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FERNANDO
CHALANA
Aventuras
de um português
em França
DIANA
A princesa do povo:
Uma vida,
muitos filmes
8 12
SUMÁRIO
20
AGOSTO
2022
EDITORIAL
A gosto no desporto
C
om nova onda de calor esperada para principal objetivo da época para os encarna-
os próximos dias, o mês de agosto tem dos, continuando a mostrar apenas a sua fa-
sido também um mês quente no fu- ceta vitoriosa. Mas não é só no futebol que
tebol: os termómetros disparam no- agosto tem sido agitado. Campeão mundial de
vamente este sábado com o primeiro clássi- Fórmula E em 2020, António Félix da Costa
co da época, entre FC Porto e Sporting, no foi durante a última semana oficializado como
Dragão. Apesar da saída recente de Matheus o novo piloto da Porsche, uma das marcas
Nunes ter levado algumas nuvens até Alvala- com mais história no desporto automóvel. De-
Laura de, os leões de Rúben Amorim tentam voltar pois de três anos a representar a DS Techee-
Ramires a trazer céu limpo ao balneário depois do iní- tah, o piloto de 30 anos concretiza um ‘sonho
cio de época mais desafiante, com empate a de criança’ e faz esperar novos feitos para a
três bolas na abertura da Liga, frente ao Spor- temporada 2023, com partida no México em
ting de Braga. Já o dragão procura reacender a janeiro do próximo ano. Dos carros para o atle-
chama inicial, mostrada na entrada triunfal tismo, Pedro Pichardo continua a ser o nome
na Supertaça e na goleada aplicada no pri- em destaque: conquistou na quarta-feira o
meiro compromisso na defesa do título na- ouro no triplo salto nos campeonatos euro-
cional, frente ao Marítimo, isto uma semana peus que acontecem em Munique, na Alema-
antes de ter precisado do tempo total de jogo nha, e juntou-o aos títulos olímpico e mun-
para garantir os três pontos em Vizela. Por sua dial. Também o ciclista Iúri Leitão assegurou
vez, o Benfica deu mais um passo largo rumo o ouro, no scratch, no ciclismo de pista, en-
à fase de grupos da Liga dos Campeões, com quanto Auriol Dongmo foi prata, no lança-
vitória frente ao Dínamo de Kiev no primei- mento do peso. Mais uma vez, e como já vem
ro jogo do play-off. Roger Schmidt está cada sendo hábito, Portugal e os seus resultados de
vez mais perto de conquistar o primeiro e excelência a nível desportivo.
JOSÉ ANTÓNIO
SARAIVA
E A
m 2020, a opinião pública ingle- queixa de Keira Bell poderia não passar mesmo assim, o grau de subjetividade das
sa foi agitada pelo ‘caso Keira de um expediente oportunista para sacar análises permitiria muitos erros.
Bell’. Uma mulher acusava a clí- uns milhões de dólares de indemnização à Mas não é isso que se passa. No caso de Kei-
nica Tavistock & Portman, do ser- clínica Tavistock, por comportamento ne- ra, tudo foi decidido após três consultas de
viço público de saúde do Reino Unido gligente. Só que, agora, o Governo britâni- uma hora cada, quando ela tinha apenas 15
(NHS), especializada em tratamentos de co decidiu mesmo encerrar a clínica. anos! Decidiram mudar o sexo a um jovem
‘transição sexual’, de ter iniciado o seu Esta decisão segue-se a um relatório ar- ser humano após três horas de consulta!
processo de mudança de mulher para rasador da pediatra Hilary Cass, publica- E uma ex-enfermeira da clínica Tavis-
homem sem exames aprofundados. do em março, segundo o qual a clínica tock afirmou à Justiça britânica que blo-
«Quanto mais a transição avançava, «prescreveu bloqueadores a muitas queadores de puberdade teriam sido re-
mais eu percebia que não era homem, crianças sem analisar os efeitos a longo ceitados a crianças muito novas, de 12 anos,
e que jamais o seria», afirmou Keira prazo deste tratamento». E a revista The sem avaliações psicológicas «adequadas».
Bell, oito anos após o início do tratamen- Week, de 6 de agosto, adianta que a insti-
to, conforme publicou a National Review.
«À medida que amadurecia, fui perce-
bendo que a disforia de género era um
tuição terá sido ‘tomada de assalto’ por ati-
vistas ‘trans’, que aceitam sem questio-
nar declarações de crianças dizendo que
O u seja, em idade infantil ou no início da
adolescência, numa altura em que os
jovens começam a ter dúvidas de toda a
sintoma da minha tristeza em geral, e «nasceram no género errado, ignorando ordem – em relação ao que são, ao que
não a causa», explicou. outras possíveis explicações». querem ser, à relação com os outros, aos
E os advogados de Bell defenderam Perante tudo isto, o jornal The Times con- seus afetos, aos seus medos… –, os médi-
que jovens menores de idade não estão clui: «Os estragos feitos são aterradores». cos aceitam como definitivos os seus tes-
aptos a decidir sobre a ‘transição de gé- temunhos e, com base neles, iniciam pro-
nero’ e a consentir um tratamento que
inclui bloqueadores hormonais – que Jábremeestes
pronunciei em textos anteriores so-
processos de mudança de sexo,
cessos brutalmente invasivos, que vão pro-
vocar mudanças radicais no seu corpo.
restringem as hormonas ligadas a mu- que me parecem aberrantes. De qualquer Parece ficção científica, mas é a reali-
danças no corpo durante a puberdade, forma, era suposto que essas decisões fos- dade em que já vivemos.
como a menstruação ou o surgimento sem tomadas pelos médicos após longos E de ano para ano a questão agrava-se.
de pelos faciais – ou alterações físicas, processos de observação dos pacientes, A clínica Tavistock começou com umas
como as mastectomias (a que Keira tam- com estudos psicológicos aprofundados e centenas de casos e já vai em milhares por
bém foi sujeita). cuidadosas análises de comportamento. E ano. Como se mudar de sexo se tivesse tor-
Mariah Carey
Mansão assaltada
enquanto estava
de férias
A mansão de Mariah Carey,
em Atlanta (EUA), foi assal-
tada, enquanto a cantora es-
tava de férias com o namo-
rado, Bryan Tanaka, e os fi-
lhos gémeos Monroe e
Adele
Marroquino, em Itália, em Filho de 9 anos
julho. A informação foi con- é ‘obcecado’
firmada pela polícia à Page por Billie Eilish
Six. Segundo as autoridades, Adele revelou que Angelo, o
o caso «está ainda a ser in- seu filho de 9 anos, é «obce-
vestigado» e, por esse moti- cado» por Billie Eilish. «Ele
vo, «as informações são li- enfia-se no quarto, depois da
mitadas». Esta mansão, escola, e sai de lá a querer dis-
avaliada em 20 milhões de cutir as letras todas», disse a
dólares, tem 9 quartos e 13 cantora em entrevista à revista
casa de banhos, uma pisci- ELLE. Adele e o filho marcaram
na, um campo de ténis e um presença no concerto de Billie
parque infantil. Eilish na O2 Arena, em Lon-
dres, no último mês de junho.
