a
acelerar o seu apoio militar à Ucrânia quando
parecia estar a esmorecer. Hoje, a pergunta
passou a ter outro signiÆcado: sublinhar com
total dramatismo um cenário que se torna
cada vez mais provável. Hoje, é o medo de
que isso aconteça que parece paralisar a
vontade europeia – a América é outra história,
ainda mais dramática –, numa altura em que a
Ucrânia se vê obrigada a pedir,
desesperadamente, ajuda todos os dias.
Como chegámos aqui? A Rússia, depois de
ter atravessado um momento em que pairava
a hipótese de ter de retirar sem proveito e sem
glória, por altura do Verão de 2022,
reorganizou-se, conta com o apoio militar do
Irão e da Coreia do Norte, mais a decisiva
ajuda económica e Ænanceira da China, pôs a
sua indústria de defesa a funcionar, passou a
tirar partido das cíclicas hesitações ocidentais
sobre o tipo e a quantidade de armamento a
fornecer à Ucrânia.
2. O mal está feito. Agora o que interessa é
saber como superá-lo. Mas o que observamos
é precisamente o contrário. Voltam as
hesitações. Regressa um certo pânico. E falta,
obviamente, aquilo que existiu durante a
primeira fase da guerra: uma forte liderança
americana. A ajuda militar americana
continua refém de duas dúzias de
“trumpistas” fanáticos no Congresso,
ignorantes e irresponsáveis, que travam a
aprovação de uma verba de 60 mil milhões de
dólares para a Ucrânia, desde o Outono do
ano passado. Que vão ao ponto de ameaçar o
Speaker da Câmara de Representantes, saído
das suas próprias Æleiras, caso ceda às
pressões para que leve à votação a lei que
permite esta ajuda e que já obteve “luz verde”
do Senado. Ontem, havia a esperança de que
o pudesse fazer nos próximos dias,
dependendo de uma vista a Mar-a-Lago para
pedir autorização a Donald Trump.
Joe Biden precisa de que os europeus
assumam, cada vez mais, a responsabilidade
pelo apoio à Ucrânia, não apenas pela
situação que enfrenta internamente, mas
porque tem em mãos uma crise tremenda no
Médio Oriente, que ameaça escalar para um
conÇito generalizado. Na sexta-feira, o
Presidente americano avisou que um ataque
iraniano a Israel podia estar por dias. O
Pentágono está a deslocar mais meios
militares para a região, para tentar dissuadir
Teerão de qualquer aventura mal pensada.
Podemos imaginar as movimentações
diplomáticas, mais ou menos discretas, que
estão em curso, incluindo em Pequim.
3. Biden não pode descurar, nem por um
momento, o Indo-PacíÆco. Na última semana
deu um sinal fortíssimo à China, durante a
visita do primeiro-ministro japonês, Fumio
Kishida, a Washington e depois de uma
iniciativa trilateral inédita que juntou as
Filipinas aos dois países para forjar uma
aliança defensiva que inclui cooperação e
apoio militar.
O Presidente americano tem de responder,
ao mesmo tempo, aos desaÆos imediatos e
aos desaÆos estratégicos à segurança global.
Está a reforçar e a consolidar a rede de
alianças no Indo-PacíÆco, envolvendo o
Japão, a Coreia do Sul e a Austrália. Na última
reunião do AUKUS, uma parceria de
segurança que une Estados Unidos, Reino
Unido e Austrália, a hipótese do seu
alargamento a outras democracias da região
foi equacionada. Como disse o
primeiro-ministro japonês na sua intervenção
perante o Congresso americano, os Estados
Unidos não se podem dar ao luxo de se
perderem em elucubrações e em “dúvidas
existenciais sobre o seu papel de liderança
mundial”, porque ele é mais necessário do
que nunca.
Nem é preciso dizer que, para a Europa,
uma escalada no Médio Oriente teria
consequências imensas. Seria mais um
conÇito em grande escala na sua vizinhança e
em relação ao qual, ao contrário da Ucrânia,
tem escassíssimos meios para interferir.
4. Voltando à Economist, o que está em
causa na Ucrânia é imenso. “Por mais sombrio
que tenha sido o regresso da guerra ao
continente, os benefícios que Putin poderia
recolher de uma vitória seriam ainda muito
piores.” Seria a credibilidade do Ocidente que
Æcaria em causa perante todo o mundo. Junto
dos adversários e junto dos aliados. Junto dos
muitos países do Sul Global que se encontram
perante o dilema de ter de escolher entre a
China e os Estados Unidos. Seria a condenação
da Europa a viver sujeita a uma ameaça
constante à sua segurança, com a permanente
incerteza sobre o risco de guerra. “Para além
do sentimento de culpa e de vergonha, uma
sensação de medo atravessaria a Europa”,
REUTERS
Vladimir Putin não vai
desistir de obter
o máximo proveito
da invasão da Ucrânia.
Na América, conta com
Trump. Na Europa,
conta com os partidos
políticos de direita
radical e extrema que
são contra o apoio
à Ucrânia. São muitos
e cada vez mais fortes
continua a revista britânica. “Haverá um novo
ataque? Será a um país da NATO, obrigando os
aliados a agir?”
Timothy Garton Ash, o historiador de
Oxford que tem estudado a Europa como
poucos, dedica um dos seus últimos postais
europeus à mesma pergunta: “O que
acontecerá se Putin ganhar?” É mais
contundente. A pergunta “pareceria
incompreensível apenas há alguns meses,
mas a incompetência ocidental garantiu que
seja possível imaginar uma derrota ou o
colapso da Ucrânia, apenas porque os
ucranianos estão a Æcar sem munições, sem
mísseis ou sem quase tudo”. “Se isso
acontecer, será da nossa responsabilidade.”
O historiador britânico é particularmente
crítico na sua avaliação do comportamento
dos líderes das democracias. “Na sua ajuda ao
combate dos ucranianos, estiveram sempre
mais preocupados com uma derrota da Rússia
do que em conceber uma estratégia para a
Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 9
vitória da Ucrânia.” Enumera as consequências
desastrosas de uma vitória de Putin: milhões
de ucranianos a fugir para o Ocidente,
alimentando o nacionalismo e o populismo,
que é justamente a ambição de Putin; a
Ucrânia será ela própria utilizada por Moscovo
para desestabilizar a União Europeia; Putin
não se Æcará pela Ucrânia e tirará proveito da
fraqueza do Ocidente para provocar os bálticos
e a Polónia, prosseguindo os seus objectivos
expansionistas; os gastos da União e da NATO
com a defesa crescerão exponencialmente,
fazendo do esforço Ænanceiro para apoiar a
Ucrânia uma brincadeira; o que acontecerá ao
euro e à própria União Europeia, ninguém
sabe ao certo.
Exagero, dirão alguns. Antes da II Guerra,
muita gente achava um exagero denunciar as
ambições belicistas e criminosas de Hitler.
Timothy Garton Ash dedicou a sua vida
académica à história da Europa. Sabe do que
fala. Não é o único a pensar assim.
5. Vladimir Putin também sabe tudo isto e
não vai desistir de obter o máximo proveito
da invasão da Ucrânia.
Na América, conta com Trump. Na Europa,
conta com os partidos políticos de direita
radical e extrema que são contra o apoio à
Ucrânia mais ou menos abertamente e que
aderem à componente ultraconservadora da
sua ideologia. São muitos e cada vez mais
fortes. Minam por dentro a União Europeia.
Desgastam as forças políticas moderadas.
Complicam as coligações de governo.
Suspeitamos de que alguns deles mantêm
redes de contactos secretas com o Kremlin.
Sabemos até que ponto hoje a Rússia utiliza as
redes sociais, o suborno e a espionagem para
inÇuenciar os acontecimentos políticos nas
democracias europeias. Os casos que vêm a
público são a ponta do icebergue.
6. Uma breve nota sobre o nosso país. A
semana passada foi dominada por dois
acontecimentos particularmente
signiÆcativos. O Paramento debateu o
programa do novo Governo, num ambiente
crispado em que tudo aquilo que foi dito
acima esteve ausente. Montenegro limitou-se
a fazer proÆssão de fé no apoio à Ucrânia.
Assunto arrumado. Paralelamente, as palavras
de Passos Coelho na apresentação de um livro
escrito por um conjunto de personalidades
conservadoras sobre a família e a mulher
geravam um intenso debate. JustiÆcado. A sua
intervenção veio alertar-nos para o seguinte:
está em curso uma reconÆguração do
centro-direita e da direita em Portugal cujo
objectivo é a criação de uma grande formação
política que vá da ala social-democrata do PSD
até ao Chega. Passos Coelho quer ser o
protagonista e não parece querer dar a
Montenegro tempo para governar com outros
objectivos que não o seu.
Os partidos de extrema-direita e de direita
radical não podem ser avaliados apenas pela
percentagem de votos que obtêm. Têm de ser
avaliados pela sua capacidade de contaminar
e condicionar toda a direita e até bem para
além dela.
Jornalista. Escreve ao domingo
10 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Política Descida de impostos anunciada pelo Governo causa polémica
Esquerda e
direita criticam
em uníssono
“embuste” do
Governo no IRS
PS e Chega querem ouvir o ministro
das Finanças, Joaquim Miranda
Sarmento, na Assembleia da República.
IL e BE também criticam
Margarida Gomes
No primeiro Æm-de-semana do novo
Governo, o PS anuncia que vai avan-
çar com um pedido de debate urgen-
te para a próxima quarta-feira com o
objectivo de chamar o ministro das
Finanças, Joaquim Miranda Sarmen-
to, a explicar as medidas de alívio
Æscal prometidas pelo Governo. O
pedido foi anunciado ontem ao início
da tarde pela líder da bancada parla-
mentar do PS, Alexandra Leitão. A
meio da tarde foi a vez de o Chega
anunciar que vai pedir a audição do
ministro das Finanças e da secretária
de Estado dos Assuntos Fiscais na
Comissão de Orçamento e Finanças.
“Depois de no debate do Programa
do Governo o primeiro-ministro ter
anunciado uma descida de impostos
de IRS no valor de 1500 milhões de
euros, Æcamos a saber que, aÆnal,
essa redução é de uns meros 200
milhões de euros, a diferença entre
os 1300 milhões que já tinham sido
reduzidos, desde Janeiro, no Orça-
mento do Estado de 2024, pelo Gover-
no do PS, e os tais 1500 milhões anun-
ciados”, declarou Alexandra Leitão,
em conferência de imprensa.
Referindo-se ao corte Æscal no IRS
prometido pelo Governo da Aliança
Democrática como um “embuste” e
uma “desfaçatez”, a líder da bancada
do PS disse que, “para quem fala tan-
to em lealdade e conÆança, isto é a
comprovação total da falta de credi-
bilidade deste governo”. Relativamen-
te ao pedido de urgência de ida do
ministro das Finanças ao Parlamento,
a ex-ministra acredita que este “não
se furtará a prestar todos os esclare-
cimentos bem devidos aos portugue-
ses e ao Parlamento.”
Governo desmente
Pouco antes de Alexandra Leitão dar
início à conferência de imprensa, em
que disse que o país foi enganado,
“propositadamente ou não”, não só
durante as “últimas 48 horas”, mas
durante toda a campanha eleitoral”,
a Presidência do Conselho de Minis-
tros emitiu um comunicado no qual
aÆrma que “o Governo está a cumprir
rigorosamente a proposta com que
se comprometeu perante os portu-
gueses ao longo de oito meses e, repe-
tidamente, em campanha eleitoral”.
Por seu lado, André Ventura, pre-
sidente do Chega, anunciou em con-
ferência de imprensa que “o Chega
usará do seu poder parlamentar para
chamar, já no primeiro dia, o ministro
das Finanças à Comissão de Orça-
mento e Finanças, bem como a secre-
tária de Estado dos Assuntos Fiscais,
para explicar efectivamente ao país
qual é a descida de IRS que se propõe
fazer para o próximo ano, qual o
alcance que terá e qual o seu impacto
nas famílias portuguesas”. Isto por-
que considera que “o Governo não
pode apenas fazer anúncios de forma
retórica, tem que os concretizar”. E
garantiu: “Prometeram-nos um cho-
que Æscal de descida de IRS, no valor
de 1500 milhões de euros, esta pro-
messa feita sobre outro Orçamento
do Estado. Parece evidente que signi-
Æca um acréscimo à descida e não a
concretização da descida que outros
prometeram fazer no ano passado.”
Os partidos exigem explicações ao
Governo sobre a nova redução do
IRS, anunciada sexta-feira à noite,
pelo ministro das Finanças, numa
entrevista no Telejornal da RTP.
Miranda Sarmento admitiu que a
nova redução de IRS anunciada por
Luís Montenegro só rondará os 200
milhões de euros. A descida — disse
— será dessa ordem de grandeza, por-
que a larga maioria do corte Æscal de
1400 milhões de euros prometido no
Parlamento pelo primeiro-ministro
decorre da redução que está em vigor,
aprovado com o Orçamento do Esta-
do para 2024, por iniciativa do Gover-
no de António Costa.
“No debate de apresentação do
Programa do Governo, o primeiro-
ministro anunciou uma descida das
taxas de IRS até ao oitavo escalão,
que vai perfazer uma diminuição
global de cerca de 1500 milhões de
euros nos impostos do trabalho dos
portugueses face ao ano passado”,
diz o comunicado no qual o Governo
garante que “a aÆrmação do primei-
ro-ministro é factualmente verdadei-
ra e indesmentível (...) e que corres-
ponde cabalmente ao que consta do
Programa do Governo, bem como do
Programa Eleitoral da AD. No qual se
estimava o mesmo valor total da
medida (pág. 97), no montante de
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
dois mil milhões de euros somando
a isenção de prémios de desempe-
nho e esta redução de taxa de IRS”.
O Governo especiÆca no documen-
to que as “taxas marginais a aplicar
constam especiÆcamente da propos-
ta ‘Reforma Fiscal para Portugal’
apresentada pelo PSD em Agosto de
2023 e que foram actualizadas para
os novos escalões em proposta apre-
sentada à Assembleia da República,
em Novembro de 2023, na especiali-
dade do Orçamento do Estado
(OE2024)”.
“A medida anunciada pelo primei-
ro-ministro é a de sempre e consisten-
temente a mesma”, salienta a nota,
assegurando que “nenhum membro
do Governo ou dos partidos da coli-
gação que o apoiou alguma vez suge-
riu, indicou ou admitiu outras redu-
ções de taxas, designadamente que
tivessem a mesma dimensão, mas a
acrescer ao constante na Lei do OE
2024”. “Que alguns actores políticos
ou mediáticos se tenham equivocado,
Æccionando outras reduções de taxas
de magnitude muito diferente ou
superior (e que seriam orçamental-
mente irresponsáveis), é um erro
sério que só a eles os responsabiliza”,
observa o texto, que fala de equívocos
e Æcções.
Para o executivo, “bastava-lhes
fazer um cálculo básico” para lhes
mostrar que “essa Æcção de redução
superior seria totalmente incompatí-
vel com o que o primeiro-ministro
aÆrmou no Parlamento e com o Pro-
grama do Governo. Em vez de 1500
milhões de euros ‘face ao ano passa-
do’ (2023), o impacto seria de 2600
milhões de euros face a 2023. Nunca
o primeiro-ministro ou o Governo o
disseram ou sugeriram”.
IL e BE questionam
Para além do PS e do Chega, também
a Iniciativa Liberal e o Bloco de
Esquerda questionam a nova redu-
ção do IRS. O líder da IL declarou
que o “estado de graça do Governo”
acabou, considerando que o choque
Æscal prometido é apenas “um reto-
que”, e acusou o PSD de começar a
ter “problemas de transparência e
decência”. “Acabou o estado de gra-
ça [do Governo] ao Æm de 48 horas
porque, de alguma maneira, aquilo

