É de chorar: Cultivada no Chile, cebola gigante

‘encolhe’ por causa do calor e dos incêndios PÁGINA 16

OGLOBO
Irineu Marinho (1876-1925) (1904-2003) Roberto Marinho RIO DE JANEIRO, TERÇA-FEIRA, 27 DE FEVEREIRO DE 2024 ANO XCIX - Nº 33.076 • PREÇO DESTE EXEMPLAR NO RJ • R$ 6,00

EDITORIAL
PUNIÇÕES REVISTAS USAR MULTIDÃO CONTRA

Mendonça autoriza empresas a

A JUSTIÇA MOSTRA QUE
BOLSONARO NÃO MUDA PÁGINA 2

renegociar acordos da Lava-Jato Para PF, fala de

Bolsonaro evidencia
Multas das companhias na mira da operação ficam suspensas por 60 dias ‘minuta do golpe’
O ministro do STF André Mendonça au- ministro é que, em 2020, o governo e ór- momento poderão ser revistos. Ficam Em discurso na Paulista, ex-presidente
torizou empresas que fecharam acordos gãos como a CGU e a AGU, sob supervi- suspensos 11 acordos de leniência, que defendeu que texto para declarar estado
de leniência no âmbito da Lava-Jato a re- são do STF, firmaram um Acordo de Co- previam o pagamento de R$ 17 bilhões de sítio não configura intenção golpista.
negociar os termos em até 60 dias. Nes- operação Técnica (ATC) que redefinia aos cofres públicos, envolvendo empre- Declaração vai ser inserida na investiga-
se período, o pagamento das multas pre- as regras dos acordos de leniência. Ago- sas como Braskem, Samsung e Camargo ção da Polícia Federal sobre a suposta
vistas fica suspenso. A tese aceita pelo ra, todos os termos feitos antes desse Corrêa, entre outras. PÁGINA 4 tentativa de golpe de Estado. PÁGINA 6

BID destina R$ 27 bilhões Os picos de calor no Brasil, cidade a cidade MERVAL PEREIRA
Inútil no pedido de anistia, ato
para investimentos em mostra resiliência da direita PÁGINA 2
transição energética no país ANOMALIA DE MÍRIAM LEITÃO
Programa anunciado pelo governo terá re- TEMPERATURA -5ºC 0 +6ºC
Uma encrenca que a aglomeração
cursos do Banco Interamericano de Desen-
volvimento para créditos à transição verde e à
de domingo não resolve PÁGINA 12
proteção contra variação cambial. PÁGINA 11
AP
RR

Público na Paulista era branco,

Receita desaba, e Americanas masculino e com ensino superior
tem prejuízo de R$ 4,6 bi AM PA
Pesquisa da USP traça perfil dos
MA
presentes ao ato de apoio a Bolso-
Valor, referente aos nove primeiros CE RN
naro. Maioria defende Tarcísio
meses do ano passado, é, no entanto, PI PB
de Freitas como candidato da di-
menor que o de 2022. Vendas digi- PE reita ao Planalto em 2026. PÁGINA 7
tais foram mais impactadas. PÁGINA 15 AC
TO AL
RO SE

BA
Advogado é executado à luz
EFEITO DENGUE MT
do dia no Centro do Rio
As oito 1 Belo Horizonte
Repelentes em capitais 4,23ºC
Brasília
DF
Vale do
Jequitinhonha Rodrigo Marinho Crespo levou vá-
‘produção de guerra’
2
com as 4,06ºC
GO
rios tiros na Avenida Marechal Câ-
maiores 3 Goiânia MG mara, em frente a seu escritório. Na
MS ES
Com demanda em dobro, fabricantes 'anomalias' 3,64ºC mesma calçada, estão as sedes da
trazem insumo de avião e criam 4 Cuiabá OAB-RJ, do MP-RJ e da Defensoria Pú-
3,57ºC RJ
terceiro turno para dar vazão. PÁGINA 14 5 Vitória SP blica. A polícia investiga o caso. PÁGINA 22
3,24ºC
6 Campo Grande PR
As cidades da região ocupam
2,87ºC 18 dos 20 primeiros lugares
ENTREVISTA/ DAVID RICHO no ranking de maiores Entreouvindo o Bolso
7 Rio de Janeiro SC
anomalias de calor, com
‘Ficar juntos a sós, 8
2,78ºC
São Paulo
RS
picos até 5,5 graus mais
quentes que a média

sem o celular, 2,64ºC histórica local

fortalece os laços’
Para o terapeuta, autor de best-seller sobre rela-
cionamentos, a autoestima é essencial para
uma boa união e não se deve ter o parceiro como
fonte única de satisfação. Ele recomenda que
casais saiam do ambiente doméstico e se divir-
tam “no mundo lá fora, sem celular”. PÁGINA 19
Estudo inédito do Cemaden quantifica, cidade a cidade, onde o Brasil mais sofreu com o intenso calor
de 2023, o ano mais quente já registrado na Terra. O levantamento mede as “anomalias”, diferença
entre o pico de temperatura aferido num mês e a média histórica daquele mesmo mês. O Vale do
Jequitinhonha, em Minas, concentra as cidades que lideram o ranking. O GLOBO lança hoje em seu
site ferramenta que mostra as anomalias em cada um dos municípios brasileiros. PÁGINA 9 — Grrrrr!

Passo
HERMES DE PAULA
SEGUNDO CADERNO

decisivo Elvis canta AC/DC e outras

para criações: o novo debate da IA
reforma Sucesso de invenções na internet como Sinatra
interpretando Metallica renova discussão sobre
da estação tecnologia e direitos autorais e de imagem. Produtor
diz que público escolherá músicas com comandos
Em acordo como: “Quero ouvir heavy metal na voz de Elis”.
com a União,
prefeitura do

Na arte, vale
REPRODUÇÃO
Rio assume
área da
Estação o autenticado
Leopoldina,
que deve O caso de uma pintura de
ganhar Rembrandt (1606-1669), em
escolas autorretrato ao lado, que saltou de
técnicas, US$ 17 mil para US$ 13,8 milhões
condomínio, mostra como a autenticidade se
Cidade do sobrepõe à estética quando se trata
Samba 2 e de estipular o valor de uma obra.
centro de
convenção.
PÁGINA 23
LEO AVERSA
Aceitei compor com Kleiton. Mas como se faz música?
2 |
Opinião do GLOBO
Usar multidão contra
a Justiça mostra que
Bolsonaro não muda
Não é tolerável numa democracia
que ex-presidente use sua força política
para atacar investigação sobre golpe
A
lvo de investigação da Polí-
cia Federal sobre tentativa
de golpe de Estado, o ex-
presidente Jair Bolsonaro
liderou uma gigantesca
manifestação na Avenida Paulista, em
São Paulo, no domingo. Quarteirões fi-
caram lotados com manifestantes ves-
tindo camisas amarelas. Caravanas de
ônibus chegaram de todo o país. Havia
veículos de Minas Gerais, Santa Catari-
na, Rio Grande do Sul e Pernambuco.
A estratégia era evidente desde antes
do ato: usar as ruas para tentar proteger
Bolsonaro da Justiça. Isso ficou explíci-
to quando o próprio Bolsonaro, micro-
fone em mãos, afirmou querer “passar
uma borracha no passado”.
As suspeitas sobre Bolsonaro, minis-
tros e apoiadores são graves. Elas de-
vem ser investigadas a fundo e, com-
provada culpa, a punição deve ser seve-
ra. Tramar para subverter a vontade ex-
pressa pelo voto popular é o crime mais
grave numa democracia. “Passar uma
borracha”, como quer Bolsonaro, tor-
naria mais provável um novo plano de
golpe no futuro. Seria também um ata-
que intolerável à noção, basilar numa
democracia, de que todos são iguais pe-
rante a lei. Quem consegue atrair mul-
Tragédia ianomâmi persiste apesar
das promessas feitas por Lula
Situação na reserva indígena
continua dramática, e mortes
em 2023 aumentaram 6%
A
tragédia que aflige o povo
ianomâmi parece distan-
te de uma solução, a des-
peito das ações do gover-
no Luiz Inácio Lula da Sil-
va. No ano passado, foram registra-
das 363 mortes nas aldeias, 6% a mais
que as 343 notificadas em 2022, se-
gundo boletim epidemiológico di-
vulgado pelo Ministério da Saúde na
semana passada. O governo alega
que os números anteriores estavam
subnotificados e que a presença mais
intensa do Estado na reserva permi-
tiu melhorar os registros. Por mais
que isso possa ser verdade, as mais de
três centenas de mortes — resultado
de malária, desnutrição, diarreia,
pneumonia e outras mazelas — são
sinal contundente do fracasso. O pró-
prio governo admite que ainda há
subnotificação nos números.
Em janeiro do ano passado, um dia
depois de o Ministério da Saúde de-
cretar emergência na reserva iano-
mâmi, Lula visitou a região ao lado
de oito ministros. A situação não era
diferente da exibida em reportagem
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PRESIDENTE: João Roberto Marinho
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tidões para manifestações deve rece-
ber o mesmo tratamento dado a qual-
quer suspeito. Não dá para aceitar esse
subterfúgio para pressionar a Justiça.
Ademanda por anistia chegou ao ab-
surdo quando Bolsonaro admitiu a
existência do documento conhecido
como “minuta do golpe”. “Agora, o gol-
pe é porque tem uma minuta de um de-
creto de Estado de Defesa. Golpe usan-
do a Constituição? Tenham santa pa-
ciência”, disse Bolsonaro. Na versão de-
le, o rascunho de decreto encontrado
na casa do ex-ministro da Justiça An-
derson Torres, instalando Estado de
Defesa na sede do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), era inofensivo. Nada
mais longe da verdade. O objetivo da
minuta era mudar o resultado das elei-
ções de 2022, vencidas por Luiz Inácio
Lula da Silva. De constitucional, não ti-
nha nada. A partir da delação premiada
de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens
de Bolsonaro, a PF investiga os indícios
de que o ex-presidente tenha participa-
do da redação final do texto.
Ao mesmo tempo que representa
uma manobra para pressionar a Justi-
ça, a manifestação da Paulista demons-
tra que, do ponto de vista político, Bol-
sonaro mantém a liderança da parcela
do Fantástico em 2021. Crianças e
mães esquálidas eram o retrato de
uma comunidade abandonada pelo
poder público. Politizando a ques-
tão, Lula acusou Jair Bolsonaro de
genocídio contra o povo ianomâmi
e disse que a situação demandava
“medidas mais drásticas”. Pelo vis-
to, ficou no discurso.
É verdade que as Forças Armadas
foram envolvidas em ações emer-
genciais, mas, além de insuficien-
tes, elas não tiveram continuidade.
A anunciada repressão ao garimpo
ilegal fracassou. Sem medidas per-
manentes, os garimpeiros expulsos
da reserva não tardaram a voltar. No
fim do ano passado, o próprio gover-
no reconheceu o problema.
Na prática, o povo ianomâmi conti-
nua abandonado à própria sorte. Os
distritos de saúde nas aldeias, quan-
do existem, não têm equipes médicas
ou remédios suficientes para doen-
ças evitáveis. Em setembro passado,
o ministro Luís Roberto Barroso, do
Supremo Tribunal Federal (STF), co-
brou do governo um relatório deta-
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conservadora da sociedade brasileira.
Mesmo tendo sido declarado inelegí-
vel até 2030 por decisão do TSE —que
o condenou por abuso de poder políti-
co e uso indevido dos meios de comu-
nicação ao atacar, sem provas, a lisura
das urnas eletrônicas —, ele reuniu sob
suas asas os principais governadores da
oposição, diversos deputados e uma
multidão estimada em 185 mil pesso-
as. Embalado pelo discurso que mistu-
ra pregação religiosa, loas à polícia, ne-
gacionismo eleitoral e liberalismo eco-
nômico, Bolsonaro atraiu inúmeros in-
satisfeitos com o governo Lula.
O mar de camisas amarelas na Pau-
lista é um alerta para Lula e os partidos
de esquerda. O movimento identifica-
do com a direita e a ultradireita se con-
solidou e deverá manter força eleitoral.
Isso é uma lembrança eloquente de
que a vitória de Lula foi garantida não
apenas pelos votos da esquerda, mas
sobretudo pelos eleitores de centro que
não queriam Bolsonaro. Governar ape-
nas para os petistas — como ele faz ao
retroceder em agendas superadas, caso
do gigantismo das estatais —equivale a
ignorar essa realidade. Com isso, Lula
certamente sofrerá consequências po-
líticas e eleitorais.
lhado sobre as medidas adotadas para
proteger os ianomâmis. A decisão foi
tomada depois que associações indí-
genas denunciaram aumento no ga-
rimpo ilegal.
Nos últimos dias, diante da reper-
cussão negativa do aumento nas
mortes, o governo anunciou a cons-
trução de um hospital indígena em
Boa Vista. Trata-se, porém, de medi-
da de longo prazo, sem efeito num
presente desalentador. Compreen-
de-se que qualquer intervenção no
território onde vivem mais de 30 mil
ianomâmis demande logística com-
plexa. Mas o próprio governo prome-
teu reagir ao abandono da gestão an-
terior e, até agora, pouco fez.
É uma vergonha o que acontece
na reserva ianomâmi. O governo
tem obrigação de levar assistência
médica às aldeias. Ao mesmo tem-
po, precisa combater o garimpo ile-
gal, que, ao contaminar as águas dos
rios, também contribui para degra-
dar a saúde da população. Lula deve-
ria falar menos e fazer mais pelo po-
vo ianomâmi.
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Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO
Artigos
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MERVAL
PEREIRA
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Sinal de alerta
H á dois aspectos a analisar em relação à manifestação
bolsonarista de domingo na Avenida Paulista. O pri-
meiro, mais superficial, é a tentativa de escapar de puni-
ções pela marcha golpista que culminou com a invasão da
Praça dos Três Poderes em janeiro de 2023. Não há ne-
nhuma razão para que seja levada a sério. A pressão popu-
lar não tem força para paralisar a investigação em anda-
mento, já praticamente encerrada com a definição de um
quadro claro de frustração de um golpe de Estado.
Havia o temor de que a prisão de Lula, depois de con-
denado por duas instâncias da Justiça, como rezava a
lei na ocasião, pudesse levar a um confronto, e nada
aconteceu. Nada acontecerá também com uma even-
tual prisão de Bolsonaro.
O outro aspecto, esse mais profundo, é a resiliência de
uma liderança radicalizada de extrema direita, apesar de
tudo o que aconteceu no país desde que o capitão chegou
ao poder por circunstâncias alheias a suas capacitações.
Uma década depois das manifestações surpreendentes
contra o preço das passagens, que extrapolaram comple-
tamente o objetivo inicial e deram margem ao ressurgi-
mento de um movimento de direita no Brasil, que pare-
cia estar aprisionado, abafado, depois de 20 anos de go-
vernos de esquerda ou sociais-democratas, com PT e
PSDB, voltamos à estaca zero, com o país dividido, e o an-
tipetismo dando a tônica da marcha política.
Não há dúvidas de que estancar a permanência do bolsona-
rismo no poder foi, por si só, um avanço democrático. Medi-
das perniciosas à cidadania, como armamentismo, negacio-
nismo vacinal, incitação à violência como método de resolu-
ção de conflitos, ataques ao meio ambiente, aos povos originá-
rios e às instituições — todas essas atitudes anticivilizatórias
foram neutralizadas, e com isso ganhou a sociedade brasileira.
No entanto a manifestação a favor de Bolsonaro foi
uma demonstração clara de que o país é conservador, de
que Lula só ganhou a eleição porque parte do centro po-
lítico da sociedade não queria a conti-
Infelizmente, nuidade daquela selvageria do gover-
dependemos do no bolsonarista. Mas também não
surgimento quer a continuidade do governo petis-
de um líder ta tal qual se apresenta hoje. Lula só
equilibrado e chegou lá porque se ofereceu para ser
popular para fiador de um governo de união nacio-
colocar o trem no nal. Ele usou a força desse centro da
trilho novamente sociedade brasileira para derrotar
Bolsonaro. Mas não ganhou a eleição
para fazer o governo que tem feito.
Um governo de esquerda, que procura se afastar do Oci-
dente para almejar uma liderança do Sul Global que une di-
taduras dos mais diversos calibres, só porque são antiame-
ricanas. Não é essa a vontade da sociedade brasileira, não
são esses os desígnios que as urnas indicaram. Não é preci-
so ser vira-lata em relação aos Estados Unidos, nem cauda-
tário dos desmandos do governo de Israel, para ser um país
independente no cenário internacional.
Embora o PT ache que as urnas deram a ele o direito de
tentar impingir à população brasileira uma direção política
que não é a que combina com a maioria conservadora do
povo brasileiro. O Brasil também não é de extrema direita,
e a maioria da sociedade, depois de ter cometido o erro de
levar a sério um sociopata, se encontra agora mais livre para
escolher uma alternativa, pois Bolsonaro está inelegível.
Escolher o governador paulista Tarcísio de Freitas, ou ou-
tro direitista moderado, é mais fácil do que escolher Bolso-
naro para quem é, antes de tudo, antipetista. A esquerda
tem de entender que não chegou ao poder por seus pró-
prios desígnios, mas para evitar que Bolsonaro continuasse
seu projeto de retrocesso da sociedade. Se Lula fizesse um
governo de união nacional, sem tentar impingir suas teses
esquerdistas à maioria, controlaríamos esses extremismos.
Infelizmente, dependemos do surgimento de um líder
equilibrado e popular para colocar o trem no trilho nova-
mente. Que é de centro, de equilíbrio, que quer a evolução
do país; não quer o retrocesso de Bolsonaro, mas também
não quer o retrocesso de esquerda identitarista, que dá
mais valor a questões particulares de grupos mobilizados
politicamente do que do ponto de vista geral do bem-estar
inclusivo da população, cuja maioria não quer ser empare-
dada por uma elite, quer ser partícipe do desenvolvimento.
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OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024 Opinião | 3

_ SEG _ Fernando Gabeira _ Demétrio Magnoli (quinzenal) _ Miguel de Almeida (quinzenal) _ Edu Lyra (quinzenal) _ Irapuã Santana (quinzenal) _ Washington Olivetto (quinzenal)
_ TER_ Merval Pereira _ Carlos Andreazza _ QUA_ Vera Magalhães _ Elio Gaspari _ Bernardo Mello Franco _ Roberto DaMatta (quinzenal) _ QUI_ Merval Pereira _ Malu Gaspar
_ SEX_ Vera Magalhães _ Flávia Oliveira _ Pedro Doria _ Bernardo Mello Franco _ SÁB_ Carlos Alberto Sardenberg _ Eduardo Affonso _ Pablo Ortellado _ DOM_ Merval Pereira _ Dorrit Harazim _ Bernardo Mello Franco

CARLOS
ANDREAZZA ARTIGO

‘Deepfake’
blogs.oglobo.globo.com/
carlos-andreazza/ é risco para
empresas
ca.andreazza@gmail.com

Vestiu a toga
e foi à missa PATRICK
BURNETT

N ão houve festa. Não daquelas, pagas por

associações de magistrados, em que o
empossado canta para empresário que tem
pendências no Supremo. Flávio Dino vestiu
a toga e foi à missa.
A imprensa acompanha com atenção
a ascensão da tecnologia deepfake,
com ênfase principalmente nas amea-
Posse discreta; não livre — Deus sempre ças que esse tipo de inteligência artifi-
vendo —de prévia reunião VIP. Modalidade cial pode representar para a democra-
de folia petit comité. Há imagens. Daniela cia e para a privacidade individual.
Lima, da GloboNews, documentou. Numa Contudo é preciso destacar que o
sala contígua ao plenário, ministros em ro- deepfake também pode trazer prejuí-
dinhas com enrolados cujo foro é o STF. zos irreversíveis para empresas.
Posse discreta e concorrida, não convida- Os veículos noticiaram que, em 2 de
do o comedimento, ausente a impessoali- fevereiro, um funcionário do departa-
dade, barrada a prudência. mento financeiro de uma multinacio-
Estava lá, num dos bolinhos, sorridente, nal foi vítima de um golpe impressio-
com o sorridente imperador do Senado Da- nante de deepfake. Fraudadores con-
vi Alcolumbre, o ministro Juscelino Filho, seguiram se passar pelo diretor finan-
deputado pelo Maranhão, cujas remessas outro interesse que não seja fazer um Brasil Se o cronista gostasse de apostas e tivesse ceiro da empresa numa videoconfe-
de emendas a municípios do estado estão melhor e maior. tostão para apostar, casaria que Dino, senador rência, resultando num prejuízo de
sob investigação. O maranhense Dino —ex- A vida boa oferece muitos privilégios, não eterno, será —anomalia natural (o oximoro se US$ 25 milhões, ou R$ 124 milhões.
colega de ministério do investigado — é o raro ofertados por quem — à custa de vidas impõe) numa Corte constitucional que se di- Segundo as investigações da polícia de
relator. Declarar-se-á impedido? duras — se serve do Brasil e tem interesse lata sobre a República —ministro-líder do go- Hong Kong, aquele funcionário acre-
Não serão poucos os impedimentos no ho- em fazer do país patrimônio privado ainda verno no Supremo. O tribunal há muito à von- ditava estar conversando com inte-
rizonte, se o novo ministro afinal não for melhor e maior. tade para ser (já é) o terceiro turno parlamen- grantes reais da equipe, quando, na
aquele que, em campanha pela cadeira, fir- (Num camarote privado, Nunes Marques tar. E então Dino. Uma escolha pelo —um in- verdade, eram rostos falsos criados
mou o “compromisso de ser um guardião e — egresso dos abadás de Salvador — viu os vestimento no —vício. Pós-Lewandowski, um por tecnologia de inteligência artifici-
um facilitador do diálogo entre os Poderes”. desfiles de segunda-feira, dia em que pas- Xandão para Lula chamar de seu. al de última geração.
(Sendo a função —essa guarda desviada —já sou o buliçoso caju da Mocidade Indepen- A tese da liderança do novo ministro pela Esse incidente não é o único, nem seu
mui exercida no STF, a declaração também dente, a escola sob patronato de Rogério de agenda do governo será testada quando o STF princípio exatamente novo. Em agosto
comunicava que a concorrência se acirraria.) Andrade, de cujo processo no Supremo o voltar a examinar a liminar —de, ora, Lewan- de 2019, uma tecnologia de inteligência
Ocronista, folião pecador, falou em farra e se ministro é relator e cuja prisão preventiva dowski — que enterrou a Lei das Estatais. O artificial foi empregada para imitar a
lembrou do carnaval: o presidente do Supre- revogara em 2022.) Planalto o tem na conta do advento decisivo voz de um CEO britânico num telefone-
mo malandreando na Sapucaí; passarela em Dino não irá à Sapucaí. A posse austera para —esculhambado o desejo do legislador — ma para seu homólogo alemão. A fraude
que o Estado Democrático de Direito abriu comunica um perfil. A questão sendo se assegurar a formação de maioria em prol do culminou na transferência de £ 220 mil
alas a que anísios e outros capitães —não raro deixará de ser agente político, a avenida in- aparelhamento político-partidário de compa- (cerca de R$ 1,39 milhão) para contas
com demandas na Corte —expressassem-exi- do até ele. Há respostas na forma como se nhias estatais. Declarar-se-á impedido? dos golpistas.
bissem seus impérios. E Barroso ali, todo tra- comportou desde que chancelado pelo Se- Registre-se, do pós-missa, a compreensão Como vemos, os bandidos têm acom-
balhado no linho, soltinho e exposto. Expon- nado, em dezembro. Em vez de uma qua- de Dino sobre a função do STF, alargamento panhado o desenvolvimento da IA e são
do-se. Carteirada que nem a irresistibilidade rentena informal, desligando-se do Minis- que é produto de um tipo de dependência especialmente rápidos em aplicar tec-
do Salgueiro na avenida justificaria. tério da Justiça e da atividade política, esco- da virtude (já deve haver até um mercado) nologias, com resultados catastróficos
(Sugestão de enredo para a Unidos de Pa- lheu participar-influir na transição para Ri- de salvar a democracia: para as finanças e a reputação. Com cer-
dre Miguel, a de Celsinho da Vila Vintém, cardo Lewandowski e ainda voltar —e apre- — O Supremo tem esse grande papel de teza, muitos casos
que voltará — muitas décadas depois — ao sentar projetos — ao Parlamento; de onde controle sobre os outros Poderes. É imperioso que a assim ocorrem
Grupo Especial: “Salvando a democracia saiu para pegar o Supremo no dia seguinte. Ocontrole exercido pelo STF é de constituci- cibersegurança por aí, sem ser in-
adoidado”.) Tudo indica que estreará em ação que tem onalidade, a partir do que determina a Consti- corporativa seja formados às auto-
Da fala do presidente do STF — um de seu ex-partido como parte. Questionamento tuição, daí derivando a contenção — de modo fortalecida ridades.
nossos salvadores — na posse de Dino, ou- sobre mudança na regra para distribuição das estrito —sobre outros Poderes. É uma obvieda- como pilar Para começar-
tro herói salvador: sobras eleitorais. O resultado podendo alte- de. Sim. Que não impede nem sequer constran- essencial da mos a combater a
— A vida é dura, mas é boa, porque nos dá rar a composição da Câmara e beneficiar o ge —aumentada doravante a concorrência —a governança ameaça, o pri-
o privilégio de servir ao país, sem nenhum PSB. Declarar-se-á impedido? expansão das abordagens xandônicas. tecnológica meiro passo é cri-
ar conhecimen-
to. O debate público precisa mirar o
deepfake como risco, de forma a aler-
ARTIGO tar o setor corporativo a respeito da ur-
gência da cibersegurança.
A corrupção descontada no contracheque Já somos o país da América Latina
com o segundo maior número de ata-
ques cibernéticos, segundo relatório
da empresa de segurança Fortinet pu-
quando investigou e obteve confissões, do gru- Com sacrifício, mais de cem idosos, apo- blicado no ano passado, somando 103
GIGI REIS po J&F, de esquemas de corrupção em série. O sentados da Caixa, nos deslocamos de di- bilhões de tentativas criminosas em
grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista, pro- versas partes do país — pagando do próprio 2021, atrás apenas do México. A com-
prietário da JBS, assinou acordo de leniência bolso —para manifestarmos nossa indigna- panhia russa de tecnologia Kaspersky
com o MPF com multa de R$ 10,3 bilhões, dos ção e sentimento de abandono em frente à coloca o Brasil em quinto lugar como

U m dos aspectos mais injustos da corrup-

ção é que suas vítimas, além de terem di-
reitos violados, são invisibilizadas na maio-
quais R$ 4 bilhões seriam destinados a cobrir
parte do rombo que cau-
Estamos pagando saram no Funcef, fundo
Procuradoria-Geral da República. Além
disso, organizamos uma petição, assinada
por milhares de pensionistas, e a fizemos
alvo de ataques no mundo.
Por ora, esses ataques envolvem e-
mails maliciosos e técnicas de
ria dos casos. Os aposentados de Caixa, Pe- a conta dos de pensão da Caixa, e no chegar ao atual procurador-geral, Paulo Go- phishing (fraudes para obter dados ou
trobras, Correios e outras estatais são víti- rombos causados Petros, da Petrobras. net, traduzindo nosso clamor por justiça. senhas). A inteligência artificial, com
mas diretas —identificadas com nome e so- em nossos fundos, Mas a expectativa por Para finalizar com uma nota de ainda maior sua capacidade assombrosa de nos ilu-
brenome —de enormes e sucessivos esque- por meio de reparação vai se esvain- desalento, uma das ações que avançam no dir, estará cada vez mais à disposição
mas de corrupção. Os fundos de pensão das descontos que do, à medida que assisti- STF para anular todas as multas de acordos de de grupos criminosos.
estatais detêm patrimônio de quase R$ 1 tri- podem chegar a mos, atordoados, ao leniência —inclusive a da J&F —foi proposta Por isso é imperioso que a cibersegu-
lhão. Não é, portanto, coincidência terem absurdos 30% desmantelamento da pelo PSOL, PCdoB e Cidadania. Três parti- rança corporativa seja fortalecida co-
estado no centro do mensalão e do petrolão. Greenfield e à repactua- dos que dizem defender os trabalhadores fa- mo pilar essencial da governança tec-
Ali está a poupança de toda a vida de cente- ção sigilosa e imoral das delações premiadas vorecendo interesses de empresas e bilioná- nológica, com investimentos substan-
nas de milhares de bancários, petroleiros, car- dos irmãos Batista, ambas conduzidas pelo rios corruptos, sem jamais terem feito qual- ciais em tecnologias avançadas de de-
teiros e outros aposentados e futuros aposen- ex-procurador-geral da República Augusto quer consulta ou consideração sobre a situa- tecção de deepfake e treinamento de
tados. Cada qual com sua história e seu senti- Aras. Alcançado o objetivo de impunidade ção dos vitimizados. Ontem, ocorreu no STF equipe para reconhecer sinais de ma-
mento de indignação pela injustiça de ter de dos donos, agora assistimos aos malabaris- audiência de conciliação sobre o caso, para a nipulação digital. Além disso, proto-
pagar a conta da corrupção. mos da J&F, mobilizando exércitos de advo- qual foram convidados os órgãos públicos e as colos rigorosos de autenticação e veri-
Estamos pagando, há anos, a conta dos gados e políticos para se livrar de sua respon- empresas. As vítimas foram ignoradas. ficação devem ser implementados em
rombos causados pela corrupção em nossos sabilidade nessa farra da corrupção. Nós trabalhamos toda a vida e honramos todas as transações financeiras e inte-
fundos, por meio de descontos mensais que Infelizmente para os trabalhadores, espe- as empresas com nossa força laboral, dedi- rações virtuais de negócios.
podem chegar a absurdos 30%. E a afronta cialmente os idosos, vítimas mais vulnerá- cação e saúde. A terceira idade clama e pre- Em suma, o cenário atual exige uma
não para aí. Somos cobrados no Imposto de veis desse imbróglio, o grupo está avançan- cisa que se faça justiça. Para tanto, antes de abordagem proativa para mitigar os
Renda sobre os valores que nos são debitados. do rapidamente rumo ao livramento. Deci- tudo, tem de ser vista e reconhecida como a riscos inerentes à tecnologia deepfake,
Essa injustiça parece se tornar ainda mais in- são recente do ministro Dias Toffoli, do vítima que é dessa monstruosa engrenagem assegurando a integridade das opera-
visível cada vez que somos bombardeados STF, suspendeu o pagamento da multa bili- que nos viola e nos silencia. ções empresariais num mundo digital
com discursos negacionistas, afirmando que onária da J&F, acatando o argumento dos cada vez mais complexo.
a corrupção nunca existiu. corruptos de que confessaram sob tortura. Gigi Reis, administradora, é aposentada
Na década passada, a Operação Greenfield Tortura? Tortura é ser obrigado a pagar in- da Caixa e ativista em defesa dos Patrick Burnett é CEO do InoveBanco
trouxe um lampejo de esperança de justiça, justamente a conta da corrupção. participantes dos fundos de pensão e presidente do LIDE Inovação
4 |
Política
PUNIÇÕES REVISTAS
Mendonça autoriza empresas a renegociar multas
de acordos de leniência em novo revés da Lava-Jato
MARIANA MUNIZ
mariana.muniz@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA
P restes a completar dez
anos, a Lava-Jato sofreu
ontem um novo revés após o
ministro André Mendonça,
do Supremo Tribunal Fede-
ral (STF), autorizar que em-
presas punidas na época da
operação repactuem seus
acordos de leniência. Na
prática, o magistrado deu
60 dias para que as compa-
nhias renegociem os valores
bilionários que aceitaram
pagar em multas em troca
de não serem punidas na es-
fera administrativa. Os pa-
gamentos serão suspensos
nesse período.
A medida foi tomada em
audiência de conciliação
chamada por Mendonça
após partidos políticos
questionarem a validade de
acordos firmados pela for-
ça-tarefa da operação. Por
meio de uma Arguição de
Descumprimento de Pre-
ceito Fundamental (ADPF)
apresentada no ano passa-
do, PSOL, PCdoB e Solidari-
edade argumentam que os
pactos entre empresas e o
Estado foram celebrados
antes de uma regulamenta-
ção para esse tipo de negoci-
ação ser estabelecida, o que
só ocorreu em 2020.
Essas regras estão previstas
no Acordo de Cooperação
Técnica (ACT), assinado pelo
governo com os órgãos de
controle, sob supervisão do
Supremo. Ele estabelece, por
exemplo, que a Advocacia-
Geral da União (AGU) e a
Controladoria-Geral da Uni-
ão (CGU) são responsáveis
pela condução e celebração
dos acordos de leniência, em-
bora também preveja a parti-
cipação do Ministério Públi-
co. Antes, a empresa precisa-
va negociar separadamente
em cada “balcão” — o que ge-
rava, segundo as envolvidas,
uma insegurança jurídica.
O acordo de leniência é
uma espécie de delação pre-
miada das empresas, no
qual reconhecem desvios
em contratos com o setor
público em troca de não so-
frerem punições na esfera
administrativa. Em geral,
também se comprometem
em devolver os valores des-
viados e pagar multas.
AO MENOS R$ 17 BILHÕES
Ao todo, 11 leniências pode-
rão ser renegociadas, que
somam ao menos R$ 17 bi-
lhões em acordos firmados
com órgãos do governo. En-
tre as empresas que podem
ser beneficiadas estão
Braskem, Samsung, Nova
Enegevix, Camargo Corrêa,
Novonor (ex-Odebrecht),
J&F e Metha (antiga OAS).
Durante a audiência de
ontem, Mendonça, que é o
relator dos casos, negou que
sua decisão represente um
“revisionismo histórico” de
atos da Lava-Jato. Em nota
divulgada pelo STF, ele res-
saltou a importância dos
acordos de leniência como
NA WEB
EMPRESAS ATENDIDAS Acordos firmados com o governo
EMPRESA ANO
SOG Óleo e Gás,
PEM Engenharia 2015
e Setec Tecnologia
Metha S.A.
(grupo OAS) 2019
UTC
Participações S.A. 2017
CR Almeida S/A
Engenharia de Obras 2017
J&F
Investimentos 2017
Camargo
Corrêa 2019
Novonor 2018
Nova Engevix
Engenharia e Projetos 2019
Samsung
Heavy Industries 2021
Braskem S.A. 2019
Companhia Paranaense
de Construção, MLR Locações
de Máquinas, TV Maringá****
2020
* Celebrado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica *** Valor global, sendo R$ 2,7 com a CGU
** Celebrado com a Procuradoria da República do Mato Grosso **** Celebrado com a Procuradoria da República do PR
instrumento de combate à nistro Vinícius de Carvalho,
corrupção e disse que a re- da CGU, ressaltou que o go-
pactuação permitirá que as verno está aberto para ouvir
empresas negociem com os pedidos de renegociação
base nos “princípios da boa- das empresas.
fé, da mútua colaboração, Participantes da reunião
da confidencialidade, da ra- ouvidos pelo GLOBO rela-
zoabilidade e da proporcio- taram que todas as institui-
nalidade”, afirmou. ções demonstraram alinha-
O procurador-geral da Re- mento, entendendo que a
pública, Paulo Gonet, con- repactuação nos termos de
cordou com a reabertura do 2020 é necessária.
diálogo com as empresas. O A conciliação proposta
órgão deverá participar das por Mendonça ocorre na es-
renegociações. Já o presi- teira de duas decisões re-
dente do Tribunal de Contas centes do ministro Dias Tof-
da União (TCU), ministro foli, do STF, de suspender
Bruno Dantas, afirmou que multas impostas a empresas
a instituição participará da em acordos de leniência fir-
fiscalização do andamento mados pela empreiteira
dos acordos, enquanto o mi- Odebrecht e pela J&F.
MONITORAMENTO SECRETO
Câmara lista 16 PLs para regular tema
Casa apontou projetos a pedido do STF em ação sobre omissão do Legislativo
VALOR DO ACORDO (R$)
15 milhões*
1,92 bilhão
574,6 milhões
Não localizado**
10,3 bilhões
1,39 bilhão
3,8 bilhões***
516,3 milhões
811,7 milhões
(quitado)
2,87 bilhões
100 milhões
Fonte: CGU (à exceção dos
acordos com outros órgãos)
Há quinze dias, Gonet re-
correu de decisão que sus-
pendeu a multa de R$ 3,8 bi-
lhões aplicada contra a Ode-
brecht no acordo de leniên-
cia firmado com o Ministé-
rio Público em 2016, no âm-
bito da operação Lava Jato.
A decisão de Toffoli sus-
pendendo o pagamento de
multas da empreiteira foi
dada em uma ação na qual a
Odebrecht pegou carona —
e beneficiou o grupo J&F
com a suspensão de uma pe-
nalidade de R$ 10,3 bilhões
no acordo de leniência fir-
mado por conta de corrup-
ção na Petrobras.
No pedido apresentado à
Corte, Gonet solicitou que o
Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
STF/DIVULGAÇÃO
recurso contra a decisão de Pagamentos
Toffoli fosse apreciado em suspensos.
conjunto com a ação sob a Ministro do STF,
relatoria de Mendonça – André Mendonça
entendendo que os “obje-
tos” são os mesmos.
determinou o
prazo de 60 dias
para que as
“COAÇÃO”
As duas decisões de suspen-
empresas
renegociem
der multas tinham como ar- valores
gumento uma suposta coa-
ção às empresas, na época
bilionários que
aceitaram pagar
acossadas por denúncias de em multas,
corrupção na Lava-Jato, e durante acordos
que os valores acordados fo- de leniência da
ram “excessivos”. Lava-Jato, em
Em sua decisão, Toffoli ci- troca de não
tou suspeitas de “conluio” serem punidas
entre o ex-juiz Sergio Moro,
que foi responsável pela La-
na esfera
administrativa
va-Jato na sua primeira fase,
com procuradores da força-
tarefa da operação, revela-
dos pela Operação Spoo-
fing. Segundo o magistrado,
esse cenário permitiu “a ela-
boração de cenário jurídico-
processual-investigativo
que conduzisse os investi-
gados à adoção de medidas
que melhor conviesse a tais
órgãos, e não à defesa em si”.
Nos bastidores do STF, a
avaliação é a que o acordo
costurado por André Men-
donça junto às empresas e
os órgãos de controle tira da
alçada de Toffoli — e da Se-
gunda Turma da Corte, on-
de há um placar desfavorá-
vel à Lava-Jato — a decisão a
respeito da suspensão das
multas e permite que todas
as companhias possam re-
pactuar o que foi firmado
anteriormente, não apenas
a J&F e a Novonor.
Para Sebastião Tojal, ad-
vogado especialista em
acordos de leniência, a ini-
ciativa de Mendonça foi “al-
tamente louvável”.
—A litigiosidade custa mui-
to caro. Portanto, é preferível
que se busque uma solução de
consenso. Os acordos se torna-
ram impagáveis e deixaram de
cumprir o seu papel — disse
ele(Colaborou Julia Noia).
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024 Política | 5

Governo busca alternativa para

CRISTIANO MARIZ

recompor emendas, diz Rui Costa

Lula vetou R$ 5,6 bilhões das indicações de comissão, decisão que parlamentares
ameaçam derrubar. Já Planalto atua para evitar sacrificar ‘funções sociais’

ALICE CRAVO E governo federal decidiu com o Congresso pelo con- áreas de Saúde e Assistência
RENAN MONTEIRO
politica@oglobo.com.br cumprir o calendário de trole do Orçamento. Social. O cronograma para a
BRASÍLIA pagamento de emendas O acordo foi fechado em liberação de emendas con-
-
previsto na Lei de Diretri- uma reunião com o ministro templa uma programações

O ministro da Casa Civil,

Rui Costa, afirmou on-
tem que o governo ainda es-
zes Orçamentárias (LDO)
de 2024, após a medida ter
sido vetada pelo presiden-
Alexandre Padilha. As emen-
das devem ser pagas até 30 de
junho e representam um va-
de empenho até limite para o
desembolso de verbas às ci-
dades antes das eleições mu-
tá buscando uma alternati- te Lula em meio à tensão lor de R$ 14,5 bilhões para as nicipais de outubro. Busca por acordo. O ministro Rui Costa, que tem mantido diálogo com Lira
va para recompor os R$ 5,6
bilhões de emendas de co-
missão que foram vetados
pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ao sancionar a
Lei Orçamentária Anual
(LOA) de 2024.
Costa justificou que o va-
lor de R$ 5,6 bilhões foi re-
tirado de “funções sociais”
importantes, como o Bolsa
Família e o Vale Gás, e que o
Palácio do Planalto está
buscando um meio de
“atender as demandas”
sem “sacrificar” os gastos
essenciais do governo.
— Estamos dialogando
(…). Para você acrescentar
R$ 5 bilhões, você precisa ti-
rar de algum lugar. Foi tirado
de vale gás, Bolsa Família,
universidades. Tem lugares
que tirou 20% do orçamento
de manutenção daquilo. Ou
seja, aquele órgão ou aquela
escola ou universidade não APRESENTA
funcionará o ano inteiro se o
valor fosse (sic) mantido —
afirmou o ministro, ao justifi-
car o veto de Lula: — Por isso
que houve o veto e estamos
buscando alternativas de
atender as demandas solici-
tadas sem sacrificar eventu-
almente o funcionamento de
órgãos tão essenciais ou de
O ESTANDARTE DE OURO 2024
funções sociais tão impor-
tante, como o Vale Gás e o
ESTÁ IMPERDÍVEL.
Bolsa Família.
Ao sancionar a Lei Orça-
mentária Anual (LOA), no Não fique de fora da festa de premiação do
mês passado, Lula cortou
parte das emendas de comis- Estandarte de Ouro, com um show especial de
são, uma das modalidades de
indicação dos congressistas. Dudu Nobre e a presença dos melhores da
No entanto, parlamentares
ameaçam derrubar a decisão Sapucaí. Venha comemorar com a gente neste
do presidente para recompor grande encontro do carnaval do Rio.
os valores.
Em outra ocasião, Rui Costa
já havia afirmado que não há
“polêmica” sobre o veto do
presidente Lula e que o acordo
feito com o presidente da Câ-
mara, Arthur Lira (PP-AL), foi
o de incorporar R$ 11 bilhões
em emendas de comissão, res-
saltando que “o que foi coloca- 29 DE FEVEREIRO
do além disso não faz parte do
acordo”. O Congresso tinha
aprovado R$ 16,7 bilhões para ÀS 19H30 VIVO
RIO
esse tipo de emenda.

