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NATAL, RN
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NATAL, RN
2021
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A ata da sessão foi assinada digitalmente pelos membros participantes por meio de acesso à
Mesa Virtual do Sigaa/UFRN.
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Dedicatória
Dedico ao príncipe que me ensinou o que é empatia, paciência, dedicação, amor e autismo.
Ele conseguiu fazer isso sem me dar aulas, nem indicar livros, artigos ou apostilas.
Ele que me ensinou como o ensinar, apenas com seu sorriso e seu doce olhar!
Ele acendeu em meu coração o desejo de nunca parar de tentar, e a confiar
no potencial de cada um, independentemente de qualquer transtorno ou dificuldade.
Por intermédio dele, hoje outras pessoinhas continuam dando cor e sentido a minha vida.
Gratidão! Nunca irei te esquecer!
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Agradecimentos
Nesse momento, o sentimento mais leve e nobre é a Gratidão! Sempre nos ensinam a não
olhar para trás, mas o que seriam os nossos resultados sem todo o processo? Então, olho para trás
com a sensação de dever cumprido e com o coração transbordando de alegria por ter conseguido
finalizar um ciclo que foi tão sonhado, planejado e vivido com toda dedicação possível, é válido
dizer que não foi fácil, em meio às incertezas de mudar de cidade, morar sozinha e temer pelo
meu sustento com as bolsas de estudo sendo ameaçadas, presenciei momentos inesquecíveis, com
pessoas incríveis em uma cidade que aprendi a amar, mas antes disso...
e energia, para enfrentar essa etapa. És e sempre será o meu sustento, somente em ti deposito
Obrigada Família, por sonhar junto comigo e me dar coragem de encarar esse mundão,
que apesar de serem apenas 181 km de distância, pareciam 1.081 km quando eu chegava à
rodoviária aos prantos morrendo de saudade e tristeza por deixa-los. Meu amor por vocês é sem
fim, Mainha Ju, Painho Juli, Vovó Xica, Mana Helô e Doguinho Mew!
Obrigada meu dengo, Júnior, por sempre pensar em mim e no meu futuro, por apoiar
minhas escolhas e decisões. A mudança de cidade não foi capaz de abalar nosso elo, e vamos
Obrigada amigos de Jampa que choraram junto à saudade, mas que sempre se fizeram
Obrigada meus anjos da Sentidos, vocês que nos últimos meses sofreram junto comigo a
angústia do que é trabalhar, estudar e querer dar 100% de si em ambas as partes, vocês e nossas
Obrigada aos que aceitaram participar desse estudo, a contribuição de cada um foi
Obrigada professora Drª Gleice Elali, minha orientadora! Sempre atenciosa e disposta a
ajudar, sou muito grata por seu acolhimento, suas orientações e encorajamentos, você sempre foi
Obrigada aos professores Drs. Ana Paula Soares e José Pinheiro, por terem aceitado
Obrigada aos docentes, amigos e todos que fazem parte do PPGpsi/UFRN, em especial
meu Grupo de Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente (GEPA)! Passar manhãs, tardes e noites ao
lado de vocês foi uma experiência surreal, graças a vocês obtive ensinamentos que carregarei para
a vida, gratidão por cruzarem meu caminho e terem aquecido meu coração em Natal, com
momentos de estudo, aprendizado, saídas para as lindas praias e até mesmo, nossos cafezinhos.
Falando nela, gratidão Natal por eu ter sonhado com você e ter passado meses e meses
admirando seu pôr do sol na Rua das Violetas, obrigada aos vizinhos e as amizades que foram
Obrigada UFRN, saiba que eu me apaixonei por você desde o momento que pisei meus
pés naquele dia da prova de proficiência, o que me fez querer retornar para a realização da seleção
do mestrado e finalmente estudar minha tão sonhada Pós-Graduação Stricto Sensu em uma das
Obrigada CAPES, pela concessão da Bolsa de Estudos, incentivo fundamental para minha
Obrigada a todas as pessoas com deficiência que cruzaram meus caminhos por meio da
suas particularidades e ajudar vocês, que me motivou a pesquisar e passar noites em claro em
busca das melhores respostas, almejando que o autismo conquiste seu lugar na sociedade.
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“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar.
Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”
(Madre Teresa de Calcutá).
Fernandes, Luana Vanessa Soares. Ambiente sócio físico e crianças com transtorno do espectro autista em
contexto de pandemia: uma reflexão sobre lives do YouTube Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-
graduação em Psicologia (PPgPsi). Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), 2021. 214 p.
RESUMO
Fernandes, Luana Vanessa Soares. Socio-physical environment and children with autismo spectrum disorder in
the context of a pandemic: a reflection on YouTube lives. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação
em Psicologia (PPgPsi). Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), 2021. 214 p.
ABSTRACT
Facing the COVID-19 Pandemic required social isolation and has induced changes in the use
of housing., causing issues about the residential environment to be widely debated, including
on social media. In this field, lives broadcast on the internet become popular, coming to be a
communication channel between professionals and several audiences. Supported in this
context, this thesis took as its object of study the socio-physical environment for children with
Autism Spectrum Disorder (ASD) - a neurodevelopmental disorder with manifestations that
cover a wide spectrum of possibilities, whose specificities need to be understood (and worked
through) in order for the person in question to develop skills and improve well-being. Guided
by an understanding of autism based on Evidence-Based Practices (EBPs), the general
objective of this investigation was to understand strategies for adjusting the socio-physical
environment to autistic children during the pandemic, which were broadcast by lives made
available on YouTube. The specific objectives were as follows: (a) to identify the
characteristics of the physical environment that are disseminated as suitable for autistic
children; (b) to understand the recommended strategies as appropriate for activities with these
children and that require environmental specificities; (c) to analyze the difficulties pointed out
in this field. The study was theoretically supported by Environmental Psychology and
resorted to a qualitative methodological strategy with: (1) a survey of lives on autism
available on YouTube between March and August of 2020; (2) the selection of those that
discuss the autistic child/environment relationship; and (3) the choice of five lives for in-depth
analysis. The results show that several concepts from Environmental Psychology can help to
understand the behavior of people with ASD, notably socio-spatial behavior, affordances and
behavior settings. From this perspective, the analyzed lives indicated different types of
environmental adjustments usable with people with ASD, highlighting strategies to minimize
communication and sensory barriers, and to facilitate the maintenance/development of their
skills and autonomy.
Key-words: Autism; ASD; Socio-physical environment; Pandemic contex; Environmental
psychology.
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AC – Análise de Conteúdo
BS – Behavior Setting
DI – Deficiência Intelectual
DS – Dieta Sensorial
IS – Integração Sensorial
PA – Psicologia Ambiental
QV – Qualidade de Vida
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TA – Tecnologia Assistiva
Tabela 1 Marcos do desenvolvimento típico dos dois aos cinco anos. .................................... 28
Tabela 2 Quadro de identificação das lives analisadas na dissertação ................................ 111
Tabela 3 Tabela de Enumeração (frequência) ....................................................................... 132
Tabela 4 Tabela de Enumeração (frequência e presença) ..................................................... 134
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 1
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 4
2. AUTISMO: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA QUESTÃO................................... 10
2.1 História e Teorias do Transtorno do Espectro Autista .................................................................... 10
2.2 Sinais do autismo ................................................................................................................ 26
2.3 A comunicação no Autismo ............................................................................................... 36
2.4 A sensibilidade autista e o bem-estar ................................................................................. 48
2.5 Síntese do capítulo .............................................................................................................. 58
3. O AMBIENTE COTIDIANO E OS AUTISTAS ............................................................. 60
3.1 Evitando crises com o apoio ambiental .............................................................................. 62
3.2 Aproximações com a Psicologia Ambiental ....................................................................... 73
3.2.1. Escalas ambientais .......................................................................................................... 74
3.2.2 A ideia de Behavior Setting.......................................................................................................... 79
3.2.3 Comportamento socioespacial ......................................................................................... 82
3.2.4 Elementos do desenho do ambiente ............................................................................................. 98
3.3 Síntese do capítulo ............................................................................................................ 107
4. PROPOSTA INVESTIGATIVA (MÉTODO) ............................................................... 109
4.1 Participantes ..................................................................................................................... 113
4.2 Procedimentos e Cuidados Éticos..................................................................................... 113
4.3 Análise de Dados .............................................................................................................. 114
5. O QUE DIZEM AS LIVES (RESULTADOS E DISCUSSÃO) .................................... 117
5.1 Panorama Geral das Lives................................................................................................. 117
a. Painel de especialistas ......................................................................................................... 121
5.2.2.1 Categoria 1 – Ambientes Restauradores .................................................................... 137
5.2.2.2 Categoria 2 – Apoios Visuais ..................................................................................... 140
5.2.2.3 Categoria 3 – Espaço de Fuga ................................................................................... 143
5.2.2.4 Categoria 4 – Espaço Fixo ......................................................................................... 145
5.2.2.5 Categoria 5 – Espaço Semifixo .................................................................................. 150
5.2.3 Explicitando as categorias - Codificação 2.................................................................... 155
5.2.3.1 Categoria 1 – Affordance ........................................................................................... 155
5.2.3.2 Categoria 2 – Behavior Setting .................................................................................. 157
5.2.3.3 Categoria 3 – Espaço Pessoal .................................................................................... 160
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APRESENTAÇÃO
proposta em andamento tinha como objetivo estudar a percepção do ruído no ambiente escolar
por estudantes do ensino fundamental, com vistas a realizar uma intervenção que mitigasse o
problema. O estudo aconteceria em uma escola pública de Natal-RN, foi aprovado pelo
final de março/2020.
No entanto sua continuidade foi inviabilizada, primeiro devido a uma greve dos
julho/2021. Isso impediu a realização da coleta de dados in loco e, não fazendo sentido tentar
prazo para a conclusão do mestrado, foi necessário recomeçar. Naquele momento várias
conseguir permanecer em casa devido à pandemia e, com isso, meu interesse se voltou para as
nos impôs. Também comecei a consumir mais material veiculado na internet, sobretudo lives,
gênero que se popularizou nesse período e se mostrou rico em conteúdo e em discussões sobre
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sobre um tema com o qual tive contato na universidade e no mercado de trabalho, em relação
(TEA). Assim, o TEA se tornou, mais uma vez, foco de estudo em minha vida acadêmica.
trabalho prático com essas pessoas, mas na academia não tive a oportunidade de conviver,
conhecer, nem intervir nestes casos. Prestes a concluir o curso consegui um estágio em uma
escola, na qual conheci alguns casos, mas não tive oportunidade de estar lado a lado.
ingresso no mestrado. Já na primeira ligação de contato fui avisada que iria trabalhar com um
Nesse momento senti que havia chegado a hora de, finalmente, partir da teoria para a
prática. Cheguei ao local do novo trabalho disposta a me doar e colocar a mão na massa com
o que havia aprendido na Universidade. Não sabia que era naquele momento eu iria realmente
começar a aprender, pois, embora houvessem questões com as quais eu aprendera a lidar na
academia, meu conhecimento era insuficiente para intervir no caso. Logo entendi que atuar
com uma pessoa com TEA é uma aventura única, e que só saberemos enfrentar cada caso
conhecendo aquela pessoa em seus mínimos detalhes e particularidades. Passei quase dois
anos convivendo com um adolescente incrível, que me ajudou a ressignificar muita coisa, não
apenas na atuação como psicopedagoga, mas como pessoa sensível, empática e disposta a
Após abastecer meu coração com tantas coisas boas chegou a hora de fechar um ciclo
para abrir outro: o do Mestrado! Deixei meu emprego com saudades antecipadas, sentindo
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que não era uma despedida pois, de alguma maneira, o TEA iria voltar a cruzar meu caminho.
Em que contexto isso seria possível, se minha proposta de estudo era totalmente diferente?
necessidade de procurar novo tema, o TEA tornou-se uma opção. Assim, para mim, apesar
GEPA envolveu seus participantes em uma atividade remota na qual investigamos assuntos
ligados à Psicologia Ambiental veiculados na mídia digital durante a pandemia e que estavam
sendo alterados pelo afastamento social então experienciado. Foram discutidas, entre outras,
focalizando no conteúdo sobre autismo presente nas lives1 do YouTube que discutiram o
assunto e que foram disponibilizadas durante o início da pandemia – como veremos a seguir.
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Lives são produtos de áudio e vídeo transmitidos ao vivo pela internet por meio das redes sociais. Elas podem
acontecer apenas nesse momento inicial (ao vivo), ou serem gravadas e disponibilizadas como vídeos (quer
totalmente do modo como aconteceu a gravação, quer após edição).
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1. INTRODUÇÃO
atingiu a humanidade. Seu enfrentamento exigiu o isolamento social, fazendo com que as
pessoas se mantivessem em casa por longos períodos. Esse contexto induziu diferenças no uso
da habitação que, além de ocupada por toda a família durante todo o dia, passou a ter que
Com isso, muitas questões sobre o ambiente habitacional afloraram, passando a ser
debatidas coletivamente, inclusive pelas mídias sociais nas plataformas digitais, muitas vezes
por meio das chamadas lives - produtos de áudio e vídeo transmitidos ao vivo pela internet
por meio das redes sociais, que podem se limitar a acontecer no momento de sua criação ou
comentários acerca das mais variadas temáticas, tal modo de comunicação ganhou grande
pessoas de todos os lugares do mundo (atingir enormes audiências) e não exigir grandes
No que diz respeito à vida cotidiana, todas as pessoas foram afetadas pelas mudanças
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Mesmo entendendo-se que, ao serem veiculadas posteriormente as lives passam a ser vídeos, para distinguir
esse produto de outros veiculados na rede online, essa terminologia será mantida em todo o presente texto.
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incorporar as pessoas com deficiência. Sob esta perspectiva questiona-se como as pessoas que
Partindo desse breve quadro geral, a presente dissertação enfoca o ambiente para as
para manifestação do TEA, de modo que certas características podem se fazer presentes em
uma parcela desta população, mas não em outras. Assim, diversas estratégias têm sido
justifica novas iniciativas nesse campo. Esse interesse justifica-se ainda, pelo fato da temática
que envolve o TEA ser pouco difundida no Brasil, pois não faz parte de levantamentos
restritivos e repetitivos, o que afeta diversas esferas da sua vida, seja em casa, na escola, nos
Psicologia Ambiental (PA), campo de estudos amplo e interdisciplinar com discussões que
vão da sustentabilidade aos desastres naturais e ambientais, e aos ambientes da vida cotidiana.
Para a PA, o conceito de ambiente é multidimensional, pois abrange ―o meio físico concreto
Sob essa perspectiva entende-se que: (1) todo ambiente em que aconteça ação humana
provenientes do ambiente que nos rodeia (sonoros, lumínicos, visuais, táteis, cinestésicos) e,
através dos processos cognitivos, apreendemos sobre ele, internalizando suas características e
significados, o que é seguro ou perigoso, agradável ou não. É com base nessas percepções e
sócio físico e o bem-estar humano‖ (Stokols & Altman, 1987, p. 01) os quais se influenciam
mutuamente.
experiências que geram aprendizagens, começamos por nos tornar atentos ao que está em
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nossa volta, esse processo se dá através da percepção, que ―é um fator presente em toda a
atividade humana, portanto tem um efeito marcante no envolvimento deste com o sentir,
tocar, ver e perceber, influenciando diretamente na conduta humana frente as suas ações‖
Além disso, é possível afirmar que as pessoas constroem suas visões de mundo com
base em suas vivências e percebem o meio que os envolve de maneira única, podendo reagir
Proshansky, Rivlin e Winkel elencaram oito pressupostos básicos que alicerçam a PA campo
ambiente físico que não seja envolvido por um sistema social e inseparavelmente relacionado
mais três: 9. o aumento da quantidade de tecnologia na vida das pessoas tem impacto nas
atividades diárias; 10. os aspectos éticos da pesquisa e da prática ambientais exigem reflexão
Ao se tentar pensar sobre esses elementos com base na vivencia das pessoas autistas
verifica-se que o primeiro pressuposto ganha grande relevância tendo em vista que as
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interconexões únicas que influenciam na maneira como compreendem o seu cotidiano. Com
relação aos demais pressupostos, as características individuais das pessoas com TEA
adequação entre ambos. Nesse sentido, o ambiente sócio físico tem grande influência sobre os
comportamentos das pessoas com autismo; algo semelhante acontece com relação ao sexto
pressuposto, uma vez que pessoas com TEA apresentam grande dificuldade para compreender
presente projeto, a saber: Quais as particularidades do transtorno que acabam tendo ligação
direta com aspectos físicos do ambiente? Que características do ambiente sócio físico não são
estratégias para ajuste do ambiente sócio físico às crianças autistas durante a pandemia que
foram veiculadas pelas lives sobre o autismo no YouTube. Especificamente pretendeu-se: (a)
autistas; (b) entender as estratégias recomendadas como adequadas às atividades com estas
crianças e que exigem especificidades ambientais; (c) analisar as dificuldades apontadas neste
campo.
Dentre estes, os dois iniciais são teóricos: o primeiro envolvendo a história, as teorias, os
cotidiano para as crianças autistas e as possíveis ligações do TEA com a PA. A seção seguinte
cuidados éticos e a análise dos dados, para no capítulo adiante, serem apresentados os
especialistas e a entrevista com os participantes das lives, para finalmente concluir-se com as
considerações finais.
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humano, mas nem sempre foi assim; adiante delineamos uma breve trajetória dos estudos
sobre esse complexo espectro, que vem sendo investigado desde a década de 40, mas cuja
campo, essa contextualização tem como meta delimitar um plano de base para o trabalho
desenvolvido na dissertação.
Kanner é mencionado pela primeira vez em 1943‖ (Zanini, 2019, p. 17). Kanner ―observou e
relacionar com outras pessoas‖ (Sanches & Taveira, 2020, p. 35), assim como, ―déficits nos
22). Daquelas 11 crianças, oito eram meninos e três meninas, cujo quadro clínico foi
diagnosticadas com o que ele chamou de Psicopatia Autística Infantil‖ (Soares & Oliveira,
2020, p. 553). As características das crianças estudadas pelos dois médicos eram parecidas,
porém, ―no quadro descrito por Asperger, não havia evidências de prejuízo significativo na
área da cognição‖ (Santos, Machado & Domingues, 2020, p. 324). Além disso, ―a Síndrome
de Asperger ou Psicopatia Autística se manifestava por volta dos quatro/cinco anos de idade,
Abrão, 2014, p. 256). Mesmo diante destas pequenas mudanças, Schmidt (2017, p. 222)
ressalta que ―as descrições feitas por Asperger diferem daquelas explicadas por Kanner
apenas pela intensidade e frequência dos mesmos sintomas, pertencentes às mesmas áreas:
sociocomunicativas e comportamentais‖.
Ainda entre as décadas de 1940 e 1970 vigorou a teoria das ―mães geladeiras‖
difundida por Kanner, que entendia que as crianças se tornavam autistas em decorrência de
um comportamento distante, frio e sem afeto por parte das mães, ou seja, as crianças autistas
seriam ―vítimas de mães que não demonstraram amor pelo filho, logo o distanciamento
amoroso causou trauma fazendo com que houvesse a falta de interesse por relações
Até 1980 o autismo era entendido como uma psicose infantil, mas atualmente, ―a
pedopsiquiátrico‖ (Mesquita & Pinto, 2019, p. 80). Bosa (2002) complementa essa
argumentação ao esclarecer que a categoria de psicose foi excluída dos Manuais Diagnósticos
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autismo.
diagnósticos foram utilizados na compreensão do autismo, esforço que permanece até hoje e
décima versão, busca uma padronização universal e, para tanto, realiza a ―análise de situação
doenças e outros problemas de saúde‖ (Di Nubila & Buchalla, 2008, p. 327). Já o DSM, em
sua quinta versão, ―é o dispositivo oficial de traçar os diagnósticos psiquiátricos nos Estados
Unidos, sendo utilizado em grande escala no mundo‖ (Resende, Pontes & Calazans, 2015, p.
535).
(TGD), cujo código é o F84, tal grupo contempla ―transtornos caracterizados por alterações
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Ele é composto pelo Autismo Infantil – F84.0; Autismo Atípico – F84.1; Síndrome de Rett –
não especificados do desenvolvimento – F8.9. É importante frisar que a CID 10 está sendo
atualizada para a CID 11, que entrará em vigor em janeiro de 2022. Atualmente existe uma
versão de consulta da CID 11 em inglês, que está passando por adaptações; se aproximando
do DSM 5, na qual a nova CID passará a entender o autismo também como espectro.
nomeando-o como Transtorno do Espectro Autista (TEA). De acordo com o manual, esse
complexidade que envolve a pessoa autista e o espectro em si, o qual abrange características e
nível de desenvolvimento e da idade cronológica; daí o uso do termo espectro” (APA, 2014,
p. 53).
Sob esse ponto de vista, Schmidit (2017, p. 223) comenta que ―a classificação no
formato categórico era inadequada, sendo preferida a abordagem como espectro único, cujas
verbais e as não verbais, que possuem autonomia para determinadas atividades, mas que
possuem desarranjo sensorial, aqueles que são flexíveis às mudanças, mas que apresentam
Diante de tal situação, uma pessoa que tenha sido diagnosticada com Síndrome de
Asperger há algum tempo, poderá ter seu laudo atualizado para o TEA, com a especificação
De fato, até chegar ao TEA, o DSM fez uma longa trajetória de entendimento e
sujeito com transtorno psicótico‖ (Marroco, 2017, p. 118). A autora complementa dizendo
que apesar de ser visto como doença, o autismo não possuía o caráter de diagnóstico
autismo, portanto, era visto como um comportamento ligado à sujeitos psicóticos do tipo
passando a ser entendido como uma condição, que deve aparecer nas crianças até os 3
anos de idade. O DSM 3 passou por uma revisão e foi atualizado para DSM 3–R, com
nessa edição ―parece, portanto, que autismo é a condição do sujeito e autista está ligado ao
conjunto de características que lhe faz ser como tal‖ (Marroco, 2017, p. 128). A autora
relembra que nessa versão surgiram mais nomenclaturas para o diagnóstico, inclusive a
DSM 5 - publicado em 2013. Nessa versão, finalmente o autismo passou a ser entendido e
segundo a APA (2014) para o TEA ser diagnosticado, a pessoa precisa apresentar prejuízos na
apresentar tais características em diferentes contextos. Na sua última versão, o DSM 5 (APA,
contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia;
manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia;
mentiras; não compreender diferentes entonações da fala; não manter contato visual,
e) Usar outras pessoas como ferramentas para solicitar algo que queiram, como levar a
repetitivos (enfileirar e organizar brinquedos por cores, tamanhos e tipos), assim como
escolher um objeto para ficar manuseando por longos períodos, correr de um lado para
conversa ou filme, por exemplo), condição que pode ser imediata ou tardia.
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seguissem um ritual. Exemplo, para ir para a escola é preciso, nesta ordem, escovar os
dentes, tomar banho, se alimentar, falar com o cachorro, ir para o carro, seguir um
certo trajeto, descer na porta da escola. Se, por acaso, o carro quebrar, a criança se
trajeto devido a um problema na via que passa diariamente pode trazer sofrimento, por
texturas, ou mesmo comida (todas precisarem ser verdes ou pastosas, por exemplo).
O documento ressalta que atualmente essas perturbações não são mais explicadas por
desenvolvimento, sendo considerados comórbidos. Além disso, tais sintomas precisam causar
no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as
demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias
claras até os 3 anos de idade, e as pessoas podem apresenta-las com níveis de gravidade que
autonomia e precisam de pouco apoio, no nível 2 (grau moderado) elas precisam de apoio
repetitivos.
Vale ressaltar que não é porque uma criança nasce apresentando um quadro severo que
será sempre assim, ―A gravidade pode variar de acordo com o contexto ou oscilar com o
tempo‖ (APA, 2014, p. 51), essa oscilação de graus ocorre com o suporte dos tratamentos e
das intervenções eficazes, na qual, a pessoa pode migrar de um grau para outro, ou seja, a
criança nasce com alta severidade em seu quadro e com o decorrer das terapias ela atinge um
grau moderado, até mesmo podendo chegar ao nível 1, que exige pouco apoio.
Uma ressalva importante está no fato do TEA não mais ser entendido como uma
doença, passando a ser considerado uma condição, que não tem cura, mas para a qual há
que ―o transtorno do espectro autista não é um transtorno degenerativo, sendo comum que
Vale salientar, que a pessoa com TEA pode apresentar comorbidades, como Síndrome
outros, diante disso, a pessoa com TEA sem comorbidades não terá um tratamento
Hiperatividade que por vezes necessita de tratamento com remédios, que serão voltados para a
Em relação ao nível de conhecimento sobre o autismo, ele ainda não é bem difundido,
nem discutido no Brasil como deveria, as pessoas podem até ter escutado alguma notícia
sobre o transtorno ou conversado de forma simplória e superficial, mas podem não ser cientes
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das características do autismo em si. Para alguns pais, receber o diagnóstico pode ser muito
doloroso e eles podem considerar isso como uma sentença de não desenvolvimento dos filhos,
mas em um estudo feito por Bialer (2017) fica claro que não deve ser encarado dessa forma.
