Vinhos
Como Alexandre de
Lur Saluces, morto na
semana passada,
elevou a imagem do
Château d’Yquem EU&
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Ano 24 | Número 5813 | R$ 6,00
www.valor.com.br
Governo estuda alíquota entre 17% e 20%
sobre compras no exterior de até US$ 50
Comércio eletrônico A intenção é que a tarifa seja cobrada até outubro, podendo ser
aplicada nova elevação em dezembro. O varejo nacional defende cobrança de 40%
Adriana Mattos
De São Paulo
O Ministério da Fazenda estuda apli-
car alíquota de Imposto de Importação
sobre remessas estrangeiras de até
US$ 50 entre 17% e 20% sobre o valor da
compra, apurou o Valor. A medida alte-
raria a tarifa em vigor, zerada para as
plataformas estrangeiras que seguirem
as normas do programa Remessa Con-
forme, lançado neste mês. O comércio
nacional critica o imposto zero, defen-
dendo isonomia tributária entre as em-
Elevação do petróleo aumenta
a defasagem nos combustíveis
Kariny Leal e Fábio Couto
Do Rio
A diferença entre os preços da gasoli-
na e do óleo diesel definidos pela Petro-
bras e as cotações internacionais alcan-
çou os maiores níveis registrados no
ano, colocando mais pressão para que a
estatal promova reajustes. Caso a em-
presa opte por elevar os preços nas refi-
narias, será a primeira vez desde a ado-
ção da nova estratégia comercial.
O aumento do Brent elevou a defasa-
gem da gasolina da Petrobras para 35,4%
(R$ 1,21 por litro) em relação aos preços
internacionais, segundo cálculos do Cen-
tro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). No
diesel, a defasagem foi a 29,5% (R$ 1,28
por litro). Para a StoneX, a diferença da
gasolina é de 24% (R$ 0,6 por litro) e de
36,2% no diesel (R$ 1,10 por litro). Em ju-
Em ambiente de
tensão, Equador
mantém eleição
Fernanda Simas
De São Paulo
A menos de dez dias da eleição, o as-
sassinato de Fernando Villavicencio, can-
didato à Presidência do Equador, muda o
cenário e pode aumentar a instabilidade
no país. O presidente Guillermo Lasso
responsabilizou o crime organizado pe-
lo atentado e decretou estado de exce-
ção, mas manteve a votação para o dia 20.
Em 1 o lugar nas pesquisas estava, até a
data do crime, Luisa González, candidata
do ex-presidente Rafael Correa. Villavi-
cencio aparecia em posição intermediá-
ria, como o líder indígena Yaku Pérez, o
ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner e
o conservador Jan Topic. Página A13
Indicadores
Ibovespa 10/ago/23 -0,05 % R$ 23,8 bi
Selic (meta) 10/ago/23
Selic (taxa efetiva) 10/ago/23
Dólar comercial (BC) 10/ago/23
Dólar comercial (mercado) 10/ago/23
Dólar turismo (mercado) 10/ago/23
Euro comercial (BC) 10/ago/23
Euro comercial (mercado) 10/ago/23
Euro turismo (mercado) 10/ago/23
presas locais e as sediadas no exterior.
A questão não está decidida, mas é vista
como saída para equilibrar a carga fiscal
paga pela indústria e pelo varejo nacionais
e pelos marketplaces asiáticos. O ministé-
rio diz que prosseguem as negociações so-
bre “futuros ajustes na alíquota federal.”
Aintençãoéiniciaracobrançaentre17%
e20%atéoutubronastransaçõesdelojistas
estrangeiros para pessoas físicas. A depen-
der da repercussão, a tarifa subiria em eta-
pas. Até dezembro, haveria nova elevação,
caso haja ambiente político. O ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, já havia aven-
lho o Brent avançou 15,5%, com a expecta-
tiva de demanda melhor de países asiáti-
cos e de menor oferta pelos integrantes da
Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (Opep), de acordo com a StoneX.
A política de preços da Petrobras, apro-
vada em 16 de maio, tem gerado alertas
de analistas. Desde então, ressaltam que o
teste real da nova estratégia viria quando
os preços do Brent se mantivessem além
dos US$ 80. Na quarta-feira (9), o barril
encerrou o pregão cotado a US$ 87,55.
A situação de preços defasados por um
LEONARDO RODRIGUES/VALOR
longo tempo acentua um risco de desabas-
tecimentos pontuais em algumas regiões.
Ontem à noite, a estatal divulgou nota ne-
gando que tenha reduzido a oferta de die-
sel no país. “A companhia está cumprindo
integralmente suas obrigações junto às
distribuidoras, entregando todo o volume
contratado”, afirmou a empresa. Página B4
Argentinosvãoàsprimáriasnodomingo
Roberto Lameirinhas
De São Paulo
Os argentinos escolherão neste do-
mingo os candidatos à Presidência na
eleição de outubro, com potencial para
lançar o país em mais turbulência e ace-
lerar a deterioração econômica, a de-
pender dos resultados. As Paso (sigla de
primárias abertas, simultâneas e obriga-
Centenário de luxo
13,25% ao ano
13,19% ao ano
4,8512/4,8518
4,8815/4,8821
4,8813/5,0613
5,3431/5,3457
LEO PINHEIRO/VALOR
5,3599/5,3605
5,4053/5,5853
O icônico hotel carioca Copacabana Palace, que hoje pertence ao grupo de luxo LVMH, completa cem anos rodeado de histórias. “É uma grande responsabilidade para nós. Além de ser um
negócio que precisa gerar resultados, o hotel exige um malabarismo entre a sustentabilidade e o cuidado com um patrimônio histórico”, diz o gerente-geral do ‘Copa’, Ulisses Marreiros. EU&
Literatura
Pedro Corrêa do Lago
construiu um dos dois
maiores acervos de
manuscritos das
Américas EU&
tado uma alíquota intermediária para
compras de até US$ 50, a ser definida após
ouvir varejistas nacionais e plataformas,
mas ele enfrenta resistências no governo.
Com adesão voluntária, o Remessa Con-
forme disciplina o envio de produtos es-
trangeiros ao país. Se as normas forem
cumpridas, a plataforma é liberada de co-
brar imposto de 60% sobre venda dos lojis-
tas aos consumidores. Na prática, a arreca-
dação não ocorre de forma efetiva, porque
há fraudes na postagem de bens adquiri-
dos em marketplaces ao Brasil, para evitar
o pagamento dos 60%, dizem redes locais.
Mudanças
“Minha especialidade não é negócio, mas organizar pessoas e recursos para alcançar resultados”,
diz, À Mesa com o Valor, o ex-ministro e ex-presidente da Petrobras e da BRF, Pedro Parente. EU&
tórias) devem indicar uma tendência
mais clara sobre quem é o mais cotado
para conduzir o país, mergulhado nova-
mente em grave crise econômica.
O próximo governo terá de buscar so-
luções para controlar a inflação alta, o
baixo crescimento, reservas internacio-
nais negativas e o aumento da pobreza.
Apenas um dos dois candidatos da opo-
sição moderada — o prefeito de Buenos Ai-
As empresas que aderirem às novas re-
gras deverão cobrar dois tributos nas ven-
das. Será mantido o ICMS de 17%. A nova
alíquota se somaria ao imposto estadual,
ambos cobrados sobre o valor da remessa.
O Valor apurou que o varejo considera
aceitável uma alíquota de 40%, que se so-
maria aos 17% de ICMS, mas cresce no setor
a visão de que um acordo depende de flexi-
bilizar a proposta. Já os marketplaces inter-
nacionais entendem que a alíquota de 17%
afeta a operação. A Shein apresentou à Fa-
zenda uma tarifa inferior à pleiteada pelo
varejo nacional, disse uma fonte. Página B1
res, Horácio Larreta, e a ministra de Segu-
rança do ex-presidente Mauricio Macri, Pa-
tricia Bullrich — deve seguir na disputa
após as primárias e chegar ao 1 o turno. Os
dois disputam a vaga pela coalizão Juntos
por el Cambio. Entre os demais candidatos,
dois chegam em situação mais confortável
às Paso: Sergio Massa, ministro da Econo-
mia do governo de Alberto Fernández, e o
radical de direita Javier Milei. Página A13
Cinema
“A Batalha de Argel”
(1966), de Gillo
Pontecorvo, lidera
lista dos principais
filmes políticos EU&
INÊS249
Campos Neto
indica fim do
crédito rotativo
Guilherme Pimenta, Caetano Tonet e
Jéssica Sant’Ana
De Brasília
O presidente do Banco Central, Ro-
berto Campos Neto, disse ontem que
a solução em construção para baixar
os juros do cartão de crédito é acabar
com o rotativo — com taxa média de
437% ao ano —, que seria substituído
por um parcelamento com juros de
até 9% ao mês, equivalentes a uma taxa
anual de 181,27%. “Quem não paga
vai direto para o parcelamento, ao re-
dor de 9%”, afirmou ele. Haveria, ainda,
“algum tipo de tarifa para desincenti-
var esse parcelamento.” O anúncio,
inesperado, foi bem recebido pelo Mi-
nistério da Fazenda. Em nota, a Febra-
ban disse que “busca uma solução
construtiva que passe por uma transi-
ção sem rupturas, que pode incluir o
fim do crédito rotativo e um redesenho
das compras parceladas.” Página C1
Santos Dumont
só terá voos
de até 400 km
Caio Sartori e Rafael Bittencourt
Do Rio e de Brasília
Após limitar a capacidade operacional
do Aeroporto Santos Dumont, na região
central do Rio, para aumentar a deman-
da no Aeroporto do Galeão, portaria do
governo federal estabeleceu também
uma restrição “por perímetro”. O aero-
porto só poderá realizar voos para termi-
nais de passageiros que estejam a 400 km
de distância, o que deve abarcar Congo-
nhas (SP) e Vitória, no Espírito Santo.
Confins (MG), embora esteja dentro do
limite estabelecido, ficou de fora por
operar voos internacionais. Brasília tam-
bém, mas poderá ser incluída por proje-
to de lei. A medida só deve entrar em vi-
gor a partir de 2 de janeiro de 2024, para
não causar transtornos às pessoas que já
compraram passagens. Página A6
Governo faz projeções
otimistas de receita,
mas problema é o gasto
Claudia Safatle A2
A2 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Brasil
Governo
quer mesmo
zerar o déficit
em 2024
Claudia Safatle
Conjuntura Índice Stone aponta retração disseminada por vários segmentos e baixa de 2,5% ante junho
Indicador mostra queda do varejo em julho
Alessandra Saraiva
Do Rio
As vendas no varejo brasileiro
iniciaram o segundo semestre em
queda, na ótica da sétima edição
do Índice de Atividade Econômi-
ca Stone Varejo. Na leitura do in-
dicador referente ao mês passa-
do, cujo resultado foi antecipado
ao Valor, o comércio amargou re-
cuo de 2,5% em julho ante junho,
com retração de 2,4% na compa-
ração com julho do ano passado.
Entre junho e julho, o indicador
mostrou queda disseminada de
vendas em todas as atividades cal-
culadas no índice. Para o pesquisa-
dor econômico e cientista de da-
dos da Stone Matheus Calvell, o al-
to endividamento das famílias im-
pede recuperação mais forte do
poder de consumo e afeta as ven-
das. “Difícil imaginar crescimento
no setor neste ano”, afirmou ele.
A retração das vendas do comér-
cio também foi percebida na ver-
Cinco anos após última pesquisa, Confiança da indústria
IBGE volta a investigar fome no país melhora, aponta CNI
Lucianne Carneiro
Do Rio
Após cinco anos, o Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) voltará a campo para pes-
quisar a situação da fome e da inse-
gurança alimentar no Brasil. O ins-
tituto anunciou uma parceria com
a Secretaria de Avaliação, Gestão
da Informação e Cadastro Único
(Sagicadi) para investigar o tema
no quarto trimestre, no âmbito da
Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) Contínua.
O Brasil não teve dados ofi-
ciais sobre a fome nos últimos
anos. Os números mais recentes
foram os levantados pela Rede
Brasileira de Pesquisa em Sobe-
rania e Segurança Alimentar e
Nutricional (Rede Penssan) — de
33,1 milhões de brasileiros pas-
sando fome— e por agências da
ONU, de 10,1 milhões com fome
e 70,3 milhões em situação de
insegurança alimentar.
O IBGE não pesquisava sobre in-
Índice de empresas citadas em textos nesta edição
A&M B2 Bank of America C1
Acelen B2 BlueLine Asset C1
ADDI C6 BMO Capital Markets C2
AgRural B10 BNDES A2
Arko Advice A8 BoletoFlex C6
Ativa Investimentos B4 BR Partners C2
Azul Linhas Aéreas B7 Braskem B2
Banco do Brasil C4 C6 Bank C6
F
ontes do Ministério
da Fazenda
garantiram que o
governo mantém a
meta de zerar o déficit
primário em 2024; e
sustentaram que não vai haver
mensagem modificativa
estabelecendo qualquer
condicionante na Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO)
ao cumprimento da meta.
São muitas as dúvidas e
incertezas, porém, em relação
ao Orçamento do próximo ano.
A começar pelo fato de que, não
tendo sido ainda aprovada a lei
do arcabouço fiscal, ele terá que
ser elaborado com base na lei
do teto de gasto ou não? A ideia
no Ministério do Planejamento
é que o Orçamento, que tem
que ser enviado ao Congresso
até o fim deste mês, seja
elaborado com base no
arcabouço que foi aprovado
pelo Senado, caso não seja
aprovada a tempo, pela
Câmara, a lei que define um
conjunto de regras fiscais.
O governo pretende
descontar, também, cerca de
R$ 5 bilhões em gastos de
investimentos de empresas
são ampliada do índice, que mos-
trou quedas de 2,4% na compara-
ção com junho; e de 4,2% ante ju-
lho do ano passado. O ampliado
inclui os setores de veículos, moto-
cicletas, partes e peças, material de
construção e, a partir da edição de
julho, o segmento de atacarejo —
que vende tanto para atacado
quanto para varejo.
Calculado pela Stone em con-
junto com o Instituto Propague,
o índice tem como base dados
públicos da Receita Federal e da-
dos transacionais de cartão dos
clientes do grupo StoneCo.
Calvell citou dados do Banco
Central sobre endividamento. “Em
março, tínhamos um terço da ren-
da comprometida somente com
serviço de dívida”, notou. Para ele,
mesmo que a economia tenha
mostrado sinais de crescimento,
desde então, o elevado patamar de
endividamento das famílias ainda
permanece e é um obstáculo à re-
cuperação do poder de compra.
segurança alimentar e fome desde
2018, através da Pesquisa de Orça-
mentos Familiares (POF) de 2017-
2018, cujos resultados foram di-
vulgados em 2020. Antes disso, as
edições de 2004, 2009 e 2013 da
antiga Pnad incluíram módulos
sobre segurança alimentar e fome.
O instituto destacou que vem
mantendo um padrão quinquenal
para essa investigação.
A pesquisa vai usar a Escala Bra-
sileira de Insegurança Alimentar
(EBIA) para classificar pessoas e
domicílios de acordo com a vulne-
rabilidade do acesso aos alimen-
tos, tanto em quantidade suficien-
te como em qualidade, com men-
suração a partir da percepção das
famílias. Ainda não há data confir-
mada para a divulgação dos resul-
tados. A parceria com a Sagicadi
busca atender a uma demanda do
Ministério do Desenvolvimento e
Assistência Social, Família e Com-
bate à Fome, segundo o instituto.
“Esse suplemento vem num mo-
mento importante pois entre 2018
Caixa A6
Capri Holdings B7
CBIE B4
Cesa B2
CM Capital A5
CoLink C6
Copersucar B3
Cyrela B4
estatais que estão listados no
Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), que deverá
ser anunciado hoje. Pelo menos
esse pedido foi objeto de uma
mensagem modificativa ao
projeto de LDO assinada pelo
presidente Lula.
Apesar de ser uma pequena
quantia frente ao tamanho do
Orçamento, trata-se de uma má
ideia resgatada do passado do
governo do PT. Lula lançou mão
de uma prática semelhante
durante o seu segundo
mandato, como forma de
reduzir o gasto total e, assim,
cumprir a meta fiscal, sob o
argumento de que
investimentos em obras, assim
como dotações para saúde e
educação, não são gastos. Tudo
começou como uma fração do
PAC e foi crescendo até atingir a
praticamente sua totalidade.
Desta vez, no entanto, fontes
oficiais suspeitam que pelo
pequeno tamanho da despesa a
ser descontada, “não seja para
ajudar, mas para não
atrapalhar mais” a meta de
zeragem do déficit primário.
Assim, comprometeu-se a
credibilidade nos resultados
Queda espalhada no varejo
Setores têm recuo de vendas disseminado em julho
Setores
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos,
de perfumaria e cosméticos
Hipermercados, supermercados, produtos
alimentícios, bebidas e fumo
Livros, jornais, revistas e papelaria
Material de construção
Móveis e eletrodomésticos
Tecidos, vestuário e calçados
Índice stone
Índice stone ampliado
Fonte: Stone e Instituto Propague
Além disso, mesmo com o corte, na
semana passada, na taxa de básica
de juros (Selic) de 0,50 ponto per-
centual, para 13,25% ao ano, isso
não muda, por exemplo, o perfil de
endividado no cartão de crédito,
e 2023 houve a pandemia de co-
vid-19, que provocou impactos
significativos no mercado de tra-
balho e na vulnerabilidade de fa-
mílias, principalmente nas de bai-
xa renda”, disse a coordenadora de
Pesquisas por Amostra de Domicí-
lios do IBGE, Adriana Beringuy.
Ex-presidente do Conselho Na-
cional de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea) e consultor
de Políticas da ActionAid, Francis-
co Menezes ressaltou a importân-
cia do indicador para monitorar as
políticas públicas de combate à fo-
me e avaliar o retorno de medidas
lançadas nos últimos meses.
“O atual governo está aplicando
políticas que já têm impacto com-
provado no sentido do enfrenta-
mento da insegurança alimentar,
mas é preciso ver os reais efeitos
delas”, disse ele, que citou como
exemplos dessas novas políticas os
repasses maiores do Bolsa Família
para famílias com crianças, adoles-
centes e mulheres grávidas e o rea-
juste da alimentação escolar.
elo C2
Esh Capital A5
Eztec B4
Fitch C1
Gmattos C6
Grendene B7
Helbor B4
Hytron B9
das contas públicas. Por mais
mérito que tenha uma despesa,
ela continua sendo gasto e afeta
o resultado da dívida pública,
que é, em última instância, o
que importa. Vem à mente
expressões como
“contabilidade criativa”,
fartamente utilizada no
período de “pedaladas” que
culminou com o processo de
impeachment da então
presidente Dilma Rousseff.
O déficit estimado para o ano
que vem é da ordem de R$ 130
bilhões, aí já considerado o
impacto, ainda que parcial, da
nova política de valorização do
salário mínimo. Como no
passado, o mínimo será
reajustado pela variação da
inflação mais a performance do
PIB de dois anos antes. Para o
próximo exercício, o valor do
salário mínimo será de R$ 1.421.
Além do pacote de medidas
enviado ao Congresso em
janeiro, um outro conjunto de
providências será enviado em
breve, para reforçar as receitas
do ano que vem. No primeiro
grupo constam o retorno do
voto de desempate do Carf
(Conselho Administrativo de
Variação de vendas em
julho ante junho (em %)
-1,3
-3,7
-2,6
-2,5
-1,4
-2,4
-2,5
-2,4
exemplificou o especialista. “Dívi-
da de rotativo de cartão de crédito,
a Selic caindo não afeta”, notou.
Para Calvell, é possível que o De-
senrola, programa federal de rene-
gociação de dívidas lançado em
Felipe Frisch
De São Paulo
O Índice de Confiança do Em-
presário Industrial (Icei) avançou
2,1 pontos, de 51,1 pontos para
53,2 pontos. O aumento mostra
que o indicador da Confederação
Nacional da Indústria (CNI) co-
meça a se afastar da linha divisó-
ria dos 50 pontos, que separa
confiança de falta de confiança.
“A confiança está mais forte e
disseminada entre os empresá-
rios da indústria. Foi a primeira
vez, em dez meses, que o índice de
expectativas sobre a economia
brasileira ultrapassou a linha di-
visória de 50 pontos. A transição
do pessimismo para o otimismo
em relação aos próximos seis me-
ses da economia está relacionada
com o início da redução da taxa
básica de juros e a previsão de no-
vos cortes até o fim do ano”, expli-
ca o gerente de Análise Econômi-
ca da CNI, Marcelo Azevedo.
O Índice de Condições Atuais,
Ipiranga B2, B3 Neogás B3
J.P. Morgan C2, C6 Novus Capital C1
Koin C6 Nvidia B6
Legacy Capital C1 Open Co C6
Melnick B4 Opla Logística Avançada B3
Moura Dubeux B4 Oxiteno B3
Movida B2 Pagaleve C6
Mubadala B2 Petrobras B2, B4
INÊS249
Recursos Fiscais), a
regulamentação de apostas
esportivas e a tributação de
rendimentos auferidos por
brasileiros no exterior. Medidas
que, em conjunto, devem
render cerca de R$ 55 bilhões.
Dentre as medidas que serão
enviadas junto com o projeto
de lei do orçamento, constam
mudanças no Juro sobre Capital
Próprio (JCP, uma maneira de
remunerar acionistas pagando
menos impostos) e o projeto de
lei para tributar os fundos de
investimentos exclusivos
(voltados para os muito ricos).
Desde a gestão de Dilma, as
contas do governo federal
registram déficit primário. No
ano passado houve um
superávit pontual. Para este
ano, há um déficit esperado de
R$ 145,4 bilhões nas contas do
governo central, equivalente a
1,4 % do PIB, segundo o mais
recente relatório bimestral de
receitas e despesas.
Já se sabia que a meta fiscal
para 2024 seria ambiciosa,
sobretudo porque depende
fundamentalmente de
aumento das receitas. O
governo optou por fazer
meados desse ano, possa melhorar
esse cenário de elevado patamar
de endividamento e, em algum
momento, aliviar espaço no orça-
mento para consumir mais, e as-
sim impulsionar o varejo. Mas essa
possível melhora não seria o sufi-
ciente para que o comércio encerre
2023 com saldo positivo de ven-
das, reconheceu ele.
As vendas do varejo restrito, sem
veículos, motos, partes e peças e
material de construção, subiram
1% em 2022, pior desempenho em
seis anos. Já o ampliado, que inclui
os dois setores, caiu 0,1% no ano
passado, de acordo com o IBGE.
Calvell faz uma ressalva. Al-
guns setores que estavam em
queda, em junho, ante igual mês
do ano passado, mostraram alta
em julho na comparação com
mesmo mês em 2022. É o caso dos
aumentos em vendas de móveis e
eletrodomésticos (0,8%) e de teci-
dos, vestuário e calçados (0,6%).
Esses dois apresentaram quedas
um dos componentes do Icei,
avançou 1,8 ponto, para 47,3 pon-
tos. Ao se manter abaixo da linha
divisória dos 50 pontos, o compo-
nente segue demonstrando per-
cepção de piora das condições
atuais da economia brasileira e das
empresas. Contudo, com o avanço
do índice, a percepção dos empre-
sários é de piora mais fraca e me-
nos disseminada em agosto.
O outro componente do Icei, o
Índice de Expectativas, subiu 2,3
pontos para 56,2 pontos, indi-
cando expectativas mais otimis-
tas para os próximos seis meses.
Esse índice é composto por ex-
pectativas em relação à econo-
mia, que passou de 48,2 pontos
para 51,5 pontos e em relação à
própria empresa, que subiu de
56,7 pontos para 58,6 pontos.
A CNI avalia ambos os compo-
nentes a partir da percepção do
empresário em relação à econo-
mia e em relação à própria empre-
sa. Foram ouvidos 1.373 empresá-
rios entre 1 o e 7 de agosto.
Porto C2 StoneX B4
Raízen B2, B9 Tapestry B7
S&P Global C1 Tecnisa B4
Santander A5 Toyota B9
Shein B1 TozziniFreire A4
Shell B9 Transpetro B2
Simpar B2 Trisul B4
Stone A2 UBS Wealth Management C1
prognósticos otimistas de
arrecadação, mesmo sabendo
que o problema das contas
públicas está na trajetória
crescente da despesa.
Há, como hipótese alternativa,
uma carta na manga caso dê tudo
errado no ano que vem: o
governo poderá propor uma
nova rodada de negociação no
âmbito do programa de
transação tributária, por meio do
qual se reduz multas e juros de
débitos em discussão para que
devedores do fisco quitem suas
dívidas. Só no Carf há
contenciosos que somam cerca
de R$ 1,5 trilhão.
Interlocutores do governo
avaliam que as chances de
sucesso do ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, na
aprovação de medidas de
ampliação das receitas estão
ligadas ao desfecho das
negociações de Lula com o
Centrão, para acomodar siglas
como PP e Republicanos no
primeiro escalão do governo.
Claudia Safatle é jornalista da equipe
que criou o Valor Econômico e escreve
às sextas-feiras
E-mail claudia.safatle@valor.com.br
respectivas de 0,7% e de 1,3% em
junho ante junho de 2022.
“A queda de julho do indicador
ampliado, ante igual mês do ano
passado, veio um pouco menor”,
acrescentou o técnico, ao compa-
rar o recuo de 4,2%, em julho ante
julho de 2022, com a retração de
4,5% em junho em relação a junho
do ano passado do indicador. “Po-
de ser que a queda tenha se estabi-
lizado”, afirmou. Para ele, isso po-
de ser um sinal de que o indicador
não vai acelerar o ritmo de recuo.
“Mas precisamos acompanhar os
próximos resultados para ver se
isso se confirma.”
“Dívida de rotativo
de cartão de
crédito, a selic
caindo não afeta”
Matheus Calvell
Curtas
Mobilidade no Rio
O BNDES aprovou financiamen-
to de R$ 702,8 milhões para o mu-
nicípio do Rio de Janeiro implan-
tar o Plano de Mobilidade Urbana
do bairro de Campo Grande. O
empréstimo equivale a 86% do va-
lor total do projeto, que prevê in-
vestimentos de R$ 821 milhões em
um conjunto de intervenções para
modernizar o sistema viário do
bairro, com novas conexões e me-
lhorias nos entroncamentos. O
município do Rio destinará recur-
sos próprios para os 14% restantes
do investimento necessário.
Ruffalo critica Lula
O ator Mark Ruffalo, 55, criticou
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva por falta de ações concretas
em defesa da Floresta Amazônica.
Ruffalo destacou que vê o presi-
dente como um ícone, mas criti-
cou a falta de metas da declaração
da Cúpula da Amazônia. Em pu-
blicação no Twitter, escreveu: “O
senhor é um dos meus heróis, Lu-
la, mas me parte o coração ver que
a Declaração de Belém da Cúpula
da Amazônia não tem metas con-
cretas para proteger a floresta”.
Ultracargo B3
Ultragaz B3
Ultrapar B3
Unipar B2
Votorantim Cimentos B4
 INÊS249 Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | A3

APRESENTADO POR

Risco do herpes zoster é maior

em pacientes imunossuprimidos 1
Manifestação da doença tem relação direta com a fragilidade do sistema imunológico1
@ GETTY IMAGES

A s manifestações do va-
ricelazoster,víruscau-
sadordoherpeszoster,estão
diretamente relacionadas à
eficiênciadosistemaimuno-
lógico1.Porisso,ospacientes
imunossuprimidosestãoem
maiorriscodemanifestação
da doença. Eles têm as defe-
sas do organismo fragiliza-
das pelo efeito de tratamen-
tos e outras doenças, além
do declínio natural causado
pelo envelhecimento1.
“São pessoas que sofrem
de doenças reumatológicas
e precisam usar corticoides
ou outras medicações que
causam imunossupressão.
Há também os pacientes
oncológicos, principalmen-
te aqueles que têm doenças
hematológicas, e pessoas
quevivem comHIV”,exem-
plifica a geriatra Maisa
Kairalla, presidente da
Comissão de Imunização
da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia.
Transplantados e porta-
dores de doenças crônicas,
como hipertensão arterial e
diabetes,tambémsãoapon-
tados pelo Ministério da
Saúde como de maior risco O herpes zoster é uma do- ficar adormecido no orga- em localizações atípicas descobriu a doença há Além das crises, o quadro
para a reativação do vírus1. ença que tem como um dos nismo por muitos anos, vol- e, geralmente, dissemina- seis anos. Ela lembra que pode se tornar ainda mais
Popularmente conhecido sintomas mais caracterís- tando a se manifestar quan- das1.A médica destaca que teve episódios de febre desafiador com a neuralgia
como cobreiro, o herpes zos- ticos a dor, que em alguns do há baixa imunológica no a intensidade da doença e mal estar. “Depois, os pós-herpética. Ela ocorre
ter costuma se manifestar casos foi descrita pelos pa- paciente1. “A reativação do pode estar relacionada ao sintomas foram terríveis. quando a dor persiste por
com pequenas bolhas dolo- cientes como pior do que a vírusgeralmenteacontecea comprometimento do sis- Além da febre, tive cocei- mais de 90 dias após as
rosas pelo corpo. A região to- dor do parto.2,3 Outros sin- partirdos50anos,porcausa tema imune. “Quanto mais ra e ardência no corpo, erupções da pele, sendo re-
rácicaéamaisatingida,repre- tomas podem ocorrer, co- da imunossenescência, a di- imunocomprometido o pa- até que surgiram as pe- fratária ao tratamento1.
sentando até 53% dos casos1. mo formigamento, adorme- minuiçãodarespostaimune ciente for, maior a incidên- quenas bolhas. No dia a Independentemente do
Masaslesõestambémpodem cimento, pressão, sensação normal”, explica a médica. cia”, comenta ela. dia é muito complicado, quãosaudávelapessoasesin-
surgirnoabdômen,nosmem- de agulhadas, ardor, febre, Contudo, os pacientes porque as pessoas olham ta,éimprevisívelomomento
brosenaface.Elasgeralmen- dor de cabeça e mal-estar1. imunossuprimidos podem FALTA DE CONHECIMENTO para você com medo, por- emqueovírusirásemanifes-
teacompanhamosnervosdo O vírus do herpes zoster é sofrer manifestações da Maria Elias Silveira, co- que falta conhecimento tar2. Porém, o herpes zoster
paciente e podem provocar o mesmo que provoca cata- doença ainda jovens, sendo ordenadora de organiza- sobre o herpes zoster”, é uma doença tratável e que
vermelhidão,coceiraedor1. pora na infância1. Ele pode que as lesões podem surgir ção não governamental, afirma Maria. tambémpodeserprevenida.2
REFERÊNCIAS
1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. HERPES (COBREIRO). DISPONÍVEL EM: <HTTPS://WWW.GOV.BR/SAUDE/PT-BR/ASSUNTOS/SAUDE-DE-A-A-Z/H/HERPES>. ACESSO EM 19 DE MAIO DE 2023.
2. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. PREVENTION OF HERPES ZOSTER: RECOMMENDATIONS OF THE ADVISORY COMMITTEE ON IMMUNIZATION PRACTICES (ACIP). MMWR, V. 57, RR-5, P. 1-30, 2008.
3. KATZ, J.; MELZACK, R. PAIN CONTROL IN THE PEROPERATIVE PERIOD, MEASUREMENT OF PAIN. SURG CLIN NORTH AM, V. 79, N. 2, P. 231-52, 1999. CONTEÚDO PATROCINADO PRODUZIDO POR GLAB.GLOBO.COM
MATERIAL DIRIGIDO AO PÚBLICO GERAL. POR FAVOR, CONSULTE O SEU MÉDICO. - NP-BR-HZU-JRNA-230005 – AGOSTO/2023
A4 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Brasil
Tributação Pesquisadores do FGV Ibre apontam
semelhanças, mas também ‘criações brasileiras’ no
IVA dual comparado ao que foi feito em outros países
Exceções não anulam
potência de reforma,
mas ampliação é risco
Anaïs Fernandes
De São Paulo
Apesar das críticas de que o tex-
to da reforma tributária saiu da
Câmara dos Deputados e chegou
ao Senado com muitos itens sob
tratamento diferenciado, pesqui-
sadores do Instituto Brasileiro de
Economia (FGV Ibre) avaliam que,
em relação à experiência interna-
cional, o conceito original e a es-
trutura principal de um Imposto
sobre Valor Agregado (IVA) foram
preservados. Eles alertam em con-
versa com o Valor, no entanto, que
a tramitação do projeto ainda é o
principal risco para essa avaliação
mais positiva, principalmente se
forem incluídas exceções a ponto
de os efeitos benignos da reforma
sobre a economia serem diluídos.
“Não consigo enxergar, no
mundo real, a ideia de que houve
perda de potência com as exceções
colocadas. Continuo achando que
o que foi aprovado na Câmara é
bastante positivo”, afirma Manoel
Pires, coordenador do Núcleo de
Política Econômica e do Observa-
tório de Política Fiscal do FGV Ibre.
A mudança na tributação da
origem em que o item é feito para
o destino do produto, por exem-
plo, deve fazer com o país saia de
um “modelo de guerra fiscal ilimi-
tada” para um “conceito de com-
petição tributária como vemos no
resto do mundo”, diz Pires.
A reforma tributária proposta
cria um IVA de base ampla e alí-
quota uniforme, eliminando a
cumulatividade e padronizando
o sistema, o que, por sua vez, deve
reduzir custos de produção e
conformidade, apontam pesqui-
sadores do FGV Ibre.
“Em essência, a reforma da tri-
butação do consumo ora em tra-
mitação no Congresso Nacional
consiste na introdução do imposto
sobre valor adicionado (IVA) em
moldes tradicionais e no estado da
arte das melhores práticas con-
temporâneas”, diz Luiz Guilherme
Schymura, diretor do FGV Ibre, na
carta de agosto do instituto.
Entre os 20 produtos com maior
tributação indireta no Brasil estão,
por exemplo, sabão, artigos de ves-
tuário, produtos farmacêuticos,
calçados e leite. “Observamos uma
regressividade grande, porque,
muitas vezes, são bens essenciais
para as pessoas”, afirma Pires.
A Proposta de Emenda à Consti-
tuição (PEC) que trata da reforma
tributária introduz um IVA dual.
Ele será composto pela Contribui-
ção sobre Bens e Serviços (CBS), da
União, com a unificação do IPI e
PIS/Cofins, e pelo Imposto sobre
Bens e Serviços (IBS), de Estados e
municípios, fundindo ICMS e ISS.
“É um sistema único, mas tem o
IVA cobrado pela União e outro
que vai integrar e harmonizar Es-
tados e munícípios”, explica Pires,
observando que esse é o modelo
adotado, por exemplo, no Canadá.
A reforma tributária não vai me-
xer nos regimes especiais da Zona
Fazenda discorda de regime específico para turismo
Jéssica Sant’Ana e Beatriz Olivon
De Brasília
O Ministério da Fazenda não vê
razão técnica para incluir ativida-
des de turismo em regime especí-
fico de tributação, conforme prevê
o texto da reforma tributária apro-
vado na Câmara e em discussão no
Senado. A afirmação consta no de-
talhamento metodológico da nota
técnica que trouxe projeções para
a alíquota-padrão do futuro Im-
posto sobre Valor Agregado (IVA).
A Fazenda diz que o texto aprova-
do sofreu modificação para incluir
mais um regime específico, além
Franca de Manaus e do Simples, o
que tem sido alvo de críticas de
economistas. “Confesso que não ti-
nha muita esperança de que isso
fosse tratado na reforma”, afirma
Pires. Ainda que a decisão possa
não ser ideal do ponto de vista téc-
nico, ela foi importante para viabi-
lizar politicamente a reforma,
pondera a carta do FGV Ibre.
Em termos da alíquota, haverá a
plena, a reduzida (40% da plena) e
a alíquota zero. A diferença em re-
lação ao regime atual é que a defi-
nição dos bens e serviços para cada
categoria de alíquota valerá para
todo o Brasil. Hoje, ela pode variar
entre União, Estados e municípios.
Com alíquota reduzida estarão,
por exemplo, serviços de educação
e saúde. “São alguns serviços que
afetam mais a vida dos mais po-
bres. Mas, obviamente, tem um
‘lobby’ que introduziu coisas que
não se justificam do ponto de vista
da teoria econômica e da experiên-
cia de outros países”, diz Pires.
É o caso, por exemplo, da inclu-
são de serviços de hotelaria e avia-
ção regional nos regimes especiais
previstos, que serão definidos por
lei complementar. Pires observa
que, entre os setores que terão re-
gime especial, há coincidências
com a experiência internacional,
por exemplo, para o sistema finan-
ceiro. “Alguns setores não se ade-
quam muito bem ao IVA”, afirma.
“Podemos ter
uma queda
relevante de
preços da cesta”
Bráulio Borges
Outras inclusões, no entanto,
“são coisas que vieram nessa refor-
ma brasileira”, aponta. “É difícil de
explicar”, diz Pires, citando como
exemplo a alíquota zero ao produ-
tor rural com receita anual inferior
a R$ 3,6 milhões. “Era melhor ter
alguma alíquota, mesmo que bem
baixa, porque ainda incentivaria a
formalização, para emissão de no-
tas e geração de crédito tributá-
rios”, diz Bráulio Borges, pesquisa-
dor associado do FGV Ibre.
Na alíquota zero entram alguns
serviços de transporte coletivo e
itens da cesta básica, por exemplo.
“Hoje, temos desoneração quase
completa dos tributos federais so-
bre a cesta, mas, para os tributos
regionais, não é completa. Passan-
do para alíquota zero, podemos
ter uma queda relevante de preços
da cesta básica”, afirma Borges.
Um problema, diz, é que ainda
não foi definido o que irá compor
essa cesta. “Isso pode ser muito re-
duzido ou não”, afirma Borges.
Além disso, com a desoneração da
cesta, Pires diz que fica mais difícil
para o governo implementar o sis-
tema de “cashback”, mecanismo
através do qual parte dos impostos
dos quatro propostos no relatório
preliminar do deputado Aguinaldo
Ribeiro (PP-PB). Esse regime especí-
fico criado, diz a pasta, inclui uma
lista de serviços relacionados “gene-
ricamente com as atividades de tu-
rismo”, que não teriam justificativa
técnica para não se enquadrar no re-
gime geral do novo IVA.
O texto aprovado diz que servi-
ços de hotelaria, parques de diver-
são, parques temáticos, bares, res-
taurantes e aviação regional pode-
rão ser enquadrados como regime
específico, podendo prever regras
de alterações de alíquotas, credita-
mento e base de cálculo ou até
pagos sobre certos produtos é de-
volvida às famílias mais pobres.
“Do ponto de vista da regressivi-
dade do modelo, o ‘cashback’ seria
melhor, permite focalizar mais.
Mas ele ainda pode ser oferecido
em outros bens e serviços, como
saúde e educação”, aponta Borges.
As alíquotas diferenciadas e os
regimes especiais poderiam dar
a impressão de que a reforma
mantém a elevada diferenciação
da tributação indireta no Brasil,
mas Pires observa que certo grau
de diferenciação também existe
nos IVAs de outros países.
Na União Europeia, por exem-
plo, os países podem ter alíquota
padrão, reduzida ou super-redu-
zida (inferior a 5%), além de regi-
mes especiais, que podem incluir
isenção total. Na Bélgica, a alí-
quota-padrão é 21% e a reduzida
é em torno de 6%, “menor que os
40% que estamos propondo”,
afirma Pires.
“A UE define 23 atividades co-
mo alíquota reduzida e, de algu-
ma forma, estamos tratando de
todos esses itens na nossa refor-
ma. Em alguns casos, vamos ser
até mais restritivos e duros com
isenções do que eles”, afirma Pi-
res. Operações com bens imóveis,
por exemplo, são isentas na Euro-
pa. “Aqui, vamos tratar como ex-
ceção, em regime especial, mas
vamos tributar”, exemplifica.
A PEC cria quatro fundos. O Fun-
do de Compensação de Benefícios
Fiscais faz a União repor perdas
projetadas com a reforma, de 2026
a 2032, às empresas beneficiadas
por programas já em andamento
de redução e/ou isenção de ICMS.
O Fundo de Desenvolvimento Re-
gional (FDR) também será alimen-
tado pela União em benefício dos
Estados, como compensação pelo
fim da guerra fiscal atual.
Os críticos, observa Schymura
na carta, dizem que a guerra fiscal
continuará, porque os Estados re-
ceberão da União recursos com os
quais poderão conceder benefí-
cios e subsídios para atrair empre-
sas. Na avaliação de Pires, no en-
tanto, essa “nova guerra fiscal” se-
rá, na verdade, uma competição
tributária saudável, em que esco-
lhas geram consequências.
“Com a mudança da tributação
na origem para o destino, vai mu-
dar a forma de fazer ‘guerra fiscal’.
Hoje, a guerra é feita com um Esta-
do abrindo mão da receita pelo
outro. Agora, se quiser reduzir a
alíquota, tem de reduzir para to-
dos os bens e serviços. O custo para
o ente é muito grande”, diz Pires.
A PEC cria ainda um fundo de
combate à pobreza, com recursos
dos Estados, e o Fundo de Susten-
tabilidade e Diversificação Econô-
mica do Estado da Amazônia. Pires
diz que só será possível acabar com
a Zona Franca de Manaus quando
um governo apresentar alternati-
vas ao modelo e, nesse sentido, o
fundo pode “ser porta de entrada
para esse debate”, afirma.
Há muita discussão a respeito
mesmo um regime cumulativo.
A ideia inicial apoiada pelo go-
verno previa apenas quatros regi-
mes específicos: combustíveis e lu-
brificantes; serviços de margem
(financeiros, planos de assistência
à saúde e concursos de prognósti-
co); operações com bens imóveis;
e compras públicas.
Segundo o governo, esses qua-
tro regimes se restringem a bens
ou serviços cujas peculiaridades
dificultam ou não recomendam
a apuração tradicional do tributo
pelo sistema regular de créditos-
débitos. Por exemplo, no caso das
instituições financeiras, o PIS/Co-
Manoel Pires: apoio de lideranças ajudou reforma na Câmara, mas ainda não é observada em igual magnitude no Congresso
Neutralidade
Alíquota de 24,9% do IVA dual e Imposto Seletivo mantém arrecadação
Alíquota efetiva total sobre o consumo - em %
Carga agregada Apenas impostos da reforma tributária*
35,6
36
32,1
32
28
26
24,1
24
1996 2008
Fonte: elaboração de Bráulio Borges *PIS/Cofins, IPI, ICMS e ISS
de qual seria a “alíquota neutra”
no novo sistema, mas, para Pires, o
debate tem sido mal colocado. “A
discussão não é se a alíquota vai ser
maior ou menor, ela já é alta”, diz.
De acordo com a OCDE, a carga
tributária do Brasil sobre bens e
serviços, em relação ao PIB, era de
14,1% em 2019, antes de a pande-
mia bagunçar as estatísticas. O país
só perdia para Hungria (16,2%),
Grécia (15,3%), Finlândia (14,2%) e
Dinamarca (14,1%).
Sobre o consumo do Brasil, Bor-
ges calcula que a carga efetiva inci-
dente é de 27,8%. Considerando
apenas os cinco tributos contem-
plados na reforma, é de 24,9%. Esse
cálculo é importante porque, se-
gundo o governo, a pretensão é
que a reforma seja neutra do pon-
to de vista da carga efetiva média
incidente sobre o total do consu-
mo de bens e serviços no país.
“Estamos no melhor momento
para fazer discussão de alíquota
neutra, no passado estaríamos
discutindo 30%”, observa Pires.
A alíquota neutra é diferente da
alíquota-padrão, explica Borges.
Esta última inclui ainda o Imposto
Seletivo (IS), sobre bens com exter-
nalidades negativas, como am-
bientais e sanitárias (cigarros, por
exemplo). Como a tributação so-
bre esses itens tende a ser bem
maior, um IS mais alinhado a pa-
drões internacionais poderia re-
duzir a alíquota neutra.
Borges cita estudo de pesquisa-
dores da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) estimando
que a alíquota-padrão poderia ser
cerca de dois pontos percentuais
fins já é apurado pela receita.
A leitura de técnicos é que os sis-
temas específicos não significam
um regime benéfico, mas somente
uma apuração diferenciada a cer-
tas operações. A carga tributária,
inclusive, pode ficar equivalente à
dos demais setores que apurarão
pelo regime geral do futuro IVA.
Porém, no caso das atividades
de turismo, o anexo da Fazenda
alertou para um suposto favore-
cimento, o que poderia distorcer
o objetivo do regime específico.
Tributaristas ouvidos pelo Va-
lor indicam que o setor já tem re-
gime diferenciado hoje, o que
27,8
24,9
2022
menor do que a neutra com a so-
bretaxação de certos produtos
com externalidades negativas, o
que levaria a uma alíquota-padrão
de 22,9% nos cálculos de Borges.
Esse valor não considera ne-
nhum regime diferenciado além
da manutenção da Zona Franca
de Manaus, do Simples Nacional
e do próprio IS. Borges observa
que os tratamentos diferenciados
aprovados na Câmara tenderiam
a elevar essa alíquota padrão em
quase cinco pontos percentuais.
Em outra frente, Pires reforça
que a autonomia dos Estados e dos
municípios, pela proposta, será
preservada, já que eles poderão de-
finir suas alíquotas. “O que o Sena-
do vai fazer é aplicar uma alíquota
de referência, a medida para man-
ter a arrecadação neutra no todo.
Nas respectivas assembleias, eles
vão poder aprovar suas alíquotas.
Se não for feito, aí, sim, aplica a de
referência”, explica Pires. “Não tem
como garantir neutralidade para
cada localidade.”
O senador Efraim Filho (União-
PE), relator do grupo de trabalho
da Reforma Tributária na Comis-
são de Assuntos Econômicos (CAE)
do Senado, chegou a defender que
a PEC defina uma alíquota máxi-
ma. A iniciativa pode gerar uma
“corrida” entre os entes federativos
para ocuparem esse espaço, alerta
Pires. “Os Estados podem aprovar
alíquotas mais altas e ‘comer’ espa-
ço da União e vice-versa”, diz.
Reduzir os regimes especiais,
por outro lado, seria uma forma de
possibilitar uma alíquota neutra
menor, segundo os pesquisadores.
poderia justificar estar no regime
destacado, o que não significaria,
necessariamente, um benefício.
“Nossa impressão é que a inclu-
são dos setores na PEC vem de já ter-
mos alíquotas diferenciadas para
esses setores”, diz Fernanda Pazello,
sócia do escritório TozziniFreire.
A proposta da PEC é de não ha-
ver aumento de carga tributária, o
que pode ser interpretado de for-
ma global, no sentido de não ter
arrecadação maior, ou do ponto
de vista dos setores específicos, o
que é um desafio, porque para al-
guns setores haverá aumento de
carga tributária, segundo Jerry Le-
WENDERSON ARAUJO/VALOR
Embora as exceções discutidas
hoje, em sua maioria, não tirem a
qualidade da proposta, a nova ro-
dada de debates no Senado pode
levar à ampliação desses casos, o
que diluiria os efeitos da reforma,
segundo Pires e Borges.
“A discussão na Câmara foi feita
por muito tempo e teve apoio polí-
tico muito grande de lideranças.
Isso não enxergamos ainda no Se-
nado, porque o tema não estava lá.
Vamos precisar ver como essa con-
ciliação entre governo e Senado vai
acontecer”, diz Pires. “Evidente-
mente, o Senado vai mexer em al-
gumas coisas, é natural, os acordos
políticos são diferentes. A grande
questão é se as mudanças serão su-
ficientes para deturpar a reforma
ou não, essa é a grande preocupa-
ção. Se tiver ampliação grande das
exceções no Senado, é difícil a Câ-
mara conseguir eliminar.”
Além disso, diz Pires, os valores
dos fundos criados devem ser ba-
lizados pelos ganhos da reforma,
caso contrário, ela pode ter eleva-
do custo fiscal para a União.
A criação de um Conselho Fede-
rativo, responsável por adminis-
trar os recursos do IBS e do fundo
regional, também é vista pelos pes-
quisadores como um risco. “Não
quer dizer que não vá funcionar ou
que seja ruim, mas é uma solução
para um problema que parece não
existir em outros países, de os Esta-
dos não confiarem na União”, diz
Pires. Provavelmente, aponta, ha-
verá um processo de judicialização
em torno das decisões “até ajustar
o modus operandi desse sistema”.
A brecha no texto aprovado na
Câmara para que Estados criem
um imposto sobre a produção de
bens primários também é critica-
da. “A ideia é deslocar a tributa-
ção para o consumo. Vai desone-
rar investimento e exportação. Se
voltar com a tributação sobre
bens primários, vai tirar competi-
tividade da economia”, diz Pires.
Por fim, os pesquisadores en-
tendem que a transição longa e a
coexistência do sistema atual e do
novo por algum tempo podem ge-
rar incertezas. “Não vejo como po-
deria ser muito diferente, senão se-
ria uma reforma abrupta e com
muita dificuldade de adaptação.
Mas tem algum custo econômico
de curto prazo que poderia ser eli-
minado se algumas coisas fossem
antecipadas”, afirma Pires.
vers, do mesmo escritório.
Hoje, de forma geral, o setor de
turismo paga cerca de 12,5% (ICMS,
PIS e Cofins) com alguma possibili-
dade de creditamento e passará, na
alíquota padrão estimada, para cer-
ca de 25%, mas com creditamento
total — o que não é tão efetivo para
serviços, segundo Pazello.
Procurados, a Abrasel (que re-
presenta bares e restaurantes) e a
Abear (aviação regional) afirma-
ram que, no momento, não vão
comentar. As demais associações
não retornaram o contato.
Leia mais na página B7
 INÊS249 Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | A5

Brasil

Conjuntura Crescimento de 0,2% Desaceleração dos serviços

do segmento em junho fica Setor opera em 2023 em ritmo abaixo de 2022

abaixo do esperado de analistas Variação mensal (em %) Desempenho por trimestre, var. (%)
4 4

Expectativa é
2,8 2,9
2 1,5 1,2 1,4 1,9
1,1 0,8
0,5
2 1,5 1,3
0,2
0 -0,1 0,5
-0,3

que fraqueza
0
-2
-1,6
-0,7
-3,4
-4 -2
Jul/22 Ago Set Out Nov Dez Jan/23 Fev Mar Abr Mai Jun 1º tri/22 2º 3º 4º 1º tri/23 2º

prossiga no
Desempenho por segmento em junho
Variação ante maio Distância em relação ao
(em %) pré-pandemia (em %)
Serviços 0,2 12,1
Serviços prestados às famílias 1,9 -2,5

setor de serviços
Informação e comunicação 0,5 18,3
Profissionais e administrativos 0,8 9,8
Transportes, armazenagem e correio -0,3 23,5
Outros serviços -0,4 0,3
-0,5 2,0 -5 25
Fonte: IBGE

Rafael Vazquez e nais, administrativos e comple-

Lucianne Carneiro
De São Paulo e do Rio
O crescimento em junho do
volume de serviços prestados no
país ficou abaixo da expectativa
do mercado, e, segundo econo-
mistas, a desaceleração da eco-
nomia brasileira já pode ser ob-
servada no resultado.
O setor teve alta de 0,2% em ju-
nho na comparação com maio e
cresceu 4,1% em relação ao mes-
mo mês do ano passado, segun-
do os dados da Pesquisa Mensal
de Serviços (PMS) divulgados on-
tem pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). As
medianas coletadas pelo Valor
Data indicavam crescimento de
0,5% na comparação com maio e
de 4,2% em relação a junho do
ano passado. Em maio, o setor
cresceu 1,4% frente a abril após a
revisão anunciada na pesquisa.
“O arrefecimento do indica-
dor geral contou com desacele-
ração ou queda de praticamente
todos os grupos que compõem o
cálculo da pesquisa, à exceção
do grupo de serviços profissio-
mentares, embora seu cresci-
mento tenha sido basicamente a
reversão das duas quedas conse-
cutivas sofridas em abril e maio”,
destacou o economista da CM
Capital Matheus Pizzani.
De acordo com o IBGE, três das
cinco atividades acompanhadas
pela PMS tiveram alta na passa-
gem entre maio e junho. Os des-
taques vieram de serviços presta-
dos às famílias, com crescimento
de 1,9%, de serviços profissionais,
administrativos e complementa-
res, com alta de 0,8%, e de servi-
ços de informação e comunica-
ção, com variação de 0,5%.
A alta de serviços prestados às
famílias foi a terceira seguida, o
que permitiu ganho acumulado
de 4,1% no período. No caso de
serviços profissionais, o aumen-
to de junho permitiu recuperar
parte da perda de 1,2% acumula-
da nos meses de abril e maio. Já
os serviços de informação regis-
traram a segunda alta seguida,
com ganho acumulado de 1,3%.
Por outro lado, transportes,
serviços auxiliares aos transpor-
tes e correio tiveram queda de
0,3% e a categoria outros servi-
ços caiu 0,4%. Ambos os segmen-
tos eliminaram parte dos ga-
nhos de maio, de 2,2% e 0,8%,
respectivamente.
“No geral, o desempenho ainda
é bom, mas já vemos o arrefeci-
mento principalmente na base
mensal. É normal que no período
do meio do ano a performance seja
mais fraca”, observa a economista
da Esh Capital Ariane Benedito.
Com o desempenho de junho,
os serviços agora estão em pata-
mar 12,1% superior ao do pré-
pandemia, em fevereiro de 2020,
mas 1,5% abaixo do nível de de-
zembro de 2022 — ponto mais al-
to da série histórica.
Enquanto no período de 12
meses até junho o setor obteve
“No geral,
desempenho ainda
é bom, mas já vemos
o arrefecimento”
Ariane Benedito
crescimento de 6,2% e acumule
alta de 4,7% em 2023, na compa-
ração trimestre com trimestre
imediatamente anterior houve
uma queda de 0,7% nos primei-
ros três meses do ano que não foi
totalmente recuperada pela alta
de 0,5% entre abril e junho.
“[O volume de serviços] teve
uma elevada base de compara-
ção em dez trimestres de cresci-
mento. E chega ao ápice da série
histórica em dezembro. Aí tem
uma devolução natural, de 0,7%,
no primeiro trimestre”, comen-
tou o gerente da PMS no IBGE,
Rodrigo Lobo.
Ao longo de 2022, o cresci-
mento do volume de serviços de
cada trimestre, em relação ao
imediatamente anterior, foi de
1,9% no primeiro, 1,5% no se-
gundo, 2,9% no terceiro e 1,3%
no quarto, o que deixou uma ba-
se alta para 2023, ano em que a
política monetária restritiva
aplicada pelo Banco Central des-
de o ano passado vai ter impacto
mais forte, principalmente no
segundo semestre.
“A expectativa é que, na ausên-
cia de estímulos que afetem arti-
ficialmente o indicador [de servi-
ços], a trajetória de arrefecimen-
to se mantenha como tônica das
próximas divulgações”, diz Piz-
zani, da CM Capital. “Tal movi-
mento tende a mostrar também
uma contribuição relativa me-
nor do setor para o conjunto da
economia neste ano”, acrescenta.
Para a equipe econômica do
Santander, o resultado da PMS de
junho reforça a percepção de que
a economia brasileira já está em
processo de desaceleração e que
esse será o cenário ao longo do
segundo semestre.
“Continuamos vendo sinais de
desaceleração para a atividade à
frente, já que segmentos mais cí-
clicos indicam uma tendência
contínua de desaceleração devi-
do a condições financeiras alta-
mente restritivas”, escreveu o
economista Felipe Kotinda.
Diante do cenário, Ariane Be-
nedito, da Esh Capital, acredita
que o setor de serviços não será
mais um obstáculo para o Banco
Central continuar com o ciclo de
corte da taxa de juros iniciado
na última reunião do Comitê de
Política Monetário (Copom), no
início do mês.
Em relação aos serviços pres-
tados às famílias, que subiram
1,9% em junho ante maio, mas
permanecem 2,5% abaixo do ní-
vel pré-pandemia, Lobo, do
IBGE, afirmou que está ocorren-
do uma espécie de “escape” da
receita dos serviços prestados às
famílias para outros segmentos
nos últimos anos. Ele citou o
avanço dos aplicativos de delive-
ry de comida para entrega de
pedidos de restaurantes e das
plataformas de hospedagens e
compartilhamento de moradias,
cuja receita é contabilizada em
serviços profissionais e adminis-
trativos, e não no grupo de servi-
ços prestados às famílias.
“No pré-pandemia, os restau-
rantes mesmo em geral entrega-
vam os pedidos. Hoje, as empre-
sas de aplicativos detêm uma
parte da receita de restaurantes.
Esses serviços migram para o seg-
mento de serviços profissionais,
e talvez seja uma forma de enten-
der”, comentou.

Na OAB SP,
todo dia é dia
das advogadas
e dos advogados.
Dia 11 de agosto.
Dia de lembrar da importância da advocacia e valorizar
seu papel decisivo e fundamental para a cidadania,
para a sociedade e para a vida das pessoas.

Sem advogado, não há justiça.

A OAB SP parabeniza a todos os profissionais que exercem

com orgulho, coragem e determinação a nossa profissão.
A6 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Brasil

Infraestrutura Portaria para ‘salvar’ Galeão foi

SUA MARCA NO
assinada pelo ministro Márcio França ao lado do
MAIS IMPORTANTE
VEÍCULO DE ECONOMIA,
presidente Lula e do prefeito Eduardo Paes, no Rio
Setorial
Governo limita voos
NEGÓCIOS E
FINANÇAS DO PAÍS

Sustentabilidade
Sua marca presente
do Santos Dumont a
em importantes
discussões perímetro de 400 km
Caio Sartori e Rafael Bittencourt A negociação para diminuir o no é levar a proposta ao Congresso
Do Rio e de Brasília esvaziamento do Galeão e redu- com tramitação em regime de ur-
As corporações estão cada vez mais adotando medidas de sustentabilidade
zir a sobrecarga do Santos Du- gência, o que ainda seria negocia-
econômica, ambiental e social para atender seus diversos públicos. Com essa O ministro dosPortoseAeropor- mont se arrastava desde o gover- do com os líderes de partidos.
preocupação, surgem discussões sobre necessidades de financiamento no tos, Márcio França, assinou ao lado no anterior. No atual, houve dis- Lula visitou na tarde de ontem
mercado de capitais para essas iniciativas. A revista Valor Setorial Sustentabilidade do presidente Lula, nesta quinta- cordâncias entre as autoridades as obras do Impa Tech, campus do
vai apresentar as principais práticas adotadas em diferentes setores da economia feira (10), uma portaria para trans- do Rio e Márcio França. Paes, no Instituto de Matemática Pura e
para reduzir o impacto ambiental, além de inovações tecnológicas para acelerar ferir voos do aeroporto Santos Du- entanto, envolveu Lula direta- Aplicada que abrigará, no Porto
o necessário processo de redução das emissões de gases de efeito estufa mont para o do Galeão, ambos do mente na história. Maravilha, uma graduação em
e outros assuntos que permeiam o tema. Anuncie aqui. Rio. Continuarão no Santos Du- “A palavra do presidente é uma matemática — a primeira do insti-
mont apenas as rotas para cidades palavra reta e que não faz curva. Ele tuto, que oferece hoje cursos de
regionais a 400 km de perímetro, combinou com o prefeito um mestrado e doutorado. Inserida no
PRINCIPAIS TEMAS ou seja, as capitais do Sudeste. As acordo e nós encontramos então projeto Porto Maravalley, da pre-
medidas passam a valer no dia 2 de um formato jurídico para dar las- feitura, a universidade vai ser cus-
• Tendências • Certificação - Construção
janeiro do ano que vem. tro a essa decisão”, disse França. teada pelos ministérios da Educa-
• Desmatamento e florestas • Crédito de carbono (edifícios verdes) Confins, em Belo Horizonte, é Paes, por sua vez, agradeceu a ção e de Ciência e Tecnologia.
• Amazônia • Financiamento - Farmacêutica exceção: embora esteja no raio de Lula e França pela resolução. “Não Os cursos começam no ano que
• Cerrados • Setores - Higiene, Perfumes 400 quilômetros, não deve ser in- tem jeito: eu também prefiro voar vem com cem alunos. Ao fim dos
• Outras regiões - Agricultura e Cosméticos cluído, por ter voos internacionais. no Santos Dumont, aquela vista quatro primeiros anos, serão 400.
• Biodiversidade - Pecuária e Carnes - Mineração Há o receio de que ocorra distorção linda, Pão de Açúcar, baía de Gua- Com ênfases em matemática, ciên-
• Fiscalização - Alimentos e bebidas - Siderurgia semelhanteà observada em Guaru- nabara”, disse. “Mas uma cidade cia da computação, ciência de da-
• Economia circular - Automobilística - Papel e celulose lhos (SP), que opera rotas para fora como o Rio, sem aeroporto inter- dos e física, a graduação vai consi-
• Água e saneamento e autopeças - Móveis do país com passageiros vindos de nacional, é uma cidade fadada a se derar no processo seletivo o de-
• Energia - Bens de capital - Têxtil e confecções conexão do Santos Dumont. transformar num balneário char- sempenho de estudantes na Olim-
Brasília não foi incluída na por- moso. Tudo que o governo ante- píada Brasileira de Matemática das
• Resíduos sólidos - Celulares - Calçados
taria, diferentemente do que pre- rior não entendeu, o senhor [Lula] Escolas Públicas (Obmep).
• Reciclagem e equipamentos - Embalagens
via a demanda original do Rio. A entendeu em uma reunião.” Além do apoio anunciado ao
de informática - Logística reversa capital federal pode vir a entrar no A restrição por perímetro foi a projeto do Impa, Lula divulgou
escopo abarcado pelo aeroporto solução encontrada para não gerar com Paes e a presidente da Caixa,
doméstico via projeto de lei. judicialização. Isso porque a restri- Rita Serrano, acordo para expandir
GARANTA SEU ESPAÇO NESTA EDIÇÃO ESPECIAL: “Não é preciso ser engenheiro ção de destino conflita com as leis as Operações Urbanas Consorcia-
Reserva: 16/08 | Material: 18/08 | Publicação: 31/08 ou gestor para saber que não tem de Liberdade Econômica e de cria- das (OUC) do Porto Maravilha até
sentido o Galeão ficar paralisado ção da Agência Nacional de Avia- São Cristóvão, na zona norte.
porque as pessoas preferem sair do ção Civil (Anac). A ideia do gover- Dos atuais 5 milhões de metros
Santos Dumont”, afirmou Lula no quadrados, a área passará para 8,7
MARISA DE ASSIS STEPHANO - Diretora Rio, em agenda com o prefeito milhões, a fim de dar mais liquidez

(11) 9 9414 – 8277 e (11) 3768 – 1025

Eduardo Paes (PSD). “O Galeão foi “Galeão foi feito aos Certificados de Potencial Adi-
construído para ser o aeroporto cional de Construção (Cepacs) e
JOSÉ OLIVEIRA - Executivo de contas internacional, a porta de entrada para ser a porta de estimular construções na região.

marisa.valor@transformenegocios.com.br
de qualquer estrangeiro no Brasil.
É necessário [intervir] para criar
entrada de Antes do campus do Impa, o
presidente foi a Campo Grande, na
uma coisa mais inteligente, a pes- estrangeiros” zona oeste, onde anunciou apoio
soa voar [para fora do país] de um federal de R$ 2,6 bilhões no siste-
aeroporto muito mais seguro.” Lula ma de transportes da cidade.

Atividade econômica Atualize suas contas

Indicadores agregados Variação dos indicadores no período
jul/23 jun/23 mai/23 abr/23 mar/23 fev/23 jan/23 dez/22 nov/22 out/22 Em % Em R$
Índice de atividade econômica - IBC-Br (%) (1) - - -2,00 0,81 -0,27 2,98 0,23 0,77 -1,33 -0,28 Mês TR (1) Poupança (2) Poupança (3) TBF (1) Selic (4) TJLP TLP FGTS (5) CUB/SP UPC Salário mínimo
Indústria (1) jan/22 0,0605 0,5608 0,5608 0,7609 0,73 0,5096 0,4146 0,3073 0,35 23,55 1.212,00
fev/22 0,0000 0,5000 0,5000 0,7272 0,76 0,4601 0,4249 0,2466 0,18 23,55 1.212,00
Produção física industrial (IBGE - %) mar/22 0,0971 0,5976 0,5976 0,8678 0,93 0,5096 0,4265 0,3440 0,25 23,55 1.212,00
Total - 0,1 0,3 -0,6 1,1 -0,2 -0,3 0,0 0,2 1,3
abr/22 0,0555 0,5558 0,5558 0,8159 0,83 0,5513 0,4416 0,3023 0,71 23,59 1.212,00
Indústria de transformação - -0,2 -0,1 -0,8 1,7 -0,4 -1,1 0,1 1,3 0,0
mai/22 0,1663 0,6671 0,6671 0,9776 1,03 0,5697 0,4424 0,4133 4,13 23,59 1.212,00
Indústrias extrativas - 2,9 1,4 -0,8 0,3 4,1 3,8 -1,9 -6,3 6,3
jun/22 0,1484 0,6491 0,6491 0,9496 1,02 0,5513 0,4472 0,3954 2,22 23,59 1.212,00
Bens de capital - -1,2 4,1 -11,8 8,8 -0,6 -4,5 -1,7 3,3 -3,6
jul/22 0,1631 0,6639 0,6639 0,9844 1,03 0,5851 0,4456 0,4101 0,73 23,67 1.212,00
Bens intermediários - -0,3 0,0 0,4 1,1 0,4 -0,8 -0,6 0,6 2,2
ago/22 0,2409 0,7421 0,7421 1,0929 1,17 0,5851 0,4630 0,4881 -0,01 23,67 1.212,00
Bens de consumo - 0,3 -0,8 1,3 -1,3 -0,2 0,2 2,0 -0,1 0,1
set/22 0,1805 0,6814 0,6814 1,0020 1,07 0,5662 0,4670 0,4276 -0,06 23,67 1.212,00
Faturamento real (CNI - %) - 1,0 0,1 -1,8 0,9 0,5 -1,0 -0,1 0,5 0,1
out/22 0,1494 0,6501 0,6501 0,9506 1,02 0,6005 0,4702 0,3964 0,04 23,81 1.212,00
Horas trabalhadas na produção (CNI - %) - -0,2 0,6 -1,0 0,9 -0,9 0,1 0,9 0,1 -1,4
nov/22 0,1507 0,6515 0,6515 0,9519 1,02 0,5811 0,4614 0,3977 0,15 23,81 1.212,00
Comércio
dez/22 0,2072 0,7082 0,7082 1,0489 1,12 0,6005 0,4670 0,4543 0,17 23,81 1.212,00
Receita nominal de vendas no varejo - Brasil (IBGE - %) (1)(2) - 0,5 -2,2 -1,5 2,9 -0,8 3,3 -0,6 -0,5 0,2
jan/23 0,2081 0,7091 0,7091 1,0398 1,12 0,6142 0,4812 0,4552 -0,06 23,93 1.302,00
Volume de vendas no varejo - Brasil (IBGE - %) (1)(2) - 0,0 -0,7 -0,1 0,6 -0,2 4,1 -3,0 -0,7 0,2
fev/23 0,0830 0,5834 0,5834 0,8536 0,92 0,5546 0,4931 0,3298 0,00 23,93 1.302,00
Serviços
mar/23 0,2392 0,7404 0,7404 1,0912 1,17 0,6142 0,4986 0,4864 -0,18 23,93 1.302,00
Receita nominal de serviços - Brasil (IBGE - %) (1) - 0,2 -0,3 -0,9 1,4 2,1 -0,7 1,9 -0,9 0,3 abr/23 0,0821 0,5825 0,5825 0,8527 0,92 0,5873 0,4907 0,3289 0,29 24,06 1.302,00
Volume de serviços - Brasil (IBGE - %) (1) - 0,2 1,4 -1,6 1,2 0,8 -3,4 2,8 -0,1 -0,3 mai/23 0,2147 0,7158 0,7158 1,0465 1,12 0,6070 0,4812 0,4619 1,44 24,06 1.320,00
Mercado de trabalho jun/23 0,1799 0,6808 0,6808 1,0014 1,07 0,5873 0,4622 0,4270 0,64 24,06 1.320,00
Taxa de desocupação (Pnad/IBGE - em %) - 8,0 8,3 8,5 8,8 8,6 8,4 7,9 8,1 8,3 jul/23 0,1581 0,6589 0,6589 0,9694 1,07 0,5843 0,4464 0,4051 0,09 24,17 1.320,00
Emprego industrial (CNI - %) (1) - 0,0 -0,4 0,0 0,1 -0,3 0,4 0,0 0,2 0,1 ago/23 0,2160 0,7171 0,7171 1,0578 1,14 0,5843 0,4321 0,4632 - 24,17 1.320,00
Indicador Antecedente de Emprego - (FGV/IBRE) (1)(3) 1,2 2,2 -0,4 -1,4 1,7 0,8 -0,8 1,6 -6,7 -4,0 2023 1,39 5,52 5,52 8,19 8,86 4,83 3,85 3,41 2,23 1,51 8,91
Balança comercial (US$ milhões) Em 12 meses * 2,09 8,39 8,39 12,53 13,55 7,32 5,80 5,15 2,52 2,11 8,91
Exportações 29.062 29.959 32.723 27.097 32.824 20.255 22.822 26.342 27.652 26.852 2022 1,63 7,90 7,90 11,71 12,39 6,88 5,51 4,68 9,12 1,15 10,18
Importações 20.027 19.502 21.688 19.141 22.072 17.684 20.529 21.809 21.452 23.477 Fontes: Banco Central, CEF, Sinduscon e Ministério da Fazenda. Elaboração: Valor Data * Até o último mês de referência
Saldo 9.035 10.458 11.034 7.956 10.752 2.571 2.293 4.533 6.200 3.375 (1) Taxa do período iniciado no 1º dia do mês. (2) Rendimento no 1º dia no mês seguinte para depósitos até 03/05/12 (3) Rendimento no 1º dia no mês seguinte para depósitos a partir de
Fontes: Banco Central, CNI, FGV, IBGE e SECEX/MDIC. Elaboração: Valor Data (1) Metodologia com ajuste sazonal. (2) Nova série com índice base 2014 = 100. (3) Var. em pts 04/05/12; Lei nº 12.703/2012 (4) Taxa efetiva; para agosto projetada. (5) Crédito no dia 10 do mês seguinte (TR + Juros de 3% ao ano)

Produção e investimento Inflação Dívida e necessidades de financiamento

Variação no período Variação no período (em %) Valores em R$ bilhões - no setor público
Indicadores 1º Tri/23 4º Tri/22 2023 (1) 2022 2021 2020 Dívida líquida do setor público jun/23 mai/23 jun/22
Acumulado em Número índice
PIB (R$ bilhões) * 2.557 2.584 10.156 9.915 7.610 7.610 Valor % do PIB Valor % do PIB Valor % do PIB
PIB (US$ bilhões) ** 486 491 1.962 1.905 1.649 1.476 jul/23 jun/23 2023 2022 12 meses jul/23 jun/23 dez/22 jul/22
Dívida líquida total 6.096,5 59,08 5.935,7 57,79 5.316,6 56,85
Taxa de Variação Real (%) 1,9 -0,1 3,3 2,9 -3,3 -3,3 IBGE
(-) Ajuste patrimonial + privatização 9,0 0,09 11,8 0,12 5,7 0,06
Agropecuária 21,6 -0,9 6,0 -1,7 4,2 4,2 IPCA - -0,08 2,87 5,79 3,16 - 6.659,95 6.474,09 6.411,95
(-) Ajuste metodológico s/ dívida* -676,1 -6,55 -750,1 -7,30 -790,4 -8,45
Indústria -0,1 -0,3 2,4 1,6 -3,0 -3,0 INPC - -0,10 2,69 5,93 3,00 - 6.886,37 6.706,15 6.645,74
Dívida fiscal líquida 6.763,6 65,55 6.674,0 64,98 6.101,2 65,24
Serviços 0,6 0,2 3,9 4,2 -3,7 -3,7 IPCA-15 -0,07 0,04 3,09 5,90 3,19 6.542,57 6.547,15 6.346,64 6.340,06
Formação Bruta de Capital Fixo (%) -3,4 -1,3 2,7 0,9 -1,7 -1,7 IPCA-E - 0,04 3,16 5,90 3,40 - 6.547,15 6.346,64 6.340,06 Divisão entre dívida interna e externa
Investimento (% do PIB) 17,7 18,9 18,6 18,8 16,6 16,6 Dívida interna líquida 6.744,8 65,36 6.667,2 64,91 6.124,1 65,49
FGV
Fontes: IBGE e Banco Central. Elaboração: Valor Data Dívida externa líquida -648,3 -6,28 -731,4 -7,12 -807,5 -8,64
IGP-DI -0,40 -1,45 -5,35 5,03 -7,47 1.082,11 1.086,47 1.143,23 1.169,43
* Valores correntes. ** Banco Central. (1) 1º trim de 2023, nos últimos 12 meses
Núcleo do IPC-DI 0,22 0,16 2,03 6,16 3,39 - - - - Divisão entre as esferas do governo
IPA-DI -0,61 -2,13 -8,34 4,70 -11,47 1.261,15 1.268,86 1.375,86 1.424,53 Governo Federal e Banco Central 5.169,6 50,10 5.006,3 48,74 4.438,4 47,46
IPA-Agro -0,88 -3,81 -12,93 3,38 -16,03 1.753,26 1.768,81 2.013,57 2.087,94 Governos Estaduais 821,8 7,96 827,5 8,06 769,4 8,23
Contrib. previdenciária* IR na fonte IPA-Ind. -0,51 -1,49 -6,51 5,24 -9,65 1.063,37 1.068,79 1.137,41 1.176,94 Governos Municipais 42,6 0,41 40,2 0,39 55,6 0,59
Empregados e avulsos** Faixas de contribuição IPC-DI 0,07 -0,10 2,45 4,28 3,53 725,85 725,34 708,49 701,10 Empresas Estatais 62,5 0,61 61,7 0,60 53,2 0,57
INCC-DI 0,10 0,71 2,38 9,28 3,15 1.076,63 1.075,54 1.051,63 1.043,76
Salário de Base de cálculo* Alíquota Parcela a deduzir Necessidades de financiamento do setor público jun/23 mai/23 jun/22
IGP-M -0,72 -1,93 -5,15 5,45 -7,72 1.101,20 1.109,23 1.161,01 1.193,34
em R$ em % IR - em R$ Fluxos acumulados em 12 meses Valor % do PIB Valor % do PIB Valor % do PIB
contribuições em R$ Alíquotas em % (1) IPA-M -1,05 -2,73 -7,94 5,27 -11,47 1.301,20 1.315,07 1.413,36 1.469,85
Até 1.320,00 7,50 Até 2.112,00 0,0 0,00 IPC-M 0,11 -0,25 2,47 4,30 2,78 709,98 709,20 692,88 690,75 Total nominal 662,4 6,42 656,5 6,39 388,8 4,16
De 1.320,01 até 2.571,29 9,00 De 2.112,01 até 2.826,65 7,5 158,40 INCC-M 0,06 0,85 2,25 9,40 3,15 1.074,90 1.074,29 1.051,25 1.042,03 Governo Federal** 528,1 5,12 471,1 4,59 429,1 4,59
De 2.571,30 até 3.856,94 12,00 De 2.826,66 até 3.751,05 15,0 370,40 IGP-10 -1,10 -2,20 -5,20 6,08 -7,89 1.123,94 1.136,43 1.185,56 1.220,20 Banco Central 55,2 0,53 110,2 1,07 28,0 0,30
De 3.856,95 até 7.507,49 14,00 De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 651,73 IPA-10 -1,54 -3,14 -7,92 6,08 -11,51 1.339,16 1.360,08 1.454,37 1.513,31 Governo regional 71,1 0,69 68,5 0,67 -67,7 -0,72
Empregador doméstico 8,00 Acima de 4.664,68 27,5 884,96 IPC-10 0,02 -0,18 2,53 4,40 2,24 714,60 714,44 696,93 698,93 Total primário 24,3 0,24 -39,0 -0,38 -199,8 -2,14
Fonte: Previdência Social. Elaboração: Valor Data *Competên- INCC-10 0,01 1,19 2,12 9,55 3,44 1.060,64 1.060,50 1.038,60 1.025,40 Governo Federal -217,6 -2,11 -268,4 -2,61 -330,5 -3,53
Fonte: Receita Federal. Elaboração: Valor Data
cia jul/23. **Inclusive empregado doméstico. (1) Para fins de *Valores consideram o desconto simplificado de R$ 528,00 Banco Central 0,5 0,01 0,5 0,00 0,4 0,00
FIPE
recolhimento ao INSS Obs. Desconto por dependente: R$ 189,59 Governo regional -19,7 -0,19 -21,5 -0,21 -121,2 -1,30
IPC -0,14 -0,03 1,92 7,32 3,66 667,19 668,11 654,64 643,66
Fonte: Banco Central. Elaboração: Valor Data * Interna e externa.** Inclui INSS. Obs.: Sem Petrobras e Eletrobras.
DIEESE
ICV* - - - - 3,07 - - - -
Principais receitas tributárias Obs.: IPCA-E no 2º trimestre = 1,12%, IGP-M 1ª prévia ago/23 = -0,81% e IPC-FIPE = 1ª quadrissemana ago/23 = -0,34%
Valores em R$ bilhões Fontes: FGV, IBGE, FIPE e DIEESE. Elaboração: Valor Data *Índice em 2020 até fevereiro Resultado fiscal do governo central
Valores em R$ bilhões a preços de junho*
Discriminação Janeiro-junho Var. junho Var.
Discriminação Janeiro-junho Var. junho Var.
2023 2022 % 2023 2022 % Imposto de Renda Pessoa Física 2023 2022 % 2023 2022 %
Receita Federal
Imposto de renda total 389,2 357,8 8,77 59,7 64,4 -7,34
Pagamento das quotas - 2023 Receita total 1.167,5 1.230,1 -5,08 180,1 231,4 -22,17
Receita Adm. Pela RFB** 737,7 747,5 -1,31 111,9 117,6 -4,89
Imposto de renda pessoa física 31,4 31,7 -0,96 6,3 6,3 -0,72 Arrecadaçao Líquida para o RGPS 277,3 260,9 6,29 45,9 42,4 8,37
Imposto de renda pessoa jurídica 165,9 163,9 1,22 15,5 23,0 -32,53 No prazo legal
Receitas Não Adm. Pela RFB 152,5 221,7 -31,23 22,3 71,4 -68,80
Imposto de renda retido na fonte 191,9 162,2 18,32 37,9 35,1 7,96 Quota Vencimento Valor da quota Valor dos juros Valor total
Transferências a Estados e Municípios 229,7 239,4 -4,07 34,7 34,6 0,30
Imposto sobre produtos industrializados 29,6 32,5 -9,07 5,0 4,9 0,58 (Campo 7 do DARF) (Campo 9 do DARF) (Campo 10 do DARF)
Receita líquida total 937,8 990,6 -5,33 145,3 196,7 -26,12
Imposto sobre operações financeiras 29,6 28,2 4,80 5,0 4,8 3,80 1ª ou única 31/05/2023 - Campo 7 Despesa Total 979,1 931,6 5,10 190,6 181,7 4,89
Imposto de importação 26,8 28,2 -5,08 4,4 4,3 1,44 2ª 30/06/2023 1,00% Benefícios Precidenciários 443,2 436,9 1,43 97,6 86,1 13,44
Cide-combustíveis 0,0 1,3 -99,20 0,0 0,2 -98,59 3ª 31/07/2023 2,07% + Pessoal e Encargos Sociais 164,5 162,9 1,00 27,0 26,2 3,30
Contribuição para Finsocial (Cofins) 160,5 156,7 2,44 27,8 26,7 4,10 4ª 31/08/2023 Valor da declaração 3,14% Campo 8 Outras Despesas Obrigatórias 151,1 153,1 -1,30 23,6 26,5 -10,82
CSLL 85,4 87,8 -2,72 9,0 11,3 -20,00 5ª 29/09/2023 Despesas Poder Exec. Sujeitas à Prog. Financeira 220,3 178,7 23,28 42,3 43,0 -1,58
PIS/Pasep 45,0 43,9 2,45 7,7 7,5 2,76 Resul. Primário do Gov. Central (1) -41,3 59,0 - -45,2 15,0 -
6ª 31/10/2023 +
Outras receitas 376,7 353,1 6,69 61,9 56,9 8,90 Discriminação jun/23 mai/23 jun/22
7ª 30/11/2023 Campo 9
Total 1.142,8 1.089,6 4,89 180,5 181,0 -0,31 Valor Var. % Valor Var. % Valor Var. %
8ª 28/12/2023
mai/23 abr/23 mai/22
Pagamento com atraso Ajustes metodológicos -0,2 -6,12 -0,2 -26,62 -0,2 -68,40
Valor Var. %* Valor Var. %* Valor Var. %* Discrepância estatística -1,1 - 1,7 21,17 -0,7 218,38
Multa (campo 08) - sobre o valor do campo 7 aplicar 0,33% por dia de atraso, a partir do primeiro dia após o vencimento até
ICMS - Brasil 54,9 -5,23 58,0 10,37 58,7 -1,90 Result. Primário do Gov. Central (2) -46,5 7,71 -43,2 - 14,1 -
o limite de 20%; Juros (campo 09) - aplicar os juros equivalentes à taxa Selic acumulada mensalmente, calculados a partir
jun/23 mai/23 jun/22 de junho/23 até o mês anterior ao do pagamento e de 1% no mês de pagamento; Total (campo 10) - informar a soma dos Juros Noniminais -33,3 -44,21 -59,7 55,94 -94,4 232,48
Valor Var. %* Valor Var. %* Valor Var. %* valores dos campos 7, 8 e 9. Fonte: Receita Federal do Brasil. Elaboração: Valor Data. Result. Nominal do Gov. Central -79,8 -22,42 -102,8 381,30 -80,2 14,69
INSS 45,9 -3,85 47,8 4,34 41,1 -2,29 Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional. Elaboração: Valor Data
Fonte: Receita Federal, Previdência Social, Secretaria da Fazenda. Elaboração: Valor Data * sobre o mês anterior Mais informações: valor.globo.com/valor-data/, ibge.gov.br e fipe.org.br * Deflator: IPCA ** Somando Incentivos fiscais (1) Acima da linha. (2) Abaixo da linha
 Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | A7

Brasil

Contas públicas Ideia é quitar dívidas judiciais sem contabilizá-las como resultado
primário e abrir espaço para despesas, como custeio da máquina e investimentos

Governo estuda PEC para classificar

precatórios como despesa financeira
Jéssica Sant’Ana
De Brasília
Para evitar um apagão nos or-
çamentos futuros dos ministé-
rios, o governo estuda classificar
os precatórios como despesa fi-
nanceira. Com isso, conseguiria
quitar a dívida sem afetar a meta
de resultado primário e sem com-
primir o espaço das despesas pri-
márias, em especial as discricio-
nárias, que incluem investimento
e custeio da máquina pública.
A mudança está sendo estuda-
da pelo Ministério da Fazenda,
apurou o Valor com duas fontes
a par das negociações. A infor-
mação foi publicada primeiro
pelo jornal “Folha de S.Paulo”.
Segundo apurou o Valor, a
ideia é propor a mudança através
de uma Proposta de Emenda à
Constituição (PEC), que poderia
ser votada ao longo do próximo
ano. O objetivo é que a mudança
passe a valer para o Orçamento
de 2025 em diante.
A reclassificação não é cogita-
da para a proposta orçamentária
de 2024, que será enviada até o
dia 31 ao Congresso. Isso porque
a alteração precisa ser feita via
PEC, o que demanda aprovação
do Congresso, e o governo não vê
a necessidade de enfrentar essa
questão imediatamente. O obje-
tivo é resolver o problema até, no
máximo, 2026, quando acabará a
regra que permite o teto para pa-
gamento dos precatórios.
Atualmente, os precatórios
são classificados como despesa
primária, por isso impactam no
resultado primário e também
comprimem o espaço para as
despesas discricionárias, que po-
dem ser cortadas. O governo tem
a ambiciosa meta de zerar o défi-
cit primário em 2024 e alcançar
superávits em 2025 e 2026, além
de conseguir viabilizar diversos
gastos sociais, promessas de
campanha do presidente Lula.
O governo Bolsonaro aprovou
uma emenda à Constituição em
2021 que estabeleceu um limite
anual para o pagamento de pre-
catórios, de forma a não dimi-
nuir tanto o espaço para as des-
pesas discricionárias. Foi uma
manobra para viabilizar gastos
em ano eleitoral (2022). Porém,
esse limite vai até 2026: a regra
estabelece que em 2027 o limite
acaba e todo o estoque de preca-
tórios terá de ser pago de uma
vez, além do próprio fluxo anual.
Conforme mostrou o Valor na
semana passada, se a regra em vi-
gor for mantida, os ministérios
ficarão sem orçamento discricio-
nário, ou seja, sem recursos para
investimento e custeio da máqui-
Futuro fluxo anual
de precatórios será
classificado e pago
como despesa
primária
na pública em 2027. Por isso,
uma solução está sendo costura-
da pelo governo.
Uma das fontes afirma que a
ideia de classificar os precatórios
como despesa financeira ficaria
restrita ao estoque, ou seja, às dí-
vidas que vêm sendo acumula-
das desde 2022 e que não são pa-
gas devido à limitação anual. A
avaliação é que o estoque gerado
é uma herança da emenda cons-
titucional do governo Bolsonaro,
por isso não haveria objeção à re-
classificação da despesa.
Já o futuro fluxo anual de preca-
tórios continuaria sendo classifi-
cado e pago como despesa primá-
ria, entrando na meta fiscal.
Dados oficiais do governo
mostram que o passivo de preca-
tórios não pago foi de R$ 21,9 bi-
lhões em 2022, chegará a R$ 68,4
bilhões em 2024 e alcançará
R$ 199,99 bilhões em 2027, in-
viabilizando o Orçamento da-
quele ano, se nada for feito.
Na sexta-feira passada (4), o mi-
nistro da Fazenda, Fernando Had-
dad, disse esperar algo em torno
de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões de
estoque de precatórios acumula-
dos até 2027. “E a nossa estimativa
é que isso deve cair para menos de
R$ 10 bilhões, possivelmente algo
em torno de R$ 7 bilhões.” O Valor
vem desde segunda-feira (7) pe-
dindo esclarecimentos à Fazenda
sobre os dados citados por Had-
dad, mas a pasta não explicou os
números que mostrariam essa
queda no fluxo das dívidas judi-
ciais transitadas em julgado.
A ideia de classificar os precató-
rios como despesa financeira tam-
bém foi cogitada pelo Ministério
da Economia, no governo Jair Bol-
sonaro. Porém, diante das críticas,
já que tirar a despesa da meta de
resultado primário foi vista como
uma “manobra” por parte dos es-
pecialistas, a opção foi por estabe-
lecer um teto anual — solução que
também foi criticada e que foi ape-
lidada de “calote”, pois gerou um
passivo a ser pago em 2027.

