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QUEBRAMAR.COM QUEBRAMAR.COM

Abrir portas onde se erguem muros Director: David Pontes Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • Ano XXXV • n.º 12.396 • Diário • Ed. Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,50€
ÁLVARO B. GERALDO

25 de Abril
Marcelo condecorou
Spínola às escondidas
Política, 10

BeneƊciárias da ADSE pagam até mais

68 euros por partos a partir de Maio
Valores dos aumentos são diferentes consoante se trate de parto normal ou de parto por cesariana
O instituto que gere o sistema de convenções com médicos obstetras os preços pagos pelos partos a partir euros, para 232,8 euros, num parto euros, num parto com recurso a ven-
Assistência na Doença aos Servidores e facilitar o acesso ao regime conven- de 1 de Maio: o valor suportado pelas normal; 45 euros, para 345,6 euros, tosa e fórceps. Valores constam da
Civis do Estado (ADSE) quer ter mais cionado. Por isso, decidiu aumentar beneÆciárias terá uma subida de 36 numa cesariana; e 68 euros, para 286 nova tabela Economia, 24

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Auditoria da IGAI Nobel em 2013 Acção climática

PSP e GNR Morreu o físico “Não derrubámos
guardam 1,5 britânico que o muro mas
milhões de bens descobriu o fizemos uma
apreendidos bosão de Higgs grande fenda”
O volume de bens apreendidos colo- Cientista Peter Higgs morreu aos 94 Caso dos jovens portugueses não foi
ca problemas de espaço. Inspecção anos. Físico propôs o “seu” bosão aceite pelo tribunal europeu, mas as
sugere revisão obrigatória das medi- em 1964 e este só foi observado em “avós do clima” suíças conseguiram
das de apreensão Sociedade, 13 2012 Ciência e Ambiente, 27 decisão favorável Destaque, 2/3
ISNN-0872-1548
2 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Destaque Decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
“Não derrubámos o
muro mas fizemos
uma grande fenda.”
Porta aberta
à justiça climática
Caso dos jovens portugueses contra 32 países não foi aceite,
mas as “avós do clima” suíças conseguiram decisão favorável:
a inacção climática é uma violação dos direitos humanos
Rita Siza, em Estrasburgo,
e Aline Flor
N
ão tiveram a decisão que
esperavam, mas Cláudia,
Martim, Mariana, Catarina,
SoÆa e André, os seis jovens
portugueses que abriram
um processo contra Portu-
gal e outros 31 Estados-membros do
Conselho da Europa, argumentando
que a sua inacção no combate às alte-
rações climáticas viola os seus direi-
tos humanos, saíram ontem do Tri-
bunal Europeu dos Direitos Huma-
nos (TEDH) de Estrasburgo com uma
enorme vitória moral — e o caminho
aberto para novas acções pela justiça
climática.
O pleno dos 17 juízes do tribunal
de Estrasburgo decidiu pela inadmis-
sibilidade do caso apresentado em
2020, considerando não estarem
cumpridos os critérios da jurisdição
extraterritorial para uma pronúncia,
nem esgotadas as vias judiciais nacio-
nais de forma a justiÆcar a análise
dos seus argumentos. Porém, ainda
que o seu processo não tenha avan-
çado, o resultado do dia foi “uma
vitória” para os portugueses.
“Usando uma parábola futebolís-
tica tonta, a sensação que temos foi
que marcámos três golos lindos, mas
estavam todos em fora-de-jogo”,
resumia no Ænal da audiência, Nuno
Gaspar Oliveira, pai de SoÆa e André,
dois dos jovens requerentes portu-
gueses que aceitaram repetir múlti-
plas vezes as respostas às mesmas
perguntas feitas por jornalistas de
toda a Europa.
“Apesar de o nosso caso em parti-
cular não ter avançado, conseguiu
construir precedentes. E o caso suíço
ganhou, o que é gigante para todos
nós”, considerou André Oliveira,
referindo-se à única pronúncia do
TEDH que validou a queixa apresen-
tada pelo colectivo suíço KlimaSenio-
rinnen, um grupo que representa
mais de 600 mulheres de mais de 75
anos que processaram o Governo
helvético pelo seu falhanço em pro-
tegê-las do impacto das alterações
climáticas, nomeadamente dos efei-
tos das vagas de calor.
Vitória da justiça climática
Numa decisão histórica, que o grupo
de “avós do clima” acabaria por dedi-
car aos jovens portugueses, o tribunal
considerou que as autoridades suíças
não respeitaram as suas obrigações
ao abrigo da Convenção Europeia dos
Direitos Humanos, em violação do
artigo 6.º, relativo ao direito a um
processo equitativo, e ao artigo 8.º,
referente ao respeito pela vida priva-
da e familiar. Foi o único ganho de
causa nos três processos relacionados
com a acção (ou inacção) climática
que foram apreciados pela Grande
Câmara do Tribunal Europeu dos
Direitos Humanos: tal como aconte-
ceu no caso dos jovens portugueses,
a queixa interposta por Damien Carê-
me, o antigo presidente do município
de Grande-Synthe, um subúrbio da
cidade francesa de Dunquerque, não
foi acolhida pelos juízes.
Mas no curto resumo em que apre-
sentou as razões do tribunal para a
sua pronúncia no processo, a juíza
presidente Síofra O’Leary deixou
claro que a inadmissibilidade tem
que ver com questões técnicas e não
com a substância da queixa dos seis
jovens. Aliás, a juíza reconheceu que
existe uma “relação de causalidade”
entre as actividades que produzem
emissões de gases com efeito de estu-
fa e o seu “impacto adverso” nos
direitos humanos e bem-estar das
populações, e vincou que os Estados
têm a obrigação de tomar medidas
para reduzir essas emissões e mitigar
os seus impactos nocivos.
“O problema das alterações climá-
ticas tem uma natureza verdadeira-
mente existencial para a humanida-
de, e isso distingue-o de outras situa-
ções de causa e efeito”, aÆrmou.
Porém, no entendimento do tribu-
nal, os requerentes portugueses não
foram capazes de provar que a
dimensão dessa ameaça se manifes-
ta de forma a cumprir os critérios de
jurisdição extraterritorial. Os juízes
também não acolheram o argumen-
to para o recurso directo a um tribu-
Governo mantém
responsabilidade
N
as que foram as suas
primeiras declarações
sobre matérias de acção
climática enquanto
ministra do Ambiente e da
Energia do novo Governo,
Maria da Graça Carvalho afirma
que a decisão do TEDH “não
diminui a responsabilidade” do
Governo com a acção
climática. Num comunicado
ontem, logo após a decisão,
Graça Carvalho afirmava: “Esta
pronúncia não diminui a nossa
ambição e responsabilidade
para com a acção climática.” A
ministra acrescenta ainda que
“tem sido feito um esforço
legislativo importante a nível
europeu e a nível nacional
nesta área” e que Portugal tem
“objectivos ambiciosos para a
redução das emissões de
gases com efeito de estufa,
ambicionando atingir a
neutralidade carbónica até
2045, cinco anos antes das
metas definidas pela UE”. O
ministério disse que Portugal
tem de reduzir as emissões do
sector dos transportes.
nal internacional, reaÆrmando o
princípio da subsidiariedade. Para o
Estado português, essa foi a faceta
mais “positiva” da pronúncia do
TEDH, no sentido em que reconhece
que existem meios internos jurisdi-
cionais adequados para avaliar este
tipo de queixas.
“Isto não acaba aqui, isto é apenas
o começo”, aÆrmou Catarina Mota no
Æm da audiência, que foi também o
Æm de um processo longo de trabalho
conjunto com o apoio de equipas
internacionais de advogados e cien-
tistas — e também da mais célebre
activista mundial pelo clima, Greta
Thunberg, uma presença discreta
ontem, em Estrasburgo.
Depois de sete anos de trabalho
“desgastante”, os seis requerentes
entendiam que “o trabalho não foi
perdido de todo” e que a pronúncia
do tribunal acabou por demonstrar
a validade — e necessidade — da sua
luta por justiça climática. “Não der-
rubámos o muro, mas Æzemos uma
grande fenda”, aÆrmou Catarina
Mota. “Todos os governos na Europa
têm de agir em conformidade com
esta decisão imediatamente, e agora
precisamos que as pessoas de toda a
Europa se juntem para garantir que
os seus países fazem isto”, nota ainda
a jovem. “O dia foi uma vitória pelo
facto de termos conseguido prece-
dentes para, no futuro, outras deci-
sões climáticas. Estamos claramente
NotíciasFlix
felizes, este não é um dia triste”,
garantiu. Os portugueses esclarece-
ram que o próximo passo é avaliar
cuidadosamente o acórdão, para
depois decidir se se justiÆca o recurso
aos tribunais portugueses.
Como os restantes, o jovem André,
de 15 anos, não se vê como um pro-
tagonista nesta história. “Nós tive-
mos esta oportunidade incrível de
criar um caso para levar a tribunal e
aproveitámo-la logo. Mas não com o
intuito de ser pioneiro, só com o
intuito de defender os nossos direi-
tos humanos, e os de toda a gente”,
justiÆcou.
Orgulho era uma palavra pequena
para o seu pai descrever o que sentia.
Questionado sobre o que a sua família
retirou do processo, Nuno Gaspar
Oliveira não teve dúvidas em apontar
uma “grande lição”. “A partir do
momento em que numa criança
curiosa se instala uma dúvida, essa
criança é imparável”, diz, sublinhan-
do que a resposta que o tribunal lhes
deu foi indiscutível. “O tribunal disse
que [um aumento da temperatura de]
1,5 graus já é uma ameaça relevante
com base na ciência”, frisou. “É uma
grande vitória da normalidade dos
factos sobre o achismo que anda a
dominar a opinião pública”, vincou.
“Ainda não conseguimos acreditar.
Estamos sempre a perguntar aos
nossos advogados: ‘Isto está certo?’
E eles dizem-nos que é o mais longe
RONALD WITTEK/EPA
Os jovens portugueses que
moveram a acção em tribunal,
ontem, em Estrasburgo
que podíamos ter chegado. A maior
vitória possível”, aÆrmava Rosmarie
Wydler-Wälti, co-presidente da asso-
ciação de mulheres idosas pelo cli-
ma, à saída da Grande Câmara. “A
nossa vitória é uma vitória para todas
as gerações, especialmente para os
jovens portugueses, cuja geração
será a beneÆciária a longo prazo de
um clima melhorado”, acrescentou
ainda. “A presença dos jovens na sala
de audiências mostrou aos juízes o
rosto dos direitos humanos para o
futuro.”
Cordelia Bähr, principal advogada
das KlimaSeniorinnen ao longo de
“nove anos de trabalho intensivo”,
alerta que “o signiÆcado desta deci-
são não pode ser subestimado”.
“Será de grande importância para
outras acções judiciais contra Esta-
dos e empresas em todo o mundo e
aumentará as suas hipóteses de
sucesso”, descreve. “O acórdão mos-
tra aos cidadãos, juízes e governos
de toda a Europa o que é necessário
em termos de protecção climática
para respeitar os direitos humanos.”
“Esta decisão é um marco na luta por
um clima habitável para todos”,
completa ainda Anne Mahrer, outra
co-presidente da Verein KlimaSenio-
rinnen. “Depois de os tribunais suí-
ços se terem recusado a ouvir-nos, o
TEDH conÆrmou agora que a protec-
ção do clima é um direito huma-
no.”
Caso contencioso relacionado com mudanças climáticas
“Não adianta ter um direito e não ter
formas de reivindicar esse direito”
Entrevista
Aline Flor
Maria Antonia Tigre
Decisão do TEDH deixa
claro que existem
obrigações dos Estados
europeus para com o clima
Maria Antonia Tigre, directora para
litigância climática do Sabin Center
for Climate Change Law da
Universidade de Columbia, nos
EUA, coordena a base de dados
onde estão arquivados documentos
de mais de mil casos relacionados
com as alterações climáticas por
todo o mundo. Em entrevista ao
Azul, analisa o impacto da decisão
do TEDH em futuros processos
climáticos na Europa.
Que inovações trouxeram estas
decisões do Tribunal Europeu?
É importante ter em mente que é a
primeira vez que temos um tribunal
regional, internacional, com um
caso contencioso relacionado com
mudanças climáticas. Isso, por si só,
já tem grande relevância. Fizeram
questão de que o procedimento
fosse mais rápido e deram
relevância a esses casos, dando uma
resposta rápida o suÆciente para a
crise em que nos encontramos hoje
em dia. No caso da associação
KlimaSeniorinnen, que foi o único
caso que foi bem-sucedido, se
formos avaliar pelo resultado, a
decisão foi muito importante, em
primeiro lugar, por reconhecer que,
de facto, as mudanças climáticas
infringem direitos humanos dentro
da Convenção Europeia de Direitos
Humanos, algo que vários tribunais
nacionais já tinham reconhecido,
mas agora foi um reconhecimento
expresso pelo tribunal europeu, e
que isso implica que existem
obrigações dos estados de mitigação
de gases com efeito de estufa.
No caso da KlimaSeniorinnen, é
a Suíça que tem de obedecer ao
tribunal, mas a Comissão
Europeia já veio dizer que vai
analisar a decisão com cuidado.
Quais podem ser os impactos
dessa decisão?
O que o tribunal disse foi que a
Suíça não tinha adoptado medidas
suÆcientes dentro do seu sistema
regulatório nacional para fazer a
mitigação dos gases com efeito de
estufa. Isso inclui ter um orçamento
de carbono, uma análise de quanto
que se gasta e quanto se pode
gastar, e essa análise estava em falta.
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 3
Além disso, a Suíça também não
tinha implementado medidas que o
país se tinha comprometido a
adoptar. Tinha estabelecido um
objectivo de redução e esse
objectivo não tinha sido cumprido.
É uma falha dupla da Suíça em
relação à adopção de medidas de
ambição e também a implementa-
ção dessas medidas. O que é
interessante também na decisão é
que a corte não falou que a Suíça
tem de reduzir a xis por cento ou
tem de adoptar tais medidas para
que corrija essa falha que ocorre
actualmente. Deixou à discrição do
Estado decidir como implementar
isso e como remediar essa situação,
o que vai ser feito sob supervisão do
Comité dos Ministros, mas têm
possibilidade de decidir como
remediar essa situação da maneira
que o país decidir. Em relação aos
outros Estados, a decisão em si
também menciona especiÆcamente
o que essa interpretação signiÆca
em termos mais abrangentes, sobre
a violação do artigo 8.º, de
protecção da vida privada e
bem-estar. É importante adoptar e
aplicar medidas regulatórias, leis,
normas para fazer essa mitigação. E
essa interpretação da Convenção
O que o tribunal
disse foi que a Suíça
não tinha adoptado
medidas suficientes
dentro do seu
sistema regulatório
Europeia é feita também com o
Acordo de Paris, com a ciência e os
relatórios do IPCC, com o que tem
sido publicado de mais recente em
termos de ciência climática. É muito
importante o reconhecimento de
que existe uma ligação entre essas
diferentes normas na interpretação
que está sendo feita da convenção.
E isso implica que têm de adoptar
medidas para reduzir as
concentrações de gases com efeito
de estufa e diminuir o aumento da
temperatura global.
Outra convenção mencionada na
decisão das “avós do clima” foi a
Convenção de Aarhus, sobre a
participação dos cidadãos e o
acesso à justiça em questões
ambientais. Que impacto pode
esse aval ter para os casos de
litigância nacionais?
Sim, também tem inÇuência. É
importante pensar sempre no
direito ao meio ambiente como um
todo. A Convenção Europeia não
tem o direito ao meio ambiente
estabelecido, mas tem-se feito uma
interpretação que é consistente
com a jurisprudência do tribunal,
de se entender o direito ao meio
ambiente, e agora também esse
aspecto das mudanças climáticas.
Há uma parte substantiva, que é o
direito ao meio ambiente e o direito
a um clima estável, e há a parte
procedimental, que é participação,
o acesso à justiça e esses aspectos. E
isso é muito importante, porque
não adianta ter um direito e não ter
formas de se reivindicar esse
direito, de participar em decisões
públicas e ter acesso a tribunais e
poder reivindicar direitos. O
reconhecimento disso também é
extremamente importante. Essa
decisão permitiu que as ONG
também possam iniciar casos
relacionados com mudanças
climáticas.
DR
4 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024

Espaço público

O primeiro dos quebra-cabeças de Luís Montenegro

O
Conselho das Finanças
Editorial Públicas (CFP) veio ontem
fazer as contas ao
excedente que o Governo
terá aÆnal em mãos para
cumprir as suas promessas eleitorais.
Além dos 3193 milhões de euros
Sónia Sapage extras que Æcaram nos cofres em
2023, serão 1400 milhões de euros
este ano e 1700 no próximo. Para lá
desse valor, o balão esvazia-se e o
fantasma do déÆce reaparece.
As estimativas deste grupo de
sábios têm em conta a forma como
indicadores concretos podem
evoluir, se não existir variação de
políticas. Porém, no cenário actual,
em que termina um ciclo de
No cenário actual, governação que durou oito anos, a
em que termina um única coisa previsível é a
ciclo de governação mutabilidade das políticas.
que durou oito anos, Não obstante todos os
compromissos que virão a ser
a única coisa previsível necessários para manter a
é a mutabilidade estabilidade da legislatura,
das políticas diÆcilmente teremos um executivo da
AD a governar ao estilo do PS — nem
isso seria desejável, num contexto de
alternância democrática e de respeito
pelos resultados eleitorais.
A negociação com professores,
forças de segurança ou proÆssionais
de saúde (uma das prioridades
anunciadas e que os socialistas
também patrocinam) implica mudar
políticas e assumir gastos que nunca
foram contemplados desde 2015 e em
relação aos quais não há valores Ænais
consensualizados.
Ainda em 2023, o PSD pediu à
Unidade Técnica de Apoio
Orçamental (UTAO) “a avaliação do
impacto orçamental” da contagem
do tempo perdido para os
professores, bem como para todas as
restantes carreiras da função pública.
O estudo foi iniciado em Janeiro e
ainda não está concluído, mas seria
uma peça importante para completar
o puzzle, porque há números para
todos os gostos.
Contas feitas em Fevereiro de 2023
pelo então ministro da Educação
estimavam que seriam precisos 244
milhões de euros anuais para
recuperar o tempo congelado aos
professores. “Se quiséssemos dar a
todas as outras carreiras o
equivalente aos seis anos, seis meses
e 23 dias que os professores
reivindicam, isso teria um custo para
o país de 1300 milhões de euros de
despesa permanente todos os anos”,
acrescentava, na mesma altura,
António Costa. Anos antes, Mário
Centeno tinha feito outras contas e o
valor anual era diferente.
Qualquer que seja a factura, só para
pagar as carreiras congeladas na
Administração Pública será preciso
algo próximo de uma “almofada” de
0,5% do PIB anualmente. É essa a
herança dos anos da troika. É da mais
elementar justiça avançar no sentido
do descongelamento, mas o “como” e
o “ritmo” não são apenas detalhes.
São o primeiro dos quebra-cabeças de
Luís Montenegro.

CARTAS AO DIRECTOR
Insultar os eleitores
Na segunda-feira, apresentando o
livro Identidade e Família, Pedro
Passos Coelho (P.P.C.) prosseguiu a
sua aproximação ao Chega (depois
da associação que fez, durante a
campanha eleitoral, entre imigra-
ção e percepção de insegurança,
sem qualquer base factual) e defen-
deu acordos entre o PSD e aquele
partido, para não desperdiçar “a
plataforma comum de entendi-
mento” entre ambos. Por um lado,
a “plataforma comum” entre os
dois partidos está longe de existir,
desde logo em domínios nucleares
(respeito por minorias, liberdades
cívicas, qualidade da democracia,
etc.). Por outro, a infausta hipótese
de o PSD se aliar ao Chega, após
meses a prometer o contrário,
seria o Æm da sua credibilidade por
longos anos, enganando a maioria
que lhe deu a hipótese de governar.
Pior do que o dano em várias
franjas do eleitorado provocado
pela intervenção da troika em
Portugal, durante o Governo do
próprio P.P.C., ainda hoje evidente.
Tomás Júdice, Lisboa
Passo Coelho e a família
Passos Coelho reapareceu para
mostrar que está vivo, talvez para
num futuro não muito distante ser
candidato a qualquer cargo de
relevância política. Veio defender
os valores conservadores da
família. Dar expressão aos valores
da família, teve como objectivo
aliar os valores de que comungam
o PSD-CDS-IL-Chega. A defesa dos
valores da família vêm em resposta
a algum desnorte da esquerda,
especialmente do PS. A defesa
destes valores, quer os da direita
conservadora, quer os da esquerda
PS-BE, parece que estão a desviar o
povo das questões centrais da
direita e da esquerda, tais como: os
direitos laborais, a propriedade
dos meios de produção e outras
questões económicas fundamen-
tais para a vida das pessoas. Passos
está especialmente a tentar fazer
esquecer a sua governação de má
memória entre 2011 e 2015. Basta
lembrar que nesse período tivemos
um desemprego de 17%; perda de
direitos laborais como nunca tinha
acontecido desde o 25 de Abril;
privatizações ao desbarato das
grandes empresas públicas. Terá
sido isto um governo de valores
nacionais e da família, defendidos
agora por Passos Coelho?
Mário Pires Miguel, Reboleira
Passos saiu do armário
Finalmente, Passos Coelho
reaÆrmou anteontem, de forma
categórica e para que ninguém
tivesse dúvidas, que, se ele fosse
primeiro-ministro, se coligava com
o Chega. Passos mostrou agora, de
uma forma clara e transparente, o
que pensa sobre os pensamentos
racistas e xenófobos de André
Ventura. Passos quer forçar Luís
Montenegro a dar o dito por não
dito, não cumprindo assim a
palavra dada durante a campanha.
Espero que os portugueses
amantes da liberdade conquistada
no 25 de Abril tenham percebido,
de uma vez por todas, qual é o
verdadeiro pensamento do antigo
primeiro-ministro sobre os vários
temas que interessam à sociedade
portuguesa e a sua visão retrógrada
sobre muitos deles. Passos, embora
tenha reaÆrmado anteontem que é
do PSD (será mesmo?), mostrou
claramente que tem ambições
politicas e que para isso conta com
a direita radical. Espero,
sinceramente, que Montenegro
cumpra a palavra dada, pois os
princípios ideológicos do PSD de
Sá Carneiro, Pinto Balsemão e
tantos outros não são compatíveis
com os de Ventura.
Manuel M. Gomes, Senhora da Hora
Oposição, precisa-se!
Com a balança parlamentar a
pender, inequivocamente, para a
direita, as esquerdas voltam ao
lugar de oposição que deixaram há
(quase) uma década. O PS tem pela
frente muitos encontros ao centro,
e cabe aos que perÆlam à sua
esquerda reavivar a natureza oposi-
cionista que o Costismo amansou.
Em tempos em que lutam para
sobreviver, esfriada qualquer
ambição expansionista, pede-se
oposição ideológica enérgica, e,
para tal, é imperativo deixar de
parte a subserviência ao PS, que
nada faz senão admitir ao
eleitorado que votar num é votar
no outro. Pede-se luta política
efectiva e não demonstrações
vazias de antidireitismo, cujos
efeitos estão à vista. No ano em que
a revolução celebra o apogeu da
meia-idade, é urgente garantir que
o cravo não desbota em rosa.
Carlos Castro, Azurém
Eugénio Lisboa
Eugénio Almeida Lisboa foi
ensaísta e crítico literário,
especialmente vocacionado em
José Régio. Porventura o mais
habilitado. Perdemos um dos
nossos melhores. Foi lúcido,
cultivava o rigor, a seriedade e a
objectividade, sendo frontalmente
sábio. Tive o grato privilégio e
prazer de o ouvir algumas vezes
em conferências sobre Régio no
auditório do belo Museu Ferreira
de Castro, em Sintra. Perguntá-
vamo-nos: como é possível este
escritor, poeta, declamador e
estudioso ser uma enciclopédia
ambulante? Sim, era possível.
Lisboa foi! Amo a sua obra.
Vítor Colaço Santos, S.J. das Lampas

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

ESCRITO NA PEDRA O armazém vazio
O verdadeiro
e o falso são Ainda ontem
atributos da
linguagem, não
das coisas. E
onde não há
A
linguagem, não Miguel Esteves Cardoso
há verdade nem certa altura, as casas dos meus
amigos estavam tão cheias de
falsidade T. discos e videocassetes que só os
mais ricos tinham quartos e
Hobbes, filósofo estantes suÆcientes para poder
exibi-las como deve ser.
O terror de não ter todos os Ælmes — ou
todos os jogos de futebol — fazia gastar anos
O NÚMERO de vida a gravar e a catalogar coisas que
2.ª
depois nunca mais seriam vistas.
Várias pessoas acalentavam, como plano
de reforma, o projecto de rever todos os
vídeos de princípio ao Æm, tomando
apontamentos para um futuro livro que já
todos sabiam que jamais seria escrito. A
angústia geral era que todo aquele esforço
Os Açores são a segunda região não servisse para nada, porque nunca iria
da UE com mais abandono haver oportunidade para tirar partido
escolar precoce, atrás da Guiana daquela monumental colecção.
Francesa, território na América Avance-se agora com a alavanca da
do Sul máquina do tempo e regresse-se, por assim
ZOOM SUÍÇA
Está a decorrer em Genebra a feira Watches and Wonders, e há quem não se poupe, num país conhecido pela sua
relojoaria de luxo, a extravagâncias para exibir os seus relógios
dizer, a 2024. Estou na casa de um amigo que
aproveitou uns saldos para comprar cinco
discos externos de 12 teras por 750 euros.
O preço normal para um dos melhores
discos de 12 teras — 12.000 gigas — é 200
euros. Se uma longa-metragem ocupa menos
de um giga, isto dá, à vontade, 12.000 Ælmes.
Ou seja, 17 cêntimos por Ælme. Percebendo
que podia gravar 60 mil Ælmes, a angústia do
meu amigo agora é outra: que não vai
arranjar 60 mil Ælmes que queira gravar,
mesmo partindo do princípio que depois só
vai conseguir ver uma pequena parte.
Tem esta coisa estranha para a minha
geração: arrumação a mais, espaço a mais,
prateleiras vazias que não sabe como há-de
encher. O nosso tempo de vida e de lazer
continua, mais ou menos, o mesmo. O preço
do armazenamento é que desceu
(jornalista de dados); Ruben Martins, Inês Rocha (áudio); Joana Bougard (editora
drasticamente.
A preguiça dominante, que dantes era não
guardar nada, porque não se tinha paciência,
(subeditor), Ana Sá Lopes, São José Almeida (redactoras principais), Ana Bacelar
é agora guardar tudo, porque não se tem
paciência.
O erro continua a ser o mesmo: é preciso
escolher. O nosso tempo é pouco. Temos de
arriscar. O prazer pertence ao presente. Tem
Alexandra Campos, Ana Cristina Pereira, Ana Dias Cordeiro, Ana Henriques, Ana
de ser gozado já. Se não gostamos de uma
coisa, temos de a abandonar imediatamente
e passar para a próxima. É pressa que temos.
Não é fartura.
PIERRE ALBOUY/REUTERS
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Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 5
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6 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Espaço público
Portugal quer mais Europa?
Carlos Coelho, Álvaro Beleza,
Leonor Beleza, Nuno Severiano Teixeira
O
e Filipa Roseta
s portugueses são chamados a
decidir, no próximo dia 9 de
Junho (precisamente daqui a
dois meses), que futuro
querem para a Europa e que
papel entendem que Portugal
deve assumir no processo de integração
europeia. É a nona vez que se realizam
eleições para o Parlamento Europeu no
nosso país e importa recordar que, há cinco
anos, tivemos a mais baixa participação
eleitoral de sempre, com 30,7% de votantes,
muito longe dos 72% das primeiras eleições.
Nós, cidadãos portugueses e europeus
empenhados no aprofundamento da
integração europeia de Portugal, não nos
conformamos com estes níveis de abstenção.
Estamos empenhados na mobilização dos
portugueses, não apenas para o voto no
próximo dia 9 de Junho, mas sobretudo para
uma cidadania europeia mais activa e mais
informada, todos os dias.
Os portugueses valorizam e conÆam na
União Europeia. 66% têm uma imagem
positiva da UE, contra uma média global de
45%. E, quando falamos do nosso país,
vemos que 78% avaliam a adesão como algo
positivo (média da UE nos 61%) e que 88%
consideram que o nosso país beneÆciou
com a integração europeia (média da UE
nos 72%). E os portugueses têm boa imagem
do Parlamento Europeu (56%, que se
comparam com uma média europeia de
36%) e defendem que deve ter mais poderes
(61%, que se comparam com uma média
europeia de 53%). A questão que se coloca
torna-se, por isso, bastante clara: porque é
Segurança Social: “Gato escondido com rabo de fora…”
N
Maria do Rosário Gama
o dia 4 de Abril começaram a
chegar à comunicação social
informações sobre o relatório
preliminar que a Comissão para
a Sustentabilidade da
Segurança Social elaborou e
entregou ao Governo de António Costa e que
será entregue ao novo executivo. A direcção
da APRe! foi contactada por alguns órgãos da
comunicação social a Æm de se pronunciar
sobre algumas das propostas com base na
divulgação então feita, sem que tenha tido
acesso ao relatório preliminar. Esta discussão
deveria começar com a sua divulgação,
que os portugueses se demitem de decidir
sobre o futuro da União quando valorizam a
Europa ainda mais que os outros europeus?
Para nós, a resposta é clara: há um déÆce
de informação, de debate e de construção de
ideias sobre a Europa em Portugal. Por isso,
não podemos Æcar de braços cruzados, sob
pena de reincidirmos na passividade que
leva aos níveis de abstenção que
conhecemos e que contrastam com a
relevância que os portugueses encontram na
Europa e nas suas instituições.
Decidimos, por isso, organizar três
grandes debates nacionais sobre os assuntos
que mais preocupam os cidadãos, e sobre
áreas onde é legítimo e oportuno perguntar
se precisamos de mais Europa. Queremos
tirar conclusões destes debates, queremos
que os partidos políticos discutam estes
temas na campanha eleitoral, queremos que
análise e discussão com os parceiros sociais e
as organizações de reformados.
Sobre algumas das recomendações, temos
a referir o seguinte:
1) O regime previdencial da Segurança
Social deve assentar fundamentalmente nas
contribuições dos empregadores e dos
trabalhadores. Pode e deve ser
complementado (não substituído) com
outras receitas, sendo as mais sugeridas o
IVA Social, a TSU tecnológica (empresas
altamente rentáveis com muito pouca mão
de obra), aguardando nós outras ideias de
complemento do Ænanciamento por parte da
Comissão que elaborou o relatório. Deve
manter-se a sua matriz inicial e não deverão
substituir-se as fontes prioritárias de
Ænanciamento, o que agravaria seguramente
a sustentabilidade do sistema.
2) O Estado deve pagar as dívidas à
Segurança Social, nomeadamente à Caixa
Geral de Aposentações (CGA), que deve ser
mantida separadamente (a confusão sobre a
insustentabilidade resulta da consideração da
DANIEL ROCHA
Há um déÄce de
informação, de debate e
de construção de ideias
sobre a Europa no país
a sociedade civil se mobilize nestas
discussões e queremos que o Parlamento
Europeu que resultará das eleições tome
decisões concretas nestas matérias.
Começaremos a discutir a União Europeia
da Saúde num evento que terá lugar na
Fundação Champalimaud. Percebemos,
fusão dos dois sistemas, historicamente
diferentes, arrastando as dívidas à CGA para
todo o sistema). É preciso não esquecer as
responsabilidades transferidas para a CGA
pelo pagamento das pensões, decorrentes das
transferências dos fundos de Pensões da CGD,
da PT, da banca, dos CTT, e outras. Devido a
estas recomposições, ocorridas nas últimas
décadas, a CGA não paga só as pensões de
reforma a aposentados da Função Pública e a
titulares de cargos públicos.
3) O Orçamento do Estado deve Ænanciar
todas as prestações sociais que não decorrem
do regime previdencial, o que nem sempre
acontece e foi muito nítido durante a
pandemia...
4) O Fundo de Estabilização Financeira da
Segurança Social deve estar numa carteira de
aplicações Ænanceiras seguras que garanta a
sua maior rentabilidade, dado que, assenta aí
parte da sustentabilidade do sistema. O
Estado, enquanto entidade empregadora,
deve cumprir as obrigações contributivas
com o sistema da segurança social público.
depois da resposta europeia à pandemia de
covid-19 e quando 44% dos portugueses
entendem que a Saúde é um dos dois
principais desaÆos que o país enfrenta, que
há a expectativa fundada sobre um
aprofundamento da integração europeia
nesta área. Os grandes desaÆos de Saúde
Pública não conhecem fronteiras e as
respostas também não devem ser limitadas
ao território de cada um dos 27.
Discutiremos, também, a Segurança e a
Defesa. A guerra na Ucrânia é apontada por
36% dos portugueses como o principal
desaÆo da União Europeia. A situação
internacional volátil e marcada pela
incerteza tem um impacto directo nas nossas
vidas e não podemos deixar de olhar para o
mundo em que a União Europeia tem de ser
um actor interventivo, em favor da
Segurança, da Estabilidade e da defesa
intransigente do multilateralismo.
Finalmente, não podemos deixar de
discutir o custo de vida e a situação da
Habitação, em particular. Esta é a principal
preocupação de sete em cada 10
portugueses e todos percebemos porquê.
Se é verdade que a União tem, hoje,
competências limitadas nesta matéria, não
é menos verdade que será a área em que os
cidadãos querem ver maior investimento e
em que esperam respostas mais ambiciosas.
Durante as próximas semanas
organizaremos estes três momentos de
reÇexão que queremos transformar em
acção, sem deixar de assinalar o Dia da
Europa, exactamente daqui a um mês.
Portugal quer mais Europa na Saúde, na
Segurança e Defesa e na Habitação? Portugal
quer mais Europa no dia-a-dia dos seus
cidadãos. Portugal quer mais Europa porque
quer um futuro melhor.
Recusamos a sua privatização com venda a
fundos privados, como alguns sugerem
(recorde-se o que aconteceu com os fundos
de pensões americanos que deixaram
milhares de pensionistas sem as poupanças
de vidas inteiras...).
5) Finalmente: O relatório preliminar deve
ser entregue aos parceiros sociais e às
organizações de reformados que devem ser
ouvidas. São os trabalhadores no ativo e os
reformados, que durante toda a vida
contribuem para o sistema, que devem
determinar o seu futuro. A discussão não
pode Æcar reduzida a uma análise de alguns
peritos e discussão na comunicação Social. A
APRe! aguarda essa disponibilidade por parte
da ministra do Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social, Maria do Rosário Palma
Ramalho, para ouvir os parceiros sociais e
organizações de reformados sobre as
propostas destinadas ao “Livro Verde sobre a
sustentabilidade da Segurança Social”.
Presidente da direcção da APRe!

