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Copyright C) 1997 by INPA

Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima


ISBN 85-211-0008-6

Design, Capa e Ilustrações

Fábio Martins

Editora0o Eletrônica C Mapas


Marcos Roberto Pinheiro

odução
Homem, Ambiente e Ecologia Áttema (attemagburiti.com.br)
Courier
no Estado de Roraima

Barbosa, Reinaldo Imbrozio (ed)


Homem, ambiente e ecologia no estado de Roraima /
Reinaldo imbrozio Barbosa, Efrem Jorge Gondim Ferreira;
Editado por Eloy Guillermo Castellon. INPA, Manaus, 1997.
630 p. il.
ISBN 85-211-0008-6
Reinaldo 1. Barbosa, Efrem J. G. Ferreira
1. Ecologia humana-Roraima 2. Meio ambiente-Roraima
e Eloy G. Castellón 3. Zoologia-Roraima 4. Botânica-Roraima 5. Arqueologia-
Roraima 6. Roraima I. Ferreira, Efrem Jorge Gondim
II. Castellón, Eloy Guillermo III. Título

COO 19ed. 304.2


500

Enviar pec lidos para:


Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA -Alameda Cosme Ferreira,
1756- Caixa Postal 478 - 69011-970 Manaus, Amazonas, Brasil.
trwpai O Mosaico de Imagens de Satélite apresentado na quarta capa deste livro foi
elaboado pelo Senagro, sob encomenda do Governo do Estado de Roraima.
Manaus - AM - 1997
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima
Barbosa R. I., Ferreira E. J. G. & Castellón E. G. (eds)
INPA - 1997

Os impactos
ambientais e sociais
mineração informal
na Amazônia

Gordon J. MacMillan (1)

Este estudo faz parte de minha tese de doutorado realizada


em Roraima (1990-92) e defendida na Universidade de Edinburgh,
Escócia (MacMillan, 1993a; 1995). O objetivo deste trabalho foi dar
continuidade às discussões passadas de como a economia da
mineração funciona e qual a sua influência no uso e posse da terra
na Amazônia. Neste sentido, faço apreciações do significado deste
tipo de atividade para o futuro da região e de seus habitantes,
abordando os impactos sociais e ambientais que o setor de
mineração informal (garimpagem) provoca em diferentes partes da
Amazônia e, em especial, como se situa no estado de Roraima.
No texto que segue, a abordagem de cada um dos tópicos foi
direcionada no sentido de interrelacionar e explorar os diferentes
tipos de impactos. Este modelo de discussão serve ao propósito de
demonstrar que há interdependência entre os impactos e, por isso,
não podem ser analisados separadamente.

Sedimentação e desmatamento

Como a maioria das operações de mineração na Amazônia


estão situadas próximas ou dentro de cursos d'água, elas acabam
provocando grande impacto sobre os ecossistemas aquáticos
(Fig. O. De fato, alguns pesquisadores tem argumentado que a
sedimentação de cursos d'água é o mais significante de todos os
custos ambientais atribuidos à garimpagem (Douroujeanni &
Padua, 1992:103). Estimam-se que 2 m3 de sedimentos entram nos

'University of Edinburgh, Department of Geography, Drumond Street, EH8 91W Edinburgh, Scodand
(Escócia).
Os impactos ambientais e sociais do setor da mineração informal na Amzônia
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima

Ernbora o desmatamento seja frequentemente percebido como um 183


182 dos seus piores efeitos, sua significância na alteração da cobertura
vegetal associada com a garimpagem é talvez exagerada.
Mineração, como a maioria de outros usos da terra, esta
concentrada em áreas relativamente pequenas e, portanto, não
contribui diretamente para um significativo aumento do des-
matamento na região. No caso de Roraima, a pecuária, a
agricultura e a extração de madeira são na realidade os maiores
causadores de desmatamento. A importância da alteração na
vegetação associada com a mineração se torna importante no nível
local, especialmente se ela for uma área de floresta que ofereça um
meio de vida para a população local. Além disto, devido a um
maior revolvimento do solo, é muito difícil reflorestar mosaicos de
terra que tenham sido afetados pela garimpagem. Cientistas que
vêm tentando recuperar sítios de mineração degradados, geralmente
são obrigados a reconstruir todo o perfil do solo que foi destruído.
Mesmo assim, somente considerando o desmatamento
diretamente causado pela mineração "in situ", uma grande parte
da degradação causada pela atividade não é observada. Uma
melhor avaliação deveria ser feita neste sentido e evoluir em
respostas do quanto o desmatamento em outras áreas é financiado
Figura 1. Mineradores desmontando um barranco para extração de ouro, alto pelo lucro do garimpo. Evidências de que parte do ouro extraído
rio Mucájaí. Fonte: MacMillan (1995:40). de Roraima foi investido em fazendas no próprio estado e no sul
do Pará, sugere que o lucro da mineração pode ser dirigido à
rios para cada grama de ouro extraída dos garimpos. Embora "economia do bife", já que muitos dos subsídios federais antes
variações geológicas permitam que esta proporção mude entre disponíveis para a pecuária foram redirecionados. Obviamente,
diferentes áreas de mineração, isto não altera a afirmação de que garimpagem é somente uma das atividades na qual o lucro é
a sedimentação causada pela extração mineral na Amazônia pode canalizado para a pecuária. Mas, a considerável fartura gerada
ser medida em bilhões de toneladas. Isto não somente interfere pela mineração, junto com sua tendência de contribuir para a
com a reprodução de peixes, que é uma importante fonte de concentração social e espacial, sugere significante parceria
proteína animal para os habitantes da região, como também financeira entre os setores da pecuária e mineral em certas partes
acelera a taxa de sedimentação em reservatórios de hidrelétricas da Amazônia. Em Roraima, os garimpos na Reserva Yanomami e no
(uHt et al., 1992). Este parâmetro foi pouco discutido nos planos de rio Jatapu (sul do estado) tiveram grandes investimentos por parte
construção e nos Estudos de Impacto Ambiental da hidrelétrica do de fazendeiros e garimpeiros influentes (MacMillan, 1995). Nesta
rio Cotingo, localizada dentro da área indígena Raposa/Serra do ótica, a garimpagem pode ter uma forte repercussão sobre os
Sol em Roraima. Caso a hidrelétrica venha a ser construída, este modelos de desmatamento, posse da terra e violência rural.
fator pode acarretar grandes prejuízos ao setor público devidp ao
assoreamento do reservatório provocado pela atividade garimpeira
realizada acima do local estipulado para a barragem (Carvalho & Contaminação de mercúrio
Barbosa, 1994). e suas implicações à saúde pública
As mudanças nos ecossistemas aquáticos provocadas pela
mineração podem ser bem mais significantes em termos eco- As implicações da contaminação do mercúrio na saúde
lógicos do que as alterações impostas no ambiente terrestre. pública são de particular interesse a médio e longo prazo em
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima 4 Os impactos ambientais e sociais do setor da mineração informal na Amzônia

184 qualquer setor de planejamento governamental. Embora garim- peixes carnívoros. Estes podem ser pescados e estar presente nas 185
peiros estejam quase que em sua maioria cientes da alta toxidez refeições de qualquer pessoa do meio rural ou urbano.
do mercúrio, é comum ver pessoas'agrupadas nos garimpos Ao contrário do mercúrio inorgânico, o metil-mercúrio não é
amalgamando ouro com mercúrio; uma técnica que separa o ouro facilmente descarregado do corpo. Portanto, ele se acumula nos
das impurezas e libera gases altamente tóxicos (vapor de mercúrio tecidos dos organismos vivos quanto mais se aproxima ao final da
ou mercúrio inorgânico) para o ser humano e o ambiente. Esta cadeia alimentar como no caso de grandes peixes carnívoros,
atividade geralmente é realizada logo após o trabalho de jacarés e humanos. Comunidades ribeirinhas que vivem próximas
garimpagem, para que seja possível avaliar rapidamente o fruto dos das áreas de garimpo estão entre os grupos de maior risco
esforços e estimar o pagamento. Lojas que compram ouro, de contaminação de mercúrio através da ingestão de peixe
próximas ou dentro de áreas urbanas, perpetuam o' mesmo ritual contaminado. Como a limnologia e os processos bioquímicos nos
na hora da aquisição do ouro para garantir o expurgo do excesso rios da Amazônia ainda não são bem conhecidos, é difícil saber
de impurezas. Embora com menos intensidade atualmente, ainda que período de tempo é necessário para esta cadeia de eventos.
é comum encontrar tais comércios localizados no centro da cidade Maior número de pesquisas deveriam ser direcionadas no sentido
de Boa Vista. Mesmo que em menor quantidade, os comerciantes de monitorar a saúde de comunidades ribeirinhas (ver Couto,
deste tipo de lojas também estão expostos ao vapor de mercúrio. Os 19m). As populações afetadas deveriam ser prevenidas sobre as
"donos de garimpo" (proprietários de maquinário) queimam a maior consequências de se alimentar com peixes carnívoros. Enquanto
parte do metal tóxico nos sítios de produção mas os resíduos são isto, atenção deveria ser dada para a introdução de novas técnicas
inevitáveis ao comerciante de ouro da cidade. de controle, tais como condensadores de mercúrio portátil
Pessoas que inalam vapores de mercúrio do processo de (conhecido como retentores) e redução na descarga de mercúrio
queima absorvem o metal em sua forma inorgânica através das nos rios feita pelos próprios garimpos. Em Roraima não são
mucosas do nariz e do pulmão. Mesmo tóxico, neste estado conhecidos registros deste tipo de contaminação em seres
inorgânico uma parte do mercúrio pode ser descarregado para fora humanos. Entretanto, este é um processo que pode levar anos sem
do corpo pela urina (David Clear)ç1 993; comunicação pessoal). que se tenha a real visão do que esta ocorrendo. No Japão,
Donos de garimpo e comerciantes de ouro contaminados pelo somente após 30 anos de intensa descarga de poluentes tóxicos à
vapor de mercúrio podem passar por um prolongado processo de base de mercúrio na Baía de Minamata, é que foi possível detectar
desintoxicação se forem rerriovidos da fonte de poluição. Em casos severas anomalias neuro-fisiológicas nas pessoas que se
extremos, drogas podem ser administradas para acelerar a taxa na alimentaram dos peixes daquela localidade. As descargas de
qual o mercúrio é descarregado do corpo através da urina. mercúrio por amalgamação e lavagem do ouro em Roraima são
Entretanto, este processo pode ser longo e demorado. consideradas extremamente altas (Veiga & Meech, 1995:128).
Um segundo e potencial sério canal de contaminação por Portanto, seria sensato um maior controle público sobre as fontes
mercúrio é via o consumo de peixe contaminado. Uma parte do de descarga de mercúrio no ambiente.
mercúrio lavado nos garimpos é descarregado para dentro dos cursos Atualmente, a maioria das pesquisas sobre poluição de
d'água e depositados nos sedimentos do leito dos rios. Estes mercúrio está direcionada para a identificação das sociedades
depósitos se ligam ao mercúrio que foi condensado em forma de estão sob o maior risco de contaminação. Este foi o objetivo de
chuva (após o processo de queima descrito acima) e, sofrem uma colaboração científica entre o Imperial College (Londres) e
diferentes reações químicas se transformando de inorgânico para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, que é uma das
orgânico. Este processo se chama metilação. No estado orgânico o maiores fontes de informação sobre as implicações da
mercúrio se toma extremamente tóxico e recebe o nome de metil- contaminação do mercúrio na saúde pública do Brasil. A
mercúrio. Peixes detritívoros, que se alimentam de resíduos do fundo pesquisa mostrou, pela análise de sangue e urina de pessoas
do rio, e outros organismos, absorvem o mercúrio estabelecido entre vivendo próximo ou mesmo nos garimpos do rio Tapajós (Pará),
os restos orgânicos do leito do rio e, por sua vez, são comidos por que a queima de ouro por amalgamação tendeu a provocar
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Os impactos ambientais e sociais do setor da mineração informal na Amzônia

maiores níveis de mercúrio na urina humana dos garimpeiros do 187


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que nos comerciantes de ouro das cidades (ver Brussels, 1991).
VENEZUELA
A pesquisa também determinou rine habitantes ribeirinhos
vivendo próximo de áreas de mineração têm altos níveis de
mercúrio orgânico em seu sangue devido a ingestão de peixe
contaminado.
A despeito destas observações preocupantes, o projeto
registrou baixos índices de contaminação de mercúrio na
população de Itaituba, a cidade mais próxima dos garimpos do
Tapajós. Este último achado levanta algum otimismo, pois sugere
que é improvável que grande parte da população urbana da
Amazônia esteja severamente afetada por envenenamento de
mercúrio como se imaginava anteriormente. Essencialmente, a AMAZONAS

maioria dos moradores urbanos estão isolados das duas fontes de


contaminação descritas acima. A poluição pelo vapor é baixa
porque somente urna fração do mercúrio total é queimado dentro
Limites de reservas Indige
Limites
de ambientes confinados na cidade. A ameaça da contaminação
El Áreas de garimpa
orgânica é reduzida porque a dieta urbana é muito mais diversa do
I Uraricoera (revogado)
que a rural, a qual tende a ser baseada na pesca. Mesmo assim,
2 Urancaa -Santa Rosa (revogado)
não existe lugar para complacência, especialmente se tão pouco é AMAZONAS
3 Catdmani - Couto de
conhecido sobre os processos de envenenamento nos ecossistemas Magalhães {revogado)

da Amazônia. 4 Topequém (ainda existente)


iwn
A maioria das pesquisas sobre poluição de mercúrio tem 12 Granito Surumu A
100

enfocado o rio Tapajós (Pará) e o rio Madeira (Rondônia), onde a ei Conglomerados Rorairra

garimpagem é intensa desde a década de 1960. Claramente, foi


senso comum coletar dados nestas áreas devido ao intenso e longo
período de uso do mercúrio. Mas, existe ainda a necessidade de Figura 2. Formações geológicas de significância econômica em Roraima e
unir informações básicas de outras partes da Amazônia menos reservas garimpeiras. Fonte: MacMillan (1995:25).
acessíveis, onde a mineração de ouro também ocorre. Virtualmente,
nada é conhecido sobre a extensão e a provável consequência do
uso do mercúrio nas áreas remotas de Roraima (reserva Yanomami), A repercussão nas comunidades indígenas
na Cabeça do Cachorro (Pará) e no Amapá. Embora supostamente
menos mercúrio tenha sido descarregado nos cursos d'água dessas É particularmente infeliz que a geologia da Amazônia
áreas, diferenças hidrológicas e variações na dieta local significam
encoraje mineradores a entrar em bacias hidrográficas que
que as implicações da poluição por mercúrio em uma parte da
providenciam últimos refúgios para algumas das mais isoladas
Amazônia não podem ser diretamente extrapoladas para outros
sociedades indigenas do planeta. A Figura 2 demonstra esta
ambientes da região. A longo prazo, portanto, existe uma
situação no estado de Roraima, onde as formações geológicas
necessidade de estender o monitoramento da poluição por
econômicas se encontram dentro de áreas tradicionalmente
mercúrio no Madeira e no Tapajós para outras partes da Amazônia,
habitadas por grupos indígenas. Por exemplo, a chegada de
integrando as informações com dados apropriados sobre hábitos
garimpeiros nas terras de sociedades sensíveis como dos
alimentares das populações expostas.
Os impactos ambientais e sociais do setor da mineração informal na Amz8nia
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima

