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A N O V I | N Ú M E R O 6 1 | a g o s t o / s e t em b ro 2 0 0 9

®
BRASIL

CONTAG
Con fed eração N acional d o s Trab al ha d ores na Agric u lt ura ( Con tag )

Protagonismo das mulheres


nos territórios rurais

Segurados Especiais Conversa de Pé de Ouvido


Contag, Ministério da Previdência Social e INSS assi- Símbolo da luta pelo direito à terra no Brasil, Manoel da
naram um acordo de cooperação técnica para criação Conceição contou, ao Jornal da Contag, sua história de
de cadastro que facilite a inscrição de trabalhadores vida e como vê o movimento sindical do campo nos dias
e trabalhadoras rurais como segurados especiais da de hoje.
Previdência Social. Pág. 02 Pág. 08
Editorial

Atualizar para avançar


O
encontro de Bauru (SP) do planejamento estratégico da Con- sos assumidos com a Contag no Grito de levar essa discussão para a im-
inaugurou, na quarta se- tag, nos próximos quatro anos. da Terra Brasil 2003. Essa situação é prensa, centrais sindicais, organiza-
mana de agosto, a série de Porém, além de discutir as políti- responsável pela concentração fundi- ções sociais, parlamentos municipais
sete seminários regionais organiza- cas públicas para o desenvolvimento ária, pelo atraso da reforma agrária e e estaduais e mostrar que a desapro-
dos pela Contag, em conjunto com sustentável e o papel do MSTTR na pela geração de conflitos interminá- priação de terras improdutivas vai ge-
as Regionais e as Fetags. O evento construção da territorialidade, nós veis no campo. rar empregos, aumentar a produção
superou todas as expectativas em também referendamos, em Bauru, a A omissão do poder Executivo em e baratear o preço dos alimentos e
termos de número de participantes, posição da Contag sobre os índices determinar e publicar novos índices de trazer paz para o campo. É necessá-
qualidade dos debates e das reco- de produtividade rural. A portaria produtividade se deve, em grande par- rio também intensificar a pressão so-
mendações apresentadas para o que atualizou esses índices foi edi- te, à reação raivosa dos ruralistas, que bre o governo Lula, pois não se trata
Sistema Contag. tada durante o regime militar, mais usam sua bancada parlamentar para somente de reivindicar justiça social,
O seminário mobilizou as direções precisamente durante o governo do chantagear o governo federal. O que mas de cumprir a lei e respeitar a
da Contag e das Fetags e reuniu cer- presidente Ernesto Geisel, em 1974. está em jogo é a manutenção das re- Constituição brasileira.
ca de 260 lideranças sindicais dos Posteriormente, a Constituição Fede- lações de poder no campo. Apesar de Sabemos que vamos enfrentar re-
quatro estados da região Sudeste. Os ral, aprovada em 1988, consagrou o os estudos preverem que o impacto da sistências gigantescas para vencer
principais temas discutidos foram a in- princípio da função social da terra e atualização dos índices será pequeno os obstáculos colocados para atuali-
tervenção do Sistema Contag nos terri- condicionou a desapropriação de ter- em termos de desapropriação de ter- zar os índices de produtividade rural
tórios rurais e a atualização do Projeto ras para fins de reforma agrária à pro- ras, os latifundiários temem que essa e acelerar a reforma agrária, mas te-
Alternativo de Desenvolvimento Rural dutividade das propriedades rurais. medida contribua para o fortalecimento mos confiança em nossa capacidade
Sustentável e Solidário. Não temos dú- No entanto, a lei que obriga a atu- da bandeira da reforma agrária. de mobilização e de construção de
vidas de que o resultado desses de- alização dos índices de produtivida- Nós precisamos desideologizar alianças necessárias, na sociedade.
bates será fundamental para nortear de rural vem sendo sucessivamente o debate sobre a reforma agrária e Portanto, vamos à luta!
os rumos do movimento sindical dos descumprida pelos governantes, nos buscar apoio na sociedade civil, para
trabalhadores e trabalhadoras rurais últimos 30 anos. O presidente Lula reforçar a luta pela atualização dos Alberto Ercílio Broch
(MSTTR) e para orientar a elaboração ainda não concretizou os compromis- índices de produtividade rural. Temos Presidente da Contag

Políticas Sociais

Contag vai cadastrar segurados


especiais da Previdência Social
O
César Ramos
presidente da Contag, Al- O secretário de Políticas Sociais
berto Broch, o ministro da da Contag, José Wilson, lembrou a
Previdência Social, José Pi- luta dos trabalhadores e das traba-
mentel, e o presidente do Instituto Na- lhadoras rurais pelo direito à aposen-
cional de Seguro Social (INSS), Valdir tadoria e disse que a assinatura do
Simão, assinaram, no final de agosto, acordo é mais um marco importante.
um acordo de cooperação técnica O presidente da Contag, Alberto Bro-
para cadastramento dos trabalhado- ch, afirmou que a aposentadoria dos
res e das trabalhadoras rurais que segurados especiais é importante
têm direito aos benefícios da Previ- não apenas porque garante o direito
dência como segurados especiais. da categoria, mas por “democratizar
O cadastro vai facilitar o processo a sociedade brasileira e garantir dis-
de aposentadoria dessa classe, que tribuição de renda”.
será feito pelos Sindicatos de Trabalha- Também estiveram presentes o
dores e Trabalhadoras Rurais (STTRs), secretário de Desenvolvimento Ter-
coordenados pelas federações filiadas ritorial do Ministério do Desenvolvi-
à Contag. Esses sindicatos serão capa- mento Agrário (MDS), Humberto de Para Alberto Broch, aposentadoria dos segurados especiais democratiza
citados pelo INSS por meio de sistema Oliveira, o secretário de Agricultura a sociedade brasileira e garante distribuição de renda
on-line. A expectativa é cadastrar 14 Familiar do MDS, Adoniram Sanches,
milhões de segurados especiais. o secretário executivo da Secretaria-
Na solenidade, o ministro José Geral da Presidência da República, Segurado especial
Pimentel disse que o cadastro vai Antônio Roberto Lambertucci, o de- Tem direito à aposentadoria como segurado especial os trabalhadores e
acabar com a burocratização, permi- putado Anselmo de Jesus (PT-AC) e as trabalhadoras rurais que comprovem o exercício de atividade rural, e que
tindo ao trabalhador e à trabalhadora o ex-presidente da Contag e repre- tenha como principal fonte de renda aquela proveniente da exploração da
rural não mais precisar de “um saco sentante do Ministério do Desenvol- terra. Além dos agricultores familiares, estão incluídos na categoria os pes-
de documentos” para provar ser se- vimento Agrário, Francisco Urbano, cadores artesanais, os extrativistas, os quilombolas, entre outros.
gurado especial. além de dirigentes da Contag.

