Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MEDICINA INTERNA II
CONTEÚDOS
1. INTRODUÇÃO À REUMATOLOGIA
2. ESPONDILOARTRITES
3. SÍNDROME DO ANTICORPO ANTIFOSFOLÍPIDE
4. ESCLERODERMIA
5. OSTEOPOROSE
6. LABORATórIO EM REUMATOLOGIA
7. ARTRITE REUMATOIDE
8. SíNDROME DE SJÖGREN
9. MANIFestações REUMáticas de doenças sistêmicas
10. LÚPUS eritematoso sistêmico
11. vasculites
12. miopatias inflamatórias
13. osteoartrite
14. fibromialgia
15. gota
16. dmards sintéticos
17. dmards biológicos
Boa sorte...
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
No Egito, uma massa de urato (ácido úrico) foi descoberta no dedo do pé de uma
múmia do Antigo Egito. Em outra múmia, encontrou-se um cálculo renal de ácido
úrico, e não de oxalato de cálcio, ou seja: a Gota é mais antiga do que se pode
imaginar. A colchicina é até hoje é o medicamento em que se baseia o tratamento da
crise aguda e é utilizado faz muito tempo.
Na Grécia, alguns famosos personagens sofriam de Gota: Ulisses, Aquiles, Édipo.
O termo Podagra também deriva do grego “pous”, que significa pé, e “agra”, ataque.
Isto é, um ataque no pé causado pela Gota.
Voltando à Hipócrates, ele reconheceu também:
• A artrite migratória (Conhecida atualmente como Febre reumática);
• Artrite de infecções agudas (Típica após uma gripe em que há uma artralgia reativa);
• Artrite ligada às anginas (relacionadas ao anel linfático da garganta e vias aéreas superiores após
infecção por Estreptococos), à parotidite, à supressão dos loquios (a mulher, após eliminação da
placenta, libera uma secreção serosanguinolenta durante 7-14 dias, devido aos vasos placentários
estarem se fechando dentro da parede do útero, o que leva à perda dessa secreção denominada de
lóquio; há uma artrite muito típica nessa fase), às disenterias (sabe-se que gastroenterites agudas
podem cursar com artrite);
• Artrite seguida de anquilose (Espondilite anquilosante)
• Artrite com derrame articular
• Afecções da coxofemoral
• Encurvamento da raque ligada à tuberculose pulmonar (Mal de Pott)
Na era Moderna, o termo “reumatismo” é atribuído primeiramente a Guillaume de Baillou, um famoso
semiota que usou o termo para denominar a Febre Reumática (Poliartrite migratória – o fluído [edema] migra
de uma articulação para outra).
3. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico na Reumatologia é diferente dos quadros infecciosos agudos, em que, por exemplo, o
paciente vai ao otorrinolaringologista por uma dor de garganta, é examinado e diagnosticado com amigdalite.
Isto é, há um diagnóstico e pronto. Na reumatologia, não é só isso. Geralmente, é uma história longa, muitas
vezes o paciente chega com anos dela, nos quais a doença se instaura progressivamente. Depois da
colheita de uma história detalhada, é feito um exame físico minucioso. O laboratório deve servir apenas para
confirmar a hipótese (em pouquíssimas situações o laboratório nos consegue dizer imediatamente o
diagnóstico de uma doença; na reumatologia, ele geralmente sugere, mas não dá o diagnóstico).
3.1 DOR
É a principal causa para idas ao reumatologista.
É necessário perguntar as características da dor, se há sintomas associados, história familiar de
patologias músculo-esqueléticas, aspectos sociais, emocionais e educacionais.
Sobre as características da dor:
• Persistente ou aguda? Ex: A dor começou hoje? Está cada vez pior, amanhã não consegue pisar, no
outro dia não anda mais? Pode ser uma hemartrose, uma artrite séptica, então a intensidade e ritmo
da dor são muito importantes.
• Melhora e piora.
• Variação diurna. É clássico que a dor das doenças inflamatórias reumatológicas aumenta no período
da noite – o paciente acorda com rigidez matinal, e com o decorrer do dia vai passando; essa dor vai
e volta.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
• Interferência com a função. Ex: “Consegue lavar louça com essa dor nas mãos”?. Determinadas
funções e atividades podem ser perguntadas para ver se o paciente consegue fazer.
• Aparece durante a noite? Tumores ósseos, por exemplo, possuem dores mais frequentes à noite.
Isso ocorre pois algumas citocinas obedecem o ritmo circadiano, e o aumento dessas secreções
pode ser elevada de acordo com esse ciclo;
• Duração. Aguda ou Crônica?
• Alteração no local da dor. Isso é bastante evidente na área lesada, apesar de poder também ser
generalizado em alguns casos.
4. DIAGNÓSTICO diferencial
O diagnostico diferencial é muito importante, pois o paciente procurará um reumatologista para saber se
é reumatológico ou não.
A) Afecções reumáticas: 8 - Síndrome de Reiter
1 - Febre Reumática (FR) 9 - Síndrome de Sjögren
2 - Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 10 - Doença Mista do Tecido Conjuntivo
3 - Espondilite Anquilosante (DMTC)
4 - Polimiosite e Dor muscular tardia (DMT) 11 - Síndrome de Behcet
5 - Vasculite:
• Púrpura de Henoch-Schönlein (PHS) B) Artrites Infecciosas
• Poliarterite 1 - Artrite Bacteriana
• Doença do Soro 2 - Artrite por vírus, fungos e micoplasma
• Doença de Kawasaki 3 - Artrite bacteriológica/estéril
6 - Esclerodermia 4 - Outras
7 - Artrite Psoariática
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
1ª Foto: Poliartrite migratória de grandes articulações, com artrite incapacitante (impede a marcha), em
menino escolar, com nódulos subcutâneos = FEBRE REUMÁTICA. O 5º critério que ajuda no diagnóstico é
o eritema marginatum: manchas com margens, bordas que se desenham. Não dói, não coça, não arde...
Tal paciente, no dia seguinte, apareceu com um sopro. Eritema marginatum + nódulos subcutâneos =
Envolvimento cardíaco (Sopro sistólico de Insuficiência mitral)
2ª Foto: Sinal de Gottron (Dermatomiosite – pápulas eritematosas sob a superfície extensora)
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
3ª Foto: Livedo racemoso. Diferente do reticular, não consegue fechar seus “anéis”. A vascularização do
subcutâneo fica muito eritematosa. Está relacionado à Síndrome de Sjögren. (Já o livedo reticular ocorre em
pessoas muito brancas em local frio, que ficam cheias de desenhos e pontilhados no corpo, pode ser só por
uma sensibilidade individual, aparece e desaparece e é estimulado por frio).
2)
DOENÇA DE STILL
Artrite nos 2 joelhos, febre de 40ºC com 2 picos diários, gânglios aumentados, hepatoesplenomegalia,
rash reumatoide (aparece e some). O paciente chega com alergia a todos os anti-inflamatórios. Ele tem a
febre, que precipita o rash. Quando o remédio é dado, algumas pessoas acham que a alergia é ao remédio,
mas não é ele que desencadeia o rash, e sim a febre.
3)
ARTRITE REUMATÓIDE
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
4)
ESPONDILOARTRITES
1ª Foto: Entesite. O tendão fica com aparência extremamente grossa, parecendo um tubo, e não um
tornozelo (que possui algumas reentradas)
2ª Foto: Dactilite. Há um dedo do pé que está extremamente edemaciado. Causado por Artrite
Psoariática.
TC: Destruição cortical da sacroilíaca. Causada por sacroileíte crônica com lesão em “saca-bocado”
5)
VASCULITES
6)
OSTEOARTROSE (= OSTEOARTRITE)
1ª Foto: Nódulos de Heberden
2ª Foto: Genu varo
Em resumo: O enfoque diagnóstico das doenças reumáticas se baseia em quatro pilares diagnósticos:
1. Minuciosa história clínica.
2. Exaustivo exame físico.
3. Formulação de uma impressão diagnóstica e diagnósticos diferenciais.
4. Realização de exames complementares orientados a confirmar o diagnóstico proposto e a descartar
outras entidades.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
ESPONDILOARTRITES
PROF. HAIM MALEH
1. INTRODUÇÃO
As Espondiloartrites vão compartilhar características epidemiológicas, genéticas, situações clinicas e
alterações radiográficas. Fazem parte das espondiloartrites as seguintes doenças:
• Espondilite Anquilosante
• Artrite Psoriática
• Artrite Reativa
• Artrite relacionada à Doença Inflamatória Intestinal/Artropatia Enteropática
Subdividem-se em acometimento axial (acometimento da coluna vertebral e articulação sacroilíaca) e
periférico. Por exemplo, a espondilite anquilosante possui uma manifestação principalmente axial, isto é,
acomete principalmente a coluna vertebral. Já a artrite reativa, a psoriática e a relacionada à DII (doença
inflamatória intestinal) possuem manifestações predominantemente periféricas, em punhos, mãos e pés.
Essa afirmação não significa que não existam manifestações periféricas na Espondilite Anquilosante, mas
sim que há predominância de manifestação axial.
Tais doenças possuem um marcador genético comum entre si: o HLA-B27, que pode ser dosado no
sangue dos pacientes. Esse marcador está diretamente relacionado à Espondilite Anquilosante por ser
altamente prevalente nessa condição, enquanto sua prevalência nas outras espondiloartrites é menor.
Entretanto, o HLA-B27 não é apenas um marcador, mas sim um fator que explica a fisiopatologia dessas
doenças. De maneira resumida, o HLA-B27 gerará um sinal na célula apresentadora de antígenos, de
maneira a estimular a produção de células Th-17, que por sua vez produzem algumas interleucinas,
principalmente TNF-alfa e IL-17 (muito importantes na inflamação dessas doenças). O TNF-a é a principal
citocina pró-inflamatória, e atua nas articulações periféricas e no esqueleto axial, promovendo erosão
articular.
2. ESPONDILITE ANQUILOSANTE
Aspectos gerais:
• É uma doença inflamatória sistêmica crônica.
• Acomete principalmente o esqueleto axial, isto é, as articulações sacroiliacas e a coluna vertebral.
• Há também um acometimento periférico, em forma de artrite assimétrica e entesite (recapitulando:
as enteses são a parte final do tendão que se fixa ao osso).
• Causa dor lombar de padrão inflamatório.
Epidemiologia:
• Mais frequente em homens (3 homens para cada 1 mulher)
• Faixa etária: 2ª e 3ª décadas de vida (Raro início após os 40 anos)
• Mais comuns em brancos (É a raça branca principalmente que traz o HLA-B27)
• Raro em negros não-miscigenados (Na África essa doença é quase inexistente)
Aspectos genéticos:
• Associação com HLA-B27
• Prevalência aumentada da doença na população HLA-B27+
• Prevalência do HLA-B27 é de 90,2%
• Doença mais grave
• Idade mais precoce do início da doença
• Aumenta risco de comorbidades oculares (uveíte)
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Manifestações articulares:
• Associação com HLA-B27
• A recorrência da uveíte pode levar a sinéquias oculares (cicatrizes no olho), o que aumenta o risco
de perda visual.
Envolvimento cardiovascular:
• Raro (3 -10% dos casos);
• Tardio (15 a 30 anos de doença);
• Insuficiência aórtica típica, aortite ascendente;
Envolvimento pulmonar:
• Raro (1,3% dos casos) e após 20 anos de doença;
• Fibrose intersticial dos lobos pulmonares superiores.
Envolvimento neurológico:
• Síndrome da cauda equina, subluxação atlanto-axial, fraturas vertebrais.
2.6 TRATAMENTO
Tratamento Não-Farmacológico
É extremamente importante para o paciente. Embora não diminua a limitação, diminui a dor através do
fortalecimento da musculatura. Não muda a progressão da doença, mas diminui o uso de remédios.
Realização de atividade física, fisioterapia e alongamento.
Tratamento Farmacológico
1ª: Anti-inflamatório (Geralmente não esteroidal [AINEs], podendo ser inibidor da Cox2 ou não).
• Utilizado durante 4 semanas.
• Pode associar analgésicos, desde dipirona e paracetamol aos opióides.
• Não é utilizado corticoide oral (evidências não revelam efeito na articulação sacroilíaca) ou
pulsoterapia, nem drogas modificadoras de doença (metatrexato, sulfassalazina), nem cloroquina.
Caso o paciente mantenha-se por mais de 4 semanas com os sintomas, o próximo passo é iniciar a
2ª linha de tratamento.
2ª: Anti-TNF
• Terapia de custo elevado
• Alto poder de tratamento das artrites periféricas, entesites, uveítes e sacroilíite (serve para todos os
acometimentos!)
• Pode ser utilizado caso o paciente possua alguma limitação como úlceras e gastrite (o uso de AINEs
pioraria essas condições)
• Pode ser o primeiro tratamento caso a manifestação primordial seja a uveíte.
Resumidamente:
• 1º: Paciente diagnosticado: 4 semanas de AINEs de até 2 classes diferentes (2 semanas com um e
outras 2 com outra classe caso continue a dor).
• 2º: Continua com manifestações? Usa Anti-TNF.
• 3º: Não resolveu? Passa para inibidor de IL-17.
3. ARTRITE PSORIÁTRICA
Doença inflamatória articular crônica e
progressiva
Evolui com erosão articular e deformidades
articulares
Ocorre em 20-40% dos pacientes com
psoríase (rash descamativo principalmente no
glúteo e cotovelo), sendo a principal
manifestação da psoríase.
Acomete igualmente homens e mulheres
A faixa etária de manifestação é a 3ª e 4ª
década.
HLA-B27+ em 25% dos casos.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
A história natural da Artrite Psoriática é ter 1º a Psoríase e depois a Artrite, embora seja possível em 15%
dos pacientes ter primeiro a artrite e só depois a psoríase.
Radiografia:
Falha na identificação de erosão articular precoce
Permite avaliação tardia da erosão articular
Alterações:
• Erosão em saca-bocado
• Erosão tipo cálice invertido
Ultrassonografia:
Permite visualizar erosão articular precoce;
Permite avaliar inflamação da entese;
Uso de “power doppler” para avaliar inflamação ativa.
3.4 TRATAMENTO
Para cada manifestação da doença haverá um tratamento preferido. Embora estejam delimitados abaixo,
não são de alta relevância para nós neste momento devido à alta especificidade (Palavras do professor)
AINH:
• Úteis para alívio sintomático
Corticoides:
• Evitar corticoide sistêmico;
• Indicado na forma de infiltração para formas mono ou oligoarticulares;
Biológicos:
• Indicados os Anti-TNF (Infliximabe, adalimumabe, etanercept, golimumabe);
• Usar na falência da associação de 2 DMARDS;
• Uso precoce está autorizado na doença com mau prognósitco;
Deve-se sempre lembrar que a psoríase possui um grande estigma social relacionado à depressão,
podendo ser um paciente difícil de lidar.
Muitos pacientes não falecerão de artrite, mas de um desfecho cardíaco relacionado.
Além todo o processo inflamatório articular causado pelas interleucinas, há associação do paciente com
resistência insulínica, obesidade central, dislipidemia, diabetes... há alta relação da artrite psoriática com
síndrome metabólica.
4. ARTRITE REATIVA
Relacionada a infecção prévia urogenital ou intestinal (nefrite ou gastroenterite) em indivíduos HLA-B27+
Caracterizada por artrite assimétrica de membros inferiores, manifestações cutâneas, oculares.
Síndrome de Reiter: uretrite, artrite e conjuntivite.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Bactérias artritogênicas:
• Uretrite: Chlamydia (trachomatis e pneumoniae)
• Gastroenterite: Shigella, Samonella, Campilobacter e Yersinia
Teoria da Similaridade Bactéria e HLA-B27:
• Essas bactérias (em teoria) seriam molecularmente parecidas com o HLA-B27 e, por isso, quando
entramos em contato, elas ativariam o sistema imune de forma semelhante, apresentando antígeno
ao linfócito T e estimulando resposta imune por mimetismo molecular.
Manifestações oftalmológicas:
• Conjuntivite (+ frequente) Queratodermia Balanite
• Uveíte anterior aguda
4.3 DIAGNÓSTICO
Clínico: História e manifestações clínicas
Laboratório: Alteração de VHS e PCR
Pesquisar HLA-B27 (pior prognóstico)
4.4 TRATAMENTo
O tratamento é realizado, geralmente, a depender da manifestação
Fase aguda:
• AINEs (1ª escolha) – Utilizado em dactilite, entesite
• Corticoide (intra-articular, tópico, pele e olhos) – Muito utilizado para manif. dermato e oftalmológicas.
