DESDE 1921
ANO 102 ┆ Nº 34.213
o atacante lionel messi festeja o primeiro gol na vitória da argentina contra a austrália, pelas quartas de final da copa no estádio ahmad bin ali, em milésimo jogo da carreira
ilustrada
ilustríssima
Navalha
na carne
filmes e séries
adotam vísceras
como combustível
erótico C1, C4 e C5
mônica bergamo
Cleo Pires lança
longa, livro, clipe
e ainda planeja
ter marca própria C2
a atriz e cantora cleo pires
lucas mennezes/divulgação
Bernardo Carvalho
Negacionismo
nasce da abolição
da contradição
O que há em comum entre
o trapaceiro, o mau perde-
dor e o negacionista? Não
suportam a lei nem o real.
Uma literatura da iden-
tidade,pormaisagradável
quepareça,éumparadoxo
cujo efeito tenderá a ser o
opostodobemqueelapro-
mete.Sedeixadecontrari-
ar, já faz parte de uma re-
lação que não supõe diálo-
go com o mundo. C2
editoriais A2
Aids renitente
Acercadecombateàdoen-
ça no mundo e no Brasil.
ISSN 1414-5723
34213
9 771414 572018
UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 R$ 9,00
Kirill Kudriavtsev/afp
Projeto do lobby
copa 2022
Argentina e Holanda vencem
duelos e avançam às quartas
Com um gol do craque Lionel Messi, a Argentina bateu
a Austrália nas oitavas de final da Copa por 2 a 1. Agora,
o time sul-americano irá disputar as quartas de final
abre brecha para
voo a convite e sigilo
contra a Holanda, que venceu os EUA por 3 a 1. Página 3
Dumfries decide o jogo dos
holandeses contra EUA Página 3
entidades criticam texto aprovado pelos deputados após
15 anos de debate, que ainda será apreciado pelo senado
Juca Kfouri Página 7 Tostão Página 7
Qatar desafia a lógica Favoritos jogam com
dos campeões mundiais linha de 4 na defesa Aprovado na semana pas- Entre as lacunas aponta- Elas visavam aprimorar o
sada após 15 anos de dis- das, há a possibilidade de texto apresentado pelo go-
cussão na Câmara, o proje- oferta de voos em jatinhos verno Jair Bolsonaro (PL),
oitavas de final to que visa regulamentar o por lobistas e autoridades, mas nenhuma foi acatada.
Jogos de ontem Jogos de hoje lobby abre brechas que fa- além do sigilo na troca de “Acho que o texto ficou
fra x pol vorecemcorrupçãoedificul- documentos entre eles. muito bom”, disse o relator
hol x eua
3 1 12h*, GLobo, sportv** tam a fiscalização de confli- Um grupo de 50 entida- Lafayette de Andrada (Re-
tosdeinteresses.Aavaliação des, como a Transparência publicanos-MG). O projeto
arg x aus ing x sen é de entidades que monito- Internacional, enviou um vai ser agora apreciado pe-
2 1 16h*, GLobo, sportv** ram o setor público. pacote de sugestões. lo Senado. Mercado A17
*Horário de Brasília **Globoplay
Pelé não reage mais a químio editoriais A2 Cresce em Portugal vício
em jogo de raspadinha
e está em cuidados paliativos A ameaça dos juros Autoridades apontam
crescente comportamen-
Internado desde o dia 29, Pelé, 82, não responde à quimi- O combate à pobreza será de de renda tende a se agra- to patológico entre apos-
oterapia que fazia desde que operou de um câncer de in- minado sem recuperação var com piora da inflação e tadores, que em 2021 jo-
testino, em 2021, e está sob cuidados paliativos. Página 2 doemprego,eadesigualda- aumentodosjurossobLula. garam R$ 8,16 bi. Mundo A15
Orçamento aberto por
PEC é alvo de disputas
Áreas do governo Lula
já disputam pelo menos
R$ 75 bilhões que pode-
rão ser liberados pela PEC
da Transição. Mercado A17
Estado rico tem
mais desigualdade
racial na renda
Mercado A20
Chef negra de PE
comanda hotel em
que foi camareira
MINHA HISTÓRIA
A chef Rosa Maria do Nas-
cimento, 57, assumiu o
controle do hotel em Re-
cife onde foi camareira.
eduardo Knapp/folhapress
“Não só como mulher pre-
ta,mascomomulher,ficou
Músicos defendeM uso de pau-brasil eM arco de violino claro que toda mulher po-
instrumentistas e fabricantes, como o luthier andré amaral, fotografado em seu estúdio no centro de são paulo, se de e deve estar onde qui-
mobilizam para evitar a proibição do uso do ameaçado pau-brasil na confecção de arcos de violinos e violoncelos Cotidiano B5 ser”, relata ela. Mercado A20
A2 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 a eee
opinião
Jean Galvão

a
UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O b RAS I L
Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha da Manhã S.A.
PUBLISHER Luiz Frias
DIREtoR DE REDação Sérgio Dávila
SUPERIntEnDEntES Carlos Ponce de Leon e Judith Brito
ConSELHo EDItoRIaL Fernanda Diamant, Hélio Schwartsman,
Joel Pinheiro da Fonseca, José Vicente, Luiza Helena Trajano,
Patricia Blanco, Patrícia Campos Mello, Persio Arida, Ronaldo Lemos,
Thiago Amparo, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário)
DIREtoR DE oPInIão Gustavo Patu
DIREtoRIa-ExECUtIva Anderson Demian (mercado leitor e estratégias digitais),
Antonio Cavalcanti Junior (financeiro, planejamento e novos negócios),
Everton Fonseca (tecnologia) e Marcelo Benez (comercial)

editoriais
editoriais@grupofolha.com.br

A ameaça dos juros Zebrofilia

Dúvidas quanto à agenda de Lula podem elevar o
custo da dívida pública e agravar desigualdades
Desde que o presidente eleito, Lu-
iz Inácio Lula da Silva (PT), refor-
çou as dúvidas a respeito de seu
compromisso com a responsabi-
lidade fiscal, os juros de mercado
subiram acentuadamente.
No final de outubro, antes do fa-
migeradodiscursoemqueLulami-
nimizou os danos econômicos po-
tenciais do desequilíbrio orçamen-
tário, as taxas incorporavam a ex-
pectativa de que a Selic, do Banco
Central, cairia de 13,75% para 11%
ano ao longo de 2023. Tal trajetó-
ria ajudaria a manter o ciclo de ex-
pansão do Produto Interno Bruto.
Apartirdaí,oquadromudou.Em
novembro, o mercado credor pas-
sou a considerar uma alta da Selic
para além de 14% anuais.
Ressalte-se que 3 pontos percen-
tuais a mais no custo da dívida sig-
nificam um incremento da despe-
sa pública com juros na casa dos
R$ 40 bilhões já no próximo ano.
Dentro de dois exercícios, o mon-
tante passaria dos R$ 80 bilhões
—mais do que o que se precisa so-
mar ao Orçamento para garantir o
Auxílio Brasil de R$ 600 mensais.
Com sinais de que a chamada
PEC da Transição não será aprova-
da como gostaria o PT (com gastos
permanentes de quase R$ 200 bi-
lhõesforadotetodegastos),houve
algum arrefecimento nos temores
de analistas e investidores.
Entretanto a mensagem é clara.
Umaexpansãosemcuidadodedes-
pesas contribuiria para instabili-
Aids renitente
Desigualdades e preconceitos tornam mais
distante a meta global para o controle da doença
O novo relatório do Unaids (Pro-
grama das Nações Unidas sobre
HIV/Aids), lançado na semana
passada, aponta que o mundo ain-
da está longe de tirar a doença da
lista de ameaças à saúde pública,
meta que a entidade estimava pa-
ra 2030. O documento e especialis-
tas apontam soluções, no entanto.
Transversalidade nas políticas
de governo e de Estado é um dos
meios de enfrentar a questão. As-
sociar o acesso à saúde a outras
iniciativas, em áreas como mora-
dia e assistência social, jurídica e
psicológica, pode ser um caminho.
Deve-se igualmente dissociar o
HIV, o vírus, da Aids, a síndrome
de imunodeficiência —nem to-
das as pessoas vivendo com HIV
desenvolvem a síndrome, ainda
mais quando assegurado o acesso
adequado a cuidados preventivos.
No caso brasileiro, investir na
educação de jovens de 15 a 24 anos
se mostra essencial, dado que é
nessa faixa etária que novas infec-
ções pelo HIV têm mais crescido.
O trabalho do Unaids relata, por
exemplo, que meninas que perma-
necemnaescolaatéaconclusãodo
ensino médio tem até 50% menos
risco de infecção pelo HIV.
Ao contrário do que pregam vo-
zes obscurantistas, é vital tratar do
temadesaúdesexualereprodutiva
dade econômica por dois canais.
O primeiro, mais óbvio, é o da de-
manda. A economia brasileira es-
tá em expansão que deve chegar
aos 3% neste ano, conforme mos-
traram os dados do PIB.
O desemprego tem caído rapida-
mente, parece consolidar-se uma
recuperação dos salários e acumu-
lam-se dados positivos nos inves-
timentos das empresas, trajetória
que precisa ser preservada.
Aânsiadonovogovernoemabrir
espaço para uma infinidade de de-
mandas, das legitimas às oportu-
nistas, parece partir de um diag-
nóstico de que há terra arrasada
na atividade econômica a exigir
ampla intervenção do Estado. Tra-
ta-se de receita para mais inflação.
Em segundo lugar, a perspecti-
va de descontrole da dívida eleva
rapidamente os riscos no merca-
do e desvaloriza o real, fatores que
também conduzem a mais eleva-
ção de preços e de juros.
Porcertohánecessidadedeapor-
tes no setor social, e a preservação
do Auxílio Brasil —embora com
ajustes nas regras do programa—
pode e deve ser assegurada.
A eficácia do aparato de seguri-
dade estará comprometida, no en-
tanto,seodescontroleorçamentá-
rio solapar a retomada em curso.
O combate à pobreza será mina-
do sem recuperação do emprego,
e a desigualdade de renda tende a
se agravar com piora da inflação e
alta dos juros pagos aos credores.
para jovens nas escolas, com ma-
teriais adequados para cada idade.
Por aqui, a epidemia de Aids evi-
denciaasdesigualdadessociais.En-
quanto a proporção de casos entre
pessoasbrancasdiminuiu9,8%en-
tre 2010 e 2020, entre negros hou-
ve um aumento de 12,9%.
A disparidade permanece nos
óbitosdecorrentesdadoença,com
queda de 10,6% entre brancos e al-
ta de 10,4% entre negros.
Persiste ainda a discriminação
associada ao HIV, que inibe me-
didas de prevenção e tratamento,
em especial para populações-cha-
ve como travestis e pessoas trans,
gays, profissionais do sexo, pesso-
as em privação de liberdade e usu-
ários de drogas injetáveis.
Um quarto dos brasileiros viven-
do com o vírus não recebe trata-
mentos antirretrovirais; um estu-
do do Unaids com 1.784 pessoas so-
ropositivas mostrou que 64% já so-
freram algum tipo de discrimina-
ção. Cumpre combater o estigma.
Recursos são necessários, obvi-
amente, e a saúde pública padece
de subfinanciamento no país. Ine-
xiste solução simples para o pro-
blema, e espera-se que o próximo
governo seja capaz de levar adian-
te reformas que permitam direcio-
nar o Orçamento público à presta-
ção dos serviços essenciais.
-
Helio Schwartsman
AmelhorfasedaCopa,adaprofusão
dejogosquefrequentementeopõem
seleções campeãs às de países fora
do mapa futebolístico, acabou. Não
teremosmaismuitasoportunidades
de ver uma Arábia Saudita derrotan-
do a Argentina, entre outras zebras.
O fenômeno interessante a analisar
aqui é por que, quando o escrete de
nossa preferência não joga, invaria-
velmente nos pegamos torcendo pe-
lo selecionado mais fraco.
Háprecedentesbíblicosparaapre-
dileção. Pensem em Davi e Golias. E
há evidências empíricas de que essa
preferênciasemanifestaemcampos
tão distintos como negócios, políti-
ca, artes e, é claro, esportes. A coisa
é tão saliente que podemos classifi-
cá-la como um viés cognitivo. Em in-
glês,elelevaonomede“underdogef-
fect” (efeito azarão ou efeito zebra).
Num experimento dos anos 90, J.
Frazier e E. Snyder, mostraram que
80% dos estudantes testados prefe-
riam, entre dois times hipotéticos,
torcer pelo que tinha menos chance
de conquistar o campeonato. Mas,
quando informados de que o aza-
Administrando expectativas
- em Brasília, a bandeira naci-
Bruno Boghosian
Antes de receber a primeira pergun-
ta na entrevista coletiva da última
sexta-feira (2), Lula tentou prepa-
rar o terreno. “Eu estou convencido
de que a situação do país não é das
melhores”, diagnosticou o presiden-
te eleito. “Nós temos informações de
que nós não teremos grande cresci-
mento em 2023 se depender da po-
lítica que está em vigor nesse país.”
Lula já ganhou a eleição, mas ain-
da sustenta um discurso crítico a Ja-
ir Bolsonaro para amortecer o início
de seu governo. Ao repisar a imagem
de que a gestão atual deixa um cená-
rio de terra arrasada, o petista tra-
balha para administrar as expecta-
tivas de seus eleitores e obter uma
certa tolerância sobre as primeiras
decisões de seu mandato.
Em outros dois momentos da en-
trevista, Lula adotou esse tom. Criti-
cou buracos no Orçamento (“parece
que eles querem deixar o país a ze-
ro”) e reclamou das incertezas (“eu
sei que eu não vou encontrar coisa
boa”). “Mas eu sabia que ia aconte-
cer isso, não posso agora dizer que
está tudo errado”, completou.
Quem dirigiu “Casablanca”?
- inconscientemente, confron-
Ruy Castro
“Casablanca”, você sabe, é o filme
em que Humphrey Bogart despa-
cha Ingrid Bergman no avião para
Lisboa durante a 2ª Guerra enquan-
to fica para trás com o chefe de polí-
cia Claude Rains e os dois celebram
o começo de uma longa amizade.
Pois “Casablanca” fez 80 anos – foi
lançado em Nova York no dia 26 de
novembro de 1942. Oitenta anos! É
quasecontemporâneodeLumièree,
exceto pela tela quadrada e em pre-
to-e-branco, podia ter sido feito on-
tem. Poucos filmes são tão eternos.
Mesmo os que nunca o viram sa-
bem que, em certo momento, In-
grid pede ao pianista Dooley Wil-
son para tocar “As Time Goes By”,
a canção que embalava seu roman-
ce com Bogart em Paris. E ninguém
desconhece a frase com que Bogart
a faz conformar-se com a separação:
“Nós sempre teremos Paris”. Enfim,
muitos sabem tudo sobre “Casa-
blanca”. A única pergunta capaz de
embatucá-los é: quem é o diretor
do filme?
Já ouvi responderem John Ford,
rão vencera as primeiras três parti-
das de uma melhor de sete, metade
deles virou casaca e passou a apoi-
ar o favorito.
Há várias explicações para o fe-
nômeno. Por uma delas, temos pra-
zer intrínseco no “Schadenfreude”,
a alegria em ver terceiros, em espe-
cial os poderosos, quebrando a ca-
ra. Um outro viés, a falácia do mun-
do justo (a ideia de que o Universo
busca sempre o equilíbrio), comple-
menta essa explicação. Numa linha
mais individualista, pode-se dizer
que, quando não temos um claro en-
volvimento emocional, procuramos
maximizar nosso prazer. E resulta-
dos inesperados tendem a ser mais
hedônicos do que os já precificados.
Basicamente, adoramos ser sur-
preendidos por narrativas em que o
mais fraco vence o mais forte. Isso, é
claro, desde que não tenhamos en-
volvimento direto. Se tivermos, va-
le o meu pirão primeiro.
PS–Doudezdiasdefériasaoleitor.
helio@uol.com.br
O petista fez campanha com uma
plataforma de recuperação econô-
mica, distribuição de renda e reto-
madadeprogramasnegligenciados.
Natransição,eledárecadosdequehá
dificuldades no caminho e que esse
processo vai exigir escolhas que po-
dem parecer amargas para alguns
grupos(comoaampliaçãodegastos
sociais, que contraria investidores).
É uma adaptação da lógica políti-
ca que costuma ser seguida na apli-
cação de medidas de austeridade.
Quando um governo precisa cortar
despesas,eleconseguesegurarapoio
se a situação do país estiver ruim o
bastante e se houver benefícios di-
recionados para determinados seg-
mentos da população.
O presidente eleito aplica essa va-
cina para garantir ao menos algum
período de lua de mel na estreia de
seu governo. O petista sabe que su-
birá a rampa sob a rejeição firme de
metadedoeleitoradoeadesconfian-
ça daqueles que lhe deram um voto
crítico no segundo turno. Tudo indi-
ca que os ponteiros da popularidade
de Lula estarão sensíveis em 2023.
Frank Capra, Fritz Lang, Orson Wel-
les e até Stanley Kubrick. Claro, es-
tes eram “autores”, diretores-cabe-
ça, independentes, e “Casablanca”
é tão bom que só pode ter sido obra
de um “autor”. Mas não. Os críticos
e cinéfilos profissionais sabem que
“Casablanca” foi dirigido por Mi-
chael Curtiz.
Michael quem? Era um diretor
húngaro (1888-1962) emigrado para
Hollywood e responsável por quase
90 filmes da Warner, entre dramas,
musicais, de aventura, de guerra, de
piratas.Todoscomerciais,degrande
bilheteria, e alguns fabulosos, como
“Capitão Blood” (1935), “A Carga da
Brigada Ligeira” (36), “Anjos de Ca-
ra Suja” (38), “As Aventuras de Robin
Hood” (38), “O Gavião do Mar” (40),
“Passagem para Marselha” (44), “Al-
ma em Suplício” (45), “Êxito Fugaz”
(50). E, ah, sim, “Casablanca”.
Seus atores mais frequentes eram
Bogart, Errol Flynn, James Cagney,
Joan Crawford, Doris Day, tratados
por ele a chicote. Com tudo isso, Mi-
chael Curtiz precisava ser “autor”?
A epifania
de um gol
-
Muniz Sodré
Professor emérito da UFrJ, autor, entre
outros, de “Pensar nagô” e “Sociedade
incivil”. Escreve aos domingos.
Dominarabolacomapontada
chuteiraesquerdae,numvoleio
perfeito,giraremtornodopró-
prio eixo para chutar com a di-
reita é uma descrição correta,
mas escassa, do segundo gol
deRicharlisoncontraaseleção
da Sérvia na Copa do Mundo.
Obra-prima, de arte, um mar-
co na história do futebol. Aos
olhos de muitos, o movimento
perfez no espaço a letra inici-
al de Lula. Puro acaso, mas um
caso de ironia objetiva.
Disso são caprichosos os
exemplos. É que “ironia”, a fi-
gura de linguagem em que al-
guém diz o contrário daquilo
que quer dar a entender, se faz
na escuta, isto é, na subjetivi-
dade do interlocutor. Mas há
situações em que a disparida-
de entre a intenção e o resul-
tado da ação permite falar de
ironia objetiva.
Assim, durante a ditadura,
numa cerimônia ao ar livre
onal desfraldada no topo de
um mastro, por efeito de uma
ventania, ficou registrada nu-
ma foto com as palavras de “or-
dem pro-Esso”, em vez de “pro-
gresso”. Esso, a companhia pe-
trolífera, era símbolo do impé-
rio americano. Algo acidental,
mas, ao olhar analítico, a con-
creta e irônica insinuação de
um poder maior.
Não é apenas jogo verbal, há
fundos de sentido. Na Copa
América, Richarlison havia de-
dicado sua chuteira à ciência,
paradepoisleiloá-laefinanciar
um grupo de pesquisa na USP.
Aos 25 anos, atento à desigual-
dade das condições de vida no
país, ele se diz um apoiador de
causas. Dentro ou fora de cam-
po, suas inclinações políticas
estão afinadas com combate
à fome e proteção climática.
O calor de uma Copa dissol-
ve polarizações miúdas. É im-
possível, porém, deixar de re-
gistrar as diferenças entre pos-
tura solidarista e prepotência
narcísica de jogadores. Impos-
sível, porque futebol não é ape-
nas esporte e negócio, mas um
jogo cênico de representações
marcantes que, consciente ou
tam-se frente à ordem soci-
al existente. O campo em que
brilham os ídolos vai além dos
gramados. Protestando, os ira-
nianos deram um novo tom, os
alemães também.
Ésintomáticoqueumaoutra
consciência venha à luz exata-
mente onde irrompe obscu-
rantismo, nas fissuras do tapa-
olhoarquitetônicodoemir.Em
si mesmo, o Qatar como sede
do Mundial é mais uma ironia
objetiva: a euforia do jogo diz
coisaadversaaotrabalhosemi-
escravo dos imigrantes e ao su-
foco das liberdades democrá-
ticas. Daí a epifania alegre de
um gol excepcional. Se alegria
é mesmo uma suspensão tem-
pestiva da gravidade das coi-
sas para a aprovação irrestrita
do mundo, o voleio de Richar-
lison, um drible na lei da gra-
vidade, imprime ironicamen-
te à Copa uma vitoriosa mar-
ca mundial de identidade bra-
sileira, qualquer que seja o re-
sultado técnico no final.
a eee Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 A3

opinião

TENDêNcIAs/DEBATEs
folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br
PAINEL DO LEITOR
folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br
os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular Cartas para al. barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o
o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo direito de publicar trechos das mensagens. informe seu nome completo e endereço

Sem luz, sem educação
Quedas de energia afetam mais as crianças pobres
- A pesquisa identificou ainda dis-
Clauber Leite
Coordenador de projeto do instituto Pólis
As histórias de superação por meio
da educação frequentemente nos
emocionam nas redes sociais: filho
de pedreiro que virou advogado, fi-
lha de cobrador de ônibus que virou
cientista; e assim por diante.
Ospersonagensnormalmentepar-
tiram de um contexto de grandes di-
ficuldades,ondeoesforçoindividual
foi preponderante para que conse-
guissem enfrentar a falta de infraes-
trutura e demais deficiências que os
separavamdecontemporâneospara
avançar em carreiras mais bem re-
muneradas e consideradas de mai-
or sucesso do que as de seus famili-
ares. Evidentemente que esses epi-
sódios isolados devem ser celebra-
dos por sua importância na trajetó-
ria específica dos envolvidos e como
exemplos para outros jovens. Mas é
muito preocupante que, enquanto
sociedade, pouco estejamos fazen-
do para garantir que essescaminhos
sejam minimamente acessíveis pa-
ra mais brasileiros.
Essasituaçãoficanítidanocasoda
energia elétrica, um direito que jus-
tamente serve de base para outros
direitos, como a educação. O fato é
que a qualidade do serviço dispo-
nibilizado para as famílias mais po-
bres é mais uma barreira nessa cor-
rida de obstáculos que as crianças
carentes têm de enfrentar se quise-
rem “ser alguém na vida”. Afinal, nas
favelas e periferias de São Paulo, fal-
ta luz muito mais vezes e por mais
tempodoquenosbairrosmaisabas-
tados da cidade mais rica do país.
A constatação é do estudo “Desi-
gualdades na Qualidade de Forne-
cimento de Energia Elétrica: uma
análise dos indicadores de continu-
idade para o município de São Pau-
lo”, do Instituto Pólis, que correla-
ciona indicadores de qualidade da
energia com as condições de ren-
da, raça e participação de mulheres
de baixa renda como responsáveis
pelos domicílios. Condições seme-
lhantes foram observadas em Ma-
ceió, Rio Branco e no Rio de Janeiro
A realidade é estarrecedora: os
conjuntos elétricos com interrup-
ções mais duradouras e frequen-
tes estão, em sua maioria, em regi-
ões que apresentam menor renda,
porcentagem de população negra
superior à média da cidade e maior
porcentagem de mulheres de bai-
xa renda como responsáveis pelo
domicílio.
O estudo mostra que os bairros
mais centrais da capital paulista
apresentam metas de qualidade su-
periores às dos demais tanto em ter-
mos de duração como de frequên-
cia das interrupções no fornecimen-
to de energia. Nos primeiros, os li-
mites são de, respectivamente, 3 a 4
horas, e até três vezes por ano. Nas
áreas mais periféricas, por outro la-
do, os limites chegam ao intervalo
de 10 a 14 horas, enquanto a quanti-
dade de vezes em que o serviço é in-
terrompido pode chegar a 14 vezes.
crepâncias significativas nas condi-
çõesdeatendimentodasfavelas.Em-
bora a quantidade de interrupções
nos domicílios nesses locais seja se-
melhante à média geral, a duração
média de cada interrupção nas co-
munidades mais carentes é de 11,8
horas —ou 21% acima do que a mé-
dia no município.
As condições de atendimento nas
favelas também destoam em rela-
ção aos bairros próximos com ren-
das médias superiores. Nos bairros
de alta renda do distrito da Vila An-
drade,aduraçãomédiadasinterrup-
çõeséde9horas,enquantonafavela
de Paraisópolis (no mesmo distrito)
é de 41 horas. Além disso, um mora-
dor da favela chega a ficar 41 vezes
por ano sem energia, enquanto no
restante do distrito as médias ob-
servadas são de até 15 vezes.
A superação do ciclo da pobreza
por meio da educação não pode ser
uma exceção reservada a estudan-
tes determinados a superar uma vi-
da precária. Condições para o estu-
do no ambiente doméstico são ele-
mentos básicos para que milhões de
brasileiroshojealijadosdeumacida-
dania digna se desenvolvam e pos-
sam sonhar com uma vida melhor.
É urgente, portanto, uma revisão
dos métodos e metas de qualidade
dos serviços de distribuição, de mo-
do que a energia elétrica para uma
criança fazer a lição de casa não seja
(mais um) privilégio disponível ape-
nas para os coleguinhas que tiveram
a sorte de nascer no bairro vizinho.
Exército
O Brasil deveria seguir o caminho
da Costa Rica e acabar com as For-
çasArmadas.Utilizartodoodinhei-
ro gasto com essa gente que pou-
co faz pelo país e investir em saú-
de e educação. (“Exército se opõe
a troca antecipada de comando e
tenta demover FAB”, Política, 2/12
Carlos Antônio Maximino Roquete
de Albuquerque (brasília, DF)
* José Antonio Correa
Na frente dos quartéis tem um
monte de velhos experientes que
podem assumir o comando do
Exército. Nos rios amazônicos tem
um monte de dragas de garim-
po com comandantes experien-
tes para assumir a Marinha e, no
Mato Grosso, é fácil achar pilotos
que decolam e pousam em pistas
de 500 metros, é só amarrar o avi-
ãozinho na árvore, prontos para
assumir a Aeronáutica.
Armando Moura (São Paulo, SP)
* Será eternamente lembrado pela
Se o bom senso chegou ao coman-
dodoExército,sótemosquecome-
moraretorcerparaqueaideiache-
gue às outras duas forças.
Edmundo José Santiago
(Alagoínhas, bA)
Demétrio
Lula, centrão e quem mais vier. É o
que temos para hoje. Se a Inglater-
raestácomdificuldadeparaformar
governo,aquinostrópicos,nopós-
guerracontraosgolpistas,exigirde-
mais do presidente eleito é no mí-
nimodesonestidadeintelectual.(“A
naturezadogoverno”,Política,3/12)
Nilton Silva (brasília, DF)
Pelé
Pelé é um dos maiores represen-
tantes do Brasil, em toda a nos-
sa história. Genial e eterno atle-
ta. Para o negro, sobretudo, a cer-
teza de que podemos ser os me-
lhores no que fazemos. E somos.
É um homem, com todas as con-
tradições que carregamos.(“Pelé
não responde mais à quimiotera-
pia e está em cuidados paliativos”,
Esporte, 3/12)
Francisco (manaus, Am)
*
NãotemosnoBrasilaculturadese-
parar autor e obra. Pelé é reconhe-
cido pelo universo como o melhor
jogador de todos os tempos. Mas,
no Brasil, sua vida pessoal é mistu-
rada com sua trajetória e isso ofus-
casuacompetênciacomabola.No
mundo da bola, ele é eterno.
Claudio Messias (Assis, SP)
*
genialidadeebomcaráterquesem-
pre teve. Quanto à filha Sandra, pe-
lo menos não foi hipócrita, fingin-
do um sentimento que não tinha.
Marenildes Silva (rio de Janeiro, rJ)
*
Pelé, o maior jogador do mundo,
não temos outro igual a ele.
Mara Gabriel (São Paulo, SP)
São Francisco
Competição salutar. O importante
é a água. (“Lula deve inaugurar tre-
cho de transposição do São Fran-
cisco no CE e dar troco em Bolso-
naro”, Painel, 3/12)
Nacib Hetti (belo Horizonte, mg)

Temas mais comentados pelos leitores no site

De 26.nov a 2.dez - Total de comentários: 13.014
Militar do Planalto atua em atos antidemocráticos e
529
diz que Lula não sobe a rampa (Política) 29.nov

Bolsonaro fica em silêncio diante de militares no primeiro

232
evento público após derrota (Política) 26.nov

Exército avalia reação a militares após carta

221
apócrifa de tom golpista (Política) 29.nov

assunto Como sua vida foi impaCtada por

uma polítiCa públiCa?
Estudei em escolas públicas a vida
inteira e, quando terminei o ensi-
no médio, não tinha condições de
pagar uma faculdade ou curso téc-
nico. Graças ao Pronatec consegui
bolsa integral para o curso de Téc-
nico em Enfermagem e, após a for-
Carvall
matura, escolhi trabalhar no SUS
para retribuir ao Estado o “inves-
timento” na minha formação. Na
Consegui fazer faculdade graças
ao Prouni. Ia para a faculdade com
passagem de estudante, que era
50% do valor ou com passe livre
estudantil. Quando minha namo-
rada e eu decidimos morar juntos,
conseguimos juntar algum dinhei-
ro para comprar um apartamen-
to pelo Minha Casa Minha Vida.
Se não fossem as políticas públi-

Lula merece o crédito Não temos mais espaço para er-

ros. O brasileiro escolheu Lula, e o
empresariado, insisto, precisa apoi-
pandemia, me dei conta do quanto
a política de acesso à qualificação
técnica foi importante, tanto para
cas, não teria conseguido deixar a
vulnerabilidade social para trás e
alcançado uma vida mais estável.
dos empresários ar e fazer o que estiver ao seu alcan-
ce para que seu governo seja exito-
so, inclusive pedindo ao Congres-
mim quanto para a saúde pública.
Evelin Moreira (Curitiba, Pr)
Pablo L. Stefanes Soares (gravataí, rS)

Algum setor perdeu dinheiro nos outros mandatos?
- A PEC da Transição precisa ser
João Camargo
Presidente do grupo Esfera brasil e do Conselho da Cnn brasil
O empresariado brasileiro tem a
obrigação de apoiar o governo do
presidente eleito. É uma obrigação
cívica e moral. Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) foi eleito num processo
justo, transparente, reconhecido in-
ternacionalmente. Seu sucesso se-
rá o sucesso do Brasil. O empresá-
rio que afrontar essa lógica estará
agindo contra a coletividade e con-
tra seus próprios interesses.
O apoio a Lula não deve se limitar
à retórica. Deve ser efetivo, conse-
quente, impactante. O país atraves-
sa um momento político delicado,
que demanda um esforço em prol
da unificação —e nada mais óbvio
do que cerrar fileiras em torno da-
quele que, afinal, venceu as eleições.
O Brasil não pode mais se permitir
brincar com a polarização ideoló-
gica, um jogo perigoso com desdo-
bramentos imprevisíveis.
Convido meus pares a atentarem
para a dimensão histórica deste pe-
ríodo de transição, o mais relevan-
te de nossa jovem democracia. Que
os membros das classes produtoras
possam no futuro contar com orgu-
lho a seus netos que em 2022 estive-
ram do lado certo da história.
Lula merece um voto de confiança
dos empresários. Desafio qualquer
liderança a vir a público para dizer
queseusetorperdeudinheiroduran-
te os dois mandatos do petista. Isso
não aconteceu. Ao contrário, todos
ganharam. É por isso que não hesi-
to em tachar de antidemocráticos
aqueles que fazem manifestações
em frente aos quartéis ou bloquei-
am estradas demandando “inter-
venção federal”, um eufemismo ca-
penga para pedir a ação militar que
não virá, graças ao discernimento e
à responsabilidade da mais alta hie-
rarquia das casernas.
Lula merece crédito sim, sobretu-
do porque se trata de um político
bem mais maduro desde que ocu-
pou o Palácio do Planalto. É mais
experiente e se mostra mais aber-
to ao diálogo, como está evidente
já a partir da composição partidá-
ria que o apoia, que vai do militante
de esquerda ao economista liberal.
so para viabilizar a adoção das po-
líticas sociais do presidente eleito.
aprovada pelo Parlamento, de ma-
neira a garantir, por quatro anos, o
Bolsa Família com renda de R$ 600
fora do teto dos gastos. Num cená-
rio desolador como o atual, em que
o Brasil voltou ao mapa mundial da
fome, seria desumano qualquer de-
cisão que colocasse em risco a segu-
rança alimentar do brasileiro. Ten-
tar colocar uma espada sobre o pes-
coço do futuro presidente, negan-
do-lhe esse mínimo, seria atentar
não contra ele, mas contra a parcela
mais vulnerável da nossa sociedade.
Torcer contra o sucesso de Lula é
torcer contra o Brasil. Ele, o PT e a
ampla coligação não perderiam so-
zinhos —perderíamos todos nós.
Se Lula errar, nossa obrigação se-
rá apontar o erro e cobrá-lo, claro.
Mas, antes disso, temos que fazer o
que for possível para minimizar a
possibilidade de erro.
Novosgovernos,portradição,des-
frutam de uma lua de mel de cem di-
as a partir da posse, período em que
a oposição e a imprensa dão uma
chance ao novo mandatário para
mostrar a que veio. As circunstân-
cias políticas exigem a antecipação
desse interlúdio. O novo governo
não será do PT, mas do Brasil.
* Para boa parte dos jovens humil-
Fui o primeiro da família a fazer fa-
culdadeporcontadoProuni,quefi-
nancioumetadedaminhaeducação
em ensino superior. Hoje trabalho
com políticas públicas de acolhi-
mento de pessoas com dependên-
cia química e posso devolver o que
ganheiemtermosdeinvestimento
do setor público, ajudando muitas
famílias a salvarem suas vidas por
meiodeumapolíticapúblicadesa-
úde e assistência social.
Antony Henrique Tomaz
Diniz (Campinas, SP)
* de dez anos, pude contar com bol-
Eu sou estudante de políticas pú-
blicas na Universidade do Sul da
Bahia e, como exemplo das desi-
gualdades brasileiras que sou, ve-
jo a urgência de que sejam aplica-
das aqui na região, onde falta ação
mais efetiva dos poderes públi-
cos. Como estudante universitá-
rio, homem negro e de baixa ren-
da, as políticas públicas impac-
tam muito na minha vida, trans-
formando minha visão em prol da
população do meu entorno, como
ribeirinhos, negros, indígenas, ca-
tadores (agentes ambientais), qui-
lombolas, artesãos.
Antonio Carlos Custódio de
Souza (itajuípe, bA)
*
des que ingressaram nas universi-
dades públicas a partir de meados
dos anos 2000, o ingresso foi pos-
sível pelas cotas ou pela expansão
do ensino superior. A única pessoa
a ter casa própria era minha avó —
tiosetias,primoseprimasseesbar-
ravampelacasa,que,mesmogran-
de, se tornava pequena pela quan-
tidadedepessoas.Massempreque
retornava sabia que uma tia ou um
tio tinha conseguido um aparta-
mento no Minha Casa Minha Vida.
HojesouprofessordoIFPAeestou
concluindodoutorado.Nessesmais
sas de assistência estudantil e com
a casa do estudante. Sem isso, não
sei se teria tido essa trajetória.
Danilo Mourão dos Santos
(Paragominas, go)
*
Comareestruturaçãodasuniversi-
dadesedaampliaçãodasverbasdo
MECnagestão[Fernando]Haddad,
fiz três pós-graduações lato sensu,
três cursos de aperfeiçoamento de
180horaseoutragraduaçãonaárea
de ensino. Como resultado, publi-
quei um livro com demais colegas
sobre ciência, tecnologia e ensino.
Wagner Alves Negreiros
(São Paulo, SP)
A4 DOMinGO, 4 DE DEzEMBRO DE 2022 a eee

política
painel Guilherme Seto (interino)
painel@grupofolha.com.br

Bomba-relógio
O Sebrae, órgão de suporte a micro e pequenas empre-
sas, deverá ser foco de discórdia política para Lula (PT)
já nos primeiros meses de 2023. O bolsonarista Carlos
Melles foi reconduzido ao cargo de diretor-presiden-
te da instituição, que é vista pelo petista como peça
importante na sua interlocução com o empresariado.
A aposta de petistas é a de que o conselho do Sebrae,
que terá membros indicados pelo presidente eleito em
2023, articulará para derrubar Melles antes de março.

histórico Lula enfatizou du- novidade Ex-secretário de

rante a campanha a sua aten-
ção ao setor, apontando que
as leis que criaram a figura do
MEI(microempreendedorin-
dividual) e do Simples Nacio-
nalforameditadasemseugo-
verno,duranteoqualelecolo-
cou um de seus aliados mais
próximos, Paulo Okamotto,
no comando do Sebrae.
caução Ciente dos riscos,
Melles buscou o governo de
transição, mas não teve re-
torno positivo. Ele então re-
forçou sua base e incorporou
à sua diretoria a deputada fe-
deral Margarete Coelho (PP-
PI), aliada de Arthur Lira (PP-
Saúde de Goiás e deputado fe-
deraleleito,IsmaelAlexandri-
no (PSD) tem sido citado co-
mo um nome forte do Minis-
tério da Saúde do futuro go-
verno de Lula, possivelmente
até o titular da pasta.
cajadada Nomeado nesta
quinta-feira (1º) para o grupo
de trabalho da Saúde, ele é fi-
liadoaoPSD,partidoqueoPT
tentaestabeleceremsuabase,
eémuitopróximodeRonaldo
Caiado (União Brasil), gover-
nadordeGoiás.AliadosdeLu-
laveemaincorporaçãodeAle-
xandrinocomoumaformade
contemplar os dois partidos.

Transição de Lula expõe

AL) e Ciro Nogueira (PP-PI),
na tentativa de evitar a queda. na minha No caso de Caia-
do, no entanto, o aceno po-
cascalho O Sebrae é cobiça- de resultar em aproximação,

disputas nos bastidores

do pelos altos salários aos di-
retores (acima de R$ 50 mil),
pela quantidade de cargos a
distribuir e pelo caixa refor-
çado (mais de R$ 5 bilhões em
mas dificilmente adesão. Ele
tem dito a outros governado-
res que pretende ter atuação
independente em relação ao
governo federal, sem oposi-

por cargos na Esplanada

aplicações financeiras). ção nem alinhamento.

revanche Opresidenteeleito acorda Deputados que de-

Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
deve inaugurar em seu gover-
noaextensãodatransposição
do rio São Francisco até o Ce-
ará, trecho licitado na gestão
de Jair Bolsonaro (PL), acusa-
doporadversáriosdeseapro-
fendem o fim do foro privile-
giado cobram do presidente
da Câmara, Arthur Lira (PP-
AL),avotaçãodaPECqueper- Terceiro governo de eleito tem como primeiro desafio costurar
mitiria que ministros, parla-
mentares,governadoresepre-
composições com aliados e resolver brigas internas de petistas
feitos fossem processados na
-

“
priar da obra. Justiça de primeira instância. Catia Seabra, Julia Chaib impasses e brigas, o que adia também apontado como pos-
e João Gabriel anúncios sobre o setor. tulante ao cargo, é o advoga-
suspense O Ramal do Sal- copa Otexto,deautoriadose- As postulantes ao comando do Cristiano Zanin, que atu-
gado teve o edital anunciado nador Alvaro Dias (Podemos- Brasília Enquanto os nomes da pasta são as ex-ministras Se tivermos ou na defesa jurídica de Lula
em outubro de 2021. A Engi- PR), foi aprovado em 11 de de- que irão compor o governo Marina Silva (Rede-SP) e Iza- duas propos- na Laja Jato.
bras ganhou a disputa no iní- zembro de 2018 na comissão não são anunciados, aliados bella Teixeira (PT). Randolfe tas [para a Esse movimento, porém,
cio deste ano, mas o leilão foi especial criada na Câmara pa- do presidente eleito Luiz Iná- Rodrigues (Rede-AP), que in- autoridade perdeu força, e os argumen-
contestado pela Queiroz Gal- raanalisaroméritodapropos- cio Lula da Silva (PT) dispu- tegrouacoordenaçãodacam- climática], tos de Dino deverão prevale-
vão e anulado. Em novembro, ta.Desdeentão,aguardavota- tam nos bastidores espaço na panha, corre por fora. vamos pro- cer. Zanin, por sua vez, tem
adisputatevedesfechoeaEn- ção em plenário. Parlamenta- composição da futura Espla- EnquantoparceladoPTtem por as duas sido cotado para a Secretá-
gibras foi considerada vence- res que acompanham as dis- nada dos Ministérios. resistência a Marina, em par- [para o Lula]” ria de Assuntos Jurídicos do
dora da nova licitação. cussões dizem que Lira indi- A resolução desses confli- tepelaformacomoeladeixou governo.
cou que a PEC seria pautada tos, que incluem o comando o segundo governo Lula, em Jorge Viana Na Educação, um dos no-
apatia Noentanto,nãohouve até 16 de dezembro. dofuturoministériodaFazen- 2008, Izabella Teixeira não é Ex-senador e mes cotados desde o início
qualquer gesto do Ministério da e da pasta do Meio Ambi- bem vista por pessoas próxi- coordenador das discussões é o da gover-
doDesenvolvimentoRegional cidade Atualmente, cerca de ente, é o primeiro desafio que mas ao ministério em razão do grupo de nadora do Ceará, Izolda Ce-
paraaassinaturadocontrato. 55milautoridadestêmdireito Lula e seu núcleo duro preci- de sua gestão à frente da pas- transição do la (PDT). Dentro do PT, en-
A expectativa é que isso ocor- ao privilégio do foro, segundo sam enfrentar. Caso não solu- ta durante os governos de Dil- meio ambiente tretanto, há quem tenha res-
ra em janeiro e que as obras relatório do deputado Efraim cionados a contento, eles po- ma Rousseff (PT). trição a ela e patrocine uma
durem em torno de 30 meses. Filho (União Brasil-PB). derão dificultar o início do go- O embate entre elas passa ofensiva com nomes como
verno petista. tambémpelaprometidaauto- de Ricardo Henriques, espe-
cafezinho Coordenador do guichê... A Segunda Turma Também estão sendo plei- ridadedaemergênciaclimáti- cialista da área de educação
governodetransição,Geraldo doSTF(SupremoTribunalFe- teadas outras áreas, como as ca,idealizadacomoumaespé- atualmente ligado ao Insti-
Alckmin(PSB)recebeuoex-de- deral) anulou na última sexta- de Justiça, Trabalho, Cidades, cie de órgão para negociações tuto Unibanco.
putado Nilson Leitão (PSDB) feira (2) a sentença do ex-juiz Agricultura, Saúde, Educação diplomáticas sobre o tema. No caso da AGU, como mos-
para reunião na semana pas- Sergio Moro (União-PR) con- e a Advocacia-Geral da União. Marina defende que a au- trou a Folha, os mais cotados
sada.Cotadoparaserministro traoex-vice-presidentedaCâ- Uma das principais e mais toridade seja subordinada ao para o cargo são Jorge Messi-
daAgricultura,oex-presiden- mara, André Vargas. comentadas disputas dentro Ministério do Meio Ambien- as, que foi assessor da ex-pre-
tedabancadaruralistaépróxi- da transição é pela Fazenda, te, para o qual está cotada — sidente Dilma e é procurador
mo do vice-presidente eleito, ...errado O então petista foi pasta que será recriada com esboço que não agrada, por daFazendaNacional;LuizFer-
que, segundo aliados, diz ver condenado em 2015 a 14 anos o fim do superministério da exemplo, o Itamaraty. Izabel- nando Bandeira de Mello Fi-
nele uma forma de se aproxi- e quatro meses de prisão por Economia do governo de Ja- la Teixeira, por sua vez, enten- lho, integrante do CNJ (Con-
mardoPSDBedoagronegócio. ter recebido ao menos R$ 1,1 ir Bolsonaro (PL). de que a estrutura deva ficar selho Nacional de Justiça); e
milhão de um esquema com Visto como principal devi- a cargo da Presidência. Anderson Pomini, advoga-
zoo EncontrosdeLeitãocom a da agência de publicidade do à delicada situação econô- “No grupo, este eventual do eleitoral próximo ao vi-
BaleiaRossitambémrepercuti- Borghi/Lowe. O STF declarou mica do país, o posto é dispu- problema não está aparecen- ce-presidente eleito Geraldo
ramnocircuitodoagro.Opresi- a incompetência de Moro por tado por dois petistas: o ex- do, a Izabella e a Marina têm Alckmin (PSB). Nos bastido-
dentedoMDBdizqueeleseria não ver relação entre os fatos prefeito Fernando Haddad e colaborado, há um espírito de res, Messias é apontado co-
um ótimo nome para a pasta. e a Operação Lava Jato. o ex-ministro da Saúde Ale- colaboração”, disse o coorde- mo preferido.
xandre Padilha. nador do grupo de transição Há também disputa para o
com Danielle Brant e Juliana Braga A corrida pelo cargo, dizem do meio ambiente, o ex-sena- posto de chefia do Ministério
aliados, foi escancarada pela dor Jorge Viana. do Trabalho, que deve ser re-
foto de um almoço promovi- “Setivermosduaspropostas criado sob Lula. Enquanto a
do pela Febraban (Federação [para a autoridade climática], cúpula do PC do B pleiteia o
Brasileira de Bancos). Escala- vamos propor as duas [para o cargo, com a possível indica-
GRUPO FOLHA do por Lula como seu repre- Lula]”, completou. ção de Luciana Santos, presi-
sentante, Haddad teve que Também no grupo que tra- dente da sigla, dirigentes da
dividir a mesa com Padilha, ta de temas ligados à segu- Força Sindical e da CUT têm
convidado pela diretoria da rança pública há divergência. trabalhado pela escolha de
Redação São Paulo entidade. Eleito senador e cotado para um sindicalista afinado com
Al. Barão de Limeira, 425 | Campos Elíseos | 01202-900 | (11) 3224-3222 O convite feito pela Febra- o comando do Ministério da essas centrais. Um dos nomes
Ombudsman ombudsman@grupofolha.com.br | 0800-015-9000 ban a Padilha e a divisão do Justiça, Flávio Dino (PSB-MA) é Arthur Henrique, ex-presi-
Atendimento ao assinante (11) 3224-3090 | 0800-775-8080 espaço, dizem petistas, mos- defende que os temas ligados dente da CUT.
Assine a Folha assine.folha.com.br | 0800-015-8000 tram como o ex-ministro da a segurança e polícias, inclu- Outra pasta a ser recriada, o
Saúdeéopreferidoforadonú- sive a Polícia Federal, fiquem Ministério das Cidades é cobi-
EDIÇÃO DIGITAL Digital Ilimitado Digital Premium cleo duro, enquanto Haddad debaixo do guarda-chuva da çado pelo próprio PT, pelo de-
PLAnO MEnSAL R$ 29,90 R$ 39,90 é o nome de Lula e de seus ali- pasta.Assim,eleassumiráum putado federal eleito Guilher-
ados mais próximos. ministério empoderado. me Boulos (PSOL-SP) e pelo
Nos últimos dias, Haddad Coordenador do grupo ex-governador de São Paulo
EDIÇÃO IMPRESSA Venda avulsa Assinatura semestral*
seg. a sáb. dom. Todos os dias subiunabolsadeapostaspara Prerrogativas, o advogado Márcio França (PSB). Segun-
MG, PR, RJ, SP R$ 6 R$ 9 R$ 827,90 a Fazenda, e Padilha passou a Marco Aurélio de Carvalho, do relatos de integrantes da
DF, SC R$ 7 R$ 10 R$ 1.044,90 crescer como nome para a ar- poroutrolado,chegouaatuar transição, atualmente o pes-
ES, GO, MT, MS, RS R$ 7,50 R$ 11 R$ 1.318,90 ticulação política do governo. como porta-voz daqueles que sebista figura como favorito.
AL, BA, PE, SE, TO R$ 11,50 R$ 14 R$ 1.420,90
Outros estados R$ 12 R$ 15 R$ 1.764,90 Háembatetambémpeloco- recomendam o desmembra- Vistocomosensívelporcau-
*À vista com entrega domiciliar diária. Carga tributária 3,65% mando do Ministério do Meio mento da pasta, o que possi- sa dos desdobramentos da
Ambiente,ondeadisputaéde bilitaria a criação de um Mi- pandemia, a pasta da Saú-
CIRCULAÇÃO DIÁRIA (IVC) tal nível que o grupo de tran- nistériodaSegurançaPública. de tem o ex-ministro Arthur
342.487 exemplares (outubro de 2022) sição destinado à área vive Outro que participado grupo, Continua na pág. A5
a eee
Continuação da pág. A4
Chioro como nome defendi-
do por alguns petistas. A atu-
al presidente da Fundação
Oswaldo Cruz, Nisia Trinda-
de Lima, porém, tem sido ci-
tada como opção forte para
a função.
Na Agricultura, onde Lula
busca melhorar o apoio jun-
to a ruralistas em sua maio-
ria bolsonaristas, há ao me-
nos dois nomes com chances:
o deputado federal Neri Gel-
ler (PP-MT) e o senador Car-
los Fávaro (PSD-MT).
Geller é ex-ministro de Dil-
O vice-presi-
dente eleito,
Geraldo
Alckmin
(PSB),
junto a
outros
membros
da transição
de governo
durante
entrevista
coletiva
Pedro Ladeira -
16.nov.2022/
Folhapress
ma, e Fávaro é integrante do
PSD, que negocia a adesão a
base do governo com seu pre-
sidenteGilbertoKassab(PSD).
Além dos embates por pos-
tosdecomandodasprincipais
pastas,hátambémdisputaen-
tre partidos da futura base de
Lula por espaço no governo.
Integrantes do PSB e MDB
cobram espaço no governo
comoargumentodequeDino
eSimoneTebet(MDB)nãosão
da ala majoritária das respec-
tivassiglase,portanto,nãose-
riam considerados como no-
mes indicados pelos partidos.
Equipe projeta comunicação
alinhada à rapidez da internet
Desafio de Lula será engajar e viralizar sem abandonar a institucionalidade
-
Paula Soprana e
Patrícia Campos Mello
São Paulo A comunicação do
governo Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) precisará se sinto-
nizar com a rapidez das re-
des sociais, ampliar o moni-
toramento das conversas na
internet,criarumaestratégia
de distribuição de informa-
ções articulada com minis-
tros e deputados e intensifi-
car a relação com influenci-
adores digitais, segundo di-
agnóstico do grupo de tran-
sição para a comunicação so-
cial do petista.
O principal desafio que es-
tá sobre a mesa da equipe é
montar um plano que mo-
dernize a comunicação pe-
tista e coloque integrantes
do governo como interlocu-
tores no debate público.
“Bolsonaro criou o método
do cercadinho e as lives de
quinta-feira. O estilo de Lu-
la é outro e não se pode es-
perar que seja um Janones”,
diz João Brant, ex-secretá-
rio executivo do Ministério
da Cultura, que coordena o
grupo técnico de comunica-
ção social.
“Será preciso criar capaci-
dade de compreender o que
acontece e reagir em tempo
real, criar estrutura para gi-
raremumanovafrequência.”
SegundoBrant,ogrupodis-
cute como conciliar a impes-
soalidade exigida da admi-
nistração pública com a ne-
cessidade de ter uma comu-
nicação de redes sociais que
gere engajamento.
“É preciso estar preparado
para uma campanha perma-
nente, que é como se dá a co-
municação hoje, mas man-
tendoainstitucionalidadeda
comunicação, que não pode
ultrapassar algumas linhas”,
diz. “Ao mesmo tempo, se a
comunicação do governo for
puramente institucional, ofi-
cial, não vai viralizar, nem te-
rá grande alcance.”
Ocombateàdesinformação
também está nas discussões,
mas ainda não há um mode-
lo concreto de proposta, e a
equipe tem evitado divulgar
informaçõesarespeitodevido
ao caráter sensível do tema.
O grupo é responsável por
analisar a situação de áreas
como a EBC (Empresa Brasi-
leira de Comunicação) e a Se-
com (Secretaria de Comuni-
cação Social) —desta última
parte a estratégia de comu-
nicação do governo federal.
AlémdeBrant,aequipetem
nomes como Helena Cha-
gas, ex-chefe da Secretaria
de Comunicação Social da
Presidência, Manuela d’Ávi-
la, ex-deputada federal (PC
do B-RS), o deputado federal
André Janones (Avante-MG)
e o cientista político Emir Sa-
der,militantehistóricodoPT.
Outrogrupo,oGTdeComu-
nicação, cuida de propostas
para regulação de internet,
universalização do acesso a
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
banda larga e radiodifusão.
É coordenado pelo ex-minis-
trodoPlanejamentoedasCo-
municaçõesPauloBernardo.
Conforme antecipou a Fo-
lha, o grupo propôs a criação
deumaSecretariadeServiços
eDireitosDigitaisnosprimei-
roscemdiasdogovernoLula.
Nesse período, o grupo
também propõe a apresen-
tação ao Congresso de pro-
jeto de regulação da internet
semelhante às leis aprovadas
na União Europeia, a Lei dos
Serviços Digitais (DSA, na si-
gla em inglês) e a Lei dos Mer-
cados Digitais (DMA, na si-
gla em inglês). As platafor-
mas de internet receberam
as propostas com bastante
preocupação.
A atuação polêmica de Ja-
nones nas redes, que funcio-
nou como uma máquina de
propaganda antibolsonaris-
ta e sensacionalista no fim da
campanha do petista, não se-
rá replicada de modo institu-
cional, apesar de suas contri-
buiçõesàequipedetransição.
Alguns elementos do esti-
lo Janones, no entanto, são
tidos como bem-vindos, co-
moacapacidadedegerarinti-
midade com o público e a in-
tensidade de publicações na
internet. “Mas, obviamente,
nem o Janones defende que
seu estilo de comunicação
seja o modelo para a Secom”,
afirmou Brant.
O que o grupo pretende
fazer se assemelha, em par-
A5
política
te, com a estratégia da equi-
pe do deputado federal elei-
to Guilherme Boulos (PSOL-
SP) na campanha, que criou
o que chamava de “gabinete
do amor”, a criação e a dis-
tribuição de conteúdos pa-
ra pautar o debate e não fi-
car refém da máquina digi-
tal bolsonarista.
Oidealizadordabem-suce-
didaestratégiadigitaldeBou-
los foi o cineasta Gabriel Gal-
lindo,oGallo,quejáhaviacon-
seguido galvanizar a militân-
ciadigitalorgânicanacampa-
nha do psolista para a Prefei-
tura de São Paulo, em 2020.
Gallo, que foi estrategis-
ta também da campanha de
reeleição da deputada Talí-
ria Petrone (PSOL-RJ), foi in-
tegrado à campanha de Lula
em julho deste ano. Em meio
a disputas internas por espa-
ço, acabou se concentrando
em Boulos e Petrone.
O governo de Dilma Rous-
seff (PT) teve uma comuni-
cação engessada na internet,
demorando a adotar análises
e monitoramento de redes
sociais e sem uma presença
constante para se comunicar
com a população.
O mandato de Jair Bolso-
naro (PL), por outro lado, fi-
couconhecidoporumagran-
de articulação em grupos
de WhatsApp e Telegram,
além do chamado gabinete
do ódio, responsável por fa-
zer circular fake news e ata-
ques pessoais em escala.
A6 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
política
ombudsman
Carvall
Jornalismo chato como VAR
relato automatizado de jogo na Folha prenuncia futuro anódino da imprensa
- bém seria feita de forma me-
José Henrique Mariante
“05’ 2º tempo. Gol Japão. Ao Ta-
naka.” Assim a Folha descreveu
um dos momentos mais polê-
micos da Copa do Mundo até
aqui, o gol da virada do Ja-
pão contra a Espanha na quin-
ta-feira (1º). Como sentenciou
Luís Curro, colega de muitas
jornadas de futebol bom e ru-
im, um lance que nos fez triste
por constatar que nossos olhos
“não têm mais valor”.
O juiz, assim como o plane-
ta que assistia à partida, viu
a bola sair na hora do cruza-
mento de Mitoma, uma ação
desesperada, mas que encon-
‘Preciso de você’ é senha de Lula a escolhidos
Presidente eleito diz ter 80% do ministério na cabeça, mas que só vai anunciar nomes após ser diplomado pelo TSE
-
Julia Chaib e Cátia Seabra
Brasília O presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
tem enviado sinais que tor-
nam alguns de seus aliados
quase confirmados na futura
equipe de ministros do novo
governo,mesmosemnecessa-
riamentesaberemqualpasta.
De acordo com pessoas ou-
vidas pela reportagem, a se-
nha é dada pelo petista quan-
do ele avisa que vai “precisar”
do político.
Ao menos três pessoas re-
ceberam o código: Flávio Di-
no (PSB-MA), Rui Costa (PT-
BA)eJoséMúcioMonteiro,ex-
ministro do TCU (Tribunal de
Contas da União).
Os três ouviram de Lula, em
diferentes momentos, que ele
precisará deles, numa sinali-
zação de que devem integrar
o ministério.
O presidente eleito disse a
jornalistas na sexta-feira (2)
quetem80%doministério“na
cabeça”, mas que só vai anun-
ciar os nomes após ser diplo-
mado,emcerimôniamarcada
para 12 de dezembro.
Lula fez um gesto público a
Dino ainda em setembro, na
campanha.Duranteumcomí-
cio em São Luís, o então can-
didato disse ao ex-governa-
dor do Maranhão que se pre-
parasse, pois ficaria pouco
tempo como senador, cargo
para o qual foi eleito.
“Esse Flávio Dino, ele que se
prepare. Ele vai ser eleito se-
nador, mas não será senador
por muito tempo. Se prepa-
re, porque vai ter muita tarefa
neste país”, afirmou Lula. Di-
no é dado como certo no Mi-
nistério da Justiça, que prova-
velmente englobará também
a Segurança Pública.
Embora o presidente elei-
to tenha prometido que cri-
aria uma pasta própria para
tratar de temas ligados à se-
folha.com/ombudsman
ombudsman@grupofolha.com.br
trou Tanaka na pequena área
em posição para tocar para
dentro do gol. O árbitro assis-
tente de vídeo, vulgo VAR, viu
outra coisa: a bola não pas-
sou completamente a linha de
fundo e, portanto, não saiu do
campo pela regra. Gol válido,
alegria dos japoneses, espan-
to dos espanhóis e trabalho
para a imprensa, para os es-
pecialistas de verdade e os de
plantão, e até para a Fifa, que
saiu em defesa de seu sistema
com vídeos e explicações. Re-
sumir toda essa novela a “Gol
Japão” é o cúmulo da síntese.
Luiz Inácio Lula da Silva conversa com jornalistas sobre a montagem de seu governo, em Brasília
gurança e ter sob o guarda-
chuva as polícias, entre elas
a Federal, Dino e outros alia-
dos de Lula defendem que tu-
do fique num ministério só. O
ex-governadornãogostariade
ocupar uma pasta esvaziada.
Já Múcio recebeu a senha
na semana passada. Amigo
de longa data de Lula, ele foi
líder do governo do petista,
ministro das Relações Insti-
tucionais e indicado ao TCU
peloprópriopresidenteeleito.
Lula e o ex-ministro do TCU
tiveram uma reunião semana
passada com o general Gon-
çalves Dias, que foi seguran-
ça de Lula no passado, o gene-
ral Enzo Peri, ex-comandante
do Exército, o brigadeiro Ju-
niti Saito, ex-comandante da
Aeronáutica, os brigadeiros
Nivaldo Rossato e Ruy Cha-
gas Mesquita, o vice-presi-
ombudsman tem mandato de um ano, com possibilidade de renovação, para criticar o jornal,
ouvir os leitores e comentar, aos domingos, o noticiário da mídia. Tel.: 0800-015-9000; fax:(11) 3224-3895
Não foi apenas dessa forma
que a Folha descreveu o bizar-
ro momento de um Mundial de
zebras e contusões, mas o re-
lato telegráfico apareceu no
Ao Vivo do site do jornal, que
é feito de forma automatiza-
da. Nem todos os duelos são
acompanhados assim. Os de
maior apelo, como os da sele-
ção brasileira, têm descrição
mais completa dos lances, pi-
tacos de comentaristas e ob-
servações de quem está no es-
tádio. O relato automatizado
é burocrático, traduz em fra-
ses padronizadas eventos con-
dente eleito Geraldo Alckmin
(PSB) e o ex-ministro Aloizio
Mercadante.
Múcio foi convidado para
participar do grupo que dis-
cute temas ligados à Defesa.
Numa conversa a sós com
Lula, porém, o petista disse
quegostariadetrabalharcom
ele e que precisaria de Múcio,
sem indicar exatamente para
qual cargo. O ex-ministro do
TCU respondeu, dizendo que
Lula poderia contar com ele
para o que precisasse.
Agora, pessoas próximas
de Múcio usam uma analogia
para ilustrar a situação atual.
Dizem que o amigo de Lula já
tirou a carteira de motorista,
mas falta o departamento de
trânsito entregá-la.
Ou seja, falta Lula anunci-
ar o nome do ministro ou ter
uma nova conversa com o
tabilizados via estatística, co-
mo cartões, escanteios e subs-
tituições, entre outros.
Na mesma partida, essa se-
quência do segundo tempo é
especialmente patética: “25’
Unai Simón cobra o tiro de
meta para Espanha; 25’ Sui-
chi Gonda cobra o tiro de me-
ta para Japão; 30’ Suichi Gon-
da cobra o tiro de meta para
Japão; 36’ Suichi Gonda cobra
o tiro de meta para Japão”. Pe-
lo descrito, mais de dez minu-
tos de um medíocre gol a gol.
Ao registro inútil se soma o
não registro. Na quarta-feira
convite formal para ele chefi-
ar o Ministério da Defesa. En-
quantoisso,MúciofoiaoReci-
fe, na quinta-feira (1º), encer-
rar sua empresa de consulto-
ria. O retorno dele está pre-
visto para este domingo (4).
Alémdisso,Lulaacatouuma
sugestão feita pelo ex-minis-
tro do TCU sobre a transição
na área.
Múcio avaliou que, no lu-
gar de constituir um grupo
com ex-comandantes para fa-
zer a transição na área, o ide-
al era indicar logo o ministro
e os comandantes das res-
pectivas Forças Armadas pa-
ra que o processo seja toca-
do por aqueles que assumi-
rão a pasta.
Por isso, Lula desistiu de
anunciar um grupo de traba-
lho dedicado à Defesa, como
tem feito com outras áreas,
(30), a França com reservas
apanhava da Tunísia. Mbap-
pé e Griezmann entraram em
campo para tentar resolver a
parada e, de fato, chegaram
ao gol nos acréscimos. O VAR
anulou o lance por impedimen-
to, mas depois que a transmis-
são já havia sido encerrada na
França, causando confusão en-
tre os telespectadores do país
campeão mundial. Não há re-
gistro do gol nem de sua anula-
ção ou qualquer outro detalhe
no Ao Vivo do jogo na Folha.
Seria apenas uma anedota
entre outras tantas de uma co-
bertura grande como a do Qa-
tar, não fosse o fato de apon-
tar para um futuro incômodo.
O jornalismo esportivo, assim
como o econômico, é um dos
que mais experimenta automa-
tizações. São noticiários com
eventos padronizáveis, possi-
bilitando que robôs consigam
organizar e redigir notas em
formatos variados. Informa-
ção bruta em geral, que tam-
cânica por um humano, como
o sobe e desce da Bolsa ou os
resultados de um campeona-
to. A mão de obra então pode-
ria ser usada para atividades
mais nobres e complexas, co-
mo discutir se uma bola supe-
rou ou não a linha de fundo.
Chegará a hora, no entan-
to, em que o VAR não permi-
tirá mais qualquer discussão.
Desmata mas não cai
A notícia saiu na Folha e na
maioria dos outros veículos
na quarta-feira (30): “Desmate
na Amazônia cai 11%, mas per-
manece acima de 10 mil km2”.
O desmatamento não caiu, ele
Pedro Ladeira-2.dez.22/Folhapress
“
Esse Flávio Dino, ele
que se prepare. Ele
vai ser eleito senador,
mas não será
senador por muito
tempo. Se prepare,
porque vai ter muita
tarefa neste país
Luiz Inácio Lula da Silva
presidente eleito, em gesto
público a Dino em setembro,
durante ato de campanha
em São Luís (mA)
a eee
cresceu exatos 11.568 km2, se-
gundo o acompanhamento do
Inpe. Cresceu, aliás, pela quar-
ta vez consecutiva na gestão
Bolsonaro. Então como caiu
11%? Os deuses da floresta re-
cuperaram alguma parte?
O desmatamento na Amazô-
nia desacelerou 11% em relação
ao registrado no período ante-
rior. Ainda que os verbos pro-
porcionem leituras próximas,
desacelerar não é cair. A coisa
não melhorou. No máximo des-
piorou um pouco, como diria
Vinicius Torres Freire. Conci-
são é importante no jornalis-
mo, faz caber a informação em
tamanhos que a tornem com-
preensível, palatável. Um dos
riscos do processo, porém, é
a simplificação, tirar o peso
da notícia ou mesmo detur-
par seu sentido. Obviamente,
ninguém imagina que a área
desmatada tenha se reduzido,
ainda mais em uma era deleté-
ria como a atual. É nisso que
se alicerça a opção do jornal.
Ao mesmo tempo, usar o ver-
bo cair transforma subliminar-
mente a notícia em algo posi-
tivo, ainda que haja a adver-
sativa como ponderação. Co-
mo a maioria dos leitores não
passa da leitura do título, a es-
colha deveria ter sido outra.
A observação é filosófica, tal-
vez preciosista, mas reflete de
certa forma a distância que
a mídia, não apenas a Folha,
guarda da crise do clima. O
mais importante não é a pe-
quena queda no ritmo do des-
mate, mas a Amazônia estar
cada vez mais próxima do pon-
to de não retorno, como bem
lembra a abertura da reporta-
gem. É uma questão de inércia.
para fazer a escalação do time
titular da área. Nesta semana,
LulaouviuelogiosaMúcioem
encontros com ministros do
Judiciário e atores políticos.
Outro aliado do petista que
recebeu a senha foi Rui Cos-
ta (PT), governador da Bahia.
Em viagem de alguns dias no
estado para descansar, Lula
disse que precisaria do alia-
do. Como fez com outros, não
especificou para o que preci-
saria dele. Desde então, Cos-
ta tem recebido sinais de que
Lula gostaria de conversar
com ele, em gesto de que será
convidado para ser ministro.
O governador da Bahia tem
preferência por comandar
pastas que demandem mais
gestão do que articulação po-
lítica necessariamente.
Ele é hoje o nome mais co-
tado para assumir a Casa Ci-
vildeLula.Numareuniãocom
petistas nasemana passada, o
presidenteeleitoafirmouque,
para ele, é mais fácil desfalcar
governadores do que senado-
res eleitos, porque precisará
de um Senado forte.
A fala foi interpretada por
senadores como um indica-
tivo de que ele formalizará o
convite a Costa, que encerra
seu segundo mandato na Ba-
hia em 31 de dezembro.
Em outra frente, Lula tem
testadoFernandoHaddadco-
mo ministro da Fazenda. Em
entrevistanasexta,opresiden-
teeleitonãoapontouquaismi-
nistériosdevemserrecriados,
masdissequeodesenhodaEs-
planadaserásimilaraodeseu
último mandato.
“A base do meu ministério
será a base dos [ministérios]
queeutinhanosegundoman-
dato, com uma coisa acres-
cida, o Ministério dos Povos
Originários.Queaindanãosei
se de cara será ministério ou
uma secretaria especial liga-
da à Presidência.”
a eee Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 A7
A8 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
política
O presidente da Câmara Arhur Lira (PP-AL) após almoço com o presidente eleito Lula (PT), em Brasília
Lira dribla Bolsonaro
e Lula para manter
poder do centrão
Presidente da Câmara isola golpismo e contorna
PT para assegurar sua reeleição no comando da Casa
-
Bruno Boghossian
Brasília Arthur Lira (PP-AL)
fez dois telefonemas na noite
de 30 de outubro, assim que
a contagem de votos selou o
resultado da eleição. Primei-
ro, ligou para Jair Bolsonaro
(PL) e, numa conversa breve,
cumprimentou o presidente
derrotado. Logo depois, falou
com Lula (PT) pela primeira
vez na vida.
OpresidentedaCâmaradeu
início ainda naquele domin-
go a uma série de movimen-
tos para preservar seu poder
no novo cenário político.
Em minutos, Lira reconhe-
ceu publicamente o resulta-
do e derrubou qualquer res-
paldo institucional à investi-
da do aliado Bolsonaro con-
tra as urnas eletrônicas. Ao
mesmo tempo, o deputado
começou a reposicionar seu
grupo político para o futuro
governo Lula.
Os primeiros lances de Lira,
segundo parlamentares e au-
xiliares, tiveram o objetivo de
unificarocentrãoedescolaro
bloco da derrota de Bolsona-
ro, apesar do apoio incontes-
te à reeleição do presidente.
O plano era virar a página
rapidamente para manter in-
fluência sobre as decisões po-
líticas do país —o que inclui o
comando da Câmara e o con-
trole de ferramentas como a
distribuição do Orçamento.
Lira assistiu à apuração do
segundo turno com um pe-
queno grupo de deputados,
na residência oficial da presi-
dência da Câmara. De acordo
comrelatosdosparticipantes,
ele não comemorou a largada
de Bolsonaro na dianteira ou
lamentou a virada de Lula, na
segundametadedacontagem
dos votos. Um dos deputados
descreveu o comportamen-
to de Lira como “muito frio”.
Logo após os telefonemas a
Lula e Bolsonaro, o presiden-
te da Câmara revisou com ali-
ados a nota em que reconhe-
ceria o resultado do segundo
turno.Trocouumacamisapo-
loporternoe gravatae fezum
pronunciamento na porta da
residência oficial.
Lira foi uma das primeiras
Lira e o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante cerimônia
em Brasília Adriano Machado - 19.abr.2022/Reuters
autoridades de Brasília (e o
primeiro bolsonarista de pe-
so) a se manifestar sobre a
apuração. Ele desenhou um
limite em sua aliança com o
então presidente ao dizer que
a vontade da maioria “jamais
deverá ser contestada”.
AliadosdeBolsonarorelata-
ram, nos dias seguintes, que
a frase irritou o presidente.
A declaração deixou o chefe
do Executivo institucional-
mente isolado, de saída, pa-
ra uma conspiração séria con-
tra o resultado das urnas —o
quecontribuiuparao silêncio
subsequente do presidente.
Nãohouverompimentopor
conta do episódio. Lira esteve
noPaláciodaAlvoradaduran-
teoperíodoagudodareclusão
de Bolsonaro. Os dois estive-
ramjuntosporcercade30mi-
nutos no dia 8 de novembro.
Incomodou ao presidente
da Câmara, no entanto, que
grupos bolsonaristas tenham
passado a tratá-lo como trai-
A aliança de Arthur Lira para a reeleição
Apoio declarado
Deputados eleitos
União Brasil
Republicanos
Podemos
Solidariedade
Apoio por partido
Apoio previsto
Cidadania
Apoio na Câmara
Apoio declarado
dor —ainda que Lira tenha se
mantidoaoladodopresidente
mesmo em momentos de cri-
se, engavetando mais de cem
pedidos de impeachment.
Na prática, o descolamen-
to de Lira da campanha con-
tra as urnas deixou ao lado
de Bolsonaro nessa investida
apenasintegrantesradicaisde
sua base. Também deslocou
para o PL, partido do presi-
dente, a missão de sustentar
as falsas suspeitas de fraude.
Quando o chefe do PL, Val-
demar Costa Neto, anunciou
que acionaria o TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) para con-
testar o resultado das urnas,
o próprio presidente da Câ-
mara entrou em campo para
tentar demovê-lo.
Em 2021, Lira chegou a dar
espaço a um movimento de
Bolsonaro para atacar a cre-
dibilidade das urnas eletrô-
nicas com a proposta de im-
12
plantação do voto impresso.
O presidente da Câmara
a eee
concordou com a tramitação
do projeto e disse que via com
bons olhos a criação de “uma
auditagem, seja lá de que ma-
neira for”. Com a derrota da
proposta, Lira deu o assunto
por encerrado, mas Bolsona-
ronãoabandonouosataques.
Um aliado de Lira explica o
cálculo feito, agora, para dis-
tanciar o centrão de amea-
ças de ruptura: esses políti-
cos têm mais a ganhar num
quadro de democracia, com
um Congresso forte —o que
não seria o caso numa escala-
daautoritária comBolsonaro.
Aopçãofoiconstruirumca-
minhoparaconcentrarpoder
durante o governo Lula. Lira
se apressou para aglutinar o
centrão, expandir sua influ-
ência e melhorar as condi-
ções políticas do grupo. Esse
caminho passava necessaria-
mente pela consolidação de
uma maioria para reeleger o
presidente da Câmara.
Nos dias seguintes à vitória
de Lula, os petistas procura-
ram potenciais aliados para
avaliar a disposição e a mus-
culatura de partidos de cen-
tro para enfrentar Lira na dis-
puta. União Brasil (59 depu-
tados eleitos) e MDB (42) se
mostraram dispostos a em-
barcar na empreitada.
O presidente da Câmara re-
Pedro Ladeira - 9.nov.2022/Folhapress agiu. Graças à distribuição de
verbas sob controle do Con-
gresso, Lira tem influência ra-
zoávelsobredeputadosdesses
dois partidos. Ele trabalhou
para fortalecer dissidências
internas e ofereceu uma al-
ternativaaosdirigentesdasle-
PT 68 gendas. Ciro Nogueira, minis-
tro da Casa Civil de Bolsona-
59 ro e presidente licenciado do
PP, participou das conversas.
PP 47 Segundo a lógica da oferta,
41 esses partidos poderiam ne-
gociarespaçosnopróximogo-
PDT 17 verno para fazer parte da ba-
se aliada de Lula, mas ganha-
PSB 14
12
riam ainda mais benefícios se
também apoiassem um pre-
PSC 6
sidente da Câmara indepen-
dente. Teriam, além dos mi-
nistérios, espaço em comis-
PC do B 6
sões importantes na Câmara
PV 6 e acesso ao Orçamento.
Quando Lula e Lira tiveram
4 seu primeiro encontro pre-
Patriota 4 sencial, no dia 9 de novem-
bro, a conta da reeleição já es-
Pros 3 tava praticamente fechada. A
União Brasil sinalizava apoio
PTB 1 ao presidente da Câmara, e o
MDB aparecia dividido.
Lira antecipou em mais de
dois meses a montagem de
Não apoia Outros
uma maioria para a eleição
na Câmara, que só acontece
PL 99 em fevereiro. Ele usou o tem-
PSD 42 po a seu favor, uma vez que a
principal moeda de Lula para
MDB 42 expandir sua coalizão (a dis-
tribuição de ministérios) ain-
PSDB 13 da deve demorar a ser gasta.
5 A movimentação deixou o
PT sem opções. O partido ti-
PSOL 12 rou o time de campo nas ne-
gociaçõesporumacandidatu-
Avante 7 ra alternativa e, naquela reu-
Novo 3 nião de 9 de novembro, Lula
deu o sinal de que não entra-
Rede 2 ria em bola dividida.
O apoiodoPTa Lirasóocor-
reria semanas depois. A sigla
hesitou porque aderir à ree-
leição do presidente da Câ-
Apoio previsto Não apoia Outros marasignificariaficaratrásde
legendas que chegaram mais
cedo ao bloco, como o PL, e
teriam mais espaço nas co-
missões e na direção da Casa.
288 Lira teria uma maioria pa-
ra se reeleger mesmo sem o
apoio do PT e de outros par-
tidos de esquerda. Ele disse a
aliados, no entanto, que man-
teria as portas abertas ao no-
vo governo porque era mais
valioso ter um diálogo com
o Palácio do Planalto do que
Total de trabalhar como adversário
deputados Apoio do presidente da República.
na Câmara: a Lira: Com o centrão unido, Lira
transferiu a Lula uma depen-
513 489
dência antecipada em relação
ao presidente da Câmara, que
começou a ser exibida nas ne-
gociações da PEC (Proposta
de Emenda à Constituição)
queampliagastosdogoverno.
Sem maioria no plenário da
12 Casa, os petistas aceitaram a
201
desidratação da proposta e a
abertura de uma brecha pa-
Votos necessários ra garantir o pagamento das
para vitória em emendas de relator ainda nos
primeiro turno: meses finais da gestão Bolso-
naro —cujo crédito político
257 caberá exclusivamente a Lira.
a eee Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 A9
A10 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 a eee
política

achou vestígios de estricnina. ral da União, bem como na Ad-

Nunca se soube quem ma-
tou Jane Stanford. O profes-
sor White ocupa metade do
livro lidando com a pergunta.
A investigação deslizou para
o submundo do crime de Chi-
natown e da polícia da Cali-
fórnia. White prova que todos
os suspeitos mentiram, das as-
sistentes de Jane ao criado chi-
nês. Grandes interesses preci-
savam que não houvesse es-
tricnina em envenenamento.
Se Jane Stanford tivesse mor-
rido de causas naturais, a uni-
versidade ficaria com uma boa
parte da herança.
No dia 24 de março, quando
Jane Stanford foi sepultada em
San Francisco, deu-se o cená-
rio inverso de “O Assassinato
Juliana Freire
no Expresso Oriente”, de Aga-
tha Christie. Naquele, foram
vocacia-Geral da União.
Lula e a Alemanha
Lula ganhou um argumento
para negar cargos a figuras
que são favoritas nas bolsas de
apostas: “Isso acontece, a Ale-
manha foi eliminada na Copa
do Qatar”.
Imposto sindical
Cozinha-se, no comissariado
dos sindicatos, a ressurreição
do imposto sindical.
Extinto no governo de Michel
Temer, ele mordia compulsori-
amente um dia de serviço anu-
al dos trabalhadores. Com a
mesma cara, ele não voltará.
Poderá vir disfarçado de con-
tribuição destinada a remune-
rar o trabalho do sindicato em
serviços de assistência e na ne-

