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Artrite

Psoriásica
SUMÁRIO
1. Introdução...................................................................................................................... 3

2. Epidemiologia/etiologia................................................................................................ 6

3. Fisiopatologia................................................................................................................ 7

4. Manifestações clínicas................................................................................................. 8
Articulares...................................................................................................................... 8
Cutâneas e ungueais..................................................................................................... 9
Entesite........................................................................................................................ 10
Dactilite........................................................................................................................ 10
Comorbidades............................................................................................................. 11

5. Alterações radiológicas.............................................................................................. 12

6. Critérios classificatórios de caspar........................................................................... 14

7. Tratamento.................................................................................................................. 15
Antiinflamatórios não-esteroides (AINES)................................................................. 15
Drogas modificadoras de atividade da doença (DMARDS)...................................... 16
Terapia biológica......................................................................................................... 18
Glicocorticoides........................................................................................................... 18

Referências ...................................................................................................................... 21
1. INTRODUÇÃO
As espondiloartropatias ou espondiloartrites correspondem a um grupo de artro-
patias inflamatórias e eram conhecidas como artropatias soronegativas por serem
consideradas variantes da artrite reumatoide, com o diferencial de terem em comum
o acometimento da coluna vertebral e a ausência do fator reumatoide (FR).
No entanto, a partir dos estudos clínicos e familiares e da demonstração da pre-
sença do antígeno HLA-B27 na maioria dos casos, esses quadros sindrômicos fo-
ram caracterizados como entidades clínicas definidas e independentes, sendo então
denominadas espondiloartropatias.
Historicamente, a soronegatividade para o fator reumatoide era um requisito para
o diagnóstico, no entanto, mais de 10% dos pacientes com psoríase não complicada
e até 15% da população normal apresentam fator reumatoide presente no soro.
As espondiloartropatias são caracterizadas por algumas manifestações clínicas,
como descrito abaixo:

SINTOMATOLOGIA DAS ESPONDILOARTROPATIAS

Poliartrite assimétrica das


Entesite Artrite do esqueleto axial
articulações periféricas

Ausência do fator Oligoartrite assimétrica das


Sintomas reumáticos
reumatóide articulações periféricas

Acometimento de mucosas Acometimento da pele


MANIFESTAÇÕES
CLÍNICAS
Acometimento do trato
Acometimento dos olhos
gastrintestinal

Dentro do espectro clínico, fazem parte das espondiloartropatias as seguintes


patologias: espondilite anquilosante (EA), artrite psoriásica (APs), artrite reativa
(ARe), enteroartropatias e as espondiloartropatias indiferenciadas.

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Se liga! Das espondiloartrites, a artrite psoriásica é a que menos se
associa com a alteração HLA-B27. Além disso, vários pacientes com psoríase e
espondiloartropatia são negativos para o antígeno HLA-B27.

A artrite psoriásica (APs) é uma doença musculoesquelética inflamatória asso-


ciada à psoríase cutânea e ungueal. Foi inicialmente considerada uma variante da
artrite reumatoide (AR), mas posteriormente emergiu como uma entidade clínica
distinta. Tem como diagnóstico diferencial a espondilite anquilosante, cujas diferen-
ças entre as patologias são abordadas a seguir:

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DIFERENÇAS ENTRE ESPONDILITE ANQUILOSANTE E ARTRITE PSORIÁSICA

MANIFESTAÇÕES Uveíte anterior


EXTRARTICULARES

Esporão

IMAGEM RADIOGRÁFICA Sindesmófitos

Sacroileíte bilateral
ESPONDILITE
ANQUILOSANTE SEXO H:M (9:1)
(EA)
Oligoartrite MMII

QUADRO ARTICULAR Sacroileíte

Entesite

LABORATÓRIO HLA-B27

Psoríase

Alterações ungueais
MANIFESTAÇÕES
EXTRARTICULARES
Entesite

Dactilite

SEXO H:M (1:1)

