FUNDADO EM 1875 Domingo 4 de DEZEMBRO de 2022 l R$ 9,00 l Ano 143 l Nº 47164
JULIO MESQUITA (1862—1927) estadão.com.br
DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO
Messi quebra recordes e leva Argentina às quartas
No milésimo jogo como profissional, atacante passa Maradona ao marcar seu 9º gol em Mundiais, na vitória de 2 a 1 ontem
sobre a Austrália; ‘hermanos’ voltam a campo na sexta-feira, contra a Holanda, que derrotou os EUA por 3 a 1 __ A18 e A19
E&N O futuro do planeta
Um em cada dez empregos
verdes do mundo está no Brasil
Transição energética ambiciosa pode alavancar crescimento
vasto potencial das
O energias solar e eóli-
ca, do hidrogênio
verde e dos crédi-
tos de carbono pode ser um dos
principais indutores do cresci-
mento do Brasil nos próximos
anos, informa Renée Pereira.
Hoje, o País responde por 10%
Notas e Informações __ A3
A grande dúvida
sobre a nova direita
Edição de hoje
3 CADERNOS – 52 páginas
Fim de semana
C2 __ C1 e C7 A Fundo __ C10 e C11 E&N __ B6
Holanda vira modelo Primeira classe em
Vai um café? em produção agrícola avião fica mais rara
Teste às cegas do Paladar Tecnologia criou uma Viagem de luxo pode
avaliou 11 marcas de cápsulas potência em alimentos custar até R$ 80 mil
ABEDIN TAHERKENAREH/EFE/EPA
Seleção brasileira __ A21
Neymar treina
com bola e
pode virar
opção contra a
Coreia do Sul
Atacante não sente dores
no tornozelo e talvez apareça
no banco de reservas na parti-
da de amanhã. Já Alex Telles e
Gabriel Jesus foram cortados
por lesão no joelho direito.
França e Inglaterra __ A22
Atuais campeões pegam Polônia
e ingleses enfrentam Senegal
Ressocialização __ A23
Em cadeia de Limeira, detentos
criam sua própria Copa do Mundo
Mauro Beting __ A20
Brasil é favorito, mas
no futebol tudo pode
__ B1 Cotado para a Defesa __ A6
Consultor,
José Múcio diz
‘abrir portas’ em
órgãos e no TCU
Ex-ministro afirma que sua
consultoria faz “engenharia
política” para os clientes.
Ensino superior __ A14
de todos os empregos verdes Agência Internacional de Ener-
no mundo e é o segundo coloca-
do entre os maiores empregado-
res da indústria de biocombustí-
veis, solar, hidrelétrica e eólica.
O mercado brasileiro perde ape-
gia Renovável (Irena). A expec-
tativa é de que, até 2030, as ener-
gias renováveis criem 38,2 mi-
lhões de empregos globalmen-
te. Os cálculos levam em conta
Capacitação precisa
ser acelerada no País
É preciso que profissio-
Desinteresse
dos jovens pelos
vestibulares vai
além da pandemia
nas para o da China, que tem uma transição energética ambi- nais mirem especializa- Fatores econômicos e pro-
42% dos 12,7 milhões de postos ciosa e investimentos para redu- ções para se encaixar no vas difíceis têm afastado can-
de trabalho do setor, segundo a zir o aquecimento global. novo mercado. __ B2 didatos à universidade.
J. R. Guzzo __ A10 Renata Cafardo __ A15 Celso Ming __ B2 Guerra na Ucrânia __ A11
A conduta do STF Escola deve abrir mais A atividade sindical, o Conflito dá protagonismo
marcada pela hipocrisia espaço para o diálogo PT e a terceirização econômico a petroditaduras
Caderno A. Opinião, Política, Internacional, Metrópole, Saúde, Esportes, C2. Cultura & Comportamento, Tempo em SP
Para fechar... E&N. Destacar Economia & Negócios A fundo 20° Mín. 28° Máx.
 DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
A2 O ESTADO DE S. PAULO

MARIANA CARNEIRO
COM JULIA LINDNER, GUSTAVO CÔRTES e BEATRIZ BULLA
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
Coluna do
COLUNADOESTADAO@ESTADAO.COM
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/ Estadão
Tarcísio tenta brecar três SINAIS
PARTICULARES
licitações feitas por
por Kleber Sales
Garcia no fim do governo

O
governador eleito de São Paulo, Tarcísio de
Freitas (Republicanos), pediu a Rodrigo Gar-
cia (PSDB), para não adjudicar uma licitação
de loterias no valor de R$ 800 milhões e ou-
tras duas do Detran-SP, que, juntas, somam quase
R$ 3 bilhões. Membros da equipe de transição do fu-
turo mandatário se espantaram com os valores e pe-
diram ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) um
pente-fino sobre os processos. A corte decidiu sus-
pendê-los e deu prazo até esta semana para que os
órgãos responsáveis apresentem esclarecimentos.
As três licitações estavam em fase de apresentação
de propostas pelas empresas interessadas, com pre-
gões previstos para o início de dezembro.

l TECH. Uma delas trata da contra- l SÓCIOS. Membros do PP afir-

tação de empresa para gerenciar
os pátios de armazenamento de
veículos ao custo de R$ 2 bi em
cinco anos. Outra diz respeito à
contratação de serviços digitais
ao Detran por R$ 890 milhões no
mesmo período. Empresas como
Google, Red Hat e Stefanini de-
monstraram interesse.
mam que não há acordo do par-
tido para apoiar o PL na elei-
ção do Senado. Pelo contrário,
Arthur Lira (PP-AL) teria sina-
lizado a Gilberto Kassab que a
sigla deseja apoiar discreta-
mente a reeleição de Rodrigo Arthur Lira,
Pacheco (PSD-MG) em troca presidente da Câmara dos Deputados (PP-AL)
do apoio do PSD na Câmara.

l DEMANDA. Sob reserva, inte-
grantes do Detran dizem que
ambos os projetos foram gesta-
dos por mais de um ano, embo-
ra a conclusão das licitações te-
nha sido prevista para dezem-
bro. Afirmaram ainda que os
processos buscam atender ao
aumento da demanda por ser-
viços digitais e, no caso dos pá-
tios, a requisitos do próprio
TCE, que tem exigido vínculo
formal entre o Detran e admi-
nistradores dos espaços.
l ESCREVE. A assessoria do go-
verno de São Paulo negou ter
recebido pedido formal para a
não realização das licitações.
l CÁLCULO. Já no PL, os mem-
bros da legenda se reúnem na
quarta (7) para bater o martelo
se Rogério Marinho (RN) será o
candidato contra Pacheco. O
partido considera que Podemos
e União Brasil serão os fiéis da
balança na eleição do Senado.
l CORRIDA. Apesar de o líder do
Podemos, Oriovisto Guimarães,
ter sinalizado que vai apoiar Pa-
checo, a presidente do partido,
Renata Abreu, deu sinal verde pa-
ra o PL pedir votos na sigla. No
União, a aposta é a de que a maio-
ria eleita é mais alinhada a Jair
Bolsonaro e, por isso, votariam
em um aliado do presidente.
l SANGUE. Fernando Bezerra PRONTO, FALEI! CLICK
(MDB-PE), na política há 40 REPRODUÇÃO
anos, se despede do Senado na
próxima quarta (7), com dis-
curso especial e a presença dos
filhos Miguel Coelho, ex-pre-
feito de Petrolina, e Fernando
Filho, reeleito deputado fede-
ral. Vai se aposentar dos car-
gos públicos, mas não da políti-
ca, que está no sangue, diz ele.
Carlos Zarattini Tarcísio de Freitas
Deputado federal (PT-SP) Governador eleito de SP (Republicanos)
l FINAL. Jair Bolsonaro tem rece-
bido pedidos para resolver “pen-
dências” antes do fim do manda- “O que nós queremos do Lira é que Em cerimônia da polícia de cho-
to. Líder do governo no Senado, ele não obstrua projetos do gover- que, conversou a sós com Gui-
Carlos Portinho (PL-RJ) pediu no, nem coloque pautas-bomba”, lherme Derrite, político bolsona-
solução para nomeações nas disse, sobre apoio oficial do PT à rista escolhido para assumir a
agências Nuclear e de Mineração. reeleição do presidente da Câmara. Secretaria de Segurança Pública.

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Realização: Produção:
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
Publicado desde 1875
AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)
NOTAS E INFORMAÇÕES
A grande dúvida
sobre a nova direita
A nova direita eleita para o Congresso pretende ser mera
extensão do bolsonarismo ou almeja fazer, desde já, uma nova
política? Qual será seu compromisso com a Constituição?
om as eleições deste ano,
C consolidou-se uma nova
configuração político-
ideológica no País. Os par-
tidos de esquerda perde-
ram espaço no Congresso e surgiu
uma nova direita, que não tem receio
de falar de temas e propostas que, até
pouco tempo atrás, eram tabu no cená-
rio nacional. São grupos e pessoas que
defendem uma política informada por
valores tradicionais, postulam políti-
cas públicas com foco nas famílias,
têm profundas reservas quanto à inge-
rência do Estado na vida econômica e
O jornalismo
profissional sobrevive
Advertência da ANJ sobre os constrangimentos ao trabalho
jornalístico mostra os desafios impostos pelos liberticidas e
reafirma a importância da imprensa livre para a democracia
desmoralização da impren-
A sa profissional foi uma ban-
deira de campanha do então
candidato Jair Bolsonaro
em 2018 e se tornou uma po-
lítica informal de governo após sua posse
como presidente da República. Se é ver-
dade que a vida de jornalistas que co-
brem o exercício do poder nunca foi cô-
moda, não há precedentes para o que
aconteceu no País nos últimos quatro
anos desde pelo menos o fim da ditadura
militar.
Quando não o fez pessoalmente, Bol-
sonaro açulou seus ministros, auxiliares
e apoiadores mais radicalizados para
ameaçar e agredir jornalistas. Como che-
fe de governo, o presidente dificultou tan-
to quanto pôde o exercício da liberdade
de imprensa assegurada pela Constitui-
ção, seja banalizando a edição de decre-
LUIZ CARLOS MESQUITA(1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)
social, manifestam especial preocupa-
ção com a segurança pública e o comba-
te à corrupção e pleiteiam a manuten-
ção da criminalização do aborto e das
drogas.
Mais do que uma estrita coerência
de seu pensamento político – por
exemplo, algumas bandeiras ligadas a
costumes chocam-se com a ideia de
interferência mínima do Estado na so-
ciedade –, a nova direita articula-se co-
mo resistência às causas consideradas
progressistas. Trata-se, em boa medi-
da, de uma rebeldia contra o chamado
“politicamente correto”. Por isso,
tos de sigilo, seja autorizando que órgãos
da administração federal se esquivassem
de determinações da Lei de Acesso à In-
formação.
Durante o governo Bolsonaro, os ata-
ques a jornalistas e à liberdade de impren-
sa atingiram escala inaudita. A Associa-
ção Nacional de Jornais (ANJ) bem desta-
cou há poucos dias, durante a cerimônia
de entrega do Prêmio ANJ de Liberdade
de Imprensa 2022, que nos últimos qua-
tro anos aumentaram os processos judi-
ciais contra jornalistas por supostos cri-
mes cometidos contra a honra. Trata-se
de mais uma forma de constranger o li-
vre exercício de uma profissão que, nun-
ca é demais lembrar, é protegida pela
Constituição, regulamentada por lei e
orientada por um código de ética muito
rigoroso.
A bem da verdade, essa sórdida campa-
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE
DIRETOR PRESIDENTE
FRANCISCO MESQUITA NETO
ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA DIRETOR DE JORNALISMO
MEMBROS EURÍPEDES ALCÂNTARA
FERNANDO C. MESQUITA DIRETOR DE OPINIÃO
FRANCISCO MESQUITA NETO MARCOS GUTERMAN
JÚLIO CÉSAR MESQUITA
LUIZ CARLOS ALENCAR
RODRIGO LARA MESQUITA
uma das grandes bandeiras da nova di-
reita é a liberdade de expressão. São
pessoas profundamente indignadas
com restrições que foram se consoli-
dando, em alguns ambientes sociais, a
respeito do que seria adequado dizer.
Todo esse fenômeno ganhou força
com a consolidação da internet e das
redes sociais.
O bolsonarismo soube tirar grande
proveito eleitoral da virada da popula-
ção à direita. Após incorporar ao seu
discurso político a chamada pauta de
costumes e aproximar-se dos evangéli-
cos, Jair Bolsonaro mudou seu pata-
mar eleitoral. Nas diversas eleições pa-
ra deputado federal até 2010, foi eleito
com cerca de 100 mil votos. Em 2014,
já com o novo discurso, obteve 460 mil
votos. Nas eleições seguintes, em
2018, fundiu essas bandeiras conserva-
doras com o antipetismo e foi eleito
presidente da República.
Se Jair Bolsonaro foi oportunista ao
explorar esse novo posicionamento
político-ideológico da população, é
inequívoco também que o bolsonaris-
mo contribuiu para o sucesso eleitoral
dessa nova direita. Mesmo não tendo
sido reeleito presidente da República,
Jair Bolsonaro foi neste ano importan-
te cabo eleitoral para muitos senado-
res e deputados federais. E é nessa rela-
ção com Jair Bolsonaro que está uma
das grandes dúvidas em relação a essa
nova direita eleita para o Congresso.
Ela pretende ser extensão do bolsona-
rismo, replicando seus métodos, ou al-
meja fazer, a partir de agora, uma nova
política?
Essa questão pode também ser ex-
pressa da seguinte forma: a nova direi-
nha para desacreditar o trabalho da im-
prensa – e, assim, minar a confiança dos
cidadãos no trabalho dos jornalistas co-
mo forma de turvar a compreensão da
realidade – não é um problema exclusivo
da sociedade brasileira. Diversos países
têm lidado com um dos grandes desafios
da atual quadra do século 21: o restabele-
cimento de um consenso social mínimo
acerca do que seja fato. A peculiaridade
do caso brasileiro é que Bolsonaro, como
chefe de Estado e de governo, pôs-se a
liderar essa cruzada contra a imprensa
profissional enquanto guardiã da verda-
de factual.
É típico de populistas que flertam
abertamente com o autoritarismo atacar
as instituições democráticas que, à sua
maneira, traçam uma linha muito bem
definida entre realidade e ficção. Não sur-
preende, portanto, que a imprensa profis-
sional, como guardiã dos fatos, tenha si-
do alçada por Bolsonaro à condição de
“inimiga do povo”. O mesmo aconteceu
com instâncias do Poder Judiciário, co-
mo guardião das leis, e com as universida-
des, como centros de produção de conhe-
cimento científico.
Essa disrupção provocada por Bolso-
naro impôs desafios não apenas ao jorna-
lismo, mas também aos tribunais supe-
riores. No afã de salvaguardar a democra-
cia nesses tempos esquisitos, ministros
que devem zelar pelas liberdades garanti-
das pela Constituição tomaram decisões
que, em alguns momentos, acabaram
A3
DIRETORA JURÍDICA
MARIANA UEMURA SAMPAIO
DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE
PAULO BOTELHO PESSOA
DIRETOR FINANCEIRO
SERGIO MALGUEIRO MOREIRA
ta está disposta a cumprir a Constitui-
ção de 1988? A rigor, trata-se de ponto
inegociável. Para participar do jogo de-
mocrático, é preciso respeitar as nor-
mas constitucionais, em especial, a se-
paração dos Poderes, as garantias fun-
damentais e o específico papel das For-
ças Armadas no Estado Democrático
de Direito. Sabe-se bem o lado que Jair
Bolsonaro escolheu. Toda sua trajetó-
ria política está marcada pelo revan-
chismo contra a Constituição de 1988.
Não é à toa sua constante apologia da
ditadura militar.
Falar em respeito à Constituição
não é remeter a questões teóricas. São
pontos muito concretos que estão em
jogo. A nova direita vai respeitar incon-
dicionalmente o resultado das elei-
ções? Ou somará vozes na confusão de
chamar de “liberdade de expressão” o
que é puro golpismo? A nova direita
vai respeitar o funcionamento livre e
independente do Judiciário? Ou pre-
tende fazer pressão política para acha-
car o Supremo Tribunal Federal? A no-
va direita vai permitir que os órgãos de
controle investiguem os indícios de cri-
me envolvendo a família Bolsonaro?
Ou vai defender a impunidade sob pre-
texto de paz social?
As eleições legislativas de 2022 mos-
traram a significativa ressonância que
o discurso político mais à direita tem
sobre grande parcela da população.
Agora, é preciso saber se essa turma é
de fato democrática: se é realmente
uma nova direita, comprometida com
a democracia e as liberdades, ou se é
mero disfarce da velha direita, retró-
grada e autoritária, incapaz de lidar
com quem pensa de forma diferente.l
por enfraquecê-las. A liberdade de ex-
pressão não é absoluta, como nenhum
direito é, mas é preciso ficar atento para
que o remédio contra o golpismo não se
torne veneno contra a democracia.
A despeito da magnitude de todos os
ataques que sofreu, o jornalismo profis-
sional resistiu e mostrou seu inestimável
valor para a construção de uma socieda-
de mais bem informada e, consequente-
mente, mais livre e participativa. Todo o
descalabro do governo Bolsonaro só veio
à luz pelo incansável trabalho de jornalis-
tas que não se intimidaram e desafiaram
as barreiras que foram erguidas para difi-
cultar o exercício da profissão.
Este jornal manteve a sociedade bem
informada durante um governo que se
notabilizou, entre outras razões, por sua
recalcitrante hostilidade à imprensa pro-
fissional. A revelação de casos como o
das “rachadinhas” da família Bolsonaro,
o famigerado “orçamento secreto”, “os
pastores do MEC” (esquema de corrup-
ção montado no Ministério da Educa-
ção), entre tantas outras reportagens, de-
ram ao Estadão papel de destaque no
trabalho da imprensa de lançar luz onde
o governo Bolsonaro queria que prevale-
cesse a sombra.
Em menos de um mês, Bolsonaro dei-
xará o poder. Já a imprensa profissional
seguirá onde sempre esteve: a serviço da
sociedade, publicando as informações
que apura com técnica, rigor ético e es-
pírito público.l

A4 O ESTADO DE S. PAULO
ESPAÇO ABERTO
O trabalho via
plataformas digitais
Rodrigo Nunes
assado o calor das
P eleições, governo
de transição em
marcha, é tempo de
retomar a pauta tra-
balhista, que perdeu protago-
nismo diante da urgência de
assuntos como a economia,
programas sociais e o meio
ambiente.
Há, no âmbito das relações
de trabalho, tema que tam-
bém precisa ser enfrentado
no horizonte próximo: a regu-
lamentação do trabalho via
plataformas digitais.
Também chamado de gig
economy (ou freelance eco-
nomy), em oposição à econo-
mia tradicional, o termo nas-
ceu no círculo dos músicos de
jazz, que se referiam às gigs co-
mo apresentações. A indepen-
dência e a autogestão dos
músicos acabaram por conso-
lidar a expressão, que hoje des-
creve o trabalho organizado
por plataformas digitais.
Um olhar em perspectiva
nos mostra que o crescimento
desse modelo de trabalho foi
exponencial. As atividades
não se limitam aos serviços de
transporte e entregas. São
também profissionais autôno-
mos, freelancers, temporá-
rios, profissionais liberais,
FÓRUM DOS LEITORES
Pobreza no Brasil
Números do IBGE
Impossível imaginar o Brasil um
país do futuro enquanto 62,5 mi-
lhões de pessoas, ou 29,4% da po-
pulação brasileira, estiverem em
situação de pobreza ou de extre-
ma pobreza, como divulgou o
Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) na sexta-fei-
ra (2/12) sobre dados de 2021. Se
não houver consenso e uma for-
ça-tarefa entre os governos fede-
ral, estaduais e municipais, nas
três esferas de poder, mais o em-
presariado em geral, os intelec-
tuais e todos aqueles que pos-
sam e estiverem dispostos a con-
tribuir, dificilmente sairemos
dessa situação ou evitaremos
uma piora desse quadro.
Jorge de Jesus Longato
financeiro@cestadecompras.com.br
Mogi-Mirim
Desigualdade
Obra do Estado
O brilhante artigo de Laura Kar-
educadores, artistas, uma infi-
nidade de atividades que
compõem a gig economy, ou
trabalho via plataformas.
Ocorre que os trabalhado-
res nesse regime não são consi-
derados empregados e, como
tal, não estão abrigados pelas
leis trabalhistas. Em teoria,
são livres como os músicos;
na prática, ao sabor da própria
sorte, são liderados por algo-
ritmos insensíveis aos seus di-
lemas e necessidades.
É inegável que a plataformi-
zação do trabalho é uma forma
de apropriação do trabalho in-
formal e que esse processo ga-
nha força em economias com
altas taxas de desemprego.
Sob outra perspectiva, o traba-
lho via plataforma foi e ainda é
salvaguarda de famílias de bai-
xa renda que, por razões múlti-
plas, perderam acesso ao mer-
cado formal de trabalho.
O desafio é o de estabele-
cer mecanismos de proteção
aos trabalhadores que não in-
viabilizem este modelo. É pos-
sível, senão necessário, conci-
liar livre-iniciativa e proteção
do Estado.
O assunto é espinhoso e,
também, um desafio para o Di-
reito do Trabalho. As leis tra-
balhistas existentes não são
O Estado reserva-se o direito de selecionar e resumir as cartas.
Correspondência sem identificação (nome, RG, endereço e telefone) será desconsiderada l E-mail: forum@estadao.com
puska Estado indutor de desigual-
dades (Estado, 2/12, B4) toca na
perversidade de inúmeras leis
que, no Brasil, fazem do Estado
um poderoso criador de desigual-
dades. É isto mesmo: são desi-
gualdades criadas por força de
leis. Em 1762, Rousseau dizia:
“Se me perguntarem como pude-
ram os homens chegar a tanta de-
sigualdade, eu não sei. Mas, se
me perguntarem como pôde a
desigualdade ser legitimada, isso
eu sei responder... A legitimação
veio das convenções criadas pe-
los próprios homens (as leis)”
(Jean-Jacques Rousseau, Discur-
so sobre a desigualdade, in Obras,
Rio de Janeiro, Ed. Globo, 1958).
José Pastore,
Universidade de São Paulo
www.josepastore.com.br
São Paulo
Estado de SP
Descaramento
Desde o tempo de nosso desco-
brimento, pelos portugueses, o
povo brasileiro é explorado, es-
poliado por um nível brutal de
Regulamentá-lo
com a régua da
legislação atual não
significará avanço
e pode resultar em
efeito oposto
capazes de oferecer soluções
ao novo modelo, nem mesmo
conseguem balizar as deci-
sões judiciais que tratam des-
te tipo de atividade.
A compreensão binária em-
pregado/não empregado sob a
qual se estabelecem as regras
de Direito do Trabalho não
captura o que se estabeleceu
impostos. Nunca vi uma autori-
dade nos três níveis de governo,
seja no Legislativo, no Executi-
vo e até no Judiciário, falar em
redução de despesas. Somente
falam em aumentos de salários,
benefícios, quinquênios, etc. Na
semana que passou, por exem-
plo, a Assembleia Legislativa de
São Paulo (Alesp) aprovou um
aumento de 50% no salário do
novo governador eleito e de
seus secretários. Que descara-
mento! Pobre povo brasileiro!
Heitor P. Procópio de Araújo
heitor.portugal@uol.com.br
São Paulo
A eficiência da Alesp
A Alesp foi muito eficiente quan-
do se tratou de dar aumento ao
governador e seus secretários.
Não pensou duas vezes. Quero
ver qual vai ser o empenho desta
Casa quando se tratar de dar au-
mento aos professores. Espero a
mesma eficiência e rapidez. Fica-
remos de olho.
Izabel Avallone
izabelavallone@gmail.com
São Paulo
nos últimos anos. De fato, é
bastante difícil de categorizar
os trabalhadores desta nova
modalidade como emprega-
dos; por outro lado, é inaceitá-
vel deixá-los ao relento jurídi-
co, com limitada proteção pre-
videnciária, longas jornada de
trabalho, sem remuneração
mínima, entre outras ques-
tões igualmente relevantes.
Os tribunais trabalhistas
não conseguirão sozinhos en-
contrar soluções para desfa-
zer esse nó. Suas ferramentas
são limitadas. Serão necessá-
rias ações conjuntas dos Pode-
res Executivo e Legislativo pa-
ra estabelecer um marco regu-
latório que promova um equi-
líbrio de forças.
Não se trata, ressalve-se,
de equiparar os direitos deste
grupo aos dos empregados;
há que criar uma figura jurídi-
ca específica, ponto de parti-
da para a elaboração de um
novo conjunto de direitos e
obrigações.
Notem que a regulamenta-
ção pode ser positiva também
para as empresas, na medida
em que pode lhes oferecer se-
gurança jurídica. Tome-se co-
mo exemplo a iniciativa do Mi-
nistério Público do Trabalho,
que em 2021 ingressou com
ação civil pública contra plata-
formas de transporte, e o des-
fecho desse embate é uma in-
cógnita. São muitos os sobres-
saltos que as empresas enfren-
tam a cada decisão judicial des-
favorável – decisões estas que
repercutem imediatamente
na cotação de suas ações,
quando listadas em Bolsa.
Na Califórnia, o assunto foi
objeto de plebiscito em 2020,
tamanha a controvérsia e sua
Segurança Pública
Mau sinal
A volta à normalidade política
no âmbito federal era esperada.
Comportamento semelhante se-
ria providencial no caso do go-
verno paulista, entregue a um
fluminense com parco conheci-
mento do Estado que adminis-
trará. Ao cumprimentar, de
pronto, o presidente eleito, Tar-
císio de Freitas deu um passo im-
portante. Porém, como indica o
editorial do Estado Mau sinal
em SP (2/12, A3), parece que não
ficará livre de contaminar seu go-
verno com distopias fascistoi-
des. No momento em que ainda
alguns extremistas esperneiam
por ruas e estradas, seria boa es-
tratégia trazer o mundo político
também de volta a São Paulo.
Adilson Roberto Gonçalves
prodomoarg@gmail.com
Campinas
O futuro secretário
Senhor governador eleito de SP,
colocar um capitão para chefiar
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
relevância; a votação resultou
na criação da Proposition 22
(ou Proposição 22), primeira
iniciativa norte-americana de
enfrentamento da questão do
trabalho em plataformas.
Tudo leva a crer que este
formato seguirá em trajetória
ascendente. A tendência pare-
ce ser irrefreável. Ignorar o fe-
nômeno culminará com a pre-
carização destas relações de
trabalho. Não havendo crité-
rios claros, o trabalho via pla-
taforma vai se agigantar, amea-
çando os contratos de traba-
lho hoje formais e fazendo le-
tra morta de toda a estrutura
protetiva.
A tarefa não é simples e não
bastará replicar conceitos pre-
téritos incompatíveis com es-
te novo cenário. Em outras pa-
lavras, regulamentar com a
régua da legislação atual não
significará avanço e pode re-
sultar em efeito oposto. Será
necessária uma compreensão
multidisciplinar ampla, para
que novos conceitos jurídicos
sejam formulados.
É de esperar que a socieda-
de brasileira seja convocada
para o debate e que propostas
não sejam apresentadas da
noite para o dia, gestadas em
gabinetes a portas fechadas. A
discussão deve ser realizada
em praça pública, com a refle-
xão e a transparência que se
espera na condução de assun-
tos de interesse coletivo.
Há que pavimentar o cami-
nho para os novos modelos,
assegurando sua viabilidade,
garantindo a dignidade do tra-
balho e os patamares civiliza-
tórios. l
ADVOGADO
coronéis e delegados de polícia
com os seus egos tremendamen-
te inchados é de uma falta de in-
teligência e gestão enorme.
Além disso, o tal capitão já quer
ir contra a Constituição, que atri-
bui à Polícia Civil a competência
para a prática da polícia judiciá-
ria. Ora, a Polícia Militar é uma
boa organização, mas, se formos
dar uma nota para sua atividade-
fim, o policiamento preventivo
e ostensivo, essa nota não passa
de 5. Quer melhorar? Sugestões:
passe o Corpo de Bombeiros pa-
ra o comando da Defesa Civil, afi-
nal, essa é sua atividade-fim; e
acabe com a justiça militar (não
existe crime militar, existe infra-
ção disciplinar, que pode ser apu-
rada no âmbito da Corregedo-
ria). Crime é crime e para isso
existem as varas criminais. Colo-
que civis na administração da
PM e deixe soldados e demais na
sua atividade-fim, o policiamen-
to preventivo e ostensivo.
José Renato Nascimento,
policial aposentado
jrnasc@gmail.com
São Paulo
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
ESPAÇO ABERTO
‘Rios voadores’?
Claudio de Moura Castro
stamos começan-
E do a entender o im-
pacto das florestas
no aquecimento
global. Mas cá, nas
nossas terras, não é apenas isso,
pois as matas também determi-
nam o regime de chuvas e a exis-
tência de água nos canos.
Imaginemos um sólido cida-
dão, palpitando sobre o desma-
tamento da Amazônia nas re-
des sociais. Para ele, é uma ativi-
dade econômica como outra
qualquer, traz lucros e cria em-
pregos. Ademais, com tantas ár-
vores lá, que falta vão fazer algu-
mas cortadas?
Porém, recordemos o que
fez naquele dia. Tomou uma
longa chuveirada, mandou la-
var o carro e regou o enorme gra-
mado. E a água consumida pela
vaca que produziu o suculento
bife comido no almoço? E o seu
engomado jeans, que exigiu 5
mil litros para ser produzido?
Para ele, água na torneira e
árvores na Amazônia são mun-
dos separados. Mas não é assim.
O cano que abastece a sua casa
traz água de um rio que foi abas-
tecido por nascentes que depen-
dem das chuvas. Mas de onde
provém a água dessas chuvas?
De um gigantesco rio, vindo da
Amazônia.
Mas como? O mapa do Brasil
não mostra o tal rio. É que a car-
ta só registra o que está no solo
e esse rio é voador. São as pesa-
TEMA DO DIA
Seleção Brasileira
Alex Telles e Gabriel Jesus têm lesões no
joelho e estão fora da Copa
O lateral-esquerdo Alex Telles e o atacan-
te Gabriel Jesus estão fora da Copa do Mundo
do Catar. Ambos foram diagnosticados com le-
são no joelho direito e não se recuperam a tem-
po de retornar para os duelos de mata-mata. l
Av. Eng. Caetano Álvares, 55 – CEP: 02598-900 – São Paulo - SP l (11) 3856-2122 l Fax: (11) 3856-2940 l E-Mail: forum@estadao.com l Central do assinante: Capital e regiões metropolitanas: 4003-5323 l Demais Localidades: 0800-014-77-20 l
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das nuvens da Região Norte, mi-
grando em direção ao sul.
Grandes volumes de nuvens
se formam nas florestas do cen-
tro da África. Empurradas pelos
ventos, cruzam o Oceano Atlân-
tico, chegando à região ama-
zônica. Diante do paredão dos
Andes, parte delas é defletida pa-
ra a América Central. São nu-
vens enfurecidas, dando ori-
gem aos furacões. Nós, do sul,
tivemos mais sorte, pois as que
nos chegam são mansas e tor-
nam mais abundantes as nossas
chuvas.
Delírio de meteorologistas?
Não parece haver controvérsias
a respeito.
O que o nosso ingênuo cida-
dão não sabe é que, sem flores-
tas, as chuvas escorrem rápido
para os rios e se vão. Portanto,
não contribuem para o ciclo de
sucessivas evaporações, nu-
vens e chuvas. Sendo assim, en-
colhem os rios – cuja água, vin-
da da Amazônia, rega o seu lin-
do gramado. Ou seja, cortando
a Floresta Amazônica, vai faltar
água mais para o sul. Principal-
mente, na agricultura, a maior
consumidora dela. O desmata-
mento provoca uma grande que-
da no volume do rio voador.
Um fazendeiro cortou as
suas matas nativas para soltar
um gadinho pé-duro. Ignora
que a devastação de 80% da Ma-
ta Atlântica levou a um proces-
so de alteração no regime das
ALI HAIDER/ EFE
6.895
Interações
O ESTADO DE S. PAULO
mas, essa caixa d’água age co-
Já existem mais de 30 mo uma barragem, impedindo
países em risco de que uma enorme quantidade
guerra por causa de de água se escoe rapidamente,
água. O Brasil não tem sem ser aproveitada. Ou seja, a
floresta guarda a água e regula-
ainda problemas dessa riza o fluxo dos rios.
gravidade, mas, afora Como perdemos grande par-
a Amazônia, está no te da Mata Atlântica, nada disso
acontece no mesmo ritmo. O re-
limiar de tê-los sultado foi a redução no fluxo
de água dos nossos rios. A exem-
plo, como resultado dos desma-
tamentos, encolheram dramati-
camente o Rio das Velhas, o São
Francisco e o Doce.
No lindo Museu do Ouro,
em Sabará, havia em exposição
uma enorme âncora. É que, an-
tes de cortarem as matas, o hoje
raquítico Rio das Velhas era na-
vegável, até pelos icônicos na-
vios do Rio São Francisco.
Alguns bobocas afirmam
chuvas semelhante ao da Ama- com ânimo desafiador: se Eu-
zônia. Quando caem na flores- ropa e Estados Unidos corta-
ta, a absorção pelo solo é lenta. ram suas florestas, por que ago-
Lá fica, em ambiente úmido, len- ra decretam que não podemos
tamente evaporando. Formam- fazer o mesmo? Errado. Quem
se, assim, as nuvens. tratou mal o meio ambiente
Do avião, vislumbramos foi o Oriente Próximo. Foi o
uma bela floresta. Mas não con- berço da nossa civilização, em
seguimos ver a gigantesca cai- razão da sua fertilidade. Mas
xa d’água que é o solo úmido onde o solo foi maltratado es-
sob ela. No ciclo da água, essa tão hoje algumas das regiões
represa subterrânea retém o mais áridas do globo. E na Áfri-
escoamento. Isso permite que ca, o Deserto do Saara avança
migre para os lençóis freáti- célere. Na China, o de Gobi dis-
cos, que, por sua vez, abaste- para incontrolável.
cem as nascentes. Quando as A Europa também cortou
chuvas são fortes ou fortíssi- muitas árvores. Mas, como ma-
PRODUTOS DIGITAIS
Comentários de leitores no
portal e nas redes sociais
l “Cada jogo é menos um ou menos dois ,
está difícil.”
LUCAS BARBOSA
l “Lamento muito e que a recuperação seja
boa.”
ALINE DE PAULA
Paladar
l “Por que tantos jogadores se lesionando?
Tem a ver com despreparo físico ou é azar?”
VANESSA LOPES
l “Se a cada jogo a gente perder dois jogado- Bem-estar feminino
res, vamos chegar na final com metade dos
convocados.”
DIEGO DAMÁZIO
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A5
deira era matéria-prima insubs-
tituível, já no século 19, come-
çou a inverter-se o processo. A
França, desde então, dobrou a
sua área de florestas (e as chu-
vas aumentaram!). A Suíça, em
1876, passou uma lei draconia-
na: cortou? Plantou! Os Esta-
dos Unidos perderam relativa-
mente pouco de sua cobertura
florestal e hoje têm um projeto
de plantar 2 trilhões de árvores.
Esses países pelaram menos e
cuidaram mais cedo das matas.
Nos antigos povos, quem ti-
nha ouro comprava tudo. Com
a Revolução Industrial, quem ti-
nha minério e carvão comprava
o ouro que desejasse. Com o pe-
tróleo, são outros os poderosos.
Mas, em futuro próximo, tu-
do indica que a riqueza maior
será a água doce. Ela é pouquíssi-
ma no mundo e escasseia cada
vez mais. Já existem mais de 30
países em risco de guerra por
causa dela. Os Estados america-
nos do sudoeste, se fossem paí-
ses, estariam se engalfinhando.
O Brasil não tem ainda pro-
blemas de água dessa gravida-
de, mas, afora a Amazônia, está
no limiar de tê-los, por causa da
persistente eliminação das flo-
restas. Os estudos recentes fa-
zem predições bem pessimis-
tas. Contudo, a solução é sim-
ples: proteger as árvores para
proteger as águas. l
M.A., PH.D., É PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO
FRANCISCO TOLEDO/DIVULGAÇÃO
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A6
POLÍTICA
Novo governo
Nome para a Defesa de Lula, Múcio
‘abre portas’ a empresas no governo
Conhecido pela habilidade e pelo trânsito nos diferentes espectros partidários, ministro
aposentado do TCU afirma que sua consultoria faz ‘engenharia política’ para os clientes
LUIZ VASSALO
Hábil negociador político e no-
me forte para comandar o Mi-
nistério da Defesa na futura
gestão Luiz Inácio Lula da Sil-
va, o ex-presidente do Tribu-
nal de Contas da União (TCU)
José Múcio Monteiro “abre
portas” ao setor privado em ór-
gãos do governo. O ministro
aposentado presta, ainda, con-
sultoria a empresas com inte-
resses na Corte em que atuou
por mais de dez anos.
Múcio entrou no ramo após
deixar o TCU – em aposentado-
ria antecipada, em dezembro
de 2020. No mês seguinte,
abriu a Jmmf Consultoria Lt-
da, com capital de R$ 10 mil,
em uma sala comercial na Asa
Norte, em Brasília. No regis-
tro, consta a atividade de “con-
sultoria em gestão empresa-
rial”. Em fevereiro deste ano,
inaugurou uma filial em um
edifício comercial no Recife.
Ao Estadão, Múcio afir-
mou que a consultoria faz “en-
genharia política” para clien-
tes. “Eu uso meu network de
40, 50 anos de política e abro
portas, marco para a pessoa
ser recebida”, afirmou. Ele re-
chaça a pecha de lobista:
“Lobby é se eu cobrar por êxi-
to. Eu não cobro por êxito. Eu
não tenho premiação”.
No âmbito de processos no
TCU, a contratação da Jmmf
Consultoria é mencionada pa-
ra prestar serviços à Segurado-
ra Líder, que já foi responsável
pela administração do DPVAT
– o seguro obrigatório para mo-
toristas –, em ao menos duas
atas de reuniões a que a repor-
tagem teve acesso. Uma delas
é de 10 de agosto deste ano e a
outra do dia 18 do mesmo mês.
Na última década, o TCU
apurou uma série de suspeitas
de irregularidades em contra-
tos da Líder na gestão do segu-
ro usado para indenizar víti-
mas de acidentes de trânsito,
cujo montante recolhido é de
R$ 4 bilhões por ano. Múcio foi
relator de um pedido do Con-
gresso para auditar o DPVAT,
em 2018. Nenhum dos casos re-
sultou em conclusão que levas-
se a seguradora a ser punida.
O presidente Jair Bolsona-
ro, porém, chegou a suspender
a arrecadação em uma investi-
da contra o seguro. Em 2020, o
consórcio da Líder foi dissolvi-
do pelas empresas integrantes
e o TCU determinou que o go-
verno continuasse a prover o
seguro, mesmo que em um
contrato emergencial com a se-
guradora. A gestão Bolsonaro,
então, passou para a Caixa Eco-
nômica Federal a administra-
ção dos recursos. O caso está
prestes a parar na Justiça,
além de pendente de análise
na Corte de contas. A Líder
quer voltar a operar o DPVAT.
‘CONSISTENTE’. Em um trecho
do contrato de Múcio com a
Líder consta que o ministro
aposentado presta “serviços
de consultoria consistente em
gestão empresarial e apoio”.
Pessoas ligadas às seguradoras
afirmaram ao Estadão que, na
prática, ele seria responsável
por pareceres nos processos
que estão no TCU.
Hoje, Múcio disse ter con-
trato de R$ 50 mil com a Segu-
radora Líder. O ministro apo-
sentado é engenheiro de for-
mação, não advogado, e, ape-
sar de constar duas vezes nas
atas produzidas e endossadas
pelas empresas que o contrata-
ram, ele negou atuar no TCU.
“Se eles puseram na ata, é
por conta e risco deles. Mas eu
não vou cuidar (dos processos).
Até porque os ministros não re-
cebem isso (a atuação de ex-mi-
nistros) bem. Nem nos meus re-
latórios de compliance, nem
nas empresas tem nenhuma ci-
tação a lobby, nem Congresso,
nem TCU, nem absolutamen-
te nada”, disse.
Anúncio
Lula já afirmou que
pretende anunciar Múcio
para a Defesa após a
diplomação no TSE
Múcio afirmou, ainda, pres-
tar consultoria por R$ 18 mil à
Federação das Seguradoras
(Fenaseg). Procuradas, Líder e
Fenaseg não se manifestaram.
ÊXITO. No time de advogados
da Líder, que contratou Mú-
cio, está um amigo do ministro
aposentado, o ex-correligioná-
rio e colega de bancada do PTB
de Pernambuco na Câmara
Luiz Piauhylino. O Estadão te-
ve acesso aos valores do con-
trato do ex-parlamentar, que
pode chegar a R$ 4,8 milhões a
Múcio passou a assessorar empresas em Brasília após sair do TCU
depender do êxito nas ações.
Piauhylino tem parentesco
distante com Múcio e, em co-
mum, acumula vasta experiên-
cia no TCU. Desde que deixou
de ser deputado, em 2007,
Piauhylino atua na Corte, espe-
cialmente para empresas do se-
tor de infraestrutura. Tam-
bém teve processos julgados
pelo ministro aposentado.
Múcio disse ter ajudado re-
centemente Piauhylino a amar-
rar agendas com autoridades
do governo, mas negou ter rela-
ção de trabalho com o ex-depu-
tado no caso das seguradoras.
“Se eu tivesse negócios com al-
gum advogado, eu teria com
meu filho, que é advogado.
Mas eu fujo disso”, afirmou.
Procurado, Piauhylino não
se manifestou. Questionado
sobre se Múcio tem atuado em
nome de empresas, o TCU não
se pronunciou.
MAIS CONTRATOS. Em outubro
do ano passado, o portal UOL
revelou que Múcio foi contra-
tado pela fabricante de cigar-
ros Philip Morris para atuar
em nome da multinacional pe-
rante à Agência Nacional de Vi-
gilância Sanitária (Anvisa). Na
época, a empresa havia sofrido
uma derrota no órgão regula-
dor, em uma tentativa de regis-
trar um produto relacionado a
cigarros eletrônicos.
Procurada, a Phillip Morris
JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL–19/6/2019
afirmou que “confirma que o
ex-ministro José Múcio Mon-
teiro presta serviço de consul-
toria à empresa”.
Assim que deixou o TCU, já
em dezembro de 2020, Múcio
tornou-se conselheiro admi-
nistrativo da FSB, agência de
comunicação com histórico de
contratos no governo federal.
A empresa afirmou que o “ex-
ministro José Múcio Monteiro
é consultor da FSB Comunica-
ção na área de análise política”.
NOVA MISSÃO. Agora, na imi-
nência de assumir o Ministério
da Defesa de Lula, Múcio deve
deixar a Jmmf Consultoria e
abandonar o mercado privado.
Ele foi convidado pelo presiden-
te eleito para comandar a pasta.
O petista confirmou a interlocu-
tores, em reuniões ao longo da
semana passada, que vai anun-
ciá-lo após ser diplomado pelo
Tribunal Superior Eleitoral (T-
SE), no próximo dia 12. Múcio
evita falar abertamente sobre o
assunto antes que o presidente
eleito confirme seu nome.
O ministro aposentado deve-
rá assumir uma pasta que repre-
senta uma das grandes dificul-
dades para o próximo governo.
Lula e o PT têm relação trunca-
da com a cúpula do Exército,
onde Múcio circula com desen-
voltura. Como mostrou o Esta-
dão, ele virou uma espécie de
“curinga” para a equipe da tran-
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
Deputado por cinco
mandatos e ministro
de Lula por dois anos
José Múcio Monteiro Filho,
de 74 anos, foi deputado
federal por Pernambuco
durante cinco mandatos.
Conhecido de longa data
do presidente eleito Luiz
Inácio Lula da Silva, Múcio
foi ministro das Relações
Institucionais de 2007 a
2009, no segundo mandato
do petista na Presidência.
Múcio assumiu como minis-
tro do Tribunal de Contas
da União (TCU) logo após
deixar a pasta no governo
federal. No TCU, ficou de
2009 a 202o, antecipando a
aposentadoria. Agora, de
novo com Lula, pode voltar
à Esplanada, no comando
do Ministério da Defesa. l
sição e chegou a ser cotado até
para a articulação política.
TRÂNSITO. As credenciais de
Múcio, seja na atuação na inicia-
tiva privada, seja para assumir
a Defesa, advêm da longa carrei-
ra política, iniciada nos anos
1970 como prefeito de Rio For-
moso (PE). Ele foi ainda secre-
tário de Estado, acumulou cin-
co mandatos de deputado fede-
ral e foi ministro da Secretaria
de Relações Institucionais de
Lula antes de ser indicado pelo
petista ao TCU, em 2009.
Credencial
Múcio tem longa trajetória
política, iniciada nos anos
1970, quando se elegeu
prefeito de Rio Formoso
O trânsito se dá não só pela
esquerda. Múcio passou pelo
extinto PDS, PFL, DEM, oriun-
dos da Arena – partido da dita-
dura militar. Elegeu-se deputa-
do em coligação com Fernan-
do Henrique Cardoso nos anos
1990. Mais recentemente, teve
proximidade com Bolsonaro e
foi um dos agentes políticos
que se esforçaram para que o
mandatário abraçasse a vacina
contra a covid. Não deu certo,
e Múcio assumiu postura mais
crítica ao governo. Agora, de
novo, se volta para Lula. l
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
um jantar na casa da se-
N nadora Kátia Abreu, o
presidente eleito Lula
brincou: se tivesse que
satisfazer todas as vontades do
PT, teria de criar cem ministé-
rios! E deu dicas de que José Mú-
cio Monteiro (do velho PFL) irá
para a Defesa e Flávio Dino (ex-
PCdoB) para Justiça, como já vi-
nha sinalizando o petista Fer-
nando Haddad na Fazenda. En-
tre os 20% que ainda não estão
na sua cabeça, destaca-se o no-
me para o Itamaraty.
Lula disse que não pretende
seguir a lista tríplice para a Pro-
curadoria-Geral da República e
garantiu que o ministro da Defe-
sa será civil, indicando preferên-
SEG. Carlos Pereira e Felipe Moura Brasil (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l SÁB. João Gabriel de Lima l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo
Notícia-crime
Supremo tem maioria contra queixa de Bolsonaro
O Supremo Tribunal Federal
(STF) formou maioria para
manter a decisão que rejeitou a
notícia-crime do presidente
Eliane Cantanhêde
Foco no Itamaraty
cia por Múcio, ex-presidente do
TCU. Kátia, presidente da Co-
missão de Relações Exteriores
do Senado, provocou: “Então,
por que o chanceler tem de ser
diplomata?”
Aconselhado por Celso Amo-
rim a escolher alguém da carrei-
ra, Lula respondeu que quer
prestigiar os diplomatas, como
fez nos seus governos anterio-
res. Kátia rebateu, com razão,
que o próprio Itamaraty prefere
alguém com força política e
próximo do presidente, para de-
fender o orçamento e os interes-
ses da casa e ser recebido com
honras no exterior.
“Um Nelson Jobim para o Ita-
maraty”, pensei, ao saber da his-
Jair Bolsonaro (PL) por supos-
to abuso de autoridade do mi-
nistro Alexandre de Moraes.
Os ministros Dias Toffoli,
E-mail: eliane.cantanhede@estadao.com; Twitter: @ecantanhede
tória. Com prestígio e personali-
dade para lutar pelos pleitos, se-
ja das Forças Armadas, no caso
de Jobim, seja do Itamaraty, no
caso de Amorim e, agora, Jaques
A política externa
de Lula foi e
será ambiciosa e
audaciosa, bem além
das pautas bilaterais
Wagner, um dos melhores qua-
dros do PT. Lula se encontra
amanhã com Jake Sullivan, con-
selheiro de Segurança dos EUA,
e Juan Gonzalez, assessor de
Joe Biden para o Hemisfério Oci-
Carmen Lúcia, Ricardo Lewan-
dowski, Edson Fachin, Luiz
Fux, Luís Roberto Barroso, Gil-
mar Mendes, Rosa Weber e An-
dental. Wagner, senador, ex-mi-
nistro e ex-governador da Bahia,
já estava na agenda de ambos e
estará a reunião de Lula com
eles. Para bom entendedor...
Se for um diplomata, o cota-
do é o embaixador Mauro Viei-
ra, último chanceler de Dilma
Rousseff, maltratado no atual
governo e próximo de Amorim
(que vai para a Secretaria de As-
suntos Estratégicos, no Planal-
to). Lula, porém, terá quase 40
ministérios e precisa de... minis-
tras! Foco, pois, nas embaixado-
ras Maria Luiza Viotti, ex-ONU,
e Maria Laura da Rocha, que es-
tá na Romênia. Candidatas à se-
cretária-geral, à embaixada em
Washington e, por que não?, ao
dré Mendonça votaram para re-
jeitar um recurso do presiden-
te. O julgamento ocorre no ple-
nário virtual. Nessa modalida-
de, os ministros registram os po-
sicionamentos na plataforma
online, sem necessidade de reu-
nião ou debate do colegiado.
POLÍTICA A7
cargo de chanceler.
Com Biden, antes do Natal,
Lula terá foco bilateral: demo-
cracia, ambiente, comércio, de-
fesa, segurança. E multilateral: a
mediação de paz entre Rússia e
Ucrânia ensaiada pela Turquia,
com quem o Brasil tentou uma
saída para o programa nuclear
do Irã; e reforma do Conselho
de Segurança da ONU, velha
bandeira de Lula/Amorim, que
traz à tona o embaixador Anto-
nio Patriota. Pretensão demais?
Pode ser. Mas a política externa
de Lula foi e será assim: ambicio-
sa e audaciosa. l
COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO,
DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL
GLOBONEWS EM PAUTA
Só os ministros Dias Toffoli,
relator do processo, e André
Mendonça apresentaram voto
escrito. Toffoli disse que Bolso-
naro não trouxe fundamentos
novos e se limitou a reiterar “ar-
gumentos anteriormente ex-
postos”. l RAYSSA MOTTA

