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ANATOMIA GERAL

Roberta Oriques Becker


Tecido ósseo e estrutura
do esqueleto
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever as funções do sistema esquelético, das substâncias com-


pacta e esponjosa, do periósteo e do endósteo.
 Identificar as etapas do processo de crescimento, desenvolvimento e
remodelamento ósseo e o efeito do envelhecimento sobre os ossos.
 Classificar os ossos e seus acidentes ósseos.

Introdução
O osso, ou tecido ósseo, é um dos tecidos conectivos de sustentação. Os
ossos são estruturas irrigadas, inervadas e com características próprias
teciduais, de desenvolvimento e de respostas a injúrias. O tecido ósseo
encontra-se continuamente em crescimento, remodelagem e autorre-
paração. Ainda, contribui para a homeostasia do organismo por meio
do fornecimento de suporte, proteção, produção de células sanguíneas
e armazenamento.
As funções dos ossos do corpo vão além de suporte físico para ór-
gãos e músculos, eles sustentam o peso do corpo e trabalham com os
músculos para produzir movimentos controlados e precisos.
Neste capítulo, descreveremos a organização histológica, os aspectos
do desenvolvimento, do crescimento e das funções dos ossos.
2 Tecido ósseo e estrutura do esqueleto

Funções básicas do sistema esquelético


O sistema esquelético realiza várias funções básicas, como:

 Suporte: o esqueleto fornece uma estrutura para o corpo, sustentando


os tecidos moles e proporcionando pontos de fixação para os tendões
dos músculos esqueléticos.
 Proteção: os ossos protegem os órgãos que envolvem, como os ossos
do crânio protegem o encéfalo e a caixa torácica protege o coração e
os pulmões.
 Movimento: a contração dos músculos esqueléticos movimenta os
ossos, produzindo os movimentos corporais, o que é possível porque os
tendões unem os músculos e os ossos. Além disso, as articulações, que
são formadas onde dois ou mais ossos se unem, permitem movimentos
entre os ossos, mas previnem amplitudes excessivas.
 Armazenamento: os ossos captam do sangue e armazenam minerais,
como o cálcio e o fosfato, os quais são essenciais para a ocorrência de
diversos processos fisiológicos. O tecido adiposo também é armazenado
na cavidade medular dos ossos, sendo utilizado por outros tecidos como
fonte de energia e constituindo a medula óssea amarela.
 Produção de células sanguíneas: os ossos contêm cavidades preenchidas
com medula óssea vermelha, que origina as células sanguíneas e as
plaquetas (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

O raquitismo é uma doença que afeta crianças como resultado da deficiência de


vitamina D, vitamina essencial para a absorção normal do cálcio e sua deposição no
esqueleto. No raquitismo, há pouca mineralização dos ossos, os quais ficam bastante
flexíveis. Indivíduos acometidos por essa doença desenvolvem pernas arqueadas pelo
encurvamento dos ossos da coxa e da perna, sob a ação do peso do corpo (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
Tecido ósseo e estrutura do esqueleto 3

Estrutura e função dos componentes ósseos


A estrutura macroscópica de um osso pode ser analisada considerando-se as
partes de um osso longo (Figura 1). Um típico osso longo consiste nas partes
descritas a seguir:

 Diáfise: é a porção cilíndrica e longa do osso, sendo considerada o


corpo e o eixo dos ossos.
 Epífises: são as terminações distal e proximal do osso.
 Metáfises: são as regiões, em um osso maduro, nas quais a diáfise se
une às epífises. No osso em crescimento, cada metáfise contém uma
lâmina epifisial, camada de cartilagem hialina que permite o cresci-
mento longitudinal da diáfise do osso. Entretanto, quando o crescimento
longitudinal cessa, a cartilagem hialina é substituída por tecido ósseo,
sendo denominada, agora, de linha epifisial.

Figura 1. Partes de um osso longo: epífise, metáfise e diáfise.


