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PALESTRA PETER G.

DEZEMBRO 2023

Sentido da Palavra – Continuação...

Da última vez abordamos o sentido fonético/ sentido da palavra... E ainda recapitulamos em


relação ao sentido da audição.

Vamos recapitular mais uma vez:

O que que é ouvir música? Hoje em dia as pessoas ouvem quase que ininterruptamente
música. Jamais no passado soou tanta música no ouvido das pessoas como hoje. E essa música
deve despertar emoções e gerar sensações...

De alguma forma trata-se de uma música primitiva. Com a música nós ouvimos a forma como
o mundo está ordenado interiormente... E nós relacionamos isto com a matemática.
Afirmamos que ouvir música é uma espécie de matematizar. E a matemática também é um
aspecto da ordenação interior do mundo.

Podemos dizer que tudo no mundo tem o seu som. Podemos até afirmar que o mundo foi
criado a partir do som.

*E eu quero dar um exemplo de quão simples é a música que a gente ouve... Boa parte das
música de entretenimento está edificada sobre três tons e eu vou tocar estes três tons na
minha gaita de boca.

Neste momento o Zoom não forneceu uma qualidade de som e o Peter G. disse para nos
concentrarmos então no assunto de hoje: Palavra e Pensamento

Precisamos ter cuidado com o uso da fala e também com os pensamentos. Então agora nós
vamos voltar nossa atenção para o sentido fonético/ da palavra e do pensamento.

Peter G. pediu para o Peter B. ler quatro sentenças de um livro, aleatoriamente. E quem vai
ouvir o que ele vai dizer deve prestar atenção nos fonemas ‘s’, ‘ch’ e ‘x’.

Peter B. lê algumas frases.

“Quantos fonemas vocês conseguiram detectar que tem essa sonoridade (‘s’, ‘ch’ ou ‘x’)?”

“Vocês compreenderam o que foi lido?”

Peter vai ler mais uma vez...

Quantos ‘m’ vocês ouviram?

“Vocês entenderam?”

-OU você conta os fonemas OU você compreende o que foi lido, disse um ouvinte.

Este exercício a gente pode fazer mais... É divertido. Mas a gente percebe que ou a gente
observa o Sentido OU os Fonemas.

Se a gente fica atento ao sentido a gente “adormece” para os fonemas.

Quando queremos entender, praticamente não ouvimos...E quando queremos ouvir os


fonemas a gente perde a relação com o sentido.
Ou seja, quando o sentido da Palavra está desperto, nós adormecemos para o sentido do
pensamento.

E quando nós estamos despertos para o sentido do pensamento a gente adormece para a
percepção dos fonemas. ***

Vocês todos sabem que quando a gente está numa ligação telefônica e quer entender
precisamente o que o outro está falando a tendência é fechar os olhos, pois quando nós não
vemos nós podemos ouvir melhor. E o reverso também é verdadeiro: quando a gente não
ouve, a gente enxerga melhor.

Se a gente quer considerar alguma coisa com muita atenção a gente diz pro nosso
companheiro “fique calado”. Vocês conhecem isso?

“A gente quer se concentrar num sentido para perceber toda a qualidade.”

Quando a gente ouve a minha tradução (Peter B.) não estamos prestando atenção nos
fonemas, mas precisamos ouvir, pois sem ouvir nós não entendemos e precisamos ser capazes
de ouvir nas mais tênues nuances.

Uma palavra é MERCADO e a outra é MARCADO.

Foneticamente é uma diferença mínima entre um E e um A, mas o significado é totalmente


diferente. E se quiserem entender a mim, tradutor, vocês precisam ter uma atenção sutil às
nuances.

Que espécie de ouvir é esse?

É um Ouvir adormecido. Pois, despertos, vocês estão para o Pensamento.

Há um sentido para o ouvir (para ouvir os fonemas) e outro sentido para perceber o sentido do
que está sendo dito / do que está sendo ouvido.

E com isso temos um indício de que há dois sentidos diferentes.

Com o sentido da palavra nós não somos capazes de apreender os pensamentos.

Da mesma forma com o sentido do pensamento nós não conseguimos perceber os fonemas.

Da mesma forma que com o sentido do paladar eu não consigo ver... E com sentido da visão eu
não consigo degustar.

No dia a dia estes sentidos se sobrepõem um ao outro. Na mesma forma com o cheirar e o
degustar... Também com relação ao sentido do tato e o sentido térmico. Assim também é com
o sentido fonético e do pensamento.

