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CAPÍTULO
5
Espondiloartrites soronegativas
Rodrigo Antônio Brandão Neto / Ana Cristina de Medeiros Ribeiro
Aleksander Snioka Prokopowistch / Hérica Cristiani Barra de Souza
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ESPONDILOARTRITES SORONEGATIVAS
REUMATOLOGIA
após os 40 anos. A média de idade de início é de 26 anos,
com prevalência maior em indivíduos da cor branca. Tem
como sinonímia: doença de Marie-Strümpell ou doença de
Bechterew.
A proporção entre homens e mulheres é de 3:1. Rigidez
progressiva da coluna é comum, evoluindo com anquilose
após anos de doença. A prevalência nas diferentes popula-
ções varia de 0,1 a 6%, e a etiologia é desconhecida. A as-
sociação a HLA-B27 está presente na maioria dos pacientes
(90%).
A - Achados clínicos
a) Envolvimento axial
O sintoma clínico característico é a presença de dor lom-
bar inflamatória no esqueleto axial (Figura 1). A dor infla-
matória caracteriza-se por: (1) não melhorar com o repouso
e melhorar com a movimentação (diferente da dor de ori-
gem mecânica, que piora com a movimentação e melhora
com repouso); e (2) pela presença de rigidez matinal maior
Figura 2 - (I) TC no plano coronal oblíquo mostrando espaços ar-
que 30 minutos. As dores têm início insidioso, com mais de
ticulares preservados e simétricos, com superfícies regulares.
3 meses de evolução. Sua localização geralmente é lombar
O espaço é considerado normal entre 2 e 4mm; (II) classificação
(mas pode acometer todos os níveis da coluna) e nas ná- radiográfica na avaliação das articulações sacroilíacas. Grau D –
degas, uni ou bilateral, e pode ser alternante, decorrente normal; (A) grau I – suspeito; (B) grau II – discreta irregularidade
da inflamação em sacroilíacas (Figuras 2 e 3). O paciente e esclerose das superfícies articulares, com o espaço articular pre-
costuma acordar de madrugada pela dor e caminhar para servado; (C) grau III – redução articular, além de intensa irregula-
que haja melhora. ridade e esclerose subcondral; (D) grau IV – anquilosa bilateral.
Fonte: ASAS Handbook. Ann Rheum Dis 2009; 68 (Suppl II): ii1-ii44
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REUMATOLOGIA
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- Teste de Schöber modificado: detecta limitação da também por dor em outras estruturas anatômicas lo-
flexão da coluna lombar. Deve-se fazer uma marca na cais;
linha média, com o paciente em posição neutra, ao - Teste de Gaenslen: com o paciente em posição supina,
nível da espinha ilíaca posterossuperior, e outra 10cm deixa-se uma perna cair por 1 dos lados da maca do
acima. Pede-se ao indivíduo que realize flexão máxima examinador, enquanto a outra perna é flexionada pelo
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do tronco, sem dobrar os joelhos, tentando alcançar paciente em direção ao tronco. Essa manobra deve
o chão com as mãos. Mede-se a distância máxima en- aumentar a dor na sacroilíaca no lado da perna caída
tre os 2 pontos, que deve aumentar pelo menos 5cm e (Figura 10);
atingir 15cm (Figura 6);
- Teste de Patrick: com o paciente em posição supina,
com o seu calcanhar sobre o joelho contralateral, faz-
-se uma pressão para baixo sobre o joelho flexionado.
Assim, com o quadril em flexão/abdução e rotação
externa (Fabere), haverá dor na articulação sacroilíaca
contralateral (Figura 11);
- Expansibilidade torácica: medida no 4º espaço inter-
costal, a expansibilidade torácica (diferença da circun-
ferência torácica em inspiração máxima e expiração
máxima) normal é de, aproximadamente, 5cm. Em
Figura 6 - Teste de Schöber modificado. Fonte: ASAS Handbook, caso de envolvimento costovertebral ou costocondral,
2009
ela diminui.
- Rotação cervical: paciente sentado na cadeira, cabe-
ça ereta, com as mãos apoiadas nos joelhos. Colocar o
goniômetro no topo da cabeça alinhado com o nariz.
