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Nº 29 | Set | Out | Nov |2023

C A P I T A L REUMATO

REUMATOLOGIA
PERIOPERATÓRIA

FIBROMYALGINESS

GRUPO ANALGESIA

PRIMÓRDIOS DO
ENSINO MÉDICO

FIBROMIALGIA NO
AMBIENTE LABORAL

#29 1
C A P I T A L REUMATO

PALAVRA DA EDITORA

ANNA BEATRIZ
ASSAD MAIA

ÍNDICE Editora da Revista Capital


Reumato 2023/2024

02 Há muito se discute sobre qual definição melhor abraça o conceito de arte. Muitos se
Palavra arriscaram a traçar limites, pois definir é também criar fronteiras.
da Editora Pareyson, 1984, escreveu: “arte entendido como fazer, arte entendida como exprimir,
arte entendida como conhecer. Esta conceituação representa um passo adiante da
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definição histórica da arte, concebida e posicionada dentro dos limites temporais de
Mensagem cada época. Ainda assim, no afã de defini-la, algo escapa.
do Presidente
Atentemos para a parte da definição que nos diz que arte é expressão. A compreensão
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desse conceito é fácil, na medida que a arte é singular e intransferível. Mas poderia ela
Aconteceu estar dissociada do conhecimento? Não podemos negar que até mesmo as pinturas
CAPA 09 rupestres pressupõem um saber, seja sobre a natureza, cores e angústias cotidianas.
SINTO FLORES A vez e a voz
TÉCNICA do especialista O Grupo Analgesia, coletivo artístico integrado por profissionais de saúde e pacientes
ARTE DIGITAL portadores de doenças crônicas do Hospital Universitário de Brasília, desafia todos
EM IMAGENS 17 os conceitos e limites da arte.Tentar defini-lo apenas como arte relacional talvez seja
MÉDICAS
Reumato na limitante. O caminho temático que o Grupo Analgesia percorre traz para a concretude
ARTISTA prática da expressão artística algumas das tópicas Freudianas. Ao percorrer e transcender os
ANNA VALERIA caminhos da dor, na sua crueza, procede à ressignificação do processo doloroso. Ao se
MAIA 24 atirar sem medo nos labirintos do inconsciente, facilita a cura e propicia o surgimento
Humanidades de uma nova linguagem, que é própria a cada membro do coletivo. Descobrir uma
Médicas nova forma de expressão, semelhante a aprender uma língua estrangeira, equivale
a aumentar o repertório psíquico para lidar, entre outras coisas, com o adoecimento
44 crônico. O Grupo Analgesia é nos mostra como é possível e necessário renascer a
Café & Leitura partir e, sobretudo, apesar da dor.

51 Boa Leitura!
Ponto de vista

DIRETORIA - GESTÃO 2023/2024 COMISSÃO CIENTÍFICA:


Reumatologia Pediátrica:
DIRETORIA COMISSÕES ESPECIAIS Aline Garcia Islabão
Artrite Reumatoide: Luciana Feitosa Muniz
Presidente: Luciano Junqueira Guimarães Comissão de eventos: Esclerose Sistêmica: Sandra Maximiano de O. Delgado
Vice-presidente: Luciana Feitosa Muniz Jamille Nascimento Carneiro Espondiloartrites: Cleandro Pires Albuquerque
1º secretário: Anna Beatriz Assad Maia Ana Cristina Vanderley OLiveira Fibromialgia: Ana Paula Gomides
Imagem em Reumatologia: Robson G. Cardoso
2º secretário: Ana Paula Monteiro Gomides Comissão de mídias e divulgação:
Miopatias inflamatórias: Álida Alves dos Santos
1º tesoureira: Gabriela Profirio Jardim Paula Cristina Montina
Osteoartrite: Luis Piva Junior
2º tesoureira: Ana Carolina Hidaka Osteoporose: Jamille Nascimento Carneiro
Comissão de Integração entre os
Diretora científica: Lícia Maria Mota Serviços Públicos de Reumatologia do Lúpus Eritematoso Sistêmico e Síndrome do Anticorpo
Diretora Revista Capital Reumato: DF e a Secretaria Estadual de Saúde: antifosfolipede: Carlos Eduardo de Carvalho Lins
Anna Beatriz Assad Maia Regina Alice Fontes Von Kirchenheim Vasculites: César Kozak Simaan

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C A P I T A L REUMATO

MENSAGEM DO PRESIDENTE

Caros colegas reumatologistas,

Chegamos ao fim do nosso primeiro ano da gestão 2023/24 com muitos frutos.
Nossa Sociedade se fortaleceu, no momento somos mais de sessenta sócios.
Mesmo com todas as dificuldades, conseguimos realizar o ATUAR 2023 de maneira DR. LUCIANO
magnífica, com participação de mais de 100 pessoas. JUNQUEIRA
Participamos ativamente do SBR 2023, colaborando na organização, ministrando várias GUIMARÃES
palestras e participando como ouvinte em grande número.
Presidente da Sociedade
Realizamos atividades de esclarecimento sobre as doenças reumáticas à população. A Feira de Reumatologia de
de Saúde do DF, promovida pela AMBr e a Campanha de Conscientização e Prevenção das Brasília 2023/2024
Doenças Reumáticas, promovida pela SBR.
Tivemos mais uma reunião (reumato)2, com cerca de 60 participantes de forma online,
onde discutimos Avanços no Tratamento do LES, tendo um palestrante internacional, Dr.
Carlos Enrique Toro, da Colômbia.
Agradecemos imensamente o apoio das indústrias AstraZeneca, GSK, AbbVie, Janssen,
Organon, UCB, Novartis, Laboratório Sabin e Instituto CV de Reumatologia pelo apoio na
Baixe todas as edições da Revista
realização do ATUAR 2023. Capital Reumato no site:
Ressaltando que o trabalho em grupo é o lema de nossa administração, para o próximo www.reumatodf.com.br
ano, iremos trabalhar, junto a Secretaria de Saúde do DF, para melhor estruturação dos
Contato SRB:
serviços públicos de Reumatologia do DF. Certamente, conto com o apoio de todos os
reumatobrasilia@gmail.com
reumatologistas do DF. (61) 3245-1671 | (61) 99668 0935

Um grande abraço, Feliz Natal e Feliz Ano Novo a todos. Editoração e Design Gráfico:
CS DESIGN
Dr. Luciano Junqueira Guimarães Contato: Cristiane (61) 98131 7287
www.csdesigngrafico.com.br
cristiane@csdesigngrafico.com.br

EXPEDIENTE:
Reumatologistas revisoras: Ana Paula Gomides, Licia Maria Mota,
Ravena Fontenele Belchior Cabral, Gabriela Profirio Jardim Santos,
Jamille Nascimento Carneiro e Luciana Feitosa Muniz

Envie seu texto para ser publicado na revista: reumatobrasilia@gmail.com


Material de distribuíção exclusiva para área médica. A revista Capital Reumato não se responsabiliza por serviços, produtos
e imagens publicadas pelos anunciantes. As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não
expressam, necessariamente, a opinião da Revista Capital Reumato.

A responsabilidade de conteúdo médico científico do material recebido para publicação, bem como por eventuais conceitos
emitidos ou conflitos de interesses, é exclusiva dos autores.

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ACONTECEU

ATUAR 2023
Dias 18 e 19 de agosto no Clube da AMBr.

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C A P I T A L REUMATO

ACONTECEU

FEIRA DE SAÚDE DO DF CAMPANHA DE CONSCIENTIZAÇÃO E


Dia 15 de setembro na estação do PREVENÇÃO DAS DOENÇAS REUMÁTICAS
metrô da rodoviária central Dia 16 de setembro no Parque da Cidade.

CONGRESSO BRASILEIRO DE REUMATOLOGIA (SBR 2023)


Dias 04 a 07 de outubro em Goiânia.

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C A P I T A L REUMATO

ACONTECEU

CONGRESSO BRASILEIRO DE REUMATOLOGIA (SBR 2023)


Dias 04 a 07 de outubro em Goiânia.

(REUMATO) 2
AVANÇOS NO TRATAMENTO DO LES
Online dia 26 de outubro, apoio AstraZeneca.

Dias 16 e 17 de fevereiro de 2024, curso preparatório


para prova de título de especialista em Reumatologia

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ACONTECEU

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C A P I T A L REUMATO

A VEZ E A VOZ DO ESPECIALISTA

BERNARDO CUNHA

PhD Reumatologista, TE
Professor das Faculdades de Medicina do Unieuro
Brasília-DF

NOVAS EVIDÊNCIAS
EM REUMATOLOGIA
PERIOPERATÓRIA

Em 2012, eu realizava estudos sobre cirurgias em pacientes com


artrite reumatoide. Naquela época, eu avaliava esses pacientes no período
perioperatório e me incomodava muito ser obrigado a suspender as
DMCD dos pacientes e, em consequência, vê-los reativar a doença de
base, complicando significativamente o reabilitação pós-operatória. Eu me
perguntava, à época, se isso era realmente necessário. No mesmo momento,
eu estava iniciando meu doutorado em Ciências Médicas na UnB e estava
cursando a disciplina de Prática Interdisciplinar em Artrite Reumatoide,
que era coordenada na época pela Prof. Lícia Mota. Ela nos solicitou a
apresentar uma revisão sobre artrite reumatoide (AR), abordando alguma
especificidade de nossa preferência. Foi então a oportunidade para visitar
o tema que me encucava. Eu realizei a minha primeira revisão sistemática,
sobre o desfecho pós-operatório em artroplastias de quadril e joelho, de
acordo com a suspensão (ou não) de anti-TNF em pacientes com AR. A prof.
Lícia ficou satisfeita com o manuscrito, que subsequentemente publicamos
em uma revista indexada (1).

