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GAUCHO: HISTORIA E MITO Moacyr Flores ie eS Porto Alegre 2007 snoneye apres nassio cm Prt Alege, Profesor douor em str do Programa de Pés Graduagio em Histéria, dz Pontiele Universidade Catia do Rio Grande do Sul taretou no Clipe Etatual de So Bor, Colgio Municipal Emilio Meyer, Cielo Essa Ilo de Cation no Cur de Histia 4 Giveriade Feral do Rio Grande do Sol Stead insti Histrc eGeoprific do Ri Grande do Sul, de Academia Ri-Grandense de Les, do Creo de Pesquisa Lierrias(CIPEL), ©.) ie tinfabe Go esis Nacional de eset deMines Geis, eBei conespondente dosti Histrio Geogrdfco de SHo Luiz Gonzaga, : Fundouediigine Muses Antopldgio do Rio Grande do Sul ; ‘oo Musea dePos Alegre : : Prémio Clio de Histria, pelo livre Historiografia,estudos. a eke ‘Medalhas:SimBes Lopes Neto, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, ff Medalb io Afonso, PUCRS. ; de Layiano, Conissio de Follore do RS. | ‘ SERIE TEMAS RIO-GRANDENSES : i Camebarroem Porongos diversas abordagens, Cts Pires Machado 2 Gatehe:Hténa emit, Moxey Fart d 3. Ante Goribaldi~a cragco do mio, ida Agnes Hobner Flores toragto: Suliani Editografia Lida ~ Rua Verssimo Rosa, 31! ~ 90610-280 ‘orto Alegre, RS ~ E-mail: editor@suliani.com br ~ Fone'fax: (51) 3384-8579 (© Copyright de Moacyr Flores, 2007 Fanmail yRores@terra.combr pee - GAUCHO: HISTORIA E MITO- 1.0 gaticho hist6rico Emilio Coni, pesquisando a documentago ém arquivo’argentino, encontrou rela- tos sobre’ o gaucho que vivia no meio de indios pampianos, roubando e matando 0 ‘gado dos fazendeiros. A data mais antiga encontrada pelo historiador é 1617, referente ‘a mozos perdidos que viviam nos toldos dos indios charruas, na provincia ‘de Santa Fé, atual Argentina, roubando e matando o gado para tirar 0 couro. Coni anotou que 0 cabildo de Buenos Aires, em 1642, chamou os assaltantes das estincias de cuatreros ¢ ‘vagabundos. Em 1686 os missionérios jesuftas registraram a aco dos vagos ou vaga- bundos qae'pilhavam as estincias das Missées, No inicio do século XVIII grupos de homens matavain.o gado da Vacaria do Mar para tirar 6 couro. Se eles pagevam im posto em Montevidéu eram chamados faeneros, caso contrério, denominavam-se “changadores” (Coni, p. 66-70). 3s diferentes termos de mozos perdidos até gaucho, apontados por Coni, desig- nami o habitante da zona rural Argentina, uruguaia e sul-rio-grandense que vivia do roubo de gado ¢ do assalto as fazendas de criacao. sargento-mor (major) José de Saldanha registrou em seu Didrio Resumido, em 1787, que o termo espanhol gauches referia-se aos vagabundos ou ladrdes do campo, que matavam os toliros chimarrdes para Ihes tirar 0 couro e vender nas povoagdes Galdanha, p. 181). Gaudério vem do latim gauder, alegrar-se, que se transformou em gaudério, pes- soa que nfo trabalha ¢ nio se fixa num lugar. Coni afirmou que em 1790 formou-se uma partida de volantes para perseguir e prender os muitos malévolos, malfeitores ¢ ladrdes, desertores e pedes de toda a casta, chamando-os de gauchos ow gaudérios (Coni, p. 54). Em oficio ao capitiio Manuel Anténio de Magalhaes sobre o abandono dos Sete Povos pelos espanhéis e a demoligdo do forte espanhol de Santa Tecla, José Saldanha, em 22.9.1801, referiu-se a tomada da Guarda de Sio Martinho pelos “nossos gauchos ou salteadores do campo, que ndo excediam ao nimero de 33, comandados por um desertor nosso, José do Canto”." Oficic do sargento-mor José de Saldana a0 Capito Manuel Antnio de Magalhes, em 229.1801, Lisboa. Arquve Histérico Ultamarno, Conselho Ultamarino, Brasil, RS, Cx. 5,D. 401. 3 "Mapa dos registros dos termos que precederam a palavra gaiicho, ‘eonforme Con’ @ Saldanha. (Mapa do auto) ‘Augusto Meyer analisa o surgimento do termo gaticho ¢ seu significado, enume- rando 25 hipéteses sobre suas origens etimologicas inventadas ou absurdas, sem con- firmar nenhuma (Meyer, 1957, p. 67-70). : Os viajantes estrangeiros referem-se A imagem do gaticho sem metéforas poéti- cas, descrevendo a realidade, possivelmente deformada pela visio etiropéia, de um tipo agressivo e marginal a sociedade organizada. O viajante Auguste Saint-Hilaire, que esteve na provincia em 1820, em diversos trechos descreveu 0 garrucho ou gai- ‘cho como bandido, marginal e pilhador, individu sem pétria que Iuta unicamente pelo saque (Saint-Hilaire, p. 129, 289, 292, 300). ‘Arséne Isabelle, que Viajou pelo Rio Grande do Sul desde