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GARANTIA DO DIREITO DA CONVIVÊNCIA

FAMILIAR E COMUNITÁRIA DA CRIANÇA


E DO ADOLESCENTE
Gabriela de Andrade Porto
2023
O ser humano necessita da construção de vínculos
familiares, cuidados e atenção em todas as fases de
sua vida, em especial nos primeiros anos de vida, para
que seja garantido o seu desenvolvimento físico,
psicológico e social, como também para que tenha
condições de construção da própria identidade.  A
saúde mental, a apropriação de valores éticos e
morais e o sentimento de pertença do indivíduo em
sua cultura devem ser, obrigatoriamente, ancorados
na família.
 Com a Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente, a
Legislação Brasileira passou a reconhecer as crianças e os adolescentes como
sujeitos de direitos e pessoas em desenvolvimento. Estabeleceu a Doutrina da
Proteção Integral, comprometendo-se legalmente com sua proteção e
apresentando como o interesse superior da criança acima de qualquer outro
interesse da sociedade. Essas normativas, também, elevaram a convivência
familiar e comunitária ao patamar de direito, no ordenamento jurídico
brasileiro.
O ECA conceituou criança e adolescente como cidadãos, atribuiu
responsabilidades à família, ao Estado e à sociedade, estabeleceu o atendimento
através de um conjunto de políticas públicas com a participação da sociedade,
de Conselhos de Direitos, desjudicializou questões sociais, criou Conselhos
Municipais de Direitos e Conselhos Tutelares e mudou o foco da metodologia
de atendimento para a prevalência de um processo socioeducativo.
Art. 19 ECA

 “Toda criança ou adolescente tem


direito a ser criado e educado no seio da
sua família e, excepcionalmente, em
família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária.”      
A família passou a ser vista
como o esteio que norteará
um trabalho conjunto e o
Conselho Tutelar passou a
ser o órgão de defesa ao
direito à convivência familiar
e comunitária das crianças e
dos adolescentes.
O Estatuto da Criança e do Adolescente - determina que
todas as crianças e adolescentes devem ser protegidos.
Primeiro, pela família - mas não determina qual: se a de
origem (genitores), a extensa (avós, tios, primos etc.) ou a
substituta (adoção ou guarda), abrindo o leque de
possibilidades de acolhimento das crianças e dos adolescentes
que estejam em risco pessoal e social. Em segundo lugar, diz
sobre a obrigatoriedade da sociedade em reconhecê-los como
responsabilidade de todos e, por fim, determina a
intervenção do Estado, quando nem a família e nem a
sociedade possibilitaram a proteção ou a garantia da
cessação dos direitos violados.
O Direito à Convivência Familiar e Comunitária está regulado no Artigo 4º do Estatuto
da Criança e do Adolescente

Você compreende a dimensão desse direito? 

 Esse direito foi inserido no contexto de política pública, a


partir do reconhecimento da criança e do adolescente
como sujeitos de direitos que fazem parte da sociedade, do
papel social da família, especialmente na formação das
crianças, e as consequências de rupturas dos vínculos
familiares, sempre à luz do princípio do melhor interesse
da criança e do adolescente.
Art. 4º ECA

É dever da família, da comunidade, da


sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária.
O Estado passa a reconhecer a importância e a
necessidade do convívio familiar para o
desenvolvimento da personalidade da criança, 
determinando a excepcionalidade de medidas que
apartem as crianças da mãe; a obrigação dos Estados,
de propor cuidados especiais para as crianças sem
família e para as famílias numerosas que necessitem
de recurso para sua subsistência.
Art. 19 ECA

