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Nº 30 | Dez| Jan | Fev |2024

C A P I T A L REUMATO

SEXUALIDADE NA
ARTRITE REUMATOIDE

VACINAÇÃO

CATASTROFIZAÇÃO
EM FM

AS MULHERES:
DESAFIOS E CONQUISTAS

#30 1
C A P I T A L REUMATO

PALAVRA DA EDITORA

ANNA BEATRIZ
ASSAD MAIA
Editora da Revista Capital
ÍNDICE Reumato 2023/2024

« Não há uma pegada do meu caminho


02 que não passe pelo caminho do outro. »
Simone de Beauvoir
Palavra
da Editora Em 1847 Elisabeth Blackell foi a primeira mulher a se formar em medicina nos Estados
Unidos. Ao conhecer sua história, Maria Augusta Generoso Estrela, brasileira, então
03 com 16 anos, candidata-se à mesma universidade em Nova York (NY).
Mensagem
do Presidente A primeira resposta recebida por ela foi negativa, exigiam que tivesse 18 anos ao
menos. Solicitou reconsideração do seu pleito e foi-lhe proposto um novo exame,
CAPA 04 após o qual foi aceita.
IGREJINHA Aconteceu Teve dificuldades em custear o curso, quase desistiu, mas Dom Pedro II, inspirado
TÉCNICA por sua coragem, concedeu-lhe custeio para concluir o curso.
COLAGEM DIGITAL 07
ARTISTA A vez e a voz Provavelmente foi Maria Augusta a primeira « bolsista » em terras estrangeiras no
CARMEN JIMENEZ do especialista ano de 1877. Em 1879, por decreto, é facultado às brasileiras o ingresso ao ensino
@blu.arte.arq superior. No ano de 1881, ainda em NY, Maria Augusta, junto a uma colega de
13 faculdade, Josefa Agueda Felisbella Mercedes de Oliveira, fundaram um jornal, "A
mulher – Consagrado aos interesses e direitos da mulher brasileira.
Reumato na
prática A inspiração e a vocação nascem do vislumbrar de caminhos, grande parte deles
parcialmente trilhados por visionários, sonhadores, loucos e gênios.
22
Humanidades A Capital Reumato abre o ano de 2024 honrada pela presença de Dra. Eloisa Bonfá
Médicas e Dra. Emília Sato em suas páginas. A contribuição é histórica. É sobre a presença
da mulher na medicina e na reumatologia que, com proficiência, nos escrevem.
31 Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Augusta_Generoso_Estrela
Reumatologia
na academa

DIRETORIA - GESTÃO 2023/2024 COMISSÃO CIENTÍFICA:


Reumatologia Pediátrica:
DIRETORIA COMISSÕES ESPECIAIS Aline Garcia Islabão
Artrite Reumatoide: Luciana Feitosa Muniz
Presidente: Luciano Junqueira Guimarães Comissão de eventos: Esclerose Sistêmica: Sandra Maximiano de O. Delgado
Vice-presidente: Luciana Feitosa Muniz Jamille Nascimento Carneiro Espondiloartrites: Cleandro Pires Albuquerque
1º secretário: Anna Beatriz Assad Maia Ana Cristina Vanderley OLiveira Fibromialgia: Ana Paula Gomides
Imagem em Reumatologia: Robson G. Cardoso
2º secretário: Ana Paula Monteiro Gomides Comissão de mídias e divulgação:
Miopatias inflamatórias: Álida Alves dos Santos
1º tesoureira: Gabriela Profirio Jardim Paula Cristina Montina
Osteoartrite: Luis Piva Junior
2º tesoureira: Ana Carolina Hidaka Osteoporose: Jamille Nascimento Carneiro
Comissão de Integração entre os
Diretora científica: Lícia Maria Mota Serviços Públicos de Reumatologia do Lúpus Eritematoso Sistêmico e Síndrome do Anticorpo
Diretora Revista Capital Reumato: DF e a Secretaria Estadual de Saúde: antifosfolipede: Carlos Eduardo de Carvalho Lins
Anna Beatriz Assad Maia Regina Alice Fontes Von Kirchenheim Vasculites: César Kozak Simaan

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MENSAGEM DO PRESIDENTE

DR. LUCIANO
JUNQUEIRA
Caros colegas reumatologistas,
GUIMARÃES

Iniciamos nosso segundo ano da gestão 2023/24 com Presidente da Sociedade


muito trabalho a fazer. de Reumatologia de
Esperamos, assim como foi ano passado, realizar várias Brasília 2023/2024
atividades científicas, comunitárias e discutir com a SES
como podemos melhorar o atendimento público em
Reumatologia dos pacientes do DF.
Nossa agenda científica já está pronta e disponível no
novo site.
Agradeço a todos que participam e colaboram com a Baixe todas as edições da Revista
SRB e os convido para iniciar mais esta jornada. Capital Reumato no site:
www.reumatodf.com.br
Um grande abraço e um 2024 de realizações a todos.

Contato SRB:
Um grande abraço, Feliz Natal e Feliz Ano Novo a todos. reumatobrasilia@gmail.com
(61) 3245-1671 | (61) 99668 0935
Dr. Luciano Junqueira Guimarães
Editoração e Design Gráfico:
CS DESIGN
Contato: Cristiane (61) 98131 7287
www.csdesigngrafico.com.br
cristiane@csdesigngrafico.com.br

EXPEDIENTE:
Reumatologistas revisoras: Ana Paula Gomides, Licia Maria Mota,
Ravena Fontenele Belchior Cabral, Gabriela Profirio Jardim Santos,
Jamille Nascimento Carneiro e Luciana Feitosa Muniz

Envie seu texto para ser publicado na revista: reumatobrasilia@gmail.com


Material de distribuíção exclusiva para área médica. A revista Capital Reumato não se responsabiliza por serviços, produtos
e imagens publicadas pelos anunciantes. As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não
expressam, necessariamente, a opinião da Revista Capital Reumato.

A responsabilidade de conteúdo médico científico do material recebido para publicação, bem como por eventuais conceitos
emitidos ou conflitos de interesses, é exclusiva dos autores.

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ACONTECEU

1 - CURSO PREPARATÓRIO PARA A PROVA PRÁTICA DE TÍTULO


DE ESPECIALISTA EM REUMATOLOGIA DA SBR
Dias 16 e 17 de fevereiro de 2024, promovido pela SRB no auditório
do laboratório Sabin em Brasília DF.

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ACONTECEU

AGRADECIMENTOS

• ASTRAZENECA
pelo apoio a reunião - (Reumato)2
Avanços no Tratamento do LES, online, dia 26 de outubro de 2023.

