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PARTE 1

OTOLOGIA
Capítulo 1
Anatomia da orelha
Neivo Luiz Zorzetto

O órgão vestibulococlear, ou simplesmente orelha, é o é responsável pela captação do som; e, também, pelo meato
complexo morfofuncional responsável pela sensibilidade ao acústico externo, um curto conduto que se dirige do exterior
som e aos efeitos gravitacionais e do movimento. A orelha está para o interior do órgão e que se apresenta fechado na extre-
abrigada na intimidade do osso temporal (Figura 1.1) e con- midade interna pela membrana do tímpano (Figura 1.2).
siste em três partes, cada qual com características estruturais e A segunda parte, a orelha média, é formada principal-
funcionais distintas, situadas no osso temporal: a orelha exter- mente por uma pequena câmara cheia de ar na porção petrosa
na, a orelha média e a orelha interna (Figura 1.2). do osso temporal denominada cavidade do tímpano. Essa ca-
A primeira parte, a orelha externa, é formada pelo pavi- vidade comunica-se com a nasofaringe por um canal osteocar-
lhão da orelha ou pina, que se projeta lateralmente à cabeça e tilaginoso chamado tuba auditiva. Em direção oposta à tuba, a

Escama do osso temporal

Processo
Canais zigomático
semicirculares

Cavidade do Cóclea
tímpano

Seio
sigmóide
Nervo
facial

Veia jugular
interna Artéria carótida
interna

FIGURA 1.1 Vista do osso temporal e projeção das estruturas associadas com o órgão vestibulococlear.

Anatomia da orelha 23
Músculo
temporal
Osso
temporal
Membrana timpânica

Recesso
epitimpânico
Martelo, bigorna, estribo

Canais semicirculares

Hélice

Nervo facial

Concha Nervo
vestibular
Nervo
Meato acústico coclear
externo
Cóclea

Tuba
auditiva

Artéria carótida
interna
Lóbulo do
ouvido Veia jugular
Processo interna
mastóide
FIGURA 1.2 Corte semi-esquemático mostrando as orelhas externa, média e interna.

cavidade do tímpano liga-se também ao antro mastóideo e, – uma cavidade óssea, de dimensões milimétricas, deno-
assim, com as células do processo mastóide do osso temporal. minada vestíbulo;
Uma cadeia de três ossículos articulados, situados na cavidade – três canais semicirculares ósseos;
do tímpano, estende-se da membrana do tímpano até a orelha – a cóclea óssea, a qual tem forma semelhante à de um
interna e é responsável pela transmissão das vibrações provoca- caracol.
das pelas ondas sonoras que incidem sobre a membrana tim- Na cavidade do vestíbulo há duas vesículas do labirinto
pânica. Pode-se dizer que o complexo tímpano-ossicular tem a membranáceo, o utrículo e o sáculo. Nos canais semicirculares,
importante função de transferir a energia das vibrações do meio localizam-se os ductos semicirculares membranáceos, e, na cóclea
aéreo, elástico e compressível do ouvido externo a fim de mo- óssea, o ducto coclear, também membranáceo. A cóclea e – pos-
dificar a inércia dos líquidos, incompressíveis, que envolvem sivelmente também o sáculo – são estruturas associadas à audição
os receptores especializados do ouvido interno (Figura 1.2). enquanto o utrículo, o sáculo e os ductos semicirculares estão
A terceira porção, a orelha interna, consiste em um in- associados ao movimento e ao equilíbrio (Figura 1.2).
trincado conjunto de cavidades e canais no interior da por-
ção petrosa do osso temporal, conhecidos como labirinto ós- ORELHA EXTERNA
seo, dentro dos quais existem delicados ductos e vesículas mem-
branosas, designadas, no seu conjunto, labirinto membraná- Pavilhão da orelha
ceo, o qual contém as estruturas vitais da audição e do equilí- O pavilhão da orelha, ou, ainda, pina, é formado por uma
brio. O labirinto ósseo é formado por: placa irregular de cartilagem elástica coberta de pele, que lhe

24 Otorrinolaringologia
confere forma peculiar, com depressões e elevações; no con- são encontradas nas duas faces da orelha, mais concentradas
junto, exibe uma superfície lateral de aspecto côncavo e uma na concha, na fossa escafóide e na fossa triangular. Há poucas
superfície medial convexa correspondente (Figura 1.3). glândulas sudoríparas, assim mesmo dispersas.
A depressão mais profunda, denominada concha au- Dois grupos de ligamentos contribuem na fixação da
ricular, é parcialmente dividida por uma saliência oblíqua, a orelha: extrínsecos e intrínsecos.
cruz da hélice, por uma parte superior chamada cimba e por Três ligamentos extrínsecos podem ser identificados no
outra, inferior e mais larga, dita concha. Esta última é orienta- tecido conjuntivo:
da para o meato acústico externo. – o ligamento anterior, estendendo-se do processo zigo-
A cavidade da concha é limitada anteriormente pelo tra- mático do osso temporal até o trago e a hélice;
go. O trago está separado da cruz da hélice por uma depres- – o ligamento superior, estendendo-se da margem supe-
são, a incisura anterior, onde às vezes ocorre um pequeno tu- rior do meato acústico externo ósseo até a espinha da hélice,
bérculo supratrágico. Em situação oposta, porém um pouco que é uma pequena projeção cartilaginosa onde a hélice se
abaixo do plano do trago, existe outra projeção, o antitrago, curva para cima;
que limita posteriormente a cavidade da concha; entre ambos, – o ligamento posterior, estendendo-se do processo mas-
há uma incisura antitrágica profunda (Figura 1.3). tóide até a eminência da concha, que é uma elevação da superfí-
O limite superior e posterior da concha é dado por uma cie medial produzida pela depressão da concha na face lateral.
proeminência semicircular denominada anti-hélice. Esta di- Os ligamentos intrínsecos são dois: uma cinta fibrosa que
vide-se superiormente em dois ramos – os ramos da anti-hélice, vai do trago à hélice, delimitando a concha; uma segunda cinta
entre os quais se forma a fossa triangular rasa (Figura 1.3). fibrosa, que une a anti-hélice à extremidade inferior da hélice.
A margem superior e posterior da orelha curva-se ante- Os músculos extrínsecos da orelha são três: anterior, su-
riormente formando a hélice e estende-se, inferiormente, até perior e posterior (Figura 1.4).
o lóbulo. O lóbulo é formado por tecido fibroso e adiposo, O músculo auricular anterior é um músculo delgado de
sem cartilagem. Entre a hélice e a anti-hélice, forma-se uma fibras indistintas, em forma de leque, que se origina na apo-
extensa depressão, chamada fossa escafóide. Na margem livre neurose epicrânica e insere-se na espinha da hélice.
e superior da hélice, é freqüente a presença de um tubérculo O músculo auricular superior, também em forma de le-
auricular, o qual corresponde ao ápice da orelha de alguns que, relativamente desenvolvido, nasce na aponeurose epicrâ-
macacos adultos (Figura 1.3). nica e estende-se até a face medial da orelha.
Estruturalmente, a orelha é constituída por uma fina O músculo auricular posterior é formado por dois fascí-
placa de cartilagem elástica, coberta por pele e unida às partes culos que se originam no processo mastóide e inserem-se na
adjacentes por músculos e ligamentos. É contínua à parte car- eminência da concha.
tilaginosa do meato acústico externo, que se prende à porção São descritos seis músculos intrínsecos muito variáveis e
óssea por tecido fibroso. pouco desenvolvidos no homem.
Na superfície lateral da orelha, a pele adere-se firmemente
ao pericôndrio, o qual contém muitas fibras elásticas, enquanto
a superfície medial apresenta uma camada de tecido subcutâ- Meato acústico externo
neo. Há pêlos em abundância, porém rudimentares, em toda
a orelha; contudo, no trago e no antitrago são longos e espes- O meato acústico externo estende-se da concha à membrana
sos, particularmente em homens idosos. Glândulas sebáceas do tímpano e mede, aproximadamente, 25 mm de compri-

Hélice Músculo auricular superior


Fossa
escafóide Fossa
triangular

Tubérculo
auricular Cruz da
hélice Músculo anterior
Ramos da
anti-hélice Incisura
anterior
Cimba
Trago Músculos intrínsecos
Concha
Incisura
Antitrago antitrágica

Músculo auricular posterior


Lóbulo
FIGURA 1.4 Vista lateral da cartilagem da orelha e dos músculos in-
FIGURA 1.3 Vista lateral da orelha ou pina. trínsecos e extrínsecos laterais.

Anatomia da orelha 25
mento na parede póstero-superior. Todavia, a parede cial e de ramo da occipital. As veias são tributárias das veias
ântero-inferior é cerca de 6 mm mais longa, devido à posição jugular externa e maxilar e do plexo pterigóideo. Na pele da
inclinada da membrana do tímpano (Figura 1.2). orelha são comuns anastomoses arteriovenosas.
Estruturalmente, o meato consiste em um terço lateral A drenagem linfática do pavilhão da orelha e do meato
cartilaginoso e dois terços mediais ósseos. A cartilagem do acústico externo é feita para os linfonodos parotídicos, espe-
meato continua na da orelha e é ligeiramente côncava ante- cialmente para um linfonodo situado imediatamente à frente
riormente, o que facilita a introdução do espéculo puxando-se do trago; a drenagem também é feita para os linfonodos cervi-
a orelha posteriormente. O meato tem a forma de S, e a secção cais profundos superiores e mastóideos do anel pericervical.
transversa é oval ou elíptica. Apresenta duas constricções, uma Os nervos sensitivos da orelha e do meato são o auricu-
na extremidade medial da parte cartilaginosa e outra na parte lotemporal (ramo do mandibular), o auricular magno (ramo
óssea denominada istmo. do plexo cervical, C2 e C3) e o ramo auricular do vago. A
A parte cartilaginosa do meato tem 9 mm de com- concha possivelmente recebe também ramos do facial e do
primento e fixa-se na circunferência da parte óssea por tecido glossofaríngeo. Embora sem confirmação, acredita-se que o
fibroso. A parte óssea é mais estreita e mais comprida (16 mm) nervo facial contribua com a inervação da pele das duas faces
do que a cartilaginosa. Dirige-se medial, anterior e um pouco da orelha, assim como do meato acústico externo e da mem-
inferiormente, formando uma curva suave. A extremidade brana timpânica.
medial do meato ósseo é mais estreita do que a lateral e é mar-
cada por um sulco, o sulco timpânico, onde se insere o ânulo
fibrocartilaginoso da membrana do tímpano (Figura 1.2). ORELHA MÉDIA
A pele que forra o meato é a mesma que reveste a orelha
e estende-se até cobrir a face externa da membrana do tímpa- A orelha média compreende a cavidade timpânica, o antro
no. Essa pele é fina, sem papilas dérmicas, sensivelmente mais mastóideo e a tuba auditiva, que, no conjunto, representam
espessa na parte cartilaginosa do que na óssea, onde é bastante uma câmara pneumática, irregular e contínua através de pas-
fina, sobretudo próximo à membrana do tímpano, onde está sagens, em sua maior parte localizada no osso temporal (Figu-
firmemente presa ao periósteo. A intensa dor provocada pelas ras 1.2 e 1.5). A cavidade timpânica é uma fenda cheia de ar,
inflamações no meato é devida ao exacerbado aumento de ten- comprimida lateralmente, forrada por mucoperiósteo, a qual
são nos tecidos circunjacentes. se estende em um plano oblíquo ântero-posterior e que con-
No tecido subcutâneo da porção cartilaginosa do mea- siste em três partes:
to, são encontradas glândulas sebáceas e ceruminosas e folícu- – cavidade timpânica propriamente dita; corresponde à
los pilosos. Na pele da porção óssea do meato não existem área defronte à membrana do tímpano (mesotímpano);
pêlos nem glândulas, exceto na parede superior. – recesso hipotimpânico (hipotímpano), situado abaixo
As glândulas ceruminosas são túbulos simples e eno- do limite inferior da membrana; e
velados, semelhantes às glândulas sudoríferas da axila. A cera – recesso epitimpânico (epitímpano ou ático), po-
do ouvido, ou cerume, é uma composição de secreções das sicionado acima do limite da membrana.
glândulas ceruminosas e sebáceas. Os ductos das glândulas Nesse recesso encontra-se a articulação incudomalear (en-
ceruminosas abrem-se na superfície do epitélio da pele ou na tre o martelo e a bigorna). A cavidade timpânica mede cerca de
glândula sebácea de um folículo piloso. O cerume evita a en- 15 mm nos diâmetros vertical e ântero-posterior, enquanto que
trada de pequenos corpos estranhos no meato, como insetos,
e também protege o revestimento do meato de possível mace-
ração pela retenção de água. O excesso de cerume, contudo, Teto da
pode resultar em diminuição da audição quando obstrui com- cavidade
timpânica
pletamente o meato, dificultando a vibração da membrana do
Ádito
tímpano. Recesso
As relações da parede anterior do meato com a fossa epitimpânico
mandibular são importantes, visto que os movimentos da
mandíbula influenciam, em parte, a luz do meato cartilagino-
so. A glândula parótida também se relaciona com as paredes
anterior e inferior do meato. A parede superior, na sua extre-
midade lateral, está em relação com a fossa média do crânio, Tuba
auditiva
da qual está separada por uma espessa camada de osso, o que
não ocorre com a extremidade medial, separada do recesso
epitimpânico da orelha média por uma tênue camada óssea. A
parede posterior do meato está separada do antro mastóideo
por 1 a 2 mm de osso e, por essa via (transmeática), o antro Cavidade
Células aéreas timpânica
pode ser alcançado em alguns procedimentos cirúrgicos. As mastóideas
artérias que irrigam a orelha e o meato procedem do ramo
auricular posterior da carótida externa, do ramo auricular pro- FIGURA 1.5 Corte esquemático do osso temporal mostrando os es-
fundo da maxilar, de ramos auriculares da temporal superfi- paços pneumáticos que constituem a orelha média.

26 Otorrinolaringologia
a dimensão transversa é de 6 mm na parte mais alta e 4 mm na O ponto mais deprimido no centro da membrana cha-
porção mais inferior, sendo que, no centro, ou seja, do umbigo ma-se umbigo do tímpano e corresponde à extremidade do
do tímpano até a parede interna, mede apenas 2 mm. O espa- manúbrio do martelo. A partir desse ponto, uma linha es-
ço da cavidade timpânica pode ser reduzido na presença de branquiçada, a estria malear, causada pelo brilho do manú-
uma fossa jugular proeminente, como veremos adiante. brio, é vista na face externa passando em direção à margem
superior. Na extremidade superior da estria aparece uma pro-
jeção delgada, a proeminência malear, formada pelo processo
Cavidade timpânica lateral (curto) do martelo. Daí partem as pregas maleares an-
terior e posterior, que se dirigem às extremidades (espinhas
Membrana do tímpano timpânicas anterior e posterior) do sulco timpânico do anel
timpânico do osso temporal (Figuras 1.6 e 1.7).
A cavidade timpânica é fechada lateralmente pela membrana do A pequena área triangular delimitada pelas pregas é de-
tímpano, que serve como limite entre a orelha média e o meato nominada parte flácida da membrana timpânica. Um epôni-
acústico externo (Figura 1.6). Essa membrana, de forma elíptica, mo muito usado para esta área é membrana de Shrapnell. A
é fina, semitransparente, e seu diâmetro vertical mede de 9 a 10 parte flácida é fina e frouxa e está diretamente aderida à inci-
mm e o ântero-posterior, de 8 a 9 mm. Está colocada obliqua- sura timpânica do osso timpânico. Pequenas perfurações na
mente, inclinando-se em sentido medial a partir da parede membrana flácida não são incomuns. A maior parte da mem-
póstero-superior para a ântero-inferior do meato, formando ân- brana timpânica, ou parte tensa, está firmemente distendida e
gulos de mais ou menos 55o com a parede inferior e de cerca de situada inferiormente às pregas ou ligamentos maleares (es-
1.400 com a parede superior, embora a membrana varie muito trias timpânicas anterior e posterior) (Figura 1.6). A borda
na forma, no tamanho e na inclinação. A membrana está voltada periférica da parte tensa mostra um espesso limbo formado
lateralmente para frente e para baixo, como se captasse os sons por um ânulo fibrocartilaginoso que se encaixa, à semelhança
refletidos do solo conforme se avança (Figura 1.7). de um vidro de relógio, no sulco timpânico do meato acústico
Ela exibe aspecto levemente côncavo na face externa devido externo. Esse sulco não é completo, está ausente na parte su-
à tração do manúbrio do martelo (o primeiro dos três ossículos perior do anel timpânico do osso temporal, em um espaço
do ouvido), firmemente fixo à face interna da membrana. situado entre as espinhas timpânicas anterior e posterior, co-
nhecido como incisura timpânica (incisura de Rivino). Nessa
área, a parte flácida da membrana também não apresenta o
ânulo cartilaginoso e prende-se, mais fracamente do que a tensa,
na incisura timpânica. A membrana timpânica normal apre-
senta cor pérola-acinzentada e reflete um cone de luz no qua-
drante ântero-inferior, usualmente chamado cone luminoso
1 8
(Figura 1.6).