A autora realizou uma análise sobre os escritos autobiográficos de pais de autistas e constatou
que as crianças
Diante disso, fica clara a importância que tem a família no momento do recebimento
de um diagnóstico como esse, até buscar entender o que é o autismo e quais são os caminhos
possíveis para ajudar suas crianças. Quanto mais se nega a condição das pessoas com TEA,
são maiores devido a alta neuroplasticidade, ―época que a criança melhor responde aos
estímulos que recebe do meio ambiente e às intervenções, quando necessárias‖ (Brasil, 2018,
p. 41). Para entendê-la, devemos conhecer o cérebro de uma pessoa com autismo.
diversas áreas do cérebro podem estar em prejuízo e com alterações, dentre elas o cerebelo, as
células do sistema límbico, os córtex, os lobos frontal, temporal, parietal e occipital, entre
outras, assim sendo, ―o cérebro de uma pessoa autista apresenta falha de comunicação entre
funcionalidade cerebral da pessoa com TEA não é a mesma das pessoas de desenvolvimento
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neurotípico, pois as interconexões são feitas de maneiras diferentes. Isso resulta em uma
forma única da pessoa com TEA perceber e compreender o que acontece ao seu redor,
falhas em funções sensório motoras, cognitivas e emocionais‖ (Ramos, 2017, p.3), o que
Em busca de uma compreensão profunda sobre o TEA, que vai além das alterações
cerebrais, Frith (2008) levanta uma interessante questão sobre os sentidos e a relação deles
social‖, com base no qual as pessoas (tanto as ―típicas‖ quanto aquelas com deficiência
auditiva ou visual) interagem com o meio, o que acontece de maneira diferenciada para as
mental; impulso social; espelho quebrado, coerência central e; falha nas funções executivas)
os fatos realmente interessantes sobre o autismo não são sobre o cérebro e nem sobre os
prever as ações dos pares, Frith (2008) destaca que é a habilidade que temos para reagir de
forma automática ao comportamento das pessoas explicando o que elas pretendem fazer com
base no que elas pensam e querem. Se essa teoria não funciona bem nas pessoas com TEA
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acarretará déficits nos relacionamentos sociais, nas inferências que se faz das pessoas no
falado, como é o caso da não percepção dos estados mentais dos outros e ações implícitas
conectar socialmente, Frith (2008) destaca que essa teoria explica a dificuldade das pessoas
autistas manterem contato visual, evitando contatos físicos e preferindo ficar sozinhas. Sobre
o conectar-se em si, a autora menciona a situação de encontro entre amigos depois de anos
sem se verem, onde é possível sabermos se tivemos bons ou maus momentos com ele no
passado, e acentua que pessoas autistas podem ser incapazes de fazer essa conexão social e
por causa disso podem ser interpretados como pessoas imparciais, por não possuírem um
registro mental das pessoas que conhece. A autora ainda comenta sobre um estudo que
rastreava os olhares das pessoas quando assistiam a um filme e constatou-se que pessoas
típicas costumam olhar para os olhos dos personagens, enquanto as autistas preferem olhar
observável, pois não há ativação total desse grupo neural. Frith (2008) ressalta que é a
capacidade das pessoas observarem os outros realizando ações, ativando assim, o espelho
cerebral de forma automática fazendo com que estejamos preparados para imitar. Há pessoas
com TEA que não possuem essa habilidade, entretanto, as que conseguem imitar podem ter o
que a autora chama de ―eco da fala‖, que seria a ecolalia, a não habilidade de inibir a
imitação, fazendo com que a pessoa repita por diversas vezes a mesma palavra ou frase. A
autora ainda comenta sobre um estudo japonês, no qual apresentaram fotos de crianças
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bocejando e foi constatado que crianças autistas apresentaram em menor frequência o reflexo
Em sequência temos a quarta teoria, a da coerência central, que seria a capacidade das
pessoas compreenderem o todo, nos casos das pessoas autistas a autora afirma que eles têm
uma coerência central fraca, pois, elas se detêm a detalhes sem levar em consideração o
contexto, como exemplo, os autistas olham para um buquê de flores e podem se interessar por
um único detalhe, a fita que segura todas as flores que faz com que elas não entendam que a
fita faz parte do todo maior, que é o buquê ou quando chegamos a um local que tenha bancos,
um altar e pessoas reunidas, entendemos que o contexto é igreja, mas as pessoas com TEA
podem não compreender por conta da coerência central baixa, de certo modo, ―nós
percebemos o desenho de um objeto, e não uma confusão de linhas, ouvimos uma frase e não
A autora também comenta que as pessoas com TEA tendem a manter interesses
restritos sobre vários aspectos da realidade. Justificando essa afirmativa, ela exemplifica ao
comentar uma brincadeira: ―o menino não brinca com o carro como se fosse um carro, mas é
mais interessado em suas partes, especialmente aquelas que ele pode mover, girar e girar‖
(Frith, 2008, p. 89). Ela também afirma que o processamento dos detalhes não se restringe à
visão, mas também à audição, linguagem, entre outros, por isso é importante passar
informações objetivas e claras, visto que, uma frase muito grande pode se tornar um
segundo a autora, entender o cerne do comportamento deixa tudo mais claro, de modo que o
Por fim, a quinta teoria levantada por Frith (2008) engloba a falha das funções
indica que quando não há controle dessas funções, as pessoas passam a produzir
comportamentos por impulso, sem planejamento, como estereotipias. Assim, por falha no
sistema executivo, as pessoas com TEA passam por problemas cotidianos constantemente. Há
casos que pessoas autistas, mesmo possuindo QI dentro dos padrões, ―na vida cotidiana elas
tomam decisões ruins, não fazem planos adequados e geralmente mostram que não são
capazes de usar sua inteligência para se adaptar às circunstâncias‖ (Frith, 2008, p. 95).
A autora relata o caso de um adulto autista que foi ao supermercado e não encontrou o
produto na prateleira que costumava estar. Esse contexto (que pode ser fácil de resolver,
tornou um problema, motivo de grande estresse e de crise, pois exigia um novo planejamento,
como comprar em outro local ou substituir o produto por um similar. Tal falta de flexibilidade
explica a resistência e crises diante de mudanças inesperadas, sendo ideal avisar previamente
pessoas autistas do que irá acontecer, para que situações estressantes sejam evitadas. É essa
―falta peculiar de flexibilidade mental que torna suas vidas difíceis, mesmo em pessoas que
Além das teorias cognitivas apresentadas, as pesquisas na área ainda se referem à poda
neuronal, fato biológico que atinge as crianças com TEA de forma diferenciada e às vezes
normalmente passam, a fim de que ‗novos‘ neurônios assumam funções mais adaptadas aos
estímulos exigidos próprios de cada idade‖ (Silva & Brito, 2019, p. 24). Esse evento ocorre
durante toda a vida em todos os seres humanos, mas as duas podas mais importantes
cérebro está sobrecarregado e precisa de espaço e agilidade para funcionar melhor, como um
A poda faz uma limpeza retirando as redes neurais que não estavam sendo
usadas/estimuladas e transforma aquelas que estavam sendo em memória para que seja
possível o uso das habilidades posteriormente, entretanto, no autismo esse transcurso pode
fazer com que aptidões já adquiridas como o apontar ou atender a chamados pelo nome, que
não foram estimuladas da forma que o cérebro esperava sejam prejudicadas, ou seja, não
acontece uma poda eficiente que retire caminhos neurais o bastante, fazendo com que o
cérebro permaneça cheio de estímulos e não funcione bem. É comum crianças com TEA
deixarem de falar por volta dos dois ou três anos de idade devido a esse acontecimento
podendo ser reversível ou não, dependendo da neuroplasticidade, esse episódio angustia muito
os pais, pois até outrora seus filhos falavam, cantavam e conversavam, mas de súbito, aquela
Vale salientar que a poda neuronal até recentemente era entendida como a exclusão de
habilidades, porém Tang et al. (2014) realizaram uma pesquisa evidenciando a ineficiência da
poda, ou seja, restavam sinapses em excesso nos cérebros das pessoas com TEA, as quais
diminuem 45% em indivíduos de controle, mas apenas 16% em Pacientes com autismo‖
25
(Tang et al. 2014, p. 1132), restando assim, sinapses defeituosas no cérebro da pessoa autista,
resultando em defasagens.
Duarte et al. (2016) destacam o autismo regressivo como sendo uma regressão súbita
cerca de 30% das pessoas diagnosticadas com o TEA. A poda neuronal se encaixaria como
uma explicação para o autismo regressivo, lembrando que crianças que apresentam esse
quadro possuem o desenvolvimento típico até o momento da regressão, não sendo possível
um diagnóstico antes dos dois anos, como é o caso de crianças com sinais perceptíveis nos
primeiros meses de vida, evidenciando que há casos que podem ser diagnosticados muito
atípicas envolvidas, grande parte da compreensão do comportamento dos autistas pode ser
explicada pelas relações que essa pessoa estabelece com o ambiente socio-físico em que se
insere. Assim, mais do que um hall de critérios listados, a condição autista envolve o modo
como estes critérios se manifestam no ambiente, e as respostas dele emanadas. Sob essa
podem ter ligação direta com o TEA, é preciso conhecer os sinais que podem estar presentes
em crianças autistas e como famílias e profissionais que convivem com elas podem reagir
diante de tais características inatas, as quais jamais podem ser negligenciadas. ―A descrição
A literatura indica que a criança autista já nasce com uma estrutura cerebral
sutil deve ser investigado. Rabelo e Smeha (2019) sinalizam que geralmente os sinais iniciais
que podem ser observados em crianças com TEA estão relacionados aos atrasos de
linguagem, assim como, a falta de interesse na socialização e que tais características podem
não ser reconhecidas pelos pais ou familiares como sinal de alerta, precisando assim de um
olhar profissional. Há a possibilidade de esses traços serem identificados ainda nos primeiros
meses de vida, para isso, os pais e os profissionais da saúde precisam se atentar aos marcos do
desenvolvimento infantil, eles são uma importante referência para a detecção de atrasos, ―o
pois quanto mais cedo ocorre a intervenção, melhor o resultado‖ (Fonseca, 2011, p. 04).
27
processo que vai desde a concepção, envolvendo vários aspectos, desde o crescimento físico,
(Figueiras, Souza, Rios & Benguigui, 2005, p. 11). Complementando, Fonseca (2011, p. 04)
Para alertar os pais sobre a necessidade de buscar informações seguras que não
venham prejudicar a saúde dos seus filhos, é importante comentar uma polêmica que ocorreu
em 1998, que envolvia a vacinação. Por meio da divulgação de uma pesquisa sem
sarampo na população, uma vez que os pais temiam a vacinação de seus filhos‖ (Schmidit,
2017, p. 226). Tal pesquisa estava tentando localizar uma relação entre a vacinação e o
cientificamente e foi anulado (Resende & Alves, 2020; Fernandes & Montuori, 2020).
que ela adquira autoconfiança, autoestima e desenvolva capacidade de se relacionar bem com
outras crianças, com a família e com a comunidade‖ (Brasil, 2018, p. 41). A Tabela 1 sintetiza
os marcos do desenvolvimento típico infantil entre dois e cinco anos, permitindo fácil
atenção deve ser dada aos sinais de autismo, pela sua elevada incidência e também pelo
51).
Tabela 1
É preciso frisar que quando a criança com TEA recebe o diagnóstico tardio não
significa que ela não irá aprender novas habilidades ou se desenvolver, ela poderá conseguir,
porém nos primeiros anos de vida é o momento mais propício. Matei e Romanha (2020)
enfatizam que na primeira infância a neuroplasticidade acontece de maneira mais veloz, o que
29
precoce se mostra uma alternativa eficaz, auxiliando tais habilidades a se desenvolverem. Para
isso a família precisa buscar profissionais que entendam o que é o autismo e suas
crianças de forma cuidadosa, comportamentos incomuns podem sim ser percebidos, em suma,
Teixeira (2019) evidencia que os principais sinais de alerta para o autismo são prejuízos na
autorregulação.
desenvolvimento das crianças, para isso, há ferramentas que ajudam no rastreio e na hipótese
profissionais capacitados, embora alguns deles também possam ser aplicados/reaplicados por
pais e responsáveis, mas sempre com apoio de médicos e de centros especializados, a fim de
que a investigação: (1) seja concisa e contínua; (2) aconteça de acordo com a faixa etária na
qual a criança se encontra; (3) propicie encaminhamentos assertivos e coerentes com o quadro
detectado.
30
oportunidade para começar intervenções imediatas, mesmo sem diagnóstico, pois, o mais
importante é intervir no problema visível e não esperar por um rótulo. Vale ressaltar que há
pais de primeira viagem que não têm como comparar o desenvolvimento dos filhos e se torna
apresentar, ainda sim, tanto profissionais da saúde, como da educação precisam conhecer
sobre o TEA para que a visão se amplie como forma de ajudar as famílias que não observam
pequenos sinais.
realizaram uma pesquisa com mais de dois milhões de crianças distribuídas por cinco países
investigação sobre o tema com maior número de participantes realizada até o momento. Eles
concluíram que 97% dos casos têm origem genética, o que corrobora a indicação de Frith,
(2008, p. 44), ao explicitar que ―as anormalidades que podem ser detectadas nas células
No mesmo sentido, a literatura ressalta que 80% dos casos de autismo são hereditários,
maior em comparação à população geral‖ (Becker & Riesgo (2016, p. 357); (2) eles ―têm
quase 7% mais chances de ter autismo do que todas as outras pessoas‖ (Schmidit, 2017, p.
226); (3) as causas ambientais que podem influenciar o processo variam de 1 a 3%, como
infecções, uso de medicações e substâncias pela mãe, sofrimento fetal, ―idade materna ou
(Schmidit, 2017, p. 226), o que significa que essas situações podem aumentar as chances de
uma criança nascer autista, mas não é regra, retomando, depende da carga genética e da pré-
disposição do indivíduo.
31
importante lacuna no que diz respeito aos genes que podem de alguma forma contribuir para o
desenvolvimento do TEA‖ (Frare et al. 2020, p. 38018). Russo et al. (2018) aponta que
através de sequenciamento de genomas inteiros foi possível detectar mutações nos indivíduos
com TEA, porém, nenhum paciente apresentou mutações nos mesmos genes, sendo mais de
pessoas no mundo, estimando-se que no Brasil tenha por volta de 2 milhões. Esses dados não
são exatos, pois, no Brasil não há levantamentos estatísticos oficiais, há apenas uma pesquisa
piloto realizada em 2007, que fez um levantamento sobre a prevalência dos transtornos
(2007) constatou que das 1.470 crianças da faixa etária de 7 a 12 anos, foram identificados 13
meninos para uma menina). Devido ao número amostral reduzido, esse resultado não é
na América Latina.
estimativa feita em 1943 nos Estados Unidos em que foi constatado que a cada 10.000
32
mundo ainda está nos Estados Unidos, onde de 1962 a 1967 verificou-se cerca de 7
nascimentos a cada 10.000, com um salto considerável no levantamento feito em 2011 e 2012,
de 200 nascidos com TEA para cada 10.000 e ainda o Instituto Nacional de Saúde
Estadunidense declarou que de 1994 a 2005 o número de casos de autismo saltou de 22.664
para 193.637.
Unidos, publicou que a prevalência de autismo era de uma a cada 54 crianças (Maenner, Shaw
& Baio, 2020), mas em dois de dezembro de 2021, o CDC divulgou a nova prevalência, sendo
ela atualmente de uma a cada 44 crianças. Os autores indicam que na última década foram
percebidos aumentos significativos nesses números, que mudaram de 1 para 110 em 2010, 1
O TEA acomete quatro vezes mais os meninos (Newsom & Hovanitiz, 2006; APA,
2014; Schmidt 2017; Silva, 2018). As meninas ainda podem apresentar sinais brandos do
transtorno, diferente dos meninos, o que pode atrasar o diagnóstico, ou recebe-lo de forma
errônea. O autismo para o sexo feminino se torna intrigante, pois, quando elas apresentam o
Vale destacar que muitas vezes o TEA poderia ser confundido com a síndrome de Rett
que se enquadrava dentro dos transtornos globais do desenvolvimento, porém, a síndrome não
faz mais parte do grupo dos transtornos, pois, teve sua etiologia comprovada por meio da
33
imprescindível diferenciar o autismo da síndrome de Rett, para que as crianças não vivam
meninas, que se desenvolvem dentro dos padrões até os seis a dezoito meses de idade,
desaceleração do crescimento do crânio, resultando em uma microcefalia por volta dos dois
anos de idade. As meninas ainda apresentam regressão das habilidades adquiridas, retardo de
crescimento, hipotonia, falha no uso das mãos resultando em movimentos estereotipados sem
Diante das características observadas, a Síndrome de Rett pode ser confundida com o
autismo e a paralisia cerebral devido às estereotipias, perda da fala, a falta de interesse pelo
respectivamente, mas são justamente essas características que não fazem parte do TEA que
devem ser observadas como critérios de exclusão para evitar o diagnóstico errôneo, até por
Paula et al. (2011) destacam que o TEA ainda é documentado em poucos países no
mundo, a maioria deles sendo países ricos e desenvolvidos, que possuem investigação e
diagnóstico padronizados. Essa realidade causa invisibilidade para pessoas com autismo e
seus familiares, que precisam de apoio e informação de como lidar com esse transtorno,
casos e na dimensão de investimento para tal, como políticas públicas, porém, com a
pandemia de Coronavírus o censo teve que ser adiado para metade de 2021 ou 2022
É notório que os casos de TEA estão sendo mais identificados, para alguns esse
aumento pode ter acontecido devido a exposição das mães a determinadas substâncias, outros
acreditam que os casos estão surgindo porque estão tendo mais visibilidade e conscientização
sobre o que é o TEA e consequentemente o diagnóstico pode ser dado com mais veemência.
Para comprovar tais pontos de vista, mais estudos deverão ser realizados, mas já é um
Como foi visto, o autismo foi sendo explicado aos poucos e apenas diante de um
aumento de casos a visibilidade se tornou maior, todavia, apesar das descobertas não há
apenas um modelo de intervenção que possa tratar as pessoas com TEA, pois, não é uma
medicação que a criança, o adolescente ou o adulto irá tomar que os sinais ou sintomas irão
cessar e sim por meio de práticas e terapias específicas. Diante das inúmeras possibilidades
estariam funcionando (ou não); assim, o que atualmente guia um trabalho eficaz para pessoas
com TEA são as Práticas Baseadas em Evidências (PBEs), cuja base científica é comprovada.
Sobre as PBEs, Wong et al. (2013) realizaram um levantamento com dados de 1990
até 2011, sobre diversos tipos de intervenção para pessoas com TEA e com base em critérios
minuciosos, apontaram práticas dentro dos padrões de evidência. Para isso escalaram diversos
revisores treinados para analisar os artigos que continham as intervenções, foram adotados
critérios para serem baseadas em evidências‖ (Wong et al. 2013, p. 19) – conforme (Apêndice
2).
Wong et al. (2013) constataram que as práticas listadas surtiram resultados positivos
para o desenvolvimento de habilidades nas pessoas com TEA, dentre elas, a área social, de
importante saber a intensidade de intervenções que as pessoas precisam para que os resultados
sejam satisfatórios, isso vai depender de cada caso, sendo necessária uma avaliação para
definir a quantidade de horas por semana que precisarão ser destinadas para as terapias. Sem
esquecer a importância da generalização das aprendizagens, para que não fiquem presas em
um ambiente controlado como o consultório, mas que seja levada para os ambientes
Diante do exposto, o caminho percorrido pelo autismo parece ter sido longo, o que nos
causaria a impressão de que esse transtorno já estaria sob domínio dos profissionais de saúde
sociedade, mas não é possível simplificar o Transtorno do Espectro Autista, muito menos o
tratar com ―receitas prontas‖ diante da diversidade de sujeitos e suas particularidades. Por
conseguinte, é de elevada importância que as pessoas com TEA tenham lugar no mundo em
que vivem e inclusive, sejam autoras de suas ações, como isso é possível? Por meio da
pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), especificamente nas áreas social e
sociedade e para o próprio bem estar e autoestima das pessoas, possibilitando a elas
expressarem seus desejos, necessidades e rejeições. Sendo assim, esta seção discorre sobre os
ocorre com as crianças autistas, pois ―as pessoas com TEA apresentam comprometimentos...
na comunicação, não oralizada e oralizada‖ (Teixeira & Ramos, 2019, p. 159). Apesar disso,
Assim, não omitindo a importância das linguagens não-verbalizadas, esse item enfoca as
baseado em palavras e gramática. Assim, uma vez que conhecidas as palavras, a criança pode
usá-las para representar objetos e ações‖ (Papalia & Feldman, 2013, p. 193). Assim, é
(Armonia, 2015, p. 94). Ela possui duas fases: ―a pré-linguística, na qual são verbalizados
somente fonemas e, logo depois, a fase linguística, onde a criança começa a utilizar frases
linguagem, que se desperta pela vocalização inicial, o choro, seguido pelo reconhecimento de
37
comunicação antecedente à fala, sendo o apontar um dos primeiros, pelo qual a criança já
começa a expressar seus interesses e interagir com os demais. Finalmente, dos 18 aos 24
meses chega a fase das primeiras palavras e das junções entre elas. Nas primeiras sentenças a
criança utiliza a fala telegráfica (apenas com o uso das palavras essenciais), para, depois
É esperado que aos cinco anos de idade, uma criança administre ―por completo o
sistema de sua língua, tornando-se um falante proficiente que já domina a sua capacidade de
No entanto, para as pessoas com TEA ―a fala é inexistente em 20% a 50% dos casos‖
(Oliveira, Morais & Franzoi, 2019, p. 02); assim, o autismo apresentando-se como um
espectro, pode haver crianças que irão conseguir desenvolver a fala, crianças que falarão até
certa idade e depois não mais, as que vocalizam sons sem uma função comunicativa e, ainda,
as que não falam nem vocalizam. (Armonia, 2015), ―o TEA implica transtornos verbais e não
pragmática‖ (Oliveira, Costa e Silva, 2019, p. 40). Pereira (2016) atenta-se para a distinção
Ainda é importante ressaltar que as pessoas com TEA podem apresentar dificuldades
linguagem é um dos tipos de comunicação, na qual, pode ser verbal (oral e escrita) e não
verbal. E diante disso, embora a fala seja muito importante, não é o único meio para iniciar
uma comunicação; ―nós, seres humanos, possuímos os recursos verbais e não verbais, os
meios de expressões são variáveis, o corpo também ―fala‖, utilizamos expressões faciais,
comunicação ―é essencial para que o ser humano possa se relacionar com outras pessoas‖.
Nesse sentido,
são compreendidos por outro indivíduo‖ (Castilho et al. 2019, p. 04). Nos bebês humanos, o
39
esforço para se comunicar ―não surge bruscamente a partir da emissão da primeira palavra...
desde o início, nos primeiros dias de vida‖ (Aranha, 2016, p. 22). Além disso, a literatura
ressaltando que ―primeiro, os bebês acidentalmente imitam sons do idioma e depois imitam a
Espera-se que todas as pessoas em desenvolvimento adquiram a fala com o passar dos
meses, porém isso não acontece em todos os casos. Como muitas crianças com TEA possuem
dificuldade para imitar, elas podem desenvolver sérios atrasos de linguagem, criando
estratégias não usuais para tentar se fazer entender pelos demais. É o caso do uso do choro e
das vocalizações sem função, práticas que transferem essas crianças para uma esfera de
Sendo assim, a linguagem e a comunicação tem o poder de fazer com que a pessoa
interaja com seus pares e com o ambiente em que se encontra, apesar de que ―enquanto a
comunicação deve ser considerada como algo universal a todos os seres vivos, a linguagem é
uma especificidade do ser humano, pois só ele pode e consegue utilizá-la‖ (Pereira, 2016, p.
linguística acontece pelas experiências que as pessoas vão adquirindo com base em estímulos
Vale relembrar, que o primeiro critério para o diagnóstico do TEA segundo o DSM 5 é
a pessoa apresentar déficits na comunicação social, que envolve a dificuldade para interagir
resultando em defasagens nas comunicações verbal e não verbal que inclui gestos e
expressões faciais. Os autistas podem não emitir esses comportamentos esperados para uma
comunicação efetiva, nem entender quando as pessoas os utilizam nas relações sociais, tudo
isso envolve linguagem e comunicação, culminando nas barreiras que impedem a construção
encararem a complexa atividade que é a interação social, na qual a pessoa precisa estar ciente
do que é esperado nesse meio e como agir diante das situações (APA, 2014).
grande colaborador para que ela venha a desenvolver a sua língua‖ (Oliveira & Holanda,
2019, p. 156), a aquisição da fala parece um processo simples e natural, mas quando
ecolalia entre indivíduos com TEA (Armonia, 2015, p. 95). Ela pode ser ‗imediata‘, ou seja, a
repetição de sons, palavras ou frases, logo em seguida a terem sido escutadas (Dib, 2018), ou
tardia, que ―pode acontecer horas, dias e até semanas após a criança ter presenciado a
41
pronúncia de determinada forma de linguagem verbal‖ (Santos & Chaves, 2017, p. 15). É
ressaltar que a ecolalia não deve ser inibida; precisa ser aceita e compreendida para que, desse
modo, possa ser inserida em um contexto como forma de comunicação‖ (Oliveira, Costa &
Silva, 2019, p. 54), que seria dar função para esse comportamento.
embora geralmente as ações nesse campo se vinculem à fala e à comunicação (devido aos
a ênfase na fala reforça a cobrança por algo que, naquela criança, pode se encontrar
naturalmente em déficit, omitindo-se que o meio sócio físico no qual ela se encontra participa
troca de figuras; para tanto, quando precisar de algo e não conseguir se expressar no
momento, a pessoa é instruída a entregar uma ficha com a imagem do que deseja a fim de
receber o item em troca (Wong et al. 2013) – note-se que, além do treinamento da criança e
42
―Os benefícios do uso de tecnologia assistiva (TA) por pessoas com deficiência têm
autonomia‖ (Braccialli, Braccialli & Araújo, 2019, p. 266), além disso, ela pode contribuir
A TA está inserida na Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira
participação da pessoa com deficiência‖ (Brasil, 2015, p. 01) para que seja possível uma
Embora proposta da TA seja válida, esse tipo de trabalho não acontece de forma
individuais dos casos e prescrições por profissionais capacitados. Também é preciso pares que
interajam continuamente com a pessoa que faz uso da ferramenta assistiva, a fim de que seu
uso faça sentido e seja estimulado, motivado e incentivado, uma vez que ―a presença de
Tendo em vista que a Lei nº 12.764 de 27 de dezembro de 2012, conhecida como a Lei
Berenice Piana, institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista e em seu segundo parágrafo afirma que a pessoa com TEA é
considerada pessoa com deficiência (PCD), para todos os efeitos legais. Desse modo, ao
contrário das pessoas que pensam que uma deficiência pode ser limitante e incapacitante,
avanço importante, pois, é necessário apoio, confiança e suporte, da família e das pessoas que
A autora destaca que esse modelo o qual enxerga a deficiência pela esfera social foi
elaborado por volta dos anos 70 por ativistas britânicos. Posto isso, tal abordagem adequa-se
ao TEA para a aceitação dessa condição na vida das pessoas, tendo em vista que o transtorno
não possui cura e o tratamento não é feito de forma medicamentosa, interligando ainda com a
consultórios de intervenção, mas deve extrapolar os muros clínicos para que seja possível sua
mesmo assunto. A CSA requer grande apoio do ambiente físico, quando a criança necessita de
pistas ou suportes visuais para se comunicar e entender o que o ambiente solicita dela e como
ela pode responder e agir de forma mais independente nesse meio. De acordo com Wong et al.
entenderem que sua adoção pode dificultar o desenvolvimento da fala das crianças, pois elas
CSA é sugerida apenas em último caso, embora vários autores a defendam como um recurso
complementar à reabilitação do processo da fala natural e que, quando possível, pode auxiliar
argumentações contrárias ―não são sustentadas pela literatura atual, oposto a isso, há um
reconhecimento crescente de vantagens das intervenções de CAA‖ (p. 07). Sob esse ponto de
45
vista, Arruda (2019, p. 29) indica que a CSA/CAA deveria ―ser utilizada logo que se observe
para pessoas que possuem pouco repertório e precisam de apoio para potencializar essa
System (PECS) que foi desenvolvido para as crianças autistas e com déficit severo na
comunicação oral‖ (Oliveira, Costa & Silva, 2019, p. 47). O PECS ―consiste em seis fases que
são: (1) ―como‖ comunicar, (2) distância e persistência, (3) discriminação de figuras, (4)
estrutura de sentença, (5) solicitação responsiva e (6) comentários‖ (Wong et al. 2013, p. 21).
