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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Faculdade de Odontologia
Colegiado de Pós-Graduação em Odontologia

José Gabriel Victor Costa Silva

ASSOCIAÇÃO ENTRE O ESTRESSE PERCEBIDO DOS PAIS E


DISTÚRBIOS DO SONO COM O POSSÍVEL BRUXISMO DO SONO
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA: UM ESTUDO PRELIMINAR

Belo Horizonte
2023
José Gabriel Victor Costa Silva

ASSOCIAÇÃO ENTRE O ESTRESSE PERCEBIDO DOS PAIS E


DISTÚRBIOS DO SONO COM O POSSÍVEL BRUXISMO DO SONO
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA: UM ESTUDO PRELIMINAR

Dissertação apresentada ao Colegiado de Pós-


Graduação em Odontologia da Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial à obtenção do grau
de Mestre em Odontologia - área de concentração
em Odontopediatria.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Raquel Gonçalves Vieira


de Andrade
Coorientador: Prof. Dr. Saul Martins de Paiva

Belo Horizonte
2023
Aos amigos e amigas, especialmente à
Thayana, que continuaram a acreditar em
mim, mesmo quando eu não fui capaz de
fazer o mesmo.
AGRADECIMENTOS

Na minha vida, vivi histórias e passei por caminhos que me levaram


exatamente ao lugar onde estou. Todas as pessoas que conheci, estradas que
percorri, ou os meus maiores sonhos e desejos, têm sua parcela de importância.
Concluir o mestrado acadêmico em Odontologia na Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) é, definitivamente, a realização de um desses sonhos, mas também,
um grande desafio. Nesse percurso, tive ajuda de pessoas maravilhosas, a quem
devo muito, pois tornaram essa trajetória mais fácil e agradável. A vocês, toda minha
gratidão.
À professora Raquel Gonçalves Vieira de Andrade, minha orientadora, por
sua enorme competência ao me guiar na minha formação acadêmica. Você me
inspira a ser e fazer o meu melhor ao mostrar tanta paciência, dedicação, atenção,
carinho, empatia e excelência na realização dos trabalhos que desenvolvemos. A
sua confiança e incentivo foram essenciais no meu desenvolvimento científico.
Ao professor Saul Martins de Paiva, meu coorientador, pelos valiosos
ensinamentos e estímulos que fizeram essa caminhada ser possível. Você é muito
mais que uma grande referência, é um ser humano com um enorme coração, e
trabalhar com você é ter uma bússola, serenidade e firmeza a todo momento.
À professora Júnia Maria Cheib Serra-Negra, pela contribuição intelectual
na realização da nossa pesquisa. Sua sabedoria, generosidade, energia e
descontração são qualidades que muito admiro e me espelho.
À professora Fabiana Vargas Ferreira pelos ensinamentos em
bioestatística e suporte na conclusão da nossa pesquisa. Também agradeço pelo
seu acolhimento, da professora Lia Silva de Castilho, e da equipe discente na clínica
do projeto de extensão “Abordagem Multidisciplinar para indivíduos com Transtorno
de Espectro Autista”, no qual tive uma experiência imprescindível para o
desenvolvimento do presente trabalho.
À professora Ivana Meyer Prado pela atenção e zelo ao avaliar o nosso
projeto de pesquisa. Suas observações foram muito importantes para elevar a
qualidade do nosso estudo.
Às professoras Ana Maria Barros Chaves de Queiroz e Andressa Feitosa
Bezerra de Oliveira, minhas orientadoras de iniciação científica durante a graduação
em Odontologia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Vocês são as maiores
responsáveis pelo meu interesse acadêmico. Tive muita sorte por poder me
desenvolver como pesquisador com professoras tão cuidadosas, sábias e amorosas.
Tenho muito orgulho por fazer parte da família “Histolover” e felicidade por ter
aprendido tanto com minhas “mães científicas”.
Aos professores e professoras do Departamento de Saúde Bucal da
Criança e do Adolescente (SCA) da Faculdade de Odontologia (FAO) da UFMG, e
aos colegas de mestrado e doutorado, pelo incrível acolhimento durante minha
estadia em Belo Horizonte. Reforço esses agradecimentos especialmente à minha
amiga Cristiane Braga, por me fazer sentir como um membro de sua família. Possuo
muito carinho e amor por todos vocês.
Aos amigos de república: Kevin, Edí e Pedro. Nunca esquecerei dos
nossos momentos repletos de alegria e afeto. Estávamos sempre juntos e isso me
marcou com muito amor e felicidade. Sem vocês, Belo Horizonte não seria a mesma.
Aos meus amigos da graduação em Odontologia na UFPB, em especial à
Ayla, Bell, João, Natália, Thaís e Thayana. Vocês são verdadeiros presentes em
minha vida desde 2016.
À minha amiga Alê, por todo amor, parceria e bom gosto. Conviver com
você é receber doses incomparáveis de carinho, sabedoria e acolhimento. Obrigado
por me conhecer como ninguém.
À Cirne, meu namorado, pelo companheirismo, compreensão e amor, que
são combustíveis na minha vida. Dividir a vida com você é ter tranquilidade, carinho
e segurança constantemente. Obrigado por transformar minha vida em um romance
YA regado com amor, comédia e drama.
Ao meu pai, Edilson, por ter acreditado em mim e por contribuir tanto na
realização desse sonho. Sua criatividade e desejo de transformar e melhorar a vida
são características que me inspiram. À minha mãe Selma, pelo suporte e por sempre
desejar o melhor para mim. Vocês dois foram meus primeiros professores e
referências. Obrigado por ajudarem a fazer de mim o que sou.
A todas as crianças e adolescentes, e suas mães, pais e avós,
participantes dessa pesquisa, pela confiança e contribuição.
A equipe do CODEI da FUNAD, pelo acolhimento e por me fazer sentir
como parte da equipe de vocês. A presença de cada um foi fundamental para a
realização desse estudo.
À Universidade Federal de Minas Gerais, instituição pública de ensino
superior internacionalmente reconhecida e de qualidade, por ser uma casa tão
acolhedora. Nos meus meses em Belo Horizonte eu pude “Viver UFMG” e me
apaixonei, inevitavelmente.
A todos aqueles que lutam e trabalham para garantir o desenvolvimento e
qualidade da educação pública e seu acesso por quem assim aspirar,
independentemente de raça, gênero ou classe social.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pelo apoio financeiro.
“Os sonhos servem de válvula de escape para o cérebro sobrecarregado. Possuem
o poder de curar e aliviar.”

Sigmund Freud
RESUMO

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma desordem do neurodesenvolvimento


relacionado a problemas de interação social, dificuldades de comunicação, prática
de comportamentos repetitivos e sensibilidade sensorial. Crianças e adolescentes
com TEA podem apresentar maior ocorrência de problemas de saúde bucal, como o
bruxismo do sono. Existem poucos estudos avaliando o bruxismo do sono nesses
indivíduos, embora seja um problema significante nessa população. Assim, este
estudo tem como objetivo investigar a associação do possível bruxismo do sono
(PBS) em crianças/adolescentes com TEA com o estresse percebido dos
pais/responsáveis e com distúrbios do sono da criança/adolescente. Foi realizado
um estudo transversal com crianças/adolescentes com TEA, de 5 a 19 anos de
idade, e seus pais/responsáveis na Fundação Centro Integrado de Apoio ao
Portador de Deficiência (FUNAD) na Paraíba. Os pais/responsáveis responderam a
um questionário sociodemográfico e de características da criança/adolescente, que
coletou dados sobre escolaridade, grau de parentesco com a criança, renda familiar,
número de filhos, idade e sexo da criança, nível funcional de autismo e uso de
medicamento para o TEA. O PBS foi diagnosticado a partir do relato dos
pais/responsáveis sobre a presença do comportamento de ranger/apertar os dentes
nas crianças/adolescentes durante o sono. A Escala de Estresse Percebido (BPSS-
10) foi utilizada para avaliação do estresse dos pais/responsáveis. O seu escore
total pode variar de 0 a 40 pontos, sendo que quanto maior o escore, maior o
estresse percebido. Também foi empregado o Sleep Disturbance Scale for Children
(SDSC), para investigar possíveis distúrbios do sono nas crianças/adolescentes, que
possui 26 itens, com 5 opções de resposta, sendo que uma maior pontuação no
questionário representa uma maior severidade clínica dos sintomas. O SDSC ainda
classifica os distúrbios do sono em seis categorias: (1) distúrbios de iniciar e manter
o sono; (2) distúrbios respiratórios do sono; (3) distúrbios do despertar; (4) distúrbios
de transição sono-vigília; (5) distúrbios de sonolência excessiva e (6) hiperidrose do
sono. Os dados obtidos foram analisados estatisticamente no programa Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22.0. Foram realizadas análises
descritiva, bivariada e Regressão de Poisson não ajustada e ajustada (RP, IC=95%;
p<0,05). A amostra preliminar do presente estudo foi composta por 50
crianças/adolescentes com TEA, sendo 84% (n=42) do sexo masculino. O PBS em
crianças e adolescentes com TEA foi relatado por 28% (n=14) dos
pais/responsáveis. A média do escore total do estresse percebido dos
pais/responsáveis foi de 20,38 (±8,535) e de 48,84 (±17,552) para distúrbios do sono
da criança/adolescente. O modelo final ajustado da Regressão de Poisson revelou
associação entre o PBS e os maiores escores na Escala de Estresse Percebido dos
pais/responsáveis (RP: 1,05; IC95%: 1,01-1,09; p=0,013); e das categorias de
distúrbios respiratórios do sono (RP: 1,14; IC95%: 1,05-1,24; p=0,002) e de
hiperidrose do sono (RP: 1,15; IC95%: 1,01-1,31; p=0,039) do SDSC. A prevalência
do PBS em crianças e adolescentes com TEA foi de 28% e apresentou associação
com maiores níveis de estresse percebido dos pais/responsáveis, além das
categorias de distúrbios respiratórios do sono e de hiperidrose do sono da
criança/adolescente.
Palavras-chave: transtorno do espectro autista; bruxismo do sono; criança;
adolescente; estresse psicológico; sono.
ABSTRACT