Sindesmófitos

IMAGEM RADIOGRÁFICA Erosão

ARTRITE
Pencil in cup
PSORIÁSICA
(APs)
Artrite mutilante

Espondilite

QUADRO ARTICULAR Artrite distal

Poliartrite

Oligoartrite

HLA-B27 com
LABORATÓRIO menor associação

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2. EPIDEMIOLOGIA/ETIOLOGIA
A psoríase cutânea isolada acomete cerca de 1 a 3% da população e sua associa-
ção com artrite psoriásica pode ocorrer em 10 a 20% dos pacientes. A idade na qual
comumente aparecem os primeiros sintomas situa-se entre 30 e 55 anos.
A artrite psoriásica afeta igualmente os sexos na maioria das estatísticas, com
uma incidência de aproximadamente 6 por 100.000 anualmente e uma prevalência
de aproximadamente 1 a 2 por 1000 na população em geral. A forma poliarticular
simétrica é mais comum no sexo feminino, ao passo que a forma axial é mais fre-
quentemente observada no sexo masculino.
A etiologia da artrite psoriática é desconhecida, sendo importante a avaliação
do histórico familiar do paciente. Há associações confirmadas a alelos importantes
dos antígenos contra leucócitos humanos HLA-B27, B7, B13, B17 e Cw6. Como na
patogenia de muitos outros distúrbios autoimunes, tem-se suspeitado de um fator
infeccioso desencadeante.
Infecções por estreptococos do grupo A têm sido implicadas na psoríase gutata
e o RNA ribossômico dessa espécie tem sido detectado no sangue e no líquido si-
novial de pacientes com artrite psoriásica. Além disso, o vírus da imunodeficiência
humana está fortemente associado ao desenvolvimento de psoríase e artrite psoriá-
sica, apresentando incidência e prevalência substancialmente altas nesse grupo de
indivíduos.
Tipicamente, em 80% dos casos, a artrite psoriásica desenvolve-se depois ou
concomitantemente ao início da psoríase. Em 15 a 20% dos casos, entretanto, ela
precede o começo da psoríase com um tempo médio entre o diagnóstico de doença
cutânea e articular de 7 a 8 anos.
Na maioria dos pacientes, a artrite aparece após o aparecimento das lesões na
pele. No entanto, a artrite precede a doença de pele em aproximadamente 13 a 15%
dos pacientes, embora a doença de pele possa estar presente, mas não detectada
em alguns pacientes.

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Figura 1: Psoríase.
Fonte: Fuss Sergey/Shutterstock.com

Se liga! A psoríase é um distúrbio inflamatório cutâneo crônico


caracterizado pela formação de placas e manchas eritematoescamosas na
pele fruto de anormalidades envolvendo o sistema imune, desencadeando a
proliferação epidérmica. Pode surgir em qualquer idade e apresentar gravidade
variável. A psoríase pode manifestar-se de diversas formas, como placas ou
psoríase vulgar, gutata, eritrodérmica, pustulosa e artropática. Além do envolvi-
mento da pele, a psoríase com frequência envolve as unhas, e alguns pacientes
podem apresentar inflamação articular. Por sua natureza altamente visível, a
psoríase pode comprometer a vida pessoal e profissional dos pacientes.

3. FISIOPATOLOGIA
A artrite psoriásica é uma doença autoimune poligênica, especialmente com poli-
morfismo HLA tipo 1. Além disso, fatores ambientais, como microtrauma e agentes
infecciosos, têm sido relacionados com a sua etiopatogenia.
O papel dos mecanismos imunológicos é sugerido pela resposta inflamatória de
autoantígenos comuns na pele, observada nas lesões psoriáticas da pele, e na articu-
lação. Durante o processo, ocorre a formação de infiltrado de linfócitos TCD4 e CD8 e
outras células inflamatórias, além de expressão aumentada de citocinas inflamatórias
das mais diversas, sendo as mais importantes: TNF, IL-17, IL-23.