Corte ameaça estratégia de Lula, alerta Itamaraty

Murillo Camarotto e
Jéssica Sant’Ana
De Brasília
O Itamaraty está preocupado
com o corte de 8% em suas des-
pesas discricionárias, proposto
pelo Ministério do Planejamen-
to para o Orçamento de 2024. A
avaliação é que a redução, que
totaliza R$ 171 milhões na com-
paração com este ano, vai preju-
dicar a estratégia do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva de “re-
lançar” o Brasil no cenário inter-
nacional, uma das prioridades
de seu terceiro mandato.
Em ofício encaminhado na se-
mana passada à ministra do Plane-
jamento, Simone Tebet, o chance-
ler Mauro Vieira detalha os princi-
pais planos da pasta para o ano
que vem e pede um incremento de
R$ 886 milhões na disponibilidade
de recursos para 2024. Segundo
ele, o orçamento autorizado para
este ano (R$ 2,154 bilhões) já é in-
suficiente, sendo todo comprome-
tido com as despesas correntes.
O ministro ressalta que o Minis-
tério das Relações Exteriores
(MRE) representa 0,09% do Orça-
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
mento Geral da União (OGU) e que pelo governo ao Congresso até o cima os custos com aluguéis, mo- o ofício, seriam acomodadas no lo-
os cortes propostos representa- dia 31. Procurada na noite de on- vimentação de servidores e salá- cal a missão brasileira na ONU, o
riam muito pouco em termos de tem, a pasta não se manifestou. rios de colaboradores locais. consulado-geral e o escritório finan-
esforço fiscal, mas “com efeitos li- O Itamaraty alega que quase Para reduzir as despesas com alu- ceiro do país na cidade. “O preço de
mitadores importantes sobre a po- 80% das despesas correntes são guéis, a programação da pasta para aquisição seria amortizado em 16
lítica externa brasileira”. executadas em dólar e euro e que a o próximo ano considera a compra anos”, informou o Itamaraty, consi-
“É importante registrar que as inflação que atingiu boa parte do de um imóvel em Nova York, ao cus- derando o que é pago atualmente
economias obtidas com as variadas mundo desenvolvido puxou para todeR$320milhões.Deacordocom em aluguéis para esses órgãos.
medidas de melhoria de gerencia-
mento empreendidas pelo MRE pa-
raareduçãodecustoseaotimização
das despesas na rede de postos no
exterior não se mostram suficientes
para adequar-se aos limites defini-
dos pela SOF (Secretaria de Orça-
mento Federal)”, informa o docu-
mento, ao qual o Valor teve acesso.
Vieira lembra que o Brasil vai
assumir posições importantes na
cena global em 2024, com desta-
que para a presidência do G20,
que será assumida em novembro.
Somente o exercício da presidên-
cia rotativa do grupo que reúne
grandes economias do mundo,
de acordo com o ofício, represen-
tará um custo de R$ 104 milhões.
O ministro também cita que o
país assumirá a presidência do Fó-
rum Ibas, que reúne Brasil, Índia e
África do Sul, e “envidará esforços
para a reconstrução da integração
sul-americana”. Vieira menciona
uma participação ativa em reu-
niões da Celac e a promoção de
uma reforma no Conselho de Se-
gurança das Nações Unidas, entre
outras frentes que o Brasil quer
encabeçar na cena internacional.
O chanceler justifica o pedido de
incremento orçamentário com pla-
nos do Itamaraty para a ampliação LEIA MAIS

O SOL PARA MOVIMENTAR UM PAÍS.

daredeconsularem2024.Estãopre-
vistas a abertura de embaixada do
Brasil em Ruanda e a reabertura das

FRANÇA VAI USAR ENERGIA SOLAR

embaixadas em São Vicente e Gra-
nadinas e Serra Leoa, além da insta-
lação de um escritório da Agência

PARA ABASTECER PARTE DE

Brasileira de Cooperação junto à
União Africana em Adis Abeba, na
Etiópia.

SUAS FERROVIAS.
O Ministério do Planejamento e
Orçamento informou aos ministé-
rios sobre os valores de que devem
Orçamento dispor no ano que vem para despe-
sas discricionárias. As pastas têm Conheça essa e muitas outras iniciativas
autorizado para direito a pedir mais recursos, des-
transformadoras na mais completa plataforma
este ano já é de que justifiquem os motivos. Os
pedidos serão analisados e podem sobre sustentabilidade do Brasil.
insuficiente, afirma ou não ser atendidos. É um fluxo
natural da elaboração da proposta
Mauro Vieira orçamentária, que será enviada

Curta
Força Nacional
O ministro da Justiça e Segu-
rança Pública, Flávio Dino, au-
torizou o uso, por 30 dias, da
são consta de portaria publica-
da na edição desta quinta-fei-
UMSOPLANETA.GLOBO.COM
ra, 10, do “ Diário Oficial da
União” (DOU) e tem como ob- PARCEIROS APOIO REALIZAÇÃO

Força Nacional de Segurança jetivo, segundo o texto a pre-

Pública para apoiar ações da servação da ordem pública e
Polícia Federal nas aldeias in- da incolumidade das pessoas e
dígenas do cone sul, no Estado do patrimônio, em caráter epi-
de Mato Grosso do Sul. A deci- sódico e planejado.
A8 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Política

Faturas para
U
ma mudança de os 28 anos de PSDB. E que para isso gestão Tarcísio. Curiosamente, o Inácio Lula da Silva. As extravagâncias do PT.
partido do acontecer é preciso delegar as PSD conta com três ministros no expectativas em relação ao O governo já garantiu que não
governador de São funções de governo que fazem a governo Lula e o governador não longo prazo não justificam vai rever a meta. Está claro que o
Tarcísio, caso Paulo, Tarcísio de
Freitas, pode
interlocução política com o
interior do Estado.
vê incômodo em desenvolver uma
parceria tão intensa com a sigla.
semelhante serenidade.
O governo federal se propôs a
governo federal precisa de mais
receita para manter algum

troque de
significar uma mudança na Há resistências a serem vencidas O grande ganho que Tarcísio uma meta fiscal de zerar o equilíbrio, e um aumento de
forma como São Paulo vem caso Tarcísio vá para o PL. No teria com essa migração é que o PL resultado primário no próximo impostos é inevitável. Mas o
sendo governado. Tarcísio seria bolsonarismo mais empedernido, é a maior sigla que com certeza não ano. Não é o que a grande maioria ministro da Fazenda, Fernando

partido recebido com festas no PL, sem

dúvida, caso decida abandonar
o Republicanos assim que o
partido adentrar a Esplanada
dos Ministérios, com a iminente
nomeação para algum cargo do
deputado federal Silvio Costa
Filho. Mas não há almoço grátis,
a migração teria um preço.
O partido entende que o
bolsonarismo tem muito a
oferecer ao governador, mesmo
com a inelegibilidade do
ex-presidente Jair Bolsonaro,
César Felício decidida em junho pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
Concretamente, entende serem
necessárias mudanças no governo
de São Paulo. O presidente
nacional da sigla, Valdemar Costa
Neto, tem deixado claro a
interlocutores que Tarcísio não
pode ter como governador a
mesma liberdade que Bolsonaro
teria tido como presidente para
nomear a sua equipe. O
diagnóstico é que ainda não se
estabeleceu uma linha de corte
clara entre o que é a direita no
poder em São Paulo e o que foram
há quem considere o governador
de “centro-esquerda”. Uma
conclusão apressada, embasada no
fato de o governador ter mantido a
extrema-direita em postos
marginais dentro da
administração.
Mas o PL não é só a
extrema-direita, como prova a
opção do partido pelo apoio à
reeleição de Ricardo Nunes (MDB)
na corrida eleitoral pela Prefeitura
de São Paulo, em detrimento do
deputado Ricardo Salles (SP) e o
empenho de Valdemar para
garantir o deputado federal Marco
Aurélio Bertaiolli (PSD-SP) no
Tribunal de Contas do Estado.
A operação para vencer as
resistências da própria bancada
do PL na Assembleia Legislativa
contra Bertaiolli é um indicativo
de que uma eventual entrada do
governador no PL não
necessariamente representa um
conflito futuro com o PSD.
Secretário de Governo e
presidente nacional do PSD, o
ex-prefeito de São Paulo Gilberto
Kassab é o coordenador político da
caminhará com Lula em 2026.
Além dele há o Novo e o PSDB,
menores, menos capitalizados e
cada um com seu presidenciável.
O PL por enquanto conta com
um grande eleitor inelegível. E
Tarcísio precisa de tempo. Se entrar
no PL, Tarcísio se mostraria
alinhado ao seu mentor. Não
precisaria se expor e se
credenciaria como herdeiro.
“Tarcísio sabe que se assumir um
projeto presidencial, vira João
Doria. Ele aguardará uma romaria.
Fora dessa hipótese ele não irá. E
enquanto isso Bolsonaro fica
aguardando uma decisão
monocrática do Supremo”,
comenta o cientista político
Murillo Aragão, da consultoria
Arko Advice. A alusão a Doria é
clara: o ex-governador paulista
isolou-se dentro do PSDB ao deixar
manifesta de maneira prematura
seus projetos presidenciais.
Estranha serenidade
Há uma calma intrigante no
mercado em relação ao
governo do presidente Luiz
dos economistas entende que vai
acontecer. De acordo com
levantamento da pesquisa Focus,
feita pelo Banco Central com
analistas do mercado financeiro, o
mais provável é que haja em 2024
um déficit de 0,8% do PIB. Também
não se acredita em cortes de gastos
públicos. Essa não é a índole do
governo Lula, que precisa atender
a muitas demandas reprimidas
durante os governos Temer e
Bolsonaro. O fato de 2024 ser ano
de eleições municipais não
colabora para a austeridade.
A cúpula do Congresso,
especialmente o presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL) tem
prometido que manterá a rédea
curta no governo em caso de
desregramento fiscal. Garantem
que não se dará a Lula, em que
pesem as circunstâncias eleitorais,
o mesmo afrouxamento que eles
mesmo deram para Bolsonaro,
com PEC Kamikaze, PEC dos
Precatórios e quetais. O mercado
acredita. Vê na ação de Lira este ano
motivo de sobra para enxergá-lo
como um contraponto a possíveis
Haddad, sinaliza com taxação de
apostas, revisão da legislação sobre
juros sobre capital próprio,
tributação sobre lucros e
dividendos, mudança de regras
sobre offshore e sobre o processo
decisório do Carf. Vende-se que 1)
quase tudo será aprovado: 2) o que
for aprovado será suficiente; 3) a
cobrança adicional ficará restrita a
grupos específicos, sem efeitos
gerais sobre a economia. Uma
questão que se apresenta é qual a
razão para tamanho otimismo.
Uma hipótese é a teoria da
compensação. Houve excesso de
pessimismo sobre as perspectivas
para 2023. Não se imaginava um
segundo semestre com Selic em
queda de 0,5%, inflação em baixa e
câmbio pouco pressionado, depois
da aprovação da PEC da Transição.
O paradoxo das previsões, lembra
Aragão, é um fenômeno bem
brasileiro.
César Felício é repórter especial de
Política em Brasília. Escreve às
sextas-feiras
E-mail cesar.felicio@valor.com.br

.
Poderes Presidente da Câmara e líderes do Centrão esperam contrapartida de Lula Desoneração
Lira dá sinais de que reforma pode ter
urgência
ministerial avança nos bastidores na Câmara
Raphael Di Cunto
De Brasília
BRUNO SPADA/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Andrea Jubé com Ciência e Tecnologia no lu- havia anulado convocação do na semana passada. E o Republi-
De Brasília gar do PCdoB, mas a palavra fi- ministro da Defesa, general Wal- canos conta com a nomeação do O presidente da Câmara dos De-
nal ainda depende de Lula. Esse ter Braga Netto, pela Comissão ex-líder da bancada Silvio Costa putados, Arthur Lira (PP-AL), dis-
A iniciativa do presidente da formato também prevê a recria- de Fiscalização e Controle, para Filho (PE), ou Silvinho, para um cutiu com líderes partidários nes-
Câmara dos Deputados, Arthur ção do Ministério da Micro e Pe- esclarecer compras de itens de ministério na próxima semana. sa quinta-feira (10) a possibilida-
Lira (PP-AL), de anular a convo- quena Empresa. luxo realizadas pelas Forças Ar- Simultaneamente, o PP espera de de votar na próxima semana re-
cação do ministro da Casa Civil, Em paralelo, os partidos do madas com recursos do Orça- ver o líder André Fufuca (MA) querimento de urgência para le-
Rui Costa, para depor na CPI do Centrão contam com a entrega mento, como picanha, cerveja, indicado para outra pasta, ainda var direto ao plenário o projeto de
Movimento dos Trabalhadores da direção da Fundação Nacional bacalhau, salmão e filé mignon. a ser definida. lei que prorroga por quatro anos a
Sem Terra (MST) está relaciona- de Saúde (Funasa) para o bloco. A Além disso, o gesto de Lira pró- O cenário mais comentado política de desoneração da folha
da, nos bastidores, ao avanço da bancada do PSD reivindicou a governo não foi isolado. Em pa- nos bastidores nos últimos dias de salários para os 17 setores que
reforma ministerial. Lira e ou- presidência do órgão, que o go- ralelo, o líder do governo na Câ- contempla Costa Filho no Minis- mais empregam na economia.
tros líderes do Centrão fizeram verno havia extinguido, mas foi mara, José Guimarães (PT-CE), ar- tério do Esporte. Para tanto, a mi- O líder do Cidadania na Câmara,
movimentos claros nos últimos recriado pelo Congresso. Mas ticulou com lideranças do Cen- nistra Ana Moser, campeã olím- deputado Alex Manente (SP), afir-
dias para reduzir o poder de fo- União, PP e Republicanos tam- trão, principalmente, do União pica de vôlei, seria indicada pelo mou que os partidos estão cons-
go da comissão de inquérito, si- bém pleiteiam o posto, e o gover- Brasil e do Republicanos, a alte- governo para assumir um cargo truindo um acordo para votar rapi-
nalizando que já estão jogando no pretende distribuir as direto- ração de membros da CPI do de relevo relativo aos Jogos Olím- damente a matéria. Isso ocorreria
do lado do governo. rias da entidade entre os aliados. Lira reuniu-se com Costa e Padilha MST, a fim de substituir deputa- picos de 2024. Uma hipótese é com a apresentação de um requeri-
Em contrapartida, eles espe- Uma fonte palaciana observa dos de perfil oposicionista por Autoridade Olímpica. mento de urgência que permitiria
ram que na próxima semana o que não há dificuldade em ceder que seria ouvido na quarta-feira, quadros moderados. Nos bastidores, líderes do Cen- tirar o texto das comissões, por onde
presidente Luiz Inácio Lula da a Funasa, porque o órgão está veio à baila. Por exemplo, parlamentares trão disseram ao governo que passará por três votações, para levá-
Silva formalize a indicação de acéfalo desde sua recriação. Ao anular, na quarta-feira, a de perfil radical como Diego Gar- não aceitam indicação de seus lo direto ao plenário da Casa.
quadros do PP e do Republicanos Lira reuniu-se com Rui Costa e convocação de Rui Costa para de- cia (Republicanos-PR) e Messias quadros para o eventual Ministé- Lira afirmou que o assunto é
para o primeiro escalão. Ele re- o ministro de Relações Institu- por na CPI, Lira não criou prece- Donato (Republicanos-ES) dei- rio da Micro e Pequena Empresa, relatado pela deputada Any Or-
torna a Brasília no fim da tarde cionais, Alexandre Padilha, na dente. Ele já havia tomado deci- xaram a comissão para dar lugar que estaria aquém das preten- tiz (Cidadania-RS) na Comissão
desta sexta-feira do périplo por terça-feira. A pauta era a apre- sões dessa natureza que favore- a Mário Negromonte (PP-BA) e sões do bloco. de Desenvolvimento Econômico
Amazonas, Pará e Rio de Janeiro. sentação de detalhes do Progra- ceram ministros do governo Jair Damião Feliciano (União-PB), de Diante desse posicionamento, da Câmara e que ainda não exis-
Até essa quinta-feira (10), o ma de Aceleração do Crescimen- Bolsonaro. Em julho de 2022, o viés governista. O movimento es- o líder do PP, André Fufuca, seria te requerimento de urgência. “Se
cenário mais provável era de que to (PAC), que será lançado nesta presidente da Câmara revogou vaziou o colegiado, e reduziu seu indicado para a pasta da Ciência os líderes apresentarem [o re-
o Republicanos assumisse o Mi- sexta-feira, ao chefe do Legislati- convocação do ministro da Eco- poder ofensivo. e Tecnologia. Para viabilizar esse querimento] será votado”, disse.
nistério do Esporte, e o PP ficasse vo. Mas a convocação de Costa, nomia, Paulo Guedes, para expli- Esses gestos ocorreram dias movimento, a atual ministra Lu- O projeto foi aprovado no pri-
car, em audiência pública, por depois de o União Brasil assistir ciana Santos, presidente nacio- meiro semestre no Senado e agora
que o governo não concederia a Lula empossar o deputado Cel- nal do PCdoB, poderia ser rema- aguarda análise da Câmara. O bene-
aumento salarial aos policiais e so Sabino no Ministério do Tu- nejada para Micro e Pequena fício acaba em 31 de dezembro, mas
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
agentes de segurança pública. rismo em uma solenidade con- Empresa. o projeto o prorroga por mais qua-
SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA Antes, em abril de 2021, Lira corrida no Palácio do Planalto O argumento que circula entre tro anos. A política de desoneração
fontes do Palácio do Planalto é de da folha foi criada em 2011 no go-
ABERTURA DE LICITAÇÃO
PREGÃO ELETRÔNICO Nº 121/2023
que o PCdoB tem uma bancada verno Dilma (PT) para permitir às
EDP - Energias do Brasil S.A. pequena, de apenas sete deputa- empresas substituir a contribuição
PROTOCOLO: 20.420.556-6
OBJETO: Aquisição de Gás Liquefeito – GLP a granel, para atender a demanda do Hospital da
Companhia Aberta
CNPJ/MF nº 03.983.431/0001-03 - NIRE 35.300.179.731
dos, enquanto o PP, cujos votos o previdenciária de 20% sobre os salá-
Polícia Militar do Paraná Edital de Convocação - 49ª Assembleia Geral Extraordinária governo precisa atrair para a ba- rios dos empregados por uma alí-
Ficam convocados os Srs. Acionistas a comparecer à Assembleia Geral Extraordinária da EDP -
INTERESSADO: Hospital da Polícia Militar do Paraná
ENERGIAS DO BRASIL S.A. (“Companhia”), a ser realizada sob a forma exclusivamente digital, nos se, tem 47 representantes. quota sobre a receita bruta.
Abertura: 28/08/2023 às 10:00h termos do inciso I do parágrafo 2º do artigo 5º e parágrafos 2º e 3º do artigo 28 da Resolução CVM
O edital encontra-se à disposição no portal www.comprasparana.pr.gov.br ícone LICITAÇÕES DO no 81, de 29 de março de 2022, conforme alterada (“Resolução CVM 81”), às 16:00 horas do dia 30
PODER EXECUTIVO (nº PREG-e 121/2023) e https://www.gov.br/compras/pt-br - UASG 453079 de agosto de 2023 (“AGE”), para examinar, discutir e votar a respeito da seguinte ordem do dia: (i) o
resgate e posterior cancelamento de até a totalidade das ações ordinárias de emissão da Companhia
remanescentes em circulação no mercado, sem modificação do capital social da Companhia, nos termos
do artigo 4º, parágrafo 5º, da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, conforme alterada (“Lei
GOVERNO DO ESTADO DO MARANHÃO da S.A.”); (ii) em decorrência da deliberação do item “(i)” acima, a alteração do artigo 5º do Estatuto
EMPRESA MARANHENSE DE SERVIÇOS HOSPITALARES Social da Companhia, conforme detalhado na Proposta da Administração divulgada pela Companhia
COMISSÃO SETORIAL DE LICITAÇÃO nesta data, para alterar o número total de ações de emissão da Companhia; (iii) aprovar a consolidação
AVISO DE LICITAÇÃO do Estatuto Social da Companhia de forma a refletir a alteração indicada na deliberação “(ii)” acima; e
LICITAÇÃO ELETRÔNICA Nº 209/2023 – CSL/EMSERH (iv) autorizar a Diretoria da Companhia a praticar todos os atos necessários à efetivação das deliberações COMUNICADO – A Celesc Distribuição S.A. informa que a empresa CLARO S.A., CNPJ
PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 97.048/2023 – EMSERH acima, bem como ratificar todos os atos já realizados por ela no âmbito da efetivação das deliberações
acima. Informações Gerais: Para participarem da AGE, os acionistas deverão apresentar os seguintes nº 40.432.544/0001-47, foi a única empresa que apresentou interesse em compartilhar
OBJETO: Contratação de empresa especializada no fornecimento de Medicamentos da Portaria
344/1998, para atender as necessidades das unidades hospitalares administradas pela Empresa documentos: infraestrutura nos trechos: MORRO DO FERRAZ, GAROPABA/SC; MORRO DA BELA
Maranhense de Serviços Hospitalares – EMSERH. DOCUMENTAÇÃO A SER PESSOA PESSOA FUNDO DE VISTA, JARAGUÁ DO SUL/SC e MORRO DA MAE LUZIA, MARACAJÁ/SC, como contra-
CRITÉRIO DE JULGAMENTO: MENOR PREÇO POR ITEM. ENCAMINHADA À COMPANHIA FÍSICA JURÍDICA INVESTIMENTO partida solicitada pela Celesc através de chamada pública, publicada nos jornais POR-
DATA DA SESSÃO: 25/08/2023, às 09h00min, horário de Brasília. Comprovante de titularidade das suas ações emitido por TAL NSC DC e Valor Econômico nos dias 24, 25 e 26 de julho. Fica a referida empresa,
X X X
ID n° [1014258] central depositária ou pelo agente escriturador
Local de Realização: Sistema Licitações-e (www.licitacoes-e.com.br.) CPF e Documento de identidade com foto do acionista através desse comunicado, notificada em comparecer na sede da Celesc Distribuição
X X X
Edital e demais informações estão disponíveis em www.emserh.ma.gov.br e www.licitacoes-e. ou de seu representante legal (1) em Florianópolis para tratar da efetiva ativação do compartilhamento de infraestrutura.
com.br. Contrato Social ou Estatuto Social consolidado e Maiores esclarecimentos devem ser endereçados à: Celesc Distribuição S.A. Depar-
- X X
Informações adicionais serão prestadas na CSL/EMSERH localizada, na Av. Borborema, Qd-16, atualizado (2)
tamento de Telecomunicações e Compartilhamento – DPTC. Divisão de Engenharia
n° 25, Bairro do Calhau, São Luís/MA no horário de 08h00min as 12h00min e das 14h00min as Documento hábil que comprove a outorga de poderes,
inclusive, se for o caso, de representação (incluindo o de Telecomunicações – DVET. Av. Itamarati, 160. Bairro Itacorubi. CEP 88034-900.
18h00min de segunda a sexta, pelos e-mails csl.emserh.ma@gmail.com e/ou laurocsl8@gmail. X (3) X X
instrumento de mandato e cópia dos atos constitutivos e Florianópolis/SC. Florianópolis, 08 de agosto de 2023. A Diretoria
com ou pelo Telefone (98) 3235-7333. da ata de eleição dos administradores) (2)
São Luís (MA), 08 de agosto de 2023.
Regulamento consolidado e atualizado do fundo - - X
Lauro César Costa
Agente de Licitação da EMSERH ESTADO DO MARANHÃO
(1)
Documento de identidade aceitos: RG, RNE, CNH, Passaporte e carteira de registro profissional
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
oficialmente reconhecida. (2) Para fundos de investimentos, documentos do gestor e/ou administrador,
observada a política de voto. (3) No caso de representação por procurador. COMISSÃO SETORIAL PERMANENTE DE LICITAÇÃO
Conforme autorizado pelo artigo 121, § 1º, da Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976, conforme AVISO
EMPRESA MARANHENSE DE SERVIÇOS HOSPITALARES
alterada, a AGE será realizada de modo exclusivamente digital, podendo os Senhores acionistas CREDENCIAMENTO Nº. 001/2023/CSL/SES
COMISSÃO SETORIAL DE LICITAÇÃO
participarem e votarem por meio do sistema eletrônico a ser disponibilizado pela Companhia, por si, por PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº. 88022/2023/SES
AVISO DE LICITAÇÃO seus representantes legais ou procuradores, desde que comprovada a titularidades das ações. A fim de A SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE – SES torna público o aviso do Credenciamento nº.
LICITAÇÃO ELETRÔNICA Nº 210/2023 - CSL/EMSERH permitir uma melhor organização dos trabalhos da Assembleia, a Companhia solicita que os documentos 001/2023/CSL/SES, Processo nº. 88022/2023/SES, que tem por objeto a contratação, via Cre-
PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 92.733/2023 – EMSERH acima sejam depositados na sede da Companhia até 2 (dois) dias antes da realização da AGE. Em resposta, denciamento, de pessoa jurídica, em caráter complementar a rede de saúde do SUS, para
OBJETO: Contratação de empresa especializada no Fornecimento de Medicamentos de diversas após a análise dos documentos enviados, nos termos do quadro acima, serão encaminhadas, pela a prestação de Serviço Médico em Oftalmologia, dispondo de profissionais especializados
CLASSES FARMACOLÓGICAS, para atender as necessidades das Unidades Hospitalares admi- Companhia, para cada acionista (ou seu respectivo procurador, conforme o caso) que tenha efetuado o para realização de Consultas, Acompanhamento, Avaliação e Tratamento de Pacientes com
nistradas pela Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares. regular cadastro, conforme detalhado na Proposta da Administração, as informações e orientações para Glaucoma nas seguintes Regionais de Saúde: Açailândia, Bacabal, Balsas, Barra do Corda,
CRITÉRIO DE JULGAMENTO: Menor Preço Por Item. acesso à plataforma digital, incluindo, mas sem limitação, um link de acesso. Os eventuais documentos Caxias, Chapadinha, Codó, Imperatriz, Itapecuru Mirim, Pedreiras, Pinheiro, Presidente Dutra,
DATA DA ABERTURA: 25/08/2023 às 14h30min, horário de Brasília-DF. ou propostas, declarações de voto, protestos ou dissidências sobre as matérias a serem deliberadas Rosário, Santa Inês, São João dos Patos, São Luís, Timon, Viana, Zé Doca, conforme especi-
Local de Realização: Sistema Licitações-e www.licitacoes-e.com.br. deverão ser apresentadas no dia da AGE, por escrito à Mesa da Assembleia, que, para esse fim, será ficações estabelecida no Termo de Referência e documento descritivo – Anexo I do Edital. Período
Edital e demais informações estão disponíveis em www.emserh.ma.gov.br e www.licitacoes-e. representada pelo(a) Secretário(a) da Assembleia. O detalhamento das deliberações propostas, dos
para a entrega da documentação de credenciamento: 14/08/2023 a 15/09/2023 das 08h00min
com.br. documentos necessários, incluindo as orientações e procedimentos aplicáveis as regras para participação
às 12h00min e das 14h00min às 18h00min, (horário local); Local: Comissão Setorial Permanente
Informações adicionais serão prestadas na CSL/EMSERH localizada, na Av. Borborema, Qd-16, n° por sistema eletrônico, bem como as demais instruções relativas à AGE, estão detalhadas na Proposta
da Administração que se encontra disponível na sede social da Companhia, no seu site de relações com de Licitação da Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão, localizado na Avenida Professor Carlos
25, Bairro do Calhau, São Luís/MA, pelos e-mails csl.emserh.ma@gmail.com e/ou rafaelcosta. Cunha, s/n, Jaracaty, CEP: 65.076-820. São Luís – MA. Maiores Informações através do e-mail: csl.
emserh@gmail.com, ou pelo Telefone (98) 3235-7333. investidores (https://ri.edp.com.br/pt-br/), bem como no site da Comissão de Valores Mobiliários (https://
www.gov.br/cvm/pt-br). sesmaranhao@gmail.com Telefones: (98) 3198-5558/3198-5559/3198-5560 e 3198-5561.
São Luís (MA), 08 de agosto de 2023. São Paulo, 09 de agosto de 2023. São Luís, 08 de agosto de 2023.
Rafael Costa Nascimento Miguel Stilwell de Andrade Mario dos Santos Lameiras Neto
Agente de Licitação da EMSERH Presidente do Conselho de Administração Presidente da Comissão de Credenciamento

Democratização do acesso à genômica
pode acelerar tratamentos no Brasil
Realizado no Auditório da Editora Globo, evento reuniu pesquisadores de
instituições públicas e privadas para debater o futuro da medicina
democratização do
acesso aos estudos
genéticos ligados à medici-
na pode impulsionar a ciên-
cia no Brasil e transformar
a vida de milhares de pes-
soas. O II Fórum de Acesso
à Genômica, realizado em
uma parceria da Editora
Globo com a Illumina, reu-
niu especialistas da área no
Auditório da Editora Globo,
na manhã de terça-feira, 8
de agosto. Mediados por
Pedro Dória, colunista do
jornal O Globo e da CBN, 14
painelistas destrincharam
o cenário de avanços e de-
safios da genômica.
“Essa área tem desempe-
nhado um papel importante
na medicina e acreditamos
que esse acesso tem que
ser para todos. O futuro da
genômica está muito mais
próximo do que imagina-
mos, ela já está presente na
rotina de muitos médicos.
Mas temos muito desafios
para gerar esse acesso e
democratizar a genômi-
ca, tanto na saúde pública
quanto no setor privado. E
o primeiro deles é o custo. A
Illumina tem investido cada
vez mais em tecnologia para
reduzir o custo e aumentar
o poder do sequenciamento
genético”, afirmou Vagner
Simões, country manager
da Illumina Brazil.
Os painéis e apresen-
tações dos pesquisado-
res abordaram diversos
segmentos da medicina,
entre eles pesquisa cien-
tífica, oncologia, doenças
raras, jornada do paciente
e testes genéticos. David
Schlesinger, CEO e fun-
dador da Mendelics, abriu
a discussão sobre como a
genômica contribui para o
diagnóstico clínico. O es-
pecialista explicou que as
recentes descobertas sobre
novos tipos de mutações
e padrões de herança em
diversos tipos de doença
são fundamentais e com-
plementares ao que já se
conhecia. O ponto funda-
mental, segundo ele, é que
não há uma bala de prata.
“Não existe um exame
que vá resolver todos os
problemas. Vamos resol-
ver as coisas por estudos
funcionais. Temos grandes
novidades em termos de no-
vas tecnologias que trazem
uma informação ortogonal,
que nos ajuda a dar mais
passos. Mas, para sairmos
de 30% dos diagnósticos
que temos hoje para a maior
parte das doenças para os
80%, precisaremos lançar
mão de novas tecnologias
funcionais, que é o que está
ligado às pesquisas acadê-
micas, e muito mais dados
clínicos bem feitos e dados
populacionais bem feitos”,
defendeu ele.
Schlesinger acredita que
o Brasil está em destaque
na pesquisa genômica mun-
dial. A diversidade do país é
um diferencial entre outras
nações. Ele explicou que
95% do sequenciamento
feito globalmente foi reali-
zado em brancos e caucasia-
nos, enquanto 75% da popu-
lação brasileira tem mais de
uma ancestralidade.
“A cada brasileiro que se-
quenciamos, estamos dimi-
nuindo a desigualdade em
conhecimento genômico.
O Brasil é muito diverso,
no sentido de que tem três
ancestralidades principais:
ibérica, africana e latino-
-americana indígena. Em
muitos países, os grupos
étnicos que compõem a na-
çãonãosemisturaram,mas,
no Brasil, a maior parte das
pessoas tem duas ou mais
ancestralidades em porcen-
tagens significativas. A ge-
néticaafricanaémuitomais
conhecida, é muito mais
variável do que a europeia e
traz muitas variantes raras
que não foram bem carac-
terizadas. Como temos um
mix, temos as variantes es-
palhadas. Com isso, conse-
guimos identificar doenças
novas, padrões de relação
entrecaracterísticasligadas
a mutações raras. Também
temos um fator ambiental,
estilo de alimentação dife-
rentes da Europa, o que é
mais um ponto para trazer
mais conhecimento global
de medicina”, disse.
AUXÍLIO EM DIAGNÓSTICOS
E TERAPIAS
Adriana Carvalho, pro-
fessora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro
(UFR J) e coordenado-
ra da Rede Nacional de
Genômica Cardiovascular,
falou sobre a importância
e os obstáculos do uso de
“Talvez a parte de
mais impacto para os
próximos anos seja o
desenvolvimento de
novas drogas”.
LEANDRO COLLI, professor da
Faculdade de Medicina da USP
de Ribeirão Preto
CONTEÚDO PATROCINADO POR
sequenciamento genético
no diagnóstico clínico, es-
pecialmente nas doenças
cardiovasculares.
“As doenças cardiovas-
culares hereditárias são a
causa mais comum de mor-
te súbita em pessoas com
menos de 40 anos. O teste
genético é a forma como
você confirma o diagnós-
tico da doença hereditária,
e esse teste possibilita o
rastreio da família, o que
permite à instituição apli-
car medidas de prevenção
de morte súbita nesses fa-
miliares. A disponibilidade
de acesso a esse exame, no
entanto, precisa aumen-
tar. Ele não está disponível
no SUS nem nos planos de
saúde e é muito caro. Para
colocar esse exame dentro
do SUS, é preciso submeter
o pedido a uma comissão,
mostrando que ele é im-
portante e viável. Uma vez
que ele estiver disponível no
sistema único, os planos vão
precisar oferecer também,
e começamos a abrir para
um número muito maior de
pessoas”, avaliou ela.
Na oncologia, o uso da ge-
nômica também é salutar. O
avanço das pesquisas pode
“O Brasil tem uma comunidade científica
bastante honesta, coesa, em evolução. Vejo um
crescimento substancial na pesquisa clínica,
o que é uma surpresa dos últimos anos”
PAULO CAMPREGHER, coordenador médico da
Medicina Laboratorial de Precisão do Hospital Albert Einstein
levar a medicina ao desen-
volvimento de mudanças no
processo terapêutico.
“É quase impossível dis-
sociar a genômica da onco-
logia. Precisamos diagnos-
ticar os pacientes e o risco
deles ao responder a um
tratamento. Talvez a par-
te de mais impacto para os
próximos anos seja o desen-
volvimento de novas dro-
gas. Quais são as alterações
que vamos mirar nos trata-
mentos para daqui a três,
cinco, dez anos?”, destacou
Leandro Colli, professor
da Faculdade de Medicina
da USP de Ribeirão Preto
(FMRP-USP).
PESQUISAS EM ALTA
Carlos Gil, diretor médico
e presidente do Instituto
Oncoclínicas e presidente
da Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica (SBOC),
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
acredita que o Brasil está
em um momento impor-
tante para acelerar ainda
mais o campo das pesqui-
sas genômicas e o acesso da
população aos resultados. O
ponto-chave, segundo ele,
está na articulação entre as
várias frentes da sociedade.
“OBrasiltemumapesqui-
sa clínica muito desenvolvi-
da do ponto de vista técnico,
regulatório, é segura e ética.
Precisamos usar a nosso fa-
vor, não só participando de
estudos internacionais, que
dão acesso a diagnósticos
a pacientes, mas também
desenvolvendo estudos na-
cionais que possam gerar
mais acesso à população. Os
desafios estão postos, mas
talvez a gente esteja em um
momento com uma jane-
la de oportunidade muito
grande, em que sociedade
civil, governo, empresas
PRODUZIDO POR
| Valor | A9
FOTOS: MARCO SOBRAL
privadas vislumbram que a
gente precisa trabalhar jun-
tos. É isso o que temos que
explorar”, defendeu Gil.
Paulo Campregher, co-
ordenador médico da
Medicina Laboratorial de
Precisão do Hospital Albert
Einstein, abordou a impor-
tância da pesquisa clínica
no tratamento oncológico
e explicou que ela está avan-
çando no país.
“A pesquisa clínica é um
presenteparaopacienteon-
cológico. É através dela que,
muitasvezes,opacientetem
acesso a terapias muito ino-
vadoras,quenãoteriaacesso
em outrolugar.OBrasiltem
uma comunidade científica
bastantehonesta,coesa, em
evolução. Temos um grupo
grande de pesquisadores se
dedicando desde a pesquisa
básica até a de tradução. E
vejo um crescimento subs-
tancial na pesquisa clínica,
o que é uma surpresa dos úl-
timos anos”, disse.
Roberto Giugliani, head
de doenças raras da Dasa
Genômica, abordou o aces-
so à genômica na jornada
dos pacientes em casos de
doenças raras, que afetam
6% da população mundial
e 12 milhões de brasileiros.
“A jornada do paciente
é muito tortuosa, difícil,
cara. E temos maneiras de
melhorar esse caminho, di-
minuindo o tempo, aumen-
tando a eficiência e propor-
cionando um diagnóstico
mais precoce aos pacientes
com doenças raras. Vimos,
por meio de entrevistas com
pacientes e famílias, que o
diagnóstico de uma doença
rara leva, em média, cinco
anos. Nesse período, o pa-
ciente passa por exames, in-
ternações e, muitas vezes,
até cirurgias. Alguns desne-
cessários. Com o adequado
uso da genômica, esse cami-
nho pode ser muito abrevia-
do e trazer benefícios não
só para famílias como tam-
bém para todo o sistema de
saúde”, afirmou.
GLAB.GLOBO.COM
A10 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Política
Poderes Pedido foi feito pela PGR e afeta perfis de bolsonaristas
investigados por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro
Moraes autoriza acesso a dados
de seguidores de Bolsonaro
Isadora Peron
De Brasília
O ministro Alexandre de Mo-
raes, do Supremo Tribunal Fede-
ral (STF), atendeu ao pedido
apresentado pela Procuradoria-
Geral da República (PGR) e auto-
rizou o acesso aos dados de se-
guidores de perfis de redes so-
ciais do ex-presidente Jair Bolso-
naro (PL) que estão sendo inves-
tigados por participação nos atos
golpistas de 8 de janeiro.
Após ser alvo de críticas, o ór-
gão voltou atrás da solicitação
inicial, que mirava todos os se-
guidores do ex-presidente e fez o
pedido com foco nas 244 pessoas
já denunciadas pela invasão das
sedes dos três Poderes.
Na decisão, Moraes determi-
nou que as plataformas infor-
mem se os réus são ou já foram
seguidores do ex-presidente.
Também se essas pessoas repos-
taram conteúdos divulgados por
Bolsonaro com mensagens sobre
fraude nas eleições, urnas eletrô-
nicas, Forças Armadas, interven-
ção militar, entre outros.
Ele pediu ainda que as redes
sociais enviem à PGR postagens
de Bolsonaro referentes a esses
assuntos. O Facebook também
terá que encaminhar o vídeo pu-
blicado pelo ex-presidente (e
posteriormente apagado) após
os atentados de 8 de janeiro.
Para o ministro, liberdade de
expressão não pode ser usada
“como escudo protetivo para a
prática de discursos de ódio, an-
tidemocráticos, ameaças, agres-
Moraes: “Liberdade de expressão não é liberdade de propagação de discursos mentirosos, agressivos, de ódio”
sões, infrações penais e toda a
sorte de atividades ilícitas”.
“Liberdade de expressão não é
Liberdade de agressão! Liberda-
de de expressão não é Liberdade
de destruição da democracia, das
instituições e da dignidade e
honra alheias! Liberdade de ex-
pressão não é liberdade de pro-
pagação de discursos mentiro-
sos, agressivos, de ódio e precon-
ceituosos”, escreveu.
Para ele, as medidas pedidas
pela PGR vão ajudar na investiga-
ção. “Imprescindível a realização
das diligências requeridas pela
PGR, inclusive com a relativiza-
ção excepcional de garantias in-
dividuais, que não podem ser uti-
lizadas como escudo protetivo
para a prática de atividades ilíci-
tas, tampouco como argumento
para afastamento ou diminuição
da responsabilidade civil ou pe-
nal por atos criminosos, sob pe-
na de desrespeito a um verdadei-
ro Estado de Direito.”
Segundo a PGR, a solicitação
ROSINEI COUTINHO/SCO/STF
tem como objetivo analisar o “al-
cance das mensagens, vídeos e ou-
tras manifestações” publicadas
por Bolsonaro para investigar con-
dutas do ex-presidente que “pos-
sam ter instigado seus seguidores
em redes sociais à execução de atos
contra o regime democrático”. O
pedido foi feito no inquérito que
mira os autores intelectuais e insti-
gadores dos atos do 8 de janeiro. É
nesse caso que Bolsonaro é investi-
gado e já prestou depoimento à
Polícia Federal (PF).
NAS BANCAS
Anderson Torres vai à CPI
e nega interferência da
pasta da Justiça na PRF
João Valadares
De Brasília
O ex-ministro da Justiça An-
derson Torres prestou depoimen-
to nessa quinta-feira (10) na CPI
dos Atos Antidemocráticos da
Câmara Legislativa do Distrito
Federal. Ele repetiu a estratégia
adotada na terça-feira (8) na CP-
MI do 8 de janeiro no Congresso
Nacional e negou omissão ou
qualquer ligação com os ataques
às sedes dos três Poderes. Torres
também disse que não houve in-
terferência do Ministério da Justi-
ça nas operações da Polícia Rodo-
viária Federal (PRF) realizadas no
segundo turno das eleições do
ano passado, foco das investiga-
ções que levaram à prisão nesta
semana do ex-diretor-gera da
corporação Silvinei Vasques.
“A informação recebida do dire-
tor-geral era de que o planejamen-
to operacional da PRF e que a infor-
mação recebida do diretor-geral
era de que o planejamento no se-
gundo turno tinha sido semelhan-
te ao primeiro turno e foi executa-
do sem alterações”, disse Torres.
Silvinei foi preso na manhã da
quarta-feira (9) em operação da
Polícia Federal sob alegação de
que teria ordenado a montagem
de barreiras policiais em cidades
onde Lula obteve mais de 75%
dos votos no primeiro turno.
Torres repetiu o que Silvinei
havia dito na CPMI do 8 de janei-
ro. “Ninguém deixou de votar. O
próprio TSE reconheceu isso. O
comparecimento no segundo
turno foi superior ao registrado
no primeiro turno”, destacou.
Ele disse também que não ti-
nha atribuição de vetar o plane-
jamento operacional de qual-
quer instituição. “Todas as infor-
NO SITE NO APP
GLOBO+
mações que recebi na data de 30
de outubro indicaram que tudo
estava transcorrendo normal-
mente, e isso acabou sendo con-
firmado por entrevistas de auto-
ridades da Justiça Federal logo
após encerrada a votação”, afir-
mou.
Torres declarou novamente
que a minuta para um golpe de
Estado encontrada na sua casa
pela Polícia Federal era um docu-
mento fantasioso. Ele disse mais
uma vez que a minuta não foi
descartada por mero descuido.
A proposta de decreto indicava
que o ex-presidente Jair Bolsonaro
deveria instaurar um estado de de-
fesa na sede do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) com objetivo de re-
verter a vitória do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT). O docu-
mento de três páginas foi encon-
trado no dia 10 de janeiro durante
cumprimento de mandado de
busca e apreensão embaixo de um
porta-retrato da casa de Torres.
Ex-secretário de Segurança
Pública do Distrito Federal, Tor-
res ficou quatro meses preso por
suspeita de envolvimento nos
atos golpistas de 8 de janeiro,
quando as sedes dos três Poderes
foram invadidas em Brasília. Ele
é investigado por suposta omis-
são e conivência com os vânda-
los que causaram depredação
dos prédios públicos.
Ele afirmou que, antes de viajar
aos Estados Unidos no dia 6 de ja-
neiro, deixou assinado um Proto-
colo de Ações Integradas (PAI) pa-
ra ser executado em caso de neces-
sidade. Como titular da Seguran-
ça, afirmou que, se o plano fosse
seguido à risca, os atos do 8 de ja-
neiro não teriam acontecido.
Ver também página A11
 Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | A11

Política

Poderes Ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal falou por três

BRENNO CARVALHO / AGÊNCIA O GLOBO

horas e depois foi levado para o Complexo Penitenciário da Papuda

Silvinei depõe à PF e defesa nega

acordo de delação premiada
Caetano Tonet
De Brasília
O ex-diretor da Polícia Rodo-
viária Federal (PRF) Silvinei Vas-
ques prestou depoimento à Polí-
cia Federal (PF) nessa quinta-fei-
ra (10) na sede da corporação em
Brasília. Segundo os advogados,
Silvinei respondeu todas as per-
guntas feitas pelos agentes. A oi-
tiva durou cerca de três horas. O
policial sentiu-se mal durante o
depoimento e foi atendido por
socorristas do prédio da PF. De
acordo com a defesa, ele teve
uma “variação na pressão”.
Silvinei foi preso em Florianó-
polis na quarta-feira em uma ope-
ração que investiga interferência
no segundo turno das eleições de
2022 para beneficiar o então presi-
dente Jair Bolsonaro (PL). A prisão
foi autorizada pelo ministro Ale-
xandre de Moraes, do Supremo Tri-
bunal Federal (STF), que viu con-
duta “ilícita” e “gravíssima” nos
atos do ex-diretor.
Silvinei é suspeito de coman-
dar operações da PRF para difi-
cultar o trânsito de eleitores no
dia 30 de outubro do ano passa-
do, especialmente em cidades do
Nordeste, reduto eleitoral do en-
tão candidato do PT à Presidên-
cia, Luiz Inácio Lula da Silva.
Após a oitiva, a defesa de Silvi-
nei descartou qualquer possibili-
dade de delação premiada por
parte do policial. “Isso não foi
oferecido e ele nunca aceitaria.
Porque delação premiada é para
criminoso e ele é uma pessoa de
bem, um herói nacional”, decla-
rou o advogado Eduardo Simão.
A defesa argumenta que o dele-
gado que preside o caso foi levado
ao erro, mas disse que foi cogitada
uma possível perseguição política
contra o ex-diretor. “A gente achou
até que tinha existido uma perse-
guição política, mas no decorrer
do depoimento nós verificamos
que o delegado foi induzido ao er-
ro. Com os elementos em prova ele
vai chegar à conclusão que real-
mente essa prisão é desnecessária
e logo logo Silvinei estará na rua”,
afirmou Simão.
Silvinei negou que tenha tido
acesso a uma planilha com o ma-
peamento mostrando os municí-
pios onde Lula teve votação acima
de 75%. “Não teve acesso a tal pla-
nilha. Não teria necessidade de ser
feita porque são dados do TSE. É só
entrar no site do tribunal para ter
acesso”, argumentou Simão.
Sobre o encontro no dia 19
de outubro com o então minis-
tro da Justiça Anderson Torres
após uma reunião do Conselho
Superior, onde a operação teria
sido abordada, os advogados
não negam e dizem se tratar de
uma conversa entre superior e
subordinado. “Como ele é su-
bordinado, são reuniões natu-
rais. Provavelmente o que foi
pedido foi para cumprir as de-
Silvinei: ex-diretor da PRF sentiu-se mal durante depoimento à PF
terminações que a legislação
exige”, pontuou o advogado.
A defesa afirma que a res-
ponsabilidade pelas operações
no período eleitoral é do Mi-
nistério da Justiça, mas descar-
ta que tenha acontecido qual-
quer direcionamento para pre-
judicar eleitores. “O responsá-
vel por essa operação envolven-
do a eleição foi o Ministério da
Justiça. Não teve nenhum pedi-
do para cometer nenhuma in-
fração ou perseguir um viés po-
lítico. Pediu para cumprir a le-
gislação. Não é porque é dia de
eleição que o sujeito pode an-
dar com um carro com droga”,
argumentou Simão.
Após o depoimento, Silvinei
Vasques foi transferido para o
Complexo Penitenciário da Pa-
puda, em Brasília, onde ficará em
prisão preventiva.

‘Tentaram corromper PRF para pobre não votar’, diz Lula

Caio Sartori
Do Rio
O presidente Lula (PT) comentou
nessa quinta-feira (10) as informa-
ções que vieram à tona com a prisão
de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral
da Polícia Rodoviária Federal acusa-
do de atrapalhar a votação de eleito-
res em redutos lulistas no ano passa-
do. O inquérito mostrou, por exem-
plo, que havia na corporação um
mapa com locais do Nordeste onde
Lula teve mais de 75% dos votos no
primeiro turno. Essas cidades deve-
riam ser o foco de blitze da corpora-
ção no segundo turno para evitar o
deslocamento dos eleitores.
“Tentaram corromper a Polícia
Rodoviária Federal para não dei-
xar pobre votar”, disse Lula em
evento na zona oeste do Rio. “Eles
não contavam que Deus era maior
que tudo isso, não contavam que
íamos ganhar a eleição.”
Em outro momento no qual fa-
lou sobre polícias, o presidente re-
pudiou a morte de um adolescen-
te nesta semana na Cidade de
Deus, favela carioca, durante ope-
ração policial. Aqui, a fala de Lula
se deu num contexto direcionado
ao governador Cláudio Castro
(PL), aliado do ex-presidente Jair
Bolsonaro, que foi vaiado em mais
de um momento por quem com-
pareceu ao evento organizado pe-
lo prefeito Eduardo Paes (PSD),
apoiador do petista.
“Precisamos criar condições pa-
ra a polícia ser eficaz não só para
combater o crime, mas para saber
diferenciar o que é um bandido e o
que é um pobre que anda na rua”,
apontou. Antes, no entanto, o pre-
sidente defendeu Castro das vaias:
“É importante que vocês saibam
que, quando a gente ganha elei-
ção para presidente da República,
a gente não consegue governar
sem conversar com governadores
e prefeitos. O governador do Rio
foi meu adversário na eleição, mas
agora acabou. É com ele que va-
mos ter que fazer acordo.”
Na região considerada reduto
de Bolsonaro, Lula fez um discurso
de forte teor político-eleitoral,
com críticas duras ao ex-presiden-
te. Com cerca de 367 mil pessoas
distribuídas por 104,9 km², Cam-
po Grande é o bairro mais populo-
so do Brasil, segundo o Censo do
IBGE. Tem mais gente que três ca-
pitais brasileiras: Rio Branco
(Acre), Vitória (Espírito Santo) e
Palmas (Tocantins). O local tam-
bém ficou conhecido como um
dos berços do modelo miliciano
que passou a controlar áreas do
Rio ao longo deste século.
Na agenda, o presidente anun-
ciou apoio total de R$ 2,6 bilhões
para o sistema de transportes da
cidade. O montante é dividido
entre investimentos no BRT (R$
1,8 bilhão) e na construção do
Anel Viário de Campo Grande
(R$ 820 milhões). Depois, Lula
seguiu com Paes para a obra do
futuro campus de graduação do
Instituto de Matemática Pura e
Aplicada (Impa), na zona por-
tuária, cujo orçamento será ban-
cado pelos ministérios da Educa-
ção e de Ciência e Tecnologia.
Em ambos os compromissos
em solo carioca, o mandatário
seguiu a linha de classificar o Rio
como parte fundamental da
imagem do país no mundo.
“Existem 27 Estados, mas quan-
do você chega lá fora, este daqui
é a cara do país”, afirmou.
Hoje, quase todos os ministros e
governadores se juntam ao presi-
dente na cidade para o lançamen-
to do novo Programa de Acelera-
ção do Crescimento (PAC). A ceri-
mônia será no Theatro Municipal.
Ver também A6

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DIA 16 DE AGOSTO, ÀS 10H

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A12 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Política

Judiciário Defesa questionava legalidade da apuração feita pela PF

para apurar possíveis irregularidades na compra de kits de robótica Obrigatoriedade do
juiz de garantias é o
Gilmar anula provas contra Lira 1 o voto de Zanin no STF
por supostos desvios no FNDE De Brasília

Em seu primeiro voto como

Luísa Martins
De Brasília
O ministro Gilmar Mendes, do
Supremo Tribunal Federal (STF),
anulou todas as provas envolven-
do o presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (PP-AL),
no âmbito do inquérito que apu-
ra supostos desvios de recursos
do Fundo Nacional do Desenvol-
vimento da Educação (FNDE).
Segundo o ministro, como ha-
via indícios da participação de Li-
ra desde o início da investigação,
o caso já deveria ter começado no
Supremo (onde parlamentares
têm prerrogativa de foto), e não
na primeira instância.
Em julho, o decano havia con-
cedido liminar para suspender a
investigação. A cautelar iria a re-
ferendo na sessão do plenário
virtual que abriu nesta sexta-fei-
ra (11), mas foi retirada de pauta.
Isso porque Gilmar acabou anali-
sando o mérito da reclamação —
instrumento que permite deci-
sões individuais em definitivo —
e concluiu que era o caso de de-
clarar a nulidade.
A reclamação foi apresentada
ao STF pela defesa de Lira. Os advo-
gados questionavam a legalidade
da apuração aberta pela Polícia Fe-
deral (PF) para apurar possíveis ir-
regularidades na compra de kits
de robótica para 46 municípios de
Alagoas. A suspeita é de superfatu-
ramento — com uso de verbas do
chamado “orçamento secreto” — e
fraude à licitação, para beneficiar
uma única empresa.
Nos autos do processo, a Procu-
Para Gilmar, como havia indícios da participação de Lira desde o início da investigação, o caso deveria ter começado no STF
radoria-Geral da República (PGR)
manifestou-se pelo arquivamento
da investigação, já que houve uma
“manobra para contornar o juízo
natural” — não só em relação a Lira
como a outras pessoas com foro
privilegiado, como deputado Gil-
mar Máximo (Republicanos-DF).
Segundo o órgão, os parlamenta-
res foram “investigados escamo-
teadamente” pelo juízo incorreto.
O inquérito chegou ao Supre-
mo em julho, após a PF alegar
que encontrou — durante a Ope-
ração Hefesto, deflagrada em
Alagoas — documentos que fa-
ziam menção ao nome de Lira.
Parte do material estava com
um ex-assessor do presidente da
Câmara chamado Luciano Caval-
cante. Após virar alvo da investi-
gação, ele deixou o cargo que
ocupava no gabinete da lideran-
ça do PT na Casa Legislativa. Em
entrevista ao programa “Roda Vi-
va”, da TV Cultura, Lira admitiu
amizade com Cavalcante, mas
disse que não pode ser responsa-
bilizado por atos de terceiros:
“Eu respondo pelo meu CPF.”
CRISTIANO MARIZ/O GLOBO
Depois da decisão de Gilmar,
Lira foi às redes sociais para afir-
mar que a investigação “tinha co-
mo único alvo” lhe atingir. “Passei
dias sendo exposto e injustiçado,
mas sempre confiei plenamente
no Poder Judiciário.”
Ao Valor, a defesa de Lira disse
que o STF reconheceu “a existên-
cia de manobras” na investiga-
ção. “A violação das regras legais
deve ser contida, sob pena de re-
tornarmos ao arbítrio”. Procura-
do, Máximo não respondeu. (Co-
laborou Raphael Di Cunto)
membro do Supremo Tribunal
Federal (STF), o ministro Cristia-
no Zanin manifestou-se pela
obrigatoriedade da implantação
do juiz das garantias em todo o
país, com um prazo de até 24
meses para que o Poder Judiciá-
rio se adapte ao novo modelo.
Na sessão dessa quinta-feira
(10), ele seguiu a divergência
aberta pelo ministro Dias Toffoli,
formando placar de 2 a 1. Eles
discordaram do relator do caso,
ministro Luiz Fux, para quem a
medida deve ter caráter facultati-
vo, sob pena de violação ao direi-
to dos cidadãos à razoável dura-
ção do processo. Em seguida, o
julgamento foi suspenso, para
continuidade na próxima quarta.
“Estou convicto de que a exis-
tência do juiz das garantias po-
derá efetivamente mudar o ru-
mo da Justiça brasileira, por ga-
rantir maior probabilidade de
um julgamento imparcial e in-
dependente. A imparcialidade
do juiz é um princípio supremo
do processo penal”, disse Zanin.
Quando era advogado do pre-
sidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Zanin argumentou no Supremo
que o então juiz da Operação La-
va-Jato, o hoje senador Sergio
Moro (União-PR), não havia
atuado de forma isenta. Acolhi-
da na Corte, sua tese acabou le-
vando à nulidade das sentenças
contra o petista e permitindo a
sua candidatura.
Hoje ministro do tribunal, Za-
nin destacou que, segundo a
doutrina, “a imparcialidade é
uma construção técnica artificial
do processo penal, pois não ne-
cessariamente faz parte da natu-
reza humana”. Portanto, segun-
do ele, é necessário que se ado-
tem medidas para garanti-la no
sistema de Justiça.
A lei foi sancionada em 2019
pelo então presidente Jair Bolso-
naro, no âmbito do chamado Pa-
cote Anticrime, aprovado pelo
Congresso Nacional. O juiz das
garantias é um magistrado res-
ponsável exclusivamente pela fa-
se de instrução do processo, dei-
xando a sentença (de absolvição
ou condenação) a cargo de ou-
tro. Atualmente, no sistema bra-
sileiro, todas as etapas ficam a
cargo do mesmo.
Até agora, apenas Fux entende
que a adoção da medida deve ter
caráter opcional, sem que isso
signifique a nulidade das sen-
tenças já proferidas fora desses
moldes. O relator afirma que a
obrigatoriedade pode violar os
direitos do cidadão à razoável
duração do processo.
Fux também observou que o
mecanismo foi incluído às pres-
sas no Pacote Anticrime, sem co-
laborações suficientes de repre-
sentantes do Poder Judiciário, o
mais impactado pela medida. “É
uma regra bombástica, apta a
gerar a desorganização do siste-
ma de Justiça criminal brasileiro
e a vulnerar, de forma intolerá-
vel, direitos fundamentais de
elevadíssima estatura”, apontou.
O plenário examina em con-
junto quatro ações diretas de in-
constitucionalidade (ADI) ajui-
zadas ainda em 2019 contra a
norma. Ainda faltam votar os
ministros André Mendonça, Nu-
nes Marques, Alexandre de Mo-
raes, Edson Fachin, Luís Roberto
Barroso, Cármen Lúcia, Gilmar
Mendes e a presidente da Corte,
ministra Rosa Weber. (LM)

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Internacional
Eleições Em meio a uma profunda crise econômica, votação define
neste domingo os candidatos à Presidência no pleito de outubro
Presidenciáveis argentinos
medem suas forças em primária
Roberto Lameirinhas
De São Paulo
Os argentinos vão às urnas neste
domingo para escolher os candi-
datos à Presidência na eleição de
outubro, com potencial de lançar
o país em uma turbulência e acele-
rar ainda mais a deterioração eco-
nômica dependendo dos resulta-
dos — como ocorreu em 2019. As
Paso (sigla de “primárias abertas,
simultâneas e obrigatórias) devem
indicar uma tendência mais clara
sobre quem é o mais cotado pelos
eleitores para conduzir o país —,
mergulhado numa das piores cri-
ses econômicas de sua história — a
partir de dezembro.
Em 2019, quando as Paso indi-
caram que a coalizão peronista
Frente de Todos (FdT), liderada por
Alberto Fernández e tendo Cristi-
na Kirchner como vice, os merca-
dos reagiram fortemente, com
uma grande corrida ao dólar e
uma intensa onda de resgate dos
títulos da dívida soberana argenti-
na — cujos efeitos são sentidos até
hoje. Do ponto de vista político, as
primárias de domingo são as mais
importantes desde que o sistema
de Paso foi instituído, em 2009.
“Pela primeira vez, ela põe fren-
te a frente, na disputa por uma úni-
ca vaga [do principal partido de
oposoção], dois pré-candidatos
com chances reais de chegar à Pre-
sidência”, destaca o analista Sergio
Berensztein, da consultoria Be-
rensztein.com. “Apenas um dos
dois candidatos da oposição mo-
derada — o prefeito de Buenos Ai-
res, Horacio Rodríguez Larreta, e a
ministra de Segurança do governo
de Mauricio Macri (2015-2019),
Patricia Bullrich — devem seguir
na disputa após as primárias e che-
gar ao primeiro turno de 22 de ou-
tubro”, disse Berensztein. ”Ambos
disputam a candidatura pela coa-
lizão Juntos por el Cambio (JxC).”
Entre os demais candidatos com
chances de alcançar a Presidência,
outros dois chegam em situação
mais confortável às Paso: o gover-
nista ministro da Economia, Ser-
gio Massa, e o radical de direita Ja-
vier Milei — praticamente candi-
datos únicos de suas coalizões.
“Como as pesquisas eleitorais
na Argentina são historicamente
imprecisas e pouco confiáveis, as
Paso — em razão da presença com-
pulsória dos eleitores — acabam se
Setores produtivos aguardam resultados das Paso
De São Paulo
Setores econômicos da Argen-
tina veem pouca possibilidade
de o governo que tomará posse
em dezembro possa reverter em
curto prazo os gargalos de ges-
tão e estrutura que têm causado
alta inflação e baixo crescimen-
to. Entre os principais postulan-
tes que se apresentam como fa-
voritos nas eleições primárias
deste domingo, nenhum detalha
planos ao mesmo tempo claros e
factíveis para enfrentar a crise,
segundo dirigentes setoriais e
economistas.
“Não há como traçar estraté-
gias de médio ou longo prazo
em meio ao cenário atual, no
qual o diagnóstico é terrível, o
prognóstico é ruim e os remé-
dios são amargos”, disse um diri-
gente do setor de comércios e
serviços de Buenos Aires, sob
condição de manter-se anônimo.
“Há um ou outro sinal sobre o
que o próximo governo pode
trazer, mas medidas duras, como
cortes de gastos, têm um custo
político impagável, sobretudo
em períodos eleitorais”, comple-
tou essa fonte.
Em meio aos sinais escassos em
relação ao rumo macroeconômi-
co, empresas e investidores se
mantêm em compasso de espera.
“Com base nos antecedentes de al-
guns candidatos e algumas decla-
rações, os setores produtivos vêm
adotando mais frequentemente
ações de defesa financeira — como
Principais candidatos à Presidência na Argentina
Eleições primárias se realizam neste domingo
Governista
(centro-esquerda)
Union por la Patria
Foto: Marco Bello/Bloomberg
Sergio Massa
Atual ministro da Economia.
Advogado de 51 anos.
Ex-prefeito de Tigre e
ex-deputado federal
convertendo em uma confiável
sondagem de intenção de voto,
com uma imensa amostragem e
um alto grau de confiabilidade”,
disse analista político Marco Sier-
ra, que atua como consultor de
empresas em Buenos Aires. “Prin-
cipalmente no primeiro turno, de
outubro, é muito provável que os
votos dos candidatos do JxC se so-
mem”, afirmou Sierra.
“Já o segundo turno — na prová-
vel hipótese de não haver um ga-
nhador na primeira votação — en-
volve outras variáveis”, prosseguiu
o analista. “Por exemplo, se Massa
chegar à votação final, em 19 de
novembro, seu desempenho elei-
toral pode depender do compor-
tamento da economia nos próxi-
mos meses. E há o fator Milei, que
como todo candidato de posições
mais radicais, pode atrair ao mes-
mo tempo altas taxas de adesão e
forte rejeição”, afirma.
Milei se apresenta como candi-
dato “outsider” e propõe a dolari-
zação total da economia do país e
o fechamento do banco central.
“Ele é considerado — tanto como
sinal de virtude, por parte de seus
partidários, como por crítica, pe-
los adversários — o ‘Bolsonaro ar-
gentino’; chegou a liderar algumas
pesquisas desde o começo deste
ano, mas perdeu um pouco de fô-
lego ao ser acusado de vender va-
gas em seu partido La Libertad
Avanza e com suas declarações po-
lêmicas em favor da liberação da
a de dolarizar seus ativos — em vez
de traçar planos de investimentos
estratégicos”, diz o consultor inde-
pendente Juan Ignacio Ortiz, que
presta serviços a algumas entida-
des como a Associação de Empre-
sários da Argentina. “É um mo-
mento de cautela, mas um dos
preço da incerteza é a redução da
competitividade das empresas ar-
gentinas no exterior”, afirma.
“Estrutura de
transmissão de
energia está à beira
do colapso”
Mauricio Roitman
Pelo que se depreende em li-
nhas gerais, a centro-direitista Pa-
tricia Bullrich é favorável a uma
maxidesvalorização do peso; já
seu adversário na coalizão Juntos
por el Cambio, Horacio Rodríguez
Larreta, seria favorável a um corte
de programas sociais, que causaria
uma forte redução de consumo. O
ultraconservador e candidato an-
tissistema Javier Milei propõe a
dolarização total da economia e o
fim do banco central. Enquanto o
governista e atual ministro da Eco-
nomia Sergio Massa acena com
uma política econômica “mais do
mesmo, sob nova direção”.
“São variáveis muito diferentes,
enquanto as empresas ainda têm
pouca noção sobre como poderão,
por exemplo, tomar empréstimos
Oposição
(centro-direita)
Juntos por el Cambio
Foto: divulgação
Horacio Rodríguez Larreta
Prefeito de Buenos Aires.
Economista e empresário, de
57 anos. Foi chefe de gabinete
de Mauricio Macri
venda de órgãos humanos”, disse o
analista Diego Vásquez, da ONG
argentina Voto Limpio. Milei rejei-
tou as acusações e recuou das de-
clarações sobre órgãos, alegando
que foram tiradas de contexto.
Já Massa, aposta em um “pacote
de bondades” para reforçar sua
posição na disputa eleitoral. On-
tem, ele anunciou um aumento de
23,29% para as aposentadorias,
além de um bônus de 27 mil pesos
(equivalente a cerca de US$ 450, no
câmbio paralelo) por três meses.
A medida coincidiu com a alta
recorde da moeda americana no
mercado informal, que fechou
ontem a 602 pesos — 110,34% aci-
ma da cotação oficial.
Ministro da Economia desde ju-
lho do ano passado, Massa só acei-
tou ser candidato da coalizão go-
vernista no dia anterior ao do fim
do prazo de registro das candida-
turas. Para a maior parte dos ana-
listas, sua reputação de político
moderado e de equidistância en-
tre as facções do presidente Fer-
nández e da vice Cristina Kirchner
dá a ele a possibilidade de, pelo
menos, alcançar uma boa bancada
no Legislativo para os peronistas.
Nas últimas semanas, Massa se
empenhou em renegociar o
acordo de rolagem da dívida de
US$ 44,5 bilhões com o Fundo
Monetário Internacional (FMI)
firmado no ano passado. Pela re-
visão do pacto, o Fundo deve des-
travar o desembolso de cerca de
de longo prazo para se expandir e
criar mais empregos”, disse, por
seu lado, um representante do se-
tor de serviços — que também pe-
diu para não ter o nome publica-
do. “Qualquer planejamento de-
pende de como os projetos serão
financiados”, afirmou.
O setor de energia — do qual
dependem muitas das demais
atividades econômicas — deve
encarar um grande desafio já
nos primeiros meses do próximo
governo. “Acreditamos que, de
modo geral, qualquer um que
seja eleito não terá como abrir
mão de continuar com as obras
dos gasodutos, considerando
que eles serão estratégicos para a
manutenção de alguma segu-
rança energética”, disse Mauricio
E. Roitman, que foi presidente da
Enargas, a autarquia reguladora
do setor de gás do país até 2020 e
hoje atua como consultor.
Roitman alerta que, vença
quem vencer a eleição argentina, o
governo terá um sério desafio a
enfrentar já em janeiro. “A estrutu-
ra de transmissão e distribuição de
energia elétrica para os grandes
centros está operando em sua ca-
pacidade máxima e serão necessá-
rias ações urgentes para evitar o
colapso durante o pico do consu-
mo, no verão”, disse.
Ele observa também que existe
um grande atraso no plano de
atualização do transporte elétrico.
“Essa área está bastante defasada e
recursos tanto do setor público
quanto de empresas privadas pre-
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | A13
DOLORES OCHOA/AP
Oposição
(extrema direita)
La Libertad Avanza
Militares patrulham palácio presidencial em Quito sob estado de exceção
Assassinato lança
incerteza no Equador
Foto: divulgação
Foto: divulgação
Patricia Bullrich
Presidente do partido
Javier Milei
Deputado federal. Economista
às vésperas de eleição
Proposta Republicana, de e escritor, de 52 anos.
67 anos. Foi ministra de Tornou-se conhecido por seus Fernanda Simas o ex-vice-presidente Otto Sonne-
Segurança do governo Macri comentários políticos na TV De São Paulo nholzner e o conservador Jan To-
pic, um ex-atirador de elite.
US$ 10,7 bilhões até o fim deste O assassinato do candidato O assassinato de Villavicencio
ano, mesmo sem que a Argentina presidencial Fernando Villavi- ocorre na sequência de vários ou-
tenha cumprido as metas fiscais cencio tumultua o cenário eleito- tros crimes políticos no Equador.
estabelecidas pelo acordo inicial. ral no Equador faltando pouco Em julho, um homem armado ma-
“Massa tem procurado se apre- mais de uma semana para as elei- tou o prefeito de Manta, Agustín
sentar como alguém que, apesar ções antecipadas e escancara a Intriago, em um evento público.
de ser parte dos problemas econô- escalada da violência relaciona- Durante a atual campanha, o can-
micos argentinos, poderia obter da ao narcotráfico no país. didato a deputado Rider Sánchez
resultados diferentes, caso estives- O presidente Guillermo Lasso foi morto por homens armados.
se no comando do governo”, afir- responsabilizou o crime organiza- Em maio, o prefeito da região de
mou o analista Berensztein. “Esse do pelo atentado, que considerou Guayaquil sobreviveu a uma tenta-
discurso pode ter algum efeito, uma tentativa de sabotar as elei- tiva de assassinato. E antes das elei-
mas a tendência é a de que a coali- ções. “Não vamos entregar o poder ções de fevereiro, dois candidatos
zão Juntos por el Cambio se apre- e as instituições democráticas ao a prefeituras foram assassinados.
sente unida na eleição”, disse. crime organizado”, disse Lasso, “Sem dúvida, [sua morte] inte-
O próximo governo terá de bus- que decretou estado de exceção ressava ao tráfico, aos envolvidos
car soluções para controlar uma por 60 dias. “As eleições não serão em corrupção estatal e ao crime or-
inflação que chegou aos 115,6% suspensas”, acrescentou. ganizado. A infiltração do crime
anuais em junho, baixos índices de O ministro do Interior do Equa- organizado nas instituições do Es-
crescimento, reservas internacio- dor, Juan Zapata, confirmou on- tado já é incontrolável”, diz Rojas.
nais em níveis negativos segundo tem que um suspeito morto e ou- Para Simon Pachano, analista e
estimativas privadas e uma taxa de tros seis presos em conexão com o professor da Flacso Ecuador, as
pobreza que atingia quatro em ca- assassinato são cidadãos colom- propostas mais linha-dura devem
da dez argentinos em 2022, segun- bianos. A pedido do governo do ganhar força a partir do caso. “O
do dados oficiais. Para a maior par- Equador, o FBI (polícia federal dos que posso dizer é que o fato cria
te dos analistas, o novo presidente EUA) participará das investigações confusão na campanha e alguns
terá de fazer duros ajustes, incluin- sobre o crime que chocou o país. candidatos vão tentar se beneficiar
do uma maxidesvalorização do As Forças Armadas do Equador com mensagens de mão dura. Fa-
peso e um corte radical nos gastos vão redobrar a segurança dos can- vorece a retórica daqueles que
sociais — como parte de um pro- didatos, dos funcionários do Con- olham o problema apenas como
grama de ajuste fiscal para equili- selho Nacional Eleitoral e em lo- um caso de delinquência organi-
brar o orçamento e voltar a atrair cais de votação. O CNE afirmou zada e não como a infiltração dos
investimentos privados. ainda que o debate deste domingo cartéis de drogas na política.”
Nas primárias também serão entre os candidatos está mantido. Em Wall Street, a avaliação é
aprovadas as listas de partidos e Alguns candidatos suspende- que o crime aumenta as chances
coalizões de candidatos a alguns ram a campanha após o crime e la- dos candidatos conservadores
governos regionais — incluindo mentaram a morte de Villavicen- contra a socialista González. Essa
Buenos Aires — metade dos cio. Segundo analistas, o assassina- expectativa levou a um salto nos
membros da Câmara Federal e to pode fazer com que mais pes- preços dos títulos do Equador,
um terço do Senado. soas saiam para votar na eleição. que já são negociados há mais de
“Se espera um voto nostalgia a um ano em níveis considerados
favor do candidato assassinado. O de alta probabilidade de default.
movimento Construye [pelo qual Ontem em Nova York, os títulos
concorria Villavicencio] deve no-
mear um novo candidato e, depen-
do país com vencimento em 2035
subiram 1,5 centavo, para 35,7
dendo de seu perfil e carisma, acre- centavos de dólar, enquanto a dívi-
cisam ser disponibilizados muito dito que poderia mudar totalmen- da com vencimento em 2040 su-
rapidamente”, afirmou. te a tendência dessas eleições”, diz biu 1,4 centavo, para 32,5 centavos
Outra preocupação do setor o analista político Carlos Rojas. de dólar — os maiores avanços des-
privado diz respeito à herança de As cédulas da eleição já foram de o início de maio, segundo da-
inflação alta — na casa dos 115% impressas, portanto do nome de dos da Bloomberg. Esses ganhos
anuais em junho —, baixo cresci- Villavicencio continuará constan- foram os maiores dos bônus sobe-
mento, reservas internacionais do na votação. ranos do Equador desde maio, que
em níveis negativos e altas taxas Até a quarta-feira, data do cri- ainda acumulam uma perda de
de pobreza que deve limitar a me, Luisa González, candidata mais de 25% desde o início do ano.
ação do próximo governo por do partido ex-presidente Rafael Os EUA condenaram o crime co-
um longo período. “Esse é um Correa, liderava as pesquisas de mo um atentado à democracia do
quadro que deve se aprofundar intenção de voto, enquanto Vil- Equador. Na China, o Ministério
ainda mais nos quase dois meses lavicencio aparecia em uma posi- do Exterior disse esperar que o
que separam as eleições primá- ção intermediária, juntamente Equador realize eleições seguras.
rias de domingo do primeiro com o líder indígena Yaku Pérez, (Com agências internacionais)
turno da eleição, em outubro”,
disse o economista da consulto-
Itamaraty envia nota de pesar
ria Perspectiv@s Económicas
Luis Secco. “Há sinais muito cla-
ros de que a inflação já a partir
de julho estará na faixa dos 8% ao
mês, o que deve aumentar ainda e condenação de assassinato
mais o peso dessa herança nega-
tiva”, afirmou. Murillo Camarotto, Caetano O presidente do Senado e do
E o estilo de administração do Tonet e Isadora Peron Congresso Nacional, Rodrigo Pa-
próximo governo, dizem alguns De Brasília checo (PSD-MG), destacou a histó-
dirigentes empresariais, levam ria de Villavicencio como sindica-
alguns setores a preferirem um Autoridades brasileiras lamen- lista e jornalista, lembrando que o
triunfo de políticos mais tradi- taram ontem o assassinato do can- político se notabilizou por denún-
cionais — ainda que seja o de didato à presidência do Equador cias contra a corrupção e facções
Massa, que retrata o fracasso da Fernando Villavicencio. criminosas. “A América do Sul foi
gestão econômica atual — à de Em nota, o Ministério das Rela- palco de mais um bárbaro atenta-
alguém tão imprevisível como ções Exteriores transmitiu as con- do. O combate de ideias não pode
Milei, que defende soluções he- dolências à família do candidato e e não deve jamais extrapolar o
terodoxas como fechar o banco ao povo equatoriano. “Ao manifes- campo político e das ideias.”
central ou dolarizar a economia. tar a confiança de que os respon- O presidente do Tribunal Supe-
“Nosso empenho é encontrar sáveis por esse deplorável ato se- rior Eleitoral (TSE), ministro Ale-
fórmulas viáveis para que a eco- rão identificados e levados à justi- xandre de Moraes, frisou que o
nomia argentina decole para um ça, o governo brasileiro transmite episódio foi um ataque à demo-
voo seguro, e não que a leve a sal- suas sentidas condolências”, diz o cracia do Equador e defendeu que
tar do 20 o andar”, disse um diri- comunicado divulgado ainda na as eleições previstas para o próxi-
gente empresarial. (RL) quarta-feira, horas após o ataque. mo dia 20 ocorram normalmente.
A14 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Opinião

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Deflação acrescenta riscos é uma publicação da Editora Globo S/A

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abandonado as rígidas medidas preventivas após verem sua principal fonte de poupança, os imóveis, (fernando.torres@valor.com.br) Hilton Hida (mcristina.fernandes@
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segundo trimestre do ano reduziu-se a 0,8% serem pagos e não entregues por construtoras Sergio Lamucci & Tributos (marli.olmos@valor.com.br)
sobre o trimestre anterior, ante 2,2% no primeiro. Mesmo inadimplentes. E, ao contrário do que ocorreu nos países (sergio.lamucci@valor.com.br) Arthur Carlos Rosa Mônica Scaramuzzo
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com a previsão de expansão de 5,5% para o ano, a menor desenvolvidos e outros emergentes, como o Brasil, os efeitos Zinia Baeta
(zinia.baeta@valor.com.br) Editora Visual valor.com.br)
em muito tempo, surgiram dúvidas de que seja alcançada. da pandemia na economia não foram compensados por Sucursal de Brasília Multiplataformas Correspondente
Luciana Alencar internacional
Depois de um Produto Interno Bruto (PIB) modesto, vieram grandes pacotes de injeção de renda para as famílias e Fernando Exman
(luciana.alencar@valor.com.br) Assis Moreira (Genebra)
(fernando.exman@valor.com.br)
mais um recorde de desemprego entre os jovens (21,3%) em empresas. O orçamento doméstico dos consumidores Sucursal do Rio Editora Valor Online (assis.moreira@valor.com.br)
Paula Cleto
junho, deflação em julho (-0,3%) e quedas de dois dígitos chineses foi estressado pelas severas quarentenas em várias Francisco Góes
(paula.cleto@valor.com.br)
Correspondentes nacionais
Cibelle Bouças (Belo Horizonte)
(francisco.goes@valor.com.br)
no comércio externo, tanto de exportações como das principais cidades do país, período no qual a renda Editora do Núcleo de
Editora Valor PRO (cibelle.boucas@valor.com.br)
Roberta Costa
importações. Estouro de bolha imobiliária, baixo consumo, decaiu, sem ingresso de recursos do trabalho. Política e Internacional
roberta.costa@valor.com.br
Marina Falcão (Recife)
(marina.falcao@valor.com.br)
Fernanda Godoy
crescimento menor e inflação negativa são sinais de que a Com investimentos privados estagnados no primeiro (fernanda.godoy@valor.com.br)
Coordenador Valor Data
William Volpato
economia aproxima-se de um ponto morto com altos semestre (-0,2%), consumo amortecido e queda da produção Editor de Brasil
(william.volpato@valor.com.br)
Eduardo Belo VALOR INVESTE
desequilíbrios. industrial por quatro meses consecutivos, o comércio exterior, (eduardo.belo@valor.com.br)
Editora de Projetos
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Especiais
A China está ficando sem motores de crescimento. Nas outra tradicional fonte de impulso ao crescimento chinês, Editora de Tendências
Célia Rosemblum(celia. (daniele.camba@valor.com.br)
ocasiões em que teve de enfrentar problemas na economia, perdeu dinamismo. Em julho, as exportações declinaram 14,5% & Consumo e Tecnologia
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Cynthia Malta
as autoridades do Partido Comunista lançaram sucessivos e e as importações, 12,4%. Vários fatores agiram (cynthia.malta@valor.com.br)
Repórteres Especiais
Adriana Mattos
Editora: Maria Luíza Filgueiras
(maria.filgueiras@valor.com.br)
bilionários estímulos à infraestrutura, que relançaram as desfavoravelmente. Os países desenvolvidos estão crescendo Editor de Indústria (adriana.mattos@valor.com.br)
e Infraestrutura VALOR INTERNATIONAL
atividades. Ainda que possam fazê-lo novamente, o governo menos devido à escalada sincronizada dos juros e demandam Ivo Ribeiro
Alex Ribeiro (Brasília)
(alex.ribeiro@tvalor.com.br) Editor: Samuel Rodrigues
agora pensa duas vezes antes de usar os mesmos incentivos. menos produtos chineses. As sanções americanas contra a (ivo.ribeiro@valor.com.br) César Felício (samuel.rodrigues@valor.com.br)
Editor de Agronegócios
A enorme bolha dos imóveis, agigantada por pacotes China não só reduziram suas vendas para os EUA como Patrick Cruz
(cesar.felicio@valor.com.br)
Daniela Chiaretti
anteriores, estourou há dois anos com a falência da diminuíram também suas importações dos EUA, pelas patrick.cruz@valor.com.br (daniela.chiaretti@valor.com.br) NOVA GLOBO RURAL
Editora de Finanças
Evergrande e o espetacular endividamento das maiores restrições de comercialização de tecnologia e equipamentos Talita Moreira
Fernanda Guimarães Editor-executivo:
Cassiano Ribeiro
(fernanda.guimaraes@
incorporadoras, estancando um setor que produzia algo sensíveis. Em julho, a queda das exportações da China foram (talita.moreira@valor.com.br) valor.com.br) cassianor@edglobo.com.br
entre um terço e um quarto de um PIB de US$ 18 trilhões. puxadas pelo recuo das vendas aos EUA (-23,1%).
Valor PRO / Diretor de Negócios Digitais Tarcísio J. Beceveli Jr. (tarcisio.junior@valor.com.br)
O governo chinês sabe que colocar mais dinheiro em As cotações das commodities estão em queda e explicam Para assinar o serviço em tempo real Valor PRO: falecom@valor.com.br ou 0800-003-1232
empresas debilitadas pouco ajudará. O que está fazendo é boa parte do recuo do comércio chinês. A redução de 12,4% Diretora Editorial de Marcas e Projetos Especiais Sandra Boccia (sboccia@edglobo.com.br)
consertar a bagunça que ajudou a dar origem à bolha. Os nas vendas externas se deve mais à queda de preço (mais de Filiado ao IVC (Instituto Verificador de Comunicação) e à ANJ (Associação Nacional de Jornais)
governos regionais financiaram por veículos próprios a 10%) do que a do volume (pouco menos de 2%). O mesmo Valor Econômico Av. 9 de Julho, 5229 – Jd. Paulista – CEP 01407-907 – São Paulo - SP. Telefone 0 xx 11 3767 1000

expansão imobiliária e a compra de terrenos pelas
incorporadoras, empilhando papéis de valores duvidosos que
somam US$ 9 trilhões, metade do PIB. Já há algum tempo,
Pequim troca títulos dos governos regionais para injetar
dinheiro nos caixas depauperados pelo estouro da bolha. A
medida visa mais a manter à tona as empresas do setor e evitar
falências em massa do que impulsionar o crescimento.
A via de expansão do mercado interno parece bloqueada.
Aumento do consumo e salários foi a alternativa apresentada
pelo PC chinês para mudar o modelo de desenvolvimento
anterior, baseado nas exportações e nos investimentos em
infraestrutura. Até hoje, porém, essas mudanças não foram
significativas, enquanto que a ênfase nos investimentos
prosseguiu, criando excesso de capacidade em vários setores
e tornando-os menos lucrativos.
vale para a importação. Os preços do petróleo caíram 12%, Departamentos de Publicidade Impressa e On-line
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Arbítrio e interferências parlamentares elevam os custos da eletricidade. Por Edvaldo Santana

O samba elétrico
N
o dia 4 de agosto, assis-
tia ao Bom dia DF, da
Globo Brasília. O repór-
ter listava irregularida-
des nas obras do Pontão do Lago
Sul, dentre elas a construção de
um restaurante onde era previsto
um museu. O Pontão é uma área
de entretenimento na região
mais nobre de Brasília.
Achei estranha a decisão do
governo do DF (GDF). O restau-
rante poderia ser construído no
interior do museu, como aconte-
ce nas grandes cidades. Um mu-
seu, como polo de divulgação da
cultura, é um mecanismo de in-
clusão, uma rara chance de espa-
ço dividido entre rico e pobre.
Talvez essa “rara chance” não
combine com a nobreza do Pon-
tão do Lago Sul ou com os crité-
rios de escolha do GDF, embora
as pessoas não saibam que estão
a ser enganadas.
A escolha social é dos campos
mais interessantes da Economia.
O professor Amartya Sen (A
ideia de justiça) usa um caso
simples para mostrar a subjetivi-
dade e quanto o processo de se-
leção é vulnerável ao arbítrio do
decisor. Três crianças (A, B e C)
disputam a posse de uma flauta.
A entende que deve ser dela o
instrumento. É a única que sabe
tocá-lo. B, por outro lado, acha
que a flauta seria sua. Das três, é
única que, por ser muito pobre,
não tem brinquedo ou dinheiro
para comprar. É de C a justifica-
tiva mais natural. Embora não
saiba tocar, construiu o instru-
mento. E você, o que acha?
Um decisor com convicções li-
berais, provavelmente diria que
a flauta deve ser de C, mesmo
que fique sem qualquer utilida-
de. Não é o que faria um socialis-
ta. O instrumento deveria ser
doado a B. Minimizaria o abis-
mo social. Um economista adep-
to da teoria da utilidade enten-
deria que é grande o ganho mar-
ginal de a flauta ser entregue a
B, mas que isso afetaria seu valor
de uso, pois o instrumento fica-
ria sem qualquer aplicação. Mas
ele também atribuiria elevado
valor ao direito de propriedade
de C, que usou seus recursos e
trabalho para produzir a flauta.
E não teria dúvida da utilidade
da flauta se ela fosse de A.
A escolha não pode ser resu-
mida a essas três “caixinhas” (do
liberalismo, socialismo e utilita-
rismo). Talvez tenha sido essa a
opinião dos coreanos do sul. A
educação é o fator-chave no pro-
cesso de escolha. Com ênfase na
educação, B e C teriam oportuni-
dade para estudar música e
aprender a tocar a flauta. A e B
adquiririam conhecimentos pa-
ra fazer uma flauta ou outro ins-
trumento. B, a partir dos estu-
dos, teria mais chances para sair
da pobreza e reduzir a diferença
social. E vai por aí.
Mas há casos em que os crité-
rios são estruturados para ludi-
briar, mas ninguém se importa.
Richard Thaler (Comportamento
inadequado) apresenta um
exemplo muito utilizado. Os alu-
nos costumam reclamar quando
a média das notas fica abaixo de
70 ou 75, numa escala de 0 a 100,
mesmo que os conceitos finais
(A, B, C, D e E) não tenham rela-
ção direta com tais notas.
A estratégia do professor é am-
pliar a escala, por exemplo, de 0 a
143. Os alunos ficariam agora ra-
diantes com a nota 95, ainda que
represente menos de 65% de
acertos. Elevam a autoestima,
mesmo com a redução da nota.
Uma situação bem conhecida
no Brasil é a atribuição de notas
nos desfiles das escolas de samba
do Rio de Janeiro. Nenhum dos
quesitos (bateria, enredo, mes-
tre-sala e porta-bandeira etc.)
pode ter nota inferior a 9. Com is-
so, a Escola que desfila com fan-
tasias sujas, com bateristas que
não sabem tocar e com o samba
sem graça tem nota parecida
com aquela que foi brilhante em
todos os quesitos.
É uma boa estratégia para
acentuar o amor próprio, e até
para estimular o empenho no
ano seguinte, mas leva ao con-
formismo. Na escala de 90 a 100,
a nota 95 corresponde 5 na esca-
la de 100, sendo, dessa maneira,
uma forma de autoengano. Mas
funciona muito bem. E não pen-
se em mudar.
No dia primeiro de agosto, a
diretoria da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) se reu-
niu para a aprovar a revisão tari-
fária da distribuidora do Pará. A
recomposição da tarifa seria de
mais de 16% para os pequenos
consumidores, como esperado.
Na reunião, um deputado federal
e a Defensoria Pública se mani-
festaram contra o aumento. No
dia seguinte, o governador do
Pará emitiu nota em que requer
intervenção do Congresso Nacio-
nal, de modo a desautorizar o re-
gulador. E não é a primeira vez
que isso acontece.
Porém, pelo menos 6 pontos
percentuais da tarifa do Pará são
explicados pelo furto de energia,
um dos maiores do Brasil. É tão
escandaloso que a distribuidora
UNSPLASH
nos Estados do Nordeste, que re-
ferendaram a aprovação do PDL
e outras artimanhas que pioram
a vida dos consumidores das re-
giões mais pobres. O Consórcio
de Governadores do Nordeste já
se alinhou para manter a “corri-
da do ouro”, que alguém já apeli-
dou de a “Disney das renováveis”.
Mais aumento de tarifas.
É esse modus operandi que
leva à deprimente cena do dia 8
de agosto, quando diretores da
Aneel abandonaram a reunião
pública por não concordarem
com uma indicação política
não combinada.
Tal agência, que já foi tratada
como objeto da “terceirização do
Estado”, teve sua independência
fortalecida com argumentos téc-
nicos e econômicos consistentes,
que a levaram a enfrentar, e ven-
cer, uma Comissão Parlamentar
de Inquérito. Hoje, é rotineira-
mente intimidada e humilhada
pelo Congresso, o que lhe enfra-
quece mortalmente.
Mas tudo isso é um desastroso
processo de escolha. A estridência
quase não tem um benchmar- dos governantes e o jeitinho parla-
king. As autoridades policiais do mentar, em busca da “NOTAAA
Pará nada dizem acerca da au- DEZZZ”, não passam de um em-
sência do Estado no combate à buste, um jogo de cintura, um
perda por furto, que é paga pelos samba elétrico, como a repartição
consumidores que não fraudam. de notas nos desfiles do Carnaval.
Há menos de 30 dias o Senado O PDL 365, bem como o pedido de
aprovou um Projeto de Decreto intervenção, funciona para criar
Legislativo (PDL 365) que anula falsas expectativas, mas esconde a
uma norma da Aneel. Para o regu- realidade, que são o arbítrio e as
lador, o sinal de preço indica que interferências parlamentares que
a tarifa de transmissão dos consu- elevam os custos da eletricidade.
midores do Norte e do Nordeste Stanislaw Ponte Preta, pseu-
deveria ser reduzida, enquanto dônimo de Sérgio Porto, se vivo
aumentaria, em idêntica propor- fosse, faria o “samba dos bran-
ção, essa mesma tarifa para as usi- cos doidos”. A melodia e o enre-
nas. O PDL, que foi aprovado tam- do já existem.
bém pela bancada do Pará, desfaz
essa lógica tecnicamente perfeita, Edvaldo Santana é doutor em
e aumentará a tarifa. Engenharia de Produção, ex-diretor da
E coisa semelhante sucederá Aneel e colunista do Valor.