Pedir para o paciente fazer rotação lateral da cabeça o
máximo que puder e anotar quantos graus de rotação
ele obteve. Fazer a medida bilateral e posteriormente
registrar a média das 2 medidas;
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REUMATOLOGIA
com a idade, presença de HLA-B27, tempo de doença e pre- do ânulo fibroso leva à formação de pontes ósseas interver-
sença de artrite periférica. Podem ocorrer ainda distúrbios tebrais, que são os sindesmófitos (Figuras 17, 18 e 19). Na
de condução e doença miocárdica. EA e espondiloartrites associadas às doenças inflamatórias
O envolvimento costovertebral e costocondral pode le- intestinais (enteroartrites), os sindesmófitos são geralmen-
var a diminuição da expansibilidade torácica, com leve res- te simétricos e regulares, bem verticalizados e marginais,
trição à prova de função pulmonar, sem alteração da difu- ao contrário das artrites reativas e da psoriásica, onde são
são. Isso raramente provoca ventilação insuficiente. Cerca geralmente assimétricos e irregulares, mais grosseiros.
de 1% dos pacientes desenvolve fibrose progressiva dos Também se distinguem dos osteófitos da osteoartrite, que
ápices pulmonares. tem orientação bem lateralizada. A fusão das interapofisá-
Pode haver inflamação inespecífica e subclínica dos in- rias e a calcificação dos ligamentos espinhais, associadas à
testinos grosso e delgado em 60% dos casos de espondilite. formação bilateral de sindesmófitos, pode resultar em fu-
De 10 a 15% dos pacientes com EA vão desenvolver doença são completa da coluna vertebral, fornecendo o aspecto de
inflamatória intestinal. Não há achados cutâneos específicos. coluna “em bambu”.
Acometimento compressivo neurológico por fraturas ver-
tebrais, com síndrome de cauda equina, também pode ocor-
rer ou no caso de deformidade cervical em flexão grave.
Já amiloidose renal secundária é possível pelo estímulo
inflamatório crônico, mas isso é cada vez mais raro. E fibro-
se retroperitoneal é raramente descrita.
Em nível pulmonar, pode ocorrer fibrose apical interal-
veolar ou pneumonia crônica fibrosante, infiltrado linfoci-
tário e dilatação brônquica. Em estágios avançados pode
evoluir com fibrose difusa, bronquiectasia e formação de
cavidades.
B - Achados radiológicos
As alterações radiológicas são predominantemente ob-
servadas no esqueleto axial (sacroilíacas, interapofisárias,
discos vertebrais e articulações costovertebrais) e em locais
de entesopatia.
O envolvimento das sacroilíacas pode ser observado
em raio x simples da pelve, sobretudo se na posição de
Ferguson. A sacroileíte das espondiloartrites envolve a por- Figura 14 - Sinal de Romanus
ção sinovial, nos 2/3 inferiores da articulação sacroilíaca. Na
EA, o acometimento é bilateral e simétrico, assim como nas
espondiloartrites associadas às doenças intestinais inflama-
tórias (enteroartrites). Já nas artrites reativas e na psoriási-
ca, o acometimento geralmente é unilateral e assimétrico.
O 1º achado radiográfico são as erosões, que aparecem
como irregularidades no contorno da articulação. A pro-
gressão do processo erosivo resulta no pseudoalargamento
do espaço articular (a articulação parece mais larga do que
deveria), seguindo-se a esclerose óssea subcondral, até a
anquilose completa ou fusão articular. Nos casos iniciais,
mesmo com clínica, a radiografia pode não evidenciar as
alterações.
Na coluna vertebral, o processo inflamatório se inicia na
inserção do ânulo fibroso nas bordas dos corpos vertebrais.
O 1º sinal radiográfico, nesses casos, decorre da inflama- Figura 15 - Evolução de lesões espinhais da EA. Fonte: ASAS
ção dessa estrutura, resultando em corpos vertebrais com Handbook, 2009
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REUMATOLOGIA
Tabela 5 - Achados radiológicos (raio x) da EA, que já indicam um - Entesite dos ligamentos espinhais;
comprometimento mais avançado: a ordem dos achados é cres-
- Sindesmófitos/anquilose: pontes ou fusão óssea entre corpos
cente em relação ao tempo de doença vertebrais adjacentes – achado tardio.
