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Belém-PA
2017
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Belém-PA
2017
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DIANA DA SILVA NOBRE
Aprovada por:
____________________________
Profª. Drª. Airle Miranda de Souza – Orientadora
Universidade Federal do Pará-UFPA
____________________________
Prof.ª Dr.ª Adelma do Socorro Gonçalves Pimentel
Universidade Federal do Pará - UFPA
____________________________
Prof.ª Dr.ª Patrícia do Socorro Magalhães Franco do Espírito Santo
Universidade Federal do Pará - UFPA
____________________________
Prof. Dr. Cezar Luís Seibt – Suplente
Universidade Federal do Pará – UFPA
Belém/PA
2017
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Dedico às pessoas que participaram desta
pesquisa e falaram um pouco de seu mundo para
mim. Com certeza, por meio desses encontros,
meu mundo não é mais o mesmo!
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AGRADECIMENTOS
A Deus pela vida e pela certeza de saber que “tudo posso Naquele que me fortalece”
(Filipenses 4.13). Ele é, sem dúvida, meu melhor amigo, dá a mim paz e me impulsiona,
dia a dia, a conquistar todos os meus sonhos.
Aos pais maravilhosos que tenho Floriano Nobre e Marisa Cereja. Obrigada por vocês
serem quem são e me incentivarem a ser eu mesma, a cada dia. Nunca esqueço a
conversa que tive com meu pai, que mesmo morando longe de mim, afirmava ao
telefone o quanto eu tinha um grande diamante em minhas mãos, referindo-se a minha
escolha profissional. Meu pai dizia que esse diamante só deveria ser lapidado. Pai, hoje
lhe digo, com muita felicidade no coração: meu diamante está lapidado! Hoje ele brilha!
Estou mais perto de realizar meu grande sonho de infância: ser professora! Mãe,
obrigada pela parceria de todas as horas, pela amizade, pela disponibilidade em estar
sempre perto, sempre me ajudando, apoiando-me. Nesse caminho do mestrado não foi
diferente, você sempre estava ao meu lado.
Ao meu namorado Caio Azevedo. Pelo amor não apenas dito, mas acima de tudo que eu
sinto a cada dia, por meio de seu carinho, parceria, amizade, risadas. Ele, que de vez em
quando, já me chama de doutora. Então, estou chegando lá! Obrigada pela leveza e
alegria que nossos encontros me proporcionam.
A minha querida orientadora Airle Miranda de Souza. Airle, além de orientadora dessa
pesquisa, tornou-se para mim uma grande orientadora para a vida. Aprendi muito com
ela. Aprendi que a vida acontece no presente, e o quanto é maravilhoso pesquisar algo
que faz sentido para gente. Agradeço por me olhar nos olhos e perceber que esse tema
tem sentido para mim. Agradeço sua amizade, seu carinho, sua disponibilidade e pelo
acolhimento de sempre.
Ao Laboratório de Estudos do Luto e Saúde (LAELS), coordenado pela Profª. Drª Airle
Miranda, pelos momentos maravilhosos que me proporcionam de refletir sobre a
finitude da vida e de solidificar as bases para a efetivação deste trabalho, por meio da
contribuição de todos do grupo, sempre muito acolhedor.
Agradeço a oportunidade de ter atendido uma criança com autismo, na clínica, e que me
inspirou a estudar mais a temática. Passei por momentos maravilhosos com essa criança,
momentos que me senti muito desafiada enquanto profissional. Essa criança, que
chegou até a clínica com muitas dificuldades, como insegurança, falta de contato nos
olhos, muitas birras, muito inquieta. Mas durante o tempo que estivemos juntas, recebi
retorno muito positivo de seus pais que, assim como eu, perceberam grandes mudanças,
notando-a mais segura, olhando nos olhos, mais paciente, inclusive, mais feliz.
Ao Gatti e Marcelo Silva, exs presidentes da Casa do Autista, que gentilmente
concordaram que eu fizesse minha pesquisa na Casa e disponibilizam espaço para a
implantação do Plantão, bem como meu acesso aos participantes.
A todos os pais e cuidadores da Casa do Autista, que participaram dessa pesquisa, que
confiaram em mim e abriram seu mundo para que eu pudesse ouví-los. Meu mundo,
com certeza, tornou-se mais belo por meio dos nossos encontros. Estou convicta de que,
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assim como vocês, estive inteiramente presente no pouco momento em que estivemos
juntos.
Aos amigos construídos no mestrado e que seguirão para a vida: Luana e Ilton. Pelos
diversos momentos compartilhados, de alegrias, de incertezas, de ansiedade, de dúvidas.
Ter vocês, fez-me sempre perceber que não estava sozinha nesta caminhada. Estávamos
juntos em busca de um mesmo objetivo: tornarmo-nos mestres!
Ao professor Emanuel, que tornou-se um grande amigo. Agradeço as aulas
maravilhosas da Abordagem Centrada na Pessoa que tive, durante a graduação, além da
oportunidade e grande satisfação em participar de seu projeto de plantão psicológico na
UFPA. Essa base foi fundamental para que eu pudesse ter confiança na implantação do
Plantão na Casa do Autista. Agradeço à amizade, à confiança e à disponibilidade de
sempre!
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste estudo.
7
“Sozinha a gente apenas se preserva. A
nossa existência, pra valer, só se
confirma através dos outros.”
(Martha Medeiros)
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Resumo
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Abstract
Autism is the third major disorder diagnosed in childhood, being prevalent in the pediatric
population superior to cancer, diabetes, spina bifida and Down syndrome. It is classified as a
neurodevelopmental disorder and reaches important areas of development: social interaction,
communication and behavior. Due to its complexity, it can result in intense distress for parents
or others who takes on such roles as the primary caregiver, who need to face the limitations that
come with being open to the encounter with the unknown. Considering the importance of
researches that seek to give voice to these caregivers and investigate care practices for these
clients, as well as my concerns about offering a listening space to the caregivers of children
diagnosed with autism spectrum disorder, I chose, as a goal of this study, to unveil the process
of im (planting) a service of psychological on call to these caregivers, at the same time that I
tried to understand the senses of the encounter parents and on call. This service was developed
at a Non-Governmental Organization-NGO in the city of Belém, which provides assistance to
these children and their families, based on the Person-Centered Approach, which is, a listening
space, an emergency care modality which is intended to welcome the immediate demand. As a
method, we highlight the qualitative research with a phenomenological basis. The research had
participation of six clients assisted during service time, being five mothers and one father. Three
of these mothers and one father received care only once, two mothers participated in two
sessions of the on call service. For the analysis of the data was used the instrument of sense
version, proposed by Amatuzzi (2001). As a result, the formation of three axes of meaning,
present in the sense versions, was verified: "mourning in the diagnosis of autism"; "Difficulties
with childcare" and "social isolation". In addition to these results, based on the meetings held, it
was possible to observe how much the Psychological Plan provided a listening and welcoming
space for the demands brought by parents / caregivers.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 12
CAPÍTULO 1- AUTISMO.............................................................................................................................. 19
CAPÍTULO 2- AUTISMO, FAMÍLIA E OS ESTUDOS NA ÁREA................................................. 23
CAPÍTULO 3- FUNDAMENTOS TEÓRICO METODOLÓGICOS QUE SUBSIDIAM O FAZER 31
3.1 – PLANTÃO PSICOLÓGICO: espaço de escuta e facilitação de demandas emergenciais............. 31
3.2- BASES TEÓRICAS E TÉCNICAS: Abordagem Centrada na Pessoa..................................................... 36
CAPÍTULO 4 – O PERCURSO METODOLÓGICO................................................................................. 45
4.1- A ESCOLHA DO MÉTODO: qualitativo, fenomenológico..................................................................... 45
4.2- LOCAL DA PESQUISA............................................................................................................................ 47
4.3- OS COLABORADORES........................................................................................................................... 47
4.3.1- CRITÉRIOS DE INCLUSÃO................................................................................................................. 48
4.3.2- CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO................................................................................................................ 48
4.4- OS INSTRUMENTOS............................................................................................................................... 49
4.4.1- A ENTREVISTA ESTRUTURADA...................................................................................................... 49
4.4.2- VERSÃO DE SENTIDO......................................................................................................................... 49
4.4.3- DIÁRIO DE CAMPO............................................................................................................................. 54
4.5- PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS E CUIDADOS ÉTICOS................................................ 54
4.6- A ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................................................... 56
CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................................... 58
5.1- MINHA ENTRADA NA CASA DO AUTISTA....................................................................................... 58
5.2- A IM (PLANTAÇÃO) DO SERVIÇO DE PLANTÃO PSICOLÓGICO................................................. 60
5.3- AS ESPECIFICIDADES DE UM SERVIÇO DE PLANTÃO PSICOLÓGICO AOS CUIDADORES 65
DESSAS CRIANÇAS.......................................................................................................................................
5.4- QUEM BUSCOU O SERVIÇO DE PLANTÃO PSICOLÓGICO?……………………………………. 69
5.5- VERSÕES DE SENTIDO DOS ENCONTROS........................................................................................ 72
ENCONTRO COM ADARA............................................................................................................................ 73
ENCONTRO COM ALDEBARAN.................................................................................................................. 74
ENCONTROS COM AGENA: primeiro e segundo encontro.......................................................................... 78
ENCONTROS COM ACRUX: primeiro e segundo encontro.......................................................................... 80
ENCONTRO COM ARCTURUS..................................................................................................................... 84
ENCONTRO COM CANOPUS........................................................................................................................ 87
5.6- EIXOS TEMÁTICOS................................................................................................................................ 89
5.6.1- LUTO DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE AUTISMO.......................................................................... 89
5.6.2- DIFICULDADES COM OS CUIDADOS COM A CRIANÇA............................................................. 92
5.6.3- ISOLAMENTO SOCIAL........................................................................................................................ 95
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................... 98
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................................…....................... 100
APÊNDICES..................................................................................................................................................................... 108
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO................................................................................. 109
ROTEIRO DE ENTREVISTA...................…………………………………………………………………..............
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Parecer consubstanciado do CEP……………………………………………………………………............................
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INTRODUÇÃO
minha mãe me acordou e me lembrou de que naquele dia ia ser divulgado o resultado da
UFPA. Havia prestado vestibular para o curso de turismo. Anteriormente havia tentado
atualmente Instituto Federal de Educação Tecnológica do Pará, mas não havia sido
aprovada. Esse curso acabou se tornando meu sonho não realizado e, como acredito que
sonhos devem virar realidade, empenhei-me nos estudos e fui aprovada na UFPA em
2015.
matérias específicas, percebi que não era nessa área que desejava trabalhar.
tão pouco, ou quase nada, a área de psicologia se tornou meu grande sonho profissional.
Diante disso, participei de uma seleção interna, na UFPA, por meio de realização de
prova.
nervosismo, expectativas. Por um momento, pensei que essas sensações, tão fortes, iam
lugar, dentre as dez vagas ofertadas. Minha felicidade, diante da aprovação, foi muito
grande. Acredito até que foi muito maior de que quando fui aprovada pela primeira vez
no vestibular, no curso de turismo. Eu sabia e, acima de tudo, sentia que a psicologia era
meu lugar.
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Nunca esqueço as primeiras aulas. Ainda hoje, recordo uma das frases que tanto
ouvia nas aulas de história da psicologia, ministrada pelo professor Luiz Carlos que
assim falava e repetia muitas vezes: “porque as pessoas se comportam da maneira que
se comportam?”. Eu achava essa frase fabulosa, pois para mim ela representava a
complexidade que era o ser humano. Ao mesmo tempo em que soava como uma
pergunta complexa a ser respondida, mesmo com todos os recursos teóricos e práticos
da área de psicologia.
