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NESTA SEMANA > “NA MEDIDA DO IMPOSSÍVEL”, DE TIAGO RODRIGUES / BAR DO PEIXE, NO MECO / SÉRIE “THE JINX”

Exposições
Artes à vista
Há de tudo nas melhores exposições para ver em
Lisboa e no Porto: pintura, fotografia, ilustração,
design ou instalações de grande escala
LUCÍLIA MONTEIRO
7 ---------- E X P O S I Ç Õ ES

VERA MARMELO
OLHOS
temporânea italiana – é um
Lisboa artista surpreendente. Haja
visitantes à altura, ou seja,
que se deixem surpreender.

BEM
S.B.L.

Enzo Cucchi Culturgest > até 30 jun,


ter-dom 11h-18h > €5
A exposição tem curadoria

ABERTOS
Hoje Soube-me
de Bruno Marchand e cha-
ma-se Mezzocane (o leitor
pode não saber italiano, mas a Pouco
a expressão é para enten-
der à letra, “meio cão”, e Para celebrar 50 anos de 25
mais não dizemos para não de Abril, da “democratiza-
Pintura e fotografia, peças estragar a surpresa). Reúne ção da cultura” e da forma
monumentais e pequenos pintura, escultura e desenho como a liberdade “se impôs
das últimas duas décadas. como um legado para a arte
tesouros, artistas conhecidos Não vale a pena entrar com portuguesa, influenciando
e outros para descobrir. grandes categorias de leitura até as gerações mais jovens”,
já que, aqui, tudo se mistura: o MAAT – Museu de Arte,
Seleção de 25 exposições, artes e meios, inspirações e Arquitetura e Tecnologia
em Lisboa e no Porto referências, jogos, sentidos, apresenta Hoje Soube-me
reações e sentimentos… A a Pouco. A inaugurar no
mostra é complementada dia 24 de abril, a exposição
— P O R I N Ê S B E LO E M A R I A N A A L M E I D A N O G U E I R A
com uma outra, mais pe- irá reunir obras de grandes
quena, intitulada Il Libraio e nomes da arte contemporâ-
L’Artista, que junta diversos nea portuguesa dos anos 70
materiais relacionados com e 80, de Ana Jotta a Julião
livros. Enzo Cucchi – um dos Sarmento, Luísa Correia
nomes maiores da arte con- Pereira, Álvaro Lapa, Helena

92 VISÃO 18 ABRIL 2024


NotíciasFlix

Almeida ou Pedro Cabrita


Reis, entre outros, colocan-
do-as em diálogo com as de
artistas de gerações mais
recentes.

MAAT – Museu de Arte,


Arquitetura e Tecnologia >
24 abr-26 ago, seg, qua-dom
10h-19h > €11, grátis 1.º dom
mês 10h-13h

ETC.
– Extraction
ANTÓNIO JORGE SILVA

/ Trade /
Cashtration
Nas duas salas da Galeria
Cristina Guerra, o angolano artísticas e ideológicas de Museu de Arte Contemporânea 2 mai-7 out, seg, qua-dom
Yonamine presta tributo a épocas diferentes. do Centro Cultural de Belém > 10h-19h > €11, grátis 1.º dom
artistas e personalidades que até 15 set, ter-dom 10h-19h > mês 10h-13h
têm vindo a influenciar a sua Galeria Cristina Guerra €10
prática artística. A homena- Contemporary Art > até 11 mai,
gem principal vai para Paulo ter-sex 11h-19h, sáb 15h-19h > Factum
Kapela, que ao longo de grátis Nosso Barco
décadas fez da arte uma len- Tambor Terra Eduardo Gageiro, 89 anos,
te para mostrar ao mundo a um dos grandes fotojornalis-
realidade dos marginalizados. Evidence: Depois de Joana Vasconce- tas portugueses de sempre,
Paredes forradas a papel Soundwalk los, é a vez de Ernesto Neto, fez muitas das imagens mais
coberto de manifestos, esta- um dos mais internacionais icónicas do 25 de Abril de
tuetas de madeira, assem- Collective artistas brasileiros, ocupar 1974, que podem ser vistas
blages de metal, partes de & Patti Smith a galeria oval do MAAT com na exposição Factum, inte-
aparelhos eletrónicos e até uma instalação imersiva, a grada na celebração oficial
mesmo um retrato de Julião Inspirados nas viagens que inaugurar no dia 2 de maio. dos 50 anos do 25 de Abril,
Sarmento pintado com cores os poetas Arthur Rimbaud, Como ponto de partida para organizada pelas Galerias
garridas fazem da exposi- Antonin Artaud e René reflexões espirituais, am- Municipais/EGEAC. Na
ção uma máquina do tempo Daumal fizeram, a fim de bientalistas e pós-coloniais Cordoaria Nacional, expõem-
que nos catapulta para um encontrarem lugares que os que lhe interessa explorar, e -se, ao todo, 170 fotografias
universo no qual dialogam ajudassem a transcender inspirado por imagens (velas) da sua autoria, na grande
referências socioculturais, a sua própria existência, e materiais (lonas e cor- maioria a preto e branco. As
os Soundwalk Collective das) associados às viagens mais antigas são dos anos
e Patti Smith criaram uma transatlânticas, Neto criará 50 e a mais recente foi feita
instalação, dentro da qual um conjunto de instalações na Avenida da Liberdade, nas
podemos mergulhar nas inéditas, utilizando sobretu- celebrações do 25 de Abril,
referências e inspirações do chita crochetada à mão. em 2023.
dos artistas. De ausculta- A instalação, que incorpora
dores nos ouvidos, entra-se uma série de instrumentos, Cordoaria Nacional – Galeria do
numa sala escura onde se será periodicamente ativada Torreão Nascente > até 5 mai,
misturam desenhos, foto- com espetáculos de grupos seg-dom 10h-13h, 14h-18h >
grafias, pedaços de tecido, musicais cabo-verdianos, grátis
poemas recitados, peças angolanos, moçambicanos
musicais, esculturas de e timorenses, momentos de
madeira, vídeos de rituais reflexão e meditação sobre o Siza
tribais, de cidades e de facto de existirem linguagens
paisagens, sons da Natu- não verbais, como a música, A fim de apresentar uma
reza e até um canteiro de que nos unem, independen- exposição capaz de cobrir
cogumelos alucinogénios. temente da nossa prove- todos os aspetos criativos da
Os estímulos para a aventura niência. carreira de Álvaro Siza Vieira,
VASCO VILHENA

contemplativa estão todos Prémio Pritzker em 1992, a


lá, basta parar e entregar-se MAAT – Museu de Arte, Fundação Calouste Gul-
à experiência. Arquitetura e Tecnologia > benkian recorre a arquivos

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7 ---------- EXPOSIÇÕES

depositados na Fundação de
Serralves, no CCA – Cana-
dian Centre for Architecture,
no centro britânico Drawing
Matters, bem como na pró-
pria fundação e no atelier do
arquiteto. Siza apresentará
material original, desenhos,
plantas de trabalho e plantas
finais, fotografias e peças
de design, além de obras de
outros artistas que são refe-
rências, artísticas e profissio-
nais, para o arquiteto.

Fundação Calouste Gulbenkian


> 17 mai-26 ago, seg, qua-dom
10h-18h, €6, grátis dom a partir
das 14h

Portais do Tempo
Abril é mês de festa e
memória. Em Almada, nos
antigos estaleiros da Lisnave, de pequenas dimensões, que
a câmara municipal e a Un- Maria Lamas fez para a obra
derdogs inauguram Portais monumental As Mulheres
do Tempo, exposição que do Meu País, publicada em
apresenta as obras originais fascículos entre 1948 e 1950,
de sete artistas, criadas a estão expostos, na Fundação
partir de fotografias de Alfre- Calouste Gulbenkian, objetos
do Cunha, selecionadas pelo pessoais, exemplares de
próprio. Em lonas de sete por primeiras edições dos seus
12 metros, Ana Malta, Fidel livros fundamentais e artigos
Évora, Inês Teles, Márcio Car- de jornais e revistas.
valho, Pedro Gramaxo, Petra.
Preta e Raquel Belli reinter- Fundação Calouste Gulbenkian
pretam as imagens captadas – Átrio da Biblioteca de Arte >