Shakira
e Gerard Piqué
Disputam guarda
dos filhos e... avião privado
de 20 milhões de euros
O processo de separação de Shakira e Gerard
Piqué levou o ex-casal a tribunal para dispu-
tar a custódia dos dois filhos, Milan, de 9
anos, e Sasha, de 7, mas também para decidir
quem fica com o avião privado que compra-
ram para as viagens em família. Segundo o
jornal Prensa Libre, a cantora colombiana e o
futebolista espanhol não se entendem quanto
ao jato, avaliado em 20 milhões de euros.
Com capacidade para 10 passageiros, o avião,
um Learjet 60XR, terá sido alterado a pedido
do ex-casal, que pretendia ter um quarto com
duas camas, uma sala de jantar e um espaço
com uma televisão de grandes dimensões a
bordo. O ex-casal esteve junto durante 12
anos, com a cantora a confirmar a separação
no passado mês de junho. Shakira enfrenta
também a justiça devido a acusações de frau-
de fiscal, com o Ministério Público espanhol a
pedir 8 anos e dois meses de prisão e o paga-
mento de uma multa de 23 milhões de euros
Ezra Miller
Inicia tratamento
para ‘problemas de
saúde mental graves’
Ezra Miller anunciou na última
semana ter iniciado tratamento
para «problemas de saúde men-
tal graves». A estrela de The
Flash admitiu em comunicado
que tem passado «por um perío-
do de crise intenso». «Peço des-
culpa a todos os que preocupei e
Madonna e os anos 80 magoei devido ao meu compor-
tamento. Comprometo-me a
‘Não devias mostrar o rabo se quisesses realizar o trabalho necessário
uma carreira, agora é o contrário’ para poder voltar a uma fase
No programa de Jimmy Fallon, Madonna recordou o momento saudável e produtiva na minha
em que, em 1984, ouviu do seu manager que a sua carreira vida», disse. As autoridades nor-
musical tinha chegado ao fim depois de uma atuação polémica te-americanas detiveram Miller
nos prémios da MTV em que mostrou parte do rabo enquanto por três vezes, só desde março
cantava o êxito ‘Like a Virgin’. «Naquele tempo, não devias deste ano – uma por conduta im-
mostrar o rabo se quisesses uma carreira, agora é o contrá- própria e assédio, outra por
rio», disse Madonna no programa The Tonight Show. «Acon- agressão e uma por roubo. Miller
teceu por acidente e eu nem sequer me apercebi. Nem mos- vê-se ainda a braços com a justi-
trei o rabo todo, foi só parte de uma nádega. Quando cheguei ça uma vez que pendem também
aos bastidores, o meu manager disse-me que aquilo era o fim sobre si acusações de assédio a
da minha carreira», recordou a artista de 64 anos. menores e de liderar um culto.
Todos
os caminhos
vão dar a Ibiza
Ibiza voltou a ser o destino de eleição da maioria
das celebridades nacionais e internacionais neste
verão. As modelos Sara Sampaio e Alessandra
Ambrósio, a apresentadora de televisão Cristina
Ferreira, o músico David Guetta ou o futebolista
Rúben Dias são apenas alguns exemplos.
David Guetta
e McGregor
O dj francês e o lutador irlandês têm em
comum a escolha do destino de férias. Mas
se seria de esperar uma vida mais festiva
por parte do músico francês, num destino
como Ibiza, David Guetta aproveitou a es-
tadia para praticar vários desportos aquáti-
cos. Já o desportista Conor McGregor feste-
jou o seu 34.º aniversário – no passado mês
de julho – em Ibiza e deu que falar num
vídeo partilhado nas redes sociais, onde é
possível ver o irlandês com um ‘cigarro’
numa mão e uma bebida na outra...
Cristina Ferreira:
de Itália a Ibiza
Depois de ter passado por Itália e pelo
Alentejo, em Portugal, Cristina Ferreira
rumou a Ibiza. A Diretora de Entreteni-
mento e Ficção da TVI tem estado a bordo
do luxuoso iate Leopard 27 Open. Na
companhia de amigos, a apresentadora
da TVI tem partilhado com os seus segui-
dores várias imagens das férias na rede
social Instagram, desde os restaurantes
que visita aos momentos mais radicais,
em que surge a andar de mota de água.
«Um azul inacreditável», escreveu.
Demi Moore de
férias na Grécia
Este ano, Demi Moore optou por umas férias
na Grécia, a bordo de um iate. A atriz fará 60
anos em novembro deste ano e, numa en-
trevista recente, disse que é «muito liberta-
dor» chegar a essa idade. Na sua página de
Instagram, a atriz publicou algumas fotogra-
fias das férias e recebeu vários elogios. «Es-
tás maravilhosa», «pareces radiante e mui-
to contente» e «deslumbrante como sem-
pre», são apenas alguns da longa lista de
comentários. A estrela de Hollywood, co-
nhecida pelos seus papéis em projetos como
Ghost e Striptease, apostou num biquíni
num tom rosa vibrante, uma das tendências
deste verão, que conjugou ainda com uma
camisa em amarelo torrado. Moore está
numa relação com o chef suíço Daniel
Família Patrocínio
Humm desde março de 2022.
Algarve é sempre
Vieira, de 44 anos, esteve de férias na re-
gião do Douro e, no último fim de semana,
boa ideia
rumou ao Alentejo, para mais uma sema-
na de descanso. Cláudia Vieira está com o
companheiro João Alves e a filha de am-
Catarina Furtado partilhou com os segui- bos, Caetana, de 3 anos. O casal está insta-
dores várias fotografias das suas férias lado no Hotel São Lourenço do Barrocal,
com a família em Cabanas de Tavira. A nas imediações da aldeia histórica alente-
apresentadora do The Voice esteve alojada jana de Monsaraz e do lago do Alqueva.
no Hotel Cabanas Beach & Nature, no Al- Cláudia Vieira tem partilhado vários regis-
garve, com o ator e marido João Reis e tos com os seus seguidores – na sua página
com os respetivos filhos: Beatriz, João e oficial de Instagram é seguida por um mi-
Maria. «O melhor das férias é ter a capa- lhão e meio de pessoas – e mostrado al-
cidade (e a sorte) de poder parar mesmo guns dos programas que tem feito, como
que seja a pensar muito e a sentir tanto. passeios de bicicleta. «Que paz», pode
Leitura em dia, mergulhos tatuado, afec- ler-se na legenda que acompanhou uma
tos exercitados e projectos desenhados. série de fotografias da apresentadora na
Regressar a Lisboa», escreveu na legenda. tranquilidade do Alentejo.