Sacroilíacas (fazer o raio x na posição de Ferguson)
- Envolvimento da porção sinovial, nos 2/3 inferiores; Achados radiográficos periféricos podem ser vistos
nas articulações acometidas, com osteoartrite secundá-
- Acometimento é bilateral e simétrico;
ria, levando a redução de espaço articular difuso em toda
- Erosões (irregularidades no contorno articular);
a articulação, esclerose subcondral e formação de osteó-
- Pseudoalargamento do espaço articular; fitos. Isso é comum nos quadris. Podem ocorrer também
- Esclerose óssea subcondral; irregularidades na inserção óssea dos tendões (geralmente
- Anquilose completa ou fusão articular. na inserção do tendão de Aquiles ou na inserção calcânea
Coluna (fazer raio x lateral de coluna cervical e lombar) da fáscia plantar), com calcificações grosseiras ao longo do
- Corpos vertebrais com os ângulos brilhantes (shiny corners ou tendão, partindo de sua inserção.
sinal de Romanus);
- Quadratura dos corpos vertebrais (que são normalmente bi-
côncavos);
- Sindesmófitos simétricos e regulares, bem verticalizados e mar-
ginais;
- Coluna “em bambu”.
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ESPONDILOARTRITES SORONEGATIVAS
REUMATOLOGIA
Tabela 8 - Critérios de Nova Iorque modificados para espondilite
anquilosante (1984)
Diagnóstico
1. Critério clínico:
a) Dor lombar com rigidez por mais de 3 meses, que melhora
com o exercício, mas não com o repouso.
b) Limitação na mobilidade da coluna lombar nos planos sagital
e frontal.
c) Limitação na expansibilidade da caixa torácica.
2. Critério radiológico:
- Sacroileíte: grau >2 bilateralmente ou grau 3 a 4 unilateralmente.
Definição
1. EA definida, se tiver critério radiológico associado a pelo me-
Figura 18 - Sindesmófitos bilaterais, com o aspecto de coluna “em nos 1 critério clínico.
bambu”
2. EA provável:
a) Presença de 3 critérios clínicos.
b) O critério radiológico está presente sem qualquer sinal ou sin-
toma que satisfaça os critérios clínicos (outras causas devem ser
consideradas).
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REUMATOLOGIA
de doenças que incluem infecções (tuberculose, brucelose, Os corticoides em baixas doses (prednisona ou equiva-
piogênicas), doença de Behçet, doença de Whipple, doença lente) estão indicados a casos de artrite periférica persis-
de Paget, neoplasias, febre familiar do Mediterrâneo, ocro- tente. Seu uso intra-articular pode ser uma alternativa em
nose e síndrome SAPHO. casos de oligo ou monoartrite residual.
E - Tratamento Nos pacientes com doença axial não responsiva ao uso
crônico de AINHs, estão indicados os agentes anti-TNF (ada-
Inicialmente, o paciente espondilítico deve ser informado
limumabe, etanercepte e infliximabe), que devem ser asso-
de que, embora a doença seja crônica, apresenta boas pers-
ciados a um AINH. Em caso de doença residual predominan-
pectivas terapêuticas nos dias de hoje, e de que a agregação
temente periférica, podem-se usar Drogas Modificadoras
familiar da doença somente costuma ser observada em fa-
do Curso da Doença (DMCDs) tradicionais de ação prolon-
mílias de pacientes HLA-B27 positivo. O amparo psicológico,
gada, como a sulfassalazina (2 a 3g/dia), o metotrexato (7,5
visando perfeita integração à sociedade, é fundamental na
a 25mg/semana) e a leflunomida (20mg/dia), os 2 últimos
condução terapêutica dos pacientes espondilíticos.
sem muita evidência científica, assim como os agentes bio-
A fisioterapia deve ser realizada de maneira sistemática
lógicos com ação anti-TNF. Nesses casos periféricos, pode-
em todos os estágios da doença para educação postural, pre-
-se fazer a combinação entre DMCDs tradicionais entre si e
servação de amplitude articular e conservação de energia.