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FISIOPATOLOGIA DA ARTRITE PSORIÁSICA

ARTRITE
PSORIÁSICA
(APs)

FATORES FATORES AUTOANTÍGENOS LINFÓCITOS


GENÉTICOS AMBIENTAIS COMUNS TCD4 E CD8

MICROTRAUMA;
POLIMORFISMO PELE;
AGENTES TNF, IL-17, IL-23
HLA TIPO 1 ARTICULAÇÃO.
INFECCIOSOS.

4. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Articulares
As manifestações articulares na AP apresentam amplo espectro clínico e foram
divididas didaticamente, segundo Moll e Wright, em 5 categorias:

• Oligoartrite: quadro que consiste no comprometimento de até 4 articulações,


de forma assimétrica envolvendo, sobretudo, joelhos, pequenas articulações
dos pés e das mãos, associada a entesite e dactilite, situação conhecida tam-
bém como “dedos em salsicha’’.
• Poliartrite: caracterizada pelo comprometimento de 5 ou mais articulações,
que pode ser simétrica ou assimétrica, frequentemente envolvendo articu-
lações interfalangianas distais (IFD) que se apresentam rígidas, inchadas e
doloridas.
• Artrite distal: quadro onde existe o acometimento exclusivo das articulações
interfalangianas distais associado ao envolvimento adjacente das unhas pela
psoríase, também conhecido como acometimento clássico.
• Espondilite (psoriásica): forma rara, que ocorre em cerca de 5% dos pacientes,
nos casos de apenas acometimento axial isolado. Sabe-se que esses casos
apresentam associação com a presença do HLA-B27. Nos estágios iniciais da
enfermidade, a sacroileíte é unilateral ou, se bilateral, este acometimento se faz
de forma assimétrica.

Artrite psoriásica   8
• Artrite mutilante: representa a forma mais grave de artrite psoriásica, ocorre
na minoria dos pacientes. É a descrição do estágio final do processo destru-
tivo, podendo acontecer destruições ósseas graves, como a osteólise. Esse
processo leva à reabsorção de falanges, além da anquilose óssea, cuja conse-
quência é o aparecimento de deformidades graves conhecidas como dedos em
telescópio.

No entanto, deve-se ter em mente que há sobreposições entre as formas clíni-


cas de apresentação da artrite psoriásica e, ao longo dos anos, muitos pacientes
passam de uma forma clínica para outra, sobretudo da forma oligoarticular para a
poliarticular.

Cutâneas e ungueais
Todas as formas de psoríase estão associadas à artrite psoriásica, embora a pso-
ríase clássica vulgar seja vista mais frequentemente. As lesões típicas são placas
eritematodescamativas. Muitos pacientes com artrite psoriásica apresentam discreto
ou moderado acometimento cutâneo, além disso, não há correlação consistente entre
o grau de psoríase e a extensão do comprometimento articular.
A psoríase pode ser sutil, devendo ser feito um exame cuidadoso de toda a superfí-
cie cutânea do paciente, com atenção especial para a linha dos cabelos, o couro ca-
beludo, o conduto auditivo externo, a área periumbilical e a fenda interglútea.
O comprometimento do leito e da matriz ungueal é comum na artrite psoriásica.
As alterações incluem sulcos, escavação, que é o derramamento de células da placa
ungueal, onicólise (quadro de separação da unha do seu leito), hiperceratose e he-
morragias lascadas. Essas alterações podem representar as únicas manifestações de
psoríase antes da presença das lesões cutâneas mais características.

Se liga! Quase sempre ocorrem alterações ungueais no dedo aco-


metido quando a artrite psoriásica afeta uma articulação interfalangiana distal.
Outras lesões que podem estar presentes incluem: leuconiquia, manchas ama-
reladas abaixo da lâmina ungueal lúnula e desintegração da unha.

