Você está na página 1de 5

O Tejo e o problema ético da responsabilidade ecológica

Por André Morais, Francisco Antunes e Sara Martins (Filosofia – 10ºG)

Introdução
O trabalho que aqui vamos apresentar é uma reflexão transdisciplinar que tenta conciliar os
conhecimentos que adquirimos sobre o rio Tejo nas disciplinas de Geografia A e MACS, com a leitura do
capítulo 10 da obra “Ética Prática” de Peter Singer sugerida pela professora de Filosofia. Esta comunicação é
o resultado de um trabalho inserido num projecto da nossa escola – Escola Secundaria Manuel Cargaleiro –
O projecto EMA (estímulo à melhoria das aprendizagens) que tem como tema base “Tejo, um rio de
conhecimento”.

Dando seguimento a esta reflexão a nossa comunicação vai ter a seguinte estrutura:
1 – Tejo: alguns factos e problemas
2 – A perceção dos jovens sobre o tejo: resultados de um inquérito
3 – Temos deveres para com o ambiente? – análise do capitulo “O ambiente” em Ética Pratica de Peter
Singer.
4 – Porque devemos preservar o Tejo – A nossa tese

1 – Tejo – Alguns factos e prolemas.


O rio Tejo é o maior rio da península Ibérica, nasce em Espanha, na serra de Albarracín e desagua
em Lisboa, formando um estuário. Estes factos são conhecidos pela maior parte do público, no entanto, há
outros que muitas pessoas desconhecem. Nós vamos aqui referir apenas alguns que consideramos
preocupantes:
- 80% das águas do Tejo são desviadas para os campos de regadio da Andaluzia a menos de 100km
da nascente, ficando assim o caudal do rio bastante reduzido;
- Logo a seguir, já com o caudal bastante diminuído, o Tejo recebe os esgotos da cidade de Madrid,
ou seja de 6,5M de pessoas, ficando assim a água bastante poluída e contaminada.
- E este não é o único problema que afeta o rio que atravessa o nosso país. A menos de 100Km da
fronteira poruguesa, fica a Central Nuclear de Almaraz que ainda não foi desactivada, mesmo ja tendo
existido várias investidas para o encerramento desta, continua a trazer-nos problemas. Localiza-se junto ao
Rio Tejo e faz fronteira com Castelo Branco e Portalegre e é considerado por muitos como uma “bomba-
relógio” pois, pode existir uma explosão nuclear a qualquer altura. Especialistas da QUERCUS que já
investigaram a central, afirmam que esta não tem válvulas de segurança para impedir uma explosão de
hidrogénio, assim como não tinha a central de Fukushima. Esta central nuclear deveria ter sido encerrada
em 2010, por já ter 25 anos de funcionamento, mas o governo Espanhol decidiu mantê-la em
funcionamento até 2020, uma vez que, proporciona energia barata. Mas se existir um desastre nuclear
verificaremos que o barato pode sair muito caro.
- Os problemas que podem chegar até nós ao acontecer a explosão passam por mortes de variadas
espécies que habitam no rio Tejo, tendo em conta que a central é refrigerada pelo rio, mas também pela
morte de outros seres vivos; passam por mutações genéticas como é possível verificar depois do desastre

Página 1 de 6
de Chernobyl , que fez no passado dia 26 de Abril trinta anos, e um aparecimento de cancro nos cincos anos
seguintes, devido ao excesso de radiação que nos iria atingir.
Mas os perigos não vêm só de Espanha, quer em Espanha, quer em Portugal, várias fábricas fazem
descargas poluentes no Tejo, que provocam a morte de algumas espécies. Na zona de Vila Velha de Rodão,
por exemplo, a fábrica de papel Celtejo, faz descargas constantes para o rio contando com alguma
complacência das autarquias.
No entanto, no que se refere ao Tejo, nem tudo é negativo, segundo alguns especialistas, na Baía
do Seixal, situa-se uma das maiores riquezas ornitológicas do rio. Passam nesta baia muitas aves
migratórias como o alfaiate, que é símbolo da Reserva Natural do Estuário do Tejo, mas também pilritos,
rolas-do-mar, pernas-vermelhas, pernas-verdes, pernas-longas, muitas espécies de patos. Mas o que
acontecerá a estas espécies, se ocorrer um acidente nuclear em Almaraz, ou se as descargas de esgotos e
resíduos tóxicos continuarem?
Em suma, o Tejo está poluído e os humanos e as outras espécies que vivem ao seu redor podem
estar em perigo. Até que ponto as populações têm consciência destes problemas? Na disciplina de MACS
verificamos, através do inquérito que realizamos na nossa escola que nem toda a gente tem noção dos
problemas referentes ao rio Tejo.