Para termos uma compreensão da diversidade da percepção sensorial temos que saber
distinguir precisamente um sentido do outro.

Nós podemos dizer também que a fala pode ser compreendida sem que alguém fale. Por
exemplo: quando estamos lendo. Na leitura não soa fonemas. De maneira que eu preciso gerar
em mim a sonoridade destes fonemas.

Por exemplo: quando alguns surdos-mudos se comunicam entre si eles conseguem se


comunicar muito bem sem utilizar uma língua falada e audível.
A percepção de pensamentos não corre junto com a percepção audível.

Quando estamos, por exemplo, observando uma obra de arte. Vendo um quadro, nós
podemos perceber os pensamentos que estão escondidos lá, nessa obra de arte.

Algumas vezes a gente tem a sensação de que um quadro encerra um sentido nele próprio.

Algumas vezes a gente olha para um quadro e percebe que ele não diz nada. Não diz nada pra
mim, este quadro.

É como se pudéssemos perceber os pensamentos que estão escondidos ali, nas cores, nas
formas do quadro. Mesmo que não consigamos traduzir em palavras, o que a gente intui.

A mesma vivência nós podemos ter ao ouvir uma música. E uma melodia tem um caráter de
um pensamento. E isso nós já falamos uma vez...

Peter G. diz que vai fazer uma melodia e faz.

Este é um pensamento musical. A gente imediatamente tem impressão de que essa é uma
ordenação de tons feita por um pensamento.

**

Nós estamos numa excursão, numa caminhada e no topo de uma montanha a gente olha para
o vale.

Então agora eu vou descrever uma paisagem lá da Europa central.

“Lá, vê-se a torre de uma igreja e as casas estão belamente ordenadas em torno da igreja e
logo ao lado da igreja tem uma pequena lagoa. E é bom ter essa lagoa perto pois se, por acaso,
há um incêndio, a água está perto.”

Quase todas as aldeias centro-europeias tem um lago de apagar incêndio, e por trás das casas
a gente vê as hortas. Primeiro vem os pomares e depois amplia-se para campos mais amplos
(plantio de trigo, milho, batatas, etc.). Depois vem as pastagens com animais: vacas... E depois
vem a mata. Se a gente olha essa paisagem a gente percebe numa imagem que tudo está
ordenado de acordo com pensamentos. E a gente tem uma satisfação de estar olhando para
uma paisagem de cultura e não para algo que é selvagem.

Ou a gente entra numa residência e, ao redor de uma mesa, tem algumas cadeiras. Algumas
coisas estão na cozinha. Outras no banheiro... E a gente percebe que aí vive um ser que ordena
o seu mundo através de pensamentos. E a gente pode perceber que numa determinada
residência há pensamentos muito lindos; numa outra residência as coisas são mais
turbulentas. Tem muitas pessoas e as coisas são tipo “misturadas”. Naquele momento não há
uma real ordem. Isso é uma percepção sentida por este sentido do pensamento e aí tem um
sentimento que se associa a este pensamento, por exemplo: “Aqui eu me sinto bem.”

Isso é algo muito semelhante ao que o sentido vital trás, do qual nós falamos há um tempo
atrás.

Então há uma relação do sentido vital com o sentido do pensamento. Estão em lados opostos
no círculo dos sentidos. Só que o sentido vital me dá uma informação do meu próprio corpo
(“eu me sinto bem”). O sentido Vital informa algo sobre a minha ordem interior/ orgânica.

No próximo encontro vamos falar mais dessa relação Vital – Pensamento...


Mas quero falar outra coisa agora...

Quando eu observo alguém caminhando eu posso ter uma percepção de “será que esse cara
que está andando aí desse jeito... será que ele está pensativo??”

Ou seja, com o sentido do pensamento eu não percebo o conteúdo dos pensamentos. O que
eu percebo é o fato do próprio pensar.

Quando eu olho para um rosto eu posso ter uma impressão se naquela pessoa vivem muitos
pensamentos... E até perceber se nele vivem pensamentos maus ou bons...

Isso que foi dito até agora, vocês estão de acordo?

Existe uma certa esperteza ao se dizer que eu posso perceber um pensamento da mesma
forma que eu posso perceber um cheiro com o meu nariz.

Fisicamente sensorial. Mas algo espiritual.

Esse pensar também estará se expressando pela forma como ele lida com as coisas ou através
dos seus movimentos ou somente através da sua constituição (Gestalt). Se eu somente olho
para o ser humano estar sob dois pés em equilíbrio aí eu já tenho uma impressão de que se
trata-se de um ser pensante.