A8 POLÍTICA
TRANSIÇÃO
‘Revogaço’ desenhado por equipe
de Lula esbarra no Congresso
Reversão de normas
editadas pelo governo
Bolsonaro abrange
áreas como educação,
ambiente, saúde e
desarmamento
BEATRIZ BULLA
LAURIBERTO POMPEU
BRASÍLIA
ADRIANA FERRAZ
SÃO PAULO
Debatida antes mesmo da vitó-
ria de Luiz Inácio Lula da Silva,
a lista de revogações de medi-
das adotadas pelo governo Jair
Bolsonaro abrange áreas co-
mo desarmamento, educação,
saúde, ambiente e economia.
São regras editadas ao longo
dos últimos quatro anos que, a
partir de 2023, podem ser anu-
ladas ou substituídas com uma
canetada do presidente eleito.
A extensão do “revogaço”, po-
rém, dependerá de negociação
com o novo Congresso.
Parlamentares de oposição
querem ser chamados para tra-
tativas. Em café da manhã na
casa do presidente da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL), na quar-
ta-feira passada, integrantes
da chamada “bancada da bala”
disseram que estão atentos à
pretendida mudança na políti-
ca armamentista de Bolsona-
ro. Eles ameaçam resistir.
“Não será da maneira como
Lula acha que vai (ser). Temos
um Congresso conservador e
não vai prosperar um revoga-
ço”, afirmou o deputado fede-
ral eleito Alberto Fraga (PL-
DF), político próximo de Bol-
sonaro que volta à Câmara na
próxima legislatura.
O encontro dos deputados
com Lira ocorreu horas antes
de o presidente da Câmara se
reunir com Lula. O petista pas-
Grupos da transição abrem disputa
por agências e secretarias do governo
BRASÍLIA
Com a apresentação dos primei-
ros relatórios dos grupos técni-
cos criados pela equipe de transi-
ção do governo eleito, o núcleo
político de Luiz Inácio Lula da
Silva terá que decidir agora dis-
putas abertas entre diferentes
áreas por agências e secretarias.
Segundo o Estadão/Broadcast
apurou, uma das principais bri-
gas é para decidir quem ficará
com a Agência Nacional de
Decretos
sou a semana em Brasília em
articulações para construir a
base do governo. Lula conver-
sa com líderes do MDB, PSD e
União Brasil para tentar atraí-
los e anunciou apoio à reelei-
ção de Lira, o que abre diálogo
também com o PP.
BASE. A dimensão da base será
determinante para diminuir a
resistência a um revogaço. A
bancada da bala, por exemplo,
será composta por 44 deputa-
dos em 2023 – dos quais sete
deles são do União Brasil. Se-
gundo Fraga, os parlamenta-
res estão abertos a negociar,
mas, para isso, Lula não deve
“atropelar” o Congresso. “Mui-
ta coisa pode ser conversada e
certamente o governo vai en-
tender”, disse.
Trincheira
Deputados da bancada da
bala e ligados ao
agro dizem que governo
eleito terá de dialogar
Coordenador do grupo, Ca-
pitão Augusto (PL-SP) afir-
mou que a bancada tem tama-
nho para paralisar os trabalhos
na Câmara. “Se não tivermos a
maioria, temos número sufi-
ciente para pegar o ‘kit obstru-
ção’ e não deixar tramitar na-
da, nem nas comissões nem no
plenário”, disse ele, que passa-
rá o comando da bancada para
Fraga no próximo ano.
De acordo com o advogado
Marco Aurélio Carvalho, coor-
denador do grupo de Justiça e
segurança Pública da transi-
ção, Lula não fará nenhum re-
vogaço sem ouvir quem milita
na área. “A revogação será gra-
dual, escalonada no tempo. Há
decretos que vão ser revoga-
dos de imediato e outros nos
Águas (ANA). O Meio Ambien-
te quer a autarquia, mas tam-
bém são candidatos Desenvolvi-
mento Regional e Cidades.
No governo Jair Bolsonaro, a
agência é vinculada ao Ministé-
rio do Desenvolvimento Regio-
nal (MDR), que deverá ser divi-
dido em dois pela administra-
ção petista, com a criação tam-
bém da pasta da Cidades. O ór-
gão ganhou maior relevância
desde 2020, após a aprovação
do Marco Legal do Saneamen-
to. A lei atribuiu à ANA a missão
Medida não pode gerar
insegurança jurídica,
afirma professor
O professor Floriano de Aze-
vedo Marques, ex-diretor da
Faculdade de Direito da
USP, disse que do ponto de
vista legal é possível promo-
ver revogações respeitando o
mesmo status hierárquico da
norma que se quer alterar.
“Se a regra foi determina-
da por meio de um decreto é
necessário outro decreto pa-
ra revogá-la. Se foi por meio
de portaria, outra portaria
pode modificá-la. Do mesmo
modo, uma lei se altera com
outra lei”, disse. No último
caso, o especialista em direi-
cem primeiros dias do gover-
no”, afirmou ele, sobre as pro-
postas relacionadas à política
de desarmamento.
A intenção é reverter, em
pouco tempo, ao menos os de-
cretos 9.845, 9.846 e 9.847, que
flexibilizam a compra e o porte
de armas. “Aqueles que têm ar-
mas para se defender em pro-
priedades rurais e os CACs (ca-
çadores, atiradores e colecionado-
res) de verdade não têm moti-
vo para temer”, disse Carvalho.
PRECEDENTE. Revogaço em iní-
cio de gestão tem um prece-
dente internacional que inspi-
ra o futuro governo. Horas de-
pois de tomar posse como pre-
sidente dos Estados Unidos,
Joe Biden assinou 17 medidas
que alteraram políticas adota-
das no governo Donald
Trump. “O estrago que Trump
fez na democracia americana é
o mesmo que Bolsonaro fez
(no Brasil)”, afirmou Lula a jor-
nalistas na sexta-feira.
de editar diretrizes nacionais de
regulação de água e esgoto –
área que historicamente sofreu
com fragmentação de regras.
Outra sobreposição de pedi-
dos foi para a criação de uma no-
va Secretaria de Biodiversidade,
responsável por políticas para a
exploração sustentável das ri-
quezas naturais. Tanto o grupo
do Meio Ambiente quanto o da
Indústria e Comércio Exterior
sugeriram a criação de estrutu-
ras com objetivo parecido. A de-
cisão final será da área política.
to público afirmou que uma
medida provisória tem o po-
der de sustar os efeitos de
uma lei, mas apenas por pra-
zo determinado. Depois, será
preciso aval do Congresso.
Marques alertou, porém,
que o pretendido revogaço
não pode gerar vácuo norma-
tivo ou mesmo insegurança
jurídica. “Antes de se anular
determinada regra é preciso
deixar claro o que entrará no
lugar, a não ser que a inten-
ção seja somente dar fim a
uma liberação, como no caso
das armas, ou a um sigilo de
dados públicos. Mas, se a
ideia é estipular outra situa-
ção legal, então será preciso
debate público, transparên-
cia e tempo.” l B.B, A.F E L.P.
É nesse contexto que o novo
governo pretende revogar tam-
bém 20 medidas de comércio
exterior, como informou a Colu-
na do Estadão. Estão na mira,
ainda, atos que estabeleceram
protocolos sanitários sem com-
provação científica durante a
pandemia da covid-19, além de
cem decretos e atos normati-
vos relacionados à proteção am-
biental, como medidas que im-
pedem a aplicação de multas.
AMBIENTE. Escolhido para co-
mandar a bancada ruralista a
partir do próximo ano, o depu-
tado Pedro Lupion (União Bra-
sil-PR), afirmou, no entanto,
que o PT indicou que vai abrir
espaço para o diálogo. Segun-
do ele, as revogações na área
de fiscalização ambiental não
serão feitas de forma brusca.
“O novo governo tem envia-
do sinais de que não quer radi-
calizar”, disse. Ele, no entanto,
se queixou que, ao mesmo tem-
po em que emite essas mensa-
MINISTRO. Pesará na decisão
das estruturas de cada ministé-
rio a definição de quem será o
titular das pastas. No Meio Am-
biente, a avaliação é que a depu-
tada federal eleita Marina Silva
(Rede-SP) só não será ministra
“se não quiser”. O relatório do
setor citará entre as sugestões
criar uma Autoridade do Clima,
que responda diretamente ao
presidente, e Marina pode ser a
escolhida para o novo órgão.
A avaliação é que é necessá-
ria uma estrutura acima dos mi-
nistérios para tocar compromis-
sos ambientais que impactam
em outras áreas, como agricultu-
ra e energia. Isso tornaria mais
fácil cumprir compromissos am-
bientais assumidos pelo País.
Além disso, há GTs que não
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
gens, petistas têm agido con-
tra projetos de interesses dos
ruralistas no Congresso.
O deputado citou a tentati-
va da Comissão de Agricultura
do Senado de votar o projeto
que flexibiliza o uso de agro-
tóxicos. A análise foi adiada
após os senadores Humberto
Costa (PT-PE) e Eliziane Ga-
ma (Cidadania-MA), ambos
aliados de Lula, pedirem que o
tema seja discutido com o go-
verno eleito.
SOCIEDADE CIVIL. Lula tam-
bém tem sido pressionado por
entidades da sociedade civil. A
iniciativa Uma Concertação pe-
la Amazônia, por exemplo,
propõe uma agenda de desen-
volvimento sustentável elabo-
rada por mais de 400 colabora-
dores e pensada para ser coloca-
da em prática nos cem primei-
ros dias da gestão. Apresenta-
das aos diversos grupos da equi-
pe da transição, as sugestões es-
tão traduzidas em projetos de
lei, decretos e resoluções.
De acordo com o sociólogo
Bruno Gomes, que coordenou
o grupo de trabalho de minera-
ção da iniciativa, as propostas
são resultado de um vasto estu-
do que não apenas visa a revo-
gação de regras em vigência,
mas também alterações. “Não
dá para simplesmente revogar,
tem de substituir por algo e
não deixar nenhum setor sem
regras”, disse Gomes.
Apesar da pressão de con-
gressistas e da sociedade civil,
o entorno de Lula quer deixar
a negociação sobre mudanças
normativas para o próximo
ano. A avaliação é que a fase
atual é de propor a revogação,
por parte das equipes técnicas,
mas caberá a Lula manejar a
execução das sugestões de
acordo com condições políti-
cas. “Todos os grupos de tran-
sição encaminharam aquilo
que acham que é importante
para a sociedade, para o setor
produtivo, para as dinâmicas
de governo”, afirmou a deputa-
da federal eleita Marina Silva
(Rede-SP), do grupo do Meio
Ambiente na transição. l
fazem questão de pleitear ór-
gãos para suas pastas em 2023. É
o caso dos Povos Originários, cu-
jo grupo adiantou que a Funda-
ção Nacional do Índio (Funai)
continuará no Ministério da Jus-
Divisão
Redistribuição de órgãos
em novo Ministério vai
depender da força do
titular de cada pasta
tiça e a Secretaria Especial de
Saúde Indígena, na pasta da Saú-
de. Já o Conselho de Controle
de Atividades Financeiras deve
ficar no Banco Central. l LORENNA
RODRIGUES, AMANDA PUPO, EDUARDO RODRI-
GUES, CÉLIA FROUFE E EDUARDO GAYER
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022 POLÍTICA A9

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 DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
A10 POLÍTICA O ESTADO DE S. PAULO

J. R. Guzzo
Terra arrasada
pós três anos inteiros como o acesso aos autos, ou sa- para defender “a democracia” vio, objetivamente, que não es- pela ilegalidade. É um clássico

A de violação maciça do
direito de defesa e das
prerrogativas legais dos
advogados, nos processos toca-
dos em segredo pelo ministro
Alexandre de Moraes no seu in-
quérito criminal para investi-
gar “notícias falsas” e “atos an-
tidemocráticos”, a Ordem dos
Advogados do Brasil resolveu,
enfim, dizer alguma coisa em
nome dos seus associados.
Com todo o respeito, pergun-
tou a OAB, será que não daria
para o ministro permitir que os
advogados defendessem os
seus clientes, como determina
a lei – a começar por direitos
absolutamente elementares,
ber do que, precisamente, as
pessoas estão sendo acusadas?
Para todos os efeitos práticos, a
resposta que receberam foi a se-
guinte: “Vão ver se eu estou na
esquina. Não me amolem”.
Foi uma fotografia perfeita,
mais uma, da situação de terra
arrasada em que se encontram
hoje a democracia, os direitos
civis e as liberdades públicas
neste país. O STF diz, com to-
das as letras, que os advogados
não podem utilizar as regras le-
gais para defender clientes indi-
ciados no inquérito perpétuo,
secreto e ilegal de Alexandre de
Moraes. É “defesa da democra-
cia”, dizem eles o tempo todo, e
o ministro está autorizado a fa-
zer tudo. A resposta de Moraes
à OAB é um monumento a essa
aberração. Ele apenas afirmou,
O STF diz que os
advogados não
podem utilizar as
regras legais para
defender clientes
no português de reprovado no
Enem que se vê em quase todos
os seus despachos, que não ha-
via do que reclamar. Os direi-
tos de defesa estão sendo obser-
vados, alegou – embora seja ób-
tão. Não vai tomar nenhuma
providência. Fim de conversa.
É preciso voltar ao tempo
do AI-5, e seus processos secre-
tos na Justiça Militar, para en-
contrar algo parecido em maté-
ria de agressão às garantias que
a lei brasileira dá aos advoga-
dos. Talvez seja pior. O inquéri-
to dos “atos antidemocráticos”
é ilegal na origem, ao expro-
priar do Ministério Público o di-
reito, que só ele tem, de iniciar
inquéritos criminais – e ao
transformar o complexo Mo-
raes-STF em polícia, promo-
tor, vítima e juiz ao mesmo tem-
po. Em consequência, tudo o
que sai dele está contaminado
da teoria jurídica da “árvore en-
venenada” – um ato judicial ini-
ciado fora da lei só pode produ-
zir frutos com veneno.
A conduta do STF está enve-
nenada também pela hipocri-
sia. Ainda há pouco, com o
apoio dos “garantistas” (onde
estarão eles hoje?), o tribunal
exigia a obediência fanática a
cada átomo dos direitos dos
réus na Lava Jato; por conta dis-
so, praticamente todas as puni-
ções foram anuladas – incluin-
do as de Lula, o que permitiu a
sua volta à Presidência da Repú-
blica. Agora é o contrário. l
JORNALISTA

SEG. Carlos Pereira e Felipe Moura Brasil (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l SÁB. João Gabriel de Lima l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo

GLÁUCIO DETTMAR/ AGÊNCIA CNJ-19/6/2012

Eliana Calmon fiscalizar o Judiciário, cum-
pre seu papel?
Hoje vemos um Senado fraco

‘Judiciário está que decide de acordo com inte-

resses em comum, no que cha-
mamos jocosamente em um

alheio à realidade “toma lá, da cá”, o que tem agre-

dido a Nação como um todo, o
que lamento como cidadã.

brasileira’ Qual é a mensagem que o

Judiciário passa, por exem-
plo, quando o STF propõe o
aumento do teto em 18%?
A mensagem de que está
Ex-corregedora de Justiça alheio à realidade brasileira. Vi-
ve a sua própria realidade, tra-
critica medidas como pagamento çada dentro dos padrões por
ele (Supremo) estabelecidos.
de atrasados do quinquênio
Quando a sra. foi correge-
dora, adotou postura rígi-
da e crítica ao corporativis-
mo. Há chance de pôr fim a
este sistema de privilégios,
ou é mais fácil o Sargento
Eliana Calmon diz que ‘erro’ está na retroatividade de adicional Garcia prender o Zorro?
Naquele tempo, já era difícil pa-
ra o Sargento Garcia prender o
mo vespeiro. da decisão que extinguiu o o quinquênio pelo CNJ (Conse- Zorro. Agora temos o sargento
ENTREVISTA Criticou a atuação de paren- quinquênio após a criação do lho Nacional de Justiça). Este interinamente fora de comba-
tes de ministros e juízes nas subsídio. À época, por um la- efeito retroativo impõe o paga- te, inclusive amordaçado e
Cortes, o chamado “filhotis- do, o subsídio fez com que a mento de valores desde a extin- com muito medo do Zorro.
Jurista, primeira mo”, e o sistema de privilégios magistratura ganhasse mais, ção do benefício.
mulher a compor o e penduricalhos. Hoje na advo- mas a extinção do quinquênio O presidente Lula tem criti-
cacia, Eliana ataca posturas ado- pôs fim à diferença de remune- Qual é o papel destas enti- cado responsáveis por pro-
Superior Tribunal tadas recentemente pelo Judi- ração de um juiz que está en- dades para a manutenção cessá-lo e julgá-lo, mas não
de Justiça (STJ), foi ciário, como a tentativa de au- trando para outro mais antigo. de privilégios? toca em temas como privi-
corregedora nacional mentar o teto salarial e a per- Os juízes acabaram ficando ca- As associações de classe dentro légios e o “filhotismo”. A
de Justiça (2010-2012) cepção de valores retroativos lados diante da decisão admi- do Poder Judiciário assumiram sra. vê a chance de Lula me-
para juízes federais, como reve- nistrativa que extinguiu o quin- um papel de verdadeiro sindica- xer neste vespeiro?
lou o Estadão. Segundo ela, as quênio porque, de alguma ma- to, pois estão empenhadas em A princípio, o Executivo dará as
LUIZ VASSALLO práticas mostram o Judiciário neira, se sentiram contempla- reivindicar benefícios e privilé- mãos à Corte maior do Judiciá-
“alheio à realidade brasileira”. dos por terem tido um aumen- gios, cavando aqui e ali um pen- rio que fala sozinha sobre todo
á uma década, a então to em outra via. Mas, com o duricalho que rende o que cha- o Poder, mas, com o tempo, for-
H ministra do Superior
Tribunal de Justiça
O Conselho da Justiça Fe-
deral aprovou para os pró-
tempo, se percebeu o erro que
isso representou. Trata-se de
mamos de diferenças salariais.
É uma postura pobre porque
talecendo-se, (Lula) passará a
mostrar as garras ao parceiro.
(STJ) Eliana Calmon deixava o prios juízes federais a volta uma decisão em causa própria, não discute, por exemplo, me-
cargo de corregedora nacional do quinquênio – aumento mas que tem respaldo na Lo- lhoria institucional. Em um comparativo com
de Justiça, em um mandato que automático de 5% a cada man (Lei Orgânica da Magistra- os próprios governos petis-
ficou marcado por duras críti- cinco anos –, com pagamen- tura), e a Associação dos Juí- Na mesma semana, o presi- tas, em sua visão, eles tenta-
cas ao corporativismo no Judi- tos retroativos. Um órgão zes Federais (Ajufe) tem com- dente do Senado, Rodrigo ram avançar o sinal em al-
ciário e processos disciplinares administrativo do Judiciá- petência, sim, para pleitear o Pacheco (PSD-MG), pau- gum momento?
contra magistrados, que provo- rio pode ter este poder? benefício. O erro está no efeito tou uma PEC que ressusci- Não, mas eu estou achando
cou a grita de associações de Trata-se de uma decisão retroativo da decisão adminis- ta o benefício para a magis- que eles estão muito agressi-
classe. Ela mexeu em temas em causa própria? trativa da decisão do CJF, a par- tratura e o MP. O Senado, vos. Vão fazer um governo
que, até hoje, são tratados co- Em primeiro lugar, discordo tir de 2006, quando foi extinto que tem a prerrogativa de bem mais acintoso. l
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
l A Guerra de Putin
Invasão da Rússia à Ucrânia devolve
o protagonismo a petroditaduras
Com entrada em vigor do embargo ao petróleo russo em retaliação à guerra ordenada
por Putin, países se aproximam de líderes autoritários por temer escassez da commodity
CAROLINA MARINS
Com menos petróleo russo no
mercado e um embargo ao pro-
duto que deve começar ama-
nhã, governos autoritários pro-
dutores de petróleo são recebi-
dos com cordialidade por paí-
ses dependentes.
O governo da Venezuela fez
questão de divulgar em suas re-
des sociais uma imagem da
COP-27 em que Nicolás Madu-
ro é recebido calorosamente
pelo presidente francês, Em-
manuel Macron. O gesto cha-
mou atenção porque, em 2019,
a França rechaçou Maduro e re-
conheceu Juan Guaidó como
líder da Venezuela.
Mas, agora, em meio a uma
crise de energia que ameaça a
Europa em razão da guerra na
Ucrânia, gestos amistosos
com líderes autoritários como
Maduro e Mohammed Bin Sal-
man, da Arábia Saudita, volta-
ram à cena, já que ambos pos-
suem uma commodity valiosa:
petróleo.
Amanhã, a União Europeia
dá o primeiro passo para embar-
gar o petróleo da Rússia em re-
taliação à invasão da Ucrânia,
em 24 de fevereiro. A sanção
promete afetar o mundo todo,
já que Moscou é um grande ex-
portador da commodity. Em
busca de alternativas para evi-
tar um colapso energético e eco-
nômico, o Ocidente se volta pa-
ra as chamadas petroditaduras
– Estados autoritários detento-
res de grandes reservas de pe-
tróleo – mesmo após ter prome-
Interesses nacionais se
sobrepõem aos globais
ENTREVISTA
Justin Dargin
Analista do Carnegie Endowment
for International Peace
guerra na Ucrânia e a
A recente reaproxima-
ção dos países ociden-
tais com governos ditatoriais
mostram que, ao serem pres-
sionados, as nações conside-
ram seus interesses econômi-
EUA planejam ampliar
treinamento de
militares da Ucrânia
tido transformá-los em párias.
SANÇÕES. No movimento
mais recente, o governo de Joe
Biden aliviou as sanções con-
tra a Venezuela ao conceder
uma autorização para que a gi-
gante americana de energia
Chevron opere com a PDVSA,
embora com ressalvas. Uma
medida que foi comemorada
por Maduro e criticada por re-
publicanos.
“Não é necessariamente um
renascimento dos petro-Esta-
dos com governos autoritá-
rios, é que os países ocidentais
decidiram que seus interesses
terão prioridade, pois todo o
foco está na Rússia e na Euro-
pa Oriental”, explica ao Esta-
dão Justin Dargin, especialista
em energia do Oriente Médio
no Carnegie Endowment for
International Peace. “Este não
é um fenômeno novo: os paí-
ses ocidentais, ao longo do sé-
culo 20, ignoraram certas ten-
dências autoritárias de seus
parceiros se a conveniência po-
lítica o exigisse.”
AVANÇOS. Os EUA negam que
a recente reaproximação com
a Venezuela seja em decorrên-
cia da crise energética, mas
sim um reflexo “de sua política
que visa um levantamento das
sanções sujeito a progressos
concretos que permitirão apoi-
ar o retorno da democracia à
Venezuela”. A autorização par-
cial ocorreu no dia 26, depois
que governo e oposição na Ve-
nezuela avançaram em suas ne-
gociações no México.
cos frente aos acontecimentos
mundiais. A avaliação é de Jus-
tin Dargin, especialista em
energia para o Oriente Médio
do Carnegie Endowment for
International Peace, com sede
em Washington, em entrevis-
ta ao Estadão.
A guerra na Ucrânia trouxe
um renascimento do poder
das petroditaduras?
Não é que os petro-Estados
com governos autoritários es-
tejam renascendo, por si só.
INTERNACIONAL
Macron (D) e Maduro na COP-27; reaproximação por interesses
“Toda essa reaproximação
com a Venezuela já vinha real-
mente de tempos anteriores,
mas foi acelerada no contexto
da guerra da Rússia contra
Ucrânia”, afirma o professor
de Relações Internacionais da
FGV Vinicius Vieira. “Os EUA
querem manter os preços do
Dependência
O petróleo russo
representa dois terços das
importações de energia da
UE, seguido pelo gás (27%)
petróleo a níveis no mínimo ra-
zoáveis para manter a estabili-
dade no mercado, que é algo
essencial tanto pra fins geopo-
líticos quanto para a própria
política doméstica por conta
Os países ocidentais decidi-
ram que seus interesses esta-
tais seculares terão prioridade
sobre quaisquer preocupações
neste momento. Este não é um
fenômeno novo. Além disso,
após os fracassos no Iraque e
no Afeganistão, muitos gover-
nos ocidentais sentem que é
melhor incorporar uma visão
realista para lidar com os go-
vernos como eles são, e talvez
sutilmente empurrá-los para
ações melhores, do que tentar
impor uma mudança em gran-
de escala. A guerra na Ucrânia
preparou o cenário para que es-
sa visão realista viesse mais
uma vez à tona.
Qual a posição dos grandes
produtores de petróleo do
REUTERS–7/11/2022
da dependência americana do
petróleo.”
PETRÓLEO RUSSO. Além de ser
a maior fornecedora de gás na-
tural para a Europa – que já te-
ve suas torneiras fechadas qua-
se completamente nos últi-
mos meses – a Rússia também
é a maior fornecedora de petró-
leo bruto para o continente. A
commodity representa dois
terços das importações de
energia da UE, seguida pelo
gás (27%). Em 2021, quase três
quartos das importações de pe-
tróleo bruto do bloco saíram
da Rússia (25,9%), Noruega
(9,1%), EUA (8,4%) e outros,
segundo a Comissão Europeia.
Já no segundo trimestre de
2022, após o início da guerra
na Ucrânia, as importações de
petróleo russo foram de 16,7%,
Oriente Médio em meio à
guerra na Ucrânia?
Em geral, os maiores produto-
res de petróleo do Oriente Mé-
dio se uniram à Rússia por inte-
resse próprio. Precisam da coo-
peração de Moscou para que
haja alguma estabilidade de
preços no mercado internacio-
nal. Essa visão é reforçada pelo
fato de que outros países, parti-
cularmente a Arábia Saudita,
sentem que o Ocidente não
tem o direito de ditar como
eles devem conduzir seus ne-
gócios e com quem cooperam
no cenário internacional. Mas
no momento em que o engaja-
mento russo deixar de ser be-
néfico, haverá menos ímpeto
entre esses produtores para
continuar trabalhando coleti-
A11
uma redução de 8,3 pontos por-
centuais do mesmo período de
2021. O bloco recorre a outros
parceiros, com aumento de im-
portações de EUA, Angola, Ará-
bia Saudita, Brasil e Reino Uni-
do. Mas ainda muito longe de
compensar a perda russa.
Já os EUA são menos depen-
dentes do petróleo russo. Se-
gundo dados da Energy Infor-
mation Administration, ape-
nas 7,9% do petróleo bruto im-
portado pelo país veio da Rús-
sia, e mais de 50% do Canadá.
Após ter prometido, quando
era candidato presidencial,
tornar o príncipe herdeiro da
Arábia Saudita em pária inter-
nacional pelo envolvimento
no assassinato do jornalista Ja-
mal Khashoggi, Biden foi obri-
gado a baixar o tom contra o
parceiro energético.
EMBARGO. Proibir totalmente o
petróleo russo era uma opção
inviável, tanto pela dependên-
cia dos país quanto pelo risco
de uma recessão global. A alter-
nativa da UE, juntamente com
G-7 e Austrália, foi proibir o
transporte marítimo para a Eu-
ropa além da imposição de um
teto de US$ 60 (R$ 313) por bar-
ril para que bancos, segurado-
ras e empresas trabalhem com
o petróleo russo. A intenção é
reduzir o lucro da Rússia que
flui para a guerra sem afetar tão
bruscamente o mercado global.
Em resposta, o porta-voz do
Kremlin, Dmitri Peskov, disse
ontem que o governo analisa a
medida, mas não aceita o limi-
te de preços. l
vamente com a Rússia.
Como o sr. avalia a imposi-
ção de um teto ao preço do
petróleo russo?
Deve-se lembrar que a propos-
ta de limite de preço foi formu-
lada para permitir que o petró-
leo russo continue a abastecer
o mercado global a um preço
que limita a capacidade da Rús-
sia de financiar sua guerra. Is-
to porque quando o embargo
europeu ao petróleo russo en-
trar em vigor, amanhã, os paí-
ses ocidentais procurarão uma
estrutura para evitar um cho-
que global de preços que preju-
dicaria uma economia mun-
dial já frágil e colocaria uma
pressão crescente sobre as ta-
xas de inflação. l C.M.

