Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
adolescente
2019
LEONARDO DE FREITAS SERI
adolescente
2019
FICHA CATALOGRÁFICA
CDD 157.9
A dissertação de mestrado sob o título O JOGO DE AREIA (SANDPLAY) NO
TRATAMENTO DO TRAUMA EM ADOLESCENTE, elaborada por Leonardo de Freitas Seri
foi apresentada em 1 de abril de 2019, perante banca examinadora composta por Profa. Dra.
Hilda Rosa Capelão Avoglia (Presidente/UMESP); Profa. Dra. Miria Benincasa Gomes
(Titular/UMESP) e Profa. Dra. Helena Rinaldi Rosa (Titular/USP).
_______________________________________
_______________________________________
Durante o período de construção deste trabalho e até antes de começá-lo, iniciei um movimento
de honrar a instabilidade da vida – foram acontecimentos que ora balançaram as estruturas e
ora impulsionaram meu crescimento - assim como a valorizar os encontros que tive ao longo
deste percurso. Viver é encontro, e estes sem sombra de dúvidas foram me constituindo no ser
humano que sou. Por isso, agradeço a estes encontros, em especial:
A meus pais, Zuleide e Osmar, pelo encontro que me permitiu a vida, que permitiu meu
desenvolvimento e permitiu um espaço de amor para que eu pudesse trilhar meu próprio
caminho;
A minha avó, Ubalda, pelo encontro amoroso, pelo colo que só uma verdadeira vóin saberia
dar e por proporcionar durante muitos momentos da minha vida, o estudo;
A minha orientadora, Prof.ª. Dr.ª. Hilda Rosa Capelão Avoglia, pela disponibilidade em
orientar um trabalho que fugia de sua área de pesquisa, por aceitar o psicólogo e pesquisador
que sou, com minha abordagem e minhas escolhas. Por me incentivar no ensino e na pesquisa,
pelas longas conversas e pelos inúmeros momentos de carinho;
A Prof.ª. Dr.ª. Aicil Franco, pelo encontro que transcende o Jogo de Areia, pelo carinho
direcionado a mim, pela disponibilidade em me receber em Salvador, por incentivar meu
caminho profissional. Minha gratidão é imensa também, por aceitar, frente a tantas
diversidades, contribuir maravilhosamente no exame de qualificação deste estudo;
As Professoras Dr.ª. Miria Benincasa e Dr.ª. Helena Rinaldi Rosa, por aceitarem o convite e
contribuírem no exame de qualificação. E por todo carinho direcionado a mim ao longo destes
anos;
A Prof.ª. Dr.ª. Ivete Pellegrino Rosa, pelo encontro que me permitiu ser muito do que sou hoje.
Como uma vez me disse, minha mãe intelectual, grande incentivadora do caminho profissional.
Pelo colo constante, pelas nossas conversar semanais e por proporcionar um espaço para que
eu cresça, sempre. Nosso encontro ultrapassou a relação aluno-professor de graduação e serei
eternamente grato por isso;
A Psicóloga e amiga, Juliana Kessar Cordoni, por acreditar no meu potencial e incentivar que
este estudo fosse realizado no ambulatório que é coordenadora. Pela torcida e pela troca de
afeto;
A minha psicoterapeuta, Patricia Sabadin, pelos longos anos que estivemos juntos, por
proporcionar um espaço que leva ao amadurecimento, por me incentivar a viver e pelos nossos
encontros terapêuticos que me levaram de encontro comigo mesmo;
A Daniela Pupo Bianchi, por um dia ter me apresentado a caixa de areia, por ter me
acompanhado como supervisora, pela torcida e por compartilharmos paixões semelhantes;
A Virgínia Sant’Anna, por me acompanhar pelas areias do sandplay, pelo vaso alquímico que
proporciona inúmeras transformações.
A Maria Eliane Silva, amiga e psicóloga que admiro muito, pelos inúmeros encontros, por
proporcionar cafés e almoços que me nutriram e me fizeram mais forte. Pela amizade que hoje
faz toda diferença, pelo incentivo constante e pelas nossas trocas que só nós entendemos;
Ao Lucas Valente, amigo e psicólogo, pelo campo que nos rodeia, que nutre pelo afeto, pela
parceria que temos e por inúmeras vezes, me emprestar seu lado valente para que eu continue
buscando o novo;
A Natália Agostini, amiga e psicóloga, pelo encontro que não sei explicar, parece que são anos
de convivência, pelas trocas afetivas, pelo incentivo do meu trabalho e pela amizade de vai
além da psicologia;
As amigas, Emmanuelle Arsuf, Eloisa Antonietto, Lígia Caravieri e Ana Nazário, pela
torcida, pelos papos, pelos cafés compartilhados nos intervalos das aulas e pelas parcerias
estabelecidas durante o mestrado;
A Margarida, participante deste estudo, garota que transformou minha vida profissional, por
permitir que eu mergulhasse com ela na areia;
A CAPES, pela bolsa concedida.
Nunca pare de sonhar – Gonzaguinha
RESUMO................................................................................................................................... 9
ABSTRACT ............................................................................................................................ 10
LISTA DE FIGURAS............................................................................................................. 11
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13
1.1 O TRATAMENTO PSICOTERÁPICO ...................................................................................... 14
1.2 TERAPIA DO SANDPLAY ..................................................................................................... 16
1.3 TRAUMA NA PSICOLOGIA ANALÍTICA E NA TERAPIA DO SANDPLAY .................................. 23
2. MÉTODO......................................................................................................................... 27
2.1 PARTICIPANTES ................................................................................................................ 27
2.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO .................................................................................................. 28
2.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ................................................................................................. 28
2.4 LOCAL.............................................................................................................................. 28
2.5 INSTRUMENTOS ................................................................................................................ 29
2.5.1 Instrumento de Rastreio para Sintomas de Estresse Pós-traumático (IRSEPT) ..... 29
2.5.2 Sandplay ................................................................................................................... 29
2.6 PROCEDIMENTOS .............................................................................................................. 30
2.6.1 Procedimento para coleta de dados ....................................................................... 30
2.6.2 Procedimento para análise de dados ..................................................................... 31
2.7 RISCOS E BENEFÍCIOS ...................................................................................................... 31
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 32
3.1 CASO CLÍNICO: MARGARIDA ............................................................................................ 32
3.2 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS CENÁROS..............................................................................35
1. INTRODUÇÃO
Cerqueira (2018) por meio do Atlas da violência divulgou o número de abusos cometido
no mesmo período, que também mostrou um aumento considerável, se pensar que os dados
obtidos foram os registrados apenas em delegacias. Em 2015, foram notificados 20 mil abusos
sexuais no território brasileiro. No ano seguinte o aumento foi duas vezes maior 49.497
registros. Ainda muitos não são registrados, por muitos motivos como: localidade, idade,
escolaridade e medo ou até mesmo vergonha de ser vítima.
Terr (1991), em uma metanálise, aponta que o trauma na infância aparenta ser um fator
etiológico significativo no desenvolvimento de uma série de transtornos ainda na infância, mas
também, a longo prazo, na vida adulta. A autora coloca como respostas a longo prazo,
problemas como: pensamento psicótico, violência/agressividade, dissociação, passividade,
automutilação e transtornos relacionados à ansiedade.
Nesse sentido, Van der Kolk (2005) colabora adicionando o conceito de “trauma
complexo” para apontar múltiplos ou exposição prolongada a eventos estressores. O autor
expõe que há ligações importantes entre experiências infantis de trauma e depressão, ideação
suicida, uso abusivo de drogas e álcool, comportamento altamente sexualizado e obesidade.
Outras alterações podem surgir como: despersonalização, pesadelos/dificuldade para dormir,
problemas escolares e de aprendizagem e regressão dos comportamentos (Terr, 1991).
que esse público em específico apresenta melhor resposta. Os psicoterapeutas que utilizam a
TCC-FT trabalham de inúmeras formas: individualmente com a criança ou adolescente, com os
pais e/ou responsáveis e em conjunto a família.
A TCC-FT emprega o tratamento orientado para a fase do trauma, são oito tipos de
manejos oferecidos: psicoeducação para pais e filhos e desenvolvimento de habilidades;
relaxamento; modulação afetiva; processamento e enfrentamento cognitivo; narrativa do
trauma; lembretes do trauma; sessões conjuntas de pais e filhos e melhora da segurança (Landolt
& Kenardy, 2015).
Complementar a isso, Howe (2005) diz que a TCC não deve ser usada logo de início
pois, para o autor, o evento traumático tem pouco a ver com a cognição, uma vez que surge na
parte emocional do cérebro que é responsável pela emissão de mensagens de perigo e angústia.
Assim, a TCC pode proporcionar dessensibilização do trauma, mas não sua integração. Logo,
as técnicas como a integração sensorial e o Sandplay auxiliam a criança na regulação
emocional. Ainda, segundo o autor, a utilização de técnicas e métodos não verbais são bastante
eficazes para o tratamento de crianças e adolescentes traumatizados.
