DESDE 1921
ANO 103 ┆ Nº 34.591
BUSCA POR LÍTIO EM ÁREA DE RESERVA DE ÁGUA DE SÃO PAULO PREOCUPA MORADORES E AMBIENTALISTAS
Sítio em Juquitiba, a 60 km de SP, onde mineradora investiga presença do metal usado na produção de baterias; pesquisa em área de 20 km² foi autorizada por órgão federal
Apático, Chile
volta às urnas
para mudar
Constituição
Os chilenos voltam às ur-
nas hoje para votar no-
va Constituição, visando
enterrar a Carta de 1980,
promulgada na ditadura
de Augusto Pinochet.
Texto feito pela esquerda
foi rejeitado em 2022, e a
apatiamarcaodebateago-
ra,compesquisasindican-
do novo repúdio. A pro-
posta consolida o projeto
liberal vigente. Mundo A12
Haddad tem apoio,
mas meta fiscal
segue duvidosa
OministroFernandoHad-
dad (Fazenda) fechou o
ano com apoio do Con-
gresso para a maior parte
de seu pacote fiscal, mas
não conseguiu eliminar
o ceticismo acerca de sua
principal promessa, a de
zerar o déficit fiscal do go-
verno federal. Mercado A15
Vinicius Torres Freire
Ano termina com
alívio na economia
O fim do 2023 deu notícias
animadoras para a econo-
mia. Há esperança de que
o PIB de 2024 não seja tão
mais fraco —se não fizer-
mos besteiras. As melho-
ras podem nos ajudar a sa-
irdograndetraumadadé-
cada passada. Mercado A18
EDITORIAIS A2
Trilha aberta
Sobre aprovação definiti-
va da reforma tributária.
Ministério é público
Acerca de transparência
quanto a remunerações.
34591
9 771414 572018
02
UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL
Carlos Lyra em foto de 1977,
em São Paulo Folhapress
Ilustrada B6
Morre, aos
90 anos,
Carlos Lyra
Ícone da bossa nova,
compositor produziu
série de maravilhas
de 1958 a 1965,
escreve Ruy Castro
Dilemas na
trilha sem
volta da IA
Ainteligênciaartificialins-
tiga corrida por investi-
mento e lucro que ofus-
ca discussões éticas, rela-
ta Eduardo Saron. Dividi-
do, mundo terá de equili-
brar liberdade e regras. C6
MÔNICA BERGAMO
Após Cruzeiro evitar
queda, Ronaldo diz
que no campo se
sentia mais seguro C2
domINgo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
Em 10 anos, Brasil registra
17 mil mortes em presídios
Parte dos óbitos ocorre por causa de condições precárias e poderia ser evitada
PRESÍDIO E MORTE
Cerca de 17 mil detentos
morreram em prisões bra-
sileiras de 2013 a junho de
2023.Especialistasatribuem
boa parte das mortes a con-
dições precárias. Os dados
foram obtidos por meio da
Lei de Acesso à Informação.
Ilustração com IA evoca mito da caixa de Pandora André Graciotti
As informações do perío-
do entre 2018 e 2022 foram
analisadas pela Vital Strate-
gies,organizaçãoglobalcom
atuaçãojuntoagovernos.Se-
gundo a entidade, 95% das
mortes ocorreram por cau-
sas evitáveis, e metade dos
presos tinha até 38 anos.
Chama a atenção, por
exemplo, o número de óbi-
tos relacionados a úlceras
perfuradas. Dados dos es-
tados mostram vários casos
de câncer gástrico e de prós-
tata, considerados prevení-
veis. Também é alto o total
de mortes por pneumonia.
Apesar de crise climática,
Brasil aposta no petróleo
O maior leilão de blocos de
exploração de petróleo fei-
to no Brasil desde a adoção
do novo modelo de oferta,
em2019,evidenciouopapel
do país como ator no setor.
O protagonismo ocorre
apesar das pressões pelo
abandono gradual da ma-
triz energética fóssil.
Lula estreia como
cabo eleitoral de
Boulos em SP
O presidente Lula estreou
na pré-campanha de Gui-
lherme Boulos (PSOL) a
prefeito de SP, dividindo
palco com ele em evento
do governo federal na ca-
pital. A reconquista da ci-
dade, mesmo sem o PT na
cabeça de chapa, é priori-
dadedoPlanalto. Política A6
Influenciadores se
unem para baixar
polarização política
Política A10
Papa faz 87 anos e chega ao fim
de 2023 sem sombra de Bento 16
Mundo A13
R$ 9,00
Zanone Fraissat/Folhapress
Cotidiano B2
“No mínimo, existe uma
falta de cuidado com a saú-
de coletiva”, afirma a epide-
miologista Fátima Marinho.
Rafael Brandani, do Minis-
tériodaJustiça,dizqueoses-
tados recebem recursos que
podem ser usados na saúde
dos presos. Cotidiano B1
As grandes empresas pe-
troleiras estão de olho prin-
cipalmente nos campos pa-
ra além da margem equato-
rial, vistos como alternati-
va após o declínio futuro da
exploração da camada do
pré-sal, que hoje responde
por três quartos da produ-
ção nacional. Mercado A16
Tensão é a marca
da aliança entre
Lira e o Planalto
AsderrotasqueLulasofreu
na Câmara, presidida por
Arthur Lira (PP-AL), con-
trastam com a base for-
mal de 370 dos 513 depu-
tados.Centrãoapontades-
cumprimentodeacordos.
Já petistas sugerem que o
blocoquerretomarmode-
lo sob Bolsonaro. Política A4
Penduricalho paga
R$ 4 milhões extras
para 50 generais
Política A11
A2 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
opinião
a
UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL
Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha da Manhã S.A.
publisher Luiz Frias
diretor de redação Sérgio Dávila
superintendentes Carlos Ponce de Leon e Judith Brito
conselho editorial Fernanda Diamant, Hélio Schwartsman,
Joel Pinheiro da Fonseca, José Vicente, Luiza Helena Trajano,
Patricia Blanco, Patrícia Campos Mello, Persio Arida, Ronaldo Lemos,
Thiago Amparo, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário)
diretor de opinião Gustavo Patu
diretoria-executiva Alexandre Bonacio (financeiro, planejamento
e novos negócios), Anderson Demian (mercado leitor e estratégias digitais),
João Cestari (tecnologia) e Marcelo Benez (comercial)
EDITORIAIS
editoriais@grupofolha.com.br
Trilha aberta
reforma dos tributos, mesmo imperfeita e sujeita
a riscos, aponta caminho para uma transformação
Com a aprovação definitiva da
emenda constitucional da refor-
ma tributária, o Congresso Nacio-
nal abriu caminho para o que po-
de vir a ser a maior transformação
da economia brasileira desde que
o Plano Real controlou a inflação
há quase três décadas.
Ainda que imperfeito, o texto vo-
tadonanoitedesexta-feira(15)dei-
xa para trás um sistema de impos-
tos e contribuições instituído sob
a ditadura militar nos anos 1960,
que se tornou crescentemente ob-
soleto e caótico, gerador de inefi-
ciência empresarial, inseguran-
ça jurídica e conflitos federativos.
A reforma só foi possível por ter
se convertido numa agenda de Es-
tado, superando os principais im-
passes partidários, setoriais e regi-
onais ao longo de debates amadu-
recidos desde a redemocratização.
Trata-se de obra suprapartidá-
ria, embora se deva elogiar o em-
penho da equipe econômica do
governo Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) nas negociações, além do en-
tendimento entre os líderes da Câ-
mara dos Deputados e do Senado.
Ofocodaemendaconstitucional
é a taxação de mercadorias e ser-
viços, que, se continuará entre as
mais elevadas do mundo, ao me-
nos ficará mais simples e racional
—o que não é pouco.
Hoje há nada menos que cinco
tributos incidentes sobre o con-
sumo nas três instâncias de gover-
no, cada qual com suas regras, ex-
ceções e alíquotas locais. Gradual-
Ministério é público
CnmP provoca retrocesso ao dificultar pesquisas
sobre salários de promotores e procuradores
Criado há quase 20 anos no bojo
da Reforma do Judiciário, o Conse-
lho Nacional do Ministério Público
(CNMP) jamais se postou à altura
de sua missão constitucional, mas
nem por isso se deve menospre-
zar o impacto negativo de recen-
te resolução aprovada pelo órgão.
De acordo com decisão de 28 de
novembro, cidadãos que queiram
consultar na internet o salário de
procuradores e promotores serão
obrigados a se identificar antes de
prosseguir com a pesquisa.
A medida levanta evidente em-
pecilho à transparência e cria um
possível constrangimento a quem
buscar informações sobre a remu-
neraçãodemembrosdoMinistério
Público —que, assim como os do
Judiciário, com frequência desfru-
tam de pagamentos superiores ao
admitido pelo teto constitucional.
A diferença é que o Conselho Na-
cional de Justiça, ainda que nem
sempre livre de equívocos, empe-
nha-se em aperfeiçoar a fiscaliza-
ção administrativa e disciplinar do
Judiciário, conferindo a mecanis-
mos de transparência a atenção
que merecem num sistema repu-
blicano de prestação de contas.
Com o CNMP, que deveria fazer
o mesmo pelo Ministério Público,
dá-se situação diversa. O órgão pri-
mente, eles serão substituídos por
dois tributos similares sobre valor
agregado, um gerido pela União e
outro pelos governos regionais, e
um imposto seletivo para bens no-
civos à saúde e ao meio ambiente.
A legislação será nacionalmen-
te unificada, e variações só pode-
rão ocorrer nas alíquotas locais. A
transição para o novo regime esta-
rá completa apenas em 2033, mas
as decisões empresariais desde já
levarão em conta a mudança.
Há no entanto defeitos conside-
ráveis no texto e riscos de paralisia
e retrocesso na próxima etapa de
regulamentação infraconstituci-
onal. De pior, foram muitos os se-
tores beneficiados com descon-
tos em relação à alíquota padrão.
Lobbies poderosos, de profissio-
nais liberais à Zona Franca de Ma-
naus, entre outros, mantiveram
exceções, distorções e privilégios
que forçarão um gravame, sobre a
maioria dos contribuintes, capaz
de superar o patamar de 27% e ser
o mais elevado do planeta.
Na votação final, os deputados
corretamente reduziram parte das
benesses. As pressões, no entan-
to, continuarão na tramitação da
lei complementar necessária pa-
ra que a reforma entre em vigor.
Tudo considerado, as vantagens
potenciaisdareformacompensam
com folga as dúvidas que ela sus-
cita. Há muito a mudar para que
o sistema tributário brasileiro seja
mais justo e progressivo, mas cum-
pre avançar na trilha ora aberta.
ma mais pelo corporativismo do
que pelo interesse da sociedade;
oportunidadesdeavançoinstituci-
onal, como a Lei de Acesso à Infor-
mação, são ignoradas tanto quan-
to possível, mas chances de retro-
cesso são abraçadas com presteza.
Foi esse o caso da sugestão da
Associação Nacional dos Procura-
dores da República (ANPR) para a
criação de obstáculo às pesquisas
salariais. A medida agride, de uma
vez, a Lei de Acesso, a Lei Geral de
Proteção de Dados e a Lei do Go-
verno Digital, mas terminou aca-
tada por unanimidade no CNMP.
Parapiorar,PauloGonet,aprova-
do no Senado para o cargo de pro-
curador-geraldaRepública,portan-
to o próximo presidente do conse-
lho, indicou que, entre o princípio
constitucional da publicidade ad-
ministrativa e o espírito de corpo,
fica com o segundo.
Consterna tal atitude, dado que
compete ao Ministério Público na-
damenosquedefenderaordemju-
rídica e fiscalizar o cumprimento
da lei, em nome da coletividade.
Ao tomar posse nesta segunda
(18), Gonet poderá demonstrar se
suarespostanasabatinafoiumme-
ro deslize de palavras ou se de fato
considera que sociedade e Consti-
tuição estão em segundo plano.
A imaginação no poder
-
Hélio Schwartsman
São as ideias que movem o mundo.
EssaéatesecentraldeFelipeFernán-
dez-Armestoem“Outof OurMinds”,
livro em que ele se propõe a fazer
uma história dessas ideias. O resul-
tado é bastante interessante, mas,
antes de entrar nos meandros, con-
vémenfrentaralgumaspreliminares.
“Out of Our Minds” é mais um
exemplar de “big history”, a tentati-
va de explicar ou pelo menos orga-
nizar grandes nacos da história re-
correndoaalgunspoucosprincípios
ordenadores, quase sempre de ba-
se multidisciplinar. Se você pensou
em “Armas, Germes e Aço”, de Jared
Diamond, é isso mesmo. O pessoal
das humanidades pode pelo menos
se regozijar com o fato de que Fer-
nández-Armesto não vai buscar as
explicações últimas em forças físi-
cas como as da geografia, mas no
que há de mais tipicamente huma-
no, que é imaginar coisas, isto é, cri-
ar representações mentais, e tentar
colocá-las em prática.
Vale observar que uma ideia não
precisa estar certa ou ser boa para
tornar-seinfluente,doquedãoprova
Fascistas em todo lugar
- nele mesmo, sem um significa-
Bruno Boghossian
O governo lançou uma campanha
com o slogan “O Brasil é um só po-
vo”. Um dos vídeos fala em “paz e
reconstrução de laços”. O ministro
Paulo Pimenta apontou que o país
continua marcado pela polarização
e disse que é preciso dialogar com
“quem não votou no Lula”.
O presidente já declarou que algu-
ma polarização pode ser saudável.
Elaajudaadiferenciarprojetos,ener-
gizar militantes e nutrir a rejeição a
opositores. Quem está no poder, po-
rém, prefere reduzir essa tensão pa-
ra ampliar o alcance de suas ações.
Dias depois da estreia da campa-
nha, o presidente tirou as medidas
desseabismo.Lulareclamoudeuma
mulher que interpelou Dilma Rous-
seff num avião para ironizar o fato
de a ex-presidente viajar na primeira
classe.Opetistasereferiuàpassagei-
ra como “uma fascista” e acrescen-
tou que eles “estão em todo lugar”.
Não se conhece a biografia daque-
la mulher. Suas escolhas revelam al-
guma coisa. A cobrança moralista se
destaca pela baixa qualidade argu-
mentativa, mas faz parte do jogo. Já
Rebelde entre os caretas
- reforçando o coronelato local.
Ruy Castro
Há anos você não ouve isto: “Anoi-
teceu / O sino gemeu / E a gente fi-
cou / Feliz a rezar...” É a marchinha
de Assis Valente, “Boas Festas”, de
1933. Marchas de Natal eram uma
tradição no Brasil, tanto quanto as
de Carnaval, mas já acabaram há
muito. Hoje, por sua singeleza, seri-
am ridicularizadas como piegas até
por crianças de cinco anos.
Nos EUA, onde certos costumes
duram séculos, os discos de Natal
ainda são grandes vendedores —es-
te ano, os campeões do gênero são
os Backstreet Boys e Mariah Carey.
É verdade que, nesse quesito, nada
superou os anos 1950. Não havia por
lá cantor, grupo vocal ou orquestra
que um dia não gravasse seu LP de
Natal, com o repertório de sempre
(“White Christmas”, “Silent Night”
etc., equivalentes a “Boas Festas”) e
as indefectíveis capas com o artista
em meio a uma decoração de Na-
tal, usando o gorro de pompom ou
a fantasia do Papai Noel.
Um livro lançado há tempos, “Os
100 Álbuns Mais Vendidos dos Anos
os muitos regimes autoritários que
brotaram de ideologias. E há um de-
talhe irônico. Confiamos muito em
nossas memórias, que são péssi-
mas em termos de acuidade. Cada
vez que lembramos de algo, modi-
ficamos essa memória, o que acaba
funcionando como uma formidável
força criativa. Operamos com pou-
cas ideias realmente originais, mas
que são continuamente recicladas.
Comisso,Fernández-Armestonos
põe a passear pela história, come-
çando com ideias bem antigas, co-
mo a de enterrar os mortos, que es-
tá na base de religiões, até as teses
de filósofos, economistas e cientis-
tas modernos. Ao fazê-lo, ele produz
muitos insights estimulantes, além
de transmitir uma boa quantidade
de informações valiosas.
Fernández-Armesto não esconde
sua visão de mundo, que é mais con-
servadora e religiosa do que a mi-
nha. Mas isso não chega nem perto
de ser um problema, já que o pro-
pósito do livro é nos fazer pensar
por nós mesmos.
helio@uol.com.br
o constrangimento público de auto-
ridades ganhou contornos destru-
tivos com o caos das redes sociais.
Lula provavelmente enxerga esse
tipode“fascista”comoespécimepar-
ticulardacategoria“quemnãovotou
no Lula”: um antipetista incapaz de
conversão. O rótulo, nesse caso, in-
sinua pouco sobre suas convicções
e muito sobre a tentativa de desqua-
lificar suas atitudes como opositor.
Eleitores de Bolsonaro apoiaram
um projeto notadamente radical. Se
Lulaacreditassequetodossãoiguais,
ogovernonãoestariaatrásdasimpa-
tia de alguns. O uso indiscriminado
de certos adjetivos vai acertar mui-
tos fascistas, mas também reforça
o vínculo de outros com o líder que
de fato merece esse título.
Naúltimacampanha,algunspetis-
tas classificavam Tarcísio de Freitas
como um fascista por adesão. Pode
ser que Lula pense assim, mas o pre-
sidente recebeu o governador para
entregar-lhe um cheque. Na cerimô-
nia, o petista enalteceu a própria in-
clinaçãorepublicana.Afotografiava-
leu mais que qualquer propaganda.
50”, por Charlotte Greig, revelou
os maiorais da década em todos
os gêneros. Sua fonte não foram
as listas fajutas da Billboard, mas
os balanços da Associação Ame-
ricana da Indústria Fonográfica.
Segundo ela, nove dos 100 mais
foram LPs de Natal.
Oito deles eram de grupos e canto-
res caretas, como o folclorista Ten-
nessee Ernie Ford, o coral de Mitch
Miller e as orquestras de Mantovani,
Ray Conniff e Robert Shaw, e os de
cantores sérios como Frank Sinatra,
Bing Crosby e Johnny Mathis. Não
fazia diferença: eram ouvidos por fa-
mílias também caretas, ao redor de
uma árvore de bolas, comendo pe-
ru, tomando vinho rosê e trocando
presentes com o tio do pavê.
O surpreendente é o número 1 da
lista: “Elvis’s Christmas Album”, de
1957, com um Elvis Presley subita-
mente liberado da pélvis e da rebel-
dia de rei do rock. Vendeu 7 milhões
de cópias —imagino que para 7 mi-
lhões daquelas famílias, incluindo
o tio do pavê.
a eee
Jean Galvão
A tribuna
sem sentido
-
Muniz Sodré
Professor emérito da UFrJ, autor,
entre outros, de “Pensar nagô” e
“Fascismo da Cor”. Escreve aos domingos
Dias atrás, quando o Congres-
soagiacontraospovosoriginá-
rios, impôs-se à memória um
evento expressivo de meados
dos anos 80. Mário Juruna, pri-
meiro indígena eleito deputa-
do federal, num recesso na Câ-
mara, levou a visitá-la um gru-
po de xavantes, com suas fle-
chas e bordunas. No recinto
vazio exceto por alguns curi-
osos, o parlamentar e militan-
te tomou a tribuna e discursou
em xavante. Uma incógnita o
que disse, mas a pequena pla-
teia vibrou, agitando maracás.
Acontecimentosugestivo,pois
soavacomosimbólicaaocupa-
ção daquele espaço por uma
representação inédita de povo
e língua originários. Afinal, na
época, a ditadura militar esta-
va matando um terço dos indí-
genasdoAmapá.Poucoimpor-
tava o dito, o gesto coletivo ex-
cedia qualquer restituição se-
mântica de palavras, como se
doimediatodisponível,oobser-
vadorpresenciasseatomadade
posseritualísticadoLegislativo
pelos filhos espirituais da ter-
ra. Juruna fazia todo o sentido.
Já pouco sentido fazem ho-
je deputados na tribuna, ex-
ceto para as bolhas que com-
partilham a retórica ventilada.
Sem debates relevantes, deci-
sões são tomadas nos bastido-
res por líderes de bancadas. Ao
microfone, o orador fala como
uma televisão em fundo de sa-
la: ouve-se o som, nada se es-
cuta, mas o funcionamento do
aparelho é um rito. No âmbito
doméstico, tranquiliza os pets.
No entanto, é necessário fa-
larparaesconderosilênciodos
eleitores,cujavoznãochegaaté
ali:semrepresentatividadereal,
anaçãoépoliticamentesilente.
Delegadosexclusivosdosparti-
dos, os parlamentares são me-
ros peões no xadrez das emen-
dasorçamentárias,quandonão
estão fazendo turismo aéreo.
Issoserianormalsehouvesse
sequerapresunçãodeutilidade
construtivadosbilhõesgastos.
A realidade, entretanto, é que,
úteisounão,apenasvisamàre-
eleiçãodosautoresdeemendas,
Novidade:porPix,agranache-
ga rápido. A Câmara é um bun-
ker de assalto ao Orçamento,
cargos lucrativos e terras indí-
genas. E a estratégia implícita
na luta pela verba do “fundão”
partidário é chegar à grandeza
indefinida,semtetonemchão.
Osemiparlamentarismopira-
taqueemergiudopassadopre-
sidencialismo,nãodecoalizão,
masdecolisãoedeboche,quer
permanecer como um absces-
so de poder, definido por abu-
so de prerrogativas e ameaças.
Seriaomomentodeaciência
políticaexploraranoçãograms-
ciana de “espírito de sistema”
para jogar alguma luz sobre a
relação obscura entre o espí-
rito de crise da representação
e um agregado legislativo que
nãorepresentasequerasimes-
mo,apenasobedeceaumcaci-
quesemplumas.Jurunafazfal-
ta.Nessacrisedavoz,apresen-
çadeoutraslínguasnoplenário
marcaria um ponto forte e au-
têntico de inflexão civil.
a eee
TENDÊNCIAS/DEBATES
folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br
os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular
o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
A Fuvest e a marginalidade
das escritoras
não há caráter militante em lista só com mulheres
-
Maria Arminda do Nascimento Arruda, Aluísio
Cotrim Segurado e Gustavo Ferraz de Campos Monaco
Vice-reitora da USP
Pró-reitor de graduação da USP
diretor-executivo da Fuvest
Há35anosaFuvestelaboraarelação
dasobrasobrigatóriasparaorientaras
provasdovestibularparaingressona
UniversidadeeSãoPaulo(USP).Are-
centepropostademudançanessalis-
tasuscitouindagaçõesarespeitodos
critérios utilizados para a alteração
das obras de literatura indicadas.
Ao longo desse período, a lista so-
freu alterações. No conteúdo, a pro-
posta de construir uma lista exclu-
sivamente composta por escritoras
foientendidademaneiraequivocada,
pois se lhe atribuiu um caráter mili-
tante e de exclusão de grandes escri-
toresbrasileiros.Masestenãoéocaso.
Deumlado,aFuvesttentadialogar
com as transformações do cânone
literário e, de outro, chamar a aten-
ção para a permanente marginalida-
de das escritoras no ensino médio,
em razão de não fazerem parte do
rol de exigências da Fuvest com a
intensidade que a nova lista propõe.
Um segundo aspecto refere-se ao
processodeelaboraçãodasprovas.As
bancasdaFuvestsãodossegredosmais
bem guardados e, de tempos em tem-
pos,seusparticipantessãosubstituídos
enovosexaminadoressãointegrados.
Alémdomais,asquestõesquecom-
põem as provas nem sempre decor-
rem das obras da lista de leituras
Fido Nesti
A educação como
pilar da reparação
Considerava-me militante, descobri-me um leigo
- sível.Éumarevoluçãoqueaconteceem
Vinicius Coimbra
diretor de cinema, teatro e televisão
Sim, estes foram dois anos de um
profundo mergulho em experiênci-
as difíceis após o meu desligamen-
to da TV Globo. Medo, angústia, de-
pressão e descrença. Sentimentos
que me fizeram valorizar a urgência
de compreendermos as vivências e
as dores do outro, como caminho
para conscientização e mudança.
Écomumasadversidadestrazerem
evolução; cresci nesse processo. Eu
que me achava militante das causas
da diversidade —dirigi a primeira e
únicacenadesexoentrehomensna
televisão aberta, escalei protagonis-
tas negros de forma pioneira, abor-
dei a opressão dos povos indígenas
noséculo19—descobri-meumleigo.
Diferentemente do que foi publica-
do a meu respeito, jamais separei ca-
marins melhores para ninguém (es-
sa não é função de um diretor artís-
tico) e não segreguei as pessoas no
refeitório (nem no set). Em mais de
obrigatórias. O compromisso funda-
mental da Fuvest, nesse sentido, é o
de acompanhar o avanço do conhe-
cimento e induzir a que o ensino mé-
diopossaabsorveraspesquisasmais
avançadasdasdiferentesespecialida-
des.Nestesúltimosanos,constata-se
queasnovasgeraçõesnãosãoafeitas
à leitura integral das obras, preferin-
doainformaçãoadvindaderesumos
queacabamporempobreceraforma-
ção dos estudantes, eliminando o es-
paço de reflexão e imaginação que o
acesso direto às obras proporciona.
Comporalistadeleituraobrigatória
da Fuvest confere prestígio a autores,
às casas editoriais e é componente da
construção do cânone literário. A pró-
pria reação à lista recentemente divul-
gadaéexemploeloquentenessesentido.
Surpreende, todavia, a percepção
por nós considerada equivocada de
que a ausência momentânea do rol
deautoresobrigatóriossejafontede
desprestígio. Machado de Assis, Car-
los Drummond de Andrade, José Sa-
ramago, Fernando Pessoa, João Gui-
marãesRosaetantosoutrossãoparte
integrante da melhor literatura bra-
sileiraeportuguesae,portanto,têm
lugar assegurado na nossa tradição
letrada. No entanto, a desconsidera-
ção das obras das escritoras suscita,
20 anos, nunca tive queixa no com-
pliance da TV Globo. Sempre bus-
quei preservar relações saudáveis,
a partir do diálogo e do respeito.
O que fiz foi intermediar a relação
de trabalho entre o elenco da novela
“Nos Tempos do Imperador” e a em-
presa.Nãohouvemáintençãodosar-
tistas, não houve má intenção da TV
Globo,nãohouvemáintençãodami-
nha parte. O que aconteceu foi o apa-
recimento da ponta de um iceberg,
umblocogigantescogeradopormais
de 300 anos de escravidão no Brasil.
A minha evolução vem do estudo
quefizdessebloco,doqualamaioria
daspessoasprefereignoraraexistên-
cia. Mas ele está aí, veio à tona, e cha-
ma-se racismo estrutural brasileiro.
A ponta desse iceberg, que surgiu
na novela, é consequência das cen-
tenas de ocasiões em que artistas
negros precisaram fazer papéis de
escravizados que eram açoitados,
ela sim, um espanto e apequena as
autoras indicadas. É por essa razão
que a referência às motivações não
reveladas da mudança acaba por re-
ferendaressaausênciainjustificável.
Quando insistimos na existência
de um “novo cânone literário”, que
se refere à evolução e expansão dos
critérios usados para determinar
quais obras literárias são considera-
das essenciais ou exemplares, pre-
tendemos incluir uma gama diver-
sificada de vozes e perspectivas, in-
corporando autores de origens so-
ciais, culturais, étnicas, de gênero
e geográficas diversas, com a fina-
lidade de trazer para o debate a ri-
queza da literatura contemporânea.
Tradicionalmente, o cânone lite-
rário tem valorizado autores já con-
sagrados que, certamente, não po-
dem ser negligenciados na forma-
ção dos estudantes. A abertura para
outras criações literárias, no entan-
to, enriquece ainda mais o aprendi-
zado e a reflexão dos vestibulandos.
Reafirmamos que estar momenta-
neamente ausente da lista de leitura
obrigatória não é fonte de despres-
tígio, sobretudo quando se trata de
autores notáveis como são nossos
clássicos. A inovação introduzida
não exclui, antes pressupõe, o mo-
mento posterior de equilíbrio na
construção da lista de leitura obri-
gatória. Em tal momento, nenhum
critério de classificação poderá ser
excludente. Afinal, a sociedade é,
ela própria, diversificada e múltipla.
A lição de Nísia Floresta, em “Opús-
culo Humanitário”, já antecipava a
questão vista como controvertida:
“Por mais rigorosas que tenham sido
asinstituiçõesdospovos,concernen-
tes à exclusão absoluta da mulher de
todaasortedegovernopúblico,quem
há aí que ignore ter ela a maior influ-
ência nas ações dos homens, e por
conseguintenosdestinosdospovos?”.
estuprados e assassinados. Interpre-
tar motoristas, faxineiros, ladrões
e bêbados. Ter seus corpos sexua-
lizados. Consequência das milhões
de vezes em que foram humilhados
por trás das câmeras em cem anos
de produção audiovisual no país.
Felizmente,essarealidadeestámudan-
do,comumaforçaincontroláveleirrever-
váriossetores,maséaindamaiseviden-
tenosmeiosdecomunicação—jornalis-
mo,publicidade,filmes,sériesenovelas.
Nunca, na história do audiovisu-
al, a população negra e outros gru-
pos segregados da sociedade, como
as pessoas com deficiência e LGBT-
QIA+, tiveram tanto protagonismo.
Essa é uma revolução social, neces-
sária, conquistada com muita luta.
O poder que reside no fato de uma
criançanegra,porexemplo,assistira
umanovelaondeartistasnegrosocu-
pam papéis de destaque é de um va-
lor inestimável. A partir dessa repre-
sentação,acriançapassaráaacreditar
que pode estar naquele lugar um dia.
Éaeducaçãocomopilardareparação.
Derreteresseicebergéumatarefa
árdua, pois os direitos humanos es-
tão longe de serem respeitados no
Brasil,paísemqueospreconceitos,o
machismo,ahomofobiaeoracismo
têm raízes profundas. Há sempre o
perigodosmovimentosreacionários.
Mas a diversidade tem muita po-
tência. E propósitos. Esse é um
caminho sem volta.
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
PAINEL DO LEITOR
folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br
Cartas para al. barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o
direito de publicar trechos das mensagens. informe seu nome completo e endereço
Consumo monitorado
“Como a decisão da Netflix de di-
vulgar dados de audiência pode
mudar o streaming” (Ilustrada,
14/12). É um primeiro passo, mas
fica claro que essa medida de “ho-
ras vistas” não deve ser o critério
para elaboração de rankings, por-
que, dessa forma, novelas e seria-
dos com muitas temporadas sem-
pre aparecerão à frente de minis-
séries e filmes.
Eduardo Guilherme piacsek
(São Paulo, SP)
Juramento quebrado
“Lula ignora promessa de ignorar
Bolsonaro: ‘Furacão do mal’, ‘sem
vergonhanacara’, ‘genteruim’”(Po-
lítica, 16/12). Compreensível o de-
sabafo do presidente Lula. Hoje no
Brasil felizmente temos um presi-
dente que pensa de fato no bem-
-estar social coletivo e no progres-
so econômico da nação.
Nelson Estevam de
Andrade (Teresina, Pi)
* feitados que estão por aí. Talvez se-
Nada como atacar os outros para
ocultar ou justificar seus próprios
defeitos. O antecessor já não está
mais no poder desde o final do ano
passado e o atual governo deveria
se preocupar mais em pacificar o
país e alavancar o crescimento.
Tersio Gorrasi (São Paulo, SP)
Dívida no FMI
“Governo Lula apoia empréstimo
de banco para Argentina em aceno
pragmáticoaMilei”(Mundo,16/12).
A única coisa que me vem à men-
te é: e se fosse para a Venezuela?
Juliana Souza (belo Horizonte, mg)
* CEO da Ferrero para a América
A Argentina é mais importante pa-
ra o governo Lula, do que o descar-
tável presidente argentino.
Valter Luiz peluque (São Paulo, SP)
ASSUNTO QUAL FOI O MELHOR ACONTECIMENTO
DE 2023 PARA VOCÊ, LEITOR DA FOLHA?
A decisão de morar junto com meu
namorado depois da recuperação
de um tratamento de câncer. 2023
foi o ano da minha reconstrução fí-
sica, emocional e até profissional.
Maria Fernanda penteado de Camargo
(São Paulo, SP)
* *
Adotar meus dois pets.
Oseas Cavalcante (rio de Janeiro, rJ)
*
A posse do presidente Lula.
Rosa Alice Ferro Amaro (Pelotas, rS)
*
O começo da reforma tributária
no Brasil.
Antônio Carlos Martins da Cruz
(Pelotas, rS)
*
Início da condenação dos réus pela
tentativadegolpedeEstadoem8/1.
Andre Cavallari de Oliveira
(São Paulo, SP)
* de pós-graduação.
O nascimento do meu primeiro
neto, o Dom.
Mauri Cesar Barbosa pereira
(Pinhais, Pr)
* Rogério prudente de Siqueira
Bolsonaro ter se tornado inelegí-
vel perante à Justiça.
Fernanda pereira (Porto Alegre, rS)
* tificial generativa.
Jogos Pan-Americanos.
Cássio Rogério Sabino
(São José do rio Preto, SP)
* podogovernoLula.Investimentos
Quando a USP subiu no ranking de
melhoresuniversidadesnomundo.
Isabella Vitória de Souza Lobo
(São Paulo, SP)
* *
Ter me livrado de um carcinoma
de mama.
Carla Risso (Cotia, SP)
*
O protagonismo feminino nos es-
portes e conquistas da ciência.
Luana Cunha de Andrade
(Campinas, SP)
A3
opinião
Percursor da bossa nova
“MorreCarlosLyra,compositorhis-
tórico da bossa nova, aos 90 anos”
(Ilustrada,16/12).Ah,gostavatanto
dele! Amava Carlinhos Lyra. Nem
tenho palavras a não ser me soli-
darizar com a família.
Neli Faria (São Paulo, SP)
*
Mais um titã da bossa nova, músi-
ca raiz brasileira. Vai cantar e com-
por em outro lugar. Obrigada, Car-
linhos, por pertencer a esse timaço
que tantas alegrias deu aos brasi-
leiros que apreciam a boa música!
Gaya Becker (Porto Alegre, rS)
Fortuna e fracasso
“‘Se tivesse 25% do dinheiro que
acumulei, já seria o bastante’, diz
fundador da Arezzo” (Mercado,
15/12).ComproArezzodesdequan-
do era estudante numa loja na Sa-
vassi, em Belo Horizonte, chama-
da Gipsy. Bacana ouvir de um em-
presário como Birman que não se
colocacomoessessemideusescon-
ja a hora de uma Fundação Arezzo
que apoie empreendedorismo em
ofícios tradicionais.
Fabiana Menezes (belo Horizonte, mg)
*
O Brasil está cheio de pessoas que
precisam desses 75% que ele acha
demais.Doe.Ajudeosmaispobres.
Ivanir Migotto (Porto Alegre, rS)
Boas-festas
A Folha agradece e retribui os vo-
tos de boas-festas recebidos de
Pierpaolo Bottini e Igor Tama-
sauskas, da Bottini & Tamasaus-
kas Advogados; Max de Simone,
do Sul; Flavia Kujawski e equipe,
do Iguatemi; e Luiz Carlos Tra-
buco Cappi, Nilton Horita e Lucia
Porto, do Bradesco.
Flávio Dino no STF.
José Antônio Sales (São Paulo, SP)
*
O Palmeiras ganhar o Campeona-
to Brasileiro.
Carlos José Leoneli (São Paulo, SP)
Meus netos passarem 50 dias de fé-
rias comigo aqui no Brasil.
Nelia Rios (São Paulo, SP)
*
Anúncios de concursos públicos!
Carlos Cristiano Rego (São Paulo, SP)
*
A eleição de Milei.
Huberto Mendes Costa
(Petrolina, PE)
*
Reforma da minha casinha nova.
Sandra Maria Varella (São Paulo, SP)
*
O reajuste dos valores das bolsas
Ives Leocelso Silva Costa (maceió, AL)
*
Foi a cassação do deputado Del-
tan Dallagnol.
(São bernardo do Campo, SP)
*
A popularização da inteligência ar-
Eldes Mattiuzzo Jr (São Paulo, SP)
*
Avoltadapautaambientalnoesco-
insuficientesparatantoestragodo
governoanterior,massignificativos.
Maria Helena Firmbach Annes
(Porto Alegre, rS)
Minha filha terminar o doutorado
na Escócia.
Ismael Sandoval Abrahão
(Campo grande, mS)
*
O anúncio de testes para uma va-
cina contra o zika vírus.
Eusenda Morais Torres (Fortaleza, CE)
A4 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee

política
PAINEL
Relação entre Lula e Lira
Fábio Zanini
painel@grupofolha.com.br

Pé no chão
Ao tomar posse no STF, Flávio Dino será um raro caso
de ex-governador a integrar a corte, o primeiro em 58 mantém tensões mesmo
depois de cargos e verbas
anos. O exemplo mais recente é o de Oswaldo Triguei-
ro,queadministrouaParaíbaentre1947e1950efoino-
meadoparaotribunalem1965pelopresidenteCastello
Branco.NoSTF,aexpectativadeministroséqueaexpe-
riência de Dino como gestor no Maranhão ajude a tra-
zer discussões para o “mundo real”, especialmente as Centrão afirma que governo federal não cumpre acordos, enquanto
relacionadas a questões econômicas e orçamentárias. petistas dizem que bloco tenta retomar modelo da gestão bolsonaro
-
Ranier Bragon
avis rara Dinoseráo172ºmi- mãosdadas PresidentedoPL,
nistrodamaisaltacortedopa- Valdemar Costa Neto cobrou Brasília Oprimeiroanodogo-
ísnahistóriadaRepública.An- do prefeito de SP, Ricardo Nu- verno Lula 3 caminha para o
tes dele houve apenas outros nes (MDB), que diga com cla- fim com um paradoxo na Câ-
13comalgumaexperiênciaem reza que deseja Jair Bolsona- mara dos Deputados: ao mes-
administrar estados, ou 7,5% ro (PL) em sua campanha pe- motempoqueoPlanaltocon-
dototal.Nemtodosforamelei- lareeleição.“Bolsonaroagora ta com apoio de partidos que
tosdemocraticamente.Laudo estáimplicandocomoNunes, somam 370 dos 513 deputa-
de Camargo, por exemplo, foi porqueoNunesrateiaquando dos,maisdoquesuficientepa-
interventoremSPem1931an- perguntam do apoio do Bol- ra aprovar emendas à Consti-
tesdesernomeadonoanose- sonaro. É uma bobagem. Ele tuição, o presidente encerrou
guinte por Getúlio Vargas. tem que ser firme nisso”, dis- a última semana com uma sé-
se Valdemar na sexta (15), em rie de derrotas em votações.
primórdios Também houve entrevista a O Diário de Mogi. AinusitadaaliançaentreLu-
diversos casos no final do sé- la (PT) e Arthur Lira (PP-AL),
culo 19 de ex-presidentes de olhogrande OPLesperafiliar presidente da Câmara, come-
províncias (como eram cha- emjaneirodoissenadores,ele- çou a ser montada no mes-
mados os estados no Impé- vando a bancada para 14 inte- mo dia do anúncio da vitória
rio) que foram indicados ao grantes.Segundomembrosda do petista sobre Jair Bolsona-
STF pelo novo governo repu- direção, há contatos adianta- ro(PL),em2022.Odesenrolar
blicano, num período em que doscomCleitinho(Republica- de 2023 mostrou, porém, que
as fronteiras entre os Poderes nos-MG)eIzalciLucas(PSDB- adobradinhacontinuamarca-
eram bem mais porosas. -DF). Procurados, ambos dis- dapordesconfiança,críticase
seram via assessoria que têm tensionamentodeladoalado.
imagem é tudo O diretório conversadocomdiversospar- Apesar da vitória com a re-
municipal do PT em SP enco- tidosequenãoháintençãode forma tributária, houve a der-
mendou uma pesquisa quali- deixar suas legendas. rubada pelo Congresso de ve-
tativa para avaliar a percep- tosdeLulaaomarcotemporal
ção da militância do partido a éramos dois Caso Izalci mi- das terras indígenas, à deso- Lula e Lira durante cerimônia no Palácio do Planalto Evaristo Sá - 28.ago.2023/AFP
respeito da aliança com Gui- gre para o PL, a bancada tuca- neraçãodafolhadepagamen-
lherme Boulos na capital. O na, que já foi uma das maiores tos e à lei que muda as regras
levantamento mostrou que o da Casa, ficará reduzida a um de funcionamento do Carf. gendo e até tentando defor- pecial a MP (medida provisó-
deputado tem identificação senador, Plínio Valério (AM). O próprio presidente da Re- mar a agenda política vitori- ria) que altera as regras de be-
mais forte com o presidente pública expôs neste sábado osa na eleição presidencial”. nefícios concedidos por meio
Lula do que com seu próprio cochilo O vereador bolsona- (16), em São Paulo, as dificul- Lira ameaçou divulgar no- do ICMS, a medida com mai-
partido, o PSOL. ristadeSãoBernardo(SP)Pau- dades no Legislativo apesar ta em resposta, mas foi de- or potencial de arrecadação
loChuchu(PRTB)foicondena- dos cargos e verbas. Classifi- movido por aliados. dentre as defendidas na re-
alvissareiro A conclusão foi dopelaJustiçaaindenizarem cou a aprovação da reforma Outroquefalouabertamen- ta final de 2023 por Haddad.
saudada como uma boa notí- R$10milocoordenadornacio- tributária como “fato históri- te foi o deputado Lindbergh De acordo com Guimarães,
cia pela direção petista, já que naldoMBL,RenanSantos.Ele co” em um Congresso em que Farias (PT-RJ), que subiu à Haddad lhe disse que essa é a
o presidente será o maior ca- publicou em rede social que o Executivo tem minoria. tribuna do plenário do Con- mais importante medida pa-
boeleitoraldopsolistanaelei- Renan precisava explicar por Aliados de Lira afirmam gressonaquinta-feira(14),en- ra a área econômica desde a
ção do ano que vem. que foi à Ucrânia “pegar mu- que todas as caneladas da- quanto o governo via vetos de aprovação da PEC da Transi-
lherespobresporqueeramfá- das pelo presidente da Câ- Lulaseremderrubadosemse- ção, ainda em 2022, que deu
quem sabe? O deputado fe- ceis”. Ex-assessor de Eduardo mara no governo têm expli- quência,parapregararecons- umafolgaorçamentáriaaopri-
deral Marcelo Queiroz (PP) Bolsonaro,overeadorfoicon- cação não em uma indispo- trução da relação e também meiro ano da gestão petista.
ganhou aval do senador Ciro denado à revelia, por não ter sição pessoal do parlamen- detalhar de forma didática o O ministro Alexandre Padi-
Nogueira (PI), presidente na- apresentado defesa. tar, mas no fato de que o go- que é dito nos bastidores. lha (Relações Institucionais)
cional do PP, para tentar via- verno acertou a distribuição “O que se viu nesta semana também minimizou neste sá-
bilizar seu nome para a Pre- bicampeã A indicação pela de cargos e verbas do orça- no Parlamento foi este Con- bado as derrotas no Legisla-
feitura do Rio. Ele busca am- prestigiada revista Nature de mento, as chamadas emen- gresso e esta Câmara tentan- tivo. “Não tem time campeão
pliar o espaço após o líder da Marina Silva (Meio Ambien- das parlamentares, e não tem do e impondo derrotas suces- invicto no campeonato. Você
legenda na Câmara, Dr. Lui- te) como uma das dez perso- entregado o que prometeu. sivas ao governo do presiden- pode empatar, perder, o que
zinho (RJ), ter sinalizado que nalidades da ciência em 2023 Na tradição congressual, o te Lula”, discursou. “Ontem você não pode é perder a deci-
desistiudacandidatura.Ogo- foi festejada pelo seu partido, troco é dado principalmen- [quarta] aprovaram a urgên- são e o mata-mata. O governo
vernadorCláudioCastro(PL), aRede.Dirigenteslembraram te nas votações em plenário. cia de um projeto de lei de en- termina o ano ganhando to-
no entanto, prefere Queiroz que a última vez que um bra- Já do lado do governo, em sinomédioqueécontraagen- dos os jogos decisivos no Con-
como vice de Alexandre Ra- sileiro figurou na lista foi em especial no PT, o discurso é o te.Ehoje,aqui,essabarbárie.” gresso Nacional”, afirmou em
magem (PL), escolhido por 2019,comoutrofiliadodopar- de que o governo já entregou Além dos R$ 50 bilhões evento em São Paulo.
Jair Bolsonaro como seu can- tido: o professor Ricardo Gal- todos os anéis e até alguns de- de emendas, o discurso em Aliados de Lira dizem que,
didato na disputa. vão, ex-Inpe e hoje no CNPq. dos —as emendas parlamen- tom de desabafo de Lind- além de ele sofrer pressão de
tares, por exemplo, ficarão bergh fez menção aos se- líderes de bancadas em rela-
em torno de R$ 50 bilhões em guintes episódios: ção ao não cumprimento de
Três Poderes 2024, valor próximo do que 1) há uma demanda de de- acordos pelo governo, as crí-
VENCEdORA dA SEMANA o Executivo tem para inves- putados do centrão e de ou- ticas têm que ser relativiza-
A ex-prefeita de SP Marta Suplicy, que voltou ao centro tir livremente, R$ 70 bilhões. tros partidos pela liberação das porque muitas das vitó-
das atenções políticas ao ser convidada por Lula para Alémdisso,dizemqueocen- robusta de emendas até ju- rias e avanços do governo no
retornar ao PT e ser vice de Guilherme Boulos (PSOL). trão quer, em suma, voltar ao lho do ano que vem, para Congresso em 2023 não seri-
modelo Bolsonaro, quando o que haja tempo de realizar am possíveis sem ele.
PERdEdOR dA SEMANA então presidente entregou a obras e aumentar o cacife de- O centrão, em sua configu-
O prefeito de SP, Ricardo Nunes (MDB), que, além do risco da Liraeseualiadospraticamen- les nas eleições municipais ração atual, engloba PP, Re-
debandada de Marta, viu Bolsonaro acenar para Ricardo Salles e foi tetodaagerênciadiretadadis- de outubro de 2024; publicanos e o PL de Bolsona-
surpreendido com o aumento da passagem de metrô por Tarcísio. tribuição de cargos federais e 2) Lira nomeou como rela- ro. O grupo foi o sustentácu-

“
das emendas parlamentares. tordanovareformadoensino lo legislativo do ex-presiden-
FIQUE dE OLHO Petistas do Congresso evi- médio o deputado Mendonça te, com Lira à frente.
Lula deve encontrar Marta para discutir retorno ao PT, além tam criticar Lira em públi- Filho (União Brasil-PE), justa- Lula derrotou Bolsonaro,
de acelerar articulação para indicar novo ministro da Justiça. co. Avaliam que seria impos- Subo a essa mente o ministro que, no go- mas, ao mesmo tempo, a es-
sível a Lula governar sem o tribuna pro- verno Michel Temer, implan- querda conseguiu conquistar
Com Guilherme Seto, Danielle Brant e Italo Nogueira seu apoio. Alguns ainda con- fundamente tou a reforma que o PT agora apenascercade130das513ca-
cordam em parte com as re- incomodado quer alterar; deiras da Câmara.
clamações do líder do cen- com o que 3) a “barbárie” aludida por Apesar de aliado a Bolsona-
trão. Segundo eles, ministé- está aconte- Lindbergh se refere à sessão ro, Lira foi uma das primeiras
rios como Saúde e Educação cendo nesta doCongressoemquediversos autoridadesaparabenizarpu-
GRUPO FOLHA estão atravancando na buro- vetos de Lula foram derruba- blicamente Lula, reconhecer
sessão do
cracia do dia a dia o cumpri- Congresso. dos, entre eles os relativos ao a sua vitória e dizer que era
mento dos acertos feitos en- O que se viu marco temporal das terras in- hora de “construir pontes”. A
tre a articulação política do nesta semana dígenas e ao arcabouço fiscal; atitude ajudou a frear o ím-
Redação São Paulo Planalto e o Congresso. no Parlamen- 4) o veto à desoneração da peto golpista que àquela al-
Al. barão de Limeira, 425 | Campos Elíseos | 01202-900 | (11) 3224-3222 Há quem reclame aberta- to foi este folhadepagamentostambém tura rondava o bolsonarismo.
Ombudsman ombudsman@grupofolha.com.br | 0800-015-9000 mente da influência exerci- Congresso e foi derrubado mesmo com o Em vez de comprar uma
Atendimento ao assinante (11) 3224-3090 | 0800-775-8080 da pelo centrão. A presiden- esta Câmara ministro da Fazenda, Fernan- briga com alta chance de der-
Assine a Folha assine.folha.com.br | 0800-015-8000 te do PT, Gleisi Hoffmann tentando e do Haddad, prometendo, se- rota, o petista então entabu-
(PR), capitaneou uma reso- impondo gundo governistas, apresen- lou um acerto inicial com Li-
EdIÇÃO dIGITAL digital Ilimitado digital Premium lução partidária que pintou derrotas tar uma proposta alternativa. ra e apoiou a sua reeleição ao
PLAno mEnSAL r$ 29,90 r$ 39,90 o bloco mais ou menos como sucessivas ao Um dos petistas mais pró- comando da Câmara.
quase todos os petistas o de- governo do ximos a Lira, o deputado José Ainda na transição, Lula
EdIÇÃO IMPRESSA Venda avulsa Assinatura semestral*
finem nos bastidores. presidente Guimarães(CE),líderdogover- distribuiu nove ministérios
seg. a sáb. dom. Todos os dias O texto afirma que “as for- Lula nonaCâmara,convocouuma para obter o apoio de três
mg, Pr, rJ, SP r$ 6 r$ 9 r$ 942,90 ças conservadoras e fisioló- entrevistacoletivanasexta(15) partidos de centro e de direi-
dF, SC r$ 7 r$ 10 r$ 1.189,90 gicas do chamado centrão, Lindbergh para minimizar as derrotas e ta que não pertencem ao cen-
ES, go, mT, mS, rS r$ 7,50 r$ 11 r$ 1.501,90
AL, bA, PE, SE, To r$ 11,50 r$ 14 r$ 1.618,90
fortalecido pela absurda nor- Farias (PT-RJ) listar as vitórias do governo. trão, o PSD, o MDB e a União
outros estados r$ 12 r$ 15 r$ 2.008,90 ma do orçamento impositivo deputado, em Em suma, ele afirmou que Brasil. Em setembro, atraiu
*À vista com entrega domiciliar diária. Carga tributária 3,65% num regime presidencialista, discurso no vários vetos foram derruba- duas siglas do centrão, o PP
exercem influência desmedi- plenário do dos com concordância do go- de Lira e o Republicanos, com
CIRCULAÇÃO dIÁRIA (IVC) da sobre o Legislativo e o Exe- Congresso na verno, em nome da aprova- mais dois ministérios.
795.294 exemplares (outubro de 2023) cutivo, atrasando, constran- quinta (14) ção de outros temas, em es- Colaborou géssica brandino
a eee domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 A5