Montevidéu, tragou a imagem do gaiicho como individuo dado a pilhagem de propriedades na Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul. Explica que é dificil estabelecer “uma simples orga- nizagdo regular porque a idéia de obediéncia entre os gatichos tem certa semelhanga com a do selvagem” (Isabelle, p. 88 e 112), Descrevendo a decadente cidade de Paisandu, Isabelle refere-se aos indios char- ruas que, em 1834, quase desapareceram e que os poucos se uniram com “os gati- chos comprometidos nas guerras civis” e que “todos se entregavam, em comum, a0 mais audacioso banditismo” (Isabelle, p. 157), Nicolau Dreys, em 1839, informa que o gaticho ja estava mudando, mas que ainda se reunia em grupos de pessoas sem moral e sem lei, formando uma sociedade agine (sem mulher). O autor ironiza que para a felicidade dos povoados ¢ das estan- cias os gatichos nao gostavam de mulheres (Dreyes, p. 122). britanico William Mac Cann esteve na Argentina de 1842 a 1845 e registra 0 termo gaucho como ofensivo para 0 povo campesino porque designava 0 individuo sem domicilio fixo € que levava uma vida némade. Avisa que evitou usar esse ter- ‘mo para referir-se A classe pobre e ao pedo trabalhador (Mac Cann, p. 116). Ricardo Rodriguez. Molas publica, em 1968, Historia Social del Gaucho, na qual analisa a sociedade espanhola na regio platina, formada por brancos e por mesticos. ‘Apenas os brancos tinham direito de serem “vecinos”, os mestigos viviam em volta dos povoados diferenciados dos espanhis por seus costumes (Rodriguez Molas, p. 17-19). argentino Rodriguez Molas chama atengio para 0 fato de viajantes estrangei- ros, como o francés Beaumont, denominarem de gaucho ao pequeno proprietirio, a0. ppeio de estincia, ao escravo e ao vago por causa da vestimenta e dos costumes, cau- sando confusdo ao estudo demogrifico da regio do pampa. O autor relaciona a poe- sia popular que canta a injusta perseguigdo ao gaicho pelo governo de Buenos Aires e pelos proprietérios. No inicio do século 19 patrulhas do Exército percorriam as pupe- rigs, as festas.e vel6rios de criangas onde 0s gaiichos vinham beber e bailar, a fim de recruté-los para 0 servigo militar (Rodriguez Molas, p. 120-121) © uruguaio Femando Assungdo, em 1969, depois de apresentar 0 conceito de ‘marginalidade social, afirma que “el gaucho no fue, ni pudo nunca ser, ni marginal ni desélasado, respecto de nuestras propias estructuras sociales” (Assungao, p. 11). ‘Assungio considera que 0 gaucho possuia oficio ao trabalhar na faena (matanga de gado para retitar 0 couro), enriquecendo fazendeiros e comerciantes (Assungao, p. 13). Fernando Assungio reuniu uma colegdo de pegas de uso campeiro, que formam © acervo do Museo del Gaticho - Motivas Populares, de Montevidéu, com 0 objeti- vo de mostrar 0 perfil cultural do pais. © Catélogo do Museu nao estabelece dife- renga entre as pecas de origem gauchesca e as de origem do campesino criollo, con- siderando 0 acervo como produto de uma cultura vacum, Tendrio d’ Albuquerque estuda a linguagem gauchesca, buscando a procedéncia de cada termo na linguagem africana, guarani, quichua, espanhola e portuguesa, usado na literatura gaticha, mas deixa de examinar as palavras faenero, gaudlério, gaticho, pois seu olhar & sobre as maravithas da literatura regional 2 Acriagao do mito A histéria dos povos ¢ rica em manipulagdes de toda a espécie que fazem parte da politica cultural de determinada época € do engajamento do historiador ou do literato. Muitas vezes 0s fetos so manipulados deliberadamente durante seu proces- 0, ou, outras vezes, nas geragdes posteriores que criam e forjam mitos de acordo ‘com a religido, a filosofia ou o imaginério dos grupos de interesses. Herédoto, ao escrever sua Histéria, afirma que ndo é possivel confiar nos poctas porque eles, embora conhecendo os fatos, criam mitos e falseiam os acontecimentos em busca de uma feitura estética e grandiosa, como imprimiu Homero na Iliada. ‘Homero ou 0s poetas que adotaram esse nome no decorrer da elaboragao do grande poema épico, relata que a causa da guérra contra Tréia foi o rapto de Helena por Paris, que a levou cidade dos troianos. Herédoto desmancha o mito e mostra que Paris levou Helena e 0 tesouro do rei Menelau para Salinas, no Egito, onde havia um templo de Hércules que protegia a todos que nele se refugiassem. Entéio por que a guerra contra Tréia? Herddoto explica que os troianos controlavam o