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Se o conhecimento é algo material, onde ele fica armazenado em nós, se a consciência não é

material?

Uma instigante pergunta. Assim como a seguinte: por onde começarei?

Pelo começo, obviamente. Mas qual é o começo? Sem perceber, já comecei.

Bom, imagine que somos como uma música: há a letra... e há a melodia.

A letra, sem a melodia, por si só poderia dar uma bela poesia. A melodia, também, sozinha, já
poderia agradar aos nossos ouvidos. Porém, ao juntarem-se para formar uma coisa só, há uma
grande evolução e alcançamos uma coisa ainda mais completa. Assim somo nós. A consciência
é a melodia e o corpo, a letra. Ou vice-versa. Não faz muita diferença. Não há como explicar
dizendo “o meu corpo” ou “a minha mente” pois meu e minha são pronomes possessivos, e
para que algo seja possuído, tem-se a necessidade de um possuidor, que estaria num plano
superior. Por isso eu digo que nós não temos corpo e alma. Nós SOMOS corpo e alma.

Só que não podemos vê-los como água e óleo, como se um não tivesse ligação alguma com
outro. Vejamo-los como água e... e sal. Nós somos essa mistura de água e sal. Depois de se
juntarem para formarem um indivíduo, não há o que os separem... a não ser... a morte! Assim
como podemos separar a água do sal por meio da destilação, alma e corpo são separados por
meio da morte. O corpo entra em decomposição e o resto você já sabe. A nossa
consciência...bem... ela não tem um fim, diferente do corpo.

Ok, até aí tudo bem. Então, tira-se a conclusão de que a consciência é algo metafísico.
Maaas.... se a consciência é algo metafisico, como pode ser afetada por coisas materiais como
álcool e maconha? E explique isso: nós pensamos com o cérebro, que é algo pertencente ao
corpo. Consciência é apenas razão ou envolve emoções? Nós temos uma parte irracional? Não
esqueça da pergunta do começo. E os animais, como ficam? E os nossos hormônios
“sentimentais”?

Essas perguntas são como moscas chatas que ficam zunindo em nossos ouvidos, nos
incomodando. E agradeço por serem como moscas: não pude ignorá-las. Assim, tive que
encontrar respostas.

Bom, o álcool e semelhantes atinge três componentes químicos do cérebro: a serotonina,


GABA e dopamina.

Ao atingir a primeira, a pessoa demonstra sinais de uma alegria “abobalhada”. Depois, ao


atingir o GABA, a ação do cérebro diminui e não conseguimos pensar muito bem. Por último,
ao atingir a dopamina, perde-se a coordenação motora e por esse motivo os bêbados andam
cambaleando.

Mas como isso é possível se a consciência é algo metafisico?

Neste momento, podemos entrar um pouco nos pensamentos de Platão, principalmente na


parte em que ele diz sobre o mundo sensível e o mundo das ideias.

O mundo sensível seria uma cópia imperfeita do mundo das ideias. O mundo sensível é tudo
aquilo que podemos sentir com nossos sentidos (que frase maravilhosa. Sentir com os sentidos
haha) e, o mundo das ideias, seria aquele metafisico, onde não podemos ver com os olhos
(outra frase linda. Ver com os olhos), mas com a mente.
Bom, então essas substâncias podem atingir, digamos assim, a consciência do mundo sensível.
Indo mais a fundo, podemos tirar outras conclusões. E essas não são fáceis de se transcrever
para o papel. Mas, bora lá.

Neste momento precisamos entender que, apesar de a água e o sal estarem juntos, há
algumas características próprias da água (como, por exemplo, fazer com que essa mistura seja
algo liquido) e características próprias do sal (como deixar essa mistura salgada).

Por mais evoluídos e racionais que sejamos, não deixamos de ser animais, com instintos e
reações involuntárias. E isso não pertence à consciência, claro.

Uma pequena lista com exemplos pode ser a serotonina e as outras substancias que citei
acima, outros estímulos nervosos, hormônios, sustos, medo, fome, choro (falaremos
exclusivamente do choro mais para frente) e uma infinidade de outras coisas.

E essas características, que não podemos controlar muito bem, não são exclusivas da nossa
raça, pertence também aos animais.

Eu estive pensando e acho que, quando Deus disse “Façamos o homem à Nossa imagem e
semelhança” Ele talvez não estivesse falando do corpo ou apenas do corpo, mas da incrível
capacidade de pensar, refletir, questionar-se e modificar o mundo a sua volta.