A PR E S E N TA

NÚMEROS
DE UM GIGANTE
Além das 361 lojas,

361 33
Rede está presente
em todos os

lojas em todo
o país; meta é 26 atacados de entrega que já atendem

alcançar 470
até 2026
estados do Brasil, além
do Distrito Federal, com
lojas em 223 municípios
5.100
municípios com sua malha logística

10 mil
Atacadão itens ofertados aos clientes, desde marcas
líderes de mercado a produtos regionais

planeja abrir Mais de 70 mil

colaboradores, o que faz do grupo um dos maiores empregadores do Brasil

mais de 100 novas 10 mil

unidades até 2026 novas contratações somente em 2023

Em constante expansão, rede já está

presente em 223 cidades de todos
os estados, além do Distrito Federal
Eugenio Goulart/Divulgação

P
reços justos, parceria com
fornecedores locais e com-
promisso com a geração de
empregos, inclusão e mobilida-
de social. Esses são alguns dos in-
gredientes da receita de sucesso do
Atacadão, que foi líder da categoria
atacadista no prêmio Top of Mind,
promovido pela Folha. Fundado há
61anos,ogrupotem,atualmente,70
mil colaboradores, 361lojas e 33 ata-
cados de entrega em 223 cidades de
todos os 26 estados do Brasil - além
do Distrito Federal. A meta é che-
gar a 470 pontos de venda até 2026.
“Estamos trabalhando para chegar
a 470 lojas, tanto por meio de no-
vas aberturas quanto pela conver-
são de unidades que hoje estão sob
outras bandeiras do Grupo Carre-
four Brasil. Em 2024, vamos abrir
entre 10 e 12lojas doAtacadão, dan-
do início a esse novo processo de
conversões”, afirma Marco Olivei-
ra, CEO do Atacadão.
A abrangência nacional de su-
cesso em um país de dimensões
continentaistemcomobaseumcri-
terioso processo de expansão, que
prima por respeitar as diferenças
entre os locais de implantação das
unidades. “Existe um trabalho de
muita escuta dos clientes de cada
lugar, das suas necessidades e an-
seios, de suas rotinas. Ter essa ca-
pilaridade, com presença em todos
os estados brasileiros, só é possível
porque buscamos entenderas par-
ticularidades e os aspectos únicos
de cada região onde estamos pre-
sentes”, explica Oliveira. Além dis-
so, completa, faz parte daestratégia
de negócio doAtacadão firmarpar-
cerias com fornecedoreslocais, dos
quaiscompraitensparadisponibili-
zarnaslojasaosclientes.“Aslojasdo
Atacadão sãolugares onde o consu-
midorpodeencontrarmarcasespe-
cíficas da sua região. Isso nos ajuda
ageraridentificação com cadauma
dessas populações, além de fortale-
ceroempreendedorismoregional.”
O resultado dessa política multilo-
cal é aentregacustomizadade pro-
dutos aos clientes de cada cidade,
estado e região. “Se você estiver na
Bahia, por exemplo, vai encontrar
nas nossas gôndolas produtos de
marcas locais que fazem parte do
dia a dia do consumidorbaiano. Ou
seja, além das grandes marcas na-
cionais, nós nos preocupamos em
levar ao consumidor produtos que
tenham as características, particu-
laridades e identidade regional que
só o pequeno produtor local, que é
parceirodoAtacadão,podepropor-
cionar”, detalhao CEO doAtacadão.
CONSTANTECRESCIMENTO
O processo de expansão da re-
de setornou um grande case de su-
cesso. A transformação de 76 lojas
do Grupo BIG emAtacadão foi con-
cluída seis meses antes do prazo
previsto.“Foinecessárioumgrande
trabalho de planejamento e, princi-
palmente, muito comprometimen-
to e engajamento de toda a compa-
nhia para realizar a integração de
maneira eficaz e seis meses antes
dotempoestipulado.Essaconquista
reforça e consolida a nossa presen-
çanoBrasil,assimcomoaexpansão
danossacapilaridade, gerando im-
pactos positivos, como aumento da
participação de mercado e fortale-
cimento da oferta de produtos em
larga escala”, diz Oliveira. O cres-
cimento do Atacadão vem abrindo
campo aos parceiros e benefician-
dopequenoscomerciantes,empre-
endedoresetransformadores,oque
confere à rede um importante pa-
pel de estímulo ao empreendedo-
rismo em todo o país. “Ao ofere-
ceralimentos de qualidade apreços
justos, o Atacadão faz com que pe-
quenos comerciantes e microem-
preendedores consigam gerarren-
da e desenvolver os seus negócios,
estimulandoassimageraçãodeno-
vos empregos e renda para a popu-
lação”, comenta Oliveira.
GERAÇÃO DE EMPREGOS
E MOBILIDADE SOCIAL
A rede conta, atualmente, com
Marco
Oliveira,
CEO do
Atacadão
mais de 70 mil colaboradores, o que
faz dela uma das maiores empre-
gadoras do Brasil. Com a expansão
em andamento, foram 10 mil novas
contratações somente em 2023. “O
Atacadão tem um papel importan-
tíssimo paraageração de empregos
no país.Temos umaprojeção de ex-
pansão ambiciosaparaos próximos
anos e isso, claro, leva à criação de
novos postos de trabalho, tanto di-
reta quanto indiretamente”, adian-
ta o CEO.Além disso, aliderança da
rede é essencialmente formadapor
pessoas que cresceram dentro da
empresa, mantendo a forte cultura
doAtacadão e permitindo amobili-
dade social de milhares de famílias.
Outra contribuição pioneira é a
oferta de 10% de suas vagas direta-
mente abeneficiários do programa
Bolsa Família, contribuindo para a
geração de renda para pessoas em
situação de insegurança alimentar.
EXCELÊNCIA NA
EXPERIÊNCIA
DO CONSUMIDOR
Ainda que tenha um maior fo-
co no microempreendedore no pe-
quenocomerciante,oAtacadãovem
fazendoumprocessodeadaptações
também para atender as deman-
das crescentes dos consumidores
finais, como implantação de caixas
de autoatendimento (self checkout)
e de serviços de padaria, açougue
e fatiados. De acordo com Olivei-
ra, a introdução dessas tecnologias
e Wi-fi, bem como a personaliza-
ção no atendimento, com a oferta
de serviços específicos, traz uma
resposta às expectativas crescen-
tes dos consumidores em relação
à inovação e à modernização nas
experiências de compra. “O Ataca-
dão está sempre atento às deman-
das dos seus clientes e às mudanças
de comportamentos. Nossas lojas
passam por constantes moderni-
zações nas estruturas físicas, ofe-
recendo mais conforto e tornando
a experiência de compras cada vez
mais agradável.”Além da expansão
física, o Atacadão tem avançado na
estratégia digital continuamente,
com seu o ecommerce que integra
o canal devendas online da própria
empresa, com uma operação sus-
tentada por meio de 33 atacados de
entregaquejáatendem5.100muni-
cípioscomsuamalhalogística.Com
adigitalização, aempresapotencia-
liza ainda mais seu raio de atuação
para novos municípios brasileiros,
contando, ainda, com 200lojas que
atendem pelos aplicativos Corner-
shop, Ifood e Rappi.

Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha |

A6 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee
política

Lula põe Boulos no palanque autorizadodesde2019,porque

havia na Presidência “alguém
que não olhava para o povo,
que governava com ódio”. Ele
ele adotará a reciprocidade
com o partido, que cumpriu
o acordo com ele.
Aeleiçãodoanoquevemse-

em 1ª agenda de cabo eleitoral

agradeceu a Lula “por devol-
ver a esperança para o povo
mais pobre deste país”.
A estreia de Lula na eleição
paulistana ocorre em meio às
articulações dele para atrair
Presidente provoca nunes e Tarcísio em ato com aliado que tentará prefeitura de volta ao PT a ex-prefeita
Marta Suplicy e torná-la can-
didata a vice de Boulos. A pro-
rá a primeira desde a redemo-
cratização em que o PT não
terá candidato próprio na ca-
pital paulista. Lula fechou em
2022 um acordo com Boulos
em que ele, em troca da ali-
ança em 2024, abriu mão de
concorrer ao governo estadu-
al para apoiar Haddad.

-
Joelmir Tavares
e Géssica Brandino
São Paulo O presidente Lula
(PT) iniciou sua atuação co-
mo cabo eleitoral de Guilher-
me Boulos (PSOL) ao colocar
o aliado no palco de uma ce-
rimônia do governo federal,
neste sábado (16), em Itaque-
ra (zona leste). A eleição do
deputado federal à Prefeitura
de São Paulo é uma das prio-
ridades do petista para 2024.
A solenidade que marcou a
estreia do presidente na pré-
-campanha foi escolhida a de-
do para favorecer Boulos, que
atua na pauta de habitação.
Lula assinou contrato para as
obras de um empreendimen-
to a ser construído em parce-
ria com o MTST (Movimento
dosTrabalhadoresSem-Teto),
liderado pelo parlamentar.
Políticos do PT, do PSOL e
de outras legendas da coliga-
ção participaram do evento, o
primeiro a reunir Lula e Bou-
los na capital paulista desde
O pré-candidato Guilherme Boulos com Lula e o ministro Alexandre Padilha durante ato que envolveu governo e MTST neste sábado
que o PT oficializou o apoio à
pré-candidatura, em agosto.
Luladissequeoprojetotam-
bém terá recursos dos gover-
nos estadual e municipal e ci-
tou a ausência do prefeito Ri-
cardo Nunes (MDB) e do go-
vernador Tarcísio de Freitas
(Republicanos), rivais da es-
querda na disputa municipal.
“Eu acho que eles foram
convidadosenãovieram,mas
se viessem seriam tratado
com o maior respeito, por-
que educação a gente apren-
de em casa”, discursou.
A assessoria de Tarcísio dis-
se que ele já tinha agenda de
entregas de títulos fundiários
em Caieiras e Osasco.
Nunesrespondeuque“even-
tosrelacionadosainvasão,fu-
rar fila, desrespeitar leis” não
terão sua “presença e apoio” e
que a prefeitura trabalha em
“umgrandeprogramahabita-
cional,seminvasão,respeitan-
doasleisealistadosinscritos”.
O deputado do PSOL evitou
polemizar. “Tanto o governa-
dor do estado quanto a pre-
feitura cumpriram o seu pa-
pel institucional. Estar ou não
presente em um evento não é
o mais relevante.”
O ministro Jader Filho (Ci-
dades), que é do mesmo par-
tido de Nunes, participou do
evento—oMDBintegraabase
do governo federal. Além de-
le,estiveramnopalcoFernan-
doHaddad(Fazenda),Marina
Silva (Meio Ambiente), Pau-
lo Teixeira (Desenvolvimen-
to Agrário) e Alexandre Padi-
lha (Relações Institucionais).
Líder nas pesquisas de in-
tenção de voto, Boulos vê co-
moumtrunfooenvolvimento
de Lula na campanha. Ele ci-
ta índices de popularidade do
presidentenacidadeeoresul-
tadoeleitoralde2022,quando
Lula teve mais votos no muni-
cípiodoqueoentãopresiden-
te Jair Bolsonaro (PL).
Nestesábado,opsolistaafir-
mou que a obra na zona leste
não foi lançada antes, apesar
de o empreendimento estar
“
Eu acho que eles
[Nunes e Tarcísio]
foram convidados
e não vieram, mas
se viessem seriam
tratado com o maior
respeito, porque
educação a gente
aprende em casa
Lula (PT)
presidente, durante ato
neste sábado (16) ao lado de
boulos, pré-candidato à
Prefeitura de São Paulo em 2024
posta,reveladapelaFolha,ga-
nhou corpo nos últimos dias
com um telefonema do presi-
dente para a ex-petista.
A operação é complexa não
só porque Marta saiu rompi-
da do partido, mas também
porque ela é secretária de Re-
lações Internacionais de Nu-
nes, que tentará a reeleição.
Lula deve aproveitar a passa-
gem por São Paulo para con-
versarpessoalmentecomelae
tentar sacramentar a costura.
Boulos confirmou a negoci-
ação,masevitouentraremde-
talhes. “É lógico que eu parti-
cipo dessas conversas, é lógi-
co que vai ser sempre com di-
álogo e com a minha anuên-
cia, mas eu prefiro falar sobre
esse assunto no momento em
que estiver consolidado.”
Ele disse que Marta foi uma
“grande prefeita” e deixou
marcas como CEUs, Bilhete
Único e corredores de ôni-
bus na periferia. Afirmou ain-
da que a prerrogativa de esco-
lha do vice será do PT e que
Bruno Santos/ Folhapress
Marta tem desafetos no PT
por ter votado a favor do im-
peachment da presidente Dil-
maRousseff (PT)eviradouma
crítica do partido em que mi-
litou por 33 anos até se desfi-
liar, em 2015, rumo ao MDB.
O ministro Padilha fez ace-
nos a ela durante o evento,
ao dizer que a ex-aliada “tem
uma grande experiência por
tersidoprefeitadeSãoPaulo”.
“Você anda na periferia de
São Paulo e ouve saudades
muito grandes. O povo gosta
muito da Marta, então é uma
pessoa que certamente vai ter
uma influência sobre o des-
tino da cidade de São Paulo”,
acrescentouoauxiliardeLula.
O presidente assinou o con-
tratoparaoiníciodasobrasdo
empreendimentoCopadoPo-
vo, parte do programa Minha
Casa, Minha Vida - Empreen-
dimentos. As unidades habi-
tacionais serão erguidas em
uma área invadida em pro-
testo pelo MTST às vésperas
da Copa do Mundo de 2014.
O terreno reivindicado pelo
movimento fica perto da Neo
QuímicaArena,umadassedes
da Copa. Segundo o MTST, o
projeto das construções foi
aprovado em 2017, mas ficou
travado pelo governo federal,
sobretudo na era Bolsonaro.
O empreendimento (o pri-
meiro módulo com 640, mas
comtotalde2.650apartamen-
tos) será tocado pelo MTST.
Lula prometeu a Boulos
uma participação ativa na
campanha e confirmou no
discurso que vai intensificar
a presença na cidade para so-
lenidades do governo no pró-
ximo semestre. Segundo alia-
dos, ele vai conciliar o papel
institucional com as ativida-
des de militante partidário.
Desde que tomou posse, o
presidente teve agenda escas-
sa de compromissos na capi-
tal. O ato deste sábado foi um
dosprimeirosqueelefeznaci-
dadecompresençadepúblico
etomfestivo.Nosmesesinici-
aisdomandato,opetistaprio-
rizou viagens internacionais.
Boulos vem adotando uma
estratégia para rebater as pe-
chas de radical e extremista
exploradas por adversários
como Nunes, que se refere a
ele como invasor de proprie-
dades. O psolista tenta sua-
vizar a imagem defendendo
o papel de movimentos soci-
ais e sinalizando disposição
ao diálogo com outras forças.

Presidente ignora promessa de ignorar Bolsonaro e faz críticas

-

Marianna Holanda naro(PL).Noentantosegueci-
e Renato Machado tando e criticando o governo
do antecessor publicamente.
BraSília O presidente Lula Nesta sexta-feira (15), em
(PT)dissemaisdeumavezque inauguraçãodeobraemSerra
não falaria mais de Jair Bolso- (ES), Lula elevou o tom e cha-
mou o ex-presidente de “fací-
nora” e “aquela coisa”, além de
acusar o adversário político
de “usar a fé dos evangélicos”.
Aproveite Antes,em22denovembro,o
petista chamou Bolsonaro de
São Paulo de “genteruim”porliderarumgo-
ônibus aos vernoque“gostavadebrigar”.
domingos. “Tivemosrecentementeum
governo nesse país que tudo
É de graça queelegostavaerabrigar,por-
do mal” em ambos os discur-
sos para se referir a Bolsona-
ro sem citá-lo nominalmente.
As declarações ocorrem du-
as semanas depois de Lula di-
zer que não falaria mais sobre
o governo de seu adversário
—promessa que já repetiu al-
gumas vezes neste ano.
“De mim, vocês vão perce-
ber que eu vou terminar qua-
troanossemfalarumavírgula
dooutrogoverno,porque,para
mim, ele não existiu”, afirmou
o chefe do Executivo em ceri-
môniadesançãodaduplicação
de trecho da BR-423 em Per-
“
De mim, vocês vão
perceber que eu vou
terminar quatro anos
sem falar uma vírgula
do outro governo,
porque, para mim,
ele não existiu
Lula (PT)
no dia 8 de novembro
Essa é uma crítica também
usada pela equipe econômi-
ca do mandatário.
“Acho que nunca se mentiu
tantoporqueonossoadversá-
rio contava mentiras por se-
gundo. A quantidade de utili-
zaçãodamáquinapúblicapara
tentarevitarperderaseleições
foidetamanhamagnitudeque,
quandoeleperdeu,eleentrou
em parafuso”, disse Lula.
“Elesetrancoudentrodeca-
sa,ficouchorando,lamentava.
Temgentequedizquetemdia
que ele falava, tem dia que ele
não falava. E, na verdade, ele
Impa (Instituto de Matemáti-
ca Pura e Aplicada) no Porto
Maravilha, no Rio de Janeiro,
Lula voltou a se referir a Bol-
sonaro como “negacionista”.
“Aspessoaspodematédizer:
‘Eu não gosto do Lula, eu não
gosto do PT’. Mas tem outras
pessoas para vocês gostarem.
Não precisa gostar de um ne-
gacionista,deumapessoades-
se tipo. Vocês não têm noção
o quanto esse país andou pa-
ra trás”, afirmou.
Em um discurso no Planal-
to, em junho, disse que o Bra-
sil passou por um “período

quetemgenteruimquenãosa-
befazerpolíticasemterinimi-
go.‘Euprecisoteruminimigo
parajustificarascoisasqueeu
faço’. Pois o Lula não quer ter
inimigos,querteramigos”,afir-
Aponte a câmera
de seu celular ou
mou em cerimônia do Minha
Casa,MinhaVidanoPlanalto.
tablet e saiba mais No dia anterior, o mandatá-
rio havia feito uma fala emo-
cionada sobre educação e cui-
dar das pessoas. Na ocasião,
disse que “o país voltou a ser
governado por alguém que
tem vergonha na cara e tra-
ta os diferentes como iguais”.
Lula usou o termo “furacão
nambuco,em8denovembro.
Mesmo assim, no mesmo
discurso, ele declarou que en-
controu o país “semidestruí-
do” quando foi eleito.
Lula costuma criticar em
seus pronunciamentos o pa-
ís deixado por seu antecessor
e apontar desmonte de polí-
ticas públicas.
Emoutubro,durantelivese-
manal,opresidentedisseque
houve utilização da máquina
públicapelogovernopassado
paraevitarumaderrotaeleito-
ralequeBolsonaro“entrouem
parafuso” ao não se reeleger.
“
estava preparando um golpe
que era para ser no dia da mi-
nha diplomação”, completou.
Tivemos Lula fez referência à tentati-
va de invasão ao prédio da PF
recentemente um (Polícia Federal) e aos atos de
governo que tudo vandalismo que resultaram
em incêndios em carros e ôni-
que ele gostava era bus em Brasília, horas após a
brigar, porque tem sua diplomação no TSE (Tri-
gente ruim que não bunal Superior Eleitoral).
Apesar de o presidente fa-
sabe fazer política lar frequentemente sobre o
sem ter inimigo governo anterior, são raras as
menções diretas ao ex-chefe
idem do Executivo.
no dia 22 de novembro Em visita às obras do novo
muito obscuro”, em referên-
cia aos anos de 2019 a 2022.
Umadasúnicasvezesnosúl-
timosmesesemqueLulamen-
cionouoseuadversáriodefor-
ma mais direta foi em julho,
após Bolsonaro ser declarado
inelegívelpelaJustiçaEleitoral.
“Ele [Bolsonaro] sabe o que
ele fez. Se ele acertou, será re-
compensado. Se errou, será
julgado e será punido de acor-
do com o erro que ele come-
teu. Isso é um problema da
Justiçaquenãopassa,nãome-
xe com a tranquilidade do go-
verno”, afirmou na ocasião.
a eee
A P R E S E N TA
Cinco décadas
dedicadas à
população e ao
meio ambiente
1973 • Fundação da Sabesp
• Inauguração da ETA
Guaraú, 1ª estação de
tratamento de água da
Sabesp
1974 • Entra em operação o
Sistema Cantareira, um
dos maiores da América
Latina
• Inaugurado novo
sistema de esgotos da
Baixada Santista
1977 • Adesão de municípios à
Sabesp chega à média de
oito por mês
1982 • Inaugurado o
reservatório Jaguari/
Jacareí, o maior do
Sistema Cantareira
1984 • Início do Programa de
Fluoretação (primeiro do
país), para combater cárie
1991 • SOS Mananciais é criado
para proteger represas
1992 • Inauguração da ETA
Alto Tietê, 1ª obra com
participação público-
privada
• Lançado o Projeto Tietê,
para despoluir o rio Tietê
1994 • Sabesp abre capital,
seguindo sob controle do
governo de São Paulo
1995 • Programa de Uso
Racional da Água, de
conscientização contra
desperdício
1997 • Sabesp tem ações
negociadas na Bovespa
1999 • Criada a Ouvidoria
Sabesp
2000 • Inaugurada estação de
flotação do Ibirapuera,
para despoluir o lago do
parque
• Inaugurado Emissário
Pinheiros, no Projeto Tietê
2002 • Sabesp é listada na
Bolsa de NY
2007 • Onda Limpa, maior
programa de saneamento
do litoral brasileiro
• Programa Córrego
Limpo, para despoluir os
córregos da cidade de SP
2009 • Programa Mananciais,
para recuperar as bacias
de Billings e Guarapiranga
• Início da terceira etapa
do Projeto Tietê
2011 • Programa Pró-
Billings amplia coleta e
tratamento de esgoto,
beneficiando 250 mil
moradores de São
Bernardo do Campo
• Programa Nossa
Guarapiranga, para
proteger a mata ciliar,
a vegetação da bacia e
contribuir para a melhoria
da qualidade da água
Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha |
Aos 50 anos, Sabesp
foca inovação e
sustentabilidade
Maior investidora em saneamento do país, empresa fundada
em 1973 investe em tecnologia e eficiência para levar qualidade
de vida e saúde para a população, preservando o ambiente
A
Sabesp, Companhia de
Saneamento Básico do
Estado de São Paulo,
acaba de completar 50 anos de vi-
da, data que a empresa celebra de
olho no futuro. Com meio século de
existência, a empresa mantém seu
foco no atendimento à população,
principalmente em áreas devulne-
rabilidade social, e reforça cadavez
mais sua preocupação com cresci-
mento sustentável e na busca por
mais eficiência e inovação.
Criada em 1º de novembro de
1973, a empresa está hoje presente
em 376 municípios, num total de
28 milhões de habitantes (62% da
população paulista). Neste meio
século, a Sabesp criou programas
e tecnologias para expansão do
acesso ao saneamento pela po-
pulação. Em 2022, investiu R$ 5,4
bilhões, mantendo um patamar
histórico de cerca de 30% de to-
do o aporte realizado em água e
esgoto entre empresas públicas
e privadas brasileiras. O nível de
investimento da Sabesp faz de São
Paulo o estado brasileiro que mais
investe em saneamento.
Os índices de saneamento nas
áreas atendidas pela empresa con-
tinuam entre os melhores do país:
98% de cobertura de abastecimen-
to de água, 92% de cobertura de
coleta de esgoto e 83% de imóveis
conectados ao tratamento de esgo-
to. Para o período de 2023 a 2027, a
companhia planeja investir R$ 26,2
bilhões, sendo R$ 8,9 bilhões em
água e R$ 17,3 bilhões em coleta e
tratamento de esgoto.
Todos os investimentos, se-
gundo a Sabesp, incluem o cui-
dado com o ambiente. A busca
de uma economia circular, com
o reaproveitamento de insumos
nas atividades da companhia, a
gestão de resíduos sólidos e a ex-
ploração do potencial energético
do parque operacional têm sido
esforços constantes. O Programa
de Geração de Energia Fotovoltaica
da Sabesp, por exemplo, prevê a
implantação de 43 usinas até 2025,
nove já em operação. Também li-
gado à economia circular, o projeto
de biogás nacidade de Francainova
ao converter o gás proveniente do
tratamento de esgoto em combus-
tível para carros da empresa.
Iniciativade significativatrans-
formação socioambiental, o Novo
Rio Pinheiros alcançou resultados
importantes na bacia onde vivem
2 milhões de pessoas. O projeto,
que também inovou na gestão de
contratos porresultados e soluções
de engenharia, norteará um dos
desafios da Sabesp nos próximos
anos: o IntegraTietê, projeto de
despoluição do rio Tietê lançado
pela Secretaria de Meio Ambiente,
Infraestrutura e Logística.
Responsável pelo eixo de sa-
neamento do programa, a Sabesp
prevê implantar, até 2026, 590 qui-
lômetros de interceptores e cole-
tores-tronco e 6.000 quilômetros
de redes coletoras na Região Me-
tropolitana de São Paulo, além de
ampliara capacidade e modernizar
as Estações de Tratamento de Es-
goto (ETE) Barueri, ABC, Parque
Novo Mundo, São Miguel e Suzano.
A modernização dessas ETEs
inclui um novo avanço: elas se-
rão transformadas em estações
de recuperação de recursos por
meio de beneficiamento do lodo
e do gás gerados no processo,
além da instalação de usinas fo-
tovoltaicas. Haverá também a re-
ciclagem do efluente para uso em
indústrias, poupando os manan-
ciais, a exemplo do que já ocor-
re na ETE ABC com o Aquapolo
Ambiental, projeto pioneiro em
parceria com a GS Inima Indus-
trial. Iniciado em 2012, trata-se
hoje do maior empreendimento
para a produção de água de reúso
para fins industriais em toda a
América do Sul.
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
SABESP EM NÚMEROS SANEAMENTO 4.0
Visando uma eficiência ope-
376 racional cada vez maior, a Sabesp
vem avançando no conceito de Sa-
municípios atendidos no
Estado de São Paulo neamento 4.0 com uso de tecnolo-
gias de automação na operação de
ETAs, ETEs e redes de distribuição.
28 milhões Hidrômetros inteligentes, dotados
de pessoas atendidas com água de Internet das Coisas, permitem
aos consumidores acompanhar o
24,7 milhões consumo pelo celular, evitando
de pessoas atendidas com desperdício e prevenindo vaza-
coleta de esgoto mentos de água; 223 mil medidores
já foram instalados.
91,6 mil No campo social, o programa
Água Legal ampliou seu alcance
quilômetros de adutoras
e redes de distribuição para mais 245 mil moradores de
de água 93 comunidades na Região Metro-
politana de São Paulo. Premiado
pela Rede Brasil Pacto Global da
63,6 mil Organização das Nações Unidas
quilômetros de redes, coletores e
(ONU), o Água Legal regulariza
emissários de esgoto
ligações de água em áreas de alta
vulnerabilidade social, onde os
582 moradores são abastecidos de
Estações de Tratamento de modo precário por tubulações
Esgoto improvisadas e sujeitas à conta-
minação. Mais de 680 mil pessoas
237 já foram beneficiadas desde 2016.
ETAs (Estações de Em 2023, a Sabesp criou a Su-
Tratamento de Água) perintendência de Sustentabili-
dade e Governança Corporativa,
2,86 trilhões responsável por desenvolver a
Agenda ESG Sabesp, integrando
de litros de água tratada por ano
a estratégia, a cultura organiza-
cional e o negócio a princípios e
12,2 bilhões iniciativas em meio ambiente, no
de litros de água de reúso campo social e em sua governan-
produzidos em 2022 ça. Com a nova superintendência,
a companhia espera continuar
R$ 5,4 bilhões protagonista no desenvolvimen-
investidos em 2022 em to sustentável do Estado de São
segurança hídrica e expansão Paulo nos próximos 50 anos.
do sistema sanitário
98%
índice de cobertura em água
92%
índice de cobertura em
coleta de esgoto
A7
Divulgação/Sabesp
Estação de
Tratamento de
Água Guaraú
2014 • Crise hídrica: Verão
menos chuvoso da
história, entre 2013 e
2014, reduz nível dos
reservatórios. Sabesp
adota medidas, como
bônus a quem reduzisse
consumo, e realiza obras,
como a interligação
Jaguari-Atibainha e o novo
Sistema São Lourenço
2016 • Programa Água Legal,
para levar água tratada
para famílias em áreas de
alta vulnerabilidade
2018 • Início do Sistema
de Biogás em Franca,
reaproveitando
gás proveniente do
tratamento de esgotos
2019 • Programa Novo Rio
Pinheiros traz inovações:
contratação de obras
por desempenho, as
Unidades Recuperadoras
da Qualidade da Água
dos Córregos e a
Hiperoxigenação
2020 • Pandemia de Covid:
Empresa lidera na
prevenção, promovendo
desinfecção de ruas e
hospitais, instalação de
lavatórios públicos e
doação de caixas-d’água
2021 • Inaugurada a primeira
estação de energia
fotovoltaica, em Orindiúva
• Parceria com a
Fundação Amazônia
Sustentável (FAS), para
apoio às populações
ribeirinhas e indígenas
2022 • Rio Pinheiros está
mais limpo, com vida e
reintegrado à cidade
• Inaugurado o Sistema de
Abastecimento de Água
Sapucaí-Mirim, em Franca
2023 • Sabesp inicia operação
em Olímpia; pela primeira
vez, uma estatal do
setor vence concorrência
pública no país
• IntegraTietê, programa
de despoluição do rio
Tietê da Secretaria
de Meio Ambiente,
Infraestrutura e Logística
• Processo de
reestruturação, com novas
diretorias e áreas, torna
empresa mais integrada,
moderna e eficiente
Aponte a câmera do
celular ou tablet para
o QR CODE e acesse
o livro “SABESP:
50 ANOS DE VIDAS”
A8 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
política
OMBUDSMAN
Carvall
O começo do fim. Escolha o seu
imprensa percebe anseios, abraça bandeiras, mas economiza no ativismo
- plo. Nem a bancada ruralista
José Henrique Mariante
“No fim, um pequeno come-
ço.” Dos tantos trocadilhos fei-
tos sobre a controversa reda-
ção do compromisso final da
COP28, encerrada na última se-
mana em Dubai, o enunciado
do diário alemão Süddeutsche
Zeitung ilustra bem a interpre-
tação dominante que restou
na mídia de Europa e EUA. O
acordo é obviamente insufici-
ente, mas sinaliza pela primei-
ra vez a necessidade de encer-
rar a produção e o consumo
de combustíveis fósseis. Esse
passo já é histórico.
A imprensa brasileira foi bem
folha.com/ombudsman
ombudsman@grupofolha.com.br
mais cética. Diante das mes-
mas conclusões, ressaltou tons
diferentes. Em análise na Fo-
lha, Marcelo Leite escreveu que
a conferência “pariu um rato”.
Sem citar a COP ou a questão
ambiental, Solange Srour mos-
trou por onde anda a discus-
são no país em coluna sobre
valorização das commodities,
maldição ou bênção: “No caso
do petróleo, a produção cres-
cerá de forma significativa nos
próximos anos. Segundo pre-
visão da Empresa de Pesquisa
Energética, o aumento será de
80% nos próximos sete anos”.
ombudsman tem mandato de um ano, com possibilidade de renovação, para criticar o jornal,
ouvir os leitores e comentar, aos domingos, o noticiário da mídia. Tel.: 0800-015-9000; fax:(11) 3224-3895
“Bênção”, respondeu em en-
trevista à Folha Alexandre Sil-
veira, o ministro que festejou
a entrada do Brasil na Opep+
em plena conferência do clima.
Faltou perguntar se ele combi-
nou com os termômetros.
Em sinal evidente dos hu-
mores por aqui, a decisão da
cúpula na manhã de quarta-
-feira (13) chegou à manchete
dos principais sites jornalísti-
cos, porém por pouco tempo.
Logo as chamadas para a sa-
batina de Flávio Dino e Paulo
Gonet tomaram o espaço, ain-
da que sem produzir novida-
de naquele momento. Era uma
agenda importante, por certo,
mas até então só uma agenda.
No dia seguinte, a decanta-
ção do noticiário devolveu a
transição energética à prate-
leira mais alta no impresso da
Folha, exceção entre os gran-
des jornais brasileiros. Não
era uma escolha difícil. Como
aconselha um surrado racio-
cínio de Redação, sacado em
momentos assim, notícia seria
Dino e Gonet gongados.
A coerência durou pouco. Na
noite de quinta (14) e no im-
presso de sexta (15), na sarai-
vada de vetos do governo Lu-
la derrubados pelo Congres-
so, o jornal optou por dar mai-
or destaque à desoneração da
folha. A exceção coube, desta
vez, a O Estado de S.Paulo, que
impôs a reabilitação do marco
temporal na sua versão física.
De novo, não era uma esco-
lha difícil. De um lado, um plei-
to corporativista, de condução
constrangedora por parte da
imprensa; de outro, uma dis-
puta econômica e social que
ilustra em tintas fortes o mo-
mento do país. Judicializada,
degenerará ainda mais o am-
biente entre STF e Congresso.
Mais do que isso, opõe con-
ceitos em nada desconhecidos
deste jornal, um dos poucos
da chamada grande mídia a
ter uma colunista indígena e
a dar amplo espaço a vozes e
manifestações dos povos ori-
ginários, com direito a custo-
sas coberturas de Ambiente e
capas da Ilustrada, por exem-
ignora o peso da decisão, que
terá repercussão internacio-
nal e representará custo para
o país, direto ou difuso.
Lembra da história de que a
preservação ambiental é mui-
to mais efetiva em terras indí-
genas? É assunto antigo por
aqui, mas saiu há algumas
semanas no jornal The New
York Times. Tempos, leituras
e percepções são diferentes,
não apenas na COP. Que tal
confrontar os congressistas?
O setor energético faz isso
agora diante da descarada cri-
ação de jabutis nos projetos de
lei em discussão na área, com
a devida repercussão na Folha.
Grandes questões econômi-
a eee
cas têm a atenção do jornal,
não há mal nisso, pelo contrá-
rio. Grandes demandas sociais
também têm, mas talvez não
com o mesmo empenho ou no
volume esperado pelos envol-
vidos. A diferença incomoda.
Bad COP
Das tantas hipocrisias escan-
caradas na COP28, a anima-
da adesão brasileira ao cartel
do petróleo conferiu ao país a
distinção “fóssil do dia” na pri-
meira semana da conferência.
Uma forma bem-humorada de
reconhecer quem rema contra
o planeta na crise climática.
A vigilância foi forte e não
poupou nem mesmo o jorna-
lismo global. Segundo levanta-
mento publicado por The Inter-
cept e The Nation, as agênci-
as Reuters e Bloomberg, os jor-
nais The New York Times, Fi-
nancial Times e The Washing-
ton Post, a revista The Econo-
mist e o site Politico são os ve-
ículos preferidos da indústria
de combustíveis fósseis para
abrigar conteúdo patrocina-
do, aqueles que têm formato
de notícia, mas são publici-
dade. Apenas o Times faturou
US$ 20 milhões em três anos, a
maior parte da Saudi Aramco.
Sim, a Folha não está sozi-
nha quando apanha por vei-
cular publicidade incômoda,
como as iniciativas edulcora-
das da Prefeitura de São Paulo
ou o debate torto sobre cigar-
ro eletrônico da ex-Souza Cruz.
Sozinho está o inglês The
Guardian, que recusa conte-
údos que vê como danosos à
sociedade, como combustíveis
fósseis e apostas esportivas.
Às vezes é bom ser a exceção.
a eee domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 A9

política

Primeiro ano de Lula foi bom ranteogovernoBolsonaro,mas

boa parte disso foi imediata-
mente alcançado no dia em que
te que lhe é próxima, ou confi-
ável por ser “garantista”. Os in-
dicados podem perfeitamente
Jair perdeu a eleição. A política ter um bom desempenho. Mas
brasil manteve direitos e ganhou dinheiro por ter derrotado golpe bolsonarista externa revelou-se um desafio lamento que mulheres e negros
mais difícil do que Lula espe- nãotenhamsidocontemplados,
- rava: os espaços multilaterais comoforamemoutrasadminis-
Celso Rocha de Barros em que atuou impetuosamen- trações petistas.
Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de oxford (inglaterra) e autor de “PT, uma História” te em seus primeiros mandatos Diante disso tudo, desa-
(ONU, OMC etc.) estão esvazia- fio o leitor a achar primeiros
dos. O cenário geopolítico é in- anos de mandato muito me-
OprimeiroanodogovernoLula Salles queimou safras futuras passada,aCâmaraaprovouum ria implementar os bons pro- comparavelmente pior do que lhores do que este na história
superou todas as expectativas com sua promoção do aqueci- ótimo programa que oferecerá jetos do MEC com mais pressa. 20 anos atrás. Quase começou da Nova República. O próximo
razoáveisepelomenosempatou mento global, a reconstrução uma bolsa e uma poupança a Por outro lado, as negocia- uma guerra entre Venezuela e ano deve ser bem mais difícil.
com alguns chutes otimistas. é difícil, mas está acontecendo. estudantes pobres que comple- ções sobre o novo ensino mé- Guiana. Ainda não foi possível Mesmo assim, devemos come-
O crescimento deve ser qua- Na educação, Camilo Santa- tarem o ensino médio. De auto- dio—umproblemagiganteher- fechar o acordo entre Mercosul morar um ano que começou
se quatro vezes (3%) as expecta- na criou o programa de pro- ria da deputada Tabata Ama- dado de governos anteriores— e União Europeia. derrotando um golpe de Esta-
tivas do mercado no início do moção do ensino integral, que ral (PSB-SP), o projeto consta- seguem difíceis no Congresso. As nomeações para o Judiciá- do e terminou com a primeira
ano (0,8%). O desemprego é o planeja alcançar 3,2 milhões de va do programa de governo de Na diplomacia, o Brasil dei- rio foram a área em que Lula foi grande reforma tributária de
mais baixo desde o começo de crianças até 2026. Na semana Simone Tebet. O governo deve- xou de ser o pária que foi du- mais conservador. Indicou gen- nossa democracia.
2015.Emseconfirmandoaspre-
visões do relatório Focus, a in-
flação deve ficar dentro da me-
ta pela primeira vez desde 2020.
O salário-mínimo teve seu pri-
meiro aumento real em anos.
Fatores externos certamen-
te ajudaram o sucesso econô-
mico. Mas Fernando Haddad
construiu e implementou com
competência uma agenda eco-
nômica de frente ampla.
A aprovação da reforma tri-
butária é um dos grandes even-
tos políticos no Brasil neste sé-
culo. Haddad ainda emplacou
oarcabouçofiscal,atributação
defundosexclusivoseoffshores,
e segue na briga pela correção
das ineficiências e iniquidades
do Estado brasileiro.
Note-se que o governo incor-
poroupropostasdocentrolibe-
ral e, ao mesmo tempo, deu iní-
cio a reformas redistributivas
que a esquerda não conseguiu
fazer nas presidências anterio-
resdoPT.OBrasilaindacaptou
US$ 2 bilhões no exterior com a
emissãodostítulos“verdes”ede-
veaprovarembreveasregrasde
um mercado de carbono.
DevoltaaoMinistériodoMeio
Ambiente, Marina Silva já con-
seguiu reduzir o desmatamen-
to na Amazônia em 22%. Depois
de vários anos em que Ricardo

| dom. Elio Gaspari, Celso Rocha

de Barros | seg. deborah Bizar-
ria, Camila Rocha | ter. Joel Pi-
nheiro da Fonseca | qua. Elio Gas-
pari | qui. Conrado H. Mendes |
sex. Marcos Augusto Gonçalves |
sáb. Demétrio Magnoli

STF forma maioria a

favor de regra que
amplia poder do TSE
-
Renata Galf

são Paulo O STF (Supremo

Tribunal Federal) formou
maioria nesta sexta-feira (15)
para manter a resolução do
TSE (Tribunal Superior Elei-
toral)queampliounoanopas-
sado os poderes da corte pa-
ra agir contra a desinforma-
ção sobre as eleições.
O relator, ministro Edson
Fachin, que votou pela vali-
dade da norma, foi acompa-
nhadopelosministrosAlexan-
dredeMoraes, CármenLúcia,
Cristiano Zanin, Dias Toffoli e
Luís Roberto Barroso.
Aprovada a dez dias do
segundo turno das eleições
de 2022, a medida tinha si-
do questionada pelo então
procurador-geral da Repú-
blica, Augusto Aras.
O julgamento ocorre no ple-
nário virtual, com votos dos
ministros por escrito inseri-
dos em um sistema eletrôni-
co do tribunal.
A sessão se encerra na se-
gunda-feira (18). Até lá, pode
haver pedido de vista (mais
tempo de análise) e de desta-
que (para levar o caso ao ple-
náriofísico).Osministrostam-
bémpodemmudarseusvotos.
Até o fim da noite desta sex-
ta, não tinham votado os mi-
nistros André Mendonça, Gil-
mar Mendes, Kassio Nunes
Marques e Luiz Fux.
No julgamento do mérito, o
relator citou, como contexto,
o aumento de denúncias so-
bre desinformação no pleito
de 2022 comparado a 2020.
A10 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
política
Juliana Freire
180 escrituras no Morro do Alemão
CnJ derrotou a Síndrome da reivindicação Sucessiva
- ce mandatos com prazo para
Elio Gaspari
Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles “A ditadura Encurralada”
Há duas semanas, como par-
te do Programa Solo Seguro,
a Corregedoria Nacional de
Justiça entregou 180 títulos de
propriedade a moradores do
Complexo do Alemão, no Rio
de Janeiro. (Naquele cenário,
em 2011, foi instalado o espe-
táculo do teleférico que cus-
tou R$ 210 milhões. Ficou sete
anosparadoeseriareabertono
início deste mês. Tudo bem, o
que começa como presepada,
como presepada se encrenca.)
A regularização dos lotes on-
de vivem 180 famílias do Ale-
mão custou três meses de tra-
balho a 17 pessoas: 2 da Corre-
gedoria, cerca de 12 da Prefei-
tura do Rio e 3 do cartório de
registro de imóveis. A impres-
são das escrituras deve ter sa-
ído por uns R$ 2.000. Só.
As duas iniciativas mostram
a futilidade das obras espeta-
culares que beneficiam primei-
ro a turma do andar de cima
e a utilidade de ações onde o
que se precisa é apenas interes-
se pelo andar de baixo, mais
algum trabalho.
O economista peruano Her-
Influenciadores se
juntam por debate
político menos tóxico
iniciativas aproveitam ‘canhão’ de personalidades
nas redes para estimular discussões democráticas
-
Joelmir Tavares
São Paulo Os celulares que
se manifestam de repente
durante a aula dão pistas do
perfil da turma reunida em
uma sala na capital paulis-
ta em meados de novembro.
Um aparelho toca uma mú-
sica inesperada, outro emi-
nando de Soto mostrou há dé-
cadas que, no Terceiro Mun-
do, milhões de famílias vivem
em modestas residências, sobre
terrenos desprovidos de docu-
mentação. Sem escrituras, so-
frem com milicianos, não têm
acesso a serviços públicos re-
gulares e têm dificuldade para
obter crédito. Com escrituras,
ganham uma espécie de cida-
dania financeira.
Segundo De Soto, numa con-
ta velha, as pessoas que vivem
em lotes irregulares estavam
sentadas em cima de um patri-
mônio de US$ 9,3 trilhões, erva-
nário equivalente ao valor de
todas as companhias listadas
nas Bolsas dos 20 países mais
desenvolvidos. No Brasil, é pro-
vável que esse patrimônio seja
superior ao valor das compa-
nhias da Bolsa de São Paulo.
A regularização fundiária
dos lotes urbanos parece uma
questão insolúvel porque é qua-
se exclusiva do andar de baixo.
Não se pode fazer a escritura
porque, antes, deve vir o arru-
amento, e o arruamento não
pode vir porque não se sabe
te uma voz humana —e seus
donos se apressam em inter-
rompê-los.
São influenciadores digitais
que têm uma vida ativa nas re-
des sociais e foram chamados
para um treinamento do Re-
des Cordiais, projeto que bus-
ca espalhar a ideia de “influ-
ência responsável” para en-
de quem é a terra. É a Síndro-
me da Reivindicação Sucessiva:
não se pode fazer A porque fal-
ta B e só se pode fazer B quan-
do estiver feito C. Enquanto is-
so, nada se faz.
O corregedor nacional de Jus-
tiça, ministro Luis Felipe Sa-
lomão, e sua pequena equipe
mostraram como se faz, e não
só no Alemão. Em apenas uma
semana, em agosto e setembro,
foram regularizadas 31 mil pro-
priedades na Amazônia Legal.
Em todos os casos, foi decisiva
a colaboração das prefeituras.
Noutra iniciativa, o Conselho
Nacional de Justiça, ajudado
pelos cartórios e seus servido-
res, emitiu cerca de 100 mil do-
cumentos de registro civil pa-
ra pessoas que vivem nas ru-
as. Era outro caso de vigência
da Síndrome da Reivindica-
ção Sucessiva. Esses cidadãos,
por não terem documentos, ti-
nham dificultado o acesso a al-
guns serviços sociais.
Fim da reeleição
A boa notícia de 2024 surgiu
no fim de 2023. O presidente
Influenciadores
digitais
participam
de atividade
do Redes
Cordiais em
parceria com o
Instituto Sou
da Paz em São
Paulo Joelmir
Tavares/Folhapress
frentar questões como pola-
rização política, discurso de
ódio e desinformação.
Na atividade daquele dia, 12
convidados aprenderam so-
bre segurança pública com
especialistas do Instituto Sou
da Paz. A ideia é aproveitar o
“canhão de comunicação” dos
influencers, como definiu um
do Senado, Rodrigo Pacheco,
pretende colocar o fim da ree-
leição na pauta durante o pri-
meiro semestre. Ele acredita
que a emenda constitucional
será aprovada. Pacheco, co-
mo muita gente, acredita que
o instituto da reeleição é um
dos maiores males da políti-
ca brasileira.
Mesmo que a PEC seja apro-
vada, os eleitos de 2022 ain-
da poderão disputar um no-
vo mandato.
A reeleição dos presidentes,
governadores e prefeitos foi
uma novidade instituída em
1997. Nas palavras do ex-presi-
dente Fernando Henrique Car-
doso, seu inspirador e imediato
beneficiário, deu errado.
A PEC de autoria do sena-
dor Jorge Kajuru (PSB-GO) au-
menta os mandatos para car-
gos executivos de quatro para
cinco anos. A ideia é boa, mas
contém uma girafa aritméti-
ca, desalinhando os mandatos.
O presidente seria eleito a
cada cinco anos (2026, 2031,
2036...). Os senadores e os de-
putados continuariam com
mediador, chamando-os de
“novos Faustões, novas Fáti-
mas Bernardes”.
Criado em 2018, o Redes
Cordiais faz parte de uma lis-
ta de organizações que esti-
mulam artistas, personalida-
des e criadores de conteúdo
a atuarem por um ambiente
digital menos tóxico.
Além de agências de checa-
gem como Lupa e Aos Fatos,
plataformas como Despola-
rize, Politize! e Instituto Ve-
ro ganharam espaço com ini-
ciativas para combater fake
news e estimular um debate
saudável e democrático no
país que se dividiu entre Lu-
la (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Em nome da tal cordialida-
de, o Redes já arrastou para
seus cursos e campanhas fi-
guras de perfis distintos co-
mo as atrizes Paolla Oliveira
e Dira Paes, o humorista Fa-
bio Porchat, os cantores Ro-
gério Flausino e Manu Gavas-
si e os jornalistas Leda Nagle
e Guilherme Fiuza.
“Nossa atuação tem o intui-
to de transformar esses ato-
res estratégicos”, diz a jorna-
lista e pesquisadora Clara Bec-
ker, cofundadora do projeto.
“Influenciadoresprecisamser
engajados na tarefa da edu-
cação midiática, para que se
tornem melhores exemplos
e compartilhem os conheci-
mentos.”
Na roda de conversa sobre
segurança, um dos chavões
repetidos era a necessidade
de “furar bolhas” para alcan-
çar outros públicos e ter um
impacto real. Todos os parti-
cipantes daquela data tinham
tendência progressista, mas
mandatos de oito ou quatro
anos, e as eleições aconteceri-
am em 2026, 2030 e 2034.
Comodesalinhamento,opre-
sidente eleito em 2031 teria que
conviverportrêsanoscomuma
Câmara eleita um ano antes.
Perigo à vista: o desalinha-
mento é uma girafa, mas não
é veneno. Para evitá-lo, pode
surgir a ideia de extensão dos
mandatos de governadores,
deputados e senadores para
cinco e dez anos.
Ameaças inúteis
Com a aprovação do nome de
Flávio Dino para o Supremo
Tribunal Federal por 47 votos
contra 31, ficaram mal na foto
os intermediários que defendi-
am a escolha do advogado-ge-
ral da União, Jorge Messias, ar-
gumentando que o ministro da
Justiça seria rejeitado. Alguns
deles eram notáveis petistas.
Mandatos no STF
Pela conta de hoje, o Senado
aprovará a PEC que estabele-
os futuros ministros do Supre-
mo Tribunal Federal.
A reação impulsiva de alguns
ministros contra a aprovação
da emenda que limita as deci-
sões monocráticas do tribu-
nal contribuiu para fortalecer
o mal-estar.
Comunistas no STF
Lula disse que “pela primeira
vez na história desse país con-
seguimos colocar na Suprema
Corte um ministro comunista”.
Flávio Dino filiou-se ao PC do
B em 2006, quando já se havi-
am apagado as luzes de todos
os partidos comunistas, inclu-
sive os da China e da Albânia,
que haviam iluminado a orga-
nização. Deixou o partido 16
anos depois, indo para o Par-
tido Socialista Brasileiro.
Pelo menos na visão do pro-
fessor Henry Kissinger, que
morreu há pouco, Lula pode
ter se enganado. Em 1962, Kis-
singer esteve no Brasil, encon-
trou-se com o então primeiro-
-ministro Hermes Lima e escre-
veu a um amigo:
“O New York Times, com sua
habitual perspicácia, descreve-
-o como um socialista modera-
do. Se ele é isso, eu gostaria de
saber como é um comunista”.
em geral há a preocupação
de chamar também conser-
vadores.
“Passei a pensar duas vezes
antes de compartilhar as coi-
sas”, disse à Folha o influenci-
ador Kaique Brito (164 mil se-
guidores no TikTok e 96 mil
no Instagram), que compa-
recia pela segunda vez a um
encontro do Redes Cordiais.
A primeira vez foi há quatro
anos, quando ele tinha aca-
bado de completar 15.
A diretora-executiva do Sou
da Paz, Carolina Ricardo, dis-
se que os influencers podem
ajudar a “ampliar as vozes
envolvidas no tema, chegan-
“
Passei a pensar
duas vezes antes
de compartilhar
as coisas
Kaique Brito
influenciador com
164 mil seguidores
no TikTok e 96 mil
no instagram
a eee
Meses depois, João Goulart
nomeou Hermes Lima para o
Supremo Tribunal Federal, on-
de ele ficou até 1968, quando foi
aposentado pelo AI-5.
Hermes Lima nunca perten-
ceu ao Partido Comunista.
Ministério da Justiça
O alto comissariado petista es-
tá olhando para o Ministério
da Justiça como um cargo que
ilustra biografias.
Flávio Dino foi um minis-
tro combativo nas palavras
e bem-humorado nas atitu-
des. Só. Nesses atributos ne-
nhum sucessor fará melhor,
mas é pouco.
Lula pode fazer o que qui-
ser com o ministério, desde
que não se esqueça que a se-
gurança pública será um tema
central nas próximas campa-
nhas eleitorais.
Seu primeiro ano de governo
foi rico em palavras e planos.
Fávaro na frigideira
Se Lula vier a mexer no minis-
tério, o senador Carlos Fávaro
deverá deixar a pasta da Agri-
cultura, e ele percebeu isso.
Na quinta-feira, tendo reas-
sumido sua cadeira para apro-
var a indicação de Flávio Dino,
Fávaro votou a favor da derru-
bada do veto de Lula ao mar-
co temporal para demarcação
das terras indígenas.
Fávaro foi um dos primeiros
políticos ligados ao agronegó-
cio a apoiar a candidatura de
Lula, mas de um lado ele não
abandonou sua base ruralis-
ta e, de outro, foi menos ouvi-
do do que esperava.
O calibre de Marta
Marta Suplicy foi prefeita de
São Paulo de 2001 a 1º de janei-
ro de 2005. Enfrentou as empre-
sas de ônibus e instituiu o Bi-
lhete Único. Ela não conseguiu
se reeleger e hoje seu nome cir-
culou como provável candida-
ta a vice, tanto de Ricardo Nu-
nes, de cujo governo partici-
pa, quanto de Guilherme Bou-
los, candidato do PT e do PSOL.
São raros os casos de políti-
cos que foram lembrados pelos
dois lados da disputa eleitoral.
Em alguns casos isso se deve à
habilidade e em outros ao de-
sempenho. No caso de Marta,
se deveu aos dois.
do até o adolescente sentado
em casa vendo o Instagram”.
Entre uma olhada e outra
no celular, o grupo também
compartilhou angústias, com
reclamações de que represen-
tantes da direita bolsonarista
se recusam a conversar com
base em argumentos, interdi-
tando debates, e que os ata-
ques de “haters” (detrato-
res) corroem a saúde men-
tal dos alvos.
Uma das conclusões foi a
de que é preciso tentar sen-
tir a dor do outro, pratican-
do a tão falada empatia, mas
também admitir as própri-
as limitações, para não so-
frer tentando salvar o mun-
do. Circulou ainda o conselho
de fugir da armadilha de os-
tentar uma pretensa superi-
oridade moral.
Segundo o Redes Cordiais,
já passaram por suas ações
300 pessoas, seguidas por 238
milhões de contas.
No ano passado, diante da
ofensiva contra as urnas ele-
trônicas, a entidade levou 30
influenciadores ao TSE (Tri-
bunal Superior Eleitoral) pa-
ra falarem com técnicos e co-
nhecerem a área de totaliza-
ção dos resultados, chama-
da equivocadamente de “sa-
la secreta” por Bolsonaro e
aliados.
Sem fins lucrativos, o Redes
é bancado por doações de or-
ganismos como o brasileiro
Instituto Betty & Jacob Lafer
e o americano Fundo Nacio-
nal para a Democracia. Tam-
bém já recebeu recursos de
big techs como Google e Me-
ta (dona do Facebook, Insta-
gram e WhatsApp).
a eee domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 A11

política

Generais levam de carteira assinada tivessem

uma garantia de recursos em
milhão —no caso do general
Tomás Paiva, comandante do
Nesse caso, os militares que
escolhemfazeramudançapor

