Você está na página 1de 123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

MARCUS VINICIUS COSTA ALVES

ESFORÇO MENTAL E SUSCETIBILIDADE À

INTERFERÊNCIA NA RECUPERAÇÃO DA MEMÓRIA

EPISÓDICA

Tese apresentada à Universidade Federal

de São Paulo – Escola Paulista de

Medicina, para obtenção do título de

Doutor em Ciências.

São Paulo

2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

ESFORÇO MENTAL E SUSCETIBILIDADE À

INTERFERÊNCIA NA RECUPERAÇÃO DA MEMÓRIA

EPISÓDICA

Discente

Marcus Vinicius Costa Alves

Orientador

Prof. Dr. Orlando Francisco Amodeo Bueno

São Paulo

2018

i
Alves, Marcus Vinicius Costa

Esforço Mental e Suscetibilidade à Interferência na Recuperação da Memória

Episódica / Marcus Vinicius Costa Alves. -- São Paulo, 2018, xix, 99p.

Tese de Doutorado. Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina,

Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

Título em inglês: Mental Effort and Susceptibility to Interference on Episodic Memory

Retrieval.

1. Esquecimento; 2. Interferência Retroativa; 3. Consolidação da Memória; 4. Esforço

Mental; 5. Pupilometria.

ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

Chefe do Departamento de Psicobiologia

Prof. Dr. José Carlos Fernandes Galduróz

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia

Profª. Drª. Debóra Cristina Hipólide

iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

Banca Examinadora

Prof. Dr. Bruno de Brito Antonio


Faculdade de Medicina do ABC

Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo


Universidade Prebiteriana Mackenzie

Prof. Dr. João Ricardo Sato


Universidade Federal do ABC

Prof . Dr . Maria Gabriela Menezes de Oliveira


Universidade Federal de São Paulo

Suplentes:
Prof . Dr . Claudia Berlim de Mello
Universidade Federal de São Paulo

Prof . Dr . M nica Sanches assuda


Universidade de São Paulo

iv
Esta tese foi realizada no Departamento de Psicobiologia da Universidade

Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, com apoio financeiro

da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e

da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (AFIP).

v
Esta tese foi financiada com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado de São Paulo – FAPESP.

Projeto: 2013/24847-2.

vi
Como sempre, dedico todo meu trabalho

aos meus pais, Jancidira Itaquissé Cardoso da

Costa e Paulo Alberto de Jesus Alves, meus dois

maiores exemplos de vida. Todo sacrifício pelo

qual passaram, todo esforço, espero conseguir

recompensar com minha dedicação. Meu orgulho

maior é ser seu filho. Por serem as pessoas mais

importantes da minha vida, todo e qualquer

caminho que eu percorri e toda conquista

alcançada sempre foi e sempre será por eles e

para eles.

vii
Agradecimentos

Primeiramente, agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Orlando Francisco

Amodeo Bueno, torcedor fanático e irrefreável do Esporte Clube Bahia. Poucas pessoas

podem ter o prazer de dizer que têm em seu orientador um dos seus melhores amigos e

eu sou uma delas. Obrigado pelo apoio e pelos conselhos em momentos difíceis. Tenho

imenso orgulho de ter sido seu aluno por tanto tempo e da confiança que você depositou

em mim em diverso momentos da minha pós-graduação.

Às amigas da sala 10, Sil e Lari, que apesar da distância nos últimos anos, foram

sempre amigas importantes para que os anos de pós-graduação acontecessem da melhor

forma possível. É uma sorte poder contar sempre com vocês.

Agradeço à família, minhas tias Sandra e Rosa, que foram importantes na minha

criação e são também culpadas pelo que me tornei, e aos primos que sempre apoiaram

as minhas decisões acadêmicas: Tati, Maria, Tiago e Eduardo.

Agradeço aos colaboradores mais presentes neste trabalho. A ex-aluna de

iniciação científica e hoje mestranda Susanny Tassini pela ajuda tanto na coleta, quanto

na tabulação dos dados de alguns dos meus experimentos e que me ajudou muito nestes

mais de 4 anos em que trabalhamos juntos. Ao colega Felipe Aedo-Jury, que colaborou

comigo em boa parte das análises pupilométricas nos meus últimos trabalhos, e a

Priscila Covre que foi uma incrível colaboradora, direcionadora e parceira em boa parte

deste processo.

Agradeço aos meus amigos de Salvador por me manterem com os pés no chão,

mas também me apoiarem: Leo, Neneco, Thiagostinho, Victor Negão, Alvinho, tio

Sérgio, Xandão, Gui Goiaba, Gabi, Debora, Leozão, Modesto, Bomfim, Paulittle, Brian,

Cassinho, Neander, Tassinho, Ju Caribé, Augusto e Leo Jorge. Agradeço especialmente

à Ana Thereza por ter estado ao meu lado durante muitos anos e também aos amigos

viii
Chaparia e Berna, que podem nem saber, mas em diversos momentos foram das pessoas

mais importantes para eu conseguir completar mais essa etapa.

Agradeço aos amigos que fiz em São Paulo por permitirem que a vida nela fosse

menos cinzenta, seja no departamento, em casa ou nas ruas: Gauchinho, Bedendo,

Calegas, Bruno Antonio, Jansêra da Bahia, Roger, Diegão, Mancha, Flavinha, Sarah e

Nanai; Aos de casa aquilo mesmo não muda nada: Leo #P., Jordan e Marina; E aos

muitos colegas de departamento pela parceria: Ju Carlota, Vanessa, Sophia, Gio, Ju

Lanini, Thiago Rivero, Regina, Vivi, Cadu, Deborah Amanda, Deinha, Drica, Karina e

Guilherme Julian. Também agradeço às amigas e amigos que me esquentaram St.

John’s durante o período-sanduíche do meu doutorado: Paraskeví Kanaki (ευχαριστώ!),

Mirelinha, Caio, Camila, Rafa e Murilo.

Especialmente, agradeço a João Victor pela amizade e parceria que construiu

comigo com o talento de um volante moderno vendo o camisa 11 correr em direção à

área, se tornando peça fundamental no esquema tático da minha vida. Agradeço ao meu

cachorro, Chico (que imagino não vá ler essas páginas), mas teve grande presença na

escrita desta tese, na maior parte, me distraindo. E às professoras que se tornaram

colegas e amigas nestes anos de psicobio: M nica Miranda, Claudinha Berlim e Gabi;

aproveitando para agradecer a amizade do povo da Farmácia: Bete, Ivanda, Silvia

Feldberg e Silvia Bol .

Também agradeço aos funcionários que foram importantes para todos os meus

dias no departamento: Gilbertinho, Dora, Flávia, Brunão, Nelsão, Maria, Mara, Jacque,

Val, Socorro, Mané, Maurício, Cris, Léa e tantos outros, que são fundamentais para o

funcionamento do nosso departamento.

Agradeço ao Curso de Verão, veículo que possibilitou o início da minha relação

com o departamento de Psicobiologia em 2010, quando fui aluno, tendo o organizado

ix
em 2012/2013. Com muito afeto e desejo de que se mantenha forte para possibilitar a

outros futuros cientistas o que ele possibilitou a mim. E com isso, pela vivência,

agradeço aos colegas de quando fui aluno (XCV) e aos queridos alunos que pude

receber posteriormente, quando fui coordenador (XIIICV). E, claro, todos os alunos que

estiveram presentes nas edições em que fui menos ativo na coordenação, porém ainda

presente nas atividades.

Agradeço aos professores que durante os anos de pós-graduação me deram dicas

sobre os meus estudos (Michael Anderson, Nelson Cowan, Mario Parra e Sergio Della

Sala) e, neste sentido, especialmente à professora Sabine Pompéia. Agradeço também

ao professor Jonathan Fawcett, por me receber em outro país, me incentivar e me treinar

de forma excepcional durante o período que passei em seu laboratório. Agradeço aos

seus alunos pelo aprendizado que me proporcionaram ao treiná-los nas técnicas

pupilométricas e mnem nicas.

Agradeço ao Prof. Marcos Emanoel, da UFBA, pelo treinamento inicial em

ciência e que me deu base para caminhar - até porque ele não acredita em carros - por

esta estrada tão difícil. Sem dúvidas, continua sendo um dos meus exemplos até hoje.

Agradeço também às agências de fomento que permitiram que todas as

pesquisas que me envolvi um dia pudessem ser realizadas.

Agradeço ao pessoal do Prisma Científico e aos leitores deste blog e do Cogpsi,

que com suas críticas e elogios me ajudaram a seguir querendo me aperfeiçoar na escrita

e divulgação científica, para fazer com que a ciência, o conhecimento e o senso crítico

alcancem o maior número de pessoas possíveis, e que saindo dos muros da academia se

tornem imprescindíveis para a vida delas.

Por mais que ela não saiba retribuir às vezes, agradeço à cidade de Salvador,

apesar do aparente cadafalso, ser sempre a minha fortaleza. Que em meio à minha

x
saudade nunca deixou de ser a base telúrica para que as minhas raízes sempre fossem

regadas, mãe! Vem me regar.

Não poderia deixar de agradecer aos voluntários que se dispuseram a realizar

meus experimentos, exaurindo seus recursos mentais e dilatando suas pupilas durante

estes anos de doutorado.

Gostaria de agradecer a muito mais gente do que este espaço permite, pois

reconheço com plena certeza de que tudo que resultou neste trabalho não poderia ser

expresso apenas em citações, mas sim ao reconhecer que, nestes anos estudando o

esquecimento, minha vida foi tocada, transformada e reconstruída por cada pessoa de

maneira inesquecível.

xi
“Penso que só há um caminho para a ciência ou
para a filosofia: encontrar um problema, ver a sua
beleza e apaixonar-se por ele; (...) poderão então
descobrir, para vosso deleite, a existência de toda uma
família de problemas-filhos, encantadores ainda que
talvez difíceis, para cujo bem estar poderão trabalhar,
com um sentido, até o fim dos vossos dias.”
Popper, K.; 1984.
“Em Busca de Um Mundo Melhor”.

“When you believe in things that you don't understand


Then you suffer
Superstition ain't the way.”
Wonder, S.; 1972.
“Superstition”, em “Talking Book”

xii
Memória
Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido


contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,


muito mais que lindas,
essas ficarão.
Antologia Poética
65 ed. - Rio de Janeiro: Record, 2010

xiii
Sumário

DEDICATÓRIA ............................................................................................................ vii

AGRADECIMENTOS ................................................................................................. viii

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. xiv

LISTA DE TABELAS ................................................................................................... xv

LISTA DE ANEXOS ................................................................................................... xvi

LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................... xvii

RESUMO ................................................................................................................... xviii

1. INTRODUÇÃO .................................................................................. ...................... 1

1.1. A Ciência da Memória e do Esquecimento ............................................................ 2

1.1.1. A Teoria da Interferência .............................................................................. 6

1.1.2. Consolidação da Memória ............................................................................ 8

1.2. Esforço Mental e o Esquecimento ................................................................... 12

1.3. Mensurando o Esforço Mental: Pupilometria .................................................. 17

1.4. Interferência Retroativa de Diferentes Demandas Cognitivas na Consolidação da

Memória ............................................................................................................... 19

2. JUSTIFICATIVA ............................................................................... .................... 24

3. OBJETIVOS ............................................................................................................ 25

4. MÉTODOS .............................................................................................................. 26

4.1. Participantes ......................................................................................................... 26

4.2. Aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa ........................................................... 27

4.3. Materiais e Instrumentos ...................................................................................... 27

4.3.1. Aparalho de Eye Tracking e mensuração do diâmetro pupilar .................. 27

4.3.2. Lista de Palavras ......................................................................................... 29

4.3.2.1. Recordação Livre ................................................................................... 29

xiv
4.3.2.2. Posição Serial ........................................................................................ 29

4.3.3. Metr nomo ................................................................................................. 30

4.3.4. Tarefas ........................................................................................................ 30

4.3.4.1. Geração Aleatória de Números (GAN) ................................................. 30

4.3.4.2. Geração Serial de Números (Contagem; CONT) ................................. 31

4.3.4.3. Tarefa de span de Contagem (Counting Span Task; C-SPAN) ............ 32

4.3.4.4. Intervalo Vazio ...................................................................................... 33

5. EXPERIMENTOS-PILOTOS ................................................................................. 34

5.1. Experimento-Piloto 1: Controle da demanda cognitiva das tarefas ..................... 35

5.1.1. Participantes .............................................................................................. 35

5.1.2. Tarefas ........................................................................................................ 36

5.1.3. Análises Pupilométricas adicionais ............................................................ 36

5.1.4. Procedimento .............................................................................................. 37

5.1.5. Resultados ................................................................................................... 37

5.1.6. Discussão .................................................................................................... 39

5.2. Experimento-Piloto 2: Controle de Recordação da tarefa Contagem .................. 41

5.2.1. Participantes ............................................................................................... 41

5.2.2. Procedimentos ............................................................................................ 42

5.2.3. Resultados ................................................................................................... 42

5.2.4. Discussão .................................................................................................... 43

5.3. Experimento-Piloto 3: Experimento-Piloto 3: Controle da Ordem das tarefas

apresentadas ......................................................................................................... 43

5.3.1. Participantes ............................................................................................... 44

5.3.2. Tarefas ........................................................................................................ 44

5.3.3. Procedimento .............................................................................................. 44

xv
5.3.4. Resultados ................................................................................................... 45

5.3.5. Discussão .................................................................................................... 46

6. EXPERIMENTO 1 .................................................................................................. 48

6.1. Participantes ......................................................................................................... 50

6.2. Tarefas .................................................................................................................. 50

6.3. Procedimento ........................................................................................................ 50

6.4. Resultados ............................................................................................................ 51

6.5. Discussão .............................................................................................................. 53

7. EXPERIMENTO 2 .................................................................................................. 57

7.1. Participantes ......................................................................................................... 58

7.2. Tarefas .................................................................................................................. 59

7.3. Procedimento ........................................................................................................ 59

7.4. Resultados ............................................................................................................ 60

7.5. Discussão .............................................................................................................. 61

8. EXPERIMENTO 3 .................................................................................................. 64

8.1. Participantes ......................................................................................................... 65

8.2. Tarefas .................................................................................................................. 65

8.3. Procedimento ........................................................................................................ 66

8.4. Resultados ............................................................................................................ 67

8.5. Discussão .............................................................................................................. 68

9. EXPERIMENTO 4 .................................................................................................. 71

9.1. Participantes ......................................................................................................... 72

9.2. Tarefas .................................................................................................................. 72

9.3. Procedimento ........................................................................................................ 73

9.4. Resultados ............................................................................................................ 74

xvi
9.5. Discussão .............................................................................................................. 77

10. DISCUSSÃO GERAL ............................................................................................. 80

11. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 84

12. REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 85

13. ABSTRACT ............................................................................................................ 93

14. ANEXOS ................................................................................................................. 94

xvii
Lista de Figuras

Figura 1 – Paradigmas Clássicos da Teoria da Interferência ......................................... 7

Figura 2 – Interferência Retroativa durante a Consolidação da Memória ...................... 9

Figura 3 – Esquema da Carga Cognitiva (Cognitive Load) ......................................... 13

Figura 4 – Dilatação da pupila (mm) por tarefa do EXP-Piloto1 ................................ 38

Figura 5 – Recordação Livre e Posição Serial por condições do EXP-Piloto2 ............ 43

Figura 6 – Desenho Experimental do EXP-Piloto3 ...................................................... 45

Figura 7 – Palavras Recordadas (A) e Dilatação da Pupila (B) pelas condições e grupos

do EXP-Piloto3 .............................................................................................................. 46

Figura 8 – Desenho do Experimento 1 ......................................................................... 50

Figura 9 – Dilatação da Pupila e Recordação Livre no Experimento 1 dividos por

blocos (A e B) ................................................................................................................ 52

Figura 10 – Palavras Recordadas no Experimento 1 utilizando a ordem dos blocos

como variável influenciadora ........................................................................................ 53

Figura 11 – Dilatação da pupila no Experimento 1 utilizando a ordem dos blocos como

variável influenciadora .................................................................................................. 53

Figura 12 – Desenho do Experimento 2 ....................................................................... 59

Figura 13 – Palavras recordadas no Experimento 2 pela ordem e tarefa ..................... 60

Figura 14 – Palavras recordadas no Experimento 2 pela tarefa ................................... 60

Figura 15 – Dilatação da pupila pela ordem e tarefa .................................................... 61

Figura 16 – Desenho do Experimento 3 ....................................................................... 66

Figura 17 – Palavras recordadas no Experimento 3 por condições .............................. 67

Figura 18 – Desenho do Experimento 4 ....................................................................... 73

Figura 19 – Recordação Livre Total no Experimento 4 por condições ........................ 74

Figura 20 – Recordação Livre no Experimento 4 por listas e condições ..................... 75

xviii
Figura 21 – Dilatação da pupila Total no Experimento 4 por condições ..................... 75

Figura 22 – Dilatação da pupila no Experimento 4 por listas e condições ................... 76

xix
Lista de Tabelas

Tabela 1 – Teoria do Processamento Dual de Informações ......................................... 16

Tabela 2 – Resultados dos Picos Pupilares e Piscadelas do Experimento-Piloto 1 .............. 38

Tabela 3 – Resultados da dilatação da pupila (mm) por minutos de tarefa .......................... 68

Tabela 4 – Resultados dos escores das tarefas por ordem de realização ...................... 77

xx
Lista de Anexos

Anexo 1 – Questionário de Sáude ................................................................................. 94

Anexo 2 – Parecer do Comitê de Ética .......................................................................... 95

Anexo 3 – Lista de Palavras (Recordação Livre) .......................................................... 97

Anexo 4 – Tobii T120® Eye-Tracker ........................................................................... 98

Anexo 5 – Mensuração de Piscadelas ........................................................................... 99

xxi
Lista de Abreviaturas

CENTRO – Grupo de palavras na posição intermediária central das listas

CSPAN – Tarefa Counting SPAN

DPupil – Dilatação da Pupila

EXP – Experimento

FIM – Grupo de palavras na posição final das listas

I-Ant – Grupo de palavras na posição intermediária anterior

I-Pos – Grupo de palavras na posição intermediária posterior

INI – Grupo de palavras na posição inicial das listas

IP – Interferência Proativa

IR – Interferência Retroativa

GAN – Geração Aleatória de Números

L - Lista de Palavras

MPB – Média do diâmetro da Pupila no registro Basal

MPC – Média do diâmetro da Pupila durante a condição experimental

R - Recordação Livre

VAZIO – Intervalo Vazio

xxii
Resumo

O esquecimento é a inabilidade de recuperar informações antes passíveis de recuperação.

A Teoria da Interferência sugere que informações tendem a disputar a sua existência

quando aprendidas pelos indivíduos, logo, o esquecimento seria justificado pela disputa

de informações anteriores à entrada das memórias-alvo (Interferência Proativa) e

posteriores a essa entrada (Interferência Retroativa). Atualmente há a hipótese de que a

consolidação da memória seja prejudicada com a introdução de tarefas demandantes de

esforço mental durante o tempo em que está ocorrendo (IR). O presente estudo se

prop s a investigar com participantes saudáveis se a perda de informações relacionadas

ao esforço mental poderia ser explicada pela interferência na consolidação da memória

ou por causa da limitada capacidade de recursos mentais dos indivíduos para o controle

de estímulos interfentes. Para mensurar o esforço mental foi analisado a dilatação da

pupila dos indivíduos. O Experimento 1 (N - 20) replicou nosso estudo anterior que

demonstrava uma possível inexistência do efeito interferente na consolidação da

memória. O Experimento 2 (N – 22) testou como as tarefas realizadas no momento

inicial da consolidação da memória poderiam influenciar recordação ao interferir com

memórias mais lábeis, porém não encontrando este efeito. No Experimento 3 (N – 30)

os participantes realizaram tarefas durante um intervalo maior de tempo, testando se a

perda de informações seriam proveniente da IR na consolidação da memória ou de uma

sobrecarga cognitiva, indicando a possibilidade da segunda hipótese ser mais

explicativa. Finalmente, no Experimento 4 (N – 45), testamos em grupos como

diferentes tarefas interferem na consolidação após uma sobrecarga cognitiva. Os

resultados do nosso estudo indicam que não há efeito interferente do esforço mental na

consolidação da memória, mas sim um efeito proativo e retroativo no modo de

recuperação de informações que as pessoas dispõem para a evocação.

xxiii
1. INTRODUÇÃO

Esquecer informações antes aprendidas é uma das situações mais comuns pelas

quais as pessoas passam diariamente. Todavia - talvez por ser tão comum - o

esquecimento é tratado como algo intrísico à vida moderna, sendo inclusive por diversas

vezes negligenciado como fator de imprescindível importância científica (McGeoch,

1932; Roediger, Weinstein & Agarwal, 2010; Rubin, 2007).