A12 INTERNACIONAL
O castigo à Ucrânia
Bombardeios russos punem ucranianos por
terem lutado como leões na defesa do solo nativo
alvez pior do que a ocu-
T pação do território, seja
o que está ocorrendo es-
tes dias com a Ucrânia.
O Exército russo se retirou,
mas agora, de suas protegidas
posições, bombardeia sistema-
ticamente os lugares que aban-
donou graças à valentia com
que os ucranianos o expulsou
e impediu que tomasse posse
do território invadido. A retira-
da das forças militares russas
não serviu de grande coisa,
pois agora, com os mísseis que
disparam, se asseguram que
os intoleráveis ucranianos re-
cebam um castigo pelo crime
de ter lutado como leões na
defesa do solo nativo e ter im-
pedido que as forças inimigas
se fizessem donas de um terri-
tório que não lhes pertence.
Vladimir Putin não enten-
de isso, convencido como está
de que a Ucrânia é parte da
Rússia tradicional e, como
aquela cometeu a insolência
de não se deixar ocupar por
um Exército inimigo, agora
ele adota represálias e se asse-
gura de que os habitantes de
Kiev e da Ucrânia passarão um
inverno terrível, em que os ve-
lhos e as crianças, ou seja, as
vítimas que não têm como se
defender, levarão a pior. O pre-
sidente da agredida Ucrânia,
Volodmir Zelenski, multiplica
seus chamamentos aos países
ocidentais para que lhe envi-
em as armas que lhe promete-
ram e lhe permitam bombar-
dear, por sua vez, o território
de onde procedem essas bom-
bas, que – para todos os obser-
vadores – não perseguem ou-
tra coisa a não ser destruir a
população civil; que, logo de-
pois de ter lutado contra uma
ocupação militar, é agora víti-
ma de bombardeios que perse-
guem apenas alvos civis, ou se-
ja, castigar a população pelo
crime de não ter se deixado in-
vadir.
PROMESSAS. Os países ociden-
tais que prometeram ajudá-lo
deveriam enviar-lhe as armas
necessárias para repelir essa
nova agressão, na qual, segun-
do os correspondentes da im-
prensa que escrevem de lá, boa
parte da população daquelas ci-
dades poderia morrer de frio e
fome. O mínimo que cabe pe-
dir às forças da Otan é que cum-
pram suas promessas. Ou elas
já esqueceram?
A verdade é que, à medida
Mario
Vargas Llosa
Prédio atingido por bombardeio da Rússia na região de Kharkiv
que passa o tempo, o drama da
Ucrânia vai abandonando a
atualidade e passa a ser uma
coisa que ocorre além, distan-
te, fora do alcance das nossas
preocupações imediatas. Os
que pensam assim se esque-
cem de algo muito mais impor-
tante: que os ucranianos tam-
bém estão lutando por nós, ou
seja, pelos países livres que, no
dia de amanhã, poderiam ver-
se ameaçados por Putin, em
sua obsessão por reconstruir o
império que o Exército russo
mantinha cativo quando a
URSS existia e, posteriormen-
te, nos tempos de Yeltsin, im-
pôs Putin, um funcionário do
Estado educado pela KGB, nas
terras ocupadas da Alemanha
Oriental.
É absolutamente urgente
SERGIY KOZLOV / EPA / EFE
EUA devem entregar
aos ucranianos as
armas prometidas
para que possam
se defender
que os países ocidentais acu-
dam em socorro à Ucrânia an-
tes que o mais cruel do inverno
se faça presente e as televisões
do mundo livre deixem de mos-
trar esses anciões com as casas
em escombros, que se
dispõem heroicamente a su-
portar um inverno sem calefa-
ção nem abrigo, com tempera-
turas que despencam facilmen-
te muito abaixo de zero grau.
Há testemunhas – jornalistas –
que, com valentia similar à dos
próprios ucranianos, estão ali,
sob as bombas, sob os bombar-
deios covardes que atacam a
população civil, destruindo
aquilo que lhes permitiria de-
fender-se contra o inverno. Es-
ses correspondentes não são
menos heroicos que os valoro-
sos ucranianos: estão lá cum-
prindo seu dever e cientes de
que os russos não se aparta-
ram nenhum milímetro de sua
“missão”: de castigar a popula-
ção civil da Ucrânia por não ter
se deixado invadir. Devemos
contrariar as presunções alen-
tadas por Vladimir Putin: não
nos esquecer da Ucrânia, onde
se desprende neste momento
uma luta pela liberdade de to-
do o Ocidente. Ou haverá ingê-
nuos pensando que a agressão
de Putin contra a Ucrânia aca-
bará aí, sem que o Exército rus-
so intervenha em outros luga-
res?
RESISTÊNCIA. A única coisa
que falhou nos cálculos bem
cimentados de Putin foi o
Exército russo. Este não este-
ve no lugar que o chefe do
Kremlin lhe atribuía: de ime-
diato não queria lutar e temos
visto a facilidade com que per-
deu as ações que seus chefes
lhe encomendaram. No pri-
meiro momento da ação. O
Exército de Putin não é nem
sombra do que foi: essa força
bem treinada, equipada e com
armas modernas e, entre elas,
um bom contingente de armas
atômicas. Essas não servem de
grande coisa quando um
Exército resiste em lutar, co-
mo se viu a juventude russa,
dando uma demonstração ao
mundo de apatia e muito pou-
ca militância – ou de sabedo-
ria. Algo, em todo caso, que fa-
la bem da juventude que se ne-
ga a perder a vida por uma cau-
sa ignóbil: a ocupação da Ucrâ-
nia e o que isso significaria pa-
ra as forças militares russas.
Ou seja, uma angustiosa de-
monstração da vileza que uma
ocupação militar pode assu-
mir: o rechaço de uma popula-
ção que, armada pela Otan e
fundamentalmente pelos Esta-
dos Unidos, resistiria à agres-
são e se defenderia com todos
os meios contra ela.
O povo ucraniano mostrou
nestes dias que um país não po-
de perpetrar, como queria Pu-
tin, uma invasão pacífica de
seu território. A Ucrânia se de-
fendeu com unhas e dentes, e
o que estamos vendo na atuali-
dade é uma operação de humi-
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
lhação contra um país que, em
vez de se deixar invadir, se or-
ganizou para expulsar os rus-
sos de seu território e pede ao
Ocidente que lhe dê as armas
que lhe permitam continuar se
defendendo.
APÊNDICE. É um pedido justo,
até que o próprio Putin enten-
da que sua concepção de Ucrâ-
nia, como um passivo apêndi-
ce das forças russas, é desatua-
lizado e absurdo – e, que em
todo caso, serviu para que a Eu-
ropa e todo o mundo livre te-
nha manifestado solidarieda-
de com a Ucrânia, antes de sa-
ber que os ucranianos sabiam
lutar e se defender, sem se dei-
xar intimidar por uma força
descomunal, que não sabia
nem queria lutar. Não, pelo
menos, com a consciência lim-
pa do próprio Putin, para
quem, com o resultado desta
invasão, a vida será bastante
difícil quando os hierarcas do
Kremlin se puserem a estudar
as consequências da desones-
ta operação de invadir a Ucrâ-
nia, com o discutível resulta-
do de encolerizar uma comuni-
dade que não queria se deixar
invadir e as intenções russas
despertaram e intensificaram
o que se deve chamar um movi-
mento nacionalista exacerba-
do.
Volto ao que disse no princí-
pio. Li todas as crônicas dos
correspondentes que estão lá,
sob as bombas, cujo testemu-
nho é curiosamente afim: to-
dos eles, sem exceção, apon-
tam que os últimos bombar-
deios russos são destinados a
pôr fim a tudo aquilo que os
ucranianos têm disponível pa-
ra enfrentar o inverno. Casas
destruídas, edifícios que eram
sólidos e aparecem agora des-
pedaçados, sistemas de calefa-
ção desfeitos ou a ponto de se
desfazer e uma cidadania que
resiste, sabendo muito bem
que os mais vulneráveis, por
idade ou doença, dificilmente
sobreviverão a este inverno,
que ameaça ser mais intenso e
feroz que o de costume.
Diante disso há um gover-
no que pede que lhe deem ao
menos as armas com que pre-
tende se defender. Este é um
pedido justo, de pessoas que
vão morrer, e os que tiverem
disposição devem cumprir o
prometido. É a única maneira
de ajudar a Ucrânia nestes mo-
mentos, e devemos estar à al-
tura se não quisermos que ou-
tra voracidade imperialista de
Putin se revele. Os Estados
Unidos ou a Otan devem en-
tregar as armas que promete-
ram e permitam aos ucrania-
nos se defender. l TRADUÇÃO DE AU-
GUSTO CALIL
É PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA
© DIREITOS DE PUBLICAÇÃO EM TODAS
AS LÍNGUAS RESERVADAS PARA
EDICIONES EL PAÍS S.L. 2022
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
i Jinping não teve tem-
X po de comemorar a con-
quista do terceiro man-
dato de 5 anos. A onda
de protestos representa um
desafio fundamental para o re-
gime chinês. Não por uma ca-
pacidade física dos manifes-
tantes de derrotar as forças de
segurança. Mas pelas agudas
contradições nas entranhas
do sistema político, econômi-
co e social que essa explosão
de frustração escancara.
No início da pandemia, Xi
declarou que ela representava
“um teste para o sistema chi-
nês”. O presidente estava cer-
to. Em razão de vários escân-
dalos no passado, muitos chi-
neses não confiam nas vacinas
do país. Na visão de Xi, impor-
‘Big Brother’
Pequim rastreia
manifestantes
por GPS de
celulares e
câmeras de rua
Pela primeira vez, a
vigilância chinesa é
utilizada diretamente
contra grande parte
da população de
classe média
PEQUIM
Há uma semana, Zhang, de 20
anos, foi aos protestos que de-
safiam a rígida política chinesa
contra a covid em Pequim. Ele
julgava estar vestido de um mo-
do em que passaria despercebi-
do, com uma balaclava e ócu-
los para cobrir o rosto. Quan-
do teve a impressão de ser se-
guido por policiais à paisana,
entrou em um arbusto, colo-
cou uma nova roupa e se livrou
deles. À noite, em casa, pensou
que estava a salvo.
A polícia ligou no dia seguin-
te. Sabiam que Zhang tinha saí-
do por causa dos registros geo-
gráficos do smartphone do jo-
vem, que indicavam a presen-
ça dele na área dos protestos.
Cerca de 20 minutos depois da
ligação, três policiais chega-
ram a sua casa e bateram à por-
ta. Zhang não havia dado o en-
dereço.
Lourival Sant’Anna
China precisa rever noção de ascensão
tar vacinas mais eficazes do
Ocidente, depois de a covid
ter surgido na China, seria
uma confissão da inferiorida-
de do país – o contrário do que
ele quer projetar.
ÊXITO. A política de lockdowns
e rastreamento de contatos
com infectados teve enorme
êxito, com números compara-
tivamente muito baixos de ca-
sos e mortes. Segundo os da-
dos oficiais, 5.233 chineses
morreram de covid, de uma po-
pulação de 1,4 bilhão. A con-
fiança no confinamento levou
as autoridades a descuidar da
vacinação dos mais velhos,
mantida em níveis baixíssi-
mos, ainda mais consideran-
do a baixa eficácia das vacinas
Vítimas e grupos de direitos
humanos afirmam que histó-
rias semelhantes a essas acon-
teceram com manifestantes
em toda a China durante os
protestos. Autoridades bus-
cam rastrear, intimidar e pren-
der manifestantes e fazem uso
de ferramentas de vigilância
avançadas que o Estado chinês
desenvolveu na última década
para momentos como o atual,
quando existe uma insatisfa-
ção popular contra o Partido
Comunista Chinês.
A polícia utiliza rostos, tele-
fones e informantes para iden-
tificar aqueles que participa-
ram dos protestos. Normal-
mente, eles pressionam os ras-
treados a se comprometer a
não protestar novamente. Na
maioria das vezes, os manifes-
tantes ficam perplexos com a
forma que foram descobertos
e, por medo de consequências,
apagam aplicativos estrangei-
ros, como o Telegram, usados
para difundir imagens dos pro-
testos no exterior.
O sistema de vigilância é um
dos mais sofisticados do mun-
do. Há milhões de câmeras es-
palhadas em esquinas e nas en-
tradas dos prédios com um
programa de reconhecimento
carta@lourivalsantanna.com
chinesas.
Há quase três anos os chine-
ses comuns vivem na insegu-
rança. A qualquer momento,
sua fonte de renda pode estan-
Explosão de
frustração
escancara
contradições no
sistema político
car. Basta, para isso, que um
caso seja detectado no seu lo-
cal de trabalho ou residência,
confinando todos ao redor ao
isolamento. A produção e o
consumo caíram drasticamen-
te. A previsão de crescimento
de 3% este ano, baixa para o
Software de reconhecimento facial em uso em Pequim; sistema é um dos mais sofisticados do mundo
facial para identificar cidadãos
locais. Outro programa anali-
sa dados e imagens colhidos.
Embora não seja segredo, o
sistema de vigilância parecia al-
go distante para muitos chine-
ses. Na maioria das vezes, ele é
utilizado para rastrear dissi-
dentes políticos, minorias étni-
cas e trabalhadores migrantes.
Muitos cidadãos apoiam o sis-
Cerco tecnológico
China tem milhões de
câmeras com programa de
reconhecimento facial
espalhadas pelo país
tema com o argumento de que,
se você não fez nada de errado,
não tem nada a esconder.
Os interrogatórios da última
semana podem afetar essa
ideia. Essa é a primeira vez que
a vigilância é utilizada direta-
mente contra grande parte da
INTERNACIONAL
padrão chinês, é puxada por se-
tores ligados ao mercado ex-
terno e esconde o drama inter-
no do país.
REGULAÇÕES. A inovação na
China está sofrendo duros
choques, em parte autoinfligi-
dos. Preocupado com o cres-
cente poder econômico e acú-
mulo de informações sobre a
população reunido pelas gran-
des empresas de tecnologia, o
regime adotou, no ano passa-
do, medidas regulatórias que
reduziram decisivamente a ca-
pacidade das companhias de
atrair capital nos mercados fi-
nanceiros e as fatias de merca-
do que ocupavam.
Além disso, no dia 7 de outu-
bro, entrou em vigor uma lei
classe média chinesa, nas cida-
des mais ricas do país. Embora
muitos tenham passado pela
experiência da censura, uma ba-
tida policial em casa é menos
comum e mais intimidante.
“Estamos ouvindo histórias
de policiais aparecendo na por-
ta das pessoas perguntando on-
de estavam durante os protes-
tos, e isso parece ter como ba-
se as evidências coletadas pela
vigilância em massa”, disse
Alkan Akad, pesquisador da
China na Anistia Internacio-
nal. “A tecnologia do ‘Big Bro-
ther’ da China nunca é desliga-
da, e o governo espera que ago-
ra mostre sua eficácia em aca-
bar com os protestos.”
As marchas e os protestos
têm sido alguns dos mais difun-
didos e abertamente políticos
desde os de 1989, que Pequim
reprimiu com força militar na
Praça Tiananmen. Agora, as au-
toridades chinesas podem aba-
far os protestos com alta tecno-
A13
americana que proíbe o aces-
so da China a tecnologias pa-
tenteadas pelos Estados Uni-
dos no segmento de semicon-
dutores.
Isso inclui os programas de
desenho de equipamentos
que fabricam os chips, células
nervosas de tudo o que envol-
ve tecnologia. A medida repre-
senta um golpe no desenvolvi-
mento tecnológico, indus-
trial, militar e econômico do
país.
A noção de ascensão inexo-
rável da China precisa ser re-
vista. Isso se reflete na desilu-
são nas classes média e alta do
país. l
É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA
DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS
GILLES SABRIŽ/THENEW YORK TIMES-10/5/2018
logia, atingindo e prendendo or-
ganizadores e os mais insatisfei-
tos. Outros conseguem sair im-
punes, mas são duramente
ameaçados.
Histórias como a de Zhang
são comuns. Em outros casos,
quem entregou foi o rosto, não
a geolocalização. Wang, que as-
sim como Zhang não revelou
seu primeiro nome, afirma ter
ido aos protestos em Pequim
e, dois dias depois, ter recebi-
do um telefonema de advertên-
cia da polícia. Na chamada, os
policiais afirmaram que ele foi
identificado com o reconheci-
mento facial.
Ele disse que não ficou sur-
preso que a polícia tenha con-
seguido identificá-lo, mas o
uso de tal tecnologia o deixou
desconfortável. O telefonema
durou apenas 10 minutos, mas
o policial fez o possível para
intimidá-lo. “Ele afirmou clara-
mente que não haveria uma se-
gunda chance”, disse. l NYT
A14
METRÓPOLE
Seleção para o ensino superior
Prova difícil e impacto da pandemia
afastam candidatos de vestibulares
Neste ano, a Fuvest, cuja 1.ª fase será realizada hoje, registrou ligeiro aumento, de
quase 4 mil vestibulandos, mas ainda distante dos 172 mil registrados em 2013
BEATRIZ BULHÕES
ESPECIAL PARA O ESTADÃO
Não é só o Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) que
tem registrado queda signifi-
cativa de inscritos. Tradicio-
nais vestibulares de universi-
dades paulistas – como a Fu-
vest, da USP, o da Unicamp e
o da Unesp – também perdem
candidatos nos últimos anos.
Uma explicação para esse fato
é o próprio teste federal, que
passou a ser usado por essas
instituições na oferta de parte
das vagas. Outros fatores são
os impactos da pandemia, que
trouxe déficits de aprendiza-
gem e desestímulo para mui-
tos jovens, sobretudo os mais
pobres, que veem nas provas
desafio inalcançável, e deci-
dem nem tentar. A necessida-
de de trabalhar também deixa
o sonho do diploma mais dis-
tante.
Nas universidades estaduais
de Campinas (Unicamp) e Pau-
lista (Unesp), o total de con-
correntes é o menor desde
2012: 61,6 mil e 67,5 mil, respec-
tivamente. Já o total de candi-
datos na Universidade de São
Paulo (USP) atingiu o menor
índice em 2021, com 110,7 mil
inscritos. Neste ano, a Fuvest,
cuja 1.ª fase será realizada hoje,
registrou ligeiro aumento, de
quase 4 mil vestibulandos,
mas ainda distante dos 172 mil
registrados em 2013.
“É um grande quebra-cabe-
ça, com várias peças”, avalia o
coordenador do Curso Anglo,
Queda
Nas estaduais
Unicamp e Unesp, o total
de concorrentes é
o menor desde 2012
Madson Molina. “Difícil falar
de pandemia e não citar tam-
bém o cenário econômico.
Tem muitos alunos que aban-
donaram o projeto do ensino
superior porque tinham de tra-
balhar. Um jovem que natural-
mente seguiria para o ensino
superior, mas precisou ir dire-
to para o mercado de traba-
lho”, avalia ele, que também vê
impacto da transição etária no
Estado, com a diminuição da
quantidade de adolescentes.
A abrangência do Enem, ou-
tro dos motivos destacados
por Molina, facilitou e bara-
teou a vida dos vestibulandos.
Antes, era preciso fazer várias
provas, geralmente com pou-
cos dias de diferença, pagar vá-
rias taxas de matrícula e até via-
jar para tentar a sorte em mais
de uma instituição. Agora, ape-
nas com a nota do exame fede-
ral é possível concorrer no
País todo.
“Acaba sendo uma estraté-
gia dos candidatos de se dedi-
carem a uma prova de amplitu-
de nacional e não perderem re-
cursos de tempo com provas
regionais, que não sabem se te-
rão bom desempenho”, ressal-
ta Gustavo Monaco, diretor
executivo da Fuvest.
EXIGÊNCIA. Além disso, o nível
de exigência das provas paulis-
tas assusta Lívia Cabral, de 17
anos, que mira uma vaga em
Medicina. Ela fez a Unicamp e
achou o teste mais difícil do
que nos anos anteriores – ago-
ra conta as horas para a Fu-
vest. “A dificuldade elevada
não acompanha o nosso ritmo
de pandemia em EAD (ensino
a distância)”, diz.
Com acesso à internet e
computador próprio, a jovem
ainda conseguia acompanhar
as aulas remotas na pande-
mia. Mas, segundo o Instituto
Brasileira de Geografia e Esta-
tística (IBGE), 28,2 milhões
de brasileiros de 10 anos ou
mais não usavam a internet
em 2021, sendo 3,6 milhões de-
les estudantes.
Rayssa Campos, da mesma
idade, colega de Lívia no COC
de Araraquara, no interior pau-
lista, desistiu das universida-
des estaduais e prefere focar
no Enem e em cursos priva-
dos. “Medicina nestas faculda-
des (USP, Unicamp e Unesp) é
desumano, você tem de prati-
camente gabaritar a prova”,
opina a jovem, que diz não ter
como ficar quatro ou cinco
anos em um pré-vestibular.
“A Fuvest é difícil mesmo.
Ela precisa ser difícil, porque o
número de interessados é bas-
tante grande. Se fazemos uma
prova muito fácil, isso tem um
impacto complicado, que é um
número elevado de empates, o
que deixa tudo ainda mais com-
plexo”, justifica Monaco.
Diretor da Comissão Perma-
nente para o Vestibular da Uni-
camp (Comvest), José Alves
atribui à covid e ao longo perío-
do de escolas fechadas grande
Rayssa Campos e Lívia Cabral são colegas no COC: foco no Enem e em cursos privados vem crescendo
“A Fuvest é difícil
mesmo. Ela precisa ser
difícil, porque
o número de
interessados é
bastante grande”
Gustavo Monaco
Diretor executivo na Fuvest
parte da redução de inscritos.
“Isso levou estudantes a fica-
rem mais desestimulados, é
um processo seletivo exigen-
te. Muitos candidatos talvez te-
nham se sentido pouco prepa-
rados para poder enfrentar
uma maratona, como essa no
caso da Unicamp”, destaca.
Segundo Alves, foi justamen-
te a carreira de Medicina, uma
das mais disputadas na maio-
ria dos processos seletivos, a
principal responsável pela que-
da de inscritos deste ano. Para
a entrada em 2023, a relação
candidato/vaga para este cur-
so é de 294.
Embora alta, essa taxa na edi-
ção anterior era de 325 por va-
ga, ou seja, são 30 estudantes a
menos na disputa por uma ca-
deira. Mas mesmo com a alta
cobrança de conteúdos e a pos-
sibilidade de fazer a prova per-
to de casa, a baiana Mariana
Neri, de 16 anos, decidiu viajar
para São Paulo, com uma ami-
ga, com o objetivo de encarar a
Fuvest. “O Enem dá poucas va-
gas para entrar na USP. Acredi-
to que fazendo o vestibular te-
nho mais chances, por ter mais
vagas”, aposta.
Para 2023, a USP oferece ofe-
recerá 11.147 vagas. Desse total
8.230 destinadas para seleção
por meio da Fuvest e 2.917 va-
gas, pelo Enem. “De qualquer
forma, a gente também pas-
seia e conhece a cidade”, brin-
ca Mariana, que também pre-
tende se formar como médica
na universidade paulista.
A ligeira alta de inscritos nes-
ta edição é fruto de uma série
de novas ações conduzidas pe-
la fundação. Dentre elas, desta-
cam-se a presença mais forte
nas redes sociais e a visita de
ex-alunos da USP vindos da re-
de pública às escolas que fre-
quentaram para incentivar a
inscrição dos adolescentes.
“Começamos essa movimenta-
ção e intensificamos, sobretu-
do na 2.ª metade de setembro,
porque percebemos impacto
bastante positivo no número
de inscrições que entravam
nos dias seguintes das escolas
visitadas”, conta Monaco.
VAGA NO EXTERIOR. Se na
maior parte dos casos a baixa
renda das famílias é um obstá-
culo determinante no cami-
nho de jovens pobres até a uni-
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
AMANDA ROCHA / ESTADÃO
versidade, do outro lado a pers-
pectiva de ir para fora do País
atrai estudantes de escolas par-
ticulares de São Paulo.
Lucas Faro, de 17 anos, é um
deles. Aluno do colégio Pentá-
gono, o jovem até se inscreveu
na Fuvest, mas “apenas por fa-
zer”, em suas palavras. A meta
dele é ser aceito em uma uni-
versidade dos EUA ou do Cana-
dá, onde pretende se especiali-
zar na área de Economia e
Ciência Política. Para se dedi-
car aos planos no exterior – o
processo de admissão envolve
também entrevistas e o envio
de cartas –, ele abriu mão das
provas de Unicamp e Unesp.
O Enem também se tornou
uma porta de acesso a institui-
ções de ensino superior no ex-
terior. Por meio de acordos
com o governo brasileiro, 51
instituições de ensino portu-
guesas aceitam a prova no pro-
cesso de admissão, entre elas
as universidades de Coimbra,
do Porto e de Lisboa.
Vice-diretor de Inovações
Pedagógicas do Pentágono,
Bruno Alvarez acena que há
ainda o movimento de ficar
em São Paulo, mas optar por
uma instituição de ponta na re-
de privada. Entre os nomes
mais citados por especialistas
estão as faculdades Einstein,
FGV, Insper e ESPM. “Já ouvi
muito um discurso de preferir
uma universidade particular
na capital do que ir para Uni-
camp, Unesp, ou até a USP de
Ribeirão Preto”, conta.l
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022

O ESTADO DE S. PAULO METRÓPOLE A15

Renata Cafardo E-mail: renata.cafardo@estadao.com; Twitter: @recafardo

Educar não é focar

tão maltratada educa- ção rígida, baseada em puni- da formação humana plena. da intolerância. Isso significa cia ética. Para ouvir adolescen-

A ção brasileira não mere-

cia importar o que há
de mais triste e cruel
das escolas americanas. Já se
luta tanto aqui contra a dificul-
dade para ensinar e para apren-
der, à mercê de um Ministério
da Educação (MEC) inexisten-
te. Agora, adiciona-se o assom-
broso temor de ataques de alu-
nos que correm armados por
corredores nas escolas.
Só este ano foram três cri-
mes, o mais recente em um co-
légio de Aracruz, no Espírito
Santo. E ainda Sobral, no Cea-
rá, Barreiras, na Bahia, onde a
escola é a chamada cívico mili-
tar, deixando claro que educa-
ção e autoridade, passa longe
de ser a solução. Também não
há dúvidas de que o aumento
no número de casos é reflexo
da facilitação na compra de ar-
Passar no vestibular aos 17
anos nunca foi garantia de edu-
cação de qualidade, ainda mais
na sociedade contemporânea.
parar a aula de Química para
ouvir todos os lados de uma bri-
ga que surgiu no fundo da sala.
Professores têm que ser in-
cansáveis na luta contra a ideia
tes, seus medos, sua raiva, seus
preconceitos e, com sabedoria,
ajudá-los. Caso contrário, eles
encontrarão acolhimento ape-
nas nas redes, prontas para a
mas do governo de Jair Bolso- Como o tempo é maluca que agora predomina: manipulação. Assembleias, me-
naro (PL), que precisa ser des- de que conflitos devem ser re- diação, colegas que ajudam co-
continuada. Mas não é só um finito, currículos solvidos com agressões e não legas, debates sobre política,
problema de segurança. devem tirar espaço com diálogo. É na escola que a gênero, ódio, precisam ser par-
A escola brasileira não pode de conteúdo para criança aprende a viver em so- te da escola rotineiramente.
ser aquela tia que evita falar de ciedade, por isso é nela que as É muito para um sistema de
assuntos difíceis porque dá bri- incluir debates coisas precisam mudar. Só ex- ensino que sofre com histórico
ga. Educadores agem assim por pulsar alunos quando há um ca- de abandono? Sim. Mas educar
falta de preparo, mas também Como o tempo é finito, os currí- so de racismo não resolve nada. não é focar. É formar um ser hu-
porque, muitas vezes, é o que as culos precisam, sim, tirar espa- O Brasil precisa de políticas mano completo, capaz de trans-
famílias esperam deles. Os pais, ço de conteúdos e incluir dis- públicas, como há em outros formar a sociedade em que vive.
até alguns que se dizem progres- cussões. É preciso falar da rup- países, para formar professo-
sistas, ainda preferem a escola tura da sociedade, dominada res para o fortalecimento de va- É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ ESTADO’ E
FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE
com “conteúdo forte” em vez por uma cultura da violência, lores democráticos e convivên- JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

SAB. Fernando Reinach l DOM. Renata Cafardo (a cada 15 dias) e Rosely Sayão (a cada 15 dias)

Sociedade mentamos todo o sofrimento

que foi imposto a essa popula-
ção historicamente e nós esta-
OAB reconhece Esperança Garcia: negra, mos dispostos a buscar instru-
mentos que viabilizem a pro-
moção da igualdade no âmbito
escravizada, e primeira advogada do País da OAB, da advocacia e em to-
da a sociedade”, explica.
VALENTINA FRAIZ / INSTITUTO ESPERANÇA GARCIA
De acordo com o dossiê Es-
Defensora dos direitos pela seccional da OAB no Piauí ta, que compôs a Comissão Es- perança Garcia: Símbolo de Re-
das mulheres e das em 2017 como a primeira advo- tadual da Verdade e da Escravi- sistência na Luta pelo Direito,
gada do Estado. dão Negra da OAB-PI e fez par- organizado pela advogada Ma-
crianças, ela escreveu Escravizada no século 18, te da construção do dossiê que ria Sueli Rodrigues de Souza e
o primeiro “habeas em Oeiras, no interior do traz a história de Esperança. pelo historiador Mairton Ce-
corpus” que se tem Piauí, Esperança tinha apenas “Tira essa ideia de uma escra- lestino da Silva, Esperança Gar-
registro no Brasil 19 anos quando enviou uma vidão amenizada, de que esses cia tinha 19 anos quando as ter-
carta ao então governador da escravos só sofriam violência e ras em que vivia no interior do
Capitania, Gonçalo Lourenço eram passivos diante do siste- Piauí foram doadas aos jesuí-
STÉPHANIE ARAÚJO Botelho de Castro. Ela denun- ma. A carta mostra essa subjeti- tas e sua família, separada.
ESPECIAL PARA O ESTADÃO ciava os maus-tratos que mu- vidade de uma mulher negra Casada desde muito nova,
lheres e crianças sofriam na fa- escravizada e protagonista de Esperança dividia a vida com o
Defensora dos direitos das mu- zenda em que vivia e pedia que toda a sua história”, acrescen- marido também escravizado
lheres e das crianças, Esperan- providências fossem tomadas. ta. A aprovação do Conselho Ignácio Angola. No entanto,
ça Garcia escreveu o primeiro A carta de Esperança foi do- Federal ao reconhecimento após a fazenda de algodões pas-
“habeas corpus” que se tem re- cumentada pelo historiador e Em carta, ela relatou abusos foi anunciada no dia 25. sar a ter outro dono, ela foi en-
gistro no Brasil. Pela sua atitu- antropólogo Luiz Mott em que sofria com suas crianças viada com dois de seus filhos
de, a autora recebeu um reco- 1979 e, desde 1999, o dia 6 de REPARAÇÃO. Para Élida Fabri- para ser cozinheira em outra
nhecimento póstumo do Con- setembro, data de escrita do cia, conselheira federal da casa. Em sua carta, Esperança
selho Pleno da Ordem dos Ad- texto, é o Dia Estadual da Cons- dar essa visibilidade à carta é OAB pelo Estado do Piauí, o relata abusos que sofria com
vogados do Brasil (OAB) co- ciência Negra no Piauí. “Reco- colocar essa população como reconhecimento de Esperança suas crianças, além do impedi-
mo primeira advogada do País. nhecer a Esperança Garcia co- protagonista da sua história”, Garcia é uma reparação históri- mento de se confessar na igre-
Ela já havia sido reconhecida mo primeira advogada negra e diz a historiadora Raquel Cos- ca. “Isso significa que nós la- ja com outras mulheres. l

AGENDA COVID
AMPLO
ESTACIONAMENTO
Cronograma da vacinação 200
VAGAS
SÃO PAULO
A cidade de São Paulo está
vacinando contra a covid-
19 as crianças na faixa etária TORNEIRA COZINHA
entre 6 meses e 2 anos, 11 ESPUMA EXPANSIVA Mesa - B. Móvel - Cromada
meses e 29 dias. PU - 500ml B5011CLCRB
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De R$ 37,90 De R$ 298,90
BELO HORIZONTE

29, 239, 90
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Sem quantidade de doses
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suficientes, a capital minei- R$ R$
ra afirma que não tem como Desconto Economize Desconto Economize
estender a aplicação da -21% R$ 8, 00 -20% R$ 59, 00
quarta dose para a popula-
ção de 18 a 39 anos. l
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e o avanço da imunização. De Segunda a Sexta-feira, das 6h30 às 21h30; Sábado, das 7h às 21h; Domingo e Feriado, das 8h às 20h.
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 DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
A16 METRÓPOLE O ESTADO DE S. PAULO

HOJE : MANHÃ TARDE NOITE VOLUME UMIDADE SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SOL LUA: CRESCENTE
PREVISÃO DO TEMPO
20° 28° 22° 15
DE CHUVA RELATIVA CRESCENTE 30/11 14H38
20°/ 27° 19°/ 26° 19°/ 27° 18°/ 28°
50%
CHEIA 8/12 1H09
80%
50% 80% MINGUANTE 16/12 5H59
MM NASCENTE: 5H11
POENTE: 18H42
NOVA 23/12 7H17

ACIMA Tábuas das marés: Porto de Santos Capitais MÍN./MÁX. MÍN./MÁX. Mundo FUSO MÍN./MÁX. FUSO MÍN./MÁX.
VOTUPORANGA FRANCA DE 32° N
Estado de SP 21°/29°
ARACAJU 23°/28° MACEIÓ 22°/27° ASSUNÇÃO -1 28°/38° MÉXICO -2 12°/21°
21°/27° NO NE BELÉM 22°/32° MANAUS 23°/31° ATENAS 6 12°/15° MIAMI -1 20°/27°
S. J. DO RIO PRETO
RIBEIRÃO PRETO
O 10nós L 1,0m BELO HORIZONTE 17°/26° NATAL 24°/30° BARCELONA 5 8°/10° MONTEVIDÉU 0 17°/21°
ARAÇATUBA 22°/28° 28°
20°/29° BOA VISTA 24°/31° PALMAS 22°/30° BERLIM 5 0°/3° MOSCOU 6 -12°/-7°
21°/28° SO SE
ARARAQUARA BRASÍLIA 18°/25° PORTO ALEGRE 22°/28° BRUXELAS 5 -1°/4° NOVA YORK -1 1°/10°
ADAMANTINA 20°/29° 24° HOJE S SEGUNDA, 05
SÃO CARLOS CAMPO GRANDE 22°/30° PORTO VELHO 24°/33° BUENOS AIRES 0 21°/26° PARIS 5 0°/5°
23°/29° C. DO JORDÃO 0h00 1,0 0h56 1,1
MARÍLIA 19°/28° CUIABÁ 24°/33° RECIFE 24°/29° CARACAS -1 19°/24° ROMA 5 10°/15°
PRESIDENTE PRUDENTE 19°/26° BAURU 16°/24°
19° 6h09 0,4 6h59 0,4 CURITIBA 18°/24° RIO BRANCO 23°/32° CHICAGO -2 -2°/4° SANTIAGO -1 14°/29°
22°/28° 20°/27° CAMPINAS
PIRACICABA 20°/28° 11h47 1,0 12h27 1,1 FLORIANÓPOLIS 22°/27° RIO DE JANEIRO 20°/34° ESTOCOLMO 5 -3°/0° SYDNEY 13 13°/25°
20°/29° S. J. DOS CAMPOS ABAIXO
OURINHOS
18°/27° DE 19° 18h50 0,5 19h26 0,4 FORTALEZA 23°/31° SALVADOR 23°/29° GENEBRA 5 -1°/5° TEL-AVIV 6 14°/21°
20°/27°
ITAPETININGA GOIÂNIA 20°/27° SÃO LUÍS 24°/33° JOHANNESBURGO 5 19°/32° TÓQUIO 12 8°/15°
SÃO PAULO
21°/26° SOROCABA 20°/28° UBATUBA TERÇA, 06 QUARTA, 07 JOÃO PESSOA 24°/30° TERESINA 22°/34° LIMA -2 17°/18° TORONTO -1 -1°/3°
21°/27° 19°/31° 1h42 1,2 2h23 1,3
Aberturas de sol pela manhã GUARUJÁ MACAPÁ 24°/33° VITÓRIA 22°/27° LISBOA 4 10°/16° WASHINGTON -1 2°/8°
ITAPEVA 23°/30° 7h45 0,4 8h26 0,4
e risco de temporais durante a SANTOS Confira a previsão para os próximos LONDRES 4 4°/6°
19°/25° 23°/30° 13h05 1,1 13h43 1,1 Receba por SMS a previsão
tarde e à noite. Faz calor. IGUAPE dias: www.estadao.com.br/clima- LOS ANGELES -4 15°/19°
CANANEIA 20°/28° 20h01 0,3 20h35 0,2 doe-tempo/sp-sao-paulo
tempo de onde você está
www.estadao.com.br/sms MADRID 5 5°/7°
21°/28°

Transporte SÃO PAULO RECLAMA HÁ UM SÉCULO

Descarrilamento de trem Leitora reclama de

bloqueio em conta
Uma casa assaltada

Foi durante a noite passada as-

causa a paralisação das Reclamação de Marina Sil-

va: “Eu tenho uma conta no
Mercado Livre e preciso de
saltada uma casa. Os ladrões
não encontraram nenhum obs-
taculo, arrombaram a casa de re-

Linhas 11 e 12 da CPTM ajuda. Recentemente, foi

bloqueada com R$ 600. Ao
entrar em contato, fui infor-
sidencia do sr. Diogo José da Sil-
va Netto, nas Perdizes, à rua Mi-
nistro Godoy, 37, de nada valen-
mada que o bloqueio ocor- do a guarda de dois cães poli-
WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS
DESVIO. Na Linha 11-Coral, reu porque eu tinha um ciaes, na ausencia dos donos...
JOÃO KER os trens estavam circulan- débito em outra conta no
do em dois loops, entre as meu nome. Desta forma, eu
Um trem de carga da empresa Estações Estudantes e Co- liguei no financeiro e fiz
MRS Logística descarrilou rinthians-Itaquera e Tatua- acordo. No mesmo dia, eu
próximo da Estação Tatuapé pé e Luz. O trecho entre Co- paguei R$ 209. Dias depois,
da Companhia Paulista de rinthians - Itaquera e Tatua- porém, a empresa transfe-
Trens Metropolitanos pé ficou interditado. Na Li- riu os meus R$ 600 para es-
(CPTM), na madrugada de on- nha 12-Safira, os trens circu- sa outra conta, tomou o di-
tem, e causou a paralisação das laram apenas entre as Esta- nheiro para pagamento,
Linhas 11-Coral e 12-Safira. Se- ções Calmon Viana e Enge- sem o meu consentimento,
gundo a empresa, não há regis- nheiro Goulart e entre Ta- e não quer me devolver. Já
tro de pessoas feridas com o tuapé e Brás. O trecho entre tentei vários contatos pelo
acidente nem tombamento de Engenheiro Goulart e Ta- atendimento. Eu reforço
carga. Nas redes sociais, usuá- tuapé também seguiu inter- que já havia pago e cumpri-
rios reclamaram de filas, super- Retirada de carga não havia ditado durante todo o dia. do com o acordo. E estou
lotação e falta de atendimento sido concluída até a noite Os passageiros são atendi- precisando do dinheiro. Pe-
nas plataformas de embarque, dos pelo Sistema Paese (ôni- ço ajuda para que o caso se-
chegando a afetar até o metrô. bus) nos trechos que estão ja solucionado.” CORREÇÕES
Segundo a MRS, o descarrila- para a retirada do restante dos sem circulação.
mento ocorreu por volta de vagões e liberação das vias. A Os passageiros ainda es- Resposta: “O Mercado Li-
Este espaço se destina à correção de erros
1h20, cobrindo as quatro vias empresa ainda não sabe dizer tão sendo orientados pelas vre informa que o valor foi publicados na edição impressa do ESTADÃO.
Você pode colaborar enviando e-mail para
do trecho. Até as 19 horas, das as possíveis causas do aciden- equipes das estações e por estornado. A empresa segue correcoes@estadao.com. As correções abran-
cinco locomotivas, com dez va- te. “Após esse trabalho, haverá avisos sonoros, e por meio em análise para liberação da gem erros como: de informação, nome, cargo,
dados numéricos, entre outros.
gões de carga de areia e seis de avaliação dos danos causa- de informações nos canais conta.” l
bobina, a CPTM já havia retira- dos”, disse a empresa. de relacionamento da com-
do todas as locomotivas e cin- Não havia previsão de nor- panhia paulista. Mais infor- Teve algum direito como cidadão
LOTERIA
ou consumidor desrespeitado? O
co vagões de carga de areia. A malização dos serviços. “O mações também podem ser blog Seus Direitos pode ajudar.
Envie suas reclamações, com os
equipe técnica continuava no pior é que eles deixam você em- obtidas pelo telefone 0800- devidos documentos, dados pes- Para ver os resultados, aponte a câma-
local, aguardando a chegada barcar para avisar”, reclamou 0550121 ou pelo WhatsApp soais e contatos, além do nome
dos envolvidos na questão, para o
ra do seu celular para o QR Code ou
acesse: https://loterias. esta-
de um equipamento da MRS um usuário nas redes sociais. (11) 99767-7030. l spreclama@estadao.com dao.com.br/mega-sena.

Para publicar anúncio fúnebre: Balcão Limão l (11) 3856-2139 / (11) 3815-3523 / WHATSAPP (11)99123-8351. l Atendimento de 2ª a 6ª das 8h30 às 21h horas, Sábado das 10h às 20h, Domingo das 14h às 20h l Só serão publicadas notícias de falecimen-
FALECIMENTOS to/missa encaminhadas pelo e-mail falecimentos@estadao.com, com nome do remetente, endereço, rg e telefone.

Manoel Polycarpo de Azevedo Jof- cia Tralli Joffily. Deixa filhos, paren- Renato Otranto – Aos 71 anos, em zado no Cemitério da Saudade em S R – Q 366 – Sep. 115.
fily – Aos 86 anos. Era filho de Mauri- tes e amigos. O enterro foi realizado Campinas. Jornalista e radialista. Campinas. Henrique Jose Rabinovitch – Hoje,
no Joffily e Maria Joffily. Viúvo de Lú- no Cemitério Parque Flamboyant. Deixa viúva e filhos. O enterro foi reali- Leonardo Herrera Tenório – Dia 2, às 10h30 , no S R – Q 375 – Sep. 83.
aos 20 anos. Era solteiro. Filho de Cel- Mosze Gitelman – Hoje, às 10h30, no
so Aparecido Tenório e Renata Quen- S L – Q 270 – Sep. 105.
Com imensa dor na alma, comunicamos o falecimento de nhem Tenório. Deixa parentes e ami- Eva Scattan – Hoje, às 10h30, no S L –
gos. O enterro foi realizado no Cemité- Q 262 – Sep. 89.
rio Municipal de Bebedouro. Estella Novik Laifert– Hoje, às
Cemitério Israelita do Butantã 10h30, no S R – Q 403 – Sep. 119.