Yanomami em Roraima continua sendo particularmente de- Em outras áreas, mesmo onde grupos de índios possuem 189
188
vastadora. De um lado, os índios possuem baixa resistência às experiência prévia da conduta com a maioria dos segmentos da
doenças do "Velho Mundo" que os' pequenos mineradores sociedade brasileira, problemas frequentemente surgem quando se
inadivertidamente trazem com eles. Por outro lado, a subsistência tenta organizar e controlar a extração mineral. Existem exemplos
dos índios está frequentemente dependente do bom de comunidades indígenas beneficiadas pela garimpagem quando
funcionamento da saúde do ecossistema. O início dos trabalhos ela é praticada em outros termos, mas, infelizmente, relações
dos garimpeiros pode romper severamente este elo de ligação. amigáveis entre índios e garimpeiros são raras e tendem a ser
Grupos de índios podem até suportar o impacto de certos particularmente difíceis quando os depósitos em questão são muito
problemas ambientais, entretanto, o conjunto destes impactos com valiosos. Mesmo os Kayapó, que estavam conseguindo regular a
o tormento das doenças traz consequencias seveMs. Tudo isto atividade mineral em suas terras, foram forçados a fazer
ocorre dentro de um contexto social e econômico que não é renegociações com os garimpeiros. Este e outros exemplos
somente profundamente desorientado, mas também pode ser sugerem que os impactos negativos sobre as comunidades
composto por conflitos violentos devido a invasão de garimpeiros. indígenas podem ser incluídas na lista de custos sociais diretos
associados com a atividade garimpeira. A despeito de suas
O massacre de 16 Yanomami da maloca de Hashimu
em agosto de 1993, foi um incidente já antevisto devido ao limitações, não existe alternativa óbvia para a intervenção
prolongado conflito entre os índios de Roraima e os garimpeiros. governamental rigorosa para o policiamento nas reservas
Embora outros componentes da sociedade local, como grandes indígenas.
pecuaristas, estejam envolvidos em conflitos, por exemplo, na
região da Raposa/Serra do Sol, a questão ainda parece estar
centralizada em grande parte nas pressões de grupos de interesse
Benefícios minguados
mineral. Na análise dos eventos que levaram ao episódio
de Hashimu, o antropólogo social Bruce Albert enfatiza a Para muitas pessoas não-índias da Amazônia, a percepção
significância do equívoco cultural. Ele explica que para entrar nas provável é que os benefícios da garimpagem excedem os custos
reservas indígenas, os garimpeiros, que inicialmente tinham medo ambientais e sociais. Entretanto, isso reflete a grande ignorância das
dos índios e eram minoria, olharam a pacifidade dos indígenas consequências da poluição por mercúrio, do fracasso mineral e da
como uma espécie de troca oferecendo-lhes prendas. Entretanto, troca no modelo de transmissão de doenças e epidemias. Mas isto
com a chegada de mais garimpeiros, o equilíbrio de forças entre não quer dizer que a atividade não traga crescimento econômico
os grupos mudou e os mineradores não tinham mais a necessidade para áreas remotas da região. Os benefícios para áreas rurais
de manter sua generosidade inicial. Bruce Albert (Albert, s/d:3) podem ser consideráveis, especialmente se o garimpo abre ou
relata que os índios sentiram a rápida deterioração de sua saúde melhora vias de transporte. Por exemplo, a Transgarimpeira no
e do ambiente causada pela mineração de ouro. Diminuição da Tapajós foi construída para ganhar acesso à região dos garimpos,
caça, rios poluídos, medo do maquinário barulhento e constantes mas também estimula a agricultura, pecuária e indústria madeireira
epidemias com morte, tenderam a destruir o esquema sócio- ao longo de seu percurso. Uma comparação de menor escala pode
econômico de suas comunidades. Esta situação levou os índios a ser feita na área da Colônia do Apiú em Roraima. Essa região foi
ver os bens e a comida dos garimpeiros como uma compensação
durante muito tempo uma das rotas dos garimpeiros para se chegar
vital pela destruição que eles causaram. Quando isto foi recusado,
na reserva Yanomami. Muitos deles acabaram se estabelecendo na
um sentimento explicito de revolta veio à tona. A formalização da
região ou motivando a abertura de novas vicinais. Entretanto, este
dependência dos índios em relação aos mineradores acarreta
fato não pode ser definido ou comparado a um real desenvolvimento
episódios de violência. Como a disparidade na força entre os
econômico. A maioria da população local não foi beneficiada de
mineradores e os índios é enorme, a balança sempre vira contra os
Yanomami. forma geral.
Os impactos ambientais e sociais do setor da mineração informal na Amzônia
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima

sufíCiente para estimular a migração por si mesmo? Se a corrida do 191


Em uma outra visão, as mudanças de infraestrutura associa-
190 • ouro leva um grande número de migrantes para a Amazônia, isto
das com a garimpagem são mínimas em comparação àquelas feitas
pelo setor de mineração formal (empresas mineradoras). Por exem- certamente aumentará consideravelmente as pressões já existentes
plo, em meados dos anos ao, a Companhia Vale do Rio Doce sobre os frágeis ecossistemas da região. No caso de Roraima,
construiu uma ferrovia de 900 km para transportar minério de ferro embora o número absoluto de pessoas seja consideravelmente
da Serra de Carajás (Pará) para o porto de São Luiz (Maranhão). pequeno em relação a outros estados da região (c 260.000
Mesmo ilegalmente, a Paranapanema construiu uma estrada dentro habitantes), deve-se atentar para as elevadas taxas de crescimento
da reserva Waimiri-Atroari (Roraima/Amazonas), para ganhar aces- populacional observadas no último período censitário (198081):
so à mina de cassiterita de Pitinga (BR-174). Garimpeiros não são 9,5% a.a.. (IBGE, 1992). As pressões sociais que o estado vem
responsáveis por estes grandes projetos de desenvolvimento mas, sofrendo atualmente, são fruto de uma passada e equivocada
mesmo assim, seu impacto sobre a economia regional e sociedade estratégia de desenvolvimento que não deve ser perpetuada no
local é provavelmente muito maior do que o setor de mineração futuro com riscos de se minguar os benefícios oriundos de
formal. O garimpo possui um efeito multiplicador muito maior do qualquer tipo de atividade econômica no estado.
que as empresas de mineração e uma considerável demanda por
bens, serviços e terra que geram frequentemente transformações Agradecimentos
radicais em nível local e regional. Isto é claramente visível em
cidades como Marabá, Santarém, Porto Velho e, recentemente, Boa Economic and Social Research Council e a Universidade
O
Vista, que teve seu processo de expansão e urbanização nos anos
de Edinburgh, providenciaram financiamento e facilidades à
ao e início dos 90 claramente associado à expansão da economia
pesquisa. O INPA, através do Núcleo de Pesquisas de Roraima
mineral (Abers & Pereira, 1992). Todas estas cidades tiveram um apoiou o trabalho em Boa Vista. Reinaldo lmbrozio Barbosa (INPA)
elevado crescimento econômico o que, porém, não necessaria- fez sugestões e traduziu o texto original.
mente, é sinônimo de progresso ou desenvolvimento.

Bibliografia
Considerações finais
Abers,R.N. & Pereira,A.C.L. (1992). Gold, geopolitics and Hyperhurbanization in the
Podemos dizer que garimpagem é um agente muito influente Brazilian Amazon: the case of Boa Vista, Roraima. In: G. Fadda (ed.) La Urbe
nas mudanças contemporâneas na Amazônia, afetando a saúde, o Latinoamericana Ante el Nuevo Milenio. Fundo Editorial Acta Científica
bem-estar e o ambiente de muitos dos habitantes da região. Minha Venezolana, Caracas.
abordagem explora o grande fluxo de trabalhadores e capital (parte do registro oficial
Albert,B. (s/d). O massacre dos %mamar& de Hashimu
associado com os impactos que o setor de mineração informal para a Polícia Federal, FUNAI e Procurador Geral da República em 1993).
pode levar a longas distâncias. A despeito disto, migração de Brussels,D. (1991). Mercury contamination in the Brazilian Amazon: a report ror
longo prazo estimulada pela corrida do ouro é variável e the European Commissinn DCilenvironment (documento não publicado).
quantitativamente desconhecida. Enquanto agora existe uma Carvalho,C.M. & Barbosa,R.I. (1994). Parecer Técnico U1E-Cotingo. Instituto
compreensiva literatura sobre os movimentos populacionais do Nacional de Pesquisas da Amazônia, Núcleo de Pesquisas de Roraima, Boa
Nordeste para a Amazônia relatados em diferentes pesquisas, Vista, Roraima (26.08.1994). 16p.
virtualmente nada é conhecido sobre os modelos de migração Couto,R.C.S. (1990). Condições de saúde nos garimpos de ouro da Amazônia. In:
estimulados pela expansão regional da economia mineral 5. Hacon; L.D. Lacerda; W.C. Pfeiffer & D. Carvalho (org.) Os Riscos e
(MacMillan, 1993b). Nestes termos, uma importante questão pode Consequências do Uso do Mercúrio (Anais do Seminário Nacional), Rio de
ser levantada: pequenos proprietários de terra vão para a Janeiro. 314 p.
Amazônia a procura de um lote agrícola e entram para os Douroujeanni,M. & Padua,M.T. (1992). Ecologia no Brasil, Mitos e Realidade.
garimpos em caso de não obtê-lo, ou a atração dos garimpos é FUNATURNFACTO, Rio de Janeiro.
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima
Barbosa R. I., Ferreira E. J. G. & Castellón E. G. (eds)
INPA - 1997
IBGE (1992). Brasil em números. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio
192 •
de Janeiro. 92p.
Historiografia das
MacMillan,G. (1993a). Gold mining and land use change in the Brazilian
Amazon. PhD Thesis, University of Edinburgh. expedições científicas
MacMillan,G. (1993b). Ouro e Agricultura: O Impacto do Garimpo na Economia
Agrícola da Amazônia. Ciência Hoje, 15(88): 9-11. e exploratórias no
MacMillan,G. (1995). At the End of the Rainbow? Gold, Land and People in the
Brazilian Amazon. Earthscan Publication, Londres. 199p. vale do rio Branco
UhLt.; Bezerra,O. & Martini,A. (1992). An ecosystem perspective on threats to
biodiversity in eastem Amazonia (documento de pesquisa). IMAZON, Pará.
Veiga,M.M. & Meech,J.A. (1995). HgEx - A heuristic system on mercury pollution
Reinaldo imbrozio Barbosa ")
in the Amazon. Water, Air, and Soil Pollution, 80: 123-132. e Efrem Jorge Gondim Ferreira (")

O aparecimento de registros históricos de diversas


Gordon MacMillan é PhE) e pesquisador honorário da Universidade de expedições científicas e exploratórias na região do vale do rio
Edinburgh (Escócia). Se estabeleceu em Roraima entre 1990-92 no intuito Branco, hoje Roraima, está ligado diretamente à conquista do rio
\E de realizar seu trabalho de canlpo para a defesa do doutorado. Sua área Negrd pelos portugueses no século XVII. Embora ainda com
de interesse estava voltada para a investigação dos impactos sócio- pontos obscuros dentro de alguns intervalos de tempo, a visão
ambientais que a corrida do ouro provocou na Amazônia ao final da sequenciada dos relatos revela diferentes interesses sobre a região
década de 1980. Ele atualmente trabalha como consultor independente em função da época e da situação política global de quando foram
para o Governo Britânico através da Overseas DevelopmentAdministration
documentados. Dependendo do momento, os interesses podiam
(orm). variar de puramente científicos até comerciais e demarcatórios
entre as nações européias que dividiam este espaço do Novo
Mundo, denominado como região das Guianas.
Além da disputa territorial entre portugueses, espanhóis,
franceses, holandeses e ingleses, somava-se a fértil imaginação do
período colonial que acreditava que nestas terras encontrava-se o
lendário "Lago Parima" ou "Eldorado", com suas grandes riquezas. Com
isto, acelerou-se o tráfego de expedições de caráter econômico ou de
reconhecimento por toda essa região. Embora do ponto de vista da ciência
alguns relatos pouco tenham contribuido diretamente, o conjunto das obras
fornece uma razoável remontagem de fatos importantes que marcaram a
região, além de fornecer pistas sobre a dimensão das ações políticas de
ocupação territorial adotadas para o vale do Rio Branco.

to Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Coordenação de Pesqqisas em Ecologia, Coordenadona


96, 69301-970 BoaVistaiRoraima.
Técnica eAdministrativa do Convênio INPNGERR, Caixa Posta1.

"Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática, Caixa


Posta1478,69011-920ManausiArnazonas.
Historiografia das expedições cientificas
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima e exploratórias no vale do rio Branco

estavam, na maioria das vezes, ligadas à conquista portuguesa da região 195


As diversas expedições formam um banco de dados de grande do rio Negro. Foi um período de início da cicatrização das fronteiras
194
importância histórica sobre o ambiente e as sociedades indígenas de onde européias na América do Sul. Mesmo estabelecendo bases pouco
hoje se situa Roraima. A montagem de urn cenário passado para esta seguras para seu total domínio, os portugueses mantiveram um fluxo
região pode mesmo ser considerado novo para a maioria da população
relativamente regular por esta região procurando, não só expandir, mas
local. Uma parte dos registros ainda pode estar dispersa pelo tempo e
também garantir o território já conquistado. Em sua maioria, as
espaço mas, o que mais chama a atenção, é a distância cultural que por
expedições interessavam-se pela manutenção das fronteiras já
vezes impede a visual ização da importância do resgate destes relatos. São
conquistadas através de militares ou funcionários coloniais, ou na
informações que além de descreverem a geografia e a economia,
expansão das relações comerciais. Nesta época, a mercadoria mais
abordam com impressionante riqueza de conteúdo os aspectos sociais e
antropológicos e, a fauna e a flora de toda uma região. ,Não há como cobiçada juntamente com as drogas do sertão, era a de indígenas. Estes
negar que estes registros fazem parte de uma infra-estrutura necessária eram trazidos pelas "tropas de resgate" para comercialização em Belém
para que planejadores e tomadores de decisão imaginem a questão do ou com outras nações vizinhas. Grande parte das populações indígenas
desenvolvimento regional não só pelo aspecto ambiental, mas também sofreu perdas significativas, tanto pelo aprisionamento como pelo vigor
pelo respeito às diferenças culturais. Neste sentido, nosso objetivo foi o das doenças como varíola, gripe, irritações de pele etc., trazidas pelos
de recuperar e remontar, através dos relatos de diversos viajantes que exploradores.
passaram por esta região, todo um cenário sócio-econômico, político e Do ponto de vista científico, apenas a expedição do naturalista
ambiental do Estado de Roraima, intensionando ampliar o conhecimento brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira, em 1786, é destacada. Vale
dos processos de formação histórico-cultural e de ocupação humana que ressaltar, porém, que mesmo com grande espírito pela descoberta do
influenciam até hoje os diferentes caminhos seguidos para o novo, Ferreira foi impulsionado por um convite do Governo Colonial
desenvolvimento regional. Português que queria conhecer o potencial econômico desta terra. Além
Para realizar o levantamento das principais expedições e seus disto, possuia como segunda missão avaliar a situação dos aldeamentos
personagens na região do vale do rio Branco, resgatamos documentos e indígenas no rio Branco que, recentemente, haviam sido abalados por
verificamos diferentes fontes bibliográficas a partir do final do século xvii um levante dos índios que se revoltaram com a forma de tratamento dos
até o final da década de 1960 (ver Bibliografia). Deste período em diante, portugueses. Todo material coletado na extensa viagem de Ferreira pela
consideramos que os meios de transporte e comunicação começaram a Amazônia, inclusive as notas de campo, foram depositadas no Real
se consolidar em Roraima, permitindo facilidades que os antigos Museu de Lisboa, sendo confiscado em seguida por Napoleão Bonaparte
naturalistas e exploradores não possuiam, finalizando então o resgate quando da invasão francesa a Portugal em 1808. A maior parte de seu
documental. Com isto em mente, dividimos o levantamento em três material esta conservado atualmente em Paris, no "Museum National
grandes blocos da história do Brasil: Colônia, Império e República.
d'Histoirie Naturelle".
Acreditamos que cada uma destas fases representou um ideal político,
científico e exploratório diferente dentro dos cenários nacional e Primeiras expedições
internacional. Sua interconexão deve permitir uma visão global dos
acontecimentos passados sem, contudo, objetivar fazer um relato Pedro Teixeira/Cristobal de Acufia (1639/40)
biográfico dos exploradores e naturalistas que passaram por Roraima. Existe uma constante especulação em diversos documentos de que
Mesmo porque é provável que o trabalho necessite de complementação. Pedro Teixeira tenha sido oficialmente o primeiro a subir o rio Branco.
Em seu relato de viagem, escrito pelo Padre Cristobal de Acura, existe
Histórico das expedições uma descrição geográfica e um mapa que indica a provável localização
do rio Branco. Entretanto, não há uma única menção ao nome deste rio.
Brasil Colônia É possível que ao passar por sua foz, quando de sua exploração pelo
Negro, uma parte da tropa de Teixeira tenha se interessado em adentrá-
Este foi um período de vários intervalos obscuros devido à
lo a procura de algum potencial da região, como por exemplo índios.
distância do tempo em que as informações foram transcorrendo. O certo
Contudo, não há documentação segura que comprove este fato.
é que as expedições que adentraram pelo rio Branco nesta época
Historiografia das expedições científicas
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima
e exploratórias no vale do rio Branco

Francisco Ferreira e Jerônimo Coelho (1705/1730) José Agostinho Diniz (data incerta, 1750 / 60) 1 97
196
O primeiro, explorador e comerciante e, o segundo, frei carmelitano. Alferes da Coroa Portuguesa que adentrou pelos rios Branco,
Ambos promoveram o comércio de drogas do sertão e realizaram diversos Uraricoera, Tacutu e Maú, para comprovar o relacionamento entre os
descimentas de índios na região do rio Branco por quase três décadas. índios locais e outros grupos europeus (holandeses e espanhóis).
Faziam uma espécie de circuito empresarial entre o rio Branco e parte do
Negro com o restante da Capitania. Além disto, intensificaram o comércio Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio (1777)
com os vizinhos holandeses. Fora da história oficial, estes são os prováveis
primeiros exploradores do rio Branco amparados por documentação Ouvidor da Capitania do rio Negro, fez um relato dos antecedentes
(Amoroso & Farage, 1994). históricos do descobrimento do rio Branco apresentando boa visão geo-
política. Sua intenção era descredenciar os espanhóis que anos antes
Diogo Rodrigues Pereira e Faustino Ferreira Mendes (1718119)
tentaram estabelecer bases no vale do rio Branco (1774). Em sua
Exploradores que tomam para si o feito de serem os primeiros a apreciação, deu como esta a causa principal da construção do Forte São
desbravarem o rio Branco por toda a sua extensão. O primeiro era Joaquim em 1775, na confluência dos rios Tacutu e Uraricoera, pelo
Capitão do Forte do rio Negro e o segundo seu ajudante. Sua intenção Capitão Phillipe Sturn — alemão a serviço da Coroa Portuguesa.
provável era a de fazer o descimento de índios, prática comum desta época. Sampaio, definindo-se como um "curioso", descreveu parte dos
Não encontramos documentos que comprovem que tenham explorado o rio
costumes dos índios, a fauna, a flora e a mineralogia da região. Deu
Branco antes de F. Ferreira e J. Coelho. •
detalhes que, apesar dos limitados conhecimentos, podem ser
Cristovão Ayres Botelho (1736) considerados razoáveis para a época.
Explorador-comerciante interessado no descimento de índios. Junto
Ricardo Franco de A. Serra e Antônio Pires da S. Pontes (1781)
com o "principal" Donaire, realizou em 1736 uma das maiores descidas
no rio Branco que se teve notícia na Capitania. Aprisionou dezenas de O primeiro, Capitão Engenheiro e, o segundo Matemático, ambos
indígenas para venda e troca em Belém. a serviço da Coroa Portuguesa. Receberam a incumbência do governo
provincial de avaliar e se provir de informações sobre as fronteiras com
Lourenço Belfort (1740)
os espanhóis e holandeses.
Também comerciante de escravos indígenas, formou uma grande
tropa com Francisco Ferreira em 1740. Juntos, subiram o rio Branco e o Alexandre Rodrigues Ferreira (1786)
Uraricoera para aprisionar cerca de 1.000 índios. Segundo Francisco
Xavier Ribeiro Sampaio (1777), foi o maior aprisionamento da região, Naturalista brasileiro, oficialmente designado pelo governo
sendo lembrado por anos seguidos entre os indígenas locais. português para avaliar o potencial econômico das terras que abrangiam
o vale do rio Branco. Seu objetivo também era ode descrever a situação
Nicholas Horstmann (1741) em que se encontravam os aldeamentos indígenas, onde, poucos anos
Explorador holandês, especializado em mineralogia, que fez o antes havia ocorrido um levante de índios onde a ocupação portuguesa
percursso pela região do Rupununi até o rio Branco a procura do "Lago estava tentando se reconsolidar (ver Amoroso & Farage, 1994:75). Fez
Prima". Horstmann foi preso e interrogado pelo governo provincial. Das reconhecimentos nos rios Branco, Uraricoera, Tacutu, Surumu, Mati e
notícias mais preocupantes para os portugueses, estava aquela que Pirara, além de curtas excursões por localidades próximas aos rios.
anunciava o trânsito de espanhóis pelo Tacutu e Uraricoera. Pelas Descreveu uma grande coleção faunística e florística desta região que,
informações de Horstmann, Charles de La Condam ine organizou um dos
em parte, foi perdida devido a invasão francesa a Portugal em 1808.
melhores mapas do interior das Américas para a época.
Também possui documentação sobre os usos e costumes dos indígenas
José Miguel Ayres (1748) locais, além de excelente material iconográfico do Forte São Joaquim
Fez a última entrada oficialmente reconhecida para descimento de (Fig. 1) e dos aldeamentos (diretórios de índios) espalhados pelo rio
índios no rio Branco. Branco (Fig. 2).
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Historiografia das expedições científicas
e exploratórias no vale do Ao Branco

pepulação indígena que se encontrava aldeada nos diretórios 1 99


198
idealizados pelo governo português como forma de propiciar o papel de
polícia na área.

Francisco J. R. Barata (1298)

Porta-bandeiras e militar a serviço do Governador das Capitanias


do Pará e rio Negro (Francisco de Souza Coutinho). Fez diligências,
inspecionou e reconheceu parte das divisas com o Suriname; unia região
.42
de posse dos holandeses que, mais tarde, foi perdida para os ingleses em
uma disputa territorial.

Brasil Império
Figural. Prospecto da Fortaleza de São Joaquim, rio Branco, feito por Alexandre
Rodrigues Ferreira, em sua viagem entre os anos de 1783 e 1792. (Prancha: Período extremamente rico no que diz respeito à formação de
Ferreira, A.R. 1921 Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão Pará, Rio coleções zoo-botânicas na Amazônia, embora ressalve-se que a maioria
Negro, Mato Grosso e Cuiabá:1 783-7 792. Iconografia vol. 7. Geografia - dos conjuntos tenha fluido para outros países. A região do rio Branco não
Antropologia. Conselho Federal de Cultura. Rio deJaneiro) ficou fora'do circuito das grandes expedições científicas nesta fase.
Entretanto, o estigma de fronteira continuava a conceder-lhe status de
região problerna do ponto de vista da delimitação dos domínios.
Dentre as expedições destacam-se a dos naturalistas Natterer,
Barbosa Rodrigues e Spruce. Além destas, também podem ser citadas a
Expedição Tbayer, liderada por Agassiz (ele não participou da incursão
ao rio Branco) e a de Coudreau, geógrafo francês que percorreu parte
desta região a serviço do Ministério da Marinha e das Colônias da
França. Vale também lembrar que nas anotações de Wallace, narturalista
inglês e cornpanheiro de Bates e Darwin, existem vários trechos em que
o rio Branco é citado e até exaltado. Foi quando de sua passagem pelo
Negro. Entretanto, não conseguimos nenhum registro oficial de sua
Figura 2. Povoação de Santa Maria, rio Branco, desenho deAlexandre Rodrigues Ferreira, entrada por este rio ou algum de seus afluentes.
feito em sua viagem entre os anos de 1783 e 1792. (Prancha: Ferreira, A.R. Neste período dá-se também o início de expedições patrocinadas
1971. Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato pelo governo inglês no sentido de avaliar não só o potencial da área
Grosso e Cuiabá: I 783-1792. Iconografia vol. 1. Geografia -Antropologia. como também o de proporcionar base contestatória para uma
Conselho Federal de Cultura. Rio delaneiro)
reinvidicação territorial na região do rio Pirara, no nordeste de Roraima.
Embora outras tenham ocorrido através do rio Rupununi (Charles
Waterton, 1812; Gullifer & Smith, 1828; Adam de Bauwe, 1834), as mais
Manoel da Gama Lobo D'Almada (1787)
importantes foram a dos irmãos Schomburgk, que entre 1838-42
Então governador da Província do rio Negro, D'Almada fez um realizaram incursões por vários pontos fronteiriços entre a Guiana
relato geográfico de grande parte da região, percorrendo os principais Britânica e o Brasil.. Embora tivessem contribuido com um farto material
afluentes do rio Branco. Era mais uma tentativa de consolidar a posse faunístico eflorístico, em parte depositado no "Museum für Naturkunde
portuguesa em terras limítrofes com outras nações européias. D'Almada der Universitat Humbolr (Berlim), suas descrições geográficas ajudaram
também fez um rico relato sobre os produtos naturais da região e da a dar base para a decisão final sobre a disputa territorial entre Brasil e
Historiografia das expedições cientificas
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima
e exploratórias no vale do rio Branco

