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APG 03 – Sistema Locomotor

Objetivos de Aprendizagem:
1. Revisar os principais aspectos histológicos do tecido ósseo e a fisiologia do remodelamento ósseo.

TECIDO ÓSSEO1
Periósteo: A superfície externa e interna dos ossos é recoberta por uma camada composta de tecido conjuntivo e
de células osteogênicas, constituindo, respectivamente, o periósteo e o endósteo.
A camada interna do periósteo, justaposta ao tecido ósseo, é mais celularizada e apresenta células
osteoprogenitoras, morfologicamente semelhantes aos fibroblastos. Essas células se multiplicam por mitose e se
diferenciam em osteoblastos, desempenhando papel importante no crescimento dos ossos por aposição.

Endósteo: O endósteo reveste as superfícies internas do osso e geralmente é constituído por uma delgada camada
de células osteogênicas achatadas, que reveste as cavidades do osso esponjoso, o canal medular, os canais de
Havers e os de Volkmann.

Osso Compacto e Osso Esponjoso: Observando-se macroscopicamente um osso serrado, verifica-se, do ponto
anatômico, que sua superfície é formada por tecido ósseo sem cavidades visíveis, o osso compacto, e,
interiormente, por uma parte com muitas cavidades intercomunicantes, o osso esponjoso.
Nos ossos longos, as extremidades ou epífises são formadas por osso esponjoso revestido por uma delgada
camada superficial de osso compacto.
A diáfise, ou parte cilíndrica do osso, é quase totalmente formada por osso compacto, com pequena quantidade
de osso esponjoso na sua superfície interna, delimitando o canal medular. Nos ossos longos, o osso compacto é
chamado também de osso cortical.
As cavidades do osso esponjoso e o canal medular da diáfise dos ossos longos são ocupados pela medula óssea.
No recém-nascido, toda a medula óssea tem cor vermelha, devido à sua grande quantidade de sangue, e é ativa
na produção de células do sangue. Pouco a pouco, com a idade, vai sendo infiltrada por tecido adiposo, com
diminuição da atividade hematógena, transformando-se na medula óssea amarela.

Tecido Ósseo Lamelar e Não Lamelar:


Do ponto de vista histológico, existem dois tipos de tecido ósseo: o imaturo, primário ou não lamelar; e o maduro,
secundário ou lamelar. Ambos contêm os mesmos tipos celulares, e os constituintes da matriz são muito
semelhantes.
O tecido primário é sempre o primeiro a ser formado, tanto no desenvolvimento embrionário como na reparação
das fraturas. É um tecido temporário e substituído por tecido secundário. Os osteócitos encontram-se dispersos
desordenadamente pela matriz. A matriz óssea no tecido primário é heterogênea e com a presença de manchas.
No tecido ósseo primário, as fibras colágenas se dispõem irregularmente, sem orientação definida, enquanto, no
tecido ósseo secundário, essas fibras se organizam em lamelas ósseas, que se arranjam em uma disposição muito
ordenada. Além disso, no tecido ósseo secundário há a presença de pouco osteócitos, com seus eixos organizados
em linhas, justamente por estarem associados as lamelas. Ao contrário do tecido primário, o tecido secundário
possui uma matriz óssea homogênea.

Sistema de Havers: Os conjuntos de lamelas organizadas concentricamente formam as estruturas denominadas


sistemas de Havers ou ósteons. Cada um desses sistemas é um cilindro longo, às vezes bifurcado, em geral
paralelo à diáfise e formado por 4 a 20 lamelas ósseas concêntricas. No centro desse cilindro ósseo existe um
canal revestido de endósteo, o canal de Havers, que contém vasos e nervos.
Os canais de Havers comunicam-se entre si, com a cavidade medular e com a superfície externa do osso por meio
de túneis transversais ou oblíquos à diáfise, situados no interior do osso, chamados de canais de Volkmann.
Estes se distinguem dos de Havers por não serem envolvidos por lamelas ósseas concêntricas.