estreito de Dardanelos, cobrando pedagio dos navios gregos que atravessavam o estreito em diregao as suas colénias no mar Negro. Os gregos atacaram Trdia para controlarem = anavegagdo no estreito de Dardanelos (Herédoto, p. 122-125). Herédoto tragou os limites entre a Literatura ¢ a Histéria, estabelecendo que es- ta se faz através da pesquisa (historia, em grego), em busca da verdade de um fato, enquanto que aquela se constr6i com imaginag&o e criatividade, em busca do belo. Infelizmente pessoas confundem a Literatura com a Histéria, a criatividade po¢tica com a narrativa histérica, 0 mito com a realidade, ignorando que a busca da verdade € um objetivo constante na construgao do saber histérico. Mas ento, a Literatura ndo serve para a construsio historiogréfica? Desde 1930 um grupo de historiadores produziu uma Nova Histéria, em torno da revista criada pelo historiador francés Marc Bloch, adotando o principio que a Histéria no existe por si mesma a ndo ser quando é construida pelo historiador. Assim, todo o roman- ‘ce, poesia, conto, fotografia, gravura, miisica, pintura, podem ser fonte da Histéria, desde que contenham o imaginério da época do autor. Exemplificando: as pecas de teatro escritas no periodo da escravidio e que colocam o cotidiano dos escravos em cena, sio documentos fundamentais para estabelecer o imagindrio e a conjuntura durante 0 escravismo. No entanto, um drama escrito hoje sobre a escravidio no Brasil nfo pode ser usado como fonte para 0 estudo histérico da escravidao porque © autor estara reproduzindo o imagindrio de sua época e no o dos senhores ¢ dos ‘Segundo Jung “o mito do herdi ¢ 0 mais comum ¢ © mais conhecido em todo 0 mundo”. O herdi formador de todas as culturas possui elementos de arquétipos uni- versais: ¢ corajoso, hospitaleiro € honesto, sacrifica-se pelos amigos, luta contra 0 mal ¢ nao teme a morte. Sao atributos do heréi grego, do cavaleiro medieval da Tavola Redonda, do ancestral formador da identidade do gaticho, tanto brasileiro, como argentino ou uruguaio. A construgdo do mito do gaticho é recente, surgiu com a literatura romantica do século XIX ¢ envolve pessoas de etnias diferentes. E comum encontrar descenden- {es de imigrantes alemdes, italianos, poloneses, judeus, arabes ¢ libaneses com in- dumentiria gauchesca (pilcha) em dangas coreografadas ¢ falando uma linguagem comum com sotaque caracteristico da Campanha sul-rio-grandense e platina, Por que esta dissondncia? Esto conscientes da origem do gaticho histérico ¢ da génese do gaticho mitico? Inicialmente temos que depurar 0 mito do gaticho que por ser construido com arquétipos universais toma-se denominador comum ou modelo para pessoas de diferentes tradigdes. O mito ndo é uma mentira, nem uma falsidade, € a interpretagdo de uma realidade. Refere-se a uma existéncia histérica, pois ninguém consegue falar ou escrever sobre uma coisa que no existiu. Assim a construpo do gaticho mitico partiu do real e se tornou plausivel com referenciais historicos, passan- do no decorrer do tempo a ser conhecida de todos, embora seja uma criago que se processou lentamente, até se tomar anénima, formando uma tradicdo de gerago a ‘geragdio. Em pouco tempo o mito confunde-se com a tradigo, sendo aceito por todos, porque a narrativa ou a poética gauchesca usa matrizes sociolégicas como 0 trabalho campeiro, casos contados junto a0 fogo de chao, camaradagem galponeira’e recorda- es da turbuléncia de antigas revolugdes ¢ guerras na fronteira. O espago histérico do gaticho era o Pampa argentino, uruguaio e sul-rio-grandense, mas a criagHo literéria extrapolou o espago original, colocarido-o em zona onde ele munca existiu, como na rea de colonizago européia, Iugar de pequenas propriedades, ou nos Campos de ‘Viamilo, territério de criadores e de tropeiros de mulas. A Titeratura capta ¢ também projeta 0 imaginério de determinados grupos sociais, tornando-se uma fonte rica para reconstituir as mentalidades existentes na época do autor, porque o romance, a novela, o'conto ¢ a poesia so expresses de idéias exis- teéntes em determinado ‘periodo, selecionadas pelo escritor. O regionalismo rio- grandense formou-se dentro da corrente do romantismo, infTuenciado pelas idéias de federagdo dos liberais moderados e farroupilhas, que argumentavam que o Rio Gran- de do Sul era diferente das demais provincias brasileiras por causa de seu clima, do meio fisico, da raga formada pelos