Considerada uma modalidade de ludoterapia que consiste no uso de duas caixas de areia
– uma seca, e outra molhada, os pacientes podem manipular a areia e utilizar as miniaturas que
estiverem à disposição para montar um cenário. Esse pode ser entendido como expressão
16
tridimensional de alguns aspectos da vida psíquica do sujeito. Kalff (1980) diz que ao produzir
um cenário, um conflito se transfere do mundo interior para o exterior e ganha forma. Alguns
terapeutas utilizam o Sandplay como método principal, enquanto outros a integram à análise
verbal e aos demais métodos de psicoterapia (Von Gontard, 2010).
É possível notar que as palavras muitas vezes não alcançam a expressão mais justa e
completa de significado, além de se constituírem na linguagem da consciência, enquanto a
imagem é a maneira que o inconsciente se comunica. Por se tratar de um método não verbal, a
TS pode oferecer uma comunicação universal da psique. Assim como nos sonhos, as imagens
que aparecem na caixa de areia são imagens do inconsciente para que seja possível contemplá-
las e, assim, chegar a uma compreensão (Friedman, 1997).
Von Gontard (2010) aponta que, em sua experiência clínica, o Sandplay tem se mostrado
um método excelente e versátil, principalmente para o tratamento dos transtornos
internalizantes como: depressão, fobias, transtornos ansiosos, entre outros.
O Sandplay tem sido definido como uma modalidade psicoterapêutica, uma terapia não
verbal, onde o sujeito cria cenas tridimensionais utilizando uma caixa com areia e um arranjo
de miniaturas (Weinrib, 1993). O resultado da criação corresponde a um cenário que carrega
várias dimensões da realidade do paciente.
17
A origem do Sandplay nos remete a Margaret Lowenfeld (1890 – 1973), pediatra inglesa
e psiquiatra de crianças, que idealizou o instrumento World Technique (1958), e visava ajudar
a criança a se comunicar durante o tratamento com a médica. O instrumento era utilizado para
fins terapêuticos e diagnósticos, consistia na utilização de materiais simples como uma série de
personagens e objetos em miniatura para a construção de um mundo dentro de uma caixa com
areia. O ano de 1928 foi o marco do surgimento deste instrumento, na “Clínica para crianças
nervosas e difíceis” em Londres (Turner, 2005).
Wells (1911/2004) diz que os jogos mais divertidos são aqueles que podem acontecer
no chão de casa. Utilizava tapetes e papéis para forrar o chão, da cor verde para representar a
vegetação e da cor azul para mar ou oceano. Os corredores de um quarto para outro,
representavam estradas.
Lowenfeld, a partir da leitura deste livro, intuiu que o conteúdo das brincadeiras
poderiam estimular a expressão imaginativa das crianças. World technique revelou-se muito
versátil e adaptável às diferentes exigências de trabalho na comunicação com a criança
(Sergiampietri, 2013). É mérito de Lowenfeld a importante inovação de associar o uso de
miniaturas com uma caixa de areia. Mas também é das crianças que foram atendidas por ela,
que espontaneamente indicaram suas preferências em utilizar estes materiais.
Lowenfeld (1979/2005) sustentava que a expressão das emoções nas cenas durante o
jogo, favorecia as crianças na passagem de uma consciência vivida para uma consciência
reflexa do comportamento verbal. Modificações notórias do intelecto humano auxiliavam a
criança a aprender não só a expressar sua dificuldade, como a verbalizá-la.
Nos anos 50, Dora Kalff, que desejava trabalhar com crianças, esteve em contato com
Lowenfeld em uma conferência internacional realizada em Zurique. Instigada por maior
conhecimento, foi a Londres estudar com Margareth Lowenfeld na mesma época que concluía
sua formação em Psicologia Analítica com Emma e Carl Jung, desenvolvendo assim sua própria
versão do World Technique, a qual chamou de Sandplay.
Martin Kalff (2012), filho da autora e também terapeuta do Sandplay, diz que o vivo
interesse dela pela filosofia oriental unida a seus estudos em psicologia analítica e psiquiatria,
produziram uma visão mais profunda da criação da imagem na areia e da atitude do terapeuta.
Sua intenção desde o início era procurar uma nova forma que permitisse a junção do
tratamento de crianças à psicologia de Jung, pois ele próprio a encorajou a prosseguir seus
estudos nessa direção. Acredita-se que o primeiro terapeuta a descrever os benefícios do brincar
na areia com objetos, tenha sido o próprio Jung, como é visto em sua autobiografia:
Para Kalff (1980), o método era central, ou seja, revolucionou o setting terapêutico
tradicional, e o processo da terapia acontecia por meio das cenas montadas pelo paciente dentro
da caixa de areia ao longo das sessões. O consultório transformava-se em um lugar vivo e
sugestivo onde se destacavam uma série de objetos coloridos e atraentes que eram dispostos
sobre as prateleiras segundo um estilo pessoal, característico de cada terapeuta. No centro da
sala, deveriam estar dispostas duas caixas de areia, sendo uma seca e uma molhada.
As caixas têm as seguintes medidas: 72 x 50 x 7,5 cm, a areia deve cobrir até a metade
da caixa. A dimensão da caixa é própria para caber no campo de visão do sujeito, deixando-o
confortável para olha-la. O fundo da caixa é pintado de azul para produzir a ideia de infinito, a
cor azul traz a noção de água. A granulação da areia dependerá do terapeuta, mas a espessura
geralmente utilizada é a fina, como a areia de aquário ou até a de praia (Franco & Pinto, 2003).
A areia seca, é leve e escorregadia, traz sensações às mãos de algo macio e carinhoso.
“Brincar com areia seca é benéfico, lembrando não só as brincadeiras da infância, mas talvez
também os toques carinhosos da mãe ou de outra pessoa querida (...)” (Ammann, 2002, p. 51).
A areia molhada possibilita ao sujeito criar formas na areia, adquirindo qualidade de terra, firme
e maleável. Boik e Goodwin (2000) apontam que a areia molhada está associada à pureza e
limpeza, representando o inconsciente.
A coleção das miniaturas deve ser extensa, segundo as indicações de Kalff (1980), deve
poder representar além do mundo exterior e cotidiano do paciente, também o mundo imaginário
e fantástico. De acordo com Cruz e Fialho (1998), dentre as miniaturas devem-se encontrar:
animais, elementos da natureza, meios de transporte, símbolos de guerra, habitações, figuras
humanas, figuras da fantasia, figuras de conteúdo sagrado e objetos vários como decorativos,
ferramentas, sinais de trânsitos, objetos geométricos entre outros.
aspectos da vida psíquica do sujeito. Kalff (1980) diz que ao produzir um cenário, um conflito
se transfere do mundo interior para o exterior e ganha forma, esta dinâmica influencia no
funcionamento do inconsciente, que consecutivamente faz ressonância na psique.
Complementar a isso, Franco e Pinto (2003) discutem que o Sandplay com característica
de um jogo simbólico ou de um instrumento de investigação clínica, pode ser considerado uma
técnica ou procedimento poderoso pelas suas qualidades projetivas, que possibilita a
visualização, interpretação e quem sabe, conscientização de conteúdos que ainda não puderam
ser expressos por meio de palavras.
Weinrib (1993) expõe que é essa dinâmica de transferência do interior para o exterior
do inconsciente, ativará a tendência autônoma da psique para que ela busque sempre a
totalidade, ou seja, a maneira de manter o fluxo do processo de individuação. Sendo assim, um
dos postulados básicos do Sandplay é o de processo criativo que acontece espontaneamente ao
longo das sessões no brincar na caixa com as miniaturas.
O processo curativo, segundo Ammann (2002), acontece com pessoas que apresentam
distúrbios ou feridas na psique, impossibilitando que estes indivíduos desenvolvam-se de
maneira saudável.
Para Weinrib (1993), o paciente quando entra em contato com a sua sombra, e a aceita
como parte constituinte de sua personalidade, integra as características de anima ou animus, e
encontra-se consigo mesmo em suas manifestações, passa a encarar a vida com outros olhos,
auxiliando assim em seu processo de individuação. Jung (1928/1984) compreende que o
processo de individuação é um processo de tornar-se único, "tornar-se quem se é", não se trata
de um ponto de chegada na vida e sim um movimento que vai acontecendo ao longo da vida.
No caso de um ego fraco ou neurótico, assumo com certeza que o self deixou
de manifestar-se. Isso pode acontecer porque a proteção maternal necessária
não foi dada, ou porque a manifestação do Self foi gravemente perturbada por
influências externas, tais como guerra, doença ou falta de compreensão do
ambiente durante o desenvolvimento inicial da criança (Kalff, 1980, p. 19).