Osteócitos: Os osteócitos são células achatadas encontradas no interior da matriz óssea e ocupam espaços
denominados lacunas. Cada lacuna contém apenas um osteócito.
Das lacunas partem vários canalículos que contêm prolongamentos dos osteócitos, os quais fazem contato com
prolongamentos de osteócitos adjacentes por meio de junções comunicantes, por onde podem passar pequenas
moléculas e íons de um osteócito para o outro. Não existe difusão de substâncias através da matriz calcificada do
osso, pois esta é impermeável. Por esse motivo, a nutrição dos osteócitos depende dos canalículos que existem
na matriz, em cujo interior circulam substâncias que possibilitam as trocas de moléculas, íons e gases entre os
capilares sanguíneos e os osteócitos.
Osteoblastos: Os osteoblastos são as células que sintetizam a parte orgânica da matriz óssea (colágeno tipo I,
proteoglicanos e glicoproteínas) e fatores que influenciam a função de outras células ósseas. Eles são capazes de
concentrar fosfato de cálcio, participando da mineralização da matriz.
Após sintetizar matriz extracelular, o osteoblasto é aprisionado pela matriz orgânica recém-sintetizada e passa a
ser chamado de osteócito. A matriz, então, deposita-se ao redor do corpo da célula e de seus prolongamentos e
passa por deposição de cálcio, formando as lacunas que contêm os osteócitos e os canalículos. Esses últimos são
túneis compostos pelos prolongamentos celulares dos osteócitos.
Os osteoblastos em fase de síntese mostram as características ultraestruturais das células produtoras de proteínas.
A matriz óssea recém-formada, adjacente aos osteoblastos ativos e ainda não calcificada, recebe o nome de
osteoide.
Osteoclastos: Os osteoclastos convivem com os osteoblastos e osteócitos, mas pertencem a uma linhagem celular
bastante diferente. São derivados de monócitos que, no interior do tecido ósseo, fundem-se para formar os
osteoclastos multinucleados. São células móveis, de tamanho muito grande e multinucleadas, responsáveis pela
reabsorção do tecido ósseo.
Os osteoclastos situam-se na superfície do tecido ósseo ou em túneis no interior das peças ósseas. Nas áreas de
reabsorção de tecido ósseo, os osteoclastos são encontrados frequentemente ocupando pequenas depressões da
matriz escavadas pela atividade dessas células e conhecidas como lacunas de Howship.

Matriz Óssea: A matriz óssea é constituída de uma parte orgânica e de uma parte inorgânica. Cerca de 95% da
parte orgânica da matriz é formada por fibras colágenas do tipo I, e o restante, por proteoglicanos e
glicoproteínas. Dentre as glicoproteínas e sialoproteínas, destacam-se a osteonectina, que parece ser importante
para o mecanismo de calcificação da matriz, e a osteopontina.
Vários fatores de crescimento fazem parte da matriz orgânica. As proteínas morfogenéticas ósseas (BMP), o fator
de crescimento de fibroblastos (FGF) e o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF).
A parte inorgânica representa cerca de 50% do peso da matriz óssea. Os íons mais encontrados são o fosfato e
o cálcio. Há também bicarbonato, magnésio, potássio, sódio e citrato em pequenas quantidades. Os cristais que
se formam pelo cálcio e pelo fosfato têm a estrutura do mineral hidroxiapatita. Os íons da superfície do
cristal de hidroxiapatita são hidratados, existindo, portanto, uma camada de água e íons em volta dele, a qual é
denominada capa de hidratação, que facilita a troca de íons entre o cristal e o líquido intersticial.
A associação de cristais de hidroxiapatita à superfície das fibras colágenas é responsável pela rigidez e pela
resistência mecânica do tecido ósseo. Após a remoção do cálcio, os ossos mantêm sua forma intacta e tornam-
se tão flexíveis quanto os tendões. Por outro lado, a destruição da parte orgânica, que é principalmente colágeno,
pode ser realizada por incineração e também deixa o osso com sua forma intacta, porém tão quebradiço que
dificilmente pode ser manipulado sem se partir.
Deposição de Cálcio > Não existe ainda uma explicação totalmente aceita para o mecanismo de
calcificação ou mineralização. Sabe-se que a calcificação começa pela deposição de sais de cálcio sobre
as fibrilas colágenas, um processo que parece ser induzido por proteoglicanos e glicoproteínas da
matriz.
A deposição dos sais de cálcio é também influenciada pela concentração desses minerais em vesículas
que brotam do citoplasma dos osteoblastos e são expelidas para a matriz. Além disso, existe ainda a
possível participação da enzima fosfatase alcalina, sintetizada pelos osteoblastos.