Com isso, no mesmo ano fui convidado para ministrar uma palestra em
uma mesa redonda sobre o tema no CBR 2012 em Vitória-ES, mas me foi
solicitada uma abordagem um pouco mais ampla. Nessa palestra, eu reuni
dados adicionais da literatura, me restringindo ao grupo de pacientes que eu
tinha mais experiência, que eram os pacientes com AR e espondiloartrites
(EA). No fim da apresentação, eu fiz um resumo das evidências:

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C A P I T A L REUMATO

• O pré-operatório de pacientes reumatológicos deve avaliar aspectos relacionados à doença de base;

• Pacientes com AR têm maior risco de infecção em cirurgias ortopédicas;

• Não está estabelecido se a AR e EA aumentam o risco de eventos cardiovasculares perioperatórios;

• As cirurgias de coluna vertebral em pacientes com AR têm alto índice de complicações;

• O MTX pode ser mantido no período perioperatório. Não há racional para a suspensão da leflunomida,
que é uma droga com recirculação hepática ou da sulfassalazina, que não aumenta o risco de infecção e
tem efeito antibiótico;

• Os anti-TNF podem ser suspensos no período perioperatório; a interrupção deve ser feita pelo menor
tempo possível; a suspensão de outros DMCD deve ser decidida caso a caso;

• A suplementação de corticoide é um procedimento empírico; considerar em casos de uso de corticoide


oral, parenteral ou intra-articular.

Após publicar dois estudos sobre perioperatório em pacientes reumáticos, incluindo o já


descrito e um outro (2), eu tive outras prioridades e parei de pesquisar sobre o tema, embora
tenha continuado a visitá-lo frequentemente em minhas atividades assistenciais. Até que, neste
ano de 2023, eu fui lembrado para ministrar uma palestra semelhante na Jornada Centro-Oeste
de Reumatologia, ocorrida em Cuiabá-MT. O convite foi uma oportunidade para atualizar os
conhecimentos e tentar responder a antigas perguntas. Antes da Jornada, fui convidado pelo corpo
editorial desta revista para relatar as minhas conclusões aqui, na Capital Reumato. Eu vou separar
os itens em perguntas, à semelhança do que se faz em revisões em artigos científicos, porém de
maneira mais informal, abordando os temas que não tiveram uma resposta definitiva até 2012.

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As DMCD devem ser suspensas antes da cirurgia?

Para responder a essa pergunta, nós precisamos pesar o risco de infecção


induzido pela imunossupressão vs. o risco de reativação da doença no pós-
operatório e suas consequências para a reabilitação. Em 2018, Goodman
e cols. mostraram que os pacientes com artrite reumatoide rapidamente
reativam a doença após suspensão das DMCD, atingindo 20% já após uma
semana da cirurgia e chegando a uma incidência superior a 60% após 6
semanas (3). Os fatores preditivos de reativação foram as avaliações prévias
de atividade inflamatória, incluindo ICADs e a PCR (3). Apesar disso, não foi
demonstrada piora clinicamente significativa da dor no sítio cirúrgico em 3
meses (4).

Infelizmente, na última década, não foi realizado nenhum RCT acerca do


tema, por isso a melhor evidência disponível vem de estudos observacionais.
No estudo de Borgas e cols., dentre 494 pacientes, 7 infecções ocorreram,
sendo 6 em uso de MTX e uma em uso de anti-TNF (5). Um outro grupo
realizou dois estudos com análise de dados de registro, sugerindo que o
infliximabe e o abatacepte poderiam ser suspensos na metade do intervalo
de dose (6,7). Por exemplo, a suspensão do infliximabe 4 semanas antes da
cirurgia não levou a um maior número de infecções do que 8 semanas, como
tem sido recomendado recentemente (6). A recomendação da diretriz da
ACR de 2022 recomenda essencialmente o mesmo esquema recomendado
pela Dra. Susan Goodman, reumatologista do Hospital for Special Surgery
em Nova Iorque, EUA: a suspensão dos biológicos pelo tempo de uma dose
(8). Por exemplo, uma cirurgia eletiva deveria ser realizada após 2 semanas
da última dose de adalimumabe. Por outro lado, ainda não há dados com
inibidores de JAK; há dados de literatura descrevendo uma reativação muito
rápida após suspensão de drogas dessa classe, por isso a última diretriz da
ACR de 2022 recomenda suspender tais medicações 3 dias antes da cirurgia
(8), que é um período mais curto do que se apregoava em recomendações
anteriores. No meu conhecimento, não há nenhum estudo até a presente
data que tenha avaliado a suspensão da sulfassalazina e da leflunomida no
período perioperatório. Em suma, não está indicada a suspensão de DMCD
sintéticas e a suspensão dos biológicos e iJAK é recomendada, porém
questionável

Enquanto há escassas evidências acerca da manutenção ou suspensão


das DMCD no período perioperatório, o momento de retornar a medicação
apresenta um verdadeiro “deserto” de evidências. Na diretriz da ACR de
2022, foi recomendado empiricamente esperar a cicatrização completa
da ferida operatória (8). Essa seria uma boa pergunta para os registros
nacionais e internacionais responderem futuramente.

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C A P I T A L REUMATO

Deve ser realizada suplementação de corticoide manutenção da dose habitual de prednisona. O desfecho
no período perioperatório, em pacientes em uso primário era hipotensão postural no pós-operatório (!).
crônico dessa medicação? Foram avaliados apenas 92 pacientes, mas mesmo assim
a intervenção atingiu o critério de não-inferioridade,
Para responder a essa pergunta, devemos considerar inclusive em desfechos secundários, como infecção
que os corticoides aumentam o risco de infecção em do sítio cirúrgico e outras complicações. Entretanto,
qualquer dose, sendo o risco proporcional à dose não sabemos se esses dados são extrapoláveis para a
cumulativa administrada. Por outro lado, não está indicada população de pacientes reumáticos. Por outro lado, o
a sua suspensão, seja pelo risco de insuficiência suprarrenal risco individual de insuficiência suprarrenal aguda não
aguda ou reativação da doença inflamatória. foi avaliado.

Apesar do amplo uso da suplementação Os pacientes portadores de doenças


de corticóide IV no período perioperatório, tal articulares inflamatórias apresentam maior risco
recomendação é baseada nos resultados de estudos de de complicações em outras cirurgias?
muito baixa qualidade. A melhor evidência disponível é
o estudo de Zaghiyan e cols. (9), publicado em 2014, um As cirurgias de coluna vertebral são frequentemente
RCT single-blinded de não-inferioridade, cuja população indicadas para pacientes com AR e EA, devido a uma
era de pacientes com doença inflamatória intestinal série de complicações: subluxação atlantoaxial, fraturas
submetidos a cirurgias colorretais. O estudo testou vertebrais, hipercifose extrema, entre outros. Em 2022,
a intervenção com hidrocortisona em dose alta vs. a revisão sistemática de Streufert e cols. sugeriu que os

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pacientes portadores de AR têm maior chance de infecção, outras complicações


clínicas ou relacionadas ao implante e maior chance de reoperação do que a
população geral, embora com OR com intervalos de confiança largos (10). Isso
demonstra que há a necessidade de mais estudos para responder definitivamente a
essa pergunta. Não há dados acerca de pacientes com EA.

Os pacientes com EA apresentam maior risco de infecção de prótese?

Dois estudos foram publicados em 2022 e 2023 sobre o tema, sugerindo de fato
um aumento do risco de infecção de prótese, mas não da mortalidade ou do risco
de revisão em 5 anos (11,12). Entretanto, só foram analisados em torno de 1000
pacientes com espondilite anquilosante, por isso pode ter havido erro beta, uma vez
que tais complicações são relativamente raras. Mais estudos são necessários para
responder a essa pergunta em definitivo.

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Os pacientes com AR apresentam maior risco de eventos


cardiovasculares em artroplastias?

Em 2018, Burn e cols. analisaram bancos de dados do National


Health Service britânico. Foram incluídas em torno de vinte
mil cirurgias entre artroplastias de quadril e joelho, sendo
aproximadamente 1500 em pacientes com AR. Nesse estudo, foi
identificado um aumento de risco de IAM e de revisão de prótese
em 10 anos, mas não houve diferenças em relação à mortalidade e
tromboembolismo venoso sintomático (13).

RESUMO DAS EVIDÊNCIAS E MINHAS RECOMENDAÇÕES

• A suspensão dos medicamentos no pré-operatório pode levar rapidamente a reativação


no pós-operatório, por isso tem que ser avaliada caso a caso;
• A atividade de doença no pré-operatório prediz atividade de doença no pós-operatório
com dose-resposta, além de dor pós-operatória em artroplastia, embora no último caso
a significância clínica seja questionável.
• O MTX pode ser mantido no período perioperatório. Leflunomida e sulfassalazina
podem ser mantidos, apesar de evidência de muito baixa qualidade, se
considerarmos o racional farmacológico.
• É inconclusivo se os anti-TNF devem ser suspensos no período perioperatório;
• O abatacepte IV pode ser suspenso com período inferior a 4 semanas da cirurgia.
• O infliximabe pode ser suspenso em torno de 4 semanas antes da cirurgia.
• Não há dados sobre os outros biológicos e iJAK; por enquanto, se a opção for pela
suspensão, é recomendável suspender pelo menor tempo possível antes da cirurgia.
Considerando dados extrapolados de estudos clínicos de suspensão de droga, recomenda-se
que os iJAK sejam suspensos somente 3 dias antes da cirurgia.
• A dose habitual de corticoide pode ser mantida no período perioperatório, em
detrimento de administrar dose de suplementação, mas devem ser considerados em
cada paciente os fatores de risco para insuficiência adrenal aguda.
• Em cirurgias da coluna vertebral, pacientes com AR apresentam aumento do risco de
infecção, disfunção do material, reoperação e outras complicações.
• Pacientes com AR têm risco aumentado de IAM e revisão de artroplastia do quadril em
10 anos, mas não de morte cardiovascular.
• Pacientes com EA têm risco aumentado de infecção em artroplastia do quadril, mas não
de morte em 90 dias ou revisão em 5 anos.