2 Jornal da Contag
Sindicalismo
Mercosul debate acesso à terra
Contag marca presença no Políticas específicas para agricultura familiar
10º Congresso Nacional da CUT
Dino_Parizotti / CUT
estiveram na mesa de discussão da Cúpula Social,
em Assunção, no Paraguai, no fim de julho

A
Contag participou, entre 23 e internacional pela segurança da pro-
24 de julho, em Assunção, no priedade, tanto no meio rural quanto
Paraguai, da Cúpula Social no urbano.
do Mercosul. O encontro reuniu pre- Entre conclusões focadas na agri-
sidentes, representantes de governo cultura familiar e soberania alimentar,
e de movimentos sociais dos países- estão a necessidade de reformulação
membros para discutir temas como do conceito do Mercosul, indo além
acesso à terra, políticas específicas da questão comercial, ampliando, por-
para a agricultura familiar e igualdade tanto, os marcos social, cultural e am-
de gêneros. biental, e de avançar com a reforma
Durante o evento, o presidente do agrária em todos os países participan-
Paraguai, Fernando Lugo, recebeu re- tes, além de adotar o conceito de so-

C
om o tema Desenvolvimento com a organização dos trabalhadores, presentantes dos governos e de orga- berania alimentar, em substituição ao
com trabalho, renda e direitos, é importante a definição da estratégia nizações sociais dos países da Amé- de seguridade alimentar.
o 10º Congresso Nacional da da CUT, no sentido do fortalecimento
rica do Sul, entre as quais a Contag,
CUT aconteceu entre 3 e 7 de agosto da representação na base”, diz.
para debater a importância da mo- Mercosul Sem Fome – Paralela-
e reuniu 2,5 mil delegados e delega- Para a vice-presidente e secretária
das de todo o País. Uma delegação de Relações Internacionais da Contag, bilização na construção de políticas mente à Cúpula dos Povos, a Confede-
de 400 trabalhadores e trabalhadoras Alessandra Lunas, a participação de públicas para o Mercosul. “O encon- ração de Organizações de Produtores
rurais participou do evento. trabalhadores e trabalhadoras rurais no tro foi importante porque respaldou Familiares do Mercosul (Coprofam) e
Entre as ações aprovadas no Plano congresso foi importante para garantir nossas demandas dentro do espaço a ONG Action Aid promoveram o se-
de Luta estão a de potencializar a mo- a ocupação de vários espaços na CUT. que é a Cúpula Social”, afirma a vice- minário Situação da Fome e Políticas
bilização pela implementação da Polí-
presidente da Contag e secretária de Públicas de Abastecimento, Sobera-
tica de Valorização do Salário Mínimo, Eleição – No último dia do congres-
Relações Internacionais da entidade, nia e Segurança Alimentar no Merco-
e reforçar a luta pela implementação so, 7 de agosto, foi eleita a Diretoria
da Lei Maria da Penha. Entre as Lutas da CUT para o mandato 2009-2012. Alessandra Lunas. sul Ampliado, que ocorreu no dia 22
Gerais, a plenária decidiu que é ne- Arthur Henrique da Silva foi reelei- Ao final, os participantes elabora- de julho, na Central Nacional de los
cessário desenvolver campanha por to como presidente. As Fetags e os ram documento com as propostas dis- Trabajadores (CNT), também mere-
uma política macroeconômica e de de- sindicatos conseguiram a eleição de cutidas, entregue aos líderes de cada ce destaque. O encontro teve o apoio
mocratização do orçamento da União, trabalhadores e trabalhadoras rurais, país. Priorizar políticas habitacionais da Organização Nacional Campesina
assim como continuar a luta pela am- que vão compor a Direção Nacional e
que levem em consideração as carac- (Onac) e da União Agrícola Nacional
pliação da reforma agrária, pela erra- Executiva da central.
terísticas das pessoas que vivem em (Unac), ambas do Paraguai.
dicação do trabalho infantil e escravo, A secretária nacional de Mulheres
e pela ampliação das políticas públi- da Contag, Carmen Foro, deixa a Vice- cada região, assim como as neces- Durante o seminário, foi lançada
cas para a agricultura familiar. Outro Presidência para ser titular da Secreta- sidades específicas de pessoa com também a campanha Mercosul sem
ponto destacado no documento final ria de Meio Ambiente da CUT. No novo deficiência é uma das conclusões da Fome, que é promovida pela Copro-
é a necessidade de lutar para revogar cargo, ela afirma que irá interagir com mesa-redonda Terra, Casa e Habitat, fam, da qual Alessandra Lunas é se-
as reformas da Previdência que retira- a experiência acumulada na direção que consta do documento, bem como cretária executiva, e pela Actionaid.
ram direitos dos trabalhadores. da central e com o trabalho realizado
diversificar o modelo das casas cons- “Precisamos de ações para superar
na Contag. “Faremos conexão com o
truídas, por meio de financiamentos os problemas em comum de nossos
Rurais – Durante o congresso, tam- que a Secretaria de Meio Ambiente
bém foi aprovada a criação da Coorde- de nossa confederação vem fazendo, públicos, dando prioridade às coope- países e, nada melhor do que mobi-
nação Nacional dos Cutistas no Campo. com o que as federações filiadas vêm rativas e organizações populares. Ou- lizações como essa, para intensificar
De acordo com as regras definidas na fazendo e com o que se discute atu- tra diretriz apontada pela mesa foi o nossos anseios e cobrar soluções”,
resolução que criou a coordenação, almente sobre meio ambiente”. Tam- lançamento, em 2010, de campanha avalia Alessandra.
nos estados onde houver federações e bém vai compor a Executiva da CUT
sindicatos ligados à Contag e filiados à o companheiro Jasseir Alves Fernan-
CUT, não será permitida a filiação ou o des, da Federação do Espírito Santo, e
reconhecimento de outras representa- atual secretário-geral da CUT-ES.
ções do campo. Já nos estados em que Para a direção da CUT foram elei-
as federações e os sindicatos são filia- tos os seguintes companheiros do
dos às demais centrais, a CUT poderá Contag: Elenice Anastácio, secretária
reconhecer entidades diferenciadas. de Jovens; Willian Clementino, secre-
O secretário de Finanças e Ad- tário de Política Agrária; Alessandra
ministração da Contag, Manoel dos Lunas, vice-presidente; Aristides dos
Santos, explica que a coordenação Santos, presidente da Fetape; Clésio
será responsável por debater e propor Antônio Brandão, tesoureiro da Feta-
estratégias de ações e políticas a ser es; Adauto Valentino, presidente da
desenvolvidas para trabalhadores e Fetagri/TO, Raimundinha Celestina,
trabalhadoras rurais. “Tendo em vista a coordenadora da Região Nordeste e
conjuntura do País, com a intensa dis- Vanderli Ferreira Lopes, sindicalista do
puta que a CNA e os ruralistas têm feito Rio Grande do Sul.