Significando que, para implementação do PECS é indispensável que essa ferramenta seja
desenvolvida com base nos interesses da pessoa que irá utilizá-lo, tanto como facilitador do
engajamento da mesma nesse novo sistema de comunicação, como para uma comunicação
que tenha sentido de acordo com a realidade na qual a pessoa está inserida.
como se comunicar apresentando uma figura e que ela poderá receber o que deseja em troca,
entendimento de que com as figuras ela consiga o que deseja. Fala-se de distância e
persistência quando a criança consegue pegar uma figura, levar a um adulto que possa
responder a sua solicitação e usar tal imagem em diversos lugares, ou seja, consegue
escolher dentre duas ou mais figuras aquela que representa de fato o que ela deseja, exemplo:
46
apresentam-se três figuras um livro, um copo de água e uma roupa, a criança deverá
discriminar e escolher qual estão apresentando a ela no momento e qual ela deseja, tais figuras
já podem ser organizadas na chamada pasta de comunicação PECS, que a criança pode levar
formar frases com apoio das imagens, que não irão conter apenas os objetos de interesse, mas
também verbos, adjetivos, entre outros elementos, mas sempre apoiados por figuras. A fase
apoio do PECS, ao invés de apenas solicitar algo e a última fase de comentários é quando a
pessoa é ensinada a comentar sobre algo que lhe é perguntado, aumentando assim, a
possibilidade de comunicação, saindo apenas do pedido por algo e resposta a alguma coisa.
Importante saber que para a aplicação do PECS é preciso que o profissional seja
habilitado por meio de treinamento, no Brasil há uma equipe responsável pela capacitação que
é a Pyramid Educational Consultants. Essa empresa foi fundada em 1992 nos Estados Unidos
por Andy Bondy e Lori Frost que desenvolveram o PECS em 1985. Atualmente há diversas
equipes espalhadas pelo mundo todo prontas para atender as diversas condições e
Alzheimer, Paralisia Cerebral, microcefalia, mutismo seletivo, entre outros. A não habilitação
no PECS não inviabiliza as chances de serem desenvolvidas outras estratégias de CSA, basta
por Charity Rowland da Universidade de Saúde e Ciência de Oregón, nos Estados Unidos, a
Matriz de Comunicação, que teve sua primeira versão publicada em 1990. Essa primeira
47
versão foi destinada para profissionais da educação e fonoaudiólogos, mas em 2004 a segunda
versão foi desenvolvida com uma linguagem mais acessível para que fosse possível o uso
dessa ferramenta por pais. Rowland autorizou a tradução da matriz para o português em
setembro de 2009 e esse trabalho foi feito por Miriam Oliveira, com suporte do Grupo Brasil
A matriz pode ser aplicada em pessoas de qualquer idade que não estejam
07), sendo assim, busca entender se a criança rejeita coisas, como ela faz para obter o que
deseja, como interage no meio social e como vai em busca de informações. Tudo isso se
organiza dentro de sete níveis de comportamento comunicativo, que são: comportamento pré-
A própria Matriz aponta perfis e apenas um deve ser escolhido, como aquele que
irá marcar se tais habilidades estão emergentes ou dominadas para no final, obter o resultado,
comportamento comunicativo seu filho está utilizando e que tipo de mensagens está
pessoas dentro do Espectro do Autismo, o que a compromete não apenas de uma forma
intrínseca, mas que é capaz de atrasar e prejudicar habilidades essenciais para a conexão das
pessoas com seus pares e com o ambiente em que vive. Mas embora as dificuldades possam
ser muito diretamente ligadas às questões de comunicação, não se limitam a elas; o autismo
pode se encaminhar para desafios no que diz respeito à sensibilidade que pode ser associada
às características do ambiente sócio físico, as quais podem promover maior ou menor bem-
estar para essas pessoas. Essa é a temática a ser discutida na próxima seção.
processo de equilíbrio para que os indivíduos adquiram bem estar e qualidade de vida. Como
tratando-se de grupos familiares nos quais, por reunirem pessoas com diferentes percepções,
sobre o assunto, pois a qualidade de vida é uma condição singular, que só pode ser mensurada
pela própria pessoa, de acordo com o que ela considera relevante no seu cotidiano.
49
dificuldade para obter bem-estar e qualidade de vida (QV) parece ainda maior, pois ―crianças
impacto de enfermidades e, ainda, sobre sensação de bem-estar‖ (Bernal, 2015, p. 304). Neste
campo, Elias e Assumpção Júnior (2015) destacam a importância das crianças desenvolverem
se há ou não boa QV, mas a maneira de a criança viver com a síndrome‖ (p. 286).
trabalhadas nos itens anteriores, a chegada de uma PCD à família geralmente é entendida por
duas vertentes: uma que acolhe e trata essa situação como prioridade e entende que essa
condição apareceu na família como uma missão de vida; outra que entende essa situação
como um carma ou punição. A forma como a família irá encarar essa circunstância irá refletir
diretamente no clima familiar e nas individualidades de cada um de seus membros. Pais que
agem de forma otimista podem passar segurança para as crianças; elas irão se sentir acolhidas,
potencial nas PCD podem causar nelas um sentimento de rejeição e estresse, por sentirem que
visando garantir bem-estar para todos que fazem parte de uma família.
condição de saúde dos pais de crianças com TEA, sobretudo sua saúde mental. Os trabalhos
vários outros problemas que podem estar associados à falta de habilidade em encarar de forma
Tal tipo de constatação reforça a importância de dar-se atenção à saúde mental destes
familiares, iniciativa que pode ―oferecer pistas sobre possíveis estratégias terapêuticas, que
certamente implicarão em maior bem-estar‖ (Evêncio & Fernandes, 2019, p. 138). De fato,
não é fácil para pais de pessoas com TEA entenderem que algum aspecto ―invisível‖ possa
representação da condição TEA. Há uma parte que se pode ver. Mas talvez o mais importante
Boa parte desta dificuldade diz respeito à chamada ―sensibilidade autista‖, que é
explicada por questões sensoriais, já que as pessoas com TEA podem ficar sobrecarregadas
pelos estímulos advindos do ambiente, o que pode influenciar de forma negativa seu
comportamento e seu dia a dia. Devido a um déficit de processamento das informações, a sua
busca por estratégias para direcionar a tensão sentida pode resultar em estereotipias ou crises
(quando a situação exige algo além do que a estereotipia pode regular e reorganizar).
Essa é mais uma especificidade que envolve as pessoas com TEA, diante do que
podemos ter ideia de quão complexo pode ser o processo de sua aceitação, diagnóstico e
51
tratamento. Por muitos anos não havia uma orientação metodológica consistente sobre o
modo de realizar intervenções para atendimento das necessidades dos autistas, geralmente
ser entendida como um método, e sim uma ciência dotada por ―uma abordagem rigorosa,
tecnológica e profissional‖ (Carvalho Filha et al. 2019, p. 526) utilizada como base para a
comunicação com pais e professores, interação social com pares)‖ (Camargo & Rispoli, 2013,
p. 641).
preciso estar ciente que se trata de um trabalho constante e intenso, para o qual o grau do
autismo dita a quantidade de horas de intervenção semanais necessárias, que podem acontecer
ocupacionais podem ser habilitados para trabalhar com a ABA, cada um direcionando sua
prática de acordo com sua área de atuação, sendo ideal haver um trabalho transdisciplinar.
52
formação específica para aplicar programas ABA de uma forma mais acentuada que no
consultório dos especialistas; eles podem trabalhar de forma intensiva cerca de 2h por dia e
estar em constante comunicação com a família e com os profissionais que lidam diariamente
com as pessoas com TEA. Isso é essencial para que os programas sejam desenvolvidos de
desenvolver, pois, ―a projeção de intervenções baseadas nesta ciência, pode promover uma
Estes autores ainda realçam a necessidade de se estruturar o ambiente para que suporte
a intervenção, uma vez que os aspectos socioambientais podem favorecer (ou não) o
reforçados ou extintos. Para tanto, o quadro de profissionais envolvidos precisa ser habilitado,
pois aplicar ABA significa constante verificação de aptidões que podem estar inexistentes,
que consiste em comportamentos e habilidades, nos quais, ―devem persistir através do tempo,
(Camargo & Rispoli, 2013, p. 646). Em suma, para a melhoria na autonomia e QV da pessoa
autista, toda intervenção precisa ser pensada de forma única e individualizada, a fim de ofertar
a ele/ela mais oportunidades para aprender e mais espaço para se expressar e se desenvolver.
3
Analistas do comportamento são ―profissionais treinados para conduzir a análise do comportamento em sua
dimensão, tanto experimental (através da pesquisa) quanto aplicada (através da intervenção)‖ (Camargo e
Rispoli, 2013, p. 643).
53
com embasamento teórico, a sensibilidade autista pode ser compensada e entendida, evitando
o decrescimento da QV e do bem estar das pessoas com TEA. Isto é indispensável, pois as
rotina extremamente difíceis (p. ex., cortes de cabelo, cuidados dentários)‖ (APA, 2014, p.
57). Quando não trabalhada, esta sensibilidade exacerbada pode afetar aspectos básicos da
organização das sensações corporais e do ambiente externo com vistas a emissão de respostas
adaptativas pelo sujeito‖ (Souza & Nunes, 2018, p. 01). Ou seja, de acordo com esse campo
Gallina (2019) explica que a disfunção sensorial no TEA ocorre quando determinados
estímulos que são captados por órgãos sensoriais são percebidos e processados no cérebro de
nos comportamentos inadequados. ―Pode haver vários tipos de alterações sensoriais na mesma
pessoa durante a vida ou até mesmo ao mesmo tempo‖ (Posar & Visconti, 2018, p. 343). Um
ser resultado de um alívio sensorial. Ao se sentir sobrecarregado o autista pode recorrer ao ato
de bater na cabeça ou morder-se, comportamento que regula a sensação que tem naquele
momento. Para evitar tal comportamento é preciso fazer uma análise funcional do mesmo, em
específicos, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, encantamento por luzes ou objetos
giratórios e, algumas vezes, aparente indiferença a dor, calor ou frio‖ (APA, 2014, p. 54).
Assim, Almeida (2019, p. 31) ressalta que ―a criança hiper-reativa precisa de ambiente mais
controlado com estímulos calmantes, a criança hiporreativa precisa de um ambiente mais rico
muitas crianças respondem aos estímulos de forma inapropriada, devido uma ―dificuldade do
duração e frequência da resposta aos estímulos sensoriais‖ (Souza & Nunes, 2018, p. 05).
Assim, as crianças, além de serem hipo e hipersensíveis, ainda realizam uma busca sensorial
entre os limiares neurológicos do seu dia-a-dia‖ (Almeida, 2019, p. 29). Essa busca sensorial
pode recorrer a recursos e materiais, como tipos, formas, cores, texturas e cheiros, os quais,
Gomes et al. (2004) realizaram um estudo no qual constataram que, nas crianças
autistas há maior sensibilidade em relação ao som e ao toque físico. No que diz respeito ao
som, crianças hipersensíveis geralmente colocam as mãos nos ouvidos e tendem a sair do
55
muitos pais pensarem que as crianças são surdas. Portanto, os autores ressaltam a importância
dos responsáveis se manterem atentos às ações dos filhos em busca de respostas para seus
comportamentos.
processariam sem dificuldade, mas as pessoas com TEA podem não suportar e se
tópicos ou objetos‖ (Souza & Nunes, 2018, p. 08). Tal habilidade é desenvolvida pela pessoa
com TEA devido ao apego a um tema específico, com relação ao qual, por exemplo, pode
‗saber tudo‘, embora não consiga reter informações sobre outros assuntos, mesmo correlatos.
algo que não conseguem controlar e que precisam realizar para se sentirem melhor. Além
disto parecer estranho para as pessoas que não o sentem, pode tornar-se perigoso quando o
baixo limiar de dor coloca as pessoas com TEA em perigo, por não perceberem que podem se
Sobre os padrões restritos, repetitivos e estereotipados, Silva (2020) destaca que são
vida que exige a comunicação de algo, sejam momentos tristes, felizes, cansativos, excitantes,
56
etc. Surgidas devido a uma alteração sensorial (auditiva, tátil, visual, gustativa ou olfativa),
geralmente as estereotipias permitem a liberação das tensões sentidas pelas pessoas com TEA
em um momento específico. Muitas vezes elas constituem um modo da pessoa com TEA se
organizar no contexto, portanto, não devem ser barradas ou proibidas sem uma avaliação
prévia cuidadosa, podendo ser usadas de forma funcional até que se extingam.
Ou seja, os padrões rígidos e de ritual apresentados pelas pessoas com TEA tem
relação com comportamentos repetitivos, não apenas ações corporais, como balançar as mãos
constantemente, mas, também, querer fazer sempre as mesmas coisas e exatamente do mesmo
jeito. Exemplificando, Posar e Visconti (2018) destacam que: visualmente, as pessoas podem
auditivamente, a criança não suporta alguns sons ou mesmo não responde quando é chamada;
repetitivamente as coisas ou recusar alimentos por seu odor; em termos de paladar, gostam de
colocar objetos na boca e podem não ingerir alimentos por causa de suas texturas; no sistema
Wong et al. (2013) apresentam duas práticas emergentes que lidam diretamente com
4
Sistema somatossensorial: composto pelos neurônios sensoriais e vias neurais.
57
(Souza & Nunes, 2018, p. 04), o que justifica a importância de ―ensinar à criança, através de
Isso indica ser necessária total atenção para tais características, a fim de que elas não
sejam negligenciadas, encaradas como ―coisa que todo autista faz‖, ou interpretadas de forma
preconceituosa. De fato, apenas com base na maior aproximação com relação à pessoa autista
e em depoimentos daqueles que mantem contato direto com elas é possível mensurar
com TEA, com participação de um smartwatch (relógio inteligente), que auxilia os autistas
prestes a ficarem sobrecarregados emocional ou sensorialmente, desde que suas crises sejam
situação adversa são detectados, o relógio vibra e chama a atenção da pessoa que o está
portando, para que possa usar outras estratégias. Como o exemplo menciona uma garota,
desenho animado; a tática usada para distrai-la e evitar a crise foi inserir o desenho e algumas
Antonio, citado acima, é o tutor de Elena, que programou o relógio de acordo com
estratégias utilizadas quando estão juntos, inclusive imagens e dicas de respiração guiada. Isto
identifiquem as situações estressantes e as fontes das frustrações, diante do que podem tentar
evitar tais situações ou (quando isso não for possível) ao menos controlar o estresse e
pelas pessoas com TEA podem ser resultado de uma comunicação que não supre suas
estereotipados, que são uma forte característica do TEA, resultando em comportamentos que
causam estranhamento em pessoas que não convivem ou observaram seu dia a dia.
O capítulo também mostrou que, diante das necessidades sensoriais dos autistas, a
Integração Sensorial é uma área que visa organizar as sensações corporais e do ambiente,
59
que, por si, este último pode ser estimulante ou desanimador. Desse modo, o ambiente será
Conforme indicado no capítulo anterior, para qualquer trabalho com autistas ser
corpo. Ou seja, como afirma Ayres (1972) na sua Teoria de Integração Sensorial, pensar os
tendo como base os conhecimentos derivados da Psicologia Ambiental (PA), campo que
considera os humanos como seres inseridos em um ambiente, sendo este último entendido
como ―um conceito multidimensional, compreendendo o meio físico concreto em que se vive,
De acordo com a PA, na vida cotidiana captamos estímulos do ambiente que nos
internalizamos o que é seguro ou perigoso, agradável ou não e, ainda, com base nesse
possível afirmar que cada pessoa percebe o meio que a envolve de maneira única e, com base
nessa sua vivência, constrói sua visão de mundo, podendo reagir de maneira específica em
cada lugar com o qual tem contato, ou mesmo, de modos diferentes em um mesmo local, em
205).
61
Somada a essas questões subjetivas, a PA entende ―o homem não apenas como uma
existência psíquica e social, mas também como física, que ocupa um lugar, um espaço com
propriedades específicas onde vai desenvolver suas atividades‖ (Kuhnen, 2009, p. 17), o que
nos leva a concluir que, independentemente do contexto em que a pessoa está inserida, é
esperado que o meio físico a receba e acomode adequadamente. Para tanto, quando
que atendam às nossas aspirações, isso indica que somos capazes de intervir conscientemente
No entanto, a discussão sobre as relações entre seres humanos e ambiente não se limita
àquelas pessoas que conseguem desenvolver tal tipo de habilidade; ela abrange todas as
pessoas, inclusive aquelas que não conseguem reagir de modo coerente com as pistas e
solicitações destes ambientes. Neste contexto, a atenção desta dissertação se volta para as
pessoas com TEA (e especificamente as crianças com TEA), cujo protagonismo pode estar
ausente ou apresentar falhas, já que muitas vezes, nem mesmo o autista consegue entender
pode contribuir para a compreensão do ambiente cotidiano para os autistas a fim de subsidiar
62
ambientes sejam organizados de modo claro e objetivo, em função daquilo que está previsto
para a pessoa com TEA realizar em um determinado local – em especial aquelas relacionadas
nos itens que se seguem são trabalhadas ideias da PA que podem auxiliar na compreensão
percepção e uso do ambiente (com destaque para os conceitos de espaço pessoal, distância
discussões para as pessoas com TEA, para as quais, o ambiente sócio físico assume
63
físico para os autistas a fim de reduzir as crises comuns a esse público. Esse item aborda
modos da literatura se referir ao ambiente físico adequado a esse público e que possa ser
considerado um aliado para evita-las. Antecipadamente é fundamental ter atenção para o fato
de tais indicações serem genéricas, de modo que, como cada pessoa é única, é possível (e
previsível) existirem situações específicas que divergem daquelas mencionadas pela literatura.
Para iniciar é de extrema importância evidenciar que o TEA tem entre suas
comunicação, os quais, segundo o DSM 5 (APA, 2013, p. 55), podem causar as chamadas
como puxar cabelo, beliscar, morder, puxar objetos pessoais); comportamentos de autolesão
(mais comuns em crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista do que em outros
transtornos).
As crianças com TEA que ―não verbalizam e não conseguem indicar (ex: apontar,
buscar) o que desejam, geralmente expressam o seu querer algo através do choro, do grito e
dos movimentos bruscos de mãos e braços‖ (Teixeira & Ganda, 2019, p. 132), também
Troncoso e Rodrigues (2018), assim como Mattos, Rausch e Lang (2020), esclarecem que a
entrada de estímulos sensoriais para pessoas autistas pode assumir grandes proporções e terem
difícil controle.
64
Ou seja, para as pessoas com TEA tais estímulos são excessivos, e elas muitas vezes
não conseguem lidar com isso, sendo comum confundir birras com crises, principalmente para
quem não convive com pessoas autistas. Até mesmo pessoas mais próximas podem não
compreender bem o transtorno, como relatado por Cruz, Minetto e Weber (2019), os quais
―malcriação ou afronta‖ e não como características do autismo. Essa situação pode dificultar a
tomada de decisão em relação à investigação dos fatores causadores de crises, sejam causas
machucar quem está perto) realizados pela pessoa com um objetivo em mente, de forma
em situações em que recebe alta carga de estresse diante de uma sobrecarga sensorial ou de
situações novas (ela chora, põe as mãos nos ouvidos, grita, corre, fica agressiva, mas sem
65
aparentar ter um objetivo específico para fazê-lo). Ambas são situações delicadas, que
precisam ser entendidas para serem evitadas ou contornadas da maneira adequada, a fim de
do mesmo, a previsibilidade da rotina e dos acontecimentos são estratégias que devem ser
adotadas, pois, as pessoas com TEA apresentam ―um estilo cognitivo diferenciado e têm
Por sua vez, Gomes, Vieira e Ferreira (2019, p. 01) esclarecem que ―as crianças com
devido sua grande resistência à mudanças, uma simples modificação na configuração espacial
do quarto (ou de qualquer espaço da casa) pode ser suficiente para frustrar o indivíduo. Ou
seja, não basta o ambiente estar adequado, muitos autistas necessitam que eles permaneçam
cognitiva para que a pessoa não fique rígida às possíveis modificações do cotidiano. Um
aproximar de forma exagerada de uma fonte sonora, tocar muito em objetos e texturas com as
pontas dos dedos, quando apresentam extremo interesse em luzes e objetos que giram
(inclusive as temperaturas ambientais, sejam elas naturais ou artificiais) podem ter influência
nos comportamentos emitidos pelas pessoas com TEA, inclusive os de crise, nas quais uma
textura macia, uma etiqueta da própria roupa em contato com a pele, ou mesmo luzes de natal
fundamental promover o conforto ambiental que, em sua raiz técnica, engloba o aspecto
2001). A autora ressalta que o aspecto térmico está relacionado a questões de temperatura,
ventilação, exposição das pessoas à radiação solar, umidade relativa do ar, vestimenta e outros
quantidade de luz ser suficiente e de qualidade para os ambientes, salientando que, quando a
iluminação não está adequada podem ocorrer dificuldades na orientação espacial e que ela
67
sendo excessiva pode resultar na fadiga visual e desconforto, ou seja, a busca por um
equilíbrio lumínico é primordial para a vida cotidiana das pessoas e para a realização de suas
tarefas.
Por sua vez, o conforto acústico diz respeito às condições sonoras em um ambiente e,
quando bem planejada pode, segundo Gonçalves, Silva e Coutinho (2009, p. 467), garantir
―distribuição eficiente dos sons desejáveis, assim como exclusão dos indesejáveis (ruídos
convívio com o ambiente, refletindo na produtividade dos usuários‖ (Bernardi, 2001, p. 43), o
que tem ligação com o arranjo espacial e o mobiliário existente, suas adequações,
flexibilidade, área disponível para realização das atividades, tempo de permanência no local,
tudo de acordo com as necessidades das pessoas que usarão esse espaço.