O nó da disciplina militar todos. Neste, não foi ninguém,

Quando a política entra num quartel por uma porta, a disciplina sai pela outra
- Alguém matou Jane Stanford.”
Elio Gaspari
Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles “A Ditadura Encurralada”
É velha como a Sé de Braga
a afirmação de que, quando
a política entra num quartel
por uma porta, a disciplina
sai pela outra.
No princípio, um general
pensa de uma maneira, e ou-
tro, de outra. Depois, a diver-
gência passa aos coronéis, e
assim sucessivamente.
Em algum momento os co-
mandantes militares devem
parar essa roda, pois já há gen-
te chamando generais de “me-
lancias” (verdes por fora, ver-
melhos por dentro). Chegou-se
ao ponto de um sargento lota-
do no Gabinete de Segurança
Institucional postar uma men-
sagem dizendo que Lula não
subirá a rampa do Planalto
no dia 1º de janeiro.
A turma da transição que-
brou a cabeça para escolher
um ministro da Defesa. Pode
serimportante,masnãoétudo.
Os três novos comandantes
das Forças assumirão seus pos-
tos com a tarefa de colocar or-
dem nas casas.
Há chefes militares que em-
purram a disciplina com a
barriga (Lyra Tavares, desas-
trosamente, em 1969) e chefes
que a defendem com o pulso
(Leônidas Pires Gonçalves, de
1985 e 1990, e Orlando Geisel,
de 1969 a 1974).
Estão aí, calados, dois co-
mandantes que chefiaram o
Exército sem tumultos: Enzo
Peri (2007-2015) e Gleuber Vi-
eira (1999-2003).
Os dois sabem das coisas e
afastaram-se da vida pública.
Ouvi-los pode ser boa ideia.
Ambos estão esquecidos, gra-
ças a duas regras de ouro do
profissionalismo militar:
Se você é paisano e não sa-
be quem é um general, ele é um
grande oficial, e se ele passou
por um grande comando e você
se esqueceu dele, foi um gran-
de comandante.
Quem matou Jane Stanford?
Saiu um excelente livro nos Es-
tados Unidos, é “Quem Matou
Jane Stanford?” (Who Killed Ja-
ne Stanford). Seu subtítulo diz
tudo: “Uma história de assas-
sinato, enganos, espíritos e o
nascimento de uma universi-
dade”. Todo baseado em fatos
reais e documentados. O autor,
Richard White, é professor de
Stanford e já escreveu outro
livro, sobre o surgimento das
ferrovias americanas.
Leland Stanford e sua mu-
lher Jane seriam um casal a
mais na história americana
se o filho Stanford Jr. não ti-
vesse morrido aos 19 anos na
Itália. Eles quiseram lembrá-
lo e criaram na Califórnia uma
universidade com seu nome.
O filantropo foi um dos Ba-
rões Ladrões do seu tempo e
cravou o prego de ouro na es-
trada de ferro que uniu as du-
as costas dos Estados Unidos.
Jane, sua mulher, foi uma se-
nhora esquisita, que recebia
mensagens do marido e do fi-
lho mortos. Nesses tempos, o
presidente dos Estados Unidos
e a rainha da Inglaterra tam-
bém se comunicavam com o
outro mundo. Jane Stanford
foi envenenada em 1905, aos
76 anos.
Viúva, ela se metia com os
currículos da Universidade
Stanford e pedia a demissão
de professores. Encantou-se
com um jovem que se parecia
com o filho morto. Desconfia-
va dos parentes, um dos quais
dizia ter fotografado o espíri-
to de Stanford Jr.
Sem dúvida, alguém tentou
envenená-la com estricnina
ainda em 1904 e ela sabia disso.
O professor White narra a
vida de milionários e futricas
acadêmicas e na sua lista de
suspeitos estão o mordomo,
assistentes, criados, mestres
e herdeiros. White conta sua
história conhecendo a vida dos
milionários e as intrigas uni-
versitárias.
Jane Stanford embarcou pa-
ra o Havaí em fevereiro de 1905.
Levava muitas malas, uma cai-
xa de remédios, joias que vali-
am dois milhões de dólares em
dinheiro de hoje e uma caixa
de remédios.
No dia seguinte ao desem-
barque, passeou, jantou, to-
mou os remédios, passou mal
e morreu. O médico, ao pro-
var o que seria o bicarbonato
da senhora, percebeu que ne-
le havia estricnina. A autópsia
Jane teria morrido por causa
de uma miocardite crônica.
Diante desse desfecho Whi-
te escreveu:
“A história não termina aqui.
O professor White tem um
irmão que escreve romances
policiais. Conversando e len-
do documentos e memórias,
acreditam que desvendaram
o crime.
Transparência
Perguntado se aceitaria um
lugar no ministério de Lula,
o empresário Josué Gomes da
Silva respondeu: “Sim”.
Se toda a equipe de Lula as-
sumir com esse grau de since-
ridade, as coisas vão melhorar.
José Alencar, pai de Josué,
foi o vice de Lula nos seus dois
mandatos. Manteve suas opi-
niões e a fidelidade ao presi-
dente.
Fiesp
Passadas algumas demandas
do naufrágio da tentativa de
golpe contra Josué Gomes da
Silva, na presidência da Fede-
ração das Indústrias do Esta-
do de São Paulo, fortaleceu-se
a impressão de que a trama
nasceu no Conselho Superior
do Agronegócio da instituição.
De olho no Sistema U
Lula está de olho em alguns mi-
nistérios (não todos) e no co-
mando da Controladoria-Ge-
gociação de dissídios.
O coração do problema es-
tá na contribuição compulsó-
ria, inclusive para trabalhado-
res que não se sindicalizaram.
Há sindicatos que não pres-
tam quaisquer serviços e, nos
dissídios, consultam primeiro
os empregadores.
Estatística
O ministro Alexandre de Mora-
es,quecuidadosinquéritosdas
manifestaçõesgolpistas,estádi-
ante de duas estatísticas. Uma
é horrível, a outra é didática.
A horrível é de Pindorama:
ninguém foi preso pela bader-
na dos caminhoneiros de 2018.
Ela quebrou uma perna do go-
verno de Michel Temer, foram
abertos dezenas de inquéritos
e ninguém foi para a cadeia.
A outra vem dos Estados Uni-
dos. No dia 6 de janeiro de 2021,
uma multidão golpista invadiu
o Capitólio. Pelo menos 955 ci-
dadãos estão espetados na Jus-
tiça, cerca de 800 passaram pe-
la cadeia e perto de 200 já fo-
ram condenados.
Faro
De duas pessoas que conhecem
a política americana:
A primeira garante que Do-
nald Trump acabou.
A segunda acha que seu lu-
gar será ocupado por Ron De-
Santis, atual governador da
Flórida, muito mais perigoso
que Trump, por ser mais in-
teligente.

Moraes e Tarcísio discutem crise na Segurança

indicação de bolsonarista para setor em SP incomoda aliados do ministro do STF, que retém influência na Polícia Civil
-
Igor Gielow
SÃO PAULO OpresidentedoTri-
bunal Superior Eleitoral, Ale-
xandredeMoraes,discutiu na
noite de sexta (2) a crise insta-
lada na área de segurança de
São Paulo com o governador
eleito do estado, Tarcísio de
Freitas (Republicanos).
Moraes é o inimigo público
número1dobolsonarismo,eo
encontro no apartamento do
ministro nos Jardins, área no-
bre da capital paulista, já es-
tá sendo criticado nas redes
de apoiadores do presidente
Jair Bolsonaro (PL).
Como a Folha mostrou na
sexta pela manhã, a indicação
do deputado bolsonarista Ca-
pitãoDerrite(PL-SP)paraocu-
par a Secretaria da Segurança
de São Paulo gerou a primeira
grande crise da transição co-
mandada por Tarcísio.
Delegados, integrantes do
Ministério Público e do Judi-
ciário questionaram a esco-
lha, apontando problemas
nela. Para começar, Derrite é
um ex-PM que busca, a exem-
plo do que Bolsonaro fez com
oExército, fundir suaimagem
pública à da corporação.
Além disso, ele defendeu
como deputado poder de in-
vestigação para policiais mi-
litares, tirando a exclusivida-
de da Polícia Civil.
Tarcísio durante entrevista coletiva sobre a transição em SP
Como a Segurança paulis-
ta sempre viveu um equilí-
brio precário entre o poder
da PM, a maior força (93 mil
policiais), e a Civil (27 mil in-
tegrantes), o pêndulo se mo-
veria de forma inédita para o
lado militarizado.
Por fim, Derrite esposa pen-
samentos bolsonaristas que
vão do ideário do astrólogo
Olavo de Carvalho, já faleci-
do guru da turma, à crítica
ao programa de câmeras em
uniformes de policiais.
Danilo Verpa-29.11.2022/Folhapress
Adotada pela gestão João A questão se torna nacio-
Doria (então no PSDB), a ini- nal porque Moraes mantém
ciativa foi amplamente elogi- grande influência em seto-
ada por especialistas, e bem- res da Polícia Civil desde que
sucedida ao derrubar a leta- foi secretário de Segurança
lidade policial nos batalhões do governo Geraldo Alckmin
em que foi aplicada. (então PSDB, hoje vice-pre-
Opadrinhodesuaindicação sidente eleito pelo PSB), de
é o deputado e filho presiden- 2015 a 2016.
cial Eduardo Bolsonaro (PL- Além disso, ele mantém
SP), embora aliados de Tar- uma rede de aliados no Judi-
císio digam ser uma escolha ciário paulista, que se uniram
pessoal do governador eleito. na crítica a Derrite. Até aqui,
Eduardo até aqui só celebrou o secretário indicado não se
em redes sociais. pronunciou sobre o caso.
Na quinta (30), após oanún-
cio da escolha, Tarcísio tergi-
versou quando questionado
acerca do apoio de Derrite
na internet à campanha gol-
pista de Bolsonaro que colo-
ca em dúvida a lisura das elei-
ções devido a suspeitas infun-
dadas acerca da segurança de
urnas eletrônicas.
O teor da conversa entre ele
e Moraes ainda não transpa-
receu. Aliados do governador
eleito sugerem algum tipo de
armistício no caso de Tarcísio
insistir no nome de Derrite,
que na ativa da PM foi apenas
um tenente —ele virou capi-
tão depois, indo à reserva no
Corpo de Bombeiros em 2018
para entrar na política.
Moraes gera temor reveren-
cialentrealiadosdopresiden-
te, dada sua dura campanha
contra as intentonas golpis-
tas do grupo.
O lance mais recente foi re-
jeitar o parecer mambembe
contraasurnaseletrônicas do
PL e ainda aplicar uma multa
de R$ 23 milhões ao partido
por litigância de má-fé.
Este é um ponto criticado
inclusive por policiais mili-
tares com tendências bolso-
naristas, que são bastante in-
fluentes na tropa, já que teri-
am de prestar continência a
um subalterno mais jovem,
de 38 anos.
Na corporação, o topo da
carreira é a patente de coro-
nel, e o respeito à hierarquia é
considerado cláusula pétrea.
Para Tarcísio, é um jogo
complexo. Ele precisa agra-
dar o bolsonarismo que o aju-
dou a chegar ao poder de for-
ma meteórica, saindo do Mi-
nistério da Infraestrutura pa-
ra a chefia do principal esta-
do do país. Ele teve a mesma
votação percentual que Bol-
sonaro no estado.
Ao mesmo tempo, trabalha
também com uma ala técni-
ca, com aliados como Gilber-
to Kassab (PSD), um dos fia-
dores de sua candidatura, e
também com parte da má-
quina existente após quase 30
anos de PSDB no poder local.
Ele ofertou um agrado à Po-
lícia Civil sugerindo o nome
do atual delegado-geral, Os-
valdo Nico Gonçalves, para
ser o adjunto de Derrite. Nico
não deu uma resposta, embo-
ra seus aliados digam que ele
irá aceitar, e o tema será de-
batido na semana que vem.
A articulação inclui colo-
car um aliado de Nico, Arthur
Dian, como delegado-geral.
Toda essa arquitetura tem a
bênção do deputado esta-
dual paulista Delegado Olin
(PP), que participou de reu-
nião com os dois policiais e
Tarcísio na quinta.
a eee
Tarcísio confirma
enfoque privatizador
na escolha da equipe
governador eleito de SP estuda vender participação na
Sabesp e terá auxiliares com experiência em concessões
-
Artur Rodrigues
e Carolina Linhares
São Paulo Os nomes anunci-
ados pelo governador eleito
de São Paulo, Tarcísio de Frei-
tas (Republicanos), para seu
secretariado e sua equipe de
transição indicamqueeleterá
foco em privatizações, como
fez no governo Jair Bolsona-
ro (PL), ampliando as deses-
tatizações vistas em gestões
tucanas anteriores.
Os auxiliares incluem pes-
soas que trabalharam na área
de concessões e privatizações
com Tarcísio no Ministério da
Infraestrutura e pessoas pró-
ximas ao ministro da Econo-
mia, Paulo Guedes.
A fama de privatizador ren-
deu a Tarcísio o apelido de
“Thorcisio” entre os bolso-
naristas devido à força que
ele usava para bater o marte-
lo nos leilões de ativos públi-
cos de sua gestão.
Na campanha e após elei-
to, Tarcísio deu indicativos de
que pretende privatizar uma
das principais estatais paulis-
tas, a Sabesp. O futuro gover-
nador também afirmou que
irá criar uma secretaria espe-
cífica para cuidar de parceri-
as com a iniciativa privada.
No desenho institucio-
Troféu Raça Negra 2022
20 anos de Brilho e de Raça
REALIZAÇÃO:
nal das gestões João Doria
(ex-PSDB) e Rodrigo Garcia
(PSDB), a área de PPPs (par-
cerias-público privadas) ocu-
pou uma subsecretaria e foi
vinculada, na maior parte do
período, ao atual governador.
Logo de início, Tarcísio her-
dará 16 projetos de concessão
oudePPPsemandamento,in-
cluindoRodoanelNorte,trem
intercidades,complexoespor-
tivo do Ibirapuera, parque Pe-
tar, gestão de 60 escolas, além
de concessões de rodovias e
de linhas da CPTM.
Na transição, é Rafael Beni-
ni o responsável por dialogar
com o governo sobre as futu-
ras concessões —ele é cotado
para assumir a pasta de PPPs.
Benini foi diretor da EPL (Em-
presa de Planejamento e Lo-
gística), vinculada ao Minis-
tério da Infraestrutura, e foi
diretor da Agência de Trans-
porte de São Paulo (Artesp).
A ideia de que o papel do
Estado deve ser reduzido em
São Paulo é defendida tanto
por auxiliares de Tarcísio co-
mo de Rodrigo. Portanto, a
transição tem convergência
quando o tema é privatizar.
Tarcísiodeveenfrentaropo-
sição,contudo,quandoforne-
cessário aprovar venda de es-
tataisoudepatrimônionaAs-
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 A11
política
Acompanhe a formação das
secretarias de Tarcísio
Como é no O que muda no
sibilidade de o governo ven-
der a participação na empre-
sa, seguindo um modelo ado-
tado na Eletrobras.
governo Rodrigo governo Tarcísio Na educação, pelo perfil do
Garcia (PSDB) de Freitas secretário anunciado, tam-
(Republicanos) bém deve haver um estreita-
mento das relações com a ini-
Mulher ciativa privada. Empresário,
Cotada Renato Feder desenvolveu
rosana Valle PL a mesma função no Paraná.
Projetos e Ações Parcerias Tarcísio deve manter políti-
Secretarias Estratégicas Público-Privadas* cas com o setor privado que já
que devem (Subsecretaria de Cotado existem na secretaria de Edu-
rafael benini
ser criadas Parcerias)
Orçamento e Gestão
cação e ampliar a parceria pa-
ra novas modalidades, como
Gestão a privatização da gestão es-
colar —modelo defendido e
Desenvolvimento Terá atribuições aplicadoporFedernoParaná.
sembleia Legislativa, que tem Na transição, o núcleo duro
Regional divididas entre Casa
um bloco de esquerda com 28 Secretarias Civil e Governo de Tarcísio também é ligado à
dos 94 deputados. Seus alia- que devem Ciência, Pesquisa e Terá atribuições área das privatizações. O ex-
dos, no entanto, minimizam ser extintas Desenvolvimento incorporadas pela vice-governador Guilherme
os embates e afirmam que o em Saúde Saúde Afif (PSD), coordenador-ge-
governo terá maioria na Casa. ral da transição, foi assessor
Além de Benini, outro no- Infraestrutura e Infraestrutura, especial de Guedes no Minis-
me que reforça os planos de Secretarias Meio Ambiente Meio Ambiente e tério da Economia.
privatização de Tarcísio é o da que devem Logística e Transportes Outro nome que tem essa
futura supersecretária de In- ser fundidas Transportes Anunciada experiência, mas com perfil
fraestrutura e Meio Ambien- natália resende menos político e mais técni-
te, Natalia Resende, que tem co, é Samuel Kinoshita, cota-
como credenciais ter partici- Administração Penitenciária do para assumir a Fazenda.
pado de mais de uma cente- Agricultura No secretariado e na transi-
na de projetos de leilões no Casa Civil Anunciado ção, aliás, fica clara a predile-
Ministério da Infraestrutura. Arthur Lima ção do futuro governador em
Comunicação
É sob o guarda-chuva da trazer para São Paulo pessoas
pasta chefiada por Resende Cultura com quem trabalhou no mi-
que estará a joia da coroa en- Desenv. Econômico Cotado nistério —o que tem ausado
tre as possíveis privatizações Desenv. Social Felicio ramuth ciumeira em partidos aliados
no estado, a Sabesp. Tarcísio Direitos da Pessoa PSD e bolsonaristas. Arthur Lima,
vemfalandosobreaestatalde com Deficiência quetambématuounaEPLsob
saneamento tanto em entre- Secretarias Educação Anunciado a gestão de Tarcísio, será o se-
vistas quanto em conversas que devem Esportes renato Feder cretário da Casa Civil.
com o empresariado. ser mantidas Anunciado Para além da Sabesp, Tar-
Fazenda
A Sabesp é uma empresa Gilberto Kassab císio deve mirar as privatiza-
controlada pelo governo, mas Governo ções já estudadasou iniciadas
PSD
com 49,7% das ações negoci- Habitação pelogovernoRodrigo,comoo
adas em Bolsa, tanto em São Justiça Anunciado Rodoanel Norte —obra para-
Paulo como em Nova York. Rel. Internacionais Eleuses Paiva da que se tornou um símbolo
Atende 375 municípios e, em Saúde PSD de ineficiência para o PSDB.
2021, lucrou R$ 2,3 bilhões. Segurança Pública O tucano planejou o leilão
Para Tarcísio, apesar do lu- Transportes Anunciado do Rodoanel para janeiro de
*não há ainda
cro, a empresa necessitará de um nome Metropolitanos Capitão Derrite PL 2023, mas, segundo o gover-
maisdinheiroparauniversali- definido para a no, a equipe de transição pe-
Turismo Anunciado
diu o adiamento para março
zar o saneamento e reduzir as secretaria que
roberto de Lucena
cuidará de
perdas técnicas no estado. Na parcerias com o Republicanos para atender a uma demanda
quinta (1º), ele sugeriu a pos- setor privado do mercado por mais prazo.
Graça Machel
Ativista dos Direitos Humanos
Aline Borges
Atriz
Aline Torres Dilma Rousseff Duda Ribeiro
Secretária de Cultura Benedita da Silva
Deputada Federal Ex-Presidente do Brasil Cantora
de São Paulo
Eunice Prudente Fofão Glaucimar Peticov Inês Maria Coimbra Lu Alckmin
Secretária de Justiça Atleta Olímpica Diretora Executiva do Procuradora-Geral do Vice-Primeira Dama do
de São Paulo Bradesco Estado de São Paulo Brasil
Luiza Helena Trajano Marina Silva Marta Suplicy Mc Soffia
Presidente do Conselho Maria Alice Setúbal Secretária de Relações
Educadora Ambientalista Cantora
Magazine Luiza Internacionais São Paulo
Neilda Fabiano Patrícia Villela Paulina Chiziane Simone Tebet Sônia Silva
Promoter Artística e Presidente da Escritora Senadora Aluna da 1° turna
Cultural ONG Humanitas 360 da Unipalmares
EDUCAÇÃO E LIBERDADE
A12 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
política
Um lema necessário
Compromisso militar com a ordem constitucional não é confiável
- sores, transgressores da urba-
Janio de Freitas
Jornalista
Aparente irrelevância, a inde-
cisão sobre uso de carro sem
capota pelo presidente Lula,
no breve desfile pós-posse, re-
flete as entranhas complexas
da situação como poucas ou-
tras sínteses o fariam.
A dúvida admite, em prin-
cípio, a continuidade de uma
tradição de cerimonial em di-
as que, infestados de crimina-
lidade política, repelem toda a
tradição das mudanças de go-
verno. O golpismo não mudou
muito mais do que o vocabu-
lário eleitoral.
| dom. Elio Gaspari, Janio de Freitas | seg. Celso R. de Barros | ter. Joel P. da Fonseca | qua. Elio Gaspari | qui. Conrado H. Mendes | Sex. Reinaldo Azevedo, Angela Alonso | Sáb. Demétrio Magnoli
Hostilização a políticos e
artistas expõe debate legal
País tem onda de ofensas a personalidades de esquerda, direita e centro
-
Angela Pinho
e Carolina Linhares
São Paulo Que político ou ar-
tista que se posiciona politi-
camente pode entrar hoje em
um avião ou um restaurante
com a tranquilidade de que
não será ofendido? No Bra-
sil, poucos.
Aondadehostilizaçãoaper-
sonalidades de diferentes es-
pectros ideológicos abriu um
debate sobre liberdade de ex-
pressão, crimes contra a hon-
ra e a saúde da democracia.
Paracoibircasosdotipo,po-
líticos cobram a responsabi-
lização dos autores das ofen-
sas, inclusive com a avaliação
de novos tipos penais ou bus-
cando enquadrá-los no crime
destalking(perseguição),san-
cionado em 2021.
Estudiosos, porém, avali-
am que a criminalização po-
de não resolver e, se abran-
gente demais, arrisca penali-
zar manifestações legítimas.
Uma lista de insultados só
nos últimos dois meses inclui
o cantor Gilberto Gil em um
estádio no Qatar; Ciro Gomes
(PDT) em um aeroporto nos
EUA;RodrigoMaia(PSDB)em
um resort na Bahia; ministros
do STF (Supremo Tribunal
Federal) em Nova York; Glei-
si Hoffmann (PT-PR) e Lind-
bergh Farias (PT-RJ) em um
restauranteemBrasília;aatriz
Regina Duarte em um teatro
em São Paulo, entre outros.
A concentração de casos
pode parecer fruto do acirra-
mento de ânimos da eleição,
mas a verdade é que o fenô-
meno já vinha acontecendo.
Para o professor do curso
de gestão de políticas públi-
cas da USP Pablo Ortellado,
os episódios tiveram impul-
so a partir de 2014 e 2015, com
asmovimentaçõespeloimpe-
achment de Dilma Rousseff
(PT).Emsuavisão,elasescan-
caram a polarização política
no país e, com isso, a ideia de
que o adversário é um inimi-
go a ser atacado.
Em 2015, diversos políticos
petistas foram intimidados
em momentos privados, co-
mo Guido Mantega no hospi-
talAlbertEinsteinaoacompa-
nhar a esposa em tratamen-
to de câncer.
Mas amira não se restringiu
a um lado. No ano seguinte, a
organização de esquerda Le-
vante Popular da Juventude
realizou a ação “escrache um
golpista”,emquemilitantesfo-
ram às casas de políticos que
endossaram a deposição de
Dilma, como oentão vice-pre-
sidente Michel Temer (MDB).
O golpe não saiu das caser-
nas por dois fatores principais.
No plano interno, a firme ação
da Justiça Eleitoral conduzida
pelos ministros Alexandre de
Moraes e Edson Fachin, e se-
cundada pelo Supremo, con-
tra a sucessão de preparativos
lançados pelo golpismo para
criar o seu pretexto.
No plano externo, foi a pres-
são em apoio à legalidade,
uma forma de se opor a Bol-
sonaro. A certeza de sanções
internacionais e isolamento
sufocante do país, como repre-
Gilberto Gil, de azul, e sua esposa, ao ser xingado por opositor em estádio no Qatar
Ciro Gomes e sua mulher ao serem abordados
em Miami Reprodução
O mesmo grupo já havia
promovido escrachos contra
agentesacusadosdecolabora-
ção com a ditadura. Procura-
dopelareportagem,oLevante
não respondeu aos contatos.
O termo remete aos “escra-
ches”, atos na Argentina orga-
nizados por filhos de desapa-
recidos ou presos políticos
sália ao golpe, acionou freios
medrosos no golpismo militar.
Os dois fatores continuam
ativos. Para dar uma ideia do
que é a força aplicada no ca-
so pelo fator externo, até o co-
municado oficial da reunião
de Joe Biden com o presiden-
te francês Emmanuel Macron,
em Washington, há quatro di-
as, trouxe uma advertência in-
cisiva: “França e Estados Uni-
dosagirãojuntostambémpara
proteger as florestas tropicais”.
Chegou a reiterar a disposi-
ção na mesma frase: “E com-
A atriz Regina Duarte, ao ser vaiada em teatro
em São Paulo Reprodução
nos arredores das casas de
agentes responsáveis por vio-
laçõesdedireitosduranteadi-
tadura militar de 1976 a 1983.
A “punição social” é uma
forma de justiça muito ruim,
porque sumária, sem contra-
ditório e sem mecanismos de
defesa, diz Ortellado.
ParaDeboraDiniz,antropó-
bater o desmatamento e o des-
matamento ilegal”. Não preci-
saram incluir o nome Brasil
nem citar Bolsonaro.
Os operadores amazônicos
das serras e os dirigentes bra-
silienses do contrabando de
madeira têm alguma sobre-
vida, mas o bolsonarismo far-
dado sabe que o seu golpe es-
tá derrotado.
A alternativa do golpismo à
derrota dupla, na eleição e na
recusa à legalidade, é a violên-
cia. Ter essa percepção à fren-
te de todas é indispensável ao
Reprodução
logaeprofessoradaUnB(Uni-
versidade de Brasília), a hosti-
lização a pessoas não respon-
sabilizadas em um regime di-
tatorial difere da intimidação
em uma democracia.
Fora do país após uma série
de ofensas e ameaças em ra-
zão de seu ativismo pela des-
criminalização do aborto, ela
chamado grupo de transição
e, em geral, aos democratas.
Do contrário, veem-se nas
frentes dos quartéis aglomera-
ções de fanáticos, que são faná-
ticos sim, mas também agres-
nidade, sem faltarem sequer os
homicidas em potencial.
Como bem exemplifica o sar-
gento da Marinha, ligado ao
general Augusto Heleno, que
nega a possibilidade de Lu-
la viver até a posse. Veem-se
bandeiras do PT na multidão
e se confiará que são todos ali
lulistas.
Mas o velho SNI, que sobrevi-
ve sob os nomes de Abin e Ga-
binete de Segurança Instituci-
onal, do Planalto, tentou infil-
trar agentes do general Heleno
até nos grupos da transição.
Fanáticos, maníacos, obce-
cados, em variadas aglomera-
ções ou sós, hoje são muitos
milhões à disposição de ma-
diz ver o escracho como uma
“tática de desaparecimento”.
“O risco dessas práticas é
que elas ativam efeitos de ma-
nada,cujoresultadoéarestri-
ção das aparições, principal-
mente para quem tem menos
condição de se defender. O
que está em disputa é o direi-
todeexistirsemintimidação.”
Umdosinfluenciadoresque
popularizou oquestionamen-
to de pessoas públicas com
uma câmera na mão, o ex-de-
putado Arthur do Val, o Ma-
mãe Falei, diz ser contra a
hostilização e afirma que es-
sa não era sua prática.
“Ir atrás de alguma figura
pública e fazer um questiona-
mento, ainda que incômodo,
é bem-vindo, faz parte da de-
mocracia. Xingar é outra coi-
sa. Mas uma lei para proibir
pode gerar efeitos colaterais
muito piores”, diz ele.
O estabelecimento de limi-
tes não é consenso nem entre
os dois protagonistas do de-
bate político no país.
Em abril, o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
defendeu que a militância
sindical procurasse deputa-
dos e seus familiares na casa
deles para pressionar a favor
de propostas que interessam
ao setor.
O presidente Jair Bolsonaro
(PL), por sua vez, disse em di-
versas ocasiões que o petista
não podia sair na rua no pró-
prio país.
Depois que o senador Ran-
dolfe Rodrigues (Rede-AP) foi
alvodeumbolsonaristanoae-
roporto do Cairo, sua equipe
chegou a rascunhar um pro-
jeto para criar o crime de “as-
sédio ideológico”.
A propostarecebeucríticas,
eRandolfeacaboudesistindo.
Procurado pela Folha, ele não
respondeu.
A advogada Ariane Nery
afirma que é preciso analisar
as características particula-
res de cada situação para en-
tender qual lei eventualmen-
te pode ser aplicada a um ca-
so ofensivo.
Segundo Nery, que é inte-
grante do Pleb (grupo de pes-
quisa sobre Liberdade de Ex-
pressão da PUC-Rio), o fato de
a vítima da hostilização ser
pessoapúblicaéentendidode
maneiras diversas na Justiça.
Alguns juízes consideram
que pessoas públicas estão
mais sujeitas a crítica, outros,
ao contrário, que são mais
prejudicadas pelas ofensas
por dependerem da imagem.
Nery diz ver com preocu-
pação a criação de um novo
tipo penal para evitar casos
do tipo, bem como o enqua-
dramento no recente crime
de stalking.
“Toda vez que uma lei é cri-
ada em um momento de cla-
mor popular, resulta em uma
norma sem consistência, que,
alémdenãoresolveroproble-
ma, produz distorções.”
O advogado Victor Leahy,
também membro do Pleb, diz
ver com ressalvas novas pro-
postas para coibir essa práti-
a eee
nejadores. E a verdade é que
o compromisso militar com
a ordem constitucional não é
confiável.
Lula é aguardado por uma
missão gigantesca. Só a res-
tauração do que os jagunços
de Bolsonaro devastaram já
ocuparia o mandato.
O urgente é muito maior. São
33 milhões passando fome, na
contagem que não pode alcan-
çar nem a verdade das favelas,
quanto mais os fundões desse
país sem fim.
E Lula já recebeu o renova-
do reconhecimento e a celebra-
ção do mundo, postos na sen-
sação de que “O Brasil voltou”
na sua volta. Deve ter recolhi-
mento assegurado. Expô-lo e
expor-se é de uma irresponsa-
bilidade inominável, mesmo
se inconsciente.
Um lema talvez útil para es-
tes e os futuros dias: Lula não
foi eleito para ser alvo.
ca. “Há quem defenda, hoje,
uma necessidade de maior
proteção à honra e reputação
dessas figuras públicas. Argu-
menta-se que, com o avanço
da tecnologia e dos meios de
comunicação, os ataques são
mais frequentes e coordena-
dos”, diz.
Mas ele pontua que, embo-
ra haja discursos que não são
protegidos pela Constituição
(como calúnias, ameaças, de-
sacato e incitação à violência,
por exemplo), novas leis para
coibi-los podem resultar em
censura e arbítrio.
$
Entenda quando
abordagem é crime
Quem ofende figuras
públicas por razões políticas
pode ser responsabilizado
na Justiça? Sim, mas
depende do conteúdo. Críticas
e opiniões desfavoráveis são
protegidas pela liberdade de
expressão, desde que não se
enquadrem em algum crime
previsto no Código Penal ou
se entenda que justifiquem
indenização por dano moral
Em quais crimes pode ser
enquadrado o cidadão
que ataca verbalmente
um político?
• Calúnia: imputar
falsamente a alguém fato
definido como crime
• Difamação: imputar a
alguém fato ofensivo
à sua reputação
• Injúria: ofender a dignidade
ou o decoro de alguém
E se há troca de ofensas? O
juiz pode deixar de aplicar
a pena se “o ofendido, de
forma reprovável, provocou
diretamente a injúria” ou
retrucou com outra injúria
O autor da ofensa pode
ser condenado a pagar
indenização? Sim. A
Constituição diz que “são
invioláveis a intimidade, a
vida privada, a honra e a
imagem das pessoas” e prevê
indenização por dano moral.
Caberá à Justiça avaliar se
isso ocorreu, e muitas vezes
os critérios são subjetivos
E quem divulga ofensa feita
por outro? Quem divulga
calúnia, mesmo sabendo ser
falsa, está sujeito à mesma
pena de quem a comete
O que é o crime de
stalking? Desde 2021, o
Código Penal prevê pena
de 6 meses a 2 anos de
reclusão a quem “perseguir
alguém reiteradamente e por
qualquer meio, ameaçando-
lhe a integridade física ou
psicológica, restringindo-lhe
a capacidade de locomoção
ou, de qualquer forma,
invadindo ou perturbando
sua esfera de liberdade ou
privacidade”. Para enquadrar
alguém, é preciso provar o
caráter reiterado da conduta
a eee
Pedro Dallari
Comissão da Verdade
seguiu lei, e militares
defendem o indefensável
Ex-coordenador do grupo vê ressentimento nas Forças Armadas com
investigações sobre ditadura, citadas como causa de resistência a Lula
entrevista
- Tenho dificuldade de respon-
Joelmir Tavares
São Paulo O professor e ad-
vogado Pedro Dallari, que foi
o relator e último coordena-
dor da Comissão Nacional da
Verdade (CNV), refuta o argu-
mento de que a investigação
de violações na ditadura mili-
tar justifique a resistência de
setores das Forças Armadas
ao presidente eleito Luiz Iná-
cio Lula da Silva (PT).
O trabalho da comissão é
apontado como um dos obs-
táculos na relação entre mili-
tares e o futuro governo, sob
a justificativa de que as apu-
rações se concentraram em
crimes de agentes do Estado
e ignoraram os cometidos pe-
la luta armada. A CNV atuou
durante a gestão da petista
Dilma Rousseff.
Dallari diz que a comissão
“cumpriurigorosamente”alei
de sua criação, aprovada pe-
lo Congresso, e que falar em
perseguição a um dos lados “é
um absurdo”. Segundo ele, o
escopo era restrito a atos do
Estado porque os praticados
por grupos de resistência já
tinham sido processados na
Justiça Militar.
O docente de direito e rela-
ções internacionais da USP
atribui o ressentimento com
a CNV a vozes isoladas,sobre-
tudo da reserva, e afirma que
as Forças Armadas “defen-
dem o que é indefensável” ao
se recusarem a admitir casos
de tortura e morte. O relató-
rio final se ateve a fatos, “não
éumanarrativainterpretativa
da história”, segundo Dallari.
O professor, que votou em
Lula e é crítico ao presidente
Jair Bolsonaro (PL) —um no-
tório saudosista do regime de
exceção,consideranecessário
manter vigilância sobre a de-
mocracia brasileira, mas des-
carta risco de golpe ou ruptu-
ra institucional.
* Enquanto as Forças Arma-
O sr. vê razões para a CNV ser
apontada como empecilho à
relação de Lula com as Forças
Armadas, com a alegação de
que as investigaçõesolharam
só para um dos lados? A lei
aprovada pelo Congresso Na-
cional determinava que a co-
missão deveria apurar as gra-
ves violações de direitos hu-
manospraticadaspeloEstado
naquele período por meio de
seus agentes. Do ponto de vis-
ta teórico e conceitual, quem
viola direitos humanos é sem-
pre o Estado.
O Congresso não mandou
apurar eventuais atos crimi-
nosos praticados por organi-
zações particulares, revoluci-
onárias, sei lá. E há uma uma
razão para isso: atos que teri-
am sido cometidos contra o
regime por forças insurgen-
tes foram investigados pelo
Estado, por meios dos órgãos
da Justiça Militar. O problema
é que muitas vezes não hou-
ve nem julgamento, o que é o
caso dos desaparecidos polí-
ticos e mortos.
Então, falar em outro lado
tendo em vista essa realidade
é um absurdo. Nós cumpri-
mos rigorosamente o man-
dato que o Congresso Nacio-
nal nos deu.
Pedro Bohomoletz de abreu Dallari, 63
É mestre e doutor em direito internacional e dirige o Instituto de Relações
Internacionais da USP, onde também leciona. Foi nomeado em 2013 pela então
presidente Dilma Rousseff (PT) para a Comissão Nacional da Verdade, onde atuou
como relator e foi o último coordenador do grupo, até 2014. Teve também carreira
política, como vereador, deputado estadual e secretário municipal, sempre no PT.
Falar que a comissão foi par-
cialé,portanto,umargumen-
tofrágil? É ignorar um man-
dato legal. Não podemos ser
acusados de ter agido de ma-
neira adversa. Os fatos estão
no relatório, são inequívo-
cos. Tanto é que o próprio Es-
tado reconheceu isso, ao pa-
gar indenizações às vítimas e
às famílias.
A lei afirmava que um dos ob-
jetivos da comissão era pro-
mover a reconciliação naci-
onal. O fato de ainda susci-
tar atritos, oito anos após sua
conclusão, indica que ela fa-
lhou? A comissão foi cons-
tituída com essa ideia, mas a
finalidade dela era promover
amemóriahistóricaeaverda-
de. E foi o que ela fez. Produ-
ziu um relatório com um vo-
lume de informações que, ao
descortinar a verdade factu-
al, pudesse ser usado pela so-
ciedade nessa perspectiva da
reconciliação. Mas a comis-
são não teria como fazer mais
do que fez.
Que elementos o sr. acha que
embasam oressentimento de
setores militares com a CNV?
Procuroevitargeneralizações.
Provavelmente, [existe] um
desconforto de setores das
Forças Armadas que não gos-
tam do que foi apurado. Hou-
ve um cuidado muito grande
da comissão de produzir um
relatório centrado nos fatos.
Ali não é uma narrativa inter-
Mathilde Missioneiro/Folhapress
pretativa da história, é a ver-
dade factual.
Houve inúmeras tentativas,
judiciais inclusive, de bloque-
arapublicaçãodorelatórioou
mandar extirpar parte dele, e
o Judiciário nunca acolheu. É
indicativo de que o relatório é
sólido. O fato de que haja mili-
tares e parte da sociedade tal-
vez descontentes não o inva-
lida. Não tenho como obrigar
as pessoas a gostarem dele.
Por que o sr. diz que evita ge-
neralizar as críticas a milita-
res? A comissão visitou ins-
talações militares que foram
locais de graves violações de
direitoshumanos.Levávamos
antigos presos políticos pa-
ra reconstituições e éramos
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
acompanhados por militares,
principalmente jovens ofici-
ais, muitas mulheres.
Os ex-presos descreviam:
“Aqui foi preso fulano, ali nós
ouvimos os gritos de sicrano
que foi assassinado”. Era visí-
vel, e eu percebia, o constran-
gimento dos jovens e das jo-
vens oficiais. Aquilo não era
algo que eles achavam cor-
reto. Há toda uma nova gera-
ção de oficiais que não par-
ticipou daquele período his-
tórico e certamente não faria
o que foi feito. É outro tipo
de mentalidade.
Hoje, por conta desse res-
sentimento que existe de par-
teprincipalmentedemilitares
da reserva, essas novas gera-
ções ficam obrigadas a levar
consigo uma carga muito pe-
sada por um passado que não
diz respeito a elas.
Concorda com o diagnóstico
feito por pesquisadores e ati-
vistas de que os frutos da CNV
ficaram aquém do esperado?
derporqueissonãoguardare-
lação com o relatório da co-
missão, mas com o cenário
político de implementação
ou não das recomendações.
É evidente que, tendo em
vista que nos últimos anos
prevaleceu no Brasil uma po-
sição política consubstancia-
da num governo contrário ao
próprio espírito que presidiu
a Comissão Nacional da Ver-
dade, evidentemente a efeti-
vação daquelas sugestões fi-
counumgraumuitoreduzido.
É uma constatação meio
que evidente pela própria po-
sição do presidente Bolsona-
ro. Quando do funcionamen-
to da comissão, ele era depu-
tado federal e fez muitos pro-
nunciamentos na tribuna da
Câmara contra o grupo. Cer-
tamente, ele levou esse sen-
timento para o seu governo.
O que o sr. considera neces-
sário para se avançar rumo a
alguma pacificação? Repi-
to o que falei na época do re-
latório, usando uma analogia
com a conduta do papa Fran-
cisco em relação à pedofilia.
Ele tirou a Igreja Católica da
postura defensiva e assumiu
o seguinte discurso: os casos
ocorreram, não deveriam ter
ocorrido, não estão de acor-
do com a doutrina da igreja,
vamos apoiar as apurações
e pedimos desculpas. Isso,
de certa maneira, exorcizou
aquele demônio.
As Forças Armadas deveri-
am fazer a mesma coisa: re-
conhecer os fatos, em vez de
ficar procurando justificar o
que ocorreu, e dizer que aqui-
lo não deveria acontecer. Não
conheço nenhum documen-
to oficial das Forças Armadas
que diga que elas devem tor-
turar e executar presos. Assu-
mir a responsabilidade insti-
tucional, como recomendou
orelatório,representariauma
virada de página.
das não derem esse passo, is-
so vai ficar indo e voltando.
Elas ficam tendo que defen-
der e obrigam as novas gera-
ções de oficiaisa defenderem,
o que é indefensável do pon-
to de vista de direitos funda-
mentais, ou seja, que o Esta-
do pode torturar e matar as
pessoas. Isso é errado.
O sr. mantém a defesa de re-
abertura do debate sobre a
Lei da Anistia? Seria um ca-
minho no atual momento?
Veja, é inevitável, né? Se não
há nenhum gesto no sentido
da superação desse cenário e
asForçasArmadascontinuam
defendendo o que aconteceu,
é quase uma decorrência na-
tural o debate em torno da re-
visão da lei. Agora, se é factí-
vel ou não, isso eu não sei, não
tenho elementos para avaliar.
Teriam brotado na sociedade
brasileiramanifestaçõesfavo-
ráveis à ditadura mesmo sem
a ascensão de um líder como
Bolsonaro? Tomo cuidado
nessa análise e acho temerá-
riofazerumacorrelaçãoauto-
mática. O fato de o presiden-
te Bolsonaro ter tido, tanto
em 2018 quanto agora, vota-
ções expressivas não significa
A13
política
“
A lei aprovada pelo
Congresso Nacional
determinava que a
comissão deveria
apurar as graves
violações de
direitos humanos
praticadas pelo
Estado naquele
período por meio
de seus agentes.
Do ponto de
vista teórico e
conceitual, quem
viola direitos
humanos é
sempre o Estado
Não conheço
nenhum
documento
oficial das Forças
Armadas que diga
que elas devem
torturar e executar
presos. Assumir a
responsabilidade
institucional,
como recomendou
o relatório,
representaria uma
virada de página
que a maioria do seu eleitora-
do comungue com essa parte
da agenda dele, essa posição
de nostalgia da ditadura. Esse
traço existe em uma parcela,
que não é majoritária. É cla-
ro que não quero minimizar
essas manifestações. São coi-
sas preocupantes.
Depois de uma fase de ata-
ques e abalos, a democracia
brasileira sobreviveu? Cor-
re riscos? Não tenho dúvi-
da de que estamos numa de-
mocracia. Embora com risco,
né? Ela foi muito tensionada.
O quadro institucional se re-
velou aquém da necessidade
quando se deparou com um
governo que, eleito democra-
ticamente, agiu de maneira
frontal contra a democracia.
A democracia sobreviveu
porque, em parte, há um con-
junto de instituições consoli-
dado que funcionou, mas eu
diria que, majoritariamente,
porque há um sentimento na
sociedade a favor da demo-
cracia como forma de gover-
no [79% da população, segun-
do o Datafolha].
Esse período recente da his-
tória brasileira obriga as elites
política, econômica, social e
intelectual, na qual incluo a
universidade, a procurarem
entender a perda de conexão
com parcelas significativas da
sociedade que passaram a ver
apossibilidadedebuscaraso-
lução para os problemas do
Brasil na figura de um gover-
nante completamente aves-
so à democracia.
Com a ambiguidade de Bol-
sonaro e de setores militares
às vésperas da diplomação e
da posse de Lula, o sr. consi-
dera necessária alguma vigi-
lânciaem relaçãoà ordemde-
mocrática? Semdúvida.Ava-
lio que ainda vamos ter mani-
festações que podem ter cará-
ter até violento, como já vem
ocorrendo. Pode haver, sim,
um quadro de risco. Não di-
ria risco de ditadura, de golpe
militar, isso eu não creio; mas
deinstabilidade institucional,
de ataques terroristas. Temos
que ter rigor no acompanha-
mento disso. É muito impor-
tante que haja um um forta-
lecimento das redes de prote-
ção da Constituição e do Es-
tado democrático de Direito.
A14 DOmingO, 4 DE DEzEmBrO DE 2022
mundo
Viagem de Lula aos
EUA deve criar saia-
justa com embaixada
Petista pode se reunir com Biden sem apoio da representação
brasileira; discussões devem contemplar Haiti e Venezuela
-
Thiago Amâncio
Washington A possível via-
gem do presidente eleito Lu-
iz Inácio Lula da Silva (PT)
aos Estados Unidos para se
encontrar com o líder ame-
ricano, o democrata Joe Bi-
den, ainda neste mês de de-
zembro, antes de assumir o
cargo, deve criar uma saia-
justa na representação di-
plomática brasileira no país.
A equipe do petista não aci-
onou o Itamaraty sobre a via-
gem, e Lula pode visitar a ca-
pital dos Estados Unidos sem
uma recepção oficial organi-
zada pela embaixada do Bra-
sil em Washington, comanda-
da por Nestor Forster, muito
identificado com o atual pre-
sidente, Jair Bolsonaro (PL).
Mesmo que a viagem tenha
sido anunciada pelo ex-minis-
troFernandoHaddadnaquar-
ta (30) e que Lula tenha reto-
mado o tema na sexta (2), a
Casa Branca ainda não confir-
mou o convite. Jake Sullivan,
assessor de Segurança Naci-
onal dos EUA, desembarcará
nesta segunda (5) em Brasília,
e o presidente eleito diz que
a visita também servirá para
discutir os detalhes da ida a
Washington ainda neste ano.
O presidente eleito já dis-
se que a ideia é que a viagem,
que serviria como mais uma
prova de legitimidade inter-
nacional da vitória contesta-
da por Bolsonaro e pelo PL,
ocorra após a diplomação, no
próximo dia 12 de dezembro.
Há dúvidas, no entanto, so-
bre a estrutura que receberá
o petista fora do país, porque
o Itamaraty não é obrigado
a organizar a viagem do pe-
tista antes de ele assumir de
fato o cargo, e o mais prová-
vel é que aconteça a mesma
configuração da recente pas-
sagem de Lula por Portugal:
ele não se hospedou na em-
baixada em Lisboa e não re-
cebeu apoio diplomático.
Chegou a se encontrar com o
presidente, o premiê e o em-
baixador do país ibérico no
Brasil, sem que o embaixador
brasileiro estivesse presente.
A Folha procurou a embai-
xada do Brasil nos Estados
Unidos, que orientou o envio
das perguntas à assessoria do
Ministério das Relações Ex-
teriores, em Brasília. Por te-
lefone, um assessor da pas-
ta respondeu apenas que o
órgão não foi acionado pe-
la equipe de Lula em busca
de apoio para uma viagem
aosEUA—nãohouveresposta
seoItamaratyassistiráopetis-
taantesdacerimôniadeposse
caso o auxílio seja solicitado.
Acontece que o grupo do
futuro presidente tem resis-
tência ao atual embaixador
na capital americana, que de-
ve deixar o cargo na primeira
leva de nomeações quando o
novo governo assumir. Fors-
ter tem bom trânsito em Wa-
shington e experiência nes-
sa representação diplomá-
tica brasileira desde os anos
1990, atuando inclusive sob
governos petistas, mas sua
defesa aberta de Bolsonaro
durante todo o período no
cargo, além da proximidade
com figuras do bolsonarismo,
incomoda o futuro governo.
Durante a campanha, ele es-
creveu duas cartas à impren-
sa americana, ao New York Ti-
mes e à Bloomberg News, re-
batendo artigos sobre a esca-
lada autoritária no país e que
faziam críticas à política am-
biental. O mesmo expediente
foi usado em respostas a con-
gressistas democratas con-
trários ao atual presidente.
Além disso, o embaixador
era amigo próximo de Olavo
deCarvalho,gurudobolsona-
rismo. Homenageou-o em di-
ferentesoportunidadese,após
a morte do escritor, publicou
em um perfil em rede social
daembaixada queOlavo “dei-
xa um legado duradouro por
meio de seu vasto trabalho”.
Com ou sem apoio da em-
baixada,apossibilidadedeum
encontro de Biden com Lula
antes de o petista tomar pos-
se chamou aatenção de quem
trabalha com diplomacia em
Washington. Uma das justi-
ficativas para a reunião, po-
rém, é um ponto de consen-
so: Biden não tem aliados de
peso na América Latina hoje.
Na Colômbia, principal par-
ceiro estratégico na região,
ainda há dúvidas sobre Gus-
tavo Petro, que assumiu há
pouco a Presidência. No Mé-
xico, Andrés Manuel López
Obrador tinha mais afinida-
de com Donald Trump. E, na
Argentina, também houve
atritos com a gestão de Al-
berto Fernández, que já de-
fendeu menor dependência
dos americanos e fez acenos
vistos como complicados em
Washington a Rússia e China.
$ açõessociaiseeconômicasne-
Onde os EUA querem
que o Brasil ajude na
América Latina
Venezuela A boa
interlocução de Lula com
Nicolás Maduro pode fazer
do petista uma ponte entre
Washington e Caracas. A crise
energética gerada pela Guerra
da Ucrânia fez com que os
EUA buscassem diversificar
suas fontes de petróleo e gás.
Antes, Biden tentou negociar
com países do Oriente Médio
e, recentemente, relaxou
sanções contra a ditadura
chavista e autorizou que a
americana Chevron voltasse a
extrair petróleo na Venezuela
Haiti O presidente
americano quer que os
militares brasileiros voltem
a atuar no país, como
fizeram de 2004 a 2017
em missões da ONU, já
que a melhora da situação
haitiana tem reflexos no fluxo
migratório para os EUA. Há,
no entanto, resistência da
equipe petista com a ideia
“
O Brasil é um grande
ator multilateral e
tem longo legado de
envolvimento em
processos de paz, na
busca de soluções
multilaterais
para alguns dos
mais complexos
problemas de
seguranças
Ricardo Zúniga
secretário-adjunto de Hemisfério
Ocidental no Departamento de
Estado dos Estados Unidos
a eee
No Brasil, até agora um pos-
toavançadodotrumpismona
América do Sul, o presidente
brasileiro duvidou da vitória
de Biden e foi um dos últimos
líderesglobaisaparabenizá-lo
pelo triunfo sobre o republi-
cano.É porissoqueumaceno
a Lula é considerado impor-
tante no governo americano.
A Casa Branca sabe que o
petista não será um aliado
automático e que haverá di-
ferenças programáticas, mas
o presidente eleito é conside-
rado um político pragmáti-
co e experiente, com quem é
possível sentar para negociar.
Além disso, pode ser um
parceiro importante na pau-
ta climática e em demandas
específicas na região, como
a Venezuela, onde a boa in-
terlocução com Maduro po-
de fazer de Lula uma ponte
entre Washington e Caracas.
A crise energética gera-
da pela Guerra da Ucrânia
tem provocado o que alguns
descrevem como o início de
um apaziguamento com os
chavistas. Recentemente,
Biden tirou sanções contra
o regime venezuelano, des-
congelou ativos e autorizou
que a americana Chevron vol-
te a extrair petróleo no país.
Outraquestãoéumpossível
retornodosmilitaresbrasilei-
rosaoHaiti,queparticiparam
damissãodaONUalide2004a
2017.Quantoaesseponto,po-
rém,há,segundoummembro
daequipedetransiçãorelatou
à Folha, resistência na equi-
pe do petista, sobretudo pe-
lo pouco apoio recebido nas
cessárias no país, sobretudo
apósoterremotode2010,que
deixoumaisde100milmortos.
Lula poderia ainda ser útil
em uma negociação multila-
teral na Guerra da Ucrânia,
disse Ricardo Zúniga, secre-
tário-adjunto de Hemisfério
Ocidental no Departamento
de Estado dos EUA e ex-côn-
sul em São Paulo. “O Brasil é
um grande ator multilateral e
tem longo legado de envolvi-
mento em processos de paz,
na busca de soluções multi-
laterais para alguns dos mais
complexos problemas de se-
gurança”,afirmounestasema-
na em evento na Universida-
de Harvard, organizado pelo
Future of Diplomacy Project.
Todos esses temas podem
ser levados a Brasília agora
por Sullivan, mas há dúvidas
seserãomesmopostosàmesa
numprimeiroencontrooficial
entre as duas equipes. O mais
prováveléquepedidosconcre-
tos do governo americano se-
jam feitos em reuniões de al-
to nível na capital americana.
Segundoaprogramaçãoofi-
cial, Sullivan falará sobre crise
climática, segurança alimen-
tar, promoção da democra-
cia e migração regional. Está
previsto um encontro com o
senador Jaques Wagner (PT),
mas uma reunião com Lula
não está descartada. O ame-
ricano também se encontrará
com autoridades do atual go-
verno —será recebido pelo al-
miranteFlávioRocha,secretá-
rio de Assuntos Estratégicos.
Por fim, ainda que uma vi-
agem antes da posse chame
a atenção, ela não seria a pri-
meira recepção em Washing-
ton nesse contexto. O próprio
Lulafoiàcapitalamericanaem
2002logoapóssereleitoparase
reunircomohojeex-presiden-
te George W. Bush —na ocasi-
ão,oentãoembaixadorbrasi-
leiro promoveu um jantar pa-
ra o petistas, que também se
encontrou com parlamenta-
reseinvestidoresamericanos. Lula durante entrevista coletiva do grupo de transição, em Brasília Adriano Machado - 2.dez.22 /Reuters
a eee
Portugal vê cifra crescente de
viciados no jogo da raspadinha
Órgão do país encomendou estudo para entender real dimensão do problema
onde se fala
português
-
Giuliana Miranda
liSboa Coloridas,brilhantese
com menções a vultosos prê-
mios em dinheiro, as cartelas
de raspadinhafazem parte da
paisagem há quase três déca-
dasdeboapartedecafés,ban-
cas de jornal e casas lotéricas
emPortugal,umdospaíseseu-
ropeusrecordistasnogastoper
capitacomessetipodeaposta.
Em2021,osportuguesesde-
sembolsaramcercade€1,5bi-
lhão (R$ 8,25 bilhões, na cota-
çãodaúltimasexta,2)comojo-
go.Nomesmoano,aEspanha,
apesar de ter uma população
quatrovezesmaior,com47,33
milhõesdehabitantes,gastou
a metade do montante luso:
€750milhões(R$4,1bilhões).
Comapopularidadevêmos
problemas.Entidadesquetra-
tamdependentesdejogosaler-
tamparaacifraemaltadevici-
adosemraspadinha, comum
agravante: mulheres de baixa
rendasãoafatiamaisafetada.
Em Portugal, cassinos, bin-
gos e outros tipos de apostas
2.dez.22/Força Aérea dos EUA/Reuters
China amplia flexibilizações da Covid, e população comemora
SãoPaulo Apósprotestoscon-
tra a política de Covid zero,
a China ampliou neste sába-
do (3) a flexibilização das re-
gras de quarentena que enti-
dadescomoaOMS(Organiza-
çãoMundialdaSaúde)classifi-
cam de insustentáveis. Na ca-
pital do país, Pequim, tendas
usadas para testes em massa
foram removidas. Em Shen-
zhen,aosul,autoridadesanun-
ciaramquenãoserámaisexigi-
daaapresentaçãodetestecom
resultadonegativoparaviajar.
As medidas sinalizam mu-
danças na campanha de en-
frentamento à crise sanitária
apesar do aumento de casos
de coronavírus em megaci-
dades chinesas, como Xan-
gai e Guangzhou. Nesta se-
mana, a vice-primeira-minis-
tra Sun Chunlan prometeu
uma “abordagem mais huma-
na” no combate à pandemia.
são legalizados. Entre todas
as modalidades, a raspadi-
nha é a segunda mais popu-
lar, segundo as informações
mais recentes do Sicad (Ser-
viço de Intervenção nos Com-
portamentos Aditivos e nas
Dependências), órgão vincu-
lado ao Ministério da Saúde.
Os dados, divulgados em
2021, mas referentes a 2017,
já mostravam esse avanço
—30% dos portugueses dizi-
am jogar as raspadinhas. Des-
ses, quase um terço ganhava
menos de 500 euros mensais.
“Entre 2012 e 2017, na popu-
lação em geral, a prevalência
de jogo abusivo [considera-
do uma forma mais suave de
vício] quadruplicou, de 0,3%
para 1,2%, e a de jogo pato-
lógico [que caracteriza a fa-
se da dependência], dupli-
cou, de 0,3% para 0,6%”, diz
o documento. “A raspadinha
passou de terceiro para se-
gundo jogo a dinheiro mais
usado no país, atrás apenas
[da loteria] do Euromilhões.”
Para saber a real dimensão
doproblema,oConselhoEco-
nômico e Social —órgão con-
sultivoque serve de ponte en-
Em Pequim, a remoção das
estruturas foi comemorada.
Um vídeo que registrou funci-
onários desmontando tendas
usadas para testes em massa
viralizou na rede social chine-
saWeibo.“Issodeveriatersido
retirado antes”, diz uma pes-
soa na gravação. “Banido pa-
ra a história”, completa outra.
Por outro lado, com menos
locais disponíveis para tes-
tes, houve reclamação sobre
longas filas nas estruturas re-
manescentes. Agora, mora-
dores da capital não preci-
sam mais comprovar que es-
tão livres da doença para en-
trar em supermercados. Na
segunda (5), a mesma regra
deverá ser aplicada no me-
trô. Mas a apresentação de
exame com resultado nega-
tivo segue obrigatória em ou-
tros locais, como escritórios.
Em Shenzhen, além de não
Cartelas de raspadinha em Portugal
treogovernoeasociedadeci-
vil— encomendou neste ano
um estudo sobre as raspadi-
nhas em Portugal. O trabalho
será conduzido em parceria
comaUniversidadedoMinho.
“O consumo per capita de
raspadinhas em Portugal é
muitoelevadoe,quandocom-
paramos com países como
a Espanha, as diferenças são
ser mais obrigatório a apre-
sentação de teste para viajar,
autoridades anunciaram que
os exames não serão mais
necessários para acessar o
transporte público ou par-
ques. Outras cidades chinesas
como Chengdu e Tianjin ado-
taram medidas semelhantes.
Se houve relaxamento nas
regras de quarentena, o mes-
mo tratamento não foi apli-
cado em relação à tolerância
comprotestos.Apolíciaman-
tém um forte contingente na
regiãodeLiangmaqiao,aleste
de Pequim, palco de grandes
manifestaçõesnosúltimosdi-
as, e, segundo o jornal ameri-
cano The New York Times, os
agentes usam tecnologia de
reconhecimento facial para
identificar os manifestantes.
Também há policiamento
ostensivoemUrumqi,nooeste
chinês,ondeumincêndioma-
InsidePortugal
muitosignificativas”,dizopsi-
quiatraPedroMorgado,profes-
sordainstituiçãoeumdosres-
ponsáveis pelo trabalho. “Na
prática clínica encontramos
muitos casos [de pessoas vici-
adas] e é sabido que níveis de
consumoelevadossignificam
risco de adição mais elevado.”
Em2020,omédicopublicou
na revista The Lancet, um dos
toudezpessoasemisolamen-
to e motivou a maior onda de
manifestações da história re-
cente do país, com críticas à
política da Covid zero e tam-
bém ao regime de Xi Jinping.
Aindaqueemmenorescala,
os protestos continuam —in-
clusive com formas criativas
e inusuais para driblar a re-
pressão e a censura da ditadu-
ra. Como resposta aos atos, a
China deve anunciar nos pró-
ximos dias outras medidas de
flexibilização, de acordo com
a agência de notícias Reuters.
Na quinta (1º), durante reu-
nião com autoridades da Uni-
ão Europeia em Pequim, Xi
afirmou que os protestos fo-
ram estimulados pela frustra-
ção,principalmentedejovens,
após anos de pandemia, mas
que o fato da variante ômi-
cron ser menos letal possibi-
lita a flexibilização nas regras.
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
principais periódicos interna-
cionais da área de saúde, um
alerta sobre a “ameaça negli-
genciada” do crescimento das
raspadinhas no país ibérico.
A ideia é que o estudo aju-
de a caracterizar o vício no
jogo em Portugal. Para espe-
cialistas, a raspadinha reúne
características que a tornam
particularmente aditiva, co-
mo a facilidade de acesso,
além dos baixos valores ini-
ciais de aposta, a partir de € 1
(R$ 5,40), e da possibilidade
de recompensa instantânea.
Funcionária de um restau-
rante na avenida Almirante
Reis, uma das principais vias
no centro de Lisboa, Celeste
Fonseca diz estar acostuma-
da a ver clientes perderem o
controle com o jogo, chama-
do oficialmente de loteria ins-
tantânea. “Pedem um café
e uma raspadinha. Depois
mais uma cartela, e a seguir
outra. Já cheguei a vender 50
raspadinhas para a mesma
pessoa dessa forma”, diz ela.
Na avaliação da balconista,
que trabalha há 15 anos no es-
tabelecimento, embora haja
aqueles que claramente per-
dem o controle com o jogo, a
maioria dos clientes faz apos-
tas ocasionais. “Com os or-
denados em Portugal, quem
não quer tentar a sorte? Qual-
quer dinheirinho é bem-vin-
do”, pondera Celeste, lem-
brando que o salário mínimo
atual no país é de 705 euros
(cerca de R$ 3.870) por mês.
Segundo o Sicad, mais da
metade dos apostadores em
raspadinhas no país é forma-
Um dia depois, moradores
de Pequim receberam men-
sagens nas redes sociais com
orientações para que infecta-
dos permanecessem em casa.
Amedidafoiconsideradasim-
bólica, uma vez que não foi re-
comendado o envio de doen-
tes para a quarentena central,
em que pessoas são levadas a
instalações do governo e se-
paradas da família para evi-
tar transmissão domiciliar.
A repressão aos protestos,
no entanto, segue como alvo
de críticas mundo afora. Uma
carta assinada por 42 sena-
dores dos EUA criticou Xi e
lembrou o massacre na Pra-
ça da Paz Celestial, em 1989.
“Advertimos o Partido Co-
munista da China nos termos
mais fortes possíveis contra
qualquer nova repressão vi-
olenta a manifestantes pací-
ficos que simplesmente que-
A15
mundo
da por mulheres entre 35 e 54
anos,comnívelescolarbaixoe
rendimentosmensaisde€500
(R$2.750)a€1.000(R$5.500).
No artigo na Lancet, os pes-
quisadores portugueses cha-
mam a atenção para o fato de
que as questões econômicas
relacionadas à indústria de
apostas, incluindo “os impos-
tos arrecadados pelos gover-
nos”,podemresultarem“falta
depolíticaseficazespararegu-
lar tipos específicos de jogos”.
Em Portugal, os chamados
jogos sociais, que incluem as
loterias e as raspadinhas, são
tambémumaimportantefon-
te de receita para o governo.
ElessãogeridospelaSantaCa-
sa de Misericórdia de Lisboa.
Em 2021, dos quase € 2,9 bi-
lhões (R$ 15,9 bilhões) de re-
ceita bruta com os jogos so-
ciais, € 816 milhões (R$ 4,4
bilhões) foram para o Esta-
do português, que destinou o
valor a várias instituições, in-
cluindo os ministérios de Sa-
úde e Educação, governos re-
gionais e a própria Santa Ca-
sa, indicou o jornal Expresso.
Apesardascobranças,proje-
tosquelimitavamapublicida-
de e a venda das cartelas não
avançaram no Parlamento.
Em2021,oMinistériodaCul-
tura anunciou uma raspadi-
nha especial, para o financi-
amento do patrimônio cultu-
ralluso.Emboratenharecebi-
do diversas críticas, o projeto
foilevadoadiante.Poucomais
de um ano depois, porém, o
atual chefe da pasta, Pedro
Adão e Silva, anunciou que a
iniciativa serádescontinuada.
eua apresentam seu
‘bombardeiro invisível’
de última geração
A Força Aérea dos EUA
apresentou na noite desta
sexta (2) seu primeiro
bombardeiro em 34 anos,
o Northrop Grumman B-21
Raider. Trata-se de um avião
“invisível”, como se diz no
jargão para aeronaves com
tecnologias que as tornam
mais furtivas à vigilância
inimiga —desenho, controle
de emissão de calor pelos
motores, pinturas especiais,
entre outras. A apresentação,
na histórica fábrica 42 da
Força Aérea de Palmdale,
na Califórnia, ocorreu logo
após o pôr do sol, para
disfarçar detalhes do avião.
Na exibição, ele não chegou a
deixar totalmente o hangar,
impossibilitando observar
os bocais de exaustão de
seus motores, vitais para
comparações com o famoso
B-2 Spirit, com o qual o novo
bombardeiro é bem parecido.
Em relatório enviado
neste ano ao Congresso,
a fabricante Northrop diz
ter cumprido o projeto
abaixo dos US$ 25,4 bilhões
aprovados inicialmente.
O desenvolvimento da
arma foi acelerado devido
ao acirramento da tensão
mundial, como mostram a
Guerra Fria 2.0 com a China e
a Guerra da Ucrânia.
rem mais liberdade”, afirma
trecho do documento envia-
do ao embaixador de Pequim
em Washington, Qin Gang.
A flexibilização na China é
vista com cautela, e ainda é
cedo para falar no fim da Co-
vid zero. Analistas citados pe-
la Reuters afirmam que auto-
ridades trabalham para con-
viver com um aumento no
número de casos sem que is-
so resulte em medidas duras
de contenção ou crescimento
explosivo da cifra de mortes.
Também dizem ser impro-
vável uma reabertura signifi-
cativa até março, já que a Chi-
na lançou só há pouco uma
campanha em massa de va-
cinação para idosos. A China
registrou 32.827 novas infec-
ções neste sábado, ante 34.772
no dia anterior. Até sexta-
feira, o país tinha 5.233 mor-
tes relacionadas à doença.
A16 DoMinGo, 4 DE DEzEMbro DE 2022
mundo
Lacalle Pou se isola no Uruguai em
meio a investigação de espionagem
Ex-chefe de segurança do presidente acumula acusações e domina debate a 2 anos de sucessão
-
Sylvia Colombo
BuENoSAIrES Aovoltardeférias
comseusfilhos,emsetembro,
o presidente do Uruguai, Luis
LacallePou,levouumsusto.Na
pistadoaeroportodeMontevi-
déu,oaviãoeraaguardadope-
la polícia, que tinha um man-
dadodeprisãocontraoentão
chefe de segurança da Presi-
dência, Alejandro Astesiano.
A acusação, que surpreen-
deu o país, era a de que o as-
sessor integrava uma quadri-
lha de falsificação de passa-
portes. Lacalle Pou afirmou
que não sabia de nada e que
esperaria as investigações.
Três meses depois, o caso,
em vez de ter sido esclareci-
do, parece ter se complica-
do ainda mais, com uma no-
va denúncia. A análise do ce-
lular apreendido de Astesia-
no indicou que ele também
estaria agindo como espião,
disparando informações si-
gilosas da sede do poder Exe-
cutivo —e cobrando por elas.
O Uruguai, que preza pela
legalidade e pela institucio-
nalidade como pilares da cul-
tura nacional, passou a acom-
panhar o episódio como que
acompanha uma novela. O úl-
timo escândalo político de re-
levo que muitos se recordam
O britânico Gary Platts, 59, que combateu no conflito entre Argentina e Reino Unido pelo controle das ilhas Falklands, em Stanley
Veteranos voltam às Malvinas para relembrar guerra
-
Nicola Pamplona
STANLEY (ILHAS FALKLANDS/
MALVINAS) O britânico Ga-
ry Platts, 59, tinha 19 anos
quando desembarcou nas
ilhas Falkland para comba-
ter as forças argentinas que
haviam ocupado o arquipé-
lago na última grande guerra
na América do Sul, em 1982.
No início de novembro, vol-
tou pela primeira vez aolocal,
parte de uma comitiva de ex-
combatentes e familiares de
soldados mortos organizada
pelogovernobritânicoparare-
lembraros40anosdoconflito.
“Ironicamente, na medi-
no país foi em 2017, quando
Raúl Sendic, então vice de Ta-
baré Vázquez, renunciou por
tercompradoumabermudae
outros itens triviaiscom o car-
tão corporativo do governo.
Pesquisa realizada em no-
vembro pela Usina de Percep-
ción Ciudadana (UPC) mos-
trou que o caso de Astesiano
já teve um impacto negativo
na imagem de Lacalle Pou pa-
ra52%dosentrevistados,com
69% afirmando acreditar que
o ex-chefe de segurança tinha
cúmplicesdentrodogoverno.
Depois de iniciar sua gestão
em 2020 com bons índices de
popularidade—emelhorá-los,
graças à condução da pande-
mia, considerada satisfató-
ria—, o presidente agora en-
frenta seu momento mais di-
fícil.Senosprimeirosseisme-
ses de gestão ele chegou a ter
mais de 60% de aprovação,
agora,adoisanosdeterminar
o mandato, está com 46%, se-
gundo a consultoria Equipos.
Para a cientista política Vic-
toria Gadea, da Universidade
da República, há duas carac-
terísticas da cultura uruguaia
quedãodestaqueaocaso.“Por
umlado,apremissa daexcep-
cionalidade da instituciona-
lidade —e essa é a razão pela
qual nos causa surpresa um
da em que você se distancia
dos eventos difíceis, o senti-
mento de perda cresce”, afir-
mou ele, logo depois de par-
ticipar de uma missa e de
uma procissão em homena-
gemàsvítimasnoúltimodia13.
“Tive três casamentos, três
filhos, quatro netos, uma vida
completa. Mas meus amigos
não tiveram mais 40 anos de
vida,nãotiveramfilhosnemas
perdaseosamoresquesãoco-
muns na vida. É muito difícil.”
Platts foi um dos soldados
que desembarcaram no pri-
meiro dia de operações na
baía de San Carlos, ponto es-
colhido pelos britânicos pa-
episódioassim. Por outro, so-
mosumpaíspequeno,emque
a proximidade permeia as re-
lações”, diz à Folha. “Quando
surgem casos assim, sempre
aparece uma justificativa pe-
lo lado da proximidade. Mas
não creio que essa situação
nosdefinademaneiramacro.”
Reportagem recente do jor-
nalLaDiariarevelouqueAste-
sianohaviaatendidoaumpe-
didodaempresabelgaKatoen
Natie para entregar informa-
çõesdossenadoresMarioBer-
“
gara e Charles Carrera, envol-
vidosnatramitaçãodoprojeto
deconcessãodepartedoporto
deMontevidéu.Osparlamen-
Por um lado, há tares, de oposição, levaram a
a premissa da denúncia à Justiça, e a quebra
dosigilobancáriodoex-asses-
excepcionalidade da sorrevelouqueeleteria,defa-
institucionalidade to,recebidotransferênciasda
—e essa é a razão companhia do setor químico.
Também fazem parte da
pela qual nos investigação acusações de
causa surpresa um que Astesiano teria vendi-
do a empresas estrangeiras
episódio assim. Por planos de obras do Estado,
outro, somos um além de detalhes de equipa-
país pequeno, em mentos das Forças Armadas.
Lacalle Pou, em entrevistas
que a proximidade desde o surgimento do caso,
permeia as relações vemdizendoquedesconhecia
as atividades do funcionário,
Victoria Gadea mas que confiava nele. “Aste-
cientista política siano cuidava da nossa segu-
ra iniciar a ofensiva terrestre.
“
Conheci muitos
Ficou em combate durante
todo o período do conflito e
perdeu três amigos. O desem-
barque, em 21 de maio, deu
prisioneiros. Pensava início a uma ação que levou
à rendição argentina em 14
que eu era jovem, de junho. Os britânicos per-
mas eles eram ainda deram 255 homens na guer-
ra. Do outro lado, 649 mortos.
mais. Militares Ao relembrar aqueles dias,
profissionais Platts concorda comapercep-
são militares ção de que as forças adversá-
rias eram mal treinadas e mal
profissionais, mas equipadas, uma visão com-
aqueles jovens… partilhada por comandantes
argentinos, como o general
Gary Platts Martín Bauza, autor de livro
veterano da Guerra das Malvinas sobre o tema. “Conheci mui-
rança. Eu não entrego o que
mais valorizo na minha vida,
comoasegurançadosmeusfi-
lhos,aqualquerum.Creioque
as pessoas são boas até que se
demonstre o contrário”, disse
na última segunda-feira (28).
“Tambémseiqueninguémes-
táacimadalei,porissoespero
asconclusõesdainvestigação.”
Por outro lado, o líder uru-
guaio não conseguiu expli-
car, até agora, por que uma fi-
gura como o ex-assessor, que
carrega mais de 20 acusa-
ções ainda pendentes na Jus-
tiça —de delitos como rou-
bo e fraude a outros menos
graves—, chegou à posição
privilegiada em que estava.
Astesiano trabalhava para
a família do atual presidente
desde os anos 1990. O pai de
Lacalle Pou, Luis Alberto La-
calle Herrera, também chefi-
ou o Executivo do país, entre
1990 e 1995, quando o ex-as-
sessor foi contratado como
motorista de Sergio Abreu,
então vice. No posto, teria
ganhado a confiança de Ju-
lia Pou, senadora e primei-
ra-dama, passando a traba-
lhar com os Lacalle Herreras.
As gestões da coalizão de
centro-esquerda Frente Am-
pla derrubaram a norma de
que, para cuidar da segurança
Eduardo Anizelli/Folhapress
tos prisioneiros. Pensava que
eu era jovem, mas eles eram
ainda mais”, afirma. “Não po-
demos culpar os soldados,
porquemilitares profissionais
são militares profissionais,
mas aqueles jovens… Não te-
nho palavras para descrever
o quanto lamento por eles.”
As condições climáticas da
ilha, com temperaturas médi-
as abaixo dos 10 °C no inver-
no, agravadas por fortes ven-
tos, foram desafiadoras, diz
ele. “Sobreviver a dias de frio,
umidade e vento é uma luta.”
Ele reforça as justificativas
paraareaçãoàinvasãoargenti-
na,aodizerqueochefedaJun-
a eee
do presidente, era necessário
ter alguma especialização na
área. Com a mudança, Astesi-
ano pôde ascender ao posto.
Emboraadisputapelasuces-
sãoaindaestejalonge—aelei-
ção será realizada em 2024—,
aFrenteAmplajátemusadoo
episódioparadesgastaropresi-
dente.“Ogovernoeaoposição
veem nesse episódio incenti-
vosparaadotarumanarrativa
com fins eleitorais —e ambos
estão fazendo uso disso. Mas
oqueamaioriadosuruguaios
queréquenãosedesrespeitem
as instituições do país, tradi-
cionalmente fortes. Um rápi-
do esclarecimento dos casos
ajudariamuito”,afirmaGadea.
Lacalle Pou, por sua vez,
diz que todos os que “de-
rem espaço e estímulo a es-
sa história estão danificando
a democracia uruguaia”. En-
quanto isso, a Frente Ampla
pede que a Justiça divulgue
o conteúdo das conversas e
as trocas de mensagens en-
tre Astesiano e o mandatário
—algo que a promotora do
caso, Gabriela Fossati, afir-
mou que não fará enquan-
to a ação não for finalizada.
Desde que Lacalle Pou inici-
ou a gestão, esse é o seu mo-
mentomaisdifícil.Nomeiodo
ano, separou-se da paisagista
Lorena “Loli” Ponce de León,
companheira havia mais de
20 anos e mãe de seus filhos.
O tamanho de Montevidéu
tem exposto o presidente à
população. Ele já foi visto co-
mendo um “chivito” (sandu-
íche tradicional) em um bar
ou emendando uma longa
conversa com uma vendedo-
ra de alfajorres. Quando não
está na cidade, prefere surfar
as ondas da costa uruguaia.
200 km
U r U GUA i
buenos
Aires
A r G En T i n A
oceano
Atlântico
Ilhas
Falkland/
Malvinas
(Reino Unido)
Stanley
CHiL E
taMilitardaditaduradopaísà
época,otenente-general Leo-
poldo Galtieri, “não estava lu-
tando a boa luta”. Jeremy Lar-
ken, 83, que comandava o na-
vio de assalto Fearless no de-
sembarquedastropas,fazco-
ro: “Sentimo-nos obrigados a
proteger essas ilhas, porque
acreditamos que elas devem
pertencer a quem vive nelas”.
Durante a guerra, o princi-
pal revés britânico foi o bom-
bardeioaonavioSirGallahad,
em8dejunhode1982,quando
48 soldados morreram. Com
20 anos à época, John Lamb
estava a bordo da embarca-
ção. “O navio pegou fogo, e
as pessoas escaparam pulan-
docomcoletesalva-vidas.Fui
resgatadoemumhelicóptero”,
lembra.“Emboraeuestivesse
com dores, estava em melhor
situação que muitos outros.”
Lamb, como outros vetera-
nos levados às ilhas Falkland
em novembro, visitou memo-
riais próximos aos campos de
batalhaeoCemitérioArgenti-
no,ondeestão enterrados 237
soldados mortos na guerra.
Com seis anos quando a
guerra começou, o piloto de
helicóptero Tom Chater, mo-
rador de Stanley, diz que a
primeira lembrança que tem
são pessoas entrando deses-
peradas em sua casa. Depois,
dos aviões que passaram a
voar sob a cidade, do baru-
lho das bombas e de ter visto
um helicóptero ser derruba-
do. “Às vezes queria ter nas-
cido mais cedo, para ter mais
memórias do conflito. Às ve-
zes acho que é melhor não.”
mercado
Projeto que regulamenta lobby tem
brecha para voo de jatinho e sigilo
Aprovado na Câmara após 15 anos de debate, texto é criticado por entidades da sociedade civil
-
João Gabriel
Brasília O projeto de regula-
mentação do lobby aprovado
na Câmara dos Deputados na
semana passada, após 15 anos
de debates, abre brechas que
podem dificultar o combate à
corrupção e a fiscalização de
conflitos de interesses ou tro-
ca de favores.
Segundo entidades da soci-
edade civil que exercem a ati-
vidade ou monitorama trans-
parência do poder público,
o texto tem lacunas que po-
dem permitir, por exemplo,
oferta de voos em jatinhos.
Outro problema é a possibi-
lidade de sigilo de documen-
tos trocados entre lobistas e
agentes públicos.
O projeto teve relatoria do
deputado Lafayette de Andra-
da (Republicanos-MG) e teve
como base o projeto apresen-
tado pelo governo Jair Bolso-
naro (PL), modificado com
ajuda de outra proposta que
tramitava na Câmara, de Car-
los Zarattini (PT-SP). O texto
precisa passar pelo Senado,
onde pode sofrer alteração.
“
O projeto coloca
obrigações em
termos de informar
participantes de
reuniões, local,
mas não obriga
que os agentes
privados ofereçam os
documentos trocados
com o agente público
guilherme France
consultor da Transparência
internacional
Áreas do novo governo disputam espaço aberto no Orçamento
Brasília Em busca de recom-
posiçãoderecursospara2023,
as áreas-chave do governo
eleito Luiz Inácio Lula da Sil-
va (PT) disputam o espaço
que será aberto no Orçamen-
toumavezqueaPEC(propos-
ta de emenda à Constituição)
da Transição seja aprovada.
Dos R$ 105 bilhões hoje re-
servados ao Auxílio Brasil e
que poderão ser redistribuí-
dos em 2023, ao menos R$ 75
bilhões são pleiteados para
evitar um apagão dos setores
maisafetadosporcortesneste
ano, como Saúde e Educação.
Outros R$ 10 bilhões já estão
nos planos do novo governo.
Os grupos de trabalho da
transição mapearam o cená-
rio a partir de estimativas fei-
tas por integrantes do atual
governoJairBolsonaro(PL)de
forma a atender às mínimas
necessidades de cada área.
O texto da PEC protocola-
do no Senado na segunda (28)
prevê excluir o Auxílio Brasil
—que será rebatizado de Bol-
saFamília— dotetodegastos,
regrafiscalquelimitaocresci-
mento das despesas. O PT es-
tima R$ 175 bilhões para man-
ter o benefício de R$ 600 e pa-
garadicionaldeR$150porcri-
ança até seis anos.
A proposta ainda prevê um
dispositivoquepermiteinves-
timentos em caso de receitas
extraordinárias, até o limite
de R$ 23 bilhões. Na prática,
o extrateto subiria a R$ 198
bilhões, embora o valor não
esteja explícito na proposta.
Coordenador dos grupos
técnicos da transição de go-
verno, Aloizio Mercadante
(PT) diz ver um “total colap-
so orçamentário” e um des-
a eee
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
Um grupo de mais de 50 en-
tidades —dentre as quais es-
tão Transparência Internaci-
onal,PactopelaDemocraciae
Observatório do Clima— che-
gou a enviar sugestões de al-
teração, mas afirma que ne-
nhuma foi acatada.
Profissionais vinculados a
essas organizações dizem que
as modificações haviam sido
acatadas no relatório elabo-
rado pelo deputado Augus-
to Coutinho (Republicanos-
PE)naComissãodeTrabalho,
Administração e Serviço Pú-
blico. Porém, o texto foi des-
cartado após Lafayette apro-
var um requerimento de ur-
gência no plenário, o que lhe
permitiu elaborar um novo
parecer sobre o tema.
“O relator de plenário não é
obrigado a copiar, tem ampla
liberdade para fazer ajustes e
melhoramentos. Foi o que fiz
ouvindo e conversando com
as entidades que atuam nes-
se segmento. Acho que o tex-
to final ficou bom, tanto que
foi aprovado por aclamação
com ampla maioria, apenas
com o voto contrário do Psol”,
afirmou Lafayette.
As regras para hospitalida-
de estão entre os pontos cri-
ticados. O projeto permite o
que chama de “hospitalidade
legítima”, uma definição vaga,
segundo especialistas.
Segundo o texto, oferta de
viagensouhospedagenspreci-
sa respeitar os interesses ins-
titucionais, ou seja, não pode
servir como agrado ao agen-
te público, e o pagamento de-
ve ser feito diretamente pelo
agente privado.
No entanto, o texto esti-
pula que o valor precisa ser
“compatível, na hipótese das
mesmas hospitalidades se-
rem ofertadas a outras pes-
soas” e que cumpra “propó-
sitos legítimos”.
Para especialistas, a defini-
O presidente eleito Lula participa de reunião com centrais sindicais em Brasília
monte das políticas públicas.
Segundo o relator-geral do
Orçamento de 2023, senador
Marcelo Castro (MDB-PI), a
prioridadeéparaaáreasocial.
“Teríamosespaçoorçamen-
tário de R$ 105 bilhões para
serem preenchidos com Far-
mácia Popular, saúde indíge-
na, merenda escolar, investi-
mento,quesão[temas]muito
caros ao novo governo”, disse.
A equipe de transição tem
afirmado que o cenário é de
caos na saúde. Caso a PEC se-
ja aprovada, a área quer refor-
ço de R$ 22,7 bilhões. O valor
serviria para investimentos
em medicamentos, vacinas e
garantir o funcionamento do
SUS(SistemaÚnicodeSaúde).
O governo Bolsonaro envi-
ou a proposta de Orçamento
A17
ção pode dar margem àoferta
de diárias em hotéis de luxo e
aviagensemjatosparticulares
a agentes públicos, ou a reali-
zação de eventos em resorts.
“Deveria ser exigida uma
justificativa antes para a vi-
agem, o que impediria, por
exemplo, o pagamento de
umaviagememprimeiraclas-
se.Aquestãodosvaloresficou
muito solta. Valores compatí-
veis a outras pessoas na mes-
macondição?Nãoéumacom-
paração com pessoas de nível
médio, por exemplo. E se o
grupo for de uma pessoa só?”,
questiona Guilherme France,
consultor da Transparência
Internacional.
Ele lembra ainda que cada
entidade —por exemplo, Câ-
mara dos Deputados ou Sena-
do—éresponsávelporinstau-
rar o processo administrativo
por possíveisdescumprimen-
tos da lei, o que abre espaço
paradiferentesinterpretações
do que é ou não compatível.
Já Carolina Venuto, presi-
dente da Associação Brasilei-
ra de Relações Institucionais
e Governamentais, discorda
“
A transparência
das agendas vai
ser algo ótimo
para o controle
da imprensa, da
sociedade e até
para uso dos próprios
lobistas na hora de
elaborar estratégias
carolina Venuto
presidente da Associação
brasileira de relações
institucionais e governamentais
para 2023 com uma previsão
de corte de 42% nas verbas
discricionárias do Ministério
da Saúde, usadas na compra
de materiais, equipamentos
e para investimentos.
A reserva para o Farmácia
Popular —que distribui me-
dicamentos básicos gratui-
tamente ou com desconto de
até90%pormeiodefarmácias
privadas conveniadas— caiu
59%, de R$ 2,48 bilhões neste
ano para R$ 1 bilhão em 2023.
Na semana passada, Lula si-
nalizou que não vai faltar ver-
ba para a área. “Nosso traba-
lho será encontrar esses re-
cursos e investir no SUS, em
especial no resgate do Progra-
ma Nacional de Imunização
para retomar a confiança da
população nas vacinas”, disse.
das críticas. “As definições,
ao que me consta, são retira-
das da lei do servidor públi-
co. Fazer leis incorrendo no
vício de pensar que elas se-
rão descumpridas cria textos
com muitos detalhes e de di-
fícil compreensão. Essa defi-
nição já é de conhecimento e
utilização [pelos agentes pú-
blicos], então o projeto aju-
da ao criar o mecanismo de
questionamento”, diz.
Outro ponto problemático,
segundo entidades, é não pre-
ver a obrigação de que emails
ou documentos trocados en-
tre lobistas e agentes públicos
sejam tornados públicos —a
lei obriga a transparência só
quanto a detalhes de encon-
tros, ainda que virtuais.
“O projeto coloca obriga-
ções em termos de informar
participantes de reuniões,
local, mas não obriga que os
agentes privados ofereçam os
documentos trocados com o
agente público. Por exemplo,
se o agente privado elabora
um estudo para subsidiar a
aprovação de uma lei, em te-
se, para entendermos o pro-
cesso de elaboração da polí-
tica pública, precisaríamos
ter acesso a esse documen-
to”, diz France.
Ele sugere que deveria ser
anexado aos projetos de lei
um relatório com as informa-
ções das entidades interessa-
das e que atuaram em seu de-
bate e elaboração, e critica o
fato de que cabe só ao agen-
te público, e não ao lobista, o
dever da transparência ativa.
“Quando temos as informa-
ções dos dois lados, a gente
consegue comparar e verifi-
car se elas são verídicas. Na
forma que temos, é indireto:
o agente privado passa a in-
formação para oagente públi-
co e o agente público registra
no órgão de transparência.”
Para Venuto, no entanto, a
Pedro Ladeira- 1º.dez.22/Folhapress
Na Educação, a equipe de-
finiu recomposição de R$ 12
bilhões no MEC. Do total, há
planos para destinar R$ 1,5 bi-
lhão ao PNAE (Programa Na-
cional de Alimentação Esco-
lar). O dinheiro federal para
merenda varia hoje de R$ 0,32
a R$ 1,07 por dia por aluno.
Com relação a universida-
des e institutos, a ideia é que
os recursos de investimentos
sejam recompostos à realida-
de de 2014. Na proposta orça-
mentária para 2023 encami-
nhada pelo governo Bolso-
naro, a verba para o ensino
superior com essa finalidade
soma R$ 232 milhões. Há oito
anos, o valor foi de R$ 1,6 bi-
lhão (corrigido pela inflação).
No Desenvolvimento Soci-
al, estima-seque sejam neces-
$ ser algo ótimo para o controle
O que prevê o PL do
Lobby aprovado na
Câmara
RegRAs
A lei institui os limites da
relação entre lobistas e
agentes públicos e diz que
a relação entre as partes
deve respeitar os princípios
da transparência, ética,
integridade e boa-fé
Punições
A pena para o agente
público que descumprir
a lei vai de advertência
até exoneração do
cargo; já o lobista pode
ter a autorização para
atuar suspensa
Assédio
Omitir informações,
prometer ou aceitar
vantagens e presentes
indevidos, em benefício
próprio, ou assediar
participantes de reuniões
são consideradas
infrações à lei
HosPitAlidAde
A lei define os limites para
oferta de hospedagem
e transporte por parte
de lobistas para agentes
públicos, mas tem brechas
que podem permitir o
pagamento de serviços
luxuosos para políticos
documentos
Apesar de exigir a
transparência sobre
interações e reuniões,
virtuais ou presenciais, a
lei não obriga as partes a
divulgarem documentos
—emails ou estudos—
trocados entre elas
sários R$ 2 bilhões para man-
teroAuxílioGás.Aequipeain-
da mira R$ 500 milhões pa-
ra o PAA (Programa de Aqui-
sição de Alimentos) e R$ 2,6
bilhões para o Suas (Sistema
Único de Assistência Social).
Já o grupo da Justiça e Segu-
rança Pública pretende pedir
ao menos de R$ 400 a R$ 500
milhões acima do previsto no
Orçamentopara2023paraevi-
tar a interrupção de serviços.
O valor seria principalmen-
te para complementar o orça-
mento da Polícia Federal, Po-
líciaRodoviáriaFederaleFun-
do Penitenciário Nacional.
O grupo afirma que faltam
recursosparapagardiáriasde
agentes e pede um reforço de
R$ 200 milhões. A falta de ver-
ba atinge de emissão de pas-
leidevepriorizarapenasasin-
terações formais, ou seja, os
encontros. E acrescenta que
exigir a publicidade por parte
dos lobistas poderia aumen-
tar custos e dificultar a atua-
ção da sociedade civil.
“Isso pode acabar encare-
cendo a atividade e trazendo
um efeito danoso, a ida para
a informalidade, como acon-
teceu nos Estados Unidos. A
transparênciadasagendasvai
da imprensa, da sociedade e
até para uso dos próprios lo-
bistas na hora de elaborar es-
tratégias”, diz.
Juliana de Paula, consulto-
ra legislativa do ISA (Institu-
to Socioambiental), entidade
que atuou ativamente no de-
bate sobre o projeto, sugere
que o texto deveria prever o
acesso de partes de interesses
contrários à agenda entre um
parlamentar e uma empresa.
Para ela, o fato de ser a au-
toridade do poder ao qual o
agente responde a instância
responsávelporinstaurarpro-
cessos administrativos tam-
bém pode trazer problemas.
“No caso de deputados, o
presidente da Câmara; sena-
dores, o presidente do Sena-
do. A questão é que essas não
são autoridades imparciais,
elas estão na política e têm in-
teresses. O processo deveria
ser instaurado por um comi-
tê imparcial, não pela autori-
dade”, diz.
Lafayette afirmou que utili-
zou,paraasregrasdehospita-
lidade, de publicidade de do-
cumentosedoprocessojulga-
dor, o texto de leis já existen-
tes, como o Estatuto do Ser-
vidor Público, o sigilo de cor-
respondência e a Lei do Pro-
cesso Administrativo.
“Não inovei nada, busquei
sempre que possível manter
o que já existe em lei em vi-
gor”, afirmou.
Roberto Livianu, procura-
dor do Ministério Público de
SãoPauloepresidentedoInac
(Instituto Não Aceito Corrup-
ção), diz que o texto está “vici-
ado” e busca “legalizar a cor-
rupção”.
“Pretende-se simplesmente
calar as críticas, além de legi-
timar a oferta de presentes a
agentespúblicosearealização
de seminários e feiras luxuo-
sas por empresários.”
saportes a operações de segu-
rançaecontroledefronteiras.
Para retomar obras paradas
na Habitação, o valor apura-
do inicialmente é de R$ 2,6 bi-
lhões, sendo cerca de R$ 1 bi-
lhão para dar continuidade
a obras do Minha Casa, Mi-
nha Vida.
Na área de Desenvolvimen-
to Regional, a equipe diagnos-
ticou déficit de R$ 2 bilhões.
O grupo do Meio Ambiente
diz não ter calculado o valor,
masháquatrofrentesquepre-
cisam ser reestruturadas: fis-
calização ambiental, contro-
le de queimadas, redução do
desmatamento e recomposi-
ção do quadro de servidores.
Nathalia Garcia , Mateus
Vargas , Paulo Saldaña , Ra-
quel Lopes e João Gabriel
A18 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
mercado entrevistas com o empresariado
painel s.a.
Fabricio Bloisi
Leis trabalhistas
precisam conciliar
proteção e flexibilidade
Para CEo do iFood, legislação é muito antiga e não leva em conta
novas formas de emprego trazidas pela internet e pelos aplicativos
Ifood
São Paulo Diante da perspec-
tiva de mudanças na regula-
mentação das atividades dos
trabalhadores por aplicativos
nagestãodopresidenteeleito,
Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
o CEO do iFood, Fabricio Bloi-
si, diz que a empresa está ani-
mada para “criar um ambien-
te que funcione melhor”.
Ele afirma que a CLT (Con-
solidação das Leis do Tra-
balho) foi importante há 80
anos,mashojeomercadopre-
cisa de inovação, tecnologia e
flexibilidade. Segundo Bloisi,
o ideal seria um equilíbrio ca-
paz de “abraçar o futuro” e ga-
rantir proteção social.
“Apesar de estarmos sain-
do de uma eleição de pola-
rizações, em que metade da
população acha que a outra
metade está completamen-
te errada, e todo o mundo se
vê na metade certa, nós acre-
ditamos que os dois lados são
importantes: proteção soci-
al e liberdade econômica pa-
ra fazer empresas funciona-
rem bem”, diz.
* empresas vão ser criadas. No-
Lula disse que vai mexer na
proteção dos trabalhadores
de aplicativo, que são o cer-
ne de negócios como o iFo-
od. Isso deve ser um assunto
grande no próximo governo.
Comovocêspretendemsepo-
sicionar? A gente se posici-
onou sobre isso na Folha, há
umano,comumartigoimpor-
tante dizendo que nós acre-
ditávamos precisar de novas
relações trabalhistas que nos
dessem flexibilidade e auto-
nomia para os trabalhadores,
mas também proteção social.
A CLT foi um avanço superim-
portante em 1940, quando foi
escrita, e contribuiu bastante
para equilibrar o mercado há
80 anos. Hoje, a gente tem um
mercadoqueprecisadeinova-
ção,novosprodutosdetecno-
logia, flexibilidade, que distri-
buitrabalho.Relaçõesaconte-
cem através de telefones celu-
lares. Precisamos de leis que
permitam que o Brasil conti-
nue gerando oportunidades
de trabalho, mas conectado
com para onde a gente está
indo. Quanto a colocar mais
energia em direitos sociais, a
gente acha isso ótimo. A gen-
te tem empurrado esse tema.
Achoqueéumaoportunidade
para o Brasil ser um país que
consegue ao mesmo tempo
abraçar o futuro, mas garan-
Joana Cunha
painelsa@grupofolha.com.br
Fabricio Bloisi na sede do iFood, em Osasco (SP)
iFood
Fundada há 11 anos, a empresa recebe mais de 65 milhões de pedidos por
mês em seu aplicativo e possui aproximadamente 300 mil estabelecimentos
cadastrados, com cerca de 200 mil entregadores em 1.700 municípios brasileiros.
atua em outras frentes complementares, como fintech, mercado e benefícios
tindo proteção social, que é
uma necessidade de todas as
empresas.Então,estamosani-
mados para que a gente con-
siga andar com essa pauta no
ano que vem.
Algumrepresentantedevocês
fez contato com membros da
equipedeLulaoucomelepró-
prio sobre esse assunto após
a eleição? O iFood fala com
todas as vertentes políticas,
sempre reforçando nossa po-
siçãodequeagentequermais
proteção social, mantendo a
flexibilidade, que inclusive é
uma demanda dos próprios
entregadoreseparceiros,para
que a gente possa criar mais
Bruno Santos/Folhapress
trabalho, manter o mercado iFood? Nós acreditamos em
funcionando e bem, também equilíbrio. Achamos que ser
com as proteções sociais que inovador e investir em educa-
são necessárias. A gente fala çãoenofuturoeserliberalpa-
com todos os partidos e ver- ra criar novos negócios é fun-
tentes politicas há dois anos damental para gerar valor. E,
sobre esse assunto. também, dividir esse valor é
essencial para uma sociedade
E depois da eleição, não hou- menos desigual. Apesar de es-
ve nenhum contato? Depois tarmos saindo de uma eleição
da eleição não falamos ainda, de polarizações, em que me-
mas pretendemos trabalhar tade da população acha que a
com o novo governo o ano outra metade está completa-
queveminteiro,animadosem mente errada, e todo o mun-
criar um ambiente que funci- do se vê na metade certa, nós
one melhor. acreditamos que os dois la-
dos são importantes: prote-
Ter as regras dos trabalhado- ção social e liberdade econô-
res de aplicativo na CLT invi- micaparafazerempresasfun-
abilizaria negócios como o cionarem bem.
O que seria um exemplo na
prática? Licença-paternida-
de e maternidade para o en-
tregador,porexemplo? Essa
dialética do tipo “tem direitos
sociais ou não tem” não existe
na nossa cabeça. Temos uma
plataforma que gera oportu-
nidades para 2 milhões, 3 mi-
lhões de pessoas, e isso tem
que acontecer com direitos
sociais que sejam razoáveis,
porém conectadoscom o mo-
mento atual da tecnologia. O
problema das leis atuais é que
elasforamescritasemummo-
mento em que não existiam
telefones, nem smartphone,
nem aplicativos. A maior par-
tedostrabalhadoresdeaplica-
tivo —e não só os de aplicati-
voscomotambémosentrega-
dores, pessoal de carro, o pes-
soal que faz manutenção em
casa ou limpeza— não se en-
caixa no formato de CLT que
existe hoje. Tem muitos pro-
fissionais que trabalham sob
demanda ou por hora. A gen-
te precisa de uma lei que ga-
ranta proteção social, seguri-
dade social, ganhos mínimos,
masquefuncionenummode-
lo mais flexível.
O que pode vir de tecnologia
para ajudar nessa questão e
em outras? A gente está só
começando tudo de tecnolo-
gia. As pessoas sempre falam
que as mudanças foram mui-
to rápidas nestes últimos dez
anos. Nos próximos dez terá
muito mais mudanças, mais
rápidas ainda. Passou o tem-
po dos aplicativos, das redes
sociais ou de vídeos na inter-
net. O que está para a frente
é muito mais.
A gente tem inteligência ar-
tificial mudando todos os seg-
mentos, de fotografia ao jor-
nalismo, ao mundo financei-
ro. Tem impacto de robótica,
de tecnologia verde. Tem de-
manda não só em produção
com mais baixo carbono co-
mo energia renovável. Biolo-
gia sintética abre espaço pa-
ra inúmeras mudanças de co-
moomundointeirofunciona.
E isso é uma oportunidade,
se a gente pensar que novas
vos valores serão criados pa-
ra as pessoas, e a gente tem
a oportunidade, em um pa-
ís emergente que somos, pa-
ra, em pé de igualdade, lutar
para construir esse futuro,
que eu acho que vai ser mui-
to melhor.
Na briga dos aplicativos no
Cade[ConselhoAdministrati-
vo de Defesa Econômica] por
causa da exclusividade com
os restaurantes, qual é a so-
lução? O iFood, nos últimos
anos, focou o que a gente tem
que focar, que é o melhor pro-
duto para o cliente, para o en-
tregador e para o restauran-
te. Se você comparara satisfa-
ção do nosso cliente, entrega-
dor e restaurante com os con-
correntes, é consistentemen-
te muito maior no iFood. Al-
guns concorrentes nossos, às
vezes, dizem que é por causa
da exclusividade que o iFood
está indo melhor que os con-
correntes. Na verdade, nós te-
mos dados de todo o Brasil de
que a gente oferece o melhor
produto. O iFood tem alguns
restaurantes exclusivos, per-
centual relativamente peque-
no.Assimcomoosconcorren-
teslatino-americanos,osame-
ricanos, os europeus e os chi-
neses têm, o que é uma prá-
tica completamente regular
a eee
e legal nesse mercado.
O Cade nos pediu alguns es-
clarecimentos sobre isso. Nós
demos e vamos continuar o
mais próximo possível do Ca-
de e das autoridades. É legíti-
mo e normal eles estarem en-
tendendocomofuncionaadi-
nâmica competitiva para ga-
rantir que a gente está num
ambiente competitivo que
funciona bem.
Valelembrarquealgunsdos
concorrentesfazem,também,
contratos exclusivos iguaizi-
nhos aos do iFood nos países
de origem deles. Mas eles ten-
tam competir criticando al-
go que eles fazem exatamen-
te igual. Minha sugestão é:
melhora o produto, entrega
mais. Quem sabe o cliente vai
ficar mais feliz e vai contratar
mais os outros concorrentes.
Vamos continuar fazendo is-
so no iFood também.
Comoestáomercadodebene-
fícios,noqualvocêsentraram
nos últimos anos? O merca-
do de benefícios tem duas ou
trêsgrandesempresashámui-
tos anos oferecendo produto
relativamente igual. O gover-
no alterou algumas leis há um
ou dois meses possibilitando
que mais gente possa ofere-
cer novos produtos. Temos
que atender melhor o traba-
lhador, oferecer melhor pro-
duto, serviço, aplicativo. Ho-
je não é assim que funciona.
O mercado de benefícios é
muito focado em que as em-
presas de benefícios vendam
para as empresas contratan-
tes, e ninguém está pensando
como o cliente usa isso me-
lhor. Estamos felizes com o
ajuste da lei que permite co-
locar o cliente final no cen-
tro do produto. O iFood é pe-
quenininho nesse mercado.
Atendemos 600 mil pessoas,
mas é um mercado de deze-
nas de milhões. A gente acha
que pode ajudar com a nossa
tecnologia.
Como ficam os negócios com
aaquisiçãodafatiadaProsus?
Muda a perspectiva de lucra-
tividade? Quem comprou a
totalidade do iFood foi a Mo-
vile, empresa que eu fundei
há 20 anos e que sempre foi a
dona do iFood desde o início.
Então, o iFood continua sen-
do da Movile, da qual a Pro-
sus é o principal sócio. Já era
o principal sócio há dez anos.
Então não mudou quem é o
sócio nem quem é o dono do
iFood,nãomudounadadees-
trutura societária.
Quando vamos ver o drone
entregar pizza? O iFood já
entrega com drone, há um
ano e meio, em algumas ci-
dades do Brasil. A gente tam-
bém entrega com robôs em
alguns locais. Nosso robô se
chama Ada. E continuamos
investindo em inteligência ar-
tificial para ter mais automa-
ção. Já é uma realidade e vai
ser uma realidade cem vezes
maior no futuro.
h vejA vídeo dA
entrevistA em
folha.com/fabriciobloisi
a eee
A política muito econômica de Alckmin
Vice-presidente eleito fala de diretrizes, faz pontes com o setor privado e baixa fervuras
- sassem de modo regular com
Vinicius Torres Freire
Jornalista, foi secretário de redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA)
Geraldo Alckmin não gosta de
déficit, mais por temperamen-
to do que por teoria. O vice-pre-
sidente eleito não se dá ares de
entender de economia, jamais
manteve um grupo de econo-
mistas à sua volta nem se en-
volve nos debates de econo-
mia do governo de transição.
No entanto, Alckmin tem bai-
xado várias fervuras e passa
recados econômicos. Liga pa-
ra economistas conhecidos ou
recebe, do seu pequeno círcu-
lo, relatos ou relatórios, co-
mo aqueles sobre como o cal-
do engrossou nas taxas de ju-
O economista Affonso Celso Pastore em seu escritório no bairro de Pinheiros (SP)
PT tem visão ideológica
sobre gasto, diz Pastore
Para economista, reestruturação de despesas evitaria expansão fiscal
entrevista
affonso celso
pastore
-
Alexa Salomão
São Paulo O economista
Affonso Celso Pastore é um
durocríticoàpropostadeam-
pliar gastos e criar exceções
fora do teto, como propõe o
governo eleito de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) por meio da
PEC (proposta de emenda à
Constituição) da Transição.
Em sua avaliação, a opção
do futuro governo pelo au-
mento de despesas é basea-
da numa visão de mundo e
da política específica.
“OPTacreditaquegastopú-
blicoproduzcrescimentoeco-
nômico.Nãoéquetemosuma
visão econômica distorcida.
Temos uma visão ideológica.”
* ela seja, precisa levar à gera-
O governo tem dito que pre-
cisa da PEC para garantir
ações na área social, e o sr.
tem se posicionado contra
o valor e o prazo apresen-
tados. Pode explicar as ra-
zões?Primeiro,vamosdistin-
guir responsabilidade fiscal e
social. Elas não são incompa-
tíveis de jeito nenhum.
Um país com renda per ca-
pitabaixacomooBrasilecom
um nível de pobreza absolu-
ta muito grande tem que ter
uma atitude mais positiva em
relação ao combate à pobre-
za. Você só resolve esse pro-
blemacomcrescimento,gera-
ção de oportunidades para as
pessoasexcluídas,ensinopara
crianças na baixa renda. Mas
ros da praça financeira, com
o que ficou preocupado. Se te-
ve oportunidade de dizer essas
coisas a Luiz Inácio Lula da
Silva, não foi possível apurar.
Mas tem dito e feito coisas de
certa relevância, suavemente.
Ainda que dissesse por aí que
não sabia de nada do ministé-
rio, ajudou a conter o lobby que
algumas figuras graúdas da fi-
nança faziam contra a nomea-
ção de Fernando Haddad para
o Ministério da Fazenda. Na se-
mana passada, boatos da ar-
raiamiúdaemédiadomercado
o nomeavam para a Fazenda.
Efeitos da PEC da Transição
Governo quer alterar regra do teto para tentar cobrir gasto com benefício
assistencial, que foi elevado, mas valor e prazo da flexibilização afetam dívida
1 Transferências de renda
Em R$ bilhões aos preços de 2023 (deflacionados pelo Boletim Focus)
Bolsa Família
Auxílio Emergencial
Auxílio Brasil
500
400
300
200
100
40,9
0 0
2016
Fonte: ACPastore
isso é uma atuação de longo
prazo. No curto prazo, é pre-
ciso transferências de renda.
Antes do governo Bolsona-
ro, pagavam-se R$ 190 por fa-
mília, em média, e o Bolsa Fa-
mília era de R$ 40 bilhões ao
ano, mais ou menos. Veio a
pandemia, e o valor foi mul-
tiplicado. O benefício foi pa-
ra R$ 400. Depois, já com um
olho na popularidade e na
eleição, foi aprovado um pa-
gamento adicional de R$ 200,
totalizandoR$600,umnúme-
ro significativamente superi-
or ao inicial.
Quando você olha para es-
trutura da despesa pública,
vai ver que a Previdência, que
já teve uma reforma, e o pes-
Políticos da transição dizem
que será ouvido na nomeação
de gente para Planejamento,
Indústria e Comércio e BNDES.
Faz pontes com pessoas que
possam aconselhar Lula, for-
mal ou informalmente.
Nas últimas três semanas,
tentou evitar, com jeitinho, que
dirigentes do PT e alguns de
seus parlamentares continu-
assem a malhar o espantalho
do “mercado”, na sequência do
que fizera Lula nos dias 9 e 10 de
novembro.Obarulhodiminuiu.
Procurou reforçar a ideia de
que Lula deveria ter um con-
Adriano Vizoni/Folhapress
399,8
175
119
23,8
2020 0
2022 2023
soal administrativo, que não
vai ter reforma tão cedo, for-
mam um pedaço muito gran-
de dos gastos. Tem também
educação, saúde. Enfim, a ri-
gidez orçamentária é grande.
No entanto, existem outros
gastos nos quais é possível ca-
tar recursos. No Imposto de
Renda da Pessoa Física, tem
mais R$ 45,2 bilhões para co-
brir rendimentos não tribu-
táveis e outros R$ 30 bilhões
de deduções previstos no Or-
çamento de 2023.
Dentrodegastostributários
tem o Simples Nacional. São
R$ 88,5 bilhões por ano, que é
o dobro de um Bolsa Família
antigo.TemumaZonaFranca
deManaus,queestágastando
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
ou vontade de trabalhar de mo-
do permanente com Lula nem
o governo quereria uma som-
bra muito próxima. Mas Alck-
min gostaria de fazer com que
alguns desses figurões conver-
Lula. A “frente ampla” tem de
continuar.
Alckmin fala de modo suave,
mas determinado, sobre certas
selho de assessores econômi- diretrizes do governo Lula. Se
cos organizado. Essa ideia pas- é para valer, sabe-se lá, mas o
sou a circular dias depois do vice eleito é o pacificador nas
segundo turno e submergiu. relações com o setor privado.
Voltou à tona quando Edmar Na transição, apenas Alck-
Bacha, Arminio Fraga e Pedro min diz com todas as letras
Malan publicaram uma carta que Lula 3 virá a ter um plano
a Lula, nesta Folha, depois que de conter a despesa de modo a
o presidente eleito causou tu- conter o endividamento públi-
multo com discursos que me- co. Inspirava-se, de início, em
nosprezavam a situação ru- um plano organizado sob a li-
im do endividamento público. derança de Felipe Salto, secre-
Agora, se pensa em um con- tário da Fazenda paulista. Su-
selho em um formato que per- gere nas internas que o paco-
mita a participação de figurões tão de gastos extras não pas-
econômicos. Nem esses gran- se de R$ 135 bilhões.
des nomes têm disponibilidade Em encontros públicos e pri-
affonso mais que o Bolsa Família anti-
celso go, R$ 55,2 bilhões. Tem mais
pastore, 83 R$54bilhõesparaagricultura
e agroindústria. Mas não vejo
Economista o Lula cortando essas coisas.
e doutor
na mesma O sr. está dizendo que exis-
área pela tem alternativas dentro da
USP, onde própriaestruturadegastos?
também foi O Orçamento foi capturado
professor. por vários grupos. O grupo
Integrou a da Zona Franca de Manaus e
equipe do opessoaldoSimplesNacional
Ministério estão entre eles. O orçamento
da Fazenda secreto é uma captura. Se vo-
na gestão de cê agir sobre as capturas, terá
Delfim Netto um enorme espaço fiscal para
e presidiu combater a pobreza.
o Banco Lula quer cumprir a pro-
Central no messa de campanha de man-
governo do ter os R$ 600 e dar mais R$ 150
general João por criança. Já estão incluídos
Figueiredo, no Orçamento os R$ 400. São
último necessáriosR$52bilhõespara
presidente completarmaisR$200ecerca
do regime de outros R$ 15 bilhões para
militar dar os R$ 150 por criança. Is-
so soma quase R$ 70 bilhões,
esse é o extrateto para cum-
prir essa promessa.
MasoOrçamentode2023en-
viado pelogoverno Bolsona-
ro tem vários outros bura-
cos, não? É evidente que tem
outros defeitos. Um deles é a
correção. O teto de 2023 é cor-
rigido pela inflação de 2022.
No Orçamento está previsto
uma inflação de 7,2%. A infla-
çãovaidar6%.OMarcosMen-
des [colunista da Folha], um
sujeito muito responsável, fez
várias análises dizendo que
com R$ 110 bilhões se resolve
o problema e mantém o teto.
A negociação da PEC sinali-
zouquehaveránovoarcabou-
2 Trajetória da dívida bruta ço fiscal no futuro, mas sem
Em % do PIB explicar qual. Como sr. viu
Observado isso? Inverteram a ordem
BF total fora por 4 anos quando começaram a discus-
R$ 110 bi fora do teto em 2023 são pelo gasto fora do teto —e
100 a ordem dos fatores aqui alte-
86,9 88,7 ra o resultado. A gente fica ba-
80 tendo na tecla de respeitar a
65,5 84 regra, porque é sempre me-
60 lhor ter uma regra do que to-
mar decisões discricionárias.
40 O Brasil tem uma taxa de ju-
rosrealmaiordoqueataxade
20 crescimento econômico sus-
tentável. A dívida pública é a
maior entre os países emer-
2015 2020 2026 gentes. Quando essa dívida
pública sobe, sobem também
os prêmios de riscos.
A regra fiscal, qualquer que
“
O Orçamento foi
ção de superávits primários
suficientemente grandes pa-
ra cobrir o crescimento da
dívida. Porém, estamos aqui
capturado por vários falando de tirar gastos do te-
to, quando deveríamos estar
grupos. A Zona nos concentrando numa dis-
Franca de Manaus e cussão de alternativas que le-
vem a superávits.
o pessoal do Simples
Nacional estão entre O governo Bolsonaro furou o
eles. O orçamento teto e se orgulha de dizer que
fez superávit primário. Como
secreto é uma o sr. vê isso? A relação da dí-
captura. Se você agir vida/PIB caiu para os 75% que
estavam em 2019. Mas vamos
sobre as capturas, dar um passo atrás.
terá um enorme A filosofia do que deve ser
feito está na Lei de Responsa-
espaço fiscal para bilidade Fiscal. Você não po-
combater a pobreza de criar despesa permanente
A19
mercado
vados, diz que Lula 3 não vai
revogar nada da reforma tra-
balhista (em especial o acorda-
do sobre o legislado, o impos-
to sindical e as normas que li-
mitam o número de processos
trabalhistas). Haveria apenas
“aperfeiçoamentos”. Vende a
ideia de que mais abertura co-
mercial é ideia firme de Lula 3.
Alckmin observa nas inter-
nas que a coalizão parlamen-
tar está rala e mal costurada,
com Lula por ora muito depen-
dente da boa vontade de Ar-
thur Lira (PP-AL), atual e pro-
vavelmente futuro presidente
da Câmara. Portanto, sugere
que a equipe de lideranças do
governo no Congresso tenha
menos petistas e mais aliados.
Alckmin é, formalmente, o
coordenador-geral da transi-
ção. Tem tentado sê-lo de fa-
to, sem entrar em bola dividi-
da e não dando passo além da
árealimitadaporLula,fazendo
uma política muito econômica.
emcimadereceitatransitória.
O que fez Guedes [ministro
da Economia]? Fez receitas
transitórias e gerou aumen-
tos transitórios de despesas.
Com o Auxílio Brasil foi isso.
Sim. Elevou o valor do auxí-
lio durante a campanha, mas
não orçou para 2023. Pode-
mossercríticosaGuedes,mas
nisso ele foi coerente.
Foi eleitoreiro, não? Sim, e
também deixou fora do Or-
çamento de 2023. Agora vem
cá. Tem a questão do superá-
vit. Ele foi ocasional, gerado
por surpresas inflacionárias
que levaram à alta na recei-
ta tributária. Esse fenômeno
aconteceu no mundo inteiro.
O documento Monitor Fis-
cal, do FMI, faz uma compa-
ração de como teria evoluído
a dívida de vários países de
2020 a 2022 se fosse computa-
doapenasoefeitodasurpresa
inflacionária, não o aumento
de despesa. Essa surpresa in-
flacionáriateriareduzidoadí-
vida de muitos países de ma-
neira substancial. Para o Bra-
sil,areduçãodadívidateriasi-
do de 16 pontos percentuais.
Ela caiu 10 pontos. Significa
que boa parte da surpresa in-
flacionária sobre a receita foi
usada para aumentar gastos.
A fotografia da situação fis-
cal de 2022 é distorcida. A len-
te não corrige o efeito da sur-
presa inflacionária, que ago-
ra acabou. E, sem ela, estarí-
amos em déficit neste ano. O
superávit primário de 1% re-
gistrado em outubro viraria
já um déficit.
Qualquer extrateto daqui
para a frente, por mais con-
tido, vai elevar a relação dívi-
da/PIB. Essa PEC faz ela su-
bir mais. Bom, a gente precisa
daquiparaafrenteremanejar
gastos.Enãotemosumaequi-
peeconômicadiscutindoisso.
Diante de tudo isso, o que sr.
acredita que o PT sinaliza?
O PT não acredita que taxa de
jurosbaixaproduzcrescimen-
to econômico. O PT acredita
quegastopúblicoproduzcres-
cimento. Vou citar uma petis-
ta que chegou à Presidência,
Dilma: gasto é vida. Não é que
temos uma visão econômica
distorcida. Temos uma visão
ideológica.
Em certo sentido, é isso que
está sendo discutido com es-
sa PEC que aumenta gastos.
Mas, com esse gasto a mais,
sobe o risco, a taxa de juros
tambémsobe,eataxadecres-
cimento cai.
Não estou ameaçando nin-
guém. Não é o mercado rea-
gindo de uma maneira irra-
cional. É assim que funciona.
Temos que ver o que está
por trás da motivação de au-
mentar o gasto. Por trás dis-
so está mostrar que o PT no
governo é capaz de fazer mais
desenvolvimento econômi-
co que outros países. Não vai
funcionar. Expansão fiscal
produz aumento de prêmio
de risco, quer o PT goste do
mercado ou não.
A20 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 a eee
mercado