Fonte: Tortora e Derrickson (2017, p. 118).
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 Cartilagem articular: é uma fina lâmina de cartilagem hialina que reco-


bre a parte da epífise na qual o osso forma uma articulação com outro
osso. Dessa forma, reduz o atrito e absorve o choque nas articulações
muito móveis. Em virtude da ausência de um pericôndrio na cartilagem
articular, o reparo de lesão é limitado.
 Cavidade medular: nos adultos, é um espaço cilíndrico oco, no interior
da diáfise, contendo medula óssea amarela adiposa.
 Periósteo: é uma bainha resistente de tecido conectivo denso e tem sua
irrigação sanguínea associada, que envolve a superfície do osso, em
partes em que não é recoberta por cartilagem articular. Além disso,
protege o osso, auxilia no reparo de fraturas, ajuda na nutrição do
tecido ósseo e atua como ponto de fixação para ligamentos e tendões.
 Endósteo: é uma camada celular única que reveste a superfície externa
de todas as cavidades dentro do osso, como a cavidade medular da
diáfise e as cavidades menores nos ossos esponjoso e compacto. O
endósteo inclui osteoblastos, osteoclastos e progenitoras osteocondrais
(TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Substâncias compacta e esponjosa


Com relação à estrutura microscópica, como outros tecidos conectivos, o
tecido ósseo é rico em matriz extracelular que envolve células amplamente
separadas. A matriz extracelular é composta por aproximadamente 25% de
água, 25% de fibras colágenas e 50% de sais minerais cristalizados. Quando
esses sais minerais são depositados no arcabouço formado pelas fibras co-
lágenas da matriz extracelular, eles se cristalizam e o tecido enrijece. Esse
processo de calcificação é iniciado pelos osteoblastos, as células formadoras
de osso. Embora a resistência do osso dependa dos sais minerais inorgânicos,
a flexibilidade do osso depende de suas fibras colágenas. A células presentes
no tecido ósseo são as células osteoprogenitoras, os osteoblastos, os osteócitos
e os osteoclastos (Figura 2) (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
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Figura 2. Estrutura histológica de um osso típico: tipos celulares.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 113).

As células presentes no tecido ósseo podem ser caracterizadas da seguinte


forma:

 Células osteoprogenitoras: o tecido ósseo contém um pequeno número


de células osteoprogenitoras. Essas células podem dividir-se para pro-
duzir células-filhas que se diferenciam em osteoblastos. A capacidade
de produzir osteoblastos adicionais adquire grande importância após
uma fratura ou fissura óssea.
 Osteoblastos: são células precursoras que secretam os componentes
orgânicos da matriz. Além disso, são responsáveis pela produção de um
novo osso, processo denominado osteogênese. Quando um osteoblasto
se torna circundado por matriz, ele se diferencia em um osteócito.
 Osteócitos: são células maduras que mantêm e monitoram o conteúdo
de proteínas e minerais da matriz circundante. Os osteócitos ocupam
pequenas câmaras, denominadas lacunas, limitadas por duas camadas
de matriz óssea calcificada. Essas camadas de matriz são conhecidas
como lamelas.
 Osteoclastos: são células grandes e multinucleadas que secretam ácidos
por meio de exocitose dos lisossomos. Os ácidos dissolvem a matriz
óssea e liberam aminoácidos, o cálcio e o fosfato armazenados. Os oste-
oclastos estão constantemente removendo matriz e liberando minerais, e
os osteoblastos estão sempre produzindo matriz que rapidamente agrega
esses minerais. O equilíbrio entre as atividades dos osteoblastos e dos
osteoclastos é muito importante. Caso os osteoclastos consigam remover
os sais de cálcio mais rapidamente do que a deposição dos osteoblastos,
os ossos ficarão fracos (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
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Os ossos não são completamente sólidos, uma vez que têm espaços entre as
células e a matriz extracelular. Adicionalmente, têm espaços que são canais para
a passagem dos vasos sanguíneos ou para o armazenamento da medula óssea
vermelha. Com base no tamanho e na distribuição dos espaços, as regiões de
um osso podem ser classificadas como compactas ou esponjosas. Em geral, 80%
do esqueleto é osso compacto e 20% é osso esponjoso (Figura 3) (TORTORA;
DERRICKSON, 2017).

Figura 3. Partes de um osso longo: osso compacto e osso esponjoso.


Fonte: Tortora e Derrickson (2017, p. 118).

O tecido ósseo compacto é encontrado abaixo do periósteo de todos os ossos


e constitui a diáfise dos ossos longos. Dessa forma, fornece proteção, suporte
e resistência ao estresse produzido pelo peso e pelo movimento. O tecido ósseo
compacto contém poucos espaços e está disposto em unidades estruturais re-
petitivas, chamadas de ósteons ou sistemas de Havers (Figura 4). Cada ósteon
consiste em um canal central, com suas lamelas dispostas concentricamente.
O canal central contém vasos sanguíneos, nervos e vasos linfáticos. Vasos
sanguíneos e nervos provenientes do periósteo penetram no osso compacto
pelos canais perfurantes (de Volkmann) transversais.
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Figura 4. Histologia do osso: ósteons no osso compacto e trabéculas no osso esponjoso.


