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SÍNDROME
DO X FRÁGIL
MERECE
ATENÇÃO
#AutistaEmTodoLugar
00017
GRATUITA
DISTRIBUIÇÃO
ISSN 2596 - 0539
053005
772596
9
#AutistaEmTodoLugar
EDITORIAL
EXPEDIENTE - Revista Autismo
Ano VIII — número 17
Junho de 2022
ISSN: 2596-0539
Nesta edição, como você já deve Também importante é a reportagem
Distribuição gratuita
ter visto na capa, o destaque é a sín- de Sophia Mendonça sobre as cotas
Periodicidade trimestral
drome do X Frágil, uma condição de para autistas nas universidades bra-
Tiragem deste número: 4 mil exemplares
saúde muito ligada ao espectro (es- sileiras. Ainda mais após o incidente
Revista Autismo é uma publicação de circulação
nacional fundada em 2010 com o objetivo de tudos apontam atingir 2% a 5% dos ocorrido na Universidade Federal de
levar informação de qualidade, isenta e imparcial. autistas), porém, estima-se ser muito Minas Gerais (UFMG), que cancelou a
A respeito de autismo, é a primeira revista periódica
da América Latina, além de ser a primeira do mundo
subdiagnosticada no Brasil. E a infor- matrícula de uma aluna autista, após
em língua portuguesa. mação e conscientização ainda são o um parecer da banca de validação e
Editor-chefe e jornalista responsável: melhor caminho! verificação PcD (pessoa com deficiência)
Francisco Paiva Junior - MTb: 33.245 Outro assunto nesta edição é a síndro- da universidade.
editor@RevistaAutismo.com.br
me de Rett, com o artigo de uma mãe, a E na sessão “Espectro Artista”, temos
Direção de arte e design:
Alexandre Beraldo
Paula Godke, que tem mergulhado fundo Arthur Barros, autor de diversos livros,
xberaldo@gmail.com na busca por informação a respeito das numa carreira que começou aos 12 anos
Revisão e Traduções: pesquisas científicas nessa área. de idade — e que fez os pais, Dricka e
Márcia F. Lombo Machado Para completar os tópicos referentes Junior, fundarem uma editora. Histó-
marciaflm@gmail.com
a síndromes, temos um estudo com mi- ria incrível da família que olhou muito
Consultores científicos:
Alysson R. Muotri e Diogo V. Lovato
nicérebros, do neurocientista brasileiro mais para seus potenciais do que para
Arte da Capa:
Alysson Muotri, a respeito da síndrome as limitações.
Revista Autismo de Pitt-Hopkins, que traz novas possi- Além, claro, dos nossos colunistas
Colaboradores deste número: bilidades de tratamento para esse tipo com textos fantásticos e o André, na
Amauri de Araújo Sousa, Beatriz Raposo, de autismo sindrômico. HQ, encontrando um dos personagens
Camila Alli Chair, Celmira Milleo Costa O autismo em mulheres também é mais inusitados da Turma da Mônica,
“Sumi”, Deborah Kerches, Fábio Sousa
(“ tio .faso”), Fernanda Barbi Brock, Haydée destaque nesta edição, com um artigo o Do Contra!
Freire Jacques, Lucas Ksenhuk, Marcelo muito atual e imensamente impor- Enfim, a revista está linda e recheada
Vitoriano, Mauricio de Sousa, Nícolas Brito
Sales, Paula Godke, Paulo Alarcón, Priscila tante da médica neuropediatra De- de bom conteúdo (sim, sou suspeito
Jaeger Lucas, Samanta Paiva, Sophia borah Kerches. Ela escreveu sobre o para afirmar isso, eu sei), feitos com
Mendonça, Tiago Abreu, Wagner Yamuto.
diagnóstico de autismo em meninas, muita dedicação.
Impressão:
LaborPrint
uma tendência mundial para que se Espero que seja uma leitura aprazível
Patrocinadores:
coloque luz nessa questão, visto que e profícua!
Academia do Autismo, Grupo Método, os critérios diagnósticos e instrumen-
Clínica Somar, PECS Brasil. tos de rastreio sempre foram muito
Fundadores (2010): pensados para o sexo masculino.
Martim Fanucchi
Francisco Paiva Junior
Para nos patrocinar:
comercial@RevistaAutismo.com.br
Para nos apoiar:
CanalAutismo.com.br/apoie
Redação: redacao@RevistaAutismo.com.br
Assinaturas: CanalAutismo.com.br/assine
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Francisco Paiva Junior, editor-chefe
NOTA DO EDITOR
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da Revista Autismo, é jornalista, pós- Você pode reproduzir nossos textos e arti-
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-graduado em jornalismo e segmentação gos sem prévia autorização, livremente, desde
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Instagram: @RevistaAutismo espere, aja logo!” (editora M.Books) e pai — em sites, faça um link para a versão online
Twitter: @RevistaAutismo do conteúdo. Apenas para uso comercial, é ne-
do Giovani, de 15 anos, que tem autismo
YouTube: youtube.com/user/RevistaAutismo cessário solicitar autorização, escrevendo para
e é muito rápido para fazer contas de ca- redacao@RevistaAutismo.com.br
LinkedIn: linkedin.com/company/RevistaAutismo
beça, e da Samanta, de 13 anos, que tem Para sugerir pautas e temas de reportagens,
Versão em PDF: issuu.com/RevistaAutismo
chulé e é exímia desenhista. envie mensagem para o mesmo email citado acima.
Editado por: PAIVA JUNIOR
R. Bela Cintra, 336 - cj. 74-A, Consolação
São Paulo (SP), CEP 01415-000
Como citar artigos publicados nesta revista (padrão ABNT):
CNPJ: 30.894.955/0001-09
AUTOR. Título do artigo ou da matéria, subtítulo. Revista Autismo, São Paulo, ano da revista,
número da edição, páginas inicial-final, mês ano de publicação.