• JANSSEN
pelo apoio ao curso preparatório para a prova prática de título de
especialista em Reumatologia da SBR, 16 e 17 de fevereiro de 2024.

• LABORATÓRIO SABIN
pelo apoio ao curso preparatório para a prova prática de título de
especialista em Reumatologia da SBR, 16 e 17 de fevereiro de 2024.

• Doutores Clendro Pires Albuquerque, Paula Cristina Montina,


Paulo Sergio Rocha Mendlovitz, Rodrigo Rodrigues da Cunha
e Tainá Cândida de Almeida Gontijo Carneiro pela inestimável
colaboração na realização do curso preparatório para a prova prática
de título de especialista em Reumatologia da SBR.

• 18/4/2024 AS 20:00 HORAS (REUMATO)2 ONLINE


com Dr. Rodrigo Salinas Rodrigues, Argentina.

• ATUAR 02 E 03 DE AGOSTO DE 2024.


Axial Spondyloarthritis, challenges in South América.

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A VEZ E A VOZ DO ESPECIALISTA

PAULA MONTINA
Reumatologista pelo IHBDF; Título de especialista pela SBR
Doutoranda pela UNB; Membro da Comissão Jovem Reumatologista
da Sociedade Brasileira de Reumatologia; Membro da Comissão de
Mídias da Sociedade de Reumatologia de Brasília.

Sexualidade na
artrite reumatoide

A artrite reumatoide é uma condição crônica, progressiva e deformante


de natureza autoimune. Como médicos reumatologistas, quando nos
deparamos com o diagnóstico de AR, nossa principal preocupação é controlar
a atividade da doença ou mantê-la em níveis baixos, visando preservar a
funcionalidade do paciente. Além disso, é fundamental considerar outros
impactos que a doença pode ter na vida do paciente, como dor, fadiga,
limitações na mobilidade das articulações, distúrbios emocionais, bem
como questões relacionadas à imagem corporal e autoestima.

Com o passar do tempo, todos esses fatores podem afetar a qualidade


de vida, inclusive reduzindo a atividade sexual e o prazer associado a ela.
Devido à sua maior ocorrência em mulheres, pesquisas indicam uma
prevalência mais significativa de disfunção sexual nesse gênero. Essa
disfunção pode manifestar-se em diversas fases: antes do ato sexual,
resultando em limitações do desejo e da excitação; durante a relação,
podendo ser interrompida devido à dor e restrições de mobilidade; e mesmo
após a atividade sexual, diminuindo a satisfação sexual e aumentando o
desconforto e a dor articular.1

Os efeitos da artrite reumatoide na disfunção sexual em homens também


foram pesquisados. Concluiu-se que houve um aumento na incidência de
disfunção sexual em pacientes do sexo masculino com artrite reumatoide
em comparação com indivíduos saudáveis.2

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O envelhecimento é um fator de risco independente para a disfunção sexual. À medida que as mulheres
envelhecem, é comum observar o surgimento de dispareunia, diminuição do desejo sexual e redução na
produção hormonal. No entanto, é importante notar que estudos epidemiológicos anteriores também
identificaram uma alta prevalência de disfunção sexual em pacientes jovens.3

Os possíveis fatores contribuintes para a disfunção sexual em pacientes jovens abrangem o uso de
substâncias químicas, problemas de saúde mental, tabagismo e condições crônicas. Embora a maioria dos
pacientes com artrite reumatoide esteja na faixa etária de meia-idade ou mais (cerca de 45 anos), quinze
estudos forneceram evidências de que também há uma notável prevalência da doença entre pessoas mais
jovens com AR. 3

Abdel-Nasser e Ali conduziram uma pesquisa com 52 pacientes do sexo feminino diagnosticados com
artrite reumatoide, cuja média de idade era de 39,8 anos, e constataram que mais de 60% desses pacientes
apresentavam sintomas de disfunção sexual em diferentes graus.4
Embora diversos estudos clínicos tenham relacionado a artrite reumatoide à disfunção sexual em ambos
os sexos, ainda não foi estabelecida uma etiologia e patogenia bem definidas. A potencial origem do
aumento dos sintomas de disfunção sexual em pacientes do sexo feminino com artrite reumatoide pode
ser atribuída a diversos fatores.5,6

Inicialmente, os estudos apontaram para os distúrbios fisiológicos associados à doença, tais como restrições
na mobilidade articular, rigidez matinal, dor e fadiga. 5,6

Pacientes que sofrem de dor experimentam uma redução na atividade sexual, no desejo, enfrentam desafios
com diferentes posições sexuais e uma diminuição na frequência de orgasmos.7
A fadiga diminui o desejo sexual e interfere nas relações sexuais.8

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Outros sintomas frequentes da AR, como limitações na


mobilidade das articulações e rigidez matinal, também podem
afetar a atividade sexual devido a situações desconfortáveis
durante a relação íntima. 4,9,10

Em segundo lugar, é comum observar associação com


distúrbios psicológicos, tais como depressão, baixa
autoestima, ansiedade, percepção negativa da imagem
corporal e preocupações em relação ao interesse do parceiro
entre as pacientes do sexo feminino com AR. Estas variáveis
são consistentemente consideradas fatores de risco para a
disfunção sexual.11,12

Diante da abundância de estudos que correlacionam a


Artrite Reumatoide com a Disfunção Sexual (DS), torna-
se imperativo estabelecer estratégias para aprimorar a
saúde sexual dos pacientes. O tratamento da DS deve ser
adaptado aos sintomas específicos de cada paciente. Dados
oriundos de estudos epidemiológicos e clínicos sugerem que
intervenções como fisioterapia, psicoterapia e tratamentos
farmacológicos podem ser benéficos.1

As orientações da fisioterapia incluem abordar a mobilidade,


reduzir a dor, incentivar atividades físicas e aumentar a
resistência. A melhora na capacidade funcional diária, a
redução da dor e a incorporação regular de atividades físicas
podem contribuir para aumentar a frequência das relações
sexuais e melhorar o bem-estar psicológico.1

Além disso, Brodin et al. (14) relataram que o aumento dos


níveis de atividade física pode diminuir a fadiga e melhorar
a percepção do estado de saúde dos pacientes com AR.
Adicionalmente, o uso de calor e relaxantes musculares
antes da atividade sexual pode ser benéfico para aliviar a dor
e superar as dificuldades sexuais.13,14

Também foi evidenciado que a artroplastia total do quadril


pode restaurar a capacidade sexual para níveis pré-doença
em pacientes com AR, com uma taxa de sucesso total
atingindo 50% (15)

A psicoterapia têm se mostrado eficazes na melhora da saúde


sexual de pacientes com AR.