Desequilíbrio racial na renda trocesso de 0,109 ponto, pas-

sandode-0,514,em2004,para
-0,623, ambos no patamar de
dominância branca —mas se
“Historicamente, em mo-
mentos de crise, mesmo ha-
vendo uma redução da desi-
gualdade, as pessoas negras

cresce mais em estados ricos

Em duas décadas, desigualdade de rendimentos fica estagnada no brasil
-
Douglas Gavras
São Paulo Nas últimas duas
décadas, os estados mais ri-
cos do país viram aumentar
o desequilíbrio de renda en-
tre negros e brancos. Consi-
derando todo o Brasil, a desi-
gualdade de rendimentos fi-
cou estagnada, mesmo com
o avanço na democratização
da educação superior.
Mantido o ritmo atual, o pa-
ís deve demorar mais de 400
anos para atingir a igualdade
de renda entre negros e bran-
cos, enquanto o equilíbrio pa-
ra a educação deve ser con-
quistado em 34 anos.
As conclusões são da mais
recente edição do Ifer (Índi-
ce Folha de Equilíbrio Raci-
al), que considera os avanços
e retrocessos na representa-
tividade de pretos e pardos
em relação a brancos entre
2001 e 2021.
OIferéumindicadorquedi-
mensiona a distância entre a
desigualdade racial e um ce-
náriohipotéticodeequilíbrio,
em que a presença de negros
nas faixas de maior renda ou
escolaridade,porexemplo,re-
flete seu peso na população a
partir dos 30 anos.
Ele foi elaborado em 2021,
pelos pesquisadores Sergio
Firpo, Michael França (am-
bos colunistas da Folha) e
Alysson Portella.
Além da renda, a ferramen-
ta capta o equilíbrio no aces-
so ao ensino superior e na
longevidade, variando de -1 a
1 ponto. Quanto mais próxi-
mo de -1, maior é a represen-
tação dos brancos em relação
a de negros; já valores próxi-
mos a 1 apontam um cenário
em que pretos e pardos esta-
riam em vantagem.
Os dados mostram que, en-
quanto o indicador de forma-
ção de nível superior teve um
avanço mais robusto, de 0,223
pontonoperíodo,oindicador
nacional de renda melhorou
apenas 0,068 ponto, de -0,516
para -0,448.
Para os estados, os formula-
dores do índice construíram
uma linha do tempo que vai
de 2004 a 2021, considerando
asmédiasmóveisdetrêsanos.
Os estados mais ricos do pa-
ísficaramnalanterna.EmSão
Paulo, o indicador teve um re-
aproximando do pior nível do acabam sendo afetadas mais
índice, em que os negros esta- do que as brancas, pois a rede
riam completamente excluí- de proteção social é menor”,
dos. No Rio de Janeiro, a pio- dizMarceloPaixão,economis-
ra foi de 0,034 (de -0,514 para ta e professor da Universida-
-0,623 ponto). de do Texas (EUA).
Naoutraponta,oAmapáfoi Na avaliação do professor, o
oúnicoestadoadeixaropata- racismo dificulta o aproveita-
mar de dominância branca e mento pela população negra
Como interpretar o índice, em pontos atingir o chamado equilíbrio das políticas públicas exis-
relativo: passou de -0,256 pa- tentes para redução da desi-
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6 -0,7 -0,8 -0,9 -1 ra -0,160 ponto. gualdade. Ainda que uma fa-
Apesar de terem um merca- mília negra de baixa renda te-
do de trabalho mais dinâmi- nha acesso aos mesmos bene-
co, os estados do Sudeste pe- fícios que uma família bran-
Brancos Dominância Relativo Dominância Negros cam pelo maior isolamento ca pobre, o preconceito raci-
excluídos negra equilíbrio racial branca excluídos das populações pretas e par- al continuará deixando os ne-
das em suas periferias, refor- gros em desvantagem.
çando dinâmicas excluden- “O investimento, por si só,
Estados mais ricos veem desigualdade de renda aumentar, em pontos tes em um mesmo municí- em políticas universais, como
IFER Renda pio, diz Portella. a Lei de Cotas, não é capaz de
2004 2021 “Em regiões mais ricas, há reduzir a desigualdade. Não
-0,248 Roraima -0,160 Amapá Amapá se destaca uma estratificação mais visí- podemos confundir a ampli-
-0,254 Sergipe -0,215 Rondônia em igualdade de vel, com repressão à mobili- ação do acesso com a redu-
-0,256 Amapá -0,261 Paraíba renda; Norte e dade social. Nas grandes ci- ção das desigualdades”, afir-
-0,298 Maranhão -0,263 Acre Nordeste se saem dades do país, o negro parece ma Harvey, do Baobá.
-0,299 Piauí -0,276 Roraima melhor no ranking condenado a viver no estrato “O racismo entranhado na
-0,326 Santa Catarina -0,297 Maranhão social em que nasceu”, afirma sociedade não será supera-
-0,344 Rio Grande do Sul -0,299 Rio Grande do Sul Giovanni Harvey, diretor-exe- do da noite para o dia. Eu,
-0,345 Rondônia -0,300 Goiás cutivo do Fundo Baobá, que por exemplo, já fui substitu-
-0,375 Pará -0,314 Bahia apoia projetos de inclusão da to de duas ministras de Esta-
-0,391 Acre -0,318 Piauí população negra. do, mas continuo sendo uma
-0,399 Rio Grande do Norte -0,329 Pará Paraespecialistas,barreiras pessoa negra. Sempre que en-
-0,406 Ceará -0,339 Amazonas sociaisimpedemqueamenor trar em um ambiente, o pri-
-0,416 Bahia -0,341 Sergipe
desigualdade racial na edu- meiro olhar que vou receber
Goiás
cação também se reflita em seráodequenãodeveriaestar
-0,423 -0,348 Santa Catarina
um maior equilíbrio na ren- frequentando aquele lugar.”
-0,432 Paraíba -0,354 Rio Grande do Norte
da, mesmo para pessoas com Ele diz estar otimista com
-0,439 Tocantins -0,370 Mato Grosso
igual formação. a maior conscientização da
-0,442 Amazonas -0,409 Alagoas “A rede de contatos dos jo- sociedade. Setores da socie-
-0,448 Pernambuco -0,412 Tocantins vens de famílias brancas e ri- dade civil e do empresariado
-0,462 Espírito Santo -0,421 Mato Grosso do Sul cas acaba operando como um passaram a se manifestar de
-0,484 Mato Grosso do Sul -0,428 Ceará mecanismo de exclusão indi- uma forma que nunca vi nes-
-0,487 Paraná -0,441 Minas Gerais reta.Umbrancoeumnegrose te país, complementa Harvey.
-0,514 São Paulo -0,457 Paraná formam na USP, mas o bran- Autor de “A Sociedade De-
-0,524 Minas Gerais -0,462 Espírito Santo co de alta renda teve acesso sigual - Racismo e Branqui-
-0,531 Mato Grosso -0,475 Distrito Federal a uma rede de contatos mais tude na Formação do Brasil”,
-0,565 Distrito Federal -0,492 Pernambuco robusta e pôde adquirir mais o economista Mário Theo-
-0,581 Rio de Janeiro -0,615 Rio de Janeiro competências ao longo da vi- doro considera que é preciso
-0,602 Alagoas -0,623 São Paulo da —ele viajou para o exteri- avançar em políticas afirma-
Estados com as duas maiores cidades or, aprendeu mais um idio- tivas para o mercado de tra-
do país têm piores resultados ma”, diz França. balho que sejam semelhan-
Segundo Firpo, a forma tes ao que foi aplicado pela
mais eficiente de reduzir a Lei de Cotas.
Rendimento médio mensal real, para pessoas acima de 14 anos, em R$ desigualdade de oportunida- Para Theodoro, iniciativas
Brancos des é integrar desde cedo cri- de abrir programas de trai-
2012 anças de diferentes origens. nee voltados exclusivamente
2021 “Não dá para achar normal para jovens negros são louvá-
que uma parte da população veis, mas o governo também
3.406 3.572 3.687 3.445 estude em uma escola bilín- pode reforçar as políticas afir-
3.121 3.202 2.886 2.563 2.891 2.900
2.212 2.329 gue e alguns tenham aces- mativas em conjunto com as
so apenas à comunidade em empresas privadas.
que vivem.” “Governo e setor privado
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Ele acrescenta que o futu- são grandes empregadores e
ro governo de Luiz Inácio Lu- podem atuar em conjunto.”
Negros la da Silva (PT) tem o desafio Para o setor privado, podem
2012 de fazer com que a educação ser colocadas condições para
2021 volte a ter uma pauta inclusi- que a empresa só participe de
va e que olhe para a popula- licitações públicas caso tenha
2.302 2.351 ção mais vulnerável. ações afirmativas, diz.
1.781 1.857 1.738 1.699 1.967 2.020 1.909 1.993
1.421 1.517 “O MEC [Ministério da Edu- “Vaitermuitaresistência,vi-
cação] deve voltar a ser o ór- vemos em um país desigual e
gão que organiza esforços e ondeadesigualdadesetornou
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste catalisa essas políticas des- o cerne da sociedade. Qual-
centralizadas e que aprende quer projeto que afronte essa
Fontes: Sergio Firpo, Michael França e Alysson Portella (Insper), com dados do IBGE, Pnad Anual - IBGE com as políticas que deram lógica será contestado, mas é
certo no país.” preciso insistir”, diz.

Chef negra assume comando de hotel em que já foi camareira

MINHA HISTÓRIA
São Paulo Quando acompa-
nhava a mãe, camareira, ao
hotel Central, no centro do
Recife, a chef de cozinha Ro-
sa Maria do Nascimento, 57,
subia até o último andar pa-
ra olhar os navios que chega-
vam e partiam. Ela gostava de
imaginar que o prédio da dé-
cada de 1920 era um castelo.
Hoje, Rosa comanda o em-
preendimento, localizado no
bairro da Boa Vista. Fundado
em 1928, ele já foi o mais alto
doNordeste—equasefechou
as portas com a pandemia.
Com acesso a um aporte de
R$ 30 mil, por meio do fundo
Baobá, ela pôde assumir a di-
reção do hotel.
Rosa diz, em depoimento
à Folha, ter orgulho de ser
uma mulher negra que sem-
pre soube que poderia estar
onde quisesse. “Mesmo que a
sociedade branca e rica ainda
resista a nos ver fora do fun-
do da cozinha. Não só como
mulher preta, mas como mu-
lher, ficou claro para mim que
toda mulher pode e deve es-
tar onde quiser.”
* mo camareira, mas me iden-
Minha mãe, que era analfa-
beta, tinha mandado colocar
meunomedeRosaMaria,mas
meu pai sempre trocava os
nossos nomes no cartório. Só
descobri que meu nome era
Rozenir quando entrei na es-
cola, mas sempre fui chama-
da de Rosa em casa.
Com12filhosparacriar,meu
pai era militar e minha mãe
trabalhou a vida inteira co-
mo arrumadeira e emprega-
da doméstica. Aos nove anos,
ela saiu do interior para Reci-
fe,paracuidardascriançasna
casa do senhor que construiu
o hotel. Começou a traba-
lhar nele aos 13 anos, trazen-
do comida para os operários
da obra; depois da inaugura-
ção, foi faxineira e camareira.
Cresci neste hotel e amo o
prédiocomosefosseumapar-
te de mim. A primeira lem-
brança que tenho dele era
de me esconder no carrinho
das camareiras e ir até o to-
po, no oitavo andar, para fi-
car olhando os navios atra-
carem no porto. É o primei-
ro arranha-céu do Recife e a
vista era ainda mais bonita,
parecia um castelo que tinha
brotado no meio da cidade.
Comecei a trabalhar no ho-
tel aos 18 anos, também co-
tifiquei com a cozinha logo de
cara. Quando cheguei, o car-
dápio era mais fino, o garçom
usava fraque. Com o tempo,
passei a colocar comida nor-
destina e popular no menu
—comecei a fazer rabada,
buchada, galinha à cabidela.
A comida nordestina é tem-
perada e saborosa: é de co-
mer, suar frio e depois procu-
rar uma rede para deitar. Com
a guinada, o negócio logo fez
sucesso e atraiu clientes. Ar-
rendei o restaurante do hotel
em 2016, que chamei de Tem-
pero da Rosa.
A sensação foi tão boa, uma
mulher preta tocando aque-
le restaurante que havia ser-
vido a elite, da cantora Car-
mem Miranda ao presidente
Getúlio Vargas, agora trans-
formado em um lugar que ti-
nha a minha cara. O dono di-
zia que eu trazia alegria para
o hotel, mas ele, infelizmente,
morreuem2019eveioaCovid.
Quando os herdeiros dis-
seram que estavam pensan-
do em fechar o hotel, perdi
o chão. Era como se tivesse
tomado uma facada no pei-
to. Eles, então, me pergun-
taram se queria tomar con-
ta até a pandemia passar. De
uns anos para cá, ele já vinha
passando por dificuldades, e
omovimentoerafraco.Minha
Rosa Maria, chef de cozinha e dona do Tempero da Rosa, no filha foi contra, dizia que não
Hotel Central Divulgação ia dar certo, mas acabei acei-
tandoarrendarohotelinteiro.
Foram dois anos de muito
desespero e luta. Disse para
mim mesma que ia botar isso
aqui para a frente com seres-
tas, lançamentos de livros, ro-
das de pagode. O povo ia dan-
do ideia e eu ia fazendo. Vira-
mos de novo um espaço de re-
ferência na cidade.
Hoje, muita gente vem de
longeparaprovaropeixecom
pirão,ocupimdesfiadoeoba-
calhau. O avanço da vacina-
ção fez a procura por hospe-
dagem ficar mais forte. Com
o dinheiro do fundo Baobá,
consegui comprar fogão e li-
quidificador industrial e tro-
carascadeirasdorestaurante.
Comecei a contratar um
monte de gente que estava
sem emprego. Atualmente,
são 23 mulheres na equipe e
o trabalho é grande, mas gos-
to de ensinar.
Osartistastêmvindosehos-
pedar aqui e as pessoas aca-
bam me ajudando muito, mas
não é fácil manter um prédio
tombado e 59 apartamentos
—precisa trocar televisão, ar-
condicionado. Meu sonho é
continuar tendo forças e re-
ceber mais apoio, para man-
ter esse patrimônio cada vez
mais vivo. Depoimento a Dou-
glas Gavras
a eee Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 A21

mercado

Harvard criou seu Instituto vel na Escola de Administra-

para o Estudo dos Negócios ção de Empresas de Harvard
na Sociedade Global, há um quanto um ateu se sentiria na
mês. Quase metade do cur- Escola de Teologia. Ainda as-
rículo principal da Escola de sim, os professores de admi-
AdministraçãodaUniversida- nistração percebem que seus
de Yale é voltada ao ESG. No alunos atuais estão à procu-
próximo ano letivo, a Whar- ra de lições que vão além da
ton School, na Universidade contabilidade com mais fre-
da Pensilvânia, começará a quência do que em décadas
oferecer MBAs em diversida- anteriores.
de, equidade, inclusão e ESG. Rouen, de Harvard, disse
Os formandos dessas esco- que a demanda por aulas so-
las de elite tendem a ter in- bre impacto social e ESG vi-
fluência desproporcional so- nha sendo tão alta que esses
bre os negócios, moldando temashaviamsidointegrados
os valores e políticas das em- a quase todos os cursos intro-
presas que eles poderão um dutórios. Curtis Welling, pro-
dia dirigir. fessor da Tuck School of Bu-
“Estamos na Harvard Busi- siness, na Universidade Dart-
ness School —é um bastião mouth, pergunta a seus alu-
do capitalismo”, disse Ethan nos todo ano se o capitalis-
Rouen, que leciona um cur- mo precisa ser reformado. Há
so sobre reimaginar o capi- uma década, cerca de um ter-
talismo, em Harvard. ço deles dizia que sim. Neste
“Mas não hesito em dizer ano, foram dois terços.
que, se considerarmos os cur- “A maior tendência na edu-
sos que estão sendo ofereci- caçãoparagestãonosúltimos
dos, os institutos que estão 15anosvemsendoexaminaro
sendo criados e os palestran- contratosocial”,disseWelling.
tes que trazemos ao campus, Esse não é o primeiro mo-
háumaenormedemandatan- mento de tumulto que leva
to do corpo docente quanto as escolas de administração
dos estudantes sobre repen- a passar por séria renovação
sar as obrigações das empre- cultural. Em 1959, a Fundação
A professora Debora Spar, da Universidade Harvard, que criou o curso ‘Capitalismo e o Estado’ Tony Luong/The New York Times sas para com a sociedade.” Ford publicou um relatório
Dentro das salas de aula, o no qual concluía que “a dis-

Anticapitalismo e ESG
leque de opiniões sobre o en- tância entre o que a socieda-
volvimento político das em- de precisa e o que as escolas
presas vem se alargando nos de administração estão ofe-
últimos anos. Premissas há recendo cresceu o bastante
muito incorporadas aos pro- para que todos possam vê-la”.

ganham força em Harvard

gramas de estudos agora es- Os primeiros meses da pan-
tão sendo questionadas — demia deram origem a uma
nem o mantra da maximiza- nova crise existencial.
ção de lucros ou a defesa de QuandoSparestavaemqua-
que a versão americana do rentenaemsuacasa,notercei-
capitalismo funciona corre- ro trimestre de 2020, os admi-
Escolas de administração de empresas americanas politizam seus currículos tamente são poupados. nistradores de Harvard pedi-
No curso “Capitalismo e Es- ram aos professores que pro-
tado” de Harvard, Spar pediu pusessem novos cursos capa-

“
-
Emma Goldberg parte em empresas de con- lado a busca do lucro e se en- a seus alunos que virassem zes de atrair estudantes irre-
sultoria e investimento, para volverem em política. seus crachás ao contrário se quietos, muitos dos quais es-
Nova York | The New York Ti- fazer cursos em busca de cre- O fenômeno empresarial acreditassem que a globaliza- tavam fazendo MBAs online,
mes Na Escola de Adminis- denciais que turbinarão seus ESG (sigla para boas práticas Não é que ção é um bom sistema. de seus quartos.
tração de Empresas da Uni- currículos. sociais, ambientais e de go- sejamos ‘woke’ Depois de alguns segundos Spar estava assistindo ao
versidade Harvard, um grupo Eles aprendem sobre FCDs vernança)setornoucentrode de resmungos e de ruídos de noticiário—mercadosemcri-
de alunos estava debatendo o (Fluxos de Caixa Desconta- discórdia —mas também um [progressistas], e papel, cerca de 80% dos alu- se, empresas divulgando de-
que faz do capitalismo um ca- dos) e os três Cs (companhia, setor que movimenta US$ 40 nem que estejamos nos viraram seus crachás, si- clarações sobre o movimen-
pitalismo verdadeiro e puro. clienteseconcorrentes),além trilhões por ano (R$ 207,8 tri- nalizando aprovação à glo- to Black Lives Matter, compa-
Quais são seus componen- de adquirirem a capacidade lhões). defendendo balização. Um estudante que nhiasfarmacêuticascorrendo
tes essenciais? Direitos de de pelo menos fingir um co- Elon Musk o definiu como uma agenda cresceu na Nigéria foi um dos para desenvolver vacinas— e
propriedade.Mercadosfinan- nhecimento profundo sobre farsa, depois que a Standard ideológica. É que não o fez. Ele pediu a seus decidiutentarmontarumcur-
ceiros. o padroeiro da primazia dos & Poor’s retirou a Tesla de seu colegas que repensassem a vi- so que respondesse às dúvi-
“Mas e a escassez?”, ques- acionistas, Milton Friedman. índice ESG. Mike Pence, que porque a economia sãoquedeuorigemaomundo das mais ferozes que ela mes-
tionou Andrew Gibbs, 32, es- Mas os alunos atuais das es- foi o vice-presidente de Do- assim dita tal como o conhecemos —o ma sentia, em suas palavras.
tudante do segundo ano que colas de administração tam- nald Trump, exortou recen- FMI (Fundo Monetário Inter- “Por que o capitalismo está
ingressou em Harvard depois bém estão aprendendo as temente os governos estadu- Witold Henisz nacional), hotéis Hyatt espa- sob ataque? E até que ponto
de uma passagem pelas For- obrigações sociais das em- ais americanos a “colocar ré- vice-diretor e chefe do corpo lhados pelo planeta e os arcos esses ataques são válidos?”
ças Armadas. “Haveria capi- presas e como repensar o ca- deas” no ESG. docente da iniciativa ESg dourados do McDonald’s em Os dirigentes das escolas de
talismo se as pessoas se sen- pitalismo, uma mudança no O grupo BlackRock divul- da Wharton School cada aeroporto. administração —provavel-
tissem confortáveis?” currículo das instituições de gou uma carta em setembro “A realidade é que importa- mente cientes de que os doa-
A professora Debora Spar, elite que reflete a transfor- na qual tentava rebater os mos o oposto do liberalismo, dores de dinheiro estão aten-
quelecionaumcursodisputa- mação na cultura corporati- críticos ao apontar, essenci- como preço de termos coisas tos ao que eles dizem— enfa-
dosobrecapitalismoeEstado, va mais ampla. almente, que o fato de que o boas”, disse outro estudante, tizam que seus novos cursos
voltou-se para Gibbs com um Os líderes políticos de es- grupo de investimento tinha Alan Xie. e ênfases simplesmente aten-
brilhonosolhos.“Vocêchega- querda e de direita estão pe- foco no ambiente não o des- Ainda assim, a maioria da dem à demanda por debate
ria a afirmar que a escassez, dindoaosempresáriosquere- viava de seu propósito princi- sala continuou favorável a político no mundo empresa-
que impulsiona a desigualda- considerem suas responsabi- pal: ganhar dinheiro. uma economia globalizada. rial,enãoestãoimpondouma
de, é uma condição necessá- lidades sociais. Enquanto isso, muitos tra- Spar resumiu os argumentos visão progressista.
ria para o capitalismo?” À esquerda, eles argumen- balhadores pressionam seus deles de forma sucinta: “Te- “Não é que sejamos ‘woke’
Gibbs parou para pensar. tamqueasempresasprecisam empregadores para tomarem mos crescimento. Temos coi- [progressistas], e nem que
“Eu diria que sim.” desempenharalgumpapelno posições mais firmes sobre sas bonitas”, ela disse. “Fun- estejamos defendendo uma
No quadro-negro, alguém combate a ameaças mundiais questões sociais como a in- cionou.” Ao que Rachel Orol, agenda ideológica”, disse Wi-
anotou: Capitalismo. Escas- assustadoras —o aquecimen- justiça racial e o aborto. 29, que estava sentada na pri- toldHenisz,vice-diretoreche-
sez. Desigualdade. to do planeta, a fragilidade da Nesse cenário, as escolas meira fila, rebateu: “Funcio- fe do corpo docente da inicia-
A cada ano, cerca de 250 mil democracia. de administração de primei- nou para nós”. tiva ESG da Wharton. “É por-
jovens descem da esteira ro- À direita, eles criticam os ro escalão estão entrando na É provável que um anticapi- que a economia assim dita.”
lante de seus empregos, boa executivos por deixarem de arena política. talista se sinta tão confortá- Tradução de Paulo migliacci

Os personagens mais incríveis

APENAS
da nossa cultura vão virar os
melhores amigos das crianças. R$
22
CADA LIVRO*
,90

Já nas bancas

Compre por aqui

Próximo Domingo ESCANEIE O QR CODE

folha.com/folcloreparacriancas
*DISPONÍVEL NAS BANCAS DE SP, RJ, MG, PR, SC E DF. PARA DEMAIS ESTADOS, A VENDA SERÁ VIA SITE OU TELEFONE. FRETE GRÁTIS VÁLIDO PARA OS ESTADOS DE SP, RJ, MG E PR. PARA OUTRAS LOCALIDADES, CONSULTE FOLHA.COM/FOLCLOREPARACRIANCAS. CONFIRA AS DATAS DE ENTREGA NO SITE. PARCELAMENTO VÁLIDO PARA TODOS OS ITENS DESTA COLEÇÃO.
A22 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 a eee
mercado
Comunicado
A Oi S.A - Em Recuperação Judicial e a Oi Móvel S.A - Em Recuperação Judicial, em cumprimento ao
Despacho Decisório nº 177/2019/CPRP/SCP proferido pela Agência Nacional de Telecomunicações -
ANATEL nos autos do Processo nº 53508.002758/2016-11, vem a público, substitutivamente à Empresa
ENGEVOX TELECOMUNICAÇÕES LTDA., informar que, a partir do dia 07/12/2022, as chamadas
que envolvam a rede da ENGEVOX TELECOMUNICAÇÕES LTDA., estão temporariamente suspensas por motivos
de ordem regulatória e serão estabelecidas tão logo sejam dirimidos os problemas identificados.