Fonte: Tortora e Derrickson (2017, p. 119).

O tecido ósseo esponjoso compõe a maior parte do tecido ósseo dos ossos
curtos, planos e irregulares. Além disso, forma a maioria das epífises dos
ossos longos e a margem em torno da cavidade medular da diáfise dos ossos
longos. No entanto, o tecido ósseo esponjoso, ao contrário do tecido ósseo
compacto, não contém ósteons, sendo composto por unidades chamadas de
trabéculas. Os espaços macroscópicos entre as trabéculas de alguns ossos são
preenchidos com medula óssea vermelha. O tecido ósseo esponjoso, nos ossos
do quadril, nas costelas, no esterno, na coluna vertebral e nas extremidades
dos ossos longos, se constitui no único local onde a medula óssea vermelha
é encontrada, sendo, portanto, o local de produção de células sanguíneas nos
adultos (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
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Na cintilografia óssea, uma pequena quantidade de um marcador radiativo, que é


prontamente absorvido pelo osso, é injetada por via intravenosa. O grau de captação
do marcador está relacionado à quantidade de fluxo sanguíneo para o osso. Um
dispositivo de escaneamento (câmara gama) mede a radiação emitida pelos ossos e
a informação é traduzida em uma fotografia que pode ser lida como uma radiografia
em um monitor. O tecido ósseo normal é identificado por uma cor cinza constante
em todo o osso, em virtude de sua absorção uniforme do marcador radiativo. Áreas
mais escuras ou mais claras podem indicar anormalidades ósseas. Esse exame é o
padrão para triagem óssea, extremamente importante na detecção da osteoporose
nas mulheres (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Tipos de ossos
Os ossos podem ter muitos tamanhos e formas. Por exemplo, o fêmur, osso da
coxa, pode ter até 60 cm de comprimento em algumas pessoas e há uma cabeça
grande em forma de bola. O formato único de cada osso está relacionado com
alguma necessidade especial. O fêmur, por exemplo, resiste a grande peso e
pressão, e seu desenho de cilindro oco fornece força máxima com peso mínimo.
Na maioria dos casos, os ossos são classificados pela sua forma como longos,
curtos, planos e irregulares (Figura 5).

 Os ossos longos são consideravelmente maiores em comprimento do


que em largura. Um osso longo tem um corpo e duas extremidades
(exemplos: os ossos dos membros, exceto a patela e os ossos do punho
e do tornozelo).
 Os ossos curtos têm um formato aproximado de cubo (exemplos: os
ossos do punho e do tornozelo).
 Os ossos sesamoides são tipos especiais de ossos curtos que se encon-
tram sob tendões (exemplo: patela).
 Os ossos planos são finos, achatados e geralmente um pouco curvados
(exemplos: o esterno, as escápulas, as costelas e a maioria dos ossos
do crânio).
Tecido ósseo e estrutura do esqueleto 9

 Os ossos irregulares têm formatos mais complicados que não se enqua-


dram em nenhuma das classificações anteriores (exemplos: as vértebras
e os ossos do quadril) (MARIEB; HOEHN, 2009).

Figura 5. Classificação dos ossos de acordo com a forma.


Fonte: Marieb e Hoehn (2009, p. 158).