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Alguns estudos apontaram uma correlação entre a Disfunção Sexual (DS) e as variáveis de atividade
da doença na Artrite Reumatoide (AR) 16. A utilização de farmacoterapia, como anti-inflamatórios
e analgésicos, no tratamento da AR, pode ser benéfica para controlar a atividade da doença. 5,10

Dado que a patogênese da DS em pacientes com AR é atribuída a uma variedade de


fatores, incluindo distúrbios fisiológicos,psicológicos, desequilíbrio hormonal e o uso de
medicamentos, uma abordagem mais eficaz para o manejo desses pacientes deve depender
da queixa principal e dos sintomas específicos.

Em suma, a artrite reumatoide é uma condição complexa que pode impactar significativamente
na saúde sexual dos pacientes. Tanto os aspectos físicos da doença, como a dor e as
limitações na mobilidade, quanto os fatores emocionais, como a ansiedade e a depressão,
desempenham papéis cruciais na disfunção sexual relacionada à AR. No entanto, com uma
abordagem multidisciplinar que inclui reumatologia, fisioterapia, psicoterapia e educação, é
possível melhorar a saúde sexual dos pacientes, proporcionando uma melhor qualidade de
vida e bem-estar.

O apoio contínuo e personalizado é essencial para atender às necessidades individuais


e garantir que os pacientes possam desfrutar de uma vida sexual satisfatória, mesmo
enfrentando os desafios da doença.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.Areskoug-Josefsson K, Oberg U. A literature review of the sexual health of women with rheumatoid arthritis. Musculoskeletal Care 2009;7:219-26.
2. El Miedany Y, El Gaafary M, El Aroussy N, Youssef S, Ahmed I. Sexual dysfunction in rheumatoid arthritis patients: arthritis and beyond. Clin Rheumatol 2012;31:601-6.
3. Akre C, Berchtold A, Gmel G, Suris JC. The evolution of sexual dysfunction in young men aged 18-25 years. J Adolesc Health 2014;55:736-43.
4. Abdel-Nasser AM, Ali EI. Determinants of sexual disability and dissatisfaction in female patients with rheumatoid arthritis. Clin Rheumatol 2006;25:822-30.
5. Josefsson KA, Gard G. Women’s experiences of sexual health when living with rheumatoid arthritis—an explorative qualitative study. BMC Musculoskelet Disord 2010;11:240
6.ShaharMA,HusseinH,SidiH,ShahSA,MohamedSaidMS.SexualdysfunctionanditsdeterminantsinMalaysianwomenwithrheumatoidarthritis.IntJRheumDis2012;15:468-77.
7. Saadat SH, Ramezani A, Ahmadi K. Sexual self-concept and general health in rheumatoid arthritis patients. Iran Red Crescent Med J 2015;17:e19005
8.FerreiraCC,DaML,OliveiraAC,deCarvalhoJF,LimaRA,SimaanCK,etal.Frequencyofsexualdysfunctioninwomenwithrheumaticdiseases.RevBrasReumatol2013;53:35-46.
9. van Berlo WT, van de Wiel HB, Taal E, Rasker JJ, Weijmar SW, van Rijswijk MH. Sexual functioning of people with rheumatoid arthritis: a multicenter study. Clin
Rheumatol 2007;26:30-8.
10.JosefssonKA,GardG.Women’sexperiencesofsexualhealthwhenlivingwithrheumatoidarthritis—anexplorativequalitativestudy.BMCMusculoskeletDisord2010;11:240.
11. Yilmaz H, Polat HA, Yilmaz SD, Erkin G, Kucuksen S, Salli A, et al. Evaluation of sexual dysfunction in women with rheumatoid arthritis: a controlled study. J Sex Med
2012;9:2664-70
12. Tristano AG. The impact of rheumatic diseases on sexual function. Rheumatol Int 2009;29:853-60
13. Zeng X, Zhang Y, Kwong JS, Zhang C, Li S, Sun F, et al. The methodological quality assessment tools for preclinical and clinical studies, systematic review and meta-
analysis, and clinical practice guideline: a systematic review. J Evid Based Med 2015;8:2-10.
14. Brodin N, Eurenius E, Jensen I, Nisell R, Opava CH. Coaching patients with early rheumatoid arthritis to healthy physical activity: a multicenter, randomized,
controlled study. Arthritis Rheum 2008;59:325-31.
15. Yoshino S, Fujimori J, Morishige T, Uchida S. Bilateral joint replacement of hip and knee joints in patients with rheumatoid arthritis. Arch Orthop Trauma Surg 1984;103:1-4.
16. Hari A, Rostom S, Lahlou R, Bahiri R, Hajjaj-Hassouni N. Sexual function in Moroccan women with rheumatoid arthritis and its relationship with disease activity. Clin
Rheumatol 2015;34:1047-51.

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Reumato na pratica

CLARISSA FERREIRA
Médica Reumatologista
Título de Especialista em Reumatologia pela
Sociedade Brasileira de Reumatologia
Doutora em Ciências Médicas pela Universidade de Brasília

Vacinação em
Indivíduos com
Doenças Reumáticas
Imunomediadas (DRIM)

A vacinação é um tema de fundamental importância como estratégia de


promoção de saúde, sendo considerada a medida mais eficaz para prevenção
de doenças infecciosas. A história da vacinação remonta ao século XVIII, com
a descoberta da vacina contra a varíola1,2. De lá para cá, mais de 300 anos se
passaram, novas vacinas foram desenvolvidas e a ciência escreveu um capítulo
de sucesso com a vacinação. Deve ser de conhecimento de qualquer médico, e
o reumatologista, nesse contexto, é o protagonista do atendimento ao indivíduo
com doenças reumáticas imunomediadas.

As DRIM e seu arsenal terapêutico (imunossupressores e imunomoduladores)


conferem um maior risco de contrair doenças infecciosas que possuem altas
taxas de morbidade e mortalidade nesta população3-5. O registro brasileiro
de monitoração de terapia imunobiológica (BIOBADABRASIL) identificou, de
2009-2015, um risco 3x maior de infecção grave em indivíduos em uso de
antiTNF quando comparado aos controles6. E grande parte dessas infecções são
preveníveis por vacinas.

Contudo, a manutenção de bons índices de vacinação permanece um desafio,


mesmo no Brasil, país que conta com o PNI (Programa Nacional de Imunizações),
que em 2023 completa 50 anos de existência. A Organização Mundial de Saúde
(OMS) contabilizou 25 milhões de crianças com doses de vacinas atrasadas
ao redor do mundo, em 20217. Esse fato deve-se em parte à pandemia de
COVID-19, em parte ao movimento antivacina com disseminação de fake news
relacionados ao efeito adverso de vacinas.