Association between parents’ perceived stress and sleep disturbances with


possible sleep bruxism in children and adolescents with autism spectrum
disorder: a preliminary study

Autism Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder related to social


interaction problems, communication difficulties, repetitive behavior and sensory
sensitivity. Children and adolescents with ASD may have a higher occurrence of oral
health problems, such as bruxism. There are few studies evaluating sleep bruxism in
these individuals, although it is a significant problem in this population. Thus, this
study aims to investigate the association between possible sleep bruxism (PSB) in
children and adolescents with ASD with the parents/guardians’ perceived stress and
with children/adolescents’ sleep disturbances. A cross-sectional study was carried
out with children/adolescents with ASD, aged 5 to 19 years old, and their
parents/guardians at Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de
Deficiência (FUNAD) in Paraíba. Parents/guardians answered a socio-demographic
and child/adolescent’s characteristics questionnaire, which collected data on
schooling, degree of kinship with the child, family income, number of children, age
and sex of the child, functional level of autism and use of medication for ASD. PSB
was diagnosed based on parents/guardians' reports on the presence or absence of
teeth grinding/clenching behavior in children/adolescents during sleep. The
Perceived Stress Scale (BPSS-10) was used to assess the parents/guardians’ stress.
Its total score can vary from 0 to 40 points, and the higher the score, the greater the
perceived stress. The Sleep Disturbance Scale for Children (SDSC) was used to
investigate possible children/adolescents’ sleep disturbances, which has 26 items,
with 5 answer options, with a higher score on the questionnaire representing greater
clinical severity of the symptoms. The SDSC further classifies sleep disturbances into
six categories: (1) disorders of initiating and maintaining sleep; (2) sleep-disordered
breathing; (3) disorders of arousal; (4) sleep-wake transition disorders; (5) disorders
of excessive somnolence and (6) sleep hyperhidrosis. The data obtained were
statistically analyzed using Statistical Package for the Social Sciences (SPSS),
version 22.0. Descriptive, bivariate, and unadjusted and adjusted Poisson
Regression analyzes were performed (PR, CI=95%; p<0.05). The preliminary sample
of the present study was composed by 50 children/adolescents with ASD, 84%
(n=42) male. PSB in children and adolescents with ASD was reported by 28% (n=14)
of parents/guardians. The mean score of parents/guardians’ perceived stress was
20.38 (±8.535) and 48.84 (±17.552) for children/adolescents’ sleep disorders. The
final adjusted Poisson Regression model revealed an association between PSB and
higher scores on the Perceived Stress Scale by parents/guardians (PR: 1.05; 95%CI:
1.01-1.09; p=0.013); and the categories of sleep-disordered breathing (PR: 1.14;
95%CI: 1.05-1.24; p=0.002) and sleep hyperhydrosis (PR: 1.15; 95%CI: 1.01-1 .31;
p=0.039) of the SDSC. The prevalence of PSB in children and adolescents with ASD
was 28% and was associated with parents/guardians’ higher levels of perceived
stress, in addition to the categories of children/adolescents’ sleep-disordered
breathing and sleep hyperhydrosis.
Keywords: autism spectrum disorder; sleep bruxism; child; adolescent; stress,
psychological; sleep.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo teórico do delineamento do estudo transversal ........................... 25


Figura 2 – Localização geográfica de João Pessoa, PB, Brasil ................................ 26
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição da frequência das crianças e adolescentes com Transtorno


do Espectro Autista (TEA) de 5 a 19 anos (n = 50), de acordo com as variáveis do
estudo. João Pessoa, Paraíba, Brasil, 2023 ............................................................. 33
Tabela 2 – Análise descritiva das variáveis quantitativas relativas à escala de
distúrbios de sono em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (n=50), João
Pessoa, Brasil, 2023 ................................................................................................. 34
Tabela 3 – Distribuição e associação das variáveis independentes do estudo com a
presença de possível bruxismo do sono nas crianças e adolescentes com
Transtorno do Espectro Autista (TEA) avaliadas (n=50). João Pessoa, Paraíba,
Brasil, 2023 ............................................................................................................... 35
Tabela 4 – Modelo de Regressão de Poisson para a associação entre possível
bruxismo do sono e as variáveis independentes do estudo (n=50). João Pessoa,
Paraíba, Brasil, 2023 ................................................................................................. 36
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BPSS-10 Escala de Estresse Percebido (versão curta)


BS Bruxismo do Sono
BV Bruxismo em Vigília
CAAE Certificado de Apresentação de Apreciação Ética
CNS Conselho Nacional de Saúde
COEP Comitê de Ética em Pesquisa
CODEI Coordenadoria de Educação Integrada
DP Desvio-padrão
ESP Escola de Saúde Pública da Paraíba
FUNAD Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OMS Organização Mundial da Saúde
PB Paraíba
PBS Possível Bruxismo do Sono
SDSC Sleep Disturbance Scale for Children
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TDAH Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade
TEA Transtorno do Espectro Autista
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
LISTA DE SÍMBOLOS

/ Barra oblíqua
% Porcentual
km2 Quilômetro quadrado
nº Número
= Igual
R$ Reais
< Menor que
> Maior que
≥ Maior ou igual
± Mais ou menos
* Asterisco
µ Micro
£ Libra
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 18

2 REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................... 21


2.1 Bruxismo do sono em crianças e adolescentes ............................................ 21
2.2 Bruxismo do sono em crianças e adolescentes com TEA ............................ 21
2.3 Estresse percebido de pais/responsáveis e TEA ......................................... 22
2.4 Distúrbios do sono em crianças e adolescentes com TEA e bruxismo......... 23

3 OBJETIVOS ................................................................................................. 24
3.1 Objetivo geral ............................................................................................... 24
3.2 Objetivos específicos .................................................................................... 24

4 METODOLOGIA........................................................................................... 25
4.1 Delineamento do estudo ............................................................................... 25
4.2 Local do estudo ............................................................................................ 25
4.3 Considerações éticas ................................................................................... 26
4.4 Universo e amostra....................................................................................... 26
4.4.1 Tamanho da amostra.................................................................................... 27
4.5 Critérios de elegibilidade .............................................................................. 27
4.5.1 Critérios de inclusão ..................................................................................... 27
4.5.2 Critérios de exclusão .................................................................................... 27
4.6 Coleta de dados............................................................................................ 27
4.6.1 Instrumentos de coleta de dados .................................................................. 28
4.6.1.1 Formulário sociodemográfico e características das crianças/adolescentes . 28
4.6.1.2 Escala de Estresse Percebido (BPSS-10) .................................................... 28
4.6.1.3 Sleep Disturbance Scale for Children (SDSC) .............................................. 29
4.6.2 Estudo piloto e treinamento do pesquisador ................................................. 30
4.6.3 Variáveis do estudo ...................................................................................... 30
4.6.3.1 Variável dependente ..................................................................................... 30
4.6.3.2 Variáveis independentes .............................................................................. 30
4.7 Análise dos dados ........................................................................................ 31
4.8 Riscos e benefícios....................................................................................... 32
5 RESULTADOS ............................................................................................. 33

6 DISCUSSÃO ................................................................................................ 38

7 CONCLUSÃO............................................................................................... 41

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 42

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............................ 47

APÊNDICE B – Formulário sociodemográfico e características das


crianças/adolescentes ............................................................................................ 49

ANEXO A – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética ................................. 51

ANEXO B – Escala de Estresse Percebido (BPSS-10) ......................................... 57

ANEXO C – Sleep Disturbance Scale for Children (SDSC) .................................. 58