• Antibiótico (Uretrite: Doxiciclina / Gastroenterite: Quinolonas) – Importante que, mesmo não tendo
mais sintomas infecciosos, todos os pacientes sejam tratados com antibiótico.
Fase crônica:
• DMARDs (Sulfassalazina e Metotrexato) – Controle dos sintomas periféricos
• Anti-TNF
5.4 TRATAMENTO
Artrite periférica:
• AINEs (pode ter como efeito adverso a exacerbação das manifestações intestinais);
• Corticóides
• DMARDS: Sulfassalazina e Metotrexate
• Anti-TNF: Infliximabe, adalimumabe.
Acometimento Axial:
• AINEs
• Não usar DMARDs pois não são efetivos
• Anti-TNF: Infliximabe, adalimumabe
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
1. INTRODUÇÃO
Os anticorpos antifosfolípides estão presentes em até 5% da população, mas só algumas pessoas
desenvolvem a doença. Sendo assim, os anticorpos sozinhos não querem dizer nada. É exatamente por
isso que qualquer screening é perigoso, principalmente desavisado e sem correlação com as suspeitas
clínicas.
A Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF) pode ser primária (vem sozinha) ou secundária (vem
associada a outra doença, como Artrite Reumatoide e Lúpus Eritematoso Sistêmico)
Se selecionarmos pacientes com AVE, infarto, trombose venosa profunda (TVP), em torno de 10% será
SAF, mas não é comum na prática essa busca pela SAF. Tendo isso em mente, existem alguns quadros
clínicos nos quais a suspeita de SAF se torna muito importante, como caso de AVE em paciente de 30 anos.
Tal quadro é estranho nessa idade, e a SAF precisa ser pensada como causa.
2. EPIDEMIOLOGIA
Para se ter uma ideia, a SAF está presente em 13% dos pacientes que sofrem de um AVE, 11% dos
pacientes que sofrem um IAM e 10% dos que sofrem de TVP.
Entretanto, é importante ressaltar que a SAF primária é muito mais comum de evoluir em quem já tem
Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) pois muitos pacientes já possuem os anticorpos da SAF. O contrário
não é verdadeiro, isto é, pacientes que tem SAF não possuem maior chance de evoluírem com Lúpus.
Estima-se que 50% dos pacientes com LES evoluem com SAF em 10 anos, mas somente 5% dos que
tem SAF evoluem com LES.
“Quem tem SAF geralmente fica com SAF, mas quem tem Lúpus geralmente adiciona SAF.”
3. fisiopatologia
Teoria de dois ataques (Second Hit):
• Primeiro ataque: ter o anticorpo antifosfolípide (que não deveria ter sido formado no nosso corpo,
mas fica circulando normalmente)
• Segundo ataque: em algum momento, há um evento desencadeador que faz o anticorpo ser
patogênico. Esse segundo ataque pode ser um anticoncepcional com base em estrogênio, ou ter
LES, ou fazer cirurgia, ter uma infecção. É
necessário esse 2º estímulo, que geralmente é
infeccioso, para que o paciente desenvolva a
SAF.
• Não se sabe muito bem porque essas questões
acima desencadeiam isso, ou o porquê de
acontecer, mas sabe-se que elas possuem
envolvimento e fazem com que algo “tolerante”
passe a ser “intolerante” e desenvolva a síndrome
após essa quebra de tolerância imunológica.
A SAF é uma trombofilia adquirida (isso significa que
não é genético e nem hereditário [como a deficiência de
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
proteína C e S]. Se algum paciente tiver SAF e sua mãe também, é pura coincidência.
Não basta esse anticorpo existir, é preciso que ele fique permanentemente positivo: não basta se ativar
só por uma gripe e desaparecer, ele precisa continuar no seu corpo em atividade.
A proteína beta-2 glicoproteína-I (β2GPI) em condições normais possui 5 domínios, os quais circulam
“fechados”, ou seja, o domínio 5 toca o domínio 1 em forma de um círculo, estando em seu estado inativo.
Com o 2º ataque, as pontes dissulfeto entre o domínio 1 e 5 se abrem,
deixando de formar um círculo. Quando a molécula se abre, o domínio 1 é
responsável por se ligar ao anticorpo, enquanto o dominío 5 vai se ligar ao
fosfolipídeo da membrana celular de células endoteliais, plaquetas e
monócitos, desencadeando a trombose ou a perda fetal. Como o 5 e o 1 ficavam ligados, não ocorria a
descoberta do epítopo, que, agora livre, pode se ligar ao anticorpo.
Critérios laboratoriais:
• Anticoagulante lúpico (LAC)
• Tempo de Veneno diluído da Víbora Russel (dRVVT)
• Anti-cardiolipina – pode dar falso positivo para VDRL (muitas vezes o paciente é diagnosticado com
Sífilis, para confirmar é preciso pedir FTA-ABS, que vem negativo para quem não tem sífilis)
• Anti-β2GPI
Existem diversas manifestações possíveis, sejam elas cardíacas, renais ou plaquetárias, que ainda não
entram no critério de classificação, e então não poderíamos, por meio dele, classificar um doente com SAF.
Esse critério serve mais para fins de reprodução científica que qualquer outra coisa. Na vida real, se usa um
“feeling”, isto é, se o médico acha que um paciente pode ter SAF, deve tratá-lo, pois ele pode vir à óbito.
Há pacientes cujo anticorpo nunca fica positivo e possuem muita “cara” do diagnóstico ser SAF, e alguns
médicos acham que é de fato SAF. Vale ressaltar que o SAF deve ser dosado 2x, pois tem que ser
predominantemente positivo. Não pode dar positivo na primeira e não dar na segunda. Deve-se esperar 12
semanas para a 2ª testagem. Entretanto, ainda assim, o diagnóstico primordial é clínico.
fato trombose é através do Ecodoppler. Por diversas vezes não será uma nova trombose, mas sim
esse inchaço por conta da insuficiência venosa.
• NÃO possui inflamação do vaso na SAF. NÃO é vasculite. A trombose que ocorre nas vasculites é
SECUNDÁRIA à inflamação do endotélio vascular, e é a base da tríade de Virchow.
Gestacionais:
• Gravidez diagnosticada:
- 80% perdas pré-embrionárias ou embrionárias (Menos de 10 semanas) – Será SAF somente em
10% dessas perdas (Essas perdas gestacionais em sua grande maioria são de fato antes das
10 semanas. Não dá para pensar em SAF pois qualquer alteração cromossômica é capaz de
levar ao aborto nesse ponto do desenvolvimento).
- 20% perdas tardias – SAF em 30% dessas perdas. (Aqui pode pensar em SAF!)
• Não existem evidências de SAF com infertilidade.
• São necessários 3 abortos antes de 10 semanas para o critério obstétrico de SAF. A partir de 10
semanas, 1 aborto apenas é necessário 1.
• Obs.: Partos prematuros antes de 34 semanas por eclâmpsia ou pré-eclâmpsia servem como critério.
• Antigamente, quem tinha SAF não conseguia ter filhos, por ser uma gestação de alto risco.
Atualmente, já é possível!
Valvulopatia:
• Definição:
- Insuficiência e/ou estenose mitral e/ou aórtica moderada a grave
- Espessamento valvar
- Nódulos irregulares (Endocardite de Libman-Sacks [não-infecciosa])
• 30% na SAF
• Diagnóstico por Ecocardiograma
• Geralmente assintomática – pode evoluir com Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) e troca valvar
• Muito parecida com febre reumática (pacientes que nunca sequer tiveram infecção de garganta por
Estreptococos podem ter essa valvulopatia, e aí sabe-se que é SAF e não Febre Reumática)
• Obs.: Muitos pacientes não possuem nenhuma das manifestações critério, mas possuem
manifestações extra critério e o anticorpo positivo. Podemos dizer que esse paciente não tem a síndrome
de fato, mas sim uma valvulopatia associada à SAF. Ou seja, não é SAF em si, mas associada.
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Lesões Renais:
• Grandes vasos
- Trombose de artéria renal
- Trombose de veia renal
• Pequenos vasos
- Nefropatia da SAF (NSAF)
• Definição da NSAF:
- Lesões vasculares de pequenos vasos
• Lesões agudas
- Microangiopatia trombótica (trombose
dentro do glomérulo = insuficiência renal
aguda e síndrome nefrótica) Lesões agudas Lesões crônicas
‘;intima
e/ou
• Lesões crônicas
- Proliferação/hiperplasia da íntima (assim como ocorre na aterosclerose de hipertensão
avançada. A íntima faz hiperplasia e depois fibrosa.
- Fibrose
• Manifestações clínicas da NSAF:
- Hipertensão
- Hematúria microscópica
- Proteinúria não-nefrótica
• Nefropatia da SAF:
- Diagnóstico = biópsia
- Insuficiência renal leve, mas pode evoluir para insuficiência renal crônica (IRC)
- Piora o prognóstico da nefrite lúpica
Neurológicas:
• Enxaqueca – mais comum
• Epilepsia
• Coréia – 1%
• Mielite – 1%
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
8. tratamento
Controle dos fatores de risco:
• Hipertensão Arterial Sistêmica, dislipidemia, obesidade, interrupção de tabagismo e de estrógenos
Auto-teste do INR serviu como uma experiência “libertadora” (muito similar ao auto-teste da glicemia
capilar em pacientes com Diabetes mellitus)
• INR = Tempo de atividade da Protrombina (TAP – via extrínseca) e Tempo de tromboplastina parcial
ativada (PTTa – via intrínseca) -> Simplificando: Reflete o tempo necessário para coagular!
IMPORTANTE!
INR baixo = + chance de trombose
INR alto = + chance de hemorragia
Tratamento tríplice:
• Anticoagulação plena com heparina, corticoterapia em doses altas e
plasmaférese e/ou imunoglobulina intravenosa (IgIV), sendo essa
última preferencial se houver infecção ativa
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
esclerodermia
PROF. Tatiana melo fernandes
1. INTRODUÇÃO
Define-se Esclerodermia como uma doença crônica multissistêmica caracterizada pela deposição de
tecido conjuntivo (TC), glicosaminoglicanos e proteínas da matriz extracelular na derme e órgãos
internos, associada a lesão vascular por endoarterite proliferativa. A endoarterite proliferativa é,
inclusive, o fator que confere maior morbidade, devido ao espessamento da túnica íntima e média dos vasos,
o que acaba resultando em uma diminuição do calibre vascular e posterior necrose tecidual.
A etiologia em si é desconhecida, mas sabe-se que existe uma influência de fatores genéticos
(principalmente familiares de 1º grau com doenças reumáticas – mas a esclerodermia não é hereditária!),
além de fatores ambientais e virais.
É uma doença mais comum em mulheres, sendo seu pico de incidência entre a 3ª e 5ª década, além de
rara na infância.
O American College of Rheumatology definiu alguns critérios:
• Espessamento cutâneo proximal em localização de articulações metacarpofalangeanas ou
metatarsofalangeanas – ocorre devido à um aumento da produção de tecido conjuntivo e colágeno
tipo 3, causando fibrose. (não possui relação com acometimento vascular)
• Esclerodactilia – estado inicial do escleroderma, é representado por uma mão edemaciada e
“inflamatória” devido à influência de citocinas e interleucinas.
• Fibrose pulmonar bibasal
• Microulcerações digitais (causado pela vasculopatia isquêmica), perda das polpas digitais, pitting
Existem 2 classificações: Localizada e Sistêmica.
• Localizada: Doença de pele, ausência de fenômeno de Raynaud e acometimento de órgãos internos
• Sistêmica: Acomete órgãos internos. Divide-se em 2, limitada e difusa (diferencia a extensão do
acometimento sistêmico)
2 classificações mais atuais surgiram:
• Esclerodermia precoce: Doença não efetivamente instalada, com adoecimento da microcirculação
diagnosticada pela capilaroscopia. Não é possível ver fibrose de órgãos intermos, mas já há VHS
elevado, FAN+ (autoimunidade identificada). Também não é visto espessamento cutâneo.
• Esclerodermia “sem escleroderma”: Fenômeno de Raynaud + capilaroscopia; já há doença pulmonar
intersticial e acometimento de órgãos sistêmicos, MAS SEM ACOMETIMENTO CUTÂNEO!
2. acometimento
Pele: extensão do acometimento cutâneo pode variar
Forma limitada: face, espessamento cutâneo distal restrito a cotovelos e joelhos
Forma difusa: tronco, dorso, face e extremidades proximais (“tudo espessado”)
3. forma limitada
Antigamente chamada de síndrome de Crest (acrônimo em inglês), era utilizada para denominar a forma
limitada da esclerodermia. Possui maior incidência de fenômenos vasculares mais graves
C - calcinose
R - raynaud
E - esôfago com dismotilidade
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
S - esclerodactilia
T – telangiectasia
Obs.: O Fenômeno de Raynaud pode ser um sinal de uma condição benigna e de uma maligna. Em
situações benignas, a capilaroscopia estará normal e o paciente não evoluirá com isquemia, necrose e perda
tecidual. Pode ser uma manifestação benigna e até mesmo comum em grávidas até os 40 anos de idade.
3. forma difusa
Evidência precoce de acometimento de órgãos internos
Início recente do Fenômeno de Raynaud
Rápida alteração na textura e endurecimento cutâneo com edema, prurido e dor – espessa a pele do
corpo inteiro, não somente face e extremidades.
Sintomas constitucionais mais severos e precoces – é uma doença sistêmica, portanto cursa com perda
de peso, mialgia, artralgia, febre baixa...
Doença Pulmonar Parenquimatosa sintomática
Envolvimento cardíaco e TGI sintomático
Maior incidência de crise renal esclerodérmica
5. envolvimento pulmonar
Alveolite inflamatória (pneumopatia parenquimal) que, posteriormente, leva a Fibrose pulmonar
(pneumopatia intersticial) – é uma doença restritiva por conta da fibrose (doença intersticial pulmonar – DIP)
Hipertensão arterial pulmonar.
Sintomas/sinais clínicos:
• Assintomática
• Dispneia aos esforços
• Tosse seca
• Dor torácica pleurítica
Obs: Pode até não ter esses achados, mas é
possível ver no Rx/TC.
Exames complementares: Prova de Função Respiratória, Ecocardiograma (serve para indicar a pressão
na artéria pulmonar através do fluxo de sangue para a valva tricúspide), TC de Tórax, DLCO (Medida da
capacidade de difusão pulmonar para o monóxido de carbono – troca gasosa está afetada nesse caso,
fazendo com que esse valor esteja diminuído)
Fatores de mau prognóstico: Doença cutânea difusa, raça africana, queda precoce da Capacidade Vital
Forçada (CVF – a queda ocorrerá eventualmente, visto que a fibrose é uma doença restritiva), presença de
Anti-Scl70, fibrose.
6. envolvimento gastrointestinal
Esôfago/Estômago: Refluxo, disfagia, gastroparesia por atrofia da
musculatura lisa, aperistalse de 1/3 médio e inferior (o acometimento de 1/3
superior é característico das miopatias inflamatórias, o que não é o caso dessa
doença), ectasia vascular de antro gástrico (GAVE/”Estômago em Melancia”
– ocorre por conta da dilatação vascular, são telangiectasias dentro do
estômago; pode gerar hemorragia digestiva).
Intestino delgado: Dismotilidade, proliferação bacteriana, má absorção,
diarreia crônica, desnutrição e caquexia (não consegue se alimentar direito
devido a não-eliminação do bolo intestinal)
Intestino grosso: Pseudo-obstrução (não é uma obstrução verdadeira pois
é a musculatura que de fato está ruim, todavia não há nenhum corpo estranho,
por exemplo, impedindo a saída do bolo alimentar), distensão com aprisionamento de ar e ruptura.
7. envolvimento renal
Crises renais esclerodérmicas são apenas 5% dos casos. Ainda assim, é
muito mais comum que elas ocorram na forma difusa. Seu acontecimento na
forma limitada é muito raro.