SEM DIÁLOGO COM PADILHA

Recentemente, Arthur Li-
ra cortou o diálogo com o Vendas no site
ministro das Relações Ins- sympla.com.br ou
titucionais, Alexandre Pa- acesse o QR-code ATRAÇÃO ESPECIAL
dilha. Nesse cenário, Rui DUDU NOBRE
Costa se tornou um dos
principais interlocutores
de Lira com o Palácio do
Planalto. O ministro da Fa-
zenda, Fernando Haddad, GARANTA JÁ O SEU INGRESSO
também chegou a tratar Setor 2 Inteira: R$ 220 (individual)
com Lira assuntos ligados a (Mesa Compartilhada) Meia: R$ 110 (individual)
demandas do Congresso. Inteira: R$ 165 (individual)
Setor 3
O estopim para o rompi- (Pista) Meia: R$ 82,50 (individual)
mento de Lira e Padilha, se-
gundo aliados do presidente Setor 4 Inteira: R$ 110 (individual)
da Câmara, foi a edição de uma (Pista Superior) Meia: R$ 55 (individual)
portaria do governo que prevê
novas regras para liberação de
recursos apadrinhados por
parlamentares na área da Saú- Apresentação Apoio Técnico | Cultural Apoio Promoção Exclusiva Realização

de. A nova norma condiciona

transferências à aprovação de
um colegiado formado por
gestores estaduais e munici-
pais do SUS em cada estado.
Na semana passada, o
 6 | Política
PF vai usar fala de
Bolsonaro em ato como
evidência sobre minuta
Para ministros do STF, ex-presidente defendeu o conteúdo do
decreto golpista ao dizer que o texto seria ‘constitucional’
MALU GASPAR E MARIANA MUNIZ
politica@oglobo.com.br
RIO E BRASÍLIA
-
Q uatro dias depois de ficar
em silêncio diante de de-
legados da Polícia Federal que
investigam sua participação
em um suposto planejamento
de golpe de Estado, o ex-presi-
dente Jair Bolsonaro fez de ci-
ma do carro de som na mani-
festação de domingo passado
na Avenida Paulista, em São
Paulo, uma declaração que po-
de complicar sua situação no
inquérito. Segundo blog da co-
lunista do GLOBO Malu Gas-
par, a fala de Bolsonaro foi en-
carada pelos investigadores da
PF como uma confirmação de
que ele tinha conhecimento
da minuta de golpe.
—Agora, o golpe é porque
tem uma minuta de um decre-
to de estado de defesa. Golpe
usando a Constituição? Te-
nham santa paciência. Golpe
usando a Constituição —disse
o ex-presidente. —Deixo cla-
ro que estado de sítio come-
ça com o presidente da Re-
pública convocando os con-
selhos da República e da De-
fesa. Isso foi feito? Não.
Apesar de não ser golpe o es-
tado de sítio, não foi convo-
cado ninguém dos conse-
lhos da República e da Defe-
sa para se tramar ou para se
botar no papel a proposta do
decreto do estado de sítio.
Para policiais federais en-
volvidos na apuração do ca-
so —alguns dos quais acom-
panharam in loco a fala do
ex-presidente —, embora ti-
vesse a intenção de susten-
tar que não houve tentativa
de golpe, Bolsonaro admitiu
que havia uma minuta. Es-
ses investigadores antecipa-
ram que a transcrição da fala
será incluída no inquérito.
Ministros do Supremo Tri-
bunal Federal (STF) ouvidos
pelo GLOBO também avalia-
ram, de forma reservada, que
Bolsonaro reconheceu a exis-
tência da minuta.
O documento que ficou
conhecido como “minuta
do golpe” foi encontrado na
casa do ex-ministro da Justi-
ça Anderson Torres em ja-
neiro de 2023. Era o rascu-
nho de um decreto instalan-
do um “Estado de Defesa na
sede do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE)”, com o ob-
jetivo de “garantir a preser-
vação ou o pronto restabele-
cimento da lisura e correção
do processo eleitoral presi-
dencial do ano de 2022”. Na
prática, o texto previa uma
intervenção no TSE para
mudar o resultado das elei-
ções, vencidas por Luiz Iná-
cio Lula da Silva.
Ao longo dos últimos dias,
Bolsonaro foi instruído pe-
los advogados a não fazer
ataques ao STF ou às urnas
eletrônicas e, muito menos,
ao ministro da Corte Ale-
xandre de Moraes, que co-
manda as investigações so-
bre o ex-presidente. O te-
mor era de que Bolsonaro se
exaltasse e acabasse des-
cumprindo alguma das me-
didas cautelares determina-
das por Moraes ao autorizar
a operação Tempus Verita-
tis, em 8 de fevereiro.
Da última vez que coman-
dou um ato público na Ave-
nida Paulista, antes da ma-
nifestação de domingo, o
ex-chefe do Planalto cha-
mou Moraes de “canalha” e
disse que não cumpriria as
decisões do STF.
Na mira do Supremo pela
investigação dos atos golpis-
Discurso. Bolsonaro ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas: fala com menções à minuta do golpe
“Agora, o golpe é porque
tem uma minuta de um
decreto de estado de
defesa. Golpe usando a
Constituição? Tenham
santa paciência. Golpe
usando a Constituição”
_ golpista. Na avaliação de De acordo com a PF, há “da-
Jair Bolsonaro, durante discurso
em manifestação na Avenida
Paulista, no domingo passado
tas, Bolsonaro adotou uma
linguagem bem mais caute-
losa e não mencionou textu-
almente no ato nem o tribu-
nal e nem Moraes. Ele falou
apenas genericamente que
está sendo perseguido, disse
que pretende “passar uma
borracha no passado” e pe-
Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO
MARIA ISABEL OLIVEIRA/25-02-24
diu anistia para os presos nunca foi “simpático” a mo-
pela invasão das sedes dos vimentos golpistas.
três Poderes, em Brasília. —O presidente Bolsonaro
nunca foi simpático a qual-
MEDIDA “CONSTITUCIONAL” quer tipo de movimento
Para três ministros do STF golpista — afirmou.
ouvidos pelo GLOBO, o ex- Bolsonaro foi um dos alvos
presidente, em sua fala, re- da Tempus Veritatis, defla-
conheceu saber do que se grada pela PF há três sema-
tratava o documento que, nas por determinação do mi-
segundo a PF, tinha um teor nistro Alexandre de Moraes.
um ministro, Bolsonaro dos que comprovam” que
ainda defendeu o conteúdo Bolsonaro “analisou e alte-
do documento ao dizer que rou uma minuta de decreto
se trataria de uma medida que, tudo indica, embasaria a
“constitucional”. consumação do golpe de Es-
Intimado a depor na se- tado em andamento”.
mana passada, Bolsonaro fi- Os investigadores tam-
cou em silêncio. O advoga- bém tiveram acesso a um ví-
do Paulo Cunha afirmou deo de reunião ministerial
que o ex-presidente não co- de julho de 2022 conduzida
meteu nenhum delito e dis- pelo então presidente, no
se ainda que Bolsonaro “não qual o sistema eleitoral foi
teme nada porque não fez atacado com vistas a manter
nada”. E acrescentou que ele Jair Bolsonaro no poder.
 OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024 Política | 7

tas (Republicanos), deve ser

POR DENTRO DA MOBILIZAÇÃO BOLSONARISTA (em %) Quem apoia para a eleição de 2026, o nome do campo na corri-
se Bolsonaro estiver inelegível da. O governador, ministro
QUEM SÃO da Infraestrtura no governo
SEXO RENDA (SALÁRIOS MÍNIMOS) Tarcísio de Freitas passado, estava no ato de do-
61
masculino Até 2 mingo e acompanhou Bol-
62 10
feminino 2a3
Michele Bolsonaro sonaro no trio elétrico no
19 qual discursou.
38 13
3a5 Romeu Zema A ex-primeira-dama Mi-
IDADE 26 7 chelle Bolsonaro foi citada
16-24 5 a 10
3 25 Eduardo Bolsonaro por 19% como candidata
25-34 10 a 20 1 ideal. Michelle também foi
8 13 à manifestação e discursou.
Damares Alves
35-44 mais de 20
1
Também presente, o go-
21 9
45-54
vernador de Minas Gerais,
23 ESCOLARIDADE Flavio Bolsonaro Romeu Zema (Novo), foi
1
55-65 Fundamental lembrado por 7% dos entre-
25 6 General Braga Netto vistados. Marcaram 1% de
6 Não sabe
65+ Médio
19 26
1 3 Nenhum deles menções cada um Eduardo
Superior Bolsonaro (PL-SP), Dama-
ETNIA 67
Bolsonaro e eleição em SP
res Alves (Republicanos-
Branco DF), Flávio Bolsonaro (PL-
65 RELIGIÃO ex-presidente deve apoiar Ricardo Nunes
Pardo Católica 37
RJ), e general Braga Netto
26 43 ex-presidente deve lançar nome próprio (PL-RJ). Somaram 6% os
Preto Evangélica 47 15 Não sabe que disseram não saber e 3%
5 29
Amarelo Espírita/Kardecista
declararam que nenhum
1 11 Quem ganhou a eleição para presidente em 2022 desses nomes é o ideal para
Indígena Outras acham que Bolsonaro venceu
substituir Bolsonaro.
1 7
88
Outro Nenhuma RESISTÊNCIA A NUNES
2 10 acham que Lula venceu
Fonte: Monitor do Debate Político A pesquisa fez 575 entrevistas presenciais entre 13h30 e 17h de domingo. A margem de erro é estimada
8 4 Não sabe Já o apoio de Bolsonaro ao
no Meio Digital da EACH-USP em quatro pontos percentuais para mais ou menos, para um grau de confiança de 95% EDITORIA DE ARTE prefeito de São Paulo e pré-
candidato à reeleição, Ri-

Homem branco e com mero na Paulista. Mas é pos-

sível afirmar que os jovens
eram franca minoria na
cardo Nunes (MDB), divide
opiniões entre simpatizan-
tes do ex-mandatário que

ensino superior: o perfil

multidão. estavam no ato. Nunes tam-
A pesquisa aponta que bém foi à manifestação de
NICOLAS IORY
nicolas.iory@sp.oglobo.com.br
66% dos participantes do domingo, embora tenha fei-
SÃO PAULO ato são moradores da região to participação discreta.

do público na Paulista
-
metropolitana de São Paulo, Entre os entrevistados,

A maioria dos manifestan-

tes que compareceram à
Avenida Paulista no domin-
enquanto 34% disseram vi-
ver em outras regiões. Fo-
ram organizadas caravanas
37% avaliam que o ex-presi-
dente deve atuar pela reelei-
ção do prefeito da capital
go para o ato convocado pe- que chegaram à Paulista paulista. Para 47%, Bolso-
lo ex-presidente Jair Bolso- Ato tem baixa presença de jovens e 1/3 de fora da Grande vindas de estados como Per- naro deveria lançar um can-
naro (PL) era composta por nambuco, Minas Gerais, didato próprio para a dispu-
homens (62%), brancos São Paulo; maioria prefere Tarcísio para substituir Bolsonaro Santa Catarina e Rio Gran- ta de outubro. Outros 15%
(65%), e com ensino superi- de do Sul. disseram não ter opinião so-
or (67%). O perfil, traçado Apesar da identificação do bre o tema.
por uma pesquisa do Moni- a renda média dos manifes- mentos que os enquadram grupos etários que participa- bolsonarismo com o eleito- O ex-ministro e deputado
tor do Debate Político no tantes também não reflete a numa faixa de renda média ram do ato bolsonarista fo- rado evangélico —um dos or- federal Ricardo 0Salles
10 20 (PL-
30 40 50 60
Meio Digital, da Escola de situação econômica da mai- ou média-alta: 26% disse- ram os de 55 a 65 anos (25%), ganizadores do ato foi o pas- SP) chegou a se credenciar a
Artes, Ciências e Humani- oria do eleitorado. ram ganhar entre três e cin- de 45 a 54 anos (23%), de 35 a tor Silas Malafaia, da Assem- ser o nome do bolsonarismo
dades da Universidade de Foram 10% os que disse- co salários mínimos, e 25% 44 anos (21%), e acima de 65 bleia de Deus Vitória em na eleição paulistana. Ele
São Paulo (USP), não espe- ram ter renda familiar de até afirmaram receber de cinco anos (19%). Cristo, que custeou aluguel anunciou sua desistência
lha o observado na popula- dois salários mínimos por a dez salários mínimos. Considerando a margem de trio elétrico —, os católi- no mês passado diante da
ção brasileira em geral. mês, contingente equipará- Ainda segundo o levanta- de erro estimada em quatro cos estiveram em maior nú- aproximação do ex-presi-
O Censo 2022 do IBGE vel aos 9% que relataram ga- mento, só 3% dos manifes- pontos percentuais para mero no ato: eram 43% dos dente com Nunes.
aponta que 45,3% dos brasi- nhos superiores a 20 salá- tantes eram jovens com ida- mais ou menos, não dá para participantes. Os evangéli- Para 88% dos manifestan-
leiros se autodeclaram par- rios mínimos mensais. Mais des entre 16 e 24 anos. Nu- precisar qual desses seg- cos somaram 29% dos pre- tes que atenderam à convo-
dos, e 10,2% se dizem pretos. da metade informou recebi- mericamente, os maiores mentos estava em maior nú- sentes, contra 11% que se de- cação de Bolsonaro para o
Na manifestação da Avenida NELSON ALMEIDA / AFP / 25-02-2024
claram espíritas e 10% que ato, o ex-presidente é “quem
Paulista, esses grupos repre- Verde e disseram não seguir nenhu- de fato ganhou a eleição para
sentavam, respectivamente, amarelo. Ato ma religião. presidente em 2022”, e não o
26% e 5% dos presentes. convocado por presidente Luiz Inácio Lula
Além disso, as mulheres são Bolsonaro: mais NOMES PARA SUCESSÃO da Silva (PT). Antes do plei-
mais da metade da popula- da metade dos Os pesquisadores também to, testes e investigações so-
ção (52,8%) e somaram ape- presentes tem questionaram os manifes- bre a segurança das urnas
nas 38% dos participantes do renda média tantes sobre o futuro do bol- mostraram que elas são invi-
ato em São Paulo. sonarismo, após Bolsonaro oláveis, e o processo de trans-
Sob coordenação dos pro- ficar inelegível por decisão parência foi acompanhado
fessores Pablo Ortellado e do Tribunal Superior Elei- por diversos setores da socie-
Márcio Moretto Ribeiro, a toral (TSE). A maioria dade que atestaram a confia-
pesquisa ouviu 575 mani- (61%) defendeu que, caso o bilidade. Além disso, para
festantes entre 13h30 e 17h ex-presidente não esteja ap- 94% dos entrevistados, os
de domingo, em toda a ex- to a disputar a Presidência “excessos e perseguições da
tensão da Avenida Paulista. em 2026, o governador de Justiça” do Brasil atual carac-
Os dados revelam ainda que São Paulo, Tarcísio de Frei- terizam uma ditadura.

Cálculo da USP combina foto aérea de drone e software da imagem foi repartida em
oito partes.
— Temos bastante segu-
rança do número que divul-
Método faz contagem de cabeças de manifestantes. Polícia Militar de São Paulo usa área ocupada para estimar presentes no ato gamos, e nosso método é au-
ditável —diz Ortellado.
MIGUEL SCHINCARIOL / AFP / 25-02-2024
FERNANDA ALVES
fernanda.lima@oglobo.com.br
car e estimar o número de Av. Paulista. MULTIPLICAÇÃO DE ÁREA
cabeças na fotografia. Apoiadores Já a Polícia Militar infor-
-
—Fazemos a contagem de de Bolsonaro mou que usa um software

A s estimativas de apoiado-
res de Jair Bolsonaro no
ato na Avenida Paulista feitas
cabeças de pessoas por uma
foto aérea de drone. Tira-
mos várias fotos de todo a
ocupam
quarteirões
da via na
para a sua contagem e que
sua técnica de medição con-
siste na multiplicação da
pelo Monitor do debate po- área ocupada, no caso foram capital área ocupada pelos mani-
lítico, da USP, e pela Polícia vários quarteirões, e vamos festantes pelo coeficiente
Militar de São Paulo partiram juntando para que não haja de ocupação. A metodologia
de métodos distintos. O gru- sobreposição — afirma Pa- usa como base a concentra-
po de pesquisa contou 185 blo Ortellado, que coordena ção das pessoas, definida
mil pessoas no auge da mani- o EACH junto com o profes- pela análise de imagens aé-
festação, enquanto a corpora- sor Márcio Moretto. reas e da observação de
ção do estado governado por O método é conhecido co- agentes em solo, que define
Tarcísio de Freitas (Republi- mo Point to Point Network o número de pessoas em ca-
canos), aliado do ex-presiden- (P2PNet). O programa foi, da quadrante ocupado.
te, divulgou número quatro inclusive, adaptado para as O dado, então, é inserido
vezes maior, de 750 mil pre- características dos brasilei- no software Copom Online,
sentes no pico do ato. ros, aprimorando ainda que de forma automática
O cálculo dos pesquisado- mais a contagem. Foram ti- multiplica o total da con-
res da USP tem como base radas 43 fotos da Paulista, e centração pela área total
um método que produz 11 delas foram selecionadas ocupada pelos manifestan-
imagens aéreas para, com de modo a cobrir toda a ex- tes. A PM afirma que usa o
uso de um software de inte- tensão da avenida, sem so- método em eventos de gran-
ligência artificial, identifi- breposição. Em seguida, ca- des proporções.
 8 | Política
Cláudio Castro faz aceno ao STF e incomoda aliados
Governador do Rio disse a pessoas próximas que foi aconselhado a não ir à manifestação na Paulista para evitar
desgastes com o Supremo; dos 13 chefes de Executivo estadual eleitos com apoio de Bolsonaro, nove faltaram
LUÍSA MARZULLO
luisa.castro@oglobo.com.br
-
O governador do Rio de Ja-
neiro, Cláudio Castro
(PL), disse ao seu entorno
ter sido aconselhado a não
comparecer no ato que reu-
niu milhares de apoiadores
do ex-presidente Jair Bolso-
naro, no domingo, para evi-
tar desgastes com o Supre-
mo Tribunal Federal (STF).
O governador é investigado
pela Polícia Federal por sus-
peita de envolvimento em
um esquema de corrupção e,
por isso, estaria tentando
manter um bom relaciona-
mento com o Judiciário.
Oficialmente, Castro ale-
gou ter uma viagem a Portu-
gal, para onde embarcou na
última sexta-feira. Procurada,
a assessoria do governador
disse que ele ficará no país até
amanhã, quando participará
de uma feira de turismo.
A ausência ocorre em meio
a acenos do governador flu-
minense à mais alta Corte do
país. Na semana passada, por
exemplo, ele esteve na posse
do ministro Flávio Dino, in-
dicado pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (STF).
Em dezembro do ano pas-
sado, o ministro Raul Araú-
jo, do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), determinou a
quebra dos sigilos bancário,
fiscal e telemático de Castro
no âmbito da Operação Séti-
mo Mandamento.
Na ocasião, a PF apreendeu
R$ 128 mil e US$ 7.535 na ca-
Leite rejeita apoio a Nunes e
defende candidato próprio em SP
Governador gaúcho criticou alinhamento do emedebista com Bolsonaro
BIANCA GOMES
bianca.gomes@sp.oglobo.com.br
SÃO PAULO
-
G overnador do Rio Gran-
de do Sul e uma das prin-
cipais lideranças do PSDB,
Eduardo Leite é contra o
apoio de seu partido à ree-
leição do prefeito de São
Paulo, Ricardo Nunes
(MDB). Para Leite, a associ-
ação de Nunes a Jair Bolso-
naro (PL) não está alinhada
com o projeto que os tuca-
nos buscam construir naci-
onalmente, de oferecer uma
alternativa à polarização
entre o presidente Luiz Iná-
cio Lula da Silva e o ex-titu-
Após resistências, prefeito de BH se lança à reeleição
Grupo de Rodrigo Pacheco cedeu após avaliar que Fuad Noman não ameaça planos do presidente do Senado para 2026
A pós superar resistências
internas, o prefeito de Be-
lo Horizonte, Fuad Noman
(PSD), anunciou ontem sua
pré-candidatura à reeleição.
A solenidade contou com a
presença de lideranças do
partido como o ministro Ale-
xandre Silveira (Minas e
Energia) e o presidente nacio-
nal, Gilberto Kassab.
O ex-prefeito Alexandre
Kalil, de quem Fuad foi vice,
defendia sua reeleição, mas a
ala mais próxima ao presi-
dente do Senado, Rodrigo Pa-
sa do irmão do governador,
Vinícius Sarciá Rocha. Tam-
bém foram encontradas ano-
tações e planilhas com no-
mes, valores e porcentagens.
Quando as apurações da PF
começaram, Sarciá trabalha-
va na Fundação Leão XII, que
administrava contratos sob
investigação. Na operação
que quebrou seus sigilos,
Castro afirmou que a ação
não trazia “nenhum novo fa-
to à investigação”, “que não
há nada contra ele, nenhuma
prova” e que recebia a quebra
com “tranquilidade”.
ESTREITAMENTO COM LULA
Além de acenos ao Judiciá-
rio, outra preocupação de
Castro tem sido estreitar la-
ços com o governo federal,
no intuito de garantir mais
investimentos para o Rio. No
início do mês, o governador
esteve em uma agenda do
presidente em Magé, na Bai-
xada Fluminense.
Ajustificativa de evitar des-
gaste não convenceu parte
dos aliados de Cláudio Cas-
tro, que classifica sua postura
como “falta de gratidão” ao
ex-presidente. A ala mais ide-
ológica aponta ainda que
Castro estaria tentando fazer
um “jogo duplo”, ou seja,
agradar tanto o governo fede-
ral quanto o bolsonarismo.
Para esse grupo, ele não esta-
ria tendo êxito, já que tem si-
do vaiado em eventos de Lula
e irritado bolsonaristas.
No PL, a repercussão foi
negativa. Quatro governa-
lar do Palácio do Planalto.
—Respeito o prefeito Ri-
cardo Nunes. O trabalho de-
le começa com o PSDB, in-
clusive, com o prefeito Bru-
no Covas. Mas houve a esco-
lha de um caminho de se as-
sociar justamente ao Bolso-
naro, o que destoa, do que o
PSDB está buscando repre-
sentar, de uma alternativa
nesse contexto político na-
cional (da polarização) —
afirmou Leite, que cogita
disputar a Presidência em
2026, ao GLOBO.
O mais adequado, na sua vi-
são, seria lançar uma candida-
tura própria à prefeitura de
checo, estava na contramão.
Pacheco teria cedido após
avaliar que Fuad não seria
uma ameaça a seus planos pa-
ra 2026, quando deseja con-
correr ao governo do estado.
—Coloco meu nome à dis-
posição do meu partido, o
PSD, para disputar uma nova
eleição e, se for a vontade do
povo, continuar no comando
de Belo Horizonte por mais
quatro anos—disse o prefeito.
A ausência de Kalil no
evento chamou a atenção.
Em coletiva de imprensa, Fu-
Longe. Castro em Portugal com o embaixador Raimundo Carreiro: aliados classificaram ausência como “falta de gratidão”
Duplo aceno. Governador do Rio tenta se equilibrar entre Lula e Bolsonaro
dores bolsonaristas marca-
ram presença: Tarcísio de
Freitas (Republicanos-SP),
Romeu Zema (Novo-MG),
Jorginho Mello (PL-SC) e
São Paulo, conforme a tradi-
ção do partido na maior cidade
do país. O tucano participou
de um evento na Fundação
FHC, em São Paulo, na manhã
de ontem. Depois de conver-
sar com jornalistas, ele se reu-
niu com o ex-ministro Andrea
Matarazzo, cotado para retor-
nar ao partido para concorrer
na eleição de outubro.
O caminho a ser seguido
pelo PSDB na eleição para a
prefeitura de São Paulo ge-
rou um racha no partido. En-
quanto a ala de Leite defende
a candidatura própria, os ve-
readores paulistanos dese-
jam caminhar ao lado de Nu-
ad afirmou que o ex-prefeito
tinha uma viagem marcada
com a família para a Europa.
Na mesma solenidade, Kas-
sab levantou a possibilidade de
o presidente do Senado con-
correr ao governo de Minas ou
à Presidência da República.
Pacheco cumpria agenda em
Brasília e enviou um vídeo
cumprimentando Fuad.
— Pacheco é uma pessoa
que honra o partido, está pre-
parado para estar à frente de
outros cargos em Minas Ge-
rais e outros lugares. Ele tem
CRISTIANO MARIZ/ 22-02-2024
Ronaldo Caiado (União-
GO). Integrantes do PL res-
saltam que Jorginho Mello
retornou dos Emirados Ára-
bes para estar ao lado do ex-
Projeto. Leite diz que aliança de Nunes com Bolsonaro não se alinha com PSDB
nes. Há também tucanos que
advogam por uma chapa com
a deputada federal Tabata
Amaral (PSB).
Como mostrou O GLO-
BO, em meio à indefinição,
pelo menos metade da ban-
cada tucana da cidade de
São Paulo deve abandonar a
sigla na janela partidária.
Em busca de uma pacifica-
Largada, Fuad ao lado de Kassab no lançamento de pré-candidatura
Terça-feira 27.2 .2024
REPRODUÇÃO
GESTOS DO GOVERNADOR
Ausência em manifestação
Cláudio Castro não compareceu
ao ato convocado pelo ex-presi-
dente Jair Bolsonaro para domin-
go, na Avenida Paulista
Posse de Dino
O governador do Rio esteve pre-
sente na posse do ministro Flávio
Dino no Supremo. Ele foi indicado
pelo presidente Lula.
presidente.
Entre os 27 governadores,
13 se elegeram com o apoio
de Bolsonaro. Nove deles,
contudo, não participaram
FUNDAÇÃO FH
ção no estado, o PSDB deci-
diu, neste domingo, a nova
composição do diretório pau-
lista. Mas não houve acordo
para a definição do próximo
presidente estadual.
ELOGIOS A HADDAD
Durante sua palestra na Fun-
dação FHC, Leite elogiou o
desempenho do ministro da
DIVULGAÇÃO
| OGLOBO
da manifestação na Avenida
Paulista. Entre eles está o go-
vernador do Paraná, Ratinho
Júnior (PSD), que participou
de uma ação de combate à
dengue no domingo. Anto-
nio Denarium (PP-RR) tam-
bém se ausentou e, segundo
sua assessoria, o motivo foi o
período de seca no estado,
que deixou nove municípios
em estado de emergência.
Já o governador de Mato
Grosso do Sul, o tucano Edu-
ardo Riedel não escondeu que
não havia interesse em com-
parecer. Aliado da ex-minis-
tra da Agricultura de Bolsona-
ro, Tereza Cristina (PP), Rie-
del afirmou fazer parte da “di-
reita preparada”, contrária à
polarização no país.
— A polarização é um des-
serviço para o Brasil. Tenho
uma agenda carregada, não
estive no 8 de Janeiro, que
acho que foi um ato político,
como esse também foi. Fi-
car alimentando discussões
rasas em eventos políticos
não agrega —disse Riedel ao
GLOBO.
Procurados, os governa-
dores do Acre, Mato Gros-
so, Amazonas, Rondônia e
Tocantins, que também se
ausentaram, não respon-
deram até o fechamento
desta edição.
A ida de Zema, por sua
vez, foi lida como uma ten-
tativa de se cacifar para as
eleições presidenciais de
2026 como nome do bolso-
narismo, com o qual tem
histórico de resistência.
Fazenda, Fernando Haddad.
Ao tratar da próxima eleição
presidencial, teve cautela:
defendeu que ainda é “preci-
pitado” projetar 2026 e que o
cenário dependerá da per-
cepção de bem-estar econô-
mico no país.
—Se a economia estiver
andando de lado e não tiver
um risco de um Bolsonaro
ou de alguém com a marca
dele, talvez o eleitor se dê o
direito de olhar mais o car-
dápio— discursou Leite,
acrescentando. — A espe-
rança é de que haja uma
exaustão desse clima de
acirramento.
Ao fazer uma avaliação so-
bre o presidente Lula, Leite
disse que o petista tem muito
mais respeito às instituições
do que seu antecessor e con-
seguiu melhorar o ambiente
institucional, em especial, a
relação com os governadores
que não são ideologicamente
alinhados a ele.
tudo para ser o governador
de Minas, tem tudo para ser
presidente da República.
Ao longo de 2023, o prefeito
fugia de declarações públicas
sobre o pleito e só este ano co-
meçou a dar indícios de que
iria concorrer. Em janeiro, Fu-
ad rivalizou com o governador
Romeu Zema (Novo) em ao
menos dois temas — o carna-
val de rua e as chuvas que atin-
giram a capital.
Ao GLOBO, o presidente es-
tadual do partido, Cassio Soa-
res, afirmou que o PSD tem
“conversas adiantadas” com
MDB, União Brasil, PP, Avan-
te e PRD (fusão do Patriota
com o PTB), que compõem o
secretariado de Fuad e podem
participar da chapa à reelei-
ção. (Luísa Marzullo)
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024 | 9

DEPOIS DE RETIRADA DE INVASORES PARA

Brasil
ACESSAR

Terra indígena zera desmatamento APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Área Apyterewa, no Pará, teve queda de queda de 93,6% na devastação O QR CODE

GUSTAVO MIRANDA/4-11-2015
Brasil, à exceção do extremo
sul do Rio Grande do Sul e
parte do litoral da Bahia, es-
teve mais quente em 2023, o
mais extremo em décadas de
elevação da temperatura.
Os dados do início de 2024
ainda não estão analisados.
Nada menos que 45 muni-
cípios tiveram anomalias
iguais ou superiores a 5°C,
todos em Minas Gerais e na
Bahia. Trinta e oito são mi-
neiros, 28 no Vale do Jequi-
tinhonha, dez em áreas vizi-
nhas. Todos os sete baianos
são contíguos ao vale.
Além disso, 343 municí-
pios registraram anomalias
de 4°C a 4,98°C, também
muito altas. Três ou mais dias
com 5°C acima da média da
máxima é o critério que se
costuma usar para caracteri-
zar uma onda de calor.
Quando o termômetro so-
Sem água. Vaqueiro em leito de córrego seco no Vale do Jequitinhonha; região de Minas sofre com elevação de temperatura há seis décadas, e concentrou municípios com maior anomalia de calor be de 36°C para 37°C não pa-
rece muito, mas é a diferença

NO CENTRO DO CALOR
entre a saúde normal e a fe-
bre. Com as plantas não é di-
ferente. Acima de 28°C, a so-
ja, resistente ao calor, come-

Vale do Jequitinhonha foi área do

ça a sofrer. Um grau Celsius
basta para multiplicar o risco
de incêndio em áreas afeta-
das pela seca, diz Marengo.
Cinco graus de elevação são o

país que mais esquentou em 2023

que climatologistas classifi-
cam como extremo.

FATORES GLOBAIS E LOCAIS

A receita para o calor extre-
mo combina mudanças cli-
máticas globais com caracte-
ANA LUCIA AZEVEDO rísticas locais. O clima é se-
ala@oglobo.com.br
ANOMALIA DE TEMPERATURA miárido e está também, pro-
-

Dados de estações meteorológicas e de satélite* de todos os municípios brasileiros em novembro de 2023

gressivamente, mais seco.

O Brasil está mais quente.

Mas nenhum estado fer-
veu tanto quanto Minas Ge-
Anomalia
Por ser um vale, a circulação
de ar não é das melhores no
Jequitinhonha. Há grandes
-5ºC 0 6ºC 0,49ºC Macapá 1ºC
rais em 2023, o ano mais Boa Vista áreas desmatadas, solo de-
tórrido já registrado na Ter- RR
AP Belém 0,71ºC gradado, pouca água e gran-
ra. O Vale do Jequitinhonha Palmas 1,55ºC de distância do oceano, nor-
foi a área do país que mais es- São Luís 0,12ºC
malmente uma fonte de umi-
quentou, confirmando uma dade e ventos mais frescos.
tendência das últimas seis Manaus 1,72ºC Teresina 1,12ºC No Vale do Jequitinhonha
décadas, revela um levanta- Fortaleza -0,18ºC também fica Araçuaí, que em
PA
mento inédito sobre o aque- AM MA Natal0,67ºC 19 de novembro marcou
CE RN
cimento do país do Centro João 44,8°C, a maior temperatura
Nacional de Monitoramen- PI
PB Pessoa 0,95ºC do Brasil. Araçuaí, porém,
to e Alertas de Desastres Na- PE Recife -0,67ºC está na 361ª posição. Em no-
turais (Cemaden), obtido AC AL
Maceió 0,73ºC vembro, teve uma anomalia
SE
com exclusividade pelo Rio Branco 1,38ºC TO muito grande, de 4,05°C.
RO
GLOBO. Aracaju -2,64ºC Ainda assim, seu aumento
BA
Turmalina foi o município Porto Velho 2,21ºC médio das máximas diárias
com a maior elevação de MT Salvador 2,53ºC foi menos expressivo.
temperatura, até 5,52°C aci- Cuiabá 3,57ºC
Recordes pontuais não in-
GO
ma da média das máximas DF dicam tendências, observa
diárias. Cidades do Jequiti- Brasília 4,06ºC Cunha. Mas lugares que os
nhonha ocupam 18 dos 20 registram são tórridos.
primeiros lugares no 9
Goiânia 3,64ºC MS ES — Toda aquela região es-
ranking do calor. As exce-
8 Vitória 3,24ºC quenta e a tendência é de que
MG
ções são a vizinha baiana Vale do Belo Horizonte 4,23ºC isso continuará, porque os fa-
RJ
Urandi (14º lugar) e a tam- Jequitinhonha Campo 2,87ºC SP tores que causam o calor se-
Grande Rio de Janeiro 2,78ºC
bém mineira Confins (17º). São Paulo 2,64ºC
guem presentes. O que faz di-
6
O GLOBO lança hoje em seu Minas
2 PR
ferença é o aquecimento glo-
4 Curitiba 1,05ºC
site uma ferramenta intera- Gerais 1
bal somado às condições lo-
tiva que mostra no mapa do SC Florianópolis -0,09ºC cais —afirma Cunha.
Brasil as elevações de tem- 5
Quando não há água no
peratura por município. 3 10 solo, mais energia fica dis-
Para identificar os lugares 7 RS Porto Alegre -1,15ºC ponível para aquecer o ar. E
com maiores anomalias de quanto mais calor, maior a
temperatura positiva, a cli- seca, diz Marcelo Seluchi,
matologista Ana Paula Cu- Os 10 municípios com maior anomalia diretor de Operações do Ce-
nha e sua equipe do Cema- 1 5,52ºC 2 5,51ºC 3 5,46ºC 4 5,45ºC 5 5,42ºC 6 5,39ºC 7 5,37ºC 8 5,35ºC 9 5,35ºC 10 5,34ºC maden.
den analisaram dados de es- Turmalina Botumirim Capelinha Leme do Veredinha José Gonçalves Itamarandiba Capitão Enéas Riacho dos Angelândia Ele acrescenta que a chu-
tações meteorológicas ofici- Prado de Minas Machados va regula a temperatura. Por
ais e de satélite de todos os *A análise combinada foi necessária porque menos da metade dos municípios têm estações meteorológicas. Os dados de satélite fazem com que isso, lugares muito quentes
as temperaturas sejam um pouco menores do que as aferidas na superfície. Os dados se referem à média das temperaturas máximas diárias.
5.570 municípios brasilei- Fonte: Ana Paula Cunha / Cemaden EDITORIA DE ARTE
mas com densa cobertura
ros nos 12 meses de 2023. E florestal, como a Amazônia,
compararam cada mês com ou próximos ao mar, como o
a média histórica para o res- o pico de temperatura de ca- explica que os dados de satéli- den, frisa que outras áreas Tocantins, Piauí e Bahia), Rio, não tiveram anomalias
pectivo período. da mês e a média histórica. te fazem com que as tempera- quentes do país certamente considerado a maior fron- tão significativas.
Os dados se referem à mé- Novembro e dezembro fo- turas sejam um pouco meno- também esquentaram mui- teira agrícola da Terra e on- — Regiões semiáridas so-
dia das temperaturas máxi- ram os meses mais quentes. res do que as aferidas na su- to, mas podem ter tido a de há o maior desmatamen- frem mais. A agricultura fa-
mas diárias e os municípios A análise combinada foi ne- perfície. Isso significa que o temperatura real mascarada to do Cerrado. A Amazônia miliar no Vale do Jequiti-
foram ranqueados pelas cessária porque menos da me- aquecimento foi ainda maior. pela falta de estações. também é um deserto de da- nhonha é muito vulnerável.
maiores anomalias de tem- tade dos municípios tem esta- O climatologista José Ma- É o caso do Matopiba dos meteorológicos. E não vejo futuro para o Ma-
peraturas, a diferença entre ções meteorológicas. Cunha rengo, também do Cema- (acrônimo para Maranhão, Cunha salienta que todo o topiba — diz Cunha.