DÉLIO JASSE
há várias décadas, ofere- até 28 mai, seg-dom 10h-18h >
cendo ao passado a leitura grátis
de quem, apesar de não ter
vivido a Revolução, escolhe ministrativos. Uma exposição ou, pelo menos, de a redi-
refletir sobre questões como As Colónias que revisita a nossa memória recionar e de a transformar,
a liberdade, a diversidade, Ainda Vão coletiva e nos interpela por e este contratempo acabou
a igualdade e o poder do meio de imagens pensadas por moldar o seu trabalho.
coletivo. A exposição tem Ser Países enquanto objetos. Estudou fotojornalismo no
ainda um programa cultural, Los Angeles City College,
que contará com workshops, A mostra individual de Délio Pavilhão Branco, Museu de trabalhou como repórter
visitas encenadas e uma Jasse apresenta uma pano- Lisboa – Palácio Pimenta > fotográfica para as princi-
maratona fotográfica. râmica das diversas aborda- até 30 jun, ter-dom 10h-13h, pais revistas da década de
gens do artista nascido em 14h-18h > grátis 40 (Life, Look, Ladies Home
Antigos estaleiros da Lisnave, Luanda ao material de arqui- Journal), fotografou alguns
Almada > até 13 jul, qui-sex vo, que vão da escultura a dos maiores músicos dessa
15h-19h, sáb-dom e feriados ambientes imersivos de som A Ilusão época, incluindo Leonard
10h-19h > grátis e imagem, à cianotipia e à do Tempo Bernstein, Isaac Stern e
instalação fotográfica. O seu Aaron Copland. A partir do
trabalho tem como ponto de Nos EUA, na primeira meta- seu apartamento em Nova
As Mulheres partida registos do perío- de do século XX, a carreira Iorque, com vista para o
de Maria Lamas do colonial português em de realizador de cinema es- Central Park, registou ma-
Angola, tais como fotografias, tava reservada aos homens. ratonas, desfiles, concertos,
Além das fotografias, maiori- postais, textos de documen- Ruth Orkin (1921-1985) teve manifestações e a beleza
tariamente provas da época, tos oficiais ou carimbos ad- de renunciar à sua vocação da mudança das estações.

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azulejos, projetos de vitrais mudanças de atelier, entre
ou tapeçarias. 1929 e 1946.

Palácio Anjos, Oeiras > até 20 Museu Arpad-Sènes – Vieira


dez, ter-dom 11h-18h > €2 da Silva > até 2 jun, ter-dom
10h-18h > €7,50, grátis dom

Alfredo Cunha
– Photographo Não Ria.
O Humor

VIEIRA DA SILVA
No primeiro andar do Museu
do Neo-Realismo, em Vila é Um Assunto
Franca de Xira, às portas de Muito Sério
Lisboa, há espaço de sobra
para as dezenas de fotogra-
Vieira da Silva, – 100 anos
fias expostas, da autoria do Aquém e Além de Sam
fotojornalista Alfredo Cunha.
Na mostra Photographo,
da Abstracção O Museu Bordalo Pinheiro
toda a preto e branco, fica- assinala o centenário de
LUÍS FILIPE CATARINO

-se com uma boa retros- O trabalho de Vieira da Silva nascimento do cartoonista
petiva do que é e tem sido é mais associado à abstra- Sam, de seu nome verda-
Portugal – e um pouco do ção, à representação do deiro Samuel Azavey Torres
mundo – nas últimas cinco espaço e da perspetiva e de Carvalho (1924-1993).
décadas. Há retratos, peda- ao uso das linhas e geome- Composta por cartoons do
ços de reportagem, dentro e trias desconstruídas. Mas a artista, a mostra integra ou-
Nesta sua primeira exposi- fora de portas, mas gosta- artista teve uma produção tras práticas como escultura,
ção internacional, no Centro mos de destacar a parede figurativa. Ilustrou livros colagem, desenho e vídeo.
Cultural de Cascais, a lin- destinada ao dia da Revolu- infantojuvenis, representou Uma das secções é dedicada
guagem do cinema aparece ção dos Cravos, já que Alfre- temas académicos, como a às personagens, sobretu-
numa variedade de formas do Cunha esteve na linha da pintura de modelo, nature- do a do Guarda Ricardo, o
desde as primeiras imagens. frente, a fazer a cobertura zas-mortas, retratos, espaços obediente funcionário da lei
deste dia tão especial para interiores… É este lado menos que viveu nas páginas do
Centro Cultural de Cascais > 27 O Século. L.O. conhecido de Vieira da Silva Notícias da Amadora, do
abr-7 jul, ter-dom 10h-18h > €5 que o museu lisboeta que Expresso e do Público.
Museu do Neo-Realismo, Vila leva o seu nome apresenta
Franca de Xira > até 12 mai, ter- numa seleção de trabalhos Museu Bordalo Pinheiro
João Abel Manta -sex, dom 10h-18h, sáb 10h-19h produzidos ao longo de > até 19 mai, ter-dom 10h-18h
Livre > grátis várias décadas e de várias > €3

Nascido em Lisboa em 1928,


João Abel Manta foi dese-
nhador, artista gráfico, ilus-
trador, cartoonista e o autor
de algumas das mais emble-
máticas imagens da Revo-
lução de Abril. Foi também
um resistente ao regime de
Salazar (chegou a ser preso
pela PIDE, aos 20 anos, no
Forte de Caxias, por suposta
pertença ao MUD Juvenil). O
seu longo percurso artístico
é objeto de uma exposição
no Palácio Anjos, em Algés,
mais do que merecida. Com
acesso ao arquivo do artista
de 96 anos, aos arquivos
de instituições e a coleções
particulares, João Abel Manta
Livre mostra ainda outros
LUÍS BARRA

modos como aplicou o


desenho – na pintura, em ce-
nários e figurinos de teatro,

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Espanto
Porto Que relações podem estabe-
lecer-se entre a arte con-
temporânea, a antropologia
Fazer #2 e a etnografia? São várias,
entre inclusão, liberdade,
No edifício da Culturgest, transversalidade e até sentido
Frederico Duarte e Vera de humor. Espanto, patente
Sacchetti propõem um olhar na Casa Comum, reúne meia

D.R.
sobre os territórios do design centena de obras da Cole-
em Portugal, das políticas ção Norlinda e José Lima em
locais à cidadania ou à in- diálogo com uma seleção Pré/Pós e a edição de livros e revistas,
dústria têxtil, e de que modo
a disciplina contribui para as
de objetos e artefactos do
Museu de História Natural e
– Declinações dando visibilidade a obras e
a artistas pouco conhecidos.
grandes transformações so- da Ciência da Universidade Visuais do A curadoria é de Miguel von
ciais. Fazem-no primeiro com
uma exposição, depois com a
do Porto. Artistas como Do-
nald Baechler, José Chambel,
25 de Abril Hafe Pérez.

edição em papel de uma re- André Cepeda, Sara Bichão, Acertando o passo com Museu de Serralves > 24 abr-20
vista (o mesmo já tinha sido Susanne Themlitz, Anish os 50 anos da Revolução out, seg-sex 10h-18h, sáb-dom
acontecido em Lisboa, em Kapoor, Dan Graham e Rui dos Cravos, a Fundação de 10h-20h > €20 (bilhete geral),
Fazer #1). O segundo número Chafes estão representados Serralves regista como o grátis 1.º dom mês 10h-13h
da Fazer será lançado no dia nesta exposição que reúne universo das artes refletiu as
11 de maio, às 16h30. A 12 de fotografia, vídeo, instalação, experiências e os sentimentos
maio, último dia da mostra, pintura e escultura, mas tam- que marcaram os períodos Coleção Peter
haverá uma visita guiada, às bém desenhos de arte rupes- anterior e posterior ao 25 de Meeker: Obras
14h30, com os curadores e tre, escaravelhos, tamancos e Abril. Num arco cronológico
críticos de design. uma armadilha de pássaro. de 1970 a 1977, esta expo- de 1982-2019
sição reúne mais de 300
Culturgest > até 12 mai, ter-dom Casa Comum, Reitoria da trabalhos em suportes tão Para celebrar o seu quarto
13h-18h > grátis Universidade do Porto > até 31 variados como a pintura, a es- aniversário, a Casa São Ro-
ago, seg-sex 10h-13h, 14h30- cultura, a fotografia, o filme, a que apresenta uma seleção
17h30, sáb 15h-18h > grátis gravura, a instalação, o cartaz de obras da coleção de
Ensaios
de uma Coleção
Na Galeria Municipal do
Porto, uma nova exposição
vem mostrar as mais recentes
aquisições para a Coleção
de Arte Municipal, que desde
2018 tem vindo a dinamizar o
seu núcleo de arte contem-
porânea através da compra
anual direta a artistas e a ga-
lerias da cidade. No conjunto
agora apresentado estão
trabalhos de 38 artistas e
coletivos, como Ana Ha-
therly, António Manso Preto,
Bruno Zhu, Diana Policarpo &
Odete, Janaína Wagner, Júlia
Ventura, S4RA, Vasco Araújo,
Von Calhau! e Xavier Paes.
A exposição cruza diversos
temas, gerações e maneiras
de fazer arte, seja através da
pintura, do filme documental,
da fotografia ou de colagens.