Acidentes ósseos
A superfície externa dos ossos raramente é lisa e sem características especiais.
Ao invés disso, são observadas projeções, depressões e aberturas que servem
como locais de ligação para músculos, ligamentos e tendões, como superfícies
articulares ou como condutos para vasos sanguíneos e nervos. As projeções
(protuberâncias) a partir da superfície óssea apresentam características e
funções distintas e geralmente estão relacionados com o estresse criado pela
tração exercida pelos músculos fixados nos ossos, ou são superfícies modifi-
cadas em que os ossos se encontram e formam articulações. As depressões e
as aberturas geralmente servem para a passagem de nervos e vasos sanguíneos
(MARIEB; HOEHN, 2009).
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Os tipos mais importantes de acidentes ósseos estão descritos a seguir. Você deve se
familiarizar com estes termos, uma vez que serão frequentemente mencionados em
seus estudos sobre anatomia humana:
 Projeções que são locais para fixação de músculos e ligamentos: tuberosidade
(grande projeção arredondada); crista (saliência estreita do osso); trocanter (pro-
cesso com formato irregular, muito grande e sem ponta); linha (saliência estreita
do osso, menos proeminente que uma crista); tubérculo (pequena projeção ou
processo arredondada); epicôndilo (área aumentada sobre ou acima de um côn-
dilo); espinha (projeção afilada, delgada e frequentemente pontiaguda); processo
(qualquer proeminência óssea).
 Projeções que ajudam a formar articulações: cabeça (expansão óssea sobre um colo
estreito); faceta (superfície articular lisa e quase plana); côndilo (projeção articular
arredondada); ramo (barra de osso semelhante a um braço).
 Depressões e aberturas que permitem a passagem de vasos sanguíneos e nervos:
meato (passagem semelhante a um canal); seio (cavidade dentro de um osso, preen-
chida com ar e revestida por uma membrana mucosa); fossa (depressão rasa em um
osso, semelhante a uma bacia e que frequentemente atua como superfície articular);
sulco (pequena depressão); fissura (abertura estreita e semelhante a uma fenda);
forame (abertura redonda ou oval através de um osso) (MARIEB; HOEHN, 2009).

Formação dos ossos


A ossificação é um processo pelo qual os ossos são formados. Ocorre em
quatro situações principais: (1) a formação inicial de ossos no embrião e no
feto, (2) o crescimento dos ossos durante a infância e a adolescência até seu
tamanho adulto ser alcançado, (3) a remodelação do osso (substituição do
tecido ósseo velho por tecido ósseo novo durante toda a vida) e (4) o reparo
de fraturas durante toda a vida.
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Formação óssea inicial no embrião e no feto

O “esqueleto” embrionário é composto de mesênquima que tem o formato dos


ossos. Esses “ossos” fornecem o modelo para a subsequente ossificação, que
começa durante a sexta semana do desenvolvimento embrionário. Durante
esse período, ocorre a substituição do tecido conectivo preexistente por tecido
ósseo por meio dos dois métodos de ossificação descritos a seguir:

 Na ossificação intramembranácea, o osso se forma diretamente no inte-


rior do mesênquima disposto em camadas laminadas que se assemelham
a membranas. Os ossos planos do crânio, a maioria dos ossos da face,
a mandíbula e parte da clavícula são formados dessa forma. Os locais
na membrana onde a ossificação começa são chamados de centros de
ossificação. Os centros de ossificação se expandem para formar um
osso por gradualmente ossificar a membrana. Assim, os centros têm os
ossos mais velhos e as bordas em expansão têm os ossos mais novos. Os
espaços maiores, cobertos por uma membrana entre os ossos do crânio
em desenvolvimento que ainda não foram ossificados, são chamados
de fontanelas ou moleira. Os passos da ossificação intramembranosa
são as descritas a seguir. (1) Células mesenquimais da membrana se
tornam células progenitoras osteocondrais, que se especializam para
se tornarem osteoblastos. Os osteoblastos produzem matriz óssea que
circunda as fibras de colágeno da membrana de tecido conectivo e
se tornam osteócitos. Dessa forma, diversas pequenas trabéculas de
osso reticular se desenvolvem. (2) Osteoblastos adicionais se unem à
superfície das trabéculas e produzem mais osso, tornando a trabécula
mais larga e mais longa. (3) Células nesses espaços do osso esponjoso
se especializam para formar medula óssea e células que circundam o
osso em desenvolvimento formam o periósteo (Figura 6) (VAPUTTE
et al., 2016).
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Figura 6. Histologia da ossificação intramembranácea.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p.118).