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CONCEITOS BÁSICOS DA VACINAÇÃO EM INDIVÍDUOS COM DRIM:

Alguns conceitos básicos sobre a vacinação em imunossuprimidos são os


seguintes:

1. A conferência do cartão de vacina deve ser realizada frequentemente, de


preferência pelo reumatologista; e deve ser realizada o mais precocemente no
acompanhamento médico5.

2. Idealmente a vacinação deve ser realizada antes do início da terapia


imunossupressora8. Essa recomendação é especialmente válida para o
rituximabe. Caso contrário, deverá ser realizada 6 meses após a última dose e
4 semanas antes da próxima dose do rituximabe5.

3. As vacinas faltantes devem ser estimuladas sempre que possível; respeitando


e acolhendo as dúvidas /hesitações do paciente em relação às vacinas3,5.

4. As vacinas devem preferencialmente ser aplicadas em remissão ou baixa


atividade de doença5.

5. Indivíduos imunossuprimidos não apresentam risco aumentado de efeitos


adversos com vacinas inativadas8.

6. As vacinas atenuadas (contém componentes vivos) devem ser analisadas


com cautela em pacientes com DRIM, avaliando-se o grau de imunossupressão
e o risco de contrair a doença5.

7. A decisão de suspender o MMCD (medicamento modificador do curso da


doença) para a aplicação da vacina deve ser baseada na atividade de doença e
no risco de contrair a infecção3.

8. É preferível a aplicação de várias vacinas no mesmo momento do que aplicar


cada vacina em períodos diferentes8.

9. Conviventes domiciliares, cuidadores e profissionais de saúde devem


manter seus cartões de vacina atualizados. A vacina pólio oral é contraindicada
em conviventes de indivíduos imunossuprimidos, devendo ser substituída pela
vacina pólio inativada. O indivíduo imunossuprimido deve evitar a troca de
fraldas de crianças vacinadas com a vacina contra rotavírus por até 4 semanas5.

10. Em neonatos expostos à imunobiológicos durante o segundo e terceiro


trimestres da gestação, adiar a vacina com componentes vivos (BCG, rotavírus)
por 6 meses3,5.

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VACINA INFLUENZA
A vacina influenza é fortemente recomendada para os
indivíduos com DRIM, pois reduza internação e mortalidade
por complicações de gripe3,5.
O ACR (Colégio Americano de Reumatologia) recomenda a
vacina quadrivalente de alta dose, que é mais imunogênica e
promove maiores taxas de soroconversão em pacientes com
artrite reumatoide3,9.

VACINA PNEUMOCÓCICA
A vacina pneumocócica é fortemente recomendada para os
indivíduos com DRIM, à exceção daqueles com CAPS (síndrome
periódica associada a criopirinas), pois, nesse subgrupo de
pacientes, podem ocorrer sérios efeitos adversos5. A vacina
VPC13 é mais imunogênica do que a VPP23, sendo o esquema
mais recomendado a aplicação inicial de VPC13, seguida da
VPP23 após 8 semanas, com dose de reforço da última, 5
anos após3,9.

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VACINA HPV
A vacina HPV deve ser encorajada em todos os indivíduos com DRIM, em
especial, para as pacientes com LES (lúpus eritematoso sistêmico), devido ao
alto risco de infecção pelo HPV e posterior transformação em câncer do colo
de útero3,5. Estudos observacionais atestaram a segurança da vacina contra
o HPV, não sendo relatada associação com o desenvolvimento de doenças
autoimunes10.

VACINA HERPES ZOSTER


A vacina inativada contra o herpes zoster (VZR), nome comercial Shingrix,
chegou ao Brasil em julho de 2022 e possui maior segurança e imunogenicidade
do que a vacina atenuada3,5. As infecções por herpes zoster são comuns em
pacientes com DRIM, idosos e naqueles em corticoterapia. Indivíduos com
LES apresentam risco 5-16x maior de desenvolver zoster em comparação
com controles saudáveis11. Assim sendo, é indicada para todos os pacientes
imunossuprimidos acima de 18 anos.

VACINA FEBRE AMARELA


A febre amarela é uma doença endêmica no Brasil, com ressurgimento de focos
epidêmicos em anos recentes, com elevada morbimortalidade e sem terapêutica
específica12. A vacina é a principal forma de proteção. Contudo, como trata-se
de uma vacina de vírus vivo e há relatos de efeitos adversos graves associados
à vacina, deve-se avaliar o grau de imunossupressão e o risco de contrair a
doença. A SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia) estabeleceu as seguintes
recomendações:

1. Evitar a vacinação em pacientes com alta imunossupressão (vide tabela 1).


Em casos de leve imunossupressão, avaliar caso a caso12.
2. Evitar a vacinação em indivíduos com alta atividade de doença12.

TABELA 1. Categorização de graus de imunossupressão


MEDICAÇÕES

• sem medicação
NÃO IMUNOSSUPRIMIDOS • Sulfassalazina, hidroxicloroquina
• corticoides tópicos, inalatórios ou intra- articular

• Metotrexato ≤ 20 mg/ semana


BAIXA IMUNOSSUPRESSÃO • Leflunomida ≤ 20 mg/dia
• Corticoide dose de ≤ 20mg/dia de prednisona ou equivalente

• MMCD biológicos
• pulsoterapia com metilprednisolona
•corticoide ≥ 20mg/dia de prednisona ou equivalente acima de 14 dias
ALTA IMUNOSSUPRESSÃO
• inibidores de JAK
•micofenolato de mofetila ou sódico, ciclosporina, ciclofosfamida,
azatioprina, tacrolimus

Fonte: Pileggi GS et al. Advances in Rheumatology (2019) 59:17

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VACINA COVID
Em relação às vacinas covid, apesar da informação
estar em constante mutação, a SBR, em 2022 publicou
um guideline com orientações sobre a vacinação
contra o coronavírus para indivíduos com DRIM13,
que estão sumarizadas abaixo:

1. A vacinação deve ocorrer, preferencialmente,


em baixa atividade de doença e com baixo grau de
imunossupressão;

2. MMCD sintéticas ou biológicas não precisam


ser descontinuadas para a vacinação, à exceção do
rituximabe. Nesse caso, a vacina COVID deve ser
realizada 6 meses após a última dose e 4 semanas
antes da próxima.

3. O esquema vacinal deve seguir as orientações do


Ministério da Saúde, com no mínimo 2 doses e uma
dose adicional de reforço com uma vacina diferente.