“
caso de demissão, numa alter- Exército, os valores somados meiodacontrataçãode cami-
nativa à estabilidade no em- chegaram a R$ 770 mil. nhãorecebemumvaloraquém

R$ 4 milhões de prego.Por isso,servidorespú-

blicos em regime estatutário
não têm direito ao FGTS.
Em 1º de dezembro, o gene-
“O Centro de Comunicação
Social do Exército Brasileiro
informa que todas as movi-
mentações com ajuda de cus-
O Centro de
Comunicação
donecessário—e,porisso,pre-
cisam desembolsar recursos
própriosparabancarosgastos.
Eles ainda afirmam que a

penduricalho
ral Estevam Theophilo foi pa-
ra a reserva do Exército e dei-
xou o Comando de Operações
Terrestres. Ele é membro de
to e transporte seguem a le- Social do Exército ajuda de custo serve como
gislação vigente e reafirma o atratividade na Força, já que
compromisso da instituição Brasileiro informa a carreira é cheia de percal-
comocombateàdesinforma- que todas as ços, com mudanças constan-

para mudança
uma das famílias mais tradi-
cionais da Força, cujo início
das atividades remonta ao
Brasil Império.
Os valores repassados a
Ajuda de custo para movimentação Theophilo, porém, não es-
tão detalhados no Portal da
foi paga a 50 militares; valor chega a Transparência. Em casos de
acúmulo de benefícios, o va-
r$ 151 mil para ir de belém a São Paulo lor pode saltar a quase R$ 1
ção, com a legalidade e com a
transparêncianaprestaçãode
informaçõesàsociedadebrasi-
leira”,disseoExércitoemnota.
MilitaresouvidospelaFolha
reclamaramdofatodeastabe-
las que definem os valores pa-
ra o transporte dos bens esta-
rem defasadas. Os preços não
são atualizados desde 2011.
tes de cidade, e a instabilida-
movimentações de da profissão causa prejuí-
com ajuda de zos às famílias.
custo e transporte Na visão deles, o benefício
aindacompensaofatodemili-
seguem a legislação taresnãoreceberempelasho-
vigente ras extras trabalhadas. É di-
nheiro importante ainda pa-
Exército rareorganizaravidadefilhos,
em nota com matrícula em escolas.

-
Cézar Feitoza

Brasília O Comando do Exér-

cito vai repassar R$ 4 milhões
para 50 generais como ajuda
de custo para mudar de cida-
de. O benefício, na prática, é
recebido por militares de al-
ta patente como pendurica-
lho para aumentar salários.
Os valores variam de R$ 12,4
mil a R$ 151,1 mil por general
—média de R$ 81,5 mil pa-
ra cada um. O Exército ainda
envia verba extra ou contrata
caminhões para o transporte
dos bens pessoais dos milita-
res por fora da ajuda de custo.
O recurso, previsto em lei, é
repassado ao militar quando
ele é transferido de cidade. As
movimentações costumam
ocorrer a cada dois anos.
Apesar de ser classificado
como uma ajuda de custo, o
recurso não é calculado com
basenasdespesasexigidaspa-
ra a mudança de local de tra-
balho —o único fator é o sa-

A FOLIA COMEÇA AQUI

lário. Na prática, a verba aca-
ba inflando as remunerações
dotopodacarreiraembenefí-
cio que opõe oficiais a praças.
A última movimentação do
generalato foi definida em re-
união do Alto Comando do
Exército no fim de outubro.
Ao todo, 71 generais troca-
ram de cargos. Levantamen-
27 DE JANEIRO ALLIANZ PARQUE
to feito pelaFolha mostra que
50 desses militares deverão
receber recursos, enquanto
Aponte a câmera do celular
outros 19 não tiveram direito e garanta já seu ingresso
por permanecerem na mes-
ma cidade; outros dois gene-
rais vão se mudar, mas o Por-
taldaTransparêncianãodeta-
lha registros de recebimento.
A lei estabelece que o mi-
litar com dependentes de-
ve receber duas vezes o va-
lor de remuneração como
auxílio a cada movimenta-
ção em que haja mudança da
organização militar.
Se a origem ou destino for
uma cidade considerada de
categoriaA,cujodeslocamen-
toémaiscomplexo,ovalorso-
be para quatro vezes o salário GLORIA
GLORIA DANIELA
DANIELA
domilitar.Odinheiroserácor-
GROOVE
GROOVE MAIARA
MAIARA && MERCURY
tado pela metade se o benefi-
ciário não tiver filhos. MARAISA
MARAISA MERCURY
OgeneralFranciscoWelling-
ton Franco de Souza, duas es-
trelas, é quem receberá o mai-
or valor: R$ 151,1 mil. Ele sai-
rá da chefia do Estado-Maior
do Comando Militar do Nor-
te, em Belém (PA), para a che-
fia de Material de Aviação do
Exército, em São Paulo (SP).
Outros dez generais vão
receber recursos acima de
R$ 100 mil.
Emcomparação,parlamen-
tares têm direito a ajuda de
custo de R$ 40 mil no início e
no fim da legislatura, a cada
quatro anos, para auxiliar as
BÁRBARA
BÁRBARA BANDA
BANDA MONO
MONO
JOELMA
mudanças para Brasília.
A maior ajuda de custo é da-
da ao militar quando vai pa- JOELMA LABRES
LABRES EVA
EVA BLOCO
BLOCO
ra a reserva. O valor, estabe-
lecido por lei, é de oito vezes
o último salário de seu últi-
mo posto —saldo que chega
a R$ 300 mil em caso de gene-
rais quatro estrelas.
O benefício foi dobrado pe-
lo Congresso, em acordo com
ogovernodoex-presidenteJa-
ir Bolsonaro (PL), na votação
dareformadaPrevidênciados
militares, em 2019.
Generais ouvidos pela Fo-
lha afirmaram, sob reserva,
que o pagamento serve co-
mo uma espécie de FGTS pa-
Ticketeira:
G aran ta j á seu in g resso em
ra os militares.
O fundo, no entanto, foi cri-
uol.com.br/car nauolsp
ado para que trabalhadores
A12 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
mundo
Manifestantes protestam contra proposta constituinte de 2022, posteriormente rejeitada pela população, em Santiago, no Chile
Chile volta apático às urnas para
decidir sobre nova Constituição
Emendada pela ultradireita, proposta é anticlímax de protestos contra Carta da ditadura
-
Daniela Arcanjo
São Paulo ApopulaçãodoChi-
le volta às urnas neste domin-
go (17) para tentar enterrar a
mais simbólica herança da di-
tadura de Augusto Pinochet
—a Constituição promulgada
em 1980, quando o país esta-
va sob o violento regime. Iro-
nicamente,porém,especialis-
tas dizem que o texto sob es-
crutínio consolida o projeto
liberal da carta vigente.
Após reprovar uma propos-
ta constituinte em setembro
de2022,quando62%dapopu-
lação rechaçou o documento
gestado pela esquerda, o país
mergulhouemincerteza.Atéo
mês passado, nenhum dos le-
vantamentosfeitospelosprin-
cipais institutos de pesquisa
chileno indicava a aprovação
do texto, embora a opção es-
tivesse em tendência de alta.
Havia ainda uma porcen-
tagem significativa de inde-
cisos em um plebiscito cuja
presença é obrigatória —na
última semana de novembro,
16% das pessoas não sabiam
qual seria o seu voto, de acor-
do com levantamento da em-
presadepesquisaschilenaCa-
dem. Não é possível saber se o
crescimento do grupo simpá-
Governo Lula apoia empréstimo de banco para Argentina
-
Nathalia Garcia
BraSília O governo de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) apoi-
ou o empréstimo de US$ 960
milhões (R$ 4,74 bilhões) do
CAF,bancodedesenvolvimen-
todaAméricaLatinaeCaribe,
para a Argentina, em um ace-
no de pragmatismo ao presi-
dente ultraliberal Javier Milei.
Diante da crise econômica
enfrentada pelos argentinos,
o empréstimo-ponte foi apro-
vado pela diretoria do CAF na
sexta (15) por unanimidade
entre os países votantes.
O Brasil possui um voto,
enquanto outros cinco paí-
ses (Bolívia, Colômbia, Equa-
dor, Peru e Venezuela) possu-
em dois votos.
Segundo interlocutores a
par das discussões, a saúde
econômica da Argentina é
considerada imprescindível
para o Brasil por causa das es-
treitas relações comerciais .
tico ao texto continuou des-
de então, já que a divulgação
de pesquisas nos quinze dias
anteriores ao pleito é vetada.
Para comparação, o texto
colocado à prova em 2022 foi
redigido por uma maioria de
legisladoresindependentesde
esquerda,comparidadedegê-
nero e representação dos po-
vos originários. Se tivesse si-
do aprovado, transformaria
o Chile em um Estado pluri-
nacional, garantiria o direi-
to ao aborto e consideraria a
água um bem “inapropriável”.
A proposta audaciosa era
um rescaldo do “estallido so-
cial”, como ficaram conheci-
dos os protestos de 2019 que
pediam melhorias nos siste-
mas públicos de aposentado-
ria, saúde e moradia, na con-
tramão da carta escrita pelo
economicamente liberal re-
gime de Augusto Pinochet.
“Esse processo não levou
em consideração que havia
uma direita forte no Chile que
atropelou os partidos tradici-
onais,mesmoosdecentro-es-
querda”, afirma Javiera Arce-
-Riffo, cientista política e pro-
fessora da Cátedra de Mulhe-
res e Política da PUC do Chile.
“Eles não entenderam o que a
política implica. É um proces-
De janeiro a outubro des-
te ano, o superávit comer-
cial do Brasil com o país vi-
zinho chegou a US$ 4,75 bi-
lhões. No período, as vendas
para os argentinos cresceram
12,5% e atingiram US$ 14,9 bi-
lhões, enquanto as importa-
ções caíram 7,1% e chegaram
a US$ 10,15 bilhões.
Além do interesse de que a
Argentina não sucumba à cri-
se econômica, o gesto tam-
bém sinaliza uma tentativa
do Brasil de demonstrar prag-
matismo nas relações com o
novo presidente, que tomou
possenoúltimodomingo(10).
Até então, havia um clima
de desconfiança do lado bra-
sileiro. Isso porque durante a
campanha eleitoral Milei dis-
se que não negociaria com o
presidente Lula e chamou o
presidente brasileiro de “cor-
rupto” e “comunista”.
Desde que foi eleito, o ultra-
liberal mudou de postura. O
so constante de negociação.”
Dasmanifestaçõesmassivas
de 2019 à votação do primei-
ro texto, o pêndulo político da
sociedade começou a retor-
nar para a direita, e, em maio
passado, a votação do Conse-
lhoConstitucionaldeuvitória
para o ultradireitista Partido
Republicano, que abocanhou
44% das cadeiras. O órgão foi
o responsável por emendar a
atualpropostaconstitucional.
Se o grupo responsável pe-
lo documento de 2022 estava
mais à esquerda do que a mai-
oria dos chilenos, o Conselho
Constitucional tampouco pa-
rece representar a sociedade.
Asigladoex-candidatoàPresi-
dência José Antonio Kast, que
conquistou quase metade das
vagasdoConselhoConstituci-
onal, ocupa 8,4% dos cargos
na Câmara dos Deputados.
Oresultadoagorafoiumdo-
cumento às avessas da carta
escrita há um ano.
“É um texto que radicaliza
as ideias de Jaime Guzmán”,
dizArce-Riffo,citandoumdos
ideólogosdaditaduradosécu-
lo 20. “Não cria um Estado de-
mocrático de direito, não ga-
rante direitos nem uma agen-
daderedistribuiçãoeconômi-
caeéumaameaçaparacertos
principalpassodeconciliação
foiadecisãodeMileideenviar
a então futura chanceler, Dia-
naMondino,aBrasília.Naoca-
sião, ela entregou um convite
para que o chefe do Executi-
vo brasileiro comparecesse à
posse em Buenos Aires.
Mesmo com o gesto, Lula
enviou à cerimônia no país
vizinho o ministro das Rela-
çõesExteriores,MauroVieira.
O financiamento obtido via
CAF será usado pelos argen-
tinos para pagar parte da dí-
vida com o FMI (Fundo Mo-
netário Internacional) —um
montante de US$ 912 milhões
(em torno de R$ 4,5 bilhões)
precisa ser quitado até a pró-
xima quinta-feira (21).
O crédito evitará que a Ar-
gentina entre em uma situa-
ção de inadimplência com o
FMI, abrindo caminho pa-
ra eventual renegociação. O
acordo foi firmado durante
o governo de Mauricio Ma-
$ direitos das mulheres.”
O que propõe o novo
texto constitucional
• Restrições ao aborto.
Liberado no Chile, o
procedimento pode ser
dificultado pela nova
Constituição, uma vez
que o texto incorpora a
“objeção de consciência”
• Sistemas privados. Não
altera os serviços de
aposentadoria e de saúde,
na contramão do que
pediam manifestantes
• Cerco a migrantes.
O novo texto prevê a
expulsão imediata de
pessoas em situação
irregular, ainda que
“com pleno respeito pela
dignidade humana”
• Mitigação da crise
climática. A nova
constituinte pode
implementar medidas
de adaptação aos
efeitos das mudanças
climáticas, além de
promover a cooperação
internacional para
alcançar seus objetivos
$ cri e renegociado várias ve-
Polícia expulsa
manifestantes após
ato de Javier Milei
A polícia de Buenos
Aires agiu, neste sábado
(16), para desmobilizar
um acampamento do
movimento indígena
Terceiro Malón de la
Paz, instalado há quatro
meses na praça Lavalle.
A ação aconteceu no
mesmo dia em que o grupo
havia marcado sua saída do
local —e dois dias depois
de um anúncio feito pelo
governo de Javier Milei
afirmando que as Forças
Armadas vão atuar contra
protestos na Argentina
que bloquearem vias
públicas. As informações
foram publicadas pelo
jornal Clarín e também
constam nas redes sociais
do movimento indígena.
Martin Bernetti - 9.abr.22/AFP
Para setores mais progres-
sistas, a aprovação da propos-
ta seria o anticlímax dos pro-
testosde2019,aindaquesubs-
titua a Constituição promul-
gada sob Pinochet. Isso por-
que parte dos aspectos mais
autoritários da atual carta
foram abrandados nos anos
2000 durante governos de es-
querda como o de Ricardo La-
gos e Michelle Bachelet, que
conseguiram criar reformas
para promover benefícios so-
ciais oferecidos pelo Estado.
O texto elaborado este ano,
por sua vez, não altera o sis-
tema privado de aposentado-
rias no Chile, uma das princi-
pais demandas dos manifes-
tantes de 2019, nem tira o pro-
tagonismo da saúde privada
no país. Além disso, abre bre-
cha para restringir o acesso
ao aborto e dificultar o pro-
cedimento por meio da obje-
ção de consciência —o direi-
to de uma pessoa a negar prá-
ticas profissionais que sejam
contrárias a suas convicções.
Ausente na Constituição
atual, esse mecanismo im-
porta debates que são pró-
prios dos Estados Unidos ao
Chile, segundo Simón Escoffi-
er, doutor em sociologia pela
zes pelo ex-presidente Alber-
to Fernández, totalizando ho-
je US$ 44 bilhões (cerca de
R$ 220 bilhões).
A nova equipe econômica
argentina, liderada pelo mi-
nistro Luis Caputo, ganhou
tempo para tentar chegar a
novos termos com o FMI.
Na reunião que selou o em-
préstimo do CAF, de acordo
com relatos, o representante
argentino comentou com os
outros participantes que os
membros do novo governo
estão tendo agora a dimensão
do “tamanho do estrago” que
terão de enfrentar para rees-
truturar a economia do país.
Nosprimeirosdiasdegover-
no, Milei anunciou um amplo
pacote de medidas econômi-
cas.OBancoCentraldaArgen-
tina decidiu manter a taxa bá-
sica de juros em 133% ao ano,
abaixo da inflação, e encare-
cer em 2% ao mês a cotação
a eee
UniversidadedeOxfordepro-
fessor da PUC do Chile.
“A objeção da consciência
está no texto de forma mui-
to genérica. Qualquer pessoa,
instituiçãoouempresapoderá
alegar objeção da consciência
para se opor a uma lei, e isso
faz com que as normas sejam
muito interpretáveis”, afirma.
“Se a proposta for aprovada,
passaríamos a ter vários de-
bates sobre se uma institui-
ção pode negar-se a contratar
homossexuais, por exemplo.”
Escoffier faz a ressalva de
que o texto é mais moderno
em alguns aspectos e tem ino-
vações, como uma menção às
mudanças climáticas —ainda
que não obrigue o Estado a
ter ações claras para comba-
terseusefeitos.“Oproblemaé
que tem muitos itens contro-
versos e ideológicos”, diz ele.
A reprovação do projeto
neste domingo seria uma vi-
tória do presidente do Chile,
o esquerdista Gabriel Boric,
ainda que o governo não es-
tejainfluenciandodiretamen-
te o trabalho constitucional.
Na cena pública do país des-
de os protestos estudantis de
2011, Boric foi um dos respon-
sáveis por pressionar o então
líder de direita Sebastián Pi-
ñera a dar início ao processo
constitucional em 2019.
Se for aprovado, é mais um
obstáculo de um presidente
que tem uma reprovação de
mais de 60%, segundo a Ca-
dem. “Seria o fim do gover-
no”, diz a pesquisadora Arce-
-Riffo. “A Constituição preci-
saria ser assinada pelo presi-
dente que prometeu enterrar
o neoliberalismo.”
dodólaroficial,usadoporins-
tituições financeiras, bancos
e empresas em transações de
grande volume.
Além da desvalorização do
peso, o duro plano de Milei in-
clui suspender todas as novas
obras públicas, reduzir subsí-
dios de energia e transporte
(a partir de 1º de janeiro), en-
xugar repasses às províncias
e liberar importações.
O novo empréstimo foi to-
mado a uma taxa de juros de
5,72% ao ano, de acordo com
a normativa do CAF para ope-
rações de risco com garantia
soberana.AArgentinateráaté
12 meses de prazo para hon-
rarocompromisso.Enquanto
não pagar a dívida assumida
nesta sexta, o país não pode-
rá tomar novos financiamen-
tos com a instituição.
OBrasilpossui8,8%docapi-
tal da instituição e é seu quar-
to maior acionista, atrás de
Colômbia, Peru e Argentina.
a eee domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 A13

mundo

Papa Francisco faz 87 mais Somentedepoisdapróxima

etapa do Sínodo é que o papa
deverá publicar novas diretri-
zes aos católicos, o que pode-
que deu orientações para ter
um funeral mais simples e re-
velou o desejo de ser sepulta-
do fora do Vaticano.

‘livre’ sem sombra de Bento 16

riaacontecerem2025.Orisco, Diante da idade avançada,
dizemobservadores,équees- pairam dúvidas sobre quan-
se processo, iniciado em 2021, to do dinamismo visto neste
possa ser suspenso em caso ano permanecerá em 2024. A
de morte do pontífice. agendadeviagensdeverásera
Apesar das internações des- primeiraasofrercortes.Fran-
Pontífice torna igreja Católica próxima de seu perfil após a morte do antecessor te ano e do cancelamento da cisco afirmou que só a Bélgi-
viagem que faria a Dubai, pa- ca está confirmada, por ora.
ra a COP28, devido a uma in- Intenções de voar até a Poli-
-
Michele Oliveira O vaticanista destaca outro depadresdarembênçãosaca- ao longo de outubro e a etapa flamaçãopulmonar,Francisco nésia e a Argentina estão pen-
momento que, para ele, con- sais do mesmo sexo. final será no ano que vem. O afirmounaúltimasemanaque dentes. A visita à sua terra na-
Milão Em clima de aniversá- firma a disposição do pontí- “É como se ele estivesse di- documento da primeira reu- se sente bem, mas que sua sa- tal, ainda inédita como papa,
rio, com 87 anos completados fice em não perder mais tem- zendo ‘eu também sei jogar nião desanimou tanto conser- úde ainda precisa de orações. seanunciavacomoumgrande
neste domingo (17), Francis- po.Emoutubro,Franciscores- esse jogo’”, afirma White. vadoresquantoprogressistas, Certo é que o ano termina momento de seu pontificado
co chega ao fim de um inten- pondeu, de forma pública, a Eventoeclesiásticomaisim- ao indicar maior abertura às com ar de conclave rondando e ganhou novo significado de-
so 2023, pelo ritmo de traba- questões de cardeais conser- portante do ano, o Sínodo da mulheres e ao mesmo tempo o Vaticano, e o papa demons- pois de ele ter sido insultado
lhoapesardasaúdefrágilepe- vadores. Em um dos trechos, Sinodalidade, como é chama- deixardeladocatólicosLGBT- tra lucidez sobre a própria fi- por Milei. Resta saber se terá
los embates que decidiu tra- deixou aberta a possibilidade do,teveaprimeiraassembleia QIA+ e outras questões. nitude. Em entrevista, contou força física para tal.
var, com resultados que nem
sempre lhe foram agradáveis.
O ano já começou com um
grande acontecimento. O fu-
neral, em janeiro, do seu an-
tecessor, Bento 16, encerrou
o inusitado período em que
dois papas conviveram den-
trodoVaticano.Apartirdisso,
houve uma sucessão de mar-
cos:aintensificaçãodeseuati-
vismo diplomático pela paz;
f i l a n t rop i a é P A R A T O D O S
mudanças na Cúria Roma-
na; a realização de um ques-
tionado Sínodo dos Bispos e
um novo texto sobre emer-
gência climática.
Tudo isso e mais cinco via-
gens internacionais e duas in-
ternações hospitalares. Ainda
sofreu ataques do agora pre-
sidente Javier Milei durante a
campanhaargentinaenemda
inteligência artificial Francis-
co escapou —sua imagem fal-
sa vestindo um casaco da mo-
da viralizou e acendeu alertas
sobre o alcance da tecnologia.
Ao mesmo tempo, 2023, no
qual ele completou uma dé-
cada de papado, foi o ano em
queFrancisco escancarousua
reação à feroz oposição que
enfrenta de setores do clero.
“É possível descrever 2023
como um ano em que o papa
semostrouprontoparalutar”,

Filantropia é o mecanismo
dizàFolhaovaticanistaChris-
topher White, corresponden-
te em Roma do jornal ameri-
canoNationalCatholicRepor-
ter. “Por dois motivos: a mor-
te de Bento 16, que o deixou
maislivre,esuascondiçõesde
saúde, que tornaram eviden-
te, imagino inclusive para ele,
que escolhemos para criar
que o relógio está andando.”
A partir da metade do ano,

ACESSO A OPORTUNIDADES
Franciscocolocouopénoace-
lerador. No começo de julho,
nomeouocompatriotaVíctor
Manuel Fernández, 61, como
prefeito do Dicastério para a
Doutrina da Fé, órgão com
a função de salvaguardar os
fundamentos do catolicismo.
Um dos conselheiros mais
NA AMÉRICA LATINA.
próximos do papa, Fernán-
dez compartilha das ideias de
Francisco sobre a Igreja. Ain-
da é considerado por críticos
condescendente demais com
temas como casamento entre
pessoas do mesmo sexo.
Poucos dias depois, o papa
nomeou 21cardeais,dosquais
18 com menos de 80 anos e,
assim, com direito a voto no
próximo conclave. Foi o mai-
or número de nomeados dos
nove consistórios do papa.
“Foi um sinal claro de que o
Dav i d Véle z e M a r i el Re y e s
papa, depois de dez anos, es-
tava interessado em aprovei- Signatários do The Giving Pledge e Cofundadores
tartodasasoportunidadespa-
ra deixar sua marca no colé-
gio de cardeais, selecionando
da Plataforma Filantrópica VélezReyes+
aqueles que um dia vão esco-
lher seu sucessor”, diz White.

$
Vaticano condena
cardeal por fraude
O Tribunal Penal do Vaticano
condenou neste sábado (16),
em primeira instância, o
cardeal italiano Angelo Becciu,
75, por fraude. Ex-assessor
próximo do papa Francisco, Conheça como o MBM vem contribuindo para o fortalecimento da filantropia no país
Becciu foi sentenciado a cinco
anos e meio de prisão. Ele Visite www.movimentobemmaior.org.br ou acesse o QR Code ao lado
ainda terá de pagar multa de
€ 8.000 (R$ 42,9 mil). Além
dele, outras nove pessoas
foram acusadas de crimes
relacionados a abuso de
poder, corrupção, extorsão e @movimentobemmaior movimento-bem-maior
lavagem de dinheiro. Becciu é
a maior autoridade da Igreja
Católica a ser julgada por um
tribunal criminal do Vaticano.
A14 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee
mundo

Guerra só acaba com prisão de líder do Hamas

Conhecido como ‘açougueiro de Khan Yunis’ e mentor do 7 de outubro, Yahya Sinwar é o alvo número 1 de israel
GUERRA ISRAEL-HAMAS
-
Diogo Bercito
Washington O Exército isra-
elense tem dito que a guerra
contra o Hamas vai durar até
a captura —ou morte— de
Yahya Sinwar, 61. Conhecido
como “o açougueiro” devido
à violência de suas ações, ele
comanda de Gaza a facção. É
hoje o principal alvo de Israel.
Sinwar foi um dos mento-
res dos atentados que deixa-
ram ao menos 1.200 mortos
em Israel em 7 de outubro. Na
semana passada, a rede pú-
blica israelense Kan relatou
que ele havia fugido do nor-
te de Gaza escondido em um
comboio humanitário no iní-
cio dos embates. A informa-
ção não foi confirmada nem
por Israel nem pelo Hamas.
Pessoas ouvidas pela impren-
sa nas últimas semanas suge-
remqueSinwarestejaprotegi-
doemumabrigosubterrâneo.
O chefe do Hamas nasceu
em Khan Yunis, no sul de Ga-
za. Refugiados, seus pais esta-
vam entre os mais de 700 mil
palestinos expulsos de suas
terras com a criação do Esta-
do de Israel, em 1948. Trata-
-se de um elemento impor-
tante na formação política
de Sinwar. Nos anos 1980, ele
foi um dos responsáveis por
criar o Majd, uma espécie de
aparato de segurança interna
que perseguia e matava pales-
tinos suspeitos de colaborar
com Tel Aviv. Sinwar enforca-
va e esfaqueava os inimigos,
segundoasinvestigaçõesisra-
elenses. Vem daí a alcunha de
“açougueiro de Khan Yunis”.
Sinwar conheceu Ahmed
Yassin, um dos fundadores do
Hamas, enquanto rezava em
uma mesquita de Gaza. Mais
tarde, participou da Primei-
ra Intifada, os levantes pales-
tinos contra Israel de 1987 a
1993.CapturadoporIsraelem
1988, foi condenado a quatro
prisões perpétuas. Passou 22
anos na cadeia. Mesmo pre-
so, continuou a coordenar a
perseguição aos rivais.
A liberdade veio em 2011,
quando Israel soltou 1.026 pa-
lestinos em troca do soldado
Gilad Shalit, capturado pelo
Hamas. Sinwar foi um deles.
A atenção recebida na soltura
contribuiu para sua ascensão.
Esselongoperíodoatrásdas
grades explica, em parte, a in-
sistência de Sinwar na liberta-
ção dos presos palestinos e a
estratégia de capturar civis e
soldados israelenses, usados
como moeda de troca, duran-
Em certa medida, o radica-
lismo de Sinwar reforça o dis-
curso das autoridades israe-
lenses de justificar a guerra
como uma batalha do bem
contra o mal, retórica explo-
rada pelo governo de Binya-
min Netanyahu. Sinwar, po-
rém, não é o único líder do
Hamas em Gaza. Divide o po-
der com Mohammed Deif, co-
mandante do braço armado
da facção, e Marwan Issa, nú-
mero dois de Deif.
Israel continua a apertar o
cerco em Gaza, à procura de
Sinwar. Segundo a agência
Reuters, o ministro da Defe-
sa israelense, Yoav Galant tem
Yahya Sinwar, líder do Hamas, discursa na Cidade de Gaza uma fotografia de Sinwar em
antes da guerra declarada por Israel Mahmud Hams - 30.abr.22/AFP seu escritório, para lembrá-lo
do objetivo maior.
te os atentados de outubro. te do Hamas acusado de cor-
Sinwar é descrito como al- rupção. Ishtiwi também teria
guém radical, inflexível e ob- sido punido pela suspeita de Reféns mortos por
sessivo. Um membro da in- ser homossexual —a facção
teligência interna israelense prega uma interpretação ra- engano seguravam
que o interrogou por mais de dical do islã, que não é segui- bandeira branca
150 horas disse ao jornal The da por todos de Gaza.
Washington Post que o líder, Sinwar passou a chefiar o Os reféns israelenses que fo-
certa vez, obrigou um pales- Hamas dentro de Gaza em ram mortos por engano em
tino a enterrar vivo seu pró- 2017. O líder geral, Ismail Ha- Gaza pelo Exército de Israel
prio irmão, acusado de ser in- niyeh, está exilado no Qatar. estavam segurando uma ban-
formante de Israel. Acredita- O fato de que Sinwar segue no deira branca antes de serem
-se, ainda, que em 2015 Sin- território palestino sob bom- atingidos,segundoumainves-
war participou da morte de bardeio lhe dá credibilidade tigação inicial sobre o caso.
Mahmud Ishtiwi, comandan- entresimpatizantesdafacção. Asforçasisraelensesafirma-
ram nesta sexta (15) que ma-
taram de forma acidental três
pessoas que haviam sido se-
questradas pelo grupo terro-
rista Hamas em 7 de outubro.
Ocasoocorreuemumaárea
decombateintensoaolesteda
Cidade de Gaza em que terro-
ristasdoHamasusavamtrajes
civiscomotáticaparaconfun-
dir os militares, segundo um
porta-voz israelense.
Um soldado teria sido sur-
preendido pelos reféns que
surgiramapoucosmetrosdas
forças invasoras na área de
Shejaiya.Segundoainvestiga-
ção, eles estavam sem camisa
e com uma bandeira branca
feita com um pano pendura-
do em um bastão.
Um soldado se sentiu ame-
açado e abriu fogo, matando
dois reféns na hora. O tercei-
roficouferidoeseabrigouem
um prédio, onde pediu ajuda.
Nesse momento, o coman-
dantedobatalhãoemitiuuma
ordem de cessar-fogo, mas
houveoutrarajadadetirosem
direção à terceira pessoa, que
morreu na sequência, aponta
a investigação. Isso, segundo
o porta-voz israelense, con-
figura um erro na operação.
O premiê de Israel, Binya-
min Netanyahu, disse ter fi-
cado com o “coração partido”.

FORÇAS ISRAELENSES CONTINUAM COMBATES EM DUAS FRENTES, E SUL DO LÍBANO SOFRE COM ATAQUES AÉREOS
Homem observa os escombros de casa destruída em bombardeio na vila de Kfar Kila, no território libanês; ataque, no último dia 13, aconteceu em meio a tensões na fronteira Hassan Fneich/AFP

Ferida aberta em Cuba argentinoJulioCortázar,aame-

ricana Susan Sontag e o francês
Jean-Paul Sartre, entre outros.
Háinvestimentocinematográ-
ficona“confissão”dePadilla,vá-
rias câmaras nele e também no
Depois de trinta e sete dias de público, como que para exami-
documentário retrata caso de escritor preso por regime na década de 1970 encarceramentoetortura,Padil- nar as reações.
la foi solto. Mas havia uma con- Dessas quatro horas, Giraud
- trapartida. Ele deveria dar um mostra 60 minutos no filme, o
Sylvia Colombo discurso, que ocorreu em abril que já é o suficiente para trans-
Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em buenos Aires. É autora de ‘o Ano da Cólera’ de 1971, na sede da União dos mitir o desespero, visível na voz,
Escritores e Artistas de Cuba, no gestual e no suor que escor-
em Havana. Houve uma con- ria do rosto de Padilla.
Depois de percorrer festivais, radicado na Espanha. “Fuera del Juego”, um livro de abaixo-assinado,easprincipais vocatória oficial do regime pa- Oescritortentou,logodepois,
concorrer a prêmios, ter moti- Heberto Juan Padilla (1932- poemas que questionava impo- plumasdaqueletempopediram, ra que todos os escritores e ar- deixar a ilha, mas o regime não
vado aplausos pelo mundo e re- 2000) foi um intelectual cuba- sições ideológicas na produção numa carta endereçada direta- tistas comparecessem. Era ne- permitiu até meados dos anos
acendido o debate sobre a liber- no que se animou e vestiu a ca- artística. Foi considerada uma mente a Castro, a liberação de cessário lotar o auditório para 1980. Ele viveu em Nova York,
dade de expressão em Cuba, “El misa da Revolução Socialista “ação subversiva”. Padilla. a sessão vergonhosa pela qual Washington,Madrid,eterminou
CasoPadilla”aindanãopodeser (1959)quandoestasurgiu,trans- OcasoPadillamarcouuman- Um dos que desistiu de crer Padilla teria de passar. seus dias em Princeton.
vistoemnenhumaplataformade formou Cuba e contagiou a es- tes e um depois na relação en- na Revolução exatamente por Como já se havia feito duran- Maisde20anosapóssuamor-
streamingnoBrasil—apenaspa- querda internacional. tre intelectuais do mundo todo esse episódio, por exemplo, foi te o stalinismo, na então União te, escritores continuam sendo
raconfirmaraposiçãodedesin- Oentusiasmo,porém,nãodu- e a Revolução. O charme, a no- o peruano Mario Vargas Llosa Soviética, ou na China da Revo- perseguidosecondenadosaoexí-
teressepelaculturalatino-ame- raria muito. Padilla começou a vidade e a promessa de renova- (sim,elejáfoideesquerda).Tam- luçãoCultural,emCubaobriga- lioporexpororegime,principal-
ricana que há no país. sinalizar abertamente que o re- ção política que emanavam da bémGuillermoCabrera-Infante, ramPadillaaseautoculpar.Seu mentedepoisdosprotestosde11
Quemtiveraoportunidadede gime tentava regular e contro- figuradeFidelCastro(1926-2016) a quem Padilla admirava mui- discursodequatrohorasfoium dejulhode2021.UmdeleséAbra-
ver a obra, não deve perder esse laraatividadeeditorialdopaís. e ressoavam principalmente na to e que terminaria radicando- enorme mea-culpa, em que afir- hamJiménezEnoa,queacabade
momento de sorte. “El Caso Pa- O ruído cresceu tanto que o po- Europa e na América Latina so- -seemLondresparanuncamais mava ser um “contrarrevoluci- lançarnaEspanha“LaIslaOcul-
dilla” é um documentário diri- eta e escritor foi preso em 1971. freram um baque. voltar.Tambémseposicionaram onário”, praticamente pedindo ta”.Emalgunspontos,pareceal-
gido por Pavel Giraud, cubano A acusação? Ter publicado Vários se reuniram para um pelasolturadopoetaeescritoro desculpas a Castro. goquePadillapoderiaterescrito.