um anti-TNF com 1 ou mais DMCDs tradicionais. Os anti-TN-
Os Anti-Inflamatórios Não Hormonais (AINHs) devem
Fs adalimumabe e infliximabe têm ação sobre os quadros
ser utilizados desde o início do tratamento e são modifica-
oculares (uveíte), sobre as entesites e quadros intestinais
dores de doença no que se refere ao quadro axial. Devem
de colite associada, diferente do etanercepte, que age pre-
ser mantidos continuamente, na maior dose tolerada (a
ferencialmente sobre o quadro articular.
máxima, se possível), mesmo que o paciente com quadro
axial esteja assintomático por uso de outra medicação (no- Sintomas constitucionais como fadiga, depressão e al-
tar que essa a única indicação de uso contínuo de AINH em terações do sono podem ser tratados com antidepressivos
dose plena). tricíclicos.
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AINH
Educação
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axial periférica
Fisioterapia
Associação de
pacientes
Corticosteroide local
Grupos de ajuda
Bloqueador do TNF
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REUMATOLOGIA
b) Manifestações extra-articulares
Uretrite não gonocócica, quando presente, em geral
é a 1ª manifestação e acontece nas formas pós-venérea e
Figura 24 - Queratoderma blenorrágico. Fonte: ABC of Rheumato-
pós-entérica. Disúria e descarga uretral purulenta são os logy, 4th ed., 2010
sintomas mais típicos no homem, mas estão presentes,
ocasionalmente, prostatite e/ou epididimite. Mulheres po- A balanite circinada (Figura 25), uma lesão característi-
dem ter disúria, corrimento vaginal, cervicite e/ou vaginite. ca que envolve a glande peniana, aparece como ulcerações
Pacientes assintomáticos para inflamação genital frequen- serpiginosas ao redor da uretra. Úlceras orais podem apa-
temente têm piúria estéril, principalmente na 1ª urina da recer na língua e no palato, indolores. O paciente deve ser
manhã. questionado sobre essas alterações.
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REUMATOLOGIA
inflamatória, podendo atingir altos níveis de leucócitos. A
pesquisa de agentes infecciosos, incluindo gonococo, deve
ser feita para excluir artrite séptica.
D - Diagnóstico
O diagnóstico é feito por achados clínicos e laborato-
riais. A presença de oligoartrite assimétrica, soronegativa
(FR negativo) em pessoa jovem, deve alertar o médico para
o diagnóstico de ARe. Antecedentes de diarreia e doença
venérea podem ser informações adicionais.
Devem ser excluídas infecção gonocócica e outras for-
mas de artrite séptica. Em todas as pessoas com sinais de
inflamação baixa do trato geniturinário, deve ser feita a pes-
quisa de N. gonorrhoeae e C. trachomatis.
Figura 25 - Balanite circinada: observar as lesões de aspecto ser- O diagnóstico diferencial inclui ainda outras formas de
piginoso espondiloartrites, artrite reumatoide (que pode iniciar-se
de forma oligoarticular), infecção gonocócica disseminada,
Outras complicações são menos comuns, como a aor- infecções virais agudas e endocardite bacteriana.
tite, que ocorre em 1 a 2% dos pacientes. Regurgitação de
válvula aórtica e bloqueio cardíaco são consequências clí- Tabela 12 - Principais características da ARe
nicas do processo inflamatório. Amiloidose por amiloide A - Artrite periférica que se desenvolve após certas infecções dos
tem sido descrita em alguns casos e se manifesta por pro- aparelhos genitourinário e gastrintestinal (infecções genituriná-
teinúria ou síndrome nefrótica. rias não gonocócicas, geralmente por Chlamydia trachomatis ou
doença diarreica por Shigella, Salmonella e Campylobacter);
c) Associação a HIV
- Acomete mais homens jovens (relação entre homens e mulheres
A ARe tem sido relatada com frequência em pessoas é de 9:1);
com HIV, e sua prevalência e gravidade podem estar aumen- - Oligoartrite assimétrica com predomínio nos membros inferio-
tadas em associação aos vírus. Estudos recentes mostram res;
que o HIV isolado não causa a doença, mas sua associação - Entesites (por exemplo, calcaneodinia) e dactilites;
a outras doenças, como infecção por Chlamydia, pode ser
- Pode ocorrer envolvimento axial, que se associa à presença de
responsável pelo desenvolvimento de ARe. HLA-B27;
- Início agudo (1 a 4 semanas após a infecção desencadeante);
B - Achados radiográficos
- Manifestações extra-articulares: uretrite não gonocócica, conjun-
Anormalidades na radiografia não são encontradas em tivite, uveíte anterior aguda (irite), queratoderma blenorrágico,
fases iniciais da doença. Alterações encontradas são reação balanite circinada;
periosteal e erosões ósseas no calcâneo, na inserção da fás- - Associação a HIV.