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 10 | Brasil Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO

Clubes de tiro se mantêm após decreto antiarma

Quantidade de estabelecimentos para a prática do esporte é praticamente o mesmo de janeiro do ano passado;
crescimento de lojas de armas foi de 3%, segundo informações do Exército obtidas pelo Instituto Sou da Paz

MAURO PIMENTEL/AFP
ALINE RIBEIRO
amoraes@edglobo.com.br
SÃO PAULO

U m ano depois do decreto

do governo Lula que res-
tringiu o acesso a armas, o
mercado armamentista no
Brasil pouco mudou, pelo
menos no que diz respeito ao
número de estabelecimen-
tos voltados à prática de tiros
elojas de armas. A medida es-
tancou o ritmo de cresci-
mento dos quatro anos da
gestão anterior. Mas não le-
vou à derrocada do setor, co-
mo defendem parlamenta-
res e empresários do ramo.
Ao contrário das previ-
sões, as lojas de armas apre-
sentaram um crescimento
de 3% no país. Passaram de
3.209 estabelecimentos pa-
ra 3.312, entre dezembro de
2022 e 2023. Em alguns lo-
cais, o aumento foi mais ex-
pressivo. Na região militar
que abrange o Estado do Rio
e o Espírito Santo, saltou
8%. Em Minas Gerais, 6%.
O número de clubes de tiro
ficou praticamente estável,
com uma redução de 0,6%.
Foram de 2.308 entidades
para 2.293, em um ano. Os
dados são do Exército e fo- Sem recuo. Praticante de tiro em clube em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense: com o Espírito Santo, Estado do Rio teve aumento de 8% do número de estabelecimentos deste tipo, segundo o Exército
ram obtidos pelo Instituto
Sou da Paz, por meio da Lei haveria esse impacto brutal
de Acesso à Informação. EFEITOS DO DECRETO na indústria, está dentro do
Carolina Ricardo, direto- Ao contrário das previsões de armamentistas, lojas de armas crescem e clubes de tiros permanecem estáveis no último ano esperado. O que a gente
ra executiva do Sou da Paz, quer é frear os excessos e dar
defende que a política de Número de lojas de armas com registro ativo Número de clubes de tiros com registro ativo tempo para quem é sério se
controle de armas e os de- REGIÃO VAR VAR adequar. Agora, quem con-
2022 2023 2022 2023
cretos do atual governo não MILITAR UF 23/22 23/22
tinuar navegando nos ex-
têm como objetivo prejudi- 1ª RM RJ e ES 158 170 8% 109 110 1% cessos, aí tem que fechar. É
car a indústria de armas, um processo gradual, nada
mas regulá-la de forma res- 2ª RM SP 418 425 2% 317 307 -3% do que o decreto prevê é da
ponsável e acabar com a 3ª RM RS 465 465 0% 260 259 0% noite para o dia — disse.
“aberração normativa” Procurado, o Ministério
236 234
ocorrida nos quatro últimos 4ª RM MG 204 216 6% -1%
da Justiça e Segurança Pú-
anos do último governo. 5ª RM PR e SC 717 723 1% 520 518 0% blica não comentou o as-
—Os dados mostram que é sunto. O Exército infor-
137 136
falacioso o argumento do Le- 6ª RM BA e SE 109 116 6% -1%
mou, por nota, que os de-
gislativo para tentar reverter 7ª RM PE, RN, PB e AL 150 149 -1% 169 168 -1% cretos do atual governo
os decretos. Não é verdade 8ª RM MA, PA e AP 202 217 7% 100 102 2%
não impuseram mudanças
que a indústria está fechando na atividade de fiscaliza-
—opinou Carolina. 9ª RM MT e MS 216 232 7% 135 135 0% ção de produtos controla-
10ª RM CE e PI 62 64 3% 63 63 0%
dos e as adequações têm 18
“TIROTERAPIA” meses para acontecer.
DF, GO, TO e
No governo Bolsonaro, a 11ª RM Triângulo Mineiro 345 364 6% 176 175 -1% “As adequações em ques-
prática do tiro se tornou 12ª RM AM, AC, RO e RR 163 171 5% 86 86 0%
tão referem-se à distância
mais que um hobby. Para o da entidade de tiro em rela-
público de apreciadores, o Total 3.209 3.312 3% Total 2.308 2.293 -0.6% ção a estabelecimentos de
mercado passou a oferecer Fontes: Exército/ Instituto Sou da Paz EDITORIA DE ARTE
ensino, que deve ser superi-
serviços de nicho, como clu- or a um quilômetro, assim
bes de luxo com funciona- como o cumprimento das
mento 24 horas, treinamen- çadores, atiradores e colecio- As medidas provocaram nômica” em menos de um requerimento foi derrotado. condições de uso e de arma-
to exclusivo para mulheres e nadores), clubes de tiros e lo- uma reação da indústria e de ano. Deputados e senadores Pelo decreto de julho pas- zenagem das armas de fogo
até hotel rural com espaços jas de armas. Em julho, outro parlamentares da chamada tentam reverter as novas re- sado, clubes de tiros têm 18 utilizadas no estabeleci-
para atirar em família. O es- decreto limitou a quantidade Bancada da Bala no Congres- gras no Congresso ao propo- meses, ou até janeiro de mento”, informou o Exérci-
porte foi adotado para apla- de armas e munições para esse so. Salesio Nuhs, presidente rem Projetos de Decreto Legis- 2025, para se adequarem às to, acrescentando que não
car o estresse e alçado a uma público e controlou a atuação da empresa gaúcha Taurus, a lativo (PDLs). Em dezembro, novas regras. Para Carolina compete à Força atestar o
espécie de tratamento tera- desses estabelecimentos. En- mais conhecida delas, tachou o presidente da Câmara dos Ricardo, o efeito ainda tími- funcionamento comercial e
pêutico pelos praticantes, a tre outros pontos, a exigência otexto de “sufocante”. O depu- Deputados, Arthur Lira (PP- do da medida neste primeiro fechar lojas de armas. “Cabe
chamada “tiroterapia”. de que os clubes de tiros este- tado federal Marcos Pollon AL), colocou na pauta um re- ano é esperado porque, na ao órgão apenas o cancela-
Em janeiro do ano passado, jam localizados a mais de um (PL-MS), presidente da Asso- querimento de urgência para prática, os proprietários des- mento de CR (certificado de
no primeiro ato de governo, o quilômetro de distância de ciação Nacional Movimento votação de decretos legislati- sas entidades ainda estão no registro), quando em des-
presidente Lula suspendeu instituições de ensino desa- Proarmas (Ampa), decretou o vos que tentam derrubar as prazo para se regularizar. conformidade com o previs-
novos registros para CACs (ca- gradou os armamentistas. fim do setor por “asfixia eco- restrições do governo Lula. O — A gente sabia que não to em lei”.

Mossoró: PF prende mecânico que abrigou fugitivos passos todinhos — relatou.

Um dos suspeitos de aju-
dar o fugitivo é o irmão de
Deibson, Johnney Weyd
Detido disse que comprou comida e escondeu criminosos por oito dias por ter sido ameaçado, mas polícia desconfia de versão Nascimento, preso sexta-
feira no Acre. Johnney foi
condenado por roubo e par-
EDUARDO GONÇALVES
email@oglobo.com.br
son Cabral Nascimento, o dado de prisão contra Fer- namos que estão nas cercani- binado de comprar diaria- ticipação em organização
BRASÍLIA Deisinho, que escaparam da nandes, autorizada ontem as —disse ontem o ministro. mente bolachas, iogurte e criminosa e tinha um man-
-
unidade de segurança máxi- pela Justiça Federal do Rio Em conversa com jorna- carne enlatada para a dupla. dado de prisão em aberto.

A Polícia Federal prendeu

ontem o dono de um sí-
tio que abrigou por oito dias
ma em 14 de fevereiro.
Antes de ser preso, Fernan-
des procurou a polícia para
Grande do Norte.

os dois fugitivos da Peniten-
ciária Federal Mossoró
(RN). O mecânico Ronaildo
da Silva Fernandes, de 38
anos, é o quinto a ser detido
sob suspeita de colaborar na
fuga de Rogério da Silva
Mendonça, o Tatu, e Deib-
dizer que havia sido ameaça-
do pelos dois fugitivos, e por
isso levou alimentos para os
foragidos. O mecânico pres-
tou depoimentos na sexta-
feira e no sábado. Mas a PF
identificou inconsistências
nos relatos e pediu um man-
“NAS CERCANIAS”
listas no fim de semana, Ro-
naildo contou que Deibson
e Rogério chegaram em seu
— Estava em casa com a
minha esposa quando eles
chegaram. Não mexeram
Os agentes cumpriram
nove mandados de busca e
apreensão em Mossoró
Em entrevista coletiva, ao sítio no sábado, dia 17. Num com a gente, só pediram pa- (RN), Quixeré (CE) e Aqui-
comentar a prisão o minis- primeiro momento, segun- ra ficarmos calmos e que fi- raz (CE). Os investigadores
tro da Justiça, Ricardo do ele, os dois pediram cal- zéssemos o que eles pedis- desconfiam que os foragi-
Lewandowski, afirmou que ma e disseram que nada sem. (Deram) garantia que dos recebem apoio de inte-
eles ainda estão próximos aconteceria com a sua famí- ninguém mexeria com a grantes do Comando Ver-
ao presídio. lia. Depois, ele relatou ter si- nossa família, mas sabiam melho. Um carro e armas fo-
—As informações são que do ameaçado de morte, caso que eu trabalhava em ofici- ram apreendidos na casa de
ainda estão na região. Imagi- não cumprisse com o com- na, sabiam quase dos meus um dos alvos.
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024
Economia
CRÉDITO PARA
TRANSIÇÃO VERDE
Programa prevê proteção
cambial, com R$ 27 bi do BID
JULIANA CAUSIN
juliana.causin@sp.oglobo.com.br
SÃO PAULO
-
O Ministério da Fazenda
apresentou ontem, em
São Paulo, o programa Eco
Invest Brasil, que visa in-
centivar a entrada de capital
estrangeiro no país para in-
vestimentos voltados para a
agenda de transição ener-
gética. Uma medida provi-
sória (MP) será editada nos
próximos dias com as ações
do programa, que inclui
também linhas de crédito
para o empresariado brasi-
leiro em projetos verdes.
A maior fatia de recursos
do programa virá do Banco
Interamericano de Desen-
volvimento (BID), que irá
desembolsar US$ 5,4 bi-
lhões (cerca de R$ 27 bi-
lhões), sendo US$ 2 bilhões
em linhas de crédito e US$
3,4 bilhões voltados para co-
bertura cambial.
Após a publicação da MP,
o programa será regulamen-
tado pelo Conselho Mone-
tário Nacional (CMN). O
Ministério da Fazenda esta-
belecerá as normas de elegi-
bilidade para o crédito.
Os veículos financeiros pa-
ra captar recursos, pelo gover-
no, virão por meio de injeção
de dinheiro no Fundo Clima.
O Banco Mundial irá alocar
US$ 1 bilhão, além da fatia de
US$ 2 bilhões que virá do
BID. O objetivo da Fazenda,
com isso, é que as quatro li-
nhas de crédito do programa
alcancem entre US$ 1 bilhão
e US$ 2 bilhões por ano.
Um dos focos do Programa
de Mobilização de Capital
Privado Externo e Proteção
Cambial, como foi chamado,
é estabelecer proteções cam-
biais que diminuam os riscos
relacionados à volatilidade do
câmbio, o que o governo en-
tende ser uma das principais
barreiras para entrada de flu-
xo de estrangeiro no Brasil.
BC SERÁ INTERMEDIADOR
Com o BID na operação, go-
verno espera reduzir o custo
para a criação dos fundos de
proteção cambial. Na práti-
ca, a instituição irá oferecer o
seguro tanto para companhi-
as e financiadores brasileiros
quanto para os investidores
de fora. O Banco Central fi-
cará responsável por fazer a
ponte entre BID, captadores
e investidores.
Aideia é que esses fundos de
proteção cubram as diferenças
cambiais ao longo do período
de aportes, o que permitiria
aos investidores comprar dóla-
res a uma taxa previamente
definida, dando mais seguran-
ça a projetos de longo prazo.
COMPANHIAS AÉREAS
Socorro deve sair ‘ao longo de março’
NA WEB Ministro de Portos e Aeroportos diz que recursos ficarão entre R$ 4 bi e R$ 6 bi
— Se o programa funcio-
nar, e eu acho que vai funci-
onar, será um exemplo para
o mundo — afirmou o presi-
dente do BID, Ilan Goldfajn.
Na apresentação do pro-
grama, o presidente do Ban-
co Central, Roberto Campos
Neto, reforçou que o papel da
autoridade monetária será
atuar como um intermedia-
dor das operações com o BID.
E ressaltou que o BC não irá
usar reservas cambiais pró-
prias para operações. Os
swaps cambiais mais longos,
previstos no programa, virão
da parceria com instituições
financeiras:
— Existe uma diferença
entre uma operação de swap
longa para proteger um cli-
ente e o próprio Banco Cen-
tral movimentar reservas
próprias de swaps cambiais.
Já o governo, por meio da
Fazenda, vai oferecer uma
Anúncio. Participaram Ilan Goldfajn, do BID (à esquerda), e Marina Silva (ao centro)
linha de liquidez especial
para financiamento de pro-
jetos sustentáveis, para ga-
rantir suporte quando hou-
ver variações intensas do
câmbio, a partir do Fundo
Clima, do Ministério do
Meio Ambiente.
A ministra do Meio Ambi-
ente, Marina Silva, disse que
o programa faz parte do eixo
de Finanças Sustentáveis,
previsto no Plano de Transi-
ção Ecológica, apresentado
no ano passado pelo governo:
— O que estamos fazendo
aqui é o cumprimento desse
eixo. Nós não estamos cri-
ando uma mosaico de coisas
para cá e acolá para ver se dá
certo. Temos eixos estra-
tégicos para o qual levare-
mos esses investimentos.
As medidas preveem ainda
facilitar o acesso, por parte de
empresas nacionais e estran-
geiras, a instrumentos de
| 11
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
JULIANA CAUSIN
crédito voltados para projetos
ambientais. Isso inclui linhas
com juros mais baixos e de até
25 anos, a depender do proje-
to (veja na página seguinte).
No caso do financiamento de
empreendimentos, o aporte
vai cobrir parte do custos, se-
gundo o secretário do Tesou-
ro Nacional, Rogério Ceron:
—A ideia é oferecer uma li-
nha competitiva para que o
custo final (do projeto) seja
vantajoso. A linha trará de
10% a 15% de financiamen-
to, desde que o restante seja
captado no mercado exter-
no, com os instrumentos de
proteção cambial.
Ceron disse ainda que os
critérios para seleção dos pro-
jetos podem mudar após a cri-
ação da taxonomia verde, ins-
trumento do governo que vai
classificar atividades econô-
micas por seus impactos e ga-
nhos socioambientais.
 12 | Economia Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO

SEG _ Rachel Maia (quinzenal) _Ricardo Henriques (quinzenal)_ TER _ Míriam Leitão _ QUA _ Zeina Latif _ QUI _ Míriam Leitão _ SEX _ Fabio Giambiagi (quinzenal)_Rogério Furquim Werneck (quinzenal) _ SÁB _ Carlos Góes (mensal) _ Alvaro Gribel (quinzenal) _ DOM _ Míriam Leitão

MÍRIAM tado de sítio, estado de defesa, convocação

do conselho da República. Tudo previsto na
em 2026. O problema é que terá que afastar-
se do extremismo de direita se quiser ser um
dos. E todos os generais e autoridades que o
cercaram. Tenta repetir o que fez a ditadura
LEITÃO Constituição, como ele disse. No final, isso
o complica um pouco mais na investigação
candidato viável.
Bolsonaro disse que houve três meses de
que embutiu no projeto de anistia aos pre-
sos políticos uma auto-anistia para os cri-
da Polícia Federal. deflação em 2022. A verdade econômica não minosos do regime militar.
Com a fotografia ele queria, claro, ameaçar é esta. A deflação foi conseguida com a deso- Curiosa a definição dele de golpe, porque
blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao
quem tem a responsabilidade de pedir e de- neração irresponsável dos combustíveis fós- mostra como ele tentou tudo. “O que é golpe?
miriamleitao@oglobo.com.br terminar sua prisão. Esse era o objetivo, mos- seis que, além de agredir o meio ambiente, Golpe é tanque na rua, é arma, é conspiração.
Com Ana Carolina Diniz trar que ele tem o povo ao lado dele. Não sur- ofendeu a responsabilidade fiscal. Foi artifi- É trazer classes políticas para o seu lado, em-
tirá efeito. O que precisa agora é ter bons ar- cial. O ministro Fernan- presariais. Isso que é golpe. Nada disso foi fei-
A encrenca que o gumentos para os seus interrogatórios, boas
defesas para os processos aos quais responde
Bolsonaro mostra do Haddad teve que reo-
que consegue levar nerar os combustíveis
to no Brasil. Agora, o golpe é porque tem uma
minuta de um decreto de estado de defesa.

ato não resolve

e responderá pelos crimes que cometeu. Bol- um grande público com os impostos fede- Golpe usando a Constituição? Tenha santa
sonaro não falou diretamente contra o minis- às ruas, mas não é rais e, além disso, com- paciência. Deixo claro que estado de sítio co-
tro Alexandre de Moraes e terceirizou esse com aglomeração pensar os estados pelo meça com o presidente da República convo-
papel para Silas Malafaia, que distorceu a his- que ele se livrará ICMS subtraído. E con- cando os conselhos da República e da defesa.

O ex-presidente Jair Bolsonaro pretendia

com a convocação de seus seguidores
para a Paulista ter uma “fotografia”, como
tória recente do país.
Mentiu-se muito naquele palanque. Ao
contrário do que disse o governador Tarcísio
das contas que
têm que prestar
à Justiça
seguiu fazê-lo com a in-
flação em queda. Isso
sim é difícil.
Isso foi feito? Não”.
Foi exatamente o cardápio que ele seguiu.
Conspirou para que as Forças Armadas ade-
disse. Demonstrou que consegue levar Gomes de Freitas, não foi o governo Bolsona- Em sua fala descone- rissem e houvesse tanque nas ruas, armou
muita gente para a rua e isso já se sabia. Con- ro que fez o Pix. Foi idealizado pela burocra- xa, cheia de frases mal formuladas e erros gra- os CACs para que eles fossem a força auxili-
tudo, não é de mais uma aglomeração que cia do Banco Central e os estudos começaram maticais, Bolsonaro mostrou que já não sabe ar, tentou atrair todos os políticos, inclusive
ele precisa. Bolsonaro tem que saber como no governo Michel Temer. Não foi Bolsonaro para onde ir. Está na defensiva. É um investi- com a derrama do orçamento secreto, coop-
responder a todas as dúvidas sobre a tentati- quem levou água para o Nordeste, outra dis- gado sem passaporte, um político sem man- tou empresários que financiaram atos gol-
va de golpe de estado que ele conduziu. Ele torção de Tarcísio. Todos sabem no Brasil que dato e inelegível. Mas que consegue levar pa- pistas e que agora terão que responder por
produziu contra si abundantes provas. Essa o projeto de transposição do Rio São Francis- ra a rua seus seguidores em grande número. seus atos. Procurou brechas na Constitui-
é a encrenca que a manifestação não resol- co foi obra dos governos Lula e Dilma, que fi- O pedido de anistia que ele fez é, na verda- ção, distorcendo o sentido do artigo 142.
ve. No ato, ele acabou comentando o que caram com o ônus das muitas críticas que o de, para si próprio. Ele sabe que se for “pas- Bolsonaro tentou todas as possibilidades e
alegava desconhecer, a minuta do decreto plano recebeu. O discurso do governador de sar a borracha em tudo” e aprovar um proje- analisou todos os caminhos para um golpe.
golpista. O ex-governante disse que aquele São Paulo tinha o tom de campanha, indican- to de anistia para quem participou do 8 de A Paulista, mesmo lotada, não o livrará das
documento não era golpe, apenas previa es- do que deseja herdar o espólio bolsonarista janeiro, ele mesmo será um dos beneficia- contas que tem de prestar à Justiça.

Programa deve reduzir custos, dizem analistas

Especialistas avaliam que participação do BID no Eco Invest Brasil vai facilitar a captação de recursos para projetos
verdes de transição energética, já que país não tem grau de investimento, exigência de muitos fundos estrangeiros

AFP/21-2-2024
JOÃO SORIMA NETO
joao.sorima@sp.oglobo.com.br
nacional — explica Emerson deria cair nesse novo cenário.
SÃO PAULO Marçal, coordenador do Cen- Flores observa, no entanto,
-
tro de Macroeconomia Apli- que nem todo projeto de in-

O programa Eco Invest Bra-

sil, anunciado ontem pelo
governo, visa incentivar a en-
cada da FGV EESP.
Ele lembra que bancos pri-
vados têm limites para em-
fraestrutura deverá ser bene-
ficiado por esse programa,
que usa critérios de elegibili-
trada de capital estrangeiro no prestar a países que não são dade do Fundo Clima, instru-
país para investimentos de grau de investimento. Na mento de política pública do
transição energética. O Banco prática, afirma Marçal, dentro Ministério do Meio Ambien-
Interamericano de Desenvol- do Eco Invest Brasil, anuncia- te para financiamentos do
vimento (BID) entrará com do ontem, o BID faz o papel de BNDES voltados para a tran-
US$ 5,4 bilhões (cerca de R$ captar recursos, assumindo sição energética. Ele diz que
27 bilhões). Analistas avaliam parte do risco cambial. Para investimentos que visem ape-
que isso pode destravar inves- ele, o lançamento da platafor- nas a infraestrutura (sem viés
timentos, já que fazer proteção ma pelo governo, que permiti- verde) tendem a ficar de fora.
cambial de longo prazo tem si- rá acesso a proteção cambial a —Vamos ver a regulamen-
do desafiador não só no Brasil, um custo mais baixo, vai facili- tação para saber as linhas que
mas em outras economias tar o andamento de projetos BID e BC vão intermediar via
emergentes, que não têm grau que antes nem eram viáveis fi- Fundo Clima, por enquanto.
de investimento das agências nanceiramente. Mas não seria todo projeto
de classificação de risco, o que beneficiado, como por exem-
afasta estrangeiros. CÂMBIO É GARGALO plo, um investimento em in-
Na prática, sem mecanis- Oadvogado Thiago Vallandro fraestrutura comum, que
mos de proteção cambial fi- Flores, especialista em Ope- não tenha componente im-
nanceiramente acessíveis, rações Financeiras e sócio do portante de transição ener-
há o risco de descasamento escritório Dias Carneiro Ad- gética —diz o advogado.
entre investimento (em mo- vogados, avalia que o progra-
eda forte) e receita (em moe- ma de proteção cambial ‘VISÃO DE LONGO PRAZO’
da local) em projetos de pra- anunciado ontem pelo gover- Painéis. Fazendas de energia solar são um dos tipos de projeto a serem contemplados pelo novo programa do governo Pelos critérios do Fundo
zos mais longos, que é o caso no tem potencial para ampli- Clima, os projetos precisam
da maior parte dos investi- ar o interesse dos investidores ter como objetivo diminuir
mentos verdes. Nesse cená- pelo país. Flores observa que a Linhas de até 25 anos. Os juros anual de até 0,5% e juros ção cambial no Brasil. os impactos sobre as mu-
rio, alguns desses projetos fi- questão cambial é um dos previstas ainda será definidos. que vão de zero até a Selic Prazo da linha de até 25 danças climáticas. Até mes-
cam inclusive inviabilizados, principais gargalos aponta- no programa (hoje em 11,25%), ajusta- anos, a depender dos mo pessoas físicas que quei-
dizem os especialistas. dos por investidores e financi- > Linha de liquidez e dos pela volatilidade produtos de hedge, com ram investir em energia sus-
No atual contexto global, adores para que esse fluxo de mitigação de efeitos da cambial. juros a serem definidos. tentável podem cadastrar
com necessidade de aumen- recursos seja ampliado. > Linha de ‘blended volatilidade cambial: projetos para obter financi-
to do financiamento climáti- —O investimento é realiza- finance’:Voltada para Visa mitigar os efeitos da > Linha de crédito para > Linha de crédito para amento de até R$ 10 mi-
co para transição energética, do em moeda forte, principal- facilitar o acesso de em- variação cambial e ajudar fomento ao ‘hedge’ estruturação de proje- lhões no Fundo Clima.
a discussão sobre o hedge mente dólar, mas a receita do presas brasileiras ao a atrair investimentos cambial: O objetivo é tos: Financiamento de Para Alexandre Pieranto-
(proteção) cambial vem ga- projeto é em reais. São prazos sistema financeiro inter- para projetos verdes. Os incentivar instituições projetos voltados para ni, diretor de finanças cor-
nhando importância, por- de dez, 20 anos, ou até mais. nacional para financiar mecanismos poderão ser financeiras no Brasil a transição enérgica. porativas da Kroll no Brasil,
que além de ampliar o fluxo Caso aconteça uma desvalori- projetos verdes. O objetivo acionados quando hou- desenvolverem e ofere- Prazo de 12 anos e juros o programa ajudará a elimi-
de recursos, pode baratear os zação cambial, há impacto no éajudar a reduzir o custo ver volatilidade intensa cerem produtos de a serem definidos pelo nar o efeito da variação cam-
custos do financiamento. fluxo de caixa, que pode até de empreendimentos do câmbio. Operação de proteção cambial. Foco Conselho Monetário bial, tornando os projetos
—Há a volatilidade natural inviabilizar o pagamento do verdes. Prazo da operação até 25 anos, com encargo é reduzir custo de prote- Nacional (CMN). verdes no Brasil mais atra-
do câmbio, mas, pelo fato de o financiamento, trazendo o entes, competitivos e com
Brasil não ter grau de investi- risco de o projeto não ficar em menor risco, equivalentes
mento, é necessária uma en- pé — explica o advogado, que pação do BID, com o Banco que terá de negociar as condi- verá repassar os recursos do ao padrão internacional:
genharia financeira, com um atua com projetos de energia Central brasileiro fazendo o ções do financiamento com Banco Central, o custo fica —O programa coloca a vi-
parceiro internacional como o eólica e solar. “meio de campo” ao aportar os tomadores. mais atrativo, além de aumen- são de longo prazo nesses pro-
Banco Interamericano de De- Flores diz que a maioria dos recursos para o hedge, além de —Atualmente já existe hed- tar o retorno do projeto. Por is- jetos. E o Brasil tem uma van-
senvolvimento, que é “AAA” projetos do segmento é basea- sua capacidade técnica, tende ge para projetos de menor pra- so, vejo com bons olhos esse tagem competitiva quando se
(nota máxima de crédito dada da na modalidade credit finan- a tornar o custo desse hedge zo, mas essa proteção tem um programa — afirma o advoga- trata de projetos de transição
pelas agências de classificação ce, em que a receita do projeto mais interessante. Ele lembra custo muito elevado e acaba do, que, por enquanto, não energética, com boa rentabi-
de risco) para poder emprestar é usada para pagar o financia- que o risco da operação ficará inviabilizando o projeto. Ao to- consegue estimar quando o lidade. Por isso, a tendência é
aqui dentro com custo inter- mento. Ele diz que a partici- com a instituição financeira, mar recursos via BID, que de- custo de proteção cambial po- atrair mais investidores.

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 OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024
Ultrarricos do G20
elevaram riqueza em
45% em quatro décadas
Enquanto isso, impostos sobre a renda caíram. Rendimento
da parcela 1% mais rica equivale a nove vezes o PIB do Brasil
JULIANA CAUSIN
E RENATO VASCONCELOS
economia@oglobo.com.br
SÃO PAULO
-
O rendimento total do 1%
mais rico dos países do
G20 aumentou 45% nas úl-
timas quatro décadas, en-
quanto a carga de impostos
sobre renda para essa parce-
la abastada diminuiu. A in-
formação consta em relató-
rio da Oxfam divulgado on-
tem. O estudo mostra que,
em 40 anos, os impostos so-
bre a riqueza que miram os
super-ricos do grupo caíram
em cerca de um terço.
De acordo com o relatório,
arenda dessa mesma popula-
ção 1% mais rica já alcança
patamar equivalente a nove
vezes o valor do PIB do Brasil.
Em 2022, aqueles que ocu-
pam o topo da pirâmide eco-
nômica do G20 tiveram ren-
dimentos totais de US$ 18
trilhões (cerca de R$ 90 tri-
lhões). No mesmo ano, o Pro-
duto Interno Bruto (PIB)
brasileiro foi de R$ 10,1 tri-
lhões, segundo o IBGE.
A divulgação da pesquisa
da Oxfam acontece às vés-
peras de encontro, em São
Ainda dá tempo de inscrever sua empresa!
Participe da pesquisa que é uma referência nacional no tema e que premia
empresas com olhar renovado para inovação.
Paulo, que vai reunir minis-
tros das Finanças e chefes de
bancos centrais do G20.
Maitê Gauto, gerente de
programas da Oxfam Brasil,
destaca que a queda na tri-
butação de riqueza, obser-
vada no grupo, teve como
um dos efeitos colaterais a
ampliação da distância dos
super-ricos para os mais po-
bres, aumentando a desi-
gualdade.
— Os percentuais de taxa-
ção diminuíram em razão
de mudanças tributárias in-
ternas e também por causa
do crescimento dessa rique-
za. A atualização de normas
de taxação não acompa-
nhou o percentual e a velo-
cidade de aumento dessa ri-
queza. Essas normas teriam
que ser atualizadas justa-
mente para que essa distân-
cia entre o 1% mais rico e os
miseráveis diminua.
TAXAÇÃO DO CONSUMO
A pesquisa da Oxfam tam-
bém indica que os países do
G20 arrecadam o equivalen-
te a quatro vezes com impos-
tos com a tributação de con-
sumo do que com a tributa-
PRAZO PRORROGADO
Envie o questionário até 15 de Março
ção de riqueza. Para cada dó-
lar arrecadado pelas nações
do grupo, oito centavos vêm
de impostos sobre a riqueza,
enquanto 32 centavos são
fruto da arrecadação de bens
e serviços (consumo).
— Isso mostra que vive-
mos em uma dinâmica em
que os sistemas fiscais de ta-
xação reforçam uma situa-
ção de desigualdade ao não
garantir que quem ganhe
mais pague mais. O peso da
arrecadação é distribuído
no conjunto da população,
porque as principais fontes
de receita são produtos e
serviços — acrescenta a ge-
rente de programas da Ox-
fam Brasil.
A estimativa da Oxfam é
que um imposto de até 5%
sobre multimilionários e bi-
lionários dos países do G20
geraria arrecadação de cer-
ca de US$ 1,5 trilhão por
ano, valor que poderia ser
destinado ao combate à mi-
séria e pobreza. Na pesqui-
sa, a Oxfam destaca que
quatro dos cinco maiores bi-
lionários do mundo vivem
em países do grupo.
Ao longo desta semana, a
Encontro. Ministros das Finanças e chefes de bancos centrais do G20 vão se reunir em São Paulo nesta semana
capital paulista será sede
dos encontros da chamada
“Trilha das Finanças” do
G20, que reúne grupos de
trabalho voltados ao deba-
te de assuntos macroeco-
nômicos. A primeira reu-
nião dos ministros de Fi-
nanças e chefes de bancos
centrais do G20 vai aconte-
cer na quarta-feira.
DESIGUALDADE E TRIBUTOS
O governo brasileiro pre-
tende levar à mesa de dis-
cussão os efeitos da desi-
gualdade e sua relação com
a política econômica e a tri-
butação internacional.
De acordo com a delega-
ção brasileira, que ocupa
a presidência rotativa do
órgão até novembro, o ob-
jetivo é colocar o debate
sobre desigualdades no
centro da agenda global.
Um dos temas que serão de-
batidos é a possibilidade de
um acordo global para a taxa-
ção dos super-ricos. O tema é
defendido pelo ministro da
Fazenda, Fernando Haddad.
Em entrevista ao GLO-
BO, no último domingo,
Haddad afirmou que irá
apresentar ao G20 uma
proposta de tributação dos
super-ricos “baseada nas
melhores pesquisas dispo-
níveis”, sem dar detalhes de
como será o texto. Segundo
o ministro, a agenda de tri-
butação da riqueza e da
progressividade sobre a
renda é essencial “para en-
frentar os entraves econô-
micos da desigualdade e
promover o crescimento
econômico sustentável”.
Mirar a tributação de su-
Economia | 13
MARCELO JUSTO
per-ricos tem sido uma
das formas de o governo
perseguir a meta de défi-
cit zero. Entre as medidas
aprovadas no último ano,
estão a tributação dos fun-
dos exclusivos (voltados à
alta renda) e offshore. O
governo ainda pretende
apresentar uma reforma
do Imposto de Renda.
A reunião dos represen-
tantes econômicos do
G20, grupo que reúne 19
países, mais a União Euro-
peia e União Africana e
detém cerca de 85% de to-
da a economia global,
mais de 75% do comércio
mundial e cerca de dois
terços da população do
planeta, ocorre na sema-
na seguinte à realização
da reunião de chancele-
res, que aconteceu no Rio.
 14 | Economia Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO

Indústria de repelentes
CLÉBER JÚNIOR/ARQUIVO

antecipa estoques com

aumento na procura
Fabricantes trazem insumo de avião, criam terceiro turno e
elevam produção para atender à demanda até duas vezes maior

ANA FLÁVIA PILAR

ana.costa@oglobo.com.br
nha aumentou 100% na
comparação com o mesmo
-
período do ano anterior.
mos tentando trazer por
meio do transporte aéreo. O
custo é 150% maior neste

Edem180
meio a uma epidemia de
dengue, que já matou mais
brasileiros, empresas
fabricantes de repelentes es-
tão correndo contra o tempo
para atender a uma demanda
até duas vezes maior em ja-
neiro de 2024 na comparação
com o mesmo mês do ano an-
terior. Os planos incluem es-
toques antecipados e até mes-
mo a implementação de mei-
os de transporte mais velozes
para trazer matéria-prima pa-
ra o Brasil. Nas farmácias e
nas redes de supermercados,
a procura pelo item chegou a
aumentar 450%.
A Xô Inseto é a segunda
maior marca da Cimed e te-
ve faturamento de R$ 28
milhões apenas neste ano.
Em janeiro de 2024, a de-
manda pelos produtos da li-
Normalmente, a empresa
produz 500 mil unidades
mensais para a marca, mas
expandiu sua capacidade
para 1 milhão de produtos,
após implementar três tur-
nos de trabalho em dezem-
bro de 2023.
Para atender ao mercado
consumidor mais aquecido
nesses primeiros meses do
ano, a Cimed teve que adian-
tar os estoques de produtos do
segundo trimestre, e está con-
centrada em restabelecer seu
armazenamento. Segundo o
CEO, João Adibe, o maior en-
trave é conseguir antecipar
compras de insumos:
—Nós usamos insumos da
China, com o transporte por
meio de navios, o que impli-
ca prazo aproximado de 120
dias para a chegada. Esta-
caso, por se tratar de um
produto inflamável.
No Rio, houve um aumen-
to de 74% na demanda pelos
repelentes da marca em ja-
neiro frente a dezembro.
Em São Paulo, a alta foi de
68%. Em outros estados, co-
mo Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, os aumentos
chegaram a 280% e 266%,
respectivamente.
A demanda por repelentes
das marcas SBP e Repelex,
produzidas pela Reckitt Hygi-
ene, cresceu a um percentual
de dois dígitos neste verão,
após o aumento significativo
dos casos de dengue desde no-
vembro, com pico de consu-
mo antes mesmo do carnaval.
— Estamos trabalhando
com todos os parceiros perti-
nentes para garantir abasteci-
Reposição. No Rio, um dos fabricantes aponta aumento de 74% na demanda. Em São Paulo, alta registrada foi de 68%
mento, distribuição e rápida
reposição do portfólio com-
pleto em lojas e farmácias no
país —diz Ana Beatriz Guerra,
Head de Marketing para Pesti-
cidas da Reckitt Hygiene.
PROCURA NAS FARMÁCIAS
A SP Johnson, das marcas
OFF e Exposis, disse que
acompanha de perto a de-
manda por produtos para
combater mosquitos e insetos
em geral, principalmente em
tempos de aumento dos casos
de dengue. Recentemente, a
empresa observou um cresci-
mento na demanda por repe-
lentes, mas não revelou quan-
to foi esse aumento.
Nas drogarias Venâncio, as
vendas estão acima do espe-
rado para o início ano, tanto
nas lojas físicas como no e-
commerce, enquanto na Pa-
gue Menos o crescimento
em janeiro foi de 45% em to-
do o país, em comparação
com o mesmo período do ano
passado. Somente no Rio, a
alta foi de 39%. Em São Pau-
lo, de 74%. Já no grupo Raia e
Drogasil, a procura por repe-
lentes em todo o país dispa-
rou 450% em janeiro, em re-
lação a novembro de 2023,
quando os casos da doença
começaram a crescer.
—Nesta última semana de
fevereiro, a alta foi de 120%
em relação a janeiro, e houve
reposição do estoque devido
à alta procura — diz Juliana
Cervan, diretora da área
Mais Saúde da RaiaDrogasil.
No Guanabara, o aumento
nas vendas foi de 30% em ja-
neiro, e a rede decidiu instalar
nas lojas pontos específicos
de venda para facilitar a busca
dos clientes. Além dos repe-
lentes, inseticidas estão sen-
do mais procurados: no últi-
mo fim de semana, em apenas
uma loja, foram vendidas em
cinco minutos 1,2 mil unida-
des de uma única marca.