18

1 INTRODUÇÃO

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma desordem do


neurodesenvolvimento relacionado a problemas de interação social, dificuldades de
comunicação, prática de comportamentos repetitivos e sensibilidade sensorial
(ÖNOL; KIRZIOĞLU, 2018; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE [OMS], 2019).
Segundo Zeidan et al. (2022), uma a cada 100 crianças no mundo possuem o TEA.
Nos Estados Unidos da América, entretanto, a prevalência estimada é de que uma a
cada 59 crianças são afetadas pelo TEA (HODGES; FEALKO; SOARES, 2020).
Apesar da realização de vários estudos epidemiológicos envolvendo o TEA em
diversos países, no Brasil, ainda não existem dados consensuais sobre a sua
prevalência. No entanto, em um estudo piloto sobre a prevalência de transtornos
globais do desenvolvimento, realizado em uma cidade do estado de São Paulo, foi
observada uma prevalência de 27,2/10.000 (PAULA et al., 2011).
A gravidade do TEA pode ser categorizada em níveis e se fundamenta
nos impactos observados na comunicação e padrões de comportamento do
indivíduo, podendo ser: nível 1 (leve), nível 2 (moderado) ou nível 3 (severo)
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Algumas condições estão
associadas ao TEA, como a depressão, ansiedade e o transtorno do déficit de
atenção/hiperatividade (TDAH) (OMS, 2019). Além disso, a maior ocorrência de
problemas de saúde bucal em crianças com TEA é relatada na literatura, sendo
mencionada a associação com a cárie dentária, alterações no estado periodontal e
na microbiota oral, traumatismos dentários, má oclusão e bruxismo (FERRAZZANO
et al., 2020; NASCIMENTO et al., 2021).
O bruxismo pode ser definido como “bruxismo do sono” (BS) quando a
atividade dos músculos mastigatórios acontece durante o sono, e como “bruxismo
em vigília” (BV) quando essa atividade ocorre durante o estado de vigília
(LOBBEZOO et al., 2018). No último consenso internacional do bruxismo, foi
estabelecida uma classificação para o bruxismo para fins clínicos e de pesquisa em
três categorias, sendo elas: (1) possível bruxismo, quando o diagnóstico se baseia
na avaliação do autorrelato através de questionários; (2) provável bruxismo, a partir
dos achados clínicos compatíveis com o bruxismo (desgaste dentário, linha alba,
indentação em língua e hipertrofia dos músculos mastigatórios), com ou sem
autorrelato; e (3) bruxismo definitivo, quando a avaliação instrumental, através do
19

exame de polissonografia, é positiva, com ou sem autorrelato e/ou achados clínicos


compatíveis (LOBBEZOO et al., 2018).
A prevalência do BS na infância varia de 3,5% a 40,6% com a redução da
prevalência de acordo com o aumento da idade (MANFREDINI et al., 2013). Em
crianças com TEA, o bruxismo destaca-se como um problema significante
(FERRAZZANO et al., 2020), sendo reportadas prevalências dessa condição de
73% segundo Bagattoni et al. (2021) e de 54,7% segundo Al-Sehaibany (2017).
O ambiente familiar também pode ser elencado como um fator
desencadeante do bruxismo do sono em crianças e adolescentes, tendo em vista
que o estresse da mãe é mencionado como influência para o aumento da
prevalência do provável bruxismo do sono em crianças escolares (DRUMOND et al.,
2020). Além disso, as relações familiares também são destacadas na literatura, na
qual estudos apontam que possuir pais divorciados está associado a ocorrência do
bruxismo do sono em crianças (LEAL et al., 2023; ROSSI; MANFREDINI, 2013).
Observa-se também na literatura o relato da influência de distúrbios do
sono no provável bruxismo do sono, tendo em vista a maior prevalência deste
comportamento nas crianças com distúrbios do sono (LEAL et al., 2023). Da mesma
forma, no estudo conduzido por Us e Us (2021), percebeu-se que as crianças com
bruxismo apresentavam dificuldades para acordar e sair da cama, bem como
demoravam mais para acordar pela manhã. Os distúrbios do sono são alterações no
funcionamento fisiológico do sono (FERBER, 1996) e evidencia-se uma maior
quantidade de relatos familiares de distúrbios de sono em crianças com TEA
(COUTURIER et al., 2005).
A literatura mostra que o bruxismo do sono é uma das condições bucais
observadas em crianças e adolescentes com TEA (FERRAZZANO et al., 2020). No
entanto, existem poucos relatos sobre a prevalência desse comportamento nesse
grupo de indivíduos. Além disso, a investigação da associação conjunta do estresse
percebido dos pais/responsáveis e distúrbios do sono da criança/adolescente com o
possível bruxismo do sono (PBS) em crianças e adolescentes com TEA, pode
aprimorar conhecimento sobre a ocorrência desse comportamento nesses
indivíduos, assim como pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias de
prevenção, gerenciamento e diminuição da frequência do bruxismo na população
infantil com TEA.
20

Portanto, o objetivo do presente estudo foi analisar a associação do PBS


em crianças e adolescentes com TEA com características sociodemográficas,
características da criança/adolescente, estresse percebido dos pais/responsáveis e
distúrbios do sono da criança/adolescente.
21

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Bruxismo do sono em crianças e adolescentes


O BS é caracterizado como um comportamento de atividade dos
músculos mastigatórios durante o sono (LOBBEZOO et al., 2018). Para a sua
avaliação, podem ser empregadas abordagens não-instrumentais, com a aplicação
de questionário para o autorrelato ou, no caso de crianças, o relato dos
pais/responsáveis, sendo atribuída assim, a categoria de PBS (LOBBEZOO et al.,
2018).
A ocorrência do BS em crianças e adolescentes pode estar relacionada a
grandes níveis de responsabilidade, estresse e fatores psicológicos e sociais,
ambiente familiar e distúrbios do sono, sendo um possível fator de risco para
algumas consequências clínicas, como desgaste dentário, disfunções
temporomandibulares e injúrias ao periodonto (AL-SEHAIBANY, 2017; DRUMOND
et al., 2018; DRUMOND et al., 2020; LEAL et al., 2023; LOBBEZOO et al., 2018;
MANFREDINI et al., 2017; RAPHAEL; SANTIAGO; LOBBEZOO, 2016; US; US,
2021; VIEIRA-ANDRADE et al., 2014).
Estudos científicos mostram prevalências do PBS variando entre 15% a
17,6% em crianças e adolescentes (ALMEIDA et al., 2022; CARRA et al., 2011).
Entretanto, uma revisão sistemática destaca uma grande variabilidade da
prevalência desse comportamento em crianças e adolescentes (3,5%-40,6%), em
virtude da diferença de faixas etárias nos estudos incluídos (MANFREDINI et al.,
2013). Além disso, observa-se a associação de enxaqueca, baixa qualidade de
sono, ronco e uso de aparelhos ortodônticos fixos com a ocorrência do bruxismo do
sono em crianças e adolescentes (PRADO et al., 2018; SOARES et al., 2020). Ainda
assim, vale salientar o envolvimento de fatores biológicos na etiologia do bruxismo,
alguns neurotransmissores como a dopamina, por exemplo, sendo sugerido também
que, durante a infância, a ocorrência desse comportamento está relacionada a
maturação fisiológica no sistema nervoso central (MANFREDINI et al., 2017).

2.2 Bruxismo do sono em crianças e adolescentes com TEA


Estudos comparativos mostram que a prevalência de bruxismo é maior
em crianças e adolescentes com TEA do que naquelas sem TEA, embora o motivo
para esse achado não seja completamente explicado (AL-SEHAIBANY, 2017; EL
22

KHATIB et al., 2014; HASELL; HUSSAIN; SILVA, 2022; ÖNOL; KIRZIOĞLU, 2018).
Em adição, a ocorrência do bruxismo do sono possui origem multifatorial e é
associada a condições psicológicas como o estresse (AHLBERG et al., 2013;
DRUMOND et al., 2020; LOBBEZOO et al., 2018).
Uma maior frequência do bruxismo em crianças com TEA que iniciaram a
educação especial após os três anos de idade é apontada na literatura (ÖNOL;
KIRZIOĞLU, 2018). Evidências sugerem que quanto mais tardiamente ocorre o
diagnóstico do TEA, mais tardiamente também se inicia a educação especial que
tem efeitos positivos na eliminação do bruxismo (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 2014; ÖNOL; KIRZIOĞLU, 2018). Assim, a educação em saúde
bucal para essas crianças e o apropriado esclarecimento e conscientização do
núcleo familiar devem ser fomentados o quanto antes, mas também é fundamental
que os dentistas responsáveis pelo tratamento desses indivíduos possuam o
conhecimento em técnicas de educação especial, bem como bons equipamentos e
instalações (ÖNOL; KIRZIOĞLU, 2018). Desse modo, ressalta-se a maior demanda
de esforço na assistência odontológica de crianças com TEA, tendo em vista a
natureza de suas condições neurológicas e os problemas bucais associados (ÖNOL;
KIRZIOĞLU, 2018; SANTOSH et al., 2021).

2.3 Estresse percebido de pais/responsáveis e TEA


A percepção cognitiva de perda de controle, manifestada em reações
físicas e psicológicas, pode ser definida como estresse (DRUMOND et al., 2020).
Wang et al. (2021) apontam a influência negativa do estresse percebido na
qualidade de vida de pais. Para Cohen, Kamarck e Mermelstein, (1983) mensurar o
estresse percebido proporciona avaliar o aumento do risco para doenças, tanto
físicas quanto psicológicas, associadas com a ocorrência de eventos estressantes
facilmente identificáveis. Assim, sabendo da influência do núcleo familiar na
ocorrência de bruxismo do sono em crianças (DRUMOND et al., 2020), observa-se
na literatura que pais e responsáveis de crianças com TEA apresentam maiores
níveis de estresse (NIK ADIB et al., 2019; SIPOWICZ et al., 2022).
Segundo Di Renzo et al. (2020), os maiores níveis de estresse percebido
de pais de crianças com TEA estão relacionadas às dificuldades comportamentais e
de regulação emocional das crianças. Para os autores, esse dado reflete um ciclo
vicioso, no qual as dificuldades da criança elevam o estresse dos pais, que, por sua
23

vez, têm as capacidades resolutivas e de compreensão dos problemas da criança


minimizadas (DI RENZO et al., 2020).

