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ELEMENTOS PARA UMA TEORIA DO


DISCURSO

Nildo Viana
Universidade Federal de Goiás (UFG)

' 10.37885/231215152
RESUMO

O presente texto aborda o problema do discurso. O objetivo é esboçar uma nova


teoria do discurso. Por se tratar de um esboço e não de uma teoria acabada,
apresentamos alguns elementos para o desenvolvimento de uma teoria do
discurso. O pressuposto dessa nova teoria é o método dialético. Através desse
método e seus procedimentos, especialmente o uso da categoria totalidade,
torna-se possível uma análise crítica das abordagens do discurso e a consti-
tuição de uma nova teoria do discurso. O primeiro elemento para se constituir
tal teoria é a elaboração de um conceito de discurso. A partir da constatação
de que as várias definições de discurso são limitadas e problemáticas, apre-
sentamos uma nova definição, que é o desenvolvimento e ampliação de uma
definição anterior apresentada por nós em outra obra. Definimos discurso como
uma relação social na qual um autor apresenta, sob forma falada ou escrita, um
conjunto de enunciados que expressa uma mensagem complexa sobre algo e
para algum destinatário. Essa definição é uma síntese do conceito, que desenvol-
vemos no decorrer do texto. O passo seguinte foi aprofundar a discussão sobre
o discurso concebendo-o como totalidade e, para tanto, analisamos os seus
elementos constitutivos. Assim, abordamos os signos, enunciados, proposições
e argumentos, bem como a questão da estrutura, conjuntura, tema e outros que
formam os elementos constitutivos de um discurso. O último elemento abordado
para fundamentar uma nova teoria do discurso é a questão de sua constituição
social. Esse aspecto é bastante discutido em outras abordagens, mas aqui ele é
apresentado sob forma diferente, abordando a questão da autoria, da motivação,
da função, entre outras. Em síntese, esse foi o trajeto no qual apresentamos os
elementos básicos para o desenvolvimento de uma teoria do discurso.

Palavras-chave: Discurso, Teoria, Enunciado, Autor, Destinatário.

Língua, Literatura e Cultura: sob a perspectiva do discurso


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INTRODUÇÃO

O discurso é um tema amplo e complexo, que envolve um conjunto de


elementos e relações, perpassando diversas possibilidades analíticas e sendo
tema de diversas ciências humanas. As várias concepções de discurso expressam
perspectivas metodológicas e ideológicas distintas. O nosso objetivo aqui é apre-
sentar alguns elementos para se pensar o discurso a partir de uma perspectiva
dialética. Nesse sentido, buscaremos apresentar uma determinada concepção
de discurso, bem como explicitar alguns elementos que ajudem a pensar uma
teoria do discurso com base no método dialético e assim apontar para uma nova
forma de pensar o seu significado de forma ampla numa perspectiva crítica.

O CONCEITO DE DISCURSO

Diante das várias definições de discurso existentes, pode parecer supérfluo


trazer uma nova definição. Contudo, se concordarmos com algumas críticas rea-
lizadas a algumas dessas definições (VIANA, 2009a), torna-se possível pensar na
utilidade dessa opção por rediscutir tal termo. O discurso precisa ser entendido
em sua essência e não em sua forma. Assim, afirmar que o discurso pode ser
entendido como sequência verbal (oral ou escrito) que geralmente é superior a
uma frase (PÊCHEUX; FUCHS, 2010) é problemático. Essa definição é puramente
formal. O que é necessário é descobrir a essência do discurso, ou seja: como
entender o que é o discurso ultrapassando uma definição meramente formal?
As reflexões sobre o discurso que deixaram de lado o seu aspecto comu-
nicacional acabaram se afastando da possibilidade de encontrar o fio da meada.
Sustentamos a tese de que para compreender o discurso é fundamental retomar
o conceito de mensagem. Os discursos efetivamente existentes são formas de
comunicação, ou seja, formas de enviar mensagens. As mensagens não devem,
aqui, ser entendidas a partir da semiologia ou outras concepções. Mensagem,
aqui, significa afirmação, ou seja, uma manifestação de uma ideia, uma infor-
mação, um posicionamento, um entendimento. O ato de se manifestar, afirmar,
significa que algo foi dito. E o que foi dito mostra a posição de quem disse, mesmo
quando é uma mera informação, pois o informante considera (e essa conside-
ração é uma afirmação) que sabe de algo e informa aos demais. A mensagem,

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no entanto, pode expressar o entendimento de um indivíduo sobre a situação
do seu país, sobre a existência de Deus, sobre a natureza, ou, ainda, sobre a
filosofia. A mensagem pode expressar um sentimento ou uma curiosidade, entre
milhares de outras possibilidades. Em todos esses casos, há uma afirmação,
pois mesmo quando se realiza uma pergunta, esta é afirmada, uma demanda
intelectual ocorre. Se alguém pergunta “quantas horas são?”, ele afirma que
quer saber o horário atual. Claro que existem perguntas, tal como a do exemplo
acima, que são mensagens simples, mas quando são mais amplas e complexas,
formam um discurso.
Não se trata, no caso do discurso, de qualquer mensagem. Para entender
isso podemos distinguir mensagens simples e mensagens complexas. Uma men-
sagem simples pode ser repassada por uma frase ou até mesmo uma palavra.
Uma mensagem complexa é composta por várias mensagens simples, ou seja,
por vários enunciados. Assim, ao contrário de outras concepções, consideramos
que os enunciados são “mensagens simples”. O enunciado é, portanto, uma
afirmação, mas que é única. Cada enunciado expressa uma mensagem simples
e um conjunto de enunciados expressa uma mensagem complexa. Existem
várias formas de enviar mensagens e o discurso é uma delas. Porém, é preciso
deixar claro que todo discurso envia uma mensagem (complexa).
E qual é a forma sob a qual o discurso envia a mensagem? A mensagem
é enviada através da fala e da escrita a partir de um conjunto de enunciados.
Assim, é possível admitir que o discurso “é uma manifestação concreta e deli-
mitada da linguagem” (VIANA, 2009a, p. 102), mas isto é insuficiente. Ou seja, é
preciso entender qual é a delimitação que caracteriza o discurso. Assim, pode-
mos definir discurso como “uma relação social na qual um autor apresenta, sob
forma falada ou escrita, um conjunto de enunciados que expressa uma mensagem
complexa sobre algo e para algum destinatário”. Nessa definição se esclarece
qual é a delimitação dessa manifestação concreta da linguagem.
A partir dessa definição o vínculo com a mensagem fica claro e estabe-
lecido. A razão de ser do discurso é enviar uma mensagem. Ele é, no fundo, um
meio e uma forma de transmitir uma mensagem. A mensagem é o elemento
substancial, a essência do discurso. Essa mensagem complexa que o discurso
veicula pode ocorrer via fala ou escrita e, em cada um desses casos, se desen-
volvem determinadas especificidades. O discurso falado difere do discurso