Serena
Williams
Uma vida de altos e baixos
TEXTO José Miguel Pires
N
o WTA 1000 de Cincinnati, que deixar de jogar ténis. É como um as- ternacional, tendo ambas sido treinadas
as expectativas para o con- sunto tabu. Ele chega e eu começo a cho- pelos pais, Oracene Price e Richard
fronto entre a jovem Emma rar. Acho que a única pessoa com quem Williams.
Raducanu e a veterana Sere- realmente falei disto foi o meu terapeu- Com apenas quatro anos de idade, na
na Williams estavam em al- ta», disse a própria, num artigo de opinião cidade de Compton, na Califórnia, Sere-
tas, pois seria um verdadei- publicado na revista Vogue. na Williams – também conhecida como
ro duelo de gerações do ténis Preferindo usar o termo «evolução» em Meka, forma diminutiva do seu nome do
feminino. No fim, a britânica de 19 anos ba- vez de «reforma», Serena Williams diz que meio (Jameka) – começou a jogar ténis,
teu – com facilidade – a norte-americana está «a evoluir do ténis para outras coisas tornando-se profissional em 1995.
de 40 anos, com os parciais 6-4 e 6-0. que são importantes». «Há alguns anos, co- O talento esteve sempre lá: apenas qua-
Para muitos, o desastroso resultado para mecei discretamente a Serena Ventures, tro anos depois de se profissionalizar, no
Williams foi o espelho de uma tenista que uma empresa de capital de risco. Logo de- Open dos Estados Unidos de 1999,
já não é o que era, e a quem os 40 anos de pois disso, comecei uma família. Eu quero Williams vencia o seu primeiro título de
idade começam a pesar. Afinal de contas, que essa família cresça», continuou a tenis- Grand Slam, com apenas 17 anos.
Serena ocupa o lugar 612 do ranking mun- ta, atirando: «Uma coisa que eu não vou fa- Seguiu-se então uma carreira rechea-
dial da WTA, onde já ocupou o primeiro zer é embelezar isso. Eu sei que muitas pes- da de títulos e vitórias, bem como uma
lugar durante 319 semanas, 186 das quais soas estão animadas e ansiosas por se reti- série de contratos chorudos e ações im-
consecutivamente. rarem, e eu gostaria de me sentir assim». portantes no mundo dos negócios, que
Não é por acaso, aliás, que a norte-ame- fizeram da tenista a atleta mais bem paga
ricana anunciou, no início do mês, que vai A vida de Serena em 2017. Aliás, segundo a Forbes, e mes-
abandonar a sua carreira profissional. «Te- Serena e a sua irmã mais velha, Venus, mo com o ‘declínio’ de Williams nos úl-
nho sido relutante em admitir que tenho são dois dos grandes nomes do ténis in- timos anos, a tenista vale ainda 260 mi-
Momentos
memoráveis
Serena Williams conta mais de 20 anos de carreira
profissional, com momentos inesquecíveis a
preencher o seu portfólio. Desde a primeira vitória
em Grand Slams, em 1999, até ao polémico Open
dos Estados Unidos de 2018, a carreira da Williams
mais nova, durante a qual conquistou 23 majors,
está repleta de memórias e momentos inseparáveis
da história mundial do ténis profissional.
TEXTO José Miguel Pires
1999 Primeira conquista
num Grand Slam, no Open
dos Estados Unidos
Com 17 anos de idade, Serena Williams
venceu o seu primeiro torneio Grand
Slam. No Open dos Estados Unidos de
1999, a tenista venceu a suíça Martina
Hingis na final, por 6-3 e 7-6.
2002 No topo
do ranking pela
primeira vez 2012 Golden
Em 2002, e depois de Slam
uma série de importan- Depois de conquistar o
tes vitórias – algumas ouro nos Jogos Olímpi-
delas contra a sua irmã, cos de Londres’2012, Se-
Venus Williams – Serena rena Williams tornou-se
subiu pela primeira vez na única tenista a com-
ao primeiro lugar do pletar um Golden Slam
ranking da WTA. em singulares e duplas.
25 anos da morte
A vida da ‘princesa do povo’
em 25 imagens
M
uito se escreveu e conti- o casal não chegaria ao destino. Já passava da de Pitié-Salpêtrière, não tendo resistido
nua a escrever sobre as meia-noite em Paris, quando o carro guia- aos ferimentos.
circunstâncias que leva- do pelo motorista Henri Paul e onde ainda Quase 25 anos depois, são múltiplas as
ram à tragédia na madru- seguia o guarda-costas Trevor Rees-Jones teorias que se formularam em torno do
gada de 31 de agosto de se despistou no túnel que passa por baixo trágico acidente, mas todas se sustentam
1997. Era sábado à noite da Ponte da Alma, numa fuga aos paparazzi. na mesma crença: que alguém queria ma-
quando Diana e o egípcio Apenas o guarda-costas sobreviveu ao tar Diana e que a família real britânica aju-
Dodi al-Fayed, herdeiro dos armazéns de violento acidente. Tanto Dodi, namorado dou a orquestrar o acidente fatal daquela
luxo Harrods, saíram do hotel Ritz, na Pra- de Diana, como o motorista foram decla- noite. Essas teorias foram tão difundidas
ça Vendôme, onde tinham jantado, e entra- rados mortos no local. Já a princesa de Ga- que as autoridades britânicas foram for-
ram num Mercedes com destino a um apar- les acabaria por morrer, aos 36 anos, nas çadas a lançar a conhecida Operação Pa-
tamento na rua Arsène Houssaye. Contudo, primeiras horas de domingo, no hospital get, um inquérito para estabelecer se ha- >>
Foi professora primária, em Pimlico Diana ficou noiva de Charles em 24 de fevereiro de 1981
via algum fundamento de verdade nestas mente ser o padrasto do futuro rei da In- rias fundamentava-se na crença de que a
teorias. Durou anos, custou milhões de li- glaterra». E, assim, planeara matá-la. própria Diana pensava que ia ser morta.
bras e pôs um ponto final a todas as sus- O burburinho sobre uma possível gravi- E, ao que tudo indica, isso seria verdade,
peitas conspiratórias, concluindo que tudo dez surgiu antes mesmo de Diana morrer uma vez que veio a público uma carta di-
se tratou de um acidente infeliz. e a especulação foi impulsionada pelos jor- vulgada por Paul Burrell, antigo mordo-
Uma das teses que chegou a ser alimen- nais franceses. Contudo, nada indicava mo de Diana, onde a princesa de Gales
tada por Mohamed al-Fayed, o pai de Do- uma gravidez no exame post-mortem. E confidenciava essa suspeita.