Os artigos assinados não representam
necessariamente a opinião da Revista Exemplo: MUOTRI, A.. Minicérebros humanos, um novo modelo experimental para o estudo do
Autismo e seus editores. TEA. Revista Autismo, São Paulo, ano V, n. 4, p. 44-46, mar. 2019.
C
Í N
D
I E
SÍNDROME
DO X FRÁGIL
SESSÕES
MERECE
ATENÇÃO
o que é autismo? pág.08
hq - andré e a turma da mônica pág.09
espectro artista pág.38
canal autismo pág.42 reportagem de capa pág.24
COLUNAS
matraquinha pág.10
tudo o que podemos ser pág.12
trabalho no espectro pág.30 Leia este QR-code
com seu celular e
introvertendo pág.32
acesse a versão online
liga dos autistas pág.48 desta edição com
autismo severo pág.50 conteúdo extra.
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administradora jornalista
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O QUE É AUTISMO?
Saiba a definição do transtorno do espectro do autismo
CONTEÚDO
EXTRA ONLINE
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ao lado para
ir ao site.
O autismo — nome técnico ofi- apenas uma suspeita clínica, ainda — data celebrada originalmente em
cial: transtorno do espectro do au- sem diagnóstico fechado —, pois 2005, pela organização britânica
tismo (TEA) — é uma condição de quanto mais cedo começarem as in- Aspies for Freedom (AFF).
saúde caracterizada por déficit na- tervenções, maiores serão as possi- Consulta médica
comunicação social (socialização e bilidades de melhorar a qualidade Veja a seguir alguns sinais de autis-
comunicação verbal e não verbal) e de vida da pessoa. O tratamento mo. Apenas três deles numa criança
comportamento (interesse restrito psicológico com maior evidência de de um ano e meio já justificam uma
ou hiperfoco e movimentos repe- eficácia, segundo a Associação Ame- consulta a um médico neuropediatra
titivos). Não há só um, mas mui- ricana de Psiquiatria, é a terapia de ou a um psiquiatra da infância e da
tos subtipos do transtorno. Tão intervenção comportamental. O trata- juventude. Testes como o M-CHAT-
abrangente que se usa o termo mento para autismo é personalizado -R/F(com versão em português)
“espectro”, pelos vários níveis de e interdisciplinar. Além da psicolo- estão disponíveis na internet para
suporte que necessitam — há gia, pacientes podem se beneficiar serem aplicados por profissionais.
desde pessoas com condições as- com fonoaudiologia, terapia ocupa- Todas as referências, links e mais infor-
sociadas (coocorrências), como de- cional, entre outros, conforme a ne- mações estão na versão online.
ficiência intelectual e epilepsia, até cessidade de cada autista. Na escola,
pessoas independentes, que levam um mediador pode trazer grandes Sinais
uma vida comum. Algumas nem
sabem que são autistas, pois jamais
benefícios no aprendizado e na inte-
ração social.
de autismo:
Não manter contato visual por
tiveram diagnóstico. Alguns sintomas como irritabili- mais de 2 segundos;
As causas do autismo são majorita- dade, agitação, autoagressividade,
Não atender quando chamado
riamente genéticas. Confirmando es- hiperatividade, impulsividade, de- pelo nome;
tudos recentes anteriores, um trabalho satenção, insônia e outros podem
Isolar-se ou não se interessar por
científico de 2019 demonstrou que fato- ser tratados com medicamentos, outras crianças;
res genéticos são os mais importantes que devem ser prescritos por um Alinhar objetos;
na determinação das causas (estimados médico. Dentre os medicamentos
Ser muito preso a rotinas a ponto
entre 97% e 99%, sendo 81% hereditário indicados, a risperidona, que é da de entrar em crise;
— e ligados a quase mil genes), além de classe dos antipsicóticos atípicos, é o Não usar brinquedos de forma
fatores ambientais (de 1% a 3%) ainda mais comum. convencional;
controversos, que também podem estar Em 2007, a ONU declarou todo 2 de Fazer movimentos repetitivos
associados como, por exemplo, a idade abril como o Dia Mundial de Cons- sem função aparente;
paterna avançada ou o uso de ácido cientização do Autismo, quando Não falar ou não fazer gestos para
valpróico na gravidez. Existem atual- cartões-postais do mundo todo se mostrar algo;
mente 1.045 genes já mapeados e impli- iluminam de azul (cor escolhida Repetir frases ou palavras em mo-
cados como possíveis fatores de risco por haver, em média, 4 homens para mentos inadequados, sem a devi-
para o transtorno — sendo 102 genes cada mulher com TEA). da função (ecolalia);
os principais. O símbolo do autismo é o quebra- Não compartilhar interesse.
-cabeça, que denota sua diversidade Girar objetos sem uma função
Tratamento e sinais e complexidade. aparente;
Alguns sinais de autismo já podem O dia 18 de junho é o Dia do Orgu- Apresentar interesse restrito
aparecer a partir de um ano e meio lho Autista (representado pelo sím- por um único assunto (hiperfoco);
de idade, e mesmo antes, em casos bolo da neurodiversidade, o infinito Não imitar;
mais graves. Há uma grande im- com o espectro de cores do arco-íris), Não brincar de faz-de-conta.
portância em iniciar o tratamento considerando o autismo como iden-
Hipersensibilidade ou hiper-reati-
o quanto antes — mesmo que seja tidade, uma característica da pessoa vidade sensorial;
Matraquinha
@biabiaraposo
Ilustração: Bia Raposo -
Wagner
Yamuto
OU VOCÊ GOSTA
é pai do Gabriel
(que tem autismo) e da
Thata, casado com a
DE BRIGADEIRO OU
Grazy Yamuto, fundador
do Adoção Brasil, criador
do app Matraquinha, autor
e um grande sonhador.