Acima de tudo, sentia que essa frase deveria guiar nossas ações, alertando-nos
de que cada pessoa é um mundo de possibilidades e essas ações são guiadas por
diversos motivos. Cada pessoa tem seu jeito de ser, pensar e agir diante da vida. Por
isso, é importante que possamos olhar e compreender cada uma à sua maneira.
importante a minha presença em atividades ofertadas por outras áreas de estudo, não
sempre senti a necessidade de dar mais de mim para a universidade e para meu curso.
área de atividades culturais. Foi um momento muito especial e gratificante, em que pude
mais.
Participar desse projeto foi muito importante pra mim, pois senti que, por meio dele,
Centrada na Pessoa.
Minha participação nesse projeto foi fundamental para minha base enquanto
psicóloga. Por meio dele e de suas diversas atividades, como encontros e supervisões,
pude solidificar minha escuta clínica e a segurança de estar diante de outra pessoa que
procura por ajuda. Foi, inclusive neste projeto, que aprendi a utilizar a ferramenta
Ao refletir sobre minha trajetória acadêmica, sinto que minha graduação foi um
orientadora deste trabalho. Ela sempre nos dizia, em suas orientações, que a prática da
pesquisa anda lado a lado com a vida. Nesse sentido, acredito que minha pesquisa de
mestrado me fez um grande convite: buscar ser mais congruente comigo mesma. Minha
pesquisa me exigia que eu fizesse uma investigação de algo que fazia sentido, uma
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Meu projeto de pesquisa, durante esses dois anos de mestrado, representou um
grande “diamante” em minhas mãos, mas que foi sendo lapidado para que pudesse
brilhar e mostrar visivelmente seu valor. Minha motivação, em torno do meu objeto de
estudo, adveio de uma experiência muito gratificante em atender uma criança, com
diagnóstico de autismo, em clínica particular. Atender essa criança foi, sem dúvida
Essa criança chegou até a clínica com muitas dificuldades, como insegurança,
falta de contato nos olhos, muitas birras, muito inquieta. Mas durante o tempo que
estivemos juntas, percebi que pude desempenhar um grande trabalho. Recebi retorno
muito positivo de seus pais que, assim como eu, perceberam grandes mudanças,
notando-a mais segura, olhando nos olhos, mais paciente, inclusive, mais feliz.
família. Por isso, inicialmente me propus estudar o luto que os pais vivenciavam após o
diagnóstico de autismo de seus filhos. Porém, com o tempo fui percebendo que, assim
como os pais da criança que atendi, não são todos os pais de uma criança com autismo
que passam por luto em decorrência dessa situação. Muitas vezes, o autismo de seus
também aos cuidadores, os quais nem sempre podem custear com o tratamento e, muitas
das vezes, ocupam-se em prestar cuidados às crianças sem também atentar às suas
Autista.
15h às 18h, e visa acolher uma demanda emergencial, trazida de maneira espontânea
pelos cuidadores das crianças atendidas pela Casa. Cabe a mim, enquanto plantonista,
“facilitar ao cliente uma visão mais clara de si mesmo e de sua perspectiva ante a
Por outro lado, vale destacar que, neste estudo, o termo “pais” faz referência às
funções paternas e/ou maternas, ou seja, à pessoa significativa e que presta cuidados à
como sinônimos.
tratamento.
famílias, em que muitas delas, diante desse diagnóstico, passam por grandes
reorganizações com intuito de se adaptar a essa “nova” criança que passa a surgir.
Ainda neste capítulo, será possível encontrar uma revisão sistemática da literatura
realizada nos bancos de dados Lilacs, PEPsic, Scielo, Indexpsi, Periódicos e banco de
Teses da Capes, nos últimos 15 (quinze) anos, com intuito de analisar as pesquisas
Essas pesquisas dão base e solidificam nosso olhar sobre o panorama existente de
que subsidiam o fazer do Plantão Psicológico. Além disso, neste mesmo capítulo são
alguns conceitos fundamentais, que balizam esse fazer clínico, são apresentados, como:
sentido proposto por Mauro Amatuzzi (2001), escolhido para acesso às vivências dos
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colaboradores. Neste capítulo, também é apresentada a Casa do Autista, local escolhido
dessas crianças; quem buscou o serviço de plantão psicológico. Logo em seguida, são
ressaltando-se que destas versões, extraíram-se 3 eixos temáticos, a saber: luto diante do
social.
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CAPÍTULO 1 - AUTISMO
podendo resultar em intenso sofrimento a seus pais e as demais 1. Estima-se que cerca de
10% a 20% das crianças e adolescentes sofram de transtornos mentais, e que cerca de
atingindo em quatro a cinco vezes mais o sexo masculino 3 (ANDRADE & TEODORO,
2012).
Down. Até 1960, tinha-se a prevalência de um caso em cada 2.000 pessoas. A partir da
para um caso de autismo em cada 500-1.000 pessoas (FILIPEK & et al., 1999).
America aponta que se tem um autista em cada 250 indivíduos (GARGIULO, 2006).
1
No decorrer deste projeto será utilizado o termo “cuidador”, por abranger os pais das crianças ou outros
que assumam tais funções.
2
Neste projeto será utilizado somente o termo “autismo”, por motivo de simplificação e uniformização,
pois este trabalho também faz uso de textos escritos antes da nova nomenclatura.
3
As crianças com autismo do sexo feminino têm maior tendência de possuir quoeficiente de inteligência
(QI) menor que as crianças autistas do sexo masculino (RODRIGUES, FONSECA & SILVA, 2008)
19
neurodesenvolvimento, por atingir áreas importantes ao desenvolvimento. Tais
vezes antes que a criança ingresse na escola. O espectro autista caracteriza-se por
interesses ou atividades).
contínuo que se inicia com o isolamento e vai até a presença de interação social,
estes podem estar presentes em graus leves até gravemente rígidos, restritos e
dificuldade na comunicação, ecolalia, fixação por girar objetos (...) não respondem aos
contato físico, são autoagressivos.” (ZANATTA et al. p. 275). Outras crianças, por sua
20
vez, apresentam dificuldades de olhar nos olhos, evitam contato físico, expressões de
carinho como abraços e dificuldades intensas de interação, inclusive com pessoas do seu
dia a dia, como pais, mães ou irmãos. Nesse sentido, “embora os pais saibam que o filho
reage desta forma, a frustração de dedicar-se quase que exclusivamente ao filho e não
Constable e Robinson (2002) que afirma que podem ser observados desde cedo, antes
APA, 2002). Em casos de autismo mais severo, os sintomas podem ser percebidos logo
que proporcione a cura. Além disso, cada tratamento possui especificidades que se
4
No que se refere à etiologia, em 1960, o psicólogo Bruno Bettelheim afirmou que a causa do autismo
estava relacionada ao que nomeou como “mãe geladeira”, ou seja, era decorrente de uma relação de
desequilíbrio e falta de afeto da mãe em relação ao filho. Na década de 1970, essa teoria foi
desconsiderada. Atualmente, sabe-se que a causa do autismo é genética, tendo influências ambientais
(GOLENDZINER, 2011). Por meio de estudos realizados no Instituto de Ciências da Gulbenkian, com a
pesquisadora Astrid Vicente, foi verificado o aumento irregular dos níveis de serotonina causando
prejuízo no neurodesenvolvimento e no sistema nervoso central (VILA, DIOGO E SEQUEIRA, 2009).
21
presença ou não de linguagem e da gravidade dos sintomas gerais da criança.” (BOSA,
2006, p. 48).
O tratamento de uma criança com autismo é longo e sua evolução irá depender
Além disso, “a forma como a família reagirá ao tratamento da criança será decisiva na
SILVA, 2008). A família, por vezes, terá que rever seus projetos em decorrência da
em busca de uma avaliação diagnóstica para posterior tratamento. Essas mães enfrentam
grandes dificuldades, em que “peregrinam pelos serviços de saúde, passam por diversos
exames laboratoriais com intuito de descartar outras enfermidades. Todavia, uma das
indivíduos durante toda a sua vida, mas também para permitir uma visão mais clara do
percebem que seu filho possui autismo, e que a nova criança não cumprirá com as
expectativas criadas em torno dela, notam que a partir desse momento suas vidas
família, a partir de então, começa a se unir em torno de sua criança (ANDRADE &
familiar sofre modificações, desde o âmbito financeiro até na qualidade de vida física,
sentimentos podem estar presentes nesse momento, como: tristeza, culpa, angústia,
com um diagnóstico não esperado (KORTMANN, 2013). Diante disso, muitas famílias
ou não conseguem acreditar na nova criança que passa a surgir, não é mais o filho
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imaginado durante a gravidez. Mas sim, uma criança que, diante do diagnóstico, possui
a viver rupturas, pois tende a interromper suas atividades sociais normais, em função
das dificuldades da criança” (KORTMAN, 2013, p. 16). Além disso, provoca mudanças
no modo de ser das pessoas (GLAT & DUQUE, 2003). A partir do diagnóstico, os
pais se tornam pais do autista, os irmãos do autista e com isso, todos em seus espaços
227).
toda a família gira em torno da criança autista, sendo que os pais têm
dificuldades em participar e realizar atividades no dia a dia que
possuem um significado positivo para eles, pois gastam praticamente
toda sua energia na tentativa de ocupar e acalmar o filho autista,
tentando evitar crises comportamentais e atendendo suas necessidades
diárias. (MINATEL & MATSUKURA, 2014, p. 130)
afastam por não aguentarem o clima de tensão após o diagnóstico de autismo na família.
Em que “avós, tios e primos se afastam, rejeitando a convivência com um clima tão
tenso e sem definição, com o qual não sabem lidar e nem como ajudar. Isto, por sua vez,
Oliveira (2012), ao discutir sobre essa questão, cita Minnes (1998) que afirma
sua deficiência, pois essa tem impacto direto na sobrecarga de trabalho e dedicação dos
24
pais. Por isso que o grau de deficiência da criança está inserido como um aspecto que
contribui para o estresse dos pais, ou seja “os genitores têm uma sobrecarga adicional
(ALI, AL-SHATI, KHALEQUE, RAHMAN, ALI & ADMED, 1994; SHAPIRO et al.,
Ser pai e mãe de uma criança com autismo não é nada fácil, exige o encontro
com o inesperado. Zanatta e al. (2014), ao citar Buscaglia (2006), afirma que ser pai e
dos pais”
Cada pai, mãe ou outro (a) que exerça tais funções vivencia, à sua maneira,
como agir diante da grande missão de criar uma criança com autismo. Existem alguns
sistemas de saúde e crenças sobre saúde”, além desses, irá contribuir em grande medida
influencia a família como um todo. Do mesmo modo, a criança deixa-se afetar pelo
participação de cada membro, com suas particularidades, afeta todos os outros, bem
como é afetada por eles, numa relação de interdependência. Assim, toda mudança
25
exerce influência em cada membro individualmente e no sistema como um todo”
Por meio de um olhar atento e cuidadoso, conhecer os sentidos das vivências dos
cuidadores proporciona uma base sólida para a atuação dos diversos profissionais,
subsidiando ações específicas para esse público, que atendam às suas necessidades e
fenomenológico.