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C A P I T A L REUMATO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Cunha BM, Mota LMH, Santos-Neto LL. Risk of orthopedic surgical site infections in patients with rheumatoid arthritis treated with antitumor necrosis factor
alpha therapy. Int J Rheumatol. 2012;2012:369565. doi: 10.1155/2012/369565.
2- Cunha BM, Oliveira SB, Santos-Neto LL. Incidence of infectious complications in hip and knee arthroplasties in rheumatoid arthritis and osteoarthritis patients.
Rev Bras Reumatol. 2011 Dec;51(6):609-15.
3- Goodman SM, Bykerk VP, DiCarlo E, Cummings RW, Donlin LT, Orange DE, et al. Flares in Patients with Rheumatoid Arthritis after Total Hip and Total Knee
Arthroplasty: Rates, Characteristics, and Risk Factors. J Rheumatol. 2018 May;45(5):604-611. doi: 10.3899/jrheum.170366.
4- Goodman SM, Mirza SZ, DiCarlo EF, Pearce-Fisher D, Zhang M, Mehta B, et al. Rheumatoid Arthritis Flares After Total Hip and Total Knee Arthroplasty:
Outcomes at One Year. Arthritis Care Res (Hoboken). 2020 Jul;72(7):925-932. doi: 10.1002/acr.24091.
5- Borgas Y, Gülfe A, Kindt M, Stefánsdóttir A. Anti-rheumatic treatment and prosthetic joint infection: an observational study in 494 elective hip and knee
arthroplasties. BMC Musculoskelet Disord. 2020 Jun 29;21(1):410. doi: 10.1186/s12891-020-03459-z.
6- George MD, Baker JF, Hsu JY, Wu Q, Xie F, Chen L, et al. Perioperative Timing of Infliximab and the Risk of Serious Infection After Elective Hip and Knee
Arthroplasty. Arthritis Care Res (Hoboken). 2017 Dec;69(12):1845-1854. doi: 10.1002/acr.23209.
7- George MD, Baker JF, Winthrop K, Alemao E, Chen L, Connolly S, et al. Timing of Abatacept Before Elective Arthroplasty and Risk of Postoperative Outcomes.
Arthritis Care Res (Hoboken). 2019 Sep;71(9):1224-1233. doi: 10.1002/acr.23843.
8- Goodman SM, Springer BD, Chen AF, Davis M, Fernandez DR, Figgie M, et al. 2022 American College of Rheumatology/American Association of Hip and Knee
Surgeons Guideline for the Perioperative Management of Antirheumatic Medication in Patients With Rheumatic Diseases Undergoing Elective Total Hip or Total
Knee Arthroplasty. Arthritis Rheumatol. 2022 Sep;74(9):1464-1473. doi: 10.1002/art.42140.
9- Zaghiyan K, Melmed GY, Berel D, Ovsepyan G, Murrell Z, Fleshner P. A prospective, randomized, noninferiority trial of steroid dosing after major colorectal
surgery. Ann Surg. 2014 Jan;259(1):32-7. doi: 10.1097/SLA.0b013e318297adca.
10- Streufert BD, Onyedimma C, Yolcu YU, Ghaith AK, Elder BD, Nassr A, et al. Rheumatoid Arthritis in Spine Surgery: A Systematic Review and Meta-Analysis.
Global Spine J. 2022 Sep;12(7):1583-1595. doi: 10.1177/21925682211057543.
11- Goel A, Viswanathan VK, Serbin P, Youngman T, Mounasamy V, Sambandam S. Ankylosing spondylitis substantially increases health-care costs and length of
hospital stay following total hip arthroplasty - National in-patient database study. J Clin Orthop Trauma. 2023 Apr 7;39:102151. doi: 10.1016/j.jcot.2023.102151.
12- Miller LL, Prieto-Alhambra D, Trela-Larsen L, Wilkinson JM, Clark EM, Blom AW, et al. Revision and 90-day mortality following hip arthroplasty in patients
with inflammatory arthritis and ankylosing spondylitis enrolled in the National Joint Registry for England and Wales. Hip Int. 2022 May;32(3):371-378. doi:
10.1177/1120700021990592.
13- Burn E, Edwards CJ, Murray DW, Silman A, Cooper C, Arden NK, et al. The impact of rheumatoid arthritis on the risk of adverse events following joint
replacement: a real-world cohort study. Clin Epidemiol. 2018 Jun 14;10:697-704. doi: 10.2147/CLEP.S160347.

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C A P I T A L REUMATO

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C A P I T A L REUMATO

Reumato na pratica

EDUARDO PAIVA
Professor Adjunto Reumatologia UFPR.
Editor-chefe, Advances in Rheumatology.
Coordenador, Comissão Multiprofissional SBR.
Membro, Comissão de Eventos da SBR.

Fibromyalgianess
e dor centralizada
semelhanças e diferenças

A maioria das doenças avaliadas pelo reumatologista envolve o sintoma


de dor, especialmente na forma de dor crônica. Nos últimos cinquenta
anos, a melhor compreensão dos mecanismos deste sintoma levou a uma
caracterização mais acurada dos tipos de dor que podem afetar o paciente com
doenças reumáticas e músculo esqueléticas. A maior aceitação da fibromialgia
(FM) como uma doença reumática, com uma fisiopatologia diferenciada, levou
a uma percepção de que os mecanismos de dor da fibromialgia poderiam estar
presentes em outras doenças reumáticas. Termos como “dor nociplástica”
“sensibilização central”, “centralização da dor” e “fibromyalgianess” começaram
a ser usados de maneira intercambiável para descrever diferentes fenômenos.
O objetivo deste artigo é esclarecer alguns destes termos, com a ressalva de que
alguns destes conceitos estão em constante reavaliação.

Foge do escopo deste artigo fazer uma ampla revisão da fisiopatologia da


dor crônica, mas um aspecto principal é o fato de que a dor crônica não é uma dor
aguda que não cessou. É uma doença per se, com mecanismos fisiopatológicos
específicos. Um maneira básica de se analisar o processo da dor baseia-se em
três etapas do processo nociceptivo: a transdução, quando os nociceptores
convertem estímulos nocivos em sinais nociceptivos; a transmissão, um
processo que transporta sinais nociceptivos ao longo das fibras nervosas do local
da lesão inicial ao sistema nervoso central (SNC) e a percepção, componente
fundamental da experiência clínica da dor que integra as respostas sensitivas,
cognitivas e afetiva no encéfalo. Porém, especialmente na dor crônica, um
aspecto fundamental é a modulação, também chamada de plasticidade ou
transformação. Nesta etapa, vários mecanismos modulam sinais nociceptivos
em locais de sinapses periféricas e no SNC por meio de facilitação ou inibição.
Estes mecanismos podem ser ascendentes, descendentes ou regionais.

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C A P I T A L REUMATO

A dor mais “clássica” é a que IASP (Associação


Internacional para o Estudo da Dor) classifica como
nociceptiva - quando a dor decorre de um dano atual
ou potencial ao tecido não neural, e há ativação de
nociceptores. Este termo é usado quando a dor ocorre
em um sistema somatossensitivo normal. Quando a dor
ocorre por uma lesão ou doença no próprio sistema
nervoso somatossensitivo, ela seria classificada como
neuropática. Mas como classificar condições nas
quais não há evidência clara de dano tecidual
atual ou potencial causando ativação do
nociceptor periférico ou evidência de doença
ou lesão do sistema somatossensitivo
causando a dor? Neste caso, a dor é
classificada como nociplástica. Neste tipo
de dor, a modulação parece ser o evento
principal, e alguns mecanismos estão já
muito bem caracterizados 1.

Talvez o mecanismo principal da dor no plástica seja a centralização da dor, também denominada
sensibilização do SNC ou dor central. Aqui os estímulos nociceptivos (muitas vezes sem uma origem
definida) são amplificados na medula espinhal ou no encéfalo, ampliando a percepção dolorosa. Um
centro importantíssimo deste fenômeno é o corno posterior ou dorsal da medula espinhal, onde as
fibras do gânglio sensitivo fazem sinapse com neurônios sensitivos de segunda ordem. Estímulos
repetitivos vindos da periferia, especialmente das fibras nociceptiva do tipo C, levam a uma aumento
desproporcional da resposta do trato espinotalâmico. Essa alteração é denominada de wind-up, e
é causada por um aumento do número de receptores de glutamato (principal neurotransmissor
nociceptivo) e pelo aparecimento, no segundo neurônio, do receptor NMDA (n-metil-d-aspartato),
cujo bloqueio reverte o wind-up. A síntese de novos neurotransmissores, como o fator de crescimento
neuronal (NGF) também colabora com o wind-up. Mais recentemente, um papel maior tem sido dado
às células da glia como facilitadoras deste processo 2.

A modulação da dor nociplástica também acontece no encéfalo. Estudos com pacientes de FM


mostram que, comparados a controles, esses indivíduos ativam áreas cerebrais relacionadas à dor e
aos aspectos emocionais da dor quando submetidos a estímulos dolorosos muito menores do que
pacientes controles 3. Isso foi demonstrado em diversos estudos, nas mais variadas áreas cerebrais
e nas mais diversas condições clínicas de dor. Também foi demonstrado que estas alterações são
abrandadas tanto pelo tratamento não-farmacológico como pelo farmacológico 4.

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C A P I T A L REUMATO

Em várias condições, a amplificação da dor também acontece por uma falha


nos sistemas descendentes de controle da dor. Existem múltiplos destes
sistemas, baseados em diversos neurotransmissores, como as endorfinas
e metaencefalinas, serotonina e norepinefrina, dopamina, ocitocina,
colecistoquinina e outras neurocininas e o sistema endocanabinoide. Na
FM e em outras condições de dor crônica, há várias evidências de disfunção
destes sistemas, como a incapacidade de montar uma resposta nociceptiva
inibitória (quando um estímulo doloroso inibe um próximo estímulo doloroso)
e a saturação de receptores opioides (talvez indicando o porquê de muitos
destes pacientes não respondem a medicações opióides)5.

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C A P I T A L REUMATO

E sobre a “fibromyalginess”? Desde a década de 1990,


com o estabelecimento de melhores critérios para o diagnóstico
de FM, que uma maior prevalência de FM em outras doenças
reumáticas começou a ser relatada, como na artrite reumatoide
(AR) e no lúpus. Porém, um artigo de Ranzolin et al foi um dos
primeiros que demonstrou, num momento em que as medidas de
atividade da AR entravam na prática comum, que a presença de
FM afetava sobremaneira o escore dessas medidas, especialmente
nas medidas mais subjetivas como a contagem de articulações
dolorosas, avaliação global pelo paciente e mesmo o HAQ (health
assessment questionnaire)6. Em um editorial acompanhando o
artigo, Wolfe cunha o termo “fibromyalgianess” indicando que a
FM na verdade é um contínuo de sensibilidade a estímulos, e sua
presença deve ser avaliada para não haver excessos no tratamento
da doença de base 7. Após este estudo, inúmeros outros foram
publicados avaliando o impacto da FM não só na avaliação da AR,
como também das espondiloartrites axiais, osteoartrite, artrite
psoriásica e na síndrome de Sjögren 8.