No imaginário popular, o esquecer é comumente rotulado de formas distintas a

depender do contexto. Em alguns momentos pode ser visto como algo exclusivamente

deletério e exasperador – remetendo a erros cognitivos, indicativos de deterioração

mental ou, de forma menos dramática, como desatenção ou desinteresse -, por outro

lado, também pode ser percebido como a fuga - muitas vezes desejada - de um estímulo

aversivo, como exemplo: uma pessoa que deseje imensamente esquecer alguém ou algo

que a faz sofrer. Em verdade, essa visão maniqueísta do esquecimento parece enraizada

no sentido que ele terá no contexto e, no entanto, quando se tratando das evidências

abarcadas nas ciências cognitivas, entende-se que a incapacidade de esquecer pode ser

tão exasperadora quanto à incapacidade de lembrar (Luria, 1968; Parker, Cahill &

McGaugh, 2006; Storm, 2011).

Enquanto lembrar informações relevantes seja algo imprescindível para o

comportamento adaptável, esquecer informações irrelevantes também é uma função

altamente adaptativa (Alves & Bueno, 2017). Um olhar evolucionista sobre o

esquecimento vai rotulá-lo como um fator adaptativo na medida que informações

irrelevantes não permanecem para sempre nos cérebros das pessoas, se faz também a

possibilidade de que eventualmente outras memórias - mais relevantes - possam ser

registradas e mais facilmente recuperadas (Roediger, Weinstein & Agarwal, 2010;

Storm, 2011).

1
1.1. A Ciência da Memória e do Esquecimento

“A existência do esquecimento nunca foi comprovada: apenas sabemos que

algumas coisas não nos vêm à mente quando queremos”

Friederich Nietzsche.

O esquecimento é um conceito de extrema importância para as ciências da

memória, tendo em vista que permite a exposição de diversos processos mnem nicos,

revelando assim como tipos de memórias se perdem diferentemente (McGeoch, 1932;

Rubin, 2007). Segundo Tulving (1974), o esquecimento é a inabilidade de recuperar

informações antes passíveis de recordação e a forma de estudá-lo é, a partir da

incapacidade de se recordar informações antes aprendidas, inferir variáveis que causem

tal condição. Contudo, se a informação foi completamente perdida pela memória que

antes podia recuperá-la ou se a informação está apenas impedida de ser recuperada por

outros fatores, por enquanto, pode ser apenas alvo de especulação filosófica (Davis,

2007; Roediger, Weinstein & Agarwal, 2010).

Ainda segundo Tulving (1974), a forma que informações são passíveis de

evocação por indivíduos é através de Traços de Memória (informações registradas pelos

indivíduos como resultado de sua percepção original de um determinado evento e os

resíduos provenientes desta percepção), contando também com a ativação de

informações presentes no ambiente cognitivo do indivíduo e relações contextuais no

momento do evento, pistas ambientais ou mesmo pistas autogeradas que auxiliam na

posterior recuperação do evento.

A forma clássica de se avaliar este fen meno é através de listas de palavras, ou

seja, palavras são apresentadas para os indivíduos e, após determinado tempo, é pedido

para que seja feita a recordação dessas listas. Quando não há uma ordem previamente

2
estipulada para a recordação, esta recuperação é chamada de Recordação Livre. A partir

desta recordação, é possível também analisar a curva de Posição Serial, na qual se

verifica a posição na lista das palavras recordadas (Bueno, 2001).

A posição serial é relevante devido a dois efeitos: a Primazia, em que os

indivíduos acabam recordando mais as palavras apresentadas inicialmente, sendo

considerado como decorrente da memória de longo prazo (Bueno, 2001; Deese, 1957;

Gruneberg, 1972); e a Recência, em que os indivíduos acabam por recordar as últimas

palavras da lista, decorrente geralmente da utilização do sistema de memória de curto-

prazo (Deese, 1957; Glanzer & Cunitz, 1966; Gruneberg, 1972). A posição serial das

palavras recordadas habitualmente tende a se apresentar graficamente em um formato

de “U”, com as primeiras e as últimas palavras sendo mais recordadas. Todavia, o

recordar é mais complexo do que se apresenta à primeira análise, pois a memória - o

processo cognitivo responsável pelo armazenamento e evocação de informações - não

se constitui de uma entidade única (Bueno, 2001; Tulving, 2001). A memória possui

diversos sistemas e diferenciar estes sistemas é possível ao se observar o tipo de

informação que é processada, o tempo de retenção desta informação e a capacidade de

armazenamento destes sistemas (Squire, 2004). Sendo assim, se o processo cognitivo

responsável pela retenção e recuperação de informações é complexo, a perda de

informações neste processo também se torna multifacetado (Tulving, 1974).

Uma das teorias testáveis mais antigas sobre o esquecimento é a Teoria do

Decaimento (ou Deterioração), em que se sugere que a perda de informação ocorre com

o passar do tempo (Wixted, 2010). A Teoria do Decaimento sugere que com o passar do

tempo as informações se enfraqueceriam e com isso seriam aos poucos apagadas do

sistema neural das pessoas, isto é, perdidas inexoravelmente (Roediger, Weinstein &

Agarwal, 2010).

3
A perda das informações com o passar do tempo, apesar de plausível, não pode

ser considerada a única forma de esquecimento, em primeiro plano porque explicar o

esquecimento desta forma seria afirmar que as memórias seriam como músculos – se

atrofiando quando não usadas – se abstendo de especificar um mecanismo que cause

esse esquecimento e, por outro, esta teoria não consegue justificar estudos que

demonstram que uma série de fatores diversos – que não apenas o tempo – podem

intervir na fixação das memórias (McGeoch, 1932; Lechner, Squire & Byrne, 1999;

Roediger, Weinstein & Agarwal, 2010; Wixted, 2004).

Outra teoria para o esquecimento, a Teoria da Falha da Recuperação, é a de que

este é proveniente da incapacidade de recuperar informações, ou seja, as informações,

ainda que estejam presentes no cérebro dos indivíduos, não estariam aptas a serem

recuperadas (Roediger, Weinstein & Agarwal, 2010; Wixted, 2010). Basicamente, esta

teoria defende que não necessariamente o traço da memória esteja perdido para sempre

quando há uma falha na recordação, mas sim que ele pode apenas estar inacessível

(Tulving, 1974). Uma alternativa envolve mecanismos cognitivamente mais complexos

de aquisição e recuperação de memória episódica, a saber o principio de especificidade

e o modo de recuperação (Tulving & Thompson, 1973; Tulving, 1983; Lepage e cols.,

2002), conjuntamente com o conceito de retentor episódico do modelo operacional de

Baddeley (Baddeley, 2000). O retentor episódico é o componente da memória

operacional que conserva temporalmente informações multimodais e possibilita a

manipulação dessas informações.

A memória episódica é composta de muitas peças, como se fosse um quebra-

cabeça, que precisam se encaixar novamente no momento de recuperação, ou seja, ela

tem que ser reinstalada com a intervenção do lobo temporal medial que participa

ativamente da codificação (Staresina e cols., 2012; Staresina & Davachi, 2009;

4
Uncapher, Otten & Rugg, 2006). Além das estruturas hipocampais e parahipocampais, é

também imprescindível a ativação do córtex pré-frontal para esta codificação e

recuperação (Cabeza e cols., 1997).

Uma relação entre o hipocampo e o córtex pré-frontal se faz necessária tanto

para a codificação quanto para a recuperação. De fato, essa relação implica uma

interação entre a memória episódica e a memória operacional (Bueno, 2010). A

memória operacional depende estreitamente do córtex pré-frontal. Ela consiste em um

sistema para manter por algum tempo as informações entrantes de modo a permitir a

manipulação dessa informações, o que é essencial para tarefas cognitivas como

aprendizagem, raciocínio e compreensão (Baddeley, 2008).

A ideia de que algumas informações se tornem inacessíveis está relacionada com

um processo chamado Modo de Recuperação (Retrieval Mode), implicando que para

que um indivíduo possa recuperar uma informação da Memória Episódica - memória de

longo prazo relacionada a episódios específicos - ele precisaria utilizar de uma

estratégia consciente e demandante de esforço para recuperar estas informações a partir

de pistas do ambiente (Lepage e cols., 2000; Squire, 2004; Tulving, 1974; Tulving &

Thompson, 1973). Para utilizar eficientemente pistas do ambiente, como pistas para

recuperar a memória no sistema de longo prazo, o indivíduo precisa se colocar

mentalmente no contexto em que a informação foi adquirida. Quanto mais próxima do

momento da aquisição for a tentativa de recuperação, supõe-se que menos esforço será

gasto para se recolocar no contexto original da aquisição e, com isso, mais fácil será

obter informações ao se utilizar o modo de recuperação (Fuster, 2001).

Uma hipótese de como os indivíduos fariam essa recuperação é a de que eles

utilizam um subsistema da Memória Operacional – capacidade de reter e manipular

informações por um determinado tempo – chamado Retentor Episódico (Episodic

5
Buffer), além das demandas executivas habituais (Baddeley, 2000; 2008; Repovs &

Baddeley, 2006; Quinette e cols., 2006) sugerem que o retentor episódico é na verdade

uma interface que liga a memória operacional e a memória episódica, fazendo a

transposição de memória ainda existente no presente subjetivo (memória primária de

Willian James, 1890) e as memórias de longo prazo. Basicamente, ao ativar o Córtex

Pré-Frontal para realizar a busca de informações passadas, as pessoas estariam

selecionando as informações para a recuperação daquela memória e excluindo as

informações irrelevantes e, com isso, tentando reduzir a interferência causada por elas

(Düzel e cols., 1997; Lepage e cols., 1999)

1.1.1. A Teoria da Interferência

Um das teorias mais proeminentes para o estudo do esquecimento e da perda de

informações na atualidade é a Teoria da Interferência, que diz que o esquecimento é

proveniente de informações intervenientes que causam interferência na informação-alvo

(Lechner, Squire & Byrne, 1999; Wixted, 2004). Segundo a Teoria da Interferência,

informações aprendidas tendem a disputar sua existência, sobrepondo-se nos sistemas

de memórias (Dudai, 2004; Wixted, 2004). Quando há a competição de itens a priori,

essa interferência é chamada de interferência proativa e quando há a competição a

posteriori, ocorre a interferência retroativa. Ou seja, em um esquema A-B de recordação,

a primeira informação (A) e a segunda (B) disputam sua existência, quando o alvo da

recordação é B e A interfere com o alvo a interferência é Proativa; já quando o alvo é A,

sendo B o estímulo interveniente, a interferência é Retroativa (Figura 1).

6
Figura 1: Paradigmas clássicos da Teoria da Interferência (Alves, 2013; Alves & Bueno, 2017)

A Teoria da Interferência implica que tarefas intervenientes - sendo elas

proativas ou retroativas - diminuiriam a discriminabilidade dos itens a serem

recuperados. O termo interferência retroativa surge com os trabalhos seminais de Müller

e Pilzecker em 1900 (apud Lechner, Squire & Byrne, 1999). A interferência retroativa

foi inicialmente definida como a interferência que ocorre quando uma informação ou

tarefa é inserida entre a apresentação de outra informação que deverá ser recordada e a

posterior recordação desta informação (Cowan, Beschin & Della Sala, 2004; Dewar,

Cowan & Della Sala, 2007; Lechner, Squire & Byrne, 1999; McGaugh, 2000).

É consenso que os dois tipos de interferência afetam conjuntamente a

codificação das memórias nos indivíduos, todavia, estudos com interferência retroativa

começaram a ocupar um lugar de relativa curiosidade entre pesquisadores devido à

possibilidade de que a existência da interferência retroativa possa também ser explicada

por um processo sugerido também pela primeira vez por Müller e Pilzecker em 1900: a

Consolidação da Memória (Lechner, Squire & Byrne, 1999; McGaugh, 1999, 2000). Ao

se usar a Teoria da Consolidação para explicar as consequências da interferência

retroativa, seria inclusive possível descartar a Teoria da Falha da Recuperação como o

fator preponderante a causar perda de informação.

7
1.1.2. Consolidação da Memória

O termo consolidação da memória refere-se ao processo tempo-dependente de

reorganização das representações mnem nicas pós-codificação, processo pelo qual as

memórias tornam-se estáveis (Dudai, 2012; Nadel & Bohbot, 2001). A ideia é a de que

subrotinas neurais posteriores ao registro inicial de uma informação (i.e. consolidação

sináptica) contribuem para o registro definitivo desta informação (consolidação

sistêmica), fortalecendo os traços da memória e redistribuindo a memória pelos circuitos

cerebrais (Dudai, Karni, & Born, 2015; McGaugh, 2000; Nadel & Moscovitch, 1997,

Nadel & Bohbot, 2001). A interferência retroativa perturbaria estes processos

posteriores à aprendizagem, resultando na perda destas informações (Dewar, Cowan &

Della Sala, 2010; Robertson, 2012). No presente estudo focaremos apenas na

consolidação sistêmica.

Durante o tempo necessário para a consolidação, as memórias estariam

suscetíveis à situações prejudiciais à sua fixação tais quais: a codificação de

informações similares à memória alvo, choques eletroconvulsivos, toxinas, lesões

cerebrais, estimulação magnética transcraniana e eventos moleculares (Dudai, 2004;

Dudai, 2012; Robertson, 2012). Sendo assim, a interferência retroativa aconteceria não

só com a competição de informações devido à aprendizagem de novas memórias, mas

também com qualquer estímulo posterior à aprendizagem que possuiria a capacidade de

interromper ou desregular o processo de consolidação (Dewar, Cowan & Della Sala,

2007; Dudai, 2004; McGaugh, 1966; 2000; Robertson, 2012; Squire & Alvarez, 1995).

No entanto, com o tempo as memórias se tornariam menos suscetíveis a tais disrupções

(Figura 2) (Dudai, 2004; McGaugh, 1966; Sosic-Vasic e cols., 2018; Wixted, 2004).

8
Figura 2: Interferência Retroativa durante a consolidação da memória (Alves, 2013; Alves & Bueno,

2017)

Estruturalmente, o lobo temporal medial, ou, mais especificamente, a formação

hipocampal – comumente referida como consistindo de hipocampo, giro denteado,

subículo e córtex entorrinal (Wixted, 2004) – possui uma grande relação com a

consolidação sistêmica. Caso esta formação sofra alguma lesão antes do processo de

consolidação estar completo, memórias ainda não consolidadas não serão mais passíveis

de recordação (Lechner, Squire & Byrne, 1999; Moscovitch & Nadel, 1998; Wixted,

2004). O registro definitivo das memórias se daria pelo gradual armazenamento destas

no neocórtex, a partir da reorganização da circuitaria cerebral após a codificação da

informação pela constante perseveração de uma informação aprendida, se tornando

independentes do hipocampo (Dudai, 2012; Lechner, Squire & Byrne, 1999; Meeter &

Murre, 2004; McGaugh, 2000; Squire & Alvarez, 1995; Wixted, 2010).

Estudos sobre o mecanismo inibitório da cognição na fixação de informações -

Esquecimento Motivado - tendem a relacionar a ativação do Córtex Pré-Frontal

proveniente deste processo com a redução da ativação do hipocampo, e assim, uma

possível interpretação seja que mesmo o esquecimento motivado se deve à existência de

uma espécie de interferência retroativa (Anderson, 2003; Anderson, Green &

9
McCulloch, 2000; Anderson & Spellman, 1995; Fawcett & Taylor; Andrejkovicks,

Balla & Bereczki, 2013; Harand, Bertran, La Joie e cols., 2013; Wixted, 2004).

Pacientes que sofrem lesões no lobo temporal medial podem apresentar uma leve

amnésia retrógrada: há a perda de certa quantidade de informações pré-evento causador

da amnésia (Lechner, Squire & Alvarez, 1995). Essa perda pode indicar exatamente os

materiais ainda não consolidados (Dudai, 2012; Lechner, Squire & Alvarez, 1995;

Squire & Byrne, 1999). Todavia, a característica principal de lesões no lobo temporal

medial na recordação pelo sistema de Memória de Longo Prazo é a Amnésia

Anterógrada – a incapacidade de reter novos eventos, apesar de conseguir manter novas

memórias por um curto espaço de tempo – o que sugere que processos posteriores ao

recebimento da informação são necessários para que ocorra a fixação destas memórias

no cérebro, processo que nestes pacientes se tornaram inviáveis devido ao fator

causador da amnésia (Dewar, Della Sala, Beschin & Cowan, 2010, Nadel & Moscovitch,

1997, Nadel & Bohbot, 2001).

Estudos com listas de palavras com pacientes com amnésia anterógrada

revelaram que, quando uma informação dada para a recordação destes pacientes é

seguida de um intervalo em que não há realização de tarefas - em alguns estudos,

chamado de intervalo Vazio (unfilled interval) ou de estado de descanço (resting state),

há uma maior recordação da informação-alvo (Cowan, Beschin & Della Sala, 2004).

Argumenta-se que este efeito possa existir devido às características da consolidação da

memória. Uma particularidade desse tipo de condição seria a de que pacientes com

déficits relacionados à amnésia possuem menores recursos cognitivos para a

consolidação das memórias, o que faria com que os efeitos de degradação dos traços de

memória provenientes da interferência retroativa fossem consideravelmente mais

visíveis (Cowan, Beschin & Della Sala, 2004; Dewar, Cowan & Della Sala, 2010). Tais

10
resultados também seriam uma indicação de que um intervalo sem atividade cognitiva

possibilitaria a ocorrência de processos neurais necessários para a consolidação, e assim,

a atividade mental empenhada em tarefas posteriores à aprendizagem poderia ser um

fator de considerável influência na consolidação da memória (Cowan, Beschin & Della

Sala, 2004; Dewar, Cowan & Della Sala, 2010).

Os efeitos que podem conduzir a um aumento ou diminuição da interferência

retroativa são variáveis, muito da informação perdida pelos indivíduos pode ser devido

a condições não específicas provenientes da interferência retroativa (Fatania & Mercer,

2017), como o tipo de tarefa realizada nessa interferência, o contexto na realização dos

testes ou o tipo de codificação no sistema de memória requerido para a realização das

tarefas e para a recordação da informação-alvo (Robertson, 2009; 2012; Unsworth,

Brewer & Spiller, 2013; Wixted, 2004), e embora a gama de possibilidades de

interferência seja extensa, os resultados obtidos em alguns dos estudos de interferência

retroativa parecem indicar consequências de estímulos intervenientes que afetam o

processo de consolidação.

Além dos fatores abordados, há evidências de que a similaridade do conteúdo da

informação-alvo e da tarefa interferente é um fator muito expressivo para a interferência

retroativa (Dewar, Della Sala & Cowan, 2007; Wixted, 2004). Todavia, não é apenas

pela similaridade que uma tarefa pode interferir com outra (Willians & Donovick, 2008).

Uma das alternativas à hipótese da similaridade entre informação-interveniente e

informação-alvo é a de que o esforço mental exigido por estas tarefas possa ser o

diferencial para o surgimento ou não do efeito interferente (Dewar, Della Sala & Cowan,

2007). Ou seja, o efeito perturbador da interferência retroativa aconteceria pelo efetivo

uso de recursos mentais na realização da tarefa interferente por meio de esforço mental

11
durante o processo de consolidação da memória (Cowan, Beschin & Della Sala, 2004;

Dewar, Cowan & Della Sala, 2007, Dewar, Cowan & Della Sala, 2010).

Alguns estudos demonstram que quando a codificação da informação é seguida

de um intervalo sem realizar qualquer tarefa, as pessoas conseguem recordar

informações com mais facilidade (Abel & Bäuml, 2012; Dewar, Cowan & Della Sala,

2007; Dewar, Della Sala, Beschin & Cowan, 2010; Wixted, 2004; Wixted, 2010),

porém pouco se sabe se tal melhora é devida à não realização de tarefas que demandem

recursos mentais. Apesar do crescimento da disposição investigativa dos efeitos da

interferência retroativa quando relacionados à consolidação da memória, ainda há

estudos que, ao testar esta possibilidade, não conseguem encontrar um efeito tão

proeminente quantos os encontrado nos estudos com pacientes amnésicos (Alves, 2013;

Varma e cols. 2017).

1.2. Esforço Mental e o Esquecimento

“Esquecer não é uma simples vis inertiæ [força inercial], mas uma força inibidora,
ativa, graças à qual o que é por nós experimentado não penetra mais em nossa
consciência, (...) não poderia haver felicidade, jovialidade, esperança, orgulho,
presente, sem o esquecimento.”
Friederich Nietzsche, em Genealogia da Moral, 1887.

Aprender uma nova informação, ser flexível na resolução de problemas ou tomar

decisões acertadas são atividades comuns, porém complexas. A possibilidade da efetiva

realização destas atividades está diretamente limitada pela capacidade de processamento

cognitivo e dos recursos mentais que os indivíduos dispõem.

O Esforço Mental é o empreendimento cognitivo dos indivíduos na realização de

tarefas (Kahneman, 1973), ou seja, é o uso dos limitados recursos mentais afetando o

processamento de informações tanto em sua velocidade, quanto em sua efetividade

12
(Gopher & Donchin, 1986; Kahneman, 1973). Esforço Mental é um termo utilizado

para definir uma dimensão do conceito conhecido como Carga Cognitiva (Cognitive

Load) (Paas & van Merriënboer, 1994).