| dom. Sylvia Colombo | seg. Toda Mídia | ter. Mundo Leu | qua. Toda Mídia | qui. Lúcia Guimarães | sex. Toda Mídia | sáb. Igor Patrick
mercado
Governo obtém medidas de receita,
mas ceticismo sobre meta permanece
Haddad sinaliza mais iniciativas e defende agenda de recomposição da base fiscal do Estado
- Câmara e seguiu
Fábio Pupo
Brasília Apesar de ter con-
quistado o aval do Congres-
so à maior parte de seu paco-
te fiscal, o ministro Fernando
Haddad (Fazenda) encerra o
ano sem eliminar o ceticismo
dos economistas sobre a me-
ta de zerar o déficit do gover-
no em 2024.
As alterações feitas pelos
parlamentares nas propostas
reforçam o questionamento
sobre o potencial arrecadató-
rio das medidas e a incerteza
sobre a trajetória das contas
públicas nos próximos anos.
Mesmo sem acesso a pro-
jeções atualizadas do Minis-
tério da Fazenda sobre o ga-
nho potencial com as medi-
das aprovadas, especialistas
em contas públicas afirmam
que os números divulgados
originalmente não serão al-
cançados.
O cenário fica ainda mais
prejudicado pela desacelera-
ção da economia no ano que
vem, que deve limitar a ex-
pansão natural das receitas.
Haddad, por outro lado, diz
que novas medidas poderão
ser lançadas. A interlocuto-
res o ministro tem reiterado
que continua em sua agenda
de recomposição da base fis-
cal do Estado brasileiro –que,
em sua visão, foi dilapidada
nos últimos anos.
A estratégia está alinhada
com a ministra Simone Te-
bet (Planejamento), que tem
mencionado “cartas na man-
ga”aseremusadasemcasode
necessidade.
A IFI (órgão do Senado que
monitora as contas públicas)
calcula em seu cenário-base
que o conjunto de medidas
legislativas lançadas pelo go-
verno neste ano para equaci-
onar o Orçamento de 2024 de-
ve render R$ 48,6 bilhões no
anoquevem.Onúmerorepre-
senta menos de um terço dos
R$ 168,5 bilhões projetados
pelo governo inicialmente.
A diferença para a projeção
oficial é explicada pela posi-
ção mais conservadora da
IFI, que leva em conta tan-
to as modificações feitas pe-
lo Congresso como possíveis
questionamentos no Judiciá-
rio sobre algumas das medi-
das –como a recuperação de
créditos no Carf. Só com essa
medida, o governo disse espe-
rar R$ 97,9 bilhões (enquanto
a IFI calcula R$ 30,3 bilhões).
Em setembro, enquanto
muitas das medidas do pa-
cote estavam ainda em dis-
cussão, os analistas consul-
tados pelo Banco Central di-
ziam confiar em metade das
receitas necessárias para ze-
rar o déficit em 2024, incor-
porando R$ 80 bilhões extras.
Vilma da Conceição Pinto,
diretora da IFI, vê a possibili-
dade de o governo seguir três
caminhos diante desses nú-
meros. O primeiro é a mudan-
ça da meta, que ela considera
ruim por configurar uma fuga
das regras do arcabouço logo
no primeiro ano de vigência.
O segundo cenário é o de
descumprimento da meta, o
que acionaria gatilhos para
limitar despesas a partir de
2025. Esse caminho vem sen-
do defendido pelo presiden-
te da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira (PP-AL).
O texto do arcabouço veda
um conjunto de iniciativas
(como reajustes para servido-
respúblicosemedidasquege-
rem crescimento real de gas-
tos obrigatórios) caso o resul-
tado do ano fique abaixo do li-
mite inferior do objetivo tra-
çado. Para 2024, é permitido
um déficit de até 0,25% do PIB
(ou R$ 28,7 bi, considerando
os dados projetados no envio
dasdiretrizesorçamentárias).
A terceira alternativa consi-
derada pela economista são
a eee
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no prédio do ministério, em Brasília
A evolução da meta fiscal
Resultado primário anual do governo central
Em % do PIB
FHC 1 FHC 2
1,9 1,7 1,7 2,1 2,3 2,5 2,4
0,2 0,8
1997 1999
* o dado de 2023 é uma projeção oficial
Fonte: Tesouro nacional
Metas apresentadas pelo governo
Em % do PIB
governo estabeleceu em novo arcabouço fiscal
compromisso de melhorar trajetória de resultado
primário até 2026, com banda de tolerância para a meta
0,25
0
0 bouço”, diz.
-0,25
-0,25
-0,5
-0,75
2023 2024
Fontes: ministério da Fazenda e banco Central
outras medidas de ajuste fis-
cal, como tem reforçado Had-
dad nos últimos dias. Para
ela, no entanto, será preciso
expandir a discussão ao pla-
nejar as próximas iniciativas.
“A melhor direção seria es-
sa última [novas medidas].
Mas é importante notar que
não dá para deixar todas as fi-
chas nas receitas. Será preci-
so avançar na agenda de efici-
ência e qualidade dos gastos
primários”, afirma ela.
Felipe Salto, economista-
-chefe da Warren Investimen-
tos,tambémtrabalhacomnú-
A15
Lula 1 Lula 2
2 2,1 2,3 2 2,1 1,8
1,2
2003 2007
1,25 Banda superior
1 Meta central
0,75
0,75 Banda inferior
0,5
0,25
2025 2026
meros mais conservadores
para a arrecadação. “Enten-
demos que, no conjunto, se-
rá possível arrecadar algo co-
mo um terço do total previs-
to [pelo governo] em receitas
novas”, afirma.
Ele projeta um déficit pri-
mário em 2024 de 0,73% do
PIB, mas diz que o número
poderá se aprofundar caso
prospere o movimento do go-
verno para limitar o contin-
genciamento em 2024 a pou-
co mais de R$ 20 bilhões –o
que, para ele, contraria a lei
complementardoarcabouço.
Gabriela Biló 30.out.2023/Folhapress
dilma 1 dilma 2
1,4
2015
-0,4
-2 -2,6 -1,9 -1,7
Meta fiscal de 2024 em xeque
Em % do PIB
2023
Projeção Projeção
do governo do mercado
-1,2
-1,7
Atualmente, o mercado es-
timadéficitprimáriode0,76%
do PIB em 2024. O dado cons-
ta no boletim Focus, pesquisa
semanal do BC com analistas
do mercado, divulgado na úl-
tima segunda-feira (11).
Quanto ao bloqueio, econo-
mistas veem necessidade re-
al de ao menos R$ 40 bilhões.
O contingenciamento de
gastos durante o ano é uma
exigência da legislação e deve
ser aplicado quando for veri-
ficado risco ao cumprimento
da meta. O governo Lula (PT),
no entanto, manobra para
Temer Bolsonaro
2020 0,5 2023*
-0,4
-1,3
-9,8
2024
meta do Projeção
governo do mercado
+0,25 Banda superior
0 Meta central
-0,25 Banda inferior
blindar recursos ligados a in-
vestimentos no ano que vem.
Para Salto, a articulação e
iniciativas do Congresso que
comprometem as contas pú-
blicas podem levar o rombo
a 0,95% do PIB. Ele ressalta
que, mesmo assim, seria um
déficit menor que o de 2023
(previsto pelo governo em
1,7% do PIB).
“O fundamental é manter a
meta zero para o ano que vem
porque ela é uma âncora, não
um número mágico. O arca-
bouço tem gatilhos próprios
a serem acionados tempesti-
$
PROPOSTAS DE
HADDAD NA RETA
FINAL DO ANO
MUdANÇA EM
BENEFÍCIOS dO ICMS
Status: MP foi
aprovada pela
para o Senado
Arrecadação prevista
para 2024 (*): R$ 35 bi
OFFSHORES E
FUNdOS EXCLUSIVOS
Status: Aprovado
pelo Congresso e
sancionado por Lula
Arrecadação prevista
para 2024 (*): R$ 20 bi
FIM dE JCp (JUROS
SOBRE CApITAL
pRÓpRIO)
Status: Inserido
na MP que altera
benefícios do ICMS
Arrecadação prevista
para 2024 (*): R$ 10 bi
REGULAMENTAÇÃO
dE ApOSTAS
ESpORTIVAS
Status: Aprovado no
Senado, seguiu para
sanção presidencial
Arrecadação prevista
para 2024 (**): R$ 3 bi
(*) Estimativa original do governo
(**) Expectativa atualizada
pelo governo
vamente. Mudar a meta é jo-
gar isso pelos ares”, diz.
Ele defende que o governo
nãoabandoneametade2024.
Em sua visão, isso significaria
piorar a trajetória de dívida,
juros, câmbio e inflação.
“Foi uma vitória o Haddad
conseguir preservar a meta
Lula 3 mesmo diante das pressões.
No ano que vem, essas mes-
mas pressões vão voltar, pro-
vavelmente nos idos de mar-
ço”, afirma, em referência ao
mês em que o primeiro rela-
tório bimestral de receitas e
-1,7 despesas precisa ser publi-
cado, indicando o montan-
te a ser contingenciado para
cumprir a meta do ano.
O economista Marcos Men-
des, pesquisador associado
do Insper e colunista da Fo-
lha, também cita como ne-
gativa para as contas a arti-
culação do governo para limi-
tar o contingenciamento. Pa-
ra ele, o movimento e a sede
do Congresso e do Executivo
por aumento de despesas fa-
rá o cumprimento das metas
de 2024 a 2026 deixar de ser
uma possibilidade.
“A tendência será a de apro-
fundaromovimentoquejáco-
meçou. Toda vez que o arca-
bouço representar dificulda-
de para a implementação de
-0,8
uma política, muda-se o arca-
Além da articulação para
limitar o contingenciamen-
to, ele cita como exemplos
de manobras em andamen-
to a exceção das despesas da
nova bolsa para alunos do
ensino médio, a tentativa de
transformar parte das despe-
sascomprecatóriosemdespe-
sas não-primárias e a classifi-
caçãodereceitasnão-primári-
as do PIS/Pasep como primá-
rias. “Isso vai virar rotina da-
qui para frente. Assim como
as mudanças de metas”, diz.
Boa parte da arrecadação
adicional projetada pelo go-
verno será não-recorrente e
entrará apenas em 2024, co-
mo os pagamentos retroati-
vos de impostos devidos no
âmbito da MP do ICMS e par-
te dos pagamentos no âmbito
do Carf. “Ajuda a fechar 2024,
mas não é um reequilíbrio fis-
cal para os anos seguintes.”
A16 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
mercado
PAINEL S.A.
Celso Vilardi
Advogado que afastou
diretores da Americanas
critica demora de auditoria
Celso Vilardi é um dos crimi-
nalistasmaisfamososdopaís.
Na Lava Jato, passou a advo-
gar para empresas envolvidas
em corrupção como forma de
preservá-las da quebradeira.
Hoje,eleestáportrásdasmai-
ores investigações corporati-
vas do país, envolvendo práti-
cas criminosas ou acidentes,
como o da barragem da Vale.
Novas fronteiras podem esticar
produção brasileira de petróleo
Áreas são arrematadas em leilão de concessões apesar de alertas climáticos
-
Nicola Pamplona
rio de Janeiro O resultado do
leilão de áreas para explo-
ração de petróleo realizado
pelo governo na quarta-feira
(13) reforça que o país ainda
atrairá investimentos no se-
tor por muito tempo, apesar
das pressões pela eliminação
gradual dos combustíveis fós-
seis na COP28.
Foi o leilão com o maior
número de blocos concedi-
dos desde que a ANP (Agên-
cia Nacional do Petróleo, Gás
eBiocombustíveis)inaugurou
o modelo atual de oferta, em
2019, mesmo sob protestos
de entidades ambientalistas.
A concorrência reforçou
ainda a busca das petroleiras
por novas frentes de explora-
ção no país para além da mar-
gem equatorial, hoje vista co-
mo principal alternativa pa-
ra compensar o declínio do
pré-sal, responsável por três
quartos da produção nacio-
nal de petróleo.
“O petróleo ainda será con-
sumido por algumas déca-
das”,dizoconsultorDavidZyl-
bersztajn, ex-diretor-geral da
ANP, resumindo o argumento
do setor para se comprome-
ter com pesados investimen-
tos mesmo diante dos alertas
de emergência climática.
SerãoaomenosR$2bilhões
nas áreas concedidas fora do
pré-sal e outros R$ 360 mi-
lhões em uma área do pré-sal.
Segundo os contratos, esses
recursos devem ser destina-
dos a pesquisa do subsolo e,
em caso de descobertas, po-
dem se multiplicar.
Em relatório divulgado na
quinta-feira (14), a consulto-
ria Wood Mackenzie afirmou
que o resultado do leilão traz
otimismo à indústria de pe-
tróleo do país após decepções
recentes. Parte desse otimis-
Mundo vai demandar mais combustível fóssil
que o esperado no próximo ano, diz agência
-
Alex Lawler
Londres | reuters A demanda
mundial de petróleo aumen-
tará mais rápido do que o es-
perado no próximo ano, afir-
mou a AIE (Agência Interna-
cional de Energia) na quin-
ta-feira (14), mostrando que
a perspectiva de uso de pe-
tróleo a curto prazo conti-
nua robusta, apesar do acor-
do da COP28 para uma transi-
ção para menor consumo de
combustíveis fósseis.
Apesar da revisão do cená-
rio, ainda há uma lacuna con-
siderável entre as perspecti-
vas de demanda para 2024 da
Julio Wiziack
painelsa@grupofolha.com.br
Como define seu trabalho?
Defendo a sobrevivência das
companhias,umtrabalhoque
chamo de advocacia de crise.
Na Americanas, por exemplo,
atuo com o escritório BMA.
O que garante que a Ameri-
canas abrirá tudo para vo-
cês? No contrato, exijo apro-
vação do conselho de admi-
Resultados do último leilão de concessões para exploração e produção de petróleo
Áreas e blocos arrematados
Municípios ou áreas com blocos arrematados
Bacias sedimentares marinhas
AM
603
Áreas oferecidas
192
Áreas arrematadas no pós-sal
R$ 421 milhões
Bônus arrecadado no pós-sal
R$ 2 bilhões
Investimentos mínimos
no pós-sal
Fontes: ANP e Arayara
mo, afirmou, está na esperan-
ça do desenvolvimento de no-
vas fronteiras exploratórias.
Foram duas novas frentes
de exploração aberta, a bacia
de Pelotas e a exploração fo-
ra das águas territoriais brasi-
leiras. A bacia do Paraná, ain-
da pouco explorada, também
recebeu lances no leilão e te-
rá um reforço da atividade.
Na bacia de Pelotas, no Rio
Grande do Sul, o interesse foi
AIE, que representa os países
industrializados,eaOpep(Or-
ganização dos Países Expor-
tadores de Petróleo).
As duas entidades entra-
ram em conflito nos últimos
anos sobre questões como a
demanda de longo prazo e a
necessidade de investimento
em novos suprimentos.
Na COP28, houve novas dis-
cussões e o texto final apon-
tou que os países concorda-
ram em fazer a transição pa-
ra buscar o fim dos combus-
tíveis fósseis, além da manu-
tenção da meta de aumento
de temperatura de no máxi-
mo 1,5°C.
nistração dando liberdade
total de atuação, e até de in-
vestigação, doa a quem doer.
Esse papel não é do comi-
tê independente? Sim, mas
o comitê costuma demorar.
Minha investigação orienta o
meu trabalho e é autônoma.
Sou favorável à continuida-
de desses comitês, mas não é
possível que não se possa fi-
xar prazos [para eles]. A pror-
rogação [do prazo] depende-
riadeumrelatóriopreliminar.
Senão, essa investigação cor-
re o risco de ser superada pe-
la das autoridades policiais.
Foi você que pediu o afasta-
mento da diretoria da Vale
na época do acidente? Parti-
PA
SP
PR
SC
RS
renovadoapósdescobertasgi-
gantes na Namíbia, área com
características geológicas se-
melhantes.Aotodo,44blocos
na região foram arrematados
no leilão de quarta.
Em estudo sobre o potenci-
al remanescente de petróleo
no país, o geólogo Pedro Za-
lán aposta que a bacia de Pe-
lotas está “fadada à mudança
de patinho feio para um be-
lo cisne”. Tem semelhanças,
A agência prevê que o con-
sumomundialaumentaráem
1,1 milhão de barris por dia
(bpd) em 2024, um aumento
de 130 mil bpd em relação à
sua previsão anterior, citando
uma melhora nas perspecti-
vas para os EUA e preços mais
baixos do petróleo.
A revisão de 2024 reflete
“umaperspectivadePIB[Pro-
dutoInternoBruto]umpouco
melhor em comparação com
o relatório do mês passado”,
disse a AIE. “Isso se aplica es-
pecialmente aos EUA, onde
uma aterrissagem suave es-
tá se tornando visível.”
“A queda dos preços do pe-
RAIO-X
Formado em Direito e mestre
em Direito Processual Penal
(PUC-SP), Vilardi publicou
diversos artigos e o livro
“Aspectos Atuais do Direito
do Mercado Financeiro e
de Capitais”. Na Lava Jato,
defendeu Camargo Corrêa,
Andrade Gutierrez, entre
outras. Integra o Chambers
and Partners: Latin America.
CE RN
AL
BA
ES
além da Namíbia, com a Gui-
ana, onde descobertas gigan-
tes criaram um conflito geo-
político no continente.
Zalándizacreditarnapossi-
bilidade de descoberta de um
“campo supergigante de gás”
no alto de Torres, no litoral
norte, e de “alguns bilhões” de
barris no litoral sul. Não hou-
ve descobertas até agora, afir-
ma, porque a exploração se
concentrou em águas rasas.
tróleo funciona como um im-
pulso adicional para o consu-
mo de petróleo”, disse.
O petróleo enfraqueceu pa-
ra uma baixa de seis meses
perto de US$ 72 por barril na
semana passada, mesmo de-
pois que a Opep+, que inclui
asnaçõesexportadorasdepe-
tróleodaOpepealiadoscomo
a Rússia, anunciou em 30 de
novembro uma nova rodada
de cortes de produção para o
primeiro trimestre de 2024.
No relatório, a agência tam-
bém reduziu sua previsão de
crescimento da demanda de
petróleo em 2023 em 90 mil
bpd, para 2,3 milhões de bpd,
cipei do aconselhamento em
casos assim sobre esse assun-
to em defesa do melhor inte-
resse da companhia. A crise
exige atitudes corajosas.
Como afastar pessoas? Sim.
O problema é que isso é visto
como um pré-julgamento. Às
vezes, você só precisa garan-
tir que o time anterior não
vá atrapalhar a investigação.
Tambémpediramadestitui-
ção da diretoria da America-
nas? Houve um fato relevan-
te confirmando isso.
Existe um marco para esse
ramo da advocacia? A Lava
Jato. Houve excessos na ope-
ração, hoje mal vista, tendo
Na bacia de Santos, hoje a
principal produtora do país,
o governo conseguiu conce-
der uma área fora do limite
de 200 milhas das águas ter-
ritoriais brasileiras, onde se
estima haver um “espelho do
pré-sal”, com base na indica-
ção de formações geológicas
semelhantes às que contém
hoje as maiores reservas de
petróleo do país.
A região conhecida como
polígono do pré-sal já teve os
principais prospectos con-
cedidos e hoje não atrai mais
tanto interesse exploratório
—no leilão de quarta, apenas
umaentrecincoáreasrecebeu
oferta. A primeira exploração
para além das águas brasilei-
ras será feita pela noruegue-
sa Equinor.
Na bacia do Paraná, que
também teve bloco arremata-
do no leilão, a vocação é para
campos de gás, segundo Za-
lán. Foi uma das primeiras ba-
cias exploradas no Brasil, mas
a última a ter produção —ain-
da assim, uma produção pe-
quena, de 20 mil metros cúbi-
cos de gás por dia.
Tem hoje sete contratos as-
sinados de exploração, con-
centrados em Mato Grosso
do Sul, oeste de São Paulo e
sul de Goiás. A retomada do
interesse na região é recente,
após descobertas de gás natu-
ral na bacia do Parnaíba, no
Maranhão.
DescobridoranoMaranhão,
a Eneva prepara para 2024 o
início de uma campanha de
pesquisa sísmica, espécie de
ultrassonografia do subsolo,
emseusblocosemMatoGros-
so do Sul. A empresa aposta
na utilização de gás natural
no transporte de cargas, co-
mo na Argentina e na Europa.
O sucesso dessa empreita-
da garantiria a primeira des-
coberta de petróleo e gás do
Centro-Oeste brasileiro.
Em entrevista após o leilão
de quarta, o diretor-geral da
ANP, Rodolfo Saboia, disse
que foi um “excelente resul-
tado para o Brasil”. “O leilão
demonstrou que há interes-
se das companhias em áreas
de novas fronteiras.”
Realizado um dia após o fim
da COP28 e sob protestos, o
leilão teve 17 empresas ofer-
tantes, o maior número do
e diminuiu sua estimativa pa-
ra o quarto trimestre em qua-
se 400 mil bpd.
A redução pela metade da
taxa de expansão da deman-
da no próximo ano se deve ao
crescimento econômico abai-
xo da tendência nas princi-
pais economias, às melhori-
as de eficiência e à expansão
da frota de veículos elétricos,
informou a entidade.
A extensão dos cortes de
ofertadaOpep+atéaoprimei-
ro trimestre do próximo ano
pouco contribuiu para impul-
sionar os preços e o aumento
daproduçãoemoutrospaíses
funcionaria como um obstá-
culo, acrescentou.
No relatório, a AIE também
informou que a Opep+ con-
trola atualmente 51% da pro-
dução mundial de petróleo. O
percentual é o mais baixo da
a eee
consequências, inclusive, nos
acordosdeleniência.Éfunda-
mental uma legislação para
resguardar empresas.
Já tem? A esperança é que o
Congresso module, unifican-
do,aomenososbalcõesdoes-
tado. É necessária uma lei que
fixe parâmetros [para o cálcu-
lo do ressarcimento]. Porque,
até agora, estamos vivendo a
ressaca da Lava Jato.
Como funciona em outros
países? Nos EUA, a SEC [CVM
dopaís]eoDoJ[Departamen-
to de Justiça] podem fazer
acordos, mas trabalham em
conjunto. Lá se pode cobrar
grandes valores, desde que
não matem a empresa.
“
[...] O sinal de
oferecer um
volume recorde de
blocos mostra uma
grande desconexão
do Brasil com
a urgência de
descontinuar o uso
de combustíveis
fósseis
Ricardo Baitelo
gerente no iema e
coordenador da Coalizão
Energia Limpa
novo modelo. O número de
áreasarrematadasfoirecorde.
Mesmodesconsiderandoas
122 áreas que foram concedi-
das a uma novata que surpre-
endeu o mercado ao se tornar
a maior concessionária de ex-
ploração do país em número
deblocos,aindafoibemmaior
do que o recorde anterior, de
59 áreas concedidas em 2022.
“Independentemente do
resultado do leilão em volu-
me de contratação, o sinal de
oferecer um volume recorde
de blocos mostra uma gran-
de desconexão do Brasil com
a urgência de descontinuar o
uso de combustíveis fósseis”,
diz Ricardo Baitelo, gerente
de projetos do Iema e coor-
denador da Coalizão Ener-
gia Limpa.
“A contribuição brasileira
nas negociações em pressio-
nar para o financiamento da
transição do Sul Global não
pode ser dissociada do com-
promisso em parar de ampli-
ar a estrutura de exploração
e uso de combustíveis fós-
seis, tanto para uso domésti-
co quanto internacional.”
O setor defende que o mun-
do continuará precisando de
petróleoequeaproduçãobra-
sileira, menos poluente, é ide-
al. “A eventual paralisação da
produção de petróleo no Bra-
sil não contribuiria para a re-
dução de emissões, apenas
nos tornaria mais pobres e
mais dependentes”, afirmou
Saboia, antes do leilão.
organização desde a sua cri-
ação, em 2016.
A Opep+ reúne os integran-
tes da Opep e mais produto-
res aliados, em um total de 23
países. No início deste mês, o
Brasil foi convidado a partici-
par da organização, mas não
terá direito a voto.
“Muita gente ficou assusta-
da com a ideia de que o Bra-
sil ia participar do Opep. ‘Nos-
sa, o Brasil vai participar da
Opep’”,disseopresidenteLuiz
Inácio Lula da Silva, ao abor-
dar o assunto em viagem no
começo deste mês. “O Brasil
não vai participar da Opep, o
Brasil vai participar da cha-
mada Opep+. Eu participo do
G7 desde que eu ganhei a Pre-
sidência. É G7+. Eu vou lá, es-
cuto, só falo depois que eles
tomarem a decisão e venho
embora. Eu não apito nada.”
a eee domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 A17

mercado

Alexandre Carreteiro rações e vendas é um pouco

mais difícil.
Não tínhamos nenhuma
mulher motorista de cami-
cessados.Comovendersaúde
e salgadinhos? Essa pressão
não é de hoje. Reduzimos só-
dio em praticamente 50% nos

Sermos inclusivos
nhão. Nas empilhadeiras, tí-
nhamos9%echegamosa35%.
Foram mais de 200 mulheres
recrutadas e elas estão super-
felizes.Éumdesafiocontínuo.
últimos dez anos. Nosso pro-
duto está muito abaixo das
exigências da Organização
Mundial da Saúde. Temos es-
secompromissodecontinuar

nos permitiu dobrar

reduzindo sal e açúcar.
Como todas essas ações im-
pactamonegócioemsi? Ser- Como recebe a notícia de que
mos mais inclusivos nos per- a procuradora-geral de Nova

de tamanho em 4 anos
Alexandre Carreteiro, CEo da PepsiCo no brasil, comanda unidade
mais produtiva e destaque em participação de mulheres e negros
ENTREVISTA
- Carreteiro,
Eliane Trindade
São Paulo Alexandre Carre-
teiro está há três anos na pre-
sidência da PepsiCo Brasil,
unidade que foi considerada
a mais produtiva do mundo
por dois anos consecutivos.
Resultados que o executi-
vo de 47 anos credita a uma
estratégia de tornar mais di-
versa e inclusiva a companhia
que completou 70 anos no pa-
ís em 2023.
“Dobramosdetamanhonos
últimos quatro anos”, diz, ao
relatar que multiplicou por
dois também o número de
mulheresnocomitêexecutivo.
A presença de lideranças fe-
mininas no alto escalão pas-
sou de 30% para 60% entre
2018 e 2023, enquanto mulhe-
resempostosdecomandoem
geral subiu de 41% para 50%.
O percentual de negros na
liderança também cresceu,
passando de 15% para 25% no
mesmoperíodo.Ametaéche-
gar a 30% em 2025. “Tem que
ter intencionalidade”, afirma
o CEO à Folha.
Resultados que levaram a
PepsiCo a ser reconhecida co-
mo a empresa mais inclusiva
no setor de bens e alimentos
conforme a Pesquisa Ethos
de Inclusão 2023.
Fundador do Mover, que re-
úne 49 CEOs comprometidos
emaumentararepresentativi-
dadenegranasempresas,Car-
reteiro participou de proces-
sos de mentoria reversa, em
que seu mentor foi um funci-
da nossa agricultura susten-
tável. Trabalhamos com par-
cerias de longo prazo para as-
segurar que o plantio seja fei-
to da melhor maneira, que a
terra seja bem irrigada com
as técnicas mais modernas.
Temos uma tecnologia super-
desenvolvida no campo, com
monitoramento por drones.
Como reduzem o desperdício
deáguanaagricultura? Com
técnicas de irrigação muito
mais precisas. Temos vários
trabalhos no nosso centro de
pesquisa e desenvolvimento
mitiu dobrar o tamanho do
nosso negócio nos últimos
quatro anos. Temos crescido
a nossa participação de mer-
cado e inovado muito mais.
Nos últimos cinco anos, ex-
pandimos nossa penetração
e chegamos a 92% dos lares
brasileiros.
Colocamos a diversidade
na nossa comunicação. Lan-
çamos o Doritos Rainbow há
sete anos, uma homenagem à
comunidade LGBTQIA+.
Queremos ir além da Pep-
si com nossa visão ESG. Cria-
Alexandre mos o Mover, um movimen-
to pela equidade racial que
47 festeja dois anos agora, pa-
Formado em ra impactar 3 milhões de ne-
administra- gros até 2030.
ção de empre- No começo do Mover éra-
sas pela Temple mos 7 CEOs, hoje somos 49 e
University, Fila- mais 80 empresas querem en-
délfia, com mbA trarnomovimento,queéuma
pelo iESE busi- referência global. Queremos
ness School, na recrutar 10 mil líderes negros.
Espanha, e mes-
trado em finan- Aumentou o investimen-
ças pela Uni- to? Investimos R$ 1,2 bilhão
versité Paris iX neste ano, três vezes mais em
dauphine. Pre- relação a 2020. O Brasil é um
side a PepsiCo dos países na América Lati-
brasil Alimentos na que mais se destacaram.
desde março de Estamos entre os dez mai-
2021, depois de ores mercados da PepsiCo no
passagens por mundo. Investimos em capa-
danone e nestlé cidade produtiva, inovação e
sustentabilidade. Em tecno-
logia no agro e nas fábricas
sem papel.
A indústria de alimentos es-
tá na berlinda pelos ultrapro-
Danilo Verpa/Folhapress
afinidade de mulheres, ne-
gros,comunidadeLGBTQIA+,
pessoas com deficiências, e
“Golden Years”, para os aci-
ma de 50 anos. Cria-se assim
uma cultura de acolhimento
para que as pessoas possam
atingir o seu máximo poten-
cial e serem respeitadas pe-
lo que são.
Quais são os ganhos e os de-
safios para ser uma empresa
inclusiva? Isso não vem por
acaso, tem intencionalidade.
Todos nós temos metas. A li-
derança tem que estar envol-
York autuou recentemente a
Pepsi por poluir o rio Buffa-
lo com plástico? Como é um
caso jurídico, não vou comen-
tar. A gente tem um empenho
grande de trabalhar esses te-
mascomoempresajuntocom
o Ministério Público.
Trabalhando aqui eu posso
ver a intencionalidade em te-
masquenãosãofáceisepreci-
sam do envolvimento de mui-
tos stakeholders.
Temos sim uma responsa-
bilidade e estamos fazendo
a nossa parte para continuar
evoluindo.
Também foi noticiado que a
Pepsi está prestes a superar a
Coca-Cola, concorrente his-
tórico, em valor de mercado
nos EUA. É um tema sempre
que tem muita discussão. Nós
temos alimentos e bebidas, e
essa é a beleza do nosso port-
fólio, uma amplitude que aca-
ba entrando em muitos mo-
mentos de consumo ao longo
do dia. E isso tudo tem a ver
com colocar o ESG no cora-
ção da estratégia.
Uma empresa diversa e in-
clusiva é mais eficiente. Con-
seguimoscomprovarque,ten-
do essa representatividade,
inova-se mais rápido. É bom
para o negócio, para a socie-
dade e para o planeta.
E, quando recebemos prê-
mios como o de ser durante
dois anos a unidade mais pro-
dutiva da Pepsi no mundo, is-
so nos estimula.

onário gay, negro e budista.
“A liderança tem que estar
envolvida. Não é uma coisa só
de RH. É mudar a cultura. Te-
mos treinamentos em letra-
mento racial, de viés incons-
ciente e antimachismo.”
para diminuir o consumo de
água. E não guardamos pa-
ra a gente.
E como tem sido a trans-
formação da cadeia de va-
A RÁDIO
vida. Não é uma coisa só de
RH. É mudar a cultura.
Temos mentorias, treina-
mentos em letramento raci-
al, de viés inconsciente e anti-
machismo. E mentoria rever-

*
Que marcos destacaria nes-
ses 70 anos da PepsiCo no
Brasil? Nos Estados Unidos,
lor? Estamos colocando em
nossasfábricasumamembra-
na biorreativa para filtrar e
reutilizar toda a água. Há três
anos,implementamosemItu,
onde hoje praticamente não
sa, de negros fazendo mento-
ria para o comitê executivo.
DE SÃO PAULO
MAIS OUVIDA
Como é na prática? Eu tive
um mentor que é gay, negro,
budista e trabalha na linha