di, baseava-se na suposição de que Diana outros testes ao sangue de Diana também «O meu marido está a planear ‘um aci-
estaria grávida, o que motivaria o descon- apontavam no mesmo sentido. Além dis- dente’ no meu carro, uma falha nos freios
tentamento do Palácio de Buckingham e so, não há evidências sequer de que a pró- e ferimentos graves na cabeça para dei-
da rainha Isabel II. Em declarações à im- pria suspeitasse de uma gravidez, não ten- xar o caminho livre para se casar de
prensa, Fayed chegou a alegar que a famí- do mencionado qualquer possibilidade de novo», lia-se na carta.
lia real «nunca poderia aceitar que um estar grávida aos seus confidentes. De facto, Diana receava pela sua segu-
muçulmano egípcio pudesse eventual- O principal fator por trás de todas as teo- rança. Mas parece não haver nenhuma >>
o carro tinha sido mexido e que circulava corro concentram-se em dar tratamento
a uma velocidade excessiva para o trajeto. no local antes de transferir uma pessoa
Porém, as investigações levadas a cabo para o hospital. Já no Reino Unido, opta-
pelas autoridades francesas e britânicas -se por chegar ao hospital o mais rápido
concluíram que tudo parecia estar em con- possível.
formidade com o carro, apesar de o Mer- Tal como é descrito no relatório da Ope-
cedes ter entrado no túnel a uma veloci- ração Paget, para que esta teoria tivesse
dade muito acima do limite legal. algum fundamento um número substan- INVESTIGAÇÕES
O simples facto de Diana ter chegado ao
hospital ainda com vida também foi mo-
cial de médicos e de outros profissionais
teriam de quebrar com o código de ética e
CONCLUÍRAM QUE
tivo para alimentar a especulação sobre a depois mentir em conjunto às autorida- O MOTORISTA
conduta dos profissionais de saúde que a
socorreram tanto no local do acidente
des. Algo que é pouco plausível.
Além disso, é impossível aferir se Dia-
ESTARIA EMBRIA-
como no hospital, com o povo britânico a na teria mais hipóteses de sobreviver caso GADO NA NOITE
especular que os médicos permitiram que
Diana morresse ao não oferecerem o tra-
tivesse sido levada de imediato para o
hospital. De qualquer forma, na altura,
DO ACIDENTE E
tamento mais adequado. os médicos alegaram que os ferimentos SEGUIA EM
Na verdade, a abordagem francesa em
casos de emergência é diferente da do Rei-
eram fatais.
Curiosamente, as teorias da conspira-
EXCESSO DE
no Unido. Em França, as equipas de so- ção em torno de Diana circulavam mes- >> VELOCIDADE
Harry nasceu a 15 de setembro de 1984 A princesa Diana e a rainha Isabel II
A princesa de Gales com o Papa João Paulo II Diana com o amigo Elton John
AS SIAMESAS
Duas irmãs siamesas são vendidas a um circo
e tornam-se a atracção principal.Entretanto,
aparece um médico que se propõe separá-las.
E
u e a Mara somos inseparáveis, da de um relógio. Olhava-nos espantado, ar-
não por vontade própria, mas por regalando os seus olhos cinzentos.
estarmos unidas pelas ancas. Te- - Estão mesmo presas uma à outra? Não há
mos catorze anos, um metro e nenhum truque?
cinquenta de altura, cabelos ne- - Apalpe, apalpe – disse o nosso pai, orgu-
gros, olhos esverdeados, narizes lhoso, apontando para as nossas ancas.
pequenos e bocas com lábios fi- O senhor Knut meteu a sua mão peluda no
nos. Geralmente, estamos de acordo com o nosso corpo, puxou cada uma por um braço
que fazer e para onde ir, mas, quando isso não e abanou-nos até ficar convencido.
acontece, eu imponho a minha vontade. - Diabos me levem. Estas criaturas são como
Como a nossa mãe não nos deixou ir à esco- se fossem uma só. Quanto quer por estes
la, mal sabemos ler e escrever. Ela dizia que monstrinhos? rasgado e enxotou-nos para um canto da ca-
éramos um castigo de Deus e só falava con- - Por cem dólares pode ficar com elas – dis- ravana onde dormimos alguns meses.
nosco para nos dar ordens ou insultar. Um dia, se o nosso pai. A Sheila era uma mulher alta com olhos
durante a Exposição Pan-americana[1], fugiu O senhor Knut riu-se. azuis e cabelos pretos; a sua barba não pas-
de casa e nunca mais soubemos dela. - Por esse preço posso comprar três maca- sava de uns tufos de pêlo espalhados pelo ros-
Uma semana depois, o nosso pai levou-nos cos. E, como aberração, já tenho a mulher com to. Deveria ter cerca de quarenta anos – nin-
ao circo. Havia uma grande tenda com riscas barbas. Dou-lhe metade. guém sabia a sua idade e nunca tivemos co-
brancas e vermelhas, seis caravanas onde vi- - Combinado – disse o meu pai. Assine es- ragem de lhe perguntar – e já tinha estado
viam os artistas e duas jaulas onde estavam tes papéis e trate-as bem. noutros circos antes de trabalhar para o se-
os leões. Cheirava a algo podre. No entanto, nhor Knut. Ao contrário da nossa mãe, só nos
nós não fomos lá para ver o espectáculo, mas * batia quando não lhe obedecíamos. Foi ela
sim para nele participar. O nosso pai levou- Desde esse dia tornamo-nos pertença do se- quem nos ensinou a estar diante do público
-nos ao circo para nos vender. nhor Knut e começamos a aprender a ser es- pois o nosso número consistia, tão-só, em nos
- Chamam-se Lili e Mara. São espertas, fa- trelas de circo. Fomos instaladas na tenda da mostrarmos às pessoas.
zem tudo o que lhes mandar e comem pouco. mulher barbuda, a Sheila, e a primeira coisa No dia seguinte acordamos com pontapés
– disse para o senhor Knut, o dono do circo. que ela fez foi ameaçar-nos. dados pela Sheila e o senhor Knut apresen-
O senhor Knut era um homem atarracado - Eu sou a atracção principal do circo e isto tou-nos ao resto da companhia. Conhecemos
com o rosto vermelho e o cabelo e as suíças vai continuar assim. Se fizeram alguma coisa Sílvio e Zita, o casal de trapezistas que voa-
cor de ferrugem. Vestia um fato preto com um para me prejudicar, racho-vos ao meio. vam sem rede; Hector, o domador de feras;
colete lilás onde se via uma corrente pratea- De seguida atirou-nos com um cobertor Peng, o faquir; Nina, a contorcionista; Tico, o
‘CHEGOU POR FIM nos sorriram e deram um beijo. Hector era ca-
reca, tinha metade da cara desfeita pela pata
nia e saiu de cena em dando saltos ridículos.
Toda a gente estava feliz, excepto o próprio
A NOSSA VEZ, UMA de um leão, um único olho azul e tresandava
a álcool; cuspiu para o chão como forma de
Tico que nunca se ria.
De seguida entraram Sílvio e Zita, vestidos
VEZ QUE O SENHOR nos cumprimentar. Peng era descendente de com fatos brancos cheios de brilhantes cola-
Chalana
A volta à Gália
«Quand il est mort, le poéte...»
