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Nildo Viana
Universidade Federal de Goiás (UFG)
' 10.37885/231215152
RESUMO
O CONCEITO DE DISCURSO
1 Não é possível aqui discutir a complexidade da questão do autor (e nem dos demais aspectos e por isso nosso
texto apresenta “elementos” para uma teoria do discurso e não tal teoria já desenvolvida, o que promoveria a
necessidade de diversos desdobramentos e aprofundamentos). Apenas para deixar claro essa complexidade
que aqui não é abordada, é possível recordar que existem discursos que possuem autoria coletiva, bem como
outros possuem autoria anônima. O discurso legislativo, tal como se observa nas leis instituídas, é de autoria
coletiva (VIANA, 2019a) e o discurso manifesto no Protocolo dos Sábios do Sião é apócrifo, o que geram diferen-
ças e processos específicos para sua análise.
2 Depois de escrever esse trecho, derivado de reflexões anteriores à escrita, encontramos em uma obra de
Bakhtin uma percepção semelhante: “este destinatário pode ser um participante-interlocutor direto do diálogo
cotidiano, pode ser uma coletividade diferenciada de especialistas de algum campo especial da comunicação
cultural, pode ser um público mais ou menos diferenciado, um povo, os contemporâneos, os correligionários, os
adversários e inimigos, o subordinado, o chefe, um inferior, um superior, uma pessoa íntima, um estranho etc.;
ele também pode ser um outro totalmente indefinido, não concretizado [...]” (BAKHTIN, 2016, p. 62-63).
3 Dificuldade não quer dizer impedimento, embora existam níveis de dificuldade e, em alguns casos, pode ser
praticamente impossível um entendimento devido às características do discurso ou do destinatário. A conver-
gência perspectivla, isto é, quando autor e destinatário possuem a mesma perspectiva (de classe, de ideologia,
de valores etc.) facilita a compreensão do discurso explícito ou da mensagem intencional, mas nem sempre
possibilita a compreensão do implícito e de mensagens subliminares.
4 É possível um discurso ter mais de um tema e possuir vários subtemas, mas o mais comum é um tema funda-
mental, que pode estar acompanhado por outros temas e subtemas ou não.
5 No caso do discurso falado, seria identificado na fala (que pode ser transcrita, assumindo a forma de escrito e
facilitando o mesmo trabalho analítico, embora este deva reconhecer o caráter de transcrição e, por conseguin-
te, especificidades da fala transcrita e sua diferença com o escrito).
9 Alguns usam “subidioma” como sinônimos de “dialetos”. Porém, consideramos que os dialetos são variações
regionais de um idioma, tal como é geralmente concebido, e subidiomas são campos linguísticos, ou seja,
produções lexicais e semânticas no interior de um idioma, tendo ele como base linguística. Assim, se Freud
criou um campo linguístico ou subidioma, o fez no interior do idioma alemão e que se caracterizou pela criação
lexical, tal como alguns neologismos, e, fundamentalmente, por ressignificação (novos sentidos para palavras já
existentes em alemão, como, por exemplo, o termo “inconsciente”). A respeito dos campos linguísticos, cf. Viana
(2018).
10 Assim, nossa concepção tem certa semelhança com a de Bakhtin (2016), mas também tem diferenças. Bakhtin
é um tanto impreciso em sua concepção de enunciado, que, às vezes, é identificado com discurso.
Quando ele trata do erro e afirma que, nesse caso, “a população é uma
abstração”, usou o sentido pejorativo, que é o mais comum para essa palavra.
Quando trata do processo correto (tal como se vê no conjunto do texto e acima
é possível perceber parcialmente com a expressão “através de uma análise”),
usa “abstrações cada vez mais delicadas” como algo positivo. Assim, a abstra-
ção dialética, um elemento peculiar do pensamento de Marx, se distingue da
abstração metafísica (que preferimos denominar “abstratificação” para evitar
11 Alguns podem ser esboços de elementos que, no futuro, se tornarão fundamentais, e outros meramente ocasio-
nais. Assim, quando Marx escreveu A Ideologia Alemã, ele usou o termo “modo de produção” uma vez (ou
poucas vezes) (MARX; ENGELS, 1982) e não tinha a importância que assumiria posteriormente quando ele o
transforma em um conceito (e substitui “formas de propriedade”, tal como estava nessa obra).
12 Que ele mesmo descreveu (PÊCHEUX, 2010), embora tenha sido uma descrição e não uma explicação, o que se
vê em outro lugar (VIANA, 2023).
13 Como ele mesmo explica em sua análise do “campo científico” (BOURDIEU, 1994), os dominados no interior
deste tendem a ser críticos e os dominante tendem a ser conservadores. A sua passagem pessoal de dominante
para dominado, no novo contexto neoliberal, explica sua mudança de posição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Felipe Mateus de (Org.). O Regime de Acumulação Integral. Retratos do Capitalismo
Contemporâneo. Goiânia: Edições Redelp, 2020.
BOURDIEU, Pierre. Contrafogos 2. Por um movimento social europeu. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BOURDIEU, Pierre. Contrafogos. Táticas para Enfrentar a Invasão Neoliberal. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1998.
BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, Renato (Org.). Bourdieu. 2. ed. São Paulo: Ática, 1994.
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. 6. ed. São Paulo: Nacional, 1974.
FROMM, Erich. A Linguagem Esquecida. Uma Introdução ao Entendimento dos Sonhos, Mitos e
Contos de Fadas. 8. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach). 3. ed. São Paulo: Ciências
Humanas, 1982.
MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
MARX, Karl. O Capital. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. v. 1, 5 vols.
PÊCHEUX, Michel. Análise do Discurso: Três Épocas (1983). In: GADET, Francoise; HAK, Tony (Orgs.).
Por uma Análise Automática do Discurso. Uma Introdução à Obra de Michel Pêcheux. 4. ed.
Campinas: Editora da Unicamp, 2010.
VIANA, Nildo. Contribuição à Crítica da Análise Automática do Discurso. In: ALMEIDA, Flávio; SILVA,
Marcelo (Orgs.). Ciências humanas e sociais: tópicos atuais em pesquisa. Guarujá: Científica
Digital, 2023.
VIANA, Nildo. Linguagem, Discurso e Poder – Ensaios sobre Linguagem e Sociedade. Pará de
Minas: Virtualbooks, 2009.
VIANA, Nildo. O Capitalismo na Era da Acumulação Integral. São Paulo: Idéias e Letras, 2009b.
VIANA, Nildo. O Modo de Pensar Burguês. Episteme Burguesa e Episteme Marxista. Curitiba: CRV, 2018.
VIANA, Nildo. Políticas de Saúde no Brasil e Discurso Legislativo. Uma Análise Dialética do
Discurso. Rio de Janeiro: Saramago, 2019a.
VIANA, Nildo. Universo Psíquico e Reprodução do Capital. Ensaios Freudo-Marxistas. São Paulo:
Escuta, 2008.