ANTÓNIO COTRIM/LUSA
O ministro das Finanças terá
de explicar no Parlamento
decisões do primeiro-ministro
que tivemos agora é o Governo, o
PSD, a tentar não ser claro relativa-
mente a esta matéria”, aÆrmou Rui
Rocha, em Matosinhos, à margem de
um evento com liberais europeus,
dedicado às eleições europeias de 9
de Junho.
Rui Rocha salientou que, desde
Agosto de 2023, a IL vinha a apontar
que o objectivo do PSD em matérias
Æscais “era muito pouco” e conside-
rou que aquilo que o Programa do
Governo prometeu, e que já tinha
sido prometido na campanha eleito-
ral, “não é um choque Æscal, é um
retoque Æscal”. Referiu ainda que
questionou o Governo sobre os 1500
milhões de euros de alívio no IRS
referidos pelo primeiro-ministro esta
quinta-feira, no início do debate do
Programa do Governo, e que Luís
Montenegro não esclareceu.
A coordenadora do Bloco de
Esquerda, Mariana Mortágua, reagiu
na rede social X às declarações do
ministro das Finanças, que clariÆcou
que os 1500 milhões de euros de
redução do IRS que tinham sido
anunciados por Luís Montenegro
aÆnal representam apenas cerca de
200 milhões. “A descida do IRS é
aÆnal um embuste. A única promes-
sa que não era a brincar é a redução
do IRC sobre os lucros das grandes
empresas. Ao Æm de uma semana, a
imprensa já pede desculpa aos leito-
res por ter acreditado em Montene-
gro”, lê-se numa publicação de
Mariana Mortágua. com Lusa
Receita fiscal
IRS está em alta, com mais
cem milhões de euros em dois meses
Pedro Crisóstomo
Confronto político entre
Montenegro e a oposição
sobe de tom. Números
da receita dão argumentos
para os dois lados
O Orçamento do Estado (OE) para
este ano assume que a receita do
IRS, mesmo com o desagravamento
de 1300 milhões de euros já em cur-
so, vai Æcar praticamente ao mesmo
nível do valor arrecadado em
2023.
Embora a previsão anual seja de
um ligeiro recuo (de apenas 0,4%),
a trajectória nos dois primeiros
meses do ano revelou-se melhor do
que o antecipado, com a receita do
IRS a aumentar a um ritmo superior
ao projectado pela equipa do ante-
rior ministro das Finanças, Fernan-
do Medina.
Os dados da execução orçamental
ainda são escassos para permitir
conclusões de sentido único sobre
o que acontecerá ao longo do ano:
se, por um lado, a cobrança está em
alta, o ajustamento das tabelas de
retenções na fonte no início do ano
já se reÇecte nas contas. E com a
subida do tom que o tema do IRS
assumiu nos últimos três dias depois
das declarações de Luís Montene-
gro, no Parlamento, ao anunciar
uma descida do IRS de 1500 milhões
“face ao ano passado”, os partidos
podem agarrar nos dados oÆciais já
conhecidos sobre 2024 e fazer leitu-
ras diferentes, à medida de quem
aposta numa descida maior do IRS
e de quem defende maior cautela.
Vamos por partes. Só em Janeiro
e Fevereiro, o Estado encaixou 3088
milhões de euros de IRS, mais 107
milhões do que a quantia obtida no
mesmo período do ano passado. É
um acréscimo que equivale a meta-
de do desagravamento adicional de
cerca de 200 milhões conÆrmado
pelo novo Governo (ou 7% da redu-
ção total de 1500 milhões prevista
para este ano).
Para já, há uma explicação para o
facto de a receita estar a aumentar
(e não a cair ou a estagnar): como
há mais pessoas no mercado de tra-
balho do que há um ano e o valor da
massa salarial é superior, fruto des-
se aumento e da subida dos salários,
a receita do imposto que tributa os
rendimentos do trabalho é maior,
ainda que o nível da tributação seja
mais baixo e esse desagravamento
já se reÇicta, mesmo que parcial-
mente, nas tabelas de retenção na
fonte.
As alterações nos escalões do IRS
Tabela actual
Versão em vigor com
o OE de 2024
Rendimento colectável
Em euros
Até 7703 euros
De mais de 7703 até 11.623
De mais de 11.623 até 16.472
De mais de 16.472 até 21.321
De mais de 21.321 até 27.146
De mais de 27.146 até 39.791
De mais de 39.791 até 51.997
De mais de 51.997 até 81.199
Superior a 81.199
* Na proposta do PSD, as taxas destes dois escalões eram superiores
às da proposta original do Governo (as mesmas que estão em vigor)
Fonte: Código do IRS e proposta do PSD
A receita de IRS cresceu 6,8% em
Janeiro em termos homólogos; no
entanto, em Fevereiro, o Estado
encaixou menos 0,3% do que em
Fevereiro de 2023. E só o desempe-
nho de Janeiro explica a tal variação
positiva de 107 milhões.
A última síntese da Direcção-Ge-
ral do Orçamento (DGO) não explica
a inversão da tendência em Feverei-
ro. No entanto, é preciso ter presen-
te que, logo em Janeiro, as empre-
sas, os serviços do Estado, a Segu-
rança Social, a Caixa Geral de
Aposentações (CGA) e outras enti-
dades pagadoras de salários ou de
pensões começaram a reter menos
IRS (porque as tabelas que Æxam o
valor do desconto mensal a entregar
Só em Janeiro e
Fevereiro, o Estado
encaixou 3088
milhões de euros
de IRS, mais 107
milhões do que
a quantia obtida
no mesmo período
do ano passado.
É um acréscimo
que equivale
a metade do
desagravamento
adicional de cerca
de 200 milhões
Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 11
Proposta do PSD
no último orçamento
Iniciativa chumbada
em Novembro de 2023
Rendimento colectável
Taxa Taxa
normal Em euros normal
13,25% Até 7703 euros 13%
18% De mais de 7703 até 11.623 19%*
23% De mais de 11.623 até 16.472 23,5%*
26% De mais de 16.472 até 21.321 25,5%
32,75% De mais de 21.321 até 27.146 32%
37% De mais de 27.146 até 39.791 34%
43,5% De mais de 39.791 até 51.997 43%
45% De mais de 51.997 até 81.199 44,75%
48% Superior a 81.199 48%
PÚBLICO
ao Estado foram ajustadas). E Feve-
reiro foi o primeiro momento em
que o Estado sentiu esse efeito, por-
que as importâncias retidas na fon-
te em Janeiro tiveram de ser entre-
gues ao Æsco até dia 20 de Feverei-
ro.
Não é certo que a tendência da
cobrança mensal se mantenha nes-
te ritmo. Dois meses de execução
orçamental representam ainda pou-
co tempo para se perspectivar um
ano completo, embora no ano pas-
sado o ritmo da variação até Feve-
reiro tenha sido próximo da varia-
ção do ano completo: em 2023, a
receita aumentou 13,6% face a 2022
(passou de 15.787 milhões para
17.932 milhões) e o ritmo de cresci-
mento nos dois primeiros meses do
ano também já apontava para um
aumento dessa ordem de grandeza
(14,7%).
Frase controversa
Este nível de crescimento global dos
primeiros dois meses parece dar um
pouco mais de margem de manobra
ao Governo para alargar a descida
das taxas de IRS ao sexto, sétimo e
oitavo escalões.
A declaração do primeiro-minis-
tro durante o debate do Programa
do Governo de que a redução das
taxas do primeiro ao oitavo escalão
“vai perfazer uma diminuição glo-
bal de cerca de 1500 milhões de
euros nos impostos do trabalho dos
portugueses face ao ano passado”
gerou dúvidas de interpretação,
quer na imprensa, quer nos parti-
dos com assento parlamentar, quer
entre comentadores políticos.
Como Montenegro não clariÆcou
que preparava uma descida adicio-
nal de 200 milhões face à redução
de 1300 milhões já aprovada no Par-
lamento por iniciativa de António
Costa, o tom das críticas da oposi-
ção subiu de imediato — e ainda
mais depois de o ministro das Finan-
ças, Joaquim Miranda Sarmento, ter
conÆrmado que, aÆnal, será essa a
redução.
A declaração de Montenegro já
indiciava que o desagravamento
seria dessa ordem, porque o primei-
ro-ministro fez a comparação com
2023, mas as dúvidas instalaram-se
na quinta e na sexta-feira. E a ausên-
cia de uma clariÆcação durante todo
o debate do programa do executivo
deixou os partidos em polvorosa. A
conÆrmação só chegou na noite de
sexta-feira com a entrevista do
ministro à RTP.
Descida para todos
Em 2024 haverá uma descida das
taxas do primeiro ao oitavo escalão
em relação a 2023, sendo que, neste
momento, já há uma redução das
taxas do primeiro ao quinto.
Como o IRS é um imposto pro-
gressivo, haverá — como já há neste
momento — uma descida para todos
os contribuintes, mesmo para quem
está no nono escalão. Embora os
cidadãos do último patamar conti-
nuem a ser tributados sobre essa
fatia de rendimentos pela taxa de
48% (igual à de 2023), também sen-
tirão um alívio no IRS porque as
fatias de rendimentos dos patama-
res inferiores serão tributadas com
taxas mais baixas do que em 2023.
A proposta de lei que o Governo
vai entregar no Parlamento ainda
não é conhecida. A base da iniciati-
va será a proposta que o PSD apre-
sentou na Assembleia da República
durante a discussão do último Orça-
mento do Estado, embora devam
surgir alterações. O próprio minis-
tro das Finanças admitiu à RTP que
a versão a aprovar “procurará ser
mais ambiciosa” do que essa.
Se compararmos a tabela actual
com aquela que o PSD propôs, há
poucos meses, veriÆca-se que as
actuais taxas do segundo e terceiro
escalões (18% e 23%) já são mais bai-
xas do que as que o PSD defendia
(19% e 23,5%).
A aprovação da proposta de diplo-
ma no Conselho de Ministros está
agendada para sexta-feira, disse Joa-
quim Sarmento. Depois, terá de
seguir para o Parlamento, para ser
votada pelos partidos, porque a
alteração de impostos é uma exclu-
siva competência dos deputados.
12 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Sociedade Encontro na Gulbenkian discutiu novos modelos prisionais
Na prisão de
Ana Cristina Pereira
A directora do Estabelecimento Pri-
sional de Torres Novas, Paula Qua-
Torres Novas, dros, fez esta revelação no Prison
Insights, evento internacional prepa-
rado para pensar os sistemas prisio-
nais e promover boas práticas. “Nes-
a taxa de te momento, estamos com uma taxa
de reincidência de 6,7%.”
Torres Novas encontra-se, desde
reincidência
Setembro de 2020, a ensaiar um novo
modelo: é uma antiga prisão comarcã,
integrada na cidade, com lotação para
38 pessoas, a prestar tratamento indi-
é de 6,7%
vidualizado a cada uma, todas em
regime aberto virado para o exterior,
o que quer dizer que podem desenvol-
ver actividades de ensino, formação
proÆssional, trabalho, programas em
meio livre, sem vigilância directa.
Para ali têm convergido pessoas
que passaram longos anos dentro de
cadeias centrais e estão a um ou dois
Prisão de pequena escala está desde de sair em liberdade. “Umas 60%
foram condenadas a mais de dez
Setembro de 2020 a testar novo modelo anos, umas 20% a mais de 20. E 50%
que assenta em integração na já são reincidentes. E, no entanto,
chegam ali e acabam por perceber a
comunidade e tratamento individualizado ÆlosoÆa do projecto. Nós, realmente,
tentamos dar oportunidade a quem
de facto quer ser ajudado.”
Não há dados sobre reincidência
em Portugal, como lembrou a antiga
procuradora-geral Joana Marques
Vidal no encerramento do evento
organizado pela Reshape e pelo Ins-
tituto Galvão Teles, com o apoio da
rede europeia Rescaled, na Fundação
Gulbenkian, na quinta-feira, dia 11 de
Abril. Tudo o que há é uma estimati-
va, já lançada pela Provedoria de Jus-
tiça em 2003, que aponta para uma
taxa de reincidência de 51%. Muitíssi-
mo longe dos 6,7% agora anunciados
por Paula Quadros.
No prazo de 30 meses, entraram 99
homens e saíram 60, tendo reincidido
quatro. No âmbito de uma tese de
doutoramento, agora será feito um
estudo longitudinal que deverá trazer
mais elementos.
Não é só o tamanho. “O EP de Tor-
res Novas adoptou uma perspectiva
de intervenção sistémica, com total
abertura ao exterior”, sublinhou.
Todos estão convocados para poten-
cializar a educação, a formação pro-
Æssional, o trabalho, mas também a
cultura, o desporto, o lazer.
“Há todo um trabalho em conjuga-
ção com a sociedade”, ressaltou. “E
porquê? Porque partimos do princí-
pio de que a sociedade é co-respon-
sável pela ressocialização dos reclu-
sos. A partir do momento em que um
recluso entra no sistema prisional não
é só responsabilidade nossa, é res-
ponsabilidade de toda a sociedade,
porque ele está de passagem, não
perdeu os seus direitos de cidadão.”
Paula Quadros deteve-se sobre o
esforço de os inserir no mercado de
trabalho, receber um salário. “Tínha-
mos um protocolo apenas com a
autarquia e contemplava quatro vagas
de trabalho. Neste momento, temos
protocolos com cinco autarquias,
uma junta de freguesia, quatro
Com lotação para
38 pessoas, todas
em regime aberto
virado para o
exterior,a prisão
de Torres Novas é
caso único no país
 Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 13

PAULO PIMENTA
Torres Novas têm recebido
pessoas que passaram anos
em cadeias centrais e estão a
um ou dois de sair em liberdade
empresas privadas. Temos um total
de 50 vagas de trabalho para uma
lotação de 38 reclusos.”
Aquele parece-lhe um sinal de que
as entidades empregadoras “reconhe-
cem o bom desempenho dos reclu-
sos”. “Esforçam-se e têm correspon-
dido às expectativas e às tarefas que
lhes são pedidas. Também tem que
Muitos reclusos foram apanhados a
conduzir sem carta. Podem tirá-la,
pagando para o fazer.
O movimento não é só de dentro
para fora. Também é de fora para
dentro. “Tivemos sempre a preocu-
pação de trazer a sociedade ao EP”,
assegurou Paula Quadros. “Mesmo na
esfera laboral, muitas entrevistas de
trabalho são feitas no estabelecimen-
to prisional para que as entidades
externas vão perdendo aquele estig-
ma, aquela imagem distorcida do que
é a prisão.”
Gaba-se de ter uma “taxa de suces-
so adaptativo de 81%”. Quer isto dizer
que, naqueles primeiros 30 meses,
foram revogados 18 regimes abertos
virados para o exterior. Um recluso
pôs-se em fuga a meio de um dia de
trabalho.
O regresso ao ponto de partida era
mais frequente no início. “Como vie-
ram em grupo, houve uma certa ins-
tabilidade”, elucidou. “Neste momen-
to, vêm a conta-gotas. O grupo tem
um efeito normativo pela positiva. Os
reclusos já conquistaram o seu espa-
ço, não querem perder oportunida-
des. Eles próprios balizam os que
vêm. Têm de andar ali na linha, por-
que não podem prejudicar o resto do
grupo.”
Há uma sintonia entre corpo da
guarda e corpo técnico. “Isto só fun-
ciona se funcionarmos como uma
equipa”, frisou, por sua vez, Rui
Galante, adjunto da directora. “Não
há pessoal da farda, não há civis.
Somos todos a mesma equipa. Traba-
lhamos todos para o mesmo.”
Na sua curta intervenção, aquele
responsável abordou algumas diÆcul-
dades. “Com as regras rígidas que nós
temos e que são implementadas em
qualquer cadeia, não é possível tra-
balharmos”, admitiu Rui Galante.
“Precisamos de alguma Çexibilida-
de.” Estão a preparar, com o apoio da
Reshape, uma proposta de regula-
mento.
O antigo director-geral Rómulo
Mateus tinha dito que, se funcionasse,
o projecto seria replicado. “O objecti-
vo era esse”, recordou Paula Quadros,
à margem do evento. “Tem resultados
palpáveis. No fundo, é uma pena que
Reforma do modelo prisional
“Dava muito mais jeito ter prisões
de média dimensão nalguns sítios”
Entrevista
Ana Cristina Pereira
Rui Abrunhosa Gonçalves
Director dos Serviços
Prisionais trocava pequenas
prisões por médias
no Minho ou Algarve
O director-geral de Reinserção e
Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa
Gonçalves, esteve quinta-feira, na
Fundação Gulbenkian, no Prison
Insights, evento organizado pela
Reshaped e pelo Instituto Galvão
Teles para repensar os sistemas. E
ouviu que em 30 meses
reincidiram 6,7% dos reclusos
saídos do Estabelecimento
Prisional de Torres Novas, que
ensaia um novo modelo de prisão.
O PÚBLICO questionou-o à saída
sobre o futuro deste modelo.
Há algum plano para replicar o
modelo do Estabelecimento
Prisional de Torres Novas, que
combina pequena escala,
integração na comunidade,
tratamento individualizado?
Quase todas as prisões pequenas
têm maior inserção na comunidade.
A questão é a população dessas
prisões. Em Torres Novas temos
indivíduos que já estão em Ænal de
cumprimento de pena e em regime
aberto. Como estão em regime
aberto, podem só ir dormir à prisão.
Todas as prisões pequenas — e
grandes — têm reclusos neste
regime. Agora, umas estão mais
bem inseridas [na comunidade] do
que outras.
Quarta-feira estive em Évora.
Évora é uma prisão especial por
causa das pessoas que lá estão
tem mesmo isso. Mas também é
complicado. Muita da gente que vai
para ali Æca desenraizada em
relação ao local onde estava, em
relação a visitas.
O que pensa do conceito de casa
de detenção, tão discutido no
Prison Insights?
É um bom conceito. É a perspectiva
que faz uma preparação melhor
para a liberdade. Agora, aquilo não
é tão barato como isso. Até
recuperar o investimento numa
casa destas não é tão fácil. Mas estou
perfeitamente a favor.
Veja-se as diÆculdades com que
tem andado a Reshape [que fez um
protocolo com a DGRSP para abrir
uma casa de saída/reinserção em
Braga e agora está à procura de
parceiro noutro sítio]. Quiseram
abrir uma casa junto a grandes
centros. As rendas subiram e foi
uma chatice.
É preciso que haja vontade
política. Nós precisávamos muito
mais de fechar não sei quantas
prisões destas pequenas e construir
uma outra nova. Algumas destas
prisões pequenas não têm
condições para trabalhar com os
presos.
Como assim?
As pequenas têm esta questão [da
inserção na comunidade envolvente
e do tratamento penitenciário mais
individualizado], mas depois
consomem-nos imenso pessoal, não
é aquela ali [de Torres Novas] que só
tem regimes abertos. As outras têm
preventivos, têm condenados, é
muito complicado ter guardas e
técnicos em número suÆciente.
Dava muito mais jeito ter prisões de
média dimensão nalguns sítios.
De que tamanho?
Duzentos a trezentos. No Minho,
por exemplo, era fechar Guimarães,
Braga e Viana do Castelo e ter uma.
No Algarve, a mesma coisa:
fechar-se Faro, Olhão e Silves e ter
uma e rentabilizarmos.
Isso diÆculta as visitas, até por a
rede de transportes públicos ser
deÆcitária …
É preferível uma coisa assim. Se nós
percebermos, podemos envolver
mais programas. Nas outras, a
própria concepção arquitectónica…
são prisões que têm mais de 70
anos, às vezes 80. Foram
construídas no Estado Novo. Agora
nós vemo-nos à nora, muitas vezes.
Eu não sou contra as prisões
pequenas. O problema é serem
prisões pequenas construídas há
muitos anos. Têm um pé-direito
brutal, dois pisos, mas depois, do
ponto de vista de ter espaços de
convívio, de trabalho, visitas como
deve ser, tem de se andar sempre a
remendar com obras.
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ver com o grau de conÆança que nós
transmitimos às entidades, porque
fazemos um acompanhamento muito
próximo.”
De manhã, vê-se as carrinhas para-
das à porta da prisão para levar os
vários reclusos para o trabalho. Tra-
zem-nos ao Æm do expediente. Depois
do banho, muitos voltam a sair para
fazer qualquer coisa na cidade.
Paula Quadros deu o exemplo das
sessões de prevenção de comporta-
mentos adictivos na comunidade
escolar. “Vamos às escolas com os
reclusos fazer partilhas de testemu-
nho, dar o nosso contributo para evi-
tar que outros jovens caiam nas
malhas da prisão.”
Ao seu lado, a técnica de reeduca-
ção Natália Pombo mencionou o pro-
tocolo com uma escola de condução.
não se faça.” O novo director-geral,
Rui Abrunhosa Gonçalves, não parece
inclinado para tal, pelo menos nas
velhas cadeias comarcãs.
Continuam a abrir caminho. Na
mira está uma casa de saída destina-
da a quem sai da cadeia sem casa e
sem retaguarda familiar. “São dois
apartamentos que pertencem ao
Ministério da Justiça”, especiÆcou
Paula Quadros. “Falámos com o pre-
sidente da Câmara de Torres Novas
e ele fez o pedido ao Instituto de Ges-
tão Financeira. Eram apartamentos
de magistrados que estavam fecha-
dos há anos. A câmara alocou uma
verba para recuperá-los e vai cedê-
los ao estabelecimento prisional. Vão
passar agora pela fase das obras.
Espero que até Ænal do ano a casa
esteja a funcionar.”
[políticos, militares, elementos das
forças de segurança]. É uma espécie
de prisão VIP. Aí há menos
hipóteses de inserção na
comunidade, até porque muitos INSPEÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA
não querem ser vistos cá fora.
Outras prisões pequenas têm ESCOLAS EUROPEIAS – MOBILIDADE PARA
grande inserção na comunidade. O EXERCÍCIO DE FUNÇÕES DOCENTES
Veja-se Silves, lá em baixo, no
Algarve. Noutro dia, estive lá em Faz-se público que se encontra publicitado, na página oficial da
cima, em Lamego. Lamego também Inspeção-Geral da Educação e Ciência, www.igec.mec.pt, aviso
tem. Bragança é outro exemplo.
respeitante à mobilidade para funções docentes no ensino
Tem muitos protocolos não só com
as autarquias, mas também com secundário, lecionação de Geografia e Português na Escola
empresas. São prisões pequeninas, Europeia do Luxemburgo I e de Química na Escola Europeia
têm poucos reclusos, conseguem de Bruxelas II.
fazer mais isso.
Essas não têm toda a gente em Lisboa, 12 de abril de 2024
regime aberto, como Torres A Inspetora-Geral
Novas… Ariana Cosme
Não, nunca podem ter. Aquela ali só
14 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Sociedade
No ano passado desapareceram
4501 veículos em Portugal
Sónia Trigueirão
Na área da PSP houve
menos 492 furtos face
a 2022. Equipa especial
da polícia recuperou mais
de 10 milhões em três anos
No ano passado desapareceram 4501
veículos em Portugal, uma média de
12 por dia, segundo dados referentes
à área da PSP que indicam também
que o Porto continua, à semelhança
dos anos anteriores, a ser o distrito
onde ocorrem mais furtos.
Segundo os dados da PSP, veriÆ#
cou-se uma descida do número de
veículos desaparecidos, menos 492,
em comparação com 2022. Os veícu-
los ligeiros continuam a ser o alvo
preferencial dos furtos e dos roubos,
ou carjacking, que por sua ver regis-
taram um ligeiro aumento. Passaram
de 74 em 2022 para 77 em 2023.
De acordo com o subintendente
Filipe Silva, do Departamento de
Investigação Criminal da PSP, “a ten-
dência, nos últimos dez anos, para
este tipo de criminalidade tem sido
de descida” porque as autoridades
também estão mais atentas e há uma
cooperação internacional no que diz
respeito à partilha de informação.
“Tem havido mais operações que têm
levado a detenções que colocam em
causa redes organizadas associadas a
este tipo de crime”, aÆrmou o mesmo
responsável, dando como exemplo
de cooperação internacional uma
operação que decorreu no Ænal do
ano passado e que levou à detenção
de três indivíduos que estavam a tra-
zer para Portugal e a comercializar
viaturas furtadas na Bélgica e nos Paí-
ses Baixos.
“Foi detectada em Portugal uma
viatura com matrícula estrangeira e
veriÆcámos que estava para apreen-
são porque tinha sido furtada nos
Países Baixos. A partir daí foi aberta
uma investigação, que culminou com
a detenção de três suspeitos e a
apreensão de 26 viaturas de gama
média/alta”, relatou o subintendente,
sublinhando que os indivíduos Æca-
ram “em prisão preventiva por sus-
peitas dos crimes de receptação e
falsiÆcação”. “Em Portugal não lhes
vai ser imputado o crime de furto por-
que essa parte integra a investigação
que está aberta nos países onde esse
tipo de ilícito ocorreu”, sustentou.
Filipe Silva sublinha que, apesar de
haver uma tendência de descida dos
furtos e dos roubos, este tipo de cri-
minalidade é sempre uma preocupa-
ção. Aliás, segundo informação pres-
tada ao PÚBLICO pela PSP, este tipo
Relação
anula
condenação de
Mamadou Ba
Furto de veículos motorizados ramo automóvel pelas seguradoras”,
e máquinas industriais ou agrícolas por danos próprios, furto e roubo, em
especial durante o primeiro ano de
Activista anti-racista
tinha sido condenado
Ligeiros Motociclos Máquinas Pesados vigência do contrato de seguro, a par
industriais/ da reincidência dos suspeitos e da por difamação do militante
/agrícolas reiteração de sinistros com o mesmo de extrema-direita
2019 5206 714 85 10 veículo, que remetem para a existên-
Mário Machado
2020 4687 729 102 26 cia de indícios de fraude no sector
2021 4206 473 62 25 segurador.
Foi para travar este tipo de crimi- O Tribunal da Relação de Lisboa anu-
2022 4426 472 8 13
nalidade que “a PSP constituiu uma lou a condenação do activista anti-
2023 4021 381 3 19 equipa especial, em Outubro de 2019, racista Mamadou Ba no processo por
denominada Unidade Nacional de difamação do militante de extrema-
Furtos e roubos de veículos Unidade Nacional Investigação da Criminalidade Auto- direita Mário Machado, mandando
ligeiros, pesados, motociclos de Investigação móvel (UNICA)”. A UNICA visa o com- repetir o julgamento, informou o
bate ao crime automóvel em todas as SOS Racismo. A defesa de Mamadou
e máquinas industriais de Criminalidade
suas vertentes: o furto e roubo; a Ba decidiu recorrer da condenação
ou agrícolas Automóvel (UNICA)
viciação; a burla relativa a seguros e e a Relação considerou o recurso
Entre 2020 e 2023
6079 a criminalidade referente à sinistrali- “parcialmente procedente”, adian-
dade automóvel. tou o SOS Racismo em comunicado
5615 Desde 2020 até agora, a UNICA, ontem divulgado.
através do trabalho de investigação O Tribunal da Relação argumenta
desenvolvido pela brigada central de que o Juízo Local Criminal de Lisboa
4993
investigação de criminalidade auto- “não efectuou uma apreciação explí-
4874 4501 1280 móvel e pelas secções regionais de cita dos argumentos expostos pela
Investigações realizadas investigação de criminalidade auto- defesa, nem enquadrou ou contex-
móvel do Norte, Centro, Lisboa e Vale tualizou sequer as aÆrmações de
2019 2020 2021 2022 2023
do Tejo, Sul, Açores e Madeira, reali- Mamadou Ba, nomeadamente em
Nota: Não estão incluídos furtos zou 1280 investigações, apreendeu função dos trágicos acontecimentos
e roubos de ciclomotores, velocípedes,
trotinetes, triciclos, entre outros
283 viaturas e conseguiu recuperar ocorridos no dia da morte de Alcindo
mais de dez milhões de euros. Monteiro, da participação de Mário
Esta equipa concentra informação Machado e do seu passado violento”,
Roubo de viatura 283 dos furtos e roubos e tem equipamen- explica o SOS Racismo.
Viaturas apreendidas
108 to que permite, através das mais “Por esses motivos, a sentença
recentes técnicas forenses, perceber, recorrida foi anulada, por falta de
por exemplo, se um carro foi viciado. fundamentação, tendo sido determi-
€
“Os carros evoluíram tecnologica- nada a realização de novo julgamen-
mente, mas a tecnologia tanto está de to, cingido à ponderação dos factos
77 €
um lado como do outro”, sublinha o à luz da documentação e prova pro-
71
64 74 10.143.574,98€ subintendente Filipe Silva, acrescen- duzida nos autos, que permitam a
Valores recuperados/
tando que, se antigamente os crimi- devida contextualização da publica-
2019 2020 2021 2022 2023 apreendidos nosos recorriam a “uma gazua para ção de Mamadou Ba”, acrescenta.
abrir o carro e depois bastava fazer A juíza da primeira instância res-
Fonte: PSP PÚBLICO ligação directa para o ligar”, hoje tam- ponsável pela sentença considerou
bém o conseguem abrir facilmente e que Mamadou Ba não tinha emitido
de crime, de acordo com a Europol, ligar com recurso “a tecnologia que uma simples opinião, tendo imputa-
“constitui-se como um dos pilares da
Em 2010, até desliga o alarme”. do a Mário Machado “um facto falso
criminalidade organizada mais lucra- a criminalidade Actualmente há aparelhos de codi- e indiscutivelmente lesivo da sua
tiva, a seguir ao tráÆco de estupefa- Æcação de chaves que reprogramam honra”, ao chamar-lhe assassino.
cientes e ao tráÆco de armas, e que
automóvel estava os códigos da centralina para pôr o O Juízo Local Criminal de Lisboa
frequentemente serve de suporte a centrada carro a trabalhar e jammers, isto é, tinha condenado, em Outubro pas-
outras formas de criminalidade vio- bloqueadores do sinal de comunica- sado, Mamadou Ba a pagar 2400
lenta e grave”.
na exportação ção do GPS que permite localizar a euros de multa por ter difamado
Além disso, este tipo de criminali- de viaturas viatura. De acordo com o mesmo res- Mário Machado. Em causa estava
dade também está, muitas vezes, ponsável, ainda há alguns roubos, o uma publicação nas redes sociais em
associado a redes altamente organi-
de todo-o-terreno chamado carjacking, ou o recurso ao que Mamadou Ba escreveu que
zadas, com elevada especialização para África; hoje, reboque da viatura, mas com pouca Mário Machado foi uma das Æguras
técnica, com uma natureza policrimi- expressão. principais do homicídio, em 1995, do
nal e de âmbito transregional e trans-
as viaturas são Filipe Silva recorda, por exemplo, jovem com ascendência cabo-verdia-
nacional. Acresce que a eliminação comercializadas que em 2010 a criminalidade automó- na Alcindo Monteiro, no Bairro Alto,
progressiva do controlo de fronteiras vel estava centrada na exportação de em Lisboa, por neonazis.
e a livre circulação de pessoas e bens
ou vendidas viaturas de todo-o-terreno para África Quando ocorreu o homicídio,
na União Europeia foram factores em peças, explica e que agora, na maioria das vezes, as Mário Machado estava no Bairro
potenciadores do furto e roubo de viaturas furtadas são vendidas em Alto, onde, juntamente com outros
veículos e facilitam, de certa forma, a
o subintendente peças ou acabam por ser comerciali- nacionalistas de extrema-direita
sua introdução no mercado interna- Filipe Silva zadas, por particulares ou em stands munidos de soqueiras e com botas
cional ilícito. de automóveis, depois da falsiÆcação de biqueira de aço, protagonizou
E há ainda a considerar o volume de documentação e de números de actos de violência contra cidadãos
anual de “indemnizações pagas no chassis. negros. PÚBLICO/Lusa
 NÃO É QUALQUER VINHO
NÃO É QUALQUER CASA