Galeria Municipal do Porto >


até 19 mai, ter-dom 10h-18h >
grátis

96 VISÃO 18 ABRIL 2024


Peter Meeker (Pedro Álvares
Ribeiro), iniciada nos anos
1980, e que abarca mais de
600 peças de 40 artistas, de
âmbito geográfico singular. A
exposição reúne um conjun-
to de nomes – portugueses,
espanhóis e polacos – de
diferentes gerações, que

LUCÍLIA MONTEIRO
cresceram em países que
tiveram regimes repressivos
e ditatoriais, estabelecendo YAYOI KUSAMA : 1945-HOJE
afinidades e distâncias.

Casa São Roque > até 31 mai, nhos feitos na adolescência, de todo o mundo e afirmou- Tavares morreu em setembro
seg, qua-dom 13h30-19h > €8 durante a II Guerra Mundial -se, depois, mais como artista de 2023.
(que tanto a marcou), às visual, divulgador (foi um dos
salas imersivas criadas mais fundadores, em 2009, do Mira Fórum > até 8 jun, qua-sáb
Yayoi Kusama: recentemente e que fazem as Festival Internacional de Fo- 15h-19h > grátis
1945-Hoje delícias do público. A partir tografia de Israel) e professor.
do dia 22 de abril, a exposi- Esta sua primeira exposição
O universo profusamente ção estende-se ao Parque de individual em Portugal não A Faiança
colorido e repleto de bolinhas Serralves, que acolherá gran- funciona só como mais uma Azul de Safra
(polka dots) de Yayoi Kusama des esculturas, as icónicas antologia do seu trabalho ao
é cativante e divertido, mas Pumpkins e, no lago, a obra longo de 40 anos, sobretudo da Fábrica
esta estética singular da Narcissus Garden. J.L. em Israel e no Médio Oriente. de Miragaia
artista japonesa, que usou Foi especialmente concebi-
a arte como forma de cura, Museu de Serralves > até 29 da para o Centro Português Na sua extensa coleção de
não é alheia a preocupações set, seg-sex 10h-18h, sáb-dom de Fotografia, inclui uma cerâmica, o Museu Nacional
ambientais, sociais e políticas. 10h-20h > €20 (bilhete geral), instalação audiovisual e uma Soares dos Reis preserva
O Museu de Serralves expõe grátis 1.º dom mês 10h-13h secção em que o fotógrafo/ cerca de 180 peças produ-
cerca de 160 trabalhos de artista reflete sobre o tema zidas na Fábrica de Louça
Kusama, desde os dese- da morte. P.D.A. de Miragaia, no Porto, que
MFA – Mostra laborou entre 1775 e 1850.
de Fotografia Centro Português de Fotografia As faianças azul de safra,
> até 23 jun, ter-sex 10h-18h, assim denominadas devido
e Autores sáb-dom e feriados 15h-19h > à tonalidade da cor do seu
grátis vidrado e semelhantes na
A história recente de Portugal forma e/ou na decoração às
e as lutas pela liberdade loiças que se importavam de
noutras geografias contam- Quem Canta Inglaterra, são agora objeto
-se através do trabalho de o Mal Espanta de uma exposição temporária.
126 fotógrafos nacionais e Os exemplares, datados de
estrangeiros no Clube Fenia- | A Cantiga 1755 a 1822, dialogam com
nos Portuenses. A MFA junta É Uma Arma outras peças das coleções
19 exposições de fotografia, do museu, nomeadamente de
quatro delas coletivas, e uma Em colaboração com o pintura, desenho e gravura da
exposição com os melhores arquivo Ephemera, de José época.
cartoons de 2023 de Cristina Pacheco Pereira, construiu-se
Sampaio. esta exposição documental Museu Nacional Soares dos Reis
sobre a revista Mundo da > até 23 jun, ter-dom 10h-18h >
Clube Fenianos Portuenses > Canção. O projeto fundado €8, dom e feriados grátis
até 11 mai, seg-sáb 13h-23h > por Avelino Tavares foi muito
grátis mais do que uma revista de
música (o primeiro número
saiu a 19 de dezembro de
The Way to the 1969), tendo tido um papel
High Mountain na história da Revolução de
RENATO CRUZ SANTOS

Abril. Esta é também uma


Eldad Rafaeli nasceu em Is- forma de homenagear o seu
rael, há 60 anos. Publicou as fundador, que acompanhou a
suas fotografias, desde 1991, elaboração da exposição, mas
D.R.

em diversos jornais e revistas que não pôde vê-la – Avelino

18 ABRIL 2024 VISÃO 97


7 ---------- CO O R D E N A DAS

Fora
cerca de 40 espécies
de aves no Parque
de Monserrate, em
Sintra. Neste domingo,
21, pelas 9h30, com
a atividade Sons da
Paisagem – Iniciação
à identificação dos
Sons das Aves, os
participantes podem
treinar, durante duas —— Visita
horas, a capacidade
de escutar os sons CARAVELA
das diferentes aves “VERA CRUZ”
que por ali vivem ou Ancorada na Doca de
passam, com a ajuda Alcântara, em Lisboa,
de Paulo Marques, a caravela Vera Cruz
D.R.

biólogo e curador vai estar aberta a


convidado do Arquivo visitas gratuitas, neste
O que há —— Crianças -canção Grândola,
Vila Morena, de José
de Sons Naturais do
Museu Nacional de
sábado, 20. Trata-se
de uma réplica das

de novo BIOBLITZ
EM SERRALVES
Afonso, que se tornou
um símbolo do 25
História Natural e da
Ciência. €10 (6-17
caravelas portuguesas
dos séculos XV e XVI,

para sair Durante este fim


de semana, dias 20
de Abril. Composto
por diversas áreas
anos), €12 (adultos). construída no ano
2000, no estaleiro

ou ficar e 21, o Parque de


Serralves, no Porto,
de exposição, com
filmes e atividades —— Teatro
naval de Vila do
Conde, no âmbito

em casa
abre gratuitamente interativas, este núcleo das comemorações
as portas para a 10.ª conta ainda com um “O 25 DE dos 500 anos do
edição do BioBlitz. As estúdio de gravação e ABRIL NUNCA Descobrimento do
Ouvir os diferentes espécies um auditório. Funciona ACONTECEU”, Brasil. Horário das
passarinhos, de fauna (há cerca no primeiro andar do NO PORTO visitas: das 10h às 13h
explorar um de 200) e flora edifício dos antigos Como seria se e das 14h às 18h.
parque em deste pulmão verde Paços do Concelho, ainda vivêssemos
centenário podem ser na Praça D. Jorge. em ditadura? A
workshops e descobertas através A entrada é grátis. companhia portuense —— Conversas
oficinas, fazer de oficinas, visitas Palmilha Dentada
um piquenique guiadas, saídas de aventurou-se numa CICLO SOBRE
e celebrar Abril campo, conversas com —— Atividade ficção distópica AMÁLIA RODRIGUES
ciência, exposições em O 25 de Abril O Museu do Fado,
e espetáculos. O OUVIR PASSARINHOS nunca aconteceu, em Lisboa, recebe,
programa completo EM SINTRA em cena no Teatro a partir desta quinta,
está disponível em Dependendo da Carlos Alberto, para 18, e até 27 de junho,
bioblitz.serralves.pt. estação do ano, há questionar como o ciclo de seis
seria se a Revolução conversas “As Portas
dos Cravos não que Amália Abriu I
—— Museu tivesse acontecido e Fado e Liberdade”,
Portugal não tivesse concebido e moderado
UMA CANÇÃO acompanhado o por Miguel Carvalho,
NUM NÚCLEO mundo. A peça pode jornalista, ex-grande
MUSEOLÓGICO ser vista até ao dia repórter da VISÃO e
Inaugura neste sábado, 27, de quarta autor do livro Amália,
20, o novo Núcleo a sábado. Ditadura e Revolução.
Museológico do Museu Bilhetes: O ciclo começa
de Grândola, que tem €10. com as deputadas
a missão de contar a Joana Mortágua (BE)
história do poema- e Ana Rita Bessa

98 VISÃO 18 ABRIL 2024


Dentro
(CDS), seguindo-se Capela da Bemposta,
o compositor Luís com os concertos
Cília e a cantora de Andreas Scholl
Mitó Mendes, no dia e Edin Karamazov
9 de maio. Entrada (quinta, 18, 20h30);
gratuita, mediante Arte Mínima (sexta, 19,
reserva através do 20h30) e Americantiga
email comunicacao@ Ensemble e os solistas
museudofado.pt. da Orquestra Barroca
de Mateus (sáb, 20,
20h30). Os bilhetes
custam entre €15 e
€25.

