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APG 01 – Sistema Locomotor

Objetivos de Aprendizagem:
1. Compreender a etiologia, fisiopatologia, fatores de risco, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da
cervicalgia.
2. Entender a influência dos equipamentos tecnológicos nas patologias em ortopedia.

CERVICALGIA
A dor na região cervical, ou cervicalgia, é uma queixa comum na prática clínica, frequentemente, associada à
miosite de tensão, podendo ser resultante de uma agressão por infecção, inflamação, tumor, trauma ou
compressão da raiz nervosa1.

Etiologia e Classificação
Entre todas as causas não episódicas de dor na região cervical, a mais frequente, em 90% das vezes, é a artrose,
que inclui a osteofitose e a discopatia degenerativa. Todas as outras causas não episódicas não ultrapassam 10%
do total. A cervicalgia pode ser classificada conforme o tempo de evolução e a etiologia1.

Classificação da Cervicalgia de Acordo com a Duração:


Cervicalgia Aguda: Duração inferior a 3 meses.
Cervicalgia Crônica: Duração superior a 3 meses.
Cervicalgia Recorrente: Duração inferior a 3 meses, mas que retorna após um período sem dor.
Classificação da Cervicalgia de Acordo com a Etiologia:
1. Primárias:
1.1 Causas Mecânicas:
Biomecânicas: Discopatias;
Abaulamentos e Herniações;
Osteoartrite;
Síndrome do Chicote;
Comum, ou Idiopática, e Torcicolos;
Distensões Musculares: Síndromes Miofasciais.
2. Secundárias:
2.1 Causas Não Mecânicas:
Inflamatórias: Artrite Reumatoide;
Espondilite Anquilosante.
Infecciosas: Discites;
Osteomielite.
Neoplásicas: Metástases.
Metabólicas ou relacionadas a Osteoporose;
Doenças Sistêmicas: Hiperparatireoidismo;
Osteomalácia.
2.2 Referidas:
Causas Psicogênicas e Fibromialgia;
Psicossomáticas: Transtornos Conversivos;
Depressão;
Histeria.
Dores Referidas: Infarto do Miocárdio;
Vasculite de Carótidas;
Espasmo Esofágico;
Herpes-Zóster.
Fonte: “Tratado de Medicina de Família e Comunidade”.
Dor Mecânica: Está relacionada a atividades físicas e posturais, ou seja, ela normalmente é desencadeada pela
atividade/exercício e melhora com o repouso. Tem início súbito, após esforço inadequado ou sobrecarga de
trabalho ou de exercícios físicos1.
Dor Não Mecânica: Pode aparecer ou piorar com o repouso e melhorar com o movimento1.
As dores podem ser localizadas ou irradiadas e com ou sem envolvimento neurológico. As irradiações típicas
seguem o dermátomo característico de uma raiz nervosa, enquanto que as irradiações atípicas normalmente
correspondem à dor referida da lesão da coluna ou a pontos miofasciais da musculatura paravertebral1.