agorianos, da economia e da sociedade, militarizada em fungio da fronteira ¢ da pecuaria. A primeira fase do romantismo literdrio segue um modelo que se caracteriza pelo personagem central chamado de monarca das coxi- Thas ou de campeiro. Tendo como referéncia histérica a Revolugdo Farroupilha, a trama segue a trilha da vinganga, os personagens sofrem pelo amor contrariado, 0 campo é sempre melhor que a cidade, 0 heréi € bom e honesto, a natureza esté presen- te com descricdo de plantas, ilhas ou rios, os personagens falam uma linguagem re- gional e popular para salientar o aspecto nacional. Apés a independéneia do Brasil, os intelectuais se propuseram a criar uma literatura nacional diferente da de Portugal, usando tematica ¢ linguagem regional, Numa sociedade guerreira com lutas de fronteira, baseando sua economia na pe- ‘cudria extensiva, nido havia espago para a produgdo intelectual, obrigando a poetisa Maria Cleméncia da Silveira Sampaio a editar no Rio de Janeiro seus versos, em 1823. Também Manoel de Aratjo Porto Alegre migrou para 0 Rio de Janeiro, em 1837, onde desenvolveu intensa produgao cultural. Nisia Floresta publicou a segunda edigdo de Direitos das mulheres e injustigas dos homens, em Porto Alegre, em 1833. Com a eclosio da Revolugdo Férroupilha ela se refugiou no Rio de Janeiro. Ana de Barandas imprimiu em tipografia porto-alegrense O ramalhete ou flores escolhidas no Jardim da imaginagao, em 1845, ‘0 médico José Anténio do Vale Caldre e Fito publicou na capital do império, * sob forma de folhetim, o romance A divina pastora, em 1847, ambientado no Rio Grande do Sul ¢ tendo como referencial a Revolugio Farroupilha. Em 1849, ainda no Rio de Janeiro editou em folhetim 0 corsdrio, inserindo termos ¢ acontecimen- tos regionais. O heréi do romance é'0 vaqueano que se veste & monarca, que sig- nifica um bom campeiro. Os diélogos reproduzem termos regionais como poncho, churrasco, macega, restinga, encilhado, apear-se, faxina, vargem. - ‘ Em 1865 Carlos von Koseritz editou A Campanha da Provincia do Rio Gran-. de.do Sul, exaltando os habitantes, principalmente beleza das mulheres. Talvez> CSR or estar hé pouco tempo na provincia, Koseritz confunde o gaticho ¢om. 0 cam-' peiro, O mesmo nao acontecerd em seus escritos de 1883, quando o.pe €.0 tro- peiro n&o so chamados de gatichos ¢ os habitantes do Rio Grande do Sul passam. a ser chamados de rio-grandenses. M. J. de Oliveira Vasques publicou pequenas pegas teatrais, reeditando-as em 1868, com.o titulo de Produgdes draméticas, onde consta 0 monslogo O gaticho, repleto de termos campeiros, terminando.com uma poesia sobre a vida triste que se passa na campina. © mondlogo é humoristico, 0 gaticho compara sua amiada as belezas de uma égua, pois gosta de carreiras. portugués César de Lacerda encenou ¢ editou em 1867, em Recife, O.mo- narca das coxilhas, drama em trés atos, sobre 0s costumes sul-tio-grandenses. (O drama estabelece uma distingdo entre 0 gaticho, que & maltrapilho e castelhano, € 0 campeiro que trabalha como pedo. O termo gaiicho ainda tinha conotago pe= jorativa. De 1867 a 1874, Apolinério Porto Alegre, um dos fundadores da Sociedade Partenon Literdrio, publicou cinco contos que pertencem ao ciclo do vaqueano, do campeiro € do monarca das coxilhas, usando cerca de 300 termos regionais, clas- sificados por ele como falar do povo. Apolinério retratou a realidade de sua época, ‘2 maneira de ser do rio-grandense contempordneo. Em 1872 escreveu O vaquea- no, como resposta ao romance de José de Alencar, O gaticho, publicado em 1870. vaqueano simboliza o herdi indomavel que busca vinganga pela morte dos pais. Novo ciclo surge na literatura regionalista, quando Luis Alves de Oliveira Belo pu- blicou o romance Os furrapos, em 1877, no qual 0 monarca das coxilhas passa a ser chamado de gaticho, 0 centauro dos pampas. O heréi revolucionério € bom, franco, hhonesto ¢ corajoso; lutando contra o vildo castelhano, covarde ¢ mentiroso. No periodo de formagio da nacionalidade tudo 0 que era de ruim vinha do outro lado da fronteira, ‘s espanhéis e seus descendentes eram os etemos inimigos dos rio-grandenses. O jomal Progresso Literdrio, de Pelotas, em 1888, publica a poesia intitulada © gaticho, de poeta anénimo, com os seguintes versos: | | Vencendo 0 pampa escabrosa ‘Surge 0 gaticho garboso Do Rio Grande do Sul. Seu porte belo e possante, O seu olhar deslumbrante Como um astro em céu azul? ‘Nessa