Início súbito de hipertensão arterial maligna (encefalopatia/insuficiência
renal aguda/turvação visual/cefaleia/edema de papila ao exame de fundo de
olho)
Biópsia: Problema vascular (não é fibrose!) em que ocorre hiperplasia da
íntima e vasoespasmo das arteríolas corticais, formando um aspecto de
“Casca de cebola”.
Sinais clínicos:
• Assintomático
• HAS indetectável (no início pode ser apenas uma sistólica de 130, isto
é, limítrofe)
• Abrupto aumento da creatinina (diminuição do fluxo renal)
Fatores de risco: Paciente com doença difusa (acomete mais órgãos internos), uso crônico de corticoides
(alteram totalmente o sistema renina-angiotensina-aldosterona e predispõem hipertensão), anti-
RNApolimerase3 (quem tem esse anticorpo possui mais chance de desenvolver).
Quadro clínico:
• Hipertensão
• Proteinúria subnefrótica (menor que 3g)
• Hematúria microscópica
• Microangiopatia trombótica.
Obs: O mecanismo renal é SEMPRE vascular! Não tem nada a ver com fibrose.
8. envolvimento cardíaco
Apenas na forma difusa e em algumas pessoas.
Subclínico em estágios precoces
Morbidade cardíaca em doença difusa avançada, isto é, em pacientes com miocardiopatia isquêmica,
lesões por isquemia/reperfusão, necrose, fibrose.
Gera arritmia por conta do depósito de colágeno no feixe de His, evoluindo para uma cardiopatia e,
posteriormente, insuficiência cardíaca.
Pode se manifestar com um derrame pericárdico (Não é tão comum haver serosite na Esclerodermia
como no Lúpus, e também não costuma ter gravidade similar)
Síntomas clínicos:
• Dor torácica (pericardite)
• Palpitações (arritmia)
• Dispneia (insuficiência cardíaca)
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
9. outros sintomas
Síndrome seca: xerostomia e xeroftalmia
Dor neuropática: Síndrome do túnel do carpo/neuralgia do trigêmeo
Disfunção erétil
Disfunção sexual
Escleredema:
• Espessamento cutâneo (Diabéticos, Gamopatia Monoclonal, Pós-infeccioso)
Padrão de acometimento cutâneo diferente da esclerodermia típica; espessará dorso, costas, cintura
escapular.
• Ausência de comprometimento de órgãos internos e auto anticorpos. Não há Raynaud, nem DIP.
Geralmente é um gatilho que causa espessamento de pele.
Fibrose nefrogênica:
• Espessamento cutâneo nodular após exposição ao gadolíneo
• Ocorre em quem já tem Insuficiência Renal moderada ou severa
• Contratura de grandes articulações
Escleromixedema:
• Espessamento cutâneo característico, com depósito de mucina na pele e órgãos internos (vários
pontos brancos em cima de uma pele já espessada)
• Muito relacionado à Gamopatia Monoclonal
• Depósito de mucina em glabela e orelhas
• Há acometimento de SNC (O que não ocorre comumente na esclerodermia)
Linear:
• Espessamento linear e profundo que acomete extremidades – o grande problema é
impedir o crescimento do membro que possui a lesão em comparação ao que está
crescendo normalmente por conta da ausência de lesão (a lesão não deixa crescer adequadamente)
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Golpe de sabre:
• Lesão linear que acomete face ou couro cabeludo. Ocorre atrofia e
espessamento na pele.
13. tratamento
Se baseia nas manifestações clínicas e envolvimento orgânico
Não existe nenhuma medicação modificadora da evolução da doença.
Fibrose:
• Glicocorticoides, MTX, Ciclofosfamida, MMF, IGV, Rituximab, Tocilizumab
Vasculopatia:
• Pentoxifilina, bloqueador do canal de cálcio, inibidores de fosfodiesterase (sildenafil, tadalafil),
bloqueadores do receptor de endotelina (bosentan, ambisentran) [Vasodilatadores]
Crise renal:
IECA, BRA [Vasodilatadores para “corrigir” vasoespasmo]
Pulmões:
• Indução: Pulsoterapia com ciclofosfamida + corticoides (diminuir alveolite)
• Manutenção: Aza/MMF
• Casos refratários em jovens: Transplante pulmonar
• Terapia com biológicos
Trato gastrointestinal:
• Inibidores da bomba de prótons, medidas comportamentais antirrefluxo, procinéticos (estimular
peristalse), loperamida (diminuir diarreia), suplementos de fibras (melhorar consistência do bolo
alimentar), rodízio de antibióticos (o bolo alimentar parado pode dar diarreia, então precisa do
antibiótico para evitar), octerotídeo, nutrição parenteral total (NPT).
14. capilaroscopia
Serve para auxiliar no diagnóstico diferencial das doenças autoimunes;
diferenciar fenômeno de Raynaud primário x secundário.
Parâmetro analisados:
• Densidade
• Arquitetura
• Morfologia
• Presença de hemorragias
Vantagens:
• Exame não-invasivo e simples
• Baixo custo
• Fácil execução
• Não-traumático
• Acesso in-vivo da microcirculação
• Análise da fileira distal dos capilares pela região periungueal das mãos
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Desvantagens:
• Laudo não padronizado
• Restrito às extremidades
• Método subjetivo
• Avaliação panorâmica e analítica
Exame normal:
• Alças capilares: tamanho, forma e cor homogêneas
• Disposição transversal ao longo da cutícula
• Aspecto em “grampo aberto” ou “U”
• Espaçamento regular
• Número de capilares: 9-14 mm2
• Incomum áreas de deleção
• Micropetéquias focais por microtraumas cotidianos
• Grande variabilidade inter e intraindividual
Plexo venoso subpapilar: 60% da população geral; melhor visualizado em: mão esquerda, crianças e pele
clara.
Padrão “Escleroderma-Like”:
Doença mista do tecido conjuntivo, esclerodermia,
dermatomiosite, lúpus eritematoso sistêmico.
• Diminuição da densidade capilar
• Desorganização da arquitetura capilar
• Presença de megacapilares
• Presença de microhemorragias (“aspecto em concha”
Fases da esclerodermia:
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
osteoporose
PROF. Laura mendonça
1. conceito
A osteoporose é uma doença sistêmica caracterizada por
baixa massa óssea e deterioração microarquitetural do tecido,
diminuindo a resistência óssea e aumentando,
consequentemente, a susceptibilidade às fraturas por micro
traumas. Micro traumas são, por exemplo, a queda da própria altura. Uma queda de bicicleta é considerada
um grande trauma, pois há impacto. Na foto da esquerda, é possível visualizar as trabéculas ósseas
conectadas, isto é, um osso que tem resistência à impactos. Já a da direita mostra trabéculas finas, ou até
mesmo ausentes, típico da osteoporose em que o osso possui pouquíssima resistência.
2. prevalência
Estima-se 200 milhões de mulheres (alta prevalência) sejam afetadas em todo o mundo, sendo 1/3 das
mulheres entre 60 e 70 anos e 2/3 delas acima de 80 anos.
Aproximadamente 30% das mulheres com mais de 50 anos tem uma ou mais fraturas vertebrais.
Aproximadamente um em cada 5 homens com mais de 50 anos terá uma fratura relacionada à
osteoporose em seu tempo de vida remanescente. Antigamente, se achava que homens não tinham
osteoporose, mas as estatísticas e estudos epidemiológicos mostram o oposto.
Tendo isso em mente, caso um paciente chegue em idade avançada com pouca reserva, a incidência de
osteoporose com certeza será elevada, pois neste período se aumenta a perda de massa óssea.
5. remodelamento ósseo
O remodelamento ósseo ocorre do nascimento à morte, e
nada mais é que a “troca” do osso velho por um osso mais novo.
Os osteócitos ficam absorvidos na matriz osteoide e se
comunicam por pequenos canalículos entre si. Ao receberem
um estímulo através de mecanossensores (que indicam que tal
osso está “velho”), são disparadas substâncias para ativar o
pré-osteoclasto, que se tornará o osteoclasto ativo que, através
da sua borda em escova, fará a reabsorção óssea. O osteócito,
então, estimula a reabsorção óssea através do osteoclasto.
Na reabsorção óssea, são cavadas “lacunas”, nas quais se
depositarão os osteoblastos para formar uma nova matriz
osteoide, que posteriormente se calcificará. Esse ciclo se repete
infinitamente, e qualquer atuação na velocidade desse processo
atuará no osteometabolismo e resultará em doença.
6. fraturas ósseas
São a principal e mais temida complicação da osteoporose.
Locais mais frequentes de fraturas:
• Vértebras (osso trabecular)
• Costelas
• Úmero proximal
• Rádio distal
• Fêmur proximal: colo e transtrocanteriana (osso cortical)
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
7. classificação da osteoporose
Primária:
• Tipo 1 - pós menopausa: perda óssea trabecular (principalmente) por hiperativação de osteoclastos
(podendo haver também turnover rápido da matriz óssea)
Pode ser imediata (turnover ósseo elevado ou não) ou tardia (turnover ósseo lento)
• Tipo 2 – senil: perda óssea trabecular e cortical por menor absorção de vitamina D e cálcio
Secundária
• Associada à doenças ou condições subjacentes:
- Anorexia nervosa - Menopausa precoce (antes dos 45
- Síndromes disabsortivas (Doença de anos)
Crohn, retocolite ulcerativa, - História materna de fratura de quadril
bariátrica...) - Amenorréia primária por mais de 1 ano
- Hipogonadismo - IMC menor que 19
- IRC - Hiperparatireoidismo
- Imobilização prolongada - Uso de fenobarbital
- Cushing - Uso de corticoide
- Hipertireoidismo
Idiopática (ou do Adulto jovem)
8. fatores de risco
• Genético • Estilo de vida
• Sexo • Desnutrição
• Etnia (negros formam mais osso) • Tabagismo
• História familiar • Sedentarismo
• Hipoestrogenismo • Medicamentos
• Idade da menopausa • Cafeína/álcool
Densitometria óssea:
• Diagnóstico PRECOCE!
• Determina risco de fratura do paciente
• Monitora resposta ao tratamento
• Funcionamento: Uma fonte de Rx escaneia o paciente e mede a quantidade de fótons que é
absorvida ou não pelo osso, analisando posteriormente quantas gramas/cm3 o paciente possui.
• Medidas pelo DXA (Absortiometria radiográfica de dupla energia) com T score menor que -2,5
• Fraturas por fragilidade
Sobre o Cálcio: Ele está presente em vários alimentos, como leite, iogurte, queijo branco, feijão, couve,
brócolis e espinafre. Se fosse ficar apenas no leite, precisaria de 3 copos por dia; verduras possuem
também cálcio, porém pouco. Veganos e vegetarianos precisam de suplemento de cálcio.
O Cálcio sérico tem vários mecanismos de adequação, influenciados por vários fatores:
• Ingestão: Entram aqui nessa baixa ingestão os jovens que trocam o leite por outras bebidas
e os idosos que se tornam intolerantes a lactose.
- O cálcio é absorvido por difusão passiva no íleo (~ 65%), quando o alimento passa
lentamente pelo lúmen intestinal e em outras partes do intestino, de forma ativa,
dependente da vitamina D e do pH. Já se pode depreender daí que, após cirurgias
bariátricas, o caminho do alimento é desviado e a peristalse é mais rápida, ocorrendo uma
diminuição de aproximadamente 50% na absorção do cálcio.
• Uso crônico de corticosteroides: Nós sabemos que essa droga, tão útil em reumatologia,
age diminuindo a massa óssea e aumentando o risco de fraturas por efeitos diretos e indiretos.
E um dos efeitos é a diminuição da absorção intestinal de cálcio por redução da 1,25-hidroxi-
vitamina D, que determina a passagem do cálcio do lúmen intestinal pra dentro do enterócito.
• Ossos: O cálcio pode ser retirado ou adicionado a matriz óssea de acordo com as
necessidades séricas
• O rim é o primeiro e mais rápido mecanismo de absorção ou liberação do cálcio através da
filtração e excreção. Em geral, o rim excreta em torno de 200mg/24h, mas esses valores
podem variar com a dieta e com os níveis séricos.
Estão em risco de deficiência de cálcio:
• Adolescentes e idosos, basicamente pelos hábitos alimentares. Os adolescentes substituem
o leite por outras bebidas e frequentemente são acometidos por transtornos alimentares
(anorexia, bulimia, etc.) resultando em deficiência nutricional. Os idosos, por sua vez, acabam
por diminuir o consumo de alimentos lácteos devido à intolerância gástrica. Algumas
medicações também interferem na absorção do cálcio.
• Indivíduos submetidos a cirurgia bariátrica.
• Pacientes vítimas de doenças intestinais disabsortivas.
• Indivíduos com deficiência de lactase, intolerantes aos produtos lácteos.
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Produtos para reposição de Cálcio (não há nenhum risco cardiovascular na adequação de Ca2+)
• Carbonato (mais usado!)
• Citrato
• Fosfato tribásico.
Farmacológico:
• Antireabsortivos pró-formadores: Utilizados quando há osteoporose;
• Terapia Hormonal: Somente na mulher que está na menopausa inicial (primeiros 5 anos; não pode
utilizá-lo por muito tempo). Reduz risco de fraturas, principalmente do tipo trabecular
• Bifosfonatos: Reduzem a incidência de fraturas, geralmente utilizados em osteoporose severa sem
resposta aos antireabsortivos. NÃO pode ser utilizada a forma oral em paciente com refluxo (pois se
voltar ao esôfago pode causar esofagite; esses pacientes podem usar a forma venosa)
Bifosfonatos
orais
• SERMS (moduladores seletivos do receptor estrogênico – ex: Raloxifeno): Ação antirreabsortiva, tem
como agonista o osso e lipídeos e como antagonista o útero e a mama (útil no câncer de mama);
efeitos adversos: fogachos; contraindicação: risco de eventos tromboembólicos, insuficiência renal e
hepática, risco de AVC fatal.
• Denosumabe: Injeção subcutânea, anticorpo monoclonal contra o RANK-L (receptor mediador-chave
da formação e função do osteoclasto), feito a cada 6 meses. Custo alto (700 reais)
• Terapia anabólica (Teriparatida): ÚNICO osteoformador (não apenas inibe a reabsorção); Custo
altíssimo (2000 reais por mês – governo fornece em alguns poucos casos de osteoporose grave).
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
16. monitoração
• Densitometria óssea (avaliar mínima variação significativa – MVS)
• Se paciente estiver perdendo massa óssea: checar adesão/origem do medicamento e investigar
causa secundária
17. questões
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Laboratório em reumatologia
PROF. Victor berçot
1. INTRODUÇÃO
Motivos:
• Manifestações clínicas + biomarcadores.
• Biomarcadores:
- Diagnóstico
- Estratificação e prognóstico
- Seguimento: eficácia e segurança do tratamento
Tópicos da aula:
• Reagentes de Fase Aguda
• Sistema Complemento
• Fatores Anti-nucleares (FAN)
• ANCA
• Fator Reumatóide
• Anti-CCP
• Crioglobulinas
VHS:
• Distância em mm em que as hemácias caem em um tubo específico em 1 hora.
• Está aumentado na inflamação.
- Nesse cenário, por causa de proteínas como fibrinogênio, as forças repulsivas das hemácias se
anulam, fazendo com que elas se agreguem e caiam mais rapidamente.
• Causas não inflamatórias de aumento do VHS:
- Idade (maior idade, maior VHS)
- Sexo Feminino
- Obesidade
- Gestação
- Raça
- Alterações no número, tamanho e formato dos eritrócitos
• Regra geral ajustada a idade:
- Masc.: idade/2 | - Fem.: (idade+10)/2
• Quando muito elevado (>100):
- Infecções
- Tuberculose
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
- Malignidade
- Neoplasias
• Quando muito reduzido:
- Afibrinogenemia
- Agamaglobulinemia
- Aumento de viscosidade sanguínea
- Policitemia extrema
Proteína C Reativa:
• Função exata desconhecida
- Ativa via clássica do complemento
- Modula comportamento de fagócitos (pró e anti-inflamatórios)
• Altera-se após 4h de lesão tecidual. Pico: 24-72h
• Sem estímulo inflamatório, cai rapidamente (comorbidades não alteram, como ocorre no VHS). Meia-
vida: 18 horas.
- VHS reduz 50% após 1 semana. Ou seja, a Proteína C Reativa é muito mais sensível.