LEILÃO DE IMÓVEIS
ONLINE E PRESENCIAL
DIA: 15 de Dezembro de 2022 às 11:00 horas

LEILÃO DE 29 IMÓVEIS (Residenciais, Comerciais e Terrenos)

Em: SP, RJ, MG, PR, CE e GO
Imperdível! Confira e Aproveite! Formas de Pagamento: À VISTA COM
10% DE DESCONTO ou PARCELADO EM ATÉ 78 VEZES conforme edital.
IPTU 2023 QUITADO PELO BANCO
Mais informações: (11) 4083-2575 ou www.biasileiloes.com.br
Leiloeiro Oficial Eduardo Consentino – JUCESP n° 616 (João Victor Barroca Galeazzi – Preposto em exercício)

Leilão 2ª Vara de Falências

da Capital/SP
Judicial 2ª Praça
ID: 223945

Recuperação Judicial Copel

Iveco Daily, Honda CR-V,
VW Kombi e Nissan Tiida

Loc.: Itupeva / SP

Encerramento: 16/12/2022
a partir das 12h00
Boeing 737-800, da companhia argentina Flybondi Divulgação
Leiloeiro Oficial - Renato Schlobach Moysés - JUCESP nº 654

Aérea de baixo custo Flybondi

www.maisativojudicial.superbid.net
(11) 4395-3239
cac@majudicial.com.br

Leilão
Judicial
2ª Vara Cível de
Guaratinguetá/SP
1ª Praça
ID: 224475
terá mais voos para Argentina
Apto. Condomínio Costa Azul
Empresa cobra a partir de r$ 299 o trecho e atende SP, rio e Florianópolis
A.T.C. 125m²
-
Rafael Balago voos espalhados ao longo do
Loc.: Ubatuba /SP
LEILÃO DE TERRENOS dia. O tíquete parte de R$ 364,
Encerramento: 08/12/2022 SOMENTE ONLINE
São Paulo A empresa aérea ar- portrecho,etempreçomédio
a partir das 14h00 Dia 07 de Dezembro de 2022 às 11:00 horas. gentina Flybondi aumentará de R$ 800.
Leiloeiro Oficial - Renato Schlobach Moysés - JUCESP nº 654 09 TERRENOS Itapecerica da Serra/SP
em:
sua oferta de voos entre Bra- Aspassagensinternacionais
e Aparecida de Goiânia/GO sileArgentinaparaopróximo incluemodireitodelevaruma
www.maisativojudicial.superbid.net
(11) 4395-3239 Imperdível! Confira e Aproveite!
verão, com passagens a partir mochila e mala de mão, des-
cac@majudicial.com.br de R$ 299 o trecho. de que ambas, juntas, não su-
Formas de Pagamento: À VISTA ou FINANCIADO conforme edital.
Mais informações: (11) 4083-2575 ou www.biasileiloes.com.br
Há rotas ligando Buenos Ai- perem 10 kg de peso. A mala
Leiloeiro Oficial Eduardo Consentino – JUCESP n° 616 (João Victor Barroca Galeazzi – Preposto em exercício)
res a São Paulo (Guarulhos), despachada de até 20 kg cus-
LEILÃO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA | PRESENCIAL
ON-LINE
Rio de Janeiro (Galeão) e Flo- ta a partir R$ 130 por trecho.
1º Leilão: dia 12/12/2022 às 14h 2º Leilão: dia 22/12/2022 às 14h rianópolis. A marcação de assento nos
EDUARDO CONSENTINO, leiloeiro oficial inscrito na JUCESP n° 616 (JOÃO VICTOR BARROCA GALEAZZI – preposto em exercício), com escritório
à Av. Fagundes Filho, 145, Conjunto 22, Vila Monte Alegre, São Paulo/SP, devidamente autorizado pelo Credor Fiduciário ITAÚ UNIBANCO S/A, Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Franca ParaoRiodeJaneiro,haverá voos é cobrada à parte.
============ Reconhecido pelo Decreto Lei Nº. 1402 em 5 de julho de 1939 ===========
doravante designado VENDEDOR, inscrito no CNPJ sob n° 60.701.190/0001-04, com sede na Praça Alfredo Egydio de Souza Aranha, n° 100, Torre
Olavo Setúbal, na Cidade de São Paulo/SP, nos termos do Instrumento Particular de Venda e Compra de Bem Imóvel, Financiamento com Garantia Rua Floriano Peixoto, 1399 - Telefax (16) 3722-7316 – CEP 14400-760 – FRANCA – Estado de São Paulo três voos diários na alta tem- A Flybondi foi lançada em
de Alienação e Outras Avenças de nº 10151123503, firmado em 25/09/2020, no qual figuram como Fiduciantes VINICIUS PEZATTI ALVES,
RG nº 19.775.724-8-SSP/SP, CPF nº 320.479.858-54, engenheiro civil e sua mulher FABÍOLA PRADO DA SILVA PEZATTI, RGnº41.041.355-0-SSP/SP, BASE TERRITORIAL porada, de janeiro a março, 2018,comapropostadeofere-
CPF nº 343.585.538-00, psicopedagoga, brasileiros, casados entre si pelo regime da comunhão parcial de bens, na vigência da Lei 6.515/1977,
residentes e domiciliados em Fernandópolis/SP, levará a PÚBLICO LEILÃO de modo Presencial e On-line, nos termos da Lei nº 9.514/97, artigo 27
e parágrafos, no dia 12 de dezembro de 2022, às 14:00 horas, à Av. Fagundes Filho, 145, Conjunto 22, Vila Monte Alegre, São Paulo/SP, em
Franca – Pedregulho – Cristais Paulista – Ribeirão Corrente – Rifaína – Restinga – Jeriquara –
São José da Bela Vista
somando 21 voos semanais. cer viagens mais baratas e re-
PRIMEIRO LEILÃO, com lance mínimo igual ou superior a R$ 649.409,33 (Seiscentos e quarenta e nove mil, quatrocentos e nove reais e trinta e três
centavos), o imóvel a seguir descrito, com a propriedade consolidada em nome do credor Fiduciário, constituído pelo Um terreno medindo 11,10m
EDITAL DE CONVOCAÇÃO Atualmente, há 14. plicar o modelo de baixo cus-
de frente e fundo, por 23,00m de cada lado, da frente ao fundo, encerrando a área de 255,30 m², constante do lote 25, da quadra 15, do RESIDENCIAL
SANTO AFONSO, em Fernandópolis/SP, situado do lado ímpar da Rua Deoclides Serafin, confrontando de um lado com o lote 24, de outro lado com o
ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA
Pelo presente edital, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de
As passagens custam a par- to de empresas como a euro-
lote 26 e pelo fundo com o lote 04; distante 26,20m do ponto onde inicia a curva de confluência com a Rua Benedita Cruz. No terreno foi construído um
PRÉDIO RESIDENCIAL, subordinado ao nº 335, da Rua Deoclides Serafin, com 182,81 m² de construção. Matrícula nº 36.004 do Oficial de Registro de
Franca/SP, por meio do sua representante Sra. Menisa Pilar Santana Costa, em cumprimento ao tir de R$ 590 o trecho. Assim, peia Ryanair e a americana
disposto no artigo 53, letra “c”, do Estatuto desta Entidade, comunica que foi registrada a seguinte
Imóveis de Fernandópolis/SP. Obs: Ocupado. Desocupação por conta do adquirente, nos termos do art. 30 da lei 9.514/97. Caso não haja licitante
em primeiro leilão, fica desde já designado o dia 22 de dezembro de 2022, às 14:00 horas, no mesmo local, para realização do SEGUNDO LEILÃO, chapa, concorrente à eleição a que se refere ao aviso publicado no dia 18 de novembro de 2022, ida e volta saem a partir de Spirit. Atualmente, tem dez
com lance mínimo igual ou superior a R$ 373.267,13 (Trezentos e setenta e três mil, duzentos e sessenta e sete reais e treze centavos). Todos os
horários estipulados neste edital, no site do leiloeiro (www.biasileiloes.com.br), em catálogos ou em qualquer outro veículo de comunicação
no Jornal Folha de São Paulo, com vistas à eleição para composição da Diretoria, Conselho Fiscal,
Delegados Representantes ao Conselho da Feticom e da Contricom, às quais está filiado este
R$ 1.180. aviões na frota e planeja che-
consideram o horário oficial de Brasília-DF. O(s) devedor(es) fiduciante(s) será(ão) comunicado(s) na forma do parágrafo 2º-A do art. 27 da lei
9.514/97, incluído pela lei 13.465 de 11/07/2017, das datas, horários e locais da realização dos leilões fiduciários, mediante sindicato, bem como os Suplentes, para o próximo quadriênio, de 01/02/2023 a 31/01/2027, que se A rota para a capital catari- gar a 17 até meados de 2023. A
correspondência dirigida aos endereços constantes do contrato, inclusive ao endereço eletrônico ou por edital, se aplicável, podendo o(s)
fiduciante(s) adquirir sem concorrência de terceiros, o imóvel outrora entregue em garantia, exercendo o seu direito de preferência em 1º ou 2º
realizará no dia 18 de dezembro de 2022, no período de 08h00 às 16h00, na sede desta entidade,
sito na Rua Floriano Peixoto, n.º 1399, no Centro, na cidade de Franca/SP. Diretoria: Menisa
nense será retomada em de- companhia domina cerca de
leilão, pelo valor da dívida, acrescida dos encargos e despesas, conforme estabelecido no parágrafo 2º-B do mesmo artigo, ainda que, outros
interessados já tenham efetuado lances, para o respectivo lote do leilão. O envio de lances on-line se dará exclusivamente através do site
Pilar Santana Costa; Jaime Plácido Barbosa; Adão Mendes de Morais; Paulo Donizette de Morais; zembro e deve seguir ao me- 20% do mercado argentino e
Goiacil Terêncio Santana; Devanir Polo; Edison de Andrade; Marcos Vinicio de Oliveira; Mosar
www.biasileiloes.com.br, respeitado o lance mínimo e o incremento mínimo estabelecido, em igualdade de condições com os participantes
presentes no auditório do leilão de modo presencial, na disputa pelo lote do leilão, com exceção do devedor fiduciante, que poderá adquirir o imóvel Candido Pereira; Rael Sales de Oliveira; Benedito Candido Pereira; Paulo Pereira Feliciano; Dailson nos até abril, com dois voos atende 19 destinos.
preferencialmente em 1º e 2º leilão. Os interessados em participar do leilão de modo on-line, deverão se cadastrar no site www.biasileiloes.com.br,
e se habilitar acessando a página deste leilão, clicando na opção HABILITE-SE, com antecedência de até 01 (uma) hora, antes do início do leilão
Alves Carrijo; Alcir Monteiro da Silva; Jose Domenir Dias; Luiz Fernando Caetano. E, também, que
está aberto o prazo de 05 (cinco) dias corridos, para oferecimento de impugnação ao registro, que
diários a partir de janeiro. Os Além do Brasil, a empresa
presencial, não sendo aceitas habilitações após esse prazo. A venda será efetuada em caráter “ad corpus” e no estado de conservação em que se
encontra. O proponente vencedor por meio de lance on-line ou presencial terá prazo de 24 horas depois de comunicado expressamente pelo começará a contar do dia seguinte a esta publicação, nos termos do dispositivo estatutário acima bilhetes custam a partir de conecta Buenos Aires a mais
leiloeiro acerca da efetiva arrematação do imóvel, condicionada ao não exercício do direito de preferência pelo devedor fiduciante, para efetuar
o pagamento, por meio de transferência bancária, da totalidade do preço e da comissão do leiloeiro correspondente a 5% sobre o valor do arremate.
indicado, devendo, o requerimento de impugnação ser dirigido à Presidente da Entidade
Franca/SP, 04 de dezembro de 2022.
R$ 299 por trecho. de dez cidades na Argentina,
A transferência bancária deverá ser realizada por meio de conta bancária de titularidade do arrematante ou do devedor fiduciante, mantida em
instituição financeira autorizada pelo BCB - Banco Central do Brasil. As demais condições obedecerão ao que regula o Decreto n° 21.981 de 19 de
outubro de 1.932, com as alterações introduzidas pelo Decreto n° 22.427 de 1° de fevereiro de 1.933, que regula a profissão de Leiloeiro Oficial.
Menisa Pilar Santana Costa Para São Paulo, haverá um como Bariloche, El Calafate
Presidente
Mais informações: (11) 4083-2575/www.biasileiloes.com.br aumento de 6 para 7 viagens e Mendoza. Turistas brasi-
por semana, ou um por dia. leiros também podem apro-
Superbac Biotechnology Solutions S.A. Este voo, no entanto, par- veitar promoções para esses
CNPJ/ME nº 00.657.661/0001-94 - NIRE 35.300.340.604 te às 3h15 da madrugada de destinos, mas é preciso fazer
Edital de Convocação - Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária
Convocamos os acionistas da Superbac Biotechnology Solutions S.A. (“Companhia”) a se reunirem em
Guarulhos e chega às 6h20 a a compra separada, com um
Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária, a ser realizada às 08:30 horas do dia 19 de dezembro de 2022, Ezeiza. Em outras cidades, há tíquete do Brasil a Buenos Ai-
em sua sede social, localizada na Cidade de Cotia, Estado de São Paulo, na Rua Santa Mônica, nº 1025,
Parque Industrial San José, CEP 06715-865, a fim de, em Assembleia Geral Ordinária, deliberar sobre:
Acesse o site res e outro para circular den-
(i) tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações financeiras da folha.com/seminariosfolha tro do país vizinho.
Companhia, referentes ao exercício social encerrado em 31 de dezembro de 2021; (ii) a destinação do
resultado relativo ao exercício social encerrado em 31 de dezembro de 2021; e (iii) fixar a remuneração
“Para o futuro, estamos
global dos administradores para o exercício social de 2022; e, em Assembleia Geral Extraordinária, deliberar analisando oferecer algum
sobre: (i) a ratificação da celebração, pela Companhia, do Amendment Agreement to Business Combination
Agreement, firmado entre a Companhia, SUPERBAC PubCo Holdings Inc. (“PubCo”), XPAC Acquisition EDITAL DE LEILÃO EXTRAJUDICIAL
destino novo [no Brasil] e in-
Corp. (“XPAC”), BAC1 Holdings Inc. (“BAC1”) e BAC2 Holdings Inc. (“BAC2”), em 25 de abril de 2022; (ii) a LEILÃO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA crementar frequências. Se o
aprovação da proposta com os termos e condições para a celebração de uma transação financeira de PRESENCIAL E ON-LINE - APARTAMENTO EM TUCURUVI/SP mercado nos acompanhar,
emissão de dívida, não conversível em ações, no valor de US$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de dólares
norte-americanos) a ser convertido em reais, com a prestação de garantias reais e/ou fidejussórias,
Gustavo Cristiano Samuel dos Reis, Leiloeiro Público Oficial, matrícula JUCESP nº 790, devidamente autorizado pelo Credor Fiduciário Remaza Administradora de Consórcio LTDA.,
com sede em São Paulo, Capital, à Rua Pedroso, nº 407 – Térreo, 1º, 2º e 3º andares, Bairro Liberdade, inscrita no CNPJ nº 62.354.055/0001-57, levará à PÚBLICO LEILÃO, de modo esse é o objetivo”, afirma Ja-
conforme o caso, envolvendo a subsidiária integral da Companhia, a Superbac Indústria e Comércio de Presencial, sito à Rua Amaro Cavalheiro, 347 – Conj. 2620 - Pinheiros – CEP: 05424-150 – São Paulo/SP, e On-line, através do sítio eletrônico
www.gustavoreisleiloes.com.br, o imóvel abaixo descrito: Imóvel: O APARTAMENTO nº 12, localizado no 1º pavimento do Edifício Maggiore Tucuruvi, situado na Rua Major Dantas vier Soto, gerente comercial
Fertilizantes S.A., sociedade anônima, inscrita no CNPJ/ME sob nº 02.599.378/0001-89, com sede na
cidade de Mandaguari, Estado do Paraná, na Estrada São Pedro, nº 685, Gleba Ribeirão Vitória, CEP
Cortez, nº 852, na Vila Gustavo, Bairro Tucuruvi, 22º Subdistrito Tucuruvi, com a área privativa de 50,590m2; a area de uso comum de 57,174m2, e a área total
de 107,764m2, equivalente a um coeficiente de proporcionalidade de 0,0234109 no terreno e nas partes de propriedade e uso comum do condomínio; com direito de usar 01 (uma) da Flybondi.
86975-00 (“Superbac Fertilizantes”), na qualidade de emissora, o Banco Modal S.A., instituição financeira vaga de garagem indeterminada para veículo de passeio, localizada no 1º ou 2º subsolo do condomínio. Inscrição Cadastral: 068.173.0043-6 e 068.173.0044-4. Matrícula nº 262.616
– 15º Oficial de Registro de Imóveis de São Paulo/SP. A consolidação da propriedade para a Administradora se deu em 23/11/2022. Existe ação
Soto diz não haver proble-
com sede na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, atuando por sua filial com endereço na
cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, na Avenida Presidente Juscelino Kubistchek, nº 1455, 3º andar,
de execução – débitos condominiais, que tramita junto a 9ª Vara Cível do Foro Regional I – Santana, sob nº1031341-92.2021.826.0001 distribuída em 29/10/2021 no valor
de R$ 7.572,31 que encontra-se arquivada provisoriamente. Primeiro Leilão: Dia 16 de dezembro de 2.022 às 14:00 horas. Valor Mínimo: R$ 390.000,00 (Trezentos e noventa mil reais).
mas regulatórios ou de fal-
Vila Nova Conceição, CEP 04543-011, inscrita no CNPJ/ME sob nº 30.723.886/0002-43, na qualidade de Segundo Leilão: Dia 20 de dezembro de 2.022 às 14:00 horas. Valor Mínimo: R$ 723.296,46 (Setecentos e vinte e três mil, duzentos e noventa e seis reais e quarenta e seis centavos).
Correrão por conta do comprador todas as despesas relativas à aquisição do imóvel no leilão, tais como: pagamento de 5% (cinco por cento) a título de comissão do Leiloeiro sobre
ta de espaço para ampliar as
coordenador e a Companhia, na qualidade de fiadora, e outras partes; (iii) a prestação, pela Companhia e/
ou Superbac Fertilizantes, conforme o caso, de garantias reais e/ou fidejussórias, conforme o caso mediante
o valor de arrematação e no ato da arrematação, Escritura Pública, Imposto de Transmissão, Foro, laudêmio, taxas, alvarás, certidões, emolumentos cartorários, registros, averbações,
etc. O proponente vencedor por meio de lance On-line terá prazo de até 24 (vinte e quatro) horas depois de comunicado expressamente, para efetuar o pagamento da totalidade do
operaçõesnoBrasil.“Tivemos
a alienação fiduciária de imóveis e/ou a cessão fiduciária de direitos creditórios, conforme o caso; e (iv) a preço e da comissão do leiloeiro. No caso do não cumprimento da obrigação assumida de pagamento da totalidade do preço e da comissão do leiloeiro, no prazo estabelecido, não
será concretizada a transação de compra e venda e estará o proponente, sujeito a sanções de ordem judicial, a título de perdas e danos. Correrão por conta do arrematante, todas as
mais dificuldades em operar
autorização para a Companhia e/ou a Superbac Fertilizantes, conforme o caso, a praticarem todos e
quaisquer atos necessários à formalização e efetivação para implementação das deliberações acima. Os
despesas relativas à emissão de certidões, averbação da incorporação societária e transferência do Imóvel arrematado, tais como, taxas, alvarás, certidões, registros, ITBI,
emolumentos etc. As demais condições obedecerão ao que regula o Decreto n° 21.981 de 19 de outubro de 1.932, com as alterações introduzidas pelo Decreto n° 22.427 de 1°
certos destinos na Argentina”,
documentos referentes aos itens da ordem do dia se encontram à disposição dos acionistas na sede social de fevereiro de 1.933, que regula a profissão de Leiloeiro Público Oficial. O imóvel será vendido no estado em que se encontra, não podendo o arrematante alegar desconhecimento
das condições, características e estado de conservação. Ocorrerá por conta do comprador, porém a reintegração na posse poderá ser solicitada de acordo com o disposto no Artigo
compara.
da Companhia, bem como a Companhia está à disposição dos acionistas para eventuais esclarecimentos.
Cotia /SP, 2 de dezembro de 2022. Luiz Augusto Chacon de Freitas Filho - Presidente do Conselho de
nº 30, da Lei nº 9.514/97, em 60 dias. Maiores informações no escritório do Leiloeiro Tel (11) 3819-3137 ou através do e-mail atendimento@gustavoreisleiloes.com.br. Para oferecer passagens
Administração. Informações: (11) 3819-3137 ou www.gustavoreisleiloes.com.br mais baratas, a companhia
aérea usa várias estratégias,
EDITAL DE LEILÃO DEALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
como aumentar o número
Ana Claudia Carolina Campos Frazão, Leiloeira inscrita na JUCESP sob o nº 836, com escritório Rua Hipódromo, 1141, sala 66,
Mooca, São Paulo/SP, devidamente autorizada pelo Credor Fiduciário ITAÚ UNIBANCO S/A, inscrito no CNPJ sob n°
de poltronas nos aviões —o
60.701.190/0001-04, com sede na Praça Alfredo Egydio de Souza Aranha, n° 100, Torre Olavo Setúbal, na Cidade de São que reduz o espaço para as
Paulo/SP, nos termos do Instrumento Particular de Venda e Compra de bem imóvel, Financiamento com Garantia de Alienação e
OutrasAvenças de nº 10165696205, no qual figura como Fiduciante ALAN KAYRON MATOS LIMA, CPF/MF nº 928.912.682-53, pernas— e trabalhar só com
levará a PÚBLICO LEILÃO de modo Presencial e On-line, nos termos da Lei nº 9.514/97, artigo 27 e parágrafos, no dia 15 de
dezembro de 2.022, às 15h30min, à Rua Hipódromo, 1141, sala 66, Mooca, São Paulo/SP, em PRIMEIRO LEILÃO, com lance ummodelodeaeronave,oBo-
mínimo igual ou superior a R$ 948.916,91 (Novecentos e quarenta e oito mil novecentos e dezesseis reais e noventa e um
centavos), os imóveis objeto das matrículas nºs 191.040 e 191.153 do 1º Oficial de Registro de Imóveis de Ribeirão eing 737-800.
Preto/SP, com a propriedade consolidada em nome do credor Fiduciário constituído por: “A) Apartamento nº 182, Residencial
Lumnesia, rua Lêda Vassimon nº 1075, localizado no 21º pavimento ou 18º andar, integrante do Residencial Lumnesia, situado no As paradas também são
município de Ribeirão Preto/SP, com área privativa coberta de 143,8300m², área privativa coberta aberta (varanda) de 27,3800m²,
área comum de divisão não proporcional de 25,0000m², equivalente a 02 vagas de garagem indeterminadas, área comum de
maisbreves,paraqueummes-
divisão proporcional de 75,5086m², área total de 271,7186m², correspondente a fração ideal do terreno e das coisas de uso
comum de 0,963594%. e B) Vaga de garagem nº 226 (média), localizada no pavimento térreo, integrante do Residencial
mo avião possa fazer mais vi-
Lumnesia, situado no município de Ribeirão Preto/SP, rua Lêda Vassimon nº 1075, com área privativa de 12,500m², área comum
de divisão proporcional de 2,5823m², área total de 15,0823m², correspondente a fração ideal do terreno e das coisas de uso
agens por dia.
comum de 0,034317%”. Obs. Ocupado. Desocupação por conta do adquirente, nos termos do art. 30 da lei 9.514/97. Caso “Emvoosnacionais,ficamos
não haja licitante em primeiro leilão, fica desde já designado o dia 27 de dezembro de 2.022, às 15h30min, no mesmo horário e
local, para realização do SEGUNDO LEILÃO, com lance mínimo igual ou superior a R$ 924.317,71 (Novecentos e vinte e quatro cerca de 30 minutos no aero-
mil trezentos e dezessete reais e setenta e um centavos). Todos os horários estipulados neste edital, no site do leiloeiro
(www.FrazaoLeiloes.com.br), em catálogos ou em qualquer outro veículo de comunicação consideram o horário oficial de Brasília- porto entre os voos. E nossas
DF. O(s) devedor(es) fiduciante(s) será(ão) comunicado(s) na forma do parágrafo 2º-A do art. 27 da lei 9.514/97, incluído pela lei
13.465 de 11/07/2017, das datas, horários e locais da realização dos leilões fiduciários, mediante correspondência dirigida aos aeronaves voam em torno de
endereços constantes do contrato, inclusive ao endereço eletrônico ou por edital, se aplicável, podendo o(s) fiduciante(s) adquirir
sem concorrência de terceiros, o imóvel outrora entregue em garantia, exercendo o seu direito de preferência em 1º ou 2º leilão, 12horaspordia,enquantoou-
pelo valor da dívida, acrescida dos encargos e despesas, conforme estabelecido no parágrafo 2º-B do mesmo artigo, ainda que,
outros interessados já tenham efetuado lances, para o respectivo lote do leilão. O envio de lances on-line se dará exclusivamente
tras ficam no ar entre 7 e 8 ho-
através do site www.FrazaoLeiloes.com.br, respeitado o lance mínimo e o incremento mínimo estabelecido, em igualdade de
condições com os participantes presentes no auditório do leilão de modo presencial, na disputa pelo lote do leilão, com exceção do
ras diárias”, comenta o geren-
devedor fiduciante, que poderá adquirir o imóvel preferencialmente em 1º e 2º leilão. Os interessados em participar do leilão de
modo on-line, deverão se cadastrar no site www.FrazaoLeiloes.com.br, e se habilitar acessando a página deste leilão, clicando na
te da companhia.
opção HABILITE-SE, com antecedência de até 01 (uma) hora, antes do início do leilão presencial, não sendo aceitas habilitações A Flybondi não tem lojas
após esse prazo. A venda será efetuada em caráter “ad corpus” e no estado de conservação em que se encontra. O proponente
vencedor por meio de lance on-line ou presencial terá prazo de 24 horas depois de comunicado expressamente pelo leiloeiro físicas e concentra suas ven-
acerca da efetiva arrematação do imóvel, condicionada ao não exercício do direito de preferência pelo devedor fiduciante, para
efetuar o pagamento, por meio de transferência bancária, da totalidade do preço e da comissão do leiloeiro correspondente a 5% das pelo site, que possui uma
sobre o valor do arremate. A transferência bancária deverá ser realizada por meio de conta bancária de titularidade do
arrematante ou do devedor fiduciante, mantida em instituição financeira autorizada pelo BCB - Banco Central do Brasil. versão brasileira. Ali, é pos-
As demais condições obedecerão ao que regula o Decreto n° 21.981 de 19 de outubro de 1.932, com as alterações introduzidas
pelo Decreto n° 22.427 de 1° de fevereiro de 1.933, que regula a profissão de Leiloeiro Oficial. (RC_2008_03) sível comprar as passagens
em reais.
a eee
A inflação da Covid
Há uma associação entre a resposta fiscal
à pandemia e o surto inflacionário?
- centuais na renda disponível
Samuel Pessôa
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP
Após anos em que o hemis-
fério Norte teve de lidar com
uma pressão desinflacionária,
com risco de deflação e juros
nominais próximos do limite
inferior de zero, a Covid trou-
xe de volta a inflação.
Já tivemos oportunidade de
discutir na coluna a natureza
da inflação. Além dos choques
de commodities agrícolas, pro-
duzidos já no final de 2019 pela
gripe suína africana, que aba-
teu 40% do rebanho chinês, e,
mais recentemente, pela Guer-
ra da Ucrânia, houve na vira-
da de 2020 para 2021 forte de-
sorganização das cadeias glo-
bais de valor. O preço dos bens
industriais explodiu.
O longuíssimo período de
distanciamento social, com
uso muito intenso do espaço
doméstico, elevou a demanda
por bens de consumo duráveis
e bens industriais em geral. Foi
necessário adaptar o ambiente
doméstico aos novos usos que
passaram a serem feitos dele.
Há duas características no-
táveis desses choques. Primei-
ra, a pandemia não foi previs-
ta. O choque pandêmico foi
exógeno às dinâmicas das di-
versas economias. Segunda,
no período anterior houve re-
lativa convergência da infla-
ção entre os países do hemis-
fério Norte.
Apesar de a convergência
prévia e de o choque serem
compartilhados, a inflação
não tem se elevado da mes-
ma forma em todos os países.
Também sabemos que a res-
| dom. Samuel Pessôa | seg. Marcos Vasconcellos, Ronaldo Lemos | ter.
Michael França, Cecilia Machado | qua. Bernardo Guimarães | qui. Solange
Srour | sáb. Marcos Mendes, Rodrigo Zeidan
Revisão da vida toda,
aprovada no STF, precisa
de cálculos antes da ação
-
Daniela Arcanjo
sÃo PauLo Por 6 a 5, o STF (Su-
premo Tribunal Federal) de-
cidiu na tarde de quinta-fei-
ra (1º) que parte dos brasilei-
ros poderá revisar os cálculos
da aposentadoria para consi-
derar todas as contribuições.
Porém, não são todos que
podem pedir a revisão e é pre-
ciso tomar cuidado para não
entrar com a ação sem ter di-
reito. Apenas aposentados
que começaram a receber o
benefício há menos de dez
anos ainda podem ir à Justiça.
Os que ainda não se aposen-
taram precisam ter adquirido
o direito de receber o benefí-
cio antes da reforma da Previ-
dência,emnovembrode2019.
Éprecisoterprovasdascon-
tribuições anteriores a 1994 e
receber um benefício calcula-
do com base na lei 9.876/99.
De modo geral, quem ga-
nhava um salário maior an-
tes de 1994 e, depois disso,
viu seu rendimento diminuir
tem chances de ser benefici-
ado. Mas é preciso ter cuida-
do para não se enganar com
a alta desvalorização da mo-
eda antes do Plano Real.
“Eram períodos de altos ín-
dices inflacionários, então al-
gumas pessoas se enganam
achando que ganhavam mais.
Mas quando houve a estabili-
zação da moeda, em 1994, é
que passaram a ganhar mais”,
posta fiscal não foi a mesma.
Questão: será que há uma
associação entre a resposta
fiscal e o surto inflacionário?
Os países que destinaram or-
çamentos maiores para a sus-
tentação de renda das pesso-
as são aqueles em que hoje a
inflação é maior?
Estamos diante de uma si-
tuação rara em macroecono-
mia. A maior dificuldade é que
todas as variáveis estão mu-
dando simultaneamente. É
muito difícil caracterizar cau-
salidade. Estamos sempre em
meio a um processo dinâmico,
em que é muito difícil estabe-
lecer um início. Isto é, estabe-
lecer um momento e um fato
que sejam desconectados de
uma dinâmica anterior.
Recente trabalho de Òscar
Jordà e Fernanda Nechio, pes-
quisadores da unidade de San
Francisco do banco central
americano, identificaram o
impacto das políticas de sus-
tentação da renda sobre a in-
flação (bit.ly/3HbyVq1). A es-
tratégia de identificação foi
exatamente a descrita no pa-
rágrafo anterior.
Os autores consideraram
Canadá, EUA e 15 países eu-
ropeus. Para cada economia,
construíram a variável “des-
vio da renda pessoal”. Trata-
se da diferença entre a ren-
da real pessoal efetiva, que in-
clui os benefícios dos progra-
mas de transferência de ren-
da emergenciais em razão da
pandemia, e a renda real pes-
soal caso não tivesse ocorrido
afirma João Badari, da ABL
Advogados.
Segundo Roberto de Carva-
lho Santos, presidente do Ie-
prev(InstitutodeEstudosPre-
videnciários), essa será uma
regra de exceção.
“A maior parte das pessoas
começa ganhando menos e,
no final da vida, ganha mais”,
afirma. “Mas existem pesso-
as, principalmente as que fa-
zemmaistrabalhobraçal,que
começam ganhando salários
melhores e, no final da vida,
ganham menos.”
Só é viável definir qual caso
é vantajoso com cálculos es-
pecíficos, feitos caso a caso. É
possível ingressar com a ação
em um JuizadoEspecialFede-
ral, mas o valor dos atrasados
fica limitado a 60 salários mí-
nimos (R$ 72.720).
Para comprovar contribui-
ções posteriores a 1982, é pos-
sível usar o Cnis. Além dele,
os cidadãos podem solicitar a
ficha financeira às empresas
em que trabalharam. Extra-
to detalhado do FGTS (Fun-
do de Garantia do Tempo de
Serviço), carteira de trabalho
e contracheques também são
documentos válidos.
Caso algum período fique
em branco, considera-se que
foi recebido um salário míni-
mo, o que pode diminuir o va-
lor do benefício.
Por enquanto, a revisão só
será paga a quem for à Justiça.
a epidemia. Esta última é dada
pela simples extrapolação da
tendência que vigorava antes
da crise. Evidentemente, essa
variável tem dinâmica muito
diferente entre os países.
O trabalho tem dois resul-
tados importantes. Primeiro,
“um aumento de 5 pontos per-
real em relação à tendência se
traduz em cerca de 2,5 pontos
percentuais de inflação adici-
onal após quatro trimestres.
CEMA - Hospital Especializado Ltda.
Edital 2023 - Concurso de Residência Médica
Recomenda-se a leitura atenta de todo o Edital antes de realizar a inscrição
A Comissão de Residência Médica do Hospital CEMA, localizado na Rua Paschoal Moreira, 449,
Mooca, São Paulo - SP, conforme dispõe a legislação vigente, comunica que estarão abertas as
inscrições para seleção dos candidatos ao preenchimento de vagas para Médicos Residentes nos
Programas de Residência Médica (PRM) em Oftalmologia e Otorrinolaringologia, credenciados
pela Comissão Nacional de Residência Médica – CNRM/MEC através do Parecer número 102/99.
O Processo Seletivo de ingresso nestes Programas reger-se-á pela Lei 6.932/81 e Resoluções
complementares pertinentes, da Comissão Nacional de Residência Médica - CNRM/MEC.
A interposição de recursos ao presente Edital deverá ser protocolada, pessoalmente ou por procurador
oficialmente constituído, junto ao nosso Centro de Estudos, localizado à Rua Paschoal Moreira, 449,
Mooca, CEP 03182-050, São Paulo - SP, no horário das 9h00 até às 15h00, até 48 horas após sua
divulgação.
I – DOS PROGRAMAS
Programa
Duração Vagas oferecidas
Situação no SISCNRM
Vagas reservadas
Oftalmologia 03 anos 04 Aprovado
(Forças Armadas)
0
Otorrinolaringologia 03 anos 04 Aprovado 0
II - DAS INSCRIÇÕES
1. O candidato, ao inscrever-se, estará declarando, sob as penas da lei, que concluiu o curso de
graduação em Medicina, devidamente autorizado e reconhecido pelo Ministério da Educação-MEC, ou
irá concluí-lo até a data de matrícula no Programa pretendido, ou obteve revalidação do seu diploma
segundo as leis vigentes.
2. O valor da taxa a ser cobrado será de R$ 500,00 (quinhentos reais) através de depósito bancário no
Banco Bradesco, agência 3393-6, conta corrente 14.600-5.
3. Inscrições pelo correio
3.1. Acessar inicialmente o site: www.cemahospital.com.br para imprimir a ficha de inscrição. Após
isso, todos os documentos, inclusive a ficha de inscrição e o comprovante de depósito (original
ou identificado), deverão ser enviados pelo correio, via Sedex ou carta registrada, para o Centro
de Estudos Dr. Maurício Antônio Marques, situado na Rua Paschoal Moreira, 449, Mooca, São
Paulo - SP. As inscrições feitas através do correio serão aceitas de 02/01/2023 a 20/01/2023 (data
de postagem).
Somente serão aceitas as inscrições que satisfizerem as condições acima e estiverem
acompanhadas da documentação constante no item 4.3 deste edital.
Dúvidas eventuais poderão ser esclarecidas pelo e-mail centrodeestudos@cemahospital.com.br
4. Inscrições presenciais
4.1. Local: Centro de Estudos Dr. Maurício Antônio Marques, situado na Rua Paschoal Moreira, 449,
Mooca, São Paulo - SP, por meio de preenchimento de formulário próprio de inscrição, onde deverá
preencher seu endereço e telefone para contato, atualizados. No ato de inscrição, o candidato deverá
apresentar o comprovante de pagamento e receberá o comprovante com a confirmação da inscrição a
ser apresentado no dia da prova. O período de inscrição será de 02/01/2023 a 20/01/2023, de segunda
a sexta-feira das 8h00 às 11h00 e das 14h00 às 16h00. A inscrição poderá ser feita por procurador
oficialmente constituído.
4.2. É de inteira responsabilidade do candidato a obtenção do comprovante de inscrição, que deverá
ser apresentado nos locais de realização das provas.
4.3. Documentos a serem apresentados no ato da inscrição:
a) cópia da cédula de identidade;
b) cópia legível do cadastro de pessoa física – CPF;
c) cópia do documento oficial da instituição onde concluiu o curso de Medicina ou, se estiver concluindo
o curso de Medicina, documento expedido pela instituição informando o período em que se encontra;
d) currículo vital;
e) para o médico estrangeiro ou brasileiro que fez a graduação em Medicina no exterior, xérox
autenticada do comprovante de revalidação de diploma ou de processo de revalidação em andamento
em instituição pública, de acordo com a legislação vigente;
f) para o médico que tiver cumprido o estabelecido no Programa de Valorização dos Profissionais da
Atenção Básica (PROVAB), documento que comprove participação mínima de 1 (hum) ano, emitido
pela
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES).
g) para o médico que tiver cumprido o estabelecido no Programa de Residência em Medicina de
Família e Comunidade / Medicina Geral e de Família e Comunidade (PRMGFC) a partir de 2015 e
concluído o programa de 2 (dois) anos, documento que comprove tal participação, emitido pela própria
instituição.
4.4. A inscrição implica o reconhecimento e a aceitação plena e total, pelo candidato, de todas as
condições totais previstas neste Edital.
5. Candidato estrangeiro graduado no exterior:
5.1. As inscrições serão realizadas mediante as condições referidas no item 4 (exceto o contido no item
4.3-c), além da xerox autenticada do visto de permanência definitivo no Brasil.
6. Solicitação de isenção ou redução de taxa de inscrição:
6.1. Em cumprimento à legislação, de 02/01/2023 a 03/01/2023, no horário das 9h00 às 12h00,
impreterivelmente, o interessado poderá fazer a pré-inscrição com pedido de redução ou isenção do
valor da taxa de inscrição desde que preencha o perfil estipulado pelas normas em vigor. O candidato
deverá entregar o pedido (bem como todos os documentos comprobatórios de hipossuficiência
financeira exigidos em lei) pessoalmente, ou por procurador oficialmente constituído, no Centro
de Estudos Dr. Maurício Antônio Marques, situado na Rua Paschoal Moreira, 449, Mooca, São
Paulo - SP. Não serão aceitos documentos pelo Correio, ou qualquer outra forma de encaminhamento.
O formulário e os documentos comprobatórios deverão ser entregues em 2 vias, para efeito de
protocolo.
6.2. No caso de emprego de fraude, pelo candidato beneficiado pela redução ou isenção da taxa de
inscrição, serão adotados os procedimentos indicados no art. 4º, da Lei 12.782, de 21/12/2007, e, se
confirmada a presença de ilícito, fica o candidato imediatamente excluído do processo seletivo e o
Ministério Público será comunicado sobre o fato.
6.3. Em 04/01/2023, o candidato deverá acessar o sítio eletrônico www.cemahospital.com.br ou dirigir-
se ao Centro de Estudos, para verificar se a sua solicitação de redução ou isenção foi deferida.
6.4. Em caso de indeferimento, poderão ser entregues recursos até o dia 06/01/2023. Os eventuais
recursos deverão ser entregues pelo interessado, ou por procurador oficialmente constituído, no
Centro de Estudos, no horário das 9h00 às 12h00.
6.5. Em 09/01/2023, o candidato deverá acessar o mesmo sítio eletrônico ou dirigir-se ao Centro de
Estudos, para verificar se seu recurso foi deferido.
6.6. Em nenhuma hipótese será devolvida a taxa de inscrição.
7. O processo seletivo é classificatório, portanto, a inscrição e aprovação do candidato não garantem
a efetivação da sua matrícula no Programa de Residência Médica pretendido.
8. Candidatos portadores de necessidades especiais:
8.1. Os candidatos portadores de necessidades especiais deverão, no ato da inscrição, solicitar, por
escrito em duas vias, os recursos especiais que necessitem para a realização da prova.
9. Não serão aceitas inscrições com pendências de qualquer natureza.
10. São de inteira responsabilidade do candidato as informações prestadas, ou sua omissão, e a
apresentação de documentação falsa, arcando com a responsabilidade por preenchimento incorreto
do formulário.
11. O Manual do Candidato poderá ser acessado no endereço eletrônico www.cemahospital.com.br.
12. Os candidatos somente poderão se inscrever em um único Programa de Residência Médica. É
vedada, a qualquer título, a mudança de opção após a efetivação da inscrição.
III – DA SELEÇÃO
13. A seleção obedecerá às normas da CNRM, observando o peso mínimo de 90% para a prova
escrita e o máximo de 10% para análise e arguição do currículo.
14. Etapas
14.1. 1a etapa (29/01/2023, das 8h30 às 12h00) – prova escrita de conhecimentos de Medicina Geral
(Clínica Médica, Cirurgia Geral, Pediatria, Obstetrícia e Ginecologia e Medicina Preventiva e Social)
na forma de testes de múltipla escolha, com igual número de questões sobre cada uma das cinco
áreas. Peso 90%.
Local: Universidade Anhanguera (campus Belenzinho) – Rua Siqueira Bueno, 929 – São Paulo - SP.
14.1.1. Após o início da prova, haverá 15 (quinze) minutos de tolerância para entrada de candidatos.
Terminado esse prazo, o candidato não mais poderá entrar no local da prova e será automaticamente
excluído do Processo Seletivo.
14.1.2. O candidato deverá comparecer ao local da prova com caneta esferográfica (azul ou preta) e
documento oficial de identificação, informado no formulário de inscrição, e comprovante da inscrição.
14.1.3. O candidato deverá transcrever as respostas dos testes para a folha do gabarito, com caneta
esferográfica azul ou preta, que será o único documento válido para a correção e classificação.
14.1.4. O candidato só poderá se retirar do local da prova após 60 (sessenta) minutos de seu início.
14.1.5. Não haverá substituição da folha de respostas, que é única, por erro do candidato.
14.1.6. Será anulada a resposta que apresentar rasura, omissão ou duplicidade de resposta, a critério
da comissão responsável.
14.1.7. Não será permitida, em hipótese alguma, a entrada de candidatos nas salas de exame após
o início das provas, como também o porte de aparelhos eletrônicos de qualquer natureza, mesmo
que desligados, tais como aparelhos celulares ou similares, de controle remoto, de máquinas
calculadoras ou similares, de qualquer outro tipo de aparelho eletrônico, de relógios de mesa, de
livros, de anotações, de impressos ou de qualquer outro material de consulta. Não será permitida,
durante a realização das provas, a comunicação entre candidatos, a utilização de chapéus ou bonés.
Também não será permitido o porte de armas. O candidato que for identificado com qualquer dos itens
relacionados, durante a aplicação da prova, estará sob pena de imediata retirada da sala de exame e
automática desclassificação na prova.
14.1.8. A Comissão Organizadora não se responsabiliza por objetos esquecidos na sala de exame.
14.1.9. O pacote de cadernos de questões será aberto em cada sala de exame na presença dos
candidatos, conforme horário estabelecido de início das provas.
14.1.10. O caderno de questões deverá ser devolvido, obrigatoriamente, junto com a folha do gabarito.
14.1.11. O tempo de duração da prova inclui o preenchimento do gabarito.
14.1.12. Será eliminado do processo seletivo o candidato que não comparecer ao local das provas no
horário determinado, usar de fraude ou atentar contra a disciplina e urbanidade durante a realização do
processo seletivo ou deixar de entregar o caderno de questões e a folha de respostas.
14.1.13. Na impossibilidade de apresentar o documento de identidade especificado no comprovante da
inscrição, por motivo de roubo ou extravio, o candidato deverá dirigir-se à Coordenação do Processo
Seletivo, com antecedência mínima de uma hora, com o boletim de ocorrência, ou assinar termo de
compromisso da apresentação do boletim de ocorrência em até 48 (quarenta e oito) horas, assinando
ainda termo de ciência de que o não cumprimento dessa apresentação resultará na sua exclusão
deste Processo Seletivo.
14.1.14. Em nenhuma hipótese haverá segunda chamada para realização da prova. O candidato que
não comparecer no horário previsto estará automaticamente excluído deste processo de seleção.
14.1.15. O candidato deverá conferir o seu número de inscrição e outros dados com o impresso na
folha de gabarito da sua prova, esta não poderá conter rasuras nem ser substituída.
14.1.16. Não será computada pontuação para questões sem resposta assinalada na folha de
respostas, nem para aquelas que contenham mais de uma resposta assinalada, emendas ou qualquer
tipo de rasura. No caso de haver questão anulada pela comissão organizadora da prova, o ponto
correspondente será computado para todos os candidatos.
14.1.17. Os três últimos candidatos que restarem na sala de prova deverão permanecer até o
fechamento da ata da sala de prova.
14.2. 2a etapa (dias 02/02/2023, a partir das 8h30 para Otorrinolaringologia, e 03/02/2023, a partir das
8h30 para Oftalmologia) – análise de currículo e arguição. Peso 10%.
Local: Centro de Estudos Dr. Maurício A. Marques, Rua Paschoal Moreira, 449, Mooca, São Paulo-SP
14.3. Serão convocados da 1a para a 2a etapa os candidatos com maiores notas na prova escrita, na
proporção de 06 (seis) vezes o número de vagas (todos os candidatos com nota igual ou maior que a
nota de corte serão convocados para a 2ª etapa).
IV - DO RESULTADO FINAL
15. A nota final será o resultado da pontuação obtida em cada etapa: prova escrita (peso 9) somada
á arguição/ análise de currículo (peso 1), totalizando 10
16. Conforme artigo 9º da Resolução 02/2015 de 27 de agosto de 2015 o candidato que, anteriormente
ao início do Programa de Residência Médica, tiver participado e cumprido integralmente o Programa
de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica (PROVAB) a partir de 2012 ou ingressado nos
DOmInGO, 4 DE DEzEmBrO DE 2022 A23
mercado
Descobrimos que o efeito so-
bre os salários é de magnitu-
de semelhante”.
altamente desinflacionário, as
expectativas fossem pouco im-
portantes, a mudança para o
Esse efeito será diverso a de- regime de inflação maior ele-
pender da distribuição ao lon- vou o peso das expectativas in-
go do tempo do pacote de auxí- flacionárias na determinação
lio. Mais espalhado no tempo dos salários nominais.
gerará menos inflação. O trabalho rejeita a visão de
O segundo resultado do tra- que há grande elasticidade de
balho é a importância das ex- oferta a choques de deman-
pectativas inflacionárias na da. A escassez impera. Viva a
determinação dos aumentos economia política. É necessá-
de salários. Mesmo que, antes rio saber quem paga a conta
da epidemia, dado o ambiente e quem se beneficia do Estado.
Programas de Residência em Medicina de Família e Comunidade / Medicina Geral e de Família e
Comunidade (PRMGFC) a partir de 2015 e concluído o programa de 2 (dois) anos, receberá pontuação
adicional de 10% (dez por cento) em cada fase do processo seletivo. No entanto, conforme reza o
parágrafo 6º do artigo 9º da Resolução 35/2018, para o candidato que tenha participado do PROVAB,
a utilização da pontuação adicional somente poderá ser requerida em até cinco anos da conclusão do
programa pelo candidato. Desta forma, somente os candidatos que tenham concluído o PROVAB ao
final de 2013 ou nos anos subsequentes poderão requerer a pontuação adicional.
17. Serão considerados aptos para utilizar a pontuação descrita no item 16 todos os médicos que, até
a data do início do Programa de Residência Médica em 01/03/2023, tiverem concluído a participação
mínima de 1 (hum) ano no Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica (PROVAB)
ou de 2 (dois) anos nos Programas de Residência em Medicina de Família e Comunidade / Medicina
Geral e de Família e Comunidade (PRMGFC), comprovados através dos documentos entregues no ato
da inscrição, conforme itens 4.3.f e 4.3.g deste Edital.
18. A pontuação adicional descrita no item 16 deste edital não será cumulativa, ou seja, o candidato não
terá bônus superior a 10% se porventura tiver participado dos dois programas (PROVAB e PRMGFC).
19. Os critérios de desempate serão: maior nota na prova teste, seguido de maior nota na arguição/
análise de currículo, seguido de maior idade.
20. As infrações éticas ocorridas durante todas as etapas implicarão reprovação do candidato.
21. Mesmo após o encerramento de todo o processo seletivo, não serão fornecidos exemplares do
caderno de questões.
V - DA DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS
22. O gabarito e o resultado da 1a etapa serão divulgados em 30/01/2023, após 18h00 pelo sítio
eletrônico www.cemahospital.com.br e em quadro de aviso da Comissão de Residência Médica
(COREME) localizado no Centro de Estudos Dr. Maurício Antônio Marques. Os resultados serão
divulgados por área de opção e por ordem de número de inscrição.
23. O resultado definitivo será homologado e divulgado em 07/02/2023, após 18h00, pelo sítio
eletrônico www.cemahospital.com.br e em quadro de aviso da Comissão de Residência Médica
(COREME) localizado no Centro de Estudos Dr. Maurício Antônio Marques. O resultado será divulgado
por área de opção e por ordem do número de inscrição dos candidatos. O candidato deverá guardar
o seu número de inscrição para que possa saber se foi aprovado nas diversas fases do processo
seletivo. Não serão fornecidas informações por telefone.
VI - DA INTERPOSIÇÃO DE RECURSOS
24. A interposição de recursos sobre os resultados divulgados deverá ser encaminhada até 02 (dois)
dias úteis, improrrogáveis, conforme o disposto no artigo 3º, alínea “K”, da Resolução CNRM nº
12/2004, e nos itens 26 e 27.
25. O recurso deverá ser interposto de 02 (duas) formas: a) entregues digitados e assinados em duas
vias em papel e b) enviados por correio eletrônico para o endereço centrodeestudos@cemahospital.
com.br.
26. O recurso a alguma questão deverá ser fundamentada com argumentação lógica e consistente,
cabendo 01 (hum) recurso para cada questão.
27. O deferimento aos recursos ficará à disposição dos candidatos no Centro de Estudos (COREME).
A decisão final da Banca Examinadora será irrecorrível.
28. O recurso ao gabarito e resultado da primeira fase deverá ser dirigido à nossa COREME e
protocolado no Centro de Estudos até 18h00 do dia 01/02/2023.
29. O recurso ao resultado final deverá ser dirigido à nossa COREME e protocolado no Centro de
Estudos até 18h00 do dia 09/02/2023.
30. Os recursos que não estiverem de acordo com o disposto no item VI serão indeferidos.
VII – DA OCUPAÇÃO DAS VAGAS
31. As vagas serão ocupadas pelos candidatos que alcançarem maior pontuação nas provas de
acordo com a existência de vaga devidamente autorizada pela Comissão Nacional de Residência
Médica e a existência de bolsa de estudo.
VIII – DA MATRÍCULA
32. O candidato selecionado deverá comparecer em primeira chamada, impreterivelmente, no dia
13/02/23 até as 17h00 e, em segunda chamada, impreterivelmente, no dia 16/02/2023.
33. Local: Centro de Estudos Dr. Maurício Antônio Marques, localizado à Rua Paschoal Moreira, 449,
Mooca, São Paulo - SP
34. Horário: 9h00 às 11h00
35. Para matricular-se, o candidato selecionado deverá entregar, pessoalmente ou por procurador
oficialmente constituído, a seguinte documentação:
35.1. Ficha de cadastro devidamente preenchida.
35.2. Duas fotos 3X4 recentes e coloridas.
35.3. Diploma de Médico e número do registro (CRM) junto ao Conselho Regional de Medicina do
Estado (UF).
35.4. O candidato que se inscreveu na condição de concluinte do curso de medicina, no ato da
matrícula deverá comprovar a conclusão do curso médico, por meio de documento oficial, expedido
pela instituição de ensino responsável pelo curso de Medicina correspondente. A declaração de
conclusão do curso médico será aceita a título provisório, para fins de matrícula do candidato. No
entanto, o diploma deverá ser apresentado pelo Médico Residente durante os primeiros 45 (quarenta e
cinco) dias de início do Programa de Residência Médica, sob pena de não lhe ser deferida a matrícula
para o ano seguinte e o respectivo registro no Conselho.
35.5. Xerox do CPF e comprovante de regularização (www.receita.fazenda.gov.br);
35.6. Xerox do RG (Cédula de Identidade);
35.7. Xerox do Título de eleitor e comprovante de obrigações eleitorais;
35.8. Grupo sanguíneo e fator RH;
35.9. Cópia da carteira de vacinação atualizada;
35.10. Comprovante de quitação com o serviço militar (sexo masculino);
35.11. Comprovante de inscrição no INSS (www1.dataprev.gov.br/cadint/cadint.html).
36. Ao médico matriculado, que tenha sido incorporado em Organização Militar das Forças Armadas por
alistamento obrigatório, será assegurada vaga no período seguinte da Residência Médica (Resolução
CNRM 01/2005), conforme condições descritas no item 43 deste Edital. À médica matriculada não se
aplica a exceção prevista na Resolução CNRM 01/2005, uma vez que as mulheres estão isentas do
serviço militar obrigatório (Parecer CGEPD/CONJUR/MEC 65/2008 e Ofício Circular CGRS/DHRS/
SESu/MEC 76/2009). Não há previsão legal para reserva de vagas em favor de candidatos aprovados
em cursos ou treinamentos outros de formação de oficiais oferecidos pelas forças armadas brasileiras.
37. Aos médicos participantes do Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica
(PROVAB), certificado de conclusão emitido pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde (SGTES) até a data o início do programa (01/03/2023). A não apresentação desta
documentação até esta data implicará na perda do bônus descrito no item 16 deste edital e em
possível perda da vaga. Da mesma forma, conforme parágrafo 7º do artigo 9º da Resolução 02/2015
de 27 de agosto de 2015, será excluído do processo seletivo o candidato advindo do PROVAB que
tiver solicitado a utilização da pontuação adicional e não tiver o nome publicado no Diário Oficial da
União até 31/01/2023, como tendo avaliação final satisfatória no PROVAB.
38. Aos médicos dos Programas de Residência em Medicina de Família e Comunidade / Medicina
Geral e de Família e Comunidade (PRMGFC), documento comprobatório emitido pela instituição em
que atuou.
39. Será permitida a realização de matrícula de candidato aprovado por procurador oficialmente
constituído, desde que atenda a todos requisitos determinados neste Edital.
40. O não comparecimento do candidato classificado, ou de seu procurador, no período estipulado
para matrícula implicará a perda da vaga.
IX - CANDIDATO MÉDICO ESTRANGEIRO E BRASILEIRO COM GRADUAÇÃO NO EXTERIOR
41. O candidato brasileiro que fez curso de graduação em medicina no exterior ou médico estrangeiro
que se inscreveu com declaração de revalidação de diploma, deverá apresentar documento de
revalidação do mesmo por universidade pública competente no Brasil, na forma da legislação vigente,
para que seja deferida sua matrícula. Quando estrangeiro, apresentar cópia autenticada do visto de
permanência definitivo no Brasil.
X - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
42. Os candidatos que ingressarem na Residência Médica farão jus a uma bolsa de acordo com o
estabelecido pela Lei Federal 11.381, de 01/12/2006.
43. Os candidatos serão admitidos à Residência Médica na ordem rigorosa de classificação, até o
número de vagas autorizadas pela Comissão Nacional de Residência Médica - CNRM/ MEC que
correspondem às bolsas oferecidas.
44. A inscrição neste processo seletivo implicará no compromisso de aceitação plena, por parte do
candidato, de todas as condições referentes à seleção e demais disposições constantes neste Edital e
as estabelecidas pelo regimento interno da COREME do Hospital CEMA.
45. Ao se inscrever neste processo seletivo, o candidato se declara ciente de que as atividades
dos residentes nos programas de Oftalmologia e Otorrinolaringologia poderão ser desenvolvidas no
Hospital CEMA, Instituto CEMA e em unidades avançadas de atendimento ambulatorial.
46. A convocação dos candidatos classificados para o preenchimento das vagas não preenchidas será
realizada a partir do dia 17/02/2023, por telefone e/ou correio eletrônico, tendo o prazo de 01 (hum) dia
útil para efetuar a matrícula. O candidato que não se apresentar neste referido prazo, será considerado
desistente e, portanto, desclassificado.
47. A comissão organizadora não se responsabiliza por falhas de comunicação decorrentes da
mudança de dados constantes na ficha de inscrição (e-mail, telefone etc.).
48. Em caso de desistência de algum candidato ou médico residente já matriculado, será convocado
o próximo candidato classificado, respeitada a ordem de classificação, no período máximo de 60
(sessenta) dias após o início do Programa.
49. O candidato aprovado e matriculado no 1º ano do Programa de Residência Médica credenciado
pela CNRM e convocado para prestar serviço militar obrigatório para o ano de 2014 poderá requerer,
por escrito, o trancamento de matrícula por um período de 01 (um) ano, desde que formalizado até
30 (trinta) dias corridos após o início das atividades da residência médica (Art. 1º e 2º da Resolução
nº 01/2005 da CNRM). Não haverá prorrogação por período superior a um ano. Não há previsão
legal para reserva de vagas em favor de candidatos aprovados em cursos ou treinamentos outros de
formação de oficiais oferecidos pelas forças armadas brasileiras.
51. No ato da matrícula, os Médicos Residentes assinarão o Termo de Compromisso, no qual
declararão plena ciência do teor do Regimento Interno dos programas de Residência Médica.
52. O candidato matriculado que não comparecer na instituição ofertante do Programa de Residência
Médica no prazo de 48 horas após a data do início das atividades (01/03/2023) será considerado
desistente e automaticamente eliminado do processo seletivo, sendo convocado o próximo candidato
da lista classificatória.
53. Incorporar-se-ão a este Edital, para todos os efeitos, quaisquer Editais complementares que vierem
a ser publicados pela Comissão Nacional de Residência Médica e afins, contendo alterações.
54. Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Organizadora do processo seletivo.
São Paulo, 12 de setembro de 2022
Dr. Pedro José Monteiro Cardoso
Coordenador COREME – Hospital CEMA
QUADRO RESUMO DAS DATAS
INSCRIÇÕES Inscrições via correio (data da postagem) 02/01/23 – 20/01/23
Inscrições presenciais 02/01/23 – 20/01/23
ISENÇÃO DA INSCRIÇÃO Pedido 02/01/23 – 03/01/23
Verificação do pedido 04/01/23
Recurso ao pedido negado 06/01/23
Verificação do recurso 09/01/23
PROCESSO SELETIVO Primeira fase (ambas as especialidades) 29/01/23
Segunda fase – Otorrinolaringologia 02/02/23
Segunda fase – Oftalmologia 03/02/23
RESULTADOS Resultado da primeira fase (e gabarito) 30/01/23
Resultado definitivo 07/02/23
RECURSOS Primeira fase 01/02/23
Resultado final 09/02/23
MATRÍCULA Primeira chamada 13/02/23
Segunda chamada
Convocação das vagas não preenchidas
16/02/23
17/02/23
A24 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
mercado
Amarildo
Os reais limites do gasto público
os reais limites são os sociais e econômicos, ainda mais fortes que os limites legais
- de ativos brasileiros: os juros
Ana Paula Vescovi
Economista-chefe do Santander brasil
Para serem fortes o suficiente e
críveis, as regras fiscais preci-
sam estar alinhadas com com-
promissos políticos e, portan-
to, com a sociedade.
No passado, a Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal, a regra
de ouro e o teto de gastos fo-
ram sendo alterados e reinter-
pretados, demonstrando a su-
perioridade das escolhas pú-
blicas ante os textos formais.
Contudo, a deterioração das
regras não passou impune e
elevou incerteza e riscos pa-
ra o conjunto da população.
Mas, em última instância,
as decisões de ampliar gas-
tos são limitadas por fatores
reais, pois o cobertor é curto.
Um primeiro limite para o
aumento de gastos públicos
está na disposição da socie-
dade em pagar mais impostos
de tempos em tempos para re-
| dom. Ana Paula Vescovi, Marcos Lisboa, Candido Bracher, Arminio Fraga
Dê o play no que é mais relevante e comece o dia bem informado
equilibrar as contas. A simples
falta de compensação pela al-
ta de impostos implica dívida
pública crescente e maior cus-
to de financiamento (juros).
Há países que convivem com
déficits fiscais e com dívida pú-
blica elevada. Mas esses luga-
res possuem regras e regula-
ções mais amigáveis para a
produção e o investimento e
conseguem se financiar com
juros mais baixos. Além disso,
o crescimento da economia ao
longo do tempo consegue com-
pensar essa conta de juros. Es-
se não é o caso do Brasil.
Somos um país com escas-
sez de capitais e onde a conta
de juros é bem maior do que o
crescimento potencial da eco-
nomia (juro neutro, ou seja,
aquele que não acelera nem
contrai a economia, acima de
4% ao ano, em termos reais;
No site da Folha ou na sua plataforma de áudio favorita
PIB potencial abaixo de 2% ao
ano). Ou seja, o esforço de co-
leta de tributos da sociedade,
além de pagar as despesas do
governo, ainda deve dar con-
ta de compensar esse desequi-
líbrio, próximo a 2,5% do PIB.
Assim, precisamos realizar su-
perávits primários para que a
dívida não discorra uma traje-
tória crescente e explosiva. Es-
tamos longe dessa condição.
Outra limitação vem do ciclo
econômico. A economia brasi-
leira termina 2022 sem capa-
cidade ociosa, normalizando
o consumo entre bens e servi-
ços após a pandemia e se recu-
perando de quebras de cadei-
as produtivas. O mercado de
trabalho seguirá apertado até
que o aumento de juros tenha
pleno impacto. Injetar mais
gasto público ou ter que au-
mentar ainda mais os impos-
tos significa alimentar uma in-
flação ainda distante da meta
de longo prazo, de 3%. Se ob-
servarmos um descolamento
das expectativas de inflação
para 2024 e 2025, um Banco
Central independente poderá
ser impelido a voltar a subir
o juro básico (taxa Selic) ou a
mantê-lo alto como está por
mais tempo, em vez de redu-
zi-lo. Um efeito contraprodu-
cente para a elevação de gas-
tos, nesse momento particular.
A inflação, por sua vez, aju-
da a elevar receitas públicas e
a conter a evolução da dívida
a curto prazo. Contudo, a es-
tratégia costuma durar pou-
co, até que as expectativas de
alta dos preços se descolem
da meta; e o remédio amargo
sempre recai sobre a popula-
ção, tal como observamos na
recessão entre 2014 e 2016.
Uma terceira limitação é a
percepção de risco pelos in-
vestidores (empresas ou famí-
lias, residentes ou estrangei-
ros) sobre os ativos brasilei-
ros, tais como títulos da dívi-
da, Bolsa de Valores ou mer-
cados futuros. Esses agentes
aplicam suas poupanças pa-
ra abrir um negócio, ou pa-
ra realizar seus projetos, co-
mo comprar carro, casa, previ-
dência, ou para proteger o va-
lor dos seus recursos ao longo
do tempo. Assim, quanto mai-
or o risco de aumento de im-
postos ou de aumento da in-
flação, maior o retorno exigi-
do pelos poupadores.
Outro limite está nas expec-
tativas sociais, pois a percep-
ção de bem-estar reverbera so-
bre a popularidade do governo
e ajuda a sustentar sua agen-
da. Eleições polarizadas como
as que tivemos impõem restri-
ções importantes na partida,
reduzindo o espaço para even-
tuais erros de avaliação.
Desde antes da pandemia
tem havido piora na evolução
nominais (cinco anos à fren-
te) saíram de 6,2% para 13,5%
ao ano; com idas e vindas, a
Bolsa ficou próxima a 110 mil
pontos, mesmo com valoriza-
ção de mais de 70% dos setores
de commodities; a taxa de cam-
bio saiu de R$ 4,15 para R$ 5,30
por dólar; a inflação implícita
cinco anos à frente saiu de 3,8%
para 7%! Obviamente, a situa-
ção global ajuda a compor es-
se quadro de aversão ao risco.
O risco macroeconômico não
é negligenciável. Por outro la-
do, uma melhora na percepção
de risco sobre o Brasil, com si-
nais claros de austeridade no
campo fiscal, pode trazer um
processo virtuoso entre a soci-
edade, a política e a economia.
Desde o início da guerra entre
Rússia e Ucrânia, a América
Latina, em particular México
e Brasil, está sob olhar atento
de investidores estrangeiros,
que miram um mar de opor-
tunidades associadas às no-
vas pautas (ambiental, tran-
a eee
sição energética, reaproxima-
ção de cadeias produtivas glo-
bais) e a outras mais tradicio-
nais (commodities).
Mas, para que isso ocorra,
um compromisso crível de
ajuste fiscal, ainda que gra-
dual, cumpre o papel de redu-
zir incertezas. O ajuste iniciado
em 2015 ainda não terminou.
Escolher os mais pobres co-
mo foco do orçamento públi-
co é algo amplamente deseja-
do por todos, pois a elevada
desigualdade constrange e ini-
be oportunidades. Mas é pos-
sível fazê-lo e, ao mesmo tem-
po, sinalizar compromisso fir-
me com revisão ampla do or-
çamento —excesso de gastos
obrigatórios; subsídios para os
não pobres—, melhorando fo-
co e qualidade dos programas
sociais, o que abre espaço pa-
ra compensar gastos mais ur-
gentes. E, paralelamente, seria
fundamental reeditar o com-
promisso com as reformas es-
truturais e com a sustentabili-
dade da dívida pública.
Não existe regra fiscal perfei-
ta; existem diversos desenhos
possíveis com vantagens e des-
vantagens, e os seus respecti-
vos custos. Se o teto de gastos
foi uma regra mais rígida e de-
pendente de reformas estrutu-
rais, foi também simples e, por-
tanto, fácil de promover a con-
vergência de expectativas. Na
sua origem, promoveu a con-
vivência com juros mais baixos
e inflação sob controle. Outras
regras, mais flexíveis, tendem
a ser mais complexas e, pos-
sivelmente, menos eficientes
em relação aos objetivos pre-
tendidos.
É preciso estabelecer prio-
ridades e reconhecer as limi-
tações reais que a conjuntu-
ra impõe. Comunicar tais es-
colhas e “amarrar as próprias
mãos” com um ponto de par-
tida moderado no orçamento
federal e uma regra fiscal crí-
vel contribuirão para reduzir
incertezas, atrair apoios e in-
vestimentos e abrir um cami-
nho mais seguro para a reali-
zação da agenda social.
saúde
Reforço com vacina bivalente contra
Covid-19 pode ficar restrito a grupos
Especialistas sugerem a ministério dose atualizada para idosos, gestantes e imunossuprimidos
-
Samuel Fernandes
São Paulo A CTAI (Câmara
Técnica Assessora em Imuni-
zações)recomendouaoMinis-
tériodaSaúdenaúltimaquar-
ta-feira (30) que as vacinas bi-
valentes contra a Covid-19 se-
jam usadas como dose de re-
forço somente em grupos de
maiorrisco,comoidosos,imu-
nossuprimidos e gestantes.
Para outros públicos, como
jovenssemcomorbidades,fal-
tam evidências sobre as van-
tagens que um novo reforço
traria em evitar quadros mais
graves da doença.
De forma parecida, essa é a
recomendaçãodadaàcoorde-
nação da saúde da transição
do governo eleito Luiz Inácio
Lula da Silva (PT).
Arthur Chioro, ex-ministro
da Saúde e integrante da co-
ordenação, afirma que um fo-
co importante na transição é
regular o esquema de vacina-
çãojárecomendadoparaapo-
pulação —por enquanto, não
se discute a possibilidade de
quinta dose para grupos não
prioritários.
A pasta chefiada por Marce-
lo Queiroga anunciou no últi-
mo dia 25 que doses da vacina
bivalente produzida pela Pfi-
zer deveriam chegar ao Bra-
sil neste mês.
O imunizante recebeu no
dia 22 de novembro aprova-
ção emergencial da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilân-
Profissional prepara dose de vacina contra Covid em ação para imunizar passageiros no Terminal Santo Amaro, na zona sul de SP, no mês passado
Anti-inflamatórios podem resultar em alterações nos dentes
-
Julia Moióli
agência FaPeSP Estudo feito
na USP (Universidade de São
Paulo) e divulgado na revista
Scientific Reports revela que
medicamentos anti-inflama-
tórios de uso comum na in-
fância podem estar ligados a
defeitos de desenvolvimen-
to do esmalte dentário, que
hoje ocorrem em aproxima-
damente uma em cada cinco
crianças no mundo.
Os autores, ligados às facul-
dades de Odontologia de Ri-
beirão Preto (FORP-USP) e de
Ciências Farmacêuticas de Ri-
beirãoPreto(FCFRP-USP),in-
a eee
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
cia Sanitária) para ser usada
em maiores de 12 anos.
Os imunizantes são com-
postos da cepa original do
Sars-CoV-2 e também de sub-
variantesdaômicron.Existem
dois modelos: um contém a
BA.1 e outro, a BA.4 e BA.5.
Por essa composição, eles são
uma forma eficaz contra as
formas do vírus com maior
circulação no Brasil.
Oquantitativodedosesdes-
sa entrega não foi informado
à Folha nem pelo ministério
nem pela farmacêutica.
A orientação atual do mi-
nistério é que, em pessoas
acima de 40 anos, sejam apli-
cadas duas doses de reforço
—configurando no total qua-
tro doses para as vacinas da
Pfizer, AstraZeneca e Corona-
vac e três no caso da Janssen.
As recomendações dadas
pela CTAI vêm no momento
em que o Ministério da Saú-
de planeja o que fazer com as
novas vacinas.
A orientação de direcioná-
las para públicos mais vulne-
ráveis como um novo reforço
não é uma definição, já que a
48,4% dos
brasileiros
já haviam tomado pelo
menos uma dose de
reforço até setembro
vestigaram os efeitos de dro-
gas como o celecoxibe e in-
dometacina, que pertencem
à classe dos AINEs (anti-in-
flamatórios não esteroidais)
e representam —ao lado do
paracetamol— o primeiro
degrau da escada analgésica
da dor da OMS (Organização
Mundial de Saúde).
Nos últimos anos, os dentis-
tasdaClínicadoEsmalteDen-
tário da FORP-USP, que pes-
quisam e lidam diariamente
com o problema, vêm obser-
vando um aumento conside-
rável no número de crianças
atendidas com dor, manchas
brancas ou amarelas e sensi-
B1
câmara não tem função deci-
sória. Mas, normalmente, o
ministério segue o que o gru-
po recomenda.
Aexpectativaéque,nospró-
ximos dias, a pasta chefiada
por Marcelo Queiroga divul-
gue um informe técnico atu-
alizando o esquema vacinal
contra Covid-19. Se as altera-
ções realmente ocorrerem,
uma quinta dose (ou quarta,
para quem tomou Janssen)
com o imunizante bivalente
pode ser administrada para
grupos de maior risco.
A Folha perguntou ao mi-
nistério se ele pretende se-
guir a direção da CTAI, mas,
até a conclusão desta edição,
não houve resposta.
A recomendação da câmara
técnica deixa de fora pessoas
mais jovens e sem comorbi-
dade do público-alvo das va-
cinas atualizadas.
DeacordocomRenatoKfou-
ri, diretor da Sociedade Brasi-
leira de Imunizações (SBIm)
e membro da CTAI, a razão
disso é que faltam evidênci-
as da real necessidade de re-
vacinar os mais jovens com o
novo modelo. “Nós não temos
evidência de perda de prote-
ção para formas graves em jo-
vens”, diz Kfouri.
Mesmo assim, ele ressal-
ta que, no futuro, o cenário
epidemiológico pode mudar
e então passar a ser necessá-
ria mais uma dose de refor-
ço também para esse públi-
bilidadeefragilidadedosden-
tes, que inclusive acabam fra-
turadospelaforçadamastiga-
ção —todos sintomas clássi-
cosdosdefeitosdedesenvolvi-
mentodoesmaltedentáriodo
tipo hipomineralização, cuja
causa central ainda é desco-
nhecida. Como consequên-
cia, lesões de cáries aparecem
mais rapidamente e com mai-
or frequência.
Uma coincidência desper-
tou a curiosidade dos pesqui-
sadores para se aprofundar
no tema: a idade dos pacien-
tes. Os primeiros anos de vi-
da, quando os defeitos no es-
malte se formam, coincidem
co.“Seentendermos quemes-
mo em jovens saudáveis sem
fatores de risco tiver aumen-
to de risco de hospitalização
e de formas graves, talvez se-
ja a estratégia vacinar todo
mundo de novo.”
O posicionamento é reite-
rado por Chioro, da transição
de Lula. Ele também recebeu
aconselhamentos de especia-
listas e reafirma que a vacina
bivalente, pelo menos com os
dados atuais, não vai ser indi-
cada para jovens no relatório
entregue ao futuro ministro
da Saúde. “A bivalente teria
um espaço para grupos mais
vulneráveis”, resume.
Para públicos com meno-
res chances de evolução pa-
ra quadros graves, o esforço
vai ser o de ampliar a taxa de
cobertura vacinal para quem
ainda não tomou as doses dos
imunizantes monovalentes.
“O que ficou claro é que não
adianta só comprar vacina,
porque hoje tem [imunizan-
tes] e as pessoas não estão
tomando. Reduziu absurda-
mente a adesão da popula-
ção”, diz Chioro.
Dados do consórcio de ve-
ículos de imprensa apontam
que, até setembro deste ano,
48,4% dos brasileiros já havi-
am tomado pelo menos uma
dose de reforço. Em relação
a duas doses ou uma aplica-
ção da Janssen, havia cerca
de 80% da população.
Entre as crianças, os núme-
com a época em que doenças
são mais frequentes, muitas
vezes com febres altas.
“Essas doenças geralmen-
te são tratadas com anti-in-
flamatórios não esteroidais,
que atuam inibindo a ativi-
dade das COXs (enzimas ci-
cloxigenases)e a produção da
enzima prostaglandina, cu-
jos níveis se apresentam au-
mentados”, afirma Francisco
de Paula-Silva, professor do
Departamento de Clínica In-
fantil da FORP-USP e orienta-
dor do estudo.
“Entretanto, sabemos que
as cicloxigenases e a prosta-
glandina são fisiológicas pa-
ros são menores: entre as de 3
a 11 anos, somente 36% estão
completamente imunizadas
com duas doses. “Não adian-
ta fazer um reforço com a bi-
valente se não vacinar as cri-
anças”, afirma Chioro.
As vacinas atualizadas já
são adotadas em países que
buscam controlar a dissemi-
nação de novas variantes do
Sars-CoV-2 e evitar quadros
graves de Covid-19.
No caso dos Estados Uni-
dos, o CDC (Centro de Con-
trole de Doenças dos Estados
Unidos) recomenda doses de
vacinas bivalentes para adul-
tos e adolescentes desde se-
tembro. A indicação passou
a ser também para crianças
em outubro.
Recentemente, o órgão de-
senvolveu um estudo clínico
cujos resultados foram pu-
blicados na última terça (22).
Na pesquisa, o manejo de
uma dose dos imunizantes
bivalentes resultou em uma
proteção adicional para evitar
casos sintomáticos em pesso-
as que tivessem tomado du-
as, três ou quatro aplicações
36% das
crianças
de 3 a 11 anos
estão completamente
imunizadas com 2 doses
Bruno Rocha/Agência Enquadrar/Agência O Globo
ra o esmalte dentário, o que
nos levou a questionar se es-
ses medicamentos não esta-
riam interferindo no curso da
formaçãonormaldessaestru-
tura”, afirma.
O estudo, que contou com
apoio da Fapesp, utilizou ra-
tos para estudar o problema,
já que os animais possuem in-
cisivos com crescimento con-
tínuo. Durante28 dias, eles fo-
ram tratados com celecoxibe
e indometacina.
Após esse período, prati-
camente não foram observa-
das diferenças visíveis a olho.
No entanto, quando os pes-
quisadores iniciam as extra-
dos modelos originais.
A proteção cresce quanto
maior for o período de meses
em que a pessoa recebeu a úl-
tima dose do imunizante ori-
ginal.Emindivíduosde50a64
anos, o reforço com uma vaci-
na atualizada contra a Covid
levou a uma melhora da efeti-
vidade relativa de 31% de dois
a três meses depois da última
dose monovalente.
Caso a aplicação do imu-
nizante bivalente fosse feita
após oito meses da última do-
se de um fármaco composto
somente com a cepa original
do Sars-CoV-2, a melhoria da
efetividade alcançaria 48%.
Na Austrália, o Grupo Con-
sultivo Técnico Australiano
sobre Imunizações (Atagi,
na sigla em inglês) recomen-
da as vacinas bivalentes tanto
da Pfizer quanto da Moderna
parapessoasacimade18anos.
A autorização para o uso
do imunizante da Pfizer, no
entanto, é recente. Segundo
a Reuters, é esperado que o
país receba 4,7 milhões de do-
ses da farmacêutica e comece
a aplicar o fármaco como re-
forço no próximo dia 12.
Na América Latina, o Chile
também já autorizou a apli-
cação de reforço tanto para a
PfizerquantoparaaModerna.
Diferentemente do que ocor-
reu nos Estados Unidos e na
Austrália, o país optou por se-
guir um método de disponi-
bilizar os novos reforços pa-
ra públicos de maior risco, se-
guindo um modelo mais pró-
ximo do proposto ao Ministé-
rio da Saúde brasileiro.
Inicialmente, só profissio-
nais de saúde e pessoas imu-
nossuprimidas com mais de
12 anos tinham autorização
para o imunizante. Mas, com
o tempo, o Chile aumentou
o público e agora quem tem
mais de 60 anos faz parte des-
se grupo de vacinação.
ções, chamou atenção o fato
de que os dentes quebravam
com maior facilidade. Análi-
ses por método de imagem e
de composição química in-
dicaram impacto na minera-
lização dos dentes, que con-
tinham menos cálcio e fosfa-
to, importantes para a forma-
ção do esmalte dentário, esua
densidademineraleramenor.
Os cientistas constataram
queproteínasimportantespa-
ramineralização esinalização
para diferenciação celular se
apresentavam alteradas, indi-
cando que o tratamento com
os medicamentos impactava,
o esmalte dentário.
B2 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 a eee