Periódicos e banco de Teses da Capes, nos últimos 15 (quinze) anos, por meio do
foram encontrados 211 trabalhos. Destes, 18 foram selecionados por estarem dentro dos
Capes e 14 no Banco de Teses da Capes). Destes, 179 foram excluídos: 174 por não
estarem dentro dos critérios de inclusão5 e 5 por serem repetidos, restando, portanto, 18
trabalhos. Por fim, mediante o cruzamento das palavras chaves “autismo” e “relações
seus filhos. Os artigos consultados abordaram o assunto pelo ponto de vista da família
(dois estudos), pais (três estudos) e mães (um estudo), a saber: “Autism in Brazil: a
e pessoal de seus pais” (MARQUES E DIXE, 2011); “Viver com o autismo: necessidades
dos pais de crianças com perturbação do espetro do autismo” ( RIBEIRO, 2012); “Filhos
(BARBOSA, 2010).
associados, o luto enfrentado pela família, acesso precário ao serviço de saúde e apoio
diante das perspectivas futuras de cuidado com o filho. Diante desses desafios, as
27
vertentes social, educativa e de saúde, no sentido de criar, de forma planejada e
de autismo. Esses trabalhos abordaram o assunto sob o ponto de vista da família (dois
estudos), pais (três estudos), mães (dois estudos) e pai/homem (um estudo), a saber:
LORENZINI & SILVA, 2015) ; “Experiencias de los padres ante el cuidado de su hijo
crianças com autismo sobre a rede de apoio formal: aspectos da elaboração parental do
RIVIÈRES-PIGEON, 2009).
conduzido por Smeha (2010), por meio do relato de onze pais, destacou que os sintomas
28
mais regressivos do filho com autismo, a falta de instituições especializadas e o pouco
crianças autistas” (SPROVIERI & ASSUMPÇÃO JR., 2001); “Família e Autismo: Uma
sintomas apresentados pela personalidade dos pais, assim como pelo acesso aos serviços
de apoio social.
(a) que exerçam tais funções, em especial na região norte do país, por mais que
o outro em sua multiplicidade. É possibilitar um espaço para ouvir aquilo que lhe é
significativo, sem dúvida, mas também um espaço de conhecer os caminhos que foram
O conhecimento das vivências dos pais de crianças com autismo subsidia não
somente uma reflexão sobre esses modos de existências para posterior intervenção, mas
também pode balizar políticas públicas voltadas para esse público, que atendam às suas
construindo para sua nova condição existencial. Buscar esses sentidos é entender como
esses sujeitos compreendem suas vivências diante desse diagnóstico. Para tanto, é
condição fundamental a promoção de uma escuta atenta e aberta para que estes
6
Fala autêntica: “fala expressiva da experiência imediata, fala primeira, original, espontânea, e não
necessariamente um raciocínio, teorização, cumprimento de instruções ou relatório.” (AMATUZZI, 2001,
p. 81).
30
cuidadores se mostrem como são, possibilitando um espaço de compreensão e
burocrática de inscrição, ou, até mesmo, se limitar a uma recepção educada e respeitosa.
No momento que a pessoa procura por ajuda psicológica está apta para um processo de
elaboração de suas demandas. Nesse sentido, com esse propósito, estruturou estágios
potente frente às demandas emergentes, permitindo que muitas vezes, num único
2013, p. 94). Diferente da psicoterapia, por exemplo, no plantão, uma sessão pode ser
7
A proposta do Plantão psicológico se iniciou em 1969 no Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo e teve como base a experiência do walk in clinics, modelo americano de atendimento imediato a
comunidade (SCORSOLINI-COMIN, 2015). A abertura deste formato de atendimento na USP ocorreu de
forma despretensiosa com intuito de atender a demanda de pessoas que procuravam por atendimento que
não se enquadrava no formato das práticas clínicas, até então realizadas, no que se refere às dimensões
temporais e relacionais (PERCHES & CURY, 2013).
31
O serviço de plantão psicológico se constitui enquanto um espaço de escuta e
momento de sua necessidade. Daí a sua singularidade, por ser um serviço que favorece a
elaboração da experiência, pois valoriza a tomada de decisão dos que buscam o serviço,
2013).
Para Tassinari (1999, p. 11), o plantão psicológico pode ser definido como:
contrário, ao pensar-se que se tem pouco tempo, as pessoas tendem a se empenhar com
intuito de ser um encontro significativo. Como bem expressa Mahfoud (2013, p. 37), “o
encontro tende a ser mais intenso justamente pela consciência do limite; consciência
questão do tempo com o cliente, mas tornar o momento de encontro realmente efetivo.
estar de prontidão para a clientela a ser atendida. Para tanto, deve-se fixar local, dias e
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importante que, em cada local, criem-se estratégias próprias de divulgação e
sensibilização da comunidade.
tanto, é necessário que o plantonista esteja pronto para o novo, para o singular. Vieira e
Anjos (2013) afirmam que o Plantão exige prontidão e boas doses de coragem. Afinal,
como destaca Mahfoud (1987, p. 75) “esse sistema pede uma disponibilidade para se
defrontar com o não planejado e com a possibilidade (nem um pouco remota) de que o
busca facilitar que seu cliente encontre um sentido para os sentimentos que possui. No
Mahfoud (2013, p. 39) destaca bem essa questão ao afirmar que é necessário
presentes é um dos grandes desafios irrenunciáveis para quem quer adentrar na aventura
O processo sempre está nas mãos do cliente, e no plantão psicológico isso não é
decisão devem ficar por conta do sujeito de sua história. Além disso, sua história poderá
33
ter desdobramento não previstos, cabendo à própria pessoa a responsabilidade por suas
práticas de saúde para o serviço de plantão psicológico, afirmando que aqueles acabam
pessoais, sociais e culturais de que a pessoa dispõe (ou carece) para cuidar de seu
a clareza das demandas trazidas, pelas pessoas, para o presente. Para isso, é necessário
fornecer um espaço de acolhimento para aquele que procura obter uma clareza sobre as
demandas trazidas ao serviço de plantão. Para tanto, é necessário que estejamos em uma
procura por essa modalidade de atendimento. Devemos estar atentos a esse movimento
de busca.
enquadrem a pessoa atendida, mas sim para fornecer um espaço de calor e compreensão
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O plantão psicológico tem como base o conceito de facilitação, proposta por
Carl Rogers. Por isso que, a Abordagem Centrada na Pessoa incentivou o surgimento do
plantão psicológico, tendo isso em vista, essa modalidade de atendimento que tem como
premissa o movimento espontâneo da pessoa que procura ajuda. É por este motivo que,
espera, bem como não há encaminhamentos de outros profissionais para este serviço
(MAHFOUD, 2013)
conceito de Clínica Ampliada, modelo este que ganha força frente ao modo de Clínica
necessidades contemporâneas.
tais autores não se adéquam à sociedade atual. Nesse sentido, “o homem contemporâneo
tem demandado novas formas de inserção do psicólogo; na verdade, uma nova postura,
com o contexto social.” Nesse sentido, a psicologia clínica, de acordo com Rebouças e
passa agora a ser tratada não como uma área de atuação, mas como
atitude, como ethos, de acordo com o pensamento de alguns
autores, entre os quais (DUTRA, 2004; FIGUEIREDO, 1996;
SAFRA, 2004 & SÁ, 2007). Nesse sentido, o psicólogo clínico
contemporâneo deverá estar comprometido com a escuta e o
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acolhimento do outro onde quer este esteja. O que significa
compreender esse outro a partir da experiência e dos significados
que ele atribui ao mundo, levando em consideração o contexto no
qual está inserido, considerando-o como um ser-no-mundo e,
portanto, constituído por este, ao mesmo tempo em que o constitui.
apresenta uma atitude Pós-clínica, tendo em vista que nem todas as demandas que
emocional, mas que o afetam em grande medida, por exemplo, muitas pessoas veem no
modelo de atendimento psicológico pronto, mas é uma prática flexível que vai se
moldando de acordo com cada contexto institucional que faz parte, num movimento de
utilizam.
36
3.2 – BASES TEÓRICAS E TÉCNICAS: Abordagem Centrada na Pessoa
A Abordagem Centrada na Pessoa foi criada por Carl Rogers, e tem como
organismos vivos.
A tendência atualizante jamais pode ser retirada do organismo. Por mais que
todas as condições ao redor tentem impossibilitá-la, ela não é retirada, sem que o
Deve-se confiar na tendência direcional que existe em cada pessoa, por mais que
numa primeira visão elas nos pareçam distorcidas e sem sentido, mas cada ser humano
luta, à sua maneira, em direção ao crescimento. “Para nós, os resultados podem parecer
bizarros e inócuos, mas são tentativas desesperadas de vida para tornarem-se elas
37
próprias. É esta potente tendência que constitui a base subjacente à terapia centrada no
sua complexidade. De modo que, a atenção dada não é com o intuito de resolver um
problema, mas ajudar a pessoa a obter todas as bases necessárias e suficientes para que
possa se sentir segura e crescer, para que ela mesma possa enfrentar o problema atual e
das circunstâncias que estão ao nosso redor. Esse modo de existência não nega as forças
externas, todavia coloca como prioridade a postura do indivíduo frente a essa realidade.
(ROGERS, 1977).
confiar”. Nesse sentido, a Abordagem Centrada na Pessoa busca fornecer uma base
p. 4)
pessoa, que facilita a pessoa atendida a liberar sua capacidade para a realização de
mudanças em sua vida. São três condições necessárias para isso. A primeira delas é a
encontro com o outro, a relação tende a ser muito mais frutífera se o terapeuta consegue
ser ele mesmo, quando consegue ser transparente ao cliente quanto ao que está sentindo.
Ser congruente significa a vivência aberta dos sentimentos que se está vivendo em
encontro genuíno com o terapeuta. O que isso significa? “significa que o terapeuta está
atitude do terapeuta de permitir que o cliente seja ele mesmo e vivencie suas diversas
experiências, por mais estranhas e incomuns que elas sejam. É uma relação de aceitação
consegue ter uma atitude de aceitação, por vezes ele tem certas resistências as quais
Portanto, isso não deve ser considerado como um ‘dever’, (...) trata-se simplesmente do
fato de que a mudança construtiva do cliente é menos provável se esse elemento não
estão sendo vivenciados pelo cliente e lhe comunica esta compreensão. Num ponto
máximo de compreensão, o terapeuta está tão dentro do mundo privado de outra pessoa,
que pode esclarecer não somente os significados, dos quais o cliente está consciente,
pessoa, sem perder jamais a condição de ‘como se’”. (ROGERS, 1959, p. 210)
A atitude empática seria sentir as coisas pelas quais a outra pessoa está sentido,
tendo o devido cuidado ‘como se’ de fato estivéssemos em seu lugar. Rogers destaca a
importância de nunca perdemos essa condição de ‘como se’, para evitarmos um possível
estado de identificação. Logo após, Rogers (1977, p. 73) aprimora seu conceito de
empatia, pois acredita que não é coerente a expressão “um estado em empatia”, pois
40
As condições facilitadoras para o processo de mudança, tem como base o ouvir,
ou seja, estar realmente presente diante do outro. Rogers (1983, p. 5) nos diz que:
“quando consigo realmente ouvir alguém, isso me coloca em contato com ela, isso
enriquece minha vida”. Ouvir realmente é deixar-se tocar (AMATUZZI, 2001). O ouvir
aquilo que nos aconteceu, possibilitando que possamos elaborar e criar sentido a essas
coisas, permitindo que possamos olhá-las de uma forma singular, ao mesmo tempo em
Ouvir realmente é se sentir tocado pela fala do outro, é se afetar. Para Buber 8 a
outro cria a possibilidade de diálogo, a partir do momento que sou afetado pela fala do
outro. Nesse sentido, sente-se a necessidade de resposta. “Se como ouvinte não fui
2001). Wood (2008, p.15), ao versar sobre essa questão, afirma que segundo
Kirschenbaum (1979), Rogers considerava que o terapeuta deveria ter “uma sólida
outro. Estar com o outro é deixar em determinado momento nossa maneira de pensar e
8
Martin Buber é considerado o filósofo da relação. Possui uma obra intitulada “Eu e Tu”, publicada em
1923, em que explicita e diferencia as relações que nomeia de “eu-tu" de “eu-isso”. A primeira, “Eu-Tu”
é permitir-se estar “em relação, deixa-se impactar, deixa-se atravessar pela presença viva do outro, seja
este outro uma pessoa, uma situação, uma obra ou um ente qualquer”. A segunda forma de relação, “eu-
isso”, “leva a experienciar de forma objetiva as situações. O mundo do isso ou da objetividade ordena o
real, transformando-o em habitável e reconhecível.” (LUCZINSKI & ANCONA-LOPEZ, 2010, p. 78)
41
de ser para colocar-se no campo perceptual da pessoa atendida. Ou seja, “significa pôr
de lado nosso próprio eu, o que pode ser feito apenas por uma pessoa que esteja
bizarro do outro e se poderá voltar sem dificuldade ao seu próprio mundo quando assim
Outra informação que é passada para a pessoa, por meio da empatia, é se sentir
valorizado. A mensagem que é recebida pela pessoa é “esta outra pessoa confia em
mim, acredita que valho a pena. Talvez eu seja digno de alguma coisa. Talvez eu
81). No processo de empatia, não cabe uma postura avaliativa e diagnóstica. Por vezes,
isso causa uma surpresa na pessoa atendida. “Se não estou sendo julgado, talvez não
seja tão mau ou anormal quanto pensei. Talvez eu não deva julgar-me com tanta
42
modificação posterior do comportamento para ser compatível ao self (ROGERS, 1977).