2.4 Distúrbios do sono em crianças e adolescentes com TEA e bruxismo


Estudos científicos apontam a maior ocorrência de distúrbios do sono em
crianças e adolescentes com TEA bem como a sua repercussão no núcleo familiar,
de forma que os pais apresentam maiores níveis de estresse e problemas de saúde
mental (JOHNSON; ZARRINNEGAR, 2021; MANNION; LEADER, 2023). Além disso,
em estudo recente, Mannion e Leader (2023) destacam que as crianças com TEA
que apresentam distúrbios do sono, possuem pais com mais distúrbios do sono,
ansiedade e pior qualidade de vida. Acrescenta-se que a ocorrência de distúrbios do
sono, além do estado civil dos pais/responsáveis influenciam a presença do provável
bruxismo do sono em crianças de 8 a 10 anos de idade (LEAL et al., 2023).
Em adição, observa-se uma maior frequência de distúrbios do sono em
crianças e adolescentes que possuíam bruxismo do sono, tais como dificuldade para
acordar e sensação de cansaço durante a manhã, maior sonolência diurna e
dificuldade para adormecer (CARRA et al., 2011). Considerando o que já foi
argumentado, é possível esperar um cenário semelhante no grupo de crianças e
adolescentes com TEA.
24

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral


Investigar a associação do PBS em crianças e adolescentes com TEA
com características sociodemográficas, características da criança/adolescente,
estresse percebido dos pais/responsáveis e distúrbios do sono da
criança/adolescente.

3.2 Objetivos específicos


• Verificar a prevalência do PBS em crianças e adolescentes com TEA;
• Analisar a associação entre os fatores sociodemográficos (escolaridade,
estado civil dos pais/responsáveis, renda familiar e número de filhos) com
a ocorrência do PBS em crianças e adolescentes com TEA.
• Analisar a associação entre as características da criança (sexo, idade,
nível funcional de autismo, uso de medicamento para o TEA) com a
ocorrência do PBS em crianças e adolescentes com TEA.
• Analisar a associação entre o estresse percebido dos pais/responsáveis
(avaliado através da Escala de Estresse Percebido) com a ocorrência do
PBS em crianças e adolescentes com TEA;
• Analisar a associação entre distúrbios do sono (avaliados através do
Sleep Disturbance Scale for Children) com o PBS nas crianças e
adolescentes com TEA.
25

4 METODOLOGIA

4.1 Delineamento do estudo


Para alcançar os objetivos propostos, foi realizado um estudo
observacional transversal (FIGURA 1).

Figura 1 – Modelo teórico do delineamento do estudo transversal

Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

4.2 Local do estudo


O estudo foi desenvolvido na Fundação Centro Integrado de Apoio ao
Portador de Deficiência (FUNAD), que é um Órgão da Secretaria de Estado da
Educação do Governo do Estado da Paraíba (PB). A FUNAD foi criada em 1989 e
realiza cerca de 10 mil atendimentos mensais, sendo um centro de referência na
habilitação e reabilitação às pessoas com deficiências física, intelectual, visual e
auditiva, contando com uma equipe de atendimento multidisciplinar (GOVERNO DA
PARAÍBA, 2019). Segundo informações da FUNAD, dos mais de 6 mil usuários
atendidos na instituição, aproximadamente 400 delas são crianças e adolescentes
26

com TEA. A FUNAD está localizada no município de João Pessoa, cidade localizada
no litoral paraibano e capital do estado (FIGURA 2). João Pessoa possui uma área
de 210.044 km2 e população estimada em 833.932 habitantes (IBGE, 2023).

Figura 2 – Localização geográfica de João Pessoa, PB, Brasil.

Fonte: ABREU, 2018.

4.3 Considerações éticas


O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (COEP)
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte – MG, e
aprovado pelo seguinte número do Certificado de Apresentação de Apreciação Ética
(CAAE) 65160022.3.0000.5149 (ANEXO A).
Em acordo à resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº
466/2012, foi apresentado por escrito o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) (APÊNDICE A) para os pais/responsáveis que participaram desta pesquisa.

4.4 Universo e amostra


O universo deste estudo foi composto pelas crianças/adolescentes com
TEA, assistidas pela FUNAD, e seus pais/responsáveis.
27

4.4.1 Tamanho da amostra


Nesse estudo, foi utilizada uma amostra por conveniência, a partir do
universo de crianças e adolescentes com TEA atendidos na FUNAD (n=400). Desse
modo, foi realizado o cálculo amostral de proporções para populações finitas,
levando em conta os seguintes critérios:
a) provável frequência de 54,7% do bruxismo (do sono e/ou em vigília)
(AL-SEHAIBANY, 2017);
b) limite de confiança de 5%;
c) intervalo de confiança de 95%;
d) poder do teste de 80%;
e) acréscimo de 10% para possíveis perdas.
Assim, a amostra total desejável para o estudo transversal deve ser
composta por 214 crianças/adolescentes com TEA e seus pais/responsáveis.

4.5 Critérios de elegibilidade

4.5.1 Critérios de inclusão


Foram incluídas no estudo, as crianças e adolescentes com TEA, de 5 a
19 anos, assistidos pela FUNAD, e seus pais/responsáveis, que residiam na mesma
casa.

4.5.2 Critérios de exclusão


Foram excluídos da amostra, as crianças e adolescentes com TEA que
apresentassem outras alterações sistêmicas associadas (síndromes e outras
alterações neurológicas), além daquelas que estivessem submetidas a tratamento
ortodôntico, a partir do relato dos pais/responsáveis.

4.6 Coleta de dados


O recrutamento dos participantes foi realizado a partir do atendimento das
crianças/adolescentes cadastradas na FUNAD em João Pessoa (PB). Para a
realização do estudo transversal, os dados foram coletados pela aplicação de
formulários e questionários aos pais/responsáveis pelas crianças e adolescentes no
formato de entrevista face a face.
28

4.6.1 Instrumentos de coleta de dados


Os dados sociodemográficos e as características das crianças, além da
avaliação do PBS foram coletados através de formulário individual (APÊNDICE B).
Foi aplicado a versão curta brasileira do questionário Escala de Estresse Percebido
(BPSS-10) (COHEN; KAMARCK; MERMELSTEIN, 1983; LUFT et al., 2007) para
mensurar o estresse percebido dos pais/responsáveis das crianças e adolescentes
participantes (ANEXO B) além da versão brasileira do questionário Sleep
Disturbance Scale for Children (SDSC) (BRUNI et al., 1996; FERREIRA et al., 2009)
para avaliação de distúrbios do sono nas crianças e adolescentes (ANEXO C).

4.6.1.1 Formulário sociodemográfico e características das crianças/adolescentes


O formulário sociodemográfico e de características das
crianças/adolescentes (APÊNDICE B) foi idealizada pelos pesquisadores envolvidos
neste estudo, onde foram solicitados aos pais/responsáveis dados da
criança/adolescente (idade, sexo, nível funcional de autismo, PBS e uso de
medicamento para o TEA) e sociodemográficos (escolaridade, grau de parentesco
com a criança, renda familiar e número de filhos).
O possível bruxismo (do sono) foi o critério de diagnóstico empregado
neste estudo (LOBBEZOO et al., 2018). Desse modo, os pais/responsáveis
relataram a presença ou ausência do comportamento de ranger/apertar os dentes
nas crianças e adolescentes durante o sono (CARRA; HUYNH; LAVIGNE, 2012;
LOBBEZOO et al., 2018).

4.6.1.2 Escala de Estresse Percebido (BPSS-10)


A Escala de Estresse Percebido é um instrumento fácil e de aplicação
prática, elaborado por Cohen, Kamarck e Mermelstein (1983) que busca mensurar o
estresse percebido dos pais/responsáveis nos últimos 30 dias.
Essa escala, na sua forma abreviada com 10 perguntas (BPSS-10), é
capaz de examinar o papel do estresse na etiologia de doenças e transtornos de
comportamento (COHEN; KAMARCK; MERMELSTEIN, 1983). Luft et al. (2007)
traduziram e validaram a Escala de Estresse Percebido para o português brasileiro,
que apresentou resultados satisfatórios e confiabilidade para avaliação.
As perguntas do BPSS-10 (ANEXO B) possuem 5 opções de resposta
que variam em um escore de 0 a 4 pontos, sendo: Nunca = 0; Quase nunca = 1; Às
29

vezes = 2; Quase sempre = 3; Sempre = 4. O escore total do BPSS-10 pode variar


de 0 a 40 pontos. Para os itens positivos (4, 5, 7 e 8) a pontuação é invertida e
somada à pontuação dos itens negativos (1, 2, 3, 6, 9 e 10) (COHEN; KAMARCK;
MERMELSTEIN, 1983). No presente estudo, o escore total da Escala de Estresse
Percebido foi levado em consideração nas análises estatísticas, sendo que quanto
maior o escore total do questionário, maior o estresse percebido dos
pais/responsáveis.