a Pepsi tem 125 anos. Inicia-
mos aqui com a bebida Pepsi
em 1953. Em 1974, fizemos a
aquisiçãodaAmericanChipse
da Elma Chips. Depois, entra-
ram no nosso portfólio aveia
Quaker e água de coco, com
Kero Coco.
Anívelmundial,nossoport-
fólio é 55% alimentos e 45%
bebidas. No Brasil e na Amé-
rica Latina, é de 90% alimen-
tos e 10% bebida. São 70 anos
no Brasil, e estamos bem feli-
zes com uma estratégia mui-
to forte de colocar ESG no co-
ração de tudo que fazemos.
Há dois anos, desenvol-
vemos a PepsiCo Positive
(pep+), com três grandes ini-
ciativas: agricultura sustentá-
vel, cadeia de valor sustentá-
vel e escolhas positivas.
Como foi essa virada de
empresa de bebidas para o
agro? Compramos 450 mil
toneladas de produtos agrí-
colas por ano, e 99% do que
vendemos no Brasil vêm da
agricultura brasileira.
Temos parcerias com pro-
dutores de batata há mais de
40 anos, com sementes ex-
clusivas adaptadas ao clima.
Comoinduzirsustentabilida-
de no agro? Já temos 100%
utilizamos uma gota da mu-
nicipalidade.
OinvestimentodeUS$3mi-
lhões a US$ 4 milhões por fá-
brica não é pequeno, mas é
extraordinário.
Estamos investindo em ca-
minhões elétricos. Já temos
150, numa frota de mais de
4.500. Nosso compromisso é
substituir por veículos elétri-
cos ou movidos a energia al-
ternativa.
Temos um projeto grande
de energia solar para reduzir
emissões de CO2 até 2030. A
estratégia de pep+ é global,
mas o Brasil tem a possibili-
dade de ser referência e uma
potênciadeESG.Estamostra-
balhando para que seja.
Onde avançaram mais? Ho-
je, 100% das nossas embala-
gens são coletadas e encami-
nhadas para cooperativas de
reciclagem.
O que seriam escolhas posi-
tivas do pilar ESG da compa-
nhia? Diversidade, equidade
e inclusão. De novo, o Brasil é
umagrandepotênciaaqui.Te-
mos uma diversidade popula-
cional grande, e o que quere-
mosépoderinternamentere-
presentar a sociedade.
Temos planos e grupos de
NO BRASIL
de produção. É supervisor.
Foi um aprendizado incrível,
que nos permite ter um olhar
diferente.
Temos programas de trei-
namento 100% afirmativos
para negros.
No ano passado, uma trai-
nee apontou que as toucas
usadas na linha de produção
eramdomesmotamanho.Um
negro que quer ter um afro
não conseguiria usar. Busca- ANTENA 1 REGISTRA
3.115.665
mos toucas inclusivas de um
fornecedor que é um empre-
endedor negro.
E onde trabalha o seu men- NO ALCANCE CONSOLIDADO*
tor hoje? Continua com a
gente, mudou para outra fá- FONTE: Kantar Ibope Media Extended - Setembro 23
brica. Aprendi com ele a ser Estudo conta com 38 emissoras no Brasil
muito mais sensível a essas *Perante as 8 emissoras de São Paulo | Todos os dias | 5h-24h
questões. Espero que algum
dia o meu sucessor possa ser
um negro.
Trabalhei mais de 25 anos
no setor de alimentos e bebi-
das. É importante escutar as A
pessoas e tenho orgulho dos NÚMERO
11 mil colaboradores da Pep- UM
siCo nessa grande jornada de EM
diversidade e inclusão. MÚSICA
antena1.com.br @antena1
Onde é mais difícil incluir ne-
gros e mulheres? Na fábrica,
50% são mulheres. Temos até
linha de produção com 100%
de mulheres, mas em ope-
A18 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
mercado
Natal de notícias econômicas melhores
Juro menor nos EUA, inflação contida, exportação recorde, reformas aprovadas, um alívio
- Quarto, foi possível reduzir
Vinicius Torres Freire
Jornalista, foi secretário de redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA)
O fim do ano deu notícias ani-
madoras para a economia e é
ocasião de lembrar algumas
outras, que se confirmaram
ao longo deste 2023. Dão al-
guma esperança de que o PIB
de 2024 não seja tão mais fra-
co, se não fizermos besteira.
Não quer dizer que o país es-
teja se virando do avesso, que a
economia passe a crescer bem
mais rápido e de modo dura-
douro —quanto a isso, o desâ-
nimo ainda é grande, por cau-
sa de doenças crônicas. Mas as
melhoras podem nos ajudar a
enfim sair do grande trauma
da década passada, da Gran-
de Recessão de 2014-2016 e das
Lide, de Doria, perde espaço
para Esfera, de sócio da CNN
organização de João Camargo nasceu durante pandemia em reuniões virtuais
-
Alex Sabino
São Paulo A correria era gran-
denoshotéisLeBistroleMan-
darin Oriental, em Paris, no
dia11deoutubro.AJBS,maior
produtora de carne do plane-
ta, havia feito uma demanda
à organização do Fórum Esfe-
ra Internacional Paris: os cer-
ca de 20 executivos da empre-
sa —patrocinadora do even-
to— deveriam ficar no mes-
mo hotel.
Isso exigiu mudanças de úl-
tima hora e remanejamento
de autoridades que também
ocupariam os dois locais, em
que as diárias mais baratas
variam de € 1.200 a € 1.700
(R$ 6.250 a R$ 8.800).
A Esfera Brasil, organizado-
ra do evento, confirma o pe-
dido, mas não que ele tenha
partido dos irmãos Joesley e
Wesley Batista, donos da J&F,
holding acionista majoritária
da JBS. Teria sido um erro co-
metidoporumfuncionárioda
empresa de carnes.
O fórum teve a presença do
presidente do BNDES, Aloizio
Mercadante, da secretária-
-executiva da Casa Civil, Mi-
riam Belchior, do presidente
do STF, Luís Roberto Barro-
so, do presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD), e do
ex-presidente da França Ni-
colas Sarkozy.
Para convidados que estive-
ram presentes e conversaram
com aFolha, foi o maior even-
to realizado pela Esfera e o de
maior repercussão.
Nem todos ficaram conten-
tes. O ex-governador de São
Paulo João Doria irritou-se
ao ver imagens no evento de
pessoas que costumam con-
tribuir com o seu próprio em-
preendimento, o Lide (Grupo
de Líderes Empresariais). Um
deles diz ter sido questiona-
docomumafrasenalinha“de
que lado você está?”.
O relato indica um novo ce-
nário. Durante quase duas dé-
cadas, o Lide nadou de braça-
da na realização de fóruns,
debates e eventos públicos
em que, mediante pagamen-
to de associação e contribui-
ção com patrocínios, empre-
sários poderiam se aproxi-
mar de autoridades. A Esfera
passou a ocupar esse espaço a
partir de 2021 se aproveitan-
do de um vácuo no mercado.
Doria tentou fazer algo con-
siderado muito difícil: conci-
liar a vida de prefeito de São
Paulo (2017-2018) e governa-
dordoestado(2019-2022)com
o comando de uma institui-
ção que, teoricamente, não
tem inclinação política.
trevas de 2019-2022. Quais as
notícias, não necessariamen-
te pela ordem de importância?
Primeiro, a conversa sobre
taxas de juros nos Estados Uni-
dos mudou rapidamente e pa-
ra melhor, depois de idas e vin-
das nervosas durante este ano
todo, com implicações até ago-
ra ruins para o Brasil. A taxa
básica de juros americana po-
de começar a cair mesmo em
março.
Taxas menores por lá tornam
possíveis taxas menores aqui
—não é determinante, não é
uma relação direta e depende
também da política econômi-
ca brasileira e do restante da
Pelo caminho, queimou
pontes com Luiz Inácio Lula
da Silva —hoje presidente—,
o petismo e se tornou um dos
maioresadversáriosdobolso-
narismo durante a pandemia.
João Camargo, criador da
Esfera, não se cansa de alar-
dear o apartidarismo de sua
organização, que seria um fó-
rum de debates e eventos pa-
ra melhorar o Brasil.
O grupo gosta de usar, pa-
ra se descrever, a expressão
think tank —termo em inglês
para instituições que produ-
zem conhecimento sobre te-
mas políticos, econômicos
ou científicos, não apenas re-
únem pessoas para debates.
Os promotores brasileiros
desses encontros rejeitam o
termo lobby, que na origem
significa a pressão legítima de
grupos de interesse sobre po-
líticos e poderes públicos pa-
ra influenciá-los com seus ar-
gumentos, mas ganhou cono-
tação negativa no país.
Para empresários ouvidos
pela reportagem, pode não
ser lobismo de maneira ofi-
cial, mas serve como tal. Um
deles afirmou que Lide e Es-
fera são clubes de relaciona-
mento, uma espécie de net-
working pago.
Por dois meses, a Folha ou-
viu envolvidos nas duas orga-
nizações. As informações pu-
blicadas foram checadas com
ao menos duas fontes.
Integrantes da Esfera con-
versaram sob condição de
anonimato. A assessoria do
Lide afirmou que nem Doria
nemninguémdoLidecomen-
taria sobre “informações off”
(“off the record”, jargão jorna-
lístico para informação não
atribuída à fonte).
A Esfera diz não ter ne-
nhuma intenção de facilitar
o acesso de empresários a au-
toridades, mas, sim, discutir
propostas e ideias. A proximi-
dade entre uns e outros, afir-
mam seus integrantes, é de-
corrência inevitável de esta-
rem todos no mesmo recinto.
A Esfera diz que os lugares
em seus fóruns são livres, ca-
daumsentaondequiser.Mas,
emParis,nemtodosconsegui-
ram ter acesso ao presidente
do STF, Luís Roberto Barroso,
segundorelatosàreportagem.
Camargocostumadizerque
o estatuto, redigido pelo cri-
minalista Pierpaolo Bottini, é
“à prova de bala”: o documen-
to proíbe ligação partidária
aos participantes da Esfera.
Pelo compliance da entida-
de, podem existir no máximo
50associados.Atualmente,há
47, que pagam mensalidades
conjuntura mundial, da China
em particular. Mas, em tese, é
boa notícia para juros e, talvez,
câmbio e inflação no Brasil.
Como resultado, enfim as ta-
xas básicas de juros mais lon-
go prazo no Brasil (maiores
que dois anos) enfim ficaram
abaixo de onde estavam no co-
meço de agosto, quando a Se-
lic começou a baixar.
Segundo, o governo conse-
guiu aprovar boa parte do pa-
cote de impostos de Fernando
Haddad. Tudo mais constan-
te, significa déficit um pouco
menor nas contas federais de
2024. Se a arrecadação recor-
rente melhorar e em março
O ex-governador e ex-prefeito João Doria, do Lide
(Grupo de Líderes Empresariais) Bruno Santos - 3.nov.22/Folhapress
João Camargo, presidente da Esfera Brasil e sócio
da CNN Brasil Bruno Santos - 28.set.22/Folhapress
não se fizer mais besteira com
a meta de déficit primário (ofi-
cialmente zero), pode ser mais
um empurrãozinho para bai-
xo nas horríveis taxas de juros
brasileiras.
Terceiro, confirmou-se um
ano de saldo excepcional no
comércio exterior (exporta-
ções maiores do que impor-
tações), por causa do aumen-
to da quantidade de vendas de
petróleo e grãos. As importa-
ções estão meio deprimidas,
pois o investimento produtivo
anda muito mal das pernas. O
saldo não deve ser tão grande
em 2024, mas o aumento du-
radouro do volume de vendas
pode ajudar a termos, no cur-
to prazo (até dois anos), au-
mento de consumo domésti-
co e investimento sem proble-
mas maiores.
a inflação sem perda maior
de PIB. A economia esfria. De-
ve passar por uns três trimes-
tres de quase estagnação (até
meados do ano que vem). A re-
cuperação depende do avan-
ço de investimentos produti-
vos, que depende por sua vez
de juros, conjunturas políti-
cas e econômicas e de inson-
dáveis ânimos empresariais
—talvez, agora, dependa até
da definição de alíquotas dos
novos impostos de consumo
(mas isso é apenas uma espe-
culação razoável). Tem uma in-
certeza aí, mas houve queda de
inflação com algum aumento
de emprego. Quaisquer que te-
nham sido os motivos (em de-
bate), melhor assim.
Quinto, foi aprovada a refor-
ma tributária. A implementa-
por boleto. O valor, não con-
firmado pela Esfera, seria de
R$ 50 mil por ano.
O privilégio de ser associa-
do é ser chamado para parti-
cipar de debates e ter acesso
às autoridades. Quando são
feitos simpósios, a institui-
ção sai em busca de dinheiro
entre seus sócios, que se tor-
namtambémpatrocinadores.
A Esfera nega que patroci-
nar ofereça vantagens, nem
mesmomelhoresposiçõesem
mesas perto de autoridades.
O Lide não disse como fun-
ciona seu modelo de associ-
ação, a não ser o compareci-
mento a eventos. Um empre-
sário enviou para a Folha o
valor do pagamento da anui-
dade feito ao Lide: R$ 18.800.
Empresários disseram que é
natural pagar valores a mais
por vantagens como se sen-
tar à mesa com convidados.
Além do preço das anua-
lidades, outra diferença en-
tre os grupos é o número de
empresas associadas. Em 10
de julho, o Lide comemorou
seus 20 anos e publicou ser a
“maior associação de empre-
sáriosdoBrasil,com1.800em-
presas e mais de 4.000 filiados
no Brasil e no exterior”.
Mas, mesmo menor, a Esfe-
ra cresceu por prosperar no
terreno político e poder con-
tar com a participação de in-
tegrantes do governo Lula em
seus eventos. O Lide não po-
de trazer ministros ou presi-
dentes de estatais para seus
debates por causa de veto in-
formal do presidente da Re-
pública, que detesta o ex-go-
vernador de São Paulo.
Segundo relatos de empre-
sário e de um político ligado
a Lula, ele caiu na gargalhada
ao ouvir que Camargo havia
“ferrado” Doria com a Esfera.
Cientedoproblema,oex-go-
vernador tem pedido a ajuda
deinterlocutoresparaseapro-
ximar de Lula. No mês passa-
do, disse que o atual manda-
tário poderia ser o agente pa-
cificador do Brasil e o compa-
rou ao ex-presidente sul-afri-
cano Nelson Mandela.
Para contornar provisoria-
mente a resistência do presi-
dente petista, tem apostado
em levar governadores e inte-
grantes do Legislativo, onde
tem influência, para os even-
tos que organiza.
Doria não tem nenhum pu-
dor em mostrar que o Lide foi
criado à sua imagem e seme-
lhança. Quando anunciou a
candidatura a prefeito de São
Paulo, em 2016, deu a notícia
primeiramente a alguns asso-
ciados de sua entidade. Metó-
dico, gosta de cuidar pessoal-
mente de todos os aspectos
dos eventos, da qualidade da
comida que será servida à de-
coração do local do debate.
De outro lado, João Camar-
go —adolescente que sempre
adorou política e tinha Ores-
tes Quércia (governador de
São Paulo entre 1987 e 1990)
como ídolo— quer projetar a
imagem de que o importante
é a entidade, não ele. Diz que
a eee
ção vai levar entre meia e uma
década. Pode haver malandra-
gens na regulamentação, que
piorem o teor da mudança. A
reforma foi em parte desfigura-
da no Congresso, em particular
no Senado, que distribuiu favo-
res a setores empresariais e re-
giões: atraso, iniquidade, ine-
ficiência. Ainda assim, é enor-
me avanço. O efeito imediato
é difuso e leve, mas a adminis-
tração econômica do país vai
ficar menos incompetente: já é
uma melhora de imagem. Ou-
tras reformas microeconômi-
cas foram aprovadas, em par-
ticular no crédito.
Há ameaças no horizonte,
pois ano de eleição propicia
besteira e o Congresso e até
o governo têm no gatilho um
monte de projetos de avaca-
lhar o gasto e fazer favores a
empresas e estados amigos.
Mas, para variar, no espírito
de festas, vamos ficar no me-
lhorzinho.
vinicius.torres@grupofolha.com.br
não deseja ser visto como a
maior marca da Esfera.
Mas, nos bastidores, é isso o
que acontece, pela capacida-
de de navegar entre diferen-
tes grupos políticos ou pela
inveja que deputados, sena-
dores e ministros têm de seu
conhecimento sobre vinho.
Camargo faz parte de dife-
rentes confrarias sobre o as-
sunto, e a ideia de criar o gru-
po Esfera nasceu em reuniões
virtuaisregadasaessabebida,
durante a pandemia.
Ele gosta sempre de contar
que em alguns círculos petis-
tas é visto como bolsonarista
e, quando ia visitar o ministro
dasComunicaçõesdeJairBol-
sonaro, Fábio Faria, era cha-
mado de lulista.
Durante a campanha presi-
dencial,aEsferaerafrequenta-
daporpartidáriosdeBolsona-
ro.Emabrilde2022,Camargo
promoveuumjantardoentão
candidatoàreeleiçãocomem-
presários.Massempremante-
ve pontes com Lula e compa-
receu com apoiadores do pe-
tistaapelomenosumdebate.
Setores do PT veem Camar-
go com desconfiança, em par-
te,pelasociedadenaCNNBra-
sil, que estaria muito à direi-
ta, na opinião deles.
As duas entidades tentam
fincar o pé no exterior com
eventos em que autoridades
nacionais e estrangeiras são
atraçõesprincipais.OLidemi-
ra Dubai, nos Emirados Ára-
bes. A Esfera quer ir à Arábia
Saudita em 2024 e planeja,
se conseguir participação da
ONU e vencedores do Nobel
de economia, fazer um sim-
pósio em Genebra, na Suíça.
Os Joãos têm outras seme-
lhanças. Camargo foi secretá-
rio de Governo do prefeito Jâ-
nioQuadros(1917-1992),entre
1986 e 1989, e assessorou a ex-
-ministra da Economia Zélia
Cardoso de Mello, de 1990 a
1991.Foiquando,afirma,deci-
diu se afastar da política. Pelo
menosatéacriaçãodaEsfera.
Doria se tornou secretário
municipaldeTurismoemSão
Paulo na gestão de Mário Co-
vas (1930-2001), entre 1983 e
1986. Em seguida foi nome-
ado presidente da Embratur
até1988nagestãoJoséSarney.
Ambos também são filhos
de políticos e têm história na
comunicação. Camargo, ad-
ministrador formado pela
PUC-SP, possui participações
ou é dono das rádios Nativa
FM, BandNews, 89 FM, Alpha
e Disney. Formado em comu-
nicaçãosocial,Doriafoieditor
de revistas e apresentador de
programas de TV —o maior
sucesso foi O Aprendiz.
Hoje em dia, há outros en-
trantes do setor de interme-
diar contatos. Um grupo de
WhatsApp chamado “merca-
doeopinião”,com700empre-
sários, reúne boa parte do PIB
brasileiro. Uma vez por mês,
é organizado um jantar e um
palestrante é convidado. Há
outro chamado “Brasil que dá
certo”, com empresários e no-
mes do mercado financeiro.
a eee
Milei pode acertar
Aproximação dos técnicos do grupo de macri indica
que ele buscará uma política econômica racional
- entre jovens e velhos. Os velhos
Samuel Pessôa
Pesquisador do instituto brasileiro de Economia (FgV) e da Julius baer Family office (JbFo). É doutor em economia pela USP
Se fosse argentino, teria votado
no candidato peronista Sergio
Massa para presidente. Néstor
Kirchner pegou em 2003 uma
economia arrumada de seu
antecessor, também peronis-
ta, Eduardo Duhalde. A situa-
ção era dramática, após perda
de 18% do PIB entre 1999 e 2002,
mas estavam dadas as condi-
ções para um grande ciclo de
crescimento.
Havia superávit das contas
públicas, as contas externas es-
tavam arrumadas e havia mui-
ta melhora microeconômica
para ser colhida. O presiden-
te peronista de direita, Carlos
Menem, que errou feio na ma-
croeconomia, tinha moderni-
zado muito as instituições do
país. Os Kirchners colheram o
que Menem plantou.
| dom. Samuel Pessôa | seg. Marcos Vasconcellos, Ronaldo Lemos | ter. Michael França, Cecilia Machado | qua. Bernardo Guimarães | qui. Cida Bento, Solange Srour | sex. André Roncaglia | sáb. Marcos Mendes, Rodrigo Zeidan
Brasileiro produz vinho premiado de Portugal
Conhecido no mundo das finanças, marcelo Lima quer agora promover no brasil seus rótulos de maior valor agregado
-
Tânia Nogueira
sÃo PauLo O empresário Mar-
celoLimaéconhecidonomer-
cado por seu perfil agressi-
vo. Quem acompanha o mo-
vimento de capital sabe que
ele compra e vende partici-
pações com muita habilida-
de e precisão.
A sua atuação à frente de
conselhos de empresas co-
mo a fabricante de refrigera-
dores comerciais Metalfrio
e o grupo de moda Veste (Le
Lis, John John, Bo.Bô, Indivi-
dual e Dudalina) é notória no
mundo das finanças. Fora de-
le,noentanto,poucagenteou-
viu falar no seu nome.
Lima sempre manteve uma
posturadiscretaeumadistân-
cia segura da mídia. No en-
tanto, o empresário mineiro
de 61 anos não só aceitou dar
esta entrevista como concor-
douemfazerumafoto.Recen-
temente, esteve também em
um programa de TV.
O que mudou? Uma boa hi-
pótese é que Lima entendeu o
quanto isso é necessário dada
a natureza do negócio que ele
mesmo já declarou ser o que
mais lhe traz prazer entre to-
dos: o vinho.
Desde 2011, o empresário
é sócio de uma das vinícolas
mais premiadas de Portugal,
a Quinta da Covela, na região
do Vinho Verde. Contudo, em
todas as fotos de reportagens
sobre a vinícola, ele nunca es-
tava presente.
Ovinhoéummercadocheio
de particularidades. Uma de-
las é que o rosto do produtor
costuma ser importante na
venda das garrafas, especial-
mente daquelas mais caras.
As histórias da Covela e dos
seus sócios vale a pena ser
contada. A quinta é tida co-
mo uma das mais bonitas de
Portugal. Até o fim dos anos
1980, pertenceu ao famoso ci-
neasta português Manoel Oli-
veira e não produzia vinhos.
Depois foi comprada por Nu-
no Araújo, parente da famí-
lia Ramos Pinto, tradicionais
produtores de vinho do Por-
to, mas acabou indo a leilão
em 2009.Dois anosdepois, foi
vendida a Lima e seu sócio, o
inglês Tony Smith.
Nascido em Campina Ver-
de, no Triângulo Mineiro, Li-
ma formou-se em economia
pela PUCRio. Ocupou cargos
importantes em alguns ban-
cos, entre eles o Banco Ho-
landês (futuro ABN Amro) e
A irresponsabilidade fiscal
compulsiva dos Kirchners, que
contaminou também a Presi-
dência de Alberto Fernández,
colocou a Argentina na rota
da hiperinflação.
O interregno não peronista
de Mauricio Macri —de 2003
até 2023 foram 16 anos de go-
vernos peronistas e 4 com Ma-
cri— não ajudou. Houve o erro
de acreditar que as reformas
microeconômicas e a arruma-
ção macroeconômica básica
permitiriam ganhos de eficiên-
cia que resolveriam os proble-
mas fiscais com o crescimen-
to. Macri cometeu o mesmo er-
ro de FHC 1 e não teve uma se-
gunda chance para arrumar,
como teve FHC.
Dura lição: problema fiscal
se resolve reduzindo gasto e
Marcelo Lima, sócio de vinícola premiada em Portugal, com seus vinhos
o Garantia.
Aos 38 anos, decidiu empre-
ender e comprou 50% de uma
agência de publicidade.
Quatro anos e alguns negó-
cios de sucesso depois, em
2004, comprou uma partici-
pação expressiva na Metal-
frio, na época uma pequena
fábrica local. Com os sócios,
fez dela uma das maiores do
setor no mundo, com fábri-
cas em vários países.
Em 2007, com outro sócio,
comprou a Le Lis Blanc. A par-
tirdaí,criouogrupoRestoque
(hoje Veste), ao qual agregou
uma série de marcas de mo-
da. Em 2012, captou US$ 1,2
bilhão na Bolsa.
Três anos antes comprou
com dois sócios um banco na
Flórida, o fez crescer e o ven-
deu. Todos negócios de opor-
tunidade. Com a Covela, não
foi diferente.
Seu sócio, o jornalista inglês
TonySmith,chegouaSãoPau-
lo no ano 2000, como corres-
pondente do jornal The New
York Times e da agência Asso-
ciated Press. Logo Lima e ele
estabeleceram uma relação
fonte-jornalista, com conver-
sas em off the record, durante
almoços e happy hours, sem-
pre regados a vinhos.
“Isso acabou evoluindo pa-
raumaamizade”,contaSmith.
“Umaveznosencontramosna
Europa e visitamos vinícolas.
Quandovocêvisitaumaregião
vinícola, aqueles lugares lin-
dos, não tem como não pen-
sar:‘Quantoseráquecustaum
elevando receita. Adicional-
mente, Macri estragou a úni-
ca coisa que os Kirchners não
tinham destruído: reconstruiu
a fragilidade externa do país,
contraindo dívida denomina-
da em moeda estrangeira.
Minha aposta de que a me-
lhor opção era Sergio Massa,
não o folclórico Javier Milei,
deve-se à importância de que
o grupo peronista aprenda.
Talvez, se Massa tivesse de ad-
ministrar a hiperinflação por
eles mesmos construída, o pe-
ronismo aprenderia que há
restrição de recursos em uma
economia.
Mas os argentinos discorda-
ram de mim. Por ampla maio-
ria, escolheram Milei. Há dois
traços da campanha eleitoral
de Milei que me parece passa-
hectare?’. A coisa começou as-
sim, meio por brincadeira.”
Até que um dia, em 2009,
chegou aos ouvidos de Lima o
leilão de uma quinta em Por-
tugal muito bonita, que pro-
duziabonsvinhos.“Fomoslá”,
conta Lima. “Mas um banco
fez um lance maior.”
Em 2011, os amigos fecha-
ram a compra, criando as-
sim a Lima & Smith. “A equi-
pe tinha sido demitida”, con-
ta Marcelo. “Recontratamos
todos. Inclusive o enólogo
Rui Cunha [eleito o enólogo
de 2022 pela portuguesa Re-
vista de Vinhos].”
Juntos, sócios e enólogo,
decidiram focar só brancos,
a vocação da região, e fazer
umrosé.“Agentelançouopri-
meiro vinho rosé de Portugal
com as características dos vi-
nhos da Provence”, conta or-
gulhoso Lima.
Para os brancos, investiram
na avesso, a uva principal da
sub-regiãodeBaião,ondeestá
a Covela, já na fronteira com o
Douro. Na época, a avesso só
era usada em cortes. Rui Cu-
nha foi o primeiro enólogo a
apostar nela em versão solo.
Em 2013, a Lima & Smith
comprou as quintas da Tece-
deirasedaBoaVistanoDouro
para produzir vinhos tintos e
do Porto.Os resultadosforam
também superpremiados.
“Desde o início, estava bem
claroparamimqueovinhote-
ria de ser um negócio susten-
tável”,dizLima.Obrasileirose
recusa a adotar a política de
ram desapercebidos. Por de-
trás de todo o anedotário que
envolve a figura do novo presi-
dente, o conteúdo de sua cam-
panha foi incrivelmente racio-
nal. Milei parece o bobo da cor-
te, a figura cínica cuja função
é avisar o mandatário, de for-
ma bem-humorada, das obvie-
dades da vida que a corte não
deseja reconhecer.
É absolutamente revolucio-
nário, na Argentina e na Amé-
rica Latina de maneira geral,
que o canto básico de uma can-
didatura à Presidência seja a
relação entre déficit público,
emissão monetária e inflação.
Vale a pena ver o vídeo que cir-
cula no YouTube (t.ly/d7LrM).
O segundo aspecto é que o
eleitorado de Milei é jovem. Ha-
via na campanha um frescor e
Eduardo Knapp/Folhapress
baixar seus preços.
“Tanto no vinho quanto na
moda, tem gente que ganha
muito dinheiro com produ-
tos de baixa qualidade e bai-
xo preço. Eu gosto de ter or-
gulho do que eu faço.”
Se necessário, no entanto,
Lima corta na carne. Na pan-
demia, como boa parte das
empresas, os negócios de Li-
ma também sofreram. A Li-
ma & Smith foi atingida. Re-
duziusignificativamenteonú-
mero de garrafas produzidas
naqueles anos.
O pior: teve de vender a
Quinta da Boa Vista, a pro-
priedade destinada a fazer os
tintos de maior valor agrega-
do. “Eu precisava de liquidez”,
conta Lima.
Apesar de o consumo de vi-
nhos no Brasil ter subido du-
rante a pandemia, os vinhos
da Lima & Smith perderam
mercado por aqui. “Costuma-
va ser quase 50% Brasil, 50%
Portugal”, conta Smith. “Um
pouco antes da pandemia, o
Brasil até ameaçou ultrapas-
sar esses 50%.” Hoje Portugal
responde por 80% das vendas
de Covela e Tecedeiras.
Para tentar reposicionar a
vinícola no mercado brasilei-
ro, a empresa trocou de im-
portadora, para a Berkmann.
Lima, por sua vez, aceitou
mostrar para o mercado na-
cional que, por trás dos rótu-
los, há um brasileiro.
“O público que consome vi-
nhos mais caros parece que
ainda não nos descobriu”, diz.
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 A19
mercado
um bom humor típico dos jo-
vens. E, nesse aspecto, parece
que Milei é um fenômeno so-
dogrupopolíticodeMacriindi-
ca que ele buscará uma políti-
ca econômica racional. E a boa
cial distinto do bolsonarismo notícia é que, entre esses téc-
e seus tiozões com saudade da nicos, houve aprendizado. Da
ditadura militar. mesma forma que o Plano Re-
A eleição de Milei encerra um al somente ocorreu após os er-
profundo conflito distributivo ros do Cruzado e do Plano Col-
lor, os erros de condução de po-
ainda pegaram um país mini- lítica econômica de Macri po-
mamente funcional. Com anos dempavimentarocaminhopa-
trabalhando no setor formal, ra um possível acerto de Milei.
acumularam os benefícios do Para nós, resta, independen-
Estado de bem-estar argenti- temente do grupo político que
no. Tudo muito precário, mas governa nosso vizinho ao sul,
muito melhor do que os jovens uma sólida democracia, tor-
que estão simplesmente mar- cer pelo melhor e que eles re-
ginalizados. As portas da eco- encontrem o caminho do de-
nomia formal se fecharam pa- senvolvimento econômico per-
ra eles há muito tempo. dido há um século atrás.
Também é perfeitamente
compreensível o apelo eleito- *
ral da proposta esdrúxula da Na coluna da semana passa-
dolarização. Os ricos argenti- da, apresentei trabalho recen-
nos há décadas poupam em te aceito para publicação em
dólares. A dolarização somen- uma das cinco melhores revis-
te estende aos pobres um direi- tas do mundo em economia,
to que os ricos já têm. que contesta as evidências de
Hádoisfatoresquesinalizam Piketty, Saez e Zucman de que
que Milei pode acertar. Primei- houve nos últimos 60 anos for-
ro, não haver estelionato eleito- te concentração de renda nos
ral. Ele avisou que iria promo- 1% mais ricos nos EUA. Piket-
ver um duro ajuste fiscal e tem ty, Saez e Zucman postaram
delegação para tal. Segundo, a uma resposta (t.ly/ZzEsH). Óti-
sua aproximação dos técnicos mo debate.
TERRENO EM PIRACICABA/SP
No Condomínio DAMHA I. Com 414,43m2.
R$ 330.000,00
Fone: (19) 99605-0505, direto com a proprietária.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO - Campus de Bauru
COMUNICADO DE ABERTURA DE LICITAÇÃO
CONCORRÊNCIA - (Proc. 1274/2023-FAAC)
Encontra-se aberta a licitação na modalidade CONCORRÊNCIA, com inversão de fases, nº
01/2023-FAAC, objetivando a contratação de empresa para execução de obras, reforma e
serviços de engenharia conforme abaixo: ITEM 01 – REFORMA DO TELHADO DOS ATELIÊS
– DARG/DAUP – Valor Referencial: R$ 604.884,81 (Seiscentos e quatro mil, oitocentos
e oitenta e quatro reais e oitenta e um centavos); ITEM 02 – AMPLIAÇÃO E REFORMA –
LABORATÓRIO DE TIPOGRAFIA – Valor Referencial: R$ 145.661,30 (Cento e quarenta e
cinco mil, seiscentos e sessenta e um reais e trinta centavos); ITEM 03 – CONSTRUÇÃO DO
PRÉDIO DO DCSO / FAAC – Valor Referencial: R$ 4.495.554,50 (Quatro milhões, quatrocentos
e noventa e cinco mil, quinhentos e cinquenta e quatro reais e cinquenta centavos); ITEM 04
– CONSTRUÇÃO DA GALERIA DE ARTES – Valor Referencial: R$ 611.510,60 (Seiscentos e
onze mil, quinhentos e dez reais e sessenta centavos). Regime de empreitada preço global por
item. O Edital completo, o Projeto Básico, Caderno de Especificações e demais informações
estão disponíveis no site: https://www.faac.unesp.br/#!/licitacoes/. A sessão pública para
abertura dos envelopes realizar-se-á no dia 05 de março de 2024 às 09h30min na Sala de
Reuniões da DTAd/FAAC, sito à Av. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01, Bairro: Vargem Limpa,
Bauru, São Paulo, Cep. 17.033-360. Demais prazos e condições conforme previstos no Edital.
Bauru, 15 de dezembro de 2023. Fernando de Souza Ferrari - Diretor Técnico Administrativo
LEILÃO
Somente Online
Transmissão Ao Vivo
Encerramento
21/12/2023 às 10h00
EDITAL CSLS.G-306.2023 - Sucatas, Óleo Isolante e Veículos
Modalidade: ON-LINE com Transmissão ao vivo (www.ricoleiloes.com.br)
Abertura dos lances dos lotes: 06 de dezembro de 2023 às 10h00m
Início de fechamento dos lotes: 21 de dezembro de 2023 às 10h00m
EDITAL COMPLETO acesse www.ricoleiloes.com.br
*Os interessados devem se habilitar por e-mail contato@ricoleiloes.com.br
até 20/12/2023, com envio dos documentos indicados no Edital.
A DOCUMENTAÇÃO SERÁ ANALISADA PELA COMISSÃO DE ALIENAÇÃO.
** Maiores informações, condições de participação, visitação,
remoção dos bens acesse o edital completo no site.
Leiloeiro Oficial – Victor Senna Gir Andrade – JUCESP 1132
Tel. (11) 4040-8060 | www.RicoLeiloes.com.br
EDITALDE LEILÃODEALIENAÇÃOFIDUCIÁRIA
1º LEILÃO:26 de janeirode 2024,às 16h00min*.
2º LEILÃO:09 de fevereirode 2024,às 16h00min*. (*horáriode Brasília)
Ana ClaudiaCarolinaCamposFrazão,LeiloeiraOficial,JUCESPnº 836, com escritóriona Rua Hipódromo,1141, sala 66, Mooca,
São Paulo/SP, FAZ SABER a todos quanto o presenteEDITALvirem ou dele conhecimentotiver, que levará a PÚBLICO LEILÃO
de modo PRESENCIAL E ON-LINE, nos termos da Lei nº 9.514/97, artigo 27 e parágrafos, autorizada pela Credora Fiduciária
GPR CAPITAL S/A, inscrita no CNPJ/MF sob n° 21.903.297/0001-75, nos termos do Instrumento particular com força de
escritura pública datado de 18/11/2022, firmada com os fiduciantes MIGUELANTONIO JANEZ VAZ, CPF nº 050.585.478-30e
sua mulherERASMIABAIRACTARIS JANEZ VAZ, CPF nº 028.110.448-41,em PRIMEIROLEILÃO(data/horárioacima), com
lancemínimoigualou superiora R$ 1.256.160,00(um milhãoduzentose cinquentae seis mil e centoe sessentareais- atualizado
conforme disposições contratuais), o imóvel com propriedade consolidada em nome do credor Fiduciário conforme Av.17,
constituídopor: “Prédioresidencial,com 802,32metrosquadrados,que recebeuo nº 430 no emplacamentoda EstradaMunicipal
João Vieira, denominação dada à Estrada Municipal que liga Itapetininga ao Morro doAlto (conf. Av. 12) e respectivo terreno
situado no municípiodeAlambari,denominadoChácaraAriani, com a área de doze mil e oito (12.008) metros quadradose vinte e
um (21) centímetros, ou 1,2008 – há, melhor descrito na matrícula nº 51.136 do Cartório de Registro de Imóveis de
Itapetininga/SP. Inscrição Municipal: 09.01.0200.12.1-2791 (conf.Av. 7). Venda em caráter “ad corpus” e no estado de
conservação em que se encontra. Imóvel Ocupado. Desocupação por conta do adquirente, nos termos do art. 30 da Lei
9.514/97.ÔNUS:Constada referidamatrícula,conformeAv. 15 distribuiçãode ação de execuçãode títuloextrajudicial- processo
nº 1010653-47.2022.8.26.0269e conformeAv. 15 a PENHORAdos direitos de devedores fiduciantes determinada no processo
nº 1010653-47.2022.8.26.0269,cuja baixa será providenciadapelo Credor Fiduciário. Caso não haja licitante em primeiro leilão,
fica desde já designadoo SEGUNDO LEILÃO (data/horárioacima), com lance mínimo igual ou superior a R$ 1.223.964,67(um
milhão duzentose vinte e três mil novecentose sessentae quatro reais e sessentae sete centavos– nos termos do art. 27, §2º da
Lei 9.514/97). O leilãopresencialocorreráno escritórioda Leiloeira. Os interessadosem participardo leilãode modo on-
line, deverão se cadastrar no site www.FrazaoLeiloes.com.br, encaminhar a documentação necessária para liberação
do cadastro 24 horas do início do leilão. Forma de pagamento e demais condições de venda, VEJA A INTEGRA
DESTE EDITAL NO SITE: www.FrazaoLeiloes.com.br. Informações pelo tel. 11-3550-4066. (GPR_2522-01)
SINDICATO DOS TRABALHADORES NA INDÚSTRIA DA PURIFICAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE
ÁGUA E EM SERVIÇOS DE ESGOTO DE CAMPINAS E REGIÃO - EDITAL DE CONVOCAÇÃO DE
ELEIÇÕES SINDICAIS - Pelo presente Edital, ficam convocados todos os associados do Sindicato
dos Trabalhadores na Indústria da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto de
Campinas e Região, “SINDAE CAMPINAS”, CNPJ nº 54.665.047/0001-01, para participarem da
eleição para os cargos da Diretoria (11 titulares e 11 suplentes), Conselho Fiscal (3 titulares e 3 su-
plentes), Delegados sindicais no Municipio de Campinas/SP (15 titulares e 15 suplentes), Delegados
sindicais no Municipio de Atibaia/SP (2 titulares e 2 suplentes), Departamento dos Aposentados (5
titulares e 5 suplentes), Representantes na Federação (2 titulares e 2 suplentes), para o próximo
quadriênio, cuja a coleta de votos ocorrerá nos dias 06 e 07 de fevereiro de 2024 (terça e quarta-fei-
ra), podendo serem instaladas urnas entre o período das 7h00min às 17h00min, de acordo com o
roteiro de urnas a ser elaborado pela Comissão Eleitoral, sendo que serão instaladas urnas fixas na
Sede do Sindicato em Campinas, na Subsede do Sindicato em Atibaia, na Sede da BRK em Suma-
ré, na ETA/Sanasa Campinas 1 e na ETA/Sanasa Campinas 2, e outras urnas itinerantes que percor-
rerão os principais locais de trabalho na base territorial do Sindicato onde existam associados aptos
a participarem do pleito, inclusive no Consórcio PCJ em Americana. As inscrições de chapas devem
ser realizadas nos termos do estatuto (cópia disponibilizada na sede do Sindicato), entre os dias
18/12/2023 e 22/12/2023, das 9h00min às 17h00min, na sede do Sindicato, perante a Secretaria da
Comissão eleitoral localizada na Avenida Ângelo Simões, nº 725, Jardim Leonor, Campinas/SP. A
relação nominal dos candidatos será publicada no dia 23/12/2023, no mesmo jornal que publicou o
presente edital, sendo que o prazo de impugnação de candidaturas será entre os dias 26/12/2023 a
28/12/2023, das 9h00min às 17h00min, na sede do Sindicato, perante a Secretaria da Comissão
eleitoral localizada na Avenida Ângelo Simões, nº 725, Jardim Leonor, Campinas/SP. Caso não seja
atingido o quórum previsto no estatuto, ou ainda no caso de empate, uma nova eleição será realiza-
da nos dias 20 e 21 de fevereiro de 2024, nos mesmos horários e locais de votação da primeira
eleição. O Edital de Convocação das Eleições Sindicais está afixado na Sede do Sindicato e na
Subsede do Sindicato em Atibaia e veiculado no boletim da entidade. Campinas, 17 de dezembro
de 2023, Renan Roncolatto Pereira de Almeida - Presidente, representando a Diretoria.
Acesse o site
folha.com/seminariosfolha
A20 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
mercado
Luciano Salles
O Santos F.C. e a COP28
‘não desceremos silenciosamente aos nossos túmulos aquosos’
é a frase que reflete as discussões na conferência climática
- (GEE), três quartos das quais
Candido Bracher
Administrador de Empresas formado pela FgV. Foi executivo do setor financeiro por 40 anos.
“Como você faliu?”
“De duas maneiras. Gradual-
mente, e depois subitamente.”
Acredito que a frequência
com que esse diálogo do ro-
mance “O Sol Também se Le-
vanta”, de Hemingway, é cita-
do deva-se não apenas à sua
originalidade, humor e conci-
são mas principalmente ao fa-
to de que a sequência “gradu-
almente e depois subitamen-
te” se aplica a várias situações.
Ainda há poucos dias, um fa-
to particularmente doloroso
para mim enquadrou-se perfei-
tamente no figurino: o rebaixa-
mento do Santos F.C. para a Sé-
rie B do Campeonato Brasilei-
ro. Certamente não cabe bus-
car a explicação para o desas-
tre nos gols perdidos contra o
Fortaleza no dia 6, nem mesmo
nas acachapantes derrotas nas
| dom. Ana paula Vescovi, Marcos Lisboa, Candido Bracher
Natal deve ter mais carne, mas
preocupação com bolso segue
divisão de pratos e procura por marcas baratas são estratégias esperadas
-
Leonardo Vieceli
Rio de JaneiRo Projeções indi-
cam que o consumo de car-
nes, incluindo de aves, tende
a crescer na ceia de Natal des-
te ano em razão de fatores co-
moatréguadainflaçãoeame-
lhora da renda com a retoma-
da do mercado de trabalho.
Isso, contudo, não elimina
a preocupação do brasileiro
com o bolso, conforme dife-
rentes análises. Em uma ten-
tativa de economizar, as famí-
liasaindadevemrecorreraes-
tratégias como marcas mais
baratas de produtos diversos
e divisão do preparo dos pra-
tos da ceia.
“No final de ano, estamos
falando de itens com valor
agregado mais alto. Assim, o
consumidor tem de fazer es-
colhas”, afirma Anna Caroli-
na Veiga Fercher, chefe de su-
cesso do cliente e insights da
Horus,marcadaNeogrid,que
analisa dados de consumo.
“Para conseguir levar todas
as categorias de que precisa,
ele acaba optando por mar-
cas um pouco mais baratas.
É uma tendência geral”, diz.
Na avaliação de Fercher,
um dos grupos que tendem
a apresentar um consumo
maior neste Natal é o das car-
nes, sob impacto de fatores
três últimas partidas do cam-
peonato. O rebaixamento vi-
nha se avizinhando gradual-
mente ao longo de vários anos
de gestões ineptas, más contra-
tações, descontinuidade e qua-
se a lista completa de mazelas
que podem afligir a condução
de qualquer empresa.
Entre as emoções que anima-
ram os torcedores aos atos de
vandalismo que atravessaram
a madrugada santista, uma
não se justificava: a surpresa.
Era “bola cantada”.
O fato faz pensar em quan-
tos processos de degradação
podem estar em marcha gra-
dual, sem que nos aperceba-
mos, ou —melhor dito— per-
mitindo que ignoremos a de-
cadência para não ocupar nos-
sa mente com pensamentos de-
sagradáveis. Em qualquer fase
Frango com acompanhamentos; pesquisa aponta que peru e
chester não podem falar para a maioria Gabriel Cabral/Folhapress
como a trégua dos preços ao
longo do ano e o desempe-
nho do mercado de trabalho.
Conforme pesquisa da Ho-
rus com base em notas fiscais
de pequenos varejos, ataca-
rejos e super e hipermerca-
dos, os preços médios pon-
derados da carne de frango
e bovina caíram em torno de
22,4% em outubro se compa-
rados a igual mês de 2022. O
levantamento não detalha os
tipos de corte.
Na carne suína, a redução
foi de 1,4%. Os preços desses
da vida, se examinarmos nos-
sas atividades profissionais,
nossas relações afetivas, pro-
jetos antigos, muito possivel-
mente encontraremos razões
para questionar se neste, ou
naquele caso específico, não
estará ocorrendo um lento de-
clínio. Compreender suas cau-
sas talvez nem sempre seja su-
ficiente para evitar o desenla-
ce, mas ao menos permite que
nos tornemos agentes consci-
entes na sua condução.
Mesmo em situações nas
quais o final é iniludível —co-
mo se dirigiu Manuel Bandei-
ra à “indesejada das gentes”,
a morte—, a consciência dos
mecanismos que atuam sobre
nossa saúde nos permite influ-
enciar decisivamente o prazo
e as condições em que o atin-
giremos. Nesse domínio, o “sú-
itens, contudo, costumam
ser pressionados no final do
ano com a demanda típica do
período.
“A gente percebeu redução
nos preços das proteínas ani-
mais. Muito provavelmente
elas vão voltar a ser protago-
nistas da mesa de Natal”, afir-
ma Fercher.
DadosdoIPC(ÍndicedePre-
ços ao Consumidor), do FGV
Ibre (Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Ge-
tulio Vargas), apontam que
o frango inteiro (-13,68%) e o
bito”, a surpresa, devem ficar
reservados para as exceções.
Mas, se enquanto seres hu-
manos não há como escapar
à morte, o mesmo não se apli-
ca à humanidade em seu con-
junto. Os recursos intelectuais
que tornaram o homem a es-
pécie dominante sobre a Ter-
ra devem ser suficientes tam-
bém para assegurar a conti-
nuidade da espécie.
Essa crença tem sido posta
à prova pela forma como evo-
luem “gradualmente” as ame-
aças ao planeta. Poucas horas
antes do drama na Vila Bel-
miro, foi divulgado na Confe-
rência do Clima (COP28), em
Dubai, o Global Tipping Po-
ints Report (relatório global
sobre pontos de não retorno),
coordenado pela Universida-
de de Exeter. O texto alerta pa-
pernil suíno (-1,40%) acumu-
laram deflação (queda) no
período de 12 meses até no-
vembro.
O lombo suíno (0,06%) fi-
cou praticamente estável nes-
sa base de comparação, en-
quanto o bacalhau teve alta
de preços (8,28%).
Levantamento recente da
Abras (Associação Brasileira
de Supermercados) apontou
que 62% dos supermercadis-
tas projetam alta no consumo
para o Natal de 2023 em rela-
ção ao ano passado.
Aelevaçãoéaguardadaape-
sar do aumento de 8,9% no
preço de uma cesta de itens
típicos da ceia. No ano pas-
sado, a elevação no custo ha-
via sido maior (9,8%).
Ainda de acordo com a
Abras, a expectativa do setor
para o Natal é de crescimento
de 10% no consumo de prote-
ína animal, o que inclui aves
natalinas, bacalhau, carnes
bovinas, frango, lombo, ovos,
peixe, pernil, peru e tender.
Pesquisa da VR, empresa de
benefícios como vale-alimen-
tação, apontou que 70,3% dos
entrevistados disseram que
aves como peru e chester não
podem faltar na ceia.
Cortes suínos (46,4%), in-
cluindo pernil e tender, e bo-
vinos (25,2%) apareceram na
ra a iminência do desencade-
amento de fenômenos climá-
ticos irreversíveis “represen-
tando riscos de magnitude ja-
mais enfrentada pela humani-
dade” segundo seu coordena-
dor. Esses fenômenos “inclu-
em o colapso das grandes ca-
lotas de gelo da Groenlândia e
da Antártida Ocidental, o de-
gelo generalizado do perma-
frost, a morte dos recifes de
coral em águas quentes e o co-
lapso de uma corrente oceâni-
ca no Atlântico Norte”.
As descrições do relatório
provocam a desagradável sen-
sação de que, à medida que
as mudanças se intensificam,
podemos migrar do territó-
rio do “gradual” para entrar
no “súbito”.
No entanto, até a véspera do
encerramento da COP28, tudo
indicava que o mundo seguiria
sua trajetória suicida de pri-
orizar interesses financeiros
imediatos sobre a necessida-
de imperiosa de conter o pro-
cesso de aquecimento global,
através da redução de emis-
sões de gases de efeito estufa
devem-se à queima de combus-
tíveis fósseis (carvão, gás e de-
rivados do petróleo).
A minuta, divulgada aos 45
do segundo tempo, convidava
a “tomar iniciativas que pode-
riam incluir a redução de con-
sumo e produção de combustí-
veis fósseis”. Apesar de mencio-
nar pela primeira vez o termo
“combustíveis fósseis”, fazia a
recomendação parecer um car-
dápio, no qual os países pode-
riam optar, ou não, por restrin-
gir a produção e o uso de pe-
tróleo e seus derivados.
Al Gore, que há mais de 20
anos alerta para os riscos cli-
máticos, disse sobre o docu-
mento: “É profundamente
ofensivo para todos os que le-
varam esse processo a sério”. O
representante de um dos paí-
ses insulares do Pacífico acres-
centou dramaticamente: “Não
desceremos silenciosamente
aos nossos túmulos aquosos”.
A indignação provocada pela
sequência. Havia a possibili-
dade de mais de uma respos-
ta para cada entrevistado. O
levantamento consultou 474
pessoas.
AVRconcluique“oquemais
preocupa o brasileiro é o cus-
to”. Segundo o levantamento,
mais da metade dos entrevis-
tados(57,4%)dissequefamíli-
as ou grupos de amigos com-
binam os pratos que devem
ser levados para a ceia de Na-
tal, o que é uma forma de ate-
nuaroimpactonoorçamento.
A pesquisa ainda pergun-
tou qual era a expectativa de
gastos com a refeição, consi-
derando as diferentes formas
de divisão dos custos —por
pessoa ou por família.
A alternativa mais citada
pelos entrevistados estima
consumo de R$ 51 a R$ 150
por pessoa (32,3%), seguida
pelas opções entre R$ 200 e
R$ 300 por família (12,7%),
até R$ 50 por pessoa (12,2%),
de R$ 301 a R$ 500 por famí-
lia (10,6%), mais de R$ 150 por
pessoa (8%) e mais de R$ 500
por família (7,4%). A fatia res-
tante (16,9%) não sabe quan-
to gastará.
Para Priscila Abondanza,
diretora-executiva de clien-
tes da VR, os dados sinalizam
uma disposição para o consu-
mo, mas com uma tendência
de busca por economia. “O
pessoal trabalha para esticar
a renda”, diz.
Na sexta-feira (15), pesquisa
do Procon-SP alertou para di-
ferençasconsideradasexpres-
sivas nos preços de produtos
iguais associadosàceiadeNa-
tal. Por isso, o órgão estadual
sugeriu uma comparação en-
tre estabelecimentos, levan-
do em conta qualidade, peso
e valores dos itens desejados.
a eee
minuta foi de tal ordem que
provocou uma prorrogação
de quase 24 horas na reunião.
No encerramento dos tra-
balhos da COP, na quarta-fei-
ra (13), os céticos —eu inclusi-
ve— foram surpreendidos com
o anúncio de um acordo apro-
vado por 200 países, que pe-
la primeira vez insta todas as
nações a abandonar os com-
bustíveis fósseis “de forma jus-
ta, ordenada e equitativa, ace-
lerando a ação nesta década
crítica, de modo a atingir ze-
ro emissões até 2050”. Na prá-
tica, ao longo dos próximos
dois anos, todas as nações de-
verão apresentar um plano for-
mal e detalhado, explicitando
como reduzirão suas emissões
de GEE até 2035.
O acordo não é perfeito, não
tem força de lei e várias nações
fazem restrições a ele, o que
é de esperar em um compro-
misso envolvendo tantas par-
tes com interesses distintos.
Há razões para celebrar, após
30 anos, a inclusão dos com-
bustíveis fósseis no texto final,
mas resta muito a fazer. Talvez
“além do esperado, aquém do
necessário” seja a expressão
que melhor reflita o resulta-
do da reunião.
O Brasil esteve distante das
manchetes internacionais
durante a COP, a não ser pe-
lo evento pouco edificante da
adesão à Opep+. Não duvido,
porém, que nossos represen-
tantes tenham atuado forte-
mente nos bastidores, como
é muitas vezes o estilo do Ita-
maraty. Creio que o país deva
lamentar apenas a pouca ên-
fase dada à questão das “so-
luções baseadas na natureza”
para captura de GEE, duran-
te a reunião.
De todas as formas, o pro-
gresso alcançado na reunião
permite sonhar, em duas ou
três décadas, o seguinte diálo-
go entre a atmosfera e os com-
bustíveis fósseis:
“Como vocês foram descon-
tinuados?”
“De duas maneiras. Gradual-
mente, e depois subitamente.”
Série aborda
independência
financeira
são paulo Parar de traba-
lhar e viver apenas do ren-
dimento dos recursos pou-
pados, ou seja, ter indepen-
dênciafinanceira,éosonho
de muitos, mas pode tam-
bém ser realidade.
Os passos para isso são
o tema da série Como Ter
Independência Financei-
ra, que a Folha estreia nes-
te domingo (17) no site e na
segunda (18) no impresso.
No primeiro capítulo, a
série vai explicar por que é
preciso avaliar seu padrão
de consumo na hora de cal-
cular os recursos necessá-
rios para quando parar de
trabalhar, e citar exemplos
de produtos financeiros.
Oscapítulosseguintesse-
rãopublicadosnoimpresso
na última segunda-feira de
janeiro, fevereiro, março e
abril, com publicação onli-
ne no domingo anterior. A
série terá reportagens em
vídeo, que irão ao ar a par-
tir de 28 de janeiro.
A série vai tratar de em-
preendedorismo femini-
no, planejamento financei-
ro para a velhice e detalhar
a carteira de investimentos
recomendada por especia-
listas de acordo com o per-
fil de cada poupador.
A Folha criou uma calcu-
ladora que permite saber
quanto é necessário acu-
mular de patrimônio a de-
pender da renda almejada
para o futuro, bem como a
contribuição necessária a
dependerdosrendimentos
edotempodeacumulação.
cotidiano
Maria de Lourdes Silvério, mãe de um preso da Papuda (DF) que está gravemente doente, mas só toma paracetamol para dor
Brasil soma cerca de 17 mil mortes
em presídios nos últimos 10 anos
Especialistas apontam que boa parte ocorre devido às condições precárias e por causas evitáveis
PRESÍDIO E MORTE
-
Raquel Lopes
e Pedro Ladeira
Brasília Cerca de 17 mil pes-
soas morreram nos presídi-
os brasileiros nos últimos
dez anos, sendo que ao me-
nos parte desses óbitos po-
dia ter sido evitada, de acor-
do com especialistas.
O número de mortes regis-
tradas de 2013 a junho de 2023
foi obtido pela Folha após 75
pedidos de LAI (Lei de Acesso
à Informação) aos estados e
junto ao Sisdepen, ferramen-
ta de coleta de dados do sis-
tema penitenciário brasileiro,
vinculado à Senappen (Secre-
taria Nacional de Políticas Pe-
nais),doMinistériodaJustiça.
Uma fatia desses dados, re-
lativa aos anos de 2018 a 2022,
foi analisada pela Vital Stra-
tegies —organização global
composta por especialistas
e pesquisadores com atuação
juntoagovernos—,segundoa
qual 95% dessas mortes ocor-
reram por causas evitáveis.
Um exemplo pode ter ocor-
rido na capital federal.
OdetentoLeandrodeOlivei-
ra Silva, 37, foi colocado numa
solitária no presídio da Papu-
da (DF) após ser acusado de
desviar medicamentos con-
trolados. Ele sofria de depres-
são e teria tentado suicídio.
Segundo o pai, Etelvino Mi-
guel da Silva, 63, o remédio re-
ceitado pelo médico da uni-
dade não estava funcionando
com o filho. Ele ingressou na
Justiça para que Leandro fos-
se atendido por um psiquia-
tra, mas não obteve sucesso.
O detento ficou sete dias
num ambiente com água con-
trolada, sem roupa de frio e
cobertor quando a tempera-
tura chegou a atingir 12° C, re-
lata o pai. Morreu 15 dias de-
pois. Etelvino diz que o filho
contraiu pneumonia e mor-
reu de sepse (infecção gene-
ralizada), não sendo vítima
de Covid, como foi informa-
do pela unidade.
“Temumprocessoabertona
Justiçaparainvestigarsehou-
ve omissão de socorro no dia
da morte, mas o que eu que-
ro que investigue são os sete
a eee
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
dias que ficou na cela discipli- do por causas evitáveis, você
nar porque acredito que foi lá tem que ter um programa de
queentrousaudávelesaiucom prevenção”, disse.
pneumonia”, afirmou. A tuberculose é outra doen-
OsdadosanalisadospelaVi- ça comum no sistema prisio-
talStrategiesmostramqueme- nal. Segundo a pesquisadora
tadedasmortesocorridasden- em saúde pública Alexandra
trodaspenitenciáriasbrasilei- Sánchez,achancedeumapes-
ras de 2018 a 2022 era de pes- soa adoecer e morrer por cau-
soas com menos de 38 anos. sa dela é oito vezes maior do
De acordo com a médica que na população em geral.
epidemiologista Fátima Ma- Os dados oficiais sobre mor-
rinho, chama a atenção a pre- talidade nos presídios preci-
cariedade dos dados oficiais sam ser vistos com reservas.
e o número significativo de O cruzamento dos nomes de
óbitos relacionados a úlceras mortos em alguns estados
perfuradas, algo incomum no permitiu identificar discre-
contexto brasileiro. pâncias entre a causa da mor-
Ela ressalta ainda que a úl- te informada pelos governos
cera pode evoluir para cân- estaduais e aquela registrada
cergástrico,causadoporuma no atestado de óbito.
bactériaquesedesenvolveem Há ainda um crescente nú-
alimentosmalrefrigeradosou mero de mortes por causas
estragados. A incidência des- mal definidas. Segundo a pe-
setipodecânceremjovensno rita Bárbara Suelen Colonie-
Brasil é praticamente inexis- se, que foi responsável por re-
tente. Os dados dos estados latórios do Mecanismo Naci-
mostram vários casos de cân- onal de Prevenção e Comba-
cer gástrico e de próstata, to- te à Tortura, essa quantida-
dosconsideradospreveníveis. de de laudos inconclusivos é
Outro ponto de alerta foi o decorrência da falta de recur-
alto número de mortes por sos e da ausência de indepen-
pneumonia. Para Marinho, dência dos órgãos de perícia.
que também é pesquisado- Até o número total de mor-
ra da Vital Strategies, esses tosfornecidopeloEstadotem
óbitos devem ter sido causa- discrepâncias.Osdadosforne-
dos por outras doenças, co- cidos do Senappen, que tem
mo HIV, Covid e tuberculose. base abastecida pelos esta-
“No mínimo existe uma dos, não coincidem com os
falta de cuidado com a saúde informados diretamente pe-
coletiva.Quandovocêolhapa- los próprios estados.
raapopulaçãojovemmorren- Ao comparar o período de
2017a2022,aprimeirabasere-
gistra11.534mortesem25das
27unidadesdafederação.Mas
$ quandoquestionadaspelaLei
Série traz raio-x do de Acesso, essas 25 UFs disse-
sistema prisional ram ter cerca de mil mortes a
menos —Amapá e Bahia não
O sistema prisional encaminharamosdadosenão
brasileiro é objeto da série explicaram a diferença.
de reportagens Presídio e Em todos os casos não fo-
Morte, que tem o segundo ram contabilizadas mortes
capítulo publicado neste de pessoas que estavam em
domingo (16). O raio-x prisão domiciliar. O Brasil é
mostra a persistência dependente das informações
de precariedade e das UFs porque nem o Minis-
violência nesses locais. As tério da Saúde consegue mo-
reportagens trazem dados nitorar esse número. Quando
inéditos sobre a situação oóbitoentranoSIM(Sistema
das cadeias pelo país, deInformaçãosobreMortali-
destrincham mais 200 dade), ele não indica se a pes-
relatórios e documentos, soa estava presa. Há um pro-
além de ouvir autoridades, jeto há cinco anos para tentar
especialistas, entidades resolveressaquestão,masele
e familiares de presos. ainda não saiu do papel.
B1
“Com exceção da tubercu-
lose, as mortes nos sistemas
oficiais de informação do Mi-
nistério da Saúde da popula-
ção carcerária são invisíveis.
A falta de estatística deixa tu-
do isso numa situação confor-
tável”, disse Sanchez.
Os dados oficiais do Minis-
tério da Justiça também não
especificam a causa da morte,
apenasse ela ocorreupor mo-
tivos de saúde, por acidente,
suicídio, crime ou causa não
identificada. Por isso, foram
necessários pedidos aos es-
tados para obtenção das de-
mais informações.
Alémdaprecariedadedases-
tatísticasoficiais,osrelatórios
deinspeçãodasituaçãocarce-
rária feitos após a pandemia
apresentamdadospreocupan-
tes em vários pontos do país.
As defensorias públicas e
a Comissão Nacional de Pre-
venção e Combate à Tortura
alertam em seus relatórios a
existência de condições insa-
lubres, baixa qualidade da ali-
mentação e falta de acesso à
água potável. Os reclusos des-
crevem doenças de pele, res-
piratórias, crônicas, tumores
e problemas psiquiátricos.
O secretárionacionaldePo-
líticas Penais do Ministério da
Justiça,RafaelVelascoBranda-
ni, disse que a pasta tem pres-
tado apoio às unidades da fe-
deração quando solicitado.
Ele frisou que os estados re-
cebem recursos do fundo pe-
nitenciário que podem ser di-
Pedro Ladeira/Folhapress recionados para a saúde.
“Nóstemostambémquetra-
taralgumascoisasqueantece-
dem e são objetivamente ati-
nentes à saúde, como a água
tratada. Estamos desde o co-
meçodoanotrabalhandocom
osestadosparaquepossamos
investircirurgicamente”,disse.
No dia 27 de setembro, a Fo-
lha esteve na Papuda, no Dis-
tritoFederal,econversoucom
o detento Jessé Silvério, 40,
com autorização da família.
Magro, ele está com um nó-
dulo na garganta e dificulda-
Maior parte das mortes poderia ser evitada de de fala, reclama de úlcera
no estômago e hemorroidas.
Durante quase duas horas
Mortes no sistema prisional nos últimos 10 anos de conversa, ele contou que
aguarda desde 2017 por uma
2.005
2.101
1.976 2.004 cirurgia e diz não estar rece-
2000 1.856 1.873 bendo tratamento médico
adequado. Somente tem to-
1500 mado paracetamol para dor,
1.303 diz. Ele foi preso em 2015 por
1.067 1.130 causa de um homicídio.
1000
959 913
“Tenho medo de morrer
aqui, queria que os direitos
500 humanosolhassempormim”,
afirma ele. O detento já per-
0 deuoirmãode40anosdentro
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023* do sistema prisional —mor-
te provocada por uma úlcera
perfurada em 2015.
Por tipo de óbito “A única coisa que eu gos-
Saúde taria é que ele chegasse aqui
Criminal agora.Nãoqueriamorrersem
Suicídio ver meu filho pela última vez.
Acidental O que eu faço é pedir todos os
Causa desconhecida diasaDeusparatirareledelá”,
relata Maria de Lourdes Silvé-
1.500 1.388
1.314
1.399
1.314
rio, 73, mãe de Jessé, que pa-
1.250
roudever ofilho na prisão em
2017 após um derrame.
1.000
Casosassimserepetempaís
afora. Um relatório da Defen-
750
soria Pública mostra que em
665
uma cadeia de Curitiba (PR),
500
um detento não conseguia fa-
363 lar durante vistoria por cau-
281
250 189 168 193
255
176 162 178
sa de um tumor na garganta.
136 156 151
43 43 67 89 87 Outro estava perdendo o mo-
25 20 5
0 vimento da perna.
2019 2020 2021 2022 2023* Relatórios do Mecanismo
NacionaldePrevençãoeCom-
* Até junho bate à Tortura mostram que
em Sergipe detentos não con-
Classificação de mortes ocorridas de 2018 a 2022** seguiram terminar o trata-
Em % mentodetuberculose,quedu-
ra seis meses. No Rio Grande
Infecciosas e parasitárias (Tuberculose, pneumonia, do Norte, presos com a doen-
HIV, hepatites, Covid, Meningite e outras) çaexpeliramsanguepelaboca
12,1
enquanto conversavam com
a equipe que fazia a inspeção.
Doenças crônicas não transmissíveis Já em Minas Gerais, deten-
(Câncer, Diabetes, doenças cardiovasculares e renais, entre outras) tos em situação grave esta-
10,6
riam se automutilando para
conseguir atendimento.
Externa (Suicídio, homicídio, entre outras) ParaodesembargadorMau-
25,7
ro Martins, conselheiro do
CNJ (Conselho Nacional de
Mal definidas (não puderam ser classificadas Justiça), há uma grave vio-
por falta de informação do estado) lação dos direitos humanos.
51,5
“Eles estão ali para cumprir
a pena, mas isso não significa
Observação: Dados de 2013 a 2016 obtidos via LAI. De 2017 a 2023, são da
dizer que ele pode ser expos-
Senappen. to a situação de tortura, viola-
ção de direitoshumanos”, afir-
** Análise de 8.752 mortes no período foi organizada pela Vital Strategies com
base na classificação internacional de doenças CID10 e o agrupamento feito de ma.EledizqueoCNJtemcon-
acordo com a carga global de doenças, como recomendado pela OMS. versado com autoridades pa-
Fonte: Governos estaduais via LAI, Senappen e Vital Strategies ra tentar melhorar a situação.
B2 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
cotidiano
Rio Juquiá, próximo a reserva de mata atlântica e área de proteção de manancial, onde a Rio Tinto foi autorizada a prospectar lítio
Mineradora
busca lítio em
área de reserva
de água de SP
Sob temor de impacto ambiental, rio
Tinto conduz pesquisa sobre matéria-
prima das baterias de carro e celular
-
Clayton Castelani
São Paulo É seguindo o ba-
rulho das cachoeiras que se
encontra o ribeirão escon-
dido na mata fechada perto
da estrada de cascalho numa
área acidentada de Juquitiba,
cidade da Grande São Paulo
que fica a cerca de 60 km do
centro da capital.
Atração para ecoturistas, o
curso d’água tem atraído ou-
tro tipo de visitante. Funcio-
nários de uma multinacional
da mineração têm batido nas
portas de chácaras em bus-
ca de autorização para cole-
tar amostras de terra e água.
Eles investigam a presença
delítio,relatarammoradorese
agentespúblicoslocais.Ome-
talprocuradoéutilizadopara
a fabricação de baterias de te-
lefones e de carros elétricos.
A anglo-australiana Rio Tin-
toobteveliberaçãodaAgência
Nacional de Mineração para
conduzirpesquisasnumaárea
de 20 quilômetros quadrados
entre os municípios de Juqui-
tiba, Ibiúna e São Lourenço
da Serra no limite entre as re-
giões metropolitanas de São
Paulo e de Sorocaba.
MORTES
poeta e filósofo, viveu de
forma leve e foi pai tranquilo
RUBENS ROdRIGUES TORRES FILHO (1942 - 2023)
-
Isabella Menon
São Paulo “Acabou agora, Ru-
bens?”, perguntava Celia Re-
gina quando ajudava o mari-
do, professor, poeta e filóso-
fo Rubens Rodrigues Torres
Filho em seus trabalhos noi-
te adentro. Ele respondia: “a
cabo”. Ou seja, do começo, no-
vamente. “Não era algo ruim,
mas essa busca pela perfeição
era algo muito delicado e as
obras são o resultado disso.”
Apesar da seriedade em re-
lação ao trabalho, Celia defi-
ne o companheiro como uma
pessoatranquila,serenaeque
criou os “filhos com uma cal-
Ao menos no caso de São
LourençodaSerratambémhá
permissãoparaabuscaconfe-
ridapelaCetesb,acompanhia
ambientaldogovernopaulista.
Os órgãos federal e estadual
afirmam que não há impacto
durante a etapa de pesquisa.
Mas ambientalistas, especia-
listas em mineração, propri-
etários de terras e prefeituras
locais dizem ver com preocu-
pação as incursões da mine-
radora na região.
Eles querem saber o que fa-
rá a Rio Tinto caso suas pes-
quisas confirmem a viabilida-
de da exploração.
Além de ficar sobre o maior
trecho contínuo do remanes-
cente de mata atlântica do pa-
ís, a região prospectada pela
mineradoraabrigaomananci-
al que abastece o sistema pro-
dutor São Lourenço, um dos
seis da Sabesp e que foi cria-
do como reserva estratégica
após a crise hídrica que du-
rou de 2014 a 2016.
O São Lourenço capta água
do reservatório Cachoeira do
França,emJuquitiba,eatende
1,4milhãodehabitantesdese-
te municípios à oeste da Regi-
ão Metropolitana de São Pau-
coluna.obituario@grupofolha.com.br
ma peculiar”. “Ele era bem-
-humorado e costumava di-
zer que livro não é presente
porque poderia comprar um
a qualquer hora.”
Rubens lecionou por quase
30 anos na FFLCH (Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciênci-
as Humanas), da USP. “Ele foi
professor a vida inteira, mas
era um poeta acima de tudo.
Na vida, a importância era a
poesia. Ele sabia dar leveza
para isso”, diz Celia.
NascidoemBotucatu,noin-
terior de São Paulo, ele se for-
mou em filosofia pela USP em
1962. Na universidade, con-
cluiu seu doutorado e lecio-
Mineração de lítio em reserva de água de SP
mineradora tem autorização para pesquisar metal utilizado
para fabricar baterias de celular e carro elétrico
go
mS
mg
Sp
São
Paulo
Pr
Juquitiba
oceano
Atlântico
100 km
Microbacia do Ribeirão
do Godinho (manancial)
Reservatório
de água
da Sabesp
Juquitiba
Fonte: Conisud
“
Qualquer mineração consome
muita água e, como estamos falando
de uma área de manancial, pode
ser uma coisa problemática
Bruno Milanez
professor da faculdade de engenharia da Univ.Fed. de Juiz de Fora
nou no curso de História da
Filosofia Moderna e Filoso-
fia Clássica Alemã.
Ao todo, escreveu mais de
20 livros de poesia ao longo
de sua carreira literária. A pri-
meira obra foi “Investigação
do Olhar” (1963) e, em 1981,
ele ganhou o prêmio Jabuti
pela obra “O Vôo Circunfle-
xo”. Também traduziu obras
clássicasdefilosofiadenomes
como Johann Gottlieb Fichte,
Immanuel Kant e Friedrich
Nietzsche, além de textos de
Walter Benjamin e Novalis.
A mulher define o compa-
nheirocomoalguémquesem-
pre teve a ironia muito fina,
bom humor e perspicácia.
Também se dedicou muito
aos filhos, que sempre esti-
veram ao seu lado.
Alguns amigos definem Ru-
bens como um homem tími-
do, mas Celia diz que esse era
Área entre os municípios
de Juquitiba, São Lourenço
da Serra e ibiúna é berço
do Sistema Produtor São
Lourenço da Sabesp, criado
como reserva estratégica
de água após a crise hídrica
entre os anos de 2014 e 2016
Município
de Juquitiba
Área com
alvará de
pesquisa para
mineração
de lítio
100 km
seu jeito, que às vezes ele ga-
guejava e fumava bastante.
“Ele foi de um grupo que atra-
vessou diversas dificuldades
do Brasil, como ditadura mi-
litar, e tiveram bons momen-
tos juntos”, lembra Celia.
Seu refúgio foi Ilhabela (no
litoraldeSãoPaulo),ondeteve
umacasinhaduranteanos.Por
Procure o Serviço Funerário
Municipal de São Paulo:
tel. (11) 3396-3800 e central 156;
prefeitura.sp.gov.br/servicofunerario.
Anúncio pago na Folha: tel. (11)
3224-4000. Seg. a sex.: 10h às
20h. Sáb. e dom.: 12h às 17h.
Aviso gratuito na seção: folha.com/
mortes até as 18h para publicação
no dia seguinte (19h de sexta para
publicação aos domingos) ou
pelo telefone (11) 3224-3305 das
16h às 18h em dias úteis. informe
um número de telefone para
checagem das informações.
Zanone Fraissat/Folhapress
lo: Carapicuíba, Barueri, Jan-
dira, Itapevi, Cotia, Vargem
Grande Paulista e Santana de
Parnaíba, segundo a Sabesp.
Uma das características da
mineração de lítio é a abertu-
ra de cavas a céu aberto, cujos
tamanhoequantidadedepen-
dem da distribuição no terri-
tório e profundidade no local
deexploração,segundoBruno
Milanez,professordafaculda-
de de engenharia da Universi-
dade Federal de Juiz de Fora.
Apenas para comparação,
em uma das principais áreas
de exploração de lítio no pa-
ís, no Vale do Jequitinhonha
(MG), a empresa Sigma pos-
sui 29 concessões distribuí-
das numa área de 200 quilô-
metros quadrados.
Além da supressão da ve-
getação, um dos impactos da
exploração é o elevado con-
sumo de água. “Qualquer mi-
neração consome muita água
e, como estamos falando de
uma área de manancial, po-
de ser uma coisa problemá-
tica”, diz Milanez.
Restrições ambientais tra-
dicionalmente não inviabili-
zam a concessão de autori-
zação para mineração no pa-
ís, diz o geógrafo Luiz Jardim
Wanderley, professor da Uni-
versidade Federal Fluminen-
se. “Não conheço uma única
mineração que não ocorra
em área de preservação”, diz.
Cesar Pegoraro, mobiliza-
dor da SOS Mata Atlântica pa-
ra a questão hídrica, classifica
como preocupante a abertu-
ra para busca de lítio na man-
cha mais significativa do bio-
ma. “A análise preliminar é de
que se a prospecção for posi-
tiva, o rito de licenciamento
ficará bastante favorável ao
empreendimento”, diz.
Independentemente do li-
cenciamento, nem sempre a
busca pelo mineral resulta no
interesse na exploração. É ne-
cessário que a quantidade de
material compenseocustode
lá,eleacordavasempremuito
tarde, ia para a praia com um
jornalembaixodobraço.“Nun-
cafoiesportista,semprefoium
intelectual típico”, ri sua com-
panheira ao lembrar.
Rubensestavasempreouvin-
do música, Celia lembra que
ele gostava dos Beatles, mas
nãodescartavaoutrosestilos,
a família de
Sócrates Nasser
comunica seu falecimento e convida para a missa de 7º dia
Quarta-feira, 20 de dezembro de 2023, às 11 horas
na Paróquia São José do Jardim Europa
Rua Dinamarca, 32 - Jardim Europa
a eee
“
A análise
preliminar é de que
se a prospecção
for positiva, o rito
de licenciamento
ficará bastante
favorável ao
empreendimento
Cesar pegoraro
mobilizador da
SoS mata Atlântica
extração e beneficiamento.
No caso do lítio, atualmen-
tereservascomconcentração
entre0,5%e2,5%narochasão
consideradaseconomicamen-
te viáveis, o que não é fácil de
se encontrar, diz Milanez.
A Rio Tinto apresentará en-
tre abril e julho de 2026 os
seus relatórios de pesquisa
em que irá quantificar a subs-
tância pesquisada e a viabili-
dade econômica da explora-
ção, segundo a Agência Naci-
onal de Mineração.
“Nestafasedepesquisa,não
é permitida a extração mine-
ral para fins comerciais, sen-
do que uma eventual retirada
de material terá como objeti-
vo exclusivo a caracterização
físico-química e tecnológica
da substância mineral”, diz a
agência, em nota.
Nas cidades de Juquitiba e
São Lourenço da Serra, nas
quais a reportagem conver-
soucomalgunsmoradores—
todospediramsigilosobresu-
as identidades— que recebe-
rampesquisadoresdaRioTin-
to,assecretariasresponsáveis
pela área ambiental informa-
ram terem negado à minera-
dora pedidos de prospecção
emterraspúblicasmunicipais.
Silvana Santos, agente co-
munitária da Rio Tinto que
temvisitadoagentespúblicos
epropriedadesprivadasnare-
gião,afirmouqueascoletases-
tãoocorrendosomentecoma
anuência dos proprietários.
Ela também afirmou que a
empresa não teria condições
deresponderoficialmenteaté
a publicação da reportagem.
ACetesbinformouqueaau-
torizaçãoparapesquisamine-
ral não está sujeita ao licenci-
amento ambiental por parte
desta companhia, ficando su-
jeita apenas à Agência Nacio-
nal de Mineração.
O órgão estadual ainda afir-
mou que somente há necessi-
dade de autorização do órgão
ambientalsehouver derruba-
dadevegetação,interferência
em áreas de preservação per-
manente ou de proteção de
mananciais, o que não ficou
caracterizado pelas informa-
ções prestadas pela Rio Tinto.
“Ressaltamos que a ativida-
dedemineração,nãoadepes-
quisa,estasimsomentepode-
rá ser implantada após a ob-
tenção da Licença Prévia e da
Licença de Instalação e que o
início da exploração somente
poderá ocorrer após a obten-
ção da Licença de Operação”,
afirmou a Cetesb, em nota.
comoojazz.Tambémgostava
deumaboacachacinha,lerpo-
esiasemvozaltaeestavasem-
pre rodeado de amigos.
Rubens morreu no dia 12 de
dezembro,aos81anos,emde-
corrência de complicações
de um aneurisma cerebral.
Ele deixa a mulher e os três
filhos: Joca, Carol e Marcela.
a eee
A P R E S E N TA
Aproveite
São Paulo de
ônibus aos
domingos.
É de graça
Prefeitura adota tarifa zero nas
linhas de ônibus aos domingos,
para ampliar acesso a lazer,
parques, eventos culturais e
outras atividades; medida visa
fomentar economia e
geração de emprego
S
ão Paulo é uma das prin-
cipais cidades do mundo.
É referência como centro
financeiro do país, mas também
repleta de pontos turísticos e de
atividades culturais. Agora, com
a gratuidade dos ônibus aos do-
mingos, que começa hoje, seus
moradores terão mais uma razão
para explorá-la. Os ônibus serão
gratuitos também nos dias de Natal
e Ano Novo e em 25 de janeiro, dia
do aniversário do município.
A decisão foi da Prefeitura,
que, com a medida, torna a ci-
dade mais acessível e inclusiva.
Além disso, fomenta a economia
e a geração de empregos e ren-
da, sem falar no impacto favo-
rável ao meio ambiente, com a
substituição de viagens de carro
pelo transporte coletivo.
A medida adotada pela atual
gestão tem o slogan “Domingão
Tarifa Zero – explore, descubra,
viva São Paulo” e visa incentivar o
uso do transporte público, ampliar
o acesso a lazer, parques, centros
esportivos e eventos culturais.
E são muitas as atrações no
município. Só de espaços públi-
cos municipais são 78 culturais,
46 esportivos e 112 parques es-
palhados por todas as regiões da
cidade. Some a isso os equipa-
mentos do estado, como o re-
novado Museu do Ipiranga, ou
Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha |
espaços culturais e recreativos
particulares, além de shoppings.
Uma boa dica é ir de ônibus
até o Centro Esportivo, Recre-
ativo e Educativo do Trabalha-
dor (Ceret), na zona leste, para
encontrar os amigos, fazer uma
caminhada com a família, um
piquenique nos quiosques ou
mergulhar na maior piscina da
América Latina. Ao todo, são
mais de 280 mil metros quadra-
dos dedicados ao lazer.
Outra é aproveitar as lojas,
a feirinha e os restaurantes do
tradicional bairro da Liberdade,
na região central. Com a decisão
da Prefeitura de bloquear o trá-
fego em algumas ruas do bairro,
deixando-as exclusivas para os
pedestres, o passeio ficou ainda
mais prazeroso.
A avenida Paulista, que tam-
bém fica fechada para os car-
ros aos domingos e conta com
shows, feira de artesanato e
vários museus, é também um
ponto que vale a visita e que tem
fácil acesso por ônibus.
Entre os parques, há opções
nos quatro cantos. Do maior
parque urbano da cidade, o
Anhanguera (zona norte), ao
Burle Marx (zona sul). Do Al-
fredo Volpi ao da Aclimação. Do
Parque do Povo ao do Carmo.
Mas se o negócio é descobrir
Centro Esportivo Vila Santa Catarina, com piscinas e quadras renovadas pela Prefeitura
Parque Burle Marx fica localizado na Vila Andrade, zona sul de São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo, espaço de apresentações artísticas, como concertos e balés
TARIFA ZERO NOS ÔNIBUS PARA DESCOBRIR SÃO PAULO
Aos domingos,
da 0h às 23h59
78 espaços
1.175 linhas de ônibus culturais
4.830 veículos 46 equipamentos
esportivos
2,2 milhões de passageiros
circulam aos domingos 112 parques
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 B3
Avenida Paulista, cartão
postal paulistano,
aberta aos pedestres
aos domingos
opções culturais paulistanas, a dica
é ir de ônibus até a Cinemateca, na
Vila Clementino, zona sul da cida-
de. Neste domingo de tarifa zero,
o espaço exibe filmes da Mostra
Mulheres Pioneiras no Cinema.
Mais uma opção neste do-
mingo é conhecer a arquitetura
centenária do Theatro Munici-
pal, na praça Ramos de Azevedo,
no centro da cidade. Inaugurado
em 1911, é palco de grandes con-
certos, balés e outras apresen-
tações artísticas.
A profissional de RH Na-
Gabriel Cabral/Folhapress
thália Oliveira, de 25 anos, diz
que a gratuidade dos ônibus aos
domingos será “uma mão na ro-
da” em termos de economia nos
passeios que costuma fazer pela
avenida Paulista. “Achei boa a
iniciativa”, afirma.
Moradora de Itaquera, na
zona leste, Nathália lembra que
a medida deve favorecer inclu-
sive quem trabalha por ali nesse
dia, uma vez que a via aberta ao
público acaba fomentando ofer-
tas de comércio e serviços para
quem frequenta o local por lazer.
Na opinião da vendedora Ma-
ria Betania dos Santos Neto, 52, a
gratuidade dos ônibus aos domin-
gos ampliará as opções de lazer,
Edson Lopes Jr./SECOM sobretudo das famílias que vivem
em regiões periféricas da cidade.
Maria Betania, que mora no
Jardim Romano, próximo ao
Itaim Paulista, na zona leste,
conta que, em sua vizinhança,
muita gente deixa de passear e
até de visitar parentes nos finais
de semana por falta de dinheiro
para o transporte. “A medida da
Prefeitura vai ajudar muito essas
pessoas”, afirma.
Ela mesma diz que vai apro-
veitar a disponibilidade de ôni-
bus gratuitos para incremen-
tar seus passeios de domingo.
“Quero ir mais vezes ao bairro
da Liberdade para comer os de-
liciosos pastéis e yakissobas que
Edson Lopes Jr./SECOM
vendem por lá”, comenta.
O Parque do Povo, no Itaim
Bibi, é um dos espaços de lazer
da cidade eleitos pelo engenheiro
Michel Peroni, 50, e sua mulher,
Fabiana, 42, para encontrar ami-
gos aos domingos.
O casal, que vive no entorno da
avenida Paulista, pretende apro-
veitar a gratuidade do transporte
de ônibus como alternativa para o
deslocamento até o parque.
“Em geral íamos de carro,
mas de ônibus, além de ser mais
rápido, agora vai se tornar ainda
mais econômico”, calcula Peroni.
BILHETE ÚNICO
Mesmo com a gratuidade,
Heloisa Ballarini/SECOM
aqueles que quiserem utilizar
os ônibus municipais aos do-
mingos deverão utilizar o bilhe-
te único para liberar a catraca,
mas não haverá cobrança.
Para quem ainda não tem o
Bilhete Único, o cobrador ou o
motorista irá liberar a passagem.
Em um primeiro momento, o
atendimento será feito com a frota
atual operacional de 4,8 mil ôni-
Mais acesso a: bus. Estudos da SPTrans demons-
tram que, aos domingos, há 60%
de capacidade ociosa nos ônibus
em alguns períodos, o que permite
absorver uma demanda maior.
Como as linhas atendem toda
a cidade, não há necessidade de
integração com metrô ou trens.
B4 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee
cotidiano