Inglaterra, conhecida como a "Questão do Pirara". O árbitro Wallace tenha se aventurado pelo rio Negro e tenha citado várias vezes 201
200
internacional da questão, o Rei da Itália Victor Emanuell iii, decidiu em sua passagem pela boca do rio Branco, o único indício de sua passagem
1904 que aproximadamente 20.000 km' deveriam ser incoporados à
por este rio não fornece dados conclusivos sobre sua entrada para
Guiana Britânica devido a indícios de ocupação por aquela nação antes observações (ver Wallace, 1979:248).
dos portugueses (e brasileiros). Em seguida a Inglaterra fez algumas Richard Spruce (1851/54)
concessões à Itália em terras africanas.
Naturalista, botânico profissional inglês, percorreu os limites do
O Crescimento das Expedições Naturalistas Brasil com a Venezuela no início da década de 1850. Os registros do
livro de Cunha (1991:54) indicam, através de um mapa, o percursso que
Johann Natterer 831/32) Spruce tomou pelo rio Branco e afluentes. Seu principal interesse eram
Naturalista austríaco que percorreu o rio Branco desde sua foz até as plantas que poderiam ter valor industrial e/ou terapêutico.
a confluência dos rios Uraricoera e Tacutu, por onde alcançou o Cotingo
Gustav Wall is (1 863)
e o Maó. Foram cerca de to meses de intensa atividade de campo que
forneceram registros principalmente sobre a avifauna, a entomofauna e Naturalista alemão que visitou a Serra Pacaraima e os rios Branco,
a ictiofauna do vale do rio Branco. Só de insetos Natterer contabilizou Tacutu e Parima. Estava interessado principalmente com a botânica e os
30.000 exemplares. De aves, foram 157 espécies. Seu material foi
aspectos geográficos da região. Entretanto, em uma carta enviada a
depositado no "Naturhistoriches Museum" deViena. Domingos Ferreira Penna, seu amigo de Belém, ele comentava algumas
características da economia regional e dos índios, principalmente pela
Robert Schomburgk (1839) exuberância dos campos naturais que guardavam numerosos
Naturalista e explorador alemão. Além de percorrer grande parte exemplares de animais bovinos.
da então Guiana Britânica, fez coleções de fauna e flora nos rios Má,
Expedição Thayer (i865/66)
Surumu, Unamara,Tacutu e proximidades do Monte Roraima. Do ponto
de vista da ciência, seus relatos são de extrema valor para a geografia Expedição científica chefiada pelo naturalista Jean Louis Rodolphe
física e a ocupação humana de praticamente toda a região norte e Agassiz (suiço naturalizado americano) e financiada por Nathaniel
nordeste de Roraima. Do ponto de vista político, suas descrições Thayer da Universidade de Harvard (Estados Unidos). Nos dois anos que
ajudaram a dar base para a decisão final de uma disputa territorial a expedição percorreu o Brasil, e em especial a Amazônia, um pequeno
internacional entre o Brasil e a Inglaterra. grupo integrado por Newton Dexter (omitólogo) eTalisman, foi designado a
realizar alguns levantamentos no rio Negro e no rio Branco. O material
Richard Schomburgk (l842) coletado foi depositado no "Museum of Comparative Zoology"
Da mesma forma que Robert, seu irmão, realizou coletas botânicas (Cambridge).
e faunísticas na Guiana Britânica, tendo adentrado também no lado
João Barbosa Rodrigues (1871/74)
brasileiro pelos rios Surumu, Cotingo e Tucutú, além de excurcionar
pelas proximidades do Monte Roraima. Naturalista brasileiro interessado em botânica, etnografia e
zoologia, foi incumbido pelo Governo Imperial de explorar várias bacias
A. Wagner (1847/1848)
hidrográficas secundárias das Províncias do Amazonas e do Pará. Em
Zoólogo interessado principalmente na mastologia regional uma destas excursões, Barbosa Rodrigues percorreu o rio Jatapú
(mamíferos). Percorreu o rio Branco. identificando uma série de espécies vegetais, com especial interesse por
orquídeas e palmeiras. Em outra oportunidade percorreu o rio Jauaperi,
Alfred Russel Wallace (1851/1852)
Francisco Xavier Lopes de Araújo (Barão de Parima) (1882)
Existe um mapa do roteiro das viagens do naturalista inglês no
livro "O Naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira" (p. st) que demonstra Engenheiro militar responsável pela demarcação da fronteira entre
uma pequena incursão ao rio Branco no ano de 18.51.Entretanto, embora Brasil e Venezuela. Integrou e chefiou a Comissão Mista dos dois países,
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Historiografia das expedições cientificas
e exploratórias no vale do rio Branco

que resultou no relatório "Carta Geral das Fronteiras desde a Cabeceira Apesar do sentimento nacionalista, as expedições de caráter 203
202
Principal do rio Memachi até o Má" de 1884, entregue ao Ministro dos científico afloraram em maior número. Mesmo com dificuldades no
Estrangeiros do Império. deslocamento até Boa Vista, o apoio local foi de grande importância para
as incursões internas. Em geral, este apoio era dado por membros de
Henri-Anatole Coudreau (1884) famílias tradicionais locais ou através dos poderes públicos constituídos;
Geógrafo francês com especial interesse na América do Sul. Entre ambos se confundindo enormemente nesta fase. Nomes importantes como
1883 e 1885, a serviço do Ministério da Marinha e das Colônias os do etnógrafo Koch-Grünberg, do botânico Ule e do geógrafo Farabee,
Francesas, Coudreau percorreu grandes distâncias em companhia quase marcaram os primeiros anos de ciência no século xX. Seguiram-se a
que exclusiva dos indígenas locais. Foi nesta incursão que se deparou estes vários outros que, pela importância de sua obra, valem ser
pela primeira vez com os campos naturais do rio Branco, descrevendo- destacados como o naturalista Tate, os botânicos Ducke, Black,
os e fazendo comentários sobre sua gente e as relações sociais de então. Aubréville e Prance e, o liminólogo Sioli. Alguns deles oficialmente
Coudreau aprendeu a se comunicar com os índios locais (principalmente apoiados pelo INPA, que havia sido criado no início da década de 1950
os Wapishana) por ter permanecido durante cerca de 10 meses na e fazia parte dos planos de Getúlio em conhecer melhor a região para
Maloca da Malacacheta em virtude de uma febre que o acometeu poder desenvolvê-la.
(provavelmente malária)
Everard Im Turn e Harry Perkins (1884) A Experiência Nacionalista

Ingleses, foram um misto de funcionários públicos, etnólogos, Sebastião Diniz (1893)


botânicos e geólogos que lideraram a primeira escalada oficialmente Fazendeiro do rio Branco e morador de Manaus, Diniz foi incumbido
registrada ao topo do Monte Roraima. Sua rota de entrada foi a partir do pelo governo do Amazonas de fazer uma estrada ligando Manaus a Boa
rio Potaro (Guiana). Entretanto, excursionaram pelas redondezas Vista. A ligação terrestre serviria para abastecer de carne bovina a capital
realizando vários relatos. manauara. Diniz completou a tarefa em 1895 e, em carta ao governador
Ermano Stradelli (1888) do estado, fez tias críticas aos vultosos gastos com tal obra que no final
não passava de uma trilha no meio da floresta sem nenhuma estrutura para
Conde italiano que percorreu todo o rio Branca Fez um relato abrigar o gado ao longo do percursso. Com razão, a estrada caiu no
histórico, geográfico e sócio-econômico da região e da situação em que esquecimento e os 816 Marcos (1 por km) desapareceram com o tempo.
ela se encontrava naquele momento. Não acrescentou novidades à
"Questão do Pirara". Oldfield Thomas (19m)

Brasil República Zoólogo interessado em quirópteros (morcegos). Percorreu os rios


Branco e Mucajaí.
Esta fase das expedições demonstrou um Brasil extremamente
nacionalista e preocupado em resguardar suas fronteiras e riquezas do Alfredo Ernesto Jacques Ourique (1906)
extremo norte. A influência de Getúlio Vargas (em dois mandatos) e duas
Grandes Guerras mundiais modelaram algumas das expedições para a Por ordem e companhia do governador do Amazonas (Constantino
Amazônia e em especial para as áreas fronteiriças. Aliado a estes fatos, Nery), Ourique faz um relato geográfico e histórico do vale do rio
a descoberta de jazidas diamantíferas e auríferas em Roraima na década Branco, descrevendo aspectos econômicos e sociais de toda a região
de 1910, ajudou com que a maioria das incursões entre os anos de 1920 para ajudar na solução das questões de povoamento e progresso da
e 1950, fosse relativa a descrição dos aspectos geográficos regionais com região. Não foi a primeira viagem de Ourique. Ele já teria realizado uma
ênfase na distribuição dos recursos naturais minerais. Destacam-se nesta em companhia da Comissão de Limites em 1882 e, em outra, teria se
fase as expedições de Guerra, Ruellan e Ignácio de Oliveira. Além encontrado com Stradelli em 1888. Realizou o primeiro bom acervo de
destes, vale destacar a expedição demarcatória de Rondon. imagens fotográficas da região.
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima
Historiografia das expedições científicas
e exploratórias no vale do rio Branco

204 •
Ernest Heinrich Georg Ule (1908/09)
William Curtis Farabee (1913) 205
Botânico alemão que percorreu o rio Branco e atingiu o Monte
Roraima no início do século xx. Pertencia ao Jardim Botânico de Berlim. Geógrafo, chegou a Boa Vista e fez diversas explorações pela
Explorou também as serras Grande, de Mucajá' e do Murupú. região. A principal delas foi aquela em que se aventurou a transpor o furo
Maracá na tentativa de encontrar o furo Santa Rosa, pelo rio Uraricoera.
Theodor Koch-Grünberg (1911)
Ele não acreditava que pudessem estar ligados formando uma ilha por
Etnálogo alemão preocupado com a geografia humana, percorreu falhas da estrutura geológica (Ilha de Maracá).
toda a fronteira tríplice entre Venezuela, Brasil e Guiana, fazendo
Carlos Chagas (1913)
contribuições importantes nos campos da antropologias Desta viagem,
resultou a obra "Vom Rocaima zum Orinoco" com 5 volumes, editada em Fez parte da equipe de Oswaldo Cruz. Integrou a Comissão que
1917 (Berlim). Neste documento existem extensas descrições culturais avaliou as condições médico-sanitárias das bacias do rios Negro e Branco,
dos povos locais, abordando detalhes de forma singular mas, que percorrendo este último até a altura de Vista Alegre, próximo de Caracaraí.
expressavam a real imagem do modo de vida dos indígenas da região. Cecil Clementi (1915)
Boa documentação fotográfica foi feita e anexada na obra escrita_ Além
Exploradora sem expressão científica que realizou uma viagem ao
disto, um filme de curta duração (± 12 minutos) também foi realizado por
Monte Roraima partindo da antiga Guiana Inglesa. Seu interesse maior
Koch-Grünberg na região do Surumu, demonstrando diferentes tipos de
era no comércio de pedras preciosas. Publicou seus relatos .com
atividades realizadas pelos índios locais (danças, trabalho etc.). Este
detalhamento superficial sobre a paisagem e seus moradores em 1916.
pequeno documentário de 1911 é o primeiro registro cinematográfico
abordando diferentes aspectos dos povos existentes no hoje Estado de Luciano Pereira (1 917)
Roraima (provavelmente um dos primeiros deste gênero em toda a Ex-deputado federal pelo estado do Amazonas que pretendia
América do Sul). Foi telecinado pela I.W.E alemã. conhecer mais de perto as "riquezas" do rio Branco. Veio a convite
de Joaquim Gonçalves de Araújo (J. G. de Araújo) o maior
J. D. Hasmann (1912) fazendeiro e dono de terras no rio Branco na época. Fez relatos
Membro da "American Geographical Society", empreendeu sobre a população local, meios de transporte, economia e ambiente.
esforços nos estudos sobre a geografia e a ictiofauna regionais. Tudo indica ser o primeiro texto a citar o termo "lavrado" como
Suas explorações se deram nas proximidades da Serra da Lua e forma de denominar os campos de vegetação do tipo cerrado, que
na fronteira com a Guiana. cobrem a região nordeste do atual estado de Roraima (ver Pereira,
1917:40).
João Geraldo Kuhlmann (1912)
Hamilton Rice (1924/25)
Botânico brasileiro que percorreu a região integrando a comissão
Membro da "American Geographical Society", se aliou a
do Serviço de Defesa da Borracha (Ministério da Agricultura). Fez
Universidade de Hantard e aganizou sua 71Expedição à Amazônia com
coletas principalmente nas proximidades de Boa Vista. Kuhlmann ainda
destino ao vale do rio Branco. Seu objetivo era o de avaliar aspectos
retornaria a esta região entre 1923/24 percorrendo mais intensamente as
geográficos desta local idade amazônica devido aos antigos mapas sul-
localidades de Boa Vista, Vista Alegre e as Cachoeiras do Bem-Querer.
americanos apontarem esta região como ainda uma "área incógnita"
(sem reconhecimento físico). Mesmo com apoio e orientação de um
M. P. Anderson (1912)
hidroavião, Rice levou semanas parà tentar alcançar seu objetivo final
Omitólogo americano, Anderson fez observações nos arredores de (as nascentes o rio Parima), atravessando seguidamente trechos
Boa Vista, percorrendo também localidades próximas como as serras da encachoeirados no alto rio Uraricoera. Sua expedição era
Lua e Grande. Além disto, visitou parte das regiões de montanhas, extremamente diversificada, com diferentes tipos de investigações sendo
destacando-se a Serra do Sol. Estava a serviço do Museu de Filadélfia. realizadas. Segundo Pinto 0%0, um trabalho de destaque foi o "Medical
Report' de George C. Schattuck (membro da expedição), produzido pela
Historiografia das expedições cientificas
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima e exploratórias no vale do rio Branco