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escrito, embora ambos compartilhem muitas características comuns. A fala é
tendencialmente mais incoerente, repetitiva e simples do que a escrita. Essa é
apenas uma diferença. O tempo da fala é diferente do tempo da escrita. O tempo
da fala é do imediato, da sucessão de afirmações que possibilitam pouco tempo
para reflexão e correção, ao contrário da escrita que, tendencialmente, possui um
tempo mais extenso para o escritor refletir, alterar e, após isso, escrever o texto.
O discurso articula um conjunto de enunciados para enviar uma men-
sagem. Esses enunciados são pequenas afirmações que, reunidas, formam um
todo, uma mensagem complexa. Claro que “complexo” aqui não tem o sentido
de “científico” ou “filosófico” e sim existência de várias afirmações que formam
um conjunto que é o discurso e superam a simplicidade das breves afirmações
que podem ser expressas em uma frase, por exemplo. A frase “eu gosto de
futebol” é um enunciado, uma mensagem simples, pois afirmei meu gosto sobre
um determinado esporte. Agora, se eu afirmo “eu gosto do futebol, afinal ele é
um esporte popular e eu estou sempre do lado do povo”, aí temos um discurso
formado por três enunciados: a) eu gosto de futebol; b) o futebol é um esporte
popular; c) eu sou favorável aos esportes populares por estar sempre do lado
do povo. Esses três enunciados mostram várias afirmações. Além do meu gosto
por futebol, expressa uma percepção sobre este esporte, que é ele ser “popular”,
bem como o vínculo que faço entre esporte e população e entre minhas esco-
lhas e gostos, vinculados ao que é popular, que pode estar subentendido uma
concepção política (talvez populista) ou cultural (romantismo). Ou seja, aqui
se afirmam valores (o gosto pelo futebol e o povo) e informações/concepções
(o esporte é popular, devemos ficar do lado do povo etc.), bem como, possi-
velmente, preferências culturais ou posições políticas e a ideia de justificar tal
gosto, o que pressupõe que talvez exista uma discordância ou estranhamento
por parte do destinatário.
Porém, esse não é um processo sem agentes reais. Todo discurso tem
um autor, que é aquele que emite a fala ou escreve o texto1. O discurso é sempre

1 Não é possível aqui discutir a complexidade da questão do autor (e nem dos demais aspectos e por isso nosso
texto apresenta “elementos” para uma teoria do discurso e não tal teoria já desenvolvida, o que promoveria a
necessidade de diversos desdobramentos e aprofundamentos). Apenas para deixar claro essa complexidade
que aqui não é abordada, é possível recordar que existem discursos que possuem autoria coletiva, bem como

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manifestação de um ser humano. Mas não se trata de um ser humano abstra-
tificado e sim um ser humano real, um indivíduo concreto, com um processo
histórico de vida, com determinada posição na sociedade, com um conjunto
de relações sociais, determinado acesso à cultura, etc. O autor é, portanto, o
criador do discurso. Até que ponto ele é “original” na criação do discurso é outra
questão que será abordada em outra oportunidade. O discurso não cria sua
mensagem por si mesmo. Pensar isso seria criar um fetichismo do discurso. É o
autor do discurso que efetiva o processo de enviar a mensagem. É ele quem
cria a mensagem, escolhendo, de forma mais ou menos livre, dependendo de
cada caso individual, a forma e o conteúdo da sua mensagem.
Porém, um discurso só pode ser proferido se houver um destinatário.
Esse destinatário pode ser imaginário, pode ser o próprio autor, mas, mesmo
nesses casos, ele existe, mesmo que como “alter-ego” ou “criação imaginá-
ria”. Quando um indivíduo pensa consigo mesmo, não está usando a fala ou a
escrita, mas quando ele fala algo para si diante do espelho, seja para treinar
uma exposição pública ou para reforçar alguma decisão, aí ele apresenta um
discurso, caso seja um conjunto de enunciados. Porém, esses são casos raros
e geralmente inacessíveis. O mais comum e acessível é o discurso para algum
destinatário. E esse destinatário pode ser um indivíduo (vizinho, pessoa da
família, desconhecido no meio da rua, o aluno, o professor etc.) ou uma coleti-
vidade (o discurso oficial de um presidente em cadeia nacional de rádio e TV, o
discurso de um professor em uma sala de aula, o discurso de um ativista para
integrantes do mesmo partido etc.). O destinatário do discurso também pode
ser constituído por coletividades abstratas, reais ou ilusórias, tal como a “raça
ariana”, os “extraterrestres”, a “nação brasileira”, os “ciclistas brasileiros”, os
“torcedores do Vila Nova Futebol Clube”2.

outros possuem autoria anônima. O discurso legislativo, tal como se observa nas leis instituídas, é de autoria
coletiva (VIANA, 2019a) e o discurso manifesto no Protocolo dos Sábios do Sião é apócrifo, o que geram diferen-
ças e processos específicos para sua análise.
2 Depois de escrever esse trecho, derivado de reflexões anteriores à escrita, encontramos em uma obra de
Bakhtin uma percepção semelhante: “este destinatário pode ser um participante-interlocutor direto do diálogo
cotidiano, pode ser uma coletividade diferenciada de especialistas de algum campo especial da comunicação
cultural, pode ser um público mais ou menos diferenciado, um povo, os contemporâneos, os correligionários, os
adversários e inimigos, o subordinado, o chefe, um inferior, um superior, uma pessoa íntima, um estranho etc.;
ele também pode ser um outro totalmente indefinido, não concretizado [...]” (BAKHTIN, 2016, p. 62-63).

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Um último elemento é entender que toda mensagem tem um “tema”. O tema
do exemplo do discurso sobre o gosto de determinado indivíduo sobre futebol
esclarece isso. Nesse caso, o tema é o futebol. A mensagem é sobre o futebol,
e que valora tal esporte devido ao seu vínculo com a população. O discurso de
Engels diante do túmulo de Marx, em 1883, tem o pensador alemão como tema.
Assim, a mensagem é sempre sobre algo.
Em síntese, o discurso é uma relação social entre autor e destinatário,
na qual o primeiro envia uma mensagem ao segundo através de um conjunto
de enunciados, sob a forma escrita ou falada, a respeito de algo. O conceito de
discurso aqui apresentado não é suficiente para entender o discurso. Por isso
é preciso aprofundar e refletir sobre os seus elementos constitutivos.

OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO DISCURSO

O conceito de discurso apresentado coloca o que é essencial para


entender essa manifestação cultural específica: a mensagem. O essencial, no
entanto, nem sempre aparece imediatamente. Segundo Marx, se a essência e
a aparência coincidissem, a ciência seria supérflua (1988). Aqui se entenda por
“ciência”, a concepção marxista, derivada da concepção hegeliana (KORSCH,
1983), segundo a qual ela seria um saber verdadeiro e totalizante (o que signi-
fica que é uma concepção distinta da concepção positivista de ciência, até hoje
hegemônica). Em certos fenômenos, no entanto, o essencial pode aparecer sob
forma imediata. O essencial aparece imediatamente quando é uma ação humana
consciente que quer se expressar de forma direta. Isso ocorre no caso de alguns
discursos, nos quais o que é afirmado no próprio discurso como essencial, o
é realmente. Isso, no entanto, não quer dizer que o destinatário acessará isso
imediatamente ou compreenderá a mensagem. Assim, alguns discursos se
ocultam, outros se revelam. No caso daqueles que se revelam, o destinatário tem
que ter a capacidade de apreender a mensagem, o que será facilitado se houver
convergência perspectiva e dificultado se houver divergência perspectival3, além

3 Dificuldade não quer dizer impedimento, embora existam níveis de dificuldade e, em alguns casos, pode ser
praticamente impossível um entendimento devido às características do discurso ou do destinatário. A conver-
gência perspectivla, isto é, quando autor e destinatário possuem a mesma perspectiva (de classe, de ideologia,

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de diversas outras determinações em cada caso concreto e que vai pender a
balança para um ou outro lado. Outra dificuldade é o nível de complexidade da
mensagem, pois as mais simples são mais facilmente identificadas e as mais
complexas já possuem um grau maior de dificuldade de identificação.
Se o essencial de um discurso é a sua mensagem, então o primeiro passo
para quem quer entendê-lo ou analisá-lo é buscar descobrir qual é mensagem
que ele transmite. A mensagem é repassada pelo autor dependendo de sua
intencionalidade, seus recursos formais, seus interesses, seus valores, seus
vínculos culturais, sua autoimagem, suas condições no momento de elabora-
ção, etc. Porém, uma vez materializado num discurso escrito ou falado, temos
a manifestação da mensagem, ou seja, da essência do discurso. Alguns autores
são diretos em sua mensagem, outros não são tão diretos e alguns são obs-
curos. Além disso, algumas mensagens são mais simples e, por conseguinte,
mais facilmente identificáveis ou compreendidas, outras são mais complexas e,
por conseguinte, de acesso mais difícil. A forma como o discurso é transmitido
também pode facilitar ou dificultar a compreensão da mensagem. Alguns autores
se defrontam com destinatários hostis e por isso pode omitir ou não ser muito
direto em seu discurso, ou mesmo pode estar num contexto de censura. O caso
da música popular brasileira nos anos 1970, durante regime militar, é exemplar
no caso de mensagens que são enviadas sob forma velada para os censores.
O ponto de partida para nossa reflexão sobre a identificação da mensa-
gem num discurso é este como caso específico e concreto. É, por exemplo, o
discurso de Engels diante do túmulo de Karl Marx ou então o discurso de Fidel
Castro sobre a existência de um partido único em Cuba, ou, ainda, o discurso
de posse de Lula em 2023. Outros discursos, para além da política, podem
esclarecer ainda mais isso: o discurso de um amigo sobre os males das bebidas
alcoólicas ou o discurso contido numa letra de música. A isso denominamos
discurso unitário, ou seja, um determinado discurso materializado numa fala
específica ou num escrito específico, sobre um tema específico (por mais amplo
e extenso que ele seja).

de valores etc.) facilita a compreensão do discurso explícito ou da mensagem intencional, mas nem sempre
possibilita a compreensão do implícito e de mensagens subliminares.

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Através da análise de um discurso unitário, ou seja, um discurso espe-
cífico e que tem todas as características que se espera dele, sendo, portanto,
completo, é possível entender o discurso em sua essência. Porém, uma coisa é
a essência do discurso, expressa em seu conceito, mas outra coisa é entender
a essência no discurso unitário. Para descobrir a essência no discurso unitário
é necessário entender sua mensagem específica.
Porém, um discurso unitário pode passar várias mensagens. Um mero
exemplo pode já expressar uma mensagem, assim como cada enunciado é uma
mensagem simples. Então a questão é descobrir qual é a mensagem fundamental
do discurso. Para descobrir qual é a mensagem fundamental de um discurso
é necessário entender os elementos constitutivos do discurso, especialmente
aqueles que nos permitem acessar a essência em determinado discurso unitário,
e o tema abordado por ela. Um obstáculo existente nesse processo é a diferença
entre o discurso falado e o discurso escrito. Tendo em vista que as diferenças
entre estas duas formas de manifestação do discurso e suas consequências para
a sua análise, deixamos claro que o foco aqui é o discurso escrito, embora em
geral funcione também para o discurso falado, mas que teria que ser adaptado
para suas especificidades e alguns termos seriam diferentes.
No plano puramente formal, é possível dizer que um discurso unitário
escrito é formado por letras, palavras, orações, parágrafos, etc. Porém, no plano
da análise do discurso, é mais importante identificar os elementos significati-
vos que explicitam a mensagem. Desta forma, podemos dizer que o discurso
é constituído por signos, enunciados, proposições e argumentos, que, em sua
totalidade, constituem a forma pela qual a mensagem fundamental é enviada
(com um conjunto de outras mensagens presentes) a respeito de um tema4.
Isso é identificado no escrito5. Não será possível aqui apresentar sob forma
detalhada e profunda todos estes elementos, o que ficará para uma obra mais

4 É possível um discurso ter mais de um tema e possuir vários subtemas, mas o mais comum é um tema funda-
mental, que pode estar acompanhado por outros temas e subtemas ou não.
5 No caso do discurso falado, seria identificado na fala (que pode ser transcrita, assumindo a forma de escrito e
facilitando o mesmo trabalho analítico, embora este deva reconhecer o caráter de transcrição e, por conseguin-
te, especificidades da fala transcrita e sua diferença com o escrito).

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extensa sobre isso, mas tão somente apresentar uma breve reflexão sobre cada
um desses elementos.
Os signos são o que se denomina “palavras”. O signo é um dos temas mais
discutidos da linguística e a discussão sobre o sentido das palavras é o tema
fundamental da semântica, embora também seja tema da filosofia da linguagem
e outras áreas do saber. Não se trata aqui de retomar toda a discussão exis-
tente sobre signos, nem a proposta clássica de Saussure (1978), nem as demais
abordagens. Aqui é suficiente colocar uma concepção de signo que entende
que ele remete para um referente (elemento da realidade que ele expressa) e
possui um sentido. O sentido de um signo pode assumir complexidade depen-
dendo de qual é ele. “Mesa”, por exemplo, é um signo simples e sua relação
com o seu referente (o objeto mesa) não gera controvérsias. Porém, “fascismo”
ou “liberalismo” já são termos complexos e que geram diversas controvérsias.
Nesses casos, um mesmo signo pode possuir vários sentidos.
A ideia de Mikhail Bakhtin (1990) de “luta de classes em torno dos signos”
se insere nessa discussão. A luta em torno dos sentidos das palavras permite
compreender a dificuldade do entendimento de determinados signos em deter-
minados discursos ou a multiplicidade de sentidos de outros6. Quando um signo
expressa corretamente o seu referente, temos um significado, e, quando não o
faz, quando deforma, então temos um significante7. Desta forma, uma palavra
pode ter vários sentidos, tal como o termo “ideologia”, que, como todos os
signos, só pode ter um significado (ou não ter nenhum)8 e vários significantes.
Marx foi o responsável pela percepção do referente, ou seja, do fenômeno, que
é a ideologia, mas antes dele e depois dele muitos significantes foram criados,
inclusive alguns deles sendo atribuído a este pensador por seus “intérpretes”.