Opinião
Falso amor sincero
Marcio Garcia
O nosso amor é tão bonito
Ela finge que me ama
E eu finjo que acredito
Walter Alfaiate - Falso Amor
Sincero
E
nquanto o arcabouço
fiscal segue sem votação
final na Câmara, refém
do toma-lá-dá-cá políti-
co entre o governo e o centrão, o
mercado segue animado com a
política econômica do governo. A
conservadora revista The Econo-
mist registrou o otimismo crescen-
te dos investidores, externos e in-
ternos, com o Brasil, manifestado
mais recentemente pela melhora
da classificação de risco do Brasil
pela empresa Fitch. Segundo a re-
vista, uma pesquisa com 94 admi-
nistradores de fundos de investi-
mento registrou grande mudança.
Em março, 90% tinham visão nega-
tiva do governo. Hoje, sobrou me-
nos da metade, só 44%.
É preciso debate aprofundado com os setores envolvidos. Por Dora Kaufman e Alexandre Coelho
Regular a IA, mas sem precipitação
A
urgência na regula-
mentação da Inteli-
gência Artificial (IA)
ecoa mundo afora,
contudo, regulamentação pre-
matura pode restringir a inova-
ção e não proteger a sociedade.
Regulamentar a IA não é como
regular um produto ou um ser-
viço, não é trivial pré-identificar
e isolar nos sistemas os riscos e
suas consequências. Entender
como funcionam as cadeias de
suprimento dos sistemas de IA, e
como atribuir responsabilidades
distintas demanda tempo e ca-
pacitação, inclusive dos próprios
reguladores.
O projeto de lei para criação do
Marco Regulatório da Inteligência
Artificial no Brasil, PL 2338, em tra-
mitação no Senado, foi inspirado
na proposta de regulamentação
da Comissão Europeia (AI Act),
apresentada em abril de 2021,
com mais de 3.000 emendas em
novembro de 2022; sua imple-
mentação como lei ainda é uma in-
cógnita. Kai Zenner, chefe de gabi-
nete do eurodeputado Axel Voss,
em workshop em 5 de julho na se-
de da ONU em Genebra, apontou
algumas de suas fragilidades.
O artigo 28 o, por exemplo, não
aborda adequadamente a com-
plexa cadeia de abastecimento da
IA, muitas vezes com mais do que
um fornecedor e implementador,
e não está claro se as obrigações
são compartilhadas ou existe um
“ator principal”. O que acontece,
indaga Zenner, se o sistema de IA
se tornar de alto risco após vir a
mercado por conta de uma modi-
ficação posterior? (o enquadra-
mento é ex-ante). E quanto aos
sistemas de código aberto, as
obrigações são aplicáveis? Ou
mesmo o oposto, quando um sis-
tema classificado inicialmente
como de alto risco for utilizado
para uma tarefa de baixo risco?
As soluções de IA Generativa
igualmente são imprecisas: as
obrigações de quem desenvolve
os modelos de linguagem (LLMs)
não devem ser as mesmas de
quem simplesmente aplica essa
tecnologia nos casos de uso.
Entre os especialistas, forma-se
um consenso de que a efetividade
de qualquer regulamentação da IA
depende de estabelecer padrões.
Neste sentido, o European Com-
mittee for Standardization (CEN) e
o European Committee for Elec-
trotechnical Standardization (CE-
NELEC) criaram um Comitê Técni-
co Conjunto (CEN-CENELEC 21 ‘In-
teligência Artificial’) para o desen-
volvimento e adoção de padrões
para IA, além de fornecer orienta-
Como se sabe, a principal fragi-
lidade macroeconômica da econo-
mia brasileira é a propensão do se-
tor público para gastar muito (e
muito mal). Dada a importância
política da execração do teto de
gastos na campanha eleitoral, o
governo se viu obrigado a produ-
zir outra lei que fizesse papel se-
melhante (o de conter o cresci-
mento insustentável dos gastos
públicos) parecendo que faz algo
totalmente diferente. Criou-se, en-
tão, o arcabouço fiscal, que ora
aguarda a finalização da barganha
política trocando cargos (e verbas
públicas) por votos no Congresso.
O arcabouço fiscal foi bem rece-
bido pelo mercado. A principal ra-
zão da boa recepção foi ter tirado
da sala o bode da explosão da dívi-
da pública. Mas a maioria das pro-
jeções da razão dívida/PIB, mesmo
supondo que o arcabouço fiscal e
as metas de superávits primários
sejam cumpridas, mostra tal indi-
cador em ascensão até o fim da dé-
cada, só então voltando a cair.
Grosso modo, a dívida pública ho-
je em quase 77% do PIB cresceria
até 85% do PIB em 2030, para só en-
tão se estabilizar e começar a cair. E
isso se tudo sair como projetado, o
que raramente acontece. As previ-
sões do boletim Focus, por exem-
plo, são mais pessimistas: seguem
subindo continuamente, passan-
do de 90% do PIB em 20322.
Há muitas incertezas sobre o
Cabe à comissão de
senadores trazer
ativamente para o
processo as agências e
órgãos setoriais, os
únicos efetivamente
capazes de liderar a
padronização dos
requisitos legais e
exercer eficazmente o
papel de regulador e
fiscalizador
funcionamento do arcabouço fis-
cal nos próximos anos. Como cha-
mam a atenção Marcos Lisboa e
Marcos Mendes: “... até 2026 a re-
ceita precisará crescer 2,5% do PIB,
algo como R$ 290 bilhões”3. Ou se-
ja, um imenso aumento de arreca-
dação, apesar de o ministro Had-
dad não cansar de repetir que não
haverá aumento de impostos. Co-
mo tal aumento de receitas será
obtido? Ninguém sabe exatamen-
te, mas o mercado não parece estar
muito preocupado com isso.
Mesmo antes de
aprovado, novo regime
fiscal se vê ameaçado
por uma miríade de
exceções
Por outro lado, um dia sim e ou-
tro também, surgem demandas
por mais gastos fiscais. Hoje
(11/8/23), por exemplo, o governo
deve estar anunciando o novo
PAC, com maciço programa de in-
vestimentos públicos. Segundo
notícia recente, o governo já pro-
pôs ao Congresso “... retirar da me-
ta fiscal do ano que vem R$ 5 bi-
lhões de despesas de estatais fede-
rais com investimentos do novo
Programa de Aceleração do Cresci-
mento”4. Ou seja, a pressão para
descumprir o já insuficiente arca-
bouço fiscal é muito grande.
ção a outros Comitês Técnicos rela-
cionados com IA.
No Brasil, o PL 2338 do sena-
dor Rodrigo Pacheco é um bom
ponto de partida, mas requer
aperfeiçoamentos, no geral, pa-
ra a) reduzir os custos de confor-
midade que afetam negativa-
mente a inovação e positiva-
mente a concentração de merca-
do (empresas médias, pequenas
e startups terão dificuldade em
atender as obrigações legais) e
b) especificar melhor os direitos
do usuário afetado, evitando
uma enxurrada de ações judi-
ciais. Imprescindível padronizar
os requisitos do Artigo 13, como
critérios de avaliação para classi-
ficar o risco, teor dos registros e
documentos de avaliação, parâ-
metros a serem utilizados pela
autoridade competente para de-
terminar a reclassificação e ava-
liação de impacto algorítmico.
Adicionalmente, especificar di-
retrizes para diferenciar as obri-
gações e responsabilidades dos
diferentes atores da cadeia de
desenvolvimento dos sistemas
de Inteligência Artificial.
O Artigo 18, por exemplo, facul-
ta à autoridade competente atuali-
zar a lista dos sistemas de risco ex-
cessivo ou alto risco com base em
critérios que precisam ser, igual-
mente, padronizados evitando de-
cisões subjetivas e/ou conflitos —
É também bem conhecida a po-
sição de muitos economistas liga-
dos aos partidos de esquerda
quanto à política fiscal. A famosa
frase da ex-presidente Dilma—
“gasto é vida” — é a melhor expres-
são dessa ideia. Acreditam que
gastos públicos teriam o condão
de aumentar sempre o crescimen-
to econômico, e até mesmo de ge-
rar seu próprio financiamento. A
grande recessão que o Brasil viveu
em 2014-2016 é o resultado de tais
ideias postas em prática. Mas o
enorme sofrimento, sobretudo
dos mais pobres, não foi suficiente
para que tais economistas apren-
dessem a lição, preferindo recorrer
a explicações estapafúrdias do
caos gerado na economia.
Alguns desses economistas
candidamente justificam a neces-
sidade do arcabouço fiscal aludin-
do a expectativas do mercado. Co-
mo o mercado acredita na neces-
sidade de se conter o enorme au-
mento do gasto público, seria ne-
cessário algum mecanismo para
satisfazer tal expectativa. É como
se o médico prescrevesse uma me-
dicação não porque julgasse ser
ela necessária para curar a doen-
ça, mas, sim, porque a maioria
dos médicos assim a consideraria.
É melhor do que aplicar terapêu-
ticas exóticas, mas definitivamen-
te não gera confiança.
O otimismo reinante com a
política econômica lembra os
número de pessoas afetadas, ex-
tensão geográfica, duração e fre-
quência, impacto negativo no
exercício de direitos e liberdades,
alto potencial danoso de ordem
material ou moral ou discrimina-
tório, efeitos prejudiciais irreversí-
veis ou de difícil reversão, baixo
grau de transparência, explicabili-
dade e auditabilidade que dificul-
te o processo de revisão, alto nível
de identificabilidade dos titulares
dos dados. A responsabilidade pe-
la elaboração de padrões para es-
sas e outras categorias previstas na
PL 2338 poderia caber às agências
reguladoras setoriais.
Os Artigos 5 ao 12, referentes
aos direitos do usuário afetado, ca-
recem igualmente de padroniza-
ção, por exemplo, o direito à infor-
mação prévia (quais informações?
como serão transmitidas? como
garantir o acesso do usuário às in-
formações?); direito à explicação
sobre a decisão, recomendação ou
previsão tomada por sistemas de
IA (qual o teor e meios dessa expli-
cação? Como assegurar o entendi-
mento do usuário leigo?); direito à
participação humana em decisões
de sistemas de IA (o que caracteri-
za “participação humana”? Todo o
processo da cadeia de IA é permea-
do por decisões humanas). Artigo
5 VI — o parágrafo único determi-
na que “os agentes de IA informem
de forma clara e facilmente acessí-
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
versos em epígrafe, do grande
compositor botafoguense Wal-
ter Alfaiate. O governo faz juras
de amor ao equilíbrio fiscal, e o
mercado finge que acredita. O
falso amor sincero pode durar
muito, sobretudo em um mun-
do no qual as alternativas de in-
vestimento são em países com
situação muito pior, como Ar-
gentina ou Turquia. Mas, no fi-
nal, a conta sempre chega.
Do que precisamos mesmo é
que o presidente dê mão forte à
equipe econômica para tentar
conter a avalanche de pedidos
de novos gastos, o verdadeiro
amor sincero.
1. https://www3.bcb.gov.br/ex-
pectativas2/#/consultaSeriesEsta-
tisticas
2. https://braziljournal.com/opi-
niao-me-engana-que-eu-gosto-go-
verno-deveria-detalhar-proje-
coes-de-receita/#
3. https://www.google.com.br/
amp/s/economia.uol.com.br/noti-
cias/estadao-conteudo/2023/08/
08/governo-quer-tirar-r-5-bi-
lhoes-em-gastos-do-pac-da-me-
ta-fiscal-de-2024.amp.htm .
Marcio G. P. Garcia , professor titular da
Cátedra Vinci Partners, Departamento de
Economia da PUC-Rio e pesquisador
afiliado da MIT Sloan School of
Management.
Escreve mensalmente neste espaço.
(https://sites.google.com/view/mgpgarcia)
vel os procedimentos necessários
para o exercício dos direitos des-
critos”, o que seria “facilmente
acessível” e acessível a quem?
Os Artigos 7 e 8 estabelecem
que a pessoa afetada por siste-
mas de IA tem o direito de rece-
ber, previamente à contratação
ou utilização do sistema, infor-
mações claras e adequados so-
bre: caráter automatizado da in-
teração e da decisão; descrição
geral do sistema, tipos de deci-
sões, recomendações ou previ-
sões e as consequências para a
pessoa; identificação dos opera-
dores do sistema de IA e medidas
de governança adotadas; papel
da IA e dos humanos envolvidos;
categorias de dados pessoais uti-
lizados; medidas de segurança,
de não-discriminação e de con-
fiabilidade adotadas, incluindo
acurácia, precisão e cobertura; a
racionalidade e a lógica do siste-
ma, o significado e as consequên-
cias previstas de tal decisão para
a pessoa afetada; o grau e o nível
de contribuição do sistema de in-
teligência artificial para a toma-
da de decisões.
Esse conjunto de direitos levam
a dois cenários: ou não serão cum-
pridos por falta de entendimento
de todos os lados, ou serão cum-
pridos apenas pelas grandes em-
presas que, auxiliadas por podero-
sas equipes jurídicas e seus times
técnicos, identificarão formatos
satisfatórios aos seus interesses (e
que podem conflitar com o inte-
resse do usuário afetado).
Cabe à comissão de senadores
a ser constituída dialogar com o
mercado e com os times técnicos,
com especialistas cognitivamen-
te diversos, e trazer ativamente
para o processo as agências e ór-
gãos setoriais, os únicos efetiva-
mente capazes de liderar a pa-
dronização dos requisitos legais
e exercer eficazmente o papel de
regulador e fiscalizador em seus
respectivos domínios. Em parale-
lo, o governo federal precisa se
envolver diretamente, não é um
tema circunscrito ao Legislativo.
As audiências públicas com
pouco tempo de exposição não
são suficientes, é necessário um
debate aprofundado e estruturado
com todos os atores e setores en-
volvidos. O processo é tão impor-
tante quanto o resultado final.
Dora Kaufman é professora do TIDD
PUC-SP, autora do livro “Desmistificando
a Inteligência Artificial” e colunista da
Época Negócios.
Alexandre Zavaglia Coelho é advogado
especializado em tecnologia e direito,
doutorando em IA no TIDD PUC-SP.
| Valor | A15
Frase do dia
“Por trás de cada
comemoração
feita no Brasil
tem um pedaço
que foi a da
atuação do
Banco Central”.
Do presidente do BC, Roberto
Campos Neto, ao citar as razões da
S&P para melhorar a perspectiva
da nota de crédito do Brasil
Cartas de
Leitores
Zema
Cumprimento o Valor pelo exce-
lente texto “Se Minas quebrar, é o
Brasil todo que paga", de autoria
da jornalista Maria Cristina Fer-
nandes, edição de 10/08, que
analisou com propriedade a real
e calamitosa situação financeira
do Estado de Minas Gerais e, por
extensão, as desastrosas falas de
Romeu Zema, que pregou em al-
to e bom som a separação do
Sul/Sudeste do restante do País.
Nesse sentido, aconselho o go-
vernador, que em 28 de outubro
completa 59 anos, mais tempe-
rança nas suas falas e que se de-
dique a ler os escritos de William
Shakespeare. Lá encontrará a cé-
lebre frase: “Prefiro ser rei do
meu silêncio do que escravo das
minhas palavras”.
Humberto Viana Guimarães
humberto702020@gmail.com
Meta fiscal
Previsível o procedimento a ser
adotado pelo governo para en-
frentar as oscilações, algumas
pessimistas, dos déficits primá-
rios previstos para os próximos
anos. A meta fiscal, que ainda
nem foi aprovada em sua pleni-
tude pelo parlamento, talvez
não seja adequada para mate-
rializar os compromissos políti-
cos. Tal percepção já está obri-
gando as autoridades econômi-
cas a vislumbrar brechas no or-
çamento que possam tapar a
provável defasagem.
Trata-se de cenário metafori-
camente semelhante ao criado
por um prefeito que, quando em
campanha, promete reparar de-
terminada rua esburacada na ci-
dade mas, ao iniciar as obras, já
eleito, descobre que não possui
aterro suficiente e, por isso, ex-
trai certa quantidade de rua vizi-
nha, tornando precárias as con-
dições de tráfego das duas.
Para resolver em definitivo o
problema, afirma ser obrigado a
aumentar a carga tributária dos
munícipes — os contribuintes.
Paulo Roberto Gotaç
pgotac@gmail.com
Renovação da CNH
Como já não bastassem as inú-
meras taxas e burocracia na re-
novação da CNH, a Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ),
através dos senadores Davi Alco-
lumbre (União-AP) e Fabiano
Contarato (PT-ES) aprovou o
projeto de lei 98/2005 que altera
o Código de Trânsito Brasileiro e
torna a avaliação psicológica
obrigatória todas as vezes que a
habilitação for renovada para
todas categorias.
Enquanto outros países já
existem veículos autônomos dis-
pensando motoristas e facilitan-
do a obtenção de licença para
dirigir, aqui inventam exames
cada dia mais rigorosos, onero-
sos e sem nenhuma validade
científica ou prática. A socieda-
de espera que a Câmara dos De-
putados engavete a PLS 98/2005
e trabalhe por melhorias em
nossa legislação, que exime o Es-
tado de suas obrigações e ape-
nas inventa punições e regras
aos contribuintes.
Daniel Marques
danielmarquesvgp@gmail.com
Correspondências para
Av. 9 de Julho, 5229 - Jardim
Paulista - CEP 01407-907 - São
Paulo - SP, ou para
cartas@valor.com.br, com nome,
endereço e telefone. Os textos
poderão ser editados.
 A16 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Geoeconomia Washington corteja fabricantes de chips e de baterias com grandes
subsídios, mas exige que eles reduzam os laços com seus outros grandes mercados
Na Guerra Fria tecnológica, Coreia do
Sul desvia foco da China para os EUA
Christian Davies
Financial Times, de Seul
Quando visitou a fábrica da LG
Display em Guangzhou, sul da
China, no começo do ano, a men-
sagem que Xi Jinping queria pas-
sar era clara: a China ainda recebe
bem o investimento estrangeiro.
Mas outra interpretação era
possível. A visita à LG foi um alerta
codificado de que empresas corea-
nas em particular deveriam pensar
bem antes de aderir à “dissocia-
ção” da China liderada pelos EUA.
De semicondutores e baterias
para veículos elétricos à biotecno-
logia e telecomunicações, os con-
glomerados da Coreia do Sul são
atores cruciais em setores funda-
mentais para a segurança nacional
e a estratégia industrial de
Washington e Pequim. As fabri-
cantes de chips Samsung e SK Hy-
nix, juntamente com as de baterias
LG Energy, SK On e Samsung SDI,
devem receber bilhões de dólares
em subsídios dos EUA à medida
que Washington tenta atrair a des-
treza industrial coreana e reduzir o
papel chinês nas cadeias de abaste-
cimento dos EUA.
Mas em troca, elas precisam
cumprir uma série de restrições
dos EUA às suas atividades na Chi-
na. Em julho, a China reagiu às res-
trições às vendas de semiconduto-
res lideradas pelos EUA, limitando
as exportações de gálio e germâ-
nio, dois metais usados na fabrica-
ção de chips. Pequim também
proibiu os operadores de infraes-
truturas da China de comprar
chips da concorrente americana
Micron, alimentando temores co-
reanos de que suas companhias
também poderão ser alvos.
Em junho, Xing Haiming, em-
baixador da China em Seul, aler-
tou publicamente a Coreia do Sul
para a “dissociação” da economia
chinesa sob a influência dos EUA.
“Asseguro a vocês que aqueles que
apostam na derrota da China defi-
nitivamente vão se arrepender dis-
so”, disse Xing, recebendo uma re-
primenda do Ministério das Rela-
ções Exteriores da Coreia do Sul.
Enquanto o presidente conser-
vador da Coreia do Sul, Yoon Suk
Yeol, irritou Pequim com comen-
tários culpando a China pelas ten-
sões regionais por causa de
Taiwan, outros ministros adota-
ram um tom mais conciliador.
“Não deveríamos considerar os es-
forços para fortalecer laços com os
EUA como medida para desconsi-
derar a China”, disse o ministro das
Finanças, Choo Kyung-ho, em
maio. “Jamais anunciamos um pla-
no de dissociação da China e não
temos intenção de fazer isso.”
Mas economistas coreanos,
além de executivos de empresas,
observam quea Coreia do Sul já
embarcou em um inconfundível
— mas não alardeado – afasta-
mento da economia chinesa.
Segundo dados do Banco da Co-
reia de junho, o país exportou mais
bens para os EUA em 2022 do que
à China pela primeira vez desde
2004, quando o PIB chinês ainda
era menor que o do Reino Unido.
O ministro do Comércio da Co-
reia, Ahn Duk-geun, disse que a
política de Pequim de “interferir
arbitrariamente nas empresas” e
suas políticas de substituição de
importações de “circulação dupla”
estão levando empresas coreanas a
reduzir sua exposição à China.
A questão para o governo corea-
no, segundo observadores, é se as
principais empresas do país po-
dem explorar com sucesso a mu-
dança rápida do cenário geopolíti-
co – aproveitando ao máximo os
Tecnologia incentivos dos EUA, limitando ao
Gigantes da mesmo tempo as consequências
de uma possível reação de Pequim.
internet da “As tensões entre EUA e China
estão deixando as pessoas tensas”,
China correm diz Yeo Han-koo, que até o ano
passado era ministro do Comércio
para comprar da Coreia do Sul e hoje é pesquisa-
dor do Peterson Institute for Inter-
chips da Nvidia national Economics. “Mas elas po-
dem ser uma grande oportunida-
antes da entrada de para a Coreia do Sul.”
em vigor de Voltada para o leste e o oeste. A
novas restrições relação econômica da Coreia do
Sul com a China se transformou
dos EUA depois de 1992, quando os dois
países estabeleceram relações di-
B7 plomáticas plenas na esteira do
colapso da União Soviética.
Desde então, o valor anual do
comércio sino-coreano cresceu de
US$ 6 bilhões para pouco mais de
US$ 300 bilhões em 2022, quando
a China respondeu por mais de um
quarto das exportações sul-corea-
nas e os EUA por menos de 15%.
Até a metade da década de
2010, a “abordagem dupla” da Co-
reia do Sul com os EUA e a China,
em que Washington atuava como
principal parceiro de segurança e
Pequim como seu principal par-
ceiro econômico, parecia atender
necessidades em ambas as esferas.
“Na época, acreditávamos que
tínhamos relações realmente boas
com a China”, diz Je Hyn-jung,
principal representante do escritó-
rio de Washington da Korea Inter-
national Trade Association. “Sen-
tíamos que éramos amigos e com-
partilhávamos uma cultura asiáti-
ca ou confuciana comum.”
Programas da TV coreana e sua
música pop explodiram na China,
enquanto milhões de turistas chi-
neses passeavam na Coreia do Sul.
Essa amizade foi quebrada em
2016 depois que a Coreia do Sul
adquiriu o sistema de mísseis anti-
balísticos Terminal High Altitude
Area Defense (Thaad), fabricado
pelos EUA, para se proteger de
eventuais ataques norte-coreanos.
Alegando que o sistema Thaad
representava uma ameaça direta
ao território chinês, Pequim impôs
o bloqueio econômico não oficial.
O turismo chinês secou, os dramas
coreanos deixaram de ser exibidos
pelos canais de TV chineses e mar-
cas coreanas foram boicotadas.
“Depois da Guerra Fria, pensa-
mos que poderíamos separar as
questões econômicas das de segu-
rança”, diz Yeo do Peterson Institu-
te. “Mas agora, essa separação aca-
bou. Não podemos continuar no
conforto de uma era que passou.”
Troy Stangarone, diretor e pes-
quisador do Korea Economic Insti-
tute of America, diz que os EUA
não fizeram nada para mostrar
que “tinham o apoio da Coreia”,
pois suportavam a ira de Pequim.
Separadamente, o então presiden-
te Donald Trump ameaçou tirar as
tropas americanas da Península
Coreana, acusando Seul de fugir de
responsabilidades financeiras.
Novos presidentes – Joe Biden
em Washington e o ferozmente
pró-americano Yoon em Seul – le-
varam a uma melhora das rela-
ções, com Biden prometendo um
“compromisso de ferro” para de-
fender os aliados do leste da Ásia e
consultá-los sobre sua agenda de
segurança econômica.
A questão de US$ 369 bilhões. As
ansiedades vieram à tona no ano
passado, depois que a Lei de Re-
dução da Inflação de Biden (IRA,
na sigla em inglês) foi sanciona-
da, fornecendo US$ 369 bilhões
em apoio a projetos de energia
limpa e relacionados ao clima.
Embora a IRA ofereça uma po-
tencial profusão de subsídios para
empresas coreanas que fabricam
baterias para carros elétricos, hou-
ve consternação em Seul quando
se decidiu que os próprios veículos
seriam excluídos dos generosos
créditos fiscais se eles fossem mon-
tados na Coreia, e não nos EUA.
“Na Coreia, a indústria auto-
mobilística continua sendo um
símbolo do renascimento do
país das cinzas da Guerra da Co-
reia, quando não conseguíamos
fabricar nem mesmo uma bici-
cleta”, diz Yeo. “É natural que lí-
deres econômicos coreanos fi-
Exportações de grãos da Coreia do Sul
País exportou mais aos EUA do que à China em 2022
Exportações de bens da Coreia do Sul (US$ bilhões)
Estados Unidos China
150
125
100
75
50
25
2000 2004 2010
Fonte: FT
Funcionário examina celular na fábrica de Dongguan, China, da Samsung, que lentamente vai deixando o país
“O apoio de quem nervosos porque durante
décadas a Coreia do Sul andou
uma década nas costas da economia chinesa,
sem a qual teríamos de passar
do boom por mudanças estruturais dolo-
rosas”, diz Yeo.
econômico As políticas industriais de Pe-
quim também entraram no jogo.
chinês hoje Um pacote de subsídios para fabri-
cantes locais introduzido em 2016
desapareceu” forçou os fabricantes coreanos de
baterias a sair do aquecido merca-
Rhee do de veículos elétricos da China.
À medida que a própria experti-
Chang-yong se tecnológica da China cresceu, a
demanda chinesa por companhias
coreanas especializadas em manu-
fatura complexa caiu dramatica-
mente. “Muitas empresas chinesas
estão fabricando bens intermediá-
rios que basicamente exporta-
mos”, disse Rhee Chang-yong, o
presidente do Banco da Coreia, a
parlamentares em maio. “O apoio
de uma década do boom econômi-
co chinês desapareceu.”
Je, da Korea International Trade
Association, observa que os EUA
ultrapassaram a China como desti-
no dos investimentos coreanos já
em 2011. “A oferta por Washing-
ton de incentivos e proteção con-
tra rivais chineses complementa
uma estratégia de diversificação
que as companhias coreanas já ini-
ciaram”, afirma ela, citando o
exemplo da divisão de telefonia
móvel da Samsung. Ela é a maior
fabricante de smartphones do
mundo, mas sua participação de
mercado na China é de apenas 1%.
A Samsung começou a transferir a
produção da China para o Vietnã
em 2008 e em 2019 fechou a últi-
ma fábrica de celulares na China.
“O que a Samsung mostrou é
que você não precisa fabricar na
China, e não precisa nem mesmo
depender do consumidor chinês –
contanto que você esteja prepara-
do para se diversificar”, diz Yeo.
Da mesma forma, as receitas
chinesas da Hyundai Motor caí-
ram 76% entre 2016 e 2022, segun-
do a empresa de pesquisas de mer-
cado CEO Score, de Seul. A monta-
dora está vendendo duas de suas
quatro fábricas remanescentes na
China enquanto transfere sua pro-
dução para a Indonésia e os EUA,
onde a demanda vigorosa a levou a
um lucro operacional recorde no
segundo trimestre deste ano.
Excluindo os setores de chips e
baterias, a receita gerada pelas
operações das empresas coreanas
na China caiu 37,3% entre 2016 e
2022, segundo a CEO Score.
Chris Miller, professor da Flet-
cher School da Tufts University, diz
que em áreas em que a China ainda
não pode se equiparar à tecnolo-
gia coreana, como os chips de “me-
mória dinâmica de acesso aleató-
rio” (Dram), ela não tem opção a
não ser continuar comprando de
fornecedores coreanos.
“A China precisa dos chips e tem
repetidamente se mostrado dis-
posta a comprar chips de fabrica-
ção estrangeira quando as suas
empresas estiveram significativa-
2016 2022
mente atrasadas, como estão hoje
no caso dos Dram”, diz Miller. “Essa
tem sido a estratégia o tempo todo
QILAI SHEN/BLOOMBERG
– com ou sem guerra ecnológica.”
A indústria coreana de chips
também deve se beneficiar as cres-
centes tensões entre a China e
Taiwan, já que os clientes estran-
geiros buscam reduzir sua depen-
dência dos chips “não memória”
produzidos pela TSMC de Taiwan,
a líder mundial desse mercado.
Em julho, o presidente da fabri-
cante de chips americana AMD
disse que iria “considerar outras
capacidades de fabricação” além
das oferecidas pela TSMC.
A mão amiga dos EUA. As empre-
sas coreanas ainda dependem de
componentes chineses, know-
how de fabricação e matérias-
primas em vários setores identifi-
cados pelos EUA como cruciais
para a sua segurança econômica.
Mas autoridades americanas e
coreanas admitem que, ao im-
plementar suas novas regras,
Washington até agora errou no
lado da “flexibilidade”, permitin-
do às empresas coreanas conti-
nuar trabalhando com parceiros
chineses quando não há uma al-
ternativa realista.
O Tesouro dos EUA emitiu es-
te ano diretrizes que tornam
mais fácil para as empresas co-
reanas produzir mais compo-
nentes de baterias no mercado
interno e ainda assim que quali-
ficarem para os créditos fiscais
dos EUA – muito embora as
companhias chinesas tenham
investido mais de US$ 4 bilhões
na indústria coreana de baterias
somente neste ano.
Washington também sinali-
zou para as principais empresas
de chips da Coreia do Sul que de-
verá estender a permissão para
que elas enviem todas as suas fer-
ramentas de fabricação de chips
para os EUA, com exceção das
que são mais sofisticadas, para
suas fábricas na China.
A concessão permitirá à Sam-
sung e SK Hynix manter suas
vantagens tecnológicas sobre os
concorrentes chineses, ganhan-
do tempo para identificar possí-
veis alternativas de longo prazo
para as fábricas de chips que
elas já têm na China.
“A situação atual está forçando
a Coreia do Sul a fazer duas coisas
que ela deveria estar fazendo de
qualquer maneira: reduzir sua
dependência da China e investir
mais em si própria”, diz Yeo do
Peterson Institute.
Je descreve como nos últimos
anos as empresas coreanas de se-
tores que vão da energia nuclear
ao K-pop, vêm intensificando
seus esforços para entrar em
mercados da Europa, Índia,
Oriente Médio, América Latina e
do Sudeste da Ásia.
“A Coreia do Sul é um país pe-
queno preso entre dois grandes
países”, observa Je. “Isso alimenta
uma sensação quase perpétua de
crise e de negatividade que dá
para observar agora. Mas é exata-
mente essa sensação de crise que
motiva o país a ser bem-sucedi-
do.” (Tradução de Sabino Ahuma-
da e Mario Zamarian)
Varejo
Via diminui estrutura
em plano para
transformar o
negócio até 2025, diz
Renato Franklin B5
Valor B
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Comércio eletrônico Definição do percentual está em discussão; entrada em vigor pode ser em outubro
Governo estuda alíquota entre 17% e 20%
para compra internacional de até US$ 50
Adriana Mattos
De São Paulo
O Ministério da Fazenda estu-
da mexer, ainda neste ano, na alí-
quota de imposto de importação
sobre as remessas internacionais
de baixo valor (até US$ 50, equi-
valente a R$ 240). Segundo apu-
rou o Valor com três fontes a par
do assunto, a alíquota pode, ini-
cialmente, ficar entre 17% e 20%
sobre o total da compra.
Desde 1 o de agosto, essa alíquo-
ta de importação é zero para as
empresas de comércio eletrônico
que aderirem ao programa Remes-
sa Conforme, que permite um trâ-
mite mais rápido no desembaraço
de mercadorias. A isenção foi defi-
nida na portaria 612 do Ministério
da Fazenda, de 29 de junho. Para
quem não está no programa, o im-
posto em vigor para compras in-
ternacionais é de 60%.
A cobrança em estudo, de 17% a
20% para compras de até US$ 50,
seria instituída para as remessas
feitas dentro do Remessa Confor-
me. Com adesão voluntária, o pro-
grama foi criado para disciplinar e
aumentar as fiscalizações e contro-
les sobre o envio de produtos es-
trangeiros ao país. Muitas merca-
dorias acabavam entrando sem
pagamento de imposto, em frau-
des nas quais o vendedor on-line
se passava por pessoa física para
não pagar o tributo previsto para o
comércio eletrônico. Com a alí-
quota zero em um primeiro mo-
mento, a ideia é incentivar a ade-
são ao programa.
O Valor apurou que o que se dis-
cute no governo agora é iniciar a
cobrança da alíquota entre 17% e
20% entre fim de setembro e outu-
bro. A depender da reação da opi-
nião pública, essa taxa pode subir
em etapas, de maneira a tentar
buscar um maior equilíbrio entre a
carga fiscal paga pelo varejo local e
pelas plataformas de venda on-li-
ne estrangeiras. Até dezembro, ha-
veria uma nova elevação, caso exis-
ta ambiente político para isso.
A questão ainda não está decidi-
da, mas já é tópico de conversas
avançadas dentro do ministério e
nos contatos recentes entre redes
de varejo e o ministro Fernando
Haddad, segundo o Valor apurou.
Procurada para comentar, a Fazen-
da informa que “prosseguem as
negociações, sob o comando do
ministério, quanto a futuros ajus-
tes na alíquota federal”.
A definição de uma nova alí-
quota é uma demanda das vare-
jistas locais e da indústria nacio-
nal, que têm criticado duramente
a isenção de imposto, defenden-
do a necessidade de isonomia tri-
butária entre as empresas locais e
as plataformas estrangeiras.
Haddad já havia acenado, no
fim de maio, com a possibilidade
de uma isenção apenas temporá-
ria, e a criação de uma alíquota in-
termediária — entre o imposto ze-
rado e a taxa de 60%, cobrada até
então. Isso seria definido após ou-
vir varejistas nacionais e platafor-
mas, e esses contatos já vêm ocor-
rendo há semanas. Mas não havia
clareza sobre esse percentual, e co-
mo isso seria implementado.
Ainda será mantida a cobran-
ça do ICMS de 17%, já definida
pelo Conselho Nacional de Polí-
tica Fazendária (Confaz) com os
Estados, conforme o ministério
já anunciou. A nova alíquota de
importação se “somaria” ao
ICMS, sendo ambos cobrados so-
bre o valor final da remessa.
Nesta quinta-feira, a Secretaria
Especial de Comunicação Social
do governo federal publicou
mensagem no Twitter destacan-
do que “a isenção de impostos fe-
derais para compras internacio-
nais de até 50 dólares está manti-
da”, e observou que as compras
“estão sujeitas a impostos esta-
duais, com alíquota de 17%”.
Desde 1 o de agosto,
essa alíquota é zero
para as empresas
que aderirem ao
programa “Remessa
Conforme”
No fim da tarde, o secretário-
executivo do Ministério da Fa-
zenda, Dario Durigan, afirmou,
em entrevista à GloboNews, que
em um segundo momento, o go-
verno vai rever a isenção de im-
posto de importação às compras
feitas nos markeplaces estran-
geiros que vierem a aderir ao
programa Remessa Conforme,
para garantir isonomia com o
varejo nacional.
“Empresas já nos sugeriram
20% de imposto de importação
federal, e evidentemente o varejo
brasileiro, as empresas brasilei-
ras têm reclamado dizendo que
querem isonomia no tratamento
tributário, e o que o ministério
tem dito é vai haver isonomia no
tratamento tributário”, afirmou.
“Em um segundo momento, a
gente vai sim rever a tributação
pra que haja isonomia entre o va-
rejo brasileiro e o e-commerce.”
O Valor antecipou, em repor-
tagem em julho, que Haddad tra-
balha com a ideia de ter uma alí-
quota até o fim do ano e pediu al-
gum tempo às redes e indústrias
locais para que o Remessa Con-
forme ganhasse tração, antes de
bater o martelo em torno de um
novo percentual, o que depende
de apoio político.
Essa ideia de ganhar tempo
ainda tem a ver com a própria
evolução do Remessa Conforme.
Receita Federal e Correios preci-
sam aumentar a base de dados
das remessas feitas ao país para
aprimorar o sistema de fiscaliza-
ção, na tentativa de combater as
fraudes na importação por parte
de lojistas estrangeiros, princi-
palmente da China, um dos
maiores objetivos do programa.
Haddad é favorável à cobrança,
mas enfrenta resistências dentro
do governo, inclusive do presiden-
te Luiz Inácio Lula da Silva, como o
Valor já informou.
Segundo estudo do IDV, princi-
pal instituto do varejo nacional,
que lidera essas discussões no se-
tor, se as remessas internacionais
de baixo valor tivesse sido correta-
mente tributadas em 60%, a arre-
cadação federal teria atingido R$
40,7 bilhões em 2022, com base
nos dados do Banco Central. Isso é
quase o dobro dos R$ 18 bilhões
projetados em 2021.
Em 2022, foram 176 milhões
de remessas postais e apenas
1,9% tinham a declaração de im-
portação, com impostos pagos.
A cobrança do imposto de im-
portação ocorre em operações de
venda de produtos de empresas
estrangeiras, como lojistas asiáti-
cos, para consumidores no Brasil.
Essa cobrança é paga pelo consu-
midor no ato da compra, e não
pela plataforma on-line.
O Valor apurou que o varejo
entende que uma alíquota acei-
tável seria em torno de 40%, que
se somaria aos 17% de ICMS, mas
vem crescendo um entendimen-
to entre líderes do setor que pode
ser preciso flexibilizar um pouco
Concessões Combustíveis
Três terminais StoneX estima
portuários em alta de 1,71% no
Maceió são consumo de
destaques de diesel tipo B no
leilão de hoje B2 país neste ano B4
Do exterior
Volume de remessas internacionais ao Brasil* (em milhões de unidades)
Pelos Correios Por empresas de entrega Volume total
200 176,3 2,0 200 177,7
1,6 1,6 1,6
1,4
150 126,4 1,5 1,3 150 127,9
78,4 72,1 79,9
100 1,0 100
70,5
51,1 52,4
0,5 50
50
2018 2019 2020 2021 2022 2018 2019 2020 2021 2022 2018 2019 2020 2021 2022
813,2% foi o crescimento de importações de pequeno
valor entre 2018 e 2022, segundo dados do Banco Central
Fontes: Sicomex Remessa e ECT, com elaboração do IDV. *Total de itens, sem distinção de valor
FABIO ROSSI / AGÊNCIA O GLOBO
já fez a solicitação para habilita-
ção no início de agosto. AliEx-
press, do grupo Alibaba, tam-
bém solicitou a adesão.
Caso seja definida uma alíquota
nova, as plataformas terão que co-
brar o seu pagamento para conti-
nuar usufruindo dos benefícios do
programa, como a nacionalização
antecipada da remessa, e despa-
cho mais acelerado de mercado-
rias pela Receita Federal.
Mas as companhias podem
deixar o programa, já que a ade-
são é voluntária. Neste caso, as
plataformas voltariam ao mode-
lo anterior de cobrança, com im-
posto de importação de 60%
mais ICMS de 17%. Ou seja, se o
governo definir uma alíquota
inicial de até 20%, ela pode ser
mais interessante aos grupos es-
trangeiros do os 60% cobrados
daqueles fora do programa.
Neste momento, na prática,
consumidores que fazem as suas
compras nos sites e aplicativos das
plataformas estrangeiras não usu-
fruem da isenção, apesar da publi-
Varejo nacional pede isonomia tributária com plataformas estrangeiras cação da portaria em junho.
Isso acontece porque as plata-
esse número, para se chegar a um posto em remessas de até US$ 50 formas precisam solicitar a adesão
acordo. Já os marketplaces inter- entre pessoas físicas e a reação ao programa Remessa Conforme a
nacionais entendem que mesmo pública foi negativa, obrigando- partir deste mês, junto ao Fisco, e
os 17% do ICMS torna a importa- o a voltar atrás da decisão. aguardar a certificação, para, en-
ção pouco competitiva. Para obter o benefício da isen- tão, obter um selo e o cliente poder
A asiática Shein teria apresen- ção definida na portaria válida usufruir do direito.
tado à Fazenda, dias atrás, a sua hoje, os marketplaces, que ven- Como as habilitações ainda
posição sobre uma nova alíquo- dem produtos de lojistas estran- não foram concedidas, nada mu-
ta, inferior à proposta dos vare- geiros, como Shein, Shopee e dou e os consumidores conti-
jistas nacionais, diz uma fonte. AliExpress, precisam se adaptar nuam pagando imposto de im-
Procurada, a Shein não quis co- às regras do Remessa Conforme e portação de 60% nos envios de
mentar o assunto. solicitar a adesão. A Shein, hoje a produtos de empresas estrangei-
Em abril, o governo chegou a maior concorrente no país de re- ras às pessoas físicas. (Colaborou
anunciar o fim da isenção de im- des como Renner, C&A e Marisa, Jéssica Sant'Ana, de Brasília)
B2 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Empresas Infraestrutura
Concessões Três áreas para granéis líquidos em Maceió são
destaque; ao todo, estão previstos R$ 125 milhões de investimentos
União leiloa cinco terminais
portuários em três Estados
Taís Hirata
De São Paulo
O governo federal realiza, nes-
ta sexta-feira (11), o leilão de cin-
co terminais, nos portos de Ma-
ceió, Porto Alegre e Fortaleza. Ao
todo, os arrendamentos deverão
somar R$ 125 milhões de investi-
mentos nos próximos 25 anos.
Entre os cinco ativos licitados,
aqueles que deverão atrair mais
interesse são os três terminais de
granéis líquidos, que serão lei-
loados em Maceió: os chamados
MAC 11, MAC 11A e MAC 12.
A expectativa é de concorrên-
cia nos três projetos, na avaliação
de Marcos Pinto, sócio diretor da
A&M (Alvarez & Marsal) Infra. Ele
destaca que o porto de Maceió é
responsável por toda a demanda
de combustíveis do Estado. “É
uma região onde o consumo
cresce um pouco mais rápido do
que na média do Brasil.”
Vencerão as disputas os gru-
pos que oferecerem o maior va-
lor de outorga. No caso do MAC
11A, o mínimo fixado em edital
foi de R$ 15,1 milhões. Já nos ter-
minais MAC 11 e MAC 12, foi es-
Simpar tem queda de 88% no lucro do 2 trimestre
Conglomerado
De São Paulo
O grupo Simpar teve queda de
87,9% no lucro líquido atribuído
aos controladores da empresa,
que ficou em R$ 12,3 milhões no
segundo trimestre deste ano. O
lucro líquido total foi de R$ 100
milhões, retração de 53,1% em re-
lação ao ano passado.
O resultado foi impactado pe-
CPFL Energia vê consumo Unipar se preparou para
residencial piorar em 2023 ciclo de baixa, diz CEO
Eletricidade
Fábio Couto
Do Rio
A CPFL Energia projeta piora
no mercado residencial de eletri-
cidade até o fim do ano devido a
dois efeitos: a estagnação do con-
sumo e o avanço da chamada ge-
ração distribuída, simbolizada
pelos painéis solares nos telhados
dos imóveis. Apesar do consumo
residencial ter crescido 2,2% no
primeiro semestre, a perspectiva
da companhia é de estagnação,
com um PIB mais baixo nos próxi-
mos meses. O aumento da massa
de renda verificado na primeira
metade do ano não deve se repe-
tir, segundo o presidente da con-
cessionária, Gustavo Estrella.
Além disso, explicou, a instala-
ção de painéis solares nas residên-
cias reduz a necessidade de uso da
rede, o que impacta nos números
de consumo da empresa. A gera-
ção distribuída tem ainda outro
efeito, de acordo com o executivo:
os preços baixos da energia. Co-
mo há uma capacidade de gera-
ção adicional e um consumo que
não avança, há uma sobra de ofer-
ta que reflete em preços baixos
nos próximos anos, destacou. A is-
so se soma a hidrologia positiva,
com reservatórios cheios.
A perspectiva é de que a so-
tabelecido o valor mínimo sim-
bólico de R$ 1 para as ofertas.
Hoje, as áreas compõem dois
terminais operacionais, onde
atuam, por meio de contratos
precários, a Transpetro (no MAC
11) e um consórcio de distribui-
doras, formado por Ipiranga, Pe-
trobras e Raízen (no MAC 12).
“Há expectativa de
concorrência nos
três terminais do
Porto de Maceió”
Marcos Pinto
Com o objetivo de ampliar a
concorrência do mercado de
combustíveis na região, o gover-
no e os órgãos de controle dividi-
ram o MAC 11 em dois terminais
e estabeleceram regras para im-
pedir a associação entre as distri-
buidoras no novo leilão.
Os editais foram alvo de pedi-
dos de impugnação por parte de
empresas do setor que atuam na
los efeitos financeiros negativos,
devido à alta da taxa de juros e ao
aumento da dívida. Além disso,
entre as controladas da holding,
a Movida, de aluguel de automó-
veis, foi a que mais puxou para
baixo o resultado. A companhia
reverteu o lucro registrado há
um ano e, neste trimestre, teve
prejuízo de R$ 17,9 milhões.
“A Movida viveu uma transfor-
mação nos ultimos 12 meses,
saiu de uma frota de 117 mil car-
breoferta dure “um médio prazo”,
pressionando os preços para pata-
mares mais baixos por mais tem-
po do que o esperado. “Temos um
cenário de sobra, uma sobreoferta
acima de 30%, é algo que vai durar
no longo prazo”, disse Estrella.
Por outro lado, a empresa vê es-
paço para grande movimentação
de novos clientes em direção ao
mercado livre, no qual o consumi-
dor pode escolher o fornecedor da
energia. Estrella ressaltou que esse
novo cliente, conectado em alta
tensãocomcargaabaixode0,5me-
gawatt (MW), poderá migrar a par-
tir de janeiro com preço baixo e
energia abundante e barata.
Ao comentar os resultados do
segundo trimestre, Estrella disse
que a empresa conseguiu reduzir a
inadimplência dos consumidores
em 35% na comparação anual. Afir-
mou também que as perdas de
energia estão com percentual de
8,19%, perto dos limites regulató-
rios estabelecidos pela Agência Na-
cional de Energia Elétrica (Aneel).
“Temos um cenário
de sobreoferta, é
algo que vai durar
no longo prazo”
Gustavo Estrella
área — todos eles foram negados.
Entre outros questionamentos, as
companhias criticaram as cláusu-
las que restringiram a participa-
ção dos grupos em consórcio.
No caso do MAC 11A, a Petro-
bras, entre outros questiona-
mentos, pede que a restrição de
formação de consórcio se esten-
da também à Acelen, do grupo
Mubadala, que opera a Refinaria
de Mataripe, na Bahia. O edital
inclui limitações apenas à esta-
tal, por operar a Refinaria Abreu
e Lima (Rnest). Segundo a com-
panhia, a situação geraria “discri-
minação anticompetitiva”. Po-
rém, procurada, a Acelen indicou
que não deverá disputar o ativo.
Já nos terminais MAC 11 e MAC
12, o grupo Ipiranga fez pedidos
de impugnação. Entre outros
pontos, a empresa questiona a
análise concorrencial que emba-
sou a limitação para formação de
consórcio entre distribuidoras.
Em sua resposta, a Antaq
(Agência Nacional de Transpor-
tes Aquaviários) rechaçou os ar-
gumentos e defendeu que, nos
estudos, foi identificado risco de
redução da competição no leilão,
ros para 204 mil carros, o que foi
feito através de investimentos.
Mas o lucro vai ser visto mais pa-
ra frente”, afirmou o presidente
do grupo, Fernando Simões.
Trata-se de um ano de “arruma-
ção” para a Movida, avalia Denys
Ferrez, vice-presidente de finan-
ças da Simpar. “O resultado foi
pressionado pelo ajuste da de-
preciação, que já chegou ao pico.
Agora, a empresa deverá passar o
ano buscando a melhoria da efi-
.
O lucro líquido da CPFL Ener-
gia caiu 1,2% no segundo trimes-
tre, para R$ 1,25 bilhão, e a recei-
ta líquida teve alta de 0,7% no pe-
ríodo, para R$ 9,39 bilhões. Já o
nível de alavancagem, medido
pela relação entre a dívida líqui-
da e o lucro antes de juros, im-
postos, depreciação e amortiza-
ção (Ebitda, na sigla em inglês),
ficou em 1,72 vez no segundo tri-
mestre, diante de uma dívida da
ordem de R$ 23 bilhões e Ebitda
de R$ 3 bilhões (que aumentou
7,2% ante igual período em 2022.
O teto da empresa é de 3,75 ve-
zes. Logo, avalia, a CPFL Energia
teria espaço para aumentar dívi-
da, especialmente para novos in-
vestimentos. “É preciso ter um
bom projeto”, salientou.
Nessa linha, a empresa não vê es-
paço para aquisições na distribui-
ção, como a Coelce, à venda pela
Enel, ou a Light, às voltas com recu-
peração judicial e altos níveis de
perdas de energia. “A Light tem de-
safios operacionais e regulatórios
que precisam ser equacionados.”
Na geração, o momento de pre-
ços baixos não favorece novos in-
vestimentos, mas a transmissão vi-
ve bom momento, com oferta de
lotes de grande porte pelo governo
nos próximos leilões. “Pode haver
oportunidades, a gente avalia, pois
ainda existe necessidade de se in-
vestir na transmissão”, concluiu.
caso os grupos pudessem se reu-
nir em consórcio, dado que “po-
deriam ingressar isoladamente
no certame e que atuam em mer-
cados verticalmente integrados”.
A agência também refutou os de-
mais argumentos apresentados
pela Petrobras e pela Ipiranga,
negando os pedidos.
Além dos terminais em Ma-
ceió, o governo federal deverá li-
citar outros dois terminais nesta
sexta. Em Porto Alegre, será feito
o arrendamento de um terminal
de granéis sólidos vegetais, com
previsão de R$ 17 milhões de in-
vestimentos e duração de 10
anos de contrato.
Trata-se de uma área “brown-
field” (operacional), porém, que
estava desocupada desde 2021. O
terminal era explorado desde
1991 pela Companhia Estadual
de Silos e Armazéns (Cesa), que
está em processo de extinção de-
vido a problemas financeiros.
Nos estudos, a Antaq identifica
potencial para movimentação,
principalmente, de trigo e ceva-
da produzidos no mercado local.
Outro ativo a ser leiloado é o
Terminal Marítimo de Passagei-
ciência operacional. A taxa de
ocupação já melhorou, assim co-
mo a qualidade da geração de cai-
xa, porque há uma troca de ga-
nhos extraordinários da venda de
carros pela geração do serviço.”
O grupo também teve resulta-
do financeiro 53,9% pior na com-
paração anual, com um impacto
negativo de R$ 1,48 bilhão no se-
gundo trimestre deste ano. A dívi-
da líquida do grupo encerrou ju-
nho em R$ 31,5 bilhões, alta anual
Stella Fontes
De São Paulo
Embora os resultados do se-
gundo trimestre demonstrem o
impacto negativo da queda dos
preços internacionais do PVC e
da soda cáustica em seus negó-
cios, a Unipar se preparou para
o ciclo de baixa e está em posi-
ção confortável para navegar em
águas mais turbulentas, disse ao
Valor o presidente da compa-
nhia, Mauricio Russomanno.
“O preço menor afeta o resul-
tado, mas a Unipar navega com
uma situação confortável de li-
quidez, resultados menores po-
rém robustos e foco nos projetos
do futuro”, afirmou o executivo.
Com mais caixa e outras disponi-
bilidades do que dívida, a com-
panhia encerrou o trimestre com
dívida líquida negativa (caixa lí-
quido) de R$ 33,5 milhões.
De abril a junho, a maior pro-
dutora de cloro e soda da Améri-
ca do Sul e vice-líder em PVC teve
receita líquida de R$ 1,32 bilhão,
queda de 15,8% frente ao primei-
ro trimestre e de 34% em relação
ao mesmo período de 2022, que
foi o melhor ano de sua história.
O resultado antes de juros, im-
postos, depreciação e amortiza-
ção (Ebitda) somou R$ 370,4 mi-
lhões, com baixas de 24,4% e
57%, respectivamente. Ainda as-
Novos arrendamentos
Raio-x dos 5 terminais portuários que serão licitados pelo governo
Porto de Maceió - MAC 11A
Carga principal:
Investimento (capex,em R$ milhões):
Outorga mínima, em R$
Prazo do contrato
Porto de Maceió - MAC 11
Carga principal:
Investimento (capex,em R$ milhões):
Outorga mínima, em R$
Prazo do contrato
Porto de Maceió - MAC 12
Carga principal:
Investimento (capex,em R$ milhões):
Outorga mínima, em R$
Prazo do contrato
Porto de Porto Alegre - POA1
Carga principal:
Investimento (capex,em R$ milhões):
Outorga mínima, em R$
Prazo do contrato
Porto de Fortaleza - TMP (Terminal Marítimo de Passageiros)
Carga principal:
Investimento (capex,em R$ milhões):
Outorga mínima, em R$
Prazo do contrato
Fonte: Antaq
ros (TMP), localizado no Porto do
Mucuripe, na capital cearense. O
projeto será licitado por prazo de
25 anos e deverá receber R$ 3,2
milhões de investimentos. O ter-
minal foi construído pelo gover-
no federal, no âmbito do PAC
o
de 43%. A alavancagem, medida
pela relação entre dívida líquida e
Ebitda, ficou em 3,7 vezes, em li-
nha com o trimestre anterior.
No trimestre, a receita líquida
da Simpar teve alta anual de
40,4%, chegando a R$ 7,6 bilhões.
O Ebitda (lucro antes de juros,
impostos, depreciação e amorti-
zação, na sigla em inglês) foi de
R$ 2,27 bilhões, aumento de
33,1% na comparação com o
mesmo trimestre de 2022.
sim, a margem Ebitda trimestral
de 28% ficou pelo menos 35% aci-
ma das margens reportadas por
suas pares, excluindo Braskem
(que tem rentabilidade mais
pressionadas nesse segmento),
destacou o diretor financeiro e
de relações com investidores da
Unipar, Marco Rabello.
Conforme o executivo, a posi-
ção negativa de dívida líquida foi
construída nos últimos anos
com vistas a possibilitar à com-
panhia dar um passo transfor-
macional, como eventualmente
a compra da Braskem. “Mesmo
com o ciclo de baixa, a compa-
nhia está comprometida com
crescimento e segue avaliando
oportunidades”, disse.
O lucro líquido de R$ 186,3
milhões no trimestre também fi-
cou abaixo do visto um ano an-
tes e no primeiro trimestre. “In-
flação e o aumento das taxas de
juros no mundo reduziram a ati-
vidade na indústria e da constru-
ção, com repercussão na deman-
da e nos preços do PVC e da soda
cáustica”, explicou Russomanno.
28%
foi a margem Ebitda
entre abril e junho
Combustível; Petróleo
46,5
15,12 milhões
25 anos
Combustível
20,8
1
25 anos
Combustível
37,6
1
25 anos
Granel Sólido Vegetal
17
1
10 anos
Passageiros
3,2
1
25 anos
(Programa de Aceleração do
Crescimento), como parte das
obras para a Copa do Mundo de
2014. Hoje, o potencial previsto
para o local inclui a movimenta-
ção de cruzeiros e o uso da estru-
tura para eventos.
O grupo reduziu os investi-
mentos em bens de capital (ca-
pex) a R$ 580 milhões no trimes-
tre, 84% a menos que no mesmo
período de 2022. Segundo Si-
mões, a queda reflete a antecipa-
ção de investimentos do segundo
semestre do ano passado. “A em-
presa ainda carrega um estoque
bastante grande de ativos a serem
implantados”, disse. Esse efeito
ainda deverá impactar o segundo
semestre, segundo ele. (TH)
Essa correção teve início no
fim do ano passado no caso do
PVC, cuja demanda pela constru-
ção civil perdeu força a partir de
maio no país. Já a soda cáustica
entrou em 2023 em níveis recor-
de de preço, que agora cai mês a
mês com a cadeia de valor mais
estocada. Segundo Russomanno,
como atua em diferentes merca-
dos e é exportadora, a Unipar
acaba sofrendo menos em ter-
mos de volume de vendas.
Olhando para a frente, indica-
ram os executivos, é preciso mo-
nitorar se o início do ciclo de cor-
te dos juros no Brasil vai estimu-
lar a atividade na construção ci-
vil e, consequentemente, a de-
manda de PVC. Com um terço do
negócio exposto a saneamento, a
Unipar seguirá se beneficiando
dos investimentos decorrentes
do novo marco legal.
A companhia também deve
começar a colher os frutos dos
investimentos em eficiência, ex-
pansão de capacidade e energia
renovável durante o segundo se-
mestre. Conforme Russomanno,
a Unipar segue avaliando proje-
tos de expansão de capacidade e
geográfica, a exemplo do que es-
tá executando em Camaçari
(BA), e pode submeter os planos
de construção de novas plantas
para aprovação do conselho de
administração ainda neste ano.
 Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | B3

Empresas Indústria

Conglomerado Mas foco da holding segue em fortalecer balanço

DIVULGAÇÃO

Área de M&A do grupo Ultra

está mais ativa, diz presidente
Stella Fontes vemos recuperação de volumes”. que há problemas de atendimen- circunstância”, uma vez que ga-
De São Paulo De acordo com Linden, a Ipi- to por parte de alguns players. rante segurança de abasteci-
ranga segue avançando em seu “A gente segue atuando no mento. Ao mesmo tempo, já que
De acordo com o presidente da plano de recuperação dos resul- mercado spot, mas é preciso en- a estatal não tem capacidade de
Ultrapar, Marcos Lutz, a área de tados e a evolução, até aqui, tem tender que, hoje, esse segmento atender a todo o mercado, a em-
M&A do Ultra está mais ativa, sido positiva mesmo em ambien- está mais exposto aos preços in- presa seguirá atuando na impor-
mas o momento ainda é de levar tes mais adversos para os negó- ternacionais”, afirmou. tação. “A gente acredita que o
a alavancagem financeira do cios. A distribuidora não está en- Sobre estratégia de suprimen- mercado brasileiro vai se ajustar
grupo ao nível adequado, para frentando problemas de supri- to, Linden disse que a Petrobras a um modelo de precificação
um potencial movimento mais mento a clientes regulares, ape- seguirá como principal fornece- que combina preço da Petrobras
agressivo de aquisição no futuro. sar dos rumores no mercado de dora da Ipiranga “em qualquer e preço importado”, afirmou. Lutz, CEO: “Área de aquisições tem ganhado volume e temos visto muita coisa”
Em abril, a Ultracargo, braço
de armazenagem de granéis lí-
quidos do grupo, acertou a com-
pra da fatia de 50% detida pela
Copersucar na Opla Logística
Avançada, maior terminal inde-
pendente de etanol no Brasil, por
R$ 237,5 milhões. Pouco antes, a
Ultragaz, de distribuição de GLP,
havia concluído a aquisição da
NEOgás por R$ 165 milhões.
“A gente tem olhado muita
coisa. A atividade da área de M&A
tem ganhado volume, mas acre-
dito muito nas aquisições meno-
res que fizemos como acelerado-
res das estratégias da Ultragaz e
da Ultracargo”, disse ontem Lutz,
em teleconferência com analis-
tas para comentar os resultados
do segundo trimestre, ao ser
questionado sobre planos de
aquisições mais robustas.
Na Ipiranga, seguiu Lutz, tam-
bém há esse movimento, por
meio da rede de postos. “As alo-
cações são mais marginais sim, e
a estratégia é fazer isso no mo-
mento”, disse. “Mas não descarto,
de forma alguma, uma operação
maior e em breve, embora não te-
nhamos nada no momento”.
Segundo Lutz, 2023 ainda será
um ano de foco em fortalecer o
balanço da Ultrapar. A dona da
Ipiranga, da Ultragaz e da Ultra-
cargo registrou lucro líquido de
R$ 239 milhões no segundo tri-
mestre, queda de 48% na compa-
ração anual, na esteira do menor
resultado operacional da Ipiran-
ga. Além disso, no segundo tri-
mestre do ano passado a holding
havia registrado um ganho de ca-
pital com a venda da Oxiteno, ele-
vando a base de comparação.
Já a receita líquida recuou 21%
na comparação com o segundo
trimestre do ano passado, para
R$ 29,59 bilhões, afetada princi-
palmente pela redução dos pre-
ços dos combustíveis, que levou a
menor faturamento na Ipiranga.
O resultado antes de juros, im-
postos, depreciação e amortiza-
ção (Ebitda) ajustado recorrente
caiu 17%, a R$ 933 milhões.
Segundo o diretor financeiro
e de relações com investidores
da Ultrapar, Rodrigo Pizzinatto,
o trimestre foi desafiador para a
distribuição de combustíveis,
com excesso de oferta e perdas
com estoque por causa da redu-
ção de preços dos combustíveis,
que afetaram o maior negócio
do Ultra. Mas o terceiro trimes-
tre deve mostrar recuperação
gradual da rentabilidade e volu-
me sazonalmente mais forte.
Conforme o executivo, a Ipi-
ranga encerrou o trimestre com
6.281 postos, 245 unidades a me-
nos do que em março, em conti-
nuidade à estratégia de depura-
ção da rede, que deve ser concluí-
da neste trimestre. “O efeito lí-
quido no volume foi positivo, re-
forçando a estratégia de qualifi-
cação da rede de postos”, disse.
De abril a junho, a distribuido-
ra de combustíveis teve Ebitda
ajustado recorrente de R$ 448
milhões, queda de 41% na com-
paração anual. As margens fo-
ram pressionadas pela redução
dos preços dos combustíveis, que
levou a perdas de estoque, e pelo
“pior ambiente comercial”, com
maior oferta de produto impor-
tado no mercado brasileiro.
“O segundo trimestre foi bas-
tante desafiador, mas a gente já
viu julho marginalmente melhor
do que junho e o que vê para o
terceiro trimestre é o não impac-
to da perda de inventário”, afir-
mou Leonardo Linden, presiden-
te da rede. Essa leitura sobre os es-
toques deve-se ao fato de não há
movimentação para baixo nos
preços dos combustíveis. “Ao
contrário, o mercado está apon-
tando no outro sentido. Também
B4 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Empresas Indústria
CombustíveisPresidente da estatal disse dia 4 que a petroleira não
está perdendo dinheiro com a política de preços aprovada em maio Impacto
Defasagem da Petrobras
toca maior nível do ano
Kariny Leal e Fábio Couto
Do Rio
A diferença entre os preços da ga-
solina e do óleo diesel praticados pe-
laPetrobraseascotaçõesinternacio-
nais alcançou os maiores níveis re-
gistrados no ano, conforme cálculos
de especialistas, colocando mais
pressão para que a petroleira pro-
mova reajustes. Caso a empresa opte
por elevar os preços nas refinarias,
será a primeira vez desde a adoção
da nova estratégia comercial.
A política de preços da Petro-
bras, aprovada em 16 de maio, tem
gerado alertas de analistas de ban-
cos. Desde então, eles ressaltam
que o teste real da nova estratégia
comercial viria quando os preços
do petróleo Brent se mantivessem
além dos US$ 80 por barril. Na
quarta-feira (9), o barril encerrou o
pregão cotado US$ 87,55 o barril.
O avanço do Brent elevou a defa-
sagem da gasolina da Petrobras para
35,4% (R$ 1,21 por litro) em relação
aos preços internacionais, segundo
cálculos do Centro Brasileiro de In-
StoneX projeta aumento de 1,7% no consumo de óleo diesel no país em 2023
Fábio Couto
Do Rio
A demanda de óleo diesel do
tipo B, comercializado nos postos
de combustíveis, deve fechar o
ano com alta de 1,71% na compa-
ração com o ano passado, em 64
milhões de metros cúbicos (m³),
estima a consultoria StoneX. Os
números baseiam-se nas melho-
res perspectivas de alta do PIB e
da forte expansão das safras
Bianca Nasser: um trimestre alavancagem em baixa e disciplina financeira
Incorporadoras de médio e alto padrão lucram mais
Construção
Ana Luiza Tieghi
De São Paulo
A maioria das incorporadoras
de média e alta renda que divul-
gou seus resultados do segundo
trimestre na quinta-feira (10) te-
ve melhora de desempenho, mo-
tivada por vendas mais altas.
A Cyrela registrou lucro líqui-
do de R$ 279 milhões, cresci-
mento de 85% sobre o mesmo
período do ano passado e de
71% sobre o primeiro trimestre
deste ano. A receita líquida atin-
giu R$ 1,6 bilhão, alta de 31%.
Sua margem bruta foi de 32,3%,
aumento de 1 ponto percentual.
O diretor-financeiro Miguel
Mickelberg afirma que essa mar-
nos preços
Cotação do Brent e dólar pressionam gasolina e diesel no país
fraestrutura(CBIE).Nodiesel,adefa-
sagem foi de 29,5% (R$ 1,28 por li-
tro). Para a StoneX, a diferença da
gasolina foi de 24% (R$ 0,6/litro), e
de 36,2% (R$ 1,10/litro) do diesel.
Em julho o Brent avançou 15,5%
com expectativa de demanda me-
lhor de países asiáticos (especial-
mente Índia e China) e menor ofer-
ta de petróleo por países da Orga-
nização dos Estados Produtores de
Petróleo (Opep), disse a StoneX.
A Petrobras afirmou em comuni-
cado que observa com atenção os
desdobramentos do mercado inter-
nacional e os impactos sobre o mer-
cado brasileiro. “Destaca-se que o
momento é de grande incerteza
quanto à recuperação da economia
“A Petrobras está
deixando dinheiro
na mesa com a
política de preços”
Ilan Arbetman
2022/23 de soja e milho no país.
Os dados revisam estimativas
feitas pela StoneX em junho. Na-
quele mês, a empresa de consul-
toria estimou alta de 1,3% na de-
manda de diesel B. A StoneX pro-
jetou ainda que o consumo de
biodiesel deve subir 17,1% no
ano, para 7,4 milhões de m³.
Os analistas Bruno Cordeiro,
Leonardo Rossetti e Isabela Gar-
cia, salientam em relatório que,
no primeiro semestre, a deman-
ROGERIO VIEIRA/VALOR
gem ainda está abaixo do ponto
ótimo da companhia. “Temos vis-
tos novos lançamentos com mar-
gem próxima de 34%, esperamos
que vá convergir para esse pata-
mar, se continuarem as condi-
ções atuais de mercado.”
A EZTec obteve no segundo
trimestre lucro líquido atribuí-
vel aos controladores de R$ 75,3
milhões, recuo de 9,4% sobre o
mesmo período do ano passado,
mas alta de 78,4% sobre o regis-
trado entre janeiro e março des-
te ano. A receita líquida ficou es-
tável, em R$ 242,7 milhões.
Emilio Fugazza, diretor-finan-
ceiro da incorporadora, afirma
que a melhora do lucro em rela-
ção ao último trimestre se deve
ao um momento “mais positivo e
otimista” para a empresa, com
global, o que influencia diretamente
a demanda por energia, e quanto à
oferta depetróleoe de combustíveis,
de uma maneira geral. Essa combi-
nação, no curtíssimo prazo, levou a
uma elevação dos preços de referên-
cia e da volatilidade”, disse a compa-
nhia. No dia 4, o presidente da em-
presa, Jean Paul Prates, disse que a
Petrobrasnãoestáperdendodinhei-
ro com a atual estratégia.
Essa situação de preços defasa-
dos por um longo tempo acentua
o risco de desabastecimentos pon-
tuais em algumas regiões do país.
Ontem à noite, a estatal divulgou
nota negando que tenha reduzido
a oferta de diesel no país. “A Petro-
bras não reduziu sua oferta de die-
sel. A companhia está cumprindo
integralmente suas obrigações
junto às distribuidoras, entregan-
do todo o volume contratado”, dis-
se a empresa, ressaltando que não
tem informação sobre a oferta dos
demais agentes do mercado.
Para Ilan Arbetman, analista da
Ativa Investimentos, a Petrobras já
sofre perdas financeiras por conta
da por diesel B alcançou 31,198
milhões de m³, 2,3% na compara-
ção anual, sendo o maior valor
para a primeira metade do ano
desde o início da série histórica.
Ela destacou que o petróleo do
tipo Brent acumulou alta de 15,5%
em julho, refletindo perspectivas
mais otimistas da demanda asiáti-
ca no segundo semestre, além de
menor oferta por parte de alguns
países da Organização dos Estados
Produtores de Petróleo (OPEP). Em
Exterior impulsiona lucro da Votorantim Cimentos
Balanço
Ivo Ribeiro
De São Paulo
Líder no mercado brasileiro de
cimento e entre as dez maiores do
Ocidente, a Votorantim Cimentos
encerrou o segundo trimestre do
ano com resultado positivo, recu-
peração de margens, sustentabili-
dade de custos, alavancagem con-
trolada e baixa ante a do primeiro
trimestre e disciplina financeira.
Essa é avaliação de Bianca Nasser,
diretora financeira global da VC
sobre o desempenho do trimestre.
A VC divulgou nesta quinta-
feira (10) que obteve lucro líqui-
do de R$ 470 milhões no trimes-
tre encerrado em junho, com alta
de 28% no resultado sobre igual
período do ano passado. A receita
líquida das operações globais to-
talizou R$ 6,9 bilhões, maior 3%
na mesma base de comparação.
O lucro antes de juros, impos-
tos, depreciação e amortização
recuperação das vendas.
A EZTec teve vendas líquidas
de R$ 419 milhões no trimestre,
103,5% mais do que há um ano, e
de R$ 784,9 milhões no semestre,
alta de 54% e o melhor resultado
já registrado pela empresa.
“Quando consolidamos um volu-
me maior, ficamos mais anima-
dos para continuar lançando, em
todos os segmentos”, diz. A mar-
gem bruta caiu 2,3 pontos per-
centuais, para 32,4%.
A Tecnisa registrou lucro líqui-
do de R$ 4,6 milhões no segundo
trimestre, revertendo prejuízo de
R$ 9,3 milhões no mesmo perío-
do do ano passado. É o quarto tri-
mestre consecutivo com lucro da
empresa, que ficou sete anos com
resultados negativos.
O lucro antes de juros, impos-
da política de preços. “A Petrobras
está deixando dinheiro na mesa
por conta da nova política de pre-
ços. Não existe vilão ou mocinho, o
mercado advoga pela paridade de
preços internacional [PPI] por dar
mais segurança para as análises.
Existe uma opacidade para enten-
der o nível correto, o que deixa os
investidores apreensivos.”
O analista lembra que a estatal
subiu o querosene de aviação este
mês, embora isso represente fatia
pequena no portfólio da Petro-
bras. “Talvez hoje em dia comparar
a política atual com o PPI não seja a
melhor forma de calcular. Os pre-
ços vão continuar próximos dos
valores marginais da Petrobras.”
As médias mensais de janeiro até
julho calculadas pelo CBIE e pela
StoneX apontam aumento da defa-
sagem dos preços da Petrobras pa-
ra gasolina quando comparados
aos preços internacionais. Para o
CBIE, a defasagem era de R$ 0,18
por litro em janeiro, tocou os
R$ 0,28 em maio — quando entrou
em vigor a nova política de preços
paralelo, a consultoria aponta para
estoques de diesel nos Estados Uni-
dos próximos das mínimas históri-
cas dos últimos cinco anos. Na Eu-
ropa, os estoques estão abaixo da
média dos últimos cinco anos.
O fato é que os preços internos
não têm acompanhado o cená-
rio externo. O diesel A (sem adi-
ção de biodiesel) não teve reajus-
te de preços, apenas uma redu-
ção de R$ 0,44 por litro (12,72%),
no dia 16 de maio. O último au-
(Ebitda, na sigla em inglês) ajus-
tado registrou aumento de 17%,
para R$ 1,6 bilhão. A margem te-
ve alta de 3 pontos percentuais
no período, ficando em 23%.
Segundo a empresa, o aumento
de receita global se deveu, princi-
palmente, à contribuição de volu-
me adicional de cimento da fábri-
ca de Málaga, no Sul da Espanha,
adquirida em novembro de 2022.
A cimenteira do grupo Voto-
rantim vendeu 9,5 milhões de to-
neladas de cimento no período,
menos 1% que um ano atrás.
“Nossa expectativa, para este se-
mestre, é trabalhar com volume
de vendas estável”, disse a CFO. O
terceiro trimestre, afirmou, histo-
ricamente costuma ser o melhor
da empresa em comercialização.
Nasser lembrou que a situação
no Brasil é ainda desafiadora. No
trimestre, a receita líquida local fi-
cou estável em R$ 3,2 bilhões. O
Ebitda ajustado foi de R$ 567 mi-
lhões, impactado pela dinâmica
adversa do mercado. Os negócios
tos, depreciação e amortização
(Ebtida) atingiu R$ 11,3 milhões,
ante R$ 1 milhão há um ano. A
margem Ebitda foi de 11,1%, alta
de 9,6 pontos percentuais.
A empresa teve receita líquida
de R$ 101,8 milhões, crescimen-
to de 151%. A margem bruta foi
de 14%, 10 pontos acima do
mesmo período de 2022.
O presidente da companhia,
Fernando Tadeu Perez, afirma
que os resultados foram puxa-
dos pelo incremento nas vendas,
de 4,7%, para R$ 93 milhões. A
Tecnisa não lançou no segundo
e no primeiro trimestre, mas
tem vendido seu estoque.
Para voltar a lançar em maior
quantidade, a companhia
aguarda desde o ano passado
leilão de Certificados de Poten-
Brent
Cotação* dia a dia - US$/barril
90
86,75
86
82
78 82,12
74
3/jan/ 12/abr/
23 23
Fontes: B3 e Dow Jones Newswires. Elaboração: Valor Data *Segunda posição
Defasagem da Gasolina e Diesel - R$/litro
Gasolina
CBIE StoneX
0,4
0,2 0,0325
-0,0
-0,2 -0,1882
-0,4
-0,6
-0,8
-0,8549
jan
Fontes: CBIE e StoneX
— e marcou R$ 0,85 em julho.
Para a StoneX, os preços da ga-
solina em janeiro estavam acima
dos praticados internacionalmen-
te em R$ 0,03 por litro, depois au-
mentaram para R$ 0,26 em maio e
registraram a primeira defasagem
em julho, quando ficaram R$ 0,25
abaixo dos preços internacionais.
Desde que a Petrobras mudou a
mento de preços do diesel ocor-
reu no dia 17 de junho de 2022
(ver matéria nesta página).
Na esteira do crescimento da
demanda do diesel B, o biodiesel
também tem previsões de um ce-
nário positivo. “Considerando a
elevação da participação do óleo
de soja na produção de biodiesel
para acima de 80% nos últimos
meses, o consumo demandado
de óleo para a produção do bio-
combustível é estimado próximo
adjacentes, como argamassa, tive-
ram alta de 23%, mitigando par-
cialmente o resultado operacional.
A expectativa é que retomada do
programa de habitação popular e
redução dos juros traga melhora.
Outro ponto, destacou a VC, foi
a alavancagem financeira, medida
pelo critério de dívida líquida so-
bre o Ebitda — ficou em 1,64 vez
(recuo de 0,35). Em nota, o CEO
global, Osvaldo Ayres Filho, disse
que neste ano a VC acelerou a cap-
tura das sinergias de mais de R$ 5
bilhões de investimentos em fu-
sões e aquisições nos últimos dois
anos no Canadá, EUA e Espanha.
Álvaro Lorenz, diretor global de
Sustentabilidade da VC, falou so-
bre a descarbonização e índice de
substituição térmica nos fornos de
produção de clíquer, insumo bási-
co do cimento. A empresa vem am-
pliando a substituição de combus-
tíveis fósseis (carvão e coque de pe-
tróleo) para baixar emissão de
CO2. A meta da empresa é sair dos
579 quilos de CO2 equivalente ge-
cial Adicional de Construção
(Cepacs), necessários para o pro-
jeto Jardim das Perdizes.
No segundo trimestre, a Trisul
aumentou seu lucro líquido em
40,5%, para R$ 28,7 milhões. O
Ebtida foi de R$ 38 milhões, alta
de 12,3% no mesmo intervalo. A
receita líquida da incorporadora
somou R$ 267 milhões, aumento
de 27,3%. A margem bruta termi-
nou junho em 23,9%, queda de 8
pontos percentuais.
A Moura Dubeux, que atua na
região Nordeste, teve lucro líqui-
do de R$ 42,2 milhões no trimes-
tre, crescimento de 46%. Seu Ebit-
da ajustado atingiu R$ 61,2 mi-
lhões, alta de 85% em um ano. A
receita líquida foi de R$ 313,3 mi-
lhões, crescimento de 49,6%, e a
margem bruta atingiu 33,8%,
Dólar comercial
Cotação dia a dia - R$/US$
5,5 5,3581
85,84
5,4
5,3
5,2
5,1
5,0 4,8821
4,9 4,9151
4,8
10/jul 10/ago 2/jan/ 14/abr/ 10/jul/ 10/ago
23 23 2023 23 23 23
Diesel
CBIE StoneX
0,6
0,4 0,0969
0,2
-0,2548 0,0
-0,3888
-0,2 -0,1412
-0,4
-0,4904
jul jan jul
estratégia comercial, o diesel A te-
ve redução, de R$ 0,44 por litro
(12,72%), em 16 de maio. A última
alta do diesel foi em 17 de junho de
2022. Já o último aumento da ga-
solina foi em 25 de janeiro, de
7,47% (R$ 0,23 por litro). Em 2023,
a estatal reduziu a gasolina quatro
vezes, sendo o último corte, de
5,20%, em 1 o de julho.
de 6,0 milhões de m³, ou 5,6 mi-
lhões de toneladas”, disse.
O mercado ainda conta com dis-
ponibilidade de óleo, fruto de uma
safra de soja estimada pela StoneX
em 157,68 milhões de toneladas.
As usinas de biodiesel estão bem
abastecidas com a matéria-prima,
apontam os analistas. “Mesmo
com forte aumento da demanda,
os preços do biodiesel têm de-
monstrado comportamento relati-
vamente estável”, acrescentam.
rados por tonelada de cimento, de
2022, para 475 quilos em 2030.
Globalmente, diz, a VC teve
26,5% de índice de substituição
em 2022. No Brasil, ficou acima:
31,3%. O objetivo, em 2030, pelos
compromissos firmados, é chegar
a 53%. Entre os combustíveis alter-
nativos estão pneus velhos, bio-
massa, caroço de açaí, resíduos só-
lidos urbanos e industriais.
Em julho, a VC assinou contra-
to de financiamento de US$ 150
milhões, com prazo de dez anos e
taxa competitiva, com a Interna-
tional Finance Corporation (IFC),
braço do Banco Mundial. O con-
trato está vinculado a indicadores
de sustentabilidade. Os recursos
serão usados para dobrar a utili-
zação de combustíveis alternati-
vos, hoje de 30%, na fábrica de Sal-
to de Pirapora (SP). Nessa unidade
haverá maior uso de resíduos sóli-
dos nos fornos de clínquer. “Os in-
vestimentos em 2024 e vamos ter
a taxa mais elevada de substitui-
ção de fósseis”, ressalta Lorenz.
queda de 0,8 ponto percentual.
A gaúcha Melnick teve uma
queda de 27% no seu lucro líqui-
do na base anual, para R$ 22 mi-
lhões. No entanto, o valor au-
mentou 10% em relação ao pri-
meiro trimestre deste ano. A re-
ceita líquida da incorporadora
recuou 20,6% em um ano, para
R$ 242 milhões. A margem bruta
terminou junho em 21,5%, queda
de 0,8 ponto percentual.
Já a Helbor apresentou queda
de 40% no lucro líquido atribuí-
do à controlada, de R$ 7,1 mi-
lhões. O lucro líquido consolida-
do cresceu 49,7%, para R$ 32,5
milhões. O Ebitda atingiu R$ 52,5
milhões, alta de 55,5%. A receita
líquida cresceu 56%, para
R$ 334,2 milhões, e a margem
bruta caiu 1,2 ponto, para 26,4%.
 Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | B5