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C A P I T A L REUMATO

A fisiopatologia da “fibromyalgianess” envolve a


centralização da dor, mecanismo principal da FM. Porém,
nas doenças inflamatórias, aumenta o papel das citocinas
na geração desta sensibilização central, e há evidências de
que o fator de necrose tumoral (TNF) e a interleucina-17
(IL-17) exercem um forte estímulo nociceptivo diretamente
no SNC nestas condições 9.

A identificação da “fibromyalgianess” deve sempre


fazer parte da avaliação das doenças reumáticas. Uma
sugestão seria prestar atenção em pistas clínicas como
sintomas de dor na infância e adolescência, sintomas gerais
como fadiga e problemas cognitivos, hipersensibilidade a
estímulos ambientais (por exemplo, luz ou som), síndromes
psiquiátricas como ansiedade ou depressão, uma história
familiar de dor crônica e problemas de saúde mental, alto
uso de serviços de saúde e uma resposta insatisfatória
ou nenhuma resposta aos analgésicos convencionais
(incluindo opióides)1. Outro meio seria a utilização de
longas escalas sobre a presença de sensibilização central 10.

Uma maneira que nos parece mais prática seria a


aplicação dos critérios para o diagnóstico de FM de 2010
modificados em 2016, que consiste em dois questionários:
um do número de áreas afetadas pela dor e um de
gravidade de sintomas como sono, fadiga e depressão 11.
A soma dos dois questionários é conhecida com escore
de “fibromyalginess”. Um excelente estudo demonstrou
que quando maior o escore em pacientes com AR, mais
atividade na ínsula, região cerebral relacionada com a
sensibilização central12. Um valor acima de 12 aponta para
o diagnóstico formal de FM, mas não se deve ter pressa
para firmar o diagnóstico, mas sim avaliar o quanto da dor
atual do paciente é de centralização.

As implicações desta avaliação são importantes para


a avaliação da atividade da doença de base, mas também
na avaliação da resposta ao tratamento. Ume estudo
apontou que a presença de FM, por exemplo, é o fator
que mais colaborou para uma baixa reposta a anti-TNFs
em pacientes com espondiloartrite axial13. A presença
de “fibromyalgianess” deve também levar a uma maior
ênfase no tratamento não farmacológico, que apresenta as

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C A P I T A L REUMATO

melhores evidências de melhora da sensibilização Em resumo, os conceitos que foram


central - educação sobre a doença, exercícios sintetizados neste artigo são: a centralização da dor
físicos aeróbicos (talvez a principal medida) e ou sensibilização central é o mecanismo central da
terapia cognitivo-comportamental. Na parte dor nociplástica (quando não há lesão tecidual ou
farmacológica, medicações como gabapentinoides do sistema somatossensitivo); e “fibromyalgianess”
e antidepressivos de ação dual podem ser úteis. é a presença de vários componentes da dor
Como em qualquer caso de dor crônica, o foco centralizada ou nociplástica em outras doenças
do tratamento deve ser na melhora de aspectos reumáticas. A presença destes componentes pode
relacionados à função do paciente. Escalas que só levar a uma estimativa errônea na atividade de
levem em consideração o nível da dor são pouco doenças reumáticas e seu tratamento deve ser
relevantes nos casos de dor crônica. diferenciado do tratamento da doença de base.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Fitzcharles M et al. Nociplastic pain: towards an understanding of prevalent pain conditions Lancet 2021 May 29;397(10289):2098-2110. doi: 10.1016/
S0140-6736(21)00392-5.
2. Hanani M, Spray DC. Emerging importance of satellite glia in nervous system function and dysfunction Menachem Nat Rev Neurosci 2020 Sep;21(9):485-
498. doi: 10.1038/s41583-020-0333-z.
3. Gracely R et al. Functional magnetic resonance imaging evidence of augmented pain processing in fibromyalgia. Arthritis Rheum . 2002 May;46(5):1333-43.
doi: 10.1002/art.10225.
4. Sluka KA, Clauw DJ. Neurobiology of fibromyalgia and chronic widespread pain.Neuroscience.2016 Dec3;338:114-129. doi:10.1016/j.
neuroscience.2016.06.006.
5. Julien N eta al. Widespread pain in fibromyalgia is related to a deficit of endogenous pain inhibition. Pain. 2005 Mar;114(1-2):295-302.doi: 10.1016/j.
pain.2004.12.032.
6. Ranzolin A et al. Association of concomitant fibromyalgia with worse disease activity score in 28 joints, health assessment questionnaire, and short form 36
scores in patients with rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum. 2009 Jun 15;61(6):794-800. doi: 10.1002/art.24430.
7. Wolfe F. Fibromyalgianess. Arthritis Rheum. 2009 Jun 15;61(6):715-6. doi: 10.1002/art.24553.
8. Falasinnu T et al. The Problem of Pain in Rheumatology: Clinical Profiles Associated with Concomitant Diagnoses With Chronic Overlapping Pain Conditions.
ACR Open Rheumatol 2022 Oct;4(10):890-896. doi: 10.1002/acr2.11488.
9. Sergeeva et al. Response to peripheral immune stimulation within the brain: magnetic resonance imaging perspective of treatment success Arthritis Res Ther
. 2015 Oct 19;17:268. doi: 10.1186/s13075-015-0783-2
10. Caumo W et al. The Central Sensitization Inventory validated and adapted for a Brazilian population: psychometric properties and its relationship with brain-
derived neurotrophic factor., J Pain Res. 2017 Sep 1;10:2109-2122. doi: 10.2147/JPR.S131479.
11. Wolfe F et al. 2016 Revisions to the 2010/2011 fibromyalgia diagnostic criteria. Semin Arthritis Rheum. 2016 Dec;46(3):319-329. doi: 10.1016/j.
semarthrit.2016.08.012.
12. Basu N et al. Neurobiologic Features of Fibromyalgia Are Also Present Among Rheumatoid Arthritis Patients. Arthritis Rheumatol. 2018 Jul;70(7):1000-1007.
doi: 10.1002/art.40451.
13. Moltó A et al. Evaluation of the impact of concomitant fibromyalgia on TNF alpha blockers' effectiveness in axial spondyloarthritis: results of a prospective,
multicentre study. Ann Rheum Dis. 2018 Apr;77(4):533-540. doi: 10.1136/annrheumdis-2017-212378.

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HUMANIDADES MEDICAS

GRUPO ANALGESIA
Autoras: Isadora Jochims, Ozália da Conceição Guedelho, Isabel Cristina Rodrigues
Alves de Oliveira, Ligia Reis, Julia Gonzales Martins, Maria Iracema Gonzales,
Anna Beatriz Assad Maia, Helenice Assis Vespasiano, Regina Bernardes

O Grupo Analgesia é um coletivo idealizado por duas


servidoras do Hospital Universitário de Brasília, Isadora Jochims,
reumatologista e artista visual e Helenice Vespasiano, terapeuta
ocupacional e estudante de Teoria, Crítica e História da Arte da
UnB, ao se encontrarem na Comissão de Humanização do HUB/
EBSERH. Após um longo período de perdas, isolamento, medo
e aumento das relações mediadas pela conectividade de redes
sociais virtuais, as duas servidoras compartilhavam o desejo
de promover encontros afetivos regados a arte como proposta
de cuidado e de deformar simbolicamente o espaço hospitalar.
A parceria se iniciou com oficinas na Enfermaria de Saúde
Mental, porém com a impossibilidade de fazer o seguimento
dos pacientes e a limitação das ações artísticas e dos materiais
utilizados naquele espaço, foi pensado, então, criar um coletivo/
ateliê de arte experimental aberto para a comunidade hospitalar.
Chamado de Grupo Analgesia - experiências em arte e saúde, o
coletivo é formado por mulheres com dores crônicas e doenças
autoimunes, profissionais de saúde, artistas e estudantes. Através
da arte, da escuta ativa e terapêutica, os integrantes, atravessados
por experiências de adoecimento e de vivências institucionais
hospitalares, mergulham em suas dores e compõem experiências
para construírem novos sentidos para o corpo individual e
coletivo. Coletivos são agrupamentos de pessoas que, sob um
mesmo nome, atuam propositalmente de forma conjunta, criativa,
autoconsciente e não hierárquica.

O coletivo iniciado em Abril de 2022, usa como base para a


prática experimental entre arte e saúde a diretriz clínica ampliada e
compartilhada do HumanizaSUS, assim definida: “A clínica ampliada
é uma ferramenta teórica e prática cuja finalidade é contribuir
para uma abordagem clínica do adoecimento e do sofrimento, que
considere a singularidade do sujeito e a complexidade do processo
saúde/doença. Permite o enfrentamento da fragmentação do
conhecimento e das ações de saúde e seus respectivos danos e
ineficácia.”¹ Utilizamos o referencial teórico da Medicina narrativa
e da Arte contemporânea com foco na arte relacional.