6 O que não quer dizer que não existam outras determinações.


7 Aqui é importante explicitar que esses termos não são trabalhados tal como definidos por Saussure (1978), o
que já aponta para o entendimento da complexidade dessa questão e que ela se manifesta na linguagem em
geral, inclusive na linguística.
8 Um signo sem significado ou é um referente (algo realmente existente) sem compreensão verdadeira ou uma
palavra sem referente. Assim, o termo “matemática” pode ainda não ter sido compreendido adequadamente
pela consciência humana, ou, ainda “buraco negro” e, por conseguinte, não possui um significado, mas pode ter
vários significantes. Os signos vazios são raros e geralmente são palavras estrangeiras, ou invenções ficcionais,
como “anarcolopitecus”, por exemplo.

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O signo, no entanto, não existe isoladamente. O signo só existe no
interior de um idioma e em relação com diversos outros signos e é no interior
dessa totalidade e em sua relação com a realidade que ele ganha o seu signifi-
cado. No caso do discurso, o signo é um dos seus elementos constitutivos e um
dos mais importantes, pois a compreensão de um discurso (assim como para
ele efetivar sua função de comunicação) remete ao entendimento dos signos
utilizados. Os signos usados na linguagem cotidiana diferem dos utilizados na
linguagem noosférica, ou seja, dos tecnotermos, construtos, conceitos, cate-
gorias, etc. Os sentidos das palavras na linguagem cotidiana geralmente têm
maior simplicidade e menos controvérsia. Porém, no âmbito da filosofia e das
ciências, por exemplo, há uma maior complexidade e controvérsias. Os signos
da linguagem cotidiana remetem ao idioma e os signos da linguagem noos-
férica remetem para diversos campos linguísticos ou subidiomas9 criados no
seu interior (e depois traduzidos para outros idiomas), tal como o da filosofia de
Hegel, Heidegger, Sartre etc. ou a sociologia de Durkheim, Weber, Parsons, etc.
O sentido dos conceitos em um texto de um autor marxista pode ser
definido na própria obra ou pode ser considerado como algo subentendido pelo
leitor. Nesse processo, o subentendimento é algo comum quando os destinatá-
rios são considerados como tendo uma bagagem lexical e semântica comum.
Numa comunidade de católicos praticantes, por exemplo, alguém falar em
“sacramento”, “batismo”, “crisma” e “eucaristia” não provocará uma busca em
dicionários para saber o sentido dessas palavras. Isso, no entanto, nem sempre
ocorre, o que pode gerar problemas interpretativos. Um filósofo criativo pode
gerar toda um léxico próprio e após isso, em obras posteriores, partir da ideia
de subentendimento ao considerar que seus leitores leram as obras anteriores,
bem como pode indicar, para os novos leitores, a leitura delas. Porém, caso não
haja leitura de obras anteriores ou o filósofo em questão não realize definições

9 Alguns usam “subidioma” como sinônimos de “dialetos”. Porém, consideramos que os dialetos são variações
regionais de um idioma, tal como é geralmente concebido, e subidiomas são campos linguísticos, ou seja,
produções lexicais e semânticas no interior de um idioma, tendo ele como base linguística. Assim, se Freud
criou um campo linguístico ou subidioma, o fez no interior do idioma alemão e que se caracterizou pela criação
lexical, tal como alguns neologismos, e, fundamentalmente, por ressignificação (novos sentidos para palavras já
existentes em alemão, como, por exemplo, o termo “inconsciente”). A respeito dos campos linguísticos, cf. Viana
(2018).

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por considerar que o termo está subentendido, poderá contribuir com interpre-
tações equivocadas, geradas por conversão linguística, no qual o destinatário
(leitor ou ouvinte) converte o sentido do termo à sua bagagem cultural ao invés
de entender no sentido original do autor.
No âmbito da análise do discurso, o entendimento do sentido das pala-
vras é fundamental. Em casos em que há o uso, por parte do autor, do suben-
tendimento, torna-se necessário a leitura das outras obras em que a definição
do termo aparece. Mas mesmo palavras da linguagem cotidiana podem gerar
problemas interpretativos, pois determinados autores podem realizar um uso
diferenciado dos termos utilizados. Dependendo de quem é o autor, isso pode
ocorrer por uma má compreensão ou por uso criativo. Para entender o sentido de
determinados termos, além das definições que podem ser procuradas (mesmo
que em outras obras), o seu uso e sua relação com o conjunto do discurso per-
mite uma aproximação e compreensão, embora em alguns casos isso possa
ser difícil. Existem autores que são obscuros em relação ao léxico que utilizam
e a falta de clareza ao lado da prolixidade geram dificuldades interpretativas.
Porém, é fundamental entender que num discurso não aparecem signos
isolados. Um conjunto de signos é utilizado em um discurso. Em discursos mais
curtos e simples, os signos são geralmente os vocábulos do idioma, ou seja, da
linguagem cotidiana. Em discursos mais complexos, especializados, técnicos,
o conjunto de signos se torna mais amplo. Esse conjunto de signos formam o
léxico do discurso e este possui os sentidos correspondentes. O conjunto de
sentidos que correspondem ao conjunto de signos forma o código do discurso.
O enunciado é um elemento importante que pode ajudar a entender o
sentido dos signos utilizados em determinado discurso. Por enunciado entenda-se,
tal como definido antes, uma mensagem simples, afirmações10. Os enunciados
são afirmações que permitem a transmissão de uma mensagem complexa. O pri-
meiro parágrafo do livro A Linguagem Esquecida, de Erich Fromm, pode ajudar
a demonstrar isso:

10 Assim, nossa concepção tem certa semelhança com a de Bakhtin (2016), mas também tem diferenças. Bakhtin
é um tanto impreciso em sua concepção de enunciado, que, às vezes, é identificado com discurso.

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Se é verdade que a capacidade de ficar perplexo é o começo da
sabedoria, então esta verdade é um triste comentário à sabedoria
do homem moderno. Qualquer que sejam os méritos de nosso
elevado grau de educação literária e universal, perdemos o dom
de ficar perplexos. Imagina-se que tudo seja conhecido – senão
por nós, por algum especialista cujo mister seja saber aquilo que
não sabemos. De fato, ficar perplexo é constrangedor, um indício de
inferioridade intelectual. Até as crianças raramente se surpreendem,
ou pelo menos procuram não demonstrar isso; à medida que vamos
envelhecendo, aos poucos perdemos a capacidade de ficarmos
surpresos. Saber as respostas certas parece ser o principal; em
comparação, considera-se insignificante o saber fazer as perguntas
certas (FROMM, 1983, p. 13).