Os cenários produzidos na caixa de areia, de acordo com Franco e Pinto (2003), seriam
produto da relação terapêutica, por estarem inseridos numa relação analítica dual e
22
Bradway e McCoard (1997) completam dizendo que cada terapeuta terá sua forma
singular de compreender os cenários na areia. Baseadas em suas experiências, as autoras
orientam suas compreensões buscando inicialmente identificar níveis, estágios, sequências e
temas dos cenários. As autoras fazem um alerta, afirmam que símbolos são os guias universais
do Sandplay, porém deve-se estar atento, pois símbolos são dinâmicos e seu significado
dependerá do contexto e como for usado.
Assim como coloca Gimenez (2016), o terapeuta que utiliza Sandplay precisa exercitar
os “olhos brincalhões”, o terapeuta precisa trabalhar analiticamente para conquistar um olhar
amplo e que não se limita, como por exemplo, a interpretação reducionista do conteúdo
23
simbólico. Paralelo a isso, a autora coloca que quando estamos pensando no Sandplay, cada
terapeuta deve achar sua forma de utilizá-lo, e só assim estará utilizando autenticamente.
Friedman (2018) coloca que devemos achar nosso próprio modo de fazer Sandplay e
utilizar essa modalidade de trabalho analítico. Para isso é necessário o estudo aprofundado de
sua base para descobrir sua maneira e não ficar preso ao estilo original.
O analista junguiano, Donald Kalsched (2013) diz que o trauma causa uma
fragmentação da consciência, em que uma parte da personalidade regride a um estado infantil
24
enquanto a outra parte progride a uma adaptação falsa e onipotente. A parte infantil da
personalidade é normalmente representada como uma criança inocente e vulnerável ou também
como um animal, já a parte que progrediu pode aparecer nos sonhos como um poderoso ser
humano do bem ou malévolo que tem como função proteger ou perseguir o lado infantil.
Kalsched (2013) chama esse movimento da psique de processo arquetípico, pois parece
envolver um ataque de um polo do arquétipo ao outro, assim ele exemplifica dizendo que se
trata de um ataque do espirito sobre o instinto ou da mente sobre o Self. O resultado disso é essa
imagem interior benevolente ou malévola, a qual chamou de figura daimônica – autorretrato da
psique de suas próprias experiências e defesas.
Neste estágio primordial da psique, o centro da consciência ainda não se formou e o ego
não se diferenciou do Self e o ponto importante é que se trata de uma fase de não diferenciação.
Assim há a possibilidade de que outro, ainda não reconhecido como externo, possa se apropriar
da identidade de uma maneira negativa, tornando a experiência destrutiva (Affeld-Niemeyer &
Marlow, 1995). A criança traumatizada pode perder sua identidade, a capacidade de percepção
da realidade e do processo de significação.
A respeito desta parte infantil que aparece em decorrência do trauma, Jung (1928/2012)
expõe que quando a psique enfrenta um obstáculo insuportável, dá origem a modos mais
infantis de funcionamento e suas respectivas defesas primitivas. Ele reconhece que esse
movimento regressivo mobiliza uma espécie de proteção psíquica, surgindo assim, fantasias de
caráter grandioso.
2013). Não se trata de um estado inato da psique, mas sim uma ativação do desenvolvimento
precoce e as imagens que o acompanham, como coloca Knox (2003).
Knox (2003) situa que as defesas servem para fragmentar os significados dolorosos das
experiências, tornando-as menos insuportáveis através de processos de dissociação e
compartimentalização. Por outro lado, as defesas também são tentativas de reparação, pois
permitem a construção de novos significados simbólicos e menos angustiantes. Assim, o trauma
se transforma em algo menos ameaçador para o sujeito.
1. Defesa enquanto trabalho interno, na qual emerge uma fantasia que oferece algum tipo
de ligação entre a experiência e o lado obscuro e caótico da situação traumática;
2. Defesa enquanto ativação de imagens bipolares, contendo uma imagem de Self ora
onipotente e ora desamparado.
As autoras dizem que o Sandplay, assim como a arteterapia e outros trabalhos como a
Experiência Somática, são trabalhos psicoterápicos expressivos que têm sido identificados
como a melhor prática de trabalhar o trauma em crianças e adolescentes. Freedle (2012) expõe
que o Sandplay no tratamento do trauma oferece quatro aspectos importantes, são eles:
segurança relacional, processamento multissensorial, expressão simbólica da narrativa do
trauma e facilita a resposta do Self.
Matta (2015) realizou uma pesquisa com 60 crianças abrigadas por situações de
violências múltiplas e a Terapia do Sandplay. A pesquisadora verificou que este método
proporcionou fortalecimento do ego das crianças, assim como possibilitou a transdução
(tradução dos conteúdos psíquicos) dos complexos. Verificou que os temas relacionados à
ferida psíquica diminuíram após dez sessões ao mesmo tempo em que os temas de cura
aumentaram. A conclusão da autora foi que o processo psicoterapêutico, por meio da
experiência simbólica e a expressão dos sofrimentos, acrescido dos sentimentos transferenciais
e contratransferências da relação terapêutica, foram fatores determinantes para o sucesso do
estudo.
2. MÉTODO
O método clínico, que é uma derivação dos métodos naturalistas, diz respeito a
debruçar-se sobre um fenômeno e de início, observar e descrever (Vizzotto, 2003). A autora
coloca que neste método, o pesquisador não apenas observa e registra detalhadamente os
acontecimentos mas também indagações, uma vez que intervém no fenômeno observado.
Para que o método clínico fosse utilizado, um estudo de caso se justifica, pois, como
coloca Yin (2015), permite estudar um fenômeno do mundo real, por se tratar de uma
investigação empírica que investiga um caso em profundidade.
2.1 Participantes
A amostra por conveniência foi composta por um caso único de um adolescente: a) que
tivesse vivido experiências traumáticas por violência física, psicológica ou sexual, negligência
e abandono; b) com idade entre 10 a 12 anos; c) encaminhado ao serviço de Psicologia do
28
Foi incluída na amostra, adolescente vítima de trauma por violência (física, psicológica
e/ou sexual), negligência e abandono, que atendeu aos critérios estabelecidos no item anterior
relativo aos participantes.
Foram excluídos da amostra os adolescentes que não foram compatíveis com os critérios
estabelecidos, participantes que não assinaram ao Termo de Assentimento, além deste aspecto,
também foram excluídos aqueles que estavam em atendimento psiquiátrico e/ou fazendo uso
de medicamentos psiquiátricos. Outro critério que foi considerado diz respeito às faltas durante
a coleta de dados, ou seja, no processo de atendimento foi considerado excluídos após três faltas
consecutivas sem justificativa prévia.
2.4 Local
A pesquisa foi realizada na sala pertencente à equipe de Psicologia, pois se trata de uma
sala ampla, arejada e com espaço para movimento e colocação do material referente à Terapia
de Sandplay.
2.5 Instrumentos
O instrumento foi criado com o objetivo de ser uma triagem breve e de auto relato em
que o indivíduo responde a 17 itens que dizem respeito a sintomas referentes ao transtorno do
estresse pós-traumático. Não é um instrumento de diagnóstico, serve para rastreio e
identificação de sintomatologia traumática a partir do próprio paciente, sendo considerados três
fatores: evitação, revivência e excitabilidade (Kristensen, 2005). Logo, o adolescente tem que
dar uma pontuação de 0 a 10 para as 17 frases, sendo 0 nunca e 10 sempre, o score igual ou
maior que 50 é indicativo de presença de sintomas. O instrumento leva aproximadamente 10
minutos para ser respondido (Anexo A). A validação para a população brasileira foi realizada
por Kristensen (2005).
2.5.2 Sandplay
Os materiais técnicos para realização do Sandplay serão: duas caixas de areia com
tamanho especial de 60 X 40 X 8. O tamanho da caixa foi adaptado à realidade institucional,
neste caso, ambulatorial. Amatruda e Simpson (1997) colocam que as dimensões das caixas
podem e devem ser revistas levando em consideração ao ambiente onde o Sandplay está sendo
aplicado.
Miniaturas agrupadas por categorias conforme apresenta Matta (2015), sendo: pessoas,
habitações, transportes, pedras, natureza (árvores, flores, plantas), objetos desestruturados
(palitos, blocos de madeira, fitas). A participante teve à disposição o mesmo número de
miniaturas descritas no Anexo B.
30
2.6 Procedimentos
1ª fase – Pré-teste: Aplicação do IRSEPT no adolescente. A aplicação teve como tempo cerca
de 20 minutos.
3ª fase – Pós-teste: Após as 12 sessões, houve um terceiro no qual foi reaplicado o IRSEPT na
adolescente.
