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SÍNDROME DE RETT E AS AUTISMO FEMININO TEM COTAS PARA AUTISTAS

PESQUISAS CIENTÍFICAS MENOS DIAGNÓSTICOS? NAS UNIVERSIDADES

ANO VIII - Nº 17 - JUN/JUL/AGO 2022

SÍNDROME
DO X FRÁGIL
MERECE
ATENÇÃO

#AutistaEmTodoLugar
00017

GRATUITA
DISTRIBUIÇÃO
ISSN 2596 - 0539

053005
772596
9
#AutistaEmTodoLugar

EDITORIAL
EXPEDIENTE - Revista Autismo
Ano VIII — número 17
Junho de 2022
ISSN: 2596-0539
Nesta edição, como você já deve Também importante é a reportagem
Distribuição gratuita
ter visto na capa, o destaque é a sín- de Sophia Mendonça sobre as cotas
Periodicidade trimestral
drome do X Frágil, uma condição de para autistas nas universidades bra-
Tiragem deste número: 4 mil exemplares
saúde muito ligada ao espectro (es- sileiras. Ainda mais após o incidente
Revista Autismo é uma publicação de circulação
nacional fundada em 2010 com o objetivo de tudos apontam atingir 2% a 5% dos ocorrido na Universidade Federal de
levar informação de qualidade, isenta e imparcial. autistas), porém, estima-se ser muito Minas Gerais (UFMG), que cancelou a
A respeito de autismo, é a primeira revista periódica
da América Latina, além de ser a primeira do mundo
subdiagnosticada no Brasil. E a infor- matrícula de uma aluna autista, após
em língua portuguesa. mação e conscientização ainda são o um parecer da banca de validação e
Editor-chefe e jornalista responsável: melhor caminho! verificação PcD (pessoa com deficiência)
Francisco Paiva Junior - MTb: 33.245 Outro assunto nesta edição é a síndro- da universidade.
editor@RevistaAutismo.com.br
me de Rett, com o artigo de uma mãe, a E na sessão “Espectro Artista”, temos
Direção de arte e design:
Alexandre Beraldo
Paula Godke, que tem mergulhado fundo Arthur Barros, autor de diversos livros,
xberaldo@gmail.com na busca por informação a respeito das numa carreira que começou aos 12 anos
Revisão e Traduções: pesquisas científicas nessa área. de idade — e que fez os pais, Dricka e
Márcia F. Lombo Machado Para completar os tópicos referentes Junior, fundarem uma editora. Histó-
marciaflm@gmail.com
a síndromes, temos um estudo com mi- ria incrível da família que olhou muito
Consultores científicos:
Alysson R. Muotri e Diogo V. Lovato
nicérebros, do neurocientista brasileiro mais para seus potenciais do que para
Arte da Capa:
Alysson Muotri, a respeito da síndrome as limitações.
Revista Autismo de Pitt-Hopkins, que traz novas possi- Além, claro, dos nossos colunistas
Colaboradores deste número: bilidades de tratamento para esse tipo com textos fantásticos e o André, na
Amauri de Araújo Sousa, Beatriz Raposo, de autismo sindrômico. HQ, encontrando um dos personagens
Camila Alli Chair, Celmira Milleo Costa O autismo em mulheres também é mais inusitados da Turma da Mônica,
“Sumi”, Deborah Kerches, Fábio Sousa
(“ tio .faso”), Fernanda Barbi Brock, Haydée destaque nesta edição, com um artigo o Do Contra!
Freire Jacques, Lucas Ksenhuk, Marcelo muito atual e imensamente impor- Enfim, a revista está linda e recheada
Vitoriano, Mauricio de Sousa, Nícolas Brito
Sales, Paula Godke, Paulo Alarcón, Priscila tante da médica neuropediatra De- de bom conteúdo (sim, sou suspeito
Jaeger Lucas, Samanta Paiva, Sophia borah Kerches. Ela escreveu sobre o para afirmar isso, eu sei), feitos com
Mendonça, Tiago Abreu, Wagner Yamuto.
diagnóstico de autismo em meninas, muita dedicação.
Impressão:
LaborPrint
uma tendência mundial para que se Espero que seja uma leitura aprazível
Patrocinadores:
coloque luz nessa questão, visto que e profícua!
Academia do Autismo, Grupo Método, os critérios diagnósticos e instrumen-
Clínica Somar, PECS Brasil. tos de rastreio sempre foram muito
Fundadores (2010): pensados para o sexo masculino.
Martim Fanucchi
Francisco Paiva Junior
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do Giovani, de 15 anos, que tem autismo
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e é muito rápido para fazer contas de ca- redacao@RevistaAutismo.com.br
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beça, e da Samanta, de 13 anos, que tem Para sugerir pautas e temas de reportagens,
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chulé e é exímia desenhista. envie mensagem para o mesmo email citado acima.
Editado por: PAIVA JUNIOR
R. Bela Cintra, 336 - cj. 74-A, Consolação
São Paulo (SP), CEP 01415-000
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AUTOR. Título do artigo ou da matéria, subtítulo. Revista Autismo, São Paulo, ano da revista,
número da edição, páginas inicial-final, mês ano de publicação.
Os artigos assinados não representam
necessariamente a opinião da Revista Exemplo: MUOTRI, A.. Minicérebros humanos, um novo modelo experimental para o estudo do
Autismo e seus editores. TEA. Revista Autismo, São Paulo, ano V, n. 4, p. 44-46, mar. 2019.
C
Í N
D
I E

AUTISMO COTAS NAS


FEMININO UNIVERSIDADES
pág.14 pág. 18

ESTUDO ABRE NOVAS


POSSIBILIDADES DE
TRATAMENTO PARA
FORMA SINDRÔMICA SÍNDROME
DE AUTISMO DE RETT
pág. 34 pág.46

SÍNDROME
DO X FRÁGIL
SESSÕES
MERECE
ATENÇÃO
o que é autismo? pág.08
hq - andré e a turma da mônica pág.09
espectro artista pág.38
canal autismo pág.42 reportagem de capa pág.24

COLUNAS

matraquinha pág.10
tudo o que podemos ser pág.12
trabalho no espectro pág.30 Leia este QR-code
com seu celular e
introvertendo pág.32
acesse a versão online
liga dos autistas pág.48 desta edição com
autismo severo pág.50 conteúdo extra.
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R EVI STA AUTI SMO 6


Artistas que ilustraram esta edição

LUCAS BIA FÁBIO


KSENHUK RAPOSO SOUSA

Artista plástico, Artista plástica, Designer de


20 anos, autista, arte educadora e formação,
sua obra sempre provocadora ilustrador
está nas principais cultural, por paixão,
exposições de ilustra a coluna bonequeiro
rua de SP. “matraquinha” profissional
desde a primeira e autista
vez que a leu. diagnosticado
Se apaixonou. tardiamente.

lucasksenhuk.com @biabiaraposo @seeufalarnaosaidireito


@lucasksenhuk.art/

FERNANDA MAURICIO ALEXANDRE


BARBI BROCK DE SOUSA SAMANTA
BERALDO PAIVA

Autista, ilustradora, Desenhista, pai Designer, Estudante, irmã


possui titulo de da Turma da ilustrador e de autista, filha do
licenciatura em Mônica, colabora gestor culural, editor da revista,
educação artística com a Revista é o responsável desenha nos tempos
(hab. artes plásticas) Autismo desde pela edição de livres, cria o tempo
e designer o início de 2019, arte da Revista todo, tem 12 anos,
de moda. através do Autismo e é fã da banda Now Quer colaborar com
Instituto Mauricio outros projetos United e afirma a Revista Autismo?
de Sousa. artísticos. “Não tenho chulé!”.

@fer.barbi.brock @institutomauriciodesousa @xandeberaldo


@turmadamonica

Se você é artista e autista, e também quer


colaborar com a Revista Autismo,
envie um email para
editor@RevistaAutismo.com.br,
se apresentando e mandando um link
de seus trabalhos artísticos (pode ser
um Instagram ou catálogo digital).

R EVI STA AUTI SMO 7


As informações a seguir não dispensam a consulta
O QUE É AUTISMO a um médico especialista para o diagnóstico

Francisco Paiva Junior

O QUE É AUTISMO?
Saiba a definição do transtorno do espectro do autismo
CONTEÚDO
EXTRA ONLINE
Use o QR-code
ao lado para
ir ao site.

O autismo — nome técnico ofi- apenas uma suspeita clínica, ainda — data celebrada originalmente em
cial: transtorno do espectro do au- sem diagnóstico fechado —, pois 2005, pela organização britânica
tismo (TEA) — é uma condição de quanto mais cedo começarem as in- Aspies for Freedom (AFF).
saúde caracterizada por déficit na- tervenções, maiores serão as possi- Consulta médica
comunicação social (socialização e bilidades de melhorar a qualidade Veja a seguir alguns sinais de autis-
comunicação verbal e não verbal) e de vida da pessoa. O tratamento mo. Apenas três deles numa criança
comportamento (interesse restrito psicológico com maior evidência de de um ano e meio já justificam uma
ou hiperfoco e movimentos repe- eficácia, segundo a Associação Ame- consulta a um médico neuropediatra
titivos). Não há só um, mas mui- ricana de Psiquiatria, é a terapia de ou a um psiquiatra da infância e da
tos subtipos do transtorno. Tão intervenção comportamental. O trata- juventude. Testes como o M-CHAT-
abrangente que se usa o termo mento para autismo é personalizado -R/F(com versão em português)
“espectro”, pelos vários níveis de e interdisciplinar. Além da psicolo- estão disponíveis na internet para
suporte que necessitam — há gia, pacientes podem se beneficiar serem aplicados por profissionais.
desde pessoas com condições as- com fonoaudiologia, terapia ocupa- Todas as referências, links e mais infor-
sociadas (coocorrências), como de- cional, entre outros, conforme a ne- mações estão na versão online.
ficiência intelectual e epilepsia, até cessidade de cada autista. Na escola,
pessoas independentes, que levam um mediador pode trazer grandes Sinais
uma vida comum. Algumas nem
sabem que são autistas, pois jamais
benefícios no aprendizado e na inte-
ração social.
de autismo:
Não manter contato visual por
tiveram diagnóstico. Alguns sintomas como irritabili- mais de 2 segundos;
As causas do autismo são majorita- dade, agitação, autoagressividade,
Não atender quando chamado
riamente genéticas. Confirmando es- hiperatividade, impulsividade, de- pelo nome;
tudos recentes anteriores, um trabalho satenção, insônia e outros podem
Isolar-se ou não se interessar por
científico de 2019 demonstrou que fato- ser tratados com medicamentos, outras crianças;
res genéticos são os mais importantes que devem ser prescritos por um Alinhar objetos;
na determinação das causas (estimados médico. Dentre os medicamentos
Ser muito preso a rotinas a ponto
entre 97% e 99%, sendo 81% hereditário indicados, a risperidona, que é da de entrar em crise;
— e ligados a quase mil genes), além de classe dos antipsicóticos atípicos, é o Não usar brinquedos de forma
fatores ambientais (de 1% a 3%) ainda mais comum. convencional;
controversos, que também podem estar Em 2007, a ONU declarou todo 2 de Fazer movimentos repetitivos
associados como, por exemplo, a idade abril como o Dia Mundial de Cons- sem função aparente;
paterna avançada ou o uso de ácido cientização do Autismo, quando Não falar ou não fazer gestos para
valpróico na gravidez. Existem atual- cartões-postais do mundo todo se mostrar algo;
mente 1.045 genes já mapeados e impli- iluminam de azul (cor escolhida Repetir frases ou palavras em mo-
cados como possíveis fatores de risco por haver, em média, 4 homens para mentos inadequados, sem a devi-
para o transtorno — sendo 102 genes cada mulher com TEA). da função (ecolalia);
os principais. O símbolo do autismo é o quebra- Não compartilhar interesse.
-cabeça, que denota sua diversidade Girar objetos sem uma função
Tratamento e sinais e complexidade. aparente;
Alguns sinais de autismo já podem O dia 18 de junho é o Dia do Orgu- Apresentar interesse restrito
aparecer a partir de um ano e meio lho Autista (representado pelo sím- por um único assunto (hiperfoco);
de idade, e mesmo antes, em casos bolo da neurodiversidade, o infinito Não imitar;
mais graves. Há uma grande im- com o espectro de cores do arco-íris), Não brincar de faz-de-conta.
portância em iniciar o tratamento considerando o autismo como iden-
Hipersensibilidade ou hiper-reati-
o quanto antes — mesmo que seja tidade, uma característica da pessoa vidade sensorial;