Número de turistas argentinos no Brasil cai 19% ção, como viagens:

— As famílias têm restrin-
gido o seu consumo, e não se
sabe quais serão as regras do
Em janeiro, foram 110 mil a menos do país vizinho. Queda foi puxada por aqueles de menor poder aquisitivo, mais afetados pela crise jogo (medidas econômicas)
com o novo governo. Não
sabe nem se o aluguel será fi-
RENAN MONTEIRO
renan.monteiro@bsb.oglobo.com.br
ristas que entram por terra um impacto significativo, va —afirma Freixo. —Em fun- semprego elevado corroem a xado em dólar ou em peso,
BRASÍLIA e vias fluviais, que são pes- a estratégia foi focar na po- ção da crise, você direciona pa- renda da população. Há tam- por exemplo.
-
soas com menor poder pulação mais abastadas. ra outros segmentos, estudan- bém uma gama de incertezas No ano passado, o Brasil

O ano começou com 110

mil turistas argentinos
a menos entrando no Bra-
aquisitivo. Esse movimen-
to reflete o agravamento da
crise econômica no país vi-
As ações incluem parceri-
as com resorts, campanhas
com operadoras, famtours
do o perfil da Argentina.

sil, na comparação com
igual mês do ano anterior, o
que significa uma queda de
19%, a maior variação na
chegada de visitantes, de
acordo com dados da Agên-
cia Brasileira de Promoção
Internacional do Turismo
(Embratur). O país é que
mais manda turistas para o
Brasil.
A queda ocorreu entre tu-
zinho, afirmou o presiden-
te da Embratur, Marcelo
Freixo. Houve ampliação
de 26,6 mil no número de
turistas argentinos pela via
aérea e por meio de cruzei-
ros, por exemplo.
O governo projeta queda
de 7,5% no número de tu-
ristas argentinos no Brasil
neste ano. Para que o turis-
mo brasileiro não sofresse
(viagem de operadoras de
turismo voltadas para di-
vulgar o local) e aumento
das conexões aéreas. Essas
ações também foram reali-
zadas em outros países da
América do Sul.
—A queda da Argentina já
era esperada. Mas Chile, Para-
guai, Peru, Bolívia e outros
cresceram. E isso deu uma
equilibrada muito significati-
MAIS CHILENOS
A chegada de chilenos em
janeiro de 2024 é 48% mai-
or que a do mesmo mês de
2023. Na mesma compara-
ção, a de bolivianos teve alta
de 33%, e a de paraguaios,
de 23%. Os uruguaios au-
mentaram 11%, segundo o
levantamento da Embratur.
—O câmbio depreciado en-
carece as viagens estrangeiras.
Além disso, a inflação e o de-
em relação às ações do novo
governo que diminui o apetite
por gastos de valor mais alto,
como as viagens — explica
Marcela Kawauti, economista
da Lifetime Asset, elencando
os problemas da Argentina.
O advogado especialista
em Direito Internacional
Bernardo Sukiennik, nas-
cido na Argentina e com fa-
mília lá, relata que há um
movimento de “segurar no
bolso” gastos que não são
essenciais para a popula-
recebeu 1,9 milhão de turis-
tas argentinos. Desse total, 1
milhão foram pela via ter-
restre. Daí o dado de janeiro
preocupar os técnicos do
governo na área do turismo.
— O fluxo aéreo e de cru-
zeiros deve continuar alto,
pois são passagens e pacotes
comprados antes da nova si-
tuação política econômica
do país — diz Leandro Bar-
celos, gerente de Comércio
Internacional da BMJ Con-
sultores Associados.

Renda do empreendedor RENDIMENTO MENSAL DOS

EMPREENDEDORES BRASILEIROS
Bulhões reconhece que o
Rio tem como desafio forma-
lizar mais a economia, simpli-

do Rio supera a de São Paulo Rio de Janeiro ultrapassa São Paulo no ranking pela primeira vez
Capitais UF Rendimento (R$)
ficando e desburocratizando
ao máximo o processo para
abertura de novos negócios.
Predomínio de serviços e menor criação de vagas formais ajudam a explicar Rio de Janeiro RJ 8,8 mil Por isso, a prefeitura tem
São Paulo SP 8,5 mil lançado mão de iniciativas
Vitória ES 8,2 mil como o Alvará a Jato, criado
Goiânia GO 7,3 mil em 2023. O sistema permite

A renda dos empreendedo-

res cariocas passou a dos
paulistanos pela primeira vez
ese tornou a maior entre as ca-
pitais, aponta estudo da Secre-
taria municipal de Desenvol-
vimento Urbano e Econômico
do Rio de Janeiro. A média na
cidade foi de R$ 8.800 men-
sais contra R$ 8.500 na capital
paulista nos nove primeiros
meses de 2023, segundo o le-
vantamento, feito com base
em dados da Pnad Contínua,
do IBGE. A média nacional foi
de R$ 5.400 no período.
O perfil da economia da ci-
dade, com predomínio do se-
tor de serviços, menos opor-
tunidades no mercado formal
—que acaba impulsionando
uma parte qualificada da for-
ça de trabalho para o em-
preendedorismo — e a me-
lhoria do ambiente para a
abertura de novos negócios
estão entre as explicações pa-
ra o crescimento da renda en-
tre empreendedores cariocas.
Na pesquisa, foram consi-
derados apenas os empreen-
dedores formais — autôno-
mos e empregadores com
CNPJ. Em 2020, o Rio era a
sétima capital em rendimen-
to de empreendedores no
ranking das capitais.
— Houve melhora no am-
biente de negócios e investi-
mentos, com aquecimento
no setor de eventos. Isso
tem impacto para a econo-
mia, gerando mais renda,
ampliando o poder de con-
sumo na cidade — diz Chi-
cão Bulhões, secretário mu-
nicipal de Desenvolvimen-
to Urbano e Econômico.
Os empreendedores cario-
cas compõem uma parcela
maior da população ocupada
— 10,6% dos trabalhadores
ocupados do Rio são empreen-
dedores, contra 9,9% na mé-
dia nacional. Isso acontece,
primeiramente, porque a eco-
nomia do Rio é intensiva em
serviços, segmento muito re-
lacionado ao trabalho por con-
ta própria.
MAIOR ESCOLARIDADE
Os empreendedores cario-
cas estão mais concentrados
no segmento de serviços do
que a média nacional — en-
quanto eles representam
71,8% na cidade do Rio, são
apenas 49,7% no Brasil.
—O que diferencia o Rio são
as atividades relacionadas ao
turismo. A cidade recebe mui-
tos estrangeiros, gerando in-
centivo ao empreendedoris-
mo no setor de serviços, co-
mércio e turismo — explica o
economista Bruno Imaizumi,
da LCA Consultores.
No comércio, a taxa de em-
preendedores é maior no
Brasil que no Rio. E o mesmo
padrão é visto no caso da in-
dústria e da construção civil.
Além disso, dizem especia-
Cuiabá
Porto Alegre
Brasília
MT
RS
DF
6,9 mil
6,9 mil
6,9 mil
que um empreendedor obte-
nha autorização do municí-
pio para sua atividade e ope-
Teresina PI 6,8 mil ração por meio de um proces-
Belém PA 6,8 mil so de autodeclaração.
Boa Vista RR 6,5 mil —Quando a atividade é de
Recife PE 6,5 mil baixo risco, o empreendedor
Curitiba PR 6,5 mil faz o alvará on-line. O progra-
João Pessoa PB 6,3 mil ma veio após a Lei da Liberda-
Campo Grande MS 6,3 mil de Econômica Carioca, que
Belo Horizonte MG 6,2 mil
desburocratiza o processo pa-
Florianópolis SC 6,1 mil
ra abrir e formalizar negócios
Natal RN 6,0 mil
Manaus AM 5,9 mil
—diz o secretário.
Palmas TO 5,8 mil
A taxa de empreendedores
Brasil 5,4 mil
formais cariocas com nível su-
perior é de 57,3%, bem superi-
Fonte: Estudo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico com base em dados da Pnad or à média nacional (35,5%).
O economista Manuel The-
listas, a escassez de oportuni- Empregados e Desemprega- dim, diretor executivo do Ins-
dades no mercado formal im- dos (Caged) mostram que o tituto de Estudos do Trabalho
pulsiona uma parte da força de saldo de empregos criados eSociedade (Iets), explica que
trabalho ao empreendedoris- com carteira assinada no Rio oRio tem cada vez mais profis-
mo no Rio. Segundo Imaizu- fechou o ano de 2023 em sionais trabalhando para vá-
mi, a cidade ainda enfrenta 71.825, abaixo do ano anteri- rios empregadores, com oferta
problemas estruturais que po- or, com 99.551 postos. de serviços formais prestados
dem afastar empresas, como a Em São Paulo, o saldo foi por profissionais como arqui-
violência e a corrupção. de 132.263 no ano passado, tetos, médicos e consultores.
Dados do Cadastro Geral de ante 195.854 em 2022. (Ana Flávia Pilar)
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024 Economia | 15

Americanas teve prejuízo de R$ 4,6 bilhões

Resultado de janeiro a setembro de 2023 foi menor do que em igual período de 2022, mas balanço não contou com opinião do
auditor. Justiça homologa plano de recuperação e abre caminho para aporte de acionistas de referência de R$ 3,5 bi em 15 dias

DOMINGOS PEIXOTO/19-1-2023
GLAUCE CAVALCANTI
glauce@oglobo.com.br
acesso a algumas informações bruto de mercadorias — indi-
por serem alvo de investiga- cador calculado multiplican-
-
ções ou por constarem em do o número de itens pelo pre-

A Americanas encerrou on-

tem a espera pela divulga-
ção dos balanços dos primei-
ros nove meses do ano passa-
do. A varejista teve prejuízo de
R$ 4,6 bilhões no período, o
que significou perdas 23,5%
menores do que em igual perí-
odo de 2022. As receitas da
empresa caíram 45,1%, para
R$ 10,29 bilhões, como resul-
tado da crise na qual a compa-
nhia mergulhou depois de re-
velar inconsistências em re-
sultados financeiros que fo-
ram classificadas posterior-
mente como fraude. O retrato
dos balanços mostra que as
vendas digitais foram mais afe-
tadas do que as das lojas físicas.
Um dos fatores que chamam
a atenção no resultado é que a
BDO, contratada para a audi-
toria externa das demonstra-
ções financeiras do período, se
negou a dar opinião sobre os
números apresentados. Em
parecer incluído na apresenta-
ção de resultados da America-
nas, a BDO afirma que não foi
possível “obter evidência apro-
priada e suficiente para funda-
mentar” a chancela dos balan-
ços divulgados.
Entre as justificativas, a
BDO ponderou que não teve
processos que correm sob sigi-
lo. Além disso, citou que a au-
ditoria de resultados da AME
Digital, braço financeiro da
Americanas, não foi concluí-
da. Ao menos um dos fatores
mencionados pela empresa foi
equacionado ontem. A Justiça
homologou o plano de recupe-
ração da empresa na manhã de
ontem, durante a apresenta-
ção de resultados, o que tam-
bém era considerado aspecto-
chave pelo auditor.
—A posição da BDO obede-
ce regras de auditorias contá-
beis. Mas acende um alerta pa-
ra que o mercado esteja atento
a essas informações que não
puderam ser acessadas — dis-
se Eliane Remini, sócia da au-
ditoria Russell Bedford Brasil.
IMPACTO NO DIGITAL
Para Leonardo Coelho, CEO
da Americanas, a atitude da
BDO foi correta:
— É parte do trabalho da
auditoria não emitir opinião
nesse cenário. Com a homo-
logação do plano de recupe-
ração (judicial), que ocorreu
durante a call (teleconferên-
cia), esse ponto está resolvi-
do (leia mais sobre a avaliação
do executivo abaixo).
Impacto. Receita da Americanas caiu 45,1% de janeiro a setembro. No digital, empresa diz que houve abalo de confiança
A decisão da 4ª Vara Em-
presarial do Rio abre cami-
nho para um aporte de R$ 3,5
bilhões a ser feito pelos acio-
nistas de referência da com-
panhia — Jorge Paulo Le-
mann, Marcel Telles e Carlos
Alberto Sicupira —seja efeti-
vado em 15 dias, depois da
publicação no Diário Oficial.
Esse valor é equivalente à se-
gunda fatia de um investi-
mento total de R$ 12 bilhões
vindo do trio de bilionários.
Os recursos serão usados
para pagar credores da com-
panhia. Haverá também a di-
vulgação de um edital para
um leilão reverso, sai na fren-
te no pagamento quem acei-
tar receber seus créditos com
desconto mínimo de 70%.
— Não será um caminho
fácil, há muita coisa a recons-
truir. Mas acredito na força da
essência da Americanas e de
seus mais de 30 mil funcioná-
rios —frisou Coelho.
Oaumento de capital de R$
24 bilhões — a ser partilhado
meio a meio entre os acionis-
tas de referência e credores
que irão converter dívidas em
ações da companhia —terá de
ser aprovado em assembleia
extraordinária de acionistas.
Esta reunião tem de ser con-
vocada até 30 dias após a ho-
mologação do plano, com
previsão de ser realizada em
maio, segundo Camille Loyo
Faria, diretora financeira da
Americanas.
O retrato da crise nas esta-
tísticas mostra que o volume
ço de cada um — caiu 77% no
digital e apenas 4,4% no físico
no período de janeiro a setem-
bro do ano passado. O volume
total no período foi de R$ 16
bilhões, incluindo todos os ca-
nais de venda, o que represen-
ta retração de 51%.
99 LOJAS FECHADAS
No digital, onde se concen-
tram vendas de tíquetes mais
altos, “houve abalo de confian-
ça”, diz a Americanas em nota.
“Os clientes tinham preocu-
pação em relação às entregas
dos produtos e os sellers (ven-
dedores) ficaram temerosos
de não receber os repasses pe-
las vendas realizadas”, diz.
Apesar do desempenho me-
lhor das lojas físicas, muitas fo-
ram fechadas. Ao fim do ter-
ceiro trimestre, havia 1.764 lo-
jas. Em setembro de 2022,
eram 1.863 unidades. Ou seja,
99 lojas fecharam as portas.
Para Júlio Damião, presiden-
te do Instituto Brasileiro de
Executivos de Finanças de Mi-
nas Gerais (Ibef-MG), a Ame-
ricanas ainda é um avião com
o nariz “embicado para baixo”,
e ainda será preciso esperar o
próximo resultado para avaliar
orumo da companhia.

‘Fase crítica foi superada, mas

BRENNO CARVALHO/13-6-2023
Para que a companhia reto-
me a lucratividade, a Ameri-
canas vem trabalhando para

não garante sucesso’, diz CEO reduzir despesas na retaguar-

da da operação, no chamado
backoffice, diz Leonardo Coe-
Desafios incluem fechamento de lojas e mudanças no modelo da rede física lho. Não há uma meta de cor-
te dessas despesas ou de gasto
com pessoal, especificamen-
te, frisa o executivo. Mas as re-

A pior fase está superada,

avalia Leonardo Coelho,
CEO da Americanas. Ele se re-
fere à crise deflagrada pela re-
velação, em janeiro do ano
passado, de inconsistências
contábeis nos balanços da
companhia, um processo que
levou a varista a pedir recupe-
ração judicial com dívida de
R$ 40 bilhões. Mas o que vem
pela frente não será fácil, diz.
A empresa deve ajustar sua
rede física de lojas, com fecha-
mento de mais unidades e mu-
danças no modelo, além de
lançar um programa fidelida-
de com a AME Digital. Tam-
bém estão no radar o foco no
marketplace nas vendas on-li-
ne como forma de ampliar re-
sultados.
—Hoje, o que dá para dizer é
que a gente considera supera-
da a fase mais crítica pela qual
aAmericanas passou —diz. —
Tem muito trabalho adiante
até que a gente volte consis-
tentemente a gerar resultados
operacionais. Não dá para di-
zer que a fase crítica superada
garante o sucesso.
Oexecutivo explica que a ad-
ministração da Americanas
precisou dividir suas atenções
no ano passado entre a opera-
ção e os trabalhos de investiga-
ção e recuperação judicial. Se-
gundo ele, a partir do segundo
semestre deste ano será possí-
vel ter finalmente 100% do fo-
co voltado para a operação.
Nos nove primeiros meses
de 2023, a Americanas fe-
chou 99 lojas. Segundo o
CEO, a rede de Americanas
Local, com lojas menores, foi
o modelo com maior dificul-
dade para chegar ao equilí-
brio financeiro. São unidades
muito focadas em alimentos e
bebidas, segmento de grande
concorrência no mercado.
NÃO MENOS DE 1.500 LOJAS
A Americanas Local era ope-
rada em parceria com a Vibra
(antiga BR), que encerrou a
parceria com a varejista nesse
projeto de lojas de conveniên-
cia em meio ao processo de re-
cuperação judicial.
Coelho diz que a America-
nas Express, modelo mais en-
xuto de loja, porém mais espa-
çosa que a da rede Local, “fun-
ciona bem”. Um ponto que re-
quer atenção são as lojas com
mais de 1.500 metros quadra-
Foco. Executivo diz que no 2º semestre será possível focar só na operação
dos, porque algumas não en-
tregam bons resultados.
—A Americanas tem 1.680
lojas hoje. Não imagino com
menos de 1.500, mesmo en-
tre fechamentos e aberturas
—afirma o executivo, frisan-
do que cada operação será
avaliada para se ter certeza
de que não pode ser recupe-
rada antes de se decidir pelo
encerramento da atividade.
AAmericanas vai ajustar seu
modelo de lojas sem tirar o fo-
co do perfil de cliente da vare-
jista na rede física: pessoas das
classes C e D, de ambos os se-
xos e maiores de 18 anos de
idade. Com base nisso, não faz
sentido criar um ambiente so-
fisticado, diz Coelho, mas “não
pode ser maltratado ou desor-
ganizado”. O que vai mudar é a
organização das lojas:
—Categorias que falam en-
tre si ficarão mais próximas
(umas das outras) dentro das
lojas. E, na frente, estarão as
categorias em promoção de
forma organizada.
duções de custos virão.
— Já temos um estudo de
Orçamento Base Zero para
avaliarmos o que cada área
faz, com quantas pessoas e o
que deixaria de entregar com
menos recursos. Essa redu-
ção tem que ter —reconhece
o CEO da Americanas.
De janeiro a setembro de
2023, o volume de vendas de
mercadorias alcançou R$ 16
bilhões, encolhendo em
51,1% na comparação com
igual período do ano anterior.
No digital, o tombo em ven-
das chegou a 77%. Essa perda
foi atenuada pelo desempe-
nho da rede de lojas físicas,
que tiveram o mix focado em
conveniência, com menos ca-
tegorias, porém mais rentá-
veis. (Glauce Cavalcanti)

ENTREVISTA eoutros países europeus se
Eléonore Caroit, DEPUTADA DO PARTIDO RENASCENÇA levantaram dizendo que não
iríamos ratificar um acordo
‘NÃO ESTAMOS NUM BECO SEM SAÍDA obsoleto que não incluía a
proteção do meio ambiente. E
NA NEGOCIAÇÃO COM MERCOSUL’ essa é a razão pela qual, na
THAYZ GUIMARÃES thays.guimaraes@oglobo.com.br época, o presidente (francês
Emmanuel) Macron inter-
rompeu o processo de ratifica-
ção. Naquela época, ficou
sonaro permanecesse no
poder, porque, para nós, os
aspectos ecológicos eram
muito importantes. Mas
quando Lula foi eleito em
2022, houve a percepção de
que ele iria dar um foco muito
grande nos aspectos ambien-
tais. Havia também uma es-
perança real de que as
do acordo que era tão impor-
tante para nós. O problema é
que, após algumas rodadas de
negociações, houve bloqueios
de ambos os lados.
Paralisar a ratificação não põe que fala sobre carros, agricul-
em risco o próprio acordo?
Neste momento, eu não
diria que estamos em um
para ambas as partes. Se
olharmos as coisas de outra
perspectiva, em vez de tentar-
mos adaptar um acordo mui-
to global e geral, que tem
tantas questões atreladas —
tura, cooperação, origem
controlada —seria muito
melhor dividi-lo e fazermos

FEléonore
ilha de pai francês e mãe
dominicana, a deputada
Caroit, de 38 anos,
advogada de formação e espe- assinado —mas não ratifica-
cialista em Direito Internacio- do, devido a divergências por
nal, foi eleita em 2022 pelo
partido liberal de centro Re-
nascença (anteriormente A
República em Marcha!), do
presidente Emmanuel Ma-
cron. Desde então, tem sido
uma defensora vocal da ne-
cessidade de se estabelecer
parcerias entre a União Euro-
peia e o Mercosul, embora
seja contrária ao acordo de
livre-comércio alcançado em
2019 nos termos em que foi
questões ambientais.
Em novembro de 2022, a
senhora disse em entrevista
que “as perspectivas” para um
acordo de livre-comércio entre
Brasil e UE eram “muito boas”.
O que mudou de lá para cá?
Em 2019, quando o acordo
original foi assinado, a França
claro, pelo menos do nosso
ponto de vista, que (o presi-
dente Jair) Bolsonaro não
coisas mudariam, não
só porque tínhamos
recuperado al-
beco sem saída, porque não vários acordos de cooperação.
acredito que isso seja o fim de Precisamos encontrar talvez
tudo. Mas acho que precisa- um, talvez dois, talvez dez
mudaria a abordagem guém que estava mos realmente fazer uma acordos que nos permitam
brasileira em relação ao mais disposto a reviravolta total e tentar en- reforçar nossa cooperação,
meio ambiente, à prote- assinar acor- contrar outras maneiras de mas, ao mesmo tempo, abor-
ção da Amazônia ou dos internaci- cooperar, sem necessaria- dar os questionamentos legíti-
aqualquer outra onais, mas mente aceitar o acordo em si. mos dos agricultores e acho
coisa. Portanto, também que o mais importante, do
para os países porque ele De que modo? meu ponto de vista, é que não
europeus, esse estava Em vez de tentarmos en- desistamos das normas ambi-
acordo era visto disposto contrar o acordo menos pior, entais, pois precisamos garan-
como algo que não aabordar deveríamos tentar chegar ao tir que elas sejam aplicadas
poderia ir muito esse melhor acordo possível, con- não apenas na Europa, mas
longe desde que Bol- aspecto siderando o que é importante em todo o planeta.
ARQUIVO PESSOAL
 16 | Economia
Mudança climática
desafia produção das
‘cebolas do Outback’
Cultivadas no Chile, hortaliças, que pesam em média 1kg, sofreram
redução de tamanho com as altas temperaturas e os incêndios
RAFAEL CARNEIRO
economia@oglobo.com.br
DE QUINTA DE TILCOCO E SANTIAGO (CHILE)
-
A imensidão de folhas ver-
des esconde o grande
trunfo daquela plantação em
Quinta de Tilcoco, a 127 km
ao sul de Santiago, no Chile.
Porém, basta chegar um pou-
co mais perto para observar
que o que ocupa aquelas cen-
tenas de hectares é uma cebo-
la grande, gorda, mais conhe-
cida como a “cebola do Out-
back”. Há mais de duas déca-
das sendo considerada a que-
ridinha dos brasileiros que
frequentam a rede de restau-
rantes, cultivá-la tem sido um
desafio para os produtores
nos últimos anos por conta
das mudanças climáticas que
opaís andino tem enfrentado.
No verão de 2022-2023, por
exemplo, as altas temperatu-
ras somadas aos incêndios que
atingiram regiões próximas às
plantações, fizeram com que
os estômatos (estruturas nas
folhas que se assemelham a
pequenas bocas) fechassem e
as cebolas não absorvessem
água. Nesta safra, foram plan-
tados 170 hectares, que resul-
taram em hortaliças menores,
com um tamanho aquém do
desejado. Além disso, alguns
produtores mudaram o seu
cultivo por conta da má renta-
Controladora de pH, Pensi e Elite vende 32% do negócio
Operação reduz a fatia nas mãos de Jorge Paulo Lemann. Transação é estimada em até R$ 750 milhões por fontes de mercado
CAPITAL
RENNAN SETTI
rennan.setti@oglobo.com.br
-
A Gera Capital, gestora que
tem Jorge Paulo Lemann
como investidor, se desfez de
uma participação de pratica-
mente um terço (32%) no
Grupo Salta, que costumava se
chamar Eleva Educação e é do-
no de escolas como pH, Pensi
e Elite. Quem comprou a fatia
foram a Atmos, gestora cario-
ca de Bruno Levacov, o fundo
Mission Co., de ex-sócios da
Gávea Investimentos, e a War-
burg Pincus, gigante america-
no do private equity que já era
sócia do negócio.
Depois da transação, que foi
fechada na tarde de ontem, o
maior acionista da Salta será a
INDICADORES
+0,15%
IBOVESPA
-4,79%
IMPOSTO DE RENDA
Fevereiro de 2024
BASE DE CÁLCULO (R$) ALÍQUOTA
Até 2.259,20 Isento
De 2.259,21 a 2.826,65 7,5%
De 2.826,66 a 3.751,05 15%
De 3.751,06 a 4.664,68 22,5%
Acima de 4.664,68 27,5%
bilidade em anos anteriores.
De acordo com Viviana Ur-
bina, meteorologista do Me-
teored Chile, as altas tempe-
raturas no verão estão relaci-
onadas com um fenômeno
conhecido como megasseca.
— É uma estiagem muito
prolongada, que tem dura-
do mais de uma década. Isso
está associado a uma alta
pressão no Oceano Pacífico,
que aumenta a temperatura
das águas nas proximidades
da Austrália e da Nova Ze-
lândia, e dificulta a chegada
de umidade e precipitações,
principalmente na região
central do Chile — explica.
321 MIL QUILOS EM 2023
Rodrigo Ramn é engenhei-
ro agrônomo e assessora
cultivos de cebolas. Para ele,
é necessário se adaptar às
condições para lidar com as
mudanças climáticas.
—Quando o ano é de muita
chuva, trabalhamos com
plantações mais ao norte do
país. Se choveu tarde, vamos
para o sul e, quando a seca é
muito grande, procuramos
lugares com represas, onde
há segurança para irrigar.
Ainda segundo Ramn,
também são tomadas outras
medidas como a irrigação
por gotejamento, o que per-
mite um uso melhor da água;
o uso de bloqueador solar pa-
ra diminuir a temperatura do
cultivo; e o aumento na den-
Warburg Pincus, com 28%. A
Atmos, que está entrando no
negócio, ficará com fatia de
19%, enquanto a Mission Co.
deterá 11%. Já a Gera Capital
reduziu sua fatia de 55% para
23%. Outros 19% estão nas
mãos de executivos e outros
sócios da companhia.
Mas a Gera Capital conti-
nuará com maioria no con-
selho, mantendo sua sócia
Duda Falcão como presi-
dente executiva do colegia-
do. O CEO do Salta segue
sendo Bruno Elias.
A transação vem sendo
negociada há meses, e a At-
mos chegou a estruturar
uma captação de até R$ 500
milhões para fechar a opera-
ção junto a clientes do seg-
mento private de bancos co-
mo o Itaú, apurou a coluna.
DÓLAR
COMPRA R$ VENDA R$
Comercial (Ptax) 4,9813
Turismo esp. (BB) N.D.
Turismo esp. (Bradesco) N.D.
EURO
no dia
Comercial (Ptax) 5,4052
Turismo esp. (BB) N.D.
em janeiro Turismo esp. (Bradesco) N.D.
Deduções: a) R$ 189,59 por dependente; b) para
A DEDUZIR* aposentados, pensionistas e transferidos para a
- reserva com 65 anos ou mais: R$ 1.903,98; c)
contribuição mensal à Previdência; d) pensão
R$ 169,44
alimentícia. *Alternativamente às deduções,
R$ 381,44 poderá ser usado desconto mensal, de R$
564,80. Obs.: para calcular o imposto a pagar,
R$ 662,77 aplique a alíquota e deduza a parcela correspon-
dente à faixa.
R$ 896,00
sidade da plantação, para que
o solo não fique tão exposto
ao aquecimento.
Um dos produtores auxilia-
dos por Ramn é Gastón Cua-
dra. Sua plantação, em Quin-
ta de Tilcoco, é um dos quatro
centros de produção utiliza-
dos pela empresa familiar
RCR, que atualmente é a mai-
or exportadora da cebola gor-
da no Chile para o Outback
Steakhouse no Brasil. Em
2023, por exemplo, foram en-
viadas 22.976 caixas e um to-
tal de 321.664 kg da hortaliça.
— Nosso diferencial está
em prezar pela qualidade e
pelo melhor cumprimento
na entrega do volume exigi-
do pelo Outback — destaca
o produtor, exportador e do-
no da RCR, Gustavo Reyes.
De acordo com Reyes,
“produzir exclusivamente
para obter cebolas grandes
é muito complicado e deli-
cado. No Chile, elas não
chegam a 2% do total de ce-
bolas produzidas”.
Uma das características
que mais chamam a atenção
nesse tipo de cebola é o seu
tamanho, mas ela não é a úni-
ca. Além de pesar cerca de 1
kg, a cebola tem um centro
único e um cultivo longo. No
sul do Chile, por exemplo, o
ideal é que sejam plantadas
entre julho e agosto, e colhi-
das entre fevereiro e abril.
Somente assim para se con-
seguir cebolas com pelo me-
A companhia não divulgou
os valores envolvidos. Embo-
ra a cifra de R$ 1 bilhão tenha
circulado nos últimos meses,
interlocutores da compa-
nhia estimam que o negócio
teria ficado entre R$ 700 mi-
lhões e R$ 750 milhões.
O negócio foi 100% secun-
dário, sem injeção de qual-
quer centavo no caixa da com-
panhia. A transação foi neces-
sária, segundo a Gera, para
dar saída aos investidores do
seu primeiro fundo, iniciado
em 2013 e cujo prazo acaba de
vencer. Segundo observado-
res do setor de educação, a re-
dução da participação de Le-
mann no Salta pode ajudar
nas negociações de rolagem
de dívida com os bancos.
—As instituições financei-
ras duelaram com ele na crise
OUTRAS MOEDAS
4,9819 Libra esterlina
5,13 Franco suíço
5,18 Iene japonês
Peso argentino
Peso chileno
5,4064 Yuan chinês
5,58
Outras moedas estrangeiras podem ser consulta-
5,62
das nos sites www.xe.com/ucc e www.oanda.com.
INSS
Fevereiro de 2024
Trabalhador assalariado
SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO (R$)
Até 1.412,00
De 1.412,01 a 2.666,68
De 2.666,69 até 4.000,03
De 4.000,04 até 7.786,02
Percentuais incidentes de forma não cumulativa
(artigo 22 do regulamento da Organização e do
Custeio da Seguridade Social)
Terça-feira 27.2.2024 | OGLOBO
RAFAEL CARNEIRO
Volume exigido. Gustavo Reyes é produtor e dono da maior exportadora da cebola “gorda” no Chile para o Outback
DIVULGAÇÃO
Viviana, haverá a transição en-
tre os fenômenos El Niño e La
Niña e, para a região central do
Chile, espera-se um regime de
precipitação dentro do nor-
mal para o inverno, ainda que a
média seja mais baixa. Para o
período 2024-2025, a expecta-
tiva é plantar 188 hectares de
cebola gorda.
As mudanças climáticas
não são uma preocupação em
relação ao fornecimento da
cebola, segundo o Outback.
—Mantemos uma série de
Blooming’onion. A cebola gigante é um dos pratos mais pedidos da rede medidas, estudos, planeja-
mento preditivo e um pro-
nos 108 mm de diâmetro. por presença de fungos ou cesso robusto de acompa-
Para medir esse diâmetro, se qualquer outra razão. nhamento de plantio e lo-
utiliza o calibrador manual, Entre os produtores chile- gística com nossos diversos
um objeto redondo com o nos, a preocupação agora é fornecedores. Com isso,
meio vazado. Ele é usado tanto com o plantio da nova safra, mesmo diante de condições
na plantação como na etapa de no meio do ano. climáticas adversas, nosso
encaixotamento, reforçando o — Em 2023 choveu muito objetivo é sempre mitigar ao
controle de qualidade. e a semeadura atrasou em máximo a possibilidade de
O transporte do produto alguns lugares. A minha sor- falta de cebola e qualquer im-
também demanda cuidados te é que já tinha semeado pacto no abastecimento. E
especiais. São utilizados ca- quando as fortes chuvas temos tido sucesso — afirma
minhões refrigerados a 2 °C chegaram e arrastaram as Mauro Guardabassi, presi-
com 25% de ventilação, a sementes de alguns produ- dente da Bloomin’ Brands no
fim de evitar ao máximo a tores — lembra Cuadra. Brasil, grupo detentor da
perda da mercadoria, seja Nos próximos meses, afirma marca Outback Steakhouse.
da Americanas e estavam mais
reticentes com companhias
das quais ele é sócio — disse
uma fonte a par do assunto.
Lemann, porém, continua
sócio do negócio na qualidade
HERMES DE PAULA / 22-9-2020
de investidor dos outros fun-
dos da Gera Capital, que ainda
édona de 23% da Salta.
Com 178 unidades, mais de
130 mil alunos e 22 marcas de
escolas, o Grupo Salta diz ter
faturamento de R$ 2,3 bilhões
e é uma das principais empre-
sas por trás da tendência de
consolidação na educação.
Mas com endividamento
próximo a R$ 1 bilhão, o grupo
é considerado alavancado por
observadores do setor. Em vez
das aquisições pelas quais fi-
cou conhecida, a principal
transação da companhia em
2023 foi uma venda: as escolas
Eleva para a britânica Inspired
por R$ 2 bilhões.
Este texto foi originalmente
publicado na coluna de negócios
Capital, no site do GLOBO:
Colégio pH. Grupo tem 22 marcas de escolas e mais de 130 mil alunos blogs.oglobo.globo.com/capital
VENDA R$
ÍNDICES
IPCA IBGE
Janeiro
(12/93=100)
6801,72
MÊS ANO
0,42% 0,42% 4,51%
12 MESES
POUPANÇA
ATÉ 03/05/12
TR
17/02 0,0364%
UFIR/RJ
Fevereiro
UFIR
(extinta)
Fevereiro
6,3172 21/03 0,5651% 18/02 0,0364%
Dezembro 6773,27 0,56% 4,62% 4,62% 22/03 0,5654% R$ 4,3329 R$ 1,0641
5,6590 19/02 0,0652%
0,0330 23/03 0,5638%
IGP-M FGV (8/94=100) MÊS ANO 12 MESES 20/02 0,0665% UNIF
Janeiro 1124,879 0,07% 0,07% 3,32%
0,0059 A PARTIR DE 04/05/12 21/02 0,0648% A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08
0,0050 Dezembro 1124,072 0,74% -3,18% -3,18% 20/03 0,5668% 22/02 0,0651% Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser
0,6920 IGP-DI FGV (8/94=100) MÊS ANO 12 MESES 21/03 0,5651% 23/02 0,0635% pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e
Janeiro 1102,571 -0,27% -0,27% -3,61% 22/03 0,5654% depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1
SELIC 11,25% Uferj = 44,2655 Ufir/RJ)
Dezembro 1105,541 0,64% -3,30% -3,30% 23/03 0,5638%
OUTROS ÍNDICES
Trabalhador autônomo BOLSA DE VALORES: FUNDOS DE INVESTIMENTO:
Para o contribuinte individual e facultativo, o Cotações diárias de ações, evolução dos www.anbima.com.br. Clicar em “Fundos de
ALÍQUOTA (%) valor da contribuição deverá ser de 20% do salá- índices Ibovespa e IVBX-2: www.b3.com.br investimento”
7,5 rio-base. Contribuição mensal mínima de R$
CDB/CDI/TBF: IDTR: www.fenaseg.org.br. Clicar na
9 282,40 (para o piso de R$ 1.412,00) e máxima de
www.anbima.com.br barra “Serviços” e, posteriormente, em
12 R$ 1.557,20 (para o teto de R$ 7.786,02)
www.cetip.com.br FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados
14
SALÁRIO MÍNIMO FEDERAL RJ* Taxa Básica Financeira (TBF): ÍNDICES DE PREÇOS:
Fevereiro* R$ 1.412,00 R$ 1.238,11 www.bcb.gov.br. Clicar em “Estatísticas” FGV: www.fgv.br. IBGE: www.ibge.gov.br
* Piso para empregado doméstico, entre outros. e, posteriormente, em “Séries temporais” Anbima: www.anbima.com.br
 OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024
Mundo
SEM CESSAR-FOGO, SEM VOTO
Árabes-americanos ameaçam punir Biden
em estado crucial por seu apoio a Israel
EDUARDO GRAÇA
Enviado especial
eduardo.graca@oglobo.com.br
HAMTRAMCK, EUA
-
O Café e Livraria Kitab mal
consegue abrigar a multi-
dão que rumou para lá de uma
manifestação no Parque
Zussman, também localizado
em Hamtramck, uma das ci-
dades com maior população
árabe-americana na Grande
Detroit. Faz um frio de 3°C
dois dias antes de democratas
e republicanos votarem nas
primárias do Michigan, um
dos estados decisivos na dis-
puta pela Presidência dos Es-
tados Unidos este ano. O refú-
gio oferece melhor acústica
para se escutar o que Layla
Elabed e Abraham Aiyash
têm a dizer. E o recado é dire-
to: o desastre humanitário na
Faixa de Gaza pode despejar
Joe Biden da Casa Branca.
Em 144 dias de ofensiva is-
raelense, estima-se que cerca
de 30 mil palestinos foram
mortos. A operação militar foi
iniciada após o ataque terro-
rista do grupo palestino Ha-
mas em 7 de outubro, que ti-
rou a vida de mais de 1.100 is-
raelenses e pessoas de outras
nacionalidades, além de dei-
xar cerca de 240 reféns. E há,
no Kitab, pessoas que perde-
ram familiares, amigos, pa-
rentes de amigos. Para elas, o
apoio da Casa Branca ao que
classificam como genocídio é
uma traição que “ultrapassou
o limite do suportável”.
—Ou Biden deixa de vetar
o cessar-fogo na Palestina
na ONU e anuncia a suspen-
são do financiamento de ar-
mas para Israel, ou não terá
nosso voto. Acabou. O reca-
do será dado nas urnas nesta
terça-feira — disse Aiash.
Não é ameaça vazia. O de-
putado estadual de óculos de
aro preto grosso, tênis branco,
cabelo bem cortado e origem
iemenita é o líder da maioria
na Assembleia do Michigan,
governado por Gretchen
Whitmer, estrela em ascen-
são no partido e uma das coor-
denadoras nacionais da cam-
panha de reeleição de Biden.
Constrangida, a governadora
disse ontem, em evento pró-
presidente, que “as primárias
são desenhadas mesmo para
este tipo de discussão”, mas
também alertou que “um vo-
Premier renuncia e abre caminho à reforma da ANP
Mohammad Shtayyeh sai em meio a pressões de EUA e países árabes para reformulação da entidade no pós-guerra entre Israel e Hamas
RAMALLAH
-
O primeiro-ministro da Au-
toridade Nacional Palesti-
na (ANP), Mohammad Shtay-
yeh, anunciou ontem a renún-
cia de seu governo, que con-
trola parte da Cisjordânia ocu-
pada. A decisão ocorre em
meio à crescente pressão dos
EUA e dos países árabes para
Pressão. Manifestantes protestam diante do hotel em Dearborn, Michigan, onde enviados de Biden se reuniram com líderes da comunidade árabe-americana
to a menos para Biden é auto-
maticamente um a mais para
Trump”.
No chão do Kitab estão Ela-
bed, irmã da primeira deputa-
da de origem palestina no Ca-
pitólio, Rashida Tlaib, parla-
mentares, prefeitos e vereado-
res de cidades vizinhas, entre
elas Pontiac e Dearborn. Não
menos significativo, o ex-de-
putado federal Andy Levin,
uma das figuras públicas mais
representativas da comunida-
de judia no estado, também es-
tava no local.
APOIO VITAL EM 2020
A pressão que dirigem hoje ao
presidente pode ser dimensio-
nada ao se voltar quatro anos
no tempo. A comunidade ára-
be-americana local — com ci-
dadãos em sua maioria de ori-
gem palestina, jordaniana, ira-
quiana, síria e iemenita —não
éa maior do país, ficando atrás
das do Illinois e de Nova Jersey.
Mas esses dois estados votam
majoritariamente com os de-
mocratas, ao contrário do Mi-
chigan. Aqui, ela deu quase
150 mil votos, de acordo com
as pesquisas de boca de urna, a
Biden em 2020. A vantagem
final do vice de Barack Obama
sobre o então presidente repu-
blicano foi de 154 mil votos.
Biden não teria conquistado
os 15 delegados decisivos para
uma reformulação da entida-
de, que busca estabelecer um
papel para si mesma no gover-
no dos territórios palestinos
no pós-guerra Israel x Hamas.
—Apresentei a demissão do
governo ao presidente [Mah-
mud Abbas] em 20 de feverei-
ro e a submeto hoje por escrito
—disse ele, que assumiu o car-
go em 2019, explicando que é
Mobilização. Salma Hamamy (à esquerda), Layla Elabed e Abraham Aiyash
tirar Donald Trump da Casa
Branca sem o voto dos mora-
dores da Grande Detroit. Em
2016, o republicano venceu
Hillary Clinton por pouco
mais de 11 mil votos no estado.
Criado há três semanas e ins-
pirado em uma iniciativa pare-
cida da campanha de Barack
Obama em 2008, quando re-
gras internas do partido o for-
çaram a sair da disputa com
Hillary no estado, o Listen to
Michigan (“Ouça o Michi-
gan”), coordenado por Elabed,
que fala pausadamente e hip-
notiza os interlocutores, ori-
enta os eleitores a votarem ho-
necessário levar em conta “a
realidade emergente na Faixa
de Gaza e a escalada na Cisjor-
dânia e Jerusalém”. —A próxi-
ma etapa e os seus desafios exi-
gem novos arranjos governa-
mentais e políticos.
Abbas aceitou a renúncia,
mas pediu que Shtayyeh per-
maneça no cargo até a forma-
ção de um novo governo. Fon-
REPRESSÃO NA NICARÁGUA
Ortega bane escoteiros e mais ONGs
NA WEB Regime sandinista ordenou fechamento de cerca de 10 organizações cristãs
EDUARDO GRAÇA
je na opção “sem compromis-
so”, e não em Biden.
Só se saberá o tamanho do
voto de protesto no fim do dia
e não há garantias de que se
repetirá em novembro, mas a
velocidade da militância im-
pressiona. Em pouco menos
de 20 dias, multiplicaram de
10 para 450 as sucursais do
grupo, bateram na porta de
milhares de casas e se torna-
ram os principais protagonis-
tas locais de uma disputa mar-
cada pela apatia nos dois la-
dos. O GLOBO viu panfletos
do grupo espalhados por res-
taurantes, livrarias, super-
tes ouvidas pelo jornal israe-
lense Hareetz indicaram que o
presidente palestino pretende
aproveitar o anúncio para im-
pulsionar iniciativas como
parte das reformas do “pós-
guerra” dentro da ANP. Desde
o início do conflito em Gaza,
em 7 de outubro, Abbas tem si-
do criticado por sua impotên-
cia diante dos bombardeios no
NICK HAGEN/NYT/8-2-2024
mercados, escolas e postos de
saúde na Grande Detroit.
—Nossa velocidade é a do
desespero. É a de quem está
usando todas as armas demo-
cráticas disponíveis para evi-
tar a morte de mais civis.
Apenas Biden tem o poder
para determinar o fim da
chacina e ele precisa ser pres-
sionado—diz Elabed.
A militância dos árabes-
americanos destoa da mobili-
zação modesta de outros gru-
pos centrais na coalizão demo-
crata, como afro-americanos,
mulheres (as Fems for Dems,
cruciais na reeleição de Whit-
mer há dois anos, quando o es-
tado aprovou a proteção ao
aborto em sua Constituição) e
operários.
BIDEN: TRÉGUA ATÉ 2ª-FEIRA
Os republicanos se debatem
com o caos interno de duas
alas radicais organizando pré-
vias distintas (embora apenas
uma reconhecida oficialmen-
te) e o asfixiamento da candi-
datura Nikki Haley no que pa-
rece ser mais um capítulo na
confirmação de Trump. O fo-
co no Michigan está, de forma
também inédita nas primá-
rias, no outro lado —no início
do mês, pesquisa do Center for
Public Affairs mostrou que
52% dos democratas desapro-
vam o modo como Biden lida
enclave e do aumento da vio-
lência na Cisjordânia.
Depois do anúncio, o porta-
voz do Departamento de Esta-
do americano, Matthew Mil-
ler, não comentou diretamen-
te a renúncia do premier, mas
fez elogios aos planos de refor-
ma sinalizados pela ANP:
—Achamos que essas medi-
das são positivas. Acreditamos
| 17
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
com a crise em Gaza.
Ontem, ao visitar uma sor-
veteria hipster em Nova York,
casquinha na mão, o presiden-
te afirmou acreditar “que um
cessar-fogo seja anunciado até
a próxima segunda-feira”, por
conta do esforço diplomático
da Casa Branca. Isso evitaria
uma ação militar em Rafah, no
sul do enclave, durante o Ra-
madã, mês sagrado para os
muçulmanos. O presidente
não falou, no entanto, do apoio
militar ao governo de Benja-
min Netanyahu.
Um dia antes de deflagrar a
campanha pelo voto de protes-
to, líderes do Listen to Michi-
gan se reuniram com enviados
da Casa Branca ao estado. Li-
deranças locais, de modo re-
servado, criticaram ao GLO-
BO o fato de Biden, que pouco
antes viera ao estado receber o
apoio de um dos mais fortes
sindicatos de trabalhadores da
indústria automotiva, não ter
participado do encontro. Foi,
contou o líder democrata da
Assembleia, uma conversa
“tensa”, que terminou com o
parlamentar afirmando que
“se não pudemos evitar a mor-
te de 30 mil pessoas, é legítimo
usar a pressão do voto para evi-
tar a morte de outras 30 mil”.
ELOGIO À FALA DE LULA
A argumentação dos gover-
nistas incluiu, conta, a “ou-
sadia” de sugerir que os ma-
nifestantes haviam esqueci-
do de que Trump, quando
presidente, banira a entrada
de pessoas que professavam
a fé muçulmana nos EUA.
—Como eu poderia esque-
cer disso? Três dias antes de
Trump assinar sua ordem exe-
cutiva, meu tio morreu em
uma ação militar na Palestina.
Ele esperava há seis anos sair
sua documentação para entrar
nos EUA de forma legal. Não
venham às nossas comunida-
des dizer que nós é que esta-
mos comprometendo a demo-
cracia ao não votar em Biden,
entregando de bandeja a Presi-
dência a Trump. O que esta-
mos oferecendo aqui, e pela
via democrática do voto, é
uma oportunidade para Biden
agir como prega: pela ética,
com a autoridade moral que só
tem quem não financia geno-
cídio —disse Aiash.
Afala do presidente brasilei-
ro, Luiz Ignácio Lula da Silva,
na Etiópia, em que comparou
as mortes em Gaza com o Ho-
locausto, também foi lembra-
da pelos democratas defenso-
res do voto “sem compromis-
so” nas primárias de hoje.
—Nós estamos aqui fazendo
a pressão local, mas precisa-
mos da global. E o governo bra-
sileiro e o presidente Lula têm
sido importantes desde o iní-
cio da invasão na denúncia do
massacre indiscriminado de
civis e da necessidade do ces-
sar-fogo. A fala dele escanca-
rou o isolamento de Biden e de
Washington no tabuleiro glo-
bal—disse Elabed.
que são um avanço importan-
te para alcançar uma Gaza e
uma Cisjordânia reunificadas
sob a ANP.
Na última quinta-feira, o pri-
meiro-ministro de Israel, Ben-
jamin Netanyahu, apresentou
seus planos para o pós-guerra
em Gaza, sugerindo a instala-
ção de “autoridades locais”
não afiliadas ao terrorismo pa-
ra substituir o Hamas e admi-
nistrar os serviços locais, além
do fechamento da agência de
assistência da ONU para refu-
giados palestinos e a “liberda-
de indefinida” para atuação do
Exército no enclave.
 18 | Mundo Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO

TER _ Marcelo Ninio _ QUI _ Guga Chacra _ SEX _ Janaína Figueiredo

MARCELO das convivem com um consenso: para os chine-

ses, é a confirmação de que o confronto com os
NINIO EUA está numa trajetória sem volta.
Biden suavizou no tom, mas não na essência.
Manteve as tarifas impostas pelo governo
Trump que deram a largada na guerra comerci-
al e foi além, com restrições ao acesso de tecno-
sino.sfera MarceloNinio logias avançadas para a China. As medidas re-
internacio@oglobo.com.br
forçaram a determinação do governo chinês
em investir na indústria nacional e posicionar a
Trump 2 segurança no topo da agenda. A competição
com os EUA superou até o crescimento econô-
pescadores chineses mortos elevou a tem-
peratura no estreito e nos gabinetes do go-
verno em Pequim. Em resposta, o governo
chinês ampliou suas patrulhas marítimas
ao redor do arquipélago de Kinmen, que faz
parte do território taiwanês e fica a poucos
quilômetros da China continental. Foi mais
um de uma série de episódios nos últimos
anos que ilustraram o risco de uma defla-
gração involuntária.
Trump tem
planos, em um
Trump parece ter me-
nos ímpeto do que Biden
ções da China, muito além do teto de 21% apli-
cado quando ocupou a Casa Branca. Admirado
por muitos na China por seu suposto pragma-
tismo e tino empresarial antes de sua eleição
em 2016, Trump ainda tem fãs no país, mas ho-
je ele atrai principalmente insultos nas redes
sociais. Para os chineses, a eleição americana é
antes de tudo “uma forma de entretenimento”,
escreveu Ding Gang, colunista do Diário do Po-
vo. É uma atração um tanto mórbida, reconhe-
ce Ding, já que a vitória de Trump “complicaria
ainda mais as relações com a China”.

e a China
mico como prioridade. eventual segundo em defender Taiwan de A julgar pelas ideias que emanam do cír-
Oúltimo encontro entre Biden e o presidente mandato, que um eventual ataque de culo próximo do republicano, esta parece
chinês, Xi Jinping, no fim do ano passado, intensificariam Pequim à ilha, cuja reuni- ser a intenção. Robert Lighthizer, represen-
abrandou um pouco a tensão bilateral, de- o atrito com ficação com o continente tante de Comércio dos EUA durante o go-
monstrando o interesse mútuo em evitar uma a China e a é declarada como inevi- verno Trump, não mede palavras ao se refe-

D epois de vencer todas as prévias republica-

nas disputadas até agora, Donald Trump
parece ter o caminho livre para conquistar a ter-
ceira nomeação seguida de seu partido e en-
frentar o atual presidente, Joe Biden, nas elei-
ções americanas de novembro. A possível volta
de Trump à Casa Branca divide opiniões na se-
gunda maior economia do mundo, mas as dúvi-
escalada. Nem mesmo a vitória na eleição pre-
sidencial em Taiwan de Lai Ching-te, próximo
dos EUA e visto por Pequim como um separatis-
ta perigoso, foi capaz de abalar a relativa calma-
ria nas relações. Mas todos sabiam que a maré
estava sujeita a mudanças súbitas.
Um incidente recente envolvendo a
Guarda Costeira de Taiwan que deixou dois
instabilidade tável, conforme reiterou
econômica global há pouco o chanceler chi-
nês, Wang Yi. Mas o pro-
vável rival de Biden na eleição presidencial tem
outros planos que intensificariam o atrito entre
as potências e a instabilidade econômica global.
Caso eleito, Trump sugeriu que considerará a
imposição de tarifas de até 60% nas importa-
rir ao rival asiático em seu novo livro, “Ne-
nhum comércio é livre”. Qualquer política
econômica deve estar centrada em conter a
“ameaça existencial” que a China represen-
ta para os EUA, afirma Lighthizer. Será esse
o turbulento ponto de partida diplomático
se os americanos optarem por uma segunda
temporada de Trump.

Brasil quer
ANDREA BRUCE/NYT/3-11-2022

fundo anual de
US$ 79 bilhões
contra a fome
Proposta faz parte das discussões para
criação de Aliança Global, bandeira do
governo lula na presidência do G20

Trilha de Sherpas — formada

por emissários pessoais dos lí-
deres dos países do G20, for-
mado pelas 19 nações mais ri-
cas do planeta e mais a União
Europeia e a União Africana.
ALICE CRAVO Ao todo, 54 delegações, além
alice.cravo@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA
de fóruns e organismos inter-
nacionais, participaram das Esforço global. Mães com bebês esperam atendimento em um centro para crianças desnutridas em Baidoa, na Somália: ideia é replicar experiências positivas
-
reuniões do grupo de trabalho

U ma das principais bandei-

ras da presidência brasi-
leira no G20, a Aliança Global
sobre o assunto.
Para atrair recursos para
esse fundo, há alternativas
Contra a Fome e a Pobreza de- como aporte de países ricos e
ve ter três linhas para financi- também tributação global
amento, de acordo com pro- dos mais ricos. O ministro da
posta do grupo técnico cons- Fazenda, Fernando Haddad,
truída após as primeiras reu- disse ao GLOBO, em entre-
niões na semana passada, em vista publicada no domingo,
Brasília. A primeira é um fun- que pretende apresentar
do de US$ 79 bilhões (R$ uma proposta de taxação glo-
393,48 bilhões) por ano, se- bal para os mais ricos na reu-
guindo uma projeção apre- nião dos ministros das Finan-
sentada pelo Banco Mundial ças e chefes dos bancos cen-
como o montante necessário trais do G20 nesta semana
para um esforço “potente” na em São Paulo. O Brasil tam-
área. A segunda linha é a troca bém busca aportes privados
de dívidas por investimento, para esse fundo.
chamada debt swap, e por fim, Liderando as discussões
melhores condições de aces- sobre a Aliança Global, o mi-
so a créditos e financiamento. nistro do Desenvolvimento
As propostas, agora, serão Social e Combate à Fome,
avaliadas pela Trilha de Fi- Wellington Dias, citou fun-
nanças — responsável pelos dos contra mudanças cli-
debates econômicos — e pela máticas como exemplo:
— O Brasil quer abrir esse
diálogo. Na área ambiental
já é assim: alguns países co-
locam dinheiro no fundo do
clima, mas também tem
empresas que colocam re-
cursos. A gente vai ter que
acertar como se dialoga
com esses credores, empre-
sários que têm investimen-
tos em vários países, por
exemplo — afirmou Wel-
lington Dias ao GLOBO.
BANCO MUNDIAL E FMI
A reforma da governança
global, proposta brasileira
que inclui mudanças no
Fundo Monetário Interna-
cional (FMI) e no Banco
Mundial, também é aponta-
da pelo ministro como saída
para financiar países pobres
com taxas de juros mais bai-
xas e menos contrapartidas.
Pelo desenho, a Aliança
Global terá uma cesta de ex-
periências já praticadas,
com resultados positivos
para o combate à fome e à
pobreza, que seriam abraça-
das pelos países-membros.
As nações seriam dividi-
das em três grupos: os mais
desenvolvidos, que além de
cumprir suas próprias me-
tas vão também ajudar ou-
tros países; um segundo
grupo, com países que vão
cumprir sua meta, mas pre-
cisam de suporte para auxi-
liar outros países; e, por fim,
os países menos desenvolvi-
dos, que precisam de ajuda
para bater suas metas.
Dias afirma que o grupo ca-
minha para o entendimento
de que a transferência de ren-
da, como o Bolsa Família, se-
ja uma das alternativas mais
eficazes para o combate à fo-
me e à pobreza. A discussão,
agora, é se as condicionantes,
no mesmo formato do pro-
grama brasileiro seriam apli-
cadas. Programas como os
voltados para merenda esco-
lar e qualificação profissio-
nal também estão sendo con-
siderados.
BUSCA DE ADESÃO ROBUSTA
Focado na agenda do G20, o
ministro tem dedicado boa
parte do seu tempo em
atrair apoio do maior núme-
ro possível de países para a
Aliança Global. A ideia é
que eles não só participem
com sugestões, mas que
também já haja uma adesão
robusta a partir de julho.
— Estamos trabalhando
para que os países ou fóruns
participem da fase de cons-
trução. Por que um país re-
cebe um prato feito e é obri-
gado a participar? Entre ju-
lho e novembro, queremos
ter o maior número de paí-
ses com adesão — afirmou o
ministro, ressaltando que
essa será a medida de suces-
so da Aliança .
Em busca de apoio, Wel-
lington Dias viajou para a
Etiópia ao lado do presidente
Lula na semana retrasada
com a missão de aprovar no
documento final da Assem-
bleia da União Africana a dis-
posição dos países-membros
de participar da Aliança Glo-
bal. A União Africana passou
aintegrar o G20 neste ano. Pa-
ra isso, o ministro dedicou
seus dias na África a encon-
tros bilaterais, que resultaram
no apoio de 54 países da Uni-
ão Africana e 31 da Liga Árabe.

Hungria retira veto e aprova entrada da Suécia na Otan os ataques do 11 de Setembro

de 2001 contra os EUA, com os
países participando de ações
contra a rede terrorista al-Qae-
Parlamento húngaro vota a favor após Orbán aparar arestas com Estocolmo e obter liberação da venda de caças Gripen ao país da no Afeganistão e Paquistão.
Apesar de não compartilhar
fronteiras físicas com a Rússia,
BUDAPESTE E ESTOCOLMO O projeto foi aprovado por da Suécia nos tornará mais que, após as negociações fi- se tratar-se de um “dia his- a entrada da Suécia na Otan
-
188 votos a seis — até agora, fortes e mais seguros.” nais, estava aberta uma “nova tórico” e que a Suécia “está permite um controle quase

O Parlamento da Hungria
aprovou, ontem, a entra-
da da Suécia na Organização
os húngaros vinham expres-
sando uma firme oposição à
entrada da Suécia na Otan.
Até o mês passado, os suecos
enfrentavam a oposição tam-
bém da Turquia, com quem
fase de cooperação entre a
Hungria e a Suécia”.
—Ser um membro da Otan
pronta para assumir suas res-
ponsabilidades em matéria
de segurança euroatlântica”.
completo do Mar Báltico, uma
rota naval estratégica e onde fi-
cam alguns dos portos mais
do Tratado do Atlântico Norte Pelas regras da aliança mili- Estocolmo conseguiu resolver significa que estamos prontos Pelo Artigo 5 do Tratado do importantes da Rússia: Kali-
(Otan), derrubando o último tar, a adesão de um novo país temas em aberto, obtendo o para morrer uns pelos outros. Atlântico Norte, que rege a or- ningrado e São Petersburgo.
obstáculo para a adesão do precisa ocorrer com o aval de apoio desejado. Com a Hun- É baseado no respeito mútuo. ganização, o ataque a um dos A candidatura da Suécia foi
32º membro da principal ali- todos os demais membros. gria, o sinal verde foi dado na Conduzir esse processo em membros deve ser considera- apresentada em 2022, junto
ança militar do Ocidente, li- “Agora que todos os aliados semana passada, em visita de um ritmo apropriado foi sábio do uma agressão a todos, que com a da Finlândia, já aceita
derada pelos EUA. A decisão aprovaram, a Suécia se torna- Orbán a Estocolmo, durante a — disse Orbán, na semana têm o compromisso de entrar em abril de 2023. A decisão
veio dias depois de o premier rá o 32º aliado da Otan”, es- qual os suecos concordaram passada, ao lado do premier na defesa do país agredido. Em dos dois países de romperem
Viktor Orbán se reunir com o creveu o secretário-geral da com a venda de quatro caças sueco, Ulf Kristersson. mais de sete décadas de exis- uma neutralidade histórica foi
chefe do governo sueco para aliança, Jens Stoltenberg no Gripen aos húngaros. Durante Ao comentar a aprovação tência da Otan, a única invoca- motivada pela invasão russa da
aparar as últimas diferenças. X (antigo Twitter). “A adesão o anúncio, o premier disse no X, ontem, Kristersson dis- ção do artigo aconteceu após Ucrânia em fevereiro de 2022.
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024
Saúde
ENTREVISTA
David Richo / TERAPEUTA
Autor de livro sobre relacionamentos defende que cultivar a autoestima, as amizades
e reservar tempo de qualidade (sem celular!) a dois são as chaves para uniões sólidas
Dois a dois. Para Richo, a pandemia esgarçou as relações sociais, o que colocou um peso excessivo na dependência entre os parceiros e trouxe o ressentimento para dentro do relacionamento amoroso
MARIANA ROSÁRIO
mariana.rosario@sp.oglobo.com.br
SÃO PAULO
-
O SER NOSSA ÚNICA
cuidado constan-
te e permeado
por gentilezas é
um caminho pa-
ra que as amiza-
des, namoros, casamentos e
parcerias durem, promete o
terapeuta, autor e pales-
trante David Richo. Em seu
livro “Como ser adulto nos
relacionamentos”, lançado
pela primeira vez há 20 anos
e com traduções disponí-
veis para 12 línguas — mas
só agora disponível no mer-
cado brasileiro, pela editora
Intrínseca — o autor faz um
giro sobre as agruras e con-
flitos que podem se abater
sobre a dinâmica a dois, da
raiva ao ressentimento,
além do temido fim. Isso
sem contar os episódios de
controle e dependência.
Tendo em vista os capítulos
espinhosos, mas também
prazerosos, que se estendem
nos contatos pessoais, o autor
oferece na obra valiosas dicas
para lidar melhor com os altos
e baixos: entre elas dar aten-
ção ao aqui e agora (a tal práti-
ca do mindfulness) e a aplica-
ção dos chamados “cinco As”:
atenção, afeto, apreço, aceita-
ção e admissão (algo como o
aval para sermos nós mes-
mos). Em entrevista ao GLO-
BO, o especialista que mora
em Santa Barbara, nos Esta-
dos Unidos, falou sobre os no-
vos desafios que se estendem
sobre as relações amorosas,
como usar o celular com sa-
bedoria e o papel da autoesti-
ma para o sucesso da dinâmi-
ca de partilhar a rotina.
Em 20 anos, o senhor sente
que os desafios dos casais
mudaram?
Com certeza, o senso de co-
nexão foi reduzido, há me-
nos interação face a face en-
tre as pessoas desde a Covid.
‘O PARCEIRO NÃO DEVE
FONTE DE SATISFAÇÃO’
Com a redução de outras
poucas relações fortes que tí-
nhamos, além da relação
principal, mais dependemos
desse parceiro (afetivo) que
estamos no momento. Há
mais demandas sobre aquela
pessoa em especial, porque
ele tem que começar a co-
brir, substituir, o espaço dei-
xado pelos outros que deixa-
mos de ver. Essa é a maior di-
ferença. Quando você coloca
muita demanda no outro, ele
passa a se ressentir com isso.
Há a sensação de que aquela
situação não é justa. Tam-
bém ficou mais difícil sair e
curtir com outras pessoas, e é
importante essa variedade
de interações. Tudo isso co-
loca muito estresse em uma
única pessoa de quem quere-
mos coisas demais.
No livro, o senhor fala muito
sobre autoestima. Qual o
papel dela na vida a dois?
Com uma boa autoestima,
você consegue entender que
é capaz de tomar conta de su-
as próprias necessidades. Es-
se aspecto pode justamente
aumentar sua independên-
cia como indivíduo, mas pa-
radoxalmente também ajuda
na interdependência da rela-
ção. A autoestima que você
cultiva individualmente aju-
da nos relacionamentos. Ori-
ginalmente, nos primeiros
dias e meses de vida, coloca-
mos todas as nossas necessi-
DIVULGAÇÃO
dades nas mãos de nossos
pais, claro, pois não temos
maneiras de nos manter a
sós. O significado de crescer
é, então, gradualmente assu-
mir o controle das funções
que satisfazem suas necessi-
dades, o que antes estava
com seus pais, mas agora vo-
cê é capaz de fazer por si só.
E nas relações afetivas…
Funciona da mesma ma-
neira. Temos uma necessida-
de de atenção, certo? Mas
não é preciso esperar que a
atenção venha toda do par-
ceiro, você mesmo pode se
dar atenção —e vale para seus Solteiros, principalmente,
sentimentos, necessidades, costumam dizer que há
às questões físicas. Sempre
vamos querer que o parceiro
participe (dessa dinâmica de
atenção), mas ele não deve ser
a única fonte de satisfação.
Todo mundo pode estar em
um relacionamento ou há
pessoas que não conseguem?
Existem pessoas que foram
tão magoadas ou abusadas
em sua vida pregressa
que não podem
mais confiar
em outras
pessoas. E a
habilida-
USO ALTERNATIVO
Remédio de asma combate alergia
NA WEB Medicamento conhecido foi testado para conter reações a certos alimentos
de de se relacionar está base-
ada na confiança. Alguém
que foi muito magoado e pre-
judicado na infância terá que
trabalhar isso em si mesmo
antes de confiar em mais al-
guém. Em segundo lugar, há
as pessoas tão introvertidas
que não conseguem estar ao
lado de outras pessoas por
muito tempo. E elas não seri-
am capazes de viver com ou-
tra pessoa, pois para elas seria
algo muito intrusivo. Elas
precisam de um tempo a sós
com elas mesmos. Mas isso é
um exemplo extremo.
| 19
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
PEXELS
muitas pessoas por aí que não
são capazes de se relacionar…
Para essas pessoas que cita-
mos pode ser muito difícil,
mas elas podem trabalhar ne-
las mesmas e quem sabe con-
seguir. Mas há também quem
não quer estar em relações. E
está tudo bem com isso. Exis-
te a pressão social, mas não é
realmente necessário. Você
pode ter um círculo de ami-
gos no lugar de um parceiro e
estar totalmente saudável.
Estamos desistindo das
relações fácil demais?
Parece que o fim tem ocor-
rido antes do que em outras
gerações, mas antes as mu-
lheres foram ensinadas que
não podiam se separar, mes-
mo se estivessem em situa-
ções abusivas. Não acredita-
mos mais nisso. Podemos
deixar a relação se ela for abu-
siva, ou se o parceiro, por
exemplo, passar a desenvol-
ver vícios. Mas, por outro la-
do, não precisa ser tão rápido
como tem sido (considerando
outros casos), agora temos te-
rapia, algo que não era tão
disponível para nossas avós.
Deveríamos tirar vantagem
disso, e ver se a relação volta
aos trilhos. Algumas pessoas
desistem, sim, fácil demais.
O senhor cita o budismo.
Existem lições ligadas à
religião que podem ajudar a
levar os relacionamentos?
A coisa mais importante é
dar e receber os cinco As
(atenção, afeto, apreço, acei-
tação e admissão). As coisas
não precisam ser perfeitas o
tempo todo, elas precisam
ser boas o suficiente a maior
parte do tempo. E isso se
aplica também aos nossos
pais. Eles são bons pais o su-
ficiente, não perfeitos o
tempo todo. Não existe isso.
É bom o quanto pode ser.
Recentemente, viralizou na
internet uma regra para
“Não é preciso esperar casais chamada 2-2-2. Algo
que a atenção venha como, a cada duas semanas o
casal deve ter um encontro a
toda do parceiro, você sós, a cada dois meses uma
mesmo pode se dar viagem de final de semana
atenção — e vale para juntos e a cada dois anos tirar
seus sentimentos, uma semana de férias. Com
orçamento apertado, dá para
necessidades, às criar oportunidades de
questões físicas” conexões desse tipo?
A primeira coisa é que re-
“A primeira coisa é que comendo que as pessoas sai-
recomendo que as am de suas casas, fiquem um
pouco longe de onde vivem.
pessoas saiam de suas E, uma vez no mundo lá fora,
casas, fiquem um pouco não tenham nada além do
longe de onde vivem. E, parceiro (para se distrair). Es-
uma vez lá fora, não teja realmente com o outro,
sem interrupções, interfe-
tenham nada além do rência, sem celular para ligar
parceiro (para se ou ficar olhando mensagens.
distrair). Esteja Dá para fazer isso em apenas
realmente com o outro, um dia. Vá a um parque pú-
blico, por exemplo. É possí-
sem interrupções, vel arrumar algo para fazer
interferência e sem assim que caiba em seu orça-
celular para olhar” mento. É uma experiência de
retiro, ficar juntos a sós vai
fortalecer os laços.
Dá para usar o celular como
ferramenta para unir o casal?
Ele dá a possibilidade de
checar como o outro está,
mandar uma mensagem di-
zendo “estou pensando em
você”. Só não dá pra usar esse
contato como desculpa para
ser muito carente, isso é coi-
sa de criança, não de adulto.
20 | Saúde
Vacina da dengue
chegará a 206 novas
cidades em março
Leva complementar do imunizante será de 523 mil doses,
que visam cobrir o restante da meta de 521 municípios do país
BERNARDO YONESHIGUE
bernardo.yoneshigue@oglobo.com.br
-
O Ministério da Saúde deu
início, na última sema-
na, à distribuição de uma se-
gunda remessa com 523 mil
doses da vacina da dengue
para municípios de dez esta-
dos, que foram selecionados
para a campanha de 2024.
Com as novas unidades, to-
das as 521 cidades escolhi-
das terão unidades suficien-
tes para começar o esquema
vacinal de crianças de 10 e
11 anos até a segunda sema-
na de março, diz a pasta.
As vacinas dessa nova leva
são destinadas a 206 muni-
cípios da Bahia; do Espírito
Santo; do Goiás; de Minas
Gerais; do Mato Grosso do
Sul; do Paraná; do Rio de Ja-
neiro; de Roraima; de Santa
Catarina e do Tocantins. Al-
guns locais, como a capital
fluminense, já receberam as
doses ainda na semana pas-
sada e deram início à cam-
panha contra a dengue.
A primeira remessa do
imunizante, com 712 mil
aplicações, foi enviada pelo
Ministério no último dia 8,
mas apenas para 321 cida-
des (60% de todas as seleci-
TDAH pode ter sido vantagem evolutiva de ancestrais
Características do transtorno, como impulsividade e distração, teriam ajudado antepassados nômades a encontrar alimentos
C aracterísticas comuns
ao transtorno de déficit
de atenção e hiperatividade
(TDAH), como distração
ou impulsividade, podem
ter sido uma vantagem evo-
lutiva para nossos ances-
trais, melhorando suas táti-
cas ao procurar comida. A
conclusão é de um estudo
publicado recentemente na
revista científica Procee-
dings of the Royal Society
B: Biological Sciences.
O TDAH é um transtorno
do neurodesenvolvimento
Preparar lancheira de frutas
para crianças exige cuidados
Especialista dá dicas para deixar porções mais atraentes e nutritivas
GIULIA VIDALE
giulia.ribeiro@sp.oglobo.com.br
SÃO PAULO
-
P reparar a lancheira das
crianças todo dia para ir
à escola pode ser um desafio
em termos de cardápio.
Qual fruta escolher? E ain-
da, qual é a melhor forma de
armazená-la para não estra-
gar até a hora do consumo?
Frutas como maçã, pera e
banana, quando cortadas,
escurecem rapidamente.
Por outro lado, enviá-las in-
teiras pode dificultar o con-
sumo pela criança.
Em termos de cardápio, a
nutricionista funcional in-
onadas) do Acre; da Paraí-
ba; do Rio Grande do Norte;
do Amazonas; do Mara-
nhão; de São Paulo; de Goi-
ás; da Bahia e do Mato Gros-
so do Sul, além do Distrito
Federal. Agora, com a nova
leva, as doses chegaram a to-
dos os 521 locais escolhidos,
de 16 estados e Brasília.
O público-alvo completo
da campanha neste ano en-
globa jovens de 10 até 14
anos, mas a pasta orienta co-
meçar pela vacinação da-
queles de 10 a 11 devido ao
número limitado de doses
dessas duas levas, pouco
mais de 1,2 milhão, e por es-
sas idades representarem o
maior índice de hospitaliza-
ção pela dengue na faixa.
“Desta maneira e com o
envio desta segunda remes-
sa, todos os municípios
elencados dentro da estra-
tégia receberão as doses até
a segunda semana de mar-
ço, ou antes conforme agen-
damento com o operador lo-
gístico”, diz nota técnica da
pasta sobre a distribuição.
O documento diz ainda
que “as doses destinadas pa-
ra aplicação da segunda do-
se (D2) serão enviadas pos-
teriormente considerando
com sintomas que incluem
impulsividade, desorgani-
zação e dificuldade de con-
centração. Embora as esti-
mativas de prevalência te-
nham variado, os diagnósti-
cos — inclusive de adultos
— têm aumentado em mui-
tos países, incluindo o Rei-
no Unido e o Brasil.
Agora, os pesquisadores
dizem que, embora algumas
dessas características ten-
dam a ser vistas de forma ne-
gativa, elas podem ter aju-
dado as pessoas a procurar
fantil Josiele da Luz, do Rio
Grande do Sul, explica que
não há uma fruta ideal para
mandar na lancheira das
crianças. O melhor é variar.
—Mandar sempre as mes-
mas frutas pode contribuir
para a criança limitar seu pa-
ladar. Recomendo revezar
três tipos diferentes de frutas
por semanas e, se possível,
trocar por novas opções na
semana seguinte —diz Luz.
Em relação à forma de en-
viar, ela diz que embora seja
mais fácil e prático mandar
frutas inteiras, em especial
banana e maçã, as crianças
tendem a comer mais quan-
do a fruta está picada.
o intervalo recomendado de
três meses para completar o
esquema da vacinação”.
Além disso, o envio de novas
unidades para começar a
imunização dos jovens de 12
a 14 anos também será esca-
lonado durante o ano.
Ao longo de 2024, o Mi-
nistério tem acordado com
a Takeda, farmacêutica res-
ponsável pela vacina, a
Qdenga, a entrega de 6,5
milhões de doses, quantida-
de suficiente para proteger
3,2 milhões de brasileiros.
O número não é mais alto
devido à capacidade produ-
tiva do laboratório.
Por causa desse quantita-
tivo limitado, foi escolhido
o público-alvo de 10 a 14
anos para a campanha, faixa
etária que concentra o mai-
or número de hospitaliza-
ções por dengue depois dos
idosos, que não podem ser
incluídos já que o imunizan-
te recebeu o aval da Anvisa
apenas até 60 anos.
Também pelo baixo núme-
ro de unidades, foram seleci-
onadas somente 521 cidades
para receberem a vacina. A
delimitação foi baseada em
três critérios: ter população
superior a 100 mil habitan-
novos locais para explorar
recursos alimentos.
“Se (essas características)
fossem verdadeiramente
negativas, então você pen-
saria que, ao longo do tempo
evolutivo, elas seriam sele-
cionadas e eliminadas. Nos-
sas descobertas são um dado
inicial, sugestivo de vanta-
gens em certos contextos de
escolha”, disse o primeiro
autor da pesquisa, David Ba-
rack, da Universidade da
Pensilvânia, ao jornal britâ-
nico The Guardian.
— Picar a fruta aumenta o
consumo pelas crianças. O
impacto visual, em relação à
quantidade, é menor, e a
aceitação é maior.
Por outro lado, enviar as
frutas picadas exige mais
cuidado. Algumas, como
banana, maçã e pera ten-
dem a escurecer dessa for-
ma. A boa notícia é que
existe uma dica para evitar
que isso aconteça: deixar
as frutas já picadas por 15
minutos dentro do suco de
laranja espremido na hora:
— Em geral, duas a quatro
laranjas são suficientes. O
importante é que a fruta es-
teja submersa no suco.
Campanha. Doses da Qdenga são destinadas à faixa etária entre os 10 e 14 anos, escalonada a partir dos mais jovens
tes; ter uma alta transmissão
de dengue neste ano e em
2023 e ter maior predomi-
nância do sorotipo 2 do vírus,
responsável pela maior parte
dos casos hoje no Brasil.
NO HORIZONTE
Para o ano que vem, está acor-
dado com a farmacêutica o
envio de mais 9 milhões de
doses, suficientes para prote-
ger outras 4,5 milhões de pes-
soas. Além disso, o Ministé-
rio disse que “coordena um
esforço nacional para ampli-
ar o acesso a vacinas para den-
gue”, atuando com Fiocruz e
Butantan para a produção de
imunizantes no país.
No instituto paulista, por
exemplo, já há uma vacina,
Barack e colegas analisa-
ram dados de 457 adultos que
completaram um jogo online
de coleta de alimentos no
qual tiveram que recolher o
máximo de frutas possível em
oito minutos. O número de
frutas obtidas de cada arbusto
diminuiu com o número de
vezes que foi forrageado.
Durante a tarefa, os parti-
cipantes podiam continuar
a recolher as frutas dos ar-
bustos no seu local original
ou mudar-se para um novo
local — embora isso lhes
Lanche. Frutas inteiras são uma opção, mas versão picada em geral atrai mais
Terça-feira 27.2 .2024
em dose única, na fase final
dos testes clínicos e que po-
derá ser produzida nacio-
nalmente. Segundo dados
publicados recentemente, a
eficácia da aplicação foi de
79,6% para proteger contra
a infecção ao longo de um
período de dois anos.
Aexpectativa do Butantan é
submeter o pedido de aprova-
ção para uso à Anvisa no se-
gundo semestre para, se rece-
ber o sinal verde, ela ser dispo-
nibilizada a partir de 2025.
Já Qdenga foi aprovada
pela Anvisa em março de
2023 para pessoas entre 4 e
60 anos. Nos estudos clíni-
cos, o esquema de duas do-
ses, aplicadas num interva-
lo de três meses entre elas,
custasse tempo. A equipe
também examinou os parti-
cipantes quanto a sintomas
semelhantes aos do TDAH
— embora enfatizem que is-
so não constituía um diag-
nóstico — e descobriu que
206 participantes tiveram
resultados positivos.
Os resultados mostraram
que os participantes com
pontuações mais altas na es-
cala de TDAH passavam pe-
ríodos mais curtos de tempo
em cada pedaço de arbusto
do que aqueles com pontua-
PEXELS
| OGLOBO
AFP
demonstrou uma eficácia
geral de 80,2% para evitar
contaminações, e de 90,4%
para prevenir casos graves.
Enquanto a vacinação ca-
minha devagar na rede pú-
blica, a Qdenga também po-
de ser encontrada na rede
privada, em laboratórios,
clínicas e farmácias, por va-
lores que vão de R$ 350 a R$
490 a dose, segundo levan-
tamento do GLOBO.
No entanto, a Associação
Brasileira de Clínicas de Va-
cinas (ABCVA) destaca que
algumas unidades já relatam
não ter mais a vacina em es-
toque. O motivo é a prioriza-
ção por parte da farmacêuti-
ca da campanha no Sistema
Único de Saúde (SUS).
ções mais baixas. Em outras
palavras, eles eram mais
propensos a abandonar o lo-
cal atual e procurar um no-
vo. Esses participantes tam-
bém ganharam mais pontos
no jogo do que aqueles com
pontuações mais baixas na
escala de TDAH.
De acordo com os pesqui-
sadores, esses resultados es-
tão de acordo com outros
trabalhos que sugeriam que
populações com estilos de
vida nômades que se benefi-
ciaram da exploração tendi-
am a ter genes associados ao
TDAH. Por outro lado, o no-
vo estudo tem limitações,
incluindo o fato de os sinto-
mas semelhantes aos do
TDAH terem sido baseados
em autorrelatos.
Luz explica que o ácido
cítrico presente na laranja
evita que essas frutas que oxi-
dam rapidamente após cor-
tadas escureçam. Espremer
algumas gotinhas de limão
sobre as frutas picadas e espa-
lhar bem teria o mesmo efei-
to. Mas a nutricionista tende
apreferir a laranja para as cri-
anças, pois o limão deixa o sa-
bor mais ácido, enquanto a
laranja, mais docinho.
Um último ponto a ser con-
siderado é o armazenamen-
to. Frutas picadas ficam mais
perecíveis. Para manter o sa-
bor, a textura e a qualidade da
fruta entre o preparo e a hora
do lanche, Luz recomenda
sempre usar uma lancheira
térmica e colocar junto uma
bolsa de gel congelada, para
manter a temperatura ade-
quada. Potes térmicos tam-
bém são uma boa opção. Se
possível, o ideal também é
picar o mais próximo possí-
vel do horário da aula, para
não ficar perecendo.
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024 Saúde | 21

