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Espondilite Anquilosante

É uma doença reumática inflamatória, crônica, progressiva, autoimune, que acomete as articulações sacroilíacas,
a coluna vertebral (em graus variáveis), as articulações periféricas (em menor extensão), causando uma fusão das
articulações envolvidas.

❖ Histórico:

Foi descrita pela primeira vez em 1695 por Connor.


• Spondylos: vértebra
• Ankilos (anquilose): fusão articular
A Espondilite Anquilosante faz parte de um grupo de doenças chamadas Espondiloartropatias Soronegativas
(EASN).

❖ Epidemiologia:

• Acomete cerca de 7,3 em cada 100 mil pessoas/ano;


• Acomete ambos os sexos, porém é predominante no masculino (2-4:1), ou seja, para cada dois ou quatro homens,
uma mulher;
• No Brasil (10:1), ou seja, para cada dez homens, uma mulher;
• Início dos sintomas ocorre entre 20 e 35 anos;
• Acomete mais os brancos, raramente acomete em negros e asiáticos.

❖ Etiologia:

A causa da doença é desconhecida, porém já se sabe que em 90 a 95% dos casos, os pacientes apresentam o
antígeno (gene) HLA - B27.
- Obs: o gene por si só não causa a doença, mas apresenta uma maior probabilidade da pessoa apresentar alguma doença
autoimune (Espondiloartropatias), os pacientes que tem esse gene são mais susceptíveis a infecções bacterianas (Kebsiella,
Shigela ou Salmonela).

Os pacientes que tem esse gene tem o Papel de antígeno - anticorpo modificado, ele produz o antígeno HLA - B27
que vai ficar na membrana das células e tecidos que tem a infecção e isso vai estimular o corpo a produzir leucócitos
e mandar macrófagos para a região que vão fagocitar as células do próprio corpo que estão marcadas com o HLA -
B27.
• A ocorrência mais comum é em parentes de primeiro grau que tem o gene HLA - B27 positivo;
• Ainda não se conhece a relação de causa entre o antígeno HLA - B27 e a doença;
• Muitos indivíduos com HLA - B27 positivo não desenvolvem a doença.
❖ Patogênese:

Ocorre o acometimento do tecido fibrocartilaginoso que evolui para um processo inflamatório do Osso Subcondral
(Osteíte do osso subcondral), da Cápsula Articular, da Cartilagem Articular, das Enteses (inserções) de Ligamentos
e Tendões (Entesopatias) até o Periósteo (membrana que envolve o osso), ou seja, ocorre um processo inflamatório
autoimune dos tecidos periarticulares e de outros tecidos conjuntivos do corpo.

Devido a lesão inflamatória temos a presença de linfócitos e macrófagos, e após a resposta inflamatória temos a
resposta proliferativa, porém o processo de hiperplasia será mais denso formando uma fibrose cicatricial na região
e tem tendência a calcificação.

❖ Quadro Clínico:

○ Início:
• Os sintomas iniciam na adolescência ou no início da fase adulta;
• Febre (é a resposta do corpo em combate a infecção bacteriana), Fadiga e Perda de peso;
• Dor insidiosa na região lombar baixa e região glútea;
• Rigidez Matinal de longa duração (mais de 30 minutos): tende a melhorar com o exercício / movimento;

○ Com a Evolução:
• Alteração na Marcha e na Postura;
• Postura do Esquiador ou Espondilítica: retificação lombar, retroversão pélvica, atrofia dos músculos
glúteos, hipercifose torácica, anteriorização da cabeça, flexão dos cotovelos e flexão dos joelhos.
• Espasmos Musculares;
• Contraturas de Tecidos Moles;
• Entesopatias Periféricas: são as tendinopatias da inserção, podendo ser patelar, do calcâneo, do
manguito rotador, lateral e medial do cotovelo;
• Exacerbações: é o aumento da inflamação autoimune, pode está associado a problemas sociais,
psicológicos, de estresse físico ou novas infecções;
• Remissão: é o período onde não tem muita inflamação, mas a doença não passou, ou seja, não ocorre mais
ataques autoimune, porem o paciente continua com os sintomas da doença;
• Sacroileíte: são processos inflamatórios e degenerativos na região saroilíaca;
• Dor, Edema, Calor e Disfunção em articulações periféricas (quadril, joelho, tornozelo e ombro);
• Restrição Respiratória: ocorre devido a perda da mobilidade da coluna torácica e das costelas, também devido a
anquilose e fibrose apical;
• Osteoporose no Esqueleto Axial e Quadril;
• Uveíte Anterior: é o processo inflamatório na região ocular, ocorre em 25 a 30% dos casos;
• Pericardite: é o processo inflamatório do pericárdio;
• Cardiomegalia (apenas alguns pacientes apresentam);
• Fibrose Apical: é o processo inflamatório no ápice do pulmão;
• Pleurite: é o processo inflamatório na pleura;
• Alterações Renais: ocorre raramente;
• Instabilidade atlantoaxial e subaxial.