O livro que não é sobre “família”
Maria João Marques
O livro não é sobre temas
essenciais à família.
É sobre aborto, eutanásia,
ideologia de género e dizer
às mulheres que devem
ser parideiras
A
nteontem o
ex-primeiro-ministro Pedro
Passos Coelho apresentou um
livro sobre a “família”. No meio
dos autores há pessoas não
assustadoras como o jesuíta
Vasco Pinto de Magalhães (terá ido parar ali
por distração?), Manuela Eanes e Guilherme
d’Oliveira Martins. A maioria vem dos setores
mais conservadores. Gonçalo Portocarrero de
Almada, por exemplo, padre que se
especializou em escrever coisas tresloucadas,
odientas, onde o mais saliente é a falta de
caridade e de compaixão por, bem, quase
toda a gente.
De um livro sobre a “família” escrito por
tanta gente com intervenção pública, o que se
espera? Eu, assim à partida, esperaria
propostas para conciliar a vida profissional
com a vida familiar. Nada disso: ouvi Paulo
Otero explicar que se devia valorizar o papel
das mulheres como donas de casa.
Concorde-se ou não, aplauda-se a escolha dos
autores pela mais alucinante irrealidade: o
nível de ordenados em Portugal dos homens
não permite à esmagadora maioria das
famílias viver com mínimos de conforto sem
as mulheres também contribuírem para as
finanças familiares. Donde, falam de quê?
Tendo em conta que em Portugal há cerca
de 500 mil famílias monoparentais, e à volta
de 85% encabeçadas por mães, eu diria que
um grupo de católicos estaria especialmente
obrigado a dar atenção a estas famílias em
particular risco de pobreza. Afinal, para mim,
a Igreja deve preocupar-se mais com os mais
pobres (e famílias) e não tanto com a
sexualidade e com quem se escolhe viver.
Esperaria ver propostas fiscais. Mais
isenções fiscais para quem tem filhos.
Possibilidade de abater para efeitos de IRS
muito mais despesas em educação, saúde,
roupa, brinquedos. Até poderia haver
propostas para contar o trabalho doméstico e
de cuidado das donas de casa para efeitos de
reforma — afinal é um trabalho que traz valor
à sociedade e é tratado como irrelevante.
Claro: a natalidade. Tendo em conta o
problema a prazo que é, todas as propostas e
discussões são bem-vindas. Um grupo de
conservadores até poderia criticar — com
razão — os maluquinhos do extremismo
oposto: de cada vez que se discute a
natalidade (algo que acontece no corpo das
mulheres, a maioria das vezes com muita
satisfação para as próprias), gritam em
crescendo de histeria que falar de natalidade
é reduzir as mulheres à sua capacidade
reprodutora.
No entanto, o livro sobre família não é,
aÆnal, sobre temas essenciais à família, nem
sequer às mais parecidas com as da tradição.
É sobre aborto, eutanásia, ideologia de género
e dizer às mulheres que devem ser parideiras.
É um livro ultraconservador sobre temas
fraturantes que se esconde sob a realidade
simpática “família” para se mascarar de
inócuo.
De resto, achando esta corte de autores que
as mulheres têm o seu espaço natural na
família, estranha-se como num livro sobre
família só haja seis mulheres em 22 autores.
AÆnal valorizam muito a mulher de família,
reduto à qual a querem conÆnar, mas
acham-na demasiado oca para dar
contributo? Julgam que são os homens que
têm de determinar como se processa o
pequeno espaço que permitem às mulheres?
É que parecem aquela famosa conferência
saudita sobre os direitos das mulheres onde
só participaram homens.
E não posso deixar de mencionar as
palavras de César das Neves sobre as
mulheres, desconÆando de que tenham sido
oprimidas durante séculos porque, hélas, são
a maioria da população e não se queixavam.
Ora, não sendo César das Neves
cognitivamente limitado (só eticamente) nem
O projeto de Passos
Coelho passa por criar
um PSD extremamente
conservador, em bloco
com o Chega, porventura
querendo apropriá-lo
ignorante de História (foi meu professor de
História do Pensamento Económico), temos
de concluir que é sonso e desonesto.
César das Neves sabe bem que ao longo da
história muitas maiorias foram oprimidas por
minorias. Bastava terem acesso a recursos que
escapavam às maiorias. Um académico de
Economia tem particular obrigação de
entender as consequências sociais das
circunstâncias económicas. Dou um exemplo
muito diferente: até à guerra do Iraque, a
maioria xiita do país foi politicamente
oprimida pela minoria sunita, mais rica.
Quanto às mulheres não se queixarem, é
falso. Havendo capacidade de o fazerem
(desde logo: serem alfabetizadas), as
mulheres queixaram-se do seu lugar
secundário. Georgiana do Devonshire
queixava-se de não poder ter participação
política oÆcial por ser mulher (leia-se a
biograÆa por Amanda Foreman). O livro
Aristocrats, sobre as quatro muito fabulosas
irmãs Lennox, aristocratas britânicas do
século XVIII, de Stella Tylliard, mostra bem
(com as palavras das próprias) como
percebiam a limitação das suas vidas. Mary
Wollstonecraft escreveu coisas célebres. Jane
Austen e Ann Radcliè, nos seus livros, fazem
críticas claras ao facto de a vida das mulheres
ser determinada pela capacidade de casarem
(e Ænanceiramente bem, de preferência).
Estranho como um tão grande admirador da
teoria económica de John Stuart Mill é
desconhecedor dos escritos da sua mulher,
Harriet Mill. Ambos eram, à luz da época,
marcadamente feministas.
Mas, claro, há sempre a estratégia de César
das Neves. É só não olhar, Ængir que o que as
mulheres escreveram e criaram não existe. As
mulheres queixavam-se? É só os homens não
reconhecerem a existência dos queixumes,
Ængirem que não aconteceram, não
registarem na História que conta (feita pelos
homens) e está resolvido: não existiram.
Este livro também é isto. Sonsice,
desonestidade, falsidade, tudo em nome da
maldade e da misoginia.
Passos Coelho escolheu associar-se a isto,
que não é pouco. Teve razão quando
mencionou a histeria que grassa na parte
esquerda da política quando pessoas com
outra visão da vida e do mundo se expressam.
A forma persecutória e intolerante como à
esquerda se colam epítetos apocalípticos a
quem pensa diferente ou, simplesmente,
questiona. Acontece-nos a todos. No Twitter,
Maria Manuel Leitão Marques, Pedro Costa,
Eduardo Barroco de Melo (só do que vi)
faziam melhor em ter mais calma perante a
edição de um livro. Políticos contra livros Æca
mal.
Mas o facto político permanece: o projeto
de Passos Coelho passa por criar um PSD
extremamente conservador, em bloco com o
Chega, porventura querendo apropriá-lo. E
quer condicionar o PSD. Útil clariÆcação.
Seria a sorte grande da esquerda. Já o PSD
tem de escolher se quer Passos Coelho e
tornar-se um Chega ou se quer ganhar
eleições. A ausência no lançamento do livro
foi bom sinal.
Economista. Escreve à quarta-feira
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 7
Decisões
Fábrica
de criadas
M
Afonso Cruz
as nessa noite, em que me
levaste para casa do
Eduardo, Æzemos sexo?,
perguntou a Ana, Æzemos,
disse o Flávio, sem
preservativo?, perguntou
ela, sem, disse ele, comigo completamente
bêbeda?, perguntou ela, sim, admitiu ele. A
Ana saiu agoniada de casa do Flávio, com ele
e não por estar grávida, ou por ambas as
coisas. Pensou imediatamente em fazer um
aborto, dos que havia à época, com agulhas
de tricô e materiais e condições aÆns, mas
também imaginou outros cenários possíveis,
a gravidez, o amor materno, a estranheza de
criar dentro de si um outro ser — e depois
cuidar dele, educá-lo, vê-lo crescer, assistir ao
inferno da adolescência —, mas não, pensou
ela, não vou comprometer o meu futuro, não
posso destruir a minha vida sacriÆcando-a
por outra em potência, a minha foi
construída durante anos, com alegrias,
lágrimas, amizades, a de um feto ainda não é
nada, ou é muito pouco, de que nos adianta
viver se não for para cumprir os nossos
sonhos, não somos simplesmente parideiras,
aliás, não será melhor, se optar pela
maternidade, fazê-lo com quem amo, num
ambiente saudável, em vez duma relação
maculada pela concepção em escadas de
prédio e sem estar lúcida?, não seria melhor
ter condições para concretizar os meus
sonhos para depois poder concretizar os dos
outros?, e no entanto algo antigo me diz que
não, que deveria parir, há uma pressão
atávica que não deixa decidir sem culpa,
apesar de nestes assuntos a moral ser ela
própria inconstante, não há uma opinião
universalmente aceite, muitos indígenas, por
exemplo, matam Ælhos à nascença porque,
sendo nómadas, há um limite para o número
de crianças que podem ser carregadas numa
comunidade deste tipo. Estão a defender a
vida, pois ela não seria possível sem esse
aborto às quarenta semanas, nem a da mãe
nem a dos seus outros Ælhos nem, como
consequência, a do grupo. Sei que não
vivemos numa sociedade deste tipo, mas a
escolha, mesmo quando se aborta, é sempre
uma decisão pela vida. Podemos ser
absolutamente a favor da vida sem ter em
conta a das mães? A vida não se resume a
nascer ou dar à luz, é muito mais do que isso.
Não sou dona do meu corpo, não posso
abortar, mas devia e, se devia, é o que farei.
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de criadas os textos lidos pelo autor.
AFONSO
CRUZ
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8 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Política Parlamento
Impostos
e círculo de
compensação
afastaram
IL e PSD
Mariana Leitão Líder parlamentar da IL
quer que excedente seja usado na saúde,
habitação e para baixar impostos
Entrevista
Liliana Borges Texto
Rui Gaudêncio Fotografia
Mariana Leitão estreia-se no
Parlamento enquanto deputada e
foi eleita líder parlamentar por
unanimidade. Membro da
Iniciativa Liberal (IL) desde 2019, a
especialista em relações
internacionais elege a habitação, a
saúde e a reforma Æscal como
urgências para esta legislatura. Em
entrevista ao PÚBLICO, desvaloriza
a oposição interna e critica PS e
PCP pelo “clima de guerrilha” e
instabilidade. E revela que o
dossier dos impostos foi uma das
matérias que afastaram um
entendimento entre IL e PSD.
O resultado eleitoral apenas
permitiu manter o tamanho da
bancada da IL. O que é que
aconteceu?
Conseguimos solidiÆcar-nos
enquanto quarta força. Não
chegámos aos objectivos que
tínhamos traçado, mas crescemos.
Foram eleições muito difíceis
porque por havia o voto útil e o
voto de protesto. Tínhamos
também um líder recente, que
estava numa fase de se mostrar e
ser reconhecido. Não estamos a
tentar mascarar os resultados:
Æcaram aquém. Mas foram feitas
reÇexões nos sítios certos e nos
órgãos que têm essa incumbência.
A IL e o PSD tentaram fazer um
acordo que acabou por não se
concretizar. O que falhou?
Há prioridades diferentes para
ambos os partidos. A ambição de
reforma Æscal é diferente. O PSD,
apesar de já ter feito vários
compromissos de redução de
impostos, não vai tão longe como
gostaríamos.
Quais as medidas da IL que não
foram acolhidas?
Não estive nessa negociação,
portanto, não sei detalhes. Há
visões diferentes. A questão Æscal é
uma delas, o círculo de
compensação eleitoral é outra. São
matérias que criam um certo
afastamento entre a IL e o PSD.
Noutras convergimos mais. É uma
questão de prioridades. Na questão
Æscal consideramos que há a
urgência de uma reforma imediata
e que tem de ser ambiciosa. Na
tomada de posse, o primeiro-
-ministro refere que vai baixar o
IRC daqui a três anos. Para nós, era
fundamental reduzir já.
O acordo falhou, mas não foi
fechada a porta a negociações
futuras. Essa aproximação pode
acontecer com um orçamento
rectificativo?
Precisamos de analisar qualquer
que seja o documento, seja o
orçamento rectiÆcativo, seja outro.
Só depois é que a IL se poderá
pronunciar, independentemente
de quaisquer negociações que
existam entre os partidos.
O líder da IL foi crítico em
relação à carta de Pedro Nuno
Santos para Luís Montenegro.
Pedro Nuno Santos é o líder do
partido que estava no Governo e
que tinha um excedente
orçamental e inúmeras
reivindicações por parte das várias
classes proÆssionais. É um pouco
estranho que agora venha exigir
que o novo executivo as resolva.
Quanto às negociações,
consideramos perfeitamente
normal que o Governo fale com os
vários partidos, nomeadamente
com os que precisa de ter maior
consenso pelo peso que têm ao
nível da Assembleia da República.
Isso não condiciona a IL, muito
pelo contrário.
riqueza. Se não houver produção
de riqueza, o que estamos a fazer é
a suportar o peso do Estado com
os impostos que as pessoas e as
empresas pagam. É óbvio que há
uma parte que é suportada por
Consideramos esses impostos, mas chegámos a
perfeitamente níveis de escalões de IRS e de taxas
de IRC altíssimos. É preciso fazer
normal que o uma reforma profunda.
Governo fale com O excedente orçamental enorme
deveria servir para suportar os
os vários partidos, serviços públicos, que nunca
nomeadamente estiveram tão degradados. Isso é
visível na saúde, na educação e nos
com os que precisa transportes. Há uma série de
de ter maior serviços que as pessoas estão a
pagar e aos quais não estão a ter
consenso pelo peso acesso.
que têm ao nível As reivindicações das classes
profissionais citadas na carta
da Assembleia da devem ser deixadas para o
República. Isso Orçamento do Estado?
É preciso perceber o impacto
não condiciona Ænanceiro que isso vai ter e a
a IL, muito pelo calendarização pensada. Só depois
é que nos poderemos pronunciar
contrário de forma efectiva. Todas as
carreiras devem ser valorizadas,
O que deve ser feito com o não só as citadas na carta. Deve ser
excedente orçamental? uma melhoria de forma geral e
As prioridades são a habitação, a transversal, para todos os
saúde e a questão Æscal. No portugueses. Mudou o Governo, é
imediato, deveria aliviar-se as preciso que permitam que haja
pessoas que estão completamente uma mudança no país.
estranguladas, reduzindo os A habitação é vista como um bem
impostos. Às pessoas e às essencial e é taxada como um bem
empresas. O crescimento cria de luxo. Propomos baixar o IVA da
construção de 23% para 6%, aliviar
a carga Æscal sobre o IMI, acabar
com o IMT e reduzir o imposto
sobre os rendimentos prediais,
como forma de estimular o
mercado de arrendamento. O
Estado nem sequer sabe que
imóveis tem, onde e em que
condições. Já pedimos várias vezes
que nos Æzessem chegar a listagem
dos imóveis do Estado e nunca
conseguimos. Porque não utilizar
esses imóveis permitindo que os
privados possam reabilitar,
criando condições negociais em
que o imóvel tem de estar xis
tempo para arrendamento ou tem
de ser vendido a preços
determinados?
Mas aí não há um controlo do
mercado?
Isto é o mercado livre. Estamos a
falar de imóveis que estão parados
e a única coisa que se estaria a
fazer era parcerias para que sejam
reabilitados e postos ao serviço do
mercado. Quanto mais casas
estiverem no mercado, maior será
a tendência de os preços descerem.
Além da habitação e da reforma
fiscal, que prioridades terão?
Vamos insistir no círculo de
compensação eleitoral. Há um
reconhecimento de um problema
que é preciso resolver. Não faz
sentido que numa democracia que
se pretende evoluída, uma grande
parte dessa representação vá para

o lixo.
A questão da saúde também é
muito importante. Continuamos a
ter listas de espera enormes.
Iremos tentar recuperar as
parcerias público-privadas e
garantir médico de família para as
grávidas, maiores de 65 e crianças
até aos nove anos. O Estado acaba
por funcionar como um operador,
quando devia funcionar como
Ænanciador. O que interessa é que
as pessoas sintam que estão a ser
atendidas em tempo útil e com
qualidade. Quem tem alternativa
vai directamente ao privado,
quem não tem Æca entregue à sua
sorte. Este modelo acaba por ser
prejudicial para quem menos tem.
Foi apresentado por Tiago
Mayan Gonçalves um manifesto
para liderar a oposição interna.
Como é a IL recebe estas
críticas?
Com total naturalidade, somos um
partido liberal, é perfeitamente
normal haver pessoas com visões
diferentes.
O que é que a IL está a fazer
para unir o partido?
Estamos empenhados em levar o
liberalismo a todo o lado.
Até Bruxelas? Quais as
expectativas para as europeias?
Queremos eleger uma voz liberal
no Parlamento Europeu. Tenho a
certeza de que vamos conseguir
eleger João Cotrim de Figueiredo.
Programa do Governo entregue hoje
Hugo Soares foi eleito líder da bancada do PSD
e repetiu promessa de “diálogo com todos”
Sofia Rodrigues
A direcção do grupo parlamentar do
PSD, liderada por Hugo Soares, foi
ontem eleita com 76 votos a favor e
um branco, o que corresponde a
98,7% de votos favoráveis, o que é
equiparável ao conseguido por Luís
Montenegro na reeleição em 2015. Só
faltou um deputado (Flávio Martins)
à votação por ainda não ter chegado
do estrangeiro em substituição de
José Cesário, que assumiu funções
como secretário de Estado das Comu-
nidades. Após a divulgação dos resul-
tados, o novo líder parlamentar rei-
terou a ideia de “diálogo com todas as
forças parlamentares” para “resolver
os problemas das pessoas”.
Questionado sobre as declarações
de Pedro Passos Coelho em torno de
entendimentos políticos, Hugo Soares
assumiu concordar sobre a necessi-
dade de dialogar com todos os parti-
dos, embora sem nunca responder
sobre se esses entendimentos terão
de ser entre o PSD e o Chega, como
sugeriu o antigo primeiro-ministro.
“É obrigação de cada um dos gru-
pos e de cada um dos partidos assu-
mir a sua responsabilidade. O PSD e
a AD [Aliança Democrática] ganha-
ram as eleições e têm a responsabili-
dade de governar, mas o resultado
disse também que temos a capacida-
de de dialogar com todas as forças. É
Comissão parlamentar de inquérito
Ventura dá até sexta-feira ao PSD para apoiar CPI ao caso das gémeas
O PS já se manifestou contra uma
comissão parlamentar de inquérito
(CPI) ao caso do tratamento hospita-
lar das gémeas luso-brasileiras. O PSD
ainda não se manifestou, mas caso
não dê o seu apoio à pretensão do
Chega, André Ventura avança mesmo
com uma comissão potestativa. Para
já, dá um prazo aos sociais-democra-
tas até à próxima sexta-feira.
Ventura diz que ainda decorrem
“conversações” com o PSD. Por isso,
as principais críticas foram para os
socialistas, depois de, numa entrevis-
ta à TVI-CNN, Pedro Nuno Santos ter
dito que não via qualquer utilidade
nessa comissão de inquérito.
“É negativo para a democracia que
o líder do PS diga que é um caso mui-
to importante para o país, que abala
a conÆança do sistema e dos cidadãos
e, ao mesmo tempo, diga que não vê
o que vai acrescentar uma comissão
de inquérito”, começou por aÆrmar
esse diálogo com espírito de humil-
dade e também com espírito constru-
tivo e com todas as bancadas parla-
mentares”, disse, fazendo a distinção
entre a rejeição a acordos pré-eleito-
rais ou de governo e a necessidade de
dialogar.
“Quando o candidato a primeiro-
ministro disse que ‘não é não’, cum-
priu efectivamente. Ele disse sempre
que não faria uma coligação pré-elei-
toral, nem nenhum acordo de gover-
nação com o Chega. Coisa diferente
é a necessidade de diálogo com todas
as forças no Parlamento, com um úni-
Hugo Soares foi ontem eleito com quase 99% dos votos da bancada
André Ventura, ontem, na Assembleia
da República, em declarações aos
jornalistas, depois de uma reunião do
grupo parlamentar. “A sensação que
Æcou é que o PS está empenhado em
proteger os seus antigos governantes.
E a proteger não sabemos mais
quem.”
Revelou também não conhecer
ainda a posição deÆnitiva do PSD,
com quem, diz, decorrem negocia-
ções. Ventura diz que vai esperar até
sexta-feira por uma resposta do PSD,
caso seja negativa, garante que avan-
çará com uma comissão parlamentar
potestativa. Garante, porém, que caso
Líder do Chega
disse que ainda
decorrem
negociações
com os
sociais-
-democratas
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 9
co objectivo: resolver a vida das pes-
soas. Os portugueses lá fora não que-
rem saber se a redução de impostos,
que os asÆxia, é aprovada com a abs-
tenção do PS, PCP ou Livre”, defen-
deu. Soares, secretário-geral do PSD,
já tinha sido líder da bancada social-
democrata em 2017, durante alguns
meses, mas saiu por vontade do então
recém-eleito presidente do partido,
Rui Rio. Nessa altura, foi eleito com
84,5% dos votos dos deputados.
A direcção é composta por 12 vice-
presidentes, tendo transitado quatro
da anterior liderada por Joaquim
DANIEL ROCHA
exista um acordo entre os dois parti-
dos, ninguém Æcará de fora das even-
tuais audições.
“Esta comissão de inquérito não é
contra ninguém, mas ninguém está
acima da lei. Se há a suspeita pública
de que o Presidente da República terá
tentado ou condicionar ou favorecer,
penso que é do interesse do próprio
Presidente ser ouvido”, acrescentou,
criticando também o comentador
Marques Mendes, que disse não ver
necessidade de uma CPI por estar a
decorrer uma investigação no Minis-
tério Público.
André Ventura tinha também anun-
ciado a vontade de pedir uma comis-
são de inquérito à aquisição das vaci-
nas para a covid-19. Caso esta comissão
não seja aprovada, já não pode avan-
çar com um pedido potestativo (cada
partido só tem por cada sessão legis-
lativa), esclarecendo que optou pelo
caso das gémeas luso-brasileiras.
Miranda Sarmento: Hugo Carneiro,
Andreia Neto, Hugo Oliveira e Alexan-
dre Poço. Entraram Miguel Guimarães
(indicado como primeiro vice-presi-
dente da bancada), Pedro Alves, Regi-
na Bastos, Silvério Regalado, Isaura
Morais, Cristóvão Norte, João Valle e
Azevedo e António Rodrigues. Como
secretários foram eleitos Almiro
Moreira e Dulcineia Catarina Moura.
Passos sabe o que é melhor
Já o presidente da Assembleia da
República, José Pedro Aguiar-Branco,
começou por evitar explorar as pala-
vras do antigo líder de Governo por
não querer “entrar no debate parti-
dário”, mas acabou por responder.
“Tenho as maiores considerações
pelo seu mandato como primeiro-mi-
nistro. Acho que prestou serviços
inestimáveis ao país num momento
particularmente difícil. Tenho orgu-
lho de ter pertencido ao seu Governo.
ConÆo que ele saberá sempre, em
cada momento, avaliar o que é
melhor para o país”, disse, depois de
questionado pelos jornalistas no Par-
lamento sobre se Passos Coelho se
apropriou de bandeiras do Chega.
O programa do Governo é entregue
hoje, às 11h45, ao presidente da
Assembleia da República, segundo
avançou fonte do gabinete do primei-
ro-ministro à agência Lusa. E será
debatido amanhã e sexta-feira.
Na segunda-feira, Ventura conver-
sou com o antigo presidente do PSD
Passos Coelho, num evento público,
e, no Ænal, disse aos jornalistas que,
caso ele avançasse com uma candi-
datura à Presidência da República,
poderia ter o apoio do Chega. ReaÆr-
mou-o ontem, mas disse que há
outros nomes apontados a Belém
que poderiam ter o apoio do seu par-
tido.
“Acho que Passos Coelho reúne
condições como poucos para ser can-
didato a Presidente da República,
pelo passado e pelo perÆl que tem,
mas também pelas causas que tem
assumido. (…) Há outros nomes que
se têm perÆlado e que também são de
ter em conta. O almirante Gouveia e
Melo é outro nome. Há aqui nomes
que se estão a perÆlar e poderão con-
tar com o apoio do Chega”, aÆrmou,
no dia em que o Chega cumpriu cinco
anos de vida. Luciano Alvarez
10 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Política Parlamento
Bancada do PSD aplaude Aguiar-Branco, eleito presidente da AR
Garantem lealdade a Luís Montenegro
Deputados do PSD-
-Madeira sem medo
da disciplina de voto
Rui Pedro Paiva
Os deputados eleitos pela Madeira à
Assembleia da República (AR) mani-
festam conÆança em Luís Montene-
gro, mas avisam desde já que será
necessário responder aos problemas
da região. O historial revela que os
sociais-democratas madeirenses não
têm problemas em furar a disciplina
de voto quando estão em causa assun-
tos importantes para a Madeira — e
essa atitude é para manter, garantem
os novos deputados.
“Acima do partido está a Madeira.
Primeiro a Madeira. Os deputados do
PSD eleitos pela Madeira vão conti-
nuar a votar sempre de acordo com
os interesses do povo madeirense”,
aÆrma ao PÚBLICO o deputado Paulo
Neves, um dos três eleitos pelo arqui-
pélago, que assinala, contudo, a “cer-
teza” de que o Governo da Aliança
Democrática (AD) vai “ser sensível
aos problemas da Madeira”. “Há mui-
tas matérias que Æcaram no congela-
dor durante os governos do PS e que
prejudicaram imenso a Madeira.
Estou certo de que agora em São Ben-
to não vai existir congelador.”
Para o deputado, votar de forma
diferente da restante bancada quan-
do estão em causa os interesses da
região é a “posição de sempre” dos
deputados eleitos pela Madeira. E
assim continuará a ser: “Não é por ser
um governo do PSD que vamos deixar
de colocar a Madeira em primeiro
lugar”, diz Paulo Neves, que foi depu-
tado na XIII e na XIV legislaturas.
O discurso está em sintonia com o
do líder regional, Miguel Albuquer-
que, que na apresentação da lista à
AR deixou o recado: “Em todas as
circunstâncias, na representação da
República, é manter o nosso históri-
co, e esse histórico é defender a
Madeira em todas as situações, em
DANIEL ROCHA
todas as conjunturas, mesmo contra
as direcções dos nossos partidos.”
O próprio Paulo Neves já foi alvo de
um processo interno no PSD (que
acabou arquivado), quando os três
deputados madeirenses se abstive-
ram na votação na generalidade do
Orçamento do Estado (OE) para 2020.
Na altura, Rui Rio justiÆcou com a
“pressão que foi exercida pela comis-
são política regional”. Também o
OE2022 foi aprovado com a absten-
ção dos deputados do PSD-Madeira.
No actual contexto, a “posição de
sempre” da Madeira pode diÆcultar
a vida ao PSD, uma vez que, sem os
três deputados madeirenses, o PS
supera o número de mandatos da AD.
Isto numa altura em que a relação
entre Montenegro e Albuquerque
está tensa devido às declarações do
líder nacional sobre uma recandida-
tura do presidente regional, que é
arguido por suspeitas de corrupção.
“Isso é natural nas relações, umas
vezes melhor, outras pior”, desvalo-
riza Paulo Neves. Nas últimas sema-
nas, já com eleições regionais à vista,
ambos adoptaram um tom mais
reconciliador.
Estes deputados recusam fazer já
exigências ao Governo, mas sinalizam
uma medida prioritária para o cader-
no de encargos madeirense. É “urgen-
te” alterar o subsídio social de mobi-
lidade para garantir que os habitantes
das regiões autónomas paguem ape-
nas o valor Æxado por lei e não sejam
obrigados a adiantar os preços da
tarifa aérea. Pedro Coelho acredita
que o Governo está “sintonizado”
com as propostas da região. Ainda
assim, o ex-autarca de Câmara de
Lobos promete não ceder quando
estiver em causa “o interesse da
Madeira”. “Esse histórico e essa liber-
dade da minha parte mantêm-se, mas
com lealdade a Montenegro.”
Marcelo condecorou António
de Spínola às escondidas
Helena Pereira e Ana Sá Lopes
No dia 5 de Julho, o
Presidente condecorou
Spínola e Costa Gomes, mas
ninguém soube porque a
Presidência não quis revelar
António de Spínola, o primeiro Pre-
sidente da República depois do 25 de
Abril, foi condecorado com o Grande
Colar da Ordem da Liberdade pelo
Presidente da República a 5 de Julho
passado. A questão é que a condeco-
ração póstuma do autor de Portugal
e o Futuro foi feita na “clandestinida-
de”, não tendo a Presidência dado
qualquer notícia do facto.
No mesmo dia — também na total
discrição — foi condecorado o suces-
sor de Spínola no cargo de Presiden-
te da República, Francisco da Costa
Gomes. Os dois tiveram condecora-
ção idêntica — o Grande Colar da
Ordem da Liberdade, a mais alta
insígnia da Liberdade.
Marcelo Rebelo de Sousa fez ques-
tão de condecorar todos os membros
da Junta de Salvação Nacional, que,
além de António de Spínola e Fran-
cisco da Costa Gomes, incluía o almi-
rante Rosa Coutinho, o general Jaime
Silvério Marques, Carlos Galvão de
António de Spínola foi condecorado a título póstumo no ano passado
Melo, Diogo Neto. Todas estas perso-
nalidades foram condecoradas no
dia 6 de Julho, a seguir a Spínola e
Costa Gomes, e com um grau infe-
rior: o de Grande OÆcial da Ordem
da Liberdade.
Vasco Lourenço, o presidente da
Associação 25 de Abril, tinha propos-
to ao Presidente da República apenas
a condecoração de António de Spí-
nola, Costa Gomes e Rosa Coutinho.
Foi Marcelo quem quis alargar a con-
decoração da Ordem da Liberdade
aos restantes membros da Junta de
Salvação Nacional — constituída no
Æm do dia 25 de Abril, depois de o
golpe de Estado ter derrubado o
Governo de Marcello Caetano.
A opção de condecorar Spínola de
forma a que fosse quase impossível
alguém saber (é preciso investigar na
página das Ordens HonoríÆcas Por-
tuguesas para conseguir obter a
informação sobre as condecorações)
pode ser interpretada como uma
forma de o Presidente evitar uma
polémica pública.
Na sequência da notícia do PÚBLI-
CO, em 2022, de que o Presidente
tencionava condecorar todos os
membros da Junta de Salvação
Nacional, várias personalidades Æze-
ram uma carta aberta em que defen-
deram que a condecoração de Spí-
JEAN-CLAUDE FRANCOLON/GAMMA-RAPHO VIA GETTY IMAGES
nola com a Ordem da Liberdade
representaria “uma afronta”. Assina-
vam a carta Fernando Rosas, histo-
riador e fundador do Bloco de
Esquerda; Carlos Brito, ex-líder par-
lamentar do PCP; o jurista Domingos
Lopes; o historiador Manuel Loè; a
professora aposentada Maria do
Rosário Gama; o fundador do Bloco
de Esquerda Francisco Louçã, entre
muitos outros.
A carta referia, nomeadamente, a
criação por Spínola do movimento
político MDLP (Movimento Demo-
crático pela Libertação de Portugal,
uma organização terrorista de extre-
ma-direita a que pertenceram o
actual vice-presidente da Assembleia
da República Diogo Pacheco de Amo-
rim e o comentador e advogado José
Miguel Júdice).
Como já escreveu Manuel Carva-
lho no PÚBLICO, António de Spínola
“sonhava com um regresso à frente
de um exército invasor para expulsar
os comunistas do poder”.
Spínola foge para Espanha depois
do 11 de Março de 1975 e a seguir ins-
tala-se no Brasil, a partir de onde
funda o MDLP.
Regressa a Portugal em 1976,
depois de o MDLP já ter sido extinto,
quando era Presidente da República
o general Ramalho Eanes, com a con-
cordância de Mário Soares. É reinte-
grado nas Forças Armadas em 1978,
e o Conselho da Revolução decide
promovê-lo ao posto de marechal.
Não aceita receber o bastão, o que só
acontecerá em 1981.
Mário Soares homenageia-o quan-
do é eleito Presidente da República,
nomeando o marechal Spínola chan-
celer das Antigas Ordens Militares
Portuguesas e, apesar de não o ter
condecorado com a Ordem da Liber-
dade, “dá-lhe” a Grã-Cruz da Ordem
Militar da Torre e Espada, do Valor,
Lealdade e Mérito “pelos feitos de
heroísmo, militar e cívico, e por ter
sido símbolo da revolução de Abril e
primeiro Presidente da República
após a ditadura”.
A Presidência tem no seu site
várias notícias e fotograÆas com
condecorações de Abril, a última
data de 16 de Maio de 2023, e num
total de 20 personalidades ligadas
ao 25 de Abril consta o nome de Vas-
co Gonçalves, ex-primeiro-ministro,
tendo a sua condecoração sido rece-
bida pelo neto. Houve outras notas
sobre condecorações idênticas a 26
de Janeiro ou 8 de Março. Fonte oÆ#
cial da Presidência referiu apenas
que todos os condecorados constam
do site das Ordens HonoríÆcas, mas
não explicou por que razão a Presi-
dência fez nota pública de algumas
dessas condecorações e de outras
não.