cotidiano
Futuro secretário de Educação de ta diz que nenhum incidente
provocou as mudanças e que
a proibição ao uso da farda e
armas pelos policiais já acon-

SP recuou de propostas no Paraná

Teleaulas no ensino médio são descontinuadas, e escolas cívico-militares terão novo modelo
-
Isabela Palhares
SÃO PAULO OsecretáriodeEdu-
cação do Paraná, Renato Fe-
der, precisou rever e recuar
em duas de suas principais
apostas para melhorar o en-
sino do estado após resistên-
cia e descontentamento de
alunos e professores.
Feder foi escolhido pelo go-
vernador eleito Tarcísio de
Freitas (Republicanos) para
comandar a educação paulis-
ta a partir de 2023. O empre-
sário é visto como um nome
com experiência na gestão
de grandes redes de ensino
e também por defender e ter
adotado políticas alinhadas
aos interesses do setor priva-
do da área.
Uma das principais políti-
cas de privatização adotadas
por Feder, no entanto, será
descontinuada no próximo
ano letivo. O secretário con-
tratou uma faculdade parti-
cular por R$ 38,4 milhões no
início de 2021 para transmi-
tir aulas pela televisão para
os alunos nas escolas.
As teleaulas eram leciona-
das nas disciplinas que com-
põemoitinerárioprofissiona-
lizante do novo ensino médio.
Pelo contrato, as aulas nesse
formato podiam ser transmi-
tidas simultaneamente para
até 20 turmas de diferentes
escolas —ou seja um profes-
sor dava aula a distância pa-
ra cerca de 800 alunos.
A medida foi adotada sem
consulta aos professores, fa-
mílias e alunos. Em abril, es-
tudantes de diversas escolas
passaramaserecusaraacom-
panhar as aulas nesse forma-
to em protesto.
A justificativa de Feder para
aderir ao modelo é de que o
Paraná conseguiria dessa for-
ma duplicar a oferta de vagas
em ensino técnico, passando
de 15 mil matrículas, em 2021,
paracercade37milnesteano.
Apesarde,naépocadospro-
testos estudantis, Feder ter
afirmado à Folha que a insa-
tisfação era de uma minoria,
sua gestão decidiu não seguir
com o modelo em 2023.
A partir do próximo ano, a
secretaria vai recolocar pro-
fessores da rede estadual pa-
ra ministrar as aulas dos iti-
nerários formativos. Os con-
teúdos feitos pela faculdade
particular Unicesumar só se-
rão transmitidos nas turmas
em que não houver docente.
“A secretaria é pragmática.
Após diálogo com a comuni-
dade escolar e avaliação dos
resultados do projeto em di-
ferentes municípios ao longo
de2022,asecretariaoptoupor
realizar adaptações no mode-
lo, de acordo com as deman-
das de cada colégio”, afirmou
a pasta ao ser questionada so-
bre o recuo.
Também disse que foram
abertos dois processos sele-
Aluna
protesta
contra
teleaulas em
escolas no
Paraná, em
abril deste
ano Acervo
Pessoal
tivos para a contratação de
professores habilitados para
ministrar essas aulas.
“Sem ter apresentado ne-
nhum estudo sobre as van-
tagens do projeto ou ter con-
sultado os alunos, o secretá-
rio fez um experimento com
as teleaulas. Gastou dinheiro
público, colocou em jogo um
ano da vida escolar dos jo-
vens para agora recuar”, dis-
se Walkiria Mazeto, presiden-
te da APP (Sindicato dos Tra-
balhadores em Educação Pú-
blica do Paraná).
Outra mudança importan-
te em uma política que foi
aposta de Feder é no formato
de gestão das escolas cívico-
militares. O empresário pro-
moveu uma das maiores ex-
pansões do país nesse mode-
lo, aplicando-o em 195 unida-
des estaduais.
No formato desenhado ori-
ginalmente,policiaismilitares
eramdesignadospelaSecreta-
ria da Segurança Pública para
serem diretores das escolas.
Mas, no início de novem-
bro, o governo do estado en-
viou à Assembleia Legislati-
va uma proposta, em regime
de urgência, para alterar essa
regra e passar a tarefa de de-
signar os diretores para a Se-
cretaria da Educação, como
ocorre nas demais unidades.
Com a alteração, os militares
passam a ter o cargo de “mo-
nitores educacionais”.
A proposta também pre-
vê que os militares não usem
mais farda nem andem arma-
dos dentro das escolas, como
é permitido atualmente.
“Eles perceberam que não
é qualquer um que pode ser
diretor de uma escola, que o
ensino não pode ser condu-
zido por militares só porque
alguns defendem que jovens
devemserdisciplinados.Tam-
bém perceberam que a con-
duta militar, que prevê o uso
de armas, não cabe dentro da
escola”, disse Cássia Domicia-
no, professora de pedagogia
da UFPR (Universidade Fede-
ral do Paraná).
Em nota, a Secretaria da
Educação do Paraná disse
que as mudanças no progra-
ma ocorrem para “reforçar o
caráter preponderantemente
pedagógico do projeto”. Apas-
tecia na prática.
Domiciano, que é também
integrante do Greppe (Gru-
po de Estudos e Pesquisa em
Política Educacional) da Uni-
camp, destaca que os recuos
nas políticas poderiam ser
evitados se as decisões tives-
sem sido embasadas em es-
tudos e na opinião da comu-
nidade escolar.
“Quem vai implementar a
política em sala de aula preci-
sa ser consultado e aderir ao
projeto,docontrárioquemsai
prejudicadosãoosalunosque
acadaanoencontramumpro-
grama diferente, uma política
diferente”, diz a especialista.
Antes de deixar a secretaria
do Paraná, Feder tenta ainda
implementar uma nova polí-
tica que tem sofrido resistên-
cia de professores.
Noiníciodeoutubro,elepu-
blicou um edital para contra-
tar empresas para gerir 27 es-
colas estaduais consideradas
mais vulneráveis.
Segundo a pasta, a resistên-
ciaéfrutode“informaçõesfal-
sas” que foram divulgadas so-
bre o projeto e diz que mode-
los assim não são uma novi-
dade e que “existem em diver-
sas partes do mundo”.
“Não foi apresentada ne-
nhuma análise do impacto
positivo desse tipo de gestão
privada. O programa parte
unicamente do pressuposto
de que a iniciativa privada faz
uma gestão melhor do que o
Estado”, diz Domiciano.
Aequipedogovernadorelei-
to vê a educação como uma
das áreas mais sensíveis no
início de mandato.
Como o ano letivo come-
ça em 6 de fevereiro, a nova
gestão terá pouco tempo pa-
ra fazer os ajustes necessári-
oseassimevitarosproblemas
que atualmente afetam as es-
colas. A falta de professores
nas escolas estaduais paulis-
tas é vista como um dos prin-
cipais desafios.

MORTES coluna.obituario@grupofolha.com.br
Preso na ditadura, lutou por
direitos dos trabalhadores
octaviano Pereira dos santos (1936-2022)
-
Bruno Lucca busca de trabalho.
Em 1968, ano de eclosão
SÃO PAULO Companheiro de da greve, Santos trabalhava
lutainabalável.Assimoscole- na Brown Boveri, fabricante
gas de Octaviano Pereira dos suíça de equipamentos elé-
Santos, conhecido como Ti- tricos e ferroviários. Lá, foi
grão, o descrevem. um dos responsáveis por fa-
Santos foi diretor do Sin- zer os trabalhadores se junta-
dicato dos Metalúrgicos de rem às manifestações em so-
Osasco e Região e uma das lidariedade aos operários da
lideranças da greve de 1968, Cobrasma (Companhia Bra-
que marcou a história da re- sileira de Material Ferroviá-
sistência operária à ditadu- rio), que iniciaram as mobi-
ra militar. lizações antissistema.
O líder sindical nasceu em Pouco tempo depois, San-
Guanambi, cidade interiora- tos foi um dos dirigentes pre-
na da Bahia, em 9 de maio de sos pelo Dops (Departamen-
1936. Nos anos 50, migrou pa- todeOrdemPolíticaeSocial),
ra o estado de São Paulo em responsável pela repressão a
Dirceu Teixeira de Oliveira
Um homem sensacional, um pai,
avô e esposo maravilhoso!
Missa 6 meses
04/12 às 18 horas, Igreja São Pedro São Paulo
Rua Circular do bosque, 31 - Cidade Jardim
Com imensa dor na alma, comunicamos o falecimento de
comunistas, anarquistas, sin- lo), além de ter sido fundador ‘O ódio não pode
vencer’, diz professora
dicatos e movimentos sociais e ex-presidente da Uapo (Uni-
durante a ditadura.
Liberado da prisão, sofreu
ão dos Aposentados e Pensi-
onistas de Osasco).
retaliação e não conseguiu
mais emprego em metalúr-
gicas, tendo que trabalhar co-
“Em 1968, ele foi uma das
lideranças sindicais que atu-
ou para organizar os traba-
ferida em ataque no ES
mo taxista por anos. lhadores de Osasco por di- -
Rafael Gomes tar para a sala de aula, ba-
Apesar de estar fora das fá- reitos. Enfrentou a prisão, tendo papo. De repente, ou-
bricas, ele dividiu sua rotina sofreu retaliação, mas re- VitóriA Foi na fé e no poder vimos um barulho que nin-
nas ruas com a militância sin- sistiu e, desde então, atuou de sua ancestralidade que a guém entendia de onde vi-
dical. Ele dizia ter a convicção em diversas lutas em defe- professora indígena Prisci- nha. Era tiro. Ele chegou
de que unidos os trabalhado- sa da classe trabalhadora, la Queiroz buscou força pa- sem dizer nada, atirando.
res são mais fortes. mesmo depois de aposen- ra lutar pela vida após ser Foi tudo muito rápido, mas
Em relato feito ao grupo de tado”, afirmou Gilberto Al- atingida por três tiros nos ao mesmo tempo parece ter
trabalho da Comissão Naci- mazan, presidente do Sin- ataques que deixaram qua- durado uma eternidade. Eu
onal da Verdade, que inves- dicato dos Metalúrgicos de tro mortos em duas escolas não conseguia acreditar que
tiga violações de direitos hu- Osasco e Região. de Aracruz, no Espírito San- aquilo estava acontecendo.”
manos ocorridas no período “Ele nos deixa um forte le- to, no último dia 25. Priscilaestavaemumame-
militar, ele disse nunca ter se gado de luta e resistência, o E é no amor e na educação sa, de costas para o atirador,
arrependido de seus atos, os qual sempre vai nos inspirar que Priscila agora promete quando recebeu o primeiro
quais repetiria. a fortalecer a cada dia a luta depositar sua dedicação pa- tiro —ela não o conhecia. O
Santos foi também um dos por um país mais justo e soli- ra superar o trauma. disparoatravessousuaclaví-
fundadoreseex-diretordaFa- dário”, afirmou. “Fomosatingidosemcheio culae ela caiu.“Enquantoeu
pesp (Federação das Associ- Octaviano Pereira dos San- porumaculturadoódio.Mas caía, ele me deu outro tiro.
ações de Departamentos de tosmorreunoúltimodia12de o amor é quem dá a última Fiquei de bruços e, quando
Aposentados, Pensionistas e novembro, aos 86 anos. Ele palavra, poiselesempre ven- olhei, vi que ele estava aba-
Idosos do Estado de São Pau- deixacincofilhose oitonetos. ce. E, como educar é amar, tendo um a um, atirandoaté
essa vai ser a minha motiva- matar. Quando ele saiu, me
ção agora. Precisamos per- arrastei para debaixo da me-
sistir na educação e mostrar sa, com medo de ele voltar.”
Procure o Serviço Funerário Municipal de São Paulo: que ela é libertadora,que ela A professora relata que
tel. (11) 3396-3800 e central 156; prefeitura.sp.gov.br/servicofunerario. salva e edifica. É assim que sentiu uma dormência e,
Anúncio pago na Folha: tel. (11) 3224-4000. vamos vencer”, diz a profes- por algum tempo, não con-
Seg. a sex.: 10h às 20h. Sáb. e dom.: 12h às 17h. sora de língua portuguesa. seguiu mexer as pernas. “Eu
Priscila Queiroz,40, é indí- estava em uma poça do meu
Aviso gratuito na seção: folha.com/mortes até as 18h para publicação
no dia seguinte (19h de sexta para publicação aos domingos) ou gena da etnia Tupiniquim, própriosangue,tentandome
pelo telefone (11) 3224-3305 das 16h às 18h em dias úteis. informe nascida e criada na aldeia manter acordada. Uma cole-
um número de telefone para checagem das informações. Caieiras Velha, onde vivem ga caiu do meu lado e infeliz-
cerca de 700 famílias. mente veio a óbito.”
O município de Aracruz, Em 57 segundos, o adoles-
onde os ataques ocorreram, cente de 16 anos efetuou 30
é reconhecido pela grande disparos, matando três pro-
concentração de povos ori- fessoraseferindooutrascin-
ginários, inclusive descen- co. Priscila foi socorrida e le-

FLAVIO ROBERTO HUCK

dentes diretos do grupo de
indígenas que vivia no lito-
ral brasileiro quando os por-
tugueses chegaram ao país.
querido pai, sogro, irmão, cunhado, tio e avô, ocorrido ontem, em São Paulo. “Meupovoéresilienteees-
táháséculoslutandopelaso-
O velório terá lugar no Funeral Morumbi, à Av. Giovanni Gronchi, 1.358, brevivência. A luta presente
Capital, hoje - dia 04/12/2022 - das 15h00 às 19h00. Com muita saudade, na minha ancestralidade me
fortaleceu”, afirma ela.
despedem-se Fernando e Adriana, Mariana e Rafael, Perla e Marcelo, Hádoisanoslecionandona
Sheila e Marcelo, Angélica e Luciano e os netos Zac, Tiago e Gael. escola Primo Bitti, ela conta
que no dia do ataque a sala
Sempre conosco, fez o bem e descansará em paz! dos professores estava cheia
devidoaohorárioderecreio.
“Estávamos prestes a vol-
vadaaumhospitalparticular
a cerca de 24 km da escola.
Teve alta quatro dias depois.
Agora, com menos dores,
Prisciladizquetambémestá
se curando psicologicamen-
te com a enxurrada de amor
e apoio que vem recebendo
de familiares, amigos e des-
conhecidos. Ela já projeta o
retorno para a sala de aula.
“Cada um vai reagir de
uma forma. Mas, falando
por mim, vou voltar porque
o ódio não pode vencer.”
a eee Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 B3

cotidiano

‘Perder corpo como forma de frequente e mais forte e, por

fim, veio a dificuldade de fa-
la e deglutição.
No início, achamos que era
quei. É um grande alívio!
Tanto o hospital como a clí-
nica foram muito bons e ne-
cessários, mas a falta de pri-

expressão é morrer um pouco’

uma questão emocional e, de
2020 até o início de 2022, fui
tratada como portadora de
síndrome conversiva.
Os sintomas foram pioran-
do e se tornaram tão intensos
marina Abib foi diagnosticada com encefalite autoimune e reaprende a andar que fui internada na UTI, in-
tubada, colocada no ventila-
dor pulmonar e em coma me-
dicamentoso paraquefossem
controlados.
O diagnóstico foi muito
complicado. A maioria dos
exames foi normal, exceto o
eletroencefalograma. Os mar-
cadores tradicionais de ence-
falite vieram negativos, mas o
quadro clínico somado à res-
posta ao tratamento confir-
maram o diagnóstico. É o que
se chama de encefalite autoi-
mune soronegativa.
Para o neurologista Lécio
Figueira Pinto foi uma deci-
são difícil porque o quadro
clínico era muito típico, po-
rémosexamesnãoajudavam.
Depois de discutir o caso com
outro neurologista que tam-
bém concordou com o diag-
nóstico, o tratamento foi ini-
ciado após a minha piora na
UTIehouveclararespostaem
alguns dias.
Com o tratamento, gradu-
almente fui me recuperando.
Desde oinício, quando esta-
va no hospital ou na clínica, o
tratamento toma todo o meu
dia.Estoureaprendendotudo.
Hoje, isso continua, mas fe-
lizmente estou em casa. Uma
Marina Abib, 34, tem experiências no balé clássico, na ginástica artística e na capoeira Georgeos Portugalus casa que aluguei em São Pau-
lo porque meu pai mora em
Ilhabelaeminhamãe,emBra-
vacidade, de autonomia e de
escolha foram sufocantes pa-
ra mim. Estar em casa já é
um grande passo para o tra-
tamento e, além dos profissi-
onais envolvidos, ela é capaz
de acolher a família e os ami-
gos, o que faz toda a diferen-
ça. Por isso fiz questão de co-
meçar por esse ponto.
Sou acompanhada por cui-
dadoras24horas,façosessões
de fonoaudiologia, fisiotera-
pia, dança, terapia, infusões
quinzenais de imunoglobu-
lina, além de consultas com
psiquiatra e consultas recor-
rentescommeuneurologista.
No momento, estou em fase
detransiçãoporcausadodes-
mame da sonda, o que pode
alterarumpoucoessequadro.
Já tirei atraqueostomia; vol-
tei a falar, mas com certa difi-
culdade; e consigo comer ali-
mentos pastosos e já alguns
sólidos. Caminho com órte-
se e andador e é quase inevi-
tável não dançar no meio do
caminho. Minha dança sem-
pre teve uma conexão com o
chão, então voltei a dançar
no chão mesmo, com as per-
nas que bem aos poucos co-
meçam a responder.
A parte mais difícil é não ter
autonomia e privacidade. Na
última década, vivi e construí
minha carreira entre Brasil e
Europa, então ainda não ter a
capacidadedesubirumaesca-
da, comer o que tiver na fren-
te, carregar a mala nas costas
efazerascoisaspormimmes-
ma é muito difícil.

-
Stefhanie Piovezan
São Paulo A inércia já foi o
maior medo da bailarina e
coreógrafa Marina Abib, 34.
“Amo a liberdade que a dan-
ça proporciona. Eu preciso
apenas do meu corpo e nada
mais”, afirmou em uma entre-
vista de 2018.
Mas neste ano o temor ma-
terializou-se. Pernas e braços
que costumavam viajar por
ritmos e países conheceram
a imobilidade.
O sorriso contagiante silen-
ciou. Marina foi diagnostica-
da com encefalite autoimune
soronegativa (veja a seguir o
depoimento dela), foi induzi-
da ao coma e está reconquis-
tando o controle do próprio
corpo com ajuda de um tra-
tamento intenso.
Para cobrir os custos da te-
rapia, seus amigos e familia-
res buscaram apoio da plata-
forma Inspirativos, que lan-
çou uma campanha de arre-
cadação de fundos.
De acordo com o publici-
tário Marco Antonio Iarussi,
idealizador dos vídeos de di-
vulgação da iniciativa, a me-
Esclerose Múltipla do Hospi-
tal Sírio-Libanês, Tarso Adoni
explica que encefalite é a in-
flamação que acomete o cére-
bro, o cerebelo e/ou o tronco
encefálico. Aregiãoprejudica-
da varia a depender da causa
da doença.
Entre as encefalites infec-
ciosas, é comum a causa ser
um vírus, como os vírus da fa-
mília herpes ou o HIV. Parasi-
tas e bactérias como a Trepo-
nema pallidum, que provoca
a sífilis, também podem oca-
sionar a doença.
As encefalites autoimunes,
por sua vez, são desencadea-
das por uma reação de prote-
ção do organismo.
Por exemplo: o paciente po-
de ter um tumor com uma
proteína semelhante a algu-
ma estrutura do sistema ner-
voso central. Na tentativa de
combater o tumor, o sistema
imunológico ataca também
essa estrutura, provocando
uma infecção.
Lívia Dutra, coordenadora
científica do Instituto do Cé-
rebro do Hospital Israelita
Albert Einstein, conta que a
doença foi descrita em 2007.
“
casos ainda não está clara e gançaPaulista.Comotodosos Tive meu corpo como for-
vem sendo investigada em médicos estão em São Paulo, ma de expressão desde que
uma iniciativa que une a Aca- a família teve que se reorgani- me entendo por gente, per-
demia Brasileira de Neurolo- Minha dança sempre zar para alugar uma casa aqui der isso é morrer um pouco.
gia, o Einstein, o Grupo Fleu- paraqueeupudesseestarpró- A expectativa com o trata-
ry e a Universidade de Viena.
teve uma conexão xima dos médicos e dos pro- mento é que eu volte a ter mi-
Existetambémumapesqui- com o chão. Voltei fissionais que estão fazendo nha vida normal, como antes,
sa em parceria com a Univer- a dançar no chão a minha reabilitação. ou até melhor com os apren-
sidade Stanford para o mape- Estaremcasafoimuitobom dizados que a dor traz.
amento genético dos pacien- mesmo, com as e fez uma grande diferença. Afinal, para mim, dança é
teseumgrupodetrabalhopa- pernas que bem aos É um lugar que tem os meus sangue, é vida, é mar, é rua,
ra definir as orientações de contornos, que não é frio e é ‘tudo o que não invento é
tratamento de acordo com poucos começam cheio de protocolos como o falso’, emprestado de Mano-
os subtipos da enfermidade. a responder hospital e a clínica onde fi- el de Barros.”
Há grande chance de re-
cuperação, principalmente
quando a doença é diagnos-
ticada rapidamente e o trata-
mento é iniciado logo, e mui-
tos pacientes retomam suas
funções.
“A forma como vemos o pa-
ciente, tão debilitado, habitu- COMO ESTÁ SUA AUDIÇÃO?
almente não reflete o desfe-
Pilhas
cho final, depois de tratado”, R$ 13,00
conclui a médica. NOVA UNIDADE
OSASCO !
★
“Durante alguns anos, apa- (Renova)
reciam manchas vermelhas **
nas mãos e pés que iam e vi- Aproveite!
nham. Comecei depois a ter
esporadicamente visão du- Central de atendimento (11) 3340-9190 - (11) 97599-7028 - (11) 2361-0463
comprando até 3 cartelas

ta é angariar ao menos R$ 360 Estima-se que ela afete mun- pla e uma dificuldade no an-
*R$ 13,00 por cartela

**verifique condições

mil, o suficiente para seis me-
ses de tratamento.
Coordenador do Centro de
dialmente entre 7 e 13 pesso-
as a cada 100 mil habitantes.
No Brasil, a quantidade de
Liberdade - Rua Galvão Bueno, 412 cj 29 Penha - Rua General Sócrates, 216 - cj 12
dar, um desequilíbrio repen-
tino que depois passava. Esse Santana - Rua Voluntários da Pátria, 3744 cj 13 São Miguel - Rua Arlindo Colaço, 328 - Cj 34
desequilíbrio foi ficando mais Lapa - Rua Faustolo, 1656 Oscar Freire - Rua Oscar Freire, 1560
/orient_audio www.orientaudio.com.br Osasco - R. Cônego Afonso, 53

Temporal provoca
estragos e deixa BIANCO ADESIVO
CORALIT TOTAL
Acetinado - B. D'Água
um morto no RS 3,6 Litros
Cód.: 14491
3,6L - Branco
Cód.: 4418560
De R$ 139,90 De R$ 179,90
SalVaDoR As chuvas que

109, 90 139, 90
Por
atingem o Rio Grande do Por
Sul provocaram estragos R$ R$
e deixaram ao menos uma Desconto Economize Desconto Economize
-21% R$ 30, 00 -22% R$40, 00
vítima fatal nesta sexta (2)
Um homem de 26 anos
morreu e outro ficou feri- CIMENTCOLA ACIII KIT ANTIGOTA
do após um desabamento Flexível - 20kg Completo - AT1017
no município de Venân- Cinza Cód.: 1000990
Cód.: 878660
cio Aires (130 km de Por- De R$ 61,90
De R$ 53,90
to Alegre).
42, 90
Por

48,
Por
Deacordocomaprefeitu- 90 R$
R$
ra,osdoishomensestavam Desconto Economize

de moto e pararam para se

Desconto Economize -20% R$ 11,00
-21% R$13, 00
abrigar próximo a um mu-
ro, que acabou desabando. SIFÃO TUBO Extensível PISO PD-35410
Um deles morreu e o outro, Ref.: 7150 SELANTE PU 45 X 45
Branco Cinza - 400g Cx. C/ 2,32m2
um homem de 33 anos, fi- Cód.: 1595730 Cód.: 2411721 Cód.: 12356
cou ferido. De R$ 8,90 De R$ 27,90 De R$ 21,49/m 2
O temporal, que incluiu
6, 90 21, 90 16, 49/m
Por Por Por 2
chuva de granizo, alagou R$ R$ R$
ruas e provocou estragos Desconto Economize Desconto Economize Desconto Economize
na cidade. Um dos locais -22% 2,
R$ 00 -22% 6,
R$ 00 -23% 5,
R$ 00
mais atingidos foi o Parque
do Chimarrão, que abriga-
ria um festival gastronômi- R. Ática, 47- Brooklin - SP/SP AMPLO
co neste fim de semana. O Tels.: [11]
ESTACIONAMENTO

evento foi cancelado.
A prefeitura de Venân-
cio Aires decretou estado
de emergência.
Ofertas válidas de 04/12/2022 a 10/12/2022 ou enquanto durarem os estoques. Preço FOB.
200
Imagens meramente ilustrativas. Não acompanham os objetos decorativos, os acessórios e os metais. A loja reserva-se o direito HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO: VAGAS
de corrigir eventuais erros gráficos. Condição de pagamento para produtos deste anúncio - à vista, retira. Dinheiro-cheque. De Segunda a Sexta-feira, das 6h30 às 21h30; Sábado, das 7h às 21h; Domingo e Feriado, das 8h às 20h.
B4 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 a eee
cotidiano

Eu desci do carro, eles pararam ma da borracharia, também

de falar e mudaram de postu- conhecido como Polícia Mi-
ra. (Em algum lugar, Étiénne litar? E se ele cruzasse com a
de La Boétie e Foucault sorri- Rota, às quatro da manhã, se-
ram –dois caras que se dedica- gurando essa barra de ferro?
ram a responder à pergunta: Certamente a minha existên-
por que é que uns mandam e cia representa para aqueles
outros obedecem?). três um risco bem maior do
O borracheiro achou o fu- que a deles para mim. Eles sa-
ro: “Prego assim não tem jei- bem disso. Nas gentilezas fal-
to”. “Outro dia entrou uma bro- sas da nossa interação, todo
ca de furadeira no meu pneu. esse desconforto social aflo-
Quem é que joga uma broca na ra, como na breve interação no
estrada?”, soltou um dos cami- portão de casa com o motoboy
nhoneiros. Eu fiz qualquer co- do Ifood ou do Rappi. “Tenha
mentário banal, que foi rece- uma ótima refeição, senhor”.
bido com a reverência que só “Valeu, parceiro!”.
uma sociedade estamental sa- O borracheiro termina de
be proporcionar. Seguimos em trocar o pneu e eu agradeço
silêncio. num paternalismo ridículo.
Além da sociedade estamen- “Valeuzão, aí, amigo!”. (Pros
tal brasileira, que diz a cada meus verdadeiros amigos eu
Adams Carvalho
casta como se comportar di- jamais digo “valeuzão”). Ele re-
ante das demais, havia entre tribui num servilismo forçado.
nós outra instituição: a cum- “Imagina, doutor!”. (Eu não te-

Valeuzão, amigo! plicidade hétero cis. (Quem dis-

se que as instituições não es-
tão funcionando?!) Impossível
nho nem superior completo).
Em caso de guerra civil es-
taríamos em lados opostos.
nas gentilezas falsas da nossa interação, aflora todo o desconforto social não pensar: e se eu fosse mu- Será que eles estão armados?
lher? E se eu fosse gay? São uns dos milhares de “CACs”
E se eu fosse gay e tivesse um que compraram pistola, fuzil
- adesivo do Lula no meu carro e munição de 2018 pra cá? Se-
Antonio Prata e eles estivessem num bloqueio rá que nos reconheceríamos se
Escritor e roteirista, autor de “Por Quem as Panelas batem”? pró-golpe? E se eles achassem déssemos com a cara uns dos
um adesivo do Haddad no ban- outros em trincheiras opostas,
co de trás, ali? Estávamos só lá por 2025?
os quatro na borracharia. Uns “Opa, amigão, desculpa! Não
Três caras grandes caminham ro. (Talvez encontrem o carro, para tirar a vida de alguém. to. Felizmente, interditos soci- quinze caminhões nos separa- vi que era você!”. “Que isso, dou-
na minha direção. O maior de- algum dia, em Assunção, no Poderiam me matar para le- ais como “não matarás” esta- vam do posto. tor, tranquilo! Desculpa qual-
les segura uma barra de ferro. Paraguai). var o carro. Poderiam me ma- vam do meu lado. O contrário também é verda- quer coisa!”. “Te avaliei e dei
Se quiserem me matar, me en- Essa foi só uma ideia que me tar porque são pobres e eu sou O da barra de ferro era o bor- deiro. E se o borracheiro esti- dez reais de gorjeta pelo apli-
terram no barranco atrás do veio à cabeça. Os três não ti- rico num dos países mais de- racheiro e estava vindo conser- vesse voltando de madrugada cativo, tá legal?”. “Deus te aben-
posto, no km 60 da Dutra, ali nham qualquer razão pra me siguais do mundo. Poderiam tar meu pneu furado. Papean- pra casa e cruzasse com aque- çoe, senhor Antonio, vou estar
por Guaratinguetá, e ninguém assassinar –além das razões me matar só pra se divertirem, do com ele, quando eu cheguei, le pessoal encarregado de pro- te dando 5 estrelas também”.
jamais saberá do meu paradei- óbvias que sempre há, claro, como um gato faz com um ra- estavam dois caminhoneiros. teger a turma dos SUVs da tur- “Amém”. “Amém”.

|dom. Antonio Prata | seg. Marcia Castro, Maria Homem| ter. Vera Iaconelli |qua. Ilona Szabó de Carvalho, Jairo Marques |qui. Juliano Spyer, Sérgio Rodrigues | sex.Tati Bernardi | sáb. Oscar Vilhena Vieira, Luís Francisco Carvalho Filho

D
ZONA NORTE
4 OU+ DORMITÓRIOS
COMUNICADOS LEILÕES
ALTO DE SANTANA -
DUPLEX LEILÃO DE ARTE
DOMÉSTICA R$2.200.000,00, 6vg., 4sts., 400 LEILÃO DE JÓIAS 07/12 ás 20:18h Online: iarrema-
M/F Mensalista, trabalhar das m2 a.u., DUPLEX, Rua Pontins - Dias 06, 07 e 08 dezembro te.com/ Sérgio Altit, Leiloeiro
8 às 13 horas, apenas faxina e Dir com proprietário. às 20h. Somente On line. J. 440, ‘105 LOTES: 8 Escultu-
roupa para 1 pessoa. R$ 1.800,00 11-99938-6076 . R.Oscar Freire, 246. Leiloeiro José ras, 16 Gravuras, 2 Fotos, ,e 79
mensais. Telefonar para o número Roberto Bortoletto Junior
EMPREGOS
Quadros de diversos artistas
(11) 3884-6200
IMÓVEIS
cód. 92482946
NEGÓCIOS catalogados‘. (11) 3721-9676 VEÍCULOS
LEILÃO DE ARTE ANTIGUI-
DADES
PARA ANUNCIAR NOS Dia 08 às 18 horas. Rua Oscar
Freire 246 -somente on line. Leilo-
eiro José Roberto Bortoletto
PARA ANUNCIAR NOS MÁQUINAS Junior. Tels:
EMPREGADOS CLASSIFICADOS FOLHA EQUIPAMENTOS ESOTERISMO (11) 3731-5012/3731-2536 .
A SPDM - ASSOCIAÇÃO PAULISTA PARA SÃO PAULO EMOTORES contato.ciapaulista@gmail.com
PROCURADOS O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA
LIGUE AGORA HOSPITAL GERAL DE GUARULHOS
CLASSIFICADOS FOLHA TARÓLOGA MAYA
Baralho cigano, Tarôt. Trabalhos pa-
LEILÃO DE ARTE NISSAN
E ANTIGUIDADES
Contrata: VENDO FRAGMENTADORA ra
PARA ANUNCIARNOS Dias 6 e 7 de dezembro às 17hs. NISSAN MARCH
EVISYS SEMINOVA todos os fins (11) 98403-4673
CLASSIFICADOS FOLHA Pessoas com deficiência para áreas: LIGUE AGORA Rua Barão de Capanema, 91. 15/16 1.0 - Conforto. R$42.500
11/3224-4000 Tratar com: Wellington Junior no Leiloeira Carolina Barbosa da Silva. Único Dono, 27.600 KM.
LIGUE AGORA Administrativas, Técnicas e Operacionais; WhatsApp (11) 9 7479 2781. VOVÓ JOANA Tel (11) 3062-6934. Tel. (11)9878-06195
11/3224-4000
Médicos: 11/3224-4000 Amarração p/ amor, trabalhos p/ cód. 92482974
APARTAMENTO CLASSIFICADOS FOLHA todos os fins. pagamento após
Anestesiologista
VENDA resultado (11) 4114-6358 /
Clínico Geral - Unidade de P.S e Enfermaria 11/3224-4000 WHATS 11-93019-0379 TIM VERSA 17
1.0 17 gnv. Único dono. R$ 40 mil
Endoscopista Tel. (11)9878-06195
Neonatologista - Unidade Neonatal
Intensivista - Adulto e Pediátrico
EDITAL DE 1º e 2º LEILÕES PÚBLICOS EXTRAJUDICIAIS E INTIMAÇÃO DAS DATAS DOS LEILÕES – ONLINE E PRESENCIAL - Local do leilão - ACOMPANHANTES cód. 92482978
Travessa Comandante Salgado, 75 – Fundação – São Caetano do Sul – SP e online no site www.satoleiloes.com.br. 1º leilão público –
Ginecologista e Obstetra - Centro Obstétrico 19/12/2022 às 11:00 - VALOR: R$ 550.936,42. e 2º leilão público – 21/12/2022 às 11:00 - VALOR: R$ 407.126,93. TATIANA HISA SATO, ANA
Oftalmologista leiloeira oficial, Jucesp 817, autorizada pelo credor fiduciário GALLERIA FINANÇAS SECURITIZADORA S/A, inscrito no CNPJ sob nº Furacão+amigas. tx 30 Av. Jabaqua-
34.425.347/0001-06, realizará os leilões para a venda do imóvel abaixo descrito, por meio de alienação fiduciária, nos termos da Lei 9.514/97 – Sistema de ra 2604.Mt.S.judas ac cartões
Ortopedista Financiamento Imobiliário – SFI alterada pelas Leis Federais nº 10.931/04 e nº 13.043/14 e demais disposições aplicáveis pelas condições estabelecidas neste seg.sáb.à Sábado.11-2362-8122
Radiologista Edital: IMÓVEL: Um lote de terreno sob nº 16, da Quadra nº 10, situado em Santa Cruz do Rio Pardo/SP. Consta na Av. 01 – 11/05/1984 que a Rua Recife passou
Especialista em Diagnóstico por imagem a denominar-se Rua Jacinto Pedro de Oliveira. Consta na Av. 06 – 27/11/2006 que foi construída uma residência de tijolos, coberta de telhas, com área de NUALA/ TRANS/ ATIVA
Cirurgião: Geral, Pediátrico, Vascular, 239,68m2 e uma edícula de tijolos, coberta de telhas, com área 54,00m2, totalizando a área construída de 293,68m2, a qual recebeu o nº 294, da Rua Jacinto Treino o/ Submisso 11 95483-3875
Pedro de Oliveira. OCUPADO. MATRÍCULA: 10.233 – Oficial de Registro de Imóveis e Anexos Comarca de Santa Crus do Rio Pardo/SP. FIDUCIANTE: ERICK RENAULT
Oncológico, Plástico e Neurocirurgião ANDRADE DE SOUZA CPF 487.510.918-01. CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE: 29/11/2022. O arrematante pagará no ato, o valor da arrematação e 5% de PARA ANUNCIAR NOS
comissão da leiloeira e arcará com todas as despesas cartorárias, escritura pública, imposto de transmissão, foro, laudêmio, taxas, alvarás, certidões, CLASSIFICADOS FOLHA CAPTUR 2019-PARTICULAR
Regime CLT, próx. ao aeroporto internacional emolumentos cartorários, registros, averbações e todas as despesas que vencerem a partir da data da arrematação. A desocupação / reintegração na posse LIGUE AGORA Ún.dono, revisada.11-99548-3095
de Guarulhos, Hospital de Alta Complexidade. ficará a cargo exclusivo do arrematante se no caso houver. Venda em caráter ad corpus, vendido no estado em que se encontra, não podendo o arrematante 11/3224-4000
Interessados cadastrar o currículo alegar desconhecimento das condições, características, estado de conservação ou eventual diferença nas medidas da unidade não dará direito a qualquer
em nossa página de carreira: reivindicação. Ficam intimados dos leilões os fiduciantes. Maiores informações no escritório da leiloeira telefone (11) 4223-4343, através do edital
completo disponível no site da leiloeira ou pelo e-mail contato@satoleiloes.com.br. Desta forma, ficam os devedores fiduciantes intimados por meio
hgg.gupy.io deste edital público, sem prejuízo das intimações pessoais negativas ou positivas.
Unaerp Guarujá – contrata
DOCENTES MÉDICOS
MESTRES E DOUTORES
para as seguintes especialidades:

- Hematologia - Pediatria
- Infectologia - Neurologia
- Otorrinolaringologia - Dermatologia
- Urologia - Reumatologia
Interessados deverão enviar currículo no formato da
Plataforma Lattes para: gmarques@unaerp.br.
Identificar o assunto: DOCENTE MEDICINA
ASSINE A
A Folha, empresa líder de mercado, oferece vagas para
A Fundação Faculdade de Medicina, entidade sem fins
lucrativos, seleciona profissionais para exercer os cargos de:
Analista de Sistemas Sr. Requisitos: Graduação
completa em Análise de Sistemas, Ciências da Computação ou Informática
para negócios com Especialização em Data Science Big Data Analytics. PESSOAS COM c
folha.com/assine

DEFICIÊNCIAS
Conhec. técnicas de levantamento de informações, análise de requisitos,
conhecimentos em UML, BPMN 2.0 e Modelagem de dados, Oracle - PL SQL.
Assistente Administrativo. Requisitos: Curso
Técnico completo ou Superior cursando em Administração. Curso
complementar em administração/ compras/ contábil/ tecnologia aplicada
ao trabalho; Pacote Office nível intermediário. Conhec. em redação de
PARA ANUNCIAR NOS
documentos e rotinas administrativas em geral.
Médico (UTI). Requisitos: Graduação em Medicina. CRM CLASSIFICADOS FOLHA em diversas áreas.
ativo. Residência médica completa em Anestesiologia e/ou Clínica Médica
e/ou Cirurgia Geral e/ou Infectologia e/ou Neurologia e/ou Terapia Intensiva.
Conhec. em medicina intensiva com pacientes cirúrgicos, doenças do
LIGUE AGORA Os interessados deverão enviar currículo para o e-mail
aparelho digestivo.
Os candidatos interessados deverão inscrever-se de 04/12/2022 a
10/12/2022 no site www.ffm.br, no link Trabalhe Conosco.
11/3224-4000 rhvagas@grupofolha.com.br, sob a sigla “vagas”
a eee
ambiente
A cor do gato chinês no espaço
Taikonautas usam ervas da medicina tradicional a bordo da estação Tiangong
- que a potência asiática não
Marcelo Leite
Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica brasileira” (ed. Fósforo)
Deng Xiaoping, pai da China
potência emergida após a dé-
cada de 1970, afirmou que a
cor do gato não importa, des-
de que ele pegue camundon-
gos. Referia-se a concessões
capitalistas numa economia
planificada que se abria para
a iniciativa privada, mas o di-
tado poderia aplicar-se à sua
medicina tradicional.
A ciência da saúde ociden-
tal despreza outras modali-
dades de cura que não cor-
respondam a seu ideal de me-
dicina baseada em evidênci-
as. Desse ângulo, só merecem
reconhecimento tratamentos
| dom. Reinaldo José Lopes, Marcelo Leite | qua. Atila Iamarino
O luthier André Amaral em seu estúdio em São Paulo, com um arco de violoncelo feito de pau-brasil
Músicos defendem uso de
pau-brasil em arco de violino
Sob risco de extinção, madeira é considerada indispensável para instrumentos
-
Reinaldo José Lopes
São CarloS (SP) Músicos e fa-
bricantes de instrumentos
musicais do mundo todo
acompanharam com apre-
ensão os debates do encon-
tro deste ano da Cites (Con-
venção Sobre o Comércio In-
ternacional de Espécies Ame-
açadas, na sigla inglesa), que
terminou no dia 25 de novem-
bro no Panamá.
Estava em jogo o destino do
pau-brasil (Paubrasiliaechina-
ta), árvore sob risco de extin-
ção cuja madeira é considera-
da indispensável para a fabri-
cação dos arcos profissionais
de instrumentos como violi-
nos e violoncelos.
Havia a proposta de colocar
a espécie na categoria mais
restritiva da Cites, que proi-
biria qualquer forma de tran-
sação comercial envolvendo
exemplares obtidos na natu-
reza. Negociações envolven-
do o Brasil, a União Europeia
e os Estados Unidos evitaram
essa reclassificação.
O principal desafio, porém,
vem agora: encontrar manei-
ras de recuperar as diferentes
populações de pau-brasil na
mata atlântica e, ao mesmo
tempo, de produzir comer-
cialmente sua madeira, alta-
que tenham passado por tes-
tes clínicos duplo-cego rando-
mizados controlados por pla-
cebo, o padrão-ouro.
Não é o caso de negar que
seja um bom guia, sobretudo
quando se trata de escolher
em que terapias investir verbas
públicas. Não faz muito senti-
do o SUS admitir homeopatia,
por exemplo, cujo fundamen-
to empírico é escasso, para di-
zer o mínimo.
Só que a homeopatia é, no
Brasil, especialidade médica
reconhecida pelo Conselho Fe-
deral de Medicina desde 1980.
O mesmo CFM que defendeu
mente valorizada pelas gran-
des orquestras do planeta.
A Cites compila uma sé-
rie de listas de espécies, cha-
madas de apêndices, aprova-
das pelos países signatários
da convenção. Os apêndices
envolvem diferentes restri-
ções para o comércio de ani-
mais e plantas e de produtos
derivados deles.
Na reunião de 2022 no Pa-
namá, designada como a 19ª
COP (Conferência das Partes)
dotratado,ogovernobrasilei-
ro, por meio do Ibama, origi-
nalmente tinha proposto que
o pau-brasil saísse do Apên-
dice 2 (categoria de proteção
intermediária) para o Apên-
dice 1 (o mais rigoroso). Hoje
constam do Apêndice 1 espé-
cies como o panda-vermelho,
o elefante-asiático e uma es-
pécie de araucária que ocorre
no Chile e na Argentina.
“Se isso fosse aprovado, um
músico de orquestra não con-
seguiriafazerviagensinterna-
cionais trazendo consigo um
arco de pau-brasil”, diz Dani-
el Neves, presidente da Ana-
fima (Associação Nacional da
Indústria da Música).
“Os luthiers [artesãos que
fabricam e consertam instru-
mentos de corda] teriam pro-
blemas para reformar um ins-
a cloroquina sem comprova-
ção, em nome da autonomia
do médico, e não faz muito ten-
tou banir o uso de canabinoi-
des da maior parte das apli-
cações, apesar de evidências
em favor.
Deng deve estar a revirar-se
na tumba. Deturparam sua sa-
bedoria para concluir que não
importa se o gato pega o roe-
dor, mas sim se ele é comunis-
ta ou patriota.
Pois bem, uma reportagem
do jornal The New York Times
sobre a estação espacial Tian-
gong, o “palácio celestial” da
China, menciona que trata-
Amaral trabalha em arco de violoncelo; ele destaca a boa
elasticidade proporcionada pela madeira de pau-brasil
mentos à base de ervas da me-
dicina tradicional foram leva-
dos a bordo da estação. Mais
que isso, as ervas são usadas
para banhos nos taikonautas
quando voltam à Terra.
Quem concluir daí que a Chi-
na é um país irracional, anti-
científico, negacionista etc.,
portanto sem condições de se
desenvolver economicamente,
cairá em óbvia contradição. Os
caras puseram uma estação es-
pacial lá em cima, caramba.
Com sua medicina atrasa-
da, coisa de curandeiros na
visão ocidental, os chineses já
gozam da mesma expectativa
Fotos Eduardo Knapp/Folhapress
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
de vida dos americanos. Che-
garam lá mesmo com cerca de
um quarto da renda per capi-
ta nos EUA.
Trata-se de uma ótica tão en-
viesada quanto prognosticar
conseguiria desenvolvimento
econômico e social sem liber-
dades políticas. Ciência e tec-
nologia, nesse raciocínio, de-
penderiam da livre circulação
de ideias e opiniões, e a dita-
dura asiática cedo ou tarde
acabaria engendrando limi-
tes para a própria economia
e a redução da pobreza que a
legitimam.
A cada ano, analistas deste
lado do globo queimam a lín-
gua com tais previsões. A Chi-
na nada de braçada em mui-
tas áreas. Nosso instrumen-
tal analítico não dá conta de
entender o que acontece lá —
ou então nossos pressupostos
não são tão universais quan-
to pensamos.
Não se trata de relativismo.
trumento.Seriaextremamen-
te complicado.”
Amadeiradepau-brasilcon-
ferecaracterísticasmecânicas
únicas ao arco usado para to-
car os instrumentosde corda,
segundo Neves, em especial
no que diz respeito à vibra-
ção do instrumento.
“Amadeiradeipêchegaper-
to em alguns aspectos, mas
nãoosuficiente.Todososmú-
sicosdizemquenãotemcom-
paração—oarcodepau-brasil
éuminstrumentodeprecisão.”
Segundo o luthier André
Amaral,aboaelasticidadepro-
porcionada pela madeira de
pau-brasil é uma das chaves
de seu status especial para os
músicos.“Hátambémaques-
tão da densidade, que depen-
dedotipodeinstrumento”,diz
ele. “Uma madeira mais den-
sa é destinada aos arcos de vi-
oloncelo, enquanto as menos
densas são preferidas para a
fabricaçãodeviolinoseviolas.”
Amaral conta ainda que téc-
nicasusadasparamediraelas-
ticidadedepontesdemadeira
foramadaptadasparamedira
qualidade das varetas dos ins-
trumentos. Substitutos sinté-
ticos em geral são usados ape-
nas em instrumentos musi-
cais amadores.
Segundo Haroldo de Lima,
pesquisador aposentado do
Jardim Botânico do Rio de Ja-
neiro, na década de 1980 mui-
tos acreditavam que a árvore
estava praticamente extin-
ta no país. Mas levantamen-
tos feitos ao longo da costa
brasileira revelaram que ha-
via diversas populações natu-
rais da espécie em estados do
Nordeste e no Rio de Janeiro.
Os pesquisadores descobri-
ram ainda que há cinco popu-
B5
Não troco a medicina ociden-
tal pela chinesa. Tampouco fe-
cho os olhos para estudos que
apontam haver evidências de
alta qualidade só para 1 a 4
em 10 tratamentos consagra-
dos no Ocidente.
Liberdades e direitos huma-
nos são um bem universal, por
mais falação que se deite sobre
o confucionismo pôr interesses
coletivos acima dos individu-
ais. Para os presos políticos
e os mortos da Praça da Paz
Celestial, a doutrina de um fi-
lósofo de 25 séculos atrás não
passa de um verniz malcheiro-
so para o despotismo.
A China é um país governa-
do por engenheiros, e supor
que eles aceitem ervas na Ti-
angong só por crendice não
explica nada. Pensar assim diz
mais sobre nossas limitações
do que sobre as deles. Medici-
na, cura e bem-estar envolvem
mais coisas do que os efeitos
que se possam medir com tes-
tes clínicos duplo-cegos.
lações geneticamente distin-
tasdepau-brasil,comdiferen-
tes características das folhas
e que podem representar, na
verdade,maisdeumaespécie.
Mesmoassim,asituaçãoera
preocupante,oquelevouàin-
clusão inicial do pau-brasil no
Apêndice 2 da Cites.
Também começaram a se
fortalecer iniciativas para a
produção de mudas da espé-
cie por parte dos produtores
de arcos, ou archetários, co-
mosãochamados.Háprojetos
desse tipo em Pernambuco,
na Bahia e no Espírito Santo.
Segundo Neves, da Anafi-
ma, cerca de 500 mil mudas
foram plantadas do ano 2000
paracá.Éuminvestimentode
longo prazo, já que a madeira
sóalcançaaqualidadeadequa-
da para o uso nos instrumen-
tos musicais após várias déca-
dasdecrescimentodaárvore.
Ele argumenta que, como
dois metros cúbicos de ma-
deira são suficientes para to-
daaproduçãoanualbrasileira
de arcos, ainda vai ser possí-
vel abastecer o mercado com
estoques antigos, bem como
através de outras fontes, co-
mo madeira de demolição.
“Na situação atual, mudar a
classificação do pau-brasil do
Apêndice 2 para o Apêndice 1
faria pouca diferença porque
infelizmente o país não fez a
lição de casa”, diz Lima.
Para ele, além de mapear
melhor os estoques de madei-
ra e proteger as populações
naturais, falta investimento
em pesquisa para saber se é
possível propor o corte se-
letivo de forma sustentável.
“Não adianta fazer apreen-
sões pirotécnicas de madeira,
como às vezes acontece, sem
fazer tudo isso”, afirma.
A decisão aprovada na COP
do Panamá estabelece que os
arcos finalizados no Brasil só
poderão ser exportados pela
primeiravezpormeiodeuma
permissão emitida pela Cites.
Os países signatários da Ci-
teseosgruposligadosàindús-
tria da música se comprome-
teram a fazer um mapeamen-
to mais detalhado dos esto-
ques legais de madeira, cri-
ar sistemas para rastrear ins-
trumentos produzidos den-
tro da legislação e apoiar es-
forços para a conservação da
espécie e a produção comer-
cial sustentável de pau-brasil.
Em comunicado oficial, o
Ibama disse que a permanên-
cia do pau-brasilno Apêndice
2 foi compensada “com uma
anotaçãomaisdetalhadaeres-
tritiva que permita assegurar
ocontroledocomérciodaspe-
ças já produzidas e o combate
ao tráfico e à extração ilegal”.
LEILAO ON LINE
Sheila Souto F dos Santos Jucesp 1213
torna público que nos dia 08 /12 /22 às
19:00 Leilão On Line de moedas,
medalhas, cédulas antigas.
Acesse:
www.filatelicabrasil.com.br
folhacorrida
nosso estranho amor
A velha que boia
Minhamãegostavadestailha.
Veio com uns amigos, quando
era jovem. E sempre me fala-
va de como eram as pessoas
daqui, as praias, a vila de pes-
cadores, as baías secretas pa-
ra ver o pôr do sol. Era como
uma luz azul, celeste, a que fi-
cara guardada em sua memó-
ria para sempre.
Depois morreu, depois me
casei. Propus vir para a ilha
emnossaluademel,masmeu
marido não quis. Depois per-
didoisbebês,depoismesepa-
rei, depois me graduei como
tradutora, depois me arran-
caram um peito, depois me
arrancaram o útero. Aos cin-
quenta e três, vim, pela pri-
meira vez, à ilha, e fiquei.
A princípio, eu era a argen-
tina. Assim me chamavam.
Distribuí folhetos de curso
de mergulho, fui recepcio-
nista no Village Paraíso, gar-
çonete em vários restauran-
tes, fiz faxina, cuidei de cri-
anças, fui vendedora em lo-
jas de lembrancinhas... Tra-
balhei de tudo, temporada al-
imagem da semana
Chineses saíram às ruas nesta sema-
na contra a política de Covid zero do
regime de Xi Jinping, nas maiores mani-
festações registradas no país em anos.
frases da semana
ministério indefinido
Lula
Presidente eleito manteve suspense
sobre equipe de governo a menos de
um mês da posse
“Tenho 80% do ministé-
rio na cabeça, mas não
quero construir um minis-
tério para mim, quero cons-
truir para forças políti-
cas que me ajudaram. Vou
ser diplomado no dia 12.
Depois que for diplomado,
aí vou começar a escolher
meu ministério.”
goLpismo fArdAdo
ronaldo ribeiro travassos
militar da marinha, ligado ao gSi
(gabinete de Segurança institucional),
gravou vídeos durante ato
antidemocrático em frente a quartel
“O povo está aqui lutando
pelo Brasil. Eu tenho cer-
teza que o ladrão não sobe
a rampa.”
ta, temporada baixa.
E nunca deixei de me meter,
ao menos uma vez por dia, no
mar. Sempre faço igual. Dei-
xo minhas sandálias, a canga
e minha chave na beirinha e
entro no mar até onde não
dá pé. E aí boio. Todos os di-
as. Às vezes com chuva. E se
pode ser ao meio-dia, melhor.
Boio de barriga para cima,
flutuo. Não mais de cinco mi-
nutos. Deixo de ter peso, res-
piro, o mundo me faz de re-
de com seu ritmo amável, a
respiração das ondas, me le-
vanta e me abaixa e me volta
a levantar, me lava aquilo que
não quero ser.
O sol em minhas pálpebras
fechadas faz brotar umas flo-
res coloridas, como um calei-
doscópiodeformascirculares,
umas mandalas de luz e san-
gue.Oquesão?Devemteruma
explicação anatômica, cientí-
fica, mas as sinto e as vejo co-
mo esferas de paz cor-de-rosa
nasquaismedeixonaufragar.
Entregomeucorpocortado,
mutilado, minhas cicatrizes,
O atos começaram após um incêndio em
Urumqi deixar dez mortos —as vítimas
teriam sido impedidas de sair do local
por causa das medidas de isolamento.
BrAsiL pAndeiro
daniel Alves
Lateral direito se tornou o jogador
brasileiro mais velho a entrar em campo
em Copas, aos 39 anos. Foi capitão da
equipe reserva de Tite, que perdeu para
Camarões por 1 a 0 na sexta (2)
“Se tiver que tocar pan-
deiro eu vou ser o melhor
pandeirista que você verá.
A minha missão é tam-
bém ser importante, inde-
pendente se estou jogando
mais ou menos. [...] Eu sei
o que posso entregar e, por
isso, estou aqui.”
Adeus, ALemAnhA
havertz
Atacante da seleção alemã lamentou a
eliminação do time na fase de grupos do
mundial do Qatar
“Não esperávamos ver o
Japão vencer [a Espanha],
é como um filme de terror
para nós.”
a eee
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
| Pedro Mairal
folha.com/nossoestranhoamor
ao mar, à mãe Iemanjá, aqui
estou eu para quando quiser
me levar, lhe digo sem falar.
Depois saio da água de volta
às minhas rotinas.
Uma tarde, atravessando os
bares atrás do porto, reparei
que os garçons olhavam para
alguma coisa no mar, alguém
tinha visto um jacaré, diziam,
e tentavam adivinhar o que
era que se enxergava na água.
Escutei que um deles disse:
Deve ser a velha que boia. Eu
nãoentendi,nomomento.Até
que um deles me viu e se aco-
tovelaram e seguraram a risa-
da.Depois,sim,entendi.Eujá
não era a argentina, era a ve-
lha que boia. Doeu ouvir a ve-
lha, claro, mas uma vez assu-
midoogolpe,adoreioapelido.
Sou a velha que boia e aqui
sigo aguentando. Somos pou-
cosoqueficamos.Muitosvêm
evão,algunsvêmporumtem-
po maior, mas voltam à Bahia.
Os meninos crescem e tam-
bém partem, para trabalhar
nas refinarias de Camacari.
Algum turista fica, passa dois
verões e a pobreza começa a
roer, se desespera, se enrai-
vece, e regressa derrotado à
sua cidade. Não sabem boiar.
Manifestantes usaram papéis em bran-
co para driblar a censura. O regime abriu
inquéritos contra participantes dos pro-
testos e relaxou algumas das restrições.
ChAmAdo Ao diáLogo
Joe Biden
Presidente dos EUA falou pela primeira
vez em negociar com o russo Vladimir
Putin um fim para a guerra da Ucrânia
“Estou preparado para falar
com Putin se de fato hou-
ver interesse em decidir
que está procurando uma
maneira de acabar com a
guerra. Ele ainda não fez
isso.”
dmitri peskov
Porta-voz do Kremlin respondeu
dizendo que Putin está aberto para
conversas, mas que a rússia não irá
deixar áreas ocupadas no país vizinho
“Na essência, isso foi o que
Biden disse: ‘As negocia-
ções são possíveis apenas
após Putin deixar a Ucrâ-
nia’ [o que não vai ocorrer].
O presidente Putin sem-
pre esteve, e permanece,
aberto para contatos, para
negociações.”
B6
Ficaram,temporariamente,
uns amantes meus também,
amores, amorecos, um par
decoroasadoráveis.Mastam-
bémnãosabiamboiar.Dentro
d’águamesoltodesuasmãos,
seus cheiros, suas fúrias.
Agora, faz tempo que não
ando de frissom com nin-
guém. Melhor assim. Vinte
anos que estou aqui. Aluguei
o ponto da livraria, e dei o no-
me de A velha que boia. Ven-
do mais lembrancinhas que
livros, é vero, mas vendo algo
todo dia, e não tenho chefe.
Ao meio-dia, fecho a loja
e me meto na água, me en-
trego ao sol e às vezes fa-
lo com minha mãe, dizen-
do: Mamãe, olhe, aqui es-
tou em sua ilha, a que en-
controu para mim, aquela
que guardara para sempre
na memória, me contagiou
a luz, aqui estou, sou a velha
menina que boia, na luz de
seu seio, em minha cicatriz,
olhe, mamãe, não vou mais
aos médicos, me sinto bem e
às vezes até me faz sorrir sa-
ber que outros verão o mar,
que tudo vai seguir brilhan-
do, mesmo depois, quando
eu já não esteja aqui.
Noel Celis - 28.nov.22/AFP
desiguALdAde rACiAL
desiree Coleman-fry
Executiva americana defendeu, em
entrevista à Folha, a utilização de
métricas para avaliar políticas de
inclusão no ambiente coorporativo
“As pessoas dizem ‘eu
tenho uma equipe diver-
sificada’. Mas comparado
com o quê? Se você estava
medindo que não tinha
diversidade, e agora tem
uma pessoa, não conquis-
tou uma vitória.”
denise ferreira da silva
Filósofa carioca e autora do livro “Homo
modernus - Por uma ideia global de
raça” falou à Folha sobre violência racial
“Os ataques a terreiros de
religiões de matriz afri-
cana são uma violência
para a destruição. Não é
uma separação no sentido
de que ‘eu vou para a minha
igreja e você fica no seu ter-
reiro’. É para não existir.”
CRUZADAS
horiZontAis
1. Sapato baixo, confortável 2. ivone Lara (1921-2018), sambista
carioca / Quadro de controle de uma instalação 3. Pimenta
fundamental na cozinha mexicana / o barnabé das histórias do
“Sítio do Pica-Pau Amarelo” 4. Fantasiar 5. Pref.: entre, no meio
de 6. Creme do leite / Limitada 7. Dimensão perpendicular ao
comprimento relativamente ao plano horizontal 8. Examinar
com profundidade (o conteúdo de um texto escrito) / minoria
dominante e influente num grupo social 9. Prata / Aspirar 10.
Habitação humilde 11. Cada uma das barras que constituem o
arco dos campos de futebol e de outros jogos / Conjunção que
equivale a porém, todavia etc. 12. interruptor de corrente elétri-
ca que tem a forma da fruta do mesmo nome / Um tecido para
ser usado no inverno 13. interjeição usada ao telefone / Uma
forma de enviar mensagens pelos aplicativos de conversa.
VertiCAis
1. A milésima parte do milímetro / Um tipo de farinha muito
usada para alimentação infantil 2. (Fig.) Pequeno orifício / Dar
como razão 3. Apresentar características comparáveis àquelas
de um produto genuíno / Anfíbio terrestre de pele rugosa e seca
4. nivelar, tornar raso / Televisão 5. (Louis) Cidade dos EUA,
no missouri / Planta ornamental, de flores amarelas, roxas ou
alaranjadas 6. A última nota / Aparelho telefônico portátil /
Som que imita o latido de cães 7. (med.) outro nome da assadu-
ra 8. ingresso para espetáculos vendido pela metade do preço
(geralmente para estudantes e idosos) / Dia na agenda / o babá
que descobriu o tesouro dos 40 ladrões 9. idiota / o desgaste
do solo causado pelo vento ou pela água.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
2
3
4
5
6
7
10
11
12
13
8. meia, Data, Ali, 9. Lorpa, Erosão.
Aplanar, Tevê, 5. Saint, gérbera, 6. Si, Celular, Au, 7. intertrigem,
VertiCAis: 1. mícron, Láctea, 2. olho, Alegar, 3. imitar, Sapo, 4.
Tragar, 10. Casebre, 11. Trave, mas, 12. Pera, Lã, 13. Alô, Áudio.
mancear, 5. inter, 6. nata, Ltda, 7. Largura, 8. Ler, Elite, 9. Ag,
horiZontAis: 1. mocassim, 2. iL, Painel, 3. Chili, Tio, 4. ro-
SUDOKU
texto.art.br/fsp
difÍCiL
o Sudoku é um tipo de desafio
SOLUÇÃO
lógico com origem europeia e
aprimorado pelos EUA e pelo
Japão. As regras são simples:
o jogador deve preencher o
quadrado maior, que está di-
vidido em nove grids, com no-
ve lacunas cada um, de forma
que todos os espaços em
branco contenham números
de 1 a 9. os algarismos não
podem se repetir na mesma
coluna, linha ou grid
ACErVo FoLHA
Há 100 anos 4.dez.1922
Cia. italiana de operetas Lea
Candini muda de teatro em sp
A companhia italiana de essa companhia passará
operetas Lea Candini se a ocupar o Theatro São
despedirá nesta segunda- Pedro, também na capi-
feira (4) do Theatro Boa tal paulista. A estreia es-
Vista, em São Paulo, com tá marcada com a ope-
as apresentações da ope- reta sentimental “Acqua
reta “Uma Noite no Para- Cheta”, que representa o
íso”, do drama em um ato maior sucesso do grupo.
“Radioscopia” e, por últi-
mo, de um ato variado. h LeiA mAis em
De terça (5) em diante, acervo.folha.com.br
a eee
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 C1