Aventuras de um Português em França
ou a Outra Vida de Fernando Chalana,
ao qual chamavam Chalaná. Alegrias e tormentos
contados por quem os viveu de perto essa fase
que deveria ter sido maravilhosa e se tornou
num pesadelo. Ironicamente, até o seu nome
vem do francês – Chaland.
O
eco da morte de Fernando lugares e das suas pombas. E que gostava de agudo, oxítono, dava a sensação que algo
Chalana continua a perdu- os ter perto. A antítese do emigrante. E, no estava aí para acontecer, algo que ninguém
rar na batida do coração de entanto, depois do Campeonato da Euro- estava preparado para adivinhar. Repare-
cada um que foi, verdadei- pa de 1984, foi para Bordéus, envolto no pó -se noutro pormenor, insuspeito, mas pra-
ramente, seu amigo. O fei- de ouro das estrelas e havia um altar à sua ticamente premonitório. O seu nome vem
ticeiro do drible, o poeta do espera, logo para ele, imagine-se, para o do francês: Chalana – fomos buscá-la ao
futebol fantasmagórico – nosso Fernando que era um rapazinho que castelhano, tal como está mas, por sua vez,
porque ele, como um espírito, incorpóreo, não queria crescer, como Peter Pan, obri- tem a sua raiz em França, Chaland, onde
parecia atravessar adversários como fan- gado a ser homem muito cedo, ainda im- surgiu vinda da Grécia, Khelándion, um
tasmas no seu caminho aos ziguezagues, berbe não fora aquela sua barba farta de barco de pesca de fundo chato, uma fraga-
em frente, sempre em frente –, teve uma sabedor dos Evangelhos. ta, se quiserem, sempre tem mais a ver
vida para lá da vida que lhe conhecemos, Chalana foi, em França, outro Chalana. com o Tejo e com o Barreiro, onde o Fer-
no Barreiro, na Luz, ultimamente no Sei- Chalaná, como lhe chamavam, repare-se nando surgiu na face da Terra a 10 de Fe-
xal. Era um homem que gostava dos seus a forma como o seu nome passou a ser vereiro de 1959, já pronto para brincar com >>
«O PÚBLICO
FRANCÊS NUNCA
PERCEBEU
CHALANA. MAS
a mágica senhora das paixões (a bola) e SEMPRE GOSTOU nha. Praticamente invencíveis dentro do
correr como um menino pela eternidade,
para usar as palavras do Torga. «Chalana MUITO DELE» - Hexágono. Bela carreira na Taça dos Cam-
peões Europeus: Athletic Bilbao (3-2 e 0-
n’a jamais été compris par le public français
mais a toujours été aimé», diz-me Eric Biel-
ERIC BIELDERMAN -0); Dínamo Bucareste (1-0 e 1-1); Dnipro
Dnipropetrovsk (1-1 e 1-1, com desempate
derman, mon pote, camarada de tantas jor- por grandes penalidade e Fernando Chala-
nadas no futebol e sem ele, o grande jor- na a marcar o decisivo, com o pé direito,
nalista da sua (nossa) geração no L’Équipe pois claro. «Eles não percebiam», contou-
e no France Football, que era editor da sec- -me o próprio Chalana, certa vez, em ca-
ção internacional ao mesmo tempo que vaqueira. «Perguntavam-me - “mas então
eu ocupava idêntico lugar em A Bola. Gil- tu és gaucher (canhoto) e marcas o penal-
bert Bécaud, Monsieur 100.000 Volts, poderia ti com o pé direito?” E eu ria-me: “quem
cantar em memória do Fernando: «Quand mulher, Cristina, provavelmente o ampa- vos disse que sou canhoto? Nunca fui. Só
il est mort, le poète/Tous ses amis/Tous ro que nunca teve. treinei tanto o pé esquerdo que para mim já
ses amis/Tous ses amis pleuraient/Quand A Volta à Gália. Tudo parecia estar no não havia diferença entre um e o outro”».
il est mort le poète/Le monde entier/Le seu lugar. Baixinho (1m65), bigode farto, O Eric recorda-se bem desse momento:
monde entier pleurait/On enterra son cabelo longo, geralmente arrumado em «Chalana deixou uma marca na alma de
étoile/Dans un grand champ/Dans un cachos atrás das orelhas. Pois... pois... fal- todos os girondinos quando marcou aque-
grand champ de blé». Não, Chalana não tava-lhe apenas o capacete com asas. A le penalti contra Dniepr na Taça dos Cam-
foi enterrado num grande campo de trigo poção mágica? Caiu nela ao nascer. A po- peões, no desempate. Entrou na lenda do
onde a brisa despenteia as pétalas da amo- ção mágica que lhe permitia, simples mor- Bordéus porque toda a gente achava que
reira. Continua a correr e a fintar defesas tal (é estranho, só agora, ao escrever, per- ele era esquerdino e, de repente, decide a
confusos para sempre dependurado na pa- cebo que o Fernando era, de facto mortal, eliminatória com um pontapé rasteiro e
rede branca da nossa memória. tão mortal que morreu mesmo, à revelia tranquilo feito com o pé direito. Foi no dia
Que falhou a Chalana em França? A per- de todas as nossas vontades) fazer coisas 20 de Março de 1985. Aí sim, de repente
gunta infiltra-se por entre o nevoeiro de que só as personagens de todas as mito- Chalana voltou a ser o mágico que levara
um certo esquecimento. Porque, entre nós, logias são capazes de fazer. o Bordéus a pagar por ele uma soma re-
Fernando em França foi como Che Gueva- Eric Bielderman: «Chalana manteve- corde do futebol francês, qualquer coisa
ra no ano em que esteve em parte nenhu- -se sempre um mistério. Muitas vezes como 18 milhões de Francos. De tal modo
ma. Com a diferença que não foram um, brilhava intensamente mas, noutras, tor- festejado por todos os seus companhei-
foram dois, até ser positivamente resgata- nava-se transparente. Toda a gente es- ros, que saltaram em bloco sobre ele, que
do de volta ao Benfica, o clube da sua vida. perava pela sua súbita explosão. Havia esteve à beira de perder os sentidos. Em
«Nunca ninguém conseguiu perceber a aquela expectativa. Tínhamo-lo visto a seguida foi como se desaparecesse».