7
5
Corpo da bigorna
9 Ramo curto da Cabeça do
6 bigorna martelo

3 Parte flácida da
Prega malear
posterior membrana
timpânica
Ramo
4 Prega malear
longo da
anterior
2 bigorna
Processo
lateral do
Umbigo do
martelo
tímpano
Manúbrio do
martelo

Ânulo fibrocar- Cone luminoso


tilaginoso da
membrana
timpânica
FIGURA 1.6 Membrana timpânica esquerda (a pele foi removida). (1)
Parte flácida. (2) Parte tensa. (3) Ânulo fibrocartilaginoso. (4) Umbigo FIGURA 1.7 Membrana timpânica direita. A articulação incudomalear,
do tímpano. (5) Processo lateral do martelo. (6) Manúbrio do martelo. no recesso epitimpânico. A divisão da membrana em quadrantes é
(7) Prega malear anterior. (8) Prega malear posterior. (9) Ramo longo feita passando-se uma linha pelo eixo do manúbrio do martelo e uma
da bigorna. linha perpendicular a esta, no umbigo.

Anatomia da orelha 27
Estruturalmente, a parte tensa consiste em três camadas: a abertura do canalículo posterior para o nervo corda do tím-
– Uma camada externa, a camada cuticular, derivada da pano. Na parte anterior do anel ósseo, abre-se a fissura petro-
pele que forra o meato, formada por epitélio estratificado cujas timpânica, uma pequena fenda de 2 mm de extensão, que
células migram a partir do umbigo para a periferia à razão de abriga o processo longo (anterior) do martelo, o ligamento
0,05 mm por dia. Não contém pêlos e exibe algumas papilas anterior desse ossículo e, ainda, a artéria timpânica anterior,
dérmicas rudimentares na periferia. Pequenos vasos sangüíneos ramo da maxilar, que alcança a cavidade do tímpano por essa
transitam no tecido conjuntivo subepitelial, muito delgado. via. No sulco malear, transformado em um canal por onde
– Uma camada intermediária, a camada fibrosa, forma- passam as estruturas supracitadas, passa também o nervo cor-
da por dois estratos: (1) o estrato superficial ou externo, for- da do tímpano que sai da cavidade do tímpano em direção à
mado de fibras radiais, e (2) o estrato profundo ou interno, de fossa infratemporal para unir-se ao nervo lingual.
fibras circulares mais concentradas na periferia e dispersas no A parede superior (Figuras 1.7 a 1.10), ou tegmen tympa-
centro da membrana. Fibras transversas e parabólicas também ni, é o teto da cavidade, formado por uma placa de osso com-
são encontradas entre os estratos circular e radial. Essas fibras pacto de espessura variável que constitui, ao mesmo tempo,
são consideradas colágenas (fibras elásticas são raras); contu- parte do assoalho da fossa média da cavidade craniana. Essa
do, estudos ultra-estruturais mostraram finas fibrilas, possi- parede óssea exibe normalmente pequenos pertuitos vascula-
velmente de ceratina ou reticulina. res, e são comuns áreas defectivas (deiscências) que deixam a
– Uma camada interna ou camada mucosa, contínua à dura-máter em contato direto com a mucosa da cavidade tim-
mucosa que forra a cavidade timpânica. pânica. O tegmen tympani é também o teto do antro mastói-
A parte flácida é mais frouxa, porém mais espessa do que deo e a parede superior do semicanal do músculo tensor do
a tensa, segundo estudos recentes. Consiste também em três tímpano.
camadas: epitelial, fibrosa e mucosa. A camada externa con- A parede inferior (Figura 1.11), ou parede jugular, é o
siste em 5 a 10 camadas de células epiteliais; a camada inter- assoalho da cavidade, marcado pela presença de células timpâ-
média é constituída por fibras colágenas e fibras elásticas abun- nicas delimitadas por trabéculas ósseas irregulares.
dantes ordenadas irregularmente; a camada interna é a muco- Essa parte da cavidade é também denominada hipo-
sa formada por células escamosas arranjadas como na parte tímpano, e a placa óssea pode ser muito fina ou muito espessa,
tensa. dependendo do grau de desenvolvimento do bulbo jugular
A irrigação arterial da membrana timpânica é feita por que ocupa a fossa jugular. Essa fossa é proeminente em 27%
ramos finos das suas faces interna e externa com intensas anas- dos casos e pode ocupar todo o hipotímpano, elevando-se até
tomoses. Tais ramos são derivados do ramo auricular profun- a fóssula da janela da cóclea, fechando completamente sua
do da artéria maxilar, que se ramifica sob a camada cuticular;
os ramos para a superfície mucosa nascem do ramo timpânico
anterior da maxilar e do ramo estilomastóideo da auricular
Martelo
posterior, que é um ramo da maxilar.
Recesso Bigorna
A drenagem venosa deriva para veias do meato e da cavi- epitimpânico
dade timpânica, seguindo para a veia jugular externa, para os
Estribo
seios da dura-máter e para o plexo venoso da tuba auditiva.
Os linfáticos possivelmente drenam para os linfonodos mas-
tóideos e da tuba auditiva.
Os nervos sensitivos da membrana timpânica provêm
Ducto
do ramo auriculotemporal (nervo mandibular, ramo do trigê- Recesso de semicircular
meo), do ramo auricular do vago e do ramo timpânico do Prussak lateral
glossofaríngeo.
Parte flácida
da membrana Nervo
timpânica facial
Limites Umbigo do Utrículo
tímpano Vestíbulo
Distinguem-se nessa cavidade os seguintes limites: parede la- Membrana
teral, parede superior, parede inferior, parede posterior e pare- secundária
Meato acústico
de anterior. externo do tímpano
A parede lateral (Figuras 1.5 a 1.10), ou membranosa, é na janela
Parte tensa da cóclea
formada pela membrana timpânica já descrita, pelo anel tim- da membrana
pânico ósseo no qual a membrana se fixa e por uma placa timpânica
óssea da escama do temporal (escudo, ou scutum), situada su- Parede óssea da
periormente, que forma o limite lateral do recesso epi- fossa jugular
timpânico, importante ponto de referência radiológica para Promontório
identificação do colesteatoma do epitímpano. Na transição Cavidade timpânica
entre a parede lateral e a posterior, nota-se a presença da emi- FIGURA 1.8 Corte esquemático da cavidade timpânica. (Adaptada de
nência cordal, variavelmente desenvolvida, na qual se localiza Wolf, 1971.)

28 Otorrinolaringologia
o ádito do antro. Nessa passagem, uma reduzida depressão
3 1 representa a fossa da bigorna, onde o ramo curto desse ossícu-
lo está preso pelo seu ligamento posterior.
A parede anterior (Figuras 1.10, 1.13 e 1.17) ou parede
carótica é larga em cima e estreita embaixo. Contém o semi-
canal do músculo tensor do tímpano e o óstio timpânico da
tuba auditiva. Na porção mais baixa, é comum a presença de
2 uma elevação lisa devida ao canal carótico. A parede anterior
4 está separada da artéria carótida interna por uma placa óssea
5
fina, na qual são descritas raras deiscências. Essa parede é per-
furada por pequenos pertuitos que dão passagem aos vasos san-
güíneos e aos nervos caroticotimpânicos para o plexo timpâni-
co. Eles veiculam fibras simpáticas do gânglio cervical superior
7
para o plexo timpânico. A parede anterior, quando espessa,
exibe o osso trabecular com numerosas células pneumáticas.
6
O semicanal do músculo tensor do tímpano e o canal
8 ósseo da tuba ocupam a parte superior dessa parede anterior,
estando separados por um tênue septo ósseo que se estende à
parede medial da cavidade no pólo anterior da fóssula da jane-
la do vestíbulo, curvando-se para fora para formar o processo
cocleariforme, polia sobre a qual o tendão do músculo tensor
9 do tímpano reflete-se lateralmente para se inserir no manú-
brio do martelo.
10 A parede medial (Figuras 1.11 e 1.17 a 1.20) ou labirínti-
ca apresenta várias estruturas, a maioria das quais estreitamente
relacionadas com o ouvido interno. Essa parede é marcada
por três depressões, conhecidas como fóssula da janela do ves-
tíbulo, seio do tímpano e fóssula da janela da cóclea.
A fóssula da janela do vestíbulo (nicho do estribo) está
FIGURA 1.9 Vista interna da membrana timpânica e dos ossículos
limitada:
articulados. (1) Superfície óssea da fossa média do crânio. (2) Pare- – superiormente pela proeminência do canal facial que
de óssea do teto da cavidade timpânica. (3) Células mastóideas (an- contém o nervo facial;
tro). (4) Cabeça do martelo no recesso epitimpânico (asterisco). (5) – inferiormente pelo promontório, protuberância deter-
Corpo da bigorna. (6) Base do estribo (face vestibular). (7) Nervo cor-
da do tímpano. (8) Manúbrio do martelo. (9) Parte tensa da membra- minada pelo giro basal da cóclea (sobre a superfície convexa
na timpânica. (10) Anel ósseo em cujo sulco se encaixa o ânulo fibro- do promontório existe um sulco ou canal que aloja o nervo
cartilaginoso da membrana timpânica. timpânico, também conhecido como nervo de Jacobson, ramo
do glossofaríngeo, que se distribui na cavidade timpânica);
– anteriormente pelo processo cocleariforme do semicanal
do músculo tensor do tímpano;
entrada. Quando a fossa jugular é proeminente, usualmente a – posteriormente pela eminência piramidal e por um pon-
parede óssea é fina, podendo ocorrer deiscências, assim como tículo ósseo ou osteomembranáceo, presente em cerca de 70%
ausência total de osso, deixando a parede do bulbo jugular em dos casos, unindo o promontório à eminência piramidal.
contato com a mucosa da cavidade timpânica. No limite en- No fundo da fóssula está a janela do vestíbulo (oval),
tre o soalho e a parede posterior da cavidade timpânica, nota-se fechada pela base do estribo e pelo ligamento anular que o
uma projeção óssea que se estende variavelmente para o inte- articula com a borda da janela. A proeminência do canal fa-
rior da cavidade. É a proeminência estilóidea, que correspon- cial, que limita a fóssula vestibular superiormente, aloja a ter-
de à raiz do processo estilóide. ceira porção ou segmento timpânico do nervo facial. Nesse
A parede posterior (Figuras 1.12 a 1.16), ou mastóidea, segmento de 12 mm de extensão, a parede óssea do canal fa-
vai do anel timpânico de um lado à cápsula labiríntica do ou- cial mostra falhas (deiscências) em 17% dos casos. A ausência
tro, e é larga na sua parte mais alta e estreita na parte baixa, total da parede óssea do canal facial, nessa porção, não é inco-
onde há diversas células aéreas timpânicas. Uma elevação, a mum e, nesses casos, o mucoperiósteo está aderido ao epineu-
eminência piramidal, destaca-se da parede e do seu ápice. Uma ro do facial. Grandes áreas de deiscência facilitam a protrusão
pequena abertura deixa passar o tendão do músculo estapédio, do nervo sobre a fóssula vestibular, que chega a encostar no
cujo ventre muscular está contido na cavidade da eminência, a estribo. A fóssula mede 2,5 mm de largura, medindo-se a par-
qual freqüentemente se comunica com o canal facial. tir da proeminência do canal facial até a face do promontório
A parede superior é aberta em cima. Esse espaço perten- voltada para a fóssula. Contudo, pode estreitar-se até 1,2 mm
ce ao recesso epitimpânico (ático), que se abre para trás no nos casos de nervo facial livre ou protruído através de deiscên-
antro mastóideo através de uma passagem timpanomastóidea, cia da parede óssea do canal.

Anatomia da orelha 29
Antro
mastóideo
Ligamento
posterior
da bigorna

Ligamento
superior Prega
do martelo malear
posterior Processo
Nervo lenticular
corda do da bigorna
tímpano

Prega Nervo
malear facial
anterior seccionado

Músculo
Manúbrio do estapédio
martelo
Membrana
timpânica

Músculo Anel
tensor do timpânico
tímpano ósseo

Tuba
auditiva

FIGURA 1.10 Vista da face interna da parede lateral da cavidade timpânica.

A B
6
6
7 8
8
7

9
2 3
3 1 2

C D
5

4 5
4
FIGURA 1.11 Quatro tipos de cavidade timpânica
(em C e D os ossículos foram removidos), mostran-
2 do a projeção da parede inferior para dentro da ca-
2 vidade devido à proeminência exagerada da fossa
3
jugular (1). Em A, B e C, a fossa jugular ocupa a
1
fóssula da janela da cóclea (redonda) e, em D, obs-
trui completamente a janela redonda (seta). (2) Pro-
1 montório. (3) Janela da cóclea. (4) Janela do vestí-
bulo (oval). Proeminência do canal facial com o ner-
vo facial. (6) Nervo corda do tímpano. (7) Ramo lon-
go da bigorna. (8) Martelo. (9) Estribo.

30 Otorrinolaringologia
Canais semicirculares:

Superior

Lateral
Posterior

Parede do
seio
sigmóideo

Canal facial

Processo estilóide

FIGURA 1.12 Cavidade mastóidea esquerda. (Adaptada de Anson; Donaldson, 1981.)

Imediatamente acima da proeminência do canal facial,


nota-se outra elevação, a proeminência do canal semicircular
1
3 lateral do ouvido interno.
2 O seio do tímpano (Figura 1.16) é um recesso situado
sob a eminência piramidal e estende-se do limite posterior da
4

8 3
7
5
5 1
4
2
9
7
6 6

FIGURA 1.13 Cavidade mastóidea direita. (1) Antro mastóideo. (2) FIGURA 1.14 Recesso epitimpânico e recesso epitimpânico anterior
Ádito do antro. (3) Recesso epitimpânico. (4) Ramo curto da bigorna. expostos. (1) Cabeça do martelo (2) Ramo curto da bigorna. (3) Liga-
(5) Nervo facial. (6) Nervo corda do tímpano. (7) Células aéreas mas- mento anterior do martelo. (4) Tendão do músculo tensor do tímpano.
tóideas. (8) Parede posterior do meato acústico externo. (9) Membra- (5) Recesso epitimpânico anterior. (6) Antro mastóideo; a seta indica
na do tímpano. a passagem timpanomastóidea. (7) Articulação incudoestapedial.

Anatomia da orelha 31
A fóssula da janela da cóclea (nicho da janela redonda) é
uma depressão irregular, delimitada superiormente pelo subí-
culo do promontório, que nem sempre está presente, e, infe-
riormente, está em continuidade com o hipotímpano. Essa
fóssula ocupa o espaço posterior ao promontório. No fundo
dela está a janela da cóclea, cuja abertura exibe formas variá-
veis e é fechada pela membrana secundária do tímpano, for-
mada por um estrato mucoso externo, um estrato fibroso in-
termediário e um estrato interno derivado da membrana da
cóclea. Essa janela representa a comunicação do ouvido mé-
dio com a rampa timpânica da cóclea, isto é, o começo da
rampa timpânica.