A partir deste breve relato é possível deduzir que o ambiente construído deve ser
planejado a fim de que haja uma boa funcionalidade e atendimento às necessidades dos
ocupantes, o que embora não seja uma tarefa fácil, não é impossível. A adequação do
ambiente aos seus ocupantes pode ser (ao menos minimamente) garantida antes mesmo da
ambiente, mas também podem acontecer por meio da avalição pós-ocupação (APO) quando,
no dia a dia, problemas são identificados e devem ser solucionados. Correspondendo a ―um
edificações em uso‖ (Ho, 2020, p. 32), a APO se baseia na ideia que ―caso o ambiente não
Embora essa afirmação seja totalmente aceitável para pessoas típicas, para aquelas que
possuem um processamento sensorial ou perceptivo diferente, como é o caso das pessoas com
próprio sujeito expresse um interesse. Tal dissonância exige a intervenção de terceiros que
sensoriais relativos a alguma alteração a ser feita, seja de caráter estrutural (fisicamente
fuga para favorecer a regulação e diminuição da sobrecarga sensorial. ―São espaços com o
mínimo de estímulo possível, cujo objetivo é de prover um espaço de respiro para onde a
pessoa com TEA se afasta do excesso de estímulo sensorial‖ (Ho, 2020, p. 54), como relata o
exemplo a seguir, que se refere a um cantinho em uma escola, mas que também pode ser
utilização de apoios visuais como estratégia para ajudar os indivíduos com TEA a
realizarem tarefas propostas com ajuda de marcadores e códigos. Tal apoio é essencial para
facilitar a comunicação (comentada em itens anteriores), visto que parte dos autistas possuem
altas habilidades perante os materiais visuais, o que pode possibilitar uma potente via de
69
acesso a esse público, exemplos desses apoios são, pictogramas, palavras, marcadores ou
códigos.
material alguns dias antes de eventos diferentes dos usuais (como, viagens, excursões, festas),
facilita a preparação a fim de assimilarem as novidades que as aguardam. Funciona como uma
oportunidade para as pessoas poderem ―ensaiar o que devem fazer e saber o que é que se
espera deles‖ (Hebert, 2003, p. 39), assim como, prevenir acontecimentos que poderão vir a
Outra possibilidade é o uso da chamada ―agenda visual‖ (Figura 1), que indica para
onde a pessoa vai ou o que ela precisa fazer naquele momento ou durante o dia. Esse suporte
nessas pessoas. Chegando ao espaço, dependendo do nível de ajuda que a criança com TEA
precisa, no banheiro, por exemplo, terá um passo a passo ou o que se chama de ―história
social‖ (Figura 2) da escovação dos dentes ou do banho. Seria uma sequência de imagens que
auxilia na realização de uma atividade específica para crianças que tenham o sistema de
planejamento em déficit; esta estratégia possibilita que a pessoa com TEA mantenha uma
Em relação à comunicação, as crianças não verbais que não têm apoio de uma
Comunicação Alternativa e não sabem fazer o pedido de modo adequado, podem emitir
comportamentos inadequados (chorar, bater, jogar objetos ao chão). Neste campo, em relação
71
a alimentação em casa, poderia ser útil manter um cardápio fixo na parede da cozinha,
contendo, por exemplo, imagens das opções de comida disponíveis. Outra opção para evitar
situações de crise seria o uso de fichas com imagem dos alimentos, de modo que, entregando
coloridas que a façam entender a funcionalidade dos espaços (tal local é para descanso, outro
é para brincadeira e outro para atividades escolares, etc.). Em conjunto com isso, símbolos
podem ser impressos e colados, como as setas que indicam o passo a passo de onde ir para
realizar uma atividade, imagens de como fazer um sanduíche na cozinha. Não é simples de
organizar/planejar/executar atividades cotidianas para pessoas com TEA, uma vez que as
especificidades do transtorno podem exigir apoio ambiental. Para tanto, pistas visuais são
elementos que ajudam a indicar modos de agir ao autista, correspondendo a ‗adequações‘ que
Sobre isso, Hebert (2003) destaca o Treatment and Education of Autistic and related
autonomia da pessoa com TEA. Sob esta ótica, ―os ambientes e materiais devem, portanto,
apresentar-se por si mesmos, ou seja, ser estruturados de tal modo que facilitem a
manipulado pela criança ou adulto com TEA, essa estrutura se justifica pela aprendizagem ser
TEACCH se organiza em quatro etapas: a) organização do espaço físico, estes com funções
específicas e sinalizações para tal, b) agendas, que sinalizam para onde a criança vai,
o ambiente sinaliza para a criança fazer naquele momento e qual próximo passo quando a
atividade acaba, e d) materiais com estrutura, que sinalizam por meio de instruções visuais
Hebert (2003) esclarece esses quatro passos básicos como: (1) mostrar à criança o que
fazer; (2) indicar como ela deve fazer aquilo; (3) dar a ela alguma dica sobre a atividade ter
sido concluída com êxito; (4) oferecer uma ‗amostra do produto‘ procurado. E para elucidar
mesmo ambiente para atividades diferentes, ou à mudança no uso de algum ambiente que,
embora comumente tivesse um determinado fim, passou a ser utilizado de outras formas (até
mudanças, algumas crianças autistas podem ter dificuldade para entender, por exemplo, que a
mesa de refeições passaria a ser a nova mesa de estudos (tanto para a criança quanto para
irmãos). As pistas visuais poderiam ser utilizadas para auxiliar essa compreensão, reduzindo
confusões sobre como e quando usar o espaço; assim, para cada atividade a mesa poderia ser
demarcada com uma toalha de cor diferente, e, ainda, poderiam ser utilizadas fichas que
Sendo o TEA um transtorno complexo, várias áreas de estudos tentam contribuir para
Ambiental (PA) que ajudam a explicar o comportamento humano em função das relações
estabelecidas entre as pessoas e o local em que se encontram, podendo vir a ser úteis para a
compreensão de algum aspecto do comportamento dos autistas. Para tanto parte-se da noção
de atividade cotidiana, aqui compreendida como aquilo que acontece de modo semelhante
Assim, é quase automático pensar que tudo o que é necessário para que tais atividades
fim de satisfazer nossas necessidades. No entanto é preciso ressaltar que, embora para parte
das pessoas isso realmente aconteça, as condições econômicas, sociais e políticas acabam
desenvolverem, mas uma atenção especial deve ser direcionada às pessoas com deficiência,
que enfrentam barreiras e dificuldades todos os dias, pois têm necessidades específicas que
são diferentes das exigências das pessoas típicas, sendo muitas vezes esquecidas pelos
macrossistema – cuja organização compõe uma estrutura encaixável, por analogia semelhante
ao longo do tempo no ambiente no qual a pessoa vive‖ (Prati et al. 2008, p. 162).
como ambiente imediato de desenvolvimento em que a pessoa está inserida, que é composto
pelo local em si e pelo contexto social envolvido, ou seja, para uma criança o microssistema é
a sua casa e as pessoas que nela habitam (caracterizando a família). O mesossistema se refere
à interação entre os microssistemas, tendo a pessoa como o responsável por essa ligação, ou
seja, é o que acontece, por exemplo, com relação à reunião de pais com a escola, cujo elo
(entre ambos) é a criança. O exossistema se refere aos sistemas ambientais em que a pessoa
não está inserida de forma direta, mas sofre influências desse meio de forma indireta, como
uma crise no trabalho dos pais que pode influenciar o tipo de atividades em que uma criança
e ideologia que afetam de forma transversal os demais sistemas, ou seja, são os valores,
próximos até os mais distantes, mas que não deixam de influenciar a vida e o
mais difícil de ser representado e de ser compreendido, por suas características de abstração e
fugacidade que, com frequência, conduzem o sujeito autista a perder-se no tempo” (Giaconi
76
& Rodrigues, 2014, p. 696). As autoras também afirmam que a representação visual desse
que correspondem a
Tendo em vista a dificuldade das pessoas com TEA em quebrarem rotinas e passarem
por mudanças, essas transições tendem a acarretar estresse. Para que elas ocorram de forma
menos traumática, é preciso promover previsibilidade, isto é, fazer quaisquer mudanças (quer
espaço doméstico. Ele deve ser estruturado em todas as suas partes, começando pelo quarto da
criança. ―Para qualquer bebê, típico ou atípico, a casa é o ambiente social mais imediato e seu
quarto representa o lugar mais seguro‖ (Vergara, Troncoso & Rodrigues, 2018, p. 04). Com a
sua chegada tudo pode parecer perfeito, mas com o passar do tempo algumas peças do
A caderneta destaca que dos zero aos 10 anos os traumas podem ser por quedas,
berços, usarem redes e barreiras de proteção, terem cuidado com os lençóis e travesseiros, não
oferecer medicamentos sem receita médica para as crianças, também destaca o uso essencial
do bebê conforto, cadeirinha e do banquinho nos carros, sinaliza o cuidado com fogo e ferro
elétrico, cuidado com a aproximação das crianças de animais desconhecidos, que devem
evitar o contato com substâncias inflamáveis ou tóxicas, entre outros. Sobre o uso da palavra
acidente, o médico Dario Birolini em entrevista para o médico Drauzio Varella destaca
Com esse entendimento, passaremos a usar a palavra trauma quando formos nos
referir aos chamados acidentes domésticos, por muitos apresentarem esse caráter passível de
ser evitado. Relacionado aos traumas e as fatalidades, alguns estudos sobre a mortalidade da
população com autismo vêm sendo desenvolvidos, dentre eles, constatou-se que o número de
mortes varia de duas a 10 vezes mais, quando comparado com pessoas fora do espectro. As
pessoas não morrem por causa do TEA, mas sim por condições que propiciam o aumento
desses falecimentos, como, comorbidades tal qual a epilepsia, deficiência intelectual, doenças
foi bem recorrente em diversos estudos (Mouridsen, 2013; Hirvikoski et al. 2016; Shavelle et
al. 2001).
Frente a tal realidade vêm sendo pensadas diversas estratégias de atuação. Mouridsen
(2013, p. 20) ressalta que ―em geral, as medidas preventivas para diminuir a mortalidade em
pessoas com TEA devem se concentrar nas áreas onde a morte é potencialmente evitável,
comunicação para os autistas, sobretudo aqueles não-verbais e/ou com deficiência intelectual
grave. Ela asume especial papel para conseguirem expressar o que estão sentindo, em relação
a dores ou desconfortos, para que seja possível tratamento breve, sem complicações e sem
doenças avançadas, no qual, esse público específico, precisa de copioso apoio e conhecimento
dos familiares. Hirvikoski et al. (2016) ainda constataram que dentre as possibilidades de
morte nas pessoas com TEA, a maioria acometia aquelas com deficiência intelectual, sendo o
Diante do exposto se torna indispensável planejar o ambiente para que não ofereça
riscos que venham a originar traumas ou mortes, o que reforça a importância de manter-se um
ambiente que atenda as necessidades das pessoas com deficiência, priorizando sua segurança
e bem-estar. Nesse campo os afogamentos estão entre os casos mais frequentes, de modo que,
em hipótese alguma pessoas com TEA podem ficar em contato com água sem supervisão,
autistas que fogem do local onde se encontram, de modo que muita atenção deve ser dada aos
portões e portas, para dificultar o acesso à rua, principalmente as vias expressas com
fundamental manter atenção aos sinais e pistas do próprio indivíduo com ideação suicida,
assim como manter fora do seu alcance instrumentos como cordas, lençóis, drogas, armas
79
brancas e de fogo; em situações em que tais pessoas moram em prédios, especial atenção deve
setting5 (BS) foi desenvolvido por Roger Barker (1968) e colaboradores e se volta para a
descrição dos acontecimentos da vida diária a partir de um ponto de vista ecológico (Carneiro
p. 83). Eles cumprem ―um padrão ordenado de comportamentos, uma sequência prescrita de
interações entre pessoas e objetos‖ (Idem, p. 90) conhecida como programa, que diz respeito
deste programa, são considerados elementos essenciais à configuração dos BS: os seus
entendendo-se que tudo o que concorre para o bom desempenho do BS é atraído para nele
estar e permanecer, enquanto componentes inadequados (ou que dificultam sua realização)
eventos prevista para acontecer, sendo essencial entender que a maior flexibilidade de um
programa pode favorecer a sua exequibilidade e, ao contrário, quanto mais rígido ele for mais
facilmente poderão ser observados problemas em sua execução, o que pode corresponder,
5
De acordo com Pinheiro (2011), behavior setting é mais um conceito da PA que não deve ser traduzido, pois o
novo sentido pode não contemplar o significado originalmente proposto por Barker, que ressalta a relação entre
seus componentes.
80
inclusive, à redução das condições de sinomorfia (ou seja, à perfeita adequação dos elementos
educação física‖, que acontece em uma quadra poliesportiva toda sexta-feira das 15:00 às
local e, se preciso, trocarem de roupa ajudadas por seus responsáveis: (1) a professora chega;
(2) professora e crianças conversam em uma das laterais da quadra; (3) são feitos
alongamentos; (4) a professora propõe atividades a serem realizadas; (5) todos trabalham
conjuntamente por cerca de 30 minutos; (6) são feitos novos alongamentos para que o grupo
se acalme; (7) a professora encerra a aula; (8) seguem-se conversa individuais até que todos se
retirem.
levemente. Além disso, eventualmente podem acontecer situações que impeçam a realização
deste BS por dificultar o acesso dos participantes (como ilustrado por uma recente greve do
transporte público) ou inviabilizar o uso da quadra (como fortes chuvas ou uma festa prevista
Esse tipo de entendimento indica que os ―os behavior settings possuem, por assim
dizer, uma carreira de vida, isto é, passam por diferentes períodos de vida, denominado ciclos
de vida‖ (Carneiro & Bindé, 1997, p. 371). Diante disso, é possível imaginar que, no
para evitar o contágio pelo Coronavirus fizeram com que muitos settings fossem extintos,
entanto, entendendo-se que ―um ocupante entra em um behavior setting por alguma razão –
por exemplo, existe algum objetivo ou satisfação que o setting lhe proporciona‖ (Pinheiro,
2011, p. 91), frente à necessidade de envolver-se naquele tipo de atividade, ela pode ter sido
repensada, sendo o BS substituído por outro (semelhante, mas não o mesmo), acontecendo em
um novo espaço, como o doméstico. Do mesmo modo, durante a pandemia vários outros
settings sofreram a tentativa de serem transpostos para dentro das casas das pessoas, impondo
Outro importante ponto a ser trabalhado na análise de BSs são os seus sistemas
autorreguladores (Wicker, 1979, p. 22). Segundo o autor, diante de um problema que venha a
existente); executor (quem lida com o problema); de manutenção (como o problema foi
resolvido/contornado). Este último, por sua vez, abrange dois mecanismos complementares: o
forma que as pessoas com autismo e, embora tais processos possam parecer diferentes entre
si, ambos possuem o objetivo de retornar ao estado de equilíbrio essencial para que a inter-
Em uma situação envolvendo crianças com TEA, o mecanismo sensor poderia ser os pais ao
comportamento, como encarregado de fazer uma análise funcional dos fatores que levaram a
82
tal situação e os terapeutas ABA, seriam responsáveis por colocarem em prática as estratégias
compreensão das relações entre pessoas com TEA e o ambiente, notadamente no que se
programa. Nesse campo, a pouca flexibilidade cognitiva de alguns autistas, seu apego às
rotinas e sua resistência às mudanças, tende a perpetuar o programa dos behaviors settings
indispensável para que o/a autista compreenda o ambiente e o que esperar dele. Reforça-se,
assim, a necessidade de organizar os ambientes em função daquilo que está previsto para a
Sob esse ponto de vista, Pinheiro e Elali (2011, p. 144) explicitam a ideia de
espaço refletem o ânimo afetivo, o status das pessoas envolvidas e a natureza da interação
social pretendida‖.
problemas para essa ―gestão‖ espacial. A essa dificuldade pode se somar déficits de
planejamento e tomada de decisões, resultando em uma relação deficitária desta pessoa com o
Além disso, dependendo das questões sensoriais, crianças com TEA podem apresentar
diferentes graus de tolerância ao contato físico (de alta à baixa), ou mesmo preferir ficar
conceitos tais como distâncias interpessoais, espaço pessoal, territorialidade, apego ao lugar,
Distâncias interpessoais
termo ‗proxêmica‘ para descrever o uso do espaço como um importante elemento não-verbal
84
da comunicação das pessoas em suas interações sociais (Sawada et al. 2000, p. 74). Hall
defendia que, no contato com outros indivíduos estabelecemos distancias que ―escolhemos
manter entre nós e os outros indica quão próximos preferimos estar em relação a outra
biológico que vai passando de pai para filho; b) a pré-cultural, ligada à fisiologia e a como o
classificáveis de acordo com suas características, as quais podem ser fixas, semifixas ou
informais, como segue. Os espaços de características fixas são aqueles cujas propriedades são
(como a sala de estar que, em um mesmo dia e dependendo do arranjo social e espacial
pretendido, pode se transformar em local para estudos, em salão para a festa de aniversário
correspondem às distâncias que as pessoas mantêm entre si nas diferentes situações em que se
das pessoas atípicas pode facilitar o entendimento a respeito do modo como acontecem as
relações interpessoais nos diferentes grupos sociais (em família, na escola, no trabalho, e
outros), e facilitar/dificultar que ocorram. Diversos estudos (Crowell & Pares, 2018; Gessaroli
et al, 2013; Kennedy & Adolphs, 2014) apontam que as crianças com TEA apresentam
longo da vida.
6
É importante esclarecer que, de acordo com o próprio autor, os valores numéricos indicados são apenas
referências genéricas, pois podem variar de cultura para cultura, e mesmo entre indivíduos de mesma cultura.
86
Espaço pessoal
De acordo com Sommer (1973), o espaço pessoal é uma zona invisível em torno do
corpo de cada pessoa, ou uma ―bolha‖ espacial que a pessoa defende, limitando ou
torno de si mesmos, na qual outras pessoas não podem interferir sem despertar
aborrecimento‖ (Martínez-Torvisco, 2010, p. 103), uma vez que ―a intrusão de outras pessoas
distância íntima (Hall, 1977), uma vez que ambos estão relacionados à zona mais próxima ao
corpo. Com relação a isso, tal proximidade é conquistada por meio das interações, confiança
estabelecida com outra pessoa, que faz com que os indivíduos se sintam à vontade com a
pessoal são alterados em indivíduos que seguirem uma trajetória de desenvolvimento atípica‖
(Lough et al, 2015, p. 4101), como é o caso das pessoas com TEA. Os autores salientam haver
casos em que essa proximidade corporal pode não ser estabelecida até com os próprios pais, o
que sugere que as características específicas do autismo podem ser explicadas pela
necessidade das pessoas com TEA preferirem a distância social, ao invés da pessoal ou
proximidades sociais, as pessoas com autismo podem não respeitar e invadir o espaço dos
outros, mesmo que de forma inconsciente. Kennedy e Adolphs (2014) identificaram que tanto
o espaço pessoal quanto o espaço social podem ser entendidos de forma não usual pelas
pessoas com autismo, inclusive por aquelas de alto funcionamento e sem déficits cognitivos;
nesse campo, algumas podem apresentar comportamentos pouco esperáveis, como tocar nos
pares de maneira incomum ou tentar andar entre duas pessoas que estão conversando.
desenvolvimento típico, observa-se maior probabilidade dos indivíduos com TEA invadirem
o espaço pessoal dos outros, o que ocorre devido à uma incapacidade em regular as distâncias
interpessoais durante as interações, que, por sua vez, é resultado de uma disfunção da
amígdala, comentada anteriormente, que altera o controle inibitório e a ansiedade diante das
situações sociais.
Diante desse tipo de situação a literatura indica que ―o autista não tem essas
habilidades, não gosta do contato, seja físico ou visual, o que lhe causa enorme desconforto‖
88
(Locatelli & Santos, 2016, p. 206) e, ainda, que ―indivíduos com autismo podem desenvolver
ou estresse‖ (Hebert, 2003, p. 39). Portanto, é indispensável interligar essas discussões com o
TEA para que a sociedade possa compreender melhor as razões do comportamento emitido
por pessoas com autismo diante de um toque inesperado, seja em situações cotidianas, em um
espaço com muitas pessoas, ou mesmo em situações íntimas, como o início da vida sexual,
Esse tipo de argumento também pode ser útil em casos contrários, quando ocorre uma
busca incessante (consciente ou não) por toques firmes, os quais podem ser explicados por
questões sensoriais que fujam do controle. Autistas que conseguem se comunicar têm
explicitado que, de modo semelhante ao que ocorre nas estereotipias, tal comportamento pode
ser compreendido como algo que faz àquela pessoa se sentir bem, mesmo que ela não saiba
explicar por que. Ou seja, é preciso muito tato no tratar destas questões, pois, embora possam
Territorialidade
territorialidade humana está ligada ao sentimento de posse com relação a um local específico
(quer essa posse tenha origem legal, quer afetiva). Os autores também destacam que, embora
exista possibilidade dos conceitos de espaço pessoal e território serem muito semelhantes, eles
diferem significativamente entre si, pois o primeiro é invisível, portátil e tem o corpo da
89
pessoa como centro, enquanto o segundo é fixo e fisicamente delimitado. Isto é, enquanto o
preciso tempo e/ou de algum tipo de ligação com um espaço para que um local seja
necessidade das pessoas terem acesso a locais nos quais se sintam confortáveis, protegidos e
aptos a desenvolver suas atividades cotidianas, a territorialidade também pode ser relacionada
à apropriação do espaço, à relação entre espaço lugar, e ao apego ao lugar (próximo item). A
com seu entorno por meio do qual o ser humano se projeta no espaço e o transforma em um
O debate sobre espaço e o lugar está na base de muitas das questões trabalhadas na
PA. De acordo com Tuan (1983), o espaço se diferencia do lugar porque a pessoa atribui
significado a este último, revestindo-o de valores e significados que são conquistados pela
ligação que o indivíduo estabelece com o local (Cavalcante & Nóbrega, 2011). A diferença
entre esses conceitos se torna especialmente evidente no caso de pessoas que precisam mudar
de cidade ou de habitação (no mesmo contexto urbano ou em outro), e que, neste processo,
precisam transformar um local antes desconhecido (espaço) em um novo local para sua vida
cotidiana (lugar).
situações nas quais as crianças precisam frequentar diversos locais, como escolas ou clínicas,
ou, ainda, quando, mesmo dentro da casa da família, precisam passar a usar outros cômodos
90
(e não aqueles aos quais já estavam acostumados) ou mesmo dividir um local que ocupam
habitualmente.
Apego ao lugar
pessoas possuírem lugares para chamarem de seus, destaca-se o apego ao lugar/vínculo com o
lugar, que segundo Elali e Medeiros (2011) é um conceito que engloba tanto as características
direcionam para esses locais. O apego ao lugar também está relacionado ao enraizamento,
compreendido como ―o sentimento de estar ‗em casa‘ em um lugar; familiaridade que provém
As pessoas com TEA geralmente se prendem ao igual, sendo muito difícil para elas
balanço em seu quarto para ajustar as questões sensoriais e de repente esse equipamento
precisa ser retirado, se não for sinalizado com antecedência o simples fato de entrar no quarto
e perceber que há algo faltando que descaracterize o ambiente que ele havia internalizado,
uma crise pode acontecer, devido às inflexibilidades comuns ao transtorno, pois, ―a moradia é
fonte de importantes vínculos emocionais pessoa-ambiente‖ (Elali & Medeiros, 2011, p. 58).
Também é comum tanto para pessoas típicas, como atípicas, se identificarem com
determinado restaurante e apresentarem a vontade de frequentar apenas ele, seja por ser
confortável, agradável, ou por ter gerado memórias afetivas positivas em relação a ele,
Especificamente para as pessoas com TEA, pode se tornar um ritual, ter que ir a uma
sorveteria todos os dias, o que pode ser explicado pelas características do transtorno e pelos
conceitos da PA.
Aglomeração
quais uma pessoa percebe que sua necessidade de espaço ultrapassa a quantidade de espaço
efetivamente disponível‖ (Pinheiro & Elali, 2011, p. 152). Trata-se de uma sensação
em questão pode não se sentir confortável; assim, quando alguém precisa de espaço e silêncio
para concentrar-se, uma segunda pessoa numa sala pode fazê-la sentir-se aglomerada. Os
autores sinalizam que a aglomeração se diferencia de densidade física, por que a primeira é
subjetivo, e a segunda corresponde à uma relação numérica que se reflete na capacidade física
espanhol, hacinamiento) é uma questão subjetiva, que depende das experiências psicológicas
da pessoa, de modo que um local pode gerar estresse para determinado público e não para
outro, e que isso não significa estar fisicamente ‗cheio‘ ou ‗vazio‘. Para os autistas sensíveis
92
aos estímulos ambientais, situações que reúnem muitas pessoas e sons, não apenas são
incômodas, mas se mostram fontes para desorganização interna, com potencial para gerar
crises. Mesmo em um local amplo, a simples presença de um pequeno grupo pode se tornar
A partir desse entendimento é possível observar ambientes com relação aos quais as
pessoas com TEA tendem a estabelecer interesse e ligação, a fim de tornar possível o
ambiente ideal é aquele em que a pessoa se sinta à vontade e confortável, que não proporcione
Affordance
inglesa, deve ser entendido em sua essência e não por tradução (no nosso caso para o
não percebesse tal possibilidade. Para explicar tal conceito, os autores ressaltam três
affordance: (1) independe da capacidade do/a observador/a percebê-lo; (2) não muda
93
enquanto uso em relação à capacidade de ação de cada ator (Idem, 200, p. 01).