1. Distensão Cervical: Pode ser definida como dor cervical não-irradiada, associada a sobrecargas mecânicas ou
posturas inadequadas e prolongadas da coluna. Sua etiologia ainda não está totalmente definida, porém pode estar
relacionada com o acometimento musculoligamentar secundário a um evento traumático de intensidade variável
ou a uma sobrecarga mecânica repetitiva.4
Caracteriza-se por dor em região cervical posterior e em área do músculo trapézio, com restrições a
movimentação ativa e passiva, além de áreas dolorosas à palpação. A dor é o sintoma mais comum de
apresentação e geralmente localiza-se na parte média e inferior da região cervical posterior, podendo ser
localizada ou difusa e bilateral nos casos mais severos. A dor não apresenta irradiação para os braços, porém
pode se irradiar para os ombros, e se exacerba com a movimentação do pescoço. Ocorre melhora com repouso e
imobilização.4
O exame físico revela apenas uma área de dor localizada, geralmente paravertebral. A avaliação radiológica pode
ser completamente normal ou revelar apenas uma retificação da curvatura fisiológica da coluna cervical.4
2. Hérnias Discais Cervicais: Um disco herniado pode ser definido como uma protrusão do núcleo pulposo
através de soluções de continuidade das fibras do ânulo fibroso. As hérnias mais frequentes estão localizadas em
C6-C7 e C5-C6, sendo que a maioria ocorrem na posição póstero-lateral. A faixa etária dos 40 anos é a mais
acometida. Ao contrário das hérnias lombares, o disco herniado cervical pode causar mielopatia. 4
Nem toda hérnia discal é sintomática. A principal queixa do paciente é a dor no braço, às vezes sem cervicalgia
associada. Geralmente a dor inicia no pescoço, posteriormente irradiando para o ombro, braço, antebraço e dedos,
com distribuição na dependência da raiz acometida. O início dos sintomas geralmente é gradual.4
Uma herniação de disco cervical inferior é uma causa comum de dor ou formigamento no pescoço, no ombro, no
braço e na mão. Dor no pescoço, rigidez e limitação da amplitude dos movimentos pela dor são as manifestações
habituais.3
A RM é o exame de eleição na abordagem das hérnias cervicais. Apesar disso, vale destacar também a
importância da TC para visualização das lesões cervicais.4
3. Síndrome do Chicote: Ocasionada por impactos indiretos, geralmente por colisões automobilísticas traseiras
em baixas velocidades que promovem uma hiperextensão forçada. Ocorre um mecanismo aceleração-
desaceleração, com transferência de força para a região cervical. Pode resultar em lesões ósseas ou em partes
moles que, por sua vez, evoluem com uma variedade de manifestações clínicas.4
Grande parte dos pacientes que apresentam queixas de cervicalgia crônica após tais eventos, a dor tem origem
nas articulações interfacetárias.4
Casos com dor cervical importante, localizada e com evolução mais protraída, ou na presença de sintomas
radiculares, devem ser avaliados com radiografias em extensão e flexão e com RM, visando o diagnóstico de
alterações passíveis de correção cirúrgica.4
4. Osteoartrose Cervical: É um processo crônico, caracterizado pelo desenvolvimento osteofitário e outros
sinais degenerativos, como consequência de doença discal. Inicialmente ocorre uma desidratação progressiva do
núcleo pulposo, com consequente redução de seu volume, provocando secundariamente alterações no ânulo
fibroso, o qual se distende lateralmente e torna-se menos elástico, sendo submetido a uma carga mecânica pelo
peso da sustentação da cabeça. Envolve predominantemente os segmentos C4 até C7.4
A osteoartrose pode ser completamente assintomática. Os casos sintomáticos apresentam dor cervical episódica
ou sustentada, restrição da mobilidade do pescoço, cefaleia suboccipital com irradiação para o pescoço, vertigens
e zumbidos (decorrente alterações anatômicas em estruturas vasculares e no sistema nervoso simpático).4
Pode ser solicitado radiografia da coluna cervical, a qual pode demonstrar diminuição do espaço discal, presença
de osteófitos e outras alterações características. A TC e a RM devem ser reservadas para situações nas quais o
acometimento medular é suspeitado.4
5. Artrite Reumatoide: Pode ser definida como um processo inflamatório que acomete as articulações,
resultando em inchaço, dor e até mesmo destruição das articulações. *
Na subluxação atlantoaxial, a sinovite da articulação atlantoaxial (C1-C2) pode lesar o ligamento transverso do
atlas, ocasionando um deslocamento anterior (mais comum) do atlas sobre o áxis.4
A subluxação atlanto-occipital é a forma mais rara e mais grave das subluxações cervicais. Ocorre pela
destruição das articulações entre o atlas e o occipício, decorrente de uma insuficiência global de todos os
ligamentos de sustentação. Acomete pacientes com doença estabelecida e de longa evolução.4
A subluxação subaxial ocorre em aproximadamente 9% dos pacientes com AR, por acometimento generalizado
dos ligamentos da coluna cervical, condicionando o aspecto de “coluna em escada”. Pode cursar com estenose
dinâmica do canal vertebral e mielopatia.4
6. Síndromes Espondilíticas: Inclui a espondilite anquilosante (possível origem genética, devido a presença do
gene HLA-B27), a síndrome de Reiter, a artrite psoriática e as artropatias enteropáticas.4
Clinicamente, a dor cervical apresenta caráter inflamatório, caracterizando-se por rigidez progressiva dos
movimentos, com localização alta e irradiação para região occipital e dos mastoides.4
As alterações radiológicas nas síndromes espondilíticas são bastante ricas e na coluna cervical nota-se a formação
de sindesmófitos, calcificação ligamentar anterior e posterior e fusão dos elementos posteriores de C2 até C7.4
7. Hiperostose Esquelética Idiopática Difusa (DISH): É caracterizada por uma neoformação óssea, com
extensa ossificação do ligamento longitudinal anterior de, no mínimo, 4 corpos vertebrais contíguos. A doença é
caracterizada clinicamente por rigidez cervical e radiologicamente por ossificações exuberantes das estruturas
espinhais e extraespinhais. Pode haver dificuldade para intubação oro-traqueal.4
8. Outras Causas: O herpes-zóster agudo apresenta-se como dor no pescoço ou occipital posterior aguda antes
do aparecimento de vesículas. As neoplasias metastáticas para a coluna cervical, infecções como osteomielite
e abscesso epidural e doenças ósseas metabólicas também podem causar dor cervical. A dor no pescoço
igualmente pode ser referida a partir do coração na doença arterial coronariana isquêmica (síndrome de angina
cervical).4