FLAVIO ROBERTO HUCK (Matzeiva)

David Mizrah – Hoje, às 10 horas, no S
O – Q 340 – Sep. 47.
Marcos Faiman – Hoje, às 11 horas, no
S R – Q 366 – Sep. 42.
Abrahao Abramowicz – Hoje, às 11 ho-
querido pai, sogro, irmão, cunhado, tio e avô, ocorrido ontem, em São Sara Neuman Mahler – Hoje, às 10 ho- ras, no S L – Q 267 – Sep. 107.
ras, no S R – Q 367 – Sep. 61. Stefan Nikolaus Neufeld – Hoje, às
Paulo. O velório terá lugar no Funeral Morumbi, à Av. Giovanni Gron- Nathan Schattan – Hoje, às 10h30, no 11h30, no S O – Q 328 – Sep. 25.
chi, 1.358, Capital, hoje - dia 04/12/2022 - das 15h00 às 19h00. Com
muita saudade, despedem-se Fernando e Adriana, Mariana e Rafael,
Perla e Marcelo, Sheila e Marcelo, Angélica e Luciano e os netos Zac,
Dirceu Teixeira de Oliveira
Missa de 6 meses. Data 04/12 às 18 horas
Igreja São Pedro São Paulo
Tiago e Gael. Sempre conosco, fez o bem e descansará em paz! Rua Circular do bosque, 31 Cidade Jardim.
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022

O ESTADO DE S. PAULO METRÓPOLE A17

NOTAS E INFORMAÇÕES mia e a Casa Civil da Presidência da República a bus-
car alternativas que permitam fechar as contas. Em
todo o País, órgãos federais se veem forçados a sus-
pender atividades ou a fazer malabarismos diante da
Balbúrdia falta de recursos, em uma situação que é particular-
mente dramática na educação.
orçamentária Foi nesse contexto de cofres esvaziados que o
atual governo protagonizou, na última quinta-feira,
mais uma cena insólita até mesmo para quem já se
acostumou à rotina de desmandos: como noticiou o
Estadão, verbas de universidades e institutos fede-
rais que haviam sido bloqueadas no início da semana
foram liberadas, mas retidas novamente poucas ho-
ras depois. O valor inicialmente desbloqueado supe-
rava R$ 340 milhões: dinheiro para pagar contas de
luz, bolsas para estudantes e serviços terceirizados
de limpeza e segurança, entre outros.
Ao desbloquear e bloquear verbas das Eis o retrato de como as finanças nacionais vêm
sendo gerenciadas por um governo que, não custa
federais no mesmo dia, governo mostra lembrar, prometia modernizar a máquina pública e
promover um salto de qualidade na administração
inaceitável inépcia federal. Pois bem, o que se vê neste último mês de
mandato do atual presidente da República, ele pró-
prio ausente das lides diárias do cargo desde que foi
governo do presidente Jair Bolsonaro derrotado nas urnas, é aquilo que o senso comum
que devem nortear o gasto público. Agora, sem recur-
sos em caixa, o descontrole chegou a tal ponto que a
administração do País fica parecendo mais uma qui-
tanda. Diga-se, porém, que tal comparação talvez não
seja justa, considerando que quitandas têm de ser
bem administradas − do contrário, quebram.
Ora, as universidades e os institutos federais são um
patrimônio do Brasil. Estão presentes nos 26 Estados e
no Distrito Federal, promovendo ensino e pesquisa
que servem de referência no País. Sem falar nas ativida-
des de extensão e nos hospitais universitários. Ao lon-
go do governo Bolsonaro, essa valorosa rede de institui-
ções federais foi não só deixada de lado, mas permanen-
temente confrontada. A duras penas, resistiu.
Como se sabe, as universidades e os institutos fe-
derais são unidades complexas que empregam e aten-
dem milhares de professores, servidores técnico-ad-
ministrativos, estudantes e pesquisadores. Cada uni-
dade tem contratos e convênios a honrar. Como ge-
renciar e planejar ações em meio aos constantes blo-
queios de verbas? Imagine-se a situação de reitores e
pró-reitores que viram o desbloqueio de recursos na
última quinta-feira, mas, antes mesmo que pudes-
sem dispor das verbas, perceberam que seus orça-
mentos estavam novamente travados. Nada de bom

O chega à sua reta final em meio a uma

profunda crise orçamentária. Falta di-
nheiro até para despesas obrigatórias, o
que tem levado o Ministério da Econo-
costuma chamar de “clima de fim de feira”.
Enquanto tentava a reeleição, Bolsonaro pôs o Or-
çamento da União a serviço de seu projeto político
pessoal, ignorando os mais elementares princípios
há de se produzir assim. À penúria do caixa federal
neste último mês de governo Bolsonaro somam-se a
falta de transparência e a incrível inépcia administra-
tiva, inaceitável num País que se pretende sério.l

Transporte rização da frota precisam en- A nova taxa foi bem recebida
trar no cálculo do custo. “Ho- por boa parte dos empresá-

A cidade com ônibus de graça je, com dois anos de contrato,

já se discute aumento da tarifa
ou do subsídio.”
rios, mas não por todos. Ao me-
nos uma empresa do municí-
pio conseguiu barrar o paga-

que pode inspirar São Paulo TAXA. Vargem Grande Paulis-

Passe livre em
Vargem Grande
Paulista é financiado
principalmente por
taxa cobrada de
empresas
PRISCILA MENGUE
Não há cobrador ou cartão de
transporte nos ônibus de Var-
gem Grande Paulista. Há três
anos, o município da Grande
São Paulo adotou a tarifa zero
no transporte coletivo em
meio a conflitos com a empre-
sa que prestava o serviço. A mu-
dança permaneceu e chamou a
atenção de outras cidades, até
mesmo da capital paulista, que
se reuniu na semana passada
com a cidade vizinha para tra-
tar sobre o passe livre, que o
prefeito paulistano Ricardo
Nunes (MDB) cogita imple-
mentar, caso um estudo apon-
te a viabilidade econômica, fi-
nanceira e jurídica.
O prefeito de Vargem Gran-
de Paulista, Josué Ramos
(PL), defende que o modelo é
replicável, até em nível esta-
dual, e ressalta que dobrou a
média de passageiros na cida-
de, afetando o consumo local,
a geração de empregos e o
acesso da população mais peri-
férica a serviços básicos. A mu-
dança foi a principal platafor-
ma do seu primeiro ano de ges-
tão, do qual saiu reeleito. A
principal base de financiamen-
to é uma taxa a empresas, con-
siderada ilegal em decisão re-
cente da Justiça.
A tarifa zero é elogiada por
parte da população da cidade
(de 54,3 mil habitantes). Em
visita do Estadão à cidade,
moradores comentaram que a
gratuidade faz diferença no or-
çamento doméstico. Outros
também apontaram mudan-
ças que consideram necessá-
rias, como ampliar o horário
de funcionamento (até 19h ou
20h, a depender da linha, nos
dias úteis, e reduzido no fim
de semana) e a qualidade dos
veículos.
Em dezembro de 2020, um
vereador abriu uma moção pa-
ra que o ônibus funcionasse
até as 22 horas, para atender
trabalhadores no fim do expe-
diente. Sobre as críticas, o pre-
feito diz que os trajetos e os
horários das linhas foram dese-
nhados com base na demanda,
com um trabalho que incluiu
uma empresa de consultoria
especializada, e que estão em
constante adaptação.
Sem consenso
A taxa foi bem recebida
pelos empresários, mas não
por todos. Um já barrou
o pagamento na Justiça
Os ônibus operam com seis
linhas, duas circulares. Não há
presença de cobrador e tam-
pouco é exigida a apresenta-
ção de cartão de transporte.
Basta passar pela catraca. O en-
tendimento da prefeitura é de
que um eventual sistema de
controle eletrônico aumenta-
ria o custo operacional.
A empresa contratada é paga
pelo serviço, calculado a partir
ta mantém a operação da tarifa
zero por meio de um fundo mu-
do quilômetro rodado, não do nicipal, no qual cerca de 70%
número de passageiros. Segun- dos recursos são provenientes
do o prefeito, esse modelo dá de uma taxa a empresas locais,
liberdade ao município para criada em 2019. O restante é
realizar ajustes. Ele também subsidiado, mas há intenção
destaca que não precisa mais de que seja complementado
lidar com imprevisibilidades com propaganda e outras fon-
de contratos de dez ou mais tes. Com a mudança, em vez
anos, em que eventuais mudan- de fornecer o vale-transporte,
ças no preço do combustível, as empresas pagam R$ 39,20
número de usuários e desvalo- mensais, por funcionário.
VEM AÍ
Acompanhe o evento de premiação online e assista ao debate:
Rumos do Brasil para as empresas em 2023: E agora?
Análise de renomados especialistas sobre a reação do universo
corporativo brasileiro, após movimentos do Congresso e eleições
7/12 - 9H
Debatedores
Sérgio Zimerman Zeina Latif
CEO da rede Petz Consultora econômica
Inscreva-se no
canal do YouTube
e acompanhe:
TRANSMISSÃO AO VIVO
Realização: Parceria: Apoio: Patrocínio:
mento na Justiça, que enten-
deu a taxação como ilegal e in-
constitucional. Parecer ante-
rior da promotoria de Vargem
Grande Paulista já havia apon-
tado a ilegalidade.
Sobre o caso, o prefeito Jo-
sué Ramos alega que é uma ex-
ceção e a maioria das empre-
sas locais apoia a cobrança. Is-
so porque, segundo ele, esse va-
lor é às vezes mais baixo do
que uma contribuição para o
vale-transporte de um traba-
lhador. l
CIRCULAÇÃO
NACIONAL
11 DE DEZEMBRO
Mediação:
Eliane Cantanhêde
Colunista do
Estadão
A18
ESPORTES
Copa do Catar
Decisivo, Messi supera Maradona e
Argentina terá a Holanda pela frente
Craque abre caminho para a vitória apertada em cima da Austrália por 2 a 1, nas
oitavas de final; camisa 10 chega a nove gols em Mundiais e celebra com sua torcida
Messi e jogadores da Argentina saúdam a torcida após a vitória sobre a Austrália; reta final do jogo foi sofrida, mas time está nas quartas
FÁBIO HECICO
Com final tenso e Messi fazen-
do história, a Argentina está
nas quartas de final da Copa do
Mundo do Catar e terá a Holan-
da pela frente na próxima sex-
ta-feira, às 16h (horário de Bra-
sília). Ontem, em dia de mar-
cas importantes, o astro da se-
leção comemorou o 1000.º jo-
go da carreira superando o nú-
mero de gols de Maradona em
Mundiais (9 a 8) ao abrir cami-
nho no triunfo sobre a Austrá-
lia, por 2 a 1, no Ahmed Bin Ali
Stadium, em Al Rayyan.
Em uma partida que come-
çou bastante complicada, o gol
de Messi aos 35 minutos foi o
passo decisivo para a seleção
espantar qualquer possibilida-
de de nova zebra após estrear
no Catar sofrendo virada dian-
te da Arábia Saudita, por 2 a 1.
Mesmo sem brilho, os herma-
nos foram melhores na partida
e souberam se comportar nos
minutos finais quando a Aus-
trália diminuiu e quase conse-
guiu buscar o empate.
Após o jogo, o craque falou
sobre o alívio após o apito fi-
nal. “Parecia um jogo controla-
“Vamos ter um
cruzamento muito
difícil, eles (jogadores
da seleção holandesa)
vão querer tirar a bola
da gente. A essa altura,
a Copa do Mundo fica
ainda mais difícil”
Lionel Messi
Craque da Argentina
do inicialmente, poderíamos
ter cadenciado melhor. Apesar
da última bola defendida pelo
Dibu (Emiliano Martínez),
não sofremos muito. Foi uma
partida muito física. Nosso go-
leiro teve um desempenho
muito bom e fez belas defesas.
Foi impressionante. Consegui-
mos passar é e isso que era im-
portante”, afirmou Messi.
O craque argentino ainda
elogiou sua torcida, falou so-
bre o cansaço e ainda avaliou o
confronto contra a Holanda.
“A verdade é que quando dizía-
mos que estávamos jogando a
cada três dias e isso poderia
ser uma loucura, não ter des-
canso. Mas ao mesmo tempo
queríamos estar aqui, pelo sen-
timento, pelo que as pessoas
estão transmitindo, pelo que
isso significa. Vamos ter um
cruzamento muito difícil, eles
vão querer tirar a bola da gen-
te. A essa altura a Copa fica ain-
da mais difícil”, finalizou.
DECISIVO. Com nove gols em
Copas, Messi agora está a um
de igualar Batistuta. Sete vezes
eleito o melhor do mundo, ele
entrou em campo para seu mi-
lésimo jogo da carreira como
principal nome da Argentina.
Messi tinha mais uma vez a
companhia de Julián Álvarez
na frente. O jovem do Man-
chester City ganhou a vaga do
experiente Lautaro Martínez
para dar mais velocidade con-
tra um rival declaradamente
disposto a se defender e tentar
“achar” um contragolpe.
Mesmo com todo o ambien-
te favorável, a Argentina não
conseguia dar sustos à bem
postada Austrália, que aos pou-
cos começou a se arriscar na
frente, investindo no jogo aé-
reo, também sem precisão.
O jogo era bem chato até o
gênio aparecer. Agarrado, Mes-
si se irritou com o defensor. A
resposta? Cobrou a falta que
LUCAS FIGUEIREDO/CBF
JUAN IGNACIO RONCORONI/EFE
após o corte voltou a seus pés.
Ele rolou para o meio e correu
para a área para receber livre.
Em tapa característico, a bola
acabou no canto esquerdo de
Mat Ryan, aos 35 minutos.
Messi também chegou on-
tem a impressionantes 94 gols
pela seleção argentina. Vibrou
muito, fez o sinal da cruz, er-
gueu as mãos aos céus e foi sau-
dado por todos os companhei-
ros. Foi o 788.° gol na carreira.
Eis que uma lambança da de-
fesa australiana acabou custan-
do caro e facilitando a vida dos
sul-americanos. Um recuo pa-
ra o goleiro, que tentou driblar
De Paul e perdeu a bola para
Julián Álvarez ampliar.
O problema para a Argenti-
na é que o terceiro gol não saiu
e, em raro ataque, os australia-
nos “voltaram” para o jogo.
Goodwin bateu forte, a bola
desviou em Enzo Fernández e
acabou dentro do gol.
Depois disso, Messi tentou
aliviar a pressão ao servir Lau-
taro Martínez, que havia entra-
do. Cara a cara, o atacante man-
dou pelo alto. Repetiu a dose e
o ex-titular desperdiçou de no-
vo. Depois, o gênio arriscou
ele mesmo e quase marcou.
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
A21 Recuperação
Neymar volta a treinar com
bola no gramado
ARGENTINA AUSTRÁLIA
2 1
Argentina. Martinez; Molina
(Palácios), Romero, Otamendi e
Acuña (Tagliafico); Enzo Fernández,
De Paul e Mac Allister (Montiel);
Papu Gómez, Lionel Messi, Julián
Álvarez (Lautaro Martínez).
Técnico: Lionel Scaloni
Austrália. Mat Ryan; Degenek
(Karacic), Souttar, Rowles e Behich;
Irvine, Mooy, Baccus (Hrustic) e
McGree (Goodwin); Leckie (Kuol) e
Duke (MacLaren).
Técnico: Graham Arnold
Gols: Messi, aos 35 minutos do
1º tempo; Julián Álvarez, aos 12, e
Fernández (contra), aos 32 do 2º tempo
8 Faltas 15
1 Escanteios 3
4 Impedimentos 0
0 Amarelos 2
14 Chutes a gol 5
60% Posse de bola (1ºT) 40%
58% Posse de bola (2ºT) 42%
CRAQUE DO JOGO
Lionel Messi
ARGENTINA
Gols: 1
Chutes a gol 6
Passes 59 de 653 (9,03%)
No último minuto, a Austrá-
lia foi com todo mundo para o
ataque. A bola foi lançada para
a área e sobrou para Kuol – sozi-
nho, ele encheu o pé, mas ficou
no paredão Emiliano Martí-
nez. Fim do drama e Argentina
classificada para as quartas de
final da Copa do Mundo. l
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
alta a Tite mais ‘boleira-
F gem’ nesta Copa do Mun-
do. Alguns podem cha-
mar de ‘malandragem’
também. Não aquela de enga-
nar pessoas ou os adversários.
Refiro-me a tomar decisões
rápidas, agir para ganhar, não
levar em conta suas amarras
disciplinares e meritocratas, a
exemplo daquela fila certinha
na hora da merenda escolar.
Em torneio de sete jogos, o
treinador da seleção brasileira
tinha de ser mais boleiro e me-
nos ‘o cara justo que montou
um elenco nos últimos quatro
anos e se apega a processos de
trabalho no futebol’. Isso pode
até valer em competições lon-
gas, como o Brasileirão e as li-
gas nacionais da Europa. Copa
Laranja mecânica
‘Podemos ser campeões’, diz Van
Gaal após classificação holandesa
Evolução apresentada
pela seleção na vitória
sobre os EUA deixa o
treinador confiante;
próxima adversária
será a Argentina
FELIPE ROSA MENDES
Exibindo evolução a cada jogo,
a Holanda fez sua melhor parti-
da na Copa ontem e eliminou
os Estados Unidos, no Khalifa
International Stadium, em Ar-
Rayyan. O time venceu por 3 a
1, em dia inspirado de Dum-
fries e Depay, e enfrentará a Ar-
gentina nas quartas de final.
Dumfries foi o grande nome
da partida. O lateral foi respon-
sável por duas assistências e
um gol. Depay, ainda em busca
do seu melhor nível técnico
após se recuperar de lesão,
também balançou as redes e
foi a referência ofensiva da Ho-
landa ao longo de todo o jogo.
Pela equipe americana, Pulisic
também voltava de problema
físico e pouco ajudou a equipe.
“Não ficamos bem na posse
de bola, principalmente no pri-
meiro tempo. Mas marcamos
dois belos gols. Podemos fazer
muito mais e devemos fazê-
lo”, disse o técnico Louis van
Gaal. “Vamos ter que melho-
rar neste fundamento. Mas
também é verdade que melho-
ramos nisso no segundo tem-
po. Estou muito orgulhoso,
mas podemos fazer melhor.”
O exigente e vitorioso treina-
dor reconheceu a visível evolu-
ção da equipe e esbanjou con-
Robson Morelli
Tite tem de ser ‘boleiro’ e agir rápido
do Mundo é outra coisa.
Falta astúcia para a comis-
são técnica. Há alguns ex-joga-
dores ao lado de Tite que pode-
riam lhe apontar alguns cami-
nhos, digamos, menos purita-
nos, afinal, estamos falando de
futebol. Ele próprio esteve em
campo e sabe o que se passa lá
dentro. Eu sei que sua imagem
é identificada com o ‘certo’ e o
‘justo’ e ele está a sabe-se lá
quantos jogos de sua despedi-
da da seleção (sai no fim da Co-
pa) e não quer perder essa his-
tória. Mas ele deveria ter apren-
dido um pouco mais com o fra-
casso do Mundial da Rússia.
Suas decisões seguem um ro-
teiro que não vale para Copa.
Errou ao desmontar o time
contra Camarões. Se os jogado-
Holandeses festejam gol de Blind, segundo no triunfo contra os EUA; time esteve mais solto no ataque
fiança. “Já disse e vou repetir:
podemos ser campeões do
mundo. Isso foi o que eu já dis-
se e o que eu digo novamente.”
O inédito confronto numa
Copa do Mundo começou com
um cenário improvável. A tra-
dicional Holanda se postava
na retranca, enquanto os EUA
tomavam a iniciativa das
ações. Aos 2, Pulisic, que che-
gou a ser dúvida para o duelo,
criou a primeira boa chance de
gol e parou na boa defesa de
Noppert.
A maior posse de bola ameri-
cana parecia não surpreender
os holandeses. E, aos poucos,
estratégia montada por Van
Gaal se tornou uma armadilha
para o rival. Aos 9, na primeira
E-mail: robson.morelli@estadao.com
res brasileiros não têm condi-
ções de atuar quatro partidas
seguidas, não deveriam nem es-
tar na competição. Não dá para
ficar pensando em poupar, con-
Técnico se deu mal
na decisão de usar
reservas e seus
‘protegidos’: falta
mais ‘malandragem’
versar, verificar, titubear em
um Mundial, em que o cenário
mostra ao Brasil que times me-
nos cotados não se entregam e
que alguns de seus pares, co-
mo os treinadores da França e
da Espanha, também se vale-
ram da artimanha de poupar
chance, a Holanda acelerou o
contra-ataque e, numa linda
troca de passes, abriu o placar
com Memphis Depay. O ata-
cante virou o segundo maior
artilheiro da história da sua se-
leção, com 43 gols – está atrás
apenas dos 50 de Van Persie.
O lance, bem trabalhado,
confirmava a evolução da equi-
pe ao longo desta Copa. No pri-
meiro tempo contra os ameri-
canos, elevou o nível em todos
os setores: estava mais atento
na marcação (sob a liderança
de Van Dijk), errava menos pas-
ses no meio-campo e o ataque
se mostrava mais solto.
Com a estratégia de se con-
centrar na defesa e atacar pon-
tualmente, com força total, a
atletas e escancararam as por-
tas para cobranças e críticas.
Nem no Brasileirão, de 38 roda-
das, os técnicos trocam os 11
titulares. Tite deveria ter deixa-
do ao menos uns seis no jogo.
Em uma decisão única, ele
‘queimou’ todos os reservas.
Ninguém saiu de campo ani-
mado após a derrota para Ca-
marões. Não havia um time. Es-
ses atletas foram preparados
para entrar em suas respecti-
vas posições em equipes for-
madas. Tite e os seus pares er-
raram feio nesse sentido.
Confesso que após o jogo
contra Camarões estou con-
vencido de que o Brasil ainda
depende de Neymar no Catar.
E muito. E de Marquinhos e de
Thiago Silva e de Casemiro.
ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP
HOLANDA EUA
3 1
Holanda: Noppert; Timber, Van Dijk e
Ake (De Ligt); Dumfries, De Roon
(Bergwijn), F. De Jong, Blind e Klaassen
(Koopmeiners); Gakpo (Weghorst) e
Depay (Simons). Técnico: L. Van Gaal.
EUA: Turner; Dest (Yedlin), Walker
Zimmerman, Ream e Robinson
(Morris); McKennie (Wright), Adams e
Musah; Weah (Aaronson), Ferreira
(Giovanni Reyna) e Pulisic. Técnico:
Gregg Berhalter.
Gols: Depay, aos 9, e Blind, aos 45
minutos do 1ºT. Wright, aos 30, e
Dumfries, aos 35 minutos do 2ºT.
ESPORTES A19
O que estava em clima positi-
vo, terminou a primeira fase
em um velório. Agora Tite terá
de agir rapidamente para es-
pantar essa condição. Pior.
Dois jogadores foram cortados
ontem, Gabriel Jesus e Alex Tel-
les. Mas não era para ser a Copa
em que os atletas (da Europa)
chegariam voando? Há alguma
coisa errada. É o clima? É o tem-
po de preparação? É a falta de
treino? Todas as pancadas de
campo têm sido fatais para os
jogadores brasileiros. A sele-
ção precisa entrar no verdadei-
ro clima de Copa nas oitavas. l
EDITOR GERAL DE ESPORTES DO ESTADÃO E
COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO
INSTAGRAM: @ROBSONMORELLI7;
TWITTER: @ROBSONMORELLI;
FACEBOOK: @ROBSONMORELLI
Holanda aumentou a vanta-
gem antes do intervalo. Uma
boa trama pela direita, inicia-
da numa cobrança de lateral,
encontrou Blind, sem marca-
ção, na marca do pênalti. O po-
livalente jogador esbanjou ex-
periência ao bater firme no
canto: 2 a 0.
O segundo gol fez os ameri-
canos iniciarem o segundo
tempo quase no “modo deses-
perado”. Eles passaram a bus-
car mais o ataque, deixando a
partida ainda mais aberta. E,
mais franco, o confronto pas-
sou a exigir mais de ambos os
goleiros. Aos 15, Turner salvou
Eliminados
Aos EUA, meta é melhorar
o nível da sua seleção para
2026, quando vai sediar a
Copa com México e Canadá
os EUA numa bela defesa após
finalização de Depay. A bola
passou rente ao travessão.
Do outro lado, a equipe ame-
ricana esboçou pressão e apro-
veitou um vacilo geral da defe-
sa para descontar, aos 30, com
Wright. A festa americana du-
rou apenas cinco minutos. Des-
taque do jogo, Dumfries con-
cluiu outra boa trama holande-
sa no ataque e sacramentou a
vitória e a classificação.
Já os EUA devem buscar ele-
var o nível da sua seleção, de
olho na Copa de 2026, quando
serão uma das três sedes, ao
lado de Canadá e México.
BRASILEIRO NO APITO. O jogo
que abriu as oitavas de final foi
o terceiro apitado pelo brasilei-
ro Wilton Pereira Sampaio,
acompanhado pelos assisten-
tes compatriotas Bruno Pires
e Bruno Boschilia. Numa parti-
da relativamente tranquila, o
juiz teve desempenho discre-
to, sem decisões questioná-
veis. l

A20 ESPORTES
Craques
da Copa
Análises diárias do Mundial
Pode quase
tudo na Copa
penas o Brasil de 1970,
A entre os escretes pen-
tas, repetiu a escalação
do 4 a 1 da estreia para o
4 a 1 da final. Pelé diz ter sido o
melhor futebol dos três cane-
cos que ergueu. Foi a seleção
campeã de cor e de cabeça de
todos os Mundiais. Não só por
Zagallo acomodar (com algum
incômodo) tantos talentos co-
mo Pelé e Tostão (que para o
técnico eram ‘incompatíveis
taticamente’). O Brasil ainda ti-
nha Jairzinho de volta à ponta,
e Rivellino fechando pela es-
querda numa função onde bri-
Mundial acessível
Salas sensoriais nos
estádios da Copa ajudam
na inclusão de torcedores
Três arenas contam
com espaços onde
pode-se ver os
jogos em locais mais
silenciosos e com
tecnologia assistiva
DOHA
O Comitê Supremo de Entre-
ga e Legado (SC), a Fifa e a or-
ganização da Copa do Catar
criaram salas sensoriais para
torcedores com diferentes ti-
pos de deficiência em três está-
dios: Al Bayt, Lusail e Educa-
tion City. Os espaços permi-
tem que os torcedores assis-
tam às partidas em um espaço
mais silencioso, equipado com
tecnologia assistida e gerencia-
do por uma equipe especializa-
da. Esta edição da Copa conta
com a maior implantação de sa-
las sensoriais em um megae-
vento esportivo da história.
Várias salas móveis também
foram instaladas em todo o Ca-
tar para dar aos fãs a oportuni-
dade de se afastar de grandes
multidões ou música alta. Os
locais incluem a Corniche, on-
de o SC organizou um grande
número de ativações cultu-
rais, e a Fan Fest.
Para Yassine Chahboub, é o
sonho de toda a vida participar
de uma Copa. No entanto, o
marroquino de 35 anos tem ne-
cessidades sensoriais que difi-
cultam a participação em parti-
HO JE !
André Rizek
Mauro Beting (Amanhã)
lhou quem nunca havia atuado
ali (e ele dizia que não aprende-
ria a jogar assim em um mês).
Zagallo ainda improvisou o vo-
lante Piazza na zaga, e, uma se-
mana antes da estreia, fixou
Everaldo na lateral, também
para liberar do outro lado Car-
los Alberto Torres.
O Brasil foi tudo isso por 19
dias, em 1970. Não mais. Nem
antes. Não era nada disso quan-
do deixou o País sob vaias, no
último amistoso, no Rio, faltan-
do um mês para a Copa, quan-
do Zagallo disse que aquela
que viria a ser a seleção de to-
dos os tempos não era a “equi-
pe dele, mas a do povo”.
E ainda é. De todos os po-
vos. Também por ter treinado
122 dias direto. Quase um time
das ao vivo. Grandes multi-
dões, fãs barulhentos e luzes
brilhantes são opressores para
Chahboub, mas graças à dispo-
nibilidade de salas sensoriais
seu sonho se tornou realidade.
“Nunca pensei que poderia
torcer para meu time da arqui-
bancada, ainda mais em uma
Copa do Mundo. Quando sou-
be que o Catar estava oferecen-
do espaços tranquilos para os
quais posso me refugiar se tu-
do se tornar demais, imediata-
mente reservei minhas passa-
gens”, disse Chahboub, ao site
da Fifa. Ele voou de Budapeste
para o Catar com seu amigo de
longa data, Badre Bedrkich.
Para Adel Al Awad, trazer
seu irmão de 13 anos, Ibrahim,
“Nunca pensei que
poderia torcer da
arquibancada, ainda
mais em uma Copa.
Quando soube que o
Catar teria espaços
tranquilos para os
quais posso me refugiar
se tudo se tornar
demais, imediatamente
reservei minhas
passagens”
Yassine Chahboub
Torcedor de Marrocos
Fred Rudy Landucci
(6/12) (7/12)
permanente. Perene quanto o
encantamento há 52 anos.
Tite, desde antes da Copa
de 2018, estuda a respeito por
quanto tempo deve ter “pa-
ciência” para mexer na equipe
O Brasil segue
favorito. Não perde
para ele mesmo. Pode
ser vencido por ser
futebol, que tudo pode
ou em algum nome em torneio
tão curto e intenso. Sabe que
esperou demais na Rússia.
Mas quem de fato sabe alguma
coisa? Em 1958, Pelé não esta-
va 100% fisicamente até explo-
dir contra a URSS. Junto com
para a Copa do Mundo, é uma
experiência importante. “Ele
adora futebol e sempre fica ani-
mado quando vamos ao está-
dio. Embora ele ame as ima-
gens e os sons de estar nas ar-
quibancadas, às vezes eles po-
dem ser um pouco demais pa-
ra ele. Como uma criança com
autismo, seus sentidos podem
ser sobrecarregados, mas es-
sas salas sensoriais tornam a
experiência muito administrá-
vel”, disse Al Awad. “Mais im-
portante, esses tipos de instala-
ções dão a Ibrahim a oportuni-
dade de vivenciar grandes
eventos e ganhar confiança pa-
ra se integrar melhor em am-
bientes sociais.”
“Nosso compromisso com a
acessibilidade faz parte do nos-
so planejamento para o tor-
neio desde o início. Garanti-
mos que as pessoas com defi-
ciência tenham um papel dire-
to na determinação de quais ti-
pos de serviços estarão dispo-
níveis para elas durante o tor-
neio e como a Copa do Mundo
pode deixar um legado acessí-
vel duradouro para o país e a
região como um todo”, disse
Khalid Al Naama, diretor exe-
cutivo de Engajamento Comu-
nitário e Desenvolvimento Co-
mercial do SC.
O torneio também está sen-
do aclamado como a edição
mais acessível da história, com
os oito estádios sendo equipa-
dos com instalações para torce-
dores com deficiência.
Glenda Kozlowski
(8/12)
Garrincha, afastado pelo trei-
nador Vicente Feola por irres-
ponsabilidade tática, digamos.
Zito, Vavá e Djalma Santos
também chegaram à final sain-
do das arquibancadas (a substi-
tuição de um atleta em Copas
só começaria em 1970). Em
1962, no segundo jogo, perde-
mos Pelé. E ganhamos Amaril-
do. E muito mais de Mané.
Em 1994, Ricardo Rocha se
lesionou. Leonardo foi suspen-
so. Raí perdeu a titularidade.
Em 2002, Kleberson ganhou o
lugar no meio nas quartas.
O Brasil foi 100% há 20
anos mudando as peças e turbi-
nas e até o combustível em
voo. Agora, depois do inespera-
do pitstop do back-up canari-
nho contra Camarões, há ain-
Salas têm decoração especial, som controlado e jogos interativos
ESPAÇO NO BRASIL. A lista é
curta, mas há clubes brasilei-
ros preocupados com seus tor-
cedores autistas. Na Neo Quí-
mica Arena, por exemplo, exis-
te um espaço destinado a aco-
modar corintianos com Trans-
torno do Espectro Autista
(TEA). Situada no setor Oeste
Superior, a sala tem paredes e
janelas com isolamento de
som, bem como atividades de-
senvolvidas para autistas e de-
ficientes intelectuais. Além dis-
so, o portador de autismo tem
direito a um ingresso gratuito
e até três bilhetes com descon-
to de meia-entrada para seus
acompanhantes.
No Paraná, o Couto Pereira,
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
Nasi Arnaldo Ribeiro
(9/12) (10/12)
da a mais inusitada Coreia do
Sul de Son. Aquela que, no
meio do ano, levou de cinco
em amistoso que então se acha-
va desnecessário. Como pare-
cia ser contra o Japão. Nesta
Copa, onde a camisa é menos
respeitada no Catar que as bra-
çadeiras dos capitães, ainda
tem muita bola para murchar.
Não existem mais babas
nem bobos no futebol. Mas al-
gumas situações não mudam,
mesmo mexendo na escala-
ção. O Brasil segue favorito.
Não perde para ele mesmo. Po-
de ser vencido por ser futebol,
que tudo pode. Como o Brasil
pode tudo em Copas. l
COMENTARISTA DA TNT SPORTS, SBT E RÁDIO
JOVEM PAN
FOTO: FIFA
estádio do Coritiba, inaugurou
em agosto uma sala de acomo-
dação sensorial. O espaço é
destinado para pessoas autis-
tas e seus familiares.
Em Porto Alegre, o Interna-
cional não tem ações direcio-
nadas especificamente aos au-
tistas, mas dispõe de um grupo
que atua sob a coordenação e
supervisão da gerência de ope-
rações para facilitar o acesso
de torcedores com deficiência
física (PCD), desde a chegada
ao estádio, acomodação na
área específica e saída.
No Nordeste, o Náutico re-
servou uma área no estádio
dos Aflitos, no Recife, para tor-
cedores com TEA. l
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
Otimismo
Neymar treina com bola e cria expectativa
de voltar à seleção contra a Coreia do Sul
Atacante não sente
dores no tornozelo,
mas médicos preferem
a prudência; hipótese
de ele ficar no banco
amanhã é considerada
MARCIO DOLZAN
RICARDO MAGATTI
ENVIADOS ESPECIAIS
DOHA
Sorridente, disposto e à vonta-
de nos movimentos, Neymar
treinou com bola no gramado
ontem pela primeira desde
que sofreu a lesão no tornoze-
lo direito na estreia da seleção
brasileira na Copa do Mundo,
há dez dias. Calçou as chutei-
ras e, descontraído, participou
de parte do treinamento no
Grand Hamad Stadium, au-
mentando a expectativa em re-
lação ao seu retorno nas oita-
vas de final contra a Coreia do
Sul, amanhã, no Estádio 974.
As imagens divulgadas pela
CBF mostram o atacante sorri-
dente. Ele participou do aqueci-
mento, da roda de bobinho, e
depois fez trabalhos separado
do restante dos atletas. No ví-
deo, aparece finalizando a gol
com os dois pés e sorrindo após
acertar o alvo, que estava sem
goleiro. “Gravou esse chute
aí?”, perguntou ao cinegrafista,
bem-humorado.
Depois do treino, aumentou
a expectativa sobre seu retorno
ao postar no Instagram uma
mensagem em inglês: “I feel
good, I knew that I would now
(eu me sinto bem, sabia que me
sentiria assim agora), escreveu
Neymar. A sentença é um tre-
cho da música I got you, de Ja-
mes Brown.
CAUTELA. A presença dele no
gramado, dando início à transi-
Telles e Gabriel Jesus
estão fora do Mundial
DOHA
O lateral-esquerdo Alex Telles
e o atacante Gabriel Jesus es-
tão fora da Copa do Mundo do
Catar. Os dois atletas foram
diagnosticados com lesão no
joelho direito e não se recupe-
rariam a tempo de retornar à
seleção brasileira para os due-
los de mata-mata. Os jogado-
res se machucaram no jogo
com Camarões, vencido pelo
time africano por 1 a 0, na últi-
Neymar, durante o treino de ontem, no CT da seleção no Catar; desenvoltura do jogador mostra evolução do tratamento no tornozelo
ção, mostra que houve evolu-
ção em seu tratamento e que já
não sente mais dores no torno-
zelo, que estava muito inchado.
Mas, seu retorno ainda é trata-
do com cautela pelos médicos
da seleção.
Ter calçado as chuteiras e fei-
to trabalhos em campo com bo-
la representa um avanço impor-
tante no processo de recupera-
ção, mas ainda não é garantia
de que estará em campo contra
a Coreia do Sul. Apesar de não
demonstrar qualquer dificulda-
de para correr ou bater na bola,
a presença do jogador na parti-
da de amanhã ainda é incerta
porque ele ficou nove dias sem
ir ao gramado, e agora passa pe-
la etapa de transição.
Em circunstâncias normais,
apenas dois dias de treinamen-
ma rodada da fase de grupos.
Exames realizados na ma-
nhã de ontem apontaram le-
sões nos joelhos de Alex Telles
e Gabriel Jesus. A ressonância
magnética constatou contu-
sões nos dois atletas, que fo-
ram titulares pela primeira vez
no Mundial do Catar.
Após conversar com os dire-
tores de Arsenal e Sevilla, a se-
leção brasileira definiu que os
dois jogadores vão deixar o gru-
po no Catar para dar sequên-
cia ao tratamento de suas le-
to com bola após mais de uma
semana em fisioterapia devido
a uma lesão ligamentar não se-
riam suficientes para colocar
um atleta em campo. Mas a sele-
ção e o próprio Neymar já cogi-
tam a possibilidade de ele atuar
no sacrifício caso haja a necessi-
dade. Afinal, trata-se de uma
Copa do Mundo.
SÓ NA EMERGÊNCIA. Assim, a
tendência maior é de que Ney-
mar seja ao menos relacionado
para o jogo diante da Coreia do
Sul. Ele começaria a partida no
banco e só entraria em caso de
extrema necessidade.
Como tem ocorrido desde o
início da Copa, ontem Tite fe-
chou à imprensa o treino da an-
tevéspera da partida. Ele pôde
contar com Danilo, que, em eta-
sões em seus clubes.
Gabriel Jesus retornará a
Londres hoje no período da tar-
de (horário de Doha), enquan-
to Alex Telles ficará no Catar
até amanhã. Ele assiste à parti-
da contra a Coreia do Sul e via-
ja para a Espanha na terça-fei-
ra. Ele vai iniciar tratamento
em Madri, capital espanhola.
LESÕES. Depois de saltar para
disputar a bola na defesa no
jogo contra Camarões, Alex
Telles sofreu um trauma e tor-
ceu o joelho ao cair. Após a
partida, na zona mista, o za-
gueiro Thiago Silva disse que
o companheiro “estava bem
triste” e o trauma tinha deixa-
do o joelho “bem dolorido”. É
possível que Telles tenha de
pa mais avançada no processo
de recuperação da lesão no tor-
nozelo esquerdo, participou de
todo o treinamento com os de-
mais jogadores.
Alex Sandro, por outro lado,
permaneceu no hotel da sele-
ção brasileira fazendo exercí-
cios na fisioterapia. É imprová-
vel que enfrente os sul-corea-
nos. Dessa maneira, Tite terá
de improvisar um jogador na la-
teral esquerda, uma vez que
Alex Telles rompeu o ligamen-
to lateral do joelho direito e es-
tá fora da Copa do Mundo, as-
sim como Gabriel Jesus (mais
informações nesta página).
Neymar foi um dos jogado-
res que procuraram confortar e
dar apoio aos dois colegas. “For-
ça e fé!! Estaremos sempre jun-
tos’’, postou.l
ser submetido a um procedi-
mento cirúrgico.
A lesão de Gabriel Jesus pare-
cia ser menos grave, com recu-
peração estimada em até três
semanas – o que já faria com
Cirurgia
Rodrigo Lasmar, médico da
seleção, não descarta a
possibilidade de Telles ser
submetido a uma operação
que ele perdesse o restante do
Mundial do Catar. Contudo,
na tarde de ontem, após os exa-
mes, a possibilidade de cirur-
gia também foi avaliada pelos
departamentos médicos da se-
leção e do seu clube.
ESPORTES A21
LUCAS FIGUEIREDO/CBF
Árbitro do jogo será o
francês que apitou final
da Liga dos Campeões
A Fifa escalou o francês Clé-
ment Turpin, árbitro da fi-
nal da última Liga dos Cam-
peões, para apitar o jogo
entre Brasil e Coreia do
Sul. Os também franceses
Nicolas Danos e Cyril Grin-
gore atuarão como assisten-
tes, e o sérvio Slavko Vincic
será o quarto árbitro.
Será a terceira partida de
Turpin na Copa. Ele reen-
contrará a Coreia do Sul
depois de ter apitado o em-
pate sem gols da equipe
oriental com o Uruguai, na
primeira rodada. l
O atacante do Arsenal rela-
tou as dores só quando voltou
para o banco de reservas na
partida contra Camarões, de-
pois de ser substituído por Pe-
dro, no segundo tempo.
O departamento médico da
seleção brasileira ainda traba-
lha para recuperar Neymar, Da-
nilo e Alex Sandro para a se-
quência do Mundial. Cabe lem-
brar que Tite não poderá con-
vocar mais atletas porque o re-
gulamento da Copa do Mundo
só permite alterações de joga-
dores machucados até 24 ho-
ras antes da estreia.
O elenco, portanto, ficará
com no máximo 24 jogadores,
isso se Danilo, Alex Sandro e
Neymar se recuperarem com-
pletamente. l
 DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
A22 ESPORTES O ESTADO DE S. PAULO

CHRISTOPHE ENA/AP
Oitavas de final

Campeã França FRANÇA POLÔNIA

e Inglaterra vão Lloris

Koundé
Varane
Upamecano
Szczesny
Bereszynski
Kiwior
Glik

à luta por vagas T. Hernandez

Rabiot
Rchouaméni
Griezmann;
Matty Cash
Frankowski
Szymanski
Bielik

nas quartas Dembélé

Mbappé
Giroud
Técnico:
D. Deschamps
Zielinski
Milik
Lewandowski
Técnico:
C. Michniewicz

Juiz: Jesús Valenzuela Sáez (VEN).