Empresas Serviços&Tecnologia

SaúdeDona do laboratório Delboni e hospital Nove de Julho ainda

ANA PAULA PAIVA/VALOR

enfrenta alta alavancagem que elevou prejuízo no trimestre

Com integração de negócios,

receita da Dasa cresce 10%
Beth Koike
De São Paulo
Dona da maior rede de medici-
na diagnóstica do país, a Dasa en-
trou na área hospitalar em 2020.
De lá para cá, a receita da compa-
nhia saltou de R$ 8 bilhões para
R$ 14 bilhões com várias aquisi-
ções que trouxeram o crescimen-
to exponencial, mas que também
geraram alavancagem elevada
diante da rápida subida na taxa
de juros. Passada a pandemia e
uma oferta subsequente de ações
(follow-on) de quase R$ 1,7 bi-
lhão para reduzir o endivida-
mento, a empresa controlada pe-
la família Bueno começa, enfim,
a colher frutos de suas aquisições
e da integração com seu negócio
de medicina diagnóstica.
No segundo trimestre, o grupo
viu sua receita líquida consolida-
da crescer 10% para R$ 3,6 bi-
lhões. Deste montante, metade já
vem do seu braço de hospitais —
que tem bandeiras como Nove de
Julho, Santa Paula e Leforte — e
cujo faturamento subiu 15%, per-
centual acima da concorrência.
Na divisão de laboratórios — on-
de estão marcas como Delboni,
Alta Diagnóstica e Sérgio Franco
— a receita somou R$ 1,7 bilhão,
o que representa um aumento de
6%. Nesse percentual há um im-
pacto negativo da redução no vo-
lume de exames de covid em
2023. Excluindo esse teste, a va-
riação a receita foi de 13%.
O lucro antes de juros, impos-
tos, depreciação e amortização
(Ebitda) ajustado (que exclui
itens não recorrentes) subiu 4%
para R$ 585 milhões.
Essa melhora operacional é re-
flexo também da maior integração
dos negócios da Dasa: hospitais,
laboratórios e oncologia. A com-
panhia tem uma plataforma com
7,7 milhões de pacientes cadastra-
dos, cujo sistema é capaz de detec-
tar um atraso em exames de pre-
venção, consultas ou vacinas e avi-
sar o usuário. No segundo trimes-
25%
Loss of value
lompany cop
blap 3 limp blap
tre, a plataforma, conhecida como
Nav, teve um crescimento de 65%
no volume de pacientes inscritos.
Já a última linha do balanço ain-
da apresentou um prejuízo de R$
284 milhões, o que representa
uma alta de 138% sobre um ano
atrás, devido ao aumento da des-
pesa financeira. A alavancagem da
companhia foi reduzida de 4,37
vezes para 3,7 vezes o Ebitda no se-
gundo trimestre, após a entrada de
R$ 1,7 bilhão no caixa vindo da
oferta subsequente.
“A última linha do balanço se
deve ao resultado financeiro. No
operacional, que dá o norte da
companhia, estamos crescendo,
com melhora em vários indica-
dores como aumento de receita,
redução de despesas gerais e ca-
pex”, disse Pedro Bueno, presi-
dente da Dasa.
No segundo trimestre, a linha
de investimentos caiu 35%, para
R$ 158 milhões. Há ainda nego-
ciações de venda de imóveis on-
de estão hospitais e, posterior
aluguel de longo prazo para
manter seu uso, que podem tra-
zer incremento ao caixa.
Recentemente, a companhia
anunciou um plano de sucessão.
Para o posto de Bueno — que em
2025 completa uma década à fren-
te da Dasa — foi escolhido Lício
Cintra, executivo com 15 anos de
experiência na São Francisco Saú-
de, operadora adquirida por R$ 5
bilhões pela Hapvida, onde per-
maneceu por quase três anos. Bue-
no e Cintra farão uma transição até
fevereiro de 2023, quando o atual
CEO assume como vice-presidente
executivo do conselho. Nessa fun-
ção, Bueno ainda exercerá funções
executivas até fevereiro de 2025,
quando efetivamente exercerá pa-
pel de conselheiro.
“Não havia uma busca por um
sucessor, era algo que pensava
mais para frente. Estou há nove
anos como presidente. Pesquisas
mostram que, em empresas ameri-
canas de sucesso, os CEOs ficam
entre 10 e 11 anos”, disse Bueno.
“Mas conheci o Lício e percebemos
que temos culturas parecidas, um
querer de uma saúde melhor, ba-
seada em valor”, complementou.
Segundo Bueno, Cintra traz à
companhia seu conhecimento
do universo de operadoras que
ajudará nas negociações de rea-
justes, parcerias e nos novos mo-
delos de remuneração. Pedro Bueno, CEO da Dasa, vai para o conselho em etapas a partir de 2023

Via demite e fecha lojas LO C A L I Z A Ç Ã O C O M P OT E N C I A L D E E X T R E M A VA LO R I Z A Ç Ã O .

para melhorar caixa

PINHEIROS
PRONTO
PARA MORAR

DIVULGAÇÃO

Varejo tal , diz o comando do grupo.

Adriana Mattos
De São Paulo
Sob novo comando desde abril,
quando começou a trocar parte de
sua diretoria, a Via lança um plano
para tentar interromper o cenário
de queima de caixa recente e voltar
a ser lucrativa — questões que es-
tão no centro das críticas do mer-
cado ao grupo nos últimos anos.
Na noite desta quinta-feira, jun-
to com a publicação dos fracos re-
sultados do segundo trimestre, a
diretoria, liderada por Renato
Franklin, apresentou um conjunto
de medidas mais duras que come-
çaram a ser tomadas — com proje-
ções de ganhos anualizados dessas
ações —, e que muda a agenda da
companhia de curto prazo.
Chamam a atenção medidas
que já reduziram em 25% a estru-
tura organizacional, o corte de
A Via ainda está mexendo no
portfólio à venda diretamente por
ela e no marketplace, com lojistas
terceiros. Começou a sair de 23 ca-
tegorias de produtos que até regis-
tram uma venda boa, mas não se
pagam, pelo elevado custo de par-
celamento, de logística e gastos
com marketing, por exemplo.
O Valor apurou que nesse grupo
estão bebidas e itens de alimentos e
higiene. “Estamos migrando essas
categorias para o ‘3p’ [sigla do mer-
cado para a venda de terceiros no
marketplace].Aíeuliberonissomais
R$ 150 milhões de estoques para o
caixa”, afirma o presidente.
Com essas mudanças de redu-
ção de tamanho da companhia
“Revisamos projetos, (em lojas e estoques), perguntada
estrutura de custos se a companhia poderia perder re-
ceita, a diretoria diz que vai existir
e prioridades” um equilíbrio. “Podemos te rum
GMV total [vendas totais brutas]
Renato Franklin menor de 2% a 5%, mas não acho

6 mil pessoas até agosto (quase
15% do total) e o fechamento de
50 lojas (20 já fechadas). Outras
50 ainda podem ser encerradas, a
depender dos resultados. Isso
responde por cerca de 10% da ba-
se de lojas ao fim de 2022.
Franklin diz que o foco do gru-
R$ 492 milhões de abril a junho,
versus lucro de R$ 6 milhões um
ano antes, e receita líquida em
queda de 2,1%. Houve um consu-
mo de caixa de R$ 1,1 bilhão (con-
siderando o braço da operação, o
48 m /
nada relevante”, diz o CEO.
“Não vamos ficar menores, mas
mais enxutos. Porque vamos acele- 2
rar o ‘core’, o que somos fortes, como
carnês, a logística, fornecendo servi-
1 suíte
ço de entrega de produtos a outras 1 ou 2 vagas
empresas, por exemplo, e isso com- determinadas
pensa.Eaindavemosumaexpectati-

po estará em reduzir riscos de
execução, concentrando equipe
e capital naquilo que a empresa
consegue fazer melhor, com in-
tuito de gerar eficiência e caixa
maior. Nesse ambiente, os inves-
timentos projetados em 2023 fo-
ram revistos, com queda de 40%
sobre 2022. A Via é dona da Casas
Bahia e do Ponto (ex-Pontofrio).
“Definimos o que dá dinheiro
rápido e vamos explorar isso.
Aquilo que não dá [dinheiro rá-
pido] vamos deixar para depois.
Revisamos os projetos, a estrutu-
ra de custos, as prioridades. A or-
dem é tomar medidas para ter
caixa positivo e, sobrando recur-
sos, lá na frente, numa segunda
etapa, teremos um projeto maior
de crescimento”, disse Franklin
na noite de ontem.
“Não vamos explorar agora to-
do o potencial da empresa, porque
ela pode muito mais, mas não vou
prometer agora algo que eu não
posso entregar. Temos um traba-
lho a fazer para melhorar balanço
e recuperar a confiança do merca-
do antes”, diz o CEO, que antes co-
mandou a locadora de carros Mo-
vida por quase 10 anos.
Números divulgados na quinta-
feira mostram prejuízo líquido de
financeiro e os investimentos).
Há medidas específicas em qua-
tro esferas: redução de custos fixos,
variáveis e de custo de capital e ou-
tras relacionadas à receita.
Sobre os custos fixos, além do fe-
chamento de até 100 lojas com
margens negativas, estão previstas
a revisão de contratos de locação e
ações para melhorar produtivida-
de dos centros de distribuição,
num ganho projetado de R$ 240
milhões ao lucro antes do imposto
de renda e contribuição social.
Outros R$ 370 milhões estão
estimados com revisão de equipe
do corporativo (desligamentos
de diretores já anunciados), e
mais R$ 200 milhões com redu-
ção de gastos de marketing. So-
ma-se a isso, R$ 250 milhões com
medidas para aumentar penetra-
ção do carnê do grupo.
Sobre estoque especificamente,
nível que chegou a superar o equi-
valente a 140 dias de venda na em-
presa em 2021, com a crise global
de abastecimento na época, a meta
é alcançar 90 dias neste ano — o se-
gundo trimestre fechou em 98
dias. Há, naturalmente, efeito em
margem com as liquidações em
andamento na rede, mas a medida
ajuda a reduzir custo fixo de capi-
73 m /
va de crescimento de demanda com
a queda nos juros”, diz o CEO.
Outra mudança será no finan- 2
ciamento do seu carnê, e com efei-
to na estrutura de capital da rede. 2 dorms. (1 suíte)
Segundo Elcio Ito, diretor vice- 2 vagas
presidente financeiro da Via, no determinadas
cargo desde junho, a empresa vai
lançar Fundo de Investimento em
Direitos Creditórios (FIDCs) para
operar o seu carnê, forte nas Casas
Bahia. A ideia é financiar as opera-
/ PISCINA COBERTA COM RAIA DE 25 M
ções de crediário no fundo, de for- / QUADRA DE TÊNIS E DE FUTEBOL *
ma a liberar recursos obtidos junto / FITNESS BY LIFE FITNESS
aos bancos (que antes iam ao car- / ROOFTOP COM SKYLINE DA CIDADE
nê) para a companhia.
Metade das linhas bancárias da
empresa (R$ 11 bilhões) estão vol- VISITE OS DECORADOS INTERMEDIAÇÃO: IDEALIZAÇÃO:
RUA CARDEAL ARCOVERDE, 2.958
tadas para financiar o seu carnês.
Franklin reforça que o grupo te- (11) 3080-8530
rá um plano estratégico de cresci-
mento orgânico após 2025, passa- Incorporadora responsável: Byblos Empreendimentos Imobiliários Ltda. Central de atendimento da Fraiha Vendas Negócios Imobiliários Ltda.: Av. Moema, 300,
1º andar, conj. 11, Moema – São Paulo/SP. CEP: 04077-020. Tel.: (11) 3080-8530. CNPJ: 39.529.659/0001-75. Site: www.fraiha.com.br. Creci-SP: 36.188-J. *Não oficial.
da a fase atual, e anunciará mais de-
talhes futuramente. Sobre eventual
oferta de ações da empresa, para
recompor caixa de forma mais rá-
pida, Franklin diz que não dá para
seguir esse caminho num cenário
emqueaempresa ainda nãoconse-
gue entregar resultados. “Olhamos
todas as possibilidades de capta-
ção, mas não tem como ir à merca-
do e falar em follow-on [oferta sub-
sequente de ações] ainda”, diz ele.
B6 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Empresas Serviços&Tecnologia

Estratégia Gigantes da internet somam encomendas de semicondutores de US$ 5 bilhões à Nvidia

De olho na IA, China corre para comprar chip

Qianer Liu e Hannah Murphy
Financial Times, de Hong Kong e San
Francisco
As gigantes da internet da Chi-
na estão se apressando para com-
prar chips de alto desempenho da
americana Nvidia que são vitais
para a construção de sistemas de
inteligência artificial generativa,
com pedidos que no momento
somam US$ 5 bilhões, num frene-
si de compras alimentado por te-
mores de que os Estados Unidos
venham a impor novos controles
às exportações.
Baidu, ByteDance, Tencent e Ali-
baba fizeram pedidos no valor de
US$ 1 bilhão para cerca de 100 mil
processadores A800 da fabricante
de chips americana para serem en-
tregues este ano, segundo fontes a
par da situação. Os grupos chine-
ses também compraram outros
US$ 4 bilhões em unidades de pro-
cessamento gráfico (GPU, na sigla
em inglês) para serem entregues
em 2024, segundo disseram duas
fontes próximas da Nvidia.
O A800 é uma versão mais fra-
ca da GPU de ponta A100 da Nvi-
dia para centros de dados. Devi-
do às restrições às exportações
impostas por Washington no
ano passado, numa tentativa de
sufocar as ambições tecnológicas
de Pequim, as companhias de
tecnologia chinesas estão po-
dendo comprar apenas os pro-
cessadores A800, que têm uma
taxa de transferência de dados
mais lenta que os A100.
Com o alarde em torno da IA se
intensificando no último ano, as
GPUs da Nvidia se tornaram a mer-
cadoria mais cobiçada pelas gran-
des empresas mundiais de tecnolo-
gia, para fornecer poder de compu-
tação para o desenvolvimento de
grandes modelos de linguagem de
grande escala (LLMs,) de progra-
mação de inteligência artificial.
Os grupos chineses da internet
estão correndo para estocar
chips A800 por temerem que o
governo Biden esteja contem-
plando novas restrições às expor-
tações que abarcariam até mes-
mo os chips enfraquecidos da
Nvidia, bem como uma escassez
maior de GPUs motivada pela de-
manda avassaladora.
“Sem esses chips da Nvidia,
não podemos prosseguir com o
treinamento para nenhum mo-
delo de linguagem”, diz um fun-
cionário da Baidu que não quis
ser identificado.
As companhias estão desenvol-
vendo seus próprios modelos de
LLM depois do sucesso do
ChatGPT, o revolucionário chatbot
lançado pela OpenAI (apoiada pe-
la Microsoft) oito meses atrás.
A ByteDance tem várias peque-
nas equipes trabalhando em vá-
rios produtos de IA generativa, in-
cluindo um chatbot de IA de codi-
nome “Grace”, que está passando
por testes internos, segundo duas
fontes próximas da companhia.
A ByteDance testou uma função
de IA generativa para seu aplicati-
vo de rede social TikTok este ano,
chamada TikTok Tako, que licencia
o ChatGPT da OpenAI.
Dois funcionários com conheci-
mento direto do assunto disseram
Chips de alto desempenho da americana Nvidia são vitais para a construção de sistemas de inteligência artificial generativa
Frenesi de compras que a ByteDance já estocou pelo
menos 10 mil GPUs da Nvidia para
é alimentado por apoiar suas ambições. Eles acres-
centaram que a companhia tam-
temores de que os bém encomendou quase 70 mil
chips A800 para serem entregues
Estados Unidos no ano que vem e avaliados em
venham a impor cerca de US$ 700 milhões.
A Alibaba pretende conectar
novos controles às todos os seus produtos em seu
modelo LLM, incluindo sua pla-
exportações taforma de compras online Tao-
I-HWA CHENG/BLOOMBERG
bao e sua ferramenta de mapea-
mento Gaode Map.
Enquanto isso, a Baidu está
com seu próprio projeto nos mol-
des do ChatGPT, um chatbot de IA
generativa chamado “Ernie Bot”.
Baidu, ByteDance, Tencent e
Alibaba não quiseram comentar.
A Nvidia disse em um comuni-
cado: “As empresas de consumo
da internet e provedores de nu-
vem investem bilhões de dólares
em componentes de centros de
dados todos os anos, frequente-
mente fazendo pedidos com
muitos meses de antecedência”.
No início deste ano, com a empol-
gação com a IA ganhando força, a
maiorias das gigantes chinesas da
internet tinha menos de uns poucos
milhares de chips em estoque, que
poderiam ser usados para treinar
modelos de linguagem de grande
escala, segundo vários funcionários
de empresas chinesas de tecnologia.
Como a demanda aumentou desde
então, o mesmo aconteceu com o
custo desses chips. “O preço do A800
nasmãosdosdistribuidoresaumen-
tou mais de 50%”, disse um distribui-
dor da Nvidia.
A Tencent Cloud anunciou em
abril um novo cluster de servidores
(centro de computação para ou-
tros alugarem) que usa GPU H800
da Nvidia, uma versão de seu mo-
delo mais recente H100 adaptada
para a China e que pode capacitar o
treinamento de LLM, a direção au-
tônoma e a computação científica.
A Alibaba Cloud também rece-
beu milhares de chips H800 da
Nvidia, e muitos clientes já con-
tataram a companhia em busca
de serviços de computação em
nuvem alimentados por esses
chips, para ajudá-los a replicar o
ChatGPT na China, segundo fon-
tes próximas da Alibaba.
A ByteDance fornece dispositi-
vos de computação em nuvem
com chips Nvidia A800 e A100. Ela
também lançou em junho uma
plataforma para empresas testa-
rem diferentes serviços de LLM.
(Tradução de Mario Zamarian)

Estratégias empresariais
impulsionadas pela Inteligência
Artificial: soluções para o futuro
dos negócios
Aliada à computação em nuvem, a IA tornou-se uma
ferramenta poderosa de aprendizagem generativa e automação
de processos, sendo aplicada desde assistentes virtuais
até a cibersegurança das empresas.

Nesta live, conheça os principais desafios enfrentados pelas

empresas na implementação e exemplos práticos de aplicação
através da visão de especialistas e líderes empresariais.

_live 17 de agosto, às 15h

inscreva-se: solucoesemdebate.com.br

Fernando Sá Juliana Semicek Marcela Vairo Andrea Iorio Vinícius Dônola

Diretor de Produtos e Superintendente Diretora de Dados, Escritor best-seller e Jornalista, Escritor
Arquitetura de Soluções Executiva no Bradesco Inteligência Artificial e referência nacional em e Documentarista
da Oi Soluções Automação na IBM Brasil transformação digital MEDIADOR

       
transmissão:  



Empresas Serviços&Tecnologia
AviaçãoReceita cresce 8,4% para R$ 4,25 bi e o que
foi prejuízo no segundo trimestre de 2022 vira
lucro neste ano — mercado corporativo reage
Turista de negócios
volta e Azul fatura
mais, com lucro
Daniela Braun
De São Paulo
A Azul Linhas Aéreas se aproxi-
ma dos níveis de resultado ante-
riores ao auge da pandemia da
covid-19, contando com o au-
mento das viagens corporativas
no terceiro trimestre e a tempo-
rada de turismo no fim do ano.
Nos três meses encerrados em
junho, a companhia registrou lu-
cro líquido de R$ 23,9 milhões,
revertendo um prejuízo de
R$ 2,48 bilhões um ano antes. A
receita de R$ 4,25 bilhões no pe-
ríodo avançou 8,4% em base
anual, considerada recorde pela
empresa para um segundo tri-
mestre, que costuma ser fraco.
O lucro antes de juros, impos-
tos, depreciação e amortização
(Ebitda, na sigla em inglês) no se-
gundo trimestre foi de R$ 1,15 bi-
lhão, expansão de 88,2% na com-
paração anual e a margem Ebit-
da de 27,1%, no período, ganhou
11,4 pontos percentuais sobre o
resultado do segundo trimestre
.
Empresas Tendências&Consumo
Tapestry compra dona da Versace por US$ 8,5 bi Exportação cai e prejudica
Luxo
Valor, com agências internacionais
A empresa de moda Tapestry,
dona das marcas Coach e Kate Spa-
de, fecha acordo para comprar a
Capri Holdings, controladora das
grifes Michael Kors, Jimmy Choo e
Versace. O negócio avaliado em
US$ 8,5 bilhões vem na esteira de
um movimento de aquisições de
grande porte no mercado de luxo.
Sob os termos do acordo aprova-
dopeloconselho, aTapestry pagará
US$ 57 por ação da Capri, equiva-
lente a um prêmio de cerca de 59%
sobre o preço médio dos últimos
30 dias encerrados na quarta-feira
desta semana, informou a Dow Jo-
nes. Espera-se que gere um fluxo de
caixa significativo para a Tapestry.
O acordo foi relatado pela pri-
meira vez pelo jornal “The Wall
Street Journal”, na quarta-feira.
“A combinação de Coach, Kate
Spade e Stuart Weitzman junto
com Versace, Jimmy Choo e Mi-
chael Korscria umanova casade lu-
xo global poderosa, abrindo uma
oportunidade única de gerar valor
agregado para nossos consumido-
res, funcionários, comunidades e
acionistas em todo o mundo. mun-
do”, disse a executiva-chefe (CEO)
da Tapestry, Joanne Crevoiserat, em
um comunicado. Espera-se que o
negócio seja fechado em 2024.
AaquisiçãodaCapripelaTapestry
vem na esteira de um movimento de
consolidação no setor de luxo.
A marca de produtos de beleza
Aesop foi vendida em abril deste
ano pela Natura &Co para a france-
sa L’Orèal por US$ 2,53 bilhões. Se-
gundo projeções de analistas do
banco Santander, a Aesop (que ain-
da está no balanço da Natura &Co
pois a venda deve ser concluída
apenas no terceiro trimestre) deve
ser a única linha a registrar aumen-
to de receita no balanço do segun-
do trimestre da holding brasileira,
previsto para ser divulgado na pró-
xima segunda-feira, 14 de agosto.
A empresa de cosméticos Estée
Lauder comprou a Tom Ford em
um acordo de US$ 2,8 bilhões
anunciado no ano passado e con-
cluído em abril.
A Kering, dona das grifes Saint
Laurente, Gucci e Botega Venetta,
que manteve negociações para com-
prar a Tom Ford antes de ser vendida
para a Estée Lauder, fechou acordo
em julho para comprar fatia de 30%
de 2022 e também alcançou um
recorde, segundo a companhia.
A Azul confirmou sua proje-
ção de Ebitda de R$ 5,5 bilhões
este ano. “Estamos confiantes
com a entrega do Ebitda projeta-
do para 2023”, disse David Neele-
man, fundador da empresa, a
analistas na quinta-feira (10).
Para 2024, segundo a empresa,
o consenso do mercado é de Ebit-
da partindo de R$ 6 bilhões.
“Estamos ganhando Ebitda
através de volume e não de mar-
gem, com um custo de combustí-
vel maior e câmbio mais desfavo-
rável do que em 2019”, comen-
tou John Rodgerson, diretor-pre-
sidente da Azul, a jornalistas
“Alcançamos 100%
do volume de viagens
corporativas
de 2019”
David Neeleman
na casa de moda Valentino por US$
1,9 bilhão. A Kering, em junho,
anunciou a compra da fabricante de
perfumes Creed por 3,5 bilhões de
euros, segundo o “Financial Times”.
A Tapestry, informou a Dow Jo-
nes, se beneficiou de uma recupe-
ração mais forte do que o esperado
nas vendas da China no trimestre
encerrado em 1º de abril. As ações
da Tapestry subiram quase 20% no
ano passado, avaliando a empresa
em cerca de US$ 9,6 bilhões.
O novo grupo que se forma com a
aquisição anunciada nesta quinta-
feira pela Tapestry deverá ter receita
combinada de mais de US$ 12 bi-
lhões, operações em 75 países e lu-
cro operacional ajustado de quase
US$ 2 bilhões no mais recente ano
fiscal, segundo o “Financial Times.
As sinergias esperadas, ao longo de
três anos, são estimadas em US$ 200
milhões, segundo o executivo finan-
ceiro da Tapestry, Scott Roe.
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após a apresentação dos resulta-
dos. “Ao longo do tempo, as nos-
sas margens devem retomar os
níveis de 2019”, completou.
Em meados de julho, a compa-
nhia aérea concluiu uma capta-
ção de US$ 800 milhões, a maior
de sua história, finalizando um
plano de reestruturação que co-
meçou com a pandemia. A meta
é fechar 2023 com uma alavanca-
gem (medida pela relação dívida
líquida sobre o Ebitda) de 3,5 ve-
zes. No segundo trimestre, a dívi-
da líquida de R$ 17,7 bilhões au-
mentou 3,1% em base anual. A
alavancagem é de 4,2 vezes.
Em julho, Rodgerson destacou
uma demanda doméstica “resi-
liente” e alta nas vendas corpora-
tivas. “Alcançamos 100% do volu-
me de viagens corporativas de
2019”, ele informou, referindo-se
às últimas quatro semanas até o
início de agosto.
A empresa prevê maior capaci-
dade de voos internacionais em
2023 ante 2019, com forte de-
manda por trechos para a Europa
Joanne Crevoiserat, CEO da Tapestry: “Nova casa de luxo poderosa”
John Rodgerson, diretor-presidente da Azul: “Estamos ganhando Ebitda através de volume e não de margem”
e, até o fim do ano, espera seis no-
vas aeronaves Embraer 195-E2,
com capacidade para 136 passa-
geiros para voos domésticos e in-
ternacionais de curta distância.
O executivo também infor-
mou que a Azul Viagens, unida-
de de venda de pacotes de via-
gens, terá 1.142 voos extras naal-
tatemporada de turismo, entre o
fim de 2023 e o início de 2024.
A Azul também projeta reduzir
o custo operacional dividido pelo
total de assentos-quilômetro ofe-
recidos (Cask) no terceiro e no
quarto trimestres. Entre abril e ju-
nho, o Cask de R$ 34,81 recuou
10,5% em base anual. Mas, “ainda
há cuidado com o custos de com-
JOANNE C. CREVOISERAT/BUSINESS WIRE
pp ††{†Cdddd
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
bustíveis, que seguem altos”, pon-
derou Rodgerson.
Quanto ao texto da reforma tri-
butária, em apreciação pelo Sena-
do Federal, o executivo alfinetou as
concorrentes, que alegam que a
empresa será favorecida com uma
alíquota menor do Imposto sobre
Valor Agregado (IVA) diferenciado
pela operação regional da Azul Co-
necta. “A Azul voa para o país intei-
ro em 160 cidades e qualquer re-
forma tem que olhar o desenvolvi-
mento do país”, disse Rodgerson
ao Valor, durante conferência com
jornalistas. “Fico feliz porque o
Congresso reconhece a importân-
cia da aviação regional e isso é bom
para o Brasil”, disse o executivo.
balanço da Grendene
Calçados
Ana Luiza de Carvalho
De São Paulo
A fabricante de calçados Grende-
ne teve lucro líquido de R$ 57,2 mi-
lhões no segundo trimestre, queda
de 13% em relação ao mesmo perío-
do de 2022. A receita líquida caiu
10%, somando R$ 463,6 milhões. O
resultado reflete a queda de 39% na
receita de exportação, que foi para
R$ 86,9 milhões. No mercado inter-
no, ficou praticamente estável em
R$ 499,3 milhões.
O volume de vendas total foi de
26,8 milhões de pares, recuo de 15%
ante o segundo trimestre de 2022,
com queda de 51% no volume exter-
no e de 5% no volume interno. O di-
retor financeiro e de relações com
investidores da Grendene, Alceu Al-
| Valor | B7
CELSO DONI / VALOR
“Sem a Azul, teríamos 100 cidades
sem aviação e ninguém precisa de
mais voos somente dentro do
triângulo Rio de Janeiro, São Paulo
e Brasília”, completou.
Mas isso pode mudar. O Minis-
tério da Fazenda não vê razão téc-
nica para incluir algumas ativida-
des de turismo em regime específi-
co de tributação, conforme prevê o
texto da reforma tributária apro-
vado na Câmara dos Deputados e
em discussão no Senado. A afirma-
ção consta no detalhamento me-
todológico da nota técnica que
trouxe projeções para a alíquota-
padrão do futuro IVA.
Ver mais na página A4
buquerque, diz que o período entre
abril e junho foi como “um primeiro
trimestre piorado”, com fatores ne-
gativos como taxa de juros e inflação
ainda altos. O executivo afirma ain-
daqueofrioabaixodoesperadoafe-
tou o nível de estoques Grendene
nos varejistas parceiros, apesar do
portfólio da companhia não ter des-
taque de itens de inverno.
“Os produtos Grendene estão
com estoques abaixo da média his-
tórica, pois os clientes estão com es-
toques elevados de outros fabrican-
tes e de outros tipos de produto”,
afirmou o executivo ao Valor. Com
isso, a venda ao consumidor final
cresceu no trimestre, enquanto ao
varejocaiu.Omovimentoéoinverso
do registrado no primeiro trimestre
e também o contrário do esperado
pela Grendene, que contava com
uma recomposição de estoques.
B8 | Valor
Especial Valor&Auto
Meio Ambiente Montadoras desenvolvem novas
tecnologias e aplicam materiais “estranhos” nos
veículos para torná-los menos nocivos à natureza
Carros usam de casca
de café a redes de pesca
para poluir menos
Alexandre Izo
Da Autoesporte
O setor automotivo já percebeu
que terá que diversificar processos
para ser mais sustentável e reduzir
emissões de CO2. Se a largada foi a
produção de motores e combustí-
veis mais eficientes, a ideia agora é
reduzir o uso de materiais como
“couro vegano”, feito de cogume-
los e abacaxi, fibras de cana-de-
açúcar e cânhamo e até redes de
pesca e camisetas usadas.
Após anunciar que vai construir
carros sem couro animal a partir
deste ano, a BMW ousou ao divulgar
que usará redes de pesca descarta-
das nos mares em sua linha de pro-
dução. Além de reduzir emissões, a
iniciativa pretende combater a po-
luição por resíduos plásticos.
A montadora trabalha em parce-
ria com a Plastix, empresa de recicla-
gem dinamarquesa, para separar os
resíduos e produzir grânulos plásti-
cos. A nova linha de veículos da
BMW Neue Klasse, prevista a partir
de 2025, vai incluir peças plásticas
de acabamento contendo 30% de re-
des e cordas de pesca recicladas.
O elétrico BMW iX, por exemplo,
tem assentos de garrafas PET e pai-
néis das portas de plástico reciclado.
O conceito BMW i Vision Circular
dispõe de peças fabricadas em 3D
para evitar desperdício na produ-
ção. O SUV é 100% reciclável e tem
plásticos, fibras naturais, bioplásti-
cos e tecido vegano reaproveitáveis.
Já o interior do BMW i3 tem 25% de
materiais renováveis ou reciclados.
Em 2022, Oliver Zipse, CEO da
BMW, disse que um carro ecológico
não é criado só com uso de energia
verde.“Devemosreduziraquantida-
de de material para fabricá-los, pla-
nejando sua reutilização e recicla-
gem desde o início. Diante do au-
mento dos preços das matérias-pri-
mas, isso não é só um imperativo
Jaguar F-Type 75 marca a despedida do esportivo, mas com motor 2.0
Ulisses Cavalcante
Da Autoesporte
É o fim de uma era. O Jaguar F-
Type se despede das ruas, encer-
rando 75 anos de um legado mar-
cante. Não é exagero: essa é uma li-
nhagem que tem ainda o E-Type,
um esportivo presente em 100%
das listas de “melhores carros já
feitos na história”.
No Brasil, 14 carros da série espe-
cial F-Type 75 Years foram importa-
dos, mas só 12 unidades serão colo-
cadas à venda, por ora, já que duas
serão utilizadas pelo próprio fabri-
cante.Porém,a Jaguaroptouportra-
zer exclusivamente a versão cabrio-
let, com motor 2.0 turbo de 300 cv.
Não há opção de cores além de
NO TRÂNSITO, ESCOLHA A VIDA!
| Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
ambiental, mas também comercial.”
A vocação sustentável também é
vista no interior “Ultra White” do
Tesla Model S Plaid — revestido com
couro sintético feito de manga, aba-
caxi e cogumelos. A Porsche vem
usando folhas de oliveira para curtir
couros, e também emprega a fibra
Econyl — feita a partir de redes de
pesca recicladas — para fabricar pi-
sos. A estratégia é parecida com a
que a Kia adotou no Concept EV9.
Desde 2020, clientes do Porsche Tay-
can podem optar por um interior
feito com microfibra vegana (poliés-
ter reciclado).
A Audi é outra marca que investe
nessa linha. O Q4 e-tron é produzido
com até 27 componentes contendo
material reciclado. Os carpetes e ta-
petes do esportivo e-tron GT são fei-
tos com Econyl. Já os novos A3 têm
até 89% dos tecidos feitos de garrafas
PET. Até 2025, a Audi vai investir
€500 milhões, algo como R$ 2,6 bi-
lhões, para atingir a neutralidade
nas emissões. Até 2033, a promessa é
encerrar toda a produção de carros
movidos a combustão interna.
A Mercedes tornou o protótipo
elétrico Vision EQXX, um esportivo
de 201 cv e quase 1,8 tonelada, ainda
mais eficiente ao integrar materiais
leves e sustentáveis. As maçanetas
são feitas com fibra Biosteel, segun-
do a fabricante AMSilk mais forte
que o aço comum e biodegradável.
Os bancos são de couro artificial de
cogumelosecactos,chamadodeDe-
serttex — material mexicano paten-
teado e destinado às marcas pre-
O Tesla Model S
Plaid usa couro
sintético feito de
manga, abacaxi e
cogumelos
Último representante da era “Type” a combustão sai de linha com série especial limitada — só 14 unidades virão para o Brasil
mium como BMW e Mercedes-Benz.
Já os tapetes têm fibra de bambu re-
ciclável na composição.
A VW, montadora que também
oferece cabines sem couro, confir-
mouqueospróximosID.3ee-up!te-
rão opção de interior sem couro e lã
para os assentos. E o grupo Volkswa-
gen Innovation, responsável pela
criação e aplicação de biomateriais,
está empenhado em entregar mais
do que materiais que apenas imitam
o couro e plásticos feitos de óleo mi-
neral como poliuretano ou PVC. Re-
centemente, surgiu a ideia de em-
pregar a casca do café. Quando é fei-
taatorra,apelículaprateadaqueen-
volve o grão é um resíduo que pode
servir de enchimento para imitações
de couro. A previsão é que, em breve,
o material possa compor assentos e
apoios de braço. “Há enorme poten-
cial e este pode ser um dos próximos
passos para otimizar ainda mais a
pegada ecológica da nossa frota elé-
trica ID”, disse Martina Gottschling,
pesquisadora de Inovação da VW.
Tudo isso pode até parecer novi-
dade, mas não para as montadoras
da Coreia do Sul. Em 2014, o Hyun-
dai Sonata já trazia tampão traseiro
feito de kenaf — um hibisco da plan-
ta “Hibiscus cannabinus” —, mais
natural que o plástico e com poder
de absorver CO2 e NO. Mesma época
emqueoKiaSoulEVchegoucomre-
vestimento de bioplástico e biofibra
de cana-de-açúcar. O híbrido Ioniq
5, com previsão de chegar ao Brasil
em 2024, tem portas e interruptores
pintados com tintas de bio-óleo ex-
traídos de plantas e do milho.
A sueca Volvo também pretende
usar ao menos 25% de materiais reci-
clados em todos os carros até 2025 e
quer que toda a frota livre de couro
animal até 2030. As luxuosas cabi-
nescontarãocommateriaismaisna-
turais, de base vegetal, como linho e
cortiça. Como ocorre no interior do
carro-conceito 100% elétrico Con-
Excelência
Stuttgart, sua referência Porsche.
Excelência e evolução constante. Estes são dois dos fatores que fazem a Stuttgart ser referência em Porsche no Brasil há 25 anos.
Uma jornada que levou à existência de nove endereços em seis estados. Nossos modernos centros técnicos possuem
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A BMW trabalha em parceria com a dinamarquesa Plastix para reutilizar redes de pesca descartadas nos mares
cept Recharge, feito com materiais
leves, tecidos ecológicos e naturais.
“Ter uma mentalidade verdadei-
ramente progressiva e sustentável
significa que precisamos nos fazer
perguntas difíceis e tentar ativa-
mente encontrar as respostas”, disse
Stuart Templar, especialista em sus-
tentabilidade da Volvo.
Outra montadora com soluções
ecológicas é a Hummer, da GM, que
fabrica o SUV e picape elétricos. O
utilitário parrudo com mais de
1.000 cv e 165 kgfm adotou mate-
riais sustentáveis na cabine, no lugar
do revestimento de origem animal.
Além disso, a GM quer deixar total-
mente descartáveis suas embala-
gens automotivas até 2030.
“Amudançaclimáticaéumaprio-
ridade urgente e estamos avançan-
do em direção ao nosso objetivo de
sermos neutros em carbono em nos-
sos produtos e operações globais até
2040”, disse Kristen Siemens, direto-
ra de sustentabilidade da GM.
Até 2030, a Toyota planeja au-
mentar o uso de plásticos reciclados
em mais de três vezes em relação aos
níveis atuais. A marca também quer
extinguir o couro dos interiores, e
um caminho são os materiais reci-
clados à base de plantas. Global-
mente, os japoneses querem reduzir
as emissões de carros novos em 90%
até 2050, comparados a 2010.
Até 2035, a marca japonesa dese-
DIVULGAÇÃO
stuttgartporsche
ja tornar suas fábricas neutras em
emissões. E até 2050 o objetivo é fi-
car livre de emissões em toda a ca-
deia, política que inclui fornecedo-
res e revendedores. E há programas
de conservação de recursos hídricos,
outros voltados à biodiversidade e à
proteção de espécies e seus habitats.
Até 2050, a Continental pretende
fabricar todos os pneus com mate-
riais sustentáveis. E entre as tecnolo-
gias previstas está o uso de materiais
reciclados, como a própria borra-
cha, cinzas da casca de arroz e garra-
fas PET. Uma engenharia ainda em
desenvolvimento prevê o uso de
borracha de dente-de-leão, planta
da família Asteraceae, também co-
nhecida como Taraxacum, cujas raí-
zes contêm látex.
“A Continental está em vias de se
tornar o fabricante mais avançado
da indústria de pneus em sustenta-
bilidade. Nosso objetivo é usar ma-
teriais 100% sustentáveis até 2050. E
isso abrange tudo, desde a origem e
fornecimento de materiais até a reu-
tilização e reciclagem de nossos
pneus”, disse Claus Petschick, chefe
de sustentabilidade da Continental.
Além do emprego de itens sus-
tentáveis nos automóveis, a indús-
tria ainda pode reciclar, e o mercado
reutilizar,peçasemfimdevidaútil.É
assim que plástico reciclado vira pa-
ra-choque e carpete, e borracha se
transforma em juntas e tapetes. O
uma tonalidade verde, nem de op-
cionais. O preço é de R$ 612.977.
O fim do ciclo de vida do Jaguar
F-Type, que fez sua estreia em 2012,
coincide com uma nova fase da
marca, que irá se dedicar aos mo-
delos elétricos. Ainda não há infor-
mações sobre a continuidade do le-
gado “Type”, que começou em
1948 com o XK120. Na época, era o
carro mais rápido do mundo — daí
seu nome, em alusão a 120 milhas
de velocidade máxima (193 km/h).
A única informação exata possí-
vel de cravar é que o próximo Type
será um esportivo totalmente elé-
trico – como já ocorre atualmente
com o I-Pace.
O Jaguar F-Type foi um dos es-
treantes de uma época de estrutu-
Experiência
DIVULGAÇÃO
uso de aço e alumínio reciclados re-
duz o gasto de energia na produção
de motores e chassis. Vale destacar
que itens usados de segurança, co-
mo conjuntos de direção, cintos de
segurança e sistemas de freio não
podem ser comercializados.
Na contramão de países como os
EUA, o Brasil mais reutiliza do que
recicla peças. Julio Luchesi, presi-
dentedaAssociaçãoBrasileiradeRe-
ciclagem Automotiva, diz que o
mundorecicla95%doscarroscolidi-
dos e em final de ciclo. No Brasil, ele
afirma que estudos apontam que só
1,5% da frota é reciclada. “No Brasil,
os carros não vão para o aterro sani-
tário ou incinerador, pois 98,5% de-
les têm partes e peças reutilizadas,
que servem ao mercado por décadas
até o descarte e reciclagem”, diz.
Luchesi conta que há cerca de cin-
co mil desmanches de carros e recu-
peradoras de peças no país, colocan-
do itens usados em circulação para
aumentar o ciclo de vida dos mate-
riais e reduzir o impacto ambiental e
energético. “Em recente visita à Eu-
ropa e aos EUA, ficamos chocados
com a quantidade de itens bons di-
recionados à reciclagem. Motores e
peças em perfeito estado são proces-
sados e viram sucata. O Brasil mais
reutiliza resíduo automotivo do que
recicla. Aqui,reutilizamos tudo, até
os parafusos automotivos são colo-
cados à venda para reuso”, diz.
ra monobloco construída com alu-
mínio e uso intensivo de cola — o
que reduziu a quantidade de pon-
tos de solda e parafusos.
Desde sua estreia em 2012, o F-Ty-
pe passou por apenas uma atualiza-
ção tecnológica e de estilo, em 2019.
Recebeu um sistema multimídia de
12,3 polegadas e iluminação de LED.
Também incluiu na linha a versão
P300, equipada com o motor Inge-
nium 2.0 turbo de 300 cv aliada ao
câmbio automático (com conversor
de torque) de oito marchas.
Essa configuração vai de 0 a
100 km/h em 5,9 segundos (se-
gundo dados do fabricante) e tem
velocidade máxima limitada ele-
tronicamente a 250 km/h. A tra-
ção é traseira.
Tradição

Agronegócios
Comércio Segundo ministro Fávaro, decisão foi
confirmada após reunião com o vice-presidente
Alckmin e deve ser aprovada em breve pela Camex
Brasil decide taxar
importação de lácteos
de fora do Mercosul
Rafael Walendorff
De Brasília
O ministro da Agricultura,
Carlos Fávaro, afirmou ontem
que o governo federal tomou a
decisão de taxar a importação de
derivados de leite de países de fo-
ra do Mercosul. A medida foi de-
finida após reunião com o vice-
presidente da República, Geral-
do Alckmin, e deverá ser aprova-
da em breve pela Câmara de Co-
mércio Exterior (Camex) como
forma de tentar diminuir o im-
pacto das compras externas no
setor leiteiro nacional.
O setor afirma que o avanço das
importações de lácteos neste ano
afeta o preço do leite aos produto-
res, o que tem levado alguns deles
a desistirem da atividade.
Fávaro disse que o governo vai
aplicar R$ 100 milhões nas com-
pras públicas de leite, a princípio,
mas que vê espaço para dobrar ou
. O Ministério da Agricultura brasi-
Raízen e Shell investem na produção Setor quer biodiesel em PL
de hidrogênio verde a partir de etanol do “Combustível do Futuro”
Agroenergia
Cleyton Vilarino
De São Paulo
Com um investimento de
R$ 50 milhões, as multinacionais
Shell e Raízen anunciaram on-
tem em São Paulo a construção
da primeira planta para a produ-
ção de hidrogênio verde a partir
de etanol do mundo.
O projeto será realizado em
parceria com Hytron, Toyota, Se-
nai e Universidade de São Paulo a
partir de recursos da Cláusula de
PD&I, constante dos contratos
para exploração, desenvolvimen-
to e produção de petróleo e gás
natural firmados com a Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natu-
ral e Biocombustíveis, a ANP.
O projeto prevê que a planta
deve produzir 4,5 quilos de hi-
drogênio por hora, o suficiente
para a abastecer até três ônibus e
um veículo leve. Os veículos circu-
larão dentro do campus universi-
tário da capital paulista em fase
de testes para avaliar a eficiência
triplicar esse valor para medidas
emergenciais. Em complementa-
ção, ele defendeu políticas públi-
cas estruturantes para a cadeia.
“Estamos tomando algumas
medidas. Ontem [quarta] falei
com o vice-presidente Geraldo
Alckmin (...) e tomamos a decisão
de tributarmos vários derivados
de leite na importação. Claro que
não atinge o acordo do Mercosul,
mas todos os outros países que
possam trazer queijos, todos os
derivados de leite para o Brasil,
teremos alíquota de importação
maior protegendo os produtores
brasileiros”, disse Fávaro em con-
versa com jornalistas após even-
to no Ministério da Agricultura.
Ele ressaltou que a medida será
aprovada na Camex, que recente-
mente já tirou a isenção de im-
portação de proteínas de leite. O
ministro também confirmou o
valor de R$ 100 milhões que será
aplicado inicialmente para as
energética do biocombustível.
De acordo com os pesquisado-
res do Centro de Pesquisa para
Inovação em Gases de Efeito
Estufa da USP (RCGI), a conver-
são do etanol em hidrogênio será
realizada por meio de um pro-
cesso químico chamado “refor-
ma a vapor”, que é quando o eta-
nol, submetido a temperaturas e
pressões específicas, reage com
água dentro de um reator.
A previsão é de que o custo da
produção de hidrogênio a partir
de etanol seja comparável ao custo
do hidrogênio de reforma do gás
natural, porém com emissões se-
melhantes à da eletrólise da água
alimentada com energia eólica.
Todo o etanol necessário para
produção do hidrogênio será for-
necido pela Raízen e transportado
em caminhões-tanques com capa-
cidade para armazenar até 45 mil
litros do biocombustível. A quan-
tidade é suficiente para a produ-
ção de seis toneladas de hidrogê-
nio verde — volume que demanda-
ria quatro vezes mais viagens caso
fosse transportado com o gás já
compras públicas de leite. O
montante e a medida foram ante-
cipadas pela Globo Rural/Valor.
“Emergencialmente teremos a
compra do leite em pó para tra-
zer os preços mais pra cima para,
de forma confortável, para man-
ter a atividade viável. Deve ser
inicialmente a primeira compra
em torno de R$ 100 milhões, nos
primeiros dias já de recurso dis-
ponível”, afirmou.
Mas o ministro acrescentou que
nas conversas sobre o tema com o
presidente da Companhia Nacio-
nal de Abastecimento (Conab),
Edegar Pretto, a percepção é de
que seria necessário no mínimo
dobrar ou triplicar esse valor, che-
gando a R$ 200 milhões ou a R$
300 milhões “emergencialmente”.
“Mas o mais importante são
políticas estruturantes que esta-
mos conduzindo para que tenha-
mos estabilidade na produção de
leite brasileira”, completou.
comprimido em cilindros.
Com isso, a expectativa é de
que o hidrogênio produzido a
partir do etanol aproveite a in-
fraestrutura de distribuição já
existente para o etanol a partir da
aplicação da tecnologia em pos-
tos de gasolina que já trabalham
com o biocombustível derivado
da cana-de-açúcar.
De acordo com o diretor presi-
dente da Raízen, Ricardo Mussa,
essa facilidade logística deve au-
mentar a importância que o hi-
drogênio renovável produzido a
partir do etanol terá na matriz
energética brasileira nas próxi-
mas décadas “principalmente
por reduzir significativamente
os desafios envolvidos no trans-
porte e distribuição do produto”.
“O mais bacana dessa história
é que a logística está pronta. Po-
demos ter um transformador em
cada posto do Brasil e a grande
dificuldade de transportar o hi-
drogênio acabou”, disse o gover-
nador do Estado, Tarcísio Freitas,
na inauguração da placa funda-
mental do empreendimento.
Fávaro confirmou o valor de R$ 100 milhões para compras públicas de leite
De Brasília
O presidente do Conselho Supe-
rior da União Brasileira do Biodie-
sel e Bioquerosene (Ubrabio), Juan
Diego Ferrés, cobrou a inclusão do
biodiesel no rol de produtos que
serão contemplados no projeto de
lei em construção no governo fe-
deral batizado de “Combustível do
Futuro”, que mira incentivar a pro-
dução de energia limpa.
“O biodiesel não está incluído
na proposta quando ele é um dos
principais combustíveis do futuro
e do presente. Não podemos estar
fora da principal lei que vai regu-
lar os combustíveis do futuro”, dis-
se durante a Biodiesel Week, reali-
zada pela entidade em Brasília.
Para o dirigente, o biodiesel se-
rá o principal substituto do diesel
fóssil e não o HVO, também cha-
mado de diesel verde ou diesel re-
novável, fruto de um coprocessa-
mento de combustível fóssil com
parcela de óleos vegetais. A Petro-
bras tem investido nesse segmen-
to. Além do item sustentável, disse
ele, o custo do biodiesel é menor.
O ministro da Agricultura, Car-
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Por
WENDERSON ARAUJO/VALOR
los Fávaro defendeu a regulamen-
tação do aumento da mistura do
biodiesel ao diesel fóssil até 20%.
Atualmente, a mistura está em
12% com previsão de chegar a 15%
até 2026. Segundo ele, é preciso
estimular o empresariado e a ca-
pacidade industrial para acompa-
nhar a elevação na mistura.
“O mundo caminha para a des-
poluição, a captura de carbono e o
biodiesel cumpre esse papel. Os
20% são um bom número para a
gente mostrar o compromisso do
governo brasileiro com a sustenta-
bilidade”, disse após o evento. Ele
criticou o “preconceito” contra o
biodiesel e disse que há garantia
técnica da qualidade do produto
para uso com adições maiores.
O deputado federal Alceu Mo-
reira (MDB-RS), presidente da
Frente Parlamentar Mista do
Biodiesel (FPBio), sugeriu a cria-
ção de uma política decenal pa-
ra o setor, com a previsão a lon-
go prazo do teor de mistura e
outras medidas para as indús-
trias se planejarem. “A cadeia só
precisa de segurança jurídica e
previsibilidade”, disse. (RW)
Movimento falimentar
Falências Requeridas
Requerido: Compare Madeiras Ltda. - CNPJ:
52.202.827/0001-81 - Endereço: Av. Álvaro Gui-
marães, 144, Bairro Planalto - Requerente: Alexan-
dre Tadeu Mussak - Vara/Comarca: 3a Vara de São
Bernardo do Campo/SP
Requerido: Envolv Soluções Gráficas Eireli ME -
CNPJ: 05.731.051/0001-07 - Endereço: Rua Águia,
160, Bairro Vila Endres, Guarulhos/sp - Requerente:
IndústriadePapelR.RamenzoniS/A-Vara/Comarca:
1a Vara de Santana de Parnaíba/SP
Requerido: Nilton José Tessarin, Produtor Rural
- CNPJ: 22.693.878/0001-92 - Endereço: Rodovia
Vicinal Jayme Nori, Km 12, S/nº, Sítio Sá Carlos -
Requerente: Ônix Prime Fundo de Investimento em
Direitos Creditórios - Vara/Comarca: 2a Vara de
Santa Rita do Passa Quatro/SP
Falências Decretadas
Empresa: Ebrax Construtora Ltda. - CNPJ:
10.407.011/0001-44 - Endereço: Rua Comendador
Tavares, 94, Bairro Navegantes, Porto Alegre/rs -
Administrador Judicial: A Própria Administradora
Judicial da Recuperação Judicial Rescindida, Otero
Advogados Associados - Vara/Comarca: 1a Vara de
São Bento do Sul/SC - Observação: Recuperação ju-
dicial convolada em falência.
Empresa: Pavsolo Construtora Ltda. - CNPJ:
15.728.996/0001-23 - Endereço: Rua Das Flores,
1234, Bairro Brasília - Administrador Judicial: A
Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a Agenda tributária.
| Valor | B9
Japão vai
retomar
compra de
frango do ES
Gripe aviária
De Brasília
O Japão autorizou a retomada
das importações de produtos de
aves do Espírito Santo ontem. As
vendas estavam suspensas desde
28 de junho em decorrência da
confirmação de foco de gripe aviá-
ria em ave de criação doméstica no
município de Serra.
Comunicado publicado no site
do Ministério da Agricultura, Flo-
restas e Pesca do país asiático afir-
ma que, com base nas informações
fornecidas pela autoridade sanitá-
ria brasileira sobre as medidas de
prevenção e controle da gripe aviá-
ria no Espírito Santo, é possível
confirmar que as aves do Estado
estão livres da doença. A abertura
permite a retomada das vendas
por estabelecimentos capixabas
de carne de aves, derivados e ovos.
O motivo da suspensão da im-
portação, segundo o texto, foi “evi-
tar que as aves vivas criadas no Ja-
pão sejam infectadas com o vírus e
para fins de sanidade alimentar”.
O embargo durou mais de 40
dias. Pelo protocolo adotado pelo
Japão, é necessário aguardar 28
dias desde a identificação da doen-
ça para que o Brasil envie um rela-
tório sobre a situação do foco para
a análise da autoridade sanitária
japonesa a fim de autorizar ou não
a retomada da comercialização.
leiro espera avançar nesse protocolo
para que a reabertura possa ser au-
tomática após o período estipulado.
As exportações de Santa Catarina,
suspensas em 17 de julho, conti-
nuam embargadas. A razão para a
suspensão foi um foco em ave de
criação doméstica em Maracajá.
Durante missão ao Japão em ju-
lho, o ministro acertou com o go-
verno local um ajuste no protocolo
para que esse tipo de restrição a
produtos avícolas passe a ser em
âmbito municipal, não mais esta-
dual, o que acarreta impactos mais
significativos. Santa Catarina, por
exemplo, é o segundo maior ex-
portador de frango do Brasil. Em
2022, o Japão importou 426 mil to-
neladas de carne de frango do Bra-
sil, 1,1 mil toneladas de ovos e 11,1
mil pintos, segundo o Ministério
das Finanças de lá.
Até agora, o Brasil registrou
77 focos de gripe aviária, 75 em
aves silvestres e dois em aves de
criação doméstica. (RW)
77
é o número de focos
de gripe aviária no
país até 10/08
Própria Administradora Judicial da Recuperação
Judicial Rescindida, Otero Advogados Associa-
dos - Vara/Comarca: 1a Vara de São Bento do
Sul/SC - Observação: Recuperação judicial convo-
lada em falência.
Processos de Falência Extintos
Requerido: Ludpack Indústria e Comércio de Em-
balagens Plásticas Eireli - CNPJ:
28.788.296/0001-76-Endereço:RuaAristidesRicc-
ciluca, 405, Bairro Parque Santa Bárbara - Requeren-
te: Ts Collection Distribuidora de Polímeros Ltda. - Va-
ra/Comarca: 2a Vara de Itapira/SP - Observação: Ho-
mologado acordo celebrado entre as partes.
Requerido: Neutrocare Comércio de Cosméticos
e Higiene Pessoal Ltda. - CNPJ:
26.526.964/0001-61 - Endereço: Rua Baependi,
194/1, Bairro Vila Nova Bonsucesso, Guarulhos/sp -
Requerente: Age do Brasil Indústria e Comércio Lt-
da. - Vara/Comarca: 2a Vara Regional de Compe-
tência Empresarial e de Conflitos Relacionados À
Arbitragem da 1ª, 7ª e 9ª Rajs/SP - Observação: Ho-
mologado acordo celebrado entre as partes.
Recuperação Judicial Deferida
Empresa: Plannext Construções e Incorpora-
ções Ltda. - CNPJ: 12.550.699/0001-42 - Ende-
reço: Av. Imperador Dom Pedro I, 119, Quadra Gl 4r,
Lote 02, Parque Jardim Brasil - Administrador Ju-
dicial: Dr. Homero Pinto Figueiredo - Vara/Comarca:
3a Vara de Caldas Novas/GO
B10 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Agronegócios
Políticas Do R$ 1,06 bilhão disponibilizado no programa de
subvenção ao prêmio, R$ 837,2 milhões já estão comprometidos
Orçamento do Seguro Rural
deve se esgotar já neste mês
Rafael Walendorff
De Brasília
O orçamento do Programa de
Subvenção ao Prêmio do Seguro
Rural (PSR) deve se esgotar ainda
neste mês. Do R$ 1,06 bilhão dis-
ponibilizado para 2023, mais de
R$ 837,2 milhões já estavam com-
prometidos até o início desta se-
mana. O saldo é de R$ 184,1 mi-
lhões e será incapaz, admite o Mi-
nistério da Agricultura, de atender
a demanda dos produtores que
ainda estão planejando o plantio
de milho e soja neste semestre.
A Pasta intensificou as negocia-
ções com a equipe econômica por
uma suplementação de R$ 1 bi-
lhão — os primeiros pedidos não
foram atendidos. Também tenta
emplacar o valor recorde de R$ 3
bilhões na previsão de caixa para o
ano que vem, já que o governo tem
até o fim deste mês para enviar o
projeto de Lei Orçamentária Anual
de 2024 ao Congresso Nacional.
Jônatas Pulquério, diretor do
Departamento de Gestão de Risco,
disse que a Pasta preferiu não
anunciar o valor projetado para o
orçamento de 2024 no Plano Safra
2023/24 sem ter os números fecha-
dos para não gerar expectativa.
“O seguro rural não ficou esque-
cido no Plano Safra. (...) Não podía-
mos fazer uma promessa que vai
criar expectativa e que talvez possa
Ministério defende reestruturação do mercado
De Brasília
O diretor do Departamento de
Gestão de Risco do Ministério da
Agricultura, Jônatas Pulquério, de-
fende uma reestruturação no mer-
cado de seguro rural no Brasil. Ele
quer criar mecanismos para inte-
grar a contratação das apólices à
adoção de boas práticas de produ-
ção no campo, de forma que a sub-
venção seja uma indutora dessas
técnicas e que os agricultores que
produzem com mais sustentabili-
dade possam ser beneficiados.
Também está no radar da Pasta
Milho é destaque na colheita recorde de grãos Abates de aves e bovinos
Estimativas
Paulo Santos, Fernanda
Pressinott e Alessandra Saraiva
De São Paulo e do Rio
O milho foi o destaque do mais
recente levantamento sobre pro-
dução de grãos do Brasil na safra
2022/23, divulgado ontem pela
Companhia Nacional de Abaste-
cimento (Conab). No 11º levan-
tamento sobre a temporada, a
Conab elevou a estimativa de
produção do milho de segunda
safra de 98,04 milhões de tonela-
das para 100,2 milhões de tone-
ladas. Com isso, a colheita total
do cereal foi estimada em 130
milhões de toneladas, em com-
paração com as 127,8 milhões
previstas no mês passado.
A previsão para a oferta do ce-
real teve peso importante na re-
visão da estimativa de colheita
total de grãos, que passou de
317,6 milhões, para 320 milhões
de toneladas. Esse número repre-
senta um crescimento de 17,5%
em relação a safra 2021/22.
“Esse resultado é 0,8% superior
à previsão anterior, divulgada em
julho, decorrente, principalmen-
te, do avanço da colheita do mi-
lho segunda safra, que vem apre-
sentando produtividades supe-
riores às inicialmente previstas”,
escreveu a Conab em relatório.
Daniele Siqueira, analista da
AgRural, disse que plantações
em fase de desenvolvimento tive-
ram “sorte” com o clima nos últi-
mos meses, o que favoreceu a
melhora no rendimento do mi-
lho da segunda safra.
não ser correspondida. Não posso
criar mais risco do que já existe no
mercado”, disse. Em 2022, foram
anunciados R$ 2 bilhões para 2023,
mas o saldo caiu pela metade.
O objetivo com o incremento no
orçamento é retomar a trajetória
de crescimento que o PSR manti-
nha até 2021, quando apoiou mais
de 217 mil apólices de mais de 120
mil produtores em 14 milhões de
hectares. Em 2022, a alta das com-
modities encareceu os prêmios do
seguro e os números recuaram.
Neste ano, um conjunto de fato-
res tem limitado o alcance do pro-
grama. As seguradoras reduziram
o apetite pelo mercado do seguro
rural após três anos de perdas no
campo e da alta sinistralidade (de
140%) em 2022. Com os resseguros
mais retraídos, algumas empresas
reduziram os valores segurados ou
até deixaram de oferecer as apóli-
ces. O El Niño, que prevê mais chu-
vas para o Sul do país, deve dimi-
nuir o interesse de parcela de agri-
cultores em aderir ao seguro rural.
Até julho deste ano, eram 72 mil
apólices contratadas por 50 mil
produtores. A área segurada está
em 3,7 milhões de hectares e o va-
lor é de R$ 25,6 bilhões. A distribui-
ção dos recursos do PSR também
afetou o mercado e deixou produ-
tores de trigo e milho segunda sa-
fra sem acesso à subvenção. O mer-
cado pediu cerca de R$ 600 mi-
a demanda apresentada pelo mer-
cado para a criação de um novo
fundo garantidor, alimentado
com recursos privados, que dê es-
tabilidade ao setor. Também estão
em estudo modelos de seguro ru-
ral de outros países.
Os temas serão discutidos em
uma nova câmara temática que
será instalada em breve no minis-
tério para tratar especificamente
da gestão de risco no setor agro-
pecuário. A Pasta já conta com o
reforço de um pesquisador da
Embrapa, que trabalhou na área
de agricultura de baixa emissão
Safra 2022/23
Novas estimativas da Conab para a atual temporada (milhões de toneladas)
Cultura 2021/22
Algodão (pluma) 2,554
Arroz 10,789
Feijão 2,990
Milho 113,130
Soja 125,550
Trigo 10,554
Total 272,429
Fonte: Conab
“Apesar do atraso no plantio
da safrinha 2023 em diversas
áreas devido à colheita mais de-
morada da soja, — o que deixou
as lavouras do cereal mais susce-
tíveis a perdas por estiagem e
geadas —, o que vimos foram
chuvas em junho e julho em
áreas que são normalmente mui-
to secas nesse período. Também
tivemos a ausência de geadas no
Paraná, sul de São Paulo e sul de
Mato Grosso do Sul”, disse.
Ainda que a colheita de milho
da segunda safra no Brasil cami-
nhe a passos lentos (64% neste ci-
clo e 79,8% na safra passada), a
analista não acredita em grandes
reduções na produtividade. “Al-
“Lavouras de
milho em
desenvolvimento
tiveram sorte”
Daniele Siqueira
lhões, mas o Comitê Gestor do Se-
guro Rural destinou cerca de R$
400 milhões, esgotados. Em 2022,
foram quase R$ 550 milhões.
Joaquim César Neto, presidente
da Comissão de Seguro Rural da
Federação Nacional de Seguros
Gerais (FenSeg), disse que 25% dos
produtores que contrataram segu-
ro para as lavouras de inverno fica-
ram sem subvenção. São prêmios
de R$ 100 milhões que terão que
ser pagos pelos agricultores. Al-
guns contratos são cancelados e as
áreas ficam descobertas.
Para ele, é preciso um casamento
melhor entre a distribuição, a con-
tratação e a verificação da demanda
por recursos entre as modalidades.
O dirigente disse que a maior parte
dos seguros está atrelada aos finan-
ciamentos bancários. “Os recursos
da subvenção deveriam ser destina-
dos não só para esse momento ou
nesse formato. Se houvesse mais re-
cursos, no momento correto de dis-
tribuição,semasperdasquetivemos
no primeiro semestre, por exemplo,
“Não posso criar
mais risco do
que já existe no
mercado”
Jônatas Pulquério
de carbono, para ajudar a desen-
volver ferramentas para aliar o
seguro à sustentabilidade.
O foco está em técnicas como
plantio direto, correção de solo,
manutenção de plantas de cober-
turas e uso de bioinsumos. “As
boas práticas ambientais e agro-
nômicas são nosso ponto focal. A
produção sustentável é uma gran-
de ferramenta de mitigação de ris-
co climático. Queremos buscar a
convergência do mercado de se-
guro com agricultura sustentável”,
disse Jônatas Pulquério.
Segundo ele, essas técnicas aju-
2022/23
Prev. mar Prev. abr Prev. mai
22,783 2,734 2,901
9,879 9,940 9,947
2,919 2,951 3,079
124,677 124,879 125,536
151,419 153,633 154,811
10,554* 10,554 9,560
309,883 312,532 313,865
gumas perdas ainda podem
ocorrer, sobretudo de qualidade,
em áreas mais tardias do Paraná
e Mato Grosso do Sul, onde a co-
lheita ainda não engrenou. Mas
isso não tira o brilho da safrinha
2023 como um todo”.
Para a soja, principal cultura
agrícola do Brasil, a Conab man-
teve a estimativa de produção re-
corde de 154,6 milhões de tone-
ladas, 23,1% superior à da safra
2021/22, afetada pela seca.
Já a área cultivada com grãos
pelos produtores brasileiros nes-
ta temporada foi estimada em
78,3 milhões de hectares, 5% su-
perior à de 2021/22. Os maiores
incrementos foram observados
na soja, com 6,2%; no milho, 2,9%
e; no trigo, 11,2%.
Em seu levantamento divulga-
do ontem, o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE)
também atribuiu ao milho o
bom desempenho da safra recor-
de. O Levantamento Sistemático
da Produção Agrícola (LSPA) es-
timou uma produção 308,9 mi-
Por
Programa de Subvenção ao Seguro Rural
Desempenho entre 2022 e 2023
Apólices x produtores (em mil) Área segurada
Apólices Produtores Em milhão de hectares
contratadas atendidos
150
125,1
8 7,2
7
120
6
90 78,5 72 5
4
3,7
60 50
3
2
30
1
2022 2023* 2022 2023*
seria mais interessante para o pro- Valor segurado Subvenção federal
dutor continuar contratando inde- Em R$ bilhão Em R$ bilhão
pendentemente do financiamento”.
Joaquim César disse que ainda é 50
43,8 1,2 1,1
preciso uma “dispersão” do acesso 40 1,0
ao seguro rural pelo país e maior 0,8 0,7
30 25,6
previsibilidade de aplicação dos re- 0,6
cursos. O cenário atual é de menos 20
0,4
produtores com acesso à subvenção, 10
0,2
o que deixa o custo de produção
mais alto. Em 2021, o programa fe- 2022 2023* 2022 2023*
Fonte: Ministério da Agricultura *até julho/2023
deral representou 98% do mercado
de seguro rural como um todo, índi- Recursos disponíveis em 2023
ce que caiu para quase 65% em 2022. Setor quer mais R$ 1 bilhão
David Elias Martin, corretor de
Cultura Valor inicial Saldo disponível**
seguro rural e coordenador da Co- (em R$ milhão) (em R$ milhão)
missão de Riscos Rurais do Sincor, Floresta 3,0 1,0
sindicato que representa as em- Frutas 92,2 0,2
presas de seguro de São Paulo, afir- Grãos de inverno 396,7 0,0
mou que as culturas de inverno Grãos de verão 445,0 181,3
têm risco mais efetivo e custo Pecuário 12,5 0,4
maior, e que por isso costumavam Outras 71,8 1,0
ser privilegiadas na distribuição Fonte: Ministério da Agricultura **em 7 de agosto
dos recursos pelo governo. Ele de-
fendeu mais flexibilidade para Alto risco
ampliar os recursos a esse público. Prejuízo para seguradoras
Segundo ele, não houve calen- Prêmio ganho Sinistros Sinistralidade
darização dos recursos orçamen- Em R$ bilhão em %
tário da subvenção nos últimos
anos. A verba era disponibilizada 140
5,7 8,8
10 10 150
pelo ministério em um “sistema 110
8 8 120
aberto” que diminuiu a fila para
acesso aos valores do PSR. Isso pos- 6
4,2 6 5,3 90
83
sibilitava que as seguradoras sou-
bessem no mesmo dia se a propos-
4
2,9
4
2,4
60
ta seria com o subsídio. Neste ano, 2 2 30
a liberação ocorre por lotes, sem a
2020 2021 2022 2020 2021 2022 2020 2021 2022
mesma clareza ao mercado, disse. Fonte: FenSeg
dam em caso de evento climático o Fundo de Estabilidade do Seguro do agentes do segmento.
adverso e devem ser consideradas Rural (FESR), alimentado com re- Pulquério afirmou que a cria-
no âmbito da contratação do se- cursos públicos orçamentários de ção de um novo fundo pode ser
guro. “Hoje o produtor que faz cerca de R$ 400 milhões, e que, na importante para a reestruturação
um bom planejamento paga a visão de agentes seguradores e in- do seguro. “Precisamos de ajustes
apólice com o mesmo nível de ris- tegrantes do governo, não atende estruturais para que possamos fa-
co de outro que não tem a mesma mais às necessidades do setor. lar em avanços, inclusive de orça-
preocupação e a mesma prática. A O Fundo de Catástrofe, que ain- mento. Para usar R$ 3 bilhões de
precificação é difícil, mas é preci- da não foi regulamentado, enfren- orçamento, precisa haver apetite e
so ter essa conscientização do ta resistências. Um dos artigos da sustentabilidade na cadeia”, disse.
produtor, principalmente em lo- lei atrela a regulamentação do me- A equipe do diretor já recebeu
cais de mais risco e que não usam canismo ao fim da isenção tributá- a determinação do ministro Car-
essas técnicas”, indicou. ria para o seguro rural. A oneração los Fávaro para estudar outros
O mercado discute a criação de pode gerar acréscimo de 9% no va- modelos internacionais que pos-
um novo fundo garantidor, com lor dos prêmios cobrados dos pro- sam ser implementados no Bra-
recursos privados, para substituir dutores rurais atualmente, segun- sil, como o do México. (RW)
subiram no 2º trimestre
Levantamento relação a igual período de 2022,
para 14 milhões de cabeças. Na
Do Rio comparação com o primeiro tri-
Prev. jun Prev. jul mestre de 2023, subiu 1,1%.
O abate de bovinos no país so- Conforme a pesquisa, o abate de
2,978 3,030
mou 8,25 milhões de cabeças no frangos no país somou 1,56 bilhão
10,015 10,033
segundo trimestre de 2023, au- de cabeças no segundo trimestre,
3,069 3,068
mento de 11% na comparação aumento de 4,7% em relação ao se-
125,715 129,961
com igual período de 2022, se- gundo trimestre de 2022 e queda
155,736 154,603 de 2,8% na comparação com o pri-
gundo a pesquisa trimestral Ins-
9,773 10,409 tituto Brasileiro de Geografia e meiro trimestre de 2023.
315,827 320,058 Estatística (IBGE). Na compara- A produção de ovos de galinha
0 50 100 150 200 250 350
300
ção com o primeiro trimestre de também subiu e alcançou 1,04
2023, houve aumento de 12,3%. bilhão de dúzias. O número foi
lhões de toneladas de grãos na De acordo com a pesquisa do 2,1% superior a igual trimestre de
safra 2023, 17,4% acima de 2022 IBGE, os curtumes declararam 2022 e 1,8% maior que nos três
(ou 45,7 milhões de toneladas). ter recebido 8,31 milhões de pe- primeiros meses deste ano.
O IBGE revisou para cima, em ças inteiras de couro cru no se- A pesquisa mostrou ainda que a
0,5%, a estimativa para a produção gundo trimestre deste ano, alta aquisição de leite cru por estabele-
total de grãos no último levanta- de 8,6% em comparação ao se- cimentos sob inspeção sanitária
mento. A área a ser colhida é de gundo trimestre de 2022. Em re- (federal, estadual ou municipal)
77,1 milhões de hectares, 5,2% lação ao primeiro trimestre, subiu 3,9% na comparação anual,
maior que a de 2022 e 0,2% maior houve aumento de 7,2% para 5,72 bilhões de litros. Em rela-
que a estimativa anterior. Já o abate de suínos recuou 1,6% ção ao primeiro trimestre deste
O arroz, o milho e a soja, os três no Brasil no segundo trimestre em ano, a aquisição recuou 2,8 %. (AS)
principais produtos desse grupo,
somados, representam 92% da
estimativa da produção e res-
pondem por 87,1% da área a ser valor.com.br
colhida, aponta o levantamento.
Segundo o IBGE, a produção de
soja deve somar 148,8 milhões de Balança comercial
toneladas e a de milho, 125,2 mi-
lhões de toneladas (28,1 milhões
Exportações do agro batem recorde
de toneladas de milho na primeira O Ministério da Agricultura e exportado foi responsável pela
safra e 97,1 milhões de toneladas Pecuária informou que as melhora do desempenho, puxado,
de milho na segunda safra). exportações brasileiras de principalmente, pelo complexo
O instituto estimou ainda que a produtos do agronegócio soja, carnes de frango e suína,
colheita do arroz deve alcançar 10
milhões de toneladas; a de trigo,
alcançaram, em julho o valor
recorde de US$ 14,43 bilhões. O
celulose e algodão. No geral, os
preços médios de exportação dos
10,8 milhões; a do algodão (em ca- valor é 1,2% maior que o do produtos recuaram.
roço), 7,4 milhões ; e a do sorgo, 3,8 mesmo mês de 2022. Segundo a
milhões de toneladas. Pasta, o aumento do volume valor.com.br
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | B11
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Estratégia
C6 Bank, de Rongel,
amplia oferta de
investimentos e dá
acesso a ativos
globais via J.P. C6
Valor C
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Renda fixa Taxas de médio prazo, descontada a inflação, recuam com procura maior
por títulos públicos atrelados ao IPCA e início do ciclo de flexibilização monetária
Juro real cai à mínima desde 2021
Gabriel Roca e Victor Rezende
De São Paulo
Embora o mercado já tenha pre-
cificado uma quantidade relevan-
te de cortes na Selic à frente, o iní-
cio do ciclo de flexibilização mo-
netária tem sido visto por agentes
financeiros como uma oportuni-
dade para uma aposta na queda do
juro real (descontada a inflação)
de médio prazo. Com uma redu-
ção do juro básico mais agressiva
que o esperado por boa parte do
mercado e a expectativa de uma
composição mais “dovish” (incli-
nada a juros mais baixos) do Co-
mitê de Política Monetária (Co-
pom) do Banco Central, as taxas de
juros reais de prazos intermediá-
rios caíram às mínimas desde de-
zembro de 2021, furando o nível
de 5%, descontada a inflação.
A procura pelas NTN-Bs, títulos
públicos atrelados à inflação, têm
sido expressiva, o que tem se refle-
tido na queda das taxas, especial-
mente em prazos intermediários.
O juro real medido pela NTN-B pa-
ra agosto de 2030 caiu a 4,966%
nesta semana. E, mesmo em prazos
ainda mais longos, os últimos dias
têm sido de queda consistente
das taxas. O juro real medido pe-
la NTN-B para maio de 2055 che-
gou a 5,341%, também no menor
nível desde dezembro de 2021.
A demanda pelos papéis ocorre
no momento em que os agentes es-
peram uma queda nas taxas reais
diante do início do ciclo de cortes
Campos surpreende e indica fim do rotativo de cartões
Guilherme Pimenta, Caetano Tonet
e Jéssica Sant’Ana
De Brasília
O presidente do Banco Central
(BC), Roberto Campos Neto, disse
ontem que a saída que está sendo
construída para os juros do cartão
de crédito é acabar com o rotativo,
que seria substituído por um par-
celamento com juros de até 9% ao
mês. “A solução está se encaminha-
do para que não tenha mais rotati-
vo, que o crédito vá direto para o
parcelamento, que seja uma taxa
ao redor de 9%, ou seja, extingue-
se o rotativo, quem não paga o
cartão vai direto para o parcela-
mento ao redor de 9%”, afirmou
em apresentação no Senado.
Campos disse reconhecer que o
cartão de crédito é um “grande
problema” e afirmou que o fim do
rotativo seria acompanhado por
“algum tipo de tarifa para desin-
centivar esse parcelamento sem
juros tão longo”. A declaração faz
referência ao parcelado sem juros,
muito usado no varejo. Sua fala
surpreendeu tanto banqueiros
quanto a equipe econômica —
mais pelo tom do que pelo conteú-
do, pois próprios bancos já le-
vantaram a hipótese de acabar
com o rotativo e oferecer um par-
celamento imediato aos clientes
que deixam de pagar a fatura.
Com taxas de juros a 437% ao
ano, na média, rotativo do cartão
tornou-se alvo de críticas do presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
e do ministro da Fazenda, Fernan-
do Haddad. Os bancos, por sua vez,
reconhecem que as taxas são altas,
mas defendem que o mercado de
cartões é complexo e que não é
possível simplesmente tabelar ju-
ros, como prevê projeto de lei que
tramita na Câmara dos Deputados.
Nas mínimas desde 2021
Taxa da NTN-B ago/2030 - em % a.a.
7 gum momento do ciclo, possivel-
6,31
6 taxas reais mais baixas à frente.
5
4,55
1/set
2021
19/jul
2022
Fonte: Anbima
na Selic e adotam, ainda, a percep-
ção de que a futura composição do
Copom pode buscar juros menores
ao poder permitir uma inflação
acima do centro da meta de 3%.
“A história sugere que os juros
reais de dez anos podem continuar
caindo no Brasil”, aponta o chefe
de economia para Brasil e de estra-
tégia para América Latina do Bank
of America, David Beker. “Espera-
mos que os juros de mercado de
longo prazo continuem caindo à
medida que avançamos no ciclo de
cortes. Nos últimos três ciclos de
flexibilização, para cada 1 ponto
percentual de corte na Selic, vimos
uma queda de 0,4 ponto nos juros
reais de mercado de dez anos”, diz
Beker, em nota enviada a clientes.
A perspectiva de queda dos ju-
ros reais é observada, também,
por Gustavo Pessoa, sócio e gestor
de renda fixa da Legacy Capital, ao
Campos: “Quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento ao redor de 9%”
Os riscos, dizem, devem também
ser compartilhados com outros
elos da cadeia de pagamentos.
Conforme já mostrou o Valor,
“Não tem nenhuma
inadimplência
nem parecida em
nenhum outro
lugar do mundo”
Roberto Campos
6,41
4,97
19/dez
2022
9/ago
2023
apontar que a casa aumentou po-
sições compradas em NTN-Bs de
prazo intermediário. “É difícil sa-
ber como o ciclo de corte de juros
vai se desenvolver e terminar. Ge-
ralmente, o mercado acha que a
política monetária será menos
restritiva; depois, que irá para o
nível neutro; e, depois, começa a
aventar a possibilidade de ir para
o campo estimulativo. Por en-
quanto ainda estamos na primei-
ra fase, que vai levar o juro real pa-
ra um nível mais baixo”, observa.
Nesse sentido, Pessoa diz que a
Legacy ainda vê a inflação bem
comportada “e gostamos de apli-
car em juros de forma geral, mas
temos receio de que ocorra algum
repique inflacionário”. A Legacy
opta, assim, por posições compra-
das em juros reais de prazo inter-
mediário. “Gostamos de ter posi-
ções no meio da curva porque elas
CRISTIANO MARIZ/AGÊNCIA O GLOBO
há pouca correlação entre o nível
de juros do rotativo e o da Selic. As
taxas do cartão são influenciadas
principalmente pela elevada ina-
dimplência da linha e, de acordo
com os bancos, pelo fato de eles fi-
carem com o risco das operações
de parcelado sem juros oferecidas
pelos varejistas a seus clientes.
“Não é proibir o parcelamento
sem juros, é simplesmente tentar
fazer com que ele fique um pouco
mais disciplinado, numa forma
bem faseada, para não afetar o
consumo”, disse o presidente do
BC. Ele destacou que a inadim-
Crédito
Banco do Brasil
vai seguir
expandindo
em ritmo forte
sua carteira C4
Inclui Legislação & Tributos
não são contaminadas pela infla-
ção corrente”, diz o gestor. Para
ele, o Banco Central deve acelerar
o ritmo de cortes de juros em al-
mente ainda este ano, o que po-
de influenciar a expectativa de
Na visão de Gustavo Brotto, só-
cio e gestor da BlueLine Asset, é
possível que o mercado passe a tra-
balhar com um juro real um pouco
mais baixo, o que leva a gestora a
aumentar a exposição às NTN-Bs,
enquanto fica mais leve em juros
nominais. “Com o ciclo [de cortes
na Selic] começando de uma for-
ma um pouco mais forte, as NTN-
Bs podem ser beneficiadas tanto
pela queda do juro nominal, quan-
to por uma inflação um pouco
mais alta. As próprias projeções de
inflação do BC não estão tão anco-
radas no centro da meta”, observa.
Brotto ainda acredita que o sinal
emitido pela autoridade monetária,
de manutenção do ritmo de cortes
de juros em 0,5 ponto percentual,
foi “bastante contundente”, mas en-
fatiza que existe a possibilidade de
o mercado trabalhar com a ideia de
que reduções de 0,5 ponto seriam
um “piso”. “A sinalização foi muito
forte, mas, obviamente, acabou vi-
rando piso. Voltar para 0,25 ponto
parece muito difícil. O mercado
acaba tendo esse viés de precificar
um pouco mais, por mais que se
acredite que o BC vai manter o rit-
mo de 0,5 ponto para buscar a an-
coragem das expectativas”, diz.
plência no rotativo está em 52%.
“Não tem nenhuma inadimplên-
cia nem parecida em nenhum ou-
tro lugar do mundo, que eu tenha
olhado, no cartão de crédito.”
Para o presidente do BC, o mer-
cado brasileiro é marcado por pe-
culiaridades. Ele reconheceu que
o parcelado sem juros “ajuda
muito a atividade”, mas ponde-
rou que a duração dessas opera-
ções tem aumentado muito. Ho-
je, o prazo médio são 13 parcelas.
“Então, é como se fizessem um fi-
nanciamento de longo prazo sem
juros. A pessoa que toma a deci-
são de dar os juros não é a mesma
que paga pelo risco, isso gera
uma assimetria”, argumentou.
Ele também afirmou que hou-
ve um salto na base de cartões
nos últimos anos, impulsiona-
do por fintechs e varejistas que
passaram a oferecer a modali-
dade. “Saímos de cento e pou-
cos milhões de cartões de cré-
dito para 215 milhões num pe-
ríodo de dois anos e meio, e is-
so é uma alta bastante grande.”
A solução de limitar os juros não
é boa, na visão de Campos, porque
os bancos provavelmente tirariam
cartões de circulação — excluindo
o instrumento das mãos de clien-
tes com perfil mais arriscado. “(...)
Para as pessoas que têm mais risco,
os bancos não ofereceriam aquele
cartão, devido a uma relação de
risco e retorno ineficiente”, ponde-
rou. “O problema de cortar o nú-
mero de cartões é que se sabe co-
mo começa, mas não se sabe co-
mo termina, o que pode gerar um
efeito muito grande na parte de
consumo, na parte de varejo.”
O discurso foi elogiado nos bas-
tidores por integrantes da Fazen-
da, que disseram ter sido pegos de
surpresa com o tom. O BC, segun-
SILVIA COSTANTI / VALOR
Além das questões mais relativas
à condução da política monetária
no curto prazo e em períodos mais
longos, o estrategista-chefe da UBS
Wealth Management no Brasil, Ro-
naldo Patah, aponta que a queda
expressiva do risco Brasil medido
pelo CDS de cinco anos nos últimos
meses, ajuda a explicar o recuo im-
portante nas taxas das NTN-Bs de
longo prazo. Para ele, a melhora na “Ainda estamos na
nota de crédito do país pela Fitch e
a possível elevação do rating pela primeira fase do
agência de risco S&P Global tam-
bém ajudam a compor um cenário
ciclo, que vai levar
otimista para o investimento em o juro real para
juros reais de prazos mais longos.
Assim, Patah mantém recomen- nível mais baixo”
dação “overweight” (de exposição
acima da média de mercado) em Gustavo Pessoa
NTN-Bs com vencimento em 2032.
“O prêmio desses papéis deve con-
tinuar caindo conforme o ciclo do NTN-Bs intermediárias. Com o
BC vai acontecendo e o risco fiscal é ritmo de corte de 0,5 ponto
reduzido. O Brasil vem fazendo re- anunciado, ficou mais fácil de
formas em série e isso atrai fluxo tomar risco nesse mercado.”
estrangeiro”, afirma o estrategis- O gestor da Novus aponta, ain-
ta, que vê chance de a taxa da da, que a troca no comando do
NTN-B para 2032 cair a 4,70%. Banco Central sugere que o próxi-
Para Luiz Eduardo Portella, só- mo colegiado pode ter um com-
cio e gestor da Novus Capital, há portamento de “tomar mais risco”
uma melhora no cenário para e, nesse sentido, as NTN-Bs tam-
posições compradas em NTN-Bs, bém podem servir como proteção
já que o Brasil deve sair de um caso a inflação seja um pouco mais
período de leituras muito baixas alta no médio prazo. “E se o IPCA
de inflação nos próximos meses. acabar vindo abaixo das expectati-
“Se o Copom cortasse 0,25 ponto vas, a curva nominal vai cair, o que
e, a depender do tom do comu- também vai afetar as taxas das
nicado, poderia acabar soando NTN-Bs. É uma forma de estar apli-
uma coisa mais ‘hawkish’ [dura], cado [apostar na queda das taxas]
prejudicando as posições em com maior proteção”, afirma.
do essas fontes, está desde o início mês à modalidade — algo que o se-
ao lado do governo nas discussões tor quer evitar. Campos relatou aos
para encontrar uma solução. Tam- senadores que conversou nestas
bém existe a avaliação de que os semana com o parlamentar.
bancos não estavam engajados na O relator do projeto de lei do
busca de alternativas, o que é con- Desenrola, deputado Alencar San-
testado por eles. Campos indicou tana Braga (PT-SP), afirmou que é
que a solução definitiva deve sair contraditório colocar dinheiro pú-
em até 90 dias, ecoando o que já blico no programa de renegocia-
disseram Haddad e representantes ção sem tratar dos juros do rotati-
das instituições financeiras. vo. Ele disse que, caso uma solução
O secretário-executivo do Mi- não seja encontrada, os juros serão
nistério da Fazenda, Dario Duri- limitados. “A declaração de Cam-
gan, disse em entrevista à Globo- pos Neto mostra que isso é algo
News que é preciso “endereçar” o necessário e tem amplo apoio na
tema e que o fim do rotativo “é opinião pública brasileira.”
uma boa solução”. A pasta, segun- Banqueiros ouvidos pelo Valor
do ele, é contra a ideia de propor se disseram surpreendidos pela fa-
um tabelamento dos juros. “A Fa- la do presidente do BC, já que a dis-
zenda não vê tabelamento de pre- cussão ainda está em andamento.
ço, canetada, como solução para Eles ponderaram que Campos
isso. A solução de não ter o rotati- acertou ao dizer que a eventual im-
vo, ter uma hipótese de parcela- posição de um limite de juros deve
mento, mas não isso ficar rodando vir acompanhada de um mecanis-
e gerando uma dívida impagável mo para desincentivar o parcela-
é sim uma boa saída”, afirmou. mento sem juros de forma longa.
Projeto de lei de autoria do de- (Colaborou Raphael DiCunto)
putado Elmar Nascimento (União-
BA), tenta impor um teto de 8% ao Leia mais na página C2
ULTRAPAR PARTICIPAÇÕES S.A.
Companhia Aberta
CNPJ nº 33.256.439/0001- 39 - NIRE 35.300.109.724
AVISO AOS ACIONISTAS
Distribuição de dividendos
A Ultrapar Participações S.A. comunica que o Conselho de Administração, em
reunião realizada nesta data, aprovou a distribuição de dividendos no montante
de R$ 273.797.993,50, correspondentes a R$ 0,25 por ação ordinária, a serem
pagos a partir de 25 de agosto de 2023, sem remuneração ou atualização mo-
netária.
A data base para o direito ao recebimento do dividendo (“record date”) será 17
de agosto de 2023 no Brasil e 21 de agosto de 2023 nos Estados Unidos. Desta
forma, as ações passarão a ser negociadas “ex-dividendos” a partir de 18 de
agosto de 2023, tanto na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) quanto na Bolsa
de Valores de Nova York (NYSE).
O número de ações utilizado para cálculo do valor por ação já considera a emis-
são de 8.199 ações, conforme deliberação do Conselho de Administração nesta
data.
São Paulo, 09 de agosto de 2023
Rodrigo de Almeida Pizzinatto
Diretor Financeiro e de Relações com Investidores
C2 | Valor
Finanças
Ibovespa
Em pontos
123,000000
121,333333
119,666667
120.216
118.349
118,000000
21/jul/23
Fontes: B3 e Valor PRO. Elaboração: Valor Data
MercadosBolsas de valores perderam força ao longo do pregão; no Brasil, dólar
terminou em queda, refletindo resultado da inflação americana, cotado a R$ 4,88
Risco fiscal nos EUA pressiona ativos
Gabriel Caldeira e Matheus Prado
De São Paulo
Os mercados financeiros glo-
bais voltaram a sentir a piora na
percepção de risco fiscal nos Esta-
dos Unidos, o que alimentou um
salto nos rendimentos dos Trea-
suries na sessão de ontem. Os im-
pactos vistos nos ativos domésti-
cos, porém, foram limitados: os
juros futuros de longo prazo exi-
biram leve alta, enquanto o dólar
se afastou das mínimas contra o
real, mas se manteve em queda.
Os agentes financeiros se assus-
taram com o déficit orçamentário
de US$ 221 bilhões nos EUA em ju-
lho, um resultado que foi bem pior
do que a estimativa de saldo nega-
tivo de US$ 135 bilhões prevista
pelo mercado. A esse número se
somou a incerteza derivada do lei-
lão de US$ 23 bilhões em T-bonds
de 30 anos. Embora a demanda pe-
Bancos indicam que podem
aceitar extinção do rotativo
Álvaro Campos e Mariana Ribeiro
De São Paulo
A declaração do presidente do
Banco Central, Roberto Campos
Neto, sobre um possível fim do
rotativo do cartão de crédito pe-
gou do sistema financeiro de
surpresa por tornar pública
uma discussão que vinha se de-
senrolando nos bastidores.
A solução é vista como uma
das poucas viáveis de se imple-
mentar no curto prazo, e com
menos efeitos colaterais. Com o
fim do rotativo, os bancos terão
uma redução em suas carteiras
de crédito, com impacto na recei-
ta e alguma queda de rentabili-
dade. O efeito, no entanto, é visto
como limitado, e ficaria restrito
aos emissores de cartões. Creden-
ciadoras, bandeiras e mesmo o
varejo não seriam afetados.
Não é que os bancos gostem da
ideia de perder receita, mas exe-
cutivos do setor concordam que
o juro do cartão é um problema
grave e que se arrasta há muitos
anos. A avaliação é que o dano
causado à imagem das institui-
ções financeiras é maior que o
lucro obtido com essa linha.
A possibilidade do fim do ro-
tativo estava entre um conjunto
de alternativas elaboradas por
uma consultoria contratada pe-
los grandes bancos. Esse estudo,
inclusive, foi compartilhado com
Porto registra lucro recorde
no 1 o semestre, de R$ 1,04 bilhão
Sérgio Tauhata
De São Paulo
A Porto, antiga Porto Seguro,
registrou lucro líquido total re-
corde no segundo trimestre. A
linha alcançou R$ 705,6 milhões
com crescimento de 437% frente
ao mesmo período de 2022. No
primeiro semestre, a companhia
obteve ainda, pela primeira vez
em sua história, um lucro líqui-
do de dez dígitos dentro de um
período de seis meses. A com-
panhia lucrou R$ 1,04 bilhão,
entre janeiro e junho de 2023,
com um avanço de 238,8% fren-
te à primeira metade de 2022.
| Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Bolsas internacionais
Variações no dia 10/ago/23 - em %
Dow Jones 0,15
S&P 500 0,03
queda de
Euronext 100
0,05%
1,12
DAX 0,91
CAC-40 1,52
Nikkei-225 0,84
10/ago
SSE Composite 0,31
Sem alívio
Taxa da T-note de 10 anos - em %
4,4
4,2
4,0
3,746
3,8
3,6
3,4
3,307
3,2
02/01/ 06/04/
2023 2023
Fonte: Tullett Prebon
los papéis tenha ficado ligeira-
mente acima da média, o fato de a
participação dos investidores es-
trangeiros ter ficado abaixo das úl-
timas vendas acionou um sinal de
alerta no mercado de Treasuries.
A taxa da T-note de dez anos su-
biu a 4,110%, enquanto o retorno
governo e parlamentares para
mostrar os impactos de diferen-
tes medidas. A ideia era explicar
que um eventual teto de juros —
a saída mais temida pelo setor fi-
nanceiro — teria efeitos catastró-
ficos sobre o consumo. Nesse ba-
talha, os bancos foram buscar o
auxílio do setor varejista para o
convencimento das autoridades.
Em nota após a fala de Campos
Neto, a Febraban afirmou que é ne-
cessário diluir os riscos entre os
elos da cadeia de cartão de crédito,
hoje concentrados nos bancos. E
que o cartão deve ser mantido co-
mo relevante instrumento para o
consumo. “Da mesma forma, deve
haver o reequilíbrio da grande dis-
torção que só o Brasil tem, com
75% das compras feitas com parce-
lado sem juros. Com base nessas
premissas, a Febraban busca uma
solução construtiva que passe por
uma transição sem rupturas, que
pode incluir o fim do crédito rota-
tivo e um redesenho das compras
parceladas no cartão”, disse.
A Associação Brasileira de Ban-
cos (ABBC), que reúne instituições
de médio porte, disse que é preciso
um amplo debate para possibilitar
as melhores condições estruturais
para o mercado de crédito. “Um te-
to de juros poderá implicar desdo-
bramentos extremamente contra-
producentes, tais como a com-
plexificação de entrada de novos
players no mercado, a diminui-
O lucro líquido recorrente, que
desconsidera a contribuição de
R$ 35,6 milhões da “joint ventu-
re” com a Oncoclínicas, alcançou
R$ 670 milhões no segundo tri-
mestre, com alta anual de 409,9%.
No semestre, o lucro líquido re-
corrente atingiu R$ 1 bilhão, o
que representa avanço de 227,2%
ante a primeira metade de 2022.
A receita total cresceu 17,6%
no segundo trimestre frente ao
mesmo período de 2022, para
R$ 7,57 bilhões. O número de
clientes aumentou em 500 mil
em relação ao mesmo período
do ano anterior, atingindo 12,7
milhões, em todas as verticais.
Juros
DI-Over futuro - em % ao ano
Jan/2025 Jan/2026
10,73
10,17
21/jul/23
do T-bond de 30 anos avançou pa-
ra 4,255%. E, em um contexto de ju-
ros americanos mais altos no lon-
go prazo, o dólar voltou a ganhar
4,110
força ao longo da tarde de ontem e
o índice DXY, que mede o desem-
penho da moeda americana con-
tra uma cesta de outras seis divisas
de mercados desenvolvidos, subiu
0,13%, para 102,63 pontos.
No mercado local, o dólar se
afastou da mínima do dia, na ca-
sa de R$ 4,84, para fechar em
10/08/
queda de 0,45%, a R$ 4,8821. Já a
2023 taxa do DI para janeiro de 2025
caiu de 10,425% para 10,385%,
mas a do DI para janeiro de
2031 subiu de 10,79% a 10,84%.
O estrategista-chefe de juros do
banco canadense BMO Capital
Markets, Ian Lyngen, aponta que
nem mesmo a inflação ao consu-
midor nos EUA e os dados de mer-
cado de trabalho mais comporta-
dos evitaram que preocupações re-
ção do acesso ao crédito e a redu-
ção da inclusão financeira.”
O diretor-presidente da Asso-
ciação Brasileira das Empresas de
Cartões de Crédito e Serviços
(Abecs), Giancarlo Greco, comen-
tou — antes da fala de Campos —
que as discussões sobre eventuais
mudanças no rotativo do cartão
permanecem e que, nas próxi-
mas semanas, “devem se desen-
volver com mais força”. A Zetta,
que representa grandes fintechs,
afirmou apenas que acompanha
de perto as discussões e vai con-
tribuir para o debate técnico.
Segundo o Valor apurou, o fim
do rotativo teria impactos diferen-
tes para cada instituição financei-
ra. A lógica é que bancos com
clientes de renda mais baixa, que
usam mais o rotativo, seriam mais
afetados. De qualquer forma, não
seria nada tão substancial que faça
alguma instituição lutar contra es-
sa alternativa. “Não tem como
agradar todo mundo, e essa solu-
ção é vista como o menor dos ma-
les”, comenta uma fonte com co-
nhecimento das discussões.
Um alto executivo de banco diz
que o rotativo existe em diversos
países e que simplesmente extin-
gui-lo não resolve o problema es-
trutural da indústria de cartões, in-
cluindo o famoso parcelado sem
juros. “Se for por esse caminho, te-
remos uma mudança artificial”,
afirma, em tom algo resignado.
Na vertical seguros, os prêmios
trimestrais cresceram 14% na
comparação anual, para R$ 5 bi-
lhões. No ramo auto, o principal
da companhia, os prêmios emiti-
dos aumentaram 11,5% no tri-
mestre, para R$ 3,7 bilhões. O ín-
dice combinado da vertical segu-
ros, que indica a relação entre re-
ceitas e despesas, atingiu 85,1%,
com melhora de 14,4 pontos per-
centuais frente ao segundo tri-
mestre de 2022. Segundo a Por-
to, “o resultado reflete a redu-
ção na sinistralidade do auto”.
Já o resultado financeiro su-
biu 161,8%, atingindo R$ 330,9
milhões no segundo trimestre.
Dólar comercial
Cotação de venda - em R$/US$
10,65 10,39
10,10
4,7805
9,85
1/ago 10/ago 21/jul/23
novadas com o tamanho crescente
dos leilões de Treasuries “restabele-
cessem a incorporação de prêmios
na curva”. Lyngen, inclusive, acre-
dita que a pressão por prêmios adi-
cionais nos juros longos nos EUA
“está em conformidade” com a pio-
ra na percepção de risco fiscal.
Entre os pontos que chamaram
atenção no leilão, as ofertas indire-
tas, que representam a demanda
de estrangeiros, ficaram com
67,8% do total ofertado, um nível
inferior à média dos últimos seis
leilões (69,3%). Além disso, os dea-
lers tomaram o maior montante
desde fevereiro (9,5% do total), o
que ajudou a azedar o humor. As
bolsas devolveram boa parte dos
ganhos do dia: o índice Dow Jones
subiu 0,15%; o S&P 500 teve alta de
0,03%; e o Nasdaq avançou 0,12%.
Movimento semelhante foi visto
no mercado doméstico, onde o
Ibovespa terminou a sessão em
. sitivo em R$ 102,8 milhões refle-
Greco, da Abecs: abril a junho foi desafiador para os setores de comércio e serviços
Abecs reduz previsão de
crescimento em cartões
Mariana Ribeiro
De São Paulo
Após um primeiro semestre
considerado desafiador, a Asso-
ciação Brasileira das Empresas de
Cartões de Crédito e Serviços
(Abecs) revisou sua previsão para
o crescimento do setor em 2023.
A entidade estima agora que o
volume total transacionado com
cartões de crédito, débito e pré-
pagos no ano suba de 9% a 11%,
para algo entre R$ R$ 3,61 tri-
lhões e R$ 3,67 trilhões. Antes, a
expectativa era de uma alta de
14% a 18%. A desaceleração será
grande em relação a 2022, quan-
do a indústria cresceu 24,6%.
“A revisão é significativa, mas
representa o que vimos de desa-
fios na primeira metade do ano,
principalmente no segundo tri-
mestre”, disse o diretor-presidente
da Abecs, Giancarlo Greco, que é
também CEO da Elo, durante
apresentação do balanço da in-
dústria. Ele afirmou que o período
de abril a junho foi desafiador pa-
ra os setores de comércio e servi-
ços, o que se refletiu no mercado
de pagamentos. Acrescentou, no
entanto, que há otimismo em re-
lação à segunda metade do ano.
O volume transacionado com
cartões totalizou R$ 877,7 bilhões
no segundo trimestre, um cresci-
mento de 5,2% na comparação
com igual período do ano ante-
rior, dando continuidade a um
movimento de desaceleração que
vem sendo observado no setor.
Do total transacionado, R$ 565,4
bilhões se referem a cartões de
crédito (alta de 7,3%). O débito to-
Índice de Renda Fixa Valor
Base = 100 em 31/12/99
queda de
4,8821
0,45%
em relação
ao real
10/ago
queda de 0,05%, aos 118.350 pon-
tos. Em relatório, o J.P. Morgan nota
que o mercado brasileiro caiu em
todas as sessões desde que o Co-
pom cortou a Selic em 0,5 ponto
percentual, o que pode ser atribuí-
do aos resgates estrangeiros, que já
ultrapassam os R$ 5,5 bilhões em
agosto. Segundo a equipe de estra-
tegistas do banco, a boa notícia é
que osresgatesa fundosde açõesfi-
nalmente parecem ter secado.
“O cenário brasileiro melhorou
nos últimos meses: a inflação caiu,
o crescimento aumentou, a Câma-
ra dos Deputados aprovou a refor-
ma tributária e, mais importante, o
Banco Central iniciou o ciclo de
flexibilização. Isso seria motivo su-
ficiente para aumentar os fluxos,
mas ainda não vimos isso se mate-
rializando. Há, então, um grande
debate sobre quem será o compra-
dor”, escrevem. (Colaboraram Ar-
thur Cagliari e Gabriel Roca)
SILVIA ZAMBONI/VALOR
talizou R$ 237,1 bilhões (redução
de 6,1%) e os pré-pagos, R$ 75,2
bilhões (crescimento de 37,2%).
Greco comentou que o débito
tem sido afetado pelo Pix e tam-
bém pelo maior uso do cartão de
crédito. A Abecs vem conduzindo
um trabalho junto à indústria para
aumentar o uso do débito espe-
cialmente no e-commerce, onde a
modalidade nunca foi bem aceita.
Há discussões em andamento, por
exemplo, sobre o “Click to Pay”,
carteira digital capitaneada pelas
bandeiras, e sobre a compensação
de pagamentos no mesmo dia.
O número total de transações
atingiu 10,2 bilhões no período,
alta anual de 4,5%. No crédito,
houve queda de 5,7% em quanti-
dade. Já no débito, apesar da
queda de volume, o número de
operações subiu 3,2%, o que, na
visão da entidade, sugere a utili-
zação do instrumento para com-
pras de tíquete médio menor. No
pré-pago, houve alta de 43,1%.
No ano até junho, os pagamen-
tos por aproximação voltaram a
crescer, ao somarem R$ 414,8 bi-
lhões, crescimento de 76,1% sobre
o mesmo período do ano passado.
O número de transações ficou em
7,6 bilhões, aumento de 64,4%. Em
junho, 48,4% das transações pre-
senciais com cartão foram por
aproximação e a expectativa da
Abecs é que esse patamar chegue a
56%. Segundo a entidade, 54% dos
consumidores brasileiros costu-
mam fazer pagamentos por apro-
ximação. Já os pagamentos via car-
tão em compras não presenciais
somaram R$ 372,2 bilhões no pri-
meiro semestre, uma alta de 10%.
1.976,61
1.964,86
1.956,61
21/jul/23 1/ago 10/ago
Lucro da
B3 cai a
R$ 1,05 bi
no 2 o tri
Rita Azevedo
De São Paulo
O lucro da B3 teve queda de
3,6% no 2 o trimestre, na compa-
ração anual, chegando a R$ 1,05
bilhão. A receita líquida foi de
R$ 2,47 bilhões, praticamente em
linha com a registrada um ano
antes. Houve queda de cerca de
6% na receita do segmento lista-
do — que representa a maior
parte do faturamento. Essa re-
dução foi parcialmente com-
pensada por outras áreas, como
tecnologia, dados e serviços.
As despesas da B3, que tinham
caído no primeiro trimestre,
voltaram a subir no segundo, re-
fletindo os efeitos da consolida-
ção da Neurotech. No total, so-
maram R$ 859 milhões, valor 2%
maior que um ano antes.
O resultado financeiro foi po-
tindo a queda de 13% nas despe-
sas financeiras no período.
O lucro antes de juros, impos-
tos, depreciação e amortização
(Ebitda, em inglês) somou
R$ 1,64 bilhão, 1,5% abaixo de um
ano antes. Em termos recorren-
tes, caiu 2,2%, a R$ 1,63 bilhão.
BR Partners
registra ganho
de R$ 38,7 mi
no trimestre
De São Paulo
O BR Partners teve lucro líqui-
do de R$ 38,7 milhões no segun-
do trimestre, o que representa al-
ta de 16,8% em relação ao trimes-
tre anterior e queda de 3,5% na
comparação com igual período
do ano passado. A receita ficou
em R$ 103,1 milhões, aumento
trimestral de 1,6% e redução
anual de 6%. O CFO do BR Part-
ners, Marcelo Costa, afirma que o
banco conseguiu entregar uma
boa performance, com cresci-
mento de receitas nas princi-
pais linhas de negócios em um
momento de melhora no mer-
cado de capitais. A instituição
espera continuidade desse mo-
vimento no segundo semestre.
Em mercado de capitais (onde
estão as emissões de dívida), a
receita no segundo trimestre foi
de R$ 30 milhões, alta trimestral
de 24,5% e anual de 13,9%. Fo-
ram 17 transações realizadas
no semestre na área, das quais
11 ocorreram a partir de abril.
Na área de banco de investi-
mento (onde estão as operações
de fusão e aquisição), a receita fi-
cou em R$ 35,2 milhões, avanço
de 12,6% no trimestre e queda de
20,5% em 12 meses. Costa explica
que, apesar do período mais fra-
co para M&As, o banco vem se
destacando na atividade de rees-
truturação financeira. O BR Part-
ners participa de reestruturações
como da Light, CVC e Marisa.
Em “treasury sales & structu-
ring” (área que abarca soluções de
tesouraria para clientes), a receita
foi de R$ 16,6 milhões, alta tri-
mestral de 41,3% e queda anual
de 13,5%. O CFO observa que o
banco vem aumentando a base de
clientes e diversificando receitas
na área. Assim, a instituição espe-
ra que essa linha “mude de pata-
mar” nos próximos trimestres. O
retorno ajustado sobre o patrimô-
nio (ROAE) foi de 19,4%. (MR)
 Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | C3