Recesso epitimpânico

O recesso epitimpânico, ou ático, é uma subdivisão da cavida-


de timpânica e é limitado:
– internamente pela porção superior da parede labiríntica
FIGURA 1.15 Representação esquemática do osso temporal com a
localização das áreas de pneumatização. da cavidade, na área correspondente à proeminência do canal
semicircular lateral, imediatamente acima do canal facial;
– externamente pela escama (scutum);
– superiormente pelo tegmen tympani e posteriormente
fóssula da janela do vestíbulo e do pontículo do promontório pela fossa incudal (Figuras 1.2, 1.5, 1.8 a 1.10 e 1.14).
até uma crista óssea saliente, denominada subículo do pro- O limite entre a cavidade timpânica propriamente dita e
montório, que vai da base da proeminência estilóidea até o o recesso epitimpânico é determinado pela proeminência do
promontório, formando a margem superior da janela coclear. canal facial, medialmente, e pela fossa da bigorna, inferior-
O soalho do seio timpânico corresponde à ampola do mente. Uma abertura longa, denominada ádito do antro ou
canal semicircular posterior do ouvido interno. Esse recesso canal timpanomastóideo, comunica o recesso epitimpânico
pode estender-se posteriormente até 9,5 mm e comunica-se com uma grande célula aérea, de aproximadamente 10 mm
com células retrofaciais; relaciona-se com o músculo estapé- nos seus diâmetros máximos e com 1 mL de volume, o antro
dio através de pequenas deiscências da eminência piramidal e mastóideo. Esse antro mantém importantes relações tópicas
também com o nervo facial, pois o canal facial, que junta- de considerável interesse médico-cirúrgico com as cavidades
mente com a eminência piramidal forma o teto do seio, deriva timpânica e craniana. O antro comunica-se com o recesso
do segundo arco branquial (cartilagem de Reichert). epitimpânico através do ádito do antro, isto é, uma passagem

A B C

9
9 9
4 13
10 13 4
11 2 11 10
4 2 2
11 10
5 5 5
3 12
8 12 8 1
1 14
7
6

FIGURA 1.16 Vista de três tipos de recessos posteriores da cavidade timpânica. (1) Seio do tímpano. (2) Seio timpânico posterior ou recesso
facial. (3) Seio timpânico lateral. (4) Eminência cordal. (5) Eminência piramidal. (6) Proeminência estilóidea. (7) Subículo. (8) Pontículo. (9)
Nervo corda do tímpano. (10) Martelo. (11) Bigorna. (12) Estribo. (13) Tendão do músculo tensor do tímpano. (14) Promontório. Em C, o
recesso facial (2) mostra extensa área de deiscência no canal facial, deixando o nervo exposto (estrela).

32 Otorrinolaringologia
Canal semicircular
Nervo facial
(segmento timpânico)

Músculo tensor
do tímpano

Estribo

Músculo
estapédio Óstio
timpânico da
tuba auditiva
Janela da
cóclea
Células
timpânicas
Segmento
mastóideo do
Nervo
nervo facial
timpânico
(Jacobson)

Promontório

FIGURA 1.17 Vista semi-esquemática da parede labiríntica da cavidade timpânica.

13

12 14 2
9
1
11 6 5 6 8
10 7 7
4 6
8
3
3 9 10
1
5
4
2

FIGURA 1.18 Vista da cavidade timpânica esquerda após remoção da FIGURA 1.19 Vista da parede lateral e da posterior da cavidade tim-
membrana. (1) Promontório. (2) Fóssula da janela da cóclea (janela pânica. (1) Eminência cordal. (2) Nervo cordado do tímpano. (3) Emi-
redonda). (3) Subículo do promontório. (4) Pontículo do promontório. nência piramidal. (4) Proeminência estilóidea. (5) Seio timpânico. (6)
(5) Eminência piramidal. (6) Tendão do músculo estapédio. (7) Estribo. Seio timpânico posterior (recesso facial). (7) Martelo. (8) Ramo longo
(8) Seio do tímpano. (9) Proeminência do canal facial (nervo facial). (10) da bigorna. (9) Pontículo. (10) Ramo anterior do estribo.
Fóssula da janela do vestíbulo (nicho do estribo). (11) Semicanal do
músculo tensor do tímpano. (12) Martelo. (13) Bigorna. (14) Nervo corda
do tímpano. A seta indica o nervo timpânico (nervo de Jacobson).

Anatomia da orelha 33
8

FIGURA 1.20 Parede labiríntica da cavidade timpânica. De A para D, observe o estreitamento da fóssula da janela do vestíbulo (nicho do
estribo); em A e B, nichos largos; em C e D os nichos são estreitos, sendo que em D o estribo está comprimido entre o promontório e o nervo
facial que protrui do canal deiscente. (1) Estribo. (2) Proeminência do canal facial com o nervo facial. (3) Promontório. (4) Eminência piramidal.
(5) Seio timpânico. (6) Fóssula da janela da cóclea. (7) Células hipotimpânicas. (8) Tendão do músculo tensor do tímpano seccionado. (9)
Proeminência do canal semicircular lateral. (10) Óstio timpânico da tuba auditiva.

relacionada medialmente com o canal semicircular lateral. A posto cirurgicamente. A parede lateral é muito fina ao nasci-
parede medial do antro relaciona-se com o canal semicircular mento, mas cresce com a idade, podendo alcançar até 12 mm
posterior, e a parede posterior está intimamente relacionada de espessura. O antro mantém ampla comunicação com as
com o seio sigmóideo da dura-máter. O teto do antro é o pró- células mastóideas, que, por sua vez, variam muito em tama-
prio tegmen tympani, que se prolonga para trás e forma, ao nho, forma e número. Geralmente são representadas por uma
mesmo tempo, o soalho da fossa média do crânio, onde se série de cavidades irregulares intercomunicadas, revestidas por
posiciona o lobo temporal do encéfalo. O soalho do antro está uma mucosa contínua com a do antro e a da cavidade timpâ-
em comunicação com as células mastóideas. A porção mais nica. Podem ocupar todo o processo mastóideo e, às vezes,
ântero-inferior do antro relaciona-se com o segmento mastói- estão separadas do seio sigmóideo, da fossa craniana e do ner-
deo do canal facial; a parede lateral é formada pelo processo vo facial por um osso de consistência laminar. São descritas
pós-meático da escama do temporal e, por essa parede, é ex- falhas nessas lâminas, o que expõe perigosamente as estruturas

34 Otorrinolaringologia
mencionadas em casos de patologia. Por outro lado, também Os recessos são o seio do tímpano, o seio timpânico pos-
são encontradas mastóides com raras células aéreas (em 20% terior, o seio timpânico lateral e o seio hipotimpânico. Situa-
dos casos não são encontradas células no processo mastóideo). do entre a cápsula labiríntica e a eminência piramidal, é um
Nesses casos, o osso é compacto ou esponjoso, cheio de me- recesso irregular que ocorre em 90% dos casos, estendendo-se
dula óssea. Podem-se classificar os processos mastóides em variavelmente sob a eminência piramidal e o segmento mas-
pneumáticos, contendo abundantes células; ebúrneos ou es- tóideo do canal facial, conforme mencionado.
cleróticos, com raras células, isto é, mais osso compacto; e Seus limites compreendem o pontículo do promontó-
diplóicos, constituídos de osso esponjoso com medula óssea. rio, superiormente, e o subículo, inferiormente. Na ausência
Admite-se também que os mastóides escleróticos não são nor- dessas duas estruturas, continua-se naturalmente com a fóssu-
mais, mas resultantes de patologias crônicas. la da janela do vestíbulo, superiormente, e com a fóssula da
A pneumatização do mastóide (Figuras 1.12 a 1.14) janela da cóclea, inferiormente. No seio timpânico pode ha-
pode estender-se ao processo zigomático, à escama do ver retenção de tecido patológico, como o colesteatoma, que
temporal, à parte superior do meato acústico externo, ao não é visível pela aproximação cirúrgica usual (Figura 1.16).
soalho da cavidade timpânica, à parte petrosa do temporal O seio timpânico posterior, também denominado reces-
até a ponta, entrando em contato com a tuba auditiva, com so do facial por alguns autores, é o espaço suprapiramidal. É
o canal carótico e com o labirinto. É notória a importância limitado medialmente pelo canal facial, que algumas vezes pode
dessas células na propagação de infecções para as estruturas ser deiscente nesse local, pela eminência piramidal e pela cris-
mencionadas. ta cordal, que é uma trave óssea que une as eminências cordal
e piramidal. Assim como o seio timpânico, o recesso facial é
local de retenção de colesteatoma (Figura 1.16).
Recesso epitimpânico anterior O seio timpânico lateral é também um recesso variável,
inconstante, determinado pelo espaço entre as projeções ós-
O recesso epitimpânico anterior, também conhecido como seio seas do complexo estilóideo. Trata-se de um recesso raso,
epitimpânico (Figura 1.18), é a porção de localização anterior mais evidente quando ocorrem proeminências estilóides
à cabeça do martelo. Seus limites são: exuberantes.
– a fossa craniana média, superiormente; O seio hipotimpânico situa-se no encontro entre as pa-
– o ápice do rochedo, anteriormente; redes lateral e inferior (jugular) da cavidade timpânica. É li-
– o anel timpânico ósseo, lateral e inferiormente; mitado posteriormente pelo complexo estilóide e anteriormente
– o nervo facial e o gânglio genicular, medialmente. pela parede anterior (tubocarótica).
Esse recesso é extremamente variável em tamanho, po-
dendo ser bem amplo e parcialmente separado do epitímpano
por uma parede óssea perfurada. Tuba auditiva

A tuba auditiva ou tuba faringotimpânica é um canal os-


Recessos posteriores do tímpano teocartilaginoso que comunica a cavidade do tímpano com
a parte nasal da faringe (Figura 1.21). Com isso, permite a
É comum denominar-se tímpano posterior o distrito anatô- ventilação dos espaços pneumatizados do osso temporal,
mico da cavidade timpânica representado pela parede poste- protegendo-os contra possíveis agressões bacterianas, e tam-
rior ou mastóidea (Figura 1.16), alguns acidentes anatômicos bém estabelece o equilíbrio da pressão do ar nas duas faces da
classicamente descritos como pertencentes às paredes labirín- membrana do tímpano. A tuba mede cerca de 35 a 38 mm de
tica e lateral e também parte do ádito. Essa área, compreendi- comprimento, sendo um terço ósseo e dois terços de fibro-
da pela parede posterior, estende-se desde o anel timpânico, cartilagem.
lateralmente, até a cápsula labiríntica, internamente. A desig- A parte óssea da tuba mede 12 mm, é lateral ao canal
nação tímpano posterior é comum entre otologistas, visto que carótico e apresenta pequenos orifícios por onde passam os
nele se desenvolvem ou depositam patologias graves do ouvi- vasos caroticotimpânicos. É mais calibrosa junto à cavidade
do médio, e também porque por aí passa o nervo facial, sem- timpânica e vai se estreitando gradualmente até o istmo, isto
pre exposto ao risco de acidentes cirúrgicos nas operações que é, o início da porção fibrocartilaginosa. A mucosa mostra um
exigem a remoção de tumores e tecido crônico de granulações epitélio colunar 80% ciliado, com células caliciformes secre-
para o restabelecimento do fluxo aéreo do recesso epitimpâni- toras abundantes. O óstio timpânico da tuba está na parede
co para o antro mastóideo. anterior da cavidade timpânica, cerca de 4 a 5 mm acima do
O tímpano posterior apresenta projeções ósseas e osteo- soalho do hipotímpano. Nesse ponto, a secção transversa da
mucosas que delimitam recessos irregulares e inconstantes, com tuba é triangular e mede de 3 a 5 mm de diâmetro, enquanto
dimensões milimétricas, de difícil sistematização e que difi- junto ao istmo diminui para 2 a 3 mm no diâmetro vertical e
cultam sua visualização e acesso pelas vias convencionais de 1 a 1,5 mm no horizontal (Figura 1.21).
abordagem. Esses recessos são delimitados fundamentalmen- A parte cartilaginosa mede cerca de 26 mm de ex-
te por três estruturas: eminência cordal, eminência piramidal tensão e é formada por uma placa triangular de cartilagem,
e proeminência estilóidea, que, no conjunto, formam o com- que, na secção transversa, tem forma de gancho. A cartila-
plexo estilóideo, derivado do segundo arco branquial. gem da tuba tem um ápice e uma base; o ápice prende-se à

Anatomia da orelha 35
Cavidade do tímpano

Músculo
tensor do
tímpano

Meato
acústico Parte óssea
externo da tuba auditiva

Cartilagem da
Músculo dilatador tuba
da tuba

Músculo tensor
do véu palatino
Músculo
Músculo levantador salpingofaríngeo
do véu palatino
Véu
palatino

Mucosa do
palato

FIGURA 1.21 Vista esquemática da tuba auditiva e estruturas associadas. (Adaptada de Bluestone; Klein, 1988.)

parte óssea através de tecido fibroso, e a base está imediata- fibras constituem o músculo dilatador da tuba. O músculo
mente embaixo da mucosa da parede lateral da nasofarin- salpingofaríngeo insere-se na parte inferior da cartilagem,
ge, onde forma a elevação (toro tubal) que circunda o óstio próximo ao óstio faríngico. O músculo levantador do véu
faríngico da tuba (Figura 1.21). palatino nasce, em parte, na lâmina medial da cartilagem
A cartilagem da tuba curva-se lateralmente e, assim, exi- da tuba.
be uma lâmina larga, medial, e outra estreita, lateral. O sulco A luz da parte cartilagínea da tuba permanece fechada
determinado pelas duas lâminas é completado por uma mem- devido à sua natureza elástica e abre-se ao bocejar e deglutir.
brana que fecha o canal. A cartilagem da tuba é hialina no O mecanismo de abertura da tuba é ainda polêmico. Contu-
recém-nascido e, no adulto, elástica, exceto no istmo, onde do, atribui-se à ação muscular do músculo tensor do véu pala-
permanece hialina. tino, auxiliado pelo músculo salpingofaríngeo e pelo levanta-
A mucosa da tuba cartilaginosa é contínua com a da fa- dor do véu palatino, que eleva a parte cartilaginosa, diminuindo
ringe e mostra epitélio colunar pseudo-estratificado ciliado e a tensão na cartilagem.
também epitélio cubóide ciliado e células caliciformes com
muitas glândulas tubuloacinosas que secretam muco na luz da
tuba. Nas crianças, ao redor do óstio faríngico há uma con- Ossículos e músculos da orelha média
centração de tecido linfóide, conhecida como tonsila tubária
ou tubal (tonsila de Gerlach). Os ossículos da orelha formam uma cadeia articulada sus-
A tuba está relacionada com o músculo tensor do véu pensa na cavidade do tímpano, responsável pela condução
palatino, que recebe algumas fibras da lâmina lateral da car- das ondas sonoras da orelha externa para a orelha interna
tilagem e da parte membranácea; para alguns autores, essas (Figura 1.22).

36 Otorrinolaringologia
Martelo No lado medial do ligamento, corre o nervo corda do tímpa-
no para entrar no óstio do canalículo da corda, na fissura.
Derivado da cartilagem de Meckel, é o primeiro e o maior O processo lateral provoca uma elevação na membrana
ossículo da cadeia. Mede 8 ou 9 mm de comprimento e con- timpânica e contém uma cobertura cartilaginosa na qual se
siste em cabeça, colo, processo lateral, processo anterior e ma- fixa a parte tensa da membrana.
núbrio ou cabo. O manúbrio é longo, com a extremidade achatada em
A cabeça do martelo ocupa o recesso epitimpânico, é forma de espátula firmemente presa à membrana do tímpano,
ovóide e apresenta uma face articular revestida de cartilagem cuja lâmina própria se divide para envolver o manúbrio ao
para articular-se com a bigorna e formar a articulação incudo- nível do umbigo.
malear (Figuras 1.18 e 1.22). À meia distância entre o umbigo e o processo lateral, a
O colo é estreito e, imediatamente abaixo dele, o mar- membrana do tímpano está afastada do manúbrio, levemente
telo alarga-se, e nota-se aí um espessamento de onde partem curvo, e uma prega mucosa estabelece a união entre ambos.
os dois processos. O processo anterior é fino e estende-se até a Normalmente, o manúbrio do martelo ocupa posição eqüi-
fissura petrotimpânica, acompanhado pelo nervo corda do tím- distante das margens anterior e posterior da membrana do
pano. Esse processo quase sempre é encontrado fraturado ou tímpano, mas pode ocupar posição mais anterior.
parcialmente absorvido, sem prejuízo para a audição. Prende-se O martelo é sustentado pela sua fixação na membrana
às paredes da fissura petrotimpânica pelo ligamento anterior do tímpano, pelo músculo tensor do tímpano, pelos ligamen-
do martelo, que o envolve. Esse ligamento é formado por teci- tos próprios e pela articulação com a bigorna.
do fibroso denso e contínuo com o periósteo do martelo, atra- Seus ligamentos são:
vessa a fissura petrotimpânica para alcançar a cápsula da arti- – o ligamento suspensor anterior, que se situa ime-
culação temporomandibular e a espinha do osso esfenóide. diatamente superior ao ligamento anterior do martelo,

Cápsula da
articulação
incudomalear

Corpo da
bigorna

Cabeça do
martelo
Ramo
curto
Colo
Processo
lateral
(curto)

Processo
anterior
(longo)
Ramo
Tendão do longo
músculo
tensor do
tímpano Processo
lenticular
Cabeça do
estribo
Manúbrio Músculo
estapédio

Ramos do
estribo

Base estapedial
FIGURA 1.22 Cadeia ossicular articulada.