20 PRODUTORES · 100 VINHOS

· 3 MASTERCLASSES
1 7, 1 8 E 1 9 D E M A I O 2 0 2 4
LA DISTILLERIE, LISBOA

PROGRAMA

17 DE MAIO 18 DE MAIO 19 DE MAIO

Masterclass — Vinhos para acelerar Masterclass — A Taste of History: Masterclass — Porto,

o coração com o Master of Wine
Dirceu Vianna Junior
Prova de 100 grandes vinhos
com 20 dos melhores produtores
e enólogos de Portugal
Showcooking com Luís Sottomayor
(Casa Ferreirinha), Luís Cabral (Herdade
do Peso) e Pedro Baptista (Cartuxa,
Tapada do Chaves), destaques da colecção
particular de copos de Adrian Bridge
(Taylor’s) e música com Carlos Agrellos
(Quinta do Noval)
Portugal´s fine White Wines pelos
Masters of Wine Peter Richards
e Susie Barrie (com prova, em inglês)
Prova de 100 grandes vinhos
com 20 dos melhores produtores
e enólogos de Portugal
Momentos exclusivos com
Mário Laginha, showcooking
com Mário Sérgio (Quinta
das Bágeiras) e música com
o casal de Masters of Wine
Peter Richards e Susie Barrie
as seduções de um vinho clássico,
com Manuel Carvalho
(crítico de vinho, PÚBLICO)
Prova de 100 grandes vinhos
com 20 dos melhores produtores
e enólogos de Portugal
Momentos únicos com
Sérgio Godinho e Filipe Raposo,
recital de poesia com Paulo Nunes
(Casa da Passarella) e convidados,
especial vinho da Madeira
com Ricardo Diogo (Barbeito)

Jantar volante com o Chef Alexandre Jantar volante com o Chef Alexandre Jantar volante com o Chef Alexandre
Silva, do Loco, 1 Estrela Michelin Silva, do Loco, 1 Estrela Michelin Silva, do Loco, 1 Estrela Michelin

Venda de vinho com a Garrafeira Imperial, Venda de vinho com a Garrafeira Imperial, Venda de vinho com a Garrafeira Imperial,
com entrega de vinho em casa e descontos com entrega de vinho em casa e descontos com entrega de vinho em casa e descontos

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16 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Mundo Conƍito no Médio Oriente
Ataque em
“grande escala”
do Irão a Israel
com drones
e mísseis
Israel e EUA preparavam-se para ataques
directos depois de porta-contentores com
bandeira portuguesa ter sido capturado
Sofia Lorena
Já passava das 23h de ontem (21h em
Portugal continental) quando as For-
ças de Defesa de Israel conÆrmaram
que dezenas de drones lançados do
Irão se dirigiam para o país e estavam
a ser seguidos pela Força Área, que se
preparava para os interceptar. Uma
hora depois, quando as autoridades
estimavam que tivessem sido lança-
dos mais de 100 drones, a imprensa
israelita dizia que os primeiros tinham
sido interceptados por cima da Jordâ-
nia. Outros foram depois intercepta-
dos no espaço aéreo da Síria.
Segundo um responsável norte-
americano citado pela televisão ABC,
a estimativa dos Estados Unidos é de
que seja um ataque com entre 400 e
500 drones e mísseis.
Os Guardas da Revolução iranianos
anunciaram que iam atingir alvos
especíÆcos dentro de Israel, com dro-
nes e mísseis, enquanto os media liga-
dos ao regime descreviam o lança-
mento de sucessivas vagas de drones.
O Ministério da Defesa de Teerão avi-
sou os países da região que seriam
atacados se abrissem o seu espaço
aéreo a Israel, permitindo-lhe assim
interceptar os drones.
No Líbano, o Hebzollah reivindicou
vários ataques contra alvos em Israel,
garantindo que estes tinham feito víti-
mas. Por toda a região, vários países
anunciaram o encerramento tempo-
rário do seu espaço aéreo. A Jordânia,
que fora o primeiro a fazê-lo, antes
mesmo do início do ataque iraniano,
declarou o estado de emergência.
“Esta é uma escalada grave e peri-
gosa. As nossas capacidades defen-
sivas e ofensivas estão ao mais alto
nível de prontidão face a este ataque
em grande escala do Irão”, aÆrmou
o porta-voz militar iraniano Daniel
Hagari.
“Nos últimos anos, e especialmen-
te nas semanas mais recentes, Israel
tem-se estado a preparar para um
ataque directo do Irão”, aÆrmou o
primeiro -mini stro B enjamin
Netanyahu num comunicado. “Os
nossos sistemas defensivos estão a
funcionar; estamos prontos para
qualquer cenário, tanto defensivo
como ofensivo. O Estado de Israel é
forte. As IDF são fortes. A população
é forte”, sublinhou.
“O Presidente [Joe] Biden foi claro:
o nosso apoio à segurança de Israel é
inabalável. Os Estados Unidos estarão
ao lado do povo de Israel e apoiarão
a sua defesa contra estas ameaças do
Irão”, disse Adrienne Watson, porta-
voz do Conselho de Segurança Nacio-
nal da Casa Branca. Segundo o Canal
12 israelita, os EUA foram os primei-
ros a identiÆcar o lançamento de dro-
nes e notiÆcaram imediatamente
Israel. mentos no Médio Oriente”. E no em declarações aos jornalistas ao Ænal bros e o Ministério dos Negócios
Apesar do ataque dos Guardas da Médio Oriente dois voos da Fly da tarde, Portugal exigiu ao Irão “a Estrangeiros da Índia conÆrmou que
Revolução, na madrugada de ontem, Dubai, dos Emirados Árabes Unidos, libertação imediata” do cargueiro e há 17 indianos a bordo e diz estar em
contra um navio com pavilhão portu- regressavam para a federação árabe de “todos os seus tripulantes”, assim “contacto com as autoridades irania-
guês propriedade de uma empresa depois de terem descolado com des- que soube da sua captura. nas, através de canais diplomáticos,
de um bilionário israelita ter sido vis- tino a Israel. para garantir a segurança, o bem-
to como a esperada retaliação do Irão Os alertas feitos por responsáveis Audiência em Teerão estar e a rápida libertação” dos seus
contra Israel, ninguém acreditava que da Administração Biden citados, sob O ministro disse ainda que “o embai- cidadãos.
a resposta iraniana Æcasse por aí e os anonimato, na imprensa norte-ame- xador português em Teerão pediu Rangel explicou que os restantes
sinais de que algo mais estava para ricana sucediam-se há dias. O Irão ia uma audiência ao ministro dos Negó- tripulantes no navio registado na
acontecer multiplicavam-se. reagir à operação israelita que, no cios Estrangeiros do Irão, que foi con- Madeira são paquistaneses, um russo
Ao início da noite, Israel pô deze- início do mês, matou 13 iranianos, cedida” e vai acontecer hoje de e um estoniano, e que uma das obri-
nas de aviões a patrulhar os céus, incluindo dois generais dos Guardas manhã. Só depois desse encontro, e gações de Portugal passou por con-
proibiu todas as concentrações, man- da Revolução, a poderosa força de em função do que as autoridades ira- tactar os países com nacionais a bor-
dou encerrar escolas e aumentou a elite do país, num complexo diplomá- nianas decidam ou não fazer, Portugal do. O Governo continua, por isso, em
capacidade da linha telefónica de saú- tico em Damasco. A localização fez vai ponderar se avança com outros contacto com as capitais envolvidas,
de mental em preparação para possí- com que o Irão considerasse que passos, como chamar de volta o assim como “com o Serviço de Acção
veis ataques. O ministro dos Negócios tinha sofrido um ataque contra o seu embaixador português. Externa da União Europa e com
Estrangeiros, Yoav Gallant, conÆrma- território, pelo que uma resposta A companhia MSC, que opera o outros parceiros que manifestaram
va que o Governo estava a monitori- militar era vista como inevitável. Aries, já tinha dito que o navio viaja- uma enorme preocupação com o
zar de perto “um ataque planeado” Na sua declaração, os Guardas da va com uma tripulação de 25 mem- sucedido, justamente por causa da
pelo Irão e voltava a falar com o secre- Revolução deixaram claro que esta- situação de extrema tensão que se
tário da Defesa norte-americano,
Lloyd Austin, que “reiterou o apoio
vam a responder ao ataque a Damas-
co, o que Teerão não tinha feito
A estimativa dos vive na região”.
Segundo a agência de notícias oÆ#
inabalável dos Estados Unidos à defe- quando conÆrmou que capturara o Estados Unidos é cial IRNA, membros de unidades
sa de Israel”, segundo o Pentágono.
Nos EUA, o Presidente Joe Biden
navio MSC Aries, de bandeira portu-
guesa, “ligado a Israel”, transferin-
de que seja um especiais dos Guardas desembarca-
ram no navio para o apreender. Um
decidia encurtar o Æm-de-semana no do-o em seguida para águas territo- ataque com entre vídeo partilhado pouco antes pela
Delaware, regressando a Washington
para “consultar a sua equipa de segu-
riais iranianas.
Segundo aÆrmou o ministro dos
400 e 500 drones Associated Press mostrava um grupo
de comandos a descer de um helicóp-
rança nacional sobre os aconteci- Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e mísseis tero para o convés de um porta-con-