4.6.1.3 Sleep Disturbance Scale for Children (SDSC)


O SDSC foi desenvolvido por Bruni et al. (1996) e traduzido e validado
para o português por Ferreira et al. (2009). O SDSC (ANEXO C) é considerado um
instrumento fácil e de rápida aplicação que pretende examinar possíveis distúrbios
do sono durante a infância e adolescência, distribuindo-os em seis categorias: (1)
distúrbios de iniciar e manter o sono; (2) distúrbios respiratórios do sono; (3)
distúrbios do despertar; (4) distúrbios de transição sono-vigília; (5) distúrbios de
sonolência excessiva e (6) hiperidrose do sono, que é o suor excessivo durante o
sono (BRUNI et al., 1996; FERREIRA et al., 2009).
O SDSC possui 26 itens, com 5 opções de resposta, cada uma com um
escore específico: Nunca = 1; Ocasionalmente = 2; Algumas vezes = 3; Quase
sempre = 4; Sempre = 5. Uma maior pontuação representa uma maior severidade
clínica dos sintomas para a presença de distúrbios do sono (BRUNI et al., 1996). As
perguntas do questionário estão distribuídas para cada categoria de distúrbio do
sono da seguinte forma: (1) distúrbios de iniciar e manter o sono – itens 1, 2, 3, 4, 5,
10 e 11; (2) distúrbios respiratórios do sono – itens 13, 14 e 15; (3) distúrbios do
despertar – itens 17, 20 e 21; (4) distúrbios de transição sono-vigília – itens 6, 7, 8,
12, 18 e 19, (5) distúrbios de sonolência excessiva – itens 22, 23, 24, 25 e 26, e (6)
hiperidrose do sono – itens 9 e 16.
O questionário foi respondido pelos pais/responsáveis das crianças e
adolescentes participantes do estudo. Nas análises estatísticas deste trabalho,
foram considerados os escores totais de cada categoria de distúrbio do sono, além
do escore total do questionário, sendo que quanto maior o escore, maior o impacto
dos distúrbios do sono naquele indivíduo.
30

4.6.2 Estudo piloto e treinamento do pesquisador


Foi realizado um estudo piloto com 10% da amostra, para a condução das
entrevistas e aplicação dos questionários, isto é, 21 crianças/adolescentes com TEA
e seus pais/responsáveis. Como nenhuma alteração metodológica foi necessária, as
crianças do estudo piloto foram incluídas na amostra preliminar. O pesquisador
responsável foi previamente treinado para a abordagem durante as entrevistas.

4.6.3 Variáveis do estudo

4.6.3.1 Variável dependente


A variável dependente do presente estudo foi o PBS nas
crianças/adolescentes com TEA, categorizado como presente ou ausente, de acordo
com o relato dos pais/responsáveis.

4.6.3.2 Variáveis independentes


As variáveis independentes analisadas estão elencadas a seguir:
a) fatores sociodemográficos:
⎯ estado civil dos pais/responsáveis, categorizado em “pais
separados” ou “pais juntos”;
⎯ escolaridade dos pais, categorizada em “ensino médio incompleto
ou inferior” ou “ensino médio completo ou superior”;
⎯ renda mensal familiar, categorizada em “menor que dois salários
mínimos” ou “igual ou maior que dois salários mínimos”,
considerando o valor do salário mínimo brasileiro no momento da
coleta de dados de R$ 1.302,00 (mil trezentos e dois reais);
⎯ número de filhos, categorizado em “filho único” ou “dois ou mais
filhos”.
b) características da criança:
⎯ sexo, categorizado em “masculino” ou “feminino”;
⎯ idade da criança/adolescente, categorizada por tercil, nas faixas
etárias de “5 a 8 anos”, “9 a 11 anos” ou “12 a 19 anos”;
⎯ nível funcional de autismo, categorizado em “leve” ou
“moderado/severo”;
31

⎯ uso de medicamento para o TEA categorizado como “sim” ou


“não”.
c) estresse percebido dos pais/responsáveis:
⎯ escore total do questionário.
d) distúrbios do sono:
⎯ escore total por categoria de distúrbio do sono;
⎯ escore total do questionário.

4.7 Análise dos dados


Os dados obtidos foram digitados e organizados em um banco, utilizando-
se o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22.0. O
processamento incluiu codificação, digitação e edição dos dados. Esse processo foi
realizado por uma única pessoa que conferiu a digitação após a sua realização.
Cada envelope contendo os dados de cada participante recebeu um número
correspondente no banco de dados.
Foram realizadas as seguintes análises:
a) análise descritiva das frequências absolutas e relativas de todas as
variáveis em estudo;
b) teste de Shapiro-Wilk para avaliar a normalidade da distribuição dos
dados quantitativos;
c) teste T para amostras independentes para comparação entre os grupos
(com e sem PBS) com o escore total do questionário de estresse
percebido dos pais/responsáveis;
d) teste de Mann Whitney para comparação entre os grupos (com e sem
PBS) com os escores de cada domínio e do escore total do
questionário de distúrbios do sono;
e) teste Qui-quadrado, teste Exato de Fisher e teste de tendência linear
para comparação entre os grupos (com e sem PBS) com cada uma das
variáveis dicotômicas/categóricas do estudo;
f) regressão de Poisson univariada com variância robusta para identificar
a associação independente entre o PBS e cada uma das variáveis
independentes do estudo;
32

g) análise multivariada de Regressão de Poisson para verificar a


associação combinada entre variáveis que apresentaram valor de
p<0,20 na regressão univariada e o PBS.
O nível de significância considerado foi de 5% o intervalo de confiança de
95%. Foi considerada hipótese nula a inexistência de associação entre as variáveis.
Esta hipótese foi considerada falsa quando o valor p≤0,05.

4.8 Riscos e benefícios


Os riscos envolvidos com este estudo foram relacionados ao
constrangimento e/ou desconforto dos pais/responsáveis durante a aplicação dos
questionários. O risco de constrangimento foi amenizado com a entrevista feita em
sala individual e não identificação do indivíduo durante a divulgação dos dados da
pesquisa. Caso, ainda assim, o participante se sentisse incomodado, em qualquer
momento da realização da pesquisa, a avaliação seria imediatamente interrompida.
Todas as crianças e seus pais/responsáveis receberam orientações de
saúde bucal. Os pais/responsáveis das crianças e adolescentes que fossem
identificados com estresse ou distúrbios do sono, receberam orientações para os
serviços de saúde públicos disponíveis.
Os resultados obtidos por esta pesquisa serão submetidos em periódicos
para divulgação na comunidade científica e não permitirão a identificação dos
participantes.
33

5 RESULTADOS

A amostra preliminar do presente estudo foi composta por 50


crianças/adolescentes com TEA, sendo 84% (n=42) do sexo masculino e 16% (n=8)
do sexo feminino. O PBS em crianças e adolescentes com TEA foi relatado por 28%
(n=14) dos pais/responsáveis. Um total de 56% (n=28) dos pais/responsáveis viviam
juntos e 54% (n=27) apresentavam escolaridade equivalente ao ensino médio
completo ou superior. Além disso, 70% (n=35) da amostra possuíam renda familiar
abaixo de dois salários mínimos, e 62% (n=31) dos pais/responsáveis afirmaram
possuir dois ou mais filhos. Quanto às características das crianças e adolescentes,
56% (n=28) possuíam nível funcional de autismo leve. O uso de medicamentos para
o TEA foi relatado em 70% (n=35) indivíduos. A média do escore total do estresse
percebido dos pais/responsáveis foi de 20,38 (±8,535) e a média do escore total de
distúrbios do sono foi de 48,84 (±17,552). Os demais dados descritivos da amostra
estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Distribuição da frequência das crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro


Autista (TEA) de 5 a 19 anos (n = 50), de acordo com as variáveis do estudo. João Pessoa, Paraíba,
Brasil, 2023.
Variáveis Frequência n (%)
Variável dependente
Possível Bruxismo do Sono
ausente 36 (72,0)
presente 14 (28,0)

Variáveis independentes
Condições socioeconômicas
Estado civil dos pais/responsáveis
pais juntos 28 (56,0)
pais separados 22 (44,0)
Escolaridade dos pais/responsáveis
ensino médio completo ou superior 27 (54,0)
ensino médio incompleto ou inferior 23 (46,0)
Renda familiar
≥ dois salários mínimos 15 (30,0)
< dois salários mínimos 35 (70,0)
Número de filhos
filho único 19 (38,0)
dois ou mais filhos 31 (62,0)

Características da criança/adolescente
Idade
5 a 8 anos 17 (34,0)
9 a 11 anos 17 (34,0)
12 a 19 anos 16 (32,0)
Sexo
34

feminino 8 (16,0)
masculino 42 (84,0)
Nível funcional de autismo
leve 28 (56,0)
moderado/severo 22 (44,0)
Uso de medicamento para o TEA
não 15 (30,0)
sim 35 (70,0)

Estresse percebido dos pais/responsáveis


Estresse percebido (BPSS-10)
escore total 20,38 (±8,535)*

TEA: Transtorno do Espectro Autista; BPSS-10: Escala de Estresse Percebido (versão curta).
* Dados expressados em média (desvio-padrão).
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

A Tabela 2 descreve as métricas do SDSC, onde o escore total do


questionário (distúrbios do sono) variou de 28 até 121 pontos. Metade da amostra
teve pontuação de até 43,50 pontos. O escore dos distúrbios de iniciar e manter o
sono variou de 5 até 25 pontos, sendo a média e desvio padrão (DP) de 9,74 e
(±5,14) pontos. O escore relativo aos distúrbios respiratórios do sono variou de 3 até
13 pontos (4,82; DP: ±2,52). Para a variável distúrbios do despertar, a mediana
(P25-P75) foi de 5,00 (3,00-7,00) pontos. A variável dos distúrbios de transição
sono-vigília apresentou variação de 6 até 30 pontos (11,8; DP:±5,76). Para os
distúrbios de sonolência excessiva, a pontuação variou de 5 até 25 pontos (8,30;
DP:±3,91). Já na hiperidrose do sono, metade da amostra teve pontuação de até 2
pontos.