Cândido Mariano da Silva Rondon (1927/28) 207


206 Harvard Press em 1926. Foi nesta expedição que o etnólogo alemão Rondon e sua equipe inspecionaram as fronteiras nacionais na
Theodore Koch-Grünberg, em sua segundavisita à região, veio a falecer parte setentrional do Brasil. Percorreu diversas malocas indígenas e
de malária na localidade denominada como Vista Alegre (médio rio diferentes cursos fluviais que o faziam exaltar a exuberância do local.
Branco). Extenso volume de material fotográfico (aéreo e terrestre) foi Embora a princípio não tenha havido interesse em coletas científicas,
produzido nesta expedição (Figs. 3 e 4), além de um documentário apoiou alguns integrantes de sua equipe. Além de Paiva e Luetzelburg
filmado pelo brasileiro Silvino Santos ("Em Busca do Eldorado"). Este ú (citados a seguir), alguém de seu grupo depositou 54 espécies de aves no
timo foi editado posteriormente pela BBC de Londres (± 20 minutos) acervo ()mitológico do Museu Nacional, que foram estudados por
demonstrando aspectos da dificuldade da viagem e da população local
Miranda Ribeiro.
(índios e moradores de Boa Vista). Este é o segundo documento
telecinado mais antigo de Roraima. G. H. H. Tate (1 927/28)
Naturalista do Museu Americano de História Natural que integrou
Avel i no lgnácio de Oliveira (1924/25)
a Expedição de Lee Garnett ao Monte Roraima. Entrou pelo rio Branco
Geólogo que acabou se transformando em uma contra-partida até ultrapassar o rio Miang, de onde iniciou a subida ao Roraima.
informal na expedição de Hamilton Rice. Sua preocupação estava Durante todo o percursso, o grupo fez diversas anotações científicas e
voltada para descrições fisiográficas, correlacionando-as com coletaram diferentes espécies de plantas e animais, compartilhando a
ocorrências de rochas e minerais. Nesta empreitada, mais tarde recebeu idéia da grande variedade de vida nesta região. Foi Tate que deu inicio
a ajuda de Glycon de Paiva que tratou da identificação e análise de parte ao questionamento sobre a existência de uma possível zona
do material coletado na região. A principal publicação esta resumida em biogeográfica de vida nesta região, caracterizada por relevos tabulares.
"Bacia do rio Branco" de 1929, quando pela primeira vez adotou-se o Após encontrar e receber ajuda de Rondon, finalizou a expedição
nome de Formação Boa Vista para a região geomorfológica das áreas cortando o alto rio Maii até a Guiana Inglesa.
abertas que cobrem o nordeste de Roraima.

Figura 4.Vista aérea da cidade de BoaVista tirada pela expedição Rice (1924/25). (rola
Figura3. Hidroavião (Eleanor110 e barco (Eleanor10 usados pela expediçãodeHamilton Rice Rice, 1978)
(192405), ancorados em frei tea BoaVista (RR)(Foto: Rice, 1978)
Hostonograna Udb
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima e exploratórias no vale do rio Branco

do rio Cotingo até chegar no Monte Roraima, de onde puderam coletar 209
Phillip Freiherr von Luetzelburg 0920
208 e observar espécies novas para o Brasil.
Integrou a expedição de Rondon, percorrendo os rios Branco,
Uraricoera eTacutu, alcançando por fim o Monte Roraima. Seu interesse Felix Cardona (1940/41)
principal era a coleta da flora amazônica. Capitão da guarda venezuelana que percorreu a fronteira do Brasil
com a Venezuela nas proximidades das cabeceiras do rio Uraricoera.
Glycon de Paiva 0920
Encontrou 4 espécies de aves até então não descritas em território
Geólogo da Comissão de Inspeção de Fronteiras que Rondon brasileiro.
liderava. Descreveu cortes geológicos realizados na Formação Roraima
que compõe as fronteiras entre Brasil, Venezuela e Guiana. Colaborou Instituto Evandro Chagas (1942/43)
também com ignácio de Oliveira na descrição de diversos materiais Urna equipe do instituto percorreu, além de Boa Vista, diversas
triados pelo colega anos antes. localidades às margens do rio Branco. Seu interesse era o da
Desmond Holdridge (1931) entomologia médica.
Naturalista do Museu de Brooklyn. Percorreu três grandes
Harald Sioli (1951)
tributários da Serra Parima; os rios Catrimani, Demini e Aracá. Suas
observações e detalhamentos geográficos foram descritos no trabalho Limintilogo alemão do Instituto Max Planck que, na década de 1950,
"Exploration between the rio Branco and the Serra Parima" de 1933, ingressou nos quadros funcionais do INPA contribuindo significativamente
resultando em um mapa que, apesar das dificuldades da época, indicava para estudos da física e da química dos rios da Amazônia. Em Roraima, o
coerentemente a topografia e a localização dos principais cursos d'água grupo de Sioli fez diversas medidas nos rios Branco e Cauamé, além dos
e relevos desta região de Roraima. igarapés da Mecejana, do Frasco, do Areia! e Caxangá em Boa Vista.
Também analisou amostras nos lagos dos campos de Roraima e nas fontes
Carlos Lako (1931/32)
d'água da serra do Murupú.
Reuniu um pequeno número de peles de aves do rio Catrimani e
em seguida as depositou no Museu Nacional. Ale>andre George BI ack(1951)
Botânico que percorreu diversas localidades da região como, os rios
Adolpho Ducke (1 933, 1937 e 1943)
Branco e Cauamé e, os igarapés Caranã e Caxangá na cidade de Boa Vista.
Ducke foi um botânico altamente qualificado que teve seu início Além destas excurcionou pelas Fazendas Bom Intento e São Marcos, serra
de carreira no Museu Paraense (atual Museu Emfiio Goddi) berrninando-a no do Cantá e um trecho da antiga estrada que ligava Boa Vista a Caracaraí.
Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Esteve por três oportunidades no vale
do rio Branco. A primeira, em 1933, realizou coletas aos arredores em Antônio Teixeira Guerra (1953/54)
Caracará'. Em 1937, Ducke percorreu o rio Branco, regiões próximas à Geógrafo brasileiro que contribuiu para um primeiro acúmulo
cidade de Boa Vista, as serras Grande e do Murupuzinnho e a Fazenda significativo de dados históricos e geográficos sobre a região do rio
Nova Olinda. Nesta oportunidade Ducke se encontrava a serviço da
Branco. Descreveu clima, vegetação, ocupação etc. Se preocupou
Comissão Demarcadora de Limites como adido botânico. Em sua última
também com levantamentos sócio-econômicos que sempre foram
excursão (1943), Ducke foi a BoaVista, Caracaraí, rio Cauamé e Fazenda
dispersos na região. Seus estudos até hoje são base didática para grande
São Marcos. Várias publicações sobre a Flora Neotrópica foram
parte dos que se interessam por geografia e história de Roraima.
realizadas sob sua coordenação, sendo comum a citação de espécies
coletadas em Roraima.
Bassett Maguire (1954)
Alberto Pinkus e P. S. Peberdy (1938/39) Botânico americano, Maguire foi diretor do New York Botanical
Garden. Foi nesta fase que percorreu localidades próximas a Boa Vista,
O primeiro colecionador profissional e o segundo do Museu
Britânico, ambos interessados na avifauna. Atravessaram as cabeceiras serra do Tepequém e rio Cotingo.
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Historiografia das expedições científicas
e exploratórias no vale do rio Branco

Francis Ruellan (1954/55) José Hidasi (1956) 211


210
Primeira expedição oficial do INPA a Roraima, então Território Naturalista do Museu Nacional que em julho de 1956 excursionou
Federal do Rio Branco (1943). Nesta ocasião, Ruellan, professor das através do rio Surumu e serra Parima, rendendo 20 novos exemplares
Universidades de Paris e do Rio de Janeiro, visava promover estudos para a avifauna local.
básicos em geomorfologia que pudessem auxiliar na melhoria do André Aubréville 950
conhecimento sobre as diferentes paisagens existentes na Amazônia. A
Botânico francês muito ligado ao INPA. Percorreu a região do
síntese de seu trabalho, foi editada em "Expedições Geomorfológicas no
Taiano e a cidade de Boa Vista em companhia de William Rodrigues.
Território do Rio Branco" em 1957. Nesta mesma excursão de estudos, a
aluna de Ruellan, Yvonne Beigbeder, realizou um relevante trabalho Cory T. de Carvalho (1959)
sobre os processos de construção paisagística da Formação Boa Vista. Originário do Museu Paraense Emílio Goeldi, Cory pecorreu a
William A. Rodrigues (1954) região do rio Branco entre fevereiro/março de 1959, interessado em
reconhecer e coletar principalmente a fauna de mamíferos.
Pesquisador do NPA, participou da primeira excursão oficial do
instituto ao hoje estado de Roraima, integrando a expedição liderada por Masayuki Takeuchi (1959)
Francis Ruellan. Percorreu as localidades de Boa Vista, Normandia, Botânico da Universidade de Tóquio e pesquisador do INPA,
Pedra Branca, Maturuca, rios Uailãn, Cotingo e Surumu. A partir desta Takeuchi se preocupou em descrever a estrutura das áreas abertas de
excursão e, somando coletas nas proximidades de Manaus, iniciou o Roraima (lavrado). Percorreu diversas localidades entre os rios Parimé,
acervo do Herbário do INPA. Em novas viagens excursionou pelo Taiano Uraricoera, Branco e Tacutu.
e a Fazenda Florestal. Esta última em companhia de Aubréville em 1958. Willian H. Phelps e filho (1961)
Renato de Siqueira Jaccoud (1954) Ornitólogo interessado na avifauna venezuelana e, que conheceu
como poucos este grupo principalmente na' região dos tepui, situada
Da mesma forma que Rodrigues, integrou a expedição oficial de
entre Brasil, Venezuela e Guiana. Determinou 49 novas espécies de
Ruellan, participando de incursões botânicas às regiões de Normandia
aves para a avifauna brasileira em uma incursão no início dos anos
e Socó. 1960, com seu filho, nas proximidades da Serra do Sol.
Aida Ostroff Ferreira de Barros (1955) Olivério M. de Oliveira Pinto (1962)
Integrou um grupo de geomorfólogos que realizou diversos Com auxílio do INPA, por intermédio do então Diretor Djal ma
levantamentos nas bacias dos rios Cotingo e Surumu. Batista, o ornitólogo Olivério Pinto percorreu parte do rio Branco e
adentrou no rio Mucajaí para que pudesse verificar a avifauna deste
Otávio Barbosa e José Raymundo de Andrade Ramos (1955/56)
tributário do rio Branco. Determinou 250 espécies, sendo que, naquele
Ambos geólogos, o primeiro consultor da PROSPEC e o segundo da momento, pelo menos 61 eram novas descrições para a região.
Divisão de Geologia e Mineralogia (DGm) designados pela própria DGM José Américo Lima (1962)
em promover reconhecimento mais detalhado na bacia do rio Branco.
Botânico que excurcionou pelos arredores de Boa Vista.
Estes estudos estavam dentro dos pressupostos da Superintendência do
Plano deValorização Econômica da Amazônia (5PvA) em promover parte Ezechias P. Heringer (1965)
do desenvolvimento econômico da região através da atividade mineral. Botânico que percorreu a região doTingui.
Além das viagens de campo, levaram em consideração fotografias
aéreas do tipo "trimetrogon", conseguidas de um levantamento Enrique Forero (1967)
americano realizado na ii Guerra Mundial em parte do Território Federal Foi diretor do New York Botanical Garden e, estava interessado
do Rio Branco. principalmente na flora do Monte Roraima.
Historiografia das expedições científicas
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima e exploratórias no vale do rio Branco

Ghil len Tolmie Prance (1967 /1 9 69) Adonias). (1963). A Cartografia da Região Amazônica. IMPA, Rio de Janeiro (vol. I e II). 213
212 -Alexandre
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Botânico ligado ao INPA. Percorreu arredores de Boa Vista e, as Rodrigues Ferreira e Henrique João Wilckens. NHIVUSP & FAPESP, São Paulo. 134p.
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Branco, Mucajá', Apiati e Uraricoera. Prance integrou o projeto "Plants bandeira da Sétima Companhia do Regimento da Cidade do Pará, pelos Sertões e rios
of Brazilian Amazonia", que originou a expedição para Roraima. Foi d'este Estado, em Diligência do Real Serviço. Revista do Instituto Histórico e
também um dos defensores da Teoria dos Refúgios Florestais, igualmente Geográfico do Brasil, Torno VIII, pp.i -53.
encabeçada por J. Haffer, P. E. Vanzollini e K. Brown. Atualmente exerce Barbosa,O. & Ramos, J.RA (1959).Tenitótio do rio Branco (Aspectos Principais da Geomorfologia,
a função de diretor do Royal Botanic Gardens, Kew. da Geologia e das Possibilidades Minëais desua Zona Sdational). Boletim n°196 da Divisão
Deste momento em diante, iniciou-se um ,outro ciclo de de Geai* e Mineralogia. 46p + figuras.
expedições e atividades científicas em Roraima, diferentes Barbosa, R.I. (1993a). Ocupação humana em Roraima. I. Do histórico Colonial ao início do
daquelas definidas neste trabalho. Vale destacar o Projeto aspntamento (Erigido. Boi Mus. Fbr. Emilioaeldi, serie Antropologia 9(1): 123-144.