É direito da criança e do adolescente


ser criado e educado no seio de sua
família e, excepcionalmente, em família
substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente
que garanta seu desenvolvimento
integral
Importantes fatos históricos
 > Na antiguidade os pais podiam vender seus filhos caso se encontrassem em situação de miséria
ou em caso de crianças com deficiência.
 > O poder dos pais sobre os filhos era absoluto, os pais podiam matar, vender ou abandonar seus
filhos. Na Grécia, havia um lugar próprio para que os pais abandonassem seus filhos, o local era
um precipício onde as crianças eram jogadas.
 Para crianças que não tinham acesso à família restava uma vida vil (escravidão, prostituição,
servidão, morte...).
 Na idade média o abandono de crianças chegou a ser de 1 abandono para cada 5 crianças que
nasciam.
 Na idade moderna (século XV – XVIII) há dados que relatam que a cada 2 crianças que nasciam 1
era abandonada. (via de regra a intenção dos pais não era que os filhos morressem, e isso se
conclui pela atitude de deixar a criança em lugares onde pudesse ser facilmente encontrada,
como as portas das igrejas. O abandono tinha, geralmente, raízes na pobreza extrema, que
incapacitava a família a criar a criança, e a intenção era encontrar alguém que pudesse criá-la
em melhores condições.)
Em razão do alto índice de abandono de crianças,
foram surgindo espaços de abrigamento destinados
a elas, como hospitais e instituições que, inclusive,
permitiam que a pessoa que estava abandonando a
criança permanecesse anônima. Mas o índice de
mortalidade era grande, visto que não havia
investimento público dirigido as instituições.
Imagem de crianças abandonadas e entregues para o Sistema de Roda dos Expostos.
A morte social e afetiva
 Agora imagine as condições em que uma criança que sobreviveu às taxas de mortalidade
infantil e cresceu em abrigo, mas sem referencia familiar. Essa criança conforme vai
crescendo toma conhecimento de sua condição de abandonada, torna-se instável e em
muitos casos acaba por ir morar na rua. Dando origem a mais uma situação de casais
miseráveis e propagando assim a prática de abandono das crianças.
 É nesse contexto que surgem as políticas de governo que funcionavam como depósitos de
crianças e adolescentes (movimento higienista).
 A concepção da política voltada para a infância e a adolescência no Brasil, desde a
Colônia até meados do Século XX, enxergava na institucionalização a melhor solução para
os menores abandonados e delinquentes, como se percebe no Serviço de Assistência ao
Menor (SAM), na FUNABEM e na Política Nacional de Bem-estar do Menor (PNBEM), ambas
norteadas pela perspectiva de segurança nacional. O confinamento era visto como um
meio de ressocialização, mas as constantes rebeliões nas unidades da FEBEM retrataram
uma realidade bem conflitante e divergente de uma possível socialização.
Adolescentes internados na FEBEM de
SP.
DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL –
1990
 Todas as ações relativas à criança, sejam elas
levadas a efeito por instituições públicas ou
privadas de assistência social, tribunais,
autoridades administrativas ou órgãos legislativos,
devem considerar primordialmente o melhor
interesse da criança.
Art. 227 CF

É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
CASO PRÁTICO.
 Sofia, uma adolescente de 15 anos, tinha a vida tranquila, estudava, passeava, divertia-se
como qualquer adolescente descobrindo a vida. Até que se viu envolvida por Marcos, um
jovem de 26 anos. Iniciaram o namoro, mesmo com a insatisfação da família com relação à
diferença de idade de Marcos e a sua aparente falta de compromisso com a namorada.
Passados alguns meses, Sofia descobre que engravidou. Ao relatar para Marcos, esse não
aceitou a situação, dizendo que ela deveria ter se prevenido e que agora cuidasse do filho que
arranjou. Arrasada, buscou apoio na família, mas os pais se negaram a acolher a filha com o
neto, colocando-a para fora de casa. Sem ter para onde ir, Sofia procurou o Conselho Tutelar a
fim de buscar ajuda. Nesse sentido, o Conselho se reuniu para discutir o caso.

Na análise da situação, a que conclusão chegou?


E quais intervenções foram traçadas para o acompanhamento do
caso?
Resolução do caso:

 Embasamento legal:

 Toda forma de violência, abuso, opressão, maus-tratos, negligência e


outras formas de violações de direitos de crianças e adolescentes
devem, obrigatoriamente, ser comunicados aos órgãos responsáveis,
conforme estabelecido no artigo 227 da Constituição Federal e artigos
70; 90 incisos I; e 136 incisos de I a III - letra a, do Estatuto da Criança
e do Adolescente.
 Intervenção:
O Conselho Tutelar, ao intervir junto à mãe de Sofia, buscou acalmar a
família ao esclarecer que a filha ainda é adolescente e, dessa forma, cabe
a ela a proteção da filha até que complete, no mínimo, 18 anos.