Tabela 2 – Análise descritiva das variáveis quantitativas relativas à escala de distúrbios de sono em
indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (n=50), João Pessoa, Brasil, 2023.
Variáveis (escores) Média DP Min P25 P50 P75 Max
Distúrbios do sono 48,84 17,55 28 36,75 43,50 59,00 121
Distúrbios de iniciar e manter o sono 9,74 5,14 5 5,00 9,00 12,25 25
Distúrbios respiratórios do sono 4,82 2,52 3 3,00 3,00 6,25 13
Distúrbios do despertar 5,46 2,72 3 3,00 5,00 7,00 15
Distúrbios de transição sono-vigília 11,80 5,76 6 6,00 11,50 14,00 30
Distúrbios de sonolência excessiva 8,30 3,91 5 5,00 7,00 10,00 25
Hiperidrose do sono 4,46 3,07 2 2,00 2,00 7,00 10
DP: desvio-padrão
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

A Tabela 3 apresenta a distribuição e associação das variáveis


independentes do estudo com o PBS. A média do escore total do questionário SDSC
35

foi maior no grupo de crianças/adolescentes com PBS (32,50) do que no grupo sem
PBS (22,78), sendo essa diferença estatisticamente significativa (p=0,034). Além
disso, maiores médias também foram observadas para crianças com PBS nas
categorias do questionário relacionadas aos distúrbios respiratórios do sono
(p=0,015) e distúrbios de sonolência excessiva (p=0,014).

Tabela 3 – Distribuição e associação das variáveis independentes do estudo com a presença de


possível bruxismo do sono nas crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
avaliadas (n=50). João Pessoa, Paraíba, Brasil, 2023.
Possível Bruxismo do Sono
Ausente Presente valor de
Variáveis independentes
n (%) n (%) p
Condições socioeconômicas
Estado civil dos pais/responsáveis
pais juntos 23 (82,1) 5 (17,9)
0,072*
pais separados 13 (59,1) 9 (40,9)
Escolaridade dos pais/responsáveis
ensino médio completo ou superior 19 (70,4) 8 (29,6)
0,781*
ensino médio incompleto ou inferior 17 (73,9) 6 (26,1)
Renda familiar
≥ dois salários mínimos 11 (73,3) 4 (26,7)
1,000**
< dois salários mínimos 25 (71,4) 10 (28,6)
Número de filhos
filho único 15 (78,9) 4 (21,1)
0,522**
dois ou mais filhos 21 (67,7) 10 (32,3)

Características da criança/adolescente
Idade
5 a 8 anos 10 (58,8) 7 (41,2)
9 a 11 anos 13 (76,5) 4 (23,5) 0,153***
12 a 19 anos 13 (81,2) 3 (18,8)
Sexo
feminino 6 (75,0) 2 (25,0)
0,837**
masculino 30 (71,4) 12 (28,6)
Nível funcional de autismo
leve 20 (71,4) 8 (28,6)
0,919*
moderado/severo 16 (72,7) 6 (27,3)
Uso de medicamento para o TEA
não 12 (80,0) 3 (20,0)
0,507**
sim 24 (68,6) 11 (31,4)

Estresse percebido dos pais/responsáveis (BPSS-10) n=36 n=14


escore totala 19,22 (±8,563) 23,36 (±7,996) 0,125£

Escala de distúrbios do sono para crianças (SDSC)


Escore total do SDSCa 22,78 32,50 0,034µ
Distúrbios de iniciar e manter o sono
escore totala 25,19 26,29 0,809 µ
Distúrbios respiratórios do sono
escore totala 22,65 32,82 0,015 µ
Distúrbios do despertar
escore totala 24,67 27,64 0,503 µ
Distúrbios de transição sono-vigília
escore totala 23,54 30,54 0,123 µ
Distúrbios de sonolência excessiva
36

escore totala 22,40 33,46 0,014 µ


Hiperidrose do sono
escore totala 23,22 31,36 0,053 µ

TEA: Transtorno do Espectro Autista; BPSS-10: Escala de Estresse Percebido (versão curta); SDSC:
Sleep Disturbance Scale for Children. Valores em negritos indicam significância estatística (p<0,05).
aDados expressados em média (desvio-padrão); *Teste Qui-quadrado de Pearson (p<0,05); **Teste

Exato de Fisher (p<0,05); ***Teste de tendência linear (p<0,05); £Teste T para amostras
independentes (p<0,05); µTeste de Mann-Whitney (p<0,05).
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

A análise de Regressão de Poisson não ajustada e ajustada está


disponível na Tabela 4. O modelo final ajustado revelou associação entre o PBS e o
escore total da Escala de Estresse Percebido (RP: 1,05; IC95%: 1,01-1,09;
p=0,013); e as categorias de distúrbios respiratórios do sono (RP: 1,14; IC95%: 1,05-
1,24; p=0,002) e de hiperidrose do sono (RP: 1,15; IC95%: 1,01-1,31; p=0,039).

Tabela 4 – Modelo de Regressão de Poisson para a associação entre possível bruxismo do sono e as
variáveis independentes do estudo (n=50). João Pessoa, Paraíba, Brasil, 2023.
RP Não ajustado valor RP Ajustado valor
Variáveis independentes
(IC 95%) de p (IC 95%) de p*
Condições socioeconômicas
Estado civil dos pais/responsáveis
pais juntos 1
pais separados 2,29 (0,90-5,90) 0,084 – –
Escolaridade dos pais/responsáveis
ensino médio completo ou superior 1
ensino médio incompleto ou inferior 0,88 (0,36-2,17) 0,782
Renda familiar
≥ dois salários mínimos 1
< dois salários mínimos 1,07 (0,40-2,90) 0,891
Número de filhos
filho único 1
dois ou mais filhos 1,53 (0,56-4,20) 0,407

Características da criança/adolescente
Idade
5 a 8 anos 1
9 a 11 anos 0,57 (0,20-1,60) 0,286 – –
12 a 19 anos 0,46 (0,14-1,46) 0,187 – –
Sexo
feminino 1
masculino 1,14 (0,31-4,16) 0,839
Nível funcional de autismo
leve 1
moderado/severo 0,95 (0,39-2,35) 0,919
Uso de medicamento para TEA
não 1
sim 1,57 (0,51-4,84) 0,431

Estresse percebido dos pais/responsáveis (BPSS-10)


escore total 1,04 (0,10-1,09) 0,078 1,05 (1,01-1,09) 0,013
37

Escala de distúrbios do sono para crianças (SDSC)


Escore total do SDSC 1,02 (1,01-1,03) 0,001 – –
Distúrbios de iniciar e manter o sono
escore total 1,03 (0,95-1,19) 0,434
Distúrbios respiratórios do sono
escore total 1,19 (1,08-1,31) <0,001 1,14 (1,05-1,24) 0,002
Distúrbios do despertar
escore total 1,07 (0,94-1,22) 0,326
Distúrbios de transição sono-vigília
escore total 1,06 (1,01-1,11) 0,029 – –
Distúrbios de sonolência excessiva
escore total 1,11 (1,05-1,16) <0,001 – –
Hiperidrose do sono
escore total 1,14 (1,01-1,30) 0,037 1,15 (1,01-1,31) 0,039

TEA: Transtorno do espectro autista; BPSS-10: Escala de Estresse Percebido (versão curta); SDSC:
Sleep Disturbance Scale for Children. Valores em negritos indicam significância estatística (p<0,05).
*Regressão de Poisson ajustado para estresse percebido dos pais/responsáveis, distúrbios
respiratórios do sono e hiperidrose do sono (p<0,05).
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.
38