08 R EVI STA AUTI SMO #AutistaEmTodoLugar


C O L U N A

Matraquinha
@biabiaraposo
Ilustração: Bia Raposo -

Wagner
Yamuto
OU VOCÊ GOSTA
é pai do Gabriel
(que tem autismo) e da
Thata, casado com a
DE BRIGADEIRO OU
Grazy Yamuto, fundador
do Adoção Brasil, criador
do app Matraquinha, autor
e um grande sonhador.
ESTÁ ERRADO
matraquinhaoficial
@matraquinhaoficial Recentemente foi aniversário do meu filho Neste ano a experiência foi incrível, pois
matraquinha Gabriel, ele acaba de completar 13 anos e com pela primeira vez ele participou ativamente da
matraquinha.com.br o fim da pandemia conseguimos reunir a famí- criação da festinha de aniversário: ele escolheu
lia para comemorar essa data muito especial. o bolo, os doces e os enfeites. Os ensaios para
O tema deste ano foi a Patrulha Canina, cantar os parabéns começaram semanas antes
um desenho com filhotes de cães que precisam com a ajuda da irmã caçula, a Thata.
salvar o dia das armações de um prefeito mal- Mesmo sem falar por causa da apraxia da
vado, de problemas ambientais e até mesmo fala. ele se esforça e vez ou outra saem algumas
encontrar um bolo de aniversário perdido. palavras com um som familiar.
Apesar da idade dele, o conteúdo infantil O grande dia chegou, ele mesmo escolheu a
ainda é o preferido, por outro lado, o Naruto, roupa e desta vez preferiu ir de chinelo do tipo
personagem de anime para adolescentes, co- slider, aqueles que não possuem aquelas tiras
R EVI STA AUTI SMO 10 meçou a surgir em sua playlist. que divide o dedão dos demais dedos e que, de
#AutistaEmTodoLugar

meias, dão uma aparência bem assustadora,


como diz a minha filha.
O dia estava liberado e quando
digo isso me refiro aos quitutes e
doces. O que estivesse na mesa
do bolo poderia ser comido
por qualquer um, inclusive
por ele, que percebeu logo e
não deixou passar batido.
Chegou o momento mais espe-
rado, nos posicionamos à mesa e
a cantoria começou, ele juntou os
braços ao corpo, levantou levemen-
te os antebraços e começou a bater
palmas que estavam incrivelmente
sincronizadas com pequenos saltos e
um sorriso jamais visto em seu rosto.
Em alguns momentos ele olhava
para a irmã, para minha esposa e para
mim com aquele baita sorriso de alegria.
Noutros, ele observava a família cantan-
do, gritando, assoviando, batendo palmas,
fazendo aquela festa que ele tanto merecia.
“... É pique, é pique
É pique, é pique, é pique
É hora, é hora
É hora, é hora, é hora
Rá-tim-bum!...”

R EVI STA AUTI SMO 11


C O L U N A

Tudo o que
podemos ser

A VIDA
VOLTANDO
lucasksenhuk.art

AO NORMAL
Ilustração: Lucas Ksenhuk -

Nícolas
Brito Sales
DEVAGAR
tem 23 anos, é fotógrafo,
palestrante e escritor. Desde 2011,
juntamente com sua mãe, Nicolas
percorre vários lugares para dar
palestras sobre como é ser autista
e estar inserido na sociedade. Em
janeiro de 2016, Nicolas deu início,
como freelancer, a seus trabalhos de
fotógrafo, profissão que ele pretende
seguir. Em 2014, foi coautor do
livro “TEA e inclusão escolar – um
sonho mais que possível”. Em 2017,
Nicolas lançou seu próprio livro,
“Tudo o que eu posso ser”, no qual
conta suas experiências, o que
pensa e como vive em sociedade.
@nicolasbritosalesoficial
tudooqueeupossoser@gmail.com

#AutistaEmTodoLugar

R EVI STA AUTI SMO 12

12
Depois de exatamente 2 anos em casa, trabalhando apenas
com cursos e palestras virtuais, posso dizer oficialmente que
voltamos com a nossa carreira de palestras presenciais. E o que
eu posso dizer sobre isso?! Eu vou ser bem sincero. Eu gostei
e não gostei disso ao mesmo tempo.
Eu gosto muito de deixar mensagens para as pessoas, mas
não dá pra esconder o fato de que eu acabei me desacostu-
mando demais com o lance de sair de casa, viajar, falar com
outras pessoas e de frequentar lugares públicos. Além disso,
há também o fato de eu estar muito restritivo e ainda muito
inseguro com o coronavírus. E isso é terrível, pois acaba
se desenvolvendo muito mais medo por conta de toda essa
quantidade de informação e de a maioria das pessoas, in-
felizmente, não entenderem o fato de que os riscos do co-
ronavírus não acabaram completamente e acharem que
podem se tocar a vontade e não usar máscara ou algo do
tipo. Mas, não havia outra saída para mim e para minha
família, pois esse é o nosso trabalho principal, e vamos
com ele até onde pudermos com muita precaução. E eu
ainda não falei isso, mas eu senti que acabei regredindo
durante essa pandemia sem fazer nenhuma palestra em
público, pois eu acabava ficando sem me comunicar com
outras pessoas. Estava caminhando no autismo leve até
voltar novamente para o moderado. Não que eu esteja
triste com isso, mas é só pra dizer que a vida continua.
Honestamente, não sei o que pode acontecer daqui
pra frente, mas de uma coisa eu sei e eu posso dizer:
os meus sonhos mudaram e agora são outros. Agora
é só deixar acontecer e vida que segue.
Espero poder encontrar vocês em algum dos eventos
de que participarei em 2022.

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AUTISMO
FEMININO
Temos mesmo menos
Ilustração: Samanta Paiva

meninas diagnosticadas
com transtorno do
espectro autista?

R EVI STA AUTI SMO 14


DEBORAH KERCHES

é médica neuropediatra especialista em transtorno do


espectro do autismo; autora do best-seller: “Compreender
e acolher: transtorno do espectro autista na infância e
adolescência”; conselheira profissional da Onda-Autismo;
mestranda em análise do comportamento; coordenadora e
professora de pós-graduações e madrinha do projeto social
“Capacitar para Cuidar”, em Angola. Tem uma página no
instagram com conteúdos sobre TEA, neurologia e saúde
mental infantojuvenil.

O transtorno do espectro autista Porém, esses dados não são total- feminino apresenta diferenças,
(TEA) feminino tem sido constan- mente condizentes com a realidade mesmo que sutis, em sua arquite-
temente colocado em pauta. Dados observada na prática clínica. tura e atividade, sendo importan-
do Centers for Disease Control and O modelo genético que melhor te destacar a maior densidade de
Prevention (CDC), nos Estados Uni- explica a ocorrência do TEA, co- neurônios em áreas relacionadas
dos, divulgados em dezembro de nhecido como “modelo de copo” à linguagem, associada à maior
2021, apontam que 1 mulher a cada (detalhado no artigo de Graciela Pig- habilidade para imitação, habi-
4,2 homens está no espectro autista. natari, da edição nº 4 da Revista Autis- lidades sociais, comunicativas e
Pesquisas internacionais anteriores mo), seria uma provável explicação empatia. Isso prevê menores di-
mostravam dados semelhantes, com para a maior prevalência no sexo ficuldades para relações sociais,
taxas de detecção de autismo de 3 a masculino, uma vez que meninas, interesses restritos que podem pas-
4 vezes maiores entre os homens. para estarem no espectro, precisa- sar despercebidos ou não serem
riam de mais variantes genéticas considerados “atípicos”, menor ten-
associadas ou não a fatores ambien- dência a comportamentos-proble-
tais para atingir o “limiar do copo”. ma (agressividade, inquietude e
Mas, ainda assim, acredita-se que comportamentos disruptivos em
essa discrepância na prevalência es- geral) e maior uso de estratégias
teja associada, em grande parte, a de camuflagem social.
subdiagnósticos, especialmente no Em contraste à externalização,
caso de meninas/mulheres que se a internalização de dificuldades
encontram no espectro nível 1 de su- emocionais é mais comumente ob-
porte, levando em conta que o diag- servada entre as mulheres autistas
nóstico no público feminino é mais quando comparadas aos homens
desafiador, por diferentes motivos. com TEA, o que as torna mais sus-
cetíveis a quadros de ansiedade,
depressão, automutilação, distúr-
Particularidades
bios de alimentação. Esse é um
do comportamento ponto que pode de duas maneiras
e funcionamento interferir no diagnóstico assertivo
cerebral feminino de TEA: pode contribuir para que
O f u nc ion a me nto cerebra l as meninas/mulheres recebam um

#AutistaEmTodoLugar R EVI STA AUTI SMO 15


diagnóstico apenas da condi- impacta em estudos de preva-
ção comórbida e, por outro lado, lência. Soma-se a isso o fato de
pode reforçar o preconceito de os marcadores comportamentais
gênero no reconhecimento do utilizados como critérios diagnós-
autismo (já que as expressões ticos serem, em maioria, estabe-
comportamentais dos homens com lecidos com base nas populações
TEA tendem a chamar mais a aten- predominantemente masculinas
ção do que as das mulheres). previamente identificadas como “Camuflar”
Associa-se a essas particulari- autistas. Dessa forma, acredita- comportamentos
dades o fato de a sociedade es- -se que as mulheres podem ter
perar comportamentos distintos menor probabilidade de aten-
característicos
entre meninos e meninas. Uma derem a esses critérios, já que a do espectro
menina que apresente alguma apresentação do TEA mais comu- para atender
dificuldade na comunicação mente observada entre o público
e interação social, por exem- feminino envolve características
às expectativas
plo, que não goste de toque, autisticas subjacentes (que não se da sociedade
beijos ou brincar com outras manifestam claramente) seme-
crianças, pode ser considerada lhantes às descritas nos critérios
somente uma criança mais tí- diagnósticos atuais.
mida. Por outro lado, meninos
que se comportam de maneira
Maior tendência ao uso de
mais retraída chamam mais a
atenção de todos.
camuflagem social
Camuflagem social refere-se a
Tudo isso contribui para que
um conjunto de estratégias desen-
características mais sutis pre-
volvidas pelo próprio indivíduo
sentes em algumas meninas
com TEA a fim de “camuflar/mas-
fiquem mascaradas, atrasando
carar” comportamentos caracte-
seus diagnósticos.
rísticos do espectro autista, com
o objetivo de se adaptar melhor e
Critérios diagnósticos atender às expectativas dos mais
e características subja- diversos contextos sociais.
centes do TEA feminino Apesar de poder ser adotada por
O diagnóstico no TEA é clí- ambos os sexos, há um predomínio
nico, realizado por meio da em meninas/mulheres sem defi- O diagnóstico
observação dos comportamen- ciência intelectual. no público
tos e do desenvolvimento do A camuf lagem social pode
indivíduo nos mais diversos se apresentar de três manei- feminino é mais
contextos e ambientes, o que ras: compensação (prevê copiar desafiador.