tentores, numa abordagem idêntica
à utilizada pelos Guardas da Revolu-
ção. O próprio helicóptero, realçou a
agência, já terá sido utilizado em ata-
ques anteriores a navios.
O alvo foi o porta-contentores
MSCAries, que está ligado à Zodiac
Maritime, uma empresa que tem
sede em Londres e faz parte do Gru-
po Zodiac, do bilionário israelita
Eyal Ofer.
De acordo com o site da Marine-
Traêc, que fornece análises maríti-
mas, o MSC Aries tinha partido do
porto de Khalifa, nos Emirados Ára-
bes Unidos, na sexta-feira, e viajava
para Nhava Sheva, na costa ocidental
da Índia, onde deveria chegar na ter-
ça-feira.
O navio foi abordado ao largo da
cidade portuária de Fujairah, nos
Emirados, no golfo de Omã, perto do
estreito de Ormuz — com uma impor-
tância geoestratégica signiÆcativa para
o comércio mundial, este estreito liga
o golfo Pérsico ao golfo de Omã.
Como Æzeram dezenas de países,
“tendo em conta os riscos de evolu-
ção no conÇito” e “as ameaças recen-
tes a Israel”, Portugal já tinha reforça-
do o aviso (em vigor desde 7 de Outu-
DR
Embaixador português vai
ter hoje uma audiência com
o ministro dos Negócios
Estrangeiros iraniano por
causa do MSC Aries
bro) para que fossem evitadas “todas
as viagens não essenciais a Israel” e
decidira desaconselhar “em absoluto
todas e quaisquer viagens ao Irão”.
Rangel pediu depois aos portugueses
que o pudessem fazer, para deixarem
mesmo a região.
Na primeira reacção israelita
depois do ataque ao cargueiro, o
ministro dos Negócios Estrangeiros,
Israel Katz, aÆrmou que o Irão deve
ser “sancionado” pelo acto de pirata-
ria. “O regime do ayatollah [Ali] Kha-
menei é um regime criminoso que
apoia os crimes do Hamas e está ago-
ra a conduzir uma operação pirata
que viola o direito internacional”,
disse Katz. “Apelo à União Europeia
e ao mundo livre para que declarem
imediatamente o Corpo de Guardas
Revolucionários do Irão uma organi-
zação terrorista e que sancionem o
Irão agora.”
De acordo com a Zodiac, o navio é
propriedade da Gortal Shipping Inc,
uma empresa sua aÆliada, que o
Ænanciou, e está alugado a logo prazo
à MSC. Eyal Ofer, dono da Zodiac, é
irmão de Idan Ofer, dono de 85% da
SAD do Famalicão e de 33% do Atléti-
co de Madrid.
Jornalista israelita agredido
Cisjordânia: colonos
intensificam ataques após assassínio
de adolescente israelita
Sofia Lorena
Colonos israelitas continuaram
ontem a atacar com violência aldeias
palestinianas na Cisjordânia: os ata-
ques começaram na sexta-feira à
tarde, quando um adolescente de 14
anos foi dado como desaparecido e
pelo menos um palestiniano foi mor-
to a tiro. Depois de as Forças de Defe-
sa de Israel encontrarem o corpo do
rapaz, descrevendo o assassínio
como um “atentado”, centenas de
colonos voltaram a incendiar casas
e carros em várias localidades,
espancando ainda um jornalista
israelita.
Benjamin Achimeir vivia em Jeru-
salém, mas na sexta-feira de manhã
saiu da Quinta Gal, junto ao colonato
de Malachei Shalom, para pastorear
ovelhas. A família deu o alerta horas
depois, quando os animais voltaram
sozinhos.
Os colonos começaram por atacar
a aldeia de Mughayir, entre Ramallah
e Nablus, no Norte da Cisjordânia
ocupada, perto do Malachei Shalom,
onde incendiaram carros e casas.
Pelo menos um palestiniano de 26
anos morreu e 25 Æcaram feridos. As
IDF dizem que foram as suas forças
que dispararam contra palestinianos
que lançavam pedras.
Depois de conÆrmada a morte,
ontem à tarde, os colonos regressa-
ram aos arredores desta aldeia,
incendiando duas casas e fazendo
três feridos, um deles em estado gra-
ve. Um jornalista, o fotógrafo do diá-
rio Yedioth Ahronoth, Shaul Golan,
também disse ter sido “brutalmente
espancado” pelos colonos.
Na aldeia de Duma, mais a norte,
os colonos também incendiaram
várias casas. Ao todo, em Mughayir
e em Duna pelo menos seis palesti-
nianos foram atingidos com balas
reais e levados para o hospital.
Desde o início da guerra em Gaza,
desencadeada pelos ataques do
Hamas, a 7 de Outubro, que os colo-
nos têm agido ainda com mais impu-
nidade do que antes, atacando com
frequência aldeias palestinianas e
expulsando populações.
Ao mesmo tempo — e se antes os
militares israelitas eram acusados
de proteger os colonos seus nos ata-
ques —, agora pode ser difícil distin-
guir entre colonos e soldados: por
um lado, o Governo distribuiu
milhares de armas aos colonos; por
outro, algumas unidades das IDF,
desfalcadas com a mobilização para
Gaza, foram reforçadas com os
Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 17
membros das milícias que protegem
os colonatos.
Foi isso mesmo que descreveu
Shaul Golan ao site Ynet. Explicando
ter Ælmado “um grupo de judeus de
cara tapada” que incendiavam casas,
disse que em seguida estes lhe bate-
ram “sem dó nem piedade”, partin-
do-lhe um dedo e queimando o seu
equipamento. “Alguns usavam uni-
formes das IDF e tinham armas.
Eram 20 ou 30 que me batiam
enquanto eu gritava por socorro, na
esperança de que os soldados me
ouvissem. Mas eram eles os solda-
dos...”, contou.
No Æm, os colonos despiram-no e
deitaram as chaves da sua mota para
“o lume”. “Tinham ódio nos olhos”,
disse.
De acordo com a televisão pan-ára-
be Al-Jazeera, os ataques alargaram-
-se pela região e houve confrontos
entre colonos e palestinianos em Beit
Furik, já perto de Nablus, ao mesmo
tempo que os colonos atacaram
casas de palestinianos em Qusra, na
mesma região. Segundo o canal, o
governador de Nablus apelou aos
residentes para activarem os “comi-
tés da guarda popular” (organizados
nos últimos anos para fazer frente à
violência dos colonos), tendo em
conta a escalada da violência.
Dez aldeias
A organização não governamental
israelita Yesh Din denunciou que
pelo menos dez aldeias palestinianas
estiveram sob ataque: para além de
Mughayir, Duna, Beit Furik e Qusra,
os atacantes incendiaram casas ou
carros e provocaram outros danos
em propriedades nas localidades de
Carros incendiados na aldeia de Mughayir, entre Ramallah e Nablus
Sawiya, Beitin, Silwad, Sinjil, Beitillu
e Turmus Aya.
“Deixem as forças de segurança
actuar rapidamente na caça aos ter-
roristas — acções de vingança vão
diÆcultar a missão dos nossos com-
batentes — e não façam justiça pelas
próprias mãos”, pediu o ministro de
Defesa de Israel, Yoav Gallant, numa
mensagem publicada na rede social
X (antigo Twitter).
Ao Ænal do dia, as IDF anunciaram
que vão reforçar a zona com várias
companhias suas e com forças da
Polícia de Fronteira de Israel, asse-
gurando que a situação estava con-
trolada.
Mas nada garante que a violência
Æque por aqui. A imprensa israelita
lembra o que aconteceu em Feverei-
ro de 2023, quando dezenas de colo-
nos atacaram a cidade de Huwara,
na Cisjordânia, incendiando casas e
carros, depois do assassínio de dois
irmãos israelitas. Na altura, escreve
o jornal The Times of Israel, “as cenas
de caos e o fracasso das forças de
segurança em conter a violência cho-
caram e enfureceram muitas pessoas
em Israel, bem como na comunidade
internacional”.
Mairav Zonszein, jornalista e ana-
lista do think tank International Cri-
sis Group, lembrou-se de outro acon-
tecimento. “A última vez que um
israelita foi raptado e morto na Cis-
jordânia (três adolescentes), desen-
cadeou a guerra de 2014 em Gaza”,
escreveu na rede X. “Uma vez que já
estamos a viver uma guerra de seis
meses lá [em Gaza] e que muitos
israelitas já são reféns, o potencial de
violência e escalada na Cisjordânia é
muito maior.”
ALAA BADARNEH/EPA
18 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Mundo
Manifestante protesta contra a presença de militares dos Estados Unidos no Níger
Guerra Fria em África: os russos
já chegaram ao Níger
António Rodrigues
“Estamos aqui para
desenvolver a cooperação
militar entre a Rússia e o
Níger”, disse um militar
russos à chegada a Niamey
A radiotelevisão pública nigerina
(ORTF) estava lá na pista do aeropor-
to para Ælmar, numa clara demons-
tração de que a junta que governa o
país desde o golpe de Estado de 26 de
Julho do ano passado pretendia mos-
trar ao mundo a nova ordem no Níger.
Desde o anúncio, em Março, do Æm
dos acordos de segurança com os
Estados Unidos que a chegada dos
militares russos ao país era apenas
uma questão de tempo.
“Estamos aqui para desenvolver a
cooperação militar entre a Rússia e o
Níger”, disse um dos dois formadores
russos Ælmados com uniforme militar
junto ao avião acabado de chegar com
equipamento. “Estamos aqui para
treinar o Exército nigerino a usar o
equipamento que aqui está”, acres-
centou, falando em francês. Entre o
equipamento referido está um siste-
ma de defesa antiaéreo.
A chegada dos “instrutores milita-
res russos”, como lhes chamou a tele-
visão pública, é o primeiro passo
concreto do novo acordo de seguran-
ça com Moscovo estabelecido pelos
golpistas que tomaram o poder. Passo
que torna mais difícil, senão impossí-
vel, a manutenção do contingente dos
EUA no Níger, um país que durante
anos foi um aliado próximo de
Washington no Sahel, mas que desde
o golpe se tem afastado da órbita nor-
te-americana, culminando com a
declaração do mês passado, em que
a presença militar dos EUA foi consi-
derada “ilegal”.
O Æm da cooperação “deixa
Washington com um olho negro no
Níger”, aÆrmou ao Washington Post
Cameron Hudson, investigador sénior
no Center for Strategic and Interna-
tional Studies. “A chegada das forças
russas é a cereja no topo do bolo.”
Desde que a junta anunciou o Æm
aos acordos de cooperação militar
com os EUA que os norte-americanos
tentam negociar à porta fechada a
manutenção de alguma presença mili-
tar no país, mas os líderes do golpe
acusam Washington de condescen-
dência e Andrew Lebovich, especia-
lista em Níger no Clingendael Institu-
te, um think tank com sede em Haia,
aÆrma ao mesmo diário que a manu-
tenção de uma força norte-americana
se tornou praticamente impossível.
Ainda que “a chegada de um siste-
ma de defesa antiaéreo russo” pudes-
se ser vista “como parte do esforço da
junta para reclamar a sua soberania,
desta vez sobre o seu espaço aéreo, e
forçar os EUA e a Rússia a cooperar
entre eles no Níger”, como diz John
Lechner, analista especializado no
Grupo Wagner, citado pelo Arab
Weekly, essa cooperação tornou-se
“improvável”.
Os EUA investiram fortemente no
treino de forças nigerinas para com-
bater os grupos extremistas com liga-
ções à Al-Qaeda e ao Daesh que nos
últimos anos espalharam a violência
~DR
na região do Sahel. Parte desses mili-
tares treinados por Washington esti-
veram por trás do golpe que depôs o
Presidente Mohamed Barzoum.
Desde aí, a parceria entre os dois
países tem-se vindo a deteriorar, mas
tudo se precipitou em Março, com a
visita de uma delegação dos EUA lide-
rada pela subsecretária de Estado
para Assuntos Africanos, Molly Phee.
O porta-voz dos militares golpistas
acusou a delegação norte-americana
de lhes querer impor os países com
que não deviam manter relações,
estando entre eles a Rússia e o Irão.
Logo a seguir, a junta anunciou que
os voos de e para a base aérea cons-
truída pelos norte-americanos no país
eram “ilegais” e que deixava de reco-
nhecer a presença militar dos EUA,
cujo contingente militar no Níger
supera actualmente os mil efectivos.
Segundo o Washington Post, a
Administração Biden receia que,
assim que as suas forças abandona-
rem o país, os russos ocupem as suas
bases militares, nomeadamente a
grande base de drones, usada para
monitorizar os movimentos dos gru-
pos jihadistas na região.
De acordo com os media russos, os
efectivos enviados por Moscovo
fazem parte do Africa Corps, nome
dado ao Grupo Wagner depois de
absorvido pelo Ministério da Defesa,
após o desaÆo falhado de Ievgueni
Prigojinque levou à sua morte. O
envio dos efectivos foi acordado
numa conversa entre o Presidente
russo, Vladimir Putin, e o homem
forte da junta, o general Abdoura-
hmane Tchiani, a 26 de Março.
Haiti cria um Conselho
Presidencial de Transição,
mas deixa muitas perguntas
por responder
Este é um avanço para a
normalização do país. Mas
a falta de prazos faz temer
que o Governo esteja a
tentar manter-se no poder
O Governo do Haiti formalizou na
sexta-feira a criação de um Conselho
Presidencial de Transição (CPT), com
nove membros, uma medida há mui-
to adiada e que pretende ser o primei-
ro passo para restaurar a segurança
no país caribenho devastado por
gangs criminosos que controlam par-
tes do território.
O decreto, no entanto, deixa mui-
tas perguntas sem resposta. Não
nomeia os novos membros do conse-
lho nem estabelece um prazo para a
sua instalação, além de não indicar
uma data para a substituição do pri-
meiro-ministro, Ariel Henry, que se
comprometeu, há um mês, a abando-
nar o cargo assim que o seu sucessor
estiver em funções.
Esta deliberação refere que Henry,
que não foi eleito para o cargo, se
encarregará de supervisionar os pro-
cedimentos numa primeira fase e que
tomará as “disposições necessárias”
que entender antes das novas nomea-
ções. Os escolhidos devem então
“participar, de acordo com o primei-
ro-ministro, na formação de um gabi-
nete ministerial inclusivo”.
O decreto pede ainda ao conselho
que seja acelerada a chegada de tro-
pas estrangeiras solicitadas por Henry
em 2022 para ajudar a polícia na luta
contra os bandos armados, que se vão
tornando cada vez mais poderosos à
medida que o tempo corre.
Só no último mês, cerca de 95 mil
pessoas fugiram da área metropolita-
na da capital, Port-au-Prince, à medi-
da que os gangs consolidam o contro-
lo do território. Os haitianos têm falta
de bens essenciais porque os princi-
pais portos se mantêm fechados e o
governo cessante continua ausente.
O decreto, publicado no diário oÆ#
cial do Haiti, nomeia os nove partidos
políticos e sectores sociais que devem
ser representados no conselho,
incluindo dois observadores sem
direito a voto, conÆrmando um anún-
cio feito no mês passado.
O plano de transição foi anunciado
a 11 de Março, numa altura em que
homens armados atacavam as zonas
de Port-au-Prince que ainda não con-
trolavam, enquanto Henry perma-
necia retido fora do país. O Palácio
Nacional, onde o conselho terá a sua
sede, segundo a deliberação de sex-
ta-feira, esteve debaixo de fogo
várias vezes nas últimas semanas.
Após a publicação do decreto, os
meios de comunicação social locais
noticiaram mais tiroteios em áreas de
Port-au-Prince. Um agente da polícia,
Pierre Fritz Chenet, foi morto a tiro
quando visitava familiares na zona
portuária da capital, informou um
porta-voz do sindicato da polícia.
Numa declaração separada, o
Governo aÆrmou que tinha convida-
do os representantes designados
para o conselho a apresentarem
documentos comprovativos da sua
elegibilidade em gabinetes governa-
mentais da capital.
O plano de transição foi acordado
com a mediação da Comunidade das
Caraíbas (Caricom). Os nove grupos
que foram nomeados pela Caricom
há um mês apresentaram candidatos
ao conselho, segundo o decreto, mas
as nomeações ainda não foram for-
malizadas, apesar das promessas.
Camille LeBlanc, advogado e antigo
ministro da Justiça, acredita que
alguns dos candidatos serão rejeita-
dos e que demorará ainda algum tem-
po até que o conselho comece a fun-
cionar, dadas as diÆculdades de pro-
cessamento dos documentos legais.
Ariel Henry
comprometeu-se
a abandonar
o cargo assim
que o seu
sucessor estiver
em funções
“Pode ser muito difícil”, disse
LeBlanc à Reuters, acrescentando
que, apesar de duvidar das perspec-
tivas do conselho, apoiará a iniciativa
se esta conseguir fazer o país sair da
actual paralisia, ajudando a reabrir os
portos e a levar bens de primeira
necessidade para o Haiti, um país
onde a fome aperta.
“AÆrmar que o conselho de transi-
ção tem de nomear ‘rapidamente’ um
primeiro-ministro é utópico”, acres-
centou o antigo governante. “Talvez
devesse ter sido deÆnido um prazo.
Entretanto, Ariel Henry continua a
ser primeiro-ministro”, disse Fievre.
“Não há garantias de que os membros
já escolhidos sejam mantidos, uma
vez que não foram efectuadas veriÆ#
cações a esse respeito.”
O atraso na transição levou os crí-
ticos a acusarem os aliados de Henry
de diÆcultarem o processo para se
manterem no poder. O Governo aÆr-
ma que está a tentar resolver os
problemas jurídicos e constitucio-
nais “o mais rapidamente possível”.
com Reuters