A Carga Cognitiva pode ser definida como um construto multidimensional

representando a carga imposta ao sistema cognitivo das pessoas, fruto da realização de

uma tarefa em particular (Paas e cols. 2003; Paas & van Merriënboer, 1994). Baseada

nas teorias de processamento e retenção de informações, a Carga Cognitiva (modelo na

Figura 3) é limitada pela capacidade da memória operacional - tanto visuais/espaciais,

quanto auditivas/verbais - que interage com a virtualmente ilimitada capacidade da

memória de longo prazo (Kirschner & Kirschner, 2012).

Figura 3: Esquema da Carga Cognitiva (Cognitive Load) traduzido de Paas & van Merriënboer

(1994), retirado de Alves e cols. (2017)

Os fatores causais são concebidos a partir da confluência de vias relacionadas

com as características da tarefa a ser realizada, do ambiente e do indivíduo que a

realizará. Os fatores causais implicados pelas características da tarefa podem ser

13
intrínsecos (ex: a aprendizagem de um conceito simples versus a aprendizagem de um

conceito complexo) ou extrínsecos (ex: ruídos no ambiente em que a tarefa é realizada);

o fator causal relacionado com o sujeito, estará relacionado às características subjetivas

dos indivíduos para esta realização (ex: recursos mentais disponíveis, conhecimento

prévio da tarefa e até possíveis estilos de aprendizagem). As características subjetivas

tendem a ser mais estáveis durante a realização de tarefas, tendo em vista que são

características pessoais de cada sujeito, todavia, a relação entre estas características

subjetivas, características da tarefa e as características do ambiente podem estar sujeitas

a condições mais instáveis, como a motivação do sujeito para a realização da tarefa ou

estado fisiológico em que este se encontra ao realizá-la.

Os fatores relacionados à avaliação, ou seja, como medir a carga cognitiva, são

definidos por três diferentes dimensões, sendo elas a carga mental, o esforço mental e a

performance (Paas & van Merriënboer, 1994). A Carga Mental (Mental Load) é o

aspecto da carga cognitiva originada das demandas cognitivas das tarefas e do ambiente.

Esta é uma dimensão ligada às características da tarefa, independente das características

do sujeito. Ou seja, não importando as características dos sujeitos que realizarão uma

tarefa complexa A contra uma tarefa simples B, a tarefa A sempre implicará em uma

maior demanda de carga mental.

Além da carga mental, o modelo da Carga Cognitiva também considera a

Performance (ou Desempenho). A Performance parece ser o conceito de mais simples

compreensão da carga cognitiva, tendo em vista que pode ser definida apenas como as

“conquistas” de quem aprende, o quão bem o indivíduo consegue realizar uma tarefa.

Performance pode surgir de diversas formas, como a pontuação correta em testes,

quantidade de erros cometidos, tempo realizando uma determinada tarefa dentre outros.

Indivíduos diferentes realizando a mesma tarefa (i.e. com carga mental igual), dispondo

14
de recursos mentais diferentes, podem obter performances iguais (mesma quantidade de

acertos, por exemplo), empreendendo quantidades de esforço mental diferentes (por

exemplo, um novato tenderia a alocar mais recursos mentais do que um indivíduo

experimente para a realizar a mesma tarefa e obter a mesma pontuação).

A dimensão da Carga Cognitiva mais importante para o presente estudo é o

Esforço Mental (Mental Effort/Cognitive Effort). Esforço mental é o aspecto da carga

cognitiva que está relacionado à capacidade de alocação de recursos mentais para a

realização de uma determinada tarefa, ou seja, o esforço mental reflete a capacidade do

indivíduo de realizar o processamento controlado de informações (Schneider & Shiffrin,

1977; Shiffrin & Schneider, 1977; Westbrook, Kester & Braver, 2011). Ele engloba

todos os fatores causais (características da tarefa e do ambiente, do sujeito e a relação

entre estas) tendo em vista que implica no investimento de um indivíduo para a

realização da tarefa.

O esforço mental pode ser mensurado enquanto os participantes estão realizando

uma tarefa ou após a realização dela, como exemplo, novamente utilizando as tarefas A

(complexa) e B (simples), poderia-se supor que a tarefa A - devido à sua complexidade -

sempre demandaria mais esforço mental para a sua realização, todavia, um certo

indivíduo pode simplesmente ter motivação maior para a realização da tarefa B e, com

isso, focar seus recursos mentais na realização desta em detrimento da tarefa A,

implicando maior esforço mental para a sua realização. Outra possibilidade é a de que

mesmo a tarefa A sendo mais complexa e demandante, quando um sujeito que já tenha

experiência com ela, mas nenhuma experiência com a tarefa B realiza as duas, ele terá

maior demanda de esforço mental para a realização da segunda do que da primeira (Paas

& van Merriënboer, 1994). Sweller e colabores (2011) propuseram conceitualmente que

15
as dimensões carga mental e esforço mental são constructos diferentes, porém

positivamente correlacionados.

Uma noção importante para a compreensão do funcionamento cognitivo é a de

que as informações são processadas pelos indivíduos por dois tipos diferentes de

sistemas, sendo um realizando um processamento automático e o outro realizando um

processamento controlado, ou seja, demandando esforço mental (Schneider & Shiffrin,

1977; Shiffrin & Schneider, 1977). Estes dois sistemas possuem características díspares

e antin micas, como é possível perceber na Tabela 1.

Tabela 1: Teoria do Processamento Dual de Informações (Alves e cols., 2017; Pereira e cols., 2011)

Sistema Automático Sistema Controlado

Velocidade de processamento rápido lento

Nível de processamento níveis relativamente altos


níveis baixos
cognitivo (exigem análise ou síntese)

Tipo de processamento realizado paralelamente realizado serialmente

não reduz a capacidade de reduz a capacidade de realizar


Carga de trabalho
realizar outras tarefas outras tarefas

fora do conhecimento
Grau de consciência exige conhecimento consciente
consciente

Quantidade de esforço pouco ou nenhum esforço


exige esforço intencional
intencional intencional

posterior ao sistema automático,


anterior ao sistema controlado, com o desenvolvimento das
Surgimento do sistema
devido às pressões evolutivas. capacidades conscientes e mais
complexas

tarefas conhecidas ou
tarefas novas ou com muitos
Novidade relativa das tarefas praticadas, com características
aspectos variáveis
estáveis

tarefas relativamente fáceis ou


Dificuldade das tarefas tarefas geralmente difíceis
treinadas

consomem recursos de atenção consomem muitos recursos


Uso de recursos atencionais
insignificantes atencionais

Flexibilidade menos flexível mais flexível

usualmente memória não usualmente memória declarativa


Tipos de memórias relacionadas
declarativa (implícita) (explícita) e memória operacional

16
Além de diversos outros fatores, estes sistemas se diferenciam principalmente

pela demanda de esforço mental que exigem (Kahneman, 1973; Paas & van

Merriënboer, 1994). O sistema automático vai processar as informações sem exigir

esforço, enquanto que o sistema controlado exige esforço por definição. As tarefas

relacionadas com o processamento controlado são habitualmente mais complexas que as

tarefas relacionadas com o processamento automático (apesar de não necessariamente

consistir de tarefas difíceis), ocorrendo também de forma mais lenta. O sistema

controlado está associado às funções cognitivas mais complexas, permitindo o

surgimento de alicerces fundamentais para a consciência e linguagem, logo o uso de

recursos mentais para a realização de tarefas controladas é maior do que para a

realização de tarefas automáticas (Schneider & Shiffrin, 1977; Shiffrin & Schneider,

1977).

1.3. Mensurando o Esforço Mental: Pupilometria

“The only true voyage of discovery, (... would be) to possess other eyes, to

behold the universe through the eyes of another...”

Marcel Proust

Remembrance of Things Past (or In Search of Lost Time)

Quando um indivíduo realiza tarefas que exigem um determinado esforço mental,

a mudança no diâmetro pupilar é um indicativo diretamente proporcional à atividade

mental empreendida (Goldinger & Papesh, 2012; Heitz, Schrock, Payne & Engle, 2008;

Hess & Polt, 1964; Jainta & Baccino, 2010; Kahneman & Peavler, 1969; Moresi e cols.,

2008; Otero, Weekes & Huton, 2011; Picado, Isaacowitz & Wingfield, 2010). O

17
registro da variação do diâmetro pupilar dos indivíduos é também chamado de

pupilometria (Laeng e cols., 2012).

A dilatação da pupila está altamente correlacionada com outras técnicas

utilizadas para mensurar a atividade mental, como técnicas de neuroimagem e de

potencial evocado (Just, Carpenter & Miyake, 2003), sendo possível também utilizar a

dilatação da pupila para medir outros aspectos cognitivos como a capacidade da

memória operacional, atenção, percepção e reconhecimento (Beatty & Lucero-Wagoner,

2000; Heitz, Schrock, Payne & Engle, 2008; Goldinger & Papesh, 2012; Otero, Weekes

& Huton, 2011). Sendo assim, a dilatação da pupila proporciona um índice da atividade

cerebral dinâmico e único para a correlação de dados psicológicos e fisiológicos

(Andreassi, 2000; Beatty, 1982; Beatty & Lucero-Wagoner, 2000; Kahneman, 1973),

pois reflete fatores aut nomos periféricos que, apesar de não estarem fisiologicamente

relacionados de forma explícita aos processos cognitivos centrais, já se revelaram

empiricamente relevantes e precisos para tal mensuração cognitiva (Beatty & Lucero-

Wagoner, 2000).

A principal reação pupilar está relacionada à luminosidade e a reflexos

aut nomos para a adaptação à mudança constante dessa luminosidade a qual os

indivíduos são submetidos constantemente (Andreassi, 2000; Beatty & Lucero-Wagoner,

2000). Mas há também uma pequena alteração no diâmetro pupilar não relacionada a

tais oscilações, mas sim à cognição, e tal alteração, apesar de sutil – aproximadamente

com um limite máximo de 0,5 mm –, se comparada ao tamanho máximo da dilatação da

pupila relacionada à luminosidade, é considerada uma forma de retratar o grau de uso de

recursos mentais pelos indivíduos (Beatty & Lucero-Wagoner, 2000; Hess & Polt, 1964;

Kahneman & Peavler, 1969).

18
1.4. Interferência Retroativa de Diferentes Demandas Cognitivas na

Consolidação da Memória

Em um estudo anterior, entitulado “Interferência Retroativa de Diferentes

Demandas Cognitivas na Consolidação da Memória” (Alves, 2013), verificamos se o

esforço mental atuaria de forma gradual na consolidação da memória, ou seja, se a

entrada de informações intervenientes de diferentes demandas cognitivas causaria um

efeito interveniente semelhante na capacidade de recordação e reconhecimento de listas

de palavras. O estudo contou com dois experimentos. No primeiro experimento, entre a

apresentação de Listas de Palavras e a recordação destas, o participante realizava por

três minutos tarefas de Geração Aleatória de Números (GAN) com demanda mais baixa

(um número a cada dois segundos) e uma geração com demanda mais alta (um número

por segundo) (Hamdan, Souza, & Bueno, 2004), além de um intervalo vazio no qual

nenhuma tarefa era realizada e havia a recomendação de que o participante não

reverbera-se as palavras da lista. Já no segundo experimento, a tarefa de GAN mais

rápida foi substituída por uma tarefa de Geração Serial de Números - ou, simplesmente,

Contagem - na qual o participante contava repetidamente durante três minutos números

de 1 a 9.

Com os resultados deste estudo concluímos que a interferência retroativa ocorre

quando há a entrada de tarefas demandantes, mas não de forma proporcional à

magnitude do esforço mental utilizado. No primeiro experimento foi encontrado um

efeito de tarefa versus intervalo vazio, já no segundo, este efeito se perdeu. Com isso, é

possível que este efeito interveniente na consolidação da memória esteja sujeito a outros

fatores ainda não investigados em sua totalidade, como o contexto ou a suscetibilidade à

interferência que se torna maior ao se impedir uma recuperação efetiva dos intens na

memória de longo prazo devido ao contexto experimental.

19
Em Alves (2013) o material apresentado pós-aprendizagem e intervalos (Vazio,

GAN e Contagem) era dissimilar ao estímulo-alvo (Palavras), o que permitiu excluir um

efeito das tarefas pela similaridade do conteúdo, algo pouco realizado por pesquisadores,

tendo em vista que estes tendem a focar na interferência por itens semelhantes (Cowan e

cols., 2007; Wixted, 2004). Logo, tendo em vista que a interferência não específica

(com itens dissimilares) ainda é pouco investigada, estes resultados trouxeram

questionamentos acerca do efeito de tarefas intervenientes na consolidação da memória.

Hipóteses foram levantadas para tentar compreender como ocorreu o efeito

interveniente a partir do nosso estudo anterior: A primeira é a de que o empreendimento

dos participantes na realização de tarefas que exijam alto esforço mental superem em

algum momento um limiar de recursos mentais que os indivíduos poderiam dispor para

a realização destas, e assim, tornem o indivíduo suscetível à interferência a partir da

entrada de diversas tarefas demandantes somadas que consigam ultrapassar este limiar

de esforço mental. Uma soma abaixo do limiar não causaria efeito nenhum de

interferência, mas a partir do limiar superado, o efeito surgiria, afetando de forma

considerável a capacidade dos indivíduos de recuperarem informações. Esta

incapacidade poderia ser fruto da falta de recursos mentais para consolidação da

memória (Dewar, Cowan, & Della Sala, 2007), como também pela incapacidade de

fazer uma boa recuperação episódica das informações gerada no contexto cognitivo dos

indivíduos após uma série de tarefas demandantes que os tornaria mais suscetíveis às

interferência retroativas e proativas (Lepage e cols., 2000; Varma e cols., 2017).

A segunda hipótese seria a de que o tempo utilizado para a interferência em

Alves (2013) não foi o suficiente para que a consolidação da memória fosse afetada.

Tendo em vista que a consolidação da memória é um processo que não tem o seu tempo

de duração ainda estabelecido e que o estudo fez tarefas de três minutos, este tempo

20
pode não ter sido o suficiente para causar a interferência retroativa de forma mais

visível justamente por essa variabilidade no Tempo de Consolidação da Memória

(TCM). Ou seja, o efeito que surgiu no primeiro experimento poderia surgir no segundo

após mais algum tempo de tarefa. Esta hipótese se apoia na ideia de que, durante a

consolidação da memória, elas estão inicialmente lábeis e a interferência pode ser

tempo-dependente (Sosic-Vasic e cols., 2018).

Há ainda mais duas hipóteses passíveis de teste, apesar de apresentarem-se de

forma mais cautelosa. A hipótese do Treino/Efetividade na realização da tarefa (TREF)

seria a de que a partir da realização efetiva das tarefas, os indivíduos dividam a

capacidade de recursos cognitivos e atencionais entre esta tarefa e a recordação,

afetando a capacidade de recordação posterior. Contraintuitivamente, essa realocação

seria positiva, ou seja, uma melhora na realização das tarefas não geraria uma perda na

recordação, mas sim um ganho. Um balanceamento semelhante é encontrado em tarefas

perceptuais e metacognitivas, em que os indivíduos tendem a realocar seus recursos

atencionais para conseguirem uma realização optimizada em todas as tarefas

(Maniscalco e cols., 2017). Este realocação pode indicar que ao se realizar uma tarefa

com mais efetividade, menos recursos são necessários para realizá-la e, com isso, menos

suscessitibilidade à interferência vai ocorrer. A outra é a de que a utilização de tarefas

prioritariamente executivas (GAN) e/ou automáticas (Contagem) no nosso estudo

anterior tenha surtido pouco efeito na consolidação da memória devido a uma não

relação entre as estruturas cerebrais responsáveis pela realização destas tarefas e as

responsáveis pela consolidação da memória. É proposto no presente estudo que essa

hipótese dos Tipos de Sistemas Cognitivos também seja testada.

As quatro hipóteses do presente estudo são também propostas seguindo

evidências recentes encontradas na literatura que demonstram que a Memória

21
Operacional também está submissa aos efeitos do esquecimento devido à interferência

(Hardt, Nader & Nadel, 2013; White, 2012), e assim, argumente-se que uma boa

Capacidade de memória operacional possua um efeito de resistência à interferência

(Cowan & Saults, 2012). Kane e Engle (2000) em um de seus estudos encontraram que

participantes com alta capacidade de memória operacional eram menos suscetíveis à

interferência proativa quando não havia tarefas que demandavam recursos atencionais,

mas apresentavam a mesma suscetibilidade das pessoas com baixa capacidade de

memória operacional durante a aquisição de novas palavras quando havia uma tarefa

com demanda atencional concorrente. Ou seja, participantes com alta capacidade de

memória operacional usam recursos atencionais para resistir à interferência proativa,

nossos resultados com interferência retroativa em Alves (2013) parecem apontar para

um caminho semelhante. Sendo assim, outros aspectos dos sistemas de processamento

parecem estar sujeitos às influências de interferências (Andrejkovics, Balla & Bereczki,

2013; Unsworth, Brewer & Spillers, 2013a; 2013b).

Uma possibilidade plausível é a de que o processo de consolidação da memória

seja um fen meno completamente independente de recursos atencionais e cognitivos,

fato que explicaria os resultados encontrados anteriormente (Alves, 2013; Varma e cols.,

2017) e com isso, o efeito de perda de informações encontrados em alguns estudos

(Cowan, Beschin, & Della Sala, 2004; Dewar, Cowan, & Della Sala, 2007) esteja na

verdade relacionado com a incapacidade dos indivíduos de realizar uma efetiva

recuperação da memória episódica - Modo de Recuperação (Retrieval Mode) - devido

ao aumento de interferência (Düzel e cols., 1997; Unsworth, Brewe, & Spillers, 2003a;

2003b) e redução da capacidade da memória operacional (Andrejkovics, Balla &

Bereczki; 2013, Cowan & Saults, 2012; Kane & Engle, 2000).

22
A partir do que fora explicitado acima sobre as hipóteses do presente estudo, é

possível assumir que a hipótese LEC, além da interferência retroativa, também

contempla o efeito da interferência proativa, tendo em vista a soma de estímulos

intervenientes prévios, logo, é possível que um processamento automático seja realizado

durante a codificação de novas tarefas, gerando uma suscetibilidade à interferência,

assim como demonstrado por estudos recentes (Ben- akov, Eshel e Dudai, 2013;

Öztekin & Badre, 2011; Raajimakers e Jakab, 2013). Já as hipóteses de TCM, TREF e

SISP são hipóteses prioritariamente de interferência retroativa. Tendo em vista que não

há estudos que investiguem a influência do esforço mental como estímulo que provoque

interferência de formas variadas, relacionando-a a diferentes aspectos do processamento

de informações pelos indivíduos, o presente estudo se faz importante, sendo um estudo

exploratório e confirmatório em seu teste de hipóteses.

23
2. Justificativa

O presente estudo se propõe a investigar qual a relação entre a perda de

informações devido à entrada de informações concorrentes e, a partir das hipóteses

propostas em estudos anteriores, testar possibilidades explicativas plausíveis para a

suscetibilidade à interferência na memória gerada a partir de tarefas que demandem

esforço mental dos indivíduos. A testagem destas hipóteses poderá indicar novos

caminhos para estudos sobre o esquecimento e, com isso, futuramente gerar práticas

clínicas e educacionais que permitam uma melhor efetividade para a aprendizagem.

Neste sentido, o presente estudo buscará investigar aspectos importantes para a

discussão teórica na ciência da memória e neuropsicologia clínica e cognitiva.

24
3. Objetivos

a. Objetivo Geral

O objetivo geral do presente estudo é investigar o efeito da entrada de tarefas de

interferência com diferentes demandas cognitivas e suas consequências.

b. Objetivo Específico

Testar as seguintes hipóteses acerca da relação entre esforço mental e o

esquecimento, sendo estas:

 Uso de recursos mentais:

 Limiar de esforço mental/mental (LEC): O uso de recursos mentais

fará com que os indivíduos se tornem mais suscetíveis à interferência

devido a um efeito de redução da capacidade destes de realizar o modo

de recuperação, controlando a perda de informações causadas pela

interferência;

 Treino/Efetividade na realização da tarefa (TREF): Haverá um trade-

off entre a melhora na realização das tarefas e o aumento da

suscetibilidade à interferência devido a realocação de recursos mentais.

 Tempo de Consolidação da Memória (TCM): O esquecimento será gerado

pela interferência no período de labilidade da memória - período inicial -

em que ocorre a demanda interveniente;

 Sistemas de processamento (SISP): A interferência será proveniente da

realização de tarefas que recorram ao uso de sistemas cognitivos similares

aos requeridos para a consolidação da memória (memória operacional).

25
4. Métodos

O presente estudo foi formado por quatro experimentos visando testar as

hipóteses geradas a partir dos resultados de trabalhos anteriores. Com a exceção de

detalhes a serem especificados em seu devido subitem, os instrumentos e análises que

serão detalhados a seguir, foram utilizados em todos os experimentos.