D.R.
D.R
—— Piquenique
—— Televisão filme As Canções da
MERENDA NAS Terra, da realizadora
VINHAS DO DOURO “A CONSPIRAÇÃO”,
D.R.

Margreth Olin,
A Quinta do DE ANTÓNIO-PEDRO produzido por Wim
—— Concertos Bomfim, no Pinhão, VASCONCELOS Wenders e Liv Ullmann.
propriedade da família A RTP vai estrear a Um documentário
MÚSICA ANTIGA NAS Symington, voltou série documental biográfico com
IGREJAS DE LISBOA a reabrir o espaço A Conspiração, a as paisagens
A partir desta quinta, Merenda na Vinha, última obra realizada avassaladoras do vale
18, e até dia 28 de onde se pode saborear pelo cineasta de Oldedalen, que —— Decoração
abril, decorre o novo um piquenique António-Pedro representou a Noruega
ciclo de concertos preparado pelo chefe Vasconcelos, falecido nos Oscars. AZULEJOS
Lisboa Música Antiga, de cozinha Pedro em março. Com nove ANDORINHA
em várias igrejas da Lemos. Disponível episódios, resulta de DA TARDOZ
cidade. Promovido de segunda-feira a uma investigação —— Aniversário A artista Isabel
pela Divino Sospiro, domingo, das 13h às meticulosa sobre Colher, fundadora
orquestra barroca 17h, inclui sopa fria os preparativos da 75 ANOS DA SANTINI da oficina Tardoz, em
fundada em 2004, e de tomate-coração- Revolução dos Cravos, No ano em que celebra Marvila, e especialista
com direção artística -de-boi, covilhetes, desde o verão de 75 anos, a Santini junta- no restauro de
de Massimo Mazzeo, carapau de escabeche, 1973, e que culminou -se à Bordallo Pinheiro azulejos tradicionais
propõe seis concertos queijo, petiscos e na madrugada de 25 para criar a coleção portugueses, criou
de música sacra vinhos (€40). Para os de abril de 1974, com Carmen, composta a coleção Com
setecentista, com mais novos, há uma o derrube do Estado por quatro copos com Quantos Cravos
artistas nacionais cesta especial (€15) Novo, contando com relevo e cores alusivas se fez Abril?,
e internacionais. com uma sanduíche, depoimentos dos ao morango, limão, uva uma edição limitada,
O ciclo tem início na empadas e limonada. seus protagonistas. e laranja. Cada um está composta por
O primeiro episódio recheado com o sabor 50 azulejos de barro,
é exibido na quarta, do gelado respetivo. pintados e vidrados à
24, às 21h30, e o À venda nas lojas da mão, com o desenho
segundo, no dia 25 Santini, por €18 ou €16 de uma andorinha e
de abril, também às a unidade na compra um cravo. Cada peça
21h30. Os restantes, de quatro. (€50) é numerada
semanalmente. e assinada.
As encomendas são
AS PAISAGENS feitas na página de
DA NORUEGA Instagram da Tardoz e
A antecipar o Dia podem ser levantadas
LUCÍLIA MONTEIRO

Internacional da Terra, na oficina (R. Padre


que se assinala a 22 de António Ferreira,
abril, a Filmin estreia, Loja 34) ou recebidas
D.R.

nesta quinta, 18, o pelo correio.

18 ABRIL 2024 VISÃO 99


7 ---------- M Ú S I CA

LISBOA PORTO

Sons da Liberdade Música


& Revolução
Belíssimas homenagens Na Casa da Música, a
Três viagens sonoras pela memória musical temporada tem Portugal
da Revolução, pelas vozes de JP Simões, como país-tema, assinalando
Gisela João e B Fachada os 50 anos do 25 de Abril
e homenageando a música
e os músicos portugueses.

S
Entre os dias 17 e 30, o
erá uma celebração em grande, à celebração da música e da liberda- ciclo Música & Revolução
a condizer com os 50 anos de”, homenageando as músicas dos traz a estreia de uma
da Revolução dos Cravos e autores e compositores de Abril, numa encomenda a Daniel Moreira:
prolongada por três noites colaboração transfronteiriça com o em A Madrugada (dia 19),
no palco do Teatro Tivoli, cada uma guitarrista espanhol Carles Rodenas o compositor musicou
a cargo de um artista, que irá inter- Martinez, unindo desta forma as tra- poemas de Sophia de Mello
pretar temas e autores contempo- dições musicais de Portugal e Espanha Breyner Andresen, num
râneos ao 25 de Abril, numa viagem – este mesmo espetáculo será também espetáculo que juntará no
pela memória musical coletiva desses apresentado na noite anterior, a 24, no mesmo palco a Orquestra
tempos. A trilogia de espetáculos terá Cineteatro de Amarante. Sinfónica do Porto, o Coro
início na noite de 24, quarta-feira, Por último, já na noite de 26, sexta, Casa da Música e o Coro
com a apresentação do espetáculo JP é a vez de B Fachada subir ao pal- Infantil. À orquestra residente
Simões canta José Mário Branco, ins- co com o concerto Zeca, Zeca e mais caberá ainda apresentar
pirado no disco com o mesmo nome Zeca!, no qual revisita e recria a obra uma nova composição de
que o ex-vocalista dos Belle Chase de José Afonso, de quem também já Vasco Mendonça, a partir de
Hotel editou em fevereiro. Aliás, esta fez uma versão, em disco, do tema poemas norte-americanos
não foi a primeira vez que o músi- Já o Tempo se Habitua. O objetivo é interventivos, centrados no
co e cantor interpretou José Mário “povoar as canções de personagens e racismo e o neocolonialismo.
Branco, de quem é um admirador de eventos reais, prolongando-lhes a Haverá ainda uma
confesso, tendo até feito uma versão vida, em vez de encurtar a da canção”, homenagem a Zeca Afonso
do tema Inquietação, no álbum a solo explica o músico que, sob o mote “B (foi tema central da primeira
1970, editado em 2006. Desta vez, Fachada celebra a queda do império edição deste ciclo, em
porém, a homenagem tomou mesmo e o fim da guerra colonial”, voltará a 2007), num concerto
a forma de um disco e de um espetá- apresentar este espetáculo no dia 30 especial que reúne, no dia
culo inteiramente a si dedicado. de abril, no palco da SMUP, na Parede. 24, mais de 300 músicos,
Para a própria noite de 25 de abril, — Miguel Judas entre alunos de escolas
quinta, a proposta é o espetáculo vocacionais e membros de
Gisela Canta Abril, no qual a fadista Teatro Tivoli > Av. da Liberdade, 182, Lisboa bandas filarmónicas, num
promete “trazer uma nova dimensão > 24-26 abr, qua-sex 21h > €12,50 a €25 projeto desenvolvido em
parceria com a ESMAE. Já o
espetáculo Abril, do Serviço
JP Simões
O músico dedicou Educativo, no dia 26, juntará
um álbum a José em palco ex-combatentes
Mário Branco, com do Exército português com
canções de várias jovens músicos e estudantes
épocas e agora
de dança, e Freedom (dia 30),
apresentadas
ao vivo pela voz de Hélder Moutinho,
aliará temas dos três últimos
álbuns do fadista a canções
de intervenção que marcaram
o período revolucionário. — I.B.

Casa da Música > Av. da


Boavista, 604-610, Porto
> T. 22 012 0220 > 17-31 abr >
€8-€24
D.R.