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A arte relacional, principal meio utilizado para propor gatilhos para


as vivências criativas no coletivo, foi teorizada a partir dos anos 1990,
especialmente na França, e retoma a tópica entre arte e vida presente
em boa parte do experimentalismo moderno e contemporâneo. Para
fazer frente a vida social do capitalismo moderno reduzida à dinâmica
do consumo e à transformação dos indivíduos em receptores passivos
de imagens, a arte relacional parte de proposições artísticas que
tentam interferir diretamente no cotidiano, criando situações em que
os indivíduos sociais sejam reinventados a partir de uma perspectiva
ética e política onde há uma ênfase na solidariedade e na cooperação.2
Segundo Claire Bishop, a arte relacional busca estabelecer encontros
intersubjetivos (sejam eles literais ou potenciais) em que o sentido é
elaborado coletivamente e não realizado em um espaço privatizado
de consumo individual. Em vez de um trabalho de arte discreto,
portátil e autônomo que transcende seu contexto, a arte relacional
fica inteiramente sujeita às contingências do ambiente e do público.
Além disso, esse público é visto como uma comunidade: em vez de
uma relação individual entre trabalho de arte e observador, a arte
relacional estabelece situações em que se dirige aos observadores não
apenas como a uma entidade social, coletiva, mas de modo que a eles
estivessem sendo dados os meios para criar uma comunidade, por
mais temporário ou utópico que isso venha a ser.3

O coletivo se encontra semanalmente de forma híbrida na sala


de telemedicina do Hospital Universitário de Brasília. O funcionamento
ocorre a partir de proposições artísticas que tenham como objetivo
revisitar experiências de adoecimento e de vivências no ambiente
hospitalar com foco em “deformar” ou “revirar” símbolos de poder
utilizados nas narrativas médicas, científicas e institucionais para
provocar reflexões sobre uma nova forma de exercer saúde e cuidado.
Com o objetivo de trabalhar relações horizontais evitamos usar
vestimentas que diferenciam os participantes como jalecos, pronomes
como doutor e utilizamos as regras de comunicação: não dar conselho,
não julgar, falar sempre em primeira pessoa e o acolhimento através
da sororidade é sempre incentivado. Importante frisar que o coletivo
não trabalha com arteterapia, o desenvolvimento das atividades possui
como base a arte educação. Evitamos a narrativa biomédica, não
discutimos nos nossos encontros sobre doenças e tratamentos, o foco
está nas narrativas das vivências do sujeito. Utilizamos práticas que
se aproximam da cultura popular e que são íntimas aos participantes
como cortejos, produção de estandartes e bordados, além de práticas
como performances, assemblages, fotografias, esculturas, poesias e
instalações.

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C A P I T A L REUMATO

Qualquer participante pode levar uma proposição artística ao grupo que poderá
ser acolhida, modificada ou rejeitada através de uma votação. Após o acolhimento
da proposição artística é estabelecido coletivamente um calendário com duração
média de 4 meses com Oficinas teóricas e práticas de Arte Contemporânea,
Medicina Narrativa e técnicas artísticas propostas pelos próprios integrantes e por
convidados. Durante os encontros várias referências de arte foram apresentadas e
alguns artistas brasileiros como Marcela Campos, Rodrigo Munhoz e Julia Gonzalez
estiveram presentes contribuindo com as reflexões do grupo.

Após a conclusão da produção artística do grupo, realizamos ações


performáticas e exposições dos trabalhos em espaços hospitalares, culturais e
públicos. Falas e exposições sobre o grupo não são realizadas apenas por profissionais
de saúde, entendemos que o coletivo deve ser inteiramente convidado, priorizando
a participação ativa e o protagonismo das pacientes participantes.

O GRUPO ANALGESIA É COMPOSTO POR:

- Isadora Jochims - Reumatologista, artista e educadora


- Helenice Vespasiano - Terapeuta ocupacional e educadora
- Anna Beatriz Assad Maia - Reumatologista e educadora (voluntária)
- Sílvia Barros - Psicóloga e Presidente da Comissão de Humanização do HUB
- Simone Borges - Psicóloga (voluntária)
- Paula Bastos - Assistente Social
- Julia Gonzales - artista e educadora (voluntária)
- Maria Iracema Gonzales - sentinela (voluntária)
- Alzina Maria Leal Alves - artista e educadora (voluntária)
- Marcela Campos - artista e educadora (voluntária)
- Patrícia Alves e Fernanda Oliveira - Terapeutas Comunitárias (voluntárias)
- Usuárias do SUS - Adelina Silva, Fernanda Oliveira, Fernanda Araújo, Isabel
Cristina Rodrigues Alves de Oliveira, Ligia Reis, Maria Auxiliadora Cavedo,
Marilia Sousa, Ozália Guedelho, Regina Bernardes, Rosangela Thomé
- Estudantes e Residentes multiprofissionais do HUB

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C A P I T A L REUMATO

O GRUPO ANALGESIA REALIZOU AS SEGUINTES


EXPOSIÇÕES EM 2022 E 2023:
EXPOSIÇÃO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA
Foi realizada uma roda de conversa na abertura com apresentação
das performances realizadas pelo grupo. No dia do encerramento
um cortejo de apresentação dos trabalhos percorreu os corredores
do HUB com visitas e trocas entre pacientes na hemodiálise e na
enfermaria de saúde mental.

EXPOSIÇÃO ENCONTRO DA ARTE, DF


Evento independente de arte e saúde com objetivo de ampliar e diversificar
o cuidado em saúde mental, reuniu vários serviços de saúde mental do
Distrito Federal para apresentações artísticas dos usuários.

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EXPOSIÇÃO PÉ VERMELHO,
ESPAÇO DE ARTE
CONTEMPORÂNEA EM
PLANALTINA
Os trabalhos foram expostos
por uma semana em dezembro
2022 no espaço Pé Vermelho
localizado na praça histórica São
Sebastião de Planaltina.
Foi realizado com o grupo visita
à exposição e interação com o
público na praça.

PROPOSIÇÃO PÔSTER CIENTÍFICO


Abril a setembro de 2022
Propositora: Isadora Jochims
Materiais: tecido, objetos diversos
Proposição: Foi oferecido aos participantes livros científicos de Reumatologia e solicitado que
cada participante escolhesse uma imagem do livro. As ilustrações científicas foram impressas com
serigrafia em tecidos que foram suporte para o trabalho. As narrativas pessoais de adoecimento
foram bordadas nos tecidos sobrepostas às narrativas científicas.
Essa proposta buscou trabalhar a individualidade do processo saúde-doença trazendo para
centralidade a história de cada uma em detrimento da narrativa biomédica. Foi decidido pelo grupo
assinatura coletiva para garantir o anonimato das narrativas.

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OFICINA COM ARTISTA MARCELA CAMPOS

PROPOSIÇÃO PÔSTER CIENTÍFICO, PROPOSIÇÃO PÔSTER CIENTÍFICO,


SERIGRAFIA E BORDADO, 90X60CM, SERIGRAFIA E BORDADO, 90X60CM,
GRUPO ANALGESIA, 2022. GRUPO ANALGESIA, 2022
PROPOSIÇÃO PÔSTER CIENTÍFICO, SERIGRAFIA E
BORDADO, 90X60CM, GRUPO ANALGESIA, 2022.

PROPOSIÇÃO PÔSTER CIENTÍFICO, PROPOSIÇÃO PÔSTER CIENTÍFICO,


SERIGRAFIA E BORDADO, 90X60CM, SERIGRAFIA E BORDADO, 90X60CM,
GRUPO ANALGESIA, 2022. GRUPO ANALGESIA, 2022.
PROPOSIÇÃO PÔSTER CIENTÍFICO, SERIGRAFIA E
BORDADO, 90X60CM, GRUPO ANALGESIA, 2022.

CORTEJO PÔSTER CIENTÍFICO


NOVEMBRO DE 2022.
Foi realizado cortejo com os trabalhos
produzidos a partir de ilustrações
científicas. O percurso do cortejo no
HUB foi escolhido pelas pacientes
integrantes do grupo, refizeram
itinerários já realizados durante
tratamentos médicos. Como suporte
para os estandartes foi utilizado o rodo,
objeto-obstáculo escolhido em uma das
performances em outra proposição,
conferindo uma nova função para o
objeto doméstico. A ação encerrou a
exposição dos trabalhos realizada nos
corredores do HUB.

REGISTRO DO CORTEJO COM OS PÔSTER


CIENTÍFICOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE
BRASÍLIA, NOV 2022.
PERFORMAR COM A DOR
Abril a setembro de 2022
Propositora: Isadora Jochims
Materiais: Argila, objetos domésticos
Proposição: Foi proposto performar com a
dor. As artistas refletiram sobre suas relações
com a dor e com os objetos que as cercam e
com os quais interagem diariamente, criando
objetos-obstáculo/ forma da dor e performando
com eles. Foram criados trabalhos a partir
dessas experiências em diversos formatos,
foto performance, poesia, vídeo-performance,
escultura, instalação.

ACESSO PARA AS PERFORMANCES:


https://drive.google.com/drive/folders/10mM5SRq3kTRPEUkP6Y6ogVuiw6MmXOd?usp=share_link

CARTA DE DIREITOS
2023
Propositoras: Paula Bastos, Isadora Jochims, Helenice Vespasiano
Materiais: tecidos hospitalares e tinta de tecido
Proposição: Foi realizada leitura crítica da Carta de direitos dos usuários do HUB e
intervenções com essa temática em roupas hospitalares que estavam destinadas
à incineração. Nas oficinas foram realizadas leituras atentas e reflexões críticas
acerca do documento e da realidade vivenciada pelas usuárias no hospital,
promovendo a autonomia e fortalecendo a participação social.
OFICINA PALAVRAS REVIRADAS
2023
Propositora: Anna Beatriz Assad Maia
Materiais: Carta de Direitos dos Usuários do HUB, papéis e canetas
Proposição: Foi feita uma releitura da Carta de Direitos dos Usuários do HUB e
retiradas dela palavras e/ou expressões que impactaram as leitoras. Com essas
palavras, após discussão, o grupo decidiu construir um relato ficcional em primeira
pessoa. Construiu-se um personagem, paciente internado que possuía dificuldade
de comunicação, motivada por questões culturais e analfabetismo funcional.

