FUNDADO EM 1875
JULIO MESQUITA (1862—1927)
Esportes __ A22
Inglaterra revê leis
que regulam apostas
Até patrocínio a
clube será discutido
Os efeitos da música e
dos vídeos acelerados
Especialistas veem risco de ansiedade e
dificuldade de atenção. Gabriel Schneider usa
tudo em velocidade superior a 1x. __ C10 e C11
E&N Reativação da indústria
Governo planeja carro popular,
mas clientes compram SUVs
Indústria está voltada ao público de maior poder aquisitivo
governo planeja re-
O viver a era do carro
popular, mas a rea-
lidade do mercado
é bem diferente da do início
dos anos 2000, informa Clei-
de Silva. Há uma década, o car-
ro “de entrada” representava
um terço das vendas de veícu-
Notas e Informações __ A3
Poluição
ideológica
Edição de hoje Caderno A. Opinião, Política, Internacional, Metrópole, Saúde, Esportes, Para fechar...
3 CADERNOS – 48 páginas E&N. Destacar Economia & Negócios
Domingo 21 de MAIO de 2023 l R$ 9,00 l Ano 144 l Nº 47332
estadão.com.br
Fim de semana INÊS249
E&N __ B4 C2 __ C1 e C3
MARIO ANZUONI/REUTERS
Câmera analógica
vira objeto de desejo Samara Joy
Máquinas antigas Cantora americana e Djavan falam
chegam a R$ 50 mil sobre música a convite do Estadão
JEFFERSON BERNARDES / ESTADÃO
Eleições municipais __ A7
Partidos
tentam criar
‘cinturão’ de
candidatos de
direita em SP
Dono da maior fatia do Fun-
do Partidário, o PL de Jair
Bolsonaro planeja lançar no-
mes a prefeito em grandes ci-
dades do Estado. Republica-
nos e Novo também entram
na disputa.
Cúpula em Hiroshima __ A14
Zelenski se reúne
com líder indiano e
pressiona Lula por
encontro no G-7
Democracias reunidas no Ja-
pão tentam fazer com que Ín-
dia e Brasil mudem posição
sobre invasão da Ucrânia.
C2 Paladar __ C6 a C9
Ingredientes
nacionais dão o tom
__ B1 do 10º Paladar
Cozinha do Brasil
TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO
Doce feito com pupunha, re-
ceita do chef-confeiteiro Lu-
cas Corazza, foi um dos des-
los no País. Hoje, essa fatia é carros “de entrada” disponí- taques do evento.
de 9,3%. Os atuais campeões
de venda, com 46,4% do merca-
do, são os utilitários-esporti-
vos, conhecidos como SUVs,
com preço sempre acima dos
veis, o Fiat Mobi e o Renault
Kwid, ambos por R$ 69 mil. Se-
gundo analistas, há demanda
reprimida de interessados
num “popular” se o preço for
“É uma agenda antiga, que
já não deu certo muitas
vezes. É pouco provável que
se ponha em pé o programa
(de carro popular)”
Na Argentina __ A12
Crianças e adolescentes são
os mais afetados pela crise
R$ 100 mil e destinados a um reduzido. O governo pretende José Roberto Mendonça de
público de maior poder aquisi- anunciar na quinta-feira medi- Barros, economista
Educação __ A16
tivo. No mercado, só há dois das para reativar a indústria.
Sete em dez cidades ignoram
lei contra racismo na escola
Eliane Cantanhêde __ A8 Mario Vargas Llosa __ A13 Leandro Karnal __ C12 E&N Negócios __ B5
Os recados da Justiça, Por que votar em quem O preço de mentir ou Empresário expulso da escola
a torto e a direito o expulsa de seu país? dizer a verdade monta rede de educação
C2. Cultura & Comportamento, Tempo em SP
A fundo 13° Mín. 27° Máx.
 DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
A2 O ESTADO DE S. PAULO

ROSEANN KENNEDY
COM JULIA LINDNER E GUSTAVO CÔRTES
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
Coluna do
COLUNADOESTADAO@ESTADAO.COM
ESTADAO.COM.BR/POLITICA/COLUNA-DO-ESTADAO Estadão
Tarcísio deixa portas SINAIS
PARTICULARES
abertas a outros partidos,
por Kleber Sales
mas segue no Republicanos

C
ortejado por partidos da direita, especialmente
o PP e o PL, o governador de São Paulo, Tarcí-
sio de Freitas (Republicanos) não dá sinais de
querer mudar de legenda. No entanto, numa
mostra de que já está mais entrosado com o mundo
das conversas políticas, ele fala do tema sem fechar
portas: “Não devo mudar de partido”, respondeu à Co-
luna do Estadão. Tarcísio também acompanha as ten-
tativas de aproximação do governo Lula com o Repu-
blicanos e é categórico: “O Republicanos não vai ade-
rir ao governo”, aposta. O partido presidido pelo depu-
tado federal Marcos Pereira (SP) foi o primeiro da ba-
se bolsonarista a reconhecer a vitória do petista. Mas
faz questão de ressaltar que é independente.

l FATIAMENTO. Como revelou a l SINAL. Um silêncio que disse

Coluna, o governo Lula enca-
minhou um estudo para fatiar
a superintendência da Code-
vasf em Pernambuco, no intui-
to de acomodar indicações do
prefeito de Recife, João Cam-
pos (PSB), em acordo com Sil-
vio Costa Filho (Republica-
nos-PE), e criar pontes com Pe-
reira. Também busca solução
para destravar novos cargos da
autarquia na Paraíba a fim de
agradar o líder do Republica-
nos na Câmara, Hugo Motta.
l CHEGA... O PP iniciou uma es-
tratégia para atrair Tarcísio
até 2026. A sigla quer filiar figu-
ras do entorno do mandatário.
O primeiro alvo é o secretário
da Casa Civil do Estado, Ar-
thur Lima, homem de confian-
ça e amigo de Tarcísio.
l ... MAIS. Lima já sinalizou que
quer ingressar na legenda, mas
ainda aguarda o aval do chefe.
Ele deve ajudar nas eleições
municipais de 2024.
muito. É assim que integrantes
das Forças Armadas avaliaram a
estratégia do tenente-coronel
Mauro Cid de não falar durante
seu depoimento à Polícia Fede-
ral nesta semana. O entendimen-
to que prevalece é o de que a pos-
tura reforça seu isolamento no
ambiente militar e o abandono
no meio político.
l AUSÊNCIA. Cid não vê nenhuma
corrente de defesa pública de seu
nome nos dois ambientes em
que transitava com poder duran-
te a gestão Bolsonaro e se agarra
à orientação dos advogados.
l TORCIDA. Apesar do descaso
que enfrenta dos antigos pares,
há expectativa entre alguns mili-
tares e políticos para que o ex-aju-
dante de ordens de Bolsonaro se-
ja solto. “É preciso acabar com o
uso da prisão preventiva como
forma de pressionar pelo medo,
como ocorreu na Lava Jato”, re-
clamou antigo aliado de Cid que
prefere não se expor.
Tarcísio de Freitas,
Governador de São Paulo
(Republicanos)
l ESPIADINHA. Um novo progra- PRONTO, FALEI! CLICK
ma do governo pretende formar INSTAGRAM/@marinasilvaoficial – 19/05/2023
65 mil pessoas nas áreas de ciber-
segurança e privacidade até
2025. Batizada de 'Hackers do
bem’, a iniciativa será lançada pe-
lo Ministério da Ciência e Tecno-
logia nesta segunda-feira (22). A
pasta vai investir R$ 32,6 milhões
no programa.
Marco Aurélio de Carvalho Geraldo Alckmin
l ENCONTRO. Rodrigo Pacheco Coordenador do Prerrogativas Presidente em exercício
(PSD-MG), presidente do Sena-
do, reúne-se amanhã com empre-
sários em um jantar promovido "Enquanto integrava o sistema Reuniu-se com a ministra do
pela Esfera. Eles vão tratar d o judicial, Deltan Dallagnol tentou Meio Ambiente, Marina Silva,
marco do saneamento e das dis- criminalizar a política. Agora que para tratar das ações para a se-
cussões sobre a reestatização da integra a política, Deltan tenta mana do meio ambiente. Eles
Eletrobras. criminalizar a Justiça." falaram sobre economia verde.

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DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Publicado desde 1875
AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)
NOTAS E INFORMAÇÕES
Poluição
ideológica
Decisão draconiana do Ibama de impedir que a Petrobras
avaliasse a exploração de petróleo na Margem Equatorial, que
inclui a foz do Amazonas, mostra distorção do debate ambiental
Ibama negou o pedido de
O licenciamento ambiental
da Petrobras para explo-
rar a Margem Equatorial,
que vai do litoral do Ama-
pá ao Rio Grande do Norte e que inclui
a foz do Rio Amazonas. O órgão consi-
derou a solicitação incapaz de garantir
a segurança da região. A Petrobras afir-
mou ter atendido aos requisitos que o
processo exigia e reiterou o pleito.
A rigor, nem de produção ainda se
tratava, pois o pedido que o Ibama rejei-
tou agora dizia respeito a perfurações
meramente exploratórias para levan-
A Venezuela
de mal a pior
Tribunal Penal Internacional evidencia que a ditadura recrudesce.
Com a alta do petróleo, o apoio de esquerdistas latino-americanos
e a debilidade da oposição, ela está mais forte como nunca
á 50 anos, a Venezuela, as-
H sentada sobre as maiores
reservas de petróleo do
mundo, era um dos paí-
ses mais ricos da América
Latina. Mas se o ouro negro fez por um
tempo a fortuna dos venezuelanos, a de-
pendência dele também fez a sua misé-
ria. Uma baixa de duas décadas nos pre-
ços do petróleo ajudou o demagogo Hu-
go Chávez a assumir o poder em 1998. O
boom nos anos 2000 possibilitou-lhe
vender a grande primavera socialista
nas Américas como um ouro de tolo.
Mas desde 2013, quando o ciclo aca-
bou, Chávez morreu e o ex-motorista de
ônibus Nicolás Maduro assumiu, a eco-
nomia encolheu três quartos. Cerca de 7
milhões de venezuelanos (um quarto da
população) fugiram. Hoje os aposenta-
dos recebem US$ 5 por mês. O salário
LUIZ CARLOS MESQUITA(1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)
tar a existência de petróleo em um blo-
co localizado a 160 km da costa e a mais
de 500 km da foz do Amazonas.
Se os estudos iniciais confirmas-
sem o potencial que já foi encontrado
em países vizinhos, a Petrobras teria
que submeter novo pedido de licencia-
mento ao Ibama para começar a produ-
zir. Ou seja, o Ibama teria a oportunida-
de de opor-se à exploração depois da
eventual confirmação de viabilidade.
Ao fazê-lo antes mesmo dessa confir-
mação, o Ibama, de forma draconiana,
deixou claro que, em qualquer circuns-
tância, a Margem Equatorial está fecha-
mínimo é US$ 3,2. Segundo a ONU, 6,5
milhões de venezuelanos passam fome;
4,1% das crianças sofrem desnutrição
aguda e quase 40% não estudam.
Em 2019, Maduro fraudou as elei-
ções e fabricou um legislativo biônico.
Já não há concursos públicos para a ma-
gistratura e as Forças Armadas trocam
lealdade por vistas grossas aos seus ne-
gócios corruptos.
O Tribunal Penal Internacional in-
vestiga o regime por 5 dos 11 crimes
contra a humanidade estabelecidos no
Estatuto de Roma, assinado pela Vene-
zuela: assassinatos e ferimentos; priva-
ção de liberdade; destratos e tortura;
crimes sexuais e perseguição. Só entre
2016 e 2019, segundo dados oficiais, as
forças de segurança executaram extra-
judicialmente 19 mil pessoas alegando
“resistência à autoridade”. Desde
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE
DIRETOR PRESIDENTE
FRANCISCO MESQUITA NETO
ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA DIRETOR DE JORNALISMO
MEMBROS EURÍPEDES ALCÂNTARA
FERNANDO C. MESQUITA DIRETOR DE OPINIÃO
FRANCISCO MESQUITA NETO MARCOS GUTERMAN
JÚLIO CÉSAR MESQUITA
LUIZ CARLOS ALENCAR
RODRIGO LARA MESQUITA
da à exploração.
O caso reúne todos os aspectos que
ilustram a claudicante governança do
setor público. Foi um governo petista,
o de Dilma Rousseff, que incluiu áreas
da Margem Equatorial em um leilão de
2013. Agora, é também um governo pe-
tista que impede liminarmente a explo-
ração da região. Entre aquele momen-
to e este, a questão ambiental transfor-
mou-se em trincheira ideológica.
Logo, não chega a ser uma surpresa
que o Ibama, de volta ao comando petis-
ta, tenha adotado atitude intransigente
quando se trata de exploração da Re-
gião Amazônica. Afinal, é a soma de to-
dos os pesadelos – a devastação da Ama-
zônia, a extração de óleo poluente e a
aposta em combustível fóssil.
O problema é que a primeira vítima
dessa batalha ideológica é a razão. Não
estão sendo levados em conta os recur-
sos que a exploração da Margem Equa-
torial pode gerar para o desenvolvimen-
to do País, em especial das populações
locais, geralmente condenadas à pobre-
za em razão do imperativo de manter a
região intocada. Ora, a exploração cons-
ciente da região é perfeitamente possí-
vel e não deveria ser um tabu.
Ademais, a exploração de áreas pro-
missoras como a Margem Equatorial po-
de dar à Petrobras os recursos necessá-
rios para que invista em projetos de ener-
gia limpa, de acordo com uma transição
que já ocorre no mundo desenvolvido.
Nada disso parece ter sido levado
em conta no caso, que opõe a ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, preo-
cupada unicamente com o impacto na
Região Amazônica, e o ministro de Mi-
nas e Energia, Alexandre Silveira, dis-
2014, mais de 15 mil civis foram detidos
arbitrariamente.
A trágica ironia é que, além das víti-
mas usuais, como políticos de oposição
e jornalistas, os setores da população
mais violentados são justamente os que
a esquerda jura defender, como traba-
lhadores de base, sindicalistas, campo-
neses e indígenas. Há relatos regulares
de que o regime, quando não executa os
dissidentes, não só os submete a tortu-
ras indizíveis – como eletrochoques na
genitália dos homens ou estupro das
mulheres –, mas os intimida com agres-
sões às suas famílias: mães são obriga-
das a se despir na frente de seus filhos,
que chegam a testemunhar ameaças de
crucificação. Segundo a ONG venezue-
lana Ação em Direitos Humanos, só em
2022 houve 2.203 vítimas de violações à
integridade pessoal – um aumento de
68,6% em relação a 2021.
O desesperador é que, por uma con-
junção de fatores externos e internos, a
autocracia de Maduro está possivel-
mente mais forte do que nunca.
O choque na cadeia energética preci-
pitado pela guerra na Ucrânia elevou os
preços do petróleo ao mesmo tempo
que obrigou países ocidentais a busca-
rem alternativas à Rússia. Os america-
nos aliviaram suas sanções e, em parte
por isso, a economia cresceu 6% em
2022. A nova onda de líderes de esquer-
da na América Latina, como Lula ou
Gustavo Petro na Colômbia, colabora
A3
DIRETORA JURÍDICA
MARIANA UEMURA SAMPAIO
DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE
PAULO BOTELHO PESSOA
DIRETOR FINANCEIRO
SERGIO MALGUEIRO MOREIRA
posto somente a proteger os interesses
da Petrobras. Tem todas as característi-
cas de um jogo de soma zero – cujo
derrotado, seja qual for o vencedor, é o
País.
A correta ponderação entre pontos
positivos e negativos dessa atividade,
quando ocorrer, deve envolver não ape-
nas o Ibama e a Petrobras, mas todo o
governo e os órgãos públicos direta e
indiretamente relacionados, conside-
rando as dimensões ambiental, econô-
mica e social. É preciso ouvir especialis-
tas, a sociedade e a população dos Esta-
dos da Margem Equatorial, que se es-
tende por mais de 2,2 mil km de exten-
são entre o Norte e o Nordeste. Se o
potencial for confirmado – lembrando
que pode vir a não ser –, seria justo im-
pedir o desenvolvimento que a ativida-
de pode proporcionar à região?
É do interesse do País defender o
meio ambiente, sobretudo em uma re-
gião tão sensível como a Amazônia, sob
os olhares de uma comunidade interna-
cional disposta a cobrar responsabilida-
des e impor penalidades. Mas o gover-
no não pode ignorar a pluralidade de
visões, experiências e conhecimento
dos mais diversos atores envolvidos na
questão.
Problemas de governança têm si-
do um obstáculo para investimentos
que possam gerar o crescimento de
que o País necessita. O debate sobre a
Margem Equatorial pode ser uma
oportunidade para revê-los e para
construir um modelo que garanta a
exploração sustentável da Região
Amazônica, mas é preciso enfrentar a
discussão com urgência, coragem e
muita responsabilidade.l
para legitimar o regime. O jovem presi-
dente esquerdista do Chile, Gabriel Bo-
ric, chegou até a fazer reprimendas aos
regimes venezuelano e nicaraguense,
mas sua convicção é questionável: mes-
mo ele resiste a superar nostalgias da
esquerda e a criticar a ditadura cubana,
um dos sustentáculos de Maduro, junto
com Rússia, China e Irã.
Pouco se pode esperar das eleições
de 2024. Reprimida por fora, a oposição
está desorientada por dentro e parece
incapaz de se unir para viabilizar candi-
daturas competitivas. De resto, nesse
estado de coisas, Maduro não concede-
rá a supervisão de observadores interna-
cionais para garantir um pleito limpo.
O sentimento triunfalista do déspo-
ta foi resumido em uma de suas entre-
vistas semanais na TV estatal. “É hora
de uma nova geopolítica redistribuir o
poder no mundo”, disse. “Esta guerra
na Ucrânia é parte das dores de cresci-
mento de um novo mundo que está nas-
cendo. Não tenham dúvidas de que eu
estarei lá na vanguarda.”
Resta saber se, diante das terríveis
violações de direitos humanos na Vene-
zuela, fartamente documentadas por
instituições independentes, ainda have-
rá quem não só evite condenar Maduro
nos mais duros termos, como, pior, es-
teja ao lado do tirano venezuelano nes-
sa “vanguarda” da truculência e da desu-
manidade, em nome de afinidades ideo-
lógicas imorais.l

A4 O ESTADO DE S. PAULO
ESPAÇO ABERTO
A Declaração da Rio-92
sobre Meio Ambiente
Celso Lafer
Declaração do Rio
A sobre Meio Ambien-
te e Desenvolvimen-
to é um dos impor-
tantes textos ado-
tados na Eco-92, a conferência
da ONU, sediada no Rio de Ja-
neiro, que consolidou na agen-
da internacional os temas do
meio ambiente. A Declaração
traçou uma política para a con-
solidação e o desenvolvimen-
to progressivo do Direito Am-
biental. Representou uma vis
directiva para enfrentar a vul-
nerabilidade crítica da nature-
za, crescentemente ameaçada
pelos riscos trazidos pela ação
humana.
Da importância da Declara-
ção e de seus desdobramentos
cuida, e bem, livro recém-pu-
blicado organizado pelos pro-
fessores André de Paiva Tole-
do e Lucas Carlos Lima. Trata-
se de um comentário brasilei-
ro elaborado por qualificados
estudiosos, que explicitam a ar-
quitetura normativa dos seus
27 princípios. Estes obedecem
a uma lógica de mútua implica-
ção e complementaridade, vivi-
ficados pela sua dinâmica cons-
titutiva, que têm como função
a expansão lógica e axiológica
do Direito.
A Declaração indica cami-
FÓRUM DOS LEITORES
Justiça Eleitoral
Decisão esquisita
Um deputado que passou por
um escrutínio para ser considera-
do candidato, foi eleito com
mais de 300 mil votos e empossa-
do sem restrições, agora, teve o
mandato cassado pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Isso
aconteceu num julgamento rápi-
do e surpreendentemente unâni-
me, invocando uma interpreta-
ção para lá de esquisita das re-
gras de inelegibilidade. A estra-
nheza gera a dúvida sobre a ver-
dadeira razão que levou ao ato:
seria um fel vingativo, como dis-
se o ex-ministro Marco Aurélio
Mello? Será que teremos uma ca-
ça às bruxas daqueles que leva-
ram Lula à prisão por corrupção?
Sergio Holl Lara
jrmholl.idt@terra.com.br
Indaiatuba
Premonição
Se a cassação do mandato de Del-
tan Dallagnol pelo TSE não repre-
senta perseguição e vingança, ela
nhos de novos níveis de coope-
ração, voltados para proteger a
integridade do sistema global
do meio ambiente, fruto da na-
tureza interdependente e inte-
gral da Terra, como aponta o
seu preâmbulo.
No mundo mais cooperati-
vo do início da década de 1990,
a Rio-92, com a densa partici-
pação do Brasil, superou difi-
culdades que circunscreveram
o alcance da Conferência de Es-
tocolmo de 1972, como a dife-
rença de perspectivas Nor-
te/Sul. O suplantar dessas difi-
culdades é a “fonte material”
da Declaração do Rio.
Na sua raiz está o paradig-
ma do conceito de desenvolvi-
mento sustentável, elaborado
pelo Relatório Brundtland, de
1987. O paradigma proclama-
do na Declaração substanciou
a interconexão e a interdepen-
dência entre as necessidades
de desenvolvimento e as de
preservação do meio ambien-
te. Situou em novos termos o
desenvolvimento na sua di-
mensão de sustentabilidade
para as gerações presentes e fu-
turas. Esclareceu que, para al-
cançar o desenvolvimento sus-
tentável, a proteção ambiental
e seus custos devem constituir
parte integrante da racionali-
O Estado reserva-se o direito de selecionar e resumir as cartas.
Correspondência sem identificação (nome, RG, endereço e telefone) será desconsiderada l E-mail: forum@estadao.com
é um desrespeito à Constituição
e ao Congresso Nacional, pois a
sentença se deu por um motivo
que não aconteceu, ou seja, o en-
tão procurador não respondia a
nenhum processo administrati-
vo disciplinar no âmbito do Mi-
nistério Público. Pensemos:
quando um deputado ou sena-
dor é investigado, acusado e cor-
re o risco de perder o mandato,
ele renuncia ao mandato e pode
seguir livre, leve e solto, até con-
correr novamente numa próxi-
ma eleição. Por analogia, a cassa-
ção de Dallagnol foi a premoni-
ção de que o fato ilícito se consu-
maria? Que Judiciário é este?
Darci Trabachin de Barros
darci.trabachin@gmail.com
Limeira
Construção solidária
A venda dos olhos, símbolo da
Justiça, está caindo, permitindo-
lhe o arbítrio; sua balança há tem-
pos perdeu o equilíbrio do justo;
e a espada brada com tal força
que já perdeu o fio da justiça. Os
corredores da Justiça brasileira
estão cada dia mais sombrios, à
Documento postula o
papel de uma kantiana
razão abrangente, que
valoriza e respeita a
preservação da
hospitalidade universal,
lastreado num direito
comum e compartilhado
à face da Terra
dade do processo decisório –
público e privado – do desen-
volvimento e não podem ser
considerados isoladamente de
suas externalidades. É o que
significa não dar continuidade
a padrões insustentáveis de
produção e consumo.
O novo paradigma ensejou
um terreno comum que viabili-
zou a Rio-92, ao consagrar a
“ideia a realizar” do desenvolvi-
semelhança do cenário descrito
em O Processo, de Franz Kafka.
Dallagnol que o diga, agora alcan-
çado por sentença condenatória
– e com a experiência de quem já
se abrigou por trás deste símbo-
lo. Em síntese, os integrantes das
instituições republicanas insis-
tem em se desobrigar de seus
compromissos com a sociedade,
com governantes, legisladores e
juízes se mostrando solidários na
edificação de um país tenebroso.
Honyldo Roberto Pereira Pinto
honyldo@gmail.com
Ribeirão Preto
Governo Lula
Está só começando
Prestes a completar cinco meses
de mandato, Lula da Silva, im-
pregnado de espírito de vendeta –
contrariamente à promessa de
reconciliação nacional enfatiza-
da na campanha eleitoral –, se
mostra empenhado em travar
privatizações importantes capa-
zes de diminuir a obesidade do
ineficiente Estado brasileiro;
bombardeia o presidente do Ban-
mento sustentável. Este adqui-
riu notável irradiação. Permeia
o Direito do Meio Ambiente nos
planos interno e internacional.
Para obter a cooperação
num espírito de parceria glo-
bal entre países tão díspares,
era necessário encontrar um
mecanismo diplomático de
coesão, interestatal. Este foi o
princípio, consagrado na De-
claração, das responsabilida-
des comuns, porém diferen-
ciadas, uma regra de calibra-
ção da intensidade dos com-
promissos assumidos que en-
seja aos países em desenvolvi-
mento um tratamento espe-
cial e diferenciado, à luz das
suas especificidades.
Essa diferenciação não é es-
tática. Comporta no tempo
margens de ampliação das res-
ponsabilidades dos países em
desenvolvimento que provêm
da mudança das circunstân-
cias econômicas e ambientais.
É o que se vem verificando,
por exemplo, na engenharia
normativa do aprofundamen-
to de um tratado-quadro, co-
mo a Convenção do Clima –
grande fruto da Rio-92 – na re-
visão periódica das suas partes
contratantes (as COPs).
A interface ciência e conhe-
cimento, e o que suas métri-
cas revelam sobre a vulnerabi-
lidade crítica da natureza, tor-
nou-se desde Estocolmo uma
“fonte material” de decisiva
importância para o desenvol-
vimento progressivo do Direi-
to do Meio Ambiente e para a
contestação de negacionis-
mos infundados.
Assim, a Declaração do Rio
dá a devida ênfase à importân-
cia do conhecimento científi-
co, seu aprimoramento, sua in-
co Central com o único objetivo
de criar chafariz político; apare-
lha direções de setores operati-
vos angulares com o objetivo de
alocar companheiros e garantir a
aplicação de orientações favorá-
veis; demoniza irresponsavel-
mente o agronegócio, embora
apoie solertemente os movimen-
tos de invasões ilegais de terras; e
coloca o País em saia-justa no ce-
nário internacional ao emitir opi-
niões sobre o comércio global e
tomar partido sobre a guerra na
Ucrânia. Estes são alguns sinto-
mas preocupantes da adoção de
rumos desvinculados da promo-
ção real do crescimento do País.
E o jogo está só começando.
Paulo Roberto Gotaç
pgotac@gmail.com
Rio de Janeiro
Um presidente colérico
O presidente Lula mentiu: du-
rante a campanha, prometeu pa-
cificar o País, mas está fazendo
exatamente o contrário. Sugiro
que leia sobre a vida de Nelson
Mandela e aprenda um pouco so-
bre a grandeza da reconciliação.
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
tensificação, difusão e transfe-
rência e relevo ao acesso à in-
formação apropriada relativa
ao meio ambiente, que deve
estar ao alcance dos cidadãos
interessados.
Novos institutos jurídicos
de maior importância para a
gestão dos riscos ao meio am-
biente, como o princípio da
precaução e o da avaliação do
impacto ambiental, foram con-
templados. Também tendo
em vista a construção de um
sistema econômico internacio-
nal cooperativo, aberto ao in-
tercâmbio entre países, a De-
claração do Rio consigna que
medidas de política comercial
com propósitos ambientais
não devem constituir-se em
discriminações arbitrárias ou
em barreiras disfarçadas ao co-
mércio internacional.
A Declaração reconhece
que o tema do desenvolvimen-
to sustentável não se circuns-
creve ao âmbito intergoverna-
mental. É um tema que diz res-
peito à sociedade civil. A Decla-
ração realça o papel de mulhe-
res, jovens, populações indíge-
nas e comunidades locais na
promoção e gestão do desen-
volvimento sustentável.
O meio ambiente tem o al-
cance de uma indivisibilidade
global. A Declaração do Rio
postula o papel de uma kantia-
na razão abrangente, valoriza-
dora e respeitadora da preser-
vação da hospitalidade univer-
sal, lastreado num direito co-
mum e compartilhado à face
da Terra. l
PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE
DIREITO DA USP, NA CONDIÇÃO DE MINISTRO
DAS RELAÇÕES EXTERIORES, FOI
VICE-PRESIDENTE ‘EX OFFICIO’ DA
CONFERÊNCIA DO RIO DE 1992
Mário Rubial Monteiro
mario.rubial44@gmail.com
São Paulo
Rodovias
Incompetência estatal
Viajando pela BR-381, partindo
de Belo Horizonte para São Pau-
lo, observa-se que a rodovia, ad-
ministrada pela concessionária
Arteris, está em ótimo estado.
Por outro lado, quando partimos
de Belo Horizonte em direção a
Governador Valadares (MG), o
estado da pista, administrada pe-
lo governo federal, é péssimo. Es-
se é apenas um exemplo da in-
competência estatal na gestão
de empresas, seja na área de
transporte, energia, saneamen-
to, saúde, etc. A administração
pública sabe arrecadar impostos
e gasta fortunas em contratos
em geral superfaturados, muitas
vezes inacabados, jogando fora o
dinheiro do povo, que continua
na miséria e na ignorância.
José Carlos Saraiva da Costa
jcsdc@uol.com.br
Belo Horizonte
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023 A5

A6 O ESTADO DE S. PAULO
ESPAÇO ABERTO
Novas lições chilenas – e uma recordação
Luiz Sérgio Henriques
ue lições tirar dos
Q acontecimentos no
Chile, cujo eleitora-
do conferiu a con-
dução do processo
constituinte ao setor mais à di-
reita do espectro político, se-
tor para o qual, curiosamente,
há poucos reparos a fazer à
Constituição herdada de Pino-
chet? Intrinsecamente parado-
xal, a decisão dos eleitores tem
o poder de alertar para fatos no-
vos e outros mais distantes,
bem como para um persona-
gem exemplar que as coisas chi-
lenas sempre acabam por tra-
zer à tona.
Fica arquivada, por ora, a
ideia do presidente Gabriel Bo-
ric pela qual o Chile, berço do
neoliberalismo latino-america-
no, também haveria de ser o
seu túmulo. Não bastou para
tanto o espírito de rebeldia, va-
riado e confuso, que tomou for-
ma com o estallido de 2019. A
rebeldia de massas teve até
uma sequência promissora ao
se tornar o motor de uma pri-
meira convenção constituinte
e, também, da eleição do pró-
prio Boric. Contudo, o projeto
constitucional saído de tal con-
venção, com a pretensão de as-
saltar os céus e “refundar” o
país, não passou pelo crivo dos
cidadãos, com o rechazo de se-
tembro do ano passado. E hoje
parece fruto de imaginação en-
quadrar a vitória de Boric em
TEMA DO DIA
Pandemia
Restaurante premiado reaproveita restos
da mesma sopa há 47 anos
Casa tailandesa usa uma técnica asiática
antiga conhecida como “ensopado perpétuo”,
que consiste em ferver constantemente a sopa
em fogo baixo, adicionando água e ingredientes
novos todo dia. l
Av. Eng. Caetano Álvares, 55 – CEP: 02598-900 – São Paulo - SP l (11) 3856-2122 l Fax: (11) 3856-2940 l E-Mail: forum@estadao.com l Central do assinante: Capital e regiões metropolitanas: 4003-5323 l Demais Localidades: 0800-014-77-20 l
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2021 como o acontecimento
inicial, e irreversível, de uma se-
gunda “onda vermelha” na
América Latina.
Por mais exageradas que te-
nham sido as expectativas em
torno do presidente – eleito
sem maioria congressual, num
contexto em que só caudilhos
ousam denunciar, com pro-
pósitos subversivos, o Parla-
mento “resistente às refor-
mas” –, o fato é que Boric trou-
xe novidades significativas.
Mas, antes, nosso personagem
exemplar.
Há pouco mais de cinco dé-
cadas uma figura da política
chilena apontou, ou começou a
apontar, um rumo diferente
para a esquerda latino-ameri-
cana. Salvador Allende ainda
se movia segundo as coordena-
das ditadas pela “transição ao
socialismo”. Ao fim e ao cabo,
pois, propunha uma ruptura, a
passagem para um novo mode-
lo de sociedade. Mas Allende,
para toda uma geração frustra-
da com desvios e desmandos
das sociedades pós-revolucio-
nárias, tornou-se um emblema
positivo por falar em via pacífi-
ca, em mudança social apoiada
no voto livre, e não na força
ilusória das armas. Uma pers-
pectiva brutalmente interrom-
pida há 50 anos, exatamente,
por Augusto Pinochet, no ato
de nascimento daquele neoli-
beralismo puro e duro que,
DIVULGAÇÃO @DANTEO
20 mil
Interações
A esquerda
latino-americana
ainda deve passar por
uma virada reformista
tão audaciosa quanto a
de Allende e sua
via pacífica
mesmo nos ciclos produtivos
dos governos de Concertación,
ainda iria condicionar a recons-
trução de um Estado social
mais abrangente.
Difícil dizer até que ponto o
espírito de Allende esteve pre-
sente no relativamente rápido
amadurecimento de Boric – al-
go que não ocorreu na mesma
medida entre seus apoiadores
de uma esquerda ruidosa, frag-
mentada e “pós-moderna”. O
presidente teve nos ombros a
tarefa de superar fraturas gera-
cionais, incorporar a experiên-
cia de socialistas e outros alia-
Comentários de leitores no
portal e nas redes sociais
l “ Encaro! Espero até mais 3 anos para ficar
redonda a data. Mas o pãozinho tem que ser
no máximo de ontem, se não é bagunça.”
IGOR FARIAS
l “ Ocidentais têm muito o que aprender!”
RAONI FULONI
l “ É porque não viram ainda a bacia de óleo
que frita pastel na feira aqui perto de casa.”
ARI ARAÚJO
l“ Já vi gente ter preguiça de lavar louça,
mas fazer sopa por 47 anos para não lavar a
panela foi a primeira vez.”
MATHEUS CONCEIÇÃO
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DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
dos moderados, bem como, afi- Boric inseriu sua identida-
nal, tentar levar representantes de socialista num quadro de
de uma miríade de formações respeito aos valores liberal-de-
esquerdistas, treinadas em mo- mocráticos. Não contradiz es-
vimentos de protesto, a se com- sa posição o fato de também
portarem como quadros de go- ter de enfrentar com firmeza a
verno. É de supor que, realiza- questão dos imigrados produ-
da só parcialmente ou não reali- zidos em série pelo despotis-
zada de todo, a tarefa agora se mo político e pela ruína econô-
complique com a necessidade mica do regime de Chávez/Ma-
de achar pontos comuns com a duro. Refugiados são percebi-
direita tradicional e romper ou dos – equivocadamente – co-
dificultar o bloco entre esta di- mo fator de insegurança públi-
reita e a extrema-direita no con- ca e aumento de criminalida-
selho constituinte. de. E a percepção de inseguran-
Além disso, pelo resto do ça prepara o terreno para a afir-
mandato, o presidente Boric te- mação do receituário repressi-
rá de pôr à prova a capacidade vo da extrema-direita, em desa-
de redimensionar o próprio fio aos direitos humanos mais
programa original, capitanean- básicos.
do uma retirada ordenada. Es- Em termos genéricos e sem
ta, a face interna do dilema. Há descer às necessárias particula-
também uma face externa, ago- rizações, é possível afirmar
ra menos evidente em razão da que a esquerda latino-america-
premência das questões ime- na ainda deve passar por uma
diatas de governo. Acostuma- virada reformista tão audacio-
mo-nos nos últimos tempos a sa quanto a de Allende e sua via
ouvir de Boric um sinal disso- pacífica. Viciados em homens
nante na esquerda latino-ame- fortes, que se postam como
ricana em relação aos direitos “comandantes eternos” ou, no
humanos. Este sinal, de imen- mínimo, líderes que se veem co-
so simbolismo, singulariza o mo indispensáveis, chegamos
mandatário chileno entre seus a vislumbrar em Boric um en-
pares, muitas vezes dispostos a saio de liderança regional ca-
empunhar a bandeira dos direi- paz de se afirmar diversamen-
tos em alguns casos e a abando- te. Que a dura derrota não nos
ná-la em outros. Ou a manifes- prive dessa esperança e de ou-
tar mal dissimulada simpatia tras no mesmo sentido. l
por governantes, como Putin,
em guerra aberta contra as so- TRADUTOR E ENSAÍSTA, É UM DOS ORGANIZADORES
ciedades “ocidentais”. DAS ‘OBRAS’ DE GRAMSCI NO BRASIL
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DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Eleições municipais
Partidos tentam criar ‘corredor’ de
candidatos de direita em São Paulo
Dono da maior fatia do Fundo Partidário, PL de Bolsonaro planeja lançar nomes
a prefeito em grandes cidades do Estado; Republicanos e Novo entram na disputa
ADRIANA FERRAZ
GUSTAVO QUEIROZ
No comando de apenas uma ci-
dade paulista com mais de 200
mil eleitores – Suzano, na Gran-
de São Paulo –, o PL planeja con-
centrar esforços e recursos fi-
nanceiros para, nas eleições de
2024, formar uma espécie de
corredor de direita no Estado a
partir dos municípios mais po-
pulosos. O partido do ex-presi-
dente Jair Bolsonaro deve priori-
zar as cidades dentro desse gru-
po que têm horário político pró-
prio e que, no ano passado, já
demonstraram ser antipetistas
nas urnas. É o caso, por exem-
plo, de Ribeirão Preto, Sorocaba
e Franca, todas no interior.
A estratégia passa pelo lan-
çamento de nomes alinhados a
um discurso mais conserva-
dor, como o da deputada fede-
ral Rosana Valle, atual presi-
dente do PL Mulher em São
Paulo e cotada a concorrer à
prefeitura de Santos. Com pou-
cas exceções, esse conjunto de
municípios já tem o histórico
de escolher prefeitos com per-
fil de centro-direita, mesmo
que não filiados à legenda do
ex-presidente.
Prefeita de Bauru, Suéllen
Rosim (PSD), por exemplo, de-
fende temas como o veto ao
aborto e à linguagem neutra nas
escolas. Cantora gospel e aliada
de Bolsonaro, ela representa o
público-alvo do PL, mas se fi-
liou ao PSD após convite do pre-
sidente nacional da sigla, Gilber-
to Kassab. PL e PSD, aliás, ape-
sar de integrarem a base ao go-
vernador Tarcísio de Freitas,
têm disputado as negociações
com prefeitos paulistas que po-
dem se reeleger no ano que vem
ou mesmo indicar sucessores
do mesmo grupo político.
Luiz Fernando Machado
(PSDB), prefeito de Jundiaí, é
um dos que podem migrar pa-
ra o PL. Eleito pela primeira
vez na onda antipetista de
2016, e com o apoio do MBL –
grupo de políticos e influencia-
dores de direita –, o tucano te-
rá influência direta na escolha
do candidato governista de
2024. Com 331 mil eleitores, a
cidade deu 64% dos votos para
Bolsonaro no segundo turno.
“O eleitor do interior de
São Paulo é tradicionalmente
mais conservador. Os parti-
dos que representarem me-
POLÍTICA A7
que a próxima eleição munici- çar o mesmo número de prefei-
pal repetirá a polarização PL tos eleitos em 2020: foram 179.
FOCO EM SP versus PT. Há municípios no
interior do Estado nos quais CAPITAL. Com mais de 9 mi-
PL quer aproveitar recall nacional em grandes cidades Bolsonaro fez 70% dos votos e lhões de eleitores, a maior cida-
de SP para eleger prefeitos em 2024 o PL é uma força hoje, com o de do País ainda divide o PL.
maior tempo de televisão e re- Enquanto uma parte dos filia-
CIDADE NÚMERO POSIÇÃO NA ELEIÇÃO curso partidário. E ainda é o dos, incluindo Valdemar, ten-
DE ELEITORES PRESIDENCIAL DE 2022
partido do Bolsonaro, que tem de a apoiar a reeleição do pre-
LULA BOLSONARO uma força significativa”, afir- feito Ricardo Nunes (MDB), a
SÃO PAULO 9.314.843 ma o deputado estadual Car- ala mais bolsonarista defende
GUARULHOS 934.151 los Cezar (PL), sobre os con- o nome do deputado federal Ri-
CAMPINAS 879.811 frontos de 2024. cardo Salles (PL). O parlamen-
SÃO BERNARDO DO CAMPO 640.361 O lançamento das candida- tar já trabalha em uma espécie
OSASCO 589.146 turas, no entanto, deverá ser de pré-campanha extraoficial.
SANTO ANDRÉ 582.951 precedido de autorização pré- Entre os entusiastas de Sal-
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 558.537 via da Executiva Nacional, lide- les estão aliados próximos de
SOROCABA 515.517 rada pelo presidente Valde- Bolsonaro. No mesmo dia em
RIBEIRÃO PRETO 469.596 mar Costa Neto. Nos municí- que voltou ao Brasil, em 30 de
SANTOS 351.650 pios com mais de 200 mil elei- março, após passar três meses
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 344.719 tores e naqueles contempla- nos Estados Unidos, o ex-presi-
DIADEMA 339.453 dos com a propaganda eleito- dente classificou o parlamen-
MOGI DAS CRUZES 333.866 ral gratuita de televisão, a le- tar como um nome “experien-
JUNDIAÍ 331.568 genda diz que diretórios locais te” e “vivido” para disputar a
MAUÁ 316.102 terão gestão compartilhada eleição na capital.
PIRACICABA 308.361 com as direções estadual e na-
CARAPICUÍBA 301.387 cional para decidir sobre no-
BARUERI 281.347 mes e chapas. “A próxima eleição
BAURU 279.808 Na busca por alianças, o PL municipal repetirá a
SÃO VICENTE 259.008 guarda um trunfo milionário: o polarização PL versus
ITAQUAQUECETUBA 253.029 partido terá neste ano, pela pri- PT. Há municípios no
PRAIA GRANDE 249.700 meira vez, a maior fatia do Fun- interior do Estado nos
FRANCA 247.512 do Partidário. Ao eleger no ano quais Bolsonaro fez 70%
TAUBATÉ 239.100 passado 99 deputados, a maior dos votos e o PL é uma
GUARUJÁ 236.610
bancada da Câmara, a legenda força hoje”
LIMEIRA 230.114
receberá R$ 205,8 milhões para Carlos Cezar (PL)
SUZANO 229.405
custear despesas de rotina, co- Deputado estadual, sobre os
TABOÃO DA SERRA 224.003
mo salários de funcionários, con- confrontos de 2024
EMBU DAS ARTES 200.807
tas de água e luz, passagens aé-
FONTE: TSE / INFOGRÁFICO: ESTADÃO reas, aluguéis. É desse valor que
sairá também o salário de R$ 39 “O eleitor do interior de
mil pago a Bolsonaro, atual presi- São Paulo é
lhor a centro-direita vão ter su- mentar, que recebeu a missão dente de honra da sigla. tradicionalmente mais
cesso na busca por prefeitos. de encontrar mulheres para dis- Em 2024, o valor será acres- conservador”
Quem vai à reeleição vai que- putar prefeituras e Câmaras. cido do fundo eleitoral, ainda Luiz Fernando Machado (PSDB)
rer estar nesse campo azul; A busca por “lideranças mo- maior. No ano passado, foram Prefeito de Jundiaí
quem não disputar terá o mes- deradas” também é o foco do quase R$ 5 bilhões destinados
mo desejo, para eleger seu su- Republicanos, que, apesar de ao custeio de campanhas no
cessor”, afirma Machado. alinhado ao bolsonarismo, é País. Mais uma vez, o PL terá Em entrevista ao Esta-
tratado como um partido dis- direito ao bolo mais gordo, o dão/Broadcast no dia 12, ele
MAPA. Das 29 cidades com tante do extremismo. Tarcí- que atrairá não apenas candi- afirmou ter o aval do ex-presi-
mais de 200 mil eleitores no sio, nesse sentido, será usado daturas próprias, mas incenti- dente para concorrer. “O presi-
Estado, 21 deram vitória a Bol- como modelo para atrair no- vará apoio a aliados do mesmo dente Bolsonaro apoia o meu
sonaro. Em Limeira, por exem- vos quadros e novos eleitores. campo ideológico. Na semana nome, não o de Nunes. Tenho
plo, 73% dos votos foram para Em 2020, a legenda só fez 21 passada, Valdemar recebeu, absoluta convicção (do apoio
reeleger o então presidente. prefeituras em São Paulo. por exemplo, o prefeito de São do ex-presidente). Tive anteon-
O mapa dos votos recebidos Com a mesma estratégia, o Bernardo do Campo, Orlando tem com o presidente Bolsona-
dos paulistas ajudará ainda na Novo estuda lançar candidatu- Morando (PSDB), para uma ro, e ele reiterou o apoio ao
busca por candidatas mulhe- ras em ao menos 150 das 645 “conversa sobre temas nacio- meu nome”, afirmou Salles.
res. Ao lado de Michelle Bolso- cidades paulistas. Segundo o nais e do Estado”. Já Nunes segue em busca da
naro, Rosana Valle diz focar em ex-deputado Vinicius Poit, mu- Influenciar a eleição na cida- manutenção do PL em sua
lideranças femininas pautadas nicípios do ABC, como Santo de que é berço do PT – o presi- aliança. No dia 6, ele partici-
por matérias da direita. “Pode André, São Bernardo do Cam- dente Luiz Inácio Lula da Silva pou de evento do partido na
esperar lideranças femininas, po e São Caetano do Sul, assim foi líder sindical na região e mo- capital ao lado de Bolsonaro e
mulheres empreendedoras, como do litoral, serão prioriza- rou lá até o ano passado – faz Michelle. Apesar de não sair de
com pautas mais da direita, dos nas negociações. Poit ava- parte das estratégias do PL, que lá com uma declaração oficial
mas moderadas. São mulheres lia entrar na corrida pelo co- avança especialmente sobre os do ex-presidente, o prefeito co-
que já estão na luta no dia a dia mando da capital paulista. políticos do PSDB. Os tucanos memorou o fato de ter sido
e querem a transformação da admitem o assédio e reconhe- convidado e chamado ao pal-
sociedade”, afirmou a parla- PL X PT. “Eu tenho para mim cem que a tendência é não alcan- co, antes mesmo de Salles. l