Jornal da Contag 3
Eventos
Festivais mobilizam
Educação do Campo ganha jovens em todo o País
força com fórum nacional
R
eflexões e debates sobre te- “O festival foi um momento im-
mas importantes para os jo- portante para os jovens expressa-
vens do campo, ao lado de rem suas dificuldades e o que que-
Encontro discute perspectivas, exemplos de apresentações culturais, competições rem para o campo”, avalia Suziane
sucesso e desafios da área esportivas e muita animação. Essas Ferreira, coordenadora de Jovens
César Ramos são as principais atividades dos Fes- da Federação dos Trabalhadores
tivais da Juventude Rural, previstos na Agricultura do Rio Grande do
para ocorrer até março de 2010, em Norte (Fetarn).
vários estados, municípios e polos sin-
dicais. Em todo o País, os jovens tra- Capacitação – A secretária de Jo-
balhadores e trabalhadoras rurais se vens Trabalhadores e Trabalhadoras
preparam para o 2º Festival Nacional Rurais da Contag, Elenice Anastácio,
da Juventude Rural, que ocorrerá em ressalta que, aliados ao programa Jo-
Brasília, entre 7 e 10 de junho de 2010. vem Saber, os festivais estaduais são
Em julho, Maranhão e Rio Grande importantes porque mobilizam a ju-
do Norte realizaram seus festivais. Em ventude do campo para o debate de
setembro, será a vez de Alagoas e Ron- temas que afetam sua vida. “Esses
dônia. Os demais estados estão finali- festivais se tornaram instrumento de
zando suas agendas. No Rio Grande do mobilização da juventude, para que
Norte, cerca de mil jovens participaram ela conheça o movimento sindical e
de palestras e debates sobre o tema Su- aperfeiçoe seus conhecimentos so-
cessão Rural com Terra, Meio Ambiente bre política sindical e políticas públi-
Sustentável, Trabalho e Renda. cas”, avalia.