Famílias & direitos humanos
Opinião
Elza Pais
Falar de família tradicional é falar
de um sistema opressor dos
direitos, em que estes não eram
reconhecidos às mulheres. Nas
civilizações antigas as mulheres
não tinham direitos jurídicos e
equiparavam-se aos servos, sendo
submetidas à autoridade
masculina que passava dos pais
para os maridos, que, em
algumas circunstâncias, tinham o
poder de as matar. O casamento
era uma forma de transmissão de
bens, podendo ser as mulheres
trocadas, cedidas ou emprestadas
entre os homens, como é referido
em literatura cientíÆca sobre esta
matéria.
A partir de meados do século
XIX desenvolveu-se um novo
conceito de “Lar”, que passou a
signiÆcar, primeiro para a
burguesia e depois para todas as
outras classes, o centro do amor,
uma fortaleza segura contra um
mundo hostil. Estas
representações dominantes das
famílias, como sendo um grupo
coeso, assentavam em
pressupostos morais e ideológicos
muito ambíguos, opondo-se a esse
discurso da coesão a imagem das
famílias como lugar de violência e
de desigualdades entre os seus
membros, onde eram maiores os
riscos de as mulheres serem
agredidas que em outro lugar
qualquer.
Falar hoje de ideologia de
género é uma forma de atacar os
direitos humanos,
internacionalmente reconhecidos
em convenções e tratados, que
Portugal subscreveu e tem de
cumprir. Os direitos das mulheres
são direitos humanos, como
proclamado na Conferência sobre
Direitos Humanos em Viena, em
1993, e na IV Conferência Mundial
sobre as Mulheres, em 1995, em
Pequim.
Foram momentos históricos em
que as Nações Unidas declararam
pela primeira vez que “os direitos
humanos das mulheres são uma
parte inalienável, integrante e
indivisível dos direitos humanos
universais”, abrindo-se um
caminho para que homens e
mulheres possam fazer o que
livremente querem e não o que é
ditado pela cultura de um género
que seja o seu, como disse C. Rêgo.
De igual modo, a Carta dos
Direitos Fundamentais da União
Europeia, de 2000, expressa
claramente a garantia da
igualdade entre homens e
mulheres em todos os domínios da
vida em sociedade, fazendo jus
aos seus valores fundadores do
respeito pela dignidade humana,
liberdade, democracia e
igualdade, incluindo os direitos
das pessoas pertencentes a
minorias, para uma sociedade que
se deve caracterizar pelo
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 11
pluralismo, não-discriminação,
tolerância, justiça e solidariedade.
Não há ideologia de género. Há
direitos humanos que são violados
ou assegurados.
Os direitos das mulheres são
direitos humanos, bem como os
direitos das pessoas LGBTQI+, e de
todas as minorias. E as políticas
que temos desenvolvido não são
contra ninguém, são apenas
contra o sofrimento humano.
Se nada temos contra os
modelos tradicionais de família,
Falar hoje
de ideologia
de género é uma
forma de atacar
os direitos
humanos
Política
também nada temos contra os
novos modelos de família. Tudo
temos contra contextos onde as
pessoas são agredidas e
maltratadas. E o conhecimento
tem provado que a probabilidade
de os direitos das pessoas não
serem assegurados é maior nas
famílias tradicionais, onde
historicamente os direitos das
mulheres nem na lei eram
respeitados.
A diversidade dos modelos
familiares é a única que assegura a
defesa dos direitos humanos, a
livre escolha e garante a
não-discriminação em função da
orientação sexual e identidade de
género.
Tudo pela diversidade e
integração.
Tudo contra modelos que
excluem e em que os direitos
humanos não são respeitados.
Investigadora em violência
de género e presidente
das Mulheres Socialistas
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12 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024

Sociedade Abandono escolar precoce

Tribunal
aponta falhas
no combate
ao abandono
Tribunal de Contas apresentou, em 2020,
recomendações à tutela para suprir
falhas, mas nenhuma foi cumprida
Cristiana Faria Moreira
Apesar de assinalar como “muito
positiva” a diminuição na taxa de
abandono escolar precoce que vem
sendo registada há décadas, o Tribu-
nal de Contas (TdC) critica o anterior
Governo por não ter executado seis
recomendações que resultaram de
uma auditoria que o próprio tribunal
realizou em 2020 e que visavam uma
melhoria na monitorização e com-
bate a este fenómeno. Entre estas, os
juízes conselheiros assinalam não ter
sido lançada, de forma efectiva, a
“estratégia global para o combate ao
abandono que integre uma estrutura
de monitorização e avaliação” até ao
Ænal de 2023, ano em que esta taxa
subiu ligeiramente, situando-se nos
8%, mais 1,5 pontos percentuais do
que no ano anterior.
O relatório de seguimento das
recomendações da auditoria “Aban-
dono Escolar Precoce”, tornado
público esta terça-feira, faz vários
reparos à forma como o Ministério
da Educação, liderado por João Cos-
ta até ao início de Abril, geriu este
mação dos alunos e formandos”, ao
invés de continuarem a existir diver-
sos sistemas de informação, sendo
difícil o cruzamento de dados entre
eles. “Nem a Direcção-Geral de Esta-
tísticas da Educação e Ciência, até
Maio de 2022, nem, posteriormente,
o Instituto de Gestão Financeira da
Educação promoveram quaisquer
acções que tenham colmatado tais
deÆciências e, segundo este, existem
trabalhos suspensos em virtude da
reestruturação dos serviços e, entre-
tanto, anunciou estar a desenvolver
procedimentos para concretizar a
interoperabilidade dos sistemas”,
refere o relatório.
Os juízes notam ainda não terem
sido implementados sistemas de
controlo eÆcazes para o cumpri-
mento dos deveres de matrícula e
de frequência na escolaridade obri-
gatória. E deixam ainda uma crítica
ao facto de, em termos orçamentais,
não ser claro o montante afecto ao
combate ao abandono escolar, não
tendo sido registada “qualquer evo-
lução na transparência e detalhe da
Açores são a segunda região da UE com mais abandono escolar precoce
informação”.

tema ao longo dos últimos anos. Os
juízes começam por notar as debili-
dades existentes na monitorização e
avaliação de medidas especíÆcas de
combate ao abandono escolar pre-
coce, por permanecerem autónomas
e com periodicidade diversa, o que
impossibilita ter uma “panorâmica
global e integrada do combate ao
abandono”.
A par disso, o TdC critica o facto
de os conceitos de abandono e de
risco de abandono, assim como os
seus indicadores, continuarem sem
ter uma deÆnição, o que pode gerar
“desconformidades de registo pelas
escolas”, comprometendo a “Æabili-
dade dos dados”. No combate a este
fenómeno, os juízes conselheiros
consideram ser fundamental mapear
o abandono e sinalizar os alunos em
risco, assim como saber que razões
levaram a esse desfecho. Para tal,
seria útil a criação de um “sistema de
gestão escolar que concentre a infor-
O relatório nota ainda que, no sis-
tema educativo nacional, continua a
não haver indicadores apropriados
para medir o abandono. Essa medi-
ção é, de resto, apurada pelo Institu-
to Nacional de Estatística (INE), atra-
vés do Inquérito ao Emprego, o que
“tem limitações” por não integrar os
alunos em idade escolar (dos seis aos
18 anos). Os juízes reforçam “a neces-
sidade de se dispor de um indicador
especíÆco para o abandono”, que
traduza a sua “real dimensão”.
Ministério refuta críticas
Apesar da diminuição notória no
número de alunos que saem do siste-
ma educativo sem terem concluído o
ensino obrigatório nas últimas déca-
das (em 1992, a taxa de abandono
precoce da educação e formação
situava-se nos 50%), essa tendência
de decréscimo que se registava há
vários anos sofreu um recuo: a dimi-
nuir ininterruptamente desde 2017,
U
m em cada quatro jovens da
região dos Açores, entre os
18 e os 24 anos, está em
“situação de abandono
escolar precoce”. Segundo
Fernando Diogo, sociólogo,
professor associado da
Universidade dos Açores e
investigador do Centro
Interdisciplinar de Ciências
Sociais, aquele é o segundo valor
mais elevado da União Europeia,
logo a seguir ao da Guiana
Francesa, na América do Sul.
Comparativamente ao
continente, o abandono escolar
é mais predominante nas regiões
autónomas, particularmente nos
Açores. Porquê? Fernando Diogo
avança com duas respostas: uma
factual e outra hipotética. “A
resposta factual é: ninguém
sabe. Absolutamente ninguém
sabe”, repete o sociólogo. “Não
sabe o governo regional, não
sabem os cientistas, não sabem
os sindicatos, não sabem os
parceiros sociais, ninguém sabe.”
E a outra? A resposta
hipotética é esta: o abandono
escolar precoce mais resistente
a desaparecer situa-se nas
categorias sociais mais baixas.
No fundo, há uma relação íntima,
como diz o sociólogo, entre
pobreza e abandono escolar.
Há registos positivos em
Portugal continental, na região
Norte, e níveis de abandono mais
elevados, quer no Alentejo, quer
no Algarve. No primeiro caso, o
Norte foi capaz de inverter níveis
elevados de abandono nos anos
90 e tem sido a região que mais
tem progredido, aproximando-se
dos valores da Área
Metropolitana de Lisboa, a região
do país que regista níveis menos
elevados.
Tal como existem diferenças
entre regiões, ou entre
continente e ilhas, também
existem diferenças entre
géneros. É nas classes sociais
mais baixas que a “diferença
entre rapazes e raparigas é
maior” e é nas “classes mais altas
que essa diferença é mais
pequena, a ponto de ser quase
invisível”, explica Fernando
Diogo.
Comentando o relatório do
Tribunal de Contas, divulgado
ontem, sobre abandono escolar,
o sociólogo sublinha que os
diversos estudos internacionais,
nomeadamente o PISA,
“mostram, de facto, que há uma
evolução muito positiva ao
longo dos últimos 30 anos e que
tem atravessado vários
governos”. Amílcar Correia

aumentou 1,5 pontos, chegando aos
8%. Em 2020, esta taxa Æxava-se nos
9,1%, tendo descido para os 6,7% em
2021 e para os 6,5% em 2022.
Quando foi conhecido o valor de
2023, o Ministério da Educação jus-
tiÆcou essa inversão com os “anos
atípicos” da pandemia, aÆrmando
que o valor de 2023 deveria ser com-
parado com 2020, uma vez que
durante esse período houve uma
“menor pressão sobre o desempe-
nho escolar dos alunos”.
Face a este contexto, os juízes refor-
çam que as recomendações formula-
das pelo Tribunal de Contas em 2020
“mantêm toda a actualidade e perti-
nência”, devendo por isso ser aplica-
das. No exercício de contraditório
previsto nestes casos, a anterior equi-
pa ministerial considerou que o país
“já não tem um problema de abando-
no generalizado”, reconhecendo,
porém, “a necessidade de continuar
a desenvolver estratégias, medidas
concretas de política educativa e indi-
cadores que permitam melhor conhe-
cer e agir sobre situações de abando-
no que ainda persistem”.
DANIEL ROCHA
Refutou ainda a generalidade dos
reparos deixados pelo TdC, notando
que o combate ao abandono escolar
tem sido “efectivamente alcançado”
com iniciativas como a universali-
zação da educação pré-escolar, a
deÆnição do perÆl dos Alunos à Saí-
da da Escolaridade Obrigatória, o
reforço da Acção Social Escolar
(ASE), o alargamento dos Territórios
Educativos de Intervenção Prioritá-
ria (TEIP), assim como os planos
gizados para o combate ao insuces-
so escolar e recuperação das apren-
dizagens.
A equipa do Ministério da Educa-
ção, que entretanto cessou funções,
fez questão de salientar a “comple-
xidade” e a “interdependência do
fenómeno do abandono”, o que diÆ#
culta que algumas questões se iso-
lem, quer do ponto de vista opera-
cional, quer orçamental. E deu como
exemplo a universalização do acesso
ao pré-escolar ou do reforço da ASE
como medidas que visam, como
objectivo último, dar mais condições
aos alunos para que prossigam os
estudos e não deixem a escola.
PSP e GNR guardam 1,5 milhões
de bens apreendidos. Há processos
com mais de 30 anos
Sónia Trigueirão
IGAI fez um levantamento
da situação em que
se encontram os bens
apreendidos no âmbito
de processos judiciais
A Polícia de Segurança Pública (PSP)
e a Guarda Nacional Republicana
(GNR) guardam, nas suas instalações,
mais de 1,5 milhões de bens apreen-
didos no âmbito de processos judi-
ciais. Porém, mais de 485 mil bens já
não estão em bom estado de conser-
vação e deveriam ter como destino o
lixo. As conclusões são da Inspecção-
Geral da Administração Interna
(IGAI), que fez um levantamento da
situação em que se encontram os
bens apreendidos e/ou declarados já
perdidos a favor do Estado nas insta-
lações da PSP e da GNR. O volume de
bens apreendidos tem colocado diÆ#
culdades na gestão do espaço e a IGAI
recomenda que numa mudança legis-
lativa seja criado um “procedimento
obrigatório de revisão das medidas
de apreensão”, que não dependa de
um pedido dos interessados.
As auditorias decorreram durante
o ano de 2022, tendo Æcado concluí-
das no Ænal de 2023, e incidiram
sobre os 20 comandos da PSP e sobre
os 27 comandos territoriais e unida-
des da GNR. Em muitos casos, trata-se
de objectos apreendidos em proces-
sos com arguidos condenados por
decisões transitadas em julgado, mas
em que não foi dado destino aos bens.
Outras situações existem em que
foram já declarados perdidos a favor
do Estado, mas que continuam a car-
go da PSP e da GNR, sem que o tribu-
nal determine a entidade à qual
devem ser entregues. Outros são pro-
vas de processos em curso.
Segundo as auditorias, estes bens
estão guardados nas instalações da
PSP e da GNR em todo o país, alguns
há décadas — foram encontrados bens
de processos com mais de 20 ou 30
anos — nos corredores, nos gabinetes,
nas arrecadações e garagens. Enchem
até os parques exteriores e cavalariças
no caso de instalações da GNR. Em
causa está uma grande diversidade
de bens, além dos mais óbvios, como
automóveis — ou outro tipo de veícu-
los, como é o caso de motociclos ou
bicicletas —, armas e telemóveis.
Carros em campo de futebol
De acordo com a IGAI, a PSP tem à
sua guarda um total de 65.568 objec-
tos, associados a 10.706 processos.
Dos bens guardados há mais tempo
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 13
destacam-se os automóveis. Por
exemplo, no Comando Distrital de
Bragança há 30 veículos, dos quais 22
estão em mau estado. Existem viatu-
ras que foram apreendidas entre
2005 e 2022.
No Comando Distrital de Coimbra,
destacam-se 116 veículos, dos quais
107 em mau estado de conservação.
No Comando Metropolitano de Lis-
boa estão guardados 26.930 objectos
— 863 são veículos, a grande maioria
já se encontra em muito mau estado
de conservação. Existe uma viatura
cujo processo tem mais de 31 anos.
Já no que diz respeito à GNR, esta
força de segurança tem à sua guarda
um total de 1.447.356 objectos, asso-
ciados a 15.181 processos. Destaca-se,
por exemplo, o Comando Territorial
dos Açores, que tem à sua guarda, há
24 anos, 300 blusões de napa. Mas os
veículos também dominam no que
respeita a processos com mais anos e
a bens que ocupam mais espaço.
No Comando Territorial de Aveiro,
que tem 7789 bens à sua guarda, des-
tacam-se 183 viaturas. A data de
apreensão da mais antiga é 1995. A
elevada quantidade de bens apreen-
didos extravasa de tal forma a capa-
cidade das suas instalações que já
implicou o recurso ao campo de fute-
bol para parquear 18 viaturas e às
celas inoperacionais para guardar
bens referentes a 100 processos. No
Destacamento Territorial de Odemira
Estes bens estão
nos corredores,
nos gabinetes,
nas arrecadações
e garagens. Ou até
em cavalariças
Só à guarda da PSP estão mais de 1600 viaturas
Sociedade
guardam-se 61 veículos e 28 motoci-
clos nas cavalariças, e no Posto Terri-
torial de Cantanhede há 27 ferramen-
tas de construção civil a ocupar espa-
ço na arrecadação há 35 anos.
Bens “inúteis”
No caso da PSP, a auditoria da IGAI
chamou ainda particular atenção
para os 22.549 bens “da categoria de
‘outros’, onde se inclui uma extraor-
dinária listagem de material”, a qual
diz não conseguir “caracterizar a não
ser como ‘lixo’, com enorme proba-
bilidade de se constituírem inúteis
para os processos”. Já no caso da
GNR, que tem um número muito
superior de bens à sua guarda, a IGAI
indica que há 463.340 bens, classiÆ#
cados como “outros”, que “com mui-
to probabilidade tornar-se-ão inúteis
para os respectivos processos”.
Assim, a IGAI, para tentar resolver
estes problemas, recomenda que os
diversos comandos da PSP e os
comandos territoriais e unidades da
GNR solicitem reuniões com os tribu-
nais e apresentem o levantamento
feito a Æm de obterem orientações e/
ou revisão das medidas de apreensão.
Tendo em conta o elevadíssimo
número de viaturas apreendidas e à
guarda da PSP (1623) e da GNR (1761),
a IGAI sugere que seja remetida infor-
mação ao Gabinete de Administração
de Bens quando puderem ser decla-
radas perdidas a favor do Estado para
lhes ser dado destino. Recomenda
ainda que as duas forças criem “pro-
cedimentos claros e padronizados
sobre o registo de objectos, cataloga-
ção, inventário e guarda dos bens e,
tal como a Autoridade de Segurança
Alimentar e Económica (ASAE),
devem equacionar a criação de arma-
zéns centrais com o apoio do Minis-
tério da Administração Interna”.
RUI GAUDÊNCIO
14 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Sociedade
Governo do PS deixou acautelado
modelo de vida independente
Ana Cristina Pereira
Modelo definitivo alarga
número de horas semanais
de 40 para 56 e baixa idade
de acesso de 16 para 14 anos
Foi mesmo no Æm, mas o Governo
liderado por António Costa não dei-
xou o assunto nas mãos do seu suces-
sor. Antes de dar o lugar, tratou da
burocracia em falta para fazer do
Modelo de Apoio à Vida Independen-
te — Assistência Pessoal uma política
pública.
Reivindicado pelas pessoas com
deÆciência e pelas associações que as
representam, o Modelo de Apoio à
Vida Independente — Assistência Pes-
soal foi criado pelo primeiro Governo
de António Costa em 2017. Tornou-se
uma espécie de bandeira de primeiro
executivo com uma secretária de
Estado da Inclusão, Ana SoÆa Antu-
nes. Um conjunto de projectos-piloto
foi lançado em 2019, em simultâneo,
em várias partes do país, para “per-
mitir a inovação e a aprendizagem”.
Através do Programa Operacional
Inclusão Social e Emprego, foram
executadas 13 operações na região
norte, nove na região centro e cinco
região do Alentejo. O Ænanciamento
europeu para aquela experiência ter-
minou em 2023. Para continuar, teria
de ser o Estado a assegurá-lo. Seguin-
do o previsto na Estratégia Nacional
Idosos desaparecidos: ERS diz que hospitais
devem cumprir acompanhamento dos utentes
Daniela Carmo
A Entidade Reguladora da Saúde
(ERS) publicou ontem um alerta para
que o direito ao acompanhamento
dos utentes seja garantido, “em per-
manência”, em particular das pessoas
com deÆciência, em situação de
dependência, com doença incurável
em estado avançado ou em estado
Ænal de vida nos diferentes estabele-
cimentos prestadores de cuidados de
saúde. De acordo com a nota divulga-
da, têm chegado ao conhecimento
deste regulador situações nas quais
utentes com deÆciência ou nas con-
dições anteriormente referidas não
vêem esse direito garantido, o qual
está consagrado legalmente.
Quanto às “situações verdadeira-
mente excepcionais”, em que ocorra
para a Inclusão das Pessoas com DeÆ#
ciência 2021-2025, o modelo devia
tornar-se deÆnitivo.
No dia 6 de Dezembro, foi publica-
da no Diário da República (DR) a por-
taria que “Autoriza o Instituto da
Segurança Social, I.P., a proceder à
realização de protocolos visando a
implementação de Centros de Apoio
à Vida Independente”. No dia 7, a que
“estabelece as condições de criação,
instalação, organização e funciona-
mento a que deve obedecer a respos-
ta social serviço de assistência pessoal
de apoio à pessoa com deÆciência ou
incapacidade”. Ontem, o DR traz o
despacho que deÆne “os termos de
organização e funcionamento da
Modelo de apoio à vida independente foi criado em 2017
a decisão de não-acompanhamento
dos utentes, que devem ser funda-
mentadas, indica a ERS, “deve ser
garantida a existência de procedi-
mentos internos aptos a assegurar
que, durante a permanência nos esta-
belecimentos prestadores de cuida-
dos de saúde, as pessoas com deÆ#
ciência (...) são devidamente monito-
rizadas e acompanhadas, de forma
consentânea com a veriÆcação de
eventuais alterações do seu estado de
saúde”.
Recordando o “especial cuidado”
do legislador na garantia do direito
destes utentes a serem acompanha-
dos nos estabelecimentos de saúde
públicos, privados ou dos sectores
cooperativo ou social, a ERS sublinha
que o acompanhamento pode ser
assegurado por “ascendente, descen-
equipa multidisciplinar nacional de
apoio ao Modelo de Apoio à Vida
Independente”.
Em Outubro, mais de 700 assisten-
tes pessoais ajudavam quase 1100
pessoas a realizar actividades da vida
diária, como alimentar-se, tratar da
higiene pessoal, vestir-se, deslocar-se
a algum sítio, frequentar sistema edu-
cativo ou formativo, procurar empre-
go, trabalhar, ter acesso a cultura,
lazer, desporto”. A ideia era, no Ænal
de 2024, chegar aos três mil beneÆ#
ciários. Naquela altura, já estavam
cerca de duas mil pessoas em lista de
espera. E a idade de acesso ao mode-
lo baixou dos 16 para os 14 anos.
Não é o único acerto nesta transi-
DANIEL ROCHA
dente, cônjuge ou equiparado” ou, na
ausência destes ou por vontade do
doente, este pode indicar uma outra
pessoa. “Considerando que, apesar de
estar prevista, a possibilidade de intro-
dução de limites ao direito de acompa-
nhamento, tal não poderá assumir-se
como regra aplicável de forma irrestri-
ta e indeterminada para toda e qual-
quer situação, sem a necessária pon-
deração circunstanciada de cada caso
concreto”, diz ainda o regulador.
Em Janeiro, a ERS anunciou que
Na última
semana,
desapareceu um
homem de 82
anos depois de
entrar no
hospital da Feira
ção de projecto-piloto para resposta
social. Também foi alargado o núme-
ro de horas de apoio que uma pessoa
pode ter: de 40 para as 56 horas sema-
nais. “As horas de apoio podem ser
disponibilizadas de forma consecuti-
va ou cumulativa, sendo o limite
máximo por pessoa destinatária de
56 horas por semana”, lê-se na porta-
ria de dia 7. “Em situações excepcio-
nais e devidamente fundamentadas
e referenciadas pela equipa técnica à
equipa multidisciplinar, quando a
plena realização do projecto de vida
independente da pessoa destinatária
implique um número de horas sema-
nais de apoio superior ao estabeleci-
do no número anterior, pode aquele
limite não ser observado, devendo as
horas de apoio corresponder às
necessárias na situação em concreto,
até às 24 horas diárias.”
No caso das pessoas que se encon-
tram em idade escolar, o assistente
pessoal passa a poder prestar apoio
directamente na escola. E já não se
trata apenas de ter um assistente
social. Agora, esse serviço “pode ser
complementado através do Ænancia-
mento a rendas destinadas à habita-
ção, a transportes e a acessibilida-
des”. Para operacionalizar esta res-
posta social, novos centros de apoio
à vida independente deverão abrir
nas mais diversas partes do país e
novos assistentes pessoais terão de
ser contratados. Foi estimado um
custo anual de 33 milhões de euros.
em 2023 recebeu 994 queixas relacio-
nadas com problemas no acompa-
nhamento de doentes aos serviços de
urgência. O desaparecimento e pos-
terior morte de uma mulher com
Alzheimer que tinha sido impedida
de entrar acompanhada nas urgên-
cias do Hospital Francisco Xavier
ajudou a alertar para as falhas na apli-
cação de uma legislação que existe
desde 2014. A família da idosa iniciou
uma petição a solicitar mecanismos
que previnam o desaparecimento de
pessoas com demência. Na última
semana desapareceu um homem de
82 anos que entrou nas urgências do
Hospital São Sebastião, em Santa
Maria da Feira, e, entre exames de
diagnóstico, deixou de ser localizado
pelos proÆssionais dessa unidade.
com Lusa
Verificação
de baixas
facilitada a
partir de dia 15
Os médicos que integram as juntas
médicas passam, a partir da próxima
segunda-feira, a ter acesso directo à
informação clínica do utente, que
deixa de precisar de ir ao médico de
família pedir o relatório médico, foi
ontem anunciado.
Segundo a Direcção Executiva do
Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS),
o tempo que os médicos perdiam na
consulta apenas para emitir o relató-
rio para o utente levar à junta médica
pode melhorar o acesso dos doentes
aos cuidados de saúde. Este pedido
recorrente de relatórios actualizados
ao médico de família, feito pelo uten-
te, “gerava idas evitáveis deste à sua
Unidade de Saúde e consumo desne-
cessário de consultas de Medicina
Geral e Familiar”, indica o organismo
liderado por Fernando Araújo, em
comunicado.
Esta desburocratização das veriÆ#
cações de baixas médicas entra em
vigor a partir de dia 15, segunda-feira,
depois de realizada a formação aos
médicos que integram as juntas da
Segurança Social. A DE-SNS refere
que a formação irá abranger um uni-
verso de cerca de meio milhão de
declarações que são emitidas todos
os anos.
“São aproximadamente 500 mil con-
sultas que Æcarão disponíveis para
doentes que necessitem realmente de
avaliação pelo seu médico de família,
aumentando o acesso em tempo útil
ao SNS”, acrescenta.
Citado no comunicado, o director
executivo do SNS lembra as outras
medidas levadas a cabo para desbu-
rocratizar o sistema, como a autode-
claração de doença, a possibilidade
de emissão de certiÆcados de incapa-
cidade temporária (baixas) nos servi-
ço de urgência e nas instituições de
saúde privadas e sociais e o aumento
o período de baixa para situações
oncológicas, cardiovasculares e cirúr-
gicas.
Recorda ainda o aumento da vali-
dade das receitas e dos exames para
12 meses e a criação do mecanismo
de acesso de medicamentos para
doenças crónicas de forma simples
nas farmácias comunitárias, lembran-
do que estas passaram ainda a fazer
a vacinação sazonal (gripe e covid-19).
“As medidas de simpliÆcação admi-
nistrativa, que eram há mais de 10
anos reclamadas pelos médicos e
utentes, foram implementadas num
ano, com impacto signiÆcativo: pre-
sume-se que serão anualmente mais
de dois milhões de consultas médicas
evitadas apenas para resolver ques-
tões burocráticas”, sublinha Fernan-
do Araújo. Lusa

Suspeitas de encobrimento de abusos por
bispo D. José Ornelas ainda não dissipadas
Ana Dias Cordeiro
e Ana Henriques
Segundo o MP, foram
arquivados 39 inquéritos
relativos a abusos de
menores no seio da Igreja.
São dois terços do total
O inquérito instaurado para investi-
gar uma denúncia de encobrimento
sobre o bispo D. José Ornelas, que
preside à Conferência Episcopal Por-
tuguesa (CEP), continua sob investi-
gação do Departamento de Investi-
gação e Acção Penal (DIAP) de Lis-
boa, há mais de 18 meses. O processo
foi aberto no Æm de Setembro de
2022, na sequência de cópia de uma
participação apresentada por parti-
cular e recebida da Presidência da
República, que enviou para a Procu-
radoria-Geral da República (PGR). A
informação foi conÆrmada pelo gabi-
nete de imprensa da PGR.
Além desse processo em Lisboa,
que se encontra em segredo de jus-
tiça e sobre o qual não é possível ter
informação, solicitada à PGR, sobre
a constituição de arguidos, foi aber-
to, já em Outubro de 2022, um inqué-
rito na secção de Guimarães do DIAP,
que decorre da mesma participação
visando D. José Ornelas, bispo de
Leiria e Fátima, numa parte relativa
a circunstâncias distintas.
Este inquérito conheceu despacho
Grupo para saúde da comunidade LGBTI integrado na DGS
Patrícia Carvalho
O grupo criado no ano passado para
acompanhar a implementação da
Estratégia de Saúde para as Pessoas
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e
Intersexo — LGBTI foi, desde o início
deste mês, integrado na Direcção-Ge-
ral da Saúde (DGS), como um Grupo
Consultivo para a Diversidade Sexual
e de Género. A mudança foi uma for-
ma de garantir que o trabalho já des-
envolvido iria continuar, face aos
receios de que a mudança de Governo
pudesse signiÆcar o seu Æm.
A alteração foi publicada ontem em
Diário da República, com a referência
de que a missão permanece idêntica
à que fora deÆnida desde o início do
trabalho e que passa por “avaliar a
implementação da Estratégia de Saú-
de para as pessoas LGBTI”. Como?
“Analisando as forças, as oportunida-
Ænal de arquivamento, numa parte,
tendo sido, no entanto, extraída uma
certidão para ulteriores investigações
com a abertura de um inquérito que
se encontra igualmente em investiga-
ção e sujeito a segredo de justiça, no
DIAP de Leiria, conÆrmou o PÚBLICO
junto da PGR.
Pelas contas do Ministério Público
(MP), foram arquivados até ao
momento 39 inquéritos relacionados
com denúncias, mais oito do que
aqueles que tinham sido objecto de
arquivamento até Dezembro passa-
do.
Há quatro meses mantinham-se
sob investigação 14 inquéritos, núme-
ro que agora baixa para menos de
uma dezena, tendo em conta arqui-
vamentos que entretanto ocorre-
ram.
Numa avaliação global, e mesmo
se em casos pontuais uma denúncia
pode ter dado lugar à abertura de
mais do que um inquérito, os 39 des-
pachos de arquivamentos correspon-
dem a mais de dois terços do total de
56 denúncias ao MP.
Duas das 20 denúncias remetidas
até ao momento à PGR pelo grupo
Vita ainda não foram analisadas: che-
garam muito recentemente e irão
agora ser remetidas aos departamen-
tos competentes do MP, à semelhan-
ça das anteriores.
Das restantes 18, “duas foram logo
arquivadas, uma vez que da análise
inicial resultou inequivocamente que
des e as diÆculdades associadas à
estratégia” e identiÆcando lacunas
que persistam “a nível da prevenção,
promoção da saúde, acesso e presta-
ção de cuidados a pessoas LGBTI,
especialmente no que tange ao fun-
cionamento da rede de cuidados para
pessoas trans e intersexo e aos proce-
dimentos administrativos e outros
associados ao acesso e prestação des-
ses cuidados”.
A identiÆcação de oportunidades
de melhoria da resposta dos serviços
de saúde, especializados ou não nos
cuidados a pessoas LGBTI, e a pro-
posta de medidas para resolver as
diÆculdades identiÆcadas, “de modo
a promover e replicar boas práticas”,
inscrevem-se também entre os objec-
tivos deste grupo. A psiquiatra e
especialista em sexologia Zélia
Figueiredo continuará a assumir fun-
ções de coordenadora.
Bispo de Leiria e Fátima negou
conhecimento dos abusos
quando o caso veio a público
Duas das 30
denúncias
remetidas pelo
grupo Vita ainda
não foram
analisadas
É ela quem recorda que o grupo
foi criado por iniciativa da secretária
de Estado para a Promoção da Saúde
do Governo anterior, Margarida
Tavares, tendo começado a trabalhar
em Maio do ano passado.
“O grupo não tem muito tempo,
todas as questões que trata são mui-
to complicadas e demoram imenso
tempo. Mas está tudo em andamen-
to e queríamos garantir que o traba-
lho já feito ia continuar, porque o
contrário era muito mau e tínhamos
algum receio de que pudesse aca-
bar”, aÆrma.
Mudança visou
garantir
continuidade do
trabalho,
antecipando
mudança de
Governo
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 15
PAULO PIMENTA
o procedimento criminal se encon-
trava prescrito”, enquanto as outras
deram origem a 16 inquéritos, refere
a PGR em comunicado, tendo 11
deles sido entretanto arquivados, na
grande maioria dos casos por pres-
crição, mas também por falta de
queixa das vítimas ou insuÆciência
de indícios. Assim, restam cinco
casos ainda sob investigação no que
ao grupo Vita diz respeito.
Relativamente à investigação
visando o bispo D. José Ornelas, no
DIAP de Lisboa, ela teve início, em
Setembro de 2022 por eventual
“comparticipação em encobrimen-
to” de casos de abusos sexuais sobre
crianças acolhidas num orfanato
Receios nascidos com a viragem à
direita que se antecipava para o país,
e que Zélia Figueiredo aÆrma que
têm sido repetidos pelas associações
representativas da comunidade
LGBTI, envolvidas desde o início no
trabalho. E que acabam exacerbadas
por eventos como o lançamento do
livro Identidade e Família, apresen-
tado pelo ex-primeiro-ministro
Pedro Passos Coelho, com referên-
cias a “ideologia de género” como
um ataque à família.
“É engraçado como a direita pega
nisto, a ‘identidade de género’, que
ninguém sabe o que é, para fazer de
bandeira. Não deve ter muito em que
pegar. Só que as pessoas têm muito
pouca informação e [é fácil dissemi-
nar] o ódio aos imigrantes, à popu-
lação LGBT, que é a minoria das
minorias. Tenho algum receio. Toda
a gente tem receio de que o trabalho
Sociedade
dirigido por um padre dehoniano
numa cidade da província moçam-
bicana da Zambézia.
Na altura, contactado pelo PÚBLI-
CO, D. José Ornelas negou que algu-
ma vez tenha tido conhecimento e
encoberto comportamentos desse
tipo desta forma: “Cumpri com toda
a sinceridade com os procedimentos
adequados.” Fê-lo em resposta por
email.
Já o inquérito aberto, uma semana
depois, na secção de Guimarães do
DIAP da Procuradoria da República
da Comarca de Braga, e do qual até
ao momento foi arquivada uma par-
te, e outra remetida ao DIAP de Lei-
ria, dizia respeito a um caso de ale-
gado encobrimento de suspeitas de
abuso sexual de menores envolven-
do um padre ligado à Congregação
dos Sacerdotes do Sagrado Coração
de Jesus a que presidiu. O MP já
investigou este padre pelo menos
uma vez, tendo arquivado o proces-
so em 2015.
O PÚBLICO está a tentar obter
uma reacção do bispo D. José Orne-
las, através do gabinete de imprensa
da CEP, ao facto de o processo aber-
to para o investigar não ter sido
arquivado, mas ainda não obteve
resposta. Da mesma forma, o gabi-
nete de imprensa da PGR não dá
informações sobre o andamento do
inquérito, justiÆcando que este ainda
se encontra, ao Æm de 19 meses, em
segredo de justiça.
já feito possa voltar para trás”, real-
ça.
Por enquanto, contudo, a integra-
ção do grupo na DGS dá algum con-
forto de que a evolução pretendida,
de um melhor acesso aos cuidados
de saúde por parte da comunidade
LGBTI, possa prosseguir.
Entre as propostas já apresentadas
— e que estarão “em andamento”,
garante a coordenadora — está, por
exemplo, a necessidade de garantir
que alguns rastreios não deixam de
fora pessoas que a eles devem poder
aceder.
Zélia Figueiredo dá um exemplo:
“Uma pessoa que tenha feito a tran-
sição do feminino para o masculino
continua a ter útero, mas com a
mudança no registo civil nunca mais
aparece com o género feminino,
logo, não podia fazer o rastreio”,
diz.
16 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Local Na Rua dos Mastros, junto ao Conde Barão, luta-se contra os carros
Estes moradores e comerciantes do centro
de Lisboa querem a sua rua só para peões
Fartos de trânsito intenso e passeios estreitos, pedem o Äm do “ruído constante do motor”.
Tal, dizem, iria reanimar a vida de bairro e ajudar os negócios locais. Mas a junta discorda
Samuel Alemão
“Isto é tão apertado, os passeios são
tão estreitos, que, a cada vez que pas-
sa um carro, temos de nos encolher.
Se vier uma carrinha ou outro veículo
maior, e não dermos um jeitinho, não
dá para eles passarem.” Gonçalo
Rodrigues põe-se de perÆl ao lado da
parede de um prédio, na calçada do
lado esquerdo da Rua dos Mastros,
junto à esquina com a travessa com o
mesmo nome, para exempliÆcar.
Escassos centímetros ao lado, o Çuxo
automóvel desta artéria pitoresca,
situada entre a Rua do Poço dos
Negros e o Largo Conde Barão, na
freguesia da Misericórdia, prossegue
ininterrupto.
O gerente do restaurante Mamma
Gaia Pizza, de 36 anos, convive todos
os dias com ele e sabe bem o incómo-
do que causa. Em particular, o baru-
lho. Mas também a poluição e o facto
de, com frequência, estacionarem
carros junto à lateral do seu estabele-
cimento, tapando-lhe a visibilidade.
É, por isso, um incondicional apoian-
te da ideia de fechar ao trânsito a Rua
dos Mastros e a adjacente travessa do
mesmo nome, para que Æque reser-
vada aos peões e aos modos ligeiros
de mobilidade. É esse o propósito de
uma petição entregue, em Fevereiro,
à Assembleia Municipal de Lisboa e
subscrita por mais de um milhar de
cidadãos – mas que merece as maio-
res reservas da junta de freguesia.
“Pedonalizar estas duas ruas, além
de devolver a segurança e a dignidade
aos peões, signiÆca também eliminar
o ruído constante do motor, melhorar
a qualidade do ar, contribuir para o
combate às alterações climáticas, pro-
porcionar prosperidade dos negócios
locais, criar novos postos de emprego
e recuperar a vida do bairro”, defen-
de o documento, dirigido à Câmara
de Lisboa e que ainda deverá ser apre-
ciado por uma das comissões da
assembleia. O objectivo é que os car-
rinhos de bebé, as cadeiras de rodas,
os idosos e as crianças não tenham de
se sujeitar a circular em passeios com
uma largura a variar entre 60 e 73
centímetros.
Argumentos suÆcientes para justi-
Æcar o “fecho deÆnitivo ao trânsito e
estacionamento de veículos”, diz o
documento entregue pela associação
Lisboa Possível, criada por Ksenia
Ashrafullina e Rita Prates, que se tem
envolvido na luta por uma redução
do protagonismo do automóvel no
Activistas, comerciantes e
moradores dizem que a sua vida
seria muito melhor sem um fluxo
constante de automóveis
“Tem de haver
uma espécie de
pacto
civilizacional para
tornar aqui a vida
mais viável”
espaço público da capital. Foi por
iniciativa deste colectivo de cidadãos,
aliás, que se levou a cabo, no Verão
passado, juntamente com o braço
nacional do partido político pan-eu-
ropeu Volt, uma acção de conscien-
cialização para essa possibilidade.
Durante grande parte do dia 13 de
Julho, um sábado, a população, os
comerciantes e quem mais se quises-
se juntar pôde desfrutar do espaço
público, vedado aos carros. Apenas
se circulava a pé ou em modos suaves
de mobilidade, deixando ainda espa-
ço para debates ao ar livre sobre ques-
tões ambientais, oÆcinas temáticas,
momentos de expressão artística,
mercados alternativos e confraterni-
zação nas esplanadas. Por causa des-
sa interrupção no trânsito, a carreira
de bairro 22B, da Carris, foi desviada
para a vizinha Rua das Gaivotas.
Já depois desse momento, em
alguns sábados das últimas semanas,
e tentando fazer uso do direito de
manifestação concedido aos partidos,
em acções convocadas pelo Volt, a
rua tem sido alvo de várias tentativas
de corte de circulação viária. Contu-
do, tais protestos têm sido sucessiva-
mente impedidos pela polícia. “Tudo
o que temos estado a fazer é um pou-
co como um tubo de ensaio, e que
tem que ver com mostrar o que é pos-
sível fazer, quando as pessoas se jun-
tam e percebem o que está em causa”,
FOTOS: RUI GAUDÊNCIO
diz ao PÚBLICO Ksenia Ashrafullina,
tradutora e moradora naquela zona
há cerca de uma década, enfatizando
o aspecto comunitário da iniciativa.
Envolver a população
“Isto nasceu da conversa que fomos
tendo com as pessoas da rua”, explica
a activista, lembrando todo o trabalho
de consciencialização das pessoas que
ali vivem e trabalham, elucidando-as
pacientemente sobre o que poderiam
ganhar com a alteração de paradigma.
“Seja qual for a mudança que quere-
mos fazer, temos sempre de envolver
a população”, complementa Rita Pra-
tes, que é engenheira química com
mestrado em Tecnologias de Despo-
luição Automóvel e trabalha para a
associação ambientalista Zero.
As referidas acções resultam da
iniciativa de um colectivo que comun-
ga das ideias de reconÆguração do
tecido citadino lançadas por Ton Sal-
vadó, responsável pela criação, em
2016, das “superilhas” de Barcelona.
Enquanto director do planeamento
urbano da capital catalã, foi ele quem
vislumbrou a solução que circunscre-
ve o tráfego automóvel às vias princi-
pais dessas zonas. Permite-se assim
que, dentro desse perímetro, o espa-
ço seja reservado a peões, bicicletas
e trotinetas — mas também para espla-
nadas, zonas verdes e áreas lúdicas,
fomentando a desaceleração do esti-
lo de vida, bem como a redução da
poluição do ar e do ruído.
A convite do Lisboa Possível e da
Zero, Ton Salvadó esteve em Lisboa,
em Agosto de 2022, para explicar o
conceito. Chegou a ser anunciada a
iniciativa “Superbairro por um dia”,
a realizar no mês seguinte, na Praça
das Flores, o que acabou por não
acontecer porque a câmara terá dito
que a data escolhida, 23 de Setembro,
já não a permitiria incluir na edição
desse ano da Semana Europeia da
Mobilidade. Certo é que as sementes
dessa crença numa forma diferente
de ver a cidade estarão a dar frutos.
A ideia de eliminar a circulação viá-
ria parece hoje popular naquela zona.
“Acho uma excelente ideia. A minha
rua está transformada num parque
de estacionamento, com carros para-
dos mesmo em frente à minha porta”,
conta ao PÚBLICO Fátima Matos, 66
anos, moradora no número 28 da
Travessa dos Mastros. Ocasiões houve
em que, tendo de chamar a ambulân-
cia para assistir o marido, doente
crónico, a assistência se revelou mui-
to difícil, pela quase impraticabilida-
de do acesso. Por sentir o mesmo
incómodo, a vizinha Marta Pinheiro,
62, comunga do mesmo objectivo. E
faz um apelo à acção colectiva.
“Temos de agir como grupo, uma
pessoa só não pode nada”, diz.
O mesmo defende Filipe Resende,
38, gerente do restaurante O Fatica,
a funcionar no número 33 da Rua dos
Mastros. “Tem de haver uma conver-
gência entre comerciantes e morado-
res, uma espécie de pacto civilizacio-
nal para tornar aqui a vida mais viável.
Não podemos estar sujeitos a este
regime constante de buzinas e polui-
ção”, diz o empresário, queixando-se
da circulação incessante de carros
que se agravou nos últimos anos.
Uma opção que a presidente da
Junta de Freguesia da Misericórdia,
Carla Madeira (PS), apenas vê como
exequível na Travessa dos Mastros,
por esta ser usada como “parquea-
mento ilegal”. O mesmo não acontece
com a Rua dos Mastros. “Neste
momento, isso é inviável, sobretudo
pelas obras do metro que têm decor-
rido na zona. De cada vez que se fecha
a Rua dos Mastros, há uma enorme
pressão sobre a Rua das Gaivotas.
Temos recebido muitas queixas de
moradores”, diz a autarca, admitin-
do, todavia, num prazo mais longo, e
quando todas as obras estiverem ter-
minadas, ponderar tal cenário.