ESTÁ ERRADO
matraquinhaoficial
@matraquinhaoficial Recentemente foi aniversário do meu filho Neste ano a experiência foi incrível, pois
matraquinha Gabriel, ele acaba de completar 13 anos e com pela primeira vez ele participou ativamente da
matraquinha.com.br o fim da pandemia conseguimos reunir a famí- criação da festinha de aniversário: ele escolheu
lia para comemorar essa data muito especial. o bolo, os doces e os enfeites. Os ensaios para
O tema deste ano foi a Patrulha Canina, cantar os parabéns começaram semanas antes
um desenho com filhotes de cães que precisam com a ajuda da irmã caçula, a Thata.
salvar o dia das armações de um prefeito mal- Mesmo sem falar por causa da apraxia da
vado, de problemas ambientais e até mesmo fala. ele se esforça e vez ou outra saem algumas
encontrar um bolo de aniversário perdido. palavras com um som familiar.
Apesar da idade dele, o conteúdo infantil O grande dia chegou, ele mesmo escolheu a
ainda é o preferido, por outro lado, o Naruto, roupa e desta vez preferiu ir de chinelo do tipo
personagem de anime para adolescentes, co- slider, aqueles que não possuem aquelas tiras
R EVI STA AUTI SMO 10 meçou a surgir em sua playlist. que divide o dedão dos demais dedos e que, de
#AutistaEmTodoLugar
Tudo o que
podemos ser
A VIDA
VOLTANDO
lucasksenhuk.art
AO NORMAL
Ilustração: Lucas Ksenhuk -
Nícolas
Brito Sales
DEVAGAR
tem 23 anos, é fotógrafo,
palestrante e escritor. Desde 2011,
juntamente com sua mãe, Nicolas
percorre vários lugares para dar
palestras sobre como é ser autista
e estar inserido na sociedade. Em
janeiro de 2016, Nicolas deu início,
como freelancer, a seus trabalhos de
fotógrafo, profissão que ele pretende
seguir. Em 2014, foi coautor do
livro “TEA e inclusão escolar – um
sonho mais que possível”. Em 2017,
Nicolas lançou seu próprio livro,
“Tudo o que eu posso ser”, no qual
conta suas experiências, o que
pensa e como vive em sociedade.
@nicolasbritosalesoficial
tudooqueeupossoser@gmail.com
#AutistaEmTodoLugar
12
Depois de exatamente 2 anos em casa, trabalhando apenas
com cursos e palestras virtuais, posso dizer oficialmente que
voltamos com a nossa carreira de palestras presenciais. E o que
eu posso dizer sobre isso?! Eu vou ser bem sincero. Eu gostei
e não gostei disso ao mesmo tempo.
Eu gosto muito de deixar mensagens para as pessoas, mas
não dá pra esconder o fato de que eu acabei me desacostu-
mando demais com o lance de sair de casa, viajar, falar com
outras pessoas e de frequentar lugares públicos. Além disso,
há também o fato de eu estar muito restritivo e ainda muito
inseguro com o coronavírus. E isso é terrível, pois acaba
se desenvolvendo muito mais medo por conta de toda essa
quantidade de informação e de a maioria das pessoas, in-
felizmente, não entenderem o fato de que os riscos do co-
ronavírus não acabaram completamente e acharem que
podem se tocar a vontade e não usar máscara ou algo do
tipo. Mas, não havia outra saída para mim e para minha
família, pois esse é o nosso trabalho principal, e vamos
com ele até onde pudermos com muita precaução. E eu
ainda não falei isso, mas eu senti que acabei regredindo
durante essa pandemia sem fazer nenhuma palestra em
público, pois eu acabava ficando sem me comunicar com
outras pessoas. Estava caminhando no autismo leve até
voltar novamente para o moderado. Não que eu esteja
triste com isso, mas é só pra dizer que a vida continua.
Honestamente, não sei o que pode acontecer daqui
pra frente, mas de uma coisa eu sei e eu posso dizer:
os meus sonhos mudaram e agora são outros. Agora
é só deixar acontecer e vida que segue.
Espero poder encontrar vocês em algum dos eventos
de que participarei em 2022.
meninas diagnosticadas
com transtorno do
espectro autista?
O transtorno do espectro autista Porém, esses dados não são total- feminino apresenta diferenças,
(TEA) feminino tem sido constan- mente condizentes com a realidade mesmo que sutis, em sua arquite-
temente colocado em pauta. Dados observada na prática clínica. tura e atividade, sendo importan-
do Centers for Disease Control and O modelo genético que melhor te destacar a maior densidade de
Prevention (CDC), nos Estados Uni- explica a ocorrência do TEA, co- neurônios em áreas relacionadas
dos, divulgados em dezembro de nhecido como “modelo de copo” à linguagem, associada à maior
2021, apontam que 1 mulher a cada (detalhado no artigo de Graciela Pig- habilidade para imitação, habi-
4,2 homens está no espectro autista. natari, da edição nº 4 da Revista Autis- lidades sociais, comunicativas e
Pesquisas internacionais anteriores mo), seria uma provável explicação empatia. Isso prevê menores di-
mostravam dados semelhantes, com para a maior prevalência no sexo ficuldades para relações sociais,
taxas de detecção de autismo de 3 a masculino, uma vez que meninas, interesses restritos que podem pas-
4 vezes maiores entre os homens. para estarem no espectro, precisa- sar despercebidos ou não serem
riam de mais variantes genéticas considerados “atípicos”, menor ten-
associadas ou não a fatores ambien- dência a comportamentos-proble-
tais para atingir o “limiar do copo”. ma (agressividade, inquietude e
Mas, ainda assim, acredita-se que comportamentos disruptivos em
essa discrepância na prevalência es- geral) e maior uso de estratégias
teja associada, em grande parte, a de camuflagem social.