 Na ossificação endocondral, o osso se forma no interior da cartilagem


hialina que se desenvolve a partir do mesênquima. A maioria dos ossos
do corpo é formada dessa forma, mas esse tipo de ossificação é mais
bem observado em um osso longo e ocorre como se descreve a seguir.
(1) No local em que o osso se formará, as células mesenquimais se
aglomeram na forma do futuro osso e, em seguida, se desenvolvem
nos condroblastos. Os condroblastos secretam a matriz extracelular
cartilagínea, produzindo um modelo cartilagíneo constituído por car-
tilagem hialina. (2) Assim que os condroblastos se tornam profunda-
mente engastados na matriz extracelular cartilagínea, são chamados
condrócitos. À medida que o modelo cartilagíneo continua a crescer,
os condrócitos na sua região média aumentam de tamanho e a matriz
extracelular circundante começa a se calcificar. (3) Uma artéria nutrícia
penetra no pericôndrio e na região mediana do modelo cartilagíneo em
calcificação, estimulando as células osteoprogenitoras do pericôndrio
a se diferenciarem em osteoblastos. Assim que o pericôndrio começa a
formar o osso, torna-se conhecido como periósteo. Próximo à área média
do modelo cartilagíneo, vasos sanguíneos crescem dentro da cartilagem
calcificada em desintegração e induzem o crescimento de um centro
primário de ossificação, uma região na qual o tecido ósseo substitui a
maior parte da cartilagem. Os osteoblastos começam a depositar a matriz
Tecido ósseo e estrutura do esqueleto 13

extracelular óssea sobre os restos de cartilagem calcificada, formando


trabéculas de osso esponjoso. (4) À medida que o centro primário de
ossificação cresce em direção às extremidades do osso, os osteoclastos
decompõem algumas trabéculas do osso esponjoso recém-formado.
Essa atividade forma uma cavidade, a cavidade medular, na diáfise.
(5) Quando os vasos sanguíneos penetram nas epífises, centros secundá-
rios de ossificação se desenvolvem, geralmente na época do nascimento.
A formação óssea é similar àquela dos centros primários de ossificação,
com exceção do osso esponjoso, que permanece no interior das epífises.
(6) A cartilagem hialina que recobre as epífises se torna a cartilagem
articular. Antes da maioridade, a cartilagem hialina permanece entre
a diáfise e a epífise, como a lâmina epifisial (placa de crescimento),
responsável pelo crescimento longitudinal dos ossos longos (Figura 7)
(TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Figura 7. Ossificação endocondral.


Fonte: Tortora e Derrickson (2017, p. 123).
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Crescimento ósseo em comprimento e espessura

Durante a lactância, a infância e a adolescência, os ossos longos crescem em


comprimento e espessura. No interior da lâmina epifisial há um grupo de
condrócitos jovens que estão constantemente em divisão. À medida que um
osso cresce em comprimento, novos condrócitos são formados no lado epifisial
da placa, enquanto os condrócitos velhos são substituídos por osso, no lado
diafisário da placa. Quando a adolescência chega ao fim, a formação de novas
células e de matriz extracelular diminui, cessando, finalmente, entre os 18 e
os 25 anos. Nesse ponto, o osso substitui toda a cartilagem, deixando uma
estrutura óssea chamada de linha epifisial. O fechamento da lâmina epifisial
é um processo gradual e o grau com que ocorre é útil na determinação da
idade óssea, prevendo o tamanho adulto e estabelecendo a idade na morte, a
partir dos restos mortais ósseos, especialmente em recém-nascidos, crianças
e adolescentes.
À medida que os ossos longos se alongam, também crescem em espessura.
Na superfície do osso, células no pericôndrio se diferenciam em osteoblastos,
que secretam matriz extracelular óssea. Em seguida, os osteoblastos se desen-
volvem em osteócitos, lamelas são adicionadas à superfície do osso e ocorre
a formação de novos ósteons de tecido ósseo compacto. Ao mesmo tempo,
osteoclastos do endósteo decompõem o tecido ósseo que reveste a cavidade
medular. Desse modo, a cavidade medular se expande, à medida que o osso
aumenta em espessura (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Remodelação óssea

A remodelação óssea é a substituição contínua do tecido ósseo velho por tecido


ósseo novo, incluindo a reabsorção óssea, remoção de minerais e de fibras
colágenas do osso pelos osteoclastos, e a deposição óssea, adição de minerais e
fibras colágenas ao osso pelos osteoblastos. Esse processo está interligado com
o equilíbrio entre as ações dos osteoclastos e as dos osteoblastos. Quando muito
tecido novo é formado, os ossos se tornam anormalmente espessos e pesados.
Ao contrário, uma perda excessiva de cálcio ou de tecido ósseo enfraquece os
ossos, que podem se partir, como ocorre na osteoporose, ou podem se tornar
muito flexíveis, como no raquitismo (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
Tecido ósseo e estrutura do esqueleto 15