Eu sei que não há outro ser no mundo que caminha sob dois pés e pernas. Bom, a gente disse
“os pássaros caminham sobre dois pés”, mas são pés bastante pobres. Se eles querem
caminhar sobre a terra eles fazem algo diferente: abrem as asas e voam.

Mesmo assim há pássaros que caminham longas distancias sobre as patas.

Então aí preciso acrescentar outras impressões para compreender que aqui não se trata de um
ser pensante.

Importante é então: se eu ouço um ser humano e entendo que ele expressa pensamentos eu
não teço julgamento neste momento sobre os pensamentos captados. Julgar já é mais do que
perceber.

Então tudo depende para nossa compreensão de estarmos falando de uma percepção e não
de um julgamento.

A mesma coisa lá no sentido da Fala se eu só ouço um fonema eu ainda não ouvi a fala e
também ainda não compreendo a fala.

Mas mesmo assim eu tenho a percepção do fonema. E eu me dou conta de que não se trata de
um ruído, mas de um fonema.

Vejam: isso não tem nada a ver com compreensão. Com todas as outras percepções sensoriais
nós não estamos lidando com a compreensão.

Eu cheiro um odor e eu sei imediatamente que eu estou cheirando algo, mas o que eu estou
cheirando eu ainda não sei. Então, é dessa forma tão elementar que nós queremos
compreender O que o sentido da fala percebe. E da mesma forma elementar o que O sentido
do pensamento percebe. Não estamos falando aqui do pensamento compreendido, mas sim
do pensamento percebido.

Mas nós sabemos que a música, a fala e o pensar são expressões essencialmente humanas.
Fora do universo humano não existe nem música, nem fala, nem pensamento, aqui na terra.

Nós somos na terra um ser que também é espiritual que se expressa por música, fala e
pensamento.

Se nós olhamos para essas três instancias nós também estamos olhando para as instancias
através das quais nós percebemos o ser humano aqui na terra. Nós sabemos imediatamente
que estamos diante de um ser humano, mas também podemos nos perguntar o que Que é o
mais interior do ser humano. Interiormente mais profundo do que os pensamentos. Aí nós
diríamos trata-se do eu. Do Eu do ser humano. Rudolf Steiner pesquisou por trinta anos estes
doze sentidos porque ele sabia que se tratava de um âmbito extremamente delicado... Eu
começo a entrar em grande contradição com a ciência que aí está.

E nós já vimos isso quando afirmei que música é inaudível. Ou precisamos encontrar uma nova
palavra, mas isso não é tão fácil. Não é tão fácil formar palavras novas. Então eu generalizo
Ouvir tanto para ruídos, tons, sons e música, mas é um Ouvir que está diante de várias
categorias de Ouvir. Do ouvir ruídos Ao ouvir música.

E agora vem um novo passo do ouvir música para o ouvir fonemas.

Quando a gente vai da música para o fonema a gente penetra mais profundamente no
ordenamento interior do mundo. Então, diante do fonema a música é quase que um tanto
superficial. E quando eu então penetro no sentido do pensamento, eu penetro mais
profundamente na interioridade do mundo, mas quando eu ainda chego a falar de um sentido
do Eu, aí eu preciso me dar conta de que na percepção de um Eu do outro eu penetro no
amago da interioridade do mundo. Isto é o mais profundo que se apresenta na terra, mas o
que significa aqui a palavra “mais profundo”. Poderíamos usar outra palavra “o mais elevado”.
Em todo caso... É a maior ousadia que o Steiner tem para falar de um sentido do Eu, de
percepção, do Eu do outro.

Porque o eu do Outro é algo totalmente espiritual e não sensorial.

Deixaremos este assunto parado aqui... E da próxima vez falaremos de uma forma mais precisa
sobre a percepção do Eu do Outro. E para isso ainda olharemos para a roda dos 12 sentidos. E
por querermos falar sobre este sentido, nós estamos diante da possibilidade de compreender
a totalidade dos sentidos. Steiner, depois de 30 anos de pesquisa.... Escreveu um livro, mas
não o concluiu. É o único livro que ele não concluiu (e ele escreveu 50 livros). Porque aqui ele
sabia que aqui a gente está tocando em algo que é quase impronunciável. A gente poderia até
dizer que o mais sagrado da outra pessoa eu percebo com um sentido. E sobre isso iremos
falar numa próxima vez...

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