Fisiopatologia
1. Dor Mecânica: Ocorre primariamente por meio da instalação de forças anormais sobre a coluna. Esta
biomecânica alterada gera novas lesões locais, que liberam mediadores de inflamação, principalmente dos discos
vertebrais. Os mediadores então estimulam nociceptores, encontrados nas articulações sinoviais, no disco
intervertebral, nos ligamentos paravertebrais ou nos vasos e nervos protegidos pela estrutura óssea da coluna. *
Alteração na Biomecânica → Lesão Local → Mediadores Inflamatórios → Estimulação de Nociceptores.

Fatores de Risco:
1) Trabalho Repetitivo;
2) Períodos Prolongados na Postura em Flexão;
3) Alto Nível de Estresse Psicológico;
4) Tabagismo;
5) Lesão Prévia de Ombro e Pescoço.

Manifestações Clínicas
A cervicalgia costuma ser insidiosa. Em raras situações, tem início de forma súbita, relacionada a movimentos
bruscos do pescoço, longa permanência em posição forçada, esforço ou traumatismos. Na maior parte dos casos,
melhora nitidamente com o repouso e piora com a movimentação. Com frequência, há espasmo da musculatura
paravertebral.2
A alteração sensitiva associada à compressão radicular é a irradiação da dor para o membro superior em um
dermátomo definido. Em geral, o indivíduo refere parestesias no mesmo território. Pode ocorrer também
hipoestesia no território acometido.2
Pode-se encontrar déficit de força nos músculos inervados pela raiz comprometida. A paralisia da musculatura é
rara. Na ausência de compressão medular associada, os reflexos poderão ser hipoativos ou abolidos. Se houver
reflexos exaltados ou presença de reflexos patológicos, deve-se procurar por compressão medular ou outra lesão
do neurônio motor superior.2 O quadro abaixo descreve de forma esquemática o movimento, as áreas de
sensibilidade e o reflexo correspondente a cada uma das raízes nervosas cervicais.

Força – Movimento: Sensibilidade: Reflexo:


C2 - Área Occipital e Anterior do -
Pescoço.
C3 - Área Supraclavicular e Posterior -
do Pescoço.
C4 Rotação Externa do Ombro. Área do Ombro e -
Supraescapular.
C5 Abdução do Ombro. Face Lateral do Braço. Bicipital.
Flexão do Cotovelo.
C6 Flexão do Cotovelo. Face Lateral do Antebraço e da Braquiorradial.
Extensão do Punho. Mão.
C7 Extensão do Cotovelo. Terceiro Quirodáctilo. Tricipital.
Flexão do Punho.
Extensão dos Dedos.
C8 Flexão dos Dedos. Face Medial do Antebraço e da -
Abdução dos Dedos. Mão.
T1 Abdução dos Dedos. Face Medial do Braço. -
Fonte: “Tratado de Medicina de Família e Comunidade”.