Anatomia da orelha 37
estendendo-se da cabeça desse ossículo à parede anterior do cubóide e apresenta uma face articular revestida de cartila-
recesso epitimpânico anterior; gem, em forma de sela, para se articular com a face correspon-
– o ligamento lateral, o qual se prende no colo do mar- dente da cabeça do martelo no recesso epitimpânico (Figuras
telo e se prolonga até a margem óssea da incisura timpânica 1.10, 1.18 e 1.22).
(incisura de Rivino); O processo curto da bigorna estende-se posteriormente,
– o ligamento superior do martelo, que se fixa no topo ocupando a fossa da bigorna, onde está fixo por um ligamen-
da cabeça do martelo e se estende ao tegmen tympani; to. O processo longo estende-se para baixo, paralelamente ao
– o ligamento anterior do martelo, o mais desenvolvido, manúbrio do martelo, terminando no processo lenticular, que
que se prende ao colo do martelo junto ao processo anterior e exibe uma face convexa que se encaixa na superfície côncava
vai à parede anterior da cavidade, na fissura petrotimpânica, da cabeça do estribo para formar a articulação incudoestape-
prolongando-se até a espinha do esfenóide, com algumas fi- dial (diartrose). A secção transversa do ramo longo da bigorna
bras misturando-se com a cápsula da articulação temporoman- é circular, enquanto a do manúbrio do martelo é ovóide, o
dibular; esse ligamento está no eixo de rotação ossicular, dife- que deve ser levado em conta pelos cirurgiões na colocação de
rentemente dos demais, que estão fora desse eixo; próteses. Três ligamentos sustentam a bigorna na posição que
– o ligamento malear posterior, um espessamento da ocupa:
margem inferior da prega malear posterior estendida do colo – o ligamento posterior da bigorna, que prende o pro-
do martelo à espinha timpânica posterior. cesso curto à fossa da bigorna e pode calcificar em condições
Os ligamentos descritos têm função sustentadora e pro- patológicas;
vavelmente não interferem na condução do som devido ao – o ligamento lateral e medial da bigorna, que interliga
reduzido movimento dos ossículos. o corpo da bigorna à cabeça do martelo;
– Também se descreve o ligamento superior da bigorna,
que une o corpo ao teto do recesso epitimpânico.
Músculo tensor do tímpano

O músculo tensor do tímpano (Figuras 1.14, 1.16, 1.17 e 1.20) Estribo


é um músculo delgado, peniforme, de 2 cm de comprimento,
que ocupa um semicanal ósseo situado acima da porção óssea É o menor e mais medial elo da cadeia ossicular. Pesa em mé-
da tuba auditiva, da qual está separado por um septo ósseo dia 2,8 g e mede, em média, 3,26 mm de altura. Consiste na
fino. Deriva do primeiro arco branquial e tem origem na car- cabeça, na base e em dois ramos ou cruras. O ramo anterior é
tilagem da tuba, na asa maior do esfenóide e no semicanal que reto e mais fino do que o posterior, encurvado e, por isso,
o abriga. Alguns autores admitem que esse músculo represen- mais longo (Figura 1.23). Nota-se uma área irregular imedia-
ta uma continuação do músculo tensor do véu palatino. tamente acima do ramo posterior representada pelo local de
O tendão do músculo, por meio das suas fibras mediais, inserção do tendão do músculo estapédio. O espaço limitado
insere-se na superfície côncava do processo cocleariforme, en- pelos arcos dos ramos é o forame obturado, que, às vezes, é
quanto que o corpo principal do tendão se reflete lateralmen- fechado por uma lâmina da membrana mucosa, a membrana
te a partir do processo cocleariforme para se inserir nas faces obturatória estapedial.
medial e anterior do colo e do manúbrio do martelo, respecti- A cabeça do estribo é a parte que mais variações apresen-
vamente. Algumas fibras podem estender-se do manúbrio à ta, devido aos diferentes graus de reabsorção óssea fetal. A ca-
membrana timpânica, segundo alguns autores. beça pode ser pequena ou larga e apresentar ou não um pro-
Esse músculo contém fibras musculares estriadas e não- cesso muscular na borda da face posterior. A depressão para a
estriadas e recebe inervação por um ramo do nervo do múscu- articulação do processo lenticular da bigorna pode ser uma
lo pterigóideo medial, que, por sua vez, é ramo do mandibu- fovéola, uma escavação irregular, triangular ou quadrilátera
lar e, este, do trigêmeo. A função desse músculo é tracionar o (Figura 1.23).
manúbrio do martelo para dentro da cavidade e, assim, pro- O colo do estribo não é sempre bem definido. Quando
duzir tensão da membrana do tímpano; desse modo, junta- ocorre, é representado por uma área constricta entre a cabeça
mente com o estapédio, atua modificando os movimentos da e o ponto de origem dos ramos. O tendão do músculo estapé-
cadeia ossicular. dio insere-se no colo (75% dos casos), na cabeça ou no ramo
posterior do estribo.
Os ramos elevam-se das extremidades da base (platina) e
Bigorna unem-se lateralmente para formar o arco crural e limitar o
forame obturado. A forma do arco é normalmente ovóide, às
É o mais longo dos três ossículos. Consiste em um corpo, um vezes triangular com o ápice fechado. Os ramos são formados
processo curto (± 5 mm), um processo longo (± 7 mm) e no de osso laminar escavado, apresentando, na secção transversa,
processo lenticular. O processo curto é mais grosso do que o forma de C. O encontro dos ramos dá a forma característica
longo, ambos divergindo a partir do corpo e formando um do estribo; dependendo do comprimento e da curvatura dos
ângulo de mais ou menos 100o. Assemelha-se a um dente ramos, a forma do forame obturado se modifica. Os ramos
pré-molar, com duas raízes divergentes comparáveis aos pro- variam muito em tamanho, podendo ser desde uma delgada
cessos longo e curto. O corpo da bigorna é aproximadamente haste até uma forte coluna. O ramo anterior é sempre mais

38 Otorrinolaringologia
1,41 mm (média)

1,08 a 1,66
3,26 mm (média)

3,78 mm 2,56 mm
FIGURA 1.23 Dimensões do estribo.
2,99 mm (média) (Adaptada de Anson, 1981.)
2,64 a 3,36

delgado e mais reto (ramo retilíneo) do que o ramo posterior, Articulações ossiculares
que é curvo (ramo curvilíneo). Raramente o ramo posterior é
mais reto do que o anterior (Figura 1.24). As articulações ossiculares (Figura 1.22) são articulações ver-
A base, ou platina, do estribo é também muito variável. dadeiras ou sinoviais. As faces articulares são revestidas de car-
Exibe formas oval, elíptica ou reniforme. É mais comum apre- tilagem e podem apresentar disco intra-articular. Cada arti-
sentar a margem superior ligeiramente convexa e a inferior culação tem uma cápsula articular de tecido fibroso derivado do
retilínea. As bordas anterior e posterior são arredondadas, sendo periósteo dos ossos articulares e é forrada por membrana sinovial.
a anterior um pouco mais angular (Figura 1.23). A articulação incudomalear é uma diartrose de encaixe
A face vestibular da base é sensivelmente convexa e a recíproco (selar) formada pelo martelo e pela bigorna. A cáp-
face timpânica é comumente côncava, devido à reborda eleva- sula de tecido elástico envolve as margens articulares e apre-
da da margem periférica da base. Os ramos invariavelmente senta um disco intra-articular. A cápsula é formada pela mem-
originam-se mais próximos da margem inferior (retilínea) da brana sinovial, pela cápsula fibrosa e pela membrana mucosa
base. Uma crista estapedial inconstante encontra-se na face da cavidade timpânica que envolve a cápsula.
timpânica da base, unindo os ramos. A circunferência da base A cápsula, na sua face medial, contém uma densa cama-
mede em média 7,45 mm, o comprimento médio é de 2,99 da de tecido fibroso constituindo o ligamento incudomalear
mm e a largura média de 1,41 mm. A periferia da base do medial, assim como sua superfície lateral também é espessa,
estribo articula-se com as margens da janela do vestíbulo (ja- formando o ligamento incudomalear lateral.
nela oval) através de um ligamento de fibras elásticas, o liga- A articulação incudoestapedial é também uma articu-
mento anular. lação sinovial, diartrodial, do tipo esferóide, entre o processo
lenticular da bigorna e a fóvea da cabeça do estribo. O proces-
so lenticular pode ocorrer como um osso acessório indepen-
Músculo estapédio
Derivado do segundo arco branquial (cartilagem de Reichert),
é o menor músculo esquelético do corpo humano, cujo ventre Bigorna
muscular ocupa a cavidade estapedial dentro da eminência Martelo
piramidal e um sulco na parede da porção mastóidea do canal Eixo da
facial (Figuras 1.17, 1.20 e 1.22). A cavidade estapedial e o rotação
canal facial freqüentemente são comunicáveis nesse ponto. O ossicular
músculo estapédio contém fibras estriadas e não-estriadas que
convergem para um tendão que emerge do orifício da emi-
nência piramidal para a cavidade timpânica e se insere na ca-
beça, no colo ou ramo posterior do estribo.
Esse pequeno músculo bipenado consiste em diversas Membrana Estribo
unidades motoras, cada uma contendo de 6 a 9 fibras muscu- do tímpano
lares, e recebe inervação através de um ramo do nervo facial.
Sua contração desloca a borda anterior da platina lateralmen-
te e a borda posterior medialmente. Essa inclinação do estribo
distende o ligamento anular e, assim, fixa a base do estribo,
amortecendo sua reação à estimulação sonora.
Admite-se que o músculo tensor do tímpano e o estapédio
se contraem simultanea e reflexamente, reagindo a sons de
alta intensidade e exercendo um efeito protetor pelo amorte- FIGURA 1.24 Representação esquemática do complexo tímpano-os-
cimento das vibrações que atingem o ouvido interno. sicular, indicando o eixo de rotação ossicular.

Anatomia da orelha 39
dente. Não possui disco na cavidade articular. As fibras con- rior do nervo corda do tímpano. Essas duas pregas apresen-
juntivas da cápsula são mais longas do que as da articulação tam a borda inferior livre côncava; entre elas e a membrana
incudomalear e também mais espessas. Na face inferior da ar- timpânica formam-se duas bolsas de fundo cego, os recessos
ticulação, as fibras capsulares posteriores fundem-se com as anterior e posterior da membrana timpânica ou bolsas de von
do tendão do músculo estapédio. Tröltsch. Conectando-se com o recesso posterior, existe outra
A articulação vestibuloestapedial é uma sindesmose (an- bolsa, o recesso superior da membrana timpânica ou recesso
fiartrose) entre a base do estribo e a janela do vestíbulo. Essa de Prussak, situado entre a parte flácida da membrana timpâ-
articulação é um dos locais de eleição para a otosclerose. O mica e o colo do martelo. O soalho desse recesso é formado
ligamento anular segura a base do estribo na janela do vestí- pelo processo lateral do martelo.
bulo, imbricando suas fibras conjuntivas elásticas com o peri- Uma prega variável estende-se do teto da cavidade tim-
ósteo da cavidade timpânica e o endósteo do labirinto. pânica para cobrir o corpo e o processo curto da bigorna, de-
nominada prega incudal. Uma extensão da mucosa, a partir
da parede timpânica posterior, envolve o estribo, inclusive o
Mucosa timpânica forame obturado entre os dois ramos: é a prega estapedial.
Várias outras pregas inconstantes têm sido descritas na cavi-
A mucosa da cavidade timpânica é contínua com a da faringe, dade timpânica.
através da tuba auditiva. Reveste os ossículos, os músculos, os Na orelha média são encontrados ainda os chamados
nervos, a face interna da membrana timpânica, a face externa corpúsculos, isto é, pequenas formações milimétricas arredon-
da membrana secundária do tímpano, o antro mastóideo e as dadas ou elípticas envoltas por mucosa, com cápsula externa,
células mastóideas. Estruturalmente, é uma membrana fina, formada de fibras colágenas concêntricas e fibrócitos, a partir
transparente, vascularizada, intimamente aderida ao periós- de um núcleo central. Esses corpúsculos ocorrem em particu-
teo. Através dela os vasos sangüíneos chegam às estruturas da lar no antro mastóideo, no recesso epitimpânico e na cavidade
cavidade. Estudos ultra-estruturais revelaram diferentes tipos mastóidea. Não há informações sobre o papel funcional des-
de células conforme as regiões da orelha média. ses corpúsculos. Também são descritos na cavidade timpânica
Na mastóide ocorrem células ciliadas e não-ciliadas, os chamados glomos, formações encontradas na porção mas-
sem grânulos de secreção. No tímpano posterior, existe um tóidea do nervo facial, no nervo timpânico e, principalmente,
espesso epitélio com células não-ciliadas com grânulos de na região da parede jugular.
secreção e células basais, também podendo existir epitélio
escamoso não-ciliado. O recesso epitimpânico é formado
por epitélio semelhante ao do tímpano posterior; contudo, Vasos e nervos da orelha média
encontra-se também epitélio escamoso simples sem cílios. Sobre
o promontório, o epitélio predominante é colunar ciliado As artérias que irrigam a cavidade timpânica são:
pseudo-estratificado e também cubóide ciliado, sendo tam- – timpânica anterior, ramo da maxilar, que irriga a mem-
bém encontradas células caliciformes e glândulas submucosas brama timpânica;
intra-epiteliais. No óstio timpânico da tuba, o epitélio é – estilomastóidea, que sobe pelo canal facial (ramo da
pseudo-estratificado colunar ciliado, ocorrendo também cé- auricular posterior) e distribui-se no tímpano posterior e mas-
lulas não-ciliadas sem grânulos de secreção e poucas glându- tóide (Figura 1.17).
las. A membrana flácida é revestida por epitélio simples não- Outras artérias menores alcançam a cavidade timpânica,
ciliado, e a parte tensa mostra epitélio pseudo-estratificado tais como:
colunar ciliado e cubóide simples não-ciliado. – petrosa superficial, ramo da meníngea média, que entra
As secreções produzidas pelas glândulas e células cali- pelo hiato do nervo petroso maior da superfície superior do ro-
ciformes resultam em um muco mobilizado por um siste- chedo do temporal (anastomosando-se com a estilomastóidea);
ma de transporte mucociliar, o que pode ser considerado – timpânica superior, também ramo da meníngea mé-
um sistema de defesa da orelha média, formado pelas célu- dia, cruza o semicanal do músculo tensor do tímpano;
las ciliadas da membrana mucosa da cavidade do tímpano – ramo timpânico interno da faríngea ascendente e ramo
e da tuba auditiva. da artéria do canal pterigóideo (vidiano), que seguem a tuba
Passando das paredes para as estruturas da orelha média, auditiva;
como ossículos, ligamentos e tendões musculares, a mucosa – ramos caroticotimpânicos da carótida interna, emitidos
não apenas envolve as estruturas, mas também forma pregas e no canal carótico, que perfuram a parede anterior da cavidade
bolsas especiais. A mucosa comporta-se como o mesentério e, do tímpano formando anastomoses sobre o promontório com
através dela, as estruturas suspensas da cavidade timpânica são ramos da maxilar (timpânica anterior) e da meníngea média
nutridas e ligadas às paredes. A mucosa estende-se da mem- (timpânica superior).
brana timpânica sobre o processo anterior, sobre o ligamento As artérias para o martelo e a bigorna nascem do ramo
anterior do martelo e sobre a porção adjacente do nervo corda ossicular da timpânica anterior e as do estribo nascem da pe-
do tímpano, formando a prega malear anterior. trosa superficial e da timpânica inferior e da superior. Estas
Outra prega, a malear posterior, estende-se entre o ma- artérias são acompanhadas das veias correspondentes que se
núbrio do martelo e a parede posterior da cavidade do tímpa- destinam ao plexo pterigóideo e ao seio petroso superior da
no, envolvendo o ligamento lateral do martelo e a parte poste- dura-máter.