A8 POLÍTICA
Justiça deu uma no cra-
A vo e outra na ferradura,
mandando recados a tor-
to e a direito, ou melhor,
à esquerda e à direita, quando o
TSE cassou por unanimidade o
mandato do deputado e ex-pro-
curador Deltan Dallagnol e, em
seguida, a maioria do Supremo
votou pela prisão do ex-presi-
dente, ex-governador e ex-sena-
dor Fernando Collor.
Independentemente do
mérito e das discussões jurídi-
cas sobre as decisões, sobretu-
do a que atingiu Dallagnol, o re-
sultado político é claro: todo
mundo está de cabelo em pé,
desde os líderes da Lava Jato, co-
mo Dallagnol, até os seus alvos,
SEG. Carlos Pereira e Felipe Moura Brasil (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l SÁB. João Gabriel de Lima l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo
Eleições municipais
Sem Flávio na disputa pelo Rio, Paes
ganha espaço e direita busca nomes
Com apoio de Lula e
sem adversários
definidos, prefeito da
capital fluminense vai
atrás da reeleição e
do quarto mandato
RAYANDERSON GUERRA
RIO
Diante da saída do senador Flá-
vio Bolsonaro (PL-RJ) da dis-
puta municipal do Rio, em
2024, a direita busca um nome
para enfrentar o prefeito
Eduardo Paes (PSD). Com o fi-
lho ‘01’ do ex-presidente Jair
Bolsonaro fora do páreo, o go-
vernador Cláudio Castro ga-
nha força no PL para fazer arti-
culações na corrida pelo co-
mando da segunda maior cida-
de do País, enquanto nomes
mais próximos do clã são lem-
brados para o pleito.
A Coluna do Estadão mos-
trou que Bolsonaro esteve no
Senado na quinta-feira passa-
da para conversar com o primo-
gênito e convencê-lo de que,
politicamente, o melhor é cum-
prir o atual mandato, que se en-
cerra em 2026. Pesquisas em
posse do PL indicam que, se a
eleição fosse hoje, Flávio per-
deria para Paes.
“Agradeço ao meu líder Jair
Bolsonaro pelas palavras e pe-
lo reconhecimento. Seguirei
ajudando meu amado Rio de
Janeiro e trabalhando por to-
dos os cariocas e fluminenses
aqui do Senado Federal”, escre-
veu Flávio, na quinta, ao com-
partilhar uma reportagem que
Eliane Cantanhêde
No cravo e na ferradura
como Collor.
Quando Dallagnol foi cassa-
do, inclusive com o voto do bol-
sonarista Nunes Marques, o fo-
co desviou para Sérgio Moro, o
juiz da Lava Jato que trocou a
magistratura pelo Ministério da
Justiça do governo Jair Bolsona-
ro, saiu batendo a porta e virou,
simultaneamente, senador e al-
vo da própria Justiça.
O foco, porém, abriu para to-
do lado, quem comemorou a cas-
sação de Dallagnol viu que o pau
que bate em Chico também ba-
te em Francisco e uma dúvida
voltou a assombrar deputados,
senadores, governadores, prefei-
tos e, quem sabe, um ministro
ou outro: qual será o próximo?
WILTON JUNIOR/ESTADÃO
Paes, Flávio e Dr. Luizinho; aval de Lula ao atual prefeito é credencial para enfrentar bolsonarismo
mostra que seu pai o fez desis-
tir do Palácio da Cidade.
A decisão de Bolsonaro de
barrar os planos do filho tira de
cena um dos principais adversá-
rios do atual prefeito na busca
pelo quarto mandato à frente
da capital fluminense. Enquan-
to tenta se consolidar como o
único nome com aval do Palá-
cio do Planalto, Paes aguarda
agora a definição do adversário
que representará o bolsonaris-
mo na corrida pela prefeitura.
Paes provavelmente enfren-
tará, à esquerda, um nome do
PSOL, que não deve compor
sua base de apoio, e, à direita,
um representante do espólio
bolsonarista na cidade – berço
da família na política. Aliados
do atual prefeito veem também
uma oportunidade para Paes re-
tomar conversas com Castro,
em favor de uma coalizão.
As alianças do PL no Estado
e a influência do clã Bolsonaro
E-mail: eliane.cantanhede@estadao.com; Twitter: @ecantanhede
Até aqui, assistiu-se à luz do
dia à cambalhota que transfor-
mou a Lava Jato em pó, seus he-
róis em réus, os alvos em víti-
mas e tenta reverter até os acor-
Cassação de
Dallagnol e prisão
de Collor são sinal
de alerta a torto
e a direito
dos de leniência, pelos quais em-
presas envolvidas em corrup-
ção devolveram grandes somas
aos cofres públicos.
A cassação de Dallagnol é par-
te desse processo, ou desse revi-
MATEUS BONOMI/ESTADÃO
na sigla, porém, tornam pouco
provável a hipótese de parce-
ria. A decisão do grupo de Flá-
vio de demovê-lo da candidatu-
ra reacende, ainda, disputas in-
ternas do PL no Estado.
NOMES. Tanto o deputado e ex-
ministro da Saúde Eduardo Pa-
zuello (PL) quanto o general
da reserva Walter Braga Netto
(PL) – que foi candidato a vice
do então presidente na corrida
pelo Planalto no ano passado –
surgem como alternativas liga-
das ao bolsonarismo. No en-
tanto, eles podem ampliar anti-
gos problemas, caso o ex-presi-
dente consiga concorrer nova-
mente ao Planalto.
Apesar de ter sido o segun-
do deputado mais votado do
Rio, Pazuello está associado à
política antivacina da gestão
Bolsonaro, e Braga Netto fez
gestos simpáticos aos acampa-
mentos diante dos quartéis,
sionismo, e difundiu sensação
de alívio e vingança nos conde-
nados e em quem esteve na fila,
com a impressão de que o pior
tinha passado, mas estava só co-
meçando para a turma de Moro
e do ex-procurador. A pena de
30 anos de Collor, porém, soou
como sinal de alerta de que ne-
nhum dos lados está a salvo.
Após o impeachment, há três
décadas, por corrupção, Collor
aguardou os anos de inelegibili-
dade, voltou como senador e ele
e Lula, seu adversário de 1989,
deixaram velhas pendengas pa-
ra lá. No petrolão, Collor ga-
nhou acesso político a uma sub-
sidiária da Petrobras, envolveu-
se num desvio de R$ 22 milhões
PABLO VALADADRES/AGENCIA CAMARA
movimento que antecedeu à
tentativa de golpe de 8 de janei-
ro, em Brasília. São dois temas
dos quais o grupo quer se afas-
tar em eleição.
Pela centro-direita corre o
nome do deputado federal Dr.
Luizinho (PP-RJ). Aliado de
Castro, ele é visto como um po-
lítico capaz de consolidar uma
base com o apoio de União Bra-
sil, Republicanos, PL e MDB –
siglas aliadas de Castro. Já o
deputado bolsonarista Otoni
de Paula (MDB-RJ) tenta con-
vencer o partido a lançá-lo. Po-
rém, arranjos internos da cúpu-
la do Diretório Estadual indi-
cam uma composição com o
atual governador.
ATRITO. A eleição de 2024 tam-
bém está causando desconfor-
to nas relações entre Bolsona-
ro e o presidente do PL, Valde-
mar Costa Neto, como mos-
trou a Coluna do Estadão. Pes-
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
(sem correção) e hoje está com
um pé na cadeia. Quantos, co-
mo ele, acharam que estava tu-
do esquecido e agora desco-
brem que nem tanto?
Não está previsto, mas não é
impossível que, se Moro entrou
na mira, também podem voltar
a ela petistas, tucanos, emede-
bistas, bolsonaristas e a turma
do Centrão. PP, PL e PTB, por
exemplo, têm tudo a ver com pe-
trolão. E as CPIs do Golpe, do
MST, das Americanas e do Fute-
bol estão começando, misturan-
do política, Justiça e polícia.
Bem animado. l
COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO,
DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL
GLOBONEWS EM PAUTA
soas próximas a Valdemar di-
zem que o ex-presidente tem
priorizado amigos, sem pensar
na melhor estratégia eleitoral
para a legenda.
Como mostrou o Estadão,
os últimos escândalos de cor-
rupção envolvendo a família
Bolsonaro afastaram a possibi-
lidade de uma candidatura de
Flávio. Nos últimos dias, o gru-
po político avaliou vários fato-
res que levaram a esse diag-
nóstico. Nesse cenário, Paes
usa as redes sociais para fusti-
gar os principais rivais.
Força
Governador Cláudio Castro
ganha força no PL estadual
com saída do senador
Flávio da corrida no Rio
Diante da afirmação de Val-
demar, em entrevista à Globo-
News, na terça-feira passada,
de que Flávio poderia ser um
sucessor de Bolsonaro em elei-
ção presidencial, o prefeito do
Rio ironizou: “Obrigado Valde-
mar! Faço o que eu gosto e
acho que tenho o melhor traba-
lho do mundo: sou prefeito do
Rio! Por isso trabalho muito!
‘Cansativo’ deve ser cuidar de
terraplanista antivacina!! Cui-
dar do Rio é revigorante!”, es-
creveu. “Tá tudo joia!”, acres-
centou, em alusão ao caso das
joias da Arábia Saudita, revela-
do pelo Estadão.
Em outra frente, Paes insis-
te em se associar ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu
avisei que o homem gostava e
faria de tudo para ajudar o Rio!
Tá aí! Valeu, Lula”, escreveu o
prefeito, após a capital flumi-
nense ser anunciada como a se-
de da cúpula do G-20 em 2024.
Paes conta com o apoio de Lu-
la, e o embarque do PT no go-
verno municipal foi aprovado
pelos Diretórios Municipal e
Estadual da legenda. l
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO POLÍTICA A9

J. R. Guzzo
A construção da censura
e que tamanho estará a rior recebeu na mídia, nas redes querda é acusar as redes so- sões enganosas” – ou seja, na reito de achar o que quiser dos

D liberdade de imprensa
no Brasil daqui a, diga-
mos, dois anos? Não só a
liberdade de imprensa propria-
mente dita, mas a liberdade de
manifestação em geral – essa
que permite ao cidadão dizer o
que pensa, e ao homem público
expor as suas convicções políti-
cas. Dois anos atrás, no meio do
governo Bolsonaro, não havia
restrição nenhuma para a livre
manifestação do pensamento
no Brasil. A demonstração obje-
tiva disso não está em nenhuma
equação complexa sobre a natu-
reza dos polinômios algébricos.
Basta constatar a quantidade
de pauladas que o governo ante-
sociais e em qualquer outro
meio de expressão – a maior
que uma administração pública
já levou em toda a história deste
país. Muito bem: alguém acredi-
ta, honestamente, que a liberda-
de de expressão no Brasil vai ser
amanhã o que ela foi ontem?
Os sinais de que o regime
Lula-STF está trabalhando na
criação de um vasto mecanis-
mo de censura no Brasil tor-
nam-se cada vez mais óbvios e
extremos. A desculpa oficial pa-
ra se fazer isso, hipócrita e in-
coerente, é “colocar ordem no
caos da internet”, onde as pes-
soas dizem coisas horríveis; no
momento, a última moda na es-
ciais de causarem massacres
em série nas escolas brasilei-
ras. Temos de parar com essa
barbaridade, não é mesmo?
prática, tudo aquilo que a polí-
cia do pensamento a ser instala-
da pelo PT não quiser que se
leve a público. É isso – não tem
absolutamente nada a ver com
editoriais deste jornal; nin-
guém é obrigado a gostar de jor-
nal nenhum. Mas o que impede
o comitê de censura, amanhã,
de decretar que um ou mais
Alguém acredita creches e psicopatas que ata- desses editoriais estão “fora do
cam crianças à machadinha. contexto”, ou levam a “conclu-
que a liberdade de Na verdade, eles não conse- sões enganosas”, e punir o jor-
expressão no Brasil guem mais se conter – e dei- nal por causa disso? As cabeças
vai ser amanhã o xam cada vez mais claro o que da presidente do PT e dos futu-
pretendem fazer com a liberda- ros censores são as mesmas.
que ela foi ontem? de de expressão no Brasil. Há O ministro da Justiça acaba
pouco, por exemplo, a presi- de nos informar, por sua vez,
Não é nada disso, claro. O que a dente do PT acusou os edito- que “a liberdade de expressão
lei de censura do governo e do riais de O Estado de S. Paulo, como um valor absoluto é uma
STF quer, e diz isso por escrito, que têm feito críticas ao gover- fraude” – e que o seu tempo
é punir a “desinformação”, a no, de serem “raivosos, igno- “acabou”. Faça seus cálculos.l
notícia “falsa”, as afirmações rantes, desinformados e mofa-
“fora do contexto”, as “conclu- dos”. Tudo bem. Ela tem o di- JORNALISTA

SEG. Carlos Pereira e Felipe Moura Brasil (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l SÁB. João Gabriel de Lima l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo

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Cartão de vacinação Houve, no entanto, tentati- A reportagem entrou em

Esquema de fraude tinha braço em outra cidade do RJ
O esquema de fraudes em car-
tões de vacinação da covid-19
que colocou na mira da polícia
o ex-presidente Jair Bolsonaro
vas de adulterar dados de vaci- contato com a defesa do coro-
nação da família de Cid via
Campos, em dezembro de
nel, mas não teve retorno. Pro-
curada, a prefeitura de Cam-
e seu ex-ajudante de ordens, o Três cidades já estavam no 2022. Um usuário tentou ca- pos afirmou que vai abrir pro-
tenente-coronel Mauro Cid, radar da Polícia Federal: Cabe- dastrar, nos sistemas do Minis- cedimento administrativo pa-
envolveu ações em Campos ceiras (GO), Duque de Caxias tério da Saúde, sete doses em ra apurar se algum servidor aju-
dos Goytacazes (RJ). (RJ) e São Paulo (SP). nome das filhas de Cid. dou no esquema de fraudes. l

A10 POLÍTICA
Deltan Dallagnol
‘Como explicar
Lula elegível e
Deltan inelegível?’
Parlamentar cassado diz que
decisão do TSE foi fraude e teme
por riscos à democracia no País
ENTREVISTA
Ex-coordenador da
Operação Lava Jato
no Ministério
Público Federal e
deputado federal
cassado pelo TSE
JULIA AFFONSO
BRASÍLIA
deputado cassado
O Deltan Dallagnol (Po-
demos-PR) afirmou
em entrevista exclusiva ao Es-
tadão que vai recorrer até o
fim para manter seu mandato.
Na semana passada, o Tribu-
nal Superior Eleitoral (TSE) o
cassou sob a alegação de que
ele violou a Lei da Ficha Lim-
pa. Dallagnol disse que a deci-
são foi fraudada. “Eu roubei,
me corrompi, abusei, tortu-
rei? Não.”
Para ele, a preservação de
seu mandato depende de deci-
são política do presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
a quem Dallagnol pretende re-
correr para assegurar que a de-
cisão do TSE não seja aplicada
automaticamente. Veja os prin-
cipais trechos da entrevista.
O TSE errou ao cassá-lo?
O TSE inventou uma inelegibi-
lidade que não existe na lei. A
legislação é clara. É inelegível
o membro do Ministério Públi-
co que sai na pendência de pro-
cesso disciplinar. Isso não exis-
Moro pede orações contra ‘ressentimento’ e ‘ódio’
A Marcha para Jesus de Curiti-
ba, realizada ontem, incluiu
discursos e orações por Deltan
Dallagnol (Podemos-PR), que
é membro de uma Igreja Batis-
ta da cidade. Do alto de um car-
ro de som, o senador Sérgio
tia no meu caso.
Houve um abuso na inter-
pretação da Lei da Ficha
Limpa?
O TSE criou um caso de inelegi-
bilidade imaginário, que não es-
tá previsto em lei. Como expli-
car para a sociedade brasileira
que Lula, condenado em três
instâncias por corrupção, está
elegível e com mandato e que
Deltan, que não foi investiga-
do, acusado e processado cri-
minalmente, muito menos acu-
sado administrativamente,
porque não existia PAD (proces-
so administrativo disciplinar), se
tornou inelegível? Como expli-
car essa absurda contradição?
O TSE alegou que eu fraudei a
lei, mas está muito claro que
quem fraudou a lei foi o TSE.
O ministro Benedito Gon-
çalves disse que o sr. teve
intuito de manobrar a lei.
O que eles fizeram foi um exer-
cício de leitura de mente e que,
por si só, não era suficiente. Te-
ve de ser combinado com uma
futurologia. Eles precisaram,
primeiro, supor uma intenção
e somar a três possíveis desdo-
bramentos cumulativos. Isso
não é possível porque não exis-
te essa hipótese prevista na lei.
A Lava Jato, comandada pe-
lo sr., acusou Lula de ter
uma “real intenção” de ad-
quirir o triplex no Guarujá.
Por que no caso do presi-
dente a intenção pode ser
levada em consideração e,
no seu caso, não?
Lula foi acusado de praticar
um crime e condenado por cor-
Moro (União Brasil-PR) criti-
cou a decisão do Tribunal Su-
perior Eleitoral (TSE) que cas-
sou o mandato de Dallagnol e
o deixou fora da política pelos
próximos oito anos.
Moro, que não é evangélico,
Deltan Dallagnol; timing da cassação depende da vontade de Lira
rupção e lavagem de dinheiro.
Quando você avalia o cometi-
mento de crime, você avalia se
a pessoa agiu com consciência
e vontade, o dolo. Eu não prati-
quei crime. Nenhuma conduta
que eu fiz está prevista como
inelegibilidade. O comporta-
mento dele (Lula) se enquadra
perfeitamente num crime des-
crito na lei. No meu caso, o
meu comportamento não se
enquadra em nenhuma inelegi-
bilidade descrita na lei.
Anulação
Deputado cassado diz que
TSE defendeu segurança
das urnas e agora decide
anular 345 mil votos
Quando o sr. pediu exone-
ração, havia sindicâncias e
reclamações que poderiam
virar PAD.
É uma espécie de procedimen-
to preliminar que é, simples-
mente, uma capa dada a um
pedido feito no Conselho Na-
cional do Ministério Público.
Todas as semanas, nós sofría-
mos reclamações de pessoas e
partidos investigados na Lava
Jato. Nós respondemos a cen-
tenas de reclamações discipli-
nares. Elas só são convertidas
em processo disciplinar quan-
do existe viabilidade e funda-
mento. Quantos foram conver-
tidos? Dois. Eu roubei, me cor-
rompi, abusei, torturei? Não.
Fui punido por críticas ao Su-
premo Tribunal Federal e ao
(senador) Renan Calheiros.
Sem excesso de linguagem,
sem ofensa.
discursou no evento ao lado de
Dallagnol, e afirmou que a deci-
são judicial foi motivada por
“ressentimento” e “ódio”. “Eu
queria pedir para vocês ora-
ções, não só para que nós possa-
mos ter Justiça na terra em rela-
ANDRE BORGES/EFE-17/5/2023
O sr. pediu exoneração pa-
ra evitar que esses procedi-
mentos virassem PAD e im-
pedissem a candidatura?
Não. Essas reclamações já es-
tavam pendentes havia meses.
Eram remanescentes de mais
de 50 reclamações que foram
arquivadas paulatinamente
no CNMP. Algumas ficaram,
por exemplo, porque eram ba-
seadas em notícias do The In-
tercept. Se alguma pudesse con-
duzir à minha demissão, a mi-
nha exoneração não poderia
ter ocorrido. Existe uma regra
que diz que, quando um servi-
dor responde a um procedi-
mento que pode gerar sua de-
missão, ele não pode se exone-
rar. Eu pedi minha exonera-
ção depois de receber um con-
vite do (ex-senador) Álvaro
Dias para lutar por mudanças
no Brasil ao lado de Sérgio Mo-
ro, que voltava ao Brasil para
ser candidato à Presidência da
República. Minha entrada na
política dependia de negocia-
ções com os partidos. Eu saí
para poder manter conversas
partidárias e isso precisava
acontecer antes do prazo de
filiação que era seis meses an-
tes da eleição.
Vai recorrer ao Supremo?
Sim. Nós vamos recorrer até o
fim, vamos lutar até o fim. Não
se trata de Deltan, se trata de
três causas: a defesa da demo-
cracia, do voto e da soberania
do povo. A segunda é conter a
juristocracia, o avanço judicial
sem base na lei nas competên-
cias de outros Poderes ou so-
bre as liberdades. A terceira é
garantir que o combate à cor-
ção ao Deltan, mas também pa-
ra afastar as sombras dos cora-
ções e mentes de Brasília que
podem fazer a diferença”, dis-
se. Moro evitou personalizar
as críticas, mas falou que a deci-
são é uma “gigantesca injusti-
ça”. “É a pessoa mais honrada
que eu conheço”, afirmou.
Como adiantou a Coluna do
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
rupção não vai ser enterrado.
O sr. agora está sofrendo
com uma interpretação
abrangente da lei, que era
algo muito criticado nos
métodos da Lava Jato?
Na Lava Jato, as críticas sobre
supostos excessos eram que as
pessoas discordavam sobre on-
de exatamente estava a linha
da lei. Alguns achavam que es-
tava um pouco para cá, outros
achavam que estava um pouco
para lá. Neste tipo de situação,
você não questiona se passou
um pouco do limite da lei. A lei
ficou lá atrás, ficou lá longe. Es-
tá completamente fora da lei.
O sr. volta a trabalhar na
Câmara nesta semana?
A partir da decisão, da comuni-
cação que foi feita ao TRE e à
Câmara. Em seguida, terei pra-
zo de cinco dias para apresen-
tar uma defesa. Isso vai para o
corregedor da Câmara, que vai
apresentar um parecer. Esti-
ma-se que isso aconteça nos
próximos dez, 15 dias. Contu-
do, a implementação da deci-
são pode ser imediata ou pode
demorar meses ou anos. Isso
depende muito da vontade e
da visão política, especialmen-
te, do presidente (da Casa).
O presidente da Câmara,
Arthur Lira, não defendeu
o sr. publicamente nem se
manifestou contrariamen-
te à decisão do TSE.
Estou buscando marcar um en-
contro com ele para apresen-
tar as razões pelas quais eu en-
tendo que não só é uma deci-
são injusta, mas que não deve
ser executada de imediato pela
Câmara antes de um posiciona-
mento do STF. Especialmen-
te, quando você está tratando
de algo tão sagrado da demo-
cracia que é a soberania popu-
lar e o voto de 345 mil pessoas.
Se a Mesa cumprir a deci-
são e o sr. tiver de deixar o
mandato, o que fará daqui
para frente?
Eu não estou traçando um pla-
no B agora. A única possibilida-
de que vejo é lutar com unhas e
dentes para honrar a confian-
ça das 345 mil pessoas que vota-
ram em mim. O TSE passa o
ano inteiro das eleições falan-
do sobre o valor e a importân-
cia do voto. No ano passado,
em especial, defendeu firme-
mente a segurança das urnas
eletrônicas. Agora, fora da lei,
o que eles fazem é anular 345
mil votos. O maior medo que
eu tenho é a perda da fé das
pessoas na democracia. l
Estadão, adversários políticos
de Moro dizem acreditar que
ele pode perder o mandato até
o fim deste ano. O ministro
aposentado do Supremo Mar-
co Aurélio Mello criticou o
TSE e disse que não descarta a
cassação do senador: “Eu não
estaria dormindo bem no lu-
gar do Moro.” l
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO POLÍTICA A11

NOTAS E INFORMAÇÕES a LAI representou um salto civilizatório para o País.
Por isso, é bem-vindo que o presidente Lula da Silva
tenha feito um discurso em defesa dessa lei que com-
pletou 11 anos de vigência há poucos dias. Mas só
Transparência palavras não bastam: o entusiasmo demonstrado pe-
lo presidente para enaltecer a transparência − e fusti-
é para valer gar o descaso de seu antecessor em relação a esse
princípio tão salutar − precisa se traduzir em ações.
Algo que não vem acontecendo.
A Lei 12.527/2011 entrou em vigor em maio de 2012,
180 dias após sua promulgação. Com atraso, dotou o
País de mecanismos para que a população tivesse aces-
so ao que se passa no labirinto das instâncias governa-
mentais, invertendo uma lógica muito cara aos deten-
tores do poder: com a LAI, em tese, a transparência
passa a ser regra, e o sigilo, exceção. Eis um princípio
republicano cuja função é oxigenar a administração
Discurso de Lula em defesa da Lei de pública, jogando luz sobre as zonas cinzentas onde
vicejam abusos e malfeitos.
Acesso à Informação não se traduz Entre o que a lei prevê e o resultado de sua aplicação
prática, porém, há uma longa distância, como ficou
nas ações do governo claro no governo de Jair Bolsonaro, quando a decreta-
ção de sigilos descabidos virou estratégia para manter
à sombra o que não interessava ao então presidente
luz do sol é o melhor desinfetante, diz o divulgar. Como não poderia deixar de ser, a opacida-
Lula tem seguido uma lógica bem distinta de seus
discursos. Exemplo disso foi a imposição de sigilo
sobre gastos com viagens nacionais e internacionais
do atual presidente. Sem falar na recusa de divulgar a
íntegra das imagens dos atos golpistas de 8 de janeiro
gravadas por câmeras do Palácio do Planalto. Há tam-
bém pedidos de informação que foram rejeitados sem
levar em conta pareceres da Controladoria-Geral da
União (CGU). Recentemente, o Ministério da Fazen-
da recusou-se a revelar a lista de quem entrou no
prédio-sede nos primeiros meses de 2023.
Ora, somente a aplicação correta da LAI é capaz de
produzir os resultados almejados, conferindo a devi-
da transparência aos atos oficiais, não só no Executi-
vo, mas em todos os Poderes, nas esferas federal, esta-
dual e municipal.
Um decreto recém-assinado por Lula centralizou
na CGU a fiscalização do rol de documentos sigilosos
de toda a administração federal. Como informou o
Estadão, caberá à CGU analisar as classificações ado-
tadas no âmbito de cada ministério, verificando se a
legislação foi corretamente seguida e determinando
correções, em caso de falhas. Sem dúvida, é prerrogati-
va do presidente da República reorganizar a estrutura
da máquina pública e o modo como funciona. No que

A conhecido adágio que reflete o espírito

da Lei de Acesso à Informação (LAI). O
escrutínio público, de fato, coíbe desman-
dos e desvios, e não é exagero afirmar que
de do governo anterior virou tema da campanha elei-
toral, e Lula alardeou o quanto pôde que faria tudo
diferente.
Como noticiou o Estadão, o terceiro mandato de
diz respeito ao cumprimento da LAI − e das demais
leis em vigor no País −, porém, a regra é outra. Afinal,
não se trata de uma escolha, mas do dever de todo e
qualquer governante.l

Benefício procuradores terão compensa- nharão um de folga, que poderá

ção pelo “acúmulo de acervo ser revertido em indenização.
Aras define regras para novo penduricalho do MP processual, procedimental ou
administrativo”, mesmo quan-
Um procurador da República
tem salário de R$ 33,7 mil. O
O procurador-geral da Repúbli- integrantes do Ministério Públi- dos ministros do Supremo Tri- do estiverem em férias, licença, penduricalho foi criado em re-
ca, Augusto Aras, definiu as re- co da União (MPU) em R$ 11 bunal Federal (STF), que é de recesso e afastados para atuar solução do Conselho Nacional
gras para um novo benefício mil, extrapolando o teto do Ju- R$ 41,6 mil mensais. em associações de classe. A ca- do MP e aprovado em votação
que pode aumentar o salário de diciário definido pelo salário Como revelou o Estadão, os da três dias trabalhados, eles ga- relâmpago em dezembro. l

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GOMIS TSAVACHIDIS Diretor-geral Gerente RIBEIRO DE Diretora executiva Diretora da
Representante do CEO da EIT Urban da Veloe de Operações CARVALHO da Eletra Ciclocidade e
Programa das Nações Mobility na Kido Dynamics Pesquisador do fundadora do Pedal
Unidas para o Meio Instituto de Pesquisa na Quebrada
Ambiente (Pnuma) Econômica Aplicada
no Brasil (Ipea)

JOÃO IRINEU LUCIO GREGORI LUIZ MAUAD MAÍNA CELIDONIO NIEGE CHAVES RODRIGO MOURAD THIAGO PIOVESAN
MEDEIROS Engenheiro, Vice-presidente DE CAMPOS Vice-presidente Presidente e CEO da Indigo
Vice-presidente de ex-secretário municipal de Serviços e Secretária municipal Grupo Mobibrasil cofundador da Cobli
Assuntos Regulatórios dos Transportes Operações de Frota de Transportes do
da Stellantis para a no governo de da Eve Air Mobility Rio de Janeiro
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GARBIN OLIVEIRA VIEIRA LUPA
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executiva de Mobilidade Metrópole
do Estadão
A12 DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023

INTERNACIONAL O ESTADO DE S. PAULO

Geração perdida

Inflação deixa 6 em cada 10 crianças

argentinas abaixo da linha da pobreza
Mesmo com programas de transferência de renda na Argentina, famílias lutam
para comprar alimentos básicos e sobreviver à alta de preços de 100% ao ano