Sinais de Risco na Cervicalgia: Instabilidade da região; fraqueza muscular e perda progressiva de função1.
Alertas Amarelos: Indicam fatores psicossociais associados a um risco aumentado de cronicidade e
incapacidade1.
Alertas Vermelhos: Indicam risco aumentado de condições específicas, as quais exigem uma atenção urgente,
porém nem sempre indicam a necessidade de referenciamento, ou que seja uma doença grave, apontando para a
necessidade de investigação de uma causa mecânica ou não mecânica diferente da distensão ou da tensão
muscular1.

Diagnóstico
1. Testes Especiais para a Coluna Cervical: Alguns testes e manobras específicas estão diretamente
relacionados à avaliação da coluna cervical.
Teste de Tração:
Como Fazer: Coloque a mão espalmada sob o queixo da pessoa enquanto a outra mão será colocada na região
occipital Em seguida eleve (tracione) a cabeça removendo o peso que ela exerce sobre o pescoço.
Resultado: Promove alívio da dor, por ampliar o diâmetro foraminal, diminuindo a compressão radicular e a
tensão nas estruturas de sustentação.
Teste de Compressão:
Como Fazer: Pressione para baixo o topo da cabeça da pessoa, que poderá estar sentada ou deitada. Caso haja
agravamento da dor, observar a exata distribuição e se é circunscrita a algum dermátomo.
Resultado: Promove o aumento na dor cervical, causada pelo estreitamento foraminal secundário, aumento da
pressão na raiz nervosa acometida, sobrecarga nas facetas articulares e maior sensibilização muscular. Deve-
se evitar tal manobra na suspeita de instabilidade cervical.
Teste de Deglutição:
Como Fazer: Solicite à pessoa que degluta, observando se ocorre dor ou dificuldade em tal procedimento
Resultado: A presença de dor ou dificuldade para deglutir pode ser causada por patologias da coluna cervical,
como: protuberâncias ósseas, osteófitos ou intumescências dos tecidos moles devido a hematomas, infecções
ou tumores da face anterior da coluna cervical.
Teste de Valsalva:
Como Fazer: Solicite à pessoa que prenda a respiração e faça força, como se quisesse evacuar, ou que faça
uma expiração forçada contra a própria mão, segurando por cerca de 5 a 10 segundos. Em seguida, pergunte
se houve agravamento da dor, com sua descrição e localização.
Resultado: Proporciona o aumento da pressão intratecal, ocasionando dor, caso exista alguma lesão expansiva,
como um disco herniado ou tumor, presente no canal vertebral cervical. É um teste subjetivo, que requer
respostas precisas da pessoa.
Teste de Adson:
Como Fazer: Palpe o pulso radial e, ao mesmo tempo, abduza, estenda e rode externamente o braço da pessoa
examinada. Em seguida, solicite a ela que prenda a respiração e rode a cabeça para o lado que está sendo
testado.
Resultado: A diminuição ou a ausência de pulso indica compressão da artéria subclávia, caracterizando um
teste positivo, sendo sugestivo de síndrome do desfiladeiro torácico. Deve ser realizado nos quadros de
cervicobraquialgias, acompanhados por alterações vasculares de MMSS.
Manobra de Spurling:
Como Fazer: Realize a extensão e rotação conjunta da cabeça da pessoa examinada para o mesmo lado
acometido pela dor.
Resultado: Promove a reprodução ou o aumento da dor, demonstrando possível compressão ou irritação
radicular.
Sinal de Lhermitte:
Como Fazer: Realize a flexão do pescoço, provocando uma sensação, tipo “choque elétrico”, que irradia para
toda a coluna vertebral e para os membros.
Resultado: Promove a sensação de parestesias ou disestesias nas mãos ou nas pernas, durante a flexão cervical.
É frequentemente ocasionada por uma hérnia de disco volumosa, com compressão medular ou por formações
osteofitárias em pessoas com canal vertebral estreito. Também pode ser encontrado em pessoas com artrite
reumatoide que apresentam subluxação atlantoaxial ou subaxial.
Fonte: “Tratado de Medicina de Família e Comunidade”.
A indicação de exames complementares é determinada pela falta de resposta ao tratamento, pela dor provocada
em decorrência de trauma ou, ainda, na presença de sinais de alerta, principalmente, quando existe
comprometimento neurológico1.
Nas pessoas que apresentam fraqueza em MMSS, sem melhora com o tratamento, deve-se considerar a realização
de eletroneuromiografia (EMG) e de estudos da condução nervosa (ECNs), sendo úteis para avaliar os distúrbios
neurológicos, ajudando a distinguir entre lesões periféricas, incluindo o plexo braquial, e de raízes nervosas1.