Remodelamento Ósseo2
O remodelamento ósseo constitui um processo de manutenção do esqueleto após a conclusão do crescimento
esquelético. A compreensão a respeito desse fenômeno avançou de maneira significativa, por estar relacionado
com a correspondência entre reabsorção e formação óssea.
1. Ciclo do Remodelamento Ósseo: O osso maduro é composto por unidades denominadas ósteons, nas quais
as lamelas concêntricas circundam um canal de Havers central. O remodelamento ósseo é formado por uma
sequência de reabsorção óssea dentro de um ósteon realizada pelos osteoclastos, seguida pela formação de
um osso novo pelos osteoblastos. No adulto, a duração de uma sequência é de cerca de 4 meses. Idealmente, o
osso substituído deve ser igual ao osso reabsorvido; caso contrário, há perda óssea líquida.

Reabsorção Óssea:
Os osteoclastos, células de reabsorção óssea derivadas de precursores de monócitos e macrófagos, estão
envolvidos no início da remodelação óssea. A sequência de reabsorção e formação ósseas é ativada por muitos
estímulos, incluindo a ação do paratormônio e da calcitonina.
Tem início com a reabsorção osteoclástica do osso existente, durante a qual os componentes orgânicos (matriz
proteica) e inorgânicos (minerais) são removidos, criando um espaço no ósteon semelhante a um túnel. Os fatores
solúveis liberados durante a reabsorção auxiliam no recrutamento dos osteoblastos até o local, relacionando, desse
modo, a reabsorção à formação óssea.
Processo Fisiológico > Enzimas contidas nos lisossomos originados no complexo de Golgi são exocitadas
para o microambiente fechado pela zona clara, onde atuam confinadas do restante do tecido.
Íons H+ também produzidos pelo osteoclasto através da atuação da anidrase carbônica, são transferidos
para o mesmo microambiente, acidificando-o.1
O pH ácido promove a dissolução dos minerais da matriz e fornece o ambiente ideal para a ação das
enzimas hidrolíticas dos lisossomos, responsáveis pela degradação da matriz orgânica.
Assim, a matriz é removida e capturada pelo citoplasma dos osteoclastos, onde possivelmente a digestão
continua e seus produtos são transferidos para o exterior do osteoclasto.1

Formação Óssea:
Após a interrupção da atividade osteoclástica, os osteoblastos começam a depositar a matriz orgânica (osteoide)
sobre a parede do canal do ósteon. À medida que sucessivas lamelas de osso vão sendo depositadas, o canal enfim
alcança as proporções relativas do ósteon original.
Na formação e na manutenção do osso, os osteoblastos proporcionam uma grande parte do controle local, não
somente por produzirem a nova matriz óssea, mas também por desempenharem um papel essencial na mediação
da atividade osteoclástica. Muitos estimuladores primários da reabsorção óssea, como o paratormônio,
apresentam efeitos diretos mínimos ou nenhum efeito sobre os osteoclastos. Depois que o sinal apropriado é
recebido pelo osteoblasto, que contém receptores para essas substâncias, ele secreta um mediador solúvel
denominado ligante do receptor ativador de fator nuclear kappa-B (RANKL), que induz a atividade
osteoclástica.

Controle do Metabolismo e do Remodelamento Ósseos:


A via central que relaciona a reabsorção óssea mediada pelos osteoclastos à formação óssea mediada pelos
osteoblastos é composta por um sistema parácrino, incluindo o RANKL, seu receptor RANK, e uma proteína
solúvel denominada osteoprotegerina (OPG).
O RANKL é produzido pelos osteoblastos e por seus precursores, liga-se ao RANK e promove a diferenciação
e a proliferação dos osteoclastos.
A molécula solúvel de OPG, produzida por muitos tecidos, atua como decoy receptor que bloqueia a ação do
RANKL.
Esse sistema assegura a estreita correspondência entre formação e reabsorção óssea, proporcionando aos diversos
mediadores biológicos - hormônios, citocinas, fatores de crescimento - um meio de influenciar a homeostase do
osso.

Referência Bibliográfica:
1. JUNQUEIRA, L. C. U.; Histologia Básica: Texto e Atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
2. NORRIS, T. L.; Porth Fisiopatologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.

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