Greve de fome contra o modelo
“suicida” de turismo nas Canárias
António Rodrigues
Activistas tinham dado dez
dias ao governo regional
para mudar a insustentável
política turística de massas
no arquipélago espanhol
Começaram por dar dez dias ao
governo das Canárias para rever aqui-
lo que consideram ser o actual mode-
lo “suicida” de turismo de massas que
vigora no arquipélago espanhol.
Como não receberam qualquer sinal
do executivo regional, liderado por
Fernando Clavijo, da Coligação Caná-
ria, seis activistas do movimento de
cidadãos Canárias Se Agota (Canárias
Está a Esgotar-se) decidiram na quin-
ta-feira iniciar uma acção mais radi-
cal: uma greve de fome por tempo
indeterminado.
A gota de água para esta reacção
são dois empreendimentos de luxo
actualmente em construção no Sul de
Tenerife, que o grupo considera “ile-
gais”. Daí que o objectivo imediato do
seu protesto seja “paralisar a constru-
ção do Hotel de La Tejita e do comple-
xo habitacional Cuna del Alma”,
dizem os activistas citados pelo diário
digital Canarias Ahora, como ponto
de partida para uma revisão da polí-
tica turística do arquipélago.
“Sabemos que vamos pôr as nossas
vidas em risco e estamos conscientes
disso”, disse, na semana passada,
Seis mortos e vários feridos em esfaqueamento
num centro comercial em Sydney
Sofia Neves
Ataque com arma branca
ocorreu num centro
comercial em Bondi
Junction. Alegado atacante
foi morto pela polícia
Seis pessoas morreram e pelo menos
sete Æcaram feridas depois de terem
sido esfaqueadas, ontem, num centro
comercial de Sydney. O alegado ata-
cante foi atingido mortalmente a tiro
pela polícia. O ataque ocorreu no
movimentado centro comercial
WestÆeld, em Bondi Junction, que foi
encerrado e evacuado, tendo a polícia
australiana aconselhado as pessoas a
evitarem a zona.
Os serviços de emergência foram
numa conferência de imprensa em
Santa Cruz de Tenerife, um dos porta-
vozes do movimento, Víctor Martín.
“[Mas] iremos até ao Æm com a greve
de fome, com todas as consequên-
cias.” E justiÆcou: “Arriscamos a nos-
sa saúde, porque a nossa juventude
apercebeu-se do futuro nada risonho
que temos.”
Os números de turistas nas Caná-
rias superaram no ano passado o total
de 2019, ou seja, pré-pandemia, tendo
crescido 6,9% face ao ano anterior.
Em 2023, o arquipélago espanhol das
Canárias recebeu 14,1 milhões de
turistas, quase sete vezes mais do que
os 2,2 milhões de habitantes do arqui-
pélago de origem vulcânica, de oito
Protesto contra o turismo de massas sobe de tom nas Canárias
alertados para o incidente pouco
antes das 16h (6h em Portugal). Oito
pessoas, incluindo um bebé de nove
meses, foram levadas para o hospital,
e uma delas acabou por não resistir
aos ferimentos. As imagens das câma-
ras de vigilância difundidas pelos
meios de comunicação australianos
mostram um homem com uma faca
a correr pelo centro comercial e pes-
soas feridas caídas no chão.
O comissário assistente de polícia
Anthony Cooke indicou que o suspei-
to agiu sozinho e que as autoridades
ainda não conheciam a sua identida-
de nem as motivações do ataque.
“Isto é bastante cruel”, aÆrmou
Cooke, que já admitia que o número
de mortes podia aumentar, devido ao
estado grave de alguns feridos. A polí-
cia referiu que nenhum cenário pode
ilhas e cinco ilhotas, situado a noroes-
te do continente africano.
Independentemente da contribui-
ção para a economia local que o turis-
mo possa trazer agora, as centenas de
canários que se juntaram ao movi-
mento Canarias Se Agota estão preo-
cupados com o impacto dessa pegada
turística no futuro da ilha.
“A responsabilidade do que poderá
acontecer, em última instância, será
do próprio governo que nos levou a
tomar esta medida desesperada”,
disse Martín. “Dizemos ‘basta’ por-
que os senhores estão a pôr em risco
o nosso presente e o nosso futuro, e
o das novas gerações.”
A plataforma de cidadãos Canarias
DR
ser descartado, mas disse também
que nada no local oferece pistas para
o possível motivo do ataque.
Segundo testemunhas, as pessoas
entraram em pânico e procuraram
abrigo enquanto a polícia tentava
proteger a zona. Várias pessoas refu-
giaram-se num supermercado, onde
permaneceram durante cerca de
uma hora.
Roi Huberman, disse à cadeia de
televisão ABC que se abrigou numa
loja e viu pessoas a saírem do centro
Segundo a
polícia, tudo
indica que o
atacante agiu
sozinho, mas não
é conhecida a
razão do ataque
Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 19
Se Agota é recente, foi criada em
Ænais de Março para exigir uma mora-
tória turística que suspenda tempo-
rariamente a construção de novos
empreendimentos turísticos e a apro-
vação de licenças.
“As ilhas estão numa situação críti-
ca e é o povo que sofre as suas piores
consequências”, aÆrmam os activis-
tas, citados pela agência de notícias
Infobae. A exploração excessiva dos
recursos, a perda de biodiversidade
e a exclusão da população local do
grosso dos lucros do sector são algu-
mas das razões apontadas.
O complexo habitacional de Cuna
del Alma (berço da alma) está situado
na praia de Puertito de Adeje, uma
enseada que tinha sido mantida à
margem da urbanização turística,
esteve parado, mas em Fevereiro a
Agência Canária da Protecção do
Meio Natural decidiu levantar uma
das três ordens de paralisação que
pesavam sobre o projecto e deixar
sem efeito a multa de 100 mil euros
que lhe tinha sido aplicada. A justiÆ#
cação: a câmara de Adeje emitiu a
licença de construção.
Para os colectivos que tentam tra-
var as obras no Puertito de Adeje ou
as do hotel na praia de La Tejita, situa-
da junto ao cone vulcânico da Monta-
nha Vermelha, espaço natural até
agora protegido, estes são dois exem-
plos de um modelo de desenvolvi-
mento “insustentável” que é preciso
travar.
comercial em lágrimas. “E de repen-
te ouvimos um tiro, ou talvez dois
tiros, e não sabíamos o que fazer. Um
funcionário muito competente levou-
nos para as traseiras, onde a porta
podia ser trancada. Depois fechou a
loja e deixou-nos passar pelas trasei-
ras e agora estamos cá fora.”
O primeiro-ministro australiano,
Anthony Albanese, aÆrmou que o
autor do ataque parece ter agido sozi-
nho. “Para todos nós, esta noite, as
cenas terríveis em Bondi Junction
estão para além das palavras e da
compreensão”, sublinhou Albanese
em conferência de imprensa.
“Ainda não sei quem é [o agressor].
Vocês entenderão que este é um caso
muito complexo. As investigações são
muito recentes e estamos a tentar
identiÆcar o culpado”, acrescentou.
Mundo
Ataque contra
coluna da
UNITA causa
dez feridos
Partido corrige informação
sobre ataque contra coluna
de veículos no Sul de
Angola. Sexta-feira disse
que havia um morto
A UNITA anunciou ontem que o ata-
que de sexta-feira contra uma carava-
na do partido na província angolana
do Cuando Cubango causou dez feri-
dos, quatro dos quais graves, corri-
gindo a informação dada inicialmen-
te por um seu dirigente que dava
conta de um morto.
O presidente do partido da oposi-
ção, Adalberto Costa Júnior, divulgou
ontem nas redes sociais um novo
comunicado que explica a informa-
ção errónea avançada pelo líder do
grupo parlamentar, Liberty Chiaka:
de facto, houve um homem “abando-
nado no terreno (inanimado), tido
por falecido”, mas que acabaria por
ser socorrido pelos bombeiros ao
Ænal da tarde de sexta-feira. Levado
para o hospital com um traumatismo
craniano, só às 23h de sexta terá recu-
perado a consciência.
O grupo parlamentar salientou que
a caravana onde seguiam os deputa-
dos João Kaweza, David Kisadila, Jere-
mias Abílio e o assessor Maurílio Luie-
le foi “alvo de um ataque, perpetrado
por supostas milícias do regime”, a
meio da manhã de sexta-feira, no tro-
ço Longa-Cuíto Cuanavale, tendo a
acção resultado em danos materiais
em oito das nove viaturas que integra-
vam a coluna.
A Polícia Nacional angolana veio
reconhecer que o ataque aconteceu
mesmo, desmentindo, no entanto, a
existência de qualquer morte e redu-
zindo o número de feridos a quatro.
“Ao contrário do que se aventa, não
houve registo de perdas humanas.
Constatou-se que houve quatro feri-
dos, um dos quais foi socorrido pelas
forças policiais [e levado] para o pos-
to médico comunal”, disse a polícia
numa nota à imprensa, citada pela
Voz da América.
Garantindo ter reforçado “as medi-
das operacionais com as forças da
Unidade de Reacção e Patrulhamento
para a reposição da ordem”, o coman-
do da polícia do Cuando Cubango
sublinha que “não recebeu qualquer
solicitação de escolta”. A UNITA des-
mente, dizendo que enviou “uma
comunicação” ao comando provincial
a dar conta da deslocação dos depu-
tados ao município do Cuíto Cuana-
vale. “Ao abrigo da lei a polícia devia
garantir a segurança da delegação, o
que não aconteceu.” com Lusa
20 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Economia Medidas para a habitação recebidas entre o elogio e a crítica
Proprietários aplaudem
Programa do Governo,
que já tem promessas
de contestação nas ruas
Proprietários e investidores consideram que as medidas
do Programa do Governo dirigidas à habitação vão trazer
conÄança ao mercado. Activistas pelo direito à habitação
temem agravamento da crise no sector
Rafaela Burd Relvas
O Programa do Governo está apre-
sentado e, no que diz respeito à habi-
tação, não traz surpresas em relação
ao que havia sido prometido durante
a campanha eleitoral: várias medidas
do Mais Habitação serão revogadas,
algumas das protecções criadas para
inquilinos ao longo dos últimos anos
serão revistas, a carga Æscal vai baixar
e os processos serão simpliÆcados.
As medidas são aplaudidas por pro-
prietários e investidores, que vêem
passos “importantes” no sentido de
“recuperar a conÆança” do mercado,
enquanto os movimentos que defen-
dem o direito à habitação prometem
voltar à contestação nas ruas.
A revogação de algumas das medi-
das do Mais Habitação parece ser,
para já, uma das prioridades do novo
executivo liderado por Luís Monte-
negro. Entre elas, o arrendamento
forçado de imóveis devolutos e aqui-
lo a que o Programa do Governo se
refere como “congelamentos de ren-
das” — o que não deixa claro que
medidas concretas estarão em causa.
O limite aos aumentos de rendas,
uma medida que determinou que o
valor das rendas estabelecidas em
novos contratos de arrendamento só
pode ser até 2% superior em relação
à renda anterior, poderá ser uma das
medidas em causa, como é antecipa-
do pelas associações de proprietá-
rios e inquilinos.
“Não há qualquer justiÆcação
racional para esta medida, que era
de carácter apenas ideológico”,
aponta Luís Menezes Leitão, presi-
dente da Associação Lisbonense de
Proprietários (ALP). “Os limites aos
aumentos nem sequer chegaram a
funcionar, porque não há Æscaliza-
ção. Ninguém cumpriu isso”, lem-
bra, por seu lado, António Machado,
secretário-geral da Associação dos
Inquilinos Lisbonenses (AIL).
O outro “congelamento” que
poderá vir a ser revogado é o dos
contratos de arrendamento anterio-
res a 1990, que Æcaram deÆnitiva-
mente de fora do Novo Regime do
Arrendamento Urbano (NRAU), nos
casos em que os inquilinos tenham
um rendimento inferior a cinco salá-
rios mínimos, mais de 65 anos ou
deÆciência superior a 60%. Sobre
esse, há já um projecto de lei na
Assembleia da República, apresen-
tado pela Iniciativa Liberal, que pro-
põe a sua revogação, uma proposta
que a ALP espera que seja acolhida
pelo Governo.
Medidas por conhecer
Ainda quanto às medidas implemen-
tadas pelos últimos governos socia-
listas que agora se arriscam a ser
revogadas, o novo executivo prome-
te rever os prazos dos contratos de
arrendamento, não sendo ainda cla-
ro se irá alterar os actuais prazos
mínimos (actualmente, os contratos
de arrendamento com prazo certo
têm um prazo mínimo de um ano e,
sendo renováveis, têm de se renovar
automaticamente por um mínimo de
três anos). “Não sei qual será a
opção, mas parece-me que os prazos
mínimos serão revogados, já que, na
lei anterior à que está em vigor, não
havia prazos mínimos”, resume
Menezes Leitão.
No Æm, acredita o presidente da
ALP, as medidas agora conhecidas
virão, pelo menos, “devolver a con-
Æança ao mercado”, ainda que pos-
sam não representar um aumento da
O primeiro
momento de
protesto deverá
acontecer no 25 de
Abril, com vários
movimentos pelo
direito à habitação
a associarem-se ao
desÄle em Lisboa
O Governo confirmou no seu
programa a revogação de partes
do pacote Mais Habitação
oferta a preços acessíveis no merca-
do habitacional.
As associações que lutam pelo
direito à habitação, por seu lado,
temem um agravamento da actual
crise habitacional. “As propostas con-
tidas no Programa do Governo, a con-
cretizarem-se, agravarão brutalmen-
te a situação que vivemos”, salienta o
Porta a Porta, em comunicado.
De resto, o Programa do Governo
tem inscritas várias medidas de
incentivo à oferta que passam pelo
alívio da carga Æscal e pela simpliÆ#
cação de processos, como é o caso
da promessa de criação de um regi-
me excepcional e temporário de
eliminação ou redução dos custos
tributários com obras de construção
ou reabilitação de imóveis que se
destinem a habitação, independen-
temente da localização, ou da apli-
cação de IVA à taxa mínima de 6%
nas obras e serviços de construção e
reabilitação.
Ambas são vistas com bons olhos
pelos investidores. “Ficamos muito
satisfeitos em constatar que a mais
importante das medidas reivindica-
das pelo sector foi agora incluída no
Programa do Governo, a baixa do IVA
para a habitação acessível. Este é um
passo fundamental para responder à
crise na habitação”, refere Hugo San-
tos Ferreira, presidente da Associação
Portuguesa de Promotores e Investi-
dores Imobiliários (APPII), citado em
comunicado, apelando, por outro
lado, a um “licenciamento mais céle-
re” e à “estabilidade Æscal”.
O PÚBLICO enviou várias questões
ao Governo a pedir detalhes sobre
estas medidas, mas não obteve res-
postas em tempo útil.
Ainda sem detalhes sobre várias
das medidas que estão prometidas
no Programa do Governo, as associa-
ções de inquilinos e de proprietários
preparam-se para pedir reuniões ao
novo executivo, a quem querem
apresentar as próprias propostas.
Do lado dos inquilinos, diz Antó-
nio Machado, a AIL pretende levar
 Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 21

NUNO FERREIRA SANTOS

um pacote de propostas já apresen-
tado no ano passado, na altura em
que o Mais Habitação estava em con-
sulta pública, e que inclui medidas
como a proibição de despejos sem
alternativa habitacional, uma maior
regulação e Æscalização do mercado
de arrendamento e o aumento da
construção pública. A isto, acrescen-
tam agora uma nova proposta que CONCURSO 2024

Quantas vagas
visa alargar o universo de beneÆciá-
rios do apoio extraordinário à renda,
concedendo-o também aos agrega-
dos familiares que tenham contratos

há para o meu curso?

de arrendamento celebrados após 15
de Março de 2023.
Já os proprietários entendem que,
apesar dos alívios Æscais já prometi-
dos, há margem para mais. Desde
logo, refere Menezes Leitão, o sector Sabe tudo para preparares a tua
quer ver eliminado o Adicional ao candidatura ao ensino superior.
Imposto Municipal sobre Imóveis No PÚBLICO, as vagas nos cursos
(AIMI). “Este imposto afasta os inves- das universidades e politécnicos
tidores da habitação, porque só inci- públicos ficam disponíveis
de sobre prédios de habitação. A
sede de um banco não paga absolu-
este domingo.
tamente nada e o resultado é que os
investidores preferem o arrenda-
mento comercial, o que cria uma
distorção sobre a habitação. Parece-
nos muito importante que esse
imposto seja abolido”, resume o res-
ponsável.
Dia 14 de Abril, às 00h01, consulta
Manifestações a caminho
publico.pt/acesso-ensino-superior
Para já, certo é que os movimentos
pelo direito à habitação se preparam
para retomar a contestação social,
um movimento que cresceu ao longo
do ano passado e que, agora, deverá
sair reforçado.
Em comunicados enviados na últi-
ma semana às redacções, vários
movimentos prometeram isso mes-
mo. “Este Programa do Governo
merece a nossa total rejeição e todo
o nosso combate. Não daremos des-
canso a quem continua a roubar-nos
a tranquilidade, a quem nos humilha,
a quem nos rouba a dignidade”,
garantiu o Porta a Porta. “Este pro-
grama mostra que não terá nenhuma
resposta à crise da habitação — pro-
põe-se, até, a recuar nos tímidos
avanços do programa Mais Habitação
— e contará com a nossa oposição
frontal”, escreveu o Chão das Lutas.
O primeiro momento de protesto
deverá acontecer durante o 25 de
Abril, com vários movimentos a asso-
ciarem-se ao desÆle que irá percorrer
a Avenida da Liberdade, em Lisboa.
Grupos como o Vida Justa, nascido
nos bairros das periferias de Lisboa,
ou a plataforma Casa Para Viver, que
junta várias entidades e foi respon-
sável pela organização das maiores
manifestações do ano passado, esta-
rão presentes nestes protestos.
Para lá deste dia, haverá pequenas
acções e uma nova manifestação de
grande escala, a ser apontada para a
altura em que seja apresentado o
possível Orçamento do Estado recti-
Æcativo — que não é certo que venha
a ser feito, mas que Luís Montenegro
diz que existirá “se houver necessi-
dade”.
22 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Ciência e Ambiente Membros artiƊciais mais realistas
Próteses que
sentem cada
vez mais
Olhos que mexem, pernas que andam
depressa, mãos que sentem o calor e frio.
Veja os avanços de membros artiÄciais
Carolina Bastos Pereira
É cada vez mais “natural” conseguir
rodar olhos protésicos ultra-realistas,
correr com pernas falsas ou distinguir
o toque humano através de uma mão
artiÆcial. Nos últimos meses, algumas
equipas de cientistas desenvolveram
investigações que permitem atribuir
cada vez mais capacidades a pessoas
amputadas. À conversa com o PÚBLI-
CO, contam como as descobertas
lançadas poderão ser comercializa-
das a baixos custos e melhorar a vida
de quem as utiliza.
Revirar os olhos
Acima de tudo, a mudança é estética.
Quem o diz é Johann Reinhard, do
Instituto Fraunhofer de Investigação
em Computação GráÆca, na Alema-
nha, que integrou um trabalho cien-
tíÆco publicado revista Nature. Já
existiam próteses de olhos que con-
seguiam rodar com recurso a um
implante orbital, pelo que esse factor
“não é um desenvolvimento novo”
aqui, conta o investigador.
No entanto, agora é possível recor-
rer a uma técnica de impressão 3D
para criar olhos cada vez mais seme-
lhantes aos naturais: a prótese dos
olhos é projectada por um software
que utiliza dados do exame de tomo-
graÆa de coerência óptica (estudar
secções histológicas da retina in vivo),
com uma câmara de cor integrada,
para criar um modelo tridimensional.
A prótese Æca ajustável à órbita circu-
lar, e é extremamente realista.
A principal vantagem, aponta
Johann Reinhard, é que a prótese dá
“mais conÆança” a quem a usa, mas
também faz com que haja “menos
trabalho manual envolvido” no seu
fabrico, pelo que pode “reduzir o
tempo de espera dos pacientes para
a obter”.
O mais difícil é mesmo perceber
automaticamente o formato que a
prótese deve ter, já que não há dados
suÆcientes à partida. Desta forma,
foi necessário encontrar um modelo
estatístico para superar a diÆculda-
de: “A novidade é a aplicação desta
técnica neste campo”, explica o
investigador.
A tecnologia está já a ser aplicada
no Hospital Oftalmológico MoorÆelds,
em Londres, a maior clínica oftalmo-
lógica da Europa. Ainda assim, só é
aplicável em 80% dos pacientes, já
que as crianças não são elegíveis. É
necessário “melhorar os materiais
utilizados no sistema de impressão”
para que, um dia, as próteses sejam
tão realistas que “se possam tornar
indistinguíveis” em termos estéticos.
Já é fácil “dar à perna”
“Imagine que está a andar sobre uma
ponte muito estreita e alta e lhe é
pedido que soletre o seu nome ao
contrário. Provavelmente, teria de
parar de caminhar ou andaria muito
devagar ao tentar fazê-lo”, começa
por explicar Stanisa Raspopovic,
investigador no Instituto Federal de
Tecnologia de Zurique, na Suíça. É
isso que os amputados que usam uma
prótese têm de fazer ao realizar tare-
fas cognitivas mais complexas no
quotidiano, como caminhar.
Agora, a equipa de Stanisa Raspo-
povic inventou uma tecnologia que
reduz esse esforço mental: aparente-
mente, parece uma palmilha, no
entanto, funciona como um neuroes-
timulador, que “reduz a carga cogni-
tiva”. O aparelho estimula os nervos,
que comunicam ao cérebro informa-
ções como mudanças de pressão
detectadas na sola ao caminhar. A ino-
vação é a “naturalidade” do processo,
que, através de estimulação biomimé-
tica, “copia” a natureza humana para
a aplicar em membros artiÆciais.
“Os indivíduos testados não só
foram capazes de subir degraus mais
rapidamente, como também come-
teram menos erros numa tarefa que
exigia que subissem os degraus
enquanto soletravam palavras ao con-
trário”, ao utilizar o novo dispositivo,
segundo o investigador. Ainda assim,
por ser uma tecnologia implantável
via cirurgia, só houve três indivíduos
testados.
O cientista aponta ainda o elevado
custo de produção, sem o especiÆcar
em concreto, como um obstáculo.
Ainda assim, quando estas diÆculda-
des forem ultrapassadas, “estes novos
desenvolvimentos são importantes
EPFL/CAILLET
para próteses de braços e pernas, bem
como outros dispositivos auxiliares,
incluindo implantes espinhais e eléc-
trodos para estimulação cerebral”.
Para Stanisa Raspopovic, “é impor-
tante aprender a linguagem do siste-
ma nervoso: só então seremos capa-
zes de comunicar com o cérebro de
uma maneira que ele efectivamente
entenda”. Indica ainda avanços cien-
tíÆcos que podem ser feitos no futuro,
como a réplica da sensação do “sexto
sentido”, a propriocepção — ou seja,
a percepção da posição dos membros
do corpo no espaço.
Sentir calor humano
JOHANN REINHARD ET AL.
Já é possível sentir calor e frio nas pró-
teses de mão. Uma investigação des-
envolvida por uma equipa suíça e
italiana testou a nova tecnologia, a
MiniTouch, apresentada em Feverei-
ro na revista Med, editada pela Cell
Press. Pode aplicar-se em qualquer
prótese comercializada, e aumenta
ainda a capacidade de sensação do
toque humano. Após mais testes,
poderá vir a estar disponível no mer-
cado, sem necessidade de cirurgia.
O teste foi realizado em Fabrizio,
um homem com 57 anos cujo braço
fora amputado há 37: com o disposi-
tivo MiniTouch integrado na prótese,
ligado a um ponto do membro resi-
dual — parte não amputada do braço,
com sensibilidade —, o homem foi
capaz de distinguir com 100% de pre-