Franceses enfrentam
a instável seleção da
Polônia e os titulares
voltam; ingleses têm
pela frente a confiante
equipe de Senegal
DOHA
Atual campeã, a França inicia
como ampla favorita sua jorna-
da na fase eliminatória da Co-
pa do Mundo. Hoje, às 12h, ten-
ta confirmar sua força diante
da Polônia, pelas oitavas de fi-
nal. Quem avançar encara o
vencedor de Inglaterra e Sene-
gal, que jogam às 16h.
A França terminou a fase de
grupos na liderança do Grupo
D, com seis pontos. A Polônia
teve vida mais difícil no Grupo
C e avançou em segundo, com
quatro pontos.
Após iniciar o jogo com a Tu-
nísia (derrota por 1 a 0) com
reservas, o técnico Didier Des-
champs naturalmente retorna-
rá com todas as suas estrelas
no time titular. A escalação
não deve ter nenhuma surpre-
sa e o foco estará em ajustar a
marcação, principalmente pa-
ra dificultar a vida de Robert
Lewandowski. Outro cuidado
a se tomar são com os contra-
ataques, que deverão ser a prin-
cipal arma da Polônia.
Apesar do favoritismo, Des-
champs pediu para seus joga-
dores respeitarem o adversá-
rio e admitiu preocupação
com Lewandowski. “Eles têm
um núcleo duro de jogadores
com boa experiência interna-
cional. Precisamos respeitar,
pois merecem estar nas oita-
vas. Atenção máxima obvia-
mente para Lewandowski. É
um jogador que precisa ter seu
espaço limitado”, analisou.
No lado da Polônia, o técni-
co Czeslaw Michniewicz está
confiante: “Meu time entrará
em campo contra os franceses
para fazer uma partida bem di-
ferente da fase de grupos’’.
ATENÇÃO TOTAL. Ainda invicta
na Copa do Mundo, a Inglater-
ra busca confirmar o favoritis-
mo. Os ingleses terminaram
na liderança do Grupo B com
sete pontos. Já Senegal mar-
cou seis pontos e passou em
segundo lugar do Grupo A.
TV: Globo e SporTV. Horário: 12h.
Local: Estádio Al Thumama,
INGLATERRA SENEGAL
Pickford Mendy
Walker Sabaly
Stones Koulibaly
Maguirre Diallo
Luke Shaw Jakobs
Henderson Ciss
Rice Pape Gaye
Bellinghan Idrissa Gaye
Rashford Sarr
Phil Foden Ndiaye
Harry Kane Dia
Técnico: Técnico:
G. Southgate Aliou Cissé
Juiz: Ivan Cisneros (El Salvador).
TV: Globo, SporTV e SporTV 2.
Astro do PSG, Mbappé é um dos artilheiros do Mundial, com 3 gols Local: Al Bayt Stadium, às 16h.
O técnico Gareth Southgate mente perigoso.” cuperados.
admite o favoritismo, mas aler- Senegal pode fazer o con- “Da nossa parte, o recado é
ta para o fato de a seleção afri- fronto decisivo sem o técnico dizer que Senegal vai vencer a
cana ser perigosa. “São gran- Aliou Cissé. Uma febre o tirou Inglaterra. Temos de ter a am-
des jogadores, atuam nas gran- da entrevista coletiva ontem e bição de ganhar de todos’’, dis-
des ligas e têm alguns na Ingla- sua presença é incerta. Kouya- se o auxiliar Regis Bogaert, que
terra. Somos os favoritos, sabe- té, contundido, está fora do jo- lembrou o fato de a seleção afri-
mos, e teremos de lidar com go. Em compensação, os defen- cana já ter atingido as quartas
isso. Mas é um time extrema- sores Sabaly e Mendy estão re- no Mundial de 2002. l

NA WEB
Simulador de resultados
A COPA EM NÚMEROS da Copa do Mundo

OITAVAS DE FINAL QUARTAS DE FINAL OITAVAS DE FINAL

Holanda CAMINHO DO BRASIL
Holanda (3) Inglaterra
ATÉ A FINAL QUARTAS DE FINAL Hoje. 16h

EUA (1) 10/12 Senegal

9/12. 16h 16h
Argentina (2) França
SEMIFINAL FINAL SEMIFINAL Hoje. 12h

Austrália (1) Argentina Polônia

13/12 18/12 14/12
16h 12h 16h
Japão Marrocos
Amanhã. 12h Terça-feira. 12h

Croácia 9/12 10/12 Espanha

12h 12h
17/12
Amanhã. 16h 12h Portugal
Terça-feira. 16h
Brasil
DECISÃO DO 3º LUGAR Suíça
Coreia do Sul

PRINCIPAIS ARTILHEIROS O MELHOR DA TV

JULIO CORTEZ/AP
SEL. GOLS
FUTEBOL 10h / SporTV 3 20h / SporTV 2
1º Mbappé FRA 3 l Copa do Mundo
Rashford ING 3 França x Polônia FUTSAL FUTEBOL AMERICANO
Gapko HOL 3 12h / Globo e SporTV l Liga Gaúcha (final) l NFL
Enner Valencia EQU 3 Inglaterra x Senegal Carlos Barbosa x Atlântico G.B. Packers x Chicago Bears
Messi ARG 3 16h / Globo, SporTV e SporTV 2 11h / BandSports 15h / ESPN 4
Morata ESP 3 Dolphins x S. Francisco 49ers
TÊNIS BASQUETE 18h05 / ESPN 3
l Torneio internacional l NBA Ind. Colts x Dallas Cowboys
Final Brooklyn Nets x Celtics 22h20 / ESPN 2
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
Entre dois Mundiais
Na final do Mundial improvisado no Centro de Ressocialização de Limeira, entre muros de 7 metros, deu Brasil e França; os detentos ‘brasileiros’ venceram nos pênaltis
Na arena onde
chamar juiz de
ladrão é piada,
a liberdade tem
forma de bola
Enquanto veem os jogos do Catar,
detentos de Limeira fazem sua própria
Copa do Mundo e tentam virar o jogo
GONÇALO JUNIOR
A quadra de esportes é vigiada
por uma torre de segurança
sempre ocupada por um guar-
da. Os muros de 7 metros pare-
cem ainda mais intransponí-
veis por causa de uma cerca
de arame farpado que arrepia
só de olhar.
Mesmo assim, os detentos
do Centro de Ressocialização
de Limeira, cidade a 156 quilô-
metros de São Paulo, se esque-
cem do cárcere por ali, princi-
palmente durante a Copa do
Mundo. Se a liberdade tivesse
um formato, seria uma bola.
Jogos numa prisão são irôni-
cos. Um dos árbitros é Jona-
tas Sotopietra, de 32 anos, que
cumpre pena de dois anos por
assalto (artigo 157 do Código
Penal). “Os papéis estão inver-
tidos, né? Estou pagando pelo
meu erro e, na hora do jogo, eu
decido o certo e o errado”. Mi-
nutos antes dessa conversa, um
agente de segurança tinha feito
uma piada. “Aqui dentro, todo
juiz é ladrão.”
LEI. A parte disciplinar é levada
a sério. Os cartões são os mes-
mos do futsal, e o mais usado é o
amarelo, dado por reclamação.
Palavrões também são adverti-
dos. “Discussão sempre tem,
mas nunca vi briga”, diz o juiz.
Entrar na cadeia é tenso.
Dois idosos, já com cabelo bran-
co, saem para uma visita médi-
ca. Algemas, olhar para o chão.
Todo mundo só diz “sim, se-
nhor”. Há o medo de se fazer
alguma coisa errada ou que des-
cubram um mandado de prisão
sabe-se-lá-do-que por causa de
um homônimo.
Os agentes também ficam
ressabiados. Não é comum a en-
trada de jornalistas. Uma deci-
são judicial delimitou com ri-
Troféus (acima) em jogo no
torneio em que Jonata foi árbitro
“Os papéis estão
invertidos, né? Estou
pagando pelo meu erro
e, na hora do jogo, eu
decido o certo e o
errado”
Jonata Sotopiedra
Árbitro na prisão, condenado
a 2 anos por assalto
gor o foco da reportagem do Es-
tadão na última quarta-feira:
só esporte.
A quadra fica aberta apenas
duas horas pela manhã e duas
horas à tarde. “O futebol ajuda
a esquecer da realidade”, diz
Leonardo Lopes Cordeiro, de
25 anos, preso por se relacionar
com uma menor de idade. Sua
sensação é cronometrada por
um relógio digital. É a liberdade
que dura apenas 20 minutos.
Desde 2020, a unidade prisio-
UMA BOA HISTÓRIA DA COPA
nal organiza dois torneios
anuais. Por causa da Copa, os
times homenagearam as sele-
ções. A final foi disputada entre
Brasil e França. Deu Brasil nos
pênaltis (fica a dica). Jogos pe-
gados, melhores que alguns do
Catar.
O entusiasmo com a Copa di-
minuiu até o branco das pare-
des. Os presos fizeram painéis
coloridos, bandeiras e dese-
nhos para decorar o centro de
convivência.
CONVÍVIO. Todos podem assis-
tir aos jogos em um dos 19 aloja-
mentos nas tevês de 14 polega-
das presas no alto das paredes.
Emerson Vieira, de 25 anos, pre-
so por tráfico de drogas pela se-
gunda vez, acompanha seu pri-
meiro Mundial encarcerado.
Mas prisão é um lugar trai-
çoeiro. Quando você pensa que
está com a bola dominada, a rea-
lidade vem e dá um carrinho
por trás. É um lugar de transi-
ção, do crime para a sociedade.
As mãos que fazem um filé de
frango à milanesa macio e um
manjar de abacaxi que poderia
ser servido numa rotisserie são
as mesmas que mataram a com-
panheira. Feminicídio.
PERFIL. De acordo com a Secre-
taria da Administração Peniten-
ciária, os Centros de Ressociali-
zação (CRs) são “unidades des-
tinadas a custodiados com me-
nor nível de periculosidade”.
Aqui estão réus primários, com
pena inferior a 10 anos, sem en-
volvimento com facções crimi-
nosas. O ambiente é mais huma-
nizado e menos violento que as
cadeias do nosso imaginário, co-
mo a de Shawshank, do filme
Um sonho de liberdade.
Aqui, a cor predominante é o
amarelo: no portão principal e
nas portas dos alojamentos. Es-
sas portas não ficam trancadas,
o que permite a circulação. No
dia da visita do Estadão, os ba-
A23
FOTOS: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO
nheiros estavam limpinhos,
sem cheiro de xixi ou do núme-
ro 2. Todos os presos são trata-
dos pelo nome; apelidos são
proibidos.
O local funciona acima da sua
capacidade. Hoje, são 280 ree-
ducandos onde caberiam 229,
o que, na visão do diretor, Fer-
nando Gonçalves Pedro, não
compromete.
Conexão externa
Futebol representa ponte
para o que os presos
faziam antes de serem
encarcerados
Há estudo e trabalho nesta
prisão. As aulas são oferecidas
de segunda a sexta-feira à noi-
te por professores da rede es-
tadual para 155 presos. O traba-
lho é um dos pilares da resso-
cialização. Hoje, 16 empresas
possuem parcerias com a Fun-
dação de Amparo ao Preso
(Funap) e contratam 243 ree-
ducandos, oferecendo remu-
neração de um salário míni-
mo de acordo com a Lei de
Execuções Penais.
O futebol é tão importante
porque representa uma pon-
te imaginária para o que os
reeducandos faziam antes da
prisão. Jonatas era diretor es-
portivo do Pauliceia, time de
várzea de Piracicaba. Leonar-
do era atacante em um time
da Cidade Tiradentes, na zo-
na leste de São Paulo. E o fute-
bol também aponta para o fu-
turo. Um reeducando que
não quis se identificar disse
que tinha começado o jogo
perdendo, mas que estava
tentando virar o placar. Não
ficou claro se ele falava do
campeonato, da sua própria
vida ou dos dois. l
DURANTE A COPA, A BOA HISTÓRIA SERÁ
PUBLICADA NO CADERNO DE ESPORTES
A24 ESPORTES DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022 O ESTADO DE S. PAULO

Soluções Para:
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Sua Carreira Mercado em expansão
Brasil já responde por 10% dos
‘empregos verdes’ no mundo
Só no setor solar, previsão é fechar o ano com 200 mil novas vagas;
para especialistas, energia renovável pode alavancar crescimento do País
RENÉE PEREIRA
A qualidade da matriz energéti-
ca, com quase 50% de energia
renovável, e o potencial da eco-
nomia verde podem alavancar
o desenvolvimento do Brasil
nos próximos anos, com uma
geração de emprego mais sus-
tentável. Para se ter ideia, hoje
o País já responde por 10% de
todos os empregos verdes no
mundo, ocupando a segunda
colocação entre os maiores em-
pregadores da indústria de bio-
combustíveis, solar, hidrelétri-
ca e eólica.
O mercado brasileiro perde
apenas para a China, que tem
42% dos 12,7 milhões de pos-
tos de trabalho do planeta, se-
gundo dados da Agência Inter-
nacional de Energia Renovável
(Irena), compilados pela Con-
federação Nacional da Indús-
tria (CNI). A expectativa é de
que, até 2030, as energias reno-
váveis criem 38,2 milhões de
empregos no mundo.
Os cálculos consideram uma
transição energética ambicio-
sa e a aceleração de novos inves-
timentos para reduzir o aqueci-
mento global do planeta. No
Brasil, além da eólica e da solar,
há a aposta no hidrogênio ver-
de – área em que o País pode se
tornar líder mundial – e no co-
mércio do crédito de carbono.
“O potencial do trabalho ver-
de no Brasil é enorme, seja pe-
‘Será preciso criar novas funções ligadas à sustentabilidade’
ENTREVISTA
Oliver Azuara
Economista do BID
conomista sênior do
E Banco Interamerica-
no de Desenvolvimen-
to (BID), Oliver Azuara, da di-
visão de Mercados de Traba-
lho e Seguridade Social do
BID, fez recentemente um es-
tudo com o LinkedIn sobre em-
pregos verdes na América Lati-
na. Ele vê o Brasil em posição
de destaque, mas alerta para a
ECONOMIA
&NEGÓCIOS
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
lo tamanho da economia ou pe-
lo fato de ser o lar de ecossiste-
mas dos mais relevantes do pla-
neta, rico em recursos natu-
rais e biodiversidade”, diz o
economista sênior da divisão
de Mercados de Trabalho e Se-
guridade Social do Banco Inte-
ramericano de Desenvolvi-
mento (BID), Oliver Azuara.
Para ele, o benefício de “en-
verdecer” a economia no Bra-
sil será maior do que em qual-
quer parte do mundo. Isso por-
que o potencial de crescimen-
to das fontes renováveis, ao
contrário de outras partes do
Previsão
Energias renováveis
devem levar à criação de
38,2 milhões de empregos
no mundo até 2030
mundo, ainda é muito alto no
País. No setor eólico, por
exemplo, a energia offshore
(em alto-mar) nem começou a
ser explorada ainda, mas tem
potencial de 700 mil MW no
País. Cada MW de energia
offshore gera 17 postos de tra-
balho ao longo de 25 anos de
vida útil de um projeto.
Na eólica convencional, em
terra, esse número é um pouco
menor: 11,7 empregos por MW
instalado. A expectativa é de
que, nos próximos dez anos, o
setor acrescente no mínimo 3
necessidade de capacitação.
Veja a entrevista:
Qual o potencial do traba-
lho verde no Brasil?
É enorme, já que no País con-
fluem dois fatores muito im-
portantes: o tamanho da pró-
pria economia, das maiores
do mundo, e o fato de ser lar
de ecossistemas dos mais rele-
vantes do planeta, rico em re-
cursos naturais e biodiversida-
de. Falamos de um segmento
crucial diante da necessidade
de formarmos economias
mais sustentáveis. Para isso,
será preciso melhorar os pro-
O ESTADO DE S. PAULO E&N
Complexo eólico em Caetité (BA): setor impulsiona mercado de trabalho
mil novos MW por ano (em
2022, serão 5 mil MW), diz a
presidente da Associação Bra-
sileira de Energia Eólica (A-
beeólica), Elbia Gannoum. Is-
so significa cerca de 35 mil no-
vos postos de trabalho anuais.
No setor solar, hoje o que mais
cresce no Brasil e no mundo, a
geração de empregos em toda ca-
deia ultrapassou os 170 mil pos-
tos em 2021, e pode superar os
200 mil neste ano, segundo o pre-
sidente da Associação Brasileira
de Energia Solar Fotovoltaica
(Absolar), Rodrigo Sauaia. Se-
cessos produtivos já existen-
tes e criar novas funções liga-
das à descarbonização e à sus-
tentabilidade. Tudo isso re-
quer profissionais qualifica-
dos, e o mercado de trabalho
brasileiro já registra aumento
dessa demanda.
Há profissionais suficien-
tes?
De acordo com os dados do
LinkedIn compilados pelo
BID, o Brasil já é o país com
maior taxa de contratação pa-
ra emprego verde dentre as
grandes economias da Améri-
ca Latina. É também o País
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-11/9/2015
gundo ele, 60% dos empregos
do setor vêm da instalação de sis-
temas – empregos de nível técni-
co, com renda média de dois salá-
rios mínimos e carteira assinada.
Outros 40% vêm da fabricação
de componentes, projetos, enge-
nharia, administração, comer-
cial, vendas e marketing.
MAIORES EMPREGADORES. Ape-
sar de as novas fontes serem as
que mais acrescentam postos
de trabalho hoje, em termos
consolidados são os biocom-
bustíveis e as hidrelétricas que
que registrou a maior taxa de
crescimento nesse segmento
depois do desemprego produ-
zido pela pandemia. Ainda as-
sim, é possível detectar que há
espaço para acelerar o cresci-
mento dos empregos verdes
no Brasil: a expansão neste se-
tor é menos rápida do que no
mercado de trabalho de manei-
ra geral. E essa é uma lógica
transversal a toda economia. É
o caso de engenheiros especia-
lizados em painéis solares,
mas também de profissionais
de outras áreas que se destaca-
rão se souberem “enverdecer”
sua maneira de atuar. Por
INCLUI CLASSIFICADOS
B1
DESTAQUE O
CADERNO E&N
(B1 A B16)
empregam mais no Brasil, se-
gundo a Irena. De 1,27 milhão
de empregos verdes, 68% vêm
da indústria de combustíveis
sustentáveis e 14%, das usinas
hídricas – duas áreas tradicio-
nais no setor energético desde
os anos 60 e 70.
“O País já se encontra em po-
sição de vanguarda nesse tema
em relação às demais nações, e
segue uma trajetória sustentá-
vel, ampliando cada vez mais o
uso de fontes limpas, como
eólica e solar, além de apostar
em novas tecnologias, como o
hidrogênio verde”, diz o geren-
te executivo de Meio Ambien-
te e Sustentabilidade da CNI,
Davi Bomtempo.
O potencial de investimento
do produto é de US$ 200 bi-
lhões até 2040 no Brasil. Só em
Pecém (CE), três empresas
anunciaram investimentos de
US$ 14 bilhões em planta de
hidrogênio verde. Outro desta-
que é o crédito de carbono. A
consultoria McKinsey estima
que, para cada dólar provenien-
te dos benefícios da ação cli-
mática, a comunidade local re-
cebe um retorno socioambien-
tal líquido de US$ 1 a US$ 4 em
termos de criação de empre-
gos, desenvolvimento local e
serviços de ecossistema.
“Esse impacto se traduz na
geração de 550 mil a 880 mil em-
pregos líquidos por ano através
de projetos de restauração,
agroflorestas e REDD+ (incenti-
vo para compensar países em de-
senvolvimento por medidas de re-
dução de emissões)”, diz o sócio e
líder da prática de sustentabili-
dade da McKinsey, Henrique
Ceotto. Segundo ele, 57% des-
ses empregos são diretos e con-
centrados no local de imple-
mentação dos projetos. O exe-
cutivo afirma ainda que profis-
sionais com experiência no
mercado de carbono voluntá-
rio estão com demanda alta. l
BRASIL TEM DE ACELERAR PROGRAMAS
DE CAPACITAÇÃO. PÁG. B2
exemplo, um gerente de lo-
gística que traça rotas de entre-
gas de produtos levando em
conta as necessidades de dimi-
nuir a pegada de carbono.
Hoje, o País detém 10% dos
empregos verdes do mun-
do. O que isso representa?
Representa uma vantagem
competitiva para o País, mas
também alguns desafios. O
Brasil tem a chance de incre-
mentar a demanda e a oferta
de talento verde no nível re-
querido para alcançar os obje-
tivos climáticos e de sustenta-
bilidade. l R.P.

B2 ECONOMIA&NEGÓCIOS
ão é por razões técnicas
N que o PT e as lideranças
sindicais repelem a sen-
tença do Supremo Tri-
bunal Federal que liberou a ter-
ceirização do trabalho. Não se
conformam com a decisão que
não a impede até mesmo para
atividades-fim das empresas.
A prática da terceirização de
serviços ou de atividades fabris
vem aumentando, não só por re-
dução de custos, mas, também,
por maior eficácia na produção.
Pressupõe que especialistas te-
nham mais conhecimento e
maiores condições de escala pa-
ra exercer atividades dentro da
empresa. Quase sempre, con-
vém contratar um serviço espe-
cializado para desenvolver e
manter, por exemplo, a área de
Sua Carreira Formação de mão de obra
Com potencial
elevado, Brasil
tem de acelerar
programas de
capacitação
É necessário que
profissionais busquem
novas especializações
para conseguir uma
oportunidade neste
novo mercado
RENÉE PEREIRA
Após 18 anos trabalhando como
vendedor de medicamentos on-
cológicos, Ronaldo Ramos, de 51
anos, mudou os rumos de sua
vida profissional. Em 2020, com
a pandemia, as vendas despenca-
ram por causa do isolamento so-
cial. Em casa, com todos em ho-
me office, os gastos aumenta-
ram, incluindo o consumo de
energia. Apesar disso, o valor da
conta de luz não se alterou. “Ti-
nha placas solares no meu telha-
do e vi as vantagens dessa deci-
são. Percebi que poderia ser um
negócio a se pensar.”
Ramos começou a estudar o
assunto, fez curso de instalação
de painéis e virou franqueado
de uma empresa. Hoje, ele traba-
lha com energia solar, negócio
que cresce no mundo todo.
“Quero continuar nesse ramo.
Meu objetivo é estudar e me
aprofundar em energia renová-
Celso Ming
O PT, os sindicatos e a terceirização
informática do que desenvolvê-
la internamente.
A Justiça do Trabalho regula-
va o assunto pela Súmula 331 do
Tribunal Superior do Traba-
lho, que determinava que a ter-
ceirização devesse ater-se às
atividades-meio e nunca às ati-
vidades-fim de uma empresa.
Essa distinção entre ativida-
des-fim e atividades-meio pode
parecer fácil de entender. É cla-
ro, por exemplo, que os servi-
ços de faxina, de segurança, de
restaurante estão lá para apoiar
a função principal da empresa
e, assim, devem ser considera-
dos atividades-meio. Mas, em
inúmeras situações, essa distin-
ção não é simples. A colheita,
por exemplo, é essencial na pro-
dução de grãos e, no entanto,
vel, como usar turbina eólica
em casa.” O profissional recla-
ma, no entanto, da escassez de
cursos sobre o tema.
Esse é um alerta que muitos
especialistas têm feito: com um
futuro baseado na economia
verde, será necessário pensar
em novas especializações. “Es-
tamos vivendo um período de
mudanças profundas, com no-
vas tecnologias digitais na in-
dústria e a substituição dos com-
bustíveis, o que exige novas ha-
bilidades”, diz o diretor de ope-
rações do Senai, Gustavo Leal.
Ele afirma que, há cinco anos,
a entidade começou a ampliar o
portfólio de cursos em energias
renováveis. Entre 2017 e 2020,
o número de matrículas subiu
de 169 para 3.786. Neste ano, fo-
ram 9.655. Os cursos mais pro-
curados são de instalação de sis-
temas fotovoltaicos e de consu-
mo consciente de energia.
Mas há capacitações volta-
das para eólicas, açúcar e ál-
cool e mobilidade elétrica. A
instituição vai oferecer tam-
bém curso para a área de hidro-
gênio verde, para formar pro-
fissionais que queiram atuar
em várias etapas da produção,
transporte e distribuição do
novo combustível.
celso.ming@estadao.com
MARCOS MÜLLER/ESTADÃO
pode ser inevitável que o agri-
cultor contrate um terceiro, do-
no de colheitadeira (que custa
milhões de reais), para execu-
ção do serviço. Assim, também,
uma montadora de veículos po-
de preferir que uma firma espe-
cializada se encarregue da pin-
tura ou, então, que uma editora
de revista recorra a serviços de
impressão de terceiros.
Com base na Súmula 331, ape-
nas em 2016 a Justiça do Traba-
lho recebeu 106 mil novos proces-
Ronaldo Ramos, 51 anos, deixou a profissão de vendedor de remédios para instalar painéis solares
Além das energias renová-
veis, outros setores também po-
dem entrar nessa classificação
de emprego verde, como os seg-
mentos de transportes que
usem energia limpa e contri-
buam para a redução das emis-
sões de gases de efeito estufa.
Para quem tem interesse em
ter um emprego verde, a orienta-
ção é buscar capacitação. Um en-
genheiro pode se tornar projetis-
ta de sistema fotovoltaico se co-
nhecer o setor, por exemplo. O
presidente da Associação Brasi-
leira de Energia Solar Fotovoltai-
ca (Absolar), Rodrigo Sauaia,
diz que há carência na formação
de pessoas para trabalhar com
energias renováveis. “Depois de
formados, esses profissionais
precisam fazer uma comple-
mentação para conhecer as
áreas (como solar e eólica).”
O Senai oferece cursos para
técnicos em sistemas de ener-
gia renovável, especialista em
sistemas fotovoltaicos, técni-
sos que implicariam passivos tra-
balhistas e insegurança jurídica.
Em 2017, a reforma traba-
lhista do período Temer regula-
mentou a terceirização e aca-
bou com a distinção. Meses de-
pois, em 2018, o Supremo reco-
nheceu a constitucionalidade
da terceirização em todas as
etapas da produção, ao julgar
recurso da Cenibra, produtora
de celulose, que não aceitou
condenação de uma ação de
2006 por contratar terceiriza-
dos para o serviço de corte de
eucaliptos, em que o TJ-MG en-
tendeu tratar-se de atividade-
fim, e não de atividade-meio.
No fundo, nem o PT nem as
lideranças sindicais se apegam
à distinção entre atividade-fim
e atividade-meio. Alegam que a
cas de manutenção de siste-
mas elétricos de aerogerado-
res e profissional em legisla-
ção ambiental e segurança apli-
cada a parques eólicos.
NOVOS CARGOS. Outros car-
gos que serão demandados
nos próximos anos são profis-
sionais ligados à produção e
manejo florestal; geração e dis-
Mudança
Profissões atuais terão de
passar por reabilitação
e aprimoramento
no novo cenário
tribuição de energias renová-
veis; gestão de resíduos e de
riscos ambientais; e transpor-
tes coletivos alternativos ao ro-
doviário e aeroviário.
Segundo o sócio e líder da
prática de sustentabilidade da
McKinsey, Henrique Ceotto, o
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
liberação da terceirização pre-
cariza os direitos trabalhistas.
Mas repelem a terceirização
porque complica a mobiliza-
ção dentro da fábrica, da loja,
da agência bancária ou do escri-
tório, onde várias categorias
profissionais têm de conviver.
E, questão final, a ampla ativi-
dade sindical é essencial para o
PT que nela se apoia para mobili-
zação e cobertura de despesas
com locomoção e alimentação
das massas. Até agora, nenhum
dos documentos da campanha
eleitoral expôs planos para rever-
ter a decisão do Supremo e da re-
forma trabalhista. Mas a ques-
tão continua entalada à procura
de nova oportunidade. l
COMENTARISTA DE ECONOMIA
WERTHER SANTANA/ESTADÃO
mercado de crédito de carbo-
no, por exemplo, vai exigir um
amplo programa de capacita-
ção cobrindo áreas operacio-
nais (operação de viveiros), téc-
nico (monitoramento) e supe-
riores (engenheiros florestais).
É importante pensar ainda no
reskilling (reabilitação) e upskil-
ling (aprimoramento) das ocu-
pações atuais. Não existe uma
solução única, mas o ponto de
partida é reconhecer o perfil de
cada profissional, entendendo
seu impacto pode ser mais posi-
tivo, diz o economista do Banco
Interamericano de Desenvolvi-
mento (BID), Oliver Azuara.
O estudo de Azuara com o
LinkedIn mostra que, de 2015 a
2020, houve no Brasil uma ex-
pansão de profissionais que se
apresentam como capacitados
em serviços ambientais, reco-
nhecimento de riscos e planta-
ção de árvores. Depois da pande-
mia, as contratações verdes subi-
ram ainda mais no País. l
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
TRANSIÇÃO
Senado quer ‘carimbar’ verba
para aprovar PEC da Transição
DANIEL WETERMAN
BRASÍLIA
Após uma semana de negocia-
ções, o Senado ainda pressio-
na o presidente eleito Luiz Iná-
cio Lula da Silva (PT) a entre-
gar mais cargos e verbas em
troca da aprovação da Propos-
ta de Emenda à Constituição
(PEC) da Transição e discute
restringir a destinação dos re-
LEILÕES DE MATERIAIS
e 09/12 - 15h, ES TA S E OU TR AS OPORTUNIDADES IMPERDÍV
SOMENTE ONLINE - 07
S, MÓ VE IS PARA
ELETRODOMÉSTICO
PARA IN DÚ ST RIA , ITE NS DE INFORMÁTICA E OUTROS.
EQUIPAMENTOS
FACEBOOK.COM/SODRESANTORO
Autor do texto se opõe a
definir destino de recursos
BRASÍLIA
O autor da PEC da Transição e
relator do Orçamento de 2023,
Marcelo Castro (MDB-PI), se
colocou contra a proposta de
carimbar a destinação de re-
cursos no texto e afirmou que
isso será feito na proposta or-
Negociação no Congresso
cursos que entrarão no Orça-
mento com a aprovação da me-
dida, especificando quais
áreas deverão ser atendidas pe-
lo novo governo.
A PEC, inicialmente avaliada
em R$ 198 bilhões, retira o Auxí-
lio Brasil (que passará a ser cha-
mado de Bolsa Família) do te-
to de gastos, regra que limita o
crescimento das despesas do
governo à variação da inflação.
Com isso, ela libera um espaço
EIS
CA SA , MÓ VEIS PARA ESCRITÓRIO,
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CÓDIGO AO LADO E ACESSE ESTE LEILÃO.
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çamentária. Castro concor-
dou, contudo, em elaborar um
relatório detalhando as áreas
que o governo Lula quer abas-
tecer com os recursos.
Até o momento, a equipe de
transição anunciou algumas
prioridades, como o reajuste
do salário mínimo acima da in-
flação e a recomposição de ver-
ECONOMIA&NEGÓCIOS B3
Como mostrou o Estadão, a essa PEC for aprovada na atual
equipe de Lula concordou em
negociar a destinação dos recur-
legislatura. Ele vai demonstrar
que teve por parte do Parla-
sos com parlamentares em tro-
ca da aprovação, mas a fatura
cobrada no Congresso é maior.
mento uma tolerância, sem ter
tomado posse.”
A bancada do PSD, de 12 sena-
Partidos pedem a Lula a nomea- dores, concordou em apoiar a
de R$ 105 bilhões (valor previs- ção de ministros, a manuten- PEC, mas reduzindo o período
to para o programa no ano que ção do orçamento secreto e o de flexibilização do teto de qua-
vem) no Orçamento de 2023 apoio à reeleição de Arthur Lira tro para dois anos. Anterior-
para novos gastos, ainda não (PP-AL) e Rodrigo Pacheco nas mente, os integrantes da legen-
detalhados. De acordo com o presidências da Câmara e do Se- da defendiam um tempo ainda
texto, a reserva será preenchi- nado, respectivamente. menor, de apenas um ano. Líde-
da com solicitações da equipe “Queremos que esse dinhei- res de outros partidos ainda co-
de transição. O PSD, partido ro vá carimbado para não ter bram a redução. A equipe de
do presidente do Senado, Ro- desvio de finalidade e esteja es- Lula defende o uso da PEC pa-
drigo Pacheco (PSD-MG), pas- pecificado na PEC”, afirmou o ra abrir o espaço fiscal, deixan-
sou a cobrar a mudança no tex- líder do PSD no Senado, Nelsi- do a definição do destino das
to, com a especificação das nho Trad (MS). “O governo novas despesas para a Lei Orça-
áreas que serão atendidas. tem que se dar por satisfeito se mentária Anual (LOA). l
(11) 2464-6464 • Consulte edital completo no site www.sodresantoro.com.br. Informações: 11 2464-6464. Mariana Lauro Sodré Santoro Batochio, Leiloeira Oficial JUCESP nº 641.
bas de programas como o Far- apoio de PSD, MDB e União Bra- res: Alexandre Silveira (PSD-
mácia Popular e o Minha Casa sil, além dos aliados mais próxi- MG) na comissão e Davi Alco-
Minha Vida. Porém, segundo mos, e completar os 49 votos ne- lumbre (União Brasil-AP) no
cálculos de técnicos do Con-
gresso, R$ 85 bilhões ainda não
cessários com outros senado-
res. “Lula está ligando para todo
plenário. A divisão é uma tenta-
tiva de ampliar o acordo para a
foram detalhados. Castro disse mundo, está conversando mais aprovação, mas também au-
ao Estadão que muitas propos- do que lobisomem e assombra- menta a chance de alterações.
tas devem ser apresentadas pa- ção à meia-noite”, disse o sena- Alcolumbre preside a CCJ e as-
ra preencher o “buraco” da dor Jayme Campos (União Bra- sumiu a negociação do Senado
PEC. “O que vai sobrar é pro- sil-MT). com o futuro governo. Ele quer
posta para o buraco.” A equipe de Lula quer pautar ser o relator da PEC, mas enfren-
Na sexta-feira, Lula defendeu a PEC da Transição na Comis- ta um impasse porque teria de
a aprovação da proposta como são de Constituição e Justiça ceder o comando da comissão ao
foi protocolada no Senado, sem (CCJ) do Senado nesta terça- vice-presidente do colegiado, Lu-
vinculadas alterações a entre- feira. Senadores discutem en- cas Barreto (PSD-AP), durante a
gas políticas. Ele quer garantir o tregar a proposta a dois relato- votação. l D.W.