RECEITA através do seu smartphone. Poderá ainda rece-

ber sugestões para procurar um médico que te-
DE MÉDICO nha bons resultados e que esteja apto a ajudá-lo.
Isso tudo com a mesma eficiência e segurança
que você faz hoje uma transação bancária pelo
celular”. Ou seja, indivíduos proprietários ver-
dadeiros dos seus dados de saúde e com a prer-
Ben-Hur Ferraz Neto rogativa de compartilhá-los com profissionais
Cirurgião, diretor
do Instituto do
de diferentes instituições, experiências e for-
Fígado Américas mação, conforme sua própria vontade.
Para que isso se torne realidade há absoluta
‘Mathemedics’ necessidade de organizar dados de saúde de
uma população ou indivíduo respeitando a
médicos de mais experiência e formar grupos
cada vez mais capazes de diagnosticar casos
difíceis e propor tratamentos especializados.
Não imaginávamos que outras profissões
(até então inexistentes ou muito raras) vies-
sem a ter um papel fundamental no aprimo-
ramento da forma como fazer uma melhor
medicina para o indivíduo e para a sociedade.
Hoje, contamos com engenheiros, cientis-
tas e analistas de dados,
Estamos perto de analistas de segurança
oferecer, através
de técnicas e
de informação, enge-
nheiros de computação
de pessoas (quanto maior o número, melhor),
através de sofisticadas técnicas e fórmulas ma-
temáticas, inteligência artificial, desenhos de
algoritmos e análise dos dados de saúde já exis-
tente dessa população, acima de 95% de asser-
tividade em predizer uma possível doença ou
evento médico nos próximos 12 meses.
Não existe mais a possibilidade de acharmos
que nós médicos, sozinhos, seremos capazes
de desenvolver, através de nossas pesquisas
clínicas, as melhores alternativas de tratamen-
to ou prevenção. Precisamos nos unir a estes
outros profissionais para viabilizar, muitas ve-

ou matemédicos
privacidade, mas permitindo uma análise pre-
ditiva de riscos e potenciais doenças futuras,
permitindo a prevenção e otimizando os cus-
tos na saúde para obter melhores desfechos.
fórmulas, IA, e em nuvem, especialistas zes através de um clique, análises e conclusões
análise dos dados, em inteligência artificial que levaríamos décadas para atingir.
a possibilidade de e em transformação di- Há tanto sonhamos com o aumento da ex-
doença nos gital, desenvolvedores, pectativa de vida e acabamos por celebrar, com

E m novembro de 2019 escrevi um artigo onde

descrevia o que chamava de Open Heal-
thCare Organizations ou Organizações de Saú-
de Abertas. Seria uma nova forma de armaze-
nar, analisar e utilizar dados de saúde para uma
melhor prevenção, diagnóstico, acompanha-
mento, sustentabilidade e eficácia do sistema
de saúde. Escrevi: “Você será, muito em breve,
capaz de se autoavaliar, receber elogios por es-
tar saudável ou mesmo ser orientado para a ne-
cessidade de mudança de hábitos do dia a dia
Isso chama-se análise de dados ou “data
analytics”, a essência do “data science”, a
ciência de dados em saúde.
Médicos e profissionais da área da saúde cos-
tumam se preocupar com seus pacientes, o que
está absolutamente correto e justificado. No
entanto, têm pouca visão econômica e mate-
mática da situação. Poucos são os profissionais
da área da saúde que se formaram com orienta-
ções econômicas e visões administrativas.
Tínhamos como objetivo nos unir a outros
próximos 12 meses entre tantas outras.
Há alguns dias, parti-
cipei de uma discussão sobre “data analytics”
na saúde e pude perceber que estamos che-
gando definitivamente as Open HealthCare
Organizations. Profissionais médicos, junta-
mente com os outros especialistas em dados,
descritos acima, criando soluções inovado-
ras para o melhor cuidado ao indivíduo, mui-
tas vezes antes de se tornar paciente!
Estamos próximos de oferecer a um grupo
razão, a longevidade conquistada. Daí, passa-
mos a discutir como lidar com ela, suas conse-
quências, seus custos, suas necessidades. Mas
não temos encontrado a fórmula para viabilizar
essa conquista de maneira economicamente
sustentável, com saúde e qualidade de vida.
Passamos o tempo lutando pela sobrevivência,
por mais um dia e por superar nossas doenças.
Acho que está na hora de nos unirmos todos
e desenvolvermos os “mathemedics” ou ma-
temédicos para nos salvarem!

FREEPIK

MALÚ PANDOLFO
Do La Nación
-

O s recorrentes fracassos
amorosos de Martín co-
meçaram a pesar sobre ele e o
levaram a se questionar.
Acreditando que sua forma
de abordar os namoros era a
correta e com pouca capaci-
dade de se colocar no lugar
do outro, ele sempre tropeça-
va na mesma pedra em seus
relacionamentos. Assim que
decidiu recorrer à terapia, as
sessões abordaram seus pen-
samentos negativos repetiti-
vos, resultantes de sua infle-
xibilidade ou padrão rígido
de comportamento.
Em casos como o de Mar-
tín, “o que se investiga é que
eles não toleram sentir um
alto nível de tristeza depois
de uma perda, que é o que
acontece depois de um rom-
pimento amoroso”, destaca
Marisol Barreiro, neuropsi-
cóloga clínica.
No contexto da terapia de
Martín, o primeiro passo foi
aceitar as suas emoções e pen-
samentos negativos e encon-
trar uma maneira de lidar com
eles. Ele também teve que
aprender a evitar controlar os
outros, tomando consciência
de que os comportamentos e Estratégias. Para ter mais flexibilidade, evite a autocrítica, tente não reclamar antes de começar algo; experimente novas rotinas e experiências; conheça outras culturas e combata a negatividade
pensamentos das pessoas es-
tão além do seu controle.
— Em cerca de três meses
percebi uma maior flexibilida- Flexibilidade mental sonalidade rígida tende a ter
uma perspectiva linear.
É “um padrão rígido de
Foram avaliadas evidên-
cias de melhora da flexibili-
dade por meio de treinamen-

é ferramenta para
de em mim mesmo e consegui comportamento, em que a to cognitivo, atividade física
aplicar as ferramentas que ad- pessoa orienta suas ações e experiência bilíngue. An-
quiri no dia a dia —conta. com base em experiências dersson explica que a flexibi-
Arigidez de pensamento e a privadas momentâneas, em lidade pode ser melhorada,

falta de capacidade de adapta-
ção às situações de mudança
que surgem ao longo da vida
traduzem-se em comporta-
mentos que muitas vezes coli-
dem com a realidade, contra
as crenças ou desejos dos ou-
tros. Isso pode ocorrer em di-
ferentes personalidades e em
diferentes aspectos da vida.
Ao pensar nos requisitos es-
senciais para resolver proble-
mas ou ter sucesso, a primeira
coisa que normalmente se le-
va em consideração é a inteli-
gência e o foco é colocado
mais precisamente no QI.
Porém, “na realidade, as
maiores conquistas depen-
dem da criatividade, da imagi-
nação, da curiosidade, da capa-
cidade de se colocar no lugar
do outro e da empatia. E todas
essas características estão, ba-
sicamente, ligadas à flexibili-
dade cognitiva”, alerta Alejan-
dro Guillermo Andersson,
neurologista e diretor do Insti-
tuto de Neurologia de Buenos
Aires (INBA). O especialista
explica que é uma habilidade
que permite mudar um con-
ceito ou adaptar um compor-
tamento para atingir o objeti-
vo em um ambiente novo, di-
ferente e em mudança.
—Trata-se de aprender a
enfrentar problemas
Rigidez implica em buscar soluções usando sempre a mesma
reposta, entretanto terapia e exercícios podem mudar padrões
aprender e ser capaz de ser
flexível. Isso significa uma
mudança nas estratégias pa-
ra uma tomada de decisão
ideal — acrescenta.
Segundo Andersson, a fle-
xibilidade cognitiva oferece
a possibilidade de reconhe-
cer que o que está sendo fei-
to não é útil e que mudanças
são necessárias para atingir
o objetivo desejado.
INFLUÊNCIA GENÉTICA
Segundo Marisol Barreiro,
flexibilidade mental — ou
pensamento flexível —refe-
re-se “à habilidade de fun-
ção executiva que utiliza-
mos todos os dias, que nos
ajuda a passar de uma tarefa
para outra, a utilizar a infor-
mação de diferentes formas
e a estar abertos a outros
pontos de vista”.
No dia a dia, a flexibilidade
é decisiva nos resultados de
cada ação. O psiquiatra Ri-
cardo Corral afirma que é de-
sejável que todo ser humano
tenha essa capacidade. Nes-
sa aptidão, um componente
genético e presente na per-
sonalidade coexiste com
outro que é adquirido. A ge-
nética influencia as habili-
dades cognitivas e estas in-
cluem flexibilidade.
Mas, “o ambiente e as ex-
periências de vida também
desempenham um papel
crucial na sua melhoria”,
acrescenta Andersson.
Corral enfatiza o valor de
proporcionar uma educação
que favoreça o pensamento,
a autonomia, a decisão e o ra-
ciocínio, longe de preconcei-
tos ou falsas crenças. É tam-
bém aconselhável “ter espíri-
to crítico e ter capacidade de
refletir sem tantas condi-
ções. Tudo isso é algo muito
desejável e está intimamente
ligado ao desenvolvimento
da personalidade”.
Outro fator que afeta o
grau de flexibilidade de uma
pessoa é a idade. Essa capa-
cidade “segue uma trajetó-
ria em forma de U invertido,
da infância à idade adulta,
atingindo o seu pico entre a
segunda e a terceira décadas
de vida e diminuindo na ve-
lhice”, afirma Andersson.
A moeda reversa é a infle-
xibilidade, a rigidez da men-
te. Consiste, justamente, na
dificuldade de enfrentar si-
tuações novas ou de ver as
coisas de outra perspectiva.
—O fato de ver um proble-
ma, algo desconhecido, ou
uma encruzilhada sob outras
perspectivas implica flexibi-
lidade cognitiva — descreve
Corral. No lado oposto, a per-
vez de valores livremente es-
colhidos”, detalha Barreiro.
A rigidez cognitiva, do
ponto de vista neurológico,
refere-se a uma dificuldade
em mudar padrões de pensa-
mento ou comportamento.
Embora essa falta ou es-
cassez de flexibilidade pos-
sa ocorrer em qualquer pes-
soa, é comum observá-la em
quem sofre de determina-
dos transtornos, como “pes-
soas com TOC, transtorno
de personalidade ou TEA
(transtorno do espectro do
autismo)”, diz Barreiro.
No entanto, esclarece que
a falta de flexibilidade tam-
bém pode ocorrer em pesso-
as que não apresentam ne-
nhum distúrbio subjacente.
—Ser perfeccionista, por
exemplo, ou não abrir mão
de regras e experiências vivi-
das, pode levar a comporta-
mentos limitantes —afirma.
Essa rigidez pode ser tra-
tada com terapia.
Num estudo realizado por
pesquisadores da Universida-
de de Miami, afirma-se que os
mecanismos cerebrais que
permitem a flexibilidade po-
dem ser examinados por
meio de neuroimagem e abor-
dagens comportamentais.
até certo ponto, através de
práticas e estratégias.
— Se houver predisposi-
ções genéticas, o cérebro po-
de se modificar em resposta à
experiência e à prática.
Ele também destaca a eficá-
cia do treinamento e das in-
tervenções cognitivas, bem
como dos jogos de quebra-ca-
beça, resolução de problemas
etarefas que exigem uma mu-
dança de foco para melhorar.
Além disso, Andersson
afirma que a terapia cogniti-
vo-comportamental é útil
para mudar padrões de pen-
samento e comportamento.
Se a pessoa tem consciência
da situação e percebe que po-
de limitar o seu desenvolvi-
mento pessoal ou profissio-
nal, é hora de tentar encon-
trar algum tipo de solução.
Ao adotar determinados
comportamentos e atitudes é
possível ganhar flexibilida-
de: evite a autocrítica, tente
não reclamar antes de come-
çar algo; enfrente novas roti-
nas e experiências para que o
cérebro não atue no piloto
automático; encontre tempo
para lazer, viagens e aproxi-
mação com outras culturas e
atue contra seus pensamen-
tos negativos.
22 | Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO

TERMINAL GENTILEZA PARA

Rio
ACESSAR

BRT Transbrasil encurta viagens APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Corredor reduz tempo para quem vai da Penha ao Centro, mas ainda falta informação O QR CODE

REPRODUÇÃO

À QUEIMA-ROUPA
Advogado é executado à luz
do dia com mais de dez tiros
em frente ao seu escritório
e perto da OAB, no Centro Vítima. O advogado Rodrigo Marinho Crespo: formado em 2005 pela PUC-RJ

GUITO MORETO

BRUNA MARTINS, LUIZ ERNESTO

MAGALHÃES, GIAMPAOLO
MORGADO BRAGA E VERA ARAÚJO
granderio@oglobo.com.br
-

O advogado Rodrigo Mari-

nho Crespo foi assassi-
nado no fim da tarde de on-
tem na Avenida Marechal
Câmara, no Centro. O crime
ocorreu em frente ao prédio
onde ele mantinha um es-
critório e a cerca de 80 me-
tros da entrada da sede da
Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB). Na mesma
calçada, ficam ainda o Mi-
nistério Público do Rio e a
Defensoria Pública. O ata-
que teve características de
execução: a vítima levou vá-
rios tiros após ser chamada
pelo nome por um homem
que, de acordo com teste-
munhas, estaria com o rosto
encoberto por uma touca
ninja. Segundo policiais mi-
litares, o assassino fugiu em
um Gol branco.
A perícia estima que o as-
sassino fez pelo menos 15
disparos usando uma pisto-
la calibre nove milímetros.
Onze cápsulas foram reco-
lhidas pela polícia ao lado
do corpo. No momento da
execução, o advogado esta-
va com um outro homem,
que seria seu parente. O A CENA DO CRIME
acompanhante não foi atin- Homem foi morto diante de testemunhas
“Estou gido pelos disparos.
chocado. —Estou chocado. Não te-
Não tenho nho a menor ideia do que po-
a menor de ter acontecido. Rodrigo
ideia do que começou no meu escritório,
pode ter como estagiário, há 20 anos.
acontecido. Ele era inteligente, trabalha-
Rodrigo dor, muito preparado —con-
começou tou o advogado Antonio Van-
no meu derler de Lima, pai do sócio
CENTRO
escritório, da vítima, Antonio Vander-
como ler de Lima Junior.
estagiário,
há 20 anos. ‘JOGOS LOTÉRICOS E APOSTAS’
Ele era Rodrigo Crespo era especia-
inteligente, lizado em Direito Civil e
trabalhador, Empresarial com ênfase na
muito redação de contratos e em
preparado” Direito Processual Civil.
_ Formado pela PUC-RJ em
Antonio 2005, fez especialização em
Vanderler de sua área de atuação na Fun-
Lima, pai do dação Getulio Vargas
sócio da (FGV). Numa rede social,
vítima. ele escreveu que costumava
falar sobre a “regulamenta-
“Se o crime ção do mercado brasileiro
tivesse sido de jogos lotéricos e registro
mais cedo, de apostas”. No site do Tri-
no horário bunal de Justiça, ele aparece
de maior contratado em processos di-
movimento, versos, principalmente nas
outras áreas de direito imobiliário
pessoas e do consumidor. Era sócio
poderiam ter do escritório Marinho & Li-
sido atingidas ma Advogados.
devido à — Meu filho está muito
quantidade abalado, sem condições de
de disparos” falar. Além de sócios, os dois
_ era amigos — acrescentou
Testemunha, Antonio Vanderler.
que conversou Uma testemunha locali-
a com a vítima zada pelo GLOBO contou
momentos que o advogado tinha o hábi-
antes do crime to de descer do escritório di-
Sede
do MPRJ
Santa Casa
Unidade da Aeronáutica
Escritório da vítima
Sede da OAB
ariamente por volta das 17h
para fazer um lanche e con-
versar com conhecidos. Es-
sa rotina se repetiu ontem:
— Rodrigo conversou um
pouco comigo e em seguida
foi comprar o lanche. Me-
nos de um minuto depois de
se despedir de mim, ouvi ti-
ros. Eu estava de costas para
a rua e, por instinto, me es-
condi atrás de uma pilastra
em frente à OAB. Naquele
momento, não sabia do que
se tratava. Não cheguei a ver
a execução — contou o ho-
mem, que conhecia a vítima
há alguns anos.
A testemunha percebeu
que se tratava de Rodrigo
porque, logo depois de o ban-
dido fugir no carro que lhe
dava cobertura, ouviu os gri-
tos do homem que estava
Local do assassinato
Aeroporto
Santos
Sant
Sa ntos
nt os Dumont
com a vítima. Segundo ele,
havia pouco movimento na
Avenida Marechal Câmara
no momento do crime. Após
falar com O GLOBO, esse ho-
mem também conversou
com os policiais da Delegacia
de Homicídios da Capital
(DHC) e deve ser convocado
para prestar depoimento.
— Se o crime tivesse sido
mais cedo, no horário de mai-
or movimento, outras pesso-
as poderiam ter sido atingi-
das devido à quantidade de
disparos —contou o homem.
O secretário estadual de
Segurança Pública, Victor
César Santos, disse que ainda
é cedo para apontar as linhas
de investigação do crime:
—Agora é se concentrar nas
provas técnicas, como exame
de local, impressão digital nos
Dum
D umon
um ontt
on
EDITORIA DE ARTE
estojos que foram recolhidos,
imagens de câmeras próxi-
mas e depoimentos. Qual-
quer hipótese, agora, é pre-
matura. A DHC tem essa ex-
pertise de checar rota de fuga,
trajeto de chegada etc. Tem
muita coisa a ser feita ainda.
Quanto ao carro, não sabe-
mos, ainda, se é clonado.
Em sua página no Insta-
gram, a OAB-RJ lamentou a
morte do advogado e infor-
mou que vai acompanhar a
investigação do crime. A no-
ta diz ainda que o presidente
da entidade, Luciano Ban-
deira, está em contato com o
secretário Victor César e pe-
de celeridade na apuração
do caso. No fim, prestou
condolências aos familiares
e amigos do advogado.
A perícia no local do crime
foi concluída por volta das Em pleno
20h sob os olhares de pelo Centro. Peritos
menos 30 curiosos, incluin- trabalham no
do moradores de rua que vi- local do crime:
vem naquela região. Pelo me- placas amarelas
nos cinco parentes da vítima foram colocadas
acompanharam o trabalho onde 11 cápsulas
da polícia à distância e não de pistola 9mm
quiseram dar entrevistas. foram
Agentes da DHC também recolhidas
não deram detalhes da inves-
tigação, mas já começaram a
buscar imagens de câmeras
de vigilância no entorno.
CENA CHOCANTE
O SBT obteve com exclusivi-
dade imagens do crime. O
carro em que estava o assassi-
no para em fila dupla e ele des-
ce do banco de trás. O bandi-
do dá três longos passos e,
bem perto da vítima, faz os
primeiros disparos. Outras
pessoas que estavam próxi-
mas correm. Ele continua a
atirar com o advogado já caído
na calçada. Em seguida, volta
para o carro, que continuava
com a porta aberta. Toda a
ação demorou 14 segundos.
A região onde Rodrigo foi
assassinado registrou um au-
mento no número de homi-
cídios no ano passado, em
comparação ao mesmo perí-
odo de 2022. De acordo com
dados do Instituto de Segu-
rança Pública (ISP), foram
notificadas 25 mortes em
2023 em comparação aos 21
homicídios do ano anterior
na região patrulhada por po-
liciais do 1º BPM (Praça da
Harmonia). Este ano, não fo-
ram registrados homicídios
em janeiro, último mês di-
vulgado pelo ISP.
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024 Rio | 23

Tempo
TEMPERATURA SOL E LUA Nasc. 5H47 Cheia Ming. Nova Cresc.
> 40º 37º/40º 33º/36º 29º/32º 12º/14º
25º/28º 20º/24º 16º/19º 12º/15º < 12º Poente 18H23 26/02 03/03 10/03 17/03

PREVISÃO Sol Nublado Nublado Pancadas Nublado Chuvas e Geada MARÉ Hora BAIXA 0h41m 5h51m BAIXA 13h03m 18h43m
parcialm. de chuva c/ chuvas trovoadas Altura 0,5m ALTA 1,1m 0,3m ALTA 1,1m

31°
Macapá Fortaleza
BRASIL RIO Porciúncula
18° Previsão
ZONA
SUL
ZONA
NORTE
ZONA
OESTE
SENSAÇÃO
TÉRMICA/RIO
PROBABILIDADE
DE CHUVA
Boa Vista 24°/ 30° 23°/ 32° Situação de perigo no RS, Dia de sol, temperaturas bem Bom Jesus do 32°
25°/ 33° Natal
temporais em SC, no AM e na altas e pancadas mais isoladas Itabapoana 19° HOJE 24°/33° 23°/35° 23°/35° 23°/36° Alta
São Luís 24°/ 29°
Belém costa norte do NE. Alerta no no sul e litoral do RJ. Sem 34°
AMANHÃ 25°/36° 24°/38° 24°/38° 25°/38° Alta
Manaus 23°/ 28° João Itaperuna NORTE São Francisco 33°
24°/ 29°
23°/ 29° MA, PI, RN e CE. Pancadas alerta na capital. O mar pode 19°
de Itabapoana 21°
Pessoa Santo Antônio 33° QUINTA 25°/32° 24°/34° 24°/34° 24°/35° Alta
24°/ 29° irregulares em SP, MS e RJ e ficar agitado. Não chove no de Pádua 19°
Porto Velho
24°/ 30°
Teresina Recife ar seco em MG e GO. centro-norte e interior do Rio. 34° São João 33° SEXTA 24°/29° 23°/31° 23°/31° 23°/31° Alta
22°/ 28° São Fidélis 34° da Barra 20°
25°/ 30° 20° Campos
Rio Branco Palmas Maceió
21° SÁBADO 23°/28° 22°/30° 22°/30° 22°/31° Alta
24°/ 32° Santa Maria 29°
23°/ 28° 25°/ 30°
32° Paraíba SERRANA Madalena 17° DOMINGO 24°/28° 23°/30° 23°/30° 24°/31° Alta
Brasília Salvador Aracaju 18° do Sul Nova 25°
Cuiabá Friburgo 13°
25°/ 34° 19°/ 28° 26°/ 28° 25°/ 31° 28° Visconde 32°
29°
Teresópolis
SEGUNDA 24°/29° 23°/31° 23°/31° 23°/32° Alta
Valença 34°
Vitória 15° de Mauá 15° Casimiro 33° Macaé
Campo Grande 20° 21°
22°/ 33° 33° Volta de Abreu 22°
24°/ 33° 33° 20° Redonda Barra 35° Cachoeiras Rio das 34°
Belo Horizonte Resende Petrópolis de Macacu
20° do Piraí 21° Ostras 21°
19°/ 33° 33° Barra 28° 31° Silva Jardim
Goiânia
20° Mansa 35° Duque 14° 32° 30° Praias - Impróprias: Barra de Ondas - Ondas: 0,5 metros. Ventos - Rajadas de vento
20°/ 31° Rio de Janeiro SUL 20° Búzios
23°/ 35° 25° de Caxias LAGOS 23° 21° Guaratiba, Botafogo, Ondulação de sudeste. variando entre 40 a 50 km/h.
32°
33° Araruama
30° Flamengo e Leblon. Melhores locais: Arpoador,
São Paulo Mangaratiba 35° Rio de 22° Cabo Frio
23°
23°
Janeiro Niterói
Maricá Saquarema 21° Macumba e Prainha.
20°/ 32° Angra 33°
33° 32° 31°
dos Reis METROPOLITANA 25°
Porto Alegre Florianópolis Curitiba 23° 22° 22° informações: Inea informações: Ricosurf
32°
23°/ 27° 23°/ 30° 19°/ 30° Paraty
22°

União repassa Leopoldina para a prefeitura

Eduardo Paes diz que prédio da antiga estação terá escolas técnicas federais, além de, na vizinhança, conjunto habitacional
e a Cidade do Samba 2. No Santo Cristo, o governo federal também cedeu imóvel ocupado para a União por Moradia Popular

HERMES DE PAULA
CARMÉLIO DIAS, LUIZ ERNESTO O imóvel histórico, inaugu-
MAGALHÃES, RENAN MONTEIRO
E ALICE CRAVO
rado em dezembro de 1926 e
granderio@oglobo.com.br que há anos está fechado, foi
-
um dos primeiros a entrar no

A assinatura de um acordo
de cooperação técnica
entre o município do Rio e a
Programa de Democratiza-
ção de Imóveis da União, do
governo federal. Desde 2013,
União, ontem, em cerimô- o Ministério Público Federal
nia no Palácio do Planalto, move uma ação contra a Su-
em Brasília, garante que a perintendência do Patrimô-
prefeitura assuma a Estação nio da União (SPU) exigindo
de Trens Barão de Mauá, a execução de obras de recu-
mais conhecida como Esta- peração do espaço.
ção Leopoldina, na Avenida
Francisco Bicalho, na Praça INTERESSE SOCIAL
da Bandeira. De acordo com Entre as quatro entregas fei-
o prefeito Eduardo Paes, a tas na cerimônia de ontem,
gare — que é tombada como duas foram para o Rio. Além
patrimônio histórico e está da Leopoldina, o endereço lo-
há anos sem uso — será re- calizado na Rua Sara, no bair-
formada para abrigar esco- ro do Santo Cristo, onde des-
las técnicas federais. de 2016 vivem 28 famílias na
Pelo projeto, a área total da ocupação Vito Giannotti, re-
antiga estação, com 114 mil cebeu “autorização para plei-
metros quadrados, ganhará tear o imóvel para provisão
ainda um centro de conven- habitacional de interesse so-
ções, a ser construído em par- cial por meio do programa
ceria com a iniciativa privada, Minha Casa, Minha Vida -
um conjunto habitacional fi- Entidades”. A autorização foi
nanciado pelo programa Mi- Patrimônio. Acordo de cooperação técnica assinado em Brasília transferiu da União para a prefeitura o prédio histórico e área de 114 mil metros quadrados dada à União por Moradia Po-
nha Casa, Minha Vida e a Ci- REPRODUÇÃO
pular (UMP) do Rio. O docu-
dade do Samba 2, destinada BO antecipou que os planos mento, na prática, permitirá à
às escolas da Série Ouro . do município para o prédio, entidade a legalização da ocu-
— Na prática, nós passa- de acordo com projeto exe- pação e a obtenção de financi-
mos a ter responsabilidade cutivo, previam terraço e jar- amento para obras no local.
sobre aquele espaço. Já dins na antiga estação e que —Um dos maiores proble-
apresentamos, no ano pas- as obras, quando iniciadas, mas do mundo é a questão da
sado, um projeto em que se teriam duração de dois anos. moradia, então essa assina-
previa a reforma do prédio A estimativa da prefeitura é tura hoje é uma conquista, o
da estação. A ideia é que ele que parte do terreno tem po- fim de um ciclo que começou
seja ocupado, por exemplo, tencial para receber até 560 quando a ocupação foi feita.
por escolas técnicas do go- apartamentos em 35 blocos Ela vai servir de parâmetro
verno federal — disse Paes residenciais. para outras lutas, uma forma
que, ao lado do presidente — A gente ficou muito fe- de mostrar que a luta é justa e
Luiz Inácio Lula da Silva, as- liz com a notícia (da Cidade viável —comemorou Marce-
sinou o documento com a do Samba 2). Certamente lo Braga Edmundo, que assi-
ministra Esther Dweck, da vai impactar de forma posi- nou o documento como re-
Gestão e da Inovação em tiva o espetáculo, vai ser um presentante da UMP.
Serviços Públicos (MGI). passo muito grande ter um O prédio era alvo de ação
espaço com condições dig- de reintegração de posse
PRAZOS E VALORES A DEFINIR nas para os profissionais — movida pelo INSS em 2017,
A prefeitura não deu deta- disse Wallace Palhares, pre- um ano após a ocupação. A
lhes, como prazos e valores sidente da LigaRJ, responsá- ação, no entanto, foi extin-
dos projetos que pretende vel pelas agremiações da ta, em 19 de janeiro, pela 23ª
implementar na área da esta- Série Ouro que desfilam na Vara Federal do Rio, após
ção. Em dezembro, O GLO- Projeto. Espaço abrigará escolas técnicas, condomínio popular, centro de convenções e Cidade do Samba para a Série Ouro Marquês de Sapucaí. desistência do instituto.

Minha Casa, Minha Vida terá 600 unidades na Mangueira ral. O que aconteceu no pas-
sado foi o equívoco de colo-
car as pessoas em lugares
mais distantes e depois le-
Contratos serão assinados mês que vem. Outro projeto que prevê mais 400 apartamentos no Itanhangá deve sair do papel este ano var a urbanização. A deter-
minação da prefeitura é
buscar terrenos nas áreas
FELIPE GRINBERG
felipe.grinberg@infoglobo.com.br
um deles, com 272 unidades, nha Vida, com 400 unidades, ele, os primeiros imóveis serão cha Miranda, Colégio, Ca- centrais onde já há escolas,
na Avenida Visconde de Nite- também está previsto para entregues já no ano que vem. chambi, Inhaúma, Del Casti- hospitais, saneamento e
-
rói, ficava o antigo prédio do ter início este ano no Ita- Todas as unidades são para a lho e Engenho Novo). Um transporte — disse Correa.

A pós quatro anos de atraso,

a construção de 600 uni-
dades do programa Minha
IBGE, implodido em 2018.
As outras áreas estão a poucos
metros na mesma via.
nhangá, na Zona Oeste.
O secretário municipal de
Habitação, Patrick Correa de
chamada faixa 1 — famílias
com renda até dois salários
mínimos. Quem recebe Bolsa
edital será publicado esta se-
mana para convocar empre-
sas interessadas em fazer as
As obras das mil unidades
na Mangueira e no Itanhan-
gá devem custar R$ 170 mi-
Casa, Minha Vida, do gover- A prefeitura prevê que os Oliveira Leite, disse que 4,5 Família fica isento do paga- obras. A escolha dos terrenos lhões. Uma novidade nas
no federal, no bairro da Man- contratos sejam assinados mil famílias recebem hoje o mento do financiamento. seguiu a opção por áreas com construções será a instalação
gueira, na Zona Norte do Rio, em março. As obras devem Auxílio Habitacional Tempo- A prefeitura tem projeto mais infraestrutura. de painéis de geração de
deve começar ainda em 2024. começar de imediato e ter- rário, de R$ 400 mensais. Par- para erguer outros 466 apar- —Os terrenos foram apro- energia solar no telhado, que
Os imóveis serão erguidos em minar em dois anos. Outro te delas deve ser beneficiada tamentos na Gamboa, no vados com nota máxima pe- podem reduzir em até 60% a
terrenos da prefeitura. Em projeto do Minha Casa, Mi- com as construções. Segundo Centro e na Zona Norte (Ro- la Caixa Econômica Fede- conta de luz dos moradores.
24 | Rio Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO

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tocador de obras, mas onde proliferam atualmente no país.

Político Colorama
Em 25 de fevereiro de 2024:
“É passar uma borracha no
passado. É buscar maneiras
de nós vivermos em paz. É não
continuarmos
sobressaltados. Há
conciliação. Nós já anistiamos
no passado quem fez
barbaridade no Brasil”.
Em 7 de setembro de 2021:
“Ou esse ministro se enquadra
ou ele pede para sair. Não se
pode admitir que uma pessoa
apenas, um homem apenas,
turve a nossa liberdade. Dizer
a esse ministro que ele tem
tempo ainda para se redimir,
tem tempo ainda de arquivar
seus inquéritos. Sai, Alexandre
de Moraes”.
Espaçadas no tempo, as
declarações do ex-presidente
Jair Bolsonaro foram feitas na
mesma avenida — a Paulista.
Não há como não se lembrar e
glosar aquela propaganda de
xampu: sua voz continua a
mesma, mas o seu conteúdo...
quanta diferença.
ANÁNDER KLEINMAN
RIO
Ideia nova
O editorial “PEC dos Militares
representa passo na direção
correta” (26 de fevereiro)
parece sugerir que a política é
uma atividade que demanda
dedicação exclusiva exemplar.
Assim, funcionários públicos,
tanto civis quanto militares,
que se candidatarem a cargos
eletivos deveriam, por
cautela,
desincompatibilizar-se,
passando imediatamente à
aposentadoria proporcional.
É uma ideia nova que
mereceria ser melhor
analisada.
RENATO VILHENA DE ARAUJO
RIO
Mestres fugitivos estão as obras? E o dinheiro? O HELENA CARDOSO Temeridade Comlurb responde
Rio historicamente escolhe mal RIO
Quando a polícia prendeu os dois seus líderes e teve dirigentes no Em cidades violentas como São A Comlurb repudia com
habilidosos doleiros que lavaram mínimo lamentáveis, além de Paulo e Rio, onde os celulares veemência o teor da carta
a fortuna que o ex-governador Witzel, figuras como o casal Resgate valioso são cada vez mais alvo de "Coleta de Lixo" (25 de fevereiro),
Sérgio Cabral arrecadou em seus Garotinho, Pezão, Moreira Franco ladrões, devido às suas assinada por Luiz Carlos Macedo.
infinitos esquemas de propina, e Sérgio Cabral, campeão das No momento em que se ferramentas financeiras, penso A Companhia utiliza os mesmos
além de prisão e multa, os maracutaias. Vem aí uma eleição discute como aproveitar o ser uma temeridade a Apple tipos de veículos e equipamentos
lavadores profissionais tiveram e já despontam só nomes espaço do Sambódromo fora obrigar seus clientes a ter, e a mesma estrutura de limpeza
que dar palestras e ensinar lamentáveis. A sina, a verdadeira do carnaval, caberia colocar mesmo sem querer ou usar, em todas as regiões da cidade.
(quase) tudo o que sabiam para maldição que recai sobre os em pauta o resgate do objetivo uma página denominada Não há privilégio da Zona Sul em
os agentes. Quando (se) a polícia fluminenses, trará mais do original do projeto. A Biblioteca, que expõe relação ao Centro e às zonas
prender os dois fugitivos de mesmo, preparemo-nos para edificação fazia parte do desnecessariamente e sem Norte e Oeste. O Centro conta
Mossoró, pode repetir a dose. mais escândalos e atraso. programa educacional autorização prévia a vida dos com limpeza três vezes ao dia,
Afinal, mesmo com helicópteros, ANTONIO JOSÉ P. DE CARVALHO revolucionário do governo usuários, facilitando o trabalho com serviços de varrição,
drones e cães farejadores, deixar RIO Leonel Brizola. Além de sediar dos marginais que antigamente remoção de resíduos e lavagem
500 policiais batendo cabeça os desfiles do carnaval, a eram denominados das ruas com água de reúso.
não é para qualquer um. arquitetura foi elaborada de romanticamente de “amigos do Especificamente em relação à
FLAVIUS FIGUEIREDO
Sistema da mãe joana forma a abrigar salas de aula alheio”. Mas hoje matam em Quarta-Feira de Cinzas, as vias
BARRA DO PIRAÍ, RJ com capacidade para cerca de troca de um simples aparelho foram lavadas pela manhã e na
Grande parte da população dez mil alunos da rede pública, telefônico! parte da tarde, inclusive com
desconhece a existência do possível também de serem CHICO PELTIER uso de essência de eucalipto.
Professor Gentileza Sistema Nacional de ocupadas por centros de RIO Vale ressaltar que os blocos
Informações sobre saúde ou oficinas culturais. O legalizados recebem todo o apoio
Após a matéria no GLOBO Saneamento (Snis). É um Sambódromo foi objeto de e estrutura da prefeitura, no
sobre o profeta Gentileza, com “planilhão” mantido pelo reforma que desconstruiu o Meu Centro querido entanto, na área do Centro, há
sua vida e o legado que deixou governo federal e aberto para projeto original por ocasião da muitos blocos irregulares, sem
para a família, fico pensando consulta pública. Os dados realização da Olimpíada, em Nasci na Beneficência local e horário definidos para o
que seria muito importante que armazenados no Snis são detrimento de seu Portuguesa, na Glória, e fui desfile. Apesar de a Comlurb
os motoristas de ônibus do Rio enviados anualmente pelos aproveitamento para fins morar no Bairro de Fátima. fazer a limpeza mesmo após a
sejam treinados por um dos municípios e pelas empresas educacionais, como havia Anos depois, meus pais se passagem desses blocos, o fato
herdeiros. Afinal “Gentileza estatais ou privadas sido efetivado. mudaram para Santa Teresa — de eles não terem organização
gera Gentileza”! prestadoras de serviços de PATRICIA PORTO DA SILVA Rua Monte Alegre —, para oficial pode algumas vezes
MARGARIDA CELANDRONI KHAUAJA saneamento. O governo recebe RIO uma casa de onde se prejudicar o início da limpeza em
RIO as informações e as descortinava parte do centro alguns trechos.
disponibiliza para a sociedade, da cidade (Central do Brasil, Quanto ao entulho e aos bens
mas não as audita! Galpão sobre rodas Campo de Santana e Morro da inservíveis descartados pelos
Sina fluminense Hipoteticamente falando, se Providência). Migramos para moradores durante as fortes
uma concessionária, Na Avenida Pepê, em frente ao Copacabana em 1956. chuvas de janeiro, a companhia
O nosso governador é a descompromissada com prédio número 1.280, quatro Com essas raízes, nunca atuou com força-tarefa de cerca
ineficiência personificada, um valores éticos informasse ao Kombis pick-up estão deixei de frequentar e gostar de quatro mil homens, que fez a
homem que está no cargo Snis que uma determinada estacionadas há meses, da região central da cidade, remoção com 200 veículos e
apenas porque compunha chapa cidade possui 30% do esgoto servindo para guardar onde meu pai tinha equipamentos, em todas as áreas
com um sujeito delirante e tratado, mas não tratasse um barracas e cadeiras a serem consultório. Formado em atingidas, principalmente na Zona
ególatra. Desde que foi litro sequer, a fraude seria alugados aos frequentadores Arquitetura, passei a Norte, a região mais afetada.
empossado, após Witzel ser simplesmente registrada no da Praia da Barra da Tijuca. defender o retorno dos Já em relação à carta “Alô,
varrido para o lixo da História sistema. Isso é normal ou será que a residentes para lá, onde Comlurb” (26 de fevereiro), de
política, vindo nem sei de onde, Os dados são autodeclarados e prefeitura ainda não tomou existe, até hoje, logradouros Leila Xavier Marques, a
sem o menor respeito ou amor depende totalmente da ciência desse abuso que vai pitorescos apesar da Companhia informa que a coleta
ao Rio, o homem não fez nada, honestidade de quem fornece a contra as leis de posturas do degradação dos imóveis de lixo na Travessa Santa
absolutamente nada relevante. informação. Não seria surpresa, município que visam originários. Leocádia é feita às segundas, às
Sua história pública tem como portanto, se alguém viesse a promover equilíbrio no Será que conseguirei ver essa quartas e às sextas-feiras, a
cena mais vistosa a fuga com a registrar dados mascarados no espaço urbano através da planejada revitalização partir das 8h, e está regular.
mochila às costas carregada Snis, com o intuito de ganhar disciplina? tornar-se realidade ? ANA REBOUÇAS, COORDENADORA
sabe-se lá com quanto. A venda mais dinheiro em um dos vários MARCOS COUTINHO LUIZ OTAVIO LINS DE SOUZA DE COMUNICAÇÃO
da Cedae o cacifou para ser um leilões de saneamento que RIO RIO INTEGRADA/COMLURB