Carne
trêmula
Vísceras ganham ares eróticos
em filmes e séries que exploram
os limites do corpo humano
como uma forma de sobressair
em um mundo bombardeado
pelos estímulos sensoriais C4

# Conceito de ficção para qualificar bolsonaristas é equivocado C6

# Livro primoroso conta início da exibição de filmes no Brasil C7
Ilustração
# Violência é ato final de golpistas diante de profecia fracassada C8 Adriana Varejão
C2 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 a eee
ilustrada ilustríssima

mÔNICA BERGAmO
monica.bergamo@grupofolha.com.br

Cleo
Eu quero
ter tudo
[RESUMO] A atriz e cantora Cleo, que lança a comédia
romântica ‘O Amor Dá Voltas’ nos cinemas no próximo
dia 22, começou a produzir seus próprios projetos de
longas-metragens, lançou seu primeiro livro, a ficção
‘Todo mundo que Amei Já me Fez Chorar’, um clipe da
música de mesmo nome e planeja uma marca própria

Por Teté Ribeiro

A entrevista com Cleo esta- dos à linguagem do dia a dia. taentrevista,recebiumrecado

va combinada para a última
segunda-feira (28), dia do jo-
go da seleção brasileira con-
tra a Suíça, na Copa do Qatar.
Foi remarcada para terça-fei-
ra (29). Aconteceu na quarta-
feira (30), meia hora antes do
horário marcado, em um res-
taurante de um hotel no Ita-
im Bibi, em São Paulo, ao la-
do do Cine Kinoplex, onde a
atriz, cantora e outras coisas
dasquaisfalaremosmaispara
frenteparticipavadeumeven-
to do lançamento de “O Amor
Dá Voltas”, seu novo filme.
* to tempo sem falar deste que
Rodadaem2016,acomédiaro-
mântica de Marcos Bernstein
contaumahistóriaquasetris-
te.André,personagemdeIgor
Angelkorte,éumjovemmédi-
co que se une à ONG interna-
cional Médicos Sem Frontei-
ras, que leva ajuda médica e
humanitária a zonas de con-
flitos,catástrofes,epidemias,e
ficaforadoBrasilporumano.
Nesse período, troca muitas
cartas com a namorada, Be-
ta, papel de Juliana Didone.
* lo alguma coisa por meio da
AcontecequeBetajánãoquer
mais saber de André, e quem
acaba respondendo as car-
tas é sua irmã, Dani, papel de
Cleo. Na volta ao Brasil, André
descobre a autoria verdadei-
ra da correspondência que re-
cebia, e, entre encontros e de-
sencontros,desenlaçaessenó
afetivoeembarcaemumano-
va aventura romântica.
* darumaopiniãoarespeito.Em
Cleo ainda não era nem can-
tora em 2016. Mas canta du-
as músicas no longa-metra-
gem —uma delas, “Pensa em
Mim”, sem nenhum acompa-
nhamento instrumental.
* *
“Eu estava louca pra esse fil-
me ser lançado. É muito le-
gal, já dava para ver que ia fi-
car legal pelo que a gente es-
tava fazendo. Eu me apaixo-
nei pela história, pela perso-
nagem,pelodiretor,pelosato-
res”, diz. Mas faz uma ressal-
va. “Não sexualmente, obvia-
mente, me apaixonei ludica-
mente, digamos assim”.
* de muita troca, muita conver-
Sexoéumassuntoqueparece
colado à imagem de Cleo no
inconsciente coletivo. Talvez
porqueelatenhaaparecidopa-
ra o público por causa de um
boatoabsurdoecruel,queco-
meçou não se sabe onde nem
por que, quando ela tinha 14
anos deidade. Antesda popu-
larização da internet, das câ-
meras em todos os celulares,
das redes sociais. Uma fake
newsqueviralizouantesmes-
mo dos termos “fake news” e
“viralizar” serem incorpora-
* queelanãofalariasobresexo.
A mentira, atroz e hedionda,
eraqueCleo,umaadolescente
na época, tinha um romance
secreto com Orlando Morais,
omúsicocasadocomsuamãe,
GlóriaPires,desde1988.Cleoé
filhadocasamentoanteriorde
suamãecomomúsicoFábioJr,
e tinha oito anos quando Glo-
riasecasoucomOrlando,um
dos homens a quem ela cha-
ma de pai (Fábio Jr é o outro).
* Não é segredo para ninguém
A atriz e cantora passou mui-
é o maior trauma de sua vida.
Mas,recentemente,postouem
sua conta no Instagram, em
quetemmaisde20milhõesde
seguidores, um vídeo em que
fala abertamente do assunto.
* calça preta e um escarpim
À coluna, Cleo explica o moti-
vo por trás dessa decisão. “Ve-
nho tratando disso de várias
formas desde que aconteceu.
E uma das maneiras de você
curar ou tratar um trauma é
falarsobreele.Equandoeufa-
minha arte, seja em uma mú-
sica, em um livro ou mesmo
emumaentrevista,issosetor-
na público, faz parte da natu-
reza do meu trabalho. Tentei
usaraminhaarteparameaju-
dar nessa trajetória de cura”.
* disse, referindo-se à estilista
Na época em que o boato sur-
giu, era como se todos se sen-
tissem quase na obrigação de
encontrosdefamília,festasen-
tre amigos, jantares românti-
cos, reuniões de trabalho, sa-
lasdeesperaemclínicasmédi-
cas, aonde quer que você fos-
se, alguém puxava esse tema.
A situação para a família de
Cleo ficou tão difícil que ela,
Gloria, Orlando e os três fi-
lhosmaisnovosdocasal,Ana,
AntôniaeBento,semudaram
temporariamenteparaLosAn-
geles,nosEUA.“Eulembrode
flashesdessafase”,conta.“Foi
muitotriste,sabe?Muitocru-
el, muito duro. Mas acabou
unindo a gente mais ainda.
Nossafamíliatemumarelação
sa, a gente fala sobre tudo. Fa-
lamosmuitodesseassuntona
época, hoje em dia nem tan-
to porque ainda é doloroso”.
* *
Cleo é uma mulher sensual e
que parece muito livre em re-
lação à sua vida sexual e afeti-
va.Posounuaparaaediçãode
35anosdarevistaPlayboy,em
2010,ejádeudiversasdeclara-
ções a respeito de sua intimi-
dadeementrevistasdeTV.No
entanto,antesdeconfirmares-
enviado por sua assistente de
*
Agora, uma dica para assesso-
res e assistentes de celebrida-
des: não façam isso. Não fun-
ciona, só serve para atiçar a
curiosidade do repórter e fa-
zer com que “arrancar” esse
assunto da entrevistada faça
o trabalho do jornalista pare-
cer mais bem feito.
*
que Cleo é muito bonita. Ela
chegou para o nosso encon-
tro com o cabelo preto, liso,
longo e bem cuidado preso
em um rabo de cavalo, o ros-
to levemente maquiado, um
vestido curto vermelho e sem
mangas, com um recorte de
cada lado da cintura, meia
vermelho de salto altíssimo.
Ficou com frio no restauran-
te do hotel. Ofereci um pano
que levava na bolsa, uma es-
pécie de canga de praia que
tambémservecomocachecol
nas noites frias de São Paulo.
*
Ela aceitou, agradeceu, se em-
brulhou no pano elogiando a
textura do tecido e a estam-
pa, listras azuis que parecem
pintadas à mão. Arriscou adi-
vinhar a marca do acessório:
“Parece uma Gilda Midani”,
carioca que é mãe de seu pri-
meiro marido, o comediante
e apresentador João Vicente
de Castro, um dos fundado-
res do canal de humor Porta
dos Fundos. Não era.
*
Mas a delicadeza e a doçura
que Cleo demonstrou nessa
situação, assim como o in-
teresse genuíno que expres-
sou ao fazer tantas pergun-
tas quanto as que foram fei-
tas a ela foram a grande sur-
presa do encontro. Esperava
uma mulher bonita, muito se-
gura, forte, irônica. E ela é to-
das essas coisas, tem um hu-
morácidoeautodepreciativo,
é inteligente, articulada e não
temvergonhadesuaambição.
Fala com honestidade sobre
qualquer coisa, sem respos-
tas prontas para nada, ouve o
quevocêquersaberenãodes-
via de nenhum assunto. Uma
pessoaboadeconversar,bem-
educada,charmosa,relaxada.
Ficou óbvio depois de 40 mi-
nutosdeconversaqueelares-
ponderia a qualquer pergun-
ta que eu fizesse. Então, sem
pensar muito nas razões que A atriz, cantora e
melevaramaisso,decidiali,na escritora Cleo
hora,quenãoiríamosfalarso- Lucas Mennezes/Divulgação
bresexo.Cleotemmuitomais
Continua na pág. C3
a eee
Continuação da pág. C2
para dizer do que os lugares e
aspessoascomquemtransou.
*
Ela acabou de lançar seu pri-
meiro livro de ficção, “Todo
Mundo que Amei Já Me Fez
Chorar”,escritoaquatromãos
comaroteiristaTatianaMaciel,
noqualdiscuterelacionamen-
tos tóxicos de um jeito leve e
bem-humorado.Olivrosurgiu
porcausadeumasériedevíde-
os de desabafo que Cleo pos-
tou em seu Instagram, e vem
acompanhadodeumamúsica
e um clipe com o mesmo títu-
lo, que vão fazer parte do pri-
meiro álbum de sua carreira.
* e o negacionista? Entre uma
Além disso, ela agora atua co-
moprodutoraemdoislongas-
metragens em que também
trabalharácomoatriz.“Agente
trabalha junto na ideia, no ro-
teiro,naescolhadosprofissio-
nais, na escolha das locações.
Eu não fico no dia a dia das fil-
magens, mas me envolvo em
toda a pré-produção”, conta.
* Se você respondesse que, ape-
E prepara o lançamento de
sua grife, mas diz que ainda
não pode revelar quais produ-
tos vai vender. Pergunto qual
é o projeto profissional dela,
se tem alguém em quem ela
procura se espelhar. “Gosto
muito da Rihanna e da J.Lo.”,
afirma. “São mulheres múlti-
plas, como eu, e que me ins-
piram. São duas belas carrei-
ras”. Cleo quer cantar, atuar,
escrever,produzir,vender.“Eu
quero ter tudo”, diz, rindo de
como a frase a faz soar, mas
sem negar sua honestidade.
* a cacofonia inercial do bolso-
Em sua conta no Instagram,
Cleo faz alguns publiposts,
como se chamam as publica-
çõespagasporalgumaempre-
sa. Pergunto sobre isso, e ela
diz:“GraçasaDeus!Essaéuma
maneira muito maravilhosa
de um artista ganhar dinhei-
ro, porque te dá uma enorme
autonomia. Você é o seu pró-
prio produto, não tem nin-
guémusandosuaimagempa-
raganhardinheiro,essaéuma
troca bem honesta. Eu acho”.
* colérico: “Discorde de alguma
Cleo se casou no ano passado
com o modelo e empresário
Leandro D’Lucca, de 39 anos,
um ex-namorado com quem
teve um sonho uma noite, no
meio da pandemia, mandou
uma mensagem e reconectou
o romance. A atriz divide seu
tempoentreSP,ondemoraem
um apartamento nos Jardins,
e um sítio no sul de Minas, on-
de mora seu marido. “Minha
casa é em mim”, declara.
* que é. É aí que mora o diabo.
“Foi um milagre essa história,
eu jamais imaginei que me ca-
saria de novo”, conta. E, como
não poderia ser diferente em
uma entrevista com uma mu-
lher de 40 anos, fiz, com certa
vergonha, a pergunta inevitá-
vel: Planeja ter filhos?
* é porque já faz parte de uma
“Planejo, sim, sou muito ma-
ternal.Éumacoisanaturalmi-
nha. Não acho que toda mu-
lher tenha que ter filhos, isso
é uma bobagem, mas eu te-
nho muito essa vontade. Não
sei como nem quando isso vai
acontecer, mas é um desejo
que quero realizar”.
* no rastro da mudança de para-
Cleo diz que está gostando
muitodeamadurecer,quenão
tem o menor medo de perder
oviçodajuventudeeachaque
ligar beleza a uma faixa etária
é um conceito ultrapassado.
“Minha mãe é linda até hoje.”
* suplanta a lei que, ao contra-
Quanto a si mesma, diz que
sim, se acha bonita, mas não
todos os dias. E enfatiza o
quanto está mais feliz nesse
momento do que em qual-
quer outro em sua vida. “Eu
gosto muito de viver hoje em
dia, a vida ficou melhor para
mim,aprendiagostardeviver.
É muito ruim viver sem gos-
tar de viver. E eu tenho gosta-
do cada vez mais. Então apro-
veito o máximo tudo que dá”.
DOMiNGO, 4 DE DEzEMbRO DE 2022 C3
ilustrada ilustríssima
‘Contranatura’
Em Montaigne, o negacionismo emerge como abolição das contradições
-
Bernardo Carvalho
Romancista, autor de ‘Nove Noites’ e ‘O Último Gozo do Mundo’
O que há em comum entre o
trapaceiro, o mau perdedor [ Ao contrariar a presunção
do sujeito de uma realidade
do e o novo. “Chamamos ‘con-
tranatura’ o que surge contra
Se a literatura fantasiosa e onipotente que os costumes”, o que não reco-
deputada correndo pelas ruas lhe corresponda, a ficção abre nhecemos, o que não é espelho.
com uma arma na mão, gente
deixa de o campo da dúvida, do outro, “Contranatura” é na verdade
contrariar, se
ajoelhada diante de quartéis, do diverso, pela multiplicida- o que nos contradiz quando
o militar incapaz de reconhe- deixa de ser de de perspectivas contradi- nos assumimos como padrão
cer suas incapacidades, o mo- diferença, é tórias não só sobre o mundo, da natureza, norma, gente de
toboy que avança o sinal, buzi- mas também sobre a suposta bem, eleitos de Deus ou o que
nando e xingando, porque vo- porque já faz autonomia e integridade de quer que seja.
cê trocou de faixa 200 metros à parte de uma quem narra ou fala. A literatura traz o monstro
frente dele, e o empresário so- relação que Montaigne diz que a menti- que nós somos, diversos e des-
negador de impostos? ra, ao contrário da verdade, conhecidos da nossa presun-
não supõe nem que é uma só, tem 100 mil fa- ção. É por isso que ela preci-
sar de integrarem campos apa- diálogo nem ces e um campo indefinido que sa agir numa margem estrei-
rentemente diversos e classes nos impede de tomar por ver- ta de tensão em que a contra-
confronto com
outrora antagônicas, são to- dadeiro o oposto do que diz riedade, o prazer e a surpresa
dos eleitores da extrema di-
o mundo o mentiroso. Por outro lado, de descobrir-se outro se sobre-
reita, provavelmente não es- não há mentira sem algum ti- põem e se confundem. E que é
taria errado. Mas o mais cor- po de crença ou certeza. Não o contrário da onipotência in-
reto seria dizer que nenhum há mentira na dúvida. O im- fantilizada sobre a qual se er-
deles suporta a contrarieda- postor trabalha contra a con- gue e se sustenta a autoima-
de. Não suportam a lei (a lei tradição e a dúvida. Não há gem da extrema direita.
vale para os outros) nem o re- como distinguir a verdade da Se há uma força política da
al. E, nesse sentido, têm coisas mentira num mundo sem con- literatura, ela está menos na
em comum com muita gente. tradição. Quanto menos con- afirmação heroica de si, no alí-
Vencidas as eleições, fui bus- frontado com as contradições, vio de contos edificantes de su-
car nos “Ensaios” de Montaig- mais vulnerável às crenças es- peração, por mais comovedo-
ne um pouco do bom senso que tará o espírito. res e bonitos que sejam, do que
narismo insiste em negar. E
Montaigne também associa
o monstruoso à diversidade,
na ambiguidade do herói, na
coragem e no desprendimento
aí o negacionismo ganha um ao espanto com o desconheci- de se pôr à prova e em dúvida.
sentido mais abrangente e li-
terário: é a abolição das con-
tradições.
No capítulo “A cólera”, o fi-
lósofo cita uma anedota re-
latada por Sêneca a propósi-
to do jantar entre um orador
suscetível às emoções fortes
e um homem que, para não o
contrariar, concorda com tudo
o que ele diz. O orador acaba
explodindo, de qualquer jeito,
coisa, pelo amor de Deus, pa-
ra que sejamos dois!”.
A contradição é a condição
da companhia, do diálogo, do
contato com o outro. Sem con-
tradição, jantamos sós. Não há
conversa nem, em princípio,
literatura. A menos que o es-
critor, como o conviva do jan-
tar citado por Sêneca, seja (ou
queira ser) eco e espelho não
exatamente do leitor, mas do
que o leitor quer ser ou acha
Uma literatura da identida-
de e do reconhecimento, por
mais agradável e natural que
pareça, é um paradoxo cujo
efeito tenderá a ser o oposto
do bem que ela promete. Se a
literatura deixa de contrari-
ar, se deixa de ser diferença,
relação que não supõe nem
diálogo nem confronto com
o mundo.
A ideia de uma literatura
que não ofende nem fere, an-
tes abraça e afaga, fingindo
que traz o mundo em si, ga-
nhou impulso —com a cum-
plicidade das vendas, é claro—
digma operada pela internet:
com o mundo ao alcance das
mãos, agora o que te contraria
você deleta, cancela. Uma rela-
ção narcisista de espelhamen-
to —o mundo como afirma-
ção de si e da autoimagem—
dizer a fantasia onipotente in-
fantil, deveria formar o adulto,
ser social, cidadão com deve-
res e responsabilidades.
O narcisismo está associado
à infância, mas a ficção não
tem necessariamente a ver com
um mundo de fantasia. Con-
tra as ideias feitas, ela tam-
bém trabalha no campo da
verdade, que é o campo das
contradições.
C4 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
ilustrada ilustríssima
Obra de Mire Lee exposta na 59ª Bienal de Veneza
Sedução da carne
[resumo] Outrora tidas como nojentas, vísceras se tornam combustível erótico em filmes e
séries como o road movie canibal ‘Até os Ossos’ e a distopia bisturizada ‘Crimes do Futuro’,
refletindo uma sociedade em que o excesso de estímulos interditou cada vez mais o prazer
sexual e na qual o voyeurismo virou um meio para possibilitar uma descarga sensorial maior
Por Bruno Ghetti
Jornalista e crítico de cinema
Ilustração Mire Lee
Artista sul-coreana que usa materiais como argila, aço e até toalhas em obras de aparência orgânica
No universo distópico do filme “Cri-
mes do Futuro”, de David Cronen-
berg, as pessoas quase não sentem
mais dor. Consequentemente, nem
prazer. Diante disso, um homem
aceita cultivar em seu próprio or-
ganismo tecidos cancerosos e até
novos órgãos sem a menor função
—para depois se submeter a sessões
públicas de retirada desses apêndi-
ces incômodos de dentro de si. Tu-
do nas mãos de uma artista de van-
guarda, que torna a performance
altamente sexual, deixando a pla-
teia em êxtase. Uma espectadora
resumeque“acirurgiaéonovosexo”.
Já em “Até os Ossos”, de Luca Gua-
dagnino, em cartaz nos cinemas, to-
do o enlace dos outsiders de Timo-
théeChalameteTaylorRussellécos-
turado por canibalismo. Enquanto
o casal cai na estrada e vai se apro-
ximando, deixa para trás uma trilha
de corpos mutilados. Em uma das
cenas, o personagem de Chalamet
corta a garganta de uma vítima, que
logo será devorada em um matagal.
Roberto Marossi/Cortesia Bienal de Veneza
Em “Titane”, de Julia Ducournau,
o corpo implantado com uma placa
de titânio se ultrassexualiza e entra
em degradação após o coito com o
carro. E na série “Dahmer”, um serial
killerencontraprazernoatodasma-
tanças e de comer quem assassinou.
Esse tipo de abordagem sobre o
corpo humano, em seu estado mais
bruto, em que um físico geralmen-
te tido por abjeto repentinamente
funciona como combustível eróti-
co, não é uma novidade, sobretudo
na carreira de Cronenberg, mas di-
versas obras audiovisuais recentes
parecem ter enveredado por cami-
nhos semelhantes. Captam a aten-
ção ao explorar o organismo em
imagens não raro chocantes, usan-
do vísceras, fluidos corpóreos, feri-
das e mesmo carne humana como
estimulantes para sugerir erotismo.
Em comum, há um tipo de sexu-
alidade nada corriqueira, extrema,
envolvendo o corpo humano em
estados que passam longe do ti-
do como excitante no sexo mais
convencional. É uma fisicalidade
mostrada em cenas esteticamente
excessivas, com poder de atordoar
e estimular os sentidos do espec-
tador. Para muitos, o mero ato de
observar essa corporeidade extre-
ma talvez já seja, em si, o novo sexo.
O mundo dos anos 2020 pode não
ter eliminado, como sugere Cronen-
berg, a dor do humano —pode ape-
nas a ter aumentado—, mas, ao que
parece, limitou sua capacidade de
ter prazer. Não por carência, mas
por superabundância de estímulos.
O filósofo alemão Christoph Türc-
ke, professor emérito da Academia
de Belas Artes de Leipzig, na Alema-
nha, já havia cantado a bola em 2010,
quando as redes sociais engatinha-
vam e a oferta de produtos audiovi-
suais na internet ainda era mínima,
comparada a uma década depois.
No livro “Sociedade Excitada: Fi-
losofia da Sensação”, publicado na-
quele ano e lançado aqui pela edi-
tora da Unicamp, Türcke mostra
o mundo capitalista como refém
a eee
de constantes estímulos sensoriais
gerados sobretudo pelo desenvol-
vimento tecnológico. A publicida-
de, as vitrines das lojas, os progra-
mas de TV, os jogos de videogame,
os filmes em cartaz —tudo em luta
constante para capturar a atenção
e sensações do indivíduo-consumi-
dor.Comotempo,aspessoasseacos-
tumaram à profusão de incitamen-
tos, indiferentes, ou se entediaram
na ausência desses estímulos. Hoje,
precisam de mais, como um vício.
“Éumbombardeiosobreumasen-
sibilidade tão absorvida e exausta
pela imensa quantidade de estímu-
los audiovisuais intrusos que não
mais reage atentamente. A não ser
quando irritada por choques”, afir-
ma Türcke, em entrevista. “Cho-
ques que proporcionam um prazer
especial ao espectador. O prazer de
participar de modo voyeurista do
ferimento do tabu e da transcen-
dência dos limites para o proibido.”
O filósofo pensa que o livro foi pro-
fético. “Não exagerou a realidade, a
realidade é que o exagerou”, diz, la-
mentando que o processo de depen-
O uso expressivo do dência humana das pequenas exci-
corpo no cinema tações, com os anos, se intensificou
existe desde muito ao ponto de hoje —sobretudo após
a massificação do smartphone, má-
tempo. Se destacam quinadeexaurirosensorialhumano.
três gêneros “Naépocaqueolivrofoiescrito,ob-
serveicrescimentosignificativodepi-
cinematográficos ercingsetatuagens.Pessoasinunda-
como ‘do corpo’ das e distraídas por estímulos audi-
—o melodrama, o ovisuaisfluidossentiramnecessida-
de de manter algo, de viver impres-
pornô e o horror. sões sustentáveis, de vivências pro-
No melodrama, fundas. É essa necessidade que as
fez incrustar figuras ou implantar
há o descontrole coisinhas metálicas na própria pele,
gestual e o choro apesar da dor liberada por isso —
ou até por causa dela”, diz o filósofo.
da tristeza. Na É claro que a maioria das pes-
pornografia, soas não chega ao ponto de prati-
os espasmos car em si mesma tais incisões, mas
parte expressiva delas parece in-
corporais do teressada em, ao menos, obser-
orgasmo. E, no var nas telas outros indivíduos ten-
do as tais “vivências profundas” a
terror, mutilações que o professor Türcke se refere.
da violência física Continua na pág. C5
a eee
Continuação da pág. C4
Essa já é, por si só, uma maneira de
ter contato com experiências me-
nos transitórias, mais acentuadas.
O
espectador contempo-
râneo parece mesmo se entregar a
um diálogo com um produto audi-
ovisual quando ele lida com temas
menos convencionais e quando há
tratamento estético da obra com
exacerbação formal, sem comedi-
mento no uso de imagens e sons.
Nesses casos, costuma haver contu-
são maior, uma fala aguda aos senti-
dos do público, que se põe a pensar
sobre o filme de modo como talvez
não fizesse se o regime de represen-
tação fosse discreto ou tradicional.
Mariana Baltar, professora da pós-
graduação em cinema e audiovisual
daUniversidadeFederalFluminense,
acredita que há uma tendência em
filmes recentes de fazer um uso es-
tético expressivo do corpo humano,
acentuado por vários procedimen-
tos que a linguagem mais clássica
enquadraria como “acima do tom”.
Ela chama de “modo de excesso”
toda estratégia estética em que o
uso excêntrico de maquiagem, ce-
nários, iluminação, angulações de
câmera, música e efeitos sonoros
se dá para exacerbar situações que
ressaltam a fisicalidade dos perso-
nagens, para operar no público res-
postas sensoriais fortes. E que seja
capaz de convocar o espectador ao
filme de maneira mais intensa que
narrativas de natureza acadêmica.
“A intensificação explícita do cor-
po em estado de tensão, como se es-
tivessenoextremo,dealgumaforma
tentaemularaexperiênciaqueagen-
te tem atualmente, das incertezas.
Os momentos de crise sempre pe-
dem descarga sensorial”, diz Baltar.
Coordenadora do NEX, Núcleo de
Estudos do Excesso nas Narrativas
Audiovisuais, específico ao tema, ela
julga que a corporeidade é essenci-
al nos filmes que se valem do exces-
so como ferramenta para despertar
respostas intensas do espectador.
“A presença dessa visceralidade é
resposta sensível ao contexto maior
em que o corpo parece ser mais pre-
mente e presente. Isso não é novo, é
teorizado desde o século 19. Mas, na
contemporaneidade,temcaracterís-
ticas singulares, vinculadas à hiper-
trofia da vida privada e o constan-
te apelo ao estímulo sensorial que
reforça a centralidade do corpo.”
O uso expressivo do corpo no ci-
nema existe desde muito tempo. A
influente teórica americana Linda
Williams, aliás, destaca três gêneros
cinematográficos como “do corpo”
—o melodrama, o pornô e o horror.
Emtodos,afisicalidadehumanahis-
toricamente tendeu a ser explorada
de maneira exagerada, até caricata.
No melodrama, há o descontro-
le gestual e o choro da tristeza. Na
pornografia, os espasmos corpo-
rais do orgasmo. E, no terror, mu-
tilações ocasionadas pela violência
física. Nos três, os líquidos corpóre-
os ganham destaque. Para reforçar
a noção de melancolia, os melodra-
mas destacam as lágrimas; a porno-
grafia intensifica o gozo investindo
na visibilidade de esperma, umidi-
ficações e suor; e o terror, para as-
sustar, explora o jorrar de sangue.
Mas o emprego do abjeto com co-
notação mais sexual surgiu no hor-
ror. Carlos Primati, especialista em
cinema fantástico e membro da As-
sociação Brasileira de Críticos de Ci-
nema,explicaque,atéosanos1960,o
gênero era voltado ao público jovem
e era impedido de abordar algo mais
ousado ou considerado mais adul-
to pelo Código Hays, que impunha
regras moralistas de conduta e de
temas nos longas hollywoodianos.
“Isso vai acontecer primeiro longe
de Hollywood, com o cinema euro-
peu,ondefilmesdehorrorquesurgi-
ram a partir da década de 1960 sem-
pre foram direcionados a plateias
maduras, em tema e conteúdo”, diz.
“Umdosprimeiríssimosaprovocar
uma sensação de atração e repulsa
ao mesmo tempo diante de um belo
cadáver, por assim dizer, foi ‘A Mal-
dição do Demônio’, de 1960, de Ma-
rioBava,nacenaqueocorpodabru-
xa vivida por Barbara Steele se rege-
nera até recuperar sua forma viva.”
Segundo Primati, a partir de en-
tão outros filmes atrelaram elemen-
tos eróticos a banhos de sangue
e exposição de vísceras, até che-
gar aos casos extremos —o terror
“Nekromantik”,de1988,deJörgButt-
gereit, mostra um homem com tal
nível de necrofilia que tem uma eja-
culação amazônica quando se mata.
Tais elementos repulsivos e sexu-
ais aos poucos também abandona-
ramonichodohorroreforamincor-
porados ao cinema geral, servindo
projetosestéticosdegrandescineas-
tas, como Pier Paolo Pasolini, Nagi-
sa Oshima e o próprio Cronenberg.
Mas é na França dos anos 2000
que se nota uma real tendência ao
uso desses corpos extremos em fil-
mes autorais, como “Baise Moi”, de
2000,deVirginieDespentes,e“Trou-
ble Every Day”, de 2001, de Claire De-
nis. Em seguida, ela se espalhou pe-
lo mundo, e não raro a partir de uma
perspectiva curiosamente femini-
na ou LGBTQIA+, em que a fisicali-
dade abjeta ganha outro significa-
do, de natureza alegórica e política.
O cineasta brasileiro Gustavo Vi-
nagre se destaca nessa área, nunca
escondendo sexualidade crua e não
normativaemsuaobra.Fossenasce-
nas de cópula reais —desempenha-
das por ele próprio— no média-me-
tragem “Nova Dubai”, de 2014, ou no
zoom literalmente proctológico de
um canal retal em “A Rosa Azul de
Novalis”, de 2018, o cineasta diz nun-
ca calcular cenas feitas unicamente
para chocar. “Confesso que não sei
também exatamente a razão [de
inserir cenas de sexualidade inten-
sa]. São coisas naturais para mim
que ponho nos meus filmes. Se cho-
caounão,aíédoespectador”,elediz.
Mas existe inequivocamente um
viés político em sua estética. Em
sua obra, a exibição de um corpo
extremo chega ao paroxismo no do-
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
ilustrada ilustríssima
cumentário em cartaz “Deus Tem
Aids”, que Vinagre dirige com Fábio
Leal, mostrando como portadores
de HIV lidam com o vírus hoje em
dia. Há uma cena em que Paulx, per-
former que se trata no gênero neu-
tro, se submete a um exame de san-
gue, inserindo o líquido recém-saí-
do de sua veia em seu próprio ânus.
O procedimento é chocante e, se-
gundo Paulx, no filme, se presta ao
“hackeamento de imaginários”, que
consiste em “captar uma imagem
pornográfica e entrar na cabeça de
outros que não buscavam aquilo”.
“É uma performance que mistura
sexualidade, HIV, pulsão de morte.
Mas também uma de vida, com es-
cárnio, humor e tesão”, diz Vinagre.
Não é coincidência que em parte
dascenasdesexocomocorpoemes-
tadoextremohajaumforteelemen-
to performático. Lembremos que o
homemquecedeseuventreparacri-
ar órgãos no filme de Cronenberg
os extirpa durante uma performan-
ce artística. E a protagonista de “Ti-
tane” se deixa levar pela influência
da placa metálica acoplada ao crâ-
nio ao dançar libertinamente para
o público em cima do capô do carro.
Alguns pesquisadores têm pensa-
do o corpo em performance em ter-
mosdistintosdavisãotradicional.A
britânicaLauraMulvey,porexemplo,
chamavaaatençãonosanos1970pa-
raoquantoocinematendeaumavi-
são fundamentalmente masculina
doscorpos,sobretudoosfemininos.
M
as é possível ler essa
corporeidade performática em ou-
tra chave. Pesquisadoras como Ele-
na Del Río hoje entendem que po-
de ocorrer o contrário da objetifi-
cação —um regime de “mostração”
dacorporeidadeeminentementeati-
va e emancipada, de corpos que se
apresentam livremente, expondo fi-
sicalidade sem medo de julgamen-
tos. Podem ser considerados abje-
C5
tosnasociedade,masnãoobjetos—
são sujeitos dos próprios desejos.
Em “Regra 34”, de Julia Murat, ven-
cedordoúltimoFestivaldeLocarno,
aprotagonistafazperformancesem
uma rede social pornô para admira-
dores. Seus fetiches incluem ferir o
corpocomcacosdevidroeseasfixiar.
“Ouniversodasexualidadeéimen-
so e diverso. Talvez seja menos uma
tendência a falar de violência e mais
um movimento de abertura a essa
pluralidade”, diz Murat, sobre a pro-
liferação dessa corporeidade mais
extrema no audiovisual recente.
“Não me parece que estamos me-
nos sensibilizados à pornografia, ao
contrário.Existeumadisputademei-
os de produção que passou a acon-
tecer no pornô nos últimos 20 anos,
por diversos fatores, e um deles é a
facilidade de distribuição da por-
nografia via internet”, afirma a di-
retora. “E essa disputa permite não
apenas a diversidade temática, mas
tambémmaiordiversidadedequem
produz essas imagens. O resultado
é a mudança no olhar audiovisual
sobre o corpo e os gostos. Uma plu-
ralidade na construção da imagem.”
O professor Diego Semerene, do
departamento de estudos de mídia
da Universidade de Amsterdã, tem
um pensamento semelhante ao de
Muratsobreopotencialdarepresen-
tação de corpos e sexualidades não
normativosnocinemacontemporâ-
neo —mesmo que, para um público
maisconservador,tudonãopassede
sexo grotesco, doentio ou bizarro.
“Essesjuízosdevalortambémapa-
recem como oportunidades de dar
sentidoaosprazeresdocorpoedalin-
guagem que não coincidem com ex-
pectativashegemônicas.Existeuma
grandepotencialidadepolíticaesexu-
al nesses ‘extremos’”, diz Semerene.
“Essepotencialexistequandoapró-
pria normatividade é exposta como
o verdadeiro terreno do bizarro, do
grotesco,mostrandoqueo‘freak’re-
al não é o outro. E que não há nada
mais doentio do que o normativo”,
afirma o pesquisador. A dissidência,
um dia, há de ser a nova norma. Â
C6 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 a eee
ilustrada ilustríssima

Imagem da série ‘Hollywood’, da Netflix, sobre a era de ouro do cinema Reprodução

Hollywood e o cópteros bloqueando o fugi-

tivo e o obrigando a se ren-
der diante dos poderosos fu-
zis policiais.

bolsonarismo
Cenas como essa são co-
muns nos filmes de ação, mas
estão se tornando frequentes
tambémemoutroscontextos,
como a propaganda instituci-
onal. Quem já visitou o canal
da Polícia Rodoviária Federal
[resumo] Discurso de que bolsonaristas vivem em um universo paralelo, de tom no YouTube sabe que uma de
cinematográfico, demonstra uma concepção pobre da ficção, assim como um suas estratégias fortes de co-
municação para o recruta-
desconhecimento de sua interação com a política. Sendo o cinema um fator mento de jovens policiais é a
imitação da estética de filmes
determinante na construção de realidades sociais, precisamos de novas e múltiplas hollywoodianos.
ficções (e relações) para combater o neofascismo brasileiro, argumenta professor Aroteirizaçãoeaencenação
de seus vídeos tomam clara-
mente como modelo as situa-
ções e os personagens típicos
dos filmes de ação comercial-
Por Guilherme da Silva Machado mente bem-sucedidos, assim
Professor de cinema e mídias na Universidade de Poitiers, França como as técnicas de composi-
ção características do gênero
(close-ups,câmeraslentas,vis-
tas aéreas, montagem rápida,
música instrumental), associ-
adas a formas do documentá-
Nos últimos meses, tenho ou- oposto da realidade, então a da na literatura. sim como os artifícios técni- por vezes, contamos com as rio(depoimentos,vozoff),con-
vido falar repetidamente de imissão relativamente recen- Tanto o fascismo quanto o cos que compõem os ecossis- açõespoliciais.Aatividadepo- feremveracidadeàssituações
“realidades paralelas” de gru- te do cinema na política (pelo capitalismo liberal e o socia- temas políticos. licial, por ser social, estabele- retratadas. A produção cine-
pos políticos no Brasil como menosdesdeaPrimeiraGuer- lismo devem sua ancoragem O cinema nada mais é que ce relações entre humanos e matográfica serve de modelo
“realidadescinematográficas”. ra Mundial) marcaria o pon- na realidade às ficções que ga- uma máquina de configura- artifícios técnicos. à comunicação institucional.
Movidaspornarrativasficcio- to a partir do qual a realida- rantiram —e garantem— sua ção das realidades sociais. En- Entre essas relações, algu- Maisqueisso,asficçõescine-
nais, figuras contrafeitas, en- de teria sido definitivamen- consistência neste mundo. quanto tal, ele dá forma a re- mas delas podemos conside- matográficasdaatividadepoli-
cenações patéticas e outras te abandonada em favor da Demaneiramaisfundamen- lações que podem ser reen- rar desajeitadas ou desenvol- cial,longedesecontraporemà
mentiras audiovisuais, essas ficção na orientação política tal, é preciso notar que as ex- contradas fora dele, fora das tas, podem ser intoleráveis realidade, atuam na sua fabri-
ditas pseudorrealidades mos- dos cidadãos. periências cinematográficas “imagens”, em contextos que ou, ao contrário, belas, au- cação. Um incidente ocorrido
trariam que “eles” e “nós” não As imagens em movimento tornaram-se parte da experi- reconhecemos como “reais”. tênticas e empolgantes. Os fil- em2020nosarredoresdePor-
vivemos no mesmo planeta, (amadoras ou profissionais) ência política (é o que, desde Assim,éfácilpercebercomo mes, sem dúvida, dão forma to Alegre serve aqui de exem-
ou melhor, que “eles” vivem por meio das quais inúmeros os anos 1930, notava Walter certas formas de relação soci- a relações (por exemplo, en- plo:aolocalizarseucaminhão
uma ficção. eventos (políticos ou não) no Benjamin).Issorequerquere- al a que assistimos nos filmes tre o corpo dos atiradores, as quehaviasidoroubado,umci-
Assim, quem vive em terra país são atualmente vivenci- conheçamos as produções ci- tendem a se reproduzir em armas e o corpo das vítimas) dadão decide perseguir os su-
plana está alienado da “ver- ados seriam indubitavelmen- nematográficas (nas quais ca- outros contextos, sejam “re- que, no contexto do cinema, postoscriminosos,aomesmo
dadeira realidade”, entranha- te a causa do nosso triste dis- be hoje incluir toda produção ais” ou “cinematográficos”: a nos levam a ter certas reações tempoquegravaumvídeoem
do no artifício das mitologias tanciamento da realidade. Fe- audiovisual, de Hollywood diferença entre esses termos emocionais. queafirma,enfurecido,tercha-
políticas, nos simulacros re- liz ou infelizmente, a política ao YouTube) como constitu- tende a se atenuar à medida Um caso conhecido é a per- mado a polícia e estar à espe-
acionários difundidos pelas nunca andou distante da fic- idoras das realidades sociais. que as formas do cinema per- seguição automobilística, em radeumaintervençãoporter-
imagens que pintam abusa- ção —bem antes da febre mo- Por realidade social, enten- vadem os nossos meios de in- que a montagem cinemato- ra e por ar.
damente o fascismo de ver- derna das imagens, mulheres de-setodaformaderelaçãode teração com o mundo. gráfica, primeiramente osci- A câmera apontada para a
de e amarelo. já haviam sido oficialmente indivíduoshumanosentresie Um exemplo bastante claro lando entre a soberba destre- frente do carro em movimen-
Esse discurso decorre de caçadas em razão de narra- com o ambiente no qual eles dessa inseparabilidade de fic- za do criminoso em fuga e a todeixaveralgunsmetrosadi-
uma concepção pobre da fic- tivas misóginas esdrúxulas e evoluem,oqueincluitambém çãocinematográficaerealida- obstinação do condutor mi- ante o referido caminhão em
ção, da cinematográfica em não houve revolução que não os agentes não humanos, ani- de é a maneira como muitos litar, termina com um plano uma rodovia.
particular. Se a ficção fosse o tenha sido primeiro prepara- mais, plantas e minerais, as- de nós vemos, imaginamos e, geral das viaturas e dos heli- Continua na pág. C7
a eee
Continuação da pág. C6
Subitamente, surgem três
policiais armados que cor-
rem em direção ao caminhão,
apontando seus fuzis. Cena
impressionante,queoscanais
de televisão locais não deixa-
riam de incluir em suas repor-
tagens sobre esse “fait divers”.
O que teria sido uma sim-
ples notícia de furto teve, as-
sim, sua importância releva-
da graças às imagens amado-
ras capazes de reativar, dian-
te da “realidade registrada”,
emoções aprendidas diante
dos filmes ficcionais.
No entanto, o que chama
a nossa atenção nesse vídeo
amador é a reação do propri-
etário do veículo no momen-
to da ação policial.
À vista dos guardas com
seus fuzis, esse homem não
pôde conter uma expressão
visceral de deslumbre.
Aos gritos, ele repete vezes
sem conta ante a demonstra-
çãodopoderpolicial“quecoi-
sa linda! que coisa linda!”, ex-
pressão mais facilmente asso-
ciada à visão de obras de arte
que a uma ação policial.
Se um “fato” como esse pa-
receu digno de gravação em
vídeo, isso se deve à sua apa-
rência propriamente cinema-
tográfica.
Na atuação desses policiais
rodoviários,havianãosomen-
te a crua “realidade” de uma
abordagem violenta, mas a
realidade plena de afetos de
um evento ao mesmo tempo
factual e ficcional, emocio-
nante e “lindo” em sua seme-
lhança com uma cena cine-
matográfica.
Quando reivindicamos os
“fatos” contra o bolsonaris-
mo, os bolsonaristas nos dão
uma lição de antropologia
que teimamos em ignorar
(sobretudo quando “eles” re-
torquem que somos “nós” os
alienados): não existem reali-
dades paralelas nem limites
à realidade. Agentes da PRF
já mostraram que até mesmo
sufocar um homem no porta-
malas de um carro pode pa-
recer aceitável, senão emo-
cionante.
Quando nos tornamos in-
sensíveis à nossa própria des-
truição (seja aniquilando nos-
sos semelhantes, seja destru-
indo o nosso ambiente de vi-
da), isso não se deve ao fato
de havermos abandonado a
realidade. Isso se deve à do-
minação de formas de relação
com o outro (seja ele huma-
no ou não humano) que tor-
nam “lindo” ou “apropriado”
o que outras formas de rela-
ção poderiam revelar como
“repugnante” ou “intolerável”.
O desenvolvimento de no-
vas e múltiplas formas de re-
lações sociais é, assim, a única
alternativa ao bolsonarismo.
Essedesenvolvimentodepen-
de do investimento nos mei-
os de criação, mas também
do reconhecimento de que o
planetadosbolsonaristasnão
é diferente do nosso.
Eleécompostodasmesmas
formas de relação que agitam
nossas vísceras diante dos fil-
mes. Ele é tecido das mesmas
práticas que definem as nos-
sas instituições.
Em vez de paralela à reali-
dade, a ficção cinematográ-
fica é um campo de exercí-
cio da imaginação, a mesma
imaginação com a qual fabri-
camos a realidade. É preciso
que haja mais e não menos
ficção para combater o neo-
fascismo brasileiro.
Em uma época em que ca-
da vez mais fatos sofrem con-
figurações cinematográficas
(nos múltiplos formatos do
cinema), é urgente que haja
criações que movimentem
as formas cinematográficas
dominantes de nossas rela-
ções sociais. Â
Arqueologia do
cinema brasileiro
[resumo] Pesquisador meticuloso, Rafael de Luna Freire resgata
em livro os primórdios do cinema brasileiro sob um ponto de
vista original: a exibição de filmes no país, e não as filmagens
Por Donny Correia
Doutor em estética e história da arte, crítico, pesquisador e membro da Abraccine (Associação brasileira de Críticos de Cinema)
Falar em história do cinema
brasileiro é recordar o perso-
nagem de Walmor Chagas em
“São Paulo, Sociedade Anôni-
ma” (1965), andando a esmo,
peloviadutodoChá,ruminan-
do sua vida errática em torno
do moto-contínuo: “Recome-
çar, trabalhar, começar de no-
vo, mil vezes recomeçar”.
A falta de uma indústria ci-
nematográfica sólida no Bra-
silnãoéumproblemarecente.
Nasúltimasdécadas,estárela-
cionadaaofimdaEmbrafilme,
no governo Collor, e à acefalia
dasinstânciasgovernamentais
no governo Bolsonaro.
O quadro geral de dificul-
dades, contudo, é tão antigo
quanto o próprio centenário
cinema:irregularidadenapro-
dução e na distribuição, pre-
conceitodobrasileirocomsu-
asprópriasproduções,realiza-
ção de filmes contingenciais
(caso das comédias musicais
e, depois, das comédias eróti-
cas), obras apressadas e mal-
executadas, por exemplo. Um
enredodifícildeserdestrincha-
do até mesmo pelos mais ab-
negados pesquisadores.
Um deles é o professor do
Departamento de Cinema e
Vídeo da UFF (Universidade
FederalFluminense)Rafaelde
LunaFreire.Comlongaexperi-
ência na preservação do acer-
vo fílmico do MAM Rio (Mu-
seu de Arte Moderna do Rio
de Janeiro), Freire, em verda-
de, é um arqueólogo do cine-
ma brasileiro, e sua atuação
está para além dos velhos cli-
chêsqueaindabuscamassunto
Em vez de norepisadolugar-comum,que
motiva pseudo-historiadores
paralela à a fazerem crescer a pilha de li-
realidade, vrossobreo“maisdomesmo”.
a ficção Ele já havia realizado um
valioso resgate do cinema de
cinematográ- Gerson Tavares (1926-2021),
fica é um campo pioneiro que abriu caminhos
para os jovens cinemanovis-
de exercício da tas, mas foi defenestrado des-
imaginação, se movimento pouco depois.
O mais recente trabalho do
a mesma pesquisador é o livro “O Negó-
imaginação cio do Filme: a Distribuição
com a qual Cinematográfica no Brasil,
1907-1915”, em que apresenta
fabricamos a um exaustivo escrutínio dos
realidade. É pontos mais obscuros do iní-
cio do mercado cinematográ-
preciso que fico no Brasil, começando pe-
haja mais e não lo advento do filme como di-
menos ficção versão pública três ou quatro
anos antes da consagrada fil-
para combater magem da baía de Guanabara
o neofascismo por Alfonso Segreto, em 1898.
Imagens que, aliás, assim co-
brasileiro mo 90% do que foi produzi-
do no período, se perderam.
No entanto, tão interessan-
te quanto esse marco canoni-
zadonostratadoshistoriográ-
ficos sobre o assunto é a pre-
sença do sócio de Segreto no
negócio das imagens em mo-
vimento,ocariocaJoséRober-
toCunhaSales,autoproclama-
do advogado, médico e ilusi-
onista, que teria, em 1897, re-
clamado para si a “invenção
do cinema” no Brasil.
Pesquisas anteriores do ci-
neasta Carlos Adriano, con-
tudo, apontam que restam
apenas 24 fotogramas (cerca
de 1 segundo de cena) das fil-
magens de Sales de uma onda
arrebentando contra um pí-
er que poderia estar em qual-
quer local além do Rio.
No livro de Freire, o mais
completo no escopo a que
se propõe recortar, sabemos
dos ancestrais da arte cine-
matográfica que desenvolve-
ram suas carreiras no Brasil,
muito antes de haver no país
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
ilustrada ilustríssima
uma produção local minima-
mente consistente. A novida-
de é propor que olhemos para
a origem a partir das primei-
ras exibições, e não das pri-
meiras filmagens.
Esta mudança de foco cor-
rige erro crônico já apontado
por Jean-Claude Bernardet: o
dequeatrôpegaproduçãona-
cionalestáintimamenteligada
aumahistória semprerevisita-
daapartirdaprodução,nunca
da exibição. Segundo Bernar-
det, isso contribuiu para que
as gerações seguintes a Segre-
to se preocupassem apenas
com a realização e quase nun-
ca com a distribuição.
O pressuposto ressoa em “O
NegóciodoFilme”,jáqueotra-
balho de Freire corrige a no-
ção de que o loteamento pre-
coce do mercado cinemato-
gráficonacionalporpartedos
distribuidores internacionais
transferiu a atenção historio-
gráficaparaaquiloque de fato
era fruto da produção brasi-
leira: a filmagem, nunca a exi-
E
bição em larga escala.
m sua pesquisa, sal-
ta-nos o fato de que os primei-
ros lanternistas (operadores
deaparatosóticoscomoalan-
terna mágica) e prestidigita-
dores, que também eram em-
presáriosdoramodeatrações
em feiras, exposições, shows
de variedades e outras ações
populares, embora exibissem
fitas da Europa e dos Estados
Unidos,foramosreaisrespon-
sáveis por abrir espaço para
filmagens no Brasil.
É o caso de Francisco Perei-
ra de Lyra, citado como pre-
cursor da exibição de filmes
internacionais em Pernam-
buco, estado em que surgi-
ria, duas décadas depois, um
dos mais importantes ciclos
de produção regional no pa-
ís, com clássicos como “Aita-
ré da Praia” (1925) e “A Filha
do Advogado” (1926).
Freire também resgata
a presença de Marc Ferrez
(1843-1923) como responsável
pela distribuição de filmes da
Pathé Frères no Brasil, possi-
bilitando a formação de um
ecossistema em torno de sa-
las fixas de exibição, profis-
sionalizando o negócio cine-
matográfico e abrindo espa-
ço para a produção, em vista
da crescente demanda.
É a partir de Ferrez e de sua
boa relação com o francês
Charles Pathé que observa-
mos os primeiros movimen-
tos rumo a uma sedimenta-
ção do sistema de distribui-
ção, que eventualmente cri-
aria a possibilidade de uma
produção nacional.
No Rio de Janeiro, logo sur-
giriam filmes que exploravam
a crônica policial local e obras
adornadas com a presença de
atores e cantores por trás da
teladeexibição,dandoàsima-
gens o incremento do som ao
vivo durante a exibição. Eram
os chamados “filmes cantan-
tes” —deste segmento, des-
taca-se “Paz e Amor” (1910),
um verdadeiro fenômeno de
bilheteria para as proporções
daquela época, assinado por
AntonioSimples,pseudônimo
de José do Patrocínio Filho.
A pesquisa de Rafael de Lu-
naFreirelançaaindaluzsobre
umdetalhehistóricodosmais
importantes, mas que havia
sido ignorado até agora. Um
C7
desses cantantes, “O Rio por
um Óculo”, exibido em outu-
bro de 1910, composto de vá-
rios segmentos que comenta-
vam alguns hábitos da socie-
dade carioca, tinha roteiro de
ninguém menos que o escri-
tor Lima Barreto (1881-1922).
O que hoje se apresenta co-
mo um achado arqueológico
nas cavernas da história de
nosso cinema não era algo
tão incomum à época: “Ape-
sar dessa autoria aparente-
mente surpreendente, as ex-
plicações para isso são perfei-
tamente plausíveis. Depois da
filmagem de montagens tea-
trais [...], a realização de ‘Paz
eAmor’deuinícioàpráticada
encomenda de um texto ori-
ginal para ser especialmente
encenado diante das câme-
ras”, comenta o pesquisador,
ao apontar que o cinema, vis-
tocomorivaldoteatroemum
primeiro momento, passou a
ser uma alternativa profissio-
nal a músicos, atores e, logo
em seguida, escritores.
Contra a velha impressão
de que o mercado exibidor
brasileiro se colocava passi-
vamente aos interesses inter-
nacionais, “O Negócio do Fil-
me” apresenta um meticulo-
so balanço da trajetória da
CCB (Companhia Cinemato-
gráfica Brasileira), surgida em
1911 como uma espécie de “jo-
int venture” dos empresários
Antonio Gadotti e Francisco
Serrador, que logo passou a
adquirir a propriedade de ci-
nemas em vários estados do
país, além de incorporar ou-
tras distribuidoras, incluindo
a de Marc Ferrez.
AintençãodaCCBeraelimi-
nar as instâncias intermediá-
rias na aquisição e distribui-
çãodefilmes,agoranãosódas
hegemônicas empresas fran-
cesas Pathé e Gaumont, mas
também das norte-america-
nas Vitagraph e Edison Studi-
os,bemcomoadinamarquesa
Nordisk e algumas empresas
da Alemanha e da Inglaterra.
Era inevitável o crescimen-
to do cinema mundial como
forma popular e respeitada
de arte ao longo da década de
1910, e a CCB via na incorpo-
ração de empresas menores
uma maneira de controlar o
mercado no Brasil.
Esse “truste” ainda passaria
pordiversasconfigurações,eo
hábito cinematográfico brasi-
leiroseriaamplamenteafetado
pelosdesdobramentosdaPri-
meiraGuerraMundial,quando
apredominânciadeumacultu-
raafrancesadafoiirreversivel-
menteatenuada,umavezque
os EUA logo viram a possibili-
dade de penetração cultural
para além de seu território a
partirdaestagnaçãoeuropeia.
O cinema dos EUA já era
uma forma incontestável de
“soft power” por volta de 1915,
e sua maciça entrada em nos-
sos hábitos favoreceria o ne-
góciodadistribuição,masain-
da representaria grandes en-
traves à produção e à exibição
defilmesnacionais,quecircu-
lariam nas brechas, às custas
de muito empenho e heroís-
mo, assunto muito convida-
tivo a outros pesquisadores
com igual comprometimento
que marca esta obra. Â
O Negócio do Filme: a
Distribuição Cinematográfica
no Brasil, 1907–1915
Autor: rafael de Luna Freire. Editora:
museu de Arte moderna do rio
de Janeiro. r$ 50 (448 págs.)
C8 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
ilustrada ilustríssima
Quando a profecia falha
[resumo] Professor retoma conceito de dissonância cognitiva coletiva para analisar áudios e
vídeos de manifestantes bolsonaristas golpistas que, frustrados diante da vitória de Lula e do fracasso
de suas profecias, recorrem à violência e ao terrorismo doméstico para fortalecer a alucinação
Por João Cezar de Castro Rocha
Ensaísta e professor titular de literatura comparada na Uerj (Universidade do Estado do rio de Janeiro). Autor de ‘guerra Cultural e retórica do Ódio (Crônicas de um brasil Pós-político)’
O vídeo parece caricato, mais
um exemplo da dissonância
cognitiva coletiva chamada
bolsonarismo,mas,nofundo,
nada poderia ser mais grave.
Escrevo este artigo com um
peso enorme no coração, po-
rém nunca foi tão urgente di-
zeroqueprecisaserdito,abrir
os olhos, aguçar os ouvidos.
Em 30 segundos, um ho-
mem ameaça o futuro da na-
ção Brasil, que, a bem da ver-
dade, nunca se constituiu de
todo, pois não pode haver na-
ção em meio à desigualdade e
ao racismo, diante da recusa
radical de tudo que não seja
espelho; não pode haver na-
ção se o outro for reduzido ao
papel de inimigo a ser metra-
lhado—sejacompalavras,se-
ja com balas. (Não pode haver
nação na arquitetura da des-
truição bolsonarista.)
Umsenhorencanecido,fan-
tasiado de militar, transfor-
ma o Antigo Testamento em
arma de extermínio. Erra na
referência, confunde os fatos,
mas pretende recorrer à cita-
ção na qual Samuel instruiu
Saul: “Vai, pois, agora, e fere
a Amaleque, e destrói total-
mente tudo o que tiver, e não
lhe perdoes; porém matarás
desde o homem até à mulher,
desde os meninos até aos de
peito,desdeosboisatéàsove-
lhas e desde os camelos até
aos jumentos” (1 Samuel 15).
Em seu delírio, o homem,
que se identifica como “pas-
tor, capelão e capitão”, detur-
pa a passagem; a alma adoeci-
da pelo bolsonarismo imagi-
na outro cenário, desenhado
comsangue:“Matemtodos,in-
clusive as mulheres grávidas.
Transpasse a barriga. A espa-
da na barriga. Porque o que
está ali é filho do demônio”.
Daí, especial esmero no as-
sassinato de fetos —sim, es-
se bolsonarista de quatro cos-
tados está propondo a mor-
te de crianças no ventre das
mães— para que “demôni-
os” não viessem ao mundo
vingar a morte dos pais. Na
sequência, a analogia-barbá-
rie: simpatizantes do PT e do
PSOL são novos “demônios”
que serão eliminados se tive-
rem a má sorte de cruzar o ca-
minho desse cidadão de bem,
que afirma orgulhosamente
ser armamentista.
Puro horror! Acabei de ler
o incontornável romance de
BoubacarBorisDiop,“Muram-
bi, o Livro das Ossadas”, e as-
sim passamos do Antigo Tes-
tamento do Brasil bolsonaris-
taaogenocídiodogrupoétni-
co tutsi, ocorrido em Ruanda
em1994.Oshutususaramexa-
tamenteomesmoargumento
paramassacrarcriançasemu-
lheresgrávidas.Seucrime?Se-
rem tutsis. O cidadão de bem,
acampado diante de quartéis
para pedir democraticamen-
te que os militares brinquem
de ditadura “com Bolsonaro
no poder”, pensa, odeia e de-
seja agir como os genocidas
de Ruanda.
Como entender essa aluci-
nação? É possível, ainda, en-
tender alguma coisa?
O fracasso da profecia
O Brasil vive a manifestação
coletiva, em dimensão inédi-
ta na história, de fenômeno
bastante estudado em seitas
milenaristas, em um número
muito reduzido de adeptos. O
que ocorre quando o fim do
mundo não comparece ao en-
contro marcado?
“Quando a Profecia Falha”
(1956) é um notável ensaio
escrito por três pesquisado-
res, Leon Festinger, Henry
W. Riecken, Stanley Schach-
ter. Eles conseguiram se in-
filtrar na Fraternidade dos 7
Raios, que, dizendo ter rece-
bido mensagens enviadas por
seres superiores do planeta
Clarion, previa um dilúvio de
proporçõesbíblicaspara21de
dezembro de 1954. Ora, como
lidar com o dia seguinte, cuja
chegada esclarece o fracasso
da profecia?
Em primeiro lugar, busca-
se racionalizar o fato; procu-
ra-se, por óbvio, uma escusa
que permita manter a convic-
ção na ausência absoluta de
provas. O recurso é limitado:
não se pode racionalizar no-
vas profecias que, teimosas,
insistam em falhar. Nesse ca-
so, a violência expiatória é o
recurso mais usual e mais ter-
rível:eisondeestamosnoBra-
sil bolsonarista.
(Você pensou na tragédia
provocada pelo culto a Jim Jo-
nes, ainda que, como eu, te-
nha se assustado com o pró-
prio pensamento?)
Em31deoutubro,logoapós
aderrotadeBolsonaronaselei-
ções,viasemtodoopaísforam
bloqueadas, em uma ação or-
questrada que sugere organi-
zação prévia. Dizia-se que, ca-
somanifestaçõessemantives-
sem por míticas 72 horas, as
ForçasArmadasarmariamle-
gosgolpistasemBrasília“com
Bolsonaro no poder”.
No dia 3 de novembro, ex-
pirado o prazo mágico, invo-
cou-seoterraplanismodojuiz
favorito do movimento: SOS
FFAA.Artigo142.Selva!Acam-
pamentos diante de quartéis
e correntes de oração condu-
ziriam à ditadura democráti-
ca. Mais 72 horas e tudo esta-
ria resolvido —“com Bolso-
naro no poder”.
Em 7 de novembro, convo-
cou-se uma greve geral, pois,
se bem-sucedida, em 72 ho-
ras paralisaria o país, e ago-
ra, sem dúvida, tanques sai-
riam às ruas —“com Bolso-
naro no poder”. A greve, po-
a eee
O cidadão de rém, terminou sem começar,
não com estrondo, mas com
bem, acampado muita choradeira.
diante de No dia 15 de novembro, Bol-
sonaro em silêncio impiedo-
quartéis para so; Lula, o presidente eleito,
pedir democrati- brilha no Egito e é celebrado
camente que em todo o mundo. Porém, a
maior manifestação da his-
os militares tória é convocada: pronto! A
brinquem de terra tremerá, o gigante des-
pertou, a nação se unificou
ditadura ‘com —“com Bolsonaro no poder”.
Bolsonaro no Uma tempestade que faria
a felicidade dos alienígenas
poder’, pensa, de Clarion castiga os mani-
odeia e deseja festantes e dispersa a multi-
agir como os dão, que, no entanto, insiste
em jogar caxangá, tira, põe e
genocidas (se) deixa ficar. Multidão fiel
de Ruanda de guerreiros com guerreiras,
que (por enquanto) fazem zi-
gue-zigue-zá.
O estoque de novas profe-
cias está prestes a se esgo-
tar, ainda que bolsonaristas,
Ora, como lidar tanto mais corajosos quanto
com o fracasso mais distantes da minha ter-
ra tem palmeiras, se esforcem
da profecia? por manter a galinha de ouro
A violência da tríade sagrada do lacre-li-
ke-lucro. Estão fomentando
expiatória é o violências e mortes!
recurso mais Éoqueacontecequandoto-
usual e mais das as profecias falham e o lí-
der, em lugar de se sacrificar
terrível: eis pela causa, sacrifica a causa
onde estamos para salvar a própria pele —
mansão, comida, salário de
no Brasil marajá e muitos advogados,
bolsonarista porque nem mito é de ferro.
Continua na pág. C9
a eee
Continuação da pág. C8
A frustração acumulada da
multidão pode explodir em
atos de terrorismo domésti-
co e assassinatos expiatórios,
cuja onda tende a crescer. Foi
assimemtodaahistória.Hoje,
contudo, o fracasso da profe-
cia envolve milhões de pesso-
as, reféns da dissonância cog-
nitiva coletiva produzida de-
liberadamente pela midiosfe-
ra extremista.
(Celular na cabeça, em po-
sição horizontal, para ser vis-
to com nitidez desde o plane-
ta Clarion. E jogue suas mãos
para o céu e agradeça se acaso
tiver alguém que você gosta-
ria que estivesse sempre com
você, na rua, na chuva ou no
quartel mais próximo —“com
Bolsonaro no poder”.)
Mãe carinhosa,
linchadora feroz
Estamos em bloqueio realiza-
dopelosbolsonaristas.Umse-
nhor, franzino, precisa seguir
seucaminho.Tentapassar,mas
rapidamente é cercado por
uma horda que retorna à sa-
nha primitiva da busca de bo-
des expiatórios para o lincha-
mentoritual.Umamãe,cuida-
dosa,armadacomacamisada
seleção,abraçaseufilhoeore-
tira do meio do redemoinho.
Contudo, ato contínuo, faz
a travessia perigosa da jagun-
çagem e, aproveitando que a
vítima se encontra no chão,
Apoiador de sendo massacrada por ho-
Bolsonaro mensmuitomaisfortesemui-
em protesto to mais jovens, desfere um vi-
contra a olento pontapé na cabeça do
vitória de senhor, cujo corpo, pelo im-
Lula, em pactodogolpe,élançadocom
frente a força no asfalto.
quartel Alinchadoradáascostaspa-
em Brasília ra a brutalidade que protago-
Ueslei Marcelino - nizou; talvez tenha se recor-
15.nov.22/Reuters dado da criança (que assiste
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
ilustrada ilustríssima
à cena). No entanto, uma for-
ça estranha a domina, ela se
vira para o corpo estendido
no chão e vocifera luciferina:
“Morre, petista!”.
Satisfeita, em paz consigo
mesma,caminhaemdireçãoà
criança, que viu sua mãe des-
ferir um violento pontapé em
um homem idoso, caído e já
sem reação, ensanguentado
pelos socos que recebeu de
homens muito mais jovens e
muito mais fortes.
(A mãe de bem, acampada
diante de quartéis para pedir
democraticamentequeosmi-
litares brinquem de ditadura
“com Bolsonaro no poder”,
pensa, odeia e deseja agir co-
mo os genocidas de Ruanda.)
Exemplos similares são le-
gião: em Minas Gerais, bra-
vos guerreiros do ar se asso-
ciam para impedir que uma
mulher chegue ao trabalho.
Violentos, empombados, le-
vantam a voz e calam a traba-
lhadora. No mesmo instante,
um homem ao volante de ou-
tro carro informa que precisa
passar. Os soldados de PlayS-
tation não hesitam e dóceis
abrem caminho. Ao lado, dois
policiais encostados em uma
viaturanadafazem,aindaque
a mulher lhes tenha implora-
do não ajuda, mas socorro.
Emumaestradaqualquerdo
Brasil profundo, um bolsona-
ristadecarteirinha,dizendo-se
caminhoneiro, salta na boleia
deumcaminhãoparaobrigar
um trabalhador a parar e cor-
rer o risco de perder sua car-
ga. O agitador de lives, o guer-
rilheiro do Facebook vive seu
momentorumoàEstaçãoBra-
sília e lança mão do argumen-
to-crime: “O senhor não tem
filhos? Melhor colaborar ou
podenãovermaisseusfilhos”.
Em todo o Brasil, há uma
proliferação de episódios si-
milares, registrados em víde-
os que excitam o voyeurismo
C9
bolsonarista.Ruandapodeser
aqui e agora.
O silêncio do Messias
O silêncio de Jair Messias Bol-
sonaro é cúmplice das mani-
festações antidemocráticas;
sua mudez é ação delibera-
da de estímulo ao caos. Em
uma atitude vergonhosa, o
general Braga Netto assumiu
o lugar do patrão no cercadi-
nho do Alvorada para atiçar a
militância com uma declara-
ção cuja ambiguidade deson-
ra sua farda: “Vocês não per-
cam a fé. É só o que posso fa-
lar para vocês agora”.
Por quê? Trata-se de anún-
cio de golpe? Nesse vazio de
autoridade, pequenos bolso-
naros se multiplicarão, arma-
dos, velozes e furiosos.
A profecia falhou, e a disso-
nânciacognitivacoletivacam-
peia sem freios. A longo prazo
precisamos ajudar essa mul-
tidão a se libertar da midios-
fera extremista. De imediato,
contudo, as instituições pre-
cisam reagir com muito vigor.
O bolsonarismo manipu-
la a ilusão da militância para
defender ditadura “com Bol-
sonaro no poder”. Esse é o
mais grave atentado contra
a democracia brasileira. As
eleições foram vencidas pe-
la frente ampla: o parque te-
mático do golpismo bolsona-
rista converteu-se em organi-
zação criminosa e, se não for
coibido imediatamente, o cir-
co permanecerá em atividade
comaintençãotãoclaraquan-
to delinquente de tumultuar
a transição do poder e a pos-
se de Lula e Geraldo Alckmin.
Se não estivermos à altura
do desafio, a brilhante disto-
piadeIgnáciodeLoyolaBran-
dão será nossa realidade em
um futuro próximo: “Não ve-
rás país nenhum”. Â
C10 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 a eee
ilustrada ilustríssima

Rir com juízo não é rir que nenhum de nós foi nome-
ado juiz e carrasco. Ninguém
nosmandatouparadecidirmos
vereditos e aplicarmos penas.
muitas pessoas tentaram estabelecer uma ética do riso Quarta: quando o rei é al-
guém de que nós gostamos, ou
- que elegemos, ou que na nos-
Ricardo Araújo Pereira sa opinião está a serviço do
Humorista, membro do coletivo português gato Fedorento. É autor de ‘boca do inferno’ “Bem” com “B” grande, ao la-
do do que é correto, e luta pe-
los desfavorecidos, qualquer
A quantidade de pessoas que cito fazer “punching up”, isto é, tre piadas e violência, quando te fazer piadas acerca do rei do piada sobre ele atinge indire-
tentaramestabelecerumaética podemos fazer piadas apenas Chris Rock fez uma piada e Will queacercadopajem.Mas,sees- tamente os desfavorecidos. Lo-
do riso é impressionante. Mais acerca de quem ocupa uma po- Smith respondeu com violên- tipulamos que é ilegítimo fazer go, piadas sobre o rei não são
impressionante ainda é o fato siçãodepodersuperiorànossa. cia. O fato de o agressor não piadas acerca do pajem, nesse “punching up”. Pelo contrário,
de todas terem falhado. De fa- Pessoalmente,tenhoquatroob- ter sido imediatamente expul- momento ele adquire um direi- são “punching down”. É uma
to, a tarefa não é fácil. O mais jeções à ideia de “punching up”. so da sala, e de muita gente ter to que nem o rei tem —o que o lógica muito fácil de perverter.
provável é que seja mesmo im- Primeira: comédia não é considerado que a agressão tornaestranhamentepoderoso. O melhor é continuar a rir
possível.Determinarquehácoi- punching. Piadas e violência era uma resposta compreen- Terceira: se comédia é “pun- sem juízo. Talvez seja bom lem-
sastãosagradasquenãoélícito são coisas de natureza muito sível e até adequada à piada, ching”, ou seja, se é equivalen- brarqueorisoéumareaçãoes-
rir delas esbarra na circunstân- diferente —e, portanto, essa parece indicar que, por incrível te a uma agressão, o fato de as pontâneaeinvoluntária.Quem
ciadepessoasdiferentesdarem é uma péssima metáfora pa- que pareça, o episódio não foi pessoasterempodernãotorna pretendersubmetê-loaditames
valor a coisas diferentes. A pro- ra pensar sobre o assunto. No suficientemente pedagógico. umapiadalegítima.Continuaa moraisdeviatrabalhar,aomes-
posta que hoje parece ser pre- dia 28 de março deste ano ficou Segunda:comoéóbvio,humo- ser imoral agredir alguém, por motempo,numaéticadosespir-
valecente diz o seguinte: só é lí- muito evidente a diferença en- risticamenteémaisinteressan- maispoderosoqueseja.Atépor- ros, ou dos soluços. Boa sorte.
Luiza Pannunzio

| dom. Ricardo Araújo Pereira | seg. Bia Braune | ter. Manuela Cantuária | qua. Gregorio Duvivier | qui. Flávia Boggio | sex. Renato Terra | sáb. José Simão

é hoje quadrão Jan Limpens Ciclo de Cinema e

Psicanálise debate
-
Tony Goes ‘O Acontecimento’
tonygoes@uol.com.br
são paulo Na próxima ter-
ça-feira, o Ciclo de Cinema
e Psicanálise debate o filme
Final de concurso “O Acontecimento”, de Au-
de talentos da drey Diwan, baseado no li-
vrodaNobelAnnieErnaux.
música erudita A obra narra a vida de
uma estudante francesa
celebra Milton que tenta abortar nos anos
1960, quando a prática era
Prelúdio ilegal no país. O longa será
Cultura, 22h, livre exibido no Museu da Ima-
Cinco jovens músicos dispu- gemedoSom,às19h.Osin-
tam uma bolsa de estudos na gressos da sessão gratuita
Hungria na grande final de podem ser retirados com
mais uma temporada do pro- uma hora de antecedência.
grama,transmitida aovivodo A sessão será seguida
teatro B32, em São Paulo. Os de um debate com Syl-
80 anos de Milton Nascimen- via Pupo, psicóloga e psi-
to serão celebrados com uma canalista associada à So-
apresentação do Ballet Parai- ciedade Brasileira de
sópolis.ApresentaçãodeJúlio Psicanálise de São Paulo, e
MedagliaeRobertaMartinelli. Marina Lourenço, repórter
de cultura da Folha.
Gangs of London
Lionsgate+, 16 anos
Na segunda temporada da sé-
rie, um novo e brutal líder do- Ciclo 7 Leituras
mina o narcotráfico na capi-
tal britânica. Um novo episó- encena ‘Os Físicos’
dio todo domingo; os três pri-
meiros já estão disponíveis.
de Dürrenmatt
são paulo Criação de Eugê-
Maratona James Bond nia Thereza de Andrade, o
Telecine Action, a partir de 8h20 ciclo “7 Leituras” encena
O canal exibe oito filmes pro- neste mês de dezembro a
tagonizados pelo agente se- peça “Os Físicos”, do suí-
creto —“007 Contra Golde- ço Friedrich Dürrenmatt.
neye”(8h20),“OAmanhãNun- A adaptação do texto é
ca Morre” (10h40), “O Mundo de Oswaldo Mendes.
NãoÉoBastante”(12h50),“Um Pensando nas armas de
NovoDiaparaMorrer”(15h10), extermínio em massa, a
“Cassino Royale” (17h30), peça mostra o dilema mo-
“Quantumof Solace”(20h05), ral de um físico que se refu-
“Operação Skyfall” (22h) e gianumsanatório,fingindo
“007 Contra Spectre” (0h30). loucura, para que suas des-
cobertas não sejam utiliza-
Lygia das contra a humanidade.
Curta!, 19h20, 14 anos A leitura tem direção de
O documentário de Os- Marco Antônio Pâmio e
kar Metsavaht registra a ocorre gratuitamente no
atriz Carolyna Aguiar in- Sesc 24 de Maio, na rua
terpretando um monólo- 24 de Maio, 109, na região
go escrito por Maria Clara central de São Paulo, na
Mattos, a partir dos diários próxima terça-feira, às 20h.
da artista visual Lygia Clark.