4.1. Participantes

O estudo foi realizado com participantes saudáveis com ensino superior

completo ou incompleto. Voluntários recrutados por e-mail enviado para as secretarias

dos departamentos da Unifesp/EPM e outras universidades paulistanas. Os participantes

poderiam ser de ambos os sexos e com faixa etária de 18 a 30 anos. Os participantes

possuiam o português como primeira língua.

Os critérios de exclusão para os estudos eram: histórico de uso de drogas e/ou

tratamento com fármacos com atuação no sistema nervoso central, além de qualquer

histórico de transtornos psiquiátricos e/ou neurológicos; Participantes que utilizassem

drogas oftalmológicas e/ou apresentassem sintomas oftalmoplégicos.

Também foi respondido um Questionário Estruturado de Saúde (Anexo 1) pelos

participantes para a certificação de que estes estariam aptos para a participação do

estudo, segundos os critérios de elegibilidade.

Cada sessão dos experimentos foi realizada individualmente, com duração

máxima de uma hora e quinze minutos, contando com a realização do experimento,

explicações sobre o procedimento para os participantes, além de ajuste do aparelho de

eye-tracker.

26
4.2. Aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa (Anexo 2)

O experimento foi conduzido de acordo com regulamentos e diretrizes

institucionais relevantes, e foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal de

São Paulo. Todos os participantes leram e assinaram um termo de consentimento

informado. CAAE: 25540214.0.0000.5505

4.3. Materiais e Instrumentos.

4.3.1. Aparato de Eyetracking e mensuração do diâmetro pupilar (Anexo 3)

Para o registro do diâmetro da pupila foi utilizado o aparelho Tobii T120® Eye-

Tracker, desenvolvido pela Tobii Technology (Danderyd, Suécia), com as seguintes

especificações técnicas: monitor com tela plana de 17 polegadas; mensuração de dados

em 120 Hz; acurácia de 0.5 graus; 30 x 22 x 30 cm; 1280 x 1024 pixels; registro

binocular; e compensação automática de claridade. A tela do eye tracker permanecia

preta durante todo o experimento, com uma pequena cruz braca (ponto de fixação) no

centro da tela. Os participantes se sentavam a uma distância de aproximadamente 60cm

da tela. Tendo em vista que o foco do estudo eram os dados pupilométricos e o aparelho

de eye tracker utilizado compensava automaticamente pequenos movimentos de cabeça,

a cabeça dos participantes não foi restringida. O eyetracker registrava o diâmetro das

pupilas esquerda e direita simultaneamente. O experimento foi realizado em uma sala

completamente fechada e com iluminação artificial, e assim não houve diferença na

luminosidade das coletas entre participantes. A luz artificial da sala tinha por volta de

800 lux (condição em que a média basal do diâmetro pupilar está por volta de 4.5 cm).

Durante os experimentos os participantes se sentavam confortavelmente em frente ao

eye tracker a uma distância de aproximadamente 65cm da tela do aparelho (verificada

antes de cada calibragem), a altura da cadeira em que os participantes sentavam era

27
regulada com o propósito de deixá-los com seus olhos centralizados em relação à tela.

Uma calibragem individual de nove pontos foi realizada antes de cada registro

pupilométrico.

Antes da análise, os dados obtidos pelo eye tracker passaram por um tratamento

no qual eram excluídos qualquer registro em que o sistema acusasse não ter conseguido

gravar corretamente a pupila do participante; comumente com o piscar de olhos, porém

também pode haver perdas de sinais devido à movimentação ostensiva da cabeça dos

participantes (poucos eventos encontrados durante esse estudo). No início do

experimento ocorria o registro da pupila do participante para se obter uma média basal

do diâmetro pupilar, a fim de posteriormente realizar o cálculo para se obter a dilatação

da pupila. Durante esse registro basal o participante deveria observar a tela do eye

tracker por três minutos, sendo recomendado que não pensasse ou realizasse qualquer

esforço mental neste intervalo. A dilatação da pupila em cada condição (DPupil) era

obtida com o cálculo da média do diâmetro da pupila obtida na condição experimental

(MPC) subtraída pela média do diâmetro do registro basal (MPB) que aconteceu antes

de todo o experimento: MPC – MPB = DPupil. Após isso, foi obtida uma média da

dilatação da pupila nos dois olhos.

A análise da dilatação da pupila se dará pela média, pois analisar apenas o auge

da dilatação torna os dados mais suscetíveis a ruídos intervenientes (Goldinger &

Papesh, 2012; Klingner e cols., 2011). A decisão pela utilização de uma média basal de

três minutos, ao invés de uma baseline de apenas um segundo antes de cada trial se deu

pelo fato de que as tarefas realizadas nesses estudos tinham longa duração - 3 ou 6

minutos - e com esta média basal era possível se considerar a adequação e flutuação

fisiológica natural das pupilas durante um grande intervalo de tempo realizando uma

atividade. Resultados discrepantes na dilatação da pupila foram retirados utilizando uma

28
média truncada que excluiu 10% de dados extremos (outliers e erros de sinal). Em todos

os participantes a média truncada foi igual à média normal, garantido uma média pupilar

segura.

4.3.2. Lista de Palavras

Foram utilizadas listas com quinze palavras cada em todos os experimentos

deste estudo, sendo estas palavras substantivos concretos da língua portuguesa, não

relacionados semanticamente ou foneticamente entre si e com duas ou três sílabas (Ruiz,

2006). As listas de palavras utilizadas no estudo podem ser verificadas no Anexo 4.

4.3.2.1. Recordação Livre – O escore da Recordação Livre foi a quantidade

média de palavras recordadas. Não foi feita recordação imediatamente após a

apresentação da lista para evitar um efeito de Recuperação-Induzida, onde as palavras

recuperadas imediatamente sobrepõe-se às não recuperadas.

4.3.2.2. Posição Serial – Nesta análise é verificada a recordação das diferentes

palavras conforme a sua posição de entrada. Tal análise é feita por meio da curva de

Posição Serial (Bueno, 2001). A recordação por posição serial nas listas de palavras nos

experimentos foi calculada em grupos de três palavras: Inicial (Ini), posições de 1 a 3;

Intermediária anterior (I-Ant), 4 a 6; Intermediária central (Centro), 7 a 9; Intermediária

posterior (I-Post), 10 a 12; e Final (Fim), 13 a 15. O efeito de Primazia pode ser

encontrado a partir da incidência significativa de mais palavrais iniciais (Ini) da lista do

que das centrais (I-Ant e Centro, principalmente), enquanto que a Recência é encontrada

com a diferença das palavrais finais (Fim) para as centrais (I-Post e Centro,

principalmente) (Gruneberg, 1972).

29
4.3.3. Metrônomo

Um metr nomo digital foi utilizado para que os participantes pudessem realizar

as tarefas de GAN e Contagem.

4.3.3. Tarefas

4.3.3.1. Geração Aleatória de Números (GAN)

Nesta tarefa o sujeito é instruído a gerar números entre 1 e 9, de modo aleatório,

evitando a geração de sequências pré-definidas (como por exemplo, 3,4,5 ou 9,8,7)

(Schulz, Schmalbach, Brugger & Witt, 2012). Este teste requer o envolvimento de

múltiplos processos, como manutenção das instruções da tarefa e do próprio conceito de

aleatoriedade na memória de longo prazo; integração dessa informação e sua

concomitante manutenção na memória operacional; adoção de estratégias que envolvam

a seleção de respostas apropriadas e inibição de respostas inapropriadas; monitoramento

das respostas; e modificação ou alternância das estratégias empregadas, mantendo assim

a aleatoriedade requisitada pela tarefa (Hamdan, Souza & Bueno, 2004; Jahanshahi e

cols., 2006).

No presente estudo apresentamos três condições para a GAN: Em A-GAN (Alta

Geração Aleatória de Números; G-1/1 no primeiro estudo-piloto) o participante gerava

os números em uma velocidade de um número por segundo, enquanto que na condição

B-GAN (Baixa Geração Aleatória de Números; G-1/2 no primeiro estudo piloto) o

participante gerava um número a cada dois segundos. Os resultados em Alves (2013)

corroboraram a literatura, demonstrando que estas tarefas demandam recursos

cognitivos de forma diferente e gradual, sendo que A-Gan é uma tarefa mais exigente e

B-Gan menos, mas ainda assim, as duas são difíceis (Alves, 2013; Hamdan, Souza &

Bueno, 2004).

30
Os resultados da Geração Aleatória de Números foram computados e gerados

com o programa RNG Calculator (Towse & Neil, 1998) para se encontrar o índice RNG

(ou índice Evans), índice de aleatorização, além da porcentagem da quantidade de

números (%N) gerados por participante para o máximo possível nos experimentos – 90

números na condição B-GAN e 180 na condição A-GAN (Evans, 1978; Towse & Neil,

1998). Como o índice Evans depende da quantidade de gerações realizadas, foi

estabelecida a quantidade de 90 gerações em qualquer uma das condições para o cálculo

deste índice.

Das tarefas utilizadas no presente estudo, a Geração Aleatória de Números é uma

tarefa que, apesar de possuir níveis diferentes de dificuldade a depender da velocidade

de geração (Hamdan, Souza & Bueno, 2004), é complexa e exige a utilização do

sistema controlado de processamento (Dirnberger & Jahanshashi, 2010; Jahanshashi e

cols., 2006; Neuringer, 1986). Ao demandar a utilização de recursos cognitivos e

atencionais por parte dos indivíduos, a randomização de números se constitui então em

uma tarefa complexa para eles (Neuringer, 1986; Scott, Barnard & May, 2001). A tarefa

de GAN pode possuir níveis graduais de dificuldade dependendo da taxa de respostas

requerida, inclusive reduzindo a capacidade da Memória Operacional e de outras

Funções Executivas (Dirnberger & Jahanshashi, 2010; Hamdan, Souza & Bueno, 2004;

Jahanshashi e cols., 2006).

4.3.3.2. Geração Serial de Números (Contagem; CONT)

Esta tarefa consiste em uma contagem de 1 a 9 repetidamente. Na tarefa utilizada

em todos os experimentos deste estudo como tarefa-controle o participante contava um

número por segundo. A tarefa de contagem (uma simples contagem de 1 a 9), por

possuir uma lógica pré-definida e altamente treinada, tende a se tornar automática

31
rapidamente e assim exigir relativamente menos recursos cognitivos dos indivíduos, ela

utiliza um nível de recursos cognitivos semelhante à não realização de tarefas (Alves,

2013), com a vantagem de suprimir um possível efeito de reverberação de palavras

pelos participantes.

4.3.3.3. Tarefa de span de Contagem (Counting Span Task; C-SPAN)

Esta tarefa visa investigar a Capacidade de Memória Operacional dos indivíduos.

Em uma tela de computador o participante vê objetos e deve contá-los e após algumas

séries de contagem ele recordava quantos objetos viu em todas as telas, na mesma

ordem de apresentação. Essa tarefa verifica a capacidade dos indivíduos de arquivar e

processar informação ao mesmo tempo, pois na tarefa eles contam estímulos que

surgem em diversas telas e simultaneamente tentam manter a quantidade de estímulos

contados em cada tela, recordando todos no final, em um sistema em que o número de

contagens vai aumentando e assim, requerindo ainda mais capacidade de memória

operacional para conseguir realizá-la (Case, Kurland & Goldberg, 1982; Conway e cols.,

2005).

A teoria do esforço mental afirma que este está intrínsicamente relacionado com

a capacidade de retenção de informações da memória operacional, junto com os

sistemas de processamento cognitivo (Alves e cols, 2017; Kirschner & Kirschner, 2012).

Com isso, a tarefa C-SPAN poderá se mostrar uma tarefa extremamente demandante e

que afete de forma mais proeminente a consolidação da memória no paradigma

utilizado em nossos estudos. Com isso buscamos testar se o possível efeito interferente

na consolidação da memória está mais relacionado com uma interferência por

similaridade dos estímulos - tarefa de memória operacional - do que pelo uso do esforço

mental.

32
4.3.3.4. Intervalo Vazio

É chamado de intervalo vazio o intervalo em que o participante não realiza

tarefas. Na condição Vazio o participante apenas era instruído a observar a tela do

aparelho de eye tracker, porém ele recebia também a instrução de que era

imprenscindível que não reverberasse ou pensasse nas palavras da lista e mesmo, se

possível, em qualquer outra coisa.

33
5. Experimentos-Pilotos

Perguntas e proposições experimentais:

 Verificar a diferença de esforço mental nas tarefas que serão utilizadas

nos experimentos, porém sem tarefas de memória (que poderiam afetar

dilatação pupilar devido à Carga Cognitiva): Exp-Piloto1.

 Testar a validade do que foi encontrado em Alves (2013), em que as

tarefas de Contagem não afetariam a recordação da lista de palavras,

servindo como uma tarefa controle mais apta experimentalmente que o

intervalo Vazio: Exp-Piloto1 e Exp-Piloto2.

 Testar a hipótese levantada em Alves (2013) de que a ordem da

realização das tarefas afetará a suscetibilidade à interferência para a

posterior recordação das listas de palavras (hipótese da utilização de

recursos mentais): Exp-Piloto3.

34
5.1. Experimento-Piloto 1: Controle da demanda cognitiva das tarefas

Tendo em vista o que foi encontrado no estudo anterior realizado por Alves

(2013), os experimentos-piloto aqui realizados foram desenhados com a intenção de

verificar e controlar alguns pontos que se tornam importantes para a testagem das

hipóteses propostas no presente estudo. O Experimento Piloto 1 (Exp-Piloto1) tem

como proposta testar a dilatação da pupila dos participantes enquanto realizam tarefas

com diferentes demandas cognitivas - tarefas utilizadas nos experimentos posteriores

desta tese - sem a presença da tarefa de recordação de lista de palavras, evitando com

isso um aumento pupilar fruto da carga mental proveniente da retenção destas palavras.

Neste Experimento-Piloto, nos propusemos a verificar o esforço mental

empreendido por participantes na realização de tarefas automáticas (i.e., baixa utilização

de recursos mentais: Contagem), controladas (i.e., utilização relevante de recursos

mentais: GAN), e o intervalo Vazio, que poderia ser considerado de exigência nula de

recursos mentais. Todavia, no trabalho anterior foi sugerido a partir dos resultados

encontrados através da dilatação da pupila que a tarefa Contagem de um número por

segundo exige a mesma demanda mental que o intervalo Vazio, com a vantagem de não

permitir a reverberação das palavras das listas.

5.1.1. Participantes

Participaram deste experimento 17 voluntários de ambos os sexos, porém dois

participantes foram excluídos devido aos seus dados pupilométricos não

corresponderem ao nosso critério de qualidade, restando 15 participantes (média de

idade 24,38 (± 3,50) anos; escolaridade 14 (± 2,55)) anos. Destes participantes, 11 eram

mulheres (73,33%).

35
5.1.2. Tarefas

As tarefas utilizadas neste experimento foram as já citadas Geração Serial de

Números (CONT), Geração Aleatória de Números (GAN), e o intervalo Vazio. Contudo,

pare permitir uma análise aprofundada do esforço mental nestas tarefas, estas foram

realizadas em diferentes ritmos de geração. Para as tarefas Contagem, além da geração

de um número por segundo (que chamaremos neste experimento de C-1/1s), também

foram acrescentadas as gerações de um número a cada dois segundos (C-1/2s), de um

número a cada oitocentos milésimos de segundo (C-1/.8s), e apenas números ímpares a

cada segundo (COdd-1/1s). As tarefas GAN tiveram gerações de um número por

segundo (neste experimento chamado de G-1/1s para padronização), um número a cada

dois segundos (aqui chamado de G-1/2s), e um número a cada oitocentos milésimos de

segundo (G-1/.8s).

5.1.3. Análises pupilométricas adicionais

Para este experimento, também foram analisados dois índices extras à dilatação

da pupila, sendo estes as piscadelas (blinks) e os picos pupilares (pupil peaks). Após o

tratamento do banco de dados - conforme explicado anteriormente - os picos pupilares

foram escontrados com uma simples análise exploratória das médias pupilares. As

piscadelas foram contadas de acordo com o seguinte critério: 1) mudanças rápidas e

bruscas na dilatação pupilar (acima de 0,4 mm em 0,06 s); e 2) A incapacidade do eye

tracker de registrar os dois olhos simultaneamente por pelo menos .06s. Qualquer sinal

que não correspondesse a esses critérios foram considerados artefatos e retirados da

análise estatística. Uma breve explicação deste processo pode ser encontrado em anexo

(Anexo 5)

36
Piscadelas e picos pupilares podem ser usados como índices relevantes à análise

do esforço mental realizado em tarefas. Piscadelas ocorrem como preparação

incosciente dos participantes para uma tarefa que demandará esforço mental e a

posterior estabilização cognitiva proveniente do fim da realização destas tarefas (Siegle,

Ichikawa, & Steinhauer, 2008). Picos pupilares indicam não só o momento em que o

esforço mental exigido pelas tarefas chega ao seu auge, como também se equivalem às

piscadelas no propósito de análise da utilização de recursos mentais. Para o

Experimento-Piloto 1 utilizamos estes índices para verificar se poderiam ser de

importante valia para os experimentos posteriores, tendo em vista que os experimentos

em Alves (2013) não utilizaram estes índices.

5.1.4. Procedimento

Cada sessão experimental foi conduzida individualmente e durou cerca de 40

minutos. Após o registro da média basal do diâmetro pupilar dos participantes e da

explicação das tarefas que os participantes realizariam, eles realizaram cada tarefa de

forma pseudo-aleatória - diferente para cada participante - por três minutos cada com

um minuto de intervalo para descanso entre tarefas.

5.1.5. Resultados

A ANOVA de medidas repetidas realizada para analisar a dilatação da pupila

dos participantes nas diferentes condições encontrou diferença estatística [F (7; 98) =

16,733, p < .001], e o teste post-hoc de Bonferroni mostrou diferença entre as condições

GAN e todas as outras (Contagens e intervalo Vazio) [p < 0,05; d > 1,0]; e entre o

intervalo Vazio e todas as outras condições [p < 0,05; d > 0,6], exceto para a condição

C1/1s [p = 0,43] (Figura 4).

37
Figura 4: Médias e erros-padrão da Dilatação da pupila (mm) por tarefa do EXP-Piloto1. *

Representa diferença estatística entre as condições e as outras (p<0,05). # Representa diferença estatística

(p<0,05) entre a condição VAZIO e todas as outras condições, exceto a condição C-1/1s.

Para a ANOVA de medidas repetidas realizada para o pico pupilar, encontramos

diferença estatística entre as condições [F (7; 98) = 8,013, p < 0,001]; o post-hoc de

Bonferroni mostrou diferenças entre GAN e as outras condições [p < 0,001; d > 1,0],

exceto COdd-1/1s [p = 0,45 para G-1/2s; p = 0,24 para G-1/1s; e p = 0,62 para G-1/.8s]

e C-1/2s [p = 1,0 para G-1/2s; p = 1,0 para G-1/1s; e p = 1,0 para G-1/.8s].

Os picos pupilares em todas as condições aconteceram no primeiro minuto de

realização das tarefas, inclusive no intervalo vazio, quando os participantes estão mais

direcionados à realização das tarefas, ou seja, quando mesmo as tarefas Contagem ainda

não estão automatizadas. A análise das piscadelas não revelou diferença (Tabela 2).

Tabela 2: Resultados dos Picos Pupilares e Piscadelas do Experimento-Piloto 1

VAZIO C-1/2s C-1/1s C-1/.8s COdd-1/1s G-1/2s G-1/1s G-1/.8s p

Picos 0,02 0,43 0,18 0,26 0,34 0,41 0,41 0,33


<0,05
Pupilares (±0,3) (±0,3) (±0,23) (±0,32) (±0,31) (±0,2) (±0,27) (±0,32)

20,1 19,1 19,6 16,8 22,1 18,5 20,1 18,9


Piscadelas 0,78
(±11,0) (±9,8) (±10,6) (±12,2) (±8,7) (±9,9) (±9,6) (±10,9)

Nota: Médias (±Desvio Padrão) dos picos pupilares em milímetros e piscadelas por quantidade.

38
Uma correção foi realizada para determinar a relação entre o índice de

aleatorização Evans e a dilatação da pupila nas condições GAN. Apesar da forte

correlação entre as condições GAN (G-1/2s e G-1/1s [r = 0,89; p < 0,001]; G-1/2s e G-

1/.8s [r = 0,92; p < 0,001]; e G-1/1s e G-1/.8s [r = 0,92; p < 0,001]), não encontramos

correlação entre a dilatação da pupila e o índice Evans (G-1/2s [r = 0,09; p = 0,74]; G-

1/1s [r = 0,33; p = 0,20]; G-1/.8s [r = 0,31; p = 0,23]).