época, 0 gaticho histérico, gaudério e marginal havia desaparecido co- mo voluntério na Guerra do Paraguai ¢ pelo uso de novas técnicas nas lides campei- ras, como a colocagao de arame dividindo propriedades e cercando as estradas que se transformavam em corredores, onde todos os que passavam cram vistos e contro- lados. Em breve a linha férrea, transportando as tropas de gado, decretaria 0 fim dos tropeiros. O uso de mangueiras, bretes e banticiros modificaram o manejo do gado, no havia mais rodeios em campo aberto. A mio-de-obra campeira, liberada pelas mudangas no trabalho da agropecuria, vem para periferia das cidades e engrossa as Sei dos revoluciondrios ¢ das. forgas legalistas na Revolugdo Federalista de 3 O gauchismo Depois da paz, veio a saudade dos “tempos de ouro”, onde o homem livre ama- ‘va 0 bom sol da liberdade. A fuga do presente é caracteristica do gauchismo e do ‘radicionalismo, que tém como referéncia o passado idealizado, cristalizado no tem- Po. As raizes do gauchismo mergulham no regionalismo literario do século XIX e 16 positivismo com a idéia de federago e de que somos diferentes dos demais bra- sileiros. Jilio Prates de Castilhos instalou a ditadura positivista em 1891, continuada por Anténio Augusto Borges de Medeiros ¢ terminada em 1928, com Getilio Domeles Vargas. A doutrina positivista tinha como utopia a sociedade industrial, gerando 0 abandono da agricultura e da pecuéria, em fungdo das indistrias. Depois da sangrenta Revolugdo Federalista era necessirio unir os rio-grandenses. Jodo Cezimbra Jacques criou em 1898 a primeira instituigdo cultural tradicionalista, 0 Grémio Gaticho, com 0 objetivo de cultuar a meméria dos herdis farroupilhas Bento Gongalves da Silva e Davi Canabarro, em busca de um passado idealizado e mitico, desenvolvendo o nacionalismo ¢ 0 civismo. O gaiicho rio-grandense € o herbi reorde- nado, civilizado pela estancia e pela cidade, 0 gaucho malo € castelhano. No periodo de 1889 a 1930, a agropecuiria atingiu novos niveis téenicos, libe- rando a mo-de-obra no campo. Na zona de produgio de arroz abandonam-se as foices individuais ¢ modemnas ceifadeiras percorreram os arrozais, provocando 0 desemprego. Os campeiros refugiam-se na periteria das cidades, em busca de traba- Iho nas fibricas, vivendo em malocas sem esgoto, sem gua ¢ sem eletricidade, 2 C.B.M. O gaicho. Progresso Literirio, jamal de Pelots, RS, 11-11-1888, p. 4-5. 9 Luiz de Aratjo Filho editou, em 1898, 0 livro, Recordagées gaichas, em que 0 campeiro é 0 gaticho. de vida rude pampiana, mas sempre otimisia, “onde descen- dente de gaicho, gaticho era”, O autor confiindiu o gaticho com campéiro; o horiem ‘marginal com o integrado na sociedade rural. Alcides Maya criou um outro tipo de gaticho mitico, o heréi fundador de uma raga que viveu sua “idade de ouro”, destrufda pela urbanizagao ¢ pela industrializa- go. Em 1910 publicou Ruinas vivas, considerando 0 Rio Grande do Sul decadente, no presente s6 restavam ruinas de um passado glorioso. Alcides Mayai;a0 cultuaro passado, criou.uma imobilidade na propria literatura regionalista; levando 0s éscri- tores mais jovens a adotarem uma linguagem morta, com termos gauchescos. Em Alma barbara, o gaticho é valente, mulherengo ¢ indiferente A morte, conforme a . quadrinha transcrita: Sou gaticho de bom gosto, ‘Morro quando Deus quiser; S6 dois prazeres conhego: : ; Cavalo gordo e rnulher (Maya, p. 59). Em 1912, Sim@es Lopes Neto publicou Contos gauchescos, usando linguagem narrativa simples com termos tradicionalistas nos didlogos. Lendas do Sul, de 1913, obra inspirada no cancioneiro espanhol, como a Jenda Salamanca do Jarau, criou uma nova realidade eaptada pelo imaginério dos rio-grandenses, Suas criagdes lite- ririas, como a lenda de Sepé Tiaraju, so adotadas em salas de aula, como se-fos- sem a histéria do Rio Grande do Sul, porque-contém uma linguagem simbélica:e elementos de nossa cultura ibérica, O livro de contos Terra gaticha, de Roque Callage, publicado em 1914, apre~ senta o gaticho mitico transfigurado em campeiro, nfo é mais 0 marginal historiado por Coni ou descrito pelos viajantes. Sua preterisfo ¢ de apresentar os contos como ensaios sociologicos ¢ folcléricos, dentro de uma linha positivista de mitificagao do herdi e de criagdo do folclore pelo intelectual. Ramiro Barcelos, preterido em sua candidatura a senador, satirizou, em 1915, no poemeto Anténio Chimango, a Ant6nio