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Figura 2: Onicólise.
Fonte: Tanya_Terekhina/Shutterstock.com

Entesite
A entesite consiste na inflamação no local da inserção de tendões, ligamentos e
líquido sinovial no osso. Esse tipo de inflamação é característico das espondiloar-
trites e ocorre em até 40% dos pacientes com artrite psoriásica. Ao exame físico, há
edema de partes moles, em geral acompanhado de dor à palpação, bem como, algu-
mas vezes, eritema ou calor associado.

Se liga! Um local comum de entesite é a inserção do tendão de


Aquiles no calcâneo. A entesite pode ainda evoluir para destruição do osso e de
articulações adjacentes.

Dactilite
A dactilite ou “dedo em salsicha” é o edema completo de um só dedo, da mão
ou do pé. É uma condição distintiva das espondiloartropatias, sendo uma condição
comum na artrite psoriásica, que ocorre em 33 a 50% dos pacientes em algum mo-
mento de sua doença. Os pododáctilos são acometidos com mais frequência que os
quirodáctilos.

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Figura 3: Dactilite.
Fonte: Designua/Shutterstock.com

Comorbidades
Mais recentemente, assim como em outras doenças inflamatórias crônicas, como
lúpus sistêmico e artrite reumatoide, a artrite psoriásica tem sido associada a um
maior risco de eventos cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio, acidente
vascular encefálico e morte súbita.
Tal risco é independente para a presença de artrite, apesar de também já se ter
encontrado associação da artrite psoriásica a outros fatores de risco historica-
mente reconhecidos, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, dislipidemia e
obesidade.

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FLUXOGRAMA: QUADRO CLÍNICO DA ARTRITE PSORIÁSICA

EDEMA

DACTILITE

MANIFESTAÇÕES
MANIFESTAÇÕES QUADRO
CUTÂNEAS
ARTICULARES CLÍNICO
E UNGUEAIS

MÁCULAS
ARTRITE DISTAL
AMARELADAS

ENTESITE
POLIARTRITE ANONÍQUIA

DOR À PALPAÇÃO PSORÍASE CLÁSSICA


OLIGOARTRITE
VULGAR

EDEMA DE
PARTES MOLES DEPRESSÃO
ESPONDILITE
PUNTIFORME

ARTRITE CALOR
ONICÓLISE
MUTILANTE

ERITEMA

5. ALTERAÇÕES RADIOLÓGICAS
Na artrite psoriásica ocorre uma destruição contínua de articulações, evidenciada
clinicamente pelo aparecimento de deformidades articulares e radiograficamente
pelo desenvolvimento de erosões justarticulares e em alguns casos ancilose óssea.
Os achados radiográficos mais comuns na artrite psoriásica são estreitamento
do espaço articular e erosões nas articulações interfalangianas distais e proximais.
Tipicamente, esses achados são assimétricos, em paralelo com o padrão clínico da
artrite. Além disso, em geral não há osteopenia periarticular, que é a diminuição da

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densidade do osso adjacente às articulações, outro aspecto que ajuda a diferenciá-la
da artrite reumatoide.

Saiba mais! Nos pacientes com acometimento axial, a sacroileíte


e a distribuição dos sindesmófitos costumam ser assimétricas. Ao contrário do
que se observa em pacientes com espondilite anquilosante, onde os sindesmó-
fitos são, com frequência, de aspecto mais grosseiro e incompleto e habitual-
mente não acometendo vértebras consecutivas.

Quando uma falange é comprometida, ela adquire a forma de lápis, dando origem
assim à deformidade clássica em ´´pencil in cup``, quando confina com a base da
falange adjacente. A osteólise acentuada resulta em alargamento dos espaços entre
as articulações e por fim na desorganização total da arquitetura articular, descrita
como artrite mutilante.
Em contraste com a artrite reumatoide, a artrite psoriásica pode induzir alterações
ósseas proliferativas adjacentes às erosivas e osteolíticas no mesmo osso. Essa
neoformação óssea ocorre frequentemente ao longo da diáfise dos ossos meta-
carpianos e metatarsianos e é vista como uma periosteíte fofa. Reumatologistas
e radiologistas podem usar o termo “costeletas” para descrever essas alterações
proliferativas.