Orientou a mãe e Sofia a serem acompanhadas na rede de saúde, a fim de
fazer o pré-natal, e também pelo Centro de Referência de Assistência
Social (CRAS), para que Sofia seja incluída em um programa de inclusão
produtiva, ou primeiro emprego; que seja acompanhada a frequência e o
rendimento escolar da adolescente, para que não evada da escola, e que
encaminhe para a Assistência Jurídica gratuita, para que responsabilize o
pai com o sustento e participação na vida da criança antes e pós-
nascimento.
 De acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento - SNA,
em 2021 o número de crianças acolhida era 29.184.

A família é lugar de origem da criança e do adolescente, cabendo ao


Estado prover proteção e defesa no âmbito de outra família, caso a
família de origem seja impedida judicialmente de manter a guarda de
seus filhos, em razão de negligência, maus-tratos, opressão, abandono
etc., e definindo o acolhimento familiar como preferencial,
comparativamente ao acolhimento institucional.
 O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos de Crianças e de
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, com vigência a partir de 2007,
propôs mudanças substanciais, sobretudo na maneira de a sociedade pensar e se relacionar
com a criança e o adolescente.  Foram propostas ações a serem desenvolvidas por vários
atores sociais e de direitos, com foco nos seguintes aspectos:

 • Apoio à família com a prevenção da institucionalização;


 • Excepcionalidade e provisoriedade do afastamento do convívio familiar;
 • Reordenamento dos abrigos;
 • Implementação de programas de famílias acolhedoras;
 • Reintegração familiar como premissa do Serviço de Acolhimento;
 • Adoção como excepcionalidade;
 • Fortalecimento da autonomia do adolescente e do jovem adulto; e
 • Articulação intersetorial.
O Artigo 101 do ECA prevê as medidas obrigatoriamente tomadas
para prevenção e correção do direito violado pelas instituições
governamentais, não governamentais e cidadãos.
 * ler artigos 98 e 101 ECA.
Modalidades de acolhimento
 Serviço de acolhimento institucional.

 Serviço de acolhimento familiar.

 Para definir a modalidade que melhor atenderá determinada criança ou adolescente, há que
se considerar: sua idade; histórico de vida; aspectos culturais; motivos do acolhimento;
situação familiar; previsão do menor tempo necessário para viabilizar soluções de caráter
permanente (reintegração familiar ou adoção); condições emocionais e de
desenvolvimento; e, também, as condições específicas que precisem ser observadas
(crianças e adolescentes com diferentes graus de deficiência, que estejam em processo de
saída da rua, com histórico de uso ou dependência de álcool ou outras drogas, com
vínculos de parentesco – irmãos, primos etc.
Art. 88 ECA
Para melhor garantir o direito das crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária o artigo 88,
inciso I do ECA determinou a municipalização do atendimento, ou seja, é competência do munícipio qualificar
o serviço através das seguintes ações:
 • O co-financiamento das unidades de acolhimento institucional, sejam elas governamentais ou não
governamentais;
 • A implementação do Serviço de Acolhimento Familiar;
 • A qualificação profissional dos funcionários;
 • A busca de indicadores qualitativos e quantitativos;
 • O estabelecimento de uma metodologia de trabalho com famílias para prevenção do abandono;
 • A potencialização das competências das famílias;
 • A adequação de espaço físico;
 • O atendimento individualizado e em pequenos grupos;
 • A acessibilidade; e
 • A articulação com rede de serviços.
Art. 87 do ECA – linhas de ação da política de
atendimento de crianças e adolescentes
 I - políticas sociais básicas;
 II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia de proteção social e de prevenção
e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
2016)
 III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos,
exploração, abuso, crueldade e opressão;
 IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
 V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente.
 VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a
garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes; (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência
 VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com
necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.
Lei 12.010/2009 propôs:
 • o atendimento à criança e ao adolescente e a sua família de forma qualificada;
 • a realização, com prioridade absoluta, do acompanhamento familiar, a fim de reintegrar
o acolhido à sua família ou, na impossibilidade real, a uma família substituta, de forma
definitiva;
 • a determinação ao Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública que
operacionalizem as ações judiciais de que fazem parte crianças e adolescentes de forma
célere e condizente com o maior interesse dos acolhidos; e
 • a ampliação das atribuições do Conselho Tutelar, que para além de promover e
proteger a criança e ao adolescente, passa a também orientar e auxiliar às famílias
na perspectiva da prevenção.
Caso prático:
 José Carlos tem 10 anos e é estudante do 5º ano do Ensino Fundamental.
Apesar de ser um aluno inteligente e interessado, e de ter se destacado em
todas as atividades propostas pela escola, seja dentro ou fora da sala de aula,
tem apresentado baixo aproveitamento e frequência irregular. Em conversa
com a Supervisora Pedagógica da escola, contou que está auxiliando sua mãe
na coleta de material reciclado e, por isso, não tem conseguido levantar cedo,
prestar atenção na tarefa e ir à escola todos os dias. A Supervisora acionou o
Conselho Tutelar, apresentou e discutiu o caso.
 Diante disto a que conclusão chegaram?
E quais intervenções foram traçadas, e quais providências
foram tomadas?
Embasamento legal