Linha do Oeste sem comboios entre Meleças
e Torres Vedras durante quatro meses
Carlos Cipriano
Em vez dos 26 quilómetros
entre Torres Vedras e
Malveira, IP decidiu fechar a
linha até Meleças numa
extensão de 43 quilómetros
A partir de ontem, a linha do Oeste
estará fechada entre Meleças e Tor-
res Vedras para tentar recuperar
algum atraso nas obras de moderni-
zação em curso, que assim poderão
decorrer sem a passagem dos com-
boios.
Há um mês, e segundo fonte oÆcial
da IP, a empresa tencionava apenas
encerrar a linha entre Malveira e Tor-
res Vedras, a Æm de fazer o rebaixa-
mento do túnel da Sapataria (conce-
lho de Sobral de Monte Agraço),
necessário para nele instalar a cate-
nária. Mas, entretanto, foi decidido
estender o fecho até à estação de
Meleças para “permitir a execução
dos trabalhos também em período
diurno e a retirada dos constrangi-
mentos que os traçados actuais têm
sobre os traçados a construir, asse-
gurando uma melhoria na qualidade
e segurança dos trabalhos”. Em cau-
sa está a “renovação da plataforma
de via-férrea e do armamento de
via”, que signiÆca que a linha actual
será inteiramente levantada e subs-
tituída por novos carris, travessas e
balastro.
Idealmente, os trabalhos deve-
riam concentrar-se na electriÆcação
do troço Meleças-Malveira para que
os comboios eléctricos da linha de
Sintra já pudessem chegar a esta
última estação. Desta forma, quan-
do o túnel fechasse para obras, só
haveria transbordo rodoviário entre
Malveira e Torres Vedras. Mas a ges-
tora de infra-estruturas explica que
“o elevado volume de empreitadas
da IP com trabalhos da mesma tipo-
Durante este período a CP
assegura transbordo rodoviário
logia (electriÆcação) introduziu um
constrangimento no planeamento
da empreitada”, pelo que a instala-
ção da catenária só ocorrerá após o
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 17
período de encerramento. Assim,
apesar de a linha estar fechada qua-
tro meses (se não houver atrasos),
quando reabrir, ainda não estará
electriÆcada.
Durante este período a CP assegu-
ra transbordo rodoviário neste troço.
De Torres Vedras para norte os com-
boios continuarão a chegar e a partir
à mesma hora. Mas para sul os horá-
rios foram alterados, porque o auto-
carro demora mais tempo do que o
comboio a servir as estações e apea-
deiros do troço encerrado.
Fonte oÆcial da transportadora
pública diz que “o reajuste na oferta
exigido pelas obras foi preparado
para minimizar os impactos nos
horários já estabelecidos entre Tor-
res Vedras e Caldas da Rainha/Coim-
bra, não comprometendo o efeito de
rede, nem a oferta urbana entre Lis-
boa e Mira Sintra-Meleças”.
O programa Ferrovia 2020 previa
modernizar o troço Meleças–Caldas
Local
da Rainha (metade da linha do Oeste)
entre 2017 e 2020, mas as obras só
começaram em Novembro do ano
em que deveriam ter acabado. Qua-
tro anos depois estão longe de estar
terminadas após sucessivas derrapa-
gens e várias promessas da IP — nun-
ca cumpridas — de que estariam
concluídas no semestre seguinte.
Actualmente a IP diz que as obras
estarão concluídas em Dezembro
deste ano, mas apenas a parte da
renovação da via e a electriÆcação.
A sinalização electrónica e instalação
de modernos sistemas de telecomu-
nicações Æca para 2025.
As obras em curso representam
um investimento de 98,9 milhões de
euros, comparticipados em 39% por
fundos comunitários no pressuposto
de que seriam gastos até Dezembro
de 2023. A IP nunca esclareceu se e
qual o montante de fundos comuni-
tários que se terão perdido pelo não
cumprimento dos prazos.
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18 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Mundo Eleições em Moçambique marcadas para 9 de Outubro
Filhos de fundadores da Frelimo
desaƊam lideranças políticas
O Presidente Filipe Nyusi, que trabalha para impor o seu sucessor na Frelimo, é desaÄado por Samora
Machel Júnior. Enquanto Ossufo Momade tem a hegemonia questionada na Renamo por Venâncio Mondlane
António Rodrigues
A seis meses das eleições presiden-
ciais em Moçambique, a Frelimo, que
domina o país desde a independên-
cia, continua sem nomear o sucessor
de Filipe Nyusi, que cumpre o segun-
do e último mandato na presidência.
Face a esse vazio, um nome perÆla-se
já para desaÆar aquele ou aqueles que
forem escolhidos oÆcialmente, Samo-
ra Machel Júnior, o Ælho do primeiro
chefe de Estado moçambicano.
Do lado de lá da barricada, no prin-
cipal partido da oposição, outro Ælho
de um dos pais fundadores da Freli-
mo, Venâncio Mondlane, Ælho de
Eduardo Mondlane, assassinado em
1969, decidiu avançar para a candida-
tura à presidência da Renamo, dispu-
tando a liderança de Ossufo Momade
no próximo congresso do partido,
marcado para 15 e 16 de Maio.
As discussões para escolher o can-
didato presidencial da Frelimo para
as eleições de 9 de Outubro ainda não
deram em nada. A terceira sessão
ordinária do comité central terminou
no sábado sem a escolha de um nome
para suceder a Nyusi. O actual líder
ganha assim mais tempo para impor
a sua própria escolha, depois de ter
namorado com a possibilidade de
concorrer a um terceiro mandato,
que lhe está vedado pela Constituição
(artigo 147.º).
“Isto signiÆca que volta tudo à pri-
meira forma, com Filipe Nyusi a con-
tinuar com a agenda de ser ele a indi-
car o candidato presidencial”, escre-
ve o Centro para a Democracia e
Direitos Humanos (CDD) no seu últi-
mo boletim. O Presidente quererá
“assegurar uma espécie de continui-
dade do poder, numa altura em que
o actual incumbente tem muitos dos-
siers que vão para lá da cortina do seu
mandato, destacadamente a parceria
com o regime de Kigali, que deve
mandar mais soldados para Cabo Del-
gado para cobrirem as áreas de actua-
ção da Missão Militar da Comunidade
de Desenvolvimento da África Austral
em Moçambique (SAMIM) que vai
abandonar o país em 16 de Julho”.
A menos de dois meses da submis-
são de candidaturas para as presiden-
ciais, legislativas e provinciais ainda
não há pré-candidatos, o que está a
deixar muita gente nervosa, como
escrevia na segunda-feira em editorial
o semanário Dossiers & Factos. “Há já
algum tempo, o dossier da sucessão
vem alimentando debates e dividindo
Em cima: Samito Machel, uma
das vozes mais críticas da
liderança de Nyusi. Em baixo:
Venâncio Mondlane saudando
os seus apoiantes em Maputo
nas últimas eleições
A menos de dois
meses da entrega
de candidaturas
ainda não há
pré-candidatos
na Frelimo
LUÍSA NHANTUMBO/LUSA
opiniões no seio do partido, assim
como na sociedade, sob o espectro
da alegada pretensão do terceiro
mandato por parte do actual presi-
dente do partido e da República, Fili-
pe Nyusi, especulações alimentadas
pela demora e o aparente secretismo
em torno do processo.”
Na semana passada, Óscar Montei-
ro, na reunião da Associação dos
Combatentes de Luta de Libertação
Nacional (ACLLN), organização ligada
à Frelimo, falou no “elefante na sala”,
referindo-se ao facto de a agenda da
reunião do comité central não incluir
a escolha dos pré-candidatos à presi-
PAULO PIMENTA
dência: “Estamos demasiado atrasa-
dos e arriscamos a vitória se conti-
nuarmos neste caminho.” A escolha
Æcou agora marcada para uma reu-
nião extraordinária do comité central
que se realizará no próximo domingo,
dia 14, curiosamente no mesmo dia
em que a Renamo realiza o seu con-
selho nacional.
“O problema da Frelimo é que um
grupo de gente que ao longo de dez
anos se revelou medíocre tem a res-
ponsabilidade de escolher o candida-
to perfeito. Não há como isso dar
certo”, aÆrma o sociólogo moçambi-
cano Elísio Macamo, analista de
assuntos africanos no podcast do
PÚBLICO Na Terra dos Cacos.
“A Frelimo precisa de alguém que
respeite o cargo e que tenha um pro-
jecto político. Infelizmente, nem uma
nem outra coisa fazem parte dos cri-
térios na base dos quais esse tipo de
escolha é feita”, explica Macamo, pro-
fessor na Universidade de Basileia.
“As tradições autoritárias do partido
transformam algo politicamente
importante como a escolha do futuro
chefe de Estado numa coisa parecida
com um concurso de misses: olha-se
para características exteriores.”
Foi perante essa ausência de deci-
sões que um dos principais críticos
da actual direcção decidiu avançar.
Samora Machel Júnior aÆrmou-se
candidato à sucessão. “Samito”, como
é conhecido, já em 2019 se tinha
movimentado para chegar à lideran-
ça e quase foi expulso do partido
quando se candidatou nas eleições
autárquicas como independente.
Sendo uma das poucas vozes da
Frelimo que se manifestaram contra
a fraude nas eleições autárquicas,
Samito Machel dizia, em 2021, ao
PÚBLICO, em Maputo: “Se o partido
achar que tenho qualidades para ser
o escolhido, para ser o eleito, hei-de
aceitar.”
DesaÄo na Renamo
Do lado do principal partido da opo-
sição, as diÆculdades da Frelimo não
parecem estar a servir para cerrar
Æleiras. Aliás, o desaÆo à liderança de
Ossufo Momade chega em conse-
quência das eleições autárquicas,
depois de Venâncio Mondlane ter
conseguido um bom resultado na sua
candidatura à autarquia de Maputo.
Contestado internamente, acusado
de tentar fazer mudanças de delega-
dos apesar de o mandato da actual
direcção ter terminado em Janeiro,
Momade acabou por se ver obrigado
judicialmente a convocar o congres-
so. O Tribunal Judicial da Cidade de
Maputo deu razão à providência cau-
telar de Mondlane, impedindo o
actual presidente de realizar “actos
estruturantes” e levando à convoca-
tória do congresso para 15 e 16 de
Maio. Mondlane fez questão de que
fosse incluído no acordo judicial,
segundo a Lusa, que os membros do
partido devem poder exercer a sua
“liberdade política” e que haja um
“tratamento igual” entre os candida-
tos à liderança.
Para Elísio Macamo, estes sinais de
fraqueza interna da Renamo não
põem em causa a sua capacidade de
ser alternativa, porque “nenhuma
oposição ganha eleições”, são os
governos que as perdem. “Apesar de
tudo o que anda mal em Moçambi-
que, os erros da Frelimo não parecem
ter ainda criado as circunstâncias que
a vão fazer perder eleições.”
Logo, “o desaÆo para a Renamo é
de se organizar para estar pronta
quando esse momento chegar”. E,
nesse aspecto, “as discussões que tem
neste momento parecem-me bastan-
te auspiciosas porque, bem estrutu-
radas, podem tornar o partido mais
robusto e muito melhor preparado
para o debate interno, algo que neste
momento a Frelimo não tem.”
 ENTRADA
LIVRE A PALAVRA
AAOS MÚSICOS
NNOS 50 ANOS
DDO 25 DE ABRIL
1 DE ABRIL
17
CASA DA MÚSICA,
C
PORTO
P

O PÚBLICO e a Casa da 10h30 | SESSÃO DE ABERTURA 16h00 | COFFEE BREAK

Música olham para os David Pontes (director do PÚBLICO)
caminhos que a música • António Jorge Pacheco (director artístico
trilhou desde 1974. da Casa da Música)
Será que a música cumpriu
todo o seu potencial?
Como nos 10H45 | KEYNOTE SPEAKER
Quim Albergaria
internacionalizámos
e que música temos
em 2024? 11h15 | ORGULHOSAMENTE MISTURADOS
A nova realidade da música portuguesa
Entrada livre,
Dino D’Santiago • Pedro Coquenão
mediante reserva em
• Marco Castro • Ana Lua Caiano
casadamusica.com
15h00 | SAIR, MAS COMO?
A projecção da música portuguesa
além-fronteiras. Como o fazer?
Qual a experiência de quem o faz?
Fernando Ribeiro • Júlio Resende
• João Barradas • Márcio Laranjeira
16h30 | APRENDER EM LIBERDADE
Como o ensino da música em Portugal
evoluiu nas últimas décadas.
Gabriela Canavilhas • André Neves (Maze)
• Pedro Neves • Nuno Alves
17h30 | MÚSICOS 360.º
O que é um músico em 2024?
Um artista ou também um marketeer
de si próprio, num mundo de TikTok,
Instagram e Spotify? O desafio de viver
da música num país com défice
de oportunidades.
João Soeiro • Ianina Khmelik
• PZ • Vanessa Pires
18h30 | SESSÃO DE ENCERRAMENTO
Raquel Castro

ORGANIZAÇAO: APOIO:
20 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Mundo
Preservar “o espaço político do centro
é essencial para enfrentar o futuro”
Sofia Lorena
Actuais e ex-dirigentes
de Portugal e Espanha
debateram as transições
democráticas na Fundação
Calouste Gulbenkian
António Costa defende que “não deve-
mos sobrevalorizar a importâncias das
últimas eleições” legislativas em Por-
tugal, que “ocorreram em circunstân-
cias particularmente estranhas”. E
acredita que os resultados de 10 de
Março não põem em causa o que
aponta como “uma das forças da vita-
lidade da democracia em Portugal”, o
“facto de termos conseguido manter
no centro partidário dois grandes par-
tidos que garantiram sempre uma
alternativa”. O agora ex-primeiro-mi-
nistro falava ontem em Lisboa, no
Foro La Toja, um conjunto de debates
em que se olhou o futuro a partir do
que foram “Cinco décadas de Demo-
cracia em Portugal e Espanha”.
Para Costa, o que explica os 50
deputados eleitos pelo “partido popu-
lista de direita” Chega foi sobretudo o
facto de “que os portugueses não sen-
tiram nem no PS nem no PSD tracção
suÆciente para a concentração neces-
sária do voto” que lhes garantisse
“votações acima dos 30%, que foi o
que lhes permitiu governar quando
venceram eleições”. Algo que só acon-
teceu, entende, pela forma como a
anterior legislatura foi interrompida,
na sequência do processo judicial que
levou à sua demissão.
O futuro foi uma constante nas inter-
venções dos participantes nos diferen-
tes painéis do Foro La Toja. Porque se
os últimos 50 anos se Æzeram de um
passado que só o advento das demo-
cracias permitiu que fosse partilhado
pelos dois países da Península Ibéria,
só a defesa dessas mesmas democra-
cias permitirá o progresso comum.
“Duram um quarto de hora”
“A única solução é a moderação polí-
tica”, aÆrmou o ex-primeiro-ministro
espanhol conservador Mariano
Rajoy, num painel em que se juntou
aos ex-primeiros-ministros Francisco
Pinto Balsemão, Felipe González e
ao agora também ex-chefe de Gover-
no português (que agradeceu a “aula
prática de aprender a ser ex-primei-
ro-ministro).
Como Costa, Rajoy acredita que os
“populismos serão derrotados” —
apoiando-se no exemplo do Pode-
mos, o movimento de esquerda que
liderou as sondagens em 2015, che-
gando a ter 71 deputados, e que nas
Foro La Toja debateu medidas
para travar o populismo
últimas legislativas, há menos de um
ano, não foi além dos cinco eleitos, o
antigo dirigente do Partido Popular
disse que “em Espanha surgem par-
tidos que duram um quarto de hora
e logo vêm outros que vão durar outro
quarto de hora”.
O debate, lançado pela moderado-
ra, a jornalista do PÚBLICO Teresa de
Sousa, começara com o socialista
González a apontar Portugal como
Política e defesa
UE e a evolução para os “Estados Unidos da Europa”
Sofia Lorena
Os “órgãos e as instituições” da União
Europeia “não são suÆcientes nem
proporcionam o relevo que a Europa
tem em dimensão”: para Francisco
Pinto Balsemão, isso só mudará “se a
Europa caminhar para ser uma fede-
ração de Estados”. A convicção do
antigo primeiro-ministro social-de-
mocrata é partilhada por Mariano
Rajoy, ex-presidente do Governo
espanhol e membro da mesma famí-
lia política. Face aos “inimigos” China
e Rússia, Rajoy não vê alternativa que
não seja “evoluir para os Estados Uni-
dos da Europa”.
Balsemão e Rajoy participaram na
mesa-redonda que encerrou o Foro
La Toja, um espaço de debate inter-
nacional lançado em 2019 na Galiza
e que desde o ano passado se realiza
também em Lisboa, aqui como Foro
La Toja — Vínculo Atlântico (ver tex-
“um exemplo por ser capaz de pre-
servar o espaço político que será fun-
damental para enfrentar o futuro,
que é o do centro”.
Sublinhando que também em Espa-
nha tem sido essencial o consenso
entre os dois grandes partidos, o seu
Partido Popular e o PSOE de González
— assim se fez a Constituição, a entra-
da na União Europeia, a adesão ao
euro e o regime das autonomias, enu-
to na mesma página).
Como já Æzera na abertura do
fórum o novo ministro dos Negócios
Estrangeiros, Paulo Rangel, Balsemão
apontou a importância da relação
com os estados do Mercosul (Mercado
Comum do Sul) e da América Latina,
com o ex-primeiro-ministro a notar
que Portugal e Espanha poderiam ter
imprimido à UE “uma marca mais
forte, com o que se chama Ibero-A-
mérica”, mas nunca foram capazes
“de absorver completamente essa
capacidade”.
Falando precisamente das negocia-
ções para fechar o acordo comercial
entre a UE e o Mercosul — que levam
já 20 anos e que em Janeiro Emma-
nuel Macron pediu a Bruxelas que
suspendesse —, Costa sublinhou que
“num mundo global” não é possível
ter “autonomia estratégica com um
regresso ao proteccionismo”. Por
isso, defende, “temos de decidir se
DANIEL ROCHA
merou —, Rajoy sustentou que esse
mesmo consenso é essencial para
derrotar o populismo que contamina
as democracias liberais.
Mas foi um pouco mais longe, meses
depois de o actual líder do PP espa-
nhol, Alberto Núñez Feijóo, ter aberto
a porta à possibilidade de uma gover-
nação com a direita radical do Vox, e
defendendo a decisão de “não nego-
ciar com os partidos extremistas”.
Apoio à Ucrânia continua
na agenda dos países ibéricos
queremos discutir o custo de impor-
tar carne da Argentina e do Brasil ou
se vamos perceber que precisamos
da Argentina e do Brasil como aliados
fundamentais” para evitarmos “ser
Sublinhando que um dos maiores
desaÆos das democracias actuais
“tem que ver com as desigualdades e
a percepção que as pessoas têm da
desigualdade”, Costa recuperou o
tema da habitação, que tinha domi-
nado a mesa-redonda anterior, onde
se olhou para “As Cidades na Lideran-
ça da Transformação Social”.
Apesar dos progressos constantes,
também o crescimento das desigual-
dades tem persistido, mesmo nas
democracias mais avançados, notou,
e a “habitação é uma questão central”
neste desaÆo – e um problema “que
vai durar”. Na sua análise, isso acon-
tece porque “há um conjunto de fac-
tores de que não tivemos consciência
antecipadamente”: as taxas de juro
baixas ou negativas que levaram a
que “o capital tenha encontrado refú-
gio no imobiliário”; mas também a
“alteração das dinâmicas familiares”,
com mais pessoas a viver sozinhas,
por exemplo.
Depois, veio a liberdade de circula-
ção de pessoas, que levou “vários
países a apostarem nos [alojamentos]
Airbnb e nos “vistos gold”. E agora,
com os excessos que se conhecem,
“assistimos a um recuo e a uma maior
regulação”. Para o ex-primeiro-minis-
tro , “esse sentido de falta de futuro é
um dos maiores problemas das demo-
cracias”, um problema que “abre
espaço e alimenta os populismos”.
esmagados” entre gigantes como a
China e os Estados Unidos.
Valendo-se de uma experiência de
governação mais recente, Costa apon-
tou que a diÆculdade para chegar à
tal política comum passa precisamen-
te pelas diferentes visões do mundo
dos 27 Estados-membros, cada uma
“marcada pela sua própria experiên-
cia histórica”.
É isso que faz com que países como
Portugal e Espanha, “tradicionalmen-
te fomentadores do consenso”, se
choquem “quando países que são dos
mais favoráveis ao envio de tropas
para a Ucrânia fecham as fronteiras
aos cereais, ovos e galinhas” da Ucrâ-
nia. “Para nós é incompreensível,
mas há vizinhos da Ucrânia [como a
Polónia] que acham tão essencial
ganhar a guerra como impedir as
importações da Ucrânia”, assinalou,
numa “ilustração do exercício prático
dessa diÆculdade”.

Hamas recusa proposta de cessar-fogo israelita
António Rodrigues
França fala em pressão
sobre Israel e sanções
aos colonos para garantir
entrada de ajuda
humanitária em Gaza
No mesmo dia em que o Hamas recu-
sou a proposta de cessar-fogo apre-
sentada por Israel, mas garantiu que
a sua delegação vai continuar a nego-
ciar no Cairo, o ministro dos Negócios
Estrangeiros francês, Stephane
Sejourne, falou em pressionar Israel
e impor sanções aos colonos israelitas
na Cisjordânia para garantir que a
ajuda humanitária chega aos palesti-
nianos na Faixa de Gaza.
“A França foi um dos primeiros paí-
ses a propor sanções da União Euro-
peia aos colonos israelitas que estão
a cometer actos de violência na Cisjor-
dânia. Continuaremos a fazê-lo, se for
preciso, para conseguir a entrada da
ajuda humanitária”, disse Sejourne à
RFI e à France 24. “Tem de haver
poder de inÇuência e há várias formas
que vão até às sanções para conseguir
que a ajuda humanitária passe pelos
postos de controlo.”
A situação na Faixa de Gaza é preo-
cupante, com uma grave crise huma-
nitária que se intensiÆca todos os dias
e não parece a caminho de resolução,
tendo em conta que o Hamas recusou
a proposta israelita para um cessar-
fogo, que lhe chegou através dos
mediadores do Qatar e do Egipto.
“Rejeitámos as últimas propostas
israelitas que nos foram transmitidas
pelo lado egípcio. O politburo esteve
reunido hoje [terça-feira] e assim o
decidiu”, aÆrmou à Reuters Ali
Baraka, dirigente do Hamas.
A organização palestiniana consi-
dera que a proposta é “intransigente”
e não mostra alterações em relação a
posições israelitas anteriores. “Não há
qualquer mudança de posição da ocu-
pação [Israel] e, como tal, não há nada
de novo nas conversações do Cairo”,
disse à Reuters um dirigente do Hamas
que pediu para não ser identiÆcado.
Nas conversações de domingo na
capital egípcia esteve envolvido, além
dos mediadores egípcios e qataris, o
director da CIA, William Burns, num
sinal de maior pressão dos Estados
Unidos sobre o seu aliado israelita
para encontrar uma solução para o
agudo problema humanitário na Fai-
xa de Gaza.
“Vitória total”
Israel estava disposto a trocar mais
presos palestinianos por reféns israe-
litas que estão nas mãos do Hamas
desde o ataque de 7 de Outubro, mas
não admite pôr Æm à operação militar
em Gaza antes de invadir Rafah. Uma
Israel continua a ter na mira Rafah, onde acredita estarem escondidos responsáveis do Hamas
“vitória total” na guerra contra o
Hamas, disse o primeiro-ministro
israelita, Benjamin Netanyahu,
“requer a entrada em Rafah e a elimi-
nação dos batalhões terroristas que
lá estão”. Segundo o dirigente israeli-
ta, “isso irá acontecer” e até já “há
uma data” deÆnida.
O Governo de Israel tem insistido
Tribunal Internacional de Justiça
Alemanha nega acusação de “ajuda a genocídio”
A Alemanha negou, ontem, as acusa-
ções de que estaria a “ajudar o geno-
cídio em Gaza” ao vender armas a
Israel, no âmbito de um processo
apresentado pela Nicarágua ao mais
alto tribunal das Nações Unidas.
Berlim é um dos maiores fornece-
dores de armas a Israel, enviando
326,5 milhões de euros em equipa-
mento militar e armas em 2023, de
acordo com dados do Ministério da
Economia. A Alemanha tem enfren-
tado protestos nas ruas por parte de
grupos que aÆrmam que Israel
matou demasiados civis palestinia-
nos durante o conÇito que se arrasta
há seis meses.
Tania von Uslar-Gleichen, conse-
lheira jurídica do Ministério dos Negó-
cios Estrangeiros alemão, disse aos
juízes do Tribunal Internacional de
Justiça (TIJ) que o processo da Nica-
rágua era precipitado, baseado em
provas frágeis e que deveria ser rejei-
na invasão de Rafah, onde se amon-
toam mais de um milhão de pessoas
famélicas sem lugar para onde fugir,
apesar de toda a pressão internacio-
nal, nomeadamente do seu principal
aliado, os EUA. A intransigência de
Israel e a sua operação militar que
em seis meses matou mais de 33 mil
pessoas e “usa a fome como arma de
tado por falta de jurisdição. As expor-
tações de armas alemãs foram con-
troladas para garantir o cumprimen-
to do direito internacional, aÆrmou.
“A Alemanha está a fazer tudo o
que está ao seu alcance para estar à
altura das suas responsabilidades,
tanto em relação ao povo israelita
como ao povo palestiniano”, acres-
centou.
Von Uslar-Gleichen disse ainda que
a segurança de Israel era uma priori-
dade para a Alemanha devido à his-
tória da dizimação nazi dos judeus no
Holocausto. “A Alemanha aprendeu
com o seu passado, um passado que
inclui a responsabilidade por um dos
crimes mais horríveis da história da
humanidade, a Shoah”, disse ela,
usando a palavra hebraica.
Um advogado da Alemanha, Chris-
tian Tams, disse ao tribunal que, des-
de 7 de Outubro, 98% das exporta-
ções de armas para Israel eram equi-
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 21
ABIR SULTAN/EPA
guerra”, de acordo com o director da
Human Rights Watch para Israel e a
Palestina, está a contribuir para iso-
lar cada vez mais Israel no cenário
internacional e reforçar o apoio
palestiniano.
Na segunda-feira, o Conselho de
Segurança começou a discutir o pedi-
do de reconhecimento pelas Nações
pamento geral, como coletes,
capacetes e binóculos. E dos quatro
casos em que foram aprovadas expor-
tações de armas de guerra, disse, três
diziam respeito a armas inadequadas
para utilização em combate e que se
destinavam a ser utilizadas em exer-
cícios de treino.
Von Uslar-
-Gleichen,
conselheira jurí-
dica do Ministério
dos Negócios
Estrangeiros
alemão
Na segunda-feira, os advogados da
Nicarágua tinham pedido ao TIJ que
ordenasse à Alemanha que suspen-
desse a venda de armas a Israel e reto-
masse o Ænanciamento da agência
das Nações Unidas para os refugiados
palestinianos, UNRWA.
Mundo
Unidas da Palestina como Estado,
processo que estava parado há mais
de uma década e que Malta, país que
este mês exerce a presidência do con-
selho, resolveu pôr a andar sem que
qualquer dos outros membros levan-
tasse objecções.
As deliberações sobre o pedido de
reconhecimento “têm agora de ser
realizadas durante o mês de Abril”,
disse aos jornalistas a embaixadora
maltesa na ONU, Vanessa Frazier. “É
esse o cronograma”, acrescentou,
citada pela UPI. De acordo com as
regras da organização, o Comité para
Admissão de Novos Membros vai ana-
lisar o pedido e se o mesmo for apro-
vado por nove dos 15 membros do
Conselho de Segurança seguirá para
votação na Assembleia Geral, onde é
preciso uma maioria de dois terços
para que a Palestina se torne no 194.º
Estado das Nações Unidas.
Esta é a segunda vez que o Conse-
lho de Segurança discute a questão.
Em 2011, o mesmo comité aÆrmou
que recomendaria a aceitação do
Estado da Palestina como membro da
ONU, mas, não conseguindo uma
“recomendação unânime”, sugeriu
que fosse admitida apenas como
observador, estatuto que actualmen-
te tem, igual ao do Vaticano.
“Foi um momento histórico na altu-
ra e agora esse momento histórico foi
reavivado”, disse o representante per-
manente da Palestina na ONU, Riyad
Mansour, na conferência de imprensa
conjunta com Vanessa Frazier.
Os advogados alegaram que Berlim
violou a Convenção sobre o Genocí-
dio de 1948 e o direito humanitário
internacional ao continuar a abaste-
cer Israel, sabendo que existia um
risco de genocídio.
Israel diz que a sua guerra é contra
os militantes assassinos do Hamas,
não contra os civis palestinianos, e
que está a ser vítima de difamação.
Espera-se que o TIJ emita medidas
provisórias sobre o caso da Nicará-
gua dentro de semanas, mas uma
decisão Ænal poderá demorar anos
e o tribunal não tem poder para a
fazer cumprir.
Já em Janeiro, em resposta a uma
acusação da África do Sul, o TIJ con-
siderou plausíveis as alegações de que
Israel tinha violado alguns direitos
garantidos pela convenção sobre o
genocídio e apelou a que se pusesse
termo a quaisquer potenciais actos
de genocídio. Reuters
22 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Economia Finanças públicas
Margem orçamental
este ano é menos
de metade do
excedente de 2023
Projecções do Conselho das Finanças Públicas mostram com
que almofada pode o novo Governo contar: sem novas medidas,
o excedente este ano seria de 0,5% do PIB e, em 2025, de 0,6%
Sérgio Aníbal
A margem com que o Governo pode
contar durante este ano e o próximo
para poder cumprir as suas promes-
sas eleitorais sem que o país registe
novamente um déÆce é de cerca de
meio ponto percentual do produto
interno bruto (PIB), ou cerca de 1500
milhões de euros, um valor que é
menos de metade do excedente regis-
tado no ano passado, alertou ontem
o Conselho das Finanças Públicas
(CFP).
No relatório em que actualiza as
suas projecções para a evolução da
economia e das Ænanças públicas
portuguesas até 2028, a entidade
encarregada de avaliar a condução da
política orçamental no país faz novas
estimativas para a forma como
podem evoluir indicadores como o
PIB, o saldo orçamental ou a dívida
pública num cenário de políticas
invariantes, isto é, se não fossem
entretanto tomadas pelo Governo
novas medidas com impacto na eco-
nomia e nas contas públicas.
Numa altura em que o executivo
acaba de tomar posse e em que se
prepara, hoje, para apresentar o seu
programa para a legislatura, isto per-
mite veriÆcar qual a margem de
manobra do ponto de vista orçamen-
tal com que o Governo poderá contar
para adoptar novas medidas e cum-
prir algumas das suas promessas
eleitorais.
No debate público, o número que
tem sido mais usado para quantiÆcar
a margem à disposição do Governo é
o do excedente orçamental registado
em 2023, que ascendeu a 3193
milhões de euros, ou 1,2% do PIB. No
entanto, mostram as contas feitas
pelo CFP, já este ano, mesmo que o
Governo não tomasse quaisquer
outras medidas, o excedente já viria
a ser substancialmente menor.
A projecção feita pela entidade
liderada por Nazaré da Costa Cabral
é a de que, num cenário de políticas
invariantes, o excedente orçamental
passe este ano de 1,2% para 0,5% do
PIB, um valor equivalente a cerca de
As projecções lado, na evolução que é esperada
para a economia e para algumas das
do Conselho das
principais rubricas do Orçamento,
Finanças Públicas como as receitas Æscais, as contribui-
ções para a Segurança Social, as des-
Saldo orçamental pesas com pensões ou as despesas
Em % do PIB
com os salários da função pública.
1,2 No caso das prestações sociais (que
incluem as pensões), o facto de o seu
valor ser actualizado, como previsto
0,8 0,8 na lei, de acordo com a inÇação ele-
0,6 vada registada em 2023, e a introdu-
0,5 ção de medidas como o aumento do
abono de família fazem com que se
0,1 preveja um crescimento desta despe-
sa pública superior à variação do PIB,
2023 2024 2025 2026 2027 2028 contribuindo para reduzir o exceden-
te orçamental em 0,4 pontos percen-
tuais em 2024.
Dívida pública
Em % do PIB
Os aumentos salariais na função Novo Governo tem como ponto 2024, mas constitui um espaço de
pública, negociados também tendo de partida um excedente manobra relativamente reduzido,
99,1 em conta a inÇação de 2023, fazem previsto de 0,5%. Programa tendo em conta a ambição das políti-
95,3 de igual modo com que a despesa do executivo é conhecido hoje cas salarial e Æscal prometidas duran-
com pessoal aumente o seu peso no te a campanha eleitoral e o facto de,
91,3 PIB em 0,1 pontos percentuais em para a relação do executivo com Bru-
2024, mantendo-o em 2025. xelas, poder ser importante não dei-
87,8
Depois, do lado da receita Æscal, xar regressar as contas públicas a
83,9 não só deixa de existir a ajuda de cur- uma situação deÆcitária.
to prazo que a inÇação trouxe nos No quadro das novas regras orça-
80 80,1 anos anteriores, como as medidas de mentais europeias, a manutenção de
2023 2024 2025 2026 2027 2028 alívio no IRS adoptadas no Orçamen- um excedente orçamental poderia
to do Estado para 2024 fazem com proteger o país do lançamento de
que, do lado dos impostos sobre o um procedimento por déÆce exces-
Variação do PIB
rendimento, se projecte um impacto sivo na eventualidade de incumpri-
Em %
negativo nas receitas de 1515 milhões mento dos limites de crescimento da
2,3 de euros este ano. Este valor é apenas despesa.
parcialmente compensado, nos As subidas salariais O excedente de cerca de 1400
2,1 impostos indirectos, com medidas milhões de euros projectado pelo CFP
2 2 que fazem crescer a receita em quase
na função pública, num cenário de políticas invariantes
1,9
900 milhões de euros, especialmen- também em 2024 e de cerca de 1700 milhões
te por causa do Æm da medida do IVA de euros em 2025 podem não ser suÆ#
1,6
Zero nos bens alimentares essenciais.
negociadas tendo cientes para comportar medidas
1,5 Feitas as contas, o CFP espera que o em conta a inÅação como o corte de impostos previsto no
2023 2024 2025 2026 2027 2028 peso da receita Æscal no PIB caia 0,3 programa eleitoral da AD, com impac-
pontos percentuais.
de 2023, fazem to estimado na receita de 5000
Fonte: CFP PÚBLICO
com que a despesa milhões de euros, o aumento dos
Pressões orçamentais apoios aos pensionistas ou os aumen-
1400 milhões de euros. E, para 2025, Para o novo Governo, o ponto de
com pessoal tos salariais associados ao desconge-
a estimativa é a de que este indicador, partida com que deve contar, é aumente o peso no lamento da carreira dos professores,
sem novas medidas, não sofra gran- assim, de um excedente de 0,5%, ao reforço dos subsídios nas forças de
des alterações, passando a registar-se aquele para que se caminha em
PIB em 0,1 pontos segurança ou à maior valorização dos
um excedente de 0,6% do PIB, ou 2024, e não de um excedente de 1,2% percentuais em proÆssionais de saúde.
cerca de 1700 milhões de euros. registado em 2023. O CFP, no seu relatório, inclui a
A explicação para esta redução do Até é um valor mais confortável do
2024, mantendo-o possibilidade de introdução destas
excedente orçamental está, por um que os 0,2% de déÆce previstos no OE em 2025 medidas como um dos principais ris-