presença muito forte da sua mulher, Ana- ser fantástico no Campeonato da Euro- A final, ainda assim, foi sonhada. Seria
bela, e não foi fácil descobrir o seu carácter pa, fazia parte da fortíssima equipa do a segunda final europeia de Chalana de-
discreto, sempre humilde. Mas, atenção!, Bordéus de 1984 a 1987. Foi campeão de pois da que jogou contra o Anderlecht pelo
todos adoravam a sua gentileza e a suavi- França. E, no entanto, era como se con- Benfica para a Taça UEFA. Apesar de uma
dade do seu sorriso. Foi sempre como uma tinuássemos à espera». garra que vinha lá do fundo da sua alma
criança para nós, franceses», continua Eric. «Tranquillité, sérénité, plénitude», dizia girondina, a Juventus foi demasiado forte
a imprensa da Gália sobre o Bordéus cam- na meia-final: 0-3 e 2-0. «Não jogou mais
O mistério de Chalana peão em 1985. «Le Récital Girondin!». Cha- do que 18 jogos em três anos de Bordéus
Criança, menino, são expressões que se lana estava lá. O treinador era Aimé Jacquet, para todas as competições. Ganhou a al-
repetem, em português ou em francês, en- futuro campeão do mundo em 1998. E ha- cunha de O Jogador de Um Milhão. Um
tretanto traduzido. Deus, um deus qual- via Giresse, o senhor do meio-campo, por cada partida. Mas ninguém, aqui em
quer, criou-o para ser criança, para ficar Dropsy, guarda-redes, Battiston, o homem França, esquecerá o menino do bigode!»
sempre criança, mas abandonou-o a meio que quase foi assassinado por Schumacher Torga outra vez quando termino dizendo
do caminho e mandou-o seguir, sozinho no Mundial de Espanha, Jean Tigana, o ma- que desejava deitar-se no banco mais
ou mal acompanhado, o resto da sua vida, ratonista, Bernard Lacombe, o elegante, Die- comprido que vagasse e pudesse dormir.
apesar de, no fim dela, ter encontrado na ter Müller, o avançado gigante da Alema- Em paz… >>
2. 3.
1.
1. Com a mulher da altura, Anabela, bem mais velha do que ele – algo que para a direcção do clube não fazia sentido na hora de falarem os dois com
a mesma voz 2. Tempos felizes de um homem apaixonado 3. Até treinavam juntos, se preciso fosse: eram um casal inseparável até ao momento em
que tudo se desmoronou
2. 3.
Desafiado pelo meu velho camarada Afon- entusiasmo. Battiston era, porventura, o cuidar do seu material, inclusive das bo-
so de Melo, “regresso” agora a Bordéus, 38 mais surpreendido, quando me pergun- tas. Reagiu assim: «Agora terei de ser eu
anos depois. tou se «ele joga sempre assim?». a comprar pomada e uma escova para en-
15 de Julho de 1984. graxar as botas… Meu querido José Luís
Depois de ter viajado de carro (!…) des- Roupeiro… só nos jogos (referia-se ao roupeiro do Benfica). Aqui
de Abrantes, de onde saíra mais de vinte e , o roupeiro só nos dias de jogos…».
quatro horas antes, Chalana chegou final- COMPRAR POMADA
mente a Bordéus. E ENGRAXAR AS BOTAS A 10 era do Giresse
Estava à sua espera. Fernando Chalana encontrou em Bor-
Visível e compreensivelmente cansado, déus hábitos (e costumes!…) muito dife- CHALANA NÃO QUIS
Aquele que, semanas antes, fizera esbu- rentes daqueles a que estava habituado A CAMISOLA 11…
galhar de espanto os olhos da Europa do no Benfica. No Benfica, Chalana já tinha estatuto para
futebol, preparava a sua aventura num Antes do primeiro treino foi-lhe entre- usar a camisola 10 (como Pelé, Eusébio,
«mundo novo». gue um saco, contendo todo o equipamen- Maradona ou Platini). Todavia, ao chegar
A noite terá sido «percorrida» apressa- to de treino, botas e toalha para o banho. a Bordéus, o número dos «seus amores»
damente. Oito horas depois Chalana apre- Chalana não contava com a «oferta». já tinha dono – e que dono!
sentava-se para o primeiro treino sob o Mais: foi informado que teria de ser ele a «Tenho predilecção pela camisola 10,
comando de Aimé Jacquet. mas já sei que não a poderei usar, é do
Tenso, ansioso, fechado, nem o bigode Giresse. Aqui é como no Benfica, os mais
farto lhe servia de disfarce. Mais tarde con- antigos tem direitos neste aspecto».
fessou-me que as pernas lhe tremiam… Sugeri-lhe a camisola 11. Voltou a não
… Como, visivelmente, lhe tremiam as me «ouvir»… – «Não, não gosto desse
mãos, quando das muitas solicitações para número, como não gosto de números ím-
dar autógrafos. pares. Nunca gostei. Vou ver se consigo
Entrou no balneário, do qual foi o últi- a 8. Desde que seja um número par, não
mo a sair antes de chegar ao relvado, onde haverá problema. No Europeu joguei com
os novos companheiros, em pequenos a 4 e as coisas saíram-me bem».
grupos, iam trocando a bola entre si.
Acompanhamo-lo da cabina ao relvado TREINO a 10 FRANCOS
e ouvi-lhe a primeira queixa: «As botas PARA VER CHALANA…
são pesadas, tem muitos pítons, embora
de borracha». O ingresso de Chalana no Bordéus impli-
Animei-o: «Quem sabe como tu, até cou números gigantescos.
joga descalço». Não terei sido convin- Tratou-se da transferência mais cara do
cente… futebol francês: 18 milhões de francos para
Entrou, finalmente, no relvado, sem sa- o Benfica (mais de 300 mil contos…). Para
ber para onde se dirigir, que grupo esco- Chalana ficou destinado um «bolo» de 7
lher para se integrar na troca de bola. Foi milhões de francos, a receber nos três
o defesa Rorh quem o «ajudou» passan- anos de contrato, incluindo ordenados e
do-lhe a bola pela primeira vez. prémios.
Terá sido um alívio… O bulício da transferência ficou subli-
Poucos minutos volvidos, o técnico Ai- nhado com algo de inédito no clube: 10
mé Jacquet distribui-lhe um colete… en- francos para ver o primeiro treino de
carnado. Chalana.
Depois, sim, tudo se lhe tornou mais fá- O Bordéus tentava tudo para amenizar
cil, quando utilizou a sua «linguagem». o estremeção financeiro resultante da
No final do treino, Chalana já parecia aquisição do «mais espectacular jogador
«outro». E os colegas não escondiam o do Euro-84».
JOSÉ CABRITA
SARAIVA
Bendito Benedikt
A Taschen orgulha-se de ser uma editora democrática.
Mas não o é apenas pelos preços acessíveis que pratica.