Desse modo, um mesmo objeto ou ambiente pode oferecer ―affordances distintas para
animais diferentes‖ (Günther, 2011, p. 24), sendo o indivíduo responsável por agir e usar sem
que a estrutura geradora do affordance seja alterada. Ou seja, havendo um objeto disponível
em um ambiente, para cada pessoa ele pode ser associado a uma finalidade específica,
simbólico que, embora sejam conceitos distintos, possuem pequenas semelhanças enquanto ao
uso de objetos, ao serem repensados e imaginados por aqueles que têm contato com os
mesmos. Observa-se que, para o simbolismo o ―conhecimento que as pessoas adquirem sobre
seu mundo é obtida não por meio da observação ou da experiência direta, mas de símbolos,
que são representações intencionais da realidade‖ (Papalia & Feldman, 2013, p. 182). Sob
essa perspectiva, um depósito de alimentos pode ser entendido como um disco voador, ou um
rolo de papel toalha pode ser usado como uma luneta, ou seja, como resultado do símbolo
prejudicadas, quando pegam determinado objeto e o usam de forma não usual, mesmo sendo
um objeto cuja função seja evidente7. Diante disso, devido às limitações do transtorno a
7
No processo terapêutico as ações nesse campo se relacionam à análise do comportamento aplicada (ABA), de
comportamento sem função ou disfuncional.
94
criança pode perceber affordances que se reflitam em usos não aceitos (ou pouco aceitos)
socialmente. Por outro lado, em muitas situações os profissionais e as famílias se utilizam dos
É o caso, por exemplo, de entender-se e aceitar-se que uma criança com TEA pode enxergar
uma caixa de papelão como sendo uma caverna, o que pode proporcionar infindáveis
Em geral é evidente a necessidade das pessoas com TEA contarem com espaços que
atendam suas necessidades, seja em casa, na escola, locais públicos, consultórios, museus ou
Pessoa com Deficiência (ou Estatuto da Pessoa com Deficiência)8 define condições para as
existirem residências inclusivas. Esses locais são destinados a PCDs que não conseguiram
adquirir independência suficiente para realizar atividades de vida diária ou para se manterem
financeiramente sozinhos, incluindo aqueles de baixa renda. Nos termos da Lei tratam-se de
8
De acordo com o Artigo 2º da Lei nº 13.146, é considerada PCD a pessoa que ―possui impedimentos de longo
prazo, seja de natureza mental, física, intelectual ou sensorial‖. As pessoas com TEA se enquadram em algumas
dessas características.
95
qualidade de vida, no entanto, quando essa proposta tenta sair do papel surgem as dificuldades
para sua efetivação, sendo preciso muito esforço social para que essa garantia seja de fato
uma alternativa para famílias que não conseguem mais assistir PCDs em situação de
vulnerabilidade. Além do mais, como, diante das peculiaridades de cada pessoa com TEA a
tendo como base diversos estudos que ocorreram ao longo do tempo, desde hospitais até os
aspectos, definidos pelo dicionário Michaelis (2019) como sendo: a) Estado de boa disposição
comodidade da vida; conforto material, prosperidade. Além disso, vários estudos comprovam
que o contato com um ambiente natural, ao ar livre (como é o caso dos jardins terapêuticos)
pode reduzir a agressividade comum aos idosos com Alzheimer e o estresse, as crises
as pessoas com TEA tendem a aprender modos de procurar ambientes mais tranquilos,
psíquico e de bem-estar.
restauradores (Kaplan & Kaplan, 1989), desenvolvidos na PA. Segundo a literatura nesse
psicofisiológico de estresse‖ (Gressler & Günther, 2013, p. 487), com destaque para os
recuperação‖ (Silveira, Felippe & Schütz, 2019, p. 18). Pequenos canteiros, vasos de plantas
ou a vista a partir de uma janela já podem ser restauradores, proporcionando aos seus
jardim na habitação (em especial apartamentos), os pais podem usar a estratégia de levar a
criança a praças e parques, os quais embora possam não conter as propriedades de um jardim
ser afastado dos ruídos urbanos (tráfego, aparelhos de ar condicionado, vozes altas e
máquinas), pois são elementos que causam distrações; abafar sons indesejados por meio de
estratégias ligadas ao uso da vegetação ou a fazer sobressair o som de águas; ter espaços para
hipersensibilidades no equilíbrio das pessoas com TEA, os autistas podem buscar extrema
movimentação para se sentirem confortáveis, tais como, se balançar, correr e girar. Suas
noção da relação olho-mão (essencial para a escrita), bem como para planejar, organizar e
executar atividades de vida diária, áreas podem ser beneficiadas com o acesso a um jardim
terapêutico.
da Pandemia do Coronavírus e como ela complicou a saída das pessoas de casa, dificultando o
contato com o ambiente natural. É possível imaginar a angústia dos pais de crianças autistas
que tinham passeios ao ar livre em sua rotina, bem como o quanto essas crianças ficaram
Arquitetura em suas várias etapas (do projeto ao produto final), os quais devem ser planejados
Pina, 2011; Bernardi et al, 2011; Duarte, 2008; Duarte & Cohen, 2003; Elali, 1997; Elali,
Timeni, & Leite, 2020; Ornstein, 2016) denuncia que nem sempre os profissionais estão
conscientes da capacidade que os espaços têm para influenciar no cotidiano das pessoas e
vice-versa, sendo essencial compreender que, para proporcionar satisfação aos seus usuários,
Vale ressaltar para que uma pessoa pense na possibilidade de obter um ambiente que
atenda suas necessidades é preciso se tornar consciente do que precisa e conseguir imaginar
modos do ambiente físico contribuir para sua qualidade de vida, dificuldade a qual se somam
as barreiras socioeconômicas. No caso das pessoas com autismo tal tarefa torna-se
disponíveis sobre pessoas com TEA e para elas, bem como a quantidade de alternativas
possíveis como solução. Para tanto é fundamental a disseminação do TEA como temática de
Mostafa (2008) denuncia que, os ambientes para o autismo são pouco discutidos pelos
arquitetos, embora os profissionais indiquem que ―compreender como o meio ambiente afeta
99
40). Diante disso, mesmo sabendo que a pessoa com deficiência e sua família precisam de um
ambiente que seja funcional, adequado e confortável, não existem indicações técnicas sobre
como fazê-lo, e o modo de obter este ambiente é coletar relatos e imergir no dia a dia da
família a fim de guiar um futuro projeto que seja sensível e faça sentido para aquelas pessoas.
das informações desejadas (Abate, 2011; Carvalho, 2008; Queiroz, Ornstein, & Elali, 2021).
comunicar seu entendimento sobre o mundo em que vivem. Assim, alguns adultos que não
apresentam grau severo de autismo têm dado indícios sobre como seria um ambiente propício
para si. Kinnaer, Baumers e Heylighen (2016) analisaram seis autobiografias de adultos com
entender suas necessidades. Por outro lado, em se tratando de crianças, foco dessa dissertação,
quais acabam por decidir o que vem a ser benéfico para o público infantil. No entanto,
―entender como funciona o cérebro de uma criança autista é o início para se projetar um
ambiente seguro e confortável‖ (Laureano, 2017, p. 55). Ademais, deve-se considerar que a
singularidade das pessoas com TEA, ―pode tornar o design para quem tem autismo
desafiador. O projeto tem que ser sensível ao estímulo e sensação, porque as pessoas para
quem você está projetando são ainda mais‖ (Araújo, 2018, p. 51).
Embora elaborar um projeto arquitetônico seja uma opção ideal nesse campo, também
ou cores, o que pode ajudar no uso do ambiente e promover bem-estar. Em uma revisão
consistentes com relação a ambientes para pessoas com autismo visando a qualidade
indica que os profissionais responsáveis por estes projetos ―estão envolvidos na configuração
Além disso, Mostardeiro (2019) indica como principais aspectos tratados nestes
estabilidade, clareza com apoio de instruções visuais, garantia de opções para controle de
(cores, texturas, materiais), gatilhos que induzam crises autistas, de estresse, ansiedade ou
pessoas com TEA podem equilibrar suas dificuldades sensoriais (Beaver, 2011).
autismo, Clouse, Wood-Nartker e Rice (2020) e Mostafa (2015) explicam que: (1) o
super estimulação, por meio de pistas ou instruções visuais em espaços específicos para
atividades específicas; (4) os espaços de transição com entradas e saídas bem sinalizadas se
mostra importante para favorecer oportunidades de socialização entre pares; (5) a acústica
está relacionada à redução de fontes de ruídos para aumentar o foco e diminuir picos de
estresse nas pessoas com TEA, campo em que o zoneamento sensorial é fundamental, pois
barulhentos a fim de não haver distrações; (6) em relação a segurança é importante monitorar
Mostardeiro (2019) ainda destaca que os espaços devem ser preparados com materiais
acessibilidade no bairro em que a moradia esteja, sobretudo no caso de adultos com TEA que
Revendo aquele material com foco nas características do ambiente físico, chamamos a
determinado uso de uma construção. É usado nas fases iniciais do projeto a fim de nortear as
independência e bem-estar), desde que seja feito com cuidado. Elali e Pinheiro (2003)
análise do programa do behavior setting, estratégia que pode auxiliar a garantir as qualidades
diferentes usuários/ocupantes, e que poderia ser de grande validade no caso de ambientes para
cognitivos das pessoas, envolvendo desde o ciclo sono-vigília até a percepção dos objetos e a
movimentação por um local. O autor ressalta que a luz natural é a mais adequada, e que a
iluminação artificial propícia para um espaço construído é justamente aquela que se aproxima
da natural. Sob esse ponto de vista, os pesquisadores na área defendem que ―uma iluminação
103
será considerada apropriada quando permitir o máximo rendimento da visão com o mínimo de
esforço visual‖ (Almeida, 2003, p. 45). Diante disso, ―a luz das lâmpadas incandescentes,
pessoas com autismo, pois constatou que ela traz malefícios como, entre outros, enxaquecas e
ataques de epilepsia. Além disso, Almeida (2003) relata que lâmpadas incandescentes emitem
calor e, quando próximas à cabeça, podem gerar mal estar; mas que, por sua vez, as lâmpadas
fluorescentes emitem menos calor, porém podem apresentar ruídos e cintilação, o que resulta
Também neste campo, Mostafa (2008) salienta que, para favorecer o desenvolvimento
caso das pessoas com autismo tal reconhecimento é essencial porque ―aspectos ambientais
que a maioria das pessoas ignoram ou bloqueiam, tais como, ruído de fundo, luz cintilante ou
uma cor brilhante, podem ser muito perturbadores‖ (Mostardeiro, 2019, p. 49).
Especificamente com relação às cores, a literatura mostra que elas ―podem criar
dependendo do que possa ser associado a cada uma delas‖ (Almeida, 2003, p. 21). Observa-
se, inclusive, que ―a percepção das cores é diferente em crianças com autismo em comparação
com crianças com desenvolvimento típico com idade e capacidade cognitiva não verbal‖
(Hernandez-Rivera, 2020, p. 60), o que exige cuidado para lidar com o colorido dos
ambientes, notadamente quando incide sobre elementos difíceis de serem modificados, como
da Neuroarquitetura e do Neurodesign.
projetarem, precisam entender as questões sensoriais e de percepção dos usuários com TEA,
projetado de forma estimulante para uma criança que apresenta a característica hipersensível,
ou de forma contrária, sem estímulos suficientes para pessoas hipossensíveis, o ambiente não
casa, não tendo chance de fazer grandes mudanças no ambiente. Nesse momento inicial de
confinamento muitas pessoas perceberam como o ambiente doméstico pode e deve ser
fisiologicamente que ―o ambiente e seus recursos podem influenciar não apenas o humor, mas
Sabendo que ―o TEA oferece muitos desafios para as pessoas afetadas e suas famílias,
ambiente doméstico‖ (Pengelly, Rogers & Evans, 2009, p. 381), os autores citados criaram
casas de três famílias que tinham crianças autistas com a hipótese de que esse ambiente
modificado permitiria que a criança tivesse controle e soubesse como evitar sobrecargas
entendiam que o espaço era reservado para elas e que poderiam usá-lo para ficar sozinhas,
isso ajudava na redução de frustração e no lidar com as crises, como também, as famílias
relataram que o quarto extra, usado para outras atividades que não incluísse o dormir fez com
que as crianças associassem o espaço como quarto de ocupações, fazendo assim uma
hora de dormir, e também foi identificado que esse cômodo foi capaz de regular os níveis de
adaptado para atender as necessidades das crianças com autismo seria um alternativa
considerável para auxiliar o dia a dia das famílias no ambiente doméstico, principalmente
quando escutamos relatos como o apresentado abaixo, no qual, foi coletado por um grupo de
extensionistas da Universidade Federal do Ceará que realizou rodas de conversa com mães de
Como comentado em linhas anteriores, o tempo para essas famílias ganhou nova
interpretação, passando a não ser difícil de ser entendido apenas pelas pessoas com TEA, mas
também pelos seus cuidadores, tornando a percepção sobre ele dolorosa e cansativa, por não
terem alternativas para o preenchimento da rotina e das necessidades de uma criança com
autismo, assim como, terem perdido o apoio que outros ambientes forneciam para o
volumosa em uma moradia que não os comporta. Mas como autismo é um transtorno
multifacetado, devemos lembrar que as crianças estão percebendo essa situação pandêmica de
Agregado a isso, o ficar em casa também trouxe a tona assuntos tratados no capítulo
anterior, como os acidentes ou traumas domésticos, que foram relatados por Brito et al.
(2020), o que evidenciou que há ainda uma falta de informação dos responsáveis, assim como,
a não percepção de ameaças que o ambiente doméstico pode oferecer para crianças, sendo
A situação pandêmica pode ter sido tranquila para algumas famílias e pessoas com
autismo, mas devemos considerar que para outros indivíduos ainda está sendo uma situação
delicada, conturbada e incerta, porém, como estratégia para manter a saúde mental equilibrada
é preciso agir de forma resiliente, positiva e buscando o lado bom de toda e qualquer situação,
as pessoas que integram esse grupo apresentam dificuldades de percepção, que influenciam
seu modo de compreender e processar as informações advindas do ambiente que, por sua vez,
ambiente não-favorável ser facilitador de crises e birras e a parte sensorial da pessoa com
108
transtorno por parte das famílias e dos profissionais que projetam ambientes, havendo duas
ambientais, que são mais fáceis de serem realizadas, quando constatada a necessidade e
causam um impacto positivo na vida das crianças com autismo. Assim, diante das
que causou estranhamento e momentos difíceis para as crianças com deficiência e seus
familiares, que tiveram que encarar situações atípicas e estressantes. Durante a pandemia, o
contato constante com o ambiente doméstico fez com que as pessoas passassem a prestar mais
atenção ao lugar em que estavam, o que despertou nelas o desejo ou a necessidade de adequar
esses espaços às suas necessidades - seja para o trabalho, estudo ou o bem-estar em geral.
Muitas dessas características podem envolver contribuições que a arquitetura e o design têm
estudado ao longo do tempo, mas que não eram/são conhecidas por grande parte das pessoas,
repensar as pesquisas de campo cujo acesso dos pesquisadores aos objetos de estudo
necessitavam de atividades empíricas que exigiam seu contato direto com pessoas
participantes. Assim, como relatado inicialmente, optou-se por elaborar a presente dissertação
de cunho médico e do âmbito do direito; (3) escolha de 5 lives para análise aprofundada dos
eventos críticos (Powell, Francisco & Maher, 2004), por meio de entrevista semiestruturada
virtual é justificada por esta ser a mais utilizada pelos brasileiros, e por disponibilizar grande
quantidade de material de livre acesso, o que garante maior democratização das informações.
utilizando as ferramentas do próprio site, como, os filtros, que oferecem as opções de data de
carregamento do vídeo na plataforma (última hora, hoje, esta semana, este mês, este ano),
110
assim como, o tipo do material (vídeo, filme, canal), a duração, características (ao vivo, HD,
legendados) e a ordem das buscas, que pode ser por relevância, número de visualizações,
inclusive, Live TEA, que resultou em vídeos sobre a bebida chá. Com as 64 lives coletadas,
todas foram assistidas e anotadas algumas características como, para quem a live estava sendo
direcionada, quem estava promovendo e qual o assunto principal que estava sendo tratado.
Após localização deste material, a segunda etapa correspondeu à seleção das lives para
exclusão. Como critérios de inclusão uma live precisaria: (a) ser falada em português e
dirigida a brasileiros; (b) ter ocorrido entre março e agosto de 2020 e ser mantida online para
novas consultas; (c) ter temática principal voltada para o cotidiano das crianças autistas.
Foram critérios de exclusão: (a) ter caráter exclusivamente médico ou do âmbito do direito;
(b) ser realizada com caráter de aula online, sem retratar o cotidiano dos autistas.
Traçado um panorama geral do material coletado nesta etapa foi elaborado um quadro
contendo: nome e endereço das lives localizadas; tempo de duração; mês de publicação;
seleção das que tratavam de temáticas que envolviam a Psicologia Ambiental; das
autista/ambiente.
Das lives localizadas na etapa dois, foram selecionadas para o estudo mais detalhado
(etapa 3) aquelas que tiverem mais tempo dedicado ao ambiente sócio físico adequado aos
111
autistas, especificamente, as crianças. Cinco lives foram escolhidas para estudo aprofundado,
quantidade justificada pelo fato de se tratar de uma abordagem qualitativa, que não comporta
das ações e muito menos o de explicação da magnitude dos fenômenos‖ (Minayo & Costa,
2018, p. 151).
Tabela 2
As falas encontradas nos vídeos foram transcritas, pois, como aponta Minayo (2012),
meio de uma leitura atenta que responda aos questionamentos levantados no estudo em
questão. O material coletado nas lives foi submetido à Análise de Conteúdo (AC), seguindo os
passos propostos por Bardin (2015), o que envolveu a organização inicial com a pré-análise, a
exploração, tratamento e interpretação dos resultados obtidos. Esta última exigiu a codificação
do material, por meio da seleção das unidades de registro (tema), regras de enumeração e
112
Destarte, foi montado um diário de análise com todo o percurso percorrido até o
cinco foram as escolhidas para a constituição do corpus da pesquisa, cujos critérios foram
descritos anteriormente, os trechos que remetiam ao interesse do estudo foram transcritos para
que fosse possível o processo de codificação, essa que foi feita de modo dedutivo, com
arquitetura e no design, cujo eles são a) ambientes restauradores; b) apoios visuais; c) espaço
A etapa 3 foi iniciada por um contato com a organização de cada live, que foi feito
através das redes sociais como o Instagram, canal do YouTube ou e-mail (os que foram
semiestruturada, utilizada para complementar aos dados, foi enviada uma carta de
apresentação da pesquisa com todas as instruções para as respostas, havendo duas opções:
responder um formulário online ou marcar uma entrevista por vídeo chamada, todas as
mensagens e foi apresentada uma carta de apresentação da pesquisa e o convite com todas as
instruções, as quais deveriam assistir uma determinada live, cujo link estava no documento e
após isso, responder as perguntas anexadas de acordo com a opinião pessoal de cada uma
(Apêndice 7). As mesmas perguntas foram feitas para as cinco participantes e o olhar de cada
uma para o TEA com base na mesma live assistida é o que constrói o Painel dos Especialistas.
113
4.1 Participantes
A escolha dos participantes foi realizada por conveniência: os que estiveram dispostos
a participar foram os selecionados, desde que fossem os responsáveis por uma live escolhida
previamente. Sendo cinco lives selecionadas, cinco participantes foram selecionados para
responderem uma entrevista semiestruturada para complementação dos dados colhidos, que
participantes foram selecionados por serem pessoas que tiveram vivência com o TEA,
Norte, via Plataforma Brasil e após a sua aprovação (Nº CAAE 46967921.2.0000.5537),
foram iniciados os contatos com os participantes, nos quais, receberam um convite explicando
O TCLE foi encaminhado de forma virtual (e-mail ou rede social) e nesse documento
de algum participante que, diante disso, foi esclarecido que ele poderia recusar-se a responder
ou mesmo retirar seu consentimento, em síntese o TCLE garantiu aos interessados que a
Críticos (Powell, Francisco & Maher, 2004), os quais foram transcritos. Entende-se ―eventos
críticos como aqueles momentos que, de uma forma direta ou indireta, são importantes para a
pesquisa‖ (Lima, 2015. P. 04). Sob este ponto de vista, no contexto da investigação foram
Para análise final do material coletado foram adotadas duas estratégias: um painel de
Utilizado como apoio à AC, o painel buscou reunir visões diferentes sobre a relação da
uma das lives escolhidas e responderam a perguntas a respeito dela, o que subsidiou a
Já os trechos das lives relacionados aos eventos críticos foram transcritos e submetidos
pensamento do sujeito através do conteúdo expresso no texto‖ (Caregnato & Mutti, 2006, p.
―clareza teórica do campo de estudo que se pretende analisar‖ (Silva & Fossá, 2015, p. 12).
Para iniciar o processo da AC, Bardin (2015) propõe a realização de uma pré-análise,
(2) exploração do material - feita por meio da sua codificação (elencando unidades de
entre outros;
ideias, crenças, opiniões, sentimentos, comportamentos, e ação, ou seja, sobre modos pensar,
sentir, agir e projetar o futuro‖ (Minayo & Costa, 2018, p. 141), na presente pesquisa a AC
permitiu a obtenção de respostas para questões amplas ligadas ao tema, permitindo uma
pessoas com TEA e com eles/elas; densidade física dos ambientes e aglomeração; modos de
pela pandemia e reação dos autistas a elas (incluindo dificuldades para lidar com os autistas
em função da pandemia).
(Apêndices 7).
117
Apresentando o material coletado nas lives, esse capítulo irá mostrar como as questões
capítulos anteriores).
Entre os meses de março e agosto de 2020 foram coletadas no YouTube 64 lives sobre
apenas uma realizada no mês de março, quatro no mês de abril, três em maio, oito em junho,
em julho 23 e em agosto 25 (Figura 1). A média de tempo de duração de cada live foi em
25
20
15
10
0
março abril maio junho julho agosto
Essa etapa inicial mostrou que, das 64 lives localizadas apenas 22 comentavam sobre
Ambiental (PA), mesmo que tais temas não fossem comentados diretamente (sendo essa
apuração possível provocada pela imersão da autora na temática ambiental e no campo das
lives passaram por outro crivo de análise; para tanto, todas foram assistidas novamente, em
busca de Eventos Críticos (Powell, Francisco & Maher, 2004). Nesse momento foi criado um
- Ambientes superestimulantes;
Com base nas 22 lives que tocavam em temas relacionados à PA, foi feito um quadro
e depois de uma varredura cuidadosa, foram selecionadas apenas cinco lives, pela necessidade
de escolha assertiva para a AC, os critérios para seleção dessas foram: ser direcionada e
focada para crianças, apresentar maior tempo de discussão sobre a inter-relação entre a
Vale destacar que as lives, em sua maioria foram propostas visando o público em
geral, sempre com a preocupação de disseminar informações sobre o TEA, pois suas
protagonistas sentiam que a temática não é devidamente debatida nem conhecida no país.
Assim, as discussões serviam tanto para atualização de informações para profissionais das
mais diversas áreas (saúde, educação, tecnologia, ciências sociais, entre outros), assim como,
diariamente com o autismo, priorizando os ricos relatos de adequações que esse período
de março, duas do mês de junho, uma do mês de julho e uma de agosto (Figura 3).
A live do mês de março tem o título: ―Aprendendo com os autistas: isolamento social‖,
principal contribuição que remete à PA foi uma reflexão sobre a concentração de todas as
funcionalidades iniciais, segurança e estruturação, com o apoio das agendas visuais para
auxiliar na rotina das crianças em casa, incorporasse novas atividades, algumas das quais
Foram selecionadas duas lives no mês de junho. A primeira tem o título ―Autismos:
segundos, e um total de 1.723 visualizações, foi mediada e comentada por duas Psicanalistas,
ambas atuando clinicamente, uma das quais Doutora em Psicologia e que também trabalha
com formação para profissionais. A reflexão levantada pela live que remete à PA se
foi mediada e conduzida por duas profissionais: uma Mestre em Educação Especial e
A quarta live selecionada foi do mês de julho, intitulada ―como ajudar o autista a
atende crianças no formato clínico e de uma Mãe de criança autista também diretora de uma
ONG que atende crianças com deficiência. A reflexão levantada envolveu, principalmente, a
121
reorganizar o espaço de casa para não desorganizar a criança, sobretudo nos casos de famílias
grandes.
Por fim, a quinta live foi realizada no mês de agosto, tendo como título ―Autismo em
tempos de Pandemia | live completa com Centro Educacional Arco Íris‖, duração de 56
minutos e 6 segundos, um total de 183 visualizações, tendo sido mediada por uma Diretora
Escolar e comentada por uma Mãe de criança com TEA. Os principais assuntos relativos à PA
tratados foram a adequação ambiental por meio das rotinas visuais que resultam em uma
estudos, por meio de cuidados ligados ao conforto acústico e adequações para regular
É importante destacar que nas cinco lives escolhidas houve apenas falas e
crianças com TEA e nenhuma das selecionadas contou com a participação da criança com o
associáveis à PA foram observadas apenas 7 participações masculinas (ou seja, cerca de 15%,
a. Painel de especialistas
selecionadas, alguns trechos foram enviados a cinco especialistas para que indicassem
122
tarefa. Ao serem questionadas sobre qual assunto discutido na íntegra julgavam como
importante para a discussão proposta pela dissertação, todas sinalizaram a importância das
lives terem se referido a estratégias e dicas para enfrentamento de situações do dia a dia. Entre
pandemia, as estratégias nelas relatadas podem ser adotadas para lidar com as crianças não
apenas no período pandêmico. Quanto aos principais pontos que precisam ser comentados em
mesmo sem as atividades extra-casa, sendo necessário oferecer estímulos em quantidade não
excessiva e com qualidade, frisando a importância do contato com o meio natural e dando
doméstico totalmente adaptado para ajudar a criança no dia a dia. Tal local para
autorregulação pode ser entendido como um Espaço de Fuga, as rotinas e treino de atividades
Espaço Fixo (espaços específicos para atividades específicas), ou seja, três das cinco
categorias da AC foram apontadas pela Mãe da criança com TEA, evidenciando que são
Por sua vez, a arquiteta além de apontar as adaptações da casa (do lugar do estudo, do
lazer, atividades de vida diária como culinária) para favorecer atuação e autonomia das
crianças, relatou: ―Senti falta de tocarem no assunto da interação social com outras crianças,
mesmo que de forma remota‖ [SIC] (Trecho 2 da Entrevista com a Arquiteta e Urbanista), o
que confirma a importância de manter o vinculo afetivo mesmo que de forma virtual.