• Referência: < 0,5 – 1,0 mg/dL
Eletroforese de proteínas:
• Quantifica diretamente as respostas de função aguda
• Consiste em aplicar a amostra do soro em um meio sólido e submetê-la a um potencial elétrico
• Padrão inflamatório:
- ↑ ALFA-1 (alfa-1-antitripsina)
- ↑ ALFA-2 (alfa-2-macroglobulina, haptoglobina)
- ↑ BETA (fibrinogênio, PCR)
- ↓ ALBUMINA (consumo –> As proteínas de fase aguda são principalmente sintetizadas a partir
da albumina; se ela cai, é porque está sendo consumida para sintetizar outras proteínas)
3. sistema complemento
Qualquer processo inflamatório possui ação do sistema complemento.
Mediadores imunes: Via clássica (adquirida), alternativa (inata) e da lectina (inata) → MAC (complexo de
ataque à membrana) → gera lise celular
• C3a / C5a: anafilatoxinas, diapedese, degranulação de mastócitos (recrutam a inflamação)
• C3b: retirada de imunocomplexos do sangue (limpeza dos imunocomplexos)
Parâmetros clínicos mais frequentes para determinação da ativação do complemento são os níveis de
C3 e C4:
• Valor limitado pois podem representar maior produção (altos valores) durante a inflamação
(reagentes de fase aguda) ou podem representar consumo (baixos valores) por complexos imunes.
↓ C3 e C4: ativação via clássica por imunocomplexos
↓ C3 e C4 normal: ativação via alternativa
C3 normal e ↓ C4: deficiencia heterozigótica
CH50*: avaliação global do sistema (complemento hemolítico total).
* (Bom exame para rastreio de deficiência, mas não para atividade de doença, uma vez que na
inflamação ativa pode estar normal, alto ou baixo, dependendo do resultado final de produção X
consumo)
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
• Reduzido:
• Normal:
- Possível na presença de inflamação: Consumo X Produção
- Portanto: níveis séricos normais não excluem seu consumo
5. ANTICORPOS ANTIFOSFOLÍPIDES
Anticorpos ligantes à proteínas plasmáticas com afinidade por superfície fosfolipídica (Ex: protrombina,
Beta-2-glicoproteina I [B2GPI])
São eles:
• Anticardiolipina IgM, IgA, IgG – ELISA
• Anti Beta-2-Glicoproteina-I IgM, IgA e IgG – ELISA
• Anticoagulante lúpico (RVVT e PTT)
Princípios do teste LAC e interpretação:
1. Soro normal (Fator X, Ca, AFL); se add VVR ativa o fator X na presença de AFL e Ca2+ faço a
coagulação.
Soro SAF: mesmo que add VVR, como os AC AFL estão presentes, tenho ativação do Fator X mas
não faço coagulação pois os AFL estão inibidos pelos AC, então tenho prolongamento do tempo de
coagulação.
2. Adicionar soro normal ao soro que estou testando, então tenho fatores de coagulação e se corrijo o
prolongamento do tempo de coagulação, provável que tenha alguma deficiência de fatores de
coagulação.
3. Se não corrigir, vamos para 3 etapa que é adicionar AFL, que se tiver o AC AFL, vamos ter mais
AFL que AC, então vamos ter AFL suficiente para fazer a coagulação, tendo o LAC+.
Anti-CCP:
• Direcionados contra resíduos citrulinados de diversas proteínas que são gerados pela enzima PAD
(aumentam na inflamação / HLA-DR4). Em um estado “normal/fisiológico” não é normal ter anticorpos
contra a citrulina.
- Sensibilidade: 67%
- Especificidade: 95%
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
8. crioglobulinas
Imunoglobulinas (Ig) ou complexo de Imunoglobulinas que espontaneamente se precipitam em baixas
temperaturas e se tornam novamente solúveis ao reaquecimento.
Quem não tem doença, não tem crioglobulina!
• Tipo 1: Geralmente associado a Mielomas
• Tipo 2: Geralmente associado à Hepatite C
• Tipo 3: Geralmente associado a infecções crônicas e doenças autoimunes.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Artrite reumatóide
PROF. haim maleh
1. definição
A Artrite Reumatóide (AR) é uma doença inflamatória sistêmica, auto imune, crônica e progressiva, que
acomete a membrana sinovial (revestimento das articulações), causando sinovite, e evolui com destruição
óssea, cartilaginosa e deformidades articulares.
2. epidemiologia
Predominante no sexo feminino (proporção 2/3 mulheres a cada 1 homem), da 4ª a 6ª década de vida.
A prevalência mundial desse doença é de 0,5 a 1%, e, no Brasil, de 1%.
3. fatores de risco
Fatores genéticos (60%):
• Contribuem para a susceptibilidade da doença.
• Risco 1,5x maior do que a população geral caso haja parente de 1º grau com AR
• Prevalência aumentada com HLA-DR1 e HLA-DR4 (europeus)
• Polimorfismo do gene PTPN22 está associado à AR em não-europeus
• HLA-DRB1 EC (epítopo compartilhado) está associado a pior prognóstico (erosão) e maior
mortalidade
• O papel do HLA é a apresentação de antígenos peptídeos aos linfócitos TCD4+ (A AR pode ser
causada por antígenos artritogênicos não-identificados)
Sexo feminino:
• Doença 2-3x mais comum em mulheres. Isso porque estima-se que haja uma influência hormonal
sobre linfócitos T-helper (TH1).
• Na gravidez, pode haver remissão da doença pela produção placentária de TGF-beta e
alfafetoproteina, com supressão do TH1.
Tabagismo:
• Risco para AR em pacientes geneticamente susceptíveis, pois interage com HLA-DRB1 EC, dando
risco maior ainda de doença ativa e erosiva. Mesmo após suspensão do tabagismo, o risco ainda
permanece, pois esse ato produz anticorpo (anti-ccp) que interfere no tratamento.
• Risco para doença com manifestações extra-articulares
• Não há relação entre tabagismo e maior progressão radiológica
• Doença com mais sintomatologia.
Agentes infecciosos:
• Hipóteses de agentes infecciosos bacterianos e virais como fatores de gatilho para AR.
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
4. fisiopatologia
Para entender a fisiopatologia
da AR, é necessário antes
entender a articulação normal.
Nessa, há um revestimento
interno cartilaginoso, que serve
como amortecimento da
articulação. A membrana
sinovial, por sua vez, produz o
líquido sinovial, que nutre e
lubrifica toda a articulação.
Na AR, há inflamação dessa
membrana, resultando em
hiperplasia, formando-se um
“Pannus”, que irá se infiltrar pelo osso subcondral, com erosão e destruição articular.
Microscopicamente, há a ação de diversas interleucinas com ativação de vários linfócitos. Toda ativação
gerará ativação de macrófagos, resultando na produção de citocinas, dentre elas o TNF-alfa, a citocina
chave da AR. Esse fator irá produzir outras interleucinas, que ativarão condrócitos e osteoclastos.
TNF-alfa é importante na diferenciação dos monócitos (células precursoras) em osteoclastos.
TNF-alfa:
• Citocina pró-inflamatória
• Produzida por monócitos e macrófagos da sinóvia.
• Estimula produção de IL1, IL6, IL8.
• Estimula a produção de metaloproteinases pelos fibroblastos.
• Diminui a síntese de proteoglicanos.
• Promove a diferenciação de monócitos em osteoclastos.
5. quadro clínico
Manifestações sistêmicas:
• Febre baixa
• Perda de peso
• Fadiga
• Perda de apetite
Manifestações articulares:
• São os sintomas mais proeminentes
• Início insidioso ao longo de semanas a meses (“não inicia do dia pra noite”)
• Reumatismo palindrômico (é o que geralmente ocorre em idosos): artrite aguda, de início abrupto,
oligo ou poliarticular, auto-limitada, durando dias a semanas (50% dos
casos evolui pra AR)
• Artrite simétrica (acomete os 2 membros)
• Rigidez matinal acima de 1h
• Acometimento inicial: mãos (articulações interfalangeanas proximais e
metacarpofalangeanas), punho e pés (metatarsofalangeanas)
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
• Ao exame físico:
- Dor, edema, calor na palpação articular
- Redução da mobilidade articular
- Deformidades: dedo em pescoço de cisne,
em boutonniere/botoeira, desvio ulnar, subluxação,
polegar em Z – todas essas deformidades são
dolorosas, podendo haver erosão e destruição associadas, além da perda de mobilidade que
elas causam.
- Síndrome do túnel do carpo
Manifestações extra-articulares:
• Doença mais grave, com pior prognóstico
• 40% dos casos
• Associada a altos títulos de fator reumatoide (FR)
• Presença de nódulos reumatoides (nódulos endurecidos na
superfície extensora do antebraço)
• Oftalmológicas:
- Ceratoconjuntivite seca (10-15%)
- Esclerite
- Episclerite
- Uveíte (menos de 5%)
• Pulmonares:
- Espessamento pleural (50% dos casos; pode ser assintomático e somente visto em raio X)
- Derrame pleural exsudativo (25% dos casos)
- Nódulos pulmonares assintomáticos
- Doença intersticial pulmonar (Presença de faveolamento e fibrose indica quadros mais graves)
- Presença de dispneia e tosse seca indica risco de pior prognóstico
• Cardíacas:
- Derrame pericárdico (assintomático; é raro evoluir para tamponamento cardíaco)
- Aterosclerose acelerada devido à processo inflamatório sistêmico causado pelas interleucinas:
risco de eventos cardiovasculares (geralmente IAM), que são a principal causa de morte da AR
• Hematológicas:
- Anemia normo/normo: doença inflamatória crônica
- Trombocitose, trombocitopenia (menos de 5%)
- Síndrome de Felty: esplenomegalia, trombocitopenia e neutropenia
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
• Neurológicas:
- Mielopatia cervical/subluxação atlanto-axial: Tenossinovite [inflamação] do ligamento transverso
de C1 [estabiliza o processo odontóide de C2] fazendo com que a articulação atlantoaxial se
deslize e, então, o processo odontóide pode levar à uma mielopatia cervical, que terá
manifestações como tetraplegia
- Neuropatia periférica: Síndrome do túnel do carpo/do tarso: Manifesta-se com parestesias,
dormência... É causada pela sinovite que pode distorcer o canal do carpo/tarso
• Vasculares:
- Vasculite de pequenos vasos: Púrpuras palpáveis
- Vasculite da vasa nervorum/Mononeurite multiplex:
Sintomas neurológicos em “bota” e “luva” –
parestesia simétrica (diferentemente da Síndrome
do carpo/tarso que pode ser assimétrica)
6. exames complementares
Exames laboratoriais:
• Fator Reumatóide (FR):
- Anticorpo contra a porção Fc da IgG
- Valores em altos títulos: maior especificidade para doença e sugere doença mais agressiva,
com nódulos reumatóides e manifestações extra-articulares (doença com pior prognóstico)
- Positivo em 60-80% dos casos de AR
- Negativo em 30% dos pacientes com AR
- Sensibilidade: 69% | Especificidade: 85%
• VHS e PCR:
- São marcadores inflamatórios de fase aguda
- Em altos títulos sugerem inflamação
- Auxiliam no acompanhamento da atividade de doença (importância ambulatorial)
- Apresentam títulos normais em 40% dos pacientes que abrem o diagnóstico de AR.
- Em AR ativa, espera-se ambos altos.
- Obs: O VHS aumenta antes do PCR; O PCR pode ser muito importante em quadros infecciosos,
os quais podem descompensar uma artrite.
Exames de imagem:
• Raio X articular:
- Método de imagem mais utilizado
- Baixo custo e fácil acesso
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
• Ultrassonografia articular:
- Permite detectar erosão óssea precoce
- Permite detecção de atividade inflamatória (sinovite) através do uso de power doppler
- Sinovite é um preditor de erosão articular
- Custo intermediário
- Operador dependente (desvantagem)
• Ressonância magnética:
- Alta sensibilidade
- Ausência de radiação ionizante
- Detecta erosão óssea precoce;
- “Edema ósseo” é um preditor de erosão articular
- Alto custo;
- Não permite exame dinâmico;
- Falta padronização e consenso quanto ao emprego na AR.
7. diagnóstico
Não existe exame “padrão-ouro” na AR que
sugira o diagnóstico.
O diagnóstico é feito através da clínica +
laboratório + imagem
AR inicial: “janela de oportunidade terapêutica”: evitar desenvolvimento de deformidades
• Sintomas com duração menor que 12 meses
• Desafio diagnóstico: poucos achados laboratoriais e radiológicos
• Diagnóstico precoce traz benefícios em relação ao prognóstico radiológico (erosões) e funcional
(deformidades)
Diagnóstico diferencial:
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
8. tratamento
Deve ser instituído o mais precocemente possível à partir do momento em que o diagnóstico seja firmado
Objetivos:
• Remissão dos sintomas articulares
• Prevenir o dano articular e cartilaginoso
• Prevenir deformidades (Uma vez que as deformidades se instalem, não há como resolvê-las)
AR inicial:
• Chance de mudar o curso natural da doença a longo prazo
Classes de medicamentos:
• Anti-inflamatórios não-hormonais/não-esteroidais (AINH/AINEs)
• Corticóides
• Drogas modificadoras de doença (DMARDs)
• Agentes biológicos
AINEs:
• Úteis para o controle da dor na fase inicial da doença
• Úteis para o controle dos sintomas na reagudização da doença
• Não devem ser usados como monoterapia (somente são úteis no controle da dor, deve haver
associação)
• Não existe fármaco padrão para AR
• A escolha do AINH deve ser individualizada
• Atentar para os efeitos colaterais no trato gastrointestinal, rim e coração (preferência pelos inibidores
da Cox-2)
Corticoides:
• Agentes anti-inflamatórios hormonais
• Controle efetivo do processo inflamatório articular
• Podem trazer benefício no controle radiológico em pacientes com AR inicial
• Não devem ser utilizados como monoterapia
• Doses baixas na AR: Prednisona 15mg/dia (dose inicial)
• Efeitos colaterais a longo prazo: seu uso deve ser abreviado ao mínimo
• Associar cálcio com vitamina D: uso por mais de 3 meses
• Corticoide intra-articular: para pacientes com doença ativa mono ou oligoarticular.
DMARDs:
• Drogas modificadoras da atividade de doença;
• Potencial de prevenir o dano ósseo e cartilaginoso;
• Devem ser instituídas o mais precocemente à partir do diagnóstico (demoram 6-8 semanas para agir)
• Podem ser associados a corticóides, AINH e agentes biológicos
• Medicações na AR:
- Metotrexato (MTX).
- Sulfassalazina
- Leflunomida
- Hidroxicloroquina
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Obs: Sobre o metotrexato (MTX): É o principal DMARD da AR, sendo sua 1ª opção. Inibidor da
diidrofolato redutase, reduz a quantidade de adenosina produzida por ela, o que diminui, então, a
degradação. É preciso realizar a monitorização através de hemograma, hepatograma e escórias
renais (4-12 semanas). Deve ser feita reposição de ácido fólico no dia seguinte à administração
da droga. Possui como efeitos adversos náuseas, vômitos, diarréia, hepatotoxidade,
mielossupressão e doença intersticial pulmonar. É contraindicado em pacientes com
insuficiência renal (com creatina maior ou igual a 2mg/dL), gestantes/lactantes e hepatopatias.
Obs: Sobre a sulfassalazina: DMARD do grupo dos sacililatos e sulfonamidas. É convertida por
bactérias colônicas em 5-ASA e sulfapiridina. A sulfapiridina, por sua vez, possui efeitos
imunomodulatórios, como a inibição de prostaglandinas, de funções neutrofílicas e linfocitárias,
além da inibir a progressão da erosão articular. Monitorização igual aos outros 2. Tem como
efeitos adversos náuseas, vômitos e flatulência, hepatotoxicidade e mielosupressão. É
contraindicado em pacientes alérgicos à sulfa, com insuficiência renal e hepática.
Agentes biológicos:
• Tipos:
- Bloqueadores do TNF
- Depletor do linfócito B
- Bloqueador da coestimulação
- Bloqueador do receptor da IL-6
• Risco de infecção oportunista, como tuberculose, listeriose e histoplasmose.
• Screening pré- tratamento: RX tórax, PPD, sorologias para HIV, hepatite B e C.