RADAMBRASIL (1972-74), urna maior intensificação das atividades do INPA Barbosa, RI (199312). Ocupação humana em Roraima ii. Uma revisão do equívoco da recente
através do estabelecimento de um núcleo em Boa Vista (1984-85), o política de desenvolvimento e o crescimentodesordenada Boi. MUS. Par: Emilio Goeldt série
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tentativa de conjugar as necessidades da população local com o poder Barbosa Ra:ligues) (1885). RiWauapery-Fâcificação das Okia ImprensaNacional, RiodeJaneiro.
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de tAmerique Latine n210, Paris.
de seu
O nível de interesse pelo conhecimento da região do Vale do Berredo,B.P. (1749). Mnars Históricos do Estado do Maranhao, em que se dá Noticia
Rio Branco está (até hoje) intimamente ligado à posse e ao uso da terra Descobrimento e tudo o mais que Nelle tem Sucedido desde °Ano em que loy Descoberto
que, por sua vez, se atrela ao estoque de riqueza dos recursos naturais até 1718, Lisboa
e ao modo de vida dos povos tradicionais locais. Este interesse foi
Caldas,J.P. & EYAIrnada,M.L (1775). Exame das vertentes que da Sena Pacaraima correm para o
descrito por diferentes fontes de naturalistas e exploradores e, utilizado Rio Branco e das que vão ao Orir mu e reconhecimento do caminho que através dela
de variadas formas como modo de assegurar a posse desta região. Estes Mateccrarn osespanhois que kmdaram Santa Rosa e Caya-Caya, destruídos em 1775. Original
ensaios de vivências e visões passadas devem ser subsídio para que (DOCE), 1876. 16p. Wquivos do Barão da Ponte Ribeiro).
tomadores de decisão da atualidade primem pelo respeito às diferenças
CIDR (1989). índios de Rcraima(Makuxi,Taurepaig Inprikó eWapixana). ColeçáoAntropológiar 1,
culturais e ao correto uso (sustentado) dos recursos naturais locais. Além
Certo de Informação da Diocese de Roraima 1o6p.
disto, tais ensinamentos pretéritos, devem ser parte integrante das
discussões sobre a atual formação histórico-cultural da população local, Clementi,C (1916).A joumey Sie Surivnit of Mount Roraima lhe Geópaphical loumatVol.
como forma de resgatar um sentimento de ligação íntima desta nova - july to december. pp. 456-473.
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Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima
Barbosa R. I., Ferreira E. J. G. & Castellón E. G. (eds)
INPA - 1997

Roraima e o aquecimento
global: balanço anual das
emissões de gases do
efeito estufa provenientes
da mudança de uso da terra

Philip Martin Fearnside

Tipos de cálculos de emissões

O desmatamento na Amazônia brasileira libera quantidades de


gases do efeito estufa' que são significativas em termos do impacto
atual e, do potencial implicado para a contribuição a longo prazo
ao aquecimento global pela continuação do desmatamento da vasta
área de florestas remanescentes. O modo de se calcular as emissões
pode ter um grande efeito no impacto atribuído ao desmatamento.
Uma forma de cálculo enfoca as emissões líquidas comprometidas,
que expressam a contribuição da transformação final da paisagem
florestal em uma nova, utilizando como base de comparação o
mosaico dos usos da terra que resultaria de uma condição de
equilíbrio criada pela projeção das tendências atuais. Isto inclui
emissões de decomposição ou de requeimas dos troncos que
permanecem sem queimar quando a floresta é inicialmente
derrubada (emissões comprometidas), e absorção de carbono pelas
florestas secundárias crescendo em locais abandonados após o uso
por agricultura e pecuária (absorção comprometida), assim
resultando na estimativa das emissões liquidas comprometidas
(Fearnside, 1992,1997a).
A outra forma do cálculo, assunto deste trabalho, visa o
balanço da liberação anual e da absorção dos gases do efeito
estufa em um deterrnindo ano (Fearnside, 1996a). Estimativas do

''Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Coordenação de Pesquisas em Ecologia, Caixa


Postal 478, 69011-970 Manaus/Amazonas.

' Os principais são o CO, (dióxido de carbono) e o CH, (metano)


Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Roraima e o aquecimento global: balanço anual das emissões de
gases do efeito estufa provenientes da mudança de uso da terra

balanço anual dos gases do efeito estufa são necessárias para percentual modesto do desmatamento brasileiro é engandador 339
338
regiões específicas a fim de entender os fluxos destes gases ao devido ao enorme tamanho das emissões brasileiras. As emissões
nível global. de Roraima são maiores do que as emissões de muitos países que
É provável que o balanço anual seja a base para atribuir entre possuem inventários nacionais completos em curso, conforme
as nações do mundo as responsabilidades pelo aquecimento determinação da FCCC. A área de floresta que ainda permanece em
global. A Convenção Quadro sobre Mudanças do Clima (Fccc) que pé (e em risco de desmatamento) em Roraima também é maior do
foi assinada em junho de 1992 por 155 países mais a União que em muitos países tropicais, apesar de áreas bem maiores
Européia na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente presentes em estados amazônicos vizinhos.
e Desenvolvimento (UNCED/ECO-92) no Rio de Janeiro, exige que
Para se calcular taxas de desmatamento, são necessárias
cada país faça um inventário das fontes, dos surnidouros e dos
estimativas da extensão do desmatamento em dois momentos no
reservatórios de gases do efeito estufa— indicando que o princípio
tempo. No caso de Roraima, a taxa anual de desmatamento para
básico para determinar o impacto será o fluxo líquido dos gases
o período 1978-1988 foi calculada a partir de estimativas da
que entram e deixam a atmosfera.
extensão em 1978 (derivada de imagens de Tardin et al., 1980 e
O balanço anual representa uma medida instantânea dos Skole & Tucker, 1993; ver Fearnside, 19938) e em 1988 (Fearnside
fluxos dos gases do efeito estufa, dos quais o dióxido de carbono
et ai., 1990), resultando num valor de 0,2 X to km' ano-1 . A taxa
é o mais representativo. Às vezes, isto é chamado de balanço anual
anual de desmatamento aumentou para 0,7 X 103 km' entre 1988-
das emissões líquidas. Mesmo que os cálculos atuais sejam feitos
1989 (em contraste com a tendência na Amazônia Legal como um
em uma base anual, são denominados "instantâneos" aqui para
todo, que experimentou um declínio de 1988 para 1989); a taxa
enfatizar o fato de que não incluem futuras consequências do
então caiu para 0,2 X 103 km' em 1989-1990, aumentando
desmatamento e outras atividades que ocorrem no ano em
novamente para 0,4 X 103 km' em 1990-1991 (Fearnside et al., 1990;
questão. Deveria ser salientado que o balanço anual não é a
Fearnside, 19936). Estimativas de desmatamento anunciadas pelo
melhor medida do impacto sobre o efeito estufa proveniente de
desmatamento, e que deveriam ser incluidas liberações e retiradas Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Iniu) em 25 de julho de
futuras. Emissões líquidas comprometidas e emissões líquidas 1996 indicam que a taxa anual em Roraima subsequentemente
temporalmente ponderadas têm mais sentido para decisões declinou para 0,3 X 103 km2 para 1991-1992 e 0,2 X 103 km' para
políticas, sobretudo a última. As emissões líquidas temporalmente 1992-1994 (em contraste com a tendência na Amazônia Legal
ponderadas calculam o fluxo líquido durante cada ano, permitindo como um todo, que apresentou um aumento da taxa no período
a aplicação de um horizonte de tempo e uma ponderação pela 1991-1994). Em termos absolutos (km' x 103), a área acumulada
preferência temporal (seja a aplicação de uma taxa de desconto ou desmatada em Roraima era de 0,1 em 1978, 2,7 em 1988, 3,6 em
um procedimento alternativo) para refletir os valores colocados 1989, 3,8 em 1990, 4,2 em 1991, 4,5 em 1992 e 5,0 em 1994. Até 1990
pela sociedade sobre efeitos a curto prazo versus a longo prazo. nenhuma área havia sido inundada por hidrelétricas em Roraima.
A primeira foi a hidrelétrica de 'atapu (45 km2 ), que encheu em
O desmatamento em Roraima abril de 1994.
A estimativa do balanço anual no atual estudo considerou as
Roraima apresenta características únicas. Trata-se de um estado
taxas anuais de desmatamento indicadas acima, inclusive a taxa
pequeno (em termos amazônicos) e, está longe do grande avariço da
constante de 0,2 x 10' km' anal entre 1978 e 1988. No entanto,
população e da pecuária ao longo do "arco de desmatamento" que
existem algumas outras informações sobre desmatamento em
se extende de Belém até Rondônia, em que se concentrou, por
Roraima neste intervalo que, entretanto, também deixam dúvidas
exemplo, cerca de 88% da atividade do desmatamento em 1994.
sobre como a taxa poderia ter variado no período. Por exemplo, a
Apenas 3% da atividade de desmatamento na Amazônia, no estimativa do INPE para o desmatamento da floresta até 1988 em
período 1992-1994, foi feita em Roraima. Mesmo assim, o Roraima é de 2.187 km'. As estimativas anteriores para Roraima,
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Roraima e o aquecimento global: balanço anual das emissões de
gases do efeito estufa provenientes da mudança de uso da terra

apresentadas no gráfico do relatório do INPE para o crescimento da 341


340 nr N Ir 0,
MNMC,
NNW M M M a ) O.
o‘ m
u ettl
área desmatada (INPE, 1989: 48), omitem a estimativa derivada das ;;441; MV4 4 4 4 4 M 4

imagens do satélite LANDSAT de 1981 feito pelo IBDF (1983). O


relatório do IBDF (1983) usa 1982 COMO o ano nominal para a NNM.-
000N
MWM 0
001". 0
0 M
W
N M

estimativa em Roraima, porém a maioria das imagens são de 1981. ciddd O d O O o6 6 6 d


Levando em conta os 1.170 km2 indicados pela estimativa do IBDF,
parece ser improvável que apenas 1.017 km2 fossem desmatados ao ao
o .o
t." "'
0, 000 N. c Lr!
• 0 0 0
longo do período de sete anos, entre 1981 e 1988. Este foi o período 0ti)

durante o qual o Instituto Nacional de Colonização e Reforma


N N. 4
0.
- N ce, In 01
Agrária (INCRA) acelerou o estabelecimento de uma série de 4 00‘
gN00°' M4 0
40N
W0
ON a V
t. — O O
4 to
em
projetos oficiais de colonização (por exemplo, ApiaU e Confiança), ..;_dgr,
»Q a: co—' Ci a; , t'i Ca al"

que são claramente visíveis nas imagens de 1986, no mosaico do


oa I-2
2—
INPE da Região Norte (INPE, 1988).
.0,
— .5u
A biomassa das florestas de Roraima
54
g,
...ã.
. ve
11,
5 g 2E .2
A biomassa das florestas representa um dos fatores mais
importantes determinando a quantidade de emissões de gases
...
— 15
o w 2 -o
241,5
O

provocadores do efeito estufa liberados pelo desmatamento. Em -;:iir: Eã-c§?


i ril 2 -2 2 '.5'
E St 1
'
o
média, 50% da biomassa seca das madeiras amazónicas é 2222
COM
2 RI 75 O 0 J g .=
-2E 2
2 cá ,,,
-Eo Ia 1
. 41
C CC
composta de carbono (Fearnside et ai., 1993). Este carbono é 4090
NNN I-„ c c
.t ff,

WH ,9,?
116 % gq 1 ) > >

2 CO >E.° e
liberado pela queimada e/ou pela decomposição na forma de

2
-
dióxido de carbono (co,), metano (cH4) e monóxido de carbono €t eia
(co), enquanto outros gases, como óxido nitroso (N,o), também ccceti. Ta
-0 "Ocoeicu
25 "O
Li

Tabela 1. Biomassa das lorestas de Roraima.


são liberados na proporção da quantidade de biomassa oxidada. CIO 2
?). 000
E "È
A biomassa média das florestas primárias presentes em wcc=
Roraima foi calculada baseada na análise dos dados publicados

Tota l: Florestas densas e não densas


sobre o volume de madeira a partir de 112 ha de inventários r0 ia CO ta
3 ' 32 o 2 2
r° o .5. o2
e, ,2
É,,

Sub-total: F lorestas não densas


florestais distribuídas no Estado (Fearnside, s/d-b; ver Fearnside,
li.
1994). A biomassa total média (incluindo componentes mortos e no,uau a
oi uti
15 2 2 4 S' 211 aoo a
subterrâneos) foi calculada em 429 t ha-' para todas as florestas BM
' ‘.§27,75 1 tg
O
19,

f
C C C
maduras não perturbadas originalmente presente em Roraima. A Itut ta 1
co ro
r5 02
1
11 9. 2
11112
biomassa média acima do solo foi estabelecida em 328 t ha', dos o SSP-PA SSLA.1.-0 mc) :22-823%1
quais 26 t ha-' é matéria morta. A biomassa média subterrânea é de e c241 P.à,2L4). .:1̀2,1,2,b1}1 4 2 Ei, ã g .
2 5 roi á
t./
1 f;
ru.22- 2 223):>7.3,tii ,;(- :.'c',,,`0,)
101 t ha-1. As avaliações de biomassa total são desagregadas pelo a .., 21
9o9off 2 ‘Ài 9
tipo florestal (Tab. O. Estes usam as classificações da vegetação do .,é9 9
7 g z 5' g
Pâ tS01 -,Y ,t2
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais -oG,
Renováveis (ffiAmA) (IBGE & IBDF, 1988). 2. 2
As áreas de vegetação protegida e desprotegida de cada tipo P2
?:
'I 2
no Estado foram calculadas (Fearnside & Ferraz, 1995). Pela
Roraima e o aquecimento global: balanço anual das emissões de
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima gases do efeito estufa provenientes da mudança de uso da terra

343
342 multiplicação da biomassa por hectare de cada tipo florestal pela
área desprotegida presente, é possível estimar a biomassa
derrubada se presumimos que o desmatamento é distribuído
entre os diferentes tipos de vegetação em proporção à área 81 8888,18888',2 88888F28 2
c‘i"..=66ciciciciddcici 66666. 0id
desprotegida presente.