40 Otorrinolaringologia
O nervo timpânico (nervo de Jacobson), ramo do glos-
sofaríngeo, e os nervos caroticotimpânicos formam o plexo
timpânico na superfície do promontório. O timpânico atinge
a cavidade timpânica pelo canalículo timpânico inferior (ca-
nalículo para o nervo timpânico) e percorre um canal ou sulco
sobre o promontório, onde se ramifica para formar o plexo
timpânico. Na altura da janela da cóclea, junta-se com os ner-
vos caroticotimpânicos e inferior do plexo simpático carótico,
que atravessam a parede óssea do canal carótico para se junta- Labirinto
rem ao plexo timpânico. Desse plexo saem ramos para a mu-
cosa timpânica, para a tuba auditiva e para as células mastói-
deas e um ramo que se junta ao petroso superficial maior. O
petroso superficial menor nasce do plexo e entra no canalícu-
lo timpânico superior abaixo do processo cocleariforme e se-
gue em direção à fossa craniana média, paralelamente ou den-
tro do semicanal do músculo tensor do tímpano, anas- Forame
tomosando-se com ramo do facial, e surge na superfície do magno
osso temporal (próximo ao gânglio genicular) por uma pe-
quena abertura, lateralmente ao hiato do petroso maior, dei-
xando a cavidade craniana ou pelo forame oval ou por um
canalículo próprio até atingir o gânglio ótico. Veicula fibras FIGURA 1.25 Vista interna da base do crânio, indicando a posição do
parassimpáticas pré-ganglionares e fibras simpáticas labirinto ósseo na porção petrosa do osso temporal.
pós-ganglionares. Estas últimas saem do gânglio ótico para se
incorporarem ao nervo auriculotemporal do mandibular e daí
para exercerem ação secretomotora da glândula parótida. É forrado por fino periósteo – ou endósteo –, o qual é
O ramo auricular do nervo vago (nervo de Arnold) é revestido com uma delicada camada epitelióide e contém um
formado por um ramo do gânglio superior do vago e um líquido – a perilinfa – que envolve todo o labirinto membra-
pequeno ramo do gânglio inferior do glossofaríngeo. Ori- náceo. A parede lateral do labirinto ósseo é a parede medial da
gina-se no forame jugular e passa sobre a cúpula do bulbo cavidade timpânica.
jugular até atingir o canal facial através de um canalículo No lado medial do labirinto ósseo está o fundo do mea-
no mastóide ou um sulco na face inferior do temporal. No to acústico interno. Esse labirinto é circundado por uma dura
seu curso, o nervo de Arnold divide-se em dois ramos, um camada de osso de 2 a 3 mm de espessura, a cápsula labirínti-
superior, que se ramifica na bainha do nervo facial, e um ca. O osso que circunda as cavidades do labirinto ósseo é mais
ramo inferior, que recebe um pequeno filete anastomótico duro do que o resto da porção petrosa. No feto e no
do facial, e a seguir, atravessa a fissura timpanomastóidea e recém-nascido, o osso da cápsula ótica, em alguns locais, é a
distribui suas fibras aferentes somáticas na parede poste- própria superfície da parte petrosa e, em outros, está separada
rior do meato acústico externo.

Canal semicircular
ORELHA INTERNA anterior (superior)

A orelha interna, localizada na porção petrosa do osso tem-


Ramo comum
poral, contém as partes vitais dos órgãos da audição e do
equilíbrio, que recebem as terminações dos ramos coclear e Janela do
Canal vestíbulo
vestibular do nervo vestibulococlear. Consiste em três par- (oval)
semicircular
tes principais: o labirinto ósseo ou perilinfático, o labirinto posterior
membranáceo ou endolinfático e a cápsula ótica ou labi- Cóclea
ríntica circunjacente.

Labirinto ósseo

O labirinto ósseo está dentro da parte petrosa do osso tempo-


ral, mede 20 mm de comprimento no seu eixo maior, paralelo
à face posterior da porção petrosa, e constitui o estojo que Canal semicircular Janela da cóclea (redonda)
aloja o labirinto membranáceo (Figuras 1.25 a 1.28). lateral (horizontal)
Apresenta três partes componentes não completamente
divididas: o vestíbulo, os canais semicirculares e a cóclea. FIGURA 1.26 Modelo do labirinto ósseo direito.

Anatomia da orelha 41
8
* 9

10
2
FIGURA 1.27 Vista superior
do labirinto parcialmente dis-
6 secado e da orelha média.
(1) Canal semicircular ante-
4 1 rior (superior). (2) Canal se-
micircular lateral (horizontal).
(3) Canal semicircular poste-
rior. (4) Nervo vestibular. (5)
Joelho do nervo facial. (6)
7 Rampa timpânica da cóclea
aberta. (7) Nervo coclear. (8)
Martelo. (9) Bigorna. (10) An-
tro mastóideo; cavidade tim-
3 pânica (asterisco).

dessa superfície por osso esponjoso remanescente da massa As partes adjacentes do recesso elíptico são perfuradas
óssea da pirâmide do temporal. No osso temporal adulto, gran- por orifícios que formam a mácula crivosa superior, através da
de parte da cápsula ótica está fundida com o osso compacto qual passam os nervos para o utrículo e para as ampolas dos
das áreas vizinhas. ductos semicirculares lateral e superior. Abaixo do recesso elíp-
tico, nota-se um orifício que dá início ao aqueduto do vestíbu-
lo. Esse aqueduto, que se estende até a face posterior do roche-
Vestíbulo do entre o meato acústico interno e o seio sigmóide, acaba na
abertura do aqueduto do vestíbulo e é percorrido pelo ducto
É uma câmara central, ovóide, de 4 mm de diâmetro. É a parte endolinfático, que é uma parte do labirinto membranáceo.
mais volumosa do labirinto ósseo. Ântero-inferiormente, o vestí- Na porção posterior do vestíbulo, há cinco aberturas dos
bulo conduz para a cóclea; póstero-superiormente, recebe os ca- canais semicirculares e, na parede anterior, um orifício elípti-
nais semicirculares. Na parede lateral do vestíbulo voltada para a co indica o início da rampa vestibular da cóclea.
cavidade timpânica há uma abertura, a janela do vestíbulo (oval).
O interior da cavidade vestibular apresenta depressões e cristas
que correspondem aos elementos do labirinto membranáceo. Na Canais semicirculares
porção póstero-superior da parede medial do vestíbulo está o re-
cesso elíptico ocupado pelo utrículo e nas porções inferior e ante- Os canais semicirculares ósseos estão posicionados superior-
rior dessa parede está o recesso esférico, o qual acomoda o sáculo. mente em relação ao vestíbulo e são denominados superior,
Entre essas duas depressões, há uma crista oblíqua, a crista vesti- posterior e lateral. O superior é também chamado anterior e o
bular, que se divide posteriormente em dois limbos que delimi- lateral, horizontal. Os canais ocupam os três eixos ortogonais
tam uma pequena depressão, conhecida como recesso coclear, a do espaço, formando ângulos retos uns com os outros. Cada
qual aloja o fundo-de-saco, que dá início ao ducto coclear ou canal corresponde a dois terços de um círculo descrevendo
escala média da cóclea. um arco de 240o, e a secção transversa tem diâmetro de 0,8 a
Esse fundo-de-saco, também denominado ceco vestibu- 1 mm. Cada canal possui um ramo simples e um ampular, em
lar, é o início do giro basal da cóclea. Orifícios diminutos es- cuja extremidade há uma dilatação denominada ampola, me-
tão presentes no recesso esférico, constituindo a mácula crivo- dindo cerca de 1,5 mm de diâmetro (Figuras 1.27 e 1.28).
sa média que corresponde à área vestibular inferior do fundo Apesar de serem três canais, apenas cinco orifícios
do meato acústico interno por onde passam os filetes nervosos abrem-se no vestíbulo, pois o ramo simples do superior junta-se
saculares do ramo vestibular inferior do nervo vestibular. com o do posterior para formar um ramo comum (crus com-
O recesso coclear circunscrito pela divisão da crista ves- mune). Os canais semicirculares são parcialmente ocupados
tibular é perfurado por vários orifícios para a passagem de file- pelos ductos semicirculares do labirinto membranáceo e pela
tes nervosos do ramo coclear do oitavo par. perilinfa circulante no labirinto ósseo (Figura 1.28).

42 Otorrinolaringologia
Ampolas dos ductos semicirculares
anterior e lateral
Ducto endolinfático

Saco
endolinfático
Dura-máter

Ductos
semicirculares: Encéfalo

Superior

Lateral

Posterior

Utrículo
Canalículo
Ducto utricular coclear
Ducto sacular
Sáculo
Ducto
reuniens
Vestíbulo

Ducto
coclear

Tuba auditiva
Cavidade do tímpano
Células mastóideas
Meato acústico externo

FIGURA 1.28 Representação esquemática do órgão vestibulococlear com destaque para o labirinto membranáceo.

O canal semicircular superior dispõe-se transversalmente extensão e tem seu arco dirigido horizontalmente para trás e
ao eixo maior da porção petrosa do osso temporal. Seu arco para fora. Seu ramo ampular abre-se no ângulo súpero-lateral
corresponde aproximadamente à eminência arqueada. Esse do vestíbulo, próximo àquele do canal superior, acima da ja-
canal mede cerca de 15 a 20 mm de comprimento. Seu ramo nela do vestíbulo. O ramo simples abre-se abaixo da abertura
ampular abre-se na parte superior e lateral do vestíbulo, en- do ramo comum. O canal lateral de um lado ocupa o mesmo
quanto o ramo simples (não-ampular) une-se com o ramo sim- plano do canal lateral do outro lado, enquanto o canal supe-
ples do canal semicircular posterior para formar o ramo co- rior de um lado é praticamente paralelo ao canal posterior do
mum (crus commune) de 5 mm de comprimento e que se abre outro lado.
na face medial do vestíbulo.
O canal semicircular posterior é também vertical, po-
rém quase paralelo à face posterior do rochedo. Mede entre Cóclea
18 e 22 mm de comprimento e seu ramo ampular abre-se na
parte inferior do vestíbulo. A ampola desse canal corresponde A cóclea tem o aspecto de uma concha de caracol. Consiste
ao seio timpânico da cavidade timpânica. Os nervos da ampo- em um canal espiralado de 32 mm de extensão, com duas
la chegam pela mácula crivosa inferior que no fundo do mea- voltas (giros) e meia ou duas voltas e três quartos. É a parte
to acústico interno corresponde ao forame singular. O ramo anterior do labirinto. Tem forma cônica, com base medindo 8
simples desse canal junta-se com o correspondente do supe- a 9 mm de largura e 5 mm da base ao ápice. A cúpula da
rior para formar o ramo comum. cóclea está dirigida para fora, para cima e para diante. A base é
O canal semicircular lateral, também chamado ho- a parte do fundo do meato acústico interno correspondente à
rizontal, é o mais curto dos três, medindo de 12 a 15 mm de área crivosa coclear (trato foraminoso espiral). O canal espira-

Anatomia da orelha 43
lado enrola-se ao redor de um eixo ósseo central cônico, o através do modíolo e vão se curvando sucessivamente para fora
modíolo, o qual projeta uma lâmina espiral óssea que divide para atingir a margem aderente (ao modíolo) da lâmina espiral
parcialmente o canal (Figuras 1.29 a 1.32). óssea. Nesse ponto, os canais dilatam-se e a aposição deles forma
O modíolo é um cone ósseo central sobre o qual se enro- o canal espiral do modíolo que segue a margem aderente da lâmi-
la o canal da cóclea. A base do modíolo é larga e corresponde na espiral óssea e aloja o gânglio espiral. Um canal central
ao trato espiral foraminoso do fundo do meato acústico inter- prolonga-se até o ápice do modíolo (Figuras 1.29, 1.30 e 1.32).
no por onde passam os ramos do nervo coclear. Os forames do A cóclea óssea, como foi dito, consiste em dois giros e
trato espiral dão continuidade a pequenos canais que passam três quartos ou dois giros e meio: o primeiro giro, ou giro

Cúpula da cóclea

Rampa vestibular

Helicotrema

Lâmina espiral óssea

Ducto coclear Membrana vestibular


(Reissner)

Rampa timpânica Membrana basilar

Gânglio espiral Nervo coclear

Rampa vestibular
Membrana vestibular
Ducto coclear
Ligamento espiral
Lâmina espiral óssea

Membrana basilar
Rampa timpânica

B Gânglio espiral

FIGURA 1.29 (A) Corte axial esquemático da cóclea. (B) Corte transversal esquemático de um giro coclear.

44 Otorrinolaringologia
Helicotrema

Hâmulo

Lâmina espiral óssea

Rampa vestibular

Ducto coclear

Modíolo
Rampa timpânica
FIGURA 1.30 Representação esque-
mática da cóclea. As setas ascenden-
tes indicam a rampa vestibular e as
descendentes, a rampa timpânica.
(Adaptada de Braus; Elze, 1960.)

3 1
5
4 1

4
1

2
3

6 7

FIGURA 1.31 Cóclea membranácea e meato acústico interno esquer-


dos. (1) Nervo facial. (2) Nervo vestibular. (3) Nervo coclear. (4) Giro
basal da cóclea. (5) Giro apical.

FIGURA 1.32 Cóclea direita aberta com exposição da lâmina espiral


basal, situa-se sob o promontório, na parede labiríntica da ca- óssea (1). (2) Giro apical. (3) Giro médio. (4) Giro basal (rampa timpâ-
nica). (5) Modíolo. (6) Nervo coclear. (7) Nervo vestibular.
vidade timpânica.
O diâmetro da cóclea diminui gradativamente da base
para a cúpula, que é o ápice da cóclea. O diâmetro do canal
ósseo da cóclea é de 3 mm no seu início e mostra três aber- – janela da cóclea, que é fechada pela membrana secun-
turas: dária do tímpano;

Anatomia da orelha 45
– uma abertura ou fissura vestibular, que leva ao ves- – como um exsudato dos vasos sangüíneos do espaço
tíbulo; perilinfático;
– o óstio do canalículo da cóclea, que conduz a um e três – nos espaços com fluidos que rodeiam as bainhas das
quartos ou dois giros e meio: o primeiro giro, ou pequeno ca- fibras nervosas;
nal que se abre na face inferior da porção petrosa do temporal – de um fluxo contínuo de líquido cerebroespinal pelo
e dá passagem a uma veia que vai ao seio petroso inferior e comu- canalículo coclear.
nica o espaço subaracnóideo com a rampa timpânica da cóclea. Esse canalículo é ocupado por tecido conjuntivo frouxo
A lâmina espiral óssea é como a hélice ou crista de um especializado e fluido, constituindo o ducto periótico (peri-
parafuso que se projeta para dentro do canal da cóclea, linfático) que conecta a rampa timpânica com o espaço suba-
dividindo-o parcialmente em duas rampas: a superior, deno- racnóideo na face inferior da pirâmide petrosa na divisão an-
minada rampa do vestíbulo, e a inferior, rampa do tímpano. A terior do forame jugular.
vestibular começa no vestíbulo e a timpânica, na janela co-
clear ou redonda, que é fechada pela membrana secundária do
tímpano (Figura 1.30). A lâmina espiral óssea não atravessa Labirinto membranoso
totalmente a luz do canal, mas alcança aproximadamente me-
tade dela. Essa lâmina é mais larga no giro basal e, a partir daí, É um sistema de vesículas e ductos preenchidos por um líquido
vai diminuindo gradualmente até o ápice, onde acaba antes claro, a endolinfa. Esse conjunto está em sua maior parte circun-
de alcançar o vértice da cóclea, em um processo em forma de dado pelo espaço perilinfático e sustentado por tecido conjunti-
gancho chamado hâmulo da lâmina espiral. Na cóclea com- vo. Ambos estão dentro do chamado labirinto ósseo da cápsula
pleta, isto é, com a parte membranosa, o hâmulo forma um ótica. As partes fundamentais do labirinto membranáceo são o
dos limites do helicotrema, orifício de 0,4 mm onde as duas ducto coclear, o utrículo, o sáculo, os três ductos semicirculares e
rampas se comunicam (Figura 1.30). suas ampolas, e o saco e o ducto endolinfáticos (Figura 1.28).
O limite entre um giro e outro da cóclea denomina-se As várias partes desse labirinto formam um sistema fechado
septo interescalar e pode apresentar defeitos entre o giro mé- de canais que se comunicam entre si. Assim, os ductos semicircu-
dio e o apical, sem ocasionar prejuízo funcional. Do canal lares abrem-se no utrículo e este no sáculo, através do ducto utri-
espiral do modíolo partem, radialmente, numerosos canalícu- culossacular, que também se liga ao ducto endolinfático, que se
los que atravessam a lâmina espiral óssea até sua margem livre resolve no saco endolinfático. O sáculo une-se ao fundo-de-saco
e conduzem filetes nervosos do nervo coclear. do ducto coclear pelo ducto reuniens (Figura 1.28).
O labirinto ósseo descrito é o estojo que contém o labi- O utrículo é a maior das duas vesículas que ocupam o
rinto membranáceo e, entre ambos, ou seja, no espaço peri- vestíbulo. De forma ovóide, ocupa o recesso elíptico, na região
linfático, circula um líquido – a perilinfa. O revestimento do póstero-superior do vestíbulo. A parte do utrículo alojada no
labirinto ósseo até pouco tempo era descrito como sendo uma recesso elíptico é um fundo-de-saco, a que ele está firmemente
membrana fibrosa intimamente aderente ao periósteo. Sabe-se, preso por tecido conjuntivo e pelos filetes nervosos do ramo
entretanto, que estudos ultra-estruturais revelaram que os es- utricular da divisão vestibular do nervo vestibulococlear. Esses
paços ocupados pelo líquido periótico (perilinfa) são limita- filetes procedem de uma área relativamente espessa, de 3 por 2
dos por células perilinfáticas, como fibrócitos, juntamente com mm, das paredes lateral e anterior, denominada mácula do utrí-
feixes de fibras extracelulares. As células, nos espaços perilin- culo, que marca a região do que se pode chamar órgão senso-
fáticos estreitos, são essencialmente reticulares ou estreladas e rial utricular. Na parede lateral do utrículo, abrem-se as am-
seus prolongamentos citoplasmáticos laminares cruzam e sub- polas dos ductos semicirculares anterior e lateral, enquanto a
dividem o espaço perilinfático em uma série de fendas inter- ampola do ducto semicircular posterior, o ramo comum (crus
celulares intercomunicantes, de formas e tamanhos variáveis. commune) e o ramo simples do ducto semicircular lateral de-
Nos locais onde o espaço perilinfático é largo, como nas ram- sembocam na parte medial do utrículo. Da face ântero-medial
pas vestibular e timpânica, e também no vestíbulo, as células do utrículo nasce um fino tubo, o ducto utriculossacular, que
perilinfáticas que revestem o periósteo e cobrem a superfície se comunica com o sáculo e com o ducto endolinfático.
do labirinto membranáceo são totalmente achatadas, com ci- O sáculo é também uma vesícula ovóide, porém menor
toplasma sem características, exceto na superfície perilinfática do que o utrículo. Apóia-se no recesso esférico do vestíbulo,
da membrana basilar da cóclea, onde as células são cubóides. junto à abertura da rampa vestibular da cóclea, sustentado
A perilinfa ou líquido periótico ocupa os espaços pe- por tecido fibroso e pelos filetes do ramo sacular da divisão
rilinfáticos (vestíbulo, rampas timpânicas e vestibular, canais vestibular do oitavo par.
semicirculares, o ducto periótico (perilinfático) contido den- O sáculo, através da sua face superior, está em contato
tro do aqueduto ou canalículo coclear, o fundo-de-saco da com a face inferior do utrículo, formando aí uma parede co-
rampa timpânica e o espaço ao redor da porção proximal do mum a ambos. Um espessamento da parede anterior indica o
seio e ducto endolinfático) e possui composição semelhante local da mácula do sáculo, num plano em ângulo reto com a
ao líquido cerebroespinal, tendo sido descrita também com mácula do utrículo. Os filetes nervosos saculares originam-se
um ultrafiltrado de plasma. na mácula.
Não foram ainda devidamente estabelecidos os me- O ducto endolinfático nasce da junção dos ductos utri-
canismos de produção, circulação e absorção da perilinfa, mas cular e sacular, de forma semelhante a um Y, em que os ramos
supõe-se que têm três origens: superiores representam os ductos utricular e sacular respecti-