va de literatura em suas pró- Nos últimos cem anos entra-

ximas edições. Uma vez que a ram no debate negros, mulhe-
ideia nasce da virtuosa ambi- res, povos originários e outros
ção de lutar contra o machis- atores excluídos que, lendo à
mo, toda a crítica a ela é ime- contrapeloonossocânone,aju-
diatamente tida como machis- daram a revelar o tanto que a
ta. E já sabendo que assim se- visão branca, masculina e euro-
rei acusado, opino: nenhuma cêntrica moldou a nossa histó-
contribuição à luta antima- ria. Isso só enriquece o conhe-
chista virá de privar adolescen- cimento. A introdução das cos-
tes de lerem Machado, Drum- mogonias e cosmologias afri-
mond, Rosa. canas, ameríndias e asiáticas
O mundo é machista. O ma- engrandece a cultura. É fun-
chismo, excluindo metade da damental incluir mais vozes
população mundial do aces- de mulheres, negros e outras
so ao estudo e ao debate na “minorias” na conversa. Mas
esfera pública, fez com que as ninguém, em bom juízo, vai jo-
maiores obras na literatura, gar fora a teoria da relativida-
nas artes e nas ciências, nos de porque Einstein era um ho-
últimos milênios, tenham vin- mem branco, hétero, cis e ale-
do de homens. Isto não é uma mão –pelo menos, era o que eu
opinião, é um fato. As mulhe- pensava, até essa patacoada
Adams Carvalho res estavam oprimidas e cala- da Fuvest, de excluir autores
das. Achar que pra cada Sócra- homens de sua lista literária.

Contra a gravidade patriarcal?

tes, Platão ou Aristóteles, para A ação afirmativa é um gran-
cada Hobbes, Rousseau e Loc- de legado das lutas pelos direi-
ke, para cada Machado, Graci- tos civis, dos Estados Unidos ao
liano ou Rosa, existam obras mundo. É urgente dar a qual-
nenhuma contribuição à luta antimachista virá equivalentes femininas até ho- quer pessoa a oportunidade
de privar estudantes de lerem machado e drummond je ocultas, que brotarão ao se de usufruir de todo o conheci-
excluir as obras masculinas, é mento produzido pela huma-
negar a existência e a eficácia nidade. É urgente incluir nes-
- do machismo. se conhecimento todas as vo-
Antonio Prata
É evidente que havia, na Gré- zes que até então tenham sido
Escritor e roteirista, autor de “Por Quem as Panelas batem”
cia antiga, no iluminismo ou no caladas. Mas é bizarro reduzir
século 19, no Brasil, mulheres esse conhecimento calando vo-
Sempre me incomodou a fra- soava como uma postura cíni- zer o mal? um imbecil que quer “passar a tão ou mais capazes do que es- zes que o produziram. É a an-
se “de boas intenções o inferno ca, zicando qualquer tentativa Diante de algumas ações re- boiada”. O equivocado “a favor ses caras. Mas a estrutura pa- ti-cota. O burrismo institucio-
está cheio”. Eu pensava: beleza, malogradademelhoraromun- centes da esquerda e seus enor- do bem” pode causar um gran- triarcal não permitiu que elas nal. O fato de Newton ser um
erros acontecem, mas as más do. Um salvo-conduto à cana- mes efeitos colaterais, porém, de mal, protegido pela arma- estudassem, tivessem a chan- homem branco, hétero e cis não
intenções é que devem lotar as lhice. Afinal, quem há de negar tenho visto o dito popular por dura impenetrável da virtude. ce de se manifestar, publicas- muda em nada a lei da gravi-
grelhas, fornos, caldeirões e air- que uma tentativa equivocada outro ângulo: é mais difícil lu- É como me sinto em relação sem. O resultado é que o câno- dade. A fundamental luta de-
fryers do Belzebu, não? Frisar de fazer o bem é melhor do que tar contra uma burrice bem- à resolução da Fuvest de exclu- ne ocidental é primordialmen- colonial não fará com que as
a boa intenção na desgraça me uma atitude deliberada de fa- -intencionada do que contra ir autores masculinos da pro- te masculino. maçãs caiam pra cima.

| dom. Antonio Prata | seg. Marcia Castro, Giovana Madalosso | ter. Vera Iaconelli | qua. Ilona Szabó de Carvalho, Jairo Marques | qui. Sérgio Rodrigues | sex. Tati Bernardi | sáb. Oscar Vilhena Vieira, Luís Francisco Carvalho Filho

Edital prevê cobrança de pedágio na rodovia Mogi-Bertioga

-
Fábio Pescarini de serão os radares, mas o go- da sociedade civil tentam na -Mirim,Itanhaém,Itaquaque- tagem que o maior problema drigo Garcia (PSDB), que con-
verno diz que ao todo serão 15 Justiçabarraraconcessãosob cetuba, Itariri, Miracatu, Mo- da concessão na região é o da corria à reeleição. O projeto,
são Paulo O governo Tarcísio pórticos, sendo dois na Mogi- o argumento de que se criará gi das Cruzes, Mongaguá, Pe- Mogi-Dutra,estradaquecorta entretanto, foi retirado da ga-
de Freitas (Republicanos) pu- -Dutra, um na Mogi-Bertioga, pedágios urbanos e a cobran- dro de Toledo, Peruíbe, Praia a cidade e é usada como uma veta por Tarcísio.
blicou nesta sexta-feira (15) o um na Rio-Santos (em Berti- ça pode prejudicar o turismo. Grande e Santos. avenidapelosmoradores.“Ela Segundo o governo, não ha-
edital que autoriza a abertura oga) e 11 na Padre Manoel da Ao todo, o lote contempla Esse sistema, o “free flow”, interliga bairros em um tre- verá cobrança na ponte do rio
delicitaçãoparaconcessãode Nóbrega. Os valores do pedá- 212 km de estradas. Os tre- como é chamado, permite cho de 9 km”, diz. Itanhaém,emItanhaém,limi-
rodovias à iniciativa privada, giopoderãovariardeR$1,08a chos ficam nas rodovias SP- que veículos sejam identifi- Em 2021 e 2022, a ideia de tandoosdesviosdetrajetopa-
que inclui estradas do litoral R$6,29,adependerdotrecho. 055 (Padre Manoel da Nóbre- cados pela placa e paguem a instalar praças de pedágio ra o trecho urbano.
paulista e da região de Mogi O governo prevê investi- ga), SP-088 (Mogi-Dutra) e SP- fatura no site da concessioná- nessasestradasprovocoupro- EmMogidasCruzes,osmo-
das Cruzes. mentos estimado em cerca 098 (Mogi-Bertioga), além ria. Ou por tag no para-brisa. testos de moradores, políti- toristas que tiverem origem
Chamado de Lote Litoral de R$ 4,3 bilhões e a conces- da SPA 291/055 (via expres- A tarifa, afirma o edital, será cos e associações civis —tan- ou destino no distrito indus-
Paulista, o edital prevê a co- são será por 30 anos. A con- sa em Praia Grande) e da SPA definida pelo governo. to em Mogi das Cruzes quan- trial de Taboão não precisa-
brança de pedágio pelo sis- corrência para licitação po- 344/055 (Peruíbe). OprofessorPauloBoccuzzi, to no litoral. rão pagar pedágio em um dos
tema “free flow”. derá ser internacional. Elas passam pelos municí- do Movimento Pedágio Não, O governo estadual recuou pórticos que será instalado
O edital não específica on- Prefeituraserepresentantes pios Arujá, Bertioga, Biritiba- disse no mês passado à repor- da proposta na gestão de Ro- nas proximidades.

A Fundação Faculdade de Medicina, entidade sem fins

V lucrativos, seleciona profissionais para exercer os cargos de:
LEILÃO DE ARTES E
ANTIGUIDADES
Médico Urologista - ICESP: Formação em Medicina com Exposição: de 13/12 a 18/12 de
Residência Médica concluída em Urologia. CRM ativo. Atuar no 14h às 19h. Leilão on-line: 19 de
VAGA OFFICE BOY ambulatório, enfermaria e em procedimentos médicos e cirúrgicos dezembro a partir de 20h.
M/F Conhecimentos da região cen- relacionados a Urologia em pacientes oncológicos. CRM ativo. - São Paulo - Lances: on-line,
tral de São Paulo, de preferência e-mail e telefone. Informações:
que tenha trabalhado como Office Oficial Administrativo – Logística – ICESP: Ensino Médio (55) 11 - 3887-3224 / 95040-
Boy. Que tenha ensino médio com- completo e curso na área de Logística. Conhec. Em armazenamento e 7337 / 95040-8970. Leiloeiro
pleto, que seja responsável e com- controle de estoque e informática. Atuar no recebimento, armazenamento, Oficial: Luiz Fernando Moreira Dutra
prometido com horários. Favor envi- separação, conferência e entrega de materiais e medicamentos etc. - JUCESP: 329.
ar currículo com pretensão salarial Oficial Administrativo – Diversas Áreas – ICESP:
para selecao.freitas@gmail.com
EMPREGOS Ensino Médio completo e curso concluído Pacote Office. Atuar com rotinas
adm. e atendimento ao público externo, interno e telefônico, na recepção
de atendimento a pacientes oncológicos, acompanhantes e visitantes, etc.
NEGÓCIOS
PARA ANUNCIAR NOS Os candidatos interessados deverão inscrever-se 17/12/2023 a
22/12/2023 no site www.ffm.br, no link Trabalhe Conosco.
ACOMPANHANTES
CLASSIFICADOS AMANDA
EMPREGADOS
CLASSIFICADOS FOLHA EMPRESAS
Equipe nova tx 40 Av Jabaquara
2604 MT.S.Judas ac cartões seg/
PROCURADOS
FOLHA 11/3224-4000 COMPRA/VENDA sab. F:(11)2362-8122
LUIZA/ TALITA/ CIBELE
LOTÉRICAS AS MELHORES 11-2387-8749 metrô Liberdade
OPÇOES DE INVESTIMENTO
LIGUE
P Lucro de: 2% a 2,5%, nas Regiões:
Americana, Araras, Bauru, Cajamar,
Campinas, Caraguatatuba, Hortolân-
dia, Itu, Jacareí, Jundiaí, Marilia, M. PARA ANUNCIAR NOS
AGORA das Cruzes, Mogi Mirim, Piracicaba,
R. Claro, S. J. Campos, Salto de
PCD - ÀREAS DIVERSAS Pirapora, Sumaré. MPuga Negócios,
M/F DEMOP PARTICIPAÇÕES Whats: (19) 9 9653-2020 CLASSIFICADOS
contrata pessoas com deficiências
11/3224-4000
para áreas diversas. enviar currícu-
lo para recrutamento@
escritoriovotuporanga.com.br FOLHA

ANTIGUIDADES
A Fundação Faculdade de Medicina, entidade sem fins
lucrativos, seleciona profissionais para exercer os cargos de: A Folha, empresa líder de mercado, oferece vagas para COLEÇÕES/JÓIAS
LIGUE
Médico (Pediatra). Requisitos: Graduação em Medicina.

PESSOAS COM
Residência completa em Pediatria ou Título de Especialista em Pediatria.
Curso de aperfeiçoamento em desenvolvimento infantil. Conhec. no AGORA
desenvolvimento e comportamento de crianças e adolescente. CRM ativo.
Médico (Pediatra). Requisitos: Graduação em Medicina.
Residência completa em Pediatria ou Título de Especialista em Pediatria.
Para atuar em ambulatório de crianças e adolescentes com condições
11/3224-4000

DEFICIÊNCIAS
crônicas. CRM Ativo. LEILÕES
Médico (Hospitalista). Requisitos: Graduação em Medicina.
CRM ativo. Residência completa em áreas Clínicas (Clínica Médica e/ou
Pneumologia e/ou Geriatria e/ou Cardiologia. Conhec. em clínica Médica,
atendimento de intercorrências, urgências e emergências. COMPRO ESTES ÁLBUNS
Terapeuta Ocupacional. Requisitos: Graduação em
DE FIGURINHAS SÓ ANOS 50
Terapia Ocupacional. CREFITO ativo. Conhec. Análise da atividade
laboral e do potencial laborativo/capacidade para o trabalho; ergonomia
da atividade; Avaliação de funcionalidade, dispositivos individuais e
em diversas áreas. Álbum Balas Futebol ano 1957, Álbum
grupais de intervenção em Terapia Ocupacional; Risco Ocupacional, Balas Equipe 1957, Álbum Balas Centro
Acidente e Doença relacionada ao trabalho; Normas Regulamentadoras; Goal ano 1958 e Álbum Futebol Editora
Sistematização de fluxos de ação.
Assistente Administrativo. Requisitos: Curso Técnico
Os interessados deverão enviar currículo para o e-mail Americana ano 1958. Que tenham a
figurinha do Pelé neles.
completo em Administração; Pacote Office; Curso Capacitação e/ou
Programa de Aprendizagem Profissional completo na área de Finanças. rhvagas@grupofolha.com.br, sob a sigla “vagas” Pago até R$20.000,00 cada
Conhec. Rotinas adm., finanças, elaboração e gestão de projetos,
atend. ao cliente; tecnologias aplicadas ao trabalho; rotinas de pesquisa na hora e em dinheiro.
clínica; legislação vigente de pesquisa clínica, institucional e agências
regulatórias; técnicas de redação; interpretação de texto e inglês (nível Posso ir buscar.
intermediário). DOE SANGUE (11) 9-8492-0549
com Marcio- (Colecionador)
(11) 4573-7800
Os candidatos interessados deverão inscrever-se de 17/12/2023 a
23/12/2023 no site www.ffm.br, no link Trabalhe Conosco.
a eee
ambiente
Ocaso do
esquecimento
Livro remonta primórdios das
bases de dados superpoderosas
que ditam nosso futuro
- baixo carbono”.
Marcelo Leite
Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência
Psicodélica brasileira” (ed. Fósforo)
Todo intelectual deveria fa-
zer o máximo de esforço para
ler qualquer coisa que Eliza-
beth Kolbert recomende. Mais
ainda se ela afirmar que um
trabalho resulta de profun-
da pesquisa e se revela com-
pletamente divertido e total-
mente aterrorizador.
A penca de adjetivos e ad-
vérbios está na capa do livro
“The Hank Show”, de McKen-
zie Funk, logo após a descri-
ção sucinta de Kolbert: “Hank
Asher talvez seja a pessoa
mais importante de que vo-
cê nunca ouviu falar”.
O enigma prossegue no sub-
título: “Como um pintor de
paredes, traficante de drogas
e informante da DEA cons-
truiu a máquina que gover-
na a nossa vida”. Mas esta co-
luna não precisaria de misté-
rio ou recomendação chique
para se debruçar sobre o vo-
lume, sendo Mac, o autor, um
velho conhecido.
De sua pena saiu “Windfall”,
sobre negócios que lucram
com a crise climática. Tradu-
zido no Brasil como “Caiu do
Céu” (2016), foi indicado por
mim à finada editora Três Es-
trelas. Mais conflito de inte-
resses: estivemos juntos na
classe de 2012 da Knight-Wal-
lace Fellowship da Universi-
dade de Michigan.
Deixar de indicar “The
Hank Show”, por força des-
se vínculo pessoal, seria pe-
cado. A história narrada no
livro é intrigante sob vários
aspectos, e de fato ajuda a
elucidar como nos tornamos
vítimas consentidas da extin-
ção da privacidade.
Mac escreve que o direito
ao esquecimento é um direi-
to fundamental. Esqueça. Is-
so não é mais possível, nestes
tempos em que bases de da-
dos públicas e privadas so-
bre indivíduos se tornaram
devassáveis por algoritmos
poderosos, que recolhem e
agregam múltiplos dados pa-
ra traçar um perfil completo
de cada pessoa.
Com esses agregadores,
empresas, governos, golpis-
tas e políticos ganharam o
poder de predizer com razo-
ável grau de confiança o fu-
turo de cada um. Como essas
pessoas votarão, se têm mai-
or propensão a ficar doentes,
se tornar inadimplentes, co-
meter crimes, consumir por-
nografia infantil ou praticar
atos terroristas.
| dom. Reinaldo Joé Lopes, Marcelo Leite
Amplo estacionamento: 200
Ofertas válidas de 17/12/2023 a 23/12/2023 ou enquanto durarem os estoques. Preços
FOB. Imagens meramente ilustrativas. Não acompanham os objetos decorativos, os
acessórios e os metais. A loja reserva-se o direito de corrigir eventuais erros gráficos.
Condição de pagamento para produtos deste anúncio - à vista, retira. Dinheiro - cheque.
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO:
De Segunda a Sexta-feira, das 6h30 às 21h30;
Sábado, das 7h às 21h; Domingo e Feriado, das 8h às 20h.
Nada disso teria surgido co-
mo surgiu sem Hank Asher e
sua estranha biografia, que
ocupaosprimeiros70%dovo-
lume. Hiperativo e genial, fez
fortuna na Flórida com táti-
cas agressivas de sua empre-
sadepinturadecondomínios.
Comprou um avião para
viajar às Bahamas atrás de
pescarias e noitadas. Logo
agarrou a oportunidade de
usá-lo para ganhar dinheiro
com contrabando de drogas.
Em vias de ser preso, aceitou
acordo como informante da
DEA, a agência norte-ame-
ricana de combate ao nar-
cotráfico.
Seu próximo negócio, nos
anos 1990, concentrou-se
em informações. Cercando-
-se das pessoas certas, de pro-
gramadores a ex-policiais, co-
meçou comprando coleções
de registros de veículos e bi-
rôs de crédito para reuni-los
em bases de dados consultá-
veis, comercializando infor-
mações pessoais para quem
quisesse comprar.
O sucesso foi estrondoso, e
grandes conglomerados de
informações, como NexisLe-
xis, passaram a neutralizar a
concorrência adquirindo su-
as empresas. Passado o perío-
do contratual de quarentena,
Asher abria novas firmas pa-
ra infernizá-los, comprando
qualquer acervo de dados que
encontrasse pela frente, a fim
de alimentar suas poderosas
baterias de computadores.
Para cada pessoa seus siste-
mas criavam um número úni-
co de identificação, compará-
vel aos IPs de computadores.
Todas as informações que ob-
tinha —endereços, vizinhos e
sócios, carros comprados ou
vendidos e para quem, casa-
mentos e divórcios, multas de
trânsito etc. etc.— eram mar-
cados com esse código, faci-
litando a confecção de dos-
siês virtuais.
Asher morreu em janeiro
de 2013, mas suas ideias e
máquinas proliferaram pa-
ra engendrar a era da super-
vigilância no pós-2011. Hoje
alimentamos as Cambridge
Analytics da vida entregando
dados de mão beijada para a
caterva Big Data.
O passado determina o nos-
so futuro, o que podemos ou
não ser, fazer e obter, sob a óti-
ca estreita da probabilística
informacional. Adeus ao es-
quecimento.
lugar de gente muito, muito feliz!
Fortaleza Porcelanato
Interno Branco 20kg
Cód.5586210
De: 41,90
Por:
31 ,90
DESCONTO ECONOMIZE:
-23% 10,00
Mebuki-Assento
Oval Almofadado
Slim Branco
Cód.5316500
De: 79,
90
59
Por:
DESCONTO
-25%
ECONOMIZE:
20,00
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 B5
negociações das COPs do cli-
ma, embora ainda não apre-
sente estudos suficientes so-
bresuasegurança.Aproposta
usa a mesma expertise e tec-
nologia da indústria petrolei-
ra —e por isso conta com seu
apoio— para absorver car-
bono da atmosfera e estocá-
-lo em solos profundos ou no
fundo do mar.
A decisão inclui ainda dois
temas controversos: a ener-
gia nuclear e o hidrogênio “de
Diferentedohidrogêniover-
de, produzido com fontes re-
nováveis, o “de baixo carbo-
no” pode ser produzido com
combustíveis fósseis, como
o gás, com compensação de
Expo City de Dubai, nos Emirados Árabes, que recebeu a COP28 Thaier Al-Sudani - 12.dez.2023/Reuters emissões, por exemplo.
O gás é um combustível de
Decisão da COP28
transição para países depen-
dentes de petróleo, por ter
emissões cerca de 20% meno-
res. A decisão da COP28 dedi-
ca um parágrafo ao reconhe-
deixa brechas para
cimento de que “os combus-
tíveis de transição podem de-
sempenharumpapelnafacili-
taçãodatransiçãoenergética”.
O trecho dá licença para a
combustíveis fósseis
abertura de novas frentes de
exploração de gás —o que
ameaça o compromisso de
manter o aquecimento glo-
bal limitado a 1,5°C. Segun-
Texto final da conferência em dubai dá abertura para gás do o painel do clima da ONU,
as explorações atuais de com-
natural e tecnologias polêmicas de captura de carbono bustíveis fósseis já têm poten-
cial de emitir mais do que o
cenário de 1,5°C permitiria.
PLANETA EM TRANSE glês para se referir ao abati- diretriz ganhou complemen- “Adecisãonãoéimpecávele
mento de emissões, é outro tos que ampliam o espaço pa- há brechas complicadas nela,
-
Ana Carolina Amaral exemplo de linguagem vaga ra justificar a sua falta de im- mas ela é tudo que eles [das
que dá amplo espaço para o plementação, passando a va- indústriasdeenergiasfósseis]
São Paulo Ao decidir que o setor de combustíveis fósseis ler apenas para subsídios que não queriam”, pondera Nata-
mundo deve “transitar dos reportar redução ou compen- não tratem de pobreza ener- lie Unterstell, presidente do
combustíveis fósseis”, a sação de emissões, sem parâ- gética ou transições justas. Instituto Talanoa.
COP28, conferência do cli- metros comuns. A decisão também legitima MarkLutes,conselheiroglo-
ma da ONU concluída na úl- O segundo é a previsão de a controversa geotecnologia bal de política climática do
tima quarta-feira (13), deu um eliminar gradualmente os do CCS (“carbon capture and WWF, vê na decisão “um si-
passo histórico nas negocia- subsídios “ineficientes” —ou- storage”, na sigla em inglês), nal importante”. “Mas todo
ções e deve orientar a revisão troadjetivoquepermiteinter- que tem sido forçosamen- o resto precisa ser definido:
das metas climáticas dos pa- pretação livre. Embora já esti- te incluída em relatórios do ritmos, prazos e diferencia-
íses nos próximos dois anos. vesse prevista na COP26, essa painel do clima da ONU e nas ção entre os países”, afirma.
No entanto, o texto, negoci-
ado também entre grandes
produtores de petróleo, dei-
xa brechas que beneficiam o
setor de óleo e gás.
“Transitardoscombustíveis
fósseis, de uma forma justa,
ordenada e equitativa, ace-
lerando a ação nesta década
crítica para atingir emissões
líquidas zero em 2050, man-
tendo-se junto à ciência”, diz
o principal trecho da decisão.
De acordo com negociado-
res da COP28, a frase pode ge-
rar uma ilusão de que se esta-
beleceu um prazo —o ano de
Transforme seu
2050— para o setor de com-
bustíveis fósseis. No entanto, eletrodoméstico usado
em esperança!
o conceito de zerar “emissões
líquidas” implica em compen-
sações das emissões realiza-
das através de atividades que
capturam carbono. Essas re-
moções se dão em outros se-
tores, como florestas, ocea-
nos e geotecnologias.
Doe e ajude a criar
Em outro trecho, a decisão novas possibilidades para
prevê o uso de combustíveis
zero carbono ou baixo carbo- os pacientes da
no por volta do meio do sécu-
lo.Noentanto,nãoháumade- Casas André Luiz.
finiçãoclaradoqueseja“baixo
carbono”. Uma indústria pe-
troleira pode se dizer de bai-
xo carbono em relação a uma
concorrente, por exemplo.
Outros dois itens repetem
decisões expressas na COP26,
de2021,semacrescentardeta-
lhes ou compromissos.
O primeiro é a decisão de
reduzir o carvão de emissões
nãoabatidasoucompensadas
—”abatement”, termo em in-
Sika-Sikadur Epoxi
499358 Cód.4693431
De: 79,
90
Por:
DESCONTO
59,90 ECONOMIZE:
-25% 20,00
Coral- Esmalte Condor-Rolo Espuma
Acetinado 3.6L Branco Poliester 9cm 976
5202767 Cód.44720 Cód.9716851
De: 8,
49
De: 179,
90
Por:
139 ,90
Leve 3
Por:
DESCONTO
5,49 ECONOMIZE:
Pague 2
DESCONTO ECONOMIZE:
-22% 40,00 -35% 3,00
Retiramos sua doação:
Fani- Torneira Docol-Cuba Invicta
Lavatório Mesa 1195 56x34x18 Cs2 Polida S/
Valvula 3,5 Cód.13180
(11) 2459-7000
C54 Cód.13000
De: 149,90 De: 329,
90 A CASAS ANDRÉ LUIZ
109,90 249,90
Por: TRANSFORMA A SUA DOAÇÃO
Por:
,90 EM ATENDIMENTO
DESCONTO
-26%
ECONOMIZE:
40,00
DESCONTO
-24%
ECONOMIZE:
80,00 (11) 95427-3700 ESPECIALIZADO E GRATUITO À
MAIS DE 1.700 PESSOAS COM
DEFICIÊNCIAS.
vagas / R. Ática, 47 - Brooklin São Paulo/SP
mercatudo.org.br
B6 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee

ilustrada
Morre Carlos Lyra, compositor REPERCUSSÃO
Gilberto Gil,
músico
dos Unidos com o princi-
pal jazzista da bossa nova,
o também saxofonista Stan
Getz. E foi também talvez o