5.1.5. Discussão

Os resultados deste estudo indicaram diferenças na dilatação da pupila entre as

tarefas Contagem (processamento automático), GAN (processamento controlado) e o

intervalo Vazio. Considerando a dilatação da pupila como uma medida da demanda

cognitiva, as tarefas GAN foram todas igualmente exigentes e mais exigentes (maior

dilatação da pupila) do que as tarefas de Contagem e o intervalo Vazio. Portanto, nossas

tarefas demandam processos sem esforço mental e com esforço mental que podem ser

claramente diferenciados pelo uso de pupilometria, como demonstrado na literatura

(Beatty & Lucero-Waggoner, 2000; Kahneman, 1973). Porém mesmo tarefas

automáticas extremamente simples exigirem mais recursos do que um intervalo Vazio.

A única exceção foi encontrada na condição C1/1s, que foi tão demandante

quanto o intervalo Vazio. Isso pode ser explicado pela facilidade desta tarefa em

particular, que exige um esforço mental tão pequeno, equivalente a um intervalo não

preenchido (Posner & Fan, 2008). Esta tarefa de contagem em particular parece ter um

efeito teto em sua realização, talvez pelo fato de que este ritmo de contagem tende a ser

o mesmo que as pessoas realizam em diversos momentos de sua vida. Apesar de mais

evidências serem necessárias para certificar essa afirmação, este resultado confirma a

39
proposta de Alves (2013) da utilização dela como uma condição de controle substituta

ao intervalo Vazio em termos de esforço mental.

Os resultados para os picos de dilatação da pupila durante nossos testes

corroboram esses achados, diferenciando novamente tarefas com baixa demanda

cognitiva e aquelas com alta demanda cognitiva. No entanto, os picos das tarefas de

Contagem foram semelhantes aos picos do intervalo Vazio, exceto pela contagem de

números ímpares (COdd-1/1s). O pico sinaliza o início da demanda atencional e

geralmente ocorre no início das tarefas (Siegle e cols., 2008). Este resultado implica que

as tarefas de contagem - provavelmente por causa de sua lógica já entranhada - não

obrigam o participante a ajustar seu comportamento no início da tarefa, diferentemente

das tarefas GAN. Essa ideia também explica o resultado diferente da condição de

COdd-1/1s, considerando que, embora exija baixa realocação e preparação cognitiva,

não é tão simples quanto contar de 1 a 9, pois o participante deve inibir o contar de

números pares.

Outro ponto é que os picos de dilatação da pupila ocorrem no início das tarefas

enquanto o participante ainda está se adaptando a elas e acompanhando o metr nomo.

Como já foi mostrado em Wierda e colaboradores (2012), o início da realização de

tarefas é o momento em que as pessoas fazem ajustes para produzir um melhor

desempenho. É possível que durante a realização das tarefas os participantes não

estejam apenas buscando realizar as tarefas com mais efetividade, mas também

ajustando o uso de recursos cognitivos a partir do feedback desta realização e, portanto,

realizando as tarefas com o menor uso possível de recursos cognitivos (Debue &

Leemput, 2014; eo & Neal, 2008).

A falta de diferenças entre a quantidade de piscadelas entre as condições não

implica necessariamente que o uso de recursos cognitivos foi semelhante. Uma possível

40
explicação para esse fen meno é que a piscadela esteja realmente relacionada ao

engajamento cognitivo (Jongkees e cols., 2016), mas assim que a tarefa é iniciada, os

participantes estabilizam a quantidade de piscadas durante os três minutos da tarefa.

Assim, não houve piscadelas suficientes para um efeito estatístico. Outra possibilidade,

que iria contra a literatura sobre piscar, é que esse efeito não é tão suscetível às

demandas cognitivas, pelo menos às exigências das tarefas deste estudo. Como o piscar

tende a ser considerado representativo de vários fatores, ainda está longe de ser bem

definido teoricamente (Debue & van de Leemput, 2014).

5.2. Experimento-Piloto 2: Controle de Recordação da tarefa Contagem

Enquanto o Experimento Piloto 1 (Exp-Piloto1) testou o esforço mental dos

participantes em diferentes tarefas, o segundo experimento-piloto (Exp-Piloto2) por sua

vez teve como seu principal objetivo testar se a tarefa Contagem poderá ser utilizada

nos experimentos posteriores como uma tarefa controle para as tarefas de alta demanda

cognitiva, porém agora no critério de interferência na recordação das listas de palavras.

Tendo em vista esta proposta, este experimento não contou com a mensuração de dados

pupilométricos.

5.2.1. Participantes

Participaram deste experimento 15 voluntários de ambos os sexos (média de

idade 20,33 (± 1,45) anos; escolaridade 13,87 (± 0,83) anos). Destes participantes, 9

eram mulheres (60%).

41
5.2.2. Procedimentos

Cada sessão experimental foi conduzida individualmente e durou cerca de 15

minutos. Apesar de não haver registro pupilométrico, os participantes tinham em sua

frente a tela preta de um computador com um ponto de fixação em cruz para simular a

situação experimental dos nossos outros estudos. Aos participantes era informado que

eles deveriam olhar para a tela durante os intervalos do experimento.

Neste estudo o experimentador lia para o participante a primeira lista de palavras

em uma velocidade de uma palavra por segundo e após isso passavam por uma de três

condições de forma aleatória, sendo elas: 1) Contagem de um número por segundo

durante 3 minutos; 2) Intervalo Vazio durante 3 minutos; 3) Recordação imediata das

palavras. Após as condições - com exceção da recordação imediata - os participantes

recordavam as palavras aprendidas.

5.2.3. Resultados

Tendo em vista que o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov demonstrou

não haver normalidade para as três condições [p < 0,05], utilizamos o teste não-

paramétrico de Friedman para analisar a diferença entre elas. Houve diferença estatística

entre as condições para a recordação da lista de palavras [χ2(2) = 5,773; p < 0,05], para

comparar a diferença entre as condições, foi realizado uma análise post-hoc com o teste

de Wilcoxon com a correção de Bonferroni - assumindo-se aqui o p como 0, que

demonstrou diferença apenas entre a RImediata entre as condições Vazio [Z = -1,780; p

< 0,05; d > 1,0] e Contagem [Z = -2,145; p < 0,17; d > 1,0]. A análise das posições

seriais não demonstrou diferença estatística entre quaisquer posições e condições.

42
Figura 5: Médias e erros-padrão da Recordação Livre e Posição Serial por condições do EXP-Piloto2.

* Representa diferença estatística (p<0,05).

5.2.4. Discussão

A diferença estatística entre a condição de recordação imediata e as outras duas

condições experimentais é esperada, tendo em vista que há uma perda natural de

palavras devido ao tempo. Contudo, a não existência da diferença estatística entre as

condições Vazio e Contagem corrobora o resultado em Alves (2013), assim como o

Exp-Piloto1, novamente mostrando que a tarefa Contagem é uma excelente tarefa

controle para os nossos estudos posteriores.

Tendo em vista que este experimento não contou com uma medida

pupilométrica, seu foco não era testar o esforço mental requerido na realização das

tarefas Vazio e Contagem, contudo, conforme já fora demonstrado em experimentos

anteriores, é possível supor que a demanda mental nestas duas tarefas é quase

inexistente.

5.3. Experimento-Piloto 3: Controle da Ordem das tarefas apresentadas

Enquanto o Exp-Piloto1 teve como proposta testar se a dilatação da pupila dos

participantes enquanto realizavam tarefas com diferentes demandas cognitivas -

43
utilizadas nos experimentos posteriores desta tese - sem a presença da tarefa de

recordação de lista de palavras, evitando com isso um aumento pupilar fruto da carga

mental proveniente da retenção destas palavras.

O segundo experimento-piloto (Exp-Piloto2) por sua vez tem como seu principal

objetivo testar se a tarefa Contagem poderá ser utilizada nos experimentos posteriores

como uma tarefa controle para as tarefas de alta demanda cognitiva. Este experimento

não contou com a mensuração de dados pupilométricos. Por fim, o terceiro

experimento-piloto (Exp-Piloto3) visou testar outra hipótese levantada no trabalho

supracitado, em que a ordem da apresentação das tarefas em blocos se mostrou fator

importante para a suscetibilidade à interferência, com isso, a grupos com diferentes

ordens de apresentação das tarefas foram realizados.

5.3.1. Participantes

Participaram deste experimento 18 voluntários de ambos os sexos (média de

idade 24,68 (± 3,34) anos; escolaridade 16,88 (± 2,72) anos). Destes participantes, 11

eram mulheres (61,1%). Os participantes foram dividos aleatoriamente em dois grupos e

não houve diferença estatística entre os dados sócio-demográficos entre eles.

5.3.2. Tarefas

Utilizamos neste experimento as tarefas GAN de um número por segundo (A-

GAN) e um número a cada dois segundos (B-GAN), além do intervalo Vazio.

5.3.3. Procedimentos

Neste experimento novamente tivemos o registro pupilométrico e

comportamental (recordação de listas). Este experimento-piloto seguiu o mesmo

44
desenho experimental utilizado no Exp-Piloto2 e nos nossos trabalhos anteriores, ou

seja, após a aquisição das listas de palavras por parte dos participantes, estes realizavam

uma tarefa ou o intervalo VAZIO. Terminada a tarefa, os participantes tinham que

recordar livremente as palavras da lista anteriormente apresentada. Neste piloto, este

procedimento se repetia três vezes, todavia, aqui dividimos os participantes em dois

grupos: No primeiro (VBA), os participantes primeiro passavam pelo intervalo VAZIO,

seguido da tarefa B-GAN e A-GAN; já no ABV, a ordem era inversa (Figura 6). Cada

sessão experimental foi novamente conduzida individualmente e durou cerca de 20

minutos.

Figura 6: Desenho Experimental do EXP-Piloto3

5.3.4. Resultados

ANOVA multivariada de um fator para as recordação livre entre os grupos

indicou diferença estatística [F (3, 14) = 112,410; p < 0,05; Wilk's Λ = 0,771, η2 parcial

= 0,229], com o post-hoc indicando diferença apenas condição Vazio [p < 0,05; d =

0,54]. As análises entre os grupos demonstraram diferença apenas entre Vazio e as

condições B-GAN [p < 0,05; d > 1] e A-GAN [p < 0,05; d = 0,83] para o grupo VBA

(Figura 7A).

45
Figura 7: Médias e erros-padrão das Palavras Recordadas (A) e Dilatação da Pupila (B) pelas

condições e grupos do EXP-Piloto3. * representa diferença estatística (p<0,05).

ANOVA multivariada de um fator entre as dilatações das pupilas revelou

diferença estatística [F (3, 14) = 112,410; p < 0,05; Wilk's Λ = 0,771, η2 parcial =

0,229], porém novamente apenas entre as condições VAZIO [p < 0,05; d > 1]. Houve

diferença estatística entre todas as condições dentro dos seus grupos [p < 0,05] (Figura

7B).

5.3.5. Discussão

Os resultados encontrados neste experimento-piloto demonstraram uma

replicação quase que exata dos resultados encontrados em Alves (2013), mesmo tendo

um desenho experimental diferente. Em Alves (2013), as tarefas eram aleatorizadas e

eram realizadas ao menos duas vezes por participantes (em dois blocos de três tarefas,

tendo em vista que elas nunca se repetiam nos blocos).

Apesar de não haver diferença entre os grupos na recordação de palavras em B-

GAN e A-GAN, há diferença na recordação em Vazio entre os dois grupos. Há também

a diferença entre as duas condições Vazio. O efeito da interferência na recordação da

lista de palavras se perde quando a tarefa Vazio é a última tarefa do bloco experimental,

46
isso provavelmente se deve à não permanência de recursos mentais para a consolidação

da memória, devido à realização de duas tarefas extremamente demandantes anteriores.

A dilatação da pupila se manteve como esperada, tendo diferença entre todas as

condições, nos dois grupos, sem haver relação entre condição x grupo. Contudo, algo

inesperado ocorreu, em que o intervalo Vazio para o grupo ABV se dilatou mais do que

no grupo VBA. Este resultado pode ser fruto da reverberação de palavras por parte dos

participantes, o que não se confirmaria ao se observar os resultados comportamentais,

tendo em vista que não há melhora na recordação por parte deles, sendo assim, é

possível supor que esta diferença na pupila se deve a resquícios atencionais da

realização prévia de duas tarefas demandantes, ou seja, uma maior atenção e possível

reverberação de outras palavras do experimento, contando inclusive com a tentativa de

foco para a posterior recordação.

O Exp-Piloto3 nos dá um direcionamento importante para a testagem de

hipóteses relacionadas ao presente estudo, principalmente ao demonstrar que a ordem

em que as tarefas são apresentadas podem influenciar como estas afetarão a recordação

livre. Indicando que há um efeito de interferência proativa valioso na suscetibilidade à

interferência que desejamos testar. Tendo em vista que com os Exp-Piloto 1 e 2 nós

confirmamos que a tarefa Contagem é a melhor tarefa Controle - devido à semelhança

ao intervalo Vazio tanto na dilatação da pupila, quanto na recordação livre - e ainda

encontramos neste terceiro experimento uma possibilidade perturbadora para a tarefa

Vazio, os nossos experimentos posteriores não vão mais contar com o intervalo Vazio.

47
6. Experimento I

Objetivos:

 Replicação do Experimento de Alves (2013), porém com a tarefa

Contagem

 Uma tarefa possivelmente mais demandante (C-SPAN) que as tarefas já

utilizadas afetará a recordação da lista de palavras?

 Uma tarefa que exige mais do sistema hipocampal (C-SPAN) afetará a

recordação da lista de palavras?

48
Após a realização dos pilotos para garantir o controle das tarefas e desenho

experimental utilizados no experimento, percebemos a importância de replicar o estudo

de Alves (2013) utilizando a nova tarefa controle (CONT). Além disso, tendo em vista

que o estudo anterior demonstrou uma possibilidade de que a interferência encontrada

estivesse relacionada com a possível suscetibilidade contextual proveniente do modo de

recuperação, decidimos nesse Experimento 1 acrescentar uma tarefa ainda mais

demandante das que foram utilizadas anteriormente (C-SPAN).

Outro ponto importante para a inclusão da tarefa C-SPAN é a possibilidade de

que a utilização de tarefas prioritariamente executivas (GAN) e/ou automáticas

(Contagem) no nosso estudo anterior tenha surtido pouco efeito na consolidação da

memória devido a uma não relação entre as estruturas cerebrais responsáveis pela

realização destas tarefas e as responsáveis pela consolidação da memória. É proposto no

presente estudo que essa hipótese dos Tipos de Sistema de Processamento (SISP)

também seja testada.

As duas hipóteses propostas para o presente estudo seguindo evidências recentes

encontradas na literatura, é a de que a capacidade executiva da memória operacional -

relacionada com o córtex pré-frontal - se torna deficitária com a realização das tarefas

de GAN e isto deveria causar um efeito interveniente devido à relação desta área

cerebral com a capacidade de suprimir estímulos interferentes, porém a demanda em

GAN pode apenas não ter sido o suficiente para que este efeito surgisse. Assim como

Kane e Engle (2000) em um de seus estudos encontraram que participantes com alta

capacidade de memória operacional estavam menos suscetíveis à interferência, é

possível que ao se sobrecarregar esta capacidade, os indivíduos finalmente se tornem

suscestíveis a este efeito.

49
6.2. Tarefas

Neste experimento foram utilizadas as tarefas Contagem, GAN (B-GAN e A-

GAN) e C-SPAN.

6.3. Participantes

Participaram deste experimento 20 voluntários de ambos os sexos (média de

idade 22,60 (± 4,40) anos; escolaridade 14,84 (± 1,99) anos). Destes participantes, 14

eram mulheres (70%).

6.4. Procedimento

Cada sessão do experimento foi realizada individualmente, com duração

aproximada de uma hora e quinze minutos, contando com a realização do experimento,

explicações sobre o procedimento para os participantes, além de preenchimento do

questionário de saúde. Após o registro basal da pupila do participante, iniciava-se a

aplicação dos testes que transcorriam na ordem apresentada na Figura 8.

Figure 8: Desenho do Experimento 1

50
O experimentador lia para o participante a primeira lista de palavras em uma

velocidade de uma palavra por segundo. A leitura das palavras era então seguida por um

intervalo de três minutos no qual uma das condições era realizada de forma

pseudoaleatória (tendo em vista que não se repetiam as condições) em um

contrabalanceamento de A-B ou B-A, sendo A os blocos com as tarefas CONT, B-GAN

e A-GAN (replicação do experimento de Alves (2013)) e B os blocos com as tarefas

CONT, A-GAN e C-SPAN (bloco para promover um aumento de demanda cognitiva).

Durante este intervalo o participante era instruído a observar o tempo todo a tela para o

registro do diâmetro da pupila durante a realização das tarefas. Ao final do intervalo

com uma das condições o participante recordava as palavras da lista previamente

apresentada em qualquer ordem (R). Esse procedimento se repetia até o final.

6.5. Resultados

As primeiras análises foram realizada por blocos. Para o bloco A (CONT, B-

GAN, e A-GAN), uma ANOVA de medidas repetidas foi realizada para verificar a

diferença entre a recordação de palavras, sendo que não houve diferença estatística

[F(2;38) = 1,434 ; p = 0,25].

Também foi realizada uma ANOVA de medidas repetidas para a dilatação da

pupila em A, demonstrando a diferença estatística entre as condições [F(2;38) = 16,610 ;

p = 0,03], o post-hoc de Bonferroni demonstrou diferença entre todas as condições, a

saber CONT e B-GAN [p = 0,4 ; d = 0,4] e A-GAN [p < 0,001; d > 1], e B-GAN e A-

GAN [p < 0,001; d > 1] (Figura 9A).

51
Figura 9: Médias e erros-padrão da Dilatação da Pupila e Recordação Livre no Experimento 1

dividos por blocos (A e B). * representa estatística significativa (p<0,05).

Para o bloco B (CONT, B-GAN, e A-GAN), a ANOVA de medidas repetidas

demonstrou diferença estatística [F(2;38) = 3,854 ; p = 0,03], porém o post-hoc

demonstrou diferença apenas entre as condições Vazio e C-SPAN [p < 0,05; d = 0,7].

Também foi encontrada diferença na dilatação da pupila [F(2;38) = 50,640; p < 0,001]

entre todas as condições: CONT e A-GAN [p < 0,001; d > 1]; CONT e C-SPAN [p <

0,001; d > 1]; e A-GAN e C-SPAN [p < 0,001; d = 0,96]

Também fizemos uma análises das nossas varíaveis dependentes pela ordem em

que as condições apareciam na lista. Ou seja, analisamos a diferença na recordação livre

e na dilatação da pupila quando as condições faziam parte do primeiro bloco do

experimento ou do segundo (A-B ou B-A). Para a recordação livre, em A (Figura 10A),

houve diferença estatística [F(2;36) = 2,901; p = 0,05], porém apenas para as condições

B-GAN [p < 0,05; d > 1] e A-GAN [p <0,05; d = 0,69]. Em B (Figura 10B), houve

diferença estatística [F(2;36) = 2,369; p = 0,02], porém após o post-hoc, constatamos

diferença apenas em A-GAN [p < 0,05; d = 0,93].

52
Figura 10: Médias e erros-padrão da Palavras Recordadas no Experimento 1 utilizando a ordem dos

blocos como variável influenciadora. * Representa diferença estatística (p<0,05).

As mesmas análises foram realizadas para a dilatação da pupila. Não

encontramos diferença estatística para a dilatação da pupila entre os blocos tanto para

quando A era realizado antes do bloco B [F(2;36) = 0,956; p = 0,39] (Figura 11A),

como para quando B era realizado antes de A [F(2;36) = 2,755; p = 0,07] (Figura 11B).

Figura 11: Médias e erros-padrão da Dilatação da pupila no Experimento 1 utilizando a ordem dos

blocos como variável influenciadora.

6.6. Discussão

Os resultados deste experimento demonstram dois pontos importantes para a

compreensão do fen meno aqui proposto a ser investigado. Primeiramente, houve a

53
replicação dos resultados em Alves (2013), mesmo com este trabalho utilizando uma

tarefa Vazio no experimento que comparava a influência da interferência com as tarefas

A-GAN e B-GAN. Outro fator importante é a mudança do efeito destas tarefas quando

estão em contextos que demandam mais esforço mental, naquele caso, a tarefa B-GAN

se tornou menos interferente quando em um contexto de menor demanda, neste, a tarefa

A-GAN se tornou mais interferente em um contexto de maior demanda (B).

Esses resultados não se encaixam de toda forma com a teoria da consolidação da

memória, pois as tarefas não deveriam possuir efeitos interferentes retroativos que

fossem alterados a depender do contexto em que elas foram apresentadas (Lechner,

Squire & Byrne, 1999). Com isso, o primeiro experimento nos dá um direcionamento de

que provavelmente é o uso de recursos mentais para a prevenção da interferência que

esteja afetado aqui (Kane e Engle, 2000).