2. Exames de Imagem: Os exames de imagem úteis para o estudo da coluna cervical podem incluir as
radiografias simples, a ressonância magnética (RM), a tomografia computadorizada (TC) e a cintilografia óssea1.
2.1 Radiografias Simples: Incluem uma série de três incidências básicas, anteroposterior, perfil e transoral ou
peroral (com a boca aberta). Essa última incidência é indicada para pessoas com história de trauma ou com mais
de 50 anos, sendo utilizada para avaliação da primeira e da segunda vértebra cervicais. Quando necessário,
buscando uma melhor visualização, podem ser realizadas incidências oblíquas em flexão-extensão1.
Na presença de sinais de comprometimento neurológico (impotência funcional, parestesias, hiperestesias,
contratura antálgica), com exame radiográfico normal, ou quando a radiografia sugere lesão óssea, com
diminuição do espaço intervertebral e sintomas neurológicos, deve ser estudado o uso da RM ou da TC1.
2.2 Tomografia Computadorizada: Complementa a radiografia simples na avaliação de processos vertebrais
degenerativos e na avaliação de desarranjos discais, podendo determinar confiavelmente a extensão de uma lesão,
assim como visualizar precisamente linhas de fratura. Entretanto, não possibilita uma avaliação confiável nas
alterações intramedulares1.
2.3 Ressonância Magnética: É indicada para demonstrar infecção espinal oculta, avaliar elementos neuronais e
estruturas paravertebrais, incluindo partes moles, além de não expor a pessoa à radiação. É contraindicado para
pessoas que possuem valvas cardíacas artificiais com componentes metálicos ou corpos estranhos no humor
vítreo1.
2.4 Cintilografia Óssea: Está indicada na suspeita de tumor ósseo, primário ou metastático, de processos
infecciosos e de trauma da coluna cervical1.
Apesar dos avanços atuais nos exames de imagem, sobretudo TC e RM, a investigação com radiografias simples
constitui o método ideal de rastreamento nas dores da coluna cervical, devido ao seu baixo custo e por ser mais
acessível. Vale ressaltar também que o significado da ultrassonografia (US) nessa região é secundário, sendo a
TC e a RM modalidades de imagem visivelmente superiores1.

3. Exames Laboratoriais: A grande maioria das pessoas com cervicalgia não precisa de exames laboratoriais
durante a avaliação inicial, sendo importantes quando há sinais de alerta, para que sejam feitos os diagnósticos
diferenciais. Nesse caso, podem ser solicitados: hemograma, eletroforese de proteínas, provas de atividades
inflamatórias (VHS, Proteína C-Reativa), cálcio sérico, fosfatase alcalina, entre outros, conforme o
diagnóstico diferencial a ser investigado1.

Tratamento
A abordagem terapêutica da cervicalgia é baseada na avaliação clínica, na presença ou não de comprometimento
neurológico, nos fatores desencadeantes e no tempo de duração do quadro clínico, sendo voltada para a redução
dos sintomas e para a melhora da função1.