6 DISCUSSÃO

O presente estudo trata-se de um estudo transversal preliminar realizado


com uma amostra de 50 crianças e adolescentes com TEA. Assim, os resultados
devem ser interpretados com cautela e a comparação com outros estudos na
literatura foram feitos com parcimônia devido às diferenças metodológicas.
Estudos prévios encontraram valores de prevalência do bruxismo em
crianças com TEA variando entre 35,8% e 73%, sendo apontado que é um
comportamento mais frequente nas crianças e adolescentes com TEA do que sem
TEA (AL-SEHAIBANY, 2017; BAGATTONI et al., 2021; EL KHATIB et al., 2013;
HASELL; HUSSAIN; SILVA, 2022; ÖNOL; KIRZIOĞLU, 2018). A diferença no critério
de diagnóstico para o bruxismo empregado (possível ou provável), o tipo de
bruxismo (do sono, em vigília ou ambos), além do tamanho amostral distinto nos
estudos, pode explicar a grande variação observada.
Cohen, Kamarck e Mermelstein (1983) explicam que o estresse percebido
pode ser influenciado por situações variáveis em um curto período de tempo, como
aborrecimentos cotidianos ou eventos importantes. Nesse contexto, evidências
científicas apontam a relação do estresse na ocorrência do bruxismo do sono
(DRUMOND et al., 2017; LOBBEZOO et al., 2018). Quanto ao bruxismo em
crianças, os aspectos do núcleo familiar são relevantes fatores a serem estudados
(DRUMOND et al., 2020).
Em relação ao estresse percebido dos pais/responsáveis, foi observada
associação com o PBS nas crianças/adolescentes com TEA. Um estudo anterior
(NIK ADIB et al., 2019), verificou que cuidadores de crianças com TEA
apresentavam níveis de estresse percebido significantes. Outro estudo (SIPOWICZ
et al., 2022) também encontrou que a severidade do estresse, depressão e solidão
foi maior nos pais de crianças com TEA. Esse cenário pode estar relacionado às
dificuldades de comunicação e imprevisibilidade comportamental da criança com
TEA, além da quebra de expectativas dos pais ao formar uma família (NIK ADIB et
al., 2019; SIPOWICZ et al., 2022). Em estudo anterior realizado com escolares de 8-
10 anos, Drumond et al. (2018) demonstraram que o estresse da mãe pode
contribuir para o comportamento da criança, que está associado ao provável
bruxismo do sono, que pode ser um mecanismo praticado involuntariamente para
liberar alguma tensão, o que pode explicar a associação do estresse percebido dos
39

pais/responsáveis com o PBS nas crianças/adolescentes com TEA deste estudo.


Dessa forma, torna-se essencial que os pais/responsáveis também sejam incluídos
no processo terapêutico das crianças com TEA (DI RENZO et al., 2020), o que pode
contribuir para a gestão do estresse dos pais/responsáveis e consequente redução
na prevalência do bruxismo infantil.
Os achados deste estudo mostraram associação do escore total das
categorias distúrbios respiratórios do sono e hiperidrose do sono do SDSC com a
presença do PBS nas crianças/adolescentes com TEA. De acordo com a literatura,
os distúrbios do sono também possuem associação com o bruxismo do sono em
crianças (US; US, 2021). Embora tenham utilizado outro instrumento para verificar
os distúrbios do sono no seu grupo de estudo, Us e Us (2021) afirmam que crianças
com bruxismo do sono possuem maiores dificuldades para acordar de manhã e sair
da cama, além de sentirem-se cansadas quando acordam.
Até o momento, nas bases de dados investigadas, não foram observados
estudos sobre bruxismo e distúrbios do sono em crianças e adolescentes com TEA.
No entanto, em seu estudo com crianças de 8 a 10 anos de idade, Leal et al. (2023)
apontam que o bruxismo do sono é diretamente influenciado por distúrbios do sono.
Por outro lado, distúrbios do sono são frequentes em crianças com TEA (HUNTER et
al., 2021; MANNION; LEADER, 2023; SAMANTA et al., 2020). Os resultados do
presente estudo destacam a relação dos distúrbios do sono no PBS no grupo
estudado, sendo um ponto forte para a melhor compreensão da ocorrência desse
comportamento.
No presente estudo, foi encontrada associação entre os distúrbios
respiratórios do sono com o PBS em crianças/adolescentes com TEA. Estudos
prévios encontraram associação entre problemas respiratórios, como rinite e
sinusite, com o provável bruxismo do sono em crianças (DRUMOND et al. 2017; OH
et al., 2021). Manfredini et al. (2017), sugerem que o bruxismo do sono em crianças
pode ser um esforço empregado para restabelecer a passagem das vias aéreas
naquelas que possuem problemas respiratórios. Esse dado ajuda a compreender a
associação observada entre o PBS e os distúrbios respiratórios do sono em crianças
e adolescentes com TEA, no presente estudo.
Em um estudo avaliando a influência de distúrbios do sono de crianças e
adolescentes com TEA nos níveis de estresse, ansiedade, depressão e presença de
distúrbios do sono nos seus pais, Mannion e Leader (2023) verificaram que a
40

presença de distúrbios do sono na criança/adolescente com TEA provoca impacto


na saúde mental e qualidade de vida do núcleo familiar, sobretudo nos pais. Esta
evidência corrobora os achados do presente estudo. A percepção do núcleo familiar
da criança/adolescente com TEA deve ser estudada para proporcionar um melhor
entendimento do desenvolvimento de condições que possam prejudicar a qualidade
de vida desses indivíduos.
Apesar de ter sido utilizada uma amostra de conveniência, foi observado
que a maioria das crianças e adolescentes participantes do estudo eram do sexo
masculino. Este dado corrobora com os achados de uma revisão sistemática
recente, que aponta a maior prevalência do TEA em indivíduos do sexo masculino
(ZEIDAN et al., 2022). No presente estudo, o sexo da criança não apresentou
associação com o PBS, em acordo com a revisão sistemática de Manfredini et al.
(2013), na qual também não foram observadas associações entre sexo e o relato de
bruxismo do sono em crianças.
O presente estudo apresenta algumas limitações, tendo em vista que
consiste em um estudo preliminar, com um tamanho de amostra restrito, mas que
será continuado para alcançar o tamanho da amostra calculado (n=214). Apesar de
não atingir o número desejado, é importante relatar que a amostra apresentou poder
para detectar associações. Além disso, o presente estudo reforça a relevância do
conhecimento sobre o paciente pediátrico com TEA, que possui características
individuais, que não devem ser negligenciadas, tendo em vista as possíveis
repercussões no núcleo familiar, que devem ser abordados e acompanhados por
uma equipe multidisciplinar, juntamente ao cirurgião-dentista que, por sua vez, deve
saber orientar e assistir a família. Desse modo, sugere-se que estudos longitudinais
futuros investiguem a relação entre o estresse dos pais/responsáveis e dos
distúrbios do sono na ocorrência do bruxismo em crianças e adolescentes com TEA.
41

7 CONCLUSÃO

O presente estudo preliminar observou que a prevalência do PBS em


crianças e adolescentes com TEA foi de 28%, que apresentou associação com o
nível de estresse percebido dos seus pais/responsáveis, e com as categorias do
SDSC distúrbios respiratórios e hiperidrose do sono.
42

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47

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você e a criança pela qual é responsável estão sendo convidados a


participar da pesquisa “Provável bruxismo do sono e em vigília em crianças com
Transtorno do Espectro Autista (TEA): Prevalência e fatores associados”. Os
principais objetivos deste estudo são de verificar a prevalência do bruxismo do sono
e do bruxismo em vigília (quando acordado) em crianças com transtorno do espectro
autista (TEA) e investigar os fatores associados à ocorrência destes. O bruxismo é o
comportamento de apertar e/ou ranger os dentes e que pode prejudicar a saúde
bucal.
Ao concordar em participar da pesquisa, preencher e assinar o presente
termo, serão aplicados questionários aos senhores pais/responsáveis: um que
coletará dados sobre a criança (incluindo o sono delas) e outro que coletará
informações relacionadas ao estresse dos senhores e funcionamento da família.
Destacamos que o interesse desta pesquisa é unicamente científico e que a sua
participação é voluntária. Assim, você poderá desistir de participar a qualquer
momento, e não sofrerá nenhum prejuízo na forma que você e seu filho estão sendo
atendidos na Fundação.
Esclarecemos que sua identidade e a de sua criança serão preservadas
durante a coleta e armazenamento dos dados, bem como na divulgação dos
resultados da pesquisa. O uso das informações coletadas será aprovado
previamente pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Os riscos envolvidos com este
estudo estão relacionados ao constrangimento e/ou desconforto da criança e dos
pais/responsáveis durante o exame clínico e aplicação dos questionários e testes. O
risco de constrangimento será amenizado com a entrevista feita em sala individual
com duração de no máximo 15 minutos e a não identificação dos participantes
durante a divulgação dos dados da pesquisa. Já o risco de desconforto durante a
realização dos exames clínicos será amenizado mediante ao tempo de exame que
será no máximo de cinco minutos, além do cuidado do examinador durante a
manipulação bucal do participante. Caso ainda assim o participante se sinta
incomodado, em qualquer momento da realização da pesquisa, a avaliação será
imediatamente interrompida.

Rubrica Rubrica
48

Todas as crianças e seus pais/responsáveis receberão orientações de saúde


bucal. Será realizado o encaminhamento para os serviços de saúde públicos das
crianças que apresentarem necessidade de atendimento e/ou tratamento
odontológico. Caso necessário, os pais e crianças que forem identificados com
estresse, também receberão orientações e encaminhamentos para os serviços de
saúde públicos disponíveis na cidade da coleta dos dados.
Os resultados obtidos por esta pesquisa serão submetidos em periódicos
para divulgação na comunidade científica e não permitirão a identificação dos
participantes.
A participação na pesquisa não demandará nenhuma despesa por parte do
senhor(a). Conforme a resolução 466/12, em caso de danos aos participantes, é
garantida indenização, desde que comprovadamente decorrentes da participação na
pesquisa, conforme decisão judicial ou extrajudicial.
Você receberá uma via deste termo e será disponibilizado o contato e e-mail
do pesquisador responsável, que poderá esclarecer suas dúvidas sobre a pesquisa
a qualquer momento.