Se liga! Radiografias das articulações afetadas e da coluna verte-


bral, quando afetadas, devem ser obtidas. Imagens adicionais podem ser úteis
se houver incerteza quanto à presença de entesite, como a ultrassonografia
ou a ressonância magnética, demonstrando área de hipersinal ou realce na
sequência pós-contraste nas inserções ligamentares do espaço retroarticular.
Além disso, o MASES é um instrumento muito utilizado para avaliação clínica
de entesites nas espondiloartrites, através da palpação dos 13 principais sítios
de envolvimento, cujo escore clínico é considerado de fácil execução e com boa
correlação ultrassonográfica.

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6. CRITÉRIOS CLASSIFICATÓRIOS
DE CASPAR
O estudo CASPAR (classification criterial for psoriatic arthritis study group) con-
cluiu que um paciente com uma doença musculoesquelética inflamatória, como
artrite periférica, espondilite ou entesite, pode ser classificado como tendo artrite
psoriásica se um total de pelo menos três pontos for acumulado a partir da presença
da seguinte lista de recusos:

Critérios de Caspar
CRITÉRIOS DE CASPAR PONTOS

Psoríase cutânea atual 2

História de psoríase 1

História familiar de psoríase 1

Dactilite 1

Neoformação óssea justa-articular 1

Distrofia ungueal 1

Fator reumatoide negativo 1

Não há alterações laboratoriais diagnósticas específicas para a artrite psoriá-


sica. Podem ocorrer leucocitose e anemia de doença crônica nas fases de maior
atividade da enfermidade, bem como aumento reagentes de fase aguda como VHS
e PCR. Até 20% dos pacientes têm hiperuricemia. As análises de líquido sinovial re-
velam características inflamatórias, em geral com contagens de leucócitos na faixa
de 5.000 a 50.000/mm3. Os anticorpos antinucleares podem ser observados em até
50% dos pacientes, usualmente em baixos títulos.
Em pacientes com psoríase que apresentam artrite e outros nos quais há suspeita
de artrite psoriásica, o teste HLA-B27 pode ser útil, pois é um dos marcadores gené-
ticos que identificam pacientes com probabilidade de desenvolver artrite psoriásica,
porém, não tem papel diagnóstico.

Se liga! O grande diferencial dos critérios de CASPAR parece ser a


valorização da história familiar de psoríase e não dar importância absoluta à
negatividade do fator reumatoide, elevando, assim, sua sensibilidade pois inclui
pacientes sem psoríase e que apresentem fator reumatoide positivo. Os pacien-
tes com artrite psoriásica geralmente não têm fator reumatoide, mas em até

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10% deles o teste será positivo. Um teste positivo para o FR não é um critério
para exclusão do diagnóstico de artrite psoriásica. Os anticorpos antipeptídios
citrulinados cíclicos (Anti-CCP) são extremamente sensíveis e específicos para
fator reumatoide, só têm sido relatados raramente em pacientes com artrite
psoriásica e na maioria dos casos, até o momento, têm sido vistos em pacien-
tes com apresentações poliarticulares simétricas, que sugerem a ocorrência
concomitante de psoríase e artrite reumatoide. Anti-CCP são detectados em 10
a 20% dos pacientes, o que é comparável à prevalência de positividade para os
mesmos em populações e controles sadios.

7. TRATAMENTO
O tratamento da artrite psoriásica é feito com antiinflamatórios não hormonais,
drogas modificadoras de atividade da doença (DMARDS), glicocorticoide oral, fisio-
terapia e terapia ocupacional. Para controle das lesões cutâneas, o paciente deve
evitar a exposição à luz solar e/ou ultravioleta e produtos tópicos específicos são im-
portantes. Recentemente, agentes biológicos como os inibidores do fator de necrose
tumoral, por exemplo o adalimumabe, o etanercepte e o infliximabe são alternativas
para os casos refratários.