Os resultados pupilométricos se encontram de acordo com o esperado, sendo que

CONT é uma tarefa que demanda quase nenhum esforço mental, B-GAN é uma tarefa

mais difícil, porém menos que A-GAN e, por fim, a tarefa C-SPAN é extremamente

relacionada com a memória operacional, logo, sendo extremamente dependente da carga

cognitiva (Beatty & Lucero-Waggoner, 2000). Além disso, apesar de não haver

mudança na dilatação pupilar dos participantes quando comparamos em qual bloco

foram realizadas as tarefas (A->B, ou B->A), notamos que essa diferença surge na

recordação de palavras, ao menos nas tarefas GAN. É compreensível que isso ocorra

porque a tarefa CONT é automática e não vai se tornar mais interferente no segundo

bloco e a tarefa C-SPAN é tão demandante que não há como esperar muito mais

dilatação na pupila dos participantes e efeito interferente, restando então para as tarefas

GAN uma mudança no efeito. Ou seja, tanto as tarefas GAN do bloco A, quanto as

tarefas do bloco B se tornaram mais efetivas na interferência quando eram precedidas

54
por demandas mentais, e assim quando faziam parte do segundo bloco de tarefas a se

realizar, corroborando não só os experimentos de Alves (2013), como também o EXP-

Piloto3.

Com isso, estes resultados também direcionam um pouco mais a interpretação do

efeito do esforço mental no esquecimento. A proposta do presente estudo é testar se há

suscetibilidade que cause interferência na consolidação da memória, porém para os

efeitos encontrados aqui, esta hipótese não é explicativa. Se o efeito fosse igual ao

sugerido em trabalhos anteriores com amnésicos (Cowan, Beschin, & Della Sala, 2004;

Dewar, Cowan, & Della Sala, 2007), a mera entrada de tarefas que demandassem o

esforço mental já causariam um efeito de tarefa controlada x tarefa automática. Porém

como é possível ver aqui, há uma complexidade maior nesse fen meno.

Alves (2013) encontrou efeito tarefa vs. Vazio, porém após a redução do uso de

recursos mentais esse efeito não foi encontrado novamente. Sendo assim, uma proposta

é a de que, em verdade, o que causaria a suscetibilidade à interferência é o uso de

recursos mentais que poderiam atrapalhar a recuperação de informações devido ao

contexto experimental e do ambiente cognitivo dos participantes, que corroboraria a

ideia de falha na recuperação do que da consolidação da memória (Tulving, 1974;

Tulving & Thompson, 1973). Varma e colaborades (2017) testaram também com

pacientes saudáveis e não encontraram o efeito da interferência retroativa quando

comparados com intevalos vaios. Enquanto Sosic-Vasic e colaboradores (2017) vão

argumentar que este efeito está mais relacionado com o tempo. Além disso, os

resultados também demonstram que o efeito não necessariamente se dá pelo tipo de

sistema de processamento (prioritamente hipocampal (C-SPAN) x prioritariamente pré-

frontal (GAN)), pois as duas tarefas afetam a recordação de forma semelhante quando

estão em um contexto de maior demanda.

55
Uma possível explicação aqui pode ser direcionada pelo estudo de Szmalec e

colaboradores (2011), que demonstrou que a atualização contínua de itens na memória

operacional acaba por impedir que os indivíduos realizem associações fortes entre o

contexto de aprendizagem (apresentação da lista em um determinado tempo, ou

episódio). Com o isso, a sobrecarga causada pela realização das tarefas deixa os

indivíduos mais suscetíveis à incapacidade de recuperar os episódios em que

aprenderam os itens de forma específica.

56
7. Experimento II

Objetivos:

 Verificar se a ordem da realização das tarefas intervenientes afeta a

suscetibilidade à interferência:

 1) Verificar se a labilidade da memória (de acordo com a Teoria da

Consolidação da Memória) é fator fundamental para a suscetibilidade

à interferência devido ao esforço mental;

 2) Verificar se a escassez de recursos cognitivos fará com que os

indivíduos se tornem mais suscetíveis.

 Testar o efeito da primeira tarefa interferente em tarefas subsequentes

(recordação e pupilometria);

 Verificar se ao se aumentar o período em que os participantes realizam

tarefas intervenientes - de 3 minutos para 6 minutos - haverá uma maior

possibilidade de interferência.

57
Em nosso estudo anterior e nos primeiros resultados encontrados no presente
estudo, as tarefas que surgem antes aparentemente influenciam a recordação das listas
de palavras das tarefas posteriores, porém este poderia não ser um simples efeito de
interferência proativa, mas uma confluência de efeitos. Observamos também que
quando tarefas com demanda mental moderada surgem antes de tarefas com demandas
maiores, há uma tendência a maior recordação de palavras do que quando o contrário
ocorre.
Tendo em vista que a teoria da consolidação da memória sugere que nos
primeiros momentos as memórias ainda se encontram lábeis e que a labilidade diminui
ao longo do tempo (McGeoch, 1932; Lechner, Squire & Byrne, 1999), é possível crer
que no início da interferência retroativa as tarefas interferentes causariam um maior
efeito na recordação da lista de palavras. Com o Experimento 2 buscaremos investigar,
principalmente, a relação entre o tempo de realização das tarefas e as suas
consequências para o esquecimento devido ao esforço cognitivo.
Este experimento vai buscar investigar as hipóteses explicativas propostas à
medida que, primeiramente, visa testar a influência da primeira tarefa na consolidação
da memória, logo, este é um teste, prioritariamente, da hipótese de Tempo de
Consolidação da Memória. Tendo em vista que no presente experimento também
aumentaremos o tempo de realização das tarefas interferentes, verificaremos a
influência deste tempo para a recordação livre, pois nos experimentos anteriores apenas
utilizamos tarefas interferentes durante 3 minutos. Além disso, as análises permitirão
testar também a hipótese de Treino/Efetividade da Realização das Tarefas, hipótese na
qual a tarefa anterior influencia a tarefa subsequente, ou seja, por exemplo, com a
apresentação de uma tarefa mais difícil (A-GAN) a segunda tarefa demandante (B-GAN)
se torne menos complexa e consequentemente os participantes consigam recordar mais
itens (TREF), as tarefas de Contagem servirão como Controle deste efeito. Como os
paricipantes realizarão tarefas demandantes durante um longo período, também será
verificado se há uma redução da recordação quando confrontados com tarefas que
sobrecarreguem os recursos cognitivos dos participantes (LEC).

7.1. Tarefas
Neste experimento foram utilizadas apenas as tarefas CONT, B-GAN e A-GAN.

58
7.2. Participantes

Participaram deste experimento 22 voluntários de ambos os sexos (média de

idade 24,77 (± 4,06) anos; escolaridade 14,36 (± 1,50) anos). Destes participantes, 11

eram mulheres (50%).

7.3. Procedimento

Aos participantes foram apresentadas as palavras da lista, sendo seguidas pela


realização por três minutos de forma aleatória de uma das tarefas (CONT, B-GAN ou
A-GAN), após a realização de uma destas tarefas, os participantes realizavam uma outra
também durante três minutos, porém sem nunca se repetir a primeira tarefa. Sendo
assim, obtivemos seis condições obedecendo a estrutura Tarefa Influenciadora 
Tarefa Subsequente. Dessa forma verificamos a influência da primeira tarefa realizada
na consolidação da memória, com a tarefa subsequente servido de controle. Após a
realização das duas tarefas, o participante recordava as palavras da lista. Os
participantes realizavam tal procedimento seis vezes, passando por todas as condições
de forma pseudoaleatória (Figura 12).

Figura 12: Desenho do Experimento 2.

59
7.4. Resultados

Primeiramente, a ANOVA de medidas repetidas utilizando a ordem em que as

tarefas apareciam demonstrou diferença estatística [F (2;42) = 48,285; p < 0,001],

todavia apenas para a condição CONT e as outras condições após o post-hoc de

Bonferroni [p < 0,01; d > 1] (Figura 13).

Figura 13: Médias e erros-padrão das Palavras recordadas no Experimento 2 pela ordem e tarefa. *

representa diferença estatística (p<0,05).

A ANOVA de Medidas repetidas por Recordação Total de cada condição

demonstrou diferença significativa [F(5;105)= 22,157; p < 0,001], o post-hoc de

Bonferroni demonstrou diferença entre a condição CONT-BGAN e todas as outras

condições [p < 0,001; d > 1], exceto CONT-AGAN [p = 1,0], e esta sendo também

diferente de todas as outras condições [p < 0,001; d > 1](Figura 14).

Figura 14: Médias e erros-padrão das Palavras recordadas no Experimento 2 pela tarefa. *

representa diferença estatística (p<0,05) para as condições que contém GAN no início.

60
Não houve diferença estatística entre as condições por ordem da tarefa para a

dilatação da pupila [F (2;42) = 1,234; p = 0,6] (Figura 15).

Figura 15: Médias e erros-padrão da Dilatação da pupila pela ordem e tarefa. * representa diferença

estatística (p<0,05).

Aqui não realizamos a análise das pupilas por condições devido ao fato de que

cada condição continha duas tarefas e isto não permitiria uma compreensão não

enviesada deste fen meno.

7.5. Discussão

Os resultados do Experimento 2 revelaram que o tempo não foi o fator


predominente para o surgimento do efeito da interferência, tendo em vista que
encontramos diferenças pela tarefas. Os resultados aqui novamente sugerem que as
tarefas iniciais afetam os intervalos totais, principalmente quando a tarefa inicial são
tarefas pouco demandantes como a tarefa CONT.
Os resultados também indicam que a hipótese TREF não é explicativa, ao menos
para este experimento, tendo em vista que na segunda metade das tarefas há uma queda
mínima da recordação, ainda que não significativa. Caso esta fosse a melhor proposição
para a explicação dos dados, após uma grande quantidade de minutos realizando a tarefa
GAN, por mais difícil que esta fosse, os participantes tenderiam a criar estratégias para
realizar a tarefa e estas seriam suficientes para utilizar com mais efetividade os seus
recursos mentais e, com isso, tenderiam a se tornar suscetíveis à interferência

61
(Maniscalco e cols., 2017). Além disso, outro ponto importante para se considerar é que,
não havendo diferença entre as tarefas GAN e CONT quando estas estão na segunda
tarefa, não é possível supor que a perda de informações na recordação livre se dá pelo
treino delas.
Em contrapartida, não seria impossível considerar pela primeira vez em nossos
resultados que a hipótese da interferência retroativa na consolidação da memória estaria
correta. Tendo em vista que a labilidade da memória se dá no período inicial em que
esta é aprendida (Lechner, Squire & Byrne, 1999), a diferença encontrada nos
resultados com todas as condições - tarefas CONT no início vão ser menos detrimentais
para a recordação livre - poderia indicar que este período inicial pouco demandante
cognitivamente permitiria que as memórias em seu estágio mais frágil fossem
consolidadas, se tornando resistentes às demandas posteriores, não importando estas
quais fossem. Porém esta ainda não é uma explicação convincente, na medida que ainda
assim não houve efeito gradual do esforço mental nesta fase inicial, tendo em vista que
as recordações em B-GAN e A-GAN foram semelhantes. Uma explicação possível para
isto seria que as tarefas GAN, não importando o esforço mental, são extremamente
demandantes e vão afetar a interferência, contudo, tendo em vista os resultados em
Alves (2013) e os primeiros experimentos do presente estudo que demonstram
exatamente o contrário - as tarefas GAN nem sempre vão causar uma interferência
suficientemente forte para a recordação livre ser afetada - este argumento não possui
uma base que o sustente. Todavia, os resultados aqui ainda não são suficientes para
descartar esta hipótese por completo.
Aparentemente, a explicação mais plausível para os resultados encontrados
novamente é a de que o montante de recursos cognitivos utilizados para a manutenção
da realização da tarefa fazem com que os indivíduos se tornem mais suscetíveis à
interferência ao passar do tempo. Ou seja, a hipótese de que há um Limitar de esforço
mental. Principalmente quando nota-se que a tarefa CONT, pela sua automatização, não
afeta a recordação mesmo quando sendo realizada durante os 3 minutos iniciais. A
forma de interpretar estes resultados poderia ser de que os 3 minutos iniciais
permitiriam aos indivíduos uma reserva maior de recursos para não perderem as
informações - algo que gira em torno da ideia da labilidade da memória - e, se iniciando
os 3 minutos finais, estes já não seriam capazes de afetar com tanta intensidade a
recordação. Somando-se aqui também a ideia de que o modo de Recuperação se torna
mais complexo quanto maior for a distância temporal entre a aquisação e a recuperação

62
(Fuster, 2001; Sosic-Vasic e cols., 2017), uma tarefa inicial mais demandante poderia
exigir recursos mentais iniciais que tornassem mais difíceis para os indivíduos de
conseguir se recolocar no contexto mental da aprendizagem do que quando estas vem
no final, e assim, atrapalhando a recuperação.
Os resultados deste experimento demonstram novamente a complexidade do
tópico aqui investigado e, para tentar responder os pontos trazidos aqui, realizamos o
Experimento 3.

63
8. Experimento III

Objetivos:

 Testagem do efeito na recordação do período em que o esforço mental

ocorre;

 Testar se há falta de recursos ao se utilizar gradualmente a tarefa

demandante GAN;

 Testar se ao se aumentar o tempo de realização das tarefas

intervenientes - de 3 para 6 minutos - os participantes vão estar mais

suscetíveis quando realizando tarefas demandantes;

64
A realização do terceiro experimento deste estudo visou testar algumas das
hipóteses propostas, principalmente a possibilidade que a labilidade da memória seria
um fator fundamental para a suscetibilidade à interferência. Aqui buscamos
compreender como o tempo de realização da tarefa poderia influenciar a interferência,
mas este experimento também permitiu testar as hipóteses do limiar do esforço mental
(LEC), do treino das tarefas (TREF), além de tentar replicar o que foi encontrado no
Experimento 2.
Neste experimento, a análise dos resultados indicará se, conforme a demanda de
recursos cognitivos seja aumentada em um intervalo maior de tempo, o participante vai
sofrer maior efeito interferente na consolidação da memória. Caso os resultados
indiquem que os participantes sofrem um efeito agudo em alguma das condições e a
partir desta condição qualquer uma mais demandante afete a recordação da mesma
forma, estaremos comprovando um efeito de LEC.
Caso todas as condições se diferenciem na análise e afetem a consolidação de
forma diferente, mas gradual, não só o limite dos recursos estaria influenciando, mas
como a efetividade na tarefa (TREF). Além disso, com esse experimento será possível
verificar um efeito de TCM, pois caso a interferência esteja relacionada com uma
grande duração de tarefa interferente, ela surgirá afetando a recordação livre de forma
semelhante em todos os grupos, porém se a labilidade for o ponto principal da
interferência, o efeito surgirá apenas nas tarefas GAN.

8.1. Tarefas

As tarefas utilizadas neste experimento foram a tarefa CONT e A-GAN.

8.2. Participantes

Participaram deste experimento 30 voluntários de ambos os sexos (média de

idade 24,68 (± 3,34) anos; escolaridade 16,88 (± 2,72) anos). Destes participantes, 21

eram mulheres (70%).

65
8.3. Procedimento

Aqui, após o registro da pupila basal dos participantes, estes passaram por um
curto treino da tarefa GAN, para evitar que a efetividade de realização desta tarefa varie
em excesso durante o experimento (Figura 16).

Figure 16: Desenho do Experimento 3

Após o treino, a primeira lista de palavras era apresentada para o participante. O

participante passava então por seis minutos de tarefa (na Figura 16 representada como

três blocos de dois minutos de tarefa). Após isso, fazia a Recordação Livre da lista de

palavras. Após a recordação o participante novamente ouvia uma lista de palavras,

passava por mais três blocos de tarefa de dois minutos cada e depois recordava as

palavras. Este processo sendo realizado ao todo quatro vezes, em que o participante

passava ao menos uma vez em cada uma das condições de forma aleatória, sendo estas:

CONT, com seis minutos de contagem (Sem esforço mental); GAN-2, com os dois

primeiros minutos sendo de tarefa A-GAN e os quatro seguintes de tarefa contagem

(mínimo esforço mental, ao menos neste experimento); GAN-4 (com quatro minutos de

A-GAN, seguidos de dois minutos de contagem; implicando em um esforço moderado

66
neste experimento); e, por fim, GAN-6 com seis minutos de A-GAN (esforço mental

máximo).

8.4. Resultados

A ANOVA Medidas repetidas para a recordação livre indicou diferença

estatística [F(3;75) = 5,042; p = 0,01]; o post-hoc revelou diferença entre a condição

GAN6 e as condições CONT [p = 0,01; d = 0,83] e GAN2 [p = 0,02; d = 0,73] apenas

(Figura 17).

Figura 17: Médias e erros-padrão das Palavras recordadas no Experimento 3 por condições. *

representa diferença estatística entre esta condição e as condições CONT e GAN2.

Uma ANOVA de medidas repetidas da dilatação da pupila a cada 2 minutos das

tarefas não demonstrou diferença estatística relevante entre as condições [p > 0,05]

(Tabela 3). Como já era esperado, houve diferença entre as tarefas GAN e CONT,

porém não houve diferença entre os minutos.

67
Tabela 3: Resultados da dilatação da pupila (mm) por minutos de tarefa

1-2min 3-4min 5-6min

CONT 0,02 (±0,18) 0,03 (±0,25) 0,01 (±0,23)

GAN2 0,34 (±0,12) 0,03 (±0,14) 0,02 (±0,12)

GAN4 0,33 (±0,10) 0,31 (±0,13) 0,01 (±0,17)

GAN6 0,35 (±0,08) 0,30 (±0,13) 0,29 (±0,13)

Nota: Médias (±Desvio Padrão) dos picos pupilares em milímetros e piscadelas por quantidade.

8.5. Discussão

Este experimento permitiu testar as hipóteses: LEC, TREF e TCM, além de

tentar replicar o que foi encontrado no Experimento 2. Neste experimento, a análise dos

resultados indicou que mesmo com o aumento da demanda de recursos cognitivos

progressiva, o efeito só surge quando o participante realiza as tarefas durante o máximo

de tempo possível, 6 minutos realizando a tarefa de geração aleatória de números - uma

tarefa, como já monstrada nos nossos experimentos, extremamente demandante.

Nossos resultados demonstraram diferença de GAN6 apenas para CONT e

GAN2, como não houve diferença entre GAN4 e todas as outras condições, é bem

possível se descartar a ideia da labilidade da memória, tendo em vista que mesmo

tarefas extremamente demandantes como GAN não vão afetar a memória de forma mais

proeminente apenas por virem no início da tarefa. Em 2017, Sosic-Vasic e

colaboradores sugeriram que o efeito temporal na consolidação da memória se daria

apenas a partir dos 12 minutos após uma aquisição e, neste caso, não necessariamente

sendo um intervalo contendo 12 minutos de tarefa. Porém estes resultados são

questionáveis, em primeiro lugar, tendo em vista que muitos dos estudos que propõem a

relação entre interferência retroativa por esforço mental e consolidação da memória

fazem tarefas com 10 minutos ou menos (Cowan, Beschin, & Della Sala, 2004; Dewar,

68
Cowan, & Della Sala, 2007; Fatania & Mercer, 2017; Martini e cols., 2017), em

segundo lugar, porque segundo a própria base teórica que esses estudos utilizam,

mesmo poucos minutos de tarefa executiva deveriam ser o suficiente para reduzir

qualquer possibilidade de recordação das palavras, enquanto que GAN4 e GAN6 não

tiveram diferença aqui.

Outra hipótese que pouco se sustenta com o presente resultado é a de que haveria

uma piora na recordação livre após o treino excessivo. Apesar de termos treinado a

tarefa GAN antes do estudo não é possível supor que houve um trade-off com a melhora

na realização das tarefas, contudo o treino ainda assim pode acabar suprimindo um

pouco as possibilidades interpretativas para esta hipótese.

Tendo em vista que novamente verificamos que não é o tempo de realização das

tarefas e nem a maior labilidade da memória que influencia a perda de informações,

aparentemente a nossa única hipótese que se mantém resistente aos diversos testes é a

de que o uso dos limitados recursos mentais está tornando os participantes mais

suscetíveis à interferência. A sobrecarga proveniente do alto uso de recursos para

realização constante da tarefa A-GAN na condição GAN-6 parece ter sido o fator

prepoderante para a perda de informações, muito tempo realizando uma tarefa tão

demandante após uma série de outras tarefas pode acabar por deixar o participante

incapaz de controlar o efeito interferente proativo e retroativo.

Com isso, como demonstrado por Fuster (2011) e Sosic-Vasic e colaboradores

(2017), a relação entre o Córtex Pré-Frontal e as funções executivas controladas por ele

parecem ser novamente tempo-dependentes, porém não se tratando aqui de uma

consolidação da memória. O argumento principal é o de que com mais tempo após a

aquisição, menos itens podem ser recuperados devido ao esgotamento da capacidade de

69
utilizar os recursos cognitivos para a recuperação, ou seja, mais suscetibilidade à

interferência.