Dirigentes da Contag, respresentantes do MEC, da Undime e do Pronera


participaram da abertura do encontro
Feiras mostram o que há de
“N
ão vou sair do campo
para poder ir para a
Realidade – Os participantes tive-
ram oportunidade de cobrar dos ges- novo na agricultura familiar
A
escola, Educação do tores governamentais políticas para
gosto foi marcado por três Paulo não temos extensão rural que
Campo é um direito e não esmola”. a Educação do Campo. Estiveram
grandes feiras de agricultura consiga levar as novidades aos agri-
Foi cantando assim que 300 dirigen- presentes representantes do Ministé-
familiar: a de Minas Gerais cultores, então é a oportunidade de os
tes do movimento sindical de tra- rio da Educação (MEC), do Conselho
balhadores e trabalhadoras rurais e Nacional de Secretários de Educa- (Agriminas), a de São Paulo (Agrifam), agricultores terem esse contato”, ex-
representantes de entidades e univer- ção (Consed), da União Nacional dos e a do Rio Grande do Sul (Expointer). plica o presidente da Federação dos
sidades que atuam na Educação do Dirigentes Municipais de Educação Em Belo Horizonte, mais de 30 mil pes- Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
Campo abriram o 2° Fórum Contag de (Undime) e do Programa Nacional soas puderam apreciar, entre 14 e 16 de São Paulo, Braz Albertini.
Educação do Campo. de Educação na Reforma Agrária de agosto, produtos como verduras, Um ponto alto da Agrifam é o Con-
O refrão representa as aspira- (Pronera/Incra). O secretário de Polí- frutas, queijos, cachaça, rapadura, curso do Inventor Rural. Patrocinado
ções dos participantes, que lutam ticas Sociais da Contag, José Wilson, farinha e outros derivados da mandio- pelo Ministério da Ciência e Tecnolo-
por uma política pública nacional de considerou o momento importante. ca, além do artesanato. Também foi gia, tem o intuito de premiar agriculto-
Educação do Campo. Eles estiveram “As intervenções dos participantes montada, no local, uma minifazenda res que usam a criatividade para criar
reunidos entre 24 e 26 de agosto, em permitiram mostrar que, lá na base, com engenho, casa de roça e outros ferramentas úteis às necessidades do
Brasília, para debater temas como a a realidade é outra. As políticas de
artefatos do campo. “A ideia for dar campo. O invento vencedor neste ano
contribuição da educação na cons- educação, quando chegam aos mu-
oportunidade para as pessoas visita- foi uma descascadora de espiga de
trução do desenvolvimento sustentá- nicípios, não funcionam a contento”.
rem o campo sem sair da cidade”, ex- milho. “Já houve casos de empresas
vel e solidário; os avanços e desafios Também foi debatida a importân-
plica o presidente da Federação dos se interessarem por produzir os inven-
na construção de políticas públicas cia de inserir o movimento sindical
de Educação do Campo, e as contri- Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais tos mostrados na feira, como acon-
em espaços como os Conselhos Es-
buições, avanços e desafios das ex- taduais e Municipais de Educação, e de Minas Gerais, Vílson Luiz da Silva. teceu com um arrancador de batata
periências de Educação do Campo de assegurar a Educação do Campo Segundo ele, a feira é oportunidade de doce, que nem chegou a ser premia-
no âmbito das organizações sociais na elaboração do Plano Nacional de negócios, mas avalia que o mais im- do”, conta Braz.
e sindicais. Educação (PNL), que será votado portante “é mostrar para a sociedade Já a 32ª edição da Expointer ocor-
Durante os três dias, foram relata- pelo Congresso Nacional em 2010, e a importância da agricultura familiar e reu entre os dias 29 de agosto e 6 de
das experiências de luta das organi- que delineia as ações voltadas à Edu- da reforma agrária”. setembro em Esteio(RS), e atraiu 10
zações sociais e sindicais na Educa- cação, para os próximos dez anos. Em Agudos, no interior de São Pau- mil participantes. Um dos destaque
ção do Campo, além das estratégias Durante o fórum, os participantes lo, o destaque na Agrifam foi a tecnolo- do evento foi a 11ª Feira da Agricultura
da Contag para formação política dos trabalharam, ainda, em grupos te- gia. Entre 31 de julho e 2 de agosto, os Familiar, organizada em parceria com
trabalhadores e das trabalhadoras máticos e formularam propostas que agricultores familiares foram apresen- a Fetag/RS. A Federação apoiou 120
rurais por meio da Escola Nacional devem pautar as discussões do mo-
tados ao que há de moderno em má- empreendimentos, distribuídos em 81
de Formação da Contag (Enfoc) e do vimento sindical do campo com todas
quinas e equipamentos, implementos estandes, 15 experiências exitosas de
programa Jovem Saber. as esferas de governo.
e pesquisas agrícolas. “Aqui em São escolas rurais e quatro cozinhas.

4 Jornal da Contag
Capa

Protagonismo das mulheres nos


territórios marca Jornada das Margaridas 2009
Durante três dias, dirigentes sindicais e lideranças dos territórios rurais debateram a participação das mulheres no
desenvolvimento rural sustentável e solidário; políticas públicas para as trabalhadoras rurais; e o acesso à terra

O
César Ramos
debate sobre a maior inser- ras rurais nas políticas executadas
ção das trabalhadoras ru- nos territórios.
rais nos territórios marcou
as ações da Jornada das Margari- Debates – Nos três dias do seminá-
das 2009. Entre 19 e 21 de agosto, rio, as dirigentes sindicais participaram
a Comissão Nacional de Mulheres de debates sobre o Projeto Alternativo
Trabalhadoras Rurais organizou, em de Desenvolvimento Rural Sustentável
Brasília, o seminário nacional Prota- e Solidário (PADRSS), política de terri-
gonismo das Mulheres nos Territórios torialidade, assistência técnica, aces-
Rurais, que reuniu cerca de 100 diri- so a terra, organização produtiva das
gentes de todo o País. mulheres e políticas públicas para as
A secretária de Mulheres da Con- trabalhadoras nos territórios.
tag, Carmen Foro, destacou que as Participaram das discussões lide-
discussões apontaram reflexões im- ranças do Movimento Nacional das
portantes para as trabalhadoras ru- Trabalhadoras Rurais do Nordeste
rais. “Os debates giraram em torno (MMTR/NE), do Movimento Interesta-
de várias questões, como: qual o dual de Quebradeiras de Coco Ba-
modelo de desenvolvimento que nós baçu (MIQCB), do Conselho Nacional
queremos; qual o lugar das mulheres dos Seringueiros (CNS) e representan-
no processo de desenvolvimento, e tes do Ministério do Desenvolvimento
como vamos continuar protagonizan- Agrário (MDA); da Secretaria Especial
do políticas para as mulheres, na ten- de Políticas para as Mulheres (SPM)
tativa de corrigir histórica desigualda- e da Universidade Federal de Viço-
de existente até hoje”, relatou. sa (UFV/MG) e dirigentes sindicais A secretária de Mulheres da Contag, Carmen Foro, abriu o seminário
Ao final do seminário, as dirigen- da Contag. nacional Protagonismo das Mulheres nos Territórios Rurais, que reuniu,
tes sindicais propuseram que fosse Durante o seminário, houve a em Brasília, cerca de 100 lideranças sindicais de todo o País
destinado, no mínimo, 30% das va- apresentação de experiências dos César Ramos

gas existentes em todos os espaços grupos produtivos de mulheres dos


de gestão do Programa Territórios da estados do Maranhão, Minas Gerais,
Cidadania, para as mulheres. E que Mato Grosso, Roraima e Rio Grande
fossem assegurados recursos para do Sul. Produção de alimentos para o
projetos produtivos desenvolvidos Programa de Aquisição de Alimentos
por organizações de mulheres. (PPA), cultivo de produtos orgânicos,
Em relação ao combate à violên- como hortaliças e frutas; produção de
cia, reivindicaram ao Fórum Nacional sabonetes, óleos, sabão e outros de-
pelo Enfrentamento à Violência con- rivados da cadeia produtiva do baba-
tra as Mulheres do Campo e da Flo- çu; confecção de objetos a partir da
resta retomada das atividades pre- fibra da bananeira e produção de bis-
vistas para este ano. Além de outras coitos artesanais são atividades que
propostas e estratégias que garan- estão mudando a vida de milhares de
tam maior inserção das trabalhado- trabalhadoras rurais desses estados.