Esse longo parágrafo mostra diversos enunciados. O primeiro enunciado


relaciona perplexidade e sabedoria e o segundo conclui que a sabedoria do
homem moderno está comprometida pela falta de perplexidade. O resto apresenta
diversos outros enunciados: perdemos o dom da perplexidade, imaginamos que
tudo é conhecido, as crianças raramente se surpreendem etc. Não seria possível
ele dizer o que disse sem o conjunto de afirmações que realizou. Nenhum discurso
pode ser proferido e nenhuma mensagem pode ser enviada sem afirmações (no
sentido colocado anteriormente). O enunciado “saber as respostas certas parecer
ser o principal”, afirma uma constatação da situação cultural da modernidade
e o enunciado complementar, “em comparação, considera-se insignificante o
saber fazer as perguntas certas”, que é outra constatação, agora sobre o outro
lado dessa situação, que é a desvaloração de saber fazer as perguntas certas.
Esses dois enunciados são fundamentais para colocar a problemática que ele
quer trabalhar no restante do seu texto.
O conjunto de enunciados neste parágrafo, por sua vez, constitui uma
proposição. Essa proposição possui uma função no discurso de Fromm, que é
problematizar as certezas e falta de perplexidade na sociedade moderna. Os enun-
ciados são encadeados para emergir a problematização. As proposições são
as sequências de grupos de enunciados, expressos em parágrafos, no discurso
escrito. No discurso falado, que não é nosso foco, elas podem ser identificadas
na passagem entre um conjunto de afirmações e outro conjunto (geralmente
marcados por pausas e, se forem transcritos, tornando-se um texto, assumem
a forma de parágrafos).

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Os argumentos, por sua vez, realizam uma articulação dos enunciados
fundamentais. Eles não seguem uma sequência textual (ou oral), como no caso
das proposições. Eles formam, ao lado dos signos e enunciados fundamentais, a
estrutura do discurso. Os argumentos são mais facilmente perceptíveis, embora
possam ser confundidos com as proposições, pois o discurso se move em torno
deles. Eles podem ser mais ou menos explícitos. No caso dos discursos escritos,
especialmente os do saber noosférico, como o científico, o filosófico, o marxista,
entre outros, eles podem ser mais difíceis de ser identificados em alguns casos,
mas não em outros. Retornemos com o exemplo de Fromm apresentando alguns
de seus argumentos explicitados na referida obra:

A linguagem simbólica é uma língua em que as experiências íntimas,


os sentimentos e pensamento são expressos como se fossem
experiências sensoriais, fatos do mundo exterior. É uma linguagem
cuja lógica difere da linguagem convencional que falamos de dia,
uma lógica em que as categorias dominantes não são o espaço e
o tempo, mas sim a intensidade e a associação. É o único idioma
universal jamais criado pela raça humana, o mesmo para todas
as criaturas e para todo o curso da história. É uma língua com
gramática e sintaxe próprias, por assim dizer, e cujo conhecimento
é imprescindível para se poder entender o significado dos mitos,
dos contos de fadas e dos sonhos (FROMM, 1983, p. 16).

O argumento explicitado por Fromm é o de que a linguagem simbólica é


específica e bem diferente da linguagem racional e cotidiana. Esse argumento é
básico para sua obra, que visa justamente analisar essa especificidade e explicar
as características da linguagem simbólica. Nesse parágrafo há um conjunto
de enunciados fundamentais que constituem o argumento que, por sua vez, é
fundamental para entender o livro de Fromm.
Um elemento necessário para entender o discurso unitário é sua estru-
tura. A estrutura do discurso é composta pelos signos e enunciados fundamentais
articulados com as proposições e argumentos que expressam a mensagem
sobre o tema. Não é preciso ressaltar, aqui, que se trata dos signos e enunciados
fundamentais, o que significa que existem signos e enunciados que não são fun-
damentais. Nesse contexto estrutural, existe, no plano dos signos, a unissemia,
ou seja, uma coerência e unidade semântica. Os signos são do discurso e os
sentidos são coerentes, estáveis e adaptados aos enunciados, proposições e

Língua, Literatura e Cultura: sob a perspectiva do discurso


210
argumentos fundamentais. Os enunciados, proposições e argumentos funda-
mentais que formam, ao lado dos signos fundamentais, a estrutura do discurso,
também são coerentes, articulados, estáveis.
Além da estrutura é possível reconhecer a existência de uma conjun-
tura. A estrutura, para se manifestar, precisa utilizar signos, enunciados, propo-
sições, que não são fundamentais e sim complementares. Nesse caso, trata-se
de elementos complementares ocasionais11. No caso do pensamento filosófico
e científico, isso ocorre com frequência. Entre uma obra ou outra, ou em con-
textos diferentes, os termos podem ser usados com distintos sentidos. Às vezes
isso pode ocorrer num mesmo texto. Esse é o caso de Marx, que usa o termo
“abstração” em dois sentidos diferentes. Um sentido é o pejorativo, na qual
dizer que algo é uma “abstração” significa que é equivocado. O outro sentido
é o dialético, o sentido próprio que Marx atribuiu a tal expressão, a partir de
Hegel. Dois trechos mostram isso:

No entanto, numa observação atenta, apercebemo-nos de que há


aqui um erro. A população é uma abstração se desprezarmos, por
exemplo, as classes de que se compõe. [...]. Assim, se começássemos
pela população teríamos uma visão caótica do todo, e através
de uma determinação mais precisa, através de uma análise,
chegaríamos a conceitos cada vez mais simples; do concreto
figurado passaríamos a abstrações cada vez mais delicadas até
atingirmos as determinações mais simples (MARX, 1983, p. 218-219).

Quando ele trata do erro e afirma que, nesse caso, “a população é uma
abstração”, usou o sentido pejorativo, que é o mais comum para essa palavra.
Quando trata do processo correto (tal como se vê no conjunto do texto e acima
é possível perceber parcialmente com a expressão “através de uma análise”),
usa “abstrações cada vez mais delicadas” como algo positivo. Assim, a abstra-
ção dialética, um elemento peculiar do pensamento de Marx, se distingue da
abstração metafísica (que preferimos denominar “abstratificação” para evitar

11 Alguns podem ser esboços de elementos que, no futuro, se tornarão fundamentais, e outros meramente ocasio-
nais. Assim, quando Marx escreveu A Ideologia Alemã, ele usou o termo “modo de produção” uma vez (ou
poucas vezes) (MARX; ENGELS, 1982) e não tinha a importância que assumiria posteriormente quando ele o
transforma em um conceito (e substitui “formas de propriedade”, tal como estava nessa obra).