Emissões de gases do efeito estufa R2'8888'488888 88888%8 %


cii- eciedodciddd cid- 6(56'1:dr,
,0

Queimada inicial
'A 888828888g1 88g 88(9,8 e`r•I
tenici6c7cichricicici- O cicif dó" ci Lri
As emissões e remoções de gases do efeito estufa estão
tabuladas para um cenário de "baixo gases-traço" (Tab. 2) e para
um cenário de "alto gases-traço" (Tab. 3). Estes dois cenários P55888848888 2 8858888
466o6o 00000 cicire,;(566cli
utilizam os altos e baixos valores que aparecem na literatura para
os fatores de emissões para cada gás em tipos diferentes de
queimada (revisado em Fearnside, 1991, 1992). Eles não refletem a 8888288889 853888g-18M
dúvida referente a biomassa florestal, taxas de desmatamento, Ocieeddddcidcid
eficiência de queimada e outros fatores importantes. QO

A queima inicial representa 2,77 X 106 t de gás de co2, ou 18% .c ”28888M8888ES 88888%8%
4- .<- 6- 6'66'46666a id
6cicicicvid
o o=r
da emissão kruta de 15,69-15,71 X 106 t. A emissão bruta de um gás ri
refere-se a todas as liberações do gás, mas não aos fluxos no
sentido inverso (absorção). A contribuição de CH4 na queima
28888P888`61 .51 °.38 •54‘88'Fr
inicial é de 8,9-10,7 entre um total de 18,5-23,4 X 103 t (46-48%), do ciddciddciddci ed<ii. c,:zi
co é 214,1-267,7 de 406,7-511,9 X 103 t (52-53%), e do N20 é 0,6 de
1,5-3,0 X 103 t (20-40%). Para NO4 (compostos de nitrogênio) e NMHC
(hidrocarbonetos de forma não-metânica), se considerado à parte 8888rea
64,•;•666.50- 0i 666erome ,*
da perda de fontes de floresta madura, representam, respectivamente,
6,8 de 15,9 X 103 t (43%) e 5,9-11,2 de 9,3-17,9 X 103 t (63%).
A eficiência de queima (percentagem de carbono da pré-
queima presumivelmente emitido como gases) foi, em média, de
32,6% nos estudos usados no cálculo: 27,6% em uma queimada de
1984 e 28,3% em uma queimada de 1990 estudadas perto de
Manaus (Fearnside et ai., 1993, s/d-a); e 42,0% em três queimadas
em 1986 estudadas em Altamira, Pará (Fearnside et á, s/d-13). Os
ajustes para o efeito da exploração madeireira na distribuição
diamêtrica da biomassa resultam em uma eficiência de 33,2%.
Estudos recentes de queimadas iniciais realizados por Kauffman et
al. (199s) resultam em eficiências de queima maiores. Com este,
são sete estudos atualmente disponíveis de queimadas iniciais em
florestas originais, com eficiências de queima variando de 27,6% a
Roraima e o aquecimento global: balanço anual das emissões de
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima gases do efeito estufa provenientes da mudança de uso da terra

56,9%, com média de 44,0%. A sequência completa de queimadas 345


344
eleva a eficiência total para 56,5%.
4i 2
0N000 NOOOON 00000000 >40 A formação de carvão vegetal perfez uma média de 2,7% e
o-ooq Nocoso.- op000non
.= 6 cr o dddodc:r o 0000re6 re- à.• g. 1,8%, relativo ao carbono acima do solo antes da queimada em
u Manaus (Fearnside et al., 1993) e de 1,3% em Altamira (Fearnside et
°:4° 34,
0.-000 NO000N
0000goon
000000
00000NON al., s/d-b). O valor utilizado no cálculo atual foi a média de 1,9%.
N 00.0.0. 66000e ddcidorCo -o É
0110000 • "I
e- 0
m• do
As partículas gratificas de carbono são outro sumidouro para
>4 i r -12. carbono que é queimado. Isto é calculado a partir dos fatores de
mn000 op000n oont0000m E2 emissão, e da quantidade de madeira queimada. O montante de
N0000 N00000 00000000
d d d -,0e060 OOtOOmOeI P C carbono que entra neste depósito é apenas 1/20 do total que entra
-é r,
03111
-2 4E6' no depósito de carvão (Tabs. 2 e 3).
O E4 4 3
00000 N00000 00N00000 LI
N0000 1000000 000000,00
02) dt:ddd 666666 d ds cid o A5
ri r5 r;
I Queimadas subsequentes (requeimas)
O- 41
Emissões (peso de gás)

m
g! 0
N0000 00000M 00000,0.-
2 É s‘ri Queimadas subsequentes fazem com que os restos da floresta
1/10000 000000 00000000 a I;
Z 01:666 ciddedd 060766micini 44 original e da biomassa florestal secundária entrem em combustão.
o
0, è
"too Em estudos realizados na Colônia do Apiaii, Roraima, os restos
1:5
florestais originais de uma floresta secundária queimaram a uma
0,-000 N000004 000001-01- 03 tE
0000q noccoN
r:d6do dddddui 6666d.-
000000,0M
b ti eficiência de combustão de 28,0% (Fearnside et al., s/d-c), enquanto
00 7, :7, que na queima de pastagens na mesma região, foi calculado que
NN
-.2 má -o6-39 12,3% do carbono da pré-queima nos restos florestais originais foi
r.natoo ntoOomm woomoi- o
N0r00 .-00000 001-..-OtCfl ;„gi2 consumido (Barbosa, 1994; Barbosa & Fearnside, 1996a). A média
dr,:cidd .2- 00006 nidddcid- drà
' •• Ba 80 dos resultados dos dois estudos (20,1%) é utilizada no cálculo atual.
Er» ,j
4d,z as a rtij
NONO 0000Ne-Nt ?)-A
t. onzena, 000091NWO Decomposição dos restos não-queimados
6 d rei 00000 ddddo Eu 71
,

"'2 1.(jà41)
è
é à.15
l
A decomposição acima do solo dos restos não-queimados está
"El "g, VI
2 o 5
s calculada em função dos estudos disponíveis apresentados na Tab. 4.
11 e c .5 cr -
A decomposição faz uma contribuição significativa para emissões
B g 3• g _-,,,
te, ,Fd "B E, de gases do efeito estufa e, é aparente que o grande interesse de
.ti
g t'..2 op-,B 931 !1 pesquisadores na queima de biomassa conduza muitas vezes para
T9té'll T9t11, ° a negligência das contribuições da decomposição.
c
i
,c4 :2 6- v • `A é 2á-
ó ts ''2 12cv' 1 11 h
I -a E=o °floa
ii E As emissões de metano dos cupins na decomposição de
Eu - 2 A.
2- '2 -8% ; 1 2 : u " 2 biomassa não-queimada (Martius et á., 1996) são substancialmente
U peo ° ;2_ijg"
"2;2 '51. a-61 %2 rã s
d3 O
Cr
g," E E mais baixas que as avaliações anteriores (Fearnside, 1991, 1992). Isto
.&,ffl 03 18.é c:VãPI:é É t P: 2 ,1 '3 '8 'Eg J
▪ Vi é devido principalmente ao fato que as avaliações dos números de
ra -4,11 ..g g 7; °I' 0 a 7:' "` 2 g
E13 "E^E§"12-0 o. -o '2 0
2" 4:i ° Lu g cupins em áreas desmatadas indicam que as populações são
E-3 232'w 2 'ag ° olg -g4 2-ot..12
71 5 13
O- insuficientes para consumir a quantidade de madeira que havia
OPIMãtÉ:idrã2ãjiTiltheif615ug a
s
E '13 e70 Et -c
< sido previamente presumido. O Nasutitermes macrocephalus, a
única espécie de cupim da Amazônia em que as medições se
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Roraima e o aquecimento global: balanço anual das emissões de
gases do efeito estufa provenientes da mudança de uso da terra

346 encontram disponíveis, consome 49 mg da madeira seca por g de 347


el o WVInal N
OCCOM t
cupins por dia (Martius, 1989). Emissões mais baixas de metano
tt0 0
(0,002 g cH4 por g da madeira seca consumida) também contribuem
rã s~ 9
para menores emissões desta fonte, calculada para totalizar apenas
8 0,02 X 106 t de gás de CH, da floresta original na área desmatada em
-0o 0001/10
0000
LflN-N O 1990 (Tabs. 2 e 3).
0 75
. 000 0
g "!
VI In
Solos
"UI ret. nn N n1 NI
Para calcular as emissões de co2 dos solos, devemos
ÉL!
)2 2 considerar a camada de solo do uso da terra de substituição (como
0000
e e e e pastagem, por exemplo) — que é compactada a uma dada
o
unn tn 9999 profundidade do solo florestal (ver Fearnside, 1980). A emissão

B.)Taxas médias de decomposição de restos de florestas maduras e secundárias em Intervalos entre queimadas
wC nid1/46.0 ri
Vi calculada aqui (0,32 x io6 t de CO) considera apenas os 20 cm
Tabela 4. Decomposição acima do solo em roças de agricultura de corte e queima.

,A '7 Íri tfl


ri 1:n 66
superiores do solo florestal (considerando que as emissões
aproximadamente duplicariam a uma profundidade de 1 m).
Conversão de floresta em pastagens libera 3,96 t c ha' dos 20 cm
NN
mm Nt. superiores do solo florestal (ver Fearnside, 1991, 1992). O solo de
NO
pastagem também emite N20 (Luizão et al., 1989).

OmN0
0 .0. 00
Remoção das fontes e
ttn r-
0000 sumidouros da paisagem pré-desmatamento

E. in "Li ir In
o -re ni tiat0 ni nt. Sumidouro no solo para cH4
E -a
c°. • O solo florestal tropical fornece um sumidouro natural para
WtLA ON
metano, removendo 0,0004 tonelada de carbono por hectare por
00000
Ér; e e 0 0 ano (Keller et al., 1986). Derrubar a floresta elimina este sumidouro,
9 9 99 tendo assim, um efeito igual a criação de uma fonte de mesmo
gí 401Lnm
valor. Em 1990 as florestas que haviam sido desmatadas em
2i N 00 csi O ri Roraima somaram 0,2 x 103 t de gás CH, (Tabs. 2 e 3).
en•L'7
4E" 03N
451
Fonte florestal de NO, e NMHC
4g -c As folhas da floresta liberam 0,0131 t hal ano-' de NO, (Kaplan
Floresta secundária

et aí., 1988; ver Keller et al, 1991) e 0,12 t ha-' ano-' de NmHc
Floresta madura

(Rasmussen &, Khalil, 1988: 1420). Nenhuma informação encontra-


se disponível sobre a liberação destes gases da vegetação de
substituição. Supondo que não houve nenhuma liberação da
agricultura e de pastagens produtivas e degradadas, e que as
liberações de florestas secundárias foram iguais àqueles das
O florestas primárias, a paisagem em 1990 em Roraima implicou em
o
um fluxo negativo de 21,0 X 103 t ano-' de NO5 e um fluxo positivo
o de 5,4-13,9 X 10' t de NMHC (Tabs. 2 e 3).
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Roraima e o aquecimento global: balanço anual das emissões de
gases do efeito estufa provenientes da mudança de uso da terra

348
Liberação de CH4 por cupins Á-2 o N
-;ini (6 N N
CO N CO ed-r: gs 349
N 111 171
M.
aN r
ei o,.2.0=
, 3,0 59 c"
co
Cupins na floresta madura liberam metano produzido por
Cle
78 g' ai
-y,—
N
,ÉS' 5 ai
a •E 3
-o 2 ra " U
ed.
bactérias que digerem celulose sob condições anaeróbicas no Qd 6
m "c'
▪ 41
abdomen dos insetos. Estas emissões serão perdidas 'quando a té • n_
u.
g e i
cr;
floresta for desmatada mas, por um longo tempo, após este fato, as
emissões estarão mais do que compensadas pelos cupins que
ingerem a biomassa não-queimada após o desmatarnento. No
cálculo de emissões por cupins na floresta, o item de interesse é
a quantidade de biomassa absoluta que decompõe anualmente
o mm Lei
(em t ha-' ano-1), em vez da taxa (fração) de decomposição por en o
R a;
ai R R ce N: a4.
ano. Para litter fino, o montante pode ser conhecido diretamente
dos dados sobre taxas de queda de litter, já que pode ser

0,78
N. "..
presumido que tudo que cai decompõe e que o nível do estoque CC.

(peso seco, t ha-1)


esteja em equilíbrio. Para o litter grosso tais dados não são Ln 4 ffl N N

0,56
disponíveis, e a quantidade que decompõe deve ser calculada a en¶
CS CS

o
w rn N

partir de informações sobre o estoque e a taxa de decomposição.