Cidades e Soluções
globonews, 21h, livre Festival Vermelhos
O programa mostra o impac-
to do mercúrio, usado por terá Seu Jorge e
garimpeiros na extração de
ouro, na saúde dos indígenas
Roberto Minczuk
da Amazônia. Também exi- são paulo OFestivalVerme-
be trechos do documentário lhos, em Ilhabela, no litoral
“Amazônia, A Nova Minama- paulista, terá uma progra-
ta?”, de Jorge Bodansky. mação especial para o fim
do ano. No próximo dia 27,
Casas Estranhas às 20h30, o cantor Seu Jor-
HgTV, 22h45, e Discovery+, livre ge se junta a Daniel Jobim
Residências bizarras, cons- numa apresentação de
truídas em lugares como homenagem a Tom Jobim.
um avião de carga, um va- Já dois dias depois, tam-
gão de trem ou uma igre- bém às 20h30, será a vez de
ja, são o assunto da quarta Roberto Minczuk reger o
temporada da série. “ConcertoSinfônicodeAno
Novo”, com participação
Canal Livre dasopranoCamilaTitinger
band, 00h30, livre e do tenor Enrique Bravo.
Em mais um episódio so- Os ingressos para o even-
bre os 200 anos da Indepen- to, que realiza espetáculos
dência do Brasil, a histori- de música e de artes cêni-
adora Heloisa Starling fala cas em meio à mata atlân-
sobre as consequências do tica, podem ser compra-
rompimento com Portugal dosempontosdevendaem
e o papel das mulheres na Ilhabela e também no site
nossa emancipação. | dom. Jan Limpens, Luiz Gê, Ricardo Coimbra, Angeli, Laerte vermelhos.org.br.
 copa 2022 a eee
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
Juntando os
cacos
Jewel Samad/AFP
-
Alex Sabino e
Luciano Trindade
DOHA (QATAR) Tite está mais
preocupado do que habitu-
almente. A dois dias do jogo
contra a Coreia do Sul pelas
oitavas de final da Copa do
Mundo, os problemas de le-
sões se acumulam no elenco
da seleção brasileira. O trei-
nador não estava preparado
para lidar com isso.
Lan Hongguang - 24.nov/Xinhua
Foram cinco baixas na fa-
se de grupos. As contusões
de Gabriel Jesus e Alex Tel-
les, na sexta-feira (2), diante
de Camarões, foram as mais
recentes. Ambos estão fora
do Mundial, com lesões no
joelho direito.
Neymar,DaniloeAlexSan-
dro também estão em trata-
mento com a equipe médi-
ca e de fisioterapia da CBF
(Confederação Brasileira de
Futebol), em uma corrida
contra o tempo para enfren-
tar os coreanos.
Nostreinosdesábado(3)e
domingo (4), o treinador da
seleção vai fazer uma abor-
dagem psicológica mais for-
te com os jogadores. A ideia
Anne-Christine Poujoulat - 28.nov/AFP
é bater na tecla de que eles
precisamjogarporseuscom-
panheiros que foram abati-
dos por lesões.
Além disso, vai reforçar
que a Copa é um ciclo de
quatro anos e que, portanto,
eles precisam valorizar todo
o esforço que já fizeram pa-
ra chegar até o Qatar.
No alto, Neymar sofre entorse no tornozelo e não joga desde O problema é que muitos
a estreia; Alex Sandro lesionou o quadril contra a Suíça deles também estão sofren-
1
Duelo contra Coreia do Sul na
segunda-feira (5) sem a certeza
de Neymar, Danilo e Alex Sandro
preocupa; lesões de Gabriel Jesus
e Alex Telles pioram o cenário
Alex Telles sofre lesão
em jogo contra Camarões
e está fora da Copa do
Mundo no Qatar
docomosproblemasdosco-
legas de equipe.
“Sinceramente, é muito
complicado. Uma situação
que deixa a gente bem tris-
te”, disse o zagueiro Thiago
Silva,um dos líderesdoelen-
co e capitão nos dois primei-
ros jogos na Copa.
Há uma preocupação es-
pecial com Neymar. Primei-
ro porque a incerteza sobre
o retorno dele não é só para
Dylan Martinez - 2.dez/Reuters
o duelo pelas oitavas. A dú-
vida é para todo o restante
do Mundial e está mexendo
com o moral dele.
O craque também é mui-
to amigo de Gabriel Jesus, e
ver o jogador do Arsenal per-
derachancedecontinuarno
torneio também o chateou.
Alex Telles é outro muito
querido pelo elenco. E sua
baixa representa um duro
golpe em uma posição que
já vem dando dor de cabeça
para Tite, a lateral esquerda.
Como não se sabe ainda
em que condições Alex San-
dro retornará, nem se terá
de fato condições de iniciar
a partida contra a Coreia do
Sul, o atleta do Sevilla seria o
substituto natural do titular.
François-Xavier Marit - 24.nov/AFP
Nesse cenário, cresce a im-
portância de um dos 26 con-
vocadosquetiveramsuapre-
sençamaiscontestadanade-
legação brasileira, o vetera-
no Daniel Alves, 39.
Lateral direito de origem,
ele poderá ser deslocado pa-
raatuarnaesquerdaparasu-
prir a carência da posição. No alto, Gabriel Jesus sofre lesão em jogo contra Camarões;
Continua na pág. 2 Danilo, com entorse no tornozelo, não joga desde a estreia
2 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
copa 2022
Juntando os
cacos
Continuação da pág. 1
Ele já atuou no setor na Copa
América de 2010, à época por
opção do então técnico da se-
leção Mano Menezes.
Daniel foi titular contra Ca-
marões, atuando na direita.
Fezumjogodiscreto,cumprin-
do mais um papel defensivo.
AntesdeestrearnaCopa,ele
foiquestionadosobreaconvo-
cação e tratou o assunto com
bom humor. Disse que enten-
de as críticas por sua idade e
por ter chegado ao torneio
com dois meses de inativida-
de, mas afirmou que cumpre
um papel no elenco.
“Acho que minha missão na
seleção é entregar meu me-
lhor em prol do time”, disse.
“Se tiver que tocar pandeiro,
vou ser o melhor pandeirista
que você já viu na vida”, afir-
mou o veterano.
Lesionados do Brasil na Copa
Neymar
Posição Meia-atacante
Local lesionado
e lesão
Tornozelo direito
• Entorse
no ligamento
Expectativa Indefinida, estimada
de retorno para mata-mata
Pelé não responde mais à quimio
e agora recebe cuidados paliativos
Craque enfrenta câncer desde 2021; neste sábado, publicou em rede social dizendo ‘estar forte’
-
Cláudia Collucci
SÃO PAULO Internado desde a
última terça (29) no Hospital
IsraelitaAlbertEinstein,Pelé,
82, não responde mais ao tra-
tamento quimioterápico que
vinha fazendo desde setem-
brode2021,quandofoiopera-
do de um câncer de intestino.
No início do ano, foram diag-
nosticadas metástases no in-
testino,nopulmãoenofígado.
A Folha apurou que o cra-
que está em cuidados paliati-
vos exclusivos. Isso quer dizer
que a quimioterapia foi sus-
pensa e que ele segue rece-
bendo medidas de conforto,
para aliviar a dor e a falta de
ar, por exemplo, sem ser sub-
metido a terapias invasivas.
Cuidados paliativos são in-
dicados a todos os pacientes
com doenças ou condições
progressivas e potencialmen-
temortais.Asmedidasvãode-
penderdossintomas,dafunci-
onalidadeedoprognóstico,ou
seja, quanto tempo de sobre-
vidaseesperaparaopaciente.
Conforme a ESPN anteci-
pou,oPeléchegouaohospital
com um quadro de anasarca
(inchaço generalizado), uma
síndrome edemigêmica (ede-
ma generalizado) e uma insu-
ficiênciacardíacadescompen-
sada.AFolhaconfirmouessas
informações.
Natardedesexta(2),oHos-
pital Israelita Albert Einstein
divulgounotainformandoque
Pelé teve diagnosticada uma
infecçãorespiratória,apósser
internado na terça para uma
reavaliação da terapia quimi-
oterápica do tumor de cólon.
Ainfecçãoétratadacoman-
tibióticos. “A resposta tem si-
doadequadaeopaciente,que
segueemquartocomum,está
estável, com melhora geral no
estado de saúde”, diz o comu-
O coordenador da seleção
brasileira, Juninho Paulista,
conversou neste sábado com
Telles e Gabriel Jesus e com os
diretoresesportivosdeSevilla
e Arsenal para definir o futu-
ro próximo dos atletas.
Jesus viajará a Londres nos
próximos dias. Telles ficará
em Doha, a capital qatariana,
até segunda, para à próxima
partidadoBrasil,eembarcará
para Sevilha no dia seguinte.
Com a classificação anteci-
pada para o mata-mata, Tite
escalou apenas reservas con-
tra os camaroneses e viu seu
time ter uma atuação apática,
desperdiçar as poucas chan-
ces que criou e ainda sofrer
um gol nos minutos finais.
Perdeu por 1 a 0.
Foi uma resposta ruim pa-
ra jogadores frequentemente
questionadossobresuascapa-
Danilo
Lateral direito
Tornozelo esquerdo
• Entorse
no ligamento
Indefinida, estimada
para mata-mata
À esq., a torre Aspire, em Doha, iluminada com mensagem de melhoras para Pelé; à dir., drones desenham a camisa 10 e um
recado para o craque no céu do Qatar, em homenagem publicada em vídeo pela Fifa Patricia de Melo Moreira/AFP e Fotos @Fifacom no Twitter
nicado assinado pelos médi-
cos Fabio Nasri, geriatra e en-
docrinologista, o oncologista
Rene Gansl e Miguel Cendo-
roglo Neto, diretor-superin-
tendente médico do Einstein
De acordo com a nota, o ex-
jogadorcontinuaráinternado
nos próximos dias para conti-
nuidade do tratamento.
A Folha tentou ouvir os mé-
dicos que assinam o comuni-
cado,mas,deacordocomaas-
sessoria, os posicionamentos
cidades de substituir as prin-
cipais peças do elenco, sobre-
tudo Neymar.
Rodrygo, um dos mais co-
tados para a vaga do camisa
10, buscou apresentar-se para
as jogadas, tentou algumas ar-
rancadas, mas não conseguiu
abrir os espaços que o dono
da posição costuma dar para
seus companheiros.
A seleção sente muito a fal-
ta da maior estrela do elenco.
“Com a volta dele, o meu pa-
pel ali já frente melhora, toda
a equipe melhora”, aponta Ri-
charlison, também poupado
contra os africanos.
Tite entende o abatimento
deseusjogadorespeladerrota
para Camarões e pelas lesões
de alguns atletas. Para ele, es-
se tem de ser mesmo um mo-
mento de sofrer.
“O time fica sentido e tem
Alex Sandro
Lateral esquerdo
Quadril esquerdo
• Lesão muscular
Indefinida, estimada
para mata-mata
daequipesóvirãopormeiode
notasoficiais.Tambémtentou
ouviradireçãodohospitalso-
bre a suspensão da quimiote-
rapiaedaadoçãodecuidados
paliativos.Ohospitalnãocon-
firmou e também não negou
a informação. Apenas refor-
çou que manteria o conteúdo
danotadivulgadanestasexta.
Na tarde deste sábado (3), o
hospital divulgou nova nota
em que repete o conteúdo do
boletimanterior,informando
que sentir quando perde. Faz
parte da vida. Mas o futebol e
a competição proporcionam
a nós, por termos vencido os
dois primeiros jogos, uma
segunda chance. A Copa do
Mundo normalmente não é
assim”, afirmou o treinador.
Ele também vai precisar
mostrar poder de reação a
partir de agora.
Neymar faz primeira
atividade com
bola desde a lesão
DOHA Oito dias após sofrer
uma entorse no tornozelo di-
reito na estreia do Brasil na
Copa do Mundo contra a Sér-
via, Neymar voltou a treinar
com bola neste sábado (3). A
Gabriel Jesus
Atacante
Fora da Copa
• Recuperação: 1 mês
quePelésegueemtratamento,
e o estado de saúde continua
estável.“Temtidoboarespos-
tatambémaoscuidadosnain-
fecção respiratória, não apre-
sentando nenhuma piora no
quadro nas últimas 24 h”, diz.
Kely Nascimento, filha do
Rei, tem minimizado a gravi-
dade do quadro de saúde do
pai em seu perfil em uma re-
desocial.“Amídiaestásurtan-
do novamente e eu quero vir
aqui abafar um pouquinho.
equipe verde-amarela enfren-
taráaCoreiadoSul,pelasoita-
vas de final, na segunda-feira
(3)às16h(horáriodeBrasília).
A atividade do elenco bra-
sileiro no Grand Hamad, em
Doha,foifechadaàimprensa.
Até a conclusão desta edição,
aCBF(ConfederaçãoBrasilei-
radeFutebol)nãohaviainfor-
mado se o jogador participou
detodootreinosemreclamar
de dores na região lesionada.
Em um vídeo divulgado pe-
la entidade, contudo, o cami-
sa 10 aparece fazendo exer-
cícios de aquecimento com
seus companheiros, inclusi-
ve com bola. Depois, partici-
pa de uma roda de “bobinho”.
Também aparece chutando a
bola com o pé direito, o que
está lesionado. Nas imagens,
não aparenta expressar dor.
Na sexta-feira (2), o médico
Alex Telles
Lateral esquerdo
Joelho direito
• Provável ligamento
Fora da Copa
• Recuperação: possível cirurgia (+ de 1 mês)
Meu pai está internado, regu-
lando medicamento. Eu não
estou pulando num voo para
correr lá. Meus irmãos estão
no Brasil, visitando, e eu vou
no Ano-Novo”, postou. “Não
tem surpresa, nem emergên-
cia”,concluiuKely,queagrade-
ceu ao carinho dos fãs.
Pelétemfeitopostagensem
suasredessociaisduranteaCo-
padoMundo.Nasegunda(28),
no intervalo do jogo do Brasil
contra a Suíça, com o placar
a eee
da seleção brasileira, Rodrigo
Lasmar, já havia informado
que ele iniciaria o processo
detransição parao campopa-
ra saber se teria condições de
voltar já nas oitavas de final.
Dessa forma, aumenta a ex-
pectativa de que ele possa jo-
gar diante dos sul-coreanos.
Já o lateral direito Danilo
tem um quadro mais avança-
do. Ele também sofreu uma
entorse no tornozelo, mas já
treinou com o grupo normal-
mente e se mostra recupera-
do da contusão.
OlateralesquerdoAlexSan-
dro, por sua vez, fez uma ati-
vidade em campo separado,
com uma carga mais leve. Ele
sofreuumalesãomuscularno
quadril durante o jogo contra
a Suíça. O aproveitamento de-
le contra a Coreia do Sul, por
enquanto, é incerto.
Joelho direito
• Provável ligamento
aindaem0a0,postounoTwit-
ter:“Comovocêsestãodepois
desteprimeirotempo?Como
diria meu amigo, Galvão Bue-
no: Haja coração. Eu acredito
na vitória, e vocês?”.
Em publicação em suas re-
des sociais neste sábado, Pe-
lé disse estar “forte, com mui-
ta esperança”.
“Meus amigos, eu quero
manter todos tranquilos e
com o pensamento positivo.
Estou forte, com muita espe-
rança e sigo meu tratamento
como sempre. Quero agrade-
cer a toda equipe médica e de
enfermagem, por todo zelo
que tenho recebido. Eu tenho
muita fé em Deus e cada men-
sagem de amor que recebo de
vocês, vindas mundo inteiro,
memantémcheiodeenergias.
E assistir o Brasil na Copa do
Mundo também! Muito obri-
gado por tudo”, diz a publica-
ção no Instagram.
Kylian Mbappé, Vinicius Ju-
nior, Rivaldo, Rodrygo e mais
jogadores e entidades usa-
ram as redes sociais para de-
sejar força a Pelé, neste sába-
do. “Orem pelo Rei”, desejou
o francês.
“Força, Rei Pelé! Orando e
torcendo pela sua recupera-
ção!”, escreveu Rodrygo. Ri-
valdo e Vinicius Junior com-
partilharam mensagens de
força ao Rei. O Santos, onde
Pelé fez história, assim como
naseleçãobrasileira,também
postou uma mensagem dese-
jando melhoras.
Ocraquelutacontraumcân-
cer de intestino desde 31 de
agostode2021,quandotevedi-
agnosticadoumtumornocó-
lon(intestinogrosso)durante
exames de rotina, que deve-
riam ter sido feitos em 2020,
mas foram adiados por cau-
sa da pandemia da Covid-19.
Quatro dias depois, passou
por cirurgia no Albert Eins-
tein para retirar o tumor. Lo-
go após a cirurgia, o tricam-
peão mundial iniciou sessões
de quimioterapia.
Alémdocâncer,oatletasofre
comsequelasdetrêscirurgias
realizadas nos últimos anos.
Umaparacolocaçãodeprótese
no quadril e outras duas para
corrigi-la. Também sente do-
res no joelho, problemas que
dificultavam sua locomoção.
a eee
Argentinos comemoram segundo gol sobre a Austrália pelas oitavas da Copa, em Al-Rayyan
Vitória fácil da Argentina
sobre Austrália vira sufoco
messi desmontou retranca australiana; argentinos pegam a Holanda nas quartas
ARGENTINA 2
AUSTRÁLIA 1
-
Alex Sabino
DOHA E SÃO PAULO Emumvídeo
clássico do futebol argentino,
o apresentador e radialista
Alejandro Fantino se levanta
da cadeira desesperado antes
da partida da seleção contra o
Uruguai, pela Copa América
de 2011 e, aos berros, implo-
ra: “Densela a Messi!”
Alas de Van Gaal invadem a área e decidem para a Holanda
ANÁLISE
HOLANDA 3
EUA 1
-
Luís Curro
SÃO PAULO A vitória da Holan-
da sobre os EUA, que classi-
ficou o país europeu para as
quartas de final da Copa do
Qatar, foi o resultado mais
perfeito que se poderia espe-
rar de um esquema com três
zagueiros e dois alas, utiliza-
do no Mundial pelo treinador
Louis van Gaal.
Nessa formação, a defesa é
fortalecida com três jogado-
res de área para que os late-
rais com características ofen-
sivas tenham liberdade pa-
ra atacar sem grandes preo-
cupações de marcação. Tor-
nam-se, assim, alas.
Na Holanda, esse esquema
tem chance maior de funci-
onar porque Van Gaal esca-
la dois volantes leves que po-
democuparosespaçosnosla-
dos do campo e evitar contra-
ataques quando os alas estão
no ataque.
Dando nomes aos persona-
gens na seleção laranja: os za-
gueiros são Timber, o capitão
Van Dijk e Aké; os volantes, De
Roon e De Jong; os alas, Dum-
fries (pela direita) e Blind (pe-
la esquerda).
Deutudotãocertocontraos
EUA que os alas terminaram
a partida com dois gols (um
de Dumfries, um de Blind)
Soava como ordem em cas-
telhano: deem a bola a Messi!
Por 35 minutos a Argentina
não achou como furar o blo-
queio da Austrália no Estádio
Al Rayyan, em Doha, neste sá-
bado (3), pelas oitavas de final
da Copa do Mundo. Com du-
as linhas de quatro e cortan-
do todos os passes do adver-
sário, a equipe da Oceania se
fechava e apostava em uma
bolaparadaoucontra-ataque.
A estratégia dera certo na
e três assistências (duas de
Dumfries, uma de Blind) —
não é comum isso acontecer
no futebol.
Eles inclusive serviram um
ao outro.
Noprimeirotempo,Dumfri-
es entrou na área e cruzou da
direita; Blind apareceu perto
da marca do pênalti para chu-
Alfredo Estrella/AFP
rodada final da fase de gru- to na Universidade do Qatar.
pos, diante da Dinamarca. Po- MacAllister dá o passe para
deria funcionar novamente. alguém fazer a parede para o
Quando a Argentina deu a camisa 10 finalizar. Neste ca-
bola a Messi, tudo se resol- so, foi Otamendi.
veu. Como já havia aconteci- Messi fez a bola passar por
do contra o México, o cami- uma barreira de quatro aus-
sa 10 tirou seu time do sufo- tralianos à sua frente. Foi o
co e fez o gol que abriu o ca- primeiro instante em que te-
minho para a vitória por 2 a 1 ve liberdade perto da área ad-
que colocou a Argentina nas versária. Mais uma vez no Qa-
quartas de final do Mundial. tar, ele foi como uma chave
O lance do gol foi ensaia- mestraparaabrirumatranca.
do no campo de treinamen- Messi marcou naquele que
tar e superar o goleiro Turner leza,cruzandoeencontrando
—pouco antes, em jogada pa- Dumfries livre na área, para
recida, o ala direito já havia dar números finais ao placar.
servido o atacante Memphis, O grande diferencial diante
autor do primeiro gol no es- dos norte-americanos dessa
tádio Khalifa. formaçãoholandesa,utilizada
No segundo tempo, quando desde o começo do Mundial,
os EUA diminuíram para 2 a 1 foi a presença na área, como
a pareciam ter chance de em- elemento surpresa, dos alas.
patar, Blind devolveu a genti- Dumfries e Blind fizeram o
Estatísticas da partida
ARG x AUS
2 1
Posse de bola
60% 39%
Total de chutes
14 5 lo segundo jogo consecutivo.
Chutes a gol
5 1
Total de passes
695 437
Total de cruzamentos
5 16
Escanteios
1 3
Faltas
8 15
Cartões amarelos
0 2
Cartões vermelhos
00
Fonte: Opta
foi o milésimo jogo de sua
carreira. Uma marca histó-
rica que ele já tratava, após
o triunfo diante dos polone-
ses, da mesma forma que ou-
tros recordes que obteve: sem
dar tanta importância assim.
O que vale, na verdade, é ser
campeãoemsuaúltimaCopa.
Ter o seu melhor jogador
inspirado e capaz de jogadas
decisivascompensaosproble-
mas de uma Argentina que ul-
trapassou, com a vitória deste
sábado, o que fez a equipe de
JorgeSampaoliem2018,elimi-
nada nas oitavas pela França.
O maior defeito da seleção
atual é não ter um jogo forte
pelas pontas.
Um atacante como Ángel
Correa poderia dar mais pro-
fundidade, algo que Di María
consegue nos seus bons dias.
Mas os laterais não dão a qua-
lidadeofensivaquesepoderia
esperar. Marcos Acuña é um
meia improvisado na ala es-
querda. Por causa dos apoios
simultâneos de Acuña e Mo-
lina, no intervalo o técnico
Lionel Scaloni tirou o meia-
atacante Papu Gómez para
colocar o zagueiro Lisandro
Martínez.
Lesionado,DiMaríaficouno
banco de reservas. Alteração
condizentecomavisãodotrei-
nador, de que não está preso
anenhumaformaçãooujoga-
dor que não se chame Lionel.
A Austrália, desarmada pe-
la genialidade de Messi, pas-
sou a se encontrar em um di-
lema: manter o esquema de
atuar fechado e continuar à
espera do lance fortuito que
Estatísticas da partida
HOL x EUA
3 1
Posse de bola
41% 58%
Total de chutes
11 17
Chutes a gol
6 8
Total de passes
414
Total de cruzamentos
8 27
Escanteios
4 5
Faltas
10 5 dois times e a Federação
Cartões amarelos
2 0
Cartões vermelhos
00
Fonte: Opta
Daley Blind vibra após
marcar o segundo gol da
Holanda Lee Smith/Reuters
diferente, fizeram o que não
é praxe, surpreendendo os ri-
vais.Viraramatacantesgenuí-
nos e definiram para a Holan-
da, coroando o esquema táti-
co de seu treinador.
A Holanda volta a campo na
sexta (9), para tentar avançar
às semifinais, no estádio Lu-
sail, contra a Argentina.
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 3
copa 2022
levasseojogoparaaprorroga-
ção ou sair para atacar?
Pareciaquetudoestavaaca-
bado aos 11 minutos quando
o goleiro Mat Ryan, atrapa-
lhado pela pressão de Rodri-
go De Paul perdeu a bola pa-
ra Julian Álvarez marcar pe-
Ele já havia anotado o segun-
do contra a Polônia.
Para ter alguma chance na
partida, a Austrália precisa-
va de um golpe de sorte. Isso
aconteceu aos 31, no chute de
Goodwin que desviou em En-
zo Fernández para diminuir a
vantagem da Argentina.
A partida ganhou a emoção
que não havia antes e o lateral
Behich, em uma arrancada de
Lionel Messi, teria empatado
não fosse o carrinho salvador
de Lisandro Martínez.
Quanto mais a tensão au-
mentava, mais a torcida, que
lotouoestádioAlRayyan,can-
tava. Mais Messi sinalizava,
mais Rodrigo De Paul corria.
Lionel Scaloni já havia pre-
visto que a partida seria di-
fícil porque a Austrália era
uma adversária consciente
do que queria. Isso se provou
verdade. E deu certo em vári-
os momentos ou pelo menos
até que deram a bola a Messi,
que ainda quase colocou o es-
tádio abaixo com outro gola-
çonosacréscimosantesdeDi-
bu Martínez fazer defesa sal-
vadora praticamente no últi-
mo lance da partida.
Napróximasexta-feira(9),a
rival será a Holanda por uma
vaga na semifinal. É a repeti-
ção do confronto mais me-
morável da carreira de Messi
no torneio pelo seu país. Em
2014, ele já era o capitão no
triunfo nos pênaltis que o le-
vou à decisão da Copa.
A Austrália caiu, mas igua-
lou o melhor resultado de sua
história no torneio, as oitavas
de final em 2006.
Messi comemorou a vitória,
mas admitiu que a equipe se
complicou com um jogo que
estava nas mãos.
“Parecia um jogo controla-
do, poderíamos ter cadenci-
ado melhor. Tomamos o gol
no contra-ataque e nosso go-
leiro teve um desempenho
muito bom, conseguiu parar
o adversário até o último mi-
nuto”, disse. “Tivemos pouco
tempo de descanso, não con-
seguimos nos recuperar bem.
Mas estou feliz pela vitória.”
“Queríamos estar aqui pelo
sentimento que os torcedo-
res estão transmitindo. De-
mos um passo a mais”, com-
pletou o camisa 10.
Americanos
saem derrotados,
e americanas,
no lucro
Com a derrota da seleção
dos Estados Unidos na
Copa do Qatar nas oitavas
de final, a equipe levará
para casa US$ 13 milhões
(cerca de R$ 68 milhões)
569
em premiação. Esse valor
será dividido por igual
com a seleção feminina,
desde o acordo firmado
entre as associações que
representam os atletas dos
de Futebol dos EUA,
assinado em maio passado,
após anos de luta do
selecionado feminino pela
igualdade de remuneração.
Os US$ 6,5 milhões (antes
de a federação subtrair
seus 10%) já são mais que
os prêmios recebidos pelas
mulheres ao levantarem
as taças das Copas de 2015
(US$ 2 milhões) e 2019
(US$ 4 milhões) somados.
No ano que vem, com
a realização da Copa
do Mundo de Futebol
Feminino na Austrália
e na Nova Zelândia, a
premiação conquistada
pela seleção americana
também será dividida
por igual com a
equipe masculina.
4 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
copa 2022
O francês Kylian Mbappé, em treino
Mbappé encara
Lewandowski
no mata-mata
França x Polônia
Após derrota com reservas contra a
Tunísia, a França mobiliza time forte;
já a Polônia aposta em seu artilheiro
França
PolônIa
12h. globo, globoplay, SporTV,
CazéTV (YouTube, Twitch), Fifa+
-
Luís Curro
SÃO PAULO Em confronto das
oitavas de final da Copa do
Qatar com um claro favorito,
a maior atração é o duelo en-
tredoisdosprincipaisjogado-
resdaatualidade,ojovemKy-
lianMbappé,23,eoexperien-
te Robert Lewandowski, 34.
A motivação dos dois lados
é alta. A França busca o se-
gundo título seguido em Co-
pa (o terceiro na história), e
a Polônia tenta sua melhor
campanha desde o Mundial
de 1982, na Espanha, quan-
do foi semifinalista. Depois,
o mais longe que alcançou
foram as oitavas de final, no
México-1986, quando levou
de 4 a 0 do Brasil.
Por mais que estejam em
campo 11 contra 11, os holofo-
tes da partida estarão direci-
onados a maior parte do tem-
po ao maior astro da França
e ao único da Polônia.
Campeão em 2018, na Rús-
sia, aos 19 anos, tendo inclusi-
vefeitoumgolnadecisãocon-
traaCroácia,Mbappétornou-
se desde então um dos prin-
cipais jogadores do planeta.
Tantoquehoje,mesmoten-
docomoparceironoParisSa-
int-Germain craques como
mATA-mATA Jogos no horário
de brasília
Oitavas de final Quartas de final
SÁB 3 • 12h
1º A HOLANDA 3 INGLATERRA
2º B EUA 1 SEX 9 • 16h
SÁB 3 • 16h
1º C ARGENTINA 2
2º D AUSTRÁLIA 1 TER 13 • 16h
SEG 5 • 12h
1º E JAPÃO
2º F CROÁCIA
SEG 5 • 16h
1º G BRASIL
2º H COREIADOSUL
Hamad I Mohammed/Reuters
Messi e Neymar, ele já é con-
siderado a estrela do time.
ÉoartilheirodoCampeona-
toFrancês,interrompido,co-
mo todos os que estavam em
andamento,paraaCopa.Efoi
também do último. E do pe-
núltimo.Edoantepenúltimo.
No Qatar, Mbappé teve sua
responsabilidade ampliada
depois que, às vésperas da
estreia, soube-se que Benze-
ma, goleador do Real Madrid
e atual ganhador da Bola de
Ouro, estaria fora do Mundi-
al devido a lesão no quadrí-
ceps da coxa esquerda.
Nas duas partidas iniciais,
destacou-se conforme espe-
rado. Um gol e uma assistên-
cia no 4 a 1 na Austrália, dois
gols no 2 a 1 na Dinamarca.
Com a França classifica-
da, o treinador Didier Des-
champs poupou os titulares
para o terceiro jogo no Grupo
D, e Mbappé só entrou no se- Retrospecto
gundo tempo, com a França
perdendo da Tunísia.
O camisa 10 não conseguiu
levar a equipe ao empate.
Com força total contra a Po-
lônia, a França pode retomar
a fase artilheira.
Dooutrolado,aPolôniaen-
tra no jogo no papel de aza-
rão –assumidamente.
O atacante Milik declarou
ser necessário uma scooter
(motoneta) para perseguir e
parar Mbappé , e o goleiro re-
serva Grabara afirmou que a Fonte: opta
HOLANDA
ARGENTINA
SEX 9 • 12h
Robert Lewandowski, da Polônia Bernadett Szabo/Reuters
Confronto em números possibilidade de eliminar a
França é de 1%.
FrA x PoL O treinador Czeslaw Mich-
niewicz, contudo, afirmou
Ranking Fifa
4º colocado 26º colocado
que não pretende deixar o
Oriente Médio já. “Não arru-
mamos as malas, não esta-
mos prontos para sair.”
Participações em Copas
Ele afirmou que a França
15 9 14
nãotempontosfracos,oque
Melhor posição em Copas fará a Polônia ter de aprovei-
Campeã Terceiro lugar tarqualquerpossívelerrodo
em 1998 em 1974 e 1982 rival, e que sua seleção preci-
sa dar um jeito de a bola che-
Números no Qatar garmaisaocentroavanteLe-
Ataque
wandowski, duas vezes elei-
to o melhor do mundo pe-
36
Total de finalizações
14 la Fifa (2020 e 2021) e maior
artilheiro da história da se-
Finalizações no gol
17 5
leção, com 77 gols.
Capitão da Polônia, Lewa,
gols que nesta temporada trocou
6 2 o Bayern de Munique pelo
% de conversão Barcelona, tem um gol no
16,7% 14,3% Mundial qatariano, marca-
do no segundo jogo, contra
Defesa a Arábia Saudita. Foi seu pri-
Desarmes meiro e até aqui único ten-
77 47 to em Copas do Mundo, em
% de acerto seis partidas, três agora, três
58,4% 40,4% quatro anos atrás.
NaestreianoGrupoC,des-
Disputas
286 285
perdiçoupênaltidiantedoMé-
xico –defendido pelo goleiro
% de acerto Ochoa– e contra a Argentina
61,2% 47,7% de Messi sofreu com o isola-
Disputas aéreas mento, já que os poloneses
69 90 pegaram pouco na bola e ele
% de acerto quase não foi acionado.
55,1% 45,6% “É necessário limitar a in-
fluência dele [Lewandows-
ki] no jogo”, afirmou o técni-
gols sofridos
co Deschamps. “Quanto me-
3 2
nos bolas ele receber, menos
gols sofrido por jogo perigoso será. É um jogador
1 0,66 inteligente, com habilidade
Jogos sem sofrer gols técnica, que usa muito bem
0 2 o corpo. Qualquer bola pode
ser perigosa com ele.”
Para a seleção de Des-
champs, a partida terá um
Jogos recordeepodeteroutro.En-
16 16 trando em campo, o goleiro
Vitórias e capitão Lloris será, empa-
8 3 tado com o ex-lateral Liliam
Empates Thuram (campeão mundial
5 5 em1998),ojogadorcommais
partidas (142) pela França.
Derrotas
O atacante Giroud, se mar-
3 8
car o terceiro gol no Mundi-
melhor vitória al, se tornará o maior arti-
PoL 1 x 5 FrA PoL 3 x 2 FrA lheirodahistóriados“Bleus”
(Amistoso - (Copa de 1982) (Azuis), com 52 gols, e ul-
1989) trapassará o célebre Thier-
ry Henry.
Semifinal
Final
DOM 18 • 12h QUA 14 • 16h
Disputa de 3º lugar
SÁB 17 • 12h
a eee
Inglaterra tenta confirmar
favoritismo sobre seleção
desfalcada de Senegal
Inglaterra “As seleções africanas envi-
Senegal aram uma mensagem forte:
16h, globo, SporTV, globoplay, Camarões ganhou do Brasil,
Fifa+ e CazéTV (YouTube) a Tunísia superou a França.
Por isso pensamos que po-
-
Claudinei Queiroz demos ganhar da Inglater-
e Josué Seixas ra”, disse Régis Bogaert, as-
sistente técnico de Senegal,
SÃO PAULO E MACEIÓ Na Copa de que substitui Cissé, doente.
2014, a Inglaterra foi elimina- Neste ano, o Senegal de Cis-
da na fase de grupos. Na se- sé foi campeão da Copa Afri-
guinte, caiu nas semifinais. cana de Nações, o primeiro tí-
Na Eurocopa do ano passa- tulo da história do país. A his-
do, perdeu a final para a Itá- tória do técnico e dos Leões
lia, nos pênaltis (3 a 2), após de Teranga, o apelido da se-
empate por 1 a 1. leção de Senegal, se confun-
A disposição do comandan- de. Ele é responsável por le-
te de jogadores de alto nível var o time às oitavas de final
e o crescimento dos últimos da Copa pela segunda vez em
anos alimenta o otimismo do sua história. Na primeira, em
grupo. A única Copa vencida 2002, estava em campo e che-
pelos ingleses foi a de 1966. gou às quartas, perdendo pa-
Ainda invicta, a Inglaterra ra a Turquia por 1 a 0.
terminou a primeira fase na
liderança do Grupo B, con-
quistando sete pontos em
sua chave pela primeira vez Confronto em números
desde 2006. Já Senegal, se-
gundo do Grupo A, perdeu ing x SEn
por 2 a 0 para Holanda (2 a
0) na estreia, mas se recupe-
rou batendo o Qatar por 3 a
1 e o Equador por 2 a 1.
A grande força do time in-
Ranking Fifa
5º colocado 18º colocado
Participações em Copas
glês, segundo o meio-cam-
4
pista Phil Foden, é o elenco
recheado de bons jogadores Melhor posição em Copas
à disposição do técnico Ga- Campeã Quartas de final
reth Southgate. E todos es- em 1966 em 2002
tão à sem problemas físicos
ou disciplinares. Números no Qatar
“Estamos treinando bem Ataque
e jogando bem, então, acho
que será uma boa dor de ca-
Total de finalizações
29 32
beça para Gareth escolher
quem começa jogando”, dis- Finalizações no gol
17 12
se Foden.
Capitão e referência do ata- gols
que, Harry Kane ainda busca 9 5
seu primeiro gol no Qatar, pa- % de conversão
ra se aproximar do artilheiro 31% 15,6%
histórico da seleção inglesa,
Wayne Rooney, com 53 gols. Defesa
Kane tem 51. Ele tem sido cri- Desarmes
ticado pela torcida por ainda 28 32
não ter marcado, mas é peça- % de acerto
chave de Southgate e partici- 71,4% 75%
pou de lances que termina-
Disputas
ram com bola na rede. 224 289
Já do lado de Senegal, que
disputa pela segunda vez o % de acerto
mata-mata (chegou às quar- 56,3% 52,2%
tas de final em 2002), o téc- Disputas aéreas
nico Aliou Cissé, além de não 62 109
poder contar com seu me- % de acerto
lhor jogador, o atacante Sa- 53,2% 50,5%
dio Mané, que nem foi para o
Qatar, terá outros desfalques
gols sofridos
importantes: os meias Idrissa
2 4
Gueye, suspenso por ter leva-
do dois cartões amarelos na gols sofrido por jogo
fase de grupos, e Cheikhou 0,66 1,33
Kouyaté, lesionado. Jogos sem sofrer gols
A torcida senegalesa con- 2 0
tará mais do que nunca com
uma boa atuação do goleiro Retrospecto
Édouard Mendy, eleito pela
Fifa o melhor do mundo na Jogos
posição em 2021. Seus com- 3 3
panheiros buscarão o cami- Vitórias
nho para superar o experien- 3 0
te arqueiro inglês Pickford. Empates
Se o duelo não for decidido 0 0
no tempo normal, haverá 30
Derrotas
minutos de prorrogação e, se
0 3
necessário, pênaltis.
“Agora é ganhar ou perder, melhor vitória
não há segunda chance. Se vo- ing 6 x 1 SEn –
cê ganha, você passa. Se vo- (Torneio de
cê perde, você vai para casa”, Toulon - 1989)
resumiu Cissé. Fonte: opta
Semifinal Quartas de final Oitavas de final
DOM 4 • 16h
1º B
SÁB 10 • 16h SENEGAL 2º A
DOM 4 • 12h
FRANÇA 1º D
POLÔNIA 2º C
TER 6 • 12h
MARROCOS 1º F
SÁB 10 • 12h ESPANHA 2º E
TER 6 • 16h
PORTUGAL 1º H
SUÍÇA 2º G
a eee
Fase de grupos somou 5,6
partidas só em acréscimos
minutos acrescidos aumentaram de 288 na Copa na rússia para 511 no Qatar
Deltafolha
-
Cristiano Martins, Raphael
Hernandes e Letícia Padua
SÃO PAULO Se, com a estreia
do VAR e os atrasos causados
pelo árbitro de vídeo, a Copa
do Mundo de 2018 foi a “Co-
pa dos acréscimos”, a de 2022
pode ser a “Copa dos acrésci-
mos ainda maiores” —e dos
impedimentos.
Levantamento da Folha
comparando as duas últimas Número de pênaltis
edições do mundial aponta
que os minutos acrescidos 24
na fase de grupos cresceram
de 288 na Rússia para 511 no
Qatar. Isso é equivalente a 5,6
partidas (de 90 minutos). São
duas partidas e meia extra só
na diferença de tempo adici-
onal entre as duas edições.
A análise leva em conside-
ração o tempo estipulado pe-
lo juiz, e não o que de fato de- Cartões amarelos
correu na partida. No duelo
entre Sérvia e Suíça na sex- 160
ta-feira (2), por exemplo, são
contados os 7 minutos defi-
nidos pela arbitragem, e não
os quase 10 que decorreram.
Aaltachamouaatençãonos
primeiros tempos, que tradi-
cionalmente têm acréscimos
maiscurtos.Amédiafoideme- 2018
nos de 2 para mais de 4 minu- Foram desconsiderados os cartões amarelos e vermelhos para integrantes de comissões técnicas
tos minutos, e chegou a 14 no
dueloentreIrãeInglaterra,na Fonte: Opta
Voluntário arruma gramado do estádio 974, em Doha, no intervalo da partida entre Brasil e Suíça, na segunda (28)
Alvo de críticas, gramados dos estádios do Qatar
têm carga de jogos inédita na história da Copa
-
Alex Sabino
DOHA Contestados principal-
menteporjogadoressul-ame-
ricanos,osgramadosdosestá-
dios da Copa passam por uma
carga de jogos inédita na his-
tória da competição.
“Não está no mesmo nível
do gramado de Lusail ou mes-
mo do nosso centro de trei-
namento”, disse o coordena-
dor de seleções da CBF, Juni-
nho Paulista, sobre o campo
do estádio 974, onde a equipe
derrotou a Suíça por 1 a 0 na
segunda rodada do Grupo G,
na última segunda-feira (28).
A entidade apresentou re-
clamação à Fifa, que respon-
deu concordar com a queixa
Alterações da Fifa aumentam partidas e freiam pênaltis na Copa
Total de acréscimentos Média de acréscimentos
Em minutos Em minutos
2018 O aumento dos acréscimos em 1º tempo
2022 relação a 2018 equivale a mais 01:48
de dois jogos extra 04:12
2º tempo
288
445 03:53
Número de impedimentos
Penalidades
foram mais raras
143
14 em 2022,
principalmente
aquelas causadas
por toques de
mão (foram de 7
2018 2022 para 2) 2018
Expulsões
166 3 primeiros tempos de cinco
As advertências
pouco variaram
de uma Copa
para outra
2022 2018
e culpou o número de parti- relação a Rússia em 2018 e ao
das realizadas no local. Brasil em 2014.
No confronto entre Costa Nos dois últimos torneios,
Rica e Alemanha, disputada cada estádio recebeu, na eta-
nesta quinta-feira (1º), o está- pa inicial da competição, qua-
dioAlBaytapresentouproble- tro jogos, emintervalo que va-
mas. Funcionários da organi- riou entre três ou quatro dias
zação retiraram tufos de gra- entre eles.
ma com as mãos. No Al Ray- No Qatar, são seis partidas
yan, durante Bélgica e Croá- em cada campo, com interva-
cia, também nesta quinta, era lo de dois dias entre um e ou-
possível ver linhas marrons tro. São 180 minutos a mais de
de terra no meio do grama- futebol, sem contar a orienta-
do, especialmente durante o ção da Fifa aos árbitros para
segundo tempo. estarem atentos aos acrésci-
Jamais os campos da Copa mos concedidos, o que tem
do Mundo sofreram uma car- aumentado o tempo.
ga tão grande de jogos na fase No Inglaterra x Irã, pela pri-
de grupos. O Qatar realiza o meira rodada do Grupo B, no
torneio com apenas oito are- estádio internacional Khalifa,
nas. São quatro a menos em obrasileiroRaphaelClausper-
Em média, o
tempo extra mais
do que dobrou nos
primeiros tempos
06:46
185
Com nova
tecnologia no VAR,
os impedimentos
foram mais
presentes no Qatar
do que na Rússia
2022
O mesmo
2 Na vitória por 2 a 0 sobre o
acontece com as
expulsões, com
apenas um cartão
vermelho direto
em cada Copa
2022
Gabriela Biló/Folhapress
mitiu mais 27 minutos.
Consultada,aFifaafirmater
um plano de repor partes dos
gramados em caso de neces-
sidade. Mas a entidade confia
que,comoiníciodomata-ma-
ta, o problema será sanado.
As oitavas de final come-
çam neste sábado (3). O Bra-
sil precisa apenas de empate
contra Camarões nesta sex-
ta-feira (2) para terminar em
primeiro em sua chave. Nes-
te caso, voltaria ao 974 para
cruzar o caminho do segundo
do Grupo H, a Coreia do Sul.
Será o último jogo deste es-
tádio, que vai ser desmonta-
do após o encerramento do
Mundial.
“O campo está muito rápi-
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
primeira rodada do Grupo B.
Na ocasião, os ingleses ven-
ceram por 6 a 2. O duelo foi
paralisado na primeira etapa
após choque de cabeça envol-
vendo o goleiro iraniano Ali-
reza Beiranvand.
Com10minutosextranose-
gundo tempo, a partida entre
Irã e Inglaterra foi também a
que mais teve acréscimos no
fim, empatada com Coreia
do Sul x Gana e Costa Rica x
Alemanha.
A alta nos acréscimos tam-
bém apareceu nas segundas
etapas, indo de uma média
de pouco menos de 4 minu-
tos em 2018 para acima dos 6
e meio em 2022.
As partidas mais longas são
orientação da Fifa, que pediu
aosárbitrosmaisrigoraomo-
nitorar as paralisações das
partidas, sob o entendimen-
to de que os jogos passavam
muito tempo parados e as in-
terrupções não eram devida-
mente compensadas.
“As pessoas querem assis-
tir futebol, mais futebol. E
nos pedem para fazer algo há
anos”, disse Pierluigi Collina,
presidente do Comitê de Ár-
bitros da Fifa. “Estamos mui-
to felizes com esse resultado.”
Na Copa de 2022, todos os
primeirosesegundostempos
dos jogos da fase de grupos ti-
veramacréscimos.Em2018,a
reposição não apareceu nos
partidasenosegundodeuma.
Uruguai, que deu aos vence-
dores o acesso antecipado ao
mata-mata,BrunoFernandes
aproveitoubemotempoecon-
verteu pênalti no finalzinho.
O lance, motivado por um
desvio com a mão, marca al-
go que foi mais raro nesta edi-
ção do Mundial: os pênaltis.
do, com buracos. A bola qui-
ca demais”, reclamou o meia
argentino Alexis MacAllister,
autor do primeiro gol da Ar-
gentina na vitória por 2 a 0 so-
bre a Polônia, na última quar-
ta (30), também no 974.
A quantidade de partidas
tem crescido com o aumen-
to do número de seleções. Em
1930 eram 13, com 15 jogos na
fase de grupos.
Até 1978, foram no máximo
16 equipes, com 24 jogos na
fase inicial. Entre 1982 e 1994
se classificaram 24 países (36
partidas). A partir de 1998, o
número cresceu para 32 (48).
A Fifa já decidiu que o Mun-
dial de 2026, a ser sediado por
EstadosUnidos,CanadáeMé-
xico, terá 48 seleções. O for-
mato ainda não foi definido.
A Copa no Qatar não é a pri-
meira em que a Fifa enfrenta
reclamações quanto a grama-
dos, e os problemas são visí-
5
copa 2022
Foram de 24 na última Copa
para 14 agora.
A regra da bola na mão foi
uma das principais mudan-
ças no regulamento. Na prá-
tica, as penalidades marca-
das pelo toque irregular caí-
ram de 7 para 2.
Para a temporada atual, a
International Football Asso-
ciation Board, entidade que
regulamenta as leis do fute-
bol, formalizou uma altera-
ção nas regras dizendo que
nem todos os toques de bo-
la na mão de um jogador de-
vem ser considerados falta.
Agora, é necessário um mo-
vimento deliberado do atle-
ta para configurar a infração.
Comreforçotecnológico, os
impedimentos também salta-
ram em relação a 2018. Foram
de 143 para 185.
O VAR atual é capaz de tra-
çarimpedimentosdeformase-
miautomática,usandoequipa-
mento que rastreia a bola e a
posiçãodosatletasemcampo.
Com isso, os árbitros na cabi-
ne recebem um alerta em ca-
sosdepotenciaisirregularida-
des,eumummodelo3Ddajo-
gadaégeradoparachecagem.
A mudança impactou dire-
tamente a Argentina em sua
derrota para a Arábia Saudi-
ta por 2 a 1 na estreia do Gru-
po C. Na ocasião, os latinoa-
mericanos chegaram a mar-
car quatro vezes no primeiro
tempo, mas só um gol valeu.
No quesito cartões, pou-
ca mudança. Os amarelos fo-
ram de 160 para 166. As expul-
sões foram de 3 na primeira
fase de 2018 (2 delas por dois
cartões amarelos) para 2 em
2022, também apenas uma
delas com o vermelho dire-
to. Foram desconsideradas as
advertências para integrantes
de comissões técnicas.
veis. Em 1978, na Argentina,
jogadores tiravam placas de
grama fixadas de maneira in-
correta. No estádio José Ma-
ria Minella, em Mar del Pla-
ta, foi jogada areia para co-
brir buracos.
O tipo de grama escolhido
pelo comitê organizador da
CopadoQatarénativadoBra-
sil, a Paspalum vaginatum. Em
cincodosestádios(AlBayt,Al
Thumama, Education City, Al
RayyaneAlJanoub),ainstala-
çãofoifeitaporumaempresa
brasileira.Sehouvertrocatotal
de qualquer gramado de are-
nadoMundial,ocustoseráde
cercadeUS$2milhões(R$10,4
milhões pela cotação atual).
Antes de ser instalada nos
estádios, a grama foi planta-
da e cresceu em área de 425
mil metros quadrados fora
de Doha, regadas com 10 mil
litros de água dessalinizada
todos os dias.
6 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
copa 2022
Jogadores da seleção francesa posam em homenagem com camisas de seus primeiros clubes
Mbappé veio do AS Bondy; Griezmann, do UF Mâconnais; Giroud, candidato a maior artilheiro da história dos Bleus, veio do Froges OFC
Quatro de cinco
artilheiros da
Copa seguem
para mata-mata
Eliminada, alemanha foi a seleção com
mais finalizações, 24, seguida do brasil,
que fez 21 tentativas em direção ao gol
deltafolha
-
Cristiano Martins, Daniel
Mariani e Letícia Padua
SÃO PAULO Quatro dos cinco
artilheiros da Copa do Mun-
do de 2022 seguem na disputa
com suas seleções após o en-
cerramento da primeira fase
do torneio, na sexta-feira (2).
O inglês Marcus Rashford, o
francês Kylian Mbappé, o es-
panhol Álvaro Morata e o ho-
landêsCodyGakpomarcaram
três gols cada um. Uma mé-
dia, portanto, de um por jogo.
O equatoriano Enner Va-
lencia também alcançou essa
marca, mas a equipe sul-ame-
ricana não conseguiu a vaga
nas oitavas de final.
Em termos de finalizações
na fase de grupo, os que mais
acertaram o alvo foram Lio-
nel Messi e Mbappé. O argen-
tino, porém, só marcou dois
gols e parou nos goleiros em
seis ocasiões. O francês ano-
tou um tento a mais, em ao
todo sete finalizações certas.
A equipe com mais finaliza-
ções certas foi, curiosamen-
te, a Alemanha. A tetracam-
peã mundial mandou 24 bo-
las na direção da meta, balan-
çou a rede em seis delas e exi-
giudefesasdosgoleirosadver-
sários nas outras 18.
Não foi suficiente. Mesmo
com esse volume no ataque,
o time do técnico Hansi Flick
decepcionou e foi eliminado
já na primeira fase do Mundi-
al, com apenas uma vitória.
Em segundo lugar no ran-
king aparece o Brasil, com
21 finalizações na direção do
gol. A seleção, contudo, mar-
cou apenas 3 tentos. Foi um
dos piores aproveitamentos
ofensivos entre as 16 equipes
classificadas, empatada com
a Austrália e só à frente dos
Estados Unidos e da Polônia.
Ao todo, foram marcados
120 gols nesta primeira fa-
se, 2 a menos em relação ao
a eee
DEsérticas
Reprodução/Instagram
Prioridades
O confronto entre Brasil
e Coreia do Sul pelas
oitavas de final da Copa
está dividindo corações
e mentes de brasileiros
fãs do estilo musical
coreano K-pop no
Twitter. O patriotismo
futebolístico, porém,
parece estar ganhando
do amor a BTS ou
Black Pink —há quem
aposte em sete gols
brasileiros, um para cada
membro da boy band.
Oh-la-la
O francês Clement
Turpin será o árbitro
da partida entre Brasil
e Coreia do Sul. Os
também franceses
Nicolas Danos e Cyril
@equipedefrance no Twitter Gringore serão os
auxiliares, e Jerome
Brisard, no VAR. Turpin,
40, apitou dois jogos
Veja números da fase de grupos da Copa nesta Copa, o primeiro
deles o confronto dos
sul-coreanos no empate
sem gols com o Uruguai,
Média de gols
no dia 24. O segundo foi
5 a vitória de Senegal por
4 2 a 1 sobre o Equador.
3 2,5 John Sibley/Reuters
2
1
1950 1958 1966 1974 1982 1990 1998 2006 2014 2022
Número de gols feitos em 2022 Número de gols tomados em 2022
Seleção brasileira
1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Inglaterra e
Mundial anterior. A média é
Espanha
de 2,5 por partida. Lideram
nessa contagem a Inglaterra foram os time
Costa Rica
e a Espanha —nove gols cada que mais
levou 11 gols
um. O time mais vazado foi a marcaram
Costa Rica, com 11.
Quando o assunto é a ha- Marrocos levou
bilidade, o melhor driblador apenas 1 gol contra
da primeira fase foi o alemão
Jamal Musiala, com 19 dribles
e ultrapassagens bem-suce- Seleções com mais dribles Jogadores com mais dribles
didas sobre os marcadores.
Abaixo dele aparecem o ca- Peixinho
Certos Certos
nadense Alphonso Davies e Errados Errados Após fazer o segundo
o ganês Mohammed Kudus, da Holanda na vitória
com 11 e 10, respectivamente. Canadá 89 Jamal Musiala ALE 36 contra os Estados
No conjunto, a equipe que Alemanha 68 Tajon Buchanan CAN 28 Unidos, o meio-campista
mais apostou nas jogadas in- França 63 Alphonso Davies CAN 25 do Ajax Daley Blind
dividuaisfoioCanadá,com89 Argentina 62 Ángel Di María ARG 20 comemorou em família,
tentativas. O aproveitamento Gana 61 Lionel Messi ARG 9 recebendo carinho
daAlemanha,porém,foisupe- do pai, Danny Blind,
rior, com os mesmos 31 acer- ex-jogador da seleção
tos, mas em 68 lances (46%). Número de impedimentos
e atual assistente
Famoso pela individualida- Número de faltas técnico de Louis van
de de seus jogadores, o Brasil Gaal. Em dezembro
se apoiou mais no jogo coleti- 1.295 185 de 2019, Blind, o filho,
1.158
vo e não chega a aparecer en- 143 recebeu diagnóstico
tre as equipes com mais dri- de miocardite, uma
bles. Foram 59 tentativas, 41 inflamação no músculo
delas malsucedidas. do coração, após passar
Os atletas mais caçados em mal durante uma
campo foram o senegalês Is- 2018 2022 partida pela Liga dos
2018 2022
maila Sarr, com 13 faltas rece- Campeões. Depois disso,
bidas, o costarriquenho Joel teve um desfibrilador
A média de faltas por partida Com nova tecnologia do VAR, marcações
Campbell e o mexicano Hir- subcutâneo implantado,
caiu de 27 para 24 aumentaram nesta edição
ving Lozano, com 11 cada. Já para regularizar seus
os mais faltosos foram o ho- batimentos cardíacos.
landês Denzel Dumfries e o
tunisiano Issam Jebali, com Seleções com mais chutes certos Jogadores com mais chutes certos Aliados
10 infrações cada um. Chutes defendidos Chutes defendidos
Jogadores da seleção
As seleções mais faltosas fo- Gols Gols
do Kosovo celebraram
ram Arábia Saudita (56 ano- a vitória suíça sobre
tações), México (51) e Equa- Lionel Messi ARG
a Sérvia por 3 a 2
Alemanha 25 8
dor (50). Os jogadores do Mé- na sexta (2). O país,
Brasil 21 Kylian Mbappé FRA 7
xico também foram os mais cuja independência
Argentina 19 Marcus Rashford ING 6
vitimados por faltas, 50 vezes. declarada em 2008 não é
Inglaterra 17 Salem Al Dawsari ARS reconhecida pela Sérvia,
Na sequência, vêm Argentina 5
e Qatar, ambos com 46 faltas Espanha 16 Cho Gue-Sung CDS 5 tem fortes ligações com
tomadas. os jogadores suíços
O número de faltas por par- Shaqiri e Xhaka. No fim
tida, em média, caiu nesta Co- Seleções que mais fizeram faltas Seleções que mais tomaram faltas do jogo, Xhaka vestiu
pa em relação à anterior, de Arábia Saudita 56 México 50 a camisa do colega
27 para 24 penalidades mar- México 51 Argentina 46 Ardon Jashari, gesto
cadas. Já os impedimentos, Equador 50 Catar 46
que foi interpretado
sob influência da nova tecno- Holanda 47 Inglaterra 45
como homenagem ao
logia do VAR, saltaram de 143 revolucionário kosovar
Gana 46 Portugal 44
na primeira fase na Rússia pa- Adem Jashari, morto pela
ra 185 no Qatar. Fonte: Opta. Dados até 2.dez, sujeitos a atualização polícia sérvia em 1998.
a eee
Coreia do Sul tentará
impor maior fracasso
em 32 anos ao Brasil
- Tayguara Ribeiro
Paulo Vinicius Coelho
Jornalista, autor de ‘Escola brasileira de Futebol’,
cobriu seis Copas e oito finais de Champions
O sul-coreano Son, do Tottenham, coleciona
recordes. É o primeiro asiático artilheiro do
Campeonato Inglês, a transferência mais cara
do Bayer Leverkusen, o jogador da Ásia mais
valioso de todos os tempos, pelos 22 milhões
de euros gastos pelo time do norte de Londres.
Foi o segundo sul-coreano a disputar uma
final de Liga dos Campeões. O primeiro, Park,
ganhou pelo Manchester United e jogou se-
mifinal de Copa do Mundo pela Coreia do Sul.
Lembra do canto que levou os anfitriões a
eliminarem Itália, nas oitavas, e Espanha, nas
quartas, de 2002: Dae Han Min Guk!
Significa Coreia do Sul.
Árbitros à parte, eles foram longe. Son é me-
lhor do que Park.
Estreou em Copas do Mundo no Brasil, quan-
do fez um gol, contra a Argélia. Quatro anos
depois, na Rússia, marcou e eliminou a Alema-
nha na fase de grupos. Nos dois últimos Mun-
diais, tem trajetória de mais respeito do que
os alemães.
Hwang, o número 11, fez gol no Liverpool, na
Inglaterra, numa derrota do Salzburg por 4 a 3.
Jurgen Klopp suou para vencer. O ataque aus-
tríaco tinha Hwang ao lado do japonês Mina-
mino e de Haaland. Cada um fez um gol.
Você acha que quem joga ao lado de Haa-
land não aprende nada?
Hwang é reserva do Wolverhampton e está
no banco da Coreia, mas entrou e fez o gol da
classificação, contra Portugal.
Cléber Xavier chamou a atenção para as cinco
mudanças feitas pelo técnico português Paulo
Bento, em comparação com a goleada do Bra-
sil sobre a Coreia, 5 a 1, em junho. Mudaram os
laterais, dois meias e o centroavante. O volan-
te Hwang In, número 6, é quem mais toca na
bola. Está no Olympiacos, da Grécia.
Ninguém aqui vai transformar a Coreia do
Sul na favorita da Copa, mas se alguém usar
a palavra ingênuo para defini-la, mude de ca-
nal ou aperte o botão mute.
Das onze participações da Coreia do Sul, es-
ta é a terceira em que chega à segunda fase,
segunda com técnico europeu. Com o holan-
dês Guus Hiddink, em 2002, teve mais posse
de bola em todas as partidas, exceto contra a
Alemanha, em que ficou com 50%. Nesta Copa,
em que o controle só dá vitória a 35% dos times
que passam mais tempo trocando passes, Pau-
lo Bento vence no contra-ataque.
O Brasil sofreu 20 gols depois da derrota pa-
ra a Bélgica, em Kazan. Foram 12 de bolas pa-
radas e 4 de contra golpes. Pode apostar que
o treinador português apostará nestas duas
possibilidades.
Paulo Bento visualizou e respondeu minha
mensagem sobre sua passagem pelo Cruzeiro.
Agradeceu e disse que só falará em entrevistas
coletivas até o final de sua campanha. Se per-
der do Brasil, será seu último jogo como trei-
nador da seleção sul-coreana. Há conflitos de
cultura, debates com dirigentes e jogadores.
De certo modo, já venceu por estar nas oita-
vas da Copa do Mundo, o que não conseguiu
com Portugal – caiu na fase de grupos de 2014.
Depois dos treinadores portugueses no Brasil
dos anos 1940 –Joreca, no São Paulo, e Cândido
de Oliveira, no Flamengo– Paulo Bento abriu
o caminho de retorno. Dirigiu o Cruzeiro por
19 jogos, três anos antes de Jorge Jesus desem-
barcar no Galeão.
Saiu como um fiasco. Nesta segunda, tenta-
rá impor ao Brasil seu maior fracasso em 32
anos de Copas do Mundo.
Com todos os problemas de lesões e Neymar
fora, salvo surpresa, a seleção de Tite é favori-
ta. Mas precisa ter cuidado.
[ classificados.
Ninguém aqui vai transformar a
Coreia do Sul na favorita da Copa,
mas se alguém usar a palavra
ingênuo para defini-la, mude de
canal ou aperte o botão mute
| dom. Paulo Vinícius Coelho, Tostão, Juca
Kfouri, Tayguara Ribeiro | seg. Paulo Vinícius
Coelho, Juca Kfouri, Nelson de Sá, Luís Curro |
ter. Paulo Vinícius Coelho, Renata Mendonça,
Walter Casagrande Jr. | qua. Paulo Vinícius
Coelho, Tostão, Marcelo Damato | qui. Paulo
Vinícius Coelho, Juca Kfouri, Tayguara Ribeiro,
Luís Curro | sex. Paulo Vinícius Coelho, Sandro
Macedo, Marcelo Damato | sáb. Paulo Vinícius
Coelho, Marina Izidro, Walter Casagrande Jr.
Copa do Qatar pode
ter campeão inédito?
- e Uruguai, que caíram na primeira fase.
na Folha desde 2019, é repórter de Política. Já trabalhou em Economia e no jornal Agora
Em uma Copa do Mundo com tantas ze-
bras na primeira fase e potências do fute-
bol ficando pelo caminho antes do que se
previa, não seria absurdo imaginar que
pudéssemos ter um campeão inédito no
Qatar. Mas não é isso que o histórico do
torneio mostra.
Desde que a disputa foi criada, apenas
oito países já tiveram a honra de levan-
tar a taça da principal competição do
futebol. E entrar nesse grupo não costu-
ma ser nem rápido nem simples. Em ge-
ral, ocorre quando surgem gerações ex-
cepcionais em um país.
Para se ter uma ideia, apenas quatro
seleções concentram 15 títulos. Brasil (5),
Alemanha (4), Itália (4) e Argentina (2).
Tem mais. Em apenas duas oportunida-
des, uma final de Copa do Mundo não con-
tou com uma dessas quatro nações, em
2010 e em 2018. Em todos os outros tor-
neios, disputados desde 1930, uma delas
esteve envolvida na decisão.
As outras equipes que já venceram uma
Copa do do Mundo são França (2), Uru-
guai (2), Inglaterra (1) e Espanha (1). Ao
A seleção tá indo
- Portugal. Como se diz em Minas Gerais, a
Tostão
Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina
A Copa continua com muitos bons jogos
e emoções. A Alemanha, depois do título
de 2014, foi eliminada na primeira fase nos
dois Mundiais seguintes. Certamente, há
vários motivos.
Um é a queda de qualidade da geração,
mesmo mantendo uma ótima estrutura
profissional. Outro motivo são os detalhes
inesperados. Um terceiro, como disse PVC,
é o trauma emocional do 7 a 1.
Freud, após um minucioso estudo, cha-
mou de “arruinados pelo sucesso” as pes-
soas e os grupos que, depois de grandes
conquistas, procuram, inconscientemen-
te, o fracasso, por se sentirem culpados,
não merecedores do sucesso.
Nosjogosmata-mata,asseleçõesinferio-
resvãofecharosespaçospertodaárea,com
8 a 9 jogadores, para contra-atacar. Japão
e Coreia do Sul fazem isso com velocidade.
Já a Austrália, contra a Argentina, bas-
tante recuada, marcava bem, mas não ti-
nha habilidade nem rapidez para con-
tra-atacar.
Até a metade do segundo tempo, a Ar-
gentina, em poucos momentos, conseguiu
chegar ao gol, como no toque de Messi,
Precisamos mudar os óculos
- patrão indignado porque a filha da cozi-
Juca Kfouri
Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP
A 22ª Copa do Mundo, disputada pela pri-
meira em país do Oriente Médio, mais pre-
cisamente no Qatar, é a primeira que põe
em xeque o restrito clube de oito campe-
ões mundiais. Começaram as oitavas de
final e três deles não estavam entre os 16
A tetracampeã Itália nem veio pela se-
gunda vez seguida, a Alemanha acabou
eliminada na fase de grupos, também
pela segunda vez seguida, e o bicampe-
ão Uruguai restou eliminado.
A bicampeã França perdeu para a Tu-
nísia, a igualmente bicampeã Argentina
foi derrotada pela Arábia Saudita, a cam-
peã Espanha caiu diante do Japão que já
havia derrotado a Alemanha, e o penta-
campeão Brasil sofreu a primeira derro-
ta em Copas do Mundo para uma seleção
africana, a de Camarões.
Só a Inglaterra ainda não deu vexame.
Vexame? É, é assim que os habitantes do
seleto grupo dos oito tratam as derrotas
para times asiáticos, africanos, centro ou
norte-americanos, além dos da Oceania.
Por acaso a Austrália, em grupo que tinha
a Dinamarca, ficou com a vaga.
Do mesmo modo como se classifica-
todo, reúnem 6 títulos nos 21 torneios já
disputados.
Neste século, só um time conseguiu en-
trar para o grupo. O último campeão iné-
dito ocorreu em 2010, com a vitória da Es-
panha, contra a Holanda. Com uma ge-
ração espetacular, a melhor da história
do país. Liderados por Xavi e Iniesta, es-
panhóis passaram a integrar o clubinho
dos campeões mundiais.
Antes deles, um campeão inédito ocor-
reu em 1998, com a França de Zinédine
Zidane. Desnecessário falar sobre. Pe-
la qualidade do craque. Pela equipe co-
mo um todo, da qual os brasileiros bem
lembram, já que o derrotado daquela fi-
nal foi o time verde e amarelo.
Os franceses, na ocasião, quebraram um
jejum de campeões inéditos que durava
desde a Copa do Mundo de 1978.
Nas últimas dez Copas, aliás, somen-
te duas seleções “surpreenderam”. Colo-
co a palavra entre aspas justamente por-
que a qualidade das gerações que França
e Espanha formaram não permite consi-
derar estranho um título. A surpresa fi-
preciso, rasteiro, no canto. A Austrália
fez um gol por acaso e quase empatou no
fim. Messi completou mil jogos na carrei-
ra, com quase 800 gols e quase 350 pas-
ses para gol, um espetáculo inacreditável.
Nas oitavas de final, há seleções de todos
os continentes pela primeira vez na histó-
ria. Brasil, Portugal e França, que escala-
ram quase todos os reservas, perderam na
última rodada da fase de grupos.
O lugar-comum de que, no futebol mo-
derno, não há titulares e reservas e de que
o jogo é muito mais de estratégia do que
de talento individual, é um conceito poli-
ticamente correto para agradar aos que
estão no banco de reservas e aos fascina-
dos pela prancheta.
Na segunda, se Alex Sandro não jogar
contra a Coreia do Sul, Tite terá de impro-
visar um lateral esquerdo.
Marquinhos faz falta na zaga, e o time
poderia ter problemas em duas posições.
Danilo, se tiver condições de atuar, seria
a melhor opção, por já ter jogado várias
vezes pela esquerda na Juventus.
Entraria Militão ou Daniel Alves pela di-
reita. O Brasil, por ter uma equipe segura
ram os asiáticos Japão e Coreia do Sul
e os africanos Senegal e Marrocos, este
último em primeiro lugar, ao superar os
belgas e os vice-campeões mundiais cro-
atas. Alguma coisa acontece fora da or-
dem na nova ordem mundial, conceda o
genial Caetano a mistura de Sampa com
Nova Ordem.
E é preciso mudar as lentes dos ócu-
los, ou adotá-los para quem ainda não o
fez, para melhor ver e entender os resul-
tados inesperados em gramados árabes.
Pois disse um qatariano para outro, am-
bos perplexos:
“Uma vez, o Japão ganhar da Alema-
nha, passa. É zebra, faz parte. Duas ve-
zes, a Arábia Saudita bater na Argenti-
na, OK, de fato os camelos estão perden-
do o lugar para as zebras. Mas o Japão
ganhou de novo, agora da Espanha. O
que há? E os australianos e seus cangu-
rus amestrados? E Camarões? Afinal, bi-
cho, que bichos são esses? Marrocos? Se-
negal, sem Sadio Mané?”
Assim, à primeira vista, é clara a dife-
rença de empenho entre os até ontem co-
adjuvantes e os protagonistas do Plane-
ta Bola, sempre cheios de si, arrogantes
Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022 7
copa 2022
ca por conta da pouco comum frequên-
cia de conquistas obtidas por novos pa-
íses no Mundial.
É verdade que 3 das 8 campeãs do mun-
do não disputam a Copa neste momento. A
Itália, que nem se classificou, e Alemanha
Outros resultados neste torneio reali-
zado no Qatar também contribuem pa-
ra esse vislumbre. Argentina perdeu para
a Arábia Saudita. Alemanha perdeu para
o Japão. Marrocos ganhou da Bélgica e
se classificou em primeiro no seu grupo.
Coreia venceu Portugal e pegou uma va-
ga nas oitavas, no lugar dos uruguaios.
Ainda teve Japão em primeiro, em um
grupo que tinha Espanha e Alemanha. A
classificação da Austrália.
Mas cabe lembrar que restam outras
cinco campeãs do mundo na competição.
Brasil, o maior campeão, a Argentina, de
Lionel Messi, a França, atual campeã e que
conta com Mbappé, Espanha e Inglaterra.
Além das cinco gigantes, não existe nes-
te Mundial do Qatar nenhuma super ge-
ração que faça imaginar o surgimento de
um novo campeão do mundo.
Portugal, com um Cristiano Ronaldo
já em seus momentos finais da carreira,
tenta se credenciar a ser este time. A Ho-
landa é a eterna candidata. Outras sele-
ções pouco faladas tentam correr por fo-
ra do radar na direção da taça.
A Copa vem complicando a vida dos
participantes de bolões. Mesmo assim, o
futebol mostrado dificulta imaginar um
time sendo campeão pela primeira vez.
e sólida, mesmo sem encantar, é o favori-
to contra a Coreia do Sul, que se benefici-
ou por jogar contra a seleção reserva de
seleção brasileira tá indo.
Queria ver o Brasil fazer um gol coleti-
vo, como o primeiro da vitória da Holan-
da contra os Estados Unidos. Foi um gol
espetacular, após troca de passes, com to-
ques de primeira, desde a defesa.
O Brasil gostou tanto dos pontas, que
passou a correr o risco de eles serem mui-
to marcados e de o time se perder por fal-
ta de boas jogadas pelo centro.
Com exceção da Holanda, que joga com
três zagueiros, Brasil, França, Argentina,
Inglaterra, Espanha e Portugal, todos can-
didatos ao título, marcam com duas linhas
de quatro. Quando não dá para pressio-
nar, os meias ou pontas pelos lados vol-
tam e defendem na linha dos dois volantes.
Cada defensor tem um protetor, um se-
cretário à frente. A formação com três za-
gueiros e dois alas, formando uma linha
de cinco, que chegou a ser moda no mun-
do, mesmo em grandes equipes, parece
que perdeu o encanto.
No futebol e em qualquer outra profis-
são, é preciso separar o novo, que chega
para ficar, do novo, que, inicialmente, fas-
cina, mas que não tem consistência nem
futuro. Além disso, não basta ter conheci-
mento. É necessário executar bem. A teoria
sem a prática é um vazio. A prática sem a
teoria é um chute no escuro.
a olhos vistos —meio assim como a ma-
dame que reclama de pobre em aeropor-
to e indica o caminho da rodoviária, ou o
nheira entrou na vaga do filho dele na fa-
culdade de medicina.
Nada impede que ao final do funil te-
nhamos os de sempre disputando o títu-
lo. Até porque oito dos 16 são europeus,
acompanhados por outras oito seleções
dos demais continentes, algo inédito, três
da América, dois da África, dois da Ásia
e um da Oceania.
Os cinco campeões mundiais que sobra-
ram têm condições totais de dar a volta
por cima e se impor. Um soluço aqui, ou-
tro soluço ali, não será beber água com
o copo ao contrário, mas sim os sustos
que darão a solução.
Pois ninguém mais tem o direito de se
surpreender com resultado algum, com
seleção nenhuma, porque até a centro-
americana Costa Rica, que levou de sete
da Espanha e de quatro da Alemanha, foi
a única a ganhar do Japão.
É verdade que as derrotas de todos os
previamente classificados na terceira ro-
dada foram com equipes recheadas de
reservas contra times que lutavam por
vaga e que a dos espanhóis deixou uma
barulhenta castanhola atrás da orelha.
Só que o futuro esquecerá dos detalhe
e lembrará dos resultados. E o presente
permite especular se, enfim, veremos, de
óculos novos, um país africano, ou asiá-
tico, campeão mundial.
8 Domingo, 4 DE DEzEmbro DE 2022
copa 2022
Carima Orra, 29, influenciadora digital brasileira muçulmana; nascida em São Paulo, ela é descendente de libanesas e criada desde a infância nos preceitos da fé islâmica
Bela, recatada e fashion,
muçulmana usa Copa do
Qatar contra preconceitos
brasileira descendente de libaneses, Carima orra combina futebol,
religião, moda e lifestyle nas redes sociais durante o mundial
rede social
-
Eliane Trindade
Doha Muçulmana radical no
Qatar.CarimaOrraresumeas-
simasexperiênciascomouma
brasileira descendente de li-
baneses e palestinos que cha-
ma atenção em meio à torci-
da verde-amarela que assiste
in loco a Copa do Qatar.
EmpostagensnoInstagram
ao longo da primeira sema-
na de Mundial, ela aparece
de burquíni pilotando um jet
ski na baía da capital Doha,
envolta na bandeira brasilei-
ra na cerimônia de abertura
ou no meio da torcida vibran-
do pelos dois gols de Richar-
lison na vitória do Brasil con-
tra a Sérvia por 2 a 0.
Casada e mãe de três filhos,
a bela e recatada muçulmana
de 29 anos deixou o marido e
as crianças no Brasil para pro-
duzir conteúdo para redes so-
ciais no megaevento, realiza-
do pela primeira vez em um
país islâmico.
“Minha mãe é apaixona-
da por futebol e eu sou alu-
cinada pelo clima de Copa.
Tínhamos que vir para a pri-
meira em um país árabe”, diz
Carima, munida de modeli-
tos bem-comportados para
torcer pela seleção brasileira.
Para além de torcer, a influ-
enciadora produz fotos, víde-
os e tutoriais em que apresen-
taparaseus225milseguidores
uma mistura de futebol, reli-
gião, moda e lifestyle.
A maratona de blogueira
muçulmana antenada e fashi-
ores consumidoras, há adep-
tascomoestilodevidaemque
o corpo feminino fique mais
preservado.“Amodamodesta
pode ser usada por qualquer
pessoaqueseidentifique”,diz.
No seu caso, a adesãoé, sim,
por razões religiosas. “Sou
uma muçulmana moderna
e não me envergonho de me
vestir dessa maneira.”
É uma adepta do véu que
alardeia em tutoriais como
combinar lenços e modelitos
recatados. Aparece tanto em
fotosglamourosas, endossan-
dolongosbrilhantesdefestas,
quanto de tênis All Star.
A influenciadora digital vis-
on começou no aeroporto de lumbra a Copa do Qatar e o
Guarulhos no sábado (19), on- apelo midiático do esporte
de Carima e a mãe, Samia Mu- maispopulardomundocomo
sa, posaram ao lado de malas vitrines para mostrar a força
amarelas com o número 10 e de uma parcela de consumi-
os nomes das donas impres- dorasqueajudamamovimen-
sos em tons de verde. tar US$ 327 bilhões por ano.
Criada nos preceitos da fé Segundo cálculos de Cari-
islâmica em São Paulo, onde ma, com base em dados de
nasceu, a também empresá- mercado de luxo, a cliente-
ria de moda tenta quebrar la muçulmana já representa
preconceitos e estereótipos 40% do faturamento de gran-
sobre mulheres que usam a des grifes internacionais.
abaya (túnica longa e solta) Emumvídeo,elaelencacin-
e o hijab (véu que lhe cobre corazõesparaasmarcasleva-
os longos cabelos castanhos). rem em conta esse nicho im-
A vestimenta é uma profis- Carima Orra portante. Cita o fato de gigan-
são de fé, uma escolha, diz. pilota jet ski tescomoLouisVuittoneDolce
Já o estilo bem fashion ser- no Qatar &Gabannateremumaabanos
vecomoferramentaparaque- Fotos @carimaorra seussitesdeecommercepara
brar o estereótipo de mulhe- no Instagram hijabs, acessório obrigatório
res muçulmanas vestidas de paramuçulmanasqueoptam
negrodacabeçaaospés,repri- ou são obrigadas a usar o véu.
midas e sem vontade própria. Aopressão àsmulheres mu-
Faz questão de aparecer em çulmanas é vista por Carima
looks vistosos, véus de grifes muito mais como uma ques-
famosas e está sempre com tão política do que religiosa.
o rosto de traços harmôni- Razão pela qual a influenci-
cos perfeitamente maquiado. adora digital já chegou ao Qa-
Formada em marketing di- tar rebatendo um post de nin-
gital, Carima usa com profis- guém menos que Anitta sobre
sionalismo a força das redes um Mundial atacado quanto
sociais como expoente de um aos direitos humanos e à con-
segmento fashion conhecido dição feminina e LGBTQIA+.
como “moda modesta”. “E discriminar os outros é
Ela traduz o conceito, expli- parte de cultura agora? Lá
candonãosetratardeummo- mulher não pode entrar em
do simplório ou básico de se estádio não, ok?”, criticou a
vestir. “É um estilo mais reca- Brasileira cantora no Twitter.
tado de roupas, que valoriza no estádio Carima respondeu no Ins-
mais as peças do que o corpo, para assistir tagram em vídeo em que apa-
com saias e vestidos longos, ao jogo da rece de véu e envolta na ban-
modelagens amplas, mangas seleção deira brasileira dentro do es-
compridas, sem decotes nem contra a tádio. “Estou pronta para as-
cinturaouquadrismarcados.” Sérvia na sistir à abertura da Copa da-
Carimaafirmaque,embora Copa do qui de dentro”, disse.
asmuçulmanassejamasmai- Mundo Elaapareceaindaacaminho
a eee
Gabriela Biló/Folhapress
da cerimônia no meio da tor-
cida Movimento Verde Ama-
relo Brasil, onde garante es-
tar à vontade.
Usa tênis da moda, calça
pantalona branca, blusa ama-
rela e lenço azul, com a ban-
deira enrolada na altura do
pescoço. Contempla todas
as cores do símbolo nacional
seja no meio do batuque se-
ja rezando pelo hexa na visita
à maior mesquita qatariana.
Sua figura causa estranheza
entre gringos e brazucas. “As
pessoas no Brasil não acre-
ditam que eu sou brasileira
porque estou me vestindo as-
sim. E no Qatar também não
acreditam pelo mesmo moti-
vo. Ninguém me conhece co-
mo tal, mas eu sou brasileira
e tenho muito orgulho disso.”
Ao reafirmar a identidade,
ela também faz uma declara-
ção de fé: “Minha religião é a
minha nacionalidade”.
Assim como o Qatar quer
usaraCopaparaprojetaruma
novaimagemdopaís,Carima,
em umaoutradimensão,ten-
tapassarumanovaimagemdo
Islã durante o Mundial, o que
faztambémdurantesuarotina
de mãe, esposa e empresária.
Conta com encorajamen-
to da mãe, companheira de
viagem e assistente na hora
de gravar vídeos e tutoriais.
“Estou sempre ao lado dela
porque acredito que é preci-
so desmistificar o que é o islã.
Existe a ideia de que islamis-
mo é terrorismo. Isto é políti-
ca, atos isolados que aconte-
cem pelo mundo”, diz a mãe
de Carima, ao ressaltar que
esse tipo de estigma afeta um
terço da população mundial,
que é muçulmana.
É com a sensação de ter
cumprido o papel de quebrar
preconceitos que a dupla re-
tornou no último domingo
(27) de madrugada para São
Paulo, para continuara torcer
pelo hexa do Brasil em casa e
sempre de abaya e véu.
Osseguidores jáfazemcam-
panha para que a muçulma-
na pé-quente volte para Do-
ha para acompanhar o Bra-
sil na final.
A editora Eliane Trindade viajou ao
Qatar a convite da Coca-Cola, uma das
patrocinadoras oficiais do mundial 2022
a eee 1