A recuperação do feedback
sensorial natural é a base de um
trabalho que melhora as
próteses da perna; ao centro,
homem com prótese na mão
distingue calor e frio em
objectos metálicos; e próteses
de olhos realistas
cisão a temperatura de três garrafas
que continham água a diferentes tem-
peraturas.
Sem este sistema, a precisão da sua
prótese apenas alcançava os 33%. O
participante foi ainda capaz de clas-
siÆcar e organizar em duas áreas dis-
tintas (como mostra uma foto) blocos
de metal a diferentes temperaturas.
Outra sensação potencializada pelo
aparelho foi ainda a de textura e toque
humano. Com a MiniTouch, o homem
foi capaz de aumentar de 60% para
80% a sua capacidade de distinguir,
com uma venda nos olhos, um braço
protésico de um braço humano. Esta
é também uma sensação essencial
para que se distingam diferentes
materiais — plástico de metal ou vidro:
Fabrizio foi capaz de distinguir entre
materiais com a prótese tão bem
como com a outra mão.
O investigador Solaiman Shokur, da
Escola Politécnica Federal de Lausana
(Suíça), e os colegas tinham já
demonstrado previamente ser possí-
vel originar a sensação de frio e quen-
te nos membros prostéticos ao arre-
fecer ou aquecer determinados pon-
PIETRO COMASCHI
tos na parte não amputada do braço.
Agora, a tecnologia baseia-se nesse
princípio ao instalar nas próteses,
precisamente, um sensor de tempe-
ratura, reproduzindo-a, para simular
isso mesmo no “membro-fantasma”.
Quando o sensor detectava uma
mudança de temperatura, enviava
um sinal para um controlador, que
passava a informação para outro
componente, montado na parte supe-
rior da prótese, lugar de contacto
com o corpo.
A MiniTouch também pode, futu-
ramente, desenvolver a capacidade
de estabelecer sensações térmicas em
diferentes partes da mão. Dão-se dois
exemplos: a parte de trás da mão
pode estabelecer a “conexão huma-
na”, enquanto o sentido térmico nos
dedos pode “ajudar a agarrar uma
bebida quente”.
O problema, assume o artigo cien-
tíÆco, está, por agora, na pequena
amostra: apenas um indivíduo foi
testado, existindo necessidade de
futuros estudos que analisem o com-
portamento de outras pessoas. Tam-
bém factores externos, como a humi-
dade ou a temperatura do ar de um
ambiente exterior — não controlado
—, podem pesar e provocar alterações
nos resultados. Ainda assim, realça-se
no estudo, este passo é importante,
essencialmente quando pode melho-
rar a vida e interacção social de ampu-
tados bilaterais. Texto editado por
Teresa Firmino
O Ɗlme dos ratinhos de laboratório
Opinião
Andreia Pinho
A utilização de animais nos
laboratórios não é feita
porque os cientistas o
querem, é feita porque
a humanidade o necessita
O rato Wistar e o ratinho C57BL6/J
são os protagonistas de muitos
laboratórios de investigação e isso
tem não uma, mas várias
explicações concretas. Estes
animais partilham muitas
semelhanças com os humanos,
como a sua Æsiologia, anatomia e
genética.
Isto permite que ocorra avanço no
conhecimento de diversas áreas na
saúde, possibilitando, por exemplo,
o desenvolvimento e a validação de
vacinas para doenças como a
hepatite, a meningite ou o tétano.
Além disso, permite progresso
tecnológico como a produção de
novos medicamentos, o treino de
técnicas de cirurgias ou diagnóstico
de tantas outras doenças que nos
afetam a nós, humanos.
No entanto, para que este
desenvolvimento ocorra, os
cientistas têm de recorrer aos
animais de laboratório, sendo os
mais comuns os ratos/ratinhos. Só
após percebermos o porquê da
existência destes animais nos
laboratórios de investigação é que
podemos criar a narração para este
Ælme sobre ratinhos de laboratório.
Esta história tem início antes de
Cristo, com o tão reconhecido
Aristóteles a correlacionar o aspeto
de órgãos animais a órgãos
humanos. O enredo evoluiu desta
simples comparação ao teste e
veriÆcação de hipóteses tão
complexas como as referidas acima
e, nos dias de hoje, temos
medicamentos que nos tiram dores
de cabeça e tratamentos para
Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 23
Ciência e Ambiente
doenças cardiovasculares graças à
válida utilização de animais durante
a fase de investigação. É este o
propósito da utilização dos animais
na ciência.
O Ælme não é dramático como
muitas vezes o criam e não deve
manter-se a preto e branco com
ideias obsoletas. Hoje, temos
conhecimento e provas da
importância destes animais na
ciência e por isso podemos
transformar estes Ælmes em
histórias verídicas, a cores.
Para que exista experimentação
animal, tem obrigatoriamente de
existir primeiro uma aprovação
ética. Assim, todos os cientistas
descrevem o projeto ao detalhe,
explicando cada procedimento que
será feito nos animais, o objetivo de
cada experiência e os novos
resultados que se esperam obter.
Este documento é avaliado por uma
comissão de ética, que analisa o
cumprimento de leis, normas e
regulamentos aplicados no projeto
(sim, a utilização de animais nos
laboratórios não é feita à maluca,
mesmo os cientistas tendo essa
fama!).
Além disso, leem detalhadamente
e questionam caso haja informação
não clara. Este procedimento pode
demorar meses a anos e só depois
da avaliação positiva é que as
experiências podem ser realizadas.
Durante esta realização, existe
monitorização por parte de
Deixo o desaÄo a
todos os cientistas.
Divulguem os
progressos que
estão a fazer com
estes ratinhos
de laboratório
IGC
veterinários e outros elementos da
comissão de ética, que visam o
cumprimento do descrito
anteriormente. No Ænal, todos os
resultados e conclusões geradas
têm de ser partilhadas com a
comunidade cientíÆca e não
cientíÆca para que assim se faça jus
aos animais sacriÆcados pelo
progresso.
Este é um Ælme longo que, apesar
de ainda estar em construção, já
está também em exibição e talvez
por essa razão haja avaliações tão
contraditórias. São estas avaliações
que estão, ainda atualmente, a fazer
deste Ælme um drama Æccional
criando uma ilusão errada da
realidade.
Fazendo uma sinopse para os
leitores daquilo que é a realidade: a
utilização de animais nos
laboratórios não é feita porque os
cientistas o querem, é feita porque a
humanidade o necessita. Esta
utilização de animais não é um usar
de forma desmedida, é uma válida
utilização que segue regras, normas
e leis éticas. As experiências não são
descontroladas, são tal qual como
seriam (e talvez serão no futuro)
feitas no Homem. A vida destes
animais não é preenchida de dor e
sofrimento, é sim completa de
cuidado e atenção, muitas vezes ao
milésimo de segundo. A morte
destes animais não segue a lei da
dor, segue tantas outras normas que
visam a diminuição ao nulo
sofrimento dos animais.
Para que tudo isto se torne ainda
mais real, o ideal será “ver pelos
próprios olhos” e por isso os
institutos de investigação devem
abrir as suas portas (de forma
controlada porque até a pressão e
temperatura são controladas nestes
laboratórios) à sociedade. Os
laboratórios devem aumentar a sua
transparência e os cientistas a sua
comunicação, mostrando como
está a ser feita atualmente a
investigação animal.
Deixo o desaÆo a todos os
cientistas que partilhem as suas
histórias! Divulguem os progressos
que estão a fazer com estes ratinhos
de laboratório para que assim se
perca a atual dramatização irreal
sobre experimentação animal. Após
esta informação e compreensão,
convido os espectadores a passarem
a cineastas e construírem eles
mesmos o Ælme dos ratinhos de
laboratório, espero que agora
verídico e a cores, como uma
excelente película cientíÆca deve ser.
Estudante de doutoramento
no Instituto de Investigação
de Ciências da Vida e da Saúde
na Universidade do Minho;
comunicadora de ciência
24 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Cultura Exposição no Museu do Caramulo até 5 de Maio
Feito à Mão:
Reportagem
viagem ao
Sérgio C. Andrade Texto
Paulo Pimenta Fotografia
É entre a Ægura de um macaco de
barro a tocar guitarra portuguesa,
tempo em que moldada por um autor anónimo
no Ænal do século XIX, e um jarro
de tons de vermelho-sangue,
a cerâmica se
decorado com o perÆl de um rosto
jovem, criado em 2005, na fábrica
Viúva Lamego, pelo artista
plástico Rogério Ribeiro
intrometeu no
(1930-2008), que decorre a viagem
por um século de história da
cerâmica portuguesa de autor na
exposição Feito à Mão, que se
reino das artes
poderá visitar no Museu do
Caramulo até ao dia 5 de Maio.
O coleccionador Pedro Moura
Carvalho não tem dúvidas em
classiÆcar esta mostra — centena e
meia de peças, de mais de 60
autores, muitas delas exemplares
O Museu do Caramulo mostra, até 5 de únicos e outras tantas exibidas
publicamente pela primeira vez —
Maio, a história da cerâmica portuguesa como “a mais abrangente selecção
de autor no século XX, com base na de cerâmica tridimensional, de
autor e de origem nacional,
colecção rara de Pedro Moura Carvalho alguma vez reunida”.
Na visita guiada para o PÚBLICO à
exposição, que foi inaugurada já no
Ænal de 2023 e tem como subtítulo
Cerâmica portuguesa de autor no
século XX, o também historiador de
arte, investigador e curador começa
por chamar a atenção para uma
segunda peça que sai igualmente do
limite temporal deste percurso e
que, de resto, faz a capa do
catálogo. Trata-se de Assemblage #9,
que Pedro Cabrita Reis esculpiu em
2003, combinando oito jarros e três
pratos de louça tradicional na
oÆcina do oleiro já desaparecido
Adelino Silva. “É uma peça
lindíssima, que resulta da
colaboração de um dos grandes
artistas portugueses
contemporâneos com um dos
grandes oleiros da região de Mafra,
com décadas de experiência”, diz
Pedro Moura Carvalho.
Feito à Mão ocupa três espaços
das exposições temporárias do
Museu do Caramulo e oferece, por
ordem cronológica, uma rara visão
de conjunto da produção artística
do século XX nesta arte.
Pedro Moura Carvalho, que é
também curador da mostra, explica
ter escolhido o Caramulo para
exibir uma parte da sua vasta
colecção pelo facto de o museu
fundado pelo médico e
coleccionador João Lacerda possuir,
desde a sua fundação em 1959, “um
núcleo muito importante, mesmo a
nível internacional, com grandes
ceramistas da primeira metade do
século XX”. Aí se podem encontrar
peças de nomes como Raoul Dufy,
Marc Chagall, Jean Lurçat (o mais
representado, com sete peças), mas
também Picasso e Miró, além de
artistas portugueses, como
Leopoldo de Almeida, Teixeira
Lopes, Canto da Maia, Maria Luísa
Fragoso e Júlio Pomar – uma
colecção que Pedro Moura Carvalho
também descreve e analisa no
catálogo de Feito à Mão.
Coleccionador (de cerâmica e de
vidros) desde tenra idade – “em
criança, fazia cerâmica. Ia à Feira da
Ladra, em Lisboa. E cheguei a
comprar peças de José Franco, um
oleiro de Mafra, que ofereci à minha
mãe, e que ainda estão lá em casa”,
revela –, Pedro Moura Carvalho
apurou o seu interesse por esta arte
no decorrer de uma carreira
proÆssional que o levou a viver já
em nove países de quatro

continentes. Estudou em Florença,
Londres e Harvard, foi jornalista em
Macau, entusiasmou-se pela arte
asiática e islâmica. Pelo caminho,
comissariou exposições de Lisboa a
Singapura, de São Francisco a Seul,
e entre os vários livros publicados
há um que expõe e sistematiza o seu
interesse muito particular por esta
arte: À Roda: Cerâmica de Autor em
Portugal no Século XX. Pedro Moura
Carvalho (Estugarda, 2021).
Galo de Barcelos a Júlio Pomar
Os três espaços da exposição
coincidem com três períodos
assinalados com painéis
informativos. O primeiro vai Da
louça das Caldas aos bonecreiros e às
primeiras exposições ‘com sentido
moderno’, e abre com uma
“jarra-nó” azul de Costa Mota
Sobrinho, fabricada nas Caldas da
Rainha, que o curador considera ser
uma das suas preferidas e “uma das
obras-primas da cerâmica
portuguesa”.
Com outras peças de Rafael
Bordalo Pinheiro (um bule com
cabeça de homem) e de Manuel
Mafra (um “jarro-lagarto-frade”),
documentam a originalidade,
qualidade e humor que
caracterizam a louça das Caldas da
Rainha, que, com os barros pretos e
o Ægurado de Barcelos, virão a
tornar-se “presença incontornável
nas casas e na vida quotidiana das
populações do país no século XX”,
nota o curador.
Contrariando a ordem
cronológica, uma das primeiras
vitrinas da exposição reúne, numa
associação tão lúdica quanto
programática, uma cabra-paliteiro
de Rosa Ramalho com um bode de
António Quadros, e uma peça de
Mistério com um “prato-burro” de
Júlio Pomar. “Muitos dos nossos
artistas plásticos inspiraram-se no
artesanato, e esta combinação quer
mostrar isso mesmo, ao colocar a
cabra da Rosa Ramalho ao lado do
bode do António Quadros, que foi o
homem que descobriu, divulgou e
expôs a arte da barrista de
Barcelos”, justiÆca o coleccionador.
Pela sala adiante, essa ligação
entre o imaginário mais popular e o
apuro estético de “autor” está bem
patente em peças como a “varina
top model”, que Pedro Moura
Carvalho atribui a Cunha Barros,
um ilustrador de Ílhavo, ou na
À esquerda: Assemblage #9,
esculpida por Pedro Cabrita
Reis em 2003, combina oito
jarros e três pratos de louça
tradicional; nesta página,
Pedro Moura Carvalho,
historiador de arte e
coleccionador, que é também o
curador da exposição no Museu
do Caramulo; ao lado, o galo
gigante de José Franco; em
baixo, em primeiro plano,
Encantador de serpentes, de
Abel Baptista dos Santos (1958)
“A mais abrangente
selecção
de cerâmica
tridimensional, de
autor e de origem
nacional, alguma
vez reunida”, diz
o curador Pedro
Moura Carvalho
Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 25
criação da Vista Alegre Pierrot
dança com Columbina, com “uma
pintura aÆnadíssima” de Henrique
Constância; os corvos em terracota
de Jorge Vieira; ou ainda o
“canjirão” de Canto da Maia e a
garrafa de Querubim Lapa, esta
colocada ao lado do galo de
Barcelos, no design transformado
por António Ferro em símbolo do
país do Estado Novo.
“Com sentido moderno”
Alternadas com as vitrinas e as
plataformas centrais para as peças
de grande dimensão — como um
“encantador de serpentes” de Abel
dos Santos, “que hoje em dia
ninguém conhece mas foi um dos
nossos grandes modeladores”, diz o
curador; e um São Jorge e o Dragão,
de Jorge Barradas —, são também
apresentados vários exemplares de
catálogos e publicações relativos às
exposições e prémios lançados nos
anos 40 e 50 pelo SNI (Secretariado
Nacional de Informação), sob
direcção de António Ferro. A
primeira mostra realizou-se em
1945, no Palácio Foz, em Lisboa,
para “cerâmica de autor com
sentido moderno”. Aí pontuou o já
citado Jorge Barradas, exibindo
mais de 80 peças, entre as quais
Pedro Moura Carvalho acredita que
estaria uma belíssima jarra moldada
na Viúva Lamego, como, mais
tarde, O velho pastor.
Em paralelo com essas exposições,
entre 1946 e 1956 os artistas que não
alinhavam com as estéticas oÆciais
do regime — entre eles esteve, por
exemplo, Júlio Pomar, que viu obras
suas conÆscadas pela censura em
1947 (curiosamente, o mesmo ano
em que o seu mural para o novo
Cinema Batalha, no Porto, foi
tapado por decisão censória da
autarquia) — promoveram
Exposições Gerais de Artes Plásticas
alternativas na Sociedade Nacional
de Belas Artes, nas quais incluíram
também a cerâmica de autor. Aí se
puderam ver obras de António
Pedro, Jorge Vieira e do arquitecto
Victor Palla, além do próprio
Pomar e da sua companheira Alice
Jorge, todos representados nesta
ala de Feito à Mão.
Além desta artista, a arte
cerâmica no feminino está
igualmente patente em peças de
Irene e Maria Leonor Natividade, tia
e sobrinha, de Alcobaça, com duas
belas jarras coloridas, ou, já na
viragem para a década de 60,
nomes como Maria Luísa Fragoso
(Rapto de Europa), Cecília de Sousa
(uma “travessa-galo”) ou a
moçambicana Bertina Lopes (um
colorido “porta-bengalas”).
No percurso até ao segundo
espaço, e a documentar um período
em que a cerâmica “entrou na
moda” (anos 40 e 50), além da já
citada Viúva Lamego, o visitante vai
deparar-se com nomes de outras
fábricas que marcaram este sector
ao longo do século. Entre elas,
ressalta a já desaparecida Secla,
fundada em 1947 nas Caldas da
Rainha — por onde passaram as
mãos de artistas como António
Quadros, Luís Ferreira da Silva (que
“convenceu os proprietários da
fábrica a darem-lhe lá um espaço, a
que chamou Curral, onde fazia as
suas experiências”, diz Pedro
Moura Carvalho, considerando-o
“um dos grandes ceramistas
portugueses da segunda metade do
século XX”), ou José Santa Bárbara.
De Battistini a Picasso
A viagem termina com peças do
pós-25 de Abril de 1974, quando
“muitos artistas se desinteressaram
pela cerâmica, perante a
possibilidade de usarem novos
materiais, como os acrílicos e
poliéster, os metais, o vídeo e as
instalações”, nota o curador.
Apesar disso, houve quem
continuasse a apostar nesta arte
tridimensional, e alguns desses são
evocados neste núcleo: José Franco
(com o seu “galo gigante”, que o
arquitecto Conceição Silva usou na
decoração do Hotel do Mar, em
Sesimbra, casando o modernismo
da arquitectura com o da cerâmica),
Artur José, Maria de Lurdes Castro,
Bela Silva (A fonte de Neptuno), Jorge
Mealha (“touro com nó na
cauda”)… até ao jarro de Rogério
Ribeiro, já do século XXI.
Neste percurso, o visitante terá
ainda oportunidade de conhecer
obras de ceramistas estrangeiros
que escolheram viver e trabalhar
em Portugal, como o italiano
Leopoldo Battistini, o alemão Hein
Semke ou a húngara Hansi Staël. E
terá também uma vitrina
especiÆcamente dedicada a mostrar
a inÇuência do trabalho que Picasso
dedicou à cerâmica, a seguir ao Æm
da II Guerra Mundial, em artistas
como a própria Staël, Júlio Santos
ou Figueiredo Sobral. Será uma boa
“deixa” para que a visita se
prolongue por uma sala mais
adiante, para admirar a
Mulher-garrafa, uma peça única, ao
lado de três outros múltiplos em
cerâmica dos anos 40 criados pelo
genial artista nascido em Málaga.
26 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Cultura
Na escuridão, os Autechre
pintam paisagens electrónicas
Crítica de música
Autechre
mmmmn
Culturgest, Lisboa
Sexta-feira, 12 de Abril, 21h
Esgotado
Psicológica e epistemicamente, a
visão sobrepõe-se aos restantes sen-
tidos. É por isso que, quando se dis-
corre sobre concertos, a maioria opta
por conjugar o verbo “ver” e não
“ouvir”. No Google, uma pesquisa
por “ver um concerto” devolve
38.600 resultados; no entanto, se a
primeira palavra for substituída por
“ouvir”, este número desce para
16.900. Quando se muda a pessoa e
o tempo verbal, a disparidade chega
a ser ainda maior. Mas nos concertos
dos históricos Autechre, que se estrea-
ram ao vivo em Lisboa na sexta-feira,
na Culturgest, e fazem questão de
tocar em salas às escuras há muitos
anos, não há nada para ver.
A primeira das duas sessões de sex-
ta-feira começa com uns minutos de
atraso, depois das 21h. Estão acesas
algumas luzes de emergência e há uns
pontos azuis no palco, perto de onde
se escondem os músicos. Ocasional-
mente, é possível observar os seus
vultos. Amigos de toda a vida são inca-
pazes de reconhecer as feições de
quem está ao seu lado. Os telemóveis
só podem ser usados em caso de emer-
gência. Durante mais de uma hora, não
há ecrãs para iluminar nem distrair as
pessoas — muitas não se lembram da
última vez que passaram tanto tempo
acordadas sem a sua luz azul. Resta-
nos então ouvir o concerto.
O público sujeita-se a esta privação
sensorial porque reconhece e respei-
ta o legado dos ingleses. Desde que se
cruzaram nos arredores de Manches-
ter e começaram a explorar as zonas
limítrofes da electrónica, com o elec-
tro-funk, o acid-house e a música con-
creta como bússolas, no Ænal dos anos
1980, Sean Booth e Robert Brown
nunca pararam de arriscar e de se
reinventar. Sempre ligados à editora
Warp, cujo mito ajudaram a construir,
lançaram mais de 30 obras, entre
álbuns de estúdio e ao vivo, compila-
ções e um número considerável de
EP. A sua inÇuência é transversal a
vários géneros e subgéneros electró-
nicos, do tecno minimal ao dubstep,
passando pela música ambiental.
Na noite de sexta-feira, ouve-se
tudo isso e mais na Culturgest. Ao
longo dos 75 minutos que dura o con-
certo, a música da dupla fragmenta-se
e encontra-se em constante mutação.
Num instante, ouvem-se ecos e o
Robert Brown e Sean Booth, os históricos Autechre
scratch do hip-hop; no seguinte, sur-
ram-nos as batidas marciais do tecno
ou os graves da bass music britânica;
pelo meio, gélidas cascatas de sinte-
tizadores são derretidas por ritmos
quentes e explosões de ruído. Quase
na recta Ænal do concerto, parece que
está a aterrar um helicóptero na sala,
tal é a violência sónica.
Tão depressa somos arrastados em
direcção ao futuro como levados de
volta ao passado. Os minutos alar-
gam-se e condensam-se. Perde-se a
noção do tempo. Nos momentos mais
intensos da actuação, o corpo vibra
numa frequência estranha. Apesar de
os ossos não abanarem nas cadeiras
do Auditório Emílio Rui Vilar e de
suspeitarmos de que o sistema de
som da Culturgest não tem arcabouço
para este tipo de música, a pulsação
cardíaca oscila entre as 82 e as 108
batidas por minuto, de acordo com
os registos do smartwatch. E o anda-
mento musical varia ainda mais, ace-
lerando e travando bruscamente.
Como não podemos contar com os
olhos para transmitirem o que se pas-
sa à nossa volta, os outros sentidos
Æcam mais apurados. O negrume da
sala não é opressivo. Antes pelo con-
trário, lembra um quarto escuro, é
desinibidor. Neste contexto, a música
dos Autechre torna-se mais evocativa
do que qualquer um dos seus discos,
quase sinestésica. Na escuridão, eles
pintam paisagens. Primeiro, uma dis-
topia cyberpunk, rasgada por raios
laser e luzes de néon. A seguir, as
paredes pichadas de uma cidade em
declínio. A paisagem torna-se indus-
trial e opressiva. Voltam os lasers,
agora em ambiente lúdico. De repen-
te, uma montanha parece coberta de
neve – ou será um icebergue? Estamos
debaixo de água.
Na ausência de imagens ou palavras,
somos forçados a procurar signiÆca-
dos nas narrativas e estilhaços sonoros
do duo. E é possível encontrar múlti-
DR
plos e diferentes sentidos nesta elec-
trónica abstracta a que alguém teve a
triste ideia de chamar IDM (intelligent
dance music, ou música de dança inte-
ligente) nos anos 1990. O termo pegou,
mas os Autechre, como os restantes
artistas da Warp que tiveram a infeli-
cidade de serem etiquetados assim,
odeiam-no. Os argumentos dos músi-
cos e produtores repetem-se: por um
lado, não se consideram assim tão
inteligentes; por outro, se há uma
música de dança inteligente é porque
a restante é uma burrice. E é absurdo
colocar as coisas nestes termos.
Pior, no caso da dupla britânica, é
alguém achar que isto é música de
dança, quando ninguém se está a
mexer. É música para gente sentada,
isso sim. Há muitos anos que eles não
querem fazer nem mais nem menos
do que isso, como sugerem os discos
e atestam os concertos. Ainda que o
contexto fosse outro, por exemplo
uma pista de discoteca ou uma rave
inundada por luzes e cores, as com-
posições e improvisações de Sean
Booth e Robert Brown repelem os
corpos em vez de os convidar a enro-
larem-se. É a antítese da dança, ou
pelo menos uma desconstrução e
uma abstracção da mesma. Houve
um tempo em que os Autechre não se
recusavam a dar-nos baile, só que já
foi há mais de duas décadas. Hoje,
mexem connosco de outras formas,
guiam-nos pelas ruínas da rave e con-
frontam-nos com os seus espectros.
Na noite de sexta-feira, levaram-nos
numa dessas visitas guiadas — aliás,
em duas, primeiro às 21h e depois às
23h. Quando subitamente interrom-
peram a primeira sessão, ao Æm de 75
minutos, as palmas das mãos do públi-
co chocaram uma e outra vez, com
agressividade benigna. Na escuridão
da sala, não dá para saber quantas
pessoas se levantaram para os aplau-
dir. Mereciam que se tivessem levan-
tado todas. Luís Filipe Rodrigues
Morreu Eleanor Coppola,
a mulher da câmara
de filmar na rodagem
de Apocalypse Now
Obituário
Vasco Câmara
1936-2024 Companheira
durante 60 anos de Francis
Ford Coppola, documentou
a rodagem do épico do
marido nas Filipinas
Foi companheira de Francis Ford
ao longo de 61 anos, para o melhor
e para o pior como se diz. Um título
de um Ælme, Apocalypse Now, pode
resumir isso, “o melhor e o pior”:
Eleanor documentou com uma
câmara de 16mm 60 horas de
material da rodagem do projecto
que levou o marido e a família,
durante mais de um ano, até às
Filipinas, que levou Francis até ao
limite da sua megalomania.
Chamou-se Hearts of Darkness, a
Filmmaker’s Apocalypse, esse
documentário vencedor de um
Emmy. Chegou às salas em 1991, 12
anos depois do lançamento de
Apocalypse Now e da, rezam as
crónicas, memorável estreia
mundial no Festival de Cannes 1979
e da turbulenta conferência de
imprensa em que Francis Coppola
preferiu estas míticas palavras que
são também palavras de um
encenador de óperas: “O meu Ælme
não é sobre o Vietname. O meu
Ælme é o próprio Vietname.”
Era suposto as imagens de
Eleanor serem utilizadas como
material de promoção do Ælme
pela United Artists. Mas deram
origem a outra coisa com a fusão
com o diário que Eleanor escreveu
nesse período (e que se
Artista, decoradora, realizadora,
Eleanor Coppola tinha 87 anos
autonomizaria num livro, Notes on
the Making of Apocalypse Now).
Hearts of Darkness, a Filmmaker’s
Apocalypse resulta assim num dos
mais belos olhares sobre o cinema
como loucura e máquina
incontrolável, desgovernada. É
também um confronto lúcido da
realizadora com a sua própria
conjugalidade — um affair de
Francis... — e com a Ægura com
quem partilhava a vida, esse
marido a quem chamavam, e ele
acreditava, génio. Em suma, é o
retrato íntimo de um épico.
Desmultiplicando: um set
destruído por um tufão, o
despedimento de um actor, Harvey
Keitel, e o ataque de coração de
outro, Martin Sheen, helicópteros
emprestados pelo governo do
ditador Ferdinando Marcos que às
tantas os reivindicou para
combater a guerrilha nas
montanhas, um orçamento de 13
milhões de dólares que aumentava,
triplicava, levando Francis a
penhorar a propriedade familiar e
a pôr os Coppola à beira da
falência. Numa entrevista em 2016,
e citamos a Hollywood Reporter,
Eleanor terá contado que o marido
não gostou do que viu. Dava dele
uma imagem “descontrolada”.
“O começo da ideia de Ælme era
certamente documentar
Apocalypse Now. Não tinha noção.
Tinha feito uns Ælmes artísticos nos
anos 70, mas quando peguei na
câmara nas Filipinas Æquei
hipnotizada a olhar através do
visor” — recordação de uma
entrevista de Eleanor, em 2017,
citada pela Variety.
Não foi só a “mulher do grande
cineasta”, portanto. Teve de
esperar até aos 80 anos, mas fê-lo,
para se autonomizar artisticamente
do ambiente familiar povoado por
actores e realizadores, e Ælmar a
sua primeira Æcção, Paris Pode
Esperar. Nele aparece o mundo do
cinema, uma mulher que espera,
um cineasta ocupado com a sua
obsessão artística e até um Ælho
morto, como aconteceu na
realidade aos pais Francis e
Eleanor — Gio, irmão de SoÆa,
realizadora, e de Roman,
realizador e produtor, desapareceu
em 1986, aos 22 anos, num trágico
acidente de barco. Seguir-se-ia, em
2020, Love Is Love.
Eleanor Coppola, artista,
decoradora, realizadora, tinha 87
anos. A morte, de causa não
conhecida, ocorreu na sexta-feira,
em casa, em Rutherford, Califórnia.
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NOVAMENTE DISPONÍVEL
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Do Fundo da Revolução