subdiagnósticos, especialmente no Em contraste à externalização,
caso de meninas/mulheres que se a internalização de dificuldades
encontram no espectro nível 1 de su- emocionais é mais comumente ob-
porte, levando em conta que o diag- servada entre as mulheres autistas
nóstico no público feminino é mais quando comparadas aos homens
desafiador, por diferentes motivos. com TEA, o que as torna mais sus-
cetíveis a quadros de ansiedade,
depressão, automutilação, distúr-
Particularidades
bios de alimentação. Esse é um
do comportamento ponto que pode de duas maneiras
e funcionamento interferir no diagnóstico assertivo
cerebral feminino de TEA: pode contribuir para que
O f u nc ion a me nto cerebra l as meninas/mulheres recebam um
Conclusões
Apesar das prováveis diferenças
na apresentação da sintomatolo-
gia, os critérios diagnósticos para o
TEA são os mesmos para ambos os
sexos. Identificar o autismo nível 1
de suporte, tanto em meninas como
em meninos, é naturalmente mais
desafiador e pode ficar ainda mais
complexo no caso de meninas, se
pensarmos em todas essas particu-
laridades. Já as meninas com TEA
nível 2 e 3 são diagnosticadas mais
R EVI STA AUTI SMO 17
SOPHIA MENDONÇA
COTAS NAS
UNIVERSIDADES
Pessoas com
deficiência, incluindo
autistas, clamam
por cotas em
universidades
Depositphotos
As cotas para
autistas trarão
maior
conscientização
investigamos como está a aces- que a criação de cotas para
à comunidade sibilidade e a inclusão de au- autistas proporcionará uma
acadêmica tistas no ensino superior no maior conscientização da co-
Brasil de hoje. O que efetiva- munidade acadêmica sobre a
mente tem sido feito para asse- existência dessas pessoas na
gurar a permanência e entrada universidade. A ativista, que
de pessoas com TEA no am- se identifica como não-binária,
biente acadêmico? Nesta re- percebe semelhanças entre o
portagem da Revista Autista, capacitismo enfrentado por au-
você vai conferir os desafios, tistas no ambiente acadêmico e
projetos e controvérsias que a vulnerabilidade experiencia-
rondam o tema. da por outros grupos sociais,
como pessoas de baixa renda,
nesses mesmos territórios.
Autistas na Ambas as populações, afi-
Universidade nal, não se encaixam no perfil
S eg u ndo leva nt a men- “elitista” de adolescentes pri-
A
to divulgado pelo Instituto vilegiados, com oportunida-
Nacional de Estudos e Pes- de de estudos nos melhores
quisas Educacionais Anísio cursos preparatórios. No caso
Teixeira (Inep) em 2019, ape- de autistas, não é incomum
nas 0,43% das matrículas em haver déficit no ciclo de for-
universidades paulistas eram mação primária e secundária,
preenchidas por alunos com por exemplo.
deficiência. Dessas vagas, ape-
nas 200 estavam ocupadas por
estudantes autistas. Portanto, Ciência e afetos
coletivos de autistas estão se como aliados
mobilizando para cobrar das para a inclusão
instituições a aplicação de Por meio de sua atuação no
cotas para pessoas com defi- coletivo autista, Gia oferece
ciência. Esses grupos incluem acolhimento para estudantes
vivência na universidade é estudantes da Universidade de autistas e promove a conscien-
usualmente lembrada como São Paulo (USP), da Universi- tização acerca das demandas
um dos momentos marcantes dade Estadual Paulista (Unesp) desses indivíduos, cujas vi-
da fase adulta. Com autistas e da Universidade Estadual de vências tendem a ser negli-
não costuma ser diferente. Campinas (Unicamp). genciadas na universidade, já
Discussões sobre o autis- Fundadora do Causp (Coleti- que o autismo é uma deficiên-
mo em adultos, inclusive, se vo Autista da USP), a estudan- cia “invisível”. Além disso, ela
intensificaram nos últimos te de direito Gia Martinovic considera que os professores
anos. Afinal, pessoas com observa que apenas uma pe- devem dedicar maior escuta
diagnóstico de transtorno quena parcela de autistas aos alunos neurodivergentes
do espectro autista necessi- ingressa no ensino superior (o que inclui outras condições,
tam de suporte em todas as no Brasil. Desses, muitos de- como TDAH e dislexia), de
fases da vida. Pensando nisso, sistem. Por isso, ela defende modo a corrigir os impactos
Divulgação
deficiência nas
universidades”
Coletivo Autista USP
destacar como terapeutas qualificados, têm qualidade para o TEA. Se você tem interesse em
buscado cada vez mais instituições de saber mais sobre a Formação Avançada em ABA,
referência para se capacitarem. Um exemplo vamos deixar o link aqui abaixo, com a indicação
disso, são os profissionais que têm se que sempre temos muita alegria de fazer para
capacitado na Academia do Autismo, nossa tudo o que diz respeito à Academia do Autismo.
parceira institucional, nos mais diversos
treinamentos. Um dos principais deles é a https://imersao.academiadoautismo.com.br
Formação Avançada em ABA, que forma os /revista
profissionais indicados pela Academia do
Autismo, um local seguro para buscar
indicações de profissionais capacitados para
atuar no TEA, categorizados por regiões do
SEJA UMA REFERÊNCIA
EM APLICAÇÃO DA ABA
NO TEA (AUTISMO)
12 MÓDULOS
Módulo 1 – Princípios Básicos (Fábio) Aula 3 – Ensino por tentativas discretas
Aula 4 – Ensino naturalístico
Aula 1 – Autismo, sinais, diagnóstico e
comorbidades
Aula 5 – Análise de tarefas e encadeamento
CERTIFICADO
Aula 2 – Práticas baseadas em evidências e ABA?