ONG HACIENDO CAMINO

CAROLINA MARINS
ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

Gabriel Castillo Jimenez é um

bebê de 2 anos que vive em San-
tiago del Estero, norte da Ar-
gentina, uma das cidades mais
pobres do país. Ele está cres-
cendo e precisa de sapatos no-
vos, mas sua mãe, Julieta, não
tem dinheiro. Ela usa os pou-
cos pesos que tem para com-
prar comida e escapar da fome.
Na Argentina, casos como o
de Julieta e Gabriel são cada
vez mais comuns. Hoje, 54,2%
dos jovens de 0 a 14 anos vivem
em situação de pobreza, segun-
do o Instituto Nacional de Es-
tatística e Censos (Indec). A si-
tuação piorou nos últimos
anos, mas não virou tema da
campanha presidencial para as
eleições de outubro.
Julieta mora com o filho, ou-
tros seis irmãos e seus pais. De-
sempregada, vive de bicos e
programas de transferência de
renda, sempre insuficientes. Bairro de baixa renda de Santiago del Estero: 66% das crianças argentinas vivem em situação de pobreza, de acordo com a Unicef
Com a inflação, que em 12 me-
ses superou os 100%, o dinhei-
ro vale cada vez menos. crianças de 0 a 5 anos por meio
de acompanhamento nutricio-
ROUPA. Julieta sente na pele a
POBREZA INFANTIL nal, entrega de leite e capacita-
inflação. Embora trabalhe com ção para mães. “A pobreza es-
limpeza doméstica e vendendo Crianças e adolescentes são os mais afetados por crise econômica argentina trutural existe em Santiago del
pães e doces na rua, sua maior Estero há muitos anos”, afir-
renda vem da Asignación Uni- ma Florencia Treglia Mecias,
Mais da metade das crianças está abaixo da linha da pobreza na Argentina
versal por Hijo, programa so- Enquanto taxa de pobreza nacional é de 40%, entre as crianças número se aproxima de 60% diretora da Haciendo Camino.
cial que, ao lado dos bicos, lhe
EM PORCENTAGEM*
rende até 40 mil pesos mensais PROBLEMA CRÔNICO. De fato,
(R$ 400). “Com o dinheiro, GRUPOS TOTAL DE POBRES NÃO POBRES desde que o Indec retomou o
DE IDADE POBRES INDIGENTES** POBRES NÃO INDIGENTES
compro comida, e só.” acompanhamento da taxa de
“A última vez que dei algo 0-14 12 42,2 54,2 45,8 pobreza infantil, em 2015, o
novo para o Gabriel foi em ou- 15-29 9,4 35,5 45 55 índice subiu tanto no governo
tubro, quando comprei uns sa- 30-64 7 28 35 65 de Mauricio Macri, de centro-
patos. Mas ele cresceu e o sapa- 65 E MAIS 1,7 12,8 14,5 85,5 direita, quanto no de Alberto
to não serve mais.” O que aju- *DADOS SÃO DO SEGUNDO SEMESTRE DE 2022 Fernández, de centro-esquer-
da a aliviar as contas é a ONG **INDIGÊNCIA: QUANDO A RENDA É MENOR QUE O VALOR DA CESTA BÁSICA DE ALIMENTOS FONTE: INDEC / INFOGRÁFICO: ESTADÃO da. “A pobreza infantil gera
Haciendo Camino, que traba- uma pobreza ainda mais estru-
lha com nutrição infantil. tural”, disse Mecias. “Ela não
É graças à organização que A inflação, porém, consome za multidimensional, que con- infância do Observatório da só impede a criança de comer,
Julieta compra comida, o que tudo rapidamente e a perda do sidera ausências de renda, mo- Dívida Social, da Universidade mas de se desenvolver.”
não seria possível só com a aju- poder de compra desses pro- radia, saúde, educação, e não Católica Argentina. “Mas tam- O trabalho de ONGs e os pro-
da do Estado. Criados no go- gramas aumenta a pobreza in- apenas a renda familiar, como bém existe o nível de indigên- gramas de renda amenizam os
verno de Cristina Kirchner, fantil. “Os ajustes não acompa- é o caso do Indec. cia, que é quando os lares não efeitos da pobreza no curto
em 2009, e inspirado no Bolsa nham a inflação”, disse Gala acessam nem o básico de ali- prazo, mas não encerram o ci-
Família brasileiro, a Asigna- Diaz Langou, diretora do Cen- mentação, que afeta mais as clo, alertam as especialistas.
ción Universal por Hijo paga 11 tro de Implementação de Po- Crise crônica crianças do que os outros.” “Em termos proporcionais,
mil pesos por mês (R$115). líticas Pública para a Equidade A inflação consome o Segundo a Comissão Econô- nunca houve uma melhora na
O mesmo acontece com a e Crescimento (Cippec). “As salário e a perda do poder mica para a América Latina e o situação das crianças argenti-
Tarjeta Alimentar, que dá 17 transferências de renda têm de compra dos programas Caribe (Cepal), a taxa de po- nas”, observa Langou. “Isso
mil pesos (R$170) para famí- atualizações trimestrais, en- aumenta a pobreza infantil breza entre jovens é de mais de atravessou diversos governos.
lias com um filho, 26 mil quanto os alimentos sobem 45% na América Latina. No Bra- O que mostra que não é uma
(R$260) para quem tem duas quase 10% por semana.” sil, é de 63%, segundo a Unicef. questão conjuntural nem do
crianças e 34 mil para pais de Em um sinal de que o proble- “São crianças que vivem em Inflação e pobreza são um pós-pandemia ou da crise
três (R$ 340). No Brasil, o Bol- ma é grave, em fevereiro, a Uni- lares que não conseguem adqui- problema crônico na Argenti- atual, mas que é estrutural de
sa Família paga R$ 600, mais cef contabilizou 66% de crian- rir uma cesta básica”, afirmou na. A ONG que ajuda Julieta como nos organizamos como
R$ 150 por filho de até 6 anos. ças dentro da chamada pobre- Ianina Tuñon, especialista em trabalha com assistência a sociedade.” l
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
E, mais uma vez, forma-se a fila
Imigrantes latinos precisam corrigir tendência de votar por quem os expulsa de seus países
ma vez mais houve inci-
U dentes na fronteira
americana, como cada
vez que as autoridades
do México suspendem a proibi-
ção e a massa de latino-ameri-
canos avança na direção dos
EUA, que, com este motivo,
costuma reforçá-la com solda-
dos armados.
O episódio se repete cons-
tantemente e o mais provável
nestes tempos difíceis para a
América Latina é que isso suce-
da com muita frequência. Cen-
tenas de milhares de latino-
americanos aspiram trabalhar
nos EUA, mas carecem de vis-
to de trabalho e, ao passo que
vão as coisas, é muito provável
que não obtenham essa per-
missão de imediato porque o
clima já não é muito receptivo
nos países para os quais eles
querem se deslocar. Os proble-
mas na fronteira se repetirão
cada vez mais perante pessoas
em busca de trabalho que se-
rão mais e mais numerosas.
Vimos na televisão, com pe-
sar, famílias inteiras que aspi-
ram superar essas fronteiras.
E a verdade é que os EUA não
podem receber de uma vez to-
dos que desejem viver por lá,
porque já faz muito neste cam-
po. Os cubanos, por exemplo,
têm direito de se asilar de ma-
neira preferencial e obter tra-
balho. E o mesmo ocorre com
outros países que foram sub-
metidos a uma intervenção ou
um regime abusivo.
Mas, lamentavelmente, um
país não pode abrir as portas
para imigrantes sem limite,
por mais amplo que seja e por
mais trabalhos de que dispo-
nha, porque isso tem conse-
quências sociais e políticas
traumáticas e gera tensões. Os
latino-americanos que ro-
deiam essas fronteiras correm
o risco de se ver frustrados e
apartados daquilo que bus-
cam.
E o que buscam os que que-
rem entrar nos EUA de qual-
quer maneira? Sobretudo a se-
gurança da qual carecem em
seus próprios países. Logo, a
possibilidade de ter um capital
que permita educar seus filhos
em um bom colégio e, sempre
que possível, em uma boa uni-
versidade.
O curioso é como muitos
dos latinos que andam nessas
fronteiras votaram em seus paí-
ses, porque eles passaram ao
Estado muitas propriedades
privadas e se manifestaram de
maneira entusiasta cada vez
que o governo se apropriava de
Mario
Vargas Llosa
Migrantes esperam triagem da Patrulha de Fronteira em El Passo, no Texas, na fronteira com o México
bens alheios e se convertia em
um Estado paternalista. Com
frequência, votaram também
por governos cujas políticas
eram as mesmas que antes e
tinham provocado inflação, de-
semprego e miséria.
Há nisso uma contradição,
uma das muitas que caracteri-
zam a América Latina. Por que
ir buscar nos EUA o que recu-
sam em seu próprio país? A in-
coerência é flagrante e, desde
logo, lamentável. Mais fácil se-
ria, em vista as enormes dificul-
dades que têm para instalar-se
nos países desenvolvidos, que
defendessem o modelo de pro-
priedade privada e investimen-
to privado em seus próprios
países em vez de detestar es-
sas coisas e logo ir buscá-las
através dos penosos alambra-
dos que os rejeitam.
PARADOXO. Este é um dos mui-
tos mistérios que caracteri-
zam a América Latina: a insis-
tência em apoiar, em uma pri-
meira instância, propostas
que os condenam a ter de emi-
grar para outro país para come-
çar tudo de novo, sem a menor
garantia de que conseguirão.
Sem os entusiasmos das mas-
sas operárias e de muitos traba-
lhadores de classe média pelo
populismo, a América Latina
andaria melhor do que anda,
ou seja, repetindo modelos que
não triunfaram em lugar ne-
nhum e que, ademais, arremes-
sara seus países a um fracasso
econômico monumental.
É o caso, sem ir muito longe,
da Venezuela, que era uma na-
ção onde todos os latino-ame-
Pela primeira
vez, nossos países
podem escolher
entre a prosperidade
ou a pobreza
ricanos queriam trabalhar, por-
que as boas novas estavam ao
seu lado (chegou em uma épo-
ca a ser conhecida como “Ve-
nezuela saudita”), tanto que
hoje após nacionalizações co-
léricas, o país se encontra em
ruínas e expulsou nada menos
que 7 milhões de venezuela-
nos, a quem não consegue ofe-
recer trabalho e que foram tra-
balhar em outros lugares.
Cito a Venezuela porque é o
caso mais dramático, mas a
verdade é que seu mau exem-
plo se propagou até mesmo à
Colômbia, que costumava ser
um país bem orientado e que
agora, nas mãos de Petro, vai
de mal a pior.
Este paradoxo, no qual os la-
tino-americanos buscam de-
sesperadamente instalar-se
em países “superiores”, por-
que têm trabalho por lá e des-
frutam da segurança jurídica
que impera, se repete intermi-
tentemente desde tempos ime-
moriais.
O problema simplesmente
não tem solução enquanto não
corrigirem a tendência de vo-
tar por quem os expulsa de
INTERNACIONAL
HERIKA MARTINEZ/AFP
seus países com as nefastas po-
líticas que aplicam. Ou a solu-
ção, na realidade, é muito sim-
ples e consiste em criar situa-
ções nas quais os latino-ameri-
canos não tenham de deslo-
car-se porque os modelos que
buscam existiriam em suas
próprias casas, se ousassem
aplicá-los.
Não é minimamente racio-
nal que eles não apostem, em
seus próprios lares, em insta-
lar aquilo que aspiram, o que
seria mais coerente, ou seja,
uma das economias fundadas
no trabalho, na poupança e no
investimento, como os EUA,
por exemplo, onde tantos lati-
nos quiseram se instalar, por-
que lá sim têm a segurança eco-
nômica e um futuro mais ou
menos garantido.
Não é sensato que eles rejei-
tem um modelo social indo
buscá-lo após uma infinidade
de sacrifícios podendo imitá-
lo. Temo muito, porém, que es-
ta contradição seguirá enchen-
do as fronteiras dos países de-
senvolvidos de maneira cres-
cente, porque o chamado “ter-
ceiro mundo” fracassa repeti-
damente no momento de de-
terminar um rumo.
A verdade é que, agora, o pa-
norama é bastante desolador
na América Latina porque,
com exceção de Uruguai, Equa-
dor (onde a esquerda próxima
a Rafael Correa trata de des-
truir o governo de Guillermo
Lasso) e República Dominica-
na, opta-se por modelos so-
ciais sem nenhum êxito e obri-
gam seus cidadãos a emigrar,
fazendo filas, sem muitas espe-
A13
ranças, diante de fronteiras de-
fendidas por alambrados e sol-
dados.
E esta realidade é apenas um
exemplo dos muitos parado-
xos que caracterizam a Améri-
ca Latina dos nossos dias.
Quais são os exemplos que
nossos países imitam? Os que
fracassaram de maneira siste-
mática. Não há nenhum caso
em que as nacionalizações, o
gasto desenfreado e o protecio-
nismo tenham tido êxito. E, no
caso dos países nórdicos, que
costumavam servir de exem-
plo aos que defendiam os bens
nacionais para todos, sinto
muito lhes dizer que já não ser-
vem, porque estes países ter-
minaram, também, por ren-
der-se aos fatos.
Enquanto a América Latina
não compreender, seguirá sua
decadência. E suas riquezas e
empresários, naturalmente, fu-
girão, como na Venezuela.
Eles agora estão em Madri, por
exemplo, desfrutando da liber-
dade, de suas instalações e sua
segurança, à que acedem tam-
bém muitos outros latino-ame-
ricanos em busca de trabalho.
RUÍNA. Em certo momento, a
América Latina pareceu ter es-
colhido bem seu rumo. Os ca-
pitais se dirigiam para esses
países onde tudo estava por fa-
zer. Certo dia, essa boa disposi-
ção se evaporou e foi substituí-
da por uma frenética vocação
estatizante, que levou à ruína
muitas nações latino-america-
nas e fará aqueles que se salva-
ram até agora se afundar na es-
cassez e na ruína.
Há alguma esperança de que
as coisas mudem? Será neces-
sário que os países que escolhe-
ram mal seus modelos sociais
se arrependam dos mesmos e
refaçam sua estrutura em fun-
ção de uma realidade que está
por aí, oferecendo-se para
quem queira vê-la.
Pela primeira vez, nossos paí-
ses podem escolher a prosperi-
dade ou a pobreza. Isso não ha-
via ocorrido até pouco tempo
atrás. O que não cabe na nossa
época é continuar no erro, co-
mo fizeram tantas nações em
vias de desenvolvimento. Es-
sas filas longas nas portas dos
países desenvolvidos, como
EUA por exemplo, denotam
um equívoco gigantesco. E
uma lição para quem quiser
acatá-la. l TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
É PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA
© DIREITOS DE PUBLICAÇÃO EM TODAS
AS LÍNGUAS RESERVADAS PARA
EDICIONES EL PAÍS S.L. 2023

A14 INTERNACIONAL
Cúpula em Hiroshima
Zelenski se encontra com Modi e
pressiona Lula por reunião no G-7
Democracias reunidas
no Japão tentam fazer
Índia e Brasil mudarem
posição sobre invasão
da Ucrânia por
Vladimir Putin
EDUARDO GAYER
ENVIADO ESPECIAL
HIROSHIMA, JAPÃO
O presidente da Ucrânia, Vo-
lodmir Zelenski, roubou a cena
da cúpula do G-7 ao chegar on-
tem ao Japão em um avião da
França, após participar na vés-
pera da cúpula da Liga Árabe,
que tem entre seus membros
nações pró-Rússia e neutras.
Organizada às pressas, a visi-
ta de Zelenski fez com que os
líderes do G7 divulgassem a de-
claração final um dia antes do
previsto, na qual condenaram
a Rússia pela invasão da Ucrâ-
nia e pediram à China, aliada
de Moscou e que nunca conde-
nou a invasão, que “pressione
a Rússia para que encerre sua
agressão” e “retire imediata-
mente, totalmente e sem con-
dições suas tropas” do país do
Leste Europeu.
Após uma chegada surpresa
na cúpula do G-7, o presidente
ucraniano, que tenta ampliar o
círculo de apoio a seu país, se
reuniu com o francês Emma-
nuel Macron, o chanceler da Ale-
manha, Olaf Scholz, a primeira-
ministra da Itália, Giorgia Melo-
ni, com os quais trocou abraços
ou apertos de mão calorosos.
ENCONTRO TENSO. Também se
encontrou com o primeiro-mi-
nistro indiano, Narendra Mo-
di, cujo país se nega a condenar
a agressão russa na Ucrânia.
Com ele, o encontro foi mais
contido, tendo início com um
protocolar aperto de mãos.
EUA e UE querem ajuda
do Brasil para frear China
ANÁLISE
cúpula do G-7 é parte
A de um esforço de
EUA e Europa para
reequilibrar a disputa por in-
fluência global com China e
Rússia. Uma competição pe-
los corações e mentes de paí-
ses emergentes se aprofunda.
O duelo é uma resposta à táti-
ca chinesa e russa de oferecer
investimentos em infraestru-
O presidente da Índia, Narendra Modi (à esq) cumprimenta o ucraniano Volodmir Zelenski, no G-7
A Índia tem vínculos políti-
cos, econômicos e militares es-
treitos com a Rússia e, apesar
da pressão dos EUA, escolheu
um meio termo que, dizem au-
toridades do país, centra-se
em seus próprios interesses e
crescente influência – posição
que frustra Kiev e os aliados
ocidentais de Modi.
Em seu primeiro encontro
com Zelenski desde o início da
invasão, o premiê indiano res-
saltou a importância de resol-
ver a guerra pelo diálogo e a
diplomacia, e expressou seu
desejo de contribuir para os es-
forços de paz. “Entendo perfei-
tamente seu sofrimento e dos
cidadãos ucranianos. Posso te
assegurar que, para resolver , a
Índia, e eu pessoalmente, fare-
tura, transferência de tecnolo-
gia, insumos agrícolas e venda
de armas.
Para isso, americanos e eu-
ropeus querem oferecer me-
lhores relações, projetos de in-
fraestrutura e planos sob medi-
da para cada país. Em outras
palavras, o G-7 quer deixar de
focar em valores políticos para
apostar em desenvolvimento.
Mas, enquanto Joe Biden
participa do G-7, Xi Jinping or-
ganiza uma Cúpula China-
Ásia Central, em Xi’an. Em ju-
mos todo o possível”, disse Mo-
di a Zelenski.
Em uma breve mensagem
no Twitter, Zelenski disse que
discutiu as necessidades huma-
nitárias da Ucrânia e convidou
Modi a unir-se à iniciativa de
paz da Ucrânia. A iniciativa
impõe como pré-condição pa-
ra quaisquer negociações para
acabar com o conflito a retira-
da da Rússia de todo o territó-
rio ucraniano.
“Agradeço a Índia por apoi-
ar a integridade territorial e so-
berania de nosso país, em parti-
cular nas plataformas das orga-
nizações internacionais, e por
fornecer auxílio humanitário
para a Ucrânia”, escreveu. A lin-
guagem ecoa as próprias decla-
rações indianas sobre a guerra
lho, Vladimir Putin receberá lí-
deres africanos, em São Peters-
burgo, para culpar as sanções
do Ocidente, em vez da inva-
são russa à Ucrânia, pela infla-
ção e a escassez de grãos.
PRESSÃO. Em agosto, os Brics
(Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul) se reúnem em
Johannesburgo para incluir 19
novos membros e discutir
uma moeda comum. Ambos
os tópicos são trunfos para a
China, a primeira a propor o
aumento do clube e uma alter-
nativa ao dólar americano.
Além da preocupação com
a influência da China, o G-7 es-
tá preocupado com a Rússia e
suas operações de desinforma-
ção e influência anti-Ocidente
AFP
— termo que Nova Délhi evita
usar — e sobre o território dis-
putada da Caxemira.
A Índia há muito tempo ten-
ta equilibrar seu laços com a
Rússia e o Ocidente. Durante a
Guerra Fria, mostrou relutân-
cia em aliar-se à União Soviéti-
ca. Mas, embora desde então a
Índia tenha cultivado relações
mais próximas com os EUA,
Moscou continua como uma
parceiro de confiança, um for-
necedor-chave de energia e
fonte da maior parte do arma-
mento militar indiano.
Além dos encontros deste
sábado, Zelenski deve se reu-
nir hoje com o presidente
americano, Joe Biden, e o pri-
meiro-ministro japonês, Fu-
mio Kishida.
no chamado “Sul Global”.
A UE tem um plano de
ação para fortalecer as rela-
ções com quatro países: Bra-
sil, Nigéria, Casaquistão e
Chile. Mas a tarefa é árdua,
Tentativas do Ocidente
Americanos e europeus
querem oferecer melhores
relações e projetos para
atrair países pobres
especialmente na América La-
tina, onde os EUA estão per-
dendo espaço.
Por isso, o Brasil tornou-se
um termômetro, ainda mais
quando o presidente Luiz Iná-
cio Lula da Silva busca se rea-
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
LULA PRESSIONADO. O presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva
decidiu negociar o encontro
com o presidente da Ucrânia,
Volodmir Zelenski, após pres-
são das 7 principais democra-
cias desenvolvidas do mundo
reunidas na cúpula do G-7 em
Hiroshima, no Japão. Lula está
cada vez mais emparedado pe-
los países-membros do G-7.
A presença inesperada do
presidente da Ucrânia, Volod-
mir Zelenski, constrange o pe-
tista a aceitar o pedido por uma
reunião bilateral, a que ele resis-
te. Hoje, no último dia da cúpu-
la, Lula tem uma agenda cheia,
com seis reuniões marcadas, en-
Esquiva
Lula tem sofrido pressão
dos países do G-7 para que
se encontre com Zelenski
durante a cúpula
tre chefes de governo e empre-
sários, para além da visita dos
chefes de governo ao Parque
Memorial da Paz e da sessão
conjunta “Rumo a um mundo
pacífico, estável e próspero”.
Lula escolheu participar do
G-7 ao ter a garantia de que te-
ria uma participação relevante
no encontro, não apenas em
painéis secundários, e após ter
a convicção de que conseguiria
se equilibrar na pauta da guer-
ra na Ucrânia, sem ser pressio-
nado a assinar qualquer decla-
ração com tom crítico à Rússia.
Embora o comunicado con-
junto endossado pelo País fo-
que em segurança alimentar e
evite endurecer contra Mos-
cou, como queria o presiden-
te, o espaço para Lula sair ileso
do G-7 está cada vez menor.
Ao trazerem Zelenski de sur-
presa para a cúpula, os organi-
zadores – abertamente pró-
Ucrânia – criaram uma saia jus-
ta diplomática para quem en-
tende ser preciso adotar neu-
tralidade no conflito, como
Brasil, Índia e Indonésia. Uma
verdadeira armadilha.
O Brasil tenta adotar uma
postura neutra no conflito no
Leste Europeu. l COM AFP, AP e THE
NEW YORK TIMES
firmar como um estadista glo-
bal. A UE buscará relançar
uma parceria estratégica com
o Brasil, concluir um acordo
comercial com o Mercosul e
fortalecer a cooperação em se-
gurança e defesa.
Os EUA anunciaram US$
500 milhões para o Brasil pro-
teger a Amazônia e o chance-
ler alemão, Olaf Scholz, que
defende um mundo multipo-
lar, visitou Brasília este ano –
e pretende se reunir com mi-
nistros de Lula até dezembro.
Ele quer que a UE feche acor-
dos que reflitam melhor a
ideia de que a Europa não ape-
nas importará matérias-pri-
mas, mas apoiará passos den-
tro da cadeia de valor agrega-
do. BLOOMBERG l
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO INTERNACIONAL A15

Lourival Sant’Anna carta@lourivalsantanna.com

O apoio europeu à Ucrânia

nne Frank, morta aos 16 mo guerra contra o nazismo. A pa. A extrema direita moderou também da democracia e liber- empresa aporta 1 euro para ca-

A anos em um campo de
concentração na Alema-
nha, após passar dois
anos em um esconderijo em
Amsterdã, é um ícone do hor-
ror nazista. A fachada da escola
onde ela estudou, que leva seu
nome, em Amsterdã, foi pinta-
da de azul e amarelo, cores ucra-
nianas, presentes em inúmeros
prédios em toda a Europa.
No início da guerra, o artista
italiano AleXsandro Palombo
retratou a garota judia em Mi-
lão vestida de azul e amarelo,
exibindo um cartaz com o “Z”
usado pelas tropas russas, rees-
tilizado como a suástica nazis-
ta. Vladimir Putin tentou justi-
ficar a invasão da Ucrânia co-
Alemanha foi o único país a in-
vadir a Rússia nos dois últimos
séculos – em 1941, quando
Adolf Hitler traiu um pacto fir-
mado com Josef Stalin, de divi-
direm a Polônia entre si. A pro-
paganda russa não convence
os europeus.
UNIDADE. Em vários prédios de
Amsterdã, de onde escrevo, a
bandeira ucraniana figura ao la-
do da multicolor do orgulho
gay. A Ucrânia tem tradição
conservadora como a Rússia,
mas a homofobia, assim como
a corrupção, deixaram de ser
socialmente aceitas no país.
A Ucrânia se tornou mais eu-
ropeia e a guerra uniu a Euro-
o discurso e se moveu do nati-
vismo para o eurocentrismo.
Isso contraria o objetivo geo-
político de Putin de dividir a
A Holanda sabe que
apaziguar um país
expansionista é um
erro que ninguém
quer repetir
Europa, mas confirma sua re-
tórica contra um Ocidente que
ameaçaria os supostos valores
morais russos.
Muitos europeus defendem
a Ucrânia em nome não apenas
da integridade territorial, mas
dades individuais. A partir de
2012, em meio a protestos con-
tra sua perpetuação no poder,
Putin adotou uma agenda con-
servadora e aprovou leis contra
os direitos dos homossexuais.
Foi nesse contexto que Jair
Bolsonaro visitou o autocrata
russo, oito dias antes da inva-
são, e disse que ambos tinham
“valores em comum: Deus e a
família”. Em seguida, foi ter
com Viktor Orbán, que impôs
a mesma agenda na Hungria.
Ao abrir o aplicativo da Uber
em Amsterdã e em 80 cidades
de 16 países europeus, o usuá-
rio tem a opção de pagar 1 euro
a mais, destinado à compra de
ambulâncias para a Ucrânia. A
da euro arrecadado. Em janei-
ro, o CEO da Uber, o iraniano
Dara Khosrowshahi, foi a Kiev
entregar 3 milhões de euros.
Praticamente todas as empre-
sas europeias saíram da Rússia.
A Alemanha nazista levou
apenas cinco dias para ocupar a
Holanda, em 1940. Os holande-
ses, como a maioria dos euro-
peus, estão pagando pela guer-
ra, na forma de ajuda à Ucrânia
e inflação. Eles conhecem o pre-
ço de ignorar ou tentar apazi-
guar uma potência expansionis-
ta e não pretendem repetir esse
erro. l
É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA
DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

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AFP
Guerra na Ucrânia Equador em crise
Líder do Grupo Wagner diz ter tomado Bakhmut Lasso diz que não concorrerá à Presidência
O chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, afirmou O presidente do Equador, Guillermo Lasso, não estará
ontem que suas forças assumiram o controle da cidade de nas próximas eleições convocadas por ele mesmo após dissol-
Bakhmut após a batalha mais longa da guerra entre Rússia e ver a Assembleia para evitar um impeachment. Ele é reprovado
Ucrânia. Kiev nega e afirma que os combates continuam. Em por 80% da população. “O fundamental era dar uma saída para
um vídeo postado no Telegram, o chefe do Grupo Wagner a crise”, afirmou o líder ao The Washington Post. Lasso também
afirmou que a cidade ficou sob controle total da Rússia. disse “não se preocupar” com quem ocupará a sua cadeira. l
A16
METRÓPOLE
Educação
Sete em cada dez cidades ignoram lei
que combate o racismo nas escolas
Legislação de 2003 que obriga ensino de história e cultura africana e afro-brasileira
é cumprida por apenas 29% das secretarias municipais de Educação, aponta estudo
SOFIA LUNGUI
ESPECIAL PARA O ESTADÃO
Garantir ampla diversidade ét-
nico-racial e a inclusão do po-
vo negro nas escolas são anti-
gos desafios na educação bási-
ca brasileira. Apesar de serem
maioria no País, representan-
do 56% da população, segundo
o Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE), as
pessoas negras ainda têm obs-
táculos para ocupar espaços
no ambiente escolar e concluir
os estudos de forma bem-suce-
dida. Esse problema passa pe-
lo descumprimento da Lei
10.639/03, que obriga o ensino
de história e cultura africana e
afro-brasileira nas escolas.
Promulgada há 20 anos, em
2003, até hoje a lei tem sido
negligenciada por diversos mu-
nicípios. Pesquisa dos Institu-
tos Alana e Geledés mostrou
que sete em cada dez secreta-
rias municipais de Educação
realizam pouca ou nenhuma
ação para implementar a legis-
lação, que busca fomentar a
educação antirracista nas esco-
las; só 29% delas têm ações
consistentes e perenes para ga-
rantir a implementação da lei.
Embora esteja ligada a ques-
tões de currículo, segundo es-
pecialistas, a Lei 10.639 repre-
sentou um momento impor-
tante para a educação no País,
de valorização da cultura afro-
brasileira e de maior reflexão
sobre a inclusão. A partir dela,
a gestão pública e as institui-
 
ções de ensino passaram a ver
o ambiente escolar como espa-
ço de combate ao racismo e de
conscientização. “Quando te-
mos um imaginário sobre a im-
portância do povo negro na
construção social, econômica
e política do Brasil, a gente pas-
sa a valorizar mais a nossa cul-
tura e a nossa história. A lei é
uma ferramenta crucial para o
desenvolvimento de políticas
públicas mais democráticas”,
diz Beatriz Benedito, analista
de políticas públicas do Institu-
to Alana.
AÇÕES CONCRETAS. Para ser
mais inclusiva, a escola precisa
valorizar o legado do povo
afro-brasileiro na sociedade e
traduzir essa proposta em
ações concretas para alunos e
docentes durante o ano intei-
ro, e não somente de maneira
pontual. É o que pensa Míg-
hian Danae, professora da Uni-
versidade da Integração da Lu-
sofonia Afro-Brasileira do câm-
pus dos Malês em São Francis-
co do Conde, na Bahia.
“Esse debate não é opcio-
nal, é obrigatório desde 2003.
Essas mudanças devem se re-
fletir no dia a dia da escola, e as
professoras e professores pre-
cisam ser capacitados para
transmitir esses conhecimen-
tos para os alunos”, afirma.
Um exemplo desse traba-
lho é realizado desde 2014 na
Escola Municipal de Educação
Infantil (Emei) Carolina Ma-
ria de Jesus, em São Paulo. To-
do ano, as crianças participam
de um projeto que visa a apre-
sentar a diversidade dos povos
que compõem o Brasil. Elas
Na Emei Carolina Maria, figuras negras são o foco de várias ações
volvendo um repertório reple-
to de referências das etnias in-
dígenas e afro-brasileiras. Que-
remos que os alunos se sintam
representados, permitindo
que construam uma imagem
positiva sobre si mesmos e so-
bre seus pares desde a infân-
cia”, diz Diego Benjamim Ne-
Conscientização
A partir da Lei 10.639,
ambiente escolar passou a
ser visto como espaço de
combate ao racismo
ves, diretor da escola e mestre
em Educação pela Universida-
EMEI CAROLINA MARIA DE JESUS
por exemplo, artistas e outras
figuras importantes no nosso
País”, afirma o educador.
A escola sempre teve o
apoio da Secretaria Municipal
de Educação de São Paulo. A
pasta realiza diversas ações, co-
mo palestras e cursos de forma-
ção para os docentes, além de
ofertar materiais com orienta-
ções específicas sobre as rela-
ções étnico-raciais.
Para João Paulo Cêpa, ge-
rente de articulação e advo-
cacy do Movimento pela Base,
a escola pública precisa do
apoio das secretarias para se
tornar mais inclusiva. “Temos
de olhar para a escola como
parte de um sistema. A secreta-
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
O que é e como colocar em
prática”, mais um material
com o intuito de orientar pro-
fessores, para que se aprofun-
dem no letramento racial e de-
senvolvam o debate nas esco-
las. O conteúdo traz referên-
cias, dicas de leitura, cursos e
webinars voltados ao tema,
com o objetivo de promover o
cumprimento da Lei 10.639.
PARTICULARES. Nas escolas
particulares, a missão da inclu-
são também deve ser algo pere-
ne e sistematizado. Segundo a
professora Míghian, é impor-
tante envolver as instituições
de ensino privadas nesse deba-
te e monitorar o cumprimento
da legislação. Por muitos anos,
a maioria dos colégios só tinha
ações isoladas sobre a questão
racial, principalmente no mês
de novembro, em alusão à
Consciência Negra – em mui-
tos casos ainda é assim.
Porém, algumas escolas já
veem a inclusão e o combate
ao racismo como elemento pri-
mordial na construção do cur-
rículo e do planejamento políti-
co pedagógico. Em 2020, teve
início uma mobilização de um
grupo de famílias em São Pau-
lo por mudanças concretas em
colégios da capital, como Vera
Cruz, Santa Cruz, Oswald de
Andrade, Escola da Vila, Graci-
nha e Equipe, entre outros. Ao
longo dos últimos anos, currí-
culos foram reformulados, do-
centes e gestores tiveram cur-
sos formativos e as institui-
ções passaram a contratar
mais profissionais indígenas,
negras e negros, além de distri-
buir bolsas para alunos perten-
 
 pesquisam etnias africanas e de Federal de São Paulo. ria tem função importante nes- centes a essas etnias, com men-
povos originários e depois Outra iniciativa nesse senti- sa estrutura, com a missão de salidade, material, transporte
    compartilham os resultados do é a distribuição na escola de fortalecer as escolas, tornando e passeios pagos pela escola.
  entre si e com a comunidade. imagens de personalidades ne- a discussão sobre relações étni- Thayla, de 14 anos, Thavily
 ! " #$ %&'  ()' Por meio de brincadeiras, jo- gras brasileiras que se destaca- co-raciais algo elementar no (12) e Thayler (11) estudam no
 
 
   gos, literatura e música, a insti- ram nas mais diversas áreas. planejamento curricular.” Colégio Oswald de Andrade e
 
      
       tuição busca conscientizar e “Cada porta das salas de aula No início de maio, o Movi- ingressaram por meio das bol-
    ! " educar os alunos. “Assim, ao tem um adesivo com foto e no- mento pela Base lançou o e- sas de estudo. O benefício pas-

"  
 #"    $% &' longo do ano, eles vão desen- me de uma escritora negra, book “Educação antirracista: sou a ser ofertado em 2022,
   ("  ) 
 *+   ,- 
 quando entraram oito estudan-
 ) +  .  tes bolsistas. Neste ano, mais
 )   )  ./
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 0 dez foram contemplados, tota-

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33 &&&'()*&+" www.usedmotos.com.br mãe das três crianças. l
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023 METRÓPOLE A17

O que o Brasil precisa para uma

escola pública de qualidade

Evento híbrido
29/5, das 9h30 às 13h Presencial para convidados
Reconstrução da Educação Museu do Ipiranga, SP

Presenças confirmadas

Tabata Amaral Priscila Cruz

Deputada federal, presidente da Frente Presidente executiva do Todos
Parlamentar Mista da Educação pela Educação

Nina da Hora Renato Feder

Cientista da computação, Secretário da Educação do
pesquisadora e ativista Estado de São Paulo

Vitor De Ângelo Rebeca Otero

Presidente do Conselho de Secretários Coordenadora do Setor de Educação
Estaduais de Educação (Consed) da Unesco no Brasil

Claudia Costin José Francisco Soares

CEO do Instituto Singularidades Professor emérito da Universidade
Federal de Minas Gerais

Jhudy dos Santos Souza Romildo Calixto

Estudante de ensino médio técnico e Professor da rede estadual de
conselheira estudantil da Fundação Lemann ensino de Minas Gerais

Lucia Cristina Cortez de

Luiz Miguel Martins Garcia
Barros Santos Presidente da União Nacional dos Dirigentes
Diretora da Escola Municipal Professor Municipais de Educação (Undime)
Waldir Garcia/Manaus-AM

Renata Cafardo Participe!

Repórter especial e colunista do Estadão Transmissão ao vivo e gratuita.

Mediação

Realização: Apoio:

Parceiros:
 DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
A18 METRÓPOLE O ESTADO DE S. PAULO

Renata Cafardo E-mail: renata.cafardo@estadao.com; Twitter: @recafardo

Adolescentes que não sabem ler

ma das consequências te rumos para a escola pública em esquema de reforço, mas de um exame internacional federal, Estados e municípios

U mais cruéis da pande-

mia é o aumento do nú-
mero de adolescentes
não alfabetizados. Diferente-
mente das crianças pequenas,
há menos tempo para corrigir a
rota e mais distrações para tirar
o aluno do caminho da educa-
ção. Um estudante que chega
ao 6.º ou até ao 9.º ano sem sa-
ber ler e escrever – se nada for
feito rapidamente – tem seus
direitos massacrados e uma vi-
da escolar fadada ao fracasso.
Todos os secretários de edu-
cação que participaram na se-
mana passada de debates do
Reconstrução da Educação,
projeto do Estadão que discu-
brasileira, mostraram grande
preocupação com o assunto.
Antes da pandemia, já se falava
em adolescentes aos 14 anos
que não compreendiam um
texto simples, mas o quadro se
agravou fortemente.
Professores que atuam nos
anos finais do ensino funda-
mental (6.º ao 9.º ano) não sa-
bem alfabetizar. As aulas para
meninos e meninas a partir
dos 11 anos são dadas pelos do-
centes chamados especialis-
tas, que se formaram em áreas
como História, Biologia, Geo-
grafia. A saída de algumas re-
des é arrumar alfabetizadores
também para os mais velhos,
nem todas têm recursos ou es-
trutura para isso.
Ensinar a ler e a escrever não
é trivial. Os resultados também
Pacto do MEC pela
alfabetização no
País terá de incluir
estudantes também
do 6.º ao 9.º ano
precários da alfabetização no
País na idade considerada corre-
ta, até o 2.º ano, indicam que
mesmo os professores de crian-
ças menores têm dificuldades.
Dados da semana passada
que o Brasil participou pela pri-
meira vez mostram o País em
uma das últimas colocações, ao
lado de Kosovo e do Irã. A pro-
va se chama Pirls (Progress in
International Reading Literacy
Study) e testou, em 2021, crian-
ças do 4.º ano. A média geral
brasileira foi baixíssima, mas a
nota de 25% delas assusta: aos 9
anos, não sabem localizar uma
informação em um texto sim-
ples, condição que não existe
entre alunos de países desen-
volvidos no teste.
O Ministério da Educação
(MEC) promete para junho
um pacto nacional pela alfabe-
tização, o que juntaria governo
para garantir que as crianças
aprendam a ler e a escrever no
Brasil. Nos moldes do pionei-
ro Ceará, é o modelo que a his-
tória mostrou que funciona,
em que os governos estaduais
ajudam as prefeituras com for-
mação de professores, mate-
rial didático, incentivos para
escolas mais vulneráveis. É im-
prescindível impedir que mais
crianças deixem de ser alfabeti-
zadas, mas um pacto não pode
deixar para trás os adolescen-
tes, que precisam da garantia
de que voltarão a aprender. l
É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ ESTADO’ E
FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE
JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

SAB. Fernando Reinach l DOM. Renata Cafardo (a cada 15 dias) e Rosely Sayão (a cada 15 dias)

l Reconstrução da Educação l Soluções

ALINE CORNELIO CARVALHO
Daniel Santos Mesmo com tantos desa-
fios, vê essa fase como mo-
mento de oportunidades?