R EVI STA AUTI SMO 16


Meninas com TEA
nível 2 e 3 são
diagnosticadas
mais precocemente,
pois apresentam
déficits e excessos
comportamentais
mais expressivos.

comportamentos e falas, criar um precocemente, pois apresentam dé-


roteiro de uma possível interação ficits e excessos comportamentais
social etc.), mascaramento (moni- mais expressivos.
toração das próprias expressões Por tudo isso, um dos grandes
corporais e faciais, a fim de não de- desafios hoje ainda é treinar o
monstrar que a interação social está olhar dos profissionais da saúde
exigindo um esforço desgastante) e que acompanham a criança, assim
assimilação (que prevê atuação em como orientar pais, familiares, edu-
determinado contexto social, por cadores e a sociedade em geral para
meio de estratégias, comportamen- que alguns sinais mais sutis não
tos e até mesmo de outras pessoas, sejam ignorados e/ou justificados
para passar a impressão de que a como “comportamentos esperados
interação social está sendo feita). entre meninas ou meninos”.
A camuflagem social no contexto
do TEA exige um esforço cogni-
tivo considerável, gerando cons-
tantemente exaustão emocional
e até física, impactando frequen-
temente em sofrimento psíquico.
Sendo um fenômeno ainda pouco
reconhecido por profissionais de
saúde, parece relacionar-se a uma
menor frequência de diagnósticos
de TEA e a um número maior de
diagnósticos errôneos.

Conclusões
Apesar das prováveis diferenças
na apresentação da sintomatolo-
gia, os critérios diagnósticos para o
TEA são os mesmos para ambos os
sexos. Identificar o autismo nível 1
de suporte, tanto em meninas como
em meninos, é naturalmente mais
desafiador e pode ficar ainda mais
complexo no caso de meninas, se
pensarmos em todas essas particu-
laridades. Já as meninas com TEA
nível 2 e 3 são diagnosticadas mais
R EVI STA AUTI SMO 17
SOPHIA MENDONÇA

é jornalista, escritora, apresentadora e mestranda em @autista_mundo


comunicação social. Foi diagnosticada autista aos 11 anos, em Mundo Autista
2008. Mantém o site “O Mundo Autista” no Portal UAI, é autora mundoautista.selmaevictor/
de sete livros, incluindo “Outro Olhar” e “Neurodivergentes”.
@mundo.autista
omundoautista.com.br
#AutistaEmTodoLugar

COTAS NAS
UNIVERSIDADES
Pessoas com
deficiência, incluindo
autistas, clamam
por cotas em
universidades

R EVI STA AUTI SMO 18

Depositphotos
As cotas para
autistas trarão
maior
conscientização
investigamos como está a aces- que a criação de cotas para
à comunidade sibilidade e a inclusão de au- autistas proporcionará uma
acadêmica tistas no ensino superior no maior conscientização da co-
Brasil de hoje. O que efetiva- munidade acadêmica sobre a
mente tem sido feito para asse- existência dessas pessoas na
gurar a permanência e entrada universidade. A ativista, que
de pessoas com TEA no am- se identifica como não-binária,
biente acadêmico? Nesta re- percebe semelhanças entre o
portagem da Revista Autista, capacitismo enfrentado por au-
você vai conferir os desafios, tistas no ambiente acadêmico e
projetos e controvérsias que a vulnerabilidade experiencia-
rondam o tema. da por outros grupos sociais,
como pessoas de baixa renda,
nesses mesmos territórios.
Autistas na Ambas as populações, afi-
Universidade nal, não se encaixam no perfil
S eg u ndo leva nt a men- “elitista” de adolescentes pri-

A
to divulgado pelo Instituto vilegiados, com oportunida-
Nacional de Estudos e Pes- de de estudos nos melhores
quisas Educacionais Anísio cursos preparatórios. No caso
Teixeira (Inep) em 2019, ape- de autistas, não é incomum
nas 0,43% das matrículas em haver déficit no ciclo de for-
universidades paulistas eram mação primária e secundária,
preenchidas por alunos com por exemplo.
deficiência. Dessas vagas, ape-
nas 200 estavam ocupadas por
estudantes autistas. Portanto, Ciência e afetos
coletivos de autistas estão se como aliados
mobilizando para cobrar das para a inclusão
instituições a aplicação de Por meio de sua atuação no
cotas para pessoas com defi- coletivo autista, Gia oferece
ciência. Esses grupos incluem acolhimento para estudantes
vivência na universidade é estudantes da Universidade de autistas e promove a conscien-
usualmente lembrada como São Paulo (USP), da Universi- tização acerca das demandas
um dos momentos marcantes dade Estadual Paulista (Unesp) desses indivíduos, cujas vi-
da fase adulta. Com autistas e da Universidade Estadual de vências tendem a ser negli-
não costuma ser diferente. Campinas (Unicamp). genciadas na universidade, já
Discussões sobre o autis- Fundadora do Causp (Coleti- que o autismo é uma deficiên-
mo em adultos, inclusive, se vo Autista da USP), a estudan- cia “invisível”. Além disso, ela
intensificaram nos últimos te de direito Gia Martinovic considera que os professores
anos. Afinal, pessoas com observa que apenas uma pe- devem dedicar maior escuta
diagnóstico de transtorno quena parcela de autistas aos alunos neurodivergentes
do espectro autista necessi- ingressa no ensino superior (o que inclui outras condições,
tam de suporte em todas as no Brasil. Desses, muitos de- como TDAH e dislexia), de
fases da vida. Pensando nisso, sistem. Por isso, ela defende modo a corrigir os impactos

R EVI STA AUTI SMO 19


“As políticas de
cotas chamam à
responsabilidade
iniciativas voltadas
à entrada e
permanência das
pessoas com

Divulgação
deficiência nas
universidades”
Coletivo Autista USP

de métodos avaliativos proje- de novos caminhos nas refle-


tados com base em um modelo xões conceituais e no mercado
baseado apenas nas necessi- de trabalho.
dades de neurotípicos. “Todo Sônia Pessoa é uma das
método avaliativo deveria ter coordenadoras do Afetos, o
uma alternativa. A professo- grupo de pesquisa em Co-
ra/professor pode dizer para municação, Acessibilidade e
a classe: ‘quem tiver dificul- Vulnerabilidades, da mesma
dades com algum método instituição. Foi por meio dele
avaliativo pode conversar no que se formaram a primeira
início/final da aula ou enviar mestra com deficiência em Co-
um email’”, pondera. municação Social da UFMG e
Para a professora do De- a primeira mulher transgênero
partamento de Comunicação e autista a completar um mes-
Social da Universidade Fede- trado em toda a instituição. O
ral de Minas Gerais (UFMG), Afetos surgiu em 2017 como
Sônia Caldas Pessoa, as políti- um coletivo de pesquisadores
cas de cotas chamam à respon- focado na abertura à colabora-
sabilidade iniciativas voltadas ção permanente com pessoas
à entrada e permanência das em situação potencial de vul-
pessoas com deficiência nas nerabilidade, especialmente
universidades. Ela considera pessoas com deficiência. Se-
que a chegada dos editais su- gundo a pesquisadora, a ideia
plementares aos programas é que a ciência possa, a partir
de pós-graduação na UFMG de uma dimensão afetiva, pen-
representam um grande avan- sar os processos, fenômenos
ço, tanto para a entrada desses e singularidades dos sujeitos
indivíduos no ambiente acadê- considerados socialmente fora
mico quanto para a abertura do padrão. Desse modo, as

R EVI STA AUTI SMO 20


pesquisas desenvolvidas no contato para ter apoio pedagó- “A última coisa que passou
Afetos percebem as vulnera- gico. Eu perdi algumas pro-
bilidades sob um outro olhar, vas, perdi trabalhos. É muito
pela minha cabeça é que eu
no qual a experiência não se constrangedor eu assistir às seria indeferida pela banca,
limita a fazer parte da narra- aulas e no momento em que justamente por eu ter
tiva de vida do sujeito, mas se o pessoal fala do trabalho eu
revela peça importante para a não poder participar, porque laudo e trabalhar numa
reflexão científica. não tinha matrícula ainda”, vaga PcD na empresa”
descreve Gabrielle.
Segundo a diretora adjunta
UFMG nega matrícula do Núcleo de Acessibilidade
de aluna diagnosticada e Inclusão da UFMG (NAI),
autista Regina Céli Fonseca Ribeiro,
A UFMG adota cotas para para preservar a privacida-
pessoas com deficiência desde de das pessoas envolvidas, a
2017. A instituição, entretanto, UFMG não comenta resulta-
se viu imersa em uma situa- dos ou casos isolados de situa-
ção polêmica quando a estu- ções específicas. “Há canais
dante de Ciências Biológicas formais internos e externos à
Gabrielle Sousa (nome fictício universidade para a discussão,
para preservar a identidade da análise e questionamentos de
fonte) foi notificada por email resultados. Reiteramos aqui o
que sua matrícula foi indefe- compromisso da UFMG com a
rida após parecer da banca de efetivação da política de cotas,
validação e verificação PcD da cujo objetivo é democratizar o
universidade. “A última coisa acesso da população brasileira
que passou pela minha cabeça à universidade pública. Cabe,
é que eu seria indeferida pela portanto, à instituição estabe-
banca, justamente por eu ter lecer e zelar pelo cumprimento
laudo e trabalhar, na época, em de procedimentos rigorosos de
uma vaga PcD na empresa. Foi verificação, que são determi-
uma surpresa estressante e co- nações legais a serem segui-
mecei a passar mal”, lamenta das e uma responsabilidade
a jovem. que levamos muito a sério, a
Gabrielle procurou a defen- fim de salvaguardar a reserva
soria pública e conseguiu uma de vagas para as pessoas que,
liminar para ser matriculada por direito, atendam aos cri-
com o processo ainda em an- térios estabelecidos. A UFMG
damento, mas teve acesso às se mantém permanentemente
plataformas da instituição em diálogo na construção de
apenas duas semanas depois. sua política de acessibilida-
“Eles demoram muito para de para que ela cumpra, cada
fazer minha integração no sis- vez mais, essa função social de
tema e tudo mais. Parece que forma justa e solidária”, decla-
a UFMG só está enrolando rou Regina Ribeiro.
mais ainda. Eu tento entrar em
R EVI STA AUTI SMO 21
PAIS DE PESSOAS COM TEA ENCONTRAM DIFICULDADES PARA
IDENTIFICAR PROFISSIONAIS CONFIÁVEIS.