100 VISÃO 18 ABRIL 2024


7 ---------- DA N ÇA

PORTO, V.N. DE GAIA E MATOSINHOS

DDD – Festival Dias da Dança


Celebrar a Liberdade
A Revolução dos Cravos serve de mote para uma
edição, com 27 espetáculos, que redefine os limites
da dança e aposta em novos formatos de apresentação

Várias danças
Em Zona Franca,
o espetáculo
de abertura
deste DDD, a
coreógrafa Alice
Ripoll trabalha as
relações entre as
danças urbanas
e populares do
Brasil (do funk ao
passinho) com
uma encenação
contemporânea

RENATO MANGOLIN

O
s dias de abertura do DDD – Festival Café do Rivoli, um “manifesto ousado de liberta-
Dias da Dança revelam um pouco do ção”, que aproxima a performatividade das danças
que será a programação desta 8ª edição, de salão às dinâmicas de encontro no clubbing. Já
espalhada por 17 palcos do Porto, Vila na quarta, 24, o público será convidado a pernoitar
Nova de Gaia e Matosinhos. O arranque dá-se no neste teatro, durante a Dormifestação, o proje-
Palácio do Bolhão, nesta terça, 23, às 19h30, com to do catalão Roger Bernat que aponta o dedo à
Zona Franca, de Alice Ripoll, em que a coreógrafa emergência habitacional que se vive na atualidade.
brasileira, da Cia. Suave (muitos dos seus bailari- No fundo, em quatro espetáculos, estão espe-
nos são oriundos das favelas e das periferias cario- lhados a forte componente internacional do festi-
cas), trabalha as relações entre as danças urbanas val – nota ainda para o regresso de Jan Martens, a
e populares do Brasil (do funk ao passinho) com estreia de Jeremy Nedd com o seu trabalho sobre
uma encenação contemporânea. “É um espetácu- o Milly Rock, ou La Chachi e a sua reinvenção do
lo, uma festa e uma celebração”, aponta Cristina flamenco –, o destaque dado à comunidade ar-
Planas Leitão, que assina a direção artística do tística que vive em Portugal (serão estreadas nove
festival (juntamente com Drew Klein), mas no qual criações) e a redefinição dos limites da dança, em
também há lugar para a crítica social e política. que as peças “também podem ser concertos e as
No mesmo dia, às 21h30, no auditório do Rivoli, partituras de movimento podem ser festas por-
é a vez de o coreógrafo sueco Jefta van Dinther que”, como afirmam os codiretores artísticos do
voltar a surpreender o público com REMACHI- festival, “queremos que o DDD continue a inspi-
NE (uns dias depois, também apresentará Dark rar, desafiar e unir, renovando este compromisso
Field Analysis), com os bailarinos presos a uma de liberdade”. — Joana Loureiro
plataforma giratória, numa dança entre restrição
e liberdade, e a música da compositora Anna von Vários locais do Porto, V.N. Gaia e Matosinhos
Hausswolff a marcar o ritmo. Mais tarde, às 23h, > T. 22 339 2201 > 23 abr-5 mai > grátis
Marco da Silva Ferreira instalará Salão Pavão no (espaços públicos e festas) a €20

18 ABRIL 2024 VISÃO 101


7 ---------- T E AT R O

LISBOA

Na Medida do Impossível
Uma nação chamada conflito armado
A peça que Tiago Rodrigues traz à Culturgest parte
de relatos reais para ilustrar o horror da guerra através
da voz daqueles que prestam ajuda humanitária

Palco Na Medida
do Impossível
estreou-se
em Genebra,
em 2022, e
encerra em
Lisboa uma
digressão
internacional
de dois anos.
O espetáculo
conta com música
composta e
interpretada ao
vivo por Gabriel
Ferrandini

DOUGADOS MAGALI

A
ajuda deve estar sempre onde se encon- Sem nomear nações ou conflitos, a peça cen-
tra o sofrimento”. A frase ecoa na sala e tra-se em mostrar esta “nação”, que nasce sem-
faz-nos pensar. No palco, quatro atores pre que um Homem está disposto a matar outro,
dão voz às dezenas de relatos de profis- e a forma como os trabalhadores humanitários
sionais do Comité Internacional da Cruz Verme- lidam com ela. O impossível é fazer com que
lha e dos Médicos Sem Fronteiras, que servem de quem fica perceba a dimensão daquilo que quem
ponto de partida para Na Medida do Impossível, parte acaba por viver. O impossível é regressar
peça de Tiago Rodrigues que, em Lisboa, encerra igual e adaptar-se à vida no mundo possível,
uma digressão internacional de dois anos. sem sentimentos de culpa; é gerir um campo de
Na tentativa de ilustrar “este mundo entre o refugiados sem ter meios, é ter de escolher entre
possível e o impossível”, o texto do encenador e salvar a vida de uma criança em detrimento de
diretor do Festival de Avignon leva o público pela outra. O impossível é uma cidade arrasada, um
mão, mostrando-lhe a realidade de quem vive hospital clandestino. É um sofrimento que causa
para ajudar em cenários de guerra, de quem já dor a quem chega para ajudar. Uma dor que “é
percebeu que não vai salvar o mundo, mas que necessária”, para que nunca se relativize o horror.
continua a trocar o possível pelo impossível, talvez O impossível é ainda esquecer que “um dia
porque as ruínas da guerra “não são apenas as ruí- posso ser eu, pode ser a minha família” ou,
nas de uma cidade, mas as ruínas da História”. como sublinha Tiago Rodrigues, recordando os
O cenário é simples. Panos brancos que recor- 50 anos de 25 de Abril, “o impossível não é as-
dam montanhas, tendas, nuvens de tempestade. sim tão longínquo, em Portugal, não é assim tão
Não é preciso mais. O cenário de guerra é igual longínquo, na Europa, e pode não estar assim
em qualquer lado. Como conta uma das perso- tão distante”. — Mariana Almeida Nogueira
nagens, soa a bombas e a gritos de mortos e de
vivos, e cheira a especiarias e a cadáveres espa- Culturgest > R. Arco do Cego, 50, Lisboa > T. 21 790 5155
lhados nos escombros de um souk. > 17-25 abr, vários horários > €20

102 VISÃO 18 ABRIL 2024


LISBOA

Quis Saber
Quem Sou
Um coro de
intervenção
Neste palco, canta-se a uma
só voz. Aqui, como em Abril,

FILIPE FERREIRA
a voz de um é a voz de um povo

S
entemo-nos de frente para o poderosa que, 50 anos volvidos, estas teceu naquele 25 de Abril. O espetáculo
palco e preparemo-nos. Es- canções deram uma volta e parece que conta com a colaboração de Filipe Sam-
tamos prestes a assistir a um tudo voltou a fazer sentido”, expli- bado, a quem coube a direção musical, e
espetáculo que não sabe bem ca Pedro Penim, autor e encenador. A de João Neves, na direção vocal.
o que é, mas também não quer saber. opção por um elenco jovem, acrescenta, Quis Saber Quem Sou integra o
Quis Saber Quem Sou, dizem-nos os resulta da vontade de passar o teste- ciclo Abril Abriu do Teatro Nacional D.
protagonistas, é talvez um concerto munho, pois considera que “o perigo Maria II. Depois de Lisboa, o espetá-
teatral. E já que falamos em protago- de esquecimento do que aconteceu é culo seguirá para Aveiro, Porto, Loulé,
nistas, uma nota: aqui não existe plural. mais real para esta geração”, apesar de Tomar e Coimbra. — Paula Barroso
Só há um – o coro de inspiração grega, ser também aquela na qual se deposita
composto por 13 jovens atores e canto- a esperança. A estes jovens atores junta- Teatro São Luiz > R. António Maria Cardoso,
res, do qual se destaca Bárbara Branco. -se o veterano Manuel Coelho, no papel 38, Lisboa > 20-28 abr, ter- sáb 20h, dom
O espetáculo começa com um mo- de testemunha do que realmente acon- 17h30 > €12 a €15
nólogo em Língua Gestual Portuguesa,
interpretado por Vasco Seromenho, um
irónico grilo falante que abre caminho
para o que vem a seguir, um texto que
apela ao inconformismo, critica a inér-
cia e deixa um alerta: “anda à solta um
mau fado”. O silêncio dos gestos con-
trasta com a voz barulhenta e vibrante
do coro que, a partir daí, nos leva numa
viagem feita de muitas citações e can-
ções. E até um excerto do último dis-
curso de Amílcar Cabral, proferido em
janeiro de 1973, antes de ser assassina-
do. Não faltam temas bem conhecidos,
como Que Força É Essa, de Sérgio Go-
dinho, Lembra-me um Sonho Lindo,
de Fausto, Coro da Primavera, de Zeca