Quando uma pessoa é livre para ser ela mesma, compreendida de acordo com seu
campo perceptual, ela pode experienciar suas vivências de maneira aberta e sem
ressalvas, a tendência é ela entrar em contato maior com uma variedade de maior de
algum motivo, encontra barreiras para se realizar (AMATUZZI, 2001). Nesse sentido,
pessoa que procura por uma escuta psicológica. As mudanças acontecem quando o “o
constituem o desajuste, na maior parte dos casos. O desajuste ocorre quando eu persisto
em conservar uma imagem de mim mesmo que não corresponde ao que está exatamente
consciência do que está se passando em seu nível organísmico, de modo que pode
realizar suas próprias escolhas. Auto realização é isso “supõe que a pessoa reconheça e
Tendo como base esse referencial teórico, foi construído o serviço de plantão
44
Capítulo 4 – O PERCURSO METODOLÓGICO
qualitativas, tem-se a “necessidade de compreender o que está além dos números, não
central, dessa forma de realizar pesquisa, também está para além dos fenômenos, “são
Em que consistiria esse “vivido”? “É nossa reação interior imediata àquilo que
diante do que lhe acontece. Ou seja, em nenhum momento é uma reação construída,
domesticada, mas sim natural e autêntica. “É o que sinto, diretamente, a forma como
avalio, diretamente. Para além das mediações pensadas, para além das minhas escalas
de valor. E não se trata também daquilo que eu possa pensar depois para ‘domesticar’ a
pessoal. Para que o vivido possa ser expresso, como reação interior, é necessário que
45
algo significativo tenha acontecido para a pessoa. O vivido está no plano dos
destaca que “o vivido não é uma reação muscular, mas a reação psicológica, mental,
culturais por meio das vivências das pessoas pesquisadas, ou, até mesmo, não busca
possibilidades. Isso ocorre quando o “pesquisador ou pessoa que reflete, guiado pela
indagação que o mobiliza, atravessa o depoimento, por assim dizer, e parte em busca do
vivido ali contido, sem se desviar para a busca dos padrões coletivos, ou elementos da
história escondida.”
46
em prover um clima que libertasse o cliente para que este se
tornasse ele mesmo.” (WOOD, 2008, p. 74)
270, em Belém-PA, no bairro Marambaia. É uma instituição criada por pais de crianças
com autismo com intuito de oferecer assistência a essas crianças, por meio de
A coleta dos dados ocorreu em uma sala na qual foi designada ao funcionamento
do serviço de plantão psicológico da Casa do Autista. Essa sala está situada próximo à
sala da coordenação dessa instituição, bem como próxima à sala de espera dos pais e em
4.3- OS COLABORADORES
Participaram dessa pesquisa 06 (seis) colaboradores, sendo 05 (cinco) mães e 01
(um) pai. Tais cuidadores foram atendidos no Plantão Psicológico da Casa do Autista e
47
4.3.1 – CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
-Ser pai, mãe ou outro responsável que desempenhasse papel de cuidador principal da
criança, com até 12 anos de idade, diagnosticada com autismo;
- Menor de 18 anos
prestadas, assim como foi garantido o sigilo de suas identidades e respeito à sua
coleta de dados.
48
4.4- OS INSTRUMENTOS
gerais, a saber: nome, idade, sexo, estado civil e ocupação. Logo após, são solicitados
dados sobre criança: nome, idade, sexo, diagnóstico recebido, tempo de diagnóstico e de
tratamento.
Após esta etapa, era prestado o atendimento ao cuidador em sua demanda, por
estabelecido que esse poderia ser atendido até 4 vezes na modalidade plantão
psicológico, critério esse de acordo com o referencial teórico de base e práticas atuais
em serviço de plantão.
Belém que prestam tais serviços, como a Clínica de Psicologia da Universidade Federal
Para o alcance dos objetivos propostos nesta pesquisa, optou-se por utilizar o
49
por Mauro Amatuzzi. A versão de sentido tem base na fenomenologia da linguagem de
Esse relato não tem a pretensão de ser fiel aos fatos acontecidos, mas uma “relação viva
a isso, escrito ou falado imediatamente, após o ocorrido, como uma palavra primeira”
terminado.
que “um registro mecânico não o pode captar, pois ele contém o passado. É só através
encontro”. (AMATUZZI, 2001, p. 75). Com isso, a versão de sentido possibilita olhar
contrapõe a essa lógica e propõe uma nova forma de compreender os fenômenos. Por
isso, “a VS é uma coisa que se vai aprendendo a fazer, assim como se aprende a chegar
destaca:
A versão de sentido alcançará os objetivos desta pesquisa, pois por meio desse
(AMATUZZI, 2001, p. 85). Para Buber, o sentido de uma relação não se encontra em
somente uma pessoa. Mas advém da relação estabelecida entre elas. É somente no
Uma questão se coloca para reflexão que é: seria a versão a maneira mais
adequada de registrar um momento vivido por duas pessoas? Amatuzzi (2001) destaca
adequada, pois seria parcial. Mas a versão de sentido não visa o registro dos fatos
reflete a visão da pessoa que escreve, bem como o sentido da relação vivenciada pela
51
pesquisa fenomenológica irá ocorrer, pois é isso que irá possibilitar “o acesso ao
significado pleno que uma experiência teve para o sujeito e não somente aquele que está
encontro que essas informações acontecem e são passíveis de análise (RAMOS, 2012).
ajudando-a a lidar com seus recursos e limites. (DOESCHER & HENRIQUES, 2012).
Busca auxiliá-la, por meio de uma clarificação da natureza de sua demanda de ajuda
(SCHMIDT, 1999).
pessoa que procura ajuda. Nesse sentido, “quanto mais o homem apreender o caráter de
missão que a vida tem, tanto mais lhe parecerá carregada de sentido a sua vida”
Chaves e Henriques (2008, p. 154) ao versar sobre o tema, cita Leloup (2001)
que afirma que escutar uma pessoa deve ser uma escuta de abdicação de si, no sentido
de “acolher a palavra do outro, desde a mais corpórea até a ainda não pronunciada. Essa
do encontro que acabou de ocorrer, trazendo para o momento presente os sentidos das
experiência de plantonistas iniciantes” (VIEIRA & ANJOS, 2013), dentre outros. Nesse
sentido, por meio dos referidos trabalhos, podemos visualizar a solidez e contribuição
pontos de mudança.” Ao mesmo tempo deve-se procurar por frases que representem os
53
4.4.3 - O DIÁRIO DE CAMPO
Foi utilizado o diário de campo para a realização das versões de sentido logo
após cada encontro recém-finalizado, por meio do plantão psicológico. Além disso, no
CNS 466/12 que dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos no Brasil. A coleta
de dados somente ocorreu após a aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos.
Tendo em vista que esta pesquisa envolveu temática que poderia ser
cuidados foram tomados para que a exposição pessoal não provocasse maior
proposto;
54
-Garantia de sigilo sobre a identidade dos participantes da pesquisa, pacientes ou
desenvolvida uma pesquisa versando sobre os cuidadores das crianças com autismo,
cliente não seria incluso ao estudo. Após assinatura do TECLE, era realizada a
entrevista estruturada, sendo orientado que o cliente poderia respondê-la depois se assim
pelo cliente.
encontro. É importante destacar que essa produção é uma versão de sentido e, como tal,
é uma versão de quem escreve. Para Buber (1982-1953): “o ‘sentido’ de uma relação
não se enquadra propriamente em nenhum dos participantes. Em cada um, segundo ele,
encarnado jogo entre os dois, neste seu Entre” (AMATUZZI, 2001, p. 86).
advindos por meio do contato com as vivências dos colaboradores, por meio do
isso, foi produzido um texto em que os eixos de significação estejam articulados entre si
(AMATUZZI, 2009).
57
CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
promovido pela Casa do Autista. Esse evento teve uma programação bem variada, com
transtorno do espectro Autista". Além dessas palestras, durante os três dias de evento
pais, que estavam presentes na platéia, de dar uma maior atenção a seus filhos com
acolher esses pais em suas demandas. Afinal, era visível que a rotina deles era muito
da Casa do Autista. Eram pessoas de diversas profissões e áreas de estudo que ajudavam
à sua maneira e dentro de sua área de atuação. Diante disso, senti a necessidade grande
de participar e contribuir. Não sabia de que modo, mas, depois daquele evento, senti um
forte desejo de compreender as vivências dos pais dessas crianças. Vi que a Casa do
58
A Casa do Autista é uma associação de pais e amigos de autistas e foi criada em
2014 a partir de uma necessidade percebida pelos pais da escassa oferta de atendimento
especializado e qualificado para atender seus filhos diagnosticados com autismo. Essa
social e psiquiatria.
Autista com intuito de conhecer melhor o trabalho que eles realizam junto com as
serviços da área de psicologia. Fui muito bem atendida pelos coordenadores da Casa do
disponibilizaram seu espaço para que eu pudesse realizar o trabalho dirigido aos pais.
Era então chegada a hora de fazer acontecer esse projeto. Havia sido acolhida
por seus gestores e já estava pronta a acolher os pais dessas crianças. Contudo, seria
necessário começar do ponto zero, pois ainda não existia um serviço de plantão na Casa.
59
5.2 – A IM (PLANTAÇÃO ) DO SERVIÇO DE PLANTÃO PSICOLÓGICO
fazendo referencia a uma planta jovem, enquanto que no latim plantare significa semear
psicológico na Casa do Autista. Esse serviço é oferecido nos dias de quarta-feira das
quinze às dezoito horas, sendo disponibilizado a todos os pais e/ou cuidadores das
Desde sua implantação, este serviço passou por algumas modificações em sua
em vista que a Casa do Autista, quando estava localizada na Alameda Suiça, no bairro
da Marambaia, não possuía sala fechada para a realização dos atendimentos do plantão.