Não se sabe como Como a janela da primeira in-

fância, essa é outra fase com
muitas conexões sinápticas,

ensinar alunos do que estão se formando poten-

cialmente e podem ser explora-
das. Mas estratégias muito efe-
tivas para isso ainda não estão

6º ao 9º ano tão bem documentadas.

E qual o papel dos pais?

Professor da USP diz que a
adolescência ainda é uma janela
de oportunidades a ser trabalhada
(LEPES), Daniel Santos. Co-
ENTREVISTA mo pesquisador dos chama-
dos anos finais do ensino fun-
damental (6.º ao 9.º ano), ele
Do Laboratório de lançou o documentário Esque-
Estudos e Pesquisas em cidos, justamente sobre a falta
de políticas e até de estudos
Economia Social, sobre como ensinar alunos e
participa do evento alunas de 11 a 14 anos. O pesqui-
Reconstrução da sador participa de um dos en-
Educação contros do projeto Reconstru-
ção da Educação, do Estadão.
Avaliações mostram pio-
RENATA CAFARDO res resultados do funda-
mental 2. Por que muitos
ssim como a ciência perdem a vontade de apren-
A já mostrou sobre a pri-
meira infância, há
der ao chegar ao 6º ano?
São múltiplos fatores. A gente
uma janela de oportunidade vê um desengajamento por
no início da adolescência que a causa da falta do sentimento
escola ignora, acredita o pro- de pertencimento, de piora de
fessor da Universidade de São algumas das competências
Paulo (USP) e coordenador do emocionais. E junta com a es-
Laboratório de Estudos e Pes- trutura organizacional no Bra-
quisas em Economia Social sil que, em grande parte das re-
Para ele, aborrecente é termo pejorativo e só ‘reforça a exclusão’
des públicas, você precisa tro-
car de prédio, de escola, quan-
do muda do 5.º para o 6.º ano.
Você muda de amigos, deixa
de ter aquela professora única
que te acompanha. Aí soma-se
que a gente não tem pedagogia
consolidada. Na faculdade de
Educação, o fundamental 2 é o
que menos tem contribuições
teóricas, investigações.
E como o momento atual, a
internet, as redes sociais,
influenciam nesse quadro?
Temos investigado muito a
questão da saúde mental nos
anos finais do ensino funda-
mental e os números são alar-
mantes. A gente segue alunos
em um município desde que as
crianças têm 10 anos de idade.
Quando chegam aos 13 anos,
20% das meninas já se corta-
ram, já se machucaram de pro-
pósito. São muito novas e com
sofrimento psíquico grande.
As redes sociais amplificam si-
tuações, é uma superexposi-
ção das pessoas, gera excesso
de cobrança, de comparação, e
nessa faixa etária em que o ado-
lescente está construindo essa
identidade é meio que bomba
de gasolina na fogueira.
O que as escolas deveriam
considerar do ponto vista
neurológico e psíquico?
As descobertas da psicologia
cognitiva mais recente mos-
tram que a aprendizagem
mais profunda, que não é me-
morizar, envolve o uso do cha-
mado sistema avaliativo, que
é muito intenso em uso de
energia. Essa energia compe-
te com a usada para regulação
emocional. Em outras pala-
vras, a prioridade é entender
o que esse corpo novo, essa
voz nova fazem.
Existe um problema global: as
famílias têm se envolvido me-
nos na aprendizagem dos fi-
lhos e a escola está mais de-
mandada. Talvez os próprios
pais tenham dificuldade de pre-
parar os filhos para um mundo
que mudou muito rápido. Mas
esse afastamento é um fator de
risco brutal. O principal fator
protetivo para facilitar essa
transição é o acompanhamen-
to da família, se interessar, tan-
to pela aprendizagem quanto
pelo desenvolvimento. O jo-
vem precisa perceber que pes-
soas estão interessadas no de-
senvolvimento dele.
O que você acha do termo
‘aborrecentes’?
É pejorativo e acaba reforçan-
do um contexto de exclusão.
Faz parte do jovem, ao cons-
truir sua identidade, questio-
nar o status quo.
Essa situação acaba refleti-
da na baixa aprendizagem
e abandono também no en-
sino médio?
Claro, a aprendizagem é cumu-
lativa. Se você tem uma base
frouxa, é muito difícil depois
conseguir ter uma boa aprendi-
zagem. A gente não sabe ensi-
nar e acaba provocando um
efeito cascata, em um ambien-
te excludente. Então, o grande
buraco é o ensino fundamen-
tal 2, ele que começa a repro-
var as pessoas. l
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Ensino superior
Federal do AP apura apologia ao nazismo
LEON FERRARI
A Universidade Federal do
Amapá (Unifap) divulgou on-
tem uma nota de repúdio, após
alunos denunciarem nas redes
sociais um professor da insti-
tuição que supostamente teria
praticado apologia ao nazis-
mo. “Informamos que já esta-
mos adotando as medidas ad-
ministrativas de competência
desta superintendência para
garantir apuração rigorosa dos
fatos informados publicamen-
te em redes sociais na noite da
última sexta-feira”, diz o comu-
nicado oficial.
No Twitter, alunos postaram
foto do professor com uma gar-
rafa d’água adesivada com um
símbolo supremacista. Segun-
do eles, tratava-se de uma aula
do curso de Enfermagem.
Denúncia no Twitter
Alunos postaram foto de
professor com garrafa
d’água adesivada com
símbolo supremacista
Na nota, a universidade não
citou o nome do professor
nem confirmou que se tratava
de uma classe do curso de En-
fermagem. O Estadão buscou
a instituição e pediu por mais
informações, mas a Unifap ape-
nas encaminhou a nota já divul-
gada. A denúncia foi repercuti-
da no perfil oficial da União Na-
cional dos Estudantes (UNE).
“É preciso que a universidade
apure com urgência. A utiliza-
ção de símbolos nazistas não é
liberdade de expressão, nazis-
mo é crime”, diz a manifesta-
ção da entidade.
No Brasil, a apologia ao na-
zismo é crime previsto na Lei
do Racismo (7.716/1989), que
prevê reclusão de 1 a 3 anos e
multa. A Unifap também mani-
festou, na nota divulgada em
seu site oficial, “total repúdio
ES descarta
dois casos de
gripe aviária
O Ministério da Saúde infor-
mou ontem que dois casos
suspeitos de gripe aviária
(H5N1) em humanos foram
descartados no Espírito
Santo. Dois outros casos su-
peitos ainda aguardam re-
sultado laboratorial.
Conforme a pasta infor-
mou ao Estadão, nenhum
dos 33 funcionários do Par-
que da Fazendinha, no Es-
pírito Santo, onde foi encon-
trada uma ave doente, tes-
tou positivo até agora. l
METRÓPOLE A19
UNIFAP
Instituição diz ter ‘total repúdio a discurso de apologia ao nazismo que, além de crime, configura atentado contra a dignidade humana’
a discursos de apologia ao na- so”, afirmou.
zismo que, além de crime, con- dos a cumprir, de acordo A reportagem levou essa in-
PUC de Campinas
figuram um atentado reconhe- com relatos ao ‘Estadão’. Na formação à assessoria da Uni-
cido contra a dignidade e os di-
suspende professor por ocasião, ministrava uma aula fap, mas não obteve retorno
reitos da pessoa humana”. “A piada sobre estupro da disciplina de Administra- ontem. O Estadão também
Universidade, como espaço ção Estratégica para estudan- buscou contato com o profes-
formativo, tem a responsabili- A Pontifícia Universidade tes do 2.º ano de Relações sor, sem sucesso.
dade de construção de uma for- Católica de Campinas (PUC- Internacionais.
mação cidadã baseada na pro- Camp) suspendeu um profes- A fala causou indignação ATAQUES NEONAZISTAS. Con-
moção e defesa de direitos.” sor acusado de comentário entre alunos, que chegaram forme mostrou o Estadão, em
Ainda segundo a universidade, em aula banalizando o estu- a se levantar e se retirar da dezembro, aumentam os ata-
qualquer denúncia envolven- pro. Geraldo Gonçalves Jú- sala. O caso foi levado para o ques de caráter neonazista em
do violação de direitos huma- nior teria dito aos estudan- centro acadêmico, que co- escolas e universidades. Os epi-
nos deve ser encaminhada à tes no dia 12 que, durante brou sindicância investigati- sódios vão de rabiscos nas pa-
Ouvidoria para que a Superin- eventual ato de violência se- va contra o docente – aberta redes até violência com uso de
tendência de Ações Afirmati- xual, se “inevitável”, a vítima pela faculdade, que repudiou armas. A escolha pelas institui-
vas e Direitos Humanos da Uni- deve “relaxar e gozar”. o ato. O professor não foi en- ções de ensino é simbólica,
fap (Supadh) possa atuar. A fala surgiu enquanto contrado, mas teria ido à sa- uma vez que elas representam
debatia com os alunos com- la pedir desculpas na quinta. espaços de disputa cultural de
EX-ALUNA. Janaina Corrêa, di- promissos universitários Em vídeo, há a mesma piada ideologias.
retora de Mulheres da UNE, de que os estudantes são obriga- feita online na pandemia. l Especialistas destacam que
26 anos, diz já ter sido aluna do é necessário esforço de educa-
professor acusado de apologia ção antinazista, com formação
ao nazismo entre 2017 e 2018, ta e homofóbico” do docente. gas que estudaram comigo crítica. Mas as escolas não po-
quando ainda cursava Enferma- A estudante se deparou com quando fazia Enfermagem e dem lidar com isso sozinhas. A
gem na Unifap – hoje, cursa a denúncia em um grupo de concluíram o curso. Uma das solução inclui também identifi-
Ciências Sociais. Ela conta que, mensagens que reúne alunos estudantes me relatou que ou- car e reprimir os infratores,
durante o período, presenciou dos vários cursos da institui- tro caso de apologia ao nazis- bem como ações para coibir
atitudes e discursos “precon- ção, antes que ela caísse nas re- mo da parte dele foi denuncia- conteúdos discriminatórios
ceituosos”, com “teor machis- des. “Fui falar com alguns cole- do para a coordenação do cur- em redes sociais. l
é aqui... lugar de gente
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 DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
A20 METRÓPOLE O ESTADO DE S. PAULO

HOJE : MANHÃ TARDE NOITE VOLUME UMIDADE SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SOL LUA:
PREVISÃO DO TEMPO
13° 27° 18°
DE CHUVA RELATIVA NOVA 19/5 16H55
14°/ 27° 15°/ 26° 15°/ 26° 14°/ 25°
0MM 27%
35% CRESCENTE 27/5 16H23
75%
CHEIA 4/6 4H43
66% NASCENTE: 6H35 MINGUANTE 10/6 16H32
POENTE: 17H30

ACIMA Tábuas das marés: Porto de Santos Capitais MÍN./MÁX. MÍN./MÁX. Mundo FUSO MÍN./MÁX. FUSO MÍN./MÁX.
VOTUPORANGA FRANCA DE 32° N
Estado de SP 17°/31°
ARACAJU 23°/29° MACEIÓ 24°/27° ASSUNÇÃO -1 17°/21° MÉXICO -3 17°/24°
14°/27° NO NE BELÉM 24°/33° MANAUS 23°/31° ATENAS 6 17°/23° MIAMI -1 24°/34°
S. J. DO RIO PRETO
RIBEIRÃO PRETO
O 20nós L 1,2m BELO HORIZONTE 12°/25° NATAL 24°/30° BARCELONA 5 15°/22° MONTEVIDÉU 0 15°/18°
ARAÇATUBA 18°/30° 28°
14°/29° BOA VISTA 23°/29° PALMAS 24°/34° BERLIM 5 14°/25° MOSCOU 6 9°/17°
17°/30° SO SE
ARARAQUARA BRASÍLIA 12°/27° PORTO ALEGRE 15°/23° BRUXELAS 5 13°/19° NOVA YORK -1 11°/25°
ADAMANTINA 12°/28° 24° HOJE S SEGUNDA, 22
SÃO CARLOS CAMPO GRANDE 18°/31° PORTO VELHO 23°/32° BUENOS AIRES 0 16°/18° PARIS 5 10°/17°
17°/29° C. DO JORDÃO 2h49 1,1 3h30 1,1
MARÍLIA 11°/27° CUIABÁ 19°/33° RECIFE 25°/28° CARACAS -1 21°/30° ROMA 5 15°/20°
PRESIDENTE PRUDENTE 12°/26° BAURU 6°/19°
19° 9h47 0,3 10h25 0,3 CURITIBA 10°/22° RIO BRANCO 23°/32° CHICAGO -3 10°/13° SANTIAGO -1 7°/13°
16°/28° 13°/27° CAMPINAS
PIRACICABA 13°/28° 16h30 1,3 17h13 1,2 FLORIANÓPOLIS 15°/24° RIO DE JANEIRO 16°/29° ESTOCOLMO 5 7°/20° SYDNEY 13 7°/17°
13°/29° S. J. DOS CAMPOS ABAIXO
OURINHOS
10°/24° DE 19° 22h39 0,5 23h23 0,6 FORTALEZA 24°/31° SALVADOR 24°/29° GENEBRA 5 5°/15° TEL-AVIV 6 16°/29°
13°/26°
ITAPETININGA GOIÂNIA 14°/29° SÃO LUÍS 24°/31° JOHANNESBURGO 5 10°/21° TÓQUIO 12 20°/24°
SÃO PAULO
13°/25° SOROCABA 13°/27° UBATUBA TERÇA, 23 QUARTA, 24 JOÃO PESSOA 24°/30° TERESINA 25°/32° LIMA -2 20°/21° TORONTO -1 10°/20°
13°/26° 17°/27° 4h12 1,1 0h06 0,6
Dia ensolarado com poucas GUARUJÁ MACAPÁ 24°/31° VITÓRIA 19°/26° LISBOA 4 11°/26° WASHINGTON -1 11°/24°
ITAPEVA 17°/27° 11h02 0,3 4h53 1,1
nuvens. As temperaturas devem SANTOS LONDRES 4 7°/17°
11°/24° 17°/27° 17h55 1,2 11h38 0,3 Receba
Confirapor SMS a previsão
a previsão para os próximos
ser baixas ao longo de todo o dia. IGUAPE LOS ANGELES -4 18°/27°
CANANEIA 15°/24° 18h37 1,1 dodias:
tempo de onde você está
www.estadao.com.br/clima-
e-tempo/sp-sao-paulo
www.estadao.com.br/sms MADRID 5 9°/20°
16°/24°

SÃO PAULO RECLAMA HÁ UM SÉCULO

Religião

Vaticano reconhece Leitor relata dificuldade

para pagar plano de saúde

Reclamação de José de
Futebol

Portugueza vs Palestra (1-1) -

Foi um merecido empate o re-

‘virtudes heroicas’ e Campos Salles Neto: “Sou

assinante do jornal e gosta-
ria de fazer uma queixa so-
sultado do jogo de hontem.
Apesar do Palestra ter jogado
melhor do que nos ultimos

surfista pode virar santo

bre o plano de saúde Brades- tempos, atacando muito, a Por-
co. Não estou conseguindo tugeza offereceu-lhe não só re-
pagar dois boletos do plano sistencia extraordinaria, como
de saúde. Um veio com de- ainda lhe deu muito trabalho á
FABIO MOTTA/ESTADÃO-4/5/2018
feito, não possibilitando o defesa. O encontro foi muito
Morto em 2009, o pagamento, e o outro não movimentado, revelando am-
carioca Guido foi enviado. Já entrei em bos os quadros sensiveis pro-
contato, mas até o momen- gressos sobre os ultimos jogos
Schäffer recebeu título to sem retorno. Tenho uns em que figuraram. O quadro da
de venerável, dez protocolos solicitando Portugueza, notadamente, es-
concedido a quem pode o envio do boleto. Sempre tá bastante forte. No segundo
ser canonizado me dizem que vão enviar tempo coube ao Palestra mar-
em cinco dias úteis e não en- car o primeiro ponto do dia.
viam. Por duas vezes, eu so- No fim do jogo a Portugueza
GILBERTO AMENDOLA licitei via ouvidoria e tam- conseguiu o ponto de empate.
Médico e seminarista, Schäffer morreu enquanto surfava no Rio bém não recebi. Tenho uma
O Vaticano proclamou, on- cirurgia para autorização e
tem, o reconhecimento das não consigo resolver a pen-
“virtudes heroicas” do médi- médica na Santa Casa, de 1999 túmulo no Cemitério São dência.”
co, seminarista e surfista cario- a 2001. Cursou Filosofia (2002 João Batista, em Botafogo,
ca Guido Vidal França Schäf- a 2004) e Teologia (2006 e é visitado por romeiros. Resposta: “A Bradesco Saú-
fer. Essa é considerada uma 2007) no Instituto de Filosofia de informa que contatou o
etapa importante no processo e Teologia do Mosteiro de São MÁRTIR ITALIANO. O decre- beneficiário para prestar os
de beatificação do brasileiro. Bento, no Rio. to do Vaticano reconheceu esclarecimentos, sendo re-
Com a promulgação do Decre- Em 2008, ingressou no Semi- também o martírio do sacer- solvida a questão.”
to do Dicastério das Causas nário São José para concluir o dote italiano Giuseppe
dos Santos, Schäffer recebeu o curso de Teologia e cumprir o Beotti durante a ocupação Como fazer uma queixa à
título canônico de venerável – período mínimo de vida no se- nazista. Ele abrigou e socor- ANS: Por meio de canais de
concedido aos que podem ser minário necessário para a orde- reu soldados em fuga, prisio- atendimento da Agência Na-
canonizados. nação sacerdotal. Nesse tem- neiros que haviam escapa- cional de Saúde Suplemen-
Para conceder o título de po todo, Schäffer organizou di- do de guerras, pessoas per- tar (ANS), o usuário de pla-
beato a uma pessoa, a Igreja Ca- versos grupos de oração e de seguidas, incluindo cerca nos de saúde ou administra-
tólica exige, entre outros requi- ajuda para pacientes com aids. de cem judeus que escon- dora de benefícios pode re-
sitos, a comprovação de um mi- Mesmo quando dava aulas de deu em casebres com a aju- gistrar uma reclamação. Pa- CORREÇÕES
lagre relacionado ao candida- surfe (ou simplesmente prati- da de seus paroquianos. ra mais informações, ligue
to. Essa condição só é dispen- cava), iniciava o treinamento Diante do perigo de pri- para o Disque ANS 0800
sada em caso de martírio. O pe- com uma oração. sões e represálias nazistas, 7019656, de segunda a sex- Este espaço se destina à correção de erros
publicados na edição impressa do ESTADÃO.
dido para a canonização de Em 1.º de maio de 2009, ano ele não fugiu, mas seguiu co- ta-feira, das 8h às 20h. O ca- Você pode colaborar enviando e-mail para
Schäffer foi feito em maio de em que concluiria o seminário, mo um ponto de referência nal de atendimento a defi- correcoes@estadao.com. As correções abran-
gem erros como: de informação, nome, cargo,
2014 pela Arquidiocese do Rio. foi à praia da Barra da Tijuca em sua igreja em Sidolo, na cientes auditivos é 0800 dados numéricos, entre outros.
Schäffer morava em Copaca- para surfar e comemorar com província de Parma, assí- 0212105. l
bana (zona sul do Rio) e era amigos o casamento de um de- duo nas orações. Foi preso e
médico, seminarista e surfista. les, marcado para o dia seguin- fuzilado em 20 de julho de Teve algum direito como cidadão
LOTERIA
ou consumidor desrespeitado? O
Havia cursado Medicina na Fa- te. A prancha acabou atingin- 1944 em Sidolo, juntamente blog Seus Direitos pode ajudar.
Envie suas reclamações, com os
culdade Técnica Educacional do a nuca de Schäffer, que mor- com um padre e um semina- devidos documentos, dados pes- Para ver os resultados, aponte a câma-
Souza Marques, de 1993 a 1998, reu. Depois disso, ele começou rista que haviam se refugia- soais e contatos, além do nome
dos envolvidos na questão, para o
ra do seu celular para o QR Code ou
acesse: https://loterias. esta-
e fez residência em clínica a ter fama de milagreiro. Seu do na igreja com ele. l spreclama@estadao.com dao.com.br/mega-sena.

Para publicar anúncio fúnebre: Balcão Limão l (11) 3856-2139 / (11) 3815-3523 / WHATSAPP (11)99123-8351. l Atendimento de 2ª a 6ª das 8h30 às 21h horas, Sábado das 10h às 20h, Domingo das 14h às 20h l Só serão publicadas notícias de falecimen-
FALECIMENTOS to/missa encaminhadas pelo e-mail falecimentos@estadao.com, com nome do remetente, endereço, rg e telefone.

Maria Alves Dirscherl – Dia 17, aos 87 Era solteira. Deixa parentes e amigos. Cemitério e Crematório Primaveras. Paulo Matsuzaki – Aos 80 anos. Deixa e parentes. O enterro foi realizado no
anos. Era viúva de João Luiz Dirscherl. O enterro foi realizado no Cemitério José Batista de Oliveira – Dia 17, aos os filhos Claudio, Rogerio, parentes e Cemitério e Crematório Primaveras.
Deixa os filhos Leandro, Edimilson, Ka- Municipal de Barretos. 88 anos. Era casado com Maria Apare- amigos. O enterro foi realizado no Ce- MISSAS
rina, parentes e amigos. O enterro foi Rossana Rossini Casares – Dia 16, cida de Oliveira. Deixa os filhos Danilo, mitério e Crematório Primaveras. Célio José de Oliveira Martins –
realizado no Cemitério e Crematório aos 69 anos. Era casada com João Car- Sueli, Daniel, parentes e amigos. O en- Anterio Martins da Silva – Aos 63 Amanhã, às 12h30, na Paróquia São Pe-
Primaveras. los Casares. Deixa os filhos Felipe, Pau- terro foi realizado no Cemitério e Cre- anos. Era solteiro. Deixa os filhos Ja- dro São Paulo, na R. Circular do Bos-
Marisa Barbar Cassim – Aos 75 anos. la e parentes. O enterro foi realizado no matório Primaveras. queline, Anterio, Gustavo, Guilherme que, 3, Jardim Guedala (7º dia).
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Pesquisa
Estudo brasileiro
liga célula de defesa
ao ganho de peso
Pesquisadores da
Unicamp chegaram a
achado que pode ser
chave para
compreender avanço
da obesidade
ANDRÉ JULIÃO
Um tipo de célula de defesa
que está em todo o corpo, mas
em baixas quantidades, pode
ser uma chave para compreen-
SOMENTE ONLINE
APONTE A CÂMERA DO SEU CELULAR
PARA O CÓDIGO E ACESSE AGORA.
OMS faz crítica ao uso de adoçante; Anvisa monitora
Na semana passada, passou a
vigorar nova diretriz da Orga-
nização Mundial da Saúde
(OMS) para evitar a utilização
de adoçante no lugar do açúcar
em bebidas e alimentos para
tentar emagrecer ou evitar de-
der como se desenvolvem a
obesidade e as lesões no fígado
causadas por excesso de medi-
camentos ou pelo acúmulo de
gordura no órgão.
Em estudo divulgado na re-
vista Cell Reports, um grupo li-
derado por pesquisadores da
Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) mos-
trou que um tipo de linfócito
T, conhecido pela sigla iNKT,
contribui para regular a obesi-
dade e está envolvido nas le-
sões hepáticas.
FACEBOOK.COM/SODRESANTORO INSTAGRAM.COM/SODRESANTORO
senvolver diabete. Os adoçan-
tes artificiais devem ser utiliza-
dos apenas por quem já tem
diabete e em quantidades míni-
mas. A Agência Nacional de Vi-
gilância Sanitária (Anvisa),
que define as regras sanitárias
“Essa célula está em vários
órgãos, mas no tecido adiposo
parece ter uma função regula-
tória, que ajuda a controlar a
obesidade. Enquanto no baço
e no fígado está envolvida no
controle da inflamação. Agora,
conseguimos entender me-
lhor como isso ocorre”, diz
Cristhiane Favero Aguiar, pri-
meira autora do estudo e bol-
sista de pós-doutorado da Fa-
pesp no Instituto de Biologia
(IB) da Unicamp.
ANÁLISE. “As iNKT ocorrem
numa frequência muito baixa,
menos de 1% dos nossos leu-
cócitos circulantes. No entan-
to, elas respondem de forma
rápida e intensa a patógenos
ou a moléculas que deman-
dam resposta e por isso têm
um papel anti-inflamatório im-
portante”, afirma Pedro Mo-
raes-Vieira, professor do IB-
Unicamp.
SOLUÇÕES
PARA O SEU NEGÓCIO
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no Brasil, informou que acom-
panha as discussões.
Com base em uma série de
estudos sobre adoçantes artifi-
ciais, a OMS diz que não há in-
dício de que a substituição do
açúcar pelo adoçante colabore
O pesquisador explica que,
até então, era sabido que, con-
forme se fica obeso, a quantida-
de dessas células diminui. Po-
rém, como isso ocorria ainda
era um mistério. O grupo en-
tão usou a técnica de transcrip-
toma, que mostra tudo o que é
expresso em determinado teci-
Públicação internacional
INKT contribui para
regular a obesidade e está
envolvido nas lesões
hepáticas
do ou célula. Com isso, encon-
trou diferentes genes nas
iNKT do tecido adiposo, do ba-
ço e do fígado que poderiam
ter um papel importante na
sua função.
Em experimentos com ca-
mundongos, os pesquisadores
observaram que as iNKT en-
DIVERSAS EMPILHADEIRAS
NOS LEILÕES DE MATERIAIS
OPORTUNIDADES INCRÍVEIS
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para o emagrecimento ou para
evitar o desenvolvimento de
doença.
RÓTULO. “É consenso mundial
que manter uma alimentação
saudável ao longo da vida pro-
tege contra a má nutrição, mas
também contra outras doen-
ças crônicas não transmissí-
METRÓPOLE A21
contradas no fígado e no baço
são parecidas do ponto de vis-
ta metabólico, dependendo de
glicose para serem ativadas.
Ao desativar, nas iNKT encon-
tradas nesses órgãos, o gene
Pkm2, ligado à produção de gli-
cose, elas tiveram prejudicada
a capacidade de mitigar uma
lesão aguda no fígado.
Por outro lado, as mesmas
células encontradas no tecido
adiposo dependem de outro
gene, o AMPK, para cumprir
sua função. Quando o gene foi
desativado, impedindo a pro-
dução da proteína ligada ao
metabolismo de lipídios, as cé-
lulas perderam capacidade de
manter o funcionamento em
equilíbrio. Os resultados suge-
rem que o microambiente em
torno das células influencia o
perfil imunometabólico das
iNKT, o que pode ter conse-
quências diretas para a sua fun-
cionalidade. l AGÊNCIA FAPESP
Imagem meramente ilustrativa.
Informações: 11 2464-6464.
veis”, afirmou a agência brasi-
leira. E acrescentou que “as no-
vas regras de rotulagem nutri-
cional publicadas pela Anvisa
trouxeram um novo recurso in-
formativo (rotulagem frontal)
para o consumidor”. “Isso per-
mite a identificação de alimen-
tos com alta quantidade de açú-
cares adicionados.” l
A22
ESPORTES
Na Europa
Lei que regula apostas na
Inglaterra passará por revisão
Consulta pública quer incluir a realidade dos games online; Premier
League vai proibir patrocínios de casas de apostas a partir de 2026
MURILLO CÉSAR ALVES
A partir de 2027, a Premier Lea-
gue, principal competição na-
cional do Reino Unido e uma
das mais badaladas da Europa,
deixará de ter casas de apostas
como patrocinadores nas ca-
misas dos clubes. Em acordo
inédito, os times do país se
prontificaram a não assinar ou
renovar seus contratos com as
plataformas online de apostas,
as Bets. O movimento reflete
como a Inglaterra passou a en-
xergar as apostas e seu envolvi-
mento no esporte.
A lei que regulamenta as
apostas e jogos de azar no Rei-
no Unido, aprovada em 2005,
proíbe que atletas e técnicos
participem de apostas esporti-
vas. A medida passará por uma
reavaliação e consulta pública
nos próximos anos para in-
cluir a realidade dos jogos onli-
ne, mas já é possível traçar pa-
ralelos com o Brasil.
Na última semana, a Medida
Provisória que altera a Lei
13.756, sancionada em 2018 pe-
lo então presidente Michel Te-
mer, proíbe que dirigentes, téc-
nicos, árbitros e jogadores de
futebol realizem apostas no
Brasil. No Reino Unido, o deba-
te sobre as apostas esportivas
é visto como uma questão de
saúde pública também, em
meio ao aumento dos casos de
dependência no país.
Das 20 equipes que estão na
disputa do Campeonato In-
glês, 18 votaram a favor para o
término dos patrocínios de ca-
Campeonato Inglês
Arsenal perde, e Manchester City
conquista o tri por antecipação
NOTTINGHAM
O Manchester City continua
soberano no Campeonato In-
glês. Pela terceira vez consecu-
tiva e a quinta nos últimos seis
anos, o time do técnico Pep
Guardiola se tornou campeão.
Mesmo sem entrar em campo,
ontem, o clube garantiu o tro-
féu da temporada 2022/2023
com a derrota do Arsenal para
sas de apostas no futebol. Hou-
ve duas abstenções. Newcas-
tle, Fulham, West Ham, Bour-
nemouth, Brentford, Sou-
thampton e Everton são os clu-
bes que, nesta temporada, es-
tampam marcas em seus uni-
formes da primeira divisão.
A Premier League é a primei-
ra competição nacional que,
por decisão dos próprios clu-
bes, tomou essa medida de ti-
rar as Bets do futebol. O Cam-
peonato Espanhol e o Campeo-
nato Italiano possuem legisla-
ções similares por causa do go-
verno de seus respectivos paí-
ses. No entanto, essa medida
adotada pelos clubes ingleses
a partir de 2026/27 não signifi-
cará, neste primeiro momen-
to, o fim do acordo com as ca-
sas de apostas.
Semelhante à realidade bra-
sileira, 19 dos 20 clubes da Pre-
mier League possuíam algum
acordo comercial com casas
de apostas, seja para estampar
suas marcas na camisa, nas pla-
cas de publicidade no estádio
ou até em publicações nas re-
des sociais oficiais das equi-
pes. A única exceção em
2021/2022 foi o Norwich, que
disputa a segunda divisão do
Campeonato Inglês.
Com a revisão da Acting Law
(lei de atuação), o patrocínio
de casas de apostas pode ser
regulado com o governo, seme-
lhante a outros países da Euro-
pa. No Reino Unido, só a Pre-
mier League aboliu as marcas
das camisas; o Campeonato Es-
cocês, por exemplo, segue sem
uma regulação específica.
o Nottingham Forest por 1 a 0.
É a sétima conquista nacio-
nal na história do City. A equi-
pe ainda pode fechar essa tem-
porada com mais duas taças.
Além de um possível título
inédito da Liga dos Campeões
– encara a Internazionale no
dia 10 de junho –, o time de
Guardiola disputa uma sema-
na antes a decisão da Copa da
Inglaterra contra o arquirrival
Manchester United, dia 3.
Grêmio demite preparador
de goleiros condenado com
Cuca em caso na Suíça
Toney, do Brentford, foi suspenso por infringir regras na Inglaterra
VÍCIO E VALORES. James Gri-
mes, de 33 anos, é o fundador
do The Big Step, cuja finalida-
de é promover debates para o
fim dos patrocínios de casas
de apostas no futebol inglês.
Ao Estadão, ele revela que pas-
sou a enxergar como uma ques-
tão de saúde pública após um
caso pessoal: 12 anos com vício
em apostas, que começou na
juventude.
A legislação britânica proíbe
que menores de idade apos-
tem ou joguem em cassinos,
mas, segundo Grimes, esses pa-
trocínios e o discurso, presen-
te no futebol inglês, torna es-
sas casas atrativas aos jovens.
“O Tottenham, meu time de
coração, e a seleção inglesa di-
vulgavam apostas esportivas.
JON SUPER/AP
Torcedores do City comemoram
o título com totem de Guardiola
ANDREW BOYERS /REUTERS
“O fim do patrocínio
nas camisas é um
começo, mas não é o
suficiente. Não há
nenhuma preocupação
com a comunidade e a
lisura do esporte”
James Grumes, do ‘The Big Step’
Os jogos da Premier League ti-
nham patrocínios de jogos de
azar. Fui puxado para esse
mundo, que acreditava não ter
riscos à saúde”, conta.
Atualmente, a campanha
conta com o apoio de 30 clu-
bes ingleses. “Tentamos con-
versar com todos os clubes
que possuem patrocinadores
Líder em 29 das 38 roda-
das, o Arsenal sentiu a pres-
são e tropeçou em seis dos
últimos oito jogos, abrindo
caminho para o título do
City, que chegou a fazer 4 a 1
no confronto direto. Com a
confirmação da conquista
antecipada, o time de Guar-
diola vai celebrar diante do
seu torcedor hoje, às 12h,
quando enfrenta o Chelsea.
O gol que garantiu o City
como campeão saiu ainda
no primeiro tempo. Ode-
gaard errou passe no meio
de campo e Gibbs-White pu-
xou contra-ataque. O meia
passou para Taiwo Awo-
niyi, que finalizou para supe-
rar o goleiro Ramsdale. l
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
do tipo”, revela. A ideia do pro-
jeto, iniciado em 2019, é de que
o futebol no Reino Unido não
divulgue casas de apostas.
“O fim do patrocínio nas ca-
misas é um começo, mas não é
o suficiente”, aponta Grimes.
No contato com os clubes, ele
aponta que há uma resistência
para encerrar patrocínios que,
na visão financeira, são muito
rentáveis. Cerca de 70 milhões
de libras (cerca de R$ 420 mi-
lhões) foram arrecadadas na
última temporada, entre to-
dos os clubes, com os acordos
de jogos de azar.
“Os clubes ingleses pensam
a curto prazo. ‘Vamos trazer o
máximo de dinheiro possível,
porque esse dinheiro pode ser
capaz de contratar um jogador
e isso nos mantém sem a pres-
são dos torcedores”, afirma
Grimes. “Não há nenhuma
preocupação com a comunida-
de e a lisura do esporte.”
ENVOLVIMENTO DE ATLETAS. A
lei que proíbe os atletas de
apostarem na Inglaterra não é
infalível. Kieran Trippier, en-
tão no Atlético de Madrid e ho-
je jogador do Newcastle, foi
considerado culpado em de-
zembro de 2020 por violar o
código de conduta e foi excluí-
do de todas as atividades rela-
cionadas ao futebol por um
prazo de dez semanas.
No futebol inglês, na última
semana, Ivan Toney, atacante
do Brentford que tem 20 gols
na atual temporada da Premie-
re League, se declarou culpado
por apostar em eventos espor-
tivos. Na quarta-feira, a Fede-
ração Inglesa puniu o jogador,
que ficará oito meses fora dos
gramados e terá de pagar mul-
ta de 50 mil libras (R$ 308 mil)
por infringir 262 vezes as re-
gras impostas para controlar
as apostas no país.
Em outros casos do país, as
punições chegaram a até um
ano e meio de gancho. Joey Bar-
ton, por exemplo, recebeu 18
meses de suspensão na reta fi-
nal de sua carreira ao declarar
ter realizado mais de mil apos-
tas entre 2006 e 2013. l
O MELHOR DA TV
TÊNIS
l ATP 1000 de Roma
11h / ESPN 2
FUTEBOL
l Campeonato Inglês
Manchester City x Chelsea
12h / ESPN
l Campeonato Brasileiro
Flamengo x Corinthians
16h / Globo e Premiere
Grêmio x Internacional
18h30 / SporTV e Premiere
l Série B
Ponte Preta x Guarani
18h / Band
BASQUETE
l NBA
Miami Heat x Boston Celtics
21h30 / Band, TNT e SporTV
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO ESPORTES A23

RODRIGO COCA/ AG. CORINTHIANS

Campeonato Brasileiro
CLASSIFICAÇÃO

Corinthians 1
2
Botafogo
Palmeiras
PG
18
15
J
7
7
V
6
4
E
0
2
D SG
1 8
0 10

tenta voltar a
3 Fluminense 13 7 4 1 2 6
4 Atlético-MG 13 7 4 1 2 5
5 Cruzeiro 12 6 4 0 2 6
6 Athletico-PR 12 7 4 0 3 1
7 São Paulo 12 7 3 3 1 6

vencer um jogo 8
9
10
11
Santos
Fortaleza
RB Bragantino
Flamengo
11
10
10
9
7
7
7
6
3
2
2
3
1
4
4
0
2 3
1 4
1 0
3 3

após 25 dias 12
13
14
15
Grêmio
Bahia
Internacional
Goiás
8
7
7
7
6
7
6
7
2
2
2
2
2
1
1
1
2 -2
4 -3
3 -4
4 -7
16 Vasco 6 7 1 3 3 -3
Desafio é o Flamengo, ta para o Independiente del 17 Corinthians 5 6 1 2 3 -5
Valle, pela Libertadores, dias 18 Cuiabá 4 6 1 1 4 -7
no Maracanã. Última 19 América-MG 4 7 1 1 5 -11
depois.
vitória foi contra o O time segue mostrando
20 Coritiba 2 7 0 2 5 -10

Remo, em 26 de abril. muita fraqueza. Pelo Campeo- l Libertadores l Sul-Americana l Rebaixamento