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Afonso, ou Somos Livres, de Ermelinda
Duarte, mas também há lugar para o
cancioneiro revolucionário do GAC –
Vozes na Luta, o coletivo fundado em PREV߾EW৷৷$%5߾L
maio de 1974 por José Mário Bran-
co, Fausto, Afonso Dias e Tino Flores.
Pelo meio, algumas surpresas, como &25'2$5߾$1$&߾21$L, L߾SBOA
&25'2$5߾$1$&߾21$L, L߾SBOA
Balumukeno, de Bonga, Como Nossos Sextas৷৸
Sextas ৷৸ ee ৷৿,
৷৿, ৷৻h–23h
৷৻h–23h
Pais, de Elis Regina, ou Blackground, Sáb. 13 a Quinta 18 e Sáb. 20, 15h–21h
Sáb. 13 a Quinta 18 e Sáb. 20, 15h–21h
do Duo Ouro Negro, porque, afinal, a Domingo
Domingo g 21,21, 15h–19h
15h–19h
liberdade de Abril não foi sonhada ape-
nas em Portugal.
“A vontade inicial foi trazer para o Com o Alto Patrocínio
de Sua Excelência
presente este património que é ao mes- Under the High Patronage of the
President of the Portuguese Republic

mo tempo artístico, político e revolu- O Presidente da República

cionário e contém uma mensagem tão


7 ---------- CI N E M A

O Rapto Marlon Brando


e Japão Eterno
Papa, rei e raptor
Dois ciclos de cinema
Uma história verídica sobre o abuso de poder ocupam o Nimas durante
do Papa Pio IX na Itália do século XIX abril e maio. Celebrando o
centenário do nascimento de
Marlon Brando, são exibidas

O
dez obras com o icónico ator
veterano realizador Marco assume em mãos o caso do jovem Ed- norte-americano, incluindo
Bellocchio continua a apos- gardo, com uma determinação de quem filmes de grande circulação
tar em histórias da grande testa e exibe o seu poder, fragilizado mundial, que o tornaram
História para contar no seu pelas tensões sociais. É um Papa raptor famoso, como O Padrinho,
cinema. Desta vez, descobre um caso de crianças, que acredita que os meios de Francis Ford Coppola, Há
impressionante, de inegável poten- justificam os fins, numa leitura fun- Lodo no Cais, de Elia Kazan,
cial narrativo. No século XIX, quando damentalista religiosa obscena. E, em Júlio Cesar, de Joseph L.
a autoridade de Bolonha (e de outras parte, assistimos ao processo de con- Mankiewicz, O Último Tango
cidades italianas) ainda era o Papa- versão forçada de Edgardo, ao estilo de em Paris, de Bernardo
-rei, uma criança judia é retirada aos uma síndrome de Estocolmo, ao mes- Bertolucci, Revolta na Bounty,
pais, sob a alegação de que havia sido mo tempo que se desenrolam jogos de de Lewis Milestone, e outros
batizada secretamente e, como tal, bastidores, que culminam na queda do menos exibidos, mas nem por
tornara-se uma criatura da fé católica. papado e no julgamento de figuras do isso de menor importância,
Assim, os pais tinham duas opções: Santo Ofício, relacionadas com o caso. como Perseguição Impiedosa
ou a família completa se convertia ao O filme é empolgante em todas as e Duelo no Missouri, de
catolicismo ou teriam de deixar o fi- suas dinâmicas, com a linha racional Arthur Penn, Reflexo num
lho partir para ser criado pela Igreja. e pacifista aplicada pela família de Olho Dourado, de John
Tal como acontece noutras obras Edgardo e a comunidade judaica de Huston, ou Cinco Anos
de Bellocchio, há aqui um lado polí- Bolonha a fazer com que os senti- Depois, realizado pelo
tico e de retrato social, que quase se mentos de raiva impludam do lado próprio Marlon Brando.
sobrepõe à tragédia, ficando sobretu- dos espectadores. Em Japão Eterno, um vasto
do no ar uma sensação de agressão, Marco Bellocchio consegue tudo programa dedicado a dois
injustiça e impunidade. Observamos isto, com um grande cuidado na ca- grandes mestres do cinema
uma época de transição com traços racterização de época e uma lingua- clássico japonês: Kenji
impressionantes. Há uma aparente gem estética em que torna bastante Mizoguchi e Akira Kurosawa.
tolerância para com os judeus, mas visível o seu apreço pela pintura re- De Mizoguchi, passam,
que exige uma submissão a uma hie- nascentista italiana. — Manuel Halpern entre outros, Festa em Gion,
rarquia social e religiosa, com carac- Contos da Lua Vaga,
terísticas violentas e quase arbitrárias. De Marco Bellocchio, com Paolo Pierobon, O Herói Sacrílego, A Mulher
É o próprio Papa Pio IX (interpre- Fausto Russo Alesi, Enea Sala, Barbara de Quem Se Fala,
tação fabulosa de Paolo Pierobon) que Ronchi > 132 min Os Amantes Crucificados,
O Conto dos Crisântemos
Tardios e Rua da Vergonha.
De Kurosawa, Os Sete
Samurais, A Fortaleza
Escondida, O Trono de
Sangue, Yojimbo, o Invencível,
Viver ou O Barba Ruiva. — M.H.

Cinema Nimas, Lisboa


> 19 abr-15 mai
ANNA CAMERLINGO

104 VISÃO 18 ABRIL 2024


7 ---------- S A I R

Fora da caixa
O Antù tem
um ambiente
descontraído,
a pensar na
comunidade
artística local

LUCÍLIA MONTEIRO
PORTO

Antù
Um lugar aberto a várias artes
Depois de Lisboa e de Braga, este projeto,
que junta bar, loja de roupa, restaurante e galeria,
chega à Praça dos Poveiros

A
s paredes pintadas de lilás a contrastar que quer convidar artistas locais emergentes a
com os azulejos em verde-água não expor os seus trabalhos.
deixam que o Antù passe despercebi- Do bar, além da marca de cerveja própria, a
do a quem atravessa a movimentada Antùzita (também disponível em Lisboa e em
Praça dos Poveiros. “A aposta numa decoração Braga), saem cocktails de autor (a partir €9) com
em cores vibrantes foi intencional”, diz-nos a assinatura de Sabrina Rossi. Finalmente, o
Tiago Allen, um dos cinco sócios deste projeto restaurante, com um menu criado pela chefe de
nascido, em 2021, com a abertura da primeira cozinha Christine Veronez, uma das sócias (com
loja em Lisboa, no Cais do Sodré, à qual se se- passagens por restaurantes com Estrela Miche-
guiram outra em Alfama, depois outra em Braga lin, como o El Celler de Can Roca, em Girona,
e, desde meados de janeiro, mais uma no Porto. Espanha, ou Maní, em São Paulo, no Brasil). As
“A ideia foi criar algo disruptivo e com um sugestões incluem pratos da cozinha portuguesa
ambiente descontraído, que fosse diferente em e internacional, para petiscar ou partilhar: polvo
cada bairro onde o Antù abre”, continua. O Antù com chouriço e arroz negro (€18), bacalhoada
junta, na mesma morada, restaurante, bar, loja (€18), caldeirada, paella portuguesa (€18, cada),
de roupa e galeria de arte, “a pensar na comuni- francesinha (€16), tempura de beringela (€14) ou
dade artística local”. pica-pau (€12). “Queremos marcar cada cidade
Mas vamos por partes. Num dos recantos, [Lisboa, Braga e Porto] como um espaço alter-
está a loja de roupa (t-shirts, sobretudo), re- nativo, acrescentando valor ao nível cultural”,
sultado de uma parceria com a marca londri- resume Tiago Allen. — Florbela Alves
na Wavey Garms. As obras coloridas de Maria
Guimarães, que preenchem atualmente as Pç. dos Poveiros, Porto > T. 22 494 9020 > dom-qui
paredes, são as primeiras do espaço de galeria 11h30-24h, sex-sáb 11h30-1h

18 ABRIL 2024 VISÃO 105


7 ---------- CO M E R

SESIMBRA

Bar do Peixe
Regressar aonde (sempre) fomos felizes
Pode a felicidade descansar no fundo de um jarro de sangria,
que se bebe na risota com amigos? Claro que sim, ainda mais
se for acompanhada de petiscos e de um pôr do sol que não
nos cansamos de gravar na memória
Praia do Meco
Na esplanada,
sobre o areal,
há pôr do sol
garantido, para
acompanhar os
produtos do mar
que chegam
às mesas e que,
por norma,
casam bem
com uma sangria.
Mas também
há cocktails
– prove-se o Bar
do Peixe Mule
– para aquela
hora do dia em
que o relógio
não aponta para
nenhuma refeição