Aula 3 – Bases filosóficas da ABA
Módulo 7 – Redução de Comportamentos
(Chaloê) COM CARGA
Aula 4 - Conceitos básicos da Análise do
Comportamento Aula 1 - Definição e avaliação de Comportamento HORÁRIA DE
Inadequado
240 HORAS
+
Módulo 2 - Comportamento Verbal (Maria Aula 2 - Intervenção: Manejo de Antecedentes
Christina) Aula 3 - Intervenção: Procedimento de Extinção
Aula 4 - Intervenção: Estratégias de
Aula 1 – definição de comportamento verbal Reforçamento Diferencial
Aula 2 - operantes verbais: Mando, tato,
intraverbal
Aula 5 - Comportamentos-Problema Severos
SUPERVISÃO
Aula 3 – operantes verbais: ecoico e copia Módulo 8 – Ensino de Habilidades Básicas e
Aula 4 - operantes verbais: textual e transcrição Sociais (Djalma)
Aula 5 – comportamento autoclítico e resposta de
ouvinte Aula 1 – O que temos que ensinar e por quê?
Aula 2 – Habilidades Básicas
Módulo 3 – Medidas Comportamentais Aula 3 – Habilidades Sociais
(Chaloê)
Módulo 9 – Ensino de repertório verbal
Aula 1 - Observação científica do comportamento (Maria Christina)
Aula 2 – Tipos de Registro e medidas do
comportamento Aula 1 – Ensino do mando, tato e intraverbal
Aula 3 - Logística e escolha de instrumentos de Aula 2 - Ensino do ecoico e resposta de ouvinte
registro Aula 3 – Pareamento estímulo - estímulo (SSP)
Aula 4 - Procedimentos para registrar e medir o Aula 4 – Naming (nomeação) Maria
comportamento Christina
Aula 5 – Comunicação alternativa Souza
Aula 5 - Representação gráfica de medidas
comportamentais Módulo 10 – Habilidades Sociais (Fábio)
#AutistaEmTodoLugar
SÍNDROME DO
X FRÁGIL, AINDA
DESCONHECIDA,
MERECE ATENÇÃO
tualmente, com o apoio da
2% a 5% dos opinião pública, pesquisas
e conhecimento médico, o
autistas podem transtorno do espectro do
ter a síndrome, autismo (TEA) é muito mais
conhecido e difundido. No
causa hereditária entanto, existe uma condição
de saúde correlata, muitas
mais comum vezes diagnosticada como au-
de deficiência tismo, de pouco conhecimen-
to da população: a síndrome
intelectual do X Frágil (SXF).
Como a síndrome apresenta
muitos sintomas e sinais não
específicos, acaba dificultando
a definição do quadro clínico
de pessoas com essa condição
de saúde. Por essa razão, mui-
tos são diagnosticados com au-
tismo, TDAH (transtorno de
déficit da atenção com hipe-
ratividade), até mesmo com
o antigo diagnóstico de sín-
drome de Asperger, entre ou-
tros. A Síndrome do X Frágil é
uma condição hereditária que
instituto-buko-kaesemodel @programaeudigox
Instituto Buko Kaesemodel contato@institutolk.org.br
@eudigox
Trabalho no LUGAR DE
Espectro
AUTISTA É EM
TODO LUGAR,
INCLUSIVE NO
MERCADO DE
Marcelo
Vitoriano
TRABALHO
é psicólogo, especialista em O tema “Lugar de Autista é em Todo oportunidade das empresas de trazerem
terapia comportamental Lugar” nos remete à ideia que todas as talentos diversos para seus quadros,
cognitiva em saúde mental, mestre pessoas autistas têm de ter condições de com outras formas de pensar, terem
em psicologia da saúde. Desde participação ativa em todas as esferas equipes mais colaborativas, uma cul-
2015 faz parte do grupo de de nossa sociedade, e a participação no tura mais humanizada, com inovação,
trabalho sobre direitos humanos mercado de trabalho é algo importan- e de serem organizações mais respon-
nas empresas da rede brasileira tíssimo. Cabe lembrar que o primeiro sáveis, socialmente falando.
do pacto global da ONU e é
aspecto dessa discussão é que a entrada Mas, quanto à inclusão de autistas,
diretor geral da Specialisterne
no Brasil, organização social no mercado de trabalho é um direito de de que autistas estamos falando? Todas
de origem dinamarquesa todas as pessoas, e as pessoas neuro- as pessoas autistas, com os diferentes
presente em 20 países, que divergentes carecem de equidade em níveis de suporte, podem trabalhar?
atua na formação e inclusão relação às oportunidades para a entrar Minha resposta e opinião é que sim,
de pessoas com autismo no e permanecer nesse mercado. Outro todas as pessoas podem trabalhar, desde
mercado de trabalho. ponto que julgo importante citar é que que tenham os apoios necessários para
@specialisterne_br no Brasil existe uma vasta legislação sua inclusão, sendo assim possível uma
Specialisterne-Brasil de promoção e inclusão de pessoas com inclusão profissional com qualidade.