31
A segunda fase foi uma análise qualitativa e exploratória das representações simbólicas
contidas nos cenários produzidos durante o uso do Sandplay. Cada sessão realizada teve sua
compreensão pautada nas representações simbólicas e no Quadro de referências de Mitchell e
Friedman (2003) (Anexo F), assim como o caso atendido apresenta-se uma síntese final do caso
atendido, que engloba as doze sessões realizadas, neste momento foi possível observar a
psicodinâmica da vivência traumática a partir de dados verbais e aspectos
expressivos/projetivos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Margarida, nome fictício dado à paciente para que possamos referencia-la por meio de
um símbolo. Neste caso, o nome atribuído vem do latim margarita, cujo significado é “pérola”.
Pesquisando outras histórias a respeito da margarida flor, nota-se que o nome dado a ela seria
por conta do movimento que faz ao longo do dia, a flor se fecha durante a noite e abre-se quando
o sol nasce. É apontada pelos botânicos como uma flor frágil, mas com capacidade de se adaptar
a diferentes tipos de solo (Pereira & Putzke, 2010; Chevalier & Gheerbrant, 2015).
Em seus aspectos históricos, a flor era utilizada como presente às donzelas, e até hoje
simboliza juventude, simplicidade e inocência. Acrescentando a isso, a flor nos remete a uma
brincadeira na infância, “bem-me-quer, mal-me-quer”. Assim, a participante foi se
apresentando no processo psicoterapêutico, Margarida, garota de aparência frágil, porém com
um potencial a ser desenvolvido.
Margarida, na ocasião da primeira sessão tinha 10 anos de idade e, ao longo das demais
sessões, fez aniversário. Compareceu encaminhada pelo médico hebiatra, sendo que em seu
prontuário constava o “Histórico de violência sexual com repercussão emocional”. A impressão
do pesquisador sobre a paciente em seu primeiro encontro foi a de uma menina frágil, de choro
fácil e introvertida. Observou-se que manteve pouco contato visual e quase não falou.
Por ocasião dos atendimentos, residia com os avós maternos, um irmão mais novo (três
anos), sua mãe e uma tia. Afirmou que gostava de todos eles, que não conheceu o pai e disse
não sentir sua falta. Conviveu por quatro anos com o padrasto, pai de seu irmão e comenta sentir
1
Nome fictício para preservar a identidade da participante, conforme exigência ética.
33
sua falta, apesar dele, neste momento, estar recluso pelo envolvimento na situação de abuso da
paciente.
Ainda de acordo com o referido autor, a bronquite, como descrita pelo hebiatra é
também de uma inflamação, neste caso, na mucosa e nos brônquios. Diz respeito a conflitos
nas vias de contato, obstrução no sentido de comunicação, relações estas que também podemos
relacionar com a situação de abuso (Dahlke, 2000).
Olhar os sintomas apresentados por Margarida remete à ideia apresentada por Ramos
(2006) de como o corpo carrega os símbolos produzidos pela psique. A autora, em seus estudos
em psicossomática, diz que se houver a possibilidade de compreender os sintomas enquanto
símbolo, isso permitirá verificar a expressão do fenômeno psique-corpo, assim, o símbolo
apontará sempre para uma disfunção que precisa de atenção.
34
Os sintomas apresentados por Margarida, não são vias de regra e nem mesmo indicativos
diretos de abuso sexual, entretanto, refletindo as consequências de uma situação traumática,
podemos afirmar que foi por meio destes que a paciente pode comunicar suas experiências
dolorosas.
A sala de atendimento continha duas caixas de areia ao centro, sendo uma com areia
molhada e outra com areia seca, disponíveis para que a paciente escolhesse qual utilizar. As
miniaturas oferecidas se encontravam em pequenas bandejas de fácil visualização. Os cenários
aqui apresentados surgiram após o término de cada sessão. A figura apresentada permite
visualizar a fotografia retratando a imagem final do cenário, elaborado conforme a escolha da
paciente.
um dedo encostar no material. Ao seu lado estavam as miniaturas e, então, iniciou a montagem
de seu primeiro cenário (Fig. 1).
Cercas podem ser utilizadas para espaços que ainda precisam ser integrados, de acordo
com McNally (2012), o que indicaria que Margarida ainda não apresenta força egoica suficiente
para integrar tal material, sendo assim, as cercas podem funcionar como defesa. Animais e
pessoas, instintos e aspectos cotidianos, ainda não interagem e, como coloca Dundas (1978),
são aspectos ameaçadores do inconsciente que ainda não podem ser enfrentados ou assimilados;
exatamente por estes aspectos estarem cercados, demonstram ser fragmentos da história da
paciente que não estão disponíveis para o trabalho psíquico.
36
Outras figuras humanas, em especial as duas figuras femininas, que podem ser
observadas na Figura 1, encontram-se em posições passivas, uma de costas para o restante do
cenário, enquanto a outra está sentada. Figuras que passam a ideia de estarem negando o que se
passa no cenário, assim sugerindo não ter o movimento necessário para transitar de maneira
saudável pelo espaço da caixa.
Observando a utilização do espaço delimitado da caixa, nota-se que o centro está vazio
(Fig. 1). Ammann (2002) expõe que em sua experiência na utilização do Sandplay, o centro da
caixa está ligado ao Self, Ego e personalidade, noção essa que, no caso de Margarida, aparece
empobrecida. Levando em consideração os lados da caixa, a citada autora discute que o lado
direito da caixa é representativo da consciência, indicando fragmentos, necessidade de cuidado
e pouco espaço para que a energia psíquica atue.
A retirada da ponte pode indicar que a integração ainda é prematura. Deste modo,
Margarida por enquanto, não parece estar pronta para fazer conexões. É importante observar as
construções dos cenários de uma maneira geral, os movimentos de “por e tirar”, pois, podem
funcionar como atos falhos da consciência, como neste cenário específico (Amatruda &
Simpson, 1997). Este dado mostra que, apesar da paciente ainda não estar pronta para fazer
conexões, internamente identifica-se um potencial para realizá-la, assim apresentando, mais
uma vez, a ideia de um bom prognóstico.
dizem que crianças, ao fazerem esse movimento, normalmente querem nos mostrar que algum
conteúdo inconsciente precisa vir à superfície.
“Era uma vez uma família que era muito pobre, eles tinham
bastante doces, pois a mãe vendia bolo para arrecadar dinheiro.
Um dia o menino (filho) foi jogar bola e descobriu pedras
preciosas no quintal e correu para contar para sua mãe”.
Relacionando o cenário com a história contada, observa-se que a divisão (cisão do afeto,
causado pelo trauma) parece mais evidente e exacerbada, assim a dualidade parece ficar clara,
não apenas pelo fato do cenário estar divido em dois ambientes, mas também pelas
verbalizações feitas apresentarem duas histórias que não se conectam. Os lados do cenário
podem ser compreendidos como inconsciente X consciente, levando em consideração as
proposições de Ammann (2002) e Furth (2004).
O lado esquerdo do cenário apresenta: duas figuras adultas, uma criança, alimentos
espalhados, um sofá e uma poltrona e à frente deles, uma televisão (Fig.2). Configuração que
poderia indicar uma família nutritiva e com boa interação, porém chama a atenção que a criança
olha para a figura masculina e está de costas para a figura feminina. Novamente, como no
primeiro cenário (Fig.1), a mesma miniatura de mulher é colocada como se não estivesse
interessada no que está acontecendo no restante do cenário, pode-se inferir aqui o quanto existe
na vida de Margarida uma imagem feminina que não se importa ou nega os fatos que vão
acontecendo.
No outro lado do cenário, temos quatro figuras masculinas, pedras, dois coqueiros e um
dado. O arranjo dos “meninos”, todos de costas, em frente a uma bola, mesmo que na história
39
apareça apenas um menino jogando bola. Ammann (2002) chama a atenção a respeito dos
símbolos duplicados, neste caso, o número quatro é o que se destaca.
Turner (2005) diz que este número traz ordem ao caos, o mundo material é ordenado
pelos quatro pontos cardeais, o tempo é ordenado pelas quatro estações e traz a forma do
quadrado, que oferece o sentido de base. Ideia essa que corrobora os aspectos simbólicos da
pedra, já explorados acima, de que já há o movimento que Weinrib (1993) chama de regressão
criativa, a energia psíquica se dirige para o inconsciente para depois emergir de forma
transformada.
A figura masculina, evidente neste cenário, se relaciona com o processo simbólico a ser
realizado, ora visto como perigo e ora como figura de apego. A dualidade de sentimentos a
respeito desta figura é notória, é aquele que além do acolhimento paterno, oferece regra,
princípios e organização, em outro momento se quer interage. Resultando em ligações mais
conscientes como: a figura masculina é a que abusa, mas também é a que cuida.
Nesta sessão, Margarida pede para contar um sonho. Para Kalff (1980), os sonhos e os
cenários na caixa de areia são praticamente as maneiras mais eficazes de acessar o inconsciente
do paciente, e como o brincar simbólico no Sandplay, pode favorecer o sonhar por se tratar
também de imagens, o sonho da paciente se constituiu em um importante recurso para
compreensão do processo que está sendo vivido.