LUÍS RELVAS

H
á frases feitas que assentam na per- toque mais sofisticado e confortável. Nota de des-
feição. É o caso do título deste texto, taque para os vidros que abrigam a esplanada dos
que diz tudo em relação ao restaurante ventos desagradáveis e que sobem e descem con-
que já fez muito mais do que as bodas soante as condições meteorológicas. Só temos pena
de prata na praia do Moinho de Baixo, no Meco. de a esplanada de pé na areia ter desaparecido, mas
Depois de um interregno de dois anos e meio esperamos com avidez pelo irmão mais novo, o
causado por um incêndio que o reduziu a cinzas, Peixinho, que funciona durante os meses de verão,
em novembro de 2021, e consequentes imbróglios enquanto há concessão da praia, e nos devolve essa
legais, o Bar do Peixe está de volta, nos mesmos boa sensação de estarmos sempre descalços.
moldes a que sempre habituou os seus clientes Por estes dias de reabertura, de voltar à casa
mais assíduos, alguns deles – acreditamos que onde sempre fomos felizes, a lotação tem estado
muitos – verdadeiros amigos desta instituição. no máximo, tantas as saudades geradas por esta
É uma alegria tornar a vê-lo reerguido sobre suspensão forçada. Os frequentadores da praia
estacas, de frente para o melhor pôr do sol. O do Meco estão felizes e partilham a felicidade
ambiente mantém-se descontraído; a qualidade com o mítico casal de donos – o Jorge e a Leo-
do peixe continua irrepreensível; alguns petiscos, nor, que recebem os clientes como amigos –,
como as lapas grelhadas, a fazerem perfeito mat- agora que podem voltar a sentar-se debaixo dos
ch com as sangrias – branca ou de frutos verme- enormes guarda-sóis, de copo na mão e olhos
lhos – que animam quem aqui escolhe acabar um cravados no horizonte. Como dantes. Como
dia de praia ou almoçar durante longas horas. sempre. — Luísa Oliveira
A estrutura modernizou-se, com franca me-
lhoria nas casas de banho, bar, cozinha e zona de Praia Moinho de Baixo, Meco, Sesimbra
grelha. A decoração e o mobiliário deram-lhe um > T. 91 308 8097 > qua-seg 12h-22h

106 VISÃO 18 ABRIL 2024


LISBOA

Tapisco
Encontros
à mesa
Mexilhões à espanhola,
pica-pau de cogumelos
e arroz de pato, eis três
sugestões da nova
ementa criada pelo chefe
Henrique Sá Pessoa

D.R.
É
com a casa sempre cheia, e arroz bomba (em vez do tradicio- gelado de canela (€8) e a sericaia com
filas à porta, que o Tapisco nal arroz agulha) e enriquecido com ameixa d’Elvas e sorbet de limão (€8).
se tem apresentado aos seus presunto de pato, linguiça de porco Para acompanhar a refeição, há mais
clientes. “2023 foi o nosso preto e um alioli de salsa. Falta ainda de 65 referências de vinho, de Portu-
melhor ano de sempre. Estamos mais referir a caldeirada de garoupa (€28), gal e de Espanha, com certeza, ou não
consistentes do que nunca”, afirma com camarão e coentros, e o arroz de fosse esta uma casa que junta à mesa
Henrique Sá Pessoa, do outro lado do marisco (€32), com camarão, vieiras e as tapas espanholas e os petiscos por-
balcão, onde vai preparando e servin- mexilhão, que se juntam às já conhe- tugueses. — Sandra Pinto
do as novas sugestões da ementa. cidas salada de polvo (€20), huevos
O balcão (dez lugares, no total) é, rotos (€18) e paella negra (€38). Nas R. Dom Pedro V, 81, Lisboa > T. 21 342 0681
aliás, o melhor poiso para apreciar sobremesas, conta-se agora com ar- > ter-sex 12h-16h, 18h30-24h, sáb-dom
o trabalho da equipa liderada por roz-doce com maçã caramelizada e 12h-24h
Ricardo Pereira, chefe executivo dos
restaurantes de Henrique Sá Pessoa
(duas Estrelas Michelin no Alma, no
Chiado).
Nas entradas, há duas novas pro-
postas: mexilhões à espanhola (€18),
servidos num caldo temperado com
paprika fumada, ideal para molhar o
pão quentinho, e pica-pau de cogu-
melos (Paris, shitake e pleurotus) com
pickles de cenoura, pepino e couve-
-flor (€18), de sabor intenso. “É a pri-
meira vez que temos um pica-pau no
Tapisco. Esta é uma receita que fize-
mos no Arca, em Amesterdão [restau-
rante aberto em 2021] e que resulta
muito bem”, conta Sá Pessoa, subli-
nhando a necessidade de reforçar os
pratos vegetarianos na carta. “Há cada
vez mais clientes que não comem
carne e temos de pensar em opções
criativas, com sabor e textura.”
Voltamos às novidades. Nos pratos
principais, ao bacalhau à Gomes de
Sá (€22) e ao bacalhau à Brás (€22), o
mais pedido da lista, junta-se o baca-
lhau assado (€24) com migas de to-
mate, feijão-verde e uma espuma fei-
ta a partir do colagénio do bacalhau e
de azeite, uma sugestão mais leve do
que estávamos à espera. Vale a pena
experimentar o arroz de pato (€28),
inspirado no receituário nacional.
Servido num tacho, é preparado com
7 ---------- T E L E V I S ÃO

HBO MAX

The Jinx – Parte 2


Novos enigmas
Pioneira do género true crime nas plataformas
de streaming, a série documental premiada continua
com revelações e mais surpresas

Anti-serial killer
Robert Durst,
magnata do
ramo imobiliário,
herdeiro de uma
das famílias mais
ricas de Nova
Iorque, foi o
principal suspeito
de pelo menos
três mortes.
No segundo
julgamento,
terminado
em 2021, foi
condenado a
prisão perpétua
sem liberdade
condicional

D.R.

E
m 2015, quando o final da série docu- provas que indiciavam a culpa do magnata do
mental The Jinx: A Vida e as Mortes de Ro- ramo imobiliário, herdeiro de uma das famílias
bert Durst foi para o ar, ninguém poderia mais ricas de Nova Iorque. Também existiram
imaginar o que iria acontecer. Aliás, estes vários descuidos do suspeito, como um jornal
novos episódios só são possíveis porque, termi- com uma morada, a caligrafia, os erros orto-
nada a entrevista, o microfone continuou a gra- gráficos e um bilhete escrito à polícia, que o
var e a última frase proferida por Robert Durst, colocaram várias vezes no lugar errado, à hora
suspeito da morte de pelo menos três pessoas, errada.
foi reveladora de uma enorme surpresa. Numa justificação dada por não ter querido
Nesta segunda parte da série documental, ser pai, Robert Durst considerava-se amal-
que há quase uma década abria com grande diçoado (jinx, em inglês). O certo é que este
êxito a categoria do true crime nas plataformas homem sem sorte, que morreu em 2022 com
de streaming, o espectador fica a saber que Ro- 78 anos, sempre que teve hipótese de escolher
bert Durst foi detido e preso em Nova Orleães ficar calado, optou por falar. Aliás, a iniciativa
na véspera daquele gran finale. Consigo tinha de dar uma entrevista ao produtor e realizador
uma arma, mais de 80 mil dólares em dinheiro, Andrew Jarecki foi dele. Mesmo confessando,
o mapa de Cuba e uma máscara de látex, qual conseguiu estar em liberdade três décadas.
truque da saga Missão Impossível, que lhe per- Estes seis episódios centram-se na inves-
mitiria sair dos EUA. tigação, nos interrogatórios e no julgamento,
Sobre ele – considerado inocente do homi- entre 2020 e 2021, com gravações de telefo-
cídio de um vizinho em Galveston, no Texas nemas, vídeos de visitas na prisão, entrevistas
– recaía a suspeita de ser responsável pelo com os advogados e outras testemunhas inédi-
desaparecimento da primeira mulher, Kathie, tas, mais o tão aguardado depoimento do réu.
em 1982, e pela morte da melhor amiga e con- — Sónia Calheiros
fidente, Susan Berman, em 2000.
A verdade é que foram reunidas centenas de Estreia 22 abr, seg > seis episódios, um por semana

108 VISÃO 18 ABRIL 2024


O FUTURO DA COMUNICAÇÃO
É SUSTENTÁVEL

#WELOVETHEOUTDOOR

A sustentabilidade e as pessoas estão no pulmão da DREAMMEDIA,


são o nosso principal pilar estratégico e um fator chave na inovação,
diferenciação e competitividade da marca. Estamos continuamente
empenhados em atenuar o impacto ambiental proveniente da nossa
área de atividade.