SpecialisterneBrasil deficiência, na qual as pessoas autistas Em 2007, tive a oportunidade de
specialisternebrasil.com se enquadram, tais como a Lei de Cotas, conhecer algumas organizações nos
a Convenção Internacional sobre os Di- Estados Unidos que faziam inclusão de
reitos das Pessoas com Deficiência (da pessoas com deficiência e fui conhecer
ONU), da qual o Brasil é signatário, uma experiência de inclusão de um
entre outras. Dessa forma, o primeiro jovem autista chamado John, com apro-
olhar deve ser direcionado à equidade de ximadamente 20 anos de idade, e nível
R EVI STA AUTI SMO 30 oportunidades. O segundo aspecto é a 3 de suporte! John trabalhava em um
pequeno mercado de seu bairro, fazendo
reposição de mercadorias, sempre acom-
panhado por um job coaching, profis-
sional que conhecia profundamente as
necessidades do John e o auxiliava nas
atividades. John trabalhava com uma
carga horária reduzida, de três horas
diárias, três vezes na semana. Quando
John não ia trabalhar por algum moti-
vo, os clientes sempre perguntavam por
que John não havia ido, pois sentiam
sua falta. Ele se sentia muito querido
pela comunidade. Nesse exemplo vimos
como o suporte, flexibilização do posto
de trabalho e apoios necessários foram
importantes para a inclusão profissio-
nal de John.
Quando falamos em mercado de tra-
balho, na maioria das vezes pensamos
em grandes empresas e por vezes nos
esquecemos que o mundo do trabalho disponibilização dos apoios necessários,
tem diversas possibilidades também em muita comunicação sobre as caracterís-
empresas de pequeno porte, bem como a ticas das pessoas autistas e, com isso,
possibilidade de renda através de inicia- tivemos uma satisfatória experiência de
tivas de empreendedorismo. Conheci o inclusão profissional.
Gabriel, jovem autista, que adora fazer Obviamente, em todas as regiões
bottons em sua casa. Esses bottons do Brasil, estamos a anos luz de ter-
são distribuídos pelas empresas aos mos muitas experiências como as que
seus colaboradores, com algum tema relatei, mas precisamos incentivar a
específico, como o Dia da Consciên- comunidade de pessoas autistas, seus
cia Negra, uma campanha de saúde, familiares, organizações, universi-
Depositphotos
REVELAR OU NÃO
Introvertendo
REVELAR O AUTISMO?
EIS A QUESTÃO...
@seeufalarnaosaidireito
#AutistaEmTodoLugar
#AutistaEmTodoLugar
#AutistaEmTodoLugar
U
a maioria das doenças neuropsiquiátricas, como
esquizofrenia, depressão e transtorno bipolar.
A síndrome de Pitt-Hopkins, por sua vez, tem
como origem uma mutação no gene TCF4. Mas,
até então, não eram conhecidos seus mecanis-
mos moleculares, ou seja, o que há de diferente
nas células do sistema nervoso dos pacientes
com a mutação”, contou Papes.
A pesquisa — que teve apoio, no Brasil, da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-
co (CNPq) e, nos EUA, do National Institutes
of Health (NIH) e da Pitt-Hopkins Research
Foundation (PHRF) — agora deve avançar para
estudos pré-clínicos e clínicos. Os pesquisado-
res fecharam parceria com uma empresa espe-
cializada em terapia gênica, que está licenciando
a tecnologia usada nos experimentos para que
futuramente possa ser testada em humanos.
Arquivo pessoal
coisas que não conseguiria nos faz palestras em eventos, junto além disso, vale destacar que ele re-
dizer, como por exemplo, a razão com o filho e o marido. cebeu o título de mais jovem autor
de pular tanto. E a resposta veio autista do país, recorde reconheci-
no livro ‘O Canguru Elétrico’. do pelo RankBrasil, em 2021 — ele
Devemos incentivar a leitura e Detalhe publicou “A Dona Corujinha” em
a produção literária, pois é uma Ah, ia me esquecendo de mencio- 15.out.2017, aos 12 anos, 7 meses
fonte incrível de interação e co- nar: o Arthur é autista e tem diag- e 8 dias.
nhecimento”, salientou ela, que nóstico de deficiência intelectual, “Sempre apresentamos o Arthur
cangurueletrico.com.br
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@Fernando Pavone
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a comunicação
do autista
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que uma voz reproduza o que
a criança deseja transmitir.
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#AutistaEmTodoLugar
C A N A L
SP teve roda de
conversa sobre
Livro Autismo ao longo autismo em abril
da vida é lançado
O livro “Autismo ao longo da vida”, que
No dia 30.abr.2022, acon-
aborda o autismo em todas as idades, foi
teceu a roda de conver-
lançado pela editora Literare Books. A obra,
sa sobre autismo “Vida
que conta com organização da médica neu-
Adulta: Experiências e
ropediatra Deborah Kerches, traz textos de
Perspectivas”, no Centro
ativistas e pesquisadores do meio autista,
Cultural Banco do Bra-
entre eles: Lucelmo Lacerda, Kenya Diehl,
sil., em São Paulo (SP).
Carlos Gadia, Kaká do Autistólogos, Fáti-
O evento, que celebrou
ma de Kwant, Graciela Pignatari e muitos
o mês da conscientiza-
outros autores renomados.
ção mundial do autis-
Reprodução / imegem meramente ilustrativa mo, foi gratuito e teve a
participação de diversos
palestrantes de renome,
como Silvia Grecco (Se-
Após denúncia de mães de autistas, Saiba mais no
cretaria Municipal da
Procon-GO multa 2 planos de canalautismo.com.br Pessoa com Deficiência
de SP), Leopoldina Oli-
saúde em R$4,56 milhões veira (Associação Paulis-
No dia 29.abr.2022, o Procon do Esta- por desrespeitos ao Decreto Federal nº ta de Autismo/APABB),
do de Goiás expediu notificação que 6.523/2008, que regulamenta o Serviço Meca Andrade (Grupo
aplicou multa de R$ 4,56 milhões nos de Atendimento ao Consumidor (SAC). Método), Camila Varella
planos de saúde Hapvida e Unimed, A aplicação da multa para cada uma das (OAB-SP, subseção Santo
operadoras de plano de saúde foi oriunda Amaro), Vinicius Fidélis
de denúncias feitas por mães de autistas, (Abraça), Paula Ayub —
através do grupo “Mães em Movimento (Centro de Convivência
NOVO CURSO
pelo Autismo”, que chamaram a atenção Movimento), Andrea
ABA FUNCIONAL ao desrespeito aos direitos dos autistas Issa (Ass. Paulista de
por ambos os planos. A denúncia foi rea- Autismo), entre outros.