cos, a par da “instável situação eco-
nómica mundial”, para a evolução
dos indicadores orçamentais do país.
O conselho refere a existência de
“impactos Ænanceiros relevantes”
provenientes das decisões que
venham a ser tomadas nos “grandes
projectos de obras públicas”, como
o novo Aeroporto de Lisboa ou a
introdução da alta velocidade, na
“eventual resposta a reivindicações
salariais das forças de segurança e
dos professores do ensino básico e
secundário” e na “adopção de novas
medidas de política orientadas para
a redução da carga Æscal e reforço do
apoio a pensionistas de menores ren-
dimentos”.
O CFP identiÆca ainda o risco de
existirem “pressões orçamentais
adicionais” ao nível das remunera-
ções “em diversas carreiras das
Administrações Públicas”, das “pres-
tações sociais, designadamente com
pensões, e despesa pública com saú-
de, num contexto de envelhecimen-
to estrutural da população portugue-
sa” ou da “despesa com defesa e
segurança”. Pela positiva, destaca a
possibilidade de existirem “menores
encargos com juros, caso se veriÆque
uma trajectória mais favorável da
dívida pública”.
Para a dívida pública, a previsão do
CFP é a de que, também num cenário
em que não fossem tomadas novas
DANIEL ROCHA
medidas, o peso no PIB continuasse
numa trajectória descendente, com
reduções de cerca de quatro pontos
percentuais ao ano, atingindo-se um
valor de 80,1% no Ænal de 2028.
No programa eleitoral da AD, a
solução encontrada para poder tomar
as medidas previstas sem colocar as
Ænanças públicas em situação de
desequilíbrio está na projecção de
um impacto muito positivo das polí-
ticas adoptadas no crescimento
potencial da economia. A AD projec-
ta, no seu programa, taxas de cresci-
mento sempre em crescendo, atin-
gindo os 3,5% no Ænal da legislatura.
O CFP, no cenário que agora traça
para a evolução da economia, caso
não fossem adoptadas novas medi-
das, mostra também o desaÆo que
pode constituir chegar a taxas de
crescimento tão altas até 2028.
O relatório prevê que, depois de
crescer 2,3% em 2023, a economia
abrande para 1,6% este ano, um valor
que Æca abaixo dos 2% recentemente
estimados pelo Banco de Portugal.
Segue-se depois, acredita o CFP,
um período de aceleração ligeira,
com a economia a estabilizar numa
taxa de crescimento anual em torno
dos 2%. Mais uma vez, o principal
risco pela negativa para este cenário
está na possibilidade de se vir a assis-
tir a uma deterioração mais forte da
conjuntura internacional.
Teresa Gonçalves
deixa de ser presidente
da SATA após um ano
Liderava o grupo de
aviação açoriano desde
Abril do ano passado.
Apresentou a demissão
e deixa o cargo este mês
Teresa Gonçalves, a actual presiden-
te do grupo de aviação açoriano
SATA, apresentou o seu pedido de
demissão do cargo. Os motivos para
a decisão são “pessoais”, anunciou
ontem o Governo Regional dos Aço-
res, que aceitou a rescisão.
“O Governo Regional dos Açores
informa que a doutora Teresa Gon-
çalves solicitou a sua demissão do
cargo de presidente do conselho de
administração da SATA Holding, ale-
gando motivos pessoais”, adianta o
executivo açoriano (do PSD-CDS/PP-
PPM), em nota de imprensa publica-
da no site oÆcial.
“A demissão solicitada foi aceite
pelo Governo Regional dos Açores,
tornando-se efectiva no Ænal do cor-
rente mês, sendo que até ao referido
momento a responsável continuará
a assumir todas as decisões em curso
sobre o grupo”, é acrescentado na
comunicação.
Na nota divulgada publicamente,
o Governo Regional dos Açores agra-
dece ainda a Teresa Gonçalves “toda
a sua dedicação ao grupo SATA,
durante o exercício das suas funções,
e o seu empenho e proÆssionalismo
no processo de reestruturação das
companhias do grupo, que muito
contribuiu para a recuperação que
as mesmas têm vindo a veriÆcar”.
Teresa Gonçalves tomou posse
como presidente da SATA (grupo
que inclui a SATA Air Açores e a Azo-
res Airlines) em Abril de 2023, após
a saída de Luís Rodrigues para a lide-
rança da TAP. Antes de assumir a
Teresa Gonçalves assumiu a presidência da SATA há um ano
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 23
presidência do grupo que é detido
pela Região Autónoma dos Açores,
Teresa Gonçalves foi administradora
nos três anos anteriores.
Há pouco mais de um mês, em
entrevista ao PÚBLICO, Teresa Gon-
çalves garantia que o processo de
privatização da SATA Internacional
(Azores Airlines) — que tem tido um
processo atribulado — “vai avançar”.
“Já recebemos um ofício do governo
regional a dizer que podemos conti-
nuar com o processo de privatização,
porque foi levantada a suspensão”,
aÆrmou. E acrescentou: “Agora
vamos seguir os trâmites previstos.”
A demissão de Teresa Gonçalves
ocorre quatro dias depois de ser
conhecida a decisão Ænal do júri do
concurso público para a privatização
da Azores Airlines (companhia aérea
responsável pelas ligações entre os
Açores e o exterior). O júri, liderado
pelo economista Augusto Mateus,
manteve a decisão de aceitar apenas
um concorrente no relatório Ænal,
mas admitiu reservas quanto à capa-
cidade do consórcio Newtour-MS
Aviation em assegurar a viabilidade
da companhia.
O presidente do governo dos Aço-
res, José Manuel Bolieiro, aÆrmou
entretanto que Teresa Gonçalves
apresentou a demissão da presidên-
cia da SATA por “razões pessoais e
de contexto” e garantiu que não vão
existir procedimentos suspensos
devido às mudanças na administra-
ção.
“Ela não sai de mal com ninguém,
tem as suas razões. Os ciclos são o
que são”, acrescentou José Manuel
Bolieiro, que garantiu ainda que
nenhum procedimento vai ser sus-
penso devido à demissão da presi-
dente da SATA e disse querer trans-
mitir uma mensagem de “tranquili-
dade às pessoas”. PÚBLICO/Lusa
NUNO FERREIRA SANTOS
Economia
Espanha acaba
com “vistos
gold” no
imobiliário
Rafaela Burd Relvas
Depois de Portugal, também
Espanha vai acabar com
“vistos gold” a estrangeiros
que comprem imóveis
a partir de 500 mil euros
O Governo espanhol vai acabar com
a concessão de autorizações de resi-
dência a estrangeiros que comprem
imóveis por um valor mínimo de 500
mil euros, os chamados “vistos gold”.
A decisão, anunciada no início desta
semana pelo presidente do Governo
espanhol, Pedro Sánchez, já foi toma-
da no Conselho de Ministros de
ontem, faltando agora a aprovação de
legislação para efectivar a medida.
Criado em 2013, o regime de “vistos
gold” em Espanha levou, desde então,
à concessão de 14.576 autorizações de
residência a investidores estrangei-
ros, segundo dados fornecidos pela
ministra espanhola da Habitação,
Isabel Rodríguez, citada pela agência
EFE. Destes, 94% dizem respeito a
vistos concedidos em troca de inves-
timentos em imobiliário. Barcelona,
Madrid, Málaga, Alicante, Baleares e
Valência são as regiões onde a maioria
dos investimentos foi feita.
Desde 2016, o investimento total
em imobiliário atingiu os 10 mil
milhões de euros (a ministra não for-
neceu os dados para todo o período
de funcionamento do programa). Mas
é a partir de 2022, sobretudo, que se
regista um maior interesse por este
tipo de vistos, com mais de cinco mil
autorizações de residência concedi-
das só em 2022 e 2023. “A especula-
ção aumentou de forma exponencial
nos últimos dois anos. Acendeu-se
uma luz de alarme, já que, nos últi-
mos anos, duplicaram as concessões
de ‘vistos gold’ por investimento
estrangeiro”, resumiu Rodríguez.
Embora não seja fornecida uma
explicação para este aumento da pro-
cura naqueles anos, o movimento
coincide com o momento em que
Portugal alterou as regras do regime
de “vistos gold”. Em 2022, recorde-se,
o Governo de António Costa introdu-
ziu novas regras de concessão das
autorizações de residência, com o
objectivo de redireccionar o regime
para os territórios do interior do país,
no que toca ao investimento em imo-
biliário. Mais tarde, já em 2023, e no
âmbito do pacote legislativo Mais
Habitação, o anterior executivo deci-
diu mesmo acabar com os “vistos
gold” para as modalidades de investi-
mento em imóveis e de transferências
de capitais.
24 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Economia
BeneƊciárias da ADSE pagam mais
36 a 68 euros por partos a partir de Maio
Raquel Martins
A partir de 1 de Maio,
um parto normal passará
a custar às beneficiárias
232,8 euros e uma
cesariana 345,6 euros
O instituto que gere o sistema de
Assistência na Doença aos Servidores
Civis do Estado (ADSE) quer ter mais
convenções com médicos obstetras
e facilitar o acesso ao regime conven-
cionado. Por isso, decidiu aumentar
os preços pagos pelos partos a partir
de 1 de Maio: o valor suportado pelas
beneÆciárias terá uma subida de 36,
45 ou 68 euros, consoante se trate de
parto normal ou cesariana.
Esta medida faz parte de um con-
junto de alterações que a ADSE agora
anunciou na tabela do regime con-
vencionado (que se aplica aos presta-
dores de saúde que têm convenção
PUBLICIDADE
com a ADSE) e do regime livre (que
permite que os beneÆciários vão a
médicos sem convenção, paguem a
totalidade do acto de saúde e rece-
bam o reembolso de uma parte), uma
decisão que apanhou os beneÆciários
de surpresa.
As medidas, justiÆcou ao PÚBLICO
Diogo Serras Lopes, vogal da ADSE,
fazem parte da actividade corrente
do instituto e visam combater o des-
perdício, simpliÆcar e tornar o regime
convencionado mais atractivo. Além
disso, “estão em sintonia com as
orientações do Estudo de Sustentabi-
lidade” divulgado recentemente.
Sem adiantar o impacto que as alte-
rações terão nas contas do sistema de
saúde, o dirigente apenas garante: “É
comportável dentro daquilo que é o
orçamento da ADSE.”
No caso dos partos, a ADSE assume
que tem recebido reclamações das
beneÆciárias “sobre a diÆculdade da
realização de partos no regime con-
Maria Manuela Faria, presidente da ADSE
vencionado e a consequente tentativa
de cobrança através do regime livre”.
“O preço dos partos não era ajustado
há bastante tempo e estava signiÆca-
tivamente abaixo dos valores pratica-
dos. Para que o acesso das beneÆciá-
RUI GAUDÊNCIO
rias pudesse continuar a ser em regi-
me convencionado e não em regime
livre, que é menos vantajoso, achá-
mos importante ajustar o preço”,
garantiu Serras Lopes, sem revelar
quanto vai aumentar a parte supor-
tada pela ADSE.
Agora, um parto normal custa às
beneÆciárias 196,6 euros (incluindo
honorários médicos, medicamentos,
piso de sala e todos os actos que
podem ocorrer durante um parto). A
partir do próximo mês, o co-paga-
mento aumenta cerca de 36 euros,
para 232,8 euros. O parto distócito
(com recurso a ventosa e fórceps)
passa de 217,6 para 286 euros (mais
68 euros) e uma cesariana custará às
beneÆciárias 345,6 euros, mais 45
euros do que agora.
Na mesma lógica de aumentar a
adesão de médicos às convenções, o
preço das consultas de psicologia clí-
nica também aumenta no próximo
mês. A ADSE passa a pagar 18 euros e
o beneÆciário 3,60 euros, um aumen-
to de 44% face aos encargos actuais.
Já o número máximo de consultas
passa de 12 para 24 por ano.
A tabela de preços do regime livre
também terá alterações a partir de 1
de Maio, de forma a “controlar os
abusos e situações de fraude”.
As mudanças incluem o transporte
não urgente de doentes, a aquisição
de fraldas para incontinentes (os
beneÆciários pagam 88 cêntimos por
unidade) ou as consultas de psicolo-
gia, cuja comparticipação passa de
9,3 para 14,4 euros, com o limite de
24 consultas por ano e sem necessi-
dade de prescrição médica.
Sector social sem tabela
Além das medidas previstas para
Maio, há um conjunto de alterações
que já estão em vigor. Desde 1 de
Abril, o sector social deixou de ter
uma tabela de preços própria, com
valores mais baixos, e passou a apli-
car-se aos prestadores de saúde geri-
dos pelas Misericórdias e por Institui-
ções Particulares de Solidariedade
Social (IPSS) a tabela dos prestadores
privados. A existência de uma única
tabela para o sector social e privado
é, para Diogo Serras Lopes, “uma
simpliÆcação operacional” e “um
incentivo para aumentar a oferta dis-
ponível”.
“Com uma remuneração equiva-
lente, também o sector social terá
mais capacidade de responder aos
beneÆciários da ADSE. Não é uma
alteração à tabela, é apenas uma
racionalização e um passo para que
o regime convencionado seja mais
atractivo para a globalidade dos pres-
tadores”, argumenta, sem quantiÆ#
car quanto é que esta mudança cus-
tará ao orçamento da ADSE e aos
beneÆciários.
Outra alteração que já está em
vigor desde o início do mês visa
“combater o desperdício e abuso”
por parte dos prestadores. Em causa
estão práticas relacionadas com a
facturação de exames que acabam
por não ser realizados na consulta
de cardiologia.
BeneÄciários surpreendidos
As alterações às tabelas não foram
comunicadas aos beneÆciários, nem
há qualquer nota sobre isso no site da
ADSE. O alerta foi lançado pela Asso-
ciação 30 de Julho, que considera a
atitude “reveladora da falta de consi-
deração e de respeito que merecem
os beneÆciários da ADSE, únicos
Ænanciadores do seu orçamento e
pagadores dos vencimentos dos seus
dirigentes”.
Helena Rodrigues, presidente do
Conselho Geral e de Supervisão (CGS)
da ADSE, conÆrmou ao PÚBLICO que
o conselho não foi avisado previa-
mente das alterações. Só nesta segun-
da-feira, 8 de Abril, o CGS recebeu
uma comunicação do conselho direc-
tivo a dar conta das alterações e a
comprometer-se a fundamentar as
decisões na reunião marcada para o
Ænal de Abril.
Questionado sobre o facto de a
ADSE não ter pedido parecer ao con-
selho, Diogo Serras Lopes respondeu
que a direcção “não considerou que
as alterações — nem as que entraram
em vigor a 1 de Abril, nem as que vão
entrar em vigor a 1 de Maio — sejam
revisões à tabela”.
Por essa razão, não pediram o pare-
cer: “Não teríamos problema nenhum
em fazê-lo, mas efectivamente não o
Æzemos”, aÆrmou ao PÚBLICO,
garantindo que, a partir de agora, o
CGS passará a ser avisado de todos os
ajustes.

Edif. Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, Tel. 21 011 10 10/20 Fax 21 011 10 30
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Sábado 11H às 17H
Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
AVISO
RECRUTAMENTO PARA 1 CARGO DE DIREÇÃO
INTERMÉDIA DE 4º GRAU
Coordenador de Núcleo de Pessoal e Núcleo de Formação
Nos termos previstos na Lei nº 2/2004, de 15 de
janeiro, na redação dada pela Lei nº 64/2011, de 22 de
dezembro, faz-se público que será aberto procedimento
concursal destinado ao recrutamento para 1 cargo de
direção intermédia de 4º grau – Coordenador de Núcleo
de Pessoal e Núcleo de Formação, pelo prazo de 10
dias úteis contados a partir da data da publicitação da
vaga na bolsa de emprego público (BEP) e nos termos e
condições nela citados.
Para mais informações, deverá consultar a página
eletrónica da ESEL, em www.esel.pt
Lisboa, 20 de março de 2024
A Presidente da ESEL
Patrícia Carla da Silva Pereira
Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
AVISO
RECRUTAMENTO PARA 1 CARGO DE DIREÇÃO
INTERMÉDIA DE 2º GRAU, CHEFE DE DIVISÃO DE
RECURSOS FINANCEIROS E PATRIMONIAIS
Nos termos previstos na Lei nº 2/2004, de 15 de janeiro,
na redação dada pela Lei nº 64/2011 de 22 de dezembro,
faz-se público que será aberto procedimento concursal
destinado ao recrutamento para 1 cargo de direção
intermédia de 2º grau, Chefe de Divisão de Recursos
Financeiros e Patrimoniais, pelo prazo de 10 dias úteis
contados a partir da data da publicitação da vaga na bolsa
de emprego público (BEP) e nos termos e condições
nela citados.
Para mais informações, deverá consultar a página
eletrónica da ESEL, em www.esel.pt
Lisboa, 20 de março de 2024
A Presidente da ESEL
Patrícia Carla da Silva Pereira
OFEREÇA
FILMES & SÉRIES
MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
AVISO
SUMÁRIO: Publicação e Publicitação dos Resultados das Provas
Práticas de Conhecimentos | Convocatória para o 2.º Método de
Seleção Obrigatório - Avaliação Psicológica
Procedimento Concursal Comum para Constituição de Relação Jurídica
de Emprego Público por Tempo Indeterminado na carreira e categoria
de Assistente Operacional.
1. Torna público, nos termos do disposto pelo Art. 6.º da Portaria n.º
233/2022, de 09 de Setembro e Art.º 112.º, n.º 1, al. e) do C.P.A., que
está disponível para consulta no sítio oficial da internet do Município
da Guarda https://www.mun-guarda.pt/, as seguintes informações com
referência ao procedimento concursal abaixo identificado:
Ref. AO – B.5: que se encontra publicada a Acta n.º 4 do procedimento
concursal com vista ao preenchimento de dois postos de trabalho da
categoria e carreira geral de Assistente Operacional para exercício de
funções de Segurança para os Serviços de Equipamentos e Edifícios
Municipais da Secção de Equipamentos e Infraestruturas, cuja
Referência é AO-B.5, conforme Aviso (extrato) n.º 8346/2023, publicado
no Diário da República, 2.ª Série, n.º 80, de 24 de abril, e na página
eletrónica do Município, bem como na Bolsa de Emprego Público, com o
código de oferta OE202304/0741
2. Ficam assim notificados, os/as candidatos/as excluídos/as do
procedimento concursal em referência das garantias impugnação,
previstas nos termos do disposto pelo Art.º 3.º, conjugado com o artigo
28.º, ambos da Portaria n.º 233/2022, de 9 de setembro.
3. Ficam ainda notificados/as os candidatos/as admitidos/as à Avaliação
Psicológica (método de seleção previsto pela al. b) do n.º 1 do Art.º 17.º
da Portaria n.º 233/2022, de 09 de Setembro) a realizar no âmbito do
referido procedimento concursal foi agendada nos termos seguintes:
a) A Avaliação Psicológica terá lugar no dia 15 de abril de 2024 nas
instalações da Câmara Municipal da Guarda, sita na Praça do
Município, 6300-854 – Guarda.
b) Os candidatos deverão comparecer 15 minutos antes da hora indicada,
fazendo-se acompanhar de documento de identificação válido: Cartão
de Cidadão ou Bilhete de Identidade.
c) Os candidatos deverão ainda, consultar no sítio oficial da internet do
Município da Guarda https://www.mun-guarda.pt/, a fim de tomarem
conhecimento da hora da realização da Avaliação Psicológica.
Paços do Concelho da Guarda, 04 de abril de 2024
O Presidente da Câmara, Sérgio Fernando da Silva Costa
AVISO
Processo de bolsa reserva de recrutamento para
admissão de Técnico Especialista de Sistemas
e Técnologias de Informação (m/f)
UNIDADE LOCAL DE SAÚDE ARCO RIBEIRINHO, E.P.E., pretende
recrutar Técnico Especialista de Sistemas e Tecnologias de Informação
(m/f), em regime de Contrato Individual de Trabalho, ao abrigo do Código
do Trabalho, aprovado pela Lei 7/2009 de 12 de fevereiro.
1. Condições:
Categoria: Técnico Especialista de Sistemas e Tecnologias de Informação;
Remuneracão: 1.807,04€ de remuneração-base;
Carga Horária: 35 horas semanais.
2. Perfil
Requisitos obrigatórios:
• Licenciatura ou o grau académico superior de formação adequada ao
conteúdo funcional da Carreira Especial de Especialista de Sistemas
e Técnologias de Informação, correspondendo às formações que se
inserem enquanto principal ou secundária, na área de estudo n.º 48
Informática do grupo 4 Ciências, Matemática e Informática da CNAEF,
aprovada pela Portaria n.º 256/2005, de 16 de março.
Requisitos preferencias:
• Experiência profissional em informática/Sistemas de Informação;
• Experiência em Gestão de Técnologias de Informação, em Unidades
Hospitalares;
• Conhecimentos/Formação em Cibersegurança.
As candidaturas deverão ser dirigidas, à Presidente do Conselho de
Administração da Unidade Local de Saúde Arco Ribeirinho, EPE, Av. Movimento
das Forças Armadas, 2834-003 Barreiro, acompanhadas do curriculum vitae
e certificados de habilitações literárias e formação, onde conste a posse dos
requisitos exigidos, que deverão ser remetidas, por email enviado ao Serviço
de Recursos Humanos (rhrecrutamento@chbm.min-saude.pt), no prazo de
dez dias úteis a partir da publicação deste aviso, ou enviadas pelo correio,
dentro do prazo estipulado.
Unidade Local de Saúde Arco Ribeirinho, EPE, 08 de abril de 2024.
A Diretora do Serviço de Recursos Humanos
Paula Monteiro
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Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 25
CLASSIFICADOS
ANÚNCIO
Carlos Manuel Ramos dos Santos, Presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe,
torna público que:
A Câmara Municipal de Sernancelhe, na reunião ordinária realizada no dia 21 de
março de 2024, deliberou nos termos e para os efeitos previstos no n.º 5 do artigo 10.º
do Código das Expropriações, aprovado pela Lei n.º 168/99, de 18 de setembro, na sua
redação atual, requerer a utilidade pública e a posse administrativa da parcela a seguir
identificada necessária à prossecução da obra “Passadiços do Távora – 2ª fase”
PARCELA N.º 2
Parcela com 2 145 m2 (dois mil cento e quarenta e cinco metros quadrados), a destacar
do prédio rústico sito na Lameira da Corga, confrontado do norte com caminho, do sul
com Barragem, de nascente com Barragem e do poente com Eletricidade de Portugal,
com área de 1,750000 ha, inscrito na matriz da freguesia da União de Freguesias de
Penso e Freixinho sob o artigo 993, e descrito na Conservatória do Registo Predial sob
o número 344, da freguesia de Freixinho;
Ficando a parcela destacada a confrontar:
Norte com: António Saldanha Gomes Mota
Sul com: Barragem
Nascente com: Caminho
Poente com: Angélica da Fonseca (cabeça de casal da herança) e passadiço.
Nos termos do n.º 2 do artigo 11.º do Código das Expropriações encontra-se patente
nos serviços da Divisão Administrativa e Financeira da Câmara Municipal uma proposta
de aquisição da supra identificada parcela, fundamentada em relatório de avaliação
efetuado por perito da lista oficial do Ministério da Justiça.
Encontra-se ainda para consulta:
- Ficha da identificação da parcela a expropriar e seus proprietários;
- Extrato da planta parcelar com a delimitação da área que se presente expropriar.
Registando-se a impossibilidade de aquisição da parcela por via do direito privado,
conforme se refere no número 5.º do artigo 10.º e no n.º 1 do artigo 11.º do Código das
Expropriações, e por ser verdade, se publica o presente edital e outros de igual teor,
que vão ser afixados nos lugares do estilo do Município de Sernancelhe e da União de
Freguesias de Penso e Freixinho.
Sernancelhe, 03 de fevereiro de 2024
O Presidente da Câmara, Carlos Manuel Ramos dos Santos
AVISO N.º 68/2024
HASTA PÚBLICA PARA ATRIBUIÇÃO DE LICENÇA
DE UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO PARA
SERVIÇOS DE PARTILHA EM MODOS SUAVES
Luísa Maria Neves Salgueiro, Presidente da Câmara Municipal de
Matosinhos, torna público a abertura de «Hasta pública para atribuição de
licença de utilização do espaço público para serviços de partilha em modos
suaves», aprovada por deliberação da câmara municipal, tomada em sua
reunião ordinária do Executivo, realizada em 24 de janeiro de 2024, para
a atribuição de duas licenças de utilização do espaço público para efeitos
de circulação, pontos de partilha e locais de estacionamento, conforme
programa de procedimento e caderno de encargos que se encontra
4454-510 Matosinhos-Portugal
Av. D. Afonso Henriques
disponível para consulta no sítio do Município em www.cm-matosinhos.pt
e nos serviços da Loja do Munícipe desta Câmara Municipal.
O valor base de licitação será de € 22.500,00 (vinte e dois mil e quinhentos
euros), para cada uma das licenças, para o prazo da licença – 5 anos.
Os esclarecimentos necessários à boa compreensão e interpretação
das peças do procedimento de hasta pública deverão ser solicitados,
por escrito, à Divisão de Mobilidade, através do endereço eletrónico
(+351) 229 390 900
Contactos
mobilidade.matosinhos@cm-matosinhos.pt no primeiro terço do prazo
fixado para apresentação de propostas.
O valor licitado no ato público e objeto da atribuição provisória deverá
concretizar-se através de depósito legal imediato, mediante transferência
bancária ou pagamento na tesouraria, de 10% do seu valor. O operador
www.cm-matosinhos.pt
mail@cm-matosinhos.pt
dispõe de 30 (trinta) dias para proceder ao pagamento adicional de 50% do
montante da licença objeto da licitação atribuída. Nos anos subsequentes,
deverá o operador proceder ao pagamento de 10% do valor licitado, até
ao dia 31 de janeiro de cada ano.
A praça terá lugar no Edifício dos Paços do Concelho, sito na Av. D.
Afonso Henriques em Matosinhos, pelas 10:00H do dia útil imediatamente
posterior ao término do prazo para entrega das propostas.
O prazo para a apresentação de propostas dos concorrentes termina às
23H59 do 21.º (vigésimo primeiro) dia, a contar da data de publicação
deste edital em Diário da República.
Para constar e conhecimento geral se lavrou o presente edital, que vai ser
afixado no átrio dos Paços do Concelho e lugares de estilo.
E eu, Luis Eduardo Andrade Berrance Abreu, Diretor Municipal de Gestão
do Território, o subscrevi.
A Presidente da Câmara
Dr.ª Luísa Salgueiro
26 • Público ClassiÄcados • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024

DMGT - DIREÇÃO MUNICIPAL DE GESTÃO DO TERRITÓRIO

EDITAL N.º 167/2024
Alteração Nº 4 À Licença da Operação
de Loteamento Titulada Pelos Alvarás de
Loteamento N.º 4/1992 E
30/1995 – Processo 1/1995/4418/0 – E/9322/2024
ANÚNCIO
Manuel Ferreira Marques, contribuinte fiscal n.º
172904730, e mulher Lília Maria de Oliveira da Silva,
contribuinte fiscal n.º 172904714, residentes na Rua
dos Emigrantes, n.º 18, 3770-405 Troviscal, Oliveira do
Bairro, donos e legítimos possuidores do prédio rústico,
composto por terra de cultura, confrontando a Norte

EDITAL João Vasconcelos Barros Rodrigues, Vereador do Pelouro

Reabilitação e Ampliação do Sistema da Pimenta
DESPACHO DE DECLARAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA
COM CARÁTER DE URGÊNCIA, PARA A REABILITAÇÃO E
AMPLIAÇÃO DO SISTEMA DA PIMENTA
A EPAL - Empresa Portuguesa das Águas Livres, S.A. (EPAL), com sede na Avenida da
Liberdade, 24, 1250-144 Lisboa, vem dar público conhecimento que, por Despacho n.º
2611/2024 do Secretário de Estado do Ambiente, publicado no Diário da República, 2.ª Série,
n.º 52, de 13 de março, foi declarada de utilidade pública a expropriação de parcelas de
terreno sitas na união das freguesias de Carregado e Cadafais, concelho de Alenquer, e na
união das freguesias de Castanheira do Ribatejo e Cachoeiras, concelho de Vila Franca de
Xira, com vista à realização da Empreitada de Reabilitação e Ampliação do Sistema da Pimenta.
Mais torna público que, em conformidade com os n.ºs 1 e 2 do artigo 17.º do Código das
Expropriações, aprovado pela Lei n.º 168/99, de 18 de setembro, com posteriores alterações,
ficam por este meio notificados todos os proprietários do Despacho e seus anexos, que dele
fazem parte integrante, que abrange, nomeadamente as seguintes parcelas relativamente às
quais existem proprietários cujas cartas para notificação deste Despacho foram devolvidas:
do Urbanismo, Ordenamento e Planeamento, da Câmara
Municipal de Braga:
com Albino Fernandes de Oliveira Pinto ou João Arada,
a Sul com caminho, a Nascente com estrada municipal
e a Poente com faixa marítima ou caminho, com uma
Faz Saber Que, nos termos do art.º 78.º, do Decreto-Lei
n.º 555/99, de 16 de dezembro, alterado e republicado pelo
área total de 40000m2, sito em Presa Velha, Gafanha da
Vagueira, descrito na Conservatória do Registo Predial
de Vagos sob o n.º 194/19880415, na freguesia da
Decreto-Lei n.º 136/2014, de 09 de setembro, por despacho
do Vereador do Pelouro do Urbanismo de 2024/01/26,
Gafanha da Boa Hora, inscrito na matriz predial rústica
sob o artigo n.º 1845, da mesma freguesia, concelho
praticado no uso de competências subdelegadas por
despacho do Sr. Presidente da Câmara de 2021/10/18,
de Vagos, vêm, nos termos do disposto nos artigos
416.º, n.º 2, artigo 224.º e 225.º e 1380.º, n.º 1, todos
são alteradas as prescrições à licença da operação de
loteamento titulada pelos alvarás de loteamento n.º 4/1992
e 30/1995, em nome de Jocridente – Lab. Prótese Dentária,
do Código Civil, dar conhecimento aos proprietários
dos prédios confinantes, cuja identificação e morada
desconhecem, que têm o prazo de oito dias a contar da
Lda, respeitante ao prédio sito no lugar Gabriel Pereira de
publicação deste anúncio para exercerem, querendo, o
Castro e Lugar da Escoura, da freguesia de S. Vicente, deste
direito de preferência na venda que os anunciantes se
concelho, alterações essas que cumprem o PDM e constam
propõem fazer do prédio rústico acima descrito a Vasco
do seguinte: para o loteamento, a área total a lotear mantém-
se. Para o Lote A4 - Fração J (Rés-do-Chão): alteração do
Alexandre dos Santos Simões Jorge, divorciado, natural
de Mamarrosa, Oliveira do Bairro, contribuinte fiscal n.º
uso de comércio para atividade económica (A.E) - Laboratório
166275654, residente em Rua das Arrocheiras de Cima,
de Prótese Dentária; área de construção (A.E): 86,18m2. Em
n.º 40, 3800-378 Mataduços, Esgueira, Aveiro, pelo
tudo o resto, mantém-se as restantes prescrições do alvará
preço de 98.000,00 € (noventa e oito mil euros), a ser
em vigor. Não há lugar à execução de obras de urbanização.
Para constar se mandou passar o presente edital e outros
pago da seguinte forma: a quantia de 15.000,00€ (quinze
mil euros), até ao dia 12 de dezembro de 2023, a quantia
de igual teor que vão ser afixados nos lugares de estilo, de 15.000,00 € (quinze mil euros) até 15 de dezembro de
publicitado no site do Município e publicado num jornal de 2023, a quantia de 30.000,00 € (trinta mil euros) até 30 de
âmbito nacional. abril de 2024, e o remanescente do preço, no montante
Braga e Direção Municipal de Gestão do Território (DMGT), de 38.000,00€ (trinta e oito mil euros), no ato da outorga
10 Abril 2024 da escritura pública de compra e venda ou documento
O Vereador, particular autenticado que titulará em definitivo a compra
João Vasconcelos Barros Rodrigues e venda, que ocorrerá até 30 de setembro de 2024.