Antiinflamatórios não-esteroides (AINES)


Os antiinflamatórios não-esteroides (AINES) constituem a terapia de primeira
linha para a artrite psoriásica. Frequentemente, podem ser necessárias doses mais
altas de AINES não seletivos, razão pela qual se deve ficar vigilante em relação aos
efeitos gastrintestinais adversos, sendo, muitas vezes, necessária a administração
profilática de misoprostol ou de um inibidor da bomba de prótons. A posologia reco-
mendada é abordada a seguir:

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ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO-ESTEROIDES USADOS NA ARTRITE PSORIÁSICA

ANTIINFLAMATÓRIOS
NÃO-ESTEROIDES

Naproxeno 375 a 500 mg 2x/dia

Celecoxibe 200 mg 2x/dia

Ibuprofeno até 2400 mg/dia

Diclofenac até 150 mg/dia

Cetoprofeno até 200 mg/dia

Etoricoxib 60 a 90 mg/dia

Drogas modificadoras de atividade da doença


(DMARDS)
Muitos antirreumáticos modificadores de doença têm sido usados no tratamento
da artrite psoriásica, inclusive metotrexato, sulfassalazina, azatioprina, antimalári-
cos (especificamente a hidroxicloroquina) e ciclosporina.
De modo geral, o metotrexato é considerado o agente de escolha para os pacien-
tes refratários aos AINES e tem a vantagem de ser eficaz para as manifestações
cutâneas da psoríase, assim como para a artrite. A dose inicial típica é de 7,5 a 15
mg VO ou subcutânea 1x/semana, titulando para 25 mg semanalmente, conforme
ditado pela resposta clínica ou por efeitos adversos. Tipicamente, o metotrexato é
prescrito em dose única semanal, como na artrite reumatoide, para o controle da do-
ença articular, em contraste com sua administração em doses fracionadas, algumas
vezes, para a psoríase da pele.

Artrite psoriásica   16


Se liga! Os efeitos colaterais mais comuns e significativos do meto-
trexato são náuseas e vômitos, queda de cabelos, hepatotoxicidade, supressão
da medula óssea, imunodepressão e teratogenia. Surge então a necessidade
de acompanhamento cuidadoso, monitoração laboratorial e aconselhamento
quanto ao planejamento familiar. Por causa da hepatotoxicidade do metotrexa-
to, os pacientes são fortemente advertidos a limitar a ingestão de álcool a uma
dose por semana e o uso do metotrexato é relativamente contraindicado nos
pacientes com doença hepática preexistente ou hepatite B ou C. A suplementa-
ção com ácido fólico (1 mg/dia) deve ser feita concomitantemente em todos os
pacientes, pois diminui a frequência e a gravidade dos efeitos colaterais.

TRATAMENTO DA ARTRITE PSORIÁSICA

PACIENTE
COM
DIAGNÓSTICO
DE ARTRITE
PSORIÁSICA

AINES e medidas não farmacológicas

NÃO Doença persistente


após 1 mês?
SIM
Substituir por outro AINES

NÃO Doença persistente


após 2 meses?
SIM
Associas DMARDS

NÃO Doença persistente


após 3 meses?
SIM
Utilizar 2 DMARDS

NÃO Doença persistente


após mais de 3 meses?
SIM
Monitorizar resposta, adesão
DMARDS associado ou não
ao tratamento, efeitos adversos e critérios
a metotrexato ou ciclosporina
de interrupção do tratamento