cia plantar e/ou tendão de Aquiles. Achados similares po-
dem ser encontrados em pacientes com EA ou artrite pso- E - Tratamento
riásica. Algumas alterações são mais comumente vistas nos
Na fase articular aguda, inicia-se o tratamento com
pés, envolvendo as articulações metatarsofalangianas com
AINHs. Os corticoides estão reservados para casos de ente-
destruição óssea.
sopatia e artrites persistentes, sendo utilizadas baixas doses
Alterações radiográficas do esqueleto axial incluem sa-
de prednisona.
croileíte, frequentemente unilateral ou bilateral assimétri-
Quando há evolução para doença articular crônica, po-
ca, e sindesmófitos, mais grosseiros e unilaterais se compa-
dem ser utilizados sulfassalazina ou metotrexato nos casos
rados com a EA.
periféricos. Há relatos de uso de agentes anti-TNF (adalimu-
mabe, etanercepte ou infliximabe) em pacientes que croni-
C - Achados laboratoriais ficam o envolvimento articular, sobretudo axial.
Achados inespecíficos podem incluir leve anemia nor- A administração de antibióticos deve ser considerada
mocítica normocrômica de doença crônica, leucocitose e quando há infecção. Nas infecções entéricas, está indicado
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ESPONDILOARTRITES SORONEGATIVAS
se mostrou eficaz no controle da doença articular, mas não víduos jovens, na 2ª e 3ª décadas de vida. Afeta as
da DC intestinal propriamente dita. Acredita-se que diferen- pequenas articulações das mãos e dos pés, evoluindo
ças na forma de inibição do TNF sejam responsáveis pela para deformidades importantes (Figura 29) e encurta-
diferença na forma de tratamento. mento dos dedos (dedos “telescopados”);
- Forma espondilítica (5%): com envolvimento do es-
REUMATOLOGIA
6. Artrite psoriásica queleto axial, com espondilite e sacroileíte. Pode
A Artrite Psoriásica (AP) forma um grupo heterogêneo acompanhar as outras formas em até 40% dos casos.
de manifestações articulares inflamatórias crônicas em
As formas de apresentação da doença podem sobrepor-
associação à psoríase, uma doença inflamatória cutânea,
-se com o passar dos anos. Pacientes com doença estabele-
característica pela presença de lesões eritematodescamati-
cida têm mais doença poliarticular.
vas, principalmente em faces extensoras do corpo, poden-
do acometer também o couro cabeludo, as palmas e plan- a) Artrite periférica
tas, áreas flexoras e unhas, com alterações características. Costuma ser oligoarticular no início da doença, mas, com
A AP pode apresentar-se de muitas formas: monoartri- o passar dos anos e um número maior de articulações sendo
te, oligoartrite assimétrica, envolvimento de articulações acometidas, tende a tornar-se poliarticular. Algumas caracte-
axiais (com características de espondiloartropatias sorone- rísticas ajudam a diferenciar a AP da AR: a AP é mais frequente-
gativas), poliartrite simétrica (semelhante à artrite reuma- mente assimétrica, pode acometer as interfalangianas distais
toide), e artrite mutilante. (poupadas na AR), tem FR costumeiramente negativo (embora
A prevalência da AP é de aproximadamente 0,1 a 1%. A possa ser positivo numa minoria de casos – <10% se medido
artrite ocorre em 10% dos pacientes com psoríase. O aco- por ELISA), acomete homens e mulheres igualmente e tem ca-
metimento da pele costuma preceder a artrite em 75% dos racterísticas radiográficas peculiares com a lesão tipo pencil-in-
casos, com início simultâneo em 10% dos pacientes. Na mi- -cup. Pode ainda manifestar-se como artrite mutilante.