2 - A percepção dos jovens sobre o tejo: resultados de um inquérito:


No inquérito que fizemos a 80 jovens verificamos que 34 deles percepcionam o Tejo como um rio
limpo, revelando então que quase metade destes jovens que vivem à beira do Tejo desconhecem a
verdadeira situação do maior rio da Península Ibérica, e isto é preocupante pois, sem o conhecimento
correto do que se passa, é impossível agir de forma a melhorar a situação. Apesar disso há associações
ambientalistas como a QUERCUS que desenvolvem ações para preservar o rio e há uma candidatura do
Tejo a património mundial.

3 – Temos deveres para com o ambiente?


O problema do Tejo insere-se num contexto mais vasto do problema contemporâneo da
necessidade de proteger o ambiente. Será que temos obrigações éticas para com o ambiente? Temos o
dever moral de proteger o Tejo e as espécies que o rodeiam? Para respondermos a esta pergunta vamos
introduzir um filosofo que defende a valorização de todos os seres vivos sencientes, Peter Singer.
Na obra Ética pratica (2000) o autor fala-nos de varias perspectivas da filosofia ocidental acerca dos
nossos deveres para com a natureza.
Ao longo do capitulo, Singer apresenta três diferentes modos de argumentar a favor da defesa do
ambiente – a argumentação tradicional de cariz antropocêntrico; a argumentação do próprio Singer e a
argumentação dos defensores da ecologia profunda. Vamos especificar em cada uma destas formas de
argumentar.

Argumentação de cariz antropocêtrico:


- Começando pela argumentação de cariz antropocêntrico podemos afirmar que esta perspetiva
defende que o Homem é o centro do universo moral, a natureza não tem valor intrínseco, ou seja, não tem
valor por si mesma, é apenas vista como um meio e não um fim sendo que, apenas o Homem tem valor por
si próprio. Um dos defensores desta ética é São Tomás de Aquino e este afirma que não existem pecados
contra o mundo natural, apenas se esses pecados forem prejudiciais para o ser humano, uma vez que
acreditam que Deus deu ao Homem a capacidade de ter dominio sobre o mundo natural,
independentemente da forma como o tratamos. Ao olharmos para esta teoria antropocêntrica pensamos:
Mas será que é possível encontrar argumentos a favor da defesa da natureza nesta perspetiva ética? Existem
argumentos a favor da preservação da mesma? A resposta é sim.

Página 2 de 5
-Os dois principais argumentos a favor desta forma de preservação do ambiente mesmo para os
defensores de uma ética antropocêntrica são: “O argumento dos valores a longo prazo” e “O argumento do
direito das gerações futuras”, porém, a mais utilizada e mais falada por vários filósofos é o direito das
gerações futuras e é sobre essa que vos vamos falar.
Ao falar da preservação da natureza por direito das futuras gerações, o filosofo começa esse argumento
com a seguinte afirmação: «Se mantivermos intactas as extensões naturais que ainda existem, as futuras
gerações terão pelo menos a escolha de largar os jogos de computador e sair para contemplar um mundo não
criado por seres humanos. Se destruirmos o meio natural essa opção perde-se para sempre» Singer, (2001,
296).
-Segundo esta afirmação, deveríamos preservar o mundo natural para beneficio dos nossos filhos,
netos, bisnetos e os filhos deles, para eles terem a possível hipótese de poder disfrutar da natureza a seu
bel-prazer assim como nós e os nossos antepassados usufruíram dessa condição, obrigando-nos a pensar
que se as pessoas do futuro não tiverem a possibilidade de poder olhar através de uma janela e ver algo
verde que não seja tinta, ficariam eternamente ligados a algo como jogos de computador, programas de
televisão e passeios ao ar livre num ambiente contaminado. Em suma, a natureza para os defensores do
antropocentrismo tem valor extrínseco, tem valor como meio que pode possibilitar ao homem uma vida
melhor. A perspetiva de Peter Singer, no entanto, ultrapassa a ética antropocêntrica.