Nesta época a pesquisa ainda não havia sido iniciada, pois não se tinha ainda a
dentro das dependências do Centro Espírita Allan Kardec, situada na rua Esperanto,
270, Marambaia. Nesse local, o plantão psicológico foi instalado em uma sala próximo
60
A divulgação da oferta do serviço foi realizada por meio de panfleto e cartaz
entregue via whatsapp ao grupo da Casa do Autista, local onde são discutidos assuntos
sobre a Casa, assim como são divulgadas ações que a Casa realiza. No panfleto foi
atendidas pela Casa. Vale destacar que o panfleto foi confeccionado, de maneira
grande necessidade de tornar aquele ambiente mais agradável para quem o buscava. Até
então, era um espaço muito inóspito para receber demandas tão pessoais e cheias de
sentimentos. A sala não possuía nenhum sofá, ou poltrona mais confortável. Possuía
apenas diversas cadeiras escolares, paredes com cartazes antigos dos trabalhos
Com isso, realizei uma grande organização nesse espaço. Pedi ajuda à
coordenação da Casa para levarmos um dos sofás, que estava na sala de espera dos pais,
pedagogia, contribuiu fornecendo um tapete da Casa que não era mais utilizado. Senti
também grande apoio de alguns pais, que contribuíram na arrumação da sala (foto 1).
nova sala. As crianças entravam também e pegavam flores das paredes, na qual decorei
com uma enorme árvore cheia de flores. Foi bem gratificante sentir esse grande
movimento.
61
Minha mãe foi solidária e me ajudou produzindo e doando as almofadas para a
sala. Também meu namorado contribuiu na decoração das flores na parede e do tecido
que colocamos junto com os pais. Enfim, pude sentir que a implantação desse serviço
foi realizada por meio de um grande movimento coletivo para que desse certo e fosse
Compreendia que a ideia de fazer acontecer o plantão não era só minha, mas
tapete. Havia também aqueles que necessitavam ali chegar para compartilhar o seu
62
Foto 2: Sala arrumada para atendimento
63
Foto 3: Cartaz para divulgação do serviço realizado por um dos pais da Casa do
Autista
64
5.3. AS ESPECIFICIDADES DE UM SERVIÇO DE PLANTÃO PSICOLÓGICO AOS
CUIDADORES DESSAS CRIANÇAS
Ao lançar-me a tarefa de ser plantonista podia sentir que realizava uma grande
viagem. Viagem proporcionada por meio dos grandes encontros que tive e que me
possibilitaram ir ao encontro de cada pessoa que procurava um espaço para ser escutada,
brilhantemente, sobre as maravilhas que o ato de encontro nos proporciona. Sinto, por
meio de suas palavras, que realizei essa grande viagem dentro de cada história de vida
diversas demandas que poderiam vir até o serviço de plantão psicológico. Minha escuta
não esteve restrita a tratar, ou até mesmo direcionar, as pessoas que procuravam o
serviço de plantão a falar sobre assuntos referentes ao autismo, mesmo que este serviço
tenha se configurado dentro dessa estrutura institucional. Minha postura sempre foi de
65
dessa problemática, na medida em que se coloca disponível a acolher a experiência do
similaridades com outros serviços dessa natureza, em que a base comum é a postura
Além de saber lidar com o não planejado, o plantonista, de uma maneira geral,
“lida com a possibilidade (nem um pouco remota) de que o encontro com o cliente seja
por meio dos atendimentos realizados, em que muitos deles foram únicos, mas, mesmo
Além de muitos atendimentos serem únicos, pude perceber que todas as pessoas
que procuraram esse serviço aproveitavam o dia e a hora de atendimento de seus filhos
necessidade em muitos pais e/ou cuidadores de um espaço de escuta para suas questões,
66
somente os recebia no momento que coincidia com o atendimento de seus filhos pelos
profissionais da Casa do Autista. Acredito que tal questão deva-se às dificuldades com
os cuidados de uma criança com autismo, detalhado mais a frente nos resultados
apresentados nesta pesquisa, em que muitas vezes, as mães e pais têm que abrir mão de
Por meio das falas das pessoas que atendi, encontrei em grande medida a
necessidade de um espaço de escuta para esses pais e cuidadores. Muitos deles não
encontram tempo para si, pois o centro de suas vidas são suas crianças. Por isso a
necessidade de um espaço de escuta e atenção a eles que além de pais cuidadores são
10
Esses são trechos retirados das versões de sentido, realizados por mim, após cada encontro por meio do
Plantão Psicológico na Casa do Autista. Após cada trecho da versão de sentido apresentada, tem o nome
fictício da pessoa atendida. Logo a seguir, em “Quem buscou o serviço de plantão psicológico”, serão
apresentados todos os participantes com seus respectivos nomes em que serão tratados nesta pesquisa.
67
Muitos pais/cuidadores vinham até o serviço de plantão psicológico com uma
necessidade muito clara: serem escutados. Ouvir pode parecer ser algo simples e fácil de
com essa finalidade. Porém ouvir “implica acompanhar, estar atento, estar presente.
Presença inteira.”(MAHFOUD, 2012, p. 27). Muitas vezes falamos algo para alguém,
trazida por pais e cuidadores da Casa do Autista requeria psicoterapia a longo prazo. O
serviço do plantão, por si só, com suas especificidades, conseguiu suprir a maioria das
Nesse sentido, Mahfoud (2012, p. 27) destaca que “nem toda demanda precisa
ser suprida pela psicoterapia. Todo indivíduo possui uma tendência inerente para o
progresso e uma vez que a situação de impedimento possa ser abordada, e uma nova
vivência possa surgir, o cliente está livre para seguir seu rumo, até sentir nova
Além disso, pude sentir que muitos pais, acostumados com a abordagem diretiva
o centro das decisões seriam sempre deles, mas que minha intenção era facilitar esse
processo de autodescobertas. Não só o plantão era uma novidade a essa clientela, mas a
68
liberdade de escolha os convidava a assumir seu lugar no mundo e a escolher sua
tendo em vista que os percebia enquanto focos de luz para suas crianças.
entrevistas, referente a primeira etapa da coleta de dados. Considera-se que estes dados
Adara: Mulher, 29 anos. Afirmou que está cursando o ensino superior. Possui um filho,
a criança atendida pela Casa do Autista. Informou que é ela a cuidadora principal
juntamente com o pai. Eles dividem os cuidados com a criança juntamente com pai, avô
(paterno), avó (paterno). Seu filho tem 5 anos e possui o diagnóstico F 84 (Síndrome de
Asperger11) a cerca de 1 ano e meio. Seu filho está há um ano e meio de tratamento, ou
seja, o mesmo tempo de diagnóstico. As modalidades de tratamento que ele recebe são:
11
Segundo CID 10, A Síndrome de Asperger é um “Transtorno de validade nosológica incerta,
caracterizado por uma alteração qualitativa das interações sociais recíprocas, semelhante à observada no
autismo, com um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Ele se diferencia
do autismo essencialmente pelo fato de que não se acompanha de um retardo ou de uma deficiência de
linguagem ou do desenvolvimento cognitivo. Os sujeitos que apresentam este transtorno são em geral
muito desajeitados. As anomalias persistem freqüentemente na adolescência e idade adulta. O transtorno
se acompanha por vezes de episódios psicóticos no início da idade adulta.”
69
psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, pediatria. Atualmente só recebe
ALDEBARAN: o pai solteiro que tem como ocupação ser “pai de autista”
Aldebaran: Homem, 31 anos. Possui 2º Grau. Solteiro. Possui um filho. Quando
questionado sobre sua ocupação, respondeu “pai de autista”. É pai da criança atendida.
Informou que ele divide os cuidados com a mãe. Sendo que a mãe que cuida mais (falou
dizendo entre aspas). Juntamente com a mãe, divide os cuidados de seu filho com a
família, avó, avô, madrinha, padrinho por parte do pai. Seu filho possui 5 anos e recebeu
Agena: Mulher, 36 anos. Possui superior incompleto. Seu estado civil para ela é
pela Casa. Ela informou que é a cuidadora principal de seu filho. Divide os cuidados da
criança com sua mãe. Seu filho é do sexo masculino, possui 4 anos. Recebeu o
tratamento, nas modalidades ofertadas pela Casa. Sendo que iniciou o tratamento na
Autista.
70
ACRUX: a mãe e a web design
Acrux: Mulher de 41 anos. Sua escolaridade é superior incompleto. Estado civil:
Casada. Tem dois filhos. Sua ocupação é Web design. É mãe da criança atendida na
Casa do Autista, divide os cuidados da criança com seu marido. Além dela e seu
marido, não possui outra pessoa para dividir os cuidados com a criança. Seu filho é um
anos de idade, fez tratamento durante um ano e meio com pediatra, psicólogo e
Arcturus: Mulher, 31 anos. Possui superior completo. É casada. Possui 1 filho. Sua
ocupação é de dona de casa. É mãe da criança atendida pela Casa. Informou que é a
cuidadora principal. Divide os cuidados da criança com a mãe. Seu filho é do sexo
masculino, possui 5 anos. Possui autismo, mas com discordância quanto a esse
12
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, de acordo com o DSM 5, é “um padrão persistente
de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento”
(p. 59). Segundo este Manual, “a desatenção manifesta-se comportamentalmente no TDAH como
divagação em tarefas, falta de persistência, dificuldade de manter o foco – e não constitui consequência
de desafio ou falta de compreensão. A hiperatividade refere-se a atividade a atividade motora excessiva
(como uma criança que corre por tudo) quando não apropriado ou remexer, batucar ou conversar em
excesso (...). A impulsividade refere-se a ações precipitadas que ocorrem no momento sem premeditação
e com elevado potencial para dano à pessoa (p. ex., atravessar uma rua sem olhar).” (DSM 5, p. 61)
13
De acordo com DSM 5, “a característica essencial do transtorno de oposição desafiante é um padrão
frequente de humor raivoso/irritável, de comportamento questionador/desafiante ou de índole vingativa”
(DSM 5, p. 463).
71
fonoaudiologia e terapia ocupacional. É atendido pela Casa do Autista há 1 ano. O
tratamento atual que realiza são os oferecidos pela Casa do Autista e na escola.
Canopus: Mulher, 48 anos. Sua escolaridade é grau superior. Seu estado civil é solteira.
Tem 1 filho. Sua ocupação é autônoma (venda individual). É mãe da criança atendida e
a mãe/ irmã e babá. Seu filho tem 5 anos. Possui o diagnóstico de autismo há 1 ano e
meio. Possui 1 ano de tratamento nas modalidades ofertadas pela Casa do Autista e
plantão. Em cada versão, busco retratar minhas percepções em torno dos sentidos das
vivências apresentadas pelas pessoas atendidas. Destaco que é uma escrita livre e
recheada de sentido de acordo com o que visualizei e senti em cada encontro com as
72
ENCONTRO COM ADARA
Adara veio até o serviço de plantão psicológico por indicação de seu marido, que
ficou bastante entusiasmado ao tomar conhecimento do serviço. A priori, pensei que seu
marido viria, tamanho o entusiasmo dele. Mas não participou da sessão, informando à
sua esposa, que estava na sala de espera dos pais, que havia marcado consulta com a
Adara dividiu comigo, durante o tempo em que ficamos juntas, muitas histórias,
dificuldade de dividir com seu marido os cuidados com seu filho. Senti, durante a fala
de Adara, que, mesmo que ela queira maior parceria por parte de seu marido nos
Adara, além de cuidar do seu filho, tem grande desejo de se dedicar mais aos
estudos, pois cursa faculdade. Mas as atividades com seu filho são enormes. Chegou a
me dizer que dorme com a criança, para evitar acordar o marido durante a noite.