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LPS São Paulo Consultoria de Imóveis Ltda., CNPJ 15.673.605/0001-10, CRECI/SP J-24073 Mitre Vendas Corretagem de Imóveis Ltda., CNPJ 21.677.690/0001-98,
Creci J-26794. *A responsabilidade pela prestação dos serviços acima relacionados será da administradora contratada para operar o empreendimento e/ou de
prestadores de serviços indicados pelo concierge. Caso haja interesse da administradora contratada, ela poderá utilizar o aplicativo Mitre Experience para realizar os
agendamentos dos serviços. Conforme previsto na Convenção Condominial, existirão serviços obrigatórios e serviços pay-per-use fornecidos por terceiros (on demand).
C4 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Finanças

Estratégia Banco vê cenário macro mais positivo e afirma que a inadimplência está controlada

BB manterá expansão da carteira de crédito

WENDERSON ARAUJO/VALOR
Álvaro Campos “Posso terminar na ponta alta sua história, em 28,3%, e que o posição à varejista no primeiro tri-
De São Paulo do guidance de carteira ou até retorno sobre o patrimônio mestre e agora subiu para 70%.”
extrapolar? Posso, mas preferi- (ROE) também foi recorde, de Outro fator de otimismo no BB é
A administração do Banco do mos ser conservadores nas esti- 21,3%. “Se continuarmos cres- com o Desenrola, programa de re-
Brasil garantiu que tem capital e mativas”, afirmou Tobias. cendo a carteira, cuidando do negociação de dívidas do governo.
que a qualidade de crédito está A presidente do BB, Tarciana risco e mantendo o controle das Segundo Tarciana, o banco buscou
sob controle, o que permite à ins- Medeiros, afirmou que a institui- despesas, teremos condições de incluir clientes que não estariam
tituição seguir expandindo em ção vai continuar crescendo sua entregar resultados crescentes. É beneficiados no Desenrola, como
ritmo forte sua carteira. Um au- carteira de crédito de forma sus- claro que devemos estar atentos MPE e pessoa física de renda mais
mento nas provisões chegou a tentável. “A oferta de crédito cres- a condições de mercado e variá- alta, e por isso está mais animado
acender um sinal de alerta entre ceu mais de 13% este ano, acompa- veis que podem vir a impactar a do que os pares privados. “É cedo
alguns analistas, mas o banco ex- nhada da gestão adequada do ris- rentabilidade, mas não preve- ainda pra falar qual será o impacto
plicou que há alguns fatores ex- co.” Segundo ela, o banco ainda mos nenhum efeito expressivo.” do Desenrola nos nossos resulta-
traordinários e que a melhora no tem muito espaço para crescer em Tarciana ressaltou que o gover- dos, mas devemos ter noção maior
cenário macroeconômico, in- consignado, incluindo no INSS, no Lula fez muita coisa em pouco nos próximos 30 dias”, comentou.
cluindo a queda de juros, deve onde ainda não atingiu o que seria tempo e conseguiu inclusive “O BB enfatizou que, apesar do
contribuir para continuar regis- a fatia justa, e no consignado pri- uma elevação do rating sobera- aumento do custo do risco, espera
trando uma margem financeira vado, que teve expansão de 100%, no. “Iniciamos o segundo semes- mais do que compensar o impacto
robusta, inclusive em 2024. mas ainda é pequeno. Ela também tre com uma série de sinais con- com margens ajustadas ao risco
Em conversas com jornalistas e citou financiamento automotivo. cretos para mudanças estrutu- mais altas, levando a retornos con-
analistas ontem, o vice-presidente Tobias apontou ainda que, em rais na economia”, comentou. sistentes contínuos, mesmo no ciclo
financeiro do BB, Geovanne To- função do crescimento forte do Felipe Prince, vice-presidente de de flexibilização monetária”, diz o
bias, afirmou que, dada sua base agronegócio, o banco revisou o gestão de riscos, afirmou que a ina- Citi. “Embora sintamos que o BB es-
de capital, o banco é o melhor po- guidance dessa linha para cima dimplência deve se estabilizar nos tá chegando perto do pico de lucro,
sicionado para o crescimento. No (de 11% a 15% para 14% a 18%). Na próximos trimestres, com possível é difícil sermos ‘críticos’ sobre um
primeiro semestre, a carteira cres- Safra 2023/2024, o BB já alcançou queda em pessoa física e um pou- banco que oferece ROE acima de
ceu 15,3% ante igual período do um volume recorde da ordem de co mais de desafio em empresas. 20% e é negociado a múltiplo baixo.
ano anterior, bem acima de San- R$ 21 bilhões no mês de julho, re- “Dependendo da recuperação de Com o segundo trimestre para trás,
tander (6,5%), Itaú (6,3%) e Bra- presentando crescimento de 11% uma grande empresa [America- um ambiente ainda saudável para o
desco (1,6%). E o banco elevou o em relação a julho de 2022. nas], pode haver novo impacto na crescimento da receita e a recente
“guidance” para este ano na faixa Ele ressaltou que o BB teve o inadimplência”, adiantou. O BB já correção da ação, estamos ficando
de 9% a 13%, de 8% a 12% antes. Tarciana Medeiros: banco ainda tem muito espaço para crescer em consignado melhor índice de eficiência da tinha provisionado 50% de sua ex- mais otimistas”, aponta o BTG.

Finanças Indicadores

IMA - Índices de Mercado Anbima Custo do dinheiro TR, Poupança e TBF Índice de Renda Fixa Valor
Em 10/08/23 Em % no período Variações % no período Base = 100 em 31/12/99
Valor Var. no Var. no Var. no Há No fim de Há Há Período TR Poupança * Poupança ** TBF 10/08/23 09/08/23 08/08/23 07/08/23 04/08/23 03/08/23
Índice Referência do índice dia % mês % ano % Taxas referenciais 10/08/23 09/08/23 1 semana julho 1 mês 12 meses 24/07 a 24/08 0,2200 0,7211 0,7211 1,0618 Índice 1.976,61 1.974,98 1.974,57 1.970,57 1.971,22 1.969,64
IRF-M 1* 14.540,8840610 0,06 0,45 8,30 Selic - meta ao ano 13,25 13,25 13,25 13,75 13,75 13,75 25/07 a 25/08 0,2176 0,7187 0,7187 1,0594 Var. no dia 0,08% 0,02% 0,20% -0,03% 0,08% 0,16%
IRF-M 1+** 19.015,2472920 0,08 0,61 13,01 Selic - taxa over ao ano 13,15 13,15 13,15 13,65 13,65 13,65 26/07 a 26/08 0,2159 0,7170 0,7170 1,0577 Var. no mês 0,60% 0,52% 0,50% 0,29% 0,33% 0,25%
IRF-M Total 17.127,0458780 0,08 0,56 11,21 Selic - taxa over ao mês 1,4711 1,4711 1,4711 1,5236 1,5236 1,5236 27/07 a 27/08 0,1896 0,6905 0,6905 1,0112 Var. no ano 10,41% 10,32% 10,29% 10,07% 10,11% 10,02%
IMA-B 5*** 8.718,6554530 0,08 0,76 8,90 Selic - taxa efetiva ao ano 13,19 13,19 13,19 13,65 13,65 13,58 28/07 a 28/08 0,1549 0,6557 0,6557 0,9662 Fonte: Valor PRO. Elaboração: Valor Data
IMA-B 5+**** 11.401,5302750 0,17 1,25 17,19 Selic - taxa efetiva ao mês 1,1375 1,1375 1,1375 1,0720 1,0720 1,1694 29/07 a 29/08 0,1529 0,7171 0,7171 0,9641
IMA-B Total 9.682,0687590 0,13 1,03 13,42 CDI - taxa over ao ano 13,15 13,15 13,15 13,65 13,65 13,65 30/07 a 30/08 0,1886 0,7171 0,7171 1,0101
IMA-S Total 6.107,6732570 0,05 0,43 8,24 CDI - taxa over ao mês 1,4711 1,4711 1,4711 1,5236 1,5236 1,5236 31/07 a 31/08 0,2144 0,7171 0,7171 1,0562
IMA-Geral Total 7.645,8083820 0,08 0,65 10,41
Fonte: Anbima. Elaboração: Valor Data. * Prazo menor ou igual a 1 ano ** Prazo maior que 1 ano *** Prazo menor ou igual a 5 anos **** Prazo
CDI - taxa efetiva ao ano 13,19 13,19 13,19 13,65 13,65 13,58 01/08 a 01/09
02/08 a 02/09
0,2160
0,2168
0,7171
0,7179
0,7171
0,7179
1,0578
1,0586
Câmbio
CDI - taxa efetiva ao mês 1,1375 1,1375 1,1375 1,0720 1,0720 1,1694
maior que 5 anos 03/08 a 03/09 0,1795 0,6804 0,6804 1,0010
CDB Pré - taxa bruta ao ano - - - - - 12,91
04/08 a 04/09 0,1508 0,6516 0,6516 0,9620 Em 10/08/23
CDB Pré - taxa bruta ao mês - - - - - 1,0171 Em US$ * Em R$ **
05/08 a 05/09 0,1451 0,6458 0,6458 0,9563
CDB Pós - taxa bruta ao ano - - - - - 12,29 Moeda Compra Venda Compra Venda
Crédito CDB Pós - taxa bruta ao mês - - - - - 0,9705
06/08 a 06/09
07/08 a 07/09
0,1806
0,2062
0,6815
0,7072
0,6815
0,7072
1,0021
1,0479 Baht (Tailândia) 35,0700 35,0900 0,13830 0,13830
Taxa de juros de referência - B3 08/08 a 08/09 0,1796 0,6805 0,6805 1,0011 Balboa (Panamá) 1,0000 1,0000 4,8512 4,8518
Taxas - em % no período TJ3 - 3 meses (em % ao ano) 12,81 12,85 12,90 13,02 13,31 13,70 09/08 a 09/09 0,1796 0,6805 0,6805 1,0011 Bolívar Soberano (Venezuela) 31,1595 31,2376 0,1553000 0,1557000
Há 1 No fim de Há 1 Há 12 TJ6 - 6 meses (em % ao ano) 12,15 12,21 12,22 12,39 12,78 13,73 Boliviano (Bolívia) 6,8500 7,0000 0,6930 0,7083
Fonte:BancoCentral.Elaboração:ValorData.*Depósitosaté03/05/12**Depósitos
Linhas - pessoa jurídica 27/07 26/07 semana junho mês meses Taxas referenciais de Swap - B3 Colon (Costa Rica) 533,2500 537,0000 0,009034 0,009099
a partir de 04/05/12; Lei nº 12.703/2012
Capital de giro pré até 365 dias - a.a. 35,45 34,25 33,09 30,41 29,94 29,16 DI x Pré-30 - taxa efetiva ao ano 13,11 13,11 13,14 13,29 13,56 13,66 Coroa (Dinamarca) 6,7642 6,7647 0,7171 0,7173
Capital de giro pré sup. 365 dias - a.a. 24,74 25,14 25,97 24,72 25,09 27,77 DI x Pré-60 - taxa efetiva ao ano 12,99 13,00 13,06 13,18 13,44 13,68 Coroa (Islândia) 131,0200 131,3200 0,03694 0,03703
Conta garantida pré - a.a.
Desconto de duplicata pré - a.a.
46,37
26,79
48,03
25,73
50,61
26,58
52,07
26,69
50,39
26,32
45,12
25,73
DI x Pré-90 - taxa efetiva ao ano 12,83 12,85 12,91 13,03 13,32 13,70 B3 - Brasil, Bolsa, Balcão Coroa (Noruega)
Coroa (Rep. Tcheca)
10,2289
21,9820
10,2320
21,9920
0,4741
0,2206
0,4743
0,2207
DI x Pré-120 - taxa efetiva ao ano 12,58 12,62 12,67 12,82 13,18 13,71
Vendor pré - a.a. 18,00 18,54 18,01 19,43 19,07 18,08 Coroa (Suécia) 10,6356 10,6388 0,4560 0,4562
Capital de giro flut. até 365 dias - a.a. 18,30 18,28 18,93 20,79 19,80 20,71
DI x Pré-180 - taxa efetiva ao ano 12,20 12,23 12,26 12,40 12,80 13,74 Índices de ações em 10/08/23 Dinar (Argélia) 134,9290 136,2780 0,03560 0,03596
Capital de giro flut. sup. 365 dias - a.a. 19,06 18,95 18,30 18,81 18,13 21,86 DI x Pré-360 - taxa efetiva ao ano 11,04 11,09 11,10 11,26 11,64 13,47
No No No Em 12 Dinar (Kuwait) 0,3075 0,3076 15,7711 15,7782
Conta garantida pós - a.a. 26,64 26,59 26,61 26,68 27,31 27,03 Fontes: Banco Central, B3 e Valor PRO. Elaboração: Valor Data
Índice dia mês ano meses Dinar (Líbia) 4,7842 4,8082 1,0089 1,0141
ACC pós - a.a. 8,97 9,04 8,41 8,32 8,80 5,79 Direitos Especiais de Saque *** 1,3394 1,3394 6,4977 6,4985
Factoring - a.m. 3,47 3,48 3,51 3,56 3,61 3,71 Variação % em reais
Dirham (Emirados Árabes Unidos) 3,6729 3,6731 1,3207 1,3210
Fontes: Banco Central, Anfac e Valor PRO. Elaboração: Valor Data Mercado futuro Ibovespa 118.349 -0,05 -2,95 7,85 7,36 Dirham (Marrocos) 9,7870 9,7920 0,4954 0,4957
IBrX 49.807 -0,05 -2,84 7,01 5,98 Dólar (Austrália)*** 0,6554 0,6559 3,1795 3,1823
Em 10/08/23 IBrX 50 19.529 -0,10 -3,03 5,54 6,14 Dólar (Bahamas) 1,0000 1,0000 4,8512 4,8518
Juros externos PU de Taxa efetiva - Contratos Cotação - em % ao ano
IEE
SMLL
87.411
2.325
0,13
0,13
-3,14
-0,90
11,10
15,75
3,97
4,31
Dólar (Belize) 1,9982 2,0332 2,3860 2,4281
DI de 1 dia ajuste em % ao ano negociados Mínimo Máximo Último Dólar (Canadá) 1,3401 1,3405 3,6189 3,6205
ISE 3.567 0,39 -1,98 12,98 -0,14 Dólar (Cayman) 0,8250 0,8350 5,8098 5,8810
Empréstimos - em % ao ano Vencimento em set/23 99.218,61 13,151 22.362 13,150 13,154 13,154 IMOB 979 -0,33 1,63 48,55 28,83 Dólar (Cingapura) 1,3469 1,3474 3,6004 3,6022
Há 1 No fim de Há 1 Há 12 Vencimento em out/23 98.263,60 13,045 209.858 13,040 13,046 13,040 IDIV 7.825 0,08 -2,69 9,39 9,02 Dólar (EUA) 1,0000 1,0000 4,8512 4,8518
10/08/23 09/08/23 semana julho mês meses Vencimento em nov/23 97.295,63 12,886 1.420 12,884 12,888 12,884 Dólar (Hong Kong) 7,8184 7,8186 0,6205 0,6206
IFIX 3.213 0,03 0,50 12,07 13,42
SOFR - empréstimos interbancários em dólar * Vencimento em dez/23 96.426,58 12,647 41.352 12,645 12,660 12,645 Dólar (Nova Zelândia)*** 0,6059 0,6063 2,9393 2,9416
Atual - 5,3000 5,3000 5,3100 5,0600 2,2800 Vencimento em jan/24 95.589,77 12,432 1.006.019 12,420 12,460 12,430 Variação % em dólares Dólar (Trinidad e Tobago) 6,7493 6,8260 0,7107 0,7189
1 mês - 5,1725 5,1243 5,1015 5,0676 1,8580 Vencimento em fev/24 94.696,07 12,233 2.368 12,225 12,250 12,245 Ibovespa 24.393 0,97 -5,15 15,98 11,74 Euro (Comunidade Européia)*** 1,1014 1,1018 5,3431 5,3457
3 meses - 5,1238 5,1076 5,0937 5,0258 1,3362 Vencimento em mar/24 93.970,16 12,027 12.996 12,020 12,035 12,020 IBrX 10.266 0,97 -5,05 15,08 10,30 Florim (Antilhas Holandesas) 1,7845 1,8200 2,6655 2,7189
6 meses - 4,9622 4,9366 4,9223 4,8311 0,7865
Vencimento em abr/24 93.228,74 11,832 222.201 11,815 11,870 11,835 IBrX 50 4.025 0,93 -5,23 13,50 10,47 Franco (Suíça) 0,8736 0,8737 5,5525 5,5538
€STR - empréstimos interbancários em euro **
Vencimento em mai/24 92.438,76 11,636 985 11,630 11,645 11,630 IEE 18.016 1,15 -5,35 19,48 8,21 Guarani (Paraguai) 7263,6400 7268,9500 0,0006674 0,0006680
Atual - 3,6490 3,6530 3,3920 3,4040 -0,0860
Vencimento em jun/24 91.725,15 11,437 1.445 11,420 11,440 11,440 SMLL 479 1,15 -3,15 24,46 8,56 Hryvnia (Ucrânia) 36,5600 36,9300 0,1314 0,1327
1 mês - 3,4610 3,4156 3,4075 3,3099 -0,3716
Vencimento em jul/24 91.075,69 11,248 167.463 11,230 11,295 11,250 ISE 735 1,42 -4,21 21,47 3,93 Iene (Japão) 144,3800 144,4100 0,03359 0,03360
3 meses - 3,3131 3,2633 3,2370 3,1359 -0,5069
IMOB 202 0,72 -0,65 59,76 34,07 Lev (Bulgária) 1,7750 1,7759 2,7317 2,7334
6 meses - 3,0114 2,9552 2,9286 2,7605 -0,5425 Ajuste Var. no Contratos Cotação - R$/US$ 1.000,00
1 ano - 2,0327 1,9700 1,9290 1,7232 -0,5569 IDIV 1.613 1,10 -4,90 17,64 13,48 Libra (Egito) 30,8500 30,9500 0,1567 0,1573
Dólar comercial do dia dia em % negociados Mínimo Máximo Último
Euribor *** IFIX 662 1,06 -1,78 20,52 18,08 Libra (Líbano) 15000,0000 15020,0000 0,000323 0,000324
Vencimento em set/23 4.888,24 -0,74 221.105 4.860,00 4.915,00 4.914,50 Libra (Síria) 13005,0000 13205,0000 0,00037 0,00037
1 mês - 3,625 3,609 3,578 3,456 -0,025 Vencimento em out/23 4.909,45 -0,74 300 4.926,00 4.926,00 4.926,00 Fontes: B3, Banco Central e Valor PRO. Elaboração: Valor Data
3 meses - 3,759 3,722 3,715 3,672 0,325 Libra Esterlina (Grã Bretanha)*** 1,2722 1,2726 6,1717 6,1744
Vencimento em nov/23 4.931,04 - 0 0,00 0,00 0,00 Naira (Nigéria) 767,7700 770,7700 0,00629 0,00632
6 meses - 3,927 3,937 3,929 3,940 0,774
Vencimento em dez/23 4.947,49 - 0 0,00 0,00 0,00 Lira (Turquia) 27,0357 27,0427 0,1794 0,1795
1 ano -
Taxas referenciais no mercado norte-americano
4,053 4,052 4,064 4,184 1,152
Vencimento em jan/24 4.961,92 - 0 0,00 0,00 0,00 Prêmio de risco do EMBI+* Novo Dólar (Taiwan) 31,7820 31,7920 0,15260 0,15270
Prime Rate 8,50 8,50 8,50 8,50 8,25 5,50 Ajuste Var. no Contratos Cotação - R$/€ 1.000,00 Novo Sol (Peru) 3,6767 3,6776 1,3191 1,3196
Federal Funds 5,50 5,50 5,50 5,50 5,25 2,50 Euro do dia dia em % negociados Mínimo Máximo Último Spread em pontos base ** Peso (Argentina) 286,2000 286,2500 0,01695 0,01695
Taxa de Desconto 5,50 5,50 5,50 5,50 5,25 2,50 País Spread Variação - em pontos Peso (Chile) 851,2000 852,2000 0,005693 0,005700
Vencimento em set/23 5.376,80 -0,62 20 5.378,50 5.382,00 5.378,50 Peso (Colômbia) 3951,0100 3957,0100 0,001226 0,001228
T-Bill (1 mês) 5,36 5,36 5,35 5,37 5,27 2,18 Vencimento em out/23 5.408,45 - 0 0,00 0,00 0,00 10/08/23 09/08/23 No dia No mês No ano
T-Bill (3 meses) 5,43 5,45 5,41 5,41 5,41 2,59 Geral 361 372 -11,0 1,0 -14,0 Peso (Cuba) 24,0000 24,0000 0,2021 0,2022
Vencimento em nov/23 5.439,84 - 0 0,00 0,00 0,00 Peso (Filipinas) 56,0910 56,1110 0,08646 0,08650
T-Bill (6 meses) 5,49 5,51 5,48 5,51 5,51 3,06 África do Sul 376 390 -14,0 3,0 -17,0
T-Note (2 anos) 4,84 4,81 4,89 4,88 4,88 3,20 Ajuste Var. no Contratos Cotação - pontos do índice Argentina 1.906 1.948 -42,0 -76,0 -290,0 Peso (México) 16,9389 16,9494 0,2862 0,2864
T-Note (5 anos) 4,23 4,14 4,29 4,18 4,24 2,92 Ibovespa do dia dia em % negociados Mínimo Máximo Último Brasil 207 216 -9,0 8,0 -49,0 Peso (Rep. Dominicana) 56,5100 56,9900 0,08512 0,08586
T-Note (10 anos) 4,11 4,01 4,18 3,96 3,98 2,78 Vencimento em ago/23 118.476 -0,13 148.160 118.100 119.695 118.100 Colômbia 301 310 -9,0 -3,0 -59,0 Peso (Uruguai) 37,9500 37,9800 0,12770 0,12780
T-Bond (30 anos) 4,26 4,17 4,29 4,01 4,01 3,03 Vencimento em out/23 120.784 -0,12 285 120.650 121.785 120.650 Filipinas 72 83 -11,0 -7,0 -3,0 Rande (África do Sul) 18,7216 18,7278 0,2590 0,2592
Fontes: ECB, EMMI, FRBNY e Valor PRO. Elaboração: Valor Data * Taxa baseada em transações de empréstimos overnight garantidos por títulos do México 167 172 -5,0 0,0 -36,0 Rial (Arábia Saudita) 3,7518 3,7520 1,2930 1,2932
Vencimento em dez/23 122.720 - 0 0 0 0 Peru 115 121 -6,0 -2,0 -32,0
Tesouro EUA. ** A taxa reflete os custos de empréstimos overnight sem garantia. ***Taxas da BBA e da Federação Bancária da União Europeia Rial (Irã) 42000,0000 42005,0000 0,0001155 0,0001155
Fontes: B3 e Valor PRO. Elaboração: Valor Data Turquia 359 374 -15,0 6,0 -54,0 Ringgit (Malásia) 4,5700 4,5740 1,0606 1,0617
Venezuela 40.539 39.731 808,0 3.031,0 -4.381,0 Rublo (Rússia) 96,3300 98,3300 0,04934 0,05037
Fonte:JPMorgan.Elaboração:ValorData.*CalculadopeloJPMorgan.**Sobreotítulo Rúpia (Índia) 82,6160 82,6710 0,05868 0,05873
Evolução das aplicações financeiras Indicadores do mercado do tesouro americano Rúpia (Indonésia) 15180,0000 15190,0000 0,0003194 0,0003196
Rúpia (Paquistão) 287,2600 287,7300 0,01686 0,01689
Rentabilidade no período em % Shekel (Israel) 3,7078 3,7108 1,3073 1,3085
Mês Acumulado Em 10/08/23 Reservas internacionais Won (Coréia do Sul) 1314,5700 1315,0800 0,003689 0,003691
Renda Fixa ago/23* jul/23 jun/23 mai/23 abr/23 mar/23 Ano* 12 meses** Variações % Yuan Renminbi (China) 7,2165 7,2195 0,6720 0,6723
Selic 0,40 1,07 1,07 1,12 0,92 1,17 8,07 13,59 Indicador Compra Venda No dia No mês No ano 12 meses Zloty (Polônia) 4,0402 4,0419 1,2002 1,2009
CDI 0,40 1,07 1,07 1,12 0,92 1,17 8,07 13,59 Dólar (Ptax - BC) - (R$/US$) 4,8512 4,8518 -1,01 2,33 -7,01 -3,92
Liquidez Internacional *, em US$ milhões
Fim de período Diário Cotações Em R$(1)
CDB (1) - 0,95 0,86 0,86 0,91 0,77 6,35 11,04 Dólar Comercial (mercado) - (R$/US$) 4,8815 4,8821 -0,45 3,24 -7,50 -3,99 Ouro Spot (2) Paridade (3) Compra Venda
Poupança (2) 0,72 0,66 0,68 0,72 0,58 0,74 5,52 8,41 Dólar Turismo (R$/US$) 4,8813 5,0613 -0,60 2,92 -7,59 -4,20 dez/22 337.703 31/07/23 345.476
Poupança (3) 0,72 0,66 0,68 0,72 0,58 0,74 5,52 8,41 Euro (BC) - (R$/€) 5,3431 5,3457 -0,64 2,31 -4,02 2,44 Dólar Ouro 1920,19 0,01620 299,4568 299,4938
jan/23 343.622 01/08/23 344.235
IRF-M 0,56 0,89 2,12 2,20 1,10 2,15 11,21 16,44 Euro Comercial (mercado) - (R$/€) 5,3599 5,3605 -0,40 3,11 -4,87 2,32 Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: Valor Data
IMA-B 1,03 0,81 2,39 2,53 2,02 2,66 13,42 15,46 Euro Turismo (R$/€) 5,4053 5,5853 -0,35 2,73 -4,77 2,28 fev/23 338.098 02/08/23 343.620 * Cotações em unidades monetárias por dólar. ** Cotações em reais por unidade monetária. *** Moedas do tipo
IMA-S 0,43 1,06 1,14 1,21 0,86 1,15 8,24 13,82 Euro (BC) - (US$/€) 1,1014 1,1018 0,38 -0,02 3,22 6,62 mar/23 345.620 03/08/23 343.559 B (cotadas em dólar por unidade monetária). (1) Por grama. (2) US$ por onça. (3) Grama por US$. Observações:
Renda Variável Ouro* abr/23 347.725 04/08/23 344.439 As taxas acima deverão ser utilizadas somente para coberturas específicas de acordo com a legislação vigente.
Ibovespa -2,95 3,26 9,00 3,74 2,50 -2,91 7,85 18,20 mai/23 344.489 07/08/23 344.661 As contratações acima referidas devem ser realizadas junto às regionais de câmbio do Rio e de São Paulo. O lote
Índice Small Cap -0,90 3,12 8,17 13,54 1,91 -1,73 15,75 17,47 B3 (R$/g) ** - 296,100 -0,97 0,71 -1,95 2,49 jun/23 343.620 08/08/23 344.855 mínimo operacional, exclusivamente para efeito das operações contratadas junto à mesa de operações do Banco
IBrX 50 -3,03 3,70 8,78 2,92 1,65 -3,51 5,54 16,73 Nova York (US$/onça troy) - 1.912,14 -0,23 -2,64 4,87 6,73 jul/23 345.476 09/08/23 344.977 Central em Brasília, foi fixado para hoje em US$ 1.000.000. Nota: em 29/03/10, o Banco Central do Brasil
ISE -1,98 1,27 9,00 9,02 3,23 -1,22 12,98 9,70 Londres (US$/onça troy) - 1.920,10 -0,43 -1,81 5,95 7,06
Fonte: Banco Central. Elaboração: Valor Data. *Agrega, aos valores do conceito Caixa, passou a divulgar, para a maior parte das moedas presentes na tabela, as cotações com até quatro casas
IMOB 1,63 5,15 9,62 17,11 6,84 -0,70 48,55 43,91 Fontes: Banco Central, B3 e Valor PRO. Elaboração: Valor Data. * Última cotação. ** Contrato = 250g haveres como títulos de exportação e outros de médio e longo prazos decimais, padronizando-as aos parâmetros internacionais
IDIV -2,69 2,84 8,78 0,84 3,89 -2,02 9,39 18,72
IFIX 0,50 1,33 4,71 5,43 3,52 -1,68 12,07 13,61
Dólar Ptax (BC) 2,33 -1,61 -5,43 1,90 -1,57 -2,45 -7,01 -8,61
Dólar Comercial (mercado) 3,24 -1,25 -5,60 1,72 -1,61 -2,98 -7,50 -8,61 Índices de ações Valor-Coppead Bolsas de valores internacionais
Euro (BC) (4) 2,31 -0,71 -3,06 -1,67 -0,07 0,00 -4,02 -1,30
Euro Comercial (mercado) (4) 3,11 -0,49 -3,66 -1,31 -0,05 -0,57 -4,87 -1,68 Em 12 meses
Ouro B3 0,71 -0,17 -6,21 0,00 -0,95 4,28 -1,95 1,38 Em pontos Variações % Menor Maior
Inflação No fim de Variação - em % País Cidade Índice 10/08/23 09/08/23 No dia No mês No ano Em 12 meses índice índice
IPCA (5) - 0,08 -0,08 0,23 0,61 0,71 2,95 3,95 Índice 10/08/23 09/08/23 jul/23 dez/22 dia mês Ano Américas
IGP-M - -0,72 -1,93 -1,84 -0,95 0,05 -5,15 -7,72
Valor-Coppead Performance 157.566,12 157.661,68 159.956,51 154.559,59 -0,06 -1,49 1,95 EUA Nova York Dow Jones 35.176,15 35.123,36 0,15 -1,08 6,12 5,60 28.725,51 35.630,68
Fontes: Anbima, BC, B3, IBGE e Valor PRO . Elaboração: Valor Data. * Rendimento até o dia 10/ago/23. ** Até jul/23. (1) rendimento bruto
do 1º dia útil do mês (2) rentabilidade do 1º dia do mês - depósitos até 03/05/12. (3) rentabilidade do 1º dia do mês - depósitos a partir de Valor-Coppead Mínima Variância 83.711,84 83.777,52 84.947,90 80.469,68 -0,08 -1,46 4,03 EUA Nova York Nasdaq-100 15.128,84 15.101,71 0,18 -3,99 38,29 13,08 10.679,35 15.841,35
04/05/12. (4) Variação sobre o Real. (5) expectativa de 0,08% para o mês de julho Fonte: Valor PRO. Elaboração: Valor Data EUA Nova York Nasdaq Composite 13.737,99 13.722,02 0,12 -4,24 31,26 6,87 10.213,29 14.358,02
EUA Nova York S&P 500 4.468,83 4.467,71 0,03 -2,62 16,39 6,14 3.577,03 4.588,96
Canadá Toronto S&P/TSX 20.342,88 20.275,27 0,33 -1,38 4,94 2,30 18.206,28 20.767,38
Fundos de Investimento Captações de recursos no exterior
México
Colômbia
Cidade do México
Bogotá
IPC
COLCAP
53.889,03
1.152,82
54.220,74
1.166,07
-0,61
-1,14
-1,70
-1,86
11,19
-10,36
12,72
-12,27
44.626,80
1.092,64
55.534,68
1.342,91
Venezuela Caracas IBVC 35.922,65 36.002,30 -0,22 0,39 71,49 392,76 7.216,00 37.473,67
Análise diária da indústria - em 04/08/23 Últimas operações realizadas no mercado internacional * Chile Santiago IPSA 6.290,34 6.341,36 -0,80 -1,63 19,54 19,29 4.936,57 6.432,76
Patrimônio Rentabilidade nominal - % Estimativa da captação líquida - R$ milhões Peru Lima S&P/BVL General 23.656,87 23.803,86 -0,62 0,63 10,91 16,31 18.445,53 23.806,19
Data Data Valor Cupom/ Spread
líquido em em 12 em 12 Argentina Buenos Aires Merval 470.380,51 461.280,80 1,97 2,90 132,76 285,15 122.129,90 472.973,56
de do Prazo US$ Custo Retorno pontos-
Categorias R$ milhões (1) no dia no mês 2023 meses no dia no mês no ano meses Europa, Oriente Médio e África
Renda Fixa 2.989.547,37 -798,65 -8.783,81 -72.200,52 -204.695,45 Emissor/Tomador liquidação vencimento meses milhões em % em % base **
RF Indexados (2) 149.355,84 -0,04 0,39 9,39 12,15 268,28 881,76 -6.380,56 -20.738,63 Aegea 06/05/22 20/05/29 85 500 7 - 413,7 Euro - Euronext 100 1.382,88 1.367,55 1,12 -1,32 12,28 9,56 2.995,33 3.699,96
RF Duração Baixa Soberano (2) 576.975,37 0,05 0,24 7,39 12,67 1.174,47 -345,62 21.391,78 -48.476,10 Braskem 08/02/23 08/02/33 120 1.000 7,25 7,25 365,1 Alemanha Frankfurt DAX 15.996,52 15.852,58 0,91 -2,74 14,89 16,75 11.975,55 16.469,75
RF Duração Baixa Grau de Invest. (2) 706.122,55 0,05 0,27 7,45 13,25 -1.620,04 -175,91 -53.643,02 -61.569,89 República Federativa do Brasil 13/04/23 20/10/33 126 2.250 6 6,15 285,4 França Paris CAC-40 7.433,62 7.322,04 1,52 -0,86 14,83 13,95 5.676,87 7.577,00
RF Duração Média Grau de Invest. (2) 91.012,41 0,05 0,05 7,03 12,74 113,66 278,49 -7.730,43 -5.022,42 Banco do Brasil 11/04/23 18/04/30 84 750 6 6,5 302,0 Itália Milão FTSE MIB 28.575,05 28.308,09 0,94 -3,61 20,53 25,87 20.352,98 29.644,71
RF Duração Alta Grau de Invest. (2) 160.755,40 0,01 0,21 6,34 7,58 520,52 481,79 -3.179,37 -5.491,17 Vale 12/06/23 12/06/33 120 1.500 6,125 6,245 245,0 Bélgica Bruxelas BEL-20 3.718,92 3.713,75 0,14 -1,53 0,48 -3,10 3.313,82 3.954,16
RF Duração Livre Soberano (2) 225.272,96 0,03 0,25 7,90 12,28 240,22 -3.530,15 5.274,59 -8.628,20 Petrobras 03/07/23 03/07/33 120 1.250 6,5 6,625 290,1 Dinamarca Copenhague OMX 20 2.157,36 2.173,20 -0,73 6,23 17,55 23,12 1.516,18 2.189,22
RF Duração Livre Grau de Invest. (2) 622.655,67 0,04 0,27 7,78 12,64 -1.469,79 -4.748,54 -31.845,28 -62.386,28 Azul 20/07/23 20/07/28 60 800 11,93 12,25 829,1 Espanha Madri IBEX-35 9.502,20 9.354,40 1,58 -1,44 15,47 13,76 7.261,10 9.694,70
RF Duração Livre Crédito Livre (2) 212.451,83 0,04 0,33 8,31 12,72 171,82 1.174,92 -2.788,60 11.844,98 Grécia Atenas ASE General 1.313,20 1.317,18 -0,30 -1,67 41,24 50,00 788,46 1.345,95
Fontes: Instituições e agências internacionais. Elaboração: Valor Data. * Atualizada em 10/08/23. ** Sobre o título do Tesouro americano de Holanda Amsterdã AEX 777,79 770,22 0,98 -1,79 12,89 7,39 630,58 794,27
Ações 546.359,42 -528,70 -1.068,02 -39.228,27 -16.644,01 mesmo prazo
Ações Indexados (2) 10.596,74 -0,13 -1,97 8,84 11,59 0,82 -6,40 69,59 -43,01 Hungria Budapeste BUX 55.825,10 55.235,51 1,07 4,59 27,47 26,50 37.035,79 55.825,10
Ações Índice Ativo (2) 33.409,72 -0,21 -1,58 9,45 9,86 -199,54 -316,27 -5.197,34 -8.763,13 Polônia Varsóvia WIG 70.897,73 69.991,47 1,29 -1,90 23,38 29,01 45.621,39 72.268,53
Ações Livre 216.772,99 -0,14 -0,58 15,16 12,20 -194,14 -506,14 -14.683,06 -25.485,06 Portugal Lisboa PSI-20 6.080,63 6.059,70 0,35 -0,89 6,19 -2,09 5.190,28 6.273,94
Fechados de Ações 95.038,46 -0,10 -0,16 5,46 -0,62 0,00 0,00 -1.708,72 41.343,30 ADR - Índices Rússia Moscou RTS* 1.017,71 1.004,72 1,29 -3,76 4,85 -9,00 906,71 1.288,03
Multimercados 1.700.822,91 -960,18 -1.752,62 -62.204,39 -73.836,38 Suécia Estocolmo OMX 2.223,17 2.209,52 0,62 -1,23 8,80 9,76 1.794,39 2.322,64
Multimercados Macro 188.763,35 -0,09 -0,02 5,23 9,78 -284,20 -421,30 -15.781,53 -14.528,08 Em 09/08/23 Suíça Zurique SMI 11.149,79 11.081,54 0,62 -1,41 3,92 -0,05 10.072,62 11.595,25
Multimercados Livre 625.299,43 -0,02 0,18 6,94 9,96 -582,12 -363,25 -14.868,88 -12.655,64 Turquia Istambul BIST 100 7.441,50 7.600,65 -2,09 3,11 35,08 162,99 2.829,58 7.600,65
Multimercados Juros e Moedas 58.775,87 0,03 0,23 7,67 12,99 -28,02 -96,87 -9.705,62 -14.610,45 Em Variação - em % Israel Tel Aviv TA-125 1.912,71 1.908,84 0,20 1,26 5,48 -7,88 1.702,14 2.116,16
Multimercados Invest. no Exterior (2) 748.398,08 0,05 0,72 5,04 8,13 -63,47 -962,09 -16.718,86 -18.936,96 Índice 09/08/23 08/08/23 31/07/23 30/12/22 09/08/22 dia mês ano 12 meses África do Sul Joanesburgo All Share 77.749,68 Feriado 1,19 -1,56 6,44 11,48 63.263,94 80.791,36
Cambial 6.560,29 0,65 3,56 -4,10 -0,28 -33,78 -64,37 -1.185,24 -1.863,98 S&P BNY 157,38 157,49 161,42 141,56 139,31 -0,07 -2,50 11,17 12,97 Ásia e Pacífico
Previdência 1.277.002,24 43,51 697,19 2.414,33 11.624,16 S&P BNY Emergentes 299,27 299,55 316,24 271,49 284,42 -0,10 -5,37 10,23 5,22 Japão Tóquio Nikkei-225 32.473,65 32.204,33 0,84 -2,11 24,45 16,73 25.716,86 33.753,33
ETF 42.039,98 -127,96 -930,37 278,46 4.482,92 S&P BNY América Latina 201,90 202,25 213,91 181,83 191,55 -0,17 -5,61 11,04 5,41 Austrália Sidney All Ordinaries 7.568,50 7.543,40 0,33 -0,70 4,80 4,56 6.656,40 7.771,80
Demais Tipos 1.792.075,28 -292,48 -2.251,66 -13.723,52 -29.404,93 S&P BNY Brasil 200,27 201,53 216,19 190,33 208,19 -0,63 -7,36 5,22 -3,81 China Shenzhen SZSE Composite 2.041,41 2.038,77 0,13 -1,36 3,33 -6,39 1.870,50 2.242,45
Total Fundos de Investimentos 6.562.332,21 -2.405,76 -11.902,00 -172.125,63 -280.932,74 S&P BNY México 328,46 325,55 332,79 246,74 236,48 0,89 -1,30 33,12 38,89 China Xangai SSE Composite 3.254,56 3.244,49 0,31 -1,11 5,35 0,76 2.893,48 3.395,00
Total Fundos Estruturados (3) 1.392.049,74 3.320,20 4.469,83 48.976,67 30.930,91
S&P BNY Argentina 150,08 150,34 154,43 106,49 70,90 -0,17 -2,81 40,93 111,67 Coreia do Sul Seul KOSPI 2.601,56 2.605,12 -0,14 -1,18 16,33 4,86 2.155,49 2.667,07
Total Fundos Off Shore (4) 44.131,34 - - - -
S&P BNY Chile 173,21 171,54 181,98 171,62 180,94 0,97 -4,82 0,93 -4,27 Hong Kong Hong Kong Hang Seng 19.248,26 19.246,03 0,01 -4,14 -2,70 -1,85 14.687,02 22.688,90
Total Geral 7.998.513,29 914,44 -7.432,17 -123.148,96 -250.001,83
Fonte: ANBIMA. (1) PL e captação líquida de cada tipo exclui os Fundos em Cotas, evitando dupla contagem. (2) Para os tipos que iniciaram em S&P BNY Índia 2.839,12 2.834,02 2.888,91 2.841,98 2.875,72 0,18 -1,72 -0,10 -1,27 Índia Bombaim S&P BSE Sensex 65.688,18 65.995,81 -0,47 -1,26 7,97 11,68 56.409,96 67.571,90
01/10/2015, as rentabilidades do ano e 12 meses foram estimadas com base na amostra atual de fundos. (3) FIDC, FII, FIP e FMIEE. (4) PL dos S&P BNY Ásia 180,25 181,57 189,38 162,47 165,83 -0,73 -4,82 10,94 8,69 Indonésia Jacarta JCI 6.893,28 6.875,11 0,26 -0,55 0,62 -2,72 6.565,73 7.318,02
tipos imobiliários e Off-Shore referentes ao mês de junho de 2023 * Rentabilidade sem período completo.Obs.: Fundos de Investimentos regidos S&P BNY China 355,17 354,40 380,94 338,39 343,25 0,22 -6,76 4,96 3,47 Tailândia Bangcoc SET 1.533,41 1.528,30 0,33 -1,46 -8,11 -5,18 1.466,93 1.691,41
pela ICVM 555/14, ICVM 522/12, ICVM 409/04, ICVM 359/02 e ICVM 141/91. Dados sujeitos a retificação em razão da representatividade S&P BNY Rússia 314,93 310,41 323,78 221,34 173,78 1,46 -2,73 42,29 81,23 Taiwan Taipé TAIEX 16.634,70 16.870,94 -1,40 -2,98 17,66 11,35 12.666,12 17.334,98
da amostra ou cadastramento de novos fundos. PL de cada tipo considera, adicionalmente, a estimativa dos fundos que não informaram o PL S&P BNY Turquia 22,60 22,47 22,07 20,63 11,10 0,60 2,42 9,58 103,70 Fontes: Valor PRO, Bolsas de Bangcoc, Bogotá, Bombaim, Budapeste, Istambul, Jacarta, Joanesburgo, Lima, Madrid e Zurique. Elaboração: Valor Data
na data de emissão do relatório Fonte: S&P BNY Mellon. Elaboração: Valor Data * Índice expresso em dólares