Artrite psoriásica   17


Terapia biológica
O fator α de necrose tumoral (TNF- α) é uma citocina pró-inflamatória que desem-
penha um papel central na patogenia da artrite inflamatória e é detectada em placas
psoriáticas, no líquido sinovial e nos locais de entesite. Recentemente, três inibidores
biológicos do TNF- α, o etanercepte, o infliximabe e o adalimumabe, foram aprova-
dos para o tratamento da psoríase e da artrite psoriásica.
Em experimentos clínicos, todos os três agentes tiveram eficácia significativa e
precoce na redução dos sinais e sintomas de artrite, assim como na gravidade das
lesões cutâneas psoriáticas em muitos pacientes. Também se demonstrou que os
antagonistas do TNF diminuem a rapidez da progressão radiográfica da artrite
psoriásica.
Dois desses agentes biológicos, o etanercepte e o adalimumabe, são adminis-
trados em injeções subcutâneas, ao passo que o infliximabe é através de infusão
intravenosa.

Se liga! Os principais efeitos adversos incluem reações nos locais


de injeções e infusões e imunodepressão. Reativação de tuberculose latente
tem sido vista com todos os agentes, assim, cada paciente deve ser triado para
tuberculose latente, com teste tuberculínico e radiografia de tórax, antes do iní-
cio da administração de um inibidor do TNF- α.

Uma segunda classe de agentes biológicos está sendo estudada atualmente para
o tratamento da artrite psoriática. O alefacepte é uma fusão proteica recombinante
do antígeno de função de linfócitos solúvel com a porção Fc da IgG1, aprovada re-
centemente para o tratamento da psoríase moderada a grave. Seu mecanismo de
ação não é completamente compreendido, mas há uma hipótese de que ele induza
a apoptose de células T de memória, iniba a co-estimulação de células T e diminua a
infiltração de células inflamatórias, levando a um efeito anti-inflamatório.

Glicocorticoides
As injeções intra-articulares de glicocorticoides constituem um tratamento efi-
caz quando apenas uma ou duas articulações são as responsáveis pelos sintomas
do paciente, porém, deve-se ter o cuidado de evitar a injeção através de placas psori-
áticas, já que elas são altamente contaminadas por bactérias.

Artrite psoriásica   18


Se forem usados os glicocorticoides sistêmicos, a sua administração deve ser
realizada com cautela. Alguns reumatologistas usam a prednisona oral, em doses
diárias de 10 a 20 mg, com redução gradual subsequente, para reprimir um ataque
agudo de artrite psoriásica.

Se liga! O uso de glicocorticoides orais em pacientes com artrite


psoriásica geralmente deve ser evitado, pois seu uso está associado a uma
chance aumentada de desenvolvimento rebote de eritroderma ou psoríase
pustular, além disso, parece haver interferência no efeito de outras drogas. É
importante, no entanto, diminuir gradualmente os glicocorticoides e observá-los
de perto para ajudar a evitar o desenvolvimento de crise grave de psoríase pus-
tulosa ou eritrodermia. Em pacientes que necessitam de glicocorticoides sistê-
micos, a dose mais baixa necessária deve ser empregada.

Artrite psoriásica   19


RESUMO DE ARTRITE PSORIÁSICA

Menor associação
Erosão
com HLA-B27
CRITÉRIOS
CLASSIFICATÓRIOS
Histórico Familiar DE CASPAR Pencil in cup

ALTERAÇÕES
Etiologia Indefinida ETIOLOGIA Sindesmófitos
RADIOLÓGICAS

Terapia biológica TRATAMENTO EPIDEMIOLOGIA 30 e 55 anos

AINES MANIFESTAÇÕES 10 a 20% Psoríase


FISIOPATOLOGIA
CLÍNICAS

Glicocorticoides Polimorfismo H:M (1:1)


Dactilite
HLA tipo 1

Oligoartrite
DMARDS
Fatores ambientais Articular
Artrite mutilante

Espondilite
Microtrauma Entesite
Artrite distal
Agentes infecciosos
Cutâneas e ungueais Poliartrite

Artrite psoriásica   20


REFERÊNCIAS
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Artrite psoriásica   21


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