Borges de Medeiros, presidente do Rio Grande do Sul. Cada capitulo inicia com a ronda, que descreve em sextilbas as lides campeiras. Depois o tio Lautério retine a peonada e conta a histéria relambéria de um tal Ant6nio, Chimango por sobrenome. O anti-herdi, é apresentado como astuto, nalicioso e intrigante, na maior sétira politica escrita no Rio Grande do Sul. Nada mais cdmico ¢ ridiculo do que Borges de Medeiros transformado em gaticho, pois, como seguidor da doutrina de Auguste Comte, tinha como simbolo do progresso a sociedade industrial, anttese dos costumes campeiros. ‘A luz elétrica, 0 bonde eo cinema trouxeram modificagdes sociais. Os filmes estrangeiros, ainda mudos, mostravam ao povo novos valores, outras idéias ¢ for- mas de viver, Na década de 1910, encontrei referéncias em jomnais sobre grupos ‘carnavalescos, em Porto Alegre, fantasiados de gatichos, com botas, esporas e bom- 10 bacha. Mas na década seguinte, em resposta a0 movimento modemista, com seu nacionalismo ¢ nativismo, firmou-se 0 mito do gaicho, cultuado como nosso ances- tral. O sul-rio-grandense virou gaticho. ‘ Micio Teixeira, em 1920, editou Os gatichos, um estudo do meio fisco, da his- {6ria,-da vida no pampa, do cancioneiro popilar e com biografias de intelectuais, ‘Tragou.9 perfil do gaticho como um ser dotado de heroicidade selvagem “que luta bbrago a brago € peito, s6 regressando aos pagos, coroado e condecorado de golpes € cicatrizes”. Miicio Teixeira recolheu quadrinhas que julgava superiores ao de qual- quet outro ponto do Brasil; pelos rasgos caracteristicos da independéncia e da bra- ‘vura.do povo de guerreiros-e de poetas. O gaticho é guasca largado, o monarca das -0oxilhas é alto, reforgado, sadio, inteligente, desembaragado, agil, audaz, valente, franco e generoso. Considera uma injustiga comparé-lo a0’ vaqueano. do Piauf, a0 sertanejo do Maranbiio, ao jangadeiro do-Cearé, go jagungo da Bahia, ao tabaréu de Sergipe, 20 matuto de Pernambuco, ao caipira de S. Paulo ou ao garimpeiro de Mi- nas Gerais (Teixeira, 1920, p. 29-31). . ‘A Academia Brasileira de Letras, em 1925, concedeu o primeiro prémio de con- tos a Darey:Azambuja pela obra No galpdo, que tem como tema o cotidiano-de car- reteifos, tropeiros’€ pedes de estincia, denominados de gaiichos. Azambuja nao ‘fata do mito, mas.coloca em seus personagens sentimentos e valores elevados. Em1925, Vargas Netto publicou Tropilha crioula, hino de exaltagiio ao gaticho © as suas vivencias de campo aberto. O esteredtipo do gaticho valente, machio, hos- pitaleiro e bom passou a ser explorado pelos escritores tradicionalistas que criaram obras eruditas, com linguagem popular extinta, para serem incorporadas pelo povo ‘como tradigao gauchesca. Na realidade a tradig4o popular é dinamica e se modifica no decorrer do tempo. : ‘| Universalmente o herdi fundador vive num mundo diferente, simbolicamente o gaticho vive gauderiando no Pampa, livre como o vento Minuano que corre pelas verdes coxilhas. E um mundo de fronteira, onde s6 o valente sobrevive, sem patrio sem lei, conforme o poeta popular: ‘Quem é gaticho de lei om guasca de verdade, ‘Ama, acima de tudo, © bom sol da liberdade [Nos campos de minha terra, Sou gaticho sem patrao; De a cavalo, bem armado, Minha lei éo coracio (Meyer, 1960, p. 37), Estes versos, coletados por Augusto Meyer, tomaram-se andnimos sendo aceitos por uma tradigdo oral, participam da meméria rio-grandense. A palavra ‘guasca é termo charrua que significava tira de couro, mas é usada como sinénimo ‘de homem livre, conforme o tema dos versos. A identificago com o indio charrua u foi sublimada por Alcides Lima, em 1882, quando afirma, em sua Histéria popular do Rio Grande, que o gosto pela liberdade era heranca dos charruas, que no tinham chefe e tudo decidiam em assembléia (Lima, p. 41). © gaticho tem sua imagem sublimada porque a imaginago sempre seleciona o que hé de melhor, ocultando o negativo, assim, até mesmo o mais humilde, se for de pele mais escura deixa de ser negro para ser indio. Na linguagem dos CTGs usam 0 termo xiru, do quichua chiru, para designar um rapaz. Ha comparagdes com indios charruas na literatura. O termo criollo & do espankol, significando nativo, préprio do luger, como por exemplo missica criolla ‘Rogue Callage, em 1927, publicou 0 livro de contos Quero-guero com cenas da vida campeira, onde 0 campo é melhor que 2 cidade € os costumes gatichescos se alteram a forga do tempo € do progresso. Seus gaiichos se opdem a0 progresso (Cal- lage, 1927, p. 39) Formagio do Rio Grande do Sul, de Jorge Salis Goulart, parte do principio da combinagio das forgas sociais ou raciais com as possibilidades do meio geogratico. Para o autor, “a formagio do Rio grande do Sul foi, pois, uma conseqiléncia das influéncias geograficas e da forga coletiva portuguesa” (Goulart, p. 8-13). Goulart considera a estincia como célivla social que gerou 2 democracia rio- grandense. Caracteriza a populagio da drea rural formada por estancieios,”suas familias e pelos que trabalham como pedes. Todos sio chamados de gatichos (Gou- Jatt, p. 27-28). 