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confusão), que é um elemento conjuntural para este autor. No pequeno e
incompleto trecho acima já podemos identificar alguns signos que fazem parte
da estrutura do discurso de Marx, tal como classes, determinação, conceitos,
concreto, etc. No mesmo trecho é possível perceber elementos da conjuntura
discursiva: observação, erro etc., que são os signos tal como utilizados na lin-
guagem cotidiana.
Assim, na estrutura discursiva, temos unissemia dos signos, bem como
coerência de enunciados e argumentos. Na conjuntura discursiva, temos a pos-
sibilidade de polissemia (no exemplo acima é um termo usado em dois sentidos
diferentes, o que parecer ser contraditório, mas não é quando se percebe o
caráter conjuntural em que o termo aparece num dos casos).
Sem dúvida, existem discursos mais simples e que, portanto, podem ser
distintos, sendo predominantemente conjunturais ou, tal como em discursos que
apesar da simplicidade são muito “fechados”, como uma pequena declaração
dogmática, podem ser predominantemente estruturais. Por outro lado, existem
discursos menos estruturados, mesmo que prolixos e aparentemente complexos.
Nesses casos, é possível que até em sua estrutura haja contradições, sendo que
sua unissemia e coerência é fraca. Esse é o caso de autores que não dominam
a estrutura de um determinado discurso, mas buscam expressá-la, tal como
um aluno de graduação que tenta expressar uma síntese escrita do livro de
Durkheim (1974), As Regras do Método Sociológico. A estrutura do discurso de
Durkheim existe em sua integridade, mas a exposição do aluno não dá conta de
reproduzi-la e assim gera polissemia e incoerência (o que pode aumentar mais
ainda se esse aluno for “disperso” e tentar relacionar esse autor com outros,
gerando proximidades inexistentes na realidade discursiva desse pensador).
Isso significa que a estruturação de um discurso é relativa, depende do
autor, dos interesses, entre diversos outros aspectos. Mas, geralmente, quando
ele tem um nível de complexidade mais elevado, tende a ser mais estruturado e
menos contraditório. O nível de complexidade do discurso tende a elevar o seu
nível de estruturação. Porém, existem outras determinações, tal como o autor
e seu contexto, entre outras.
Há também diferenças de acordo com os gêneros de discurso. A estru-
tura pode assumir determinadas diferenças, bem como o seu grau de estru-
turação. Um discurso literário, por exemplo, terá enunciados figurativos, só

Língua, Literatura e Cultura: sob a perspectiva do discurso


212
para citar um exemplo. Por isso é importante entender que os enunciados, as
proposições e os argumentos assumem formas e funções diferenciadas depen-
dendo do contexto discursivo. Partido do caso dos enunciados, eles assumem
variadas formas. Um enunciado figurativo num discurso científico tem signifi-
cado distinto que num discurso literário, bem como é censurado num discurso
legislativo. O enunciado “isso é verdade” é o mesmo em qualquer discurso, mas
se estiver sob a forma irônica, não quer dizer a mesma coisa. Da mesma forma,
um enunciado assume funções distintas dependendo do contexto discursivo
ou do gênero de discurso. Dois enunciados de Fromm citados anteriormente,
ajudam a entender isso: “à medida que vamos envelhecendo, aos poucos per-
demos a capacidade de ficarmos surpresos”. A função do primeiro enunciado
é a de contextualização (o envelhecimento) e a do segundo é o de constatação
(perdemos a capacidade de nos surpreendermos).
As formas e funções se manifestam também no caso das proposições e
argumentos. Não é necessário explicitar isso aqui, mas, para que tal afirmação
não fique sem nenhuma fundamentação, traremos um caso concreto para
confirmar isso. No presente texto, a citação de Marx sobre abstração teve a
função de ilustração da ideia de que um autor pode utilizar dois sentidos para
uma mesma palavra num mesmo texto. A citação de Marx é uma proposição
cuja função foi a de ilustração. A forma dessa proposição foi alusiva, pois se
apelou para o pensamento de um outro autor.
É na estrutura do discurso que encontramos a mensagem sobre o tema
que ele aborda. Assim, os signos, enunciados, proposições e argumentos giram
em torno da mensagem e do tema. Eles não são autônomos, independentes,
como alguns formalismos deduzem (obviamente de outros aspectos do discurso,
usando outros termos, embora alguns se aproximem do léxico aqui trabalhado).
Eles estão orientados pela mensagem que o autor do discurso quer repassar
a respeito de um determinado tema. As opções por determinados signos e
sentidos, por determinados enunciados, proposições e argumentos não são
gratuitas. Elas derivam da mensagem que se quer passar sobre determinado
tema e por isso estão vinculados com elementos além e acima dos discursos,
pois possuem origem extradiscursiva. Embora seja possível identificar qual é
a mensagem sobre determinado tema, bem como o tema, existem elementos
que dificilmente são perceptíveis. Trataremos disso adiante. De qualquer forma,

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independentemente disso, geralmente o autor quer passar uma mensagem e,
dependendo de qual é ela, será necessário clareza, objetividade, etc. Mesmo
num discurso literário, que é uma expressão figurativa da realidade, o autor pode
fornecer pistas para uma interpretação que consiga entender a mensagem,
além da própria estrutura discursiva. Porém, a estrutura do discurso literário,
em si, apresenta a mensagem, que, obviamente, raramente será clara e objetiva,
o que permite uma variedade enorme de interpretações. Em outras formas de
discurso, esse problema é geralmente menor.
Se retomarmos o exemplo do livro de Erich Fromm, A Linguagem Esque-
cida, veremos uma estrutura de discurso coerente, unissêmica, na qual há um
processo no qual uma mensagem é enviada sobre a “linguagem simbólica”, que
é o tema-chave da obra e se desdobra nos subtemas principais do mito, sonhos
e contos de fadas e dos secundários (literatura, ritual). Os signos, enunciados,
proposições e argumentos giram em torno do tema, que é a “linguagem sim-
bólica”, e da mensagem, que é explicar o seu significado e a necessidade de
compreendê-la. A mensagem apresenta uma determinada concepção do que
é linguagem simbólica e de como podemos compreendê-la (como realizar sua
interpretação). Uma grande diversidade de signos, geralmente oriundos da psi-
canálise tal como assimilados por Fromm, aparece. A definição de “linguagem
simbólica” é um exemplo óbvio e sua definição de “símbolo universal”, “símbolo
convencional” e “símbolo acidental” são outros signos que são fundamentais
e compõe a unissemia do seu discurso. O seu enunciado “o estado do sono
tem uma função ambígua”, entre diversos outros, é fundamental para enten-
der sua análise dos sonhos. Assim, existe um léxico, um código, enunciados,
proposições e argumentos fundamentais que formam a estrutura do seu dis-
curso. Da mesma forma, o léxico, o código, os enunciados, as proposições e os
argumentos, que incluem aqueles que não são fundamentais, formam um todo
que é o seu discurso expresso no seu livro, cuja mensagem e tema já expres-
samos. Só faltaria aqui explicitar qual é a mensagem, ou seja, como explica o
que é e como interpreta a linguagem simbólica, o que não é nosso objetivo e
seria muito extenso para expor aqui.
Para finalizar esse tópico, é fundamental deixar claro que o tema é fun-
damental, pois a mensagem remete a ele. A mensagem, no entanto, também
é fundamental, pois é ela que coloca uma posição sobre o tema (o que implica