Momento de Reflexão Programa de Documentação das Trabalhadoras Rurais


A Jornada das Margaridas de 2009 teve caráter de reflexão e de avalia- Em homenagem à luta das trabalhadoras rurais, o MDA agendou, para este
ção das conquistas das trabalhadoras rurais nos últimos anos. “Foi momento mês, a entrega de unidades móveis do Programa de Documentação da Traba-
de muita proposição e construção de novas ideias, novas estratégias para lhadora Rural, em vários estados. A implantação desse programa é resultado de
nossos próximos passos, no que se refere a nossa organização e às políticas reivindicações da Marcha das Margaridas.
públicas para as mulheres nos territórios rurais”, explicou Carmen Foro. A unidade móvel, chamada de Expresso Cidadã, consiste em um ônibus
As atividades da jornada iniciaram-se com o lançamento da campanha com equipamentos necessários para fazer emissão gratuita de documentos
Mulheres Donas da Própria Vida – viver sem violência, direito das mulheres como registro de nascimento, carteira de identidade, carteira de trabalho, car-
do campo e da floresta, no Grito da Terra Nordeste, no dia 12. Por defender teira de pescador, registro no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e no
os direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores no campo, a sindicalista Cadastro de Pessoa Física (CPF).
Margarida Alves, assassinada no dia 12 de agosto de 1983, foi homenage- No dia 21, Carmen Foro participou da cerimônia de divulgação dos resulta-
ada. A campanha, coordenada pela Secretaria Especial de Políticas para dos das políticas públicas para as trabalhadoras rurais denominada Brasil de
as Mulheres(SPM), é voltada para o combate à violência contra mulheres todas: terra, renda e cidadania no campo e lançamento de 13 unidades móveis
do campo e da floresta. na Bahia, e estará presente na entrega da unidade móvel, que acontecerá dia 1º
No lançamento, a secretária de Mulheres da Contag, Carmen Foro, a mi- de fevereiro, em Icó, no Ceará.
nistra da SPM, Nilcéa Freire, e a governadora do Rio Grande do Norte, Wilma De acordo com o MDA, além de Bahia e Ceará, as unidades do Expresso Ci-
de Faria, e dirigentes sindicais da Contag estiveram presentes. No mesmo dadã passam a atender, neste ano, os estados de Pernambuco, Maranhão, Pa-
dia, a governadora e a ministra assinaram o Acordo de Cooperação Fede- raíba, Rio Grande do Norte, Roraima, Tocantins, Rondônia, Mato Grosso, Minas
rativo para a implantação do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Gerais, Pará e Acre. As unidades possuem mais autonomia e poderão chegar a
contra a Mulher. O Rio Grande do Norte foi o 18º estado a aderir ao pacto. comunidades de difícil acesso para a emissão de documentos.

Jornal da Contag 5
Plano Safra Sindicatos

Ministro do Trabalho
Agricultores familiares terão anuncia concessão
mais segurança e possibilidade de de mais registros
investimentos na próxima safra
O
ministro do Trabalho e Emprego, Carlos
Lupi, anunciou, no dia 26 de agosto, a
concessão de 22 novos registros para