B4 ECONOMIA&NEGÓCIOS
controle da inflação não
O é um objetivo persegui-
do pelo Banco Central
para imitar os países de-
senvolvidos ou para alegrar os
mercados. Sem ele, não há co-
mo manter baixas as taxas reais
de juros, que são fundamentais
para permitir o crescimento
econômico. Felizmente, a apro-
vação da independência do Ban-
co Central permite que seu pre-
sidente persiga a meta de infla-
ção sem ser constrangido a obe-
decer a uma ordem de baixar os
juros, como a que foi dada por
Nixon a Arthur Burns e, ao que
tudo indica, como ocorreu no
Brasil em 2011.
Porém, para que a inflação
SEG. Luiz Carlos Trabuco Cappi e Henrique Meirelles (revezam quinzenalmente) l TER. Pedro Fernando Nery e Demi Getschko (quinzenalmente) l QUA. Fábio Alves l QUI. Adriana Fernandes l SEX. Elena Landau e Laura Karpuska (revezam quinzenalmente) e Pedro Doria l SAB.
Adriana Fernandes l DOM. José Roberto Mendonça de Barros (quinzenalmente) e Affonso Celso Pastore (quinzenalmente); Paulo Leme (1º domingo do mês), Roberto Rodrigues (2º domingo do mês), Albert Fishlow (3º domingo do mês) e Gustavo Franco (último domingo do mês)
Moedas digitais Regulação
Lei das Criptos deve levar um ano para ter efeitos
ARAMIS MERKI II
Com a aprovação do Projeto de
APP
AINDA NÃO É ASSINANTE? LIGUE: 0800 770 2166
Affonso Celso Pastore
Queda da inflação e alta do desemprego
caia é preciso pagar o custo de
manter, por algum tempo, o
PIB atual abaixo do potencial,
isto é, alargar o hiato (negati-
vo) do PIB. Até que as expecta-
tivas estejam ancoradas à me-
ta, a política monetária terá de
se manter restritiva, derruban-
do a demanda agregada e ele-
vando a taxa de desemprego.
Quanto mais expansionista
for a política fiscal, maior será
a permanência da política mo-
netária no campo restritivo, e
maiores serão os custos.
Medida pela PNAD Contí-
nua, a taxa de desemprego já
caiu para próximo de 8%, ape-
nas um pouco acima da ocorri-
da no início de 2012, quando a
Lei (PL) 4.401 na Câmara dos
Deputados, na última terça-fei-
ra, a indústria de criptoativos
no Brasil aguarda a sanção pre-
BAIXE AGORA O APLICATIVO
economia estava em pleno em- quecer a economia, cuja inten-
prego. Lembremos que, com a
rápida recuperação da crise de
2008, em 2010 o PIB cresceu
7,5%, e que em 2011 o Banco
Central – erradamente – bai-
sidade terá de aumentar, mani-
festando-se em desaceleração
do crescimento e elevação da
taxa de desemprego. O Banco
Central está preparado para as
xou a taxa de juros. críticas que, inevitavelmente,
sofrerá. Mas qual será a reação
Só agora o aumento do governo?
A tentação é expandir os gas-
dos juros começa tos, como mostra a proposta
a desaquecer a da PEC que tramita no Senado.
economia, com Porém, com uma dívida públi-
ca alta em relação ao PIB e com
reflexo nos empregos a taxa real de juros maior do
que a taxa de crescimento eco-
Embora a política monetá- nômico, se não tivermos supe-
ria já esteja, há algum tempo, rávits primários não há como
em território restritivo, so- controlar a inflação. Qualquer
mente agora começa a desa- que seja a regra fiscal adotada,
ção não veio diretamente na lei
porque o Legislativo não é habi-
litado a definir tarefas para ór-
gãos executivos.
sidencial para que seja defini- Com a sanção e posterior
do o órgão regulador do setor. promulgação, a lei passará a va-
As fichas estão depositadas no ler em 180 dias. Será a partir de
Banco Central (BC). A defini- então que a entidade designa-
da pelo governo vai estipular
um período para que as empre-
sas que já existem possam con-
tinuar a funcionar. O período
para a obtenção da licença defi-
nitiva não pode ser menor do
que 180 dias, diz o advogado
Marcelo Castro, sócio do escri-
tório Machado Meyer Advoga-
dos. Apenas somando estes pra-
zos, a aplicação da regulação de-
ve levar ao menos um ano.
“Passando a valer a indica-
ção, o órgão regulador, possi-
velmente o BC, poderá deter-
minar regras mínimas para as
empresas nesta transição, mas
não poderá suspender ativida-
des”, explica Castro. O advoga-
do levanta ainda a possibilida-
de o BC decidir aprofundar es-
tudos e até realizar consultas e
audiências sobre o tema.
Já existe um grupo de traba-
lho estabelecido no BC para dis-
cutir o assunto. O presidente
da autarquia, Roberto Campos
Neto, participa ativamente dos
debates. “O BC já está traba-
lhando no tema. Não vejo que
vamos ficar estes seis meses ab-
solutamente no vácuo”, diz Ka-
ren Duque, diretora de políti-
cas públicas da mexicana Bitso.
O texto aprovado é generalis-
ta. Não vai a fundo em exigên-
cias para as prestadoras de ser-
viços de ativos virtuais, mas
traz sugestões para que o regu-
lador construa regras na legisla-
ção infralegal. Um ponto desta-
cado por advogados consulta-
dos pelo Estadão/Broadcast é
que este modelo pode tirar for-
#VEM ça ou até invalidar posteriores
PENSAR
COM exigências da regulação.
A GENTE
DIVISÃO DE ATIVOS. Uma das
possíveis fragilidades da nova
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
ela precisa garantir que, depois
de uma sequência de déficits
primários, ocorra uma sequên-
cia de superávits de valor pre-
sente superior ao dos déficits.
Até agora, o governo eleito
ignorou esse problema, limi-
tando-se a propor um aumen-
to de gastos que supera em
muito o necessário para man-
ter as transferências de renda.
Cabe ao Congresso impedir es-
se erro e, como não há incom-
patibilidade entre as responsa-
bilidades fiscal e social, pode
executá-las sem penalizar os
mais pobres. l
EX-PRESIDENTE DO BC E SÓCIO DA A.C.
PASTORE E ASSOCIADOS.
lei é não exigir a segregação en-
tre os ativos de clientes e os das
negociadoras de criptoativos.
Caso isso não aconteça, os in-
vestidores entram na fila junto
com todos os credores em caso
de falência.
A segregação fazia parte da
proposta do Senado, mas foi re-
tirada pelo relator, Expedito
Netto (PSD-RO), na versão fi-
nal. Esta foi uma das pautas
mais cobradas pela ABCripto
no caminho do projeto pelo
Congresso. Na reta final, a enti-
dade abriu mão da reivindica-
ção em detrimento do anda-
mento ágil da aprovação.
Para Lorena Borges Botelho,
sócia do escritório Peck Advo-
gados, este era o ponto mais
controverso do texto. Para ela,
o tema foi “deixado para ser re-
gulado posteriormente, como
forma de viabilizar a votação
do projeto como um todo”.
Fragilidade
Lei não define exigência
de separação de ativos
das plataformas
do dinheiro dos clientes
O assunto ganhou relevân-
cia internacional por conta da
falência da FTX. O sócio do VB-
SO Advogados Erik Oioli avalia
que uma norma no âmbito in-
fralegal pode limitar que as em-
presas usem os ativos dos seus
clientes. “Mas isso não tem o
mesmo efeito como em uma
verdadeira segregação patrimo-
nial, pela qual é possível blin-
dar o patrimônio do cliente”,
explica.
O professor e advogado Isac
Costa concorda que, mesmo
que regulação infralegal venha
a exigir a segregação, haverá
questionamentos. Em artigo,
ele considera que este é o início
de uma “batalha para tentar
proteger o patrimônio dos in-
vestidores”. l
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
Financiamentos Casa própria
Caixa põe o pé no freio
nas liberações de crédito
imobiliário no fim do ano
Para dar conta dos
pedidos, banco teve de
buscar fontes de
financiamento além
da poupança, que têm
custo mais alto
CIRCE BONATELLI
MATHEUS PIOVESANA
A Caixa Econômica Federal
vai reduzir o volume de conces-
são de financiamentos imobi-
liários com recursos oriundos
das cadernetas de poupança
nas últimas semanas do ano. A
decisão vem após o banco esta-
tal ter superado as expectati-
vas de empréstimos e se depa-
rar com menor disponibilida-
de de recursos nas cadernetas
para novas operações.
A Caixa tinha a previsão de
atingir R$ 85 bilhões em crédi-
to imobiliário em 2022, o que
representaria expansão de
10% na comparação com os R$
77 bilhões de 2021. Entretanto,
o objetivo foi atingido antes
mesmo de o banco fechar o ba-
lanço de novembro. A direção
decidiu elevar o orçamento pa-
ra R$ 92 bilhões, ou seja, um
crescimento de 20%.
Ao esticar a corda, a Caixa
ajudará a dar vazão à compra
‘FGTS Futuro’ poderá
ser usado para imóvel
A Caixa Econômica Federal
vai começar a realizar finan-
ciamentos de moradias do
Casa Verde e Amarela agre-
gando o chamado “FGTS Fu-
turo” ou “FGTS Consigna-
do” no primeiro trimestre do
ano que vem.
Para a medida entrar em vi-
gor, o banco depende da pu-
blicação das normas opera-
cionais, o que deverá ocorrer
até 18 de janeiro, conforme
resolução do Conselho Cura-
dor do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS). A
partir daí, a operação deve co-
meçar em até 90 dias.
Essa medida permitirá que
os recursos a serem recebi-
dos pelos trabalhadores pos-
sam entrar no cálculo da capa-
cidade de pagamento de
quem quer financiar um imó-
vel pelo programa. Haveria,
portanto, um aumento nessa
capacidade de pagamento de
de imóveis e evitar impactos
mais sérios para o setor da
construção em um momento
sensível da economia, marca-
do pelas incertezas da transi-
ção de governo. Por outro la-
do, os meses de novembro e
dezembro terão uma desacele-
ração no ritmo de liberações, o
que, inevitavelmente, vai tirar
algum fôlego da comercializa-
ção de imóveis no País nestas
últimas semanas de 2022.
O volume de empréstimos
nestes últimos dois meses de-
ve girar em torno de R$ 5,5 bi-
lhões. O mais provável é um
resultado acima disso em no-
Além das expectativas
Meta destinada ao setor
para o ano, de R$ 85 bi, foi
alcançada antes do
balanço de novembro
vembro e abaixo em dezembro
– quando também há paradas
pelas festas de fim de ano. En-
tre janeiro e outubro, a média
mensal foi de R$ 8,1 bilhões.
O desempenho da Caixa foi
na contramão do mercado. En-
quanto outros bancos diminuí-
ram o volume de financiamen-
tos, a estatal ganhou participa-
ção no bolo e fez jus ao apelido
aproximadamente 8% – valor
depositado na conta do traba-
lhador do fundo mês a mês.
O uso do FGTS Futuro fica a
critério do trabalhador. A me-
dida permitirá que o compra-
dor tenha acesso a casas e
apartamentos de valor mais
elevado.
Mas a operação também
embute riscos, pois a pessoa
terá bloqueados depósitos fu-
turos que receberia no FGTS.
Em caso de demissão, ela não
poderá sacar o saldo da conta
que estiver comprometido
com o financiamento.
A mudança será limitada,
neste primeiro momento, às
famílias com renda familiar
bruta de até R$ 2,4 mil. Levan-
tamento do DataZap+ apon-
ta que 10,9 milhões de famí-
lias se enquadram nessa cate-
goria. Esse montante equiva-
le a 15,8% do total de famílias
do País. l C.B.
ECONOMIA&NEGÓCIOS B5
WERTHER SANTANA/ESTADÃO-13/1/2021
de banco da habitação. Ao to-
do, o setor contabilizou R$
151,2 bilhões em empréstimos
para compra e construção de
moradias de janeiro a outubro,
queda de 12% perante os mes-
mos meses de 2021.
No setor financeiro, já havia
a perspectiva de que a Caixa Poupança concentra 43% dos recursos para financiamento de casas
tiraria o pé do acelerador. A
carteira de crédito imobiliário
com recursos da poupança vi- O aperto no imobiliário tam- ce a critérios internos de gover-
nha acima do piso de 65% de bém é reflexo de um movimen- nança, com base no contexto
recursos das cadernetas que o to mais amplo. A Caixa estou- de mercado. “Cabe observar
Banco Central exige que sejam rou o orçamento para o crédi- que as linhas de crédito do ban-
aplicados no setor. Mas o di- to neste ano, chegando a outu- co estão ativas e que todos es-
nheiro da poupança também bro com uma carteira cerca de ses critérios são constante-
estava sendo usado para ou- R$ 100 bilhões maior que a pre- mente avaliados tecnicamen-
tros financiamentos, o que dei- vista para 2022. A aceleração, te e visam garantir a sustenta-
xou o banco sob pressão. Ao vinda tanto do imobiliário bilidade e competitividade da
mesmo tempo, os depósitos quanto de programas de crédi- instituição, o que faz da Caixa
na caderneta têm recuado. to do governo federal criados o maior banco brasileiro em
antes das eleições, fez com que crédito e número de clientes”,
DINHEIRO EXTRA. Para conti- os índices de liquidez do ban- disse a instituição.
nuar crescendo no setor, a Cai- co caíssem. Para evitar falta de Ainda de acordo com a Caixa,
xa recorreu a captações em ins- capital, veio a desaceleração. os juros anuais das linhas de
trumentos com custo atrelado A Caixa não detalha o perfil crédito imobiliário hoje par-
ao CDI, como as letras de crédi- da carteira financiada confor- tem de TR + 8,5% (na linha inde-
to imobiliário (LCI) – mix que me a fonte de captação. No xada à TR), e de 2,8% + remune-
também é utilizado pelos ban- mercado, a poupança ainda é ração da poupança, na linha
cos privados. A médio prazo, a líder: respondia por 43% do fi- Poupança Caixa. Na linha atre-
equação se complica porque o nanciamento ao setor em ju- lada ao IPCA, a taxa começa em
custo de captação é mais caro nho, segundo a Associação Bra- 3,95% mais IPCA; e na linha
do que o da poupança. Uma sileira das Entidades de Crédi- com taxa fixa, em 9,75% ao ano.
fonte graduada do setor disse to Imobiliário e Poupança (A- O banco não informou quanto
que o banco teria duas opções: becip). de captações além do SBPE es-
elevar as taxas do imobiliário Procurada, a Caixa disse que tá utilizando para complemen-
ou reduzir o ritmo. a concessão de crédito obede- tar os financiamentos. l
LIVE
CENÁRIOS
Sonia Racy com
CONVIDADA
A economista Zeina Latif fala
GISELE NUNES MARTINS
sobre suas perspectivas para
o Brasil em 2023.
Zeina Latif
Consultora econômica
ASSISTA pelas mídias sociais do
6 DE ÀS Estadão e pelo canal do YouTube
DEZEMBRO 11h do Banco Safra
Realização Parceria
B6
NEGÓCIOS
Aviação civil Luxo
Cada vez mais rara, viagem de avião
em 1ª classe chega a custar R$ 80 mil
‘Mimos’ vão de refeições de chefs renomados a carro que deixa o passageiro na porta
da aeronave; muitas empresas, porém, têm reavaliado a viabilidade de oferta da categoria
LUCIANA DYNIEWICZ
Disponível na minoria dos
aviões da frota global, a primei-
ra classe ainda resiste em algu-
mas empresas que voam para
o Brasil. Com serviços ultraex-
clusivos, que vão de transpor-
te de carro até a porta da aero-
nave a refeições assinadas por
chefs com estrelas Michelin, a
classe mais luxuosa da aviação
tem passagens que custam a
partir de R$ 50 mil para a Euro-
pa (ida e volta), R$ 60 mil para
os Estados Unidos e R$ 80 mil
para o Oriente Médio.
Hoje, no entanto, esses bilhe-
tes são raros no País. A Latam,
por exemplo, oferecia o servi-
ço quando ainda era TAM, mas
o interrompeu em 2014. A Uni-
ted fez o mesmo em 2018. A
americana optou por aprimo-
rar sua executiva, para ofere-
cer um serviço semelhante ao
que tinha na primeira classe.
Hoje nem a Qatar Airways,
uma das companhias aéreas
mais luxuosas, oferece primei-
ra classe para o Brasil. A execu-
tiva da companhia, tida como
a melhor do mundo, também
tem um serviço superior para a
classe. Entre os destaques da
executiva da empresa está a ca-
bine com porta para dar priva-
cidade ao passageiro.
“O objetivo não é ter
100% de ocupação, mas
oferecer o produto.
Queremos atender
todos os nichos
específicos”
Stephane Perard
Diretor da Emirates no
Brasil e na Argentina
Para o diretor comercial da
Air France-KLM na América
do Sul, Steven van Wijk, uma
das explicações para a primei-
ra classe estar disponível em
poucos voos é justamente que
a executiva melhorou muito
nos últimos anos, aproximan-
do seu serviço do oferecido na
primeira. “Cinco ou dez anos
atrás, os assentos de várias exe-
cutivas não deitavam 180
graus. Hoje, isso não existe
mais. A comida da executiva
também melhorou muito. En-
tão, tem menos necessidade
(da primeira classe). Mas a pri-
meira ainda é um produto com
muito diferencial”, diz.
O executivo afirma que a de-
manda do mercado também in-
flui na oferta do serviço. “Ofere-
cer a primeira classe depende
muito de onde e para onde você
voa. Para nós, Paris é realmente
a base principal. É uma cidade
de luxo, negócios e lazer. Senti-
mos que nossa marca La Pre-
mière (nome da primeira classe
da Air France) se encaixa muito
bem na rota São Paulo-Paris.”
O próprio grupo da Air Fran-
ce, que também é dono da com-
panhia holandesa KLM, não ofe-
rece primeira classe para Ams-
terdã. Segundo o executivo, Pa-
ris tem uma demanda mais for-
te que a capital holandesa, além
de a Air France ser uma marca
vista como mais luxuosa.
ESPAÇO. O diretor da Emirates
no Brasil e na Argentina, Step-
hane Perard, destaca que a utili-
zação do espaço nas cabines é
muito importante no setor. Por
isso, algumas empresas optam
por não oferecer a primeira clas-
se e ampliar o número de assen-
tos na executiva e na turística.
A partir deste mês, a Emira-
tes tem a primeira classe dispo-
nível apenas em voos entre
São Paulo e Dubai. Até novem-
bro, a empresa oferecia o servi-
ço para o Rio de Janeiro. Pe-
rard afirma que a mudança
ocorre porque há poucos
aviões na frota com configura-
ção que inclui a primeira clas-
se e houve uma decisão da com-
panhia de reduzir a capacidade
entre Rio e Dubai.
Com a mudança, a Emirates
passou a ter 14 “suítes” por dia
voando a partir do Brasil. De
acordo com Perard, a ocupa-
ção delas fica ao redor de 50%
– sendo a maioria dos clientes
formada por brasileiros. “O ob-
jetivo não é ter 100% de ocupa-
ção, mas oferecer o produto.
Queremos atender todos os ni-
chos específicos.”
A Air France tem apenas qua-
tro assentos de primeira classe
por voo. A ocupação é um pou-
co superior a 50%, segundo
Wijk. Diferentemente de Pe-
rard, Wijk diz que manter es-
ses assentos com clientes é re-
levante para a operação brasi-
leira da Air France. “Menos de
20% da nossa frota para voos
de longa distância tem primei-
ra classe. Se não temos uma
boa taxa de ocupação, a empre-
sa pode decidir usar o avião
com primeira classe para ou-
tra rota.”
Primeira classe da Emirates: empresa oferece, diariamente, 14 assentos entre São Paulo e Doha
Glamour nas alturas
l Banheiros com chuveiros
Na primeira classe do A380 da
Emirates, que faz a rota São
Paulo-Dubai, há dois banhei-
ros com piso aquecido e chu-
veiros disponíveis para os 14
passageiros
l Frigobar individual
A companhia também oferece
frigobar individual, travessei-
ros de plumas e roupas de dor-
mir com uma tecnologia que
mantém a pele hidratada
l Caviar
O cardápio da Emirates é
composto por caviar (servido
com colher de madrepérola
para preservar o sabor), cama-
rão, vieiras e bacalhau. Para
beber, há uísque 21 anos, 12
OPÇÕES. Tomar banho a uma
altitude de 10 mil metros é um
dos serviços exclusivos ofereci-
dos para os clientes da primei-
ra classe da Emirates. No avião
A380, que faz a rota entre São
Paulo e Dubai, são dois banhei-
ros com chuveiros disponíveis
para os 14 passageiros. É só
agendar a hora do banho com a
equipe de comissários. O piso
do banheiro é aquecido e os
cosméticos incluem perfume
da marca italiana Bulgari.
Os assentos da primeira clas-
se são de couro e possuem um
pequeno frigobar individual.
opções de coquetéis e vodcas
russa e polonesa, além de vi-
nhos com rótulos que custam
milhares de reais
l Quatro lugares
A Air France dispõe de apenas
quatro assentos de primeira
classe na rota São Paulo-Pa-
ris, mas a ocupação média fi-
ca em torno de 50%
l Tratamento de beleza
Em Paris, o cliente pode fazer
um tratamento de beleza na
sala VIP e degustar pratos as-
sinados pelo chef Alain Ducas-
se – uma das maiores estrelas
da gastronomia francesa
l Check-in exclusivo
A American Airlines oferece a
seus passageiros de primeira
classe sala de check-in exclusi-
va em Nova York e Miami
Os travesseiros são de plumas
e, para dormir, o passageiro tam-
bém recebe pijamas com uma
tecnologia que mantém a pele
hidratada durante o voo. Atrás
do assento, há um pequeno
guarda-roupa com espaço para
pendurar a roupa em cabides.
No cardápio, caviar (servido
com colher de madrepérola pa-
ra preservar o sabor), cama-
rão, vieiras e bacalhau. Entre
as bebidas, estão 12 opções de
coquetéis, vodcas russa e polo-
nesa, uísque 21 anos e cerveja,
além de vinhos cuja garrafa po-
de custar milhares de reais.
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
EMIRATES
Em Paris, na sala vip da Air
France, o cliente da primeira
classe pode fazer um tratamen-
to de beleza com produtos da
marca francesa Sisley e degus-
tar pratos criados pelo chef
Alain Ducasse, uma das maio-
res estrelas da gastronomia da
França, que atualmente tem
dois restaurantes com três es-
trelas Michelin, três com duas
estrelas e dois com uma.
Para o diretor comercial da
Air France-KLM na América
do Sul, Steven van Wijk, a gas-
tronomia francesa é um dos
principais diferenciais da pri-
meira classe da companhia.
Em voos que saem de Paris, o
menu atual é assinado pelo
chef Arnaud Lallement – três
estrelas Michelin.
Para o Brasil, a American Air-
lines oferece uma primeira clas-
se com oito assentos. Entre as
vantagens para os passageiros
está uma sala de check-in exclu-
siva em cidades como Nova
York e Miami, com triagem agi-
lizada na segurança. No voo,
cosméticos da marca de luxo
americana D. S. & Durga.
O serviço de primeira classe
da American, no entanto, deve
ser extinto. Em teleconferência
com investidores em outubro,
o diretor comercial, Vasu Raja,
afirmou que os “clientes não es-
tão comprando o produto”.
Atualmente, o site da compa-
nhia ainda oferece passagens
para a primeira classe de São
Paulo para Miami por R$ 60 mil
(ida e volta) e por R$ 65 mil de
São Paulo para Nova York. l
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022

O ESTADO DE S. PAULO ECONOMIA&NEGÓCIOS B7

BRENDAN MCDERMID/REUTERS
David Vélez das fintechs? Primeiro, capa-
cidade de fazer o melhor pro-
duto do mercado. Quando co-

‘Continuamos a crescer meçamos, há nove anos, ha-

via cinco bancos no Brasil que
controlavam 95% do segmen-

mais do que qualquer banco’ to. Contribuímos muito para

a desconcentração. Em um
mercado com mais alternati-
vas, quem oferece o melhor
produto ao melhor custo ga-
Presidente do Nubank afirma que queda no nha. O Nubank continua ofe-
recendo o melhor produto e,
preço das ações da instituição ‘foi difícil de entender’ por isso, continuamos a cres-
cer mais do que qualquer ou-
tro banco.

por que não adiar a oferta. Deci-
ENTREVISTA dimos não deixar para 2022.
Foi uma combinação de sorte
e conhecimento, uma decisão
Colombiano, é muito boa.
fundador do Nubank,
Como companhia aberta,
o maior banco digital qual foi o principal aprendi-
do País. É formado zado nesse primeiro ano?
em engenharia e Após o IPO, o mundo mudou
finanças completamente, de um mo-
mento de euforia do mercado,
de muito interesse em empre-
sas de tecnologia, para guerra
da Ucrânia, inflação e juros al-
tos, e você vai de herói a vilão
de um momento a outro. No
primeiro trimestre, foi difícil
entender o que acontecia, es-
pecialmente quando vimos o
preço da nossa ação cair rapida-
mente. O maior aprendizado
foi entender o que podemos
controlar, o que não podemos
e focar 100% da energia no que
controlamos. O foco foi dire-
cionado à execução.
Diz-se muito que o jogo vi-
rou a favor dos bancos tra-
dicionais. Qual é a sua ava-
liação?
Discordo. Qual é a vantagem
Vocês captaram US$ 2,8 bi
e usaram pouco até agora...
O banco não precisava levan-
tar tanto capital, mas o merca-
do estava tão atrativo que deci-
dimos levantar muito mais do
que precisávamos. Levanta-
mos US$ 2,8 bilhões, tínhamos
US$ 1 bilhão em caixa e estáva-
mos bem perto da rentabilida-
de no Brasil. l

ALTAMIRO SILVA JÚNIOR

MATHEUS PIOVESANA
Podcasts
m ano depois de abrir
U o capital na Bolsa, o
Nubank olha para
trás e vê que aproveitou a últi- 153º LEILÃO PÚBLICO - SABESP

ma fase de um mercado convi- A Sabesp comunica a seguinte alteração, no texto veiculado neste jornal, no dia
20/11/22, Caderno Economia & Negócios, Página B5: LEILOEIRA: CAROLINE DE
dativo para as fintechs na Bol-
SOUSA RIBAS, JUCESP Nº 738, Devidamente Autorizada Pela Sabesp, Venderá
sa de Valores de Nova York Em Leilão Público On Line. Dia: 16/12/2022 as 9:00 hs VISITAÇÃO: de 21/11/22
(Nyse). “O banco não precisa- a 14/12/22 (Dias Úteis) Horário: das: 8:00 as 11:00 hs e das 13:30 as 15:00 hs. O
va levantar tanto capital, mas Leilão Será On-Line, as Fotos e Descrições dos Bens Estão Disponíveis no Site
o mercado estava tão atrativo www.liderleiloes.com.br. A Publicação na Integra, do edital, foi veiculada no Jornal
que decidimos levantar muito “Diário Oficial do Estado de São Paulo”, Caderno Empresarial, do dia 18/11/2022,
ACESSE ESTADAO.COM.BR

páginas 05 e 06 e complemento e retificação do Edital no dia 01/12/2022, página 06.

mais do que precisávamos”,
disse ao Estadão/Broadcast o #VEM Água. Sabendo usar, não vai faltar.

CEO da fintech, David Vélez, PENSAR

nesta semana. É dinheiro sufi- COM
A GENTE
ciente, segundo ele, para capi-
talizar novas operações e até
fazer aquisições.
Não muito tempo depois de
tocar o sino em Nova York, Vé-
lez afirma que as empresas de
tecnologia foram de heroínas a
vilãs do mercado de uma hora
para outra, no primeiro trimes-
tre do ano. Mas ele afirma que,
no que diz respeito à qualidade
do banco, nada mudou. “O Nu-
bank continua oferecendo o
melhor produto e, por isso,
continuamos a crescer mais
do que qualquer outro banco.”

O que o surpreendeu nesse

primeiro ano como empre-
sa aberta?
O fato de termos feito o IPO (o-
ferta inicial de ações) na segunda
semana de dezembro talvez te-
nha sido uma das melhores deci-
sões da nossa história. Se não
tivéssemos levantado US$ 2,8
bilhões e ainda fôssemos uma
empresa privada, a conversa se-
ria completamente diferente.
Estaríamos tentando levantar
US$ 1 bilhão, US$ 2 bilhões em
um mercado muito mais desa-
fiador, com poucos investido-
res. Fizemos o IPO no último
minuto do segundo tempo.

Depois, o mercado pratica-

mente fechou...
Lembro que estávamos no
roadshow (reuniões com investi-
dores), e muitos perguntavam
 DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
B8 ECONOMIA&NEGÓCIOS O ESTADO DE S. PAULO

Coluna do
ALTAMIRO SILVA JUNIOR, CYNTHIA DECLOEDT, CIRCE BONATELLI E
JULIANA ESTIGARRÍBIA/CRISTIANE BARBIERI (edição)

TWITTER: @COLUNADOBROAD

Broadcast
Incerteza sobre juros pode COMPASSO DE ESPERA SOBE
adiar em até dois trimestres DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO-3/9/2022
Confiança do comércio tem
a volta das ofertas de ações alta, apesar de incertezas
ALEX SILVA/ESTADAO -26/4/2021

A
incerteza sobre o que o Banco Central fará
com a taxa básica de juros – com algumas ca-
sas falando até na possibilidade de novas al-
tas devido ao aumento do risco fiscal – pode
atrasar a volta das aberturas de capital em até dois
trimestres, segundo banqueiros da Faria Lima. Há 16
meses sem estreias de novas empresas na B3, a pers- O Índice de Confian-
pectiva era de que elas começassem a voltar aos pou- ça do Empresário do
cos em 2023, com a geradora de energia CTG Brasil Comércio (ICEC)
dando o pontapé inicial. Mas há riscos. “É claro que saiu de 122,4 pontos, em ou-
tubro, para 125,2 pontos, em
se os juros começarem a cair de fato em 2023, a velo- novembro, segundo a Feco-
cidade dos aportes para a renda variável vai começar mércioSP. Foi o 11.º avanço
a aumentar”, diz o líder de renda variável para Améri- Ofertas de ações devem começar a deslanchar no segundo trimestre seguido. O dado mostra, se-
ca Latina do Morgan Stanley, Eduardo Mendez. e ganhar força na segunda metade do ano, avalia Morgan Stanley gundo a entidade, que o em-
presariado está otimista em
relação à conjuntura econô-
de de incorporação. O merca- na Exeter. Os ativos estão na mica, apesar do ambiente
Follow-ons devem puxar o retorno do de tijolos, aliás, vem ganhan- fase de venda. O primeiro foi de incertezas.
A expectativa do banco é de que, no primeiro trimes- do peso maior na gestora, que um galpão em Jandira (SP),
acumula R$ 13 bilhões em ati- vendido para a Yamaha.
tre, haja mais ofertas subsequentes (follow-ons). No vos imobiliários sob gestão es- DESCE
segundo, os IPOs deveriam começar a deslanchar e palhados por 16 fundos, entre
ficar fortes na segunda metade do ano, sobretudo eles o XP Malls e o XP Log. l FRENTES. Os recursos do novo Preço alto afeta as vendas
para operações de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão. fundo da XP irão para investi- de panetone no Brasil
mentos em galpões em praças DANIEL TEIXEIRA/ ESTADAO-24/11/2021
l APOSTA. O 17.º fundo imobiliá- menos concorridas que São
rio da XP trará uma mudança Paulo; novos projetos residen-
Média da América Latina é de 22 ofertas de conceito ao apostar na in- ciais em bairros nobres da capi-
Historicamente, o volume médio de operações de corporação para venda, en- tal paulista; e a reforma e revi-
renda variável no mercado de capitais da América quanto a maioria dos investi- talização de prédios antigos pa-
dores do setor prioriza a renda ra uso comercial ou residen-
Latina ficava na casa de 22 operações por ano, segun- recorrente, isto é, o recebimen- cial. Todos devem ter como
do o Morgan Stanley. Neste ano, não houve nenhu- to dos dividendos mensais ori- parceiras incorporadoras com
ma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) – ginados na locação de lajes cor- experiência nos setores.
somente 14 ofertas subsequentes no Brasil. porativas, galpões e pontos em
shoppings. Na incorporação, o O preço dos paneto-
retorno é concentrado na hora l TRANSPORTE. O tráfego inter- nes está espantando
to volátil, o investidor e o dono da venda do empreendimento. municipal de veículos nas ro- os consumidores.
l CHAMPANHE. Para Mendez, se da empresa perdem a referên- dovias de São Paulo cresceu Estudo da plataforma
as aberturas de capital volta- cia de valor”, observa. 20% desde 2005, para 1,8 mi- Scanntech mostra que o
rem para essa média histórica l TATEANDO. Essa tese de inves- lhão de viagens por dia, segun- preço médio do produto su-
no ano que vem já há motivos timento já vinha sendo testada do o levantamento Matrizes biu 23% entre agosto e outu-
para comemorar. “Não é preci- l TETOS. A XP Asset vai lançar pela XP nos últimos dois anos Origem-Destino, feito pela Se- bro, em relação a igual pe-
so necessariamente que os ju- em 2023 um fundo de R$ 500 por meio de três fundos meno- cretaria Estadual de Logística ríodo de 2021. Com isso, as
ros caiam para se ter maior ape- milhões para desenvolver pro- res que, juntos, totalizaram e Transportes (SLT). Segundo vendas, na mesma compara-
tite por risco”, afirma. Mas é jetos imobiliários de olho no cerca de R$ 360 milhões em a pasta, as concessões contri- ção, caíram 27%. Nas três
desejável ao menos uma estabi- lucro com a venda dos em- aportes. Um deles foi destina- buíram para melhorar a quali- primeiras semanas de no-
lidade nas curvas de juros futu- preendimentos, numa estraté- do à construção de galpões em dade das estradas e aumentar vembro, o preço subiu 18%;
ros. “Quando a curva está mui- gia que se assemelha à ativida- parceria com a norte-america- o fluxo de veículos. as vendas recuaram 16%.

ALTO ESCALÃO Luana Pavani E-mail: luana.pavani@estadao.com

BRASKEM. A partir de janeiro
do próximo ano, Roberto
Simões passará o cargo de
diretor-presidente para Ro-
berto Bischoff, vindo da
Ocyan.
MSD. Foi escolhido para CFO
no Brasil Robert Evans.
WESTERN DIGITAL. João Almei-
da passa a country manager no
Brasil.
ALÊ OLIVEIRA-20/10/2022
da fintech Fernando Nunes fi- Warner Bros).
ca como CEO. Pâmella Hess
(ex-Cíngulo) entra como head HDI. A seguradora anuncia Igor
de pessoas e Gabriel Falk (ex- Di Beo (ex-Axa) como VP téc-
Ebanx), vice-presidente de nico no lugar de Mauricio Ga-
produto. lian.

CBA. Em maio, o CFO e diretor
de RI Luciano Alves se tornará
CEO, sucedendo a Ricardo
Carvalho, que irá para o conse-
lho da empresas. Em seu lu-
gar, assume o cargo Camila
Abel.
VOLKSWAGEN. Cristina Cesta-
ri (ex-Brasil Warrant) chega
como CIO para a região Améri-
ca do Sul.
GRUPO ENXUTO. Bruno Bragan-
cini Junior deixará a posição
de diretor-presidente com Sa-
muel Vanio Costa Junior e terá
assento no conselho.
GRUPO ELFA. Leonardo Flôres
Pelloso (ex-GPA) assume co-
mo diretor executivo de Opera-
ções.
TRANSFEERA. O cofundador
FLAPPER. Três novos direto-
res: Heverton Rodrigues (C-
TO), Marcio Hamano (COO)
e Gustavo Pinto (CMO).
FLORA. À frente de marketing e
inovação na unidade "pele" es-
tá o head David Pinski (ex-Ca-
rupi).
GENETEC. O líder de marketing
no Brasil é Bruno Bomfim (ex-
Nelcina Tropardi
Diretora da Dasa
Nelcina Tropardi (ex-Heineken)
chega como diretora de
Jurídico, ESG, Relações
Governamentais e Auditoria
Interna da Dasa.
ROCKET LAB. Trouxe Fernan-
da Faria (ex-Belvo) como dire-
tora de CS.
ENDEMOL SHINE BRASIL. Allan
Lico volta, como VP de Cria-
ção.
GREENZ. Tem novo head de
growth, canais de mídia e da-
dos: Clayton Silva (ex-Jus-
si). l
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
Mayank Bidawatka
‘Comportamento
nocivo de Musk
é oportunidade
para nós’
Brasil foi o primeiro país a
adotar o aplicativo indiano que
quer substituir o Twitter
ENTREVISTA
Cofundador da Koo,
que se apresenta como
o segundo maior
microblog, atrás do
Twitter, e que atraiu
milhões de brasileiros
GUILHERME GUERRA
a noite para o dia, o
D aplicativo indiano
Koo recebeu milhões
de brasileiros em busca de al-
ternativas ao Twitter, que pas-
sa por grandes mudanças após
adquirido por Elon Musk por
US$ 44 bilhões, em outubro
passado. Com as controversas
decisões do bilionário, a rede
social americana pode apresen-
tar falhas e deixar muitos usuá-
rios órfãos – daí a ascensão do
Koo, cujo nome excêntrico em
português chamou atenção.
“O nome ajudou o boca a bo-
ca, mas existe um sentimento
de que precisamos de uma al-
ternativa caso algo aconteça
com o Twitter”, conta o india-
no Mayank Bidawatka, cofun-
dador do Koo ao lado de Apra-
meya Radhakrishna. “O Brasil
foi extremamente solidário en-
quanto ria do nome da rede so-
cial e quando percebeu que so-
mos capazes de rir de nós mes-
mos como marca”, completa.
A brincadeira virou negócio
sério. O Koo diz possuir 2,5 mi-
lhões de brasileiros conecta-
dos pelo aplicativo para iOS e
Android, além dos indianos.
Agora, o objetivo é transfor-
mar a rede no maior microblog
do planeta, superando o Twit-
ter, hoje com 250 milhões de
usuários ativos diariamente.
“O comportamento nocivo
de Elon Musk é uma oportuni-
dade para nós, com certeza.
Sempre gostei muito de usar o
Twitter, mas acredito que nos-
sa solução é melhor”, diz. “Te-
mos um propósito diferente,
que é conectar o mundo.”
Leia, a seguir, os principais
trechos da entrevista:
Como vocês descobriram
que o Brasil adotou o Koo?
Vimos um monte de gente en-
trar no Koo e começar a falar
em português. Quando vimos
os dados, percebemos que a lo-
calização de todos esses usuá-
rios era do Brasil.
Como o sr. descobriu como
soa o Koo em português?
Foi quando entramos no Twit-
ter e começamos a traduzir o
que as pessoas falavam. Os bra-
sileiros estavam rindo muito
disso. O bom é que muita gente
saiu para experimentar o pro-
duto. E o Koo tem muitas dife-
renças em relação ao Twitter.
No Brasil, o nome ajudou?
Obviamente, o nome nos aju-
dou no Brasil, virou uma coisa
que todo mundo brincava com
os memes. Mas o que realmen-
Consulta
‘No Brasil, perguntamos se
os usuários desejam que
mudemos nosso nome,
mas 80% disseram não’
te nos ajudou, quando estáva-
mos nos conectando com o Bra-
sil como marca, foi que os brasi-
leiros perceberam que somos
muito humanos. Somos muito
diferentes do Twitter em ter-
mos de atitude e personalida-
de. Ouvimos cada usuário e
suas reclamações. O Twitter
nunca fez isso.
Essa ‘onda brasileira’ as-
sustou o Koo no começo?
Não. Ficamos empolgados des-
de o início porque o povo brasi-
leiro parece muito divertido.
Eles foram extremamente soli-
dários enquanto riam do nome.
‘Ficamos empolgados desde o início porque o povo brasileiro parece muito divertido’, diz Bidawatka
E perceberam que somos capa-
zes de rir de nós mesmos como
marca. Toda a nossa equipe es-
tava muito animada para conti-
nuar criando recursos. Então,
sim, isso nos assustou. O Koo
foi construído para ter escala,
mas havia certas coisas em nos-
sa tecnologia que não deveriam
ter sido lançadas porque não es-
perávamos um aumento repen-
tino. Mas conseguimos nos es-
tabilizar em poucos dias.
No dia seguinte a tudo isso,
o Koo foi traduzido para o
português, e o aplicativo ti-
nha uma conta no Twitter
que escrevia em português
brasileiro. Como consegui-
ram essa resposta rápida?
Como equipe, nós nos move-
mos muito rápido e temos al-
guns dos melhores engenhei-
ros da Índia. Traduzir as coisas
não é difícil, porque trabalha-
mos com alguns brasileiros
que nos escreveram tentando
traduzir tudo para o português
brasileiro.
Foi importante para vocês
essa resposta rápida?
É importante que sejamos mui-
to focados no usuário. Nossa
definição de mídia social é que
a mídia social é sobre as pes-
soas. É sobre todos nós intera-
gindo juntos. Temos de agir co-
mo se o Koo não pertencesse a
você, mas sim ao povo. Essa é a
grande diferença entre o Koo e
o Twitter. Somos extremamen-
te humildes, mas muito foca-
dos no usuário. No Brasil, fize-
mos uma pesquisa em que per-
guntamos se os usuários dese-
jam que mudemos nosso nome
se for culturalmente insensí-
vel. Mas 80% das respostas dis-
seram não.
Até agora, qual é a resposta
dos brasileiros ao app?
É inacreditável. Os números es-
tão nas alturas.
Quantos usuários brasilei-
LINK
ros há agora?
Não tenho os números mais re-
centes, mas está na casa dos mi-
lhões. Alguns dias atrás, eram
cerca de 2,5 milhões de usuá-
rios, apenas de aplicativos. São
mais alguns milhões de usuá-
rios na versão web.
Você tem medo de que as
pessoas saiam tão rapida-
mente como entraram?
Influenciadores digitais como
Felipe Neto estão postando coi-
sas no Koo que não postam no
Twitter. Eles estão recebendo
muito mais interações aqui co-
nosco. E as pessoas estão extre-
mamente felizes porque este
não é um lugar tóxico. Nin-
guém está abusando de nin-
guém. Ninguém está dizendo
nada desagradável. Todos es-
tão muito felizes. Falei com al-
gumas dessas pessoas, e elas es-
tão extremamente satisfeitas
com a plataforma.
Qual é a estratégia para o
Brasil daqui para frente?
Acho importante lançar alguns
recursos. E isso acontecerá nos
próximos dias. Alguns desses
recursos estão ajudando as pes-
soas a encontrar seus seguido-
res do Twitter no Koo e ajudan-
do-as a migrar seu histórico de
tuítes. São muitas funcionalida-
des que os brasileiros pediram
e que fazem sentido para o res-
to do mundo. Vamos imple-
mentar esses recursos e sere-
mos uma empresa global, por-
que já estamos sendo usados
em vários países. Somos o se-
gundo maior microblog do
mundo, temos muito mais esca-
la do que qualquer outra plata-
forma de microblog que não se-
ja o Twitter. Esta não é uma cor-
rida de 100 metros, mas sim
uma maratona em que a mis-
são é maior do que o Brasil ou a
Índia. A missão é unir o mundo
em vários idiomas.
Como o Koo lida com a mo-
deração de conteúdo?
B9
KOO
Não damos espaço para discur-
so de ódio ou desinformação.
Excluiremos esse tipo de con-
teúdo imediatamente. Se você
se tornar um infrator reinciden-
te, teremos de bloquear sua ca-
pacidade de criar. Você ainda
pode consumir o aplicativo, es-
sa é sua liberdade de acesso.
Mas o Koo vai acabar com sua
liberdade de se expressar.
Você acha que o Twitter vai
prosperar com Elon Musk?
Até então, tínhamos uma per-
cepção muito diferente de
Elon Musk, em que dizíamos
que ele é um dos caras mais ri-
cos e que é um superempreen-
dedor fazendo coisas pela sus-
tentabilidade, enviando pes-
soas para Marte, tendo carros
elétricos. E agora veja a ima-
gem que vemos com frequên-
cia: “Estou demitindo pessoas
só porque discordam de mim.
Estou demitindo sem aviso pré-
vio. Estou apenas dizendo qual-
quer coisa que me vem à cabe-
ça, estou tomando decisões e
voltando atrás”.
Oportunidade
‘Você tem milhões de
usuários que estão
dizendo que querem
deixar o Twitter’
Esse tipo de comportamen-
to é nocivo para o Twitter?
Sim, e vai continuar piorando.
Você tem milhões de usuários
que estão dizendo que querem
deixar a plataforma. Criar um
produto é um processo demo-
crático, principalmente um
produto e uma plataforma co-
mo o Twitter, como o Koo. Por-
tanto, estou preocupado. É
uma oportunidade para nós,
com certeza. Gostei muito de
usar o Twitter, mas acredito
que temos uma solução me-
lhor. Acredito que temos um
propósito diferente, que é co-
nectar o mundo. l
B10
Jornada de trabalho Sem limites
Para funcionários ‘dedicados’,
dormir no escritório voltou à moda
O foco no trabalho presencial e no sacrifício pessoal é uma inversão da
cultura do Vale do Silício, o primeiro a adotar opções de trabalho remoto
DANIELLE ABRIL
THE WASHIGNTON POST
O retorno do trabalho presen-
cial no Twitter deu uma guina-
da e tanto depois da aquisição
da plataforma por Elon Musk:
uma funcionária tuitou
“#SleepWhereYouWork”
(Durma onde você trabalha)
com uma foto dela em um saco
de dormir e usando uma más-
cara para tapar os olhos que vi-
ralizou na rede.
Recentemente, Musk en-
viou um e-mail para os funcio-
nários do Twitter pedindo que
eles se comprometessem com
“expedientes longos” e de “al-
ta intensidade”, além de se-
rem “extremamente dedica-
EMPREGOS
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/ Andressa ☎(11) 96386-5972
ÒëàßÝïðï
Ñ ìëàßÝïð ż Ý áôìîáïïƾë
ìáîâáåðÝ àë íñá ż ïáî
éñèðåìèÝðÝâëîéÝ äëæá áé àåÝ
×é æëîêÝè ßëéë ë ÇïðÝàƾë ðáî
ðÝéÞżé Ý ëìŖƾë àá åêâëîéÝŖƾë
ìÝîÝ ëñòåî ż ñéÝ áêëîéá
ßëéëàåàÝàá
Ãèåßá ÈáîîÝö ÅÇÑ Èäåðï
áïìáßåÝèåïðÝ áé éÝîçáðåêã àá åêĠñƴêßåÝ
á ßëèñêåïðÝ àë ÇïðÝàƾë
‘ØÇÏ
ÒÇÐÕÃÔ
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à ÉÇÐÖÇ
ÃËÐÆà ÐƭÑ ŭ ÃÕÕËÐÃÐÖÇ ÎËÉ×Ç $ ## ""
CARREIRAS&EMPREGOS
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
Para anunciar: O ESTADO DE S. PAULO
(11) 3855-2001
ficam determinação real é um
debate constante entre aque-
les interessados em tecnologia
e uma fonte de conflito entre
gerações de trabalhadores do
setor, gestores, capitalistas de
risco e todos os demais.
Nos últimos anos, a ideia de
ter uma rotina sem tempo para
nada ganhou uma má reputa-
ção. E o Vale do Silício é o lugar
onde muitas dessas tendên-
cias começaram. As empresas
têm um histórico longo de
aprovação pelas noites viradas
dos”, caso queiram continuar Carolyn Chen, autora de Work programando ou pelos fins de
trabalhando lá. Os profissio- Pray Code: When Work Becomes “É a ideia de que o semana no escritório como a
nais da empresa falida de crip- Religion in Silicon Valley (Códi- trabalho não é apenas principal forma de encontrar
tomoedas FTX também passa- go de Oração do Trabalho: Quan- trabalho” uma boa ideia para fundar uma
ram algumas noites no escritó- do o trabalho se torna religião no startup, criar um novo recurso
rio, seguindo o exemplo do Vale do Silício, em tradução li- ou fechar um acordo.
CEO, Sam Bankman-Fried. vre). “O trabalho é a sua razão
O foco no trabalho presen- de viver e o que lhe dá sentido, “O trabalho é a sua ‘PEBOLIM’. As regalias nos es-
cial e no sacrifício pessoal é propósito e identidade. É a sua razão de viver e o que critórios, como comida grátis
uma inversão da cultura do Va- fonte de pertencimento”, afir- lhe dá sentido, propósito e pebolim, foram pensadas pa-
le do Silício, que foi o primeiro ma Chen. e identidade. ra fazer com que não fosse ne-
a adotar opções permanentes Musk voltou atrás na exigên- É a sua fonte de nhum esforço ficar mais tem-
de trabalho remoto e a promo- cia de retorno ao trabalho pre- pertencimento” po no trabalho. Os millennials,
ver as semanas de trabalho de sencial após muitos funcioná- Carolyn Chen cansados da ideia de mulheres
quatro dias. Especialistas di- rios do Twitter optarem por se Autora de ‘Work Pray Code: que dão conta de tudo e ho-
zem que a mudança de rumo demitir em vez de aceitar as no- When Work Becomes mens que são “os caras” da tec-
pode significar mais estresse, vas condições. Agora, o bilioná- Religion in Silicon Valley’ nologia, recusaram algumas
esgotamento e até mesmo rio diz que eles podem conti- dessas tendências. Agora, vá-
uma crise existencial para os nuar remotamente desde que rios líderes do setor estão mais
trabalhadores. seus gestores considerem seu uma vez apregoando um retor-
“É a ideia de que o trabalho desempenho excelente. no a antigos hábitos. l TRADUÇÃO
não é apenas trabalho”, disse Se expedientes longos signi- DE ROMINA CÁCIA
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OPORTUNIDADES&LEILÕES
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO Para anunciar:
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Empreendedorismo Sustentabilidade nos negócios