Você se lembra daquele menino que cresceu na floresta e acabou portando-se como um
animal? Acho que, então, a consciência só pode fazer efeito quando convivemos com outros
seres pensantes, caso contrário ela entra em um estado de inutilização e acaba... sei lá...
dormindo para sempre.

Bom, usando o exemplo do mesmo menino... ele então libertou sua alma ou apenas a sufocou,
já que seus objetivos eram apenas para manter seu corpo vivo?

Se fôssemos analisar um animal, não seria tão difícil de responder: se os animais realmente
não possuem uma consciência para libertar, eles não a sufocam ao atender suas necessidades
fisiológicas... apenas estão cumprindo seu papel no mundo. Quando um homem mata um
animal por puro prazer, podemos dizer que ele está sendo anti-ético, pois ele está ciente do
que está fazendo. Mas quando um animal mata outro, não podemos dizer que ele está sendo
anti-ético, pois ele não sabe quais serão as consequências de seus atos. E nenhum animal mata
por prazer...

Voltando ao exemplo do menino, o que ele fez com sua consciência? Ela pode ter parado de
existir? Realmente não consigo chegar à uma conclusão.

Continuando: lembra que te perguntei se os animais tinham capacidade de ter sentimentos,


como nós? Não apenas a capacidade de amar, mas de sentir felicidade, tristeza...

Pode-se ver claramente quando um cachorro está contente ou quando está tristonho. Então,
sim, os animais sentem sim. Mas eu acho que de uma forma diferente. De uma forma mais
corporal e física. De uma forma mais explicável. Nossa.... brilhou uma luz!

Você estava certo quando disse que as emoções muito têm a ver com a formação física de um
ser. Algumas pesquisas foram feitas e pode-se observar que são os mamíferos que mais
demonstram sentimentos. Ou melhor, emoções. Por causa dos neurotransmissores. É isso o
que eu queria dizer com “sentir de uma forma corporal”.

Aaaaiiii que felicidade haha


Logo, seres desprovidos de sistema nervoso não podem sentir. É isso?

Vamos continuar.

Então, quando substâncias como álcool são inseridas em nosso corpo, eles coisam nosso
cérebro e, acho que a consciência, por ser algo sublime, não se apresenta totalmente, em toda
sua essência. Afinal, somos responsáveis por nossos atos.

Espero ter sido clara.

Outra coisa que gostaria de constar: quando sentimos algum sentimento (maais umaaa) nós
percebemos isso. Por causa de adivinha o quê? Isso mesmo, por causa da consciência. E, ao
mesmo tempo, nosso corpo libera as “substâncias desses sentimentos” e nossa parte física
também pode sentir nossa felicidade, ou tristeza, ou emoção, ou amor ou qualquer outra
coisa. Sentimos tudo duplamente. Perfeito equilíbrio, colaboração, compartilhamento.... Uau!

Para mim, há dois tipos de choro: o de dentro, e o de fora. É como aquilo que estávamos
falando, quando eu tentava arrumar formas de te fazer chorar. O choro de “fora” é por pura
proteção e reação involuntária do corpo, serve apenas para lubrificar os olhos. Já o que vem de
dentro é resultante dos nossos sentimentos e emoções. Uma ponte entre os olhos e o coração.
Há muitas outras pontes do coração ao mundo físico: além das lágrimas, há a música e todo
tipo de manifestação artística, palavras, abraços, sorrisos e semelhantes.

Cientificamente falando, quando nosso estado emotivo é alterado, o sistema nervoso libera
alguns neurotransmissores que podem causar a contração da glândula lacrimal, o que nos faz
chorar.

Eu arrisco dizer que também temos dois tipos de emoção: a de fora e a de dentro. Mas elas
ficam extremamente interligadas.

Por exemplo, quando estamos muuuito cansados e descansamos, ficamos felizes. Ou quando
comemos algo que gostamos muito também sentimos prazer. E o sistema nervoso entra em
ação, como você já sabe. Mas essa alegria não é da consciência, obviamente. Ela pertence ao
corpo. E a emoção de dentro é aquela resultante de um rebuliço em nossos sentimentos. Só
que como ainda estamos presos nesse tabernáculo de carne, não podemos ter uma reação
emocional exclusiva da mente. E o sistema nervoso, novamente, entra em ação.

Mas... como ele sabe quando a mente está feliz ou não?

Ora, se você jogar a água com sal em um recipiente, o sal vai junto.

Só que também tem aqueles momentos que queremos ajudar alguma pessoa, mas estamos
com preguiça e entramos em um grande dilema. Minha explicação para isso é que o corpo é
egoísta, tudo o que ele faz é voltado para si mesmo. E a consciência é mais altruísta, quer
sempre ajudar.