4. Indivíduos com trombocitopenia induzida por


heparina ou eventos trombóticos pós- vacina prévios
devem evitar vacina de vetores virais (Janssen; Oxford/
Astrazeneca). Contudo, devido à baixa incidência de
fenômenos trombóticos ou hematológicos autoimunes
pós-vacina (cerca de 2 a 4 casos por milhão de doses
aplicadas), não há como contraindicar a vacinação em
indivíduos DRIM com trombocitopenia ou eventos
trombóticos prévios14,15.

5. Gestantes devem evitar vacinas de vetores virais,


estando indicadas a vacinação com vacinas inativadas
ou de RNA mensageiro.

VACINAS COM COMPONENTES VIVOS:


As vacinas com componentes vivos devem ser analisadas com cautela em pacientes sob imunossupressão.
Idealmente, o imunossupressor deve ser suspenso para aumentar a segurança e eficácia da vacinação e
reintroduzido 4 semanas após a vacinação3,8. A tabela 2 mostra o intervalo de tempo para descontinuidade
do tratamento imunossupressor para aplicação de vacinas com componentes vivos.

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TABELA 2. Intervalo de tempo para descontinuidade do tratamento


imunossupressor para aplicação de vacinas com componentes vivos.

DROGAS INTERVALO PARA VACINAÇÃO

CORTICOIDE (≥ 20MG/DIA PREDNISONA OU EQUIVALENTE) 4 semanas

METOTREXATO 4 semanas

ALEFLUNOMIDA 4 semanas

SULFASSALAZINA / HIDROXICLOROQUINA Não há necessidade de descontinuidade

MICOFENOLATO / AZATIOPRINA / CICLOSPORINA /


4 semanas
CICLOFOSFAMIDA / TACROLIMUS

INIBIDORES DE JAK 1 semana

300-400mg/kg: 8 meses
IMUNOGLOBULINA INTRAVENOSA (IVIG) 1g/kg : 10 meses
2g/kg: 11 meses

MMCD BIOLÓGICOS ( ANTICITOCINAS E ABATACEPTE ) Intervalo de 1 dose

RITUXIMABE 6 meses

Fonte: Pileggi GS et al. Advances in Rheumatology (2019) 59:17

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C A P I T A L REUMATO

CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO PARA INDIVÍDUOS COM DRIM


*CRIE: Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais.

VACINAS ESQUEMA VACINAL DISPONIBILIDADE NOS


CRIE*/UBS**

● INFLUENZA QUADRIVALENTE (4V) É


VACINA 3V DISPONÍVEL NAS UBS E
PREFERÍVEL À TRIVALENTE (3V).
CRIE.
● EM SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE
INFLUENZA VACINA 4V NÃO DISPONÍVEL
RISCO, PODE SER CONSIDERADA UMA
SEGUNDA DOSE 3 MESES APÓS A DOSE
ANUAL.

PNEUMOCÓCICAS CONJUGADAS ● PREFERÍVEL USAR VPC13. NÃO DISPONÍVEL PARA


(VPC10 OU VPC13) ● DOSE ÚNICA IMUNOSSUPRIMIDOS

● DUAS DOSES COM INTERVALO DE 5


ANOS.
PNEUMOCÓCICA POLISSACARÍDICA ● SE A SEGUNDA DOSE FOR DADA ANTES
DISPONÍVEL NO CRIE
23-VALENTE (VPP23) DOS 60, ESTÁ RECOMENDADA UMA
TERCEIRA DOSE APÓS OS 60 ANOS, COM
INTERVALO DE 5 ANOS.

ESQUEMA SEQUENCIAL RECOMENDADO:


1. INICIAR COM VPC13 SEGUIDA POR VPP23 8 SEMANAS APÓS;
2. CASO A VPP23 SEJA APLICADA ANTES DA VPC13, REALIZAR A VPC13 APÓS 12 MESES E SEGUNDA DOSE DA VPP23
COM INTERVALO DE 5 ANOS DA PRIMEIRA DOSE E 2 MESES DA VACINA CONJUGADA.

● A PARTIR DE 18 ANOS
● 2 DOSES (0-2MESES), COM INTERVALO
PODENDO SER REDUZIDO PARA 30 DIAS.
HERPES ZOSTER INATIVADA (VZR) ● RECOMENDADA PARA AQUELES QUE SE NÃO DISPONÍVEL
VACINARAM COM A VACINA ATENUADA,
COM INTERVALO DE 2 MESES ENTRE
ELAS.

● MENACWY É PREFERÍVEL
● DUAS DOSES COM INTERVALO
MENINGOCÓCICAS CONJUGADA
DE 2 MESES; REPETIR APÓS 5 APENAS MENC NOS CRIE
(MENC OU MENACWY)
ANOS ENQUANTO PERDURAR A
IMUNOSSUPRESSÃO.

● ADULTOS ATÉ 50 ANOS: 2 DOSES COM


MENINGOCÓCICA B DISPONÍVEL NOS CRIE
INTERVALO DE 1-2 MESES.

● 2 DOSES ( 0-6 MESES)


HEPATITE A NÃO DISPONÍVEL
● INDICADA PARA NÃO-VACINADOS

● 4 DOSES (0-1-2-6 MESES)


COM DOBRO DE VOLUME
HEPATITE B ● SE ANTIHBS <10 , REPETIR O ESQUEMA DISPONÍVEL NOS CRIE
DE 4 DOSES COM VOLUME DOBRADO
UMA ÚNICA VEZ.

TRÍPLICE BACTERIANA DO TIPO


● COM ESQUEMA BÁSICO COMPLETO,
ADULTO (DTPA)OU DUPLA ADULTO DISPONÍVEL NAS UBS
REVACINAR A CADA 10 ANOS.
(DT)

● 3 DOSES (0-1 A 2-6 MESES)


HPV DISPONÍVEL NOS CRIE
● HOMENS E MULHERES ATÉ 45 ANOS16

** UBS: Unidade Básica de Saúde


Fonte: Sociedade Brasileira de Imunizações. Calendários de vacinação pacientes especiais 2022-2023.
Disponível em: https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-pacientes-especiais.pdf

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C A P I T A L REUMATO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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pt- br/assuntos/noticias/2022/julho/vacina-hpv-quadrivalente-e-ampliada-para-homens-de-ate-45- anos-com-imunossupressao

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C A P I T A L REUMATO

HUMANIDADES MEDICAS

DANIELA R. MATHEUS
Psicóloga formada pela UFPR, especializada
em Saúde Coletiva (UP,Curitiba), Análise do
Comportamento(UP, Curitiba) e ACT (Ceconte, SP)

Psicologia e
Catastrofização
no Adoecimento
Crônico

INTRODUÇÃO

A experiência de conviver com uma doença crônica, particularmente


quando envolve quadros de dor crônica impacta de várias formas,
como o indivíduo sente a dor, como reage a ela e como reage à
possibilidade de experienciá-la novamente.