✝
TRIBUNAL JUDICIAL
DA COMARCA
DE LISBOA NORTE
Juízo Local Cível de Loures - Juiz 2
Processo: 3611/24.5T8LRS
ANÚNCIO
Acompanhamento de Maior
Requerente: Ministério Público
Comarca de Loures
Requerida: Maria Conceição Silva
Faleceu Boto
FAZ-SE SABER que foi distribuído
neste tribunal, o processo de

Joaquim Afonso Alves Acompanhamento de

em que é requerido Maria
Maior

Conceição Silva Boto, nascido em

Malato de Sousa 06-11-1948, filha de Anselmo da

Silva Campos e de Celeste da
Conceição, nacional de Portugal,
A família e os amigos comunicam, com grande pesar, o com domicílio: Ass. Luiz Pereira da
Mota, Praceta António Francisco
falecimento de Joaquim Afonso Malato de Sousa. da Silva Penetra, 6, 2670-000
Loures, com vista à determinação
O corpo estará em câmara ardente na quinta-feira, dia 11 de de medidas adequadas.
N/ Referência: 160462736
abril, pelas 15 horas, no centro funerário de Alcabideche. Loures, 03-04-2024
O funeral decorrerá no mesmo dia às 18 horas. O Juiz de Direito,
Dr. Diogo Alves
Contatos: 969 783 867 / 967 240 705 www.funerariapaz.pt A Oficial de Justiça
Carla Sofia Fonseca M. Silva
Público, 10/04/2024

REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL
Consulado-Geral do Brasil em Faro
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação EDITAL DE CASAMENTO
Tereza Cnstina da Silva Santos, vice-cônsul do
Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer - Brasil em Faro, usando das atribuições que lhe
confere o art 18 da Lei de Introdução as normas
Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657, de 4
de setembro de 1942), faz saber que pretendem
É a única organização em Portugal, de âmbito nacional, constituída há casar ELIAS DE OLIVEIRA BERNADO natural do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil nascido
mais de 30 anos especificamente constituída para promover a qualidade a 30/09/2002, residente e domiciliado no
Caminho dos Brejos, 159, Condomínio Páteo
de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. da Torres, Casa L, Albufeira, Portugal, Código
Postal: 8200-316, nesta jurisdição consular,
filho de Creval da Silva Bernado e de Adriana
Tem cerca de dez mil associados em todo o país. de Oliveira Pereira Bernado e ESTHEFANNI
AZEVEDO RIBEIRO SILVA natural do Rio
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil nascida a
05/01/2003, residente e domiciliada no Caminho
e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas dos Brejos, 159, Condomínio Páteo da Torres,
Casa L, Albufeira, Portugal, Código Postal:
Médicas da Especialidade. 8200-316, nesta jurisdição consular, filha de
Vivaldo Ribeiro Silva e de Fernanda Azevedo
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa Ribeiro Silva.
Os nubentes apresentaram os documentos
ativamente no movimento mundial e europeu sobre as demências, exigidos pelo art. 1.525 do Código Civil (Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002).
procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Se alguém souber de algum impedimento,
oponha-o na forma da Lei.
Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das Eu Igor Leal Pinto, oficial de Registro Civil
ad hoc, lavrei o presente para ser publicado
suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos. na imprensa local e afixado em lugar visível da
Chancelaria deste Consulado-Geral.
Contactos Igor Leal Pinto
Oficial de Registro Civil ad hoc

Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2
Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256
- Alapraia, 2765-029 Estoril

Quaisquer informações sobre a expropriação poderão ser obtidas pelos proprietários/

Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301
EDIFÍCIO
interessados junto da empresa EPAL, com sede na Avenida da Liberdade, 24, 1250-144 Lavra - Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org DIOGO CÃO
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal Tel. 236 DOCA DE ALCÂNTARA
Lisboa e e-mail: geral.epal@adp.pt, podendo o mapa e as plantas referidas no Despacho ser 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org NORTE, LISBOA
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do (JUNTO AO
consultados na sede da sociedade. Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL MUSEU DO ORIENTE)
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org HORÁRIO:
Conselho de Administração Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim 2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H
Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org SÁBADO: 11H – 17H
A Vice-Presidente Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3,
Luísa Branco Três Bicos, 8500-776 Portimão - Telemóvel: 965 276 690 - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org
INFO: 210 111 010

Morreu o físico que descobriu
o bosão de Higgs (e lhe deu nome)
Obituário
Tiago Ramalho
Peter Higgs (1929-2024)
Cientista britânico propôs
o “seu” bosão em 1964,
observado apenas em 2012.
Morreu aos 94 anos
Há nomes que se Æxam na história.
O de Peter Higgs Æcou inscrito na
história do bosão de Higgs,
detectado em 2012 e que leva o
nome do cientista desde que este
propôs a sua existência, em 1964 —
há 60 anos. O físico britânico,
laureado com o Prémio Nobel da
Física em 2013, morreu anteontem
na sua casa em Edimburgo aos 94
anos, comunicou a Universidade
de Edimburgo (Reino Unido).
Não há prova maior de que a
ciência nem sempre é veloz. A 4 de
Julho de 2012 observou-se o bosão
de Higgs, descrito por Peter Higgs
em 1964 e a maior feito do seu
trabalho enquanto cientista. Nesse
dia, em 2012, o britânico secava as
Recebeu o Nobel da Física em 2013 Ciência e Ambiente
lágrimas perante os aplausos que o
rodeavam. Tinham apanhado a
“partícula maldita”, tal era a
diÆculdade em detectá-la. Ou, para
os que não se importam de irritar os
físicos, a também conhecida como
“partícula de Deus”.
Apanharam o bosão de Higgs,
naquela que era a peça principal
que faltava no modelo-padrão da
física, a teoria que (ainda) descreve
da melhor forma as partículas
elementares e a interacção entre
elas, compondo a natureza e, claro,
nós próprios. “O seu nome é famoso
porque há uma partícula essencial
para a arquitectura do mundo que
tem o seu nome, a partícula de
Higgs. Ela é a responsável pelas
massas das partículas elementares”,
explica o físico Carlos Fiolhais.
A descoberta teórica desta
partícula subatómica instável e que,
quando é produzida, decai logo
noutras partículas (daí o problema
em “prendê-la”) é o pináculo de
uma carreira — e um dos grandes
momentos da ciência do século XX.
“Decorreu quase meio século
desde que ele, em 1964, tinha
previsto a partícula, em dois artigos
(um deles rejeitado pela revista a
que foi submetido e publicado
noutra). E prever partículas não é
tão simples como prever eclipses…
A partícula permaneceu incógnita
porque não existia a energia
suÆciente para a produzir. Foi
preciso acelerar protões quase à
velocidade da luz num anel de 30
quilómetros de diâmetro para que
ela se dignasse aparecer. Foi um
alvoroço na física”, diz Fiolhais.
“A partir de 2012, o CERN
[Laboratório Europeu de Física de
Partículas] entrou no nosso
imaginário colectivo”, contava ao
PÚBLICO Nuno Castro, cientista do
Laboratório de Instrumentação e
Física Experimental de Partículas
(LIP), do pólo do Minho. Além de
tornar o CERN um centro ainda
mais reconhecido em todo o
mundo, deu palco a Peter Higgs.
A “última peça do puzzle”
O cunho de “partícula de Deus” não
era do agrado de Peter Higgs. “O
físico experimental americano Leon
Lederman, também ele Nobel e
também ele já falecido, chamou-lhe
‘partícula de Deus’ no título de um
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 27
GETTY IMAGES
livro. De facto, chamou-lhe
‘partícula maldita’ por se recusar a
aparecer, mas o editor mudou para
o nome que Æcou famoso”, lembra
Carlos Fiolhais.
Peter Higgs era o físico dos
átomos que até tinha apostas contra
si. Como Stephen Hawking, que
perdeu 100 dólares por apostar que
nunca se iria detectar este bosão de
Higgs. AÆnal, Peter Higgs tinha
razão. Juntamente com François
Englert, que em 1964 também
propôs a existência de uma outra
partícula subatómica, recebeu o
Nobel da Física em 2013, um ano
após a detecção do bosão.
Modelo-padrão da física
indica-nos que tudo é composto por
“um punhado de tijolos”, como
explicou a Real Academia de
Ciências da Suécia na atribuição do
Nobel. Esses tijolos são as partículas
da matéria que estão presentes em
todo o Universo, como o bosão de
Higgs. Estes bosões estão no
chamado “campo de Higgs”, um
campo de forças invisível que varre
o Universo e dá (através do toque)
massa às outras partículas
elementares com que se cruza.
Parece Æcção cientíÆca, mas é
apenas parte do mundo subatómico
que já conhecemos.
Como recordou ao jornal The New
York Times em 2014, Peter Higgs
“não tinha a certeza de que seria
importante”. O primeiro artigo
cientíÆco sobre o assunto até foi
rejeitado — lá o reescreveu, juntou
um parágrafo Ænal sobre uma “nova
partícula” e o trabalho saiu.
Nuno Castro, que colabora com o
CERN desde 2004, lembra Peter
Higgs como um “cientista notável” e
com um contributo inestimável na
descoberta da “última peça do
puzzle” do modelo-padrão da física:
o bosão de Higgs.
“Em geral, é assim que funciona a
física: os teóricos imaginam e os
experimentalistas, com os seus
instrumentos, veriÆcam se a
‘imaginação’ da natureza está de
acordo com a nossa (em geral, a
natureza ‘imagina’ melhor do que
nós, mas alguns génios têm uma
imaginação prodigiosa)”, diz Carlos
Fiolhais. “Depois da descoberta do
Higgs, ainda não houve nenhuma
outra grande descoberta no CERN.
Estamos à espera de que a natureza
nos surpreenda, uma vez que a
imaginação dos físicos não tem
dado resultados. Temos de
prosseguir pacientemente”, nota.
“Esta descoberta fechou um
capítulo, mas abriu muitos outros,
uma vez que estamos ainda a medir
com precisão as propriedades do
bosão de Higgs e a explorar que
papel poderá desempenhar em
possíveis novos fenómenos ainda
não observados”, acrescenta agora
Nuno Castro, que participou numa
das experiências envolvidas na
detecção do bosão, em 2012. AÆnal,
ainda há cerca de 95% do Universo
de que não conhecemos quase
nada. “Saibamos nós, como
humanidade, continuar o legado de
grandes cientistas como Peter Higgs
e muitos outros, que nunca
desistiram de procurar respostas
para as grandes questões do
Universo”, espera Nuno Castro.
“Higgs era uma pessoa modesta,
apesar de ter vários prémios e
distinções para além do Nobel.
Falava pouco à imprensa. Não usava
telemóvel, pelo que soube do Nobel
porque um vizinho lhe disse. Teve a
paciência de esperar décadas, sem
qualquer publicidade, para saber
que a sua teoria estava certa. Que a
sua imaginação estava de acordo
com a da natureza. Ele não está
mais entre nós, mas a ‘sua’ partícula
está por todo o lado do cosmos e é
imortal”, realça Carlos Fiolhais.
Passaram mais de dez anos desde
o dia em que vimos Peter Higgs a
secar as lágrimas e em que era
anunciado, Ænalmente, que a
teimosa partícula havia sido
detectada. E, mesmo com a sua
morte, o nome do físico manter-se-á
sempre ligado a uma das grandes
descobertas do século XXI.
28 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Cultura O seu espólio literário foi doado à Biblioteca Nacional de Portugal
O ensaísta,
poeta e crítico
cultural que era
“um homem
do mundo”
Eugénio Lisboa (1930-2024) Grande
especialista português em José Régio,
de quem era amigo, deixa uma vasta
obra. Tinha 93 anos
Obituário
Joana Amaral Cardoso
O poeta Eugénio Lisboa morreu
ontem em Lisboa aos 93 anos. O
seu óbito foi conÆrmado ao
PÚBLICO pelo Ælho, o jornalista e
crítico musical João Lisboa, que
detalhou que o ensaísta e crítico
literário, que era um dos maiores
especialistas portugueses em José
Régio, morreu de doença
oncológica no Hospital Curry
Cabral.
Eugénio Lisboa, nascido a 25 de
Maio de 1930 em Moçambique (na
antiga Lourenço Marques, hoje
Maputo), deixa uma vasta
bibliograÆa. Era conhecido “por
praticar a crónica como autêntico
crítico da cultura”, como salientava
em 2001 António Brás no PÚBLICO.
Escrevia na altura a propósito do
seu segundo livro de poesia, O
Ilimitável Oceano, que secundava A
Matéria Intensa, de 1999. “A poesia
de Eugénio Lisboa, seu violino de
Ingres, surpreende-nos, desde
logo, pelo seu assumido
anacronismo”, elogiava-se.
Sobre A Matéria Intensa, o poeta
David Mourão-Ferreira assinalou os
“inesperados acentos lúdicos” da
sua voz, “a um tempo áspera e
calorosa, austera e fremente”,
como consta no Dicionário
Cronológico de Autores Portugueses.
Eugénio Lisboa já se tinha
estabelecido como especialista na
obra de José Régio, escritor
português de quem foi amigo e
sobre quem publicou José Régio.
Antologia, Nota Bibliográfica e
Estudo (1957), ainda em Maputo.
Mais tarde, dirigiu a colecção Obras
Escolhidas de José Régio (ed.
Círculo de Leitores). Voltaria ao
autor com José Régio: a Obra e o
Homem, na editora Opera Omnia,
onde lançou outros nove livros,
nomeadamente as suas memórias
e diários. “Além de seu amigo, era
um dos seus maiores defensores”,
recorda ao PÚBLICO o editor da
Opera Omnia, José Manuel Costa.
Homem “de muito fácil trato,
muito culto, tinha sempre uma
citação para qualquer situação”,
comenta o editor. “Era
bem-humorado, gostava de contar
histórias e anedotas, até
relacionadas com escritores, até
com Régio — que tinha fama de
empertigado.” José Manuel Costa
começou a trabalhar com o
ensaísta quando a Universidade de
Aveiro lhe dedicou um livro de
homenagem, nos seus 80 anos.
Nele se lê que Lisboa era um “leitor
omnívoro e possuidor de
vastíssima cultura. Eugénio lê
furiosamente. Lê de tudo porque
tudo se dispõe a aprender”. São
palavras de Otília Martins,
professora da Universidade de
Aveiro, e Onésimo Teotónio de
Almeida, um dos grandes
promotores do livro de tributo
Eugénio Lisboa: Vário, Intrépido e
Fecundo: Uma Homenagem (2011).
Mais tarde, retoma José Manuel
Costa, “editámos as memórias
dele”. Estavam previstos dois
volumes, “acabaram por sair seis
ou sete porque ele tinha uma
vivência extraordinária. Viveu em
África, França, Suécia, Inglaterra,
era um homem do mundo. O que
mais apreciava nele era a vertente
ensaística, que foi aliás o meu
primeiro contacto com ele, como
leitor na minha adolescência, e era
um memorialista extraordinário. O
memorialismo é uma área que ele
achava ser pouco valorizada”.
Eugénio Lisboa, que foi também
professor universitário (nas
universidades da antiga Lourenço
Marques, de Pretória, de
Estocolmo e de Aveiro), tinha, nas
palavras de Pedro Mexia noutro
texto no PÚBLICO já em 2010,
“uma mentalidade ostensivamente
não académica, e a sua tendência
polémica tem como alvo frequente
a universidade portuguesa, e o
cânone que esta terá estabelecido”.
Mexia escrevia na altura sobre
Indícios de Oiro, primeiro de dois
volumes que compilam décadas da
intervenção crítica de Lisboa e que
assinalavam os seus 80 anos. “Não
tendo vindo do meio académico,
era um profundo conhecedor da
literatura portuguesa, mas não só.
Era, por exemplo, um grande
admirador de Henry de
Montherlant, um autor que não
tem muita visibilidade”, detalha
José Manuel Costa.
Talvez a sua obra mais marcante
no campo do ensaio seja Crónica
dos Anos da Peste (1973-1975), mas
em plena pandemia publicaram-se
Poemas em Tempo de Peste (Guerra
& Paz, Setembro de 2020), em que
Lisboa enumera cronologicamente
os poemas que redigiu entre 31 de
Março e 28 de Julho de 2020. “É
como se através destes seus
poemas nos debruçássemos sobre
uma janela onde a vida agora mal
passa”, comentou Nuno Pacheco
neste jornal. Já neste mês de Abril
foi publicado Soneto — Modo de
Usar, também pela Guerra & Paz.
Extensa bibliograÄa
Eugénio Lisboa estudou
Engenharia Electrotécnica no
Instituto Superior Técnico, em
Lisboa, e antes de regressar a
Moçambique formou a sua
importante amizade com José
Régio. Em Moçambique, onde
sempre esteve em plena
actividade cultural, trabalhava ao
mesmo tempo no sector
petrolífero — o que o levou até
França como gestor. Era membro
da Academia das Ciências de
Lisboa, na Classe de Letras e foi
agraciado com os graus de OÆcial
da Ordem do Infante D. Henrique
(1980), Comendador da Ordem do
Mérito (1993) e Comendador da
Antiga, Nobilíssima e Esclarecida
Ordem Militar de Sant’Iago da
Espada, do Mérito CientíÆco,
Literário e Artístico (2019). O
ensaísta foi também conselheiro
cultural na embaixada de Portugal
em Londres entre 1978 e 1995. Foi
aí que foi condecorado como
tenente da Royal Victorian Order.
Da sua bibliograÆa, entre 24
livros de ensaio e crítica, sete de
memórias e diários e ainda poesia,
constam Acta Est Fabula, Epílogo
(Opera Omnia, 2017), por exemplo,
que dedicou a Maria Antonieta, sua
companheira durante 57 anos e
que morreu em 30 de Julho de
2016. Durante a ditadura, usou
vários pseudónimos, entre os quais
John Land e Lapiro da Fonseca.
Na reabertura das livrarias após
os primeiros meses constritivos da
pandemia, editou Vamos Ler. Um
Cânone para o Leitor Relutante, na
colecção Livros Vermelhos da
Guerra & Paz (2021), mas
continuou por aí, como fez no
blogue De Rerum Natura, a
defender teses fortes, de que os
romances são escritos para serem

lidos e que o efeito Ulisses de James
Joyce estragou a literatura
portuguesa. Isso e o academismo.
“Quando os docentes
universitários começaram a tomar
de assalto a grande imprensa não
académica, para se tornarem os
críticos sistemáticos com tribuna
regular, e, depois, se tornaram
também poetas e Æccionistas (...), o
universo da Æcção começou a
perverter-se. Muitos não escreviam
para serem lidos, mas para serem
‘vistos’, citados e comentados. Um
romance tornava-se uma alínea
pimpona do CV”, diagnosticou em
2022, ano em que publica o seu
olhar sobre a invasão da Ucrânia,
Poemas em Tempo de Guerra Suja,
(Guerra & Paz).
Em seu nome existe o Prémio
Imprensa Nacional/Eugénio Lisboa,
criado em 2017 pela Imprensa
Nacional-Casa da Moeda numa
parceria com o Camões — Centro
Cultural Português em Maputo.
Foi um dos muitos
coordenadores do Dicionário
Cronológico de Autores Portugueses
— Base de Dados de Autores
CORTESIA OBSERVATÓRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Portugueses, da responsabilidade
da Direcção-Geral do Livro, dos
Arquivos e das Bibliotecas
(DGLAB). É na entrada que lhe é
dedicada que se lê uma apreciação
holística do seu trabalho: “Espírito
atento e sulfuroso, autor de um
ensaísmo informado que não
abdica da clareza e do fair play,
Eugénio Lisboa tem sido, ao
arrepio de modas e conveniências
de vária ordem, um leitor
empenhado e provocante de
autores pouco amáveis (Henry de
Montherlant, Régio, Reinaldo
Ferreira, Sena, Rui KnopÇi, para
citar apenas os casos de dedicação
‘militante’). Foi também, nos anos
60 e 70, um desassombrado crítico
da visão oÆciosa das ‘literaturas
africanas de expressão
portuguesa’. No que se refere às
obras e à personalidade de José
Régio e Jorge de Sena, pode
dizer-se hoje que não é possível
estudar um nem outro destes
autores sem atentar nos ensaios de
Eugénio Lisboa.”
O seu espólio literário foi doado à
Biblioteca Nacional de Portugal.
E se o 25 de Abril não tivesse
acontecido e “tivéssemos
continuado a viver com medo”?
Daniel Dias
O 25 de Abril Nunca
Aconteceu, pressuposto
para a peça da Palmilha
Dentada. Amanhã no
Teatro Carlos Alberto
Na nova peça da Palmilha Dentada,
a Revolução dos Cravos não passa de
uma tentativa falhada de golpe de
Estado. Salgueiro Maia, líder da colu-
na militar que pretendia derrubar o
regime, não parou num sinal verme-
lho e colidiu com um camião de
entrega de pão; a polícia de trânsito
foi chamada ao local e prendeu o
capitão, comprometendo a opera-
ção. Consequências: estamos em
2024 e Portugal ainda não se livrou
da ditadura. O trabalho infantil man-
tém-se como uma realidade fortíssi-
ma, a “homossexualidade continua
a ser fortemente reprimida”. E com
uma PIDE ainda actuante, “continua-
mos sem opções, com medo de ser
interrogados, com medo de que nos
batam à porta durante a noite”, aÆr-
ma o encenador Ricardo Alves,
director artístico da Palmilha. De
modo a proteger as indústrias locais,
também há muitos produtos que
permanecem inacessíveis. A Coca-
Cola é um mito e até as sandálias
Crocs são proibidas.
Este é o contexto de O 25 de Abril
Nunca Aconteceu, que entre amanhã
e o dia 27 somará 13 apresentações
no Teatro Carlos Alberto, “segunda
casa” do Teatro Nacional São João
(TNSJ), no Porto. É de um convite do
TNSJ que nasce a peça: a Palmilha
Dentada foi desaÆada a assinalar os
50 anos da Revolução dos Cravos
com a criação de uma “Æcção distó-
pica” sobre o tema. Como explicou
à comunicação social após um
ensaio, Ricardo Alves interrogou-se
sobre como seria o país hoje se o
Estado Novo nunca tivesse sido der-
rubado, sendo que o espectáculo
que criou em colaboração com os
actores (Beatriz Baptista, Eloy Mon-
teiro, Ivo Bastos, Filomena Gigante,
Mário Moutinho, Rodrigo Santos e
Valdemar Santos) é mais “sobre os
indivíduos” do que “sobre as gran-
des questões nacionais”.
“Interessou-me explorar como
seríamos como pessoas se tivésse-
mos continuado a viver com medo,
como seria o crescimento das crian-
ças e o processo da aprendizagem do
medo”, explica o encenador, que,
enfatiza, diz ter escrito a peça “a
pensar nas pessoas mais novas”, que
“não têm a menor ideia do que foi
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 29
viver em ditadura”. O próprio Ricar-
do Alves só tinha dez anos quando
se deu o 25 de Abril. Os membros
mais veteranos do elenco intergera-
cional — Filomena Gigante, nascida
em 1957, e Eloy Monteiro e Mário
Moutinho, ambos nascidos em 1946
— trouxeram ao processo de criação
da peça uma “noção exacta do que
mudou e também do que faltou
mudar” desde 1974.
Mário Moutinho, para quem o 25
de Abril de 1974 é “o dia mais feliz”
da sua vida (superando até aquele
em que nasceu o seu Ælho), e que
tem nesta peça a sua primeira cola-
boração com a Palmilha, interpreta
uma personagem que se assume con-
tra tudo quanto é “libertinagem”. Já
não é a primeira vez que o actor liga-
do ao Bloco de Esquerda faz de fas-
cista: há dois anos, quando o Teatro
do Noroeste — Centro Dramático de
Viana adaptou A Noite, livro do Nobel
José Saramago e cuja história se pas-
sa na redacção do Jornal de Lisboa na
madrugada de 24 para 25 de Abril de
1974, Moutinho assumiu o papel do
director da publicação, “que era
salazarista”. Ele recorda-se de uma
pergunta que lhe foi feita por um
jovem espectador após uma apre-
sentação: como é que uma pessoa
democrata consegue interpretar
“um reaccionário”, que o é de tal
modo que “apetece ir ao palco bater-
lhe”? O actor responde: “Porque os
conheci. Eu vivi com eles.”
O espectáculo, que em termos
estéticos é inspirado por Ælmes por-
tugueses dos anos 1940 como O Pai
Tirano ou O Pátio das Cantigas, duas
referências assumidas na própria
sinopse, acompanha, como refere o
mesmo texto, “um dia na vida da
família Freitas”, cujo pai “trabalha
via Internet num esquema de extor-
são de dinheiro a mulheres falantes
Espectáculo nasce da colaboração de Ricardo Alves com os actores
Cultura
de português espalhadas pelo mun-
do” (“a empresa, tal como as tipogra-
Æas anteriores a 1974, é também o
local de funcionamento de uma célu-
la clandestina, que põe a circular
informação sobre a ditadura”, acres-
centa o resumo da peça).
As personagens da criação, que se
divide em quatro actos, vão desde um
homem que quer fazer uma peça de
teatro para mostrar como seria Por-
tugal se o golpe de 1974 não tivesse
falhado (de modo a driblar a censura,
divulgará o espectáculo como sendo
uma encenação de Frei Luís de Sousa,
de Almeida Garrett) a uma miúda que
se apaixona pela música de Amy
Winehouse sem saber que a cantora
morreu. Interessou a Alves retratar o
“isolamento” que nos anos do Estado
Novo separava Portugal do resto do
mundo: “Os Ælmes estreavam-se cá
com seis anos de diferença em rela-
ção a Hollywood, a informação não
nos chegava”, comenta o encenador,
para quem as Crocs são, neste contex-
to, “um bom símbolo”: “Uma coisa
que não vale cinco coroas, mas que
pode ser um objecto de desejo para
quem não o tem. É a atracção do des-
conhecido, o querer experimentar,
que é essa coisa fabulosa que temos
na democracia: até podemos experi-
mentar partidos fascistas e ver no que
é que dá”, ironiza.
O director artístico da companhia
portuense confessa que não espera-
va uma ascensão do Chega tão volu-
mosa como a registada nas eleições
de Março. E isso levou a uma altera-
ção do texto: “Tinha pensado num
Æm mais ridículo, mas, depois dos
resultados, senti a necessidade de o
colocar com tons mais carregados.”
A “mensagem” tornou-se “mais
agreste, de alerta”, para continuar-
mos longe de regressar a esta disto-
pia.
NELSON GARRIDO
30 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Cultura
Ingmar Bergman à mesa com
os seus demónios no São Luiz
Gonçalo Frota
Albano Jerónimo e Cláudia
Lucas Chéu foram até Fårö
levados pelo texto de Maria
Quintans: Os Demónios não
Gostam de Ar Fresco
Somos levados pelas imagens. Vemos
Fårö, a ilha sueca onde Ingmar Berg-
man viveu e trabalhou durante quatro
décadas da sua vida, a aproximar-se.
As imagens colocam-nos no ferry que
liga a ilha mais próxima, Gotland, a
Fårö, fazemos contas ao frio que deve
ir nas mãos de quem segura a câmara
e ao aportar estamos, na verdade,
numa sala vazia. Ou quase vazia: há
uma mesa e quatro cadeiras, para o
realizador e três dos seus demónios,
Morte, Silêncio e Medo.
A ideia para o texto já vivia há mui-
to na cabeça da escritora Maria Quin-
tans, uma “obcecada pelo trabalho
de Bergman” que há quatro anos
Æxou em página esta viagem à cabeça
do realizador, encenador e dramatur-
go sueco, Æxando-se na sua relação
com alguns dos seus “demónios”
mais persistentes. Na altura, tentou
o improvável: escreveu a Liv Ull-
mann, partilhou com a actriz, reali-
zadora e ex-companheira de Berg-
man a peça de teatro Os Demónios
não Gostam de Ar Fresco e esta
depressa lhe respondeu, entusiasma-
da, incentivando a candidatura da
escritora a uma residência artística
no Bergman Center, em plena ilha de
Fårö. Assim fez Maria Quintans. Só
que as curtas e contracurvas da vida
levaram a que não avançasse depois
de ter sido seleccionada.
Entretanto, Albano Jerónimo e
Cláudia Lucas Chéu, directores da
companhia Teatro Nacional 21, deci-
diram que queriam encenar o texto
de Maria Quintans e, tentando provar
que a boa fortuna pode cair duas
vezes no mesmo sítio, voltou a esta-
belecer-se contacto e Liv Ullmann
demonstrou de novo o seu apreço e
o seu apoio à residência artística que
tinha Æcado em suspenso. É a voz de
Ullmann, aliás, que ouvimos numa
mensagem de voz no início da peça.
É a voz de Ullmann a dar a sua bênção
ao projecto. É a voz de Ullmann a che-
gar-nos aos ouvidos depois de os
olhos nos terem já levado a viajar até
Fårö. Nessa altura, já estamos, por-
tanto, no reduto de Bergman.
Estamos, para sermos mais preci-
sos, na sua cabeça, tal como imagina-
da por Maria Quintans. Mergulhando
na biograÆa e na obra extensíssima
do autor sueco, a autora focou-se na
relação de Bergman (Luís Puto) com
estes demónios (Íris Cayatte, Ivo Ale-
xandre e Maria Ladeira) e com Deus
A peça foi influenciada pela estada na casa de Bergman em Fårö
(Rita Loureiro), num confronto com
as suas obsessões e com a sua imagi-
nação. “Esta perspectiva dos demó-
nios está também intimamente ligada
com o facto de ele ser pessoa muito
perturbada e atormentada”, defende
Albano Jerónimo, que co-dirige o
espectáculo em cena no São Luiz Tea-
tro Municipal, em Lisboa, a partir de
hoje e até domingo, e interpreta um
dos dois Bergman em cena. “O pró-
prio título vem exactamente dos pas-
seios que ele dava de manhã, porque
no frio os demónios não o acompa-
nhavam tanto, sentia-se mais em
paz.”
O silêncio
A imersão no universo de Ingmar
Bergman levou a que a residência no
Bergman Center, concretizada há
duas semanas, produzisse efeitos
consideráveis na abordagem do
espectáculo. Porque antes de embar-
carem na longa viagem — é preciso
um dia e meio para se conseguir che-
gar a Fårö, explicam —, Albano Jeró-
nimo e Cláudia Lucas Chéu tinham
decidido abordar o texto de Maria
Quintans a partir de um Ælme que
seria projectado em palco. “Seria
mais uma videoinstalação, com uma
parte performática no Ænal”, descre-
ve a encenadora.
Essa instalação está ainda presen-
te, os rostos de Bergman e dos seus
demónios Ælmados em planos aper-
tados, transmitindo uma sensação de
intimidade, de estarmos à mesa com
Como diz Albano
Jerónimo, este
espectáculo
potencia a ideia
bergmaniana “de
que Deus é um
acto falhado”
BRUNO SIMÃO/SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
aquelas quatro Æguras, e ao mesmo
tempo assegurando que não existe
fuga possível (física ou mental)
daquelas ilhas. Mas a experiência
intensa da residência levou a altera-
ções drásticas — nomeadamente o
momento em que os planos se que-
bram e os actores assumem o palco,
numa desconstrução daquilo a que
até então assistimos.
Nesse ponto de ruptura, vemos
primeiro Bergman e Deus a falarem
à nossa frente, em carne e osso, sobre-
pondo as suas vozes ao vídeo onde os
dois aparecem também, num cenário
junto ao Báltico, numa evocação de
Persona (A Máscara, no título portu-
guês). O diálogo que então escuta-
mos, vindo do palco e não do vídeo,
com um certo atabalhoamento pro-
positado, parece dizer-nos que toda
e qualquer conversa com o divino é
fruto de uma Æcção, são palavras pro-
jectadas em Æguras imaginadas em
fundo. Como diz Albano Jerónimo, o
espectáculo potencia “a ideia de que
Deus é um acto falhado”. Percebemos
depois que Bergman, o Bergman rea-
lizador e encenador, está a dirigir um
outro Bergman em palco. Como se a
procura de controlo o levasse, colo-
cando-se de fora, a comandar tam-
bém a sua relação com os demónios
que o habitam.
O desdobramento de Bergman ati-
ra-nos para uma outra conclusão
inevitável e que Maria Quintans resu-
me assim: “No fundo, durante toda a
peça, Bergman está a falar consigo
próprio.” Fechado na sua isolada
casa na ilha de Fårö, que, testemu-
nhou-o a equipa da peça, foi insono-
rizada — assim se mantendo aberta
ao mundo, graças a janelas que qua-
se trazem a paisagem para dentro da
sala, mas alheada de todo o ruído
exterior. Para pensar, para estar com
os seus demónios, para ouvir a sua
mente a trabalhar, Bergman talvez
precisasse de estar mergulhado no
mais absoluto silêncio.
Câmara de Coimbra atira
bienal para antigo pediátrico,
resta saber as condições
Camilo Soldado
Anozero está ancorada
no Mosteiro de Santa
Clara-a-Nova, que será hotel
de luxo. Autarquia diz que
hospital está em “ruínas”
Era uma das nuvens que pairavam
sobre a quinta edição da bienal de
arte contemporânea de Coimbra —
Anozero, inaugurada no sábado: qual
o seu futuro, uma vez que o mais
importante dos oito espaços onde se
Æxou, o Mosteiro de Santa Clara-a-No-
va, será transformado em hotel de
cinco estrelas? Uma questão tanto
mais urgente quanto o director da
Anozero, Carlos Antunes, já avisou
que o tempo para preparar a exposi-
ção individual que intervala os anos
da bienal é cada vez mais curto e que
a de 2025 está em risco.
O presidente da Câmara Municipal
de Coimbra, José Manuel Silva, anun-
ciou entretanto, no dia da inaugura-
ção, ter já a garantia de que a bienal
poderá no futuro “invadir” as “ruínas
do velho Hospital Pediátrico”.
Ao PÚBLICO, a câmara esclareceu
ontem por email, em declarações atri-
buídas ao autarca, que “tem o conhe-
cimento informal da disponibilidade”
da imobiliária do Estado, a Estamo,
“para a realização do solo show de
2025 da Anozero”. O município tem
vindo a conversar directamente com
a Estamo, que detém o conjunto de
edifícios devolutos desde 2011, e que
impôs como condição a concordância
formal da Unidade de Saúde Local de
Coimbra.
Carlos Antunes não consegue ainda
dizer se esta pode ser uma solução.
Não sabe em que condições está o
espaço, terá de o avaliar. Mas “uma
ruína não resolve o problema do solo
show” nem o da Anozero, comenta ao
O velho Hospital Pediátrico de Coimbra é propriedade do Estado
PÚBLICO. “A bienal ultrapassou o seu
período quixotesco.” Precisa de esta-
bilidade e de um espaço Æxo.
Quando a Anozero chegou a Santa
Clara-a-Nova, em 2017, o edifício apro-
ximava-se da ruína. A bienal foi recu-
perando o mosteiro, já então na lista
do programa Revive, que visa conces-
sionar monumentos públicos para
uso turístico. Com o avanço do con-
curso, a bienal poderá perder a maior
parte do complexo monástico.
“Ir para um espaço mais precário
do que este é uma péssima solução”,
considera Carlos Antunes. Regressar
a um edifício onde está tudo por fazer
signiÆcaria “voltar atrás dez anos”.
O antigo pediátrico remonta ao
século XVII, tal como Santa Clara-a-
Nova. Originalmente, serviu de dor-
mitório ao Mosteiro de Celas, seu
vizinho. Foi transformado em asilo,
depois em sanatório e, por Æm, já em
1977, em hospital pediátrico. Nessas
funções, manteve-se de portas aber-
tas até 2011, quando foi inaugurado o
novo equipamento que o substituiu.
A autarquia quer o imóvel de 18,4
mil metros quadrados e avaliado em
3,1 milhões de euros para ali instalar
um Centro Transdisciplinar de Apoio
à Criação Artística. No início do mês,
aprovou o pedido ao Estado para
transferência do conjunto. Mas, como
este se adivinha “um procedimento
longo”, José Manuel Silva não antevê
qualquer “eventual problema de
(in)compatibilidade”. Nem actual-
mente “nem no futuro próximo”.
Inaugurada que está a Anozero, a
autarquia vai “agendar brevemente
uma visita conjunta com a direcção
da bienal” ao eventual futuro espaço.
Carlos Antunes já disse preferir que a
Anozero deixe de existir do que vê-la
a deÆnhar lentamente. E sublinha-o:
“A bienal marcou um período na arte
contemporânea em Portugal. Que
acabe em grande.”
MARCO MAURÍCIO