Partindo do pressuposto que o modo de recuperação se torna menos necessário

quanto menor o tempo decorrido da aquisição (Fuster, 2001), consequente o maior

tempo decorrido realizando uma tarefa interveniente vai diminuir a capacidade de

controle dos estímulos interferentes e dificultar a recuperação, contudo estes resultados

ainda não são o suficiente para que isso possa ser argumentado. O Experimento 4 vem

tentar responder isso.

70
9. Experimento IV

Objetivos:

 Verificar o quanto a suscessiva apresentação de tarefas demandantes

pode gerar interferência a partir do uso dos recursos cognitivos para

controlar interferências proativas e retroativas;

 Verificar se é pelo treino que as tarefas acabam afetando a recordação

livre.

71
O esforço mental necessário para realizar tarefas automáticas é mínimo e

geralmente as tarefas relacionadas com o automatismo são fáceis ou foram assimiladas

pelos indivíduos após uma quantidade considerável de experiências com elas, como um

treino (Jacoby, 1998; McCabe, Roediger, Karpicke, 2011), neste último experimento a

proposta principal é a de testar - seguindo o nosso paradigma - o quanto a

automatização das tarefas CONT vai diferenciá-las das tarefas que, apesar de poderem

ser aprendidas, ainda são extremamente demandantes (GAN e C-SPAN).

Ademais, neste experimento vamos acrescentar o fator de tempo realizando as

tarefas, porém com uma análise mais detalhada. Aqui os participantes serão divididos

em grupos realizando a mesma tarefa até o fim do experimento, alguns passaram quase

quarenta minutos fazendo a tarefa CONT (sempre tendo que fazer recordações livres

durante esse tempo), outros realizaram tarefas extremamente demandantes por este

tempo. Supomos que isso vá levar os participantes a uma sobrecarga cognitiva, os

deixando mais suscetíveis à interferência. Sendo assim, o último experimento deste

estudo buscou testar se haveria uma sobrecarga cognitiva após uma série de repetições

de tarefas extremamente demandantes e, com isso, com a possível suscetibilidade à

interferência aumentada.

9.1. Tarefas

Neste experimento utilizamos as tarefas CONT, A-GAN e C-SPAN.

9.2. Participantes

Participaram deste experimento 45 indivíduos divididos aleatoriamente em três

grupos (CONT, A-GAN, e C-SPAN). Neste experimento participaram voluntários de

ambos os sexos (média de idade 22,39 (± 3,33) anos; escolaridade 14,80 (± 2,06) anos).

72
Destes participantes, 27 eram mulheres (60%). Os participantes foram dividos

aleatoriamente em dois grupos e não houve diferença estatística para os dados sócio-

demográficos entre eles.

9.3. Procedimento

O procedimento é semelhante ao utilizado no primeiro experimento. Contudo,

aqui não havia intervalo entre os blocos de tarefas. Além disso, os participantes

realizavam a mesma condição durante todo o experimento.

O procedimento (Figura 18) para os grupos foi igual, se diferenciando apenas

quanto às tarefas realizadas. Primeiramente o participante realizará o registro basal da

pupila por três minutos. Após esse registro o participante recebia as instruções acerca da

tarefa que deveria realizar durante o experimento. Durante todo o experimento o

participante observou a tela do eye tracker e teve seu diâmetro pupilar registrado. Após

estes procedimentos a primeira lista de palavras foi apresentada ao participante, logo

depois da apresentação das palavras o participante realizou uma das tarefas durante três

minutos e após os três minutos de tarefa o participante tinha que recordar as palavras da

lista apresentada anteriormente.

Figure 18: Desenho do Experimento 4

73
Logo depois da recordação da primeira lista de palavras o participante ouvia a

segunda lista de palavras e devia novamente realizar a tarefa da sua condição por três

minutos, e após esse tempo recordar as palavras da nova lista. Esse procedimento se

repetia até o final do experimento.

9.4. Resultados

A ANOVA de um fator utilizando a recordação total das listas de palavras por

condição indicou diferença estatística [F(2;36) = 3,374; p = 0,045], o post-hoc de

Tuckey demonstrou diferença entre a condição CONT e as condições A-GAN [p = 0,05;

d = 0,81] e C-SPAN [p = 0,04; d > 1] (Figura 19).

Figura 19: Médias e erros-padrão da Recordação Livre Total no Experimento 4 por condições. *

representa diferença estatística (p<0,05).

Ao se realizar uma MANOVA para verificar as listas (1-6) pelas condições

(Figura 20), há diferença estatítica apenas a partir da quarta lista [lista 4: F(2;38) =

4,874; p = 0,013; lista 5: F(2;38) = 6,851; p = 0,003; lista 6: F(2;38) = 4,060; p = 0,025],

o post-hoc demonstrou diferença entre a condição CONT e a condição C-SPAN [p =

0,010; d > 1] na quarta lista; e nas listas 5 e 6, entre CONT e as outras duas condições

74
(A-GAN [lista 5: p = 0,05; d > 1; lista 6: p = 0,05; d > 1]; C-SPAN [lista 5: p < 0,01; d

> 1; lista 6: p = 0,04 ; d > 1] (Figura 20).

Figura 20: Médias e erros-padrão da Recordação Livre no Experimento 4 por listas e condições. *

representa diferença estatística (p<0,05) entre a condição CONT e as outras condições. # representa diferença

estatística (p<0,05) entre a condição C-SPAN e as outras condições.

Para a dilatação da pupila total, A ANOVA de um indicou diferença estatística

[F(2;34) = 3,483; p < 0,05 ], o post-hoc de Tuckey demonstrou diferença entre todas as

condições: CONT x A-GAN [p < 0,05; d > 1]; CONT x C-SPAN [p < 0,05; d >1]; e A-

GAN x C-SPAN [p < 0,05; d >1] (Figura 21).

Figura 21: Médias e erros-padrão da Dilatação da pupila Total no Experimento 4 por condições. *

representa diferença estatística (p<0,05).

75
Utilizando-se a ANOVA com as listas (1-6) para a análise (Figura 22), há

diferença estatítica entre todas as condições em todas as listas [p < 0,05; d > 1], com

exceção da lista 4, em que não há diferença entre a condição A-GAN e C-SPAN [p >

0,05] (Figura 22).

Figura 22: Médias e erros-padrão da Dilatação da pupila no Experimento 4 por listas e condições. *

representa diferença estatística (p<0,05) entre todas as condições. # representa diferença estatística (p<0,05)

entre a condição CONT e as outras condições.

A ANOVA de medidas repetidas por condição e por listas não demonstrou

diferença estatística [p > 0,05] (Figura 22).

Também realizamos uma ANOVA de medida repetidas por condição e por

escore de tarefa (A-GAN e C-SPAN), no caso da A-GAN, o índice Evans, no caso da

C-SPAN, o resultado do teste (Tabela 4). Na tarefa GAN não houve diferença entre as

ordem da realização [F(5,65) = 0,770; p = 0,536], já para C-SPAN, houve diferença na

primeira vez em que o participante realizava a tarefa e a última [F(5,55) =; p < 0,001;

post-hoc p < 0,05] e, com isso, não houve melhora na realização de tarefas por parte dos

participantes e nem piora (com exceção da última C-SPAN, resultado que pode ser

indicativo de fadiga) (Tabela 4).

76
Tabela 4: Resultados dos escores das tarefas por ordem de realização

Tarefa 1 Tarefa 2 Tarefa 3 Tarefa 4 Tarefa 5 Tarefa 6 p

A-GAN 0,35 (±0,04) 0,35 (±0,05) 0,35 (±0,05) 0,35 (±0,04) 0,35 (±0,4) 0,35 (±0,05) 0,58

C-SPAN 0,68 (±0,08) 0,62 (±0,07) 0,60 (±0,09) 0,58 (±0,10) 0,59 (±0,07) 0,57 (±0,10) 0,08

Nota: Médias (±Desvio Padrão) dos índices Evans e span de memória operacional por ordem da realização de tarefas.

9.5. Discussão

Este experimento permitiu testar as hipóteses LEC, TCM, TREF e SISP. Aqui as

análises de diferenças de recordação entre os grupos de tarefas demonstraram se a carga

cognitiva global empreendida pelo participante interferiu na recordação das palavras das

listas. Os resultados aqui demonstraram que a tarefa CONT além de, com a série de

listas, se tornar ainda mais automatizada (dilatação da pupila), ela afeta menos a

recordação livre.

Um ponto importante para a interpretação destes resultados é justamente o de

que a partir da quarta lista já é possível ver uma diferença na recordação livre entre

CONT e a nossa tarefa mais demandante C-SPAN, a partir da quinta, a diferença é

ainda maior e CONT se diferencia das duas tarefas demandantes. Esse resultado parece

confirmar que com o passar do tempo realizando tarefas demandantes os participantes

vão ficando exauridos dos seus recursos mentais e com isso se tornam mais suscetíveis

às interferências proativas e retroativas. Sendo assim, os resultados aqui demonstram

que se à medida em que o recurso cognitivo dos participantes vai se tornando escasso

(em decorrência da realização das tarefas) há em algum momento uma queda

exponencial da capacidade de recordar as palavras na tarefa C-SPAN, pois há diferença

entre a capacidade de recordação das três primeiras para as três últimas listas.

Como demonstrado pela pupilometria, a tarefa C-SPAN se mantém como

extremamente demandante durante todo o experimento, com isso os participantes

77
demandam muitos recursos mentais para a sua realização. Porém é possível ver nos

escores das tarefas que não houve melhora dos participantes na realização das tarefas C-

SPAN - com exceção da última tarefa realizada - e mesmo assim houve uma diminuição

da recordação de palavras deles. Isso implica que não é a realização em si da tarefa que

influencia a interferência, mas pode significar que quando os participantes se mantém

controlando a atenção - utilizando suas capacidades executivas - para manter um bom

desempenho nas tarefas até o fim, eles conseguem permanecer em um plat de

pontuação, porém acontece uma espécie de trade-off, no qual ao se realocar seus

recursos cognitivos para a plena realização das tarefas os participantes terminam por

perder a capacidade de suprimir a interferência proveniente destas (Maniscalco e cols.,

2017). Este resultado também sugere que a interferência pela limitação dos recursos que

impossibilita uma diferenciação no contexto do modo de recuperação é a grande

causadora da perda de informações e não a consolidação da memória (Lepage e cols.,

2000).

Quando verificamos a possibilidade do sistema de processamento ser o grande

algoz da supressão de estímulos intervenientes (hipótese SISP), novamente os

resultados parecem apontar mais para as tarefas que demandam esforço mental alto e

muito alto, do que para sistemas cognitivos diferenciados, tendo em vista que a perda

das informações não ocorre no início da forma que seria esperada, mas apenas após uma

sequência de tarefas intervenientes. Este experimento acaba por confirmar a ideia de

que a utilização dos recursos mentais termina por deixar os indivíduos mais suscetíveis

à interferência, provavelmente devido ao acumulo de contextos prévios semelhantes

uma vez que ocorrem um imediatamente após o outro, isto é, separados por muito

pouco tempo, o que já é sugerido que faz com que os contextos se tornem muito

semelhante entre si e de difícil diferenciação executiva (Fuster, 2001). Deste modo, o

78
mecanismo que aciona o modo de recuperação é menos efetivamente utilizado, o que

explica a queda de recordação nas condições C-Span e A-GAN. Nossa sugestão

principal é de que o esgotamento de recursos consumidos pelo esforço mental

continuado faz com que os indivíduos tenham dificuldade de controlar a demandas

intervenientes. Desta forma, se confirma enquanto uma possibilidade de interferência

proativa e retroativa, novamente demonstrando a complexidade deste fen meno.

79
10. Discussão Geral

Nos experimentos realizados no presente estudo, a hipótese geral que

procuramos testar é a que o esforço mental teria uma relação com o esquecimento de

informações devido à interferência, porém inicialmente acreditavamos que o processo

de consolidação da memória seria o principal prejudicado pelas tarefas interferentes. A

proposta investigativa do estudo continha a possibilidade de confirmar ou descartar esta

hipótese com os experimentos propostos. Também desejavamos testar outras hipóteses

de possível acepção explicativa para o fen meno.

Apesar de estudos recentes defenderem que em humanos a interferência baseada

no esforço mental possa ocorrer devido a uma interrupção na consolidação da memória

(Brawn e cols., 2018; Cowan, Beschin & Della Sala, 2004; Dewar, Cowan & Della Sala,

2007; Fatania & Mercer, 2017; Martini e cols., 2017; Ravishankar e cols. 2017), nossos

resultados parecem confirmar os estudos que dizem não haver este tipo de interferência

(Alves, 2013; Varma e cols., 2017).

No EXP1 verificamos que as duas tarefas que demandaram esforço mental

(GAN e C-SPAN) reduziram a quantidade de acertos na tarefa de memória apenas

quando em um contexto de escassez de recursos mentais. A hipótese que se seguia

naturalmente era que quanto maior o esforço mental das tarefas interferentes e menor os

recursos disponíveis para gerir a efetiva realização destas e a supressão de estímulos

intervenientes, maior seria a interferência e, consequentemente, a redução de palavras

recordadas pelos participantes. Este resultado se assemelha com a proposta de Tulving

(1974) de que há um modo de recuperação que pode ser afetado por interferências.

No EXP2, a partir do que fora encontrado no EXP1, buscamos compreender

como as tarefas iniciais afetariam as tarefas subsequentes, principalmente quando

realizadas em um período maior para a sua interferência. Ressalta-se que o esforço

80
mental avaliado pela dilatação da pupila foi o que era esperado em relação às tarefas

CONT, B-GAN, A-GAN e C-SPAN: aumentando de forma progressiva, porém com a

tarefa CONT sendo praticamente nula. Os resultados pareceram se direcionar para o que

fora antes encontrado em estudos: as memórias lábeis estariam suscetíveis à

interferência, contudo esta não seria uma explicação suficiente do estudo (Cowan,

Beschin & Della Sala, 2004).

No EXP3 testamos se as tarefas iniciais seriam realmente o ponto crucial para o

efeito da interferência, porém também testando o tempo de duração das tarefas

intervenientes e os recursos dispostos para elas. Apesar do tempo ser fundamental para

que o efeito interveniente ocorra (Fuster, 2001), neste estudo encontramos mais

evidências de que não seria possível a explicação pela interferência retroativa na

consolidação da memória. Apesar dos resultados de alguns estudos que demonstram

haver um tempo em que o efeito interferente ocorre com mais probabilidade (Sosic-

Vasic e cols., 2017), o efeito encontrado aqui pareceu estar mais relacionado com a

limitação dos recursos congnitivos após uma longa tarefa demandante, como sugerido

por outros estudos (Ben- akov, Eshel e Dudai, 2013; Öztekin & Badre, 2011;

Raajimakers e Jakab, 2013).

No EXP4 buscamos testar a proposição acima e encontramos que os

participantes que realizavam tarefas menos demandantes estavam mais protegidos

contra os efeitos da suscetibilidade à interferência. Enquanto isso, as tarefas mais

demandantes após algum tempo afetaram a capacidade dos participantes de recuperar

informações, ademais, a tarefa mais demandante (C-SPAN) atingiu seu auge de

interferência ainda no meio do experimento, ocorrendo uma queda total da recordação

das listas de palavras dos participantes, provavelmente ao haver uma sobrecarga

cognitiva que impediu que os participantes realizassem a recuperação efetivamente

81
(Düzel e cols., 1997; Küper, 2017; Nyberg e cols., 1995; Tulving, 1974; Tulving &

Thompson, 1973).

Com os resultados obtidos, é possível sugerir que existe um efeito do contexto

demandante do experimento, e não apenas um efeito retroativo pontual do esforço

mental na consolidação da memória. O prejuízo da interferência foi aumentado quando

diversas tarefas mais demandantes foram apresentadas no mesmo contexto e foi

diminuído quando tarefas menos demandantes foram apresentadas. Uma possibilidade

de interpretação destes resultados é o Modo de Recuperação sugerido por Tulving

(1974).

Aqui também demonstramos o sugerido anteriormente de que esse modo de

recuperação pode estar se relacionando com o retentor episódio ao haver sobrecarga na

capacidade da memória operacional (Baddeley, 2001; Repovs & Baddeley, 2006),

diferente do que fora sugerido para a testagem em Alves (2013), não é possível

argumentar que por causa do tempo em que o participante realizava a tarefa

interveniente (três minutos), o efeito da interferência poderia ter ocorrido na Memória

Operacional e não na consolidação da Memória de Longo Prazo. Todavia, o tempo para

ocorrer a consolidação da memória não é consensual (Dudai, 2004; Wixted, 2004).

Além disso, o processamento automático, por demandar menos recursos

cognitivos (Schneider & Shiffrin, 1977; Shiffrin & Schneider, 1977), não interfere com

a consolidação (McCabe, Roediger & Karpicke, 2011). Apesar de alguns trabalhos

demonstrarem que há certa interferência na memória de procedimento quando esta é

seguida de tarefas caracterizadas como motoras e implícitas (Brown & Robertson, 2007;

Robertson, 2012), os resultados aqui mostram que a interferência de uma tarefa

automática de contagem parece não ocorrer.

82
Por fim, é importante ressaltar que o córtex pré-frontal participa dos processos

necessários para a recuperação (Cabeza e cols., 1997) e, além disso, a tarefa GAN, um

dos instrumentos psicológicos utilizados no presente trabalho, também está associado ao

córtex pré-frontal (Alves, Ferreira, Bueno & Sato, em preparação; Jahanshahi e cols.,

2000.; Jahanshahi e cols., 2006.; ). Nova hipótese é que uma tarefa muito demandante

de esforço mental diminui ou esgota muito as reservas cognitivas (tecnicamente

relacionado ao executivo central da memória operacional) e afetam a capacidade do

retentor episódico de manter na memória operacional as informações recentes, frente a

estímulos interferentes. Por outro lado, o esgotamento do executivo central dificulta o

posicionamento de mecanismos do modo de recuperação, impedindo a retomada parcial

do contexto de aquisição recente para a reconstrução de memória. Dada a complexidade

dessa hipótese é evidente que mais trabalho experimental será necessário para testar as

diferentes pressuposições.

83
11. Conclusão

A investigação realizada no presente estudo tornou possível compreender como

ocorre a suscetibilidade à interferência causada por tarefas que demandam esforço

mental. Concluímos que a interferência ocorre quando há a entrada de tarefas

demandantes, mas não é proporcional à magnitude do esforço mental utilizado nestas

tarefas. Além disso, concluímos que seja possível que ele esteja sujeito a outros fatores,

no nosso caso, que a interferência seja causada por uma suscetibilidade devido ao

contexto experimental e a sobrecarga cognitiva na memória operacional -

impossibilitanto uma efetiva recuperação.

Após este estudo, foi possível obter um quadro geral sobre a influência de tarefas

de diferentes demandas cognitivas no esquecimento. E, com a confirmação e exclusão

das hipóteses a partir dos resultados obtidos, exploramos com mais detalhes a influência

processos envolvidos com a perda de informações. Além disso, sugerimos que as

demandas cognitivas exigidas em tarefas de interferentes e demandantes de esforço

mental continuam sendo estudadas experimentalmente, pois sua relação tem uma

importância científica ímpar.

84
12. Referências

Alves, M. V. C. (2013) Interferência Retroativa de Diferente Demandas Cognitivas na


Consolidação da Memória. Dissertação (Mestrado em Ciências). Departamento
de Psicobiologia, Universidade Federal de São Paulo-Escola Paulista de
Medicina. São Paulo.

Alves, M. V. C.; & Bueno, O. F. A. (2017) Retroactive Interference: Forgetting as an


Interruption of Memory Consolidation. Temas em Psicologia/Trends in
Psychology, v. 25, p. 1055-1067.

Alves, M. V. C.; Ferreira, C.; Bueno, O. F. A.; & Sato, J. R. (em preparação)

Alves, M. V. C.; Modesto, J. G.; Lima-Rossetti, D.; Lanini, J.; & Bueno, O. F. A. (2017)
As dimensões da Carga Cognitiva e o Esforço Mental. Revista Brasileira de
Psicologia, v. 4, p. 2-16.

Anderson, M. C. (2003) Rethinking interference theory: Executive control and the


mechanisms of forgetting. Journal of Memory and Language, 49, 415–445.

Anderson, M. C.; Green, C.; & McCulloch, K. C. (2000) Similarity and Inhibition in
Long-Term Memory: Evidence for a Two-Factor Theory. Journal of
Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, 26 (5), 1141-1159.

Anderson, M. C.; & Spellman, B. A. (1995) On the Status of Inhibitory Mechanisms in


Cognition: Memory Retrieval as a Model Case. Psychological Review, 102 (1),
68-100.

Andreassi, J. L. (2000). Pupillary Response and Behavior. Em: Psychophysiology:


Human Behavior & Physiological Response. Mahwah, N.J.:Lawrence Erlbaum
Assoc., p. 289-307.

Andrejkovicks, M.; Balla, P.; & Bereczki, D. (2013) Susceptibility to interference and
intrusion erros in consequence of the dominant hemisphere’s hipocampal infarct:
A case report. Neurocase.

