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Abdome agudo

Letícia Muniz – Itpac Porto – Turma 34

Aspectos gerais
- Abdome agudo é toda condição dolorosa de início súbito
ou de evolução progressiva localizada no abdome que
requer decisão terapêutica após a definição diagnóstica
(origem não traumática)
- A cavidade abdominal comporta vários órgãos de
diferentes sistemas, causando diferentes sintomas
relacionados a qualquer órgão
- O médico, ao avaliar o paciente com abdome agudo, deve
fazê-lo com interesse e perspicácia. Frequentemente, o
paciente está assustado e temeroso e, não raro, resiste às
tentativas iniciais de comunicação, uma ve.z que o seu
interesse está centrado no rápido alívio de seus sintomas.
- A anamnese é fundamental e o médico deve insistir, com
calma, em uma história minutada. O paciente deve ser
examinado como um todo, e não apenas como um abdome II) NÁUSEA E VÔMITO: sintomas equivalentes e comuns
portador de uma afecção dolorosa. no abdome agudo de várias etiologias. As principais causas
- É importante entender o diagnóstico etiológico e o para o aparecimento desses sintomas são: obstrução dos
possível tratamento baseado nessa etiologia (clínico ou órgãos de musculatura lisa, irritação intensa dos nervos do
cirúrgico) peritônio e a toxemia
AVALIAÇÃO CLÍNICA - É importante verificar a frequência, relacionar com a dor
- A avaliação clínica de um paciente com abdome agudo é e o aspecto do vômito
importante para a obtenção de dados que darão III) FEBRE: temperatura axilar superior a 37,5°C pode estar
orientações sobre as medidas adequadas, diagnóstico e presente em quase todos os quadros abdominais agudos;
terapêutica porém, a ausência de febre não descarta o diagnóstico de
ANAMNESE: deve ter o cuidado de não induzir respostas. abdome agudo, principalmente em idosos e
Elementos como idade, sexo, raça, profissão, naturalidade, imunocomprometidos.
procedência e condição social podem nos dar muitas - O relato de calafrio pode significar bacteriemia, achado
informações. A avaliação da atitude e da fácies do paciente comum nos quadros de colangite e de peritonite.
pode oferecer importantes informações (pacientes com IV) ANOREXIA: relato de anorexia precedendo o início da
cólica se encontram mais agitados, por exemplo) dor é comum em quadros de abdome agudo inflamatório
I) DOR ABDOMINAL: a dor é subjetiva, mas não existe V) FUNÇÃO INTESTINAL: na anamnese é importante
abdome agudo sem dor questionar sobre constipação intestinal, diarreia, melena e
- A dor pode ser classificada em: enterorragia
a) Dor visceral: dor difusa, de início lento e duração longa, VI) CICLO MENSTRUAL: em mulheres na fase reprodutiva
com um componente emocional marcante e capaz de com vida sexual ativa, deve-se correlacionar a dor com o
produzir manifestações sistêmicas, tais como náuseas, ciclo menstrual (irregularidades nos 3 últimos cilos, DUM,
sudorese, diminuição da pressão arterial e da frequência presença de dispareunia, corrimento vaginal, sangramentos,
cardíaca (causadas pelas fibras tipo C não mielinizadas dos etc)
nociceptores nervosos - distensão, isquemia, tração, VII) MICÇÃO: investigar a presença de transtorno da
compressão e torção) micção, como algúria, disúria, polaciúria e retenção urinária,
b) Dor somática/parietal: dor aguda, bem localizada, de bem como alteração no aspecto da urina, retenção urinária,
curta duração e com componente emocional fraco que bem como alteração no aspecto da urina.
piora com movimento de tosse e pode acarretar contratura - Várias afecções primitivas dos órgãos urogenitais, entre
muscular (causadas pelas fibras tipo A delta mielinizadas elas, cólica nefrética, pielonefrite aguda, cistite e retenção
dos nociceptores nervosos – agentes irritantes e urinária aguda, podem ser causa de abdome agudo.
substâncias). EXAME FÍSICO: identificar sinais clínicos específicos que
c) Dor referida: percebida em local diferente do estímulo irão demandar medidas de suporte (soroterapia, transfusão,
que a gerou (dermátomo) analgesia, etc); identificas alterações e avaliar a localização,
extensão e correlação com as queixas
- Sinais de alerta: taquicardia, hipotensão, taquipneia, febre,
fáceis de dor
Abdome agudo
Letícia Muniz – Itpac Porto – Turma 34