noria restante (15%), a artrite pode anteceder o surgimento
b) Envolvimento axial
da psoríase em cerca de 2 anos. A relação entre homens e
mulheres é de 1:1, exceto em subtipos específicos, com pre- A AP pode acometer sacroilíacas e a coluna. Entretanto,
dominância do sexo feminino na forma poliarticular simétri- assim como nas artrites reativas e diferentemente da EA e
ca e do sexo masculino na forma com envolvimento axial. A das espondiloartropatias associadas à doença inflamatória
idade de maior prevalência está entre os 30 e os 55 anos. intestinal, o envolvimento axial costuma ser assimétrico,
A etiologia da psoríase é desconhecida. Fatores genéti- com sindesmófitos grosseiros. Apenas parte dos pacientes
cos, ambientais e imunológicos estão envolvidos na susceti- com manifestações radiográficas tem clínica de dor inflama-
bilidade e na expressão da doença. tória associada. A grave limitação do esqueleto axial como
na EA também é menos comum.
A - Achados clínicos c) Outras manifestações articulares/periarticulares
Classicamente, a AP apresenta 5 formas clínicas: Outras manifestações podem ser entesites, dactilites e
- Oligoartrite assimétrica (70%): a forma clínica mais tenossinovites. As primeiras costumam acometer a inser-
frequente acomete até 4 articulações, grandes e/ou ção do tendão de Aquiles e da fáscia plantar no calcâneo,
pequenas, com predomínio de membros inferiores, levando à típica dor em tornozelos das espondiloartrites
geralmente de forma assimétrica. Dactilites são co- (calcaneodinia). Pode acometer também as ênteses em jo-
muns, caracterizando os dedos “em salsicha”; elhos, ombros e ossos da pelve. As dactilites ou dedos “em
- Poliartrite simétrica (15%): apresenta quadro articular salsicha” são típicas da AP e da ARe, afetando principal-
muito semelhante ao da artrite reumatoide, com ero- mente os pés, mas também as mãos. A dactilite resulta da
são e acometimento de carpo, metacarpofalangianas e artrite dos dedos com tenossinovite dos flexores do dedo
interfalangianas proximais. Entretanto, pode acometer envolvido, levando ao edema difuso do dedo. As tenossi-
concomitantemente as articulações interfalangianas novites costumam acometer os tendões flexores dos dedos
distais, classicamente não afetadas na artrite reuma- e o extensor do carpo (pouco acometido na AR) e provocar
toide (Figura 26); nódulos e muita limitação funcional.
- Envolvimento de interfalangianas distais (5%): aco-
mete exclusivamente as articulações interfalangianas
distais (Figuras 27 e 28), geralmente associado às le-
sões ungueais típicas da psoríase (unha “em dedal” ou
pitting nail); pode acometer conjuntamente pacientes
com outros padrões em até 50% dos casos;
- Artrite mutilante (<5%): é a forma clínica menos fre-
quente e mais grave, acometendo geralmente indi- Figura 26 - Artrite psoriásica tipo AR
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REUMATOLOGIA
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ESPONDILOARTRITES SORONEGATIVAS
da porção distal das falanges e lesão em aspecto de taça Tabela 14 - Critérios classificatórios de artrite psoriásica. Grupo
nas porções proximais. Uma falange afilada distalmente Caspar, 2006
em articulação com outra cuja base foi alargada em forma Doença articular inflamatória estabelecida e pelo menos 3
de taça leva à característica lesão tipo pencil-in-cup (Figura pontos nos seguintes critérios
32). A artrite mutilante se manifesta radiograficamente por Psoríase cutânea atual 2 pontos
REUMATOLOGIA
total desarranjo articular e intensa (e até total) destruição História de psoríase 1 ponto
óssea. O envolvimento axial é caracterizado por formação
História familiar de psoríase 1 ponto
de sindesmófitos grosseiros, não marginais, na coluna, or-
ganizados de forma assimétrica e sacroileíte também gros- Dactilite 1 ponto
seira e assimétrica. A anquilose na coluna e em sacroilíacas Neoformação óssea justa-articular 1 ponto
também pode acontecer. Fator reumatoide negativo 1 ponto
Distrofia ungueal 1 ponto
D - Tratamento
Os anti-inflamatórios são utilizados para a dor articular
periférica e axial. Os corticoides podem ser utilizados em
baixas doses em casos de artrite periférica, mas devem ser
evitados porque sua retirada pode piorar o quadro cutâneo.