7 ; ‘Ao longo de sua obra, Goulart atribui 20 gaiichs as virtudes de valentia, cora- gem, espirito de grupo, insensibilidade perante a morte, hospitalidade, amor ao Rio Grande do Sule altivez, diferente dos demais brasileiros. Severino de Sé Brito escreveu sobre o gaticho, em 1928, baseado em reminis- céncias da vida pastoril e das tradigdes legendérias de nossos antepassados, pois considera “a tradi¢do gaticha como um patriménio moral” (Brito, p. 26). O autor denomina o campeito ¢ 0 habitante do Rio Grande do Sul de gaticho, “do- tado de vitalidade exuberante, de indole galharda, comunicativa, cheia de ardor, de assomos, de entusiasmo que se faz sentir em todos os atos de sua vida, quer se trate de patriotismo, quer de demonstragdes afetivas sociais”. Mais adiante informa que as ‘vestimentas luxuosas e vistosas so heranga de mouros ¢ eristios (Brito, p. 95 e 103), Ha um racismo encoberto, que aflora em Sé Brito quando afirma que os indios trouxeram dois grandes beneficios ao Rio Grande do Sul: concorreram para formar 4 peonada nas estincias, diminuindo a introdugo do elemento negro, e ainda pres- taram o servigo de apagar essa mancha negra (Brito, p. 129), ___Uma das maiores fantasias publicadas no Rio de Janeiro e prefaciada por Emani Fomari, que a considera como “a verdadeira histéria do Rio Grande do Sul”, com seus exemplos civicos € morais, é o conto infantil de Martha Dutra Tavares, com rmisica s etl Tavares, intitulada O gaticho. O album, sem data de edigao, € acompanhado por trés discos, em 78 rotagdes, “gravado por um conjunto de artistas lirieos, com coro misto e orquestra sob a diregio do compositor” 2 — ‘Na figura de india Ponaim @ autora pretende sintetizar a verdadeira histéria do Rio Grande do Sul e, na mestigagem com o brasileiro chamado de Morotim, o sur- gimento do gaiicho. Na primeira cena surge a inverosimilhanga do cacique Yapaca- ‘niydos Minuanos, convocando a nagdo amiga dos Charruas ¢ a tribo Tape para uma reunio na Serra de Acegué, onde hoje é Bagé, a fim de discutirem # militarizagao da mocidade de suas tabas para se defenderem dos espanhéis que querem cativé-los. Decodificando esta metafora literdria, veremos que os Minuanos e Charruas s6 tinam caciques no momento da lua viviain em toldos com a familia extensa. Ne- rnhum grupo indigena possuia a idéia de nago, que comegou a surgir na Europa no século XVII. Nunca existiu a tribo Tape. O padre Roque Gonzalez de Santa Cruz ‘denominou Tapé a regido entre os rios Uruguai, Ibicui e Gui, habitada por indios Guaranis., Também ndo havia necessidade de militarizar a mocidade, porque todo 0 indio ao chegar a puberdade, passava por um ritual para se tomar guerreiro. ‘A autora narra que brasileiros atravessam as campinas do Rio Grande do Sul em lentas carretas puxadas por bois, em busca de indios para escravizé-los. Que grande cagada de indios; os brancos em lentas carretas e os indios a cavalo! No século XVIIL, os queinasciam no Brasil eram portugueses, pois 0 territério colonial perten- cia'a ‘Portugal. ‘S6 a’partir de 1822 é que teremos a nacionalidade brasileira. Avisados da presenga dos brancos, os Minuanos levam as mulheres ¢ criangas para a gruta do Taimbé. Os guerreiros montam nos “cabayus” e deixam o acampa- ‘mento (0 correto seria aldeia), no Ibytori, ou terra da alegria, mais ou menos onde ‘hoje é Santa Maria da Boca do Monte, e rumam para cima das coxilhas. La, deita-. dos ao lado do cavalo, deixam os brancos se aproximarem, pensando que € apenas um rebanho de animais. Na realidade as mulheres acompanhavam os indios na guer- ra, $6 os velhos e as criangas ficavam na aldeia. Os indios so minuanos, mas Taim- bé (fenda na terra) € Ibytori, so vocdbulos guaranis, 0 que demonstra o desconhe- cimento dos idiomas indigenas