Sequência ruim já
dura seis partidas
MURILLO CÉSAR ALVES
A torcida do Corinthians não
comemora uma vitória sequer
desde a noite de 26 de abril,
quando o time conseguiu uma
suada classificação para as oita-
vas de final da Copa do Brasil
após bater o Remo, que dispu-
ta a Série C, nos pênaltis na
nato Brasileiro, a equipe, que
está na zona do rebaixamento, 7ª RODADA
só venceu o jogo de estreia, ONTEM
contra o Cruzeiro. Além do re- Bahia 1 x 1 Goiás
sultado, a equipe não conse- RB Bragantino 2 x 0 Athletico-PR
gue ter seu melhor desempe- São Paulo 4 x 2 Vasco
Coritiba 1 x 2 Atlético-MG
nho em campo. Nas duas últi-
América-MG 2 x 1 Fortaleza
mas partidas, contra São Pau- Botafogo 1 x 0 Fluminense
lo, pelo Brasileirão, e Atlético- Em cinco jogos, Luxemburgo tem dois empates e três derrotas Santos 0 x 0 Palmeiras
MG, pela Copa do Brasil, a HOJE
equipe foi dominada pelo ad- 16h Flamengo x Corinthians
versário, em número de finali- equipe. O calendário do Corin- 18h30 Grêmio x Internacional
zações e posse de bola. 7ª RODADA DO BRASILEIRÃO thians em maio, com três com- AMANHÃ
Em entrevista coletiva após petições – Libertadores, Copa 20h Cruzeiro x Cuiabá

Neo Química Arena. Hoje, às
16h, a equipe tenta voltar a ven-
cer após seis jogos e encara o
Flamengo, no Maracanã.
Aquele foi o segundo e últi-
mo jogo da equipe sob o co-
mando de Cuca. Antes, Fernan-
do Lázaro foi tirado do cargo
de treinador pela direção e co-
locado de volta na comissão
técnica permanente. Depois,
Danilo dirigiu o time na derro-
ta para o Palmeiras, pelo Brasi-
leirão. E Vanderlei Luxembur-
go assumiu o comando do Co-
rinthians e estreou com derro-
a derrota na Copa do Brasil, Lu-
xemburgo reconheceu a per-
formance apática da equipe,
mas considerou que há uma
evolução em andamento. “Al-
guma coisa boa aconteceu, fi-
zemos a entrada de Paulinho
como volante, jogou muito
bem como conhecedor da posi-
ção. Acho que as mudanças
que poderiam dar efeito dife-
rente não deram o efeito espe-
rado. A gente acerta e erra, faz
parte do futebol”, afirmou.
É um sinal de evolução que a
torcida corintiana espera da
FLAMENGO CORINTHIANS
FLAMENGO: Santos, Wesley, Fabrí-
cio Bruno (David Luiz), Léo Pereira e
Ayrton Lucas; Pulgar, Victor Hugo
(Vidal), Arrascaeta e Everton Ribeiro;
Everton Cebolinha (Pedro) e Gabigol.
Técnico: Jorge Sampaoli.
CORINTHIANS: Cássio, Fagner, Gil,
Murillo e Fábio Santos (Matheus
Bidu); Paulinho, Maycon e Fausto
Vera; Wésley, Róger Guedes e Yuri
Alberto. Técnico: Vanderlei Luxem-
burgo. Árbitro: Rafael Rodrigo
Klein (RS). Horário: 16h.
Local: Maracanã, no Rio.
Na TV: Globo e Premiere.
do Brasil e Brasileirão – , já indi-
cava que o caminho seria deli-
cado, ainda mais após a segun-
da troca de comando técnico
na temporada. Contra o Fla-
mengo, o time inicia uma se-
quência em que precisa dar re-
sultados a seu torcedor, ainda
mais por estar na zona da dego-
la do Brasileirão.
Nesta temporada, o retros-
pecto do Corinthians fora de
casa é longe de esperado. Qua-
tro derrotas em quatro parti-
das pelo Brasileirão; na Copa
do Brasil, derrotas para o Re-
mo e Atlético-MG, ambas por
2 a 0. O último triunfo como
visitante foi ainda em abril,
diante do Liverpool-URU.
Ataque e defesa pouco efi-
cientes expõe a equipe. Pres-
sionado, Luxemburgo tenta
lançar jovens talentos na equi-
pe para garantir sua primeira
vitória. Wesley, Murillo, Ma-
theus Araújo e Pedro ganha-
ram espaço nessa sequência
com o treinador. Renato Au-
gusto segue fora do time. l

A diferença técnica entre

Em clássico morno,
Santos e Palmeiras
empatam sem gols
RICARDO MAGATTI
O Palmeiras, dono do melhor
ataque do Brasileirão, insistiu,
sobretudo no segundo tempo,
mas não superou o Santos, ti-
me da defesa mais segura do
campeonato. O clássico na Vi-
la Belmiro, ontem, válido pela
sétima rodada, terminou em-
patado sem gols. Continua de
pé o tabu que defende a equipe
alviverde, invicta diante do ri-
val desde outubro de 2019.
O empate fora de casa deixa
o Palmeiras com 15 pontos,
mais distante do líder Botafo-
go, que abriu três na dianteira.
O Santos perdeu a chance de
emplacar a terceira vitória con-
secutiva. Tem 11 pontos e ocu-
pa posição intermediária. Os
dois, portanto, se frustraram
com o empate.
7ª RODADA DO BRASILEIRÃO
SANTOS PALMEIRAS
0 0
SANTOS: João Paulo; Gabriel
Inocêncio, Messias (Maicon), Joa-
quim e Lucas Pires (João Lucas);
Rodrigo Fernández, Dodi e Lucas
Lima (Ivonei); Ângelo (Daniel Ruiz),
Lucas Braga (Lucas Barbosa) e
Deivid Washington.
Técnico: Odair Hellmann.
PALMEIRAS: Weverton; Mayke,
Gustavo Gómez (Naves), Luan e
Piquerez; Zé Rafael, Gabriel Menino
e Raphael Veiga (Richard Ríos);
Artur (Luis Guilherme), Dudu
(Breno Lopes) e Rony (Endrick).
Técnico: João Martins (auxiliar).
Juiz: Raphael Claus (Fifa/SP).
Amarelos: Ângelo, Raphael Veiga,
Dodi e Daniel Ruiz.
Renda: R$ 658.392,50.
Público: 12.641 torcedores.
Local: Vila Belmiro.
os dois times praticamente
não existiu na Vila Belmiro.
Ainda que seja um time
pronto, ajustado, organiza-
do e superior tecnicamente
ao Santos, o Palmeiras não
dominou o rival com tem
feito nos últimos jogos. O
que se viu foram 90 minu-
tos de equilíbrio, de modo
que os dois se alternaram
no controle do jogo. Foi o
Palmeiras quem mais procu-
rou o ataque, por sua quali-
dade técnica. Contudo, não
conseguiu deixar a Baixada
com três pontos.
“Viemos em busca dos
três pontos. Não fizemos
um bom jogo, um jogo mo-
roso na posse de bola. Não
estávamos em um dia inspi-
rado. Não vamos sair daqui
felizes”, afirmou o zagueiro
Luan, do Palmeiras.
“Nos preparamos bem,
não conseguimos marcar o
gol para conseguir uma vitó-
ria, mas passamos mais um
jogo sem sofrer gols e agora
é trabalhar para dar sequên-
cia ao campeonato”, ava-
liou Joaquim, do Santos. l
São Paulo bate o Vasco
com recorde de público
Depois de três jogos longe de
casa, o São Paulo reencontrou
o seu torcedor com vitória. Em
noite de maior público do ano
no Morumbi, que recebeu
57.399 torcedores, e de ótimo
jogo, o time tricolor superou o
Vasco por 4 a 2 e consolidou a
sua reação sob o comando do
técnico Dorival Junior. O trei-
nador continua invicto (oito jo-
gos) desde que foi escolhido
para substituir Rogério Ceni.
Com três vitórias e três em-
pates nos últimos seis jogos do
Brasileirão – perdeu na estreia
para o Botafogo –, o São Paulo
se aproxima dos líderes ao al-
cançar 12 pontos. Antes sem
confiança, sobre o qual se ou-
via que brigaria para não cair, o
time do Morumbi mostra que
é possível lutar no pelotão da
frente. Onde não está o Vasco,
que, depois de seis partidas
sem vitória – o único triunfo
foi na abertura da competição
7ª RODADA DO BRASILEIRÃO
SÃO PAULO VASCO
4 2
Gols: Calleri, aos 23, Nestor, aos 41,
e Barros, aos 44 minutos do 1ºT; Ga-
larza, aos 38, Beraldo, aos 43, Juan,
aos 47 minutos do 2ºT.
SÃO PAULO: Rafael; Rafinha, Diego
Costa, Beraldo e Caio Paulista; Luan
(Wellington Rato), Gabriel (Alisson) e
Nestor (Michel Araújo); Luciano, Mar-
cos Paulo (Pablo Maia) e Calleri
(Juan). Técnico: Dorival Júnior.
VASCO: Léo Jardim; Pumita, Rob-
son, Léo e Piton; Jair, Galarza (Rodri-
go), Barros (Alex Teixeira), Gabriel
Pec (Erick Marcus) e Figueiredo (Orel-
lano); Pedro Raul (Carabajal). Técni-
co: Maurício Barbieri. Juiz: Leandro
Pedro Vuaden (RS). Amarelos: Bar-
ros, Figueiredo, Jair e Pedro Raul.
Renda: R$ 3.335.063,00.
Público: 57.399 pagantes.
Local: Morumbi.
– tem seis pontos e pode termi-
nar esta rodada na zona de re-
baixamento. RM l
A24
PARA FECHAR...
Tecnologia para o bem-estar
Idosos da Itália
recorrem a robôs
em sua rotina
Em Carpi, região inovadora do
país, encontro trouxe soluções para
manter idosos estimulados e ativos
JASON HOROWITZ
THE NEW YORK TIMES
A mulher idosa pediu para ou-
vir uma história. “Uma exce-
lente escolha”, respondeu o
pequeno robô, reclinado co-
mo um professor despreocu-
pado sobre a mesa da sala de
aula, instruindo-a a ouvir com
atenção. Ela se inclinou, a tes-
ta enrugada quase tocando a
cabeça lisa de plástico.
“Era uma vez”, começou o
robô. Ao terminar a história,
perguntou a ela qual era o traba-
lho do protagonista. “Pastor”,
Bona Poli, 85 anos, respondeu
gentilmente. O robô não ouviu
muito bem. Ela se levantou da
cadeira e falou mais alto. “Pas-
tor!” “Fantástico”, disse o robô.
“Sua memória é excelente.”
A cena pode ter o distópico
tom “o que poderia dar erra-
do?” de uma ficção científica
em um momento em que tanto
a promessa quanto os perigos
da inteligência artificial estão fi-
cando mais claros. Mas para os
cuidadores exaustos em um en-
UMA BOA HISTÓRIA
Bona Poly, 85 anos, pediu ao robô que lhe contasse uma história
contro recente em Carpi, cida-
de na região mais inovadora da
Itália para cuidados com ido-
sos, isso apontou para um futu-
ro bem-vindo e não muito dis-
tante, quando humanoides po-
dem ajudar famílias cada vez
menores a compartilhar o fardo
de manter a população mais ido-
sa do mundo ocidental estimu-
lada, ativa e saudável.
“Agache e alongue”, disse o
robô francês Nao, levantando-
se e conduzindo exercícios de
postura. “Vamos mover nossos
braços e levantá-los bem alto.”
ALESSANDRO GRASSANI /THE NEW YORK TIMES
A maioria das mulheres na sala
observava – algumas entreti-
das, outras cautelosas, mas to-
das loucas para saber como a
tecnologia poderia ajudá-las a
cuidar de seus parentes idosos.
Juntas, elas ouviram a voz cal-
ma e automatizada do robô e
ofereceram feedback do mun-
do real em um grupo focal orga-
nizado por uma equipe de advo-
cacy sem fins lucrativos que re-
presenta os cuidadores familia-
res. O objetivo era ajudar os pro-
gramadores a projetar uma
máquina mais atraente e útil
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
que um dia pudesse aliviar a
carga das famílias italianas ca-
da vez mais sobrecarregadas.
POPULAÇÃO EM CRESCIMEN-
TO. A Itália, que tem uma das
taxas de natalidade mais bai-
xas da Europa, está se prepa-
rando para um boom popula-
cional de idosos. Mais de 7 mi-
lhões dos quase 60 milhões de
italianos já têm mais de 75
anos. E 3,8 milhões não são
considerados autossuficien-
tes. Demência e doenças crôni-
cas pesam sobre o sistema de
saúde e sobre as famílias.
“A revolução”, disse Olim-
pia Pino, professora de psico-
logia da Universidade de Par-
ma, que concebeu o projeto,
seria se um “robô social pudes-
se ajudar com esses cuida-
dos”. Avanços na inteligência
artificial só tornariam os ro-
bôs mais responsivos, manten-
do os idosos autossuficientes
por mais tempo e proporcio-
nando alívio aos cuidadores.
Os robôs já estão interagin-
do com os idosos no Japão e
têm sido usados em asilos nos
Estados Unidos. Mas na Itália,
o protótipo é a mais recente
tentativa de recriar um eco da
estrutura familiar que man-
tém os italianos idosos em ca-
sa. l TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Soluções para:
• Industrias
• Bancos
• Seguradoras
38 ANOS
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Automóveis Rotas invertidas
Governo quer volta do ‘carro popular’,
mas consumidor tem optado por SUV
Modelos maiores e mais sofisticados representam quase metade das vendas de veículos
no País; fatia dos ‘carros de entrada’ caiu de 31,3%, há dez anos, para 9,3% atualmente
CLEIDE SILVA
No momento em que se discu-
te a volta dos chamados “car-
ros populares” na tentativa de
aumentar o acesso de parte da
população ao automóvel novo
e ajudar a indústria automobi-
lística na busca por recuperar
o mercado que tinha antes da
pandemia, o País tem como
campeões de venda os utilitá-
rios-esportivos. A categoria de
SUVs, como são conhecidos,
caiu no gosto dos brasileiros
com maior poder de compra e
hoje representa quase metade
dos negócios de veículos no-
vos. Todos os modelos à venda
custam mais de R$ 100 mil.
Por vários anos, os líderes de
mercado eram os “populares”,
depois rebatizados de “carros
de entrada” por serem os mais
baratos de cada marca. O seg-
mento detinha 31,3% das ven-
das em 2012, ano em que as ven-
das de automóveis somaram 3,1
milhões de unidades. Neste
ano, até abril, a fatia é de 9,3%.
Por outro lado, a participa-
ção dos SUVs saltou de 8,8%
para 46,4% de 2012 para cá.
Atualmente há mais de 100 veí-
culos desse tipo no País entre
nacionais e importados, de
acordo com a Federação Nacio-
nal da Distribuição de Veícu-
los Automotores (Fenabrave).
A produção local de SUVs
também vem crescendo. Em
2012, havia 12 modelos nacio-
nais e hoje há 31, com preços
que partem de R$ 101 mil (Fiat
Pulse) e vão a R$ 610 mil (BMW
X4). Os importados têm preços
que passam de R$ 1 milhão.
Paralelamente, só há dois car-
ros “de entrada” em oferta, o
Fiat Mobi e o Renault Kwid, am-
bos por R$ 69 mil. Há dez anos
eram oito opções: Volkswagen
Gol, Fiat Uno e Palio, Chevrolet
Celta, Ford Ka, Peugeot 207, Re-
nault Clio e Toyota Etios.
NOVO PERFIL. A mudança do
perfil do mercado ocorre por
várias razões. Entre elas estão
as novas leis de segurança e
emissões, que passaram a exi-
gir itens como airbags e freios
ABS em todos os novos carros,
além de tecnologias para redu-
ção de consumo.
&NEGÓCIOS
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
MUDANÇA NO PERFIL DE CONSUMO
Evolução da fatia de mercado por segmento
Participação nas vendas
EM PORCENTAGEM
CARRO DE ENTRADA
50
40
31,3
30
20
10
8,8
0
2012 2013 2014
CARRO DE 8 8 9 8
ENTRADA
SUV 49 52 52
COM VENDAS
DE MAIS DE
200 UNIDADES/
ANO
*ATÉ ABRIL; **COM TODAS AS OPÇÕES, INCLUSIVE AS DE BAIXAS VENDAS, SÃO 127 MODELOS
“Com a obrigação de novos
equipamentos, o custo de pro-
dução e venda dos carros au-
mentou bastante”, afirma Igor
Machado Torres, economista
e analista da Tendências Con-
sultoria. Somado a juros altos,
desemprego e queda da renda,
uma camada significativa da
população ficou excluída do
mercado de carros novos.
A falta de componentes (es-
pecialmente de chips) acirra-
da pela pandemia também aju-
dou na alta dos custos, assim
como problemas de logística
(preço de frete, falta de contêi-
neres etc).
SONHO ADIADO. Laís Magnoler,
de 32 anos, tem um Renault
Sandero 2014, adquirido novo
e que já rodou 125 mil km. Ele
tem apresentado algumas fa-
lhas. “Recentemente tive de
trocar as velas, e no ano passa-
do teve um problema no ar-
ECONOMIA
O ESTADO DE S. PAULO
UTILITÁRIO-ESPORTIVO (SUV)
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023*
8 7 8 6 5 4
58 57 59 67 67 68 73
NÚMERO DE MODELOS
FONTE: FENABRAVE E ADK AUTOMOTIVE / INFOGRÁFICO: ESTADÃO
condicionado; fiquei sem usá-
lo por três meses até levar ao
conserto”, diz ela, que traba-
lha na área de marketing.
O desejo de Laís é trocar o
carro por um SUV Hyundai Cre-
ta. No início de 2022 ela pesqui-
sou os preços, na época na faixa
de R$ 80 mil, mas concluiu que
não daria para comprar porque
ajuda o companheiro a pagar
prestações de um apartamento
em construção.
Hoje, a versão mais barata
do Creta, de geração anterior à
atual, custa R$ 116,6 mil. Co-
mo o Sandero vale de R$ 25 mil
a R$ 30 mil, Laís teria de parce-
lar a diferença, mas, com os ju-
ros atuais, “o preço ficaria
mais que o dobro, então vou
esperar mais e tentar comprar
à vista”, afirma.
De acordo com o Banco Cen-
tral, o juro médio para a com-
pra de veículos está em 28,6%
ao ano (dado de março), o
E&N
46,6
Laís queria trocar o Sandero 2014 por um Creta, mas adiou o plano
mais alto em mais de dez anos.
Com a inadimplência acima de
5%, os bancos também estão
restritivos na liberação de
9,3 crédito. “Essa taxa de juro é in-
compatível com o crescimen-
to da indústria e com a geração
de empregos”, diz o presiden-
te da Associação Nacional dos
3 2 Fabricantes de Veículos Auto-
motores (Anfavea), Márcio de
68 52** Lima Leite.
PACOTE DE MEDIDAS. Segundo
Torres, há uma demanda repri-
mida de consumidores que po-
deriam comprar um carro “po-
pular” se o preço for reduzido.
O governo promete anunciar
na próxima quinta-feira um pa-
cote de medidas para reativar o
setor industrial. No caso da in-
dústria automobilística são es-
peradas decisões para baixar o
preço dos carros “de entrada”
para uma faixa de R$ 50 mil a
R$ 60 mil. Também pode ter
alguma medida para modelos
de até R$ 100 mil.
Para chegar a essa faixa no
“popular” são necessários in-
centivos como corte de alíquo-
tas de impostos federais e esta-
duais, redução de margens de lu-
cro de montadoras e concessio-
nárias e retirada de alguns itens
como multimídia e ar-condicio-
nado. Também são esperados
juros menores e prazos mais
longos para os financiamentos,
mas isso vai depender principal-
mente dos bancos públicos.
Para o economista da Ten-
dências, ainda que se consiga
chegar aos preços sugeridos
pelo governo, o consumidor se-
INCLUI CLASSIFICADOS
B1
DESTAQUE O
CADERNO E&N
(B1 A B12)
FELIPE RAU/ESTADÃO
guirá esbarrando na falta de op-
ções de modelos “de entrada”.
Na faixa superior, a de hatches
compactos, há mais variedade,
como Chevrolet Onix, Hyun-
dai HB20 e Volkswagen Polo,
todos com preços na faica de
R$ 70 mil a R$ 80 mil.
A maioria das montadoras
está focando seus lançamen-
tos em SUVs ou modelos mais
equipados porque o lucro é
maior. Torres acredita que, de-
pendendo das medidas a se-
rem anunciadas, as fabrican-
tes podem lançar versões mais
“Os próprios
consumidores estão
migrando para esse tipo
de veículo (SUV), visto
como mais espaçoso,
versátil e seguro”
Igor Machado Torres
Analista da Tendências
baratas de SUVs, movimento
que, diz ele, já vem ocorrendo
nos últimos anos com o au-
mento da produção local. Para
Torres, “o crescimento do mer-
cado de SUVs é uma tendência
mundial. Vem ocorrendo tam-
bém no Brasil há cerca de dez
anos e deverá continuar, pois
os próprios consumidores es-
tão migrando para esse tipo de
veículo, visto como mais espa-
çoso, versátil, com design mo-
derno e percebido por muitos
como mais seguro”. l
'É POUCO PROVÁVEL DAR CERTO
O PACOTE DO CARRO POPULAR'. PÁG. B2

B2 ECONOMIA&NEGÓCIOS
epois de 14 anos, o Brasil
D voltou a participar da reu-
nião do Grupo dos Sete
(G-7), desta vez no Ja-
pão, com as principais nações in-
dustrializadas do mundo.
Criado em 1975, o G-7 tem
por objetivo reunir os princi-
pais chefes de Estado e de go-
verno para discutir e propor so-
luções para os principais pro-
blemas do planeta.
Até que ponto esse modelo
funciona pode ser objeto de in-
findáveis discussões, porque
muito do que ficou decidido ao
longo destes anos não chegou
a ser colocado em prática. No
entanto, é mais provável que o
mundo ganhou mais do que
perdeu com esses encontros.
A participação do presiden-
José Roberto Mendonça de Barros
‘É pouco provável
dar certo o pacote
do carro popular’
Contexto, com endividamento
das famílias e falta de recursos, é
um obstáculo, afirma economista
ENTREVISTA
Economista, com
doutorado pela USP
e pós-doutorado
pela Yale University,
é sócio da MB
Associados
CLEIDE SILVA
pacote de medidas
O que dever ser anuncia-
do na próxima quin-
ta-feira, Dia da Indústria, para
ajudar o setor a retomar o cres-
cimento, em especial no seg-
mento automobilístico, com
intenção de reduzir os preços
dos carros, tem pouca probabi-
lidade de dar certo, na opinião
do economista José Roberto
Mendonça de Barros. Para ele,
talvez o governo esteja pensan-
do como nos primeiros anos
do governo Lula, quando havia
uma situação fiscal favorável,
o endividamento do consumi-
Celso Ming
O G-7 e o mundo em convulsão
te Lula no evento passou a ser
vista como o retorno do Brasil
ao multilateralismo nas rela-
ções internacionais.
Esta reunião de cúpula acon-
teceu num momento de fortes
convulsões na geopolítica glo-
bal: guerra na Ucrânia; crise di-
plomática entre Estados Uni-
dos, Rússia e China; ameaças nu-
cleares do Irã; e a escalada das
tensões entre China e Taiwan.
As discussões sobre possí-
veis saídas para o conflito pare-
cem ter ficado contaminadas
pelo aumento das sanções con-
tra a Rússia.
As ameaças à saúde mundial,
num quadro de pós-pandemia e
de alastramento da fome, da po-
breza e dos fluxos migratórios,
são temas que preocupam as li-
dor era muito menor e a econo-
mia crescia. A ideia é colocar
no mercado modelos que cus-
tem até R$ 60 mil.
“Agora não tem crescimen-
to, não tem orçamento, não
tem Tesouro, não tem o siste-
ma financeiro, e não consigo
ver como resolver a questão de
limitação de renda dos consu-
midores”, diz. Além disso, res-
salta que as montadoras já to-
maram a decisão de não per-
der mais dinheiro e, por isso,
migraram a produção para car-
ros mais caros. “Hoje só conse-
gue comprar carro consumido-
res da classe B para cima”. A
seguir, trechos da entrevista.
Como o sr. avalia um paco-
te de medidas para ressus-
citar o carro popular?
Embora não conheça exata-
mente o que está sendo pensa-
do, sou muito cético em rela-
ção a qualquer coisa nessa li-
nha. Falando sobre hipóteses,
acho que seria uma regressão,
uma volta ao ‘pé de boi do Ita-
mar’. É uma agenda antiga que
já não deu certo muitas vezes.
celso.ming@estadao.com
MARCOS MÜLLER/ESTADÃO
deranças do mundo, até mesmo
pelo seu inevitável impacto so-
bre as instituições democráti-
cas. “O mundo percebeu que
precisa desenvolver arcabouço
mais amplo para questões sani-
tárias porque possui poucas fer-
ramentas para lidar contra pan-
demias”, avalia Leandro Con-
sentino, cientista político e pro-
fessor do Insper.
No campo macroeconômi-
co, ainda como desdobramento
da pandemia, há os problemas
HELCIO NAGAMINE/ESTADÃO-17/9/2021
Experiência anterior ‘liquidou a
rentabilidade’, diz economista
Acredito ser pouco provável
que se ponha em pé um progra-
ma que faça algum sentido com
todos os problemas que temos
hoje. Entendo que o setor auto-
motivo está com medo de não
atingir neste ano um mercado
de 2 milhões de unidades, mas
isso não torna mais factível um
programa dessa natureza.
O juro alto é um dos respon-
sáveis pelo desempenho
fraco das vendas?
Fala-se muito do juro alto, mas
não se fala que o mercado enco-
lheu, em boa parte, por uma
combinação de falta de capaci-
dade de compra das famílias,
associada ao alto grau de endi-
vidamento. Muitas pessoas da
classe C+, por razões de merca-
do de trabalho ou da pande-
mia, tiveram queda na renda
nos últimos anos, endivida-
ram-se, e um programa dessa
natureza teria pouca eficácia.
A indústria relata paradas
para adequação à deman-
da, ociosidade de 40% e ris-
cos de demissões. São moti-
causados pelo alastramento da
inflação e pelo alto endivida-
mento das nações em desenvol-
vimento, em parte efeito dos
despejos de recursos destina-
dos a conter a covid-19.
E tem a encrenca das mudan-
ças climáticas. Depois de ter pas-
sado quatro anos em que deixou
passar a boiada na área ambien-
tal, o Brasil parece ter voltado a
ter condições de contribuir com
mais soluções do que com cria-
ção de problemas. Lula reforçou
cobranças para que os países lí-
deres cumpram a promessa de
doar US$ 100 bilhões para prote-
ção ambiental. O tempo dirá se
terá sucesso.
Na questão da guerra, Lula
tende a assumir posições carre-
gadas de alguma ingenuidade.
vos para obter benefícios?
Desde a trombada da covid, isso
ocorreu com outros setores e
muitos bens, não só com os car-
ros. Por exemplo, com a carne
vermelha. Muitas famílias deixa-
ram de comer e buscaram ou-
tras proteínas. Outro exemplo é
o das viagens. O transporte aé-
reo ficou muito caro. Hoje as via-
gens são acessíveis exclusiva-
mente para empresas ou pes-
soas das classes A e B+. Com o
automóvel ocorre o mesmo.
Um número incontável de famí-
lias não tem condições nem de
passar perto de um carro novo
que custe R$ 70 mil, R$ 80 mil,
R$ 90 mil. As montadoras já to-
maram a decisão de não perder
mais dinheiro, e até por isso subi-
ram a escala dos produtos, dan-
do preferência aos mais caros,
que dão maior margem positiva,
e não vão voltar atrás nessa es-
tratégia. Todas querem vender
SUV e picapes, e não carro popu-
lar. As empresas também não es-
tão dispostas a fazer um carro
‘pé de boi’ nem vender com pre-
juízo, exatamente pela experiên-
cia passada do carro popular
que liquidou a rentabilidade do
parque produtivo brasileiro.
Há viabilidade de medidas
para facilitar o crédito?
Duvido de que o setor bancário
tenha interesse em construir
sistemas de crédito mais bara-
to, principalmente depois dos
sustos com grandes empresas
que foram para a recuperação
judicial, como a Americanas. E,
se o governo usar o velho instru-
mento de botar a Caixa, o BN-
DES e o Banco do Brasil para
subsidiar programas de crédi-
to, tenho a impressão de que
nem a equipe econômica ficaria
satisfeita. Outra medida comen-
tada é mais uma vez sangrar o
FGTS, permitindo algum tipo
de saque, mas não é suficiente.
E redução de impostos, co-
mo IPI e ICMS, ajudaria?
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Se a invasão pela força de um
país por outro é condenável,
não se pode pretender que o
país invadido aceite entregar de
mão beijada território a troco de
uma paz incerta. “O presidente
Lula parece não ter entendido
que, depois da invasão da Ucrâ-
nia, os conflitos já não se resol-
vem apenas com conversas di-
plomáticas e com acordos co-
merciais. A defesa e a segurança
se tornaram prioridades. Este é
um mundo em guerra, e em guer-
ra é preciso ter um lado. Não dá
para ficar sobre o muro e querer
abocanhar resultados financei-
ros”, avisa o economista e dou-
tor em Relações Internacionais,
Igor Lucena. l /COM PABLO SANTANA
COMENTARISTA DE ECONOMIA
Os Estados já perderam bilhões
com a redução do imposto da
gasolina e da energia e estão dis-
cutindo com o governo even-
tuais compensações. Duvido
de que estejam dispostos a colo-
car mais um pedaço do ICMS
em uma medida como essa. E o
IPI dos carros de menor cilin-
drada já é baixo, na casa dos 5%.
E, se aprovada a reforma tribu-
tária, o IPI sobe de novo.
“Talvez o governo esteja
pensando como nos
primeiros anos do PT
na Presidência, quando
havia situação fiscal
favorável e crescimento
econômico”
O que o sr. acha então que
pode ser anunciado?
Levanto a hipótese até de aca-
bar não saindo nada nessa dire-
ção (de redução significativa de
preços), pois não há condições
concretas de se construir um
programa deste nesse momen-
to. Não consigo ver como resol-
ver a questão de limitação de
renda do comprador. Talvez o
governo esteja pensando como
nos primeiros anos do PT na
Presidência, quando havia situa-
ção fiscal favorável, o endivida-
mento do consumidor era mui-
to menor e havia crescimento
econômico. Agora não tem cres-
cimento, não tem orçamento,
não tem Tesouro, não tem o sis-
tema financeiro nem as empre-
sas, e as famílias estão superen-
dividadas.
Que futuro há para o setor?
Não consigo ver um norte que
não tenha algo a ver com o ca-
minho da eletrificação da fro-
ta, que no caso é o carro híbri-
do a etanol. Não resolve, contu-
do, o problema do mercado de
massa pois, neste momento,
também é um carro caro. l
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO ECONOMIA&NEGÓCIOS B3

Affonso Celso Pastore

Agentes racionais e a inflação
m 25 de dezembro de mio Nobel em economia. Um flação, que reage a todas as in- to econômico exige o controle trabalha contra o que vem sen-

E 2021 foi lançado ao espa-

ço o telescópio James
Webb. A previsão era de
que em 24 de janeiro de 2022 ele
atingiria o ponto Lagrange 2, no
qual mantém uma posição esta-
cionária em relação à Terra e ao
Sol, e exatamente no dia previs-
to chegou ao ponto planejado.
Tal grau de precisão somente é
possível porque o que está en-
volvido na otimização de resul-
tados com base nos modelos da
física é um “jogo contra a nature-
za”, que aceita as decisões dos
cientistas, sem qualquer reação.
No início desta semana mor-
reu o professor Robert Lucas
Jr., que em 1995 ganhou o Prê-
de seus inúmeros e valiosos en-
sinamentos é que o planejamen-
to econômico não é um jogo
contra a natureza, mas um jogo
contra agentes econômicos ra-
cionais, cujas decisões depen-
dem dos valores futuros espera-
dos das variáveis, e que essas ex-
pectativas se alteram em res-
posta às ações dos planejado-
res. Em economia o átomo
“pensa”, e suas reações têm de
ser consideradas pelos formula-
dores da política econômica.
No regime de metas de infla-
ção a âncora nominal que pren-
de a inflação em torno da meta
(o equivalente ao ponto La-
grange 2) é a expectativa de in-
formações relativas à formula-
ção e à execução da política
econômica. Enquanto as ex-
pectativas divergirem da me-
da inflação e reformas que ele-
vem a produtividade e estimu-
lem os investimentos em seto-
res com retornos sociais mais
altos. Porém, o “modelo” que
Em vez de corrigir embasa as ações do atual gover-
no parte do postulado de que
o rumo da política “a demanda cria sua própria
fiscal, o governo oferta” e que o aumento dos
busca enfraquecer gastos públicos acelera o cres-
cimento e gera o aumento de
o BC ‘por dentro’ receita que impede o cresci-
mento da dívida pública, sem
ta, a política monetária terá de qualquer efeito sobre a infla-
se manter no modo restritivo, ção. A equipe econômica do go-
o que temporariamente acarre- verno compôs um moto perpé-
ta uma desaceleração da ativi- tuo que daria inveja a Paganini.
dade econômica. Porém, ao usar os estímulos fis-
A aceleração do crescimen- cais para expandir a demanda,
do feito pelo Banco Central, e
comunica aos agentes econô-
micos racionais que as expecta-
tivas de inflação continuarão
divergindo da meta, o que im-
pede a queda da taxa de juros.
Em vez de corrigir o rumo
da política fiscal, o governo rea-
ge buscando enfraquecer o
Banco Central “por dentro”. Is-
to nos coloca em uma marcha
acelerada rumo à dominância
fiscal, na qual serão colhidos
um crescimento econômico
medíocre ao lado de altas taxas
de inflação e de juros reais. l
EX-PRESIDENTE DO BC E SÓCIO DA A.C.
PASTORE E ASSOCIADOS.