124
importantes a serem observados em casa durante a Pandemia, pois eles envolvem elementos
tecnológicos (televisão, celular, som) e a decoração da casa (luzes, espelhos, cores), questões
apresentam e o que poderia ser adaptado em casa para ajuda-las nesse quesito. A Psicóloga
rotina são importantes para qualquer criança, esteja ela dentro do espectro ou não. O que nos
faz refletir sobre a forma automática que pais de crianças típicas organizam o dia a dia que os
pais de crianças atípicas não conseguem tão facilmente, isso devido ao processamento
cerebral e peculiaridades do TEA, o que afirma a necessidade dos pais buscarem ajuda e não
passarem por isso sem apoio ou direcionamento de especialistas. A mesma também se referiu
dos principais espaços a serem pensados em casa é o da brincadeira, para que se desenvolva
um brincar funcional, já que essa habilidade é prejudicada na maioria dos casos de TEA,
sendo assim, esse momento precisa ser guiado e compartilhado pelos pais, que devem
125
participar da rotina da criança, inclusive com colegas de forma online, como destacado pela
psicóloga clínica.
ambientes agradáveis, com pouco barulho. A mãe ainda ressaltou que os ambientes precisam
ser seguros em todos os sentidos, mas sem que isso barre a independência das crianças; ela
também relatou que o autismo chegou de forma inesperada, em uma gravidez planejada e
que os pais e as mães precisam ter para entender as especificidades dos seus filhos autistas,
que demanda tempo de estudo e compreensão, ainda mais por se tratar de um espectro que
não oferece receitas de intervenções prontas que funcione para todos, contudo, não é
impossível, a criança consegue se desenvolver, mas necessita do apoio dos responsáveis, dos
afeta várias áreas da vida, desde crianças até adultos, o que dificulta o desempenho
ocupacional e a interação social, também frisou que o ambiente é de extrema importância para
desenvolvimento.
estratégias serem compartilhadas, a rede de apoio para todas as pessoas que lidam com o
autismo será muito maior e ajudará mais famílias e profissionais das mais diversas áreas, pois,
vista que os assuntos tratados auxiliam as famílias no dia a dia e, de certa forma, tranquilizam
Desse modo, por mais simples que algumas estratégias possam parecer, há famílias e
profissionais que não dominam o assunto e não conseguem pensar sozinhos, por não terem
vivência, experiência, ou até mesmo, não terem acesso à informação, portanto, a contribuição
de lives, debates, artigos científicos, fóruns, audiências e afins deve ser cada vez mais
especialistas chamaram a atenção para diversos pontos importantes, os quais foram somados
eles destacam-se: Adaptação e organização do ambiente com Apoios Visuais que auxiliam na
forma remota, ainda, questões ligadas ao Design que englobam decoração, cores, luzes e
5.2 O Conteúdo
Para que fosse possível captar a essência do conteúdo a ser estudado, foi preciso seguir
realização de: pré-análise (levantamento das lives), exploração do material (codificação das
elas relacionadas).
Para a efetivação de uma codificação concisa, foi necessário alto domínio da literatura
da PA e do TEA, bem como entender algumas áreas que contribuíram nas lives, por
apresentarem termos técnicos, mais comuns para quem convive com crianças autistas. Cada
código foi fundamentado teoricamente para facilitar a não duplicação de um trecho em mais
e Subcódigos, sendo esse processo necessário para a análise não se encerrar nas Tabelas de
Enumeração de caráter mais quantitativo, e sim ser possível captar a essência do que havia
de elementos com relação às demais. Como o grande número de dados que acumulou não
permitiria uma análise de igualdade entre categorias, foi necessário delimitar sua divisão a fim
de aumentar a diferenciação entre os elementos envolvidos no estudo, ou seja, o que antes foi
elencado dentro da categoria única (Arquitetura e Design) passou a ser elencado em duas
Espaço. Desta maneira os dados coletados não se perderam, apenas foram remanejados, como
apresentado a seguir.
130
Arquitetura e Design, entendendo Arquitetura como constituída por elementos fixos, difíceis
fáceis de serem alteradas. Contudo, observou-se que essa opção não resultaria em diversidade
categorial, não possibilitando uma boa análise do material, como observamos abaixo:
Frequência
3% 2%
22%
Ambientes Restauradores
Apoios Visuais
Arquitetura e Design
Espaço de Fuga
73%
tamanho de dados, o que caracterizaria ausência de homogeneidade, que é uma das regras
propostas por Bardin (2015). Os dados prestes a serem analisados dentro desse formato,
poderiam induzir o estudo aos resultados automaticamente voltados de forma majoritária para
características desse código, pois, a frequência de trechos seria maior sobre essa temática,
qualidade de uma boa categoria como (Bardin, 2015, p. 147-148) destaca, ―existem boas e
Sendo assim, uma segunda alternativa de organização dos dados foi transformar o código
único Arquitetura e Design em dois códigos: espaço fixo e espaço semifixo, que permitiu
melhor discriminação.
Após a correção, uma nova codificação foi feita com leitura constante dos conceitos
propostos como códigos, para que de fato os trechos das lives se encaixassem, as categorias
que inicialmente seriam quatro (Ambientes Restauradores, Apoios Visuais, Espaço de Fuga e
Frequência
2%
22%
40% Ambientes Restauradores
Apoios Visuais
3% Espaço de Fuga
Espaço Fixo
Espaço Semifixo
33%
vezes que o código apareceu nos trechos das lives) foi montada, não havendo ausência de
trechos em nenhum dos códigos propostos (Figura 4) para em seguida ser iniciado o processo
Tabela 3
Ambientes Restauradores 01
Apoios Visuais 09
Espaço de Fuga 01
Espaço Fixo 13
Espaço Semifixo 16
TOTAL de menções 40
trechos coletados das lives, seguidos dos apoios visuais, e as mais comentadas, características
fixas e semifixas do espaço. Vale ressaltar que o único código com mesma nomenclatura da
literatura que foi comentado nas lives foi apoios visuais, os demais foram interpretados como
presentes na literatura pela pesquisadora, porém, sem serem discutidos de fato com as
nomenclaturas científicas na íntegra. Desse modo, resultaram das análises das cinco lives, o
Uma nova codificação foi feita com os mesmos dados dos trechos das cinco lives
Tabela 4
Affordance 03
Behavior Setting 04
Espaço Pessoal 01
Privacidade 03
Territorialidade 01
TOTAL de menções 12
Fonte: própria autora.
também não houve ausência de trechos em nenhum dos códigos propostos (Figura 5) o que
Frequência
8%
25%
25%
Affordance
Behavior Setting
Espaço Pessoal
Privacidade
Territorialidade
34%
8%
(Figura 8). Destaca-se que tais nomenclaturas ou conceitos não surgiram em nenhum
momento das falas transcritas, tendo sido deduzidas a partir da seleção e interpretação feita
TEA no meio em que vive. Sob essa perspectiva, a AC realizada verificou se as discussões
mais recentes envolviam as temáticas dos Ambientes Restauradores, dos Apoios Visuais, do
Espaço de Fuga e dos Espaços Fixos e Semifixos. Salienta-se, que diante do contexto de
analisada foi a micro, que envolve o ambiente imediato de desenvolvimento da criança (no
caso, a casa/habitação, considerada em conjunto com todos os elementos que dela fazem
parte, como a família e as relações sociais e afetivas que ali acontecem). Note-se, entretanto,
que as demais escalas tiveram forte influência sob a escala analisada, inclusive no que diz
escola ou clínica) passou a não fazer parte de forma direta da rotina das famílias, adequações
ao modelo remoto foram necessárias para a manutenção mínima do vínculo desses lugares
para com as pessoas, contudo, alguns conseguiram sucesso outros não. Por sua vez, o
exossistema (a exemplo do ambiente de trabalho dos pais ou do estudo dos irmãos) em muitas
demais escalas, pois o SARS-CoV-2 atingiu todo o mundo e várias atitudes globais para o
137
cuidado com a pessoa tiveram que ser pensadas e adotadas para a prevenção do contágio e a
sob o comportamento socio espacial das pessoas, sobretudo das crianças autistas, que além de
terem que se adaptar ao ―novo normal‖ como todos, tiveram as dificuldades inerentes ao
Transtorno para enfrentarem sendo obstáculos a mais. Entre tais situações mencionamos:
lidar com novos esquemas espaciais, novas distâncias interpessoais, possíveis intromissões
em seu espaço pessoal, aglomeração no próprio lar, como também a territorialidade e o apego
necessidade do ficar em casa por mais tempo, o que gerou a possibilidade de uma percepção
se eles estavam de acordo com a necessidade das crianças com TEA ou se estavam
contribuindo como gatilhos ambientais para desencadear estresses ou crises. Desse modo, os
trechos das Lives serão explorados a seguir, com base na literatura comentada.
Apenas uma dentre as lives analisadas (2%) remeteu diretamente aos ambientes
restauradores (Kaplan & Kaplan, 1989), entendidos na literatura como aqueles capazes de
natureza. Tal dado é importante, tendo em vista a realidade pandêmica hoje vivenciada no
138
Brasil e no mundo, na qual as crianças e suas famílias tiveram que se submeter ao isolamento
social e, de certa forma, deixaram de frequentar espaços públicos como praças e parques (ou
reduziram sua frequência), destacando as famílias que não dispõem de áreas verde e ao ar
livre em casa ou nas proximidades, que foram as mais afetadas com a ausência desses
plantas, vista a partir de uma janela, jardins em geral e jardins terapêuticos, já no trecho
localizado na live, a horta foi entendida como espaço natural capaz de restaurar e recuperar as
propriedades físicas, como dito a seguir: ―aqui em casa a gente tem uma horta, a criança pode
participar desses projetos né, ter voz ativa e ai desocupa a mente dela‖ [SIC] (Trecho Live 1).
A partir dessa breve fala, da categoria Ambientes Restauradores, surgiram dois códigos
(Figura 9): Ambiente Natural (código 1) e Processo de Recuperação (código 2). O código (1)
ainda foi composto por um subcódigo: 1A= Horta. Formando o esquema de hierarquia:
Desse modo, principalmente pela Pandemia que nos encontramos, se a temática sobre
a busca por vivenciar práticas em ambientes naturais ou jardinagem seria uma essencial
válvula de escape com vistas a promoção do bem-estar, tão importante em momentos atípicos
139
como os de isolamento, inclusive para as crianças com TEA, tal contato com atividades de
anteriores.
naturais públicas como praias e cachoeiras‖ (Santos & Santos, 2021, p. 249), agrega alto valor
às hortas, que além de promover esse contato com a terra, as folhas, a água, possibilita o
em se alimentar daquilo que você mesmo plantou, contribuindo para uma alimentação rica e
sem agrotóxicos, até mesmo, sem sair de casa e garantindo o processo de restauração e
amenização do estresse.
explorados nas lives que envolvessem não apenas o TEA, mas a circunstância pandêmica que
todo o mundo está passando, ressaltando que a temática é bem estudada pela PA, que aponta
enorme espaço verde como um parque para que haja a restauração, pequenas adequações em
casa seriam suficientes para promover bem-estar por ora. Tais adequações simples
continuarão a ser debatidas na sessão seguinte, por meio dos Apoios Visuais.
140
Dentre as lives analisadas houve nove ocorrências (22%) de trechos que remetiam à
questão dos apoios visuais, entendidos na literatura como sinalizadores ambientais que
ajudam as pessoas com TEA a entenderem o ambiente e o que ele solicita delas, como o uso
funcionalidade evitando crises por não compreensão devido aos déficits de planejamento e de
comunicação com outras pessoas. Os apoios visuais comentados nos capítulos anteriores
foram, calendários visuais ou ilustrados, agenda visual, histórias sociais, cardápio com
com rotina visual, ressaltando a necessidade de ser algo que a criança entenda, que pode
variar desde uma rotina com objetos reais, fotografias, imagens, pictogramas ou palavras,
visual ser móvel e flexível, para que haja a possibilidade de retirar as etapas já realizadas para
ficar mais objetiva possível a visualização do que ainda resta fazer no dia.
Validando o que foi discutido sobre a sinalização da mesa de jantar, que por ser a
mesma mesa para estudo e outras situações, isso pode não ser compreendido por crianças que
tenham alta inflexibilidade cognitiva, destacou-se, pois, em uma live a possibilidade de não
141
apenas trocar a cor da toalha, mas também, deixar a toalha para a refeição e retirar na hora da
atividade, o que causa um efeito visual diferente. E na mesma live, além de comentar sobre
pessoa com TEA seja priorizada no dia a dia, a fim de evitar a dependência constante de
terceiros (quer para atividades simples ou complexas), sendo a independência uma das
habilidades mais trabalhadas com este público, uma vez que ―as mães possuem muitas
TEA, uma live destacou perfeitamente a necessidade de se trabalhar isso de forma concreta
com as crianças, para que elas não sejam retiradas de uma atividade para outra de forma
timer sonoro ou uma lousa, na qual se desenha bolinhas e vai apagando-as de acordo com a
passagem do tempo:
(código 5). O código (3) ainda foi composto por três subcódigos: 3A= Previsibilidade; 3B=
Subcódigo 3A:
Previsibilidade
Código 5:
Objetividade e
Clareza
Desse modo, as lives foram assertivas em debater determinado assunto, pois os Apoios
Visuais englobam uma série de melhorias para o desenvolvimento da criança com autismo,
sejam elas sensoriais ou comunicacionais, nas quais a criança que domina uma ferramenta de
comunicação alternativa por exemplo, ou aprendeu a fazer uso de imagens para comunicar o
que a está incomodando consegue sinalizar que precisa se afastar de determinado estressor.
criança utilizará as imagens para se comunicar, assim como, as pessoas que convivem com ela
objetivo e de rápida compreensão, para que assim, ocorra a previsibilidade e uso do espaço da
maneira mais funcional possível. Contudo, apesar da sua importância, os Apoios Visuais
avanço dessa informação para a sociedade. Na sessão seguinte será discutido um espaço que
exige uma estruturação e organização ambiental, com objetivo de cessar crises advindas do
Dentre as lives analisadas, houve uma ocorrência (3%) que indicou claramente a
necessidade do Espaço de Fuga (Mostafa, 2008), ou ―Canto no mundo‖ (Hebert, 2003), que
foi discutido nos capítulos anteriores como um espaço ou ―caverna‖ direcionada para regular
e diminuir o estresse causado por sobrecargas sensoriais, no qual necessita ser pensado de
acordo com os aspectos que têm a eficácia de tranquilizar a criança, sendo ele com menos
estímulos visuais ou auditivos, que contenha bola suíça, poofs macios ou pesados, dentre
outras possibilidades, lembrando que o que funciona para uma pessoa, para outra pode
realizar efeito reverso dependendo do seu perfil sensorial que identifica ―os desafios do
criança‖ (Souza, 2020, p. 374), no qual pode ser avaliado por um profissional da Terapia
Ocupacional.
144
Perceber o que vai organizar essa criança e ter em casa, isso que
eu falei agora, no caso, vamos supor, o almofadão, se é uma
criança que gosta de estar no almofadão pra se acalmar, ter lá no
quarto da criança, um poof, alguma coisa assim, que ela perceba
que vai tá ali, ela vai aconchegar, ela vai conseguir centrar de
novo de alguma coisa que tirou ele meio que do eixo [SIC]
(Trecho Live 4).
Na literatura também foi mostrada a eficácia de destinar ou criar um cômodo da casa
como sendo um espaço de regulação e controle de estímulos (Pengelly, Rogers & Evans,
confinadas em casa, podendo não ter a ideia de criar esse espaço podendo ter ocasionado
aumento de crises, estresse entre pais e filhos, como também, decréscimo da produtividade de
ambas as partes.
Da categoria Espaço de Fuga (Figura 11), surgiram dois códigos - Ninho Sensorial
(código 6) e b) Reorganização Sensorial (código 7). O código (6) foi composto por um
subcódigo: 6A= Crises; e o código (7) foi composto por outro subcódigo 7A= Acalmar-se.
elevado sofrimento para as famílias, por não terem a informação e as estratégias de regulação,
para amenizar ou evitar crises, promovendo o acalmar-se de forma mais assertiva. Desse
Espaço Fixo (Hall, 1977), segunda maior categoria do levantamento desse estudo, que podem
ser entendidos como aqueles elementos fixos, difíceis de alterar, no que diz respeito a
cujas mudanças são mais complexas e alguns até precisam de projeto, que por questões
financeiras, muitas vezes não são alterações acessíveis para todas as famílias.
tornou um assunto recorrente. Diante da pandemia, que impôs a permanência das famílias em
casa, cômodos que antes eram individuais ou destinados a determinadas funções, passaram a
ser frequentados por mais pessoas, ou a serem utilizados para atendimento de outras
demandas. Esse contexto dificultou o controle da interação social (Mostardeiro, 2019) que os
autistas precisam para não sobrecarregarem e ficarem com a chamada ―Ressaca Social‖ na
qual a pessoa apresenta ―grande necessidade de isolamento para que se recupere da tensão
causada por longos períodos de socialização‖ (Bueno, 2018, p. 01) que resulta em uma
146
―sensação de desgaste após encontrar um grande grupo de pessoas, podendo até sentir dores
musculares e de cabeça‖ (Agência 14 News, 2019, p. 01), assim como, fraqueza, enjoo,
ansiedade, irritabilidade, entre outros, que influenciam de forma negativa no bem estar da
A Vera disse que o filho dela gosta de ficar sozinho ele não
gosta de multidão, então imagina um autista que a família é
grande e a maioria das pessoas tem que estar em casa
necessariamente, por que o trabalho dispensou, por que enfim,
―n‖ situações, ou mesmo os irmãos dessa criança que antes iam
para a escola regular e agora convivem todos no mesmo lugar,
então pra essas famílias maiores, que há mais pessoas e quando
o autista não gosta de pessoas por perto, como resolver‖?...―É
uma organização da família na verdade né Graziella, tudo vai ter
que girar em torno mais ou menos dessa criança‖ [SIC] (Trecho
Live 4).
Em outros trechos das lives, também se constatou que a Familiaridade e a Clareza
forma, principalmente na realização de aulas remotas das crianças com TEA, como
conforto ambiental (Acústico, Térmico e Lumínico) (Bernardi, 2001) que de certa forma
prejudicam a funcionalidade dos mesmos e o rendimento das pessoas, sobretudo das crianças
Escolher esse cantinho, um cantinho que seja clim né, que não
tenha brinquedo por perto, que não tenha concorrentes, que seja
assim, estruturado pra criança, bem iluminado, bem ventilado,
pra que ela consiga se concentrar [SIC] (Trecho Live 1).
Outra discussão levantada por uma das lives foi sobre as transições ambientais, nas
quais foram afetadas, e crianças com TEA que antes participavam de atividades escolares,
aulas particulares, prática de esportes e terapias, tiveram que encarar outro tipo de transição:
O que a gente tem é uma rotina de transição que não existe mais,
a transição que as crianças tão fazendo hoje é, do banheiro pro
quarto, do quarto pro fundo, do fundo pra farmácia, da farmácia
pro carro, do carro pro mercado, então não é mais aquela rotina
de transições para ambiente, é transição intra-ambiente [SIC]
(Trecho Live 2).
Ou seja, até as crianças entenderem que estava proibido sair de casa para fazerem as
atividades rotineiras, muitas delas cuja inflexibilidade cognitiva é bastante presente, devido ao
TEA, sofreram com essa quebra de rotina, ainda mais aquelas crianças que precisam dos
sensorial, espaços que são projetados e montados com equipamentos específicos, como é o
de o ambiente doméstico ser seguro, no que diz respeito ao evitar traumas e acidentes, que de
certa forma ficaram mais fáceis de ocorrer se os ambientes não fossem pensados para evita-
los, isso por causa da presença 24h das crianças em casa. Desse modo, da categoria Espaço
Fixo, derivaram quatro códigos (Figura 12):- Funcionalidade (código 8), Familiaridade
(código 9), Segurança (código 10) e Conforto Ambiental (código 11). O código (8) foi
composto por três subcódigos: 8A= Sequenciamento Espacial; 8B= Compartimentação; e 8C=
Espaço Multisenssorial. O código 11 também foi composto por mais três subcódigos: 11A=
Código 11:
Subcódigo 11B:
Conforto
Térmico
Ambiental
Subcódigo 11C:
Lumínico
Figura 12. Hierarquia da categoria 4.
Fonte: própria autora.
149
conhecimento dos perfis sensoriais dos seus filhos, principalmente os com autismo que
sofrem bastante devido às sobrecargas, devem na medida do possível pensar sua casa como
durante a pesquisa observa-se o quarto de um adolescente com TEA diferente dos usuais: é
um aviso que diz ―aqui mora um autista, se ouvir gritos, choros e barulhos, respeite, pois
estou no meu momento de crise‖. Há também um saco de pancadas com luvas de Box,
escrivaninha com duas cadeiras, a cama projetada de modo que ficasse dentro de um
retângulo de madeira que possuí uma cortina o que impede distrações do ambiente quando o
adolescente deita.
portas, como também persiana na janela e ar condicionado. Esse quarto pode até aparentar ser
ideal, mas é importante entender que as necessidades das pessoas com TEA variam muito, e
que o importante é conhecer as particularidades para intervir de forma eficaz, seja barrando
9
https://www.youtube.com/watch?v=cLg_Cc9ETE4&t=384s
150
trauma/acidente doméstico, que são comuns para crianças de qualquer idade, e de forma mais
intensa, para autistas, cujo limiar de dor pode ser muito alto deixando-os alheios aos perigos
presente estudo. O Espaço Semifixo pode ser entendido como aquele formado por elementos
fáceis de alterar, como o mobiliário, decoração, sinalização, o Design em si. Nas lives foram
identificados trechos que remetiam aos gatilhos (Brand, 2010), que são as situações que
trechos para evitar crises, gatilhos, estresse e agitação são: comentários desnecessários no
mesmo ambiente que a criança estiver e o ambiente desestruturado e desorganizado, seja pela
disposição do mobiliário ou dos elementos que compõem o ambiente que não favoreçam a
independência ou bem-estar. ―É, você estruturar do jeito que a sua pessoa entenda, de uma
forma que ela consiga entender a organização ali, a sequência, o que vem primeiro, o que vem
pessoas, por meio dos arranjos espaciais (Campos-De-Carvalho, 2015), pois, ―móveis e
atividades que demandam atenção e concentração, como é o caso das atividades escolares,
precisará ser organizado e adequado, inclusive, para esse momento de aprendizado não se
152
torne uma aversão, no caso de crianças que se esforçam em demasia sem as condições que
justamente para favorecer esse momento escolar em casa, separando uma mesinha no quarto
Ela estando ali no cantinho de frente pra parede ela não tem pra
onde olhar, então ela só vai olhar pro caderno, ela só vai olhar
pro livro, pra atividade que tá ali proposta, é mais produtivo e
até pra própria criança conseguir suportar [SIC] (Trecho Live 1).
―Então o que a gente tem hoje na ausência de um ambiente escolar, nós temos um
ambiente educacional‖ [SIC] (Trecho Live 2). A sala de aula deixou de ser um ambiente
frequentado pelas crianças devido ao Coronavírus, desde então, pais e professores foram
desafiados a pensarem estratégias para garantir um ensino remoto de qualidade e que fizesse
sentido para todos, sobretudo, para crianças com deficiência. Além disso, os espaços
terapêuticos também tiveram que fechar suas portas por algum tempo, o que resultou em
que está sendo mostrado, é que houve e há a possibilidade de adequações ambientais para
ajudar as crianças com TEA em momentos atípicos como o da Pandemia, por meio de
153
vivências multissensoriais e de locais que garantam certa privacidade para serem o que são
sem julgamentos e sim, com acolhimento diante das necessidades extras que apresentam.
corporais das pessoas (Hernandez-Rivera, 2020), sejam típicas ou atípicas, evidenciando que
ainda há estratégias que precisam ser conhecidas por maior parte da população,
Sendo assim, a categoria Espaço Semifixo correspondeu a quatro códigos (Figura 13):
Gatilhos (código 12), Bem-Estar (código 13), Previsibilidade (código 14) e Adequação
Ambiental (código 15). O código (12) foi composto por dois subcódigos: 14A= Crises; 14B=
Desorganização Sensorial e o código (13) foi composto por três subcódigos: 15A= Vivências
Subcódigo 14A:
Crises
Código 12:
Gatilhos Subcódigo 14B:
Desorganização
Sensorial
Subcódigo 15A:
Vivências
Multissensorias
Categoria 5:
Código 13: Subcódigo 15B:
Espaço
Semifixo Bem-Estar Privacidade
Subcódigo 15C:
Código 14: Flexibilidade de
Previsibilidade mobiliário
Código 15:
Adequação
Ambiental
Desse modo, alterações que são simples de serem feitas em casa nas mais diversas
profissional terá conhecimento sobre gatilhos, mas apenas as pessoas que convivem com a
criança que poderão relatar e somente assim, o profissional pode direcionar as intervenções,
ambientais.