1. Tratamento da Cervicalgia Aguda:


Nos casos em que não há suspeita de trauma e não existe evidências de comprometimento neurológico, podem
ser administrados AINEs ou analgésicos1.
Caso seja comprovada a presença de contratura muscular, existem evidências de que o uso de relaxantes
musculares está indicado. Foram citados como exemplos os relaxantes de ação central (tizanidina, baclofeno e a
ciclobenzaprina) e o relaxantes de ação periférica (carisoprodol)1.
Nos quadros agudos, afastando-se a possibilidade de lesão com comprometimento neurológico ou fratura, pode-
se lançar mão de analgésicos opioides, nas situações em que a intensidade da dor justificar1.
Na dor aguda produzida pelo mecanismo de chicote, o uso de corticosteroides melhora o resultado, diminuindo
os casos de dor persistente1.
Exercícios leves na região cervical estão indicados nos casos em que não há bloqueio motor, melhorando o tempo
de recuperação das pessoas com cervicalgia aguda1.

2. Tratamento da Cervicalgia por Trauma:


Nas situações em que não ocorre lesão óssea, nem compressão de raiz nervosa ou de medula, o manejo pode ser
feito na APS1.
Na fase inicial, pós-trauma, em que há dor e o bloqueio álgico à movimentação é importante, está indicado o uso
do colar cervical, por poucos dias, associado à administração de analgésicos e/ou anti-inflamatórios. Após o
alívio dos sintomas agudos, o início de exercícios físicos é indicado para a recuperação e a prevenção de
cervicalgia crônica. Quando o trauma desenvolve edema cervical, o uso de corticosteroides por via oral, por 7
dias, auxilia na resolução da situação aguda1.

3. Tratamento da Cervicalgia Crônica:


O uso de AINEs e de relaxantes musculares não demonstra efetividade clínica nas pessoas com cervicalgia
crônica, sendo adequado o uso de analgésicos. Assim, a personalização do manejo das pessoas que apresentam
cervicalgia crônica é essencial para o sucesso do tratamento1.
A acupuntura e a prática regular de exercícios físicos podem ajudar na redução da dor1.

4. Tratamento Cirúrgico:
O tratamento cirúrgico de urgência raramente é indicado. Indica-ções de cirurgia de urgência são destinadas aos
pacientes com radiculopatia grave e déficit neurológico rapidamente progressivo. Na maior parte dos casos, o
tratamento cirúrgico deve ser considerado após o insucesso do tratamento não operatório feito de forma adequada
e por um período mínimo de três meses.2

Conceitos Importantes:
Dor Radicular: É causada pela compressão mecânica das raízes nervosas cervicais.
Dor Mielopática: É causada pela compressão mecânica da medula espinhal.
Uso Excessivo de Tecnologias e a Cervicalgia
A utilização de equipamentos como celulares, tablets e computadores de maneira excessiva, levam a posturas
inadequadas mantidas com frequência e por longos períodos.5
A postura ergonômica inadequada no manuseio dos dispositivos eletrônicos está associada aos maiores índices
no desenvolver da cervicalgia. A utilização de celular na mão foi apresentada como o principal desencadeador da
cervicalgia, visto que, ocorre uma flexão cervical exacerbada.5
O sexo feminino foi relatado em vários estudos como predominante na apresentação do quadro de cervicalgia,
associando isso, a um período de exposição maior do que o sexo masculino.5

Referência Bibliográfica:
1. GUSSO, G.; LOPES, J. M. C; DIAS, L. C. Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática.
2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.
2. JAMESON, J. L.; et al. Medicina Interna de Harrison. 20. ed. Porto Alegre: AMGH, 2020.
3. HEBERT, S. K.; et al. Ortopedia e Traumatologia: Princípios e Prática. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. NATOUR, J. et al; Coluna Vertebral: Conhecimentos Básicos. 2. ed. São Paulo: Etcetera, 2004.
5. NETO, A. C. S.; et al. Alterações posturais da coluna cervical e cervicalgia associadas ao perfil dos acadêmicos de
medicina: uma revisão integrativa. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.3, p. 25540-25555, 2021. Disponível
em: file:///C:/Users/USER/Downloads/admin,+BJD+316.correto.pdf. Acesso em: 06 de fevereiro de 2024.

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