APRESENTA

Símbolo de SP
NOS
BAIRROS Ponte Estaiada
CIDADE
JARDIM E
é referência de
ARREDORES arquitetura
Pág. 3

Parque
do Povo

Vantagens
Região se destaca
por infraestrutura e
acessibilidade
Pág. 4

Programa
Confira dicas de
gastronomia,
entretenimento e

uma cidade
Alberto Rocha/Estúdio Folha
cultura
Pág. 6

cheia de jardins
Arborizado e com ótima infraestrutura, Cidade Jardim e
arredores prezam pela qualidade de vida em São Paulo
Este é um exemplar cortesia da Folha de S.Paulo – caderno especial Mercado Imobiliário. Distribuição autorizada pelo Artigo 26, parágrafo 2º da Lei 14.517/2007, com nova redação dada pela Lei nº 14.583/2007.
Projeto de Marketing realizado pelo Departamento Comercial da Folha de S.Paulo. Diagramação: Filipe Rocha. Jornalista responsável: Vaguinaldo Marinheiro.
2 a eee
ao ar
livre
Próximo dos melhores parques
da cidade, regiões do Morumbi
e da Cidade Jardim são um
refúgio em meio à agitada
rotina da cidade
V
iver perto de áreas
verdes é fundamen-
tal para a saúde. Ar
puro e espaços livres
para se exercitar são benéficos
para as condições física e men-
tal de qualquer pessoa.
É por esse e outros motivos
que a região do Morumbi e da
Cidade Jardim reúne um dos
melhores IDHs de São Paulo.
Ao lado dos tradicionais Al-
fredo Volpi e parque do Povo,
em lados diferentes do rio Pi-
nheiros, a região está cheia de
opções para quem deseja pas-
sear em família ou curtir espa-
ços verdes nas horas vagas.
Com trilhas rústicas para
corridas e caminhadas e vista
para flores nativas da Mata Atlân-
tica, além de nascentes e lagos,
o Alfredo Volpi também possui
aparelhos de ginástica como bar-
ras e pranchas para quem quer se
exercitar ao ar livre.
Inaugurado em 2008, o
parque do Povo tem áreas para
piqueniques e acesso à ciclovia
da Marginal Pinheiros, sen-
do uma ótima rota para quem
treina ou mesmo para quem
curte um passeio despreten-
sioso de bike.
Com um campo de fute-
bol de grama verde, pista de
skate e até um jogo de xadrez
em tamanho real, é um ótimo
APRESENTA
Alberto Rocha/Estúdio Folha
Parque
do Povo
espaço para levar a família ou
praticar esportes sozinho.
Além dos parques maiores,
a região do Morumbi e da Ci-
dade Jardim está cercada por
áreas verdes menores, como
o recém inaugurado parque
Bruno Covas. Parte da revitali-
zação da região do rio Pinhei-
ros, o espaço conta com ciclo-
via, pista de caminhada, área
para piquenique, um mirante Shutterstock
e estações de ginástica.
PARA SE EXERCITAR Exercício
Quem gosta de praticar do tipo HIIT
exercícios fora da academia
mas não tem tempo para ir ao
parque pode também treinar
em casa. Alguns empreendi-
mentos de luxo já contam com
academias tanto tradicionais
quanto funcionais, como por
exemplo studios de pilates
com foco em treinos fitness
diferenciados.
Também em alta, os exercí-
cios do tipo HIIT, de alta inten-
sidade, são uma boa opção para
fazer no conforto do lar ou na
academia do prédio, melho-
rando o desempenho cardio-
vascular e queimando calorias
com rapidez. Benéficos para o
metabolismo, exercícios desse
tipo são perfeitos para quem
tem uma rotina atribulada e
pouco tempo para malhar.
a eee 3

APRESENTA

Marcelo D. Sants/FramePhoto/Folhapress

Símbolo de
São Paulo, um cartão Ponte Octávio
Frias de Oliveira

ponte Estaiada
é referência postal diferente
de arquitetura
e um marco
na paisagem
urbana da
cidade

U
m dos mais famosos
cartões postais de São
Paulo, a ponte Octá-
vio Frias de Oliveira,
também conhecida como ponte
Estaiada, foi inaugurada em maio
de 2008. Seu nome é uma home-
nagem ao empresário e fundador
do jornal Folha de S.Paulo.
Única ponte do mundo com
duas pistas em curva conecta-
das a um mastro, as vias foram
projetadas em um ângulo de 60º de aula nas mais prestigiadas CAÇA-PALAVRAS SOBRE A PONTE ESTAIADA
acima do rio Pinheiros, no bair- faculdades do país.
ro do Brooklin. Com iluminação assinada
Na zona sul de São Paulo,
a Estaiada fica entre as pontes
pela empresa Philips, a ponte é
banhada pelas cores vermelho,
EF TGBC J LVT SQ 1. Cabos que a sustentam:
ESTAIS
do Morumbi e Engenheiro Ari
Torres, próxima às avenidas En-
azul e verde e suas diferen-
tes combinações. Em ocasiões
EOYRFHZQP LNB 2. Rio que está abaixo:
genheiro Luís Carlos Berrini e
Nações Unidas –em meio a um
especiais, como no Outubro
Rosa (conscientização sobre o
VA F T B ROOK L I N PINHEIROS

dos pólos econômicos mais im-

portantes da capital.
câncer de mama), costuma fi-
car iluminada com luzes na cor
KOGXDGNUVAOH 3. Avenida próxima:
BERRINI

O projeto tem autoria de

Catão Francisco Ribeiro, e tem
que representa a campanha.
Cenário de diversas produ-
L VB FNTAANPU L 4. Bairro em que está

como arquiteto responsável
João Valente Filho. Além deles,
são responsáveis pela obra o
engenheiro Edward Zeppo Bo-
retto e o gerente de obras Nor-
berto Duran.
F E S TA I S BMP K I
situada:
ções audiovisuais, a Estaiada BROOKLIN
foi usada de fundo para o filme
“Ensaio sobre a Cegueira”, de
Fernando Meirelles, quando
GF RAGCUAF I RA 5. Região da cidade em
que está localizada:
ainda estava em construção. É
também capa de um dos sin-
S PHDF F LAFNEN ZONA SUL

A sua sustentação é mantida

por estais, isto é, feixes de cabo
de aço de tamanho diferentes (o
maior tem 195 metros, e o me-
nor, 78). Construída com uma
tecnologia ímpar, sua pavimen-
tação de alta resistência evita
deformações do solo e aguenta
altos impactos e cargas em mo-
vimento, e permite maior dre-
nagem do asfalto.
Referência em arquitetura
e urbanismo, cada sentido da
ponte tem 290 metros de com-
primento, e é assunto de sala
gles lançados pela banda indie
norueguesa A-ha.
S UBAR EGNRHOZ
Além de produções inter-
nacionais, a ponte faz parte do
MC E RG T F BAE I P
cenário dos telejornais “Bom
Dia São Paulo” e “SPTV”, en-
GCR I F FNAG I J H
dossando o caráter de “cartão-
-postal” da cidade. L FRPB J KBSRRG
É de tamanha importância
que também virou tema de livro, GH I L I Y S T NOHO
o “Ponte Estaiada - construção
de sentidos para São Paulo”, que TNNBNTARH S L I Confira a
resolução
conta sobre o início do projeto,
em 2008, sua estrutura e a sua R Y I AMM S E K P E U deste caça-
palavras na
importância até meados de 2014. pág. 4
4 a eee
tudo ao
redor
Região possui serviços e parques
a poucos minutos de distância,
além de boa acessibilidade
M
orar perto de hos-
pitais, serviços,
instituições de en-
sino e centros co-
merciais é ideal para quem
precisa se locomover em uma
cidade como São Paulo.
É por isso que bairros como
o Morumbi e a Cidade Jardim são
tão valorizados. Com tudo ao re-
APRESENTA
dor, a região está próxima a um
dos pólos econômicos mais im-
portantes do país, e é destino di-
ário de milhares de paulistanos.
Ao lado da ponte Estaiada,
que liga o Morumbi ao lado
leste do rio Pinheiros, o bair-
ro possui inúmeros serviços
como supermercados, bancos
e a gigante Leroy Merlin.
Instituições de ensino tra-
dicionais também permeiam a
área, como o colégio Santo Amé-
rico, o São Luís e o Porto Seguro.
E, falando em tradição, o
Albert Einstein é uma referên-
cia em saúde na região, que
também reúne outros grandes
hospitais como o São Luiz e o
Sancta Maggiore.
Fácil de ir e de voltar, o
bairro do Morumbi está a pou-
cos minutos do Palácio do Go-
verno, da ponte Cidade Jardim
e do complexo comercial WTC.
A menos de três quilômetros
também se encontram os clu-
bes Pinheiros e Paineiras, dois
oásis no meio da intensidade
urbana de São Paulo.
Do lado de uma das melho-
res linhas da CPTM, os entornos
estão servidos por trens sobre
trilhos que percorrem grande
parte da área metropolitana,
unindo a zona oeste à zona sul.
Além da CPTM, é possível
sair e voltar do bairro utili-
zando avenidas como a Nações
Exto/Divulgação
Unidas e a Engenheiro Luís Vista aérea
Carlos Berrini, além da Ro- da Marginal
que Petroni Jr., da avenida dos Pinheiros
Bandeirantes, da Chucri Zai-
dan e da Juscelino Kubitschek.
O Morumbi é também
atendido por estações da linha
quatro amarela do metrô, que
conecta a área com outras re-
giões importantes da cidade,
como a avenida Faria Lima e o
bairro de Pinheiros.
Próxima de avenidas vici-
nais, a Cidade Jardim também
possui linhas e corredores ex- Resolução do
clusivos de ônibus.
A região conta ainda com
caça-palavras da pág. 3
EF TGBC J LVT SQ
serviços e parques a poucos EOYRFHZQP LNB
minutos de distância, de modo VA F T B ROOK L I N
que não é preciso sair do bair- KOGXDGNUVAOH
ro para fazer compras, ir ao L VB FNTAANPU L
F E S TA I S BMP K I
supermercado, ao cinema ou GF RAGCUAF I RA
passear ao ar livre. Com boas S PHDF F LAFNEN
opções de shoppings, os en- S UBAR EGNRHOZ
tornos contam com o Cidade MC E RG T F BAE I P
Jardim, o JK, o Vila Olímpia e GCR I F FNAG I J H
L FRPB J KBSRRG
o Morumbi, para citar apenas GH I L I Y S T NOHO
alguns dos centros de compras TNNBNTARH S L I
nos arredores. R Y I AMM S E K P E U
a eee 5

um ma rc o para s ão pa ulo

EM FRENTE À PONTE ESTAIADA

2 A 5 VAGAS

DIGITE

NO SEU WAZE Av. D uq ue s a d e Goi á s , 8 25

EXTO VISTA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. AV. ELISEU DE ALMEIDA, 1415 - BUTANTÃ - SÃO PAULO - SP. VENDAS: EXTO CONSULTORIA E VENDAS LTDA. CRECI 29544J. CERTIFICADO DE CONCLUSÃO: HABITE-SE – 2022-80643-00.
6 a eee
Adega
Santiago
reduto da boa gastronomia
Cercado de bons restaurantes,
bares e museus, região da Cidade
Jardim alia alta gastronomia a
entretenimento e cultura
S
air para comer, be-
ber, ir a exposições
e curtir um passeio
arborizado são essen-
ciais para quem tem uma vida
atribulada –principalmente em
uma cidade grande.
É por isso tão importan-
te morar em uma região bem
localizada, que reúna serviços,
comércio e parques, como é o
caso do Morumbi e da Cidade
Jardim, em São Paulo.
Alta gastronomia, bares e
entretenimento não faltam na
região. Só no shopping Cidade
APRESENTA
Adega Santiago/Divulgação
CONFIRA OS
ENDEREÇOS DAS
SUGESTÕES
ADEGA SANTIAGO
Shopping Cidade Jardim
Av. Magalhães de Castro, 12000
Tel.: (11) 3758-4446
DUE CUOCHI CUCINA
Shopping Cidade Jardim
Av. Magalhães de Castro, 12000
Tel.: (11) 3758-2731
BOTICA
Rua André Ampére, 215
Tel.: (11) 98773-0079
CHARLES EDWARD
BAR
Rua Miriti, s/n
Tel.: (11) 3079-2804
VIGGA BAR
R. Bacaetava, 186
Tel.: (11) 99799-5147
CASA DE VIDRO LINA
BO BARDI
Rua Gen. Almério de Moura, 200
Tel.: (11) 3744-9902
a um ambiente elegante.
Seja para um happy hour
com petiscos, ou até para um
bom almoço executivo, o char-
moso Botica, no Brooklyn, ofe-
rece chopes, drinks e vinhos
em um ambiente informal e
Vigga Bar descontraído.
Para curtir música ao vivo,
o Charles Edward Bar é um pub
de bairro com bandas que to-
cam hits dos anos 1980 e 1990.
Com decoração intimista, tem
mais de 50 rótulos de uísque e
Jardim é possível fazer com- ampla carta de coquetéis.
pras, ir ao cinema ou frequen- E, falando em coquetéis,
tar alguns dos melhores res- o Vigga reúne drinks autorais
taurantes de São Paulo, como e comidinhas de bar em um
a Adega Santiago. Conhecida ambiente aconchegante –bom
pelas tapas, petiscos e sua ba- para levar um date ou então
calhoada, o restaurante ofere- sair com amigos.
ce ótimas refeições e porções Se a ideia for aproveitar o
menores aos apreciadores de dia em um passeio cultural a
frutos do mar. dois ou mesmo com a família,
Se o objetivo for um res- a Casa de Vidro Lina Bo Bardi
Vigga Bar/Divulgação
taurante italiano de qualidade, oferece uma experiência úni-
a Due Cuochi Cucina, também ca. Referência da arquitetura
no shopping, oferece alguns brasileira, o espaço serviu de
pratos tradicionais como lasa- residência para a família Bardi
nha e ragu de costela em meio nos anos 1950.
a eee 7

APRESENTAM

Exto/Divulgação

sofisticação Complexo
aquático do Only
Cidade Jardim

em cada detalhePronto para morar, Only living e no terraço, gerador com
três pontos de energia, e muitos
Cidade Jardim conta com outros diferenciais.
Com 11.000 mil m² de terre-
apartamentos de 4 suítes em no, o lazer do condomínio tam-
bém se destaca com complexo
frente à ponte Estaiada aquático, quadra de tênis, duas
academias - uma tradicional de
musculação e outra para exer-
Traz também spa com sala
de massagem e sauna úmida
com lounge, um beauty studio.
Quem tem filhos também
não precisa se preocupar: o
condomínio ainda tem brin-
quedoteca e playground exter-
no para dias de sol.
O Only garante segurança e
taria blindada e um sistema de
monitoramento que funciona 24
horas por dia.
Com garagem de altíssimo
padrão, com acabamentos em
granilite, e um box para cada
unidade, o empreendimento
garante espaços privativos e op-
ções de vagas que podem ser es-

I
magine viver a 2 minutos do
Shopping Cidade Jardim e em
frente ao maior cartão postal
de São Paulo: essa é a expe-
riência de morar no Only Cidade
Jardim - empreendimento de al-
tíssimo padrão da Exto Incorpo-
ração e Construção.
O Only conta com apar-
tamentos de 4 suítes, prontos
para morar, com pé direito com
dimensões especiais de 2,80m
livres, infraestrutura de ar-con-
dicionado, iluminação cênica no
cícios funcionais -, salão de
festas, espaço gourmet, pista
de caminhada de 300 metros
com piso emborrachado, PUB,
sala de jogos, pet place e uma
extensa área de paisagismo
com 3.400m² de áreas verdes
assinadas por Benedito Abbud.
privacidade, oferecendo fecha-
dura da entrada social com siste-
ma de biometria, duplo bloqueio
de acesso, elevadores sociais com
halls privativos para cada unida-
de, dois elevadores de serviço e
duas escadarias por unidade.
Além disso, conta com por-
colhidas no ato da compra.
O empreendimento está
entre as pontes da Cidade Jar-
dim e do Morumbi, a poucos
minutos do novo parque Bruno
Covas, do parque do Povo e da
região da avenida Engenheiro
Luís Carlos Berrini.

Ateliê de produção de conteúdo em todas as plataformas | ESTUDIO.FOLHA.COM.BR | TEL.: 3224-4731

8 a eee

p r o nt o pa r a mo r a r | em f r ent e à po nt e es ta i a da | 4 suí tes

A Exto entrega um marco a São Paulo. Um empreendimento exclusivo em terreno de aprox. 11.000m2, a 2 min.
do Shopping Cidade Jardim e em frente ao maior cartão postal da cidade, a Ponte Estaiada.

Um projeto singular, com diferenciais de altíssimo padrão, desde o pé-direito das unidades com dimensões
especiais de 2,80m livres, passando pelo paisagismo exuberante de 3.400m2 assinado por Benedito Abbud às
plantas no conceito internacional de sala aberta.

Complexo aquático, tennis court, dois fitness e programa completo de lazer para toda a família.

ú n ico. c o mo vo c ê. f eito pa r a vo cê.

DIGITE

NO SEU WAZE Av. D uq ue s a d e Goi á s , 8 25

EXTO VISTA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. AV. ELISEU DE ALMEIDA, 1415 - BUTANTÃ - SÃO PAULO - SP. VENDAS: EXTO CONSULTORIA E VENDAS LTDA. CRECI 29544J. CERTIFICADO DE CONCLUSÃO: HABITE-SE – 2022-80643-00.
a eee
Uma sigla capaz de transformar
organizações e o mundo
Boas práticas relacionadas ao meio ambiente, à sociedade
e à governança são fundamentais para o futuro dos
negócios e do planeta
ESG , o acrônimo amplamente difundido
e que recebe a atenção cada vez mais
contundente de organizações de todos os portes e setores, de
seus investidores, bem como de outros públicos, refere-se
aos termos Environmental, Social e Governance, em inglês,
ou, traduzindo, Meio Ambiente, Social e Governança. Mais
do que associado a conceitos, ele remete a boas práticas que
podem e/ou devem ser incorporadas por entidades, privadas
ou públicas, com a finalidade de contribuir para o desenvol-
vimento sustentável de negócios, das sociedades e do planeta.
“Não existe outra possibilidade de desenvolvimento que não
seja ambientalmente correto, socialmente justo e economica-
mente viável. O setor empresarial brasileiro está avançando
nessa transformação. Afinal, a adoção de práticas sustentá-
veis traz ganhos ambientais e sociais e é benéfica para os
negócios”, descreve Ricardo Mastroti, diretor executivo do
Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS), associação fundada em 1997 e que pro-
move o desenvolvimento sustentável por meio da articulação
junto aos governos e à sociedade civil, além de divulgar os
conceitos e práticas mais atuais em relação a ele.
Apesar de os temas meio ambiente, sociedade e gover-
nança permearem as pautas de organizações em diferen-
tes épocas e com variados nomes, é a partir de 2004 que
a sigla ESG passou a ser empregada. Naquele ano foi di-
vulgado o documento “Who Cares Wins — Connecting Fi-
nancial Markets to a Changing World” (“Quem se importa
ganha - conectando os mercados financeiros a um mundo
em mudança”). Endossado por 20 instituições financeiras
convidadas pelas Nações Unidas, ele apresenta diretrizes e
recomendações sobre como integrar as questões ambien-
tais, sociais e de governança (ESG) em análises, adminis-
tração e corretagem de valores mobiliários, com benefícios
para os mercados e para o desenvolvimento sustentável.
Gradualmente o ESG disseminou-se e as organizações tra-
taram a incorporar boas as práticas aos
seus planejamentos e estratégias, e nos
relacionamentos com seus públicos de
interesse. Não à toa. Os investidores es-
tão atentos a isso e muitos privilegiam a
destinação de seus recursos às compa-
"*%$!&
&'#()'* 0''-$##&&&%-/.('!*%! /*%"+#/(,.(2#2 )1
informe publicitário domingo, 4 dE dEzEmbro dE 2022 1
nhias engajadas com ESG. Paralelamente, outros tituída pela de criação de um sistema focado nos
públicos, incluindo o de consumidores, am- consumidores, trabalhadores, fornecedores,
pliaram suas demandas por ações “corre- comunidades, governos, mídia, organiza-
tas” e optam por produtos e serviços de ções da sociedade civil, etc. Em outras
organizações que as adotam. “A socie-
dade, de maneira geral, tem olhado
de forma cada vez mais diferencia-
palavras, as empresas estão preocupa-
das em (re)conhecer seus impactos
diretos e indiretos sobre sociedades e
da em relação às responsabilidades sobre ambientes e em estabelecerem
das empresas sobre a agenda ESG. canais de comunicação e diálogo
Por esse motivo, consideramos tão valiosos com os stakeholders, abrin-
importante o fortalecimento de uma do espaços de reflexão conjunta e
comunicação transparente e confiável para o aprendizado mútuo. “O mundo
com nossos stakeholders, tanto interna enfrenta três grandes crises simultâneas:
quanto externamente, pautada em pro- a emergência climática, a perda da biodiver-
jetos que, de fato, contribuam para questões sidade e as desigualdades crescentes — e todas
deniscristo
sociais e ambientais. Em um cenário cada vez mais exigem uma mudança na mentalidade e na postura
exigente, não há espaço para promessas ou projetos sem dos negócios. Precisamos reinventar o capitalismo, trans-
resultados claros”, afirma Fernanda Pires, vice-presidente formando-o em um sistema que recompensa a verdadeira
de Pessoas e ESG na EDP Brasil. criação de valor, não a extração de valor feita pelo modelo
Acredita-se, inclusive, na possibilidade de estarmos vi- atual, e internaliza os custos sociais e ambientais. E o Brasil
venciando uma transição do capitalismo de shareholders, só tem a ganhar: a nova economia verde traz grandes opor-
ou seja, acionistas, para o de stakeholders, as partes inte- tunidades para o país e para as empresas que aqui atuam”,
ressadas. A ideia de lucro acima de tudo estaria sendo subs- explica Ricardo, do CBEDS.
Os três pilares
E (ENVIRONMENTAL, OU
AMBIENTAL) – o pilar re-
a preservar, mas também a restaurar
ecossistemas.
as comunidades, como a populações
indígenas, por exemplo, também está
laciona-se aos impactos que as ativi-
dades das empresas têm sobre o meio
ambiente, direta ou indiretamente.
S (SOCIAL) - esse pilar está
vinculado a todas as interfe-
rências de uma organização em seu G
incluída, nesse pilar.
(GOVERNANCE, OU
GOVERNANÇA) – diz
Entram nesse pilar a emissão de gases meio social, nas comunidades, entre respeito à governança corporativa de
do efeito estufa, a gestão dos resíduos, os seus colaboradores, e ao relaciona- uma organização. Tange a aspectos
o uso racional de recursos naturais, as mento e reputação em relação a ou- como a composição e a diversidade
mudanças climáticas, e as consequên- tras instituições. Contempla medidas dos Conselhos de Administração, as
cias das atividades para os seres vivos. vinculadas às condições de trabalho e políticas de ética e transparência
A ideia é que as ações desenvolvidas respeito aos direitos humanos, proje- (como códigos de conduta e divulga-
pelas organizações permitam não tos de desenvolvimento local, proteção ção de informações aos públicos inter-
apenas mitigar efeitos negativos, mas e promoção da diversidade e inclusão, no e externo), a cultura corporativa,
tenham uma perspectiva proativa e saúde e segurança, etc., seja para os os processos de gestão, os controles, o
até mesmo caráter regenerativo, ou colaboradores ou para públicos exter- atendimento às leis e as necessidades
seja, que se proponham não apenas nos. A gestão do relacionamento com dos stakeholders.
Projeto e comercialização: Point Comunicação e Marketing Tel.: (11) 31670821 – point@pointcm.com.br |
Redação e edição: Gustavo Dhein | Layout e editoração eletrônica: Manolo Pacheco e Heron Medeiros
2 domingo, 4 dE dEzEmbro dE 2022
AVANÇO
ESG entre na
pauta de cada vez
mais organizações
Número de empresas que se
dedicam a avançar nas boas
práticas cresce ano após ano
O crescimento registrado
pelo Conselho Empre-
sarial Brasileiro para o Desenvol-
vimento Sustentável (CEBDS) no
número de associadas reflete o
interesse do empresariado em par-
ticipar de uma transformação de
mentalidade e de postura nos negó-
cios, vinculada, nos últimos anos, à
sigla ESG (ambiental, social e go-
vernança). Em agosto deste ano,
ele chegou à marca de 100, um sal-
to de 63% em apenas 24 meses. “É
uma número significativo, a prova
de que estamos em um momento
de grande transformação. Susten-
tabilidade virou ‘mainstream’ e
as empresas são parte da solução
para um novo modelo de desen-
volvimento”, reforça Ricardo Mas-
troti, diretor executivo do CEBDS.
Juntas, as organizações ligadas à
entidade têm um faturamento que
representa 47% do PIB brasileiro e
ANUNCIE NOS NOSSOS
CADERNOS ESPECIAIS:
SAÚDE
TECNOLOGIA
C O M P O R TA M E N T O
INFRAESTRUTURA
FINANÇAS
AGRO
NEGÓCIOS
B E M - E S TA R
CONSULTE NOSSA AGENDA
( 11 ) 3 1 6 7 - 0 8 2 1
WWW.POINTCM.COM.BR
CADERNOESPECIAL@POINTCM.COM.BR
informe publicitário a eee
geram 1,1 milhão de empregos, e talecimento de aspectos de preser-
representam os principais setores vação ambiental e mitigação dos
da economia, como agronegócio, riscos climáticos, e que a transpa-
cosméticos, energia, finanças, flo- rência em relação aos investimen-
restas, logística, mineração, óleo tos feitos nesse sentido, bem como
e gás, petroquímica, saneamento, sobre os resultados alcançados
transporte e varejo. com eles, é fundamental para que
A EDP Brasil é exemplo de em- outros setores também adotem um
presa que denota seu engajamento alto nível de engajamento e execu-
em relação às boas práticas. De ção em aspectos ESG.
acordo com a vice-presidente de
Pessoas e ESG da companhia, Fer-
nanda Pires, o comprometimento APETITE
com a excelência em ESG decorre Em abril deste ano, um estudo
da visão de que a sustentabilidade divulgado pela SAP corroborou a oo8449
deve estar sempre integrada em perspectiva de maior interesse dos implementar estratégias de susten- te da cadeia de fornecimento destas
todos os aspectos de sua operação. empresários em relação a ESG na tabilidade: 68% já as tinham em grandes empresas, e elas têm inves-
“Assim, o ESG está no centro de América Latina e no Brasil. Intitu- funcionamento, e entre elas, 28% tido em capacitação e apoio a estes
nossa estratégia, e seguimos em lado “Sustentabilidade na Agenda confirmam ter incorporado mais produtores para que possam ter
linha com o que acreditamos dos Líderes Latino-Ame- pilares relacionados aos Objetivos acesso a novas tecnologias e meca-
ser o melhor para pre- ricanos”, ele traba- de Desenvolvimento Sustentável da nismos que reduzam o impacto de
servar o planeta para lhou com dados ONU nos últimos 12 meses. O princi- suas operações”, explica. Ele relata,
as futuras gerações. Cresce de mais de 400 pal desafio para as empresas nacio- ainda, que o CEBDS oferece con-
Como plano de número de organizações e nais continua a ser a dificuldade de teúdos de capacitação para todo o
ação, estabelecemos empresas com constatou que aferição de resultados: 59% dos exe- setor e lançou na COP-27 no Egito
um Plano Estraté- estratégias de uma parcela ex- cutivos do país têm dificuldade para (Clima) a Plataforma Net Zero, que
gico audacioso até sustentabilidade pressiva de 69% medir o impacto de suas ações, 13 pretende ajudar as empresas nesta
2025, com forte ace- de altos executivos pontos percentuais acima da média jornada rumo à descarbonização de
leração de nossa capaci- de médias e grandes regional (46%), problema seguido suas operações. Um próximo passo
dade em termos de energias empresas na Argentina, pela demonstrar o retorno de seu será o lançamento da Plataforma
renováveis e comprometimento Brasil, Colômbia e México sina- investimento (49%). 45% estão uti- Ação pela Natureza na COP-15 no
em assumir a liderança de um mo- lizaram já possuírem uma estra- lizando tecnologia para superar este Canadá (Biodiversidade), fruto de
vimento de transição energética tégia de sustentabilidade em suas desafio e aprimorar seus programas, esforço conjunto de diversos atores
justa”, explica. Segundo Fernan- empresas, um crescimento de 46% com 15% dos líderes considerando a para colocar em prática e testar con-
da, a EDP Brasil entende que uma em relação ao número registrado adoção de novas ferramentas tecno- juntamente o que vem sendo discu-
estratégia sólida nos pilares ESG na edição anterior do mesmo es- lógicas para a gestão de programas tido dentro da Convenção sobre Di-
pode acelerar o fortalecimento das tudo. Ademais, 30% declararam ter ESG já em 2022. versidade Biológica.
matrizes de geração limpa e novas acrescentado mais pilares relacio- O Serviço Brasileiro de Apoio às
tecnologias para o setor de ener- nados aos Objetivos de Desenvol- Micro e Pequenas Empresas (Se-
gia, assim como contribuir para vimento Sustentável da ONU nos APOIO brae), por sua vez, coloca à dispo-
garantia do acesso à energia de últimos 12 meses, enquanto 15% Para Ricardo, diretor do CEBDS, sição, gratuitamente, o curso online
forma integral para a sociedade, afirmaram ter conseguido colocar o tema ESG merece a atenção de ESG para pequenas empresas, cujo
com fontes majoritariamente lim- em prática iniciativas de sustenta- toda a sociedade e, portanto, de todo objetivo é instruir gestores de micro
pas. “Assumir compromisso de ma- bilidade propostas no ano anterior. o setor empresarial. “As grandes em- e pequenos empreendimentos para
neira setorial e trabalhar de forma Ainda, 40% esperavam aumentar os presas estão mais na vanguarda do que eles conduzam seus negócios
colaborativa é fundamental para investimentos em sustentabilidade desenvolvimento sustentável, por- em conformidade com práticas ESG,
que sejam alcançados os objetivos em 2022 em relação a 2021, e 51% tanto conseguem investir em solu- potencializando impactos positivos,
traçados na Agenda 2030”, afirma. pretendiam manter os esforços. ções que ofereçam menos impacto minimizando impactos negativos e
Ela destaca que o setor de energia O Brasil foi o país onde o maior em termos ambientais. Os pequenos equacionando prejuízos já provoca-
pode, e deve, contribuir para o for- número de empresas já conseguiu produtores muitas vezes fazem par- dos na sociedade.
a eee informe publicitário domingo, 4 dE dEzEmbro dE 2022 3

Estamos mudando hoje,

o amanhã.

Nós escolhemos mudar a energia para melhor. Escolhemos liderar a transição energética.
Escolhemos nos tornar 100% verdes até 2030 e produzir energia apenas por meio de fontes
renováveis. Escolhemos inovar e fazer diferente todos os dias.
Não é um compromisso, é uma escolha.

Conheça
nossas soluções
de energia solar.
4 domingo, 4 dE dEzEmbro dE 2022 informe publicitário a eee

TRANSPARÊNCIA

Relatórios colocam públicos em

contato com estratégias e realizações
Frameworks globalmente reconhecidos No caso da Rede D´Or, a companhia adota
são adotados para darem visibilidade e em sua publicação, especialmente, as dire-
confiabilidade às práticas ESG trizes Global Reporting Initiative (GRI), or-
ganização internacional independente que
Hoje nossa principal ferramen- ajuda organizações a assumirem a responsa-
ta de reporte ESG é o Relatório bilidade por seus impactos, fornecendo-lhes
Anual de Sustentabilidade. Inclusive, acaba- a linguagem comum e global para comu-
mos de ser reconhecidos com uma das melho- nicá-los. A GRI é responsável por um dos
res publicações. Nosso relatório é auditado por frameworks mais empregados nos relatórios
órgão independente e isso dá muito mais cre- sejam elas abertas ou fechadas, mas existem
dibilidade ao documento”, relata Ingrid Cicca, outros, como os difundidos pela Value Re-
gerente de Sustentabilidade da Rede D´Or, porting Foundation – formada pela fusão do
maior rede integrada de cuidados em saúde International Integrated Reporting Council
no Brasil, com presença nos estados do Rio de (IIRC) e do Sustainability Accounting Stan-
Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambu- dards Board (SASB) – , e pelo Carbon Dis-
co, Bahia, Maranhão, Sergipe, Ceará, Paraná, closure Project (CDP) – organização que
Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal. Des- administra o sistema global de divulgação
de 2015 a organização lança, anual- ambiental para investidores, empre-
mente, seu Relatório de Sustenta- sas, cidades, estados e regiões
bilidade para levar, aos divulgarem e gerenciarem seus
diferentes públicos com que se Reportes impactos.
relaciona, detalhes e dados a avançam em Seja qual for a estrutura
respeito de sua estratégia e quantidade e adotada nas publicações, o
atuação em prol do meio am- qualidade pacífico é
que parece ponto pacífico
stockwerk-fotodesign
biente e da sociedade, bem como a importância de fazer essa
qualifi--
as medidas adotadas para qualifi divulgação aos stakeholders. O a eles. Ademais, clientes, fornecedores, con- estratégia da organização para a criação de
car a sua governança corporativa. “A lançamento de relatórios, que majori- sumidores, etc., mostram-se cada vez mais valor. Recomenda-se, ainda, antes da elabo-
cobrança por práticas sustentáveis tem levado tariamente reúnem as informações das orga- atraídos por empresas com forte perfil ESG e ração do documento, considerar os públicos
à elaboração de critérios e padrões de medição nizações referentes a cada ano, permite aos histórico de comprometimento em alcançar a que ele será endereçado e envolver diferen-
e de divulgação de dados. É necessário enten- investidores avaliarem questões que refletem metas e objetivos de sustentabilidade. tes stakeholders na seleção de assuntos mais
der a relevância dos impactos gerados pelo o valor de uma companhia para além dos as- Há, ainda, uma série de recomendações pertinentes a eles e à própria companhia, os
negócio, propor ações para mitigá-los e fazer o pectos econômico-financeiros, já que o des- sobre como apresentar um bom relatório aos chamados “temas materiais”. É relevante ex-
reporte adequado sobre eles. Fortalecer esse empenho dela em relação ao meio ambiente, stakeholders. Elas incluem a divulgação dos plicar como foi feita a seleção de temas e/
trabalho é uma forma de contribuir para valo- à sociedade e à governança se relaciona dire- riscos e oportunidades com potencial para ou métricas apresentados em detrimento de
rizar o que é bem-feito”, defende Ricardo Mas- tamente com as perspectivas de longevidade impactar o desempenho operacional e/ou fi- outros. Importante, também, é garantir a fa-
troti, diretor executivo do CEBDS dos negócios e à redução dos riscos atrelados nanceiro, das formas de mitigar ameaças e da cilidade de acesso às – e a clareza das – in-
formações (tanto quanti como qualitativas)
e, sempre que possível, utilizar padrões que

Avanços entre as listadas no Ibovespa viabilizem comparar ações e dados com os

de outras empresas. Finalmente, uma reco-
mendação é a de submeter o documento a

O levantamento “Divulgação de ESG no Ibovespa – 2022”, realizado

pela PwC, analisou como as empresas brasileiras de capital aberto
abordam questões socioambientais e de governança em seus relatórios.
Foram consideradas todas as integrantes do Ibovespa – índice de maior
relevância no mercado de capitais brasileiro. A amostra de empresas foi
de 88, sendo que 76 divulgaram relatórios. Dentre os achados da pesqui-
sa estão os de que a maioria das companhias divulga informações sobre
as emissões de gases causadores do efeito estufa em toda a cadeia de va-
lor (82% dos relatórios analisados apresentam as emissões de gases para
os escopos 1, 2 e 3), mas o percentual de empresas que relatam metas
de redução nas emissões é bem menor (57%). Há avanços, também, nas
apresentações de métricas de diversidade, em especial sobre raça e LGB-
TQI+, bem como nas informações sobre riscos climáticos, além de uma
tendência semelhante em relação aos riscos socioambientais, hídricos e
de desastres epidêmicos. Ainda, de acordo com o estudo, em linha com a
adesão maior ao Pacto contra a Corrupção e com a importância da ética
e integridade como um dos temas materiais mais citados nos relatórios,
nota-se uma transparência maior na divulgação de casos de corrupção e
de denúncias. No que se refere à asseguração das publicações, 65% foram
submetidos a algum tipo. Em suas observações finais, os autores do estudo
citam que, apesar dos avanços é preciso atenção para evitar que relatórios
acabem sendo meras cartas de boas intenções, havendo a necessidade de
apresentar metas e ações, e que as empresas recém-chegadas ao mercado
de capitais já deveriam demonstrar maior alinhamento com as agendas
ESG: apenas 50% das empresas que fizeram IPO a partir de 2020 divul-
garam relatórios com informações sociais, ambientais e de governança.
verificação externa.
No caso da EDP Brasil, segundo a sua
vice-presidente de Pessoas e ESG, Fernanda
Pires, a empresa divulga há seis anos seu
Relatório Anual, auditado por 3ª parte, em
conjunto às demonstrações financeiras, logo
no 1º trimestre de cada ano. “Adicionalmen-
te e, também, como resposta às necessidades
atuais, completamos a divulgação das infor-
mações com a publicação trimestral dos nos-
sos resultados ESG, disponibilizado de forma
pública no site de Relações com investidores
da EDP Brasil, em conjunto aos resultados
trimestrais”, detalha a executiva.
a eee informe publicitário domingo, 4 dE dEzEmbro dE 2022 5

COP27

Empresas brasileiras representadas

na conferência sobre o clima
Realizado no Egito, evento teve a “financiamento”, pela primeira vez, houve
participação do CEBDS, que lançou menção à necessidade de transformação do
a Plataforma Net Zero sistema financeiro, com citação sobre o papel
central dos bancos multilaterais e instituições

N o último mês de novembro, o Egito

sediou a COP27, a Conferência das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, e
o Brasil foi representado também pelo Conse-
lho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvi-
mento Sustentável (CEBDS). Na percepção de
Viviane Romeiro, responsável pela CT Clima,
Energia e Finanças Sustentáveis da entida-
de, a COP 27 acabou sendo uma conferência
mais processual, enquanto a expectativa era
de que fosse voltada para uma agenda de
implementação, ou seja, para que avanços
importantes fossem feitos em relação a ações
efetivas para o cumprimento dos compro-
missos e metas previamente estabelecidos,
como o esforço para conter o aquecimento
global em até 1,5°C até o fim deste século.
“Globalmente, empresas organizaram um
posicionamento contundente para reforçar
esse objetivo, e o CEBDS é um dos signatários
dele, reforçando a vanguarda de ambição da
ação climática pelo setor empresarial. O setor
empresarial defendeu o aumento da ambição
climática em diversas instâncias, reafirmando
o compromisso dos negócios com os objetivos
do Acordo de Paris e do Pacto Climático de
Glasgow”, descreve Viviane.
Um dos pontos de destaque na participa-
ção do CEBDS na COP 27 foi o lançamento
da Plataforma Net Zero, um programa da en-
tidade em parceria com o WBCSD (Conselho
Empresarial Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável, sigla traduzida para o português).
Ele tem como objetivo transformar as metas
empresariais de neutralidade climática em re-
alidade através do apoio prático à implemen-
tação de processos de descarbonização. “O
programa ajudará a acelerar ações climáticas
financeiras internacionais. “Tivemos como
uma decisão importante a criação de um
fundo de perdas e danos, que garante recur-
sos para países mais vulneráveis que sofrem
com as consequências de eventos climáticos
extremos. Esse fundo tem implicações muito
expressivas, porque mostra o reconhecimen-
to de que as mudanças climáticas já afetam
efetivamente estruturas e economias. Outros
temas, como a transição energéti-
ca, deixaram a desejar, uma
vez que não ficou ficou estabe-
Brasil deve lecido um prazo para a
assumir eliminação gradual do
protagonismo uso de combustíveis fós-
na agenda seis”, conta. Segundo ela,
climática isso enfraquece a meta
de manter o aquecimento
global médio da Terra em 1,5
graus Celsius acima dos níveis pré-in-
dustriais.
sirinapawannapat.gmail.com
Viviane diz, ainda, que é importante refor-
em todas as esferas que influenciam a capaci- çar que o Brasil deve retomar sua liderança e
dade de empresas de reduzir emissões de gases protagonismo na agenda climática, assumin-
do efeito estufa (GEE): dentro das empresas do a sua responsabilidade nela e aproveitando
em si, nas cadeias de valor, nas políticas públi- suas vantagens competitivas, uma vez que é
cas nacionais e nos padrões net zero interna- detentor da maior floresta e da maior biodi-
cionais”, aponta Viviane. versidade do mundo, podendo ser protagonis-
Ela destaca, também, em relação à Confe- ta nas ações de transição para uma economia
rência do Clima, que no que se refere ao tema de baixo carbono.

O retorno proporcionado pelas boas práticas

U m artigo assinado por Tim Koller e Robin Nuttall, sócios da McKinsey, e por
Witold Henisz, professor na Wharton School of the University of Pennsylvania,
intitulado “Five ways that ESG creates value” (“Cinco maneiras pelas quais o ESG cria
valor”), evidencia, de forma clara e didática, motivos (e eles podem ser em maior núme-
ro) pelos quais as organizações devem, de fato, engajar-se em relação às boas práticas
ambientais, sociais e de governança. O primeiro, diz respeito ao “Crescimento de recei-
ta”, já que, segundo os autores, “uma sólida proposta de ESG ajuda as empresas a explo-
rarem novos mercados e expandirem aqueles em que operam atualmente”. Eles citam,
ainda, que o ESG pode atrair a preferência dos consumidores. Outro benefício apontado
é o da “Redução de custos”: as boas práticas, entre outras vantagens, ajudam a combater
o aumento nos gastos operacionais (com economias no que se refere a matérias-primas
ou ao uso de água, por exemplo).
A terceira potencial criação de valor apresentada diz respeito à “Redução das intervenções
regulatórias e legais”, ou seja, uma proposta ESG sólida pode possibilitar maior liberdade
estratégica, aliviando a pressão regulatória sobre as organizações. Em diferentes setores e
regiões, segundo eles, isso ajuda a reduzir o risco de haver alguma ação adversa por parte dos
governos. Mais do que isso: gera suporte do próprio governo.
A quarta forma pela qual uma sólida proposta ESG pode criar valor é via “Aumento
da produtividade dos funcionários”, já que ajuda empresas a atrairem e reterem fun-
cionários qualificados, suscitando entre eles um senso de propósito e aumentando a
produtividade em geral. Segundo Koller, Nuttall e Henisz, impacto sociais positivos de
organizações também se relacionam com uma maior satisfação com o trabalho.
Por fim, o ESG, de acordo com o artigo, agregaria valor por intermédio da “Otimização
de ativos e investimentos”, ou seja, pode melhorar o retorno sobre os investimentos com a
alocação de capital em oportunidades mais promissoras e sustentáveis. Além disso ajuda
a evitar aportes que podem não gerar retorno por questões ambientais de longo prazo.
Segundo os autores, “as regras do jogo estão mudando”, e uma forma de estar à frente da
curva futura é pensar também em uma ressignificação de ativos agora.
O artigo completo pode ser consultado no site www.mckinsey.com, no idioma original
ou traduzido para o português.
6 domingo, 4 dE dEzEmbro dE 2022
RESPONSABILIDADE
Medidas para fortalecer e
colocar em prática o ESG
Empresas incorporam metas, compromissos e ações para honrá-los e contribuírem para o desenvolvimento sustentável
A incorporação do ESG e os com-
promissos assumidos em relação
aos pilares ambientais, sociais e de gover-
nança por organizações de todos os setores
e portes podem configurar desafios, mas,
certamente, representam também oportu-
nidades (veja mais à página 5), o que as
motiva a ampliar, constantemente, os es-
forços dedicados à execução das boas prá-
ticas. Segundo uma estimativa da Bloom-
berg, divulgada em 2021, o ESG deve atrair
US$ 53 trilhões em investimentos até 2025
em todo o planeta.
“Eu definiria o papel de gestão ESG
na Rede D’Or como uma grande oportu-
nidade de contribuir positivamente com
a sociedade, não apenas no que está re-
lacionado à sua essência de prestação de
serviços, mas porque é uma empresa que
busca uma gestão responsável em toda a
sua atuação”, descreve Ingrid Cicca, ge-
rente de Sustentabilidade da organização,
que, este ano, foi apontada como um dos
destaques Guia Melhores do ESG 2022, or-
ganizado pela Revista Exame em parceria
com o Ibmec, na categoria Saúde e Servi-
ços de Saúde. De acordo com Ingrid, a Rede
D´Or entende que a contribuição que ela
pode dar para o fortalecimento do ESG e
do desenvolvimento sustentável reside,
inicialmente, em atuar de forma a oca-
sionar o menor impacto negativo possível
para seus stakeholders “Paradoxalmente,
apesar de salvar vidas, o sistema de saúde
utiliza produtos, consome recursos, gera re-
síduos, etc., o que pode contribuir, se não
houver cuidado, com a poluição, e assim,
acabar contribuindo para agravar o cená-
rio de saúde pública”, avalia. A executiva
conta que a rede D´Or definiu, por exem-
plo, quais os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODSs) prioritários em relação
aos quais pode e quer fazer a diferença. A
seleção ocorreu com base na elaboração de
uma Matriz de Materialidade, que permitiu
à companhia capturar com mais assertivi-
dade suas externalidades, considerando a
visão de seus stakeholders e, assim, estabe-
lecer um plano de metas de curto, médio
e longo prazo. ODSs são objetivos interco-
nectados que abordam os principais desa-
fios de desenvolvimento enfrentados por
pessoas no Brasil e no mundo, estipulados
informe publicitário a eee
que temos com a agenda ESG, pois, de fato,
estão integrados em todas as decisões e
compromissos que assumimos e é uma for-
ma de acelerar o crescimento e aumentar o
impacto que queremos promover”, conta. A
executiva explica que as metas da EDP são
definidas dentro do planejamento estraté-
gico da empresa, com diretrizes globais e
objetivos adaptados para cada localidade.
“Adotamos um modelo de reporte ESG
trimestral, em que são publicados os prin-
cipais indicadores da atuação da EDP em
aspectos ESG, bem como o monitoramento
do desempenho da empresa nas metas am-
bientais, sociais e de governança que inci-
dem na remuneração variável de todos os
colaboradores e liderança”, detalha.
Quem também se destaca por acreditar
na inovação vinculada à sustentabilidade é
a Suzano, referência global na fabricação de
bioprodutos desenvolvidos a partir do culti-
vo de eucalipto, que recebeu o prêmio ESG
Model Enterprise, no Festival Internacional
Verde Zero Carbono de 2022, realizado em
Beijing. O prêmio foi concedido pelo comitê
organizador do festival, que incluiu algumas
das mais prestigiadas instituições de pesqui-
sa, consultorias e veículos de mídia da Chi-
na. A premiação reconhece as companhias
com contribuições de destaque nas áreas de
energia verde, redução de emissões de car-
bono, inovação em tecnologia e proteção ao
meio ambiente. Além disso, as principais fi-
guras no evento destacam empresas que de-
monstram ênfase particular na necessidade
de organizações da China e do mundo ado-
tarem uma abordagem colaborativa para a
inovação verde. “Na Suzano, nossa estraté-
gia de negócio tem como base o conceito
bastante pertinente de inovabilidade: inova-
ção a serviço da sustentabilidade. Isso sig-
Gorodenkoff
nifica que nossos investimentos, nossas ini-
pela Organização das Nações Unidas. Eles quatro grandes pilares: liderança na transi- ciativas de P&D, bem como nossos processos
totalizam 17 objetivos e 169 metas a serem ção energética, proteção do meio ambiente, e produtos sempre integram a combinação
atingidos até 2030 (para conhecer mais de- geração de impacto positivo na sociedade e dessas dimensões ao centro de tudo que faze-
talhes, acesse: https://brasil.un.org/pt-br/ atuação sob uma forte estrutura de gover- mos”, diz Pablo Machado, Diretor Executivo
sdgs). “Ao implementar uma metodologia nança, além do nosso compromisso com os de Negócios para a China da Suzano. “Como
para cumprir os ODSs, a Rede D’Or ODSs frente à Agenda 2030”, des- uma companhia que já é climate positive e
assume seu papel na mitigação creve a vice-presidente de Pes- trazendo novas tecnologias para o mercado
e contribuição na solução de soas e ESG da EDP Brasil, Fer- que podem substituir insumos de base fóssil
grandes problemas sociais e Contribuir nanda Pires. Dentre outras por materiais de origem renovável, estamos
ambientais. Nosso Programa com ODSs está políticas, a empresa mantém lisonjeados em ter nossos esforços reconhe-
D’Or dos ODS, contempla 20 na pauta das a de “Inovação e Sustentabi- cidos na China com o prêmio ESG Model
metas e, anualmente, temos empresas lidade”. De acordo com Fer- Enterprise”, complementa. A Suzano tem o
feito a Comunicação de Pro- nanda, tratam-se de dois as- compromisso com as mudanças climáticas,
gresso (COP) ao Pacto Global da pectos que acabam caminhando sendo um dos seus objetivos remover 40 mi-
ONU, comprovando nossos avanços”, juntos. “Acreditamos e valorizamos a lhões de toneladas de carbono da atmosfera
diz. Inovação. Esse ano, tivemos um importante entre 2020 e 2025, além de reduzir a inten-
Quem também figurou entre os desta- reconhecimento, pelo terceiro ano seguido, sidade das emissões de gases de efeito estufa
ques Guia Melhores do ESG 2022 foi a EDP como a empresa mais inovadora do Setor de suas operações em 15% até 2030. Mais
Brasil, que define que as boas práticas ESG Elétrico pelo anuário Valor Inovação. Não detalhes sobre ações da companhia em prol
estão no centro de sua estratégia. “Nossa há como desassociar os investimentos feitos da sustentabilidade podem ser conferidas em
estratégia de atuação está contemplada em em Inovação das metas e compromissos da https://centraldesustentabilidade.suzano.com.br/.
a eee informe publicitário domingo, 4 dE dEzEmbro dE 2022 7

EXEMPLOS

Avanços incorporados ao
com a campanha Race to Zero, que prevê descarbonizar
suas instalações, reduzir a intensidade de emissões até 2030
e atingir o valor líquido de zero emissões até 2050.

dia a dia das organizações SOCIEDADE

Dentre ações na Rede D´Or em relação ao pilar “S”,
está o monitoramento sobre do Clima Organizacional. “Os
resultados da pesquisa de clima são usados em planos de
ação e de melhorias, voltadas aos aspectos com maior im-
Iniciativas transformam em realidade aspirações das empresas em relação a meio ambiente, sociedade e governança pacto sobre o engajamento dos funcionários”, detalha In-
grid. Ela ressalta, ainda, a produção de artigos científicos

O compromisso com ESG exige das empresas ações a EDP Brasil assumiu publicamente o compromisso de, nos
que possibilitem a elas qualificarem as suas ati- próximos 15 anos, reduzir em 85% a intensidade de suas
vidades e as suas contribuições ao desenvolvimento susten- emissões face a 2017, deixando de produzir aproximada-
por parte de profissionais e pesquisadores da companhia:
já são mais de 1,7 mil publicações e mais de 30 mil citações
em revistas científicas. A isso, somam-se outras ações: só
tável das organizações, das comunidades e do meio mente 8 milhões de toneladas desses gases em termos para o combate à Covid-19, por exemplo, a Rede D´Or dire-
ambiente. Os exemplos de medidas práticas ado- absolutos até o final
final do período. “Nos tornamos a cionou R$ 320 milhões.
tadas são variados e respondem aos desafios e primeira companhia do setor elétrico na Amé- Na EDP Brasil, o Instituto EDP é gestor de investimentos.
oportunidades identificados, aos compromis- Redução de rica Latina, e a primeira de grande porte no Apenas em 2021, suas ações beneficiaram mais de 354 mil
sos assumidos e às estratégias traçadas. emissões é um Brasil a ter a meta de redução de emissões de pessoas direta e indiretamente. Dentre as iniciativas levadas
No caso do Grupo Bosch, um líder mun- dos focos CO² aprovada pelo Science Based Targets, o a cabo, destacam-se as relacionadas à digitalização em esco-
dial no fornecimento de tecnologia e serviços, que significa
significa que nossas métricas de redução las públicas e projetos de acesso à energia em comunidades
dentre os seis pilares que compõem a sua es- de emissões são validadas de acordo com parâ- em vulnerabilidade social. Anualmente, a organização abre
tratégia de sustentabilidade até 2025, três estão metros científicos”,
científicos”, conta. também um edital de projetos sociais que, em 2022, destinou
relacionados com o meio ambiente. Em 2020, a or- O meio ambiente também é foco de atenção da R$ 14 milhões a atividades nas áreas de cultura, esporte, in-
ganização foi a primeira empresa industrial global a tornar Rede D´Or. Um aspecto prioritário trabalhado pela organi- fância, adolescência e terceira idade. “Em nosso quadro de
suas mais de 400 localidades neutras em CO2 e este trabalho zação refere-se ao consumo de energia. “Temos o Programa colaboradores, atuamos com programas e metas sólidas de
se mantém. Além disso, realizou diferentes ações no Brasil de Eficiência Energética para tornar mais eficiente o siste- Diversidade e Inclusão”, diz Fernanda.
para obter uma geração de energia limpa e renovável, com ma de climatização das unidades, a partir da automação No caso da Tivit, multinacional brasileira de tecnolo-
a instalação de módulos para usinas fotovoltaicas com capa- e do monitoramento de trabalho da central de água gela- gia, a empresa mantém, dentre várias ações ligadas a ESG,
cidade de gerar mais de 1.600MWh/ano e reduzir a emissão da (CAG)”, conta Ingrid. O foco na central de água gelada um programa de formação voltado para mulheres desen-
de mais de 200 toneladas de CO2 por ano nas plantas de (CAG) se dá em virtude do alto consumo nela: em um hos- volvedoras, o Acelera Devs – Mulheres, que prepara esse
Campinas e Curitiba. A empresa também implementou inter- pital moderno, a CAG equivale a 50% do consumo e por isso público por meio de trilhas de conhecimento, mentorias e
namente a troca de lâmpadas fluorescentes por LED, além de essa priorização. Quanto ao consumo de água, a Rede D´Or atuação em projetos reais da empresa, com direito a bene-
uma plataforma de gestão de energia, utilizada para moni- possui 17 projetos que integram um programa dedicado ao fícios, como bolsa-auxílio, assistência médica e reembolso
torar o consumo. Outras ações focam a redução do consumo tema. A companhia também assumiu como compromisso para cursos e certificados. Há iniciativas para auxiliar jo-
de água e de geração de resí- vens de escolas públicas para en-
duos, por exemplo. Ainda, em trarem no mercado de trabalho,
parceria com clientes e players aquisição de equipamentos para
de mercado, a Bosch investe em a montagem de estúdio em edu-
pesquisas e desenvolvimento de candários, etc.
produtos e serviços mais sus-
tentáveis. GOVERNANÇA
A EDP Brasil, por sua, no Fernanda, da EDP Brasil res-
pilar ambiental, investe em salta, no que diz respeito à gover-
projetos de baixo carbono e no nança na companhia, ações de-
aumento da capacidade de ge- senvolvidas dentro de programas
ração de energia solar, a partir que fortalecem a transparência
de projetos de geração distri- da atuação e dos resultados da
buída e usinas fotovoltaicas de empresa, com ênfase para aque-
larga escala. “No pilar de Tran- las de Compliance, focadas nos
sição Energética, há forte inves- públicos interno e externo, e de
timento para aumentar nossa gestão integrada dos indicadores
capacidade de geração de ener- ESG.
gia limpa, aliado ao processo de Já Ingrid menciona como um
desconsolidação do portfólio de destaque na Rede D´Or o traba-
carvão. O planejamento estra- lho desenvolvido em relação à
tégico também é a base para o gestão de riscos e o Programa de
desenvolvimento de ações para Integridade mantido pela orga-
preservação da biodiversidade nização, que contempla políticas
e meio ambiente, como a im- e normas que norteiam sobre
plementação de programas de assuntos relacionados à ética e
economia circular”, descreve ao combate à corrupção, entre
Fernanda Pires. Ela aponta que Microne outros.
8 domingo, 4 dE dEzEmbro dE 2022 informe publicitário a eee

Conheça
nossos projetos

Rede D'Or,
Campeã em ESG
1o lugar na América Latina • R$ 320 milhões doados ao SUS
em equipamentos, estrutura
pela S&P Global Ratings.
e serviços durante a pandemia

Ficamos em primeiro lugar na América • Principal mantenedora do Instituto

D’Or de Pesquisa e Ensino
Latina na S&P Global Ratings entre
• Signatário do Pacto Global da ONU
empresas de todos os setores por
• Selo Ouro no inventário de gases
nossas práticas ambientais, sociais do efeito estufa1

e de governança. E esse é apenas • Empresa participante do programa

Race to Zero
um de nossos orgulhos.
• 98,6% da energia consumida nos
hospitais da Rede D’Or vindo de
fonte renovável até o final de 2023

1. Programa Brasileiro GHG Protocol, referente a 2021.

DESDE 1921 UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL
domINgo, 4 dE dEzEmbro dE 2022 R$ 9,00
2 domingo, 4 dE dEzEmbro dE 2022 a eee