46 Otorrinolaringologia
vamente, e o ramo inferior o ducto endolinfático. Este se diri-
ge medial e inferiormente dentro do aqueduto do vestíbulo
para terminar numa dilatação, o saco endolinfático, situado
dentro da dura-máter, na face posterior da porção petrosa do
temporal, à meia distância entre o meato acústico interno e o
seio sigmóide, isto é, na abertura do aqueduto do vestíbulo
Ampola do ducto
(Figura 1.28). semicircular
O sáculo liga-se ao ducto coclear através do ducto reuni- Cúpula
ens, um curto tubo que vai da parte inferior do sáculo até o gelatinosa
fundo-de-saco da extremidade vestibular – ceco vestibular – Cílios das
do ducto coclear. células
Os ductos semicirculares são três tubos que se abrem no sensoriais
utrículo por cinco orifícios. Representam cerca de um quarto
do diâmetro dos canais semicirculares onde se alojam e aos
quais se assemelham na forma e posição. Os ductos são man- Células de
sustentação
tidos encostados à parede externa dos canais através de feixes
fibrocelulares do espaço perilinfático e, assim como os canais,
cada ducto relaciona-se ortogonalmente com os outros. Cada
A B
ducto apresenta uma extremidade ampular e outra não ampu- Terminações
lar ou simples, que se abrem no utrículo, conforme foi descri- nervosas
to (Figura 1.28). Nas ampolas, nota-se a parede espessada que Crista ampular
se projeta no interior da luz como uma constricção em forma
de 8; é o septo transverso, cuja parte mais proeminente cons- FIGURA 1.33 Ampola do ducto semicircular (A) com a crista ampular
(B) ampliada.
titui a crista ampular.

Estrutura dos ductos semicirculares, microvilos modificados, de comprimento variável, obedecen-


do utrículo e do sáculo do a uma ordem polarizada em relação a um único e longo
cinocílio fixo à borda da célula. As células ciliadas do tipo I têm
As paredes dessas estruturas são formadas por três cama- aspecto piriforme, de base arredondada, e um colo curto.
das: a camada externa de tecido fibroso frouxo contendo Excetuando-se a extremidade livre, cada célula é rodeada por uma
vasos sangüíneos e células pigmentadas, no espaço perilin- terminação nervosa (do nervo vestibular) em forma de cálice.
fático, em contato com o periósteo do labirinto ósseo. A As células ciliadas do tipo II são cilíndricas, e a parte
camada média (vascularizada) é representada por fibras con- basal está em contato com diversos botões sinápticos. Os ter-
juntivas, com projeções papiliformes nos ductos semicir- minais são granulados e não-granulados. Os não-granulados
culares. A camada interna consiste em um epitélio simples exibem as vesículas claras e nos granulados as vesículas con-
apoiado numa membrana basal. têm material eletrodenso.
Entre cada crista e a parede lateral da ampola há uma Os terminais não-granulados são de fibras nervosas aferen-
área de epitélio alto que em secção transversa tem forma de tes que veiculam informações sensoriais para o sistema nervoso
meia-lua e, por isso, denominada plano semilunado. Os epi- central. Os terminais granulados são de fibras eferentes que iner-
télios das áreas não-especializadas do labirinto membranáceo vam as células do tipo II, cuja atividade modifica o limiar efetivo
apresentam células claras e escuras, com estruturas bastante da célula ciliada para estímulos sensoriais (Figura 1.34).
distintas. Algumas áreas do epitélio do utrículo e das paredes O cálice da célula ciliada tipo I é também um terminal
das ampolas dos semicirculares consistem em células escuras de fibra aferente vestibular, contudo não se sabe com certeza
que se assemelham às células de epitélios como dos túbulos se a transmissão é neuroquímica ou elétrica. Botões granula-
renais, do ducto parotídeo e de glândulas secretoras. Supõe-se dos são encontrados também no cálice das células do tipo I e
que as células escuras estão relacionadas com o controle da provavelmente são terminais eferentes que modificam as ca-
composição iônica da endolinfa. Nas máculas e nas cristas, racterísticas de transmissão do cálice. As células ciliadas do
essas três camadas sofrem um espessamento que provoca ele- tipo 1 são consideradas como a variedade mais discriminativa.
vações características. Nas cristas ampulares há um espessa- Os cálices derivam de fibras nervosas vestibulares de grande
mento das três camadas da parede membranácea, que consiste diâmetro e de rápida condução, cada uma delas inervando um
em tecido conjuntivo, vasos sangüíneos, fibras nervosas e um grupo localizado de células do tipo I.
neuroepitélio sensorial, todos cobertos por uma cúpula gelati- Assim não acontece com as células do tipo II, que rece-
nosa (Figura 1.33). bem botões de várias fibras nervosas vestibulares de pequeno
O epitélio das cristas consiste em células ciliadas e de diâmetro; cada uma delas inerva um grande número de célu-
sustentação. As células ciliadas são sensoriais e identificam-se las do tipo II distribuídas sobre uma ampla área (Figura 1.34).
dois tipos, I e II (Figura 1.34). A cabeça, livre, dos dois tipos As células de sustentação são alongadas, providas de mi-
de células ciliadas contém de 40 a 100 estereocílios, que são crovilos, apoiadas na lâmina basal. Não há informações preci-

Anatomia da orelha 47
CÉLULA DO TIPO I CÉLULA DO TIPO II

Cinocílio
Estereocílios
Estereocílios Cinocílio

Células de
sustentação

Mitocôndrias

Terminações
nervosas
Aparelho de
Golgi

Eferente em
forma de cálice

Aferente

Aferente

FIGURA 1.34 Células sensoriais dos tipos I e II do neuroepitélio das cristas ampulares e das máculas utricular e sacular. (Adaptada de Bloom, 1975.)

sas se as células de sustentação estão relacionadas à constric- Na face inferior do utrículo sai o ducto utricular, mar-
ção das células ciliadas ou à modificação da composição da geando a parede do utrículo para se abrir dentro do seio do
endolinfa que preenche o labirinto membranáceo. Os cílios ducto endolinfático. O orifício do ducto utricular junto ao
das células ciliadas e os processos das células de sustentação utrículo tem forma de fenda e é conhecido como válvula
projetam-se dentro de uma massa gelatinosa em forma de utriculoendolinfática (Figura 1.36).
abóbada, chamada cúpula. Essa massa é composta de pro- O ducto endolinfático inicia-se na junção dos ductos utri-
teínas e polissacarídeos, principalmente. Essa cúpula cular e sacular, formando aí uma dilatação conhecida como seio
movimenta-se de um lado para outro devido à corrente da endolinfático, localizada em um sulco da parede póstero-lateral
endolinfa (Figura 1.33). do vestíbulo e que atravessa o aqueduto do vestíbulo para termi-
As máculas utricular e sacular são formações que apre- nar na abertura externa desse aqueduto, onde continua no saco
sentam células ciliadas e de sustentação semelhantes às das endolinfático. Estruturalmente, o ducto assemelha-se às demais
cristas ampulares. Contudo, a massa gelatinosa na qual os es- partes não-especializadas do labirinto membranáceo.
tereocílios se projetam é mais achatada; ela é chamada mem- O saco endolinfático, por sua vez, mostra, na parte proxi-
brana otolítica. Essa membrana, de natureza protéica, contém mal, epitélio cubóide sobre tecido conjuntivo frouxo com nume-
concreções de carbonato de cálcio, chamadas otólitos ou oto- rosos capilares; a parte intermédia ou rugosa parcialmente no aque-
cônios, que conferem à mácula fresca uma coloração branca duto vestibular e parcialmente entre as camadas da dura-máter
opaca (Figura 1.35). exibe epitélio cilíndrico alto, com células claras e escuras, irregu-

48 Otorrinolaringologia
Otólitos

Membrana gelatinosa
(otolítica)

Cílios

Células sensoriais

Terminações nervosas

Células de sustentação

FIGURA 1.35 Representação esquemática da mácula (utricular e sacular).

larmente disperso em papilas e criptas com microvilosidades e microlitros e sua composição iônica assemelha-se à do líquido
vesículas pinocitóticas, sobre um conjuntivo areolar ricamente intracelular, isto é, rica em íons de K+ e extremamente pobre em
vascularizado. A parte distal, lisa, adjacente ao seio sigmóide, está íons de Na+. A perilinfa, como foi descrito, é um fluido compará-
completamente dentro da dura-máter. As células epiteliais di- vel ao líquido extracelular ou ao líquido cefalorraquidiano.
minuem de tamanho, de modo que, no extremo distal do saco, Admite-se que a endolinfa é um produto de secreção de
apenas células cubóides são encontradas. O tecido conjuntivo várias estruturas, como as células escuras do utrículo e ductos
subepitelial contém uma extensa rede capilar e continua no con- semicirculares, as células do plano semilunado das ampolas, as
juntivo que circunda o seio sigmóideo (Figura 1.36). próprias células epiteliais especializadas e os vasos sangüíneos
A endolinfa ou líquido ótico preenche todas as partes do da estria vascular do ducto coclear. Também é aceito que a
labirinto membranáceo e tem composição completamente di- endolinfa circula no labirinto membranáceo e que é reabsor-
ferente da perilinfa que ocupa o espaço externo, ou seja, o vida por células epiteliais especializadas, do saco endolinfáti-
espaço perilinfático. O volume de endolinfa circulante é de 3 co, canalizando para o plexo vascular subjacente.

Saco endolinfático:
Porção lisa
Utrículo
Ducto utricular

Ducto sacular
Ducto coclear

Porção rugosa
Sáculo

Seio endolinfático
Ducto endolinfático no
aqueduto do vestíbulo

FIGURA 1.36 Esquema da formação do ducto e do saco endolinfático. (Adaptada de Anson; Warpeha; Rensink, 1968.)

Anatomia da orelha 49
Ducto coclear (Figura 1.37). Essa membrana apóia-se sobre uma fina mem-
brana basal e separa as células de sustentação da perilinfa da
O ducto coclear consiste em um ducto epitelial disposto espi- rampa timpânica.
ralmente entre a lâmpada espiral óssea, internamente, e a pa- A estrutura conjuntiva que suporta o epitélio do órgão
rede óssea da cóclea, externamente. Apresenta forma triangu- de Corti é formada por uma membrana basal homogênea, uma
lar em secção transversa e é formado por três paredes: o liga- camada fibrilar e pelo revestimento timpânico situado ao
mento espiral, a membrana vestibular e a membrana basilar lado da rampa timpânica, este formado por uma camada
(lâmina espiral membranosa). Começa no vestíbulo (ceco ves- de células mesenquimais de espessura variável. A resistên-
tibular) como um fundo-de-saco conectado ao sáculo através cia da membrana basilar é devida à camada fibrilar forma-
do ducto reuniens e, assim como a cóclea óssea, estende-se por da por fibras colágenas radiais que se estendem do limbo
32 mm formando duas voltas e meia: o giro basal, o giro mé- ao ligamento espiral. Essas fibras, de comprimento variá-
dio e o giro apical incompleto; termina no fundo-se-saco da vel, estão submersas em uma substância fundamental ho-
cúpula ou ceco cupular, distalmente ao hâmulo da lâmina es- mogênea, exceto na porção interna da membrana. Proce-
piral óssea (Figuras 1.28 a 1.31). dem da lâmina espiral de um lado e continuam nas fibras do
O ducto coclear que vai do vestíbulo à cúpula da cóclea ligamento espiral do outro lado, formando um sistema que
começa e acaba em fundo cego e, ao nível do último giro, supostamente estaria em tensão. Da base da cóclea até o ápice,
apresenta contorno oval alongado, em secção transversa, em o comprimento e a largura das fibras aumentam. Na porção
vez de triangular. da membrana basilar situada na área das células ciliadas, as
Num sulco raso da parede lateral da cóclea encontra-se fibras são muito mais finas do que as próximas à lâmina espi-
uma camada especializada, resultante do espessamento do en- ral. A essa camada fibrilar foi atribuído um importante signifi-
dósteo, o ligamento espiral. Esse ligamento é constituído de cado funcional, sendo considerada um ressonador. É comum
um complicado arranjo de células de tecido conjuntivo, fibró- dizer-se que a membrana basilar vibra, atuando como um res-
citos, substância intercelular e uma rica rede vascular. sonador. Contudo, hoje se discute se as fibras dessa membra-
Uma projeção desse ligamento para dentro forma uma na estão sob tensão.
saliência triangular, a crista basilar, à qual prende-se a borda O órgão espiral ou de Corti é formado por uma série
lateral da membrana basilar. Acima da crista basilar há um de estruturas epiteliais situadas sobre a membrana basilar.
sulco espiral externo, limitado superiormente por um espessa- As estruturas centrais são duas séries de células chamadas
mento do periósteo muito vascularizado denominado eminên- células cilíndricas ou colunares internas (± 6 mil células) e
cia espiral, a qual continua para cima numa área especializada, externas (± 4 mil células) de Corti, também conhecidas
a estria vascular. como pilares (Figura 1.38).
A eminência espiral consiste em uma camada simples de
células cubóides interpostas às células do sulco espiral externo
e à estria vascular. Pilar interno Pilar externo
A estria vascular, que ocupa a parede externa do ducto Processo falângico
coclear logo acima da eminência espiral e abaixo do ponto de Placa cefálica
fixação da membrana vestibular, ou de Reissner, mostra epité-
lio estratificado especializado com um plexo capilar in-
tra-epitelial. O epitélio apresenta três tipos de células: Cabeça
– células marginais escuras ou cromófilas, encontradas
na superfície endolinfática;
– células intermédias claras ou cromófobas; Cabeça
– células basais.
Uma rica rede de capilares encontra-se dentro da estria
vascular que é responsável pelo transporte de íons que man-
têm a composição iônica da endolinfa. Corpo
As células epiteliais podem apresentar grânulos de pigmen- Corpo
tos, estriação basal do citoplasma e disposição seriada de mito- Fibrilas
côndrias, indicando que essa estria, muito vascularizada, tem ati- Túnel
vidade secretora; admite-se que é produtora de endolinfa. interno
A membrana basilar, área mais diferenciada do ducto co-
clear, estende-se do lábio timpânico da lâmina espiral óssea à cris-
ta basilar do ligamento espiral, alcançando 104 micrometros de
largura na extremidade basal e 504 micrometros na extremidade
apical. A membrana basilar divide-se em duas porções: Placa pediosa Placa pediosa
– zona arqueada, estendida desde o limbo da lâmina es-
Membrana basilar
piral óssea até a base dos pilares externos, sob o túnel de Corti;
– zona pectinada, mais espessa, que, da base dos pilares FIGURA 1.37 Células colunares internas e externas que delimitam o
externos, estende-se até a crista basilar do ligamento espiral túnel interno ou túnel de Corti.