Pesquisador responsável:
José Gabriel Victor Costa Silva
E-mail: josegabrielvictor@gmail.com
Telefone: (83) 99972-4679

_____________________________ , _____ de ____________ de __________.


(Local) (Data)

_______________________________ _______________________________
Assinatura do participante Assinatura do pesquisador

Em caso de dúvidas quanto aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar o Comitê de
Ética em Pesquisa da Universidade Federal Minas Gerais:
Av. Presidente Antônio Carlos, 6627, Pampulha - Belo Horizonte - MG - CEP 31270-901, Unidade
Administrativa II - 2º Andar - Sala: 2005.
Telefone: (31) 3409-4592
E-mail: coep@prpq.ufmg.br
49

APÊNDICE B – Formulário sociodemográfico e características das


crianças/adolescentes

Universidade Federal de Minas Gerais


Faculdade de Odontologia
Departamento de Saúde Bucal da Criança e do Adolescente

Projeto de pesquisa
Provável bruxismo do sono e em vigília em crianças com Transtorno do Espetro Autista:
Prevalência e fatores associados

IDENTIFICAÇÃO

Nome: ____________________________________________________________________
Data de nascimento: ___/___/_____ Idade: ___anos ___meses Sexo: ( ) M ( ) F
Nível funcional de autismo: ( ) Leve ( ) Moderado ( ) Severo
( ) Não sei ( ) Ainda não foi definido
Mãe: _____________________________________________________________________
Profissão da mãe: ________________________________ Idade da mãe: _________
Pai: ______________________________________________________________________
Profissão do pai: _________________________________ Idade do pai: __________
Endereço: ________________________________________________________________
Bairro: _________________________________ Cidade: __________________________
Telefone para contato: ______________________________________________________

QUESTIONÁRIO

1. Quem é a pessoa que passa maior tempo com a criança/adolescente?


( ) Mãe ( ) Pai ( ) Pai e mãe ( ) Avó
( ) Avô ( ) Tio ( ) Tia ( ) Empregada doméstica
( ) Outro: _____________

2. Qual é o seu grau de parentesco com a criança/adolescente?


( ) Mãe ( ) Pai ( ) Avó( ) Avô( ) Tio ( ) Tia
( ) Outro: _____________

3. Qual é o seu estado civil?


( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Divorciado (a)
( ) Viúvo (a) ( ) União estável

4. Qual é o nível de escolaridade do cuidador da criança/adolescente?


( ) Nenhum
( ) Ensino fundamental incompleto até a 4ª série
( ) Ensino fundamental incompleto após a 4ª série ( ) Ensino fundamental completo
( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo
( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo
( ) Pós-graduação

5. Qual é o nível de escolaridade da mãe da criança/adolescente?


( ) Nenhum
( ) Ensino fundamental incompleto até a 4ª série
( ) Ensino fundamental incompleto após a 4ª série ( ) Ensino fundamental completo
50

( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo


( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo
( ) Pós-graduação

6. Qual é o nível de escolaridade do pai da criança/adolescente?


( ) Nenhum
( ) Ensino fundamental incompleto até a 4ª série
( ) Ensino fundamental incompleto após a 4ª série ( ) Ensino fundamental completo
( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo
( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo
( ) Pós-graduação

7. Qual é a soma da renda familiar de todas as pessoas da família?


( ) menos de 1 salário mínimo ( ) de 1 a menos de 2 salários mínimos
( ) de 2 a menos de 3 salários mínimos ( ) de 3 a menos de 4 salários mínimos
( ) de 4 a menos de 5 salários mínimos ( ) mais de 5 salários mínimos

8. Quantos filhos ao todo você possui, incluindo a criança/adolescente a que


responde o questionário?
( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) mais de 5

9. Seu filho (a) range/aperta os dentes durante o sono?


( ) Não ( ) Sim
Se sim, há quanto tempo? ____________________________________________________

10. Seu filho (a) range/aperta os dentes enquanto acordado?


( ) Não ( ) Sim
Se sim, há quanto tempo? ____________________________________________________
Se sim, em que momento isso acontece? ________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

11. Seu filho(a) possui alguma doença?


( ) Não ( ) Sim
Se sim, qual(is)? ____________________________________________________________

12. Seu filho(a) possui algum problema respiratório (Ex. asma, bronquite, rinite, etc.)?
( ) Não ( ) Sim
Se sim, qual(is)? ____________________________________________________________

13. Seu filho(a) tem algum distúrbio gastroesofágico (Ex. vômito, refluxo, etc.)?
( ) Não ( ) Sim
Se sim, qual(is)? ____________________________________________________________

14. Seu filho(a) faz uso de algum medicamento para o autismo ou para outro problema
de saúde?
( ) Não ( ) Sim
Se sim, qual(is)? ____________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
51

ANEXO A – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética


52
53
54
55
56
57

ANEXO B – Escala de Estresse Percebido (BPSS-10)


(COHEN et al., 1983; LUFT et al., 2007)

Nome: ____________________________________________________________________

Neste último mês, com que frequência...

1. Você tem ficado triste por causa de algo que aconteceu inesperadamente?
( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre

2. Você tem se sentido incapaz de controlar as coisas importantes em sua vida?


( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre

3. Você tem se sentido nervoso e “estressado”?


( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre

4. Você tem se sentido confiante na sua habilidade de resolver problemas pessoais?


( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre

5. Você tem sentido que as coisas estão acontecendo de acordo com a sua vontade?
( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre

6. Você tem achado que não conseguiria lidar com todas as coisas que você tem que fazer?
( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre

7. Você tem conseguido controlar as irritações em sua vida?


( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre

8. Você tem sentido que as coisas estão sob o seu controle?


( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre

9. Você tem ficado irritado porque as coisas que acontecem estão fora do seu controle?
( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre

10. Você tem sentido que as dificuldades se acumulam a ponto de você acreditar que não pode
superá-las?
( ) Nunca ( ) Quase nunca ( ) Às vezes ( ) Quase sempre ( ) Sempre
58

ANEXO C – Sleep Disturbance Scale for Children (SDSC)


Bruni et al., 1996; traduzido e validado para o português por Ferreira et al., 2009

Nome da criança/adolescente: _______________________________________________


Nome do(a) responsável:ESCALA
____________________________________________________
DE DISTÚRBIOS DE SONO EM CRIANÇAS

Nome da criança: ____________________________________________ Idade:________________ Data:____/____/____

Instruções: Este questionário permitirá compreender melhor o ritmo sono-vigília de sua criança e avaliar se existem problemas relativos a
isto. Procure responder todas as perguntas. Ao responder considere cada pergunta em relação aos últimos 6 meses de vida da criança. Preencha
ou faça um “X” na alternativa (resposta) mais adequada. Para responder as questões abaixo, sobre sua criança, leve em conta a seguinte escala:

1. Quantas horas a criança dorme durante  9-11horas  8-9 horas  7-8 horas 5-7 horas  Menos de 5 horas
a noite
2. Quanto tempo a criança demora para  Menos de 15 min  15-30 min  30-45 min  45-60 min  Mais de 60 min
adormecer

Nunca Ocasionalmente Algumas vezes Quase sempre Sempre


(1 ou 2 vezes por (1 ou 2 vezes (3 ou 5 vezes (todos os
mês) por semana) por semana) dias)
3. A criança não quer ir para a cama para dormir ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
4. A criança tem dificuldade para adormecer ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
5. Antes de adormecer a criança está agitada, nervosa ou ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
sente medo.
6. A criança apresenta “movimentos bruscos”, repuxões ou ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
tremores ao adormecer.
7. Durante a noite a criança faz movimentos rítmicos com ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
a cabeça e corpo
8. A criança diz que está vendo “coisas estranhas” um ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
pouco antes de adormecer
9. A criança transpira muito ao adormecer ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
10. A criança acorda mais de duas vezes durante a noite ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
11. A criança acorda durante a noite e tem dificuldade em ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
adormecer novamente
12. A criança mexe-se continuamente durante o sono. ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
13. A criança não respira bem durante o sono ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
14. A criança pára de respirar por alguns instantes durante ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
o sono
15. A criança ronca ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
16. A criança transpira muito durante a noite ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
17. A criança levanta-se e senta-se na cama ou anda ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
enquanto dorme
18. A criança fala durante o sono ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
19. A criança range os dentes durante o sono ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
20. Durante o sono a criança grita angustiada, sem ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
conseguir acordar.
21. A criança tem pesadelos que não lembra no dia ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
seguinte
22. A criança tem dificuldade em acordar pela manhã ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
23. Acorda cansada, pela manhã ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
24. Ao acordar a criança não consegue movimentar-se ou ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
fica como se estivesse paralisada por uns minutos.
25. A criança sente-se sonolenta durante o dia ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
26. Durante o dia a criança adormece em situações ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
inesperadas sem avisar.

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