Abordagem Educacional em Pirâmide
lizada no dia 19.jan.2022, quando houve a
primeira reunião entre o grupo de mães
e uma representante da Comissão Nacio-
nal dos Direitos da Pessoa com Deficiên-
cia, do conselho federal da OAB, além de
membros que compõem o Procon-GO e
a Superintendência Estadual.
Programa na TV Cultura
discute neurodiversidade
em filmes e séries
O programa Metrópolis lançou, em 2 de
maio, uma edição dedicada ao tema da
2 dias de Curso neurodiversidade. O assunto, que é geral-
Maiores informações: mente associado ao autismo, também está
www.pecs-brazil.com presente em séries e filmes que abordam
autismo e outros transtornos.
Netflix apresenta versão norte- Estudo revela que
americana de Amor no Espectro comorbidades do autismo
Saiba mais no estão relacionadas com a
canalautismo.com.br
No dia 18 de maio estreou Amor no Espectro: desigualdade social e étnica
EUA (Love on the Spectrum: US), a versão norte-
-americana da série que traz autistas em encon- Um estudo publicado em dezembro de
tros e relacionamentos amorosos. A produção, 2021, por pesquisadores da Universidade
de origem australiana, recebeu um trailer oficial. Drexel, nos Estados Unidos, revela que
A série tem produção da Northern Pictures com comorbidades diagnosticadas em autistas,
direção de Karina Holden e Cian O’Clery. como esquizofrenia, hipertensão, diabetes
Assista ao trailer na versão online desta notícia e obesidade são mais comuns em autis-
no site CanalAutismo.com.br ou acessando pelo tas negros e latinos do que em autistas
QR-Code na página do índice desta edição. brancos. De acordo com o estudo, autistas
negros também têem de 25 a 50% menos
chances de serem diagnosticados com an-
siedade e TOC.
#AutistaEmTodoLugar
Reprodução / Netflix
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SÍNDROME DE RETT
O relato de uma mãe e sua jornada em
busca das pesquisas científicas.
está avançando tanto”, mas onde para a cura da síndrome de Rett. melhorar a regulação cerebral e
estavam esses avanços? E quando Lemos tudo o que pudemos sobre reduzir a inflamação do cérebro:
eles chegariam para a Aline? essas pesquisas, fizemos uma reu- Trofinetide e Anavex. Com isso,
nião com a presidente dessa asso- promoveriam diferentes ganhos
Pesquisas ciação, Monica Coenraads, que vem nos pacientes tratados: melhorar
Recomendaram que buscássemos liderando esse trabalho há anos, e a parte motora, reduzir ansiedade
informações no clinicaltrials.gov, decidimos apoiar os investimen- e hiperatividade.
site que tem todos os testes regis- tos nessa pesquisa através de um No campo da terapia genética,
trados no FDA (Food and Drug crowdfunding. A vaquinha foi um tivemos uma notícia triste em 2021,
Administration, agência federal sucesso, com o apoio de muita quando a Novartis Gene Therapies
gente que estava torcendo pela – que produz o Zolgensma para
Aline, e em pouco tempo atingimos AME – cancelou seu programa de
300% da meta inicial. Por causa pesquisa para Rett. Mas outras
dela, acabei dando uma entrevis- empresas seguem pesquisando.
ta na TV e foi assim que algumas A Taysha Gene Therapies possui
pessoas da Associação Brasileira o programa TSHA-102 com propos-
de Síndrome de Rett (Abre-te) me ta semelhante (reposição gênica) e,
conheceram e me convidaram para em março de 2022, obteve aprova-
fazer parte do grupo. ção do órgão regulador do Canadá
Em 2018, eu me propus a escrever para o primeiro teste em humanos
uma seção no site da Abre-te con- de uma terapia genética para sín-
tando tudo o que tínhamos apren- drome de Rett, que deve ter iní-
dido até então, para que as famílias cio até o final de 2022. Em maio, a
tivessem acesso em português às Neurogene, uma nova empresa fo-
diferentes linhas de pesquisa em cada exclusivamente em medicina
andamento. E desde então venho genética, anunciou o lançamento
do Departamento de Saúde e Servi- buscando manter a comunidade de seu programa de terapia gêni-
ços Humanos dos Estados Unidos). Rett atualizada com as notícias pu- ca para síndrome de Rett. Outros
E lá fomos nós, um engenheiro e blicadas na mídia internacional. laboratórios seguem pesquisando
uma administradora, aprender a diferentes abordagens de terapia
ler os resultados de testes clínicos.
Medicamentos genética (edição de RNA, reativa-
Não havia muitos para Rett, e de- e terapia genética ção do X silenciado, trans-splicing
moramos a entender que ninguém Existem basicamente duas linhas de RNA), com financiamento da
coloca um carimbo de “falhou” no de pesquisa para Rett: medicamen- RSRT, mas são pesquisas que ainda
teste, mas se os resultados foram tos para tratar os sintomas e terapia estão mais distantes da fase clínica.
publicados há alguns anos e não genética para tratar a causa raiz da Eu acredito muito que a cura virá
surgiu mais nada é porque não síndrome (e com isso alcançar me- – ou ao menos um tratamento que
foram fortes o bastante para uma lhoras muito amplas do quadro). traga melhoras substanciais para
indústria farmacêutica seguir com Boa parte dos testes são de medi- a qualidade de vida das pessoas
o investimento para a próxima fase. camentos desenvolvidos para ou- com Rett. Até lá, seguimos um dia
Depois de algumas semanas ti- tros quadros e que são testados em de cada vez, com todos os percal-
vemos a sorte de conhecer uma pessoas com Rett para atacar um ços que as famílias de crianças es-
família muito querida, que com- determinado grupo de sintomas. peciais conhecem, e renovando a
partilhou conosco muito do que Desde que comecei a acompanhar esperança com cada sorriso que
sabiam das pesquisas em fase pré- a síndrome vi alguns desses testes nossa filha nos dá.