FITEI 2024 irá da Luta Armada
à Possibilidade da Ternura
Luís Miguel Queirós
Festival Internacional
de Teatro de Expressão
Ibérica abre a 15 de Maio e
traz 14 estreias, incluindo
9 espectáculos estrangeiros
No ano em que se comemoram os 50
anos do 25 de Abril, o 47.º Festival
Internacional de Teatro de Expres-
são Ibérica (FITEI) — que decorrerá
de 15 a 26 de Maio em diversos palcos
distribuídos por Porto, Gaia, Matosi-
nhos e Viana do Castelo — retoma o
binómio temático da edição do ano
passado, “trauma e bravura”, mas
soma-lhe agora a “fantasmagoria”.
Num tempo marcado pela ressaca
da pandemia e pela crise climática,
por migrações em grande escala e
pela barbárie da guerra, “os artistas
respondem com o seu corpo e com
a sua escrita, mas também com a
invocação de algo a que podemos
chamar espírito”, justiÆcou o direc-
tor artístico, Gonçalo Amorim, subli-
nhando que “a força espectral dessas
fantasmagorias”, que “rememoram
passado, presente e um futuro ima-
ginado”, povoam vários dos espec-
táculos deste FITEI 2024, cuja pro-
gramação, ontem apresentada,
inclui nove estreias nacionais de pro-
duções estrangeiras e cinco estreias
absolutas de peças portuguesas.
O festival abre com Luta Armada,
da companhia Hotel Europa, que
prossegue o seu trabalho em torno
do passado político recente do país.
Debruça-se agora (a peça está actual-
mente em cena em Lisboa) sobre
sucessivos projectos e organizações
políticas que recorreram ao uso das
armas, dos assaltos a bancos e outras
acções violentas desencadeadas
pelos opositores da ditadura fascista
até ao pós-revolução, primeiro com
a rede bombista de extrema-direita,
e depois com os atentados de extre-
ma-esquerda das FP-25.
No seu segundo dia, o festival des-
dobra-se já por vários palcos: o do
Campo Alegre acolhe O Navio Night,
da companhia viseense ArDemente,
um espectáculo baseado no texto
homónimo de Marguerite Duras; o
do Rivoli recebe a Stabat Mater da
brasileira Janaina Leite, que já pas-
sou pelo FITEI integrada no Colecti-
vo 19, e que desta vez se apresenta a
solo com uma palestra-performance
que aborda a violência sobre a
mulher a partir de uma reconstrução
da narrativa bíblica da Virgem Maria.
A investigadora, encenadora e actriz
surge acompanhada pela sua mãe e
pela personagem de Príapo, o deus
A Possibilidade da Ternura,
da companhia chilena
La Resentida, e Stabat Mater,
da brasileira Janaina Leite
Aos tempos difíceis
que correm,
os artistas do FITEI
ripostam “com
o corpo e a escrita,
mas também
com a invocação
[do] espírito”
ANDRÉ CHERRI
grego da fertilidade, interpretado
pelo actor porno Lucas Asseituno.
Manuela Rey Is In Da House, ence-
nada por Fran Nuñez para o Centro
Dramático Galego, mostrar-se-á no
Teatro Nacional São João (TNSJ). É a
redescoberta da fascinante história
da actriz Manuela Rey (1842-1866),
que deixou a sua aldeia natal de Mon-
donhedo, na Galiza, e emigrou mui-
to nova para Portugal, integrada
num grupo de saltimbancos, acaban-
do em Lisboa, onde conquistou cele-
bridade como actriz, tendo-se estrea-
do aos 15 anos no Teatro Nacional D.
Maria II. Gonçalo Amorim lembrou
a muita atenção que a imprensa da
época deu ao seu desaparecimento
precoce (morreu de tifo aos 23 anos)
e ao seu funeral.
Também a 16, o Teatro do Frio
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 31
MAGLIO PÉREZ
estreia Trajectória, resultado de pas-
seios de bicicleta pelos territórios do
FITEI e da recolha de histórias junto
de comunidades das quatro cidades
que o acolhem. A performance segue
para o Constantino Nery — Teatro
Municipal de Matosinhos e o Teatro
Sá de Miranda, em Viana do Castelo.
Também no Constantino Nery,
Ana Luz Ormazábal recupera uma
investigação abafada da médica chi-
lena María Isabel, guerrilheira do
Movimento de Izquierda Revolucio-
naria, que combateu o regime de
Pinochet. María Isabel aborda a resis-
tência à ditadura fascista, mas tam-
bém o papel desta médica num gru-
po que investigou e denunciou os
abusos sexuais que as militantes
sofriam às mãos dos seus próprios
companheiros de luta. “O relatório
que escreveram perdeu-se três vezes,
porque sempre que chegava às mãos
dos camaradas desaparecia”, resu-
miu Gonçalo Amorim.
Uma das novidades desta edição é
o regresso do Coliseu. É na grande
sala portuense que O Bando e a Com-
panhia Olga Roriz, em parceria com
a Banda Sinfónica Portuguesa, apre-
sentam em sessão única Irmã Palesti-
na, prosseguindo a tetralogia inspira-
da na Xerazade das 1001 Noites.
Galo de Barcelos vs. Salazar
A terminar a primeira semana, a
mala voadora estreia Old Cock, peça
encenada e interpretada por Jorge
Andrade na qual o galo de Barcelos
pede contas do uso manipulador que
Cultura
lhe foi dado a um Salazar que lhe
responde em “versão deepfake”.
Sem inventariar exaustivamente a
programação, podem ainda destacar-
se One Night at the Golden Bar, em que
o espanhol Alberto Cortés evoca o
mundo de um jovem homossexual na
Málaga dos anos 90; e No Hay Banda,
de Martín Flores Cárdenas, que inter-
roga “o ponto zero da criação teatral,
o próprio corpo”, num exercício de
mise en abîme protagonizado por um
encenador argentino que é convidado
a apresentar uma peça num festival
brasileiro mas não tem peça para
apresentar.
Noutra sessão única, desta feita no
Rivoli, a companhia chilena La Re-
Sentida apresenta A Possibilidade da
Ternura, resultante de um processo
de criação colectiva com adolescen-
tes, que estarão em palco a expressar
livremente as suas emoções, abrin-
do-se à possibilidade de conciliar a
masculinidade com a demonstração
livre dos afectos. Este apelo ao
“poder revolucionário da ternura”
chega ao Porto depois de uma bem-
sucedida digressão internacional.
Em mais uma estreia absoluta, o
encenador João Branco e a SAARACI
Colectivo Teatral levam ao Constan-
tino Nery Dona Pura e os Camaradas
de Abril, texto do romancista cabo-
verdiano Germano de Almeida que
mostra a revolução portuguesa pelo
olhar do colonizado. Será a primeira
parte de uma trilogia a que se acres-
centarão tomos sobre Amílcar
Cabral, em 2025, e José Mário Branco
(pai do encenador), em 2026.
Outra estreia nacional é Sem Pala-
vras, que assinala o regresso ao FITEI
do encenador Marcio Abreu e da
Companhia Brasileira de Teatro. Nas
mesmas datas, Manuel Tur apresen-
ta no Teatro do Campo Alegre, que
co-produziu o espectáculo, A Nossa
Última Manhã Aqui, reÇexão sobre o
racismo que parte das suas memó-
rias de neto de retornados.
E parece adequado acabar com a
reposição de Canto do Cisne, encena-
ção de Nuno Cardoso para a peça de
Tchékhov em que um actor em Æm
de carreira interroga o sentido da
vida que dedicou ao teatro e se con-
fronta com o seu ocaso. Para inter-
pretar este monólogo, o director
artístico do TNSJ foi buscar Júlio Car-
doso, fundador e sócio n.º 1 da coo-
perativa FITEI, que o festival quer
homenagear nesta edição. O proble-
ma é que o actor deu uma queda e
provavelmente não poderá subir ao
palco tão cedo. Mas Gonçalo Amo-
rim insiste que “ainda tem uma
pequena esperança” e não quis
desistir já do espectáculo.
32 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024

Poesia Pública Por João Habitualmente

Recompor o lume
Hoje arrumei a estante.

Livros empilhados há anos pelos cantos

alojando pequenos animais no rés do chão
imensas caves larvares de encontro aos tacos

aqui e ali um Æo de teia

mas nunca a aranha

não gostam de ler.

Um a um
limpo a lombada
folheio
miro de relance o índice. Este é para aqui!

Coloco-o no lugar exato da prateleira

espaço reservado à eternidade

os outros aguardam
Ætam-me com seus olhos pétreos
os mais velhos largando odores
a pó de arroz
a pó
a pétalas amortalhadas
a invernos chuvosos
lumes de lareiras e o ruído da página que se vira.

Aguardam com olhos pétreos

suspensos da decisão

o pensamento universal Æcou na prateleira de cima

escorre água pelas vidraças

os manifestos revolucionários logo ao lado

esquerdo nos seus vermelhos fulgentes
na de baixo uma coleção de bichos da national geographic
dorsos em couro tartaruga

as biograÆas olham-me estarrecidas.

Tantos anos para isto?
Perguntam

as biograÆas dos que tombaram

para que houvesse amanhã

tombaram mas agora os levanto

entalando-os com uma jarra
para não escorregarem
agora sim, arrumei a revolução.

Recomponho o lume
que soçobrava nas próprias cinzas
e logo uma labareda recomeça

João Habitualmente nasceu no Porto em 1961 e vive em Gaia. Com assídua presença nas noites de poesia do Pinguim nos anos 1990, publicou cinco livros entre 1995
e 2022. A sua escrita toca também outros géneros, desde o conto à microficção e ao diário. Com a assinatura de Luís Fernandes, foi cronista nos jornais O Comércio
do Porto, PÚBLICO e A Página da Educação. É também professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.

Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda, com o apoio media do PÚBLICO. Ao longo de 50
dias publicaremos 50 poemas inéditos de 50 autores sobre revolução. Veja mais em publico.pt

Citroën C3 chega com mais espaço
e tecnologia — e mais barato
As variantes térmicas do modelo francês arrancam nos 14.990 euros. Nova geração
aplica conceitos de simplicidade sem prescindir da tecnologia
Carla B. Ribeiro
Depois de ter apresentado o ë-C3,
eléctrico do segmento B, que chega
a partir de 23.300 euros, a Citroën
desvenda a política de preços que
reservou para a gama térmica, com
preços que começam abaixo da linha
dos 15 mil euros.
Os 14.990 euros correspondem à
mecânica assente num bloco a gaso-
lina de 1,2 litros a debitar 100cv e
acoplado a uma caixa de velocida-
des manual, na versão de equipa-
mento You, que inclui faróis LED,
espelhos eléctricos, iluminação
automática, ajuda ao estacionamen-
to traseiro, spoiler traseiro, cruise
control, ar condicionado manual e
seis airbags. Mais relevante para
quem valoriza a conectividade, traz
o novo Citroën Head Up Display e a
Smartphone Station. Ou seja, tal
como já tinha defendido com o ë-C3,
adoptando os conceitos do exercí-
cio Oli, todo o infotainment e comu-
nicação podem ser levados para o
veículo através de um smartphone,
cujas informações podem ser visua-
lizadas através de um sistema
Audi S3 ganha expressividade e potência
O Audi S3 apresenta-se actualizado com mais
potência, assente num 2.0 TFSI com 333cv, capaz de
cumprir de 0 a 100 km/h em 4,7 segundos; sistema
de tracção integral quattro com repartidor de
binário; suspensão optimizada e um novo modo de
condução, o Dynamic Plus. Chega no Verão.
O C3, na versão mais equipada
Max (a partir de 19.200€) inclui
um ecrã táctil de 10,25‘’, que dá
acesso ao sistema de
infotainment da Citroën
O 1.2 Puretech de 100cv chega
acoplado a uma caixa manual de
seis velocidades
smartband, que as projecta a toda a
largura inferior do pára-brisas.
Na versão mais recheada, Max
(desde 19.200€), há ecrã táctil de
10,25 polegadas, que dá acesso ao
sistema de infoentretenimento da
marca, e, entre outros equipamen-
tos, também inclui pintura bitom,
barras de tejadilho decorativas, jan-
tes de liga leve de 17’’, luzes traseiras
LED e vidros traseiros escurecidos.
Mas a maior novidade assenta no
grupo propulsor híbrido, para o qual
as encomendas deverão arrancar no
Æm do ano, sem que tenham sido
FOTOS: DR
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 33
motores
comunicados preços. O Hybrid 100,
com motor a gasolina tricilíndrico e
sistema híbrido de 48V, a debitar
100cv, distingue-se por estrear uma
nova caixa de velocidades electriÆ#
cada de dupla embraiagem, a
ë-DCS6, que integra um motor eléc-
trico de 21kW.
O conjunto, diz a marca, admite
realizar até 50% das deslocações em
cidade em modo eléctrico, “reduzin-
do custos e pegada ambiental”, ao
mesmo tempo que o impulso eléctri-
co anima o carro, que se apresenta
com um binário máximo de 205Nm:
em acelerações fortes, o motor eléc-
trico fornece cerca de 12cv adicio-
nais, sem penalizar emissões: no
ciclo combinado WLTP, estão regis-
tados 117g/km de CO2.
Aposta no conforto
O C3 mantém as dimensões do com-
primento, mas cresceu em altura, o
que lhe confere mais espaço a bordo.
A distância ao solo também aumen-
tou, para 197mm, o que, acredita a
Citroën, facilita as entradas e saídas
do veículo, um dos factores que
explica a preferência pelos SUV
(sport utility vehicles).
No entanto, a maior aposta foi fei-
ta no conforto, com a estreia no
modelo, desde a gama mais básica,
da suspensão Citroën Advanced
Comfort, com duplo batente hidráu-
lico progressivo, o que ajuda, aÆança
a empresa, a “neutralizar as irregu-
laridades da estrada e na transposi-
ção de lombas”. A acrescentar bem-
estar, há novos bancos, redesenha-
dos e com melhor apoio lateral, além
de espuma adicional.
Guia
publico.pt/motores
Novidade
Salvador Caetano traz
eléctricos da Xpeng
para Portugal
Depois de se ter estreado no
Norte e centro da Europa, a
chinesa Xpeng vai alargar o seu
campo de acção à Península
Ibérica, através de um “acordo
estratégico” com a Salvador
Caetano Auto.
Sediada em Guangzhou, China,
a Xpeng foi fundada, em 2014,
por Xia Heng e He Tao, saídos do
Grupo GAC e com experiência
em tecnologia automóvel e
investigação e desenvolvimento,
e concentra-se no
desenvolvimento de veículos
inteligentes, tendo começado
por estar voltado sobretudo para
o mercado doméstico.
No entanto, com o crescimento
das vendas de eléctricos na
Europa, a marca estreou-se na
Noruega, em 2021, com o SUV
compacto G3, e está prestes a
arrancar as suas operações na
Alemanha, com dois modelos (a
berlina P7 e o SUV G9) a
começarem a chegar em Maio
(há um terceiro, o SUV coupé G6,
previsto para depois do Verão).
A Portugal (e Espanha) a
chegada dos veículos da Xpeng,
empresa da qual a alemã
Volkswagen detém uma
participação de 4,99%, está
prevista ainda para o decorrer de
2024, com a Salvador Caetano
Auto a assegurar a importação
dos “automóveis eléctricos
tecnologicamente avançados”.
Esta é a quinta marca chinesa a
constar no universo da Salvador
Caetano Auto, onde já estão
listadas as nipónicas Honda e
Toyota (e respectivo braço
premium Lexus) ou a sul-coreana
Hyundai: começou pela BYD,
emblema que, no final do ano
passado, tinha ultrapassado a
Tesla; prosseguiu com Dongfeng,
M-Hero e Voyah, fruto de um
acordo firmado com a Dongfeng
Motor Corporation; e remata,
agora, com a Xpeng.
“Espanha e Portugal [são]
mercados muito importantes
para a Xpeng”, declarou o
presidente da Xpeng, Brian
Hongdi Gu, que não terá retirado
da equação o facto de a sua
principal fornecedora, a CALB,
estar a investir cerca de 2060
milhões de euros numa fábrica
em Sines, que já recebeu luz
verde da Agência Portuguesa do
Ambiente.
34 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Guia
Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100. T. 214221030
A Zona de Interesse M12. 13h05; Pobres
Criaturas M16. 17h05; Anatomia de Uma
Queda M12. 17h; A Sala de Professores
M12. 19h15; Dune - Duna: Parte Dois M12.
21h15; Priscilla M14. 14h45; A Flor do
Buriti M12. 19h30; O Panda do Kung Fu
4 M6. 13h10, 15h15 (VP); Evil Does Not Exist
- O Mal Não Está Aqui 19h45; Máquina
Fantástica M12. 13h05; Parece que
Estou a + M12. 17h10, 21h50; Uma Vida
Singular M12. 14h50, 17h20, 21h55; How
to Have Sex - A Primeira Vez M14. 20h;
O Hotel Palace M12. 15h05, 21h50
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 214221030
O Rapaz e a Garça M12. 19h35; Dune
- Duna: Parte Dois M12. 17h50, 19h50,
21h25; O Panda do Kung Fu 4 13h20, 15h25,
17h35, 19h40, 21h45 (VP); Caça-Fantasmas:
O Império do Gelo 15h15, 17h30; Godzilla x
Kong: O Novo Império M12. 15h55, 19h20,
21h35; Os Gigantes de La Mancha M6.
13h50, 15h50 (VP); Homem Macaco M12.
13h30, 15h50, 19h10, 21h30; O Génio do
Mal: O Início M16. 15h10, 19h, 21h40; Uma
Vida Singular M12. 15h15, 17h25, 22h;
Anjos na Terra M12. 13h30; A Minha Fada
Traquina M6. 13h35, 15h40 (VP); O Hotel
Palace M12. 17h30, 19h35, 21h35
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
A Flor do Buriti 17h; Eureka 21h15;
Ryuichi Sakamoto - Opus M12. 15h, 19h15
Cinemas Nos Alvaláxia
R. Francisco Stromp. T. 16996
Oppenheimer M14. 20h50; Pobres
Criaturas M16. 14h05, 20h30; Anatomia
de Uma Queda M12. 18h45; Bob Marley:
One Love M12. 21h50; Dune - Duna: Parte
Dois M12. 13h30, 17h40, 21h20; O Panda
do Kung Fu 4 M6. 13h25, 15h55, 18h25
(VP); Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 18h10, 21h; Godzilla x Kong:
O Novo Império M12. Sala Atmos - 13h20,
16h, 18h30, 21h10; Imaculada M16. 14h,
16h15, 18h40, 21h15; Os Gigantes de La
Mancha M6. 13h55, 16h25 (VP); Homem
Macaco M12. 13h10, 16h10, 18h50, 21h40;
O Génio do Mal: O Início M16. 13h40, 16h20,
19h05, 21h50; Parece que Estou a + M12.
13h15, 15h50, 18h20; Uma Vida
Singular M12. 13h35, 16h05, 18h35,
21h05; Miller’s Girl - A Favorita M14. 13h50,
16h30, 22h; Amor em Sangue M16. 17h30;
A Minha Fada Traquina M6. 13h40, 15h45
(VP); O Hotel Palace M12. 18h55, 21h30
Cinemas Nos Amoreiras
C.C. Amoreiras. Av. Engº Duarte Pacheco.
Oppenheimer M14. 20h40; Pobres
Criaturas M16. 20h50; Vidas Passadas M12.
21h40; Bob Marley: One Love M12. 13h30,
16h10, 18h40; Dune - Duna 13h10, 16h50,
20h30; O Panda do Kung Fu 4 13h20,
15h40, 18h10 (VP); Eureka 18h; Godzilla x
Kong: O Novo Império M12. 14h10,
17h30; Os Gigantes de La Mancha M6.
13h10, 15h30; Parece que Estou a + 13h20,
15h50, 18h20; Uma Vida Singular M12.
13h30, 16h, 18h30, 21h10; Miller’s Girl
- A Favorita M14. 21h; O Hotel Palace 21h20
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusiada. T. 16996
Bob Marley: One Love M12. 13h20,
16h; Dune - Duna 13h, 16h30, 20h, 23h30;
O Panda do Kung Fu 4 M6. 10h30, 12h40,
15h10, 17h30, 19h45 (VP); Caça-Fantasmas:
O Império do Gelo 18h, 20h50, 23h40; The
Bricklayer 22h, 00h30; Godzilla x Kong:
O Novo Império M12. 14h, 17h, 20h30,
23h10; Imaculada M16. 12h55, 15h, 17h10,
19h20, 21h50, 00h20; Os Gigantes de La
Mancha M6. 13h50, 16h10 (VP); Homem
Macaco M12. 18h40, 21h20, 00h10; O Génio
do Mal: O Início M16. 13h05, 15h40, 18h30,
21h10, 23h55; Uma Vida Singular M12.
Estreias
O Hotel Palace
De Roman Polanski. Com
Oliver Masucci, Fanny Ardant,
John Cleese, Bronwyn James,
Joaquim de Almeida, Luca
Barbareschi, Mickey Rourke.
ITA/SUI/POL/FRA. 2023.
100m. Drama. M12.
O luxuoso hotel Palace, na Suíça,
está a ser preparado para a festa
de passagem do ano 2000, que
contará com hóspedes exigentes
de todas as áreas e lugares do
mundo. Hansueli Kopf, o director
do hotel, está um pouco inseguro
sobre se a sua equipa estará à
altura de satisfazer os caprichos
de cada um dos convivas.
Eureka
De Lisandro Alonso. Com Viggo
Mortensen, Chiara Mastroianni,
Viilbjørk Malling Agger, Rafi
Pitts, Luísa Cruz. POR/FRA/
ARG. 2023. 147m. Drama.
Um drama que reÇecte sobre a
violência colonial inÇigida aos
povos indígenas ao longo dos
séculos. Através de várias
histórias, o realizador Lisandro
Alonso chama a atenção para a
importância da preservação das
tradições e modos de vida das
tribos nativas.
Homem Macaco
De Dev Patel. Com Dev
Patel, Sharlto Copley,
Pitobash, Sobhita Dhulipala.
EUA/Índia/CAN/SIN. 2024.
119m. Thriller. M12.
Um jovem indiano inicia uma
jornada de vingança contra os
responsáveis pela morte da sua
família. Nesse longo e árduo
percurso, onde vai ter muitas
contas a ajustar, ele acaba
transformado no defensor dos
pobres e oprimidos.
Miller’s Girl - A Favorita
De Jade Halley Bartlett.
Com Martin Freeman,
Jenna Ortega, Bashir
Salahuddin, Gideon Adlon.
EUA. 2024. 93m. Drama. M14.
Jonathan Miller é um escritor que
dá aulas de escrita criativa numa
18h20, 21h, 23h45; A Minha Fada
Traquina M6. 11h, 13h30, 15h50 (VP);
Dune - Duna: Parte Dois M12. Sala Imax
- 21h40; Godzilla x Kong: O Novo
Império M12. Sala Imax - 12h50, 15h30
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Bob Marley 13h30, 16h30; Dune - Duna:
Parte Dois M12. 13h40, 17h30, 21h10; O
Panda do Kung Fu 4 M6. 10h50, 13h20,
15h45 (VP); Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 14h, 17h; Godzilla x Kong: O Novo
Eureka
escola secundária. É neste
contexto que se cruza com uma
talentosa estudante de 18 anos
que decide seduzi-lo e
destruir-lhe a carreira e a
credibilidade.
O Génio do Mal: O Início
De Arkasha Stevenson. Com
Bill Nighy, Charles Dance, Ralph
Ineson, Nell Tiger Free. EUA/
ITA. 2024. 120m. Terror. M16.
Quando Margaret, uma jovem
freira norte-americana, faz os
seus votos Ænais, concorda em
mudar-se para Roma e
entregar-se de corpo e alma à
Igreja. O que ela não imaginava
era ver-se envolvida numa
conspiração macabra com o
objectivo de fazer nascer o
anticristo.
Parece que Estou a +
De Denys Arcand. Com
Rémy Girard, Sophie Lorain,
Marie-Mai Bouchard, Yves
Jacques. CAN. 2023. 115m.
Drama. M12.
Jean-Michel é um senhor elegante
e gentil já na casa dos 70 que vive
num lar de idosos gerido pela
temperamental Suzanne
Francoeur. As suas vidas são
perturbadas quando um grupo de
activistas se instala à porta da
instituição, exigindo a remoção
de um quadro antigo que
considera gloriÆcar o
colonialismo.
A Minha Fada Traquina
De Caroline Origer. Com Jella
Haase (Voz), Lucy Carolan (Voz),
Alex Avenell (Voz). LUX/Peru/
ALE. 2022. 85m. Animação. M6.
Maxie, de 12 anos, Æcou
muito abalada por ter de
deixar a casa de campo onde
sempre viveu para se mudar
para o apartamento do novo
namorado da mãe, na cidade.
Simultaneamente, no país da
magia, a fada Violetta vê-se em
sérios trabalhos ao fazer um
exame e é acidentalmente
teletransportada para
o mundo dos humanos.
Império Atmos - 13h10, 16h, 21h30, 00h15
(2D), 18h45 (3D); Imaculada M16. 21h40,
24h; Os Gigantes de La Mancha M6. 11h,
13h50, 16h15 (VP); Homem Macaco M12.
18h40, 21h50; O Génio do Mal: O Início
M16. 20h30, 23h20
Cinemateca Portuguesa
R. Barata Salgueiro, 39. T. 213596200
Lancelote do Lago 21h30;
Os Evadidos M12. 15h30
Medeia Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213142223
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
O Acossado M12. 13h30; Cruel Vitória
M12. 15h30; Santa Joana 22h; Lilith
e o Seu Destino 17h30; Evil Does Not
Exist - O Mal Não Está Aqui 20h
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Oppenheimer M14. 21h25; Dias
Perfeitos M12. 13h40, 18h45; A Zona de
Interesse M12. 16h25, 21h50; Pobres
Criaturas M16. 15h40, 21h40; Anatomia
de Uma Queda M12. 15h45, 18h50; Vidas
Passadas 16h05, 18h30; Os Excluídos M12.
21h35; A Sala de Professores M12. 13h30,
19h20; Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h25,
16h50, 21h05; A Flor do Buriti M12. 13h45,
18h50; O Panda do Kung Fu 4 14h, 16h20
(VP); Arthur Amigo para Sempre M12.
13h55; Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 13h20, 21h15; Godzilla x Kong:
O Novo Império M12. 16h30,
21h50; Imaculada M16. 13h30, 22h; Ryuichi
Sakamoto - Opus M12. 16h35, 19h25; Evil
Does Not Exist - O Mal Não Está Aqui 14h05,
19h15; Homem Macaco M12. 13h35, 16h15,
19h, 21h45; O Génio do Mal 16h40, 19h10,
21h55; Parece que Estou a + M12. 16h10,
21h20; Uma Vida Singular 13h45, 16h20,
18h55, 21h20; A Terra Prometida M14.
14h10; Miller’s Girl - A Favorita M14. 16h25,
21h35; Anjos na Terra M12. 13h35, 18h40;
A Minha Fada Traquina M6. 14h25 (VP);
O Hotel Palace M12. 16h45, 19h05, 21h30
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
R. Sérgio Malpique 2. T. 16996
Todos Menos Tu M12. 18h15, 20h30; Bob
Marley: One Love M12. 13h45, 16h15 18h45,
21h15; Dune - Duna: Parte Dois M12. 14h,
17h40, 22h; O Panda do Kung Fu 4 M6.
12h40, 15h10, 17h30, 18h15 (VP/2D), 16h30
(VP/3D); Caça-Fantasmas: O Império
do Gelo M12. 13h10, 18h40, 21h30; The
Bricklayer: Missão Mortal 22h20; Godzilla
x Kong: O Novo Império M12. Sala Atmos
- 12h50, 15h40, 18h20, 21h; Imaculada
M16. 13h, 15h15, 17h25, 19h35, 22h45; Os
Gigantes de La Mancha M6. 13h50, 16h10
(VP); Homem Macaco M12. 13h, 15h40,
18h40, 21h20; O Génio do Mal: O Início M16.
13h40, 18h50, 21h40; Parece que Estou a
+ M12. 16h; Uma Vida Singular M12. 12h55,
15h35, 18h20, 20h50; No Way Up - Sem
Saída M16. 20h, 22h10; Miller’s Girl - A
Favorita M14. 21h45; Anjos na Terra
M12. 13h30, 16h20, 19h; A Minha Fada
Traquina M6. 13h10, 15h35, 17h50 ;
O Hotel Palace M12. 12h45, 15h20, 18h,
20h20, 22h40; Godzilla x Kong: O Novo
Império M12. Sala Atmos - 12h20, 14h50,
17h20, 20h10, 22h50
Amadora
Cinema City Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
Patos! M6. 17h55 (VP); Todos Menos Tu
M12. 19h45; A Zona de Interesse M12.
19h55; Pobres Criaturas M16. 21h25;
Dune - Duna: Parte Dois M12. 15h50, 17h40,
19h30, 21h30; O Meu Amigo Ninja 2
M6. 15h50 (VP); O Panda do Kung Fu 4
M6. 15h25, 17h30, 18h40, 19h55,
21h35; Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 15h15, 17h30; Godzilla x Kong:
O Novo Império M12. 15h40, 19h20,
22h; Imaculada M16. 21h50; Os Gigantes
de La Mancha M6. 15h20 (VP); Homem
Macaco M12. 15h45, 19h, 21h55; O Génio
do Mal: O Início M16. 15h15, 17h35, 19h35,
22h; Uma Vida Singular M12. 15h20, 17h30,
21h55; Anjos na Terra M12. 19h40; A Minha
Fada Traquina M6. 15h40 (VP); O Hotel
Palace M12. 17h20, 21h35
UCI Cinemas - Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Patos! M6. 13h20, 15h30 (VP); Dune - Duna:
Parte Dois M12. 17h45, 21h15; O Panda
do Kung Fu 4 M6. 14h, 16h20, 18h40
(VP); Arthur Amigo para Sempre M12.
13h35; Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 16h05, 21h20; Godzilla x Kong:
O Novo Império M12. 13h50, 16h30, 19h05,
21h35; Imaculada M16. 19h15, 21h40; Os
Gigantes de La Mancha M6. 13h40, 16h10
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O Início M16. 13h15, 13h45, 16h25, 18h50,
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O Império do Gelo 14h15, 21h30; Godzilla x
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 Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 35

Guia

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Palavras-cruzadas, Euromilhões 19 23 26 27 46 2 10
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TEATRO Cruzadas 12.396 Paulo Freixinho

Últimos Remorsos antes
do Esquecimento
CASCAIS Teatro Municipal
Mirita Casimiro. De 27/3 a 28/4.
Quarta a sábado, às 21h;
domingo, às 16h. M/14. 15€
Centrada numa casa de família e
na “série de emoções, histórias,
amor e dor” desencadeadas pela
venda da propriedade, a peça de
Jean-Luc Lagarce é levada às
tábuas pelo Teatro Experimental
de Cascais. Nesta que é a 179.ª
produção da companhia, que
presta tributo ao legado do
fundador Carlos Avilez
(1935-2023), a encenação vem
assinada por Elmano Sancho, que
integra o elenco juntamente com
Beatriz Ferreira, Maria João
Falcão, Paulo Pinto, Sérgio Silva e
Sílvia Filipe.
A Liberdade É Uma Maluca
LISBOA Teatro do Bairro.
De 3/4 a 21/4. Quarta a sexta,
às 21h30; sábado e domingo,
às 18h. M/16. 15€
Escrita e encenada por Hugo
Mestre Amaro, a peça do Teatro
do Bairro apresenta-se como
“uma sátira que intenta ser um
retrato/apanhado de um Portugal
herdeiro, nestas últimas cinco
décadas, da Revolução dos
Cravos”. Estreada no âmbito das
comemorações do 25 de Abril,
aponta ao ano corrente, à festa de
aniversário das trigémeas Maria da
Liberdade, Liberdade Maria e
Aurora da Liberdade, nascidas há
50 anos, no mesmo dia da
revolução. A acção decorre na
casa lotada da matriarca — que,
por força das circunstâncias
socioeconómicas, alberga toda a
família —, onde tensões e querelas
familiares são exponenciadas e há
um segredo bem guardado.
palavrascruzadas@publico.pt
Horizontais: 1. Sebastião da (...), o poeta da serra da Arrábida, que faria hoje 100
anos. Chegaram aos ouvidos. 2. Operação de desembaraçar árvores, campos e
jardins de quanto lhes seja nocivo. Indivíduo do povo. 3. Ruténio (s. q.). Inflamação
da íris. Portugal (Internet). 4. Paulo (...), ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros. Dança e música populares. 5. Protelas. Poeta e cantor ambulante
entre os Gregos antigos. 6. Avenida (abrev.). Indulgência. 7. Um primeiro grito de
resistência vindo do exterior, com letra de Manuel Alegre e música de Luís Cília. 8.
Esgaravatam com palito (os dentes). Liga. 9. Segundo a lenda, foi o mais famoso
dos chefes troianos. Na moda. 10. Paddy (...), voltou à liderança da Web Summit.
Observei. 11. Assembleia da República. “A” + “o”. Os dois juntos.
Verticais: 1. Genica (fig.). Densa. 2. Influenciada pela Lua. Sufixo (agente). 3.
Terceira nota musical. Iguales (fig.). 4. “A razão ainda que severa, é sempre (...)
sincera”. Insulta com palavras (Brasil). 5. Clérigo que recebeu o presbiterado, isto
é, a terceira ordem sacra. 6. Decifravas, às avessas. Árvore-da-judeia. 7. Alentava.
8. Ana (...), na carta de demissão, a vice-provedora recusa que a
internacionalização seja “causa única” para colapso da Santa Casa. Preposição
designativa de falta. 9. Acusada. Viagem. 10. Fértil. 11. Alvo (fig.). Erva-doce.
Solução do problema anterior
Horizontais: 1. Desígnio. AP. 2. Ei. Noa. Calo. 3. Professores. 4. Rabila. CRP. 5. Ma. Tiago. 6. Ecoa. SAD.
Ir. 7. Nua. Cólera. 8. Dr. Ia. Hm. Sr. 9. Escolha. 10. Roo. Hurkacz. 11. Arejam. Lima.
Verticais: 1. Depreendera. 2. Eira. Cursor. 3. Ob. OA. Coe. 4. Ínfima. Io. 5. Goela. Calha. 6. NASA. Só.
Hum. 7. Talhar. 8. Oco. Idem. Kl. 9. Arca. Pai. 10. Alergias. Cm. 11. Pospor. Reza.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge bridgepublico@gmail.com Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: S mão, pois pode bloquear o naipe Problema 12.558 (Fácil)
Solução 12.556
Vul: NS caso o naipe esteja dividido 3-1.
O que fazer?
NORTE Deixe passar as duas primeiras
Ƅ A43 vazas de espadas e balde essa
Ɔ QJ
Ƈ K6543 carta bloqueante (8 de ouros) no
ƅ 873 Ás de espadas!
Considere o seguinte leilão:
OESTE ESTE
Ƅ QJ976 Ƅ K102 Oeste Norte Este Sul
Ɔ K7 Ɔ 109832
Ƈ J107 Ƈ2 1Ɔ X passo ?
ƅ J54 ƅ Q1092
O que abre em Sul com a Solução 12.557
seguinte mão?
SUL Ƅ 104 Ɔ K104 Ƈ J874 ƅ 10952
Ƅ 85
Ɔ A654
Ƈ AQ98 Resposta: Marque 2 ƅ. Embora a
ƅ AK6 mão seja balançada e com uma
defesa a copas, quatro pontos
apenas não bastam para essa
voz por prometer 7 a 10 pontos.