É muito comum recebermos pedidos de Brasil. É uma excelente iniciativa para


indicação de profissionais capacitados para o contribuir para que as famílias sejam assistidas
atendimento de pessoas com TEA. Na maior por quem realmente está habilitado para o
parte dos casos, são familiares que vêm de atendimento com qualidade. Neste mês de
experiências ruins em seus contextos, onde junho, a Academia do Autismo está abrindo
seus filhos foram atendidos por profissionais novas vagas para esta formação que abre
sem capacitação adequada para atendimento turma apenas 1 vez por ano, com uma novidade
de pessoas com TEA. Com o aumento dos que nós aqui gostamos muito: os alunos terão a
índices de TEA na população brasileira, esta oportunidade de estagiar na Clínica Mosaico,
demanda vem aumentando dia após dia. Por referência em TEA no Brasil. Mais um passo para
outro lado, os profissionais que querem se garantir a formação de profissionais de

destacar como terapeutas qualificados, têm qualidade para o TEA. Se você tem interesse em
buscado cada vez mais instituições de saber mais sobre a Formação Avançada em ABA,
referência para se capacitarem. Um exemplo vamos deixar o link aqui abaixo, com a indicação
disso, são os profissionais que têm se que sempre temos muita alegria de fazer para
capacitado na Academia do Autismo, nossa tudo o que diz respeito à Academia do Autismo.
parceira institucional, nos mais diversos
treinamentos. Um dos principais deles é a https://imersao.academiadoautismo.com.br
Formação Avançada em ABA, que forma os /revista
profissionais indicados pela Academia do
Autismo, um local seguro para buscar
indicações de profissionais capacitados para
atuar no TEA, categorizados por regiões do
SEJA UMA REFERÊNCIA
EM APLICAÇÃO DA ABA
NO TEA (AUTISMO)

12 MÓDULOS
Módulo 1 – Princípios Básicos (Fábio) Aula 3 – Ensino por tentativas discretas
Aula 4 – Ensino naturalístico
Aula 1 – Autismo, sinais, diagnóstico e
comorbidades
Aula 5 – Análise de tarefas e encadeamento
CERTIFICADO
Aula 2 – Práticas baseadas em evidências e ABA?
Aula 3 – Bases filosóficas da ABA
Módulo 7 – Redução de Comportamentos
(Chaloê) COM CARGA
Aula 4 - Conceitos básicos da Análise do
Comportamento Aula 1 - Definição e avaliação de Comportamento HORÁRIA DE
Inadequado
240 HORAS
+
Módulo 2 - Comportamento Verbal (Maria Aula 2 - Intervenção: Manejo de Antecedentes
Christina) Aula 3 - Intervenção: Procedimento de Extinção
Aula 4 - Intervenção: Estratégias de
Aula 1 – definição de comportamento verbal Reforçamento Diferencial
Aula 2 - operantes verbais: Mando, tato,
intraverbal
Aula 5 - Comportamentos-Problema Severos
SUPERVISÃO
Aula 3 – operantes verbais: ecoico e copia Módulo 8 – Ensino de Habilidades Básicas e
Aula 4 - operantes verbais: textual e transcrição Sociais (Djalma)
Aula 5 – comportamento autoclítico e resposta de
ouvinte Aula 1 – O que temos que ensinar e por quê?
Aula 2 – Habilidades Básicas
Módulo 3 – Medidas Comportamentais Aula 3 – Habilidades Sociais
(Chaloê)
Módulo 9 – Ensino de repertório verbal
Aula 1 - Observação científica do comportamento (Maria Christina)
Aula 2 – Tipos de Registro e medidas do
comportamento Aula 1 – Ensino do mando, tato e intraverbal
Aula 3 - Logística e escolha de instrumentos de Aula 2 - Ensino do ecoico e resposta de ouvinte
registro Aula 3 – Pareamento estímulo - estímulo (SSP)
Aula 4 - Procedimentos para registrar e medir o Aula 4 – Naming (nomeação) Maria
comportamento Christina
Aula 5 – Comunicação alternativa Souza
Aula 5 - Representação gráfica de medidas
comportamentais Módulo 10 – Habilidades Sociais (Fábio)

Módulo 4 – Avaliação Funcional do Aula 1 – Habilidades sociais na infância


Comportamento (Chaloê) Aula 2 – Habilidades de regulação emocional Chaloê
Aula 3 – Intervenções mediadas por pares Comim
Aula 1 – O que é e para que serve Aula 4 – Habilidades sociais em adolescentes e Fábio
Aula 2 – Avaliação Funcional e Análise Funcional: adultos Coelho
análise indireta, descritiva e experimental
Aula 3 –Variações do modelo experimental em Módulo 11 – Ensino de Habilidades
Análise Funcional Funcionais (Funcionais) (Fábio)
Aula 4 - Entendendo o comportamento através da
avaliação funcional Aula 1 – Habilidades de alimentaçã Dr. Djalma
Aula 2 – Habilidades de higiene pessoal F. Freitas
Módulo 5 – Avaliação de repertório Aula 3 – Habilidades de vestuário
Comportamental (avaliação de Habilidades) Aula 4 – Habilidades para uso do banheiro
(Fábio)
Módulo 12 – Ensino de Habilidades
Aula 1 – Avaliação de preferências Acadêmicas (Maria Christina)
Aula 2 – Planejando uma intervenção
individualizada Aula 1 – Discriminação simples e discriminação
Aula 3 – Protocolos de avaliação 01 condicional
Aula 4 – Protocolos de avaliação 02
Aula 5 – Elaboração de currículo individualizado
Aula 2 – Emparelhamento ao modelo
aula 3 - Emparelhamento ao modelo por resposta
LISTA
Módulo 6 - Estratégias de Ensino (Fábio)
construída (CRMTS)
Aula 4 – Paradigma da equivalência de estímulos
DE ESPERA
Aula 5 – Alfabetização e TEA
Aula 1 – Modelagem
Aula 2 – Modelação e videomodelação DÚVIDAS SOBRE A FORMAÇÃO AVANÇADA EM ABA
ENTRE EM CONTATO POR: (22) 98842-8540
FRANCISCO PAIVA JUNIOR

é editor-chefe da Revista Autismo @PaivaJunior


@paivajunior

#AutistaEmTodoLugar

SÍNDROME DO
X FRÁGIL, AINDA
DESCONHECIDA,
MERECE ATENÇÃO
tualmente, com o apoio da
2% a 5% dos opinião pública, pesquisas
e conhecimento médico, o
autistas podem transtorno do espectro do
ter a síndrome, autismo (TEA) é muito mais
conhecido e difundido. No
causa hereditária entanto, existe uma condição
de saúde correlata, muitas
mais comum vezes diagnosticada como au-
de deficiência tismo, de pouco conhecimen-
to da população: a síndrome
intelectual do X Frágil (SXF).
Como a síndrome apresenta
muitos sintomas e sinais não
específicos, acaba dificultando
a definição do quadro clínico
de pessoas com essa condição
de saúde. Por essa razão, mui-
tos são diagnosticados com au-
tismo, TDAH (transtorno de
déficit da atenção com hipe-
ratividade), até mesmo com
o antigo diagnóstico de sín-
drome de Asperger, entre ou-
tros. A Síndrome do X Frágil é
uma condição hereditária que

R EVI STA AUTI SMO 24


“Temos no Brasil
causa deficiência intelectual Traços físicos típicos aproximadamente
de graus variáveis e pode ter Segundo a gestora, as pes- 100 mil pessoas
sinais comportamentais im- soas afetadas pela síndrome
portantes, muitas vezes dentro do X Frágil apresentam atra- com a síndrome
do espectro do autismo. so no desenvolvimento, com do X Frágil e a
características variáveis de
Segundo Luz María Romero, imensa maioria
gestora do Instituto Buko Kae- comprometimento intelectual,
semodel (IBK), o desconheci- distúrbios de comportamento, sem diagnóstico”
mento a respeito da síndrome problemas de aprendizado e da
ainda é muito grande. “Hoje capacidade de comunicação.
sabemos que, dos pacientes “Em geral, os sintomas se ma-
diagnosticados com a SXF, até nifestam mais severamente nos
60% deles também são autis- homens. Na maioria das vezes
tas. Se levarmos em conta que os primeiros sintomas surgem
o Brasil tem, hoje, aproxima- entre os 18 meses de vida e os 3
damente 2 milhões de autis- anos de idade”, destacou.
tas — segundo a Organização Existem alguns traços físi-
Mundial da Saúde (OMS) — e cos típicos nas pessoas com
2% a 5% desse total possuem a síndrome: face alongada e
a síndrome do X Frágil, temos estreita, orelhas largas em
aproximadamente 100 mil pes- formato de abano, mandíbula
soas com a síndrome e a imen- e testa proeminentes, palato
sa maioria sem diagnóstico, o alto, testículos aumentados
que inviabiliza os tratamentos (macroorquidismo), dedos e
corretos para uma melhor qua- articulações extremamente
lidade de vida”, explicou ela. flexíveis, estrabismo, entre
Apesar de pouco conhecida outros sinais menos frequen-
e difundida, a SXF é a causa tes. É importante lembrar que
hereditária mais comum de cada pessoa com a SXF possui
deficiência intelectual. Infe- características próprias e a
lizmente, mesmo sendo de síndrome pode se manifes-
incidência tão comum, a SXF tar de maneiras diferentes em
tem diagnóstico difícil e, mui- cada um.
tas vezes, é desconhecida até Sabrina Muggiati, idealiza-
mesmo por profissionais das dora do programa “Eu Digo X”,
áreas de saúde e de educação. do Instituto Buko Kaesemodel,
“Um dos principais motivos conta que seu filho, hoje com
para a demora de um diagnós- 18 anos, foi diagnosticado aos
tico clínico mais preciso são 5 anos como autista. “Logo nos
as semelhanças com os sinto- seus primeiros anos de vida,
mas e sinais da condição do chorava muito e era extrema-
espectro do autismo”, comple- mente agitado. Muita dificul-
tou Luz María. dade de compreensão, mas ao

R EVI STA AUTI SMO 25


mesmo tempo um carinho com realizada pelo programa “Eu
as pessoas próximas. Ele vivia Digo X”, isto vem se confir-
no seu mundo, um mundo à mando. “Por isso, levar o co-
parte. Com o passar do tempo, nhecimento à população, dar
já diagnosticado como autis- as orientações necessárias e
ta, percebemos que ele não se realizar o diagnóstico preco-
desenvolvia adequadamente, ce é tão importante”, reforça
sendo bem diferente de outras Luz María.
crianças com o mesmo diag- Para Sabrina, é fundamen-
nóstico”, comentou a mãe. t a l deter m i na r u m d iag-
Em busca de uma definição nóstico preciso tão logo se
clínica precisa, Sabrina conta man ifestem os primeiros
que consultaram inúmeros sinais ou suspeitas, em es-
profissionais de medicina, até pecial quando se trata do
que depois de muito tempo, primeiro caso de SXF identi-
aos 8 anos, o diag nóstico ficado na família. “Somente
final veio. “Meu filho além um diagnóstico conclusivo
de autista era X Frágil”, re- permitirá que se busque o
lembrou Muggiati. tratamento e o atendimento
adequados para uma criança
afetada pela SXF. Para isso,
Cada família: faz-se necessário um teste de
7 a 8 casos DNA, por meio de um exame
Hoje, o IBK realiza a aná- de sangue ou saliva que é ana-
lise de rastreabilidade de lisado em um laboratório de
famílias de indivíduos com genética. Esse exame é indi-
SXF. Estima-se que a cada cado para homens e mulheres
caso de SXF encontrado em que apresentem algum tipo de
u ma fam í lia, descobrem- distúrbio de desenvolvimento
-se, em média, mais 6 ou 7 ou deficiência intelectual de
casos. E através da pesquisa causa desconhecida, em casos

Principais Sintomas da Síndrome do X Frágil


- Deficiência Intelectual
- Dificuldade motora
- Orelhas, queixo e testa proeminentes
- Face alongada
- Palato alto
- Hiperextensibilidade de joelhos, mãos, punhos e dedos
- Convulsões
- Comportamento similar ao autismo
- Repete informações ao falar e se confunde facilmente
- Dificuldade de contato físico