O
Plano Safra 2009/2010 trouxe novidades gamento de bancos. “É uma complementação do sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras ru-
para os agricultores familiares. Um dos Programa de Garantia de Preços para a Agricultura rais. O anúncio foi feito em reunião com dirigentes
pontos de destaque é a extensão do Se- Familiar (Pgpaf)”, explica. da Contag, na sede do Ministério, e é resposta à
guro da Agricultura Familiar (Seaf) para contratos parte dos registros reivindicados pela entidade
de investimento. Até 2008, o seguro cobria apenas Lei da Ater – O presidente Lula também assinou, no Grito da Terra 2009.
operações de custeio. Outra conquista são os fi- durante o lançamento do Plano Safra, projeto de lei A falta de registro ainda atinge vários sindi-
nanciamentos pelo programa Mais Alimentos. Na que modifica a forma de contratação de serviços catos ligados à Contag. Uma lista com outras 59
última safra, só era permitido o financiamento de de assistência técnica e extensão rural (Ater). O entidades que buscam o registro foi publicada no
tratores; agora, o benefício foi estendido para im- projeto foi encaminhado, em regime de urgência, dia 28, no Diário Oficial da União. Caso não haja
plementos e equipamentos agrícolas. ao Congresso Nacional, e precisa ser aprovado contestações, o Ministério concederá o registro
As mudanças foram anunciadas pelo presiden- tanto pela Câmara quanto pelo Senado. Atualmen- definitivo.
te Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro do De- te, os serviços de Ater são contratados por meio de O presidente da Contag, Alberto Broch, enfatiza
senvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, no dia convênios, o que, segundo Rovaris, torna o proces- que a concessão dos registros é muito importante
22 de julho, durante o lançamento oficial do Plano so demorado e sem continuidade. para os sindicatos beneficiados, mas o processo
Safra 2009/2010, em Brasília. Se aprovada a lei, a assistência técnica passará de legalização dessas entidades ainda está lento,
Para o secretário de Política Agrícola da Contag, a ser serviço básico. “Havendo demanda, a orga- e a demanda é alta. “A reunião foi muito positiva,
Antoninho Rovaris, as medidas anunciadas com- nização de Ater se credencia no Ministério do De- mas queremos que esse trabalho seja reforçado,
plementam os vários instrumentos de política agrí- senvolvimento Agrário (MDA) para trabalhar com os para que possamos ter, em um curto espaço de
cola existentes, e vão dar maior sustentabilidade agricultores familiares. A remuneração será feita por tempo, mais sindicatos legalizados”, disse.
à agricultura familiar. Outro ponto destacado pelo serviço prestado, e não mais por projeto, como é fei-
secretário foi o descontingenciamento de R$140 to hoje”, explica. A Lei Geral de Ater também foi uma Educação – Além de registro sindical, os diri-
milhões para as atividades de assistência técnica reivindicação importante do Grito da Terra 2009. gentes da Contag também reivindicaram o aten-
e extensão rural (Ater). Rovaris esteve presente na audiência pública dimento de outras propostas, como a publicação
No entanto, para Rovaris, ainda é preciso avan- realizada pela Câmara dos Deputados, no dia 03 das chamadas de projetos do programa ProJo-
çar mais. A Contag vem negociando com o governo de setembro e defendeu as mudanças. Ele expli- vem Trabalhador. “Estamos na expectativa para
federal a implementação do Programa de Desenvol- cou que atualmente menos de 40% dos agriculto- apresentar o projeto, porque a juventude neces-
vimento Sustentável da Unidade Familiar de Produ- res e agricultoras familiares têm acesso a assistên- sita dessa política”, explicou a secretária de Jo-
ção, o Pronaf Sustentável. O programa foi criado em cia técnica. “O número de técnicos, pouco mais vens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da
junho, pelo Decreto nº 6.882/09 e deve ser implanta- de 13 mil, é insuficiente para atender cerca de 4,5 Contag, Elenice Anastácio.
do a partir de unidades piloto ainda neste ano. milhões de famílias”, disse, acrescentando que a De acordo com o ministro, essa demanda de-
Outra reivindicação da Contag, pauta do Grito conseqüência para essa carência de profissionais pende de autorização dos recursos pelo Minis-
da Terra Brasil 2009, é a criação de uma política de é o endividamento dos agricultores familiares, que tério do Planejamento. “O orçamento ainda não
renda para a agricultura familiar, pela qual o gover- ficam sem orientação de como utilizar de forma efi- está liberado, mas vamos conversar novamente
no federal garantiria a aquisição do excedente de ciente o crédito. “Crédito sem Ater é igual a endivi- com o Ministério do Planejamento, para solicitar
produção que estivesse comprometido com o pa- damento”, enfatizou. essa liberação”, respondeu.

Planejamento

Bauru sedia 1º Seminário Regional da Contag


O
primeiro Seminário Regional sobre De- Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. O próximo seminário regional acontece em Re-
senvolvimento Rural Sustentável e Soli- Segundo Juraci Moreira, o evento foi um gran- cife, entre os dias 14 e 18 de setembro. Ao todo se-
dário e Territorialidade, organizado pela de sucesso. “Superou nossas expectativas em rão sete encontros. Para o presidente da Contag,
Contag em parcerias com as Fetags, superou as termos de presença de pessoas, em termo de Alberto Broch, esta é uma oportunidade para ouvir
expectativas, segundo avaliação do presidente da qualidade na discussão política. O seminário foi as bases. “Estes seminários serão uma das maio-
Confederação, Alberto Broch, e do secretário de uma experiência fantástica tanto na contribuição res atividades que a Contag realiza, em termos de
Formação e Organização Sindical da entidade, do conteúdo pra Contag concluir o seu planeja- debate interno, nos últimos 15 anos”.
Juraci Souto. O seminário ocorreu entre os dias mento estratégico, como para colher subsídios e A expectativa é de 1,8 mil participantes, nos
31 de agosto e 04 de setembro, na cidade de Bau- suplementos para fazer ajustes, adequação ou sete seminários, entre dirigentessindicais, as-
ru (SP). mesmo redirecionar o nosso Projeto Alternativo sessores e representantes de entidades parcei-
O evento reuniu cerca de 300 lideranças sin- de Desenvolvimento Rural, Sustentável e Solidá- ras, como associações, cooperativas, ONGs e
dicais das Fetags dos estados de São Paulo, rio (PADRSS)”, disse. universidades.

6 Jornal da Contag
Regularização Fundiária
Trabalho Escravo

Governo divulga Fetags discutem


nova lista suja controle social do
Arquivo Contag

que estavam fora da relação, por contestação judi-


programa Terra Legal
cial. No entanto, as liminares que garantiam a exclu-

D
são foram suspensas. Em relação às listas anterio-
res, nessa última houve aumento de ocorrências de irigentes das Fetags da Amazônia Legal
empresas agropecuárias e de produtores das áreas se reuniram, nos dias 17 e 18 de agosto,
de expansão da fronteira agrícola. Em outros anos, para discutir como o movimento sindical
a liderança era de empresas canavieiras. de trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR)
O secretário de Assalariadas e Assalariados da fará o controle social no programa Terra Legal,
Contag, Antônio Lucas Filho, ressalta a importância sobre regularização fundiária de terras públicas
do trabalho feito pelas equipes de fiscalização do
da União na região amazônica.
Ministério do Trabalho, em especial do Grupo Mó-
Ao final, os dirigentes sindicais definiram
vel, mas afirma que é preciso evitar que uma rela-
que o movimento sindical participará do moni-
ção de trabalho acabe em escravidão. “A ideia não
é apenas que se descubram novos casos. Quere- toramento das diversas etapas e também rei-
mos que o governo busque e aplique mecanismos vindicará participação dos movimentos sociais
que possam fazer que essa prática acabe de uma nos grupos executivos, com garantia de parida-
vez por todas”, reforça. Ele explica que, no meio de. “Vamos acompanhar o programa para que
rural, essas atividades consomem grande parte sejam cadastrados os que têm direito de fato e
dos recursos destinados às atividades agrícolas no não haja regularização de terras griladas”, ex-
Brasil. “Não podemos mais financiar a escravidão
plicou o secretário de Política Agrária da Con-
com dinheiro público”.
tag, Willian Clementino.
As propostas foram apresentadas ao coor-
Goiás – A Federação dos Trabahadores e Traba-
lhadoras Rurais de Goiás (Fetaeg) entregou docu- denador-geral do programa Terra Legal, Carlos