Argumentação de Peter Singer:


Bom, Peter Singer, o escritor do capitulo que aqui viemos apresentar é um filosofo que defende o
utilitarismo.
Tendo em conta a ética utilitarista, o ser humano deve escolher a sua ação pensando que esta terá
as melhores consequências para todos os que são afetados por ela, de maneira a que ninguém fique
descontente ou em sofrimento. Voltando à defesa da natureza, o filósofo na apresentação da sua
argumentação ultrapassa o limite da ética antropocêntrica falando na senciência ( a capacidade de todos os
seres vivos sentirem dor ou prazer), que considera ser uma caracteristica que deveria ser considerada na
avaliação das nossas ações e na consideração das mesmas como moralmente válidas. Por exemplo, Singer
considera que as touradas são impensáveis devido ao sofrimento do boi, imaginemos que era um de nós a
levar com as farpas nas costas? E ainda mais, a humilhação de imensas pessoas estarem a assistir e a
aplaudir ao nosso sofrimento? Porém, para um defensor da ética antropocêntrica as touradas obviamente
são aceites, pois muitos seres humanos consideram a tourada um passatempo, não falando naqueles que
fazem dela uma profissão. Ou seja, para Peter Singer na avaliação dos interesses de todos os que são
afetados por uma ação devemos incluir todos os seres sencientes que sofrerão com essa ação ( e não apenas
os humanos). Esses seres têm valor intrínseco porque sentem prazer e dor, são capazes de felicidade.
Mas, será que haverá valor para além dos seres sencientes? Os defensores da ecologia profunda
dizem que sim, e é sobre a sua teoria que vamos falar agora.

Argumentação da ecologia profunda:


Na argumentação dos defensores da ecologia profunda há valor intrínseco na biosfera considerada
no seu todo, pois como riposta Aldo Leopold citado por Singer: «Uma coisa é um bem quando têm tendência
para preservar a integridade, a estabilidade e a beleza da comunidade biótica. É um mal quando têm a
tendência contrária.» Nós não vamos falar muito sobre esta teoria, pois consideramos das três que aqui
viemos apresentar é a mais exagerada e sem sentido, tendo muitas objeções por parte de vários filósofos.
Na ecologia profunda, existe valor para lá dos seres sencientes, em suma, tudo na natureza tem valor
intrínseco. Será que nós devemos comparar o sentimento de dor de um ser humano ou de um cão e
compará-lo com o possível valor de uma alface? Será que a dor de um ser humano a ser atropelado é
comparável com a vida de uma bactéria a ser esmagada por alguma parte do nosso corpo? Penso que a