SEG. Luiz Carlos Trabuco Cappi e Henrique Meirelles (revezam quinzenalmente) l TER. Demi Getschko (quinzenalmente) l QUA. Fábio Alves l QUI. Adriana Fernandes l SEX. Elena Landau e Laura Karpuska (revezam quinzenalmente) e Pedro Doria l SAB. Adriana Fernandes
l DOM. José Roberto Mendonça de Barros (quinzenalmente) e Affonso Celso Pastore (quinzenalmente); Paulo Leme (1º domingo do mês), Roberto Rodrigues (2º domingo do mês), Albert Fishlow (3º domingo do mês) e Gustavo Franco (último domingo do mês)

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Tributação ‘Mesmo sob risco’
Reforma será pautada antes do recesso, diz Lira
O presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (PP-
AL), afirmou na sexta-feira
que pautará a reforma tributá-
ria ainda neste semestre, antes
do recesso parlamentar, mes-
mo que haja risco de que seja
rejeitada. Ele disse esperar a
aprovação do arcabouço fiscal
nesta semana e que ela possa
ajudar nas negociações da re-
forma tributária.
“Tem determinadas situa-
ções que todo mundo tem como
regra. E a principal regra é, se
um governo não fizer suas refor-
mas no primeiro ano, não conse-
gue fazê-las por causa dos calen-
dários eleitorais que são sempre
divididos no País”, disse.
“A nossa vontade política, a
arrumação política interna da
Câmara, a conversa mais uma
vez com as lideranças políticas
que representam seus deputa-
dos naquele colegiado, é de
que, após a votação do arcabou-
ço, portando agora em maio,
teremos ainda junho e julho pa-
ra terminar essas discussões e
pautar o plenário ainda antes
do recesso do fim de julho”,
afirmou. l DANIELA AMORIM/RIO

B4 ECONOMIA&NEGÓCIOS
Brasil passa por uma crise
O mais profunda do que po-
deria ter se imaginado há
nove meses. Poderia ser
pior. Bolsonaro perdeu por pouco.
Mas a nova liderança é mais um
esforçopara fazercrer queo impea-
chment de Dilma impediu o Parti-
dodosTrabalhadores(PT) de cres-
cer de forma mais rápida, mais uni-
forme e mais produtiva, em vez do
crescimento decepcionante atual,
do que uma fonte de confiança.
Lula, em seu terceiro mandato,
tem sido um líder ativo na tentativa
de restabelecer políticas, seus anti-
gos nomes, assim como seus objeti-
vos. Ele quer abolir a estratégia erra-
da posta em prática anteriormente.
Isso significa uma economia do-
SEG. Luiz Carlos Trabuco Cappi e Henrique Meirelles (revezam quinzenalmente) l TER. Demi Getschko (quinzenalmente) l QUA. Fábio Alves l QUI. Adriana Fernandes l SEX. Elena Landau e Laura Karpuska (revezam quinzenalmente) e Pedro Doria l SAB. Adriana Fernandes
l DOM. José Roberto Mendonça de Barros (quinzenalmente) e Affonso Celso Pastore (quinzenalmente); Paulo Leme (1º domingo do mês), Roberto Rodrigues (2º domingo do mês), Albert Fishlow (3º domingo do mês) e Gustavo Franco (último domingo do mês)
Empreendedorismo Onda retrô
Câmeras analógicas se
tornam objeto de desejo
e impulsionam negócios
Alexandre do Carmo (E) e Erikson Veríssimo, criadores do Bixa Analógica; garimpo até em ferro-velho
Modelos antigos podem
custar até R$ 50 mil, e
filmes variam de R$ 18
a R$ 180; publicações
em redes sociais
estimulam a tendência
JAYANNE RODRIGUES
Sempre que a empresária Laris-
sa Janz, de 28 anos, olhava as
fotografias da cerimônia dos
pais, realizada há mais de 30
anos, ela tinha vontade de re-
criar algo parecido um dia.
Albert Fishlow
O que vem a seguir?
mésticadiferente,umapolíticaexter-
nadiferenteeumaestruturaparaam-
bições sociais e culturais diferente.
É provável que uma mudança
básica ocorra nesta semana: a cria-
ção de novas regras permitindo au-
mentos modestos nas despesas do
governo que dependem de recei-
tas.Elas substituiriamo teto degas-
tos elaborado por Henrique Mei-
relles em 2016, no governo de Mi-
chel Temer. Cuja aplicabilidade foi
limitada durante a queda do cresci-
mento após a eleição de Bolsonaro
e desacelerações no crescimento
acompanhadas pela propagação
da covid-19 e sua influência mor-
tal. Os déficits se tornaram regula-
res, assim como a inflação maior.
As regras propostas pelo gover-
Quando chegou a hora de acer-
tar os detalhes do seu casamen-
to, em 2022, ela buscou uma
empresa especializada em fo-
tografia analógica. Durante a
festa, Alexandre do Carmo, de
28 anos, e Erikson Veríssimo,
de 27 anos, casal proprietário
da Bixa Analógica, registraram
o matrimônio e distribuíram
câmeras para os convidados.
“Nós vimos como foi o nos-
so casamento pelos olhares
dos convidados. Foi completa-
mente diferente”, diz Larissa,
atraída por um movimento
que engaja, principalmente,
no Lula tentarão assegurar a estabi-
lidade fiscal do País com um limite
maior para despesas nos próximos
anos. Fernando Haddad conseguiu
definir o objetivo de um modo um
Na era da expansão
da inteligência
artificial, o Brasil
vai ficar ainda
mais para trás?
pouco diferente do teto atual, e o
Congresso está disposto a permitir
um curto período para sua adoção.
O que Lula quer de verdade é uma
taxa Selic bem menor e aumentos
expressivos no investimento públi-
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO-13/4/2023
mulheres e jovens.
Antes da cerimônia de Laris-
sa, eles tinham feito a cobertura
de outros seis. Para 2023, a agen-
da está fechada para mais qua-
tro eventos – todos casamen-
tos. Os pacotes para esse tipo de
serviço custam entre R$ 9 mil e
R$ 12 mil. Já as câmeras vendi-
das por eles estão avaliadas a
partir de R$ 200 e podem alcan-
çar até R$ 50 mil, valor do mode-
lo mais caro, a Rolleimarin, uma
das primeiras caixas aquáticas
fabricadas na década de 1950.
O mercado explorado pela
dupla acompanha o crescente
co induzido, além de um consumo
maior para garantir um retorno às
taxas de crescimento alcançadas
por ele entre 2002 e 2010. Assim
como antes, ele tem sorte por ter
exportações agrícolas que conti-
nuam melhores do que o previsto.
O Brasil será capaz de recupe-
rar o crescimento da produtivida-
de e do avanço tecnológico nos
serviços e na agricultura em vez de
voltar à substituição das importa-
ções e das tarifas para a indústria?
Conseguir isso requer um au-
mentomaiorecontínuodapoupan-
ça interna para financiar um cresci-
mentosustentávelnoinvestimento.
As taxas de juros altas não ajudam.
MasareduçãonecessáriadataxaSe-
lic não virá de ignorar, ou revogar, os
resgate da fotografia analógica
para registro de memórias. Em
meio ao estilo de vida acelera-
do, um número cada vez maior
de pessoas quer aproveitar um
processo mais lento e nostálgi-
co, com fotos com aspecto gra-
nulado e suave. “Às vezes, ne-
nhum filme dá certo, vem a frus-
tração e ensina a pessoa a lidar
com isso, entendendo que o
melhor é poder contar a histó-
ria da foto, que é mais impor-
tante do que o produto final”,
afirma Jacob Bosch Contreras,
diretor do Festival de Arte Ana-
lógica de São Paulo.
ENCONTRO. A terceira edição
do evento recentemente reu-
niu na capital paulista acadê-
micos, empreendedores e en-
tusiastas pelo mundo da foto-
grafia analógica. Entre os parti-
cipantes do evento estava a du-
pla criadora da Bixa Analógica,
que ingressou nesse universo
a partir de uma câmera analógi-
ca herdada da família de um
deles. Na época, Alexandre, es-
tudante de Direito, estava tra-
balhando como entregador de
aplicativo, e Erikson, graduan-
do em artes visuais, havia sido
recém-demitido. Com pouco
dinheiro e sem vislumbrar
perspectiva de melhora, veio a
ideia de garimpar câmeras anti-
gas assim como a que ganha-
ram de presente.
Em busca de mais modelos,
eles perambularam por feiras
de antiguidades, comunidades
virtuais de equipamentos ana-
lógicos e até ferro-velho. Em
outubro de 2020, o resultado
da procura gerou a ideia de
abrir a Bixa Analógica no Insta-
gram. Não demorou para o e-
commerce furar a bolha e al-
cançar figuras públicas, como
Larissa Manoela e Maísa. Em
um único mês, os sócios chega-
ram a vender mais de mil câme-
ras. “Pensamos: ‘Vamos pos-
tar conteúdos para fazer as pes-
soas se interessarem pelo te-
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
avanços realizados pelo Banco Cen-
tral. A independência do banco fun-
ciona melhor que a gestão anterior.
Devehaverumaênfasenoinves-
timento para a educação. Gastar
mais com ela e melhorá-la. Poucos
países conseguiram avançar sem
melhorias regulares no ensino fun-
damental.NaAméricaLatina,oBra-
sil avançou menos do que a maio-
ria.Gastarquantiasmaioresparaga-
rantir um ensino superior de quali-
dade e aprimorar o nível da força de
trabalho não teve bom resultado.
Na era da expansão rápida da inteli-
gência artificial, será que o Brasil vai
ficar ainda mais para trás? l
ECONOMISTA E CIENTISTA POLÍTICO,
PROFESSOR EMÉRITO NAS UNIVERSIDADES DE
COLUMBIA E DA CALIFÓRNIA EM BERKELEY
ma”, afirma Alexandre.
Atualmente, o desafio do ca-
sal é se consolidar ao lado de
empresas mais antigas no setor.
“Temos um bom faturamento,
mas estamos em busca de esta-
bilidade no sentido de ser uma
referência no mercado”, diz
Erikson, acrescentando que pla-
nejam montar um espaço físico
em São Paulo ou no Rio.
ALTERNATIVA. Em Belo Hori-
zonte, quando o fotógrafo
Athos Souza, de 36 anos, ficou
desempregado após a empresa
de fotografia em que trabalha-
va falir por causa da pandemia,
ele não pensou duas vezes em
colocar na rua um projeto anti-
“Temos um bom
faturamento, mas
estamos em busca de
estabilidade no sentido
de ser uma referência
no mercado”
Erikson Veríssimo
Sócio da Bixa Analógica
“Quem experimenta
a primeira vez se
impressiona muito”
Athos Souza
Dono da loja Festival de
Filmes Vencidos
go: a loja Festival de Filmes
Vencidos (FFV). Por dominar
a técnica e conhecer gente do
ramo, ele apostou no negócio:
vendeu os seus equipamentos
profissionais e investiu inicial-
mente R$ 150 mil.
A loja, fundada em 2020, só
comercializa artigos analógi-
cos, como câmeras, acessórios
e serviços de revelação, mas o
carro-chefe do negócio é o fil-
me analógico, que correspon-
de a 70% das vendas e pode va-
riar de R$ 18 a R$ 170. “Quem
experimenta a primeira vez se
impressiona muito”, diz. l
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO
NEGÓCIOS B5

Ensino Do presencial ao online concluiu que, se a escola per-

manecesse fechada por um
ano, o seu negócio acabaria. Is-

Expulso da escola, empresário so exigiu novas estratégias.

TRANSIÇÃO. De uma rede de es-

cola de inglês presencial, a em-

monta uma rede de educação presa virou uma rede de empre-

gabilidade online. O inglês pas-
sou a ser mais um curso ofere-
cido, entre outros, para as pes-
Fundador da escola de inglês Wise Up, Flávio da Silva comprou soas se recolocarem no merca-
do de trabalho.
cinco edtechs e planeja aquisição de outras empresas do segmento Meses antes da pandemia, a
empresa já tinha lançado uma
plataforma de cursos de inglês
ALEX SILVA/ESTADÃO-9/5/2023
online. O que, segundo o em-
médica, marketing e vendas. choque para a família e vizi- presário, facilitou a transição
MÁRCIA DE CHIARA E, segundo ele, isso é só o nhos. Na periferia, onde mora- para o digital, que foi aperfei-
começo. “Já nos tornamos a va, passar num concurso para çoada com treinamento das
Expulso da escola por duas ve- maior edtech e, quando o mer- ser oficial era sinal de prestígio. equipes para trabalhar de casa
zes – do jardim da infância e do cado for favorável, vamos es- Apesar do revés, o colégio mi- e desenvolver novas técnicas
colégio militar –, o empresário tar prontos para um IPO (aber- litar lhe abriu as portas do ensi- de vendas.
Flávio Augusto da Silva, de 51 tura de capital na Bolsa, na sigla no superior. Ele diz que foi
anos, fundador da escola de in- em inglês)”, afirma. Em março aprovado em todos os vestibu-
glês Wise Up e hoje CEO da de 2020, Silva já tinha tentado lares que fez, como Universida- Crescimento
Wiser Educação, quer cons- abrir o capital da empresa. Na de de São Paulo (USP), Univer- Em 2019, a franqueadora
truir um império na educação época, contratou cinco bancos sidade Estadual de Campinas faturou R$ 215 milhões. No
digital. Desde 2021, já com- para fazer a operação, marca- (Unicamp) e Universidade Fe- ano passado, fechou com
prou cinco edtechs, empresas da para junho daquele ano. A deral Fluminense (UFF). A sua receita de R$ 501 milhões
de educação conectadas com perspectiva era levantar no escolha foi pelo curso de Tec-
tecnologia, avaliadas em R$ mercado entre R$ 1,5 bilhão e nologia na UFF, pois não teria
350 milhões. R$ 2 bilhões, mas a pandemia ‘Nos tornamos duas vezes e meia condições de se manter em ou- A abertura do foco do negó-
Além disso, estuda adquirir frustrou o planejamento. maiores em três anos’, diz Silva tro Estado. Mas, também nesse cio deu bons resultados. Em
mais de 70 edtechs e finaliza a caso, não concluiu a formação. 2019, a franqueadora, sem in-
compra de duas empresas do INQUIETO. Agora, Silva espera o Tudo isso acabou sendo cluir as vendas de franquea-
setor de concursos, nas quais momento certo para retomar blica, levou três anos para ser aprendizado que Silva usou dos, faturava R$ 215 milhões e
deve desembolsar cerca de R$ os planos. Com perfil inquieto, aprovado. nos momentos mais complica- atendia 130 mil clientes. No
50 milhões. Hoje o empresário ele tem uma história de muitas Aos 16 anos, saiu de casa e foi dos nos negócios, como foi du- ano passado, fechou com recei-
tem no portfólio as empresas idas e vindas. Aos 13 anos, filho para o colégio, em Angra dos rante a pandemia. Com a para- ta de R$ 501 milhões e 753 mil
Wise up Online e Number de um sargento do Exército e Reis (RJ). “Logo no primeiro lisação das atividades de um alunos virtuais.
One, voltadas para ensino re- de uma professora, ele decidiu dia, falei: esse negócio não é pa- dia para o outro, as 420 escolas Para este ano, a perspectiva
moto de idiomas, a editora entrar no Colégio Naval, de edu- ra mim”, lembra, argumentan- físicas de inglês, a maioria fran- é atingir receita de R$ 600 mi-
Buzz e meuSucesso.com, foca- cação militar. do que sua personalidade é cria- quias, foram fechadas, e o fatu- lhões e ampliar em 10% o nú-
dos no ensino de empreende- Morador de Jabour, subúr- tiva, questionadora e indiscipli- ramento praticamente caiu a mero de alunos. “Saímos de
dorismo, e as escolas físicas da bio do Rio de Janeiro, Silva gas- nada, traços que, segundo ele, zero. Silva achava que a pande- uma tempestade, reinventa-
Wise Up, além das cinco edte- tava cinco horas por dia para são incompatíveis com a carrei- mia levaria, no mínimo, um mos o negócio e nos tornamos
chs nas áreas de preparação pa- frequentar um curso prepara- ra militar. Mesmo assim, ficou ano para passar. Como o tem- duas vezes e meia maiores em
ra concursos, vestibulares, tório para fazer o teste de ad- lá por dois anos até ser expulso po médio de permanência do três anos, sem contrair dívi-
Enem, exame de residência missão. Egresso da escola pú- por indisciplina. A saída foi um aluno nos cursos é de 11 meses, das”, diz Silva. l

‘A cada dia, mais pessoas

não se encaixam na escola’
Apesar das duas expulsões no
currículo e de ter abandonado
a faculdade, Flávio Augusto da
muito, mas não pelas vias for-
mais”, diz, enfatizando que é
professor em três MBAs, da


  


Silva é defensor da educação, PUC do Rio Grande do Sul,
mas um crítico do formato tra- da Conquer Business School
dicional. “Educação é impor- e do Grupo Primo, sem ter
tante para evoluir, mas não ne- concluído a graduação. 
)''

cessariamente no formato tra- “Cada dia que passa, mais  !*!   
dicional.” pessoas não se encaixam na
 !  +  ,
DIVULGAÇÃO

Ele cita como os cursos de in- escola, não se encaixam na

glês, frisando que ninguém CLT (Consolidação das Leis  !  -. / ! 
aprendeo idioma estrangeiro do Trabalho) e vão fazer o !!!     !
na escola. “A Wise Up só existe quê na vida, virar trafican-    0 12324
porque a escola (tradicional) é te?”, questiona. Silva acredi-
incompetente”, afirma. Na opi- ta que trabalhar com educa-
nião do empresário, o sistema ção é tocar a vida das pes- 56 ' 6

educacional não pode querer soas. “Por isso, acho que ,!    $
   !  ,
padronizar o aluno. “Eu estudo sou um educador.” l M.C.  !  -

      

%& ' "       
SERASA S.A. - CNPJ/ME nº 62.173.620/0001-80 - NIRE 35.3.0006256-6 ( ##$     !
EDITAL DE CONVOCAÇÃO - ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA
O Conselho de Administração da Serasa S.A. (“Companhia
(“Companhia
Companhia”) ”) convoca os Senhores Acionistas para a Assembleia Ge-
ral Extraordinária que será realizada no dia 29 de maio de 2023, às 13:30 horas, na sede social da Companhia locali-
zada na Cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, na Avenida das Nações Unidas, 14401 – Torre C-1 do Complexo Par-
que da Cidade – conjuntos 191, 192, 201, 202, 211, 212, 221, 222, 231, 232, 241 e 242, Bairro Chácara Santo Antônio, Realização Realização Parceria
CEP 04794-000, a fim de deliberar sobre a seguinte Ordem do Dia: (i) a ampliação do rol de atividades descritas no ob-
jeto social da Companhia; (ii) a alteração e consolidação do Estatuto Social da Companhia; e (iii) outros assuntos de
interesse geral da Companhia. Cópias autenticadas de documentos de representação devem ser entregues, sob proto-
colo, no Departamento Jurídico da Companhia, até 3 (três) dias úteis antes da data da Assembleia.
São Paulo – SP, 19 de maio de 2023. Conselho de Administração da Companhia.
 DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
B6 ECONOMIA&NEGÓCIOS O ESTADO DE S. PAULO

Coluna do
KARLA SPOTORNO, CIRCE BONATELLI E MATHEUS PIOVESANA /
GABRIEL BALDOCCHI (edição)

TWITTER: @COLUNADOBROAD

Broadcast
Governo revogará decreto NEGOCIAÇÃO ‘VERDE’ SOBE
do mercado de carbono e ANTONIO LACERDA/EFE-4/4/2023
Cresce produção de
já prepara nova proposta cerveja sem álcool
FELIPE RAU/ESTADÃO-3/8/2022

O
governo Lula vai revogar o decreto que criava
o mercado regulado de crédito de carbono no
Brasil. Segundo fontes, será apresentada uma
nova proposta e também o novo desenho para
o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima.
As entidades setoriais têm até início de junho para
apresentar planos e metas sobre emissão de gases de O mercado de cerve-
efeito estufa (GEE). A data foi determinada numa jas sem álcool ou
portaria que prorrogava o prazo estipulado original- com menor porcen-
mente pelo decreto de maio de 2022. O texto do go- tagem dessa substância tem
crescido. No mundo, a alta
verno Bolsonaro estabelecia os procedimentos para foi de 5,7% no ano passado.
a criação dos Planos Setoriais de Mitigação das Mu- No Brasil, a expectativa é de
danças Climáticas e do Sistema Nacional de Redu- Proposta de elaboração do mercado de carbono foi feita pelo incremento de 24% no volu-
ção de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Sinare). governo Bolsonaro e deve ser redesenhada pela atual administração me produzido este ano, se-
gundo estudo da Euromoni-
tor International para o Sin-
dessa contaminação é o conge- dicato Nacional da Indús-
Setor privado não enviou planos l PIORA. “Houve degradação lamento do poder aquisitivo, tria da Cerveja (Sindicerv).
O setor privado não enviou os seus planos. “Isso só horrorosa da população econo- uma vez que as pessoas nessa
micamente ativa”, ressalta o situação já não têm mais crédi-
mostra como o decreto era confuso e ineficiente. O sócio-diretor da MGC Hol- to aprovado para compras, DESCE
setor privado nem entendeu como seria o futuro dings, Eduardo Martins. “Nun- nem conseguem recorrer a um
mercado regulado. O Sinare foi construído de uma ca vi situação tão crítica”. A novo financiamento. Isso aju- Varejo de rua tem queda no
forma ‘mambembe’”, afirmou uma fonte. companhia atua na compra da explicar as quedas expressi- no fluxo de consumidores
das carteiras de “crédito po- vas nas vendas de carros, ele- TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-1/8/2013
dre”, que são dívidas vencidas trodomésticos, materiais de
e não pagas. A venda desses ati- construção e móveis.
Foco é ter harmonia nos dois ambientes vos é uma alternativa para ban-
A proposta do governo vai buscar a complementari- cos e empresas receberem ao
dade entre os mercados regulado e voluntário de menos um porcentual do valor l PERSPECTIVA. Martins espera
original em abertos. que as ofertas de carteiras de
crédito de carbono. “É desejável que os dois convi- crédito podre em 2023 fiquem
vam em harmonia”, diz a fonte. O governo está enga- em níveis semelhantes aos de
jado e tem em vista os diferentes projetos de lei so- l PORTFÓLIO. A MGC tem cartei- 2022. Com cada vez mais difi-
bre o assunto que tramitam há anos no Congresso. ras de 47 origens diferentes, culdade em se recuperar as
que totalizam 34 milhões de dívidas em atraso, porém, as O fluxo de visitantes
CPFs. Na média, esses brasilei- empresas tendem a puxar para em lojas físicas do
ros têm dívida de R$ 1,2 mil baixo o valor a pagar por essas varejo caiu 8% em
l NO VERMELHO. O endividamen- l CONTÁGIO. Na média, as pes- (que chegaria a R$ 3,5 mil se carteiras e ser mais seletivas abril, em relação ao mesmo
to dos brasileiros cresceu e se soas inadimplentes têm con- considerados multa e juros). na análise. mês do ano passado. Essa é
espalhou por diferentes seto- tas em aberto em 11 lugares di- “Nós pesquisamos o CPF e aca- a segunda vez que esse mo-
res da economia: vai dos ban- ferentes, o que representa um bamos encontrando o mesmo vimento cai, desde novem-
cos ao varejo, das faculdades salto em relação aos níveis his- devedor em diferentes ban- l QUASE LÁ. A Sompo espera bro de 2021. Em março, a
aos provedores de banda larga. tóricos, de apenas 3 lugares. Is- cos, varejistas, operadoras de que saia até julho o aval dos diminuição foi de 12%. Em
Essa é a constatação de um le- so acontece quando o devedor telefonia, faculdade. Tem de reguladores para concluir a contrapartida, os shopping
vantamento realizado pela acumula faturas não pagas de tudo”, conta Martins. venda da carteira de varejo pa- centers tiveram alta de 6%
MGC Holding, empresa espe- cartões de crédito, emprésti- ra a HDI. O negócio foi anun- no número de visitantes,
cializada na recuperação de mos, boletos de água, luz, inter- ciado em 2022 e envolve valo- segundo a pesquisa IPV, do
créditos vencidos. net e afins. l CONSUMO. A consequência res superiores a R$ 1 bilhão. HiPartners com a SBVC.

ALTO ESCALÃO Luana Pavani E-mail: luana.pavani@estadao.com

COMMVAULT. Para country ma-
nager nomeou Marcelo Rodri-
gues. Bruno Lobo segue como di-
retor-geral para América Latina.
WHIRLPOOL. Gustavo Âmbar
foi alçado a gerente-geral no
Brasil.
BANCO CARREFOUR. Trouxe Fe-
lipe Gomes (ex-Ticket) como
presidente.
ARGO SOLUTIONS. Aline Bueno
volta, agora como presidente.
SERVICENOW. Katia Ortiz foi al-
çada a vice-presidente para
América Latina e coloca Julia-
na Fernandes como country
manager Brasil.
LEXUS. Nancy Serapião é a
head da marca no Brasil.
ENAUTA. Antes membro inde-
pendente do conselho, Pedro
Medeiros (ex-Citi) agora é di-
retor Financeiro.
IMCD. Trouxe Alessandro Mo-
raes (ex-Ashland e Dow) co-
mo diretor-geral.
ROCKETSEAT. Isabela Castilho
foi promovida a presidente
substituindo Rodrigo Terron,
que segue como conselheiro.
CLEARSALE. Eduardo Mônaco
substitui o presidente Bernardo
Lustosa, que irá para o conselho.
PANASONIC. Tem novo presi-
dente no Brasil: Hiroyuki Miya-
zaki.
BASF. Mirella Lisboa retorna
como gestora de Inovação
Aberta da Plataforma AgroS-
tart.
CPFL ENERGIA. Bruno Monte
é o novo diretor de Estraté-
gia e Inovação, vindo da CP-
FL Renováveis.
ATVOS. Bruno Serapião (ex-Hi-
ARQUIVO PESSOAL-1/4/2023
Ricardo Bottas
United Health Group
United Health Group chamou
o executivo para presidente,
vindo da SulAmérica
drovias do Brasil) assume co-
mo presidente, ao passo que
Giovanni Forace (do FIP
Agroenergia) continuará co-
mo conselheiro.
LOCKTON. A nova diretora de
RH para Brasil, América Latina
e Caribe é Vanessa Cabral.
ASSURANT. Renata Almeida
Nascimento (ex-XP) entra co-
mo diretora de RH.
GRANITO PAGAMENTOS. Henri-
que Capdeville (ex-Fiserv) é o
novo CEO e Renato Catalan
(ex-Inter) chega como diretor
de Operações. l
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Tecnologia Um ‘oásis’ na internet
Ao gerenciar newsletters, Substack
promete vida além das redes sociais
Startup americana ajuda criadores de conteúdo a conversar de forma mais direta
com o seu público e oferece a possibilidade de que gerem renda com os seus textos
BRUNO CAPELAS
A ideia de uma newsletter não é
exatamente nova: a prática co-
meçou na Veneza do século 15,
ainda de maneira analógica.
Mesmo em sua versão digital,
via email, ela remete aos pri-
mórdios da internet. Ao longo
dos últimos anos, essa forma de
comunicação direta com o pú-
blico tem ganho o gosto de mui-
tos produtores de conteúdo,
cansados de ter o alcance de
suas ideias reduzido por conta
dos algoritmos e das bolhas das
redes sociais. Como tudo que
chama a atenção na rede hoje, a
ideia também virou negócio pe-
las mãos do Substack, uma das
empresas mais discutidas do
Vale do Silício no presente.
Fundado em 2017 pelo enge-
nheiro Chris Best, o matemáti-
co Jairaj Sethi e o jornalista de
tecnologia Hamish McKenzie,
o Substack ganhou popularida-
de ao criar um serviço simples,
mas eficaz. Mais do que uma fer-
ramenta gratuita de disparo pa-
ra emails a uma lista de conta-
tos, a empresa oferece a nova-
tos e veteranos escritores uma
variedade de recursos. Entre
eles, estão um site para hospe-
dar os textos, um editor de tex-
to eficiente e uma ferramenta
que permite o pagamento de as-
sinaturas – o que faz a empresa
vender aos criadores de conteú-
do o sonho de pagar suas con-
tas apenas escrevendo, manten-
do a propriedade e o controle
intelectual sobre suas criações.
“O que você escreveu é seu”,
diz um dos lemas da empresa.
Desde o início, o Substack
afirma já ter ajudado seus usuá-
rios a faturar mais de US$ 300
milhões – a empresa fica com
uma fatia de 10% do valor pago
pelos usuários nas assinaturas.
A promessa atraiu nomes de pe-
so, que enviam “cartas” pelo
Substack, gente como o escri-
tor Chuck Palahniuk, a cantora
Patti Smith, o repórter vence-
dor do Prêmio Pulitzer Sey-
mour Hersh e o jornalista de tec-
nologia Casey Newton, que lar-
gou um emprego no portal refe-
rência The Verge para abrir seu
próprio veículo pela platafor-
ma. Investidores renomados,
como o fundo de venture capi-
tal Andreessen Horowitz, em-
barcaram na ideia – a empresa
já levantou mais de US$ 85 mi-
lhões em rodadas de aportes.
Os fundadores McKenzie, Best (CEO) e Sethi; serviço entrou na mira do Twitter comandado por Musk
Para além dos nomes estrela-
dos, a meta de ser um “oásis”
para quem produz conteúdo
em escrito na internet colocou
a Substack na rota de mira do
homem mais rico do mundo:
Elon Musk, fundador da Tesla e
dono do Twitter – rede social
que também tinha o coração
dos “órfãos” de mensagens em
texto. Do início do ano para cá,
enquanto Musk tentava enten-
“O Substack pode
ir muito além do
que já fazem hoje,
que é hospedar o
conteúdo”
“Não há outro lugar
social com notícias e
entretenimento
como o Twitter,
mas o Substack pode
muito bem fazer isso”
Matt Navarra
Consultor especializado
em redes sociais
der o que queria fazer com a re-
de do passarinho azul, o Subs-
tack fez campanhas para atrair
usuários decepcionados com
as mudanças promovidas pelo
empresário e com suas opi-
niões políticas.
A batalha mais tensa aconte-
ceu em abril, quando o serviço
de newsletters lançou o Notes,
um similar do Twitter, dentro
de seu próprio aplicativo. Havia
uma diferença fundamental: ze-
ro anúncios. “Já houve um tem-
po em que as redes sociais eram
mais divertidas do que assusta-
doras, mas não há como voltar
atrás. Ao mudar as regras de en-
gajamento, acreditamos que a
internet pode ser melhor do
que já foi”, escreveram os funda-
dores do Substack.
RETALIAÇÃO. O Twitter de
pronto retaliou: passou a redu-
zir o engajamento de tuítes que
incluíssem links para o Subs-
tack, que respondeu deixando
de permitir que suas newslet-
ters incluíssem tuítes. “Foi um
episódio de uma guerra de san-
gue, que deixou claro que o
Substack pode ir muito além do
que já fazem hoje, que é hospe-
dar o conteúdo”, afirma o britâ-
nico Matt Navarra, consultor
de redes sociais.
Para Alexandre Inagaki, pu-
blicitário e especialista em mí-
dias sociais, o Substack tenta
reunir um pouco das virtudes
de diferentes plataformas. “Do
compartilhamento de notas
curtas até longos textos, é uma
tentativa de dar ao produtor de
conteúdo os recursos para criar
uma comunidade em torno de-
le, o que é uma forma de ajudar
todo mundo a monetizar”, diz.
Ele próprio é um veterano das
newsletters: nos anos 1990, ele
enviava uma missiva regular-
LINK
SUBSTACK-3/7/2019
mente a mais de 3 mil assinan-
tes, sem plataforma de disparo.
“Era tudo no braço, eu mandava
uns 15 emails com o mesmo con-
teúdo com as pessoas copiadas”,
lembra. Depois disso, Inagaki vi-
veu o auge e o declínio dos blogs
pessoais com a coluna Pensar En-
louquece, Pense Nisso – o endere-
ço pessoal chegou a atrair milha-
res de visitantes, mas, como mui-
tos criadores de conteúdo, pas-
sou a perder espaço quando as
redes sociais passaram a concen-
trar o conteúdo dentro de suas
próprias plataformas. Há pou-
cas semanas, Inagaki voltou a es-
crever… no Substack – e a apre-
sentação da coluna resume tu-
do: “um ex-blog que não virou
TikTok por ser desengonçado
demais pra fazer dancinhas.”
INCENTIVOS. A batalha com o
Twitter e a vasta quantidade de
funcionalidades mostram a
agressividade do Substack, ao
menos nos negócios. Desde sua
fundação, o serviço decidiu
usar parte do dinheiro levanta-
do no capital de risco para
atrair autores e escritores – em
reportagem recente, o New
York Times revelou que contra-
tos de exclusividade chegavam
a beirar US$ 500 mil por dois
anos de newsletters. Além dis-
so, o serviço criou diversos edi-
tais de incentivo, como o Subs-
tack Local, para iniciativas de
jornalismo regionais.
A gratuidade da plataforma e
B7
‘Mentoria foi preciosa’,
conta autora que teve
incentivo da plataforma
A jornalista e escritora bra-
sileira Gaía Passarelli foi
uma das 12 contempladas
com programa de incentivo
do Substack. A newsletter
dela, a “Pauliceia”, oferecia
um guia do panorama cultu-
ral de São Paulo na pande-
mia. “Fiquei um ano escre-
vendo sobre o que eu que-
ria escrever e sendo paga
para isso”, lembra a autora,
que participava ainda de
reuniões com o time técni-
co da empresa, tinha acesso
a novas funcionalidades e
dicas para transformar sua
cria em um negócio. “A inte-
ração e a mentoria foram
preciosas”, conta. l B.C.
a possibilidade de oferecer assi-
naturas de um jeito fácil atraí-
ram a criadora de conteúdo cata-
rinense Cristal Muniz – vetera-
na da internet, ela já produziu
conteúdo para blog, site, canal
no YouTube, Instagram, Twit-
ter, TikTok e até livro, sobre sus-
tentabilidade, sob o título Um
Ano Sem Lixo. No Substack, é do-
na da newsletter Cuca Fresca,
com cerca de 8 mil inscritos.
COMPARAÇÃO. “Em outras pla-
taformas, eu pagava por planos
de acordo com a audiência, gasta-
va até uns R$ 400 por mês. Além
disso, usava uma plataforma de
financiamento coletivo para ter
assinaturas, mas o sistema não
tinha um aspecto de comunida-
de e eu tinha vontade de ter uma
newsletter”, diz Muniz, no Subs-
tack desde janeiro de 2022.
Para seus assinantes, ela cos-
tuma oferecer um Clube do Li-
vro, com discussões ao vivo pe-
lo Zoom – mas confessa que a
iniciativa está em hiato por con-
ta do baixo interesse. Para ela, é
uma das diferenças culturais en-
tre o Brasil e os EUA, e que dei-
xa o cenário de monetização
proposto pelo Substack um bo-
cado mais distante. “Sinto que
as pessoas têm dificuldade no
Brasil de pagar por conteúdo,
apenas para receber textos –
elas precisam sentir que estão
recebendo uma vantagem, não
vão colaborar por colaborar.
Nos EUA, é diferente”, diz. l
B8
Imagem pessoal Comportamento
Ser autêntico no trabalho
pode ser ruim, diz estudo
Pesquisadores americanos afirmam que nem sempre a
autenticidade é igualmente benéfica para todos os contextos
ACADEMY OF MANAGEMENT INSIGHTS
Todo mundo parece estar fa-
lando da importância de sem-
pre ser você mesmo com to-
dos. Mas será que isso pega
bem no trabalho?
“A moda agora na mídia e
nas revistas de negócios é que
a autenticidade é ótima, e que
os líderes e funcionários de-
viam ser eles mesmos no tra-
balho. Mas a autenticidade
não é igualmente benéfica pa-
ra todo mundo em todos os
contextos”, disse Sandra Cha,
da Universidade Brandeis,
principal autora de um artigo
publicado no Academy of Ma-
nagement Annals, Being Your
AJUDANTE GERAL
Para trabalhar na Z.Norte, Cacho-
eirinha. Deve ter CNH válida.Enviar
CV p/ minhavaga.cv@outlook.com
PARCEIRO COML.
Consórcio e energia solar no País
www.consorciocanopus.com.br ou
www.canopussp.com.br
Torna pública a abertura de processo seletivo para contratação e formação
de cadastro reserva nacional para atuar em Santo André/SP.
Assistente Administrativo II – Nº 662/23.
Instrutor de Esporte- Nº 895/23.
Para mais informações, acesse o endereço eletrônico:
http://www.sestsenat.org.br/trabalhe-conosco,
durante o período de inscrições, que será de 23/05 a 30/05/2023.
O processo seletivo terá as seguintes etapas: avaliação de conhecimentos específicos,
avaliação documental e entrevista.
Ôáàáï ïëßåÝåï
Ñ æëîêÝèåïéë êÝï
îáàáï ïëßåÝåï ìáàá
ñéÝ èåêãñÝãáé
áïìáߎğßÝ á éñåðÝ
ÝãåèåàÝàá ìÝîÝ
ßëêíñåïðÝî ë
ìƃÞèåßë á éÝêðƴ™èë
ÝðñÝèåöÝàë ë àåÝ
ðëàë Ãïïåé òëßƴ
ïá éÝêðżé  ‘ØÇÏ
äëîÝï àáêðîë àÝ
êëðŽßåÝ
ÔáêÝðÝ ÅÝâÝîàë ßëèñêåïðÝ á îáìƀîðáî
áïìáßåÝè àë ÇïðÝàƾë
CARREIRAS&EMPREGOS
True Self at Work: Integrating
the Fragmented Research on Au-
thenticity in Organizations
(“Sendo seu verdadeiro eu no
trabalho: Integrando a pesqui-
sa fragmentada sobre autenti-
cidade às organizações”, em
tradução livre).
“A pesquisa corrobora que a
autenticidade pode levar a be-
nefícios psicológicos, como
tornar as pessoas mais felizes
e mais energizadas no traba-
lho”, disse Sandra, que divide
a autoria do artigo com Patri-
cia Faison Hewlin, da Univer-
sidade McGill; Laura Morgan
Roberts, da Universidade
Georgetown; Brooke Buck-
man, da Universidade Interna-
cional da Flórida; Hannes Le-
ARARAQUARA
Faixa etária: de 14 a 21 anos e 11
meses. Cursando no mínimo 8º
série/9º ano do Ensino Funda-
mental. Cursando Ensino Médio do
1º ao 3º ano. Formados no Ensi-
no Médio, sem ingresso no Ensino
APRENDIZ Superior. Renda familiar:jovens
Ter disponibilidade para trabalhar oriundos de família cuja renda per
das 13:30 às 17:30. Cursando ou
formado no Ensino Médio. Ter en-
capita não ultrapasse a 01 (um)
salário-mínimo Nacional, caso es-
tre 18 à 22 anos. Ter fácil acesso
te requisito não seja atendido en-
ao bairro do Limão. Das 13:30 às tre os candidatos, poderá ser alte-
17:30. São Paulo - SP. R$ 753. rado conforme avaliação e à crité-
00, Vale Transporte, Vale Refeição, rio do SEBRAE. Não ter atuado
Seguro de Vida, Auxílio Farmácia. como jovem aprendiz no arco ad-
https://ciee-vagas.taqe.com.br/ ministrativo. Disponibilidade para
ciee/jti-aprendiz-v6 trabalhar das 9h às 15h ou 10h30
às 16h30 (6 horas diárias). 30
horas Semanais. 2 folgas Sema-
nais. Araraquara - SP. A combinar
Vale Transporte, Assistência Médi-
ca, Aux. Refeição de R$ 20,00/
dia, Seguro de Vida. https://ciee-
vagas.taqe.com.br/ciee/sebrae-
ourinhos-v5
ICQC
2022-24
roy, da Universidade Eras-
mus; Erica Steckler, da Univer-
sidade de Massachusetts
Lowell; Kathryn Ostermeier,
da Universidade Bryant; e Da-
nielle Cooper, da Universida-
de do Norte do Texas.
Os autores analisaram cente-
nas de artigos de pesquisa de
psicologia e negócios sobre au-
tenticidade publicados desde
o fim da década de 1990, inclu-
indo 11 do Academy of Manage-
ment Journal e seis da Aca-
demy of Management Review.
Ao descrever a recente “on-
da de interesse público pela au-
tenticidade”, os autores destaca-
ram que a crença de que as pes-
soas deveriam ser autênticas exis-
te há milhares de anos, promovi-
ESTÁGIO ADMINISTRATIVO
Estudantes cursando: Administra-
ção de empresas no período no-
turno; Formação a partir de 06/
2025; Desejável: Inglês Interme-
diário; Desejável: Conhecimento
em Pacote Office; Disponibilidade
para atuar presencialmente em
Jaguariúna/SP (Transporte Freta-
do). Vaga destinadas também pa-
ra pessoas com deficiência Auditi-
va, Física e Reabilitado. Das 09:00
às 15:30. Jaguariúna - SP. De
R$1,500.00 até R$1,700.00,
Restaurante no local, Transporte
Fretado, Assistente Médica, Assis-
tência Odontológica, Seguro de vi-
da. https://ciee-vagas.taqe.com.
br/ciee/flex-estagio-administrati-
vo-it-jaguariuna-v1
ÃÅÇÕÕÇ ÐÑÕÕÃÕ ÔÇÆÇÕ ÕÑÅËÃËÕ
ÒÇÐÕÃÔ
ÅÑÏ
à ÉÇÐÖÇ
Para anunciar:
(11) 3855-2001
da por filósofos, de Sócrates a
Jean-Paul Sartre, e por psicólo-
gos como Abraham Maslow.
Para algumas pessoas, a au-
tenticidade também pode me-
lhorar a imagem profissional,
os resultados da carreira e a efi-
cácia como líderes. “As pes-
soas ficam animadas quando
conhecem alguém que parece
‘real’. Ou quando têm um líder
que parece ser autêntico e dire-
to. Cada vez mais esperamos
que as pessoas sejam autênti-
cas no trabalho e usamos a au-
tenticidade como um critério
com o qual avaliamos as pes-
soas”, explicou Sandra.
INCOMPATIBILIDADE. Mas,
quando há uma incompatibili-
dade entre seu verdadeiro eu
e as normas em vigor, levar
seu verdadeiro eu por comple-
to para o trabalho pode ser di-
fícil e possivelmente ter con-
sequências negativas para sua
imagem e carreira, escreve-
ram os autores.
Os autores também citaram
pesquisas sobre “identidades
desvalorizadas” socialmente e
estigmas no lugar de trabalho
que podem afetar mulheres,
grávidas, minorias raciais e reli-
giosas, funcionários LGBT+,
trabalhadores com deficiên-
ESTÁGIO EM ESTÁGIO EM ENGENHARIA DE
ADMINISTRAÇÃO PRODUTOS
Curso Superior e/ou Técnico em Ter disponibilidade para estagiar
andamento em Administração e das 9:00 às 16:00. Cursar Ensino
área correlatas ; Cursando a partir Superior em Engenharia Mecânica
do 1º ano; Domínio na comuni- - Formação mínima para Junho de
cação escrita e verbal em portu- 2025. Cursar Ensino Superior em
guês; Disponibilidade de estagiar Engenharia de Gestão/Produção -
6H/dia; Fácil acesso a Campos do Formação mínima para Junho de
Jordão-SP; Conhecimentos Pacote
Office e Internet Disponibilidade
2025. Cursar Ensino Superior em
Engenharia de Materiais - Forma-
para estagiar durante a semana de ção mínima para Junho de 2025.
segunda a sexta-feira, com carga Ter fácil acesso a região de Mauá.
horária de 30 horas semanais; Segunda-feira. Das 09:00 às
Recomenda-se que o candidato 16:00. Mauá - SP. De R$1,549.20
interessado na vaga informe-se até R$2,097.60, Vale Transporte,
sobre o Museu Felícia Leirner e Assistência Médica, Seguro de Vi-
Auditório Claudio Santoro (www. da, Tíquete Alimentação, Assistên-
museufelicialeirner.org.br). 30 ho- cia Odontológica. https://ciee-va-
ras Semanais. 2 folgas Semanais. gas.taqe.com.br/ciee/saint-goba-
Campos do Jordão - SP. R$ in-estagio-em-engenharia-de-pro-
1,265.00, Vale Transporte, Seguro dutos-maua-v2
de Vida. https://ciee-vagas.taqe.
com.br/ciee/acam-portinari-esta-
gio-em-administracao-campo-do- ESTÁGIO EM FINANÇAS
jordao-v1 Cursando superior em Administra-
ção ou Contabilidade com forma-
ção prevista entre junho de 2024
e junho de 2025; Cursando Ges-
ESTÁGIO EM DIREITO
Ter disponibilidade para estagiar tão Comercial, Gestão Empresarial
das 13:00 às 19:00. Estudantes do e/ou Gestão Financeira - Forma-
ção entre junho de 2024 e junho
Ensino Superior em Engenharia
de 2025; Residir em Lorena, Pi-
Direito - Previsão de formação mí-
nima para Junho de 2025. Ter fá- quete, Canas, Cachoeira Paulista ou
cil acesso ao bairro Bela Vista. Das Cruzeiro/SP. Disponibilidade para
13:00 às 19:00. São Paulo - SP. R$ realizar estágio de Segunda a
1,100.00, R$ 900,00 para VT e VR. Sexta-Feira no horário comercial
durante 6 horas diárias (a combi-
https://ciee-vagas.taqe.com.br/
nar). O estágio será em Lorena/SP.
ciee/fink-lins-e-silva-advocacia-
estagio-em-direito-v1 Conhecimento no Pacote Office. 30
horas Semanais. 2 folgas Sema-
nais. Lorena - SP. R$ 800.00, Vale
Transporte, Vale Refeição, Assis-
tência Médica. https://ciee-vagas.
taqe.com.br/ciee/unimed-esta-
gio-em-financas-lorena-v1
ESTÁGIO EM MARKETING
Ter disponibilidade para estagiar 6
horas diárias. Cursar Ensino Supe-
rior em Marketing - Previsão de
formação mínima para dezembro
de 2024. Cursar Ensino Superior
em Publicidade e Propaganda -
Previsão de formação mínima pa-
ra dezembro de 2024. Cursar En-
sino Superior em Relações Públi-
cas - Previsão de formação míni-
ma para dezembro de 2024. Cur-
sar Ensino Superior em Comuni-
cação Social - Previsão de forma-
ção mínima para dezembro de
2024. Possuir conhecimento
avançado no Inglês. Ter fácil aces-
so à Vila Olímpia. Das 09:00 às
16:00. São Paulo - SP. R$ 2,600.
00, Vale Transporte, Vale Refeição.
https://ciee-vagas.taqe.com.br/
ciee/qlik-estagio-em-marketing-v3
,QVFULo}HVJUDWXLWDVHLQIRUPDo}HV
7HO
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
cias e com doenças como HI-
De modo semelhante, expres-
sar identificação étnica de for-
ma mais intensa está associa-
do a avaliações mais negativas
das minorias étnicas. Por
exemplo, mulheres negras
com cabelo afro (natural, sem
alterações químicas ou alisa-
do) recebiam avaliações me-
nos favoráveis em termos de
domínio e profissionalismo”,
escreveram os autores.
“Líderes sensíveis
criarão ambientes nos
quais as pessoas
não precisem
pagar esse preço
para serem
autênticas”
Sandra Cha
Universidade Brandeis
“Esperamos que as pessoas
fiquem mais conscientes dos
desafios e das tensões em tor-
no da autenticidade enfrenta-
das por um grande número de
pessoas. Líderes sensíveis
criarão ambientes nos quais
as pessoas não precisem pa-
gar esse preço para serem au-
tênticas”, disse Sandra. l TRADU-
ÇÃO DE ROMINA CÁCIA
ESTÁGIO EM PLANEJAMENTO PROGRAMA DE ESTÁGIO
Estudantes cursando: Administra- 2023
ção ou Engenharia no período no- Estudantes dos cursos: Adminis-
turno; Formação a partir de 12/ tração de empresas, Recursos Hu-
2024; Necessário: Inglês Avança- manos, Tecnologia da Informação,
do (para conversação); Necessá- Direito, Química , Engenharia Quí-
rio: Conhecimento Avançado em mica, Processos Químicos, Enge-
Pacote Office; Disponibilidade pa- nharia de Produção, Engenharia
ra atuar presencialmente em Ja- Ambiental, Engenharia da Quali-
guariúna/SP (Transporte Fretado).
Vaga destinadas também para
dade / Tecnólogo em Gestão Am-
biental, Engenharia da Qualidade.
pessoas com deficiência Auditiva, Previsão de formação em 12/
Física, Reabilitado. Das 09:00 às 2024; Conhecimento em Inglês -
15:30. Jaguariúna - SP. De desejável para posições específi-
R$1,500.00 até R$1,700.00, cas Conhecimento em Excel - de-
Restaurante no local, Transporte sejável para posições específicas.
Fretado, Assistente Médica, Assis- Disponibilidade para atuar de se-
tência Odontológica, Seguro de vi- gunda a sexta das 08h às 15h;
da. https://ciee-vagas.taqe.com. Residir em Sumaré ou cidades
br/ciee/flex-estagio-em-planeja- próximas: Hortolândia, Campinas,
mento-jaguariuna-v1 Nova Odessa e Americana. Das
08:00 às 15:00. Sumaré - SP. R$
1,472.00, Vale-Transporte ou Fre-
ESTÁGIO EM PREÇOS / tado, Assistência Odontológica,
FINANCEIRO Assistência Médica, Refeitório Lo-
Ter disponibilidade para estagiar cal, Programa de, Desenvolvimen-
das 8:00 às 15:00. Estudantes do to, Gympass. https://ciee-vagas.
Ensino Superior em Administração taqe.com.br/ciee/ppg-programa-
- Previsão de formação mínima de-estagio-2023-nivel-superior-
para Junho de 2025. Estudantes do sumare-v2
Ensino Superior em Economia -
Previsão de formação mínima pa-
ra Junho de 2025. Estudantes do ZOETIS - APRENDIZ
Ensino Superior em Contabilidade Ter disponibilidade para trabalhar
- Previsão de formação mínima das 8:00 às 14:00. Cursando ou
para Junho de 2025. Estudantes do formado no Ensino Médio. Residir
Ensino Superior em Gestão Finan- em Campinas ou proximidades.
ceira - Previsão de formação míni- Das 08:00 às 14:00. Campinas -
ma para Junho de 2025. Possuir SP. R$ 1,428.00, Vale Refeição,
conhecimento intermediário no Vale Transporte. https://ciee-va-
Inglês (diferencial). Possuir conhe- gas.taqe.com.br/ciee/zoetis-
cimento intermediário no Excel. aprendiz-campinas-v7
Residir em Sorocaba ou Votoran-
tim. Das 08:00 às 15:00. Soroca-
ba - SP. De R$1,500.00 até
R$1,700.00, Transporte Fretado,
Assistente Médica, Assistência
Odontológica, Vale Refeição ou
Alimentação, Refeitório no Local,
Possibilidade de Efetivação.
https://ciee-vagas.taqe.com.br/
ciee/flex-estagio-em-precos-fi-
nanceiro-sorocaba-v1
FUTURE ELETRONICS DO
BRASIL
Cursando bacharel do 4o ao 6o
semestre de: Administração e
Economia Inglês intermediário;
Pacote Office intermediário; Fácil
acesso ao Centro de Campinas - SP.
Estágio de 6h/dia ( dento do ho-
rário comercial entre 8:00 e 17:30
hs ). 30 horas Semanais. 2 folgas
Semanais. Campinas - SP. R$
2,000.00 Auxilio Transporte, Vale
Refeição. https://ciee-vagas.taqe.
com.br/ciee/future-electronics-
do-brasil-estagio-administrativo-
v1
2FXVWRpGHXPDOLJDomRORFDOHPTXDOTXHUUHJLmRGR3DtVPHVPRTXHVROLFLWHR'''