A
relação de empregadores flagrados na ex- mento na Superintendência do Incra em Goiás, em Guedes, que esteve no evento, no dia 17, e ao
ploração de mão de obra escrava no Brasil que reivindicava a desapropriação de 18 fazendas superintendente nacional de Regularização Fun-
tem 13 novos nomes. A chamada Lista Suja com flagrante de trabalho escravo. O estado ocupa diária da Amazônia Legal, Raimundo Sepeda.
foi atualizada em julho pelo Ministério do Trabalho e o primeiro lugar no Brasil em número de trabalha-
Emprego (MTE). Figuram, nesse rol, 175 infratores, dores e trabalhadoras rurais resgatados. A orienta- Levantamento – A coordenação do programa
entre pessoas físicas e jurídicas. Os maiores infra- ção da Contag é para que as demais federações
apresentou dados mostrando que 88% das pro-
tores estão nos estados de Goiás, Tocantins, Mara- sigam o exemplo da Fetaeg. “Se uma propriedade
priedades cadastradas no programa Terra Legal
nhão e Mato Grosso. tem trabalho análogo à escravidão, ela não cumpre
Além dos 13 nomes que entram pela primeira vez são de agricultores familiares. Os 12% restantes
sua função social e por isso deve ser desapropria-
na lista, o MTE confirmou mais quatro empregadores da”, enfatiza Antônio Lucas. são cadastros de médias propriedades. No en-
tanto, esses médios proprietários detêm 45% das
Veja os 13 novos nomes incluídos na Lista Suja. áreas a ser regularizadas.

Adailto Dantas de Cerqueira – CPF: 091.906.195-87 O secretário Willian Clementino considerou


essas informações preocupantes, pois indicam
Agrisul Agrícola Ltda. (Usina Debrasa/CBAA) – CNPJ: 04.773.159/0002-80
que quase metade das terras ficará com os
Agropec. Ind. Serra Grande Ltda. (Agroserra)*** – CNPJ: 11.035.672/0001-59
grandes proprietários. “Discordamos disso por-
Aurélio Anastácio de Oliveira – CPF: 047.691.122-20 que, historicamente, sempre lutamos para que
Cia. Melhoramentos do Oeste da Bahia (CMOB) – CNPJ: 97.435.234/0001-01 o governo regularizasse as pequenas posses
Elizabete Guimarães de Araújo – CPF: 576.510.431-20 e arrecadasse o restante para fins de reforma
Ivan Domingos Paghi – CPF: 016.837.008-56 agrária”, afirmou.

José Nilo Dourado – CNPJ: 02.930.365/0001-40


ADI – Durante a reunião, também foi aprovado o
José Nilson dos Santos – CPF: 111.645.301-00
apoio da Contag à Ação Direta de Inconstituciona-
Lírio Antônio Parisotto – CPF: 213.676.129-34
lidade (ADI) nº 4.269. No processo, a procuradora
Mundial Construção e Limpeza – CNPJ: 04.740.962/0001-38 Débora Duprat contesta pontos da lei criticados
Olavo Demari Webber – CPF: 213.734.340-15 pelo movimento sindical na ocasião de tramitação
Paulo Kenji Shimohira – CPF: 507.292.766-00 da lei. Entre outros pontos, ela contesta a pos-

Regis Francisco Ceolin – CPF: 438.282.480-04 sibilidade de terras ocupadas por comunidades
tradicionais e quilombolas ser regularizadas por
Salomão Pires de Carvalho – CPF: 024.354.897-49
terceiros, a não vistoria de terras de até quatro
Selson Alves Neto – CPF: 159.949.706-97
módulos fiscais e a venda de terras com até três
Rosana Sorge Xavier – CPF: 993.277.088-49 anos de regularização.
Fonte: ONG Repórter Brasil

Jornal da Contag 7
Conversa de Pé de Ouvido

Vida dedicada à luta


Um dos mais atuantes líderes do movimento de trabalhadores e
trabalhadoras rurais no Brasil, Manoel da Conceição tem longa história no

ega
movimento social do campo. Filho de agricultores e ex-escravos, iniciou a

óbr
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luta pela terra em 1957, e continua até hoje. Aos 74 anos, é presidente do