EDITAL DE CONVOCAÇÃO - Assembleia Geral Extraordinária
Campanha Reivindicatória 2021/2023 - CARGA E DESCARGA
O SINDICATO DOS TRABALHADORES NA MOVIMENTAÇÃO DE MERCADORIAS EM GERAL E LOGÍSTICA DE JUNDIAÍ E REGIÃO - SINTRAMOJU,
CNPJ nº 08.935.753/0001-09, entidade sindical profissional de primeiro grau, com base territorial nos Municípios de: Cabreúva, Caieiras, Campo
Limpo Paulista, Francisco Morato, Franco da Rocha, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí e Várzea Paulista, pelo presente edital convoca
todos os trabalhadores integrantes da categoria profissional da movimentação de mercadorias em geral, Associados ou não Associados, os quais
são representados pela respectiva entidade sindical, para participarem da Assembleia Geral Extraordinária a ser realizada no dia 18 de Agosto
de 2023, às 17:00, sendo essa primeira convocação, na sede do SINTRAMOJU, situado na Rua Major Sucupira, nº 151, Centro – CEP: 13.201-016,
Jundiaí/SP, para deliberarem sobre os seguintes itens da ordem do dia: a) renovação da Convenção Coletiva de Trabalho anterior, entabulada junto ao
Sindicato Patronal das Empresas de Logística, Armazenagem e Movimentação de Mercadorias em Geral do Estado de São Paulo, ora SINDICATO DOS
ARMAZÉNS GERAIS E DAS EMPRESAS DE MOVIMENTAÇÃO DE MERCADORIAS NO ESTADO DE SÃO PAULO - (SAGESP), especificamente para
o setor de prestação de serviços de carga e descarga - movimentação de mercadorias, com a manutenção de todas as cláusulas sociais e reajuste
das cláusulas econômicas; b) autorização de poderes em favor da Diretoria do Sindicato para negociar, assinar Convenção Coletiva de Trabalho e/ou
propor as medidas judiciais cabíveis, inclusive dissídios coletivos; c) Decretação ou não da Assembleia em caráter permanente, em toda jurisdição do
SINTRAMOJU - SINDICATO DOS TRABALHADORES NA MOVIMENTAÇÃO DE MERCADORIAS EM GERAL E LOGÍSTICA DE JUNDIAÍ E REGIÃO, até
o estabelecimento final das Normas Coletivas da Categoria. Nota: Não havendo na hora supra indicada número legal para a instalação dos trabalhos
em primeira convocação, a Assembleia será realizada 01 (uma) hora após, em segunda e última convocação, com qualquer número de presentes, na
forma do Estatuto Social. Jundiaí, 11 de Agosto de 2023. Jaime Santana de Melo – Diretor Presidente.
GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO
SECRETARIA DE ESTADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA – SETASC/MT
EDITAL DE INTIMAÇÃO
A PRESIDENTE DA COMISSÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO, designada pela
Portaria n.º 001, de 15 de maio 2023, cujo extrato foi publicado no D.O.E. de 15 de maio
2023, no uso de suas atribuições e tendo em vista o disposto no caput do artigo 78 § 1 da Lei
nº 207, de 29 de dezembro de 2004, combinado com o art. art. 256 do Código de Processo
Civil, INTIMO, pelo presente edital, por se encontrar em local incerto e não sabido, o SR.
DANIELLE RUSSO devidamente inscrito no CPF 700.096.341-77, sobre condição de
testemunha nos autos do processo CGE-PRO-2022/00915, intimando-o a comparecer, no
prazo de 15 (quinze) dias, à sede da Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania
– SETASC/MT, sito a Rua Jornalista Amaro de Figueiredo Falcão, nº 503, Bairro Morada da
Serra, CPA 1, a fim de tomar ciência dos fatos apurados perante a comissão, aos quais
deram origem ao mencionado processo, sob pena de revelia.
Cuiabá – MT, 10 de agosto de 2023.
MARCELLE ROMANA CORREA DE ARRUDA GUEDES
Presidente da Comissão de Processo Administrativo
PAD 001/2023 – SETASC MT
Yakult S.A. Indústria e Comércio
CNPJ/MF nº 60.723.061/0001-09 - NIRE nº 35.3.0003245-4
Ata da Reunião do Conselho de Administração Realizada em 21 de Julho de 2023
Data, Local e Hora: 21 de julho de 2023, às 11:00 horas, na sede social da Companhia, situada à Alameda
Santos, nº 771 - 13º andar - conjunto 131, Bairro Cerqueira César, CEP 01419-001, no Município de
São Paulo, Estado de São Paulo. Presença: Todos os membros do Conselho de Administração, sendo
que o Sr. Junichi Shimada, Presidente do Conselho e o Sr. Takashi Matsuzono, Vice-Presidente do
Conselho, foram representados pelo Conselheiro do Conselho, Sr. Atsushi Nemoto, mediante procuração,
nos termos do Artigo 9º do Estatuto Social. Mesa Diretora: Assumiu a presidência da mesa diretora dos
trabalhos o Sr. Atsushi Nemoto, Conselheiro do Conselho de Administração, que convidou o Sr. Hidenori
Yoshitomi, para secretariar a reunião. Ordem do Dia: a) Eleição de novos membros da diretoria para
mandato até o primeiro quadrimestre de 2024. b) Posse dos novos diretores eleitos, nos respectivos cargos.
c) Outros assuntos de interesse social. Deliberações: a) Após discussão da matéria pelos membros do
Conselho de Administração, foram eleitos por unanimidade, os novos membros da Diretoria com mandato
até a data da Assembleia Geral Ordinária a ser realizada no primeiro quadrimestre de 2024, para coincidir
com o mandato dos demais Diretores anteriormente eleitos. Foram eleitos: Para o cargo de Diretor
Financeiro foi eleito o Sr. Isamu Ishijima, japonês, casado, empresário, portador da Carteira de Registro
Nacional Migratório RNM nº V277646-K–CGPI/DIREX/PF e do CPF/MF sob nº 220.362.158-31, residente e
domiciliado na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, com domicílio profissional à Alameda Santos, nº
771 - 13º andar - conjunto 131, Bairro Cerqueira César, CEP 01419-001, no Município de São Paulo, Estado
de São Paulo; para o cargo de Diretor Administrativo foi eleito o Sr. Kazuki Yamazaki, japonês, casado,
empresário, portador da Carteira de Registro Nacional Migratório RNM nº V199017-0-CGPI/DIREX/PF e do
CPF/MF sob nº 225.272.938-40, residente e domiciliado na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, com
domicílio profissional à Alameda Santos, nº 771 - 13º andar - conjunto 131, Bairro Cerqueira César, CEP
01419-001, no Município de São Paulo, Estado de São Paulo; para o cargo de Diretora Jurídica foi eleita a
Sra. Teresa Hiroko Kuninari Ota, brasileira, casada, advogada, portadora da cédula de identidade RG nº
20.004.837-5 SSP/SP e CPF/MF sob nº 097.669.168-02, inscrita na OAB/SP sob o nº 109.119, residente
e domiciliada na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, com domicílio profissional à Alameda Santos,
nº 771 - 13º andar - conjunto 131, Bairro Cerqueira César, CEP 01419-001, no Município de São Paulo,
Estado de São Paulo; e para o cargo de Diretora de Planejamento Estratégico foi eleita a Sra. Alexandra
Kodaira Usizima, brasileira, casada, empresária, portadora da cédula de identidade RG nº 14.647.741-8
SSP/SP e do CPF/MF sob nº 079.776.108-09, residente e domiciliada na cidade de São Paulo, Estado de
São Paulo, com domicílio profissional à Alameda Santos, nº 771 - 13º andar - conjunto 131, Bairro Cerqueira
César, CEP 01419-001, no Município de São Paulo, Estado de São Paulo. Submetida à discussão e à
votação, os membros do Conselho de Administração aprovaram, por unanimidade, a proposta de eleição
e subsequente posse em 01º de agosto de 2023 dos diretores ora eleitos que declaram aceitar a eleição,
assumindo o compromisso de cumprir os deveres inerentes aos respectivos cargos, de acordo com a Lei e
o Estatuto Social, com mandato até a Assembleia Geral Ordinária a ser realizada no primeiro quadrimestre
de 2024, para coincidir com o mandato dos demais Diretores anteriormente eleitos. b) Estando presentes à
reunião os Diretores eleitos, mediante assinatura do Termo de Posse lavrado em livro próprio, que ocorrerá
a efetiva posse dos cargos em 01 de agosto de 2023, declarando que não estão incursos em nenhum dos
crimes previstos em Lei, que os impeçam do exercício de suas funções, especialmente aqueles previstos
no §1º do Artigo 147 da Lei 6.404/76. Encerramento: Nada mais havendo a tratar, a reunião foi suspensa
para a lavratura da Ata que, após lida e achada conforme, foi aprovada e assinada por todos os presentes.
A presente é cópia fiel da Ata que foi lavrada no Livro de Ata das Reuniões do Conselho de Administração.
São Paulo, 21 de julho de 2023. Atsushi Nemoto - Presidente da Mesa; HidenoriYoshitomi - Secretário
da Mesa; Junichi Shimada - Presidente do Conselho - pp. Atsushi Nemoto; Takashi Matsuzono -
Vice-Presidente do Conselho - pp. Atsushi Nemoto; Atsushi Nemoto - Conselheiro. Diretores
Eleitos: Isamu Ishijima - Diretor Financeiro; Kazuki Yamazaki - Diretor Administrativo; Teresa Hiroko
Kuninari Ota - Diretora Jurídica; Alexandra Kodaira Usizima - Diretora de Planejamento Estratégico.
JUCESP nº 317.310/23-9 em 08/08/2023. Maria Cristina Frei - Secretária Geral.
EXTRATO DE PUBLICAÇÃO DO EDITAL DE LICITAÇÃO MODALIDADE PREGÃO ELETRÔNICO Nº
0169/2023 – HUOP/UNIOESTE. Objeto: Aquisição de contratação de empresa para prestação
de serviços continuados na área de ANESTESIOLOGIA eletiva, de urgência e emergência
para atender à necessidade e demanda do Hospital Universitário do Oeste do Paraná - HUOP.
Valor máximo total estimado: R$ 63.773.705,04. Recebimento das propostas: Das 09h
do dia 11/08/2023, até às 09h do dia 23/08/2023. Abertura das propostas e recebimento
dos lances: 23/08/2023, às 09h. O edital e demais informações encontram-se à disposição
dos interessados junto ao Setor de Licitação do HUOP, ou Fone/whatsapp: 45 3321-5397, ou
ainda nas home-pages https://huopforum.unioeste.br/, www.comprasparana.pr.gov.br , www.
pncp.gov.br e www.compras.gov.br em conformidade com o Decreto Estadual nº 10.086, de
17/01/2022. Cascável, 10/08/2023.
PR IA
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Companhia de Processamento de Dados
do Estado de São Paulo - PRODESP
CNPJ 62.577.929/0001-35
AVISO DE LICITAÇÃO
Pregão Eletrônico nº 049/2023 - Oferta de Compra nº 513101510852023OC00106 -
Prestação de serviços de recepção, compreendendo o desenvolvimento das
atividades de orientação, informação e atendimento para o Posto Poupatempo Sé,
conforme especificações constantes do Termo de Referência que integra este edital
como Anexo I. A sessão pública de processamento do Pregão Eletrônico será
realizada no endereço eletrônico www.bec.sp.gov.br às 9h do dia 24/08/2023. O
edital poderá ser consultado e cópias obtidas nos endereços eletrônicos www.bec.
sp.gov.br - opção “pregão eletrônico”, www.prodesp.sp.gov.br - opção “fornecedores
- editais de licitação” e www.imprensaoficial.com.br - opção “enegociospublicos”.
Secretaria de Gestão e
Governo Digital
SAÚDE
CONVITE À APRESENTAÇÃO DE MANIFESTAÇÃO PARA PRESTAÇÃO
DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS DE ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
PARA O PROJETO DE REESTRUTURAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DAS
REDES ASSISTENCIAIS DA CIDADE SÃO PAULO, AVANÇA SAÚDE - SP
Instituição: Banco Interamericano de Desenvolvimento - País: Brasil
Projeto: Projeto de Reestruturação e Qualificação das Redes Assistenciais da Cidade de São Paulo, “Avança Saúde
São Paulo” - Setor: Saúde - Processo de seleção: SQC 002/2023
Contrato de empréstimo nº: 4641/OC-BR
Data limite: 28/08/2023
A Prefeitura do Município de São Paulo firmou um Contrato de Empréstimo com o Banco Interamericano de
Desenvolvimento - BID, para financiamento parcial do Projeto de Reestruturação e Qualificação das Redes
Assistenciais da Cidade de São Paulo - AVANÇA SAÚDE SÃO PAULO, a ser executado pela Secretaria Municipal da
Saúde (SMS), sob a coordenação da Unidade de Coordenação do Projeto - UCP.
O projeto Avança Saúde foi desenvolvido e planejado para contribuir com as melhorias no âmbito da saúde do
Município de São Paulo, com objetivo de ampliar a oferta, melhorar as condições de acesso e aprimorar a qualidade de
serviços municipais no âmbito do Sistema Único de Saúde para a população do Município de São Paulo, por meio da
estruturação da assistência segundo o modelo de Redes Regionais de Assistência à Saúde, fortalecendo a
infraestrutura, a qualidade e a integralidade dos serviços. A Secretaria Municipal de Saúde convida as empresas
consultoras elegíveis para apresentar manifestações de interesse para a prestação de serviço que compreende:
• Realizar atividades de assessoria de imprensa.
• Elaborar sob demanda da Unidade de Coordenação do Projeto Avança Saúde: Apresentações em PowerPoint,
incluindo Layout, imagens, diagramação, peças gráficas e fotos.
• Propor conteúdo para o site institucional do Programa contendo as principais informações sobre o AVANÇA SAÚDE
- SP, seguindo os padrões da Prefeitura.
• Fazer a cobertura jornalística de eventos pela UCP.
• Elaborar, formatar e imprimir um livro descrevendo o histórico das ações do Projeto Avança Saúde - SP
Os serviços serão coordenados, supervisionados e acompanhados pela Unidade de Coordenação do Projeto Avança
Saúde - SP.
Os consultores interessados deverão encaminhar informações que demonstrem qualificação e experiência para
executar os serviços pretendidos por meio de:
• Apresentação Empresa Consultora.
• Portfólio com a descrição de serviços prestados similares ao descrito acima.
• Apresentação do currículo de equipe com experiência prévia nos serviços solicitados.
As empresas serão selecionadas mediante Seleção Baseada na Qualidade de Consultores - SQC de acordo com os
procedimentos estabelecidos nas Políticas para Seleção e Contratação de Consultores Financiados pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento - BID, GN 2350-15, disponibilizadas no site do banco: www.iadb.org.
A presente seleção está aberta a todas as empresas elegíveis, conforme definido nas referidas Políticas. Será
permitida a associação de empresas em forma de uma joint-venture ou consórcio. As Manifestações de Interesse
deverão ser enviadas até às 15:00 horas do dia 28/08/2023, para o endereço eletrônico: smsbidavancasaude@prefeitura.
sp.gov.br ou em mídia digital no endereço indicado a seguir. O e-mail com a manifestação de interesse não deve exceder
o limite de 15 megabytes, caso exceda este limite, deverá ser entregue em mídia digital no endereço indicado abaixo até
às 15:00 horas do dia 28/08/2023. Maiores informações poderão ser obtidas no endereço indicado abaixo, no horário das
09:00 às 12:00 e das 14:00 às 17:00 horas ou por e-mail smsbidavancasaude@prefeitura.sp.gov.br.
Secretaria Municipal da Saúde
Rua General Jardim, nº 36, 9º Andar - Vila Buarque, São Paulo/SP
Brasil - CEP 01213-010
Tel: 55 11 2027-2345
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | C5
Ultrapar Participações S.A.
Companhia Aberta
CNPJ nº 33.256.439/0001-39 - NIRE 35.300.109.724
Ata da Reunião do Conselho de Administração
Data, Hora e Local: 09 de agosto de 2023, às 10h, na sede social, localizada na Av. Brigadeiro Luís
Antônio, nº 1.343, 9º andar, na Cidade e Estado de São Paulo, admitida também a participação via
Microsoft Teams. Presença: (i) Membros do Conselho de Administração abaixo assinados; (ii) a
Secretária do Conselho de Administração, Sra. Denize Sampaio Bicudo; (iii) o Diretor Presidente
da Companhia, Sr. Marcos Marinho Lutz; (iv) o Diretor Financeiro e de Relações com Investidores,
Sr. Rodrigo de Almeida Pizzinatto; e (v) para fins dos item 1, demais diretores da Companhia, a
saber, os Srs. Décio de Sampaio Amaral, Leonardo Remião Linden e Tabajara Bertelli Costa; e o
Presidente do Conselho Fiscal, Sr. Flávio Cesar Maia Luz. Matérias tratadas e deliberações: 1.
Examinado e discutido o desempenho da Companhia no segundo trimestre do exercício social em
curso, foram aprovadas as respectivas demonstrações financeiras. 2. “Ad referendum” da Assem-
bleia Geral Ordinária que apreciar o balanço patrimonial e as demonstrações financeiras referentes
ao exercício social de 2023, o Conselho de Administração aprovou a distribuição de dividendos inter-
mediários, no montante total de R$ 273.797.993,50 (duzentos e setenta e três milhões, setecentos e
noventa e sete mil, novecentos e noventa e três Reais e cinquenta centavos), cabendo aos acionistas
titulares de ações ordinárias da Companhia receber o valor de R$ 0,25 (vinte e cinco centavos) por
ação, já excluídas as ações que se encontram em tesouraria na presente data. 3. Determinou-se, ain-
da, que o pagamento dos dividendos declarados neste ato deverá ocorrer a partir de 25 de agosto de
2023, sem remuneração ou atualização monetária. A data base para o recebimento dos dividendos
ora aprovados (“record date”) será o dia 17 de agosto de 2023 no Brasil e o dia 21 de agosto de 2023
nos Estados Unidos da América. As ações da Companhia passarão a ser negociadas “ex-dividendos”
na B3 S.A. - Brasil, Bolsa e Balcão e na Bolsa de Valores de Nova York a partir do dia 18 de agosto de
2023. 4. Os membros do Conselho de Administração da Companhia confirmaram a emissão de 8.199
(oito mil, cento e noventa e nove) ações ordinárias dentro do limite do capital autorizado previsto no
art. 6º do Estatuto Social da Companhia, em razão do exercício parcial dos direitos conferidos pelos
bônus de subscrição emitidos pela Companhia quando da incorporação da totalidade das ações de
emissão da Imifarma Produtos Farmacêuticos e Cosméticos S.A. pela Companhia, aprovada pela As-
sembleia Geral Extraordinária da Companhia realizada em 31 de janeiro de 2014, devendo a admi-
nistração da Companhia providenciar os boletins de subscrição necessários para assinatura e
formalização da subscrição das novas ações pelos titulares dos referidos bônus de subscrição. As
ações ordinárias farão jus aos mesmos direitos atribuídos às demais ações da Companhia já emiti-
das. O capital social da Companhia passará, portanto, a ser representado por 1.115.212.490 (um
bilhão, cento e quinze milhões, duzentos e doze mil, quatrocentos e noventa) ações ordinárias, to-
das nominativas e sem valor nominal. A atualização do art. 5º do Estatuto Social da Companhia para
consignar o novo número de ações em que se divide o capital social da Companhia será objeto de
confirmação em Assembleia Geral Extraordinária a ser oportunamente convocada. Observações:
As deliberações foram aprovadas, sem emendas ou ressalvas, pela totalidade dos membros do Con-
selho de Administração. Nada mais havendo a tratar, foram encerrados os trabalhos e lavrada a pre-
sente ata que, lida e aprovada, foi assinada por todos os Conselheiros presentes. aa) Jorge Mar-
ques de Toledo Camargo - Presidente; Marcos Marinho Lutz - Vice-Presidente; Ana Paula Vitali
Janes Vescovi; Fabio Venturelli; Flávia Buarque de Almeida; Francisco de Sá Neto; José Mau-
ricio Pereira Coelho; Marcelo Faria de Lima; Peter Paul Lorenço Estermann, na qualidade de
Conselheiros; e Denize Sampaio Bicudo, na qualidade de Secretária do Conselho de Administra-
ção. Declaro que a presente é cópia fiel da ata lavrada em livro próprio.
Denize Sampaio Bicudo - Secretária do Conselho de Administração
EDITAL DE 1°, 2° LEIÃO E INTIMAÇÃO, – ELETRÔNICO e intimação da Penhora,
com prazo de 05 dias (art.879 – II - §1° e 2° CPC e Resolução do CNJ n° 236, art. 10 - §
único), extraído dos autos da Ação de Pagamento; Prestação de Serviços/Direito Cível
proposta por Thiago de Carvalho Lima e outro em face de Thaís Tavares Diniz (CPF:
589.201.536-04) e outros (Processo n° 0227853-75.2012.8.19.0001), na forma abaixo:
A Dra. ADMARA SCHNEIDER , Juíza de Direito na Quadragésima Vara Cível da
Cidade do Rio de Janeiro, FAZ SABER aos que o presente Edital virem ou dele
conhecimento tiverem e interessar possa, especialmente a Thaís Tavares Diniz e ao
terceiro interessado XX de Novembro Empreendimentos e Participações S/A
(promitente vendedor), CNPJ 03.538.833/0001-07, que no dia 18/08/2023 às 15:00,
através do portal de leilões on-line do Leiloeiro Público Oficial Maurício Kronemberg,
Jucerja n° 217 (www.mklance.com.br) credenciado junto ao Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, será vendido em 1° praça a quem mais der a partir do valor da
avaliação, e em caso de não houver lançamentos, será imediatamente aberto o período
de recebimento de lances para a segunda praça no dia 21/08/2023, no mesmo horário e
portal de leilões, a quem mais der a partir de 60% do valor da avaliação, na forma do art.
891, parágrafo único do CPC, o imóvel penhorado à fl. 195, descrito e avaliado à fl. 263,
como segue: Laudo de Avaliação Indireta apresentado ao juízo devido ao fato de a sala
encontrar-se fechada, pois a empresa estabelecida no momento na data da avaliação,
Ypê, estava trabalhando em regime de home office, assim, foi tido como parâmetro a
área edificada constante no espelho do IPTU. Isto posto, avalio indiretamente o imóvel
abaixo descrito em R$ 700.000,00 (setecentos mil reais), atualizado pela UFIR RJ para
este ano de 2023 em R$ 741.300,00 (setecentos e quarenta e um mil e trezentos
reais). IMÓVEL: Direito e Ação sobre a sala 318 do Bloco 05 do “CENTRO
EMPRESARIAL MÁRIO HENRIQUE SIMONSEN”, posicionado na Av. das Américas
n° 3434, na freguesia de Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro/RJ, com 71m2 e
com direito ao uso indistinto de 02 vagas de garagem, situadas no 2° subsolo (Núcleo
Américas) ou no 1° subsolo (Núcleo Américas) ou no subsolo do Núcleo Divisa ou no
subsolo do Núcleo Via Parque ou no pavimento térreo. Inscrição Fiscal 1.167.773-9,
(MP) CL 09.547-1.Matrícula 262.634 no 9° Ofício de Registro de Imóveis da Capital do
Estado do Rio de Janeiro. Maiores informações podem ser obtidas nos seguintes locais:
Escritório do Leiloeiro situado na Rua Uruguaiana 10, Conj. 1505, Centro, Rio de
Janeiro, RJ. Site: www.mklance.com.br. Telefone: (21)2242-0999 - (21)97990-2997. E-
mail: contato@mauriciokronemberg.com.br e no cartório da 40° Vara Cível da Capital
do Rio de Janeiro/RJ, no endereço da Av. Erasmo Braga, 115, 304, 306, 308, Centro, Rio
de Janeiro/RJ, E-mail: cap40vciv@tjrj.jus.br ; E para que chegue ao conhecimento de
todos os interessados, foi expedido o presente, para cautelas de estilo, ficando o(s)
Réu(s) THAÍS TAVARES DINIS, DINIZ E FRANÇA COMÉRCIO E CONFECCÇÕES
LTDA, intimado(s) da hasta pública se não for(em) encontrado(s) por intermédio deste
Edital na forma do art. 889, 892 do NCPC, ficam também intimados pelo presente edital
para todos os trâmites da Ação, os advogados constituídos pelas partes, o Ministério
Público, a Fazenda Pública e o terceiro interessado X X de Novembro
Empreendimentos e Participações S/A (promitente vendedor) . Sendo uma das vias
afixadas no local de costume do Fórum. CUMPRA-SE. Dado e passado, nesta Cidade
do Rio de Janeiro/RJ, em 31 de julho de 2023. Eu, digitei ___, e Eu, Chefe da Serventia,
subscrevo____________. (ass.) ADMARA SCHNEIDER – Juíza de Direito.
Via S.A.
CNPJ/MF nº 33.041.260/0652-90 - Companhia Aberta
Edital de Convocação - Assembleia Geral Extraordinária
Ficam convocados os Senhores Acionistas da Via S.A. (“Companhia”) a se reunirem em Assembleia
Geral Extraordinária (“AGE”), a ser realizada no dia 1º de setembro de 2023, às 11h00, de modo
exclusivamente digital, com participação por meio de sistema eletrônico, sem a possibilidade de
comparecimento presencial, para examinar, discutir e votar sobre as seguintes matérias constantes da
ordem do dia: (1) Alterar a denominação social da Companhia e, consequentemente, alterar o artigo 1º
do Estatuto Social; (2) Alterar o caput do artigo 5º do Estatuto Social da Companhia para atualizar o
capital totalmente subscrito e integralizado; (3) Alterar o capital autorizado da Companhia, com a
consequente alteração do caput do artigo 6º do Estatuto Social, de modo que o capital social possa ser
aumentado para até 3.000.000.000 (três bilhões) de ações ordinárias, sem valor nominal, mediante
deliberação do Conselho de Administração, independentemente de reforma estatutária; e (4) Consolidar
o Estatuto Social da Companhia para refletir as alterações previstas nos itens acima. Informações
Gerais: A participação do acionista ou de procurador devidamente constituído (observado o disposto
no art. 126 da Lei nº 6.404/76) poderá ser de modo exclusivamente digital, por meio da plataforma
eletrônica “Zoom”, sem a possibilidade de comparecimento físico. Não será disponibilizado Boletim de
Voto a Distância para a AGE. A Companhia realizará a AGE de modo exclusivamente digital, por
meio de sistema eletrônico, sem a possibilidade de comparecimento físico. Para todos os fins
legais, a presente reunião será considerada como realizada na sede da Companhia, conforme disposto
no art. 5º, III, §3º da Resolução CVM nº 81/22. Participação pessoal ou representado por procurador:
Nos termos do art. 6º, §3º, da Resolução CVM nº 81/22, os acionistas que desejaram participar da
AGE via plataforma digital deverão enviar os documentos necessários aos endereços eletrônicos
ri@via.com.br e juridico.societario@viavarejo.com.br, impreterivelmente, até (dois) dias antes da
data da AGE - isto é, até o dia 30 de agosto de 2023. Após receber os documentos por e-mail e
confirmar a sua validade e completude, a Companhia credenciará o acionista para participar da AGE
via plataforma digital e enviará as instruções detalhadas para a sua utilização, bem como o link de
acesso. Somente poderão participar da AGE os acionistas devidamente credenciados, em
conformidade com o prazo e os procedimentos indicados acima. A plataforma digital a ser
disponibilizada pela Companhia para acesso e participação na AGE será o aplicativo de reuniões
virtuais Zoom. Mais informações sobre as funcionalidades dessa plataforma podem ser encontradas
em https://zoom.us. A Companhia recomenda que os acionistas se familiarizem previamente com o uso
da plataforma Zoom, bem como garantam a compatibilidade de seus respectivos dispositivos
eletrônicos para a utilização da plataforma. Adicionalmente, a Companhia solicita a tais acionistas que,
no dia da AGE, acessem a plataforma Zoom com, no mínimo, 30 (trinta) minutos de antecedência do
horário previsto para o seu início, a fim de permitir a validação do acesso de todos os acionistas
credenciados. Por meio da plataforma Zoom, os acionistas credenciados poderão discutir e votar os
itens da ordem do dia, tendo acesso com vídeo e áudio à sala virtual em que será realizada a AGE.
A Companhia não se responsabiliza por quaisquer problemas operacionais ou de conexão que o
acionista venha a enfrentar, bem como por quaisquer eventuais outras questões alheias à Companhia
que venham a dificultar ou impossibilitar a participação do acionista na AGE por meio eletrônico. Caso
o acionista que tenha solicitado devidamente sua participação por meio eletrônico não receba o e-mail
com instruções para acesso à plataforma digital até as 14h00 do dia 31 de agosto de 2023, deverá
entrar em contato através dos e-mails ri@via.com.br e juridico.societario@viavarejo.com.br, até no
máximo às 18h00 do dia 31 de agosto de 2023, a fim de que lhe sejam reenviadas suas respectivas
instruções para acesso. Aos acionistas que se farão representar por meio de procuração outorgada
para o fim específico de participar em assembleias, a Companhia dispensará o reconhecimento de
firma e/ou a consularização ou apostilamento dos instrumentos de procuração outorgados pelos
acionistas a seus respectivos representantes. Ressaltamos, contudo, que os documentos que não
sejam lavrados em português deverão ser acompanhados da respectiva tradução. Requeremos,
ainda, aos senhores acionistas que serão representados por meio de procuração, o envio do
instrumento de mandato outorgado na forma da lei, em formato digital, ao Departamento de Relações
com Investidores e ao Departamento Jurídico Societário da Companhia, nos endereços eletrônicos
ri@via.com.br e juridico.societario@viavarejo.com.br, até o dia 30 de agosto de 2023. Documentos
relacionados à AGE: Conforme determinado pela Resolução CVM nº 81/22, encontram-se à disposição
dos acionistas na sede social da Companhia, na página de relações de investidores da Companhia
<ri.via.com.br> e na página da Comissão de Valores Mobiliários <www.cvm.gov.br>, o manual de
participação na assembleia e proposta da administração e os demais documentos relacionados às
matérias constantes na ordem do dia da AGE. São Paulo, 11 de agosto de 2023. Renato Carvalho do
Nascimento - Presidente do Conselho de Administração.
C6 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Distribuição Banco digital, que tem o J.P. Morgan como sócio, põe
‘home broker’ na web e negociação de ações globais no fracionário
C6 amplia a oferta da sua
plataforma de investimentos
Adriana Cotias
De São Paulo
Aos poucos, o C6 Bank tem
construído a sua área de investi-
mentos para ganhar funcionalida-
des para além do banco digital.
Nesse encaixe, a combinação de
produtos com o chassis do sócio
americano, o J.P. Morgan, com
acesso a ativos estrangeiros, é par-
te do arsenal para buscar escala na
alta renda, parte da base de 25 mi-
lhões clientes. Nas arestas da tec-
nologia, recém colocou o seu “ho-
me broker” na web para atender o
cliente que opera com frequência,
ao mesmo tempo em que abriu a
negociação de ações estrangei-
ras no mercado fracionário.
“A oferta lá fora é de um banco
completo, não é só uma conta digi-
tal. Nas duas [local e internacio-
nal], o cliente pode investir aqui no
Tesouro Direto, em fundos, e nos
Estados Unidos em hedge funds e
renda variável na Nyse, na Nas-
Juros desafiam fintechs de ‘crediário digital’
Mariana Ribeiro
De São Paulo
Em um momento de juros altos
e financiamento escasso, fintechs
de “buy now, pay later” (BNPL, ou
compre agora, pague depois), es-
pécie de crediário digital, enfren-
tam um cenário difícil e buscam
formas de aumentar a resiliência
do negócio. Em junho, uma das
pioneiras dessa área no país, a
colombiana Addi, deixou o mer-
cado nacional e, para especialis-
tas e participantes do mercado,
é possível que haja outras baixas
ou consolidações à frente.
BNPL é o nome dado a formas
de parcelamento de compra que
funcionam como alternativas,
principalmente, ao cartão de cré-
dito. A modalidade se populari-
zou no exterior, onde não existe,
como aqui, a cultura do crediário
do varejo e do parcelamento sem
juros no cartão. Só mais recente-
mente começou a ganhar espa-
ço no país. Porém, o ambiente
de inadimplência e juros eleva-
dos e de torneiras fechadas para
negócios de maior risco impôs
novas dificuldades para finte-
chs que atuam nesse segmento.
O modelo explorado por essas
empresas é desafiador por nature-
za, já que, em geral, é focado em
pessoas sem cartão de crédito ou
com limite baixo — justamente
aquelas que representam mais ris-
co para o credor. “Uma das premis-
sas das fintechs do segmento é a
Transformação
na indústria
de hedge funds
Palavra do
gestor
Jonas Doi
daq”, resume Igor Rongel, executi-
vo responsável por investimentos.
Na grade, já há cerca de 300 fun-
dos locais, planos de previdência,
negociações de ações e títulos pú-
blicos, algumas carteiras de aloca-
ção automatizadas e uma de divi-
dendos da parceria com o J.P. Mor-
gan, que é dono de 40% do C6
Bank. É desse casamento também
que a instituição vem pavimentan-
do a plataforma internacional.
Por meio de um “smart fund”
com sede nas Bahamas, o brasilei-
ro compra as ações globais para a
sua carteira. Como a estrutura está
pendurada como subclasse de um
fundo mãe, o investidor consegue
se beneficiar do diferimento tribu-
tário nas transações e da com-
pensação de perdas e ganhos. No
aplicativo do banco, vai enxergar
a sua posição, ela não se confun-
de com a de outros investidores.
A chamada “omnibus account”
se compara à estrutura de opera-
ções por conta e ordem no Brasil
utilização de novas plataformas de
tecnologia e modelos de análise de
crédito que permitiriam identifi-
car no grupo rejeitado pelos
‘players’ tradicionais perfis de po-
tenciais bons pagadores”, diz aná-
lise feita pela consultoria GMat-
tos sobre o tema. “Considerando
o cenário desfavorável, com a
inadimplência da população
atingindo patamar recorde, essa
missão é bastante complexa.”
A saída da Addi no país é consi-
derada pela consultoria como um
“revés importante para o merca-
do”. Isso por se tratar de uma em-
presa com alto investimento his-
tórico e aceitação relevante. Um
participante do setor afirma que
as particularidades do mercado
brasileiro podem ter sido um
entrave para a colombiana.
O fato de trabalhar com um
modelo sem juros pode ter redu-
zido sua flexibilidade no cenário
atual, acrescenta essa fonte. Há
hoje fintechs de BNPL que cobram
juros do consumidor e outras que
baseiam o negócio em taxas de
desconto junto aos lojistas.
Sondagem feita para GMattos
mostra que a oferta da opção de
pagamento via BNPL pelas maio-
res lojas on-line do país se man-
tém relativamente estável, a des-
peito do cenário adverso. Os da-
dos mostram que 30,5% das 59 lo-
jas analisadas ofereciam essa op-
ção em julho. A história é diferen-
te, no entanto, quando separadas
fintechs e bancos tradicionais.
H
á cerca de duas
décadas, os hedge
funds mais
bem-sucedidos
eram dominados
por gestores que aplicavam
análises fundamentais,
apoiando-se fortemente em
sua intuição e experiência
para tomar decisões de
investimento. Entre as
entidades de destaque dessa
era, encontravam-se fundos
como Soros Fund Management,
Tiger Management e Paulson
& Co. Hoje, o panorama
é bastante diferente.
Os fundos que dominam o
cenário atual são aqueles que
utilizam abordagens mais
sistemáticas e quantitativas.
A liderança de fundos como a
Bridgewater Associates e a AQR
Capital Management ilustra
essa mudança. A Bridgewater,
fundada por Ray Dalio, é
conhecida por suas análises
macroeconômicas profundas,
mas tem incorporado de
maneira crescente técnicas
sistemáticas em suas estratégias
de investimento. A AQR,
liderada por Cliff Asness,
também seguiu uma trajetória
— ou às subclasses que passarão a
existir no setor de fundos a partir
da Instrução 175 da Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), que
começa a valer em outubro.
“Não é uma solução tão simples
quanto uma conta lá fora, mas a
experiência é”, afirma Rongel. “A
gente consegue explicar por meio
da assessoria de investimentos e o
cliente fica de fato tentado a testar
quando compara às alternativas
disponíveis no mercado.” Uma ou-
tra conveniência, acrescenta, é que
se precisar dos recursos depois pa-
ra bancar o estudo de um filho ou
uma viagem, basta transferir o di-
nheiro para a conta digital lá fora.
O executivo ainda não abre a
custódia de investimentos. Na
Carbon Asset, a gestora com fun-
dos próprios, havia ao fim de ju-
nho um patrimônio de R$ 195,2
milhões segundo a Anbima. Ao
fim de 2022, o banco registrava
R$ 26,7 bilhões em depósitos e
operações compromissadas.
Metade das ofertas no período
se deu com financiamento tipo
crediário loja e a outra metade se
dividiu entre bancos de varejo e
digitais. Houve uma queda na
participação de fintechs — que
passou de 33,3% em maio para
22,2%. O espaço foi preenchido
pelo financiamento via bancos ,
que subiu de 16,7% para 27,8%.
“Dar crédito em tempo real,
sem histórico, não é para qual-
quer um”, diz o cofundador e
CEO da consultoria, Gastão
Mattos. Ele acredita que ainda
há espaço para o crescimento
do segmento no país, tendo em
vista a demanda de consumido-
res e lojistas por alternativas de
parcelamento, mas pondera
que é preciso construir mode-
los de negócio sustentáveis. “Há
uma seleção natural, uns saem,
uns quebram, uns consolidam.
Sobrevive quem realmente con-
segue validar o crédito”.
A consultoria estima um mer-
“Há, para fintechs,
a dificuldade de
concorrer com o
próprio varejo, que
sabe conceder
muito bem crédito”
Edson Santos
semelhante, evoluindo de
uma abordagem mais
fundamentalista para a adoção
de estratégias quantitativas.
Outros fundos, como D.E.
Shaw Group e Renaissance
Technologies, já consolidados
no campo quantitativo, têm
validado essa abordagem com
seu sucesso contínuo. Com a
capacidade de processar
volumes maciços de dados e
identificar padrões sutis, esses
fundos exemplificam o poder
da tecnologia para potencializar
a eficácia do setor de
investimentos. Essa mudança
sinaliza uma tendência crescente
de combinar insights humanos
com a precisão dos dados e
algoritmos, um padrão que
tem se tornado cada vez
mais comum nos principais
hedge funds do mundo.
O psicólogo e laureado com o
Prêmio Nobel em economia,
Daniel Kahneman, em seu mais
recente livro “Ruído – Uma
Falha No Julgamento Humano”,
argumenta que o ruído, ou a
variabilidade indesejada nos
julgamentos, é uma falha
sistemática em nossa
tomada de decisão. Ele aponta
Rongel conta que a estratégia
tem sido construir uma oferta e
uma estrutura que permita au-
mentar a base de alta renda. Na
área batizada de C6 Carbon Part-
ners, para atender essa segmenta-
ção, há 400 profissionais e outros
120 assessores de investimentos —
área iniciada em 2021. “É um pú-
blico que demanda contato mais
próximo na parte de serviços de
banking ou em investimentos.”
A segmentação está dividida
por faixa patrimonial. A partir de
R$ 100 mil, o investidor já é atendi-
do por um pool de assessores, de-
pois o corte vai de R$ 500 mil a R$ 3
milhões, e de R$ 3 milhões a R$ 10
milhões e acima. A quantidade de
clientes por atendimento cai con-
forme o tamanho do bolso, chega
a uma razão de quatro para um no
topo da pirâmide. Investidores
com mais de R$ 1 milhão pontuam
em 3,5 vezes por dólar no cartão de
crédito Carbon. “De um ano para
cá, o C6 praticamente dobrou o
cado potencial de R$ 200 bilhões
ao ano para o BNPL no país.
A fintech BoletoFlex, de BNPL,
foi comprada no fim do ano passa-
do pela Open Co, resultado da fu-
são entre Geru e Rebel. O fato de
ser parte do grupo deu mais resi-
liência à operação no cenário
atual, diz Pedro Noll, diretor de de-
senvolvimento de negócios da
Open Co. Ele afirma que a fintech
foi mais cautelosa no último ano e
optou por não aumentar a origina-
ção e aguardar a melhora no nível
de inadimplência. “Começamos a
explorar bastante os clientes que
conhecíamos e já estamos vendo a
inadimplência cair bastante.”
De acordo com ele, a BoletoFlex
está agora em um momento de
voltar a acelerar gradualmente a
concessão. A fintech atende cerca
de 200 lojistas e quer lançar em
breve uma opção de BNPL para a
pessoa jurídica, com foco nas com-
pras on-line. Até setembro, a em-
presa passará a usar somente o no-
me Geru. Noll acrescenta que vê
um cenário em que mais empresas
passarão por consolidações. “É um
mercado difícil. Acho que não é
um nicho de muitos ‘players’.”
Outraparticipante,aKoin,expan-
diu a sua prateleira de produtos e fo-
cou a oferta de crédito nos setores
em que acredita ter maior diferen-
cial competitivo. Hoje, a fintech
tambématuacomoumaplataforma
de pagamentos no e-commerce, via-
bilizando que lojistas ofereçam
diferentes meios de pagamento.
que os algoritmos, pela sua
consistência, tendem a superar
o julgamento humano,
especialmente em campos
complexos e incertos como a
gestão de investimentos. Este
pensamento ecoa fortemente
na atual tendência de hedge
funds internacionais de se
apoiarem cada vez mais em
abordagens sistemáticas.
Na evolução do mercado
global de hedge funds, o
contexto brasileiro apresenta
uma peculiaridade. Enquanto
vemos uma tendência forte
em direção a estratégias mais
quantitativas e sistemáticas
internacionalmente, no
Brasil, os multimercados —
equivalentes aos hedge funds
internacionais — ainda têm
muito a evoluir nesse sentido.
Nós, como gestores de
recursos, dedicamos uma
quantidade considerável
de nosso tempo avaliando
o mercado, cenários
macroeconômicos e políticos.
Esta análise é fundamental para a
tomada de decisões informadas,
mas também pode consumir
recursos valiosos. Enquanto nos
perdemos no ritmo frenético de
Rongel, do C6: ‘smart fund’ permite negociar ativos e ter diferimento fiscal
número de investidores e no inter-
nacional abre dez vezes mais con-
tas. A estratégia de investimen-
tos está indo bem”, diz Rongel.
O C6 foi fundado em 2018 pelos
ex-BTG Pactual Marcelo Kalim,
Leandro Torres e Carlos Fonseca
(que deixou a sociedade). Em ju-
nho de 2021, o J.P. entrou no capital
“No BNPL, não desaceleramos
crescimento, mas optamos por tra-
balhar em segmentos que somos
mais fortes, como turismo, móveis,
educação e cosméticos”, disse Lu-
cas Gonzales, diretor de produtos
da Koin. A ideia é começar a expan-
dir mais as concessões a partir do
segundo semestre. A Koin trabalha
hoje com cerca de 1,2 mil lojistas e,
no segundo trimestre, começou
o processo de expansão no Méxi-
co, em parceria com a Decolar.
Já o cofundador e CEO da Paga-
leve, Henrique Weaver, afirma que
o momento segue positivo para o
mercado, porque há demanda pe-
lo produto. “Não vejo sinal de de-
saceleração, pelo contrário. Mas
a questão é que é difícil de fazer. É
preciso crescer de uma forma
que seja saudável financeira-
mente para a empresa”, diz.
Segundo ele, o volume transa-
cionado pela fintech cresceu 25 ve-
zes em 2022, a taxa de aprovação
supera 50% e a inadimplência está
abaixo de 2%. A empresa recebeu
um aporte de R$ 130 milhões em
agosto do ano passado e está pre-
sente hoje em 2 mil lojas, acrescen-
ta. A PagaLeve opera no modelo
sem juros e a BoletoFlex, com. A
Koin oferece as duas opções.
Dados levantados pela GMattos
indicam que o índice de aprovação
em fintechs BNPL fica, no geral, en-
tre 25% e 40%. A inadimplência aci-
ma de 90 dias está entre 10% e 25%
e os juros praticados vão de 50% a
150% ao ano, segundo o estudo.
avaliações e previsões, muitas
vezes nos esquecemos de um
questionamento crucial: o
nosso processo de gestão,
tanto individual como
corporativo, é o melhor possível
dentro do cenário atual?
Não se trata apenas de
questionar as decisões de
investimento, mas também o
processo por trás dessas
decisões. As estratégias
quantitativas e sistemáticas
não são apenas sobre
processamento de dados em
larga escala ou algoritmos
sofisticados — elas representam
uma maneira diferente, mais
estruturada e replicável de
pensar sobre investimentos.
Ao adotar essas abordagens,
podemos melhorar a
consistência e a eficácia de
nosso processo de tomada de
decisão, reduzindo o ruído e
a variabilidade indesejada
em nossos julgamentos.
No Brasil, temos a
oportunidade de aprender com
a evolução dos hedge funds
internacionais e integrar os
aspectos mais eficazes das
abordagens sistemáticas em
nossas práticas. Ao fazê-lo,
GABRIEL REIS/VALOR
do banco, uma incursão no varejo
bancário brasileiro em que poucos
estrangeiros tiveram sucesso, mas
em tempos mais analógicos.
.com
Leia reportagens sobre investimentos
e finanças pessoais no site
www.valorinveste.com
CAROL CARQUEJEIRO/VALOR.
“Sobrevive quem
realmente
consegue validar
bem o crédito”
Gastão Mattos
Para o sócio fundador da con-
sultoria Colink e especialista no
mercado de meios de pagamento,
Edson Santos, o momento não é
necessariamente de consolidação,
mas as empresas precisam encon-
trar nichos para se diferenciar. Ele
afirma que chamará atenção do lo-
jista quem tiver uma base repre-
sentativa de clientes pré-aprova-
dos. “Há a dificuldade de concor-
rer com o próprio varejo, que sabe
conceder muito bem crédito.”
O alto volume de brasileiros en-
dividados é outro desafio e, nesse
sentido, o programa de renego-
ciação Desenrola, do governo fe-
deral, pode ajudar, acrescenta.
não apenas nos adaptamos às
tendências globais, mas também
nos colocamos em uma posição
para liderar a próxima onda de
inovação em gestão de ativos.
Refletindo sobre as
tendências internacionais, me
vejo otimista quanto à
transformação na gestão de
recursos no Brasil. Acredito
que, ao invés de dependermos
exclusivamente de uma análise
puramente fundamentalista
tradicional, a união da
sabedoria e da experiência
humana à precisão analítica
dos métodos quantitativos
pode abrir um novo horizonte
de possibilidades, e esta
abordagem desempenhará um
papel cada vez mais relevante
no futuro da indústria de
gestão de ativos em nosso país.
Jonas Doi é co-CEO e portfólio manager
da Alphatree Capital
E-mail: jonas.doi@alphatree.com.br
Este artigo reflete as opiniões do autor, e
não do jornal Valor Econômico. O jornal não
se responsabiliza e nem pode ser
responsabilizado pelas informações acima
ou por prejuízos de qualquer natureza em
decorrência do uso destas informações.
 Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Ano 24 | Número 1171

Gestão Hotel
Pedro Os 100
Parente está anos do
‘À Mesa com Copacabana
o Valor’ Palace
6 10

Confusão
inflacionária
Economia Mais recente onda de aumentos de
preços pelo mundo pegou bancos centrais
despreparados depois de quase três décadas de
relativa estabilidade. Por Vivian Oswald, para o
Valor, de Londres

A onda de inflação que varre parte lorização significativa da sua moeda, banco central na Europa, os BCs têm
do mundo desenvolvido e em desen- reduzindo de 95% para 5% a quantida- seus limites de atuação e um leque li-
volvimento criou confusão entre os de de prata com a qual era cunhada. mitado de instrumentos de que po-
bancos centrais e especulações sobre A inflação que se seguiu à iniciativa dem lançar mão com seus mandatos.
seus limites de atuação. Para um nú- levou o imperador Diocleciano no ano Afinal, não são instituições democra-
mero crescente de economistas, os 301 d.C a tabelar os preços de 130 pro- ticamente eleitas. Ele afirma que a
guardiões da política monetária fa- dutos considerados essenciais para a confusão sobre os sinais pós-pandê-
lharam. Demoraram a entender que economia — entre eles o de leões ma- micos a respeito das diversas econo-
os sucessivos choques a que a econo- chos. Mais tarde, Constantino se viu mias não aconteceu apenas entre os
mia global havia sido submetida des- obrigado a promover uma reforma BCs. Dividiu economistas da acade-
de a pandemia causaram mais do que cambial em formato que ficou conhe- mia e dos mercados.
um descompasso temporário de pre- cido entre os brasileiros 17 séculos de- Em seu mais recente relatório “World
ços. Tinham efeitos duradouros. Daí a pois nas diversas versões de planos Economic Outlook”, o Fundo Monetário
celeridade — ou a falta dela — nas res- econômicos no auge da era inflacio- Internacional (FMI) tampouco teria sido
postas. A explicação para tantos erros nária da década de 1980. claro sobre seus diagnósticos da infla-
de leitura estaria na percepção que se King afirma que temos memória his- ção. “É uma grande confusão. Muitos fa-
consolidou durante quase três déca- tórica curta e precisamos aprender tores ao mesmo tempo, e, por isso, tão
das de relativa estabilidade dos preços com os erros do passado. Por esta razão difícil quantificar o que estava e está
globais de que o maior fantasma para ele voltou à Roma Antiga antes de co- acontecendo”, diz.
as economias depois de grandes crises meçar a enumerar em seu livro as 14 li- O que começa a ficar claro, contudo,
eram a deflação, a recessão e o desem- ções que autoridades monetárias e go- é que o papel dos BCs continua o de ser
prego. Inflação era coisa do passado. vernos pelo mundo devem reter. King ágil e manter a vigilância. O consenso
Para a perplexidade dos britânicos afirma que é preciso reconhecer que a é o de que esse ainda é o melhor remé-
com hipotecas ou empréstimos imobi- inflação é um processo tóxico. Não se dio contra a inflação. Disso depende a
liários a pagar, o Banco da Inglaterra pode fingir, diz, que é problema técni- credibilidade e a eficácia das políticas
(BoE, na sigla em inglês), como é cha- co a ser resolvido por tecnocratas de conduzidas por essas instituições. E is-
mado o banco central do país, acaba de bancos centrais apenas. “É muito mais so se dá não apenas pela questão téc-
promover o 14 o aumento seguido dos que isso. É importante que os formula- nica e matemática.
juros básicos, que atingiram 5,25% ao dores de políticas conheçam sua pró- Os movimentos das autoridades mo-
ano. As estatísticas indicam que até pria história e armadilhas. Precisamos netárias servem de âncora para as ex-
37% da população pode ser afetada pe- saber história e não apenas modelos.” pectativas do grande público quando as
la medida nesse país que tem no mer- Os modelos econômicos, segundo pessoas confiam na sua atuação. “O BC é
cado imobiliário sempre aquecido um ele, são baseados em amostras de da- como um juiz de futebol, a quem cabe a
de seus motores. Nos Estados Unidos, dos limitados, construídos para repli- função de dar cartões amarelos e verme-
onde essas operações costumam ter car o passado e se encaixar na história. lhos. Se em uma partida ele resolve ser
prazos de até 30 anos, os efeitos de rea- Ou seja, se os últimos têm por base o mais leniente, na seguinte os jogadores
justes são menos imediatos. longo e recente período de estabilida- se aproveitam: farão um jogo mais sujo
No Reino Unido, porém, a maioria de, vão projetar estabilidade para o fu- e cheio de faltas”, destaca King.
das hipotecas é de curto prazo. Va- turo, o que acabou não acontecendo. Para o professor de economia da Lon-
riam de seis meses a um ano em boa Para King, a era da inflação estável don School of Economics (LSE) Ricardo
parte dos casos. Talvez este tenha sido acabou. “Vivemos uma nova era em Reis, as três décadas encerradas em 2020
o motivo para que a instituição de- que a estabilidade de preços duradou- foram o período de melhor sucesso no
morasse mais tempo para subir os ju- ra já não está mais garantida”, repete controle da inflação e o mais longo com
ros do que suas contrapartes no Ve- como uma espécie de mantra. preços tão baixos e tão estáveis.
lho Continente. O medo de desenca- Segundo o ex-economista de um “Houve na altura do famoso padrão
dear uma crise com impacto no setor
bancário não diminuiu, porém, o
problema das famílias, que agora se
veem diante de juros que não eram
tão altos desde a década de 1980.
Paradoxalmente, a mensagem repe-
tida nos últimos meses era a de que se
tratava de inflação passageira. Mas
com os índices oscilando no patamar
mais alto dos últimos 40 anos (a alta
dos preços de alimentos mantém-se
em insistentes dois dígitos), cerca de
2,4 milhões de famílias deixaram de
pagar pelo menos um boleto em ju-
lho, segundo o grupo Which?. Tem si-
do assim desde o início do ano. Isso
obrigou o BoE a correr atrás do prejuí-
zo. A demora é alvo de críticas.
No outro extremo, o Banco Central do
Brasil comunicou na semana passada o
primeiro corte na Selic desde agosto de
2020. A taxa caiu para ainda elevados
13,25% ao ano. A decisão foi unânime
entre os membros do Comitê de Política
Monetária (Copom), mas o percentual,
não. O Brasil foi um dos primeiros países
a elevar juros. Também foi alvo de críti-
cas, sobretudo de dentro do governo. O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez
questão de levar a público seu descon-
tentamento com a autarquia, que teria
custado a cortar o percentual.
Velha conhecida de bancos centrais
e economistas, a inflação atormenta a
humanidade há pelo menos 2 mil
anos, segundo o consultor econômico
do HSBC Stephen D. King em seu livro
“We Need to Talk About Inflation” (Ya-
le University Press). Sem dinheiro para
financiar múltiplas guerras, o podero-
so Império Romano promoveu desva-
2 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
ouro inflação em média baixa, mas al-
tamente volátil. Tivemos, às vezes, in-
flação alta e menos volátil. Nunca tive-
mos ao mesmo tempo tão baixa e pou-
co volátil. Isso aconteceu por causa de
um paradigma intelectual de práticas
que combinavam foco na fixação das
taxas de juros por bancos centrais in-
dependentes, com metas para infla-
ção. E isso, dos Estados Unidos ao Bra-
sil, funcionou. Por que em 2021 deixou
de funcionar? Por azar, em função dos
choques à economia, mas também por
má política monetária de vários ban-
cos centrais e erros de discussão entre
meados de 2021 e 2022”, diz Reis.
“Nos últimos 12-18 meses adotou-se
boa política monetária, convencional,
nada de moderna, nada diferente do
que tinha sido a regra até 2020. E, sur-
presa, surpresa, a inflação está caindo
de todos os lados e estamos a ganhar o
combate”, explica o professor da LSE,
que tem PhD em Harvard.
No entanto, há decisões que não ca-
bem, nem poderiam, aos bancos cen-
trais. São políticas de médio e longo
prazos que precisam ser debatidas e
implementadas por governos com
mandatos concedidos pelo voto po-
pular. Talvez eles pudessem ter atuado
mais nestes últimos dois anos.
“Um BC não tem instrumentos além
dos conhecidos de política monetária. E
é bom que seja assim, porque o BC é
uma agência, em muitos países, autôno-
ma com certa independência, mas não é
agência eleita. Não são membros de um
governo eleito”, prossegue essa fonte.
“O problema da falta de mão de
obra no Reino Unido, por exemplo, ou
nos Estados Unidos, pode gerar o de-
bate sobre a abertura do mercado pa-
ra imigrantes para reduzir os preços
dos serviços. Isso não cabe a um BC. Pa-
ra esse tipo de decisão é preciso ter le-
gitimidade democrática”, diz. Esse é
um imenso desafio, sobretudo em um
mundo cada vez mais polarizado.
Para King, os bancos centrais não po-
dem perder seu objetivo básico. A al-
guns foram concedidos múltiplos focos,
sem que lhes fossem oferecidas ferra-
mentas adicionais em contrapartida. E
isso dilui o foco na estabilidade de pre-
ços. “No fim do anos 1970, reconhe-
ceu-se que derrubar a inflação era
pré-condição para criar empregos e esti-
mular o crescimento, o que facilitou o
clima para a atuação dos BCs”, explica.
Mas a questão, segundo ele, é que a
independência dessas autarquias em
si não garante o controle da inflação.
No início dos anos 1980, a ex-primei-
ra-ministra britânica conservadora
Margaret Thatcher (1925-2013), que
entrou para a história como a Dama
de Ferro, adotou medidas duras para
combater a inflação. “Por mais impo-
pulares que fossem, ela sempre podia
dizer que foi eleita com suas políticas
e reafirmar sua legitimidade política.
Mas um BC tecnocrata não tem como,
porque depende do apoio do governo
do dia. Se esse governo tirar o apoio, o
BC corre o risco de perder a indepen-
dência de uma vez, ou de perdê-la in-
diretamente”, afirma o autor.
Mas os governos tampouco podem
agir sozinhos e devem ter em mente que
a inflação é antidemocrática. “Entre as
muitas fraquezas associadas à Teoria
Monetária Moderna, talvez a que mais
chame atenção seja a ideia de que se
possa depender de governos democrati-
camente eleitos para cuidar do valor do
dinheiro. A justificativa para a existên-
cia de bancos centrais operacionalmen-
te independentes está no fato de que es-
tão menos sujeitos a cair nas tentações
associadas a ciclos eleitorais e, em casos
extremos, à falta de comprometimento
fiscal”, diz King em seu livro.
Para o ex-funcionário do BC na Eu-
ropa, a autarquia brasileira viveu seu
primeiro teste de confiança como
banco central independente em uma
transição de governo. “É muito im-
portante que comece bem e reafirme
sua independência, conquistada há
dois anos. É um selo de qualidade,
que serve para reafirmar aos investi-
dores que o governo não fará bestei-
ras no futuro. E o BC não é indepen-
dente das instituições democráticas
— o Senado o controla. É muito im-
portante não perder o controle no
início. Se começa mal, só piora”, diz.
Para Ricardo Reis, o que garantiu a
queda de juros no Brasil foi justamen-
te o fato de o BC ter sido um dos pri-
meiros do mundo a subir a taxa.
“Qualquer política monetária certa
ou errada dos Estados Unidos vai sem-
pre ter grande consequência em uma
pequena economia aberta como a bra-
sileira. Por isso, os erros e a inflação nos
Estados Unidos refletiram-se também
numa subida de inflação no Brasil.
Quando isso acontece e o Federal Re-
serve [Fed] sobe os juros, como fez nos
últimos meses, normalmente o que
acontece, como vimos nos últimos
anos, é que havia grande crise financei-
ra no Brasil. Como o BCB agiu depressa
e não cometeu os erros dos outros, pas-
sou 24 meses sem uma crise financeira,
o que é raro”, salienta Reis.
“Vivemos uma Para o professor da LSE, os bancos
centrais não anteciparam os choques
nova era em que de 2021, que interpretaram como
transitórios e promoveram política al-
tamente expansionista em meio a ta-
a estabilidade xas de juros extraordinariamente bai-
xas, apesar de a inflação estar subindo.
de preços “Foi preciso bater os 4% a 5% ao ano pa-
ra começarem a subir juros já com
duradoura já enorme atraso. Os BCs foram lentos
para promover a transição da fase de
combate à deflação para a do embate
não está mais contra a inflação”, destaca.
As falhas dos BCs deram início a novo
garantida” debate sobre as causas da inflação. De-
ram munição a um discurso político
Stephen D. King
que colocaria a culpa da alta de preços
ao que tem se chamado de “greedinfla-
tion” (inflação da ganância, em tradu-
ção livre), que seria representada pela
sanha das companhias de maximizar
seus lucros. O argumento parece perfei-
to quando se veem os lucros bilionários
publicados por grandes empresas de
petróleo e bancos nos anos recentes.
Para King, no entanto, esse é ape-
nas mais um sintoma da doença. Se o
aperto monetário já estivesse em vi-
gor, diz, não haveria espaço para au-
mento de margens de lucro. Além
disso, ele afirma que os lucros de em-
presas na economia americana já es-
tavam mais altos e não se refletiam
em disparada dos preços.
Outro tópico trazido para o debate
foi a necessidade de se aumentar, ou
não, as metas de inflação, o que Reis
considera grave erro. Para King, fazê-lo
seria lido de duas formas: como a cor-
reção de um equívoco estratégico dos
BCs, ou simplesmente que tinham de-
sistido de seu objetivo. Tudo isso pesa-
ria sobre a credibilidade conquistada a
duras penas nos últimos anos.
Parte da crise de avaliação dessas ins-
tituições desde 2021 estaria, segundo
Reis, justamente no fato de as expectati-
vas da população (de que a inflação bai-
xaria) estarem descoladas da ação dos
bancos centrais nos países desenvolvi-
dos. Em alguns países, como no Reino
Unido, chegou-se a cogitar ressuscitar
ideia adotada repetidas vezes nas déca-
das de 70 e 80, o tabelamento de preços.
“Sabemos que a inflação pode ser do-
mada a partir de política monetária e
que o BC é o principal instituição a lidar
com isso. Alguns governos também fo-
ram na direção de controle de preços, o
que, em casos extremos, pode até aju-
dar, mas que sabemos que não é solução
sustentável”, diz o especialista em eco-
nomia aplicada a políticas públicas e
macroeconomia da LSE Ethan Ilzetzki.
“BC [brasileiro]
agiu depressa e
não cometeu os
erros dos
outros”
Ricardo Reis
PETE MAROVICH/BLOOMBERG
Tomando a situação pelo lado oti-
mista, segundo ele, é preciso reco-
nhecer que essa é a primeira vez que,
diante de um período altamente in-
flacionário, os bancos centrais em to-
do o mundo, até mesmo em merca-
dos emergentes, estão essencialmen-
te seguindo a mesma cartilha. “É cla-
ro que há muitas escolhas a serem fei-
tas. E os diferentes BCs estão analisan-
do as situações de maneira distinta e
fazendo suas opções”, diz.
Para Ilzetzki, há ainda a questão das
expectativas. Ele destaca aspecto curio-
so que diferencia a situação e confunde
a atuação dos BCs em diversos países.
“Em nações de alta renda, o complica-
dor é que há inflação muito alta, mas a
expectativa do público é de que vá bai-
xar porque confiam no BC.” Isso seria
um elemento de credibilidade, que teria
dado a essas autarquias certo conforto
para esperar e conferir se se tratava de
tendência transitória ou não.
No caso brasileiro, segundo ele, foi o
oposto: era preciso agir de maneira
mais agressiva e se antecipar aos fatos
para garantir a credibilidade da políti-
ca monetária. Aos olhos do grande pú-
blico e dos mercados. “O Brasil ficou
em uma situação particular. Era aque-
le jogo de quem pisca primeiro”, afir-
ma. E a reação do BC era importante
justamente porque precisava atender
de maneira equilibrada a preocupa-
ções importantes dos mercados.
Havia o risco de o Brasil se portar co-
mo a Turquia, onde há ingerência de
um presidente forte sobre as institui-
ções econômicas, o que assustava os
agentes financeiros de um lado. De ou-
tro, na avaliação de Ilzetzki, há o fato
de a dívida pública brasileira ser muito
alta para um mercado emergente de
acordo com padrões históricos.
“Não é preciso acreditar em más in-
tenções de políticos para ver o problema
aqui. Com os juros onde estão, é sabido
que essa dívida não será sustentável. Ou
seja, o BC não tem como manter os juros
tão altos por tanto tempo, sob o risco de
empobrecer o governo do Brasil e cau-
sar um default. Essa era outra preocupa-
ção dos mercados”, destaca.
O fato é que os sucessivos choques
sofridos pelas economias não tinham
como não confundir os bancos cen-
trais. Políticas expansionistas, pertur-
bações nas cadeias de suprimentos, o
descolamento das expectativas do pú-
blico em relação às políticas monetá-
rias e a guerra russa na Ucrânia, que
gerou pressões sem precedentes sobre
os preços de energia e de alimentos.
Tudo isso teve impacto sobre os diver-
sos países de maneira diferenciada.
Na Europa, onde havia maior depen-
dência da energia russa, as consequên-
cias foram mais evidentes. A tradição
energética teria um custo alto. As taxas
de inflação também variam entre as 27
nações da UE, que têm economias de ta-
manhos e formatos distintos. Nos EUA,
onde se acredita que o Fed volte a elevar
os juros em setembro, as pressões infla-
cionárias causadas pelo expansionismo
monetário não acabaram.
A poupança dos americanos cresceu
de maneira significativa durante a
pandemia, o que explica o ritmo alto
de consumo na economia. Ilzetzki
lembra que os pacotes de estímulos
concedidos à época pelo governo ame-
ricano foram muito mais generosos do
que aqueles no Reino Unido e na UE.
Em tempos diferenciados, a expecta-
tiva agora é a de que países consigam
finalmente conter a inflação. Otimista,
Reis diz acreditar que os índices de pre-
ços voltem aos trilhos nos principais
países do mundo nos próximos 12 me-
ses. Aparentemente, até no Reino Uni-
do. Embora a inflação dos alimentos
ainda esteja muito acima do que se
considera razoável (17,1%), no mês
passado o índice de preços ao consu-
midor caiu para o nível mais baixo em
um ano: 7,9% ao ano.
Nesta ilha, que ainda vive as conse-
quências nefastas do Brexit sobre o
mercado de trabalho e a produção e
que depende da importação de ali-
mentos da UE, especialistas admitem
que a inflação está mais entranhada
na economia do que se imaginava.
Reis lembra que os BCs precisam esco-
lher se serão “pombos” ou “falcões”, no
que seria a tradução do jargão do mer-
cado para “dovish”, que favorecem a ex-
pansão monetária e portanto o corte de
juros, ou “hawkish”, que eleva as taxas
para restringir a base monetária.
O importante é não baixar a guarda
e aprender com o passado, segundo
King. É preciso estar preparado para
novos choques. Um deles pode ser o fa-
to de a Rússia ter se retirado do acordo
que permitia a passagem da produção
de grãos da Ucrânia pelo mar Negro. A
especialista em cadeias de suprimen-
tos da Universidade de Massachusetts
Amherst, Anna Nagurney, afirma ao
Valor que o entendimento é crítico pa-
ra manter a estabilidade dos preços
globais de alimentos. “Os preços subi-
ram 17% na bolsa de Chicago depois
que a Rússia se retirou do acordo no
início de julho. Noventa por cento das
exportações agrícolas da Ucrânia pas-
sam pelo Mar Negro”, salienta.
Mas o problema, segundo a econo-
mista, é que a pressão sobre os preços
começou a aumentar antes mesmo da
iniciativa recente russa. Isso porque as
autoridades daquele país já tinham re-
duzido de forma importante a velocida-
de dos controles e inspeção sobre as ex-
portações, o que já vinha reduzindo os
volumes transportados para o mercado.
Segundo ela, foram realizadas 11
inspeções no mês de julho, contra 173
em janeiro. Rotas alternativas ao mar
Negro, segundo ela, são extremamen-
te onerosas, o que também terá im-
pacto direto sobre os preços. “A Ucrâ-
nia deve produzir 31% menos trigo, ce-
vada, milho e outros grãos nesta tem-
porada do que o que fazia antes da
guerra. E essa estimativa foi feita antes
da destruição de campos-chave por
inundações naquele país”, afirma.
A falta de mão de obra também de-
ve continuar afetando mercados co-
mo o americano e o britânico, onde os
preços dos serviços continuam subin-
do. Isso sem falar na continuada com-
petição entre empregados e emprega-
dores, salários e preços da economia,
após esse período de inflação alta, co-
mo lembra Ilzetzki. ■
STEPHEN JAFFE/FMI
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4 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
A força da leitura compartilhada
Sociedade Clubes femininos encorajam
mulheres de diversas formações e
atuações em meio a uma sociedade
ainda machista. Por Helena Carnieri,
para o Valor, de Curitiba
Elas se reúnem em livrarias, cafés ou
restaurantes e se multiplicam em
grande velocidade. Em vez de retrair, a
pandemia parece ter fortalecido gru-
pos de mulheres que leem juntas, e
nessa união encontram muito mais do
que um aprendizado literário.
“É quase uma terapia. Ajuda a enten-
der nosso papel na sociedade e ver que
não estamos sozinhas, que todas têm
suas demandas diárias, o que dá uma
sensação de pertencimento”, conta Síl-
via Rago, de 36 anos, professora da área
de fisioterapia na Universidade Federal
do Paraná e grávida da segunda filha.
Além dos clubes propostos por edito-
ras como aditivo nas vendas, grupos es-
pontâneos de mulheres, ligadas ou não
ao mundo da literatura, se formam ao
redor do país. Em suas preferências de
leitura dos grupos estão autoras, mas
não de forma exclusiva. Alguns títulos
recorrentes entre os grupos ouvidos pe-
lo Valor são “O conto da aia”, de Marga-
ret Atwood; “Torto arado”, de Itamar
Franco, cujas protagonistas são duas ir-
mãs; “Caderno proibido”, da ítalo-cuba-
na Alba de Céspedes, em que o empode-
ramento da protagonista Valeria, nos
anos 1950, vem ao começar a escrever
um diário; “Mulheres que correm com
lobos”, em que a psicóloga junguiana e
escritora americana Clarissa Pinkola Es-
tés chama as mulheres para abraçar sua
natureza selvagem; entre outros, como
“Quarto de despejo”, de Carolina Maria
de Jesus.
No caso da médica dermatologista
mineira Eneida Andrade Carvalho, de
60 anos, a ideia de formar um grupo
veio ao assistir ao filme “Clube de Lei-
tura de Jane Austen” (2007), em que
cinco mulheres e um homem se de-
bruçam sobre a autora inglesa do sé-
culo XIX e encontram surpreendentes
relações com suas vidas. Como mora-
va em cidade pequena e conhecia pou-
Coluna Social
Livro para
ler, livro para
consumir
José de Souza Martins
O livro é instrumento
ativo de ensino e
aprendizado, mesmo fora
da escola. É obra, como
texto e produção física.
Situa-se no campo da arte
ca gente que também gostasse de ler,
procurou na internet “como montar
um clube de leitura”, e foi assim que
encontrou dicas valiosas, como o nú-
mero ideal de participantes: de 6 a 12.
O resultado é que o grupo, que se
reúne em Bariri (SP), onde ela mora,
completa oito anos em 2023 e reúne
hoje oito mulheres — mais um rapaz
que pediu para participar no ano pas-
sado e foi aceito. E lá se vão cerca de 50
livros lidos, analisados, degustados.
Não deixa de ser surpreendente, con-
siderando ser esse um grupo espontâ-
neo, sem o estímulo de nenhum agen-
te do mercado editorial.
Nesse período, até a filha pequena
de uma das participantes cresceu e
passou a frequentar também — mas a
média de idade é elevada, em torno de
60 anos. “Ultimamente temos uma
tendência a ler temas mais atuais, tal-
vez por uma necessidade de aprender,
de estar por dentro do que está nas mí-
dias, de entender, de romper com nos-
sos preconceitos, talvez devido à faixa
etária da maioria”, pondera Carvalho.
Após participar desse grupo no inte-
rior de São Paulo, Sílvia Rago levou a
ideia para seu grupo de amigas em Cu-
ritiba, onde mora hoje. Convidou
quem gosta de ler, mas uma foi cha-
mando a outra e hoje estão em 12 mu-
lheres — muitas têm em comum a es-
cola dos filhos. “Os encontros nos dão
um lugar de fala, pois muitas das leitu-
ras são de autoras ou têm protagonis-
tas mulheres, e podemos contrapor
nossa experiência pessoal frente às
personagens. Surge uma conexão mui-
to importante entre as participantes.”
O momento de entrada num clube do
livro pode ser uma busca ativa ou um
acaso — ou ainda vir num momento de
necessidade por novos vínculos, como
foi com a psicóloga Graziele Zonta, de
41 anos, que se engajou num grupo en-
A Secretaria de Educação do Esta-
do de São Paulo anunciou a dispensa
dos 10 milhões de livros didáticos
fornecidos pelo governo federal para
distribuição aos alunos das escolas
paulistas. Em seu lugar optou pelo li-
vro virtual, acessível pela internet. É
uma inovação modernosa, antipeda-
gógica. O secretário não explicou o
que é para ele a natureza da diferença
entre o livro físico e o livro virtual.
Faz objeção ao conteúdo desses li-
vros físicos. Portanto, não conseguiu
ou não achou necessário explicar aos
educadores, aos pais de alunos e aos
próprios alunos suas razões para, no
intuito de impor um suposto conteúdo
novo, impor também uma forma de
deslivrar o livro do que lhe é próprio,
de destituí-lo de sua forma de livro se-
gundo a tradição e a cultura do livro.
Quando se fala em livro, fala-se
também na forma da sua apresenta-
ção, de sua acessibilidade e de seu
uso. Tradicionalmente, a forma do li-
vro não se separa do seu conteúdo e
do modo de usá-lo.
É claro que, tanto na forma física
quanto na forma virtual, o livro é pa-
ra ser lido. O que pode, pois, diferen-
çar, o livro apresentado sob uma ou
outra? Certamente, não é o conteú-
do. Mas há diferenças entre elas que
implicam diferentes modos de lê-lo.
O livro é instrumento ativo de ensino
e aprendizado, mesmo fora da escola.
É obra, como texto e produção física.
Situa-se no campo da arte. O livro vir-
tual transfere e reduz a mesma obra
para a condição redutiva de produto,
do mero campo da mercadoria. É de-
letável.
Na comunidade de leitores, a pes-
soa se determina pela mediação da
forma e da função do objeto de leitu-
ra. O livro é instrumento de uma so-
ciabilidade de que a escola também
é. A proposta do secretário dessocia-
liza o livro que é meio decisivo na so-
cialização das novas gerações.
Eneida Andrade
Carvalho (sentada,
primeira à esq.)
formou seu clube
em Bariri há oito
anos
Ainda não se provou que o livro
virtual pode cumprir as mesmas fun-
ções cumpridas pelo livro físico. Li-
vro é texto e contexto. O livro físico
implica uma demora da sua função,
numa temporalidade da leitura que
é completamente diversa da do livro
virtual. Ele se propõe ao leitor como
instrumento de uma visão de mun-
do, a da leitura como presença per-
manente do outro, ao mesmo tempo
cotidiana e histórico-social. O livro
físico é para ler, usar, lembrar, admi-
rar. É para durar.
Na vida dos verdadeiros leitores, os
livros são parte de sua biografia, de
sua relação com o mundo. O livro é
objeto de afeto, tem lugar determi-
nado na estante, como o tem nas re-
ferências vivenciais do leitor.
Livro se dá de presente e tem um
lugar em nossa vida. Cumpre a fun-
quanto passava por uma separação. “Eu
nem acompanhava lançamentos de li-
vros, mas fui aprendendo muito com
elas, lendo tudo que sugerem”, conta.
Seu clube está lendo junto há cinco
anos, tendo resistido à pandemia.
Nesse modelo, que reúne mulheres
de várias formações, é unânime a pre-
ferência por discussões mais leves, não
intelectualizadas, sem pressão para
que todas tenham terminado a leitura.
“Trocamos impressões e sentimentos.
Para mim, os livros ajudam a revisitar
minha história, pensar sobre mim, as
coisas em que acredito, e imaginar o
que faria no lugar das personagens — e
como psicóloga é claro que reflito so-
bre a identidade no mundo atual, o
que me ajuda também”, reflete Zonta.
Nas discussões, inevitavelmente a
conversa passa por temas coinciden-
tes da vida das mulheres hoje, como a
divisão de trabalho doméstico, o cui-
dado com os filhos e a gestão do tem-
po entre família e trabalho — e como
encaixar a leitura no meio de campo.
Muitas se surpreendem ao conseguir
dar conta de mais essa tarefa, graças
aos títulos instigantes.
“Questões feministas entram nas
discussões, mas não são o foco. Tem
enredos que se entretecem com ques-
tões feministas, que levam a uma dis-
CARVALL
ção de presença do ausente — do
amigo, dos pais, dos avós, dos irmãos,
das pessoas que admiramos e ama-
mos. O livro, como as flores, é uma
expressão do querer bem, é o retorno
simbólico do ausente.
O livro virtual é destituído dessas
qualidades, menos a de que pode ser
lido. Ele não se torna parte da vida de
quem só pode clicar-lhe o link para o
ler. É redutivamente um instrumento
do dedo indicador sem tornar-se ne-
cessariamente instrumento das ricas
possibilidades do cérebro.
O livro eletrônico é uma abstração,
despojada dos sentimentos que o
tornam meio de construção social da
condição humana, uma mediação na
humanização do homem ao longo de
uma história. Desde o dia em que Gu-
temberg, por meio dele, transfor-
mou-o em instrumento da liberdade.
DIVULGAÇÃO
cussão sobre as possibilidades de ser
mulher em diferentes contextos so-
ciais. Outros transitam por outros ca-
minhos”, conta a psicóloga. “O bom é
que cada uma tem liberdade para fa-
lar suas impressões, que são mediadas
pelas suas histórias de vida, seus tra-
balhos, por outras leituras, interesses.
Cada uma fala sobre o que lhe afeta.”
Existem ainda grupos especializa-
dos, em que há a mediação de uma
profissional de literatura ou psicolo-
gia. Mical Cavalcante de Oliveira, psi-
cóloga especialista em psicoterapia
junguiana e autorrealização, é um
exemplo de alguém que une as duas
coisas em ciclos de leituras voltados
exclusivamente a mulheres. “Lemos
contos de fadas com um viés de des-
pertar e curar o feminino”, explica.
Por fim, em busca de ampliar a di-
vulgação da literatura produzida por
mulheres, o grupo Leia Mulheres, ins-
pirado no projeto #readwomen2014,
é uma opção fácil para se engajar,
aberto a todos os interessados. Com li-
derança de Juliana Gomes, Juliana
Leuenroth e Michelle Henriques, co-
meçou em São Paulo, mas nesses oito
anos já se espalhou para mais de 100
cidades do país, com mais de 400 me-
diadoras e aberta a novas cidades que
não tenham o clube ainda. ■
Em meu College, em Cambridge, nu-
ma biblioteca do século XVI, ainda
há livros, anteriores a Gutenberg, pe-
sadíssimos, atados por uma corrente
ao móvel da leitura. Gutenberg desa-
tou-os dessa prisão restritiva.
Em casa, temos uma biblioteca de
aproximadamente 3 mil volumes.
Cada livro tem em nossa vida uma
história, uma significação. Lemos e
relemos, fazemos marcas com lápis
de cor, cada cor um indício da cons-
trução da leitura. Cada leitura de um
mesmo livro nos revela um livro dife-
rente. Nossos livros, nas marcas, têm
uma dimensão arqueológica.
Um link de livro virtual não me de-
volve a diversidade de momentos de
sua leitura, que transformaram o úni-
co em muitos. Todo livro é um livro de
poesia, a poesia da vida do leitor, só
possível num livro físico, enquanto
meio de conhecimento e objeto de
afeto. É impossível amar um link.
O livro virtual reteve do processo
histórico e da cultura redutiva que le-
vou a ele sobretudo o que lhe é im-
próprio, a condição de mercadoria e
de objeto de consumo. Livros não são
para consumir, são para ler, por aqui-
lo que a leitura propriamente signifi-
ca. Há nele, portanto, uma das di-
mensões de nossa alienação moder-
na. O livro virtual é também para ser
lido. Mas em sua circunstância vazia
acaba sendo instrumento de uma lei-
tura sempre inacabada. É inútil vol-
tar a ela para reencontrar o que ficou
faltando, pois é o que não está lá.
José de Souza Martins é sociólogo. Profes-
sor Emérito da Faculdade de Filosofia da
USP. Professor da Cátedra Simón Bolivar,
da Universidade de Cambridge, e fellow
de Trinity Hall (1993-94). Pesquisador
Emérito do CNPq. Membro da Academia
Paulista de Letras. Entre outros livros, é
autor de “Sociologia do desconhecimen-
to - Ensaios sobre a incerteza do instan-
te” (Editora Unesp, 2021). ■

GPS
Poder e
Ao longo de seus dois primeiros man-
datos, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva indicou nove ministros do Supre-
lacração no mo Tribunal Federal. Foi o presidente
eleito com o maior número de indica-
ções da história, condição que se conso-
Supremo lidará neste terceiro mandato com a in-
dicação de Cristiano Zanin e com o pre-
enchimento da vaga da ministra Rosa
Weber, em outubro.
Ninguém foi mais sondado por
Lula para assumir a vaga do que Sig-
maringa Seixas. Advogado militante
pela anistia na ditadura, elegeu-se
deputado constituinte pelo MDB, foi
um dos fundadores do PSDB e con-
quistou seu segundo mandato pelo
PT. Recusou a primeira sondagem
por avaliar que nunca havia se pre-
parado para o Supremo .
No segundo convite, pós-mensalão,
já tinha se dado conta de que o vento
não era movido pelo notável saber jurí-
dico, mas já tinha 63 anos e, a aceitar a
vaga e encabeçar uma campanha para
estender a idade limite para 75 anos,
Maria Cristina como acabaria sendo feito, preferiu de-
Fernandes Em “O clinar. Trabalhou por Carlos Alberto
Menezes Direito para a vaga e se valeu
Supremo, entre o direito e do trânsito junto à oposição para bai-
xar a temperatura das crises ao longo
a política”, Diego dos mandatos de Lula. O presidente te-
ve sua companhia até Curitiba quando
Arguelhes rompe o foi preso em abril de 2018, mas não ob-
teve licença do Supremo para compa-
silêncio em torno dos recer ao velório do amigo, que, oito
meses depois, morreria em decorrên-
poderes da Corte, cia de um transplante de medula.
Até aquele momento só havia regis-
exacerbados pelo 8 de tro de uma única recusa ao cargo, a do
advogado Sobral Pinto, que, mais de 50
janeiro, e questiona a anos antes, foi sondado pelo então pre-
sidente Juscelino Kubitschek para assu-
imersão dos ministros no mir uma cadeira na Corte. Udenista e
anticomunista, Sobral Pinto não votou
debate político do país em JK, mas encabeçou a “Liga pela de-
fesa da legalidade”, em defesa de sua
candidatura. A causa que mais o em-
polgou na vida, como disse ao “Pas-
quim”, batia de frente com os militares.
Em outra entrevista, reproduzida no
documentário de 2013, de sua neta,
Paula Fiúza, “Sobral - O Homem que
Não Tinha Preço”, o advogado deu sua
versão para a recusa: “Eu tinha feito a
afirmação categórica numa carta de
que eu não aceitaria nada do Juscelino
porque eles afirmavam que eu estava
cansado de lutar e que teria no governo
Juscelino uma situação de grande rele-
vo. Então eu disse, não senhor. Eu inter-
vim para defender a Constituição e a
posse de um homem que havia sido
eleito e não para ter vantagem. Podiam
pegar esta carta, enfiar na minha cara e
dizer: de que vale sua palavra?”.
É a ausência de personalidades co-
mo Sobral Pinto e Sigmaringa Seixas
ou a centralidade política adquirida
pelo STF que tornam impensável a re-
prise de suas recusas? A leitura de “O
Supremo” (Intrínseca, 2023), de Diego
Werneck Arguelhes, sugere que as ex-
plicações não sejam excludentes.
Há ministros que, hoje, a exemplo de
Sigmaringa e Sobral, poderiam ter sido
indicados por outros presidentes. Os
indicados pela ex-presidente Dilma
Rousseff (Luis Roberto Barroso, Edson
Fachin, Luiz Fux, Rosa Weber e Teori Za-
vascki) poderiam, na visão de Argue-
lhes. O que parece improvável é que
um convite para a Corte que se trans-
formou no eixo da polarização da polí-
tica nacional viesse a abrigar hoje ta-
manho desprendimento.
Arguelhes discute reformas como a
adoção de um mandato, a elevação da
idade mínima e novos critérios para a
sabatina, mas o maior mérito do livro é
o de não se furtar a discutir os excessos
do Supremo a despeito do papel da
Corte na defesa da democracia.
A pergunta que atravessa o livro —
“Eles podem fazer isso?” — vai da insta-
lação do inquérito das Fake News, em
2019, sem provocação do ministério
público ou da polícia e sem sorteio de
relator, à suspensão do cargo do gover-
nador do Distrito Federal, Ibaneis Ro-
cha, por 90 dias, em decisão monocrá-
tica do ministro Alexandre de Moraes,
também tomada de ofício, ou seja, sem
provocação institucional.
A investida de Moraes, justificada
por alguns pela inação do procurador-
geral da República, acabou por ser o
primeiro teste para as mudanças pro-
movidas no regimento por iniciativa
da presidente da Corte, Rosa Weber.
Por unanimidade, os ministros limita-
ram seus próprios poderes como nun-
ca o haviam feito, com a inclusão ime-
diata das decisões monocráticas na
pauta do colegiado e a liberação, tam-
bém compulsória, dos pedidos de vista
para julgamento. A decisão de Moraes
foi automaticamente pautada e confir-
mada pelo plenário.
Foi um golpe no que Arguelhes
chama de prerrogativa mais injusti-
ficável do Supremo, o poder de os
ministros, individualmente, deter-
minarem a pauta da Corte. Um pedi-
do de vista contra o atual presidente
da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ficou
mais de dois anos sem movimenta-
ção na Corte por um pedido de vista
do ministro Dias Toffoli. Outro, so-
bre a constitucionalidade do finan-
ciamento de campanha por empre-
sas, foi concedido quando já havia
maioria contrária. O ministro Gilmar
Mendes, contrário à proibição, man-
teve a vista por mais de um ano, im-
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | 5
NELSON PROVAZI
possibilitando a vigência do veto na
eleição de 2014.
Quando Arguelhes concluiu o livro,
ainda havia dúvidas se as novas regras,
de fato, pegariam, mas, em quase oito
meses de vigência, os prazos têm sido
obedecidos. O problema que se apre-
senta é outro. Decisões individuais
questionáveis, que reforçam o poder
político dos ministros, como o afasta-
mento de Ibaneis, foram mantidas no
colegiado, o que indica aval institucio-
nal aos excessos individuais na Corte,
ainda que a decisão tenha sido tomada
sob o impacto das invasões bárbaras.
Caberá ao próximo presidente da
Corte, Luis Roberto Barroso, consolidar
esta limitação dos poderes individuais
e enfrentar aquele que Arguelhes argu-
menta ser um dos maiores problemas
do Supremo — “Um tribunal que deci-
de o que quer, quando quer, não con-
segue convencer as pessoas de que está,
de fato, sujeito ao direito”.
Barroso se filia entre os reformistas
do Supremo, o que não significa que
seja um silente cumpridor da Lei Orgâ-
nica da Magistratura. Muito pelo con-
trário. Foi obrigado a um raro pedido
de desculpas ao Senado, onde se acu-
mulam pedidos de impeachment con-
tra os ministros da Corte, depois de ter
usado o verbo “derrotar”, na primeira
pessoa do plural, para o bolsonarismo.
Em 2016, durante a campanha elei-
toral, a ministra Ruth Ginsburg fez coi-
sa parecida. Numa entrevista, disse ser
incapaz de imaginar o que seria do país
com Trump presidente e indignou-se
com sua recusa a tornar pública sua de-
claração de Imposto de Renda.
A ministra foi tão bombardeada pela
imprensa que a Corte publicou nota
oficial, em nome de Ginsburg, com o
pedido de desculpas. Foi a primeira
vez, segundo Arguelhes, que um minis-
tro da Suprema Corte americana criti-
cou na imprensa um candidato à Presi-
dência. Tanto Ginsburg quanto seu
amigo e antípoda ideológico, Antonin
Scalia, ambos falecidos, protagoniza-
ram um período de exposição máxima
daquela Corte, com palestras, entrevis-
tas, livros e até uma peça de teatro ba-
seada na relação de ambos.
Se nenhum ministro do STF jamais
apareceu fazendo flexão em programa
de TV, como Ginsburg, também é ver-
dade que nenhum dos colegas ameri-
canos tem conta em rede social. Argue-
lhes faz o apanhado das contas no
Twitter: Moraes (1 milhão de seguido-
res), André Mendonça (477 mil), Gil-
mar (513 mil), Barroso (418 mil).
O advento das redes sociais ampliou,
para um outro meio, a exposição ad-
quirida pelos ministros com o televi-
sionamento das sessões. Não é coinci-
dência que o ministro que mais defen-
deu a criação da TV Justiça tenha sido o
mais histriônico de todos.
Arguelhes faz uma minuciosa re-
constituição dessa exposição pública,
que não se restringe a Mello. Em 2016
ele defendeu, numa entrevista, que os
presidentes dos Três Poderes (Dilma
Rousseff, Eduardo Cunha e Renan Ca-
lheiros) renunciassem. Em 2022, criti-
cou o Supremo por ter “ressuscitado”
Lula politicamente. Tanto falou que, ao
apoiar Bolsonaro, em 2022, a condição
de ex-ministro já não fazia diferença.
A exposição pública dos ministros
do STF é uma exceção no próprio Judi-
ciário. Em 2015, quando ainda não ha-
via feito sua inflexão, Gilmar Mendes
disse que o PT havia transformado o
país num “sindicato de ladrões”. Pro-
nunciava seu voto no TSE. Mas não pe-
gava mais leve fora dos autos. Num
evento na Fiesp, disse que a Lava-Jato
havia revelado uma “cleptocracia”. Em
2019, escolheu o “Roda Viva” para
anunciar que mudaria seu entendi-
mento sobre a execução provisória de
pena em segunda instância.
Em 2022, André Mendonça postou,
no Twitter, a defesa de seu voto pela
condenação do deputado Daniel Sil-
veira pela ameaça a ministros do Su-
premo. Dias Toffoli, no mesmo ano, an-
tecipou, para uma plateia empresarial
em Nova York, seu voto na tese do mar-
co temporal das terras indígenas.
Arguelhes rejeita a tese de que os mi-
nistros se expõem para se defender dos
ataques que nunca foram tão agudos
quanto a partir da chegada de Bolsona-
ro ao poder. A exposição individual só
amplifica os ataques. É como institui-
ção que a Corte deve se defender. O Su-
premo não reconhece a competência
disciplinar do Conselho Nacional de
Justiça sobre seus ministros. Aceita
apenas o impeachment, a “bomba atô-
mica” criada para não ser usada.
Zanin entrou no Supremo porque
Sigmaringa e Sobral não deixaram clo-
nes. Mas sua discrição, na Lava-Jato, su-
gere alguma esperança no capítulo ex-
posição pública. A próxima a sair, a si-
lente Rosa Weber, não tem competido-
ra neste quesito. Arguelhes aposta na
autocontenção. A ver. É mais do que a
liturgia do cargo que está em pauta. É a
submissão às leis que regem a magis-
tratura. Se os ministros da mais alta
Corte do país não são capazes de fazê-
lo, abrem um flanco para que se ques-
tione os julgamentos que presidem.
Maria Cristina Fernandes, jornalista do Va-
lor, escreve neste espaço quinzenalmente
E-mail: mcristina.fernandes@valor.com.br ■
6 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
À Mesa com o Valor
Pedro Parente
‘Minha especialidade não é negócio,
mas organizar pessoas e recursos para
alcançar resultados’, diz o executivo,
agora dedicado a investimentos na área
de energia. Por Roberto Rockmann, para
o Valor, de São Paulo
A receita
do bolo
Ao meio-dia e meia em ponto de uma
terça-feira de tempo frio e chuvoso em
São Paulo, Pedro Parente entra na sala
de reunião preparada para o almoço.
Os pratos e a comida já estão sobre a
mesa. Não há tempo a perder. Os dias
têm sido corridos: além de sócio na eB
Capital, cujo escritório é o cenário deste
“À Mesa com o Valor”, ele tem dedicado
tempo para a família nas férias e ajuda-
do na mudança de casa.
Depois de nove meses de reforma, o
novo apartamento está ficando pron-
to. Nele tem passado também horas
de lazer na montagem do novo siste-
ma de som de última geração, feito
sob medida para ouvir sua coleção
eclética de CDs, de chorinho aos ál-
buns do quarteto de Liverpool.
Há um ano tem concentrado sua
atenção na eB Capital, gestora de in-
vestimentos cujo propósito é adquirir
participações em empresas brasilei-
ras que trazem soluções para lacunas
estruturais do país. O potencial do
Brasil na transição energética fez a
firma anunciar em julho que vai lide-
rar investimentos de R$ 600 milhões
em uma nova companhia de gestão
de resíduos e produção de biogás.
Batizada de Bioo, a empresa vai come-
çar com três unidades de produção do
combustível renovável a partir de resí-
duos industriais, a primeira delas a ser
construída ao lado do polo petroquími-
co de Triunfo, no Rio Grande do Sul.
Investir em biogás no Brasil não é
novidade, já há grandes empresas
produzindo a partir de resíduos de li-
xo ou de resíduos do agronegócio,
como a vinhaça. A diferença da Bioo
será tratar o resíduo de indústrias, co-
mo as de empresas de proteína ani-
mal. “Isso é um problemão para as
empresas hoje e para o meio ambien-
te. Transformar esse lixo em biometa-
no, que tem mesma molécula do gás
natural, só que renovável, permite
que esse gás ainda seja conectado em
qualquer gasoduto”, diz Parente.
Outro investimento está na econo-
mia circular. A gestora investiu na Gre-
en PCR e pretende transformá-la na
maior recicladora do país buscando
ocupar um gargalo existente.
Grandes fabricantes de cervejas e re-
frigerantes têm metas de trabalhar com
50% de material reciclado até 2030,
mas hoje enfrentam dificuldades no
Brasil para atingir essa meta. Além de a
cadeia brasileira não ter capacidade pa-
ra atender a essa demanda, as empresas
que envasam com plástico reciclado
precisam receber o material limpo, sem
resíduos alimentícios.
Parente ingressou como sócio na
eB Capital quando foi convidado para
comandar o conselho de administra-
ção da BRF, em 2019. O convite para
ingressar na gestora veio do funda-
dor da eB, Eduardo Sirotsky Melzer,
em um almoço em uma unidade do
Rodeio em São Paulo. Tinham ficado
amigos quando Parente esteve à fren-
te da reestruturação da RBS entre
2003 e 2009. Melzer é membro da fa-
mília controladora da RBS. Luciana
Ribeiro, que também esteve na RBS
nessa passagem, é outra sócia.
Ingressar em uma gestora era uma
forma de Parente ganhar experiência
em outra área. “Eu estava indo para a
BRF, mas na negociação já incluí que
ficaria algumas horas por semana pa-
ra poder me dedicar à gestora, e de-
pois, quando deixei a BRF, pude me
concentrar. O Brasil pode contribuir
para a crise de alimento, de energia
no mundo”, diz.
A maioria dos investidores da eB é
de family offices do Brasil e investido-
res qualificados, mas a gestora anali-
sa uma janela de oportunidade de
captação de recursos fora do Brasil.
“Em transição energética, o Brasil é
um destaque no mundo e a área de
energia, como solar, é uma que pode
atrair investimentos.”
A atenção à gestão de risco se in-
tensificou. Parente usa sempre um
ensinamento aprendido ainda nos
tempos em que esteve no Ministério
da Fazenda, com Roberto Setubal,
quando o então presidente do Itaú
negociava a compra do Banerj, banco
estadual do Rio de Janeiro, que tinha
sido saneado pelo governo federal.
“Em seguro, mesmo quando a proba-
bilidade é baixa, mas o sinistro é alto,
não se pode desconsiderar a probabi-
lidade. O olhar aos detalhes no essen-
cial tem de sempre estar presente”,
disse-lhe o banqueiro, ao justificar
um pedido de provisão extra depois
de Parente ter dito que o governo ha-
via acertado todas as pontas.
Aos 70 anos, completados em mar-
ço, Parente agora está em um novo mo-
mento na rotina de trabalho. “Estou
mudando um pouco a natureza das
coisas que eu faço. Atividade executiva
é extremamente demandante e tira
qualidade de vida, à medida que a ida-
de avança vai se buscando equilíbrio”,
diz, antes de comer um pedaço de sal-
mão grelhado. Além de mais tempo
com a família, tem buscado fazer mais
exercícios físicos, como correr.
Neste ano ele completa 20 anos na
iniciativa privada, depois de três dé-
cadas como servidor público, período
em que esteve envolvido em várias
crises e reestruturações. “Muitos me
perguntam por que eu dei certo em
coisas tão diferentes, mas a resposta é
simples: minha especialidade não é
negócio, mas organizar pessoas e re-
cursos para alcançar resultados”, diz,
retrocedendo ao início de sua carrei-
ra profissional.
O trampolim para a iniciativa pri-
vada foi a gestão da crise de energia
em 2001. Em 1999, quando iniciou
seu segundo mandato, Fernando
Henrique Cardoso cogitou o nome de
Parente para comandar a Petrobras,
mas resolveu indicá-lo para despa-
char no Palácio do Planalto ao seu la-
do. Estava no governo desde 1995,
quando se tornou braço direito de Pe-
dro Malan no Ministério da Fazenda.
Tinha conhecido Malan no governo
Sarney, quando o economista era ne-
gociador da dívida externa brasileira
e Parente trabalhava na criação da Se-
cretaria do Tesouro.
Foi como ministro da Casa Civil
que Parente viveu seu maior desafio
no setor público: o racionamento de
energia elétrica de 2001. FHC o no-
meou líder da Câmara de Gestão da
Crise de Energia, núcleo que reunia
vários ministérios e os bancos públi-
cos e detinha poder para criar decre-
tos e portarias que iam de reajustes
tarifários a medidas de segurança pú-
blica. Quando o governo FHC come-
Foto: Leonardo Rodrigues/Valor
çou a discutir a crise de energia, no
início de maio de 2001, falava-se em
cortes compulsórios rotativos de seis
a oito horas de energia elétrica nas
maiores cidades do Brasil.
Parente acabou decidindo por ou-
tro caminho: gestão de redução de
20% do consumo de energia a partir
do engajamento da população. Para
ajudar no gerenciamento da crise,
chamou o consultor Vicente Falconi,
Cardápio a quem tinha conhecido no BC anos
Insalata (entrega*)
antes. O gerenciamento do raciona-
mento se baseou no método PDCA –
Saint-Peter com 1 52 “plan, do, check and act”, ou seja, fa-
mix de castanhas zer o plano, implementar, conferir e
Salmão grelhado 2 156 promover melhorias contínuas.
com salada A partir dali adotaria a “receita de
Entrega - 27,04 bolo” em cada uma das crises ou rees-
Total - 235,04 truturações de que participaria. O
*Cortesia da eB Capital país evitou os blecautes rotativos nos
grandes certos urbanos e as previsões
de caos. Parente diz não ter tido me-
do de aceitar o convite para gerenciar
a crise de energia. “Ela era tão maior
que eu. Se eu não tivesse sucesso, se-
ria logo esquecido.”
O trabalho fez com que Parente
fosse escolhido por Fernando Henri-
que para liderar, no fim de 2002, o
processo inédito de transição entre o
governo Fernando Henrique e Lula.
Trocou o Palácio do Planalto por um
escritório no Centro de Treinamento
do Banco do Brasil, numa área de 800
metros quadrados.
Em 2003, Parente viu que voltar ao
serviço público significaria retornar
ao Banco Central em um cargo buro-
crático. Julgava-se jovem para se apo-
sentar. Analisou que ingressar na ini-
ciativa privada poderia ser um cami-
nho interessante. Foi conversar com o
então presidente da Ford, Antonio
Maciel, que tinha feito rota similar
anos antes. Recebeu a indicação de
procurar um headhunter que pudesse
ajudá-lo. Marcou um encontro com
Guilherme Dale, da Spencer&Stuart.
A gestão da crise de energia ainda
estava fresca no mercado. Ouviu que
um grupo grande familiar estava à
procura de um executivo para liderar
a reestruturação da dívida. O empre-
go não era na região Sudeste. Parente
disse não ser problema, uma vez que
deveria se mudar de Brasília (ele é ca-
rioca e a família havia se mudado pa-
ra Brasília quando ele tinha dez
anos). Na terceira conversa com Dale,
soube que a empresa era a RBS, dona
de jornais, estações de televisão, de
rádio e um portal na internet.
Fez as malas com a família e mu-
dou-se para Porto Alegre. “O que me
atraiu mais no Grupo RBS foi o fato
de que é um grupo sério de jornalis-
mo e que também procurava defen-
der o interesse público, coisa para a
qual eu fui educado ao longo dos 30
anos de carreira de servidor”, relem-
bra-se o executivo.
Sentou-se com os principais credo-
res e renegociou condições para as dí-
vidas da empresa. Com o Bradesco,
reuniu-se com Lázaro Brandão, com
quem tinha conversado muito no ra-
cionamento de energia, quando o
banco era acionista da CPFL.
Em paralelo, fizeram um programa
ousado de redução de dívida e au-
mento de receita atrelado a metas va-
riáveis aos funcionários que contri-
buíssem. Em um ano, conseguiram
alcançar os objetivos que seriam a