TEXTO FICCIONAL:
Eu sou Adeilton e sou segurança de boate. Meu principal problema, meu maior medo é o de
não entender alguma coisa e ter que perguntar.
Não entendo tudo o que leio.
No formulário do hospital tinha escrito etnia, eu não quis perguntar o que era, respondi azul.
Eu tenho um filho tabelião que trabalha no hospital.
Gosto de visita das crianças mas não é possível porque o ambiente não é acolhedor.
O hospital é limpo e confortável tem cuidado mas sinto falta da minha parceira como
acompanhante, ela que sempre cuida de mim e me deixa confortável. Quero alta.
Sou usuário do SUS e internei para aliviar uma de dor de cabeça.
Quero ter independência e meus desejos respeitados. Tenho pouca visão e não escuto direito
mas quero conhecer meus direitos e ser tratado com dignidade.
Me deram uma carta para ler, diz que lá tinha todos os protocolos mas estou confuso, já nem
sei quem sou.
Fico pensando de onde vem meus medicamentos e o que estou comendo. Quero ver meu
prontuário e saber dos procedimentos experimentais. Estou sendo uma cobaia?
Me falaram que o atendimento é gratuito mas tenho medo de ter que pagar alguma coisa
quando receber alta.
Para tudo o que pergunto a resposta é sempre a mesma: leia a carta, lá tem as informações.
Essa carta está me aperreando as ideias.
Não é possível, vou ter que chamar meu filho tabelião.
Mas quando ele fala eu não entendo. Um embolado de palavras: sigilo, ética,
Missão, teoria e prática, vulnerabilidade sócio econômica, diretiva. Minha cabeça vai explodir!
Me perguntam a toda hora se aceito ou não um monte de coisas. Não entendo nada. Fico
mudo. Daí me dizem que não podem decidir porque são coisas pessoais que dependem da
minha vontade. E me mandam ler a carta de novo. Eu li a carta e só entendi que não pode ter
práticas sexuais no hospital. Ora, disso eu já sabia. Quero alta.
FANTASIAS DE CARNAVAL
2023
Propositoras: Júlia Gonzales e Alzina Maria Leal Alves
Materiais: tecidos hospitalares e tinta de tecido
Proposição: Fantasias foram criadas para o carnaval
a partir dos tecidos e carta de direitos e o grupo
performou no Bloco do Rivotrio, bloco de carnaval
do Distrito Federal de luta antimanicomial.

Fotografia: Juliana Caribé

PERFORMANCE DO GRUPO ANALGESIA


NO BLOCO RIVOTRIO, 2023.

Fotografia: Juliana Caribé

PERFORMANCE DO GRUPO ANALGESIA


NO BLOCO RIVOTRIO, 2023.
TERESAS
FEVEREIRO, 2023
Propositora: Rosângela Tomé
Materiais: tecidos hospitalares e tinta de tecido
Proposição: Construção de Teresas com tecidos hospitalares modificados
com a carta de direitos do HUB. Teresa são cordas confeccionadas com
lençóis, cortinas, roupas que geralmente é usada para fuga de sanatórios,
hospitais, presídios, cadeias e etc. Com essas Teresas foram realizadas
performances no Hospital Universitário de Brasília e no Bloco do Rivotrio
durante o carnaval.
REGISTROS DAS TERESAS
2023
FOTOPERFORMANCE TERESA
FEVEREIRO, 2023
Propositora: Rosângela Tomé
PERFORMANCE NINHO DE MANDRUVÁ
ABRIL, 2023
Propositora: Regina Bernardes
Materiais: Teresas (tecidos hospitalares descaracterizados com pinturas e
bordados feitos pelo grupo)
Local: Hospital Universitário de Brasília - ambulatório, corredores da
unidade 1, campo de futebol
Proposição: Foi realizado um percurso nos espaços externos e internos do
hospital utilizando os tecidos hospitalares como meio para interação entre
as participantes, usuários do hospital, servidores e a arquitetura hospitalar.

TERESAS NOS COBOGÓS DO AMBULATÓRIO


2023
Na história da arte há vários casos de criação de frestas e revisões de
práticas institucionais através da formação de coletivos.
- Beyes criou a universidade livre
- Na psiquiatria - Tosquelles
- Surrealismo - proposta de mudança da arte,
Duchamp e arte que não é arte … Uso de

Psicoterapia institucional
Trabalho da Nise da Silveira - revolução da prática
institucional no contexto da reforma
psiquiátrica porém aborda as imagens dos pacientes
de forma analítica e científica . Mario Pedrosa
Jodorowsky - atos poéticos
Ligia Clark e Lula Wanderley

Medicina Narrativa - importância da educação artística


na formação de profissionais de saúde

Poéticas do cuidado

O que o grupo é?

O que o grupo Analgesia não é:


- arteterapia
- o usuário não é estudado, ele estuda a instituição que está inserido.
A partir da diluição da hierarquização e da prática criativa de
questionamento podemos pensar em uma saúde mais humanizada.

O que o grupo Analgesia Faz


- arte relacional

Qual a proposta do grupo Analgesia

Trabalhos recentes

Depoimentos das participantes

Referências:
O coletivo - Jean Oury
Jodorowsky
Beyes
Nise da Silveira
Lula Wanderley / Lygia Clark
Mário Pedrosa
Tania Alice

Expografia
- Exposição Surrealista Internacional - 1938
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 4. ed. 4. reimp. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2010.
2 - Arte relacional no Brasil: o que se faz - O que se come/ Organização de Fabiana Monsalú e Tania Alice. Rio de Janeiro: Multifoco,
2021. Capítulo: Arte relacional em tempos difíceis: crítica e proposições em construção. Cassiano Sydow Quilici.
3 - Claire Bishop. Antagonismo e Estética Relacional. October n. 110 (2004).
C A P I T A L REUMATO

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C A P I T A L REUMATO

LEOPOLDO LUIZ DOS SANTOS NETO


Medicina Interna, Docente do Programa de Pós-graduação
em Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de Brasília.
Fellow do American College os Physicians- USA.
leopoldoluiz99@gmail.com.br

Os primórdios do
ensino e da ciência
médica brasileira

“Em 1533, havia 57 médicos, 70 cirurgiões e 46 boticários.


Quantos na colônia.? Só um!”(1).

Aqueles que desejavam estudar para obter um título de médico,


conhecido como "physico", tinham que viajar para a Europa. Em 1799, D.
João e sua corte ao Brasil, o número de médicos formados em todo o país
não passava de um modesto grupo de 12 profissionais(2).
Devido ao bloqueio continental imposto por Napoleão Bonaparte na
Europa, em 1806, a corte portuguesa migrou para o Brasil aportado na
cidade da Bahia em 22 de janeiro de 1808.

ESCOLA DE MEDICINA ANO DE FUNDAÇÃO

Bolonha 1087
Monpellier 1181
Oxford 1214
Lisboa/Coimbra 1290
Universidade de São Marco, Peru 1551
Real e Pontifícia Universidade do México 1553
Harvard, EUA 1636
Universidade de Córdoba, Argentina 1687
Escola de medicina da Bahia 1808
Escola de Medicina do Rio de Janeiro 1808

Figura 1 - Tabela. Ano de fundação das primeiras escolas médicas na Europa e Américas

45
C A P I T A L REUMATO

Fotos 1. Selo comemorativo dos 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil.

O príncipe regente não perdeu tempo em consolidar a presença real. Mesmo enquanto ainda
estava na Bahia, ele abriu os portos da colônia e diversas outras inovações, libertando a colônia
brasileira de quase 300 anos de isolamento comercial e cultural.

O reumatologista Pedro Nava fez uma reflexão sobre esse momento único da história do Brasil:
"Diz a sabedoria popular, por um provérbio muito conhecido, que 'há males que vêm para o bem'.
E a verdade disso pode ser demonstrada pelos benefícios que o Brasil obteve dos problemas
enfrentados por Portugal, quando suas terras foram invadidas pelas tropas de Napoleão.

Desse fato resultou a imigração da Família Real para a grande colônia americana, cujas
perspectivas se ampliaram largamente com a presença da Corte"(3).

ESCOLA MATER DA MEDICINA BRASILEIRA

Em 18 de fevereiro de 1808 o Príncipe Regente concordou com a proposta


feita pelo pernambucano José Correa Picanço, cirurgião-mor do Reino, para
uma escola de cirurgia em Salvador. Ordival Gomes afirmou em 1947: "Toda
essa organização que ocorreu no Brasil, todas as medidas tomadas em relação
à medicina e à saúde pública, foram inspiradas por José Correia Picanço"(4).

46
C A P I T A L REUMATO

Foto 2. Selo comemorativo dos 200 anos da Faculdade de Medicina da Bahia.

Após 50 anos, surgiu a Escola Tropicalista da Bahia, uma associação


de médicos que representou um ponto de inflexão na pesquisa nacional,
especialmente com a participação de Paterson, Wucherer e José
Francisco de Silva Lima. O número total de docentes da escola médica
que faziam parte dessa agremiação chegou a trinta e seis em 1885(5).

47
C A P I T A L REUMATO

Foto 3. Selo comemorativo dos 200 anos da


Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

A SEGUNDA ESCOLA MÉDICA

No Rio de Janeiro a organização que eventualmente resultou na criação da Academia


e, posteriormente, na Faculdade de Medicina, levou alguns anos e passou por etapas
progressivas a partir de 1808(6) (Figura 3). No ano de 1882, havia 1.590 alunos matriculados
na Faculdade, onde alguns mestres de grande cultura e proficiência dedicavam-se ao
ensino, como o João Vicente de Torres-Homem, barão de Torres Homem, considerado o
patrono da reumatologia brasileira.(7) Pedro Nava afirmou que

“A mais extraordinária geração de médicos brasileiros foi a formada por Torres Homem”(3).