• Monitorização: Hemograma e hepatograma a cada 4-12 semanas.
• Efeitos adversos:
- Reação local no sítio de aplicação (drogas SC): eritema, prurido, dor local, urticária.
- Reação alérgica/anafilática
- Infecção oportunista
- Aumento do risco de doença linfoproliferativas
- Síndrome Lúpus-Like (raro)
- Doenças desmielinizantes (raro)
• Contra-indicação:
- Insuficiência cardíaca classe 3-4 (NYHA)
- Neoplasia sólida ativa e pregressa (últimos 5 anos).
- Gravidez e lactação
- Infecção ativa
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Etapas do tratamento:
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
SÍNDROME DE SJÖGREN
PROF. Ingrid moss
1. definição
A Síndrome de Sjögren (SS) é uma doença inflamatória crônica, autoimune, de evolução lenta e
progressiva, caracterizada por um infiltrado linfocitário que acomete o epitélio de glândulas exócrinas,
principalmente as salivares e lacrimais, levando a diminuição da quantidade de saliva e lágrimas, dentre
outras manifestações extraglandulares.
É a 2ª doença reumatológica mais comum, com prevalência de 0,17% da população brasileira.
Estima-se que afete 9 mulheres para cada 1 homem, e seja mais comum entre a 5ª e 6ª década de vida.
Até 30% dos pacientes com doenças reumáticas autoimunes apresentam SS secundária.
2. classificação
Primária:
• Ocorre isoladamente (incidência de 4 a cada 1000 pacientes por ano)
Secundária:
• Associada à outras doenças autoimunes (Artrite Reumatoide - 20%; Lúpus Eritematoso Sistêmico,
Polimiosite e Doença Mista do Tecido Conjuntivo)
Comorbidades associadas:
• Fibromialgia: 20-50%
• Diabetes: 27%
• Dislipidemia: 22%
• Hipotireoidismo: 20%
3. genética
• Susceptibilidade genética (agregação familiar – paciente com casos de SS primária na família possui
maior chance de ter SS primária)
• Associação com HLA-B8, Dw3, DR3
• Outros genes não-HLA, como o IRF-5 e o STAT-4
• Agentes infecciosos como EBV, Coxsackievírus, CMV, HTLV-1, HHV6 e 8 – Servem como gatilho
(second hit) para a SS; deve-se levar em conta uma predisposição genética, visto que nem todos os
pacientes que forem infectados com esses agentes
desenvolverão SS.
• Fatores hormonais (pós-menopausa)
4. fisiopatologia
Em indivíduos geneticamente predispostos, fatores
ambientais e hormonais desequilibram a resposta imune. A
partir de um insulto, haverá um aumento da produção de MHC
tipo II nas células epiteliais glandulares, que são ativadas e
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
5. manifestações glandulares
Xerostomia:
• A saliva serve como proteção dos dentes e da mucosa oral, além de ser
importante para a deglutição, mastigação, fala e na barreira imunológica.
• A hipossalivação, como vista na SS, aumenta o risco de cáries (devido a um
aumento da flora bacteriana), candidíase, disfagia e diminuição do paladar.
• A mucosa pode parecer mais fina, dolorosa, avermelhada, com hipersensibilidade a alimentos ácidos
e picantes.
Xerose bucal: aparece como manifestação uma língua sem papila, em que não se sente gosto dos
alimentos adequadamente.
Quelites, cáries e periodontites também ocorrem
Aumento do volume de parótidas
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Xeroftalmia:
• A lágrima possui função metabólica (nutre e leva O2 para conjuntiva e
córnea, tecidos avasculares), óptica, protetora e antimicrobiana.
• A presença de uma lágrima hiperosmolar, como vista na SS, estimula uma
cascata de inflamação na superfície ocular, podendo causar prurido, hiperemia,
sensação de corpo estranho, lacrimejamento (inicialmente) e diminuição da
acuidade visual.
• No olho, a irritação crônica e destruição do epitélio conjuntival bulbar e corneano caracterizam a
Ceratoconjuntivite Seca.
• A melhor pergunta para fazer ao paciente é se tem “sensação de areia no olho”, pois “olho seco” é uma
queixa muito comum.
• Obs: Pode haver também:
- Xerotraquéia: tosse seca persistente
- Vulvovaginite seca: dispareunia (dor na relação sexual por lubrificação diminuída – paciente
com maior predisposição à infecções vaginais e sinéquias de vagina)
- Xerodermia: prurido
5. manifestações sistêmicas
Mais de 50% dos pacientes terão sintomas
sistêmicos em algum momento.
Extra-glandulares:
• Artralgia (60-70%) / Artrite (16%)
- Obs: A artrite na SS primária é menos
de 20%; é mais frequente relacionada à LES e outras doenças autoimunes.
• Fenômeno de Raynaud: 35 - 40%
• Disfunção esofagiana: 30 - 35%
• Linfadenopatia: 15-20%
• Vasculite: 5-10%
• Lesão pulmonar: 10-20%
• Lesão renal: 10-15%
• Lesão hepática: 5-10%
• Neuropatia periférica: 2-5%
• Miosite: 1-2%
• Sistema nervoso central: 10 - 15%
• Hipotireoidismo: 10-15%
• Linfoma: 5-8%
Musculoesqueléticos:
• Mialgia (50-70%) e fadiga (80%)
• Miopatia inflamatória
• Poliartrite (pode ser simétrica ou assimétrica) ou poliartralgia inflamatória não-deformante
Cutâneas:
• Fenômeno de Raynaud (30-40%)
• Púrpura nos membros inferiores (hipergamaglobulinemia e
aumento de fator reumatoide)
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
• Fotossensibilidade
Pulmonares:
• São sintomas insidiosos (demoram tempo) e
subclínicos - paciente não chegará com queixa de
tosse produtiva há 1 mês, sendo necessário fazer um
acompanhamento e triagem.
• Tosse seca
• Alveolite linfocítica
• Pneumonite intersticial não-específica (NSIP) -
45%, é o mais comum dos quadros pulmonares
[imagens ao lado]
• Pneumonite intersticial linfocítica (LIP)
• Fibrose pulmonar (pode ser uma evolução das 2 acima)
• Linfoma (Intensa proliferação linfocítica – também pode ser evolução da NSIP e LIP)
TGI:
• Pode ocorrer em qualquer segmento
• Dismotilidade esofagiana (36-90%)
• Atrofia gástrica
• Má absorção (por conta da síndrome seca)
• Cirrose biliar primária (7%)
- Anticorpo anti-mitocôndria
- Enzimas canaliculares
- Achados histológicos semelhantes
Renal:
• Nefrite intersticial, com manifestação clínica de Acidose tubular renal distal (tipo 1):
- Prejuízo da capacidade de acidificação da urina, de excretar o ácido (culmina na diminuição do
pH do sangue)
- Hipercalciúria
- Diminui K+ sérico
- Insuficiência renal: 24%
• O acometimento glomerular é menos frequente - crioglobulinemia
Neurológico:
• Está entre as manifestações mais comuns da SS, podendo afetar SNC e SNP.
• Neuropatia periférica (30%) – primária, padrão Axonal sensitivo, sensitivo-motor
• Polineuropatia inflamatória desmielinizante crônica (CIDP)
• Gangliopatia com ataxia
• Pares craniano afetados: Óptico (2º) e Trigêmeo (5º).
• Vasculite
• Mielite transversa
• Neuro-Sjögren: Desmielinização e vasculite
• SNC – as lesões não são acompanhadas do característico infiltrado linfocitário
• As lesões por vasculite são mais frequentes no SNP, por crioglobulinemia.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Hematológicas:
• Citopenias e anemia hemolítica
• Linfoma
• Risco para transformação em linfoma:
- Púrpura
- Crioglobulinemia
- Infiltrado inflamatório exuberante
- Complemento baixo
- Aumento persistente da parótida
- Presença de centros germinativos em biópsia de glândula salivar menor
6. diagnóstico diferencial
Olhos secos:
• Deficiência de lágrima aquosa - Ceratoconjuntivite seca
• Deficiência de mucina - Hipovitaminose A, pênfigo ocular, queimaduras químicas, síndrome de
Stevens-Johnson
• Anormalidades do lípidio ocular - Blefarite
• Epiteliopatia corneal - Disfunção do V par craniano, uso de lentes de contato
• Disfunção palpebral
Boca seca:
• Drogas: Antidepressivos tricíclicos, antihistamínico, diuréticos, anticolinérgico, neuroléptico e
relaxante muscular
• Psicogênica – Ansiedade
• Doenças sistêmicas: Amiloidose, Sarcoidose, HIV, Diabetes mellitus descompensado, Desidratação,
Lesões do SNC (Esclerose Múltipla, Alzheimer)
7. diagnóstico
Laboratório:
• VHS acelerada (80-90% pctes)
• Gama-globulina elevada (80% pctes)
• Anemia de doença crônica (20% pctes)
• Leucopenia (10% pctes)
• Trombocitopenia (menos de 5% pctes)
• Crioglobulinas (4-30% pctes)
• Autoanticorpos:
- Fator Reumatóide (40-90% pctes)
- Fator antinuclear (80-90% pctes)
- Anti Ro (30-70%)
- Anti La (40-50%)
- Anti Fodrina+ (proteínas específicas das glândulas salivares)
Testes oculares:
• Teste de Schirmer:
- Papel filtro milimetrado colocado na conjuntiva bulbar por 5 minutos
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
- Normal: 15mm
- Menos ou igual a 5mm: Olho seco grave
• BUT:
- Tempo de quebra do filme lacrimal
- 5 segundos
• Rosa Bengala
• Lisamina verde e Fluresceína (OSS)
- 0-3 verde lisamina na conjuntiva
- 0-6 fluoresceína na córnea
Outros exames:
• Cintilografia de glândulas salivares
• USG
• RM
Fluxograma de diagnóstico:
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
8. tratamento
Olho:
• Colírios lubrificantes, oclusão do ponto lacrimal, ciclosporina tópica, ômega 3
Boca:
• Saliva artificial, pilocarpina
Manifestações reumáticas
das doenças sistêmicas
PROF. Mirhelen mendES
1. introdução
Nesta aula serão comentadas as manifestações reumáticas de 3 tipos de doenças sistêmicas: as
infecciosas, as endócrinas e as neoplásicas.
2. infecciosas
HIV e AIDS:
• Ambas podem trazer manifestações reumatológicas.
• No que diz respeito ao HIV, existem 3 postulados/teorias. É possível que todas essas teorias estejam
presentes, mas algumas evidências mostram que essas manifestações podem ocorrer pela
modificação do sistema imunológico causada pelo HIV e sua replicação.
• A 1ª teoria fala sobre uma artropatia imunologicamente mediada (assim como ocorre em artrites
reativas, psoriáticas e espondiloartropatias indiferenciadas). Do mesmo modo em que exige do
sistema imune que trabalhe muito, esse vírus o depleta. Tal desarranjo do sistema imunológico é um
dos responsáveis por essas manifestações reumatológicas, em especial a do grupo das
espondiloartrites, isto é, o paciente pode ter manifestações muito parecidas às espondiloartrites, mas
a causa em si é o HIV.
• A 2ª teoria seria a produção irregular de substâncias que participam da resposta inflamatória,
as citocinas. A produção imensa dessas moléculas e a depleção de linfócitos T favoreceria que as
artrites infecciosas sejam geradas por infecções que não sejam tão graves. Essas infecções podem
atingir a via hematogênica e chegar aos ossos, causando osteomielite. Um paciente com HIV possui
muito mais chance de infecção óssea (devido ao HIV) do que a população geral imunocompetente.
• A 3ª teoria é um possível efeito direto do vírus e da interação vírus-hospedeiro, promovendo
respostas musculares e levando a miopatias, que podem mimetizar miopatias inflamatórias próprias
das doenças reumatológicas.
• O HIV, então, pode promover um conjunto de manifestações clínicas que mimetizam vários conjuntos
de doenças reumatológicas. Essas manifestações podem ocorrer na chamada janela imunológica da
infecção por HIV (fase com intensa replicação viral, mas ainda sem anticorpos para detectar
infecção), na fase da infecção por HIV e na fase da doença (AIDS).
• Sabendo-se disso, é importante que, em pacientes com manifestações autoimunes, seja solicitado
como parte do raciocínio clinico o teste para HIV.
• É possível ter nefrite, típica de paciente com LES, sem ter de fato o LES, e sim uma infecção por
HIV.
• É possível ter um paciente com LES e HIV, mas o LES de quem tem HIV se torna mais brando
quando o HIV está mais intenso, e o LES passa a piorar quando a AIDS piora.
Sjögren (SS), com proliferação de linfócitos, principalmente B e plasmócitos, que infiltram células
ganglionares, a chamada Linfocitose infiltrativa difusa (DILS).
- Embora semelhantes, a DILS terá menos sintomas de xerostomia, xeroftalmia, mas haverá mais
parotidite que o paciente com Sjögren.
- Além disso, a SS é mais comum em mulheres pós-climatério, enquanto a DILS é mais comum
em homens jovens.
- Entretanto, os anticorpos presentes na SS estarão ausentes na DILS
- Os linfócitos predominantes também são diferentes: DILS = TCD8; SS = TCD4.
Artralgia do HIV:
• 3 situações típicas:
- Virada imunológica
- Replicação viral
- AIDS
• Características:
- Altamente incapacitante, intensa dor. Não há inflamação, edema ou calor nas articulações.
- Poliartralgia simétrica ou assimétrica
Artrite do HIV:
• A artrite própria do HIV é uma artrite reativa, que se caracteriza com intensa entesite.
Miopatia do HIV:
• Intensa mialgia, atrofia muscular, polimiosite e até, em algumas situações, piomiosites de repetição. As
mialgias ocorrem em qualquer estado da doença do HIV.
• Existem situações relacionadas aos medicamentos, principalmente os mais iniciais, como o AZT (causa
importante de mialgia e miopatia no paciente com AIDS). Então, tanto a doença como as medicações,
principalmente os antirretrovirais iniciais, são causas de miopatia no paciente com HIV.
• A poliomiosite do HIV pode ocorrer de 2 tipos: Precoce (fase inicial da doença) ou Tardia (fase tardia da
doença)
- Na fase precoce, ela é idiopática, muito provavelmente por ação direta do vírus, mas ainda não
há evidência para corroborar essa informação. A evolução pode começar rápida e progressiva,
subaguda e sublimitada, e se caracteriza por fraqueza muscular proximal, mialgia intensa e nível
elevado de CPK (também presentes nas miopatias inflamatórias; a manifestação clínica é
bastante semelhante).
- Já na fase tardia, as miopatias estão associadas mais aos antirretrovirais que ao vírus por si só.
É comum que o paciente com carga viral baixa e linfócitos em recuperação entre numa fase
estável da doença, e aí o próprio medicamento é capaz de desenvolver a miopatia inflamatória.
Com a suspensão do fármaco, há remissão desses sintomas.
3. hematológicas
Hemoglobinopatias (Ex: Anemia Falciforme e Talassemia)
• Se caracterizam por deformidades decorrentes de alterações genéticas na hemoglobina.
• Na anemia falciforme:
- Há produção de uma hemoglobina S (anormal), ou seja, o aumento da viscosidade sanguínea e
congestão microvascular leva a déficit nutricional e em órgãos à distância, principalmente ossos
(muito comum oclusão e infarto ósseo).
- As alterações, então, decorrem de fenômenos vaso-oclusivos em ossos e músculos.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Hemofilias:
• Sangramento exuberante que pode ocorrer também a nível articular, levando a hematoma e artrite
aguda, sendo essa decorrente não de trauma ou infecção, mas de um sangramento intra-articular.
• É mais comum na criança e adulto jovem.
• A dor é causada pela distensão da cápsula articular.
• O acontecimento crônico da hemartrose decorrente da hemofilia também leva a inflamação sinovial,
destruição sinovial e erosão, muito semelhante a AR e Artrite psoriática. A diferença é que é
unilateral, mas também pode levar à sinovite crônica.
• Além da hemartrose, pode haver hematoma muscular espontâneo, como se fosse um trauma. O
aumento de volume nos hemofílicos precisa ser drenado. Esse hematoma é um achado de mau
prognóstico e é doloroso.
- Dificilmente ocorre em fase inicial, mas pode ocorrer na fase tardia e é refratório ao tratamento,
diferente da hematrose, que pode ser um dos primeiros sintomas da doença.