por parte da autora. No episédio narrado ha apenas uma coisa certa: os indios pampianos deitavam-se ao lado do cavalo para se apro- ximarem do inimigo. A autora enganou-se com a localizagao, na regidio da Boca do ‘Monte viviam os guaranis, os minuanos,habitavam junto ao rio Jaguarao ¢ no atual territério da Republica Oriental do Uruguai. Martha Tavares escreve que, depois de algumas investidas com saraivadas de flechas, os minuanos arremessam suas langas compridas, obrigando os invasores a fugir em desordem. Aqui, apenas um comentério: langa comprida nio é arremessa- da, 0 cavaleiro se aproxima e crava a langa no inimigo. Finalmente entra em cena Ponaim, Flor Maravilhosa, que notou a coragem de um prisioneiro. Os dois conver- sam e ele pergunta quando serd sacrificado, Cheia de simpatia e compaixio, Ponaim conforta o estrangeiro! A autora ndo explica como Ponaim confortou o prisioneiro, pois na cena anterior os brasileiros no conheciam os habitos dos indios, portanto nio sabiam seu idioma. Considerando que a autora usa 0 idioma guarani para desig- nar as personagens, Flor Maravilhosa deveria ser Ivoty Pord. Se os indios eram minuanos, teriam degolado imediatamente os inimigos que se entregaram. O jovem 13 branco, chamado pelos minuanos de Morotim (branco, alvo, em guarani), resolveu fazer uma viola. A autora usou trechos de uma poesia guarani, coletada ou elabora~ da por Joo Cezimbra Jacques, colocando-a num canto da minuana Ponaim:, conto infantil é um festival de disparates com o ritual de sacrificio: Morotim 6 amarrado num poste e Ié fica esperando 0 sacrificio enquanto as mulheres traba- Tham. A narrativa entra em choque com as descrigdes de, Hans Staden‘e de outros. que presenciaram 0 ritual de canibalismo, quando o prisioneiro ficava’ amarrado pela cintura por uma corda, chamada de mugurana, com um indio segurando em cada ponta, enquanto 0 carrasco tenta abaté-lo éom um tacape. No havia posté ‘Apenas 0 caldeirdo onde cozinhavam-os mitidos ¢ uma grelha ge varas onde rio queavam a carne do prisioneiro (Staden, p, 57-60). c chefe minuano Yapacani ameaca os brancos dizendo que a morte de Morotim & um aviso a todos que ousassem capturar indios. Ele permité ao prisioneiro um Ultimo pedido. Morotim pede para tocar a viola. Os bérbaros, isso mesmo q autora ‘esereveu bérbaros, ouven com enlevo e exclamam: gai-ché! Gati-ché! Em nota ao pé da pagina a autora explica que Aurélio Porto, em Apontamentos sobre a Histbria do Rio Grande do Sul, registra que gan & igual a cantar triste, € ché € gente, portanto gaii-ché é gente de cantar triste. Se & autora usa o guarani, Ché significa eu qu para mim. O fermo gente ¢ avd. Gat ¢ desejo. Traduzindo gai-ché, seria meu desejo. ‘Os minuanos Tibertam Morotim, que caga avestruzes com boleadeiras. Os indios ssovam 0 couro, fazem arreios € vio até as Misses permutar as plumas de avestruz, © mel, o pinhao e a erva-mate por ferramentas, panos e sementes. “Assim progredi- am em civilizagao, gragas A inteligéncia dominadora do branco”. Conforme 0 texto, ‘08 indios devem ter entrado no capitalismo selvagem, Os minuanos no sabiam preparar erva-mate, precisavam buscar com os guaranis. Os pinheirais, onde coleta- vam pinhfo, ficavam no planalto Brasileiro Meridional, de propriedade dos indios 48, que matavam os invasores de seus campos de caga e pinheirais. Portanto, nada de realidade na inspiragdo estruturada poeticamente pela autora ‘A autora conelui o conto, que é baseado numa criagdo literéria de Joao Cezim- bra Jacques, com o casamento de Ponaim e o brasileiro. Durante a festa os indios centregaram-se & danga da chimarrita, tema popular sul-rio-grandense. Confiantes, os indios aproximam-se das estincias ¢ se misturam com os pedes. “Dessa bela unio do elemento branco das estincias com o indigena, resultou 0 tipo desse homem extraordinério que se chama gaiicho”. Segundo a autora, a principio némade, em seguida semindmade, 0 gaticho é o digno habitante do Rio Grande do Sul, estado privilegiado entre todos e destinado a ser um dia o celeiro do Brasil Ao avaliar a pertinéncia das afirmagées da autora, é fundamental lembrar que de acordo com 0 feko yma (costume antigo) dos guaranis é a mulher que escolhe © futuro marido, comunicando ao chefe do cla que examinaré todos os impedimentos para evitar incesto. © mais engragado do texto € os indios dangando a chimarrita,

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