Baddeley, A. (2000) The episodic buffer: a new component of working memory?


Trends Cogn Sci. 4(11), 417-423.

Baddeley, A. (2008) What's new in working memory? Psychology Review, 1-5.

Beatty, J. (1982) Task-Evoked Pupillary Respondes, Processing Load, and Structure of


Processing Resources. Psychological Bulletin, 91 (2), 276 – 292.

Beatty, J.; & Lucero-Wagoner, B. (2000) The Pupillary System. Em: John T. Cacioppo,
Louis G. Tassinary, & Gary G. Bernston (Eds.), Handbook of Psychophysiology
(2 ed.), USA: Cambridge University Press, p. 142-161.

Ben- akov, A.; Eshel, N.; & Dudai, . (2013) Hippocampal Immediate Poststimulus
Activity in the Encoding of Consecutive Naturalistic Episodes. J Exp Psy: Gen.

85
Brawn, T. P.; Nusbaum, H. C.; & Margoliash, D. (2018) Differential development of
retroactive and proactive interference during post-learning wakefulness.
Learning & Memory, 25, 325-329.

Brown, A. (2002) Consolidation theory and retrograde amnesia in humans.


Psychonomic Bulletin & Review. 9 (3), 403-425.

Bueno, O. F. A. (2001) Incremento de Recordação Livre e Relacionamento Semântico


Entre Palavras: Processamento Automático Ou Que Demanda Atenção? Tese
(Livre Docência), UNIFESP, São Paulo.

Bueno, O. F. A. (2010) Studying memory : from the frontal to the temporal lobe and
vice-versa. Em: Eklund, L., Nyman. A. (Eds), Learning and Memory
Developments and Intellectual Disabilities. New ork: Nova Science, pp. 227-
240.

Cabeza, R., McIntosh, A. R., Tulving, E., Nyberg, L., & Grady, C. L. (1997). Age-
related differences in effective neural connectivity during encoding and recall.
Neuroreport, 8, 3479–3483.

Case, R.; Kurland, D. M.; & Goldberg, J. (1982) Operational Efficiency and the Growth
of Short-Term memory Span. Journal of Experimental Child Psychology, 33,
386 – 404.

Conway, A. R. A.; Kane, M. J.; Bunting, M. F.; Hambrick, D. Z.; Wilhelm, O.; & Engle,
R. W. (2005) Working memory span tasks: A methodological review and user’s
guide. Psychonomic Bulletin & Review, 12 (5), 769-786.

Cowan, N.; Beschin, N.; & Della Sala, S. (2004) Verbal recall in amnesiacs under
conditions of diminished retroactive interference. Brain, 127, 825-834.

Cowan, N.; & Saults, J. S. (2012) When Does a Good Working Memory Counteract
Proative Interference? Surprising Evidence from a Probe Recognition Task. J
Exp Psy: Gen.

Davis, M. (2007) Forgetting: Once again, it’s all about representations. Em: H. L.
Roediger III, . Dudai, & S. M. Fitzpatrick (Eds.), Science of Memory, New
ork: Oxford University Press, p. 317 – 319.

Debue N.; Van de Leemput C. (2014). What does germane load mean? An empirical
contribution to the cognitive load theory. Frontiers in Psychology, 5, 1-12.

Deese, J. (1957) Serial organization in the recall of disconnected items. Psychological


reports, 3, 577-582.

Dewar, M. T.; Cowan, N.; & Della Sala, S. (2007) Forgetting due to retroactive
interference: A fusion of early insights into everyday forgetting and recent
research on anterograde amnesia from Müller and Pilzecker's (1900). Cortex,
43(5): 616–634.

86
Dudai, . (2004) The Neurobiology of Consolidation, Or, How Stable is the Engram?
Annu. Rev. Psychol., 55, 51-86.

Dudai, . (2012) The Restless Engram: Consolidation Never End. Annu. Rev. Neurosci.,
227-247.

Dudai, .; Karni, A.; & Born, J. (2015) The Consolidation and Transformation of
Memory. Neuron, 88 (1), 20-32.

Düzel, E.; onelinas, A. P.; Mangun, G. R.; Heinze, H.; & Tulving, E. (1997) Event-
related brain potential correlates of two states of conscious awareness in
memory. PNAS, 94, 5973–5978.

Eckstein M. K.; Guerra-Carrillo B.; Singley A. T. M.; Bunge S. A. (2016). Beyond eye
gaze: What else can eyetracking reveal about cognition and cognitive
development? Dev. Cogn. Neurosci.

Evans, F. J. (1978) Monitoring attention deployment by random number generation: An


index to measure subjective randomness. Bulletin of the Psychonomic Society,
12 (1), 35 – 38.

Fatania, J.; & Mercer, T. (2017) Nonspecific Retroactive Interference in Children and
Adults. Advances in Cognitive Psychology, 13(4), 314-322.

Fawcett, J. M.; & Taylor, T. L. (2008) Forgetting is effortful: Evidence from reaction
time probes in an item-method directed forgetting task. Memory & Cognition, 36
(6), 1168-1181.

Fuster, J. M. (2001) The Prefrontal Cortex - An Update: Time Is of the Essence. Neuron,
30, 319-333.

Glanzer, M.; & Cunitz, A. R. (1966) Two Storages mechanisms in free recall. Journal
of Verbal Learning and Verbal Behavior, 5, 351-360.

Goldinger, S. D.; & Papesh, M. H. (2012) Pupil Dilation Reflects the Creation and
Retrievel of Memories. Current Directions in Psychological Science, 21 (2), 90-
95.

Gopher, D.; & Donchin, E. (1986) Workload – An examination of the concept. Em: K.
Boff, L. Kaufman, & J. Thomas (Eds.), Handbook of perception and human
performance: Vol. 2. Cognitive processes and performance, New ork: Wiley.,
p. 41 – 44.

Gruneberg, M. M. (1972) The Serial Position Curve and The Distinction Between
Short- and Long-Term Memory. Acta Psychologica, 36, 221 – 225.

Hardt, O.; Nader, K.; & Nadel, L. (2013) Decay happens: the role of active forgetting in
memory. Trends in Cognitive Sciences, 3 (17). 111-120.

87
Hamdan, A. C.; Souza, J. A.; & Bueno, O. F. A. (2004) Performance of University
Students on Random Number Generation at Different Rates to Evaluate
Executive Functions. Arq Neuropsiquiatr, 62 (1), 58 – 60.

Harand, C.; Bertran, F.; La Joie, R.; Landeau, B.; Mézenge, F.; Desgranges, B.;
Peigneux, P.; Eustache, F.; & Rauchs, G. (2013) The Hippocampus Remains
Activated over the Long Term for the Retrieval of Truly Episodic Memories.
PLoS One, 7 (8), 1 – 14.

Heitz, R. P.; Schrock, J. C.; Payne, T. W.; & Engle, R. W. (2008) Effects of incentive
on working memory capacity: Behavioural and pupillometric data.
Psychophisiology, 45, 119-126.

Hess, E. H.; & Polt, J. M. (1964) Pupil Size in Relation to Mental Activity during
Simple Problem-Solvig. Science, 143, 1190-1192.

Kahneman, D. (1973) Attention and Effort. Englewoods Cliff, New Jersey: Prentice-
Hall.

Kahneman, D.; & Peavler, W. S. (1969) Incentive Effects and Pupillary Changes in
Association Learning. Journal of Experimental Psychology, 7 (2), 312-318.

Kane, M. J.; & Engle, R. W. (2000) Working-Memory Capacity, Proactive Interference,


and Divided Attention: Limits on Long-Term Memory Retrieval. J Exp Psy:
Learn Memory Cogn, 26 (2), 336-358.

Klingner, J.; Tversky, B.; & Hanrahan, P. (2011) Effects of visual and verbal
presentation on cognitive load in vigilane, memory, and arithmetic tasks.
Psychophysiology, 48, 323 – 332.

Küper, K. (2017) On the functional significance of retrieval mode: Task switching


disrupts the recollection of conceptual stimulus information from episodic
memory. Brain Research

Jacoby, L. L. (1998) Invariance in Automatic Influences of Memories: Toward a User’s


Guide for the Process Dissociation Procedure. J. Exp. Psychol.: Learn. Mem.
Cogn., 24, 3-26.

Jahanshahi, M.; Saleem, T.; Ho, A. K.; Dirnberger, G.; & Fuller, R. (2006) Random
number generation as an index of controlled processing. Neuropsychology, 20,
391–399.

James, W. (1890). The Principles of Psychology. New York Henry Holt and Company
the Principles of Psychology.

Jongkees B. J.; Colzato L. S. (2016). Spontaneous eye blink rate as predictor of


dopamine-related cognitive function-A review. Neurosci Biobehav Rev. 71, 58-
82.

88
Just, M. A.; Carpenter, P. A.; & Miyake, A. (2003) Neuroindices of cognitive workload:
neuroimaging, pupillometric and event-related potential studies of brain work.
Theor. Issues in Ergon. Sci., 4 (1-2), 56 – 88.

Lechner, H. A.; Squire, L. R.; & Byrne, J. A. (1999) 100 ears of Consolidation--
Remembering Müller and Pilzecker. Learning & Memory, 6, 77-87.

Lepage, M.; Ghaffar, O.; Nyberg, L.; & Tulving, E (2000) Prefrontal cortex and
episodic memory retrieval mode. PNAS, 97 (1), 506-511.

Luria, A. R. (1968) The Mind of a Mnemonist: A Little Book about a Vast Mind. New
ork / London: Basic Books.

Maniscalco, B.; McCurdy, L. .; Odegaard, B.; Lau, H. (2017) Limited Cognitive


Resources Explain a Trade-Off between Perceptual and Metacognitive Vigilance.
The Journal of Neuroscience, 37(5), 1213-1224.

Martini, M.; Riedlsperger, B.; Maran, T.; Sachse, P. (2017) The Effect of Post-Learning
Wakeful Rest on the Retention of Second Language Learning Material over the
Long Term. Current Psychology,

McFarlane, K. A.; & Humphreys, M. S. (2012). Maintenance rehearsal: the key to the
role attention plays in storage and forgetting. Journal of Experimental
Psychology. Learning, Memory, and Cognition, 38(4), 1001–1018.

McGaugh, J. L. (1966) Time-dependent processes in memory storage. Science


153:1351-8.

McGaugh, J. L. (2000) Memory: A Century of Consolidation. Science, 287, 248-251.

McGeoch, J. A. (1932). Forgetting and the law of disuse. Psychological Review, 39(4),
352-370.

Nadel, L.; & Bohbot, V. (2001) Consolidation of Memory. Hippocampus, 11, 56–60.

Nadel, L.; & Moscovitch, M. (1997) Memory consolidation, retrograde amnesia and the
hippocampal complex. Current Opinion in Neurobiology, 7, 217-227.

Nyberg, L.; Tulving, E.; Habib, R.; Nilsson, L.; Kapur, S.; Houle, S.; Cabeza, R.; &
McIntosh, A. R. (1995) Functional brain maps of retireval mode and recovery of
episodic information. NeuroReport, 7, 249-252.

Otero, S. C.; Weekes, B. S.; & Huton, S. B. (2011) Pupil size changes during
recognition memory. Psychophysiology, 48, 1346–1353.

Öztekin, I.; & Badre, D. (2011) Distributed patterns of brain activity that lead to
forgetting. Frontiers in Human Neuroscience, 5 (86), 1-8.

89
Quinette, P.; Guillery-Girard, B.; Noel, A.; de la Sayette, V. (2006). The relationship
between working memory and episodic memory disorders in transient global
amnesia. Neuropsychologia, 44, 2508-2519.

Parker, E. S.; Cahill, L.; & McGaugh, J. L. (2006) A Case of Unusual Autobiographical
Remembering. Neurocase: The Neural Basis of Cognition, 12 (1), 35 – 49.

Pereira, M. E., Dantas, G. S. & Alves, M. V. (2011) Estereótipos, automatismos,


controle e a identificação de armas e ferramentas em diferentes contextos:
resultados preliminares. In: Lima, E. M. E. O. (Org.). Cultura e produção das
diferenças: estereótipos e preconceito no Brasil, Espanha e Portugal. Brasília:
Technopolitik, 2011, p.77-105.

Posner M.I., & Fan J.,2008. Attention as an organ system. In: Pomerantz JR, editor.
Topics in Integrative Neuroscience: From Cells to Cognition. Cambridge
University Press. 31–61.

Raajimakers, J. G. W.; & Jakab, E. (2013) Rethinking inhibition theory: On the


problematic status of the inhibition theory for forgetting. J Memory and
Language, 68, 98-122.

Ravishankar, M. R.; Morris, A.; Burgess, A.; Khatib, D.; Stanley, J. A.; Diwadkar, V. A.
(2017) Cortical-hippocampal functional connectivity during covert consolidation
sub-serves associative learning: Evidence for an active “rest” state. Brain and
Cognition.

Repovs, G.; & Baddeley, A. (2006) The Multi-Component Model of Working Memory:
Explorations in Experimental Cognitive Psychology. Neuroscience, 139, 5-21.

Robertson, E. M. (2009) From Creation to Consolidation: A Novel Framework for


Memory Processing. PLoS Biology, 7 (1), 11 – 19.

Robertson, E. M. (2012) New Insights of Human Memory, Interference and


Consolidation. Current Biology, 22, R66-R71.

Roediger III, H. L.; Weinstein, .; & Agarwal, P. K. (2010) Forgetting: Preliminary


considerations. Em: S. Della Sala (Ed.), Forgetting, New ork: Psychology
Press, p. 1 – 22.

Rubin, D. C. (2007) Forgetting: Its role in the Science of memory. Em: H. L. Roediger
III, . Dudai, & S. M. Fitzpatrick (Eds.), Science of Memory, New ork: Oxford
University Press, p. 325 – 328.

Ruiz, A. M. N. (2006) Potenciais cognitivos evocados durante a codificação de itens


distintos e relacionados entre si: efeitos sobre a recordação livre. Tese
(Doutorado em Ciências), UNIFESP, São Paulo.

Schneider, W.; & Shiffrin, R. M. (1977) Controlled and Automatic Human Information
Processing: I. Detection, Search, and Attention. Psychological Review, 84 (1), 1-
66.

90
Schulz, M. A.; Schmalbach, B.; Brugger, P.; & Witt, K. (2012) Analysing Humanly
Generated Random Number Sequences: A Pattern-Based Approach. PLoS ONE,
7 (7), 1-7.

Scott, S. K.; Barnard, P. J.; & May, J. (2001) Specifying executive representations and
processes in number generation tasks. The Quarterly Journal of Experimental
Psychology, 54A(3), 641-664.

Siegle G.J., Ichikawa N., & Steinhauer S., 2008. Blink before and after you think:
Blinks occur prior to and following cognitive load indexed by pupillary
responses. Psychophysiology.45, 679–687.

Squire, L. R. (2004) Memory System of the brain: A brief history and current
perspective. Neurobiology of Learning and Memory, 82, 171-177.

Staresina, B.P., & Davachi, L. (2009). Mind the gap: Binding experiences across space
and time the human hippocampus. Neuron, 63(2), 267-276.

Staresina, B. P.; Henson, R. N.; Kriegeskorte, N.; & Alink A. (2012) Episodic
reinstatement in the medial temporal lobe. J Neurosci. 32(50): 18150–18156.

Storm, B. C. (2011) The Benefit of Forgetting in Thinking and Remembering. Current


Directions in Psychological Science, 20 (5), 291-295.

Sosic-Vasic, Z.; Hille, K.; Kröner, J.; Spitzer, M.; & Kornmeier, J. (2018) When
Learning Disturbs Memory – Temporal Profile of Retroactive Interference of
Learning on Memory Formation, Frontiers in Psychology, 9, 1-9.

Towse, J. N.; & Neil, D. (1998) Analyzing human random generation behavior: A
review of methods used and a computer program for describing performance.
Behavior Research Methods, Instruments, & Computers, 30 (4), 583-591.

Tulving, E. (1974) Cue-Dependent Forgetting. American Scientist, 62(1), 74-82.

Tulving, E. (1983) Elements of episodic memory. Phychology Series Oxford.

Tulving, E. (2001) Episodic memory and common sense: how far apart? Phil. Trans. R. Soc.
Lond., 356, 1505-1515.

Tulving, E.; & Thompson (1973) Encoding Specificity and Retrieval Processes in
Epsiodic Memory. Psychological Review, 80 (5), 352-373.

Uncapher, M. R., Otten, L. J., & Rugg, M.D. (2006). Episodic enconding is more than
the sum of its parts. An fMRI investigation of multifeatual contextual enconding.
Neuron, 52(3), 547-556.

Unsworth, N.; Brewer, G.; & Spiller, G. J. (2013a) Focusing the Search: Proactive and
Retroactive Interference and the Dynamics of Free Recall. J Exp Psy Learn Mem
Cog, 1 – 15.

91
Unsworth, N.; Brewer, G. A.; & Spiller, G. J. (2013b) Working memory capacity and
retrieval from long-term memory: the role of controlled search. Mem Cogn, 41,
242-254.

Varma, S., Takashima, A., Krewinkel, S., van Kooten, M., Fu, L., Medendorp, W. P.,
Kessels, R. P. C.; & Daselaar, S. M (2017). Non-interfering effects of active
post-encoding tasks on episodic memory consolidation in humans. Frontiers in
Behavioral Neuroscience, 11, 54.

Wierda, S. M.; van Rijin, H.; Taatgen, N. A.; Martens, S. (2012) Pupil dilation
deconvolution reveals the dynamics of attention at high temporal resolution.
PNAS, 109 (22), 8456-8460.

Wixted, J. T. (2004) The Psychology and Neuroscience of Forgetting. Annu. Rev.


Psychol., 55, 235-269.

Wixted, J. T. (2010) The role of retroactive interference and consolidation in everyday


forgetting. Em: S. Della Sala (Ed.), Forgetting, New ork: Psychology Press, p.
285 – 312.

White, K. G. (2012) Dissociation of Short-Term Forgetting from the passage of time. J


Exp Psy: Learn Mem Cogn, 38 (1), 255-259.

eo, G. & Neal, A. (2008). Subjective Cognitive Effort: A Model of States, Traits, and
Time. Journal of Applied Psychology, 93 (3), 617 – 631.

92
13. Abstract

Forgetting is the inability to retrieve information that could be retrieved before.

The Interference Theory suggests that information tends to dispute its existence when

learned by individuals, so forgetting would be justified by the dispute of information

prior to the entry of the target memories (Proactive Interference) and subsequent to that

entry (Retroactive Interference). Currently, there is a hypothesis that memory

consolidation is impaired by the introduction of tasks demanding cognitive effort during

the time it is occurring. The present study aimed to investigate whether the loss of

information related to cognitive effort could be explained by interference in memory

consolidation or because of the limited ability of individuals' mental resources to control

interfering stimuli. To measure cognitive effort we registered pupil dilation. Experiment

1 (N - 20) replicated our previous study that demonstrated a possible non - existence of

the interfering effect on memory consolidation. Experiment 2 (N - 22) tested how the

tasks performed at the initial moment of memory consolidation could influence recall

by interfering with more labile memories, but this effect was not fund. In Experiment 3

(N - 30) the participants performed tasks over a longer period of time, testing whether

loss of information would come from RI in memory consolidation or cognitive overload,

indicating the possibility of the second hypothesis being more correct. Finally, in

Experiment 4 (N - 45), we tested in groups how different tasks interfere in consolidation

causing a cognitive overload. The results of our study indicate that there is no

interfering effect of cognitive effort on memory consolidation, but rather a proactive

and retroactive effect on the retrieval of information that people have for evocation.

93
14. Anexos

Anexo 1: Questionário de Saúde

94
Anexo 2: Comitê de Ética

95
96
Anexo 3: Listas de Palavras (Recordação Livre)

(Ruiz, 2006)

97
Anexo 4: Tobii T120® Eye-Tracker

30 x 22 x 30 cm

Imagens retiradas do site:

http://www.tobii.com/en/eye-tracking-research/global/products/hardware/tobii-t60t120-eye-tracker/

98
Anexo 5: Mensuração de Piscadelas

Para identificar as piscadelas, a partir da média das duas pupilas, computamos o

valor da aceleração do diâmetro pupilar (derivação da velocidade da mudança pupilar

no tempo). Exemplo na figura abaixo (azul: média crua; verde: aceleração).

Após isso computamos a distribuição dos valores de aceleração. Com essa

distribuição obtivemos desvios-padrão. Subsequentemente, verificamos em nossos

dados mudanças da aceleração maiores que o limiar encontrado e seguidos

imediatamente por uma perda de sinal (piscadelas). Eventos em que houve uma perda

de sinal sem a concomitante mudança no diâmetro pupilar foram considerados artefatos

derivados da perda de sinal do eye tracker. A figura abaixo mostra um exemplo destes

dois eventos.

Oliphant, T. E. (2007) Python for Scientific Computing, Computing in Science & Engineering,
9, 10-20.

99

Você também pode gostar