VLWHZZZFLHHRUJEURXQDXQLGDGH&,((PDLVSUy[LPD
LQIRUPDQGRRFyGLJRGDYDJD
ÃËÐÆà ÐƭÑ ŭ ÃÕÕËÐÃÐÖÇ ÎËÉ×Ç $ ## ""
 B9
OPORTUNIDADES&LEILÕES
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO Para anunciar:
(11) 3855-2001

Oportunidade Capacitação presidente da Abrasel.

Assim, o curso foca no que
é possível para os pequenos

Curso ensina bares e restaurantes empreendedores e evita te-

mas como a instalação de pai-
néis solares. “São dicas mais

a adotar práticas do conceito ESG ‘horizontais’. As pessoas mui-

Pequenas e médias empresas ainda encontram dificuldade para entender
como funcionam o cuidado com as questões ambientais, de governança e sociais
LUIS FILIPE SANTOS
A Coca-Cola, em parceria com
a Associação Brasileira de Ba-
res e Restaurantes (Abrasel) e
o Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae), lançou uma capacita-
ção na pauta ESG (questões
ambientais, sociais e de gover-
nança corporativa) para peque-
nos empreendedores do setor
de bares e restaurantes. O pro-
jeto Tempero Sustentável é
parte do programa “Coca-Co-
la dá um gás no seu negócio”,
voltado para conteúdo educati-
vo, e ficará disponível na inter-
net, no site cocacoladaumgas-
noseunegocio.com.
O curso será principalmen-
tas vezes dizem que nunca
ouviram falar de ESG, quan-
do se fala em painel solar, dis-
tancia o discurso delas”, afir-
mou Katielle.
“Indicamos, por exemplo,
colocar atenção na economia
circular, para ter ganhos em
te no formato de pílulas em ví- vegetariana ou vegana, para a redução de desperdício, co-
deo, protagonizados pelo ator adoção de boas práticas traba- “Indicamos, por mo reduzir gasto de óleo e
Hugo Bonemer, e divididas em lhistas e contratação de pes- exemplo, colocar vender o usado, contribuir pa-
quatro blocos. A ideia é expli- soas de grupos minorizados. atenção na economia ra uma reciclagem de vidro
car desde o básico dos concei- Em alguns casos, há a possibi- circular, para a ou alumínio, o que reduz o
tos até questões práticas do lidade de aprofundamento redução de desperdício” preço do produto que com-
dia a dia que permitam a aplica- por meio de outros cursos do Paulo Solmucci pra”, disse Solmucci.
ção do ESG. Também há info- Sebrae e da Abrasel. Presidente da Abrasel
gráficos, ferramentas interati- O curso foi montado princi- DIFERENCIAL. Os realizadores
vas e área para tirar dúvidas. palmente através da expertise do curso apostam numa via de
Entre os temas tratados, do Sebrae e da Abrasel, pelo mão dupla com os consumido-
há a organização e gestão das contato que as duas organiza- res: ao mesmo tempo em que
contas e pontos que podem ções têm com os empreende- ser responsável em questões
fazer a diferença, como redu- dores sobre o que os interessa sociais e ambientais pode ser
zir o desperdício de água e e o que pode ser útil. “A Abra- um diferencial, também se tor-
energia, facilitar a reciclagem sel fez uma curadoria qualitati- na uma oportunidade para
ou incentivar boas práticas. va para transformar o conteú- “educá-los”. “Bares e restau-
Há incentivos para comprar do do Sebrae em pílulas. Nos- rantes são pontos de encon-
de pequenos produtores e in- sa pergunta era: ‘Como trazer Coca-Cola Brasil. “O grande tro, então pode-se repassar a
centivar uma cadeia, para a di- para a realidade deles?’”, disse desafio educacional é cons- informação para os fornecedo-
versificação do cardápio vi- Katielle Haffner, head de Rela- truir metodologia de alto ní- res e clientes”, ressaltou Haff-
sando atender uma clientela ções Corporativas e ESG da vel”, afirmou Paulo Solmucci, ner. l

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023 CLASSIFICADOS B11
B12 ECONOMIA&NEGÓCIOS DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023 O ESTADO DE S. PAULO

C10 E C11 A fundo
Especialistas
alertam
sobre riscos
de vídeo e
música acelerados
Música Personalidades
Djavan e Samara Joy trocam confidências
A convite do ‘Estadão’, cantora americana, que se apresenta hoje no C6 Fest,
e o artista brasileiro conversam sobre formação e caminhos da diversidade musical
Aclamada como uma das gran-
des revelações do jazz nos últi-
mos anos, a cantora e composi-
tora norte-americana Samara
Joy, de 23 anos, se apresenta
pela primeira vez no Brasil nes-
te domingo, 21, dentro da pro-
gramação do C6 Fest.
Vencedora de dois prêmios
Grammys, Samara, que se con-
fessa fã de Duke Ellington e Sa-
rah Vaughan (leia mais na pági-
na C3), já colocou os olhos e os
ouvidos em pelo menos um
compositor brasileiro: Djavan.
Do artista alagoano, ela colo-
cou em seu repertório de
shows a canção Flor de Lis, lan-
çada por Djavan em 1975, a
qual ela canta em português –
Sarah, seu ídolo, também se
abriu às canções brasileiras.
É natural que ela quisesse co-
Senac Bebedouro, uma das 63 unidades
do Senac no Estado de São Paulo.
SP.SENAC.BR
SP.SENAC.BR
C1
CULTURA&
C2
COMPORTAMENTO
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023 O ESTADO DE S. PAULO
nhecer um pouco mais de Dja- Djavan e
van. Para essa reportagem, Sa- Samara Joy
mara enviou, a convite do Esta- conversaram
dão, algumas perguntas para o sobre suas
compositor. Em uma delas, influências e,
quis saber o que ele ouviu em claro, música
sua formação como músico.
Djavan, então, lhe mostrou o ca-
minho da diversidade musical.
MARIO ANZUONI/REUTERS – 5/2/2023
“Quem realmente me fez co-
meçar a pensar em fazer uma
música que tivesse esse leque
de informação bem diverso fo-
ram exatamente Luiz Gonzaga
NANA MORES
e Beatles, passando por bossa
nova, música africana e músicas
brasileiras, como as canções
nordestinas”, explicou Djavan,
que também enviou questões
para a ilustre fã.” l DANILO CASALETTI
LEIA AS RESPOSTAS QUE SAMARA JOY DEU
PARA AS PERGUNTAS DE DJAVAN NA PÁG. C3
informe publicitário
Há 77 anos somos referência na formação de profissio-
nais para o Comércio de Bens, Serviços e Turismo. E
atendemos muita gente! Só em 2022, foram 450 mil
matrículas. Em 2023, serão 180 mil bolsas de estudo
totalmente gratuitas, para pessoas de baixa renda.
Ao lado do Sesc, que tanto contribui para a cultura e
para o lazer socioeducativo, nos orgulhamos da nossa
trajetória e de tudo o que ajudamos a construir.

C2 CULTURA&COMPORTAMENTO
Reality
Sérgio Zimerman é o novo
‘tubarão’ do Shark Tank
mpresário do mercado
E pet brasileiro, CEO da
Petz e membro do Con-
selhão do governo fede-
ral, Sergio Zimerman agora en-
carna mais um papel: o de tuba-
rão do programa Shark Tank
Brasil. Ele vai ser um dos inte-
grantes da 8ª edição do reality
show, encarregado de dizer
sim ou não para propostas em-
preendedores em busca de fi-
nanciamento para suas ideias
de negócios.
Na próxima edição do rea-
lity no Sony Channel, prevista
para estrear em setembro, Zi-
merman é uma das novidades
ao lado de Joel Jota, ex-nada-
dor da seleção brasileira e Mo-
nique Evelle, investidora-an-
jo, escritora, a mais jovem da
edição. Eles se juntam aos vete-
ranos João Appolinário, funda-
dor da Polishop; Carol Paiffer,
CEO da ATOM S/A e José Car-
Direto da Fonte
Gilberto Amendola
los Semenzato, presidente do
conselho da SMZTO. Luitha
Miraglia conduz a apresenta-
ção do programa.
Os sharks farejam oportuni-
dades para ampliar sua cartei-
ra de investimentos; fecham
acordo no programa e depois
há um período de diligências
de seis meses a um ano para
conferir dados e documentos
apresentados antes de concre-
tizar o negócio. Confira a en-
trevista com Zimerman:
Qual é o seu objetivo no
programa?
Em primeiro lugar é aprender.
Estar ao lado de outros sharks
vai ser extremamente interes-
sante e enriquecedor. E poder
pegar uma ou mais histórias e
fazer a diferença na vida des-
ses empreendedores.
Como está se preparando
gilberto.amendola@estadao.com
Ele é CEO da Petz e membro do Conselhão do governo federal
para as gravações?
Sobretudo assistindo vários
episódios, conversando com
pessoas e construindo refle-
xões sobre a forma de atuar.
E a interação com os ou-
tros participantes?
Tenho relacionamento com
João Appolinário, conheci a
TIAGO QUEIROZ
Carol Paiffer, conheço o José
Carlos Semenzato.
É difícil te convencer a in-
vestir? O que pesa mais na
decisão?
Sim, é difícil, mas neste forma-
to de programa absolutamen-
te inusitado, onde tem menos
de uma hora para tomar a deci-
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
MARCELA PAES | MARCELA.PAES@ESTADAO.COM
PAULA BONELLI | PAULA.BONELLI@ESTADAO.COM
são de investir ou não, vou es-
tar numa curva de aprendiza-
do para ter esse discernimen-
to. O que pesa na decisão é o
perfil rápido do empreende-
dor mais do que a ideia. O jeito
dele é o que vai me atrair.
Quais são os prováveis er-
ros das propostas que che-
gam no programa?
Essa é a minha primeira tempo-
rada, mas pelo o que vi nas ou-
tras edições, há erros de ‘valua-
tion’ (avaliação do valor da em-
presa) que estão absolutamen-
te desancorados da realidade.
Outro problema é a falta de ar-
gumentação.
O proponente deve seduzir
ou focar mais na viabilida-
de financeira?
Como tem menos de uma ho-
ra, a viabilidade financeira não
é muito complexa. Com o ma-
terial inicialmente dado, consi-
go bater o olho e ter uma no-
ção. Entendo que o empreen-
dedor deve focar mais em mos-
trar o brilho nos olhos pelo pro-
jeto. l PAULA BONELLI
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Samara Joy
‘Música brasileira
está em mim desde
que a conheci’
Ganhadora do Grammy,
cantora americana de jazz é um dos
destaques do C6 Fest deste domingo
ENTREVISTA
Também com show em
SP no fim de semana, o
cantor Djavan enviou
perguntas à nova estrela
do jazz Samara Joy, Fiquei muito feliz em saber
que ela responde aqui que você tem cantado Flor
DANILO CASALETTI
javan, de 74 anos,
D músico, cantor e com-
positor brasileiro. Sa-
mara Joy, de 23 anos, cantora e
compositora norte-america-
na de jazz, vencedora do
Grammy 2023 na categoria re-
velação do ano, derrotando a
brasileira Anitta.
Ambos com shows no fim
de semana na cidade – Djavan,
com quase 50 anos de carreira,
apresentou no sábado a turnê
de seu mais recente álbum, D,
no Espaço Unimed, enquanto
Samara, nova estrela o jazz, é
um dos destaques deste do-
mingo, 21, do C6 Fest, no qual
deverá apresentar também
músicas de seu álbum premia-
do, Linger Awhile.
A pedido do Estadão, Dja-
van enviou perguntas que fo-
ram respondidas por Samara.
A música, claro, foi o tema prin-
cipal. Confira como foi o bate-
papo realizado a distância.
de Lis (música composta
por Djavan) em sua turnê.
Como é sua relação com a
música brasileira?
(Flor de Lis) é uma música tão
linda! Conheci a música brasi-
leira pela primeira vez há al-
guns anos, quando estava na
faculdade. As letras e melo-
dias distintas dentro do gêne-
ro continuam a ressoar em
mim até hoje.
Quais são suas maiores ins-
pirações na música mun-
dial?
Minhas maiores inspirações
vão de Duke Ellington, Sarah
Vaughan, George Duke e Lalah
Hathaway a artistas da Mo-
town e Philly Soul.
Você é muito jovem, mas
‘Flor de Lis’ é uma música tão linda, diz Samara sobre clássico de Djavan que vem cantando em turnê
“A improvisação
e colaboração dentro
da tradição do jazz,
combinadas com minha
formação musical, é
tudo que eu precisava”
Samara Joy
Cantora de 23 anos
já é reconhecida como
uma das grandes vozes do
jazz. Qual a importância
do gênero na sua forma-
ção musical?
O jazz me permitiu explorar
completamente todos os la-
dos da minha identidade musi-
cal. Embora eu tenha crescido
ouvindo uma variedade de ar-
CULTURA&COMPORTAMENTO
tistas, nunca senti que me en-
caixava em uma faixa ou gêne-
ro específico. Os aspectos de
improvisação e colaboração
dentro da tradição do jazz,
combinados com minha for-
mação musical, é tudo que eu
precisava para sentir que mi-
nha voz pode brilhar de várias
maneiras.
Quais são os nomes que vo-
cê admira na nova cena do
jazz? E na música como um
todo?
Há muitos músicos frequen-
tando os clubes de jazz da ci-
dade de Nova York. Tenho co-
laborado intencionalmente
com meus colegas na cena ulti-
mamente – bateristas como
Evan Sherman, trompistas co-
C3
MARIO ANZUONI/REUTERS – 5/2/2023
mo Jason Charos e Don Aus-
tin e pianistas como Luther Al-
lison e Cameron Campbell.
Quanto à música como um to-
do, admiro Cécile McLorin
Salvant, Christian McBride e
Jazzmeia Horn.
Você acaba de ganhar dois
Grammys. Parabéns, aliás!
Quais foram as mudanças
mais marcantes em sua car-
reira após a premiação?
Muito obrigado! Acho que a
mudança mais perceptível te-
ria de ser a quantidade de no-
vos apoiadores que se junta-
ram a mim nessa jornada.
Acho que nunca vou me ajus-
tar totalmente a toda essa aten-
ção, mas é bom saber que as
pessoas gostam do que faço. l
 DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
C4 CULTURA&COMPORTAMENTO O ESTADO DE S. PAULO

Horóscopo Martin Amis 1949-2023 confortável casa bem ao lado

do campo de extermínio. O fil-
Quiroga Escritor ajudou a definir me foi apresentado como “arre-
piante” e “tenebroso” pela críti-
oscar@quiroga.net
ca internacional – mesmo não

Lutar a favor
Data estelar: Sol ingressa em
Gêmeos em trígono com Plutão
bom saber, logo de en-
Lutar contra o que nos do-
mina e impõe densidades é
uma atitude que cumpre sua
função por um tempo, mas
que corre o risco de se voltar
a cena literária britânica mostrando nenhuma cena ex-
plícita de violência.
Filho do escritor Kingsley
e criou obras célebres Amis, Martin participou da
Festa Literária Internacional
de Paraty em 2002, quando di-

É trada, que nunca nos

livramos de nossos de-
mônios interiores, aque-
les titãs que serpenteiam ten-
tando nos derrubar. O que con-
contra nós, porque vamos ab-
sorvendo a força de nosso ini-
migo até despertar um dia e
ver, no espelho, o inimigo que
com tanta fúria combatíamos.
OBITUÁRIO

ISABEL FONSECA/ALFRED A. KNOPF/REUTERS

seguimos fazer, na melhor das
hipóteses, é deixar que falem
sozinhos, sem lhes prestar
atenção, porque nos interessa
muito mais o que aspiramos
conhecer, do que lutar contra
o que nos impede conhecer.
ÁRIES 21-3 a 20-4
O contato social é be-
néfico, mesmo que
aconteçam atritos e de-
sentendimentos, porque até nes-
se aspecto o benefício colhido é
conhecer melhor as pessoas
com que você se relaciona, e elas
também conhecerem você.
Lutar a favor é muito mais
eficiente e prático do que lu-
tar contra, mas requer presen-
ça de espírito em vez de fú-
ria, imaginação ativa e con-
fiança alegre na vida, em vez
de desespero e raiva. l
TOURO 21-4 a 20-5
Dá para consertar tudo,
mas para isso é necessá-
rio se despir do pudor
de não sair bem na foto, porque
seria mais adequado e aceitável
varrer tudo para baixo do tapete
e se fingir de morto, mas aí o
conserto não aconteceria.
O
escritor britânico Mar-
tin Amis morreu na
sexta-feira, 19, aos 73
anos, em casa, em decorrência
de um câncer de esôfago. O
anúncio foi feito ontem, 20, por
sua mulher, a escritora america-
na Isabel Fonseca.
No dia de sua morte, Cannes
assistia à exibição do filme The
Zone of Interest, de Jonathan Gla-
zer, baseado no romance A Zo-
na de Interesse, de Amis, publica-
do no Brasil em 2015 pela Com-
panhia das Letras. A obra retra-
ta a vida do comandante de Aus-
chwitz e de sua família, em uma
QUADRINHOS
Minduim Charles M. Schulz
vidiu a mesa com outro consa-
grado autor britânico – Ian
McEwan. Conhecido por seu
estilo cáustico, erudito e som-
brio, ele ajudou a redefinir a
ficção britânica entre os anos
1980 e 1990.
Entre suas principais obras es-
tão A Zona de Interesse, Campos
de Londres, Grana e The Rachel
Papers, que também ganhou
adaptação cinematográfica em
1989. E ainda Experiência, A Viú-
va Grávida, A Casa dos Encon-
tros, O Cão Amarelo, Trem Notur-
no, A Seta do Tempo e Os Outros:
Uma História de Mistério. l

GÊMEOS 21-5 a 20-6 CÂNCER 21-6 a 21-7

Tome a iniciativa de
colocar em prática suas
intenções, nem que
seja para medir os resultados e
fazer os ajustes pertinentes a
cada caso. Hoje é um dia de tes-
tes, para sua alma reconhecer o
terreno que pisa.
Seja fiel aos seus senti-
mentos, mas tenha em
mente que por mais in-
tensos que esses sejam, nada ga-
rante que sejam os melhores pos-
síveis diante das circunstâncias.
Seja fiel aos seus sentimentos,
mas realista também. Recruta Zero Mort Walker

LEÃO 22-7 a 22-8 VIRGEM 23-8 a 22-9

Apesar dos pesares e
dos conflitos inciden-
tais, sempre há por aí
uma mão amiga disposta a aju-
dar, ou pelo menos aliviar um
pouco o peso, e por mais que es-
se seja um momento fugaz, vale a
pena o aproveitar enquanto dura.
Para que a vida não pe-
se, você precisa se li-
vrar das tarefas, e isso
só acontece porque você as
cumpre, já que se você cair na
tentação de deixar tudo para
depois, só aumenta a conta
Turma da Mônica Maurício de Sousa
que, depois, vai ter de pagar.

LIBRA 23-9 a 22-10 ESCORPIÃO 23-10 a 21-11

É possível aprender al-
go com tudo que acon-
tece, isso é uma certeza,
mas é certeza, também, que esse
aprendizado não acontece es-
pontaneamente, por trás desse
há de haver uma alma com boa
vontade de aprender.
Bons sentimentos não
são eternos, sempre
acontece algo que fun-
ciona como gatilho dos sentimen-
tos de divisão e confronto. Na
verdade, os bons e maus senti-
mentos se alternam e misturam O melhor de Calvin Bill Watterson
na alma de todo ser humano.

SAGITÁRIO 2-11 a 21-12 CAPRICÓRNIO 22-12 a 20-1

Em alguns momentos
da vida é preciso se
aproximar das pessoas
que, na prática, a alma quer ver
pelas costas, mas que por essas
coisas dos interesses envolvidos,
é necessário fazer algum tipo de
acordo. Ponto final.
Há coisas práticas que
devem ser prioriza-
das, mas isso depende
inteiramente de sua vontade,
porque de todo modo o desfi-
le de distrações continuará
Frank & Ernest Bob Thaves
acontecendo, e sua alma terá
de decidir o que priorizar.

AQUÁRIO 21-1 a 19-2 PEIXES 20-2 a 20-3

Encontre os momentos
bons, porque estão mis-
turados com os outros,
preocupantes e cheios de ansie-
dade. Encontre os momentos
bons e os desfrute até mais não
poder, porque são cheios de bele-
za, graça e leveza.
Tudo tem solução, cer-
teza, mas nem sempre a
alma está disposta a fa-
zer o necessário para encontrar
a solução, no mais das vezes se
agarra às suas pretensões e fica
em conflito sem sair do lugar.
Melhor a solução. BEM PENSADO “É a inveja a primeira a descobrir todos os méritos” Emanuel Wertheimer
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO CULTURA&COMPORTAMENTO C5

Ignácio de Loyola Brandão

Antonia, valor inestimável
aquele andar da Pró Ma- O que digo? Eu que o conside- tiraram de mim eu tinha 1 ano, desmentir um avô cético. te da mãe. Nasceu léguas

N tre, passavam macas,

olhávamos e não era a
que esperávamos, a de
Rita e Antonia. Uns sentados,
outros em pé, de tempos em
ro uma das loucuras do ho-
mem. Uma sobrinha, a Clara,
médica, foi autorizada a acom-
panhar a cesariana dentro do
centro cirúrgico. Registrava
a segunda, 3. Antonia foi grava-
da antes pelo ultrassom; foi vis-
ta com um segundo, com minu-
tos, horas de vida. A tecnolo-
gia tem sua estranheza, mas
Mas, admito, a vida vale a pe-
na. Quem sabe Antonia ve-
nha a ser atriz, historiadora
ou cantora como Rita. Ou ar-
tista plástica como Diogo.
adiante das avós. Anos-luz das
bisavós. Nascer é mergulhar
em um enigma, um labirinto,
uma batalha, um prazer. É dar
braçadas no imponderável. Se-
tempos trocávamos, um se le- cada momento e postava. As- emociona. Ouvir o primeiro Olhava aqueles Instagrans – ja o que for, uma vida a mais é
vantava, outro sentava. Mater- sim, vimos flashes do parto. som, o primeiro choro que um décadas atrás dizíamos ins- fundamental para mudar as
nidade lotada, deixamos o car- Logo, o médico Luis Fernan- ser humano emite para mos- tantâneos – e me perguntava: coisas. Antonia. Sabe que seu
ro num estacionamento de do puxou a menina, que ele trar que entrou na vida. até quando acompanharei a nome significa florescente,
rua, ficamos preocupados com acompanhou há 40 semanas e Vida em um mundo que evolução de Antonia? Cada inestimável, sem preço, valio-
o horário de fechamento. Na cinco dias. E, com humor, le- pouco importância tem dado a um dos netos me perguntou sa, a que está na vanguarda, ali-
verdade, pouco importava se ti- vantou-a, no gesto histórico, ela. Mas esse é outro assunto. um dia: vô, me explique o mentada de flores? Seja o que
véssemos de buscar no dia se- celebrizado por Bellini no fi- Naquele momento, o que im- mundo. Tomara eu esteja for, batalhe por esse nome, se
guinte, ou uma semana depois. nal da Copa do Mundo de portava era aquela menina que lúcido para ajudar Antonia a alimentando de flores, dores e
Ansiávamos por ver a Antonia 1958. Gesto que se eternizou. passou semanas abrigada den- destrinchar o inexplicável. cores, pois é a vida, sim, que
na “vitrine dos recém-nasci- Esta foto de Antonia sendo tro da mãe, e demorou para Espero que ela seja uma a tem valor inestimável. l
dos”. Porém, o local onde ela erguida ficará na história. Da dar sinais de que desejava sair. mais nessa luta pela sobrevi-
nasceu, estava fora do circuito. família, claro. Admirável mun- Talvez intuísse o que a espera- vência, igualdade, diversida- É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE
Por sorte, existe o celular. do novo. A primeira foto que va. Mas gostou de sair. Para de, liberdade. Ela será diferen- 'ZERO' E 'NÃO VERÁS PAÍS NENHUM'

SEG Simião Castro (quinzenal) l TER. Patrícia Ferraz l QUA. Leandro Karnal e Roberto DaMatta l QUI. Luciana Garbin (quinzenal), Patricia Ferraz l SEX. Marcelo Rubens Paiva (quinzenal) e Maria Fernanda Rodrigues
l SAB. Sérgio Augusto (quinzenal), Alice Ferraz, Suzana Barelli, Renata Simões (quinzenal) e Daniel Martins de Barros (quinzenal) l DOM. Leandro Karnal, Sérgio Augusto ( quinzenal) e Ignácio de Loyola Brandão (quinzenal)

CRUZADAS NA WEB Jogue as cruzadas

https://bit.ly/439MX2R CRIPTOGRAMA E CAÇA-PALAVRAS Nesta seção, todos os dias, um jogo diferente para você

(?) públi- Local do Especialidade de Chi- Diz-se do Consoante Pessoa que "fala pelos Para letras iguais, números iguais. Nas casas em destaque, dois grupos com amplas
co-privada, suicídio Filtro do co Caruso jogador nasal que cotovelos" (bras.)
contrato de Vargas sistema (?) fora: sem habi- se liga a Malha ferroviária
discordâncias em relação à fé.
de presta- (Hist.) urinário foge (bras.) lidades "b" e "p" que terá 1.728 km,
ção de
obras ou
ligando
Pernam-
1 2 3 4 5 3 2
serviços buco e
Agonia; aflição.
Diversificar Ceará
(?) por Desdentado que se nutre de 2 1 2 6 7 5 2
O rival onde:
de Jerry possuir os
(TV) meios para
T E R formigas.
6 8 9 10 6 11 10
Inundação; cheia.

(?) Quixote, herói de Newton

3 4 10 6 8 12 2
Fase de Significa Marca do desejo infantil.
competi- Miguel de Cervantes "contrá- (símbolo)
ções que Estado da hidrelétri- rio", em Marcha
seleciona
os semi-
ca de Jirau (sigla) "antiético" do carro 2 8 2 7 5 3 2
finalistas Típica (?) Cabral, aviador português.
medida de
Costeleta fazendas
de porco
(Cul.)
(pl.) 13 3 6 2 14 11 2
Que A ave como a cegonha e o jaburu.
Happy (?), Participa
de uma possui
lazer pós- lógica
expediente
enquete
interna 8 5 15 12 6 9 16
Analista da O alimento Cobalto Pré-vestibular.
contabilida- indicado (símbolo)
para
de de uma
empresa diabéticos
Também
(abrev.) 12 6 4 2 17 10 14
Claro; evidente.
Animal O símbolo
australiano do amor
em risco
de extinção
eterno, no
Hino (BR)
8 10 5 14 16 15 10
Glicídio que não é um açúcar.
"Interno", Cama,
em PIB em inglês
Disco, Suposto Bens sob responsabilidade do 17 10 8 5 14 16 15
em inglês culpado
100, em Cavalo Belmiro de pela (?) Brown,
estacionamento.
romanos ideal para Almeida, abdução autor de
Habilita- equitação pintor de huma- "O Símbo- 13 12 1 10 6 11 16
dos; aptos de crianças mineiro nos (ing.) lo Perdido" Substância corante.