A catastrofização, frequentemente se associa a esses quadros,


adicionando uma dimensão de sofrimento e impactos negativos no
quadro clínico e na qualidade de vida.

Por envolver distorções cognitivas, comportamentos e seus


desdobramentos para a qualidade de vida dos pacientes, a psicologia
tem importante papel na compreensão e condução desses quadros.
Algumas abordagens têm sido aplicadas nesse manejo, sendo
que três delas têm se destacado com bons resultados: a Terapia
Cognitivo-Comportamental (TCC), o Mindfulness e a ACT (Terapia de
Aceitação e Compromisso). Na prática, o manejo desses pacientes,
envolve elementos de cada uma delas. Este artigo propõe um olhar
para a catastrofização, a partir da ACT e do Mindfulness.

22
C A P I T A L REUMATO

23
C A P I T A L REUMATO

O QUE É CATASTROFIZACÃO?

Sullivan et al. (2001) 1, define catastrofização como "um conjunto de


pensamentos negativos exagerados durante experiências dolorosas reais
ou previstas"1. Alguns modelos descrevem os mecanismos observados
na experiência de dor. Observa-se a “amplificação”, caracterizada por
três elementos: a hipervigilância das sensações corporais, a tendência
a focar em sensações leves e pouco frequentes e um conjunto de
processos cognitivos e emocionais de dramatização e intensificação de
sintomas.

Há também o modelo "medo-evitação" na dor crônica, bem conhecido.2


Esses dois modelos, descrevem uma série de comportamentos que
os indivíduos frequentemente apresentam em resposta às sensações
dolorosas. McDermid et al. (1996)3 descreve a hipervigilância generalizada
em pacientes com Fibromialgia, onde se observa uma atenção aumentada
à estimulação externa e uma preocupação com sensações dolorosas,
resultando numa tendência a escanear o corpo na antecipação
de sensações desagradáveis. Essa atitude tem sido tratada como
catastrofização.

Maiores índices de catastrofização (obtidos a partir do B-PSC, Escala de


Catastrofização da Dor) estão associados a menor capacidade para
se distrair da dor, maiores limitações funcionais, maior intensidade
e severidade dos sintomas de dor, baixa performance em testes de
capacidade física e impacto negativo significativo na qualidade de vida.4,5
Uma pesquisa com pacientes com osteoartrite de joelho, identificou
que a relação entre atividade física e a intensidade de dor foi moderada
pela catastrofização Lazaridou et al. (2019)6. Ainda no mesmo estudo,
análises de sensibilidade indicaram que essa relação atividade física e
dor, não foi moderada por nenhuma outra variável demográfica (seja
idade, sexo, etnia) ou psicológica (ansiedade, depressão). Tais evidências
corroboram a importância de lidarmos com a catastrofização.

ESTRATÉGIAS E ELEMENTOS

O Mindfulness, termo emprestado da língua inglesa, que pode ser


traduzido como "consciência plena" ou "atenção plena", é a habilidade
da pessoa estar presente, conectada ao que está experienciando interna
e externamente naquele momento. Observa-se que a reduzida "atenção
plena" (Mindfulness) é um preditor da catastrofização da dor.7

24
C A P I T A L REUMATO

A ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso), uma abordagem


psicológica, baseada no contextualismo funcional desenvolvida
por Steven Hayes et al. (1999)8 propõe ao paciente adotar
uma nova perspectiva sobre seus pensamentos. Considera
que qualquer comportamento existe porque tem uma função
no contexto em que ele ocorre. Inclusive comportamentos
que possam parecer, à princípio, pouco efetivos, como a
catastrofização, que tende a produzir consequências não
desejadas, por vezes contrárias às necessidades daquela pessoa.
Consideremos dois processos descritos pela ACT e presentes na
catastrofização, a atenção inflexível e a esquiva experiencial.

Na Atenção Inflexível (o contrário de MIndfulness), a atenção


tende a ficar presa a aspectos de pensamentos, conceitos e
medos, ao invés de estar em contato com o momento presente.
A pessoa fica menos sensível e responsiva ao que está de
fato experienciando interna e externamente a seu corpo. Já a
Esquiva Experiencial, descreve o comportamento de evitação
de sentimentos e sensações internas desagradáveis (por
exemplo, medo, sofrimento). A evitação, é um comportamento
importante no repertório humano, já que nos permite evitar
situações de perigo real, como aproximação de uma cobra
venenosa ou atravessar uma rua sem olhar para os lados. Porém,
na esquiva experiencial, o empenho é para evitar o desconforto
interno a qualquer custo, o que pode impedir o engajamento
em atividades importantes para a saúde e bem-estar do sujeito.
Na tentativa de evitar sentimentos ou sensações desagradáveis,
a pessoa se engaja em comportamentos de esquiva, que estão
fadados a não cumprir seu objetivo, já que sentimentos e
sensações não são voluntários, portanto, não são passíveis de
controle. Nessa tarefa, a construção da lógica e das justificativas
para agir ou deixar de agir de determinada forma, se dá no
campo dos pensamentos, logo a ação acontece em função
desses pensamentos, e não do contexto presente. A formulação
de pensamentos, hipóteses e situações com as quais a pessoa
se relaciona, pode ou não contribuir para seu próprio bem-
estar. Por exemplo, pode-se antecipar a ida a um concerto, e
ficar muito contente e animada com esse pensamento, assim
como pode-se imaginar ir a uma academia e ao se exercitar,
sentir desconforto e dor no dia seguinte. Cada um desses
cenários, produz sentimentos, sensações e ações. Focando
nas ações, possivelmente a ação de ir ao concerto, na primeira

25
C A P I T A L REUMATO

situação e uma ação de ficar em casa, ou fazer outra coisa, diferente


de ir à academia, na segunda. Em qualquer das opções, a ação
escolhida terá um impacto concreto sobre a experiência da pessoa,
naquele momento e nos seguintes. Na catastrofização, a pessoa fica
presa na sua expectativa de dificuldades e fracassos e tende a não
se engajar em atividades que são importantes para manter várias
funções cotidianas, o que contribui para o empobrecimento de suas
interações e experiências e consequente perda de qualidade de vida,
podendo justificar ainda mais o apego a pensamentos catastróficos.

COMO QUEBRAR ESSE CICLO?