O pesquisador questiona o que sente a respeito de sua madrinha e sua avó, sendo que
Margarida diz que são as pessoas que mais confia. O primeiro indicativo do sonho, então, diz
o quanto perigoso é confiar nas pessoas mais próximas, confiabilidade é uma das coisas mais
comprometidas nas situações traumáticas. É possível fazer um paralelo com a maneira se
comporta atualmente, enxergando as situações sempre como perigosas, sentindo que sempre
40
está sendo perseguida e comportando-se de forme que foge das situações que “podem” repetir
o trauma.
Jung (1928/2012) diz que sonhos traumáticos estão sempre acompanhados por figuras
de animais perigosos ou monstros, zumbis, mortos vivos, símbolos de um espírito maligno que
anda vagando e assustando pessoas. Relação essa com a figura daimônica de Kalsched (2013),
que aterroriza o mundo interno da pessoa ao mesmo tempo em que a protege de contatar
situações que reproduzam o trauma.
Além da duplicação das pessoas durante o sonho, chama a atenção novamente o número
quatro, citado inclusive pela paciente. O sonho, enquanto linguagem universal do inconsciente,
parece também comunicar que a ordenação do caos está em processo/ em andamento, trazendo
os conteúdos da psique que já estão “mortos” mas ainda parecem exercer alguma influência em
seu funcionamento.
caixa de areia). A adolescente, que até então se mostrava excessivamente apática a qualquer
estimulação do ambiente, nesta sessão demonstra ao contrário. Até a segunda sessão,
independente da temperatura do ambiente, vinha vestida com um blusão cor de rosa com capuz,
entretanto, neste encontro, compareceu sem o blusão e pareceu mais disposta a conversar e
interagir durante a sessão.
Neste cenário utilizou nove figuras femininas, sete figuras masculinas, três pássaros e
três tartarugas, um pato, plantas, uma bola e pedras azuis (Fig. 3). No centro do cenário tem um
lago, Bradway (2001) coloca que o simbolismo do lago está ligado ao oculto e misterioso, sendo
que o lago está estritamente ligado à psique do ser humano. Diz respeito a tudo que está em um
nível espacialmente mais baixo, o que se pode compreender como o inconsciente. Um ponto
importante que se relaciona com a história de Margarida é que a superfície do lago funciona
como um espelho, no sentido de autocontemplação, consciência e revelação.
O abandono materno não é um tema tão claro, porém pode-se pensar que uma mãe
depressiva, conforme informado, não pode oferecer os cuidados básicos que Margarida possa
precisar e, além disso, os elementos de suporte para enfrentar a situação de violência também
podem vir no ambiente familiar, assim a figura materna não parece estar disponível para
executar tais funções. Frente a essa questão de abandono, o movimento que uma tartaruga faz
de fechar-se no casco para se proteger, parece ser o movimento que Margarida faz para se
proteger de seus próprios conteúdo.
42
O pato, uma ave que muitas vezes está associada à tolice e ao engano, porém na cultura
americana, era utilizado como um guia seguro, pois estava à vontade tanto na água quanto no
céu (Chevalier & Gheerbrant, 2015). Assim, os movimentos que vem acontecendo nos outros
cenários analisados (Fig. 1 e Fig. 2) indicavam a mobilização de energia do inconsciente, que
parecem vir à consciência com a revelação desses animais de guia e proteção, que podem
mostrar o caminho para a possibilidade de cura.
Os polos continuam a aparecer, não só nas imagens acima exploradas, mas também na
configuração dos dois grupos de pessoas, as meninas no piquenique e os meninos jogando
futebol. Apesar das polaridades, os grupos entre si já denotam boa interação, elas comem e eles
jogam. Mas, ainda não existe uma integração da figura masculina e da feminina.
Diz que lobisomem é perigoso, novamente o sonho reensaia uma situação traumática.
A figura monstruosa que personifica o trauma, como coloca Jung (1928/2012), continua a
aparecer. Porém, de uma forma diferente, o desfecho da história muda quando um “lobisomem
43
do bem” aparece e resolve a situação. O surgimento do outro polo coincide com a mudança de
postura a respeito do trauma e da vida de uma maneira em geral, como compartilhado no início
quando do relato sobre a percepção do pesquisador sobre a paciente.
Como sugere o Quadro de Referências (Mitchell & Friedman, 2003), o tema de ferida
psíquica presente é o de divisão, sendo os temas de cura: viagem, energização, aprofundamento
e centralização.
Nesta sessão, Margarida foi direto trabalhar na caixa de areia, não quis conversar e
permaneceu praticamente todo o tempo da sessão montando e remontando o cenário. Informa
ao pesquisador que montou algo que ficou imaginando na noite anterior, gostaria de ter montado
uma cidade, mas olhando as miniaturas, decidiu fazer um zoológico. Atribuiu ao cenário o título
de “O zoológico”.
está ausente, estar presente dessa maneira requer mais do que apenas falar (Bradway, Chambers,
& Chiaia, 2005).
Considerando-se tais apontamentos, a quarta sessão foi pautada pelo silêncio, pouca
verbalização foi feita durante o tempo no qual estavam juntos, terapeuta e paciente. Trata-se de
um cenário que trouxe um movimento regressivo importante (Fig. 4). Para Jung (1928/2002),
a regressão seria o movimento da energia psíquica em direção ao inconsciente para atender as
demandas internas, ou seja, talvez para colocar ordem ao caos. Por energia psíquica, entende-
se que, além da libido freudiana, encontra-se a necessidade de autopreservação, fome e inserção
social, como combustíveis dessa energia (Jung 1928/2013).
Assim, nos deparamos com animais e pessoas juntas novamente, porém, de maneira
diferente, os humanos agora observam os animais, mas não estão aprisionados com eles. Os
instintos aparecem de maneira mais organizada, cercados e estão os humanos no controle.
Igualmente, morte e prosperidade também são significados que a concha abarca. Assim,
o conteúdo que a concha protege a pérola, traz prosperidade, mas é da morte de seu ocupante
primitivo que se forma o conteúdo. Desse modo, o elemento feminino da concha e os símbolos
do lago, pato e tartarugas, podem demonstrar as potencialidades de Margarida.
Os carros funcionam como impulsos que precisam do controle do ego, como lembra
Bradway (2001) não são equivalentes ao ego. Logo, os carros, arrumados em fileira, não
impedidos de andar, parecem estar organizados e controlados. Em uma visão complementar a
esta, McNully (2012) afirma que os carros oferecem mobilidade e poder e podem ser vistos
como indicadores da força do Ego. Há um fortalecimento egoico de Margarida, os impulsos
estão contidos e disponíveis para utilização a serviço da cura psicológica.
45
Forças racionais são mobilizadas por Margarida para lidar com o trauma, sendo que,
para isso, há necessidade desse mundo ser aumentado e potente para que possa se nutrir destes
aspectos.
A posição das miniaturas, nove figuras masculinas viradas para a direita, pode indicar
um movimento de inconsciente para o consciente, sinalizando que a energia psíquica que ora
precisou regredir para mobilizar conteúdos, agora pode ir em direção à consciência, oferecendo
o que é necessário para o enfrentamento (Turner, 2005).
Margarida optou por usar a caixa de areia molhada, sendo que trabalhou ao longo da
sessão mantendo-se em silêncio. Afasta a areia da lateral direita e bate na areia para uniformizá-
la. Coloca as plantas e foi completando o cenário tranquilamente. Diz que não quer contar
nenhuma história, e coloca o nome do cenário de “A praia”.
47
Turner (2005) atenta para que se olhe as interações entre as figuras humanas, em
especial a interação masculino e feminino. Neste cenário, pela primeira vez homens e mulheres
convivem de maneira integrada. Anteriormente havia o grupo das meninas e dos meninos (Fig.
2), sem comunicação alguma, agora já é possível olhar o masculino e aproximar os dois
mundos. É possível que seja um encontro, em um espaço livre e protegido, em que possa haver
uma comunicação entre as figuras e, assim, reparar o lado negativo, até então, carregado a
respeito da figura masculina.
As três aves, as três tartarugas, pessoas e conchas dão a impressão que estruturam uma
forma mandálica. Weinrib (1993) coloca que é uma imagem universal arquetípica, que entre as
formas, tem-se um círculo. É um símbolo do Self, que traz ordem e integração. Normalmente
aparece em produções de pacientes em períodos de reorientação psíquica.
Minha escola não é assim, lá tem uns quarenta alunos. Não tinha
nada para colocar em cima da mesa, então coloquei umas
comidinhas. No fundo fiz um espaço de recreação sabe, tem a
bola e uns brinquedos. Gostaria que a escola desse comida.