Língua, Literatura e Cultura: sob a perspectiva do discurso


214
sua definição, análise, avaliação etc.). Nesse sentido, a estrutura do discurso
gira em torno do tema e da mensagem e se materializa nos signos, enuncia-
dos, proposições e argumentos utilizados. A mensagem sobre o tema é o que
determina quais são os elementos fundamentais escolhidos. A abordagem de
Fromm emerge a partir de uma perspectiva humanista e psicanalítica, com
influência de Marx, e isso é basilar em sua análise da linguagem simbólica, ou
seja, de sua mensagem sobre esse tema. É por isso que ocorre a admissão da
existência de “símbolos universais”, coisa inadmissível para determinadas outras
concepções. Essa estrutura do discurso de Fromm é complementada por uma
conjuntura discursiva, tal como se vê nos capítulos dedicados à “Freud e Jung”
e à “história da interpretação dos sonhos”. Esses dois capítulos expressam
elementos referenciais e fontes de inspiração, mas a abordagem de Fromm é
peculiar, assimiladora e, por conseguinte, se estes dois capítulos fossem retirados,
a obra continuaria compreensível e a mensagem sobre o tema ficaria intacta
(mais ainda com citações e referências que cobririam as lacunas informativas
sobre as fontes de inspiração e elementos assimilados).
A conjuntura discursiva é importante para compreender o discurso, pois
é o que complementa e possibilita a estrutura. A conjuntura é complementar
e pode ser dividida em complemento primário e secundário. O complemento
primário é mais importante, sendo um elemento derivado e vinculado à estrutura
discursiva, mas sem desenvolvimento, e o secundário é todo o resto, sendo um
elemento de materialização linguística, sem vínculo mais desenvolvido com o
discurso. O uso do termo “inconsciente” por um sociólogo que trata de repre-
sentações e não apresenta definições e nem aprofundamento, mas que numa
obra posterior realiza sua definição e discussão, é um complemento primário da
conjuntura discursiva, pois ele era uma necessidade no interior do discurso, mas
não foi desenvolvido. Se, no mesmo texto aparece os termos “vida”, “cidade”,
“comparação”, assim como dezenas de outros, que nada tem a ver com a sua
estrutura discursiva, então é um complemento secundário e seu significado
remete à linguagem cotidiana.

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A CONSTITUIÇÃO SOCIAL DO DISCURSO

Apresentamos, até aqui, uma definição de discurso e uma reflexão sobre


seus elementos constitutivos. Os discursos, no entanto, não são obras do acaso.
Eles são fenômenos concretos, possuem não apenas uma totalidade interna
(estrutura e conjuntura, tal como colocamos anteriormente) e uma essência
(a estrutura discursiva), mas também possuem uma historicidade, bem como
estão inseridos em outra totalidade, mais ampla, que é a sociedade, possuindo,
por conseguinte, múltiplas relações.
Nesse sentido, é necessário entender as determinações do discurso, ou
seja, como ele é constituído. Um discurso emerge numa determinada época,
lugar, situação. Porém, não é possível entender o discurso sem entender o autor
do discurso. O discurso, tal como definido anteriormente (e mesmo subtraindo tal
definição), é uma manifestação da consciência. E a consciência não existe em si
e por si. “A consciência não é nada mais que o ser consciente” (MARX, ENGELS,
1982). Essa constatação é fundamental, pois, parafraseando-a, podemos dizer
que o discurso não é nada mais que uma expressão do ser que discursa. Esse
ser é o autor do discurso. Um discurso é o seu autor discursando.
O autor do discurso, por sua vez, não é um ser abstratificado, por mais
que apareça assim na maioria das ideologias. O autor do discurso é um indiví-
duo de carne e osso, que nasceu em determinado lugar e época, que pertence
a determinada classe social, bem como a outras coletividades. Na sociedade
moderna, o autor do discurso está envolvido pelo conjunto de relações desta
sociedade, da qual não pode escapar. O seu processo histórico de vida, que foi
responsável por gerar seus valores fundamentais, seus sentimentos mais pro-
fundos e concepções mais arraigadas, ou seja, sua mentalidade, bem como sua
singularidade psíquica (ou seja, sua personalidade), ocorreu nessa sociedade,
sendo que ele foi criado nela e para ela, gerando determinados interesses. Sem
dúvida, isso varia de acordo com sua inserção nessa sociedade, desde o caso
familiar até a classe social de pertencimento, em contexto culturais, políticos
e econômicos que variam de indivíduo para indivíduo. O que interessa é que o
autor do discurso é um ser social. E assim como não é possível subtrair o autor
do discurso, não é possível subtrair o ser social do autor.

Língua, Literatura e Cultura: sob a perspectiva do discurso


216
Assim, a constituição social do discurso é algo facilmente perceptível, pois
quem produz o discurso é um ser social. E isso significa um conjunto de deter-
minações. A determinação fundamental é a perspectiva de classe desse autor, o
que revela o seu campo axiomático, os valores fundamentais, sentimentos mais
profundos e concepções mais arraigadas desse indivíduo, bem como seus inte-
resses. Claro que em alguns casos a determinação fundamental pode ser outra.
Esse é o caso de autoria duvidosa (um indivíduo é o autor, mas ele, por exemplo,
pagou para outra pessoa escrever e por isso as ideias não são exatamente as
suas convicções, mas sim as do real escritor) ou de autoria forçada (uma carta
que um sequestrado deve escrever a mando e sob diretrizes dos sequestradores,
por exemplo). Esses casos extremos e mais raros podem ser complementados
pelo caso de estudantes e outros que escrevem discursos (prova, por exemplo)
de forma totalmente desinteressada e descompromissada, querendo apenas
agradar outros ou cumprir obrigações cujo teor não lhes interessa.
Vamos, no entanto, deixar esses casos de lado e focalizar nos casos de
discursos em que os autores estão comprometidos, pelo menos relativamente,
com sua mensagem. Para saber como o autor chegou ao produto final que é
o seu discurso, é preciso, além de saber dele e de sua inserção na sociedade,
entender como o mundo e especialmente os aspectos da sociedade que mais
lhe atingem estavam no contexto da escrita. Por outro lado, essa situação da
sociedade gera processos culturais e alterações em instâncias específicas nas
quais muitos indivíduos estão envolvidos e nos quais muitos discursos (inclusive
os especializados) são produzidos.
Para compreender todos esses processos é necessária uma teoria da
sociedade capitalista, uma teoria do desenvolvimento capitalista, uma teoria
do desenvolvimento cultural da sociedade moderna. Sem essa base teórica, a
compreensão do discurso se vê comprometida. Não será possível, no presente
espaço, nem sequer esboçar tais elementos. Nesse sentido, teremos apenas que
colocar o referencial teórico básico para que se possa, a partir dele, entender
o que virá a seguir. A teoria do capitalismo, em suas grandes linhas, pode ser
encontrada na obra de Marx (1988), a teoria do desenvolvimento capitalista (que
é importante por mostrar suas mutações em cada época, o que tem impacto
sobre os discursos de cada período dessa sociedade) pode ser encontrada na
teoria dos regimes de acumulação (VIANA, 2009B; VIANA, 2015; ALMEIDA,