Página 3 de 5
maioria de nós acredita que não. Assim, concordamos com Peter Singer quando ele nos diz que esta ética
«não consegue fornecer respostas persuasivas para questões relacionadas com o valor da vida dos seres
individuais». (Singer, 2000,305)
Por fim, para acabarmos o terceiro tópico da nossa apresentação, vamos falar da criação de uma
ética ambientalista.
- Para Peter Singer é possível criar uma ética ambiental mas «devemos confinar-nos a argumentos
baseados nos interesses de criaturas sencientes, presentes e futuras, humanas e não humanas.» (2000,307)
Esta ética é bastante apoiada por bastantes pessoas mesmo sem estas saberem que os seus valores em
relação á natureza fazem parte da lista das linhas gerais da ética ambientalista, vou falar-vos de alguns
exmplos:
• Promove a consideração pelos interesses de todas as criaturas sencientes, incluindo as gerações
futuras;
• Promove uma estética de apreço pelos lugares selvagens e pela natureza intacta;
• Rejeita o consumo de carne – portanto se alguém aqui é vegetariano, muito bem!;
• Promove a prática de desportos amigos do ambiente ( que não impliquem o consumo de
combustíveis fósseis)- espero que todos nós aqui gostemos de fazer desporto ao ar livre;
São estas algumas das linhas da ética ambientalista, para concluir a nossa apresentação, vamos
introduzir-vos a nossa tese onde explicamos porque deveremos preservar o rio Tejo

4 – Porque devemos preservar o Tejo – A nossa tese


Como referimos anteriormente, pensamos que todo o público já tem a visão mais
abrangente sobre a situação que enfrenta o rio mais próximo de nós: Bastante poluição
proveniente de Espanha e de algumas fábricas de papel em Portugal, redução acentuada do caudal
do rio, inevitável extinção de espécies, entre muitos outros problemas que ao desenvolvermos
poderíamos ficar aqui o resto do dia. Introduzimos também a visão em relação á natureza de várias
éticas, e parece-nos bastante consistente a argumentação de Peter Singer.
O filósofo e a sua tentativa de criar uma ética ambientalista, é o que tem a argumentação
mais clara e que traria melhores condições para o mundo que nos rodeia. Falando agora
especificamente do rio Tejo, partindo da teoria de Singer, devemos preservar o Tejo como um
valor a longo prazo já que ele é o habitat de muitas espécies que fazem dele a sua casa mas
também das espécies que o rodeiam e que passam por ele ocasionalmente, como os flamingos.
Não sei se recordam, mas de há uns anos para cá nesta altura do ano avistavam-se bastantes
destes animais no Estuário do Tejo, falando por nós, nós avistavamos bastantes deles na Baía do
Seixal que fica perto da nossa residência. E continuando a falar dos seres vivos sencientes que lá
habitam, vamos lembrar-nos também que na Baia do Seixal, se situa uma das riquezas
ornitológicas do rio, como também já falamos, e acreditamos que os especialistas que avaliaram e
atribuiram essa caracteristica á Baia, não o fizeram apenas devido aos prazeres que esta traria ao
homem
Será que isto não são argumentos suficientes para preservarmos o Tejo? Então vamos
pensar agora no direito das gerações futuras. Não teram os nossos filhos, netos e bisnetos o direito
de aproveitar e preservar o que o rio tem de melhor? As gerações seguintes também tem o direito
de saber e ver o que são alfaiates, pilritos, entre outras espécies. Tem o direito de usufruir do rio
para a prática de desportos como windsurf, canoagem, uma variedade deles. E nós, devemos
preservar o Tejo por eles e por nós mesmos, assim como aqueles que viveram antes de nós
cuidaram dele também.
Página 4 de 5
Bibliografia:

-SINGER, (2000), Ética prática,Lisboa, Gradiva, pp. 287 -312

-Utilitarismo preferêncial de Peter Singer, PowerPoint.

https://www.publico.pt/ciencia/noticia/elevacao-do-tejo-a-patrimonio-da-humanidade-debatida-em-
conferencia-em-lisboa-1424194 - último acesso em 27/04/2016

http://www.dn.pt/portugal/interior/-conselho-de-seguranca-nuclear-alerta-para-falhas-na-central-de-
almaraz-5012756.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_nuclear -último acesso 29/04

http://www.oribatejo.pt/2016/02/18/duarte-marques-embarcou-e-foi-ver-a-poluicao-do-tejo-com-video/

último acesso em 30/04/2016

Escola Secundária Manuel Cargaleiro, 6 de maio de 2016

Página 5 de 5

Você também pode gostar