princípio atingidos em cinco. Ficou
sete anos como vice-presidente na
RBS e forjou amizade com os herdei-
ros do grupo, como Eduardo Sirotsky
Melzer, o que o levaria à posição atual
— um dos sócios da eB Capital.
Ao deixar a RBS, foi para São Paulo
para comandar a Bunge, uma das
maiores do setor agrícola. Ficou qua-
tro anos. Já tinha uma poupança que
o permitiria descansar, mas nem che-
gou a pensar na opção: em maio de
2016, a presidente Dilma Rousseff foi
afastada do cargo e Michel Temer as-
sumiu a Presidência.
Parente estava descansando com a
família em uma fazenda em Campi-
nas quando seu celular tocou. Do ou-
tro lado da linha, Temer disse que
gostaria de conversar com ele em Bra-
sília. Parente respondeu que estava de
partida para Nova York para partici-
par de um evento da Câmara Brasilei-
ra de Comércio. Voltaria na quin-
ta-feira daquela semana e iria ao en-
contro de Temer, que disse que espe-
raria. A razão logo seria conhecida.
Quando aterrissou em Nova York,
viu-se diante de uma multidão de re-
pórteres que queriam confirmar se
seria mesmo presidente da Petrobras.
Disse que não tinha recebido convite.
“Não tinha sido convidado mesmo, a
notícia vazou por Brasília, mas eu
aproveitei a viagem em Nova York pa-
ra conversar com pessoas que eram
próximas da Petrobras, como o Nel-
son Carvalho, que estava no conselho
dela”, diz. Voltou ao Brasil e foi con-
versar com Temer.
No Palácio do Planalto, em uma
conversa de poucos minutos, recebeu
o convite. “Estou preparado para acei-
tar, mas não numa conversa de cinco
minutos. Eu preciso entender o que o
senhor pensa a respeito da Petrobras
e eu preciso lhe dizer o que eu penso
a respeito da Petrobras.”
Duas horas depois, Temer o rece-
beu para uma conversa longa sobre o
futuro da Petrobras, que naquele mo-
mento registrava a maior dívida cor-
porativa do mundo, cinco vezes supe-
rior à geração de caixa. Reestruturar
naquele caso implicava ter aval do
presidente da República. Saiu da reu-
nião com o cargo e com a promessa
de que a estatal seria gerida sem in-
terferências políticas e buscando pre-
servar os interesses dos acionistas.
Com a carta branca, ele começou a
fazer a sua “receita de bolo”, como
chama o processo pelo qual lidera as
transformações por onde passou. Tu-
do baseado na simplicidade. “Ouvi
uma vez que é preciso saber três coi-
sas: identificar o ponto A, que é onde
estamos, depois avaliar o ponto B,
aonde queremos chegar, e por fim co-
mo ir do início ao fim. Começamos a
fazer isso, principalmente pensando
no ponto B, assegurar o futuro dela.”
O plano contemplou liberdade na
política de preços, redução de 25% nos
investimentos em cinco anos, venda de
ativos em setores não prioritários e saí-
da de setores como produção de bio-
combustíveis, distribuição de gás de
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | 7
LEONARDO RODRIGUES/VALOR ACERVO PESSOAL
Em 2002, em reunião do grupo de gerenciamento de crise de energia
ACERVO PESSOAL
No fim de 2002, quando liderou a transição entre o governo FHC e Lula
ACERVO PESSOAL
Parente e integrantes da equipe da unidade de Concórdia da BRF
ACERVO PESSOAL
Leões no safári na África em que Parente comemorou seus 70 anos
‘Em transição cozinha, fertilizantes e petroquímica.
energética, o Brasil Incluiu ainda entre as principais
é um destaque no metas o objetivo de perseguir índices
mundo e a área de de segurança na operação nos melho-
energia, como solar, res níveis internacionais — anos antes
é uma que pode
um acidente da BP no Golfo do México
atrair
investimentos’, diz tinha elevado a preocupação do setor
Parente em relação ao tema. Internamente,
buscou levantar o ânimo dos funcio-
nários, afetado pelos desdobramentos
da Operação Lava Jato. Também refor-
çou a eliminação de feudos.
“Cada diretoria era estanque, tinha
uma área de compras e de jurídica,
acelerei o trabalho de unificar. Envol-
vi todos os gerentes executivos no de-
senvolvimento, isso foi um tranco,
porque eles não eram escutados.”
A estatal iniciou uma virada. Em
maio de 2018, quando completava
seu segundo ano à frente da estatal,
celebrou o fato de a Petrobras voltar a
pagar dividendos depois de quatro
anos. A empresa estava no caminho
de registrar seu maior resultado des-
de 2011. Não pôde comemorar os fei-
tos. A política de preços da estatal,
que passou a refletir oscilações diá-
rias, foi o estopim, em maio de 2018,
de uma histórica greve de caminho-
neiros, que paralisou o país e quase
derrubou o governo Temer.
“A política de preços não é capricho
da diretoria. O Brasil não é autossufi-
ciente em derivados e a paridade com
o mercado internacional permitia ou-
tros importadores e o funcionamento
do mercado. Por que o preço muda
todo dia? Se desenquadrar um dia,
pode-se perder grande parte do mer-
cado, o importador compra em um
dia com uma cotação fechada 60 dias
antes”, afirma Parente.
O clima político tornou complica-
do seu futuro na estatal. Sempre viu o
poder como meio e não fim. Não ha-
via mais como continuar à frente da
Petrobras. Renunciou ao cargo para
deixar a presidência com Ivan Mon-
teiro, então responsável pela área fi-
nanceira. Era uma forma de perder os
anéis, mas não as mãos.
“O trabalho permaneceu. A empre-
sa voltou a dar lucro, reduziu a ala-
vancagem e internamente a estrutura
sem feudos ficou ainda mais reforça-
da”, recorda-se. Ficou poucos dias
sem emprego.
Representantes de dois acionistas
da Petrobras, os fundos de pensão Pe-
tros e Previ, procuraram Parente com
uma proposta. Queriam que ele assu-
misse o conselho de administração
da BRF, gigante mundial da área de
alimentos, que vivia um período con-
turbado entre os principais investido-
res. Abilio Diniz, outro dos acionistas,
também pediu que ele aceitasse o
cargo. Deixou o comando do conse-
lho da B3 e acabou acumulando os
cargos de presidente executivo e do
conselho da BRF por um ano.
Um dos problemas identificados
era que o processo de produção era
feito de várias formas diferentes nas
diversas fábricas da empresa no Brasil
e no exterior.
A receita de bolo aplicada por Pe-
dro Parente foi a mesma adotada des-
de quando estava no governo federal:
a gestão baseada no método PDCA —
“plan, do, check and act”. Padroniza-
ção e metas. Em 2022, o executivo
deixou o conselho da BRF comandan-
do a primeira transição tranquila des-
de que a companhia foi criada em
2009, a partir da incorporação da Sa-
dia pela Perdigão.
Em março, celebrou os 70 anos em
uma viagem à África de 15 dias, com
sua esposa, todos os seus filhos, gen-
ros e noras. Foram cinco dias de sol e
praia em Zanzibar e outros dez dias
em safáris atrás dos “Big Five”, como
os africanos designam o grupo de
animais que os turistas mais gostam
de ver: leão, leopardo, rinoceronte,
búfalo e elefante.
Com mais de 50 anos de vida pro-
fissional, ele pensa em aposentado-
ria? “Tem aquela história que diz que
o diabo é o diabo porque é velho.
Acho que ainda tenho muita energia
e experiência.” ■
8 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

DOMINGOS PEIXOTO / AGÊNCIA GLOBO

do há 30 anos com Bia, filha do escri-
tor Rubem Fonseca. O casal fundou a
editora Capivara e vai lançar a fotobio-
grafia de Fonseca (1925-2020). Bia
descobriu que o pai nunca jogou pa-
pel fora. “Achamos carta do Chico
Buarque junto com boleto da Light, e
várias versões corrigidas à mão de seus
livros.” A Capivara também lançará
“Marcel Proust, uma vida em cartas e
imagens” no ano que vem.
A Capivara lançou 20 livros ilustra-
dos. O mais famoso é “Debret e o Bra-
sil”, que, graças a uma carta críptica
de quatro páginas, desvenda a rivali-
dade dos dois pintores mais impor-
tantes da Missão Artística Francesa
que veio ao Brasil no início do século
XIX: Jean-Baptiste Debret e Nico-
las-Antoine Taunay.
Mas nada deu a Corrêa do Lago tan-
to prazer quanto a fotobiografia de
seu avô Oswaldo Aranha, estadista,
ministro de Getúlio Vargas e peça fun-
damental na criação do Estado de Is-
rael em 1947 ao presidir a Assem-
bleia-Geral da ONU. Era o eterno pre-
sente-ausente nas refeições de sua ca-
sa. Nem por isso Corrêa do Lago omi-
tiu o filho que o avô teve fora do casa-
mento com uma cantora de ópera.
“Um clone, tive a impressão de ver
meu avô quando o conheci”, diz.
Proust tornou-se obsessão. Quase to-
das as imagens do livro são inéditas. Só
duas estavam na exposição da Morgan
Library: a foto dos originais de “À la re-
cherche” colados na parede da Galli-
mard em sequência para não embara-
lhar a edição, e a versão alternativa pen-
sada por Proust para o começo de sua
obra: “Pendant bien des années, le soir,
quando je venais de me coucher...”, de-
pois transformada na célebre “Long-
temps, je me suis couché de beune heu-
re” (“Durante muito tempo, costumava
deitar-me cedo” na versão de Mario
Quintana, “Durante muito tempo, dei-
tava-me cedo” na de Fernando Py e “Por
um longo tempo, deitei-me cedo” na de
Mario Sergio Conti).
Cada uma das 267 páginas é uma

Obsessão
O casal Bia e Pedro
Corrêa do Lago na
biblioteca deles:
coleção preciosa de
manuscritos
história com imagens, dos persona-
gens de Proust e daqueles reais que os
inspiraram. Como Marie de Bernarda-
ky para Gilberte, Sarah Bernard — fo-
tografada no caixão — para La Berma,
Carlos Haas para Swann. E Wagner ou,
mais provavelmente, Saint Saëns, para
o compositor Vinteuil, porque foi dele

pelo
a sonata que Reynaldo Hahn tocava
para o amante Marcel Proust na fase
mais fogosa. “Sou o seu pônei”, ele es-
creveu para Hahn, para quem era tam-
bém Buncht ou Munimuls, enquanto
Hahn era para ele Binibuls ou Mintch-
nibuls. Pelo menos um dos persona-

manuscrito
Literatura Como Pedro Corrêa do Lago amealhou uma
coleção de documentos que o tornou uma autoridade em
Proust. Por Norma Couri, para o Valor, de São Paulo
A família francesa observava os 140
documentos expostos na Morgan Li-
brary em Nova York há cinco anos. Ma-
nuscritos de Rasputin, Zapata, Lucré-
cia Borgia, Lenin, Henrique VIII, Mi-
chelangelo, “A biblioteca de Babel” de
Borges... Surpreso, o pai perguntava:
“Como pôde isso tudo ser reunido por
um homem sozinho... e ainda por ci-
ma, um brasileiro!”.
O senhor francês talvez se surpreen-
desse ainda mais se soubesse que as
450 imagens de “Marcel Proust, une
vie de lettres et d’images” foram reuni-
das pelo mesmo brasileiro. O livro, pu-
blicado pela Gallimard, foi considera-
do um dos 100 melhores de 2022 pela
revista “Lire” e um dos seis melhores
sobre Proust pelo “Le Monde des li-
vres”, e ganhou o prestigiado prêmio
Céleste Albaret este ano. Foi o primei-
ro de um não francês a ser premiado.
O brasileiro, no caso, é Pedro Cor-
rêa do Lago, que conta ter ouvido o
relato sobre a família francesa na
Morgan Library de amigos presentes
à exposição. Foi aquela exposição, em
que apresentou dois manuscritos iné-
ditos de Proust, que despertou o inte-
resse da Gallimard.
Corrêa do Lago tinha 19 anos
quando comprou sua primeira carta
escrita por Proust, em Nova York, gas-
tando quase a metade dos US$ 500
que levava para a viagem de um mês
à cidade. Nela, Proust garantia a Ber-
na prestigiada Nouvelle Revue Fran-
çaise, da família Gallimard.
Foi um dos mais famosos episódios
da história editorial francesa. O pri-
meiro dos sete volumes de “À la recher-
che du temps perdu” havia sido rejeita-
do na Gallimard por André Gide, que
mal abrira o nó do barbante dos origi-
nais daquele rapazinho mundano dos
salões parisienses. Outras duas edito-
ras o haviam recusado por acharem es-
tranho “que um sujeito pudesse gastar
30 páginas para descrever um homem
se revirando na cama antes de pegar
no sono”. Foi só depois de ler o livro
editado por Grasset e inteiramente pa-
go por Proust que Gide implorou de
joelhos para publicar o resto dos volu-
mes. Apesar da promessa de Proust de
continuar com Grasset, Gide acabou
conseguindo o que queria.
Corrêa do Lago só voltaria a com-
prar outro documento de Proust 15
anos mais tarde. Mas desde os 11 anos
havia decidido que não colecionaria
moedas como o irmão, nem selos co-
mo o tio. A estreia no mundo dos ma-
nuscritos foi uma guinada de sorte.
Quarto filho dos cinco do embaixador
Antonio Corrêa do Lago, ao circular
seu caderninho em uma das premia-
ções do pai ele conseguiu assinaturas
do presidente Artur da Costa e Silva ao
ministro da Justiça Luís Antônio da
Gama e Silva. Era a manhã do AI-5, 13
de dezembro de 1968.
e Gustavo Franco e colava dos dois.”
Quando o pai ocupou a embaixada bra-
sileira na Bélgica, seu esporte era se en-
furnar na biblioteca da casa.
Aos 12 anos, apoderou-se do livro bri-
tânico “Who’s Who” (quem é quem) e
passou a enviar cartas a nomes influen-
tes listados, que os irmãos gozavam co-
mo “o beijo da morte”. Ele escolhia des-
tinatários mais velhos, os mais famosos.
Com isso o garoto conseguiu resposta
do pianista Artur Rubinstein, do escul-
tor e pintor Joan Miró, da ex-primei-
ra-ministra israelense Golda Meir, da es-
critora Agatha Christie e o livro do filme
“L’enfant sauvage” com dedicatória do
cineasta François Truffaut.
Com essa salada de luminares ele
formou uma coleção que hoje reúne
100 mil documentos. Segundo o texto
que abre o catálogo de sua exposição
“A magia do manuscrito” na Morgan
Library, publicado em seis línguas pe-
la Taschen, é uma das duas melhores
coleções de manuscritos das Améri-
cas, sendo a outra a de John Pierpont
Morgan, o banqueiro cuja biblioteca
deu origem à Morgan Library. Na ex-
posição de itens de Corrêa do Lago lá,
que teve 80 mil visitantes, dois brasi-
leiros brilharam: Tom Jobim no ma-
nuscrito de “Chega de Saudade” e San-
tos Dumont com um de seus desenhos
— “este, para chatear os americanos”,
segundo Corrêa do Lago.
O carioca de 65 anos, dono de uma
gens nasceu por ciúmes, como o amo-
ral Charles Morel, inspirado no violi-
nista Ernest Moret, amigo de Hahn.
O relacionamento com Hahn, pia-
nista nascido na Venezuela, durou a
vida toda — embora o escritor o tro-
casse por outros; as paixões amorosas
de Proust duravam 18 meses. O jovem
diplomata Bertrand de Fénelon mor-
reu no front na Primeira Guerra em
1914 sem lhe corresponder. Mas Lu-
cien Daudet lhe dirigia olhares tão
lânguidos que seu pai, o romancista
Alphonse Daudet, exigiu que Proust
recolhesse todas as fotos de seu filho.
Está tudo na documentação colhida
por Corrêa do Lago. Os primeiros sa-
lões e o encantamento pela vida mun-
dana na melhor sociedade da Belle
Époque de onde colheu, além dos mo-
delos, intrigas, ciúmes, traições. Al-
guns pais, encantados com o jovem, o
queriam como genro até descobrir
que seu interesse era outro.
O Gaston Calmette a quem Proust
dedica o primeiro livro de “À la recher-
che” é o diretor do “Le Figaro” morto a
tiros na redação pela mulher do mi-
nistro das Finanças. Ela temia a publi-
cação das ligações amorosas, suas e de
seu marido.
Proust tem hábito de escrever na ca-
ma, aplicar na bolsa e de desenhar.
Um desses desenhos, sobre o papel de
luto da morte do pai, retrata Reynaldo
Hahn como uma paródia de Cristo
crucificado. Nas fotos de família, a su-
gestão é de que o próprio escritor seria
o fotógrafo.
Estão lá Anatole France, Degas, Mo-
“No mestrado net, Mallarmé, Nijinski, Colette, Man
Ray. E fotos de Nadar entre caricaturas
da PUC-Rio eu de SEM, Caran d’Ache, Cocteau. O últi-
mo bilhete borrado de café. A foto de-
pois de morto, aos 51 anos.
sentava entre Há cartas de Rodin, de Montes-
quieu, cartas de amor nunca entre-
Arminio Fraga gues, cartas onde Proust revela de-
pressão pela morte da mãe e pela ven-
e Gustavo da do apartamento onde mora, ou se
diz arruinado, seria feliz em ser um
corretor da bolsa.
Franco e colava Hoje os códigos são outros, mas Cor-
rêa do Lago está orgulhoso das 90 entre
dos dois” 100 mil cartas de Proust que resgatou —
a maioria se perdeu. Só tem a impressão

nard Grasset a publicação do segun-
do volume de “Em busca do tempo
perdido” (ou “À procura do tempo
perdido”, na nova versão da Compa-
nhia das Letras) em sua editora, e não
Pedro Corrêa do Lago conta que de-
testava esporte, relógios, roupas, carros
e não se interessava nem pela economia
que cursou mais tarde. “No mestrado da
PUC-Rio eu sentava entre Arminio Fraga
Pedro Corrêa
biblioteca de 25 mil livros em sua casa de que às vezes posa de Maria Antonieta,
na Gávea, ex-diretor da Biblioteca Na- e que seu mundo vai acabar. Teve certeza
cional e marchand de artes, já teve li- no dia em que um sobrinho de Bia de 12
vraria em São Paulo, quando represen-
tou a casa de leilões Sotheby’s. É casa-
do Lago anos, ouvindo a conversa, perguntou:
“O que é uma carta?”. ■

Vinho
A disputa É uma imprudência falar de unanimi-
dade quando o assunto é vinho, e mais
ainda é se tentar apontar “o melhor do
por um mundo”. No entanto, se existe uma exce-
ção, ela se chama Château d’Yquem, pelo
menos no que diz respeito a vinhos do-
mito ces. Não há no planeta nenhum outro
que tenha conseguido reunir, ao longo
de mais de três séculos, tanta qualidade,
equilíbrio e elegância, o que lhe dá um
poder de sedução inquestionável. Ex-
pressões como “néctar dourado” ou “ou-
ro líquido” podem parecer chavões, mas,
em se tratando de Yquem, tudo vale.
Para ter todas essas virtudes é necessá-
rio que a mãe natureza seja muito bene-
volente, e ela o é para toda a região de
Sauternes, onde o Château d’Yquem se si-
tua, mas ela exagera no caso dele. De fato,
naquela zona de colinas suaves, situada a
cerca de 40 km ao sul da cidade de Bor-
deaux, uma conjunção favorável de fato-
res climáticos contribui para o apareci-
mento do fungo Botrytis Cinérea, que
Jorge Lucki age sobre os bagos das uvas, levando-os a
Como o conde Alexandre perder água ao mesmo tempo que con-
centra o açúcar e o glicerol (que dá un-
de Lur Saluces, morto na tuosidade ao vinho) e equilibra a acidez e
demais componentes sólidos do fruto.
semana passada, elevou a É um capricho da natureza e tem a ver
com a bruma matinal que recobre os vi-
imagem do Château nhedos no outono em Sauternes. Ela se
forma quando o ar mais quente do rio Ga-
d’Yquem, um vinho doce ronne se encontra com as águas frias do Ci-
ron, seu afluente, que margeia a região, e é
cercado de superlativos a conta para permitir o desenvolvimento e
multiplicação da Botrytis, dissipando-se a
névoa quando o sol esquenta e a brisa so-
pra, a tempo do fungo não enveredar para
uma vulgar e nefasta podridão.
No caso do Yquem, situado no topo da
colina, a situação é privilegiada, tanto para
fomentar a Botrytis quanto para impedir
que ela aja negativamente. Nenhum outro
vinhedo vizinho foi premiado com tama-
nha condescendência e é a senha para que
o Château d’Yquem seja inigualável.
Um presente desses tem de ser maneja-
do adequadamente. Produzir vinhos doces
a partir de uvas botrytizadas já não é uma
tarefa fácil e buscar a perfeição, como é o
caso do Yquem, é mais complicado ainda.
Ocorre que o fungo ataca cada grão de uva
Jorge
Aragão
19.08
Bloco Siga Bem 31.08
Caminhoneira convida Melly e Jota.pê
Leci Brandão slap Ao Vivo
Ingressos:
casanaturamusical.com.br
individualmente, estendendo-se de forma
lenta e gradual por todo o cacho.
Chega a levar 60 dias para isso se con-
sumar, o que obriga a passagens sucessi-
vas no vinhedo, colhendo-se manual-
mente apenas as uvas infectadas. Retira-
se uva por uva e não o cacho inteiro, co-
mo ocorre em outros vinhos. Houve anos
no Château d’Yquem em que foram re-
gistradas até 14 colheitas parciais.
É preciso muita determinação para co-
mandar um Château d’Yquem e não se
deixar levar pelas facilidades. E nesse sen-
tido a família Lur Saluces, à testa do Châ-
teau d’Yquem desde 1785 — data em que
o jovem conde Louis Amedée se casou
com a última herdeira dos Sauvage
d’Yquem —, foi fundamental.
Não houve grandes sobressaltos nas di-
versas sucessões havidas no comando do
château até dezembro de 1968, quando o
marquês Bertrand de Lur Saluces, que co-
meçara a dirigir a propriedade logo depois
da Primeira Guerra Mundial, faleceu sem
deixar herdeiros diretos. A partir daí, a his-
tória mistura vaidades, brigas de poder, in-
teresses financeiros e mau uso do dinheiro,
entre outras facetas negativas.
Mas, ao mesmo tempo, traz exemplos
de competência que mantiveram elevada a
imagem da propriedade, tornando-a ren-
tável pela primeira vez. O personagem cen-
tral desse imbróglio é o conde Alexandre
de Lur Saluces, que passou a ocupar o lugar
do tio, embora não tivesse sido designado
por ele como seu sucessor.
Uma versão dessa história, repleta de
detalhes sempre pouco favoráveis ao con-
de Alexandre, foi escrita pelo jornalista
William Echikson, chefe do escritório da
Dow Jones Newswires em Bruxelas e colu-
nista de vinhos do “Wall Street Journal Eu-
rope”. Ela ocupa 3 dos 15 capítulos de seu
livro “Noble Rot”, lançado em 2004.
Ainda que o autor possa ter cometido
alguns exageros, vários fatos depõem tan-
to contra Alexandre de Lur Saluces que vá-
rios de seus antigos e intransigentes defen-
sores (que o tinham como vítima) passa-
ram a duvidar de sua inocência. Tudo co-
meçou com sua ascensão ao comando do
Château. Por ser o caçula dos três sobri-
nhos do marquês Bertrand, não era ele o
23.09 Mart'nália
01.09
Rita Lee
Para Sempre
Ritaleena e convidades
Classificação indicativa: 16 anos
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | 9
escolhido para dar continuidade à dinastia
Lur Saluces. Seria seu irmão mais velho, Eu-
gène, que ficou com os 47% das ações que
pertenciam ao tio e o título de marquês.
Alexandre trabalhava na propriedade
havia um ano e imaginava fazer carreira
lá dentro, quando a morte do então po-
deroso mentor do Yquem o pegou de sur-
presa. O livro narra suas tentativas para
reverter o quadro com um tabelião e ad-
quirir o direito das ações, sob a alegação
de que seu tio lhe prometera a transfe-
rência a seu favor e estava a caminho do
cartório para assiná-la quando faleceu.
Não deu certo. Porém, a perseverança de
Alexandre, associada ao caráter pacato e
retraído do irmão, fez com que ele conse-
guisse um acordo: ele renunciaria à dispu-
ta pelas ações em troca de um documento
que lhe permitisse assumir o controle ope-
racional do Château. Resumindo, ele não
era o dono, mas parecia ser.
Nos anos 1970, com o mercado vinícola
em crise, sobretudo para vinhos doces co-
mo o Sauternes, a outra parte da família,
descendentes do irmão do Marquês Ber-
trand, sabedores que Yquem dava pouco
lucro, não discutiam uma distribuição
maior de dividendos. A situação financeira
melhoraria muitíssimo a partir de 1983
com o reaquecimento da economia mun-
dial, e o Château d’Yquem começou a ser
lucrativo. Com a entrada de dinheiro, as
coisas começaram a degringolar. Houve
pressão por dividendos e críticas à forma
como Lur Saluces administrava as finanças
e seus gastos com viagens e promoções.
A competência com que Alexandre de
Lur Saluces garantira a qualidade e ele-
vara a imagem do Château d’Yquem,
sempre exaltada por seus parentes, não
foi suficiente para que eles deixassem de
contestar o restante de sua administra-
ção, em especial a parte financeira.
Pouco acostumado a dar satisfação de
seus atos, o conde convocou uma reunião
extraordinária dos acionistas em Paris,
propondo criar uma sociedade em conta
de participação que administraria Yquem
e, fiscalmente, segundo ele, traria vanta-
gens para os sócios em termos de taxação
sobre os dividendos. Deve-se dizer que, por
trás disso tudo, ele teria na nova empresa
Nos encontramos
na música
24.09
Coruja BC1
Cia Aérea Oficial:
poderes ilimitados para conduzir a pro-
priedade sem dar satisfação a ninguém.
Alexandre ficou furioso quando os paren-
tes pediram um tempo para refletir. As
partes romperam relações.
O livro de Echikson relata supostas
manobras de Lur Saluces para conseguir
aprovar a abertura da sociedade em
1992. Isso fez com que seus parentes se
desiludissem e, na impossibilidade de
mudar o rumo das coisas, resolveram
vender suas ações em 1994.
Não foi fácil encontrar interessado em
ficar com uma parte minoritária. A nego-
ciação se tornou viável quando o até en-
tão esquecido Eugène recebeu uma carta
de intenção do poderoso grupo LVMH e
aceitou colocar parte de suas ações para
que o comprador ficasse majoritário. Em
novembro de 1996, a venda do Château
d’Yquem foi notícia no mundo todo.
Depois de uma batalha judicial, cheia
de idas e vindas, o grupo LVMH conse-
guiu assumir o controle. Em princípio e
em parte, a história teve um final feliz,
com uma composição que manteve Lur
Saluces na direção do Château.
Bernard Arnault, presidente da LVMH,
participou diretamente da negociação
com Alexandre, tentando mostrar que
seu objetivo era “proteger e preservar es-
se tesouro”. Em maio de 2004, aprovei-
tando-se da aproximação do 70 o aniver-
sário do conde, o grupo LVMH o substi-
tuiu por Pierre Lurton, diretor-geral de
outro château do primeiro time na Fran-
ça, o Cheval Blanc, que pertence a Ar-
nault e seu amigo Albert Frère.
A partir de 2004, o conde Alexandre
de Lur Saluces passou a consagrar toda a
energia ao Château de Fargues, reduto
de sua família há séculos, ao qual, com-
preensivelmente, dedicou boa parte do
livro “D’Yquem à Fargues, l’excellence
d’un vin, l’histoire d’une famille” (ed.
Gallimard), lançado em 2016.
Alexandre de Lur Saluces morreu na
semana passada, aos 89 anos.
Jorge Lucki escreve neste
espaço semanalmente
E-mail: Colaborador-jorge.lucki@valor.com.br ■
20 e 21.10
e muito +
Apoio:
10 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Centenário
de luxo
Turismo Copacabana Palace completa cem anos rodeado de
histórias. Hotel inventou o bairro de Copacabana e foi
pioneiro na ocupação litorânea. Por Paula Martini, do Rio
Cravado na avenida Atlântica, de
frente para o mar, o Copacabana Pala-
ce não é só sinônimo de luxo e gla-
mour. O “Copa”, como é carinhosa-
mente chamado pelos cariocas, trans-
formou o bairro de Copacabana, foi
peça-chave para a exploração do lito-
ral da cidade e projetou o Rio de Janei-
ro para o mundo, inaugurando a voca-
ção da capital fluminense no turismo.
Há um século, histórias de persona-
lidades que passaram pelos aposentos
do prédio permeiam o imaginário po-
pular, em narrativas que misturam o
real à licença poética dos moradores
da cidade. A abertura do hotel com-
pleta cem anos no momento em que o
Rio discute o processo de urbanização
do município, com a revisão do plano
diretor, e empreende esforços para
que construções históricas tenham de
volta os dias de glória.
O Copacabana Palace foi um dos ho-
téis encomendados pelo presidente Epi-
tácio Pessoa (1865-1942) para a Exposi-
ção do Centenário da Independência do
Brasil, em 1922, junto com o Hotel Gló-
ria, no bairro homônimo, fechado des-
de 2008. Mas a construção do Copa atra-
sou por uma série de problemas — des-
de dificuldades com a maré até imbró-
glios alfandegários —, e as portas só
abriram em 13 de agosto de 1923.
O piso de mármore, os carpetes e
candelabros importados, assim como
os cristais da marca Baccarat expostos
nos salões interiores, contrastavam
com a paisagem de Copacabana no
início do século XX. Longe de ser o
bairro que inspirou boleros e sam-
bas-canção e que tem um ritmo frené-
tico — com dezenas de bares, restau-
rantes, lojas, três estações de metrô,
quatro favelas, além de uma penca de
hotéis —, Copacabana não passava de
um areal com poucos casebres.
Na época, ir à praia e tomar sol de
biquíni tampouco era o ideal de lazer
dos moradores da metrópole que ha-
via se modernizado havia pouco tem-
po, segundo o ideal da belle époque
francesa — abrindo avenidas e expul-
sando os mais pobres, para que damas
e cavalheiros desfilassem de fraque e
chapéu pelo centro da cidade. Hábitos
que foram mudando no decorrer da
primeira metade do século.
“O Copacabana Palace foi colocado
num bairro em expansão num mo-
mento de mudança de comportamen-
to em que o mundo se voltava para o
desfrute da praia, para construção de
um outro modo de vida. E o Rio de Ja-
neiro soube cativar isso de modo mui-
to expressivo. Copacabana, pela sua
beleza natural, pelo modo com que foi
apropriada pela elite econômica e po-
lítica do início do século XX, foi capaz
de comunicar essa novidade do com-
portamento social”, afirma o arquite-
to Sérgio Magalhães, ex-presidente do
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
O hotel erguido às margens do
Atlântico foi inspirado nos pares da
Riviera francesa (o Negresco, em Nice,
e o Carlton, em Cannes), que era point
da elite europeia àquela altura. Aliada
à popularização do automóvel, a cons-
trução foi responsável por abrir os ca-
minhos da cidade em direção aos bair-
ros oceânicos da zona sul — Ipanema,
Leblon, São Conrado — e, mais tarde, à
exploração imobiliária da zona oeste,
culminando com a criação da Barra da
Tijuca, na década de 1980.
“A cidade estava toda concentrada
no centro, mas o sucesso estrondoso
do hotel mostrou que aquelas edifica-
ções de grande porte da região central
eram possíveis junto à praia A legisla-
ção urbanística muda na passagem de
1929 para 1930, provocando um
grande adensamento em Copacaba-
na, mas tudo isso começou com o ho-
tel. O Copacabana Palace, de certa for-
ma, inventa Copacabana”, observa o
arquiteto e urbanista Washington Fa-
jardo, ex-secretário municipal de Pla-
nejamento Urbano do Rio de Janeiro.
À medida que a cidade e o país se
transformaram, reis, rainhas, perso-
nalidades da música e do cinema atra-
vessaram o lobby do Copacabana Pa-
lace. O hotel foi cenário para filmes,
séries e episódios que se perpetuaram
no imaginário popular.
Muitas das histórias envolvem a fa-
mosa piscina, onde o cineasta Orson
Welles teria atirado móveis em um
ataque de fúria, ou onde a cantora Ja-
nis Joplin ficou nua nos anos 1970,
sendo convidada a se retirar. Também
foi na piscina que a Princesa Diana
mergulhou com as luzes apagadas nu-
ma madrugada de 1991, numa vã ten-
tativa de despistar os paparazzi.
“O Copacabana Palace vai ajudar a
sublinhar a zona sul como um lugar
do destino de vida moderna muito em
função do perfil dos hóspedes do ho-
tel. Ele ajuda a construir essa imagem
de que o carioca da zona sul é mais
moderno, mais despojado. E que de-
pois, nos anos 1970, vai ser afirmado
no bairro de Ipanema, com os hippies
e as dunas da praia”, afirma o historia-
dor Clóvis Bulcão.
A ex-deputada Alice Tamborinde-
guy e a irmã — a socialite carioca Nar-
cisa Tamborindeguy, famosa por bor-
dões como “ai, que loucura” — espia-
vam o burburinho da janela do apar-
tamento da família, localizado no
quinto andar do edifício Chopin, vizi-
nho ao Copacabana Palace.
“Eu entrei no hotel muito criança, eu
aprendi a nadar naquela piscina. Então
para a gente era uma coisa natural”, diz
ela aos 63 anos. “Mas hoje eu dou muito
valor. São pouquíssimos hotéis no mun-
do que têm uma estrutura assim tão
suntuosa”, completa Alice, que ainda
mora no mesmo edifício que gerou dis-
córdia na época da construção, na déca-
da de 1950, acusado de “roubar” a priva-
cidade dos hóspedes do hotel.
O Copa foi confiado ao empresário
Octávio Guinle — membro de uma das
famílias mais ricas do país, que fez for-
tuna com a concessão do Porto de San-
tos, criou um banco e uma empresa de
energia elétrica — e projetado pelo ar-
quiteto francês Joseph Gire.
“Foi um negócio inesperado, em
que eles menos acreditaram, e o que
mais glamourizou a família. Você não
pensa na família Guinle quando fala
do Porto de Santos. Ninguém mais
lembra que eles fizeram a Granja Co-
ANDRE MELO ANDRADE/IMMAGINI/FOLHAPRESS
LEO PINHEIRO/VALOR
mary, em Teresópolis. Mas, quando vo-
cê fala em Copa, você pensa em Guin-
le”, observa Bulcão, autor do livro “Os
Guinle - A história de uma dinastia”.
O projeto original previa a instalação
de um cassino, mas o jogo só foi libera-
do no Brasil em 1933, no governo de Ge-
túlio Vargas. Sem as roletas girando, a
administração Guinle buscou outras
formas de pagar as contas em dia.
“Como o cassino não pôde ser aber-
to, o Octávio [Guinle] começou a in-
vestir de maneira maciça no turismo
brasileiro. Ele percebe que a única
forma de manter o negócio seria en-
chendo de turistas. Então ele começa
a ter uma visão de expansão do turis-
mo nacional”, conta o historiador.
A projeção internacional da “brasi-
lidade” também era oportuna a Var-
gas, que incentivou o samba e o Car-
naval como instrumentos de difusão
de um ideal nacionalista durante o
Estado Novo, ocultando a face autori-
tária do governo.
‘Além de ser um A liberação do jogo durou pouco. Em
negócio que precisa 1946, os cassinos foram proibidos nova-
gerar resultados, o mente pelo presidente Dutra, e foi preci-
hotel exige um so desenvolver novas estratégias. A prin-
malabarismo entre cipal delas, capitaneada pelo bon-vivant
a sustentabilidade e
Jorginho Guinle, primo de Octávio,
o cuidado com um
patrimônio inaugurou as “permutas” com celebri-
histórico’, diz o dades e exportou a imagem do Carnaval
gerente-geral do brasileiro. Jorginho viveu no hotel os
Copacabana Palace, momentos finais da vida.
Ulisses Marreiros “As atrizes de Hollywood não eram
tão bem remuneradas como são hoje
em dia e o Jorginho tinha boa entra-
da no meio. Então ele trazia as atrizes,
a Varig [companhia aérea extinta em
2006] transportava e o Copacabana
Palace hospedava de graça. Em troca,
tinha o nome divulgado mundo afo-
ra”, afirma Bulcão.
Foi assim que a atriz Rita Hayworth,
estrela do cinema americano, teria pas-
sado o Carnaval no Rio, em 1962. Os fa-
mosos bailes carnavalescos do Copaca-
bana Palace são frequentados até hoje
por artistas, membros e aspirantes a um
espaço na high society carioca.
Mesmo sem as mesas de apostas, o ho-
tel viveu o período mais efervescente
 Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | 11

EDUARDO ANIZELLI/ FOLHAPRESS

LEO PINHEIRO/VALOR
nos anos dourados de 1950, com pre-
senças ilustres que estamparam as colu-
nas sociais do jornalista Ibrahim Sued.
Édith Piaf, Ella Fitzgerald, Marlene
Dietrich e Nat King Cole agitaram o len-
dário Golden Room, considerada a pri-
meira casa de shows da América Latina,
e a boate Meia-Noite, a mais glamourosa
entre as dezenas que surgiram em Copa-
cabana no auge do samba-canção.
Os bastidores da estada das persona-
lidades também marcaram história. Até
o Zé Carioca teria sido criado nas depen-
dências do hotel, na viagem que Walt
Disney fez ao país em 1942. Dois anos O Restaurante Cipriani
depois, em 1944, a atriz e cantora alemã EDUARDO ANIZELLI/ FOLHAPRESS

Marlene Dietrich chamou a atenção por

um costume inusitado: conta-se que ela
fazia xixi na cama do hotel.
Décadas mais tarde, em 1977, o can-
tor Rod Stewart foi expulso por des-
truir a suíte presidencial jogando fute-
bol. Os dois últimos episódios foram
narrados pelo ex-diretor do hotel José
Eduardo Guinle em uma das últimas
entrevistas antes de morrer, em 2021.
José Eduardo era filho de Octávio
Guinle e Maria Izabel Rodrigues Perei-
ra, a dona Mariazinha, que assumiu os
negócios com a morte do marido.
A passagem para a década de 1960 Suíte Vista Mar número 4013
foi marcada por uma profunda crise, EDUARDO ANIZELLI/FOLHAPRESS

que se agravou com a morte de Octá-

vio Guinle, em 1968, e com a transfe-
rência da capital federal para Brasília,
em 1961. Nos anos 1980, já sofrendo a ARQUIVO / AGÊNCIA O GLOBO

concorrência de redes de luxo que se O Teatro

instalaram na zona sul, o Copacabana Copacabana Palace,
Palace chegou a ficar defasado por palco de estreia de
não ter ar-condicionado nem televi- Fernanda
sões coloridas nos quartos. Montenegro, foi
reinaugurado em
Mesmo com as dificuldades, o hotel
2021, depois de
resistiu ao tempo, ao contrário de con- quase 30 anos
temporâneos, como o Hotel Glória, e foi fechado
comprado pelo o grupo estrangeiro Bel-
mond, hoje comandado pelo conglo-
merado de luxo LVMH, em 1989. No Salões frontais do hotel
mesmo ano, o Copa foi tombado pelo LEO PINHEIRO/VALOR

Patrimônio Histórico Nacional.

“É uma grande responsabilidade
para nós. Além de ser um negócio que
precisa gerar resultados, o hotel exige
um malabarismo entre a sustentabili-
dade e o cuidado com um patrimônio
histórico, ícone para a cidade do Rio
de Janeiro”, diz o gerente-geral do Co-
pacabana Palace, Ulisses Marreiros.
Marreiros está à frente das comemora-
ções pelo centenário, que incluem a revi-
talização da fachada, um pacote pre-
mium com jantar e show de Gilberto Gil
e uma celebração aberta ao público na
praia de Copacabana, com apresentação Brigitte Bardot foi uma das estrelas de cinema que o Copa hospedava de graça Uma piscina que recebeu muitas celebridades
do DJ Alok, em 26 de agosto. ARQUIVO / AGÊNCIA O GLOBO ARQUIVO / AGÊNCIA O GLOBO

Além das diárias, que podem custar

de R$ 2,3 mil a R$ 35 mil — os valores
variam de acordo com os 239 quartos
distribuídos entre o prédio principal e
o anexo, taxas e temporadas —, o Copa-
cabana Palace permanece sendo mais
que um hotel. Os salões do antigo cas-
sino são hoje cobiçados para casamen-
tos, festas de 15 anos e eventos corpo-
rativos. Uma média de mil garrafas de
champanhe são consumidas por mês.
Só no Réveillon, um dos mais famosos
do mundo, 1.200 garrafas de champa-
nhe são estouradas em uma noite.
“Eu diria que o Copacabana Palace
conseguiu sobreviver por conta do re-
quinte. Eles tiveram a clareza de que
ali você está comprando não só um
serviço de hotelaria, mas uma tradi-
ção”, diz Clóvis Bulcão.
O hotel, que atravessou crises eco- JULIO CESAR GUIMARÃES / AGÊNCIA O GLOBO

nômicas e uma Guerra Mundial, só fe-

chou as portas em abril de 2020 por
causa da pandemia. Sem hóspedes, o
Copa ganhou um morador ilustre nes-
se período — o cantor Jorge Ben Jor,
que saiu de casa por causa de uma
obra, mas mora lá até hoje. Nos 132
dias em que o hotel parou pela primei-
ra vez na história, o artista ficou prati-
camente sozinho numa área de 12 mil
metros quadrados, projetada para re-
ceber 100 mil hóspedes por ano. Rita Hayworth (foto
“Eu sempre me hospedava aqui. acima, à dir.), a
[Em 2020] voltei de um show e deu princesa Diana (ao
aquela confusão que ninguém sabia o lado) e os Rolling
que era, e acabei morando. Ficamos e Stones (abaixo)
fizeram parte da
não podia mais sair. Era só eu e a An-
constelação que se
dréa [Natal, ex-gerente do hotel]. A hospedou no
gente não via ninguém na rua, nin- Copacabana
guém na praia. Parecia até que o mun-
do tinha acabado e ninguém avisou”, WILLIAM DE MOURA / AGÊNCIA O GLOBO MÔNICA IMBUZEIRO / AGÊNCIA O GLOBO

relembra Jorge, que teve quatro músi- Ella Fitzgerald

cos da banda internados em UTI por (acima) e Madonna
causa do coronavírus. “Mas, graças a (ao lado), mais duas
Deus, estamos aqui”, completa. estrelas da música
Dividindo-se entre o Brasil e o exte- que são parte da
história do
rior, o músico apareceu de surpresa na
Copacabana Palace
estreia de um musical sobre a história
do hotel, no Teatro Copacabana Pala-
ce. Foi no intervalo da peça que ele
conversou com o Valor.
A história do “teatro do Copa” é um
capítulo à parte. Localizado nos fun-
dos do hotel de mesmo nome, ele foi
reinaugurado em 2021 depois de so-
frer um incêndio e ficar quase 30
anos fechado. Ao longo do tempo, re-
cebeu estrelas da dramaturgia e mar-
cou a estreia da atriz Fernanda Mon-
tenegro nos palcos, em 1950. Ela e a
atriz Tônia Carrero “disputam” o títu-
lo de quem se apresentou mais vezes
no tablado do hotel. ■
12 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Na trilha dos
GABRIEL REIS/VALOR
zer trocas com museus internacionais
e, já mais velho, eu passei a acompa-
nhá-lo em várias compras”, diz. Ao co-
mentar a coleção, a curadora Marcia

‘huaqueiros’
Exposição Como o empresário Julio
Landmann formou uma coleção de
objetos históricos que hoje estão em
exibição no Masp. Por Maria da Paz
Trefaut, para o Valor, de São Paulo
“A maior parte destas peças meu
pai comprou por preços irrisórios ou
ganhou. Ninguém dava valor”, lem-
bra o empresário Julio Landmann en-
quanto percorre a mostra “Cerâmicas
e Metais Pré-Colombianos”, em exibi-
ção no Masp - Museu de Arte de São
Paulo. “Nos anos 1930 e 40, os ‘hua-
queiros’, como eram conhecidos os
caçadores de tesouros, escavavam sí-
tios arqueológicos na América Latina
apenas em busca de ouro e prata.
Qualquer coisa que estivesse entre
eles e esses metais era destruída”, diz.
Landmann herdou uma coleção que
inclui 908 peças, entre cerâmicas, joias
e tecidos e hoje é avaliada em cerca de
US$ 6 milhões. Ela está em comodato
com o Masp. Apenas uma parte está na
exposição de cerâmicas e metais, com
cerca de 700 peças, de 35 culturas, que
vão de 1000 a.C. ao século XVI. Os obje-
tos são provenientes de regiões que
pertencem a Argentina, Brasil, Colôm-
bia, Equador, México, Panamá, Peru,
Venezuela e países do Caribe.
Landmann fotografou todas as pe-
ças, uma a uma, e estudou cada deta-
lhe. Ele tem alma de colecionador des-
de jovem e há muito é ligado ao mun-
do das artes. Presidiu a Fundação Bie-
nal de São Paulo entre 1997 e 1999 e
ainda faz parte de seu conselho. Tam-
bém está no conselho do Masp, da
Fundação Iochpe e é vice-presidente
da Cultura Inglesa.
Seu pai, Oscar, imigrante alemão,
chegou ao Brasil na década de 30 pa-
ra representar a Wallerstein, empresa
da família fundada na Alemanha em
1839, que comercializava insumos
para a indústria cervejeira e se expan-
dia no mundo.
“No Brasil só tinha a Antárctica [ho-
je da Ambev]. Havia grandes cerveja-
rias na Colômbia, no Peru, no Chile,
Argentina, e meu pai começou a via-
jar. Não ia apenas para capitais, mas
para cidades como Cochabamba, no
interior da Bolívia. Naquela época, a
viagem era muito difícil, você não pe-
gava um avião e voltava três dias de-
pois. Era preciso ficar duas ou três se-
manas. Ele viajava seis meses por ano e
ficava naqueles hotéis precários, onde
se tomava banho num lugar separado
por uma cortina enquanto um garoto
te jogava um balde d’água no corpo.
Foi nesse tempo extra que ele se apai-
xonou pela cultura latino-americana e
descobriu a arte pré-colombiana.”
Quando Oscar começou sua cole-
ção, ser “huaqueiro” era uma profissão
como qualquer outra, que deixou de
ser legal apenas no fim da década de
60. Uma parte grande de seu acervo, e
que também já foi exposta no Masp
em 2019, é composta por tecidos. “Eles
achavam esses tecidos de mais de 3 mil
anos, levavam pra casa e usavam como
fralda ou pano de limpeza. E, embora
meu pai tivesse um interesse arqueo-
lógico em termos de preservação para
as gerações futuras, o foco dele era
muito mais artístico.” A vestimenta da
época, mesmo em locais remotos, era
“Até os anos 70 e 80 terno de três peças e chapéu. “Meu pai
as pessoas não levava duas ou três chapeleiras que
davam valor”, diz eram ideais para botar essas peças.”
Julio Landmann Landmann recorda a cara de alegria
sobre a cerâmica de seu pai ao voltar dessas viagens e
marajoara
mostrar as peças, que a mãe, Edith,
limpava e cuidava. Não há nenhuma
peça restaurada na coleção. “Depois
dos anos 1950, meu pai começou a fa-
Arcuri lembra o quanto a história das
populações originárias é pouco co-
nhecida pela maioria dos brasileiros.
Daí a importância dessa exposição.
No Brasil, acontecia o mesmo desca-
so com a cerâmica marajoara. O em-
presário se recorda de viajar com o pai
para uma fazenda na Ilha do Marajó e
o fazendeiro, que usava alguns vasos
pendurados no alpendre, contar que
quando comprou a propriedade tinha
“passado o trator em tudo”. “Não es-
tou mais falando dos anos 40, até os
anos 70 e 80 as pessoas não davam va-
lor. Mesmo o sujeito teoricamente cul-
to, que vinha da Europa.”
Químico formado pela USP, Land-
mann aos 18 anos iniciou sua própria
coleção de minerais, que hoje tem
mais de mil peças, das quais um pe-
queno recorte está no acervo de geo-
ciências da universidade.
“Os minerais são meu principal
hobby. A marcenaria é outro. Comecei
a fazer móveis para mostrar minha co-
leção de minerais e acabei fazendo to-
dos o móveis para meus quatro filhos.
As camas, as mesas de cabeceira. No
início morava num apartamento, não
na casa onde vivo hoje, e fazia os mó-
veis no banheiro. Agora, tenho uma
marcenaria e um pequeno estúdio de
onde fotografo os minerais.”
Sobre a revisão histórica, que vai da
destruição causada pelos colonizado-
res ao aspecto sanguinário de várias
dessas culturas, Landmann se declara
um pouco crítico. “Acho que tudo
tem seu tempo e uma sequência lógi-
ca. É muito fácil criticar hoje a postu-
ra de alguém que viveu num contexto
completamente diferente. Com certe-
za vão criticar os dias de hoje daqui a
100 anos. O que é sanguinário? Eles
tinham outros valores...”
Então, conta uma experiência que
teve em Cusco, no Peru, aos 19 anos,
em conversa com o bispo da cidade.
“Tinha um relicário de ouro, cheio de
esmeraldas e eu falei: ‘Que peça barro-
ca linda, mas é uma pena que os espa-
nhóis fundiram peças de outra reli-
gião para fazer isso...’. Eu era moleque
e ele me botou imediatamente para
fora da catedral por heresia. Era um
bispo descendente de espanhóis e eles
consideravam tudo o que encontra-
ram ao chegar obras do diabo. Hoje, os
bispos são de origem andina e têm or-
gulho dessa cultura.” ■

Quando artistas reconfiguram o mundo

DIVULGAÇÃO

Arte Em exposições individuais,

Antonio Obá e Walmor Corrêa
questionam estruturas e verdades.
Por Bruno Yutaka Saito, de São Paulo

A vinheta “baseado em fatos reais”, que
vem no início de filmes sobre algum episó-
dio histórico, é pouco mais que um clichê.
Paraboapartedopúblico,oqueaparecena
tela fica registrado na memória como rela-
to fidedigno, e não liberdade artística. Se fi-
gurantes com relógios de pulso em filmes
de época tipo “Ben-Hur” configuravam di-
vertidos erros de produção, hoje os deslo-
camentos e a mudança intencional dos fa-
tos históricos são poderosas ferramentas
artísticas para falar sobre o presente.
“Isto Não É um Cachimbo”, dizia um fa-
moso quadro de 1929 do belga René Ma-
gritte, que questionava o real e sua repre-
sentação imagética. Antonio Obá, atual-
mente com a exposição “Revoada” em car-
taz na Pina Contemporânea, com 20 pin-
turas e 1 instalação, adiciona camadas de
complexidade nesse questionamento.
É um artista vibrando na frequência da
cultura hoje. Representado pela Mendes
Wood DM, Obá tem obras em importan-
tes coleções mundo afora, com um traba-
lho que se desdobra entre pinturas, per-
formances e instalações; é tema de livro da
Cobogó e ilustra capas de livros da Com-
panhia das Letras. Nascido em Ceilândia
(DF) em 1983, Obá (pseudônimo que vem
de “rei”, “chefe”, em iorubá) pinta quadros
que, numa observação mais desatenta,
respondem à função de dar representati-
vidadeapersonagensafrodescendentes—
o que por si só já seria algo louvável.
No entanto, como mostra a história da
arte tradicional que vem sendo reescrita,
as escolhas não são aleatórias. Quadros
que por séculos apresentaram imagens de
um mundo europeu, branco e patriarcal
acabaram também se tornando fatos, per-
petuadoresdeumarealidade.Essadimen-
são que adquire tonalidades metafísicas
ou místicas não passa despercebida ao ar-
tista, que bebe no barroco e no imaginário
católico da família. “Sou mestiço, construí
minhas relações afetivo-familiares numa
tradição catequizante”, disse Obá a Luiz
Camillo Osorio (PUC-Rio, Instituto Pipa)
Trabalhando como professor de artes
para crianças por anos antes de se dedicar
exclusivamente à produção artística, Obá
busca com suas obras responder proble-
mas. Entre eles, uma crise de identidade
compartilhada por milhões de brasileiros
que, de alguma forma, são resultados da
política de Estado racista disfarçada de
ciência do final do século XIX, que previa o
“embranquecimento” da população.
A escolha da figura da criança como
condutora da exposição (que tem cura-
doria de Ana Maria Maia e Yuri Queve-
do) incorpora o campo de possibilida-
des abertas pela noção de infância, mas
que podem ser enterradas precocemen-
te nos preconceitos de sociedades.
São recorrentes as imagens de crian-
ças livres em suspensão, no ar, em uma
chave libertária, e não na terrível falta de
chão dos enforcados em perseguições
racistas, como nos quadros da série
“Strange Fruits”, referência à canção fa-
mosa na voz de Billie Holiday em 1939.
A iconografia da crucificação de Cristo
aparece em “Criança Suspensa” (2022),
mas sem dor, culpa ou castigo. Duas meni-
nas brincam com um menino que está
montado em pernas de pau. Em vez de
uma coroa de espinhos em sua cabeça,
uma coroa de flores. Eles estão felizes. Em
performances anteriores envolvendo íco-
nes cristãos, Obá sofreu ameaças de morte
por supostamente desrespeitar a religião.
Em “Banhistas N o 3 - Espreita” (2020), a
referência é uma impressionante foto de
Horace Cort de 1964 de um protesto em
hotel na Flórida. Martin Luther King havia
‘Banhistas N o 3 - Espreita’ (2020), de Antonio Obá, relê um protesto contra ato de racismo em que gerente de hotel jogou ácido em piscina
Nome do Filme: XXXXXXXXXXX
Dir: Matthew Ramsden. HBO Max
★★★★★
sido proibido de entrar no restaurante de-
vidoàcordesuapele.Semanasdepois,um
grupo de afro-americanos pulou na pisci-
na do estabelecimento. O gerente, em re-
presália, despejou ácido clorídrico na pis-
cina para forçá-los a sair da água.
Na piscina do quadro estão um croco-
dilo e uma criança nadando em direções
opostas (referência à expressão racista
“isca para jacaré”). Dois adultos miram o
observador, com o rosto meio submerso.
Fora da piscina, um velho senhor (um
Exú?) também nos observa. Um trampo-
lim convida o público a pular na água.
Para se mudar algo, é necessário antes
imaginar coisas que não existem. Não se
trata de aproveitar um modismo ou ser
politicamente correto, mas de propor tra-
tamentos na linha de “Recordar, repetir e
elaborar” (1914), influente texto de Freud
sobre a prática psicanalítica e os traumas.
Enquanto Obá vai pelo caminho da fé,
o catarinense Walmor Corrêa usa símbo-
los da ciência para questionar as certezas
do mundo. Com curadoria de Paulo
Miyada, no Instituto Tomie Ohtake, a ex-
posição “Sobre Pássaros, Sinapses e Ervas
Energéticas” traz cerca de 30 obras con-
cebidas do ano 2000 até hoje. O conceito
de ciência, sugere a exposição, é um tan-
to impreciso, mutável e, assim como a fé,
ronda uma noção de verdade absoluta.
Em desenhos que lembram velhos li-
vros de ciências naturais e botânica, Cor-
rêa monta a anatomia de criaturas mito-
lógicas do Brasil, como curupira, com a
ajuda de especialistas, dando concretu-
de ao que é lenda. Em outra série, sabe-
res alternativos, como astrologia, nume-
rologia, grafologia e candomblé, são
evocados para se traçar um perfil da ar-
quiteta Lina Bo Bardi. Numa poética
fundamentada no saber e na fabulação,
Corrêa nos remete às ambiguidades de
um tempo em que a negação da pande-
mia, o terraplanismo, a negação de vaci-
nas, as fake news etc. movem enorme
parte de eleitores mundo afora. ■

Os festivais
da greve
Cinema Movimento de atores e
roteiristas de Hollywood começa a
afetar promoção de filmes no circuito
de grandes eventos. Por Elaine Guerini,
para o Valor, de Locarno, Suíça
Cate Blanchett deveria subir ao pal-
co da Piazza Grande neste sábado, dia
12, para mediar um debate sobre as
mulheres do cinema iraniano diante
das 8 mil pessoas que costumam lotar
as sessões ao ar livre na praça-símbolo
do Festival de Locarno. “Deveria’’, por-
que a australiana cancelou a sua parti-
cipação devido à greve dos atores e ro-
teiristas de Hollywood, embora ela se-
ja a produtora-executiva do filme de
encerramento no evento suíço: “Shay-
da”, da diretora Noora Niasari.
“Como membro do Conselho de Ato-
res do sindicato SAG-AFTRA, tomei a di-
fícil, mas necessária, decisão de não
comparecer neste momento crucial”, es-
creveu Blanchett no comunicado envia-
do à organização. Um dos mais antigos
do mundo, atualmente na sua 76 a edi-
ção, Locarno é o primeiro dos grandes
festivais de cinema a sentir o impacto
negativo da greve, comprometendo a
lista de convidados anunciada.
Apesar de o evento da Suíça italiana
encorajar o cinema mais independente
e audacioso, já tendo premiado nomes
como Jim Jarmusch, Spike Lee e o brasi-
leiro Glauber Rocha, Locarno nunca dis-
pensou a presença de atores que atraem
o flash dos fotógrafos no tapete verme-
lho. A maratona de filmes às margens do
Lago Maggiore já recebeu Sandra Bullo-
ck, Susan Sarandon, Alain Delon, Hilary
Swank, Juliette Binoche e outros nomes
que garantem o interesse da mídia.
Na ausência de Blanchett, foram
poucos os rostos reconhecidos do pú-
blico que passaram nesta edição pela
É Tudo Verdade
Um panteão
do cinema
político
Amir Labaki
‘A Batalha de Argel’ lidera
lista de publicação
americana dos filmes
mais significativos do
gênero
Piazza Grande. Desde 2017, a nota de
20 francos suíços está estampada com
uma imagem da projeção na praça, ro-
deada de edifícios históricos e equipa-
da com uma das maiores telas ao ar li-
vre do mundo (com 26 x 14 metros).
A família Skarsgård conseguiu “fu-
rar” a greve, apesar de o sindicato não
autorizar a presença de atores em es-
treias, festivais de cinema, premiações
ou convenções. “O que não posso fazer
é mencionar qualquer produção feita
sob um contrato da AMPTP e da SAG”,
explicou o ator Gustaf Skarsgård, refe-
rindo-se à Alliance of Motion Picture
and Television Producers, a associação
que representa os produtores, e o sin-
dicato dos atores, respectivamente.
Como o filme da família, “What Re-
mains”, apresentado fora de competi-
ção em Locarno, é um título indepen-
dente, uma coprodução entre Hong
Kong, Reino Unido e Finlândia, a regra
não foi aplicada aqui. No encontro
com a imprensa, Gustaf Skarsgård até
pediu que uma pergunta fosse refor-
mulada e excluísse o nome do seu últi-
mo título hollywoodiano, “Oppenhei-
mer”. Para falar sobre o trabalho de
protagonista em “What Remains”, co-
mo paciente psiquiátrico que confessa
ter matado garotos na Suécia dos anos
90, ele não podia contrastá-lo com o
coadjuvante que interpretou na obra
de Christopher Nolan (Hans Bethe, o
Prêmio Nobel de Física, de 1967).
A mesma restrição se aplicou ao seu
pai, o ator Stellan Skarsgård, o sueco
de maior destaque no mercado inter-
Uma nova lista engrossa o cânone
cinematográfico a partir do número
duplo especial de julho/agosto da re-
vista americana “The New Republic”.
Numa pesquisa coordenada pelo ve-
terano crítico J. Hoberman, “A Bata-
lha de Argel” (1966), de Gillo Ponte-
corvo, foi eleito “o mais significativo
filme político de todos os tempos”.
A relação dos dez mais votados apre-
senta ainda “Sob o Domínio do Mal”
(1962), de John Frankenheimer; “Dou-
tor Fantástico” (1964), de Stanley Ku-
brick; “Todos os Homens do Presiden-
te” (1976), de Alan J. Pakula; “O Nasci-
mento de Uma Nação” (1915), de D. W.
Griffith; “Triunfo de uma Vontade”
(1935), de Leni Riefenstahl; “O Encou-
raçado Potemkin” (1927), de Serguei
Eisenstein; “Faça a Coisa Certa”(1989),
de Spike Lee; “Shoah” (1985), de Clau-
de Lanzmann; e “Um Rosto na Multi-
dão” (1955), de Elia Kazan.
A caracterização do universo pes-
quisado distingue essa votação das
similares mais tradicionais, notada-
mente a clássica investigação a cada
década conduzida pela revista britâ-
nica “Sight and Sound”, do British
Film Institute. Por sugestão de Ho-
berman aos editores, perguntou-se
não sobre o “melhor”, mas sim sobre
“o mais significativo”. A diferença
não é pequena. “Melhor” é questão
de excelência, ainda que por critérios
pessoais. Para “mais significativo”, a
régua já é bem outra: influência, algo
um pouco menos subjetivo.
Em seu comentário sobre o levan-
tamento, disponível online em
www.thenewrepublic.com assim co-
mo a relação dos cem títulos mais
lembrados, Hoberman já abre assu-
mindo o restrito foco. “Virtualmente
todos que enviaram listas”, um total
de 79 especialistas, “críticos, progra-
madores e acadêmicos”, “estão ba-
seados nos EUA”, reconhece. “Conse-
quentemente, filmes americanos e
gosto americano prevalecem.”
Assim, nada menos que 6 dos 10
mais votados, e metade dos 100 no
nacional. Antes das entrevistas, os jor-
nalistas foram avisados em Locarno
que perguntas sobre a sua carreira no
geral não seriam respondidas. Como
os atores não podem falar mesmo de
produções antigas, realizadas via SAG,
foi o jeito de evitar referências a obras
que o ator rodou em Hollywood, co-
mo as da franquia “Thor” (2011, 2013
e 2022). “Estamos aqui por conta des-
sa nossa jornada ao inferno”, brincou
Stellan Skarsgård, escalado como o
detetive encarregado do caso do serial
killer de “What Remains” — ainda sem
distribuição garantida no Brasil.
A promoção do trabalho de atores se-
rá mais complicada no Festival de Vene-
za, onde debutam anualmente títulos
com o perfil de Oscar. Por mais que mui-
tos sejam filmes de arte, com orçamen-
tos mais modestos, é normal que eles já
estejam atrelados a estúdios de Hol-
lywood, o que implica contratos com a
AMPTP, SAG etc. Como foi o caso de
“Tár”, da Universal Pictures, que saiu de
Veneza no ano passado e arrebatou seis
indicações no prêmio da Academia.
O sindicato tem autorizado, em certos
casos, que atores furem a greve, o que se-
ria uma esperança para festivais grandes,
como Veneza, com abertura no dia 30, e
também Toronto, que será inaugurado
em 7 de setembro, para contarem com a
presença de astros e estrelas. “Mas esses
são acordos provisórios, ainda não mui-
to claros, feitos mais com produções em
O clássico “A Batalha de Argel” trata da luta pela independência da Argélia
topo, são produções americanas.
Com 35 votos, a liderança de “A Bata-
lha de Argel”, uma produção argeli-
no-italiana dirigida por um italiano,
sobre a luta pela independência da
Argélia, é a grande exceção, no que
Hoberman celebra como “uma vitó-
ria do cosmopolitismo”.
Não surpreende, portanto, que se-
jam americanos o filme mais antigo
da lista principal, o épico silencioso
de louvação da supremacia branca
“O Nascimento de Uma Nação”, e o
mais recente, “Selma” (2014), em que
Ava DuVernay dramatiza um episó-
dio central da luta antirracista nos
EUA dos anos 60, classificado em 24 o
lugar. Racismo, nota o organizador,
pauta 8 das produções americanas
entre os 50 títulos mais votados.
É natural, assim, que sejam ameri-
canos quase metade dos cineastas
que emplacaram mais de um título
entre os cem mais: Alan J. Pakula, John
Ford, Oliver Stone, Spike Lee e Warren
Beatty. A lista desses diretores con-
templa ainda o soviético Aleksandr
Dovzhenko, o franco-suíço Jean-Luc
Godard, o chinês Jia Zhang-ke, a ale-
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | 13
DIVULGAÇÃO
As projeções na
Piazza Grande,
rodeada de edifícios
históricos, contam
com uma das
maiores telas ao ar
livre do mundo (26 x
14 metros)
DIVULGAÇÃO
mã Leni Riefenstahl, o britânico Peter
Watkins, o haitiano Raoul Peck e o so-
viético Serguei Eisenstein. Godard pu-
xa a fila, com facilidade, com nada
menos que 7 obras nesse panteão.
Tanto este ranking de realizadores
(5 dos mais votados) quanto a dos 10
mais (4) demonstram a forte repre-
sentação dos cinemas europeus. O
quadro é outro se atentarmos para a
seleção de obras da América Latina.
Apenas 4 emplacaram presença na
centena mais lembrada, nenhum
brasileiro, nem mesmo “Terra em
Transe” (1967), de Glauber Rocha, ou
“Cabra Marcado para Morrer”
(1984), de Eduardo Coutinho.
Dois são chilenos: “A Batalha do
Chile”, documentário em três partes
de Patrício Guzmán sobre o governo
Allende e o golpe sanguinário de Pi-
nochet, no 18 o posto, e, no 79 o, a fic-
ção “No” (2012), de Pablo Larraín, a
respeito do plebiscito que em 1988
varreu a ditadura instalada em 1973.
O cubano “Memórias do Subdesen-
volvimento” (1968), de Tomás Gutiér-
rez Alea, sobre a crise existencial de
um escritor frente ao regime de Fidel
filmagem no momento”, disse o produ-
tor Ted Hope, ex-diretor do departamen-
to de filmes da Amazon Studios, onde
lançou “Manchester à Beira-Mar” (2016),
indicado a seis Oscars.
Essas autorizações especiais aparen-
temente só são dadas mediante a aceita-
ção por parte dos produtores dos ter-
mos da SAG. Principalmente no que diz
respeito ao pagamento de residuais aos
atores e da proteção de sua imagem, im-
pedindo réplicas digitais. “Como os sin-
dicatos precisam dar prioridade aos sa-
lários mais justos e às condições de tra-
balhos, outras exigências, como novas
regras para o uso da inteligência artifi-
cial, talvez acabem sem solução. Pelo
menos por enquanto”, disse Hope.
Sem a participação dos atores na pro-
moção dos filmes, Veneza ou Toronto
passam a não ser tão interessantes do
ponto de vista dos estúdios. “Festivais
são uma plataforma de lançamento cru-
cial para filmes, especialmente os de au-
tor. Essas produções dependem da visi-
bilidade gerada nesses eventos para
causar impacto mundial, algo que será
afetado pela greve”, comentou Charles
McDonald, um assessor que divulga fil-
mes no circuito de festivais.
Em 2022, ele representou em Vene-
za, entre outros títulos, “Até os Ossos”,
dirigido por Luca Guadagnino e estre-
lado por Timothée Chalamet. “Este
ano outros filmes podem seguir o re-
cente exemplo de ‘Challengers’”, afir-
mou McDonald, lembrando que o tí-
tulo inédito, também assinado por
Guadagnino, seu cliente de longa da-
ta, deveria inaugurar Veneza.
Como as empresas por trás da produ-
ção (Amazon e MGM) não querem arris-
car lançá-lo sem a promoção da atriz
Zendaya, a nova queridinha de Hol-
lywood, sua estreia foi alterada de 15 de
setembro para 24 de abril. E sua partici-
pação no festival acabou cancelada. Até
Bradley Cooper, diretor e protagonista
de “Maestro”, cinebiografia de Leonard
Bernstein, também desistiu de divulgar
o filme na Itália — embora pudesse fa-
zê-lo como diretor —, em solidariedade
à causa dos atores.
“Outro problema com a ausência de
astros em Veneza é o desinteresse da im-
prensa internacional em cobrir o festi-
val. Veneza não é uma cidade barata, e as
publicações querem grandes nomes”,
disse McDonald, antecipando um pre-
juízo para a campanha dos filmes sele-
cionados. Como “Poor Things”, de Yor-
gos Lanthimos, com Emma Stone; “Me-
mory”, de Michel Franco, com Jessica
Chastain; e “Ferrari”, de Michael Mann,
estrelado por Adam Driver, entre ou-
tros. “Sem cobertura, os lançamentos
não terão o mesmo impacto.” ■
Castro, aparece na 27 a posição, en-
quanto na 32 a destaca-se o tríptico
documental argentino “A Hora dos
Fornos” (1968), um ensaio sobre neo-
colonialismo e revolução dirigido por
Octavio Gettino e Fernando Solanas.
Que metade das produções latino-
americanas sejam documentários
guarda coerência com a relativamen-
te expressiva presença não ficcional
na votação. Documentários perfa-
zem quase um quinto dos títulos no
topo (19), sendo 2 entre os 10 mais
(“Triunfo da Vontade”, “Shoah”) e 3
entre os 21 mais votados, “Harlan
County: Tragédia Americana” (1976),
de Barbara Kopple, “A Batalha do Chi-
le” e o curta-metragem “Noite e Ne-
blina” (1956), de Alain Resnais.
Além dos dois brasileiros citados,
quais outras ausências me chama-
ram a atenção, respeitado o critério
de “mais significativo”? Entre os do-
cumentários, não há nenhum filme
de Joris Ivens, nem mesmo “Terra de
Espanha” (1937), ou de Michael Moo-
re, possivelmente “Tiros em Columbi-
ne” (2002), tampouco um dos mais
marcantes catalisadores da urgente
conscientização preservacionista,
“Uma Verdade Inconveniente”
(2006), de Davis Guggenheim.
Para as ficções, esta coluna também
seria insuficiente, então lembro apenas
“Sindicato de Ladrões” (1954), de Elia
Kazan; “A Hora Final” (1959), de Stan-
ley Kramer; “A História Oficial” (1985),
de Luis Puenzo; e “Asas do Desejo”
(1987), de Wim Wenders.
E para você? Cheque a lista e deixe
seu voto no site da “The New Repu-
blic”. Em política e em listas de fil-
mes, debate é a regra do jogo. Aliás, o
clássico de Jean Renoir de 1939 é ou-
tro inexplicavelmente ausente.
Amir Labaki é diretor-fundador do
É Tudo Verdade — Festival Internacional
de Documentários.
E-mail: labaki@etudoverdade.com.br
Site do festival: www.etudoverdade.com.br ■
14 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

REPRODUÇÃO/FACEBOOK

‘Enciclopédia’ da não seria, per se, locus de sociabilidade.