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2020), uma teoria da cultura tem vários esboços e devido sua complexidade
pode ser encontrada em algumas obras sobre a mentalidade dominante, a epis-
teme burguesa e as renovações hegemônicas com a sucessão de paradigmas
que detém a hegemonia em cada fase do capitalismo (VIANA, 2008, VIANA,
2018, VIANA, 2019b).
Desta forma, fica mais fácil entender a constituição social do discurso. O dis-
curso de Michel Pêcheux e suas três fases12 só pode ser compreendido a partir
de uma contextualização social, cultural e discursiva (VIANA, 2023). As muta-
ções no seu discurso sofreram impactos das mudanças sociais e culturais da
época em que foram produzidos. Assim, os autores dos diversos discursos estão
marcados pelo contexto social e histórico, bem como pelo cultural e discursivo
no qual estão inseridos.
Além dessas determinações mais gerais do discurso, existem outras
mais específicas. O lugar onde o discurso emerge pode exercer um impacto
sobre ele. Claro que isso varia de acordo com o autor (desde sua mentalidade
e personalidade, até as suas idiossincrasias menos importantes, como vínculo
com o lugar, embora, em alguns casos, isso pode ser fundamental e ganhar
peso explicativo). O lugar pode ser uma cidade, estado ou país e o vínculo que
o autor tem com ele. Um nacionalista, por exemplo, vai ter um impacto muito
maior em sua produção discursiva do país e da cultura local do que um ana-
cionalista. As suas leituras, preocupações etc., estarão voltados para a nacio-
nalidade, as questões locais, os demais autores nacionais e suas concepções,
etc. Um professor universitário convencido da importância da universidade
e do saber escolar vai ter uma influência muito mais forte em sua produção
discursiva do que um outro que é crítico da própria instituição ou alguém que
não tem vínculos com tal instituição.
Mais do que o lugar, as motivações do discurso são importantes para
entender e explicar determinadas manifestações discursivas. Dentre as motiva-
ções dos discursos, uma das mais constantes são os interesses pessoais, que
muitas vezes se mesclam como interesses profissionais e de classe. Um ataque

12 Que ele mesmo descreveu (PÊCHEUX, 2010), embora tenha sido uma descrição e não uma explicação, o que se
vê em outro lugar (VIANA, 2023).

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218
encolerizado de um intelectual contra outro surge, ou de sua mentalidade ou
de seus interesses (e geralmente ambos estão unidos). As críticas de Bourdieu
ao neoliberalismo, à globalização e à “imposição do modelo americano”, bem
como sua oposição aos Think Thanks conservadores e “sociologia soft” e dis-
curso surpreendente em defesa de um “conhecimento engajado” e de um “novo
movimento social europeu” (BOURDIEU, 1998; BOURDIEU, 2001) só podem ser
compreendidas através das mudanças sociais (que ele denuncia) e de como
isso atinge ele e sua posição na esfera científica e subesfera sociológica13.
Outro elemento que ajuda a compreender a constituição de um discurso
é seu objetivo. A motivação é o que move o autor, mas o objetivo é o que ele
pretende com o seu discurso. O objetivo de um discurso eleitoral, por exemplo,
é convencer os eleitores a votar em um determinado candidato ou partido.
Quando Santo Anselmo gerou o “argumento ontológico”, o seu objetivo explí-
cito era provar racionalmente a existência de Deus. O objetivo é muitas vezes
explicitado no próprio discurso. Porém, é possível existir também um objetivo
implícito. No caso do discurso de Bourdieu acima aludido, o objetivo explícito
era criticar as mazelas das mudanças do capitalismo contemporâneo, tais como
americanização, neoliberalismo etc. O objetivo implícito é a busca de recupera-
ção de hegemonia na subesfera sociológica. Note-se que a motivação contribui
para entender o objetivo implícito. É possível também a existência de objetivos
secundários. Um estudante de mestrado pode escrever uma tese de doutorado
com o objetivo explícito de concluir o curso, mas, de forma implícita, poderia
ter a intenção de realizar uma crítica a algum posicionamento e como objetivo
secundário a inserção em alguma escola de pensamento.
Um outro elemento determinante do discurso é a sua função geral e
funções específicas. Um discurso ideológico tem a função geral de justificar e
legitimar determinadas relações sociais e um discurso ideológico de um autor
que busca sucesso acadêmico pode expressar a função específica de inovação
para conseguir destaque e espaço.

13 Como ele mesmo explica em sua análise do “campo científico” (BOURDIEU, 1994), os dominados no interior
deste tendem a ser críticos e os dominante tendem a ser conservadores. A sua passagem pessoal de dominante
para dominado, no novo contexto neoliberal, explica sua mudança de posição.

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Existe também determinações formais sobre os discursos, pois os autores
seguem normas, que podem as da gramática, as do gênero discursivo, as das
normas impostas por instituições, etc. Nesse caso se destaca o gênero discursivo,
pois os autores sempre buscam seguir as regras do gênero, seja por buscar
se inserir dentro de uma tradição ou especialização, seja por necessidade de
atingir seus objetivos. O discurso religioso tem regras que são seguidas mesmo
por quem não tem consciência dela e não as compreende, apenas através do
processo de imitação e busca de atingir os objetivos estabelecidos.
Em síntese, o discurso é constituído socialmente. Isso mostra que a
compreensão do discurso requer uma compreensão das relações sociais e
seus derivados. O autor do discurso é o ser social que é constituído social e
historicamente e repassa isso para seu discurso. Quando se lê um discurso se
vê apenas o escrito, não é imediatamente acessível o sobrescrito (a constituição
social do discurso) e o subscrito (o implícito), tal como no discurso legislativo
se vê apenas a lei, mas não o seu processo social de produção (os embates
políticos por detrás disso) e o que fica implícito (VIANA, 2019b).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O nosso objetivo no presente texto foi apresentar elementos para uma


teoria do discurso, que fazem parte de um projeto em andamento de uma obra
mais ampla e extensa que visa materializar essa formulação teórica. Nesse
esboço dos elementos para uma teoria do discurso, focalizamos nos aspectos
fundamentais: o conceito de discurso, os seus elementos constitutivos e sua
formação social. Esses elementos são fundamentais para o desenvolvimento de
uma análise dialética do discurso, que é parte desse projeto teórico. Os próxi-
mos passos teóricos devem aprofundar e desenvolver o que foi aqui esboçado
e abrir novos horizontes teóricos e analíticos.

REFERÊNCIAS
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Contemporâneo. Goiânia: Edições Redelp, 2020.

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