U
ma vez por ano, a meio do verão, ne, pintor nascido numa aldeia da atual Li- pecializada, se não aborrecida, os autores
a editora Taschen promove no seu tuânia (então império russo) que nas suas da Taschen preferem em geral uma escrita
site alguns dias de saldos, com telas deformava os objetos e as pessoas só viva, sem grandes divagações ou floreados,
descontos a que os amantes de li- para os tornar mais reais. Ou o suptuoso ál- por vezes empolgante. Ora aí está mais uma
vros têm dificuldade em resistir. Há dois bum, forrado a tecido, dedicado à vida e obra manifestação do seu caráter ‘democrático’.
anos encomendei aí um belíssimo catálo- de Peter Beard, um fotógrafo americano que
go (formato XXL, 492 págs., 6 kg) com a
obra completa de Pieter Bruegel, o velho,
privou com Salvador Dalí, Andy Warhol,
Jacqueline Onassis e Mick Jagger, embora a Ccado
uriosamente, o primeiro livro publi-
por esta editora, em 1980, foi uma
mestre quinhentista autor de pinturas cé- sua grande paixão, onde se sentia verdadei- banda desenhada, Sally Fort – que, a ava-
lebres como Os Caçadores na Neve, O ramente feliz, fosse a África selvagem. liar pela capa, devia ser vagamente eróti-
Triunfo da Morte e a A Torre de Babel. No ca ou até um pouco mais do que isso. Be-
ano passado, foi a vez de mandar vir um
álbum com os desenhos de papagaios fei-
tos por Edward Lear (1812-1888), poeta
D evido aos preços baixos que pratica, a
Taschen orgulha-se de ser uma editora
democrática. Creio que esse traço também
nedikt Taschen, o fundador, ainda não ti-
nha sequer 20 anos. Não foi propriamente
um sucesso. Em 1982 publicou uma se-
genial e artista não menos dotado. Este ano se manifesta nos textos que publica. En- gunda BD, Ray Banana, que só agravou a
– sempre com generosos descontos – con- quanto muitos livros de história da arte se sua situação.
segui finalmente deitar a mão a The Char- caracterizam por uma prosa altamente es- O fim da curta vida da casa editorial de
lie Chaplin Archives, que reúne um ma- Colónia parecia cada vez mais próximo.
nancial quase inesgotável de fotografias e Em 1984 Benedikt lançou a última carta-
documentos sobre o grande cineasta e ator. da. Com dinheiro emprestado, comprou
por atacado 40 mil exemplares de um li-
A ILHA DE GOA
QUE ILUMINA
A DE MOÇAMBIQUE
A pequena ilha de Goa sustenta um farol
já secularà entrada da Baía de Mossuril.
A sua torre listada sinaliza a primeira escala
de um périplo de dhow deslumbrante
em redor da velha Ilha de Moçambique.
A
pós uma aturada seleção e zar-nos com Omar, um jovem vendedor tripulantes. Instantes depois, zarpamos
negociação, por fim, chega- de chamuças que percorria a Ilha de Mo- para a baía de Mossuril, apontados ao ex-
mos a um acordo. Apesar da çambique com um grande frasco ao om- tremo norte da Ilha de Moçambique e à
atenção e do discernimento bro. Como era expectável, os lucros diários saída para o Canal de Moçambique. O
empregues, falha-nos um obtidos pelo rapaz provavam-se comedi- dhow rasa o forte de São Sebastião. Passa
pormenor. Irrisório, senão dos. De tal maneira assim era que, em vez por uma frota de pescadores artesanais a
cómico. Ainda assim, por via de se entregar ao seu ofício, Omar opta por bordo das suas pirogas movidas a pagaia
da história associada, uma mácula que nos acompanhar no passeio. Os donos do única. Ao contornarmos a península ocu-
preferíamos ter evitado. Dos vários dhows dhow conhecem-no. Admitem-no a bor- pada pela fortaleza, fletimos para sudes-
ancorados em frente ao pontão, sob a su- do e ao boião que o miúdo carregava como te. Entregamo-nos à imensidão do canal.
pervisão da estátua de bronze de Vasco da um apêndice de plástico gorduroso. Nesse tempo, refastelados entre o as-
Gama, acabamos por embarcar num bap- Instalamo-nos numa zona da embarca- sento e o fundo do casco, admiramos a pe-
tizado de “Titanic”. ção que o capitão nos indica e em que não rícia com que o capitão e os seus ajudan-
Nessa manhã, tínhamos voltado a cru- atrapalharíamos as manobras do trio de tes ajustam a vela ao vento, como a esti-
cam e fazem oscilar com uma fluidez que so. Navega paralelo, a determinada altura, trilho reto sulcado na vegetação, uma de
mal nos perturba no nosso trono panorâ- já ao longo do litoral sul e de seus sucessi- duas vias abertas e que, em forma de cruz,
mico. À medida que nos aproximamos da vos recortes. Um deles, revela-se mais pro- abrangiam a ilha de Goa de sul a norte e
ilha da Goa, o tráfico marítimo diminui a fundo que os anteriores. Acolhe uma pe- de leste a oeste.
olhos vistos. quena angra com leito de areia molhada. O Sempre em fila, ou quase fila, chegados
Aos poucos, de um mero vislumbre, de- capitão aponta o “Titanic” àquele portinho ao centro da ilha, cortamos para a sua per-
fine-se uma torre listada, branca e ver- natural e de águas cristalinas. Virada a sul e pendicular. No término dessa continua-
melha, acima de uma crista densa da ve- de mar tranquilo a condizer, a enseada con- ção, com a costa oriental de novo à vista,
getação que preenche o oriente da ilha, cede-nos um desembarque suave. esbarramos com a torre listada do farol.
para lá de uma costa feita de duas linhas. Num ápice, vemo-nos em terra firme. «Comi duas chamuças. Com este calor,
Uma primeira, de recife castanho e áspe- Subimos para uma laje intermédia forra- estou a morrer de sede», desabafa Omar,
ro. Outra, logo acima, de uma areal alvo da a pedra-coral. Dali, já com um duo de no português básico com que se desen-
que antecede o verde arbustivo. tripulantes do “Titanic” a fazer de guias e vencilhava com os visitantes lusos, à mar-
O “Titanic” aproxima-se do recife rocho- Omar a acompanhar-nos, seguimos um gem do dialecto macua em que os nativos >>
1.
daquelas paragens comunicam, aqui e ali, Retomamos a ascensão. Ao chegarmos fessa-nos que também achava estranho.
com recurso adicional a línguas vizinhas, ao cimo, já os guias por lá cirandavam, en- «Não sei… achou piada e pintou. Por cá,
casos do quimuane e do suaíli, úteis para tretidos a investigarem se as intempéries nem sempre quer dizer nada».