Conta como gosta da escola, apesar de estar sem alguns professores e ter muitas aulas
vagas. Diz como se organiza para fazer os trabalhos em grupo, seu trabalho preferido é fazer
maquete, conta com detalhes a última que fez e como o grupo agiu. Fala que a família é bastante
unida, mas com pouca interação, não conversam sobre a novela e tem um vizinho chato que
desce às vezes para brincar com ela e seu irmão. Fica em silêncio por um tempo, pois estava
montando a parte inferior esquerda do cenário, olha para o pesquisador e diz: “Já não choro
mais como antes, na verdade já não acontece há algum tempo”.
Apesar de conversar muito durante a sessão, opta por não contar nenhuma história sobre
o cenário, mas chama-o de “O grande castelo”. McNally (2012) aponta o castelo como um
símbolo para o Self, por estar ligado à força e vontade do Ego. O símbolo parece trazer o lado
masculino de realização, autoridade, poder, soberania e respeito.
O lar de reis e rainhas, que inclusive no cenário aparecem à frente do castelo (Fig. 8),
representa segundo Bradway (2001) ordem governamental arcaica ou autoridade parental que
precisa ser derrubada pelo indivíduo para que se estabeleça sua própria autoridade, trata-se
então do processo de separação e individuação.
50
Weinrib (1993) diz que um dos objetivos deste método é reconstruir a imagem materna.
Para a autora, quando não ocorre contato suficiente com os pais, a imagem da mãe fica
comprometida e acaba não desempenhando a função protetora e nutridora, a imagem interna
danificada impedindo que haja um desenvolvimento da personalidade. Assim, o Sandplay,
como mostra esse cenário (Fig. 9) permitiu a reconstrução metafórica da unidade mãe-filho,
facilitando a restauração do funcionamento normal do sistema psíquico.
Chama seu cenário de “A fazenda 2”. Seria um reensaio do primeiro cenário (Fig.1),
porém, acrescido de alguns outros conteúdos. O contado do humano com o animal já não parece
mais aprisionado como ocorria nos cenários anteriores, as cercas se abrem. A cerca enquanto
simbologia de defesa, se flexibiliza, denotando sinais de uma ideia de cura, de convivência mais
presente.
O galo, que antes guardava nas cercas, aparece agora mais observando do que
impedindo a passagem. Os pássaros continuam espalhados, o lago continua trazendo vida e
movimento para o cenário.
Os temas presentes neste cenário de acordo com Mitchell e Friedman (2003) são:
voltando-se para o interior; nutrição e integração.
Tornar-se, então, um local onde se podem colocar as forças boas e as ruins, mantendo-
as organizadas e disponíveis para uso. A imagem de que as experiências traumáticas e curativas
podem ficar juntas sem oferecer perigo ou prejuízo ao funcionamento saudável de Margarida.
53
Alguns aspectos simbólicos chamam a atenção neste cenário. Há oito figuras masculinas
e oito femininas, sendo que Turner (2005) coloca o número oito, como duas vezes o número
quatro, com isso, a autora interpreta como sendo a ordem por excelência, pois o quatro está
envolvido com a estruturação da consciência, logo, o oito e a ideia de container se apoiam para
apontar uma maturação no desenvolvimento de Margarida.
Nesta sessão, com bom humor, a paciente participante relata que não gosta de areia e,
por isso, não gosta de ir à praia, mas é bastante tranquilo para ela colocar a mão na caixa, diz
54
ainda que não sofreu para fazer os cenários. Deu o nome de “O dia do piquenique” ao cenário
(Fig. 11). Conta que:
Turner (2005) comenta que quando aparecem cenas que agradam os olhos e retratam
situações do cotidiano, é que se aproxima a conclusão do processo. Ao falar de geografia,
disciplina que estuda a relação entre fenômenos físicos, biológicos e humanos e o impacto
destes na Terra, Margarida metaforicamente está nos contando o quanto através de uma
professora (o terapeuta) está ensinando sobre geografia (ela), o processo de individuação/
processo de desenvolvimento.
A partir desta consideração, pode-se dizer que a conclusão do processo está próximo,
mas há o sentimento de que este estágio do processo está perto de se tornar um material
integrado à história de Margarida.
O único tema presente neste cenário, segundo Mitchell e Friedman (2003) é de cura,
simbolizando a integração.
O cenário não oferece nenhum perigo, exatamente por suscitar a impressão de ser uma
imagem do cotidiano, mantendo a ideia de Turner (2005) que tais imagens indicam a conclusão
de uma etapa no processo.
Os espaços na caixa, como apresenta Ammann (2002), não devem ser utilizados de
maneira rígida, mas tornam-se úteis para observar os temas. No lado que representa logos,
imagem paterna, observa-se um lago, ou seja, possibilidade de mergulho em outras questões,
pois, até então, tem-se observado a imagem materna.
As transformações que ocorreram ao longo do processo podem ser vistas nos cenários
finais (Fig. 9, 10, 11 e 12), pois tratam-se de cenários que já foram feitos anteriormente mas
que agora contam com uma nova configuração, ora mais organizada, ora mais nutritiva e
interativa. A retomada do processo de individuação, antes interrompido pelo trauma, parece
fluir de uma forma onde a adolescente agora pode brincar mais com as situações que vão lhe
apresentando.
Esta dificuldade foi notada desde o início dos cenários, porém, à medida que o processo
se desenvolvia, a expressão verbal de Margarida foi sendo enriquecida e seu processo de
comunicação, não apenas no setting terapêutico, mas, em sua vida em geral, foi melhorando.
Adams (2007) reflete sobre este método como uma via de expressão poderosa diante de
situações traumáticas, assim sendo, através do espelhamento do pesquisador psicoterapeuta,
Margarida pôde desenvolver recursos internos, entrar em contato com a situação traumática e
mobilizar as energias necessárias para caminhar em direção ao desenvolvimento psíquico.
Portanto, a expressão não apenas relativas aos temas, mas também aos conflitos, oferece
a percepção de um bom prognóstico para Margarida, mostrando que, quando ela brinca na caixa
de areia, libera conteúdos reprimidos da consciência em direção à resolução, todo movimento
acontecendo dentro do espaço livre e protegido, como bem coloca Kalff (1980).
sido liberada do acompanhamento do médico alergista, por ter entendido que não está mais em
crise alérgica manifestada através da dermatite. Também pelo relato da responsável, não teve
nenhuma crise de bronquite neste período.
A não manifestação dos sintomas físicos corrobora as colocações de Ramos (2006) que
também utilizou Sandplay como parte do tratamento dos sintomas psicossomáticos de seus
pacientes. Os sintomas acharam uma via de expressão, comunicaram de maneira mais eficaz
através dos símbolos nos cenários e permitiram que a adolescente pudesse ressignificar essas
experiências.
60
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Sandplay, neste estudo, serviu como uma ferramenta importante, pois permitiu a
liberação de conteúdos reprimidos, a visualização das situações conflituosas, ressignificação de
situações dolorosas e a possibilidade da retomada do processo de individuação. Questões estas
prejudicadas e/ou causadas pela vivência traumática.
A partir do uso do Sandplay foi possível ter uma compreensão de como o trauma pode
ser abordado durante o processo psicoterapêutico, fazendo uso de um recurso lúdico e com
cuidado de não re-traumatizar o paciente. Podemos notar que no estudo de caso apresentado, o
processo terapêutico contribuiu para que as estruturas defensivas fossem deixadas de lado e a
psique pudesse se expressar, liberando o fluxo de energia psíquica até que os mecanismos de
elaboração fossem acionados e começassem a atuar.
Muito se preza para mantermos a ortodoxia ao Sandplay como propôs Dora Kalff, como
por exemplo o tamanho das caixas de areia utilizadas, neste estudo, por questões institucionais,
não foi possível ter uma sala exclusiva para o Sandplay, onde o material ficaria exposto em
prateleiras e as caixas no meio da sala, assim como não foi possível manter o tamanho e material
da caixa quando comparado com a referência da autora. Alterou-se e diminuiu-se o tamanho da
caixa em 10 cm, tanto na largura quanto no comprimento, assim como a caixa utilizada era
construída de material plástico e não de madeira. Tais alterações, conforme demonstrado ao
61
longo da análise do caso, não causaram prejuízos nem interferiram, ainda que minimamente, ao
processo terapêutico de Sandplay, apenas se constituíram de alterações necessárias à
adaptação do uso da técnica em um contexto público diferenciado, como o serviço de hebiatria
de uma escola de Medicina.
Tais mudanças permitirão futuramente que outros estudos sejam realizados no âmbito
das instituições, ampliando-se a estratégia para além dos consultórios particulares. Para tanto,
flexibilizaram-se as regras do jogo simbólico para que o instrumento fosse inserido em diversas
aplicações, porém sempre mantendo-se o rigor científico que deve perseguir a atuação do
psicólogo.