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Vilm
Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (Centru) do Maranhão,
entidade que fundou primeiramente em Pernambuco, em 1979, quando
retornou do exílio. Nesta entrevista, ele conta sua história e fala sobre a
situação do movimento sindical do campo hoje.
Manoel da Conceição
Como o senhor começou a militar contra esse sistema de latifúndio, de na prática, ocupando as terras de coletivo e unificado. Hoje estamos divi-
no movimento sindical do campo? latifundiário tomar terra dos agriculto- que precisávamos, terras da União. didos em várias centrais e isso nos en-
Meu pai tinha uma área de terra, res. Estou nessa luta até hoje. fraquece demais. Em vez de estar bri-
que herdou dos avós. A terra não Foi por causa da luta que o senhor gando contra os fazendeiros, contra a
tinha documento e estava dentro Como se deu essa luta? teve de deixar o País? burguesia, estamos brigando entre nós.
da terra do patrão, que fez propos- Pindaré Mirim foi onde comecei a Quando eu estava em São Paulo, fui
ta de registrar no nome dele. Disse discutir a questão de uma organização para um encontro de não violência, da O senhor continua ativo, fundou o
que a gente ia ficar a vida inteira na sindical, isso já em 1962. Participei dos Igreja Católica. E lá a polícia mandou Centro de Educação e Cultura do
terra, nunca ia cobrar renda, e meu seminários promovidos pelo Movimen- me prender de novo, e fiquei desapa- Trabalhador Rural (Centru). Como
pai concordou. Em 1952, o patrão to de Educação de Base (MEB), e, no recido por 48 dias, sendo torturado, surgiu a ideia de criar o centro?
morreu, aí a mulher dele e os filhos final do curso, o MEB orientou assim: violentado. Só saí da cadeia com or- A gente queria ajudar o movimento
resolveram tomar a terra. Nós ainda “Vocês vão levar essa notícia para a dem de expulsão do País. Só tinha dois sindical na formação dos trabalhado-
reagimos, mas fomos expulsos. Em comunidade e organizar o sindicato. lugares para mim: cadeia ou cemitério. res e das trabalhadoras também do
1956, nos mudamos para o Mearim, Todo mês a gente se encontra, para ver Aí fui para a Suíça, onde fiquei durante campo, para continuar no seu fortale-
no município de Bacabal, para um como está andando o trabalho”. E nós quatro anos, morando como refugiado. cimento orgânico e consciente, para
lugar chamado Santa Luzia. Lá fica- começamos a trabalhar, fazer a discus- formação política, social, cooperati-
mos em uma área de terras devolu- são na comunidade. Tinha uma dificul- E qual a avaliação que o senhor faz do va, dentro da linha social e ecológica.
tas, onde só moravam posseiros. Em dade, porque, nessa época, 90% dos movimento sindical do campo hoje?
1957, apareceu Manassé Castro, filho agricultores não sabiam ler. Criamos 28 Eu acho que o movimento do campo Como o senhor analisa o processo
do delegado de Polícia local, alegan- escolas na comunidade. De dia eram teve momentos difíceis. Quando o mo- de construção de uma Educação do
do que a terra era dele. as crianças e à noite, os adultos. A gen- vimento estava começando a se cons- Campo? Qual a importância dessa
te ia estudar sindicalismo, cooperativis- truir, havia uma ditadura, quando os educação diferenciada na luta dos
Então a história se repetiu? mo e política de modo geral. O fato é dirigentes sindicais mais conscientes camponeses pela terra?
Sim. Mas dessa vez resolvemos que, no dia 18 de agosto de 1963, fun- foram perseguidos. Quando foi melho- A gente gostaria que tivesse uma
lutar pelos nossos direitos. Os mora- damos o primeiro Sindicato de Traba- rando, a Contag foi criada, com novas política de formação para o campo as-
dores não aceitaram, e resolvemos ir lhadores Rurais Autônomos de Pindaré filosofias de trabalho. Quando acabou sumida pelo governo. Porque – você
a Bacabal nos informar. Lá, pediram Mirim, no Maranhão. a ditadura, os trabalhadores já estavam pode ter certeza – as escolas fazem
que nós fizéssemos uma reunião, com vontade de fazer greve geral, foi formação, mas fazem formação para
pois só tratariam do assunto se esti- Já existiam outros sindicatos rurais melhorando. Mas agora, depois que os trabalhadores serem empregados
véssemos organizados em associa- na região? passou toda essa luta difícil e pesada, dos patrões. E eu quero que os tra-
ção local. Quando estávamos fazen- Haviam outros. Mas esse foi o pri- e temos até o presidente da República, balhadores sejam empregados de si
do a reunião, com mais ou menos meiro sindicato fundado dentro das temos uma dificuldade, porque o en- mesmos, que nós sejamos autônomos
70 famílias, o Manassé chega, num normas legais da lei, porque antes tendimento do “autoempoderamento” no campo e na cidade. Não posso ser
caminhão cheio de jagunços, e, sem quem fundava eram os políticos, só coletivo dos trabalhadores tanto no sin- só empregado de um patrão que me
nenhuma troca de palavras, mandou para ter voto dos trabalhadores na dicato como no partido não está exis- manda a vida inteira. Eu quero que
meter bala. Matou cinco agricultores: época da eleição. A bandeira era a tindo, quase. Há uma classe dominada construamos o projeto de sociedade
três jovens casados, uma velhinha de luta pela reforma agrária, pela terra, e outra dominante, e nós não podemos que entendemos justa, não escrava,
75 anos e um garotinho de três. Quan- e, quando eles não atendiam, nós estar em um governo ou um movimento não feudal e não capitalista. Vamos
do eles foram embora, eu fiz um jura- ocupávamos. Foram as primeiras sindical sem ter esse entendimento de discutir a sociedade humana e solidá-
mento perante a comunidade e Deus, ocupações no Maranhão, o conflito luta de classe. E a maior parte dos com- ria que precisamos construir e isso só
que a partir daquele momento eu ia começou a aguçar entre nós e os fa- panheiros não tem essa consciência vai acontecer se tiver educação, orga-
travar uma luta com quem quisesse, zendeiros, porque começamos a agir política, desse “autoempoderamento” nização, saber, conhecimento.

expediente
Jornal da Contag - ­Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-
Presidente/ Secretária de Relações Internacionais Alessandra da Costa Lunas | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Antonio Lucas Filho | Finanças e Administração
Manoel José dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto |Secretário Geral David Wylkerson Rodrigues de Souza | Jovens Trabalhadores Rurais Maria
Elenice Anastácio | Meio Ambiente Rosicléia dos Santos |Mulheres Trabalhadoras Rurais Carmen Helena Ferreira Foro | Política Agrária Willian Clementino da Silva Matias | Política
Agrícola Antoninho Rovaris | Políticas Sociais José Wilson Gonçalves | Terceira Idade Natalino Cassaro | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto
2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail comunicacao@contag.org.
br | Internet www.contag.org.br | Assessoria de Comunicação Jacumã - Soluções Criativas em Comunicação Ltda. | Edição Ana Luiza Aguiar|
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