A infrequência escolar e o trabalho infantil correspondem a formas de


violações de direitos de crianças e adolescentes. Por essa razão, devem ser
obrigatoriamente comunicados aos órgãos responsáveis, de acordo com o
estabelecido nos artigos 7 e 227 da Constituição Federal, nos artigos 55, 56
(os quais tratam do direito à educação), 60 a 69 (que tratam das questões
referentes ao trabalho do adolescente na condição de aprendiz) e 245 (que
aborda a importância das denúncias referentes às violações de direitos de
crianças e de adolescentes) do ECA (Lei Federal nº 8.069/90) e na Lista das
Piores Formas de Trabalho Infantil – Lista TIP, aprovada pelo Decreto nº
6.481 de 12/06/2008.
 A escola deve encaminhar as situações de trabalho infantil poderá contar com o auxílio do
Conselho Tutelar para acompanhar a família da criança, sensibilizando-a para o papel da
educação, em contraponto aos contextos de trabalho infantil. Os casos de situação de trabalho
infantil que necessitem de acompanhamento mais detalhado da rede de proteção externa
deverão ser encaminhados junto aos órgãos responsáveis, a saber: Centro de Referência
Especializado da Assistência Social, Promotoria da Infância e Juventude, órgãos fiscalizadores do
trabalho, como Ministério Público do Trabalho, e Auditoria Fiscal do Trabalho, entre outros.
 Em relação à baixa frequência, cabe à escola envidar todos os esforços para o combate ao
abandono escolar, articulando e fortalecendo a rede de proteção interna (CMDCA, CMAS e CTs) e
a rede externa (órgãos que integram a Rede de Proteção Social dos Direitos de Crianças e
Adolescentes no município).

O trabalho deve ser assertivo e o acompanhamento constante é essencial, de maneira a garantir
que o ambiente familiar seja saudável para a criança, impedindo que a situação chegue ao ponto
de ser necessária a interrupção da convivência familiar.
 Para que o caso seja acompanhado com sucesso, é fundamental que seja assistido por equipe
interdisciplinar das políticas setoriais e órgãos de defesa, ou seja, por todos os envolvidos no
Sistema de Garantia de Direitos (SGD) e que compõem a rede de proteção do município.
 >> documento importantíssimo para a atuação do Conselheiro Tutelar é o 
Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa à Convivência Familiar e Comunitária
de Crianças e Adolescentes
, pois nele está a política nacional de garantia desses direitos.
 https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadern
os/Plano_Defesa_CriancasAdolescentes%20.pdf
Crianças X adolescentes

Doutrina e legislação fazem uma divisão entre


as ações e políticas que devem ser adotadas
em relação à crianças e em relação aos
adolescentes. Em que pese estarem
vivenciando a mesma realidade se encontram
em momento de construção de vida
completamente diferentes.
CRIANÇAS