Sabendo que um acaba e o outro é eterno, nem é necessário dizer qual devemos seguir, né?

Mas e a respeito de doenças como Alzheimer? A memória não é metafísica?

Vamos lá: ao meu ver, existem duas formas de conhecimento (acho que vou colocar o nome
dessa de teoria de “duas formas” haha): a que vem de dentro... e a que vem de fora. Ok, eu sei
que tudo eu venho colocando nessas classificações, mas essa é um pouco diferente, já que
envolve ética, moral, estudo científico, pensamentos e talvez sentimentos.
O conhecimento que vem de fora é basicamente o que aprendemos na escola, o
conhecimento científico sobre o mundo que nos cerce e até sobre nós mesmos, tudo sobe o
mundo físico. Mas junto dele está também os valores morais criados pela sociedade e os
padrões criados pela mesma.

E o que vem de dentro são nossas crenças, o que determinamos a partir de nossa essência e
de nossas conclusões. É formado pelos nossos traumas e sentimentos, nossas paixões. Eu
acredito que, em partes, isso é um pouco determinado pelas influências que recebemos. Mas a
maior parte é a forma como reagimos a essas influências.

Nossas experiências são uma grande fonte de conhecimento, tanto de um lado como do outro.

Já que há dois tipos de conhecimento, por que não poderia haver duas formas de memória?

Uma para armazenar nosso conhecimento de mundo e outro para armazenar nosso
conhecimento de sentimentos e emoções.

Já assistiu “Para Sempre Alice”? É um filme que fala sobre uma mulher que tem Alzheimer. No
decorrer do filme ela vai esquecendo cada vez mais coisas, até mesmo quem são as pessoas
que a cercam ou a localização do banheiro de sua casa. A última cena, que fez com que eu
derramasse algumas lágrimas, acontece na sala de sua casa, onde sua filha mais nova lê uma
parte de um livro e, ao terminar, pergunta à mãe do que se tratava o trecho que foi lido. A
mãe, Alice, responde: “se tratava... do amor. É, se tratava do amor”

Apesar de ser apenas um filme, creio que por mais deteriorada que esteja nossa memória,
nunca esqueceremos do essencial. Antes que eu fuja mais do tema, a nossa memória é, então,
um caso à parte?

Bom... provavelmente uma certa parte é, sim. Porque, veja bem, até mesmo animais têm
memória. Eles apenas não estão cientes disso.

Mais acima eu uma outra pergunta, que ainda não respondi: “Consciência é apenas razão ou
envolve emoções?”

Bom... eu não posso acreditar que os nossos sentimentos sejam algo totalmente explicável,
tanto porque sentimos a necessidade de expressá-los fisicamente, seja por meio de poesias,
pinturas, músicas, lágrimas e tudo o que já citei anteriormente. Por meio das “pontes”.

Mas me parece egoísta acreditar que só os nossos sentimentos sejam metafísicos, e não os dos
animais. E também parece uma grande loucura admitir que esponjas ou anêmonas possam ter
sentimentos... outra loucura seria dizer que os sentimentos dependem totalmente do sistema
nervoso para existir...

Ah, acho que já sei o que acontece: tudo é uma questão de ligação. É um grande erro querer
separar completamente uma coisa da outra.

Vamos estabelecer uma diferença entre sentimentos e emoções. Sentimentos será a parte
inexplicável e emoções será o resultado das funções dos nossos neurotransmissores.

Bem, a razão é algo que, ao meu ver, pertence exclusivamente à consciência.


As emoções são aquelas coisas involuntárias, que pertencem tanto a nós como aos animais. É
o ficar feliz pelas circunstâncias, o ficar triste pelas mesmas, o amar a si mesmo por intermédio
de outrem de Fernando Pessoa. Que não transcendem.

Os sentimentos é quando tomamos consciência das nossas emoções e também quando nos
sentimos felizes (ou tristes, ou confusos ou qualquer outra coisa) por algo de dentro de nós,
por vencermos a preguiça e ajudar alguém.

E esses sentimentos se apresentam de alguma forma para nós... por meio das pontes. Lembra
da analogia do véu? Acho que agora entendi em todo seu sentido.

Analisando dessa forma, animais não têm sentimentos. Só emoções. Mas já estou na quinta
página e ainda não respondi à sua pergunta.

Se a consciência é algo metafísico e o conhecimento é algo material, onde nós armazenamos o


conhecimento?

Bom... responda você mesmo!

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