Maria João Avillez

Os 20 anos pós-25 de Abril à luz do cruzamento plural
e contrastado de testemunhos que fizeram História
e contaram a viragem histórica nacional
que marcou o país.

REEDIÇÃO
FAC-SÍMILE
Entrevistas a
Melo Antuness
José Miguel Júdice
e
Vítor Cunha Rego
o
a
João Bénard da Costa
José Pacheco Pereira
a

+12,90€
Alpoim Calvão
o
Manuel de Lucena
a
Vasco Vieira de Almeida
José Manuel de Mello
o
a
EM BANCA
o
Isabel do Carmo
Carlos Fabião
o
André Gonçalves Pereira
a
o
Maria de Lurdes Pintasilgo
Adriano Moreira
a
Manuel Monge
e
Mário Soaress
Foto autora © João Porfírio

“Maria João Avillez sabe ouvir e sabe, sobretudo, estimular os seus convidados. (…)
Do Fundo da Revolução é um bom exemplo deste talento e ficará a fazer parte de COMPRAR
uma coisa que é, infelizmente, rara em Portugal e que é a história oral contemporânea,
contada a partir dos próprios intervenientes.”
Leonardo Ferraz de Carvalho
28 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024
Desporto Portistas foram alcançados pelo Sp. Braga no pódio da Liga
Taremi evitou a terceira
derrota seguida do FC Porto
Os “dragões” estiveram por duas vezes em desvantagem, em casa, frente
ao Famalicão, mas um golo do iraniano, a oito minutos dos 90, ofereceu o empate
Crónica de jogo
David Andrade
O fantasma da terceira derrota con-
secutiva no campeonato ainda pairou
no Estádio do Dragão até ao minuto
82, mas o regresso aos golos de Tare-
mi salvou o FC Porto de nova derrota.
Num jogo em que os “dragões” volta-
ram a mostrar debilidades defensivas
clamorosas e pouca Æabilidade ofen-
siva, o Famalicão esteve por duas
vezes em vantagem — o venezuelano
Cádiz bisou —, mas os portistas con-
seguiram conquistar um empate (2-2),
que não evitou que o Sp. Braga igua-
lasse a equipa de Sérgio Conceição no
terceiro lugar, a apenas cinco jorna-
das do Ænal da I Liga.
Num dia quente de Abril na cidade
do Porto, o mau momento dos “azuis
e brancos” reÇectiu-se nas bancadas
— estiveram no Dragão 30.510 espec-
tadores, uma das piores assistências
da época —, e uma das curiosidades
da partida era perceber como iria
reagir a equipa portista após duas
derrotas consecutivas na I Liga.
Para além do mau momento da
sua equipa, Sérgio Conceição não
tinha disponíveis Pepe, Fábio Car-
doso e João Mário, mas o técnico
portista optou por fazer mais alte-
rações, deixando no banco Galeno
e Alan Varela.
Assim, mesmo mantendo o
4x2x3x1 que tem sido regra desde
Janeiro, Conceição colocou Marko
Grujic ao lado de Nico González e Iván
Jaime no Çanco esquerdo. Mais atrás,
o mexicano Jorge Sánchez era o late-
ral direito e, no centro da defesa,
havia uma dupla inédita: Zé Pedro e
Otávio. Deste cocktail resultou uma
exibição caótica do FC Porto nos pri-
meiros 45 minutos.
Embora o Famalicão também tives-
se baixas importantes — o capitão
Riccieli e Chiquinho —, a equipa de
Armando Evangelista foi a única na
primeira parte que mostrou tranqui-
lidade e consistência e, aos 9’, as debi-
lidades na defesa do FC Porto come-
çaram a ser aproveitadas pelos
minhotos: Puma encontrou uma cla-
reira na esquerda da defesa portista
e colocou a bola na área, onde Cádiz
não teve oposição para marcar.
Oito minutos depois, após uma boa
jogada na direita de Francisco Con-
ceição, o FC Porto ainda empatou
sem fazer qualquer remate enquadra-
do — Zaydou Youssouf marcou na
própria baliza —, mas ainda antes do
intervalo, Cádiz aproveitou novo erro
da defesa dos “dragões” para bisar e
pôr, com justiça, o Famalicão nova-
mente em vantagem.
Ao intervalo, Conceição corrigiu o
erro inicial — Galeno, Taremi e Varela
nos lugares de Sánchez, Grujic e Jaime
— e as melhorias na equipa portista
foram evidentes. Mesmo não conse-
MANUEL FERNANDO ARAÚJO/LUSA
FC Porto 2
Youssouf 17’ (p.b.),
Taremi 82’
Galeno desespera com
mais um lance de golo
perdido pelo FC Porto Famalicão 2
Cádiz 9’ e 45’+1’
Jogo no Estádio do Dragão, no Porto.
Assistência 30.510 espectadores
FC Porto Diogo Costa; Jorge Sánchez
(A. Varela, 46’ a83’), Zé Pedro, Otávio
a44’ e Wendell a60’ (Namaso, 82’);
Grujic (Taremi, 46’) e Nico González
(Eustáquio, 87’); Francisco Conceição,
Pepê, Ivan Jaime (Galeno, 46’ a90’) e
Evanilson a90+4’. Treinador Sérgio
Conceição
Famalicão Luíz Júnior; Nathan, Mihaj
a90’+5’, Justin de Haas e Francisco
Moura; Topic, Zaydou Youssouf a69’
(Aranda, 87’) e Gustavo Sá (Filipe
Soares, 65’); Sorriso, Puma Rodríguez
(Dobre, 76’) e Cádiz a83’ (Gustavo
Assunção, 87’). Treinador Armando
Evangelista.
Árbitro Gustavo Correia (AF Porto)
VAR Bruno Esteves (AF Setúbal)
Positivo/Negativo
Cádiz
Pela esquerda, pelo centro
ou pela direita, o avançado
venezuelano fez quase
sempre “gato-sapato” da
defesa do FC Porto.
Gustavo Sá
O início da formação do
médio poveiro foi feito no
FC Porto e, no reencontro
com a equipa que chegou a
representar nas camadas
jovens, Gustavo Sá mostrou
no Estádio do Dragão que,
aos 19 anos, é mais um
talento do futebol
português.
Wendell
As debilidades defensivas
guindo estabilizar na defesa, o FC do lateral brasileiro são
Porto passou a construir oportunida- conhecidas, mas a forma
des sucessivas para marcar, mas ape- como o Famalicão soube
nas chegou ao empate aos 82’, após aproveitar as lacunas de
Galeno oferecer a Taremi a oportuni- Wendell conseguiu
dade de regressar aos golos: foi o pri- surpreender. Num jogo em
meiro golo em 2024 do iraniano pelo que ninguém da defesa do
FC Porto. FC Porto sai incólume, o
O jogo, no entanto, não terminou internacional brasileiro
sem mais um sinal de desnorte dos ocupa lugar de destaque
“dragões”. Nos descontos, Evanilson pela permeabilidade que
foi expulso após agredir Mihaj e, des- sempre mostrou.
sa forma, será uma baixa importante
na quarta-feira, quando o FC Porto Evanilson
receber o Vitória na segunda mão da Numa altura em que o FC
meia-Ænal da Taça de Portugal. Porto tem mostrado muitos
Com esta derrota, o FC Porto Æca, problemas ofensivos, o
a cinco jornadas do Æm, a 15 pontos avançado brasileiro
do Sporting — tem menos um jogo —, reforçou as dificuldades da
Æcando matematicamente fora da sua equipa com uma
luta pelo título, se os “leões” pontua- atitude no tempo de
rem na próxima terça-feira em Fama- descontos que o vai deixar
licão. Já quando à luta pela segunda de fora do duelo na
posição, os portistas podem terminar quarta-feira com o Vitória.
a ronda 29 a 11 pontos do BenÆca.
 Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 29

Desporto

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

I Liga
Jornada 29
Gil Vicente-Sporting
Vitória SC-Farense
0-4
1-1
OBRIGADO POR
FC Porto-Famalicão
Estoril-Sp. Braga
E. Amadora-Rio Ave
Portimonense-Casa Pia
Arouca-Boavista
2-2
0-1
15h30,SPTV
18h,SPTV
18h,SPTV
ACABAREM COM
Benfica-Moreirense
Vizela-Desp. Chaves

1. Sporting
20h30,BTV
seg, 20h15, SPTV
J V E D
28 24 2 2 83-27 74
M-S P
O FOMO.
2. Benfica
3. FC Porto
4. Sp. Braga
5. Vitória
28 21 4 3 62-23 67
29 18 5 6 53-23 59
29
29
18
17
5
6
6
6
61-40 59
45-29 57
E COM A FOME
O Sp. Braga regressou às vitórias na I Liga e chegou ao terceiro lugar
6. Moreirense
7. Arouca
8. Famalicão
9. Casa Pia
28
28
28
28
12
12
8
8
7
4
11
7
9
12
9
13
30-30 43
48-38 40
31-35 35
27-39 31
DE INFORMAÇÃO.
Para o pódio o Sp. Braga 10. Farense
11. Boavista
12. Rio Ave
29
28
28
8
7
5
8
7

14
14
13
9
38-41 31
33-53 29
29-35 29

passa a depender só de si 13. Estoril

14. Gil Vicente
15. Est. Amadora
16. Portimonense
29
29
28
28
8
7
6
7
7
9
5
5 16
15
13
16
43-50 29
36-48 28
29-43 27
30-60 26
17. Vizela 28 4 9 15 28-59 21
18. Desp. Chaves 28 4 7 17 27-60 19
prios para se manterem no pódio da
Os bracarenses ainda vão prova, embora o calendário até Ænal Próxima jornada Rio Ave-Arouca,
Moreirense-Gil Vicente, Sp. Braga-Vizela,
jogar com Benfica, Vitória e do campeonato seja bastante exigen-
Boavista-E. Amadora, Casa Pia-FC Porto,
te, com jogos frente a BenÆca, FC
FC Porto, mas com o triunfo Famalicão-Portimonense, Farense-Benfica,
Porto e Vitória. Desp. Chaves-Estoril, Sporting-Vitória SC
contra o Estoril ficaram com Rui Duarte, treinador interino
o destino nas suas mãos depois da saída de Artur Jorge, pro-
moveu uma “pequena revolução” no II Liga
A exibição não foi muito espectacu- onze inicial do Sp. Braga, chamando
Jornada 29
lar, mas no Ænal do dia o resultado Ricardo Horta, Álvaro Draló, Borja, Belenenses-Ac. Viseu 1-0
que o Sp. Braga alcançou ontem no Paulo Oliveira e Vítor Carvalho. U. Leiria-Länk Vilav. 3-1
terreno do Estoril (triunfo pela mar- Os primeiros minutos do jogo de Benfica B-AVS 0-1
gem mínima por 1-0), somado aos ontem, na Amoreira, mostraram o Tondela-Penafiel 0-1
P. Ferreira-Nacional 11h, SPTV
empates de FC Porto e o Vitória de Estoril a ser a primeira equipa a Æcar Mafra-Feirense 14h, SPTV
Guimarães, permitiu aos bracaren- perto do golo, mas Wagner Pina viu FC Porto B-Oliveirense 15h30, PC
ses, não só afastarem-se dos rivais Matheus salvar. Mas depois deste Leixões-Torreense 15h30, SPTV
minhotos como alcançar os portistas início ousado, a partida baixou de Marítimo-Santa Clara 20h30, SPTV
no terceiro lugar da I Liga. Mais, pas- ritmo, embora o Sp. Braga fosse a J V E D M-S P
saram a depender apenas de si pró- equipa que tinha mais bola. 1. Santa Clara 28 17 8 3 39-17 59
Vítor Carvalho ainda obrigou, aos 2. AVS 29 19 2 8 43-28 59
36’ e após cruzamento na direita, 3. Nacional 28 16 7 5 50-30 55
Estoril 0 Carné a boa defesa, mas até ao inter- 4. Marítimo 28 14 8 6 42-24 50
valo pouco mais de relevante se pas- 5. Tondela 29 11 12 6 41-36 45 Graças ao apoio dos nossos parceiros, o projecto
sou. 6. P. Ferreira 28 12 7 9 33-25 43 PSuperior disponibilizou assinaturas digitais
Sp. Braga 1 A segunda parte só animou, ver- 7. FC Porto B 28 11 7 10 44-36 40 do PÚBLICO a alunos do ensino superior,
Álvaro Djaló 64’ dadeiramente, quando Bruma obri- 8. Torreense 28 11 7 10 34-29 40 proporcionando o acesso a notícias exclusivas
gou Marcelo Carné à defesa da noite, 9. Ac. Viseu 29 8 14 7 31-30 38
num remate em arco. Mas se Bruma
e a artigos de opinião. Juntos, promovemos
10. Mafra 28 10 8 10 33-32 38
Jogo no Estádio António Coimbra da não marcou, Álvaro Djaló, em mer- 11. Benfica B 29 10 7 12 36-38 37
a literacia mediática e combatemos
Mota, no Estoril. gulho e depois de um cruzamento 12. U. Leiria 29 9 9 11 38-35 36 o FOMO (Fear Of Missing Out).
Assistência 3.639 espectadores mortífero de Ricardo Horta da 13. Penafiel 29 10 4 15 26-34 34
Estoril Marcelo Carné; Pedro Álvaro,
esquerda fez o golo que o Sp. Braga 14. Leixões 28 6 12 10 22-31 30
Basso (Raúl Parra, 85’) e Bernardo precisava para Æcar na frente do 15. Oliveirense 28 6 9 13 28-43 27 COM O APOIO DE:
Vital; Wagner Pina (Fabrício Garcia, marcador e no pódio do campeona- 16. Feirense 28 7 4 17 25-42 25
85’), Mateus Fernandes (João Carlos, to. 17. Belenenses 29 5 8 16 22-48 23
85’), Zanocelo e Tiago Araújo; Rafik
Esperava-se uma resposta do Esto- 18. L. Vilaverdense 29 6 3 20 24-53 20
Guitane, Cassiano (Alejandro Marqués,
72’) e Heriberto (João Marques, 72’). ril e, em especial nos últimos dez
minutos e já com João Marques e Ale- Próxima jornada Feirense-Leixões,
Treinador Vasco Seabra.
Penafiel-P. Ferreira, Torreense-U. Leiria,
jandro Marqués em campo, os “cana- Santa Clara-Tondela, Länk Vilav.-Marítimo,
Sp. Braga Matheus; Victor Gomez, rinhos” ameaçaram o empate. O Sp. Oliveirense-Belenenses, Ac. Viseu-Mafra,
Paulo Oliveira, Niakaté e Cristian Borja
Braga sofreu um pouco nesta fase Nacional-Benfica B, AVS-FC Porto B
(J. Mendes, 90’); João Moutinho e Vítor
Carvalho a86’; Alvaro Djaló (Rony mas aguentou a curta vantagem que
Lopes, 73’), Ricardo Horta (José Fonte, permitiu a Rui Duarte somar o seu MELHORES MARCADORES
90’)e Bruma (Zalazar, 70’); Banza (Abel I Liga
primeiro triunfo à frente dos “arse- 22 golos Viktor Gyökeres (Sporting)
Ruiz, 70’). Treinador Rui Duarte.
nalistas”. Já Vasco Seabra viu o Esto- 21 golos Simon Banza (Sp. Braga)
Árbitro Fábio Veríssimo (AF Leiria) ril interromper uma série de três II Liga
VAR Bruno Vieira (AF Lisboa) jogos consecutivos sem perder. 23 golos Nenê (AVS)
PÚBLICO 15 golos Wendel Silva (FC Porto B)
30 • Público • Domingo, 14 de Abril de 2024