Percebo que Adara está em uma grande encruzilhada. Pois todas as suas atitudes
de cuidado com seu filho, até então, eram com o intuito de preservar um melhor
relacionamento com seu marido. Por isso, centralizava todos os cuidados em si mesma.
Porém, vem percebendo que o modo, encontrado por ela, de melhor conviver com seu
parceiro é, na verdade, a pior maneira, pois está cumprindo sozinha com as obrigações
de cuidar do filho.
Adara afirma o quanto é uma pessoa recatada, que não gosta de sair muito. Em
decorrência disso, ela fica cuidando de seu filho, enquanto seu marido sai com os
amigos. Diz que, durante toda sua vida, foi assim, mas que, atualmente, tem sentido
73
vontade de sair. Eu sinto que Adara gostaria de ser outra pessoa. Percebo um grande
desejo de se transformar.
Tanto Adara quanto o marido ainda não lidam bem com o diagnóstico de
autismo de seu filho. Isso também é um fator que dificulta para Adara a saída e a
exposição em público.
recolhem-se, com receio do mundo. Dessa forma, vejo o quanto Adara ainda tem
entraves quanto a essa nova experiência: aceitar é o primeiro passo para que haja a
Sinto que a fase pela qual Adara tem passado junto com o marido tem motivado
nela a reflexão sobre a figura de sua mãe. Essa figura que, durante muito tempo da sua
vida, quando moravam juntas, não foi bem compreendida. Agora, quando Adara é
mulher e mãe, vejo e sinto que ela compreende melhor sua mãe.
Sua mãe sempre alertou Adara do quanto sentia dificuldade com seu pai e a
instruía a sempre falar o que pensava. Só agora ela entende sua mãe.
sentidos: intenso na história de vida que ele me trazia, intenso na maneira com que ele
pensava sobre a vida e sobre as pessoas ao seu redor, intenso na maneira com que ele
me olhava, quase me invadindo. Por vezes eu desviava o meu olhar, tamanha a carga do
olhar dele. É como se eu não pudesse suportar. Pensando agora, acredito que seja esse
74
mesmo olhar que ele impõe sobre seu filho. Vou compartilhar um pouco desses
sentimentos.
que estava acontecendo entre ele e sua mulher, Adara (versão de sentido acima). Queria
compreender se era ele o culpado, ou se era ela. Mas, mesmo expressando isso, percebi
que ele se sentia na razão e julgava que a sua mulher estava errada.
humano. Aldebaran possui um jeito rígido de ser, que, a todo momento, parece que tem
muralhas ao seu redor, muralhas altas e espessas que o protegem do mundo e de suas
ameaças. Aldebaran também impõe essas muralhas para as situações que vive ao seu
compreender o ser maravilhoso que é. Percebi que ele resistiu até o momento pelas
proteções que criou ao seu redor, por mais que eu visse e sentisse que, hoje, ele não
coleguinhas da infância e dos pais dessas crianças que ele tinha sido jogado na lata do
lixo. Foi adotado por uma pessoa da família. Sua mãe era muito agredida por seu pai.
Com isso, desde pequeno, Aldebaran foi convidado pela vida a ser forte. Caso contrário,
não sobreviveria.
Aldebaran desde então criou uma grande muralha, muralha de proteção, mas
das Forças Armadas. Aldebaran falava isso para mim com os olhos e músculos rígidos,
75
simulando como realizava. Foi nesse período que conseguiu superar esses sentimentos.
Sinto e expressei isso ao Aldebaran, que concordou comigo que, com a vinda de
seu filho e seu diagnóstico, tem receio que ele sofra as mesmas coisas que o pai sofreu.
Aldebaran fica com receio que seu filho sofra os mesmos preconceitos pelos quais
passou. Mas que peso enorme ele põe para o filho! Expressei a Aldebaran o quanto ele
coloca um peso enorme na vida do seu filho, de coisas que podem nem ocorrer. É uma
Perguntei a ele o que morreu. Percebi que Aldebaran ficou bastante emocionado.
Contraía seus músculos, fazia um esforço muito grande para se manter bem, mesmo que
as lágrimas insistissem em tentar cair. Ofereci um lenço, ele disse que não costuma usar.
E continuou dizendo que sempre planejou muito sua vida, e, com a vinda de seu filho,
não foi diferente. Sonhava em ter uma família estruturada, sonhava que seu filho se
com ele sobre a pesquisa e li o nome dele e de seu filho. Mostrei para ele o quanto os
nomes são diferentes, da mesma forma como eles são pessoas diferentes, cada um tem
sua história. Disse que Aldebaran pode deixar que seu filho tenha sua própria história,
que não é justo que a criança viva uma vida que não é dela. Ele tem 31 anos, enquanto
seu filho tem apenas cinco. Eles são pessoas diferentes! Vivem em momentos distintos!
e pedir que Aldebaran olhasse para fora dela. Quando o fiz, não sabia, de antemão, qual
76
era o meu objetivo, mas senti a necessidade de fazer isso e segui o que sentia. Pedi que
Aldebaran olhasse para as plantas que estavam na área de baixo, que as apreciasse. Ele
falou que ajudava a coordenar o serviço do jardineiro. Falei para ele observar o quanto
as plantas crescem de modo tranquilo. Perguntei sobre o que ocorre com elas se
cortarem e podarem seus galhos. Ele disse que elas sofrem. Perguntei se realmente elas
sofrem. Ele mostrou a mim o quanto temos que protegê-las, ficarmos em prontidão. Ou
Aldebaran a perceber o quanto está preocupado em demasia com o futuro de seu filho.
do Aldebaran, eu fiquei com a sensação de que não existem verdades e nem portadores
de razão, mas, sim, pontos de vistas diferentes e maneiras de ver únicas em torno da
Aldebaran pensa que Adara não gosta dele, reclama, pois ela não dorme na
mesma cama que ele. Não procura sair com ele e seus amigos. A maneira de Aldebaran
expressar que gosta de Adara vai muito além do que ela pede como companheirismo,
lavar a louça e ajudar nas atividades da casa. Diz que Adara é mal agradecida.
Sinto que Aldebaran precisa relaxar, precisa viver mais no presente. Está
vivendo um tempo que não é dele e, por vezes, tentando viver uma vida que não lhe
pertence. Precisa deixar seu filho viver. Aldebaran pode sentir essa tensão no seu dia a
dia, chegou a me exemplificar o quanto fica com uma atenção redobrada ao seu redor,
disse, por exemplo, que, quando está na sala de atendimento, está atento ao que
acontece lá fora etc. Aldebaran me disse o quanto fica tenso ao dormir. Quando ouço
77
ENCONTRO COM AGENA
Durante o período em que atendi Agena, ela estava deitada no sofá da sala de
atendimento, olhando para mim... Olhando para o alto. Era como se esperasse que sua
vida mudasse de rumo, mas ela mesma não tinha como mudar tal realidade, bastava
Agena estava decidida a não ficar mais com o companheiro, pois não gosta mais
dele, mas não era simples mudar de rumo. Envolvia ter independência financeira para
Senti que Agena sabia muito bem como fazer pra alcançar esses voos altos, sabia
que poderia estudar para realizar um concurso, poderia arranjar um emprego. Enfim,
poderia muita coisa, mas, naquele momento, estava apenas refletindo sobre o que
poderia fazer.
Agena expressou o quanto se sentia uma prostituta por estar com alguém
somente para garantir sua sobrevivência, sem ter sentimentos por ele. Tendo que ter
Ela me expressou que o sentimento que tinha por seu parceiro não terminou
assim, de uma forma repentina, mas que foi terminando aos poucos, a cada palavra, a
cada momento.
Agena quer fazer muitas coisas, como um curso de desenho em três dimensões,
mas também se sente impedida pela falta de tempo, pois, na maior parte dele, está
78
Ao final de nosso encontro, senti que Agena enxergou, em minha pesquisa, a
famílias com filhos autistas: deixá-los sob supervisão em uma creche, enquanto os pais
podem realizar outras atividades. Em Belém ainda não possuímos esse serviço.
Diante da fala de Agena, eu pude perceber o quanto nossa cidade ainda está
engatinhando nas ações públicas que atendam a essa demanda da população. Além
disso, também pude perceber em sua fala e em seu olhar o quanto esse projeto pode ser
a base de luta para a implantação de políticas públicas. Não pode ficar engavetado após
soubesse que as mudanças na sua vida dependiam do rumo em que ela mesma
caminharia.
plantão psicológico na semana seguinte e trouxe alguns questionamentos: será que meu
marido tem autismo? Diante disso, eu perguntei por que ela cogitava que ele tivesse
autismo. Ela começou a expressar o comportamento desatencioso dele para com ela. E,
acima de tudo, pude sentir que um suposto diagnóstico de autismo poderia justificar
todos os comportamentos do marido em relação a ela. Era como se, ele sendo autista,
Agena tivesse os motivos para aceitá-lo como é, pois ele teria uma “real” dificuldade.
marido sentia era amor. Pois, por mais que ele expressasse que o era, ela não
79
considerava esse sentimento como amor. Ela olhava para mim em busca de uma
resposta. Procurei fazer com que Agena entrasse em contato com seus sentimentos, para
ela me dizer se era amor o que ele sentia por ela. Mas expressei que de nada adiantaria
saber se é ou não amor o que ele sente, tentando sentir pelo seu marido, pois isso é
Ao final da sessão, Agena chegou à conclusão de que seu marido não a amava.
maneira como fica relaxada durante as sessões, desde nosso primeiro encontro.
pela sua história de vida, com todos os detalhes, riquezas, dores e incompreensões. Eu
não tinha passado por coisas semelhantes às que ela passou, mas eu me coloquei em seu
compreender o que tem acontecido consigo mesma, com seu relacionamento. Havia
vindo ao plantão psicológico, pois o marido pediu que ela se cuidasse, mas ela ainda
80
Uma das grandes dificuldades que Acrux me destacou foi seu ciúme em relação
ao marido. Disse que voltou recentemente com ele, mas que fica com receios dele, tem
bastante ciúme. Para me explicar os motivos desse ciúme, teve que começar pelo início
de sua história com ele e me pediu autorização para expor, ao que respondi que poderia
ficar à vontade para contar o que achava necessário. Ao recontar a sua história com ele,
de dificuldades, era como se um passado de anos ainda tivesse uma importância muito
grande para o modo como visualiza seu marido. Além disso, um passado mais recente
Quando Acrux contava sobre a sua história de vida com o marido, percebi o
conheceram, e descobrindo, posteriormente, alguns hábitos dele que ela não aprovava,
como alcoolismo, traição com uma mulher casada, uso de drogas. E a segunda parte,
quando relatou a aproximação do marido com uma colega de faculdade, com quem
mantinha contato frequentemente, o que aparentava mais do que somente uma amizade.