• O diagnóstico pode ser feito a partir da hemartrose (mas não a partir do hematoma muscular)
3. neoplásicas
Síndromes paraneoplásicas:
• É toda síndrome desenvolvida paralelamente à instalação de uma neoplasia, causada por algum
fator do tumor que produz e desenvolve sintomas. São sintomas que ocorrem em locais distantes de
um tumor ou de sua metástase. Pode ser ação do tumor propriamente dito, como a metástase que
ganha vida independente, se diferencia e começa a produzir substâncias.
• Quais são os potenciais mecanismos da presença dessas síndromes?
- Podem ser secundárias às substâncias secretadas pelo tumor ou resultado de anticorpos
produzidos pelos tumores, gerando manifestações reumatológicias (Ex: uveíte, miopatia,
dactilite, dermatomiosite....)
• Podem ocorrer em qualquer órgão e sistema fisiológico.
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
• Cerca de 20% dos pacientes que possuem câncer em algum momento da vida desenvolvem
paraneoplasia.
• O tratamento da paraneoplasia é trata-la, além do tumor. Ou seja, tratar a doença em si que está
ocorrendo, mesmo que não seja primaria e sim secundária a uma condição neoplásica.
• Quadro clínico:
- Dor: não como a dor oncológica, mas a partir da produção de citocinas. Poliartralgia e dorsalgia
podem ser manifestações paraneoplásicas. Exs: O paciente jovem com dor em coluna torácica
– pode ser paraneoplasia ou tuberculose; Um comprometimento de raiz nervosa pode levar a
mieloradiculopatia e é considerada um síndrome paraneoplásica
- O baqueteamento digital e o aumento de volume dos quirodáctilos chamam atenção. São vistos
tanto em DPOC avançado como em síndrome paraneoplásica.
• Das paraneoplasias, os tumores mais frequentes a esse quadro reumatológico são o câncer de
pulmão, seguido do renal e do hepatocelular.
• Assim como visto no HIV, há doenças que são decorrentes (mimetizam) de doenças imunológicas e
são próprias das neoplasias, sendo portanto consideradas como síndromes paraneoplásicas.
- Esclerose sistêmica: Existem 2 situações: pode ser consequência da neoplasia (e se manifestar
como síndrome paraneoplásica) ou o paciente ter a esclerose sistêmica primaria e ao longo da
vida desenvolver neoplasia. Diante de um paciente com uma esclerose sistêmica, é necessário
monitorar a presença ou não de alguma neoplasia que possa surgir, geralmente associada à
idade.
Obs: Quando vemos o espessamento cutâneo, além das manifestações gastroesofágicas,
temos que considerar que pode não ser a esclerose sistêmica primaria, mas sim uma
paraneoplasia.
• A produção de proteínas amiloides, levando a amiloidoses e manifestações de “ombro em almofada”
(alteração de partes moles, ou seja, alterações nas enteses e músculos).
• Dermatomiosite e polimiosite (sendo a 2ª em menor grau)
• Paquidermia carcinomatosa (espessamento cutâneo devido a hipertrofia fibrosa intersticial, gera a
periostite carcinomatosa)
Endocrinopatias:
• Artralgias, deformidades articulares, redução da amplitude de movimento, alteração da cápsula
articular (capsulite), inflamação dos tendões das fáscias das mãos.
• Doença por pirofosfato de cálcio pode dar clínica de pseudogota
• Manifestações articulares distais
• Mixedema pré-tibial
• Diabetes:
- Artropatias diabéticas = decorrentes do não tratamento, são manifestações crônicas e tardias do
diabetes.
- Tenossinovite estenosante = dedo em gatilho
- Quiroartropatia diabética = contração crônica e permanente das articulações (pode ocorrer em
qualquer uma). Pode simular esclerodermia em seu aspecto, mas é no contexto de um diabetes
grave a mal conduzido.
• Tanto doenças da tireoide quanto diabetes darão manifestações muito parecidas, principalmente no
que tange a tendões e partes moles. O paciente com doença tireoidiana possui a mialgia como sua
característica clínica mais importante, sendo mais frequente que a artralgia.
- Manifestações características do envolvimento de tecidos conjuntivos: acropatia e mixedema
pré-tibial são exclusivamente relacionados a doença de Graves.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
1. conceito
Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença que resulta da ativação crônica e recorrente do
sistema imunológico, com produção de anticorpos e outros produtos proteicos que contribuem com a
inflamação e dano tecidual. LES é o protótipo da doença auto imune caracterizada por um envolvimento
multissistêmico diversificado e a produção de uma rede de auto anticorpos
2. epidemiologia
Fatores que influenciam a incidência e a prevalência do LES:
• Idade – fatores hormonais
• Sexo – fatores hormonais
• Raça – vulnerabilidade social/ambiental e susceptibilidade genética
• Genética – susceptibilidade genética
Fatores genéticos:
• Associação com HLA DR3
• História familiar
3. etiopatogenia
Doença inflamatória crônica de natureza multifatorial, não ainda completamente esclarecida.
Sabe-se que há envolvimento de componente genético, sendo certo
haplótipos dos antígenos HLA, tanto de classe 1 (B8) como de classe
2 (DR3, DR2, DQw1 e DQw2) e do braço curto do cromossomo 6. Há
uma maior concordância da doença em gêmeos monozigóticos que
não é total, o que reforça a influência de outros fatores no
desenvolvimento da doença.
O componente hormonal faz parte da etiopatogenia, vide a maior
prevalência na população fértil feminina.
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Há também um componente ambiental, como a exposição à luz solar, que agrava ou desencadeia a
doença, além da luz ultravioleta, que pode exacerbar a atividade inflamatória, tanto nos quadros
cutâneos quanto sistêmicos do Lúpus.
Diversos outros agentes estão envolvidos no componente ambiental, como a participação de agentes
infecciosos, particularmente os virais, como vírus da Hepatite C, parvovírus e Epstein Barr (EBV).
Além disso, o lúpus pode ser induzido por medicamentos, existem diversos estudos mostrando o
papel de substâncias químicas como desencadeantes do LES.
Apesar desses fatores, a produção anormal de autoanticorpos pelas células B é a principal
característica da doença.
4. expressão laboratorial
5. quadro clínico
6. envolvimento mucocutâneo
• Biópsia de lesão cutânea: apresentações atípicas
• Achados histológicos específicos: infiltrado mononuclear na junção dermo-epiderme
• Outros achados: degeneração vasculopática na camada basal dos queratinócitos + inflamação
perivascular + plugging folicular + depósito de mucina + hiperqueratose
- Podem estar presentes em todos os tipos; maior exuberância na forma discoide
• Imunofluorescência:
- Depósito granular de imunoglobulinas e componentes do complemento ao longo da junção da
camada dermo-epiderme. IgG e IgM (mais comuns); C3, C1q, complexo de ataque à membrana
(MAC).
• Lupus band test: teste de imunofluorescência direta em áreas não lesionadas, expostas ao sol.
Positivo no lúpus e em 20% da população geral. Utilidade clínica razoável.
• FAN, anti-DNA e anti-Sm: testes mais útes para o diagnóstico de LES na prática clínica
7. envolvimento renal
• Nefrite Lúpica é uma das manifestações mais importantes da doença
• Exige uma maior atenção tanto no início como no seguimento dos pacientes
• Comum nos primeiros cinco anos de LES, mas pode ser detectado em qualquer momento do seu
curso (deve haver monitorização cuidadosa e regular no segmento desses pacientes)
• Identificação precoce do acometimento renal: preditor de melhor desfecho
• Deve-se ter sempre em mente que os sinais e sintomas específicos de nefrite só ocorrem quando de
avançado grau de síndrome nefrótica ou insuficiência renal
8. envolvimento neuropsiquiátrico
• Os distúrbios de comportamento também são muito frequentes e podem ocorrer em
aproximadamente metade dos pacientes.
• A psicose ocorre em até 10% dos casos e pode se manifestar nas suas diferentes formas, como
esquizofrenia e distúrbios bipolares.
- Confusão diagnóstica pode ocorrer com quadros de psicose induzida pelo uso de corticoide para
tratamento da doença.
• Os quadros difusos incluem ainda a cefaleia, o pseudotumor cerebral e a síndrome orgânica cerebral,
caracterizada por distúrbio
de função mental com
delírio, inadequação
emocional, prejuízo da
memória ou concentração.
• Nos quadros focais
encontram-se acidente
vascular cerebral (AVC),
mielite transversa,
síndrome de Guillain-Barré,
meningite asséptica,
neuropatia craniana e
periférica (mononeurite
multiplex) e desordens de
movimento, como
tremores, coreia e
parkinsonismo.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
8. envolvimento cardiovascular
• Pericardite
- Sintomática em 20-30% durante o curso da doença
- Pode ser observada como a primeira manifestação em 5% dos casos
- Quadro agudo pode ser isolado ou fazer parte de serosite generalizada, particularmente
associada à pleurite
- Ecocardiograma: derrame ou espessamento pericárdico em até 30% dos pacientes com Lúpus,
mesmo assintomáticos
- Evolução habitualmente subaguda ou crônica, explicando sua rara tendência ao tamponamento
• Miocardite clínica
- Encontrada no decorrer do LES
- Taquicardia persistente + sinais clínicos de insuficiência cardíaca de instalação aguda
normalmente acompanhada de alterações no mapeamento cardíaco e em enzimas musculares.
• Endocardite de Libman-Sacks:
- Vegetações verrucosas localizadas próximas das bordas valvares
• Aterosclerose precoce e acelerada:
- Importante causa de mortalidade na doença devido à infarto agudo do miocárdio em mulheres
jovens
- Processo é multifatorial: lesões endoteliais, dislipidemias, menopausa precoce, hipertensão
arterial e da insuficiência renal, além da atividade da doença por si só.
9. envolvimento pulmonar
• Doença intersticial pulmonar, apesar de muito comum nas demais colagenoses, é considerada RARA
no lúpus.
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Obs: Vacinação: A atualização da carteira vacinal deve ser sempre feita, de preferência com a
doença inativa e antes de qualquer terapia imunossupressora (sintética ou biológica)
Vacinas sem organismos vivos: influenza IM; pneumocócica; tétano; difteria; coqueluche;
hemófilos tipo B; hepatite viral A e B; poliomielite (inativada – VIP); meningocócica; HPV; febre
tifoide (IM) e raiva são seguras em qualquer fase do tratamento e geralmente determinam
imunogenicidade adequada.
Vacinas prioritárias:
a) Contra pneumococos (polissacarídica 23-valente): a cada cinco anos conforme
recomendação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil.
b) Contra influenza: anualmente
c) Contra difteria e tétano (vacina dT): seguir o PNI.
As vacinas com vírus vivos (MMR, herpes zoster e febre amarela) devem ser evitadas. São
usadas apenas em casos especiais, após avaliação conjunta com infectologista
vasculites
PROF. Maria isabel souto
1. conceito
Processo clínico e patológico resultante da inflamação dos vasos, os quais podem ficar com a luz
ocluída, o que acarreta isquemia de órgãos e tecidos.
• Pode comprometer um único órgão ou vários
• Pode acometer qualquer vaso, de qualquer calibre.
• Grupo heterogêneo de doenças, pode haver superposição entre as mesmas.
Vasculite, então, é uma doença, e não somente um achado nas lâminas.
3. classificação
Quando falamos de vasculites de grande, médio e
pequeno calibre, estamos falando de um vaso que
predominantemente e classicamente representa
aquela doença. Por exemplo: a doença de Takayasu é uma vasculite de vasos de grande calibre. Entretanto,
isso não quer dizer que um paciente com Takayasu não tenha lesão em pequenos vasos também, e sim
que é predominante a lesão nos vasos de grande calibre. Sendo assim, temos as vasculites de:
• Grandes vasos: Takayasu e temporal/de células gigantes
• Médios vasos: Kawasaki e Poliarterite nodosa
• Pequenos vasos: predominam as outras
Entretanto, a classificação de Chapel Hill para as vasculites inclui, além do tamanho do vaso (como citado
acima), outras características:
• Presença do anticorpo anticitoplasma de neutrófilos (ANCA)
• Demonstração de etiologia específica associada (Ex: infecção por hepatite B, C; drogas)
• Padrão de órgão acometido
• Achados histopatológicos: inflamação granulomatosa e deposição de imunocomplexos.
4. fisiopatologia
Ocorre a redução do calibre do vaso, tromboses e hemorragias.
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
5. manifestações clínicas
Vasos de pequeno calibre:
• Púrpura palpável (pois geralmente a púrpura “não-palpável” é um sinal de plaquetopenia; essa é
palpável por conta de ser papulosa, há uma elevação ali; há vasos que romperam, mas de permeio
tem um vaso com uma parede inflamada)
• Lesões urticariformes:
- Pápulas, bolhas, necrose
• Livedo reticular
• Mononeurite múltipla (neuropatia periférica assimétrica)
• Glomerulonefrite
• Hemorragia digestiva
• Hemorragia pulmonar
• Esclerite
Obs: Anticorpos anticitoplasma de neutrófilos – ANCA: ÚNICO teste específico para os 3 tipos de vasculite
primárias
Marcadores sorológicos das Angiítes / GN Crescêntica:
• Padrões de ANCA:
- C – ANCA (anti-Proteinase 3): Padrão granular citoplasmático
7. investigação diagnóstica
Sorológico:
• ANCA, FAN, anti-DNA, anti-SM, FR, anti-RO, entre outros
Histopatológico:
• Biópsia:
- Inflamação da parede do vaso
Imagem:
• Doppler, arteriografia, angiotomografia, angiorresonância magnética:
- Estreitamento e afilamento de vasos
- Formação de aneurismas ou microaneurismas (aspecto em “colar de contas”)
Poliangíite microscópica:
• Glomerulonefrite rapidamente progressiva
(glomerulonefrite focal e segmentar com crescentes)
• Hemorragia alveolar (vasculite pulmonar) => tanto a
hemorragia como a glomerulonefrite fazem parte da
Síndrome “Pulmão-Rim”.
• Mononeurite múltipla ou polineuropatia Hemorragia alveolar Rim em “picada
• P-ANCA+ de pulga”
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Uveíte anterior
Patergia
MIOPATIAS INFLAMATÓRIAS
PROF. Maria isabel souto
3. etiologia
Fatores imunológicos: Presença de linfócitos T no tecido muscular na maioria dos pacientes e a
frequência de auto anticorpos indicam que mecanismos autoimunes estão envolvidos.
Fatores genéticos
Fatores ambientais: Drogas, radiação UV e infecções podem servir de gatilhos, mas não são NUNCA
elementos isolados.
• Dermatomiosite juvenil
• Miosite por Corpúsculo de Inclusão (MCI)
• PM/DM associada a neoplasia
• Miosite associada a outra doença reumática autoimune (ex: Lúpus)
6. patogênese
Polimiosite e Miosite por Corpúsculo de Inclusão:
• Ambas apresentam biópsias muito parecidas:
- O dano da fibra muscular é mediado pela célula T
- O infiltrado predomina no endomísio e é composto por linfócitos TCD8 (citotóxicos)
Dermatomiosite:
• O infiltrado é composto por linfócitos TCD4, linfócitos B e relacionado com a resposta humoral, com
participação de componentes do complemento.
• O infiltrado é perivascular e no perimísio
Epidemiologia:
• Predomínio em homens (diferente da dermato e polimiosite)
• Idade acima de 50 anos
Resposta ao tratamento:
• Resposta insatisfatória ao corticoide (também diferente da dermato e polimiosite)
Características clínicas:
• A fraqueza muscular é proximal e distal. Predominante nos quadríceps, nos flexores longos dos
dedos das mãos e do punho e nos músculos anteriores das pernas.
• Frequentemente assimétrica
Temporalidade:
• Os sintomas da miosite podem preceder em 2-3 anos o surgimento das neoplasias
• O risco de surgimento das neoplasias é maior nos 5 primeiros anos após diagnóstico da doença
Características:
• Clínicas:
- Lesões cutâneas atípicas, com mais necrose
cutânea e vasculite que o normal (também faz
muita vasculite, como a DM juvenil)
• Laboratorial:
- VHS persistentemente elevada
• Terapêutica:
- Refratariedade ao tratamento
Eletroneuromiografia:
• Identifica padrão miopático
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi e Samantha seifert
Ressonância magnética:
• Identifica áreas claras de aumento de sinal em
T2 (edema muscular)
Biópsia muscular:
• Padrão ouro no diagóstico de miopatia
inflamatória. O músculo pode ser selecionado,
utilizando a eletroneuromiografia ou, preferencialmente, a ressonância.