ética para a
sustentabilidade
Coletânea de textos sobre
temas como o ‘bem
comum’ reúne 37 autores.
Por José Eli da Veiga, para o
Valor, de São Paulo
Ethics in Action for
Sustainable
Development Jeffrey
D. Sachs et al.
Columbia University
Press. 480 págs. R$
145,90 (Kindle)
Todo guia de boas maneiras ou ma-
nual de etiqueta veta, terminantemen-
te, qualquer mistura de política com
religião. Mas, para um livro que discu-
te a ética das ações pelo desenvolvi-
mento sustentável, ela é mais do que
inevitável, é impositiva.
Quando se versa sobre a dimensão mo-
ral de compromissos de se avançar pelas
17 veredas do desenvolvimento sustentá-
vel — as da Agenda 2030 —, religião e po-
lítica esbarram, juntas, no abreviado “lé
com lé, cré com cré”, que viria do ditado
“leigo com leigo, clérigo com clérigo”, se-
gundo interpretação majoritária.
A exigência é bem ressaltada na in-
trodução da coletânea “Ethics in Ac-
tion for Sustainable Development”, de
um par formado pelo famoso econo-
mista Jeffrey D. Sachs com o bem mais
modesto Owen Flanagan, tão somente
um “distinguished” professor de filo-
sofia da Universidade Duke. Além de
ética, ele ensina psicologia moral, filo-
sofia transcultural e nexo entre filoso-
fia da mente e psiquiatria.
O prefácio também é de uma dupla de-
sigual. Ao lado da incomparável celebri-
dade do papa Francisco, um irmão pouco
conhecido deste lado do mundo: o gre-
co-turco “patriarca ecumênico” Bartolo-
meu 1 o, de Constantinopla. Em 2017 eles
já haviam conspirado juntos pelo “dia
O economista Jeffrey Sachs é um dos editores da coletânea da Columbia University Press
mundial de cuidado com a criação”.
O livro revela impressionante con-
vergência entre ativistas de movimen-
tos religiosos e analistas agnósticos
e/ou ateus. Dos 37 autores, 9 estão di-
retamente associados a questões espi-
rituais: 3 teólogos, 2 ecumênicos, 2 ca-
tólicos, 1 budista e 1 muçulmano.
Os demais 28 pertencem a organizações
pacifistas, ambientalistas e trabalhistas ou
são pesquisadores. Entre estes últimos, 6
que trabalham na rede da ONU para solu-
ções sustentáveis e em dois institutos da
Universidade Columbia dedicados ao de-
senvolvimento sustentável, um deles espe-
cializado em investimentos.
As duas primeiras das 12 partes que
organizam os 44 textos voltam-se ao
tema do “bem comum”, com visões lai-
cas e religiosas. As demais discutem:
corrupção, educação, futuro do traba-
lho, indígenas, justiça climática, mi-
gração, paz, pobreza, escravidão mo-
derna, tráfico de pessoas, acesso à jus-
tiça e papel dos negócios.
Entre tantas contribuições de tama-
nha “enciclopédia” da ética para a sus-
tentabilidade, uma se destaca por ser
muito oportuna para desenferrujar o
pensamento econômico. É o quinto ca-
pítulo, de Stefano Zamagni, professor
da Universidade de Bolonha e atual
presidente da Academia de Ciências
Sociais do Vaticano.
Zamagni pergunta o que poderia ex-
plicar o recente interesse por uma teo-
ria que foi desprezada por mais de dois
séculos. Trata-se da “economia civil”,
proposta por Antonio Genovesi
(1712-1769), titular da primeira cáte-
dra de economia do mundo, criada, em
1753, pela Universidade de Nápoles.
Quase ninguém soube das “Lições
de economia civil”, de Genovesi, embo-
ra tenha surgido 23 anos antes da “eco-
nomia política”, criada pela mais lida
das duas obras do escocês Adam Smith
(1723-1790): “A riqueza das nações”.
Em grande medida, pela situação peri-
férica da Itália no contexto do que veio
a ser a Revolução Industrial.
Produto do Iluminismo napolita-
no-milanês, a economia civil tem cinco
harmonias com as Luzes escocesas: 1)
rejeição ao feudalismo, tendo o merca-
do como saída; 2) elogio do luxo como
força de mudança social, graças a be-
nefícios indiretos para toda a socieda-
de; 3) clara compreensão da revolução
cultural que a expansão do comércio
estava provocando; 4) reconhecimen-
to do papel essencial da confiança em
uma economia de mercado; 5) visões
modernas da sociedade e do mundo.
Porém, houve uma medular discre-
pância entre as duas escolas.
Smith, mesmo reconhecendo que as
pessoas têm uma tendência natural à so-
ciabilidade (“simpatia” e “correspondên-
cia de sentimentos”), não a considerou
relevante para o funcionamento dos
mercados. Aos seus olhos, o mercado
Relações mercantis impessoais —
com indiferença mútua — constitui-
riam característica positiva, civilizado-
ra. Amizade e relações de mercado per-
tenceriam a duas esferas bem distintas.
A existência de relações de mercado na
esfera pública (e somente nela) garan-
tiria que, na esfera privada, a amizade
fosse genuína, livremente escolhida e
desvinculada de status.
Para a economia civil, ao contrário, o
mercado é vida em comum e ambos
compartilham a mesma lei fundamen-
tal: a ajuda mútua. Para Antonio Geno-
vesi, a “assistência mútua” é muito mais
do que a vantagem recíproca de Smith.
Para este, um contrato seria suficiente.
Para o primeiro, trata-se de philia.
Para a economia civil, a própria “regra
de ouro” do mercado é a reciprocidade,
pois contratos, negócios e trocas são ques-
tões de cooperação e de vantagem co-
mum, ou seja, formas — ainda que distin-
tas umas das outras — de reciprocidade.
Em vez de isolar, como fez Smith,
uma inclinação humana “para trans-
portar, permutar e trocar uma coisa
por outra”, Genovesi incluiu em sua
análise dos mercados a complementar
propensão humana à assistência mú-
tua. Sua frase preferida, “Homo homi-
ni natura amicus”, expulsa a de Hob-
bes: “Homo homini lupus”.
Segundo Zamagni, a principal razão
do banimento da economia civil por
mais de dois séculos reside na influên-
cia do utilitarismo de Jeremy Bentham
(1748-1832). Em pouco tempo, sua vi-
são conquistou hegemonia no discur-
so econômico, promovendo a assimi-
lação da antropologia hiperminima-
lista do homo oeconomicus.
Mas é claro que Zamagni também
insiste que, ao mesmo tempo, foi de-
terminante o florescimento de uma so-
ciedade industrial, em que a maquina-
ria é protagonista na definição do rit-
mo de vida das pessoas. Afinal, aí está o
significado subjacente ao Ford-Taylo-
rismo: a tentativa (bem-sucedida) de
teorizar este modelo de ordem social e
colocá-lo em prática.
Desde Genovesi e Smith, houve uma
“grande transformação”, no sentido
dado por Karl Polanyi. Com impactos
consideráveis em aspectos éticos da
ação humana: tanto no próprio signifi-
cado do trabalho humano e das opor-
tunidades de emprego, quanto na rela-
ção entre mercado e democracia.
Zamagni realça, então, que muitas
áreas problemáticas das sociedades con-
temporâneas poderiam ser iluminadas
pela economia civil. Mas opta por tratar
somente do preocupante e sistêmico au-
‘Arte da fuga’
traz o terror
em Auschwitz
Livro apresenta relatos de
fugitivos que tentaram
alertar o mundo. Por
Marcus Lopes, para o Valor,
de São Paulo
Arte da fuga
Jonathan Freedland
Trad.: George
Schlesinger
Intrínseca
376 págs., R$ 79,90
Na noite de 23 de junho de 1944, os
cabos telegráficos entre a Suíça e a Ingla-
terra zuniam um longo telegrama envia-
do pelo correspondente de guerra britâ-
nico Walter Garret a uma agência de no-
tícias em Londres. O jornalista relatava
os crimes praticados pelos nazistas con-
tra os judeus presos no campo de con-
centração de Auschwitz, na Polônia. Era
a primeira vez que o mundo tomava co-
nhecimento em detalhes dos horrores
praticados no campo de extermínio on-
de morreram mais de 1 milhão de pes-
soas durante a Segunda Guerra Mundial,
das quais mais de 90% eram judeus.
O texto de Garret tinha como base o
Relatório de Auschwitz, um documen-
to de 32 páginas produzido por mem-
bros da resistência judaica na Eslová-
quia, a partir do relato de dois fugiti-
vos de Auschwitz: Walter Rosenberg e
Alfréd Wetzler. A saga de ambos, que
ficariam conhecidos por estarem na
seleta lista dos que conseguiram esca-
par com vida do mais conhecido cam-
po de concentração mantido pelos ale-
mães, é retratada em “Arte da fuga”.
Dividido em cinco partes, o livro é
uma biografia de Rosenberg, um garo-
to nascido no ano de 1924 em uma fa-
mília judaica do interior da Eslová-
quia. Precoce, por volta dos 5 anos já
folheava jornais como um adulto e,
diante da proibição de frequentar es-
colas por causa de sua ascendência na
Europa ocupada por Hitler, aprendeu
tudo o que sabia a partir de um único

Lançamentos mento das desigualdades sociais. Depois

A jornada de um banqueiro
Daniel Gross. Trad.: Alessandra Bonrruquer
Best Business
392 págs., R$ 89,90
Esta obra traz a vida e a carreira do ban-
queiro Edmond J. Safra (1932-1999), cujo
império inclui o Trade Development Bank
(Genebra), Republic National Bank (Nova
York), Safra Republic Holdings (Luxem-
burgo) e o que se tornou o Banco Safra
(São Paulo). Natural do bairro judeu de
Beirute, ele foi naturalizado cidadão brasi-
leiro e depois de Mônaco. Gross conta a
história da migração da família Safra para
o Brasil nos anos 50 em função dos confli-
tos árabes/judeus, a atuação nas finanças,
filantropia, o casamento com Lily Safra e as
circunstâncias de sua morte em Mônaco.
Safra foi “o maior banqueiro de sua gera-
ção”, segundo James Wolfensohn, ex-presi-
dente do Banco Mundial.
O que é ser uma escritora negra hoje, de
acordo comigo
Djaimilia Pereira de Almeida
Todavia. 96 págs., R$ 49,90
Vencedora do Prêmio Oceanos em
dois anos seguidos, a autora traz nesta
obra um ensaio que mistura os aspec-
tos cultural/pessoal buscando enten-
der o seu espaço no mundo. Ao mes-
mo tempo, ela oferece uma reflexão
sobre cultura e raça. Djaimilia ponde-
ra sobre seu lugar como mulher e ne-
gra nos dias de hoje, quando traços de
gênero e raça são saudados. Entretan-
to, não é incomum que tais traços se-
jam apresentados de forma quase pu-
blicitária, encobrindo o caráter por
vezes movediço de ser uma mulher
negra que escreve. Doutora em teoria
literária, Djaimilia, nascida em Luan-
da em 1982, vive e trabalha em Lisboa.
Todos os nossos ontens
Natalia Ginzburg. Trad.: Maria Bethânia
Amoroso. Companhia das Letras
328 págs., R$ 89,90
“Se existe uma escritora fiel a si mesma,
de uma maneira que chega a ser extrema,
esta é Natalia”, disse Italo Calvino. Este ro-
mance, que pertence ao período da luta
antifascista durante a Segunda Guerra
Mundial, conta a história de uma família
e o cotidiano de casamentos e nascimen-
tos alterado por mortes. Dos quatro ir-
mãos, a caçula se surpreende como as
mudanças ocorrem. Na casa em frente
moram um industrial e sua família — e os
jovens tornam-se próximos. Quando pa-
recia que o fascismo não iria acabar, tudo
muda. A Polônia é invadida, e a guerra vi-
ra parte da vida trazendo destruição. Mas
o que resta de resiliência entre os perso-
nagens pode trazer algum alento.
Verão dos infiéis
Dinah Silveira de Queiroz
Instante
208 págs., R$ 69,90
Dona de uma obra vasta, que inclui ro-
mance histórico, fantasia, crônica e fic-
ção científica, Dinah (1911-1982) conta
neste livro ambientado no Rio de Janeiro
dos anos 60 um fim de semana de uma
família abalada por várias questões. A
matriarca é Valentina, cujo marido se
matou há tempos, deixando-a com três
filhos, agora adultos. A mãe, dependente
de benzedrina, se refugia no “mundo
dos mortos” após tomar comprimidos.
Em suas alucinações ela revê a infância e
reencontra a mãe e o tio já mortos. Com
este romance (de 1968), a autora retrata
o panorama cultural de seu tempo, a
mudança de costumes, os diferentes es-
tratos sociais e a linguagem popular.
de descrevê-lo, discute a relação entre so-
lidariedade e fraternidade.
Enquanto a solidariedade é o princí-
pio de organização social pelo qual os
desiguais podem se tornar iguais, o da
fraternidade permite que os iguais se-
jam diversos. A fraternidade permite
que pessoas iguais — do ponto de vista
de sua dignidade e de seus direitos hu-
manos fundamentais — expressem, de
diferentes maneiras, seu projeto de vi-
da ou seu carisma.
Enquanto uma sociedade fraterna é
também uma sociedade solidária, o
contrário não é verdadeiro. Não há ra-
zoável futuro para uma sociedade da
qual desaparece o princípio da frater-
nidade. Não há esperança em socieda-
de dominada pelo “dar para receber”
ou “dar por dever”.
A chamada Quarta Revolução Indus-
trial está testando severamente o atual
modelo de desenvolvimento. Não ser-
vem nem o credo liberal-individualista
do mundo, no qual tudo (ou quase tu-
do) constitui um trade-off, nem a pro-
posta estatista, na qual tudo (ou quase
tudo) depende de um senso de dever.
Esta é a mensagem central de Anto-
nio Genovesi, que, mesmo 250 anos de-
pois, mantém sua originalidade e con-
tundência. Este início de século XXI cla-
ma por um segundo humanismo. No
século XV, o fator decisivo foi a supera-
ção da ordem feudal. Agora é a supera-
ção da sociedade industrial que impõe
a necessidade de aggiornamento.
Zamagni termina enfatizando que
não serviriam a tal propósito a mera
atualização de nossas velhas catego-
rias de pensamento, nem uma reforma
das técnicas de decisão coletiva, por
mais refinadas que pudessem ser. Cla-
ma, então, por sabedoria e coragem
para trilhar novos caminhos.
José Eli da Veiga é professor sênior do Instituto
de Estudos Avançados da Universidade de São
Paulo (IEA-USP)
livro de química escondido por um co-
lega também judeu. Em 1942, após ser
convocado pelo governo da Eslováquia
para combater ao lado dos nazistas na
guerra, resolveu fugir para tentar a sor-
te na Inglaterra. Capturado, foi envia-
do ao campo de concentração em No-
váky, no interior da Eslováquia.
Fazia parte da cilada alemã mentir aos
judeus com falsas promessas e discursos
sobre reassentamentos humanizados,
incentivando-os a embarcar nos trens
rumo a lugares onde supostamente esta-
riam protegidos. Aos já prisioneiros, a
promessa era a transferência a lugares
melhores e a futura liberdade. Um desses
discursos mentirosos cativou Rosenberg,
que embarcou voluntariamente em uma
das composições que partiram de Nová-
ky. Em junho de 1942, chegou a Aus-
chwitz, localizado no norte da Polônia.
Ao se deparar com a realidade do lu-
gar, o eslovaco começou a preparar um
meticuloso plano de fuga. “Era nítido
que havia um jeito certo e um jeito erra-
do de proceder”, diz um trecho do livro,
destacando que qualquer tentativa de li-
berdade era paga com o fuzilamento.
Nesse meio tempo, o autor conta como
era o cotidiano no campo, desde a cruel-
dade praticada pelos soldados e oficiais
até uma extensa e sofisticada rede de
corrupção que envolvia os próprios mili-
tares da SS e os prisioneiros. Mesmo em
um lugar como Auschwitz, havia espaço
para a compra e venda de pequenos fa-
vores mediante um preço.
Em um dos trechos são citadas as
cruéis experiências médicas praticadas
pelo médico Josef Mengele, conhecido
como “anjo da morte” e que, após a
derrota alemã, fugiu para a América
do Sul e morreu no Brasil, em 1979. Em
outros, o que os prisioneiros faziam
para ter algo para comer, inclusive o
canibalismo de corpos fuzilados.
Em seu plano de fuga até conseguirem
chegar à Eslováquia, Rosenberg e Wetz-
ler contaram com o auxílio de grupos
clandestinos de resistência instalados

dentro e fora do campo. Esses grupos
eram formados, em grande parte, por
militantes políticos, como os comunis-
tas. A jornada a pé por mais de 100 km
ocorreu entre os dias 7 e 24 de abril de
1944, percorrendo vilas e florestas até se-
rem acolhidos por uma organização ju-
daica na cidade de Zilina, na Eslováquia.
Abrigados em Zilina, que ficava próxi-
ma à fronteira com a Polônia, os fugiti-
vos puderam contar a sua história, que
percorreu o mundo e chegou até o papa
Pio XII, o presidente dos Estados Unidos,
Franklin Roosevelt, e o primeiro-minis-
tro britânico, Winston Churchill. Para
decepção de Rosenberg, cujo desejo era
alertar as nações para darem fim ao ex-
termínio em massa, apesar da repercus-
são na imprensa, nada foi feito de ime-
diato para evitar a deportação de mais
judeus para os campos de concentração.
“Os Aliados nunca bombardearam
Auschwitz (exceto uma vez, por aciden-
te). O Relatório alcançara o centro do po-
der aliado e, ainda assim, os internos de
Auschwitz teriam que ficar olhando para
o céu, rezando por uma salvação que
nunca viria”, registra o livro. Mesmo as-
sim, pelo menos 200 mil vidas podem ter
sido salvas pela pressão exercida sobre
os nazistas para eliminação dos campos.
Apesar da meta de fugir de Auschwitz
para denunciar ao mundo os horrores
do Holocausto, Rosenberg, que durante
a guerra mudaria o nome para Rudolf
Vrba para escapar da morte, ainda é um
nome pouco conhecido. Um nome que,
nas palavras de Freedland, merecia estar
no mesmo patamar de Anne Frank, Os-
kar Schindler e outros personagens cujas
vidas tornaram-se símbolos contra o Ho-
locausto. “Quem sabe, por meio deste li-
vro, Rudolf Vrba possa realizar um últi-
mo ato de fuga: escapar do nosso esque-
cimento e ser lembrado”, diz o autor.
Outros Escritos
Formas do
inferno
Michel Laub
As memórias de Michel
Leiris e Édouard Louis
Um célebre
estudo racial
Pilar da sociologia
americana, W. E. B. Du Bois
rompeu paradigmas. Por
Laura Greenhalgh, para o
Valor, de São Paulo
O negro da Filadélfia
W. E. B. Du Bois
Trad: Cristina
Patriota de Moura
Autêntica
488 págs., R$ 87,90
“Não me deram uma posição acadê-
mica, nem escritório na universidade
ou reconhecimento oficial de qual-
quer tipo. Meu nome foi até omitido
do catálogo. Não tinha contato com es-
tudantes e muito pouco com membros
do corpo docente, mesmo os do meu
departamento. Com minha esposa, me
instalei em um cômodo acima de um
refeitório (...). Vivemos lá por um ano
em meio a uma atmosfera de sujeira,
beberagem, pobreza e crime. Assassi-
natos ocorriam em nossa porta, a polí-
cia era o nosso governo e a filantropia
aparecia com conselhos periódicos.”
Ninguém melhor do que W. E. B. Du
Bois para descrever a sua chegada à
Universidade da Pensilvânia, em 1896,
Na quarta capa da edição brasileira
de “A idade viril” (1939), do francês Mi-
chel Leiris (Cosac Naify, 206 págs., tra-
dução de Paulo Neves), Augusto Massi
diz que o livro é um “teatro da cruelda-
de” onde o autor é “a principal teste-
munha de acusação contra si mesmo”.
A definição poderia abarcar toda uma
linhagem de romances e ensaios auto-
biográficos do século XX, nos quais a
influência da psicanálise atualizou o
formato religioso da confissão.
“A idade viril” acompanha a trajetó-
ria de Leiris, do “caos miraculoso da in-
fância” à “ordem feroz da virilidade”.
Como é praxe em narrativas de forma-
ção, um dos fios condutores é a presen-
ça do desejo — seu nascimento longín-
quo, seus desdobramentos na vida
adulta. No caso do livro, tudo se sub-
mete a uma ideia de martírio, de casti-
go, o “signo do nefasto” que se fixa tan-
to pela memória de incidentes (uma
extração de adenoides, um primo mor-
dido por um cachorro) quanto pela
observação da arte (uma tia que inter-
pretava mulheres fatais no teatro; uma
pintura de Lucas Cranach com Judite e
a cabeça cortada de Holofernes).
Nessa fusão de gosto estético e iden-
tidade sexual, a testemunha acusatória
de si faz uma espécie de jogo duplo,
consciente de que alguns trechos po-
dem soar incômodos. Para compensá-
los, a linguagem é tão sedutora — um
misto de frieza clínica com exuberân-
cia descritiva — que a sinceridade — ou
a simulação dela — gera um efeito de
beleza autônoma. O tumulto do uni-
verso interno do autor é também a or-
dem como isso é registrado na página:
“cheiro de bronze molhado de suor”, “a
dupla qualidade de ser casta e mortífe-
ra”, “a identificação entre alma e comi-
da esmigalhada”.
O que é sedução num texto em
2023? Numa época tão fascinada pelo
fetiche do narrador gostável, identifi-
cável com experiências e valores que
precisam ser os de quem lê, obras co-
mo “A idade viril” nos lembram que au-
tonomia literária ainda é uma constru-
ção palavra a palavra, frase a frase para
além da ortodoxia moral e política do
momento. O que poderia ser apenas
misoginia/misantropia, um sadomaso-
quismo fantasioso que termina em si
mesmo, vira a alegria estética da con-
fissão obsessiva — o impulso de “cercar
o absoluto” até “finalmente, à força de
desencadear em todos os sentidos
ideias novas, possuí-lo”.
DIVULGAÇÃO
W.E.B. Du Bois, pilar da sociologia americana
como instrutor-assistente de uma pes-
quisa sobre a vida dos moradores da
Sétima Região da Filadélfia, área urba-
na com forte concentração de negros
— aliás, como ele próprio.
Foi precisamente a cor da pele de
Du Bois, hoje considerado um pilar da
sociologia americana, o que determi-
nou a recepção de segunda classe na
universidade. Apesar de ser o primeiro
negro doutorado por Harvard e de ter
estudado dois anos na Universidade
de Berlim, ele não poderia sequer ser
visto conversando com alunos, não
por acaso, brancos.
Esta circunstância deve ser levada
em conta quando se fala de “O negro
da Filadélfia”, livro em torno de um
célebre estudo de Du Bois sobre rela-
ções raciais, publicado pela primeira
vez em 1899 e só agora lançado no
Brasil (ed. Autêntica, tradução e notas
de Cristina Patriota de Moura).
Há distintas formas de se ler “O ne-
gro da Filadélfia”. Para sociólogos e an-
Ao nos levar para esse ponto ambí-
guo de observação, Leiris borra os con-
tornos entre horror e deleite, tragédia e
comédia. Os maus-tratos sofridos por
alguém são singulares por um toque
ao final do parágrafo: “Um guincho de
madeira servia para esticar a corda”. Já
na descrição de um familiar que devia
estar vivo quando “A idade viril” foi pu-
blicado, não dá para separar nosso es-
panto (pela crueza do trecho) e vonta-
de de rir (pelo acúmulo de adjetivos):
“Sempre odiei obscuramente esse ir-
mão (...). Ele é o tipo acabado do filis-
teu: não que seja inteiramente insensí-
vel, pois sempre teve (...) certos gostos
artísticos e literários (...), mas por causa
de seu lado timorato, caseiro, senti-
mental sem paixão, deísta sem misti-
cismo, conservador sem fanatismo. É-
me difícil imaginar que outra coisa po-
deria ter feito além de ser pai de meia
dúzia de crianças. Não consigo supor-
tar seu cachimbo, seu rosto grande
com bigode grande”.
● sobre a própria identidade.
Ao reler “A idade viril”, me pergun-
to se ainda há lugar para o individua-
lismo radical de sua abordagem. A or-
todoxia de 2023 não é apenas uma
restrição autoritária: ela também ser-
viu para dar sentido coletivo ao relato
autobiográfico, fazendo a dimensão
pessoal dialogar com lutas emancipa-
tórias de raça, gênero, classe. Como
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023 | Valor | 15
tropólogos, a pesquisa feita há mais de
um século, com forte empenho pessoal
da parte de Du Bois — ele realizou cer-
ca de 5 mil entrevistas, batendo de casa
em casa para ouvir os moradores de
uma região com índices elevados de
criminalidade, ociosidade e tensões
entre negros e brancos — mostra um
jovem cientista social pronto para ini-
ciar uma grande obra.
Aos 28 anos, recebera como enco-
menda de uma universidade “branca”
um estudo que pudesse decifrar o
“problema negro” numa cidade
afluente como a Filadélfia, que recebia
ex-escravizados do Sul em busca de no-
vos horizontes no Norte.
Para o público menos interessado
nos recursos metodológicos de Du Bois
e mais no contexto geral em que tudo
aconteceu, o livro começa por rota his-
tórica desde os primeiros negros che-
gados na América. E, ao desembarcar
na Sétima Região, mostra como são en-
tranhadas e ardilosas as engrenagens
do racismo. Na América independente,
já com alguma experiência abolicionis-
ta, o pensamento de Du Bois ainda se
confrontaria com a visão irracional de
que negros não são totalmente huma-
nos, nem têm capacidades para se de-
senvolver, daí, ficarem para trás.
Pois a pesquisa encomendada, que
deveria trazer respostas para a universi-
dade sobre como sanar esse atraso,
rompeu com os paradigmas da biologi-
zação essencialista e racial ao revelar
uma realidade complexa, multifaceta-
da, em que o problema não reside no
negro, mas na “linha de cor”, ou seja,
um ambiente social dividido, que sim-
plesmente impede uma parte da popu-
lação de viver com dignidade, bem co-
mo de participar da construção de uma
sociedade mais harmoniosa e próspera.
CRIS BIERRENBACH
sempre em literatura, depende de co-
mo se faz. Nos piores casos, o autor
que acusa a si mesmo deu lugar ao ad-
vogado de defesa das próprias virtu-
des, pegando carona na causa simpá-
tica do momento. Nos melhores, hou-
ve uma abertura de perspectiva, em
que o ponto de partida da escrita dei-
xa de ser o marco psicanalítico sem
contexto para ganhar força política.
Exemplo notável são os romances
memorialísticos do também francês
Édouard Louis, que acabam de ganhar
duas edições pela Todavia. Tanto em
“Quem matou meu pai” (2018, 72
págs.) quanto em “Lutas e metamorfo-
ses de uma mulher” (2021, 112 págs.),
ambos com tradução de Marilia Scalzo,
o autor faz uma operação inversa à de
Leiris. Enquanto “A idade viril” não
olha muito para a história de sua época
— a Primeira Guerra é apenas um tem-
po de “surprise-parties”, e o nazismo
não é nem citado —, Lewis submete ao
entorno social qualquer especulação
Assim, o fato de crescer como escri-
tor gay numa família pobre, com a
mãe oprimida pelo marido racista,
misógino e homofóbico, nunca é dis-
sociado do desmonte do Estado de
bem-estar social na França. O geral
influi no particular, que responde ao
geral com veemência. Mas não há
descuido estético: como Leiris, Louis
William Edward Burghardt Du Bois
nasceu no interior de Massachusetts,
numa comunidade de negros libertos.
Por isso pôde construir um caminho
que o levou a Harvard, onde conquis-
tou seu diploma de PhD. Nas andanças
pela Filadélfia, e do quartinho onde vi-
veu com a esposa, escreveu que o
“slum” (favela) não deveria ser visto co-
mo um fato, mas como um sintoma.
Demonstrou com fartura de dados que
os negros da Filadélfia não poderiam
ser homogeneizados, pois havia até
uma classe média entre eles. De resto,
assinalou como aquela sociedade bran-
ca, supostamente mais aberta, segrega-
va sob “sob o véu do preconceito”.
Tudo o que desejou naquele fim de sé-
culo era que os negros tivessem uma vi-
da decente, que permitisse aos seus me-
lhores talentos abrir caminho aos mais
desfavorecidos. Sua obra alcançou 21 li-
vros, 15 coletâneas de artigos e alguma
poesia. Du Bois formou uma escola de
sociologia pioneira na Universidade de
Atlanta, onde lecionou por anos.
Com o avançar da idade, e apesar do
engajamento no movimento pelos direi-
tos civis, suas utopias de juventude de-
ram lugar a uma visão amarga da socie-
dade americana. Acusou o capitalismo
de gerar discriminação e assinalou as
contradições da democracia americana,
uma delas, a de perpetuar o preconceito.
A certa altura, Du Bois rejeitou a ci-
dadania do seu país e foi morar em Ga-
na, na África, onde morreu, em 1963. O
reconhecimento ao seu pensamento,
presente por toda parte no meio aca-
dêmico, só faz crescer. Harvard inau-
gurou a Cátedra W. E. B Du Bois. A Uni-
versidade da Pensilvânia concedeu-lhe
o título póstumo da Professor Emérito.
E, na Filadélfia, um mural eterniza a
sua figura elegante. ■
tem consciência de que o acúmulo de
suas frases — mais secas e diretas que
as de “A idade viril” — tem um efeito
duplo, de violência e convencimento.
Na descrição que faz da progressiva
doença e miséria do pai, os alvos da
acusação são postos numa sequência
a um só tempo monocórdia e impac-
tante, que nos arrasta para sua verda-
de inegociável: “Nicolas Sarkozy e
Martin Hirsch estavam triturando
suas costas”, “Hollande, Valls e El
Khomri o asfixiaram”, “Emmanuel
Macron tira comida da sua boca”.
Do mesmo modo, a relação com a
mãe é uma história de amor e incom-
preensão mútua, e também dos ter-
mos escolhidos para descrevê-la. Pa-
radoxalmente — ou nem tanto, já
que tudo é artifício de prosa —, nem
o aumento retórico de alguns trechos
afasta a impressão geral de honesti-
dade: “Disseram-me que a literatura
nunca deveria soar como manifesto
(...), e no entanto afio cada uma das
minhas frases (...). Porque, sei agora,
construíram o que chamam de litera-
tura contra vidas e corpos como o de-
la. Porque, sei agora, que escrever so-
bre ela, e escrever sobre sua vida, é es-
crever contra a literatura”.
Se há momentos brutais no percur-
so, como quando a mãe ignora uma
crise de apendicite do filho porque ir
ao hospital seria uma “agressão de
classe”, um modo de emular burgueses
que se acham importantes pelo “cuida-
do minucioso e extremo consigo mes-
mos”, a consciência social acaba huma-
nizando os personagens de Louis. À
medida que ele se educa formalmente,
sua relação com a família se torna mais
tolerante, mais compreensiva ao sepa-
rar determinismo econômico e a busca
pela liberdade possível.
No fim, e se ainda dá para fazer a
comparação, “Quem matou...” e “Lu-
tas e metamorfoses...” ganham um
toque de serenidade que é mais dis-
creto em “A idade viril”. O mundo é
hostil, tanto lá fora quanto no inte-
rior de cada um, mas há como lidar
com isso: entrando num “novo infer-
no, menos flamejante, mais mesqui-
nho” (Leiris) ou fazendo “renascer os
fragmentos de ternura no caos do
passado” (Louis).
Michel Laub, jornalista e autor dos ro-
mances "Diário da Queda" (2011) e
"Solução de Dois Estados" (2020), escre-
ve neste espaço quinzenalmente ■
16 | Valor | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Série retrata o ‘assassino da

última rodada’
DIVULGAÇÃO

TV Minissérie da HBO Max traz caso que

apavorou a comunidade LGBTQ+ de NY
nos anos 90. Por Luciano Buarque de
Holanda, para o Valor, de São Paulo

Em julho de 1992, o corpo de Tho- atividade e seus periódicos desloca-

mas Richard Mulcahy, um pai de famí-
lia de 57 anos, foi encontrado des-
membrado em sacos plásticos espa-
lhados por uma rodovia de Nova Jer-
sey. Residente de Massachusetts, ele ti-
nha ido a Nova York em viagem de ne-
gócios e foi visto pela última vez no
Townhouse Bar, um discreto bar gay
de Manhattan. O crime guardava se-
melhanças óbvias com outro esquar-
tejamento, ocorrido cerca de um ano
antes na mesma região. Peter Stickney
Anderson, 54, a vítima anterior, tam-
bém esteve no Townhouse na noite em
que desapareceu. A polícia, portanto,
logo passaria a trabalhar com a hipó-
tese de um assassino serial.
Dividida em quatro episódios, a mi-
nissérie documental “A Última Roda-
da: Um Assassino Serial na NY Queer”
relembra um caso que apavorou a co-
munidade LGBTQ+ na Nova York do
começo dos anos 1990, uma época já
marcada pela aids e crimes de ódio
contra gays e lésbicas.
Trata-se da saga criminosa de Ri-
chard Rogers, o infame “assassino da
última rodada”, assim apelidado pe-
lo hábito de apanhar suas vítimas em
fins de noite. Rogers, ele próprio ho-
mossexual, fez pelo menos outras
três vítimas — é possível que o núme-
ro seja bem maior, considerando o
tempo em que o assassino esteve em
mentos pelos EUA.
A terceira vítima foi encontrada em
1993, fugindo aos padrões dos crimes
anteriores num único detalhe: dife-
rentemente das demais vítimas, Tony
Marrero, 44, não pertencia à elite
branca, frequentadora dos bares chi-
ques de Manhattan. De humilde ori-
gem porto-riquenha, ele atuava como
garoto de programa no entorno da es-
tação Port Authority, uma zona antes
notória pela concentração de vicia-
dos, traficantes de drogas e profissio-
nais do sexo. Parte de uma assombrosa
estatística, sua morte seria negligen-
ciada pelas autoridades.
Foi só com o assassinato de Mi-
chael J. Sakara, 56, que o caso ganhou
ampla repercussão. Figura assídua
do Five Oaks, extinto piano-bar do Cena de “A Última Rodada: Um Assassino Serial na NY Queer”, minissérie documental em quatro episódios da HBO Max
bairro de Greenwich Village, Sakara
era descrito como o “prefeito” local; cer forçada, considerando o compro- Ainda em vigor em muitos estados
alguém que cumprimentava a todos misso dos realizadores em denun- americanos, essa estratégia legal per-
e que não hesitava em assumir o mi- ciar crimes de ódio, quando, na ver- mite ao réu declarar insanidade tem-
crofone nos after hours. dade, as motivações do assassino porária diante de avanços homosse-
Em sua última noite, ele teria apre- não são necessariamente de nature- xuais indesejados. Na ocasião, o futu-
sentado um incógnito “amigo” enfer- za homofóbica. ro “assassino da última rodada” ma-
meiro à hostess do bar. Desse encon- Faz sentido, entretanto, no momento tou um colega de faculdade com oito
tro, veio um dos primeiros retratos fa- em que o documentário revela o quanto golpes de martelo em seu crânio.
lados do esquartejador. O caso, po- tudo poderia ter sido evitado se, em Coproduzida por Charlize Theron,
A Última Rodada: Um Assassino Serial na
rém, permaneceria não solucionado 1973, um júri não tivesse inocentado a série é baseada no livro de não fic-
NY Queer EUA - 2023. Criadores: Anthony
por anos, até o advento de tecnologias Rogers de um crime bárbaro, quando o ção “Last Call: A True Story of Love,
Caronna, Howard Gertler. Onde: HBO Max
forenses mais avançadas. mesmo acionou o recurso do “pânico Lust, and Murder in Queer New York”,
Por vezes, a abordagem pode pare- ★★★★★ gay” para alegar legítima defesa. de Elon Green. ■

teatro crianças

Dolores, Minha Mutações Eu Amo Chris -

Composição Luís Melo, Andréia Nhur e Uma Pequena
Com Rosana Maris Alex Bartelli. Concepção e Coleção de Fracassos
Dir.: Luiz Fernando direção artística: André Com Coletivo
Marques (Lubi) Guerreiro Lopes Teatro Dodecafônico Invenção Narrativas
11 a 13/8. Até 20/8. Sextas e Até 25/8. Terças a sextas, 20h. do Nordeste Encontradas
Sexta e sábados, 20h. Pompeia Com Grupo Numa Garrafa Pet teatro música
música sábado, 21h. Domingos, 18h. Carmin (RN) na Beira da Maré Hoje, A Viagem
Domingo, 18h. Sessões extras: Ninguém 11/8. Grupo São Gens de Godot Lúdica
Vila Mariana sábados às 17h. Sabe Meu Nome Sexta, 20h. Teatro (Jaboatão dos Não Vem! Com Cia. Malas Portam
Consolação Texto e atuação: Ana Carbatti Santana Guararapes/PE) Com Cia. Caravan 12 e 13/8. Sábado e
teatro mínimo Até 26/8. 11 e 12/8. Sexta e Maschera Teatro domingo, 17h30.
Aracy O Nome do Bebê Quinta a sábado, 20h. O Adeus de sábado, 20h. 13 a 27/8. Avenida Paulista
Texto, direção e Com Bianca Bin, Dudu Pinheiros Maria (MT) Bom Retiro Domingos, 11h.
atuação: Pelizzari, Lilian Regina, Com Grupo Ipiranga Orquestra
Flavia Milioni Cesar Baccan e Marcelo O Lado Fatal Primitivos Cuidado Modesta
Até 20/8. Ulmann.Dir.: Elias Andreato Com Denise Del Vecchio 12 e 13/8. Com Neguin (RJ) Vambora! “Canções Para
Sextas, 21h30. Até 20/8. Sextas e Adaptação e Dir.: Darson Ribeiro Sábado, 16h. Com Kelson Succi Com Cia. La Leche Pequenos Ouvidos 2”
Sábados e sábados, 20h. Até 28/8. Quinta a Domingo, 15h. 16 e 17/8, 12/8. 12 a 27/8.
Céu Ilessi, Rico domingos, 18h30. Domingos, 18h. sábado, 20h. Domingos, 17h. Interlagos Quarta e quinta, 20h. Sábados, 11h. Sábados e
Show “Fênix do Dalasam e Ipiranga Ipiranga Belenzinho Avenida Paulista Consolação domingos, 12h.
Amor Tour” Robertinho Silva Belenzinho
11 e 12/8. Sexta e Show “Pérola Negra” Fábulas
sábado, 20h30. 12 e 13/8. Com Cia. cineclubinho
Belenzinho Sábado, 20h. Mevitevendo Wallace &
Domingo, 18h. dança especial 12/8. Sábado, 16h. Gromit:
Chico César 24 de Maio São Caetano A Batalha dos
Show “Vestido de Amor” Sociedade dos oficina vivência encontro literatura Vegetais
12/8. Sábado, 20h. Luiza Lian Improdutivos Nossa Itaquera O Poder Historinhas circo Dir.: Nick Park,
Guarulhos Lançamento Com Cia. Sansacroma Ancestralidade Território Ancestral e Historietas A Bailarina e Steve Box | EUA / GBR
do álbum “7 Estrelas - 12 a 26/8. Sábados, 19h. Indígena: processo Indígena: uma das Ervas Indígenas o Palhaço | 2005
Rodrigo Alarcon Quem Arrancou o Céu?”. Vila Mariana criativo a partir vivência na Trilha Com Tammy Com Auritha Com Cia. Suno 13/8. Domingo, 15h.
Show do álbum 12 e 13/8. Sábado, 21h. da colagem da Samambaiaçu Tupinambá e Tabajara e Uma Noite em Haifa 12/8. Sábado, 16h. sescsp.org.br/
“Rivo III e a Fé” Domingo, 18h. Da Laje para Garagem Com Moara Com Márcio Day Moreira Cristino Dir.: Laila in Haifa, Amos Mogi das Cruzes cinesesc
12/8. Sábado, 16h. Pompeia Com Grupo Ewe Tupinambá Mendonça Boggarim 12 e 13/8. Wapichana Gitaï | ISR/FRA | 2020
Local: Pátio Metrô São Bento 11 a 13/8. Sexta e sábado, 13/8. Domingo, 13 e 20/8. Sábado e Até 27/8. Até 16/8. Sexta a quarta,
Florêncio de Abreu Jairo Pereira 21h30. Domingo, 18h30. 10h30. Domingos, 14h. domingo, 15h. Domingos, 14h30. 20h30. Exceto dia 15/8.
Show “Monocromático” Belenzinho o Limpo taque Pinh San r CineSesc
Leiden (MEX) 13/8. Domingo, 18h. circo
Part. Luísa Nascim Bom Retiro
12/8. Sábado, 19h.
Vila Mariana DJ Sophia e Encontro de Rua
Com Dani
DJ Vivian Marques
exposições esporte e atividade físicas Rocha-Rosa e
Supla e os Punks 13/8. Domingo, 14h.
Marcelo Lujan
de Boutique Itaquera
13/8. Domingo, 16h.
Lançamento do álbum Terra de Gigantes Torneio de aula aberta
Guarulhos
Punk de Boutique Gê de Lima Exposição imersiva na fronteira entre Embaixadinhas Treino
12/8. Sábado, 20h. 13/8. Domingo, 16h. videoinstalação, teatro e cinema, 12 e 13/8. Sábado Coletivo:
Santo Amaro Interlagos Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro com concepção e curadoria de e domingo, 16h. Futebol Cine Circo
Com Cia. Lacozzamia
A mais abrangente exposição dedicada exclusivamente à Daniel Lima. Traz imagens, símbolos 24 de Maio Feminino
12 e 13/8. Sábado e
produção de artistas negros já realizada no país. Obras em e sons cujas forças nascem da Com a treinadora
vivência domingo, 16h.
diversas linguagens, produzidas por 240 artistas e coletivos cultura negra e indígena na América. Japa Mayumi
Pinheiros
negros, em diversas épocas e de todos os estados do Brasil. Até 3/9. Terça a sexta, 9h às 21h30. Festival de Breaking 13 e 20/8.
parques Até 28/01/2024. Terça a sábado, das 10h às 21h. Sábados, 9h às 20h. Domingos, 9h “Nas Batalhas” Domingos, 14h.
Estado de Risco
Domingos e feriados, das 10h às 18h. às 17h30. 13/8. Domingo, 10h. Itaquera
Magote Com Exército
Com Grupo Monjua Contra Nada
Belenzinho Guarulhos Belenzinho
13/8. Domingo, 16h. 13/8. Domingo, 16h.
Mogi das Cruzes Pompeia

Itaquera e Interlagos
Aproveite as áreas
verdes e desfrute dos
espaços ao ar livre!
Quarta a domingo, 9h às 17h.
TJDF
Aplicativo de delivery
deve indenizar
consumidor
agredido
valor.globo.com/legislacao
Valor E
Sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Mercado Estudo do Centro de Ensino e Pesquisa
em Inovação da FGV Direito SP traça perfil do
profissional desejado pelos escritórios
Bancasbuscamadvogado
comhabilidadesem
gestãoetecnologia
Adriana Aguiar
De São Paulo
O advogado que busca uma
carreira bem-sucedida em escri-
tório de advocacia precisa mos-
trar mais do que o tradicional
domínio técnico do Direito. Pas-
saram a ser requisitadas pelo
mercado habilidades como ges-
tão de negócios, competências
socioemocionais e conhecimen-
to tecnológico. É o que aponta
um estudo realizado pelo Cen-
tro de Ensino e Pesquisa em Ino-
vação da Escola de Direito de
São Paulo da Fundação Getulio
Vargas (Cepi/FGV Direito SP).
Apresentado com exclusivida-
de ao Valor, em homenagem ao
Dia do Advogado, o relatório
“Formando a Advocacia do Pre-
sente e do Futuro - Habilidades
de Pesquisa e Atuação” é um ma-
pa de habilidades e competên-
cias inédito, que traduz as trans-
formações na advocacia.
O levantamento, que será divul-
gado em debate na FGV Direito SP
no próximo dia 31, foi realizado
com a participação de 400 bancas
de advocacia de todos os portes
atuantes em diferentes regiões do
país. Os dados foram coletados en-
tre setembro e novembro de 2022.
Ao elencar quais seriam as habi-
lidades mais importantes para um
advogado, por ordem de priorida-
de, 39% responderam que a forma-
ção jurídica ainda fica em primei-
ro lugar. Um total de 26% escolheu
competências em gestão como
uma das mais importantes, en-
quanto 20% consideraram mais re-
levantes as habilidades socioemo-
cionais e, por fim, 15% apontaram
“conhecimentos tecnológicos”. So-
madas, as competências extrajurí-
dicas totalizam 61% das habilida-
des mais desejadas pelas bancas.
O estudo foi coordenado por
Destaques
Doação devolvida
A 29ª Câmara de Direito Privado
do Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJSP) manteve a nulidade de doa-
ções de R$ 204,5 mil realizadas a
organização religiosa. O valor de-
verá ser restituído à autora da
ação. Narram os autos que a mu-
lher realizou diversos depósitos fi-
nanceiros à igreja por acreditar
que seria uma forma de validar a
fé. Tempos depois de entregar a
maior soma que possuía, oriunda
de indenização trabalhista, a doa-
dora e a filha ingressaram com
ação judicial alegando que o ato
comprometeu a subsistência da
família. O relator do recurso, de-
sembargador Carlos Henrique Mi-
guel Trevisan, destacou que a deci-
são de primeiro grau dirimiu com
acerto a controvérsia, sem interfe-
rir na liberdade de crença ou práti-
ca religiosa. “Trata-se apenas da
aplicação de um controle judicial
legítimo sobre atos que afrontam
direitos fundamentais do ser hu-
mano, quais sejam, dignidade,
boa-fé e honra”, explicou (com in-
formações do TJSP).
Olívia Pasqualeto, advogada e pro-
fessora da FGV, e Ana Paula Came-
lo, pesquisadora do Cepi/FGV Di-
reito SP. Elas destacam que, embo-
ra o conhecimento jurídico conti-
nue sendo a base essencial, “ele so-
zinho já não é mais suficiente”. Olí-
via faz a ressalva, contudo, de que
não são necessárias todas as com-
petências ao mesmo tempo, “mas
outras habilidades têm ganhado
cada vez mais espaço”.
Essa demanda nasce nas empre-
sas que são clientes dos escritórios
de advocacia, segundo Adrián Fog-
nini, managing director da América
Latina da Thomson Reuters, empre-
sa global de conteúdo e tecnologia e
apoiadora do estudo do Cepi/FGV
Direito SP. Para ele, as companhias
preferem lidar com profissionais
que tenham mais habilidade socioe-
mocional,saibamdetecnologiaete-
nham um alto grau de conhecimen-
to sobre os seus negócios.
“Advogado que usa
inteligência artificial
tem mais chance de
se sobressair”
José M. Decoussau
Nos grandes escritórios, essas no-
vas competências já são considera-
das. De acordo com o advogado José
MauroDecoussau,doPinheiroNeto,
que participou da pesquisa, o co-
nhecimento jurídico é absoluta-
mente indispensável, mas assim co-
mo no mundo corporativo em geral,
o profissional que desenvolve o co-
nhecimento em tecnologia e se so-
bressaicomrelaçãoàs“softskills”,ao
saber trabalhar em equipe, aguentar
pressão para resolver problemas e
ter empatia com os outros, tem um
STF julga extinção da pena por crime tributário
Beatriz Olivon
De Brasília
A maioria dos ministros do Su-
premo Tribunal Federal (STF) va-
lidou a norma que abranda a res-
ponsabilização penal de crimes
tributários. Os dispositivos anali-
sados dispensam a aplicação da
pena — que pode chegar a cinco
anos de reclusão — caso a dívida
seja paga ou parcelada.
O tema é analisado por meio
de ação apresentada pela Procu-
radoria-Geral da República (ADI
4273) contra a Lei nº 11.941, de
2009. Sete dos 11 ministros vota-
ram até ontem, todos pela manu-
tenção de dispositivos da norma.
Realizado no Plenário Virtual, o
julgamento termina na segunda-
feira (14), mas ainda pode ser
suspenso por pedido de vista ou
destaque — que transfere a ques-
tão para o plenário físico.
Os pontos sob análise afirmam
que, na hipótese de parcelamen-
to do crédito tributário antes do
diferencial. “Esses profissionais que
se adaptam vão mais longe na car-
reira do que aquele que, apesar de
ter um conhecimento técnico, não
sabe se relacionar ”, diz.
Essa mesma tendência tam-
bém tem sido percebida em es-
critórios de advocacia médios e
pequenos. O advogado Otávio
Vieira Tostes, do Tostes & De Pau-
la, também participante da pes-
quisa, afirma que o profissional
que consegue resolver o proble-
ma, é criativo, hábil para fazer
acordos e age com empatia “tem
sido mais valorizado”.
O interesse e busca de conheci-
mento sobre novas tecnologias tam-
bém têm sido requisitados. “Não
precisaserumexpert,maso advoga-
do que sabe como usar novas ferra-
mentasdeinteligênciaartificialpara
a tradução de textos, busca de juris-
prudência, entre outras, tem mais
chance de se sobressair”, diz José
Mauro Decoussau.
As pesquisadoras destacam que
os profissionais já superaram aquele
primeiroreceiodequeainteligência
artificial substituiria o trabalho da
advocacia por robôs. De acordo com
o levantamento, 93% acreditam que
a tecnologia será um critério dife-
rencial entre as bancas nos próxi-
mos cinco anos, 92% pensam que a
advocacia será muito impactada pe-
la tecnologia, com a necessidade de
se reinventar algumas práticas, e só
38% acreditam que a tecnologia não
impactará a atuação do advogado.
O uso da tecnologia no mercado
jurídico, segundo a pesquisadora
Ana Paula Camelo, extrapola a dis-
cussão restrita sobre ferramentas.
Para ela, cada vez mais tem repercu-
tido na criação de novas áreas, fun-
ções e serviços jurídicos, juntamente
com novas oportunidades para dife-
rentes perfis de profissionais.
Nos últimos cinco anos, confor-
me revela a pesquisa, as bancas co-
oferecimento da denúncia, ela só
poderá ser aceita se houver ina-
dimplemento da obrigação obje-
to da denúncia (artigo 67) e tam-
bém suspendem a punição por
sonegação e similares (penas que
podem chegar a cinco anos)
quando são suspensos os débitos
por parcelamento (artigo 68) e
nos casos que houver o paga-
mento integral (artigo 69).
Na ação, a procuradoria alega
que o legislador verificou que, sem
a coerção penal, não haveria arre-
cadação de tributos que permitis-
se o desenvolvimento nacional e a
eliminação da marginalização e
das desigualdades sociais.
Argumenta ainda que os dis-
positivos contestados “reforçam
a percepção da dupla balança da
Justiça: penaliza sistematica-
mente os delitos dos pobres e se
mostra complacente com os de-
litos dos ricos”.
Prevalece no julgamento o vo-
to do relator, ministro Nunes
Marques. Ele considerou que a
Opinião Jurídica
Exclusão do
PIS/Cofins sobre
subvenções
governamentais
E2
Olívia Pasqualeto e Ana Paula Camelo: embora o conhecimento jurídico continue sendo a base essencial, já não é mais suficiente
meçaram a criar novas áreas. Um
total de 39% dos escritórios afirma
que abriu um departamento liga-
do a Lei Geral de Proteção de Da-
dos (LGPD) — Lei nº 13.709, de
2018. Além disso, 35% das bancas
criaram uma área de marketing,
26% de negociação, mediação e
conciliação (as formas alternativas
ao Judiciário para a resolução de
conflito), 26% de gestão do conhe-
cimento e 26% de gestão de inova-
ção — questões sobre áreas admiti-
ram respostas múltiplas.
Sobre essas novas áreas, 33% re-
conheceram que criaram esses no-
vos departamentos por demanda
de clientes e 17% por iniciativa de
profissionais da banca. Já 30% dis-
seram que o motivo seria inovar na
prestação de serviços jurídicos e
29% para implementar ou melho-
rar a estrutura tecnológica. Porém,
48% dos escritórios afirmaram não
terem criado novas áreas nos últi-
mos cinco anos.
Segundo José Mauro Decous-
sau, do Pinheiro Neto, até agora
os escritórios tinham um plano
extinção da punibilidade como
decorrência da reparação inte-
gral do dano causado ao erário
pela prática de crime contra a
ordem tributária constitui op-
ção política que vem sendo ado-
tada há muito tempo. De acordo
com ele, isso demonstra a preva-
lência do interesse do Estado na
arrecadação das receitas prove-
nientes dos tributos — para ob-
ter a finalidade a que se desti-
nam — em detrimento da apli-
cação da sanção penal.
“A ênfase conferida pelo legis-
lador à reparação do dano ao pa-
trimônio público, com a adoção
das medidas de despenalização
(causas suspensiva e extintiva de
punibilidade) previstas nos dis-
positivos legais impugnados, em
vez de frustrar os objetivos da Re-
pública, contribui para a concre-
tização das aspirações de nossa
Lei Maior”, afirma ele, no voto.
O ministro manteve a validade
dos artigos 67 e 69 e não analisou
o 68, por questão técnica — na
Fio da Meada
Sociologia do
imposto: útil em
tempos de reforma
valor.globo.com/
legislacao
& Tributos SP
de carreira no formato de pirâmi-
de, com estagiários na base, de-
pois recém-formados, juniores,
seniores e sócios, mas isso pode
mudar em um futuro próximo.
“Vão ter que pensar também nas
carreiras de outros profissionais
[como engenheiros e especialis-
tas em marketing]”, diz.
Essa diversidade de profissões
nos escritórios de advocacia é
uma outra tendência que deve se
consolidar, de acordo com
Adrián Fognini, da Thomson
Reuters. Para ele, a depender do
problema que o escritório tem
que resolver, será necessário re-
correr a expertises de outras
áreas como genética, economia e
engenharia. “São discussões que
envolvem múltiplas facetas, não
só jurídicas, e o conhecimento de
outras áreas agrega valor.”
O estudo também se preocu-
pou em avaliar como os escritó-
rios têm contratado profissio-
nais. Segundo a pesquisa, 96%
avaliam currículo e formação,
95% preferem entrevista indivi-
.
prática, segue válido. O voto foi
acompanhado pelos ministros
Edson Fachin, Dias Toffoli, Rosa
Weber, Alexandre de Moraes,
Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
De acordo com Luiza Oliver,
advogada criminalista e sócia do
Toron Advogados, a tese de in-
constitucionalidade, refutada
pela maioria dos ministros, não
tem fundamento jurídico sólido.
“Ignora completamente uma
opção política válida do legisla-
dor para encampar um discurso
meramente punitivista”, diz.
Entendimento contrário teria
impacto negativo, acrescenta a
advogada, em especial sobre os
contribuintes que se encontram
inseridos em programas de par-
celamento. Isso porque não exis-
tiria mais a possibilidade de, ao
fim das parcelas, extinguir a pu-
nibilidade e o processo, a menos
que houvesse uma modulação
dos efeitos da decisão (imposi-
ção de limite temporal). “Essa si-
tuação, além de extremamente
TRT-SP
Anulada dispensa
por adulteração de
atestado médico
valor.globo.com/
legislacao
CLAUDIO BELLI/VALOR
dual, para avaliar comportamen-
to e conhecimento, e 90% recor-
rem à indicação de terceiros.
Em médios e pequenos escritó-
rios, afirma o advogado Otávio Viei-
ra Tostes, a indicação ainda é muito
adotada porque facilita a contrata-
ção de profissionais que já foram
testados e recomendados pelo mer-
cado. Já nas bancas maiores, como
no Pinheiro Neto, José Mauro De-
coussau acrescenta que é preciso
passar por um processo seletivo ri-
goroso, com prova de língua estran-
geira, conhecimentos gerais, conhe-
cimentos jurídicos e entrevistas.
“Ainda que a indicação exista, as
provas são eliminatórias.”
Na contratação, o que mais tem
faltado ao advogado, conforme o es-
tudo, é o essencial: conhecimento
jurídico. Sobre isso, 25% afirmaram
não ter nenhuma estratégia para li-
dar com as lacunas de formação dos
profissionais, 31% financiam cursos
para advogados específicos, 36% re-
correm a programas internos e 41%
financiam cursos para todos os ad-
vogados interessados.
DIVULGAÇÃO
“Extinção da
punibilidade
constitui opção
política”
Nunes Marques
injusta, poderia gerar um enor-
me desincentivo para o adimple-
mento tributário.”
E2 | Valor | São Paulo | Sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Legislação&Tributos SP

Exclusão do
N
o ambiente setor/ramo específico. expansão de empreendimentos já que a tributação de um 2014, permitindo classificar
legislativo Juridicamente, esses tipos de econômicos e de doações feitas incentivo fiscal oferecido por um nessa categoria toda forma de
brasileiro, há anos incentivo são caracterizados pelo poder público”. Estado-membro equivaleria à benefício do ICMS (isenção,
PIS/Cofins os Estados da
Federação vivem
como “subvenção para custeio”
ou “subvenção para
Assim, o ponto central dessa
discussão é voltado às exigências
retirada do próprio incentivo.
Quanto ao PIS e Cofins,
crédito presumido, base
reduzida). Todavia, vem também

sobre
um cenário complexo que investimento”, que de forma e recomendações para que a especificamente, podemos sendo objeto de análise
envolve a chamada guerra simplificada podem ser subvenção aproveitada não seja entender que as subvenções para recorrente no Judiciário, em
fiscal. Basicamente, os Estados e classificados como sendo o classificada como subvenção de investimento não devem ser especial em razão da busca pelo

subvenções Distrito Federal buscam atrair

investimentos para sua região a
partir, principalmente, de
primeiro voltado para
compensar prejuízos e o segundo
para a aplicação de recursos na
custeio pela administração,
mas sim subvenção de
investimento, merecendo o
oneradas em suas respectivas
bases, já que não representam
receita. Esse entendimento, aliás,
afastamento da tributação de
IRPJ e CSLL, cuja legislação é mais
restrita, sobre esses benefícios.
incentivos fiscais — sobretudo expansão da atividade afastamento dos tributos está presente na Lei nº Já para o PIS e a Cofins, a
Opinião Jurídica por meio daqueles
relacionados ao ICMS.
empresarial, aquisição de
maquinários, desenvolvimento
federais IRPJ, CSLL, PIS e Cofins.
Em 2017, a partir da
12.973/14, conclusiva acerca da
não tributação nas apurações
legislação não traz determinadas
exigências, razão pela qual a
Naturalmente, esse contexto de novas atividades e outras publicação da Lei Complementar dessas contribuições, a própria Coordenação-Geral de
levanta muitas questões de finalidades de mesma natureza. nº 160 e da decorrente alteração partir de alterações nas leis nº Tributação (Cosit) dispensou o
Leandro Ferreira debate acerca das diversas Ocorre que tais benefícios, de do artigo 30 da Lei nº 10.637/02 para o PIS e nº registro das subvenções em
normas estabelecidas pelo ordem estadual, não eram 12.973/2015, dispôs-se que 10.833/03 para Cofins. reservas de incentivos fiscais.
sistema tributário vigente no excepcionalizados pela União “consideram-se como Vemos, então, que as Mesmo diante desse
país, inclusive relacionados à Federal para efeitos tributários, subvenções para investimento os exigências para não incidência posicionamento, é certo que
repercussão dos benefícios em ou seja, sobre eles permanece a incentivos e os benefícios fiscais do PIS e da Cofins sobre a fruição ainda iremos observar relevante
outros tributos. Uma delas, que incidência dos tributos federais, ou financeiros-fiscais relativos ao de subvenções de investimento, movimentação administrativa e
é assunto de uma batalha tais como IRPJ, CSLL, PIS e Cofins. ICMS concedidos por estados e relativas ao ICMS, especialmente judicial relativa à tributação das
recente no âmbito do Conselho Felizmente a legislação (LC nº pelo Distrito Federal”. após a fixação de conceito do subvenções, especialmente em
Administrativo de Recursos 160/17) e jurisprudência acerca Com isso, disseminou-se, entre instituto pela LC nº 160/17, são razão do tratamento dado pela
Fiscais (Carf) e do Poder do IRPJ e CSLL avançaram para especialistas, a defesa da ideia de menos complexas que àquelas lei complementar, que culminou
Judiciário, refere-se ao conceito reconhecer a não incidência que benefícios fiscais, em geral, impostas ao IR e CSLL, embora em uma abrangência maior da
de subvenções governamentais, desses tributos sobre subvenções poderiam ser considerados como sempre se recomende cautela no não tributação destes benefícios.
para fins de incidência de ICMS. Por outro lado, com uma subvenção para tratamento e segregação
do IRPJ e CSLL. relação ao PIS e Cofins, a investimentos e, assim, excluídos contábil-fiscal destes valores. Leandro Ferreira é sócio no Ferreira &
As subvenções, sob a ótica do controvérsia é de menor grau, dos cálculos de IRPJ e da base de É importante destacar, por fim, Vuono Advogados, pós-graduado em
sistema tributário, representam pois a Lei nº 12.973/14 foi clara cálculo da CSLL, bem como, por que solução de consulta da Direito Tributário
concessão de benefícios ou ao determinar que, nas extensão, do PIS e da Cofins. Receita Federal admite a não
renúncias fiscais por parte do apurações do PIS e da Cofins, Quanto a essa temática, a 1ª incidência do PIS e Cofins sobre Este artigo reflete as opiniões do autor,
poder público, destinadas ao “não integram a base de cálculo Seção do Superior Tribunal de subvenções, desde que se trate de e não do jornal Valor Econômico.
contribuinte, normalmente as receitas de subvenções para Justiça (STJ) possui o subvenções para investimento. A O jornal não se responsabiliza e nem
concedidas com o objetivo de investimento, inclusive entendimento de que créditos de classificação de uma subvenção pode ser responsabilizado pelas
incentivar o desenvolvimento mediante isenção ou redução de ICMS concedidos nas federações como de investimento tem informações acima ou por prejuízos
econômico em determinada impostos, concedidas como não devem estar na base de respaldo nos parágrafos 4º e 5º de qualquer natureza em decorrência
região ou de um estímulo à implantação ou cálculo dos tributos (IRPJ, CSLL), do artigo 30 da Lei nº 12.973 de do uso dessas informações

Aviso de Licitação
A PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA CAMPINA Torna Público que se encontra aberta a Licitação, na Modalidade GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO SOCIEDADE HARMONIA DE TÊNIS
PREGÃO ELETRÔNICO RP- Tipo Menor Preço Por LOTE, tendo como Objeto: AQUISIÇÃO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS
DO TIPO LANCHES conforme melhor especificado no Edital do Pregão Eletrônico RP nº. 064/2023 – Proc. Adm. Nº. SECRETARIA DE ESTADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA – SETASC/MT EDITAL DE CONVOCAÇÃO
3204/2023. Data e horário do recebimento das propostas: até às 09:00:00 horas do dia 24/08/2023. Data e horário
do início da disputa: 09:00:01 horas do dia 24/08/2023; através da BBM - Bolsa Brasileira de Mercadoria. Edital na EDITAL DE CITAÇÃO Prezado(a) Conselheiro(a),
integra disponível no Endereço Eletrônico https://www.novacampina.sp.gov.br/ e www.novobbmnet.com.br, outras
informações por meio do Fone (15) 3535-6100 - Sessão de Licitações. A PRESIDENTE DA COMISSÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO, designada pela
De acordo com o disposto no Artigo 56 do Estatuto Social, convo-
Portaria n.º 001, de 15 de maio 2023, cujo extrato foi publicado no D.O.E. de 15 de maio
camos os membros efetivos do Conselho Deliberativo da Sociedade
Terramar Paulista Hotéis e Turismo Ltda. 2023, no uso de suas atribuições e tendo em vista o disposto no caput do artigo 78 § 1 da Lei
Harmonia de Tênis a comparecerem à reunião ordinária que será re-
nº 207, de 29 de dezembro de 2004, combinado com o art. art. 256 do Código de Processo
CNPJ/MF nº 50.444.256/0001-66 – NIRE 35.200.387.579 alizada na Rua Canadá, 658 – São Paulo/SP, no próximo dia 21 de
Edital de Convocação Civil, CITO, pelo presente edital, por se encontrar em local incerto e não sabido, a ex-
Ficam os Srs. Sócios convocados a se reunirem no dia 21 de agosto de 2023, às 10h30, na sede social
agosto, segunda-feira, às 18h30, em primeira convocação, com a pre-
servidora SRA. LEANDRA APARECIDA SILVA RUSSO devidamente inscrita no CPF
desta Sociedade, na Rua Macedo Soares, nº 713, Centro, Campos de Jordão/SP, para deliberar sobre a sença de, no mínimo, 41 Conselheiros, entre os quais 14 Veteranos. Não
779.718.501-82, sobre condição de acusada nos autos do processo CGE-PRO-2022/00915,
seguinte Ordem do Dia: (a) atualização do contrato social conforme o artigo 2.031 do CC/02; (b) prestação havendo “quórum”, fica feita, desde já, a segunda convocação para o
de contas, exame, discussão e deliberação sobre as demonstrações financeiras da Terramar, inclusive intimando-a a comparecer, no prazo de 15 (quinze) dias, à sede da Secretaria de Estado de
necessidade de aumento de capital social; (c) anuência de cessão de quotas da Terramar. Se encontram
mesmo dia e local, às 19h30, com a presença mínima de 27 Conselhei-
Assistência Social e Cidadania – SETASC/MT, sito a Rua Jornalista Amaro de Figueiredo
à disposição, na sede social, os documentos mencionados no item ‘b’. Espólio de Walter Luiz Lapietra ros, entre os quais 9 Veteranos.
Falcão, nº 503, Bairro Morada da Serra, CPA 1, a fim de tomar ciência dos fatos apurados
– Inventariante Luiz Marcelo Lapietra. (11, 14 e 15/08/2023)
perante a comissão, aos quais deram origem ao mencionado processo, sob pena de revelia.
É a seguinte a ordem do dia:
PROMON S.A. Cuiabá – MT, 10 de agosto de 2023.
MARCELLE ROMANA CORREA DE ARRUDA GUEDES Reunião Ordinária:
CNPJ/MF nº 05.315.149/0001-83 - NIRE 35.300.192.184
Edital de Convocação de Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária Presidente da Comissão de Processo Administrativo
Ficam convocados os Senhores Acionistas da Promon S.A. (“Companhia”) a se reunir em Assembleia 1º - Leitura e aprovação da ata da reunião ordinária de 24/4/2023;
PAD 001/2023 – SETASC MT
Geral Ordinária e Extraordinária (“AGOE”), que será realizada no dia 17/08/2023, às 15h00min, de forma 2º - Exposição da Diretoria sobre as atividades do 1º semestre;
exclusivamente digital, através de videoconferência pela plataforma “I-Sat” (http://promon.isatvideo.com.br/),
nos termos dos arts. 121, parágrafo único, e 124, §2º-A da Lei nº 6.404/1976 e da Instrução Normativa DREI 3º - Outros assuntos.
nº 81/2020, a fim de deliberar sobre a seguinte ordem do dia: Em AGO - a) Exame, discussão e deliberação
sobre as contas da administração e demonstrações financeiras da Companhia referentes ao exercício social
Marcelo Bandeira de Mello
encerrado em 31/03/2023, com parecer dos auditores independentes; b) Deliberação sobre a proposta de Presidente do Conselho Deliberativo
destinação do lucro líquido apurado no exercício social encerrado em 31/03/2023; c) Fixação da
remuneração global anual dos administradores; Em AGE - d) Proposta de alteração do Estatuto Social,
São Paulo, 11 de agosto de 2023.
conforme redação disponibilizada para consulta aos acionistas, mediante: d.1) Inclusão dos parágrafos 2º e
PR
3º ao artigo 5º do Estatuto Social, que tratam de restrições à oneração de ações; d.2) Alteração do artigo 7º O
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do Estatuto Social, de modo a melhor definir os Beneficiários a quem poderão ser outorgadas cartas de • FI A N

indenidade pela Companhia, bem como autorização e ratificação das cartas de indenidade emitidas pela
Companhia a Beneficiários; d.3) Alteração do artigo 31 do Estatuto Social, que dispõe sobre os critérios para
constituição, finalidade e limites da reserva estatutária de liquidez; e e) Consolidação do Estatuto Social e
outros assuntos de interesse geral. Informações Gerais: Os Acionistas que desejarem participar da AGOE
deverão acessar a plataforma “I-Sat” (http://promon.isatvideo.com.br/), mediante utilização de login e senha
pessoais enviados, em 09/08/2023, por Serviços a Acionistas ao e-mail do Acionista cadastrado na
Companhia. Caso o Acionista que desejar participar da Assembleia Geral não tenha recebido seu login e
senha pessoais até às 18h00min do dia 16/08/2023, deverá entrar em contato com Serviços a Acionistas
através do seguinte e-mail: servicos-acionistas@promon.com.br. Caso o Acionista pretenda ser
representado por procurador (que, nos termos da lei, deve ser outro acionista, administrador da Companhia
ou advogado), haverá a necessidade de envio prévio da documentação para Serviços a Acionistas
(servicos-acionistas@promon.com.br) até às 14h00min do dia 17/08/2023, contendo: (i) e-mail do
procurador que acessará a plataforma I-Sat; (ii) cópia de procuração devidamente assinada há menos de 1
ano da data da AGOE; (iii) cópia de documento oficial de identificação pessoal do Acionista que contenha
assinatura semelhante à da procuração (ex: RG, CNH, CREA, OAB etc.), e (iv) cópia de documento de
identificação do procurador. Os Acionistas poderão votar exclusivamente por meio de boletim de voto à
distância. As instruções detalhadas de como os Acionistas poderão participar e votar na AGOE, bem como
os documentos de suporte estão disponíveis para consulta no seguinte endereço: https://acionistasweb.
promon.com.br, acessível mediante utilização do login e senha pessoal do Acionista. Em caso de dúvidas
sobre o acesso ao link informado, por favor, entrar em contato por e-mail:servicos-acionistas@promon.com.br.
São Paulo, 9, 10 e 11 de agosto de 2023. Conselho de Administração.
OPEA SECURITIZADORA S.A.
CNPJ nº 02.773.542/0001-22
EDITAL DE CONVOCAÇÃO - ASSEMBLEIA ESPECIAL DE TITULARES DOS CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS
IMOBILIÁRIOS DA 380ª SÉRIE DA 1ª EMISSÃO (IF 21I0801132) DA OPEA SECURITIZADORA S.A.
Ficam convocados os Srs. titulares dos Certificados de Recebíveis Imobiliários da 380ª Série da 1ª Emissão da
Opea Securitizadora S.A., inscrita no CNPJ sob o nº 02.773.542/0001-22 (“Titulares dos CRI”, “CRI” e “Emissora”,
respectivamente), nos termos do Termo de Securitização de Créditos Imobiliários dos Certificados de Recebíveis
Imobiliários da 380ª Série da 1ª Emissão da Emissora, celebrado em 23 de setembro de 2021, conforme aditado
(“Termo de Securitização”), a reunirem-se em Assembleia Especial de Titulares dos CRI (“Assembleia”), a realizar-se
no dia 30 de agosto de 2023, às 10:00 horas, de forma exclusivamente digital, por meio da plataforma Microsoft
Teams, sendo o acesso disponibilizado pela Emissora individualmente para os Titulares dos CRI devidamente
habilitados, nos termos deste Edital de Convocação, conforme a Resolução da Comissão de Valores Mobiliários
(“CVM”) nº 60, de 23 de dezembro de 2021 (“Resolução CVM 60”), a fim de deliberar sobre as seguintes matérias da
Ordem do Dia: (i) a autorização para a venda, pela Devedora a terceiro, de uma fração ideal livre do Imóvel Neumarkt,
que poderá variar de 4,67% (quatro inteiros e sessenta e sete centésimos por cento) a 12,00% (doze por cento) do
Imóvel Neumarkt (“Parte Ideal Livre do Imóvel - Não Alienada Fiduciariamente” e “Transação”, respectivamente),
com a consequente liberação de até 17% (dezessete por cento) dos Direitos Creditórios atualmente vinculados à
garantia de Cessão Fiduciária, a ser realizada na mesma proporção do percentual da Amortização Extraordinária
Facultativa, afastando-se assim os efeitos do Evento de Vencimento Antecipado Não Automático das Debêntures,
previsto na Cláusula 8.5.2, item (xiii), da Escritura de Emissão de Debêntures, sendo que deverá ser realizado, pela
Devedora, a Amortização Extraordinária Facultativa das Debêntures, e consequentemente dos CRI, de até 17,35%
(dezessete inteiros e trinta e cinco centésimos por cento) do saldo devedor das Debêntures, e consequentemente
dos CRI; e (ii) caso aprovado o item (i) acima, a dispensa de atendimento do aviso prévio de 60 (sessenta) dias para
fins da Amortização Extraordinária Facultativa das Debêntures, prevista na Cláusula 8.2 da Escritura de Emissão de
Debêntures, e do aviso prévio de 5 (cinco) Dias Úteis para amortização extraordinária dos CRI, prevista na Cláusula
6.4 do Termo de Securitização, sendo que (a) o evento da Amortização Extraordinária Facultativa das Debêntures
poderá ocorrer até 30 de novembro de 2023, mediante envio, pela Devedora, de notificação com no mínimo 3
(três) Dias Úteis de antecedência da data pretendida para a realização da Amortização Extraordinária Facultativa;
e (b) o evento da amortização extraordinária dos CRI ocorrerá em até 2 (dois) dias úteis após pagamento das
Debêntures. As matérias acima indicadas deverão ser consideradas pelos Titulares dos CRI de forma independente
no âmbito da Assembleia, de modo que a não deliberação ou a não aprovação a respeito de qualquer uma delas,
não implicará automaticamente a não deliberação ou não aprovação de qualquer das demais matérias constantes
da ordem do dia. A Assembleia será realizada de forma exclusivamente digital, por meio da plataforma Microsoft
Teams e seu conteúdo será gravado pela Emissora. O acesso à plataforma será disponibilizado pela Emissora
individualmente para os Titulares dos CRI que enviarem à Emissora e ao Agente Fiduciário, por correio eletrônico
para ri@opeacapital.com e af.assembleias@oliveiratrust.com.br, identificando no título do e-mail a operação (CRI
380ª Série da 1ª Emissão - IF 21I0801132), a confirmação de sua participação na Assembleia, acompanhada dos
Documentos de Representação (conforme abaixo definidos) até 2 (dois) dias antes da realização da Assembleia.
Para os fins da Assembleia, considera-se “Documentos de Representação”: a) participante pessoa física: cópia
digitalizada de documento de identidade do Titular dos CRI; caso representado por procurador, também deverá
ser enviada cópia digitalizada da respectiva procuração com firma reconhecida ou assinatura eletrônica com
certificado digital, com poderes específicos para sua representação na Assembleia e outorgada há menos de 1 (um)
ano, acompanhada do documento de identidade do procurador; e b) demais participantes: cópia digitalizada
do estatuto/contrato social (ou documento equivalente), acompanhado de documento societário que comprove
a representação legal do Titular dos CRI (i.e. ata de eleição da diretoria) e cópia digitalizada de documento de
identidade do representante legal; caso representado por procurador, também deverá ser enviada cópia digitalizada
da respectiva procuração com firma reconhecida ou assinatura eletrônica com certificado digital, com poderes
específicos para sua representação na Assembleia e outorgada há menos de 1 (um) ano, acompanhada do documento
de identidade do procurador. Os Titulares dos CRI poderão optar por exercer seu direito de voto, sem a necessidade de
ingressar na videoconferência, enviando à Emissora e ao Agente Fiduciário a correspondente manifestação de voto
à distância, nos correios eletrônicos ri@opeacapital.com e af.assembleias@oliveiratrust.com.br, respectivamente,
conforme modelo de Manifestação de Voto à Distância anexo à Proposta da Administração, disponibilizada pela
Emissora na mesma data de divulgação deste Edital de Convocação em seu website (www.opeacapital.com) e no
website da CVM. A manifestação de voto deverá estar devidamente preenchida e assinada pelo Titular dos CRI ou
por seu procurador, conforme aplicável e acompanhada dos Documentos de Representação. Os votos recebidos
até o início da Assembleia por meio da Manifestação de Voto à Distância serão computados como presença para
fins de apuração de quórum e as deliberações serão tomadas pelos votos dos presentes na plataforma digital,
observados os quóruns previstos no Termo de Securitização. Contudo, em caso de envio da manifestação de voto
de forma prévia pelo Titular dos CRI ou por seu procurador com a posterior participação na Assembleia via acesso à
plataforma, o Titular dos CRI, caso queira, poderá votar na Assembleia, caso em que o voto anteriormente enviado
deverá ser desconsiderado. Os termos ora utilizados iniciados em letras maiúsculas que não estiverem aqui definidos
têm o significado que lhes foi atribuído nos Documentos da Operação. São Paulo, 10 de agosto de 2023. OPEA
SECURITIZADORA S.A. - Nome: Flávia Palacios Mendonça Bailune - Cargo: Diretora de Relações com Investidores.
Companhia de Processamento de Dados CRT4 - Central de Registro de Títulos e Ativos S.A.
CNPJ nº 31.836.472/0001-02 - NIRE 35300526937
do Estado de São Paulo - PRODESP Ata da Reunião do Conselho de Administração Realizada em 05 de abril de 2023
CNPJ 62.577.929/0001-35 Data, Horário e Local: 05.04.2023, às 10:30 h, por meio digital em plataforma Microsoft Teams. Convocação: Convo-
EDITAL DE CONVOCAÇÃO cada pelo Sr. Jorge Lauriano Nicolai Sant´Anna, na qualidade de presidente do Conselho de Administração, por meio
eletrônico enviado no dia 31.03.2023. Presença: Os conselheiros Srs. André Jafferian Neto, João Ayres Rabello Filho,
Ficam os Senhores Acionistas da Companhia de Processamento de Dados do Jorge Lauriano Nicolai Sant´Anna, Marcelo Andrade Clara e Nelson Rocha Augusto. Mesa: Presidente: Jorge Lauriano
Estado de São Paulo - PRODESP convocados para comparecer à Assembleia Geral Nicolai Sant´Anna, Secretário: André Jafferian Neto. Ordem do Dia: verificar a subscrição das sobras de ações do aumen-
Extraordinária, que será realizada no dia 16 de agosto de 2023, às 11 horas, na sede to de capital deliberado na RCA realizada em 28.02.2023 que elevou o capital social em R$ 26.000.000,00, mediante
social da companhia, localizada na Rua Águeda Gonçalves, nº 240, Município de a emissão de 26.000.000 de novas ações ordinárias nominativas sem valor nominal, ao preço de R$ 1,00 cada uma e
Taboão da Serra, Estado de São Paulo, para deliberar sobre a seguinte ordem do dia: deliberar o respectivo rateio de sobras decorrentes de acionistas que não exerceram seu direito de preferência. Deli-
Item 01 - Eleger membros para compor o Conselho de Administração. berações Aprovadas: Os membros do Conselho de Administração presentes verificaram a existência de sobras no total
de 2.288.497 ações ordinárias nominativas sem valor nominal. Deliberaram ratear as sobras entre os acionistas que
Item 02 - Eleger membros para compor o Conselho Fiscal. manifestaram interesse na sua subscrição, ao preço de R$1,00 por ação, conforme vontade expressa nos próprios bo-
Item 03 - Outros assuntos de interesse da Companhia. letins de subscrição do aumento deliberado em 28.02.2023. A integralização das ações ora rateadas, deverá ser realizada
JOÃO GERMANO BÖTTCHER FILHO em 8 parcelas mensais consecutivas, devidas sempre nos dias 15 de cada mês, sendo que a primeira parcela será devida
em 15.04.2023, e as demais parcelas serão devidas em cada uma das respectivas datas de integralização, de acordo com
Presidente do Conselho de Administração
as datas e montantes indicados na tabela a seguir: Parcela - Data de Integralização - Montante a ser Integrali-
zado: 1ª - 15.04.2023 - R$439.720,07; 2ª - 15.05.2023 - R$366.428,49; 3ª - 15.06.2023 - R$366.428,49; 4ª - 15.07.2023
- R$146.570,99; 5ª - 15.08.2023 - R$146.570,99; 6ª - 15.09.2023 - R$146.570,99; 7ª - 15.10.2023 - R$146.570,99;
8ª - 15.11.2023 - R$529.635,99. Adicionalmente, de acordo com o disposto no item 2.3.3 do “Protocolo e Justificação
Secretaria de Gestão e
Governo Digital
de Incorporação das Ações de Emissão da CRT4 - Central de Registro de Títulos e Ativos S.A. pela CIP S.A.” celebrado
em 29.12.2022, pelas administrações da Companhia e da CIP S.A., com sede São Paulo/SP, CNPJ 44.393.564/0001-07
(“CIP”) e aprovado pelas respectivas assembleias gerais em 27.02.2023 (“Protocolo e Justificação”), e sujeito à veri-
ficação de determinadas condições suspensivas, a CIP ficará responsável pela integralização de eventuais novas ações
CM HOSPITALAR S.A. emitidas no contexto do Aumento de Capital que não estejam totalmente integralizadas até a Data da Consumação da
Operação (conforme definido no Protocolo e Justificação), respondendo integralmente por quaisquer perdas e danos in-
CVM 02568-2 - Companhia Aberta - (“Companhia”)
CNPJ/ME nº 12.420.164/0001-57 - NIRE nº 35.300.486.854 corridos pelos atuais acionistas da Companhia em razão de eventual aplicação do artigo 108 da Lei nº 6.404/76, conforme
EDITAL DE CONVOCAÇÃO alterada. Ainda, nos termos do item 2.3.2 do Protocolo e Justificação, o montante efetivamente integralizado pelos
ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA atuais acionistas da Companhia decorrentes do Aumento de Capital até a Data da Consumação da Operação, deverão
O Conselho de Administração da Companhia convoca os seus Acionistas para se reunirem na assembleia ser ressarcidos pela CIP por meio de ajuste proporcional ao Resgate Base (conforme definido no Protocolo e Justifica-
geral extraordinária da Companhia, a ser realizada às 9h, horário de Brasília, do dia 01 de setembro de ção), com base real por real, deduzido de quaisquer custos devidos pela Companhia a quaisquer de seus assessores
2023 (“Assembleia”), de forma exclusivamente digital, por meio do sistema eletrônico Microsoft Teams, para financeiros ou jurídicos em conexão com ou como consequência da assinatura ou consumação da Operação (conforme
deliberar sobre a seguinte ordem do dia: 1. examinar, discutir e aprovar o Protocolo e Justificação de definido no Protocolo e Justificação), sendo certo que tal valor estará sujeito a um limite máximo de R$10.000.000,00,
Incorporação pela Companhia das seguintes sociedades: (i) Expressa Distribuidora de Medicamentos Ltda. podendo ser acrescido em até R$10.000.000,00, nos termos do Protocolo e Justificação. Em razão da presente delibe-
(CNPJ/ME nº 06.234.797/0001-78); e (ii) CM PFS Hospitalar S.A. (CNPJ/ME nº CNPJ 81.887.838/0001-
ração, os Srs. Conselheiros ratificam que o capital social da Companhia passa a ser de R$109.000.000,00, representado
40), (em conjunto, as “Sociedades”), celebrado em 08 de agosto de 2023 entre as administrações da
Companhia e de cada uma das Sociedades, o qual consubstancia as justificativas, os termos, as cláusulas por 108.834.400 ações ordinárias, nominativas e sem valor nominal. Encerramento: Nada mais. São Paulo, 05.04.2023.
e as condições da incorporação das Sociedades pela Companhia (o “Protocolo e Justificação”); 2. ratificar André Jafferian Neto, João Ayres Rabello Filho, Jorge Lauriano Nicolai Sant´Anna, Marcelo Andrade Clara e Nelson
a nomeação da Taticca Auditores e Consultores Ltda., inscrita no CNPJ/ME nº 12.651.123/0001-71 Rocha Augusto. JUCESP nº 302.008/23-8 em 25.07.2023, Maria Cristina Frei - Secretária Geral.
(“Empresa Avaliadora”), como empresa especializada responsável pela elaboração dos laudos de
avaliação com o objetivo de determinar o valor patrimonial contábil das Sociedades a serem incorporadas
pela Companhia (“Laudos de Avaliação”); 3. aprovar os Laudos de Avaliação elaborados pela Empresa
Avaliadora; 4. aprovar a incorporação de cada uma das Sociedades pela Companhia, nos termos e
condições do Protocolo e Justificação; e 5. atualizar o artigo 5 do Estatuto Social da Companhia, de forma
a refletir o valor do capital social consignado na Reunião do Conselho de Administração realizada em 01
de agosto de 2023. Informações Gerais: De acordo com as disposições da Lei nº 6.404/76 (“Lei das S.A.”),
e da Resolução CVM nº 81/22 (“Resolução 81”), a Companhia realizará a Assembleia de forma
exclusivamente digital, por meio do sistema eletrônico Microsoft Teams, com a utilização de vídeo e áudio,
nos termos do Manual de Participação na Assembleia. Nesse sentido, não haverá possibilidade de
comparecimento físico à Assembleia. O Manual de Participação na Assembleia e a Proposta da
Administração, bem como os demais documentos relativos às matérias constantes da ordem do dia
previstos em lei e na regulamentação aplicável, estão à disposição dos acionistas na sede da Companhia,
na Cidade de Ribeirão Preto/SP, na Av. Luiz Maggioni, nº 2.727, Distrito Empresarial, CEP 14072-055, na
página de Relações com Investidores da Companhia (https://ri.viveo.com.br/), na página da Comissão de
Valores Mobiliários (https://www.gov.br/cvm/pt-br) e na página da B3 S.A. - Brasil, Bolsa, Balcão (www.
b3.com.br). Poderão participar da Assembleia os Acionistas titulares de ações emitidas pela Companhia,
por si ou através de seus representantes legais ou procuradores, nos termos do artigo 126 da Lei das S.A.
Para participar da Assembleia, os acionistas deverão solicitar o cadastro prévio por meio do endereço de
e-mail ri@viveo.com.br (Assunto: “Cadastro para participação na Assembleia de 01 de setembro de 2023
às 9h”), juntamente com o envio de forma digital, no mesmo e-mail, da documentação necessária,
conforme indicado abaixo e no Manual de Participação na Assembleia, que estabelece em maiores
detalhes os documentos necessários ao credenciamento prévio, a participação virtual e a forma de
recebimento do link de acesso à Assembleia. A solicitação de cadastro para participação na Assembleia
deverá ser recebida pela Companhia impreterivelmente até o dia 30 de agosto de 2023. Para fins do
cadastro prévio, os Acionistas deverão enviar à Companhia, impreterivelmente até o dia 30 de agosto de
2023, cópias digitalizadas dos seguintes documentos: (i) acionistas que sejam pessoas físicas: documento
de identificação com foto; (ii) acionistas que sejam pessoas jurídicas: original ou cópia autenticada da
última consolidação do estatuto ou do contrato social e da documentação comprobatória de representação
(ata de eleição dos diretores e/ou procuração) e documento de identificação com foto do(s) representante(s)
legal(is); (iii) acionistas que sejam fundos de investimento: original ou cópia autenticada do último
regulamento consolidado do fundo, do estatuto ou contrato social do seu administrador e da documentação
comprobatória de representação (ata de eleição dos diretores e/ou procuração) e documento de
identificação com foto do(s) representante(s) legal(is); e (iv) acionistas estrangeiros: mesma documentação
aplicável aos acionistas brasileiros, a qual deverá estar traduzida para o português por tradutor juramentado,
exceto se originalmente lavrada em língua portuguesa, inglesa ou espanhola. A Companhia aceitará (i)
documentos emitidos de forma digital por órgãos públicos, desde que acompanhados de chave que permita
a verificação online da sua autenticidade; bem como (ii) procurações emitidas de forma digital, desde que
assinadas com certificado digital ICP-Brasil. A Companhia não exigirá o reconhecimento de firma e/ou a
consularização ou apostilamento dos instrumentos de procuração outorgados pelos acionistas a seus
respectivos representantes, tampouco exigirá a tradução juramentada das procurações e documentos
lavrados ou traduzidos em língua portuguesa, inglesa ou espanhola nem dos documentos anexados com
as respectivas traduções para esses idiomas. A Assembleia será gravada, nos termos do artigo 28, §1º,
inciso II da Resolução 81. A Companhia não se responsabilizará por problemas de conexão que os
participantes possam enfrentar ou outras situações que não estejam sob o controle da Companhia, tais
como instabilidade na conexão com a internet ou incompatibilidade do sistema eletrônico com o
equipamento do participante.
Ribeirão Preto, 09 de agosto de 2023.
Mário Sérgio Ayres Cunha Ribeiro
Presidente do Conselho de Administração