Árvores mortas em uma floresta tropical podem decompor muito

Producão anual
rapidamente. A constante de decomposição (k) para a decomposição

Produção de litter fino em flo restas amazônicas


de troncos no Panamá foi calculada em 0,461 ano-1 para árvores
com DAP (diâmetro a altura do peito) > to cm, baseados em
observações após um intervalo de to anos (Lang & Knight, 1979).
Contudo, no atual estudo, taXas mais baixas de decomposição
medidas em roças de corte-e-queima (Tab. 4) são utilizadas para CO
toda a biomassa grossa. Os montantes de litter fino e grosso são
calculados dos estudos disponíveis apresentados nas Tal:retas 5 e 6. N 61- m o'-'
IJD CO m ao
e .6 1:- Lei ui. ui

Exploração madeireira
É' É' z.= o .=
t' Êt ÈI
Em uma situação típica, as florestas acessíveis pelo transporte e2 erc
terrestre ou fluvial são exploradas para madeira, diminuindo a sua IS FR r°4 `12- 113
em F13
" rti
biomassa pela remoção de madeira e mediante a morte ou
< < < <
danificação de muitas árvores não colhidas. Posteriormente, esta á.0 0.0'

floresta já explorada é desmatada para agricultura ou pecuária.


cu
— ã
c+ e
„m
Imagens de satélite do sensor de cor falsa LANDSAT-TM mostram os ai 0.. o 00
E -e o=
pequenos pontos vermelhos que aparecem em uma faixa em torno 2 W g L'd Íg
á à ,U eV6,: s.g.
de algumas áreas desmatadas; no próximo ano as áreas com os ela
tE Tti" íçj 2.1 uru
pontos vermelhos acabam sendo desmatados de maneira normal
(L. Gylvan Meira Filho, comunicação pessoal, 1993). Os pontos
vermelhos indicam, provavelmente, a perturbação dos níveis zá'
pesados de exploração seletiva no ano antes da derrubada.
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Roraima e o aquecimento global: balanço anual das emissões de
gases do efeito estufa provenientes da mudança de uso da terra

350
Tabela 6. Estoques de biomassa morta grossa em florestas não perturbadas da decomposição dos resíduos e de um número substancial de 351
terra firme. árvores não comerciais que são mortas ou danificadas durante o
Madeira Total
processo de extração; e, (2) decomposição e/ou queima das sobras
Madeira caída (peso seco, t ha l)
morta biomassa Referência geradas no processo de serragem, somados a uma decomposição
Peças em p6 grossa
Pais Local Total It ha 11 morta
mais lentados produtos feitos da madeira colhida (ver Fearnside,
pequenas Troncos
It ha 11 19958). Com ajustes para exploração madeireira, as áreas
Brasil Manaus, AM 18,02 7,60 25,62 Klinge, 1973 desmaiadas em 1990 em Roraima tiveram uma biomassa total
Maracá, RR 1,72 2,38 4,10 0,98 5,08 Sem et al., 1992 média de 427 t ha-', dos quais 295 t ha- leram biomassa viva acima
do solo, 31 t ha-1 morta acima do solo e tco t ha' subterrâneas
Guiana Pista de 3,60 11,42 15,02 3,49 18,51 Puig & Delobelle,
Francesa 5ainte-Elie 1988: 12 (abaixo do solo).
Em Roraima, dados oficiais indicam uma intensidade
Média 12,38 4,02 16,40 atipicamente baixa de exploração madeireira em relação à área
desmatada anualmente. Segundo os dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (ma), em 1989 foram explorados 56.003
O efeito da exploração madeireira não é tão simples como m3 de madeira em tora em Roraima (IBGE, 1990). Considerando a
pode parecer. Mediante a remoção dos troncos das árvores taxa de desmatamento de 16.100 ha ano-' para 1989-1990, a
grandes, a eficiência de queimada aumentará, assim como a taxa intensidade de exploração teria sido apenas 3,5 m3 ha-1, pre-
de decomposição média da biomassa não-queimada. Isto é porque sumindo que toda a madeira explorada fosse oriunda de áreas
os galhos de diâmetro pequeno queimam melhor e decompõem sendo desmatadas naquele ano. Para fins do cálculo atual, foi feita
mais rapidamente que grandes troncos. essa presunção; portanto, a intensidade nas áreas de floresta não
Os valores para a biomassa da floresta não explorada, para desmatada é zero. Considerando que uma parte da exploração
madeira (Feamside, sd)(Tab. 1), representam as melhores avaliações madeireira provavelmente foi feita nestas florestas remanescentes,
para cada tipo florestal no tempo em que foi levantado pelo as emissões calculadas, tanto para desmatamento quanto para
Projeto RADAMBRASIL (1973-1983). Há razão para crer que as equipes exploração madeireira, são subestimadas.
de avaliação evitaram locais já pesadamente explorados para
madeira (Sombroek, 1992). Além disso, danos de exploração Interpretação das emissões históricas
madeireira eram muito menos amplos no tempo dos levantamentos
O balanço anual não deveria ser confundido com a mudança
do que são no presente. A exploração madeireira está progredindo
no balanço anual. Muitos componentes do balanço, tais como os
rapidamente, com a fração das áreas desmatadas que são
fluxos de solos, cupins e vegetação florestal nativa que são
exploradas para madeira antes da derrubada incrementando
perdidos quando a conversão ocorre, não mudarão muito com a
visivelmente desde meados dos anos 70, na medida em que o passagem do tempo. A questão de quanto as emissões históricas
acesso pelas estradas tem melhorado. O número de serrarias que pesarão nas negociações internacionais ainda está aberta. Os
compram madeira explodiu, e os preços da madeira aumentaram países industrializados foram os emissores principais de gases no
(cf. Veríssimo et al., 1992). Além disso, os troncos e a madeira para passado, sobretudo de co2 e, qualquer ponderação para emissões
o carvão vegetal e lenha são às vezes vendidos após a queimada. históricas por país indubitavelmente refletiria isto.
A redução da biomassa devido a exploração madeireira nas A área considerada para calcular a perda de fontes e
áreas derrubadas é muito mais alta que a redução da biomassa sumidouros em florestas intactas é presumida aqui como todo o
média sobre a floresta como um todo, já que as áreas derrubadas montante de 380.200 ha desmatados até 1990 em Roraima,
geralmente têm o melhor acesso por estrada. Muito da redução de independentemente de quanto tempo se passou desde que a
biomassa da exploração madeireira resultará em liberações de floresta original foi desmatada. Quase todo o desmatamento em
gases similares àquelas que ocorreriam através da derrubada: (1) Roraima foi feito dentro do atual século.
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima Roraima e o aquecimento global: balanço anual das emissões de
gases do efeito estufa provenientes da mudança de uso da terra

352
O tratamento das emissões históricas é importante para 353
estabelecer a maneira como a responsabilidade pelo aquecimento
global é compartilhada entre os paíSes. Saber a magnitude das
emissões históricas não é necessário, contudo, para o balanço
anual (e os seus componentes separados) ser útil na compreensão
dos balanços biogeoquímicos globais dos gases envolvidos, é
necessário entender: (O a magnitude das mudanças no balanço
anual durante os próximos anos na medida em que os dados do
inventário nacional são compilados, e (2) a eficácia em potencial
das diferentes opções de combate ao efeito estufa na alteração do
balanço anual dos gases.

Retirada de carbono pela vegetação de substituição


A paisagem de substituição

Uma Matriz de Markov de probabilidades de transição anual


foi construída para calcular a composição da paisagem que Figura 1. Pastagem formada em área de floresta derrubada na Colônia Apiati,
substituiu a ,floresta primária em 1990 e, projetar as mudanças Roraima. O carbono contido nos troncos remanescentes da floresta ori-
futuras, presumindo que o comportamento dos agricultores e ginal vai ser transformado em gases de efeito estufa através de combus-
fazendeiros permanecerá inalterado. As probabilidades de tão quando a pastagem for queimada, ou através da decomposição.
transição para pequenos agricultores são derivadas de estudos por
satélites das áreas de assentamento do governo (Moran et al., 1994; A paisagem substituta eventualmente se aproximaria de um
Skole et at, 1994). As probabilidades para fazendeiros são equilíbrio para o estado em 4,0% de agricultura, 43,8% de pastagem
derivadas do comportamento típico indicado em levantamentos produtiva, 5,2% de pastagem degradada, 2,0% de floresta secundária
feitos em entrevistas por UM et aL 13.988). Seis usos da terra são derivada da agricultura e 44,9% de floresta secundária derivada de
considerados, os quais, quando divididos para refletir a estrutura pastagem, além de um montante insignificante de "floresta"
etária, resultam em uma Matriz de 98 fileiras e colunas. regenerada (definido aqui como floresta secundária com mais de too
anos). A biomassa total média (peso seco, incluindo componentes
A paisagem substituta calculada para 1990 para a Ama-
subterrâneos e mortos) foi de 43,5 t ha-I em 1990 nos 410 X 103 km'
zônia Legal como um todo foi 5,4% de agricultura, 44,8% de
na Amazônia Legal desmatadas npçse ano para usos não-hidrelétricos.
pastagem produtiva, 2,2% de pasto degradado, 2,1% de floresta Isto representa uma sobre-estimativa para Roraima devido à
secundária "jovem" (1970 ou depois) derivada da agricultura, 28,1% inexistência de florestas secundárias "antigas". Em condições de
de floresta secundária "jovem" derivada de pastagem, e 17,4% de equilíbrio, a biomassa média seria de 28,5 t ha1para todas as áreas
floresta secundária "antiga" (pré-1970). desmatadas (excluindo hidrelétricas) — e florestas secundárias
Já que Roraima não possui áreas significativas de florestas "antigas" teriam deixado de existir (Fearnside, 1996b).
secundárias "antigas" (pré-1970), a adoção para Roraima das
demais probabilidades derivadas para a Amazônia Legal levaria às Taxas de crescimento de florestas secundárias
seguintes percentagens de uso da terra nos 380.200 ha desmatadas
A taxa de crescimento de florestas secundárias é crítica na
no estado até 1990: 6,6% de agricultura, 54,3% de pastagens
determinação da absorção ou retirada de carbono da paisagem de
produtivas, 2,7% de pastagens degradadas, 2,5% de floresta
substituição. A maioria das discussões da absorção por florestas
secundária "jovem" derivada de agricultura e 34,0% de floresta
secundárias tem presumido que estas crescerão a taxas rápidas que
secundária "jovem" derivada de pastagem.
Roraima e o aquecimento global: balanço anual das emissões de
Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima
gases do efeito estufa provenientes da mudança de uso da terra

dominado pelo desmatamento. Em termos apenas do dióxido de 355


354 caracterizam o pousio da agricultura migratória (e.g. Lugo &
carbono, aproximadamente 23% foi de emissões imediatas do
Brown, 1981; 1982). No entanto, na Amazônia brasileira a maioria
desmatamento nesse ano, e 77% foi de emissões herdadas
dos desmatamentos é para pastagens, com a agricultura migratória
principalmente da decomposição e de requeimas de biomassa não-
possuindo um papel relativamente insignificante (Fearnside, 1993b;
queimada deixada do desmatamento de anos anteriores. Devido à
199sb). Florestas secundárias sob pastagens degradadas crescem
taxa de desmatamento ter diminuido de 0,7 para 0,2 x 103 km2 ancr'
mais lentamente do que em locais onde apenas culturas anuais
entre 1989 e 1990, o balanço anual proveniente do desmatamento
haviam sido plantadas depois da derrubada inicial da floresta.
(te., excluindo a exploração madeireira) é maior que as emissões
Brown & Uno (i 990) revisaram os dados disponíveis sobre o
líquidas comprometidas, ou somas líquidas de gases do efeito estufa
crescimento das florestas secundárias tropicais. Praticamente toda a
que serão finalmente emitidos em conseqüência do desmatamento
informação disponível é de pousios da agricultura migratória. Brown
feito em 1990. O balanço anual é mais alto em 31% se apenas o co2
& Lugo (1990:17) traçam um gráfico a mão-livre dos dados
for levado em conta, e em 35-36% se também for incluído o impacto
disponíveis para florestas secundárias cuias idades variam de 1 a 80
em termos de equivalentes de co2 de outros gases. As emissões
anos, incluindo biomassa para madeira (galhos, gravetos e troncos: líquidas comprometidas seriam iguais ao balanço anual que
13 pontos de dados), folhas (to pontos de dados), e raízes (12 pontos
prevaleceria se o desmatamento continuasse em uma taxa constante
de dados). Isto tem sido utilizado para estimar a taxa de crescimento
durante um período longa
e a razão raiz/caule para pousios em agricultura migratória de
diferentes idades. Florestas secundárias em pastagens abandonadas Os montantes de emissões líquidas (excluindo a exploração
crescem mais lentamente (Guimarães, 1993; Uhl et al., 1988). Estas madeireira) são calculados para cenários de baixo e alto gases-
informações sobre a taxa de crescimento da vegetação secundária traço, expressando a gama de estimativas disponíveis para os
de origens diferentes vêm sendo usadas para calcular a absorção de valores dos fatores de emissão, mas não a gama de dúvidas para
carbono na paisagem em 1990 (Fearnside & Guimarães, 1996). estimativas de biomassa e das taxas de desmatamento. As emissões
líquidas calculadas para Roraima em 1990, expressadas em
Emissões líquidas anuais milhares de toneladas de gás foram: CO2: 14.815-14.836; 0-14 : 18,5-
23,2; CO: 40,7-51,2; 1.420: 1,5-3,0; NR: -21,0; NMHC: 13,9. A exploração
Considerando apenas o CO2, 15,7 X 106 t de gases foram madeireira liberou 33 x 103 t adicionais de gás de cove os gases-
emitidos (emissão bruta) pelo desmatamento em Roraima (não traço adicionaram mais 4,3-8,0 x 106 t de co2 equivalente.
incluindo emissões da exploração madeireira). A subtração da
absorção de 874 x 103 t de coa resulta em uma emissão líquida de
14,8 x 106 t de coa, ou 4,0 x 106 t de carbono. Acrescentando os Agradecimentos
efeitos dos gases-traço, pela utilização dos potenciais de
aquecimento global (GwPs) do IPCC de 1995 para um horizonte de O Pew Scholars Program in Conservation and the Environment
tempo de too anos (Albritton et al., 1995), OS impactos aumentam forneceu apoio financeiro. S. V. Wilson fez comentários Citeis sobre
em 6-10%, ou seja, uma emissão de 4,3-4,4 X 106 t de carbono o manuscrito. R. I. Barbosa ajudou na tradução para o português.
equivalente ao carbono do CO2 para todo o estado. A exploração
madeireira acrescenta 0,009 X 106 t de carbono em forma de CO2 e,
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