Ele, por vezes, ficava conversando com a amiga durante as madrugadas, ia para a
faculdade somente quando a amiga ia. Quando Acrux me relatou essas coisas, eu fiquei
pensando onde estava Acrux naquela relação. Por que aceitava tantas coisas que a
desagradavam, o que será que ela falava e como se expressava frente a essa falta de
respeito de seu marido. Eu me coloquei muito no seu lugar e senti o quanto era
dolorido. Ela falou que foi uma fase muito ruim, pois a atenção, que seu marido deveria
direcionar para ela, era fornecida para outra pessoa. Nesse momento, eu disse a Acrux
que não havia passado por essa situação, mas que me colocava no seu lugar e sentia o
81
Acrux havia se separado de seu marido desde julho; atualmente, havia decidido
voltar com ele, mas, ao falar dessas coisas, é como se todo aquele passado voltasse à
tona e fizesse Acrux questionar se realmente ela teria tomado a melhor atitude. Senti
que Acrux, ao relatar o que aconteceu, voltou a viver, novamente, com toda a carga de
Senti que falar sobre aquelas coisas mexiam muito com Acrux. Ela estava se
sentindo muito cansada, destacou o quanto precisava descansar. Destacou também, com
pesar, que não conseguia nem sequer sentar para almoçar calmamente, pois sua filha
não parava, logo, tinha que ficar sempre de prontidão. Por mais que tenha sido ela quem
tivesse eleito sobre o que falar, senti que era necessário que eu sinalizasse o quanto a via
atendimento. Preocupei-me com ela, fiquei com receio de que ela não aguentasse, pois
estava muito cansada. Tenho certeza de que tomei a melhor atitude quando decidi
dias. Perguntou a mim se eu enxergava essa necessidade. Eu senti que era cedo demais
para dizer a ela. Queria escutá-la novamente, e perceber, em uma próxima sessão, as
Hoje, tive uma segunda sessão de atendimento pelo plantão psicológico com
Acrux; perguntei como ela estava e o que me contava, eu estava muito interessada em
saber como ela ficou depois de nosso encontro primeiro encontro. Eu me importei com
82
o bem-estar de Acrux. Ela me disse que estava bem. Senti que nossa primeira sessão
tinha sido muito significativa, pois pôde proporcionar um espaço em que Acrux pôde se
mostrar como é, da forma que quis se mostrar, sem correr o risco de ser alvo de
trabalhados. Ela pode falar de si mesma abertamente. Senti que uma nova Acrux estava
à minha frente.
Nesse encontro, percebi que Acrux não olhava mais para seu marido como no
primeiro encontro, com foco em um passado que se foi, mas o olhava como uma pessoa
que pode se mostrar diferente e que também pode errar. Era como se Acrux estivesse
olhando para seu marido de modo mais realista, sem idealizações, aceitando-o como ele
Acrux estava mais leve, pronta para seguir um caminho de mais solidez. Tinha
Acrux me destacou o quanto os sentimentos que tem por seu marido podem ser
novamente reconstruídos com o tempo. Que tem laços que os unem, que são os filhos.
Acrux destacou que tem uma criança com autismo e que cuidar sozinha de seu
TDAH, é muito difícil, ainda mais quando tem que caminhar com seu filho e com a sua
filha, ao mesmo tempo. Além disso, destacou o quanto era perigoso conciliar o cansaço
corporal com os cuidados com as crianças. Poderiam ocorrer acidentes em casa. Sem
dúvida, eu senti que seu marido era importante para Acrux, mas essa importância
83
também é decorrência da presença dos filhos que os dois tem. Acrux destacou o quanto
pais e mães de crianças com autismo se preocupam com a morte e com a maneira como
seu filho ficará. Nesse sentido, destacou a importância da figura do seu marido para as
crianças.
Acrux estava feliz. Vi que, acima de tudo, ela havia escolhido um caminho e que
estava feliz por este caminho que, com certeza, não é recheado de flores. Mas, como ela
mesma destacou, estava acostumada a lidar com a dor desde pequena. Desde criança,
teve grandes dificuldades com sua mãe, e essas situações colocaram-na em convívio
qual se sentia muito bem, muito feliz. Ela não sabia me descrever bem com o que
sonhou, mas a sensação que teve ao sonhar e que reviveu na sessão é que tudo contribui
uma das pessoas que estava em seu sonho, pois pude ajudá-la nesse processo de
descobertas.
A vida de Arcturus está muito bagunçada, confusa. Sinto que mergulhei nessa confusão
Era como se sua vida tivesse diversas caixas, como ela disse. Ninguém permitia que ela
84
Notei, com isso, que ela precisa começar a falar de modo mais aprofundado.
Precisava mergulhar. Entrei nesse mergulho junto com ela. Depois desse atendimento,
senti muito o que Rogers diz, que o terapeuta deve ser seguro de si para que possa
diversas coisas, mas posso destacar que ela está de luto. Ela mesma expressou isso, que
está de luto pelo fim do seu casamento. Ela não consegue compreender os motivos que
fizeram com que seu marido não quisesse mais estar com ela. Somente sente que ele
ficou diferente quando a mãe dele, sogra da Arcturus, falecera, há pouco tempo.
Mas, mesmo passando por esse luto, parece que não pode vivenciá-lo em toda
sua dimensão, pois seu marido busca mostrar que não é relevante, já que eles, agora, são
amigos.
Arcturus, pelo que percebi, não pode ser, acima de tudo, o que quer ser. Mas
senti que isso também é escolha sua, pois, pelo que percebi, ela sempre, ou geralmente,
prioriza o outro em vez de si mesma. É como se fosse uma grande mãe, acolhendo a dor
do outro, cuidando de seu marido e de sua família como se fossem filhos, sem mostrar
as próprias fragilidades. Senti que é por um receio grande de não ser compreendida, de
Arcturus ama seu marido, expressou isso, e disse o quanto é difícil levar a vida
sem uma família e ter que cuidar sozinha de uma criança com autismo.
85
Logo no início da sessão, chegou a me dizer que teve lembranças de quando era
criança. Lembrou que sofreu um acidente aos oito anos, mas, antes disso, lembrou cenas
de um possível abuso sexual. Fiquei muito tocada por sua história. Disse que chorou
muito na noite dessa lembrança, e seu marido chegou junto, perguntando-lhe o que
tinha. Arcturus disse que nada, que estava bem, e ele, logo em seguida, anunciou a
separação.
Nossa! Como pôde abrir mão de si e deixar de dividir algo com alguém tão
próximo a ela? Por qual motivo não permitiu ser cuidada? Além disso, como seu marido
Arcturus está extremamente confusa, não sabe que caminho seguir, quais
atitudes tomar. É difícil a fase que Arcturus está passando, mas expressei a ela o quanto
é importante não abrir mão de viver seu momento de vida e respeitar seus sentimentos,
muito mais do que tentar teorizar sobre eles, ao se perguntar o que deve ou não deve
fazer.
que estão confusas e as quais, pelo seu modo de se relacionar com a vida, não pode
abrir, com receio. Além disso, estava apenas pincelando comigo. Ela colocou, em
“faculdade” e “casamento”. Logo em seguida, pedi que ela elegesse somente um tema
quanto essa questão está entrelaçada com as outras questões de “trabalho”, “família”
etc.
86
Enfim, Arcturus não saiu com respostas do que deve ou não deve fazer em sua
vida. Mas, acredito, pude oferecer um espaço de escuta atenta e genuína a seu mundo.
Acredito e sinto que fiz um convite, durante o momento em que estivemos juntas, para
que Arcturus mergulhasse em sua história, sem receios e sem medos, e fui junto com ela
melhor seu relacionamento afetivo. Percebi que Canopus vive grandes impasses em um
relacionamento com um homem, não aprovado pela sua família. Ao mesmo tempo,
Senti que o olhar de sua família tem um peso enorme para Canopus. Foi
provocativo: “Quantos anos você tem mesmo?” Falei isso para incentivá-la a pensar, de
modo que ela perceba o quanto ainda tem se comportado como uma criança, que não
pode tomar suas próprias decisões. Sobre essa questão, Canopus também me destacou o
quanto considera que sua família teve uma importância enorme para o fim de seu
que Canopus procurasse organizar um pouco a bagunça que estavam as suas percepções
em relação ao namorado. Pedi que ela colocasse no papel o que considerava bom e o
que considerava que ele precisava melhorar. Foi muito interessante observar o quanto
87
Canopus oscilava em escrever as qualidades e os defeitos do namorado, como se fosse
preocupa em encontrar uma pessoa que seja boa para seu filho, e senti que isso a
emocionou bastante. Ficou bastante emocionada ao falar do filho. Ela mesma disse que
Canopus falou das muitas dificuldades que enfrenta com o ex-marido para que
ele possa ajudá-la financeiramente nos cuidados com seu filho. Ela sabe que ele deveria
dar pensão, caso contrário, seria preso, mas expressa que essa situação seria muito
delicada para toda a família. Diante disso, sinto que Canopus é decidida; ela expressa
que qualquer quantia oferecida pelo pai do Bernardo já será importante. Percebo que ela
Sinto que Canopus é firme para alguns âmbitos de sua vida, enquanto que, em
sinto a necessidade de falar para Canopus a frase “seja feliz”... Eu realmente não sei de
que modo poderia ajudá-la, mas senti uma necessidade grande de fazer isso. Talvez
porque eu sinta que as coisas podem ser visualizadas de uma maneira mais simples por
Canopus, mas respeito o modo pelo qual ela as visualiza e interpreta sua realidade, por
mais que eu não concorde. Sinto que a família exerce um poder enorme sobre Canopus,
88
5.6 – EIXOS TEMÁTICOS
Ao todo, por meio de uma análise atenta às versões de sentido, obteve-se 3 (três)
autismo de seus filhos. Como destaca Monte e Pinto (2015, p. 4) “não existe uma
criança diagnosticada com autismo”. Por meio dos atendimentos realizados no plantão
O luto se dá pela perda de uma criança saudável por que os pais esperavam, o
que desencadeia “sentimentos de desvalia por terem sido escolhidos para viver essa
89
Alves (2012) destaca que existem dois tipos de morte: morte real e morte
simbólica. A morte concreta, segunda esta autora, é quando “uma pessoa morre e
quando ocorrem rupturas durante a vida de uma pessoa. Essas rupturas podem ser as
que cede a vez à velhice.” (ALVES, 2012, p. 90). Ou seja, são diversas mortes que o
indivíduo pode vivenciar durante a vida, inclusive a morte do filho que foi esperado.
Kübler Ross, por meio de seu trabalho com enfermos, identificou cinco estágios
que a pessoa se sente impotente frente à realidade, busca o absoluto por meio de uma
tentativa de negociação com o sagrado, seja por meio de “promessas, trocas, pactos,
etc.” (LIMA NETO, 2012, p. 41). No estágio da depressão, “não é uma melancolia no
valores amados e que serve como facilitadora para a aceitação da morte. É uma espécie
de luto antecipatório.” (LIMA NETO, 2012, p. 41). Por fim, no último estágio,
90
aceitação, é quando ocorre uma maior elaboração sobre a morte e as perdas.