Consumo consciente ganha novo marketplace

Rede Jardim Secreto expande atuação para a internet; meta é chegar a 500 marcas no fim de 2023
PAMELA ALVES
Foi assim que nasceu o proje- internet, valorizando sempre o Entre as marcas que come-
BIANCA ZANATTA to Jardim Secreto, hoje uma re- contato presencial. Mas a pan- çam a vender no marketplace
ESPECIAL PARA O ‘ESTADÃO’ de que envolve feiras, festivais, demia transformou o pensa- está a Trama Livre, criada em
espaço físico – a Casa Jardim mento. Como muitos, acaba- 2018, pela empreendedora Pa-
Responsabilidade socioam- Secreto, instalada no bairro ram por fazer o primeiro aten- trícia Rios, que idealizou e de-
biental, uso de matéria-prima paulistano de Santa Cecília – e dimento por WhatsApp e senvolveu a ideia com seu par-
reciclada, valorização da mão que acaba de expandir sua atua- aprenderam a estruturar a lo- ceiro. A empresa vende peças
de obra e uma série de pilares ção para o segmento online, gística de entrega na raça, mas com frases como “lute como
associados ao consumo cons- inaugurando o primeiro o digital continua longe de ser uma mãe” e “homem bonito é o
ciente eram uma preocupação marketplace de consumo cons- o foco do negócio. que questiona seus privilégios”.
embrionária no Brasil quando ciente para todo o País. Foi no início de 2022 que Outra que está no marketpla-
as empreendedoras Gladys Com o propósito de valori- elas tomaram a decisão de de- ce é a marca de cosméticos na-
Tchoport e Claudia Kievel se zar o “local, pequeno e atempo- senvolver a plataforma para ex- turais Irene Ri, criada por Tais
conheceram pelo Facebook, ral” e apoiar e impulsionar em- pandir o negócio, sem a limita- Tatit Barossi. A empresa come-
em 2011. Formada em Moda, preendedores de segmentos Gladys e Claudia, sócias da ção física. Conseguiram uma çou no pequeno vilarejo onde
Gladys organizava bazares na como arte, decoração, moda, plataforma Jardim Secreto investidora-anjo e, com um ela vivia na Chapada Diamanti-
época enquanto Claudia reali- bem-estar e mercearia que se aporte inicial de R$ 180 mil, na antes de voltar para São Pau-
zava festas noturnas. pautam pela causa, a platafor- passaram a focar no portfólio, lo. “Era tudo muito artesanal.
Vendo uma sinergia de ma conta com 100 marcas já na Nosso trabalho é evidenciar que inclui pequenos e médios Eu escrevia os rótulos à mão”,
ideias, elas decidiram criar al- largada, e o objetivo é chegar a marcas que se preocupam com empreendedores de todo o Bra- lembra Tais, que lançou a mar-
go do zero, ainda sem saber ao 500 até o fim de 2023. questões como essa”, diz sil capazes de entregar seus ca oficialmente em 2019 e, de
certo o que seria. “Queríamos “Desde o começo a gente faz Gladys. produtos nacionalmente. lá para cá, tem visto o fatura-
uma atividade diurna, pois na uma curadoria muito forte, é o Para fazer parte do time, as mento dobrar a cada ano.
época nosso trabalho era no- nosso grande diferencial. MANUAL PARA O DIGITAL. A em- marcas têm de cumprir quatro A Mina Art, de Maria Eduar-
turno, e que tivesse uma liga- Quando eu estava no universo preendedora fala que o market- regras: consumo consciente; da Henriques e Helena Samma-
ção forte com o manual e uma da moda, presenciei situações place foi um grande desafio produção justa, responsável e rone Henriques, também esta-
preocupação socioambiental de trabalho escravo no Bom Re- porque elas ficaram muitos sustentável; foco socioambien- rão no marketplace, com joias
para o trabalho”, conta. tiro. Isso marcou minha vida. anos sem querer nada com a tal; e originalidade. e peças de decoração. l

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SOMENTE ONLINE - 06/12/22 - 13h - LEILÃO EXCLUSIVO DE FINANCIAMENTO

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SOMENTE ONLINE - 12/12/22 - 14h - LEILÃO EXCLUSIVO DE CAMINHÕES

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SOMENTE ONLINE - 08/12/22 - 14h - LEILÃO EXCLUSIVO DE FINANCIAMENTO

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IPVA 2022 PAGO
SOMENTE ONLINE - 07/12/22 - 14h - LEILÃO EXCLUSIVO DE VEÍCULOS DO GRUPO BRADESCO
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SOMENTE ONLINE - 14/12/22 - 14h - LEILÃO EXCLUSIVO DE VEÍCULOS DO GRUPO BRADESCO

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SOMENTE ONLINE - 12/12/22 - 13h

LEILÃO DE VEÍCULOS DA FUNDAÇÃO PADRE ANCHIETA:
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HÍBRIDOS (ISENTOS DO RODÍZIO MUNICIPAL EM SP) - BAIXÍSSIMA QUILOMETRAGEM
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LEILÃO DE SUCATAS DE VEÍCULOS

SOMENTE ONLINE - 05/12/22 - 12h - CARROS, MOTOS, PERUAS, UTILITÁRIOS LEVES E OUTROS
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SOMENTE ONLINE - 12/12/22 - 13h30 - CARROS, MOTOS, PERUAS, UTILITÁRIOS LEVES E OUTROS &RQVXOWHHGLWDOFRPSOHWRQRVLWHZZZVRGUHVDQWRURFRPEU,QIRUPDÊØHV
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B16 ECONOMIA&NEGÓCIOS DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022 O ESTADO DE S. PAULO

C10 E C11 A fundo
Tecnologia
transforma a
Holanda em
referência na
produção de alimentos
Paladar Ranking
Cápsulas
sob pressão:
teste às cegas
avaliou 11
marcas de cafés
Júri, composto por especialistas e
‘viciados’ na bebida, degustou amostras
compatíveis com a máquina da
Nespresso disponíveis no mercado
DANIELLE NAGASE
Dez anos se passaram desde a
abertura do mercado dos cafés
em cápsulas no Brasil, que ocor-
reu após a queda de patentes
da Nespresso – a marca, do gru-
po Nestlé, chegou ao País em
2006 e, por seis anos, dominou
a tecnologia por aqui. De lá pa-
ra cá, dezenas de cápsulas de
marcas alternativas, compatí-
veis com as máquinas da pionei-
ra, surgiram nas gôndolas. Pois
pense que no primeiro teste
realizado pelo Paladar, no co-
mecinho de 2013, apenas cinco
exemplares puderam ser degus-
tados, incluindo o original (e
três deles já não existem mais).
Em nova edição do teste às
cegas, realizada nesta semana,
11 marcas foram colocadas à
prova – e a seleção foi árdua, já
que essas amostras represen-
tam uma pequena parcela des-
se mercado, que hoje põe den-
tro das cápsulas todo tipo de
grão de café torrado e moído.
A triagem procurou abran-
ger as opções mais encontra-
das nas prateleiras dos super-
mercados – exceto a Nespres-
so, que só vende em lojas pró-
Os jurados
Alice Guedes
(@b_alice)
Bartender, comanda a barra
do Fechado, que é misto de
café e bar. “Passei a estudar
cafés para incorporar a bebi-
da na mixologia”, conta.
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
prias –, independentemente
da categoria do café (tradicio-
nal, gourmet ou especial). Afi-
nal, num exame voltado ao con-
sumidor que busca pelo me-
lhor custo-benefício, “o sabor
deve falar mais alto”, segundo
o especialista Ensei Neto.
Além dele, Alice Guedes, mi-
xologista do Fechado, que é
misto de café e bar, Boram Um,
barista e sócio da Um Coffee
Co., Mari Sciotti, chef do res-
taurante Quincho, e Tainá Lu-
na, chef de bar da cafeteria Pa-
to Rei, compuseram o júri, que
elegeu o Sontuoso da L’Or, o
Gourmet Clássico da Baggio e
o Armonico da Lavazza como
os melhores do mercado.
No geral, o que os jurados en-
contraram na xícara foram ca-
fés sem muito equilíbrio, com
pouco aroma, pouca acidez e
amargor discrepante – o que es-
tá longe do que especialistas es-
peram da bebida, mas que refle-
te a preferência de um público
que se acostumou com esse pa-
drão de bebida. Já não é mais
segredo que a grande indústria
costuma optar por cafés de tor-
ra mais intensa para esconder
possíveis defeitos, causados pe-
la baixa qualidade da matéria-
Boram Um
(@boramum)
Premiado barista, está à
frente da cafeteria Um Coffee
Co., que cuida de seus cafés
especiais desde a origem e
escolha dos grãos à xícara.
CULTURA&
COMPORTAMENTO
O ESTADO DE S. PAULO
Queda de patentes da Nespresso impulsionou o lançamento de cápsulas alternativas no mercado
prima ou pela falta de cuidado
e rigor no processo produtivo.
É também consenso entre os
jurados que a maioria dos con-
sumidores de cafés em cápsu-
las dá de ombros para essas e
outras questões, como a da sus-
tentabilidade por exemplo – só
para a realização desse teste 55
cápsulas (algumas de alumí-
nio, outras de material biode-
gradável e algumas sabe-se lá
do que são feitas) foram utiliza-
das. O que fala mais alto é a
praticidade e padrão que essa
tecnologia oferece: café expres-
so extraído em dose única ao
simples toque de um botão. l
CONFIRA O RANKING DOS MELHORES CAFÉS
EM CÁPSULAS NA PÁG. C7
Ensei Neto
(@enseineto)
Especialista em cafés, atua
como consultor em bebidas e
alimentos. É também autor
do blog Um Café para Dividir,
publicado pelo Paladar.
C2
Bebi meu cafezinho;
agora, o que faço com
a cápsula utilizada?
É fato que o sistema de extra-
ção de cafés em cápsulas ofe-
rece muita praticidade ao
consumidor, além do sonha-
do padrão de qualidade da
bebida – você não precisa en-
tender nada sobre o assunto,
apenas manter sua máquina
limpa, com água no reserva-
tório e, ao simples toque de
um dedo, seu café expresso
sai quentinho, com crema
digna de um barista.
A quantidade de lixo gera-
da por esse tipo de escolha,
Mari Sciotti
(@marisciotti)
Chef do restaurante vegetaria-
no Quinco, na Vila Madalena,
e “cafezeira” confessa. “Con-
sumo todos os tipos de cafés,
sem preconceitos.”
C1
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
porém, é de amargar. É verda-
de que a Nespresso oferece
um serviço para reciclagem
das cápsulas da marca
(feitas 80% de alumínio
reciclável), mas, como ela
mesma diz, “reciclar é um
compromisso compartilha-
do” e a consciência do consu-
midor – que deve juntar as
cápsulas utilizadas e encami-
nhar até um ponto de coleta
– é o que está em jogo. Na Eu-
ropa, a Nespresso testa uma
versão de cápsula compostá-
vel de papel.
Por aqui, marcas como a
Melitta e a Orfeu já traba-
lham com cápsulas biodegra-
dáveis e compostáveis. l
Tainá Luna
(@tainalunaa)
É barista e chef de bar da
Pato Rei. Passa o expediente
às voltas com ótimos cafés
especiais – e adora bater
papo sobre o assunto.
 DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
C2 CULTURA&COMPORTAMENTO O ESTADO DE S. PAULO

Direto da Fonte MARCELA PAES | MARCELA.PAES@ESTADAO.COM

PAULA BONELLI | PAULA.BONELLI@ESTADAO.COM

Gilberto Amendola gilberto.amendola@estadao.com SOFIA PATSCH | SOFIA.PATSCH@ESTADAO.COM

GABRIEL GARDINNI

Hairstylist das famosas Gilberto Gil e família

têm show marcado
abre salão em São Paulo
Os 80 anos de Gilberto Gil se-
rão comemorados em solo bra-

C
om Maiara, Maraisa, Paula Fernandes, Lexa e
Simone Mendes em sua lista de clientes famo- sileiro, reunindo toda a famí-
lia, fãs e amigos na turnê nacio-
sas, Well Dias inaugura amanhã o seu primei- nal de Nós, a gente. A primeira
ro empreendimento na cidade de São Paulo. praça anunciada para receber
Natural de Minas Gerais, ele começou a sua carreira o show foi Salvador – com apre-
aos 17 anos e abriu a primeira unidade da Casa Well sentação marcada para o dia
Dias em 2010 na sua cidade natal. “Estou muito feliz 30 de junho de 2023. Novas da-
em dar mais esse passo na minha carreira. Nesses tas devem ser anunciadas em
breve. As vendas estão abertas
anos, entre tantas idas e vindas para São Paulo, sem- no site oficial do artista.
pre senti essa vontade de ter um endereço fixo para
MAURO PIMENTEL / AFP
atender as minhas clientes. E espero que em breve
tenhamos salões pelo Brasil inteiro”, falou o hairsty-
list das estrelas. Localizado na Rua Avaré, na Conso-
lação, o salão conta com um design e clima intimista.
A decoração foi assinada pela arquiteta Rayane Gar-
cia. No último mês de setembro, Marcos Proença, ou-
tro cabeleireiro responsável por cuidar do visual de
famosas, também abriu um salão em SP. A diretora do Miss Universo Brasil, Marthina Brandt, é cliente

1. Claudia Liz no
evento de
Oi, Sumida! Bloco de Notas
abertura da ANDREW KELLY/REUTERS
exposição “Atlas
Darija”. 2. l FIGURINHAS. A Qualicorp re-
Maximiliano cebe a exposição Paixão Nacio-
Crovato, o autor nal até o dia 11. A mostra conta
da mostra. 3. a história das Copas. Os aficio-
Adriana nados por figurinhas poderão
Giacometti. Na conferir a coleção completa de
última álbuns de todas as edições do
quinta-feira, no torneio. Na Rua XV de Novem-
estúdio do bro, 268. Grátis.
1. artista, na Barra
Funda.
l PREMIAÇÃO. Pequenos escri-
tores estarão reunidos hoje no
3. Teatro Gazeta para a premia-
Gisele desembarca pela primeira vez solteira ção do VI Concurso Nacional Li-
no Brasil para participar de festa na Pinacoteca terário Infantil – Prêmio Espan-
taxim. O evento é organizado
Gisele Bündchen desembarca na Pinacoteca e contará com pela escritora Dulce Auriemo.
segunda-feira no Brasil. É a pri- pocket show das cantoras Ma-
meira vez que a supermodelo ria Gadú e Agnes Nunes. Gise-
vem ao seu pais natal depois le também estaria negociando l CAMPANHA. A Janssen lançou
que se separou de Tom Brady. com a Netflix uma série sobre uma campanha sobre pacien-
Gisele vai participar da festa lifestyle – com toques de rea- tes com doenças crônicas que
em comemoração aos 60 anos lity show. Além da moda, a pro- continuam realizando seus ob-
da joalheria Vivara – marca pa- teção do meio ambiente seria jetivos e sonhos. A peça é trans-
2. ra a qual ela trabalha há 12 um dos temas da série – que mitida no Espaço Itaú de Cine-
anos. A celebração acontecerá deve ser produzida por ela. ma, na rua Augusta.
FOTOS DENISE ANDRADE

Projeto pioneiro que promove o diálogo com

as comunidades, produzido por 7 coletivos
periféricos e mais de 70 colaboradores

Acesse e Uma
acompanhe! parceria:
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022 CULTURA&COMPORTAMENTO C3
 a aliás
C4
Saramago
Quem pode tomar
o lugar do Nobel
em seu centenário
José Luís Peixoto, Gonçalo Tavares e Bruno
Vieira são três entre os portugueses cotados
para o posto do autor, vago desde sua morte
PAULO NOGUEIRA
ESPECIAL PARA O ESTADÃO
uem será o delfim de
Q José Saramago no pan-
teão das letras portu-
guesas? A pergunta pode impli-
car três respostas: as opiniões
dos críticos e leitores portugue-
ses, e a respectiva cotação no
Brasil. Provavelmente, se de-
pendesse dos brasileiros, o her-
deiro do manto seria Valter Hu-
go Mãe, cuja reputação literária
em Portugal está longe de ser
excelsa.
A discrepância na tietagem li-
terária nas duas margens do
Atlântico não é de hoje. Em vi-
da, a nêmesis de Saramago foi
Lobo Antunes, para muitos
críticos lusos de pedigree supe-
rior ao autor de Memorial do
Convento.
Candidatos a sucessores
não faltam, tal a vitalidade da
literatura portuguesa contem-
porânea. Entre os varões, há
uma tríade que é quase barba-
da: Gonçalo M. Tavares, José
Luis Peixoto e Bruno Vieira
Amaral (este último, autor de
uma magistral biografia de José
Cardoso Pires, outro ficcionis-
Literatura
ta luso do século 20, já faleci-
do). Entre as mulheres, Dulce
Maria Cardoso, Ana Teresa Pe-
reira, Inês Pedrosa, Lídia Jorge.
Uma nota pessoal: pouco de-
pois de me expatriar em Portu-
gal, ainda muito jovem, convivi
quatro dias com Saramago. Ele
acabara de lançar Viagem a Por-
tugal, uma obra de não-ficção, e
a editora dele convidou jornalis-
tas para um passeio pelo país,
ciceroneados pelo autor. Sara-
mago foi cordial comigo, insis-
tindo no apreço pelo Brasil. Ho-
je, o canal estatal da TV portu-
guesa está exibindo uma série
sobre aquele mesmo livro, apre-
sentada por Fábio Porchat.
Quem será o substituto?
Resposta passa pela
opinião dos críticos e
leitores portugueses e a
cotação do Brasil
Eu também vivia em Portu-
gal na retumbante estreia de Jo-
sé Luis Peixoto – que em 2024
fará 50 anos e que destaco aqui.
O impacto de Morreste-me foi
sísmico. Ao comentar o prodí-
gio, ouvi mais de um autor ros-
nar o apelido de Peixoto que du-
rante algum tempo pegou: o
“Eucalipto”. Naquela época, a
União Europeia exortava o go-
verno português a substituir as
lavouras tradicionais por planta-
ções extensivas de eucaliptos,
supostamente mais lucrativas.
Claro que classificações esté-
ticas são movediças (basta goo-
glar a lista do Nobel da Literatu-
ra. Voltaire chamou Shakespea-
re de “selvagem bêbado”,
Mencken grunhiu que Fitzge-
rald era uma piada e Nabokov
considerava Dostoievski “me-
díocre”. E sim, inúmeros críti-
cos são autores fracassados –
mas isso inúmeros escritores
também o são... Um critério de-
cente para o cânone é o de Ha-
rold Bloom: “Esplendor estéti-
co, vigor intelectual e sabedoria.
Pressão social e modismos jor-
nalísticos conseguem obscure-
cer, por algum tempo, tais pa-
drões, mas obras datadas jamais
sobrevivem. A mortalidade flu-
tua no ar, e todos aprendemos
que o tempo triunfa. Vivemos
um intervalo, e então nosso lu-
gar não mais nos reconhece.”
José Luis Peixoto nasceu em
Galveias (título do romance
que venceu o prêmio Oceanos
em 2015), vilarejo do Alentejo
com mil habitantes. Está tradu-
zido em 30 idiomas (o primeiro
autor em língua portuguesa ver-
tido na Armênia, na Geórgia e
na Mongólia). Aos 27 anos foi o
mais jovem vencedor do Prê-
mio José Saramago, com Ne-
nhum Olhar. Em 2007, Cemitério
de Pianos embolsou o prêmio
Otra Mirada, para o melhor ro-
mance estrangeiro na Espanha.
Com Livro, ganhou o “Libro
d’Europa” como o melhor ro-
mance europeu de 2012. Uma ca-
racterística de alguns autores
portugueses atuais é a chamada
“prosa poética”, que não me
agrada (cada macaco no seu ga-
lho). Mas Peixoto é também um
aclamado poeta, e foi nesta cate-
goria que recebeu o prêmio da
Sociedade Portuguesa de Auto-
res por A Criança em Ruínas.
Peixoto é versátil. Cemitério
de Pianos (resenhado no Guar-
dian por Ursula K. Le Guin, o
que dá uma ideia do prestígio de-
le) parte de um estopim históri-
co: a vida de Francisco Lázaro, o
primeiro atleta a morrer duran-
te uma prova na Olimpíada, na
maratona de Estocolmo, em
1912. Consta que a morte foi por
superaquecimento corporal e
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
desequilíbrio eletrolítico: ele ha-
via depilado a maior parte do
corpo e não conseguia suar, su-
cumbindo no quilômetro 30.
LÁZARO. Reciclando uma pre-
missa tão tragicamente empíri-
ca, Peixoto povoa a narrativa
com dois Franciscos, pai e filho
(o Lázaro bíblico é ressuscitado
por Cristo) e um Hermes, neto
do maratonista (o Hermes do
mito grego é o deus da estrada,
mas entre os egípcios Hermes
Trimegisto é o inventor da escri-
ta). Os dois Franciscos estão vi-
vos e mortos, numa cronologia
que é mais de Einstein que de
Newton, com alusões que não
existiam em 1912. Como o Jesus
que ressuscitou o amigo morto,
os Lázaros são uma família de
carpinteiros, cuja oficina inclui
uma sala apinhada de pianos
quebrados.
Ecletismo? Em 2003, Peixoto
publicou uma parceria com a
banda portuguesa de heavy me-
tal Moonspell, com um CD e
uma coletânea de contos, am-
bos intitulados Antídoto. Os con-
tos e as canções têm os mesmos
títulos, sob a divisa: “Dois antí-
dotos para um só veneno”. Na
edição inglesa, essas micro-
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
narrativas góticas sobre Eros
e Tânatos foram traduzidas por
Richard Zenith, autor daquela
que é talvez a biografia definiti-
va de Fernando Pessoa (que a
editora Companhia das Letras
está lançando agora). Já o ilus-
trador é o badalado quadrinista
americano Michael Manning.
Mais versatilidade? Sai o rock
Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura,
Instituto Baccarelli e Unilever apresentam
Vendas através
INGRESSOS R$40 da bilheteria do Teatro B32
(meia-entrada R$20) ou em teatrob32.byinti.com
pauleira, entra um totalitário ca-
ra de pau. Em 2012, o governo
de Pyongyang promoveu uma
festança para celebrar o cente-
nário de Kim Il-sung, pai do regi-
me comunista que aferrolha o
país desde 1948. E, de quebra,
bajular o novo ditador dinásti-
co, Kim Jong-un (aquele com
penteado tipo os Três Patetas).
MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO – 27/10/2005
1 gem do príncipe Potemkin,
A efeméride foi rocambolesca-
mente batizada de “The Kim Il-
sung 100th Birthday Ultimate
Mega Tour”. E um grupinho de
ocidentais obteve a rara permis-
são para viajar pelo país por
duas semanas. Entre eles, Peixo-
to, que voltou com o livro Den-
tro de Um Segredo.
Em termos de gatilho literá-
Transmissão ao vivo pelo canal do
Instituto Baccarelli no Youtube
NA WEB
Octavia Butler, a voz que
despontou no gênero da
ficção científica nos EUA
COMPANHIA DAS LETRAS
2
COMPANHIA DAS LETRAS
3 da Morte de Ricardo Reis.
EDITORA BERTRAND
4 sentamos, como andamos e
1. Saramago na casa do editor
brasileiro Luiz Schwarcz; 2.
José Luís Peixoto; 3. Gonçalo M.
Tavares; 4. Bruno Vieira Amaral
rio, é como se Orwell visitasse a
Colônia Penal, de Kafka. “As esta-
ções, onde o trem para ou não,
tinham sempre uma enorme fo-
tografia de Kim Il-sung no pon-
to mais alto. Essas fotos ficavam
no lugar onde, normalmente, de-
veria estar o relógio da estação.
Assim, era como se Kim Il-sung
medisse o tempo”. Uma versão
ALIÁS C5
opressiva da famosa picareta-
amante de Catarina, a Grande,
que, nas viagens da czarina rus-
sa, providenciava para que, em
todas as paradas, ela fosse sauda-
da entusiasticamente com fai-
xas e cartazes de adoração em
aldeias de fachada – cujo mate-
rial fake já seguia na bagagem da
própria comitiva.
CÂNONE. Se Saramago abriu
uma vaguinha no cânone luso
para Peixoto, nada mais justo
que este escrevesse uma obra so-
bre aquele. Autobiografia é uma
fantasia que enreda imaginação
e realidade e as duas carreiras
literárias, num labirinto de espe-
lhos. Saramago não só foi um
dos primeiros a saudar Peixoto,
como também ele escreveu um
romance sobre um escritor por-
tuguês e seu heterônimo: O Ano
Em Autobiografia, um jovem
escritor – em crise depois de um
primeiro romance de sucesso –,
aceita escrever a biografia de Jo-
sé Saramago, às vésperas do
anúncio do prêmio Nobel de Li-
teratura, em 8 de outubro de
1998. Em Cadernos de Lanzarote,
Saramago anotou: “Um dia es-
crevi que tudo é autobiografia,
que a vida de cada um de nós a
estamos contando em tudo
quanto fazemos e dizemos, nos
gestos, na maneira como nos
olhamos, como viramos a cabe-
ça ou apanhamos um objeto no
chão. Seja como for, que os leito-
res se tranquilizem: este Narci-
so que hoje se contempla na
água desfará, amanhã, com sua
própria mão, a imagem que o
contempla.” E o incipit do ro-
mance de José Luis Peixoto tem
só uma linha: “Saramago escre-
veu a última frase do romance.”
A partir daí, esses dois Zés,
mentor e pupilo, biografado e
biógrafo, clássico e delfim, narci-
sistas como todos os artistas, in-
terrogam-se reciprocamente: e
agora, José? l

C6 ALIÁS
ENTREVISTA
Richard Zenith
Escritor, tradutor e autor da
biografia de Fernando Pessoa
MATHEUS LOPES QUIRINO
os 20 anos, o escritor Ri-
A chard Zenith, 66, teve
contato pela primeira
vez com alguns versos de Fernan-
do Pessoa (em espanhol). O estu-
dante, em Chicago, percebeu de
antemão que o autor que acabara
de conhecer tinha não só qualida-
de literária, mas guardava um
mistério.
Na década de 1980, Zenith es-
teve no Brasil e teve acesso à obra
do escritor português por meio
de edições compradas em sebos.
No País, aprendeu o idioma de
Pessoa, o que facilitou sua ida a
Portugal, em 1987, onde mora
desde então.
No Velho Continente, o nor-
te-americano começou a estu-
dar a obra de Pessoa, dono de
mais de uma centena de hete-
rônimos (alguns famosos, co-
mo Álvaro de Campos e Ricar-
do Reis, outros menos conheci-
dos, como Maria José, única fi-
gura feminina entre as perso-
nas criadas pelo poeta). Zenith
descreve a figura excêntrica de
Pessoa, cujo projeto literário
se emaranhou tão bem em sua
vida pessoal que essa atmosfe-
ra íntima ficou reduzida a espe-
culações com o passar dos
anos, como a questão da supos-
ta homossexualidade de Pes-
soa, tema trazido pelo próprio
escriba em 1912, no poema Anti-
nous. O autor de Pessoa: Uma
Biografia (Companhia das Le-
tras) conta, na entrevista a se-
guir, sobre como foi mergulhar
em todas as vidas do escritor
de múltiplas faces.
A biografia trata as particu-
laridades desse sujeito poe-
ta fragmentado, mostra as
ambiguidades do autor
que fez críticas ao governo
português, mas ganhou um
prêmio por seus poemas na-
cionalistas, com o livro
‘Mensagem’. Como foi se
acostumar com esse cama-
leão Fernando Pessoa du-
rante o processo de escrita
e pesquisa?
Foi um processo extremamen-
te estimulante. Pessoa disse,
meio brincando, que um intelec-
tual moderno tem a obrigação
cerebral de mudar de opinião vá-
rias vezes no mesmo dia e ele
possuía uma flexibilidade men-
tal fora do comum. Em parte
queria provocar, desafiando
princípios estabelecidos e
ideias largamente aceitas, mas
também queria testar as pró-
prias convicções. Insistia em
ver um determinado assunto de
diversos pontos de vista. Tinha
mais interesse em viajar pelo
pensamento do que em chegar
a conclusões definitivas. Para
ele, aliás, não havia nada definiti-
vo. Dito tudo isso, é possível tra-
Pessoa só publicou um livro de poemas em vida, mas atingiu a glória póstuma e intriga pesquisadores
Literatura
Pessoa
A biografia definitiva
escrita por um
norte-americano
Richard Zenith reúne em seu livro a
vida fragmentada do poeta mais lido
em língua portuguesa
çar uma evolução das suas
ideias políticas, de seus interes-
ses espirituais e de seus gostos
literários. Quanto a Mensagem,
é preciso lembrar que o naciona-
lismo dos seus poemas é sui ge-
neris. O livro apresenta uma vi-
são idealizada de Portugal, da
sua história e do seu futuro. A
Portugal de Pessoa não corres-
ponde exatamente ao país que
ocupa o canto sudoeste da Euro-
pa. André Luiz Oliveira, ao musi-
car os poemas de Mensagem,
soube celebrar este “Portugal”
entre aspas, que é um país espe-
cífico mas também universal.
A biografia de Pessoa escri-
ta por João Gaspar Simões,
em 1950, foi a primeira e,
claro, ficaram pontas sol-
tas, como interpretações
equivocadas acerca da inti-
midade do autor. Em que
sentido a biografia do se-
nhor avança nesses aspec-
tos e esclarece episódios
da vida pessoal de Pessoa,
um homem arisco e reser-
vado, segundo os seus?
Através de cartas inéditas, pes-
quisas em arquivos, uma via-
gem a Durban (onde Pessoa pas-
sou nove anos da infância), en-
DANIEL LANNES/CIA. DA LETRAS
trevistas com descendentes de
parentes e amigos do poeta e
um exame aturado de todos os
cadernos e papéis deixados por
Pessoa, foi possível elaborar um
retrato dele muito mais rico em
pormenores. Também me bene-
ficiei de todo o trabalho feito
por outros pessoanos durante
as últimas sete décadas.
Apesar de ser sociável, com um
bom sentido de humor, Pessoa
era, de fato, um homem “arisco
e reservado”. Não tive a presun-
ção de revelar o mistério de Pes-
soa – até porque seria uma tare-
fa condenada ao insucesso –,
mas espero ter escrito uma bio-
grafia que nos permita sentir o
homem. Espero ter humaniza-
do a figura do grande gênio.
Em que medida a vida pes-
soal de Fernando Pessoa se
emaranha em sua obra lite-
rária? Como o autor traba-
lhou cada um de seus hete-
rônimos e suas ambiguida-
des?
No caso de Pessoa, estamos pe-
rante uma obra-vida ou, se pre-
ferirmos, uma vida-obra, pois
neste autor é difícil separar uma
coisa da outra. Pessoa era sem-
pre literário, mesmo nos aspec-
tos mais cotidianos da vida, e a
sua obra está impregnada de au-
tobiografia, embora de uma for-
ma quase sempre distorcida. A
poesia e prosa de Pessoa são a
fonte mais importante para o
biógrafo, mas este tem de proce-
der cautelosamente, uma vez
que o poeta português nunca
deixa de ser um fingidor. Não é
um mentiroso, mas inventa, al-
tera, reconfigura. Os heterôni-
mos são como atos poéticos, im-
pregnados também de muita au-
tobiografia e fingimento. Além
de contar a história individual
de cada heterônimo ou autor fic-
tício, a biografia traça a longa
história do fenômeno da hetero-
nímia, desde os amigos imaginá-
rios da infância, um dos quais
escrevia cartas para Pessoa (is-
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
to é, Pessoa redigia cartas a si
próprio em nome do amigo),
até Maria José, uma corcunda
tuberculosa que, por volta de
1930, escreve uma desesperada
carta de amor para um serralhei-
ro bonito que passa pela sua ja-
nela todos os dias. Durante mi-
nha estadia em Durban, desco-
bri o heterônimo Karl P. Effield,
autor do primeiro poema em in-
glês publicado por Pessoa, com
15 anos de idade, num jornal da-
quela cidade.
Desde pequeno Pessoa
(como Alexander Search,
um dos primeiros hete-
rônimos em inglês) busca-
va algo que chamava de
Verdade – um conceito
que vai ser estudado pelo
escritor em sua busca eso-
térica. Em dado momen-
to, o senhor dá a entender
que a busca literária de
Fernando Pessoa é tam-
bém espiritual, concluin-
do que o autor seria capaz
de criar essa própria ‘Ver-
dade’. Que verdade é essa?
No seu Fausto, Pessoa escre-
veu “O segredo da Busca é que
não se acha”, mas isso não o
impediu de buscar sempre. No
seu entender, foi o buscar, não
o encontrar, que valia a pena.
Se encontrasse a Verdade, não
haveria mais jogo, e Pessoa era
um lúdico apaixonado, adora-
va brincar. Com coisas frívolas
e com coisas sérias. Sabia que o
raciocínio jamais poderia atin-
gir a Verdade, se é que a Verda-
de existe, e por isso levou sua
busca para caminhos espiri-
tuais. Interessou-se sobretudo
por caminhos esotéricos, pois
queria (pelo menos teorica-
mente) apreender o mistério
da existência, a gnose. Toda a
busca de Pessoa foi feita com
palavras, a mesma matéria
com que construía as suas
obras literárias. Sendo a Verda-
de afinal inalcançável, se não ine-
xistente, Pessoa foi criando ver-
dades provisórias, com “v” mi-
núsculo. Com os heterônimos,
por exemplo, Pessoa teorizou
um neopaganismo em que Al-
berto Caeiro era o mestre, quase
um deus, enquanto Ricardo
Reis e Álvaro de Campos eram
os seus discípulos. Estudando
os muitos apontamentos que
Pessoa deixou sobre assuntos
esotéricos, fiquei espantado
quando percebi que não só in-
vestigou intensamente corren-
tes como a Cabala, a Rosacruz e
a Maçonaria, ele também inven-
tou as suas próprias ordens ini-
ciáticas – com sistemas de graus
e ritos de iniciação. Portanto a
religião, para Pessoa, também
era um jogo, uma outra forma
de literatura. l
Pessoa: Uma
Biografia
Richard Zenith
Cia. das Letras
1.116 páginas
R$ 200
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
Paladar Teste
Com qual café em cápsula eu vou?
Confira o ranking e
como se saiu cada
uma das 11 amostras
de café encapsulado
provadas na análise
sensorial às cegas
DANIELLE NAGASE
Depois do fim da exclusividade
da Nespresso no sistema de ex-
tração de cafés em cápsulas,
com o passar dos anos, dezenas
de marcas alternativas (compa-
tíveis com as máquinas da pio-
neira) passaram a pipocar no
mercado. Se você se sente perdi-
do em frente à prateleira do
mercado, confira o resultado da
degustação às cegas, que além
de ranquear as cápsulas preferi-
das dos jurados, traz detalhes
sensoriais de cada amostra.
Com essas informações, fica
mais fácil para você escolher a
cápsula que melhor lhe cai,
1º L’OR, SONTUOSO. (R$ 26,99,
10 cápsulas, no St. Marche) Com
corpo sedoso e espuma cremo-
sa, o café (em cápsula de alumí-
nio) foi o preferido dos jurados
por conta da elegância – a bebi-
da apresentou equilíbrio entre
doçura, amargor e acidez. Tem
aroma de frutas frescas e, no sa-
bor, notas de açúcar queimado
e doce de leite. “Tem gostinho
de quero mais.”
2º BAGGIO, GOURMET CLÁSSI-
CO. (R$ 21,49, 10 cápsulas, no Pão
de Açúcar) O corpo sedoso e ave-
ludado (com crema persisten-
te), além do equilíbrio entre do-
çura, acidez e amargor, conquis-
taram os jurados. Entre as no-
tas percebidas, destacaram-se
as de nozes e de chocolate ao
leite. Pecou ao apresentar vestí-
gios de oxidação e, por isso, não
conquistou o primeiro lugar.
3º LAVAZZA, ARMONICO. (R$
24,90, 10 cápsulas, no St. Marche)
A famosa marca italiana apre-
sentou um café cremoso, equili-
brado, com doçura e acidez pre-
sentes, além de um agradável
amargor. Entre as notas percebi-
das, destaque para as de nozes e
de caramelo. Só perdeu pontos
pela finalização seca.
4º MELITTA, MARCATTO. (R$
19,99, 10 cápsulas, no Pão de Açú-
car) A embalagem promete um
café (em cápsula biodegradável
e compostável) com notas de ca-
cau torrado e frutas secas e, de
fato, entrega. Os jurados tam-
bém perceberam caramelo, no-
zes e um leve amadeirado. O fi-
nal muito amargo e seco fez a
amostra perder alguns pontos.
5º PILÃO, TRADICIONAL. (R$
20,99, 10 cápsulas, no Bergamini)
Não houve consenso entre os
jurados: enquanto uns se inco-
modaram com o amargor acen-
tuado deste café (em cápsulas
de alumínio), outros o conside-
ram equilibrado, com leve aci-
dez e doçura. Considerando a
preferência do público e o pre-
ço, é um “café para todos os dias
e horas”, definiu um jurado.
6º ILLY, INTENSO. (R$ 26,49, 10
cápsulas, no St. Marche) Em cáp-
sulas de alumínio, o café da mar-
ca italiana chamou a atenção
dos jurados logo de cara, por
apresentar uma crema de res-
peito (persistente e cremosa).
Com corpo médio/baixo, a bebi-
da tem notas de caramelo, no-
zes e chocolate ao leite. Perdeu
pontos pela falta de acidez e pe-
la finalização amarga e seca.
7º NESPRESSO, ARPEGGIO.
(R$ 28, 10 cápsulas, em lojas da
Nespresso) O café da marca
saiu-se acima da média na análi-
se sensorial, mas não conquis-
tou o pódio. Isso porque, apesar
da cremosidade e das notas de
amêndoas e caramelo no aro-
ma, os jurados reclamaram de
um amargor persistente e de
certa adstringência.
\
Ministério do Turismo e
Cultura Artística apresentam
/
quarteto
attacca
Ingressos a partir de R$50 (11) 3256-0223 / culturaartistica.org. Ingressos remanescentes são vendidos a preço especial 30 minutos
antes do concerto: R$20 (inteira) e R$10 (meia entrada). Promoção sujeita a disponibilidade. Classificação etária sugerida: 7 anos.
Programação sujeita a alteração.
PATROCINADOR MASTER
CULTURA&COMPORTAMENTO
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
Cafés foram extraídos em máquina recém-calibrada pela Nespresso
8º 3 CORAÇÕES, MOGIANA PAU- menos densa e pela falta de per-
LISTA. (R$ 15,99, 10 cápsulas, no sonalidade no corpo (mé-
Bergamini) A cápsula de alumí- dio/baixo), no aroma, no sabor
nio acomoda café torrado e moí- e na finalização que “desapare-
do de grãos cultivados na região ce rápido da boca”.
localizada ao norte do estado,
que é famosa pela produção ca- 9º ORFEU, INTENSO. (R$ 25,79,
feeira. Na análise sensorial, po- 10 cápsulas, no Pão de Açúcar)
rém, a bebida não ficou entre as Apesar do corpo cremoso, da
melhores por conta da crema acidez (baixa) e da doçura (mé-
/ PROGRAMA
cultura \
SALA SÃO PAULO, 21H
artística,
temporada
SÉRIE BRANCA
Philip Glass (1937)
Quarteto de cordas
n. 3, “Mishima”
/ 2022
Franz Joseph Haydn
(1732–1809)
Quarteto de cordas n. 67,
op. 77 n. 2 (Hob. III: 82),
em fá maior
\
Caroline Shaw (1982)
Entr’acte
Maurice Ravel
(1875–1937)
Quarteto de cordas,
M. 35, em fá maior
/ Caroline Shaw (1982)
\ 13–14.12
\
REALIZAÇÃO
/ \
C7
dia) presentes, o café especial
(em cápsulas biodegradáveis e
compostáveis) cultivado na fa-
zenda Sertãozinho, no sul de Mi-
nas Gerais, perdeu muitos pon-
tos pelo amargor intenso, que
“lembra queimado”. Outro jura-
do mostrou-se incomodado
com um sabor químico.
10º STARBUCKS, HOUSE BLEND.
(R$ 27,55, 10 cápsulas, no Pão de
Açúcar) O amargor intenso (e
desagradável) e a adstringência
apresentada por este café (em
cápsulas de alumínio) dificulta-
ram a sua colocação no ranking.
“Chega a ser agressivo.” Apesar
disso, um dos jurados até conse-
guiu encontrar a nota de toffee
prometida pela embalagem.
11º SANTA MÔNICA, ORGÂNICO.
(R$ 25,69, 10 cápsulas, no St. Mar-
che) As notas medicinais perce-
bidas na boca tiraram do páreo
o café produzido na fazenda ho-
mônima, localizada no sul de
Minas. A bebida ainda apresen-
tou corpo baixo, ausência de do-
çura e de acidez, além da finali-
zação amarga e seca. “Parece
bem oxidado”, cravaram.
SÉRIE AZUL
Philip Glass (1937)
Quarteto de cordas
n. 3, “Mishima”
Ludwig van Beethoven
(1770–1827)
Quarteto de cordas
n. 10, op. 74, em mi bemol
maior, “A Harpa”
Blueprint
Maurice Ravel /
(1875–1937)
Quarteto de cordas,
M. 35, em fá maior
 DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
C8 CULTURA&COMPORTAMENTO O ESTADO DE S. PAULO