 Para atender às crianças projetos como o Marco Regulatório da Primeira


Infância (que abrange dos 0 aos 6 anos de idade) priorizam ações que visem
estimular o brincar, que sejam acompanhados por profissionais especializados
em primeira infância (médicos, psicólogos, professores...), a recomendação é
de que as crianças não sejam colocadas em acolhimento institucional e que
da forma que for possível participem das ações que lhe digam respeito.
 Estudos demostram que o vínculo familiar (sobretudo o materno) são de
extrema importância nessa fase da vida e estão diretamente relacionados
com o desenvolvimento da criança.
Caso prático
 O Conselho Tutelar da Cidade de São Inácio recebeu uma denúncia anônima, por telefone, de que
um bebê de quatro meses parecia ter sido abandonado dentro de casa. O denunciante diz que a
criança está chorando há horas e que já bateu na porta do apartamento de onde vem o choro e
ninguém atendeu. Preocupado com a situação da criança, resolveu ligar, para que o CT averiguasse
o que estava acontecendo.
 Dessa forma, dois Conselheiros se dirigiram ao endereço. Ao chegar, constataram que a mãe havia
acabado de chegar em casa. Ao conversar com ela souberam que morava com o filho de quatro
meses, e em razão de trabalho deixava a criança sozinha durante quase todo o dia, indo em casa
apenas na hora de alimentá-la, aproveitando para trocar as fraldas e higienizá-la.
 Ao observar a criança, os conselheiros perceberam que a criança, apesar de parecer saudável, se
mostrava apática aos estímulos, e seu desenvolvimento estava atrasado para a sua faixa etária.

Quais os encaminhamentos a serem tomados?


Embasamento legal

 Sobre o caso em tela, o art. 227 da Constituição Federal/88 preceitua o dever da


família, da sociedade e do Estado em garantir às crianças e aos adolescentes todos os
direitos humanos necessários para seu desenvolvimento saudável, inclusive a
convivência familiar.
 A Lei nº 13.257/2016, que define o Marco Regulatório da Primeira Infância, conforme
o art. 13, determina que devem ser assegurados, às famílias com crianças de 0 a 6
anos, pela União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, o apoio e a
participação das famílias em redes de proteção e cuidado da criança em seus contextos
sócio familiar e comunitário, visando, entre outros objetivos, a formação e o
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, com prioridade para os
contextos que apresentem riscos ao desenvolvimento da criança.
Resolução do caso
 O artigo 136 da Lei nº 8.069 (1990) afirma que é dever do Conselheiro Tutelar zelar pelos direitos da
criança e do adolescente. Para tanto, deve observar, acompanhar e verificar se a família, a comunidade, a
sociedade e o Poder Público estão assegurando, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos das
crianças e dos adolescentes, cobrando de todos esses que cumpram com o Estatuto.
 Intervenção:
 O Conselho Tutelar poderá ir até a residência da criança para averiguar os fatos. Se constatados, deverá
realizar busca ativa dos pais ou responsável. Ao encontrá-los, interrogar para entender as razões que os
levaram a deixar o filho de quatro meses sozinho em casa.

No caso em tela, durante a conversa com a mãe, discorrer sobre a gravidade da ação, que poderá, inclusive,
ser considerada como negligência capaz de prejudicar o desenvolvimento da criança.
 O Conselho Tutelar deverá encaminhar o caso ao CREAS ou ao CRAS para acompanhamento das famílias,
requisitando atendimento. Uma vez que foi constatado que a criança não parecia estar em perfeito estado
de saúde com relação a seu estágio de desenvolvimento, deverá requisitar atendimento da rede de saúde
também.
Adolescentes e Alternativas de Convivência Familiar e
Comunitária

 Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), a


Doutrina da Situação Irregular é substituída pela Doutrina da Proteção Integral, em
que as crianças e os adolescentes passam a ser considerados como sujeitos de direitos.
 A adolescência é o período de transição da criança para o adulto, é um período de
mudanças físicas, psíquicas, emocionais e sociais. Por isso é importante propor ações
humanizadas nos serviços de acolhimento.
 Aos adolescentes que estão próximo dos 18 anos (em breve se tornam adultos e serão
desligados dos programas) é improvável a reintegração familiar (seja na própria
família do adolescente ou por meio de adoção) a doutrina aponta que dois conceitos
são os mais importantes para esses adolescentes: a autonomia e projetos de vida.
AUTONOMIA
 Ao completar os 18 anos o então adolescente será intimado judicialmente para se retirar do Serviço
de Acolhimento (que apesar de todas as dificuldades era para essa pessoa o mais próximo de um
lar).Chegado os 18 anos de idade, o jovem é integralmente responsável pela sua vida, pela sua
subsistência, por isso, há tanta preocupação em inserir essa pessoa no mercado de trabalho, mas a
independência econômica não é a única preocupação com esses jovens.
 A autonomia que deve ser trabalhada com esses jovens é no sentido de que eles precisam aprender
a cuidar de si mesmos, ou seja, através de projetos que desenvolvam a sua independência. Essa
tarefa só pode ser executada com sucesso se toda a rede de apoio estiver alinhada a cumprir esse
propósito (inclusive o Conselho Tutelar).
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CASO PRÁTICO

O Conselho Tutelar da Cidade de Passo Fundo, em razão de suas atribuições funcionais, agendou
uma fiscalização na Unidade de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes. O objetivo
era, para além de expedir o certificado de qualificação para a Instituição executora, averiguar como
os acolhidos estavam sendo tratados. Assim, no dia aprazado, realizaram a visita institucional. Lá
chegando, perceberam que, dos 20 acolhidos, 12 eram adolescentes e, destes, 7 tinham entre 15 a 17
anos.  Perceberam também que os adolescentes não faziam nada na unidade, nem as suas camas
arrumavam, e não sabiam cuidar de si, pois recebiam tudo nas mãos; os sete maiores de 16 anos não
estavam inscritos em programa de inserção ao trabalho formal, situação que preocupou muito os
Conselheiros.

 Nesse sentido como os Conselheiros Tutelares deveriam atuar?


 Quais são suas prerrogativas e dever institucional para com as crianças e adolescentes em
medida protetiva de acolhimento institucional e ou familiar?
Resolução do caso

 Para exercer a função de fiscalização, os Conselheiros têm livre acesso a qualquer


entidade, não podendo ser obstado o seu ingresso. Aliás, embaraçar ou impedir a
ação do Conselho Tutelar é crime punido com detenção de 6 meses a 2 anos.
Deverão fazer a visita à entidade, verificando, basicamente, o cumprimento do
artigo 94, do ECA (Lei Federal nº 8.069/1990   e elaborando um termo de visita ou
de inspeção.
 De acordo com o estabelecido nos artigos 7º e 227 da Constituição Federal de 88, e
55, 56 (os quais tratam do direito à educação), 60 a 69 (que tratam das questões
referentes ao trabalho do adolescente na condição de aprendiz) e 245 (que aborda a
importância das denúncias referentes às violações de direitos de crianças e de
adolescentes) do ECA (Lei Federal nº 8.069/1990).
O Conselho Tutelar, após a constatação do fato, deve fazer
uma representação em que conste o resumo do ocorrido,
objetivando a aplicação de penalidades administrativas, que
estão previstas no artigo 97 do ECA (Lei Federal nº
8.069/1990). Essas medidas, que vão desde a advertência até
a suspensão das atividades, são aplicadas pelo juiz, por meio
de procedimento em que se garante a ampla defesa ao
dirigente de entidade denunciada.
 Pode-se, também, pedir o afastamento liminar e provisório
do dirigente da entidade, se estiver evidenciado motivo
grave.
O convívio familiar representa a base para o
desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes,
em especial nos primeiros anos de vida. Assim, se nos
primeiros anos de vida, a criança vivenciou o cuidado, o
afeto, e também a imposição de limite, de autoridade e
de senso de realidade, muito provavelmente terá o
desenvolvimento adequado. Caso contrário, é provável
que a partir da adolescência se desestabilize e apresente
dificuldades de convívio pessoal e social.

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