De maneira geral, o modo de pensar e agir comumente aprendido


nas culturas ocidentais, sugere identificar o problema para então
eliminá-lo e os pacientes têm essa mesma expectativa: conhecer,
controlar e eliminar o problema. No entanto, eliminar o problema
nem sempre é possível. Considerando uma doença crônica, não
iremos eliminá-la, mas sim, tratá-la. Na esquiva experiencial, isso
fica ainda mais difícil, já que não iremos eliminar a dor, a tristeza, ou
o sofrimento, porque fazem parte da experiência de viver. Podemos
imaginar a metáfora de um cabo de guerra, de um lado está o
problema (dor, sofrimento, medo), do outro a pessoa tentando

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C A P I T A L REUMATO

eliminá-lo, o que tende a consumir a maior parte do seu tempo,


ações e pensamentos e ainda assim,não alcançar o resultado
esperado. De acordo com a ACT, a proposta é abandonar o
cabo de guerra indo em direção ao que realmente importa. O
objetivo do profissional de saúde será, então, ajudar o paciente
a olhar para a vida que gostaria de ter, suas estratégias de
enfrentamento dos desafios cotidianos e se elas o aproximam
da vida desejada. Frequentemente, a resposta é não. No caso
da catastrofização, o sofrimento que se deseja eliminar, acaba
sendo o foco de toda ação e atenção, como por exemplo nas
insistentes reclamações, medo, evitações. Não tentamos
refutar a veracidade ou lógica dos pensamentos, mas promover
no paciente uma reflexão sobre o custo para sua vida, enquanto
ouve e alimenta tais pensamentos. A busca de alternativas
não se dá pelo convencimento do paciente de que a dele
está errada, mas pela observação dos efeitos desta, sobre sua
vida. Algumas perguntas para promover essa reflexão: “O que
você faz, quando escuta os seus pensamentos, sobre todas as
possibilidades horríveis do que pode acontecer?", "O que você
deixa de fazer, realizar, na sua vida, enquanto acredita nesses
pensamentos?", "Que coisas você gostaria de realizar?".

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C A P I T A L REUMATO

Quando a pessoa percebe que todo o seu esforço para evitar o sofrimento está impedindo
que ela viva uma vida com sentido, podemos então convidá-la a se engajar em ações que a
aproximem da vida que vale à pena ser vivida, para ela. Ela pode, e deve, continuar se cuidando
e se protegendo de situações que realmente sejam incompatíveis com seu autocuidado e ao
mesmo tempo engajar-se em ações valorosas e significativas. Eliminar a doença, ou evitar
quaisquer aspectos desagradáveis ou dolorosos que façam parte do quadro, não depende
apenas das ações do paciente (apesar destas serem importantes), mas construir uma vida de
acordo com seus valores, que lhe traga satisfação, isso sim está ao alcance de cada um.

O psicólogo não deve ser o único a favorecer essa


mudança no paciente. O diálogo interdisciplinar, pode
instrumentalizar cada um dos profissionais de saúde para
melhor observar e intervir no cuidado, promovendo o
aprendizado de novos padrões de comportamento, melhor
adaptados à condição e necessidades daquele paciente.

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C A P I T A L REUMATO

"Sejamos facilitadores de mudança, acolhendo o


sofrimento, mas instigando no paciente o compromisso
com uma vida plena, que valha à pena ser vivida".

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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C A P I T A L REUMATO

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C A P I T A L REUMATO

reumato na academia

EMILIA SATO
Profª. Titular de Reumatologia, Departamento de Medicina
Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal De São Paulo
https://www.unifesp.br/campus/sao/epm/
E-mail: eisato@unifesp.br

ELOÍSA BONFÁ
Professora Titular da Disciplina de Reumatologia
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Diretora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

As Mulheres e a
Reumatologia do Século
XXI: Desafios e Conquistas

Nas últimas duas décadas a medicina tem presenciado uma revolução na área da
reumatologia. Com avanços tecnológicos, diagnósticos mais precisos e tratamentos
inovadores, a especialidade tem evoluído para atender às necessidades de pacientes
com doenças reumáticas. No entanto, apesar de todos esses avanços, há uma questão
que persiste no campo da reumatologia: a lacuna de gênero.

REPRESENTAÇÃO E LIDERANÇA: ONDE ESTÃO AS MULHERES?

Dados recentes publicados sobre a representação de mulheres na reumatologia revelam


uma situação intrigante. Enquanto a especialidade é composta por aproximadamente
50% de mulheres (Tabela 1), a presença feminina nas posições de liderança, como
presidentes de sociedades nacionais e internacionais, ainda é muito baixa.

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C A P I T A L REUMATO

TABELA 1. Representação de mulheres na reumatologia no mundo

PAÍS % ANO

CANADA 52% 2021

AUSTRÁLIA/ NOVA ZELÂNDIA 50% 2019

AMÉRICA LATINA 49% 2020

INGLATERRA 47% 2018

EUA 45% 2015

EUA* 57% 2030


Fonte: ref. 1, *previsão

Até o ano 2.000, menos de 5% das presidentes de ligas de reumatologia ao redor do mundo
eram mulheres. Embora haja um aumento gradual nessa representação, ainda estamos longe de
alcançar a paridade de gênero, com a liga africana atingindo o máximo, com 33% de presidentes
mulheres, enquanto não há referência de mulheres como presidentes das ligas da APLAR (liga
Asia-Pacifico) e da PANLAR (PanAmericana) em toda sua história (Tabela 2).

TABELA 2: Representação de mulheres presidentes de Ligas de Reumatologia no mundo ao longo das décadas.

PAÍS ANO/%MULHERES ANO/%MULHERES P


ACR (EUA) 1934-2000 2000-2002
0,001
2% 27%

AFLAR (ÁFRICA) 1991-2000 2003-2022


0,5
0 33%

APLAR (ÁSIA-PACÍCO) 1963-2000 2000-2022


1
0 0

EULAR (EUROPA) 1963-2000 2001-2022


0,5
4% 9%

PANLAR (PANAMERICANA) 1944-202 2002-2022


1
0 0
Fonte: ref. 2

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C A P I T A L REUMATO

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Reumatologia, com 74


anos de história, teve apenas duas presidentes mulheres,
apesar de 65,7% de seus membros serem mulheres
(figuras 1 e 2). A Presidência da SBR somente foi presidida
por uma mulher em 1.999, por ocasião dos seus 50 anos
de fundação.

FIGURAS 1 E 2:

SÓCIOS SBR EM
2023

Fundação: 1949 FEMININO


74 anos!

FIGURAS 1 E 2:

PRESIDENTES SBR ATÉ


2023

FEMININO
Fonte: SBR

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C A P I T A L REUMATO

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C A P I T A L REUMATO

Essa discrepância entre a presença de mulheres na especialidade e sua representatividade


em cargos de liderança merece atenção. As mulheres têm muito a contribuir para o
avanço da reumatologia, e é essencial que oportunidades iguais sejam oferecidas para
que possam exercer plenamente seu potencial.