R EVI STA AUTI SMO 26


de autismo ou histórico fami- explicou o pesquisador Rober-
liar de síndrome do X Frágil”, to Hirochi Herai, bioinformata
explica. da Tismoo e diretor científico
“O medo e a falta de infor- voluntário do Instituto Buko
mação às vezes são piores do Kaesemodel. Ele ainda reforça
que o preconceito. Por isso são que “pesquisas realizadas com
tão importantes a divulgação dados de pacientes com a SXF
e o prognóstico para a reali- permitem identificar novos
zação de um plano terapêu- tipos de mutações genéticas
tico, evitando procedimentos no gene FRM1 que também
inadequados”, enfatiza Luz podem causar a síndrome, mas
María. As terapias surtem que não são detectadas por la-
maior efeito quanto antes boratórios de rotina. Portanto,
forem adotadas e são fun- é fundamental um olhar de
damentais para garantir os um especialista em genética
cuidados necessários. “Por- de transtornos mentais para
tanto, o melhor tratamento identificar se mutações atí-
abrange o diagnóstico preco- picas podem estar causando
ce e a adoção imediata de me- os sintomas da SXF”, frisou
didas que ajudem a atenuar Herai, que também é profes-
alguns sintomas e proporcio- sor de genética no curso de
nem uma vida saudável para medicina e pesquisador do
estas pessoas”, pontuou. Programa de Pós-graduação
“O diagnóstico genético pre- em Ciências da Saúde da Pon-
coce da síndrome do X Frágil tifícia Universidade Católica
é fundamental para que me- do Paraná (PUCPR).
didas terapêuticas sejam ado- O programa “Eu Digo X”
tadas o mais rápido possível, tem 775 pessoas cadastradas
favorecendo o desenvolvimen- em seu banco de dados. Ima-
to da criança, e também como ginando-se que, destas, cerca
forma de amenizar muitos dos de 80% têm diagnósticos con-
sintomas comportamentais e firmados, se multiplicarmos
de desenvolvimento motor esse valor por seis, resulta em
que acometem as pessoas com aproximadamente 3.798 casos”
a síndrome. Além disso, essa
síndrome é a condição genéti-
ca e hereditária mais comum
Diagnóstico da
na população humana, e por síndrome do
conta disso, o teste genético X Frágil
também permite identificar A sí ndrome do X f rág il
outros membros da família afeta cerca de 1/4.000 ho-
que são portadores de uma mens e 1/6.000 mulheres. A
pré-mutação, que está rela- pré-mutação é mais comum, a
cionada com a ocorrência de estimativa é de 1 caso a cada
outras doenças no indivíduo, e 256 nas mulheres e 1 a cada
eles também podem ter filhos 813 nos homens.
com mutação causal da SXF”, S eg u ndo Lu z M a r í a, o

R EVI STA AUTI SMO 27


melhor método para o diag-
nóstico da SXF é a análise do
DNA em amostra de sangue.
“O exame citogenético (carió-
tipo) não deve ser utilizado, O programa “Eu Digo X” suporte às famílias, com
pois, com frequência, apresen- surgiu em 2014, com a ini- o voluntariado de profis-
ta resultados falso negativo e ciativa das irmãs gêmeas, sionais de saúde, como a
falso positivo. Hoje os testes Rafaela Kaesemodel e Sa- fisioterapeuta, psicóloga,
indicados são o PCR (Reação brina Muggiati. O progra- geneticista, pesquisadores,
em Cadeia da Polimerase) e o ma tem o objetivo de ajudar advogados entre outros pro-
Southern blot, que mede o ta- as famílias, para que reali- fissionais”, salienta Sabrina.
manho da repetição do CGC”, zem um diagnóstico pre- O atendimento do pro-
explicou ela. coce, além de orientação, grama “Eu Digo X” se dá
mapeamento a respeito da nacionalmente e de forma
síndrome e pesquisa. gratuita, e basta a família
Gene FMR1 Inicialmente o progra- realizar o cadastro no site
A síndrome do X Frágil é ma “Eu Digo X” foi criado www.eudigox.com.br. “Com
uma condição de origem ge- para divulgar e conscienti- a pandemia e a necessida-
nética, causada pela mutação zar a população a respeito de de transformarmos o
de um gene específico, FMR1, da existência da SFX. Hoje, trabalho em 100% online,
localizado no braço longo do auxilia no diagnóstico da conseguimos abranger um
cromossomo X. Quando um síndrome do X Frágil em número maior de famílias”,
indivíduo é acometido pela parceria com o laboratório finaliza Sabrina.
Síndrome, o gene FMR1 (Fra- DB (Diagnósticos do Brasil). Além disso, parte das fa-
gile X Messenger Ribonucleo- “Caso a família não possa mílias cadastradas no IBK
protein 1) fica comprometido arcar com o custo do exame também são convidadas a
e, por consequência, ocorre genético, o Instituto Buko participar voluntariamen-
a falta ou pouca produção Kaesemodel ajuda com a te, e sem custo algum, de
da proteína FMRP (a sigla sua realização. Vale salien- pesquisas científicas que
tar que esse exame é reali- permitam obter mais infor-
zado pelos planos de saúde, mações a respeito da SXF.
e atualmente o custo pode As pesquisas são coordena-
variar entre R$ 1 mil a R$ 3 das pelo diretor científico
mil – conforme a região do voluntário do instituto, Ro-
país”, explica Sabrina. berto Herai, que é doutor
Com a intermediação do em genética e biologia mo-
IBK, a família pode reali- lecular, com pós-doutorado
zar o exame no laboratório em genética de microorga-
DB, com valor pré-fixado de nismos e em medicina ce-
R$ 310,00. “Além do diag- lular e molecular.
nóstico, também damos o

instituto-buko-kaesemodel @programaeudigox
Instituto Buko Kaesemodel contato@institutolk.org.br
@eudigox

R EVI STA AUTI SMO 28


#AutistaEmTodoLugar

atualmente significa “Fragile


X Mental Retardation Protein”,
porém, está em processo de
atualização do nome da pro-
teína — ainda não aprovado
— para: “Fragile X Messen-
ger Ribonucleoprotein”, o que
pode acontecer em breve, como
ocorreu com o nome do gene
FMR1, citado anteriormente).
Muitos adultos descobrem a
presença da condição quando
têm filhos ou quando neces-
Programa Eu Digo X
sitam de um tratamento de
Ilustradora: Agnes Lina Tsukuda

saúde diferenciado. É o caso outros somente na fase adulta. Já


de Sabrina Muggiati, que a minha filha, apresentou a muta-
veio a descobrir que tinha a ção completa”, explicou Sabrina.
pré-mutação do gene FMR1, Para quem quiser mais in-
quando buscou o diagnóstico formações, o site do instituto é
do filho, na época com 8 anos. institutobukokaesemodel.org.br
Após o diagnóstico do filho, e o do programa “Eu Digo X” é
orientada pelo médico, a família eudigox.com.br.
realizou o exame. “Por ser uma
condição genética, que atua em
muitas gerações, é recomenda-
do fazer um aconselhamento
genético familiar. Nesse mo-
mento, soube que eu e minha
irmã gêmea temos a pré-muta-
ção, ou seja, possuímos o gene
alterado, mas os sintomas são
muito leves. Sendo alguns sinto- (Com colaboração de Celmira
mas sentidos na adolescência e Milleo Costa “Sumi”)

R EVI STA AUTI SMO 29


C O L U N A #AutistaEmTodoLugar

Trabalho no LUGAR DE
Espectro
AUTISTA É EM
TODO LUGAR,
INCLUSIVE NO
MERCADO DE
Marcelo
Vitoriano
TRABALHO
é psicólogo, especialista em O tema “Lugar de Autista é em Todo oportunidade das empresas de trazerem
terapia comportamental Lugar” nos remete à ideia que todas as talentos diversos para seus quadros,
cognitiva em saúde mental, mestre pessoas autistas têm de ter condições de com outras formas de pensar, terem
em psicologia da saúde. Desde participação ativa em todas as esferas equipes mais colaborativas, uma cul-
2015 faz parte do grupo de de nossa sociedade, e a participação no tura mais humanizada, com inovação,
trabalho sobre direitos humanos mercado de trabalho é algo importan- e de serem organizações mais respon-
nas empresas da rede brasileira tíssimo. Cabe lembrar que o primeiro sáveis, socialmente falando.
do pacto global da ONU e é
aspecto dessa discussão é que a entrada Mas, quanto à inclusão de autistas,
diretor geral da Specialisterne
no Brasil, organização social no mercado de trabalho é um direito de de que autistas estamos falando? Todas
de origem dinamarquesa todas as pessoas, e as pessoas neuro- as pessoas autistas, com os diferentes
presente em 20 países, que divergentes carecem de equidade em níveis de suporte, podem trabalhar?
atua na formação e inclusão relação às oportunidades para a entrar Minha resposta e opinião é que sim,
de pessoas com autismo no e permanecer nesse mercado. Outro todas as pessoas podem trabalhar, desde
mercado de trabalho. ponto que julgo importante citar é que que tenham os apoios necessários para
@specialisterne_br no Brasil existe uma vasta legislação sua inclusão, sendo assim possível uma
Specialisterne-Brasil de promoção e inclusão de pessoas com inclusão profissional com qualidade.
SpecialisterneBrasil deficiência, na qual as pessoas autistas Em 2007, tive a oportunidade de
specialisternebrasil.com se enquadram, tais como a Lei de Cotas, conhecer algumas organizações nos
a Convenção Internacional sobre os Di- Estados Unidos que faziam inclusão de
reitos das Pessoas com Deficiência (da pessoas com deficiência e fui conhecer
ONU), da qual o Brasil é signatário, uma experiência de inclusão de um
entre outras. Dessa forma, o primeiro jovem autista chamado John, com apro-
olhar deve ser direcionado à equidade de ximadamente 20 anos de idade, e nível
R EVI STA AUTI SMO 30 oportunidades. O segundo aspecto é a 3 de suporte! John trabalhava em um
pequeno mercado de seu bairro, fazendo
reposição de mercadorias, sempre acom-
panhado por um job coaching, profis-
sional que conhecia profundamente as
necessidades do John e o auxiliava nas
atividades. John trabalhava com uma
carga horária reduzida, de três horas
diárias, três vezes na semana. Quando
John não ia trabalhar por algum moti-
vo, os clientes sempre perguntavam por
que John não havia ido, pois sentiam
sua falta. Ele se sentia muito querido
pela comunidade. Nesse exemplo vimos
como o suporte, flexibilização do posto
de trabalho e apoios necessários foram
importantes para a inclusão profissio-
nal de John.
Quando falamos em mercado de tra-
balho, na maioria das vezes pensamos
em grandes empresas e por vezes nos
esquecemos que o mundo do trabalho disponibilização dos apoios necessários,
tem diversas possibilidades também em muita comunicação sobre as caracterís-
empresas de pequeno porte, bem como a ticas das pessoas autistas e, com isso,
possibilidade de renda através de inicia- tivemos uma satisfatória experiência de
tivas de empreendedorismo. Conheci o inclusão profissional.
Gabriel, jovem autista, que adora fazer Obviamente, em todas as regiões
bottons em sua casa. Esses bottons do Brasil, estamos a anos luz de ter-
são distribuídos pelas empresas aos mos muitas experiências como as que
seus colaboradores, com algum tema relatei, mas precisamos incentivar a
específico, como o Dia da Consciên- comunidade de pessoas autistas, seus
cia Negra, uma campanha de saúde, familiares, organizações, universi-
Depositphotos

grupos de afinidade, entre outros. A dades, bem como o poder público, a


família de Gabriel contatou um hotel apoiar a criação de políticas públicas
na cidade em que moram e ofereceu os que permitam e financiem programas
serviços do Gabriel para confecção de de inclusão profissional para todas as
bottons. Em virtude da pandemia, e pessoas autistas!
com todas as pessoas usando másca- Da mesma forma, a iniciativa pri-
ras, o hotel encomendou bottons com vada, junto a empresas de diferentes
a foto de cada colaborador como uma portes, devido à necessidade de inves-
forma de os clientes e hóspedes saberem timento social, pode contribuir para a
e conhecerem o rosto de cada uma das criação e o financiamento de projetos
pessoas sem máscara. Gabriel, atra- para a inclusão.
vés dessa iniciativa, pôde obter renda
com uma atividade que adora fazer.
Nas duas experiências que comentei,
estiveram presentes a acessibilidade, a
R EVI STA AUTI SMO 31
C O L U N A