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C A P I T A L REUMATO

CONCLUSÃO

Julyan G. Peard, um brasilianista e historiador,


realizou uma avaliação abrangente dos
UMA VISÃO INTERNACIONAL SOBRE A MEDICINA
BRASILEIRA NO SÉCULO XIX aspectos sociais, culturais e políticos
da história médica do Brasil durante o
Na década de 1860, surgiram os Tropicalistas que período imperial. Em suas conclusões, ele
fundaram a Escola Tropicalista da Bahia, que foram
destacou que os médicos da época focavam
pioneiros na medicina científica brasileira. Após
a reforma educacional de 1854, estabeleceu-se a principalmente em desordens associadas a
proibição de estrangeiros ensinarem em escolas climas quentes, más condições de vida no
médicas no Brasil. No entanto, de forma irônica, país e os impactos da escravidão no Brasil (5).
uma das descobertas mais importantes nesse
campo foi feita pelo estrangeiro Otto Wucherer, Atualmente, o Brasil possui muitos escolas
da Escola Tropicalista, com o apoio dos docentes médicas, chegando a 357 instituições em
da escola de medicina. Essa descoberta refere-se à 2020, que juntas oferecem 37.823 vagas de
causa da filariose, representando uma contribuição
graduação. Além disso, o país alcançou a
significativa para a ciência médica brasileira.
marca inédita de meio milhão de médicos,
Além disso, o médico e educador estadunidense o que equivale a uma média de 2,4
Horace Lane relatou, em 1886, a alarmante médicos por mil habitantes (11).
mortalidade de 62,5% causada pelo beribéri no
Brasil(8). O alarmante alto consumo de tabaco também No entanto, apesar desses avanços,
foi apontado como uma das causas do aumento ainda enfrentamos desafios significativos
da frequência de tuberculose, especialmente na relacionados à equidade, diversidade e
Bahia(9). O professor Antônio Januário de Faria,
inclusão na área da saúde. O controle da
em 1867, enfatizou a importância da observação
clínica na prática médica, destacando que a arte de qualidade desses profissionais também se
observar é um trabalho de uma vida inteira que deve apresenta como um desafio importante
ser iniciado cedo(10). para o século XXI.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - Del Priore M. Histórias da gente brasileira-Colônia-Vol. 1. BOD GmbH DE; 2016.


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8 - Lane HM. Beriberi in Brazil. The Boston Medical and Surgical Journal. 115:293-6, 1886.
9 - Wucherer OE, Cotting BE. On the Causes of the Increased Frequency of Phthisis in Brazil, and Especially in Bahia. The Boston Medical and Surgical Journal. 79:225-8, 1868
10- deFaria,AJ.ClinicalMedicine:AnAddresstotheStudentsontheOpeningoftheClinicalCourseatBahia,March16,1867.TheBostonMedicalandSurgicalJournal.77:29-32,1867
11 - Pereira DV, Fernandes DD, Mari JF, Lage AL, Fernandes AP. Cartografia das escolas médicas: a distribuição de cursos e vagas nos municípios brasileiros em 2020.
Revista Brasileira de Educação Médica. 5;45-55, 2021.

49
C A P I T A L REUMATO

50
C A P I T A L REUMATO

PONTO DE VISTA

MARCO AURÉLIO GOLDENFUM


Mestre em Docência Universitária. Especialista em Reumatologia
e Medicina do Trabalho. Presidente da Comissão de Reumatologia
Ocupacional da SBR. Consultor da Comissão de Dor, Fibromialgia
e demais Reumatismos de Partes Moles da SBR.

A fibromialgia no
ambiente laboral

Ao abordarmos o tema fibromialgia (FM) no ambiente laboral


devemos estar cientes de que o trabalho desempenha um papel relevante
na manutenção da qualidade de vida, relação social, independência,
autossuficiência e autoestima de qualquer indivíduo1-4 e que os
fatores psicossociais, quando comprometidos, participam da complexa
fisiopatologia da FM5.

Estudo epidemiológico nacional encontrou o início dos sintomas da FM


se dando geralmente dos 25 aos 65 anos de idade, com uma média de 49
anos6, população considerada economicamente ativa. Cabe salientar que a
prevalência da FM na população geral não difere da população trabalhadora
e que não há evidência científica na literatura de que a FM possa ser causada
pelo trabalho3.

Quando consultados, os pacientes com FM caracterizaram como


trabalho adequado aquele que permita ser bem desempenhado e com
satisfação, tenha o reconhecimento e a ajuda dos colegas de trabalho e das
chefias indicadas pela empresa, possa preservar energias para as tarefas da
casa e que disponibilize tempo livre para a realização de outras atividades,
incluindo as de lazer7,8, infelizmente um cenário encontrado em poucas
atividades empresariais no nosso meio.

51
C A P I T A L REUMATO

Os pacientes com FM podem experimentar dificuldades em


cumprir algumas das exigências presentes no universo do trabalho
que podem se relacionar tanto às demandas laborais, quanto
às condições físicas, psicológicas e cognitivas apresentadas pelo
trabalhador em um determinado período de seu adoecimento.
Quando presente, a perda da capacidade funcional nos pacientes
com FM não é progressiva, nem irrecuperável3.

Quando a FM é bem gerenciada, os pacientes apresentam


melhora do quadro clínico acompanhada da diminuição dos sintomas
com o passar do tempo. No que se refere aos quesitos dor, fadiga,
depressão, ansiedade e qualidade de vida, mulheres com FM que se
mantiveram no trabalho relataram melhores condições de saúde do
que aquelas as que foram afastadas do trabalho9-12. Parece razoável
supor que o trabalho seja um importante fator de proteção à saúde
de pacientes com FM4. Sempre que possível, os trabalhadores com
FM devem ser estimulados a continuar trabalhando3.

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C A P I T A L REUMATO

Os pacientes com FM costumam ter maiores Os trabalhadores com FM podem vir a apresentar
dificuldades para executar tarefas que demandem a uma perda de produtividade no trabalho. Embora
realização de esforço físico, movimentos repetitivos e comparecendo ao trabalho (presenteísmo), devido a
postura estática9,12-14. intensidade dos sintomas, os trabalhadores com FM
podem não conseguir manter a capacidade laborativa
Considerando que na FM a gravidade dos sintomas plena, com consequentes dificuldades no desempenho
influencia na capacidade para o trabalho , o 9
adequado das funções previamente realizadas3,4.
reconhecimento e o gerenciamento precoce dos
sintomas podem prevenir futuras perdas da capacidade A capacidade de um trabalhador realizar suas atividades
laboral . Dor, fadiga, depressão, ansiedade, distúrbios
10
laborais está relacionada a diferentes fatores como,
do sono e distúrbios cognitivos são os principais por exemplo, condições físicas e mentais de saúde,
sintomas que podem limitar o bom desempenho exigências ocupacionais, treinamento adequado e
laboral dos trabalhadores com FM .
3,4,12,15
aptidões para as funções a serem exercidas. Quando
os pacientes com FM têm sua sintomatologia piorada
A FM não causa deformidades ou insuficiência ao desempenharem funções nas quais há critérios
de qualquer órgão vital. A mensuração da gravidade rígidos de produtividade e pressão por tempo,
do quadro de FM é complexa, à medida que seus como em linhas de montagem, o trabalhador deve
sintomas são subjetivos e difíceis de quantificar. A ser realocado com o devido treinamento para outra
FM não costuma levar à incapacidade laborativa função. A permanência no trabalho deve ser sempre
prolongada. Nos casos em que a dor ou a fadiga valorizada e estimulada1,3,14.
não respondem ao tratamento adequado, atingindo
níveis significativos, o afastamento do trabalho por Sabe-se que a presença de uma doença por si só não
curto período de tempo deve ser considerado. O é sinônimo de incapacidade laborativa1. O conceito
trabalhador adoecido deve ser alertado sobre a de capacidade para o trabalho é descrito como um
necessidade de manter a adesão a um tratamento equilíbrio entre recursos pessoais e demandas de
adequado na vigência do afastamento do trabalho. trabalho20-22. Na avaliação da incapacidade laborativa
O afastamento do trabalho por tempo prolongado deve-se levar em conta diferentes critérios como a
e a busca litigiosa por compensação financeira são intensidade da atividade da doença do trabalhador no
fatores de mau prognóstico da FM 1,3,17,18
, assim como momento da avaliação, as alterações psicofisiológicas
a elevada carga horária de trabalho, elevada carga produzidas pela doença, as atividades laborais
física de trabalho, baixa autonomia no trabalho, baixo exercidas pelo trabalhador, o risco de agravamento
nível educacional, baixa qualificação profissional, da doença com a continuidade do trabalho, o risco
desmotivação no trabalho, idade mais avançada, de ocorrer um acidente de trabalho e as condições
gravidade da doença, baixa remuneração e baixa ergonômicas físicas, organizacionais e cognitivas
capacidade funcional . 19
disponibilizadas pela empresa3,9.

53
C A P I T A L REUMATO

A determinação da incapacidade laborativa depende de uma


anamnese rigorosa e cuidadosa, de um exame físico detalhado,
da análise crítica dos resultados dos exames complementares
realizados, dos conhecimentos de dados profissiográficos,
epidemiológicos e da legislação vigente3,4. É necessário atentar
para o fato de que a sensação de incapacidade na FM pode
ser influenciada por diferentes fatores psicossociais9. Pesquisa
nacional francesa avaliou 955 pacientes com FM no local
de trabalho e concluiu que os fatores de risco para licença
médica estavam relacionados ao contexto profissional e
não às características da FM. Houve predomínio do contexto
socioprofissional sobre as características clínicas e demográficas
quanto à capacidade das mulheres com FM permanecerem
ativas no trabalho. Entre as mulheres com FM, o tempo de
deslocamento para o trabalho, as dificuldades no trabalho, a
progressão limitada na carreira e a falta de reconhecimento por
parte de colegas e das chefias indicadas pela empresa foram
fatores de risco independentes maiores para licença médica do
que qualquer característica da doença23. Outro estudo concluiu
que a adequação das tarefas de trabalho e do ambiente de
trabalho foram os principais fatores que influenciaram se
as mulheres com FM poderiam trabalhar ou não, já que a
capacidade física limitada e o aumento da necessidade de
descanso traziam dificuldades no gerenciamento das demandas
físicas, psicossociais e organizacionais do trabalho14.

A implementação de programas de gerenciamento do


estresse nos ambientes de trabalho, a educação para a saúde
estendida aos colegas de trabalho e às chefias designadas
pelos empregadores, a não alocação de trabalhadores com FM
no trabalho noturno, no trabalho em turnos, em jornadas de
trabalho prolongadas ou em setores que demandem esforço
físico, movimentos repetitivos e posturas estáticas são exemplos
de estratégias prevencionistas a serem recomendadas pelos
profissionais que atuam no universo do trabalho3.

54
C A P I T A L REUMATO

São exemplos de estratégias indicadas para melhorar a capacidade laborativa


dos pacientes portadores de FM: evitar afastamentos prolongados do trabalho,
oferecer programas de reforço das capacidades físicas e laborais, flexibilizar as
atividades laborais, incorporar aspectos ergonômicos no ambiente de trabalho,
promover ambientes de trabalho psicologicamente saudáveis, oferecer
oportunidade de realização de outra gama de tarefas com o devido retreinamento
e permitir que o trabalhador compareça às sessões de fisioterapia e psicoterapia.
São necessárias soluções mais individuais para permitir que os pacientes com
FM se mantenham em atividade no trabalho3,4,24.