SOBRECARGA FAMILIAR: DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS MULHERES

Outro ponto de análise importante é a sobrecarga familiar. Uma pesquisa publicada na


Lancet Rheumatology, com 459 membros da Sociedade Brasileira de Reumatologia, que
teve como autora a brasileira Souza MP (3), observou que 80% das mulheres relataram
que suas carreiras são impactadas pela família, em comparação com 66% dos homens.
Além disso, 60% das mulheres referiram sentir-se sobrecargadas em casa, enquanto
apenas 11% dos homens relataram o mesmo.

TABELA 3: Percepção do impacto da família na carreira do reumatologista

CARREIRA IMPACTADA MAIS TRABALHO COM


PELA FAMÍLIA A CASA/ FAMÍLIA

MULHERES (N=308) 80% 60%

HOMENS (N=1510) 66% 11%

P 0,001 0,0001
Fonte: ref. 3

CARREIRA ACADÊMICA: BARREIRAS PERSISTENTES

A carreira acadêmica na reumatologia também é afetada pela disparidade de gênero.


Em um estudo realizado nos Estados Unidos em 2014, apesar de uma frequência similar
de mulheres e homens ocupando cargos de diretor de divisão e diretor de programa, as
mulheres tinham 22% menos chances de atingir a posição de titular (4). Isso demonstra
que, embora as mulheres tenham as mesmas capacidades de liderança, ainda enfrentam
barreiras para alcançar o topo da carreira acadêmica.

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C A P I T A L REUMATO

PRODUÇÃO CIENTÍFICA: MENOS OPORTUNIDADES PARA MULHERES

Outro aspecto que merece atenção é a produção científica. Uma análise envolvendo quase mil
acadêmicas revelou que as mulheres publicam menos trabalhos, são menos frequentemente
autoras principais e têm menos financiamentos de pesquisa. Além disso, em artigos
relacionados à indústria farmacêutica, a participação das mulheres é significativamente
menor, com apenas 18,5% de primeira autoria e 23,9% de autoria sênior (4). .

TABELA 4: Artigos científicos vs. Gênero (n=941 acadêmicas nos EUA

PUBLICAÇÕES MULHERES HOMENS OR AJUSTADO

TOTAL (MEDIA AJUSTADA PARA IDADE) 12,4 ± 20,8 26,4 ± 39,4 <0,001
PRIMEIRO AUTOR 7,8 ± 17,9 18,4 ± 33,9 <0,001
NÚMERO "GRANTS" NIH 1,3 ± 3,9 1,7 ± 4,4 <0,001
Fonte: ref. 4

36
C A P I T A L REUMATO

Essa disparidade na produção científica não reflete a qualidade do trabalho das mulheres
na reumatologia, mas, barreiras sistêmicas que precisam ser superadas para garantir
igualdade de oportunidades (4).

PARTICIPAÇÃO EM CONGRESSOS: ONDE ESTÃO AS MULHERES?

Os congressos são vitais para a disseminação de conhecimento na reumatologia, mas


também refletem a desigualdade de gênero. Em análises dos dados do EULAR, foi
observado que as mulheres representaram apenas 40% das moderadoras e palestrantes
nos últimos cinco anos. Além disso, sua participação costuma se concentrar em atividades
de menor destaque, como conferências multiprofissionais ou de pacientes. Essa tendência
também se repete em conferências nacionais em vários países da Europa (5).

ENFRENTANDO A DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO

Além de todas as barreiras mencionadas, um aspecto preocupante é a discriminação de


gênero que muitas mulheres na reumatologia enfrentam. Mais de 50% das mulheres
relatam ter sofrido discriminação, e mais de um terço refere assédio sexual, de acordo com
um estudo do EULAR (6). Esses números alarmantes indicam que ainda há muito trabalho
a ser feito para criar um ambiente de trabalho seguro e igualitário na reumatologia.

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C A P I T A L REUMATO

Recentemente, um levantamento sobre situações de violência contra médicas foi realizado pela
Associação Médica Brasileira (AMB) e Associação Paulista de Medicina (APM) através de questionário
on-line. Responderam ao questionário 1.443 mulheres médicas do Brasil, tendo sido encontrado que
62,6% delas já haviam sido vítimas de assédio sexual e/ou moral em seu ambiente de trabalho, e, 74%
referiram ter testemunhado ou ter conhecimento de casos de assédio às colegas. Setenta porcento
das médicas responderam que já sofreram preconceito, sendo 31,7% durante o curso médico, 39,8%
durante a residência médica e 45,7% durante a vida profissional, após a residência. (Claudia Collucci
– Folhapress, publicado em 14/12/2023)

CONCLUSÃO:
RUMO A UM FUTURO MAIS IGUALITÁRIO
Apesar dos desafios enfrentados pelas mulheres na
reumatologia, é importante reconhecer as conquistas ao
longo dos anos (Figura 3). O progresso tem sido lento, mas
constante, e a linha do tempo de conquistas das mulheres
no Brasil, é um lembrete de que mudanças são possíveis.

FIGURA 3: LINHA DO TEMPO DE CONQUISTA DAS MULHERES NO BRASIL

1927 – meninas são liberadas para frequentar escolas

1879 – mulheres conquistam o direito ao acesso às faculdades

1932 – mulheres conquistam o direito ao voto

1977 – aprovada a lei do divórcio

1988 – a constituição passa a reconhecer as mulheres como iguais aos homens

2006 – sancionada lei Maria da Penha

2023 - Sancionada lei de igualdade salarial entre mulheres

38
Para alcançarmos uma reumatologia verdadei- À medida que avançamos em direção a um futuro
ramente inclusiva e igualitária no século XXI, mais igualitário, é essencial que todos se unam para
é fundamental que a sociedade se mobilize eliminar as barreiras de gênero na reumatologia e
para aumentar a visibilidade das mulheres na permitir que as mulheres exerçam seu pleno potencial
especialidade. Isso inclui a promoção de comitês na especialidade. A igualdade salarial entre mulheres e
mais equilibrados em congressos e revistas, homens, sancionada em 2023, é um passo importante
o destaque da participação das mulheres em nessa direção, mas ainda há muito trabalho a ser
eventos científicos e o incentivo à presença de feito. Juntos, podemos criar um ambiente inclusivo e
mulheres em comitês diretivos das sociedades. equitativo para todos os profissionais da reumatologia.

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RMD Open 2022 Mar;8(1):e002131.
6) PV Ovseiko, L Gossec, L Andreoli et al, Gender equity in academic rheumatology, current status and potential for improvement: a cross-
sectional study to inform an EULAR task force. RMD Open. 2022 Aug;8(2):e002518.
Responsável técnico: Dr. Alexandre Shigemi Vicente Hidaka - CRM 12417
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