Monte e Pinto (2015) fazem um paralelo dos estágios do luto, propostos por
Kübler-Ross, com o luto vivido pelos pais das crianças diagnosticas com autismo. Neste
receber o diagnóstico de autismo de seu filho, a família vivencia “os estágios de luto,
nos quais gradativamente ela inicia uma desconstrução sobre o ideal de filho perfeito
que aguardava. Essa perda representa algo importante para família, pois não contava
que algo diferente fosse ocorrer, e passa de modo frágil e delicado ao processo de
Quando uma mãe recebe a notícia que seu filho possui diferença significativa em
seu desenvolvimento, a reação é de choque, pois não estão preparadas para serem pai e
mãe de uma criança com dificuldades (MENK, 2007). Com isso, “a constatação de que
desvio gera uma situação de ‘luto’ e ‘crise’, uma vez que ocorre um desequilíbrio entre
o ajustamento necessário e os recursos diversos para lidar com esta situação problema”
Pinto e col. (2016) também destacam tal questão ao afirmar que “o impacto de
luto, inclusive a negação, sendo estas uma adaptação pelas quais perpassam as pessoas
estágio: a esperança. Afinal, segundo essa autora “não está na natureza humana aceitar a
morte sem deixar uma porta aberta para uma esperança qualquer” (KÜBLER-ROSS,
2008, p. 121). Ao observar o processo de luto pelo qual muitos pais de crianças com
91
autismo passam, é possível perceber um processo de ressignificação de vivências, e até
de esperança, contribuindo para que os pais possam ver a vida de outra forma. Nesse
sentido, por meio dos trechos das versões de sentido a seguir, podemos observar essa
“Sinto que a fase que Adara tem passado junto com o marido
tem motivado nela a reflexão sobre a figura de sua mãe. Essa
figura que, durante muito tempo da sua vida, quando moravam
juntas, não foi bem compreendida. Agora, quando Adara é
mulher e mãe, vejo e sinto que ela compreende melhor sua
mãe.” (Adara)
“Só agora ela entende sua mãe” (Adara)
“Ela não sabia me descrever bem com o que sonhou, mas a
sensação que teve ao sonhar e que reviveu na sessão é que tudo
contribui para seu crescimento e amadurecimento.” (Acrux)
Das 6 (seis) pessoas que foram atendidas, 5 (cinco) mulheres falaram das
dificuldades encontradas nos cuidados da sua criança com autismo. Ao mesmo tempo,
cuidado dos pais e/ou cuidadores. Muitas famílias se sentem incapazes diante do grande
desafio que é cuidar de uma criança com tantas necessidades específicas. Muitas
famílias, inclusive, tem que refazer seus planos futuros (SCHIMIDT, 2003).
composta pelo marido e outros filhos, fornece subsídios importantes que ajudam a
92
renunciaram a sua carreira profissional.” Nesse sentido, enquanto muitas mulheres
ficam no ambiente do lar cuidando de seus filhos, seus maridos trabalham com intuito
Schmidt e Bosa (2007), afirma que a mulher é a principal cuidadora dos portadores de
devido a altas demandas de sobrecarga com esses cuidados. Esse alto nível de estresse
pode agravar a saúde física e psicológica dessas mães. Além disso, Maia Filho (2016),
ao citar os referidos autores, ainda destaca alguns outros fatores que estão relacionados
a essas sobrecargas, como: a falta de apoio conjugal, o excesso de cuidados com o filho.
Por meio de estudo conduzido por Milgram e Atzil (1988), citado em Schmidt e
Bosa, 2003, p. 3), podemos notar o quanto essa questão é recorrente. Esses autores
destacam que “as mães tendem a apresentar maior risco de crise e estresse parental que
os pais, devido à demanda dos cuidados com a criança. Conforme estes autores, existe
uma expectativa social de que as mães tomem para si esses cuidados, assumindo-os
Por meio das versões de sentido, abaixo detalhadas é possível observar tais
questões:
93
“Adara, além de cuidar de seu filho, tem grande desejo de se
dedicar mais aos estudos, pois cursa faculdade. Mas as
atividades com seu filho são enormes. Chegou a me dizer que
dorme com a criança, para evitar de acordar o marido durante a
noite.” (Adara)
“Agena quer fazer muitas coisas, como um curso de desenho
em 3d, mas também se sente impedida pela falta de tempo, pois,
a maior parte dele, tá cuidando de seu filho.” (Agena)
“Agena estava decidida a não ficar mais com o companheiro,
pois não gosta mais dele, mas não era simples mudar de rumo.
Envolvia ter independência financeira para alçar voos mais
altos.” (Agena)
Homatidis (1989), que analisaram o nível de suporte conjugal disponível a mães e pais
de crianças com autismo, verificaram que os principais tipos de suporte desejados pelas
mães, em relação aos seus cônjuges, segundo essa pesquisa foram: “1) oportunizar
maior alívio materno quanto aos cuidados da criança com autismo; 2) assumir maior
Senti, por meio dos atendimentos realizados, um grande desejo dessas mães em
mesmo tempo, podemos notar a necessidade dessas mães em dividir outras demandas,
suporte do companheiro.
Tais dificuldades também perpassam pelo sentimento de suporte social vivenciado por
esses pais. Uma das pessoas atendidas no plantão viu na minha pesquisa uma
a mãe/pai não tem com quem deixar sua criança. Nesse sentido, falou da necessidade de
espaços especializados para crianças com autismo, que entenda as suas especificidades
O autismo de suas crianças muitas vezes gera o isolamento social das famílias,
pois “em uma tentativa de poupar os filhos dos olhares discriminatórios ou mesmo da
falta da compreensão por parte das outras pessoas, acabam por restringir-se a ficar em
95
Além disso, as dificuldades na aceitação do diagnóstico também perpassam pela
visão que a sociedade tem em torno do autismo. Ouvi e percebi na fala de alguns pais o
seja, “além das dificuldades devido às pressões internas que acontecem desde o
nascimento da criança, existem também pressões externas, pois a sociedade tem muita
dificuldade de conviver com diferenças, sendo esse talvez um dos principais conflitos
realizado de maneira cautelosa. Muitos pais temem às reações que seus filhos possam
ter diante das pessoas, como “crise, grito, choro, agressões verbais ou físicas e ainda
agitação. Os pais temem que esses comportamentos possam vir à exposição social e de
Além das dificuldades externas, por meio do olhar dos outros, têm-se os
96
geralmente velados, e desconhecidos, que eclodem nesse instante entram em contato
com essa realidade familiar e social” (MONTE & PINTO, 2015, p. 11).
que por ventura seus filhos possam vir a passar. Notei, por meio da fala de um pai, o
quanto ele se coloca no lugar de seu filho, por vezes impedindo que ele possa construir
sua própria história. Ao versar sobre essa questão, Maia Filho et al. (2016, p. 79) cita
Penna (2006) em destaca que “a família que tem esse tipo de reação com sua criança
autista, vive os problemas da criança como se fosse seu, tenta resolver qual, quer
conflito que talvez ela possa enfrentar, pois a criança tem que ter sua própria
97
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio dos encontros realizados com os colaboradores desta pesquisa, foram
Por meio das versões de sentido, é possível notar o quanto fui afetada pelos
e, por vezes uma necessidade de “apenas” serem escutados. Os encontros foram cheios
de disponibilidade e abertura de minha parte, assim como das pessoas que estiveram no
colaboradores. Porém, destaca-se que o autismo foi, sem dúvida, uma temática que
Por meio da escuta aos participantes, foi possível notar que, embora suas
98
É relevante destacar em relação a esse estudo, que não há a pretensão de esgotar
com autismo. Mas ratificar que esse estudo pretende se unir a outras pesquisas, já
psicológico da Casa do Autista. A maioria dos encontros foram curtos, somente uma
Ao mesmo tempo, ratifico minha grande alegria em ser responsável por instaurar
um serviço dessa natureza, além de realizar essa pesquisa nesse espaço, contribuindo
conforme esta pesquisa aponta, são pessoas que sofrem grandes impactos com o
99
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psicologia.pt (O Portal do Psicólogo), Portugal, 2009. Disponível em: <http://www.
psicologia.pt/artigos/textos/TL0140.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2017.
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APÊNDICE
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APÊNDICE 1
Você está sendo convidado a participar como voluntário da pesquisa intitulada “Os sentidos das vivências de cuidadores
de crianças com transtorno do espectro autista assistidos em um Serviço de Plantão Psicológico”, autoria de Diana da Silva Nobre,
mestranda da Pós graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pará, sob orientação da Profª. Drª. Airle Miranda de Souza.
Esta pesquisa tem por objetivo compreender os sentidos das vivências de cuidadores de crianças diagnosticadas com
Transtorno do Espectro Autista atendidos em um Serviço de Plantão Psicológico desenvolvido em uma ONG que presta assistência
a essa população. Para a coleta de dados, será utilizado um roteiro de entrevista em que buscamos conhecer informações referentes
ao cuidador: nome, sexo, idade, cidade origem, bairro, escolaridade, estado civil, número filhos (as), ocupação e com quem divide
os cuidados à criança. Logo após, é solicitado dados da criança: nome, idade, sexo, diagnóstico recebido, tempo de diagnóstico,
tempo de tratamento, tratamento atual. Na segunda parte, por meio de atendimento oferecido por meio de plantão psicológico, nosso
interesse é compreender os sentidos das vivências desses cuidadores.
Os dados fornecidos por você durante a pesquisa, em conjunto com os dos outros participantes, serão utilizados para
elaboração do trabalho dissertativo, relatórios e/ou artigos científicos, e eventualmente, poderá ser divulgado em eventos de caráter
científico e/ou publicações acadêmicas. Você não terá o seu nome revelado e nos comprometemos para que todos os dados
fornecidos, para esta pesquisa, sejam trabalhados de forma a proteger a sua identidade, assegurando sigilo e privacidade e que não
sofrerá qualquer tipo de discriminação e/ou correrá algum tipo de desconforto, prejuízos em decorrência da mesma em todas as
fases da pesquisa. A pesquisa apresenta risco mínimo, pois você poderá optar por falar em coisas de sua vida que causam tristeza,
temores ou aborrecimento. Nestas condições, eu enquanto psicóloga, estarei prestando pronto atendimento psicológico. Caso seja
observado à necessidade de acompanhamento psicológico você será encaminhado a um serviço específico.
Ressaltamos que a pesquisa será realizada com recursos da própria pesquisadora, observando que você não terá despesas
pessoais ou receberá qualquer forma de pagamento pela sua participação nesta pesquisa. Dessa forma, fica garantida sua liberdade
de deixar de participar da pesquisa sem qualquer prejuízo a si mesmo, em qualquer tempo, sem penalização, solicita-se apenas que
informe previamente.
Após ser esclarecido (a), receber informações e aceitar fazer parte deste estudo solicito que você assine este documento
em duas vias, uma via será sua e a outra da pesquisadora, ressaltando que você tem todo o direito em não querer participar deste
estudo, sem nenhum prejuízo ao seu tratamento nesta instituição. Ao final da pesquisa você poderá receber a devolutiva sobre os
seus dados coletados e a qualquer momento, durante a realização da mesma, poderá ter acesso às profissionais responsáveis pela
pesquisa, para esclarecer dúvidas ou obter maiores informações, inclusive sobre os seus dados coletados.
Esclareço que o seu consentimento para participar desta pesquisa é uma pré-condição bioética para a execução de
qualquer estudo envolvendo seres humanos, sob qualquer forma e dimensão, em consonância com a resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde.
Dúvidas, questionamentos e outros esclarecimentos, favor entrar em contato com as pesquisadoras na Universidade
Federal do Pará (UFPA). Programa de Pós-Graduação em Psicologia – PPGP. Telefone: 32017782
Pesquisadora Principal: Diana da Silva Nobre CRP 10/03755 Fone 98193-2402
Pesquisadora Orientadora: Airle Miranda de Souza CRP 00533-2 10 Região Fone: 98862-1121
Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará (CEP-
ICS/UFPA) - Complexo de Sala de Aula/ICS - Sala 13 - Campus Universitário, nº 01, Guamá. CEP: 66.075-110 - Belém-Pará.
Tel/Fax. 3201-7735 E-mail: cepccs@ufpa.br
Participante da pesquisa
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste sujeito para a participação neste
estudo.
Belém, ___/___/_____
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APÊNDICE 2
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Identificação do Cuidador (pai, mãe ou outro):
Nome:
Sexo: ( )M ( )F
Idade:
Cidade origem: Bairro:
Escolaridade:
Estado civil:
Número filhos (as):
Ocupação:
Especificar grau parentesco (pai, mãe ou outro):
Especificar quem é cuidador principal:
Especificar com quem divide os cuidados à criança:
Dados da criança
Nome:
Idade:
Sexo: ( )M ( )F
Diagnóstico recebido:
Tempo de diagnóstico:
Tempo de tratamento e modalidades (médico, psicólogo, outros):
Tempo que é assistido na Casa autista:
Tratamento atual:
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