O apoio das chefias indicadas pela empresa e dos colegas de trabalho


permite com que os pacientes com FM gerenciem melhor o risco de sobrecarga
no trabalho, sendo fundamentais para a permanência dos pacientes com FM
na atividade laboral3,25. Os ajustes nos ambientes de trabalho possibilitam
que trabalhadores com FM permaneçam economicamente ativos12,25.

55
C A P I T A L REUMATO

A implementação de programas de gerenciamento aspectos ergonômicos no ambiente de trabalho,


do estresse nos ambientes de trabalho, a educação promover ambientes de trabalho psicologicamente
para a saúde estendida aos colegas de trabalho e saudáveis, oferecer oportunidade de realização de
às chefias designadas pelos empregadores, a não outra gama de tarefas com o devido retreinamento e
alocação de trabalhadores com FM no trabalho permitir que o trabalhador compareça às sessões de
noturno, no trabalho em turnos, em jornadas de fisioterapia e psicoterapia. São necessárias soluções
trabalho prolongadas ou em setores que demandem mais individuais para permitir que os pacientes com FM
esforço físico, movimentos repetitivos e posturas se mantenham em atividade no trabalho3,4,24.
estáticas são exemplos de estratégias prevencionistas
a serem recomendadas pelos profissionais que atuam O apoio das chefias indicadas pela empresa
no universo do trabalho . 3
e dos colegas de trabalho permite com que os
pacientes com FM gerenciem melhor o risco de
São exemplos de estratégias indicadas para melhorar sobrecarga no trabalho, sendo fundamentais para
a capacidade laborativa dos pacientes portadores de a permanência dos pacientes com FM na atividade
FM: evitar afastamentos prolongados do trabalho, laboral3,25. Os ajustes nos ambientes de trabalho
oferecer programas de reforço das capacidades físicas possibilitam que trabalhadores com FM permaneçam
e laborais, flexibilizar as atividades laborais, incorporar economicamente ativos12,25.

56
C A P I T A L REUMATO

Nenhum programa a ser implementado para melhorar a capacidade


laborativa do trabalhador com FM alcançará os resultados esperados sem uma
boa comunicação entre o médico assistente, o médico do trabalho e os demais
profissionais que atuam no universo laboral. É também fundamental que o
paciente com FM aprenda a gerenciar o estresse, a ter resiliência e a lidar da
melhor forma possível com os seus sintomas3,4,9.

No caso de afastamentos prolongados do trabalho, a busca do equilíbrio


das necessidades do trabalhador (gerenciar a dor), dos colegas de trabalho
(gerenciar as relações de trabalho) e da organização empregadora (fazer os
ajustes necessários no local de trabalho) tem mostrado ser a melhor estratégia
para um retorno bem-sucedido ao trabalho26.

Diante do que foi exposto, podemos concluir que cabe aos profissionais
médicos e demais profissionais envolvidos no universo laboral, com o
devido suporte dos gestores das empresas, estimular os pacientes com
FM a continuarem ativos e, sempre que possível, trabalhando. Para que a
permanência no trabalho cumpra o efeito esperado, devem ser implementadas
as estratégias prevencionistas comprovadamente efetivas aqui elencadas.

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C A P I T A L REUMATO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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58
AGORA, MAIS É POSSÍVEL
CONTROLE ABRANGENTE DA DOENÇA COM MENOS CORTICOSTEROIDES
VS. SOMENTE A TERAPIA PADRÃO † 1-8

DADOS DE 4 ANOS DO ESTUDO


DE EXTENSÃO DE LONGO PRAZO ¹

O 1º E ÚNICO INIBIDOR DE IFN-1 PARA O TRATAMENTO DE LES*


Saphnelo® (anifrolumabe) é indicado para o tratamento de pacientes adultos
com lúpus eritematoso sistêmico (LES) moderado a grave positivo
para autoanticorpos, em adição à terapia padrão.³
SAPHNELO® (anifrolumabe) solução para diluição para infusão intravenosa. Indicações: SAPHNELO® é indicado para o tratamento de pacientes adultos com lúpus eritematoso sistêmico (LES) moderado a grave, positivo para autoanticorpos, em adição à terapia padrão. Contraindicações: SAPHNELO® é
contraindicado em pacientes com hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um de seus excipientes listados em Identificação do Medicamento - COMPOSIÇÃO. Cuidados e Advertências: Hipersensibilidade: reações de hipersensibilidade grave, incluindo
anafilaxia, foram relatadas após a administração de SAPHNELO®. Se ocorrer reação grave relacionada à infusão ou hipersensibilidade (por exemplo, anafilaxia), a administração de SAPHNELO® deve ser imediatamente interrompida e terapia adequada deve ser
iniciada. Infecções: SAPHNELO® aumenta o risco de infecções respiratórias e herpes zoster (foram observados eventos de herpes zoster disseminado). Devido ao seu mecanismo de ação, SAPHNELO® deve ser usado com cautela em pacientes com infecções crônicas, histórico de infecções recorrentes ou fatores de
risco conhecidos para infecção. O tratamento com SAPHNELO® não deve ser iniciado em pacientes com qualquer infecção clinicamente significante até a infecção ser resolvida ou adequadamente tratada. Se um paciente desenvolver uma infecção ou não estiver respondendo
à terapia padrão, monitorar o paciente cautelosamente e considerar interromper a terapia com SAPHNELO® até a resolução da infecção. Imunização: antes de iniciar a terapia com SAPHNELO®, considerar a conclusão de todas as imunizações apropriadas de acordo com as diretrizes atuais de imunização. Evitar o uso
concomitante de vacinas vivas ou atenuadas em pacientes tratados com SAPHNELO®. Grupos de pacientes excluídos de estudos clínicos: o anifrolumabe não foi estudado em associação com outras terapêuticas biológicas, incluindo terapêuticas dirigidas às células B. Portanto, o tratamento com anifrolumabe não é
recomendado em associação com terapêuticas biológicas. O anifrolumabe não foi estudado em pacientes com lúpus ativo grave do sistema nervoso central ou com nefrite lúpica ativa grave. Malignidades: o impacto do tratamento com SAPHNELO® no desenvolvimento potencial de malignidades é desconhecido.
Estudos em pacientes com histórico de malignidades não foram realizados. Deve-se considerar o benefício-risco individual em pacientes com fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento ou recidiva de malignidades. Deve-se ter cautela ao se considerar continuar a terapia com SAPHNELO® em pacientes que
desenvolvem malignidades. Efeito sobre a capacidade de dirigir veículos e operar máquinas: SAPHNELO® não tem ou tem influência desprezível sobre a capacidade de dirigir veículos e operar máquinas. Gravidez: Categoria B: este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou
do cirurgião-dentista. Lactação: não se sabe se o anifrolumabe é excretado no leite materno. O risco para o lactente não pode ser excluído. Deve-se tomar a decisão entre descontinuar ou a amamentação ou a terapia com SAPHNELO®, levando-se em consideração o benefício da amamentação para a criança e o
benefício da terapia para a mãe. Fertilidade: não há dados sobre os efeitos de anifrolumabe na fertilidade humana. Interações medicamentosas: nenhum estudo formal de interação medicamentosa foi realizado com SAPHNELO®. Reações adversas: infecções das vias aéreas superiores e bronquite são muito
comuns; hipersensibilidade e reações relacionadas à infusão são comuns; reação anafilática foi um evento incomum Posologia: a dose recomendada de SAPHNELO® é 300 mg, administrada por infusão intravenosa ao longo de um período de 30 minutos, a cada 4 semanas. Apresentação: solução para diluição para
infusão de 300 mg/2 mL (150 mg/mL) em embalagem com 1 frasco-ampola contendo 2,0 mL da solução. USO ADULTO. VIA INTRAVENOSA. RESTRIÇÃO DE VENDA. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Para maiores informações, consulte a bula completa do produto.
www.astrazeneca.com.br. Reg.MS-1.1618.0296.001-8 (SPH_SPH005_min).
†O controle da doença foi definido como resposta na Semana 52 com o uso de BICLA, que mede a atividade do LES e requer pelo menos um nível de melhora em todos os sistemas de órgãos moderada ou gravemente afetados, sem envolvimento de novos órgãos, sem piora da atividade da doença, sem descontinuação
do tratamento e sem uso de medicação restrita. BICLA: Avaliação de Lúpus Composto baseado no Grupo de Avaliação de Lúpus das Ilhas Britânicas (BILAG); dsDNA: DNA de fita dupla; IFN-1: interferon tipo 1. Referências: 1.Kalunian KC, et al. A Randomized, Placebo-Controlled Phase III Extension Trial of the Long-Term
Safety and Tolerability of Anifrolumab in Active Systemic Lupus Erythematosus. Arthritis Rheumatol. 2023;75(2):253-265. 2.Mullard A. FDA approves AstraZeneca’s anifrolumab for lupus. Nature Reviews Drug Discovery 20, 658 (2021) 3.Saphnelo®(anifrolumabe). Bula do Produto. ANVISA. 4.Morand EF, et al; TULIP-2 Trial
Investigators. Trial of anifrolumab in active systemic lupus erythematosus. N Engl J Med. 2020;382(3):211-221. 5.Ohmura K. Which is the best SLE activity index for clinical trials? Mod Rheumatol. 2021;31(1):20-28. 6.Morand E, et al. Comprehensive Efficacy of Anifrolumab Across Organ Domains in Patients with Active SLE:
Pooled Data from 2 Phase 3 Trials [abstract]. Arthritis Rheumatol. 2020; 72 (suppl 10). 7.Isenberg D, et al. Novel stringent outcome measures applied to the phase 2 and 3 anifrolumab trials. Ann Rheum Dis. 2021;80(suppl 1):586-587. 8.Mikdashi J, et al. Measuring disease activity in adults with systemic lupus
erythematosus: the challenges of administrative burden and responsiveness to patient concerns in clinical research. Arthritis Res Ther. 2015;17(1):183.

Espaço para o código BR

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