❖ Exames de Imagem:
➢ Radiografias: podemos observar

• Condrite e Osteíte Subcondral: alargamento da interlinha • Sindesmófitos: formam as pontes ósseas intervertebrais;
articular; • Fusão Inter - apofisárias;
• Erosão articular; • Calcificação dos Ligamentos Espinais;
• Anquilose Óssea; • “Coluna de Bambu”.
- Obs: não conseguimos observar Anquilose Fibrosa na
radiografia.
• Ossificação gradual do anel fibroso;

❖ Diagnóstico:

Para o diagnóstico é necessário 1 critério clínico e 1 critério radiológico:


Critérios Clínicos Critérios Radiológicos
• Dor lombar crônica + rigidez (durante 3 meses), alivia com • Sacroileíte bilateral (grau II a IV);
exercício e não melhora com repouso; • Sacroileíte unilateral (grau III ou IV);
• Redução da ADM da coluna lombar no plano frontal e
sagital;
• Redução da expansibilidade torácica para idade e sexo.

Graus Radiográficos de Sacroileíte

Grau 0: Normal

Grau 1: Alterações suspeitas


Anormalidades Mínimas: pequenas áreas localizadas com
Grau 2:
erosão e esclerose, sem alteração do espaço articular
Anormalidades Moderada ou Avançada: erosões,
Grau 3: evidências de esclerose, alargamento articular ou anquilose
parcial
Grau 4: Anquilose total

❖ Testes Funcionais:

Os testes funcionais são utilizados para avaliação fisioterapêutica e podem ser utilizados para auxiliar no
diagnóstico.

➢ Sinal da Seta ou Flecha: Avalia a mobilidade cervical e torácica alta, evidenciando a redução da mobilidade.
O paciente é colocado de costas para a parede e é solicitado para fazer uma retração de cabeça ao ponto de
encostar a região occipital na parede. O teste é positivo se o paciente não conseguir encostar na parede, mostrando
uma redução da mobilidade cervical e torácica alta.

➢ Sinal de Schöeber < 13 cm: Avalia a mobilidade da coluna lombar, evidenciando a redução da mobilidade.
Com o paciente em pé mede cerca de 10cm da L5 a S1, é solicitado ao paciente fazer uma inclinação anterior do
tronco e então é medido novamente e se aumentar até 3 cm (completando 13cm) indica que o paciente está com
uma redução da mobilidade da coluna lombar.
➢ Cirtometria < 5 cm: Avalia a mobilidade da expansibilidade do gradil costal, evidenciando a redução da
mobilidade.
Com o paciente em pé é colocado a cirtômetro na altura dos mamilos e no processo xifoide, é solicitado ao paciente
uma inspiração e expiração e se o paciente cresce menos de 5 cm do perímetro torácico é indicativo da doença.

➢ Índice Dedo - Chão: Avalia a distância do dedo médio para o chão e nas látero – flexões.
Com o paciente em pé é solicitado a ele uma inclinação (flexão) anterior e na flexão lateral.

➢ Distância Intramaleolar: Avalia a abdução do quadril.


É solicitado ao paciente para que ele faça uma abdução máxima (abrir escala) e é verificado a distância que ele
consegue alcançar em sua abdução máxima.

❖ Tratamento:

Conservador Cirúrgico
• AINES; • Casos Específicos:
• Medicamentos para reduzir e / ou evitar lesões - Fraturas;
articulares: Metotrexato (antimetabólico) e - Instabilidade;
sulfassalazina - Descompressão do Canal Vertebral: quando existe
(antimicrobiano e antireumatóide); estenose do canal vertebral;
• Fisioterapia: evita a postura de esquiador, evita - Artroplastia: quando existe erosões severas em quadril
encurtamentos musculares, contraturas de tecidos ou joelho.
moles, proteger as articulações, controlar o processo
inflamatório nas fases agudas. Devem ser feitas
condutas ativas e estimular o paciente a ter um estilo de
vida mais saudável.
- Exercícios aeróbicos e resistidos.

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