O movimento dos dentes por intermédio de aparelhos ortodônticos aplica um estresse


sobre o osso formador dos encaixes que ancoram os dentes. Em resposta a esse estresse
artificial, os osteoclastos e os osteoblastos remodelam os encaixes para que os dentes
se alinhem adequadamente (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Fraturas

Apesar de sua impressionante força, os ossos são suscetíveis a fraturas. Du-


rante a juventude, a maioria das fraturas resulta de um trauma excepcional
que torce ou quebra os ossos. No entanto, na velhice, a maioria das fraturas
ocorre porque os ossos tornam-se mais finos e fracos (MARIEB; HOEHN,
2009). Dessa forma, o reparo de uma fratura inclui vários passos. Primeiro,
os fagócitos começam a remover qualquer tecido ósseo morto. Em seguida,
os condroblastos formam fibrocartilagem no local da fratura, que une as
extremidades fraturadas do osso. A seguir, a fibrocartilagem é convertida em
tecido ósseo esponjoso pelos osteoblastos. Finalmente, ocorre a remodelação
óssea, na qual partes mortas do osso são absorvidas pelos osteoclastos e osso
esponjoso é convertido em osso compacto (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Envelhecimento

Com o avanço da idade, ocorrem modificações significativas nos ossos, as


quais estão relacionadas com a qualidade e a quantidade de matriz óssea. A
matriz óssea apresenta um aumento da fragilidade, que está associada com
a redução da produção de colágeno, resultando em uma quantidade maior de
fibras minerais do que de fibras colágenas. Com o envelhecimento, a quantidade
de matriz também diminui porque sua taxa de formação pelos osteoblastos se
torna mais lenta do que a taxa de quebra de matriz pelos osteoclastos.
A massa óssea está no seu máximo por volta dos 30 anos de idade. Homens
geralmente têm ossos mais densos do que mulheres em razão dos efeitos da
testosterona e do maior peso corpóreo. Após 35 anos de idade, tanto o homem
quanto a mulher sofrem perda óssea a uma taxa de 0,3 a 0,5% ao ano. No
entanto, após a menopausa, essa perda pode aumentar em até 10 vezes nas
16 Tecido ósseo e estrutura do esqueleto

mulheres. De forma geral, a forma mais efetiva de medida preventiva contra os


efeitos do envelhecimento no sistema esquelético é a combinação de aumento
na atividade física com suplementos dietéticos de cálcio e vitamina D.
A princípio, o osso esponjoso é perdido quando as trabéculas se tornam
mais finas e fracas. A habilidade das trabéculas de fornecer suporte também
diminui assim que elas se desconectam umas das outras. Por fim, algumas
das trabéculas desaparecem por completo. Enquanto isso, a perda do osso
compacto começa por volta de 40 anos e aumenta após os 45 anos. Os ossos se
tornam mais finos, mas suas dimensões externas são pouco alteradas, porque
a maior parte do osso compacto é perdida abaixo do endósteo nas superfícies
internas. Além disso, o osso compacto remanescente enfraquece em razão
do remodelamento ósseo incompleto, uma vez que, com o envelhecimento,
os ósteons novos não conseguem completar os espaços produzidos quando
os ósteons velhos são removidos (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

1. A substância esponjosa do d) osso calcificado.


osso é formada por: e) tecido areolar.
a) osteonas. 4. A alteração do processo de
b) traves e placas. ossificação que ocorre no
c) lamelas concêntricas. envelhecimento é denominada:
d) apenas espículas. a) osteopenia.
e) medula óssea. b) osteomielite.
2. A unidade funcional c) osteíte.
básica da substância óssea d) osteocondrite.
compacta madura é: e) espondilolistese.
a) a osteona. 5. O processo de ampliação
b) o canalículo. em diâmetro de um osso em
c) a lamela. desenvolvimento é denominado:
d) o canal central. a) crescimento aposicional
e) a medula flava. da superfície externa.
3. A ossificação endocondral inicia-se b) crescimento intersticial
com a formação de um modelo de: dentro da matriz.
a) tecido conectivo fibroso. c) crescimento lamelar.
b) cartilagem hialina. d) crescimento haversiano.
c) membrana sinovial. e) pinocitose.
Tecido ósseo e estrutura do esqueleto 17

MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009. (Coleção Martini).
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2016.

Leituras recomendadas
TANK, P. W.; GEST, T. R. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2009.
TOY, E. C. et al. Casos clínicos em anatomia. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. (Lange).

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