Horóscopo Cinema Ranking Seyrig no papel principal, o fil-

me retrata a vida diária de uma
Quiroga ‘Jeanne Dielman’ é mãe solteira prostituta en-
quanto cuida das tarefas do-
oscar@quiroga.net
mésticas, um dia de cada vez.

Tua alma é vida alma se perceba exilada do
cenário em que se sentiria
Data estelar: Lua cresce
em Touro em casa, usufruindo de seus
ardores, pois, enquanto con-
ão importa o quanto tinuares ciente do que real-
eleito o melhor filme O ranking da Sight and Sound
é referência para a cinefilia glo-
bal desde 1952. A cada dez
de todos os tempos anos, a revista revela seus 100
melhores filmes de todos os
tempos, votados por mais de

N te sacrifiques, abdi-
cando do usufruto de
teus ardores para te
adaptar a um cenário de con-
veniências, que por ser dis-
tante do que teus ardores
apontam, não tem como dei-
xar de se transformar numa
inconveniência, mas que vai
sendo preservada e alimenta-
da por interesses diversos.
Não importa o quanto tua
ÁRIES 21-3 a 20-4
Prefira trilhar um cami-
nho seguro e, para tan-
to, você precisará con-
ter o espírito de aventura, que
sempre se atira às experiências
mais excitantes, mas que, neste
momento, produziriam desgas-
te em vez de regozijo.
mente prezas, tua alma con-
tinua viva, porque a vida é
ser aquilo que se sente, aqui-
lo que nossos ardores
atraem, e também somos
atraídos, nessa coreografia
infinita de aproximações e
distanciamentos. Tua alma
é viva, e a vida é generosa e
graciosa, mas precisa de nos-
sa confiança para se conce-
der a nós. l
TOURO 21-4 a 20-5
Tome iniciativas, evite
esperar que a vida resol-
va o que está em suas
mãos solucionar. Tome iniciati-
vas, porque ainda que essas sejam
um tanto desengonçadas, pelo
menos servirão para tirar as coi-
sas do marasmo. Muito melhor.
Lista da revista
‘Sight and Sound’
surpreende ao
escolher diretora e
desbancar ‘Cidadão
Kane’ e “Vertigo’
A Sight and Sound, revista de
cinema do British Film Ins-
titute, coroou nesta quinta-
feira, 1.º de dezembro, o fil-
me Jeanne Dielman (1975),
da belga Chantal Akerman,
como o melhor filme de to-
dos os tempos.
Esta é a primeira vez que
QUADRINHOS
Minduim Charles M. Schulz
uma realizadora encabeça a in-
fluente lista, à frente de Vertigo
–Um Corpo que Cai, de Alfred
Hitchcock (número 1 do mes-
mo ranking em 2012), e Cida-
dão Kane, de Orson Welles (nú-
mero 1 de 1962 a 2002), na se-
gunda e terceira posições.
Já presente na lista de 2012
no 35.º lugar, a escolha de colo-
car o filme na primeira posição
é indicativa de uma quebra
muito forte nas representa-
ções dos cinéfilos e de um ver-
dadeiro salto progressivo, visí-
vel a todos os estratos do
ranking. Estrelando Delphine
1.600 críticos de cinema, aca-
dêmicos, distribuidores, escri-
tores, curadores, arquivistas e
programadores. Esta nova lis-
ta mostra um forte desejo de
reequilíbrio depois de décadas
em que era composta só por
filmes de homens brancos.
Dezenove títulos deixaram
o ranking este ano, incluindo
dois de Jean Renoir, A Grande
Ilusão e Um Dia no Campo,
mais Fanny e Alexandre, de Ing-
mar Bergman, Nashville, de Ro-
bert Altman, e Chinatown, de
Roman Polanski. AGÊNCIAS IN-
TERNACIONAIS l

GÊMEOS 21-5 a 20-6 CÂNCER 21-6 a 21-7

Tome distância das pes-
soas tóxicas, mas tam-
bém daquelas com que
você normalmente passaria al-
guns bons momentos. Agora prefi-
ra a solidão, que será a melhor
companhia possível, e ajudará vo-
cê a fazer as reflexões necessárias.
Há assuntos que você
precisa refletir na soli-
dão, mas há outros
que precisam ser conversados
abertamente, em busca de opi-
niões que, apesar de desencon-
tradas, servirão para sua alma
ter uma visão mais ampla. Recruta Zero Mort Walker

LEÃO 22-7 a 22-8 VIRGEM 23-8 a 22-9

Apesar de ser um dia
teoricamente dedicado
ao descanso, sua alma
precisa se expressar produtiva-
mente, portanto, o melhor a
fazer é se envolver em algum de
seus projetos atuais e fazer algo
para avançar terreno.
Pense grande, se deixe
levar pela imaginação,
porém, cuide para man-
ter seus pés firmes na terra, de
modo a que sua imaginação te-
nha chance de ser realizada, em
vez de ser, mais uma vez, uma
Turma da Mônica Maurício de Sousa
brincadeira de fantasia.

LIBRA 23-9 a 22-10 ESCORPIÃO 23-10 a 21-11

Sensações estranhas
que a alma não conse-
gue decifrar, mas que
soam alarmes interiores. Melhor
não se ocupar demais com essas
sensações, porque são estranhas
mesmo, isto é, provavelmente
nem sejam suas. É assim.
Procure as pessoas que
sejam mais representati-
vas, pois, é com elas que
será melhor tratar dos assuntos
que precisam ser resolvidos, mas
que sua alma ainda não sabe co-
mo fazer. Este é um momento de O melhor de Calvin Bill Watterson
relações públicas.

SAGITÁRIO 2-11 a 21-12 CAPRICÓRNIO 22-12 a 20-1

Procure se dedicar a ar-
rumar todas essas pe-
quenas coisas que vão
sendo deixadas sempre para de-
pois. Agora é esse depois que
nunca chega, e seria interessante
se debruçar sobre as pontas sol-
tas e as amarrar.
Um pouco de diverti-
mento fará muito bem a
você, porque mesmo
que não solucione nada, pelo me-
nos outorgará uma medida de
bem-estar para sua alma e, assim,
Frank & Ernest Bob Thaves
depois você tomará decisões mais
acertadas. Aí sim.

AQUÁRIO 21-1 a 19-2 PEIXES 20-2 a 20-3

Um bom dia para se
dedicar a fazer algo
que descanse e des-
preocupe, se regozijando nos
bons sentimentos de estar tudo
no devido lugar, mesmo que
nada disso seja um retrato fiel
de seu dia a dia. Descanso.
Mantenha um tom agra-
dável e cordial em todas
as conversas em que se
envolver hoje, porque assim sua
alma desfrutará da sensação de
estar acompanhada, a despeito de,
na maior parte do tempo, se sentir
totalmente sozinha. BEM PENSADO “A ciência mais difícil é desaprender o mal” Antístenes de Atenas
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022

O ESTADO DE S. PAULO CULTURA&COMPORTAMENTO C9

Ignácio de Loyola Brandão

O silêncio
ntão, com o segundo a terra redonda, a ciência, a toda a nação. cilenta evaporaram com seu para que o Exército saísse nas

E turno, fez-se a luz. E um

grande silêncio se aba-
teu sobre o País.
Durou semanas. Mas não
era opressivo, ao contrário.
saúde, a educação. Acima de
tudo, se desprezou a vida.
Tudo se aquietou. Tinham
sido quase quatro anos em
que o tsunami da canalhice
Dissolveu-se a angústia
permanente. Sem a voz, des-
vaneceu o desconforto, a afli-
ção, o tormento que ela pro-
dono enfurnado, a remoer o
fiasco, o malogro, o ter sido
atirado fora, vendo seus alia-
dos começando a se compor,
políticos sempre se acomo-
ruas e tomasse o governo.
Enquanto o filho Banani-
nha vai ao Catar, esbanjando
dinheiro nosso, os penitentes
crentes e iludidos estão sob o
Não mais ouvimos aquela voz baixara sobre o Brasil trazen- Sem a voz, dam junto ao vencedor. sol inclemente, a chuva, os
sarcástica, nauseabunda do do as falsas notícias. A inso- Aquele tormento amai- ventos, noite e dia, assim co-
não reeleito. lência e a ignomínia cresce- desvaneceu o nou. Aquele riso mordaz e o mo os da cracolândia também
Aquela voz que insultava, ram, inundaram tudo, as ma- desconforto, a rosto macilento foram cance- estão sob sol, sob chuva e tor-
desprezava, desmentia, escor- tas desapareciam com as quei- aflição, o tormento lados dos vídeos. Dos seguido- mentas.
raçava. Porque tudo era nega- madas, tudo que tinha um so- res dos curraizinhos, muitos Os dois grupos sob os efei-
do. A morte, as doenças, o pro de vida nas narinas (e não que ela produzia foram para as estradas, colo- to de drogas. Uns, viajando,
amor, a solidariedade, as do- havia respiradores) estava caram barreiras, outros fo- étereos, com os cachimbi-
res, a pobreza, a miséria, a fo- sendo aniquilado. duzia e nos deixava deprimi- ram para a frente de quartéis nhos de crack. Os outros sob
me, o desemprego, o racismo, dos, neuróticos, desacorçoa- e casernas, trincheiras e guari- o efeito da droga que dissolve
a diversidade, o desmatamen- A VOZ DESAPARECEU. Então, a dos, exangues. Com o silên- tas, bivaques, casamatas do corpo, alma e a democracia. l
to, a compaixão, a amizade, o voz do imbrochável brochou. cio, uma grande paz dominou Exército, puseram-se a orar,
companheirismo, a fraterni- Desapareceu. Calou-se. E a Terra. ave-marias e pais nossos, la- É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE
dade, a família, o desamparo, aquela calmaria pairou sobre Aquela voz, aquela cara ma- dainhas e novenas e trezenas 'ZERO' E 'NÃO VERÁS PAÍS NENHUM'

SEG. Pedro Venceslau, Simião Castro e Gilberto Amendola l TER. Patrícia Ferraz l QUA. Leandro Karnal, Roberto DaMatta e Maria Fernanda Rodrigues l QUI. Luis Fernando Verissimo, Luciana Garbin (quinzenal), Patricia Ferraz l SEX. Marcelo Rubens Paiva (quinzenal), Gilberto Amendola
l SAB. Sérgio Augusto (quinzenal), Alice Ferraz, Suzana Barelli, Renata Simões (quinzenal) e Daniel Martins de Barros (quinzenal) l DOM. Leandro Karnal, Luis Fernando Verissimo, Sérgio Augusto (Aliás, quinzenal), Milton Hatoum (mensal) e Ignácio de Loyola Brandão (quinzenal)

CRUZADAS NA WEB Jogue as cruzadas

estadao.com.br/e/cruzadas CRIPTOGRAMA E CAÇA-PALAVRAS Nesta seção, todos os dias, um jogo diferente para você

Consoante Seu uso por empresas infringe Importante fonte de re- Período de Para letras iguais, números iguais. Nas casas em destaque, um brasileiro, compositor
nasal que direitos humanos Unidade ceita de cidades como janeiro a junho
se liga a sobre o de medida que Declaro Aparecida contemporâneo de música clássica, indicado duas vezes ao Grammy Latino.
"b" e "p" trabalho equivale a dez metros com firmeza Código, em inglês
1 2 3 1 4 2 3
Feliz; ditoso.

Paisagem
Selvagem
(?) John-
2 4 5 6 7 8 3
carioca Brian (?), son, ator Condição do envelope postado.
citada no produtor carioca
poema do U2
"Escapulá- Expressão 5 9 6 4 7 2 3
rio", de Risco que
corre o
para evitar Astuto.
Oswald repetição
de Andrade trapezista (latim)
Penúria
8 7 4 10 7 6 3
(bras.) Apelido de Maradona (fut.).
Ilha, em
francês 1 9 2 4 6 9 11
Comida de
Oscar
Niemeyer,
Nicolau Osso localizado na caixa craniana.
quartel (?): o
arquiteto último
(bras.) carioca czar
Diz-se da verdade que não admite 9 12 13 11 10 6 9
Metal mui- Processo de impressão
to denso "(?) País", a partir do vermelho, Cai por contestação.
periódico azul e terra
A primeira Hora, em
consoante
espanhol amarelo italiano
(a casa)
Manter algo pendente, por meio de 1 4 14 10 2 9 2
(?)-in,
massagem cordas.
O oriental
sedativa
Deixara de pagar impostos.
13 3 14 15 9 2 9
(?) bucal, Destino tu- Período Errar,
acessório
do
boxeador
rístico de
compras
na Flórida
cobrado
por
faxineiras
R em inglês
Iodo
(símbolo)
2 4 16 11 17 4 2
Catar folhas caídas da árvore.

A Afeto; carícia.
9 16 9 4 14 6 3
Tratamen- Capital eu- Conteúdo
to para in- ropeia do do tanque Rei dos
suficiência mercado de mer- Lápitas
(Mit.) Aposento para estudo ou trabalho; 15 9 12 14 4 6 4
renal El Rastro gulho
escritório.
Município
pernam- 15 2 4 7 13 6 9
bucano Aquele que faz piquete.
Divindades
como Xan-
gô e Iansã Diz-se do período grego relatado em 17 3 5 2 7 16 3
Andavas “Ilíada” e “Odisseia”.
(?) biológica:
é utilizada
Jornal,
rádio ou Matemáti- 2 4 11 14 16 17 3
em ataque televisão ca (abrev.) A “voz” do cavalo.
bioterrorista
Canal de "Vir para
Cantora
dos
TV italiano (?)", cli- (?) política: foi iniciada no 9 12 4 6 10 2 9
Rua chê do no-
Tribalistas vo chefe Governo Geisel (BR).
(abrev.)

Movimento artístico de Tristan 8 9 8 7 13 5 3

Tzara.
2/el. 3/eno — err — île — ora. 4/code — fero. 5/íxion — ósmio.
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Nível Difícil 

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C10 DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022

A FUNDO PRODUÇÃO O ESTADO DE S. PAULO

LAURA REILEY
THE WASHINGTON POST
País lançou mão dos avanços em
palavra de ordem na agricultura vertical, sementes e robótica
A Holanda surgiu há
duas décadas, à medi-
da que crescia a preocupação para hoje ser modelo global no setor
com a capacidade do país de
alimentar seus 17 milhões de

Tecnologia
habitantes: produzir o dobro
de alimentos com a metade
dos recursos.
A nação, com território um
pouco menor do que o Estado
do Rio de Janeiro, não só alcan-
çou a façanha como se tornou
o segundo maior exportador
mundial de produtos agrícolas
em valor, ficando atrás dos Es-
tados Unidos. O país está tam-
bém entre os maiores exporta-
dores de tecnologia agrícola e
torna Holanda
referência
de alimentos. Os holandeses
foram pioneiros na produção
de carne artificial, agricultura
vertical, tecnologia de semen-
tes e no uso de robótica na or-
denha e colheita – liderando
inovações que focam na dimi-

nuição do uso de água, assim
como na redução das emissões
de carbono e metano.
A Holanda produz anual-
mente 4 milhões de bois, 13 mi-
lhões de suínos e 104 milhões
de frangos, sendo o maior ex-
portador de carne da Europa.
Mas também fornece vegetais
para grande parte da Europa
Ocidental. O país tem aproxi-
madamente 10 mil hectares –
quase o dobro do tamanho de
Manhattan – de plantações
crescendo em estufas.
Esses ambientes protegi-
dos, com menos fertilizantes e
uso de água, podem cultivar
em um único hectare o equiva-
lente ao que seria plantado em
10 hectares na agricultura tra-
dicional. As lavouras holande-
sas usam menos de dois litros
de água para produzir cerca de
meio quilo de tomates, en-
quanto a média global é supe-
rior a 105 litros.
Mais de metade do territó-
rio do país é utilizado para a
agricultura. Os holandeses
com frequência dizem que o fo-
co do país na produção de ali-
mentos nasceu da fome devas-
tadora vivida durante a Segun-
da Guerra Mundial. Mas pode-
se dizer que a preocupação
com a comida começou no sé-
culo 17, quando os holandeses
estavam no centro do comér-
cio global de especiarias.
TECNOLOGIA. A importância da
Holanda no estudo global de
alimentos é incontestável: 15
das 20 maiores empresas
agroalimentares – como Nes-
tlé, Coca-Cola, Unilever, Car-
gill e Kraft Heinz – têm impor-
tantes centros de pesquisa e
desenvolvimento no país.
Com terrenos limitados e
um clima chuvoso, os holande-
ses se tornaram mestres da efi-
ciência. Mas há desafios: o ra-
mo das estufas prosperou em
parte por causa do baixo custo
da energia, mas a Europa Oci-
em alimentos
KADIR VAN LOHUIZEN/NOOR
Celeiro
Empresas holandesas se
transformaram nas
principais fornecedoras
mundiais de sementes
para plantas
ornamentais e vegetais
dental está enfrentando uma
disparada no preço do gás. E as
práticas agropecuárias intensi-
vas do país também estão em
risco. Recentemente, uma coli-
gação governamental conser-
vadora comprometeu-se a cor-
tar pela metade as emissões de
nitrogênio até 2030, o que exi-
giria uma redução drástica do
número de animais criados no
país. Agricultores e pecuaris-
tas têm protestado, mas resta
saber como este impasse será
resolvido.
SEMENTES. As empresas holan-
desas são as principais fornece-
doras mundiais de sementes
para plantas ornamentais e ve-
getais. Existe uma área no no-
roeste do país chamada “Seed
Valley” (Vale das Sementes),
onde novas variedades de vege-
tais e flores estão em constan-
te desenvolvimento. A sede da
Enza Zaden está localizada no
país, ao norte de Amsterdã.
Em três gerações, a Enza Za-
den passou de uma loja de se-
mentes de uma família a líder
de mercado global no melhora-
mento de vegetais, com mais
de 2,5 mil funcionários e 45 sub-
sidiárias em 25 países.
Jaap Mazereeuw, diretor-
geral da companhia, disse que
a empresa gasta US$ 100 mi-
lhões (por volta de R$ 530 mi-
lhões) anualmente em pesqui-
sa, lançando cerca de 150 no-
vas variedades de vegetais a ca-
da ano. “Somos basicamente
uma empresa de pesquisa”,
afirmou. “Com as mudanças
climáticas, estamos perceben-
Funcionário caminha
por lavoura interna
de pepino da
empresa PlantLab;
‘controle’ do clima
do o clima se tornar mais extre- fruto. As estufas do país produ-
mo. Estamos de olho em varie- zem aproximadamente um mi-
dades resilientes, sementes pa- lhão de toneladas de tomates
ra fazendas orgânicas, assim por ano, com exportações tota-
como variedades que são mais lizando cerca de US$ 2 bilhões
tolerantes à salinidade para lu- a cada ano.
gares onde a qualidade da água “Há um novo vírus em toma-
não é boa. Precisamos encon- tes e recentemente encontra-
trar soluções tanto para os agri- mos a imunidade em nosso
cultores de subsistência como banco de sementes”, disse Ma-
para os grandes produtores.” zereeuw. A empresa armazena
A empresa produz semen- suas sementes em um cofre
tes para todas as zonas climáti- com temperatura controlada –
cas e para cultivo em ambien- o chamado banco de sementes
tes externos e internos. – para preservar a diversidade
“Temos nossa própria plan- genética, mas como elas não
tação em ambiente interno, permanecem viáveis para sem-
onde criamos as variedades pre, cada variedade guardada
do futuro, culturas que po- deve ser cultivada e suas se-
dem crescer e ser colhidas ra- mentes, então, armazenadas.
pidamente: alface, ervas, vege- Tudo é de importância vital,
tais folhosos. A genética pode disse Mazereeuw: “Quando fa-
ser melhorada, assim como to- lamos de alimentos, roupas,
da a tecnologia – a agricultura energia ou pecuária, tudo co-
em ambientes internos só fica- meça com as plantas”.
rá mais barata. Ainda estamos
nos primórdios do setor”, dis- PRODUÇÃO. A natureza é cruel.
se Mazereeuw. Pode haver sol demais. Ou não
Mais de 12 bilhões de pés de o suficiente. Pragas de insetos.
alface são cultivados todos os A chuva pode levar as semen-
anos com as sementes de Enza tes embora. “Acreditamos que
Zaden, mas foi um tomate no podemos ser melhores que a
início dos anos 1960 que fez a natureza”, disse Eelco Ockers,
empresa ficar de fato conheci- CEO da PlantLab, que desen-
da – e talvez o que, por sua vez, volve e opera fazendas perso-
tornou a Holanda famosa pelo nalizadas em ambientes in-
DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
O ESTADO DE S. PAULO
ternos em todo o mundo –
sistemas que eles chamam de
“unidades de produção de
plantas”. Os agricultores de fa-
zendas verticais trocam a ener-
gia grátis do sol pela elétrica,
muito mais cara, porém a van-
tagem é que eles podem con-
trolar com maior facilidade to-
das as variáveis para conseguir
uma produção constante e con-
fiável, disse Ockers.
Os três fundadores monta-
ram seu primeiro protótipo em
2008 e lançaram a empresa em
2010, ajudando os agricultores
holandeses de fazendas verti-
cais e de estufa a aumentar a
produção com luzes de LED,
mesmo quando a tecnologia es-
tava em estágio inicial. Eles têm
um sistema por meio do qual
plantações suficientes para
abastecer 100 mil pessoas dia-
riamente com mais ou menos
200 gramas de vegetais frescos
cada podem ser cultivadas em
uma área um pouco maior que a
de dois campos de futebol.
No início deste ano, a Plan-
tLab recebeu ¤ 50 milhões (cer-
ca de R$ 275 milhões) em capi-
tal de investimento para criar
mais locais de produção fora
da Holanda para o cultivo de
vegetais sem pesticidas ou her-
Funcionária amarra cordas em plantas para direcioná-las ao sol
bicidas em grande escala mui-
to perto de seus consumido-
res. A meta da empresa é expan-
dir de forma mais ampla nos
Estados Unidos, na Ásia e na
América Latina nos próximos
cinco anos, com o objetivo de
ter 100 hectares de suas fazen-
das verticais em todo o mundo
na próxima década.
O centro de pesquisa e de-
senvolvimento da companhia
em Den Bosch é o maior cen-
tro de agricultura vertical do
mundo. São usadas ilumina-
ção de LED com espectro limi-
tado e bandejas de plástico pa-
ra produção de mudas empilha-
das, e as plantas são plantadas
em vermiculita com as suas raí-
zes na água. “Nada é colhido
manualmente, nada é tocado
por mãos humanas”, disse
Ockers. A mesma água circula
mais de uma vez, o que signifi-
ca que nada dela é perdido du-
rante o processo de crescimen-
to. Por enquanto, o sistema é
FOTOS KADIR VAN LOHUIZEN/NOOR
Em alta
20% foi quanto
cresceu a produção
agrícola e animal da
Holanda desde 1995.
No ano passado, o país
exportou ¤ 105 bilhões
(R$ 591 bilhões) em
produtos agropecuários
¤ 8,8 bilhões , do-se um centro comercial e de
por volta de R$ 49 bi, foi
o valor exportado em
carne suína, bovina e de
frango, principalmente
para Alemanha, Reino
Unido e China
mais eficaz para o cultivo de
vegetais folhosos, ervas e to-
mates, mas ele disse que pe-
pinos, abobrinhas e todos
os frutos silvestres são ade-
quados para este sistema de
cultivo. E, segundo Ockers,
ao limitar o tempo entre a
colheita e o consumo, o des-
perdício de alimentos é re-
duzido e a densidade de nu-
trientes é muito maior do
que nas plantações tradicio-
nais. l TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
A FUNDO C11
Exportações
têm recorde
e chegam a
¤ 105 bilhões
em 2021
Em 2021, as exportações agro-
pecuárias holandesas alcança-
ram um recorde, chegando a ¤
105 bilhões (R$ 591 bilhões),
de acordo com o Departamen-
to de Pesquisas Econômicas e
Estatísticas Holandesas da
Universidade de Wageningen.
O crescimento pode ser atri-
buído ao aumento dos preços
e do volume produzido. Desde
1995, o volume da produção
agrícola e animal da Holanda
cresceu 20%, sem aumentar
de forma significativa o consu-
mo de gás natural e com um
uso reduzido de fertilizantes.
Das exportações do ano pas-
sado, ¤ 12 bilhões (R$ 65 bi-
lhões) vieram da horticultura
ornamental (flores, plantas,
bulbos e produtos para vivei-
ros de mudas), mas a segunda
categoria agrícola mais rentá-
vel foi a de frutas e vegetais,
seguida por carne e produtos
lácteos. Um quarto de todas as
exportações agrícolas foi para
a Alemanha, sendo os três
maiores mercados seguintes
Bélgica, França e Reino Unido;
com cebola e tomate no topo
da lista das exportações.
GEOGRAFIA. A crescente preva-
lência das exportações pode
ser atribuída, em parte, aos re-
cursos financeiros para pesqui-
sa e desenvolvimento, que tri-
plicaram nas últimas três déca-
das, com foco no aumento da
produtividade e na redução da
dependência de energia, água e
insumos – as estufas s quase eli-
minaram o uso de pesticidas.
Em razão da sua posição geo-
gráfica central, a Holanda, so-
bretudo por meio do porto de
Roterdã, transformou-se tam-
bém em um dos maiores “reex-
portadores” do mundo, tornan-
logística para muitos produtos
vendidos na Zona do Euro que
vêm de países como EUA e Chi-
na (desde o Brexit, as ativida-
des de reexportação para a Grã-
Bretanha diminuíram bastan-
te). Um quinto de todas as fru-
tas e vegetais frescos importa-
dos para a Europa chega por
meio de um porto holandês.
O aeroporto de Schiphol,
nas proximidades de Amster-
dã, é o principal terminal in-
ternacional do país e o mais
movimentado da Europa em
circulação de aeronaves. No
ano passado, passou por ele
um recorde de 1,66 milhão de
toneladas de cargas, embora a
guerra na Ucrânia tenha desa-
celerado as operações no lo-
cal. l L.R.
 DOMINGO, 4 DE DEZEMBRO DE 2022
C12 CULTURA&COMPORTAMENTO O ESTADO DE S. PAULO

Leandro
Karnal

O Rubicão .

Nosso mundo de empreendedores estimula a cruzar todo rio. Se você não cruzar, é fraqueza
uerida leitora e estima- no espantou-se com uma cruz uma decisão a partir de uma dou quase todos os dados do quanto o cérebro.

Q do leitor: sabem algo do

rio Rubicão? Conhecer
esse rio separa jovens
de mais experientes. No mun-
do antigo, o pequeno curso
d’água apartava a província da
Gália da área direita da provín-
cia de Roma. Por segurança, o
Senado proibia que os coman-
dantes trouxessem tropas pa-
ra a criação da Cidade Eterna.
Assim, o rio Rubicão era o limi-
te legal para um general. Cru-
zá-lo era um tabu jurídico.
Em janeiro do ano de 49 a.C.,
Júlio César cruzou o rio com
suas tropas. Há registro do histo-
riador Suetônio. César meditou
longamente e tomou a decisão,
dizendo a frase famosa: “Alea
jacta est” (a sorte está lançada).
Há outra versão para a frase em
Plutarco: “Que comece o jogo”.
Nos dois casos, passamos a
usar a metáfora do ponto que
não permite retrocesso, da eta-
pa que muda tudo, da decisão
no céu, anunciando sua vitória,
caso ele usasse aquele símbo-
lo. Quase sempre, as narrativas
das visões são posteriores e in-
dicam um argumento metafísi-
co a decisões bem mundanas.
Nosso mundo de empreende-
dores estimula a cruzar todo rio.
Se você não cruzar, é fraqueza
sua, pois “a sorte favorece auda-
zes”. As velhas lições do mundo
clássico viram conselhos para
ousadia e determinação. César
levava com seu exército gente
profissional de adivinhação (áu-
gure) que observava o voo dos
pássaros, entranhas de animais
e até a maneira de seguir um pa-
drão de alimentação dos gan-
sos. Via as estrelas, meteoros,
manchas nas águas e... diziam o
que o governante queria. César
não era original. Ao longo de to-
da a história, sempre houve líde-
res que buscavam sinais nos
céus, para saber sobre o futuro.
Vejamos: você tem de tomar
dúvida. Peguemos uma sim-
ples: fazer pós-graduação em
qual área? Comece a avaliação
pessoal a partir do que você sa-
be (que nunca é tudo). Depois,
conselhos de quem trilha cami-
nhos similares ou que possui
êxito que valide a opinião. Sar-
César foi ousado
ao atravessar
o rio – mas confiou
demais em algumas
pessoas, como Brutus
tre sempre dizia que escolhe-
mos a resposta ao indicar quem
nos dará o conselho. Você tem
argumentos sólidos para tomar
a decisão X. Porém, não existe
sabedoria que possa incluir o
imponderável chamado futuro.
O limite da informação confiá-
vel é a conjuntura que a gerou.
A pandemia, por exemplo, mu-
mundo dos negócios. Decisões
sábias, em dezembro de 2019, vi-
raram caminhos idiotas em 2022.
O general Sun Tzu advertia
sobre a realidade mutante da
água que nos cerca. A verdadei-
ra arte da guerra não é tomar
uma decisão, todavia ser capaz
de ir adaptando (e até retroce-
dendo) sempre em função da-
quilo que se encontra.
César tinha alguns dados na
margem do Rubicão. A política
romana foi colocada de ponta-
cabeça depois. O general roma-
no foi ousado ao cruzar o rio,
porém teve de continuar ousan-
do (e negociando) até as calen-
das de março de 44 a.C. Tomou
boas decisões e venceu seus ini-
migos. Fez excelentes alianças
e cultivou amizades estratégi-
cas. No entanto, confiou de-
mais em algumas pessoas, co-
mo Brutus. O braço dos estrate-
gistas pode ser forte; o coração
raramente é tão bem guardado
Não existe segurança absolu-
ta. Há uma tradição histórica:
César foi assassinado, Lincoln
foi assassinado e Napoleão per-
deu em Waterloo. Curiosamen-
te, a memória coletiva indica
os três como grandes estrate-
gistas. Assim, sempre há risco
em cruzar ou não o Rubicão.
Só existe algo forte: perdoa-
mos quem cruza e falha; somos
duros com aqueles que mon-
tam barraca na margem e pas-
sam toda a existência avalian-
do. Os excessivamente pruden-
tes morrem de velhice e esque-
cidos. Os ousados lidam com a
chance de um fracasso maior.
A memória costuma perdoar
um equívoco, mas raramente
defende quem decidiu viver de
forma opaca e sem esperança.
Qual o Rubicão na sua vida? l
LEANDRO KARNAL É HISTORIADOR,
ESCRITOR, MEMBRO DA ACADEMIA
PAULISTA DE LETRAS, AUTOR DE
‘A CORAGEM DA ESPERANÇA’, ENTRE OUTROS

que altera o curso da nossa histó-

/
ria. O casamento? Um filho? Um
investimento alto e arriscado?
Rubicões pela vida. Cruze o rio e

\
nunca mais você será a mesma

cultura
pessoa (uma mudança absoluta
e, quase sempre, irreversível).
É possível que o nome deri-

artística
vasse de uma cor avermelhada,
algo como um rubi; daí, Rubi-

temporada /
cão. Vermelho símbolo da vida
e do derramamento de sangue,
da morte, igualmente. O rio es-

2023 \
tá entre a ousadia e a imprudên-
cia. Não cruzá-lo é sempre se-
guro; assim é esperado pela lei
e pela ordem. Atravessar o pe-
queno rio é uma decisão de con-
sequências imprevisíveis.
A decisão de César levou a SALA SÃO PAULO, 6—7.06 20—21.06 22—23.08
uma guerra civil e, em algum 20H30 Camerata Salzburg / Andreas Orquestra Sinfônica de Lucerna /
sentido, ao poder absoluto do Renaud Capuçon, Ottensamer / Michael Sanderling, regência /
general famoso.

/
violino Alessio Bax Steven Isserlis, violoncelo
Decisões são consideradas
sábias no passado quando o fu-
turo concede boa sorte a seus
efeitos. Ordenar que a décima
terceira legião (Legio XIII) cru-
zasse o rio foi um ponto muito
importante para a trilha de po-
\ 13—14.09
András Schiff
19—20.09
Le Concert des Nations /
Jordi Savall, viola da
gamba e direção
24—25.10
Maria João
Pires
21—22.11
Kristine
Opolais

der do ambicioso Júlio César.

No entanto, como ele foi assas-
sinado cinco anos depois, al-
guém poderia dizer que (sim!)
foi uma conquista acertada série de TEATRO B32,
20H
4.04 16.05

violão
Plínio Carlo
que o levou ao poder supremo
Fernandes Curatolo
e... custou sua vida em 44 a.C.
Tudo contém o seu contrá-

/
rio. O sucesso pode trazer até a 5.09 10.10 7.11
morte, como pensariam César Tal Carlotta Filippos
e o presidente A. Lincoln. Hurwitz Dalia Manoloudis
Poderosos ouvem conse-
lhos, mas tomam decisões
nem sempre de acordo com
eles. Há uma tradição na narra- REALIZAÇÃO AQUISIÇÃO DE NOVAS ASSINATURAS a partir de 7/12 CALENDÁRIO COMPLETO E INFORMAÇÕES
tiva: criar um reforço fora do 11 3256.0223 / culturaartistica.org
programação sujeita a alterações
mundo físico. Júlio César teria

\
tido visão sobrenatural às mar-
gens do rio famoso. Constanti-