I) ECTOSCOPIA: a fácies, modo de andar, decúbito - Manobra de Blumberg: comprimir a parede abdominal até
preferencial, o tipo de respiração e as atitudes do paciente. o máximo, descomprimindo rapidamente (aumento de dor
- Mucosas hipocoradas: perda sanguínea → irritação peritoneal – apendicite – ponto de McBurney)
- Mucosas secas e olho encovado: desidratação - Sinal de Rovsing: dor na fossa ilíaca direita após palpação
II) DADOS VITAIS: temperatura, pulso, PA, FR da fossa ilíaca esquerda devido ao deslocamento dos gases
- Variações de dado vital são frequentes em casos de em direção ao ceco (evidência de apendicite)
abdome agudo, devendo ser analisada em conjunto
considerando as queixas do individuo e relacionando-as com
outros sinais.
→ Temperatura: elevação discreta no início é
característico de abdome agudo inflamatório. Quando a dor
abdominal é precedida de temperatura muito elevada,
deve-se suspeitar de processo infeccioso renal ou pulmonar
→ Pulso: choque hipovolêmico
III) EXAME FÍSICO DO ABDOME: inspeção (forma e
distensões localizadas), ausculta, percussão e palpação
- Distensões assimétricas: tumores e torção do sigmoide - Sinal de Murphy: paciente inspira profundamente
- Peristaltismo visível: obstrução intestinal enquanto o examinador palpa a região do ponto cístico
- Ruídos aumentados na obstrução mecânica e na (hipocôndrio direito)
hemorragia digestiva
- Sinal de Jobert: hipertimpanismo na percussão na região
hepática
- Sinal de Giordano: punho-percussão lombar (pielonefrite)
- Sinal do obturador: realiza flexão de joelho direito até o
limite e rotação interna da coxa (dor em região
hipogástrica → inflamação do assoalho pélvico – apendicite
pélvica e pelviperitonite)

EXAMES LABORATORIAIS
- Podem ser exames específicos (dosagem da amilase, da
lipase e da gonadotrofina coriônica humana beta - beta-
hCG) ou inespecíficos (hemograma e urina)
- O hemograma e o exame de urina devem fazer parte da
- Sinal do psoas: paciente em decúbito lateral e realiza-se rotina de avaliação do paciente com abdome agudo. A
hiperextensão da coxa (dor hipogástrica → apendicite dosagem de eletrólitos, principalmente do potássio, é
retrocecal e abcesso perinefrético) importante nos casos de diarreia e de abdome agudo
obstrutivo, assim como o cálcio em casos de pancreatite
aguda.
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ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO


- É o tipo de abdome agudo mais comum e é uma
consequência de processos inflamatórios/infecciosos.
- O abdome agudo inflamatório é o tipo mais comum de
abdome agudo e se inicia a partir de uma obstrução
mecânica de vísceras ocas ou anatomicamente alteradas
que origina fenômenos inflamatórios na parede da víscera,
podendo progredir para infecção e comprometimento
vascular
QUADRO GERAL: início insidioso com dor abdominal,
náusea, anorexia, vômito, etc. A dor pode levar um tempo
para atingir seu pico. Com o evoluir da doença, e com o
acometimento do peritônio parietal adjacente ao órgão
EXAMES DE IMAGEM afetado, a dor torna-se bem localizada e piora
- Radiografia simples e contrastada: uso da radiografia progressivamente. É comum a presença de massas à
contrastada nos casos de abdome agudo fica reservado palpação do abdome, resultantes da reação do peritônio à
para situações bem selecionadas agressão, na tentativa de limitar o processo e preservar o
- USG restante da cavidade.
- TC Caso o peritônio não consiga bloquear o processo, e o
tratamento adequado demore a ser instituído, observa-se
evolução para peritonite disseminada.
→ APENDICITE: dor epigástrica ou periumbilical do tipo
visceral seguida por náusea e vômitos com posterior
localização da dor na fossa ilíaca direita do tipo somática;
febre baixa e leucocitose moderada
→ COLECISTITE: associada à litíase biliar com dor
inicialmente epigástrica no hipocôndrio direito do tipo
visceral acompanhada de náuseas de vômitos que pode
irradiar para a lombar direita ou para a região escapular
direita (sinal de Murphy)
→ PANCREATITE AGUDA: possui a litíase biliar como
principal causa, tendo sor de início súbito e contínua no
Síndromes abdominais agudas epigastro, hipocôndrio direito ou na região umbilical com
- Abdome agudo se divide em 5 grandes síndromes que irradiação dorsal acompanhada de náuseas e vômitos
orientam o raciocínio e facilitam o diagnóstico (abdome → DIVERTICULITE: localizada mais comumente no cólon
agudo inflamatório, abdome agudo obstrutivo, abdome sigmoide, sendo comum em idosos em que a dor é na fossa
agudo perfurativo, abdome agudo vascular e abdome agudo ilíaca esquerda com quadros de febre e constipação
hemorrágico) intestinal
ABDOME AGUDO PERFURATIVO
- Causa mais frequentes de cirurgia abdominal de urgência
em que a dor tem início súbito e intenso, atingindo
rapidamente o pico (dor somática)
- O problema advém do extravasamento de secreção do
TGI para a cavidade peritoneal
- As perfurações podem ser altas (gastroduodenais e
delgado proximal) ou baixas (delgado distal e cólon)
→ Baixas: dor abdominal discreta e sinais de
irritação peritoneal menos exuberantes, mas podem originar
sepse de forma mais precoce
→ Altas: dor abdominal intensa e grande irritação
peritoneal
- Perfurações do intestino grosso causam manifestações
clínicas e peritoniais intensas com evolução rápida para
peritonite fecal devido ao conteúdo desse órgão
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• Úlcera péptica: causa mais comum de perfuração outros segmentos do organismo, situações de baixo débito
• Doenças inflamatórias intestinais (doença de cardíaco como insuficiência cardíaca, estados
Crohn) hiperdinâmicos, etc)
• Corpos estranhos deglutidos ou introduzidos Passada a fase inicial de dor abdominal, vem a fase
• Tumores intermediária, caracterizada por peritonite, que
• Diverticulite frequentemente confunde o quadro clínico com outras
ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO causas de abdome agudo inflamatório. Na terceira fase,
- É uma síndrome caracterizada por presença de obstáculo acentuam-se os sinais abdominais, surgindo a instabilidade
mecânico ou funcional que leve a interrupção da hemodinâmica, o choque refratário e o óbito.
progressão do conteúdo intestinal. ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO
- O sintoma cardinal do abdome agudo obstrutivo é a cólica - Pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais comum
intestinal, demonstrando o esforço das alças para vencer o entre a 5ª e 6ª décadas de vida; em geral a dor aumenta
obstáculo que está impedindo o trânsito normal. progressivamente e pode ser acompanhado de
- A dor é do tipo visceral localizada em região periumbilical manifestações de choque hipovolêmico.
(obstrução do delgado) ou em região hipogástrica - Em jovens está mais associado a ruptura de aneurismas
(obstrução do cólon) das artérias viscerais; em mulheres à sangramentos por
- Os episódios de vômito surgem após a crise de dor, causas ginecológicas e obstétricas e em idosos à ruptura
inicialmente reflexos, e são progressivos, na tentativa de de tumores, veias varicosas e aneurismas de aorta
aliviar a distensão das alças obstruídas. abdominal.
- Peristaltismo de luta: peristaltismo aumentado e - Nos quadros de abdome agudo hemorrágico, além da dor
exacerbado súbita, chama a atenção o rápido comprometimento
- Quanto mais alta a obstrução, mais precoces, frequentes hemodinâmico, com palidez intensa e hipovolemia
e intensos serão os vômitos, menor a distensão abdominal e acentuada
mais tardia a parada de eliminação de gases e fezes. - O abdome agudo hemorrágico é mais frequentemente
Quanto mais baixa a obstrução, maior distensão abdominal, associado ao trauma, ao pós-operatório e a complicações
mais precoce a parada de eliminação de flatos e fezes, e, pós-procedimentos
devido ao super crescimento bacteriano no segmento - A ruptura de aneurisma de aorta abdominal acomete
obstruído, os vômitos, que são tardios, adquirem aspecto geralmente pacientes idosos do sexo masculino, população
fecaloide. na qual a incidência de aneurisma é maior. A aterosclerose
- Na abordagem inicial, mais importante do que é a causa principal, mas trauma, infecção (sífilis) e arterites
diagnosticar a causa da obstrução, é responder a três são causas possíveis.
questões: se a obstrução é parcial ou completa, se é alta ou
baixa, e se há necrose ou não. Tais fatores irão nortear a
decisão terapêutica.
• Bridas e aderências
• Hérnias
• Câncer colorretal
• Vólvulo
• DII
• Fecaloma
• Bolo de áscaris
ABDOME AGUDO VASCULAR
- A fisiopatologia envolve uma lesão isquêmica inicial,
decorrente da redução do fluxo arterial ou venoso (o que
leva a lesões precoces na mucosa, tornando-se
posteriormente transmurais ), perpetuada pelo vasospasmo
reflexo da circulação mesentérica e completada pela lesão
de reperfusão
- A chave para o diagnóstico precoce é valorizar
os sinais, ainda que inespecíficos, em pacientes com fatores
de risco para isquemia mesentérica aguda (maiores de 60
anos, portadores de doença aterosclerótica, infarto agudo
do miocárdio recente, arritmias cardíacas, em especial a
fibrilação atrial, passado de eventos tromboembólicos em
Abdome agudo
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