5 REFERÊNCIAS
Adams, K. (2007). Reconnecting to the Source: recovering from Sexual Molestation. Journal
of Sandplay Therapy, XVI (2), p. 55-73.
Affeld-Niemeyer, P; Marlow, V. (1995). Trauma and Symbol. Journal of Analytical
Psychology, 40, p. 23-39.
Aite, P. (2002). Paesaggi della psiche: Il gioco della sabbia nell'analisi junghiana.
Collana:Bollati Boringhieri.
Albert, S. (2008). Infertilidade na relação conjugal: Uma pesquisa na abordagem junguiana
utilizando a terapia breve com Sandplay. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica),
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo.
Amatruda, K; Simpson, P. (1997). Sandplay the sacred healing. A guide to symbolic process.
USA: Trance*Sand*Dance Press.
American Psychiatry Association. (2014) Manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais. (DSM-V). 5 ed. Porto Alegre: Artmed.
Ammann, R. (2002). A terapia do jogo de areia. Imagens que curam a alma e desenvolvem a
personalidade. São Paulo: Paulus.
Bley, A. L. (2009). Um estudo do efeito da técnica psicoterápica do Sandplay em pacientes
portadores de lúpus eritematoso sistêmico: uma pesquisa psicossomática. Dissertação
(Mestrado em Psicologia Clínica), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo.
Bradway, K; McCoard, B. (1997). Sandplay: Silente workshop of the psyche. New York:
Brunner-Routledge.
Bradway, K. (2001). Symbol dictionary: Symbolic meaning of Sandplay images. Journal of
Sandplay Therapy, X (1). Special edition.
Bradway, K; Chambers, L; Chiaia, M. E. (2005). Sandplay in Three voices: Images,
Relationships, the Numinous. USA: Routledge.
Boik, B. L; Goodwin, A. (2000). Sandplay therapy: A step-by-step manual for
psychotherapists of diverse orientations. New York: W.W.Norton.
Cerqueira, D. (Org.). (2018). Atlas da Violência. Rio de Janeiro: IPEA.
Chevalier, J; Gheerbrant, A. (2015). Dicionário de símbolos. 25 ed. São Paulo: José Olympio.
Creswell, J. W. (2010). Projeto de pesquisa – Métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3 ed.
Porto Alegre: Artmed.
Cruz, M. C. C; Fialho, M. T.(1998). A caixa de areia: Técnica projetiva e método terapêutico.
Análise Psicológica, Lisboa, 16 (2), 231-241.
Dahlke, R. (2000). A doença como símbolo. Pequena enciclopédio de psicossomática. São
Paulo: Cultrix.
Dundas, E. (1978). Symbols come alive in the sand. California: Privately printed by the author.
Fordham, M. (1985 [1947]). Explorations into the Self. London: Academic Press.
Franco, A. (2003). O jogo de areia: Uma intervenção clínica. Dissertação (Mestrado em
Psicologia Clínica), Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo.
63
Franco, A; Batista Pinto, E. (2003). O mágico Jogo de Areia em pesquisa. Psicologia USP, v.
14 (2), p. 91-114.
Franco, A. (2008). Vivências didáticas no ensino do Jogo de Areia. Tese (Doutorado em
Psicologia Clínica), Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo.
Freedle, L. R. (2012). Sandplay and trauma-informed pratice. Presented at the Sandplay
Therapists of America National Conference. Berkeley.
Freedle, L. R; Altschul, D. B; Freedle, A. (2015). The role of Sandplay Therapy in the treatment
of adolescents and young adults with co-occurring substance use disorders and trauma. Journal
of Sandplay Therapy, 24 (2), p. 127-145.
Friedman, H. S. (1997). Bridging Analytical Psychology and Research: A Sandplay View. In:
Mattoon, Mary Ann (Org.). Zurich 95: Open Questions in Analytical Psychology. Switzerland:
Daimon Verlag.
Friedman, H. S. (2018). Sandpplay: A template for life. In: Sherwood, D. N; Jackson, B. C.
Into the heart of Sandplay. Ohio: Analytical Psychology Press.
Furth, G. (2004). O mundo secreto dos desenhos: uma abordagem junguiana da cura pela arte.
São Paulo: Paulus.
Gimenez, P. D. (2016). Sandplay: conflito e criatividade plasmados na areia. Junguiana, 34(2),
27-36.
Gutermann, J; Schreiber, F; Matulis, S; Schwartzkopff, L; Deppe, J; Steil, R. (2016).
Psychological Treatments for Symptoms of Posttraumatic Stress Disorder in Childen,
Adolescents and Young Adults: A meta-analysis. Clinical Child and Family Psychology
Review. 19 (1), p. 77-93.
Howe, D. (2005). Child Abuse and Neglect – Attachment, Development and Intervention. UK:
Palgrave MacMillan.
Jung, C. G. [1984 (1928)]. A Dinâmica do Inconsciente. 2. ed. Petrópolis: Vozes. (Obras
Completas de C.G. Jung; v.VIII).
Jung, C. G. [2011 (1957)]. Símbolos da Transformação. 8. ed. Petrópolis: Vozes. (Obras
Completas de C.G. Jung; v.V).
Jung. C. G. [2012 (1928)]. Ab-reação, análise de sonhos e transferência. 8. ed. Petrópolis:
Vozes. (Obras Completas de C.G. Jung; v. XVI/II).
Jung, C. G. (1986). Memórias, sonhos, reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Kalff, D. (1980). Sandplay: A psychotherapeutic approach to the psyche. California: Temenos
press.
Kalff, D. (1993). Apresentação. In: Weinrib, E. Imagens do self. São Paulo: Summus.
Kalff, M. (2012). Foreword. In: Kalff, D. Sandplay: A psychotherapeutic approach to the
psyche. California: Temenos press.
Kalsched, D. (2013). O Mundo Interior do Trauma: defesas arquetípicas do espírito pessoal.
São Paulo: Paulus.
Knox, J. (2003). Trauma and defences: their roots in relationship. An overview. Journal of
Analytical Psychology, v. 48, p. 207-233.
64
ANEXOS
67
ANEXO A
Instrumento de Rastreio para Sintomas de Estresse Pós-Traumático (IRSEPT)
(nunca)0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10(sempre)
1. Eu não tenho vontade de fazer coisas que eu gostava de fazer.
2. Eu não consigo lembrar muito de coisas ruins que aconteceram comigo.
3. Eu me sinto afastado e isolado de outras pessoas.
4. Eu tento não pensar sobre coisas que me lembram de algo ruim que aconteceu comigo.
5. Eu me sinto entorpecido. Eu não sinto emoções tão fortemente quanto costumava sentir.
6. Eu tenho dificuldades em me concentrar sobre coisas ou prestar atenção em algo por um longo
período de tempo.
7. Eu tenho dificuldade em pensar sobre o futuro e em acreditar que viverei até uma idade
avançada.
8. Eu me sinto muito irritável e perco o meu controle.
9. Eu evito fazer coisas ou estar em situações que possam me lembrar de algo terrível que
aconteceu comigo no passado.
10. Eu estou muito alerta ao ambiente que me cerca e nervoso sobre o que está acontecendo ao
meu redor.
11. Eu me encontro repetidamente lembrando de coisas ruins que me aconteceram, mesmo
quando não quero pensar sobre elas.
12. Eu fico sobressaltado ou surpreso muito facilmente e pulo quando eu ouço um som
repentino.
13. Eu tenho sonhos ruins sobre coisas terríveis que me aconteceram.
14. Eu fico muito perturbado quando algo me lembra de alguma coisa ruim que me aconteceu.
15. Eu tenho dificuldade em adormecer ou permanecer dormindo.
16. Quando algo me lembra de alguma coisa ruim que me aconteceu, me sinto trêmulo, suado,
nervoso e meu coração bate realmente rápido.
17. De repente eu sinto como se estivesse de volta ao passado, em uma situação ruim na qual já
estive, e é como se isto estivesse acontecendo tudo de novo.
ANEXO B
Agrupamento Miniaturas
Acessórios Bijuterias (brincos, colares, anéis e pulseiras)
/bolsa marrom/colares dourados e
prateados/sombrinha e chapéu
Anfíbio Tartarugas/sapo com filhote/sapos
Animais domésticos Bois/vacas/burros/jumento/cabras/ovelhas/porco
s/cavalos/cachorros/gatos
Animais marinhos Baleias/golfinhos/peixes/tubarão/caranguejo/con
chas /estrelas do mar
Animais Dinossauros (grandes e pequenos)
Pré-históricos
Animais selvagens Elefante/tigre/leão/onça/hipopótamo/lobo/ursos/j
avali/veado/zebra/
Animal urbano Rato
Arsenal de guerra Soldados
Aves domésticas Ganso/galinha/pato/ninhos com passarinho
Aves selvagens Tucano
Bolas Bolas de vidro coloridas (pequenas)
Bonecas Bonecas de plástico
Cercas/Barreiras Cercas
Comida Comida (tortas, ovo, pastel, arroz, sanduíches)
/balas de vidro
Comida Lata cerveja
Comida Frutas (limão, laranja, uva, coco, pinhas, nozes)
Construção Casas (barro, pedras, plástico), castelo.