conversas com tanzanianos e até mesmo e os vendavais teriam causado estragos. Sem ter como se alongar no tema, o
com quenianos. Um deles, segura o invólucro de acrílico miúdo aproveita o inesperado protago-
Sem que o esperássemos, o rapaz ser- da lâmpada elétrica, como a testar a sua nismo. Pousa, mais uma vez, o frasco das
ve-se de um poço coberto. Lança para o estabilidade. Apercebemo-nos que tinha chamuças e enquadra-se na campânula
seu fundo um garrafão atado a uma corda. as unhas das mãos pintadas de vermelho enferrujada do farol, a apreciar as vistas
Recupera-o, cheio de água. Enche um bem vivo. Omar também repara. Confron- em redor. Voltamos a fotografá-lo, na-
copo de metal também ali ao dispor, pro- tamos olhares intrigados. Omar furta-se quela sua inadvertida fotogenia. Enquan-
videncial naquele reduto desprovido de a observar o que quer que fosse, com o to o fazemos, reparamos em vários res-
outras infraestruturas e castigado pelo sol conterrâneo por perto. Mais tarde, con- pingos, longínquos, ainda assim, bem
tropical. Omar bebe o copo de um trago destacados acima do azulão-profundo do
único. Restabelecido, insta-nos a subir- Canal de Moçambique. Trocamos de ob-
mos ao cimo do farol. «Vamos! É muito jectivas. Quando os enquadramos e mag-
bonito lá de cima». nificamos, percebemos que se tratavam
Ascendemos a escadaria, sem pressas. de baleias, entregues a repetidos saltos e
Mais que guias, os dois tripulantes pro-
vam-se escoltas. Por muito que a ilha ti-
NA ORIGEM, exibicionismos afins.
Há milénios que o Canal de Moçambi-
vesse por contar, pouco mais sabem que O FAROL DA ILHA que está na rota migratória de distintas
por ali se orientarem, o suficiente para nos
conduzirem aos seus pontos fulcrais. Dei- TINHA 12 METROS espécies de cetáceos, sobretudo de ba-
leias-jubarte, e de bossa. Nos meses mais
xamo-los ganharem avanço. A meio de
um dos lances da escadaria, Omar detém-
DE ALTURA. frios, estas espécies deixam as águas de-
masiado gélidas do Mar Antárctico rumo
-se a contemplar a vista por um janelo ar- EM 1923, a norte. De junho a setembro, sobem o
redondado, já sem vidros. Atentos aos seus
movimentos, apercebemo-nos como a sua A SUA TORRE sul da costa de África e circulam entre
Moçambique, Madagascar, com passa-
face gerava uma silhueta perfeita, contra os
azuis do Canal de Moçambique e do hori-
FOI AUMENTADA gens frequentes ao largo do arquipélago
das Comoros. A sua presença sazonal
zonte pouco nublado acima. PARA 31 METROS nestas paragens chegou a justificar que,
3.
em tempos em que a caça à baleia care- velmente antecessoras das que o mantêm Tiramos umas derradeiras fotos. Regres-
cia de regulamentação, duas empresas, em serviço. samos ao solo e ao colorido “Titanic”.
diz-se que norueguesas, instalassem es- Como o tínhamos acordado, a Ilha de Goa Dali, apontamos à ponta de Cabaceira,
tações baleeiras na província de Inham- e o seu emblemático farol eram apenas a ao largo de colónias de embondeiros des-
bane, em Linga-Linga. Mais tarde, aban- primeira paragem de um itinerário mais pidos de folhas que nos parecem saudar.
donaram-nas, ainda antes de o abate dos amplo em redor da Ilha de Moçambique, Esse percurso, cumprimo-lo já empur-
cetáceos ser inviabilizado pela sua prote- com desembarque previsto na não menos rados por um vento intenso que faz a vela
ção e pelo estabelecimento de distintas intrigante península da Cabaceira. Ciente do dhow empolar e o barco inclinar-se
eco-reservas terrestres e marinhas mo- do valor do seu tempo, o capitão vê-nos a até ao limite da sua veloz flutuação. O ca-
çambicanas. demorar no cimo da torre. Apesar da dis- pitão nota-nos apreensivos. Decide sos-
O farol de que continuávamos a apre- tância, consegue alertar os tripulantes- segar-nos: «Calma, amigos. Isto da par-
ciar o panorama Índico em redor, esse, foi -guias que está na hora de prosseguirmos. te da tarde é mesmo assim. Quando mais
erguido em 1876, com o fim de assinalar próximo do pôr-do-sol, mais intenso e
a entrada para a Baía de Mossuril. De rápido se torna».
orientar as embarcações ao largo, sobre- Decidimos abstrair-nos e aproveitar-
tudo as que tinham como destino a Ilha mos a inclinação. Tiramos fotos dos tri-
de Moçambique. É considerado o mais an- pulantes em luta com a vela e com a os-
tigo de Moçambique. A sua arquitetura
quadrangular, em vez de arredondada,
O CANAL DE cilação causada pelas vagas. Enquanto
isso, o casario longínquo da Ilha de Mo-
serviu de padrão para vários outros entre- MOÇAMBIQUE çambique desenrolava-se a ritmo con-
tanto edificados em Zanzibar e ao longo
da costa sul da África Oriental Alemã, ter- ESTÁ NA ROTA dizente. Por fim, o capitão faz o “Titanic”
entrar num braço de mar raso, protegido
ritório colonial desmembrado após a der-
rota germânica na 1ª Guerra Mundial e que
MIGRATÓRIA de manguezais. Regressamos à bonança.
Caminhamos com a água pelos joelhos,
deu origem à atual Tanzânia. DE DISTINTAS entre caranguejos alarmados, até retor-
Na origem, o farol da Ilha de Goa tinha
meros doze metros de altura. Em 1923, a ESPÉCIES DE namos a terra firme. Tal como nos lon-
gos tempos coloniais, a Cabaceira con-
sua torre foi aumentada para os trinta e
um metros a que nos encontrávamos, do-
CETÁCEOS, COMO firmou-se uma expedição à parte. A que,
em breve dedicaremos, o seu merecido
tada de uma nova luz e objectiva, prova- BALEIAS-JUBARTE capítulo.
Chef
José Lima OSSOBUCO COM ABÓBORA HOKKAIDO E PORTUBELO
RESTAURANTE
TÁBUA DA RIA INGREDIENTES: MODO DE PREPARAÇÃO
(GAFANHA DA NAZARÉ)
Ossobuco vitela 1- Colocar os ossobucos em um tabuleiro alto,
tabua_da_ria Cebola adicionar cenoura, cebola, alho francês, vi-
Alho francês nho branco, alecrim, tomilho, sal e paprika
Alho e levar o forno por 12h a 110º
Azeite 2- Cortar a abóbora em pedaços generosos e
Vinho branco temperar com azeite, sal, pimenta e oré-
Tomate gãos, levar o forno por 13m a 180º
Tomilho 3- Cortar os cogumelos e saltear com azeite,
Louro sal e alho
Alecrim 4- Preparar o puré de batata e colocar no cen-
Orégãos tro da travessa
Sal 5- Retirar o ossobuco, e coar o molho por um
Paprika passador
Puré de batata 6- Levar o ossobuco destapado no forno por
Abóbora hokkaido 10m a 200º, colocar por cima do puré
Cogumelos portubello 7- Empratar a abóbora e os cogumelos a gosto,
regar tudo com molho.
ESCOLHAS 70€
DA SEMANA
35€
65€
59€ 35€
39€