50 Otorrinolaringologia
Célula ciliada interna
Pilar interno

Célula interdental Pilar externo


Células ciliadas externas
Membrana tectória
Membrana reticular Túnel externo

Células de Hensen

Células de Claudius
Sulco espiral
interno

Célula limitante
Espaço de

Célula falângica
interna Nuel

Crista basilar do
Células de ligamento espiral
Fibras nervosas Boettcher
amielínicas no Células falângicas
Lábio timpânico túnel interno (Deiters)
da lâmina espiral
óssea

Fibras mielínicas RAMPA TIMPÂNICA (PERILINFA)


do nervo coclear NA+ K+

FIGURA 1.38 Representação esquemática do órgão espiral (de Corti) no giro basal da cóclea. (Adaptada de Bloom; Fawcett, 1975.)

As bases ou placas pediosas (onde se localiza o núcleo) nel externo, entre as células ciliadas externas e as células de
dessas células colunares internas e externas são largas e apóiam-se Hensen existe o túnel externo, e entre as células ciliadas exter-
na membrana basilar, guardando uma certa distância entre si, nas e as células colunares externas de Corti, que formam o
de tal forma que as duas séries de células inclinam-se uma de pilar externo, há um espaço conhecido como espaço de Nuel.
encontro a outra, unindo-se pela extremidade apical ou cefáli- Todos esses espaços intercomunicam-se e são preenchidos por
ca e formando, juntamente com a membrana basilar, o túnel um líquido denominado cortilinfa, que não se comunica com
de Corti. O citoplasma dessas células contém fascículos de fi- os outros dois líquidos, isto é, a peri e a endolinfa (Figuras
brilas de sustentação do tipo tonofibrilar ou talofibrilar. Esse 1.38 e 1.39).
talo começa em forma de pincel, isto é, com as fibrilas diver- As células ciliadas internas e externas constituem os
gindo na placa pediosa, juntando-se a seguir no segmento médio receptores auditivos primários e são cilíndricas ou piri-
e novamente irradiando as fibrilas na porção cefálica, produ- formes, segundo sua posição no órgão de Corti. As cabeças
zindo uma estriação longitudinal na cabeça do pilar interno. ou extremidades livres estão no mesmo nível das cabeças
Medialmente aos pilares internos, há uma única fileira de célu- dos pilares e contêm tufos de 50 a 100 estereocílios dispos-
las (sensoriais) ciliadas internas; lateralmente aos pilares exter- tos rigorosamente em séries, enquanto suas bases estão na
nos, há três ou quatro (às vezes cinco) fileiras de células (senso- altura do centro dos pilares, em contato com terminações
riais) ciliadas externas suportadas pelas células de sustentação, de fibras do ramo coclear do oitavo par. Essas fibras proce-
chamadas células falângicas de Deiters. Há também outras cé- dem dos neurônios bipolares do gânglio espiral situado no
lulas de sustentação, conhecidas como células de Hensen, de canal espiral do modíolo.
Claudius e de Boettcher (Figuras 1.37 e 1.38). As células ciliadas internas são cerca de 3.500, dispostas
As células ciliadas externas delimitam outros espaços que em uma única fileira internamente aos pilares internos e en-
se ligam entre si e com o túnel de Corti (túnel interno). Entre volvidas por células falângicas e células da margem do sulco
as células ciliadas externas e as células de Hensen existe o tú- espiral interno. As extremidades livres dessas células são cir-

Anatomia da orelha 51
Estereocílios las ciliadas externas são suportadas pela membrana reticular,
apicalmente, e pela concavidade em forma de taça das células
de Deiters, basalmente, exceto nos contatos sinápticos com as
Placa falângica terminações nervosas (Figura 1.40). As extremidades livres das
células ciliadas externas ocupam as aberturas da lâmina reti-
cular, uma membrana em forma de malha. A membrana reti-
cular é uma tênue lâmina perfurada que se estende dos pilares
externos até a fileira externa das células ciliadas externas; é
Processo constituída por várias fileiras de estruturas cuticulares minús-
Célula ciliada falângico
culas chamadas falanges, entre as quais há aberturas para as
externa
células ciliadas externas.
Terminação As células marginais (células limitantes) e falângicas in-
nervosa aferente ternas encontram-se no sulco espiral interno. Entre as células
marginais e as falângicas internas está a única série de células
ciliadas internas. As células falângicas internas são estreitas e
Célula de Deiters
adaptam-se à face interna do pilar interno. Sua pequena cabe-
ça, em forma de falange, está situada entre as cabeças de
duas células ciliadas internas e unida a elas. O citoplasma
Terminação mostra-se longo e vacuolado com tonofibrilas. As células
nervosa marginais ou limitantes são também estreitas e intimamente
aferente
adaptadas à face interna das células ciliadas internas. As
Filetes células falângicas externas ou de Deiters dispõem-se entre as
nervosos fileiras das células ciliadas externas, com suas bases dilatadas
do nervo
coclear assentadas na membrana basilar e suas extremidades opostas
apresentando forma de cálice ou taça, onde se encaixam as
bases das células ciliadas externas.
Além disso, as células de Deiters continuam em um pro-
cesso falângico digitiforme que se projeta para cima, entre as

FIGURA 1.39 Aspecto ultra-estrutural da célula ciliada externa do ór- Placa falângica
gão de Corti e da célula de Deiters.

cundadas pela membrana cuticular, que se fixa nos pilares in- Processo falângico
ternos. As cabeças das células ciliadas internas são encimadas
por 50 ou 60 estereocílios arranjados de modo crescente, e as
bases estão em contato com botões sinápticos das terminações Célula ciliada
nervosas do ramo coclear. Esses botões são terminais de fibras externa
aferentes e, algumas, eferentes. As fibras eferentes também pa-
recem fazer sinapse com as fibras aferentes.
As células ciliadas externas, por sua vez, embora seme- Fibrilas
lhantes às internas, são mais especializadas. Possuem usual-
mente cem estereocílios no giro basal e de 50 a 80 no médio e Fibra nervosa
apical, mais longos do que os das células internas e dispostos aferente
de três a sete fileiras, formando um W com a base voltada para (nervo coclear)
o ligamento espiral quando vistos pela superfície. Essas célu-
las, em número de 20 mil, são mais longas (medem 12 micro-
metros de altura) do que as internas. No giro basal da cóclea,
Célula de
estão dispostas em três fileiras regulares, enquanto no giro apical Taça de sustentação
sustentação
em quatro ou cinco (Figura 1.39). para a célula ciliada
(Deiters)
Diversos tipos de células de sustentação estão associados
com as células ciliadas internas e externas, tais como as células
marginais internas, as células falângicas internas, as células
falângicas externas (ou de Deiters), as células de Hensen, as
células de Claudius, as células de Boettcher e as células colu- FIGURA 1.40 Célula de Deiters (célula falângica externa) sustentan-
nares internas e externas (pilares internos e externos). As célu- do a célula ciliada externa.

52 Otorrinolaringologia
células ciliadas até alcançar a membrana reticular. As células Lâmina espiral óssea
de Deiters dispõem-se uma após outra em tantas séries quan-
tas forem as células ciliadas externas. Originariamente, são O ducto coclear, formado pelas membranas basilar, vesti-
células epiteliais cilíndricas que se transformam de modo pe- bular e pelo ligamento espiral, é sustentado e completado
culiar com o desenvolvimento das células ciliadas externas que pela lâmina espiral óssea (formação comparável à de uma
elas suportam. A extremidade cônica inferior forma o cálice escada em caracol) (Figuras 1.19, 1.30 e 1.32). Essa lâmi-
ou a taça de sustentação que suporta a base das células ciliadas na, no último giro da cóclea, separa-se do modíolo e termi-
externas e continua como um prolongamento falângico, ter- na livremente em forma de gancho, o chamado hâmulo ou
minando na cabeça superior ou placa falângica. Também essas rostro da lâmina espiral, que não chega a encostar no teto
células, à semelhança dos pilares, apresentam um sistema de da última porção do conduto. Consiste em duas lamínulas
fibrilas de sustentação no citoplasma. As placas cefálicas das de osso que delimitam diminutos canais, por onde passam
células de Deiters parecem estar unidas por bandas de cimen- os filetes nervosos procedentes das bases das células cilia-
to para constituir a membrana reticular, em cujos orifícios es- das do órgão de Corti para formar o ramo coclear do nervo
tão as extremidades superiores das células ciliadas. vestibulococlear.
Ultra-estruturalmente está comprovado que não existe uma A metade superior da lâmina espiral óssea está pratica-
membrana formada por substância cimentante intercelular. A mente dentro do ducto coclear, e o periósteo que a reveste é
imagem reticular deve-se à densidade da membrana celular, muito espessado, formando o limbo da lâmina espiral, onde
segundo o tipo de desmossomos nos locais onde as células se prende à membrana vestibular. O limbo contribui para li-
falângicas abraçam as células ciliadas. mitar uma concavidade em forma de C, o sulco espiral inter-
As células de Hensen são representadas por 5 ou 6 filei- no, cuja borda superior se chama lábio vestibular, e a inferior,
ras de células cilíndricas altas, sem tonofibrilas, situadas no lábio timpânico, onde se prende à extremidade interna da
lado externo das células de Deiters. Essas células apresentam membrana basilar. O lábio timpânico é perfurado por diver-
as extremidades basais pequenas e extremidades cefálicas que sos pertuitos que permitem a passagem dos filetes do nervo
se juntam com as células de Deiters externas para formar o coclear. O lábio vestibular apresenta, em sua superfície,
túnel externo – ocupado por endolinfa – cujo soalho é forma- sulcos perpendiculares entre si, determinando formações
do pelas extremidades basais das três primeiras células de Dei- semelhantes a dentes, chamados dentes auditivos. As células
ters. As células de Claudius são células curtas no fundo do cilíndricas que se colocam nos sulcos, denominadas interden-
sulco espiral externo. tais, secretam a membrana tectória que cobre o sulco espiral e
Exceto as células colunares (pilares), todas as demais cé- o órgão de Corti.
lulas de sustentação possuem várias microvilosidades nas suas
superfícies livres, o que sugere uma certa vida funcional asso-
ciada ou com a composição iônica da endolinfa ou com a fixa- Nervo vestibulococlear
ção da membrana tectória (Figura 1.38).
A membrana tectória é uma estrutura gelatinosa, rica O nervo vestibulococlear, também conhecido como estatoa-
em água, colocada sobre o sulco espiral interno e o órgão de cústico, é o oitavo par craniano e emerge entre a ponte e o
Corti. Estruturalmente, consiste em uma matriz gelatinosa bulbo no ângulo cerebelopontino; penetra no meato acústico
contendo minúsculas fibrilas. Na verdade, são filamentos de interno juntamente com os nervos facial e intermédio e, no
proteína com mucopolissacarídeos. A membrana tectória fundo do meato, divide-se em um ramo anterior ou coclear e
fixa-se no limbo vestibular da lâmina espiral óssea e é mais outro posterior ou vestibular (Figuras 1.31, 1.32 e 1.41).
larga no giro apical da cóclea. A borda externa afilada da mem- O nervo vestibular veicula fibras aferentes somáticas
brana tectória é livre e alcança as células de Hensen. Na zona especiais proprioceptivas procedentes do utrículo, sáculo e
do limbo, a membrana prende-se às células interdentais, cuja ampolas dos ductos semicirculares. As fibras desse nervo
secreção, acredita-se, forma a membrana. Na porção média, a originam-se de neurônios bipolares situados no gânglio ves-
membrana tectória está sobre o órgão de Corti, e os estereocí- tibular (gânglio de Scarpa) do tronco do nervo dentro do
lios das células ciliadas estão imersos e firmemente fixos nela. meato acústico interno. Os prolongamentos centrais ter-
Admite-se que a membrana tectória atue como um vibrador minam nos núcleos vestibulares medial, lateral, superior e
(Figura 1.38). espinhal. Algumas fibras seguem sem interrupção até o ce-
A membrana vestibular (Reissner) separa o ducto co- rebelo.
clear da rampa vestibular. É uma lâmina delgada de 0,003 No interior do meato, distal ao gânglio, o nervo ves-
mm de espessura que se estende do limbo da lâmina espiral tibular divide-se em ramos superior, inferior e posterior. Os
óssea até a parte mais alta do ligamento espiral, imediata- filetes nervosos do ramo superior destinam-se à mácula utri-
mente acima da estria vascular. É formada por duas cama- cular e às cristas ampulares dos ductos semicirculares anterior
das de células epiteliais separadas por uma fina lâmina ba- e lateral e atravessam o forame da área vestibular superior do
sal. Na superfície da membrana voltada para a rampa vesti- fundo do meato acústico interno (Figura 1.41).
bular (perilinfa), o endotélio é formado por células espes- Os filetes do ramo inferior atravessam os forames da área
sas na zona ventral perinuclear. Na superfície endolinfáti- vestibular inferior, para suprir a mácula do sáculo. A mácula
ca, isto é, voltada para o ducto coclear, as células do epité- do sáculo também recebe um pequeno ramo da divisão supe-
lio são escamosas. rior do nervo vestibular. O ramo posterior, cujas fibras se dis-

Anatomia da orelha 53
Ramo sacular
Ramo ampular superior

Ramo utricular Ramo ampular lateral


Gânglio vestibular

Nervo vestibular:

Ramo superior

Ramo inferior

Nervo coclear

Anastomose vestibulococlear

Gânglio espiral

Cóclea
Ramo ampular posterior
FIGURA 1.41 Ramos do nervo vestibulococlear para o labirinto.

tribuem na crista ampular do ducto semicircular posterior, passa A maioria das fibras nervosas do nervo coclear distribui-se
pelo forame singular do meato acústico interno (Figura 1.41). para as células ciliadas internas. Cada célula recebe termina-
São descritas anastomoses vestibulofaciais e vesti- ções de diversas fibras aferentes, as quais recebem terminações
bulococleares. Admite-se que um feixe de fibras da divisão sinápticas de ramos de fibras eferentes inibidoras, dispostas
superior do nervo vestibular une-se ao nervo facial e, após um radialmente.
certo percurso, retoma ao tronco do nervo facial. A anasto- As células ciliadas externas recebem menos fibras do nervo
mose vestibulococlear consiste em fibras eferentes que saem coclear do que as internas. Cada fibra aferente inerva diversas
do ramo sacular da divisão inferior do nervo vestibular para células ciliadas externas.
alcançar o nervo coclear. É oportuno registrar que o nervo vestibular contém um
O ramo coclear do nervo vestibulococlear compõe-se de componente eferente cujas fibras têm origem em três peque-
fibras exteroceptivas aferentes somáticas especiais cujos pro- nos grupos celulares, um dos quais no núcleo vestibular late-
longamentos periféricos terminam no órgão espiral de Corti e ral no soalho do quarto ventrículo. Essas fibras presumivel-
cujos prolongamentos centrais terminam nos núcleos cocleares mente medeiam o controle central dos receptores vestibulares
ventral e dorsal, na transição bulbopontina (Figuras 1.31 e 1.32). (células ciliadas das máculas utricular e sacular e das cristas
O nervo (ramo) coclear, ou nervo da audição, apre- das ampolas dos ductos semicirculares), conforme menciona-
senta vários filetes no fundo do modíolo que se destinam do previamente. O mesmo acontece com o nervo coclear, que
aos giros basal e médio do ducto coclear, passando pelos contém uma interessante conexão reflexa coclear, o feixe oli-
forames do trato espiral foraminoso, e filetes que se diri- vococlear ou feixe coclear eferente. São fibras cruzadas e dire-
gem ao giro apical da cóclea, passando pelo canal central tas do feixe olivococlear que se projetam do tronco encefálico
do modíolo, e, a seguir, curvam-se para fora entre as duas (núcleo olivar superior da ponte) sobre a cóclea e formam uma
lamínulas da lâmina espiral óssea. via pela qual o sistema nervoso central pode influenciar suas
Os prolongamentos que formam o nervo coclear ori- próprias percepções sensoriais.
ginam-se de neurônios bipolares situados no gânglio espiral, Além do feixe coclear eferente, que representa es-
que ocupa o canal espiral do modíolo (Figura 1.32). sencialmente um sistema de retroação inibitória para os re-
As fibras periféricas atravessam o lábio timpânico da ceptores sensitivos primários, os núcleos cocleares recebem
lâmina espiral óssea, perdem sua bainha mielínica e também fibras eferentes descendentes de vários núcleos das
distribuem-se – algumas vão para as bases das células cilia- vias auditivas. Essas fibras procedem dos colículos inferio-
das internas e outras atravessam o túnel de Corti e o espaço res, dos núcleos do lemnisco medial e da oliva. Essas vias
de Nuel, imersas na endolinfa, para alcançar as células ci- descendentes podem inibir impulsos relacionados a certas
liadas externas. Esses espaços endolinfáticos são os únicos freqüências do espectro auditivo e, dessa maneira, amplifi-
locais do organismo em que fibras nervosas transitam li- car os impulsos relacionados a freqüências não sujeitas a
vremente através de um líquido. essa inibição.