lendário da bossa nova, aos 90

“Tristes com a notícia único a praticar explicita-
da partida de Carlos mente uma variedade rítmi-
Lyra, que nos deixa aos ca dentro da bossa nova —
seus 90 anos com um sua obra é composta de bole-
legado extraordinário. ros, como “Maria Ninguém”,
Um forte abraço em marchas-rancho, como “Mar-
músico estava internado no rio desde quinta-feira, por causa de uma febre toda a família e amigos” cha de Quarta-Feira de Cin-
zas”, e sambas-canções,
como “Minha Namorada”.
-
Ruy Castro Eduardo paes, Naturalmente que, vin-
prefeito do rio de Janeiro do de quem vinha, era tudo
Rio de JaneiRo Morreu Carlos “Que perda para a “bossa nova”.
Lyra, um dos precursores da cultura brasileira. Lyrapertenceuaumaextra-
bossa nova, aos 90 anos, nes- Faleceu hoje o ordinária geração de compo-
te sábado. Ele havia sido in- compositor e cantor sitores dos anos 1960 que in-
ternado na quinta-feira, dia Carlos Lyra. Seu cluiu, entre outros, os ame-
14, com febre e teve uma in- legado é imenso e ricanos Henry Mancini, Burt
fecção, segundo sua mulher. suas composições na Bacharach, Neil Hefti, Cy Co-
Lyra será velado no Cremató- bossa nova marcaram leman e Stephen Sondheim, o
rio Memorial do Carmo, em várias gerações ao italiano Nino Rota, o francês
uma cerimônia restrita a fa- redor do mundo” Michel Legrand, o mexicano
miliares e amigos. Armando Manzanero e, claro,
De 1958 a 1965, Carlos Ly- Antonio Carlos Jobim.
ra, em parceria com Vinicius Fagner, Todos fizeram música para
de Moraes, Ronaldo Bôscoli cantor cinema,televisãoeteatro,sem
e poucos mais, produziu ma- “É triste, mas a idade prejuízo de canções avulsas,
ravilhas como “Primavera”, chega, todos sabem, para seus cantores favoritos.
“Minha Namorada”, “Marcha e está levando um Durante toda aquela década,
da Quarta-Feira de Cinzas”, dos gênios da música, eles foram, em escala inter-
“Coisa Mais Linda”, “Canção além de uma pessoa nacional, a grande alternativa
que Morre no Ar”, “Lobo Bo- adorável, irônica, muito ao rock que já começava a im-
bo”, “Saudade Fez um Samba”, à altura do pessoal da por sua ditadura ao mercado.
“Se É Tarde me Perdoa”, “Feio bossa nova” Uns mais, outros menos,
Não É Bonito”, “Samba do Ca- eles chegaram ainda fortes
rioca”, “Samba da Legalidade”, aos anos 1970, mas, dez anos
“Aruanda”, “Quem Quiser En- Marcos Valle, depois, todos tinham sido
contrar o Amor”, “Influência músico varridos das paradas de su-
do Jazz”, “Sabe Você”, “Você e “Falar sobre a incrível cesso por um tipo de música
Eu”, “Maria Ninguém”, “Maria musicalidade, talento que já não exigia melodia e
Moita” e muitas mais —gra- e importância dele na harmonia sofisticadas.
vadas por João Gilberto, Nara nossa arte e cultura é Nesseinterregno,Lyrasein-
Leão, Sylvia Telles, Astrud Gil- desnecessário. Eu o teressou por astrologia, aliás,
berto, Elis Regina, Billy Ecks- O músico e compositor Carlos Lyra Avani Stein/Folhapress amo de todas as formas pela “astrologia sideral”, que
tine, Brigitte Bardot e incon- que a alma permite. E propunha uma nova ordem
táveis grupos instrumentais. o respeito com todas as para os signos do zodíaco, e
Dele, disse Tom Jobim Carlos Lyra pelos 50 anos se- dois juntos, e mais uma plêia- Exemplos? Cerca de 1961, minhas forças” escreveu um livro a respeito.
que “Carlinhos é o maior guintes—períodoemque,por de de garotos por volta dos 20 por motivos ideológicos — E começou também uma lon-
melodista da bossa nova”. vários motivos, sua produção anos,compunhamumaturma pertencia ao Partido Comu- gacarreiradeshowsbaseados
Se Jobim falou, estava fala- nãosecomparouàdostempos que,naquelaépoca,passavaas nista e atuava no CPC, o Cen- Roberto Freire, em seu repertório clássico.
do —embora, para o resto do heroicos da bossa nova. noitesnoapartamentodaqua- tro Popular de Cultura—, se ex-ministro da Cultura As pessoas se perguntavam
mundo,omaiormelodistada O que fez com que seu mais se adolescente Nara Leão, na afastou de Jobim, Bôscoli e “A saudade fará um por que ele nunca mais com-
bossanovafosseopróprioJo- antigoparceiro—ecordialde- avenidaAtlântica,emCopaca- outrosqueconsideravade“di- samba em seu lugar” pôs coisas como “Primavera”
bim, com Lyra pagando um safeto— Ronaldo Bôscoli o bana,paratocarviolão,trocar reita” e chegou a propor um ou “Minha Namorada”. Se a
honroso placê. Seja como for, definisse, dizendo “Carlinhos acordes,cantarsuascomposi- novo nome, “sambalanço”, perguntafossedirigidaamim,
esse corpo de canções, pro- Lyra é o contrário do vinho”. ções, rir muito e filar o uísque para sua música. Jandira Feghali, eu respondia não é que ele
duzido em tão pouco tempo, “Quanto mais moço, melhor.” do dono da casa, pai de Leão. O nome não pegou e ele deputada não queira ou tenha perdido
foi suficiente para sustentar Bôscolisabiaoquedizia.Os No futuro, diriam que a bos- voltou à denominação ori- “Carlos Lyra nos ainspiração.Omercadoéque
sa nova nascera no aparta- ginal. Em 1962, se insurgiu deixou nesta não quer saber mais dele ou
mento de Leão. Mas Lyra, que também contra o que consi- madrugada. O de quem faça música bonita.
vinha da pré-história do novo derava um excesso de influ- compositor foi um A prova de que a inspiração
LEILÃO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
DORA PLAT, leiloeira oficial inscrita na JUCESP n° 744, com escritório à Rua Minas Gerais, 316 – Cj 62 - Higienópolis, em ritmo, sempre negou que ti- ência do jazz na bossa nova, dos artífices da bossa não abandonara Carlos Ly-
São Paulo/SP, devidamente autorizada pelo Credor Fiduciário BANCO BARI DE INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS
S/A, inscrito no CNPJ sob n° 00.556.603/0001-74, situado à Avenida Sete de Setembro, nº 4.781, Sobre loja 02, Água Verde, vesse sido assim. E acrescen- principalmente a praticada nova e um entusiasta e ra está nas quase 20 grandes
Curitiba/PR, nos termos do Instrumento Particular de 02/10/2020 e Instrumento Particular de Rerratificação de 19/10/2020, no
qual figuram como Fiduciantes FERNANDO FRANCO DE BARROS, brasileiro, engenheiro, portador do RG nº 18.921.603-7- tava “nem a Nara nasceu no no Beco das Garrafas —don- divulgador de artistas canções —com fabulosas le-
SSP/SP, inscrito no CPF/MF nº 267.874.398-57, e sua mulher VIVIANE MATTOS LOPES DE SOUZA, brasileira, fisioterapeuta,
portadora do RG nº 30.207.200-SSP/SP, inscrita no CPF/MF nº 336.486.988-00, casados pelo regime da comunhão parcial de
apartamento da Nara”. de o seu samba-manifesto, como Cartola, Nelson tras de Aldir Blanc— que ele
bens, residentes em São Paulo/SP, levará a PÚBLICO LEILÃO, de modo On-line, nos termos da Lei nº 9.514/97, artigo 27 e
parágrafos, no dia 04 de janeiro de 2024, às 11:30 horas, o leilão será realizado exclusivamente pela Internet, através
Embora tenha sido um “Influência do Jazz”. Cavaquinho e Zé Kéti. compôs para “Era no Tem-
do site www.portalzuk.com.br, em PRIMEIRO LEILÃO, com lance mínimo igual ou superior a R$ 659.126,46 (seiscentos e
cinquenta e nove mil, cento e vinte e seis reais e quarenta e seis centavos), o imóvel abaixo descrito, com a propriedade
dos criadores do movimen- Mas, já em 1963, gravou Ele fez música para po do Rei”, um musical brasi-
já consolidada em nome da credora Fiduciária, constituído pelo Apartamento tipo n° 26, localizado no 2° pavimento do
condomínio denominado Energy Brooklin, situado na Rua Jaceru, n° 346, no 30° Subdistrito, Ibirapuera, com a área privativa
to, Lyra foi quem mais pro- um disco, “The Sound of Ipa- teatro e para cinema leiro que, por três meses de
de 51,000m2; a área comum de 46,001m2., (já incluída a área correspondente a 01 (uma) vaga de garagem para veículo,
localizada na garagem coletiva), e a área total de 97,001m2., equivalente a uma fração ideal de 0,005501 no terreno e nas
curou discutir o gênero —o nema”, com o saxofonista e aplicou consciência 2010, lotou o teatro João Cae-
partes de propriedade e uso comum do condomínio. Imóvel objeto da matrícula nº 236.551 do 15° Oficial de Registro de
Imóveis de São Paulo/SP. Observação: (i) Consta gravada nas Av’s 8, 10, 11 e 12, Indisponibilidade de Bens, que serão
que, às vezes, resvalou em americano Paul Winter e, social em diversas de tano, no Rio de Janeiro, e saiu
baixadas pelo credor sem prazo determinado. (ii) Ocupado. Desocupação por conta do adquirente, nos termos do art. 30 e
parágrafo único, da lei 9.514/97. Caso não haja licitante em primeiro leilão, fica desde já designado o dia 11 de janeiro de
posições contraditórias. em 1964, viajou pelos Esta- suas canções” de cartaz sem que nenhum
2024, no mesmo horário e local, para realização do SEGUNDO LEILÃO, com lance mínimo igual ou superior a R$ 641.856,49 cantor se interessasse por
(seiscentos e quarenta e um mil, oitocentos e cinquenta e seis reais e quarenta e nove centavos). Os interessados em
participar do leilão de modo on-line, deverão se cadastrar no site www.portalzuk.com.br e se habilitar acessando a página deste elas. Foi pena —muitas me-
leilão, clicando na opção HABILITE-SE, com antecedência de até 01 (uma) hora, antes do início do leilão, não sendo aceitas
habilitações após esse prazo. O envio de lances on-line se dará exclusivamente através do www.portalzuk.com.br , respeitado reciam ter ganhado vida pró-
o lance mínimo e o incremento estabelecido, na disputa pelo lote do leilão. A venda será efetuada em caráter “ad corpus” e no
estado de conservação em que o imóvel se encontra, e eventual irregularidade ou necessidade de averbação de construção, pria, fora do palco. Mas você
ampliação ou reforma, será objeto de regularização e os encargos junto aos órgãos competentes, correrão por conta do
adquirente. O(s) devedor(es) fiduciante(s) será(ão) comunicado(s) na forma do parágrafo 2º-A do art. 27 da lei 9.514/97, nunca o ouviria se queixar de
incluído pela lei 13.465 de 11/07/2017, das datas, horários e locais da realização dos leilões fiduciários, mediante
correspondência dirigida aos endereços constantes do contrato, inclusive ao endereço eletrônico, podendo o(s) que, muito antes disso, ele já
fiduciante(s) adquirir sem concorrência de terceiros, o imóvel outrora entregue em garantia, exercendo o seu direito
de preferência em 1º ou 2º leilão, pelo valor da dívida acrescida dos encargos e despesas, conforme estabelecido fora varrido pelo mercado.
no parágrafo 2º-B do mesmo artigo, ainda que outros interessados, já tenham efetuado lances, para o respectivo
lote do leilão. O arrematante pagará no ato, à vista, o valor total da arrematação e a comissão do leiloeiro, correspondente É possível que, ao falar da
a 5% sobre o valor de arremate. A Ata de arrematação será firmada em até 05 dias da data do leilão e a Escritura Pública
de Compra e Venda será lavrada em até 60 dias, em Tabelionato de Notas a ser indicado pela Credora Fiduciária. O horário
morte de Lyra, outros veícu-
mencionado neste edital, no site do leiloeiro, catálogos ou em qualquer outro veículo de comunicação, consideram o horário
oficial de Brasília/DF. Pelo presente, ficam intimados os alienantes fiduciantes: FERNANDO FRANCO DE BARROS e
los o deem como nascido em
VIVIANE MATTOS LOPES DE SOUZA, já qualificados, ou seu representante legal ou procurador regularmente constituído,
acerca das datas designadas para a realização dos públicos leilões, caso por outro meio não tenham sido cientificados. As
1936, 1938 e até 1939 —con-
demais condições obedecerão ao que regula o Decreto n° 21.981 de 19 de outubro de 1.932, com as alterações introduzidas
pelo Decreto n° 22.427 de 1° de fevereiro de 1.933, que regula a profissão de Leiloeiro Oficial.
fusão criada por ele próprio,
numatentativadedeterapas-
sagem dos anos, e ratificada
EDITAL DE LOTEAMENTO em seu livro “Eu & a Bossa”,
(Lei Federal nº 6.766, de 19/12/1.979)
ÁLVARO BENEDITO TORREZAN, Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de cheio de imprecisões, lan-
Pessoa Jurídica da Comarca de Jaboticabal, com cartório estabelecido à Rua Mimi Alemagna, 183, çado há 15 anos. Mas a data
centro, Fone (016)3202-3015.
FAZ SABER a todos quantos virem o presente edital ou dele conhecimento tiverem e a quem possa certa é 11 de maio de 1933.
interessar que IRMÃOS GUIDELI EMPREENDIMENTOS SPE LTDA, com sede nesta cidade de
Jaboticabal - SP, na Rua Armando Salles de Oliveira, número 170, centro, inscrita no CNPJ/MF sob
Data que, no passado, Ly-
número 45.744.104/0001-49, NIRE 35238800295, depositou nesta Serventia, conforme prenotação ra admitia com tranquilida-
nº 188.171, de 01/11/2023, os documentos exigidos pelo art. 18, da Lei Federal nº 6.766, de 19 de
dezembro de 1.979, para o registro do Loteamento “DISTRITO INDUSTRIAL NOVA ALIANÇA” de —quando não apenas a
situado nesta cidade e comarca de Jaboticabal, objeto da matrícula nº 56.011, livro 2RG, com
área de 93.618,15 metros quadrados, cuja exata localização acha-se retratada no desenho abaixo.
bossa ainda era nova, mas
O loteamento que contém 76 (setenta e seis) lotes; 01 (uma) Área Verde; 01 (uma) Área Sistema ele também, e, em 1963, a
de Lazer e o Sistema Viário, foi aprovado pela Prefeitura Municipal de Jaboticabal, conforme
Decreto Municipal nº 8.024, de 17 de outubro de 2023 e pela CETESB - Companhia Ambiental
admirada Jacqueline, a mu-
do Estado de São Paulo em 31 de maio de 2023, conforme Licença Prévia de Loteamento nº lher do presidente John Ken-
52000008, e Licença de Instalação de Loteamento nº 52000009. Em garantia da execução das
obras de infraestrutura exigida pela Municipalidade, que conforme cronograma serão realizadas no nedy, passava o dia cantaro-
prazo máximo de 12 (doze) meses, foi constituída hipoteca sobre 11 (onze) lotes que se originarão
do próprio loteamento “Distrito Industrial Nova Aliança”, ou seja, lotes 09, 1O, 11, 12, 13, 14 e 15,
lando “Maria Nobody” pelos
da quadra 01, e lotes 07, 08, 09 e 1O, da quadra 02, nos termos da escritura pública de caução corredores da Casa Branca.
com garantia hipotecária lavrada às páginas 381/390, do livro 630, em 14/11/2023, no 2° Tabelião
de Notas desta cidade de Jaboticabal - SP. Para conhecimento de todos, expede-se o presente
Na verdade, a única dúvi-
edital, que será publicado em jornal de grande circulação ou em jornal com circulação no da seria quanto ao seu signo
local do empreendimento, por três dias consecutivos, podendo o registro ser impugnado
no prazo de quinze dias, contados da última publicação, nos termos do art. 19, da citada Lei —touro, pela astrologia tra-
Federal n. 6.766/79. Jaboticabal, 11 de dezembro de 2023. Eu, Álvaro Benedito Torrezan, Oficial,
mandei digitar e subscrevi.
dicional; áries, pelos novos
cálculos que ele tinha feito
O SUBSTITUTO DO OFICIAL
pela “astrologia sideral”.
JOSé PEDRO JúNIOR O músico deixa a mulher
e uma filha, Kay Lyra.
a eee
esporte
Única mulher
da seleção de
iaidô aprendeu
na internet
Aulas online na pandemia levaram
irailde Souza a desenvolver sua
técnica e a chegar ao time brasileiro
-
Edison Veiga
bled (eslovênia) A advogada
Irailde Carvalho Souza, de 59
anos, aprendeu a arte marcial
japonesa iaidô pela internet e
hoje é a única mulher na sele-
ção brasileira da modalidade.
Ela faturou o bronze em sua
categoria na primeira edição
do campeonato latino-ameri-
canodamodalidade,emLima,
no Peru, na semana passada.
Iaidô é o nome de uma ar-
te marcial japonesa, na qual o
praticante precisa aplicar téc-
nicas e executar movimentos
precisos para desembainhar
uma espada. Irailde, que não
tem antepassados nipônicos
nem parentesco com orien-
tais, nutria admiração pela
arte desde a infância.
“Ainda criança, eu gostava
de ler revistas de kung fu, e
os primeiros filmes a que as-
sisti na vida foram sobre ar-
tes marciais, principalmen-
te os do Bruce Lee”, afirmou,
recordando o artista marcial,
ator, diretor, produtor e rotei-
rista sino-americano que vi-
veu entre 1940 e 1973.
Nascida em Catolândia, na
Bahia, Irailde foi criada em
Rondonópolis, Mato Grosso,
para onde sua família se mu-
dou quando ela tinha dois
Tricolor no Mundial
o Fluminense estreia no torneio de clubes, na Arábia
Saudita, em busca de nova alegria em três cores
- -
Juca Kfouri
Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP
“O Fluminense é o único time
tricolor do mundo. O resto são
só times de três cores”, exage-
rava Nelson Rodrigues, que di-
zia também: “Se o Fluminen-
se jogasse no céu, eu morreria
para vê-lo jogar”.
Nem uma coisa nem outra
são verdadeiras, embora a
primeira frase expresse a pai-
xão ilimitada do dramaturgo
imortaleasegundareveleuma
confiança irrestrita nos desíg-
nios divinos. Haveria céu pa-
ra pena tão maldita?
Nesta segunda-feira (18), o
Fluminense estreará no 20°
Mundial de Clubes da Fifa, em
busca de ser o quarto clube
brasileiro a vencê-lo, o primei-
ro carioca.
Nas 19 edições anteriores
desde 2000, os europeus ga-
nharam 15 títulos, e São Pau-
lo, Inter e Corinthians (duas
vezes) foram os sul-america-
nos campeões.
Houve até quem caísse nas
semifinais, casos do Inter, do
Palmeiras e do Flamengo.
O papão, para variar, é o Re-
al Madrid, pentacampeão, e
desde 2012, quando o Corin-
thians foi bi, só dá clubes eu-
ropeus com a taça.
Santos (2011), Grêmio (2017),
Flamengo (2019) e Palmeiras
(2021) chegaram à finalíssi-
ma, mas perderam. O Santos,
de maneira acachapante, 4 a
0 para o Barcelona.
| dom. Juca Kfouri, Tostão | seg. Juca Kfouri | ter. Sandro Macedo | qua. Tostão | qui. Juca Kfouri | sáb. Marina Izidro
anos. Vive na mesma cida-
de até hoje. “Quando surgiu
a oportunidade, comecei a
treinar karatê. Logo conhe-
ci o kendô, o iaidô e o jodô.”
Kendô é uma arte marcial
que consiste na luta com es-
padas. Jodô é a arte de utilizar
um bastão para se defender
de um adversário com espa-
da. Irailde aprendeu e treinou
os dois. Mas sua obsessão era
o iaidô. “Ficava vendo vídeos
antigos na internet. E, quan-
to mais eu via, mais me inte-
ressava. Fiquei encantada.”
Na falta de um sensei em
Rondonópolis, o YouTube era
seu mestre. “E, como moro
longedosgrandescentroson-
de há a prática de iaidô, era di-
fícil fazer viagens para ter au-
las presenciais com um pro-
fessor. Então, ficava assistin-
do aos vídeos e tentando re-
petir os movimentos. Mas de
forma errada”, lembrou.
Aí, veio a pandemia de Co-
vid-19, e as atividades virtu-
ais se tornaram bem mais co-
muns. Irailde deixou de ser
uma solitária praticante e en-
controu um grupo que tam-
bém passou a treinar online.
Ela se recorda bem da data,
4 de setembro de 2020.
O engenheiro químico Sil-
vio Pedroso Yoshikawa, sen-
O Grêmio não foi páreo pa-
ra o Real Madrid, mas perdeu
apenas por 1 a 0, assim co-
mo Flamengo e Palmeiras caí-
ramdiantedeLiverpooleChel-
sea por diferença mínima e na
prorrogação.
Nos dois últimos casos, os
ingleses foram melhores, ape-
sar de tanto os rubros-negros
quantoosalviverdesteremcri-
ado oportunidades para ven-
cer.
A diferença técnica entre os
europeus e os demais é cada
vez maior, tanta que deixou
para trás os tempos em que a
disputa intercontinental era
equilibrada e consagrou es-
quadrões como os de Santos
(duas vezes), Flamengo, São
Paulo (outras duas) e Grêmio
—todos também reconheci-
dos pela Fifa como campeões
mundiais.
Pior: clubes de outros conti-
nentesresolveramvirarpotên-
cias, muitos com capacidade
de investimento maior que a
dos sul-americanos, razão pe-
la qual cair nas semifinais dei-
xou de ser papelão.
Daí a expectativa antes da
estreia do tricolor de Nelson
Rodrigues e de Chico Buarque
de Hollanda, este nada hiper-
bólico em sua torcida, certa-
mente antenado no que acon-
tecerá em Jidá, na Arábia Sau-
dita,noestádioKingAbdullah,
tambémchamadode“JoiaBri-
ESPORTE
AO VIVO
Irailde Carvalho Souza, 59, exibe um dos movimentos da arte marcial japonesa; ela aprendeu
inicialmente em vídeos do YouTube e depois com aulas realizadas por teleconferência Divulgação
“
O iaidô é uma das
modalidades de
arte marcial mais
difíceis. Traz um
valor intrínseco de
imponência e muita
beleza. Ensina
seus praticantes a
vencer a si mesmos.
É vida, é para a vida
Irailde Carvalho Souza
membro da seleção brasileira
lhante”, para mais de 62 mil
torcedores, no mar Vermelho.
Vermelhoque,diferentemen-
te do que ocorre na maioria
dos nossos tricolores, não faz
parte das três cores do Flu,
embora haja quem o confun-
da com o grená, ou encarna-
do, que se junta ao branco e
ao verde.
Sabe aquele menino aqui
descrito na coluna do último
domingo?
Pois ele, ao ir se curar de
perigosa tuberculose gangli-
onar na Bahia, em 1956, aos
seis anos, recebeu a visita so-
lidária de todo o time das La-
ranjeiras, com Telê Santana,
Castilho, Pinheiro, Waldo, Es-
curinho, Altair, Jair Marinho,
comandados por Zezé Morei-
ra, que jogaria horas depois
contra uma seleção de Itabu-
na, 32 quilômetros distante de
Ilhéus,ondeconvalescianaca-
sa de um tio-avô, médico.
O menino iria ao jogo, mas a
febre havia reaparecido e o tio
organizou a visita de surpresa
para minimizar a frustração.
Não viu a goleada por 10 a 1,
mas pôs o Fluminense em sua
vida, e, 28 anos depois, ao en-
trevistar Castilho, viu-o cho-
rar, porque o histórico golei-
ro desconhecia que o meni-
no, que ele supunha ter mor-
rido, era o jornalista que esta-
va à sua frente.
Vai, Fluminense!
13h30 Liverpool x M. United
inglês, ESPN/STAR+
sei que vive em São Bernardo
do Campo, na região metro-
politana de São Paulo, deci-
diu conduzir treinos por uma
plataformadevideoconferên-
cia. Vice-presidente da Fede-
ração Paulista de Kendô e di-
retor técnico de iaidô da Con-
federaçãoBrasileiradeKendô,
ele é também o atual técnico
da seleção brasileira de iaidô.
Yoshikawa conhecera Irail-
de um ano antes, quando ela
havia realizado um exame de
kendô em São Paulo.
“Naquele dia, eu fiz uma
apresentação de iaidô como
parte da abertura dos even-
tos. E foi então que eu a vi so-
zinhatentandorepetir,dema-
O planejado e o executado
meio-campo é o elo entre eles, e eu gostaria de ver
atletas do setor na disputa de melhor do mundo
Tostão
Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina
Se o Fluminense vencer ama-
nhã e o Manchester City ga-
nhar na terça-feira, os times
farão a final do Mundial no
dia 22. É o jogo mais esperado.
Haalandédúvida,eDeBruy-
ne continua fora. Apesar de
não viver um bom momento
e de ser o quarto colocado no
Campeonato Inglês, o City ga-
nhou as seis partidas da fase
de grupos da Liga dos Campe-
ões. É o favorito para ganhar
o torneio mundial.
FluminenseeManchesterCi-
ty são times que gostam de ter
sempre a bola, trocar passes
e envolver o adversário. Essa
postura começou no Barcelo-
na,dirigidoporGuardiola,que
bebeu na fonte de Cruyff. A es-
tratégiaseespalhoupelomun-
do e é cada dia mais presente.
Melhora a beleza e a qualida-
de do futebol. Para ter a bola,
é preciso recuperá-la rapida-
mente, e o City faz isso de ma-
neiramelhorqueoFluminense
e que todas as outras equipes.
Flu e City têm semelhanças
e diferenças importantes. O ti-
me inglês joga com dois pon-
tas abertos ou um meia e um
ponta de cada lado, o que for-
ça os laterais a marcá-los de
perto, deixando espaços en-
tre o lateral e o zagueiro, por
onde o City costuma fazer tri-
angulações com as participa-
ções do ponta, do lateral e do
meio-campista.Asjogadaster-
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
16h45 Lazio x Inter de Milão
italiano, ESPN 4/STAR+
neira bem precária, os movi-
mentosqueelahaviavistodu-
rante a apresentação. Apenas
observei, sem fazer qualquer
comentário. Não é comum na
arte você oferecer comentári-
os sem que esses sejam solici-
tados”, disse.
“Depois de algum tempo,
passei por ela novamente e
percebi que ela continuava a
tentar repetir os movimen-
tos”, acrescentou.
Então, Yoshikawa pergun-
tou para Irailde quem era seu
professor. Para seu espanto,
ouviu um “ninguém” como
resposta e lhe deu algumas
instruções básicas.
Quando, no auge da pande-
minam com as finalizações de
Haaland, geralmente dentro
da área.
Como o City avança e pres-
siona muito em bloco para re-
cuperar a bola, o Fluminense,
se enfrentá-lo, poderá utilizar
os espaços deixados nas cos-
tasdosdefensoresadiantados.
Assim o time inglês tem sofri-
do gols, mais que nas tempo-
radas anteriores.
O volante Rodri é o centro
das jogadas do City. Inicia e
organiza os lances. Quando
a equipe não consegue pene-
trar na área adversária, a bo-
la volta para Rodri, que reco-
meça o jogo com passes rápi-
dos e precisos. O Fluminense
deveria marcá-lo mais de per-
to, em caso de confronto dos
dois times na final.
Se o Fluminense enfrentar o
City na final e vencer, isso não
significaráqueoFluésuperior
ao City nem que Fernando Di-
niz é um gênio e que deu um nó
tático em Guardiola. É apenas
um jogo. De vez em quando, o
City é derrotado por equipes
inferiores. No mesmo raciocí-
nio, se o Flu for uma decepção,
perder na semifinal ou levar
um banho de bola do City, não
significará que não é um bom
time nem que Fernando Diniz
é um treinador excessivamen-
te badalado e glamourizado.
Manchester City e Real Ma-
dridsãoosdoismelhorestimes
B7
17h Real Madrid x Villarreal
Espanhol, ESPN/STAR+
mia, o sensei decidiu criar um
grupo de treinos online, veio
a lembrança daquela mulher
obstinada de Mato Grosso.
“Resolvi convidá-la para esse
treinamento virtual.”
Eram duas horas por sema-
na, sem nenhuma falta da de-
dicada Irailde.
“Ao final dos treinos, sem-
pre havia algumas recomen-
daçõesqueerampassadasco-
mo forma de exercícios de ca-
sa. E percebi que todas essas
tarefas eram cumpridas de
maneira muito diligente por
ela,quedemonstravaumfran-
co progresso a cada semana e
muita atenção aos detalhes”,
observou Yoshikawa.
Em julho deste ano, Irailde
participou de seu primeiro
campeonato, o brasileiro de
iaidô, realizado em São Pau-
lo. Faturou a segunda coloca-
ção, o que a habilitou a inte-
grar a seleção que disputou
o latino-americano no Peru.
“Ter sido selecionada foi
muito gratificante e emocio-
nante”, afirmou, na condição
de única mulher na equipe.
“Espero conseguir dar o meu
melhor e inspirar outras mu-
lheres a seguir este extraor-
dinário caminho da espada.”
Três anos de treinamento
a sério deixaram Irailde mais
apaixonada ainda pela arte.
“É uma das modalidades de
arte marcial mais difíceis, na
minha opinião. É preciso ter
muitadedicação,muitotreino
e muita perseverança. É um
processo lento, sem estagna-
ção. Demora anos para alcan-
çar esse objetivo. E eu ainda
estou no começo do começo.
Mas, aos poucos, venho pro-
gredindo”, afirmou.
Segundo ela, o esporte tem
“imponência e muita beleza”
e é “mais do que filosofia ati-
vidade física ou disciplina”. “O
iaidô ensina seus praticantes
a vencer a si mesmos. Pois,
quanto mais se exploram as
técnicas, mais fortes nos sen-
timos. Assim, passamos a me-
lhorar nossa saúde mental, fí-
sica e espiritual.”
da Europa e do mundo. No Re-
al, o jovem inglês Bellingham,
sensação atual, lembra o ex-
cepcional Kaká. Os dois são
meias-atacantes, altos, possu-
em passadas largas e chegam
com facilidade do meio-cam-
po ao gol. Bellingham possui
umrepertóriomaior,commais
dribles e efeitos especiais. Ka-
ká não driblava. Jogava a bo-
la na frente e sempre chegava
primeiroparafinalizarcomex-
trema eficiência. Bellingham
tem mais talento coletivo por
se movimentar sem bola por
todo o ataque.
Kaká, merecidamente, foi
eleito o melhor do mundo, em
uma época em que não havia
Messi nem Cristiano Ronaldo.
Neste ano, os candidatos são
Messi, Mbappé e Haaland. No
próximo ano, certamente sur-
girão outros candidatos ao
trono. A fila anda.
Gostaria de ver mais volan-
tesemeio-campistasnadispu-
ta de melhor do mundo. Mo-
dric ganhou anos atrás o títu-
lo. Tão importante quanto bri-
lhar no ataque e marcar um
grande número de gols é ser
um organizador, iniciador das
jogadas ofensivas, com ampla
visão do campo e com passes
rápidos e precisos. O gol come-
ça na defesa, é elaborado no
meio-campo e termina no ata-
que. O meio-campo é o elo en-
tre o planejado e o executado.
folhacorrida
IMAGEM DA SEMANA
Sergio Moro e Flávio Dino se abraçam
e riem em sabatina no Senado, na
quarta-feira (13). Dino, assim como o se-
nador do União Brasil-PR, também foi
COMBO |
Tiago Ribas
folha.com/hqdtgz47
Imagem do jogo ‘Lego Fortnite’, da Epic Games
Epic fragmenta metaverso
por parceria com a Lego
São Paulo A Epic Games lan-
çounaquinta(7)o“LegoFort-
nite”, descrito por ela como o
primeiro passo de uma parce-
ria que tenta criar um espa-
ço no metaverso para toda a
família. Na realidade, o jogo
cumpre muito mais a tarefa
de ajudar a empresa de Tim
Sweeney a se recuperar finan-
ceiramente do que realmente
revolucionar a forma como as
pessoas navegam na internet.
O que é o metaverso afinal?
A palavra “metaverso” é geral-
mente entendida como o fu-
turo da internet, mas os de-
talhes sobre o que consistiria
esse “futuro” mudam bastan-
te dependendo de quem está
imaginando ele. Para a Meta,
por exemplo, o metaverso es-
tá ligado ao uso de realidade
virtual para comunicação. Al-
gumasfintechsusamotermo
emreferênciaatecnologiasda
Web 3.0, como NFTs e cripto-
moedas.ParaaEpicGamesna-
da disso é fundamental.
Na concepção de Tim Swe-
eney, CEO da empresa, o me-
taverso é um espaço único de
entretenimentointerativoem
que as pessoas podem se en-
contrar,sedivertirecriarlivre-
mente.Hoje,ojogo“Fortnite”
éoquemaisseaproximadisso.
Uma pedra no caminho
Lançadoem2017comoumjo-
godetirocooperativoparaaté
4 pessoas, “Fortnite” vem evo-
luindo e hoje é mais conheci-
doporserumjogo“battleroy-
ale”, no qual até cem jogado-
res se enfrentam simultanea-
mente para tentar ser o últi-
mosobreviventeemumailha.
Apesar de todo o sucesso
queotítuloconquistounosúl-
timos anos, construir o meta-
juiz federal. Os dois conversaram por al-
guns minutos antes da sessão na Comis-
são de Constituição e Justiça (CCJ) que
aprovaria Dino ao STF e Paulo Gonet à
Divulgação
pLAY
Dica de game, novo ou
antigo, para você testar
Fortnite
(PC, PS 4/5, Xbox one/X/S, Switch)
Conhecido pelo modo
battle royale, “Fortnite”
se expandiu para
outros gêneros.
Se você não ligava muito
para o título da Epic Games
(como eu), agora é uma
boa hora para dar uma
nova chance para esse
jogo e ver se há alguma
coisa ali que lhe agrada.
Grátis e bem feito, vale
pelo menos o teste.
UpDATE
novidades, lançamentos,
negócios e o que mais importa
“Baldur’s Gate 3”
Foi o grande vencedor
do The Game Awards
deste ano com seis
troféus, incluindo os de
Jogo do Ano e Escolha
do Público. O segundo
jogo mais premiado,
“Alan Wake 2”, ganhou
metade dos prêmios.
“pocket Bravery”
O game brasileiro
ficou com o prêmio de
melhor jogo nacional
no Brazil Game Awards,
premiação realizada
com a mídia brasileira.
*Expansão
**Disponível no Xbox Game Pass
a eee
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
PGR. Asabatina foifeitadeformasimul-
tânea, em formato inédito e superficial,
costurado pelo presidente da CCJ, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP).
verso em cima dele criou no-
vos desafios. Um deles são as
pessoas com interesses dife-
rentes, em busca de uma ex-
periência “single player”, que
acabavam não se interessan-
do pelo jogo.
O outro é o razoável grau de
violência associado ao game,
queafastacriançasepossíveis
parceiros comerciais.
A saída para esse dilema foi
mostradapelaEpicGamesem
eventono“Fortnite”apelidado
de Big Bang, no último dia 2.
Diversificação
Entre as principais mudanças
estão a inclusão de três novas
experiências em “Fortnite”:
“RocketRacing”:jogodecor-
rida online feito pelos criado-
res de “Rocket League”, que
mistura carros com futebol.
“FortniteFestival”:títulorít-
mico musical desenvolvido
pela equipe de “Rock Band”.
“LegoFortnite”:gamedeex-
ploraçãoeconstruçãoempar-
ceriacomamarcadebrinque-
dos dinamarquesa que lem-
bra “Minecraft”, da Microsoft.
Comeles,alémdeumamplo
catálogodeexperiênciascria-
daspelosprópriosusuários,a
Epic abre “Fortnite” para no-
vos públicos, principalmente
paraopúblicoinfantil,através
de sua parceria com a Lego.
Juntos, mas separados
O acordo obrigou a Epic a fa-
zer uma divisão no seu meta-
verso. No mês passado, a em-
presa começou a implemen-
tar um sistema de classifica-
ção indicativa.
“O título principal deles
[‘Fortnite’] não é apropriado
para crianças”, afirmou Remi
Marcelli, vice-presidente sê-
nior da Lego para games. Só
quando a Epic mostrou a in-
tenção de expandir seu port-
fólio a Lego se sentiu à vonta-
deparaembarcarnaparceria.
A implementação da classi-
ficaçãoindicativanãofoitran-
quila.Usuáriosreclamaramde
conteúdosaparentementeino-
fensivos que acabaram sendo
censuradoseoutrosqueesca-
paramdaclassificação.AEpic
admitiu o problema e prome-
teuajustesatéoeventodelan-
çamento dos novos jogos.
O novo metaverso
Ao invés de todos estarem
em um ambiente único in-
teragindo, criando e se di-
vertindo, “Fortnite” se tor-
nou uma experiência com-
partimentada, em que cada
um pode se divertir em seu
mundinho particular.
B8
Gabriela Biló/Folhapress
FRASES DA
SEMANA
“
Se for necessário este
país fazer endividamen-
to para crescer, qual
o problema? De você
fazer uma dívida para
produzir ativos produ-
tivos para este país?
Lula
presidente do brasil, na
terça (12), sobre economia
“
O que alcançamos não
foi suficiente [para con-
ter a crise climática] e
trabalhamos para que
saíssemos daqui com
as bases para viabilizar
essa suficiência
Marina Silva
ministra do meio
Ambiente, na quarta
(30), sobre CoP28
“
Em vez de fazer
qualquer coisa para aju-
dar a melhorar as vidas
dos americanos, eles
estão focados em me
atacar com mentiras
Joe Biden
presidente dos EUA,
na quarta (13), sobre
impeachment
“
Não é porque é de classe
média que não vai ser
processado, condenado
ou preso. Essas pessoas
que hoje criticam o
sistema penitenciário
nunca se preocuparam
com os 700 mil
presos brasileiros
Alexandre de Moraes
ministro do STF, na terça
(12), sobre presos do 8/1,
em entrevista à Folha
“
Não há alternativa ao
ajuste e ao choque. Na-
turalmente, isso impac-
tará de modo negativo
o nível de atividade,
emprego, salário real e
quantidade de pobres
Javier Milei
presidente eleito da
Argentina, no domingo
(10), sobre crise no país
CRUZADAS
HORIZONTAIS
1. Porção de um produto como prova de sua qualidade 2.
Diretoria Administrativa / O francês Cardin, designer de moda
3. Árvore da caatinga nordestina / Parte do rosto que possui
dois furos, para inalação do ar 4. Da capital da Espanha 5.
Ressoar repetidamente / Abreviatura de decâmetro 6. Em +
um (pl.) / (QR) Um código de barras 7. (Med.) Relativo à ne-
oformação exagerada de um tecido local 8. Rio limítrofe dos
estados de São Paulo e Paraná 9. Corpo humano 10. O ator
estadunidense Chuck, de “Comando Delta” e “Octagon” / O
que transforma torta em tortura 11. Patroa / (Culin.) Bolinho
típico da BA 12. As iniciais do músico Bonfá (1922-2001), de
“Manhã de Carnaval” / O filho de Dédalo que, segundo a mito-
logia grega, tentou voar com asas de cera 13. Cheio de calor.
VERTICAIS
1. Que não possui proporção definida 2. Árvore da qual se ex-
trai matéria tintorial e de boa madeira / Extensão longa, tu-
bular e flexível do focinho de alguns mamíferos 3. (Med.) Dor
reumática nos dentes 4. Sigla do estado de Itu e Jaú / Raspar
a escrita / Potencial instintivo da personalidade humana 5.
Bater com som vibrante / Muito desejoso 6. O nosso padrão
monetário atual / (Fig.) Brilhar vivamente 7. Subúrbios /
Armação circular metálica das rodas de alguns veículos 8.
Uma expressão de alegria / Paredes que cercam um recinto
9. Cada ocasião de um tempo que se repete / Recuperação de
mal físico ou moral.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
5
6
7
8
9
10
11
12
13
res, Aro, 8. Risada, Muros, 9. Vez, Melhora.
4. SP, Rasurar, Id, 5. Tinir, Maníaco, 6. Real, Coriscar, 7. Arredo-
VERTICAIS: 1. Adimensional, 2. Macacu, Tromba, 3. Odontagra,
nismo, 10. Norris, Ur, 11. Ama, Acará, 12. LB, Ícaro, 13. Ardoroso.
lês, 5. Ecoar, Dam, 6. Nuns, Code, 7. Tumoral, 8. Itararé, 9. Orga-
HORIZONTAIS: 1. Amostra, 2. DA, Pierre, 3. Icó, Nariz, 4. Madri-
SUDOKU
texto.art.br/fsp
DIFÍCIL
o Sudoku é um tipo de desafio
SOLUÇÃO
lógico com origem europeia e
aprimorado pelos EUA e pelo
Japão. As regras são simples:
o jogador deve preencher o
quadrado maior, que está di-
vidido em nove grids, com no-
ve lacunas cada um, de forma
que todos os espaços em
branco contenham números
de 1 a 9. os algarismos não
podem se repetir na mesma
coluna, linha ou grid
ACErVo FoLHA
Há 100 anos 17.dez.1923
RS festeja acordo de paz entre
revolucionários e governador
Continuam as manifesta- A cidade de Porto Ale-
çõesderegozijopeladaas- gre está inteira emban-
sinaturadoacordodepaz deirada. Houve concertos
que estabelece o fim do públicos em vários pon-
conflitoentreomovimen- tos neste domingo (16),
to revolucionário no Rio e não devem funcionar
Grande do Sul e as forças as repartições federais e
defensorasdogovernador municipais nesta segun-
Borges de Medeiros (com da-feira (17).
opacto,elepermaneceno
cargo,masnãopoderádis-
putar a reeleição).
h LEIA MAIS EM
acervo.folha.com.br
 a eee
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 C1

Ilustração criada por combinação de ferramentas de imagem generativa André Graciotti

A nova
caixa de
Pandora
Como a
inteligência
artificial,
caminho sem
volta para a
humanidade,
pode ser
desenvolvida
de forma
a eliminar
ameaças e
promover
benefícios
C6 e C7

David Cheskin/Pool/ Reuters

# Bob Dylan
viaja com leitor
em livro que
destrincha
canções C4 e C5

# Tela na UFBA
não é racista, mas
pedido de retirada
é acertado, diz
historiador C11

# Mengele e o
lado sombrio
da história,
por Juliana de
Albuquerque C12
C2 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
ilustrada ilustríssima
MÔNICA BERGAMO
O ex-jogador Ronaldo e a modelo e empresária Celina Locks
Ronaldo
Me sentia muito mais seguro
quando estava em campo
[RESUMO] Recebendo amigos, cantores, gamers e parceiros em sua casa, onde mora com a mulher,
a modelo e empresária Celina Locks, Ronaldo participa do torneio de tênis Galácticos Open e conta
que, para poder se casar na igreja pela primeira vez na vida, teve que ser batizado ‘depois de velho’
Por Teté Ribeiro
A tensão em relação a se Ro-
naldo daria ou não entrevis-
ta começou meses antes mes-
mo do pedido oficial ter sido
feito. Renata Netto, diretora-
-executiva da RonaldoTV, o
canal de YouTube do ex-joga-
dor, com quem a reportagem
estava em contato, disse que
tudo dependia do resultado
do Cruzeiro no Brasileirão.
* priedade enorme numa rua
O time de futebol de Belo Ho-
rizontefoioprimeiroaterRo-
naldo como jogador profis-
sional, em 1993, ano em que
conquistou a Copa do Brasil
e o Campeonato Mineiro, e
que o transformou em uma
estrela. No ano seguinte, Ro-
naldo foi escalado para a Sele-
ção Brasileira, aos 17 anos, na
CopadoMundodosEUA.Não
entrou em campo, mas esta-
va lá, junto com os tetracam-
peões Romário, Dunga, Cafu,
Bebeto, Leonardo, Raí e Taf-
farel. E o zagueiro Ronaldão,
doSãoPaulo,quefezcomque
o primeiro apelido de Ronal-
do Nazário fosse Ronaldinho.
* com os border
Jogandocomacamisanoveda
seleção, Ronaldo virou R9 pa-
ra se diferenciar de outro Ro-
naldinho,ogaúcho,quecome-
çou a brilhar pouco depois. O
apelidodefinitivo,Fenômeno,
foi dado pela imprensa itali-
ana, quando jogou pelo time
Internazionale, a Inter de Mi-
lão, entre 1997 e 2002.
* Fotos Teté Ribeiro/
Depois de 28 anos da estreia
a eee
| monica.bergamo@grupofolha.com.br
como jogador profissional no
Cruzeiro, Ronaldo comprou o
time, que, neste ano, corria o
risco de ser rebaixado para a
segunda divisão, a Série B do
CampeonatoBrasileiro,aque-
la em que a maioria das pes-
soas não presta atenção, que
tem jogos entre times menos
conhecidos tipo Guarani, Mi-
rassol,Avaí,Criciúma,Ituano.
*
Além disso, os jogos não são
transmitidos pela TV, o valor
da premiação é muito mais
baixo, o de patrocínio tam-
bém, e não tem o mesmo gla-
mour. Ronaldo comprou a Ra-
posa, apelido do Cruzeiro, em
2021, quando resolveu que era
ele o homem que precisava ti-
rar o clube de sua maior crise.
Em abril deste ano, com uma
gestão firme e decisões segu-
ras, a Raposa voltou à primei-
ra divisão, e estava de novo
na elite do futebol brasileiro.
*
Masoanofoicomplexo,oBra-
sileirãofoidifícil,voltouosus-
pense: o Cruzeiro poderia ser
rebaixadomaisumavez.Eaté
o final desta novela futebolís-
tica, sem chances de entrevis-
ta com Ronaldo. Mas eis que
no último dia 27 de novem-
bro, em Goiânia, o Cruzei-
ro venceu o Goiás por 1 X 0 e
saiu da zona de risco. Salvou-
-se o time do Ronaldo e me-
Miguel Deak/Futpress/Divulgação lhoraram consideravelmen-
te as chances desta conversa.
“Eu me sentia muito mais se-
guro quando estava em cam-
po do que agora, em que não
faço parte do time. Em mim
eu sempre posso confiar, mas
futebol tem suas surpresas,
é isso que faz o resultado ser
tão emocionante”, disse o ex-
-jogador, na última quinta-
-feira (14). “Esse é meu papel
aqui na Terra, essa é a minha
missão, acredito muito nisso.”
*
A entrevista aconteceu, final-
mente, mas não foi sem emo-
ção. Era o primeiro dia da ter-
ceira edição do Galácticos
Open, evento que Ronaldo e
suamulher,CelinaLocks,cria-
ramparaarrecadardinheirode
patrocinadoresparaaFunda-
çãoFenômeno,quenasceuem
2010, mas funciona de verda-
dedesde2012.QuandoRonal-
do e Celina começaram a na-
morar, nove anos atrás, a fun-
dação já estava a pleno vapor.
*
Quandodecidirammorarjun-
tos,Celinavirouembaixadora
da ONG. Mas foi só há pouco
mais de dois anos e meio que
Ronaldo a convidou para ser
presidentedehonradafunda-
ção. Hoje, Celina é quem toca
de verdade o negócio, e foi de-
la a ideia de fazer o torneio de
tênis na casa deles, uma pro-
fechada no Morumbi.
*
Éelaqueexplicaoque,afinal,a
FundaçãoFenômenosfazcom
o dinheiro que arrecada com
asmarcasqueapoiamoeven-
1 2 toeoleilãodeobjetosdoados
porapoiadores.Entreeleshá,
Ronaldo por exemplo, um pedaço de
recebe grama do estádio de Yokoha-
convidados ma,noJapão,ondeoBrasilga-
em sua casa, nhouopentacampeonato,em
no Morumbi, 2002, com dois gols de Ronal-
em SP, para o do contra a Alemanha. Além
Galácticos disso, tem também experiên-
Open 1 ; o ciascomoviagenseencontros
adestrador José comamigosfamososdoRonal-
Henrique Melo do, no último dia do torneio.
durante treino
*
collies 2 ; “Agenteajudaprojetosligados
o DJ Ronald, ao esporte e à educação que
filho de já existem em comunidades,
Ronaldo, masquemuitasvezesnãotêm
ao lado da todo o dinheiro que precisam
namorada, ounãosabemcomoatuar,co-
a advogada mogerirrecursos”,dizCelina,
Raisha sentada em uma poltrona de
Palomaro 3 ; courocinzaemumasaladees-
e Kaká 4 taramplaetodadecoradaem
durante jogo tons de preto e branco.
3 4 Folhapress *
a eee
O piso é de taco de madeira, e
as outras poltronas que com-
pletam o ambiente são bran-
cas com desenhos de zebras.
Nas paredes, há fotos preto e
branco, além de um tríptico
imenso na parede igualmen-
te imensa, com portas que
abrem para o quintal, onde
ficam a piscina, a sauna, uma
cozinha, um pub de madeira
escura e a quadra de tênis. É
lá também que está a árvore
de Natal, um pinheiro natural
que vai quase até o teto.
* frente. Os ex-jogadores Ka-
Étudomodernoedebomgos-
to, contrastando com a cons-
trução estilo colonial da casa,
com escadaria de mármore
na entrada principal e colu-
nas sustentando o segundo
andar. A sala de jantar, que fi-
ca logo adiante, tem uma me-
sa preta retangular com dez
lugares e cadeiras vermelhas.
Um lustre que parece um mó-
bile feito de abajures de cabe-
ceira preto e bem exuberante
compõe o ambiente.
* Quandochegueilá,osertanejo
Fiz fotos com o meu celular
dessas partes da casa, que
estavam à vista de quem cir-
culava pelo evento. Mas uma
hora fui abordada por uma
das muitas pessoas vestidas
com a camiseta azul-turque-
sa da Fundação Fenômeno,
responsáveis pela organiza-
ção do Galácticos Open, que
me avisou que, por motivo de
segurança, não seria permiti-
do mostrar a privacidade do
casal ou suas obras de arte.
* xar os abrigos, já têm alguma
Tinha chegado ao evento por
voltade13h30,horárioqueme
foi indicado pelo assessor que
cuidadacomunicaçãodasem-
presas de Ronaldo. Depois de
quase cinco horas circulando
pela área externa da casa de
Ronaldo e Celina e assistin-
do a jogos de tênis não par-
ticularmente emocionantes,
enquanto esperava alguma
manifestação sobre se o pe-
dido de entrevista ia ou não
ser atendido, achei por bem
checar se havia um ar de res-
posta do ex-jogador.
* JoséHenriquejogaasbolinhas
Ronaldo estava na minha
ká e Juninho Paulista estavam
jogando uma partida e ele, as-
sistindo. Era só cutucar e fa-
zer uma pergunta. Mas não
é bem assim que funciona,
disse o assessor, “tem que fa-
lar no momento certo, senão
não rola”. Ronaldo recebe cen-
tenas de pedidos de entrevis-
tas todos os meses, se não ti-
vesse alguém para filtrá-los,
passaria o tempo todo res-
pondendo a essas demandas.
* tar ao seu grande amigo, o ga-
MarcosBelucci,daduplacom
seuirmão,Thomás,disputava
umapartidacontraopagodei-
roDouglasSouza.Belucciven-
ceu. Em seguida, o jogo mais
disputadododia,deKakácon-
traJuninhoPaulista,foivenci-
doporJuninhonotiebreak,ou
seja, no desempate. O último
jogofoideRonaldocontraum
rapazchamadoDandanRactt,
amigodeRonald,seufilhomais
velho, de 23 anos, e foi o mais
curto dos três. Ronaldo ven-
ceu rapidamente.
* experiência de trabalho.
A espera continuava. Eu já ti-
nha conversado longamen-
te com José Henrique Melo,
adestrador dos quatro bor-
der collies de Ronaldo, Paço-
ca, Dorothy, Nina e Bella. Pa-
çoca, a preferida, que dorme
na cama com o ex-jogador, é
mãe das outras três, todas fê-
meas, porque “Ronaldo não
gosta de machos”. Ele vai três
vezes por semana treinar as
cachorras, que têm aulas de
natação na piscina da casa.
* parecebemfácilparaopenta-
na água e instiga as cachorras
a pular para pegar, então elas
precisam nadar bem e rápi-
do para sair da água sem per-
der a bolinha. Quando saem,
ganham um petisco, que ele
guarda no bolo. “O jeito certo
de dar petisco para cachorro
é deixar na palma da mão e
mostrar a mão aberta, senão
o cachorro, mesmo o mais
manso do mundo, pode mor-
der o dedo da pessoa”, ensina.
* qualquer mulher na casa dos
Já tinha ouvido Ronaldo con-
mer NinexT, que seu filho Ro-
nald estava “treinando para
caramba, já perdeu 25 quilos”,
além de conversas de partici-
pantes do evento que compa-
ravamasclassesexecutivasde
diferentescompanhiasaéreas,
já tinha tomado vários capuc-
cinos no stand da Café Por
Elas, uma empresa que ven-
de apenas cafés de produto-
ras mulheres e emprega, co-
mo jovens aprendizes, meni-
nas de 16 anos que vivem em
abrigos. Assim, quando com-
pletam18anoseprecisamdei-
* modelo e empresária
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
ilustrada ilustríssima
Quando Ronaldo entrou no
jogodesistidaespera,chamei
um taxi e fui embora. Na pri-
meira esquina, meu telefone
toca,éadiretoradaRonaldoTV.
“ORonaldofalacomvocêdes-
dequevocêtambémentrevis-
te a Celina, que é quem toca a
Fundação.” Peço para o moto-
rista dar meia volta e me dei-
xar de novo no lugar de onde
acabara de sair. Celina está fil-
mandoojogodeRonaldo,que
campeão.Muitosimpática,me
convida para me sentar na sa-
la de estar preta e branca, on-
de conversamos longamente.
* rolo,ligueiparaaminhamãee
Ela me conta da sua vida de
modelo, da sua marca de pro-
dutos de beleza, do seu papel
na Fundação Fenômenos, de
como fazer o bem no Brasil é
um processo ultra burocráti-
co. Articulada e divertida, Ce-
lina não desvia de nenhum as-
“
sunto, nem o inevitável para
trinta anos: filhos. “Tenho es-
A gente ajuda sa vontade, sim, mas não te-
projetos ligados
nho nenhuma pressa. Minha
vida anda muito atarefada.”
ao esporte e à
educação que * mílias lá, nossos amigos mais
Celinaéloira,altaemuitoma-
já existem em gra, e trabalha como modelo
comunidades, desde adolescente. “Tenho
ascendência alemã, então é
mas que muitas tudo mais comprido no meu
vezes não têm corpo, as pernas um pouco
mais longas, os pés, bem mai-
todo o dinheiro or.Alémdissomeumetabolis-
que precisam mo é muito rápido, o que fa-
ou não sabem voreceu meu trabalho como
modelo. Mas acho ótimo que
como atuar, como a moda tenha mudado nos úl-
gerir recursoss timos anos e que agora tenha
váriosbiotiposnaspassarelas.”
Celina Locks,
* piar a cerimônia lá em Ibiza.”
C3
Ela conheceu Ronaldo por
meio de amigos comuns qua-
se dez anos atrás. Ele logo se
interessou, mas Celina não
queria nada. “Jogador de fu-
tebolnãodá,né?Maselesem-
pre me corrigia: ‘Ex-jogador’.”
*
Celina e Ronaldo se casaram
numa igreja em Ibiza em se-
tembro. Este é o quarto casa-
mentodoex-jogador,masopri-
meironaigreja.“Eusemprefui
católico, mas nunca tinha ca-
sado na igreja. A Celina viu es-
sabrechaeeuacheiaideiaóti-
ma”,contaRonaldo.“Fuiatrás
dadocumentaçãoefoiomaior
eladissequemeupainãoque-
riaqueeufossebatizado,des-
cobriquenuncatinhasidoba-
tizado.Nãopodiamecasarna
igrejasemisso.Entãotiveque
ser batizado depois de velho,
oquefoimuitolegaltambém.
Foi esse ano, na igreja São Jo-
sé, no Jardim Europa.”
*
O casamento, em Ibiza, “em
uma igreja pequenininha”,
conta Celina, “foi muito bo-
nito, estavam nossas duas fa-
próximos,foibemromântico”.
*
“Não foi muita gente”, diz Ro-
naldo. “Trezentas pessoas,
umaturmamuitolegal.Eusei
que parece um número gran-
de,massevocêcompararcom
outroscasamentos,épouquís-
sima gente”, explica. “Foi uma
semanamágica,cincodiasde
programação,agentealterna-
va um dia de festa e um dia de
descanso. Eu não sou mais o
mesmo, mas a gente fez arre-
C4 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee
ilustrada ilustríssima

As viagens
de Bob Dylan
pelas canções
[RESUMO] Em seu mais recente livro, o músico e escritor
Bob Dylan, prêmio Nobel de Literatura, comenta 66
canções que moldaram a cultura americana dos anos
1940 a 1970 e, com mão firme e imaginação solta, leva o
leitor a buscar o sentido da vida, com seus altos e baixos,
nessa trilha sonora que espalhou sonhos pelo mundo

Por Tiago Ferro

Crítico literário e autor de ‘o Seu Terrível Abraço’ e ‘o Pai da menina morta’, vencedor do Prêmio Jabuti

Após Bob Dylan espalhar de-
zenas de pistas biográficas
falsas, conceder entrevistas
enigmáticas e promover vira-
das bruscas e inesperadas na
própria carreira, não se deve
levar ao pé da letra a promes-
sa inscrita no título de seu no-
vo livro, “A Filosofia da Mú-
sica Moderna” (Companhia
das Letras).
Há algo evidentemente de-
sencaixado entre uma obra fi-
losófica e um astro pop, mas
é bom não esquecer que esse
mesmo artista teve a ousadia
de levar o Prêmio Nobel de Li-
teratura em 2016.
Seja como for, e para nossa
sorte, não é um livro com in-
tençõesacadêmicas.Tampou-
co o “música moderna” do tí-
tuloremeteaododecafonismo
ouqualquercoisaqueovalha.
Trata-sedacançãopopularem
línguainglesa,principalmente
a produção americana dos 30
anos após a Segunda Guerra
Mundial. Uma era de ouro da
inventividade e da mistura de
referências e gêneros.
Surgia ali a trilha sonora de
um país em rápida transfor-
mação, que se espalharia pe-
lo mundo, tornando-se, entre
as formas de arte mundanas,
a mais pública e onipresente.
Dylan, ao longo de mais de
300 páginas repletas de ilus-
trações,apresenta66canções,
semqualquerfidelidadeaocâ-
noneouintençõesdeestabele-
cerumnovo.Olivroéumcon-
viteparaqueoleitormergulhe
no caleidoscópio privado dos
sonhos que forjaram a imagi-
nação do próprio autor.
E não se trata de um artis-
ta qualquer, mas daquele que
melhor encarnou os famo-
sos versos de “Song of My-
self”, texto de 1855 de Walt
Whitman, no qual o poeta
do Brooklyn parece ter so-
prado diretamente nos ouvi-
dos do bardo moderno as se-
guintes palavras: “Me contra-
digo?/ Tudo bem, então me
contradigo,/ Sou vasto, con-
tenho multidões”.
As crônicas, se é que é pos-
sível classificar esses textos
curtos, variam entre a pará-
frase de canções, realizada
com mão firme e imaginação
solta, momentos de aguda in-
terpretação formal de obras e
histórias sobre algumas gra-
vações e biografias.
Não é raro que digressões
sobre aspectos da vida atual
em sociedade irrompam com
naturalidade no texto.
Semqualquerapresentação,
damosdecaracomoprimeiro
texto do livro, sobre a canção
“Detroit City”, de Bobby Bare.
Continua na pág. C5 Bob Dylan recebe prêmio em Washington (EUA), em 2012 Xinhua/Christy Bowe/Globe Photos/Zumparess
a eee
Continuação da pág. C4
Gravada em 1963, é quase ga-
rantidamente uma referência
distante do público brasileiro
e talvez também do america-
no de hoje. Mas o espanto e o
estranhamento são converti-
dosemencantamentologonas
primeiras linhas sobre Bare.
Daí em diante é preciso se
entregar ao livro como faze-
mos ao escutar os primeiros
acordes de “Like a Rolling Sto-
ne” ou “Positively 4th Street”.
Domar a obra seria o mesmo
que tentar decifrar a multi-
dão de personalidades artís-
ticas encarnadas pelo artista.
Umdosachadosdaparáfra-
se realizada por Dylan é o uso
reiteradodopronome“você”.O
recursocolocaoleitornocen-
trodascanções,oumelhor,do
outro lado do espelho, convi-
dando-oasentiromundojun-
to com o intérprete.
“Detroit City” começa com
os seguintes versos: “I wan-
na go home, I wanna go ho-
me, oh how I wanna go ho-
me/ Last night I went to sle-
ep in Detroit City and I dre-
amed about those cotton fi-
elds and home”. E então vem
o Dylan: “Nessa canção vo-
cê é o filho pródigo. Ontem à
noite você foi dormir em De-
troit. De manhã, perdeu a ho-
ra, sonhou com campos de al-
godão branco como a neve e
teve alucinações com fazen-
das imaginárias”.
Se Bare conta que sonhou
comavidafamiliarnocampo,
com a mãe e o pai, e que ele os
temenganadosobreoseupró-
priosucessonacidadegrande,
edaíodesejodevoltarparaca-
sa,Dylanextrapolaosonhoco-
mometáforadeumailusãoso-
cial compartilhada.
“Não tem mãe, nem velho
pai, irmã ou irmão. Estão to-
dos mortos ou já se foram. A
garota dos sonhos dele se ca-
soucomumadvogadoespeci-
alista em divórcios e tem três
filhos. Como tantos outros,
ele deixou a fazenda, foi para
a cidade grande atrás de no-
vas perspectivas e acabou se
perdendo. É por isso que es-
sa música funciona.”
Namesma“DetroitCity”,Ba-
re ainda canta: “By day I make
the cars/ by night I make the
bars”. Dylan reinventa o para-
lelismo dessa vida dupla atu-
alizando a imagem com ma-
téria atual: “De dia, trabalha
na montadora com jipes, li-
musines e outros carros be-
berrões de gasolina; de noi-
te, serve coquetéis em bares”.
A paráfrase é, portanto, tão
livre quanto envenenada. Re-
tira muitas vezes o conteúdo
do contexto original para al-
cançar os nossos dias e incluir
sua própria visão da história.
Aexperiênciapassaasercom-
partilhada com o leitor, inde-
pendente de distâncias tem-
poraisebarreirasgeográficas.
Lembrando que a indústria
cultural tornou esse universo
muito familiar ao leitor brasi-
leiro. Conhecemos Detroit, o
aspecto da família rural bran-
ca e pobre do sul, dos artis-
tas negros no norte industri-
alizado, os protestos contra
a Guerra no Vietnã, os car-
tazes de “procura-se vivo ou
morto” etc.
Em algum lugar o pouco
confiável Dylan contou que,
enquanto ouvia canções no
rádio, ainda criança, sentiu
que com elas podia fugir, vi-
ajar e, principalmente, viver
outras vidas. É justamente es-
sa a aposta de “A Filosofia da
Música Moderna”.
Oleitorvaiencarnardiferen-
tespersonalidadesesentimen-
tos ao longo dessas páginas, a
melhor tradução dos efeitos
da canção moderna. E, como
tem consciência o autor, cada
um desses aspectos age de di-
ferentesmaneirasemcadaum.
“O que importa é como uma
canção faz o ouvinte se sen-
tir em relação à própria vida.”
Sãomuitososcaminhosofe-
recidos pelo livro. O leitor vai
ser o filho pródigo, mas tam-
bémoprodígio,aspessoasvão
ser alérgicas a você, você vai
se divertir com os sentimen-
tos alheios e na sequência se
deixar levar por uma impos-
tora, vai ser um tolo, um fora
da lei, nostálgico e melancó-
lico, um sonhador, um incon-
formado, um assassino e um
surpreendenteserialkiller,vai
atravessar o país, vai ser uma
criança italiana na Costa Oes-
te, e também vai pertencer,
ainda que uma única vez, ao
círculo das elites.
Na maioria das vezes os pla-
nos saem dos trilhos, e você
dá a volta por cima ou ape-
nas desiste, se entrega ao ál-
cool ou às drogas.
Jogado de um lado para o
outro,oleitorsenteasrápidas
eturbulentastransformações
que atravessaram os Estados
Unidos no período. Uma car-
Dylan, do alto tografia histórico-afetiva que
privilegia a visão de mundo
de seus 82 anos, dos excluídos vai sendo cons-
deu ainda mais truída página a página.
um passo adiante OantiacadêmicoDylantam-
bém oferece lições de crítica.
nessa conversa, Principalmente sobre o papel
ao fazer o leitor da criatividade e da boa escri-
ta para melhor traduzir for-
buscar o sentido mas artísticas em palavras.
da vida nas Um exemplo está na canção
experiências de Elvis Costello: “’Pump It
Up’ é vibrante e muito bem
disponíveis ao feita. Apresenta ganchos de-
sujeito moderno, licados e aparência suja, pro-
paganda enviada dos céus e
com todos seus calúnias incompreensíveis”.
altos e baixos, Ou quando descreve Perry
Como, “o anti-ídolo” ameri-
não nos conceitos cano: “Ele é o contrário da úl-
frios da filosofia tima moda, da lista das mais
acadêmica, mas no tocadas, da ostentação. Já era
um Cadillac antes dos ‘rabos
“a-wop-bop-a-loo- de peixe’; uma Colt 45, não
bop-a-wop-bam- uma Glock; um bife com fri-
tas, não cozinha california-
boom” do gigante na. Perry Como faz e aconte-
Little Richard ce. Não tem artifícios, não vi-
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
ilustrada ilustríssima
olenta uma sílaba para inserir
notas desnecessárias”.
O outro achado do livro são
as pequenas histórias, como a
de Elvis, a partir de “Viva Las
Vegas”. Em Dylan não há lu-
gar para esquematismo, mo-
ralismo ou punitivismo. Sua
“América” é imperfeita e por
isso grandiosa. O que lhe in-
teressa são as versões alterna-
tivas do país que escapam pe-
las brechas muito estreitas de
uma sociedade regulada por
todos os lados pela lógica da
eficiência e do mercado.
De acordo com o autor, “Vi-
vaLasVegas”éumacançãoso-
bre a fé. Não a dos pioneiros
ou dos pastores da TV, mas “o
tipo de fé que te faz ficar em
pé no saguão de mármore de
um hotel suntuoso com neon
piscando enquanto milhares
de mulheres bonitas trajan-
do collants de paetês te ser-
vem drinques de graça e fler-
tam pra conseguir uma gorje-
ta em uma cidade de luzes ra-
diantes, cheia de lojas de pe-
nhores e suicídios, e ainda as-
simvocêachaquevaiganhar”.
Sonho e delírio no constan-
te dobrar as apostas e se en-
dividar. Armadilha para um
mundo de ilusões, mas tam-
bém de oferta inédita de pra-
zer.“LasVegas,aencruzilhada
domundomoderno,oJardim
do Éden, a Terra dos Sonhos”,
atravessa a história de Elvis,
doCoronelTomParkeretam-
bém atualiza sem parar o ve-
lho circo americano itineran-
te com suas curas milagrosas.
Elvis encarna, noite após
noite no hotel Hilton, a mis-
tura caótica desse universo
sombrio e ofuscante de ar-
te e entretenimento, sonho
e frustração, lantejoulas e o
vampirismo das drogas líci-
tas e ilícitas, que é o tempo
em looping, sedutor e terrí-
vel, daquele país.
Também conhecida como
“Sin City”, paraíso e inferno se
C5
alternamincessantementena
cidade que descarta um após
o outro sonhos gerados por
ela mesma: Sinatra, depois
Elvis e hoje uma torre Eiffel
ao lado de pirâmides egípci-
as, castelos medievais e todo
tipo de oferta de junkie food
e “strip clubs”.
Dylan reconhece o encan-
to, ou ao menos seu papel no
imaginário norte-americano
ao dissolver a realidade no es-
petáculo,masnãoseilude.No
fim, “a banca sempre ganha”.
Encerradoolivro,asfrontei-
ras entre cultura séria e pop
soam como penduricalhos
inúteis. Em 2016, a Academia
Sueca não trouxe um forastei-
ro para o hall de ilustres escri-
tores. Foi além. Lembrou em
alto e bom som, com muita
poesia, guitarra e uma voz se-
dutoramenterouca,quealite-
ratura não se restringe ao ato
de leitura solitário e silencio-
so. Ela também é oral, pública
e pode ser cantada e dançada.
Dylan, do alto de seus 82
anos, deu ainda mais um pas-
so adiante nessa conversa, ao
fazer o leitor buscar o sentido
da vida nas experiências dis-
poníveis ao sujeito moderno,
com todos seus altos e bai-
xos, não nos conceitos frios
da filosofia acadêmica, mas
no “a-wop-bop-a-loo-bop-a-
-wop-bam-boom” do gigan-
te Little Richard.
É impossível não buscar as
canções do livro no Spotify.
Daminhaparte,muitasforam
decepcionantes,afinal,nãofa-
zempartedemeumundo.Mas
certamente há multidões de
experiências vividas indireta-
mente por cada um de nós na
trilha sonora de nossas vidas.
E com elas, muitos futuros al-
ternativosaseremsonhados. Â
A Filosofia da Música Moderna
Autor: bob dylan. Editora:
Companhia das Letras. Tradução:
bruna beber e Julia debasse.
Quanto: r$ 235,55 (352 págs.)
C6 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee
ilustrada ilustríssima

