Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Este artigo apresenta uma análise de como os referentes podem ser interpretados
de diversas formas sem perder o sentido em comum entre os interlocutores.
Ocorrendo a exposição da construção de sentido que se encontra diretamente
ligada ao referente. Trazendo as diversas possibilidades de negociação de sentido
que cada palavra pode acarretar numa situação comunicacional em torno de um
referente abstrato em específico. Explicitando também um outro ponto importante
que é a escolha de palavras se atrelando a intencionalidade do falante, que é feita
de modo a se tornar a identidade de sua mentalidade sobre determinado assunto,
mostrando aos poucos o objetivo que se era pretendido no início da situação
conversacional. No caso, nossa análise se dá sobre a intencionalidade na escolha
de palavras na constituição de questões aplicadas em edições do Exame Nacional
do Ensino Médio (ENEM). A metodologia utilizada será voltada para as ideias
discutidas por Filho (2017) sobre a referenciação e a construção negociada de
sentidos e o Domínio Semântico da Determinação, de Machiaveli (2020).
Introdução
1
Discente do curso de Licenciatura em Letras-Português pela UFPI-CSHNB.
2
Discente do curso de Licenciatura em Letras-Português pela UFPI-CSHNB.
3
Discente do curso de Licenciatura em Letras-Português pela UFPI-CSHNB.
4
Discente do curso de Licenciatura em Letras-Português pela UFPI-CSHNB.
2
Desse modo, fica claro que o mesmo referente pode ser mencionado de diversas
maneiras dependendo da visão que se pretenda explicitar, e que ainda pode
acontecer de o termo escolhido para realizar essa explicitação adote caminhos
diferentes dos pretendidos pelo falante.
Tudo isso depende da situação, da forma que cada palavra ou expressão foi
falada, e para a negociação do sentido, se evidencia principalmente que o ponto
chave para negociação se encontra na forma como os pensamentos dos envolvidos
7
5. Procedimentos de análise
Em nossa análise, utilizamos como parâmetros as ideias discutidas por
Custódio Filho (2017) sobre a referenciação e a construção negociada de sentidos,
no qual insinua-se que os referentes precisam ser estabelecidos em uma base
comum para se sustentar a coerência. Na referida obra, o autor discorre sobre o fato
de que mesmo que os referentes sejam os mesmos entre os interlocutores, isso não
implica em uma progressão textual. No caso de nossa análise, observamos nas
questões aplicadas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a
utilização de recortes históricos (no caso deste artigo, as que se referem ao período
de Ditadura Militar no Brasil), aparato este que nos apropriamos da Análise do
Discurso (ORLANDI, 2015), para uma análise que partisse de um fato externo à
língua para o interno, ou seja, realizando o caminho inverso de um “percurso que
nos faz passar do texto ao discurso, no contato com o corpus, o material empírico”
(pág. 75).
Desta forma, para que haja esse confronto de sentidos, faz-se necessário o
uso da argumentatividade, que se dá por meio de artifícios gramaticais como
preposições, conjunções e locuções para direcionar o sentido do seu destinatário.
Este, por sua vez, encontra-se na cena enunciativa, que é atravessada pela
temporalização do acontecimento, ou seja, pelo contexto histórico-social no qual
esse indivíduo está inserido.
Como cena enunciativa, entendemos que a própria execução do exame se
dá como um acontecimento, pois eles encontram-se situados em uma
temporalidade que retoma ao passado e proporciona diversas interpretações de
acordo com a bagagem intelectual dos sujeitos expostos ao enunciado. Os sentidos
dos enunciados aqui analisados possuem uma intencionalidade, sendo construídos
através de uma argumentação e estratégias discursivas. De acordo com Custódia
Filho (2017) a construção colaborativa compõe toda situação comunicativa, até
mesmo nas assíncronas:
Quando pensamos em como pode ocorrer a construção colaborativa dos
referentes em comunicações assíncronas, ou seja, em situações nas quais
não é possível aos participantes agirem simultaneamente na construção do
texto, temos de admitir que o procedimento se dá de forma diferente, porque
são diferentes os objetivos por trás desse tipo de negociação. (CUSTÓDIO
FILHO, 2011 apud CUSTÓDIO FILHO, 2017, p. 66)
Nessa questão, em uma das modalidades do ENEM 2017, pode-se identificar que,
apesar de não serem usados os termos inicialmente mencionados, o sentido
termina por se ligar a eles quando se diz “Falavam em fuzilamentos, em gente que
era embarcada nos aviões militares e atirada em alto-mar.” E “um sargento qualquer
pode decidir sobre um fuzilamento. Depois as coisas se organizam, até mesmo a
violência é estruturada, até mesmo o arbítrio.” O leitor é diretamente encaminhado
para o conceito de ditadura, uma vez que o primeiro recorte da citação evidencia um
momento uma total violência e repressão, já o segundo corte termina por remeter a
uma total arbitrariedade e sobreposição das instâncias que comumente seriam
responsáveis pela aplicação da lei, com poder sobre tudo embasado na própria
vontade. Exatamente como um ditador, um déspota na imagem mais exata da
11
Considerações finais
O trabalho foi feito a fim de evidenciar a importância da semântica juntamente
com a recategorização, em evidência com o discurso, estudando assim, que a
estrutura de palavras e enunciados podem gerar um significado diversos
significados, a partir de seus posicionamentos dentro da estrutura. O processo a
qual se enuncia pode concluir num aparato cognitivo prévio.
Pudemos constatar que as questões se utilizam das estratégias do Domínio
Semântico da Determinação (DSD) ao usarem da reescrituração e da orientação
argumentativa, a fim de induzir o aluno a um referente específico a partir de um
mais abrangente, articulando os demais conhecimentos para se obter a resposta
correta.
12
Referências