Injeções intra-articulares de corticoide podem ser feitas
episodicamente em mono ou oligoartrites, tendo efeito sin-
tomático rápido, mas transitório. Só deve ser realizada caso
de não haja lesão cutânea sobre a via de acesso articular,
pois a lesão da psoríase é infectada.
Nos casos não responsivos com envolvimento periféri-
co, podem ser utilizados metotrexato, sulfassalazina, ciclos-
porina e leflunomida, todos com algum benefício articular
Figura 32 - Observar o acometimento assimétrico das articulações, periférico e cutâneo, à exceção da sulfassalazina, sem be-
mais evidente em IFD, o aspecto pencil-in-cup na 3ª interfalangia- nefício cutâneo. Os agentes anti-TNF (adalimumabe, eta-
na distal nercepte e infliximabe) têm benefício provado nas manifes-
tações cutâneas e articulares axiais e periféricas. Quando
C - Diagnóstico houver quadro axial importante ou na falha de outros agen-
tes para o quadro articular periférico ou para a pele, esses
Segundo os critérios de Caspar, deve ser feito com base agentes estão indicados. Entretanto, quando indicados para
na presença de psoríase atual, história pessoal ou familiar o quadro cutâneo, a dose dos anti-TNFs é maior do que a
de psoríase cutânea, presença de alterações ungueais de normalmente prescrita para o quadro articular.
psoríase, negatividade do fator reumatoide, presença de Outros agentes biológicos usados no tratamento da pso-
dactilite e evidência radiológica de formação óssea justa- ríase cutânea (alefacepte, efalizumabe) não são usados na
-articular, que não osteófitos. Os diagnósticos diferenciais forma articular, e outros agentes biológicos usados em AR
incluem artrite reumatoide, outras espondiloartrites, os- não têm benefício provado em AP.
teoartrite e síndrome SAPHO. A AR geralmente é poliarticu-
lar simétrica (mas pode se iniciar oligoarticular, e AP pode 7. Miscelânea
ser poliarticular), com fator reumatoide positivo em 75%
dos casos contra menos de 10% nos casos de AP, sem le-
sões tipo pencil-in-cup ou grande formação óssea adjacente A - Síndrome SAPHO (Sinovite + Acne + Pustulose
às áreas de erosão, sem psoríase associada (embora AR e palmoplantar + Hiperostose esternocostocla-
psoríase possam coexistir pela alta prevalência de ambas na vicular + Osteíte multifocal crônica recorrente)
população: 1 e 3%, respectivamente), sem quadro articular
axial, dactilites ou entesites sugestivos de espondiloartrites É um diagnóstico diferencial das espondiloartrites soro-
e sem envolvimento da interfalangiana distal. As outras es- negativas, sobretudo com a AP, que quadro de pustulose
pondiloartrites se distinguem pelos achados mucocutâneos plantar, pode simular psoríase palmoplantar. Pode provocar
e radiográficos, e a osteoartrite, principalmente quando a ainda sacroileíte, hiperostose vertebral e entesopatia.