9. SÍNDROME ANTI-SINTETASE
Características sorológicas:
• Identificada em pacientes com anticorpos anti-sintetase (contra aminoacil-tRNA sintetases): Anti Jo1
• O mais comum é o Anti Jo1: presente em 15-30% das PM e 10% das DM
• FAN negativo
osteoartrite
PROF. Mirhelen mendES
1. introdução
Durante décadas a osteoartrite (OA) foi considerada uma fatalidade inexorável de consequências
inevitáveis ao envelhecimento, sem, no entanto, receber sua devida importância.
2. definição
Ativa participação da sinóvia, da cartilagem e do osso subcondral em um processo dinâmico, decorrente
de um estado inflamatório crônico de baixa intensidade, porém contínuo, levando a um estado de
insuficiência articular. É, portanto, uma doença crônica, não-sistêmica, progressiva e degenerativa.
De acordo com o American College of Reumatology (ACR), a osteoartrite é caracterizada como um grupo
de condições com sintomas e sinais articulares que se associam a:
• Defeitos da integridade da cartilagem articular
• Modificações no osso subjacente e margens articulares
Sendo assim, entende-se que a via final da osteoartrite é a destruição e incapacidade da articulação de
funcionar, isto, é, de prover mobilidade. Essa destruição leva a uma incapacidade funcional.
Excessos no uso das articulações podem levar a osteoartrite e, então, destruição. O exercício físico em
excesso, por exemplo, é capaz de causar uma ampla inflamação e, portanto, atletas também estão sujeitos
a tal condição. Obviamente, o exercício físico é importante, mas em condições excessivas (tudo que é acima
do fisiológico), pode haver osteoartrite.
3. fisiopatologia
Os condrócitos se “ativam”, isto é, saem de seu estado normal, proliferando-se e produzindo proteínas e
enzimas causadoras de degradação da matriz extracelular. A degradação do colágeno libera fragmentos
que ativam o sistema imunológico, havendo envolvimento de células inflamatórias como neutrófilos, além
de interleucinas e citocinas, que lesarão o osso subcondral e levarão à sinovite. Basicamente, é causada
pelo desequilíbrio entre a formação e a destruição da cartilagem, assistida por fatores bioquímicos,
genéticos e inflamatórios, tendo como resultado final a insuficiência articular por conta da insuficiência do
próprio condrócito (produtor da matriz extracelular e colágeno tipo 2 da cartilagem articular). Com essa
insuficiência, não há produção de glicosaminoglicanos, que são responsáveis pela “atração” da água a partir
de um gradiente hidrofílico. Essas moléculas são intrínsecas à viscoelasticidade e resistência à compressão.
O envelhecimento, uso excessivo das articulações, a obesidade e traumas podem causar osteoartrite.
Pode se manifestar com dor (principal sintoma), incapacidade, além de crepitação. A tendência é
imobilizar (seja com tala, cinta, etc.) a articulação acometida, o que não é benéfico, pois causaria atrofia de
musculatura. A manutenção do tônus muscular é muito importante para evitar a osteoartrite!
4. tratamento
Deve ser multiprofissional e envolver a perda de peso, atividade física com enfoque no alinhamento
articular e fortalecimento muscular, além da mudança de hábitos (deixar o tabagismo e adotar alimentação
saudável). Não deve haver sobrecarga na atividade física e não deve ser dolorosa.
O objetivo do tratamento é melhorar a dor e a função (melhorando então a qualidade de vida do paciente),
retardar a evolução da doença (ou seja, revitalizar o condrócito insuficiente, manter a hidrofilia da articulação,
preservar a morfofuncionalidade cartilaginosa [volume e elasticidade]).
Não há uma terapia isolada.
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
fibromialgia
PROF. Mirhelen mendES
1. conceito
Síndrome dolorosa musculoesquelética crônica, não inflamatória, não auto imune e sem causa orgânica
detectável.
Protótipo da Síndrome de Sensibilização Central da dor – grande exacerbação da dor
Caracterizada pela presença de dor difusa pelo corpo e sensibilidade exacerbada a palpação de
determinados sítios dolorosos – “TENDER POINTS”.
• É diferente de trigger points/“pontos-gatilho”, isto é, um ponto que gera dor e desconforto local. O
trigger point não é fibromialgia, mas o estímulo frequente das fibras nervosas pode desenvolver
fibromialgia.
2. epidemiologia
Descrita desde a infância até acima de 60 anos.
Pico de idade para diagnóstico entre 40 e 50 anos.
Média de idade para início dos sintomas- 29 e 37 anos.
Predominância do sexo feminino: 80-90%.
Polimorfismos nos genes que codificam receptores de serotonina (5-HT2A), dopamina (D4) e
transportadores de serotonina.
Fatores ambientais: traumas psicológicos e físicos, apneia do sono, infecções virais (EBV, Parvovírus 19)
estresse emocional e inflamação articular crônica.
3. critérios de classificação
Critérios maiores:
1. Dor difusa com no mínimo três meses de duração
2. Múltiplos tender points em pelo menos seis locais anatômicos especificados - NÃO DEVEM SER
UTILIZADOS COMO CRITÉRIO ÚNICO! Não são patognomônicos da fibromialgia!
3. Ausência de doença subjacente como causa para fibromialgia
Critérios menores:
1. Instruções de ondas alta na fase não REM do Sono no EEG
2. Sono não restaurador
3. Rigidez matinal
4. Fadiga e cansaço diurno
5. Edema e disestesias subjetivas (para o paciente está inchado,
para os médicos não – é subjetivo e deve ser valorizada a
palavra do paciente)
6. Agravamento com frio, estresse ou atividade
7. Melhora com repouso, calor e condicionamento físico
8. Cefaléia crônica (enxaqueca, tensional)
9. Síndrome do cólon irritável
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
4. classificação da fibromialgia
Primária:
• Achados característicos sem causa subjacente
Secundária:
• Achados característicos secundários + Tender Points; melhoram com tratamento da doença de base.
Regional/Localizada:
• Dor miofascial + Tender Points, LER/DORT.
Do idoso:
• Similar a forma primária
• Diferenciar: Polimialgia reumática, Parkinson, Síndromes Virais, Neurodegenerações
Infanto-Juvenil:
• Similar a forma primária
5. quadro clínico
• Tender Points na presença de queixa clínica.
• Dor associada a distúrbios do sono e fadiga (é uma dor difusa, irradiada, de caráter idiopático)
• Rigidez Matinal, sensação subjetiva de inchaço em extremidades, diestesias, xerostomia, vertigens,
palpitações, Raynaud.
• Enxaquecas, cólon irritável, síndrome uretral feminina, tensão pré-menstrual.
• Dor musculoesquelética localizada ou regional e síndromes miofasciais.
• Alterações do humor e depressão.
7. diagnóstico diferencial
8. tratamento
O tripé não medicamentoso inclui: diário de sono, diário de dor (o que deflagra, desafios emocionais) e
terapias comportamentais breves (ajudam paciente a entender os gatilhos da dor). Deve ser realizada
atividade aeróbica moderada, exercícios de força excêntricos, de flexibilidade e equilíbrio. Acupuntura e
hidroterapia podem auxiliar.
Quanto ao medicamentoso: antidepressivos, gabapentinoides, relaxantes musculares,
antiparkinsonianos, analgésicos e indutores do sono. Não são recomendados benzodiazepínicos, AINEs,
carisoprodol e opioides (exceto tramadol).
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
gota
PROF. Marcella azevedo
1. o que é gota?
É uma artrite inflamatória mediada por cristais. Existem 2 conceitos bastante importantes que devem ser
entendidos para que essa doença faça sentido. Ter ácido úrico (AU) elevado no sangue não quer dizer ter
gota. Existe um estado de hiperuricemia elevado que é assintomático. A gota, de fato, ocorre com ácido
úrico elevado, mas nem todos os pacientes que o possuem alto desenvolvem a doença inflamatória.
Hiperuricemia (Ácido Úrico > 6,8 mg/dL):
• Minoria dos pacientes desenvolve gota
• Aumento maior que 20% do risco de desenvolver gota se AU > 9-10 mg/dL
Para entender: é como se nosso sangue fosse um copo de água. Se jogarmos açúcar num copo de água,
até certo ponto o açúcar dissolve. No momento em que se ultrapassa o limiar de saturação, haverá depósito
daquele açúcar. É mais ou menos isso que acontece na doença. O Monourato de sódio (MUS), um sal que
é produzido através do metabolismo (e também através de alimentação, principalmente em alimentos ricos
em purina) vai se diluindo no sangue até certo ponto. Após esse ponto, o ácido úrico começa a se depositar
em alguns locais, como as articulações (são locais frios, então há preferência ao depósito) e membros
inferiores. A história característica é que a dor seja na podagra (a primeira metatarsofalangiana), mas pode
ocorrer em qualquer outra articulação.
Há também um aumento do risco cardiovascular desse paciente: pode se depositar nas paredes de
vasos, sendo então uma doença metabólica e que precisa ser tratada, independentemente do quadro de
dor articular do paciente.
2. epidemiologia
• Forma mais comum de artrite inflamatória (3,9% nos EUA)
• É rara em homens menores de 25 anos e mulheres pré-menopausa
• Fatores de risco:
- Aumenta com a idade
- Homens > mulheres
- Síndrome metabólica (paciente hipertenso, dislipidêmico, diabético possui maior risco de ácido
úrico elevado)
- História familiar
- Alta ingestão de purinas (carne vermelha, cerveja, crustáceos, alguns peixes como sardinha...)
- História familiar de gota
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
- Etilismo (algumas bebidas, principalmente a cerveja, possuem alto teor de purina e também por
questões metabólicas que levam a uma maior produção de ácido úrico)
- Insuficiência renal
- Uso de medicamentos (podem estar relacionadas à eliminação de ácido úrico pelo corpo)
3. fisiopatologia
Existem 2 formas principais de desenvolver a hiperuricemia:
Superprodução de urato:
• Hereditária:
- Aumento de PRPP sintetase
- Deficiência de HGPRT, glicose-6-fosfatase, frutose-1-fosfato aldolase
• Adquirida:
- Excesso de consumo de purinas
- Degradação hepática acelerada de ATP (também participa da fisiologia do AU)
> Abuso de álcool e ingestão de frutose (causam aumento dessa degradação)
- Aumento do turnover de nucleotídeos
Hipoexcreção renal de urato (90%): A principal excreção de ácido úrico pelo corpo é renal.
• Urina 24h: < 800mg
• Doença renal
• Intoxicação por chumbo
• Acidose lática ou cetoacidose
• Hiperparatireoidismo
• Hipotireoidismo
• Acidose respiratória
• Medicamentos:
- Drogas hiperuricemiantes (reduzem excreção renal; estimulam URAT1): Álcool, ciclosporina,
tiazídicos, furosemida, pirazinamida, AAS em baixa dose, etambutol, ácido nicotínico, levodopa
- Drogas hipouricemiantes (aumentam excreção renal; inibem URAT1): Losartana, probenecida,
benzobromarona, AAS em alta dose, lesinurade
Como diferenciar esses pacientes? Tem muito ácido porque excreta pouco ou produz demais?
• É necessário fazer urina de 24h (sem que o paciente use nenhum medicamento para abaixar durante
24h), e assim que for menor que 800mg nessa urina esse paciente será hipoexcretor.
Obs: Se a forma excretora principal é pelo rim e há um paciente com uma excreção exagerada (pois
produz demais), se aumentamos a excreção ainda mais em um paciente que já forma cálculos renais por
AU, ele irá formar mais cálculo ainda. Não podemos, nesse paciente com superprodução, mexer na
excreção: deve mexer na superprodução!
4. álcool e hiperuricemia
30-50g/dia: aumento do risco de gota em 2-2,5x
Aumento da síntese de AU:
• Acelera a degradação hepática de ATP
• Cerveja: grande quantidade de purina
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
5. CLÍNICA
Monoartrite (é o mais
comum, mas pode ocorrer em
mais de uma): joelhos,
tornozelos, punhos e dedos
(art. + frequent. acometidas)
Passa por períodos de crise
e períodos assintomáticos, o que faz com que não possua boa adesão medicamentosa, resultando em crises
mais frequentes e períodos intercríticos mais curtos; ou ainda afetando mais de uma articulação ao mesmo
tempo; ou mesmo uma refratariedade maior ao tratamento (por mais que tenhamos utilizado o mesmo anti-
inflamatório que funcionava no início).
Se não tratar, a depender da gravidade da doença, pode desenvolver os Tofos (depósitos de monouratos
de sódio). Geralmente eles são pequenos, mas podem desenvolver “grandes massas” nas articulações,
limitando a movimentação. Os tofos possuem muita propensão à infectar, e a cicatrização não é muito boa
nessas áreas. A remoção dessas estruturas só ocorre caso vá aumentar em muito a qualidade de vida do
paciente. O tratamento a longo prazo pode diminuir o tamanho do tofo.
Fatores que levam a desenvolver crises de gota:
• Trauma/exercícios (chutar uma bola, colocar um sapato que “machuca o pé”)
• Libação alcóolica
• Início de hipouricemiante
• Doenças agudas
• Estresse emocional
• Pós-operatório
• Ingestão de frutose e purina
• Desidratação
• Radioterapia ou quimioterapia
6. diagnóstico
Aspiração do líquido sinovial ou tofo (padrão-ouro):
• Durante crise ou período intercrítico
• Cristais de MUS: forma de agulha com birrefringência
negativa
- Microscópio de luz polarizada
- Amarelos quando paralelos ao eixo do compensador
• Líquido sinovial com caráter inflamatório (20-100 mil
leucócitos/mm3; polimorfonucleados)
• Gram e culturas: excluir artrite séptica
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
- Obs: Sobre dosar AU no sangue: O ácido úrico pode não estar elevado durante o período de
crise. Portanto, não podemos levar essa dosagem como padrão para dar diagnóstico, e sim a
aspiração do líquido sinovial.
Imagem:
• Radiografia
• USG
• DECT
(tomografia
por dupla
emissão)
• Colchicina (em pacientes com IRA, alérgico ao AINE, tratamento refratário ao AINE por 7 dias)
- Tratamento da crise de gota (dose elevada) – uso
precoce (geralmente muito usada quando paciente já
sabe que vai virar crise de gota)
- Prevenção de novas crises (doses mais baixas)
- Contraindicação: doença renal e hepática concomitante,
gestante, doença hepática grave
- Ajuste de dose na IRC e medicamentos CYP450
- Efeitos colaterais dose-dependentes muito comuns: náuseas e diarreias
- Faz uso da Colchicina até que ele fique 6 meses sem ter crise e consiga atingir um nível de AU
desejado [Por que isso? Pois sempre que introduzimos uma medicação hipouricemiante
aumenta risco de ter crise, já que estamos manipulando a diluição do acido úrico na articulação]
• Corticoide sistêmico
• Infiltração articular com corticoide (geralmente de uma articulação só por ser monoarticular)
Objetivo:
• AU < 6 mg/dL ou < 5mg/dL (tofo)
Inibidor da xantina-oxidase
• Alopurinol – primeira linha (análogo de hipoxantina)
• Febuxostate (não-análogo de hipoxantina, também faz inibição da xantina-oxidase; é mais potente,
mas não facilmente disponível no Brasil)
- “Start slow, go slow” = prevenção de crises
Uricase – Pegloticase (Não existe no Brasil; baixa drasticamente a concentração de AU; intravenoso)
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
DROGAS MODIFICADORAS DE
Atividade De DOENÇA: sintéticos
PROF. Marcella azevedo
1. dmards
Muito usadas na reumatologia. Porque esse grupo de drogas recebe tal nome?
• Suprimem a inflamação
• Melhoram sintomas e função
• Limitam o dano articular
• Redução da progressão radiográfica
São elas:
• Glicocorticoides
• Hidroxicloroquina
• Metotrexato
• Azatioprina
• Sulfassalazina
• Leflunomida
• Ciclosporina
• Micofenolato
• Ciclofosfamida
2. glicocorticoides
Variedade de preparações comerciais: não são medicações tão simples quanto aparentam, existem
vários modos de administração como oral, intravenoso, intra-articular, intramuscular...