REVELAR OU NÃO
Introvertendo
REVELAR O AUTISMO?
EIS A QUESTÃO...
@seeufalarnaosaidireito

Receber o diagnóstico de autis- todos tendeu à aceitação, compreen-


mo é uma verdadeira jornada para dendo que meus comportamentos
a maioria dos autistas, incluin- tinham padrões incomuns para a
do idas a médicos e avaliações. maioria das pessoas.
Ilustração: tio .faso -

Quando se recebe o diagnóstico, No decorrer do tempo, eu aceitei o


Paulo há o baque sobre como isso afetará autismo, e falar sobre ele se tornou
Alarcón a sua vida, levando ao seguinte algo natural, principalmente após
questionamento: “A quem contar integrar o Introvertendo e o pod-
sobreo diagnóstico?”. cast ganhar visibilidade. Passei a
é mestre em computação Há 4 anos obtive meu diagnós- observar certos padrões e testar di-
aplicada, pelo Instituto tico de autismo o que na época foi ferentes estratégias avaliando como
Nacional de Pesquisas uma longa jornada e as dúvidas as pessoas lidavam com a notícia
Espaciais (INPE), analista sobre a quem falar e como falar de que eu sou autista. Percebi al-
de sistemas, professor,
marido, pai de pets, sobre o diagnóstico foram uma guns padrões relacionados ao nível
autista e integrante do constante por muito tempo. de conhecimento sobre o autismo e
podcast Introvertendo. A princípio, dei tal notícia às à tolerância das pessoas àquilo que
pessoas mais íntimas, como meus é diferente.
pais e alguns poucos amigos. A maioria das pessoas sabe muito
Cada pessoa teve reações dife- pouco sobre o autismo e isso não é
rentes, alguns aceitaram pronta- necessariamente um problema, visto
introvertendo mente, reconhecendo que fazia que é impossível ter conhecimento
@introvertendo bastante sentido, enquanto ou- sobre tudo, mas faz total diferença
introvertendo tros, como meus pais, negaram o estar aberto a aprender e ouvir as vi-
www.introvertendo.com.br diagnóstico, já que eu havia me vências diferentes e aqui está o ponto
desenvolvido “tão bem”. Com chave. Muitas dessas pessoas come-
R EVI STA AUTI SMO 32 o passar do tempo, a postura de tem gafes, como dizer que você “não

#AutistaEmTodoLugar
#AutistaEmTodoLugar

parece autista”. Essas pessoas podem fazer um melhor


uso do conhecimento adquirido para ajustar tanto a sua
postura como o ambiente às suas prévias restrições.
Por outro lado, pessoas menos tolerantes tendem a
continuar tratando mal um autista, mesmo saben-
do que ele o é. Uma coisa bastante comum é que,
sem conhecimento do autismo, tais pessoas tratem
o autista como “lerdo”, “burro” e “excêntrico”.
Porém, igualmente comum é saber que o indivíduo
é autista e, ainda assim, tratá-lo como “incapaz”
e alguém instável.
Um questionamento é se não seria mais seguro
manter essa informação em sigilo, mas o que ob-
servei é que neurotípicos percebem muito bem os
comportamentos de outras pessoas e identificam
facilmente aqueles que destoam do normalmente
esperado. A pessoa intolerante irá agir de forma
negativa sabendo ou não, entretanto, o mais pro-
vável é que ela demore mais para perceber.
Uma abordagem para saber se vale a pena co-
municar o diagnóstico de autismo é avaliar se a
convivência será frequente, como em uma rela-
ção de trabalho, ou se o ambiente é potencial-
mente mais estressante do que o normal, como
numa internação em hospital ou em viagens.
R EVI STA AUTI SMO 33
FRANCISCO PAIVA JUNIOR

é editor-chefe da Revista Autismo @paivajunior


@paivajunior

#AutistaEmTodoLugar

ESTUDO ABRE NOVAS


POSSIBILIDADES DE
TRATAMENTO PARA
FORMA SINDRÔMICA
DE AUTISMO
Ilustração: Revista Autismo

Liderado por brasileiros, grupo


descobre mecanismo causador
da síndrome de Pitt-Hopkins,
disfunção neuropsiquiátrica
com características de TEA

R EVI STA AUTI SMO 34


condição quando mutado. Assim é também para

U
a maioria das doenças neuropsiquiátricas, como
esquizofrenia, depressão e transtorno bipolar.
A síndrome de Pitt-Hopkins, por sua vez, tem
como origem uma mutação no gene TCF4. Mas,
até então, não eram conhecidos seus mecanis-
mos moleculares, ou seja, o que há de diferente
nas células do sistema nervoso dos pacientes
com a mutação”, contou Papes.
A pesquisa — que teve apoio, no Brasil, da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-
co (CNPq) e, nos EUA, do National Institutes
of Health (NIH) e da Pitt-Hopkins Research
Foundation (PHRF) — agora deve avançar para
estudos pré-clínicos e clínicos. Os pesquisado-
res fecharam parceria com uma empresa espe-
cializada em terapia gênica, que está licenciando
a tecnologia usada nos experimentos para que
futuramente possa ser testada em humanos.

m grupo liderado pelo neurocientista brasi- Síndrome de Pitt-Hopkins


leiro Alysson R. Muotri, da Universidade da Caracterizada por déficit cognitivo, atraso
Califórnia San Diego, nos Estados Unidos, motor profundo, ausência de fala funcional
em parceria com cientistas brasileiros da Uni- e anormalidades respiratórias, entre outros,
versidade Estadual de Campinas (Unicamp), a síndrome de Pitt-Hopkins foi descrita em
conseguiu reverter a evolução da síndrome de 1978, mas seu gene causador — chamado
Pitt-Hopkins em modelos humanos de labora- TCF4 — ficou conhecido apenas em 2007.
tório, além de descobrir o mecanismo causador A estimativa é de que a prevalência seja de
dessa condição de saúde. A descoberta abre ca- 1 a cada 35 mil nascimentos.
minho para a possibilidade de tratamento tanto Para esta pesquisa foram usados organoi-
com medicamento como terapia gênica para a des cerebrais humanos (também conhecidos
síndrome, que é um dos subtipos de transtorno como minicérebros, estruturas desenvolvidas
do espectro do autismo (TEA). a partir de células-tronco reprogramadas dos
O trabalho científico foi publicado em próprios indivíduos) — tanto dos pacientes
2.mai.2022, na revista Nature Communications. com a síndrome, como de seus pais —, já que a
“A terapia genética nunca foi testada para o au- síndrome não se desenvolve em camundongos
tismo. Já imaginou reverter de vez todos os sin- da mesma maneira que em seres humanos. Os
tomas indesejados e comorbidades do autismo minicérebros dos pais se desenvolveram nor-
profundo? Nosso trabalho com a síndrome de malmente; os das pessoas com a mutação no
Pitt-Hopkins é a porta de entrada para melho- TCF4 cresciam menos — resultado da menor
res condições de vida e aumento do potencial replicação das células causada pela síndrome
de indivíduos autistas”, explicou Muotri, que e de um prejuízo da própria neurogênese —,
é cofundador da Tismoo Biotech. além de terem neurônios em menor número e
Outro coordenador do trabalho, ao lado de com menor atividade elétrica comparados aos
Muotri, foi Fabio Papes, professor do Instituto dos pais, que eram os minicérebros de controle.
de Biologia (IB-Unicamp): “Para a maioria dos Essa descoberta pode explicar muitas caracte-
casos de TEA, não se sabe qual gene causa a rísticas clínicas desses pacientes.

R EVI STA AUTI SMO 35


Corte transversal
de um organoide do
cérebro humano.
Alysson Muotri “Nosso genoma tem duas cópias de cada gene.
e os minicérebros, O que causa a síndrome de Pitt-Hopkins é o
na Universidade da
Califórnia em San fato de uma das cópias do TCF4 não funcionar.
Diego (EUA) Inserir uma terceira cópia ou fazer com que a
única cópia funcional expresse mais proteína
para compensar a defeituosa pode solucionar
o problema”, diz o pesquisador.
Os organóides que sofreram as intervenções
passaram a crescer normalmente e tiveram um
aumento da proliferação das células progeni-
toras, que no cérebro dão origem a diferentes
tipos de célula, inclusive neurônios.
“Ainda que esse distúrbio seja considerado
Os resultados são semelhantes aos obtidos raro, existem outros que envolvem mutações
no primeiro estudo do cérebro de uma pessoa nesse mesmo gene. Portanto, o que descobri-
com síndrome de Pitt-Hopkins, quando foram mos aqui pode, futuramente, ser aplicado para
analisados os tecidos post-mortem (de um pa- transtornos como a esquizofrenia, por exemplo”,
ciente falecido por outras razões), o que reforça afirma Papes.
as conclusões obtidas com os minicérebros. “O
acesso ao cérebro post-mortem foi essencial para
validarmos alguns dos resultados obtidos com Fármaco
os organoides cerebrais. O fato de termos visto Uma terceira estratégia foi a aplicação de uma
características semelhantes entre o organóide droga usada em estudos com células tumorais.
criado em laboratório e o cérebro mostra o quão Conhecida pela sigla CHIR99021, ela ativa uma
relevante é essa tecnologia”, afirma Muotri. via de sinalização celular conhecida como Wnt,
muito estudada no contexto do câncer, e que os
autores descobriram ser alterada também por
Terapia gênica mutações no gene TCF4.
Após desvendar quais alterações foram cau- Em células e organóides disfuncionais tra-
sadas pela mutação no gene TCF4, os pesquisa- tados com a droga houve melhora em alguns
dores buscaram maneiras de corrigi-la e, assim, indicadores moleculares e aumento de tamanho
realizar uma prova de conceito do que seria um (no caso dos organóides). Os resultados abrem
possível tratamento. caminho para o desenvolvimento de medica-
Foram testadas três diferentes estratégias: mentos similares que possam tratar a disfunção,
A primeira foi utilizando a técnica de mani- uma vez que a CHIR99021 ainda não pode ser
pulação gênica conhecida como CRISPR-Cas9. utilizada em seres humanos.
Nesse contexto, uma versão recente da técnica “Essa via tratada com a droga é apenas uma
foi empregada para fazer com que a cópia fun- das alteradas pela mutação no gene TCF4. A
cional do gene existente na célula disfuncional vantagem de uma terapia gênica em relação a
passe a expressar muito mais proteína, compen- um tratamento farmacológico é que ela resol-
sando a cópia afetada pela mutação causadora veria o problema na sua origem. No entanto, a
da síndrome de Pitt-Hopkins. busca por novas drogas também é promissora”,
Na segunda intervenção, usando uma téc- diz Papes.
nica diferente, os cientistas inseriram uma O estudo original completo pode ser acessado
cópia extra do gene, que passou a exercer nor- no site da revista Nature, em:
malmente as funções gênicas, compensando nature.com/articles/s41467-022-29942-w.
a cópia mutada.