AP acomete as interfalangianas distais, também envolvidas
na osteoartrite. B - Doença de Whipple
Segundo os critérios de Caspar, o diagnóstico de AP É uma doença crônica sistêmica rara, que é difícil de
deve ser obtido com base na Tabela 14. diagnosticar. É potencialmente grave e envolve qualquer
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REUMATOLOGIA
órgão, mas o intestino delgado é afetado na maioria dos D - Artropatias associados com a cirurgia bypass
pacientes. intestinal
A relação entre a doença de Whipple e HLA-B27 não é
clara, e os resultados de estudos recentes não suportam a Entre 1954 e 1983, mais de 100.000 indivíduos foram
inclusão da doença de Whipple no conceito de espondilo- submetidos à cirurgia de bypass jejunoileal como um trata-
artropatia. mento para obesidade mórbida. Inicialmente, procedimen-
A doença de Whipple é muito mais frequente em ho- tos de revascularização jejunocólicos foram realizados, mas,
mens que em mulheres (proporção 9:1). As queixas mais por causa de graves complicações metabólicas, foram aban-
comuns são diarréia, perda de peso severa, febre e artri- donados e substituídos por cirurgia de bypass jejunoileal.
te. Linfadenopatia cervical e axilar, hiperpigmentação ge- Entretanto, estas técnicas também levaram a complicações
neralizada e serosite também são características comuns. pós-operatórias em mais de 25% dos pacientes. Esta artrite
Raramente, o sistema nervoso pode estar envolvido. Artrite iatrogênica associada à cirurgia de bypass jejunoileal, reco-
periférica é observada em 80% dos casos, e pode preceder nhecida como a síndrome da “artrite-dermatite”, levou a
as queixas intestinais por até cinco anos. Flares dos sinais importantes avanços na compreensão das doenças articu-
articulares não estão relacionadas com os sintomas intesti- lares inflamatórias.
nais. O padrão de envolvimento articular é principalmente A artrite do bypass também pode ocorrer em pacientes
poliarticular e simétrica. que não tenham sofrido cirurgia de bypass intestinal, mas
Achados laboratoriais: baixas concentrações séricas de que tenham tido algum acometimento intestinal como qua-
caroteno e anemia, hipoalbuminemia e baixas concentra- dro inflamatório ou diverticular, ou ainda desarranjos intes-
ções de ferro sérico são as alterações laboratoriais mais tinais que causem sobrecrescimento bacteriano.
frequentes, juntamente com um aumento de gordura nas
fezes.
8. Resumo
O líquido sinovial contém número variável de células Quadro-resumo
(4.000 a 100.000 células/mm3), que são predominante- Artrite Artrite
mente polimorfonucleares (até 100%). As lesões erosivas EA
psoriática reativa
nas radiografias são geralmente ausentes, embora a artrite Prevalência >0,1% 0,1% 0,05 a 0,01%
destrutiva tenha sido relatada. A incidência de envolvimen-
Homem:mulher 3 a 5:1 1:1 9:1
to axial é controversa, variando entre 8% a 20%.
Tratamento: administração de antibióticos adequados, Artrite axial 100% 20% 20%
geralmente tetraciclinas, pelo menos, um ano geralmente é Sacroileíte Bilateral Unilateral Unilateral
curativa, mas a doença pode recorrer. Artrite periférica 25% 60 a 95% 90%
Uveíte 30% 15% 15 a 20%
C - Artropatia associada à doença celíaca Dactilite Incomum 25% 30 a 50%
Muitos distúrbios, tais como a dermatite herpetiforme, HLA-B27 + 90% 40% 50 a 80%
hipoesplenismo e desordens auto-imunes, têm sido asso- HLA-B27 + pre-
ciados com a doença. sença de artrite 90% 50% 90%
Vários relatos têm-se centrado sobre a ocorrência de ar- axial
trite relacionada à doença celíaca em um número limitado
de casos. Vários pacientes nos quais a patologia do intestino
foi diagnosticada também apresentam artrite proeminen-
tes que resolve com uma dieta livre de glúten.
A distribuição da artrite varia. A coluna lombar, quadril,
joelhos e ombros são mais comumente afetados, segui-
do do cotovelo, punho e tornozelo em menos de 50% dos
pacientes. Comprometimento articular periférico é relati-
vamente simétrico e é acompanhada de rigidez matinal e
edema articular. As alterações radiográficas são raras.
A alta frequência de HLA-B8, DR3 nos pacientes com do-
ença celíaca tem sido repetidamente relatados.
O tratamento inclui instituição de uma dieta isenta de
glúten resolve ambos os problemas articulares e as altera-
ções na permeabilidade intestinal.
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