Desbravando a IA
[resumo] Para anular ameaças e potencializar benefícios que a inteligência artificial
pode propiciar, precisamos estabelecer contornos precisos de desenvolvimento da nova
tecnologia, o que permitiria equilibrar, diz o autor, a liberdade de desenvolvimento das
big techs e a regulação estatal e evitar que a ferramenta agrave as desigualdades sociais

Por Eduardo Saron

Presidente da Fundação itaú, instituição que congrega itaú Social, itaú Educação e Trabalho e itaú Cultural

Ilustração André Graciotti

músico e publicitário

Conta o New York Times, em repor- conjunto de ameaças que assom- ses preditivas e no desenvolvimen- trasações,umainterfacequeharmo- O receio que
tagempublicadanoiníciodestemês, bram, ao mesmo tempo que colo- to de drogas com o auxílio de mode- nizeossistemasjudiciaiseletrônicos
ronda a história

que, em 2015, Elon Musk, o contro-
verso dono de X, Tesla e Space X, e
Larry Page, o mitológico cofunda-
dor do Google, engataram um aca-
lorado debate sobre o futuro da in-
teligência artificial.
ElesestavamnaCalifórnia,eraani-
versário de Musk, e os dois se con-
frontaram, na frente de convida-
dos, sobre os rumos da nova tecno-
logia. Musk, segundo relatos, via na
IA uma ameaça à humanidade, en-
quanto Page alimentava uma visão
utópica das potencialidades da no-
va fronteira computacional.
Passados oito anos do encontro e
dezenas de bilhões de dólares inves-
tidos, a IA se tornou o centro do de-
bate, e a polêmica dos empresários
americanos que ajudaram a moldar
aeconomiaglobaltalqualaconhece-
moshojeseguemaisvivaquenunca.
A discussão, na verdade, remon-
ta à década de 1950, quando os pri-
meiros sistemas capazes de realizar
tarefas sozinhos foram desenvolvi-
dos. Porém, apenas recentemente,
com os avanços da capacidade de
aprendizado de máquina e a evo-
lução da ciência de processamento
de dados, a caixa de Pandora da IA
foi realmente aberta, trazendo um
ca em marcha uma série de trans-
formações que podem trazer gran-
des benefícios para a humanidade.
O fato certo é que, assim como na
mitologia grega, a caixa de Pandora
daIAnãoirámaissefechar,oqueexi-
ge definição precisa dos contornos
do desenvolvimento da nova tecno-
logia, de seu uso e dos limites éticos
e regulatórios que irão pautar os in-
vestimentos daqui por diante.
O mundo melhor imaginado por
Page só será alcançado se a socieda-
decontemporâneaencontraroequi-
líbrioentrearegulamentaçãoeane-
cessárialiberdadededesenvolvimen-
todasbigtechs,paraqueaIAnãoper-
petuenemagraveapobreza,odesem-
prego e as mazelas sociais que casti-
gam o mundo. Esse esforço envolve
as empresas, o poder público, a aca-
demia e toda a sociedade.
OsimpactospositivosdaIAsãoevi-
dentes em todas as áreas do conhe-
cimento. A saúde é um dos campos
mais promissores para a nova tec-
nologia, que começa a contribuir
substancialmente no apoio aos pro-
fissionais, na melhoria da precisão
de diagnósticos através de algorit-
mos de imagem, na personalização
de tratamentos com base em análi-
lagem molecular avançada.
A IA também contribui para oti-
mizar fluxos de trabalho hospitala-
res e facilita o monitoramento re-
moto de pacientes. Isso tudo, se le-
vado ao sistema público em escala,
pode promover um salto no aten-
dimento, na diminuição dos custos
e, sobretudo, na qualidade do servi-
ço de saúde oferecido à população.
No campo da sustentabilidade e
dos desafios da crise climática, a IA
—embora contraditoriamente se-
ja ela mesma uma alta consumidora
deenergia—tambémjádespontaco-
mo candidata a ser o VAR das dispu-
tas globais e a Meca da análise de da-
dosedaidentificaçãodesoluçõespa-
ra a descarbonização da economia.
A própria ONU, em parceria com a
Microsoft,anunciourecentementeo
lançamentodenovaplataformadeIA
queirámedireanalisaraemissãode
combustíveis fósseis, permitindo o
rastreiodepaísesquenãoestãocum-
prindo suas promessas de redução.
No campo jurídico, igualmente ve-
mos iniciativas relevantes surgirem,
como a do presidente do STF, Luís
Roberto Barroso, que se reuniu com
representantesdegrandesempresas
detecnologiaparasolicitar,entreou-
E
de todos os tribunais do país.
da IA desde suas
origens, dividindo
o meio científico
m sua modalidade gene- e a sociedade
rativa, que cria novos conteúdos
como imagens, vídeos, áudios, his- entre otimistas e
tórias e conversas, as possibilida- pessimistas, é uma
des no campo da cultura também
se expandem exponencialmente. realidade que se
Aqui, a IA está sendo utilizada para impõe. A corrida
compor músicas, criar obras de ar-
te e até desenvolver roteiros de fil- por investimentos
mes, desafiando e adicionalmente e lucros acabou
distorcendo as noções clássicas de ofuscando as
criatividade e autoria.
A IA pode ter um papel destaca- discussões éticas
do, ainda, no apoio ao diagnóstico primordiais, e
e à conservação do patrimônio cul-
tural, com algoritmos que ajudam o que muitos
a analisar e restaurar com precisão achavam que
obras de arte, além de criar tours deveria ser
personalizados em museus e gale-
rias, auxiliar na digitalização e ca- uma tecnologia
talogação de grandes coleções de colaborativa
arte e artefatos culturais, tornan-
do-os mais acessíveis ao público e passou a ser
pesquisadores por meio de arqui- território
vos online e exposições imersivas,
entre outras aplicações. dominado
Continua na pág. C7 pelas big tech
a eee
Continuação da pág. C6
Na educação, por sua vez, os avan-
ços também são espetaculares. A
tecnologia começa a ser utilizada
para analisar grandes volumes de
dados, permitindo que pesquisado-
res e formuladores de políticas com-
preendammelhorastendênciaseos
resultados do aprendizado que in-
fluenciam suas decisões e práticas.
A ferramenta, no suporte aos pro-
fissionais de educação, também po-
de ajudar a adaptar materiais de en-
sino, apoiar o desenvolvimento de
aulas em maior consonância com a
BNCC (Base Nacional Comum Cur-
ricular), assim como implementar
conteúdos mais precisos que aten-
dam às necessidades de aprendiza-
gem de cada aluno, identificando
lacunas e proporcionando uma ex-
periência personalizada da jornada
educacional.
Com isso, pode oferecer aos pro-
fessores e profissionais de educação
um assistente pessoal e, para os alu-
nos, um tutor individual, algo que
só a IA poderá fazer com efetivida-
de em escala.
O fato é que, nesse território, a IA
pode tanto aprofundar a desigual-
dade educacional quanto criar es-
paços de equidade. Ela será uma
aliada poderosa se estiver a servi-
ço de uma intencionalidade peda-
gógica que aponte para a forma-
ção do futuro e que prepare a es-
cola, os profissionais da educação,
os alunos e as famílias para o bene-
fício e a participação nesses avan-
ços tecnológicos.
Além disso, segundo a OCDE, te-
mosquegarantirodesenvolvimento
de competências sociais e emocio-
nais, como a capacidade de se adap-
tar a mudanças, ser criativo e traba-
lhar colaborativamente.
Essas habilidades e competênci-
as serão centrais para que sigamos
usando a tecnologia e não sejamos
usados por ela, tendo como objetivo
o desenvolvimento integral dos in-
divíduos e a inclusão produtiva, em
um mundo no qual principalmente
os empregos monótonos e repetiti-
vos serão gradualmente substituí-
dos pela IA.
Ainda sobre os desafios de parti-
ciparmos do mundo da transforma-
ção digital, é certo que a matemática
é um pressuposto. Os dados do Pisa
(Programa Internacional de Avalia-
ção de Estudantes) são preocupan-
tes, pois somente 3 em cada 10 alu-
nos alcançam no Brasil o nível bási-
co de proficiência na matéria (nível
2), enquanto o índice na OCDE é de
7 em cada 10.
A utilização da IA —com a gami-
ficação e a tutoria individualizada,
por exemplo— pode ser um cami-
nho para reduzir essa lacuna e ca-
pacitar os jovens nessa disciplina
essencial para o raciocínio lógico e
o desenvolvimento integral. Impor-
tante ressaltar que há múltiplos de-
safios para essa implementação, en-
tre eles o fato de que apenas 58% das
escolas no Brasil têm computador e
internet para alunos, segundo da-
O
dos da pesquisa TIC Educação 2022.
s avanços positivos da
IA, não devemos nos enganar, vêm
acompanhadosderiscosquepodem,
no limite, chegar a comprometer o
nosso futuro, como o Musk de 2015
e a ficção gostam de lembrar. HAL
9000, o poderoso supercomputador
de “2001: Uma Odisseia no Espaço”
(1968),oicônicofilmedeStanleyKu-
brick, que entra em confronto com
a tripulação da nave a que deveria
servir, é uma imagem eloquente que
ilustra o debate atual.
O receio que ronda a história da
IA desde suas origens, dividindo o
meio científico e a sociedade entre
otimistas e pessimistas, é uma rea-
lidade que se impõe. A corrida por
investimentos e lucros acabou ofus-
cando as discussões éticas primor-
diais, e o que muitos achavam que
deveria ser uma tecnologia colabo-
rativa passou a ser território domi-
nado pelas big techs.
Geoffrey Hinton, um dos pionei-
ros da inteligência artificial que dei-
xou seu cargo no Google, tem mani-
festado preocupações sobre os peri-
gos da IA, destacando sua capacida-
de de superar os humanos no pro-
cessamentodegrandesquantidades
de dados e na identificação de ten-
dências invisíveis para nós.
Ele ressalta a necessidade de regu-
lamentação diante da rapidez com
que os novos sistemas estão sendo
introduzidos no mercado, levantan-
do preocupações sobre segurança e
eficácia, além das implicações éticas
e sociais da tecnologia.
Hoje, o sucesso ou a ruína da IA
depende, fundamentalmente, de
acordos multilaterais entre as na-
ções, leis nacionais sólidas, agênci-
as reguladoras articuladas e recur-
sos disponíveis para que centros
de pesquisa públicos e universida-
des possam participar da corrida
tecnológica, criando as condições
que garantam a distribuição saudá-
vel dos benefícios da nova tecnolo-
gia. Essa é uma pauta que o Brasil
bem poderia capitanear agora que
o país assumiu sua inédita presi-
dência do G20.
Essa regulamentação deve esta-
belecer um equilíbrio entre a pro-
ibição de mau uso da IA e a garan-
tia da transparência aos usuários
com a preservação do espaço de
empreendedorismo e inovação da
iniciativa privada. Deve antecipar
também o impacto da tecnologia
no mercado de trabalho para evi-
tar que as desigualdades sociais se
aprofundem.
Deve, ainda, antever os riscos da
IA generativa na produção de con-
teúdos falsos, na reprodução de es-
tereótipos e discriminação raciais
e de gênero, na fragilização dos di-
reitos autorais e no pagamento de
royalties.
Após um ano do lançamento do
ChatGPT, o primeiro chatbot com
IA generativa disponibilizado para
o grande público, vemos inúmeros
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
ilustrada ilustríssima
Ilustração pro-
duzida por meio
da combinação
de várias ferra-
mentas de ima-
gem generativa
casos positivos e negativos em seu
uso, chegando em extremos preocu-
pantes como fake news em campa-
nhaseleitoraisepornografiainfantil.
Algumas iniciativas louváveis de
regulamentação já despontam in-
ternacionalmente. No Reino Uni-
do, a Cúpula de Segurança de IA
reuniu representantes de 28 paí-
ses, incluindo Brasil, EUA e China,
além de líderes influentes da tec-
nologia, que assinaram a Declara-
ção de Bletchley.
O documento ressalta a importân-
cia da cooperação internacional na
avaliação e mitigação dos perigos
representados pelos sistemas de IA
maisavançadosereconheceopoten-
cial de danos graves e catastróficos
decorrentes do uso irresponsável
ou não intencional desses modelos.
Nos EUA, Joe Biden assinou uma
ordem executiva que reúne 25 agên-
cias do governo para a supervisão da
IA e exige a avaliação dos riscos de
segurança nacional antes da dispo-
nibilizaçãodessastecnologiasaopú-
blico, impedindo, por exemplo, que
sejam utilizadas para o desenvolvi-
mento de armas químicas, biológi-
cas ou nucleares.
Já na União Europeia, após anos
de negociações e aprimoramento
entre legisladores e representantes
dos países-membros, o parlamento
aprovou na última semana a versão
final do acordo histórico AI Act, que,
se for incorporado pelos países, po-
de se tornar a primeira legislação do
gênero no mundo.
O texto, que já é referência no te-
ma, propõe regulamentação rigoro-
sa, com a imposição de multas pe-
sadas para o descumprimento da
lei, e a restrição ao uso de reconhe-
cimento facial, vigilância em tempo
real e tecnologias biométricas, com
exceções no campo da segurança e
do combate ao terrorismo.
No Brasil, ao menos quatro proje-
tos de lei que buscam regulamentar
a IA tramitam no Congresso. O PL
2.338/23 é considerado o mais com-
pleto.Apropostabrasileiraseasseme-
C7
lhaàlegislaçãoeuropeiaemdiversos
aspectos,comoaavaliaçãodastecno-
logiasdeIAemníveishierárquicosde
riscoeacriaçãodeambientesregula-
tórios experimentais, mas ainda pa-
tina, entre outros quesitos, em rela-
çãoàdefiniçãodasautoridadescom-
U
petentes para a fiscalização.
m dos pontos centrais
da regulação deve ser a transparên-
cia. Um estudo da Universidade de
Stanford analisou o índice de trans-
parência dos dez principais mode-
los de linguagem de IA em termos
de divulgação das fontes de dados
de treinamento, informações so-
bre hardware e mão de obra envol-
vidas, entre outros. O mais bem-co-
locado no sistema foi o Llama 2, da
Meta, com um índice de transparên-
cia ainda assim baixo, de 54%. GPT-
4 (OpenAI) e PaLM 2 (Google) apa-
recem empatados em terceiro lu-
gar, com 40%.
Também é preciso atentar para as
estruturas e práticas de governança
das empresas. Vimos recentemente
o caso emblemático da OpenAI, que
demitiu seu CEO, Sam Altman, para
restituí-lomenosdeumasemanade-
poiscomumnovoconselhoadminis-
trativoapósosfuncionáriosameaça-
rem uma demissão em massa.
Segundo a Reuters, especula-se
que o motivo dessas desavenças se-
ria o desenvolvimento de um novo
algoritmo, chamado Q*, que daria ao
ChatGPT a capacidade de “aprender
sozinho”aorealizaroperaçõesmate-
máticas e de acumular conhecimen-
to à medida que raciocina.
Esse caso sublinhou a necessidade
de governança robusta e inovadora,
com enfoque na responsabilização.
Isso implica aderir a princípios éti-
cos e a uma rigorosa conformidade
legal, devendo incluir, por exemplo,
pesquisadores independentes com
acesso em tempo real ao desenvol-
vimento da tecnologia, tomando as
devidas medidas para evitar a espio-
nagem industrial. Até as ferramen-
tas de código aberto precisam pas-
sar pelo mesmo cuidado regulató-
rio, pois seu uso em mãos erradas
pode ser nefasto.
Contemplando esse amplo aspec-
to da governança e da regulamenta-
ção, é necessário permitir a apro-
ximação de pesquisadores públi-
cos, sem violar os preceitos da ini-
ciativa privada. A academia, agên-
cias regulatórias e centros de pes-
quisa públicos precisam participar
desse movimento. As novas regula-
mentações poderiam, por exemplo,
prever a destinação de parte do lu-
cro obtido com a IA para que a pro-
dução científica e o monitoramen-
to ético tenham fôlego para acom-
panhar o setor.
Nesse sentido, é louvável a inici-
ativa da Academia Brasileira de Ci-
ências, que lançou um documento
para o desenvolvimento responsá-
vel da IA no Brasil. O órgão reforça
a importância de aumentar os in-
vestimentos na área, tanto em in-
fraestrutura quanto em capacita-
ção profissional.
O documento também ressalta
que o Brasil precisa se posicionar
não apenas como importador, mas
produtor dessa tecnologia e, para is-
so, necessita de políticas assertivas
para a retenção de talentos no país.
Tema importante, inclusive, em
todas as esferas de poder, que deve
estar em pauta nas próximas elei-
ções municipais, em especial nos
grandes municípios que possuem
importantes polos universitários:
quais candidatos terão propostas
para a criação de clusters, territóri-
os e hubs no campo da IA, em con-
sonância com as esferas estadual e
federal? Imprescindível não ficar-
mos para trás nessa corrida.
O debate em torno do desenvolvi-
mento da IA não pode ficar restrito
apenas aos atores já consolidados.
A magnitude dessa mudança é pro-
fundamente transformadora para
a humanidade. É crucial, portanto,
que o setor público, a academia, as
empresas e a sociedade civil se en-
volvam, dialoguem e trabalhem co-
ordenadamente.
Essa confluência de pontos de vis-
taserádecisivaparagarantirqueaIA
não aprofunde as desigualdades no
Brasilenomundo,massetorneuma
ferramentaverdadeiramenteinclusi-
va, de forte finalidade pública e para
o desenvolvimento da humanidade.
Assim como a caixa de Pandora
dos gregos, o mundo da IA carre-
ga grandes ameaças e um atributo
central: a esperança. Não podemos
nos dar ao luxo de desperdiçar es-
sa que pode ser a maior das nossas
oportunidades. Â
C8 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee
ilustrada ilustríssima

A palavra ‘rizz’ não tem ‘rizz’ chamar o que sempre existiu.

Os responsáveis pelo dicio-
nário de Oxford parecem aque-
le tio que, sendo já uma pes-
As palavras usadas pelos jovens hoje ficam velhas ou morrem já amanhã soa de meia-idade, mantém
a vontade de ser jovem, e por
- isso dedica-se a reproduzir o
Ricardo Araújo Pereira linguajar usado pelos jovens.
Humorista, membro do coletivo português gato Fedorento. É autor de ‘boca do inferno’ Não funciona, não só por-
que o tio já não é mais um jo-
vem, mas também porque o lin-
Quando, esta semana, sou- soa é particularmente seduto- Cenat, youtuber e streamer da rem o meu reacionarismo lin- guajar dos jovens, ironicamen-
be que a Universidade de Ox- ra, essa pessoa possui “rizz”. Twitch, em maio de 2021. Es- guístico, que jamais usei nem te, envelhece muito depressa.
ford tinha escolhido “rizz” co- Mas “hallucinate” se refere te mesmo prestigiado lexicó- tenho intenção de alguma As palavras usadas pelos
mo palavra do ano, me lem- ao momento em que um dis- grafo disse que, ao contrário vez vir a usar a palavra “rizz”. jovens hoje ficam velhas ou
brei que, no mês passado, a positivo de inteligência artifi- do que os jornais dizem, “rizz” Curiosamente, a palavra que morrem já amanhã. Sei dis-
Universidade de Cambridge cial produz informação falsa: não é uma abreviatura de ca- indica a habilidade de seduzir so porque agora já ninguém
tinha escolhido “hallucinate”. dele se diz então que alucinou. risma. É apenas um conjunto não me seduz. Concebo a ideia usa as palavras com as quais
De acordo com as notíci- É possível que “rizz” seja pro- de sons que ele inventou. de recorrer a palavras inven- eu me expressava quando era
as, “rizz” é uma forma abre- duto de uma alucinação. Tal- Ora, não sei que meios fre- tadas em 2021 para se referir a um jovem —nem eu mesmo.
viada da palavra carisma, e vez Oxford tenha pedido ao quenta aquele que esco- coisas inventadas em 2021 que Em resumo, não há nada que
ao que parece é o modo co- ChatGPT que escolhesse a lhe a palavra do ano em Ox- ainda não tinham termo que tenha menos “rizz” do que al-
mo uma determinada geração palavra do ano e ele alucinou. ford, mas eu nunca ouvi nin- as designasse, mas não vejo a guém que está desesperada-
define a capacidade de atrair Segundo a Wikipédia, a pala- guém articulá-la. E devo con- utilidade de usar vocábulos in- mente tentando encontrar
ou seduzir alguém. Se uma pes- vra “rizz” foi cunhada por Kai fessar, sob pena de condena- ventados por youtubers para um “rizz” para chamar de seu.
Luiza Pannunzio

| dom. Ricardo Araújo Pereira | seg. Bia Braune | ter. Manuela Cantuária | qua. Hmmfalemais | qui. Flávia Boggio | sex. Renato Terra | sáb. José Simão

É HOJE QUADRÃO Laerte Sete longas serão

exibidos no Festival
-
Tony Goes de Tiradentes 2024
tonygoes@uol.com.br
são Paulo O Festival de Cine-
ma de Tiradentes, em Minas
Gerais, anunciou a lista de fil-
Globo premia a si mes que compõem a mostra
mesma em uma Auroradaediçãode2024.Ase-
leção é a principal do evento
festa comandada e concede o troféu Barroco.
Como de costume, a lista
por Luciano Huck conta com sete títulos, desta
vez produzidos em São Pau-
domingão com Huck lo, Pernambuco, Paraná e Ba-
globo, 17h, 10 anos hia.Entreelesestá“NotDead”,
O programa exibe a 27ª edi- o novo trabalho de Isaac Do-
ção do prêmio Melhores do nato, que venceu a mostra em
Ano, em que a emissora cele- 2021 com o longa “Açucena”.
bra os destaques de sua pró- Os selecionados do festi-
pria programação. Os funci- val incluem ainda “Foram os
onários da casa escolhem os Sussurros que me Mataram”,
três finalistas em cada catego- de Arthur Tuoto, “Eu Tam-
ria, e depois o público elege o bém Não Gozei”, de Ana Ca-
vencedor. A gravação aconte- rolina Marinho, “Eros”, de Ra-
ceu na última segunda-feira e chel Daisy Ellis, “Lista de De-
os resultados já vazaram, mas sejos para Superagüi”, de Pe-
vamos manter o suspense. dro Giongo, “Sofia Foi”, de Pe-
dro Geraldo, e “O Tubérculo”,
Barbie de Lucas Camargo de Barros
Hbo max, 12 anos e Nicolas Thome Zetune.
Já disponível para compra ou O júri que avalia a mostra
aluguel há alguns meses, o fil- Aurora na próxima edição do
medemaiorbilheteriadoano festival é formado pelo dire-
agoraestádisponívelgratuita- tor Affonso Uchôa, a escrito-
menteaosassinantesdoservi- ra Aline Motta, a crítica Julia-
ço. Na trama, a famosa bone- na Costa, a pesquisadora Lia
ca descobre que o mundo cor- Bahia e o poeta Uirá dos Reis.
de-rosa onde vive não é real. A mostra de 2024 acon-
tece entre os dias 19 e 27
A Tiger in paradise de janeiro na cidade de
mubi, 12 anos Tiradentes, em Minas Gerais.
O cantor sueco José Gonzá-
lez, filho de argentinos, ex-
põe sua luta pela saúde men-
tal neste documentário de Seriado ‘Curb Your
Mikel Cee Karlsson. O filme
intercala números musicais Enthusiasm’ será
e quadros surreais, captando
a energia criativa do artista.
encerrado, diz HBO
são Paulo A série “Curb Your
Silver e o Mundo dos Sonhos Enthusiasm”terminaráapósa
Prime Video, 16 anos 12ªtemporada.AHBOanunci-
Uma adolescente se muda pa- ouocancelamentodoprogra-
ra a cidade de Londres e co- ma, que terá os seus episódios
nhece pessoas que se dizem finais lançados em fevereiro.
capazes de viajar pelos so- A informação foi confirma-
nhos. Elas exigem dela um sa- da pelo criador e protagonis-
crifício para tornar seu maior ta da série, Larry David, que
sonho em realidade. Baseado em comunicado escreveu que
no best-seller de Kerstin Gier. está na hora de aposentar o
personagem. “Agora eu terei
Cuscuz na Mão aoportunidadededesligares-
com dadá Coelho sa persona ‘Larry David’ e me
globoplay, 14 anos tornar a pessoa que Deus que-
A comediante piauiense faz ria que eu fosse —um ser sim-
um show de stand-up ao mes- pático, gentil e carinhoso que
mo tempo em que prepara eu era”, disse o comediante.
umcuscuzàmodanordestina. “Curb Your Enthusiasm” é
hoje a série mais longa pro-
Maratona Steven Spielberg duzida pela HBO. Lançada
Telecine Cult, a partir de 13h40 nos anos 2000 e por causa do
O cineasta americano com- sucesso da sitcom “Seinfeld”,
pleta 77 anos nesta segunda. que David desenvolveu, a pro-
Em sua homenagem, o canal dução teve oito temporadas
exibe “E.T. – O Extraterres- antes do primeiro cancela-
tre” (13h40, livre), “Tubarão” mento, também decidido pe-
(15h40, livre), “Caçadores da lo criador. Depois de um hia-
ArcaPerdida”(17h50,14anos), to de seis anos, David voltou
“JurassicPark–ParquedosDi- a escrever o seriado em 2017.
nossauros” (19h50, 10 anos) e O programa tem um acor-
“OsFabelmans”(22h,14anos). do especial com a emissora,
que financia novos episódi-
Canal Livre os de acordo com o interes-
band, 23h30, livre se de Larry David. Em outras
Carlos Antonio Vieira Fer- palavras, toda temporada de
nandes, o novo presidente da “Curb Your Enthusiasm” é
Caixa Econômica Federal, fa- a última até que o comedi-
la dos desafios da maior ins- ante decida pelo contrário.
tituição financeira do Brasil Desta vez, porém, o cancela-
em número de correntistas. | dom. Jan Limpens, Luiz Gê, Ricardo Coimbra, Angeli, Laerte mento da série é definitivo.
a eee domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 C9

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA E ECONOMIA CRIATIVA, LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA E RI HAPPY APRESENTAM

Dentro do
Jardim Botânico
do Rio de Janeiro

WWW.RIHAPPY.COM.BR

Com

A FÁBRICA MÁGICA DO PAPAI NOEL

Shows • Oficinas • Brincadeiras • Chegada do Papai Noel
VENHA VIVER ESSA AVENTURA

Integração familiar com programação artística desde a primeira infância. Espetáculos, colônia de férias, EcoBaby, aulas de música e muito mais.

WWW.ECOVILLARIHAPPY.COM.BR | @ ECOVILLARIHAPPY

+ + + + Único espaço
do Brasil com
33 mil 190 40 1.500 Integração 100%
espectadores apresentações espetáculos empregos diretos familiar de acessibilidade
e indiretos em todas as sessões

• Um feliz Natal! Que em 2024, possamos voar ainda mais alto, junto com as crianças,
desbravando sonhos e espalhando a magia através da arte e do brincar. •

APRESENTADO POR

PATROCÍNIO APOIO HOTEL OFICIAL APOIO INSTITUCIONAL

GRÁFICA OFICIAL MÍDIAS OFICIAIS TRANSPORTE OFICIAL VENDAS EU APOIO UM SONHO

C10 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee
a eee
Mitificação
da Lei Áurea
[RESUMO] Tela exposta na Universidade Federal da
Bahia representa a Abolição como dom da família
imperial aos ex-escravizados, reproduzindo estilo e
temática corriqueiros da época. O recente abaixo-
assinado que demandou sua remoção é inexato ao
postular que o quadro e seu autor são racistas, mas
acerta ao denunciar a ostentação de uma imagem que
tenta disfarçar séculos de brutalidade e injustiça
Por Rafael Cardoso
doutor em história da arte pelo instituto Courtauld, da Universidade
de Londres, e colaborador do Programa de Pós-graduação em
História da Arte da Uerj (Universidade do Estado do rio de Janeiro).
Autor, entre outros livros, de ‘modernidade em Preto e branco’
Há pouco tempo, Wilson Go-
mes dedicou uma coluna nes-
ta Folha a alertar para uma
nova era de intolerância, cu-
jo portal seriam as universi-
dades e as escolas. Ele tem
muita razão. Os candidatos
a Savonarola andam cada
vez mais confiados, banin-
do livros à direita, expurgan-
do doutrinas à esquerda, cla-
mando em toda parte por pu-
reza moral e ideológica.
A pureza é um mito, sabe-
mos, mas os moralismos do
nosso tempo são movidos so-
bretudo a mitos. Na fúria de
sua combustão espontânea,
ajudaram a eleger um “mi-
to” à Presidência da Repúbli-
ca. Não demora muito, acen-
dem as fogueiras das vaida-
des, pois só o fogo purifica os
desvios da Verdade Única, se-
ja ela qual for.
O episódio que moveu as
considerações de Wilson Go-
mes foi um abaixo-assinado
promovido por alunos do
Programa de Pós-Gradua-
ção em Artes Visuais da UF-
BA (Universidade Federal da
Bahia), pleiteando a remoção
de um quadro exposto na Es-
cola de Belas Artes daquela
universidade e tido por eles
como racista.
Segundo a petição circula-
da pela representação discen-
te do programa, a permanên-
cia da obra junto ao Salão No-
bre da instituição seria prova
de negligência, causando “es-
panto, desconforto e violên-
cia entre alunes brancas(os)
e,sobretudo,negresdaEscola
de Belas-Artes nos cursos de
graduação e pós-graduação”.
Apesar do tom aborrecido
e de alguns tropeços em ma-
téria de história, o abaixo-as-
sinado tem um fundo de ra-
zão. Wilson Gomes talvez se
espante ao ler essa frase. Ele
é professor da UFBA e conhe-
ce melhor que eu os envolvi-
dos. Não é fácil enxergar lu-
cidez onde o obscurantismo
se faz tão visível.
No entanto, recusar a lógica
binária, das dicotomias sim-
plistas, do nós contra eles é
premissa basilar para derro-
tar o fundamentalismo. En-
quanto nossa tacanha revolu-
ção cultural não chega às rai-
as das sessões de luta, pratica-
das pelos maoístas dos anos
1960, compete fazer a auto-
crítica verdadeira, aquela re-
gida pela reflexão, não pela
intimidação.
Já que o objeto em dispu-
ta é uma pintura, nada como
um pouco de conhecimento
arte-histórico para embasar a
discussão. O quadro em ques-
tão é “Alegoria da Lei Áurea”
(1888), de Miguel Navarro y
Cañizares, pintor pouco lem-
brado que nasceu na Espanha
em 1834 e chegou ao Brasil em
1876, após passagens por Ro-
ma e Caracas.
Segundo Viviane Rumm-
ler da Silva, que estudou sua
obra, o pintor permaneceu
na Bahia até 1882, quando se
deslocou para o Rio de Janei-
ro, onde faleceu em 1913. Nos
cinco e poucos anos que ficou
emSalvador,participouativa-
mente do cenário artístico lo-
cal, colaborando diretamen-
te na criação da Academia de
Belas Artes da Bahia, em 1877,
antecessoradaatualEscolade
Belas Artes.
Atela“AlegoriadaLeiÁurea”
é uma representação bastan-
te convencional em termos
de temática e estilo. Ao cen-
tro, aparece a então regente,
princesa Isabel, em atitude
de redentora, abraçando uma
imensa cruz com a mão direi-
ta e empunhando a Lei Áurea
na esquerda. Ao seu lado, so-
bre um altar atapetado, estão
seu filho e consorte, assim co-
mo bustos de seus pais, o im-
perador e a imperatriz, que se
encontravam em Milão no fa-
tídico 13 de maio de 1888.
A princesa está ladeada por
dois grupos de homens: oito
de casaca preta à esquerda e
sete de fardão à direita. A mai-
oria pode ser identificada co-
mo retratos de deputados, se-
nadores e ministros, muitos
deles membros do gabinete
João Alfredo, penúltimo go-
verno do período imperial.
Ao fundo e acima da ilus-
tre assembleia, pairam duas
figuras angelicais outorgan-
do coroas de glória à prince-
sa, ao busto do imperador e
aosdoisgruposdehomensde
Estado. Mais acima, no topo
abobadado do quadro, uma
efígie de Deus, com ar nada
onipotente, é sustentada por
uma terceira figura angelical,
em meio a um esfumaçado
de nuvens.
Abaixo e à frente do poder
reunido, estão três mulheres
de costas, duas negras e uma
branca, ajoelhadas no plano
próximoaoespectador.Asdu-
as da esquerda se abraçam: a
negra estende à princesa uma
palma, a branca a saúda com
o braço aberto. A outra mu-
É uma alegoria
corriqueira,
bem ao gosto
da época,
que celebra
a Abolição
como dom aos
ex-escravizados
e prova da
civilidade e
religião das
elites imperiais.
Mais de um
século de
historiografia
avolumada nos
ensinou que
a verdade fica
bem longe dessa
encenação
domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 C11
ilustrada ilustríssima
tificativa para continuar a mi-
tificar aquele decreto apenas
em palavras. Nem há espaço,
nos dias de hoje, para osten-
tar nas paredes de uma uni-
versidade pública uma ima-
gem que tenta disfarçar sé-
culos de brutalidade e injus-
tiça com uma alegoria insos-
sa de reconciliação.
As marcas do escravagismo
não foram apagadas em 1888.
A ferida continua aberta. É
disso que as centenas de pes-
soas que assinaram a petição
se ressentem quando olham
para a tela de Navarro y Ca-
ñizares e enxergam apenas
a continuidade do racismo
e da opressão. Ao permane-
cer no mesmo lugar de hon-
ra, exposto da mesma forma
de sempre, a obra denuncia
que o “ethos” da instituição
não acompanhou a evolução
da sociedade mais ampla.
Em função da polêmica atu-
al, o quadro foi retirado de
exposição. É uma solução
pontual, mas não resolve a
‘Alegoria da Lei Áurea’ (1888), de Miguel Navarro y questão maior. As obras do
Cañizares Reprodução passado que causam ofensa
aos olhos do presente preci-
sam antes ser contextualiza-
das pelo acréscimo de infor-
lher negra, à direita, segura Dentre essas anomalias, a critor e primeiro historiador mações escritas, pelo traba-
um bebê, que ergue os braços petição dos alunos da UFBA da arte afrodescendente do lho educacional e de monito-
em postura de louvor. identificou o advogado abo- Brasil, Querino foi aluno do ria, pelo confronto com ou-
É uma alegoria corriqueira, licionista Luiz Gama entre pintor espanhol e deixou re- tras obras, por intervenções
bem ao gosto da época, que as figuras representadas, o gistrada a base do que sabe- artísticas, por discussões em
celebra a Abolição como dom que seria no mínimo intri- mos a seu respeito. Por ser sala de aula.
aosex-escravizadoseprovada gante para pensar o sentido seu contemporâneo, o juízo As melhores análises arte-
civilidade e religião das elites da obra. do eminente intelectual bai- -históricas não prestam pa-
imperiais. Mais de um século O abaixo-assinado afirma ano carrega mais peso que o ra nada se não forem visíveis
de historiografia avolumada que o quadro “evidencia a nosso. A prudência recomen- e acessíveis. Idem para os fi-
nosensinouqueaverdadefica grave relação de Canizares da menos pressa em apedre- nos debates sobre liberdade
bem longe dessa encenação. com um projeto ideológico jar os vultos do passado pelo de expressão e censura. As
Hoje, sabemos que o frágil racista”. É injusta a acusação, pecado de terem pertencido muitas ponderações condu-
decreto de liberdade não veio a não ser que se entenda que ao seu tempo. zem à inércia, e existem si-
degraçanemresultoudabon- viver e trabalhar em uma so- Onde o abaixo-assinado tuações em que o consen-
dade da família imperial, mas ciedade racista significa com- acerta em cheio é quando so informado aponta para a
foi fruto da batalha ferrenha pactuar com sua ideologia. denuncia o imobilismo dos ação. Em nome da boa práti-
contra os interesses escravo- A julgar pelos escritos de responsáveis por manter a ca da história da arte, as ins-
cratastravadapelomovimen- Manuel Querino, Navarro obra em exposição. Cento e tituições museológicas (que
to abolicionista e assentada y Cañizares era mais aliado trinta e cinco anos anos de- ainda não o fizeram) preci-
na resistência dos próprios que adversário. Artista, es- pois da Lei Áurea, não há jus- sam arrumar suas paredes. Â
escravizados.
Em 1888, contudo, após dé-
cadas de luta e o desgaste re-
sultantedela,asociedadebra-
sileira convencionou forjar o
mito do 13 de Maio e buscou
se reconciliar por meio de
alegorias em que todos afe-
tavam acreditar. Esse pacto
da memória seletiva abarcou
até mesmo os recém-libertos,
muitos dos quais passaram a
cultuarafigurada“redentora”.
Éinexatoafirmarqueoqua-
dro é racista. Não teria sido
percebido como deprecia-
tivo no contexto em que foi
produzido. Embora subordi-
nadas na hierarquia pictóri-
ca, as figuras negras não são
passivas. Ao contrário, são as
únicas que não parecem bo-
necos de museu de cera.
Elas operam dentro de uma
lógica simbólica peculiar à
época. Na iconografia do sé-
culo 19, era corrente a ima-
gem do cativo ajoelhado, que
CARL ORFF
aparece em outras produções
comemorativas da Lei Áurea,
desde o pomposo “A Liberta-
ção dos Escravos” (1889), de
Pedro Américo, até humildes
rótulos de cigarros.
Suas origens datam do sé-
culo anterior, quando o mo-
vimento abolicionista britâ-
nico consagrou a efígie de um
homem negro em correntes,
implorando ajoelhado pela
liberdade, como emblema.
Ao longo das últimas déca-
das, estudiosos e pesquisa-
dores vêm explorando a di-
versidade de significados en-
cerrados nessa iconografia.
Enredada nas contradições
da sociedade que a gerou, a
alegoria de Navarro y Cañi-
zares é menos um enuncia-
do deliberadamente racista
que um delírio patentemente
falso. Ao examinar o quadro,
talvez com mais atenção que
ele merece, se descobre uma
série de anomalias.
Além da cruz exagerada, do
Deus combalido e das escul-
turas fantasmagóricas dos
imperadores ausentes, há
certa confusão no arranjo dos
dignatários. Deputados apa-
recem em fardão de senador,
senadores em casaca de de-
putado. Os retratos dos po-
líticos parecem ter sido co-
piados, aliás, de uma estam-
pa da Revista Ilustrada, mui-
to conhecida. É bem possível
que o quadro seja um estudo.
 C12 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023
ilustrada ilustríssima
Lado sombrio da história
Livro sobre mengele aborda com sensibilidade violência do nazismo
- olenta e conturbada história
Juliana de Albuquerque
Escritora, doutora em filosofia e literatura alemã pela University College Cork e mestre em filosofia pela Universidade de Tel Aviv
Concluí recentemente a leitu-
ra de “Baviera Tropical” (To-
davia), livro da jornalista Be-
tina Anton, editora interna-
cional da Rede Globo, sobre
os quase 20 anos em que o
médico e oficial nazista Jo-
sef Mengele permaneceu es-
condido no Brasil.
Ao deixar a Europa em 1949,
Mengele primeiro encontrou
abrigo na Argentina de Pe-
rón, célebre por oferecer gua-
rida a outros criminosos na-
zistas, como o piloto Hans-Ul-
rich Rudel e Adolf Eichmann,
este um dos principais res-
ponsáveis pelo Holocausto.
Dez anos mais tarde, após
o governo alemão emitir uma
segunda ordem de prisão con-
tra o médico que havia come-
tido barbaridades em Ausch-
witz, como participar da se-
leção de prisioneiros para as
câmaras de gás e desenvolver
terríveis experimentos cientí-
ficos em seres humanos, Men-
gele resolveu se esconder no
Paraguai, onde já havia tra-
dom. Bernardo Carvalho, Itamar Vieira Junior, Juliana de Albuquerque, Glenn Greenwald
balhado na venda de maqui-
nário agrícola para a empre-
sa da sua família, e lá acabou
recebendo a cidadania local
com a ajuda de Alejandro von
Eckstein, ex-capitão do Exér-
cito paraguaio e amigo do
ditador Alfredo Stroessner.
A história de como Mengele
veio parar no Brasil passa pe-
la captura de Eichmann, em
1960, por agentes do Mossad
nos arredores de Buenos Ai-
res. Ainda no Paraguai, cien-
te de que o cerco estava se fe-
chando e de que ele próprio
também corria o risco de ser
capturado a qualquer mo-
mento, pois o serviço de in-
teligência israelense estava
obtendo pistas mais ou me-
nos precisas da sua localiza-
ção, Mengele começa a pla-
nejar uma nova fuga com a
ajuda de Hans-Ulrich Rudel
e chega a São Paulo em ou-
tubro daquele mesmo ano.
Aqui ele é acobertado por
um círculo de amigos e apoi-
adores formado por um pe-
queno grupo de imigrantes
austríacos e húngaros.
Alguns, como Wolfgang
Gerhard, que emprestaria os
seus documentos brasileiros
ao nazista, sabiam desde o
começo com quem estavam
lidando. Gerhard era conhe-
cido de Rudel. Na Europa, ele
havia pertencido à juventude
hitlerista e tinha sido mem-
bro do parti do nazista. Já no
Brasil, ainda adepto da ideo-
logia de extrema direita, era
Gerhard quem distribuía o jor-
nal do Partido Socialista do
Reich, proibido na Alemanha.
Outros membros do grupo,
no entanto, como a professo-
ra Liselotte Bossert, afirmam
que só tomaram conhecimen-
to da verdadeira identidade
de Mengele à medida que os
laços de amizade entre eles fo-
ram se tornando mais estrei-
tos. A história de Liselotte, in-
clusive, é o ponto de partida
para a escrita do livro, cuja
extensa pesquisa levou mais
seis anos para ser concluída.
No começo da década de
1980, quando o caso Mengele
voltou a receber a atenção da
mídia, pois finalmente haviam
encontrado o corpo do nazis-
ta, morto em 1979, a autora de
“Baviera Tropical” tinha seis
anos e estudava em uma es-
cola alemã em São Paulo, on-
de coincidentemente Liselot-
te era sua professora.
De repente, tudo mudou. A
professora desapareceu no
meio do semestre letivo, jor-
nalistas da TV americana vi-
sitaram a escola e, aos pou-
cos, os alunos foram se intei-
rando do que estava acon-
tecendo, mas a ideia de que
uma educadora infantil e o
seu marido tivessem acober-
tado um dos criminosos de
guerra mais perigosos do sé-
culo 20 era confusa demais
para uma criança tão pe-
quena.
Para além da lacuna que
“Baviera Tropical” visa pre-
encher sobre a história dos
anos em que Mengele per-
a eee
maneceu escondido no Bra-
sil, acho que um dos pontos
mais interessantes do livro
está na tentativa da autora
em lidar com a lembrança do
momento exato em que a vi-
do século 20 fez-se presente
em sua vida.
No epílogo da obra que já
está sendo traduzida para o
inglês e também deve, em bre-
ve, ser publicada em outros
idiomas, a autora comenta
que quando era criança e to-
mava o ônibus para voltar da
escola com as irmãs, as pes-
soas que as encontravam pe-
[ lo caminho frequentemente
saudavam as meninas com
“Baviera Tropical” um “Heil Hitler!” simplesmen-
demonstra o te por acharem divertido as-
quão difícil e sociar descendentes de ale-
mães ao nazismo.
necessário é lidar Para os meus colegas ale-
com os aspectos mães da mesma geração de
sombrios de uma Betina Anton, a articulação
cultura. A autora, das suas identidades pesso-
ais também passa, quase que
no entanto, o faz inevitavelmente, por uma ten-
com sensibilidade tativa de lidar com o passado
e desenvoltura, recente da Alemanha e com a
maneira como ele ainda afe-
e o seu livro nos ta as suas vidas.
convoca a fazer “Baviera Tropical” demons-
o mesmo. Pois o tra o quão difícil e necessário
é lidar com os aspectos som-
conhecimento ainda brios de uma cultura. A au-
é a ferramenta tora, no entanto, o faz com
mais eficaz que sensibilidade e desenvoltu-
possuímos se ra, e o seu livro nos convoca
a fazer o mesmo. Pois o co-
quisermos evitar nhecimento ainda é a ferra-
a perpetuação da menta mais eficaz que pos-
violência que muitas suímos se quisermos evitar
a perpetuação da violência
vezes informa o que muitas vezes informa o
nosso passado nosso passado. Leiam!
DESDE 1921 UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL

domINgo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 R$ 9,00

2 domingo, 17 dE dEzEmbro dE 2023 a eee