R EVI STA AUTI SMO 36


Mudando o mundo, uma rua de cada vez
2016 – nasce a primeira clínica do Grupo Método, Chegamos em 2022, com a Unidade 441, espaço
na Vila Mariana. ampliado para jovens e o lançamento do All In
2018 – abrimos a Unidade 491, para atender crianças Café, projeto experimental de preparação dos au-
em idade escolar. tistas para o mundo do trabalho. Neste ano
2019 – foi a vez da Unidade 717, dedicada à inter- também lançamos a Editora GMétodo e o GMep,
venção precoce, 0 a 6 anos e da Unidade 669, para Centro de Ensino e Pesquisa do Grupo Método.
adultos e adolescentes.
2020 – foi o ano da Unidade 405, para treinamento, Vamos reinaugurar em breve a Unidade 669, que
intervenção focal e psicoterapia. será transformada em um centro de especiali-
2021 – foi da Unidade de Porto Alegre, que oferece inter- dades, incluindo fonoaudiologia, fisioterapia e tera-
venção precoce, infantil e psicoterapia, na R. Jari, 551. pia ocupacional para todas as idades e inaugurar
uma Moradia Assistida, nº 444, para autistas que
precisam de pouco suporte.

Todas na Avenida Padre Pereira de Andrade, em


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Essa história está só no começo! Nossa missão é


ampliar o mundo do autista para dar a ele voz e a
autonomia que merece e pode ter.
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de tornar nosso mundo mais
acolhedor e acessível a
todos os autistas.

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ESPECTROARTISTA

Arquivo pessoal

ARTH U R BAR R OS Publicando sua arte e sua história


Hoje com 17 anos, o paulistano continuou criando , desenhando e tornou editora (e fundou a Abar-
Arthur Oliveira Barros é autor de lançando mais livros. Na sequên- ros Editora, ao lado do marido,
livros, desenhista, ilustrador e pa- cia vieram: “O Canguru Elétri- Junior Barros, pai de Arthur) por
lestrante. Apesar de muito jovem, co” (2018), “Os Novos Amigos causa dos livros do filho, que já
essa história começou já faz alguns da Dona Corujinha” (2019), “Os criava histórias desde os 3 anos.
anos, quando publicou seu primei- Sandubas” (2020 — este apenas “Ele criava os desenhos e enre-
ro livro: “A Dona Corujinha”, em em formato digital, ebook), “O dos, mas nós não entendíamos.
2017, aos 12 anos de idade. “A leãozinho faminho” (2021), e, o Aos 11, Arthur desenhou, a meu
dona corujinha pensava que tinha mais recente: “O que é Capitalis- pedido, uma corujinha. Ao ser
que ser diferente para ter amigos, mo? Uma breve introdução para incentivado, agarrou a ideia e em
então ela vive uma aventura e des- crianças” (2021). pouco tempo criou todos os perso-
cobre que é tão especial como todos nagens e montou toda a história”,
os outros bichos”, contou Arthur. contou ela.
Atualmente estudante do primei- Editora Dricka destacou que o hiperfo-
ro ano do ensino médio, Arthur A mãe de Arthur, Adriana Oli- co do garoto é desenhar: “Através
não parou na primeira obra e veira Silva Barros, a “Dricka”, se dos livros, o Arthur nos conta

R EVI STA AUTI SMO 38


#AutistaEmTodoLugar A arte e o talento
dentro do espectro

coisas que não conseguiria nos faz palestras em eventos, junto além disso, vale destacar que ele re-
dizer, como por exemplo, a razão com o filho e o marido. cebeu o título de mais jovem autor
de pular tanto. E a resposta veio autista do país, recorde reconheci-
no livro ‘O Canguru Elétrico’. do pelo RankBrasil, em 2021 — ele
Devemos incentivar a leitura e Detalhe publicou “A Dona Corujinha” em
a produção literária, pois é uma Ah, ia me esquecendo de mencio- 15.out.2017, aos 12 anos, 7 meses
fonte incrível de interação e co- nar: o Arthur é autista e tem diag- e 8 dias.
nhecimento”, salientou ela, que nóstico de deficiência intelectual, “Sempre apresentamos o Arthur

R EVI STA AUTI SMO 39


como ‘autor’ e não ‘escritor’. Ape-
sar dele ser plenamente alfabe-
tizado, por conta da deficiência
intelectual e dele ter perdido a
fala por um tempo (e a recupera-
do depois), ele tem dificuldade na
construção de algumas frases e eu
o auxilio”, finalizou a mãe.
Para saber mais sobre Arthur
e a editora de seus pais, acesse
os sites cangurueletrico.com.br e
abarroseditora.com.

cangurueletrico.com.br
abarroseditora.com
@Fernando Pavone
Empoderando
a comunicação
do autista

MATRAQUINHA
app de comunicação para
ajudar autistas a transmitirem
seus desejos, emoções
e necessidades.

A comunicação é feita
através de figuras e que, ao
serem clicadas, fazem com
que uma voz reproduza o que
a criança deseja transmitir.

Disponível
#AutistaEmTodoLugar

C A N A L

VEJA ALGUNS DESTAQUES RESUMIDOS DO CANAL AUTISMO, QUE


PUBLICA CONTEÚDO DIÁRIO SOBRE AUTISMO. PARA LER OS TEXTOS
COMPLETOS DE CADA NOTÍCIA, ACESSE O SITE CANALAUTISMO.COM.BR

Podcast ‘Espectros’ entrevista Paulo Podcast Espectros


Liberalesso, Marcos Petry e Fátima de Kwant
“Espectros” é o podcast de en- Liberalesso como entrevistado.
trevistas desta Revista Autismo. Em abril, foi a vez do designer e
Mensalmente, o jornalista Tiago youtuber Marcos Petry. Maio, no
Abreu recebe as pessoas que cons- mês das mães, tivemos uma convi-
troem a comunidade do autismo dada de honra: Fátima de Kwant,
no Brasil para saber mais sobre jornalista, mãe de autista e espe-
esses indivíduos além da história, cialista em autismo, radicada na
seja familiar, profissional ou pes- Holanda há mais de três décadas.
soal com o diagnóstico. Para ouvir o podcast, acesse cana-
A estreia foi em fevereiro, com lautismo.com.br/espectros ou bus-
Anita Brito. Em março tivemos que por “Espectros” no Spotify ou
o médico neuropediatra Paulo no seu player de podcast preferido. Saiba mais no
canalautismo.com.br
#AutistaEmTodoLugar

SP teve roda de
conversa sobre
Livro Autismo ao longo autismo em abril
da vida é lançado
O livro “Autismo ao longo da vida”, que
No dia 30.abr.2022, acon-
aborda o autismo em todas as idades, foi
teceu a roda de conver-
lançado pela editora Literare Books. A obra,
sa sobre autismo “Vida
que conta com organização da médica neu-
Adulta: Experiências e
ropediatra Deborah Kerches, traz textos de
Perspectivas”, no Centro
ativistas e pesquisadores do meio autista,
Cultural Banco do Bra-
entre eles: Lucelmo Lacerda, Kenya Diehl,
sil., em São Paulo (SP).
Carlos Gadia, Kaká do Autistólogos, Fáti-
O evento, que celebrou
ma de Kwant, Graciela Pignatari e muitos
o mês da conscientiza-
outros autores renomados.
ção mundial do autis-
Reprodução / imegem meramente ilustrativa mo, foi gratuito e teve a
participação de diversos
palestrantes de renome,
como Silvia Grecco (Se-
Após denúncia de mães de autistas, Saiba mais no
cretaria Municipal da
Procon-GO multa 2 planos de canalautismo.com.br Pessoa com Deficiência
de SP), Leopoldina Oli-
saúde em R$4,56 milhões veira (Associação Paulis-
No dia 29.abr.2022, o Procon do Esta- por desrespeitos ao Decreto Federal nº ta de Autismo/APABB),
do de Goiás expediu notificação que 6.523/2008, que regulamenta o Serviço Meca Andrade (Grupo
aplicou multa de R$ 4,56 milhões nos de Atendimento ao Consumidor (SAC). Método), Camila Varella
planos de saúde Hapvida e Unimed, A aplicação da multa para cada uma das (OAB-SP, subseção Santo
operadoras de plano de saúde foi oriunda Amaro), Vinicius Fidélis
de denúncias feitas por mães de autistas, (Abraça), Paula Ayub —
através do grupo “Mães em Movimento (Centro de Convivência
NOVO CURSO
pelo Autismo”, que chamaram a atenção Movimento), Andrea
ABA FUNCIONAL ao desrespeito aos direitos dos autistas Issa (Ass. Paulista de
por ambos os planos. A denúncia foi rea- Autismo), entre outros.
Abordagem Educacional em Pirâmide
lizada no dia 19.jan.2022, quando houve a
primeira reunião entre o grupo de mães
e uma representante da Comissão Nacio-
nal dos Direitos da Pessoa com Deficiên-
cia, do conselho federal da OAB, além de
membros que compõem o Procon-GO e
a Superintendência Estadual.

Programa na TV Cultura
discute neurodiversidade
em filmes e séries
O programa Metrópolis lançou, em 2 de
maio, uma edição dedicada ao tema da
2 dias de Curso neurodiversidade. O assunto, que é geral-
Maiores informações: mente associado ao autismo, também está
www.pecs-brazil.com presente em séries e filmes que abordam
autismo e outros transtornos.
Netflix apresenta versão norte- Estudo revela que
americana de Amor no Espectro comorbidades do autismo
Saiba mais no estão relacionadas com a
canalautismo.com.br
No dia 18 de maio estreou Amor no Espectro: desigualdade social e étnica
EUA (Love on the Spectrum: US), a versão norte-
-americana da série que traz autistas em encon- Um estudo publicado em dezembro de
tros e relacionamentos amorosos. A produção, 2021, por pesquisadores da Universidade
de origem australiana, recebeu um trailer oficial. Drexel, nos Estados Unidos, revela que
A série tem produção da Northern Pictures com comorbidades diagnosticadas em autistas,
direção de Karina Holden e Cian O’Clery. como esquizofrenia, hipertensão, diabetes
Assista ao trailer na versão online desta notícia e obesidade são mais comuns em autis-
no site CanalAutismo.com.br ou acessando pelo tas negros e latinos do que em autistas
QR-Code na página do índice desta edição. brancos. De acordo com o estudo, autistas
negros também têem de 25 a 50% menos
chances de serem diagnosticados com an-
siedade e TOC.

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é administradora, mãe da Aline, de 8 anos (diagnosticada com Síndrome de abretesp


Rett), voluntária da Associação Brasileira de Síndrome de Rett (Abre-te).
@abretesp
abretesp

SÍNDROME DE RETT
O relato de uma mãe e sua jornada em
busca das pesquisas científicas.