155
das Lives com os conceitos da PA, sendo definidas como novas categorias: Affordance,
apresentadas como tal nas lives, porém, há a possibilidade de explicar alguns fenômenos com
apoio da PA, que mesmo sem ser rotulada nas situações, ela se faz presente, ademais, dentre
as lives analisadas foram observadas três ocorrências (25%) que remetiam aos Affordances,
social e de forma mais severa o lockdown, exigiram criatividade e imaginação para que fosse
possível improvisar e utilizar objetos que já tinham em casa para outras finalidades, já que
códigos (Figura 14), a) Transformações (código 1), b) Adequações de Objetos (código 2). O
código (1) ainda foi composto por um subcódigo: 1A= Brincadeiras e o código (2) pelo
Portanto, transformar e utilizar objetos comuns do dia a dia para outras finalidades,
que atenda as necessidades das crianças com TEA favorece uma relação pessoa-ambiente que
157
momento das brincadeiras, regulação sensorial e afazeres cotidianos que, porventura, tiveram
Setting (34%), entendidos pela literatura como relações entre ambiente e comportamento que
se repetem em determinado espaço físico e padrão temporal. Sendo assim, a pandemia alterou
e extinguiu muitos Settings, como, Aula de natação nas terças e quintas das 8 às 10 horas ou
ainda, Terapia nas segundas, quartas e sextas das 13 às 17 horas. Mesmo sem usar a
doméstico causou certa confusão na compreensão do porque ter que realizar a atividade que
era feita na escola ou na clínica dentro de casa, somado à dificuldade de entender os limites
temporais do setting. ―A realidade mudou, então a realidade que a gente tem no contexto de
aula online e aula presencial elas são diferentes‖ [SIC] (Trecho Live 2), e altera
completamente a natureza do setting, assim como a ausência de sinomorfia que altera sua
A partir dos exemplos, da categoria Behavior Setting, surgiram três códigos (Figura
Estrutura (código 5). O código (3) ainda foi composto por dois subcódigos: 3A= Dificuldade
de Transição e 3B= Limites Temporais, o código (4) possuía como subcódigo 4A=
Sinomorfia e o código (5) foi composto por mais dois subcódigos 5A= Desorganização
Subcódigo 3A:
Dificuldade de
Código 3: Transição
Settings
Estabelecidos
Subcódigo 3B: Limites
Temporais
Subcódigo 5A:
Desorganização
Código 5: Sensorial
Ausência de
Estrutura
Subcódigo 5B:
Redução da motivação
Portanto, questionamentos como: o setting escola foi realmente transferido para casa?
Se sim, havia os elementos para que ocorresse sinomorfia? Se não, com a sua extinção, um
novo setting das aulas remotas em casa durante vários meses de pandemia poderia ser
entendido como antigo setting ou novo setting? As respostas podem surgir com mais estudos
sobre essa temática em específico, contudo, as crianças autistas passaram por dificuldades de
desorganização sensorial e redução da motivação, sobretudo, nos estudos em casa, porque não
são todas as pessoas que possuem a habilidade de ter rendimento igual ou parecido com o que
havia presencialmente nas aulas remotas, fato que pode ter causado retrocessos e maiores
atrasos no desenvolvimento.
160
Nas lives analisadas observa-se uma única ocorrência (8%) que remete
literatura como a bolha invisível que acompanha o indivíduo e que irá definir o que a pessoa
suporta ou não que venha do ambiente, embora em várias outras situações o conceito possa
externos causadores de estresse, apenas pela criança estar em um ambiente que propicia essa
invasão da bolha, contudo, não houve discussões nas lives sobre algumas crianças com TEA
não suportarem o toque físico, que causam extremo desconforto, que também podem ser
entendidas como espaço invadido, temática relevante para as pessoas típicas entenderem
como ocorrem as relações sociais com autistas, sem julgá-los ou incomodá-los por não terem
Desse modo o Espaço Pessoal que acompanha a pessoa por aonde ela vai, muda
bastante de acordo com as especificidades de cada indivíduo, o que não adentra a bolha de
um, pode explodir a bolha do outro, principalmente, para as crianças com TEA que ainda não
aprenderam estratégias de controle social como será discutido a seguir, ou processamento das
informações do meio, sendo mais facilmente atingidos por agentes externos causadores de
Carvalho & Souza, 2008, p. 35), que pode ser entendida juntamente com o conceito de
deixando evidente que as possibilidades de controle social podem ser defasadas em crianças
aquelas que não possuem uma linguagem expressiva desenvolvida ao ponto de ter a percepção
do que a está incomodando, causando essa sensação de sufocamento nos ambientes, assim
No segundo trecho ainda, foi relatado que a criança gosta de ficar sozinha e muitas
vezes esse desejo pessoal não é levado em consideração, apenas o transtorno sobressai, ou
seja, as pessoas em contato entendem que, em dado momento, a criança não quer interação
porque é autista, mas se esquecem que, por trás disso, cada um possui um jeito próprio de
Sendo assim, a categoria Privacidade permitiu surgimento de dois códigos (Figura 17):
Subcódigo 7A:
Código 7: Intromissões
Organização do
Ambiente Subcódigo 7B:
Categoria 4:
Concorrentes
Privacidade
Código 8: Ambientais
Aglomeração
entender o perfil social dessa criança e não deixar o TEA dominar essa esfera da vida dela, é
autista e tem dificuldades de interação, sim, mas entender o que ela sente ou como ela se sente
Dentre as lives analisadas houve uma única ocorrência (8%) que se referia às
um local fixo e delimitado, que acaba sendo adotado pela pessoa com certa carga afetiva.
Desse modo, o trecho localizado em uma das lives exemplifica da seguinte forma:
Vai ter que ter sempre o cantinho dele pra não deixar essa
criança entrar em crise, eu oriento os pais aqui das nossas
crianças a ter um cantinho sensorial, o que é isso? Perceber o
que vai organizar essa criança e ter em casa, isso que eu falei
agora, no caso vamos supor, do almofadão, se é uma criança que
gosta de estar no almofadão pra se acalmar, ter lá no quarto da
criança, um poof, alguma coisa assim, que ele percebe que vai tá
ali, ele vai aconchegar, ele vai conseguir centrar de novo de
alguma coisa que tirou ele meio que do eixo [SIC] (Trecho Live
4).
Para que a criança se sinta parte do ambiente, acolhida e protegida por ele, é preciso
certo tempo para que essa ligação ocorra, favorecendo a transformação de espaço em lugar,
a) Ligação com o Lugar (código 9), com dois subcódigos 9A=Pertencimento e 9B=Aconcego,
Subcódigo 9A:
Pertencimento
Categoria 5: Código 9:
Territorialidade Ligação com o Lugar
Subcódigo 9B:
Aconchego
Nas discussões dos capítulos teóricos ficou evidente a necessidade das pessoas se
sentirem parte de um espaço, que possam chamar de ―meu lugar‖, o que favorece todos os
conceitos discutidos acima, como espaço pessoal e privacidade, e que ainda consigam utilizar
tais lugares para favorecer o desenvolvimento das atividades cotidianas por meio dos seus
elementos e possíveis transformações dos mesmos, favorecendo assim, uma relação pessoa-
ambiente de fato.
165
6. REFLEXÕES COMPLEMENTARES
internet, por meio das entrevistas semiestruturadas realizadas com quatro participantes das
(2) Mestre em Educação Especial e Psicóloga; (3) Terapeuta Ocupacional; (4) Mãe de uma
criança com TEA. Não foi possível realizar a entrevista com as responsáveis de uma das lives,
perguntado sobre como surgiu o interesse em realizar uma live com a temática voltada para o
TEA, uma das respostas que sintetizou bem esse feito foi:
próximas a essa profissional, mas para pais, familiares e profissionais que lidam com o TEA
no Brasil todo que buscaram ajuda na internet sobre como agir nesse momento e quais
estratégias possíveis para testar em casa com as crianças. Seguindo essa linha de raciocínio
em busca de ajuda para famílias, em uma das lives analisadas, uma diretora escolar sentiu a
necessidade de convidar uma mãe de criança com TEA para compartilhar tais estratégias que
estavam sendo utilizadas nesse período pandêmico, e para haver uma fala com propriedade da
causa, a mesma convidou uma mãe, aquela que convive 24h por dia com a criança autista.
Portanto, no geral, as lives surgiram com o objetivo de ajudar famílias e profissionais que
entrevistados tiveram acesso a vários relatos de como estava sendo na prática o dia a dia em
casa, com as restrições trazidas pela Pandemia, desde a dificuldade da criança entender a nova
rotina, o não poder sair de casa, até o agravamento das questões comportamentais que são
presentes no TEA.
promoção de saúde e bem-estar para as crianças, já que foi uma temática pouco discutida com
base nas lives analisadas nesse estudo, tendo em vista que ―a inserção de momentos ativos em
casa são necessários, pois quanto menos tempo sedentário, melhor será a qualidade de vida
relacionada a saúde em crianças e adolescentes‖ (Florêncio Júnior, Paiano & Costa, 2020, p.
01), principalmente nas pessoas com TEA que uma parcela considerável apresenta
seletividade alimentar podendo a dieta se tornar bastante calórica e a criança pode vir a
resultados positivos nas funções cognitivas e motoras, além de social e pessoal, reduzindo o
Uma das entrevistadas comentou que ―outro desafio foi a quebra de vínculos afetivos
com amigos, familiares, terapeutas e professores que pareceu impactar trazendo algum nível
de tristeza e ansiedade‖ [SIC] (Trecho da entrevista 2), até porque a pessoa com TEA, assim
como qualquer outra, sente a necessidade de ter e manter vínculos com seus pares e as pessoas
que fazem parte da sua vida cotidiana, o que não excluiria a necessidade de manter o contato
mesmo que de forma virtual, como se tornou mais frequente o uso das vídeos chamadas no
período de isolamento, inclusive para assistir filmes com amigos, participarem de festas de
aniversários, entre outras reuniões sociais que tiveram que se adequar ao ―novo normal‖.
suas atipicidades, e quando ocorre essa sinomorfia a pessoa pode começar a desenvolver um
apego ao lugar, que deixara de ser espaço. Desse modo, a quebra de rotina e bloqueio de visita
aos lugares frequentados semanalmente por essas crianças resultou em grandes crises e
(pandemia), e isso tudo fez com que ficassem nervosos por não
estarem mais seguindo a rotina do dia a dia, rotina escolar,
social, familiar‖ [SIC] (Trecho da entrevista 4).
Em dado momento da entrevista, foi perguntado às participantes que trecho da live
organizada por elas foi o mais importante e qual assunto deveria ter sido mais debatido:
para as crianças a fim de que o processo de desenvolvimento fosse melhor explorado nesse
período‖ [SIC] (Trecho da entrevista 1); ―a parte mais importante foi a de orientação aos
familiares, sobre qual conduta ter num momento de crise da criança‖ [SIC] (Trecho da
do estudante autista, ainda poderia ter sido mais discutido as sugestões e alternativas para o
uma rotina de atividades, assim como, prestar direcionamentos e dicas para os momentos de
crise, o que vai de encontro com a parte da literatura que destaca como as crises autistas são
prejudiciais tanto para as crianças, quanto para os familiares e que a estratégia de um ―Espaço
Quanto a haver algum assunto que deveria ter sido comentado na live mas que não
complexidade do Espectro: ―poderia ter ampliado com mais sugestões e exemplos (isso foi
feito em várias outras lives que realizei em seguida), uma live foi pouco para um assunto tão
amplo e complexo‖ [SIC] (Trecho da entrevista 2), ou seja, uma única live não dá conta de
No que diz respeito a quem seriam os maiores beneficiados com o conteúdo da live, e
como o TEA em si necessita da colaboração das mais diversas áreas para o desenvolvimento
poderiam ser beneficiados, pois uma live ―pode contribuir com todas as áreas que se
preocupam com a situação de pessoas com TEA‖ [SIC] (Trecho da entrevista 4).
participantes não sinalizaram determinadas temáticas, o que pode ser entendido como assunto
de relevância mediana ou que não fique evidente a sua importância em torno do autismo,
algumas teorias psicológicas que estudam o autismo e dei sugestões‖ [SIC] (Trecho da
entrevista 2), no relato acima não constou comentários sobre a concentração das atividades
em apenas um ambiente, nem sobre a segurança doméstica ou agenda visual, tendo em vista
que dessa live foi possível extrair códigos das categorias Apoios Visuais, Espaço Fixo e
Semifixo.
Outra resposta que indicou os tópicos discutidos foi: ―autismo, o que é?; a importância
das terapias; suporte para famílias; inclusão‖ [SIC] (Trecho da entrevista 4), nesse relato não
constou a discussão sobre adaptação da casa com mobiliários para autorregulação ou auto
estimulação sensorial, nem reorganizar o espaço da casa para evitar desorganização da criança
autista que possui família grande com espaço reduzido, sendo que trechos desse material
espectro autista, estilo cognitivo e autismo, autismo e rotinas, pandemia e autismo, ajustes
170
curriculares para autistas‖ [SIC], contudo grande parte do material dessa live se enquadrou
nas categorias de Apoios Visuais, Espaço Fixo e Semifixo, assim como, na categorização II
E por fim, a última participante esmiuçou detalhadamente cada trecho da sua live,
desta dissertação e nas categorias e códigos da Análise de Conteúdo, dentre eles: Apoios
online pode levar para os lares das pessoas, sobretudo as famílias que convivem com crianças
autistas. Por se tratar de um espectro multifacetado, pode parecer pouco cerca de uma hora de
live, mas diante da Pandemia foi realmente uma oportunidade de ajuda para superação das
relacionados ao TEA, seja sobre escola, saúde, alimentação, crises autistas, entre outros, com
profissionais tanto da saúde, como da educação e áreas afins, cuja participação foi essencial
para a composição de parte dessa dissertação, como foi o caso do Painel dos Especialistas,
Além disso, ao colocarmos a PA em evidência, podemos observar que, embora ela não
tenha sido uma área de estudo discutida nas lives, vários de seus conteúdos ficaram explícitos
pessoa-ambiente eficaz para a ação das pessoas com TEA no ambiente que vivem, bem como
com relação ao modo como ambos se influenciam mutuamente. Apesar dos trechos não
172
abordarem abertamente, podemos captar a essência ambiental neles, no momento em que pais
não sabiam como ajudar os filhos que dependiam de ambientes terapêuticos e que se viram na
behavior setting, affordance, apego ao lugar, territorialidade, espaço pessoal, espaços fixos,
ambiente doméstico passou a ter o papel de oferecer aquilo que a criança com TEA precisava
para o seu bem-estar e desenvolvimento. No entanto, muitas vezes isso não pôde ocorrer de
imediato, sendo necessárias adequações que tornassem o ambiente propício para a ação da
criança e que ainda fosse capaz de não gerar crises ou sobrecarregá-las. Para tanto, muitas
famílias precisariam ter incorporado noções de Design e comportamento sócio espacial, mas o
conhecimento oferecido não foi aprofundado, podendo ter sido insuficiente para uma
intervenção assertiva.
Também foram apontados relatos de que as crianças não compreendiam o que estava
discussão e compreensão da nova configuração vivenciada pelas crianças, já que foi uma
apresentam, por exemplo, a necessidade de realizar diferentes tarefas com apoio de diversos
espaços e lugares, mas que da noite para o dia tal possibilidade deixou de existir, resultando
Vale ressaltar, ainda, que uma das entrevistadas destacou que as sugestões e
alternativas para o ambiente doméstico deveriam ter sido mais debatidas em sua live, o que
evidencia que as discussões podem ter sido relativamente curtas com a necessidade de serem
173
cada vez mais difundidas. Também foram detectadas lives que abordaram temáticas sobre
Restauradores, embora estes não tenham sido diretamente mencionados como assuntos
conhece a PA, mas que ela pode contribuir para o entendimento de vários aspectos que se
6.2 A pandemia e a compreensão dos sistemas ecológicos que envolvem a criança autista
macrossistema reverberaram nos demais sistemas (micro-, meso- e exo-). Referindo-se a outro
tipo de situação, mas com ponderações que podem ser consideradas no momento atual, o
os dias atuais, é possível dizer que o período da Pandemia nos trouxe novos modos de viver
forma menos compreensível, no que diz respeito ao entendimento de exigências como ter que
174
andar de máscara, que ficar em casa, que mudar seus padrões comportamentais, o que pode
primeiros anos de vida, o que também pode ter resultado em impactos negativos (para toda
Ou seja, uma crise mundial afetou de forma individual e particular a vida, o ambiente
entanto, que esse é um estudo relativamente recente, uma vez que o reconhecimento da
atuação do mesossistema sobre os demais ainda é raro, mesmo que a literatura destaque que
―...os eventos e condições ambientais fora de um ambiente imediato contendo uma pessoa
podem ter uma profunda influência sobre o comportamento e desenvolvimento dentro daquele
anteriormente realizadas em outros ambientes, já que era impossível adentrar naqueles outros
espaços.
Ademais, Bronfenbrenner (1996) entende que ambientes como escola, lar e trabalho
sistemas, contudo, na Pandemia, houve um momento em que toda a atenção estava voltada
para o macrossistema, mas tal interconexão não foi tão favorável para os demais sistemas,
175
para alguns o desenvolvimento pode ter ocorrido, mas para as crianças com TEA pode não ter
clínica para os demais ambientes frequentados pela criança com TEA, pois, não é
ambiente controlado de terapia. Resultando assim, nas transições ecológicas - alteração que
acontece sempre que a posição da pessoa no meio ambiente ecológico é alterada em resultado
de uma mudança de papel, ambiente ou ambos‖ (Idem, 1996, p. 22). Tais transições passaram
de entes queridos, entre outros, os quais trouxeram à tona comportamentos antes não
questionamento sobre as crianças com autismo, cujo processamento das informações do meio
percepção da realidade em que vivem e do que o ambiente espera delas. No TEA as pistas
176
visuais são exemplos simples de que a percepção do meio em que se encontra não ocorre de
forma gradual, sendo necessárias intervenções de terceiros nesse processo, situação que pode
ser momentânea ou perdurar por longo tempo (inclusive por toda a vida), dependendo do
nível do transtorno.
De modo geral, o autismo passou a desafiar os antigos e atuais estudos e nos mostra
como a busca pela compreensão do ser humano é infindável, como os estressores ambientais
período de pandemia trouxe a tona temáticas e vivências antes invisíveis, mas a necessidade
de serem debatidas trouxe bons frutos para um pós-pandemia empático e preocupado com a
vida cotidiana e o bem estar de todas as pessoas, principalmente as pessoas com deficiência,
como o TEA.
177
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
foi procurar o conteúdo com base no uso da tecnologia, ou seja, de forma virtual e sem
contato físico. Sob esse ponto de vista, as lives se mostraram o caminho para obtenção de
complexidade e as múltiplas faces impõem a contínua busca por informações, sempre visando
ajuste do ambiente sócio físico às crianças autistas durante a pandemia que foram veiculadas
Sob a ótica conclusiva dos achados desse estudo, evidenciou-se que o ambiente
precisou ser adequado para diversas finalidades, sejam elas comunicacionais ou sensoriais,
história e teorias, como o transtorno era entendido e como se compreende nos dias atuais; b)
178
informações do meio; c) o ambiente cotidiano para as crianças autistas e como evitar crises
com o apoio ambiental; d) aproximações do TEA com a PA, com base nas escalas ambientais,
com base no material analisado, um dos pontos importantes a frisar, é que o senso comum de
birra e ―malcriação‖ precisa dar espaço às explicações científicas das crises autistas, já que
sociedade dar lugar à empatia, ao invés de julgamentos, inclusive, para as famílias saberem
nos achados relativos às cinco categorias estudadas, sendo relacionadas a apoios visuais,
rotina visual, espaço de fuga, ninho sensorial, reorganização sensorial e gatilhos ambientais,
indícios de como o ambiente tem ligação com as crises, quando comentado sobre: a) os
invadido por agentes externos causadores não apenas de estresse, mas que também pode
179
Foi apontado em discussões anteriores, que as lives não foram intituladas ou pensadas
para falar diretamente do ambiente, mas através da AC foi possível captar os trechos que
abordavam sobre as categorias pensadas, diante disso, a live que mais comentou sobre a
temática não foi necessariamente a de maior tempo de duração, essa, foi pensada por uma
TEACCH.
Tal formação pode ter sido responsável pelo cuidado em observar e apontar questões
ambiente estruturado, este que precisa conversar com a criança que muitas vezes possui
pessoas com autismo facilita o debate sobre os aspectos ambientais como favorecedores do
desenvolvimento e autonomia.
Já a segunda live que mais comentou sobre questões inerentes ao ambiente sócio físico
foi a que teve menor tempo de duração. Ela foi idealizada por uma diretora escolar que
convidou uma mãe de criança autista para justamente compartilhar quais estratégias ela estava
utilizando em casa para ajudar sua filha no período de pandemia. Sendo assim, de modo
atividades no dia;
180
recebidos em clínicas;
Além das estratégias acimas, comentadas nas lives, o Painel de Especialistas destacou
1. A importância do contato das crianças com o meio natural trazendo-o para dentro
de casa;
5. Atenção para as questões do Design da casa que envolve luzes, cores e decoração;
familiares e amigos.
Das estratégias listadas acima, nenhuma tem caráter estritamente pandêmico, já que
todas trazem lições que podem ser incorporadas a outros momentos. Talvez as de números
dois e doze aparentem ser mais específicas, mesmo assim, analisando-as é possível associa-las
a situações de um cotidiano não tão restrito. A de número dois diz respeito à manutenção da
rotina externa no ambiente doméstico, o que não exclui a possibilidade dessa estratégia ser
do cotidiano da família que impossibilite a criança de estar nos locais que usualmente
A de número doze se refere à utilização de ambiente virtual, o que pode não ser ideal, tendo
em vista que nada substitui a interação pessoal, principalmente para as pessoas dentro do
espectro. Embora tal situação seja mais fortemente associada à pandemia, ela também pode
acontecer em outras condições, de modo que o ambiente virtual pode ser utilizado para
Por outro lado, é preciso ressaltar que o fato do período pandêmico ter promovido uma
identificação de alguns aspectos nos quais a Psicologia Ambiental poderia contribuir. Entre
eles destaco a importância das pessoas que lidam com autistas: compreenderem o ambiente
182
sócio físico no qual a criança está inserida; estarem atentas aos behavior settings atuantes, e as
dificuldades da criança autista se acomodar à flexibilidade nesses BS; ter ciência dos
principais tipos de affordance que aquela criança associa aos objetos, pessoas e ambientes
difundidas como adequadas às crianças autistas se ligam a ser um local acolhedor, atender às
necessidades daquela criança, mostrar-se claro, objetivo seguro, instigante e ao mesmo tempo
depender do perfil sensorial e comportamental de cada criança), mas também estimular sua
curiosidade e promover sua autonomia (quer seja necessário suporte dos Apoios Visuais ou
não). Além disso, para acolher os autistas o espaço precisa ser funcional, com
ambientais, para isso, o conforto ambiental (acústico, térmico e lumínico) são fundamentais.
O ambiente também precisa oferecer oportunidades de contato com a natureza, como forma
propor ambientes que excluam gatilhos que favoreçam birras, crises e desorganização
global e bem-estar.
pandemia foram em relação à falta de espaço para adequações necessárias, sendo preciso
modelar e utilizar um mesmo espaço para várias finalidades, como também, a família por
geral, as famílias se viram perdidas sem sua rede de apoio, sendo assim, dependeram do olhar
sensível e técnico dos profissionais da área do autismo que tiveram que perceber as
Sobre as limitações do presente estudo, provavelmente a maior delas diz respeito a não
poder ampliar a generalização dos achados, condição que está relacionada ao número limitado
de lives analisadas. Outra limitação do estudo com repercussões em seus resultados foi a
dificuldade de realizar entrevistas aprofundadas com as responsáveis pelas lives que, diante da
visto que as entrevistas presenciais provavelmente pudessem dar oportunidade para maior
ser enriquecidos se tivesse sido possível presenciar a usabilidade dos espaços pelas crianças
com TEA, bem como documentar as estratégias utilizadas para adequações do ambiente sócio
futuros, principalmente no que diz respeito a vivenciar cotidianos de crianças autistas para
que as intervenções no ambiente sejam feitas de acordo com as necessidades de cada um. Isso
se explica, pois, como debatido nos primeiros capítulos dessa dissertação, o TEA pode se
essência da necessidade de determinado público. É certo que há alguns passos a se seguir, mas
diferentes crianças, entender se uma intervenção foi adequada a todas ou apenas a perfis
específicos.
crianças; como a ausência das interconexões entre os ambientes favoreceram ou não o curso
comportamentos das crianças e das famílias, e conversar com elas. Como no contexto
vivenciado na pandemia isso não foi possível, optou-se por analisar estes elementos em lives
veiculadas no Youtube, que proporcionaram uma visão ampla do tema, mas não o esgotaram.
complexidade do transtorno, não havendo área específica para o estudo de tal, mas o
importância do presente estudo, seja para grupo de profissionais que precisam encontrar
formas para favorecer o ideal para seus aprendentes/pacientes, ou para as famílias que
precisam enxergar possibilidades de avanço e desenvolvimento de seus filhos com uma rede
de apoio que esteja preparada e qualificada para intervir de forma fundamentada em práticas
baseadas em evidências. Nesse contexto, destaca-se a PA como área com potencial para
185
ajudar a explicar o comportamento sócio espacial das crianças com TEA, levando em
consideração sua subjetividade, seus desejos e necessidades para alcançarem uma relação
interesse em encaixar o TEA onde deveria estar sendo discutido há muitos anos.