10 18 4 10 6 11 10
Que pede com impertinência.
São Órgão que 1ª pessoa
(abrev.) regula
patentes
da Santís-
sima Trin-
12 6 15 13 12 11 2
Lago, em
(sigla) dade (Rel.)
A terra em que não se pode viver.
francês
Profissão Criatura
de Rodrigo como a Hospital para tratamento de 9 16 13 12 8 12 16
Lombardi ovelha
Dolly pessoas com transtornos mentais.
Perpetra-
ção de um Número "(?) aos Arnaldo
crime pelo inteiro Ratos", su- Niskier, Os costumes orientais, em relação à 10 18 11 12 8 16 15
mesmo indetermi- cesso de educador
elemento nado (Mat.) Chico brasileiro culinária.
2 3 10 6 12 8 16
Composto químico sólido e venenoso.
3/bed — dan — lac. 4/diet — disc — hour. 5/alien — carrê. 6/lábaro. 8/parceria.
BANCO © Revistas COQUETEL

Jogue o sudoku
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Nível Difícil 6003233

4 9 8 7 2 6 3 1 5
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7 4 8 3
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C6
CULTURA&COMPORTAMENTO
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO

RENATA MESQUITA
Paladar Evento

10º Paladar
Ingredientes brasileiros no
centro do debate: a última edi-
ção do Paladar Cozinha do Bra-
sil, consagrado evento organi-
zadopela plataforma de gastro-
nomia do Estadão, com pales-

tras e degustações, que ocor-
reu no final de semana de 6 e 7
de maio no Espaço Priceless,
foi marcada pela celebração e
exuberância da simplicidade
da nossa cozinha.
A mandioca, a pupunha, o ca-
cau, o café, o jambu, a farofa,
entre outros alimentos corri-
queiros, foram os protagonis-
tas dos painéis comandados
pelos chefs convidados que,
sem combinarem, entoaram o
lema “valorizar o nosso”. Para
todos eles, assim como tam-
bém para o Paladar, para enal-
tecer, antes, é necessário co-
nhecer a diversidade da cozi-
nha brasileira. Foi um exercí-
cio de volta ao passado, um
olhar para dentro, para vislum-
brar o futuro.
As salas cheias e os partici-
pantes atentos a cada palavra
dos especialistas só comprova-
ram algo de que já suspeitáva-
mos há algum tempinho: a co-
mida brasileira é despretensio-
samente maravilhosa – as faro-
fas preparadas no painel da
chef Helô Bacellar não nos dei-
xam negar.
DA PÂTISSERIE AO TUPI. Opon-
tapé inicial do evento foi dado
por ninguém menos que o
chef-confeiteiro Lucas Coraz-
za, com um painel instigante: o
Cozinha do Brasil
Ingredientes brasileiros foram os protagonistas dos painéis
na última edição do evento; confira os destaques e as receitas
Pupunha Não É Só Palmito.
Provocador por natureza, Co-
razza antecipou aos participan-
tes o que viria pela frente. “A
sobremesa que vou ensinar ho-
je não é para agradar, mas sim
Ousadia
Lucas Corazza quis tirar
o público da zona de
conforto com uma
receita para provocar
para provocar, para vocês des-
cobrirem algo novo, é um desa-
fio, não um afago.”
De cara, aprovamos! Um
dos compromissos do Pala-
dar Cozinha do Brasil, desde
sua primeira edição, é trazer
novos debates ao redor da me-
sa. O novo, neste painel, era o
fruto da pupunha, a palmeira
brasileira, típica no Norte do
País, que é conhecida e reco-
nhecida pelo seu palmito,
mas não pelo seu fruto.
O fruto é tradicionalmente
consumido, após ser cozido
em água com sal e servido
com café às tardes na sua re-
gião. A textura fibrosa e o sa-
bor predominantemente
amargo e um tanto adstringen-
te são pouco familiares para
os acostumados com os sabo-
res mais adocicados. Daí o
tom desafiador do chef já des-
de o começo do painel.
Além de apresentar o ingre-
diente aos participantes, Lu-
cas Corazza levantou outra
bandeira importantíssima nos
dias atuais, o uso integral Chef-confeiteiro Lucas Corazza surpreendeu com pupunha

DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Lucas Corazza
foi um dos
convidados do
Cozinha do
Brasil
dos alimentos. Ou seja, a
necessidade de aproveita-
mento total dos ingredien-
tes que os chefs colocam
nos seus pratos, cardá-
pios. Não podemos mais
falar de gastronomia sem
tocar no assunto desperdí-
cio de alimentos.
Parafamiliarizarospartici-
pantes, Lucas Corazza deci-
diu apresentar uma versão
com sabores e texturas me-
nos agressivos e um pouco
mais harmônicos. Para isso,
colocouseudomínio da con-
feitariafrancesa em prática e
criou o Monte Brasilis, uma
releitura do Mont Blanc, re-
ceita típica do Natal francês
que combina marrom-glacê,
chocolate e chantilly.
Nareceitaapresentadape-
lo chef-confeiteiro, saíram
as castanhas portuguesas,
entraram as pupunhas que
seguiram o rito de produção
do marrom-glacê. O resulta-
do foi um creme de cor ala-
ranjada vibrante que finali-
zou a massa sucrée de cacau,
recheadacomchantillydeca-
fé e cumaru. “A ideia foi
transportaro comensaldire-
tamenteàexperiênciaquevi-
vi ao comer o fruto pela pri-
meira vez com café em uma
fazenda de pupunhas.”
Missão cumprida chef! Ao
final da aula, os participantes
estavam ansiosos para pro-
varareceita.Aprovaramodo-
ce feito com o fruto da pupu-
nha, e ainda se debruçaram
na bancadapara rasparas pa-
nelas e até se arriscaram a
provar o fruto em natura. l
Companhia dos
Fermentados
mostra que é
possível fermentar
Não é preciso muito para co-
meçar a fermentar vegetais
em casa! Foi o que mostrou a
dupla Fernando Goldenstein e
Leonardo Andrade, da Compa-
nhia dos Fermentados, no se-
gundo painel de sábado, 6.
É simples: regra número 1,
cortar o contato do vegetal
com o oxigênio ao submergir
na água. Regra número 2, adi-
cionar sal, um inibidor das
ações das bactérias, “ele vai di-
rigir o processo de fermenta-
ção”, explica Leo. “Fermenta-
ção é um processo democráti-
co: todo mundo pode e deve
fazer em casa”, afirma a dupla.
Para demonstrar o lema, a
dupla resolveu aplicar a técni-
ca em uma velha conhecida da
mesa do brasileiro, a mandio-
ca. Contando a história do in-
grediente no Brasil, passando
por técnicas e instrumental an-
cestrais e explorando os diver-
O mixologista Alê D’Agostino ocupou o terraço do espaço com uma aula de drinques da Amazônia
Alê D’Agostino promove imersão na
Amazônia com preparo de drinques
No final de tarde de sábado, 6,
o mixologista Alê D’Agostino
ocupou o terraço do Espaço
Priceless para uma aula de
drinques, tendo como protago-
nista o jambu, erva brasileira
típica da Amazônia, conhecida
pelo poder de adormecer a lín-
gua. As características da erva
a tornam um desafio para qual-
quer bartender, mas foi justa-
sos subprodutos do tubérculo
fermentado,o painel já teve iní-
cio com uma provocação:
“Quem aí já comeu mandioca
fermentada?”.
O “não” respondido pela
maioria do público, foi rapida-
mente contestado pelos pales-
trantes: “Costumamos dizer,
o Brasil não conhece o Brasil,
somos ignorantes dos nossos
processos ancestrais”. A dupla
então explicou que a mandio-
ca fermentada é, por exemplo,
ingrediente principal do polvi-
lho azedo, utilizado em todo o
Brasil para fazer nosso amado
pão de queijo.
Explicações históricas, cien-
tíficas e gastronômicas foram
entrelaçadas neste painel que
teve a puba como estrela.
Além de mostrar como fermen-
tar a mandioca para obter a
massa chamada puba, a dupla
usou o ingrediente como base
mente isso que atraiu Alê:
“Um grande drinque deve ter
antes de tudo equilíbrio, e o
jambu pede sabedoria ao en-
trar na coqueteleria”, disse.
O mixologista decidiu utili-
zar a estrutura de um martini
para criar o Jambutini, feito
com cachaça de jambu, gim,
vermute seco e flor de jambu,
que substituiu a azeitona.
CULTURA&COMPORTAMENTO
A dupla Fernando Goldenstein e Leonardo Andrade
para um bolo, que levou ainda
goiabada e coco ralado. O pú-
blico também pode experi-
mentar um vermute de caju
com botânicos brasileiros.
O leve amargor dos botâni-
cos do vermute e a textura
um tanto elástica do bolo en-
dossaram a provocação feita
no primeiro painel por Lucas
O passeio pela Amazônia se-
guiu com um jantar especial
no Notiê, o principal restau-
rante do Espaço Priceless.
Chef da casa, o paraibano Onil-
do Rocha serviu um menu-de-
gustação de cinco etapas, que
teve como inspiração uma ex-
pedição pela região da Amazô-
nia. “O que eu mais queria era
entender como os indígenas e
C7
FOTOS TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
Corazza, que, aliás, ficou por
ali para ver a aula dos colegas.
A necessidade de investigar
os produtos nacionais e, aci-
ma de tudo, de submeter o pa-
ladar ao novo.
De quebra, ainda ensinaram
como fazer o arubé caseiro,
um molho de pimenta fermen-
tada com mandioca crua. l R.M.
aspessoas do entorno usam es-
ses ingredientes no dia a dia.”
Ao lado da jornalista gastro-
nômica Patrícia Ferraz, que
conduziu a conversa, Onildo
contou como suas pesquisas e
experiências na Amazônia ser-
viram para desenhar o menu,
que festejou os ingredientes
da regiãoem pratos como hum-
mus de feijão de praia, dum-
pling de camarão, com ponzu
de galinha e tempurá de jam-
bu, pirarucu com ervas aro-
máticas, vitória-régia e purê
de açaí e canelone de pato com
caldo de tucupi.
Fim de noite
Chef Onildo Rocha
encerrou a noite de sábado
valorizando o melhor da
gastronomia nacional
Simples, mas não simplório.
Alguns nomes parecem velhos
conhecidos, outros nem tan-
to, mas nas mãos de Onildo se
transformam em verdadeiras
obras gastronômicas. “Muitas
pessoas ainda não conseguem
entender que são esses os in-
gredientes mais ricos que te-
mos, exatamente porque eles
são abundantes no nosso país,
não preciso de nenhum produ-
toimportado para fazer alta co-
zinha”, afirmou o chef.
Encerrou a noite uma sobre-
mesa que sintetiza isso, sorve-
te de taperebá, coco verde e
um curry amazônico prepara-
do com mais de 16 ervas dife-
rentes. l R.M.

C8 CULTURA&COMPORTAMENTO
Paladar Cozinha do Brasil
Isabela Raposeiras mostra a força e a
importância do café especial brasileiro
Na segundo dia do
evento do ‘Paladar’,
público pôde provar
o produto para
identificar corpo,
doçura e acidez
RENATA MESQUITA
Como falar de gastronomia
brasileira e não falar de café? O
grão faz parte da história nacio-
nal e é um dos nossos grandes
produtos de exportação. Mas
por sua importância não quer
dizer que tenha sido sempre
bem tratado. Por muitos anos,
o café não recebeu a atenção
devida, relegado à produção
de massa sem grande preocu-
pação com a qualidade. Hoje,
no entanto, graças ao trabalho
de muitas pessoas, do campo
ao barista, o grão predileto dos
brasileiros está em uma de
suas melhores safras.
Tipos
Café especial é aquele
grão de maior qualidade.
Ainda existem o
tradicional e o gourmet
Uma das responsáveis por
essa virada é a barista e proprie-
tária do Coffee Lab, Isabela Ra-
poseiras, a quem coube abrir
os trabalhos do evento no do-
mingo, 7. Precursora no estu-
do e na caça de microlotes de
grãos especiais Brasil afora, co-
meçou sua aula com uma per-
gunta de praxe: “Quem conhe-
ce ou já provou café especial?”.
Grande parte do público le-
vantou a mão. A barista tem o
questionamento como uma es-
pécie de termômetro do mer-
No 10º Paladar Cozinha do Brasil,
o cacau já não é mais tão selvagem
Na última edição do Paladar
Cozinha do Brasil, em 2015, o
cacau selvagem brasileiro era
debatido por pequenos produ-
tores e pesquisadores que ha-
viam há pouco começado a ex-
plorar o terreno. Não deveria
ser surpresa para ninguém,
que, oito anos depois, ele já se-
ja o assunto principal da aula
da chef Carla Pernambuco.
Ao lado de sua filha, a pesqui-
sadora Floriana Breyer, elas
apresentaram uma verdadeira
viagem por esse universo, que
cado consumidor, e as respos-
tas têm sido cada vez mais favo-
ráveis. “É uma grande alegria
ver essa evolução. Anos atrás,
nesse mesmo evento, a porcen-
tagem era muito menor e, ago-
ra, mais pessoas já conhecem e
consomem café especial.”
Isabela conta que começou
a beber café já na mamadeira.
Isso explica muito da forma-
ção de um paladar tão aguçado
e afiado, que hoje em dia degus-
ta grãos por todo o País, identi-
ficando aromas e defeitos nas
produções. Os participantes
puderam provar diferentes es-
tilos de torra e grãos do Brasil.
Isabela explicou as nuances e
correlações dessas diferenças,
além de ensinar como identifi-
car corpo, doçura e acidez. l
chamaram de Experiências Si-
nestésicas com Cacau Selva-
gem e mostraram que nem só
de chocolate vive o fruto.
A ideia da dupla foi “explo-
dir” o cacau e mostrar as mil e
uma possibilidades que esse
“ouro amazônico” proporcio-
na. Além da polpa, a dupla apre-
sentou aos participantes os
seus subprodutos, como nibs,
mel de cacau, manteiga e liquor,
incorporando-os em receitas,
do coquetel à sobremesa.
Antes de ir aos preparos, fize-
ram um breve panorama do
Theobroma cacao, nome cien-
tífico dessa pequena árvore,
chamada de sagrada por maias
e astecas, abordando sua ori-
gem, além de mitos e histórias
que a cercam. Entre diversos
fatos interessantes, explica-
ram que os primeiros relatos
de consumo do fruto do ca-
caueiro indicam apenas ver-
sões líquidas.
Seguindo essa história, a pri-
meira receita da aula foi um
drinque autoral de Floriana, o
néctar de cacau. Preparado, ob-
viamente, com néctar de cacau
(também chamado mel de ca-
cau), gengibre, pimenta-rosa,
suco e raspas de limão-cravo e
kombucha, a que se deve o as-
pecto espumante e fermenta-
do do coquetel. Leve, sem ál-
cool, um néctar do Brasil.
Na sequência, Carla entrou
em cena com duas receitas. A
primeira, pato no cacau. Uma
mistura do nosso pato no tucu-
pi com o mole, o molho típico
mexicano, que aqui recebeu
temperos diferentes, feito
com licor de cacau, tucupi pre-
to, pimentas amazônicas e cho-
colate 80% cacau. A chef ser-
viu o pato desfiado com o mo-
lho intenso no recheio de uma
tortilha, para comer com as
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
FOTOS TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
1
1. Raposeiras
falou sobre
os aspectos
do café
especial
2. Paladar
Cozinha do
Brasil
também teve
aula de cacau
com Carla
Pernambuco e
Floriana
Breyer
2
mãos. O sabor potente e, tal-
vez, não familiar àqueles que
nunca experimentaram os
usos salgados do chocolate,
surpreendeu e agradou.
A segunda receita apresenta-
da por Carla foi a sobremesa
terra brasilis, feita com crum-
ble de cacau, suspiro de açaí,
creme de cupuaçu, banana ca-
ramelizada, calda de cacau e
chocolate branco. A sobreme-
sa condensou diferentes textu-
ras e usos do cacau.
O painel acabou com todos
provando o sinestesia cacau,
bebida com especiarias e lei-
te de coco em pó. Uma verda-
deira aula de gastronomia e
história que, apesar de mile-
nar, ainda não foi totalmente
explorada. l R.M.
 O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
Helô Bacellar
celebrou a
farofa, a mais
democrática
receita
Fechando o evento no
domingo, chef
preparou duas
versões e deu dicas
para os apaixonados
pelo prato
Prata da casa, figurinha presen-
te em todas as edições do Pala-
dar Cozinha do Brasil, a chef
Helô Bacellar encerrou o even-
to de 2023. Mesmo após anos
de aulas, foi só nesta edição
que ela decidiu apresentar seu
prato preferido para os partici-
pantes do painel: farofa.
“Quero deixar bem claro
que a panela da farofa é muito
democrática, cabe o que você
quiser ali dentro. Com um prin-
cípio: você pode fazer farofa
do que você quiser, e vai ser
sempre bom”, afirmou a chef.
Helô começou a aula contan-
do um pouco sobre sua mudan-
ça definitiva para sua fazenda
em São Luiz do Paraitinga. Foi
de lá que vieram os ovos e as
laranjas da primeira receita
apresentada. Ela contou que
todos os dias, logo cedo, vai
buscar seus ovos fresquinhos
para o café da manhã.
Dessa vez, eles foram parar
em uma farofa de farinha de mi-
lho grossa com couve refogadi-
nha e paio. Foi só o paio entrar
na frigideira que, junto com o
barulho da panela, tomaram
conta do salão ecos de “nossa”,
Farinha de milho, couve e paio fizeram a plateia do evento salivar: depois, todo mundo pôde provar
“meu Deus” e “que delícia”.
Coisas de Heloisa Bacellar. En-
quanto a couve fritava, ela deu
dicas para sua farofa sempre
sair perfeita. A principal? Não
economize na manteiga!
Na sequência foi a vez de
uma farofa com sotaque pa-
raense, feita com farinha
d’água, de grão mais seco e cro-
cante, combinada com feijão-
manteiguinha de Santarém e
uma pasta de coentro, que dei-
xou a mistura bem verdinha.
Outra dica de ouro da Helô
foi: não tem regra! Tem um
pouco de coentro sobrando na
geladeira? Já para a panela! Se
não tiver, pode substituir por
cebolinha, salsinha, o que tiver
ao alcance das mãos; misturar
tudo também vale e vai muito
bem. “Cabe o que tiver na gela-
deira”, avisa a chef.
Dicas
Quer preparar a farofa
perfeita? Não poupe
na manteiga e use a
criatividade na panela
Simpáticas bandejas de alu-
mínio carregando pratinhos
com um punhado de cada uma
das receitas apresentadas na
aula começaram a chegar às
mãos dos participantes, en-
quanto a chef preparava a últi-
ma receita do dia: uma farofa
CULTURA&COMPORTAMENTO C9
FOTOS TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
Chef Heloisa Bacellar é uma das pratas da casa: esteve em todas as edições do Paladar Cozinha do Brasil
de castanhas, com farinha
de mandioca, cebola picada
e um mix de castanhas brasi-
leiras picada e crocantes.
Helô ainda fez justiça à
hospitalidade do interior
paulista e trouxe de casa, re-
gião do Vale do Paraíba,
uma cachaça local e serviu
“golinhos” a todos, deixan-
do a experiência ainda mais
com a sua cara. Foi o final
perfeito para um fim de se-
mana de imersão nas raízes
profundas da gastronomia
do nosso Brasil. O gostinho
que dá é que, mesmo após
10 edições de Paladar Cozi-
nha do Brasil, ainda temos
muito para descobrir e
aprender sobre a culinária e
as tradições do País. l R.M.
Espaço Priceless
Shopping Light. R. Formosa, 157, centro
Casa do 10.º Paladar Cozinha do Brasil, o Priceless é
um complexo gastronômico que reúne bar, restaurante e
rooftop com vista para a cidade de São Paulo. l
C10
A FUNDO
TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO
LEON FERRARI
roca rápida de planos,
T cores vibrantes, sons
explosivos e persona-
gens “ligados no 220V” .O su-
cesso do filme Tudo em Todo
Lugar ao Mesmo Tempo não é à
toa. A rotina moderna tem sido
cada vez mais acelerada e frag-
mentada. Os sintomas desse
ritmo são evidenciados pelo
que consumimos – e pelo mo-
do como fazemos isso. Desde
que o aplicativo WhatsApp per-
mitiu acelerar mensagens de
áudio e as plataformas de strea-
ming, como o YouTube, fize-
ram o mesmo com vídeos. E há
quem só ouça e assista na velo-
cidade 2. Pesquisas já alertam
sobre o risco desses hábitos.
Músicas em rotação acima
do normal, que deixam mais
aguda a voz de quem canta, os
“sped up songs” ou “speed up
songs” se popularizaram no
TikTok e ganham o topo das
paradas. Artistas pop, como
Lady Gaga, já lançaram ver-
sões aceleradas de músicas.
No fim de 2022, o streamer
de futebol Casimiro se depa-
rou com a seguinte mensagem
em uma transmissão: “Estou
pela primeira vez assistindo ao
vivo, normalmente assisto no
2x. A voz é ‘mó’ diferente”. O
influenciador reagiu: “Não faz
isso, não. A vida é em 1x”.
‘Mó diferente’
‘Não faz isso, não. A
vida é em 1x’, disse
streamer de futebol a fã
que se surpreendeu com
voz no ritmo normal
A apresentadora Déia Frei-
tas, do podcast Não Inviabili-
ze, entrou na brincadeira, mas
conta ao Estadão que se sentia
ofendida quando ouvintes di-
ziam acelerar sua voz. Comen-
tários assim vinham pelo Insta-
gram, no qual ainda não é possí-
vel acelerar vídeos. “O conta-
dor de histórias gosta que pres-
tem atenção nos detalhes. Ao
acelerar, talvez percam algo
nas pausas, que é parte do con-
texto da história.” Mas hoje is-
so não a incomoda mais. Ela
própria, de 48 anos, passou a
acelerar vídeos mais técnicos.
“Paguei a língua.”
O QUE DIZEM OS ESPECIALIS-
TAS. Pesquisadores ouvidos pe-
lo Estadão dizem que vive-
mos, de fato, em velocidade
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
COMPORTAMENTO O ESTADO DE S. PAULO
Sinal de alerta
Músicas em rotação
acima do normal, que
deixam mais aguda a
voz de quem canta,
já se popularizaram
no TikTok
sem precedentes. Segundo
eles, isso está ligado à tecnolo-
gia e teve como catalisador a
pandemia, quando nos isola-
mos e usamos as telas para co-
municação.
Foi na quarentena que o ge-
rente de consultoria tributária
Gabriel Schneider, de 32 anos,
começou a ver vídeos e ouvir
podcasts em velocidade supe-
rior a 1x. “Nunca achei o recur-
so interessante. Foi necessida-
de. Tinha coisa demais para fa-
zer. Queria consumir conteú-
do, saber o que acontecia, so-
bre cuidados, ouvir artistas.
Dentro do tempo que tinha,
precisei acelerar.”
Por um lado, o ritmo veloz
economiza tempo em tarefas
mecânicas, dizem. Por outro,
perde-se espaço de escuta e
contemplação, importante pa-
ra a criatividade. Para evitar
adoecimento mental e que as
relações fiquem superficiais,
os especialistas apontam que Na pandemia.
devemos definir a hora de ace- ‘Tinha coisa
lerar e a de apertar a tecla de demais para
pausa. Esse equilíbrio é com- fazer. Precisei
plexo. “Não é que a velocidade acelerar’, diz
seja inevitável, mas a acelera- Schneider
ção social do tempo é condição
da nossa época”, afirma Mi-
chelle Prazeres, pesquisadora
em comunicação, velocidade e
tecnologias.
Sociólogo, antropólogo e psi- Especialistas veem risco de mais
canalista, Tiago Pereira Andra-
de cita o conceito de moderni-
dade líquida, do sociólogo po-
ansiedade e dificuldades de atenção;
lonês Zygmunt Bauman. “A
ideia do líquido é o que vem,
preenche todo o espaço e se es-
na dúvida, o equilíbrio é a saída
vazia rapidamente”, diz o coor-
denador do curso de Ciências
do Consumo da ESPM.
COMO E POR QUE ACELERA-
MOS? E o que veio primeiro: a
aceleração da vida ou a tecnolo-
gia que permite acelerar? Não
dá para dizer exatamente, mas
os especialistas são unânimes
Música e vídeo
em destacar que equipamen-
tos e plataformas são o tecido
da aceleração.
Para se ter ideia, já em 2011
dois pesquisadores america-
nos, Martin Hilbert e Priscila
acelerados: de
que forma isso
López, concluíram, em artigo
na revista Science, que a capaci-
dade de comunicar, com o
avanço da internet, cresceu
28% ao ano entre 1986 e 2007.
Cada pessoa, em 1986, poderia
enviar o equivalente informati-
afeta o cérebro
vo a duas páginas de jornal por
dia. Em 2007, a taxa sobe para
360 páginas. “O algoritmo é fei-
to para consumir de maneira
supervolátil, para ir para o
próximo conteúdo”, afirma
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
‘Fico agoniada, querendo acelerar o professor’, afirma Maria Suzana
Carolina Terra, pesquisado-
ra em comunicação digital e
professora na Faculdade Cás-
per Líbero. Sozinha, porém, a
tecnologia não explica tudo.
“Nossa noção de progresso e
futuro também é acelerató-
ria”, afirma Michelle, idealiza-
dora do movimento Desacele-
ra SP, que articula projetos so-
bre reduzir o ritmo da vida na
cidade. “Todos querem ser hi-
perprodutivos: seja no marke-
SERGIO LIMA /ESTADÃO
ting pessoal nas redes ou no vi-
deogame, todo o mundo quer
destaque”, completa Andrade.
CÉREBRO. Ainda faltam estu-
dos mais robustos sobre como
isso afeta o cérebro, segundo
Vanessa Clarissa Marchesin,
doutora em Neurociência Apli-
cada e professora da ESPM.
Mas ela diz que pesquisas fei-
tas no exterior já alertam para
o risco de problemas, como de
JEFFERSON BERNARDES / ESTADÃO
ansiedade e atenção. “Ensina-
mos o cérebro a perceber a rea-
lidade acelerada, mas a vida
não é assim. Ao falar com um
amigo, ele não será rápido co-
mo o computador, e isso pode
provocar ansiedade”, observa.
“O cérebro tende a simular a
reação atencional da internet.”
Para especialistas, isso cria
um risco de superficialidade:
não ter mais paciência para ou-
vir o desabafo de um amigo, o
sermão da mãe ou participar de
discussões mais densas. “Em
reuniões, quando alguém é um
pouco prolixo ou demora numa
explicação, bate a ansiedade”,
admite Gabriel Scheneider.
Maria Suzana Pereira, estu-
dante de 22 anos, diz ser acele-
rada por natureza, mas acredi-
ta que a velocidade aumentou
ainda mais depois que passou a
consumir conteúdos acelera-
dos. “Quem que me conhece
não acha ruim quando falo: ‘O
que aconteceu no final?’. Mas
na construção de relações – de
amizade ou amorosas –, tenho
de me policiar para não ser es-
sa pessoa apressada.”
A recomendação dos especia-
listas é buscar equilíbrio: des-
cobrir quando acelerar ou não.
Para Carolina Terra, isso passa
pela “consciência sobre como
funcionam as plataformas”. l
E conseguimos
aprender assim?
Estudos dão pistas
Em 2016, quando precisava
se desdobrar entre escola,
trabalho e estudos para ves-
tibular, Maria Suzana Perei-
ra, de 22 anos, lançou mão
de acelerar as videoaulas do
cursinho online. “Não foi es-
colha, era o que eu podia fa-
zer.” A necessidade, porém,
virou hábito. “Foi um cami-
nho sem volta.”
Hoje, cursando Jornalis-
mo na Universidade de Bra-
sília (UnB) e um cursinho
para concurseiros, as aulas
presenciais se tornaram de-
safio. “Fico agoniada, que-
rendo acelerar o profes-
sor”, revela. “Fico entedia-
da e começo a fazer algo que
mantenha minha atenção
presa. Bebo água, levo al-
gum lanchinho para ficar co-
mendo, tipo uva, que você
tem de ficar comendo uma
por uma; vou ao banheiro.”
A “agonia” de Maria já é
percebida por professores
em seus estudantes, princi-
palmente após a pandemia.
“Antes de você começar a
explicar, eles já começam a
levantar a mão: ‘Não enten-
di isso’. ‘Está muito difícil
pra mim.’ Isso não era co-
mum antes. Eles não espe-
ram você concluir o raciocí-
nio”, relata o sociólogo, an-
tropólogo e psicanalista Tia-
go Pereira Andrade, coorde-
nador do curso de Ciências
do Consumo da ESPM.
“Em média, pelo menos
com os meus estudantes,
25% não conseguem ficar
30 minutos na sala de aula
sem levantar pelo menos de
duas a três vezes. Antiga-
mente, pré-pandemia, não
era muito comum, essa por-
centagem não chegava a
5%”, garante Vanessa Claris-
sa Marchesin, doutora em
Neurociência Aplicada e
professora da ESPM. “Esse
acelerado tem até reprodu-
ção de fala, eles atropelam
as palavras”, adianta ela.
ESTUDOS. Embora toda essa
discussão pareça ser muito
recente, pesquisadores já es-
miúçam os possíveis impac-
tos. Recentemente, em 2021,
pesquisadores da Universi-
dade da Califórnia, em Los
Angeles (Ucla), decidiram
testar hipóteses em um estu-
do amplo, com 231 estudan-
tes da instituição submeti-
dos a três experimentos que
avaliaram a compreensão
imediata e tardia de aulas
apresentadas em diferentes
velocidades (1x, 1,5x, 2x e
2,5x). Os resultados foram
publicados na revista científi-
A FUNDO C11
ca Applied Cognitive Psychology.
“A velocidade teve pouco
efeito na compreensão imedia-
ta e tardia, de modo que o
aprendizado não foi significati-
vamente prejudicado nos parti-
cipantes que assistiram a ví-
deos em velocidade de 1,5x e
2x; a compreensão foi prejudi-
cada em participantes assistin-
do a uma velocidade de 2,5x”,
concluíram. Apesar de haver
prejuízo, porém, quem foi sub-
metido à velocidade de 2,5x
conseguiu compreender “com
sucesso” parte do material.
Outro resultado interessan-
te da pesquisa americana se
deu quando compararam alu-
nos vendo uma aula no ritmo
normal (1x) com estudantes
que assistiram ao mesmo con-
teúdo no 2x só que com a opor-
tunidade de repetição. Nesse
experimento, os dois grupos
assistiram ao vídeo uma vez
uma semana antes do teste,
mas quem o viu de maneira ace-
lerada pôde revê-lo, no mes-
mo ritmo (2x), imediatamente
antes de confrontar as ques-
Por que dá certo?
Cientistas consideram
dois fatores que podem
ajudar os ‘acelerados’:
experiência e
material visual
tões. Quem viu o vídeo acelera-
do, neste caso, se deu melhor.
“Alunos podem estudar com
mais eficiência e aprimorar re-
sultados de aprendizado assis-
tindo a aulas assíncronas ini-
cialmente em velocidade 2x e
novamente em velocidade 2x
imediatamente antes do teste,
em vez de assistir uma única
vez em velocidade 1x muito an-
tes do exame”, escreveram.
Eles destacam que é possí-
vel que dois fatores ajudem os
alunos a perceber e codificar
as informações necessárias pa-
ra os testes mesmo em veloci-
dades maiores de discurso: ex-
periência e material visual. O
primeiro tem a ver com a capa-
cidade de “treinar o ouvido”.
De acordo com os cientistas, a
nossa compreensão da fala
alheia começa a diminuir quan-
do a rotação do emissor ultra-
passa 275 palavras por minuto.
No entanto, ainda não dá pa-
ra cravar nada. “Hoje, os estu-
dos são isolados”, diz a neuro-
cientista Vanessa. “É preciso
esperar. Nesses dois anos (de
covid), o cérebro aprendeu
desse jeito. O estudante vai ter
de aprender como administrar
o cérebro nas diferentes situa-
ções. E isso leva tempo.” l L.F.

C12 CULTURA&COMPORTAMENTO
Os preços
A verdade brilha soberana, mas não é gratuita. A mentira custa, a verdade também
m ditado brasileiro: “A
U mentira tem perna cur-
ta”. Os americanos afir-
mam que o defeito é
mais grave: “A lie has no legs”.
Reconheçamos que, tendo per-
nas curtas ou arrastando-se sem
elas, a mentira anda. Por andar,
compensa imediatamente. Clau-
dicante ou reduzida, movendo-
se para bem perto ou por outras
metáforas, ela vai e, indo, resol-
ve o problema do momento.
Quando eu minto, não penso
em ir ao Nepal... Basta que a falsi-
dade me retire daquele momen-
to e lugar imediatamente. O
mentiroso não busca uma estra-
tégia de longo prazo ou uma via-
gem distante, quer apenas sair
do aperto. A mentira não é uma
ponte bem construída para ou-
tro território: é simplesmente
uma boia feia em um mar revol-
to. Sim, pernas curtas, entretan-
to a competição não coloca em
jogo a medalha de ouro dos cem
metros rasos. Basta sair dali...
E a verdade brilha soberana
com suas pernas de Ana Hick-
mann. Orgulhosa, a verdade an-
da à luz do dia e vai aonde dese-
ja, mesmo sem convite claro.
Foi louvada por Jesus: “Conhe-
cereis a verdade, e a verdade
vos libertará”. É imortal: quan-
do esmagada por ditaduras, re-
colhe-se ao fundo de um cala-
bouço e, no momento certo,
ressurge gloriosa.
A mentira claudicante tem
um preço. Quero trazer um da-
do incômodo: a verdade não é
gratuita e, algumas vezes, custa
mais. A mentira varia no bande-
jão das almas e depende do ta-
manho para avaliar seu custo. A
verdade é quase sempre cara.
Na política, a verdade é a mor-
te: “Terminou a carreira do de-
putado? Sim, morreu de sinceri-
cídio”. Nas relações amorosas, a
verdade tem o poder da pimen-
ta-malagueta: pode enriquecer
ou invalidar um prato. No mun-
do do trabalho, a sinceridade ab-
soluta entra em choque com o
organograma do poder. Vista de
cima implica processo de assé-
dio e, emergindo das bases, eli-
mina a carreira no lugar. Destrui-
dora de currículos e de lares, a
verdade seria desejável?
Foi dito que a polarização po-
lítica semeou a cizânia em mui-
tas famílias. Pode ser. Camise-
tas vermelhas ou verde-amare-
las enfrentaram maiores obstá-
culos para compartilhar o mes-
mo peru de Natal. Agora imagi-
ne o levantar do véu político e a
exibição da verdadeira crítica
que a disputa petista-bolsonaris-
ta mais velou que revelou. Imagi-
Leandro
Karnal
ne que os ódios eram anteriores
e que, embasados em ideologias
de direita ou de esquerda, ape-
nas encontraram apoio externo
a lutas intestinas. Aquele tio
sempre foi um homem com
ideias ofensivas ao artigo 5.º da
nossa Constituição. Vovô emi-
tia opiniões inafiançáveis ou im-
prescritíveis desde o tricampeo-
nato do futebol brasileiro no
México. O que mudou foi a lei,
mas não o caráter do patriarca.
Creio que ficou até mais fácil
reduzir o atrito ao mundo bipo-
lar. Mais simples contemplar
um Muro de Berlim doméstico
do que dizer a verdade. Muito
antes de Lula ou de Bolsonaro,
tudo era assim. Tudo sempre foi
assim: apenas mentíamos me-
lhor, mais e com menos pudor.
A mentira custa, a verdade
também. É preciso invocar o me-
lhor dos Evangelhos ou da Ética
/ Bach (1735–1782)
Cultura Artística
apresenta
/ K. 219, em lá maior
cultura
artística,
temporada
2023
Ingressos a partir de R$50 (11) 3256-0223 / culturaartistica.org. Ingressos remanescentes são vendidos a preço especial 30 minutos
antes do concerto: R$20 (inteira) e R$10 (meia entrada). Promoção sujeita a disponibilidade. Classificação etária sugerida: 7 anos.
Programação sujeita a alteração.
PATROCÍNIO MASTER
\
de Aristóteles para ficar ao lado
da verdade. Dizer tudo que pen-
samos (que não implica sequer
dizer a verdade, já que meu pen-
samento não é sinônimo dela) é
tão devastador como mostrar o
rosto da Górgona. Ser educado
é mentir quase o tempo todo.
Conviver em família sempre im-
plicará grupo B, C, D de What-
sApp, sem uma pessoa.
Fofocar é sempre mentir,
mesmo quando o tema for real.
É faltar com a verdade, porque
implicará silêncio sobre o teor
da fofoca com a única pessoa
interessada. Ao reencontrá-la,
sorrimos, cinicamente. Nin-
guém sai da fofoca e, encontran-
do o alvo, dirá: “Nossa, acaba-
mos de falar de você, criticamos
sua roupa, seu corpo, seus casos
e sua orientação sexual”. Quan-
to pior a detração, mais rasgado
será o sorriso posterior com a
\ /
/
camerata
\ salzburg
renaud
capuçon,
violino
6–7.06
REALIZAÇÃO
/ /
pessoa atacada.
“Traí minha esposa, traí meu
marido. Devo contar?” Existem
a resposta do teólogo honesto e
a resposta do cínico confesso.
O primeiro dirá: “Sempre!”. O
outro reforçará o pior em nós,
falando relativismos: “Quem
não trai? Esconda!”. Ambos são
comprometidos com um princí-
pio geral em relação à verdade e
à mentira. Sempre diga/nunca
fale seriam cara e coroa de uma
moeda de mesmo metal! Eu,
que não sou teólogo nem cínico
contumaz, diria: “Depende! Do
quê? Do preço que você pode
ou quer pagar”.
Há dez anos, você traiu, mas
nunca mais repetiu, foi um des-
lize, o casamento oficial se-
guiu bom e produtivo. Quer de-
molir o prédio por causa da pe-
dra malposta? Você pode ou-
vir o teólogo correto e o cínico
PROGRAMA
SALA SÃO PAULO, 20H30
SÉRIE BRANCA
6 DE JUNHO,
TERÇA-FEIRA
Johann Christian
Sinfonia n. 6, op. 6,
em sol menor
Wolfgang
Amadeus Mozart
(1756–1791)
Concerto
para violino e
orquestra n. 5,
Franz Schubert
(1797–1828)
Sinfonia n. 5,
D. 485, em si
bemol maior
“La Passione”
\
/ \
\
DOMINGO, 21 DE MAIO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
convicto. Pode também pon-
derar por si e sem princípios
absolutos. Não é um conselho
direto: trata-se de uma avalia-
ção subjetiva e individual.
“Sou gay. Devo dizer aos
meus pais? Colei em uma prova
da faculdade. Devo invalidar
meu diploma obtido há alguns
anos? Estacionei em lugar proi-
bido. Devo me apresentar ao de-
partamento de trânsito e exigir
uma multa póstuma?” Para ca-
sos grandes e pequenos, sempre
uma planilha de custos deve ser
avaliada. “Leandro! Isso é cinis-
mo puro! Eu jamais menti.” Fi-
co feliz, nunca conheci uma pes-
soa de outro planeta. “Prazer,
sou daqui da Terra mesmo.” A
esperança é mais barata. l
LEANDRO KARNAL É HISTORIADOR,
ESCRITOR, MEMBRO DA ACADEMIA
PAULISTA DE LETRAS E AUTOR DE
‘A CORAGEM DA ESPERANÇA’, ENTRE OUTROS
SÉRIE AZUL
7 DE JUNHO,
QUARTA-FEIRA
\
Johann Christian
Bach (1735–1782)
Sinfonia n. 6, op. 6,
em sol menor
Wolfgang
Amadeus Mozart
(1756–1791)
Concerto
para violino e
orquestra n. 5,
K. 219, em lá maior
Franz
Joseph Haydn
(1732–1809)
Sinfonia n. 49,
Hob. I:49, /
em fá menor,