Elementos da natureza Flores/folhas secas/grama/árvores
Elementos da natureza Pedras brasileiras, de rio
Elementos de construção Madeiras/palitos/paus/sucatas
Elementos de ligação Ponte
Ferramentas de trabalho Ferramentas de plástico
Figuras religiosas Santos católicos
Insetos/artrópodes Aranha/barata/louva-a-
deus/cigarras/besouros/moscas/escorpião/
borboletas.
69
ANEXO C
Versão: 2
CAAE: 79633717.5.0000.5508
Instituição Proponente: Universidade Metodista de São Paulo - UMESP
Patrocinador Principal: Financiamento Próprio
DADOS DO PARECER
Objetivo da Pesquisa:
Investigar a eficácia da Terapia do Sandplay no tratamento do trauma.
Discutir a vivência traumática na população adolescente a partir dos conceitos teóricos e técnicos
da Terapia do Sandplay em uma perspectiva da Gestalt-terapia.
Situação do Parecer:
Aprovado
Não
ANEXO D
Estamos realizando uma pesquisa denominada Traumas na Adolescência e o tratamento por meio da
Terapia do Sandplay para isso necessitamos de sua colaboração. O objetivo da pesquisa é investigar a
eficácia da Terapia do Sandplay no tratamento do trauma e para isso será aplicado o referido método
psicoterapêutico, um inventário de comportamento e um instrumento de rastreio de sintomas de trauma
com a finalidade de obter informações sobre o avaliado que serão relevantes para a pesquisa, uma vez
que variáveis podem interferir nos resultados obtidos.
A aplicação dos instrumentos não tem a finalidade de produzir diagnósticos ou rótulos e, os participantes
poderão vivencias um processo psicoterápico breve em 12 sessões, os resultados do estudo poderão
contribuir para a melhoria na qualidade das intervenções psicológicas e no entendimento da estrutura de
personalidade dos indivíduos que passam por situações traumáticas. As informações obtidas serão
analisadas em conjunto e utilizadas apenas para alcançar o objetivo do trabalho, ou seja, além dos
resultados individuais não serem divulgados, a identidade dos participantes também será mantida em
sigilo.
Durante a aplicação dos instrumentos qualquer risco ou desconforto que o sujeito venha a sentir, devido
o tempo de duração, será sanado pelo responsável pela pesquisa, quanto às sessões de psicoterapia breve
poderão evocar sentimentos positivos e negativos relacionados à história de vida e vivência traumática
do adolescente, caso haja grande mobilização, o pesquisador que também é psicólogo, se compromete
a fazer sessões de acolhimento e se houver necessidade de uma atenção multiprofissional, o pesquisador
fará os encaminhamentos. De qualquer maneira, o sujeito terá o direito de solicitar indenização
legalmente estabelecida, que se restringe ao dano causado.
O sujeito não terá nenhum tipo de despesa pessoal ou compensação por participação da pesquisa, assim,
qualquer despesa necessária será de responsabilidade do pesquisador. Sendo assim, o pesquisador se
compromete a utilizar os dados e o material coletado somente para esta pesquisa, cujos resultados
grupais poderão ser publicados ou apresentados em Congressos Científicos. O participante tem plena
liberdade de recusar-se a participar da pesquisa, sem penalização alguma, ou poderá ainda, a qualquer
momento, retirar sua anuência na continuidade do estudo, caso seja esta sua opção. O participante
também terá acesso a esse registro de consentimento sempre que solicitar. Sua manifestação deverá
ocorrer através do e-mail leonardo.seri@yahoo.com.br. A qualquer momento o sujeito pode entrar em
contato com o pesquisador responsável pelo estudo, Leonardo de Freitas Seri, que pode ser encontrado
pelo telefone (11) 9 74212150 ou pelo e-mail citado acima. Qualquer dúvida sobre a ética da pesquisa,
entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UMESP) – Rua do Sacramento, 230 – Ed.
Capa sala 303 - Telefone: 4366-5814 – E-mail: cometica@metodista.br.”
Acredito ter sido suficientemente esclarecido a respeito das informações que li ou que foram lidas para
mim, descrevendo o estudo “Traumas em adolescentes e o tratamento por meio da Terapia do Sandplay”.
Eu ME INFORMEI com o pesquisador Leonardo de Freitas Seri sobre a minha decisão em permitir que
____________________(nome)_________________________, menor sob minha responsabilidade,
participe deste estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos, os procedimentos a serem
realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos
permanentes. Ficou claro também que a participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso
a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo que o menor sob minha responsabilidade
voluntariamente participe deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes
ou durante o mesmo, sem penalidades, prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter
adquirido, ou no atendimento que recebo nesta instituição.
72
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente
ou representante legal para a participação neste estudo. Sendo que uma via deste documento deve ficar
com o participante e outra em posse do pesquisador.
ANEXO E
TERMO DE ASSENTIMENTO
Você está sendo convidado a participar como voluntário da pesquisa chamada “TRAUMAS
EM ADOLESCENTES E O TRATAMENTO POR MEIO DA TERAPIA DO
SANDPLAY”. Nessa pesquisa, pretendemos investigar a eficácia da Terapia do Sandplay (Jogo
de Areia) no tratamento do trauma. Em outras palavras, vamos verificar se essa técnica é eficaz
no tratamento de situações traumáticas em adolescentes de 10 a 12 anos.
Para isso vamos pedir que você faça cenários na caixa de areia, utilizando miniaturas
que estarão disponíveis na sala e responda perguntas simples em um questionário onde marcará
as respostas que mais se relacionam ao que você sente e ao que você pensa.
Para que eu, pesquisador, possa fazer esse trabalho é necessário que você e seu
responsável, autorizem sua participação. Para isso, seus pais ou responsáveis assinarão o Termo
de Consentimento e você assinará este Termo de Assentimento.
Participando desta pesquisa você não terá nenhum custo ou ganho financeiro, mas,
estará colaborando com o entendimento sobre a prática psicológica.
Tanto você, quanto seu responsável poderão retirar seu consentimento ou interromper
sua participação nesta pesquisa a qualquer momento. Lembramos que este documento ficará a
sua disposição sempre que você precisar.
Este estudo não apresenta maiores riscos físico para você, a não ser que se canse ao
montar o cenário na caixa de areia ou a responder as perguntas. Quando cansaço emocional que
você tiver, eu estarei à disposição para ajudar e se houver necessidade de ter atenção de outros
profissionais da saúde, eu encaminharei.
Você ficará fazendo essas atividades por um tempo de, no máximo, quarenta minutos
de duração por semana, durante 12 semanas. Mas, lembre-se que poderá desistir a qualquer
momento, sem que nada lhe prejudique.
74
Os resultados desta pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada, caso você
queira saber os resultados.
O seu nome ou do seu pai, mãe ou responsável não irão aparecer, nem mesmo nenhum
material que indique sua identidade será liberado sem a sua permissão. Os dados utilizados na
pesquisa ficarão arquivados com o pesquisador responsável por um período de 5 anos, e após
esse tempo serão destruídos.
Este Termo de Assentimento será lido junto com você e impresso em duas vias, sendo
que uma cópia será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra ficará contigo.
Recebi uma cópia deste Termo de Assentimento, e confirmo que me foi dada a
oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
Em caso de dúvida, o telefone para contato com o pesquisador é (11) 97421 2150, e o
e-mail é leonardo.seri@yahoo.com.br . O Comitê de Ética fica na rua do Sacramento nr. 230,
no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo – SP, no edifício Capa, sala 303. O email
deste comitê é cometica@metodista.br e o telefone (11) 4366-5814.
_____________________________________
Assinatura do(a) participante
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente
ou representante legal para a participação neste estudo. Sendo que uma via deste documento deve ficar
com o participante e outra em posse do pesquisador.
ANEXO F
1. PONTE: Conexão entre elementos, união de opostos, por exemplo, uma escada une a
terra e árvores, uma ponte liga um anjo e o demônio;
2. JORNADA: Movimento em direção a uma trilha ou a redor de um centro, por exemplo,
um cavaleiro segue uma pista, um nativo rema uma canoa correnteza abaixo;
3. ENERGIZAÇÃO: Intensa energia viva, vital, é visível, por exemplo, crescimento
orgânico presente, máquinas de construção trabalham num serviço, aeroplanos partem
de uma pista;
4. VOLTANDO-SE PARA O INTERIOR: Descobrindo uma dimensão profunda, por
exemplo, uma clareira é feita, um tesoura é desenterrado, um baú escavado, um lago
explorado;
76