-clínica e nos apresentou o trabalho serem encerrados: Fingolimod, Co-
de uma associação norte-america- paxone, rhIGF-1, Saritozan.
na, a Rett Syndrome Research Trust Hoje existem dois testes em an-
(RSRT), que vem há anos investin- damento com medicamentos foca- R EVI STA AUTI SMO 47
do em múltiplas linhas de pesquisa dos na síndrome de Rett que visam
C O L U N A
não vejo melhora e não acho que tenha condições de educar socialmen-
vá ver em vida. Tenho a sensação te, não vejo sentido em explicar algo
de que para cada pessoa conscien- que parece não ser ouvido.
tizada - que tenta desconstruir as Sei que crises vêm e vão, algu-
noções preconceituosas - existe um mas duram mais tempo que outras,
número infindável de pessoas re- todos temos altos e baixos emocio-
produzindo algum tipo de violên- nais, mas temo sinceramente não
cia contra a nossa comunidade. Na conseguir voltar à ação como ati-
verdade, não sei se algum dia a con- vista. O ativismo está na minha
vivência respeitosa será alcançada, identidade, é uma grande parte
estou em um momento de desespe- de quem eu sou, responsável pela
rança completa. forma que me percebo como pes-
Parte de ser ativo em mídias soa atípica e como entendo que
sociais é se deparar com manifes- sou digna do meu lugar no mundo.
tações agressivas de intolerância. Mas, estou cansada, sinceramente,
É justamente isso que justifica o estou exausta de uma luta que pa-
momento que estou vivendo, todo rece não ter um fim.
ativista tenta ser emocionalmen-
te resistente para reagir a esses
comportamentos tóxicos, mas isso
tem um limite porque, em algum
momento, eles nos afetam. E esse
acúmulo das tentativas de resistir
emocionalmente a tais manifesta-
ções gerou uma crise que se esten-
de há alguns meses.
Eu falava muito de saúde mental
em uma rede social específica que
hoje não consigo acessar. Das três
redes que eu utilizava, passei a con-
seguir participar de uma e mesmo
assim não considero que ainda
C O L U N A
DOIS DE ABRIL
Fiquei encantada com as celebrações entorno. Nós nos reuníamos, discu-
do dia de conscientização do autismo! tíamos, consolávamos uns aos outros
Autismo Severo Quantas referências! Quantas pes- e partíamos para nossas cidades, para
soas participando! Mais uma data a difundir o que fora aprendido.
ser lembrada, sem qualquer estranha- Também começamos a discutir pos-
mento. Excelente! síveis tratamentos. Na época, perce-
Mas, nem sempre foi assim. Lembro- bíamos um desconhecimento geral
-me dos primórdios, quando ninguém sobre o que era autismo, inclusive
tinha ideia do que era, realmente, esse dos próprios médicos e terapeutas.
dois de abril. Inclusive nós, pais e mães Nossas crianças eram tão distintas,
de pessoas dentro do espectro. comportamentos tão diferentes, como
Estávamos começando a nos unir, então o “tratamento” para todos ser o
alguns poucos pais e mães, bastante mesmo? Começamos a ver alternati-
perdidos nesse universo do autismo. vas de terapias e tratamentos clínicos.
O objetivo era “Como ajudar nossos E assim fomos seguindo, com
filhos?” Alguns tinham mais conhe- muito auxílio de algumas Igrejas (que
Haydée
Ilustração: Fernanda barbi brock - @fer.barbi.brock
cimentos, pessoas que vinham de fora nos davam o suporte físico, o precioso
Freire do Brasil, principalmente dos Estados espaço para reuniões) e de algumas
Meca Andrade
Jacques Unidos. Outros, como eu, entravam associações civis. E muito trabalho!
na batalha de peito aberto, aprendendo Trabalho intelectual e emocional. A
por tentativa e erro. Assim, unir nos- pouca literatura disponível era em in-
é casada e mãe de dois
filhos, sendo o mais moço sas forças e parcos conhecimentos era glês, voluntários traduziam e publi-
autista severo. Formou-se vital. Foi o que fizemos: pequenos nú- cavam nos grupos. Pais e mães com
em odontologia, exerceu cleos, em cidades diversas. Depois das diagnósticos recentes eram recebidos,
a profissão até 2006, discussões nos grupos online, e-mails amparados em seu luto e encorajados
quando decidiu dedicar-
se integralmente ao filho. e Orkut, claro! Um grupo mais nu- a seguir em frente. Tempos heróicos,
meroso começou a se formar em São com uma energia muito positiva.
Paulo, com membros de cidades do Depois veio a necessidade de alcan-
çar mais famílias e divulgar o autis-
mo. Então, tomamos conhecimento
do Dia Mundial de Conscientização
do Autismo! E fomos à luta! Falar
com vereadores, usar luzes azuis nos
prédios públicos, vestir azul, acender
luzes azuis nas casas... e pequenas
passeatas. Cartazes, mães e pais, fi-
lhos e amigos, cachorros heheheh.
Tudo era muito amador, feito com
muita garra, com muita vontade de
passar informações para a sociedade.
E vejam como estamos agora! Do alto
dos meus quase 70 anos me congra-
tulo e parabenizo todos vocês, que
R EVI STA AUTI SMO 50 continuam nessa jornada!
CanalAutismo.com.br/assine