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HANS STEINER

O ARTISTA ESQUECIDO
QUE MOROU EM DUQUE DE CAXIAS
Guilherme Peres

Naquela manhã de 1957, os componentes do jornal “Grupo”, publicação


mensal de “Arte e Cultura”, que era publicado em Duque de Caxias, reuniram-se em
sua redação para um encontro, destinado a visitar o artista plástico Hans Steiner,
morador recente dessa cidade.
Steiner já havia participado da “1ª. Exposição Coletiva de Artes Plásticas”
realizada na localidade a convite do supervisor do jornal e promotor do evento,
Barboza Leite, entre os dias 25 de maio e 9 de junho desse ano, onde se destacavam
mestres daquela geração: Ana Letícia, Bruno Giorgi, Darel, Percy Lau, Barboza Leite,
Henrique Osvald, Antonio Bandeira, Benjamin Silva e outros.
Nascido na Áustria em 1910, Steiner veio para o Brasil em 1930, iniciando no
Rio de Janeiro seu aprendizado artístico no Liceu de Artes e Ofícios, dedicando-se a
difícil arte da gravura tendo como mestre Carlos Oswald, e do desenho, Eurico Alves.
Em 1940 foi convidado por seu mestre de gravura, para participar de uma mostra
coletiva realizada na sede do Instituto Brasil - Estados Unidos, em Copacabana, e
elogiado pela crítica especializada
Durante seu aprendizado no Liceu, fez-se amigo de Poty e Percy Lau,
“formando a primeira geração de gravadores brasileiros. Em 1949 fez sua primeira
exposição individual alcançando relativo sucesso”, escreveu Barboza Leite no jornal
“Grupo” do mês de novembro de 1957, dedicando-lhe quase uma página inteira,
precedido de uma chamada de capa estampando uma gravura “ponta-sêca”, de uma
velha arvore coberta de parasitas, encimada com o título: “Descoberto entre nós
Gravador de Renome Internacional”.
Em 1959, apresentou uma exposição na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
intitulada: “Viajem ao Araguaia”, constituída de gravuras, desenhos, óleos e aquarelas,
com temas girando em trono de comunidades indígenas e seu meio ambiente
registrados na Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo, com o apoio do
antropólogo Darcy Ribeiro, então diretor do Museu do Índio, no Rio de Janeiro.
Formado o grupo composto por Barboza Leite, Plínio Baptista, Newton
Menezes, Waldair José da Costa, Josias Muniz, Alberto Dias, Ione Lopes e Guilherme
Peres, embarcaram no ônibus com destino a Gramacho. A viajem foi curta, pois a casa
de Steiner ficava no Corte Oito, à margem da antiga Av. Rio-Petrópolis, “com um
quintal cheio de árvores, tudo muito calmo, repousante e acolhedor”.
Vivendo exclusivamente em função de sua arte, o artista “havia voltado à
Europa em 1950, permanecendo durante dois anos em sua terra natal e na Itália,
principalmente na Áustria, onde fez diversas exposições que despertaram interesses,
figurando obras suas nos Museus e Academias do velho Continente”.
Barboza ainda afirma que a maior exposição que Steiner realizou foi no Museu
de Carínzia a qual denominou-se “Brasilien-Graphik H. Steiner- Rio”. Apaixonado
pelo Brasil, meses antes dessa entrevista o gravador fez uma viagem ao Rio Araguaia,
“onde colheu variado material entre os indígenas”. Mantendo permanentes exposições
na região Sul deste País, mantinha naquele momento mostras de seu trabalho em Santa
Catarina.
Hoje suas obras fazem parte do acervo de coleções particulares e instituições
públicas como o Museu Nacional e a Biblioteca Nacional, que possuem dezenas de
desenhos, pinturas e gravuras, que representam esse grande mestre das Artes Plásticas
no Brasil.
O “Grupo” percorreu as dependências de sua casa recebendo explicações sobre o
funcionamento de um enorme prelo em um dos cômodos, transformado em atelier: a
maneira de gravar com o buril, a passagem da tinta sobre as gravuras sulcadas no

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metal, o papel prensado sob um cilindro de movimentação manual e finalmente o
milagre do grafismo surgindo na alvura do papel.
A visita foi recepcionada por sua esposa com café e bolo sobre a mesa da qual
agradou a todos. Após ouvir-mos seu relato sobre a convivência recente com tribos
indígenas da Região Central do Brasil, despedimo-nos orgulhosos de ter em nossa
cidade, um artista plástico tão talentoso como Hans Steiner.
Alguns dias depois, fomos surpreendidos na redação, com várias gravuras
oferecidas pelo artista, com dedicatória no verso: das quais
tenho a honra da possuir uma das mais belas, constando de um caminho através da
floresta da serra dos Órgãos, vendo ao fundo o gigantesco “Dedo de Deus”, com sua
nudez granítica.
Entre os temas preferidos de Steiner estão cenas típicas do Brasil rural:
pescadores, trabalhadores do campo, atividades artesanais e principalmente arvores
abraçadas de urupês e mata-paus. Deslumbrado com as matas brasileiras, percorreu e
registrou a fauna e a flora do Xingu à Floresta da Tijuca no Rio de Janeiro. Viajou por
Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Brasil Central
O antropólogo e educador brasileiro Edgard Roquette Pinto, assim definiu em
resumo sua opinião sobre Steiner: “Um dos encantos da água-forte, ao que penso,
nasce do seu poder simultâneo de finura e vigor. Quando o artista tem alma sensível e
domina o buril, surgem na composição as luzes e sombras que em vão se busca fora da
gravura. H. Steiner está nesse caso. Identificou-se com o ambiente brasiliano, aqui se
fez gravador na bela escola de Carlos Oswald”.
Ao mudar-se para a cidade italiana de Gorízia no início da década de 70, Steiner
Foi em busca de tratamento para a malaria que minava sua saúde, provavelmente
adquirida em suas andanças pelo Brasil Central e causa de seu falecimento em julho de
1974.

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