Desporto

City mantém a pressão em Inglaterra, Casper Ruud e Stefanos

Tsitsipas em forma para
Bayer pode ser hoje campeão alemão final de Monte Carlo
ANDREW BOYERS/REUTERS
tenista nacional, Francisca Jorge
Jorge Miguel Matias Pedro Keul
(190.ª no ranking mundial), esteve em
Na Premier League Os dois tenistas com mais encontros destaque.
ganhos em terra batida desde o início Na sexta-feira, a selecção feminina
continua uma luta a três, de 2020, Casper Ruud (98 vitórias) e venceu a Noruega, por 2-1, e, na der-
enquanto na Bundesliga Stefanos Tsitsipas (73), vão disputar radeira jornada do play-off, obteve
pode haver um novo a Ænal do Rolex Monte Carlo Masters mais uma vitória pela margem míni-
campeão dez anos depois depois de ontem terem obtido vitó- ma, sobre a Bulgária, graças nova-
rias marcantes. Habituado a bater mente a Francisca Jorge, que voltou
A luta no topo da Premier League recordes para o seu país, Ruud somou a vencer o segundo singular e a
continua bem intensa e ontem foi a mais um: tornou-se o primeiro tenis- emparceirar com a irmã Matilde para
vez de o tricampeão Manchester City ta norueguês a derrotar o número um somar o segundo ponto necessário
subir, provisoriamente, à liderança do ranking mundial, ao vencer Novak — após a derrota de Angelina
da classiÆcação, ao golear por 5-1 o Djokovic, em três sets. Voloshchuk, de 16 anos, no primeiro
“aÇito” Luton. Isto, mesmo com Pep “Vai ser um dia que vou recordar singular.
Guardiola a decidir “poupar” vários durante muito tempo. Nunca tinha As irmãs Jorge vão continuar em
jogadores a pensar na partida de ganho a um número um, nunca tinha acção na próxima semana no Jamor,
quarta-feira, na Champions, frente ganho ao Novak… ainda estou um pois receberam wild-cards para o qua-
ao Real Madrid. pouco sob choque”, aÆrmou Ruud dro principal do WTA 125 Oeiras
O triunfo deixa o Manchester City O Manchester City não deu hipóteses ao Luton Town (10.º), minutos depois de se superio- Ladies Open, tal como Ana Filipa San-
na liderança da Liga inglesa, com rizar ao sérvio, por 6-4, 1-6 e 6-4. tos e Maria Garcia.
mais dois pontos do que Arsenal e Djokovic, campeão em 2013 e 2015, Paralelamente, decorre o Oeiras
Liverpool, mas com “gunners” e Liga inglesa Liga espanhola não alcançava as meias-Ænais no Open 125, torneio do ATP Challenger
“reds” a só jogarem hoje, recebendo, Mónaco há oito anos, mas cedeu Tour, onde Henrique Rocha e os wild-
respectivamente, o Aston Villa, quar- Jornada 33 Jornada 31 quando, no set decisivo, serviu a 4-5: cards Jaime Faria, Frederico Silva e
to, e o Crystal Palace, 15.º. Newcastle - Tottenham 4-0 Betis - Celta Vigo 2-1 cometeu três erros directos consecu- Gastão Elias disputam o quadro prin-
O treinador catalão deixou de fora Burnley - Brighton ?-1 Atl. Madrid - Girona 3-1 tivos e, depois de salvar dois match- cipal. O tenista mais cotado da prova
Manchester City - Luton Town 5-1 Rayo Vallecano - Getafe 0-0
o português Bernardo Silva, mas Nottingham Forest - Wolverhampton 2-2 Maiorca - Real Madrid 0-1 points, cometeu uma dupla-falta. é o veterano italiano Fabio Fognini,
também Rodri, Phil Foden, Jack Brentford - Sheffield United 2-0 Cádiz - Barcelona 0-1 Tsitsipas (12.º) conÆrmou que se actual 94.º no ranking.
Grealish ou o guarda-redes Ortega, Bournemouth - Manchester United 2-2 Las Palmas - Seviha 13h, Eleven3 sente em casa nos courts do Monte Em Budapeste, Nuno Borges (58.º)
todos titulares na visita de terça-feira Liverpool - Crystal Palace 14h, Eleven1 Granada - Alavés 15h15, Eleven3 Carlo Country Club e qualiÆcou-se é, pela primeira vez na carreira, cabe-
West Ham - Fulham 14h, Eleven2 Athletic Bilbau - Villarreal 17h30, Eleven3
ao terreno do Real Madrid (3-3), no Arsenal- Aston Villa 16h30, Eleven1 Real Sociedad - Almería 20h, Eleven1
para a Ænal pela terceira vez nos últi- ça de série de um torneio ATP e apre-
jogo da primeira mão dos quartos- Chelsea - Everton seg, 20h, Eleven1 Osasuna - Valência seg, 20h mos quatro anos. O grego, campeão senta-se como o sétimo mais cotado
de-Ænal da Liga dos Campeões. no principado em 2021 e 2022, inÇigiu da prova, que tem como principal
J V E D M-S P J V E D M-S P
Entre os portugueses, Rúben Dias a segunda derrota da época a Jannik favorito o argentino Francisco Cerun-
manteve-se no “onze” e Matheus 1. Man. City 32 22 7 3 76-32 73 1. Real Madrid 31 24 6 1 67-20 78 Sinner (2.º), pelos parciais de 6-4, 3-6 dolo (22.º). O primeiro adversário de
Nunes foi opção numa partida que 2. Arsenal 31 22 5 4 75-24 71 2. Barcelona 31 21 7 3 62-34 70 e 6-4. No entanto, o italiano estava Borges neste ATP 250 é o suíço Stan
começou, cedo, a resolver-se para os 3. Liverpool 31 21 8 2 72-30 71 3. Girona 31 20 5 6 63-39 65 bem encaminhado para a vitória, Wawrinka (79.º), ex-número três
homens da casa, que já venciam por 4. Aston Villa 32 18 6 8 66-49 60 4. Atl. Madrid 31 19 4 8 59-36 61 quando liderou por 4-1 (30-40), mas mundial e detentor de três títulos do
1-0 aos dois minutos, num autogolo 5. Tottenham 32 18 6 8 65-49 60 5. Athletic Bilbau 30 16 8 6 50-28 56 ninguém viu o serviço do adversário Grand Slam.
de Hashioka — a bola, rematada por 6. Newcastle 32 15 5 12 69-52 50 6. Real Sociedad 30 13 10 7 43-31 49 bater fora nesse break-point e Tsitsi- No ATP 500 de Barcelona, as aten-
Haaland, desviou no japonês. 7. Man. United 32 15 5 12 47-48 50 7. Betis 31 11 12 8 38-37 45 pas iniciou aí a recuperação, ao mes- ções estão centradas no regresso de
Na segunda parte, Kovacic descan- 8. West Ham 32 13 9 10 52-56 48 8. Valência 30 12 8 10 33-32 44 mo tempo que Sinner começava a Rafael Nadal ao circuito. O espanhol
sou os campeões, com novo golo aos 9. Chelsea 30 12 8 10 55-52 44 9. Getafe 31 9 12 10 37-43 39 queixar-se de cãibras. de 37 anos não compete desde 5 de
64’, e Haaland praticamente senten- 10. Brighton 32 11 11 10 52-50 44 10. Osasuna 30 11 6 13 36-43 39 Por cá, Portugal garantiu a manu- Janeiro e terá como primeiro adver-
ciou o resultado, de grande penali- 11. Wolverhampton 32 12 7 13 46-51 43 11. Villarreal 30 10 8 12 48-53 38 tenção no Grupo I da Zona Europa- sário o italiano Flavio Cobolli (63.º),
dade, aos 76’, não sem que pouco 12. Bournemouth 32 11 9 12 47-57 42 12. Las Palmas 30 10 7 13 29-33 37 África da Billie Jean King Cup, após que quando nasceu, em 2002, já
depois os visitantes Æzessem o 3-1, 13. Fulham 32 11 6 15 47-51 39 13. Alavés 30 8 8 14 26-36 32 um Ænal de semana em que a melhor Nadal Ægurava no ranking ATP.
numa perda de bola de Matheus 14. Brentford 33 8 8 17 47-58 32 14. Maiorca 31 6 13 12 25-36 31
SEBASTIEN NOGIER/EPA
Nunes. 15. Crystal Palace 31 7 9 15 36-54 30 15. Sevilha 30 7 10 13 37-44 31
O quarto golo do campeão apare- 16. Everton 31 9 8 14 32-42 27 16. Rayo Vallecano 31 6 13 12 25-38 31
ceu já muito perto do Ænal, com 17. Nott. Forest 33 7 9 17 42-58 26 17. Celta de Vigo 31 6 10 15 33-46 28
Doku a partir da esquerda e, entre 18. Luton Town 33 6 7 20 46-70 25 18. Cádiz 31 4 13 14 21-41 25
simulações de corpo, a conseguir 19. Burnley 33 4 8 21 33-68 20 19. Granada 30 2 8 20 30-60 14
encontrar espaço na área para atirar 20. Sheff. United 32 3 7 22 30-84 16 20. Almería 30 1 10 19 28-60 13
cruzado para o 4-1, aos 87 minutos,
um pouco antes de o belga assistir vantagens do Bournemouth (12.º sa agora por segurar o segundo lugar,
Gvardiol para o quinto, aos 90’+3’. classiÆcado). que ocupa a par do Estugarda, que
Já o Manchester United, um “bis” Na Alemanha Raphaël Guerreiro também ontem derrotou o Eintracht
do internacional português Bruno marcou, ontem, o primeiro golo do Frankfurt por 3-0.
Fernandes, foi insuÆciente para evi- triunfo do Bayern Munique sobre o Em Itália, a Juventus não foi além
tar nova perda de pontos dos “red Colónia, por 2-0. Mas isso não de um empate sem golos no estádio
devils”, que empataram a dois na mudou muito a circunstância de o do Torino, num pouco apaixonante
visita ao Bournemouth. Bayer Leverkusen já ter praticamen- derby de Turim.
O capitão do United, e agora te assegurado o Æm da hegemonia A “Juve” desperdiçou a possibili-
melhor marcador da equipa no bávara na Bundesliga — os “farma- dade de reduzir para três pontos o
campeonato (oito golos e seis assis- cêuticos” serão campeões, se vence- atraso para o AC Milan, segundo clas-
tências), marcou aos 31 e aos 65 rem hoje o Werder Bremen. siÆcado, que visitará hoje o Sassuolo,
minutos, nas duas vezes a anular Assim, o objectivo do Bayern pas- penúltimo. Casper Ruud em acção no encontro em que eliminou Novak Djokovic
 Público • Domingo, 14 de Abril de 2024 • 31

Desporto
Futebol
João Neves em Motociclismo Miguel Oliveira em 11.º na corrida sprint das Américas
segundo lugar na
corrida ao Golden Boy
ADAM DAVIS/EPA
O médio do Benfica João Neves
ocupa o segundo posto na
primeira avaliação do prémio
Golden Boy, que premeia o
melhor jogador sub-21 a jogar
numa equipa europeia. A lista é
liderada por Lamine Yamal,
avançado do Barcelona de
apenas 16 anos. O ranking
baseia-se na performance em
campo dos jogadores entre 3 de
Outubro de 2023 e 27 de Março
de 2024, considerando o tempo
de jogo e o desempenho nas
selecções e nos clubes.

Futebol
Gil Vicente confirma
Tozé Marreco como
treinador até 2025
O Gil Vicente confirmou ontem
a contratação do treinador Tozé
Marreco, que assinou um
compromisso válido com o
emblema minhoto até 2025. O
treinador, de 36 anos, que
orientava o Tondela, da II Liga,
rende no cargo Vítor Campelos,
que no início desta semana foi
despedido, depois de
resultados inconstantes,
deixando a equipa no 14.º lugar
com 28 pontos. Para Tozé
Marreco esta será o primeiro
desafio profissional na I Liga.
Miguel Oliveira (Aprilia)
terminou ontem na 11.ª posição a
corrida sprint do Grande Prémio
das Américas, em Austin, no
Texas, numa corrida dominada
por pilotos espanhóis. Oliveira,
que tinha partido da 14.ª posição
da grelha, cortou a meta a 10,364
segundos do vencedor, o
espanhol Maverick Viñales
(Aprilia), com o compatriota
Marc Márquez (Ducati) na
segunda posição, a 2,294
segundos, e o também espanhol
Jorge Martin (Ducati) em
terceiro, a 4,399s. Numa corrida
com apenas 10 voltas, Viñales
saiu disparado do primeiro lugar
da grelha, liderando toda a
corrida. Atrás de si, o espanhol
Pedro Acosta (GasGas) e Marc
Márquez lutavam pelo segundo
lugar, mas acabaria por ser o
mais experiente dos espanhóis a
garantir o degrau intermédio do
pódio. Miguel Oliveira, que
ontem de manhã não passou da
primeira fase da qualiÆcação
(Q1), largou do 14.º posto. No
entanto, viria a perder dois
lugares no arranque. Oliveira
recuperaria até ao 12.º logo na
segunda volta. A parte Ænal da
prova Æcou marcada por um
duelo intenso entre o português
e o antigo companheiro de
equipa, o sul-africano Brad
Binder (KTM), de quem o piloto
de Cascais se desenvencilhou ao
cair do pano, para garantir o 11.º
lugar Ænal. Jorge Martin lidera o
campeonato mundial de pilotos,
com 67 pontos, mais 24 do que o
italiano Enea Bastianini (Ducati),
que foi sexto. Hoje, disputa-se a
corrida principal do GP das
Américas, terceira ronda do
campeonato.

Basquetebol Basquetebol Futebol Andebol

Neemias Queta faz
máximo de carreira
em pontos na NBA
O poste português Neemias
Queta fez 16 pontos, um novo
máximo de carreira na Liga
Norte-americana de
Basquetebol profissional (NBA),
na vitória dos Boston Celtics
frente aos Charlotte, por 131-98,
em jogo disputado na
sexta-feira. O internacional luso,
que esteve em campo durante
18 minutos, conseguiu 16
pontos, o máximo pessoal num
jogo da NBA, a que juntou seis
ressaltos, cinco assistências e
dois roubos de bola.
“Dragões” perdem
e são alcançados
pelas “águias”
O FC Porto sofreu ontem a quarta
derrota na Liga, desta vez no
terreno da Ovarense, em jogo da
20.ª jornada do campeonato. A
equipa de Fernando Sá, que
chegou a ter uma vantagem de 11
pontos, cedeu por 88-84, com
Jeremiah Bailey a destacar-se na
equipa da casa com 19 pontos,
três assistências e 11 ressaltos. O
FC Porto chegava a esta jornada
na liderança isolada, mas foi
alcançado pelo Benfica, que
derrotou, nos Açores, o Lusitânia
por claros 113-73.
Fernando Santos FC Porto vence e afasta
despedido do Besiktas Benfica da luta
16 jogos depois pelo título
Fernando Santos deixou ontem O FC Porto venceu ontem o
de ser treinador do Besiktas, Benfica na primeira jornada da
anunciou a equipa da Liga turca, fase final do campeonato de
após o quinto jogo consecutivo andebol por 36-32, ao intervalo
sem vencer. Contratado em o jogo estava empatado 17-17.
Janeiro, o antigo seleccionador Este resultado mantém os
português, de 69 anos, venceu “dragões” na perseguição ao
apenas sete dos 16 encontros Sporting, que chegou a esta
disputados no Besiktas, fase com quatro pontos de
perdendo cinco e empatando vantagem, depois de ter
quatro. Este era um regresso de vencido todos os jogos da fase
Fernando Santos a um clube, regular. Já o Benfica, que tinha
cerca de 14 anos depois, após os mesmos 29 pontos que o FC
passagens pelas selecções de Porto, deixa de ter hipóteses
Grécia, Portugal e Polónia. reais de ainda lutar pelo título.
Domingo, 14 de Abril de 2024

BARTOON LUÍS AFONSO

Montenegro, um estado de graça maior

do que o de Santana Lopes
pozinhos sem importância. que é difícil acreditar como foi “seria Ænanceiramente
Anacrónica Teve muitas oportunidades possível que o Governo achasse irresponsável”. Foi várias vezes
para desfazer a percepção. A que ninguém iria concluir — mais acusado, durante a campanha
ideia de “choque Æscal” foi cedo ou mais tarde — que não eleitoral, de estar a ser, por esta
amplamente contestada pelo PS – havia “choque Æscal” nenhum. via, “Ænanceiramente
mal sabia o PS que o que passou Luís Montenegro nega ter irresponsável”. Mas nunca quis
uma campanha inteira a mentido no debate do Programa desmentir e concretizar porque é
contestar era o seu próprio do Governo. De facto, disse a que que não iria ser “Ænanceiramente
“choque Æscal”, aquele que a descida do IRS “vai perfazer irresponsável”. No fundo, a

Q
Ana Sá Lopes
uando Pedro Santana
Lopes trocou as
folhas do discurso, na
sua tomada de posse
como
primeiro-ministro, há
20 anos, acabou ali o seu estado
de graça. Na verdade, com
Santana Lopes, a graça nunca
tinha existido, tendo em conta as
divergências dentro do PSD (e
com maior ênfase no resto da
sociedade) sobre a sua chegada a
primeiro-ministro, em
substituição de Durão Barroso.
É preciso recuar a Pedro
Santana Lopes para identificar
um primeiro-ministro que destrói
em velocidade turbo o seu estado
de graça. O PSD deliberadamente
escondeu durante toda a
campanha que a sua redução de
IRS era a redução de IRS do
Governo PS, com mais uns
Fernando Medina decidiu para o
Orçamento de 2024!
Luís Montenegro e a AD
quiseram iludir o eleitorado. Por
mais voltas que se dê ao texto, é
impossível encontrar outra razão
para não terem explicado que a
“baixa do IRS” que consta do
programa eleitoral não
signiÆcava quase nada, logo não
iria pôr em causa as receitas do
Estado com este imposto.
O cidadão comum Æcou
convencido que, ao votar AD, o
IRS iria diminuir. AÆnal, muitos
dos que votaram AD a pensar que
iam ter um regime mais favorável
de IRS foram ao engano – a
redução em sede de IRS era
praticamente a mesma.
Nunca pode ter passado pela
cabeça de qualquer eleitor que o
Orçamento contra o qual o PSD
votou iria ser, aÆnal, a sua grande
arma eleitoral. Isto é tão obnóxio
1500 milhões de euros”, um
aumento face “ao ano passado”.
“Perfazer” aqui é a palavra
mágica que iliba Montenegro da
acusação de ter mentido. O
problema é que a parte de leão é
do “ano passado” e o Governo AD
tem muito pouco para “perfazer”
os tais 1500 milhões. São apenas
170 milhões — quase nada.
Não, não acabaram os
“truques”, como Montenegro
disse no congresso do PSD,
quando anunciou a grande
descida do IRS. Passar para o
eleitorado, a grande massa que
A Äcção da não se debruça sobre programas
partidários, a ideia de uma
“grande descida grande descida do IRS é um dos
de impostos” “truques” mais patéticos dos
últimos tempos na política
e “choque Äscal” portuguesa.
dava jeito No comunicado deste sábado,
o primeiro-ministro vem dizer
a Montenegro que baixar o IRS de outra forma
Æcção da “grande descida de
impostos” e “choque Æscal”
dava-lhe jeito — e provavelmente
pode ter sido esta a razão por que
até ganhou as eleições ao PS,
tendo em conta que a diferença é
mínima.
É natural a fúria da oposição
perante este evidente truque.
Como disse Rui Rocha, da
Iniciativa Liberal, o estado de
graça do Governo não durou dois
dias. Mas, valha a verdade,
também caberia aos partidos da
oposição ler as letras pequeninas
do “contrato” e confrontar o
primeiro-ministro com isso no
debate. O PS já não está
habituado a ser oposição há
muitos anos — e isso exige um
esforço muito maior a cada um
dos parlamentares do que ser
bancada de apoio a um governo.
Jornalista

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