Ilustração: Samanta Paiva

u nunca tinha ouvido falar sobre buscamos o primeiro neuropedia-


Síndrome de Rett até 2016. Não tra, que pediu intervenção precoce
sabia sequer que deveria ser grata e medicou a hiperatividade, mas
por isso... Minha pequena Aline não pediu nenhum exame. Segui-
tinha pouco mais de dois anos e mos todas as recomendações, mas
eu sentia que algo estava errado, no fundo eu sabia que algo ainda
ainda que escola e pediatra não estava muito errado. Buscamos,
parecessem notar. Queria acredi- então, o segundo neuropediatra,
tar, assim como eles, que era só mais que pediu exame genético. Quan-
uma loucura de mãe. Nessa época, do o diagnóstico veio, ela já estava
comecei a pesquisar todos os possí- num ritmo intenso de terapias, com
veis transtornos de desenvolvimento acompanhante terapêutico (AT)
e síndromes. Eu precisava descobrir na escola.
o que ela tinha! Receber o diagnóstico foi um
Lembro-me de ter lido sobre Rett misto de alívio por entendermos o
e automaticamente descartado essa que ela tinha e, por outro lado, um
possibilidade, pois ela não apresen- balde de desespero e revolta. Como
tava o mínimo de critérios principais assim não tem tratamento nenhum
e de suporte que são considerados para Rett? Tudo o que podíamos
requisitos para o diagnóstico clíni- fazer era assistir aos sintomas que
co. Autismo eu também já achava ela apresentava, vê-los avançarem e
improvável pois ela tinha muita in- torcer para que ela não apresentas-
R EVI STA AUTI SMO 46
tenção de se comunicar. se todas as possíveis complicações?
No meio dessa a ng ú st ia, Todo mundo me dizia “a medicina
#AutistaEmTodoLugar

está avançando tanto”, mas onde para a cura da síndrome de Rett. melhorar a regulação cerebral e
estavam esses avanços? E quando Lemos tudo o que pudemos sobre reduzir a inflamação do cérebro:
eles chegariam para a Aline? essas pesquisas, fizemos uma reu- Trofinetide e Anavex. Com isso,
nião com a presidente dessa asso- promoveriam diferentes ganhos
Pesquisas ciação, Monica Coenraads, que vem nos pacientes tratados: melhorar
Recomendaram que buscássemos liderando esse trabalho há anos, e a parte motora, reduzir ansiedade
informações no clinicaltrials.gov, decidimos apoiar os investimen- e hiperatividade.
site que tem todos os testes regis- tos nessa pesquisa através de um No campo da terapia genética,
trados no FDA (Food and Drug crowdfunding. A vaquinha foi um tivemos uma notícia triste em 2021,
Administration, agência federal sucesso, com o apoio de muita quando a Novartis Gene Therapies
gente que estava torcendo pela – que produz o Zolgensma para
Aline, e em pouco tempo atingimos AME – cancelou seu programa de
300% da meta inicial. Por causa pesquisa para Rett. Mas outras
dela, acabei dando uma entrevis- empresas seguem pesquisando.
ta na TV e foi assim que algumas A Taysha Gene Therapies possui
pessoas da Associação Brasileira o programa TSHA-102 com propos-
de Síndrome de Rett (Abre-te) me ta semelhante (reposição gênica) e,
conheceram e me convidaram para em março de 2022, obteve aprova-
fazer parte do grupo. ção do órgão regulador do Canadá
Em 2018, eu me propus a escrever para o primeiro teste em humanos
uma seção no site da Abre-te con- de uma terapia genética para sín-
tando tudo o que tínhamos apren- drome de Rett, que deve ter iní-
dido até então, para que as famílias cio até o final de 2022. Em maio, a
tivessem acesso em português às Neurogene, uma nova empresa fo-
diferentes linhas de pesquisa em cada exclusivamente em medicina
andamento. E desde então venho genética, anunciou o lançamento
do Departamento de Saúde e Servi- buscando manter a comunidade de seu programa de terapia gêni-
ços Humanos dos Estados Unidos). Rett atualizada com as notícias pu- ca para síndrome de Rett. Outros
E lá fomos nós, um engenheiro e blicadas na mídia internacional. laboratórios seguem pesquisando
uma administradora, aprender a diferentes abordagens de terapia
ler os resultados de testes clínicos.
Medicamentos genética (edição de RNA, reativa-
Não havia muitos para Rett, e de- e terapia genética ção do X silenciado, trans-splicing
moramos a entender que ninguém Existem basicamente duas linhas de RNA), com financiamento da
coloca um carimbo de “falhou” no de pesquisa para Rett: medicamen- RSRT, mas são pesquisas que ainda
teste, mas se os resultados foram tos para tratar os sintomas e terapia estão mais distantes da fase clínica.
publicados há alguns anos e não genética para tratar a causa raiz da Eu acredito muito que a cura virá
surgiu mais nada é porque não síndrome (e com isso alcançar me- – ou ao menos um tratamento que
foram fortes o bastante para uma lhoras muito amplas do quadro). traga melhoras substanciais para
indústria farmacêutica seguir com Boa parte dos testes são de medi- a qualidade de vida das pessoas
o investimento para a próxima fase. camentos desenvolvidos para ou- com Rett. Até lá, seguimos um dia
Depois de algumas semanas ti- tros quadros e que são testados em de cada vez, com todos os percal-
vemos a sorte de conhecer uma pessoas com Rett para atacar um ços que as famílias de crianças es-
família muito querida, que com- determinado grupo de sintomas. peciais conhecem, e renovando a
partilhou conosco muito do que Desde que comecei a acompanhar esperança com cada sorriso que
sabiam das pesquisas em fase pré- a síndrome vi alguns desses testes nossa filha nos dá.
-clínica e nos apresentou o trabalho serem encerrados: Fingolimod, Co-
de uma associação norte-america- paxone, rhIGF-1, Saritozan.
na, a Rett Syndrome Research Trust Hoje existem dois testes em an-
(RSRT), que vem há anos investin- damento com medicamentos foca- R EVI STA AUTI SMO 47
do em múltiplas linhas de pesquisa dos na síndrome de Rett que visam
C O L U N A

Liga dos Autistas

Ilustração: Camila Alli Chair @camila_alli


E ENTÃO O
CANSAÇO
DO ATIVISMO
@liga.dos.autistas ME ATINGIU
Priscila
Jaeger
Lucas
Toda decisão tem consequências, públicos maiores, principalmente
tem 27 anos, mora no Rio na verdade, tudo o que envolve a pela facilidade de acesso a informa-
Grande do Sul e atualmente interação com o mundo de alguma ções. Para reivindicar o direito de
dedica-se em tempo integral forma gera reações, doar seu tempo pertencer, cada vez mais pessoas
à pesquisa acadêmica.
Cursa mestrado em para lutar por uma causa social é estão manifestando suas insatis-
ciências sociais com uma uma dessas muitas decisões carre- fações com o sistema e educando a
bolsa de apoio à pesquisa. gadas de repercussões. sociedade quanto às mudanças ne-
Diagnosticada aos 21 anos,
enfrenta as consequências Uma das principais regras sub- cessárias para que a pessoa atípica
da convivência com a jetivas na formação da sociedade seja inserida no convívio social.
condição só percebida por é a imposição de atender a um Os primeiros meses e anos de ati-
profissionais na vida adulta. determinado padrão de caracte- vismo são os de maior motivação,
rísticas para pertencer ao círculo mas com o passar do tempo algo
social e ser aceito. Esse princípio acontece, nós cansamos. Eu estou
existe há tanto tempo que foi in- emocionalmente exausta do ativis-
ternalizado e é reproduzido com mo neste exato momento. Tomei
uma naturalidade assustadora. para mim uma responsabilidade:
A aversão ao diferente resulta em dar minha voz para, de alguma
atos de violência de todo tipo, e forma, contribuir com a melhoria
as inúmeras formas de violência devida às pessoas que não se encai-
ameaçam a existência atípica ao xam nos padrões, e sinto que estou
negar seu “direito a pertencer”. falhando.
Apesar de existir há décadas, o No momento, consigo observar o
ativismo ganhou força com o pas- contexto total do preconceito e do ca-
R EVI STA AUTI SMO 48 sar dos anos, e o avanço da tecno- pacitismo, e minhas percepções são
logia proporcionou o alcance de pessimistas em um nível extremo,
#AutistaEmTodoLugar

não vejo melhora e não acho que tenha condições de educar socialmen-
vá ver em vida. Tenho a sensação te, não vejo sentido em explicar algo
de que para cada pessoa conscien- que parece não ser ouvido.
tizada - que tenta desconstruir as Sei que crises vêm e vão, algu-
noções preconceituosas - existe um mas duram mais tempo que outras,
número infindável de pessoas re- todos temos altos e baixos emocio-
produzindo algum tipo de violên- nais, mas temo sinceramente não
cia contra a nossa comunidade. Na conseguir voltar à ação como ati-
verdade, não sei se algum dia a con- vista. O ativismo está na minha
vivência respeitosa será alcançada, identidade, é uma grande parte
estou em um momento de desespe- de quem eu sou, responsável pela
rança completa. forma que me percebo como pes-
Parte de ser ativo em mídias soa atípica e como entendo que
sociais é se deparar com manifes- sou digna do meu lugar no mundo.
tações agressivas de intolerância. Mas, estou cansada, sinceramente,
É justamente isso que justifica o estou exausta de uma luta que pa-
momento que estou vivendo, todo rece não ter um fim.
ativista tenta ser emocionalmen-
te resistente para reagir a esses
comportamentos tóxicos, mas isso
tem um limite porque, em algum
momento, eles nos afetam. E esse
acúmulo das tentativas de resistir
emocionalmente a tais manifesta-
ções gerou uma crise que se esten-
de há alguns meses.
Eu falava muito de saúde mental
em uma rede social específica que
hoje não consigo acessar. Das três
redes que eu utilizava, passei a con-
seguir participar de uma e mesmo
assim não considero que ainda
C O L U N A

DOIS DE ABRIL
Fiquei encantada com as celebrações entorno. Nós nos reuníamos, discu-
do dia de conscientização do autismo! tíamos, consolávamos uns aos outros
Autismo Severo Quantas referências! Quantas pes- e partíamos para nossas cidades, para
soas participando! Mais uma data a difundir o que fora aprendido.
ser lembrada, sem qualquer estranha- Também começamos a discutir pos-
mento. Excelente! síveis tratamentos. Na época, perce-
Mas, nem sempre foi assim. Lembro- bíamos um desconhecimento geral
-me dos primórdios, quando ninguém sobre o que era autismo, inclusive
tinha ideia do que era, realmente, esse dos próprios médicos e terapeutas.
dois de abril. Inclusive nós, pais e mães Nossas crianças eram tão distintas,
de pessoas dentro do espectro. comportamentos tão diferentes, como
Estávamos começando a nos unir, então o “tratamento” para todos ser o
alguns poucos pais e mães, bastante mesmo? Começamos a ver alternati-
perdidos nesse universo do autismo. vas de terapias e tratamentos clínicos.
O objetivo era “Como ajudar nossos E assim fomos seguindo, com
filhos?” Alguns tinham mais conhe- muito auxílio de algumas Igrejas (que
Haydée
Ilustração: Fernanda barbi brock - @fer.barbi.brock

cimentos, pessoas que vinham de fora nos davam o suporte físico, o precioso
Freire do Brasil, principalmente dos Estados espaço para reuniões) e de algumas
Meca Andrade
Jacques Unidos. Outros, como eu, entravam associações civis. E muito trabalho!
na batalha de peito aberto, aprendendo Trabalho intelectual e emocional. A
por tentativa e erro. Assim, unir nos- pouca literatura disponível era em in-
é casada e mãe de dois
filhos, sendo o mais moço sas forças e parcos conhecimentos era glês, voluntários traduziam e publi-
autista severo. Formou-se vital. Foi o que fizemos: pequenos nú- cavam nos grupos. Pais e mães com
em odontologia, exerceu cleos, em cidades diversas. Depois das diagnósticos recentes eram recebidos,
a profissão até 2006, discussões nos grupos online, e-mails amparados em seu luto e encorajados
quando decidiu dedicar-
se integralmente ao filho. e Orkut, claro! Um grupo mais nu- a seguir em frente. Tempos heróicos,
meroso começou a se formar em São com uma energia muito positiva.
Paulo, com membros de cidades do Depois veio a necessidade de alcan-
çar mais famílias e divulgar o autis-
mo. Então, tomamos conhecimento
do Dia Mundial de Conscientização
do Autismo! E fomos à luta! Falar
com vereadores, usar luzes azuis nos
prédios públicos, vestir azul, acender
luzes azuis nas casas... e pequenas
passeatas. Cartazes, mães e pais, fi-
lhos e amigos, cachorros heheheh.
Tudo era muito amador, feito com
muita garra, com muita vontade de
passar informações para a sociedade.
E vejam como estamos agora! Do alto
dos meus quase 70 anos me congra-
tulo e parabenizo todos vocês, que
R EVI STA AUTI SMO 50 continuam nessa jornada!
CanalAutismo.com.br/assine

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