54 Otorrinolaringologia
Vascularização da orelha interna propriamente dito, e outra menor, a raiz sensitiva e visceral co-
nhecida como nervo intermédio de Wrisberg. O nervo facial, jun-
O suprimento sangüíneo do labirinto membranoso deriva pre- tamente com o vestibulococlear, penetra no meato acústico inter-
dominantemente da artéria labiríntica interna. Essa artéria nasce no no fundo do qual o facial e o intermédio formam um único
geralmente da cerebelar ântero-inferior, mas pode nascer como tronco que entra no canal facial e daí percorre um complicado
um ramo independente da basilar. A artéria labiríntica supre trajeto no osso temporal, onde dá origem a muitos dos seus ra-
os nervos e a dura-máter do meato acústico interno, o osso mos. As fibras que compõem o nervo facial são:
contíguo ao meato e a área medial da orelha interna (Figura – Eferentes viscerais especiais, que se destinam aos mús-
1.42). Divide-se em artéria coclear comum e artéria vestibular culos de origem branquiomérica, isto é, músculos da mímica,
anterior. A coclear comum divide-se para formar a artéria co- estapédio, estilo-hióideo e ventre posterior do digástrico.
clear principal e a vestibulococlear. Esta última emite a vesti- – Eferentes viscerais gerais responsáveis pela inervação
bular posterior e um ramo coclear. A coclear principal supre os (fibras secretoras pré-ganglionares) das glândulas lacrimal, sub-
três quartos superiores da cóclea e do modíolo. O ramo coclear mandibular e sublingual. As fibras para as glândulas subman-
da vestibulococlear supre o quarto basal da cóclea e do modío- dibular e sublingual integram o nervo corda do tímpano e
lo adjacente, enquanto o ramo vestibular posterior supre a má- terminam no gânglio submandibular (parassimpático) anexo
cula do sáculo, a crista e o canal semicircular posterior e a pare- ao nervo lingual, de onde partem fibras pós-ganglionares que
de inferior do utrículo e sáculo. A vestibular anterior irriga a alcançam as glândulas. As fibras para a glândula lacrimal são
mácula do utrículo, pequena parte da mácula do sáculo e a parte do nervo petroso superficial maior que forma o nervo
parede superior de ambas as máculas (Figura 1.43). do canal pterigóideo (nervo vidiano) e atinge o gânglio pteri-
As veias do vestíbulo e os canais semicirculares acom- gopalatino, de onde partem as fibras parassimpáticas
panham as artérias e recebem as veias da cóclea na base do pós-ganglionares para a glândula lacrimal.
modíolo para formar a veia labiríntica, que drena para o seio – Aferentes viscerais especiais, que conduzem impulsos
petroso superior ou para o seio transverso da dura-máter. gustativos dos dois terços anteriores da língua (através do ner-
vo corda do tímpano) e da fossa tonsilar e palato (via nervo
petroso superficial maior). Essas fibras passam pelo gânglio
Nervo facial genicular e penetram no tronco encefálico pela raiz sensitiva
do nervo facial, ou seja, pelo nervo intermédio.
O nervo facial, oitavo par craniano, é um nervo misto com cinco – Aferentes viscerais gerais, responsáveis pela sensibilidade
componentes funcionais. Tem origem aparente no sulco bulbo- de parte da mucosa do nariz, faringe e parte do palato mole.
pontino através de duas raízes, uma maior, motora, o nervo facial – Aferentes somáticas gerais, que suprem parte da sensi-
bilidade do meato acústico externo e região da concha do pa-
vilhão da orelha.
A maioria das fibras motoras do nervo facial origina-se
do núcleo motor situado na formação reticular da porção cau-
dal da ponte. As fibras secretoras parassimpáticas para as glân-
dulas submandibular, sublingual, lacrimal, nasais e palatinas
procedem do núcleo salivatório superior e núcleo lacrimal,
Nervo vestibular situados dorsalmente ao núcleo motor. O núcleo sensitivo do
nervo facial é a porção superior do núcleo do trato solitário e
Nervo coclear recebe as fibras da sensibilidade gustativa, as fibras proprio-
ceptivas e as fibras da sensibilidade cutânea do nervo facial.
O percurso do nervo facial, desde sua origem encefálica
até a emergência no forame estilomastóideo, é dividido em
Artéria vestibular
anterior segmentos nem sempre de modo uniforme pelos autores. O
segmento intracraniano mede cerca de 24 mm desde a ponte
Artéria
coclear
até o meato acústico interno; o segmento meatal, isto é, no
Nervo facial interior do meato acústico interno, estende-se por 10 a 15
Artéria mm acompanhado pelo nervo intermédio e em posição supe-
Poro acústico
labiríntica interno rior ao ramo coclear do oitavo par. Passa sobre a crista falcifor-
Artéria
me do meato para penetrar no canal facial. O orifício do canal
subarqueada facial no fundo do meato mede 0,68 mm de diâmetro; nesse
ponto, o nervo sofre um estreitamento e forma uma curva
suave para continuar agora dentro do canal como segmento
Artéria labiríntico por cerca de 3 a 4 mm, até a fossa geniculada, onde
labiríntica
acessória
Artéria cerebral o nervo se dilata para formar o gânglio genicular e, em segui-
ântero-inferior
da, volta-se bruscamente para continuar na cavidade timpâni-
FIGURA 1.42 Representação esquemática da origem e do trajeto da ca como segmento timpânico. O ângulo entre os segmentos
artéria labiríntica. (Adaptada de Fish, 1972.) labiríntico e timpânico é muito variável, em média de 75o, e

Anatomia da orelha 55
Artéria labiríntica
Artéria cerebral
ântero-inferior

Artéria
Artéria coclear vestibular
comum anterior
Artéria utricular
Artéria coclear Veia do
própria aqueduto
do vestíbulo

Artéria sacular

Artéria vestibulo
coclear

FIGURA 1.43 Suprimento sangüí-


neo do labirinto. (Baseada em Na-
Veia do
beya, 1923.)
canalículo
coclear

constitui o que se denomina joelho do facial ou primeiro joe- de conter fibras secretomotoras para as glândulas lacrimal e
lho do facial. As células que formam o gânglio genicular nasal, provavelmente contém ainda fibras vasodilatadoras para
concentram-se na porção anterior do joelho, e daí emerge o a artéria meníngica média. Apresenta também fibras aferen-
nervo petroso superficial maior pelo hiato do mesmo nome tes, cujos neurônios estão no gânglio genicular, de distribui-
(Figura 1.44). ção e função pouco conhecida, talvez responsáveis pela sensi-
O segmento timpânico mede 10 a 12 mm e transita na bilidade geral da mucosa nasal. Acredita-se que algumas fibras
parede labiríntica da cavidade timpânica, formando a proe- sejam gustatórias dos dois terços anteriores da língua e do pa-
minência do canal facial e limitando superiormente a fóssula lato mole (Figuras 1.44 e 1.45).
da janela do vestíbulo (nicho do estribo). Nesse segmento é Do gânglio genicular parte ainda um ramo que se junta
onde mais freqüentemente ocorrem as deiscências do canal ao nervo petroso superficial menor do plexo timpânico e, atra-
facial que deixam o epineuro em contato direto com o muco- vés deste, alcança o gânglio ótico.
periósteo da cavidade timpânica. O segmento timpânico do No segmento mastóideo do nervo facial origina-se o
nervo facial acaba na parede posterior da cavidade timpânica, nervo para o músculo estapédio e o nervo corda do tímpa-
onde o nervo se curva para baixo seguindo como segmento no. O primeiro nasce em frente à eminência piramidal na
mastóideo ou vertical por um percurso de 13 mm até alcançar parede posterior da cavidade do tímpano e corre um curto
o forame estilomastóideo. A transição entre os segmentos tim- trajeto até alcançar a cavidade estapédio onde penetra no
pânico e mastóideo forma um ângulo de 95 a 125o e constitui músculo; o nervo corda do tímpano nasce do nervo facial,
o segundo joelho do facial (Figuras 1.11, 1.12 e 1.17). 6 mm acima do forame estilomastóideo, e corre dentro de
É fundamental chamar a atenção para as importantes um canalículo próprio da parede posterior, que se estende
relações tópicas que os diferentes segmentos do canal e nervo na eminência cordal, onde penetra na cavidade timpânica
facial guardam com estruturas vitais das orelhas interna e envolto por uma prega mucosa. Atravessa a cavidade entre
média, e também sobre as variações que podem apresentar o manúbrio do martelo e o ramo longo da bigorna e pene-
no seu trajeto, exaustivamente descritas na literatura espe- tra em outro canalículo da parede lateral, situado na extre-
cializada. midade medial da fissura petrotimpânica. Segue por essa
O nervo facial, no segmento meatal, emite um ramo fissura até a fossa infratemporal onde, medial ao músculo
anastomótico com o nervo vestibulococlear. No segmento la- pterigóideo lateral, reúne-se como nervo lingual e, juntos,
biríntico, o nervo facial dá origem ao nervo petroso superfi- distribuem-se para os dois terços anteriores do lado e do
cial maior que nasce da face anterior do gânglio genicular e dorso da língua. O nervo corda contém:
emerge na fossa craniana média pelo hiato facial, conduzindo – fibras associadas com o paladar dos dois terços anterio-
fibras parassimpáticas e sensitivas. Esse nervo passa em dire- res da língua e do palato mole, fibras essas que têm seus cor-
ção ao forame lácero e aí se reúne com o nervo petroso pro- pos celulares no gânglio genicular;
fundo (ramo simpático do plexo carótico) para formar o ner- – fibras vasodilatadoras e secretoras pré-ganglionares, as
vo do canal pterigóideo (nervo vidiano), que atravessa o canal quais fazem sinapses no gânglio submandibular com fibras
de mesmo nome até a fossa pterigopalatina, onde se junta ao pós-ganglionares que inervam as glândulas submandibular,
gânglio esfenopalatino. O nervo petroso superficial maior, além sublingual e lingual.

56 Otorrinolaringologia
PAI
PAI

SM
SM

CF NP
CF
NP

ST ST

E
E

SMA
SMA
FE
FE

FIGURA 1.44 Representação esquemática de alguns tipos do trajeto intratemporal do nervo facial. PAI: poro acústico interno. SM: segmento
meatal. CF: início do canal facial no fundo do meato acústico interno; a área pontilhada indica o segmento labiríntico e o joelho do nervo facial.
E: estribo. SMA: segmento mastóideo. FE: forame estilomastóideo.

Na base do crânio, um pequeno ramo do nervo corda do acústico interno, na face posterior ou póstero-medial da porção
tímpano vai ao gânglio ótico. É possível que, através desse ramo, rochosa do temporal, continua no canal propriamente dito e ter-
o nervo envie fibras secretoras motoras à glândula parótida. mina no fundo do meato, que é sua extremidade lateral. O poro
O nervo facial no forame estilomastóideo fornece o ramo acústico interno exibe grande variabilidade de formas, apresen-
auricular posterior, o ramo para o ventre posterior do múscu- tando desde uma fenda estreita até uma ampla abertura circular.
lo digástrico e o ramo para o músculo estilo-hióideo. Na face, A forma do poro depende do desenvolvimento de suas margens
divide-se para formar o plexo parotídico que se distribui em (superior, inferior e posterior), que formam o lábio semilunar na
ramos temporal, zigomático, bucal, marginal da mandíbula e terminologia clínica. O fundo do meato é dividido horizontal-
cervical. mente em duas partes por uma crista proeminente, a crista falci-
forme ou transversa. O compartimento superior à crista falciforme
está subdividido por uma crista vertical, que, da parede superior
Meato acústico interno ou teto do meato, vai até a crista falciforme. A metade anterior do
compartimento superior é a área facial, isto é, aí se encontra o
O meato acústico interno é um canal ósseo forrado por dura-máter orifício do canal facial por onde penetram o nervo facial e o inter-
e aracnóide, que aloja os nervos facial, intermédio, vestibuloco- médio, formando um tronco único. Na metade posterior do com-
clear e as artérias e veias labirínticas internas. Começa no poro partimento superior, está a área vestibular superior, em que são

Anatomia da orelha 57
encontrados dois orifícios superpostos (Figura 1.46). No ori-
fício superior, penetram os nervos para a ampola do canal se-
micircular superior e a do horizontal. No orifício inferior, pe-
5 netra o nervo utricular.
4
5 3 O compartimento situado inferiormente à crista falci-
3
forme apresenta uma área situada imediatamente abaixo da
4 metade posterior da crista falciforme, com diversos orifícios
2 por onde passam os ramos do nervo para o sáculo: é a área
vestibular inferior. Nesse ponto, o meato acústico interno está
2 separado do vestíbulo por uma fina lamínula óssea, a qual cor-
1 responde ao recesso sacular no vestíbulo.
1 A área situada abaixo da metade anterior da crista falci-
forme é representada por vários orifícios, que constituem o
A B trato espiral foraminoso do modíolo da cóclea; é a área coclear
FIGURA 1.45 Dois tipos de apresentação do joelho do nervo facial, por onde passam os ramos do nervo coclear.
formado na transição do segmento labiríntico para o tímpano. (A) Na parede posterior do meato acústico interno, 1 mm
Ângulo aberto. (B) Ângulo fechado. (1) Nervo facial no meato acústi-
co interno. (2) Nervo facial no início do canal facial. (3) Joelho facial.
antes de ela alcançar o fundo do meato e a 2 mm do soalho,
(4) Início do segmento timpânico do início do canal facial. (5) Local de encontra-se o forame singular que dá passagem ao nervo para
emergência do nervo petroso superficial maior. a ampola do canal semicircular posterior (Figura 1.46).

Crista
vertical

Área facial

Início do Área vestibular superior


canal facial (nervos ampulares superior
e lateral e nervo utricular)
Crista
falciforme

Área vestibular inferior


Trato espiral foraminoso (nervo sacular)
do modíolo da cóclea
(nervo coclear)
Forame singular
(nervo ampular posterior)

FIGURA 1.46 Fundo do meato acústico.

58 Otorrinolaringologia
O meato acústico interno apresenta muitas variações de BLUNT, M.J. The blood suply of the facial nerve. Jour. Anat., v. 58, p.
diâmetro e de comprimento das paredes, mesmo se conside- 520-526, 1954.
rando os dois meatos de um mesmo indivíduo. BOLZ, E.; LIM, D. Morphology of the stapediovestibular joint. Acta
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O diâmetro vertical varia de 2 a 7 mm, em média 4,6 BOSATRA, A. Some observations on the vascularization of the seventh
mm; o diâmetro horizontal varia de 3 a 7 mm, em média 4,6 nerve. Laryngol. and Otol., v. 70, p. 605-613, 1956.
mm. Mesmo esses diâmetros podem variar se considerados na BRAUS-ELEE, F. Anatomie des Menecshens. 2. Auf. Berlin: Springer,
extremidade lateral, no terço médio ou na extremidade me- 1960.
dial do meato. CAMP, J.D.; CILLEY, E.I.L. The significance of asymmetry of the pori
As paredes do meato têm também dimensões variáveis. acustiei as an aid in diagnosis of VIIIth nerve tumors. Amer. Jour.
Roentgen, v. 41, p. 713-718, 1939.
Assim, a parede anterior pode variar de 12,5 a 18 mm, uma
CANTEKIN, E.L. et al. Dilation of the Eustachian tube by electrical
média de 15 mm; a parede posterior varia de 4,5 a 11,5 mm, stimulation of the trigeminal nerve. Ann. Otol. Rhinol. Laryngol., v.
uma média de 8,5 mm; a parede superior varia de 8,5 a 15,5 88, p. 40-51, 1979.
mm, uma média de 12,8 mm; a parede inferior varia de 8 a 16 CANTEKIN, E.I.; DOYLE, W.J.; BLUESTONE, C.D. Effect of levator
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60 Otorrinolaringologia

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