Não há uma posologia definida, as doses são definidas da seguinte maneira:
• Baixa: até 7,5 mg/dia de prednisona -> Analgesia e anti-inflamação
• Moderada: 7,5-30 mg/dia de prednisona -> Combater infecções leves bacterianas ou virais (ex:
sinusite)
• Alta: 30-100 mg/dia de prednisona -> Analgesia e anti-inflamação local (não há risco de
imunossupressão caso o período seja curto)
• Muito alta: > 100 mg/dia de prednisona -> Analgesia, anti-inflamação e imunosupressão
Quando falamos de X mg/dia, usamos o equivalente de prednisona. Existe um calculo de equivalência
entre as doses de cada corticoide.
Biodisponibilidade:
• Prednisona e prednisolona são semelhantes
• Não é afetada pela gestação
Metabolismo:
• Ligam-se fracamente às globulinas ligadoras de cortisol
• Prednisona: metabolizada no fígado (citocromo P450) em prednisolona
• Prednisolona é preferível na disfunção hepática (nesses casos é preciso dar o medicamento já
“pronto”, sem aguardar a conversão hepática)
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Depuração:
• Aumenta com o horário de administração do dia (manhã mais lenta)
• Aumenta com a dose (quanto mais corticoide, maior turnover/depuração)
Dose fracionada:
• Maior efeito anti-inflamatório, entretanto maior imunossupressão
• Influencia mais o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
Aplicações:
• Artrite reumatoide
• Polimialgia reumática
• Arterite temporal/de células gigantes
• Arterite de Takayasu
• Lúpus eritematoso sistêmico
• Miopatias inflamatórias
• Vasculites sistêmicas
• Dose oral baixa X dose imunossupressora X pulsoterapia
3. hidroxicloroquina
Posologia: 3-5 mg/kg/dia
Pico de concentração plasmática: 3h
Biodisponibilidade: 70%
Droga de depósito com grande volume de distribuição – acumula-se nas hemácias, olhos, rins, fígado e
pulmões.
Meia-vida: 40-50 dias
Metabolização hepática / Eliminação renal
• Leucopenia
• Cuidado na deficiência de G6PD – hemólise e alteração da função renal
• Gravidez: categoria C (atravessa placenta / não é teratogênico)
- Lactação liberada
4. ciclofosfamida
Mecanismo de ação:
• Alquilante do DNA: efeito inibitório nas células B e T
• Impede a replicação celular e transcrição: citotóxica para linfócitos
• Reduz células B e suprime a função de células T
Biodisponibilidade:
• VO: 97%
• Meia vida: 4-8 horas
• Metabolização hepática / Eliminação renal
Observações:
• Disponível VO e IV / Diversos esquemas posológicos
• Ajuste para função renal (paciente que retêm urina pode aumentar efeito adverso pois demora mais
para eliminar o fármaco)
• Contraindicado na gestação e lactação – má formação (abortivo e teratogênico)
• Não pode ser administrada em vigência de infecção!!
Efeitos adversos:
• Supressão da medula óssea
- Exame laboratorial no nadir* e antes da próxima infusão
* Nadir é o tempo em dias que decorre entre a administração do medicamento citotóxico e a
ocorrência do menor valor de contagem hematológica, ou seja é o momento em que os
valores das células sanguíneas atingem o seu valor mais baixo.
• Toxicidade gonadal
- Aumenta com a idade e a dose (VO > IV)
- Mulher:
> Falência ovariana precoce
> Prevenção com agonista de GnRH (leuprolide IM 2 semanas antes da infusão)
- Homem:
> Azoospermia e disfunção testicular
> Prevenção: testosterona IM a cada 15 dias
• Alopécia reversível
• Infecções
• Teratogenicidade
• Náuseas 3-5 dias após a infusão
• Anorexia, estomatite, pancreatite
• Aumento de neoplasias hematológicas e mielodisplasia
• Toxicidade vesical:
- Cistite hemorrágica
> Prevenção: hidratação, evitar dose noturna, uso de Mesna (medicamento)
- Câncer de bexiga
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
5. azatioprina
Mecanismo de ação:
• Metabólitos ativos: 6-tioguanina e 6-mercaptopruina
• Inibe a síntese de ácido inosínico, metabolismo da purina e a divisão celular
• Inibe a função de células B e T, produção de imunoglobulinas e IL-2
Biodisponibilidade:
• Ação terapêutica lenta: 8-12 semanas
• Absorção no TGI é variável (Biodisponibilidade: 80%)
• Meia vida: 3-5h
• Metabolização hepática / eliminação renal
• Posologia: 1-3mg/kg/dia
Efeitos adversos:
• Intolerância gastrointestinal: náuseas
• Mielotoxicidade – reversível e dose-dependente
• Aumento das transaminases
• Hepatite colestática
• Pancreatite
• Risco de infecção
• Risco de malignidade
• Segura na gestação e amamentação
• Acompanhamento laboratorial
6. micofenolato
Mecanismo de ação:
• Metabólito ativo: ácido micofenólico (97% ligado à albumina)
• Inibidor seletivo reversível, não competitivo da inosine monofosfatodesidrogenase
• Inibe a síntese de purinas
• Inibe a proliferação de linfócitos B, T e de imunoglobulinas
• Interfere com a adesão leucocitária
• Inibição da maturação das células dendríticas
Biodisponibilidade: 94%
• Administração em jejum
• Eliminação renal e fecal [DIFERENTE!!!]
• Posologia: 2-3g/dia
- Micofenolato de mofetila 500mg = micofenolato de sódio 360mg
- Ajuste para função renal
• Gestação:
- Teratogênico em mulheres e homens
- Aguardar 6 semanas a 3 meses após a interrupção da medicação para gestação ou aleitamento
Efeitos adversos:
• Intolerância gastrointestinal:
- 20-30% de descontinuação
- Fazer aumento progressivo de dose, micofenolato de sódio, dose fracionada
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
• Mielotoxicidade
- Monitorar a cada 8-12 semanas
- Leucopenia–10%
• Hepatotoxicidade
• Risco de infecção
• Cefaleia, vertigem, insônia, ansiedade
• Risco de neoplasia (linfoma)
• Rash
7. metotrexato
Mecanismo de ação:
• Análogo do ácido fólico: antagonista competitivo das enzimas envolvidas na síntese de purinas,
pirimidinas e replicação celular
• Inibe a proliferação celular (fase S) através do aumento de adenosina
Efeitos adversos:
• Gastrointestinais: náuseas, mucosite
• Hepatotoxicidade
- Fatores de risco: uso mais de 1x/semana, não suplementação com ácido fólico, obesidade,
dislipidemia
- Monitorização trimestral com transaminases
- Solicitação de sorologias virais antes do início
• Toxicidade pulmonar:
- Fatores de risco: > 60 anos, hipoalbuminemia, insuficiência renal, acometimento pulmonar
prévio, uso concomitante de outros DMARDs, administração diária.
- Clínica subaguda (dispneia, tosse, febre); imagem com infiltrado em vidro fosco e consolidações
- Diagnósticos diferenciais: infecção, neoplasia, acometimento pela doença de base
• Risco de infecções
• Doenças linfoproliferativas
• Mielossupressão
- Principalmente com doses altas
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
• Teratogenicidade
- Mulheres:
> Contraindicado na gestação e aleitamento
> Aguardar 3 meses para concepção
- Homens:
> Oligospermia transitória
> Sem efeitos adversos na gestação (diferente do micofenolato; sem problema no homem!)
8. leflunomida
Mecanismo de ação:
• Metabólito ativo: A77 1726
- Inibe a dihidroorotato desidrogenase
- Inibe a síntese de pirimidinas
- Inibe a proliferação de linfócitos
• Biodisponibilidade alta
• Meia vida: 2 semanas
• Eliminação renal e fecal [DIFERENTE!!]
• Concentração estável: 7 semanas
• Posologia: 20mg/dia
• Pode ser associado ao MTX ou como 2ª linha a ele
Efeitos adversos:
• Gastrointestinais: náuseas e diarreia
• Hepatotoxicidade semelhante ao MTX
- Aumento das transaminases > 3LSN: interromper + avaliar colesteramina
• Mielotoxicidade
• Toxicidade pulmonar semelhante ao MTX
• Risco de infecção
• Rash cutâneo
• Neuropatia periférica
• Aumento de complicação em ferida operatória ortopédica
• Teratogenicidade: Contraindicada na gestação e aleitamento
- Interromper 3 meses a 2 anos antes da concepção
9. sulfassalazina
• Pró-droga metabolizada no intestino grosso em sulfapiridina (absorvida) e ácido 5-aminosalicilato
(excretado nas fezes).
• Não pode ser usado alérgicos à sulfa ou nimesulida (reação cruzada)
• Mecanismo de ação não é claro: prevenção do estresse oxidativo
• Dose: 2-3g/dia – elevação gradual
• Aplicações:
- Artrite reumatoide: terapia tríplice
- Espondiloartrites
Efeitos adversos:
• Anorexia
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
• Cefaleia
• Vômitos, diarreia, náuseas
• Rash / alergia à sulfa
• Oligospermia temporária
• Leucopenia / anemia / agranulocitose
• Hepatotoxicidade
• Pneumonia eosinofílica
• Laboratório a cada 3 meses
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
DROGAS MODIFICADORAS DE
Atividade De DOENÇA: biológicos
PROF. Mirhelen mendES
1. introdução
As doenças inflamatórias são incapacitantes, ocasionam dano e insuficiência articular, com
comprometimento da qualidade de vida, perda de produtividade, além de levarem ao uso de vários recursos
do sistema de saúde.
O conceito atual do tratamento, então, envolve:
• Diagnóstico precoce (menos de 6 meses)
• Início imediato das chamadas drogas modificadoras de doença (DMARDs)
• Esquemas terapêuticos mais efetivos
- Combinação de DMARDs
- Agentes biológicos
• Monitoramento rigoroso da resposta terapêutica (clinica, laboratorial e radiológica)
Antes de iniciar DMARDs sintéticos ou biológicos, deve-se pedir e atualizar o cartão vacinal do paciente,
e as vacinas indicadas devem ser administradas preferencialmente antes do tratamento com
imunossupressores ou com agentes biológicos, pois a resposta à vacina pode ser diminuída.
A aula de hoje focará nos DMARDs, fármacos que, além de promover redução da inflamação e redução
da incapacidade, promovem qualidade de vida e diminuem a disfunção do doente.
2. conceitos
Biotecnologia: qualquer aplicação tecnológica que utiliza sistemas biológicos, organismos vivos ou seus
derivados para produzir ou modificar produtos ou processos para um uso específico.
Medicamentos biológicos (também denominados medicamentos biofarmacêuticos, biotecnológicos ou
produtos medicinais bioterapêuticos): O princípio ativo de um medicamento biológico é uma substância
biológica. Uma substância biológica é uma substância produzida por uma fonte biológica ou dela extraída.
Para caracterizar e determinar a qualidade de uma substância biológica é necessário combinar testes
físicos, químicos e biológicos ao processo de produção e controle.
Nem todos os fármacos são biológicos. Eis a diferença:
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Drogas modificadoras de doença (DMARDs): São medicamentos que suprimem em parte ou totalmente
a atividade inflamatória, bloqueando a evolução natural da doença. Grupo heterogêneo de agentes
farmacológicos construídos por relevante avanço biotecnológico. Possuem diferentes mecanismos de ação.
Existem os DMARDs sintéticos (DMARDs tradicionais), os DMARDs biológicos e os DMARDs biossimilares.
Biossimilar: Medicamentos contendo moléculas obtidas por tecnologia de DNA recombinante, similares
a outros produtos biológicos cujas patentes já expiraram. Possuem origem molecular complexa e não tem
como produzir cópias idênticas. O exercício de biossimilaridade de um medicamento biológico deve
compreender aspectos de qualidade, segurança e eficácia.
Medicamento genérico (NÃO É O MESMO QUE BIOSSIMILAR): Originário de um fármaco de baixo peso
molecular cuja patente tenha sido expirada. As propriedades farmacológicas e terapêuticas são equivalentes
ao fármaco de origem.
Motivos para biológicos não serem o mesmo que genéricos:
• Os fármacos convencionais são produzidos por técnicas químicas. As moléculas são, em geral,
perfeitamente conhecidas.
• Os produtos bioterapêuticos são moléculas proteicas grandes e complexas, as quais são produzidas
por células vivas (biotecnologia).
• É extremamente improvável produzir duas moléculas proteicas bioterapêuticas idênticas (inovador e
biossimilar) com diferentes processos devido ao seu tamanho e complexidade.
3. moléculas envolvidas
Antes de falar dos fármacos em questão, é necessário citar as moléculas envolvidas:
• TNF-alfa: expresso na superfície transmembrana dos macrófagos. A porção extracelular é clivada
pela enzima conversora de TNF-alfa (TACE) para formar uma molécula solúvel. Essa, por sua vez,
se liga a 2 receptores: TNF-R1 e TNF-R2, ambos na superfície celular da maioria das células,
deflagrando uma variedade de eventos intracelularmente, incluindo produção de prostaglandinas,
citocinas pró-inflamatórias e expressão de moléculas de adesão. Além disso, ele também
potencializa o recrutamento de células pró-inflamatórias no interior de condrócitos e sinoviócitos,
potencializando a destruição do osso e da cartilagem.
• IL-1: citocina pró-inflamatória que existe de 2 formas: IL1-Alfa (ligada à membrana) e IL1-Beta
(secretada no espaço extracelular após clivagem ela enzima conversora de IL-1Beta. A porção beta,
por sua vez, se liga a receptores de sinalização intracelular, deflagrando resposta inflamatória e
potencializando a produção de auto anticorpos, sendo envolvido inclusive na produção do fator
reumatoide (portanto, IL-1 é encontrada em altos títulos na AR)
• IL-6: citocina que se liga ao receptor IL-6R, constitutivamente associada com glicoproteína 130 nas
membranas celulares dos hepatócitos e leucócitos. A forma solúvel do IL-6R interage com GP130,
causando efeitos pró-inflamatórios como produção de IL-17, recrutamento de neutrófilos e ação
sinérgica de outras citocinas. Atua também na formação do “pannus” da AR.
4. DMARDS BIOLÓGICOS
São imunomoduladores que diminuem a inflamação. Há uma discussão sobre serem ou não
imunossupressores, mas existem sim propriedades de supressão das células inflamatórias.
A nomenclatura dos biológicos se baseia na utilização de sufixos que identificam a sua natureza:
anticorpo monoclonal ou proteína de fusão:
• Ximabe – anticorpo monoclonal quimérico
• Zumabe – anticorpo monoclonal humanizado (extrai células humanas para fazer anticorpo)
• Umabe – anticorpo monoclonal humano (próprio material humano é multiplicado)
• Cepte – proteína de fusão
Faculdade de Medicina da UFRJ Alberto Grimaldi
Resumidamente,
existem as seguintes
classes:
• Anti-TNF
• Depletor de
linfócitos B
• Bloqueador
da IL-6
• Inibidor
da IL-1
• Proteína
de fusão
6. vacinação
Antes de iniciar DMARDs sintéticas ou biológicas, deve-se pedir e atualizar o cartão vacinal do paciente,
e as vacinas indicadas devem ser administradas preferencialmente antes do tratamento com os
imunossupressores ou com os agentes biológicos, pois a resposta à vacina pode ser diminuída.
Alberto Grimaldi Medicina Interna II – M6 2020.1
Vacinas que não contenham organismos vivos são seguras e devem ser feitas 14 dias antes do início da
medicação:
• Influenza (IM)
• Pneumocócica (7V e 23V)
• Tétano
• Difteria
• Coqueluche
• Hemófilos tipo B
• Hepatite viral A e B
• Poliomielite inativada (VIP)
• Meningocócica
• HPV
• Febre tifoide (IM)
Vacinas que contenham organismos vivos são contra indicadas durante a imunossupressão e pelo menos
3 meses após o uso de tais drogas:
• Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
• BCG Influenza (nasal)
• Varicela zoster
• Febre tifóide
• Poliomilite (oral-VOP)
• Varíola
• Febre amarela