Por fim, como todo processo de pesquisa necessita de motivação e empenho, quero
destacar que a pandemia mexeu com o mundo todo e de forma direta e indireta fez parecer
impossível estudar temáticas complexas sem as ferramentas antes habituais, mas que não
dificuldades são infinitas, de modo que as nossas escolhas também possuem o poder de nos
pesquisa com autistas como um fator facilitador da inclusão destas pessoas, a criatividade e o
desejo de ajudar famílias atípicas me parecem terem sido as forças motivadoras que
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203
Apêndices (lista)
1. ADOS-2 (Autism Diagnostic Observation Schedule): É uma escala de observação direcionada a pessoas
com suspeita de TEA, que deve ser aplicada a partir dos 12 meses de idade, ela avalia ―comunicação,
interação social, brincadeira ou o uso imaginativo de materiais. Está estruturado em cinco módulos,
destinados a pessoas com idades cronológicas e níveis de linguagem específicos‖ (Romero-González et al.
2020, p. 03).
3. CARS (Childhood Autism Rating Scale): Essa escala pode ser usada em crianças a partir dos
dois anos de idade, ela serve para diagnosticar e indicar o grau de autismo em que a criança se
encontra, ainda apontando possíveis hipóteses diagnósticas que diferem do autismo, como
deficiência intelectual. ―A escala conta com 15 questões sobre desenvolvimento e características
do autismo que ajuda a distinguir crianças sem autismo, com autismo leve/moderado e autismo
grave‖ (Zago & Peixoto, 2018, p. 78).
5. GARS-2 (Gilliam Autism Rating Scale): Pode ser utilizada com pessoas dos 3 aos 22 anos de
idade, ―é uma escala de avaliação de informantes de 42 itens projetada para auxiliar na
identificação e diagnóstico de autismo e fornecer informações sobre a gravidade dos sintomas‖ (El
Shourbagi e Abd-El-Fattah 2019, p. 02).
6. M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers): é o instrumento mais indicado pela
Sociedade Brasileira de Pediatria que visa o diagnóstico precoce, ele deve ser aplicado dos 18 aos
24 meses de idade, foi ―desenvolvido para rastrear crianças que possuem risco de terem TEA. É de
fácil aplicação, contém 23 questões, direcionadas aos pais ou cuidadores da criança‖ (Oliveira et
al. 2019, p. 49).
8. ATA (Escala de Avaliação de Traços Autísticos): é uma escala de triagem que pode ser
utilizada a partir dos dois anos de idade ―composta por 23 subescalas, avalia o perfil de conduta da
criança, embasada nos diferentes aspectos diagnósticos. Além disso, a ATA é um questionário de
screenin‖ (Maia, 2019, p. 22), que serve para distinguir pessoas com TEA das pessoas com
deficiência intelectual.
9. ASQ (Autism Screening Questionnaire): Deve ser utilizado em crianças a partir dos quatro
anos, o instrumento é composto por 40 itens de sim ou não que ―rastreia interação social recíproca,
comunicação e linguagem, padrões de comportamento estereotipados/repetitivos e funcionamento
da linguagem‖ (Tafla, 2019, p. 25).
10. OERA (Observação Estruturada para Rastreamento de Autismo): Pode ser aplicada em
crianças a partir dos três anos de idade até os 10, ―é composta por oito provas que eliciam
comportamentos especificamente relacionados aos sintomas centrais de TEA. Durante 10 a 15
minutos o avaliador interage com a criança seguindo provas estruturadas‖ (Carvalho et al. 2014, p.
505). As provas que os autores se referem diz respeito se a criança consegue responder quando é
chamada pelo nome, se inicia e responde a atenção compartilhada, se consegue imitar de forma
funcional, se joga bolha de sabão e se apresenta o comportamento de apontar.
11. AMSE (Autism Mental Status Exam): Pode ser aplicado em crianças dos 18 aos 48 meses de
idade, ―é uma ferramenta de avaliação observacional direta e estruturada de oito itens que permite
detectar o funcionamento social, comunicativo e comportamental de crianças e adolescentes‖
(Galdino, 2016, p. 20).
12. PREAUT (Prevention d‘Autisme): O instrumento é indicado para crianças com quatro meses
de vida até os dois anos e onze meses, ele realiza ―a avaliação de perturbações precoces da
comunicação nos primeiros meses da vida de um bebê e que podem prever um distúrbio grave do
desenvolvimento do tipo autístico‖ (Hoogstraten, Souza & Moraes, 2019, p. 28).
13. ATEC (Autism Treatment Evaluation Checklist): É um instrumento que serve para avaliar se a
criança autista está apresentando evolução em terapias e tratamentos. ―O formulário ATEC é
dividido em quatro tópicos: 1) Fala/ linguagem/ comunicação, 2) Sociabilidade, 3) Percepção
sensorial/ cognitivo e 4) Saúde/ aspectos físicos/ comportamento‖ (Rodrigues Et Al. 2019, p. 123).
14. Eye Trackin: É uma técnica ―em que um dispositivo de rastreamento ocular mede o ponto do
olhar (fixação) ou o movimento do olho (sacada) em relação à cabeça e à tela de um computador‖
(Eraslan et al. 2018, p. 680). Inclusive em crianças autistas que possuem a dificuldade no contato
visual, nos quais, ―os dados de Eye Tracking são eficazes para identificar sub grupos entre
indivíduos com TEA, o que é importante para auxílio diagnóstico, orientação de prognóstico e
tratamento‖ (Bisão, 2019, p. 46).
207
Apêndice 2 - Práticas Baseadas em Evidências que atenderam aos critérios da pesquisa (Wong
et al. 2013).
Intervenção baseada Crianças (0-2 anos) a adultos Organização de eventos ou circunstâncias que
em antecedentes. jovens (19-22 anos) com TEA precedem a ocorrência de um comportamento de
(Wong et al. 2013, p. 49). interferência e projetado para levar à redução do
comportamento.
Intervenção cognitivo- Alunos em idade escolar Instruções sobre gestão ou controle de processos
comportamental. primária (6-11 anos) a alunos cognitivos que levam a mudanças no
em idade escolar (15-18 anos) comportamento manifesto.
com TEA (Wong et al. 2013,
p. 52).
Reforço diferencial de pré-escolares (3-5 anos) a Provisão de consequências positivas / desejáveis
comportamento adultos jovens (19-22 anos) para comportamentos ou sua ausência que
com TEA (Wong et al. 2013, reduzam a ocorrência de um comportamento
alternativo,
p. 53). indesejável.
incompatível ou outro.
O material listado a seguir são as lives que envolvem a temática do autismo, que foram
coletadas entre março e agosto de 2020 no YouTube que é uma plataforma de
compartilhamento de vídeos. O acesso a esse material é livre e está disponível nos links
indicados abaixo de cada título.
https://www.youtube.com/watch?v=9oyo9vyJqFI
TÍTULO: Educação Remota e a Pessoa Com Tea e Di
https://www.youtube.com/watch?v=Xv56MXzhw74
TÍTULO: Tea Na Quarentena: Como Continuar Estimulando Em Casa
https://www.youtube.com/watch?v=XHXgyComyiM
TÍTULO: Autismo Em Tempos de Pandemia
https://www.youtube.com/watch?v=DUukckpaVDA
TÍTULO: Autismo e Seus Desafios!
https://www.youtube.com/watch?v=ioZ22MIbUas
https://www.youtube.com/watch?v=TYTqUbO_bMo
TÍTULO: Live: Autismo: sob o olhar Psicopedagógico
https://www.youtube.com/watch?v=ZLpqS3lEffA
TÍTULO: Live - Autismo em meninas
https://www.youtube.com/watch?v=jOId6Bx0aS4
TÍTULO: Autismo e distanciamento social: desafios clínicos e da educação inclusiva durante a
pandemia
https://www.youtube.com/watch?v=phBsNMKH-aM&t=8s
TÍTULO: LIVE - Autismo e o relacionamento familiar durante o isolamento social |
UNIASSELVI
https://www.youtube.com/watch?v=apG5XGVkhZw
TÍTULO: Live - Precisamos falar sobre o autismo
https://www.youtube.com/watch?v=3-jPIwYb7Lg
TÍTULO: Live - Métodos aplicados ao autismo
https://www.youtube.com/watch?v=lHDFUL0S3Sk
TÍTULO: Live - Autismo: Conhecer para Reconhecer!!
https://www.youtube.com/watch?v=E5QzPxUboq8
TÍTULO: Live: Ajudando Seu Filho Autista A Lidar Com As Emoções
https://www.youtube.com/watch?v=vX42CM3DSyM
TÍTULO: O Autismo Na Perspectiva Da Família!
https://www.youtube.com/watch?v=jvg2lsH4yns
TÍTULO: Live Com Dois Autistas Adultos
https://www.youtube.com/watch?v=ZrTpvx-unQk
TÍTULO: Autismo, desafios na pandemia com Fernando Cotta
https://www.youtube.com/watch?v=MlmcMUfHZz4
https://www.youtube.com/watch?v=VOujm2XJXu4
TÍTULO: LIVE Bate papo com mães de autistas: Como estamos lidando com a pandemia?
https://www.youtube.com/watch?v=yUnew25yKtY
TÍTULO: Live do Instagram sobre Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
https://www.youtube.com/watch?v=9PgqSi2mHLw
TÍTULO: LIVE - Intervenções para o Autismo
https://www.youtube.com/watch?v=X1lgWsVlquY
TÍTULO: Live "vida de mãe pós diagnóstico de autismo "visão além dos sintomas "
https://www.youtube.com/watch?v=yx7bY4mamB0
215
Título Tempo Mês Protagonista Coadjuvantes Resumo da parte que envolve a Contato do
(quem apresenta a (quem discorre PA. Protagonista
Live) sobre o assunto)
1) Aprendendo com os autistas: 00:58:12 Março Mestra em Psicologia, A concentração das atividades em apenas Lattes: Mara Rubia
isolamento social especialista em um ambiente (o doméstico) que precisa Rodrigues Martins.
Psicopedagogia e ser seguro, acima de tudo e a importância
Pedagoga. da estruturação de uma agenda visual Instagram: mararubiarm
para os autistas.
-
2) Os desafios de Pais de 01:10:58 Abril Médico Neuropediatra Um pai (ativista) de uma Readaptou o quintal para colocar uma Instagram:
Autista em tempos de criança autista; ducha no quintal para o filho e comenta doutormarcone
quarentena sobre a necessidade de um espaço como
Uma mãe esse.
(fonoaudióloga) de uma
criança autista.
3) Autismo e Isolamento Social 00:44:31 Abril Fundadora do Instituto Professor Universitário tempo de rendimento acadêmico num Instagram:
- Novo contexto e desafios Nossa Aldeia e mãe de contexto doméstico e dicas para a instituto_nossa_aldeia
durante Pandemia autista estruturação do ambiente da casa.
4) Agendas de rotina para 01:13:45 Maio Mestre em Educação Pedagoga especialista em Agenda como suporte visual para Lattes: Maria Elisa
autistas Especial e Psicóloga Psicopedagogia organizar e guiar as ações da pessoa em Granchi Fonseca
qualquer ambiente.
Instagram:
mariaelisagranchifonsec
a
5) Autismo em Tempos de 00:44:18 Maio Pedagoga e mãe de Readaptação da terapia para o ambiente Instagram: portalmie
Pandemia autista adolescente domiciliar na pandemia.
-
216
6) Autismos: quais invenções 02:09:25 Junho Psicanalista que atua Doutora em Psicologia e Atendimento virtual durante a pandemia; Instagram:
possíveis em tempos de clinicamente em um Psicanalista como usar o ambiente doméstico para cais_inclusao_social
pandemia? CAIS continuar as estimulações.
7) Adaptações curriculares para 01:32:02 Junho Mestre em Educação Pedagoga especialista em A ausência de um ambiente escolar mas Lattes: Maria Elisa
autistas na quarentena: Especial e Psicóloga Psicopedagogia a transformação do ambiente doméstico Granchi Fonseca
em um ambiente educacional; transições
no ambiente de pandemia e Instagram:
reestruturação e organização do mesmo mariaelisagranchifonsec
com pistas visuais. a
8) Apresentamos: Painel Online 00:52:17 Junho Jornalista Neuropediatra, A utilização de pistas visuais para guiar Instagram:
- Autismo e Doenças Raras: Neuropsicóloga e Pai de atividades em casa casa_hunter_oficial
Dicas práticas durante a uma criança com autismo
pandemia.
9) Como ajudar o autista a 01:00:30 Julho Comunicóloga Terapeuta Ocupacional e Adaptação da casa com mobiliários que Lattes: Gislaine
superar a Pandemia (Live) Diretora (mãe de criança regulem a criança sensorialmente Sampaio Morandin
autista) de uma ONG que (cantinho sensorial), reorganizar o
atende crianças com espaço de casa para não desorganizar a Instagram:
necessidades especiais. criança que tem família grande. gislainesampaiosimples
assim
10) Autismo em tempo de 01:31:22 Julho Mestre em Psicologia e Analista judiciário e Mãe Cuidar e transformar o ambiente de casa Lattes: Hellen Vieira da
pandemia: um luto às avessas Pedagoga de Adolescente com para proporcionar bem estar. Fonseca.
autismo.
Instagram:
hellenvieiradafonseca
11) O caminho inverso da 01:15:58 Julho Membro da Associação Turismóloga e Ativista Socialização e a importância de levar os Site da Associação:
socialização para autistas nesta de Pais e Amigos dos da causa autista (mãe de autistas para ambientes públicos, para https://www.paiseamor.
pandemia Autistas de um adulto com autismo que aos poucos eles passem a se org/
Cachoeirinha - RS severo) comportarem de forma adequada, uso de
pistas visuais no ambiente doméstico e a
sensibilidade autista.
217
12) Live Autismo em Tempos 01:10:30 Julho Psicopedagogo Autista de nível 1 de Mais uma live que o quintal é apontado Instagram:
de Quarentena (com Tiago suporte Adulto como lugar de bem estar e apartamentos creativeideias
Abreu) - 14 de julho de 2020. recebem críticas, foi falado também a
necessidade de organização do quarto na
hora de dormir.
13) Live "Transtorno do 01:07:12 Julho Mestranda em Professora Universitária Adequação do ambiente para festas que
Espectro Autista" Diversidade e inclusão, e mãe de autista; e autistas estarão presentes; Sensibilidade
pedagoga com mestra em Diversidade e autista e processamento sensorial em um
especialização em Inclusão ambiente com muitos estímulos; E as
psicopedagogia barreiras ambientais para a inclusão.
-
14) Live: Integração sensorial 00:59:56 Julho Psicóloga Terapeuta Ocupacional Fala sobre o atuar no ambiente e excesso Instagram:
no Autismo de estímulos do mesmo. psigabrielaparpinelli
15) Live - Precisamos falar 1:28:58 Julho Irmã de uma criança Duas Fonoaudiólogas Adequação ambiental e apoio visual para
sobre o autismo autista Clínica a realização de demandas em casa
-
16) Live - Autismo: Conhecer 00:59:57 Julho Neuropsicopedagoga e Psicanalista Clinica e Fala sobre organização do espaço físico Instagram:
para Reconhecer!! Psicanalista Clínica Pedagoga na escola e a possibilidade de adequar carolcrusoe_neuropsico
em casa também pedagoga
17) live com dois autistas 00:52:58 Julho Psicóloga e Analista Dois autistas adultos, Como melhorar as crises autistas em casa Instagram:
adultos comportamental em uma psicóloga e o outro e a jovem autista comenta sobre suas diversaoeinclusaokids
formação Bonequeiro características que remeta à cognição
ambiental.
18) Live Entendo o Autismo 00:56:29 Agosto Mãe de autista e Fala sobre as atividades escolares serem Instagram:
estudante de Psicologia desenvolvidas em um novo ambiente marie.curie.cdh
juntas -
19) Live Psicomotricidade e 00:49:42 Agosto Assessora familiar, Psicomotricista Adequação ambiental com pista visual Instagram:
Autismo 2 - live Fabi Biazus e educadora especial e para auxiliar no uso do vaso sanitário rodadeconversaautismo
Juliano Padilha especialista em
psicopedagogia
218
20) Live sobre autismo com 00:59:39 Agosto Pai de autista Mãe de 4 filhos autistas A mãe comenta não desenvolver apego Instagram:
gabriel pelo lar e sentir a necessidade de se gabriel.viana.s
mudar constantemente e fala sobre a
sensibilidade sonora do filho que
resultou em uma crise grave
21) Live: Comportamento e 01:19:58 Agosto Membro da associação Psicóloga Fala sobre adequação ambiental com
habilidades sociais no Ciranda pistas visuais.
Transtorno do Espectro Autista
-
22) AUTISMO em Tempos de 00:56:06 Agosto Diretora do Centro Mãe de uma criança Adequação ambiental com rotina visual e Instagram:
PANDEMIA | LIVE Completa Educacional Arco Iris autista e dona do canal previsibilidade concreta, adequação do juntandoaspecas
com Centro Educacional Arco Juntando as Peças. espaço doméstico para um local de
Iris estudos, inclusive comentando sobre
conforto acústico, adequações para
regular sensorialmente a criança em casa.
219
O motivo que nos leva a fazer este estudo é observar que em 2020 a pandemia promovida
pelo vírus SARS-CoV-2 (causador da COVID-19) atingiu a humanidade e seu enfrentamento
exigiu o isolamento social, fazendo com que as pessoas se mantivessem em casa por longo
período. Esse contexto induziu diferenças no uso da habitação que, além de ocupada por toda
a família durante todo o dia, passou a ter que acomodar mais efetivamente uma gama de
atividades que anteriormente podiam acontecer em outros locais, como o trabalho, as
atividades físicas (exercícios) e o lazer.
Partindo desse breve quadro geral, pretende-se entender o ambiente na situação de pandemia
para as pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), levando em consideração que o
desenvolvimento de suas percepções, interações e comunicação se vinculam às dificuldades
decorrentes do TEA e exigem adequações ambientais, tendo em vista as possíveis
incapacidades/inabilidades dos próprios autistas para entenderem o que o ambiente lhes
proporciona ou solicita cotidianamente.
Para a efetivação desta etapa do trabalho o seguinte passo a passo será realizado: 1) você irá
ler esse termo de consentimento e aceita-lo se concordar participar da pesquisa, 2) responder a
algumas perguntas no que diz respeito à temática apresentada.
Quanto aos riscos e desconfortos, o maior risco é o de sentir-se constrangido(a) diante das
perguntas. Caso você venha a sentir algo dentro desses padrões, sinta-se à vontade para
abandonar a pesquisa e suas informações não serão utilizadas ou divulgadas.
Os benefícios esperados com o resultado desta pesquisa são que com base nas informações
oferecidas, será possível compreender as influências do ambiente sócio físico para as pessoas
com autismo e quais são as estratégias que podem fornecer bem estar para as mesmas.
Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar dúvidas com a pesquisadora Luana
Vanessa Soares Fernandes, psicopedagogalua@hotmail.com, (83) 98857-3734. Qualquer
220
dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética em Pesquisa –
instituição que avalia a ética das pesquisas antes que elas comecem e fornece proteção aos
participantes das mesmas – da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nos telefones
(84) 3215-3135 / (84) 9.9193.6266 ou através do e-mail cepufrn@reitoria.ufrn.br.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
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-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados
serão coletados na pesquisa ―AMBIENTE SÓCIO FÍSICO E CRIANÇAS COM
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA EM CONTEXTO DE PANDEMIA: UMA
REFLEXÃO SOBRE LIVES DO YOUTUBE”, e ter ficado ciente de todos os seus direitos,
concordo em participar da pesquisa e autorizo que as informações obtidas sejam divulgadas
em congressos e/ou publicações científicas, desde que nenhum dado possa identificar os
participantes.
221
Olá!
Sou Luana Fernandes mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cuja Linha de Pesquisa envolve Psicologia,
Política e Socioespacialidades, concentrando-me na relação pessoa-ambiente, com
embasamento na Psicologia Ambiental.
Venho por meio desta, convidá-la a ser uma das participantes do meu estudo, que visa
compreender as estratégias para ajuste do ambiente sócio físico às crianças autistas durante a
pandemia, divulgadas por meio de lives disponibilizadas no YouTube. Por ter assistido a uma
de suas lives, gostaria de entender com mais subjetividade sobre a temática e a forma que
você entende o Transtorno do Espectro Autista.
Trata-se de uma temática que precisa ser compreendida por mais pessoas a cada dia e
pretendo reunir visões diferentes a respeito desse assunto e você foi escolhida para somar
nessa investigação. A sua contribuição será valiosa para a minha pesquisa e espero que, de
alguma forma, sua participação seja prazerosa ou instigadora também para você.
Instruções Breves: aceitando o convite, você pode ter acesso ao formulário de entrevista por
meio do link do Google Forms que se encontrará logo abaixo, antes de respondê-lo você irá
ler um termo de consentimento, no qual você poderá entender os objetivos da pesquisa, os
riscos, benefícios e seus direitos como participante, após isso, poderá efetivar a participação
por meio da aceitação.
Caso prefira uma conversa online sobre esse assunto para responder as questões, indique um
meio de contato, duas datas e horários possíveis entre os dias 20 e 30/junho/2021.
https://docs.google.com/forms/d/18KWgDlffUouJRJFAp93kDDGqa2Bu6_quKCsHaXVfHs0
Luana V. S. Fernandes
Psicopedagoga - UFPB
Mestranda em Psicologia – UFRN
222
Pesquisa sobre ambiente sócio físico e pessoas com Transtorno do Espectro Autista
Bem Vindo(a)! Estamos realizando uma pesquisa sobre o ambiente sócio físico e sua mútua
influência para as pessoas com Autismo. Esta pesquisa faz parte do trabalho de dissertação de
Luana Fernandes, orientada pela Profª. Drª. Gleice Azambuja Elali dos Departamentos de
Psicologia e Arquitetura e Urbanismo da UFRN. As demais informações você terá acesso no
Termo apresentado na próxima secção.
1) Como surgiu o interesse em realizar uma live com a temática voltada para o
autismo? Você tem/teve contato com pessoas dentro do Espectro?
2) Você presenciou ou escutou relatos de adultos que cuidam de pessoas com TEA
sobre como se deu a vida dessas crianças no contexto de pandemia? Comente sobre.
3) Em sua live, que parte você considera mais importante e que poderia ter sido mais
discutida?
4) Tem algum assunto que deveria ter sido comentado em sua live que você não
abordou? Comente.
5) Você acredita que sua live pode contribuir apenas para famílias ou para áreas de
estudos específicas? Comente que áreas podem ser beneficiadas com o conteúdo
apresentado.
7) Se há algo mais que deseja comentar após a respostas das perguntas, pode fazê-lo
abaixo.
223
Olá!
Venho por meio desta, convidá-la a ser uma das juízas do meu estudo, que visa compreender
as estratégias para ajuste do ambiente sócio físico às crianças autistas durante a pandemia,
divulgadas por meio de lives disponibilizadas no YouTube. Trata-se de uma temática que
precisa ser compreendida por mais pessoas a cada dia e pretendo reunir visões diferentes a
respeito desse assunto e você foi escolhida para somar nessa investigação, por se tratar de
uma pessoa que busca entender de forma empática as necessidades das criança com autismo.
Sua colaboração será assistir a live indicada nesta mensagem (anexa) e responder algumas
questões que estão disponíveis na folha seguinte. A sua contribuição será valiosa para a minha
pesquisa e espero que, de alguma forma, sua participação seja prazerosa ou instigadora
também para você.
Instruções Breves: a live escolhida tem como título ―AUTISMO em Tempos de PANDEMIA |
LIVE Completa com Centro Educacional Arco Iris‖, possui 56 minutos e 6 segundos de
duração, o link é: https://www.youtube.com/watch?v=DI_ch1vXCQk. Você irá assistir a live
e responder as perguntas anexadas. Não há certo ou errado para as questões, trata-se apenas da
sua opinião como pessoa envolvida com o tema. Devido ao cronograma da minha pesquisa,
prevista para ser defendida em Agosto de 2021, vou disponibilizar 15 dias para a tarefa.
Diante disso, preciso da confirmação de sua participação.
Luana V. S. Fernandes
Psicopedagoga - UFPB
Mestranda em Psicologia – UFRN
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Bem Vindo(a)! Estamos realizando uma pesquisa sobre o ambiente sócio físico e sua mútua
influência para as pessoas com Autismo. Esta pesquisa faz parte do trabalho de dissertação de
Luana Fernandes, orientada pela Profª. Drª. Gleice Azambuja Elali dos Departamentos de
Psicologia e Arquitetura e Urbanismo da UFRN. As demais informações você terá acesso no
Termo apresentado na próxima secção.
1) Quais assuntos levantados na live você julga importantes para pessoas que lidam
cotidianamente com autistas? Há algum tema retratado que você considera sem
pertinência ou inadequado?
2) Frente à vivência doméstica dos autistas durante a pandemia, quais são, na sua
opinião, os principais pontos que precisam ser comentados sobre o ambiente
domiciliar? A live tocou nestes pontos? Foi suficiente?
3) Diante das dificuldades que o autista apresenta o que poderia ser adaptado em casa
para ajudar a criança nesse quesito?
5) Você recomendaria essa live a uma família que tem criança autista? Por quê?