Focados no futuro, no mês em que se celebram o Dia Mundial da


Árvore, Dia Mundial da Água e a iniciativa da Hora do Planeta,
apresentamos a nossa gama de soluções sustentáveis.
7 ---------- O G O STO D O S O U T R O S

“Sempre sonhei —— Filme


UM PEIXE FORA DE ÁGUA
oceanos, tal como Jacques
Cousteau na série Odisseia.

ser cameraman WES ANDERSON


Quis o destino que tal se
concretizasse. Depois de

subaquático e
Destaca este filme não só por alguns anos a trabalhar para
se tratar de uma sátira à vida canais internacionais de
do grande explorador francês televisão, só no ano passado,

percorrer os cinco Jacques-Yves Cousteau, que


tanto influenciou as suas
na primeira expedição à
Antártida a filmar para a

oceanos, tal como opções da vida, mas também


porque é fã incondicional da
estética de Wes Anderson. “A
Netflix, parei, a contemplar a
paisagem imensa e gelada,
e percebi que o sonho se
Jacques Cousteau meu ver, esta é a sua obra-
prima e o facto de ser sobre
concretizou.”

na série Odisseia. a exploração dos oceanos


também contribuiu para o —— Escritor
Quis o destino que eleger como meu filme favorito,
seguido muito de perto da saga
Star Wars.”
KEN FOLLETT
Prefere livros em que
tal se concretizasse” aprenda lições de vida e
factos históricos. “Ken Follett
—— Viagem é a minha maior referência.
As trilogias Pilares da Terra,

Nuno Sá VOLTA AO MUNDO


Quando se licenciou em Direito,
seguida de O Século, levam-
nos da Idade Média até ao
Fotógrafo e videógrafo subaquático, 46 anos Nuno Sá tirou um ano sabático pós-II Guerra Mundial, em
e deu a volta ao mundo com seis calhamaços que passam
a namorada. “Foi a viagem de a correr.”
uma vida. Cinco meses entre
o Japão, a Austrália, a Nova
Zelândia e a Tailândia. Depois, a —— Prazer
paragem nos Açores, a caminho
das Américas, ditou o fim da TEMPO LIVRE
viagem e a estada prolongou- Gosta de passar tempo com a
se por 11 anos”, conta. “A família, em casa ou a viajar, a
namorada tornou-se a minha surfar, a mergulhar ou a fazer
mulher, o Direito foi substituído apneia. “Como estou metade
pela fotografia subaquática e do ano em expedições de
depois pelo vídeo subaquático.” filmagem, passo o tempo
com saudades de casa e da
ANTÁRTIDA família. Já quando estou em
“Sempre sonhei ser casa, tenho saudades de
cameraman subaquático estar no mar. No fim, estou
e percorrer os cinco sempre com saudades de
alguma coisa, mas sempre
muito contente pelo que
tenho.”
As suas imagens
já lhe valeram
várias distinções —— Personalidade
internacionais. DAVID ATTENBOROUGH
Em fevereiro, “A voz inconfundível dos
documentários de vida
venceu o prémio selvagem da BBC fez 97 anos,
de Fotógrafo de ao longo dos quais encantou
Conservação do gerações de amantes da
Natureza e despertou tantas
JOSÉ CARLOS CARVALHO

Ano, no concurso outras para a importância


Underwater da conservação do nosso
planeta”, elogia.
Photographer
of the Year 2024 — Susana Lopes Faustino

110 VISÃO 18 ABRIL 2024


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7 ---------- J O G O S

PALAVRAS CRUZADAS
> > HORI ZON TAIS >> 1. Empreitada. Os ramos ou a folhagem das
plantas. // 2. Cheiro agradável. Governador de província ou chefe de
tribo, entre os árabes. // 3. Deseje. Planta da família das urticáceas,
cujas folhas e haste, por estarem revestidas de pelos que contêm um
líquido cáustico, produzem sobre a pele um prurido ou ardor peculiar.
// 4. Aparelho metálico ondeado, que serve para aumentar a superfície
irradiante do calor de gás, água ou vapor, para aquecimento de
edifícios. Ouro (s.q.). // 5. Porção de 11 objetos. // 6. Título honorífico
em Inglaterra. Vela grande de cera. // 7. Espécie de pastel de massa
com recheio de carne, peixe, etc. // 8. Seguir. Aldraba. // 9. Suporte
onde se faz um registo de informações, organizado em linhas e
colunas. Vírus responsável pela sida (sigla). // 10. Peça de artilharia
destinada a lançar projéteis com trajetórias muito curvas. Designa
repugnância, admiração, agastamento, alívio (excl.). // 11. Ato ou efeito
de rir. Arremessar. >> VERTICAIS >> 1. Estrondear. O que lê. // 2.
Espírito. Título honorífico aplicado aos mestres da lei judeus. // 3. Que
rói. Veículo de transporte público ou coletivo (ing.). // 4. Érbio (s.q.).
Que está sem defesa. // 5. Almocreve. // 6. Grande massa de neve,
que se despenha da montanha. Lugar público, cercado de edifícios. //
7. Produzir ruído com a vibração do palato e das paredes da faringe,
ao respirar durante o sono. // 8. Reservado (fig.). Silício (s.q.). // 9.
Assistência Médica Internacional (sigla). Falar em voz alta e em tom de
repreensão. // 10. Pedaço de pão, migalha. Cada um dos filamentos,
septados ou não, do talo dos fungos. // 11. Oficial que, na Idade Média,
levava as declarações de guerra ou de paz ou que anunciava as
funções públicas. Cidade do distrito de Aveiro.

SUDOKU QUIZ
— FÁ C I L — POR FILIPE FIALHO

1. Destas modalidades, qual não C. Sergio Moro


será praticada nos próximos
Jogos Olímpicos de Paris? 6. Qual a nacionalidade do pintor
A. Skate René Magritte?
B. Breaking dance A. Francesa
C. Pole dance B. Suíça
C. Belga
2. Que Presidente africano iniciou
neste mês um terceiro mandato? 7. Quem foi o comentador que
A. Abdel Fattah al-Sisi (Egito) afirmou: “Passos é grande e
B. João Lourenço (Angola) Ventura é o seu profeta”?
C. Patrice Talon (Benim) A. Ricardo Araújo Pereira
B. Pedro Marques Lopes
3. O que fez a polícia suíça, C. Pedro Siza Vieira
no cantão dos Grisões, para
controlar o trânsito na Páscoa? 8. Quando haverá um novo
A. Interditou várias estradas eclipse solar na América?
B. Aplicou multas extraordinárias A. 2040
C. Criou falsos engarrafamentos B. 2044
para forçar tráfego nas autoestradas C. 2048

4. Qual o novo recorde de 9. O filme português escolhido


temperatura média mensal que o para a 77.ª edição do Festival de
planeta bateu em março? Cannes foi...
A. 13,14 A. Juventude em Marcha
B. 14,14 B. Tabu
C. 15,14 C. Grand Tour

5. Como se chama o juiz 10. Que marcas foram acusadas


brasileiro a quem Elon Musk de desflorestar a Amazónia?
chamou “ditador brutal”? A. Nike e Adidas
A. Carlos Alexandre B. Armani e Gucci
B. Alexandre de Moraes C. Zara e H&M

> > QUI Z > > 1. C. // 2. A // 3. C // 4. B // 5. B // 6. C // 7. C // 8. B // 9. C // 10. C

// 6. Alude, Praça. // 7. Roncar. // 8. Retraído, Si. // 9. AMI, Ralhar. // 10. Miga, Hifa. // 11. Arauto, Ovar.
SOLUÇÕES >> VERTICAIS >> 1. Toar, Leitor. // 2. Alma, Rabi. // 3. Roedor, Bus. // 4. Er, Indefeso. // 5. Azemel.
// 6. Lorde, Círio. // 7. Empada. // 8. Ir, Ferrolho. // 9. Tabela, HIV. // 10. Obus, Safa. // 11. Riso, Atirar.
>> HORIZON TAIS >> 1. Tarefa, Rama. // 2. Olor, Emir. // 3. Ame, Urtiga. // 4. Radiador, Au. // 5. Onzena.

112 VISÃO 18 ABRIL 2024

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