EXPOSIÇÃO
Oeste Norte Este Sul Contente-se com o naipe de Problema 12.559 (Médio)
1ST quatro cartas mais económico,
passo 3ST passo Todos que não promete nada!
Não Ria. O Humor É Um Assunto passam Meteorologia
Muito Sério — 100 Anos de Sam
LISBOA Museu Bordalo Pinheiro. Leilão: Qualquer forma de A página de
De 9/4 a 19/5. Terça a domingo, Bridge. meteorologia não
das 10h às 18h. 3€ se publicará até
Comissariada por Tiago Guerreiro, Carteio: Saída: 7 Ƅ. Pois bem, os ao dia 28 de Maio
a exposição celebra o centenário seus adversários descobriram o e é substituída pela
do artista plástico e cartoonista seu ponto fraco e deixaram-nos iniciativa Poesia
Sam, nascido Samuel Azavey sem espaço de manobra. Como Pública, com
Torres de Carvalho (1924-1993). planeia cumprir? a publicação de 50
Podem ver-se 79 desenhos com o poemas inéditos
seu humor “subtil e absurdo” Solução: Felizmente que já tem nos 50 anos do 25
nesta que é a segunda parte da nove vazas à cabeça, desde que de Abril.
exposição que, entre 31 de Janeiro os ouros não estejam 4-0. Mas é
e 7 de Abril, se dedicou a mostrar muito importante ter em
40 cartoons da sua autoria. atenção ao 8 de ouros na sua
36 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

Solum
Cinemundo, 20h50
Thriller de Æcção cientíÆca rodado
nos Açores mas totalmente falado
em inglês, com assinatura do actor
e realizador Diogo Morgado e
argumento seu e do irmão, Pedro
Morgado. O elenco conta com
Catarina Mira, Carlos Carvalho,
Francisco Froes, Cláudia Semedo,
Gonzalo Ramos, Anna Ludmilla,
Luís Lourenço, Maria Botelho
Moniz e Darwin Shaw, assim como
o próprio realizador. Oito
desconhecidos encontram-se
numa ilha selvagem, num
ambiente primitivo e com as
mínimas interferências da
civilização. Estão ali como
participantes no Solum, um
programa de televisão sobre
sobrevivência. As regras são
Segunda-feira, 8
RTP1 11,0% DOCUMENTÁRIO
Big Brother − Especial
% Aud. Share
TVI 10,3 19,8
RTP2 0,7 Peter O’Toole: Along the Sky
Jornal Nacional TVI 9,7 19,3 SIC 14,1 Road to Aqaba
TVCine Edition, 12h45
TVI
Jornal da Noite SIC 9,0 17,6
Cacau TVI 8,7 18,6 16,8 O Ælme de Jim Sheridan (O Meu Pé
Cabo Esquerdo, Em Nome do Pai) sobre o
Telejornal RTP1 7,9 15,8
40,2
FONTE: CAEM icónico actor inglês Peter O’Toole
(1932-2013) é estruturado em
quatro actos. Cada um é
TVCINE TOP
RTP1 RTP2 apresentado com uma citação do
18.19 Os Demónios do Meu Avô (VO) próprio, sendo a partir das suas
6.00 Bom Dia Portugal 10.00 Praça 6.00 A Fé dos Homens 6.32 Repórter 19.50 House Party 21.30 The Report palavras que embarcamos na
da Alegria 12.59 Jornal da Tarde 14.21 África 7.00 Espaço Zig Zag 10.40 23.34 Última Noite 1.05 Ossos e Tudo viagem da sua vida. O
Escrava Mãe 15.07 A Nossa Tarde Inspirando o Futuro - Singularity documentário usa centenas de
17.30 Portugal em Directo 19.06 Portugal 11.07 Luiz Villas-Boas: A horas de imagens de arquivo,
O Preço Certo Última Viagem 12.10 Charité 13.02 STAR MOVIES abordando temas como o
Primeiro Estranha Depois Entranha 17.12 12 Indomáveis 19.15 O alcoolismo, a relação do actor com
13.29 Da Ilha e de Mim 13.53 Folha de Sobrevivente 21.15 O Herói de Hacksaw as mulheres ou a sua crença no
19.59 Telejornal Sala 14.00 Sociedade Civil 15.02 A Fé Ridge 23.33 Wind River 1.18 O Ano do socialismo. Inclui participações de
dos Homens 15.36 Duplas à ortuguesa Dragão Kenneth Branagh, Brian Cox,
16.04 Mãe Natureza 16.54 Espaço Zig Anthony Hopkins, Derek Jacobi e
21.01 Primeira Pessoa Zag 20.41 Folha de Sala Stephen Fry, entre outros.
HOLLYWOOD

simples: cada um apenas possui o
básico e rivaliza com todos os
outros. O último resistente será o
vencedor.
O Herói de Hacksaw Ridge
Star Movies, 21h15
Mesmo sendo contra o uso de
armas, Desmond T. Doss (Andrew
GarÆeld) alista-se no Exército dos
EUA durante a II Guerra Mundial.
Desdenhado por alguns colegas,
mostrará a sua bravura ao salvar
75 homens, abandonados à morte
em território inimigo, na batalha
de Okinawa ( Japão), sem pegar
em armas nem disparar um tiro.
Tornar-se-á o primeiro opositor de
consciência a receber a Medalha
de Honra do Congresso. O filme de
Mel Gibson, que conta ainda com
Vince Vaughn, Sam Worthington e
Hugo Weaving no elenco, esteve
nomeado para seis Óscares e
acabou por arrecadar duas
estatuetas douradas, em
categorias técnicas.
Caçador Branco,
Coração Negro
Hollywood, 21h30
John Wilson é um realizador de
cinema dos anos 1950 que está
determinado a dirigir um Ælme (de
cujo nome nunca se lembra)
contra tudo e contra todos. Na
base desta obsessão está África, o
local escolhido para as Ælmagens,
SÉRIE
18.10 Imparável 19.50 Hércules - A
21.40 Joker 20.46 No Mundo de Oxford Street Lenda Começa 21.30 Caçador Branco,
21.30 Jornal 2 22.01 Made In Oslo Coração Negro 23.25 Em Terra
22.48 Mulheres Que Contam 23.11
22 Selvagem 1.10 300: O Início de Um Charité
22.40 Cá por Casa
sa Folha de Sala 23.19 A Guerra do
Fo Império RTP2, 12h10
com Herman Joséé Vietname
Vi Começa a quarta temporada da
série dramática alemã enquadrada
AXN pela história do hospital Charité,
0.05 Ao Largo 0.08 Sociedade Civil 1.11 Folha de Sala
0. 17.17 S.W.A.T.: Força de Intervenção em Berlim. Depois de três épocas
1.15 E2 - Escola Superior de
1.1 18.00 The Rookie 19.35 Mentes a olhar para o passado, esta leva
Comunicação Social 1.39 Sei Quem És
Co Criminosas 21.10 Hudson & Rex 22.00 de episódios projecta-se no futuro,
Viola Come il Mare 23.02 DOC 0.14 com cenas rodadas no Centro
Dunkirk Clínico Champalimaud, em
3.01 Raízes Sonoras 3.29 Músicas
3. Lisboa. Estamos no Verão de
d’África 4.27 Nha Terra Nha Cretcheu
d’Á 2049. O aquecimento global
5.28 Origem da Água 5.53 Folha de STAR CHANNEL sente-se na pele e soam alarmes
0.58 Janela Indiscreta 1.51 Terra Sala 5.59 A Fé dos Homens 17.18 Investigação Criminal: Los Angeles de uma nova pandemia, sem
Europa 2.12 Escrava Mãe 18.49 Magnum P.I. 20.26 Hawai Força esquecer o ciberataque que a
Especial 22.15 FBI 23.04 FBI: Most instituição está prestes a sofrer.
Wanted 23.49 Thor: Ragnarok
SIC TVI
INFORMAÇÃO
6.00 Edição da Manhã 8.15 Alô 6.15 Diário da Manhã 9.55 Dois às 10 DISNEY CHANNEL
Portugal 9.45 Casa Feliz 12.59 12.58 TVI Jornal 14.10 TVI - Em Cima 17.15 Miraculous - As Aventuras de Primeira Pessoa
Primeiro Jornal 14.45 Linha Aberta da Hora 15.40 A Herdeira 16.30 Ladybug 17.40 A Maldição de Molly RTP1, 21h01
16.20 Júlia 18.00 Era Uma Vez na Goucha 17.45 Big Brother McGee 18.30 Vamos Lá, Hailey! 18.55 Da banca à cultura, é o legado de
Quinta 18.45 Morde & Assopra Monstros: Ao Trabalho! 18.55 Monstros: Artur Santos Silva (n. 1941, Porto)
Ao Trabalho! 19.15 Hamster & Gretel que motiva esta conversa na
19.40 Jornal Nacional 19.40 Os Green na Cidade Grande Primeira Pessoa. No tom intimista
19.57 Jornal da Noite de quem procura revelar o
homem por detrás da Ægura
19.52
9.52 Futebol: DISCOVERY pública, Fátima Campos Ferreira
21.55 Senhora
ra Paris
aris Saint-Germain 17.29 Mestres do Restauro 18.22 Águas conversa com o fundador do BPI
do Mar x Barcelona (Liga Profundas de Jeremy Wade 19.14 que ocupa o cargo de curador da
dos
os Campeões) Aventura à Flor da Pele 21.00 Caçadores “La Caixa” em Portugal, depois de
de Fantasmas 22.43 Mistérios no Museu ter dirigido outras fundações,
23.20 Papel 0.26 Caçadores de Fantasmas como Serralves ou a Gulbenkian.
Principal

e a possibilidade de concretizar
um sonho antigo: a caça aos
elefantes. Protagonizado e
dirigido por Clint Eastwood,
Coração Branco, Coração Negro
valeu-lhe a nomeação para a
Palma de Ouro em Cannes, em
1990. O Ælme baseia-se no
romance homónimo de Peter
Viertel e é uma mistura de
realidade e Æcção sobre a rodagem
de A Rainha Africana, dirigido por
John Houston e protagonizado por
Katharine Hepburn e Humphrey
Bogart.
- A Vingança
0.00 Papel Principal
0.25 Travessia
1.00 Era Uma Vez na Quinta 2.00
Todas as Artes 2.45 Volante 3.00
Passadeira Vermelha 3.40 Terra Brava
HISTÓRIA
17.49 Grandes Descobertas 20.04
O Inexplicável
22.05 Cacau
ODISSEIA
17.43 Segredos dos Pirenéus 18.37
23.00 Festa é Festa Estranhas Criaturas 19.09 Grandes
Viagens de Comboio 20.01 À
Descoberta com... 21.37 África, Um
23.40 Big Brother 2.15 O Beijo do Continente Desde o Ar 22.31 Portugal à
Escorpião 3.15 Deixa Que Te Leve 3.35 Vista 0.09 Viagens de Comboio pelas
O Princípio da Incerteza Costas Britânicas 1.09 Portugal à Vista
DESPORTO
Futebol: Paris Saint-Germain
x Barcelona
TVI, 19h52
Ligação directa ao Parque dos
Príncipes, onde o Paris
Saint-Germain recebe o Barcelona,
na primeira mão dos
quartos-de-Ænal da Liga dos
Campeões (a segunda está
marcada para dia 16, em casa dos
catalães). A partida é dirigida pelo
árbitro inglês Anthony Taylor.

Bernardo Silva
marcou o primeiro
golo do jogo e para
o Manchester City
frente ao Real Madrid
Futebol de luxo e dez golos nos
jogos da noite da Liga dos Campeões
Manchester City empata em Madrid com o Real, e o Bayern Munique consegue o mesmo resultado
em Londres com o Arsenal, nos jogos da primeira mãos dos “quartos” da competição
Jorge Miguel Matias
Os quartos-de-Ænal da Liga dos Cam-
peões são uma promessa de bom
futebol. Com oito equipas europeias
de topo geralmente a chegarem a esta
fase da prova, as probabilidades de se
assistirem a grandes jogos é elevada.
E, ontem, a profecia cumpriu-se. Em
Madrid, numa espécie de Ænal ante-
cipada, Real e Manchester City empa-
taram a três golos, enquanto em Lon-
dres o Arsenal também se Æcou pela
igualdade, mas desta feita “só” por
dois golos.
Na capital espanhola, num jogo que
colocava frente a frente os dois últi-
mos campeões europeus de clubes e
dois emblemas que se defrontaram
nas duas últimas edições da prova —
mas nas meias-Ænais —, Real Madrid
e Manchester City voltaram a defron-
tar-se. Desta vez, a “Ænal antecipada”
jogou-se nos “quartos” e as expecta-
tivas não foram frustradas.
Nos ingleses, Rúben Dias e Bernar-
do Silva foram titulares e o avançado
inaugurou o marcador logo aos 2’, na
marcação de um livre directo, apro-
veitando a má formação da barreira
“merengue” — é o terceiro ano conse-
cutivo que Bernardo Silva marca ao
Real na prova dos milhões.
Mas o resultado não Æcou por aí.
Aliás, quando estavam cumpridos os
primeiros 15 minutos, já tinham sido
marcados três golos: depois do golo
do português, Camavinga e Rodrygo
consumaram a primeira reviravolta
do marcador da partida em dois
minutos (embora o golo do francês
tivesse sido atribuído a Rúben Dias,
“Quartos” da Champions Desporto
pelo facto de a bola ter desviado a sua
trajectória no português).
Chegou melhor o Real ao intervalo,
mas entrou melhor o City no segundo
tempo. E num golo do outro mundo
de Phill Foden, os ingleses empata-
ram de novo o resultado e colocaram-
se de seguida na frente, na segunda
reviravolta no marcador do encontro,
graças a outro grande golo do croata
Gvardiol aos 71’.
Mas ainda havia tempo para o Real
Madrid se recompor. Os espanhóis
voltaram ao jogo e terminaram a
partida por cima, repondo a igual-
dade em (mais um) grande golo,
desta vez de Valverde, aos 79’, fazen-
do com que os “merengues” conti-
nuem sem perder em casa nesta
temporada e os “citizens” a somarem
26 jogos consecutivos sem sentirem
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 37
o sabor da derrota esta época.
Em Londres, no regresso do inter-
nacional inglês Harry Kane à capital
inglesa, o avançado agora a jogar no
Bayern Munique marcou o seu golo
do costume (já leva 39 esta época em
todas as competições) e ajudou os
alemães a sacudirem um pouco a
pressão dos maus resultados que têm
somado na Bundesliga e a empatarem
a dois golos.
Calendário
QUARTOS-DE-FINAL
Arsenal-B. Munique 2-2
Real Madrid-Man. City 3-3
PSG-Barcelona 20h, TVI
A. Madrid-B. Dortmund 20h, Ele2
VIOLETA SANTOS MOURA/REUTERS
O antigo avançado do Tottenham,
converteu um penálti aos 32’, que
permitiu, nessa altura, consumar a
reviravolta no resultado para os báva-
ros, depois de os actuais líderes da
Liga inglesa terem inaugurado o mar-
cador logo aos 12’, por Bukayo Saka,
naquele que era o primeiro jogo nos
quartos-de-Ænal da Liga dos Cam-
peões dos “gunners” em 14 anos. Só
que, seis minutos depois, Serge Gna-
bry trouxe o Bayern de volta ao jogo
novamente.
A partida não terminaria sem que
o Arsenal repusesse a igualdade, gra-
ças ao suplente Leandro Trossard
(76’), mas o clube britânico não se
livrou de um valente susto, quando
viu Coman acertar num dos postes da
baliza à guarda de David Raya, ao
minuto 90.
38 • Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
Desporto ”Quartos” da Champions
Em Paris encontram-se dois conjuntos treinados por dois antigos colegas de equipa: Luis Enrique e Xavi
Jogos de hoje
Parque dos Príncipes recebe
duelo com ADN de La Masia
David Andrade
Os pratos principais do menu dos
quartos-de-Ænal da Liga dos Cam-
peões 2023/24 foram servidos na
terça-feira, com a entrada em cena de
três dos quatro principais favoritos a
vencerem a competição (Real Madrid,
Manchester City e Bayern Munique),
mas esta noite a segunda ronda da
Champions volta a reunir ingredien-
tes para mais dois grandes jogos. Se
em Madrid o duelo entre o Atlético e
o Borussia Dortmund coloca frente a
frente os dois clubes que, em teoria,
têm menos trunfos para chegarem à
Ænal de 1 de Junho em Wembley, no
Parque dos Príncipes o Barcelona é
uma séria ameaça ao crónico candi-
dato Paris Saint-Germain.
Em Paris, o confronto entre o
campeão francês e o espanhol foi
preparado por dois antigos colegas
de equipa (Luis Enrique e Xavi Her-
nández) com todo o cuidado e ante-
cedência, mas por motivos diferen-
tes: o Paris Saint-Germain tem o
título em França “no bolso”; para o
Barcelona a reconquista do campeo-
nato já é uma miragem.
Assim, com a Liga dos Campeões
a ser a prioridade para os clubes e
com dois treinadores com o ADN de
La Masia, a academia dos “blaugra-
na”, no Parque dos Príncipes espera-
se um jogo sem amarras defensivas,
conforme aÆrmou Luis Enrique:
“Somos duas equipas com a mesma
ideia. Somos ofensivos e queremos
recuperar a bola rapidamente. Este
é o nosso objectivo.”
No reencontro com o clube onde
jogou e onde foi treinador, o técnico
espanhol, que deverá apostar de iní-
cio em três portugueses (Danilo,
Nuno Mendes e Vitinha), rejeitou que
os parisienses tenham o rótulo de
favoritos, uma vez que “quando a
bola começa a rolar é quando é
importante”. “Quem for mais agres-
sivo e eÆcaz terá mais hipóteses.”
Após quatro anos sem marcar pre-
sença nos “quartos”, Xavi diz que o
duelo de hoje será encarado pelo
Barcelona com “emoção” e conÆan-
ça: “Já disse há algumas semanas que
poderíamos sonhar, que há esperan-
ça. Chegamos no melhor momento
da temporada.”
Com apenas um português prová-
vel no “onze” catalão —– Cancelo
deve ser titular e João Félix começar
no banco —, Xavi mostrou esperança
Após chegar aos 100 jogos
na Champions como
treinador do Atlético,
o argentino atingirá hoje
as cinquenta vitórias
na competição, se derrotar
os alemães
YOAN VALAT/EPA
no regresso em Paris de Pedri e De
Jong: “Salvo surpresa, porque ainda
há um treino, estarão disponíveis e
depois decidiremos.”
Em Madrid, o duelo entre Atlético
e Borussia pode assinalar mais um
marco importante na carreira de
Diego Simeone. Após chegar aos 100
jogos na Champions como treinador
do Atlético na primeira mão dos oita-
vos-de-Ænal, o argentino atingirá hoje
as cinquenta vitórias na competição,
se derrotar os alemães, que, na Bun-
desliga, estão em diÆculdades: ocu-
pam a quinta posição, fora dos luga-
res que dão acesso à Liga dos Cam-
peões.
Os dois jogos que fecham a primei-
ra mão dos quartos-de-Ænal, tal como
os que se realizaram ontem, vão dis-
putar-se debaixo de uma séria amea-
ça de terrorismo. A fundação Al-A-
zaim, que tem feito a divulgação de
mensagens do grupo terrorista
Daesh, partilhou na segunda-feira
uma mensagem com o título ‘Kill
them all’ (Matem-nos a todos, em
inglês) e onde é possível ver imagens
dos estádios dos jogos da primeira
mão dos quartos-de-Ænal da Liga dos
Campeões.
Perante isto, o Governo francês
anunciou um “reforço considerável”
da segurança em Paris para receber
o jogo PSG-FC Barcelona, enquanto
Espanha encontra-se no nível 4 de 5
de alerta antiterrorismo.
Exibição q.b. garante
segunda vitória
de Portugal rumo
ao Europeu
David Andrade
Com golos de Carole Costa
e Ana Capeta marcados
na segunda parte,
a selecção portuguesa
feminina derrotou Malta
Quatro dias depois de vencer sem
diÆculdades a Bósnia-Herzegovina
em Leiria, por 3-0, Portugal somou
ontem, em Ta’Qali, o segundo triun-
fo na Liga das Nações B, competição
que serve também de fase de apura-
mento para o Campeonato da Euro-
pa de 2025. No confronto com Malta,
a selecção nacional feminina de fute-
bol esteve longe de realizar uma exi-
bição brilhante, mas os golos de
Carole Costa e de Ana Capeta, na
segunda parte, garantiram às portu-
guesas a imprescindível vitória, por
2-0.
O seleccionador nacional, Francis-
co Neto, tinha alertado, na conferên-
cia de imprensa de antevisão da
partida, que, sendo Portugal o país
com o melhor ranking no Grupo 3 da
Liga das Nações B, teria sempre de
“assumir o jogo” e “ter o respeito
máximo pelos adversários”. No
entanto, não foi isso que viu nos pri-
meiros 45 minutos em Ta’Qali.
Dominado pela selecção maltesa
nos dez minutos iniciais, Portugal
mostrou durante toda a primeira
parte um futebol lento, pouco agres-
sivo e sem criatividade, facilitando a
tarefa a um rival mais modesto.
Selecção nacional só tem vitórias e lidera o grupo
Como resultado disso, após um pri-
meiro tempo desinteressante — as
jogadoras portuguesas Æzeram ape-
nas um remate enquadrado à baliza
maltesa —, o zero no marcador reÇec-
tia o que se tinha passado no relvado
sintético.
Porém, bastaram 60 segundos
para tudo mudar após o intervalo.
No primeiro ataque português, uma
defesa maltesa cortou a bola com o
braço dentro da área e, na conversão
da grande penalidade, Carole Costa
inaugurou o marcador e desblo-
queou o jogo para Portugal.
A partir daí, mesmo não jogando
bem, a equipa nacional passou a ter
o controlo absoluto do encontro e
beneÆciou de várias oportunidades
para marcar, mas apenas assegurou
alguma segurança no marcador no
minuto 77’: com um bom passe,
Tatiana Pinto desmarcou Jéssica Sil-
va, que cruzou rasteiro para Ana
Capeta, que, cinco minutos depois
de entrar em campo, fez o segundo
golo na partida.
Com dois golos de vantagem, Por-
tugal baixou o ritmo, fazendo com
que a partida Æcasse ainda mais
desinteressante perante a incapaci-
dade de Malta de reagir.
Com a segunda vitória, Portugal
assume a liderança isolada do Gru-
po E da Liga das Nações B com seis
pontos, mais dois do que a Irlanda
do Norte que, a 31 de Maio, será no
Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em
Leiria, o próximo adversário das
portuguesas.
DARRIN ZAMMIT LUPI/REUTERS

Começar de novo?
Opinião
José Manuel Constantino
A submissão do desporto a uma
agenda higienista e salutogénica,
com um assinalável suporte
Ænanceiro e lobby político, da
indústria farmacêutica, de cadeias
comerciais e de uma miríade de
empresas, Æguras públicas,
bloggers e influencers que gravitam
em torno dos conceitos de recreio
activo, Ætness, wellness, etc.,
expressa um problema no domínio
dos valores do desporto que se
encontra a montante, mas com
uma inÇuência decisiva sobre a
forma de praticar, consumir e
programar politicamente este bem
público.
Essa agenda, que faz sentido no
âmbito das políticas para a saúde,
não responde aos objectivos
especíÆcos do desporto. Não
promove a generalização da prática
do desporto para além da agitação
física e do exercício. Os resultados
desportivos no alto rendimento
não são valorizados. O esforço, a
medida, a regra, a repetição, a
perseverança e a superação em
contexto competitivo estão
ausentes. E a generalização da
prática desportiva regular nos
vários segmentos populacionais? E
a qualidade da formação
desportiva? E a funcionalidade e
gestão do parque desportivo? E a
integridade das competições?
Essas parecem Æcar para segundo
plano se atentarmos aos
indicadores europeus. O desporto,
quanto mais se aproxima de outros
interesses, mais se alheia daqueles
que constituem o seu núcleo
essencial.
Como já anteriormente
escrevemos, Portugal dispõe
actualmente de vários planos
estratégicos: um Plano Nacional do
Desporto Escolar, um Plano
Nacional de Ética do Desporto, um
Todos estes instrumentos
de planeamento
estratégico [do desporto],
quando aprovados, tinham
algo em comum:
não tinham associado
um programa financeiro
Público • Quarta-feira, 10 de Abril de 2024 • 39
Plano Nacional de Desporto para
Todos, o Roteiro para uma
protecção eÆcaz das crianças nas
políticas em matéria do desporto e
um Plano Nacional da Actividade
Física. Todos estes instrumentos de
planeamento estratégico, quando
aprovados, tinham algo em comum:
não tinham associado um programa
Ænanceiro e uma alocação de
recursos que os suportasse.
Contrariamente, diversas
modalidades desportivas têm no
âmbito das respectivas federações,
designadamente em modalidades
olímpicas, planos de
desenvolvimento quantiÆcados,
quer no plano dos objectivos, quer
dos meios de suporte.
A explicação é relativamente
simples: o planeamento das
políticas públicas no sector do
desporto e aÆns tem sido um
expediente usado não para elencar
e suportar medidas de política
desportiva, mas para fazer do
anúncio de medidas a própria
política. Só isso pode explicar que
programas de desenvolvimento
estratégico do sector sejam
aprovados e anunciados sem que
um dos suportes essenciais à sua
exequibilidade, o plano Ænanceiro,
seja conhecido. E assim as metas
que esses documentos se propõem
alcançar raramente passam do
papel.
A enfatização do plano em
detrimento dos meios tem sido, por
isso, um erro e um expediente. E
isso, que é imediatamente
compreensível em qualquer sector
de actividade, parece que no
desporto é possível. E, porventura,
ajuda a explicar que ao longo de
mais de duas décadas o país tenha
construído vários planos
estratégicos para o desenvolvimento
do desporto, alguns de inegável
qualidade intelectual e doutrinária,
anunciados com a pompa que as
circunstâncias exigiam, mas que
jazem no cemitério das boas
intenções.
Espera-se naturalmente que os
novos governantes, que em termos
de programa de candidatura
eleitoral defendem a necessidade
de um plano estratégico de
desenvolvimento desportivo,
retirem as ilações resultantes das
experiências anteriores. E, se a
recomendação faz sentido, não
deixem de revisitar os anteriores
planos estratégicos. DeÆnir futuros
possíveis recomenda que se tente
compreender porque falharam no
passado. Há neles muito a aprender
e a aproveitar.
Presidente do Comité Olímpico
de Portugal
Desporto
Breves
Ciclismo
Cândido Barbosa
candidato à
federação de ciclismo
Cândido Barbosa anunciou
ontem a sua candidatura à
presidência da Federação
Portuguesa de Ciclismo (FPC).
O antigo ciclista defendeu que
é preciso reforçar a luta contra
o doping, de modo a melhorar
a imagem do ciclismo. Nesse
sentido, propõe educar os
ciclistas sobre os perigos da
dopagem, divulgar as
informações sobre casos de
PRIMEIRO
doping e aplicar punições
consistentes. De resto, a ética
desportiva, a defesa do
ciclismo regional e o apoio à
formação serão três áreas
fulcrais no projecto daquele que
QUE TUDO:
foi duas vezes vice-campeão
da Volta a Portugal (2005 e
2007) e venceu 25 etapas na
prova. Barbosa quer ainda
reorganizar os calendários
desportivos.
P24
As histórias mais importantes
do dia chegam em podcast,
numa equipa reforçada:
Amílcar Correia
e Manuel Carvalho
juntam-se a Ruben Martins
e Inês Rocha.
De segunda a sexta,
às 7h, podcast P24.
Futebol
O dia começa aqui.
Adeptos do Benfica
impedidos de entrar
no estádio do Marselha
A Prefecture de la Police de
Bouches-du-Rhône
(instituição encarregada de
assegurar, naquela região, as
políticas do Ministério do
Interior francês) decidiu
proibir a presença de adeptos
do Benfica no Vélodrome e nas
imediações do estádio para a
segunda mão dos
quartos-de-final da Liga
Europa, frente ao Marselha, no
dia 18. A decisão foi tomada
ontem, através de um
comunicado. “Desde
quarta-feira, 17 de Abril, até
sexta-feira, 19 de Abril, está
interdito a todas as pessoas
que sejam apoiantes do Disponível em publico.pt/podcasts
Benfica, ou se comportem e em todas as plataformas de podcasts
como tal, o acesso ao Estádio
Vélodrome”, pode ler-se.
Quarta-feira, 10 de Abril de 2024

BARTOON LUÍS AFONSO

Pedro Passos Coelho da família tradicional e da direita radical

contrário deles, não tendem para
Sementes as famílias desenhadas a régua e
de alfarroba esquadro. Os meus pais nunca
foram alvo de preconceitos ou de
discriminação pelo facto de terem
constituído uma família tradicional.
Se têm “adversários”, nunca se
deram a conhecer. A pergunta que
ameaçadas seria o de um retrocesso
de algumas décadas, altura em que
todos se casavam com pessoas do
sexo oposto, tinham Ælhos e
suportavam o casamento por mais
infelizes que se sentissem. Altura
também em que as mulheres não
trabalhavam ou ganhavam muito
menos do que os maridos e se
dedicavam à casa e à educação dos
Ælhos. Isto não é nenhum delírio da
minha parte. Vi, no mesmo dia, um
dos autores do livro, Paulo Otero,
criticar, num programa de
televisão, “a falta de valorização do
Não é só sobre a família
tradicional. Na verdade, o livro
mistura vários temas que não têm
uma conexão evidente. Critica o
casamento entre pessoas do
mesmo sexo, a adoção de crianças
por casais homossexuais, a
eutanásia, a transexualidade, etc.

C
Carmo Afonso
ompareci à
apresentação do livro
Identidade e Família,
por Pedro Passos
Coelho. As notícias que
davam conta do evento
continham ingredientes
irresistíveis. Diziam que o livro
alertava contra a “destruição da
família”. Achei particularmente
interessante este excerto da
introdução: “Não podemos
desvalorizar os adversários da
família, umas vezes mais à luz do
dia, outras vezes de um modo mais
subtil e larvar, mas nem por isso
menos dissolvente.” Foi assim que
ganharam a minha atenção e a
minha presença.
Nasci numa família a que todos
chamariam tradicional. Tenho um
pai e uma mãe que se casaram e
que vivem juntos há mais de 55
anos. Costumam ser elogiados por
estarem casados há tanto tempo e
por se manterem como estruturas
para a filha e netos, que, ao
faço é: de onde vem a ameaça de
que estas pessoas falam?
Os autores do livro, bem como
Pedro Passos Coelho, acenam com
esta ameaça Æccionada à família
tradicional para legitimarem uma
ameaça que é real: a ameaça que
todos eles representam a quem
constituiu família fora do molde
patriarcal e a quem não se coaduna
com um modelo familiar. Isto não é
admissível. Estas pessoas escrevem
livros e promovem apresentações
com o Æto de condicionar ou
limitar outras opções que outras
pessoas livremente tomaram.
AÆrmam estar a fazer uma defesa,
mas fazem na verdade um ataque à
liberdade de todos os que não
vivem de acordo com os seus
princípios e valores.
Pode também dar-se o caso de
estas pessoas percecionarem a
existência de novos modelos
familiares e de novas opções de
vida e identidades como
constituindo uma ameaça à família
tradicional. No fundo, o único
cenário em que não se sentiriam
estatuto da mulher enquanto dona
de casa.”
E isto leva-nos a outro aspeto
importante. Sempre, mas sempre,
que ouvimos falar estes defensores
da família tradicional, podemos ter
a certeza de que estamos perante
quem pretende, sobretudo, o
retrocesso na luta das mulheres
pela igualdade. Sem tirar nem pôr.
É também disto que se trata.
Continuam a acalentar a
idealização de uma mulher
submissa e dedicada, tal qual nos
lembramos e tal qual vemos
descrita nos manuais de
aconselhamento feminino do
Estado Novo. Lembro-me de um
excerto do livro A Mulher na Sala e
na Cozinha que era brilhante e
exemplar: recomendava às
mulheres que Æzessem um
Por que razão banquete no dia de aniversário dos
seus maridos para os
decidiu Pedro homenagearem. E recomendava
Passos Coelho igualmente que Æzessem um
banquete no dia do seu próprio
apadrinhar o livro aniversário com o mesmo
e a iniciativa? propósito. Bons tempos, não era?
Mas claro que existe aqui um
denominador comum. É uma
agenda reacionária.
Por que razão Pedro Passos
Coelho decidiu apadrinhar o livro e
a iniciativa? Só ele saberá, mas
podemos chegar a algumas
conclusões. Passos Coelho falou
pouco sobre o livro e fez da
apresentação um comício político
no qual couberam as principais
bandeiras políticas da direita
radical. Deu destaque à defesa de
um entendimento com o Chega,
expondo publicamente uma
exuberante rota de colisão com
Luís Montenegro. Passos Coelho, o
político que, à direita, teria mais
condições para fazer frente a
Ventura, segue na direção oposta.
Agora reparem que, com tudo isto,
ajuda a criar uma aura de
moderação a Luís Montenegro e a
consolidar a AD, liderada por
Montenegro, como alternativa ao
Chega. Talvez o tiro lhe saia pela
culatra.
Advogada

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