APLICATIVO O GLOBO PODCAST HÁ 50 ANOS

Síria entrega lista de prisioneiros israelenses
O app oferece Como navegar Ao Ponto 27/2/1974
funções que A tela inicial Em Editorias, Publicado a partir
facilitam a navega- destaca o leitor das 6h, de segunda a
ção, além de unir todo o conteúdo consegue sexta, com análises e
o conteúdo on-line e on-line que pode acessar suas informações sobre o
impresso. Baixe ser atualizado seções preferidas principal tema do dia
agora ou atualize o
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secretário de Estado norte-americano, Henry
onde treinar urbanas e diversas Kissinger, chega hoje a Israel, onde deve entregar
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O GLOBO com a Smart Fit, assinante de roupas jovem, urbana e diversa. que Israel exige como pré-condição para o início
tem R$ 11,90 de desconto na mensa- Assinante descobre os produtos das negociações sobre separação de forças sírias
lidade do Plano Black, durante 12 com 20% OFF nas compras on-line, e israelenses, teria sido entregue a Kissinger
meses. O benefício inclui um treino mediante a utilização do código de ontem, em Damasco, pelo presidente sírio, Hafez
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2 . 3 . 4 . 5 . 11 . 12 . 16 . 17 . 18 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25. O leitor deve checar os resultados também em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024 | 25

ATUAL CAMPEÃ DO MUNDO PARA

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Argentina anuncia dois amistosos APONTE

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NA WEB Equipe de Lionel Scaloni vai enfrentar Equador e Guatemala O QR CODE

CARLOS EDUARDO
LUCAS MERÇON/FLUMINENSE
Isoladamente, os dois gols que decidiram co, permite esperar que o time saia de trás
o Fla-Flu dão a impressão de um domínio com mais segurança.
MANSUR absoluto de um Flamengo em sua melhor
versão. Na verdade, até que Pedro abrisse o
Já o Fluminense se volta para a Recopa,
quinta-feira. E numa decisão em que preci-
placar, o clássico era equilibrado. Num fu- sará fazer gols, há um traço do time que me-
tebol cada vez mais marcado por pressões rece atenção: quando se organiza para ata-
contra a saída de bola dos adversários, ru- car, tem faltado ao time agressividade, infil-
@carlosemansur bro-negros e tricolores tiveram difi- trações em profundidade, transformar vo-
esporteglb@oglobo.com.br
culdades para sair jogando. No fim, lume e posse em chances claras.
este é mais um daqueles jogos muito Não é novidade que o Fluminense de Diniz
Dois gols esperados e que, por força de um ca-
lendário congestionado, terminam
não hesita em envolver muitos homens em
sua saída de bola, recuando até seus meias pa-

de exceção
deixando tantas interrogações quanto ra os primeiros passes. Muito bem treinado,
conclusões. O quanto pesou o desgaste de encontra boas combinações em passes curtos
um Fluminense que jogara quinta-feira na perto de sua área, ou mesmo perto do gol de

N
o primeiro gol, foram 50 segun-
dos em que a bola circulou pelos
pés de jogadores do Flamengo.
Algumas inversões de bola,
atração da pressão do Flumi-
nense, até que Ayrton Lucas achou Arrasca-
eta no espaço entre meias e defensores do
tricolor. O lance termina no gol de Pedro.
O segundo, ainda que tenha encontrado
um Fluminense já desordenado e sem tanto
vigor, foi uma pintura. É o tipo de jogada que
explica por que os padrões para avaliar o Fla-
mengo atual são tão altos. Quando se juntam
para jogar De La Cruz, Arrascaeta e Pedro,
por exemplo, é possível ver nascerem combi-
nações como a do gol de Cebolinha.
altitude? O quanto pesaram as trocas for-
çadas de Diniz no intervalo, descaracteri-
zando a linha defensiva?
Da justa vitória que praticamente lhe deu a
Taça Guanabara, o Flamengo leva um refor-
ço numa estatística bem chamativa. O time
titular sofreu apenas um gol no ano, num
amistoso com o Orlando City. Evoluiu em
sua pressão ofensiva — que ainda tem mo-
mentos de oscilação —e, quando precisa de-
fender mais atrás, também parece mais con-
sistente com De La Cruz ao lado de Pulgar.
Ocorre que apenas o decorrer da temporada
irá, de fato, colocar tais impressões à prova.
Porque a amostragem ainda é pequena. O
Flamengo não pareceu tão seguro ao perder
a bola contra o Vasco, permitiu pouco ao Bo-
Gringos. Arrascaeta e Arias em ação no clássico
tafogo e ao Fluminense, e nos demais jogos
enfrentou rivais muito inferiores.
Já as duas belas jogadas que resultaram em
gols foram exceções num jogo em que o ti-
me teve problemas para sair de trás. Recor-
reu a muitos chutes longos de Rossi. Não há
pecado em atrair a pressão de um rival e ex-
plorar uma defesa adiantada, com homens
velozes correndo às costas da marcação ri-
val. Mas raramente o Flamengo obteve van-
tagem nestes lances. E, a qualidade do elen-
Fábio. No entanto, uma vez superada a pres-
são do adversário, restam poucas opções de
jogadores mais avançados para dar continui-
dade à jogada. É comum o time cadenciar o
jogo e reiniciar a construção, permitindo ao
adversário se reordenar para defender.
A partir daí, enfrenta times já posicionados
para defender atrás, bloqueando a área. E,
nos poucos jogos dos titulares neste ano, o tri-
color tem trocado muitos passes e infiltrado
pouco. No Fla-Flu, a ausência de Keno não
ajudou neste aspecto. Não seria surpresa ver
John Kennedy se juntar a Cano no centro do
ataque, repetindo uma formação usada em
algumas fases da última Libertadores.
Fla e Flu levaram observações do jogo. A
temporada de ambos começa agora.

GILVAN DE SOUZA/FLAMENGO
MENSAGEM SILÊNCIO KLOPP
Tite tem o direito de não querer falar sobre Também faltou manifestação aos atletas, É fato que a Copa da Liga é o troféu de menos
Daniel Alves. Mas é justo notar que perso- no primeiro fim de semana de futebol após status na Inglaterra. Mas ver o Liverpool, nas
nagens como ele, treinador do Flamengo e a tentativa de homicídio praticada contra circunstâncias atuais, ganhar o título e se
ex-técnico da seleção, são influenciadores. jogadores do Fortaleza. Todos eles são víti- manter líder da Premier League, com algu-
Seria construtivo dizer à sociedade que, mas em potencial e não os culpados pela mas atuações de imensa imposição, impres-
embora Tite não tivesse elementos, a Justi- escalada de violência. Mas diante da omis- siona. Sua lista atual de desfalques permiti-
ça teve todos. E condenou Daniel. E mais: são de autoridades, são a esperança de um ria montar um time de elite do futebol euro-
reconhecer que o futebol, que tanto dialo- posicionamento contundente diante do peu. E mesmo sem Salah, Jota, Alexander-
ga com jovens, precisa passar mensagens flerte com a tragédia. Seja por solidarieda- Arnold e outros, o time de Klopp mantém
mais claras sobre violência de gênero. de com colegas, seja por autoproteção. sua identidade inconfundível.

O perigo que vem pelo alto — e na reta final

Levantamento detecta padrão em gols sofridos pelo Botafogo após os 40 minutos do segundo tempo e indica
ponto de atenção para primeira decisão do ano, contra o Aurora-BOL, amanhã, na Libertadores

ANDRÉ ZAJDENWEBER
andre.zajdenweber@oglobo.com.br
do segundo tempo uma vez
HORA DA VERDADE Gols nos minutos finais preocupam o Botafogo no ano passado, num gol de
-
Léo Pereira em derrota para

O Botafogo terá amanhã o Flamengo por 1 a 0.

AURORA X BOTAFOGO FLAMENGO X BOTAFOGO BOTAFOGO X NOVA IGUAÇU CORITIBA X BOTAFOGO

sua primeira decisão em A discussão sobre a parte

2024. Diante de momento
de grande pressão, a equipe
vai tentar superar um pro-
blema que perdura desde a
última temporada: os gols
sofridos nos minutos finais.
Desde a fatídica derrota
por 4 a 3 para o Palmeiras
no Brasileirão do ano pas-
sado, o time já sofreu oito
gols após os 40 minutos do
segundo tempo. Na sema-
na passada, a defesa voltou
a ser vazada no fim da par-
tida, no empate em 1 a 1
com o Aurora-BOL — váli-
do pela ida do confronto
que vale a sobrevivência na
Libertadores.
Os números ajudam a
entender as dificuldades
do Botafogo nos momen-
tos finais da partida. Dos
oito gols sofridos, seis fo-
ram através de jogadas aé-
reas, sendo quatro de ca-
beça. Apenas contra o Au-
rora-BOL e Bragantino, o
alvinegro não foi vazado
após um cruzamento na
segunda trave.
A desatenção alvinegra
parece se sobressair em re-
lação à parte tática. Tiran-
do um gol do Palmeiras,
marcado por Flaco López,
em que tinha a mesma
quantidade de jogadores, o
Botafogo estava em superi-
oridade numérica na área
em relação ao adversário
em todas as outras vezes
que foi vazado após os 40
Arrascaeta
Darío Gatito
Torrico 3
1 3 mental do time passou a
3
Léo
Pereira
Carlinhos 2 Edu 2 Natanael ser corriqueira diante de
1
2 cenas que ficam se repe-
Darío Torrico
2 Natanael tindo. Entretanto, a ques-
Jairzinho
Ayrton Moreno tão psicológica dos joga-
Lucas 1 1
Ronaldo dores pode não ser a única
explicação para o que vem
1 1
acontecendo com o clube.
Torríco recebe o passe de Jairzinho já 1 Arrascaeta cobra escanteio rasteiro para 1 Ronaldo cobra falta na segunda trave Moreno dá um toque em profundidade
dentro da área a entrada da área para o lado direito da área Com o confronto contra o
2 Ele conduz a bola na direção da linha 2 Ayrton Lucas recebe e cruza na 2 Carlinhos completa no canto direito
de Gatito
2 Natanael cruza rasteiro para a Aurora batendo na porta, o
de fundo segunda trave
segunda trave
Botafogo vai para o “tudo ou
3 Chuta cruzado, de esquerda, no 3 Gatito vai em direção à bola, mas não 3 O atacante Edu completa sozinho para
canto esquerdo de Gatito alcança. Léo Pereira completa de cabeça o gol nada” na Libertadores com
para o gol
um treinador interino. Fá-
BOTAFOGO X SANTOS BRAGANTINO X BOTAFOGO BOTAFOGO X PALMEIRAS BOTAFOGO X PALMEIRAS bio Matias, auxiliar técnico
fixo do clube, vai estar nova-
mente à beira do campo na
4Messias
Sorriso 2
Murilo Gómez
2 3 Flaco López grande decisão — ele já co-
Soteldo 2 mandou o time na vitória
3 3 Borbas
Mendoza
Endrick sobre o Audax por 2 a 0, no
2 1
último sábado. Tiago Nunes
Soteldo 1 foi demitido na semana pas-
1Soteldo
1 Raphael sada, após o empate com o
Jadson Veiga
Aurora em Cochabamba.
11 Soteldo cobra falta rasteira em direção à 1 Jadson faz o passe em direção à 1 Raphael Veiga cobra falta na segunda trave 1 Endrick cruza a bola na segunda trave
Apesar do momento decisi-
entrada da área linha de fundo vo para a temporada, a dire-
2 Mendoza recebe e rola a bola para o lado
esquerdo
2 Sorriso cruza para o meio da área 2 Murilo completa no canto esquerdo do
goleiro
2 Gustavo Gómez escora de cabeça toria alvinegra não quer
3 Soteldo conduz a bola até a linha de
apressar o processo de esco-
3 O atacante Borbas cabeceia cruzado, no 3 Também de cabeça, Flaco López
fundo e cruza para a segunda trave canto do direito do goleiro completa para o gol lha do novo comandante.
4 Messias completa de cabeça no canto Botafogo e Aurora se en-
esquerdo de Lucas Perri
EDITORIA DE ARTE frentam amanhã, às 21h30,
no Estádio Nilton Santos.
do segundo tempo. petição no topo da tabela. partidas — contra Nova tuguesa, em São Januário. No jogo de ida, as duas equi-
Os gols sofridos na reta O clube de General Severi- Iguaçu e Flamengo —, o A média de gols sofridos pes ficaram no empate em 1
final dos jogos foram fator ano ficou na quinta posi- Botafogo perdeu três pon- após os 40 minutos da etapa a 1. Quem sair vitorioso nos
determinante na perda do ção e sem a vaga direta pa- tos que o colocariam na zo- final —desde a derrota para 90 minutos avança na com-
título do Brasileiro de ra a fase de grupos da Li- na de classificação das se- o Palmeiras —é de quase um petição. Em caso de igualda-
2023. No total, o alvinegro bertadores. mifinais do Campeonato a cada duas partidas. São oi- de no placar, a classificação
deixou de conquistar nove Carioca. Para ficar no G4 da to em 20 jogos, em um inter- será decidida na disputa de
pontos com as cinco vezes DIFICULDADE NO CARIOCA Taça Guanabara, o alvine- valo de menos de quatro pênaltis. O vencedor en-
em que foi vazado após os O roteiro do ano passado gro precisa vencer o clássi- meses. frentará quem sair do duelo
40 minutos da segunda parece se repetir neste iní- co contra o Fluminense e Antes do início da sequên- entre Bragantino e Águilas-
etapa — o que seria sufici- cio de temporada. Com torcer por um tropeço do cia, o Botafogo só havia sido COL, que empataram em 0
ente para terminar a com- dois gols sofridos no fim das Vasco — que encara a Por- vazado após os 40 minutos a 0 na semana passada.
 OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024

ESPORTES
CARLOS EDUARDO NA RETA FINAL E
MANSUR PELO ALTO
Gols de exceção O drama que
no Fla-Flu aflige o Botafogo
esporteglb@oglobo.com.br PÁGINA 25 PÁGINA 25

JOGO ÚNICO,
ANDRÉ ZAJDENWEBER E VITOR SETA
esporteglb@oglobo.com.br
-

H á quase dois anos, o fute-

bol do Vasco vive uma

GANHOS ALTOS
Marcílio Dias Vasco
nova realidade. Com a SAF Filipe; Felipe Léo Jardim;
Santos, Sílvio, Paulo Henrique,
sob o comando da 777 Part- Milani e Rafael Medel, Léo,
ners, o cruz-maltino ga- Carioca; Felipe João Victor e
nhou investimentos e um ti- Manoel, Zé Vitor, Lucas Piton;
me mais competitivo. Mas Davi Shwenck, Zé Gabriel,

Vasco tenta mudar

Rafinha e Wendell; Galdames e
uma necessidade que se es- Alex Oliveira Adson; David e
tende a todos as principais (Poffo). Técnico: Vegetti. Técnico:
equipes do Brasil ainda se- Waguinho Dias. Ramón Díaz.

histórico recente na
gue muito forte num clube
Local: Estádio Hercílio Luz (Itajaí-SC).
em reestruturação: é preci- Horário: 21h30.
so gerar receitas para o fute- Árbitro: Anderson Daronco (Fifa-RS).
bol. Nada melhor que a mili- Transmissão: SporTV, Premiere

traiçoeira Copa do Brasil

onária Copa do Brasil para
isso. O time de Ramón Díaz
estreia hoje na competição,
contra o Marcílio Dias-SC,
às 21h30, no Estádio Hercí-
lio Luz, em Itajaí. Em terras
catarinenses, precisa evitar
armadilhas para avançar e
tentar melhorar o histórico
no torneio.
A competição, que distri-
bui altas cotas de participa-
ção a cada ano, é importante
para o futuro próximo do
Vasco. Só a participação na
primeira fase rende R$ 1,47
milhão aos clubes da Série A
em 2024. Disputar a segunda
fase garante mais R$ 1,785
milhão, em valores que cres-
cem progressivamente. Che-
gar às semifinais, por exem-
plo, envolve uma cota de R$
9,45 milhões.
A edição passada foi uma
das maiores frustrações vas-
caínas na temporada. Ainda
treinado por Maurício Bar-
bieri, o time caiu na segun-
da fase para o ABC nos pê-
naltis, em São Januário, um
jogo que ajudou a fazer uma
longa crise crescer. Desta
vez, o clima é outro: mais
sólido e com apenas uma
derrota no ano, pelo estadu-
al, o cruz-maltino chega
embalado ao torneio.
Após um ano de luta con-
tra o rebaixamento no Bra-
sileiro e com o elenco ainda
em fase de fortalecimento, o
mata-mata pode ser a opor-
tunidade de conquistar um
título. A Copa do Brasil foi o
último troféu em âmbito na-
cional do Vasco, com vitória
em 2011, contra o Coritiba.
—Sabemos a importância
que é jogar essa copa tão im-
portante, tão prestigiosa.
Vamos experimentar pela
primeira vez, sabemos que é
muito importante. O time
não precisa de motivação.
Eles sabem que, se errar-
mos, vamos para casa. En-
tão o alerta é máximo. Nesse
tipo de jogo eu sei que o gru-
e Rádio CBN.
se-BA, Botafogo, Santos e
Vitória. Com exceção des-
sas campanhas, os melhores
desempenhos foram idas às
oitavas em 2018 e 2021.
QUEDAS NA PRIMEIRA FASE DA COPA DO BRASIL Adversário de hoje, o Mar-
Vasco tenta escapar de armadilhas do formato e melhorar histórico na competição cílio Dias disputa a Copa do
Brasil pela segunda vez em
CLUBES SÉRIE A SÉRIE B VASCO NA COPA DO BRASIL sua história. Na primeira
Eliminado na fase: Vencedor participação, no ano passa-
2017* 2017* do, chegou a eliminar a Cha-
0 6
1ª 2ª 3ª 4ª OIT. QUA. SEM. FINAL
pecoense.
Na atual temporada, o time
2018
VITÓRIA
ocupa a vice-liderança do
2018 Campeonato Catarinense,
1 2 1ª 2ª 3ª 4ª OIT. QUA. SEM. FINAL
(BOTAFOGO)
com campanha de seis vitó-
BAHIA
rias, duas derrotas e dois em-
2019
2019
pates em dez jogos. Venceu
1 4 1ª 2ª 3ª 4ª OIT. QUA. SEM. FINAL Figueirense, Criciúma e em-
(CSA) patou com o Avaí, e ainda não
2020
SANTOS perdeu em casa. O atacante
3 3 2020 Gustavo Poffo, nome conhe-
(BAHIA, SPORT
1ª 2ª 3ª 4ª OIT. QUA. SEM. FINAL cido no futebol do estado, é
E CORITIBA) um dos artilheiros da equipe
2021 BOTAFOGO
na competição, com três gols
1 4 2021 marcados. O meia Wendell e
1ª 2ª 3ª 4ª OIT. QUA. SEM. FINAL
(SPORT) o atacante Zé Eduardo tam-
2022 SÃO PAULO
bém foram às redes em três
1 9 2022
oportunidades.
(INTERNACIONAL) 1ª 2ª 3ª 4ª OIT. QUA. SEM. FINAL
PAYET FORA
2023
JUAZEIRENSE A má notícia para o Vasco é a
1 6 2023 ausência de Dmitri Payet. O
(CUIABÁ)
1ª 2ª 3ª 4ª OIT. QUA. SEM. FINAL camisa 10, que atuou em se-
2024** te dos dez jogos da equipe na
1 2
ABC temporada, apresentou
(CRUZEIRO) quadro gripal, segundo o
clube, e não viajou com o
elenco para Itajaí. Sem seu
principal jogador, a tendên-
cia é que Adson herde uma
vaga no time titular, que te-
*adoção do atual regulamento ** (até agora) EDITORIA DE ARTE rá sua organização ofensiva
levemente alterada.
Em paralelo às competi-
po responde porque está Para avançar à segunda nho traiçoeiro para as gran- quatro equipes, em média, ções, o Vasco ainda busca re-
acostumado a trabalhar fase, basta o empate ao des equipes que disputam a acabam deixando a competi- forços no ataque e segue de
com pressão. Temos que es- Vasco, visitante. O Marcí-competição. Desde 2018, ção na primeira fase. perto a situação do atacante
tar em alerta porque não vai lio Dias, em pior posição pelo menos um clube da O histórico recente do André Silva, do Vitória de
ser um jogo fácil, como to- no ranking da CBF, precisaSérie A é eliminado na pri- Vasco no torneio (e neste Guimarães-POR. O cruz-
dos os próximos. Mas acho da vitória para se classifi-
meira fase. Em 2020, três formato) também não é maltino colocou proposta
que o time está preparado car, dado o regulamento caíram (Bahia, Sport e Cori- bom. Das sete últimas edi- de cerca de 4 milhões de eu-
para isso —afirmou o auxili- da competição. tiba). Até aqui, a edição ções, o cruz-maltino acabou ros (cerca de R$ 21 milhões)
ar técnico Emiliano Díaz 2024 já teve sua zebra na eli- eliminado por cinco vezes na mesa do clube portu-
após a vitória sobre o Volta HISTÓRICO A MUDAR te, com a eliminação do ainda nas primeiras fases guês, mas tem a concorrên-
Redonda, no último sábado, Esse formato, adotado em Cruzeiro para o Sousa-PB. eliminatórias, com algozes cia do São Paulo, preferên-
pelo estadual. 2017, tem criado um cami- Da Série B, pelo menos que passam por Juazeiren- cia do atleta de 26 anos.

Flamengo não joga a quinho ou o Flamengo au-

menta um pouco. Vai ajus- Flu deve ter Samuel Xavier As dúvidas ficam por conta
do zagueiro Marlon, que saiu

toalha por Léo Ortiz tando para ver se a gente che-

ga a um denominador co-
mum —explicou Braz.
na decisão da Recopa no intervalo diante do Fla-
mengo por conta de dores no
joelho esquerdo, e o lateral-
Diretoria aponta fim da janela de inscrições de O Bragantino, que já che- Lateral-direito, que ainda não atuou na esquerdo Marcelo em fun-
reforços, em 7 de março, como prazo para esperar gou a pedir 10 milhões de eu- temporada, treinou normalmente ontem ção da pancada no tendão do
ros (R$ 54 milhões) pelo za- pé direito sofrida na partida
gueiro, atualmente quer 8,5 de ida, contra a LDU.
milhões de euros (R$ 45,9 mi- MARCELO GONÇALVES/FLUMINENSE
Para ser campeão da Reco-

E mbora seja uma negocia- pressa para chegar a um acerto lhões). Inicialmente, o recuo
ção que se arrasta desde o com o clube paulista.
ano passado, o Flamengo —A data limite é 7
na pedida gerou a impressão
de que a novela chegaria a um
O treino de ontem do Flu-
minense trouxe boas
notícias em relação a Samu-
pa, o Flu precisa vencer por
dois ou mais gols de diferen-
ça. Se vencer por um, a deci-
não jogou a toalha por Léo de março. Não é o desfecho. Mas o Flamengo el Xavier. Recuperado de le- são vai para a prorrogação.
Ortiz. É o que garante o vice limite do Fla- decidiu apostar no interes- são no joelho direito, o late- Com todos os ingressos es-
de futebol Marcos Braz. O mengo, é até se de Ortiz na transferên- ral-direito, que ainda não gotados e a expectativa de
dirigente afirmou que o clu- quando você cia e na falta de outros atuou nesta temporada, de- público na casa dos 60 mil
be conta até 7 de março para pode ins- interessados. ve ficar à disposição para a torcedores, a partida de
concretizar a contratação crever o — A gente enten- partida de quinta-feira, con- quinta-feira do Fluminen-
do zagueiro do Bragantino. jogador. de o que seja plau- tra a LDU, às 21h30, no Ma- se, contra a LDU, terá esque-
A data é o prazo definido pe- Eu acho sível, o que seja racanã, pela Recopa Sul- ma especial de segurança.
la CBF para inscrição de refor- que, se o correto. O Fla- Americana. O tricolor inaugurou
ços nos campeonatos. Depois Flamengo mengo está atrás Keno, que ficou fora do Fla- ontem, em cerimônia, o
disso, haverá um novo período não fechar a ques- desses números — Flu, está confirmado no jogo. Museu do Fluminense, na
apenas no segundo semestre tão com o Bragantino e completou Braz. Após o clássico, Fernando sede das Laranjeiras. A
(entre 10 de julho a 2 de setem- vice-versa, com calma Diniz disse que o atacante foi atração, que conta a histó-
bro). Desde que possa contar as coisas vão se ajus- Léo Ortiz. poupado em função do des- ria do clube, será aberta ao
com o jogador na primeira ja- tando. Ou eles des- Bragantino quer gaste do jogo na altitude de público a partir de hoje,
nela, o Flamengo não tem cem o valor um pou- R$ 45,9 milhões Quito, no Equador. De volta. Samuel Xavier (à direita) das 10h às 18h.
ARI FERREIRA/RED BULL BRAGANTINO

SILVIO ESSINGER
silvio.essingerl@oglobo.com.br
A té alguns anos atrás, a pos-
sibilidade era restrita à
imaginação e à perícia de seus
muitos imitadores: o apre-
sentador Silvio Santos can-
tando (e bem!) o velho hit do
rock “Sultans of swing”, do
grupo inglês Dire Straits, ou
então o “Down under”, dos
australianos Men at Work.
Hoje, em iniciativas como o
perfil de redes sociais 1001 AI
Covers, isso não só é uma rea-
lidade, como um sucesso, em
que uma dupla de vídeos atin-
ge mais de um milhão de visu-
alizações, cada. Com os apli-
cativos de inteligência artifi-
cial empregados na música,
alguns deles de uso gratuito,
qualquer um com sensibilida-
de e algum tempo disponível
é capaz de inundar a internet
com canções (e vídeos feitos
sob medida) que, com inten-
ções apaixonadas de fã, ou sa-
tíricas, põem célebres intér-
pretes (ou personalidades da
mídia) para cantar músicas
que, por diversas razões, eles
jamais teriam cantado. A no-
va mania, no entanto, reacen-
de dúvidas sobre o uso legal de
recursos tecnológicos no que
se refere a direitos autorais e
de imagem.
DO BARULHO
Os Beatles interpretando
“God only knows” (que Paul
McCartney considera a can-
ção mais bela de todos os tem-
pos), dos rivais Beach Boys? E
que tal algo bem mais impro-
vável, como Frank Sinatra
(1915-1998) em uma versão
jazz de “Enter Sandman”
(1991), pedrada do Metallica?
Ou então um troço realmente
impossível, como Elvis Presley
(1935-1977) soltando o vozei-
rão, desenvolto, em “Highway
to hell” (1979), do AC/DC?
Tudo isso já foi feito por produ-
tores mais ou menos amado-
res e jogado na internet nos úl-
timos meses, para deleite de
apreciadores da música pop e
das possibilidades infinitas da
tecnologia digital.
Um publicitário do interi-
or de São Paulo que pede para
ser identificado apenas co-
mo Lucas é a pessoa por trás
do 1001 AI Covers, perfil do
Instagram que até ontem
reunia 50.400 seguidores.
Em seu cardápio, estão ví-
deos com diversas músicas
cantadas por Silvio Santos e
outras por apresentadores de
TV como Fausto Silva e Celso
Portiolli. Depois de um iní-
cio no YouTube, em um canal
derrubado por questões de
direitos autorais, Lucas mi-
grou para o TikTok. Reposta-
do no X (antigo Twitter), um
vídeo de “Sultans of swing”
“furou a bolha” e o fez “correr
atrás do prejuízo”, criando
uma conta no X e no Insta-
gram, no fim de dezembro.
—Uso um software que vo-
cê pode treinar para fazer as
vozes, o que precisa é man-
dar no mínimo uma hora de
voz da pessoa, e, quanto mais
limpa essa voz, melhor o re-
sultado — conta ele, que cos-
tuma se dedicar a essa tarefa
no fim da noite, com aplicati-
vos cujos nomes mantém em
segredo. — O processo para
fazer uma música geralmen-
te demora umas oito horas.
Eu mando a AI treinar e vou
dormir, vou fazer minhas
coisas, e geralmente no dia
seguinte, quando acordo, es-
tá pronto. Se a voz ficou boa,
vamos embora. Mas já teve
caso em que não ficou legal, e
aí vou ajustando. Com a
música pronta, vou pensan-
do nas ideias para o clipe.
E um dos clipes que cha-
maram mais a atenção na
página foi o de Silvio Santos
cantando “Fast car” (1988),
OGLOBO | Terça-feira 27 .2.2024
SEGUNDO CADERNO segundocaderno@oglobo.com.br
QUAL É A MÚSICA,
de Tracy Chapman, publica-
do logo após a cantora ter ti-
do essa música redescober-
ta com uma apresentação
INTELIGÊNCIA
no Grammy ao lado do can-
tor country Luke Combs.
— Lembrei que tinha um
vídeo do Silvio Santos diri-
ARTIFICIAL?
gindo um carrinho de golfe! E
aí tudo começou —conta Lu-
cas. — Fico muito feliz quan-
ARTE DE GUSTAVO AMARAL SOBRE FOTOS DE DIVULGAÇÃO
do consigo passar para a tela o
que tá na minha cabeça, e
com “Fast car” eu consegui is-
so. Tem um outro processo
criativo que é o inverso, quan-
do eu parto do vídeo, como o
que fiz com o Silvio cantando
“Let a boy cry”, da Gala (Riz-
zato, cantora italiana de dance
music). Uma vez, no progra-
ma “Em nome do amor”, ele
perguntou o que era techno,
o DJ soltou essa música e ele
começa a dançar. O Silvio é o
carro-chefe, qualquer vídeo,
qualquer música com ele vai
muito bem.
O nonagenário apresenta-
dor de TV, de fato, brilha nas
criações da internet (o perfil
de Vector Lua, no YouTube,
faz bastante sucesso com uma
boa interpretação IA de Silvio
Santos para “Amiga da minha
mulher”, de Seu Jorge), assim
como Manoel Gomes (do hit
viral “Caneta azul”), persona-
gens do seriado “Chaves” e
Freddie Mercury (1946-
1991), cantor do grupo
Queen, que pode ser encon-
trado traçando de “Take on
me” (A-Ha) e “Billie Jean”
(Michael Jackson) a “Careless
whispers” (George Michael).
‘MACETANDO’ E DEATH METAL
Produtor musical de bandas
de metal e hardcore, o pau-
listano Nicolas Gomes abriu
em 8 de dezembro no Insta-
gram o perfil Fake Music BR,
que usa a inteligência artifi-
cial não para dar novas vozes
às músicas, mas para levá-las
a novos estilos musicais. Ele
e seu parceiro Augusto, can-
tor de uma banda de hardco-
re, já pegaram o axé “Mace-
tando”, de Ivete Sangalo e
Ludmilla, e transformaram
num aterrorizante death
metal: “Macetando o Apoca-
lipse” (com referência irôni-
ca ao diálogo de Ivete e Baby
do Brasil no último carnaval
em Salvador). Sua música
mais conhecida é “Bob Fish”
—o punk do Dead Fish vira-
do em reggae de Bob Marley.
— A gente não usa muito
esse lance de clonagem de
voz, o lance realmente é pe-
gar uma música de alguém e
levá-la para outro estilo —
conta Nicolas, que usa a ver-
são gratuita do aplicativo Su-
no, em que você põe a letra e
pede para que ela seja aplica-
da em uma música de deter-
minado estilo. — O vocal é,
digamos, aleatório. O que a
gente pode direcionar é se vai
CRIAÇÕES QUE
VÃO DE ELVIS
CANTANDO
AC/DC E SILVIO
SANTOS
SOLTANDO A VOZ
EM CANÇÃO DO
DIRE STRAITS
FAZEM SUCESSO
NA INTERNET E
RENOVAM DEBATE
SOBRE USO DA
TECNOLOGIA E
PROTEÇÃO DE
DIREITOS
AUTORAIS E DE
Coisas que só a IA faz por você. Freddie Mercury cantando “Billie Jean” de Michael Jackson, Elis interpretando
Ratos de Porão e Sinatra colocando a voz em pedrada do Metallica: novas possibilidade sobre consumo de música? IMAGEM
ser feminino ou masculino.
Mas às vezes a gente escuta e
vê que está parecendo a voz
da Pitty, ou da Elis Regina (al-
vo de polêmica ano passado em
um vídeo criado por IA em que
cantava com a filha Maria Ri-
ta, e que no Fake Music surge lá
cantando “Morrer”, dos Ratos
de Porão, numa improvável
versão soul music). A gente
ainda não achou o pulo do ga-
to, aquele que viraliza, a gen-
te ainda está testando forma-
tos. Sou produtor, queria que
isso fosse uma porta para co-
nhecer meu trabalho.
UM NOVO FUTURO POSSÍVEL
Lucas, do 1001 AI Covers, con-
ta ter tido um retorno positivo
de João Silva, filho de Fausto
Silva, que compartilhou ví-
deos coma versão IA do pai em
seus stories. Mas ainda não de
Silvio Santos (“rolou uma me-
ga mobilização para os vídeos
chegarem até a família Abra-
vanel, desconfio que tenham
chegado, mas não sei se eles
gostaram ou não”, diz). Entre o
público do seu perfil, a reações
variam entre os elogios e co-
mentários do tipo “aí os com-
putadores se rebelam, destro-
em a Humanidade e a gente se
pergunta ‘por quê?’ ou “vai
usando a IA, quando menos
perceberem estaremos escra-
vos dela!”. Entre os profissio-
nais da música, há opiniões
menos apocalípticas.
“O que pode parecer agora
uma piada, uma curiosidade,
daqui a pouco pode ser um
produto. Você pode estar no
seu streaming favorito, dar
play e falar: ‘Como seria essa
música na voz de outro artis-
ta?’ Isso pode mudar a forma
como a gente consome músi-
ca e proporcionar uma forma
de consumir canções que vo-
cê não consumiria se não fos-
se com aquele artista”, argu-
menta Felipe Vassão, produ-
tor do rapper Emicida, em ví-
deo em seu perfil no Insta-
gram. “É até uma nova forma
de você lançar música, por-
que tem muita gente que
compõe mas que não é bom
intérprete. E se você pudesse
escolher com que roupa a
música vai se apresentar para
você? É quase como trocar a
skin do personagem de um
videogame.”
LEGISLAÇÃO
Mas, claro, ele mesmo admi-
te que existem problemas le-
gais a se resolver até que che-
guemos a essa versão cor-de-
rosa do futuro. O que, ao que
tudo indica, será bem com-
plicado. Apesar de aplicati-
vos de IA, como o que foi lan-
çado pelo YouTube em no-
vembro, permitirem o uso de
vozes famosas (como as de
Demi Lovato, Sia, John Le-
gend, Charlie Puth e Charli
XCX) para produzir faixas,
mesmo ali existe um limite
de 30 segundos para cada re-
sultado. Criadora e coorde-
nadora do curso de direitos
autorais Música Copyright e
Tecnologia, Guta Braga joga
luz sobre a questão:
—A questão do uso de IA
na criação de conteúdo está
sendo discutida globalmen-
te. A maioria dos países en-
tende que não há proteção
legal para esse tipo de conte-
údo pois se baseia em conte-
údo preexistente, o que ne-
cessita de autorização prévia
para uso, se considerarmos,
por exemplo, a lei dos direi-
tos autorais (Lei 9.610/98) —
explica ela. — Isso lembran-
do que muitos usos por IA
não dizem respeito apenas
aos direitos autorais e cone-
xos. Muitas vezes o uso é da
voz e imagem, o que se refere
aos direitos da personalida-
de, que também devem ser
previamente autorizados.
2 | Segundo Caderno
PARA
QUEM TEM
MEDO DO
ESCURO
TÉLIO NAVEGA
telio.navega@oglobo.com.br
M iguel é um menino que
não consegue dormir.
Ele imagina estranhas criatu-
ras à espreita dentro do armá-
rio ou rastejando debaixo da
cama. E, para fugir, refugia-se
sob as cobertas, onde, guiado
por estrelas, descobre um no-
vo mundo. Assim como Lan-
dis Blair quando era garoto.
Em “A cabana noturna” (VR
Editora), o quadrinista ame-
ricano conta, em sua estreia
na literatura infantil, a histó-
ria que criou a partir de seu
pavor pueril. Um livro perfei-
to para ler com os pequenos
antes de eles dormirem.
—Quando eu era uma cri-
ança, deitado na cama, sem
conseguir dormir, fazia tudo
o que podia para tentar me
distrair de meus medos, e
frequentemente essa distra-
ção era proporcionada ras-
tejando para dentro e para
fora da barraca que criei
com minhas cobertas, jo-
gando todos os jogos imagi-
nários que conseguisse in-
ventar — conta Blair por e-
mail. — Miguel, portanto,
tornou-se uma extensão
fácil de minhas próprias me-
mórias, embora seja muito
mais bem-sucedido no jogo
da distração do que eu.
Além de quadrinista, Blair
é conhecido por seu trabalho
como ilustrador para publi-
cações como New Yorker e
New York Times. Uma de su-
as maiores dificuldades ao
Ao quadrado.
Ao lado, arte do
livro de canções
mórbidas
que sai este ano
no Brasil,
pela editora
Darkside;
abaixo, página
dupla de
“Uma história
real de crime &
poesia”, da
mesma editora
criar um livro para crianças
foi a concisão no texto.
—Sou extremamente gra-
to ao meu editor, que passou
muito tempo comigo aper-
feiçoando a escolha das pa-
lavras, muito depois de eu
pensar que já havíamos re-
solvido todos os problemas
— explica o desenhista de
Waukegan, no estado de Illi-
nois (EUA). —Este foi o pri-
meiro livro que fiz com ilus-
trações coloridas. Certa-
mente foi uma curva de
aprendizado para mim. Tive
que descartar uma série de
tentativas de paleta de co-
res. Mesmo depois de colo-
rir todas as páginas percebe-
mos que as cores ainda esta-
vam muito escuras e então
tive que clarear todas antes
de imprimir o livro.
ROTEIRO DE UM FILME
A arte extremamente deta-
lhista de Blair, com muitas
hachuras, também pode ser
vista no álbum em quadri-
nhos “Uma história real de
crime & poesia” (Darkside),
produzido com o escritor
David L. Carlson, que, se-
gundo o ilustrador, não
apresentou a ele um roteiro
de HQ, mas de um filme.
A referência é pertinente,
afinal “Uma história real de
crime & poesia”, que ganhou
o Fauve d’Or no Festival de
Angoulême, em 2020, trata
da conturbada relação entre
um pai e seu filho, e de como
este mesmo pai escondeu o
Insone. Em “A cabana noturna”, um menino não consegue dormir porque imagina que existem criaturas à sua espreita
DESENHISTA AMERICANO CONHECIDO POR SEU
TRAÇO DETALHISTA EM PRETO E BRANCO ESTREIA NA
LITERATURA INFANTIL COM LIVRO EM CORES E IDEAL
PARA LER COM AS CRIANÇAS NO HORA DE DORMIR
passado criminal. Na prisão,
o personagem foi compa-
nheiro de cela da figura real
de Nathan Leopold, que teria
cometido, com seu parceiro,
o crime perfeito: o rapto e as-
sassinato de um adolescente.
Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO
IMAGENS DE DIVULGAÇÃO
‘A cabana
A história verídica do crime se esse roteiro e o interpre- noturna’
inspiraria Hitchcock a filmar tasse como eu imaginava na Autor: Landis
“O festim diabólico” (1948). forma de quadrinhos. De- Blair. Tradutor:
—O que David Carlson me pois que fiz as thumbnails Fabrício Valério.
deu foi o roteiro de um filme (miniaturas), David e eu cri- Editora:
—revela o quadrinista, de 40 amos storyboards com todas VR Editora.
anos.—Ele queria que eu les- elas e passamos alguns me- Páginas: 40.
ses percorrendo a história Preço: R$ 69,90.
O artista. repetidas vezes, adicionan-
Conhecido por do, subtraindo e reorgani-
seu trabalho zando páginas e texto.
como ilustrador
de cenas em CANÇÕES MÓRBIDAS
preto e branco, A mesma Darkside promete
carregadas para este ano outro título de
de hachuras, Blair, que não é HQ ou livro
Landis Blair infantil, mas uma coletânea
estreia na de canções de humor politi-
literatura infantil camente incorreto: “The en-
com um vious siblings and other mor-
trabalho bid nursery rhyme” (“Os ir-
diferente mãos invejosos e outras can-
ções infantis mórbidas”).
—A canção do título foi ini-
cialmente feita apenas por
diversão, e a imprimi como
um livreto — diz o desenhis-
ta. — Eu os vendia em con-
venções de quadrinho. Fi-
quei encantado ao descobrir
que um editor estava interes-
sado em que eu escrevesse
um livro inteiro de canções
infantis no mesmo estilo.
Em todos os trabalhos de
Blair é possível notar o deta-
lhismo de suas hachuras em
traços curtos ou longos, hori-
zontais ou verticais:
— Certamente é um pro-
cesso demorado, mas uma
vez que você entra no fluxo,
avança de maneira bastante
metódica. É quase como
uma meditação onde posso
desligar meu cérebro. Além
disso, a hachura proporciona
um alívio da ansiedade, pois
sinto que posso esconder er-
ros ou compensar minha fra-
ca habilidade de desenho. A
parte difícil para mim, po-
rém, é fazer os desenhos a
lápis, pois isso exige um nível
de concentração que é cansa-
tivo. Penso no desenho a
lápis como um esqueleto: se
não for suficiente forte, tudo
pode desmoronar.
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024
Para Paula Cohen, pelas
sequências recentes como
Míriam em “Elas por elas”.
O tom da personagem
mudou, o que favoreceu o
talento da atriz. As cenas
do núcleo dela, aliás, estão
eletrizantes.
Para as repetições nas
cenas de Márcia (Mary
Sheila) em “Elas por elas”.
A trama da personagem
não sai do lugar. Ela sempre
faz o mesmo discurso e
explica o motivo de ter
abandonado os dois filhos.
Julgamento
Isabel Fillardis fará uma participação em “Fuzuê” no capítulo de hoje. Ela será a juíza que
dará a sentença de Pascoal (Juliano Cazarré). Leia mais no site
O sucesso do filme “Salt-
burn” no streaming vi-
rou uma dor de cabeça para o
dono da mansão onde se pas-
sa boa parte da trama. Char-
les Stopford Sackville, pro-
prietário da Drayton House,
uma construção de 700 anos
localizada em Northamp-
tonshire, na Inglaterra, dis-
se ao Daily Mail que não es-
perava a atenção intensa tra-
zida pelo longa-metragem
de Emerald Fennell e conta
que precisou instruir sua
equipe a patrulhar os arre-
dores para evitar a entrada
de intrusos tentando fazer
fotos e vídeos.
“Nunca imaginei tanta
curiosidade. É bem estra-
nho”, ele comentou. “Não fi-
co exatamente lisonjeado.
Como você se sentiria se as
pessoas estivessem tirando
fotos do lado de fora da sua
casa? Preferiria que o inte-
resse diminuísse, mas não
tenho controle sobre isso.”
A residência, que não está
aberta ao público, teria sido
_ SEG_Play_ TER_Play_ QUA_Play_ QUI_Patrícia Kogut_ SEX_Play_ SÁB_Play_ DOM_Patrícia Kogut
PLAY Por Anna Luiza Santiago
Com Gabriel Menezes, Tábata Uchoa, Giulia Costa e Laís Malek • oglobo.globo.com/play • anna.santiago@oglobo.com.br • colunaplay
ALEX SANTANNA
Papos sobre relacionamentos
Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank vão apresentar um talk show juntos. “Surubaum”, dirigido por Léo Fuchs, estreará
no próximo dia 5, no canal Gioh, no YouTube. O título faz referência ao famoso meme que surgiu após as viagens deles
com amigos para Fernando de Noronha. Na estreia, o casal receberá as cantoras Juliette e Marina Senna. Também já
estão confirmados no programa João Vicente, Nicole Bahls, Viih Tube, Eliezer, Ingrid Guimarães e Heloisa Périssé
TV GLOBO CRISTINA GRANATO
Juntos na novela e no teatro
Enrique Diaz, que viveu Firmino em “Renascer”, e Ana
Cecília Costa, a Morena da novela das 21h, foram
prestigiar a colega de elenco Camila Morgado no teatro. A
atriz, que interpreta Dona Patroa na trama da Globo,
estreou a peça “A falecida” no Copacabana Palace
DONO DE MANSÃO DE ‘SALTBURN’
SOFRE COM INVASORES E INFLUENCERS
ELE NÃO ESTAVA PREPARADO PARA O INTENSO INTERESSE EM SUA CASA USADA NO
FILME; DOIS VÍDEOS ENSINANDO O CAMINHO TIVERAM MAIS DE 5,6 MILHÕES DE VIEWS
DIVULGAÇÃO
construída em 1328. Próxi-
ma à vila de Lowick, a casa
particular com 127 cômodos
está sob posse da família
Sackville desde o século XVI-
II. Embora haja um caminho
público pela propriedade,
Sackville afirmou que “mais
de 50” intrusos foram flagra-
dos saindo dos limites desse
trajeto por membros da equi-
pe que patrulha a área.
No ano passado, a Vanity
Fair relatou que ninguém en-
volvido na produção de Salt-
burn tinha permissão para
divulgar o nome ou a locali-
zação da propriedade devido
a um contrato, mas a revista
Tatler identificou a proprie-
Drayton House. Tiktokers se filmaram dançando na frente da casa de 700 anos ao som de “Murder on the dancefloor” dade como Drayton House
Segundo Caderno | 3
Princesinha do mar
A novela de época que
Alessandra Poggi prepara
para a faixa das 18h da
Globo vai se passar no Rio,
no bairro de Copacabana.
Haverá cenas também em
Petrópolis, na Região
Serrana. Atores vêm sendo
convidados para o elenco,
mas a direção da emissora
ainda não bateu o martelo.
Outra voz
Antonio Calloni, que já
dublou Garfield em filmes
de 2004 e 2006, foi
chamado para fazer a voz do
personagem num novo
longa, mas acabou não
chegando a um acordo.
Elenco...
A direção de “Família é
tudo” busca dois atores para
personagens que entrarão
depois do capítulo 50. Um
deles fará um papel cômico.
O outro entrará no núcleo
de Renato Góes.
...E cenário
A loja de discos que é um
dos principais cenários da
novela reúne mais de cinco
mil LPs de verdade. Eles
foram garimpados pelas
equipes de arte e cenografia
em lojas e feiras e também
no acervo da Globo.
Números 1
Na reta final, “Elas por elas”
e “Fuzuê” estão crescendo
na audiência. Entre 19 e 24
de fevereiro, ambas tiveram
sua melhor média em São
Paulo desde a terceira
semana: 16 e 20,5 pontos,
respectivamente.
Números 2
A transmissão da luta entre
Popó e Kleber Bambam no
Fight Music Show elevou os
índices da Globo na
madrugada de domingo. A
disputa cravou sete pontos
em São Paulo e no Rio, um
crescimento de dois e três
pontos em relação às quatro
últimas semanas.
apenas com base no trailer,
antes da estreia do filme no
festival de cinema Telluride.
Stopford Sackville é ami-
go dos pais de Fennell. A di-
retora de 38 anos já havia ex-
pressado seu desejo de usar
uma propriedade nunca an-
tes vista nas telas. O propri-
etário revelou ainda que a
taxa recebida para permitir
as filmagens “influenciou
100%” sua decisão: “Essas
propriedades não se man-
têm sozinhas.”
Alguns usuários do Tik-
Tok se filmaram dançando
na frente da casa ao som de
“Murder on the danceflo-
or”, hit de Sophie Ellis-Bex-
tor, usado na cena final do
filme em que Barry Keog-
han dança nu pelos jardins
da mansão. Rhian Williams,
uma usuária do TikTok que
compartilhou instruções
para o caminho em dois ví-
deos visualizados mais de
5,6 milhões de vezes, disse à
BBC que não tinha previsto
o alcance que teriam.
4 | Segundo Caderno Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO

OS NOVOS VOOS
DIVULGAÇÃO/BELLA PINHEIRO/21-8-2023
tro, já renovei por obra cer-
ta, o novo formato de tra-
balho da empresa. Naque-
DE FÁTIMA BERNARDES le momento, renovamos
para apresentar os realiti-
es The Voice Brasil e Kids.
APÓS VÍNCULO COMO FUNCIONÁRIA Com o término do The Voi-
ce, entreguei, em novem-
DA GLOBO POR 37 ANOS, ELA PASSA bro, três propostas de no-
A SER CONTRATADA POR PROJETO vos programas. E fico feliz
em dividir com vocês que
já estamos desenvolvendo
o que aconteceu para o En-
contro. Até ele ficar pron-
to, vou tocando outros
projetos paralelamente
porque é o que amo fazer.
Nesses 37 anos na TV, tive
todas as possibilidades de
evoluir profissionalmente
e continuo acreditando
que algo muito bom para
mim e para o público virá
pela frente”.

A jornalista e apresenta-
dora Fátima Bernardes
não renovou contrato com a
projetos determinados.
Fátima publicou ontem
um post sobre o assunto no
Futuro.
Fátima
Bernardes conta
um deles. Pra quando?
Ainda não sabemos. O im-
portante é que seja de qua-
Semana passada, Fátima
anunciou que cobrirá os
Jogos Olímpicos de Paris
TV Globo, após 37 anos co- Instagram: “Hoje foi di- que já tem novo lidade como o público me- pelo YouTube e redes soci-
mo funcionária. A partir de vulgado que meu último projeto em vista rece e a @globo sabe fazer, ais. Seu último programa
agora, ela vai trabalhar por contrato com a Globo ter- com a emissora interessante e com o meu solo foi “Assim como a
obra aberta, ou seja, com minou em 31 de dezembro e vai cobrir perfil. Um processo de tra- gente”, no GNT, exibido
vínculo somente durante de 2023. Ao sair do Encon- Olimpíadas balho muito parecido com em 2023.

HORÓSCOPO Cláudia Lisboa

ÁRIES (21/3 A 20/4) Elemento: Fogo. Modalidade: Impulsivo.
Signo complementar: Libra. Regente: Marte.
Sua tolerância será colocada à prova e você deverá
exercitar a compreensão com a opinião alheia e compreender
que nem sempre os fatos se desdobrarão como o previsto. Seja
acolhedor e abrace as surpresas.
CÂNCER (21/6 a 22/7) Elemento: Água. Modalidade: Impulsivo.
Signo complementar: Capricórnio. Regente: Lua.
Boas companhias e um lar aconchegante será tudo o
que você precisará neste momento. Não subestime o poder
curativo de um tempo entre amigos. Vá ao encontro daqueles
que fazem parte da sua história.
LIBRA (23/9 A 22/10)Elemento: Ar. Modalidade: Impulsivo. Signo
complementar: Áries. Regente: Vênus.
Seu humor oscilará de maneira incomum ao longo do
dia e será fundamental se conectar com o que trará maior
estabilidade e não se deixar levar por uma visão distorcida da
realidade. Alivie as tensões.
CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1) Elemento: Terra.
Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Câncer. Regente: Saturno.
O momento trará certa instabilidade e poderá lhe
deixar inseguro quanto aos passos a seguir. Tenha em mente os
lugares aonde você deseja chegar e mantenha a sua prática a
despeito dos imprevistos. Confie.

TOURO (21/4 A 20/5) Elemento: Terra. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Escorpião. Regente: Vênus.
Ainda que você goste da previsibilidade da rotina, as
propostas daqueles que estão ao seu lado na caminhada da
vida poderão abrir caminhos antes impensados. Considere
fazer grandes mudanças pelo seu bem.
LEÃO (23/7 a 22/8) Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Aquário. Regente: Sol.
Seu poder de argumentação e convencimento será
desafiado por novos pontos de vista que chegarão até você
agora. Esteja aberto a se atualizar e a mudar de ideia, se lhe
parecer coerente. Abra o olhar.
ESCORPIÃO (23/10 A 21/11)Elemento: Água. Modalidade:
Fixo. Signo complementar: Touro. Regente: Plutão.
Você passará por um dia mais introspectivo e reflexi-
vo, onde buscará compreender o complexo terreno das emo-
ções. Dê tempo ao tempo e tome cuidado para não se perder
em especulações irreais. Preserve-se.
AQUÁRIO (21/1 A 19/2) Elemento: Ar. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Leão. Regente: Urano.
As melhores amizades são aquelas que lhe permiti-
rão ser você, sem filtros ou julgamentos. Esteja ao lado de quem
enaltece e admira tudo aquilo que compõe sua singularidade.
Valorize sempre sua liberdade.

GÊMEOS (21/5 A 20/6) Elemento: Ar. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Sagitário. Regente: Mercúrio.
O dia oferecerá momentos de cumplicidade e har-
monia ao lado de pessoas queridas. Abra seu coração e dedi-
que-se aos encontros e às relações. Determinados sentimentos
merecem ser compartilhados com o mundo.
VIRGEM (23/8 A 22/9) Elemento: Terra. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Peixes. Regente: Mercúrio.
Sua atenção minuciosa lhe proporcionará uma
análise precisa da realidade, mas poderá deixar passar aquilo
que estiver para além da percepção dos cinco sentidos. Não
ignore sua intuição. Equilibre-se.
SAGITÁRIO (22/11 A 21/12)Elemento: Fogo. Modalidade:
Mutável. Signo complementar: Gêmeos. Regente: Júpiter.
Ainda que você preserve sempre a sua autonomia,
agora a parceria com aqueles que visam aos mesmos objetivos
que você será mais que bem vinda para abrir os caminhos e
facilitar escolhas. Fique atento.
PEIXES (20/2 A 20/3) Elemento: Água. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Virgem. Regente: Netuno.
Agora você terá a chance de estabelecer conversas
profundas e reparadoras que farão com que antigos conflitos
sejam verdadeiramente resolvidos. Aproveite para abrir as
portas da mudança que você almeja.

JOGOS QUADRINHOS
Foram encontradas 7 palavras: 7 de 5 letras, além da palavra original.
MACANUDO Liniers
LOGODESAFIO
POR SÔNIA PERDIGÃO
Com a sequência de letras RA foram encontradas 22 palavras.
É DIFÍCIL SABER
Instruções: Este jogo tem os seguintes objetivos: 1. Encontrar a palavra SE ESTÁ LENDO
OU SONHANDO.
original utilizando todas as letras contidas apenas no quadro maior. 2.
C U N Com estas mesmas letras formar o maior número possível de palavras
de 5 letras ou mais. 3. Achar outras palavras (de 4 letras ou mais) com
E
RA
o auxílio da sequência de letras do quadro menor. As letras só poderão
ser usadas uma vez em cada palavra. Não valem verbos, plurais e
D nomes próprios.

T O O
odorante, onerado, orate, outra, rato, tenra, tora, tranco. NADA COM COISA ALGUMA José Aguiar
cenoura, cera, corado, cura, curado, doutora, dura, durante, durão, entrado, neura, neutra, nora, noutra,
Solução: Cento, conde, conto, douto, ducto, dueto, teúdo// CONTEÚDO. Com a sequência de letras RA:

FORA DE FOCO Eduardo Arruda

O CORPO É PORTO André Dahmer

D
O
M
BICHINHOS DE JARDIM Clara Gomes

3/así — bus — nin. 5/eivar — ensor — panic.

BANCO
SOLUÇÃO

Editor: Marcelo Balbio (balbio@oglobo.com.br). Editor assistente: Eduardo Rodrigues (earodrigues@oglobo.com.br) . Diagramação: Gustavo Amaral (gdamaral@edglobo.com.br)
oglobo.com.br/cultura Telefones: Redação:2534-5703. Publicidade: 2534-4310 publicidade@oglobo.com.br Correspondência: Rua Marquês de Pombal 25, 4º andar. CEP 20.230-240
OGLOBO | Terça-feira 27.2.2024
COLIN MOYNIHAN
Do New York Times
EdosmcouReis”,
2021, a Christie’s colo-
à venda “A Adoração
uma pintura do
século XVII. A casa de
leilões identificou-a como
sendo de um artista associ-
ado a Rembrandt (1606-
1609). Seu valor na época
foi US$ 17 mil (que equiva-
lem, hoje, a R$ 84 mil). Mas
alguns licitantes pensaram
que a pintura, do tamanho
de uma folha de papel, fosse
um tesouro desconhecido
que poderia ser do próprio
Rembrandt. O preço de
venda foi a US$ 992 mil. Há
dois meses, a pintura foi lei-
loada novamente, desta vez
na Sotheby’s, sendo listada
como sendo de Rembrandt.
Desta vez, o preço de venda
chegou a US$ 13,8 milhões.
A escalada meteórica do
valor é uma prova contun-
dente de quanto a autenti-
cidade é mais importante
do que a estética quando se
trata de prever o valor de
uma pintura. É também um
lembrete do poder dos co-
nhecedores. A dramática
mudança de valor ocorreu
apenas porque alguns espe-
cialistas decidiram que a
pintura era de Rembrandt
—embora nem todos este-
jam convencidos disso.
Em 1973, o Metropolitan
Museum of Art de Nova
York reatribuiu a autentici-
dade de cerca de 300 pintu-
ras, cerca de 15% da sua co-
leção europeia. Um dos re-
baixados foi um retrato de
Filipe IV listado como sen-
do de Diego Velázquez.
Quase 40 anos depois, o mu-
seu voltou a atribuí-lo a Ve-
lázquez, dizendo que uma
limpeza revelou caracte-
rísticas inconfundíveis da
técnica do artista espanhol.
Quando as atribuições
mudam, muitas vezes
também mudam os valo-
res. Em meados dos anos
2000, por exemplo, “Sal-
vator Mundi”, um retrato
de Cristo catalogado desde
1900 como sendo de um
artista que trabalhava no
estúdio de Leonardo da
Vinci, foi vendido por me-
nos de US$ 10 mil. Reatri-
buído a Da Vinci, foi ven-
dido em 2013 por US$ 83
milhões e novamente por
US$ 127,5 milhões. Embo-
ra alguns especialistas ain-
da tivessem dúvidas sobre
a sua autoria, a pintura de-
pois ainda estabeleceu um
recorde em leilão: foi em
2017, sendo vendida por
US$ 450,3 milhões na Ch-
ristie’s.
ANÁLISE EM RAIOS X
“Adoração”, pintada por
volta de 1628, foi vista em
vários momentos dos seus
400 anos de vida como uma
obra de Rembrandt. Mas a
autoria foi contestada em
1960 por um historiador de
arte alemão, Kurt Bauch.
Três anos depois, foi colo-
cada à venda pela Sotheby’s
como um Rembrandt, mas
não foi vendida. Em 1985, a
pintura voltou ao mercado,
na Christie’s, e desta vez foi
vendida — mas apenas co-
mo uma obra do “círculo”
de Rembrandt.
A obra ainda era vista co-
mo do “círculo” de Rem-
brandt em 2021, quando a
Christie’s colocou-a à ven-
da em Amsterdã. No catá-
logo, o curador holandês
Christiaan Vogelaar dizia
que “Adoração” lembra o
trabalho de Willem de Po-
orter, que alguns acredi-
tam ter sido aprendiz de
Rembrandt, ou de Jan Adri-
aensz van Staveren. Os lici-
tantes, porém, claramente
pensaram que poderia ser
do mestre, e o preço subiu
para US$ 992 mil.
Segundo Caderno | 5
FOTOS DE SOTHEBY’S VIA THE NEW YORK TIMES
de Washington, disse numa
entrevista que se convenceu
rapidamente da autoria.
—Achei que os elementos
de luz na pintura e a forma
como fluíam faziam muito
sentido em termos da forma
como Rembrandt estava
trabalhando — disse ele.
O mundo da arte depende
de especialistas com uma
forma especial de discerni-
mento, por vezes referida
como “bom olho”. Essa habi-
lidade é frequentemente
atribuída a estudos rigoro-
sos, familiaridade com um
grande número de obras e
sentimento intuitivo. Em-
bora tenha incluído tecno-
logias como os raios X, o co-
nhecimento é subjetivo e as
opiniões muitas vezes não
são uniformes.
“A crescente obra de Rem-
brandt é um bom exemplo
dos extremos das opiniões
dos conhecedores”, escre-
veu Bendor Grosvenor, um
negociante de arte e histori-
ador britânico, em 2012:
“Mais de mil obras foram
atribuídas a ele no século
XIX, mas isso caiu para cer-
ca de 350 em determinado
momento do século XX.”
Durante décadas, a última
palavra sobre as atribuições
de Rembrandt foi Ernst van
de Wetering, presidente de
longa data do Projeto de Pes-
quisa Rembrandt. O projeto
produziu um catálogo rai-
sonné de seis volumes do
trabalho do artista que é am-
plamente considerado con-
fiável. Não inclui “Adora-
ção”. Alguns especialistas
dizem que a morte de Van de
Wetering, em 2021, abriu a
porta para outras opiniões.
No ano passado, a Christi-
e’s vendeu duas obras de-
pois que o Rijksmuseum de
Amsterdã as atribuiu a
Rembrandt. O jornal holan-
dês NRC relatou preocupa-
‘Anunciação’. Pintura do século XVII foi atribuída a Rembrandt durante séculos, mas desde os anos 1960 teve sua autoria contestada várias vezes ções sobre as atribuições
dessas obras, bem como so-
bre “Adoração”.
O PESO DO NOME
A Sotheby’s dedicou um Os debates sobre a autoria
catálogo de 62 páginas ape- de Rembrandt existem há
nas a “Adoração” e deta- muito tempo, disse Anna
lhou seu rigoroso esforço Tummers, professora da
CASO DO REMBRANDT QUE SALTOU DE US$ 17 MIL de 20 meses que levou à re- Universidade de Ghent, na
atribuição, incluindo Bélgica. Ela observou, po-
PARA US$ 13,8 MILHÕES MOSTRA COMO A análise de raios X e ima- rém, que a morte de Van de
gens infravermelhas. Wetering deixou “um certo
AUTENTICIDADE SE SOBREPÕE À ESTÉTICA QUANDO Mas no dia da venda, Jor- vazio”. Quando um especia-
A TAREFA É DEFINIR O VALOR DE UMA OBRA E EXPÕE gen Wadum, que foi chefe lista tão importante sai do
de conservação da galeria caminho, “as casas de
O ‘PODER’ DOS ESPECIALISTAS NO ASSUNTO nacional da Dinamarca, leilões veem mais oportuni-
enviou uma carta à So- dades”, disse ela.
theby’s apontando “discre-
pâncias significativas” en- SERÁ QUE NÃO FOI ELE?
tre “Adoração” e “antigas Na sua carta questionando
pinturas autenticadas de a atribuição, Wadum citou
Rembrandt.” A carta foi en- uma série de razões pelas
dossada por um especialis- quais não acreditava que a
ta em Rembrandt e um es- pintura tivesse sido criada
pecialista em obras dos sé- por Rembrandt. Citou
culos XVI e XVII. questões como a aplicação
A Christie’s também da tinta ou as vestes dos
manteve a sua atribuição personagens.
de “Adoração”, que disse Quando “Adoration” foi a
ter sido baseada em con- leilão em dezembro, foi lis-
sultas com “principais es- tado pela Sotheby’s como
pecialistas independentes tendo um preço garantido,
em Rembrandt” e assim o que significa que alguém
encerrou seu comunicado: concordou em pagar um
“Entendemos que esta valor mínimo, se o lance
continua sendo a visão pre- não o superasse.
dominante.” No fim das contas, nin-
A Sotheby’s citou muitas guém fez uma oferta e a
provas em seu catálogo, in- pintura foi concedida ao
cluindo semelhanças entre fiador não identificado
“Adoração” e uma gravura pelo preço de US$ 13,8
de 1630 de Rembrandt, “A milhões.
apresentação no Templo George Gordon, copresi-
com o Anjo”, como o agrupa- dente do departamento de
mento restrito de figuras antigos mestres da casa de
em ambas as obras. leilões, disse que a falta de
A casa de leilões também propostas não diminuiu sua
apontou como a orelha de confiança na atribuição de
José em “Adoração” — “pin- Rembrandt. E forneceu
tada com uma única pince- uma cópia da sua carta a Wa-
lada de branco atuando co- dum, o dissidente.
mo destaque” — se asseme- “Noto que você acha que
lha à orelha de um esboço de esta pintura ‘lembra quase
Rembrandt de propriedade desconfortavelmente Rem-
do Museu J. Paul Getty. brandt’”, escreveu Gordon.
Outro especialista, Ar- “Não lhe ocorreu que a ex-
thur Wheelock, antigo cu- plicação mais provável para
rador de pinturas barrocas este fenômeno é que ele, de
Por dentro. Imagem da obra de Rembrandt feita com raios X, sob encomenda da Sotheby’s: detalhes sob a tinta da Galeria Nacional de Arte fato, a pintou?”
6 | Segundo Caderno Terça-feira 27.2 .2024 | OGLOBO
_ SEG_ Joaquim Ferreira dos Santos _ TER_ Leo Aversa_ QUA_ Ana Paula Lisboa (quinzenal) _ Martha Batalha (quinzenal)_ QUI_ Cora Rónai_ Luis Fernando Verissimo _ SEX_ Ruth de Aquino_Nelson Motta_ SÁB_ José Eduardo Agualusa_ DOM_Cacá Diegues

LEO ia se arrepender de ter me enviado o e-mail.

Melhor não. Mandei mensagem para uma
AVERSA cantora que conheço há muitas décadas,
leo@leoaversa.com tanto que ela nem estranhou o pedido sem
noção. Ainda bem. Ela me aconselhou a ou-
vir as palavras que já estão na melodia e de-
você decorar a melodia, acrescentou.
Fiz o dever de casa, mas nada de aparece-
rem os fonemas, as sílabas, as rimas. Os
versos e a melodia se digladiavam feito
unha comprida no quadro negro. Era pre-
ciso continuar chateando artistas.

COMO SE pois completar as lacunas. Melodias já in-

duzem fonemas, disse. Ouvi com calma, já
pensando no futuro.
Numa sessão de fotos com um cantor per-
nambucano, mandei na lata: “Como se faz
para escrever uma letra?” “Ouve a melodia

FAZ UMA O problema é que os tais fonemas estavam

me fugindo feito os detentos de Mossoró.
Sem graça de chateá-la outra vez — não pa-
que ela virá na sua cabeça”, ele respondeu,
fazendo o difícil parecer fácil. Se ela está
vindo, não escuto os seus sinais, comentei,

MÚSICA? rece, mas tenho limite —, resolvi apelar pa-

ra outra cantora amiga. Se ela não me cance-
lou quando ofereci seu violão como oferen-
da a Iemanjá, imaginei que não me negaria
plagiando o próprio. Ele sorriu, mas não
sussurrou nada no meu ouvido.
Voltei ao Kleiton, desta vez com a devida
humildade. Paciente, ele me explicou a rela-

O e-mail do Kleiton — do Kleiton & Kledir

— foi direto: “Vamos compor uma mu-
sica? Te mando a melodia, você coloca a le-
FMs, shows, CDs e streamings não tornam o
ouvinte um compositor. Perspicácia até te-
nho, o que me falta é experiência musical.
FIZ O DEVER DE
uma aula rápida.
Quem sabe ela não
tem meia hora para
ção da métrica na poesia com o ritmo da me-
lodia. A letra começou a surgir.
Foi então que encontrei no estúdio um
CASA, MAS NADA
tra.” Letra de música é algo que nunca fiz na A melodia que ele enviou é linda e me pas- DE APARECEREM mudar a minha vi- compositor carioca, cujo pai era paulista, o
vida, então... “Vamos!”, respondi com certa sava uma certa melancolia. Sobre o que es- da? Com gentileza avô pernambucano e o bisavô mineiro. Ele é
inconsequência e alguma arrogância. crever? Uma separação? Um término? Um OS FONEMAS, me explicou que as gentil, então quem sabe eu cantarolo o estri-
Escuto música desde sempre. Também fim! Ter o tema já é um começo, agora é só AS SÍLABAS, AS palavras tinham que bilho e peço uma opinião? O limite deu
gosto de poesia, então —na teoria —, não me encaixar os versos. Veio a primeira dificul- RIMAS. OS VERSOS encaixar sílaba por mais um toque: melhor não, pode ser um so-
falta nada, foi o que concluí com muita arro- dade: o que parece bom escrito no papel não E A MELODIA SE sílaba na melodia e frimento e ele vai me cobrar com juros.
gância. Ele manda a melodia, eu crio uma le- necessariamente fica bom na música. DIGLADIAVAM que a palavra mais Decidi deixar de perturbar a MPB. Seu
tra, tá pronta a música. Fácil! Por algum mis- Aliás, pode ficar bem ruim. adequada no texto processo criativo é fascinante, daria até um
tério da natureza, as coisas que parecem sim- Depois de muitas tentativas, percebi que FEITO UNHA não é a que encaixa livro, mas agora preciso focar é na letra, se-
ples na teoria não costumam ser fáceis na a única solução seria pedir ajuda. Ao pró- COMPRIDA NO melhor na música. não acaba dando ruim.
prática. Logo notei que décadas de discos, prio Kleiton seria o certo, mas achei que ele QUADRO NEGRO O imprescindível é Taí uma boa rima para um fim.

OBITUÁRIO • KENNETH MITCHELL ATOR, 49 ANOS

ASTRO DE ‘STAR TREK’

E ‘CAPITÃ MARVEL’
K enneth Alexander Mit-
chell nasceu em 25 de
novembro de 1974, em To-
CANADENSE, QUE FOI DIAGNOSTICADO COM ESCLEROSE
LATERAL AMIOTRÓFICA EM 2018, ATUOU AINDA EM OUTROS
briu, foi “como se estivesse
assistindo àquela cena em
que alguém ouve que tem
ronto, no Canadá. Formou- uma doença terminal”.
se em Paisagismo na Uni- FILMES E SÉRIES DE TV, COMO ‘GREY’S ANATOMY’ E ‘THE MENTALIST’ Mitchell disse que se con-
versity de Guelph, chegan- REPRODUÇÃO
centrou em passar mais
do a ganhar um prêmio im- perspectiva e de com- tempo com sua família e re-
portante da Sociedade de preensão da sua cultura”, jeitou um papel principal
Arquitetura do país. Mas de- disse ele. “Você conhecerá em uma série de televisão
pois de passar quatro anos os Klingons em nosso pro- que exigia sua mudança de
estudando na Austrália, co- grama e então as pessoas volta para o Canadá. Na ter-
meçou a se interessar pela poderão decidir se real- ceira temporada de “Star
carreira artística. mente somos os vilões.” Trek: discovery”, ele inter-
Entre filmes e séries para a Já em “Capitã Marvel”, pretou Aurellio, um perso-
TV, o ator ficou mais conhe- Mitchell interpretou o pai nagem que usava cadeira de
cido por seus papéis em “Star da super-heroína, Carol rodas, criado especialmen-
Trek: discovery”, em que in- Danvers. O ator também te para ele.
terpretou os Klingons Kol, participou de filmes e séries “Esta doença é absoluta-
Kol-Sha e Tenavik. Ele tam- como “ Jericó”, “Grey’s Ana- mente horrível”, disse
bém dublou vários persona- tomy”, “CSI: Miami, crimi- Mitchell em uma posta-
gens em um episódio de nal minds” e “The Menta- gem do ano passado, que
“Star Trek: lower decks”. list”, entre outros. acompanhava uma foto
Em uma entrevista de O ator morreu sábado, dele assistindo ao pôr do
2017 ao site StarTrek.com, aos 49 anos, em decorrên- sol em uma cadeira de ro-
ele disse que esperava fazer cia de complicações da Es- das na praia. “No entanto,
os espectadores pensarem clerose Lateral Amiotrófi- apesar de todo o sofri-
de forma diferente sobre os ca (ELA). Ele conviveu mento, há muito pelo que
Klingons, os guerreiros hu- com o distúrbio neurológi- agradecer”, acrescentou.
manoides cujo papel no uni- co desde 2018, mas só reve- Mitchell morava com sua
verso Star Trek mudou ao lou seu diagnóstico em mulher, a atriz Susan May
longo das décadas. 2020, em entrevista à Peo- Pratt, e seus filhos, Lilah e
“Se alguém é bom ou ple, dizendo que desde o Kallum, em Los Angeles.
mau, é tudo uma questão de Eterno Klingon. O ator Kenneth Mitchell interpretou e dublou vários personagens de “Star Trek” momento em que a desco- (Com New York Times)

OBITUÁRIO • SHINSADONG TIGER PRODUTOR E COMPOSITOR, 40 ANOS

RESPONSÁVEL PELO ESTILO MUSICAL QUE

DEFINIU O K-POP NO INÍCIO DOS ANOS 2010
COM O NOME REAL DE LEE HOYANG, COREANO FEZ SUA ESTREIA CRIANDO
COMPOSIÇÕES EM 2004 COM SUCESSO QUE TINHA BATIDA DE BOSSA NOVA
E RESPONDEU POR MUITOS HITS DE JOVENS ARTISTAS E GRUPOS
KOREA.NET/SERVIÇO COREANO DE CULTURA E INFORMAÇÃO /JEON HAN/20-10-2013

L ee Hoyang, que se tor-

nou conhecido como
produtor e compositor de
Batida
brasileira e
K-pop.
a banda pop sul-coreana Ja-
du. A música, que tinha ba-
tida bossa nova brasileira,
pop emocionante, funky e
baseado em batidas que
continua a ser repetido
em 2012, e Tri.be, que co-
meçou em 2021.
Shinsadong Tiger mor-
música pop sul-coreana O produtor foi lançada em 2005. continuamente”, disse Do reu em Seul, capital da Co-
sob o nome artístico de coreano Lee frequentemente re- Heon Kim, crítico de reia do Sul, na sexta-feira,
Shinsadong Tiger, nasceu estreou como cebeu os créditos por mol- música pop da Coreia do aos 40 anos. A agência de
em 3 de junho de 1983, em compositor dar o estilo musical que Sul. “Não há lugar onde cuidava da carreira dele
Pohang, uma cidade na em 2004, definiu o K-pop no início sua influência não tenha confirmou a morte em co-
costa sudeste da Coreia do quando de 2010: cativante, oti- sido sentida.” municado. Não mencio-
Sul. Sem formação musi- produziu mista e repetitivo com um A carreira de Lee desace- nou a causa, mas disse que
cal formal, mergulhou no “Man and gancho forte. Ele produ- lerou no final da década de um funeral privado estava
universo artístico que o le- woman” para ziu muitas canções de su- 2010, à medida que sua sendo realizado em Seul. A
vou ao sucesso desde o en- a banda pop cesso comercial ao longo música passou a ser consi- agência, TR Entertain-
sino médio, quando tocava sul-coreana da década, principalmen- derada repetitiva e ele en- ment, não respondeu a um
numa banda e remixava Jadu; a música, te para jovens artistas. En- frentou acusações de plágio, pedido de informação en-
músicas com os amigos, que tinha batida tre os sucessos estiveram que negou, diz o crítico Do viado por e-mail.
contou ele numa entrevis- da bossa nova, “Roly-Poly” e “Bo Peep Bo Heon Kim. O compositor Um detetive da polícia
ta em 2011. O coreano es- foi lançada Peep”, ambos do T-ara; concentrou então mais em Seul também confir-
treou como compositor em 2005 “NoNoNo”, de Apink; e energia na produção e aju- mou o acontecido, mas não
em 2004, quando produ- “Bubble Pop!”, de Hyuna. dou a formar os grupos fe- revelou detalhes. (Com
ziu “Man and woman” para “Ele criou um estilo de K- mininos EXID, que estreou New York Times)
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